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As Cataratas
Recebido por Jacob Lorber, em 29 de junho de 1843
Ontem lestes um artigo sobre as cataratas do Niágara. Lembrastes-vos de Mim e Me agradecestes por tão maravilhoso espetáculo da natureza.
Mas, igual a todas as coisas que existem na natureza e das quais só conseguis ver uma pontinha superficial, existe nela um significado, uma razão espiritual que vou explicar com poucas palavras.
O escritor que descreve o fenômeno das cataratas só viu a expressão natural das mesmas: o grande espetáculo das águas caindo, o barulho, o trovejar das águas, o arco íris. Tudo isto despertou nele sentimentos que não conseguia entender. Não conseguia transmiti-los aos seus leitores, pois eram extremamente íntimos.
Ele se extasiou ante o contínuo movimento e agitação do espetáculo. Tudo aquilo foi para ele só um espetáculo da Natureza, mas para Mim é a “Vida”. Eu chamo tal espetáculo de “Minha Vida”. Aqui nas cataratas ele escutou, no bramir das águas, o que poderia ter ouvido no suave murmúrio da brisa ou na tênue luz que vem dos mundos longínquos, se tivesse ouvidos para ouvir. Mas o bramir das cataratas lhe extasiou os sentidos, o poder e força das águas lhe demonstrou a pequenez do corpo humano, e então ele se deu conta de como o homem material é ínfimo, insignificante e passageiro. Esta luta que assistiu entre o ar, a terra e as águas o abrigou a reconhecer Meu Poder. Estes espetáculos da natureza sempre vos causam sentimentos de impotência e de humilhação, que vos forçam a reconhecer vossa insignificância. Assim, num piscar de olhos, destroem todos os vossos sentimentos de grandeza e poder.
Vejo com grande alegria quando, ante um espetáculo da natureza, se ascende em vós uma centelha de fé, um reconhecimento de Meu Poder e de Meu Reino. Isto fortifica o homem e o obriga a reconhecer algo que em circunstâncias normais nem cogitaria : “Deus existe e criou tudo isto. Ele o fez por Amor e para o homem, especialmente para a vida espiritual humana”. Deus também quis dizer ao homem quão tolos são sua mania de grandeza e seus atos ante a natureza. Mas a razão destas Minhas Palavras ante o espetáculo das cataratas do Niágara é responder à seguinte questão: “ Para que existe uma queda d’água, tanto uma grande quanto uma pequena?”
Não teria sido possível Eu criar a Terra sem montanhas, sem vales, sem rios com correntezas e quedas d’água? Os rios não poderiam fluir calmamente por planícies, em direção aos mares? Uma resposta satisfatória a estas perguntas é a razão destas Minhas Palavras. Tudo o que é material é necessário para que o homem realize sua missão: evoluir. A vida material (aprisionada) e a espiritual (livre) só existem no constante movimento. Do movimento tangível tem-se o atrito, a luz, o calor, um lento mas continuo transformar da matéria em outras formas, até chegar a outros degraus e assim tornar se mais útil, mais ativa, melhor, menos pesada e mais espiritual. Esta é a vida que conheceis. Vós mesmos dizeis: “ Se se move, está vivo”. O que está parado, sem movimento, está sem vida, parece morto. Vós chamais o eterno movimento de “Vida”. Eu o chamo de “Luta”. Luta pelo melhor, pelo progresso da alma, luta para alcançar um patamar mais elevado. Esta luta é a mesma, desde o mais ínfimo micro-organismo até o maior corpo celestial. Ela se encontra em todos os elementos que habitam tanto a atmosfera, como a superfície e o interior do planeta. Sem esta luta tudo apodreceria, seria destroçado, se tornaria nocivo e lentamente se tornaria materialmente morto. Tudo que não se movimenta morre. Os rios têm que se movimentar, pois águas paradas são águas contaminadas. E no ar também há cataratas - as conhecidas correntes ascendentes e descendentes, usadas pelos pássaros e, mais tarde, pelos homens voadores. No interior do planeta, os minerais e metais também têm que estar em contínuo movimento. Calma não existe em lugar algum.
O mesmo deve acontecer com as águas. Suas quedas servem para purificá-las, nas quedas elas se pulverizam e assim absorvem elementos novos, limpos e puros. No seu atrito contra as rochas que querem impedir seu caminho, elas têm que se fortalecer para vencê-las, saindo assim do torvelinho purificadas, fortalecidas, cheias de vida e, principalmente, repassando-a ao que se encontra a sua volta, causando bem-estar e alegria. Águas paradas se tornam turvas, fétidas, impróprias ao uso, nocivas para animais e seres humanos. Viver é mover-se. O atrito das águas contra as rochas - como do ar contra as montanhas - produz vida, atividade em evolução, e tudo é passado aos homens, animais e plantas. Encontrar-se em lugares assim (em movimento) sempre é benéfico, causa bem-estar e desenvolve a espiritualidade. No universo só existe um mandamento: movimento é vida, e vida significa lutar, criar novas formas por processos cósmicos, até chegar ao espiritual.
Na água temos o exemplo na corrente montanhosa. Ela é pura, viva, gostosa, cheia de bênçãos que leva aos seus próximos. Quando chega à calmaria do mar, lá se liberta do que tem de melhor (via ar, pelas névoas), e com o sal e a acidez do oceano, recomeça uma nova jornada evolutiva. As montanhas são na atmosfera os “ventiladores do ar”, as cataratas são os “ventiladores da água”, e as quedas são (para os homens) os “ventiladores do espírito”.
Tudo isto que acontece na natureza acontece no espírito. Com quedas grandes ou pequenas, segundo a necessidade, tendes que lutar, brigar, vos movimentar para evoluir. Espírito parado se deteriora. Ante obstáculos, precisais de mais esforço. Ao vencê-los estareis mais fortes, mais firmes, mais seguros. Os obstáculos despertam o caráter espiritualizado da pessoa, a fortificam para atividades mais elevadas.
Como o ar que se movimenta sob o bramir dos trovões e ventos, como as águas que se precipitam nas profundezas das cataratas, lá, debatendo-se contra as rochas duras, assim são os obstáculos na vida humana. Quedas (maiores ou menores) expulsam o homem de sua calmaria, o submetem a torvelinhos, o jogam contra rochas cruéis e exigem dele toda sua força para sair do poço que o prende e o leva para a morte. Neste momento, ele geralmente clama por Mim. E eu - carinhosamente - o fortificarei, curarei suas feridas, o levarei em Minhas Mãos.
Tendes que lutar muito. E após vencerdes um obstáculo, outro estará à espreita logo adiante. É assim que o homem corre a seu destino, até que, geralmente em idade avançada, decide abandonar tudo o que é supérfluo e navegar na calmaria do estuário amplo que o leva ao mar onde tudo é espiritual.
A tormenta no ar e as cataratas no rio são os símbolos espirituais da vida humana. A luta é o único meio de se evoluir, de melhorar seu respeito e o de seu próximo. Vede, um rio enorme flui calmamente e nele navegam barcos, mas sua água é poluída, turva, cheia de lama. Sua forca vital acabou, ele vai ao encontro de seu destino sem nenhum proveito. Ele só serve aos outros (barcos), mas nada faz por si.
O mesmo acontece ao ancião que vai ao encontro de seu destino, quase que em forma vegetativa. Felizes ambos (rio e ancião), se puderem dizer: “ Eu não vivi em vão.” Pelas suas ações durante a vida, cada um então poderá aguardar calmamente sua entrada no oceano espiritual, para iniciar uma nova etapa da vida. Lembrai-vos: Vossas obras são vossos únicos prêmios no mundo espiritual.
Cataratas! A água cai de uma certa altura, se pulveriza, se destrói e em seguida se revitaliza. Se vós cairdes de vossa cômoda altura, fazei o mesmo que a água em sua queda: renovai vossa luta, brigai com vosso eu mundano. Lutar é viver, parar é morrer. Como a torrente da montanha em sua queda para reviver, renovai e, tal como o rio, distribui estes elementos aos vossos próximos. Só assim estareis aptos para as novas lutas que vos aguardam, pois VIVER É LUTAR.
Observai como a natureza perto das quedas é mais bela, verde, viva e revitalizante. Assim sereis vós, se enfrentardes vossas quedas com fé e confiardes em Meu Amor. Que as cataratas do Niágara ou qualquer outra vos sirva de espelho. “Cair” é necessário para poder levantar-se e elevar o espírito com muito mais firmeza. Nas quedas d’água há o arco-íris com suas sete cores da paz. Elas correspondem às sete qualidades do ser humano, que auxiliarão ao caído em sua árdua luta para levantar-se. Se pudésseis ler melhor Meu Livro da Natureza, quantos exemplos maravilhosos de Amor descobriríeis, tanto na matéria visível como no mundo espiritual, invisível aos olhos profanos. Poderíeis então ler o único mandamento de Amor, Paciência, Humildade e Perdão. E na pior catástrofe de vossa queda, veríeis o rosto amoroso do Pai a vos cuidar, orientar e ajudar a sair da mesma, pois DEUS É AMOR.
Tudo isto vos deve provar quanta luz espiritual existe em vossa volta; mesmo quando a luz do sol se põe, outra luz mais espiritual e eterna vos iluminará: a luz das estrelas.
Esta luz só entendereis completamente quando vossos olhos se fecharem para os prazeres da Terra, para o mundo material, e se concentrarem no mundo espiritual. Aqui na Terra, só de vez em quando podereis usufruir desta luz divina, mas neste momento, ao observardes a natureza, conseguireis ler em cada átomo da mesma: “DEUS É AMOR”. Isto todos dizem e expressam, sejam as folhinhas, as árvores, as cataratas, ou cada animal. Todos confirmam que DEUS É AMOR. Aprendei a ler Minhas Santas Palavras que estão em toda a natureza. Assim Me reconhecereis e Me amareis. Amém.
Vosso Pai Jesus
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