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OBRAS DA NOVA REVELAÇÃO

CENAS ADMIRÁVEIS DOS ÚLTIMOS ANOS OCULTOS DA VIDA DE JESUS

Sua Luta interior pelo DEUS Nele

Revelações recebidas pela Voz e Visão Internas

por MAX SELTMANN

Traduzido por Jaime M. Murbõck

Rio de Janeiro - 1994

Notas biográficas de Max Seltmann

Prefácio

CADERNO NÚMERO 1

Um dia na casa de José

No terraço da obra

Jesus e Maria

Testemunho do Arcanjo

José recebe uma visita em sua oficina

Diálogo entre Jesus e João, o filho de Zacharias, numa montanha

CADERNO NÚMERO 2

Jesus e Jacó no caminho para um novo lugar de trabalho

Chegada ao albergue de um velho hospedeiro

Diálogos com Július sobre o Pai em nós

Chegada à casa do velho Zaqueus

Jesus e Jacó na construção da sala

Vivências internas sob o céu estrelado

A manhã de sábado na colina — Novas vivências internas

Segui-Me — para a calma interior do sábado!

CADERNO NÚMERO 3

Um reencontro com Cornélius e Julius

Jacó relata fatos da juventude de Jesus

Conversas sobre a Voz de Jehovah no homem

Revelações sobre a criação primitiva do homem

Anotações a este capítulo

Vivências espirituais na colina

Rafael como servidor do Senhor

Rafael mostra a todos o domínio das forças da natureza

Despedida

CADERNO NÚMERO 4

De volta ao albergue do antigo hospedeiro

Vivências durante o levantar do Sol

Banquete na casa de Julius

Rafael explica a vida numa gota d'água, assim como a vida no nosso mundo interno e também no anjo

A grande, magnífica meta desta vida oriunda de Deus em todos os seres

Despedida do hospedeiro e volta para Nazareth

A tentação de Jesus

A Volta de José para seus pais

CADERNO NÚMERO 5

Jesus e Nathan

José no Além

Nathan como amigo

Jesus como médico e amigo das crianças

A Mensagem de Gabriel

A chamada interna

Jesus anuncia sua despedida

Nathan contempla o seu inundo interior

Do mundo interior de Jesus

A consagração na colina

Reflexão final

CADERNO NÚMERO 6

Jesus começa o seu Magistério — Sumário

Celebração da despedida na casa de José

Hilarius

Jesus e Seu Mensageiro Gabriel

A ceia

Vivências numa estrela

Despedida da mãe

Despedida dos irmãos

Jesus e Lúcifer

Descanso no albergue

Jesus passa pelo tumulto da feira

Primeiro encontro com Judas

A tarde no albergue

CADERNO NÚMERO 7

Conversas sobre João Batista e o futuro Messias

A dança de véu

Partida para Bethabara

Batismo de Jesus no Jordão

I — Jesus no deserto

II — Vem a realidade

III

IV

V

VI

VII

VIII

IX

X

NOTAS BIOGRÁFICAS DE MAX SELTMANN

Numa carta de 1960, Seltmann conta que em 1928, quando tinha 50 anos, Jesus, o Filho do Homem, tornou-Se o centro de seus pensamentos. No mesmo ano, começou a ver desenrolar-se, como num filme, cenas da Vida de Jesus, que no início se repetiram, até que ele passou a anotá-las num intervalo de seu serviço noturno como empregado ferroviário.

Assim, encheram-se muitos cadernos, mas boa parte se perdeu numa busca feita em sua casa durante a era do nazismo, quando uma das suas filhas, cega e imbecil, foi morta pelas leis então em vigor. Mas ele teve os sentidos abertos, pôde ver as almas dos que passaram para o outro lado e ficou feliz em poder assim presenciar o desenvolvimento da própria filha no mundo dos espíritos até ela chegar à perfeição, o que levou dois anos e meio.

Acusado de ser Testemunha de Jehovah, Seltmann, então com 70 anos, teve que fugir de sua casa e família na Alemanha Oriental, encontrando um refúgio na Alemanha Ocidental, perto de Bietigheim, onde a Editora das Obras de Lorber tem sua sede.

As Cenas descritas por Seltmann nos revelam muitos detalhes da Vida de Jesus que não foram incluídos nos Evangelhos Bíblicos, nem no Grande Evangelho de João recebido por Lorber. Referem-se, em parte, aos últimos anos de preparação de Jesus para o começo de Seu Magistério; em outra parte, ao tempo desde Sua Morte e Ressurreição até Sua Despedida da Terra, onde participamos, com profunda emoção, ao convívio do Ressurrecto com Seus seguidores e amigos, marcado pela indescritível vibração de Amor Divino do Próprio Jesus. Uma boa parte, finalmente, relata sobre a vida e o crescimento das primeiras comunidades cristãs, em particular sobre a vida e a atividade do apóstolo João, o "Discípulo amado", até sua morte.

Dos 25 fascículos que compõem as "Cenas admiráveis da Vida de Jesus" recebidas por Max Seltmann, três já foram traduzidos para o Português por Yolanda Linau, a saber: "Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús", "O Ressurrecto" e "Judas Iscariotes".

PREFÁCIO

QUEM ERA JESUS? Era de fato Deus? Ou era só homem, sem dúvida pleno de dotes e forças excepcionais, mas essencialmente apenas homem como qualquer um de nós? Nenhuma outra questão marcou com semelhante intensidade as pesquisas e contendas no campo teológico desde os primeiros séculos da cristandade até hoje. Está certo que desde o Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano 325 da nossa era, os cristãos confessam unanimemente ser Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Verdadeiro Deus por Se ter encarnado em Jesus o Próprio Centro Pessoal da Divindade, o LOGOS Eterno; e verdadeiro homem por Ele ter sido dado à luz por uma mulher histórica, Maria. Mas continuou o grande mistério: de que maneira este homem Jesus pôde ser, ao mesmo tempo, a Encarnação Divina e daí Filho de Deus?

Para Deus poder-Se encarnar na Terra, teve que escolher o homem no qual Se encarnaria. Este homem era Jesus, designado e preparado para esta Missão desde Eternidades. Espírito e Alma Dele eram do Alto, do Reino da Luz, o que no Evangelho de Lucas (1, 35) está expresso nas Palavras que Gabriel dirigiu à Maria: "Espírito Santo descerá sobre ti e Poder do Altíssimo te envolverá com a Sua sombra; por isso também o Ente Santo que há de nascer será chamado Filho de Deus."

Nos relatos sobre a "Infância de Jesus" e "O Menino Jesus no Templo", recebidos por Jakob Lorber, somos testemunhas da manifestação da Sabedoria e das Forças Divinas em Jesus; mas tanto no Novo Testamento quanto na riquíssima Obra de Lorber, o intervalo dos 12 aos 30 anos é passado em silêncio. E é justamente neste intervalo que devemos procurar a chave para explicar-nos o fato extraordinário que este homem Jesus − que supostamente viveu até trinta anos como carpinteiro na família de Seu pai adotivo − Se apresenta, após o Batismo no Jordão, de repente, no pleno Poder de Forças Divinas.

É natural que nos perguntemos: de que maneira o Homem Jesus alcançou a consciência e Força de Sua Divindade, latente Nele desde Seu Nascimento? Ela simplesmente irrompeu Nele em um súbito Ato Divino, no momento do Seu Batismo? Ou era o próprio Homem Jesus que tinha que esforçar-Se numa intensa luta interna, muito difícil para Ele Mesmo como para Sua família, para chegar a reconhecer-Se plenamente UM com Seu Pai no Céu, e daí conscientizar-Se da Sua Própria Divindade?

A esta pergunta, o Próprio Jesus nos dá a resposta no "Grande Evangelho de João", Obra principal da Nova Revelação, recebida pela Voz Interna por Jakob Lorber:

"Eu não trouxe tal Vida de Deus já no ventre materno a este mundo. O gérmen Se achava dentro de Mim, mas teve que ser desenvolvido, o que Me custou quase trinta anos de tempo e esforços. Agora estou perfeito diante de vós, podendo afirmar ter-Me sido dado toda Força e Poder no Céu e na Terra e de ser o Espírito em Mim completamente UNO com o Espírito de Deus, razão porque posso operar sinais jamais realizados por alguém.

No futuro, tal não será Meu exclusivo privilégio, mas possível também a quem acreditar em Mim, que fui mandado por Deus a este mundo para dar a Luz da Vida aos homens que perambulam todos nas trevas e a quem viver então segundo a Minha Doutrina que mostra ao homem, em toda clareza, a Vontade do Espírito de Deus estando em Plenitude dentro de Mim.

Tal Espírito é Deus; mas Eu como simples Filho do Homem, não O sou. Como já disse, tive que conquistar — semelhante a qualquer um de vós — a Dignidade de um Deus, com grande esforço e exercício, podendo só então unir-Me ao Espírito de Deus. Já estou, no entanto, UNO com Ele no Espírito, mas ainda não no corpo; isso será também alcançado, mas somente após grande sofrimento, e total abnegação humílima de Minha Alma." (Grande Evangelho de João VI, cap. 90, 7 — 8, resp. te 11 — 12 no original alemão).

Esta auto-definição de Jesus nos confirma, ao mesmo tempo, ser o Deus em Jesus — "o Espírito de Deus" — soberanamente distinto do Espírito do Homem Jesus — "o Espírito em Mim" — eliminando assim a eventual ideia que "o Espírito de Deus", ou seja o Deus em Jesus, fosse substituir o Espírito do Homem Jesus, reduzindo o "Humano" Dele à mera dualidade de Corpo e Alma, em detrimento da insubstituível trindade que constitui cada homem: corpo, alma e espírito. O esforço de Jesus era justamente de "unir-Se, isso é, Seu Espírito, ao Espírito de Deus", pela luta da Alma que é o campo de combate. E Sua afirmação jubilosa soa qual verdadeiro grito de vitória: "Já estou UNO no Espírito com o Espírito de Deus!"

Devemos chamar-nos felizes, e ser agradecidos ao Pai, não apenas por nos ter assim revelado por Lorber o fato do Seu grande esforço para inteirar Seu Humano totalmente no Deus Nele, mas por ter permitido também conhecermos — para assim dizer como vivos expectadores — muitos detalhes importantes dos anos de luta que Jesus teve que travar no Seu íntimo para alcançar esta meta. O instrumento escolhido para trazer-nos esta profunda revelação era MAX SELTMANN que o Pai despertou em nosso século como mais um porta-voz da Nova Revelação. Alguns pormenores de sua vida e missão são dados nas "Notas Biográficas" anexas.

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O presente livro é a tradução dos fascículos 1 a 7 de Max Seltmann. O dia a dia de Jesus nos últimos dois a três anos antes de Seu Batismo e do começo do Seu Magistério Público é aí descrito com singelas palavras, mas que são tão vivas que levam o leitor não apenas a conhecer fatos nunca revelados até agora, mas a participar, com o íntimo de sua alma, da última e decisiva preparação do Homem Jesus para a Sua Missão,

— seja no convívio nada fácil com Sua família, até com Maria, Sua Mãe, que Jesus quer levar à compreensão de Sua luta Seu comportamento muitas vezes estranho para eles;

— seja acompanhando-O no cumprimento de Suas tarefas profissionais como carpinteiro, quando, durante numerosos encontros, Jesus manifesta por atos e por revelações importantes cada vez mais Suas Forças e Profundezas espirituais;

— seja comprovando, em contatos com mensageiros da LUZ como Gabriel e Raphael, ou com espíritos das trevas que reconhecem Sua superioridade (sem, no entanto, querer segui-Lo), ser Ele já Dono absoluto também nos reinos psíquico e espiritual.

Mas qualquer que seja o aspecto que mais fala ao coração do leitor, eu vejo — me seja permitida esta confissão pessoal — a Mensagem Central destes sete fascículos nas Palavras que Jesus dirigiu à Sua Mãe no primeiro capítulo do fascículo 5, quando ela perguntou: "Não és já há muito tempo Filho de Deus?" — E Jesus: "Sim, o sou porque Eu sou de Deus! MAS EU QUERO SÊ-LO POR MIM MESMO!" — É o tema constante que permeia esta obra: Jesus, sabendo-Se, no íntimo, ser de Deus, esforça-Se para levar também o Seu Humano, o Homem Jesus, à integração perfeita com o Deus que Ele é no íntimo, mostrando assim ser isso também a meta a ser aspirada por todos os homens.

Eis, em resumo, a resposta que os sete primeiros fascículos de Max Seltmann dão à nossa pergunta inicial: "QUEM ERA JESUS?" Era Homem no pleno sentido da palavra, mas escolhido desde Eternidades para Deus Se encarnar Nele. Desde Sua Concepção na Virgem Maria, a Vida Divina já estava Nele como gérmen, mas cabia ao Homem Jesus desenvolver este gérmen para Plenitude de Vida e Forças Divinas, ao ponto que Ele pôde dizer-Se completamente UM com o Espírito de Deus Nele, culminando Seu esforço no fim de Seus dias terrestres, na total integração até do Seu físico na Essência Espiritual Divina Nele, pela livre aceitação de Sua Morte na Cruz, o que O consagrou na Ressurreição como DEUS, nosso Deus! Que a leitura desta obra traga ricas Bênçãos para quem a acolher com boa vontade!

Rio de Janeiro, 25/03/1994.

Jaime M. Murbõck

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RECONHECIMENTO

O presente livro é fruto de reuniões de um pequeno grupo dedicado à leitura e ao estudo de Obras da Nova Revelação, mormente de Jakob Lorber, Gottfried Mayerhofer, Max Seltmann e Leopold Engel.

A publicação não teria sido possível sem o empenho excepcional da nossa irmã Vera de Azevedo Costa que preparou infatigavelmente os textos para a impressão.

A revisão linguística da minha tradução devo à colaboração de Berthe W. Hecker.

A ambas — certamente também em nome dos leitores — o meu profundo agradecimento!

CADERNO NÚMERO 1

UM DIA NA CASA DE JOSÉ

Despertai, vós que ainda dormis! O dia amanhece e as nuvens de cirros já anunciam o despertar de um novo dia! Assim chama Jacó, o caçula de José, e em pouco tempo todos -- exceto o velho José — estão de pé.

"Onde está Jesus?" pergunta Maria, "Ele voltou esta noite?

"Não O vimos", recebeu como resposta, e cada palavra calou profundamente em sua alma causando-lhe sofrimento, porém tranquilizou-se em seguida. Em silêncio a família, sem José, senta-se na grande mesa da espaçosa sala e, com um Salmo de louvores, começa o desjejum que consta de uma sopa. Pouco depois, cada um começa a trabalhar, pois o velho José dá importância à ordem.

Maria estava ainda à mesa e veio José, beijou-a e perguntou por Jesus. Lágrimas correram dos olhos de Maria; em silêncio José voltou para o seu quarto, e Maria o ouviu rezar dizendo: "Oh, Jehovah, Grande e Vivo Deus, de joelhos elevo meus olhos para Ti, agradecendo pela plenitude de Graças que recebi durante toda minha vida na Terra. Em tudo que recebi fui obediente, reconhecendo sempre Tua Justiça e Tua Ordem; mas Senhor, agora não Te compreendo mais... Dá-me luz, dá-me clareza, dá-me força para que eu possa suportar as provações da Graça que determinaste para nós. Sê Tu mesmo nosso Guia e tira-nos toda angústia e dúvida!

" Maria ajoelhou-se ao lado de José e do seu coração cheio de amor materno emanava uma torrente de amor para Jesus distante. Assim, ambos ficaram em adoração até que José disse: "Senhor, assim como Jacó, outrora, também eu continuarei de joelhos até que Tu me ajudes." E, de repente, o quarto foi inundado de um perfume muito agradável e os corações sofridos encheram-se de consolação. "Jehovah seja louvado e exaltado!" Com estas palavras levanta-se José e, sem falar, ambos se dão as mãos e se entendem.

"Oh, José", diz Maria, "perdoa-me que fui fraca na fé; sê tu o meu apoio para que eu possa fortalecer Jesus na luta de Sua vida.

"Abre-se a porta e o tão desejado entra, saudando reverentemente Sua mãe e o pai adotivo.

"Meu filho", diz José, "Luz dos meus olhos! Apoio de minha velhice! Vê, Tua mãe sofre por Tua causa, porque Te ama sobre tudo. Não podes mudar de atitude? Por que não vens a nós, que já passamos por várias lutas de fé? Jehovah também Te ajudará. Sê Tu nosso querido filho e igual aos teus irmãos!"

Com seriedade, responde Jesus: "Meu José e tu, Minha mãe! Vede, Minha luta abrange metas mais distantes que a vossa. Nem vós, Meus queridos, podeis ajudar-Me; conto apenas Comigo Mesmo, pois se Eu aceitasse vossa ajuda, deveria sempre voltar para vós. Mas para onde Me voltar, quando não existirdes mais? Não penses, Meu fiel José, que Eu procurarei um rabino ou um sumo sacerdote; jamais! Pois todos recebem suas forças fora de si! Mas Eu procuro e encontro essa Força dentro de Mim! Quanto mais Eu vença todos os obstáculos, tanto maior espaço para o Amor Divino se cria dentro do Meu irrequieto interior, e tanto mais deliciosa se torna também a plenitude da fonte viva na casa do Meu Coração. Por isso, perdoai-Me, não posso e não devo agir de maneira diferente, se quero tornar-Me o Meu Próprio Eu que deverá refletir-Se no Universo e em todos os lugares como a Grande Ordem Divina no coração humano. Virá ainda o tempo em que Me compreendereis."

Ambos arregalam os olhos e percebem — num momento apenas — a magnificência latente dentro de Jesus.

"Deixa-nos a sós", diz Jesus, "Eu vou com José ao encontro de Meus irmãos."

NO TERRAÇO DA OBRA

O que faziam estes neste ínterim?

Caminhavam a passos largos. Para Jacó, o dia parecia duplamente belo. Mas tudo o que falavam e pensavam no caminho se referia a Jesus. Jacó, o mais tranquilo, disse: "Tudo tem seu tempo, tudo tem sua solução. Não consigo acreditar nem me conformar que tudo o que já vivemos e experimentamos tenha chegado ao seu fim. Pois nós, homens, costumamos parar no meio do caminho, mas Deus, nunca! O que Ele começa também executa de maneira magnífica e, digam o que disserem, todas as glórias que já vivemos com Jesus não foram esquecidas por mim e nutrem minha esperança. Tudo terminará bem. Deixemos Jesus agir como quer. O que Ele deixou de fazer no trabalho, recobrou depois duplamente; e durante a Sua ausência, a mesma quantidade de trabalho ficou pronta, como se Ele estivesse presente.”

Os irmãos tiveram que dar razão a Jacó, mas Joel disse: "Mas hoje Ele fará falta, pois queríamos terminar a obra.”

Chegando à construção, cada um começa o seu serviço, mas, para desgosto de Jacó, o trabalho não vai adiante, pois os irmãos reclamam com palavras veementes a ausência de Jesus. O sol caminha mais alto e o meio-dia não está longe; e então veem o taciturno José com o ainda mais calado Jesus. Uma breve saudação e ambos participam da obra, e agora os irmãos reconhecem que o trabalho avança duas vezes mais depressa. Uma pesada viga deve ser içada e parece que as forças não serão suficientes. Então Jesus diz a José: "Toma o Meu lugar!" Depois um empurrar, um levantar, e de um só golpe a viga está em cima. Os irmãos se admiram, e no coração de Jacó vibrou uma corda cheia de alegria, que se refletiu no seu semblante; admirados os irmãos notaram isso, mas calaram-se.

Em seguida e em silêncio, lancharam. O velho José ficou na sombra e em breve adormeceu. Os irmãos falavam entre si sobre o trabalho a ser feito ainda. Mas Jesus não parava de trabalhar; parecia querer recuperar os três dias que faltou. Os outros deixaram que Ele assim fizesse, já que sabiam que Ele não aceitava ser contestado e que em geral era pouco acessível para uma conversa. Depois retornaram ao trabalho e viram que Jesus, naquela meia-hora, tinha adiantado muito a obra.

Tranquilamente e sem falar, o trabalho avançou; e durante a tarde tudo estava terminado.

Mas Jesus não voltou para casa. "Quero ir ainda até à casa de um vizinho um pouco distante para procurar trabalho, mas dormirei em casa."

Assim se despedem amigavelmente de seu Irmão a Quem muitas vezes magoaram. Mas Jacó pergunta ainda: "Não poderíamos andar juntos? A mãe fica mais tranquila quando sabe que estou Contigo, pois Tu Te tornaste muito silencioso desde. . ."

"Não continues, Meu Jacó", diz Jesus, "porque o que não se sabe, também não se deve externar. Infelizmente desperdiçais as melhores forças pelo muito que falais e fazeis erradamente. Por que não honrais sempre a Deus em vossos corações, reconhecendo as altas metas que Ele determinou para vós? Por isso, Meu irmão, não perguntes mais e ama os teus irmãos, não fazendo exceção Comigo. Saúda mais uma vez a mãe. Volto ainda hoje."

Chegaram em casa. Os olhos de Maria procuraram por Jesus e nova dor cortou seu coração ao ver que o Amado Filho não voltara. Jacó transmitiu-lhe as saudações e se referiu às palavras de Jesus.

Então, disse José: "Sim, agradeçamos ao Nosso Senhor e Deus Zebaoth e honremo-Lo, pois Seus caminhos e Seus pensamentos são diferentes dos nossos! E tu, Maria, não trates Jesus com tanto mimo, pois não é mais criança. Ele pode nos dar mais do que precisamos e seríamos fracos se nos inquietássemos com Ele. Hoje, como muitas vezes, observei Jesus no Seu trabalho e, apesar de não ter dormido, Ele era o mais alegre e Suas necessidades são apenas a metade das nossas. Aqui, Deus tem um desígnio específico! Curvemos, pois, os nossos pensamentos e acreditemos na Sua promessa. Tempo virá em que Deus falará uma linguagem ainda mais bela do que outrora."

Maria se cala; mas sua preocupação é maior do que sua fé. É mãe e queria viver só para o seu filho, apesar de já ter passado por muitos sofrimentos e aflições.

JESUS E MARIA

Mas, parecia que Jesus não queria ver sua mágoa. E não podia falar com Ele, pois costumava olhá-la e então sair sem nada dizer, para depois permanecer ausente de casa por horas e dias a fio, sem comer e sem dormir. "O que se passa com Jesus? Por que não fala com sua mãe? Não sou digna, ou em que O ofendi? Esses eram os pensamentos que atormentavam Maria e não a deixavam em paz. Ela planeja: "Hoje vou perguntar-lhe, com certeza!" e começa a preparar o jantar. Passaram-se as horas e todos foram se deitar; mas Maria sentou-se no banco diante da casa e esperou por Jesus, que chegou pouco tempo depois. Ele, silenciosamente, saudou Sua mãe e sentou-se ao seu lado. Vários minutos passaram em silêncio e o coração de Maria se contraía de dor, quando finalmente Jesus falou: "Por que estás tão triste e deixas que a preocupação te deprima? Já esqueceste a grande Graça recebida de Deus? Por que dificultas tanto Minha luta, já que és a única pessoa que poderia Me compreender? Não fui Eu quem mudou, fostes vós! Eu sou sempre o mesmo mas tenho de contribuir com Minha parcela para a Terra, pois sou também tributário dela. Enquanto existirem estas algemas, tenho de lutar contra elas, e estou sozinho! Afasta todos os teus pensamentos e desejos humanos, pois o que achas bom para Minha felicidade seria a desventura para a humanidade. A luta não é por Minha causa, mas é contra tudo que é mundano. Não procuro metas humanas, mas Divinas!

Dá-Me, pois, tua mão e afasta de ti qualquer mágoa (— tristeza maior ainda te partirá o coração — acrescentou em voz baixa). Desiste de todos os desejos e nutre uma só esperança: a de que em Mim, Deus e o homem possam unir-se.

Só então poderei cumprir Minha missão convocando homens que, como Eu, tenham um só objetivo: alcançar a Vida Eterna. Sê calma e acredita que dentro em pouco chegará o tempo. Mas ainda planejo muitas coisas antes de começar.

Quando Eu ainda era criança tinha todo o teu amor, que era capaz de renunciar ao próprio eu. Tu tinhas confiança em Deus, o Eterno. Recebeste Graças em plenitude e, cheia de gratidão, Me apertaste ao teu coração. Hoje, quando mil vezes mais preciso de ti, quando luto contra as forças negativas em Mim, encontro apenas incompreensão de tua parte. Por isso, sinto-Me solitário e permanecerei sozinho até que venha a solução. Então todos vós sentireis alegria, e acontecerá o que foi escrito: O menor será o maior; a altivez porém, experimentará sua queda.

Maria, as bem-aventuranças do Céu começam somente onde a humildade e a entrega a Deus se unirem. E o esplendor de todos os Céus inunda o coração daquele que crê como fazem as crianças que podem crer sem saber. Por isso, não Me detenhais! A fonte que está em Mim tem de jorrar, a fim de que o mundo se coordene de novo com as Leis da Eterna Ordem de Deus."

"Jesus!", exclama Maria espantada, "O que planejas?! Fica em casa e não tragas novas aflições! Por que hás de Te preocupar com novas forças? O que queres mudar na vida terrena? Olha-me! Eu, tua mãe, Te amo tanto; poupa-me novas aflições! Pode ser que dentro em pouco o velho José nos deixe para voltar aos seus antepassados; então, só terei a Ti! Já passaram as grandes esperanças!

É verdade que frequentemente penso no passado, como Jehovah nos ajudou e até nos mandou anjos visíveis; mas, parece que Ele mudou Seu plano. Se penso no que foi dito quando Te concebi: "Deverias ser uma Luz nas trevas!" Porém, hoje quase nem Te lembras mais que tens uma mãe, és surdo e mudo, e Te aproximas de pessoas estranhas. Oh, Jesus, meu Jesus, isso me parte o coração de dor! Se tivesses ouvido teu pai de criação hoje de manhã, como se lamentou diante de Deus, certamente voltarias para nós e serias de novo nosso bom e querido Jesus!"

"Chega, mulher! Oh Maria, tu não sabes o que queres! Se Eu cedesse e fizesse vossa vontade, com certeza não cumpriria a Vontade de Deus. O Desejo e a Vontade de Deus vivem em Mim como uma semente, e por isso tenho de cultivá-la. Não procuro "forças novas"! É a velha Força Primordial que deve ser libertada nos corações humanos! Por isso Te rogo: acalma-te e deixa-Me agir tranquilamente. Virá um tempo em que serão recompensados teu amor, tua aflição e tua apreensão! Só um curto tempo, e o caminho estará aplainado e a estrada aberta para esta Força Primordial dentro de nós. Então vós Me seguireis, não coagidos, mas impulsionados por este mesmo Espírito pelo qual Eu luto, o mesmo que Eu devo libertar de todas as escórias e fardos psíquicos! Mas tudo isso é tão difícil, tão árduo!

Oh, mãe, compreende-Me só esta vez. Não Me deixes implorar-te em vão. Sê grande e forte e olha para Aquele que te escolheu. Mãe, abençoa-Me, Teu filho! Hoje ainda O sou; não sei se poderei dizer isto mais uma vez. Pois algo maior, mais poderoso, Me escolheu e tomou posse de Mim, a fim de que o inimigo de toda a vida seja despojado de todas as suas armas. Baixa teus olhos para Mim que estou ajoelhado diante de ti e professo amor filial. E que fizeste até agora para Mim? Deste alimento para o Meu Corpo, mas Minha Alma almeja ardentemente um amor que é vida e compreensão, e isso a um grau tão elevado que te assustarias! Acredita em Mim, Minha mãe, uma saudade vive em Mim e não pode ser abafada antes que Me desligue de tudo o que há de perecível em Minha Alma. É o Espírito que Me mostra claramente o caminho à plenitude de força e vida em Mim. E Ele Me indica com uma claridade luminosa também todos os obstáculos para essa meta. Um dos grandes obstáculos era o Meu amor filial, porém cego, por ti. Queria vencer sem te magoar. Quis lutar e esforçar-me, mas desejava que não o percebesses. Quis te fazer feliz como um bom filho, mas não o consegui. Pois tornei-Me Meu próprio obstáculo até que tivesse chegado à luta livre e aberta contra todas as forças negativas em Mim. Por causa disso, Eu vos deixei, correndo para a tranquilidade das florestas e alturas das montanhas, para lá encontrar-Me pelo crescente Espírito de Amor em Mim, que Me adverte e urge para a máxima pressa. Eu não fico cansado, se não o quero; não tenho fome, se não o quero. Mas, Meu coração ainda não sabe calar quando assim o quero. E ainda existem muitos desejos mundanos.

Agora te mostrei claramente Minha vida interior e também Minha meta. Abençoa-Me, pois necessito de teu amor! Porém, continua guardando silêncio diante dos irmãos e não te mostres mais preocupada por Minha causa. Não o prometas a Mim, mas a ti mesma! Que o Espírito de Jehovah e Seu Sopro de Amor pairem sobre ti e te fortifiquem até a vitória final. Boa noite!"

TESTEMUNHO DO ARCANJO

Rapidamente Jesus desaparece na casa, mas na alma de Maria mais uma vez ressoaram poderosamente as palavras Dele. Após uns minutos de silêncio, um raio rasga a noite e uma figura luminosa está diante da mãe assustada.

"Não tenhas medo, mãe aflita. Foste escolhida entre todas as mães, pois ainda presenciarás todos os esplendores do Amor Eterno de Deus. Coisas grandiosas estão para suceder a ti e ao mundo inteiro, não o esqueças! Ouve: A vitória é de Jesus. O inferno todo está furioso e tenta por todos os meios influenciar Jesus a fazer algo que adquirisse pelas forças alheias. E o que é pior para nós: observamos a luta e não temos a permissão de ajudar!

Onde Jesus está isolado, se encontram os adversários em grande número. Também tu, mãe amada, te encontraste do lado dos adversários e dificultaste a vitória de Nosso Senhor e Deus, em Jesus. Por isso, fortifica-te na minha luz e na minha palavra, e onde falta a fé, usa somente amor e esperança. Então se abrirão as portas do bem que está em ti; e na vontade forte e justa encontrarás suficiente força. E quem age por essa força não luta em vão. Agora devo partir até que Deus, o Senhor, nos chame de novo para vos servir dentro do Seu Eterno Amor. Então nos apressaremos numa doce e santa alegria, pois poderemos continuar a nutrir a semente no vosso peito.

Continuemos na expectativa. Permaneço, então, com humildade, teu bem-aventurado servo Gabriel. Amém."

JOSÉ RECEBE UMA VISITA EM SUA OFICINA

"Deus te saúde, irmão de Abraão, Isaac e Jacó!" Com essas palavras, um ancião de cabelos ondulados e barba estende a mão para José. "Finalmente posso saudar-te, pois muito desejo poder conversar contigo. Há dois dias já estive aqui, mas tua mulher me enviou a ti, pois meu coração está muito aflito.''

"Sê cordialmente bem-vindo, querido irmão Andreas, no Espírito do Senhor. Que o Espírito de Jehovah nos ilumine para que nos entendamos! Eu sei, minha mulher já me falou de tua visita, mas posso assegurar-te, em Nome de Jehovah, que tens uma ideia totalmente errada a respeito de meu filho Jesus. Por que te preocupas com Ele? Mesmo que Jesus se afaste de casa, ficando ausente por longos dias, Ele continua sendo um filho bom demais para desonrar a nós, que somos da estirpe de David.

Mas vem, descansa, talvez fales tu mesmo com Ele, pois está em casa tornando seu desjejum."

O velho judeu está angustiado e embaraçado e só o amor pela casa de José o motivou a voltar hoje novamente, já que nutre um pensamento cuja realização lhe é muito importante. É por isso que se preocupa tanto com José e Jesus.

Neste instante Jesus entra na oficina, faz uma breve saudação e fita Andreas com Seus grandes olhos, estendendo-lhe depois, sem falar, a mão. Andreas a segura como se não quisesse largá-la mais e depois diz a Jesus:

"Meu jovem e querido irmão e amigo em Deus! Sinto-me atraído para Ti como se fosses meu filho! Participo da alegria que proporcionas a teus pais, mas também devo ver com dor que não mostras, no cumprimento dos teus deveres, aquela sagrada seriedade que Deus transmitiu através de Moisés a nós e a todo o povo.

Venho fazer uma proposta, a ti e a teus pais: Sabeis que tenho uma grande propriedade, e neste tempo importante onde o exército dos pagãos, dos romanos, ameaça aniquilar toda fé e todos os bons costumes, preciso de um rapaz de confiança. Sabeis que não tenho uma semente masculina, apenas minha filha Edith vive comigo, e minha casa tornou-se solitária e desconsolada desde que Jehovah chamou minha mulher para o reino da morte. Vê, querido irmão José, tu já és velho, assim como eu; teus filhos exercem o teu ofício e eles podem continuar a praticá-lo também sem ti, pois entendem do trabalho.

Mas tu ficaste pobre e tua propriedade não cresceu. Não quero criticar o teu amor muitas vezes cego e a tua falsa modéstia, a qual muitas vezes te prejudica em vez de ajudar-te. Deixa, pois, finalmente falar a sabedoria e vem para nós, tu, tua mulher e Jesus, o caçula. Todo o resto, depois, deixemos a Jehovah, o Senhor."

José fita Andreas por longo tempo e depois lhe mostra com palavras comovidas: "Isso não é possível pois Jehovah quer que fiquemos aqui em Nazareth; mas, perguntemos ao próprio Jesus!" Jesus, que estava presente durante essa conversa, Se aproxima dos dois homens, inclina-Se perante Andreas e diz: "Cada palavra de tua boca é inútil porque em vosso coração e vossa mente, Eu não Sou senão o favorito e mimado de Minha mãe, como se não tivesse vontade própria. Aqui vos enganais inteiramente! E se pensas que Eu poderia servir-te como genro, então seja assegurado que nunca poderei pensar nisso, pois minha vida tem uma meta Superior!

Mas já que sois honestos e que tu, Andreas, vieste para nós com boas intenções, falemos agora um pouco sobre aquilo que unicamente é necessário, agora e em todos os tempos. Tu José, homem tão justo, como pudeste esquecer as Grandes Graças recebidas de Deus? E tu Andreas, justo conforme a Lei de Moisés, como se explica que não te bastam as promessas de Jehovah?

Não estais já os dois na idade em que não deveríeis mais ter preocupações nem perguntas? Tu, José, vês em Mim solucionada a grande tarefa em que Eu, através de uma luta imensa e difícil, desenvolvi faculdades e uma vontade perante a qual deves te inclinar.

Consequentemente deveria estar claro para ti que Deus, O Eterno, — que é o Grande e Verdadeiro Amor — não permitiria que Eu lutasse em vão, pois Seu Amor é baseado na Sabedoria. E assim, Eu estou agora diante de ti, não como teu filho, mas como Aquele que pode dizer:

Em pouco tempo a luta estará terminada. Então construirei um caminho que vai direto para a verdadeira meta da humanidade! E este Caminho Sagrado chamar-se-á "Amor Redentor" em benefício de toda vida ainda presa!"

E tu Andreas! Desejas ser feliz, sem tomar em consideração a miséria de outros. É por isso que te afliges com tua filha Edith, que amas acima de tudo, desejando-lhe a máxima felicidade. E na felicidade dessa jovem, queres esquecer tua idade e a morte que se aproxima. Mas nunca conheceste em tua vida a verdadeira felicidade? Não, nunca, de forma alguma, pois tu te regalaste na embriaguez da paixão que não conhece o amor. O que fizeste até agora para retribuir a bondade de Jehovah, que te fez rico e grande perante o mundo? Soubeste alguma vez o que quer dizer ser rico? Eu quero indicar-te um Nome que é rico! É Jesus, e está diante de ti. Sou rico! Pois o que Eu possuo não pertence ao poder do mundo e nunca ele invejará Minha posse, porque é invisível! Mas poucas mãos se estendem para alcançar essa alta posse que se chama liberdade. Ser livre na vontade, ser livre em toda ação! Não reconhecer nenhum poder além do Divino no homem e fora do homem, isto é riqueza sobre riqueza! Volta, pois, para casa, e vê se tua posse poderá ficar contigo além da tua morte corporal! Assim, poderás talvez compreender o sentido de Minhas palavras!"

"José!" exclama Andreas, "eu sabia que teu filho, pela grande solidão, desenvolveu fantasmas e ideias loucas, afastando de si qualquer pensamento prudente e claro, e se tornando um tipo esquisito!

Não acredites, querido irmão de Abraão, que essas histórias contadas a respeito de Jesus agradem à casa de Jehovah e ao sumo-sacerdote. Pois nenhum caso semelhante é conhecido em toda a história de Israel! E, sinceramente, não posso entender porque deixaste chegarem as coisas a este ponto; pois, justamente de ti conhecemos apenas temor a Deus e fé! Mas, não é tarde demais! Emprega toda tua influência, juntamente com tua mulher, e vem para mim! Pois em outro ambiente também Jesus se tornará diferente, e nós chegaremos ainda à nossa meta."

"Querido irmão Andreas", responde José. "Não teriam sido necessárias tantas palavras, pois não conheces suficientemente a Jesus, e eu O conheço muito bem. Exatamente aquilo que nós queremos, Ele não faz! Quanto minha mulher se preocupou e lutou! Quanto oramos, e sabes o que conseguimos? A certeza de que Jesus é chamado para algo diferente! Não sei ainda o que nos reserva o futuro; e quem sabe se eu poderei ainda viver muito? Mas uma coisa é certa: Jesus é diferente de nós.

Por exemplo, nós oramos ou cantamos um Salmo; Jesus se afasta e sobe um morro! Nós temos fome, estamos cansados após o trabalho do dia; Jesus parece ter uma natureza de ferro! Nós todos temos necessidade de trocar nossas ideias; Jesus, jamais! Normalmente não receberias Dele uma só palavra e já estou bastante admirado que Ele te dirigiu tantas palavras! Por exemplo, nós discutimos de vez em quando sobre o futuro; Jesus nem uma só vez! Mas se vem um doente ou mendigo à nossa casa, então Jesus está com ele e lhe dá consolação e esmola! E assim, observei Jesus em tudo o que fez, sem ter uma só vez motivo para criticá-Lo. Passa um pelotão de romanos pela rua e para diante da fonte; tu mesmo sabes que é rigorosamente proibido dar pão e água aos presos que estão com fome e sede. O que faz Jesus? Ele sai com pão e água, dirige um olhar aos romanos e eles permitem que Jesus sacie os presos. Quanto ficamos preocupados por este ato, mas Jehovah nos era favorável. E nunca tivemos qualquer prejuízo. Ao contrário, meus filhos receberam depois um trabalho bem remunerado do comandante romano. E assim vivo reconhecendo que o melhor é ficar calado. Já que Jesus se cala o dia inteiro, eu também poderei calar-me, ainda que minha boca queira falar."

Neste momento chega Maria e dirige um olhar interrogativo aos três homens, porque tudo está tão tranquilo na oficina. Saúda então cordialmente o hóspede e se dirige a Jesus, dizendo-lhe que precisa Dele para um serviço.

Jesus responde, à Sua modesta maneira: "É melhor ficares aqui por um momento, pois houve uma discussão por Minha causa. Se tens vontade de te mudar com José para Andreas, Eu fico aqui até que a vida pujante em Mim Me ordene de trabalhar e executar a Milha tarefa. Triste é a condição do homem que só quer tirar vantagens para si com sua propriedade.

De outro lado, não é menos grave quando um homem abandona levianamente o solo que o alimentou por muitos anos, proporcionando-lhe felicidade e muitas coisas belas. Pois é apenas pelo cumprimento de seus deveres que o homem se liberta do espírito da inquietação, deixando amadurecer a confiança, primeiro em si e depois no Eterno Deus e Criador. E assim, as situações são resolvidas automaticamente!

Queridos amigos e também tu, Maria, Eu estou certo do sucesso porque já se anuncia no Meu Peito uma nova Vida; mas o que Eu julgo ser vida, ainda não podeis compreender! Não é a vontade humana que leva a este resultado, mas sim um superar de desejos pessoais! Não espero o amanhã, o depois de amanhã; Eu conto apenas com o hoje. Quero resolver, cumprir as tarefas que a vida Me coloca hoje, e para isso Deus, o Eterno, Me dá força e êxito.

Vede aqui este grande pedaço de madeira; serão necessárias no mínimo de duas a três horas para furá-lo. Eu porém aplico apenas o ferro, dou uma volta com a mão e o trabalho está feito. Quanto tempo pensas, querido amigo, que precisei para alcançar esta habilidade? Anos foram necessários para firmar Minha vontade de maneira que todas as forças se ordenassem dentro de Mim, como se um segundo homem Me ajudasse com suas forças gigantescas. Mas isso, compreendereis apenas mais tarde.

Sede, pois, tranquilos, calai-vos, não faleis mais sobre Mim, e não vos entristeçais Comigo! Pois feliz é apenas aquele cuja paz não é abalada por qualquer contrariedade, aprendendo a contar somente com o auxílio que lhe vem do próprio interior.

E com isso, teremos terminado nossa conversa. Vem, Maria, quero cumprir o teu desejo. Que a bênção de Deus seja convosco. E tu, irmão Andreas, sê hoje o hóspede de José! Tenho ainda muita coisa para fazer que não vos posso contar para não tirar vossa tranquilidade. Saúda tua filha Edith; Eu sei, ela Me conhece e Me ama à sua maneira. Eu a amo também, mas, apenas da forma como amo a ti. Qualquer outro desejo tem que ser abafado pelo preço daquilo que vós chamais de felicidade. Minha meta é necessária para que no futuro todos os homens ambicionem apenas essa finalidade: tornar-se uno com Deus. E mesmo que se avolumem contrariedades sobre contrariedades ou obstáculos sobre obstáculos, sei que tudo isso é superado pela paz interior e pelo aconchego com Deus.

Nada, absolutamente nada, deve nos separar dessa grande atração para Deus, a fim de que Deus Se torne presente com todo Seu Amor e toda Sua Força no nosso interior. Mas enquanto Deus e o homem ainda são dois, Satanás pode triunfar. Somente quando Deus e o homem se tornarem um, então tudo o que os separa será vencido! E Eu poderei estar em qualquer lugar! Então se anunciará por toda parte a vida nova que cresce, que traz alegria e transmite felicidade em Deus e por Deus! Não Me contesteis agora, mas guardai Minhas palavras; pois um dia elas serão uma Luz, um Sinal, para que vós também vos dirijais para este Espírito Divino. Feliz és tu José, por não Me seres mais um obstáculo! E grande és tu, Maria, perante Deus, porque te curvas humilde diante de Minha Vontade! Mas o inimigo de toda vida está vigilante. Eu o sei há muito! Por isso perseverai no seguinte: Com Deus, tudo; sem Ele, nada."

“Agora ide com Deus! Amém."

DIÁLOGO ENTRE JESUS E JOÃO, O FILHO DE ZACARIAS, NUMA MONTANHA DESERTA

Sentado numa rocha entre elevadas montanhas, Jesus está olhando para as maravilhosas constelações de estrelas que o céu oferece aos Seus Olhos. É noite e, pensativo, Ele deixa vaguear Seu olhar ao longe! Apenas das baixadas pode-se ainda distinguir as alturas revestidas de florestas.

Seus Olhos procuram constantemente um ponto, para depois, como que desiludido, voltar a contemplar o céu. Um leve cansaço se apodera de Jesus. Ele não luta contra o sono, pois já é a terceira noite que passa nesta montanha! As estrelas empalidecem e uma suave aurora, assim como o recomeçar da vida dos pássaros das florestas, anunciam o romper de um novo dia!

Jesus desperta! Tendo arrepios de frio, Ele Se cobre melhor com Seu manto e Seu Olhar procura novamente aquele ponto nas baixadas, porém nada se pode ver ainda.

Então Ele cai de joelhos, apoiando Sua Cabeça sobre Seus Braços, e começa a orar: "Santo Pai! Tu, Amor de Todo Amor! Vida de toda Vida! Em tranquila adoração estou absorto nesta hora matutina! Mas vê, Eu preciso de Ti, da Tua Força! Vejo o caminho luminoso e as tarefas que ainda Me esperam como homem. Mas peço urgentemente: Dá consciência de que Tu estás em Mim, que Tu vives em Mim; não mais como uma segunda ao Meu lado, mas como a Minha própria Vida! Oh, Pai! Neste novo dia, tudo deve testemunhar que estás Comigo, e em Mim! Amém!"

Jesus Se levanta. De novo procura com Seu Olhar aquele ponto que agora se apresenta no crepúsculo como um desfiladeiro. Sobre o caminho gira um abutre pronto para se precipitar sobre sua presa. Então Jesus, como que falando para Si Mesmo diz: "Para vós também haverá um dia a redenção, quando a semente for posta e o inimigo vencido! Oh, tu, pobre Terra com teus habitantes mais pobres ainda, como serias feliz se o inimigo de toda vida cumprisse como pastor pacífico a tua vontade, a vontade de Deus! Mas, Meu bom Pai, ainda não chegou o tempo para Teu Amor e as Tuas Metas!"

Jesus caminha um pouco e fixa o olhar no sol nascente banhado em brasas. O sol se eleva mais e mais, irradiando sua luz branca.

Jesus estende os Braços como Se banhando na luz, vira-Se e vê de repente "a Sua sombra": Seus Braços estendidos, Seu Corpo — dos pés à cabeça — representam uma cruz! "Oh, tu, Cruz, símbolo da humildade, sinal da impotência, marco da eterna Criação Divina! Em teu sinal, Eu vencerei!"

E Jesus, com leves arrepios, senta-Se novamente numa pedra olhando outra vez para o desfiladeiro: "Será que ele virá? Seguirá a chamada do espírito?", pergunta-Se Jesus, para depois dizer como em oração: "Oh Tu, Amor Eterno, é Tua Vontade (que João venha)! E é do Meu desejo que ele Me pertença! Nossos dois corações devem se abrir largamente para servir-Te em Teus Desígnios!"

Ao longo do desfiladeiro vem um jovem como que guiado por uma mão invisível, e com passos rápidos se aproxima de Jesus. Com a face corada, está ofegante e exausto. Correu durante a noite sem pausa nem descanso, atravessando rochas e florestas, ervas e matagal para ali chegar onde Jesus está sentado.

"Deixa-me descansar Contigo, meu irmão de coração, e deixa-me perguntar o que tudo isso significa? Pois há três dias sinto uma grande saudade de Ti, mas muitas dúvidas se apresentaram, uma vez que deverias estar em Nazareth com Teus familiares! Essa ânsia aumentou, e deixei a casa paterna, onde agora minha mãe está preocupada, e fui para as montanhas. De repente, foi como se essa ânsia em mim se tornasse força e certeza, como se um dedo invisível me mostrasse o caminho através de muitos e muitos obstáculos.

E agora — Graças a Jehovah — estou aqui! É evidente que Tu precisas de mim! Deixa-me saber o porquê e qual a finalidade? Dize-me, irmão de meu coração, não teríamos tido mais conforto e beleza se falássemos em casa em vez de aqui em cima, neste deserto sem vida — tendo acima de nós o céu; abaixo, ao fundo, a pátria?! Aqui estamos como dois abandonados por Deus, sem alimento, nem proteção. O que significa tudo isso?"

Com meiguice, Jesus responde: "João, dá-Me tuas mãos e deixa-Me olhar teus olhos queridos e fiéis. Sei que não há falsidade em ti, mas tenho grande medo e tristeza por tua causa. Deixa-Me acabar de falar e olha-Me firmemente, para que todos os escrúpulos se desvaneçam e tu vejas o âmago de Minha Alma! Vê, aqui em cima, neste ar puro das alturas rodeadas por seres piedosos, somos livres da opressão que as baixadas exercem sobre todos os corações. Cansados e enfraquecidos pela fome e sede, sem nenhuma possibilidade de nos saciar, aqui o espírito não tem dificuldade para nos fortalecer e nos aliviar. Aqui nossas almas tornam-se mais capazes de receber o alimento e as sublimes dádivas diretamente das Mãos do Eterno Deus.

Eu te chamei, e tu vieste! Lembras-te das conversas de nossos pais? Lembras-te do que nós falamos, tantas vezes, durante as breves visitas? Mas tu o esqueceste e te deixaste influenciar por aquilo que teu intelecto te disse! Nunca sentiste que, apesar de tua boa vontade e de tuas intenções honestas, ficaste internamente pobre e sem paz? Vê, nós dois somos escolhidos para algo maior que tu jamais poderias adivinhar! Não posso descrever com palavras o quanto lutei e Me debati! Para Mim sempre foi séria e santa esta gigantesca meta de vida! Crês realmente que Deus, o Eterno, deve vir ao teu encontro para te oferecer as Suas Graças? Irmão, enganas-te muito! Pois só através de uma enorme luta interior e um santo rigor o homem pode alcançar as dádivas divinas!

Fomos escolhidos pelas imensas providências de Sua Graça para devolver-Lhe o que está perdido. E tudo que se perdeu repousa agora em nossos corações, e é uma parte de Deus, eterna e imperecível. Mas esta Vida da Graça não Se manifestará em nós enquanto houver a mais leve atração e amor pelas coisas perecíveis!

Eu tomei consciência desta nossa missão! Eu vi a riqueza de força e plenitude em nosso Espírito e Minha Vontade Se tornou cada vez mais forte de rejeitar tudo que é mundano! Por isso, querido João, perscruta teu próprio coração, pois aí está o Berço e o Repouso do Amor Eterno de Deus. E somente onde existe este Amor pode brotar a nova Vida!

Tudo que vês é internamente doente, e mesmo moribundo, podes percorrer a Terra inteira! Não há quem ajude! O Salvador vive em nós no início apenas como um quase invisível e pequeníssimo átomo, e quer ser nutrido e cuidado pelo nosso amor para essa Nova Vida de Deus. E então perguntarás: Com que deveria nutrir em mim essa Vida Divina? A resposta não é fácil. Ei-la: Com aquilo que tu sacrificas em desejos terrestres, com o que renuncias de tua própria alma! Então, todas as forças obstrutivas estarão prontas para servir-te. Eu preciso de ti como Meu arauto, como aquele que deve chamar a atenção dos homens para o que há de vir: como Vida Divina em Mim para todos os homens!

Tu conheces o Templo e sua atividade hipócrita. Tu conheces a Escritura e todas as promessas. Há muito sabes que o Amor Eterno quer encarnar-Se em Mim nesta Terra e nesta época. E no entanto te apegas à Lei rígida! Vê, se Deus te proporcionou as forças para que pudesses repelir o pecado, não penses que todos os homens foram criados assim! Já experimentaste todas as profundezas de tua alma? Possuis os meios para sarar ou curar teus irmãos doentes? Não! Pois tua fé e atividade se apoiam apenas naquilo que aprendeste no Templo e nas Sinagogas. Não é preciso ser um espírito perspicaz para julgar tudo o que está errado e falso, nem ser um iluminado para reconhecer tudo o que é mau. Mas o tempo chegou em que tudo o que é divino deve tornar-se manifesto no homem! E só pode tornar-se manifesto na Luz da nossa verdadeira, séria e santa devoção a Deus e pela renúncia de tudo o que é mundano no próprio Eu, e isso em todos os homens!

Olha, pois, ao teu redor! Raios de luz nos envolvem para nos fazer reconhecer que tudo o que quer viver deve ser banhado pela luz, pois é a luz que beneficia todo crescimento! É a luz que ilumina a trova em nossa alma! E é a luz que nos faz reconhecer tudo o que é nocivo em nós!"

Diz João: "Querido irmão Jesus! Teu amor é grande, sinto isso agora nesta hora, mas ainda não posso Te compreender. Lembro-me do que Me falaste a respeito do nosso futuro, e me lembro ainda que declaraste o meu fim como não satisfatório, dizendo que eu seria vítima do amor-próprio.

Mas minha cabeça ficou toda confusa quando refleti sobre Tuas Palavras sérias demais, porém ainda assim pronunciadas com grande Amor. Hoje, o mesmo acontece nesta hora matutina!

Só agora percebo, de novo, onde realmente nos encontramos e toda a força misteriosa que me atraiu para cá. Oh, Jesus! Sinto medo aqui neste deserto; vamos voltar! No caminho poderemos falar sobre o que eu devo fazer para Ti. Mas vem, afastemo-nos daqui, e não me faças pedir-Te em vão!"

Jesus: — "João, se tu não queres compreender-Me hoje, rompes um apoio, uma esperança em Mim! Vê, há três dias estou sentado aqui na expectativa, e agora que estás Comigo não participas de Minha luta! Sentes o Meu Amor, e ele faz bem ao teu coração; mas agora mostras que não conheces ainda um amor verdadeiro. O verdadeiro amor não conhece mais dúvidas; pois, aquele que ainda mede o amor, não ousa nada! Apenas o "amor verdadeiro" arrisca tudo, sem refletir, mas o guia para tal Amor Sagrado deve ser: a luz de Deus e Sua Sabedoria! Eis porque muito do teu "eu", tudo até, deve ainda morrer!

Fala-Me mais da tua opinião, lembrando-te porém, que sempre houve dois em todo acontecimento!

Quando Adão foi colocado nesta Terra como senhor, como representante de Deus, tudo o que fora criado se encontrava, em relação a ele, como num relacionamento entre homem e mulher. Adão, a força criadora divina; a criação, a que dá à Luz.

Mas por própria culpa, pelo seu amor-próprio, toda essa glória se perdeu nele.

Depois Adão (como a força criadora) deveria reencontrar-se na "mulher"; por isso, reuniu Deus em Eva tudo o que se relaciona à criação. Mas Adão pereceu juntamente com sua mulher.

E até hoje o Próprio Deus, o Eterno, tem cuidado Sozinho de tudo o que caiu e se encontrava em julgamento.

Agora, finalmente, em nós dois foram criadas todas as condições comparáveis a um Adão e a uma Eva, e, tão puros como eles foram no início, podemos primeiro ter uma influência benéfica sobre a vida interior errada dos homens e depois — em consequência — sobre toda criatura.

E assim, encontramo-nos diante de grandes tarefas! Eu conheço a Minha e te mostro a tua! Agora, trata-se de ter bom êxito.

Eu já me encontro no final da Minha grande luta e quero apoiar-te e mostrar-te o alvo esplêndido.

Pois, irmão João, se fracassares nesta época importante, outra prova virá ainda sobre ti, maior e mais difícil! Reflete!

Amas-Me de maneira a poder dizer que Eu e tu somos um?

Então Eu (como Amor) sou tudo para ti! E tu (como compreensão por este Amor) és o primeiro que deve produzir frutos de vida eterna. Caso contrário, deverás mais tarde buscar e às vezes cometerás erros. E as provas para tua fé virão de acordo com tua capacidade de suportá-las. Fala-Me então e sê franco Comigo!"

João silencia. Finalmente diz: "Querido irmão Jesus! O sentido profundo de Tuas palavras é incompreensível para o meu intelecto limitado. Obrigas-me agora a enfrentar problemas e tarefas das quais eu não sou digno! Procura outro melhor, que possa compreender tal poderoso amor! Não posso agir contra minha natureza, não posso viver uma vida que me é ainda estranha.

Vê, tu conheces minha educação: rígida conforme as regras da Lei de Moisés. Mas, para mim este amor pelo qual Te empenhas é fantasioso demais! Temo que fracassarás totalmente!

Não consigo compreender Tua luta para vencer Tua Carne e Teu Amor-próprio. Queres exemplificar uma vida provinda de Deus, abrindo um caminho que faça de nós homens o amparo e a salvação para tudo o que é perdido? Oh, meu Jesus, bom e querido homem, permanece o que És, agindo assim melhor em relação a Ti Mesmo! Não penses que possas quebrar a força do Templo!

Não penses que os guardiões do Templo acreditarão em Ti! Isso eu o sei bem, e é por isso que me tornei tão duro e rude. Ainda que saiba evitar o pecado, se pequei durante o dia, antes que caia à noite, já terei feito penitência em saco e cinzas. Mas, exceto de Ti, da minha e da Tua mãe, nunca ouvi algo de amor, indulgência e bondade; e meu pai há muito tempo não está mais entre nós. Acredita-me, se pudesse destruir o Templo, eu o faria, porque é lá que reina poderosamente o pecado! Mas sou apenas um homem, e quero ficar fiel ao meu propósito de anunciar "a vinda do Céu" a todo o povo! O que Tu possuis como Força de Amor, é para mim uma aspiração. Sim, pressinto coisas grandiosas em Ti! Mas conhecimento verdadeiro me é mais importante do que pressentimentos. Portanto, escolhe outros que Te sigam de livre vontade! Pois Tu És Senhor em Tua Essência e Teu Ser, enquanto sou apenas Teu servo! Mas, deixa-me desfrutar ainda hoje, Jesus, o direito de chamar-Te — “Irmão!” Deixa-me uma só vez ainda abraçar-Te e beijar Tua Boca e Teus Olhos fiéis! E esta lembrança me dará forças quando mais tarde a vida me tratar duramente. Oh, meu Jesus, meu Irmão!”

Jesus: "Vem, Meu João, ao Meu Peito! Espiritualmente já te prendi a Mim para sempre, pois te amo, te amo muito. Tenta compreender o Espírito em Mim, e sente o Sagrado desta hora matutina! Sacia-te e afasta todos os escrúpulos, pois só uma coisa é necessária: reconhecer-Me, reconhecer o Espírito da Luz e da Vida em Mim. Assim estarás preparado para ser Meu mensageiro e precursor.

De fato escolherei outros irmãos, que reunirão em si futuramente aquilo que tu deverias representar. Vê, eu poderia influenciar-te da mesma forma como te chamei para cá; mas no futuro também isso não poderei mais fazer, pois o inimigo de toda vida possui espiões demais. Por isso, só é justo aquilo que se faz com o amor livre do coração. Desfruta, pois, bem desta hora!

Agora é o Espírito de Amor que nos une, e quer que a vontade de cumprir a Obra Sagrada seja fortalecida.

Se posso mais uma vez falar-te neste sentido depende inteiramente de tua atitude, da tua disposição.

Se queres ser sempre Meu fiel João, então expulsa toda teimosia, toda presunção, pois é cem vezes melhor sofrer injustiça do que fazê-la. E se queres realmente crescer neste Espírito de Amor e viver Nele, age de maneira a não desiludir ninguém ao teu lado. O poder e a bênção dos Céus pertencem apenas ao coração que pode se curvar humildemente perante Deus, o Senhor. Pois só o coração penetrado de Seu Espírito poderá agir a serviço deste Amor.

Oh, Meu João! Vence agora todos os escrúpulos e liberta-te! Chegou nosso tempo e todos precisam de ajuda!

Vê como a Terra é bela: nas suas florestas silenciosas reina ainda a paz. Mas deixa vir os homens, e toda a paz acabará. Eles não sabem mais o que é paz e o que serve à paz! Não sabem mais o que é Amor e o que serve ao Amor! Prontifiquemo-nos, pois, a servir alegremente este Amor.

Não Me perguntes onde e quando. Em teu coração receberás a resposta! Mas, se seguires teu caminho sem Mim, também Me resignarei e não te impedirei de fazer teu serviço, escolhido por ti mesmo, para a grande Obra Divina.

Anunciei-te Meu desejo. Escolhe! E conforme tua ação -- terás a recompensa. Vamos nos separar agora. Que o caminho de volta te seja leve e livre! Eu fico aqui no alto até cair a noite, para firmar-Me ainda mais e unir-Me ao Santo Ser Divino em Mim!

Aceita ainda Minha Benção de Amor, e lembra-te destas palavras do teu Jesus! Amém!"

João quase não consegue partir, pois pela primeira vez em sua vida sente o que quer dizer separar-se. Com lágrimas nos olhos, se despede dizendo: "Aguardo Tua chamada, meu fiel Jesus! Que Deus seja conosco. Até o reencontro!"

Com passos rápidos, João desaparece no desfiladeiro, e Jesus está sozinho! Sozinho!!! E Seus lábios murmuram:

"Oh, João! Se tivesses ficado aqui por livre amor! Nunca mais nos teríamos separado até a vitória!.. Mas isto também Eu devo vencer ainda hoje! E durante a noite, quando não encontrar mais ninguém, voltarei para casa onde Minha mãe Me espera ansiosa.

Oh, Deus! — Oh, Pai! — Tu que És Amor! — Quanto Te agradeço porque Minha mãe Me compreende e não faz mais perguntas! Sua mão meiga na Minha cabeça Me dá forças, é bálsamo para Minha alma dolorida. Agradeço-Te, Maravilhoso Pai, que Te glorificas desta maneira no coração de Maria e que Me fazes sentir o grande, importante e sublime alvo!

Haverá certamente ainda dias sombrios; mas o mais difícil está vencido. Como seria feliz se José pudesse também compreender-me totalmente, assim como Maria. Mas, coração, agora deves te calar, para que Deus possa falar em ti!"

E assim, terminou esta cena na montanha.

CADERNO NÚMERO 2

JESUS E JACÓ NO CAMINHO PARA UM NOVO LUGAR DE TRABALHO

Numa bela manhã, Jacó e Jesus, com os seus instrumentos de trabalho nas mãos e nas costas, caminham a passos largos pelo campo. Por muito tempo, sem falar, passaram por aldeias e vilas até que finalmente Jesus perguntou a Jacó: "Acalmou-se, enfim, teu coração?"

Jacó respondeu: "Totalmente ainda não! Mas, falando com franqueza, já me acostumei a caminhar Contigo e a Teu lado, como um mudo. Vê, meu irmão Jesus, não esqueci nada, tenho esperança e fé! Mas uma vez que Me permites falar e que nós dois estamos a sós, então Meu Jesus, deixa-me dizer-Te francamente: Foi um tempo difícil! Difícil para nós, difícil para Ti! Mas diga-me apenas se isso era realmente necessário?!

A aflição em casa, o velho José — que não pode fazer mais quase nada — e Tu Jesus, Homem tão bom, és capaz de permanecer solitário, mudo e retraído?

Esqueceste tão depressa o que Tu Mesmo nos ensinaste? Se releio as anotações, meu Bom Jesus, creio estar sentado às portas dos Céus Eternos. Mas quando vejo Teu comportamento atual, me encontro diante das portas do inferno, e meu coração está cheio de dilemas! É bem verdade que fazes Teu dever melhor do que todos nós, mas não posso compreender Teu comportamento.

Quando ainda eras Criança, procuravas pelo Teu Jacó, e agora que poderíamos nos entender melhor, me evitas?! Estou até admirado que o pai permitiu que nós dois nos afastássemos de casa e trabalhássemos fora por mais ou menos quatro semanas, e que Maria, Tua mãe, concordasse com isso!"

Jesus: "Meu Jacó! Não perguntes demais de uma só vez! Tudo tinha que acontecer assim, porque Eu o quis! No fim, tu mesmo compreenderás porque Eu te escolhi para esta viagem de trabalho! Presta atenção a tudo! Não julgues nada, nem as mínimas coisas, pois tudo tem seu motivo! Quando Criança, Eu te procurava sempre para aprender na escola da vida. Se não o faço mais agora, é porque não é mais necessário! Mas, irmão Jacó, dou-te agora um bom conselho: Vem tu tanto mais para Mim, aconselhando-te Comigo, pois em Meu Coração vive a Plenitude e muita riqueza.

Quão grande poderia ter sido tua felicidade e a de todos vós se, recordando-vos das magníficas revelações cheias de Graças, tivésseis acreditado, contribuindo assim para uma solução mais fácil e rápida.

Hoje, Meu Jacó, não estou apenas com um pé, mas com os dois no verdadeiro solo de Deus, e o que Moisés apenas sentiu, Eu o sei: Este solo é sagrado!

E onde pude conseguir tudo isto? Vê, apenas no silêncio e na solidão! Tive que vencer com firme vontade o Meu Coração. Foi sério para Mim e para vós; e não quisestes compreender esta necessidade para Minha vida. Foi por isso que Me tornei calado e pouco comunicativo!

Toda a aflição na casa de José ardia em Minha Alma. Verti muitas lágrimas e muita dor penetrou no Meu Coração que queria regozijar-Se convosco, queria ficar contente e alegre. Mas isso teria sido a morte; a morte espiritual para tantos! É mais fácil falar-se de tudo isso quando a maior parte já foi vencida; mas acredita-Me, ainda resta muita coisa a vencer!

É compreensível que a mãe se preocupasse e sofresse muito. Mas fostes muito injustos em apoiá-la na sua atitude errada, ridicularizando até este Amor Sagrado que nos uniu (pois ela Meu apenas como filho)! Mas tudo isso passou! Espero que futuramente, e enquanto ainda estivermos juntos, a vida seja mais cordial e pacífica.

Ouve, Meu Jacó, Eu queria ficar e trabalhar contigo nestes dias a sós. Não utilizarei forças sobrenaturais, pois “Meu Tempo” ainda não chegou. Mas na casa de Zaqueus, onde vamos trabalhar, deixa a Mim, como o mais moço, as determinações de trabalho. Nossa fama de carpinteiro é boa, e Zaqueus, como descendente de Abraão, deve ser preparado para o trabalho no Reino de Jehovah. Mais tarde, ele deverá se tornar uma testemunha importante para todas as eternidades!

É verdade que não posso dizer: “Faça isto ou aquilo!” ou “Eu quero assim!” pois o livre arbítrio dos homens Me é sagrado, assim como o teu! É por esta razão e este princípio de vida, que quero fazer tudo de maneira que no futuro não seja exercida a mínima pressão sobre vós. Observa isso, Meu irmão Jacó!

E agora fiquemos ainda um pouco calados. Na próxima aldeia pernoitaremos. Lembra-te, pois, de Minhas palavras!"

CHEGADA AO ALBERGUE DE UM VELHO HOSPEDEIRO

Assim os dois caminhavam. Jacó tinha no coração um dilema, e Jesus, no Seu Semblante, um traço pensativo!

Após uma caminhada longa e cansativa, chegaram ao albergue. Seguindo o costume dos judeus, eles se lavaram os pés e pediram em Nome de Jehovah comida, bebida e pousada, o que o afável hospedeiro gentilmente lhes concedeu.

Da sala ao lado chegava uma gritaria de soldados romanos que se fartavam de beber, mas os dois se comportavam como se nada tivessem com isso.

Depois de terem comido e bebido, veio o velho hospedeiro e perguntou como passavam. Jesus agradeceu-lhe com ornáveis palavras e perguntou-lhe: "Como nos perguntaste com boa intenção e sinceridade, permite-Me também que te pergunte: Estás contente e feliz?"

O velho hospedeiro olhou-0 com seus olhos penetrantes e disse: "Tu, jovem amigo, és o primeiro que me pergunta sobre contentamento e felicidade. Mas para Te responder de maneira honesta, deveria dizer: "Não!" "Porque mágoa e tristeza pesam no meu coração. Ouve esses estrangeiros, como se comportam! Como proprietários! E tenho que assistir passivamente como eles blasfemam contra tudo que nos é sagrado! Se no dia seguinte chegam os templários e me queixo com minha mágoa, eles respondem que não oramos e sacrificamos o suficiente.

Quanto esperava que nossa boa pátria fosse novamente julgada digna de abrigar todos os judeus como homens livres e felizes, amados e abençoados pelo Senhor Deus Zebaoth! Já estou velho e com os cabelos grisalhos; e quem sabe se não voltarei brevemente para os meus antepassados? Quanto esperei pelo Salvador, o Messias! Quanto também acumulei secretamente, amor sobre amor, bens sobre bens, para honrar Aquele que deveria tirar nosso povo da Babel romana!

Há cerca de 25 anos, sábios e sacerdotes indianos passaram por aqui com seus camelos e nos contaram — aqui, nesta mesa — da sua esperança de UM que nascera em Belém. Este seria o escolhido por Deus para libertar o país dos invasores e trazer a luz em todos os quartos sombrios!

Anos depois ouviu-se ainda algo sobre este menino prodigioso. Mas agora, que já estou curvado pela velhice, desvanecem-se todas as esperanças!"

"Tu, querido hospedeiro", disse Jesus, "disseste-nos agora mais do que querias; mas, atraído pelo nosso amor por ti, não pudeste silenciar. Assim, Eu te digo: Compreendo tua ânsia, tua esperança e tua dor.

Também no Meu coração vive a firme convicção: daqui a pouco vem a Salvação! Dentro em breve chegará o Tempo! É verdade que provavelmente não a presenciarás. Vai ver agora os teus hóspedes, pois estão te procurando!"

Abre-se a porta e, com a face corada, entra um sargento, vem à nossa mesa e nos convida para acompanhá-lo ao quarto ao lado, uma vez que nos viu sozinhos. Eu agradeço, mas não aceito e lhe digo: "Por que não te sentas tu à nossa mesa? Vê, caminhamos hoje o dia inteiro e temos ainda uma longa viagem diante de nós; precisamos, pois, de repouso! Mas por um tempinho poderíamos ficar juntos!"

O militar olha para Jesus, estende-lhe a mão e diz: "Se Te olho assim, algo desperta no meu coração que me faz muito feliz! Não pode ser do vinho que bebi! Contigo poderia logo travar amizade!"

Jesus Se levanta da mesa, dá-lhe a mão direita e diz: "Que teu desejo seja satisfeito! Agora, nesta hora, não tenho outra coisa para te oferecer do que Minha amizade! Mas virá o tempo, em que Minha amizade será para ti a maior felicidade.

Minha índole é esta: Quando reconheço um homem como amigo, quero fazê-lo inteiramente feliz. E Meu Amor deve ser como um sol que nasce e envolve tudo com seu brilho resplandecente. E assim digo: Sê feliz! Chama-Me teu Jesus e grava Minha imagem no teu coração, se estiveres longe para cumprir o teu dever.

Pois vê, também Eu te aceitei no Meu coração e quero amar-te e abençoar-te! Meu Coração tem um só pensamento: Como fazer para que todos os homens reconheçam a grande felicidade que os espera, se se concentrassem em tornar felizes os outros!

Vê, tu és pagão; Eu sou judeu. Mas nossos corações não perguntaram: ‘Quem és tu?’. Mas nos deixamos, ambos, cativar pelo impulso do Amor, para nunca mais — a não ser fisicamente — nos separarmos Dele.

Eu sou Quem Sou! Vejo Minha grande missão diante de Mim como uma paisagem magnífica vista de uma montanha, e claramente discerno o caminho que devo palmilhar. Quando chegar o tempo, anunciarei ao mundo atento que o seu comportamento de hoje, falso e errado, é a perdição de todos. E que cada homem só deveria trabalhar para si e por si, a fim de romper as algemas que nos prendem a todos tão estreitamente ao "mundo".

Podes Me olhar, Meu querido Julius! Conheço teu nome e a ti há muito tempo, e tu certamente também desejarás Me conhecer melhor.

Dá-Me tua palavra de honra de silenciar sobre tudo o que falo contigo, e o dia de hoje será cheio de bênçãos para ti! Vês agora "Aquele" do qual teu irmão tanto te contou e te recomendou: "Se encontrares Jesus, segura-O! Se possível, prende-O, de modo que Se torne teu amigo!"

Se bem que Meu irmão Jacó, aqui presente, tivesse sido testemunha de tantas magníficas revelações divinas, aconteceu a ele o mesmo que a teu irmão Cornélius: eles não reconheceram ainda o Espírito em Mim. Mas tudo necessita de tempo!

Tu, porém, reconhece o Deus Eterno dos judeus e aceita-O em ti! É Ele que pode nos dar a força para remover as algemas e todos os impulsos das tenebrosas paixões, todos os maus instintos em nós. Então compreenderás Minhas Palavras.

Todas as felicidades têm sua origem no âmago do próprio coração! Mas enquanto paixões ainda dominam o homem totalmente, a verdadeira felicidade não pode nascer nele!

Perguntas: "Como devo compreender-Te, meu Jesus?" E Eu te digo: Observa os teus soldados, como são no serviço e fora dele, quando estão sóbrios ou sob o efeito do vinho! Aqui tens Minha resposta!

Pois se Eu te dissesse tudo o que é preciso, seria um obstáculo no teu caminho para tua futura felicidade. Mas se descobrires tudo por ti mesmo, então pensa em Mim e Eu te apoiarei e te abençoarei na luta contigo mesmo!

A maior felicidade da humanidade consiste na ausência de ambições! Mas os degraus para esta felicidade não conduzem para o alto, para a honra e a fama, mas, pelo contrário, conduzem à humildade, à renúncia do próprio eu, a estar pronto para servir e ajudar, mesmo com sacrifícios!

És romano, quer dizer, um homem de vontade firme. Mantém a decisão e jamais nos separaremos, ainda que fisicamente estivéssemos distantes um do outro! Mas, tenta pensar como Eu: Quem tem Minha amizade não pode ser amigo do "mundo", pois o mundo todo é oco, podre e doente, e mesmo moribundo!

Por isso, Eu Me preparo para lutar contra o mundo, para servir e ajudar aqueles que Me dão a sua amizade a conseguir esta meta sublime."

Novamente entrou o velho hospedeiro, e Julius lhe disse: "Meu prezado hospedeiro, traze-nos mais um cântaro de vinho e dois copos, porque eu travei amizade com Este jovem operário, e isto deve ser festejado!"

Antes de sair, o hospedeiro olhou demoradamente para Jesus. No quarto reinava silêncio e foi como se as palavras de Julius recebessem vida somente agora! Veio o hospedeiro, pôs um cântaro de vinho na mesa e queria encher os copos, mas Julius disse: "Deixa-me servir, pessoalmente! A Ti, Meu Jesus, primeiro; a ti, Jacó, depois; a ti, hospedeiro, como testemunha; e para mim, no fim!" E assim, Julius tomou a taça bem cheia na mão esquerda, segurou com a direita a mão esquerda de Jesus e disse: "Vem, brindemos pela nossa amizade, e vós dois como testemunhas confirmai para que o espírito e a essência do verdadeiro e puro amor fraterno e amigo nos una enquanto estivermos vivos. Que não advenham tempos que façam vacilar nossa amizade, para que nós nos ajudemos e sirvamos sempre que for necessário!"

Mais uma vez, Jesus pede a palavra e diz: "Assim seja para sempre!" E com grandes goles os três bebem tudo; Jesus, porém, bebeu lentamente, gole após gole, como se quisesse saborear cada um separadamente. Então pediu Jesus: "Querido Julius, deixa-nos agora a sós. Queremos nos deitar, pois devemos prosseguir com o nascer do Sol."

Julius não concorda e diz que o dia de hoje é uma exceção; mas Jesus continua firme e resoluto, e diz: "Vamos nos despedir por hoje e, se Deus quiser, nos reveremos dentro em breve!"

Julius, sem perguntar, toma a cabeça de Jesus entre suas duas mãos e beija calorosamente sua fronte e sua boca. "Pronto, Meu Jesus! Para que Tu fiques sempre na minha memória, eu fiz o que minha mãe gostava tanto de fazer comigo! Que Teu Amor seja minha força!"

Ao sair, Jesus disse mais uma vez: "Julius, o que tu Me fizeste hoje, com amor e por amor, Eu farei espiritualmente cada dia por ti, se tu não Me perderes no teu coração! E assim, que o Amor te abençoe!"

O velho hospedeiro estranha e não consegue se acalmar: um romano trava amizade com um judeu? E diz Jesus: "Sim! Pensas que entre os romanos não há homens que merecem nossa maior estima? Estou plenamente consciente de não ter dado a felicidade da Minha amizade a um indigno. Pois Julius — sozinho — tem mais valor do que todos os que pertencem ao Templo de Jerusalém. E não digo demais se afirmo: Prefiro dar Meu Amor e Amizade a dez fiéis de fé diferente, do que a um sacerdote da Casa de Jehovah!

Não te deixes enganar! Sê sóbrio, continua bondoso, e então também teus olhos verão "a salvação" que serve para todo o povo! E agora descansemos!"

E assim, mais um dia importante terminou no caminho para a meta maravilhosa de Jesus!

DIÁLOGOS COM JULIUS SOBRE O PAI EM NÓS

Bem cedo, antes do aparecimento dos primeiros raios do sol, os dois viandantes já se encontravam na sala junto com o velho hospedeiro, que não quis deixar de se despedir pessoalmente destes extraordinários hóspedes. E assim, todos tomaram o desjejum. Da cozinha ouvia-se o canto de Salmos de David entoados pelos outros moradores da casa. E disse o velho hospedeiro a Jesus: "Querido jovem amigo, perdoa-me que sou ancião, porque não mais vos compreendo em vossa juventude! Como Te foi possível travar amizade com nossos inimigos que são pagãos? É incrível com que rapidez Tu Te dás com os outros, enquanto quase não reparas no Teu irmão? Realmente não consigo Te compreender!"

Diz Jesus: "Meu querido hospedeiro, homem fiel e justo! Ao lado de José, Meu pai de criação, talvez não haja outro como tu. Mas fica sabendo o seguinte: Não conheces nada da verdadeira vida, nem mesmo tens um vislumbre dela! Vê, o que fiz e o que faço, é feito pela Vida do Amor em Deus! Tu, e que fazes, é simplesmente obedecer às rígidas Leis.

Vê, o alvo e o princípio de Minha Vida é fazer os outros felizes e banhar-Me nesta felicidade!

Tudo que foi criado é destinado à felicidade dos homens. Mas o homem marcou fronteiras, enriqueceu-se de coisas que deveriam servir a todos, e daí surgiram as diferenças onde aquele que não sente mais as belezas espirituais se recompensa por meio de prazeres sensuais. A outros, o belo não traz alegria devido a tanta inquietação e aflição. Eu, porém, tenho Amor a tudo que é belo e quero tornar belo tudo que é feio.

E no peito daquele militar Eu vi uma bela alma. Eis a razão de Meu interesse por ele. Pude então implantar nela pensamentos de Amor como Vida de Deus, que um dia florescerão em toda beleza pela Graça de Deus.

Também em ti vejo uma saudade, um impulso, mas que não se pode realizar. Teu pensamento tem direção diferente. De má vontade serves aos romanos e os consideras inimigos e adversários de Jehovah. Mas o Espírito em Mim te diz: "Não poderia imaginar um melhor arauto do que a opressão por uma ocupação estrangeira, pois impede ações do Templo que a muitos conduziriam de volta ao paganismo. E mais de um serás forçado a pensar sobre o "porquê" e "para quê".

Vê, todos os judeus justos e sóbrios são amigos dos romanos e favorecem sem dúvida também o reconhecimento do Deus Eterno! Os romanos não combatem Deus e o culto divino; mas, sensatamente, se preocupam com os dogmas e leis do Templo e suas vorazes tendências!

Tenta, pois, fazer de bom grado tudo que Deus permite, e a vida surgirá em ti. Despertarás de teu longo sono e reconhecerás os "sinais" de nosso tempo.

Olha-Me! Apesar de ser bem mais jovem, conheço essa vida muito melhor do que tu, mesmo se tivesses colhido experiências durante mil anos. Pois Eu estou em íntima união com Meu Espírito, que criou a ti e a toda a criação de Si Mesmo, dando existência a tudo. Se bem que hoje trabalho como simples operário para o Meu sustento, quando vier o Meu Tempo tornar-se-á evidente para a humanidade atual que o Reino dos Céus se aproximou dela. Se pudesses apreciar o fato de Eu Me ter hospedado em tua casa, em verdade, de agora em diante serias muito feliz! No entanto, só futuramente, no Meu Reino, poderás entendê-lo.

Mas devemos continuar nosso caminho e te deixamos nossa bênção de amor! Tenta aceitar-Me no coração, assim como aceitaste cada um de teus filhos; então os anos que ainda terás de viver, se tornarão como uma tarde de verão e serás feliz na lembrança de ter estado na companhia Daquele que pode te proporcionar a felicidade eterna. E agora, em Nome de Jehovah, vamos continuar nossa viagem! O Amor e a Bênção de Deus fiquem convosco!"

Rapidamente saímos, antes que o velho hospedeiro se desse conta de tudo. Com os corações cheios de adoração, seguimos pela estrada arenosa onde, numa curva, um pelotão militar em forma nos esperava; e quando nos aproximamos, o cabo avançou e ordenou continência. Agradecemos, e aparece Julius — pois era ele que nos esperava — pedindo-nos aceitar sua escolta, uma vez que os seus soldados fariam apenas exercício de marcha e a direção não teria importância.

Jesus aquiesceu com a cabeça e Julius deu ordem de continuarem a marcha. Ele mesmo ficou atrás para caminhar junto com Jesus e Jacó. Jesus lhe dava a mão, dizendo-lhe: "Aceita Minha gratidão por teres mandado ontem à noite os teus soldados se recolherem, uma vez que Eu, teu melhor amigo, muito precisava de descanso. E com isso fizeste-Me um grande favor. Mas Eu te farei um favor mil vezes maior, se estenderes esta ordem de calma para o teu próprio interior! Podes compreendê-lo? "

Julius: "Sim e não, meu bom Jesus. Pois o sentido das Tuas palavras me conduz para minha vida interior. Não sei ainda com que finalidade?

Vê, fui ensinado para tornar-me um homem educado, honrado e de prestígio. Deveria desempenhar bem o meu encargo, ser tão justo quanto possível, evitar pecado e malícia, reconhecer o mais forte. Eis minha descrição. Se tens algo acrescentar, peço-Te fazê-lo, como Meu amigo."

Jesus: "Querido Julius, conheço-te há muito tempo! E porque conheço tua noção do dever e da honra, assim como tua vontade boa e sincera, permiti que Me encontrasses! E se pensas que foi obra do acaso, digo-te que não existem acasos, nem podem existir, pois tudo são desígnios de vida!

Eu preciso de ti, pois conheço tua vontade! Tu Me mostraste tua educação, deixa que Te conte também a Minha.

Desde a mais remota infância sou consciente de Minha missão. Meu pai de criação foi e é severo e justo, e sempre se esforçou por cumprir a Lei de Moisés. Assim, Eu também tomava consciência de que a Lei deve ser cumprida!

Nesta obediência filial e com uma energia férrea, Me libertei de muita coisa, o que te parecerá inexplicável. E assim, Meu Espírito uniu-Se com o Espírito de toda Vida. Mas vi também em Mim todos os grandes obstáculos para Me tornar um homem totalmente livre, e tornar divino em Mim tudo o que — ainda — estava ligado e acorrentado.

Vivia, pois, uma vida introvertida. Exteriormente, fiz e faço Meu dever para com todos, mas interiormente estou há muito tempo desligado da existência terrestre. Hoje Me esperam vitória e prêmio, e Deus Me recompensa melhor do que qualquer imperador ou príncipe poderia fazê-lo! Pois, apesar de ser um habitante da Terra, trago em Mim todos os Céus e todo o Esplendor, toda Força e toda Vida!

Estou somente aguardando a chamada de Meu Pai Celeste, ao Qual seguirei imediatamente quando o tempo tiver chegado. Nada Me perguntes, dentro em pouco muita coisa te será clara, o que hoje não posso te dizer. Acredita-Me: nunca Me levantarei contra a Lei e o Templo, mas mostrarei a todos os homens como eles devem ser, como devem viver! Eis Minha sagrada tarefa!

A humanidade se aprofunda cada vez mais nas trevas: aqui paganismo, acolá idolatria; aqui superstição, acolá descrença! Eis, em geral, o exterior dos homens. Acrescente-se ainda a cobiça e a ambição de poder, juntamente com a máxima maldade. Dize-Me, Meu Julius, poderias calar-te se em ti habitasse a Verdade e a Luz, a Força e a Consciência, e acima disso um Espírito que te impulsionasse como a água é impulsionada na fonte?

Dizes contigo mesmo: Não! E por isso Eu te digo: não posso calar-Me e não Me calarei, mas Me colocarei incondicionalmente a serviço de Meu Pai Celeste que vive em Mim e que tudo Me manifesta!

Pois, sem Seu Espírito não sou mais do que tu. Mas tu também podes libertar teu espírito da existência transitória, para que te sirva e te mostre a vida em sua plenitude!"

Julius: "Meu Jesus, como posso compreender tudo isso tão rapidamente? O que vivi agora nessas poucas horas Contigo, é novo demais para mim e inconcebível! Então, não és mais o pequeno homem fraco, e sim o mensageiro de Teu Deus?! Neste caso, porque evitas o Templo, uma vez que tua mãe foi educada nele?

Vê, sou informado disso por Cornélius; o que não teria dado em troca para poder ficar sempre com ele! Com terno afeto ele me contava coisas maravilhosas sobre Tua Pessoa, que quase não conseguia acreditar; mas, depois nada mais se ouviu de Ti. Como ficará feliz ao saber que és sempre O Mesmo, e ele Te será fiel a vida toda! Gostaria que falássemos mais obre Teu Pai que vive em Ti. Dize-Me, isso não compreendo: Quem é Teu Pai? O que é, e onde está? Posso também eu vê-Lo como Te vejo, ou se esconde atrás do "Fatum", como fazem nossos deuses? Peço-Te encarecidamente que me libertes da minha confusão, para que possa compreender-Te totalmente e me afaste de tudo que foi inútil por tantos anos."

Jesus: "Sim, Meu querido Julius, perguntas muito. Mas não quero sondar agora no Meu Espírito se a resposta te satisfará. Escuta pois:

Meu Pai — de Eternidade em Eternidade — é o Espírito de toda Vida de Deus e Se chama: O Eterno Amor Infinito.

Diga-me, Meu Julius: De onde vinha e o que era o amor de tua mãe por ti? Estava simplesmente presente, como uma ânsia sagrada invisível, como um sentir e um desejo, vivendo apenas no coração de tua boa mãe. E suas mãos e pés, olhos, ouvidos e boca executaram tudo que este amor queria.

Da mesma maneira vive este Sagrado Amor em Mim, como uma Vida, cheia de Poder e Consciência! O que eram as mãos, os pés e todos os membros em tua mãe, Sou Eu aqui em carne e osso, com uma diferença: lá, a vontade executava tudo mecanicamente, ao passo que Eu o faço de maneira consciente e livremente!

Compreendeste essa imagem? Confirmas com a cabeça, mas a dúvida continua em teu peito; pois o sentido das Minhas Palavras é novo demais.

Ouviste falar do Deus dos judeus, que dizem morar no Templo de Jerusalém, provando Sua presença por luminosas chamas. Mas tu conheces as fraudes do Templo e estranhas a estupidez dos judeus, mas jamais pensaste na tua própria? Eu penso de maneira diferente e certamente sei de tudo!

Por isso, começa contigo mesmo! Aceita cada palavra de Deus em teu coração! Vê: cada palavra é como um cristal! Se o guardas e conservas bem, é um tesouro precioso. Mas se cai/ no chão podes não apenas perdê-lo, mas ele pode até se quebrar; e o perdeste para sempre.

Só quem aceita Minha Palavra e vive em conformidade com Ela, reconhecerá Quem é Meu Pai e o que deseja! Mas Ele só poderá viver no coração daqueles que O seguem de boa vontade e no mesmo Espírito!

Ele existiu de Eternidades em Eternidades! E este Espírito Se chama: Amor! Amor! Amor!

Eu, como Filho do Homem, Me decidi pela bandeira do Amor. Com fidelidade e consciência, e pela aceitação e o cumprimento de Seus Mandamentos enriqueci-Me no Espírito do Amor, de modo que em Meu Coração nada mais vive do que Este Maravilhoso Pai!

Como testemunha de Sua Essência, te estendo novamente a mão para o pacto fraterno. Eu preciso de Ti! Agora que Me conheces como Aquele que pode testemunhar da Verdadeira Vida de Deus no homem, Eu te rogo: protege os Meus, pois Eu não devo fazê-lo pela Força de Deus em Mim!

Vê, evitarei Nazareth e todos os lugares onde estive como criança e adolescente, para que os habitantes não se vejam obrigados a aceitar algo contra o qual seu íntimo ainda se opõe. Podes satisfazer facilmente este pedido, uma vez que permanecerás muito tempo lá futuramente.

Tu também, Meu Julius, não aceites nada que teu coração não possa confirmar! No futuro, procura tudo dentro de ti, e Me encontrarás, a Mim, Jesus, teu Amigo e Irmão!

Agora devemos nos separar, pois teu cargo, teu dever, exigem de ti outros caminhos! Não obstante, pensa em Minhas Palavras! Vivifica-as radicalmente em teu íntimo -- e te libertarás de todas as dúvidas! Não Me procures em outro lugar do que em ti mesmo! Faze que Minha Imagem e Meu Espírito surjam em ti e poderás Me ouvir! E dentro em breve, suavemente, também terás convívio com Meu Pai, assim como Eu!

Basta por hoje! No caminho de volta para nossa cidade tal, nos encontraremos de novo. Pois Meu Tempo ainda não chegou! Dá ordem a teus soldados para que descansem, e quando Eu passar, os abençoarei! Sê, pois, abençoado por Teu Jesus, pela Força do Amor Eterno. Amém!"

Os dois, Jesus e Jacó, continuaram seu caminho e em pouco tempo não eram mais vistos por Julius e seus soldados. Julius então diz aos seus soldados: "Acabastes de ver aquele se tornou meu melhor amigo. Deste Homem emanam torrentes de Felicidade, Verdade, Luz e Força, e Ele se tornará uma bênção poderosa! Gravai em vossa memória Sua Figura e Semblante! Ele é o Mensageiro do Deus dos judeus e não os menosprezará tampouco, mas nos amará conforme prometeu! E agora voltemos!"

Entretanto, Jesus e Jacó caminhavam rumo ao seu destino sem descansar e sem "falar com a boca", mas tanto mais no coração. Impulsionados pela Força do Senhor, chegaram seu destino ao pôr-do-sol.

CHEGADA A CASA DO VELHO ZAQUEUS

O velho Zaqueus já esperava os recém-chegados e se precipitou a satisfazê-los com refrescos. Jacó ansiava por descansar, mas Jesus queria conversar ainda com o hospedeiro e patrão; por isso, disse a Jacó: "Faze com que te mostrem o nosso quarto e entrementes descansa. Em duas horas Eu seguirei."

O velho Zaqueus deu ordem a fim de que os dois hóspedes pudessem descansar, enquanto Jesus ficava ainda com ele para discutir o trabalho a ser feito. Durante a conversa, Jesus concordou com Zaqueus de que uma grande sala, como anexo à casa espaçosa, acabaria com a falta de lugar.

Tinha madeira em grande quantidade e foram prometidos também alguns trabalhadores e servos. Mas quando se ia falar sobre o custo do trabalho, Jesus disse: "Meu querido Zaqueus, que fique como foi combinado com José, Meu pai de criação, e assim nosso contrato está renovado."

Falaram ainda algum tempo, até que Zaqueus perguntou por José, Maria, os irmãos e o Menino Prodígio. Jesus disse sorrindo: "Sim, todos estão bem. E as coisas são sempre bem feitas quando é cumprida a Vontade de Deus, Nosso Senhor! José já está cansado; a idade avançada pesa sobre seus ombros e ele tem saudades de seus pais. Maria está bem de saúde, como se tivesse rejuvenescido; ninguém a iguala no cumprimento de seus deveres. Os irmãos fazem seu trabalho da melhor maneira possível; e o Menino Prodígio? Há muito não se fala mais Dele, porque nunca existiu.

Se todos os amigos e vizinhos tivessem sido leais a José, mantendo silêncio sobre o Menino, não teriam circulado histórias e contos de fadas que proporcionaram ao pai José lutas e provas de fé.

Infelizmente, como quase sempre acontece, tudo que é sublime é maculado, e muitas coisas mesquinhas são apresentadas como ouro pela grande curiosidade dos homens.

Vós dois — tu e José — fostes tão bons amigos; mas há quantos anos não vos vistes mais? Terias lucrado muito, muito mesmo, se tivesses mantido a ligação com a casa de José; mas não falemos mais agora, pois poderemos conversar todas as noites.

Faço-te ainda um pedido também em nome de Meu irmão: "Dá-nos toda liberdade enquanto estivermos em tua casa, pois tenho o hábito de ficar sozinho durante uma hora ao amanhecer. E perdoa-nos se estivermos ausentes durante a bênção vespertina, porque nós dois encontramos a paz quando olhamos durante horas as maravilhosas constelações do céu.

Na casa de José isso nunca causou desarmonia, e Eu Me sinto em casa também em teu lar."

O judeu aquiesceu e perguntou se não podia uma vez ou outra acompanhá-los, o que foi imediatamente aceito com prazer. Assim terminou o dia.

JESUS E JACÓ NA CONSTRUÇÃO DA SALA

Seguiram-se dias de trabalho intenso, mas no antessábado e no sábado reina a maior calma na casa de Zaqueus. Seu filho, também de nome Zaqueus, veio visitar seus pais e regozijou-se sobremaneira com o trabalho, já bem avançado, dizendo ao pai: "O trabalho dos dois carpinteiros é de fato excelente; tão original e engenhoso! Foi bom termos chamado os nazarenos!"

"Sim, meu filho, tens razão! Mas não imaginas o quanto me sinto atraído pelos dois, sobretudo o mais jovem me encanta! Encontro neles uma atitude tão firme e uma tal modéstia e cultura, que não vejo entre os mais ricos. Para mim, é o maior prazer observá-los."

"Mas onde se encontram hoje, estão na sinagoga?"

"Não sei, pois ambos saíram bem cedo e dificilmente voltarão hoje, uma vez que o mais velho levou pão e vinho. Em verdade, estes dois se tornam cada dia mais misteriosos para mim. Pensas que eles falam um com o outro? Nem uma palavra, nem um som, só um alegre aceno e às vezes um aperto de mão, como de dois namorados. Nada mais se vê e muito menos se escuta algo."

"Mas, pai, como é isso possível? Deve haver uma comunicação entre eles! Vê o perfeito trabalho! Não é possível que cada um tenha seguido suas próprias ideias. Sabes o quê? Convida-os para o próximo sábado, pois também quero conhecê-los porque fiquei curioso! Mas, não falemos mais sobre isso!"

Os dois voltaram bem tarde. Tinham visitado um bom amigo para quem Jesus, uma vez, prestara um grande serviço.

Nos dias seguintes houve novamente trabalho intenso; e no antessábado o próprio Zaqueus apresentou seu pedido, solicitando a presença deles em casa durante o sábado, pois seu filho, vivendo fora de casa, queria também conhecê-los.

E disse Jesus: "Sim, querido Zaqueus, também nós queremos conhecê-lo mais intimamente. Já estamos aqui há duas semanas e quase só nos vimos; e sabes: do ver, nasce o desejo de comunicação.

Mas tenho um bom motivo para adiar Meu desejo e Meu prazer será tanto maior de nos conhecermos. Deixa-nos primeiro acabar o trabalho, que estará pronto dentro de oito dias; depois descansaremos e nos serviremos com as dádivas que o Eterno Criador conferiu a cada um. Hoje à noite, porém, queremos subir a colina e regozijar-nos com o céu estrelado." E assim foi.

VIVÊNCIAS INTERNAS — SOB O CÉU ESTRELADO

Os três andaram em silêncio para a colina vizinha e sentaram-se debaixo de uma árvore. Por um tempo observaram e escutaram os pássaros se saudarem; depois tudo tornou-se calmo e rapidamente caiu a noite. A lua, ao levantar-se, espargiu uma pálida claridade e o céu brilhava com admirável esplendor.

Então Zaqueus falou: "Habito há 72 anos este lugar e nunca estive tão consciente da beleza do céu noturno.

Nunca vi um céu como o de hoje! Ó Senhor! Quão belas são Tuas Obras, para que possamos nos rejubilar e pressentir as belezas dos Teus Céus Espirituais!"

Então disse Jesus: "Meus queridos! Tão lindas como as estrelas luminosas, tão calma e pacífica como a tarde serena, e tão harmoniosas como as magníficas constelações agem em nossos corações; assim foi criado o homem!

Mas o que são todas aquelas maravilhas no Universo infinito em comparação àquelas ocultas no próprio coração?!

Da mesma forma como uma estrela serve outra com sua luz, em paz e na Santa Ordem, criando assim vida, o homem também deveria servir seu próximo com a sagrada herança recebida dos Céus, com a qual cada homem é dotado.

Então nossa Terra seria ainda mais do que um Paraíso! Seria o lugar onde não se poderia imaginar maiores bem-aventuranças!

Fechemos agora nossos olhos e calemos nossas bocas, voltando-nos para o interior, para que também em nossos corações surjam as estrelas do céu com as quais nos possamos alegrar."

Seguiu-se um longo silêncio. De repente, Zaqueus começou a falar: "Estou vivendo agora maravilhas, maravilhas sobre maravilhas! É como se eu não estivesse mais na Terra, mas sobre uma dessas belas estrelas!"

E disse-lhe Jesus: "Silencia por enquanto; depois falaremos sobre isso! Assim seja!" Os três homens estão sentados como se dormissem; só algumas respirações profundas mostram que ainda estão acordados.

Então diz Jesus: "Levantai-vos e vamos para casa, para que o velho pai Zaqueus não se resfrie na frescura da noite!" E voltaram em silêncio para casa.

Lá todos já tinham repousado e toda a casa se preparou para o sábado, no qual nenhum trabalho podia ser feito.

Chegando no quarto, os três se acomodaram e Zaqueus disse: "Meus queridos amigos e principalmente Tu, meu querido Jesus, explica-me esta vivência de hoje! Se eu não soubesse que estava acordado, acreditaria ter sonhado! Mas tudo é tão maravilhoso!"

Disse Jacó: "Conta-nos tua experiência, para que também eu possa vê-la claramente". E Jesus, com a cabeça, dava Sua aprovação.

"Sim, deixai-me contar", comentou Zaqueus. "Encontrava-me no cume de uma alta montanha, onde não havia lugar para uma segunda pessoa, e olhava ao longe uma região tão bela — o mar com os navios e barcos — gozando esta belíssima vista.

De repente, o sol obscureceu como antes de um grande temporal. Eu queria voltar, mas não podia, pois, era íngreme demais e não se via nenhum caminho. Comecei a ter medo e preocupação, e tornei-me bastante inquieto. Mas não havia nenhuma saída! A escuridão aumenta cada vez mais, tenho medo e começo a clamar e rezar: "Ó Jehovah! Ajuda-nos e não nos deixes, pois o que ameaça aqui é a perdição!"

Pois apesar de estar sozinho, pensei também em vós nessa prece e nessa súplica, que se tornou ainda mais angustiante e mais insistente. Teria querido jogar-me no chão, mas não tive coragem, pois o cume onde estava era pequeno demais. Parecia que relampejava a uma grande distância; mas nada podia ver por causa da escuridão total.

Quando não sabia mais o que fazer, uma pequena estrela cintilante, assim como se vê todos os dias no céu, aproximou-se de mim e, à medida que se aproximava, tanto maior se tornava, aumentando também a claridade ao redor de mim.

Aproxima-se cada vez mais e sua luz se torna tão clara como um sol. Agora já está muito perto e me pareceu como se fosse uma nuvem luminosa que se aproxima. Quero gritar e não posso. Sinto a vossa presença, mas não posso dar um sinal.

De repente, essa nuvem passa através de mim! Eu estava no meio dela e esperava que ela se afastasse. E então percebi que não era mais uma nuvem, mas que eu me encontrava num jardim! Tudo era luz, e tudo que era estranho não existia mais. Estava novamente em algum lugar da Terra, mas, apesar disso, tudo era estranho e desconhecido.

Olhei em volta e comecei a me movimentar; e foi como se tivesse asas, tão depressa podia caminhar, e cobria grandes distâncias, mas sem um alvo!

Na minha pequena viagem pude ver coisas lindas, maravilhosas, e meu coração encheu-se de grande encanto. De repente, fiquei preocupado; pois estava sozinho. E assim todas as delícias acabaram e apagaram-se em mim, e perdi o sentido pelo que é belo.

Sentei-me embaixo de uma palmeira de imensurável tamanho e grossura, e comecei a analisar minha situação. Então vi correr — a pouca distância — um pequeno riacho. Fui lá e provei da água. O paladar era do melhor vinho e com ambas as mãos bebi repetidamente em grandes goles, e novamente meu coração encheu-se de delícias.

Finalmente me restabeleci o bastante para poder pensar em Jehovah. Ajoelhei-me respeitosamente e aliviei meu coração, agradecendo pelas delícias e pedindo uma alteração da minha situação; pois viver no esplêndido Paraíso e ficar sozinho? Dizei, amigos, isso não se torna um tormento!?

E de repente, alguém veio de longe e, sabeis quem era? Eras Tu, Jesus, Tu mesmo! Mas Teu Semblante era mais sério, Tua Barba maior e toda Tua Figura tinha mais dignidade do que agora. Aproximando-Te de mim, me davas Tua Mão e dizias: "Sim, Zaqueus, tua prece será atendida! Mas tu deves pessoalmente vivificar e povoar este teu mundo! E, para isso, quero mostrar-te o caminho! Eu, Jesus de Nazareth, o Filho do Homem e conforme o Amor Interior, o Filho de Deus!"

Então ouvi: "Levantai-vos e voltemos para casa!"

Abri meus olhos, vi-me entre vós e tudo era como antes. Eis o relato verídico do que vivi; mas quem dentre vós pode me dar uma luz que me satisfaça?"

Disse Jesus: "Querido Jacó, narra também o que viste ao nosso amigo e dono da casa!"

Diz Jacó: "A Ti sobretudo, Deus e Senhor, Jehovah, Zebaoth, seja louvor e gratidão, pelas magníficas revelações de Tua Graça!

Eu me encontrava sobre uma colina e observava as estrelas cintilantes. E parecia que tivesse sido levantado da Terra e transportado por braços macios, apertado contra o peito de alguém que não pude reconhecer.

E este ser me disse: "Não tenhas medo, servo fiel e pastor do nosso Deus, que aceitou carne e sangue assim como tu!

Levar-te-ei em tua esplêndida casa, para que possas gozar do sol e fortalecer-te a teu gosto."

E, dentre miríades de estrelas uma se aproximou. Corremos ao seu encontro e, em poucos momentos já não estávamos mais apenas no nosso lugar mas também sobre a estrela que representava um grande e belíssimo mundo.

Vimos palácios gigantescos de esplendor incrível, e de grande riqueza. As estradas eram estreitas mas claras, pavimentadas com ouro e prata, e os homens tão belos e vestidos com simplicidade, com um manto branco como a neve e um cinto! As mulheres usavam as mesmas roupas e tinham ainda um adorno de um arco nos cabelos que era de ouro cravejado de rubis.

E eles vieram até nós, nos saudaram, dando-nos as boas-vindas. E para onde nosso olhar se dirigiu, vimos apenas pessoas felizes e alegres! E ouviu-se depois Uma Voz no meio de tantas outras pessoas: "Bem-vindo aquele que vem em Nome do Senhor!"

Houve um grande silêncio. Cantores com harpas e outros instrumentos se colocaram diante de nós e um canto ou salmo se fez ouvir, tão doce e belo como nunca ouvi na minha vida.

E vede, esqueci de olhar aquele que me carregara com seus braços fortes. De repente, ele sumiu!

Nada me faltava, pois toda aquela beleza nova e magnífica prendia meus sentidos. Veio então um homem de certa idade e bom aspecto, tendo na mão direita um cálice, e que me disse: "Ó senhor desta tua casa! Sê bem-vindo em Nome do Senhor! Não recuses esta bebida como prova do nosso amor para contigo! Nós esperamos tua chegada com saudade! Sabemos que teu tempo ainda não chegou, que ainda tens que fazer um sagrado serviço de amor na grande Obra de Deus; mas, fortifica-te, para que também nós sejamos fortificados pelo teu amor para conosco!"

Segurei o cálice e bebi; e meu interior tornou-se pleno e queria chamar. . . mas, então, meu Querido Jesus, ouvi Tua voz: voltemos para casa! E tornei-me novamente o Jacó de antes."

Arregalaram-se os olhos do velho Zaqueus e meneando a cabeça, disse: "Escutai! Não sei se isso é natural, mas para mim é altamente incompreensível!"

E disse Jesus: "Meus queridos e fiéis amigos! Sim, querido hospedeiro, tudo está em ordem! De fato, esta experiência é nova para ti. Vê, quando tu, Zaqueus, desligaste os teus sentidos, tua existência natural começou a se afastar e viste em quadros e analogias o teu estado interno. O cume da montanha representava tua vida justa diante de Deus. Mas todas as belezas do teu mundo natural não resistiram diante da penetração no teu verdadeiro mundo espiritual. Não foi a estrela que veio a ti, mas foste atraído para ela e conheceste teu mundo interno verdadeiro que um dia será tua pátria eterna. Todas as belezas do teu mundo interno são consequências do teu justo modo de pensar; como te esforçaste para cumprir as Leis de Moisés, também este teu novo e verdadeiro mundo tornou possível que te fosse oferecida uma bebida! O motivo pelo qual não encontraste nenhum habitante é o seguinte: em toda tua vida nunca foste além do que a Lei estipulava, motivado por amor puro e altruístico. Fazias as oferendas e acreditavas ter feito o bastante. Por isso Eu vim a ti, não apenas no teu mundo espiritual, mas também no teu mundo natural, para mostrar-te o caminho que te há de conduzir para a vida em Deus, à verdadeira felicidade e bem-aventurança!

Vê, "ser feliz" é "fazer feliz"! E fazer secar lágrimas com o dinheiro injusto, ajudar e estimular outros acarreta preces de gratidão e bênçãos para ti e tua casa!

E cada bênção que parte de um coração grato torna-se um habitante do teu mundo interno, que te servirá e zelará por tua felicidade eternamente!

Devo dizer-te, no entanto, que és livre para acreditar em Minhas Palavras e ajustar tua vida de acordo com elas, ou continuar como anteriormente!

Pois Eu não digo: Faze isso ou aquilo! Teu próprio coração deve determinar tua atitude, e o impulso do amor te esclarecerá.

A ti, irmão Jacó, digo: Continua a fazer teu dever e guarda silêncio diante de todo mundo.

E agora vamos nós deitar. Boa noite! Que a Bênção de Deus seja convosco!"

Jesus Se inclinou perante o velho dono da casa e saiu da sala junto com Jacó.

Zaqueus permanecia sentado à mesa, refletindo sempre de novo sobre o que ouvira, e murmurando palavras ininteligíveis.

Finalmente se levantou e disse: "Primeiro devo falar com meu filho; mas agora, também eu vou me deitar."

Mas nem por um minuto encontrou o sono que o confortasse.

A MANHÃ DE SÁBADO NA COLINA — NOVAS VIVÊNCIAS INTERNAS

Passaram-se horas e Zaqueus foi o primeiro a estar de pé para novamente aguardar os dois amigos na manhã de sábado. Não demorou muito para que a porta se abrisse, e Jesus e, Jacó entraram no quarto, ficando admirados de encontrar o velho homem já acordado! Depois de se cumprimentarem, Zaqueus conta que não dormiu, pois seu interior estava agitado demais.

Então disse Jesus: "Mas não invocaste a Deus, o Senhor, para que te tirasse da tua excitação?"

Desconcertado, ele olha para Jesus e diz: "Jovem amigo, como eu poderia fazer isso? Todo meu pensamento estava dirigido a esta minha experiência, e não me deixou chegar a um modo de pensar equilibrado, até que tomei a decisão de perguntar a meu filho. Mas agora que estais aqui, me sinto melhor; tomemos pois o desjejum!"

Jesus declinou modestamente e disse com suavidade: "Não gostarias também de nos acompanhar para a colina? Se ontem à noite vimos o céu, o firmamento com tanta beleza, ao amanhecer será mais bonito ainda!" E Zaqueus aquiesceu com a cabeça.

Em silêncio e devagar os três caminhavam para a colina quando o sol começou a tingir o horizonte de vermelho luminoso. Zaqueus quis dizer algo, mas Jesus o antecipou: "Contemplemos tudo em silêncio para que nada nos escape, mas nada mesmo!"

Assim sentaram-se num banco de musgos coberto de orvalho, com os rostos na direção do sol nascente. Calma e silêncio causaram um desprendimento da existência terrena; Zaqueus e Jacó observaram os acontecimentos no céu e no vale embaixo. Jesus parecia estar espiritualmente ausente; só suspiros e respirações profundas comprovavam Sua presença.

O sol subiu mais e mais e os olhos dos dois já deviam estar "saturados" de encanto, pois Zaqueus disse a Jacó: "Já vi o suficiente de toda esta maravilha, a qual me reanimou bastante! Mas Tu, meu querido Jesus, pareces ter dormido? Pois Teus Olhos estavam mais fechados do que abertos."

"De maneira nenhuma, Meu bom e velho Zaqueus, pois há muito Me habituei a ver em Mim o que teus olhos veem fora de ti! Tudo o que viste era alívio e prazer para o teu mundo dos sentidos! Mas o que Eu vi em Mim era vida sobre vida no mundo do Meu Coração! Por isso, te pergunto: O que foi que te cativou tanto? Narra-o com franqueza, para que a verdade prevaleça sobre a aparência!"

E começou Zaqueus: "Sobretudo para que não mereça uma a censura, deixai-me agradecer a Deus: Deus Eterno! Não há ninguém como Tu e Tudo Te pertence! Tua Criação me dá testemunho que és Belo e Magnífico, e Te agradeço também em nome dos meus dois jovens amigos pelas belezas que pudemos ver hoje. Aceita, pois, meu agradecimento que Te manifesto de joelhos! Amém!'

Bem, queridos amigos! Olhei e vi como a luz se tornou vitoriosa na luta contra a noite, pois, quando a orla do sol nascente apareceu tudo clareou, de maneira que pude ver até as mínimas nuvens. Mas me parecia que essas luminosas nuvenzinhas fossem véus segurados por mãos invisíveis para que eu reconhecesse que a Terra, em verdade, não era digna de receber essa luz!

Quanto mais alto subia o sol, menos nuvenzinhas luminosas se podiam ver, até que desapareceram por completo. Mas, é verdade que depois nem pude mais olhar o sol!

Tanto mais meus pensamentos se ocuparam com os acontecimentos na natureza. No vale, vi apenas listras de nevoeiro; porém elas não baixaram, mas foram absorvidas pela luz do sol.

Depois a vida despertou! Pássaros, besouros, pombos, galinhas, tudo procurou ansiosamente água e alimento.

Em seguida, não observei mais nada, mas fiz comparações e cheguei a ficar saturado de tanto encanto! Pois a Terra é tão magnífica e paradisíaca..., e assim falei a Jacó."

Então Jesus se dirigiu a Jacó: "Não queres também contar-nos o que viste?"

Começou Jacó: "Sim, meus queridos! Meu coração está transbordando e ricamente recompensado pelos muitos sofrimentos que encontrei até agora na Terra.

Pois no sol nascente vi um homem que só mostrou interesse pela nossa Terra; e nem uma só vez desviou Seu Olhar dela. Pareceu-me que incontáveis seres se aproximavam Dele, e eu ouvi: “Ó Senhor, Tu, Vida de toda Vida! Tu, Luz de toda Luz! Permite-nos ir antes de Ti para preparar-Te o solo, a fim de que Tua Verdade e Tua Luz se tornem propriedade da Terra que tanto amas!

— “Muito vos agradeço, vós que sois fiéis a Meu Pai, pela vossa boa vontade! Mas o tempo ainda não chegou, pois devo executar Sozinho, e como Primeiro, a Obra Sagrada! Mas no fim de "Grandes Tempos" Eu precisarei de vós, para ajudar àqueles que devem terminar esta Sagrada Obra!”

E Suas Mãos passam por cima daquele grupo, irradiando Amor e Bênção, para, em seguida, emitir torrentes de fluidos em direção da Terra.

(Jacó): “Fiz também comparações e lamentei ser já agora habitante da Terra, pois pensei: Lá, Ele disse: Sozinho e como Primeiro devo cumprir tudo, ao passo que em tempos longínquos cada homem será capacitado de fazer isso!

Neste momento, meus pensamentos foram interrompidos.”

E disse Jesus: "Falastes bem e certo, mas procurai também a explicação, e ela vos será dada.

Então pediu Zaqueus: "Querido jovem amigo, não queres também contarnos o que viste e observaste em Ti, como dizias?”

"Sim, fá-lo-ei com muito prazer! Desta vez vi apenas a ti, Zaqueus, e a ti, irmão Jacó, descansar no Peito do Meu Santo Pai! E da vossa ventura projetou-se uma santa felicidade para Mim! E Eu precisava disto para confortar-Me em Minha Luta — da Alma! E agora basta. Vamos para casa! Um mensageiro te espera e deseja falar-te, querido Zaqueus!"

Lentamente voltam de mãos dadas, Jesus caminhando no meio; e sem falar chegam ao seu destino.

Vem o mensageiro trazendo para Zaqueus, a informação de que Zaqueus, o filho, não pode vir fazer a visita de sábado, uma vez que trabalhos importantes e negociações com o comando romano o impediam. Só em meados da semana que vem ele apareceria, e pede encarecidamente de não deixar partir os dois nazarenos antes que ele lhes tivesse falado.

Pensativo, Zaqueus mostra a carta a Jesus, que diz: "Conheço o seu conteúdo. Eu assim o quis e assim aconteceu, para que possas hoje encontrar o tempo para celebrar o sábado — contigo e em ti! E por isso pedimos licença para nós! Amanhã estaremos de volta para trabalhar."

Zaqueus insiste: "Mas ficai aqui hoje, senão estarei sozinho."

Interrompe Jacó rapidamente: "Não peças para Jesus mudar Sua Vontade, pois pedirias em vão! Porque uma Palavra Dele vale por mil."

Disse então Jesus, tomando as mãos de Zaqueus: "Vê, é por tua causa que te deixamos hoje, para que te tornes senhor da tua própria e livre vontade! Pois o que decidires deverá ser feito de próprio impulso! Se Eu ficasse o dia todo como hóspede em tua casa, não chegarias a uma decisão independente! Por isso, ficará melhor assim. E sê abençoado para festejar o sábado dentro de ti, de maneira justa!"

Os dois se afastam e vão para o quarto para saciar-se, apesar do sábado! Pois na mesa ainda se encontrava intacto o desjejum.

SEGUI-ME — PARA A CALMA INTERIOR DO SÁBADO!

Depois saíram, dirigindo-se para um pequeno bosque. E diz Jesus a Jacó: "Agradeço-te, porque Me reconheceste e não Me traíste! Mas Eu te peço: vê em Mim apenas o teu Irmão, até que o desfecho e o tempo tiverem chegado! Pois também Eu vejo em Mim vários pontos que precisam ser libertados e redimidos! E porque não quis deixar-te sozinho, deixa-nos passar este dia na solidão, em calma e introspecção, a fim de que os desejos que surgirem se tornem, em sua raiz, fortes apoios para nós! E Eu te digo, Meu Jacó: Eis o serviço mais sagrado que podemos prestar a nós mesmos, a fim de que estejamos, um dia, suficientemente preparados para a Obra do Senhor!"

Jacó: "Querido Jesus, que Tua Vontade seja feita! Mas uma coisa quero Te pedir: facilmente me vêm dúvidas!

Se eu Te contemplo humanamente, vejo que és igual a mim: Comes, dormes e trabalhas como eu. Mas às vezes constato: não podes ser Homem, só Deus pode ser assim!

Então me assaltam perguntas e eu caio no velho mal! Dá-me clareza, agora que estamos a sós!"

Jesus: "Meu bom Jacó! Em ti a encontrarás! E não deixes que conceitos humanos tirem o que encontraste!

Se te desse uma explicação sobre o Meu Ser, te ataria, e mesmo assim não te libertarias das dúvidas!

Dúvidas e pesquisas, eis a luta! "E, pela luta, à meta!" Seja o teu lema como o é também o Meu! Só o que conseguiste com fadiga, permanecerá tua posse na eternidade!

Eis o que é importante para o homem: O que és e o que fazes — e como te achas perante Deus e perante os homens! Tudo se completará em linda harmonia! E assim, nunca te tornarás joguete de teus pensamentos e dos humores que deles resultam! Quanto mais te fortificas, tanto mais real é o teu mundo que ontem pudeste ver! Observa isto no futuro! Dentro de pouco tempo, seremos "Um" em Tudo, compreendeste?"

"Sim, Meu Jesus, és minha salvação e, sem Ti, nada sou. Que Tua Vontade Se torne também a minha! Abençoa-Me, para que me torne digno de festejar verdadeiramente o sábado ao Teu lado; unido a Ti, mas sem palavras!"

Jesus o abençoou e disse: "Para que sejamos UM na eternidade! Amém!"

Fez-se silêncio entre os dois e seus corações dilataram-se de amor! E neste silêncio foi novamente fortalecido o espírito que dá a todos os homens consolo e força, delícias e bem-aventuranças! Os dois não tinham outro desejo, senão amadurecerem e tornarem-se aptos como instrumentos do Amor Eterno. O dia estava no fim quando se levantaram. Sem trocar palavras, voltaram para casa a fim de tomar a ceia e procurar o leito.

E assim, "Segui-Me, todos vós, no aposento interno!

Amém!"

CADERNO NÚMERO 3

UM REENCONTRO COM CORNÉLIUS E JULIUS

Alegres e animados, Jesus e Jacó terminaram a construção da sala e em meados da semana tudo estava pronto para servir aos homens. À tardinha, disse Jesus a Zaqueus: "Terminamos! E agora que a obra que serve ao corpo está terminada, esperemos que também a outra obra, a que serve ao espírito, seja concluída. Deixa-nos, porém, ainda hoje sozinhos! Amanhã terás hóspedes; então voltaremos a servir-te com prazer."

Após uma hora, todos na casa já estavam dormindo. Mas, durante a noite, surgiu uma forte tempestade, e todos se levantaram. Só Jesus e Jacó continuavam dormindo, pois sabiam que o barulho era apenas cena de alegres espíritos ruidosos; e na madrugada, tudo voltou à calma.

Uma hora antes do nascer do sol, Jesus e Jacó se levantaram e, como de hábito, subiram à colina para rezar.

Ficaram lá pouco mais tempo do que de costume, uma vez que nenhum trabalho os esperava mais. Até que Jacó disse: "Meu querido Jesus! Esse sossego não nos fará muito prazer, porque estamos acostumados a trabalhar."

Jesus respondeu: "Tens razão. Mas desta vez não podemos descansar, apesar do trabalho ter terminado, pois agora trabalhamos para o Reino eterno e infinito." Começou então a atividade na casa. O velho Zaqueus, sabendo que os dois tinham ido para a colina, correu para lá para encontrá-los; e Jesus disse: "Vem, Jacó! Vamos ao seu encontro para regressar à casa com ele, pois hoje haverá muito trabalho na casa de Zaqueus."

Ao se encontrarem, saudaram-se cordialmente e Zaqueus perguntou: "Não tivestes medo esta noite??" Jesus respondeu sorrindo: "Não conhecemos o medo, e muito menos por causa de uma trovoada. Sabemos que o medo e a preocupação de nada adiantam; pois Deus, o Senhor Zebaoth, é o nosso refúgio e a nossa força. E sem a Vontade Dele, não cai nem uma pedra, muito menos um homem."

Demoradamente, Zaqueus olha para Jesus: "Sim, esqueci que em Ti vive mais do que em mim." Jesus pede agora para voltar à casa, solicitando a Zaqueus de preparar tudo para os hóspedes que devem chegar ao meio-dia. Zaqueus abana a cabeça como que duvidando e diz: "Sim, meu filho queria vir. Mas, hóspedes? Hoje não é o tempo para fazer grandes banquetes!" "Acredita-Me", diz Jesus, "tua casa estará cheia, e a nova sala receberá ainda hoje sua sagração." Então Zaqueus nada mais disse e tomou as providências necessárias.

Entrementes, Jacó e Jesus inspecionaram a casa toda, ajudando a pôr tudo em ordem. Ao meio-dia chega Zaqueus, o filho, trazendo com ele vários hóspedes: um Juiz romano, juntamente com Julius e Cornélius, e seus respectivos servos.

Ao terminar as negociações com os romanos, o jovem, tendo já todos os contratos em mãos (tratava-se dos direitos alfandegários sobre carreiras e pontes para todo o Distrito), convidou o Juiz romano e Julius para acompanhá-lo na visita ao seu pai.

E Julius convidou seu irmão Cornélius, para que também ele pudesse participar deste raro convite; pois Zaqueus tinha contado a Julius muitas coisas sobre os esquisitos carpinteiros de Nazareth.

Dentro em breve, serviçais, cavalos e bagagens estavam em ordem, e só agora o respeitável velho Zaqueus saudava os amigos de seu filho de maneira mais cordial, terminando com as palavras: "Sabei que esta casa é dedicada ao Deus de Abraão, Isaac e Jacob! E assim como eu vos saúdo com o coração alegre e vos abençoo, assim também nosso Deus, o Senhor-Jehovah, vos guarde e abençoe! Sede bem-vindos! Sede bem-vindos!"

O Juiz romano agradece com alegria ao velho homem de bem, dizendo: "Assim como te agradeço, gostaria também de agradecer ao teu Deus, mas ainda não O conheço; até agora só ouvi falar Dele, mas espero saber mais sobre Ele durante o dia!"

As mesas já estavam postas e o velho dono da casa pediu a seus hóspedes de tomarem seus lugares.

Zaqueus-filho chamou Jesus e Jacó, apresentando estes dois operários a seus amigos romanos, e os primeiros inclinaram-se com respeito. Não podendo mais conter-se, Cornélius e Julius saudaram os dois com palavras animadas e muito cordiais. O velho Zaqueus muito se admirou ao ver que os dois oficiais romanos eram conhecidos dos nazarenos.

A comida foi servida, e não faltaram fome e sede pela viagem fatigante. Antes de começar, porém, Zaqueus pediu a Jesus de abençoar a refeição à maneira dos fiéis judeus. E Jesus abençoou com ambas as Mãos a comida e os hóspedes.

Terminada a refeição, todos visitaram a nova sala, admirando o sólido trabalho. Jesus e Jacó tiveram que dar muitas explicações, pois a sala era construída sobre colunas e à moda de uma varanda. Uma escada conduzia para o andar superior, onde uma saleta, com bela vista, suscitou o prazer de todos; e nela todos se acomodaram. Então Zaqueus-filho, dirigindo-se a Jesus e Jacó, agradece mais uma vez pelo belo trabalho.

Amavelmente, Jesus disse: "Zaqueus, fala menos! Escuta e deixa falar, a ti e a construção, para que também teu coração seja preenchido com o Espírito que nos deu as forças para terminar esse trabalho! E reconhece: tal Espírito é caracterizado pelo próprio Amor! Pois, ainda que construíssemos uma obra de arte maravilhosa mas animados pelo espírito de tudo que é baixo, em Verdade te digo: antes que fosse terminada, já começaria a desagregação! Mas essa casa deve ser ainda testemunho de muitas coisas magníficas!

Agora não perguntes mais nada! Só com tempo e paciência verás tudo mais claramente."

JACÓ RELATA FATOS DA JUVENTUDE DE JESUS

Julius se levanta dirigindo-se a Jacó e pede algumas explicações, dizendo: "Como é possível que ninguém ouviu algo de vós? Meu irmão Cornélius teria desejado tanto ter notícias vossas!"

Jacó, com calma e modéstia, respondeu: "Vê, Senhor, para contar-te tudo, nem dias seriam suficientes! — Na casa de José, meu pai, tudo andava normalmente e assim nenhum de nós pôde ser poupado, pois éramos pobres e continuamos pobres. A confiança em Jehovah era nossa única riqueza, e ela muitas vezes foi posta a provas bem duras."

E dirigindo-se a Cornélius, disse Jacó: "Cornélius, Senhor e amigo de nossa casa, tu conheces a vontade justa do meu pai José e a modéstia de minha mãe Maria! — Se tínhamos alguma coisa na casa, era dado, e o último pão dividido com famintos; mas sempre tivemos trabalho. Então, começaram as preocupações com Jesus. Não nego que esperávamos muito Dele, sobretudo que nossa situação material melhorasse! Mas neste ponto Jesus nos decepcionou totalmente. Calmos, fechados e de poucas palavras, trabalhamos com nosso irmão, pelo que muitas vezes reinava um ambiente sombrio em nossa casa, de maneira que em nossos corações sentimos crescer até uma aversão contra Jesus; mas foi então que começaram as verdadeiras preocupações!

A mãe não nos compreendia mais e nem tampouco nosso irmão Jesus. Quando ela queria persuadi-Lo, Ele desviava Seu Olhar para longe. E então irmão Jesus andava pelos Seus próprios caminhos. Lembro-me de um dia em que Jesus desapareceu! Passaram-se alguns dias e Ele não voltava! O velho pai rasgou as vestes, a mãe chorou, e nós deixamos de trabalhar. Procuramo-Lo em todos os lugares sem encontrá-Lo e sem sucesso. Na casa de José reinava o luto, pois Jesus devia certamente estar morto ou ter sofrido algum acidente! Perguntamos a alguns conhecidos, mas nenhum vestígio Dele, e em mim mesmo algo desmoronou. Então, após sete dias, Jesus entra pela porta, emagrecido, as vestes rasgadas, saudando-nos e pedindo-nos perdão. Não podia ter agido de maneira diferente, pois Seu Espírito quis desvincular-Se dos grilhões da carne e da alma!

Todos corremos para Ele com lágrimas nos olhos, pedindo-Lhe: "Vem, refresca-Te! Fortalece-Te, e tudo será esquecido!"

Mas esta experiência amarga repetiu-se ainda várias vezes! E cada vez que a alegria e a animação reinavam entre nós, nosso irmão Jesus desaparecia calmamente e sem ser visto.

Quantas vezes repreendemos Maria, porque Jesus era sempre o único objeto de seu amor! Assim sofremos todos, sofreu o pai, sofreu a mãe. Mas agora já nos conformamos, pois sabemos que para Ele, esta atitude era uma necessidade íntima. Mas, que Jesus mesmo continue vos contando! E se tu, Senhor e amigo Julius, não me tivesses pedido para falar, certamente teria ficado calado."

O juiz romano, homem sério, tranquilo, de estatura hercúlea mas com rosto de traços finos, dirigiu-se a Jesus e disse: "Se o que teu irmão descreveu é verdade, permito-me perguntar: 'O que Te motivou a fugir da convivência daqueles que Te amavam tanto?' E se não Te magoa, dá-me uma resposta. Já ouvi muita coisa de Ti, mas em nada acreditei."

Fitando os presentes com Seu Olhar franco, Jesus disse: "Meus queridos amigos! Aqui não é o lugar para falar deste assunto! Aguardemos até que o sol se deite; lá, na colina, poderemos melhor conversar, pois antes precisamos nos conhecer melhor." E esta proposta foi aceita.

CONVERSAS SOBRE A VOZ De JEHOVAH NO HOMEM

Zaqueus-filho tinha ainda vários assuntos para falar com seu pai na presença do Juiz romano, sobretudo: "Como é compatível com a fé de nossos pais que eu sirva aos pagãos? Mas não posso fazer outra coisa! Pois prefiro ser um pecador e aduaneiro, do que apoiar os horrores do Templo!"

Essas palavras afligiram o velho pai, que disse suspirando: "Talvez dentro em breve Jehovah nos mande o Messias que tanto esperamos. Ele nos libertará de todas as dúvidas e eliminará todo erro." Seguiu-se uma troca de palavras da qual também o Juiz romano participou.

Cornélius e Julius conversaram à parte com Jesus e Jacó. Depois de algum tempo, Zaqueus-filho juntou-se aos quatro, pedindo a atenção de Jesus e expondo-Lhe seu problema e de seu pai.

Jesus mansamente aceitou o pedido e disse: "Vê! Vossa fé em Jehovah é vosso antigo direito de família, uma vez que sois descendentes de Abraão. — Abraão obedeceu à Voz de Deus: “Vai num país que Eu te mostrarei!' (1. Moisés 12, 1) E vê, ele não se aconselhou com outros, mas obedeceu imediatamente! Pois para ele estava claro: 'Deus quer apenas o melhor para mim!'

Mas, não penseis que Deus Se mostrou a ele visivelmente. — Não! Ele, Abraão, ouviu claramente no seu coração as palavras e a Vontade Eterna, e cumpriu a Vontade de Deus. E o seu ato é e será para todas as eternidades um testemunho para tal comunicação interna com Deus.

Que farias, se Deus te tivesse chamado: 'Serve àqueles que não conhecem ainda o teu Deus!' Pensas: obedecer como Abraão? Pois vê! É exatamente a mesma situação: tu recebeste a chamada, se bem que não diretamente de Deus, mas os donos de tua pátria te chamaram para seu serviço. E aceitaste, uma vez que não deves temer o Templo, já que te tornaste romano. Meu pai adotivo José agiu da mesma forma. Também ele aceitou a proteção dos romanos, sem infringir sua fidelidade para com seu Deus!

Pensa sempre assim: Deus está em todo lugar. Seu Olhar supervisiona num átimo tudo que vive. E Seu Amor Grande, Sublime e Puríssimo vale para todos os seres, portanto, também para os pagãos. Cumpre, pois, teu serviço externo para com todos, mas continua fiel no coração a teu Deus! E Deus te mostrará sempre também Sua Fidelidade. "Compreendeste?"

"Agora estou livre de todas as preocupações", foi a resposta alegre de Zaqueus-filho. "E tu, bom e velho pai, conforma-te; não preciso mais de teu Messias! Pois neste jovem operário bate um coração cheio de Amor, Sabedoria e Inteligência. Isso para mim é o suficiente e o futuro me ensinará coisas ainda melhores."

O velho Zaqueus convida então seus hóspedes para tomar alguns refrescos, dizendo: "Depois vamos subir para a colina. Entrementes, mandarei levar para lá cobertores e assentos."

Assim foi feito, e todos se encaminharam para a colina.

REVELAÇÕES SOBRE A CRIAÇÃO PRIMITIVA DO HOMEM

No princípio, todos apreciaram a belíssima vista do alto. Depois, com lágrimas nos olhos, disse o velho Zaqueus: "Ó, Deus de meus antepassados, se olho nossa bela pátria, os magníficos bosques de palmeiras, as esplêndidas plantações de frutas e oliveiras, e nela o povo subjugado e irrequieto sob domínio estrangeiro, então peço: `Tira-me deste lugar que tanto aflige meu coração e meus olhos!'

Mas penso também: Deixa-me viver ainda por muito tempo, a fim de poder ver Aquele que nos libertará de toda esta servidão e aflição! E vós, meus queridos hóspedes e amigos de meu filho, perdoai um velho que não controlou seu coração, denunciando-vos como aqueles donos malvistos!"

O velho Juiz romano estendeu-lhe a Mãe, dizendo: Bom e nobre homem, nós compreendemos tua aflição e tua dor! Por isso, não viemos como inimigos, mas como amigos. Nunca violamos vossos direitos especiais. Vossa lei de Moisés é respeitada por nós e erigimos mesmo um templo ao vosso Deus como ao Deus Desconhecido.

Assim, não temos medo de vosso futuro Redentor, o Messias. Se vier, virá também para nós. Pois, mesmo servindo a outros deuses, não veneramos neles personagens, mas apenas entidades. E todos os quadros e imagens de nossos deuses devem nos lembrar apenas que servir a Deus é o que há de mais sagrado na vida terrestre.

Sou de opinião que deveríamos ouvir Jesus, porque foi Dele a ideia de nos reunirmos aqui. E assim, querido jovem, repito meu pedido: conta-nos algo da Tua Vida! Por que e com que finalidade Te excluíste tantas vezes do convívio da sociedade humana?"

Quando todos se tinham confortavelmente acomodado, disse Jesus: "Queridos amigos! Que posso contar de Mim, já que não Me poderíeis compreender totalmente? Mas mostrarei a todos a imagem do ser humano, como ele é e como deveria ser. Vede, “tudo tem o seu começo e também o seu fim”, diz um provérbio conhecido. Mas isso não é verdade com referência ao homem; ele tem um começo sim, mas não tem fim!

Se Deus tivesse criado os homens apenas para deixá-los perecer mais tarde, a Terra com seus habitantes seria bem diferente; para o regozijo do seu Criador, amor e compreensão mútuos seriam posse de todos. Como, porém, esta humanidade foi criada para uma vida e um desenvolvimento eternos, o Criador deu aos seres humanos apenas os meios para alcançarem, eles mesmos, estas possibilidades de desenvolvimento até a Semelhança com Deus.

Mas o homem, como é agora, abusa destes meios preciosos (1). Ele não quer considerar as altas intenções de seu Criador para com o homem. Só pensa nas coisas mundanas que ele vê à sua frente, querendo viver para sempre como soberano. Assim, também quer enriquecer-se à custa de seu próximo, para possuir bens eternamente, deixando tranquilamente os outros perecerem.

Agora, vede como o homem deveria ser! Deus — o Eterno — como Criador, e seu primeiro anjo criado, representam o seguinte:

Deus = O Doador, O Fogo Original (a Luz Original).

Lúcifer = O recebedor. O portador da Luz.

Deus = O Procriador. O Princípio Positivo.

Lúcifer = O que dá à luz. O princípio negativo.

E desta união nasceram inúmeras criações. E todas as maravilhosas criações obtiveram sua luz de Lúcifer, mas sua consistência de Deus. E nesta harmonia passaram-se eternidades.

Então fez-se sentir em Lúcifer a inveja do Princípio Doador. E como algo desconhecido a ele até agora, nutria em si este pensamento errado, até o momento em que pediu a Deus para esclarecê-lo a respeito deste sentimento negativo (2).

Deus então manifestou-Se como seu "Pai" ao ser por Ele criado como Força Criadora Primária do Fogo Original, mostrando a Lúcifer e a todos os seres conscientes oriundos dele que eram só o princípio recebedor — o polo negativo — sendo apenas recebedores e portadores da luz deste Fogo Original. E mostrou que uma verdadeira união entre os Dois só poderia existir eternamente, se tudo que os separava fosse vencido por eles de livre vontade.

"Pois vê", disse Deus: "Se permanecesses como foste criado por Mim não podendo ser diferente do que és; então Lúcifer, tu e tudo o que de ti se originou não seriam outra coisa do que uma veste de Minha Divindade, a qual quando gasta deve ceder lugar a outra. Pois Eu, como Deus e Criador, poderia criar ainda um outro espírito como princípio recebedor, e assim por diante. Mas não foi este o Meu desejo (3)!

Por isso Eu, como a Vontade Primordial, como O Fogo Original de toda Força Criadora, coloquei todo o Meu Amor na tua forma externa (em perfeita beleza) e na tua conformação interna (que é o pensamento e a compreensão independente), e também nas grandes possibilidades de desenvolvimento de tua aspiração.

Sim, Eu te presenteei com a perfeita liberdade interior da tua vontade, para que pudesses alcançar até os alvos mais elevados, e tu mesmo adquirir por estes meios tua gloriosa perfeição como um segundo deus ao Meu lado.

Mas vê: cabe a ti purificar-te de livre vontade com estes meios, pelos quais tens, todavia, também a possibilidade de querer e poder divergir de Mim, tornando-te, por estes meios preciosos, igual a Mim em nobreza (isto é, semelhante a Deus) e só então UM Comigo para sempre."

Lúcifer ouviu essa Mensagem, mas sua vontade já inteiramente livre sufocou em si toda aspiração para o divino, e ele se elegeu ele mesmo o senhor de seu mundo e de todas as suas criações.

Deus então tirou de Lúcifer a Luz, a Sabedoria Divina, que tinha dado ao Seu portador de Luz, e colocou esta Luz como pequenas centelhas nos corações das entidades criadas por Lúcifer, ordenando (4):

"Que cada um que queira realizar aquilo que foi dito a Lúcifer pode tornar-se UNO com Deus e ser destinado a herdeiro e coproprietário de todas as Suas Criações no Espaço Infinito!”

Durante eões Deus não viu Suas esperanças realizadas.

Compadeceu-Se o Amor em Deus e criou o homem (1 Moisés 1, 27) que continha em si ambos os polos, Deus e Lúcifer, o Divino e o luciférico. E este homem oriundo do Amor de Deus povoou os mundos existentes na região solar à qual pertence a Terra (1 Moisés 2, 8-20) (5).

E então o homem se perdeu.

O Amor de Deus, frustrado, numa esperança, deu mais um passo, e os dois polos foram separados e tornaram-se homem e mulher (1 Moisés 2, 22) (6). E assim o homem deveria reencontrar-se na mulher e a mulher no homem, para então ser a unidade necessária para tornar-se Um com Deus. Mas também estes dois falharam, e esta esperança do Amor Divino teve de ser transferida para os descendentes (1 Moisés 3; 6, 7 e 15).

E vede, queridos amigos, O Amor de Deus e Sua Paciência tiveram que esperar muito tempo! Finalmente, no homem Abraão, brotou e cresceu esta Centelha Divina que estava como semente nele. E de livre vontade Abraão nutriu esta Centelha da Luz Divina em seu íntimo e, mesmo por duras provas de fé, fez este Espírito Divino vencer no seu interior (1 Moisés 22).

Então Deus manifestou-Se a Abraão como seu Pai Eterno (I Moisés 15) para que ele reconhecesse ser um filho de descendência sublime, abençoando-o abundantemente (1 Moisés 14; 19).

E Deus fez-lhe a promessa que da sua semente seria oriundo Aquele que por Amor espontâneo a Deus, como Seu Pai, sacrificaria em Si tudo o que poderia impedi-Lo de tornar-Se verdadeiramente UNO com Deus.

Gerações vinham e passavam, mas a Bênção desta Promessa não aparecia! Houve, sim, portadores do Espírito Divino (profetas, grandes iniciados), mas nenhum deles era capaz de realizar em si mesmo este máximo sacrifício (outrora expresso a Lúcifer), para poder tornar-se totalmente UNO com Deus.

E assim também Eu, diz Jesus, provim da Vontade e conforme a Vontade Divina. Sou um Portador, um Receptáculo do Espírito Divino e da Vida Divina, e estou pronto para Me preparar de livre vontade para oferecer este Sacrifício.

Tu, amigo Cornélius, conheces Minha Infância e deves concordar que nunca conheceste uma criança mais consciente de si do que Eu, e muitas vezes admiravas Minha Vontade. Vê, esta era a bênção daqueles que, em dedicada obediência, cumpriram seu dever como servidores de Deus e como sacerdotes no povo dos judeus; e todo o resto em Mim era a consequência da puríssima concepção.

Eis porque Minha Alma é mais Pura e mais Livre do que a daqueles que foram concebidos em pecado e nasceram assim. Mas também Eu não estou livre das algemas provindas de Lúcifer; e todos estes laços têm que ser renunciados de livre vontade.

Bem cedo reconheci Minha Missão. E enquanto fui protegido e educado por Minha Mãe, também as influências que poderiam Me envenenar foram afastadas de Mim; e assim Eu cresci e aumentei em Sabedoria e Graças (Lucas 2,52).

Devido à seriedade que reinava em nossa família, amadureci mais cedo do que outros; e o Culto Divino diário na casa de José Me fez chegar ao Meu Interior. Procurava dentro de Mim tudo aquilo que Eu via em outros homens.

Às vezes sofri duras provas para perceber, em Mim, algo que nos outros Me parecia horrível.

Comecei a lutar, a lutar Comigo Mesmo, com Meu Eu Humano. De própria Vontade visitei lugares onde reinavam o pecado e o horror, e venci o espírito que queria surgir em Mim, que queria, contender e julgar os outros.

Assim — em Mim — encontrei tudo!

Mas, através desta luta, cresceu em Mim um novo Espírito. E neste Espírito Divino que renasceu em Mim obtinha sempre novas revelações e certezas. Sim, após cada luta coroada de êxito, este Espírito de toda Vida Divina crescia e vive agora em Mim como Meu Próprio Eu.

O Meu Amor Próprio diminuía sempre, e tive cada vez menos interesse em Mim como Pessoa Humana.

Foi sempre o Meu Lema de amadurecer rapidamente, para mais cedo possuir estas Forças Divinas. E neste obediente cumprimento dos Meus Deveres terrestres cresceu em Mim também a Vontade de alcançar o Grande Alvo Divino: Tornar-me Um com Deus.

Não precisava pesquisar e procurar as Verdades Divinas! À medida que Eu Me tornava Verdade, sentia também a aproximação do Grande Espírito Original como a Minha Origem, como Meu Pai. E em cada dia vivido por Mim até hoje crescia em Mim a confirmação: "Sou UNO com Deus".

E já sinto em Mim a Força de sair de Meu ambiente e mostrar a todos os seres este Espírito de Toda Vida e Ser Divinos no homem. E se vós, queridos amigos, compreendestes algo do sentido de tudo o que vos disse, então também se apoderará de vós esta Sagrada Verdade, e tornar-vos-eis livres dos vínculos estreitos para a salvação de vossas almas.

Assim, pergunto-vos por causa de vossa salvação: Compreendestes Minhas Palavras?"

O velho Zaqueus inclinou sua cabeça e disse: "Ouvi, sim, cada Palavra; mas não ao ponto de tornar-se minha posse. É demais o que vivi nestes dias: A construção rápida! A bela visão do sonho! Meu filho como servidor de romanos e pagãos! E Tu, meu jovem amigo, como vencedor de tudo o que é pecaminoso!? Isto é demais! Por isso, dai-me tempo e perdoai-me, que sou velho e ainda estou ligado com o passado e com o presente!"

Por algum tempo reinou silêncio. Então começou a falar o Juiz romano: "Queridos amigos e Tu, jovem! Não só escutei Tuas Palavras, mas deixei passar diante de meus olhos em formas e imagens nítidas Tua Vida Interior Espiritual e confesso solenemente que em toda minha vida nunca tive tais sentimentos e experiências! Certo é que ainda permanece algo obscuro e inexplicável, mas falarás certamente mais a este respeito. O que me importa no momento é: como planejas Teu futuro?

Minha pergunta tem dois motivos: Primeiro, o amor ilimitado que sinto por Ti tão vivamente. Segundo: posso eu, apesar de minha autoridade como chefe e funcionário Te acompanhar, pois estou ligado pelo meu juramento? E se Tu, jovem amigo, falas de deveres: como velho funcionário de tantos anos, tornou-se natural para mim ser leal. Peço, pois, Te pronunciares!"

"Querido, bom e velho amigo!" respondeu Jesus. "Não te preocupes por isso, pois sei que nós nos entenderemos bem. Pois o Espírito que Me fez livre libertará também a ti, se tu cumprires as condições que Eu cumpri há muito. Estas condições são: “Ama a Deus acima de tudo” e “Considera todos os homens como teus irmãos”.

Mas se não conheces ainda Deus, então Deus virá a ti se praticas o amor fraterno. Ele Mesmo Se revelará a ti e te mostrará o caminho para a Vida Eterna.

Não sei ainda quando Deus Me chamará para a Grande Obra. E Meu Caminho Me é também ainda obscuro, uma vez que ele dependerá da atitude dos homens: de que maneira eles Me aceitarão e a Minha Doutrina.

Pois, com o Meu Aparecimento, o Antigo tornar-se-á Novo, e o que está em cima ficará em baixo!

Neste Reino futuro que anunciarei, prepararei os homens a procurar Deus no próprio coração e a servir a Deus nos seus irmãos. E, para tanto, cada um deve estimar-se igual ao outro, dando honra somente a Deus. Estás satisfeito?"

"Sim, mas criaste novos enigmas", disse o Juiz, "e se eu continuo perguntando certamente Me darás ainda outros enigmas!"

"Nisto tens razão", disse Jesus, "pois se te oferecesse toda a Verdade e toda a Sabedoria e se te desse provas por meio de fatos, querido amigo, então toda a felicidade seria perdida e o teu livre desenvolvimento interno sofreria danos irreparáveis.

Deixemos agora acalmar nosso coração como Templo de Deus, para que também esta linda noite se torne um acontecimento importante e um marco na história da vossa vida interna!"

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ALGUMAS ANOTAÇÕES DO TRADUTOR SOBRE O CAPITULO "REVELAÇÕES SOBRE A CRIAÇÃO PRIMITIVA DO HOMEM"

(1) Que são sobretudo: inteligência e livre arbítrio.

(2) Vemos que o "Tempo" de criação de Deus juntamente com Lúcifer, foi de eões; e que a queda de Lúcifer não aconteceu já no início de sua existência.

(3) Deste parágrafo deduzimos que, no início, Lúcifer e os espíritos criados por ele não tinham ainda o livre arbítrio.

(4) Aqui vemos que a distribuição das Centelhas Divinas, que é o resultado do desmembramento da Luz que Lúcifer tinha recebido, aconteceu antes da criação de Adão, porque a criação até então era espiritual, isso é de seres de natureza puramente espiritual, ou já psico-espiritual. Outra parte daquela energia retirada de Lúcifer destinou-se ao “Big Bang” (criação da matéria).

(5) Este homem não era ainda o homem encarnado na Terra com corpo material, mas um homem espiritual, ou melhor, psico-espiritual de natureza andrógena, mas já destinado a encarnar-se posteriormente na Terra.

(6) Almas foram separadas em dois gêneros, então destinados à encarnação na Terra como humanos-homo-sapiens, para que se complementassem e se auxiliassem no processo de espiritualização (crescimento interno da centelha divina), caso desejassem se achegar a Deus e galgar os estágios dos Céus. Nenhuma alma, entretanto, evoluiu o suficiente de forma a não se prejudicar com uma maior aproximação de Deus.

Em outro passo, há cerca de 6.00 anos, Deus moldou uma alma masculina superpura e, por isto mesmo, com grande longevidade e capacidades extraordinárias sobre a matéria. Da energia desta primeira alma, Deus moldou a correspondente alma feminina. Lúcifer teve permissão de fazer o papel da centelha dele (Adão) e depois dela (Eva), mas rejeitou ambas as oportunidades e ainda corroborou para que ambas as almas pecassem a ponto de se afastarem da meta divina.

Dos descendentes do casal, apenas a família de Noé sobreviveu e procriou com os humanos. Aos poucos as capacidades excepcionais ainda na família de Noé foram se perdendo ao longo de gerações voltadas ao materialismo e mundanismo. Ainda assim, algumas construções hoje inexplicáveis puderam ser feitas com o uso de tais capacidades. Na verdade, poucas obras e projetos inexplicáveis tiveram participação diretas de ETs, como se conjectura, pois o planeta escolhido sempre foi vigiado e preservado de influências externas ao livre arbítrio do homem.

Henoch e outros desenvolveram bem suas centelhas divinas, mas ainda contaram com uma participação direta de Deus, possivelmente impulsionando suas almas.

Finalmente, no homem Abraão, brotou e cresceu esta Centelha Divina que estava como semente nele. E de livre vontade Abraão nutriu esta Centelha da Luz Divina em seu íntimo e, mesmo por duras provas de fé, fez este Espírito Divino vencer no seu interior (1 Moisés 22).

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VIVÊNCIAS ESPIRITUAIS NA COLINA

No céu tornam-se visíveis as constelações e, neste silêncio, os pensamentos atingem até as estrelas. Também em casa tudo se torna mais tranquilo. Todos os quartos estão iluminados, o que aumenta mais ainda a beleza da noite; depois vem o mensageiro da casa e pergunta o que deveria ainda ser feito, uma vez que tudo está provido e resolvido e que também os quartos para descanso dos hóspedes estão preparados.

Diz Zaqueus-filho: "Fiquem todos acordados, pois também amanhã será feriado na casa de Zaqueus! Talvez precisemos ainda de vossos serviços. Preparai um jantar, pois em duas horas voltaremos para casa."

O filho pergunta ao pai se assim estava certo, e o velho Zaqueus acena com a cabeça, confirmando.

Num excesso de seus sentimentos, Zaqueus-filho, não podendo mais conter-se, inclinou-se perante os outros e disse: "Queridos amigos! Parecia-me que a Terra tinha desaparecido, como se vivesse em um mundo onde tudo se ajusta como por si mesmo e que milhares de mãos invisíveis trabalhassem para nosso bem-estar! Meu coração está tão pleno, que gostaria de abraçar cada um de vós com todo amor. Sim, acredito que até poderia estender meu amor aos inimigos! Oh, como estou alegre por ter-Te conhecido, meu Jesus! Tens uma maneira tão especial de fazer outros felizes!" "Nisso tens razão", disse Jesus pensativo, "mas já pensaste que grande vantagem tens em comparação com teus irmãos? Conheces a aflição, a mágoa?

Pergunta a teus amigos que conhecem a guerra, as dores, que viram as necessidades mais amargas em tantos países estrangeiros! Seus corações estão imunizados e lutaram, não apenas uma vez, até com a morte! Quem passou uma infância como tu, sem preocupações, sonhando apenas com o bem-estar terrestre, não conhece ainda a vida na sua pluralidade.

Pois todo o rigor da vida nasce apenas dos contrastes ao nosso redor e dentro de nós! Não quero dizer-te o que deves ou não fazer, mas apenas: liberta-te desta inclinação para as coisas mundanas através do Espírito de toda a vida, a fim de que também te tornes um instrumento do Eterno Amor de Deus!

Até hoje só te brilhava o sol. Quando nasceste, choravas; mas os teus se regozijavam. Vive de agora em diante de maneira que, quando morreres, possas alegrar-te e que os teus por ti chorem! Pensa muitas vezes em Mim! E não esquece: chamo-Me Jesus, mas o Espírito em Mim é Jehovah, Zebaoth! E agora, fechai por alguns minutos vossos olhos!"

De repente, o ambiente da colina tornou-se claro. Os olhos de todos foram abertos e puderam ver muitas figuras luminosas que animavam a colina.

O Juiz estranhou, perguntando: "Posso falar com esses seres? Ou isso é apenas um sonho ou uma fantasia? !"

Então disse Jesus: "Sim, conversai! Por uma hora isso vos será permitido, depois do que, eles desaparecerão."

Todos fizeram conforme Jesus tinha dito e conversaram com os seres luminosos; e assim os pensamentos, perguntas e respostas se cruzaram, pois estes seres eram parentes falecidos conduzidos por anjos bem-aventurados.

Esta hora passou muito rápida! Então Jesus levantou-Se e, visível a todos, abençoou estes seres. Em seguida a visão espiritual foi-lhes fechada e para todos parecia que uma terrível treva reinava em toda a Terra!

RAFAEL COMO SERVIDOR DO SENHOR

Só agora notaram os romanos que um jovem desconhecido tinha chegado, e se admiraram que ninguém tivesse notado sua chegada. O jovem pediu a Zaqueus, o hospedeiro, de ser acolhido em sua casa hospitaleira, o que lhe foi concedido com muito prazer. Mas a conversa serenou, pois, de repente, todos estavam tranquilos, sentindo-se como que solitários.

Jesus falou com Jacó em voz baixa e saudou o recém-chegado com um leve aceno de cabeça. O jovem se inclinou até o chão com as mãos cruzadas no peito. Jacó foi dar ao jovem as boas-vindas em nome de Jesus, com as palavras: "O Senhor o quer. E assim seja feita também aqui Sua Vontade!"

Neste instante, viu-se uma maravilhosa estrela cadente, um som sibilante fez-se ouvir, e por momentos toda a região ficou iluminada. Em seguida tudo escureceu novamente, pois Jesus o quis assim. Disse Zaqueus: "Queridos amigos! Quereis ficar aqui em cima, e neste caso mando vir luzes, ou voltamos para casa?" Decidiram então voltar para casa, onde já esperava pronto o jantar.

O hospedeiro era solícito entre seus hóspedes e disse a Jesus: "É a Ti que devo tudo isso! Oh, se eu pudesse fazer com que ficasses sempre aqui como meu filho! Em verdade, serias um consolo e uma luz na minha velhice; pois do meu Zaqueus, quase não tenho nada!"

E disse Jesus: "Sim, teu desejo é justo; Eu também gostaria de ficar sempre aqui entre vós. No corpo isto não é possível, mas em Espírito continuarei convosco."

O velho abanou a cabeça, pois não pôde entender estas palavras simples, vendo em Jesus apenas o filho do velho José. Depois de um certo tempo perguntou: "Meu querido jovem amigo! Que quiseste dizer com isso: ‘em espírito?’ Consta haver apenas um espirito, e Ele é Jehovah, em Seu Poder e Sua Glória?!"

Jesus respondeu: "Virá ainda o tempo em que o compreenderás, quando o Messias fará Sua Entrada e tomará as disposições para salvar, com Seu Espírito, Seu povo. Agora gozemos da refeição, para depois descansarmos um pouco!"

Os romanos continuavam falando sobre os seres luminosos, não tendo palavras para exprimir a alegria que sentiram.

O mais tranquilo era Cornélius, pois ele sabia o suficiente e ficou em silêncio, para poder ouvir cada palavra e ver cada ação de Jesus.

Falando com Jesus à mesa, o velho Juiz romano perguntou-lhe sobre os acontecimentos do dia, pedindo esclarecimentos sobre algumas dúvidas surgidas em seu interior.

Jesus, à sua maneira tranquila e afetuosa, começou a falar: "Queridos amigos da Verdade! Nada faço com maior prazer, do que servir àqueles que precisam de ajuda; primeiro, para cumprir Minha Missão, e segundo, para iluminar o Espírito da Vida, do Amor e da Verdade, e criar valores para a Eternidade. Se Eu vos falo de coisas que não conheceis, sabei que elas, apesar de faladas no tempo, não são para tempo e espaço, e sim destinadas para a Eternidade!

Tudo que vossos olhos veem é construído sobre Leis; e é verdade que a ação do tempo remove estas coisas, mas não estas Leis. O princípio fundamental da manutenção de tudo o que foi criado é a consequência de Forças Divinas.

Em todo lugar para onde vossos olhos se dirigem há luta, e o mais forte vence e consegue elevar-se para o alto. Quem foge da luta ou é covarde demais sucumbirá. Eis o que a vida vos diz em toda a natureza. Este também é o caso do próprio homem. Seu interior é sempre uma arena de combate entre o mundo e o espírito. Para esta luta o homem recebeu o livre arbítrio, que pode aplicar (qual um cinzel) onde quiser, baseado no seu intelecto. Somente por uma tal vontade para a resistência vivificam-se forças que dormiam nele como latentes.

Assim, toda a vida do homem nada mais é do que uma corrente sem fim de vitórias e derrotas. Mas o Polo Divino colocado no homem impulsiona sem cessar para novas ações. Naturalmente o homem externo nada disto sente.

Quando, porém, grande aflição ou profunda alegria o comovem, solta-se o trinco que mantinha fechada a porta para o próprio íntimo, mostrando por momentos o homem interior na sua verdadeira configuração: na sua aflição, mas também no seu ser bem-aventurado. Acreditai-Me: todos os seres vistos na colina são iguais a vós, com a diferença que vós ainda tendes carne e sangue, podendo entrar neste estado espiritual apenas após ter deixado vosso corpo material.

Vede, assim como há homens na Terra que se encontram perto da perfeição — penso em Henoch, em Elias e também em Minha Mãe carnal — assim também há no Além seres que se encontram ainda muito atrasados e outros que já estão perto da perfeição.

Em Verdade vos digo: só habitantes do Céu podem ver a felicidade que reina nos corações de tais homens fiéis a Deus. Isto não acontece aos habitantes da Terra, pois seus sentidos estão dirigidos às coisas mundanas. Excepcionalmente, porém, homens também podem ver a bem-aventurança dos anjos e dos espíritos puros, quando estes se podem mostrar a eles como aconteceu esta noite."

E Jesus continuou: "E para vos mostrar esta meta magnífica e desejável, convidei um destes habitantes para que ele vos sirva no vosso progresso espiritual, mostrando-vos os degraus para o templo de vosso coração e relatando-vos experiências da sua própria vida que vos levarão bem mais perto das Verdades Eternas! Assim seja!

Podeis fazer-lhe perguntas, e ele não vos ficará devendo resposta." Todos olham com curiosidade o formoso jovem; enquanto este se comporta como se já fosse um velho conhecido desta casa. O velho Juiz romano pede que o jovem fique a seu lado e pergunta então de onde ele veio no meio da noite. "Pois é totalmente contra os bons costumes entrar numa casa como desconhecido, numa casa que nem é hospedaria!"

Sorrindo, o gracioso jovem disse: "Sim, tens razão; mas sou de outra opinião. Para mim não existe noite e posso ficar onde quiser. Meu Senhor me chamou para servi-lo nesta casa. Eis porque aqui estou e aqui fico enquanto Meu Senhor e Dono quiser!"

"Mas quem é teu Senhor?" perguntou o Juiz admirado. "Conheço quase todos que possuem criados e servos, mas nunca te vi com nenhum dos senhores! Ou és também um dos seres que vimos no alto como num sonho? Mas a ti, também lá não vi! Peço-te uma resposta satisfatória, pois nada é pior do que a dúvida."

"Meu senhor é também o teu," disse o jovem. "Mas ainda não reconheceste Seu Poder e Sua Natureza, porque se O conhecesses, também Lhe servirias de boa vontade! Quero, pois, mostrar-te em mim os sinais do Meu Senhor e porque sou Seu servo."

Um pouco irritado, o velho romano disse: "Jovem amigo, quem quer que sejas, não fales em enigmas, pois Jesus já o fez bastante. Quando o assunto se torna mais importante e interessante, vem o enigma. E agora vens tu e pareces ser também um destes jovens milagrosos? Dize-me, pois, com naturalidade: quem és e o que és!"

"Querido amigo, não te irrites!" respondeu o jovem. "Saberás ainda o que te for útil! Será difícil fazer-te acreditar quem eu sou! Pois, conforme a Vontade de meu Senhor, meu corpo serve apenas para mostrar-vos:

Que todas as forças que residem no homem têm sua raiz, não na sua carne, mas no homem espiritual, o qual, conforme a Ordem Eterna do Criador, é indestrutível!

Pega em minhas mãos ou em meu corpo! O que observas?"

O velho Juiz disse: "Bem, que és um jovem de uns vinte anos e muito bem cuidado, pois teu corpo não mostra nenhuma imperfeição."

Sorrindo, Rafael diz: "Agora pega-me mais uma vez, mas com força, pois não sou tão sensível como pensas!"

O velho romano então quis apertar com força a mão do jovem. Mas, nada tinha na mão e pegou no vazio! Quis tocar a cabeça, o pescoço, as orelhas...; não tinha nada de palpável, apesar de ver o jovem diante de si, sorrindo.

"Parece impossível! Isto entenda quem quiser! Um homem; sim e não!"

"Escuta, querido amigo!" disse Rafael — pois era este que o Amor Eterno tinha mandado para os homens — "nós ainda nos entenderemos bem; pois para isso as condições já foram criadas. Importa saber se tu e os outros acreditarão que todos os seres que vistes e com os quais palestrastes são habitantes de grandes mundos, mas mundos espirituais.

O Senhor e Eterno Deus libertou-vos por uma hora dos invólucros, mostrando-vos a vida puramente espiritual, do mais baixo até o mais alto. Também em mim vedes um habitante de mundos espirituais penetrado pela Vontade Divina. E eu não conheço outra Vontade, nem outro Zelo ou outro Serviço, do que servir ao meu Senhor, meu Criador e Eterno Deus; assim, estou diante de vós como testemunho de Sua Infinita Grandeza e Seu Poder, mas também de Seu Amor cheio de Misericórdia. Onde Deus está, também estamos nós!

Para nós, anjos, tudo é um. (uma unidade). Se de dia, de noite, se aqui ou lá, não importa! E todos os nossos movimentos são mais rápidos do que um pensamento. Nunca envelhecemos, ficamos sempre jovens e encontramo-nos fora de espaço e tempo. E é graças à Misericórdia do Grande Amor de nosso Deus que estamos agora aqui para vos servir!

Penetro em teus sentimentos e conheço teus pensamentos. Pensas que isto é impossível? Para te provar minha realidade espiritual, pede-me algo bem difícil e vou satisfazer-te conforme a Vontade do meu Santo Deus!"

Admirado, o velho romano põe-se a refletir. "Sim, se podes, vai buscar ou mandar trazer o anel de minha mãe falecida há muito tempo, o anel que se perdeu há mais de trinta anos na casa paterna e pelo qual me aflijo ainda hoje!" O velho homem sombreou seus olhos, como para evitar que se tornassem vivas as recordações. E disse Rafael:

"Aqui tens o anel que já te causou muita tristeza. Se tivesses sido mais atento, poderias ter visto como uma gralha o pegou e levou para um pardieiro! Mas Deus quis que assim fosse, porque Ele sabia o momento certo em que este anel perdido, teu amor secreto, te seria restituído. Mas contempla-o primeiro!"

Então chorou o velho homem que, noutras circunstâncias onde reinavam a morte e a destruição, nunca verteu uma lágrima. Aquele que ficou tranquilo na execução de várias sentenças de morte, agora abrandou, dominado pelos seus sentimentos! Esta experiência foi o primeiro raio do Amor Divino que o arrebatou no seu íntimo, que lhe mostrou o Ser e a Natureza do Verdadeiro Deus! Rafael enxugou-lhe as lágrimas e disse: "Querido amigo! Agora que colheste a verdadeira vida e que não há mais enigmas para ti, ama neste espírito a Deus, o Eterno, e a todos os homens como teus irmãos; então não terás vivido em vão! Durante toda tua vida teu Deus e Criador te serviu, se bem que Invisível, para dizer-te nesta hora: "Oh! Serve tu, agora, também a Mim!" E aquelas forças invisíveis e os ajudantes estarão perto de ti na luta para conseguires este grande alvo!"

Então o velho pegou o anel e quis colocá-lo no dedo de Jesus. Mas Jesus disse: "De modo nenhum posso aceitar isto, meu velho amigo, já que tenho ainda uma alegria muito maior preparada para ti! Guarda teu anel! E que seja sempre um testemunho desta hora! Volta para junto de teu jovem amigo e pede-lhe ainda mais!"

Com lágrimas nos olhos, o romano disse a Rafael: "Sim, querido amigo, se pudeste trazer o anel de minha mãe, traze-me também minha mãe, se Deus o permitir, pois acredito agora na vida eterna. E certamente conhecerás o lugar onde ela se encontra?"

Rafael passou a mão sobre os olhos do romano e este não só viu sua mãe, mas também seu pai e avô. Mas não atreveu-se a lhes falar.

A mãe, sendo vista e ouvida por todos, disse: "Finalmente minhas muitas preces foram atendidas! Agora agradeço a Deus! E sei que és salvo, uma vez que te voltaste para o Deus Vivo! Oh, deixa todos os ídolos, deixa tudo que é mundano, pois são só aparência, mentira e fraude! Apenas nós somos verdade como homens espirituais, verdade da vida espiritual eterna, e vivemos da grande plenitude da Graça de Deus.

Também te aproximas, dentro em breve, dos degraus que levam à eternidade! Utiliza o tempo que te é dado ainda, pois a salvação encontra-se entre vós! Há um sussurro através todo o mundo dos espíritos:

"Deus é Homem entre os homens!

E ao inferno faz-se uma barreira!"

E, todos os espíritos bem-aventurados em Deus aspiram pelo tempo em que também para vós será construída a ponte (ligação espiritual) sobre a qual nós poderemos ir a vós e vós a nós! Deus está na Terra, para que ela, com todos os seus habitantes, se torne apta para a grande felicidade sem fim: Deus tornar-Se-á visível para todas as Suas criaturas! E aguardam-se tempos em que Deus e os homens se darão as mãos como dois irmãos, para lutar juntos contra o espírito que não quer reconhecer a Vida Eterna, nenhuma Ordem Eterna e nenhum amor desinteressado.

Quando entrei neste mundo espiritual, era pobre; mas amigos chegaram e me ajudaram, até que também eu pude ajudar a outros mais pobres ainda. E assim encontrei teu pai. Não nos separamos mais porque tudo o que separa passou e tudo o que une nos foi dado por Deus, a Quem, porém, nem uma só vez pudemos ver. Mas Seus servos e Seus amigos vieram e nos ajudaram; e assim somos felizes. Se bem que não sejamos ricos, também não somos pobres.

Já que Deus Se mostra tão bondoso para conosco, só pode ser Bom e de Máximo Amor! E agora te deixamos externamente. Mas de maneira invisível podemos ficar muitas vezes contigo, se tu podes crer vivamente no Verdadeiro Deus dos judeus. Tem íntima fé: Ele é a salvação e só por Ele, por Este Deus, vem toda a felicidade! E assim ressurge naquele espírito, no qual também nós ressurgimos." Então desapareceram os seres espirituais. Mas todos os presentes estavam muito felizes, uma vez que receberam finalmente clareza sobre a vida do Além.

Cornélius e Julius palestraram ainda com Rafael, e muita alegria gerou esta reunião. Só o velho Zaqueus não pôde alegrar-se, pois o milagre do anel era grande demais para ele; e depois de um certo tempo pediu que se lhe conte minuciosamente de que maneira este anel fora perdido, mas o velho romano também não sabia mais detalhes, apenas que não pôde vencer a dor da perda. E assim as horas passaram como num voo. Ninguém pensou no sono, uma vez que Rafael pôde mostrar-lhes a Essência e o Ser de Deus de maneira tão clara! E nas magníficas constelações que eram visíveis da sala, ele mostrou aos seus ouvintes a eterna e grande Ordem Divina.

Na sala, o ambiente tornou-se mais tranquilo, e Rafael pediu aos presentes para descansarem uma hora, para que o interesse nos Grandes e Sagrados Assuntos Divinos não enfraquecesse! "Depois continuaremos!" E então desapareceu Rafael, mas ninguém perguntou por ele.

RAFAEL MOSTRA A TODOS O DOMÍNIO DAS FORÇAS DA NATUREZA

A manhã era de céu claro, o orvalho cobria tudo. Quando todos estavam acordados, Jesus perguntou quem queria acompanhá-lo à colina para o recolhimento matinal, estando todos de acordo. O velho Zaqueus marcou o desjejum para duas horas mais tarde, e assim todos foram juntos para a colina.

E como ficaram admirados ao chegarem lá! Como de um golpe lá encontrava-se um belo pavilhão sobre sete colunas! O teto era de madeira de cedro, o pavimento ensamblado, havia alguns assentos bem colocados, e Rafael já aguardava a todos.

Com os braços cruzados no peito, Rafael inclinou sua cabeça como saudação e convidou todos a se sentarem. "E agora, queridos amigos, deixai esta magnífica manhã agir sobre vosso ânimo, para que os laços que ainda separam Deus e o homem se desfaçam! Quando Deus me chamou ao serviço para esse local, era meu desejo provar-vos, graças ao Grande Amor Divino, o que é possível pela plenitude das Forças Divinas. E assim, fique convosco esse pequeno templo, como lembrança permanente destas horas sagradas e importantes!

Não posso dar-vos tudo de maneira que só vos reste servir-vos; antes quero mostrar, à base das minhas próprias experiências de vida, o novo caminho para a Sublime Meta.

Olhai para o Leste! O Sol já sobe devagar, a luz torna-se cada vez mais forte e a nova vida na natureza é como um eco de tudo isto. É como se cada criatura quisesse prestar sua gratidão ao Sol ascendente, e as névoas que sobem das planícies vos mostram como da alma da Terra, ainda em estado de agitação, se desprendem partículas substanciais de vida ainda presas e subjugadas.

E agora, vede como a luz se intensifica ao redor, enquanto vosso ânimo torna-se cada vez mais leve e mais alegre!"

Lá em cima, bem alto, voa uma águia e dá suas voltas. Rafael levanta seu braço e a chama, dizendo: "Vem depressa para cá e testemunha que, mesmo sendo rainha dos ares, estás sujeita à força Divina no homem!"

A águia desce e com leve batimento das asas coloca-se sobre a mão direita e antebraço de Rafael, inclinando-se diante do pequeno grupo que admira a ave gigante, com uma envergadura de asas de aproximadamente dois metros.

Ninguém ousa falar. Então Rafael diz à águia: "Escuta! Presta-me mais um serviço e depois podes procurar tua refeição! Lá, não longe do mato, numa tapada, encontra-se uma jovem corça que na queda quebrou a pata. Traze-a rapidamente para cá, pois uma serpente já a escolheu como presa!" Inclinando a cabeça, a águia se levanta uns trinta metros e depois, como um raio, vai para o mato. Três vezes dá a volta sobre ele e em seguida precipita-se sobre a terra; e rapidamente sobe de novo, levando no bico uma serpente que pegou diretamente pela cabeça. A serpente, que tem uns quatro metros de comprimento e uns trinta centímetros de grossura, começa a movimentar-se querendo levantar a parte traseira. Então a águia deixa cair a serpente e se precipita sobre ela, provavelmente para matá-la. Pouco depois, sobe novamente, dá umas voltas, desce para a terra e ao levantar-se tem no bico uma jovem corça.

Voa em direção do pequeno grupo, dá três voltas no ar sobre ele, desce para a terra e coloca o animalzinho, que está gemendo, aos pés de Rafael. Três vezes inclina-se diante deles, solta um forte grito e levanta-se depois para uma enorme altura, desaparecendo em direção do Sol.

Admirados, todos acompanham a cena sem dizer palavra.

Rafael passa a mão sobre a corça, que se acalma. Já está curada e dobra-se aos pés de seu benfeitor. "Agora, querido velho dono desta casa", começa Rafael no silêncio geral, "pede o que quiseres e te será dado! Mas exige algo que traga bênção para os homens!"

Zaqueus fica tranquilo e em silêncio, não ousando pronunciar um desejo. Então, diz Rafael: "Se não desejas nada, nada te pode ser dado. Mas, como lembrança desta hora sagrada, que se abra aqui uma fonte para refrescar homens e animais, sendo útil à natureza que está com sede e fome! Que assim seja!"

Todos sentiram uma pequena trepidação no solo, que se abriu fazendo jorrar uma fonte com diâmetro de um braço, e a água procura o seu caminho para baixo. A jovem corça é a primeira a saborear desta água, colocando-se de volta aos pés de Rafael.

"Agora basta de sinais", disse Rafael, "meu serviço terminou. Vós, porém, reconhecei Deus e Sua Santa Vontade! Então este reconhecimento introduzir-vos-á naquela Santa Vontade, para que possais igualmente fazer uso das forças maravilhosas que também existem em vós, se bem que em estado latente.

Assim como minha vontade venceu a águia,

Assim como minha vontade curou o animal e

Assim como minha vontade fez jorrar a água da Terra,

vós também podeis fazer o mesmo, e ainda mais. Pois tudo o que fiz foi feito pelas Forças Divinas. Assim também vós deveis fazer uso da Graça que se manifesta a vós nesta hora matinal!

Agora, louvai a Deus no coração, com boca e mãos! E o espírito do verdadeiro amor humano vos preencha no serviço importante: a Grande Obra Divina. Assim seja!"

Um raio . . . e o lugar onde estava Rafael ficou vazio!

Mais admirados ainda, os presentes entreolharam-se. Então levanta-se Cornélius e diz a Jesus, que estava sentado e aparentando indiferença: "Tudo isso devemos a Ti, querido amigo da Vida! É a Ti que quero amar! É a Ti que quero levar no meu coração! Pois novamente reconheço: Contigo Deus abençoou a Terra! Ó, quão felizes serão teus parentes, quando Te tiverem reconhecido totalmente!"

"Tens razão, Meu querido e fiel amigo," respondeu Jesus. "Mas é a triste verdade que os Meus e todos os outros Me reconhecem tarde demais! Tu mesmo ouviste de Jacó quão grande mágoa reinava em casa de José por Minha causa; mas Meu tempo ainda não chegou! Por isso, silenciemos ainda um pouco! Somente com a maturidade de vossas almas amadurecerá também o Espírito divino em vós, este Espírito que vos foi mostrado e revelado aqui. Eu, no entanto, devo ainda calar-Me! Silenciai também, pois é para a vossa salvação! Podeis conversar ainda hoje com Jacó; ele está informado de tudo. Amanhã, pela manhã, partiremos; mas podeis agir conforme vossa vontade! Não insistam Comigo! Minha Hora ainda não chegou, pois a chamada para o serviço na grande Obra Divina não se fez ouvir ainda!"

Todos se levantam e pedem a Jesus para ficar com eles: "pois nós somos", dizem eles, "espiritualmente tão pequenos em comparação Contigo!" — mas Jesus se afasta silenciosamente; apenas a pequena corça O segue.

"Deixai Jesus partir! Deixem-No sossegado!" pede Jacó. "Ele voltará por Si Mesmo. Não sabemos porque age assim; mas Ele sabe com certeza o motivo e a finalidade disto!"

O velho Juiz diz: "Voltemos agora à casa, para comer alguma coisa, e que o dia que começou tão maravilhosamente tenha ainda um digno final!" Silenciosamente, todos foram para casa e tomaram a refeição, tendo, porém, seus corações dirigidos para Jesus.

Eis que Jesus entra sorrindo pela porta, entregando o pequeno animal ao velho Zaqueus como presente: "Para que possas regozijar-te com esse alegre animalzinho e, grato, reconhecer o Bondoso Criador!"

Ninguém pergunta: "Onde estavas?", mas todos estão alegres! “Jesus está de novo conosco!” Então diz Jesus a Jacó: "Agora começa o teu serviço! Resolve teus assuntos conforme o desejo de José, para que, ainda hoje, possamos nos regozijar no Espírito do Bondoso Criador!"

Assim, passou-se o dia, e ninguém pensou na partida. Jacó pôde ainda mostrar suas habilidades e seu amor fraterno, não se cansando de dar testemunho de tantas provas da Graça! Só depois de meia-noite, todos foram repousar.

DESPEDIDA

Quando na manhã seguinte todos se encontravam para o desjejum, faltava Jesus. O velho Juiz romano ficou surpreso, uma vez que Jesus tinha ido embora sem se despedir. Mas Jacó defendeu seu irmão Jesus, pedindo para não criticar Seu comportamento. "Porque Ele sabe o que quer e não Se deixa deter por nada!" Depois perguntou se já esqueceram as horas maravilhosas que passaram com Ele. Os outros se calaram envergonhados, e ninguém mais quis iniciar uma boa conversa.

Foram para a colina, ficaram por pouco tempo no pavilhão e voltaram para casa, esperando que Jesus tivesse voltado.

O velho Zaqueus ainda discutiu vários assuntos com seu filho e Jacó, e encomendou o almoço cedo, pois aproximava-se o momento da partida. Rapidamente se passaram as poucas horas e todos se acomodaram para a refeição de despedida.

Jacó, intimamente entristecido, perguntava-se: será que os amigos deveriam partir sem ter falado mais unia vez com Jesus? Neste instante a porta se abriu e Jesus entrou. Com um sorriso, a mão direita estendida para abençoar, aproximou-Se da mesa.

"Amigos", disse, "não fiqueis zangados Comigo! Eu precisava estar sozinho para libertar-Me dos desejos de Minha Alma. Não pude vir mais cedo, pois Meu Coração impetuoso ainda guarda muita vontade mundana, de maneira que tiver de fugir da vossa presença que se Me tinha tornado tão cara. Mas isso já superei. E não quero deter-vos no cumprimento de vossos deveres!"

Durante a refeição conversou-se animadamente e finalmente veio o momento da despedida. Julius e Cornélius pediram a Jesus e Jacó de viajarem com eles; mas Jesus disse:

"Foi justamente essa a razão de Minha luta: queremos ir sozinhos. Pensa um pouco, Meu Julius, também precisas de silêncio, se queres tornar-te igual a Mim! Chegará o tempo em que nos reencontraremos; então a alegria será dobrada! Mas sempre devemos servir-nos em espírito pelos dons e pelas forças que Deus nos deu!" E assim, Jesus e Jacó deram a mão a todos, para se despedirem.

O velho romano agradece com lágrimas nos olhos e, apertando Jesus contra seu peito, diz: "Ó, se pudesses vir comigo e ser meu filho, como Te trataria bem! Pois em meu coração vive apenas amor por Ti!"

Jesus agradece e diz: "No Espírito do Amor estamos Unidos para sempre. O que quiseste fazer por Mim, Meu Pai te fará nos Céus. E só então reconhecerás quem Eu Sou."

Foi uma despedida penosa! Sobretudo Zaqueus-filho, que menos tinha falado com Jesus, não queria largar Sua Mão. Então disse Jesus: "Zaqueus, não está longe o tempo em que te tornarás um testemunho para todas as eternidades. Não Me esqueças, para que lágrimas de dor e arrependimento não te enfraqueçam antes do tempo (Lucas 19, 3 a 10)! Eu sempre pensarei em ti! Agora, ide todos em paz! Também nós seguiremos a nossa estrada! Que o Amor e a Bênção de Deus estejam convosco!"

Assim terminou mais um período de Sua vivência em casa de Zaqueus. Demoraram ainda aquele dia e mais uma noite, o que fez o velho hospedeiro ficar muito feliz; mas ele não pôde se dedicar a seus hóspedes, uma vez que a autoridade local o chamou. Jesus foi com Jacó mais uma vez para a colina, como para se despedirem dos arredores. Deitaram-se cedo, pois o velho Zaqueus não tinha ainda voltado. Bem cedo o velho os despertou e, antes que eles partissem, Zaqueus agradeceu de novo. "Formula um desejo", pediu a Jesus, "e, se puder, o satisfarei neste instante!"

Jesus sorriu e disse: "Sim, teria um único pedido a te fazer; é este: Guarda-Me no coração, tu e tua casa! E vive e age pelo mesmo Espírito que vive em Mim, e tudo ao teu redor e dentro de ti se tornará um paraíso!

Agora temos que nos separar! Não nos esqueças, assim como também nós não te esqueceremos! E lembra-te das magníficas revelações divinas dadas aqui! Que o Espírito de Jehovah seja convosco!"

E assim partiram. O ancião ainda os acompanhou por um grande trecho, voltando depois para casa, orando no coração.

E os dois voltaram pelo mesmo caminho pelo qual tinham chegado.

CADERNO NÚMERO 4

DE VOLTA AO ALBERGUE DO ANTIGO HOSPEDEIRO

Partindo da hospedaria do velho Zaqueus, Jesus e Jacó caminhavam em silêncio, até que Jacó não pôde mais ficar calado. Mas Jesus pediu: "Não fales, entendemo-nos também assim! Quando estivermos em casa, poderás novamente soltar tua língua. Mas hoje nos alojaremos ainda com o antigo hospedeiro, que se ocupa muito em espírito conosco." Assim, cansados e exaustos, ali chegaram depois de uma longa jornada.

O velho hospedeiro não sabia o que fazer de tanta alegria por tê-los de novo como hóspedes! Atentamente ele vigiou para que ambos se refrescassem e se fortalecessem, buscando o melhor vinho de sua adega; não quis ausentar-se, até estar convencido de que estavam saciados.

Seus olhos brilhavam de alegria quando disse: "Graças a Deus que ainda me deu esta alegria: sois de novo meus hóspedes! Mas desta vez deveis ficar mais tempo; pois devo dizer-vos que, depois que partistes, sempre continuei pensando em vós, sobretudo em Ti, muito querido jovem amigo!"

Disse Jesus: "Também somos felizes que teu coração pulsa de amor por nós! E tanto maior é a Minha alegria, já que teu amor é verdadeiro e sincero! E uma vez que nos ofereceste tua casa, ficaremos também até amanhã à noite! Nós trabalhamos muito e assim podemos nos permitir um dia de descanso, apesar de Eu saber que em casa já estamos sendo esperados com saudade."

O velho hospedeiro perguntou então sobre o que passaram e fizeram; e Jacó contou sobre o seu trabalho, desenhando, com um pedaço de carvão na mesa, o salão com a escada e o terraço que construíram. Admirado, o velho hospedeiro quase não podia acreditar: “Neste pouco tempo . . . um trabalho assim?” e Jesus lhe disse: "Certamente se Jehovah não tivesse ajudado com a Sua Bênção, ainda hoje estaríamos com o velho Zaqueus! Mas, querido hospedeiro, permite-Me hoje fazer-te um pedido!"

O velho hospedeiro confirmou com a cabeça e Jesus disse: "Perdoa-nos, hoje estamos realmente cansados, e desejamos apenas descansar e dormir! Mas se assim desejas, amanhã, antes do levantar do Sol, vamos para o monte vizinho! Estás de acordo?" O velho hospedeiro concordou com alegria e acompanhou os dois para seu quarto, desejando-lhes uma boa-noite!

Então diz Jesus a Jacó: "A este homem ainda podemos mostrar as maravilhas da natureza, chamando sua atenção sobre o sentido santo e espiritual de tudo o que foi criado!" Dentro em pouco houve silêncio total, pois no albergue não havia outros hóspedes naquele dia.

VIVÊNCIAS DURANTE O LEVANTAR DO SOL

De madrugada, quando o hospedeiro quis despertá-los, os dois já se encontravam na sala e imediatamente começam juntos a caminhar na manhã orvalhada. Caminham em silêncio; ainda está escuro quando chegam ao destino, um monte com florestas e grande número de belos cedros nas encostas. Não existia um caminho para o cume do monte, mas em pouco tempo chegaram lá, onde apenas cresciam arbustos silvestres e várias ervas.

Jesus se deitou na relva molhada e umedeceu Seu Rosto com orvalho, como se quisesse acariciar a úmida grama; depois Se levantou, dirigindo Seu Olhar para a aurora que já anunciava o levantar do Sol. "Prestem atenção agora ao que acontece na terra, no ar e no céu", disse Ele, "para que recebamos um aviso de como temos de nos orientar para cumprir tudo à perfeição!"

Tudo é tingido de cor púrpura e as bordas das nuvens brilham com luminosidade celestial; é como se uma geleira ou cachoeira fosse iluminada com muitas luzes! O cenário muda, as nuvens se partem, e os primeiros raios do Sol terminam este quadro. Abaixo deles, na floresta, a vida começou; é como se todos os pássaros tivessem um encontro, uma manada de corças olha e corre para a nascente bem perto. Ainda não se pode ver ou ouvir qualquer ser humano; e assim, os três se dedicam a contemplar as belezas, desfrutando do silêncio desta manhã deliciosa!

O velho hospedeiro estranha que os dois amam tanto a natureza e lhes conta que também ele participa com amor e alegria da mesma. Depois diz: "O homem que ficar indiferente aos processos da natureza deve se considerar bem pobre!"

Jesus confirma e diz: "Pobre sim, enquanto não quer compreender nada desta linguagem pela qual seu Criador lhe fala! Pois de que modo o Criador poderia se manifestar para Suas criaturas, senão pela Sua linguagem? Tudo o que foi criado leva o Seu sinete divino e testemunha que depende unicamente do Criador e da Sua Força que penetra tudo!"

Após uma breve pausa, Jesus continua: "Mas, será que tudo o que foi criado existe apenas por causa do Criador? Nunca acreditai que seja assim! As maravilhas em toda criação nos indicam algo bem maior e mais belo! Pois todo este esplendor existe apenas para que os privilegiados e agraciados, que são os homens, possam deliciar-se com isso, desejando se tornar — eles mesmos — mais semelhantes a Deus, ou ao seu Criador em todas as Suas Obras!

Observai agora tudo ao redor de vós com vossos sentidos unidos ao vosso espírito, e então vereis de que maneira grandiosa e bela tudo é coordenado em si e também entre si! Pois a beleza de toda a Criação é apenas a reprodução justa do vosso magnífico mundo interior! Sim, tudo o que é belo deve alegrar o homem! E se ele só pode ver coisas anuviadas, então também seu interior se torna sombrio. Todos os dias podeis observar a veracidade de Minhas Palavras."

Jesus continua: "Olhai agora para baixo, no vale, sobre o riacho e acima das águas, a neblina como querendo subir! Mas a luz do Sol que se levanta a rebaixa mais uma vez! Vede como o vapor subindo começa a transformar-se em orvalho, como gotas de água para testemunhar da vida, até no caule, da grande força vencedora, o Sol! Um fulgor, um cintilar, um mar de estrelinhas luminosas manifestam-nos a vida da luz até na mínima gota de orvalho!

Observai mais: os animais, grandes e pequenos, correm para ter seu gole d'água! Mas, na procura do alimento, podemos notar neles a inveja, ao passo que ao saciar a sede, só há satisfação! É novamente uma justa advertência para o interior do homem: Todo amor-próprio que quer se erguer para poder ser predominante, dentro e fora do homem, deve novamente recuar para seus limites! O amor-próprio será vencido pelo Amor de Deus em nós, que é a Luz do Sol Espiritual! E assim, tudo que há na natureza torna-se testemunho de uma poderosa Vida de Amor, dentro de Deus e por Deus!

Como às vezes rivalizam os homens, uns com os outros, esquecendo tão facilmente os limites que a Ordem de Deus determinou para eles! Daí a confusão e a desunião! Mas, aceitando tudo da verdadeira Fonte da Vida de Deus, todos se deleitam, tanto o zeloso como o tranquilo. Assim, a bela natureza nos fala muito sobre os pressentimentos e saudades que há no coração humano!

Olhai agora para os cirros sem número e sem medida; uma vibração os percorre diante do azul do firmamento! Quão serenos e calmos passam eles no firmamento infinito, deixando-se levar rumo ao seu alvo! Já pensastes alguma vez que estas nuvens representam todo o vosso plano de vida? Sois de fato conscientes que também vós sois sempre impulsionados e atraídos por uma força, por um espírito que vos mostra, às vezes inconscientemente, o grande Alvo?

Mas para onde dirigis vosso desejo e vossa meta? Em verdade Eu vos digo, com Puro Amor de Irmão e Amigo: lá onde acabam todos os impulsos e toda a atração no coração, dentro em breve também terminará a vida interior! Pois esta magnífica vida interior é a coroação de todas as lutas humanas. Esta vida é consciência da plenitude e força! Esta vida somente é o testemunho da Grandeza do Criador! Mas só é introduzido nesta vida aquele que em todas as situações da vida pode dizer:

"Sobre mim — o Criador! Todo o resto em mim e ao redor de mim —pelo Criador!"

Eis porque, querido velho amigo, Eu Me hospedei de novo contigo, para dizer-te isso! E se podes crê-lo e vivenciá-lo, então não esperarás mais o Messias, mas já trabalhas esforçando-te pelo Salvador! Pois vê! Que bem faria o Messias a um povo, se este não acreditasse Nele?

Vê como o Sol segue imutavelmente seu caminho! Mas à noite e nos dias de chuva, como os homens o anseiam! Que proveito, porém, traz o almejado Sol, se os homens depois se escondem nos porões de suas casas? Que aproveitam das bênçãos do dia, se adoram a noite? Pois é a luz do Sol que trouxe o dia!

Vê! Quem não quer aprender a conhecer o Amor —este Sol para toda vida interna espiritual — quem não se esforça a praticar o Amor e a cultivá-lo, se iguala àqueles que se escondem nos quartos escuros de seu amor-próprio, não querendo reconhecer os raios do amor fraterno e ao próximo.

E aquele que aqui na Terra viveu uma vida sem este Amor, também não pode ser salvo por um Messias, ou Salvador, porque toda a vida interna, como está escrito, é baseada na fé, em algo de divino no homem! E agora dize-Me se Me compreendeste?"

"Querido jovem amigo, tens uma maneira de falar que me força a dizer: Tens razão! E ainda que não tenha compreendido tudo de maneira clara, não poderia dizer nada em contrário! Mas, querido jovem amigo, existe um "porém": Se podes dissipar todas estas dúvidas, já agora me coloco do Teu lado e tomarei as Tuas Palavras como lema para minha vida!

Dize-me então, como se explica que, apesar dos grandes sábios, dos homens doutos e vitoriosos, a humanidade não tenha alcançado um degrau superior? Vê: abusando da cegueira dos homens, os templários e seus seguidores, por exemplo, só fazem explorar o povo, e isto de uma maneira que faz arrepiar os cabelos! Por outro lado, observa o poder do dinheiro, o poder da carne e o poder do espírito dominador! Tudo isto contribui para que a humanidade não progrida! Sempre pensei: Deus é certamente bom; e o homem, provindo de Deus, consequentemente também deveria sê-lo! Mas observa os homens e procura um bom! Podes encontrar alguns, mas isso é quase nada! Podes, pois, compreender o meu desejo, a minha esperança por um Salvador (de todos estes males)! Espero há vinte e cinco anos; e hoje vejo que era uma vã esperança!"

"Meu querido hospedeiro e amigo dos homens!" respondeu Jesus, "pelas tuas palavras vejo claramente que não Me compreendeste; e assim mostrarei o teu erro, mas não agora! Vamos para casa, pois terás um hóspede. No decorrer do dia, receberás a Luz e também a Consolação de tal maneira, que te alegrarás nos restantes dias de tua vida!" Com isso, voltaram calmos e em silêncio. O dia prometia tornar-se magnífico; e os prados orvalhados refrescaram e estimularam os três silenciosos viandantes.

BANQUETE NA CASA DE JULIUS

Julius, o romano, veio bem cedo. Um pressentimento lhe dizia que os dois amigos ficariam de novo neste albergue, e seu coração bateu alegremente quando os viu dirigirem-se à casa.

Depois de uma saudação afetuosa, o hospedeiro convidou a todos para o desjejum, do qual Julius participa, agradecendo. Fala-se sobre muitos assuntos e depois Julius pede aos três: "Vinde hoje a mim, a minha casa! Sede, por hoje, os meus hóspedes! Para mim seria uma felicidade indizível!"

Jesus olha para o velho hospedeiro, notando sua luta interna, e pergunta: "Por que é tão difícil te decidires? Fazer feliz seja tua tarefa no futuro, e tua vida será penetrada pela luz do Sol! Que importância tem se és judeu e Julius é pagão? Dize-Me: ficaste impuro agora que os romanos frequentam tua hospedaria?" O velho hospedeiro luta ainda consigo, mas o amor vence: "Aceitamos o teu convite, ilustre senhor e comandante!"

Mas Julius rejeita: "Não assim, meu querido hospedeiro! Ou vens como amigo e irmão, ou ficas aqui! Pois este Jovem me mostrou que todos os homens deveriam tornar-se irmãos; e é apenas no sentido deste Amor que Te convido e a vós."

Ele estende a mão para o hospedeiro e este também a segura; então toma Jesus ambas as mãos, as aperta contra Seu Peito e diz: "Para que esta união tenha valor para as eternidades, Eu a consagro do Meu Espírito Interno e vos digo: Ficai unidos no Espírito do verdadeiro eterno Amor Divino! Tu, querido Julius, deixa brilhar teu espírito e uma vida orientada pelo amor; e tu, velho hospedeiro, fica fiel às Verdades Divinas. Então nenhuma tormenta poderá partir vossa união! Amém!"

Julius insiste em partir logo, e dentro de pouco se encaminham para sua casa. No caminho, Julius narra vários episódios de sua vida, e não demorou muito para chegarem à sua casa. Na porta, Julius saúda mais uma vez os seus hóspedes, dando-lhes as boas-vindas!

Então ordena ao grande número de serventes de montar a mesa, para preparar um banquete à moda dos judeus. Antes, porém, eles visitam as grandes salas adornadas com riqueza e fausto. Depois foram para a sala de jantar, onde os serventes já prepararam a mesa.

Quando Jesus vê os pratos e cálices dourados, que eram adornados à moda dos ricos pagãos, Ele pede a Julius de afastar estes utensílios preciosos, para poupar-lhe uma decepção. "Pois", diz-lhe Jesus, "apesar de Eu poder Me dominar e beber de um cálice adornado com um ídolo, para o Meu Espírito Interno isto é algo repugnante! Por isso, peço-te cumprir Meu pedido!"

Imediatamente Julius ordenou ao seu mordomo de tirar da mesa todos os vasos dourados e adornados, instruindo-lhe para enviar tudo aquilo amanhã para o ourives, a fim de torná-los lisos e sem adornos. Nisto Jesus estende a mão para Julius, dizendo: "Meu Julius, uma vez que quiseste fazer mais do que Eu te pedi, também Eu o farei, e peço-te: deixa tudo no seu lugar, pois o que querias fazer com grandes despesas já foi feito." Julius assustou-se por causa desta prova de grande Amor e deste Espírito milagroso, mas Jesus disse: "Não te assustes! Pois ao Grande Amor Divino tanto faz tratar-se de algo grande ou pequeno! Mas examina a ti e ao teu coração, para que não sofra um prejuízo por causa desta alteração!"

Também os serventes estranham bastante; mas estão acostumados a fazer o seu serviço silenciosos; foi servida então a refeição digna de um príncipe, apesar de Julius não ter governanta.

Jesus abençoou a refeição, e o vinho dourado fez brilhar os olhos de todos; o velho hospedeiro não tinha mais palavras, de alegria.

Assim, passou-se este dia com conversas alegres. Somente Jesus ficou silencioso, mas regozijando-Se intimamente pelos outros.

Apesar de Julius ter pedido várias vezes a Jesus de revelar algo de Seus planos, Jesus sempre respondia: "A chamada ainda não Me foi feita! Mas vós, sede alegres e felizes, pois Eu o sou convosco! Amanhã à noite, quando chegarmos em casa, terei novamente graves deveres a cumprir! Devo cumpri-los bem, para que não transcenda os limites que a Lei da Ordem Divina do Amor colocou também em Mim.

Só quando tudo estiver inteiramente resolvido, quando tudo em Mim se tiver fixado no grande eterno alvo da Vida de Deus, só então todos os limites terão desaparecido para Mim! Então serei livre e Um com Deus, O Eterno Espírito Original.

Por isso, regozijai-vos hoje! E se tiverdes um desejo oriundo do vosso próprio círculo interno de vida, e Eu vendo que o cumprimento deste desejo não vos prejudica, então será realizado para vós!"

RAFAEL EXPLICA A VIDA NUMA GOTA D'ÁGUA, ASSIM COMO A VIDA NO NOSSO MUNDO INTERNO E TAMBÉM NO ANJO

Os olhos de Julius brilharam e, dando a mão a Jesus, pediu-lhe: "Oh! Manda vir ainda por uma pequena hora o jovem encantador, para que também o velho hospedeiro se torne testemunha da grande Vida Divina tão variada em suas múltiplas facetas!"

"Que assim seja!" disse Jesus. Então abriu-se a porta e o Jovem mensageiro entrou saudando a todos e, aproximando-se da mesa, inclinou-se diante de Jesus e dos outros, pedindo que aceitem os seus serviços como presente do seu Senhor. Admirado, o velho hospedeiro olhou para o jovem, saudou-o na qualidade de o mais velho na casa de Julius, e perguntou de onde vinha e para onde ia?

E respondeu o mensageiro: "Querido amigo da Verdade de Deus! No meu caso, não é preciso perguntar de onde e para onde, pois estou onde meu Senhor e Soberano precisa de mim! Minha lei suprema é cumprir Sua Vontade! E não poderia ser diferente, pois sou totalmente compenetrado do impulso de cumprir, como meu sagrado dever a Deus, tudo o que Ele quer, Ele — o Eterno Criador do Céu e da Terra.

Isso te parece incrível? Mais tarde reconhecerás esta Verdade e também Aquele que é a Eterna Verdade e que me chamou para o vosso meio, exatamente para dar-te uma prova do Amor Divino, uma vez que Ele te fez digno de servir Aquele a Quem também nós servimos com íntima alegria. E agora, meus amigos, dizei-me vossos desejos, para que possa servir-vos!"

Mais uma vez perguntou o velho judeu: "Mas quem é teu Senhor, o que é que Ele faz e o que é que vós fazeis? Não é por curiosidade, mas eu queria entender melhor. Chegar assim pela porta, sem mais nada. . .!"

"Querido velho amigo, não peças coisas fúteis!" respondeu o jovem. "O meu Senhor é também o teu; Ele é o Eterno Deus e Criador, a Quem todos nós devemos nossa existência! Desde eternidades sou consciente disso! E para mim não há felicidade maior do que servi-Lo! Eis porque estou aqui! Meu Senhor e Deus me chamou; aceita, pois, os meus serviços!"

Admirado, o velho hospedeiro fitou o habitante dos Céus de alto a baixo, meneando a cabeça com incredulidade.

Disse Julius: "Meus queridos amigos, acreditai-me: no futuro farei todo esforço para servir ao vosso Deus que agora também é meu! Pois para mim se tornou manifesto: Ele é o Amor Eterno! Toda Sua Vida testemunha este Amor, e é por isso que acredito Nele! E tu, jovem mensageiro dos Céus, mostra-nos algo da vida que é tão intimamente ligada com nosso Bondoso Deus e Criador!"

Disse Rafael: "Uma vez que não manifestais nenhum desejo especial, manda trazer um cântaro de água e alguns copos!" Isto foi logo feito. Rafael encheu dois copos e disse: "Temos aqui água pura tirada do poço! E como não tendes a mínima ideia do que se encontra nessa água, quero agora, pela Força e Bondade de Deus, ampliar cem vezes uma gota dessa água!"

Então colocou o dedo na água e o retirou, ficando no mesmo uma gota d'água. "Quero que essa gota se amplie! E agora vede o que se encontra nessa gota!"

Os olhos de todos se arregalaram ao verem quantidade de vida nela! Animaizinhos que se acasalaram, deram à luz e morreram depois! E não puderam compreender toda aquela vida e morte!

Foram então instruídos que estes animaizinhos têm normalmente uma duração de vida mais longa, mas que a luz de fora os mata; e ainda morrendo, eles dão vida a seres mais novos. Rafael repetiu o mesmo várias vezes. Também os outros colocaram um dedo n'água e observaram na gota todos estes milagres.

Agora Rafael deixou cair n'água uma crosta de pão, tornando o copo transparente. E todos viram como ainda outros seres foram levados para a água pelo pão! E viram a luta destes seres entre si, que normalmente são invisíveis aos nossos olhos. Meia hora depois, toda vida parou.

Rafael encheu novamente o copo transparente com água fresca e disse: "Agora vamos deter a luz!" Então soprou sobre o copo, que se tornou de cor rubra; mas, colocado contra a luz, podia-se ver claramente o que havia dentro.

Rafael então colocou a metade de um figo fresco na água, e o que os amigos agora viram excedeu toda sua fantasia, pois deste figo saiu quantidade de animais, e parecia que cada vez saia um maior e muitos menores!! O maior estava no meio e os outros ao seu redor, e tudo se movia dupla e triplamente. E viram também que os animaizinhos presentes no início foram devorados pelos maiores! Então perguntou Rafael: "Quereis agora beber e esvaziar o copo?" Disseram todos que não.

Agora Rafael fez com que desaparecesse o invólucro escuro e novamente a água estava clara diante dos olhos de todos, e depois de um certo tempo, toda vida nele parou. Apenas pequenas borbulhas saíram ainda do figo, indo para a superfície. Foram instruídos que este processo era causado pela luz e que também nestas borbulhas existiam ainda seres, mas mesmo sendo ampliados cem vezes, continuavam invisíveis aos seus olhos! "Para futuras gerações está reservado ver também o que pudestes ver agora por mim!

Assim tivestes ocasião de observar algo da vida deste magnífico mundo que Deus fez existir por vossa causa. Por menor que seja a vida em toda matéria, como pude mostrar-vos, ela se apresenta grande em outros mundos! Tão grande que toda esta vida seria incompreensível para os vossos sentidos!

Mas minhas palavras não devem servir para tornar-vos curiosos! Não! Apenas querem demonstrar-vos a Onipotência e Sabedoria do Senhor Deus Vivo, que também quer Se refletir na vida de todas as Suas criaturas!"

E continuou Rafael: "Quero dar-vos ainda conhecimento da força que reside em mim e da inteligência da Vida de Deus! Perante ti, velho hospedeiro e fiel judeu, eu poderia desenrolar toda tua vida, da primeira hora da tua existência até agora! Quero, pois, que tu mesmo vejas por alguns minutos tua vida passada!"

Rafael pegou a mão direita dele e o que as palavras não fizeram, esta Graça conseguiu! Pois o Amor Eterno tocou o âmago de seu coração, recolocando todos os momentos de sua vida passada perante seu olho espiritual, até que ele mesmo disse: "Agora chega! É tudo verdade! Verdade viva! Acabo de viver agora mais uma vez toda minha vida! Como é possível isso em tempo tão curto?"

Rafael então explicou aos presentes que, quando a alma abandona o invólucro do corpo, não existe mais passado nem futuro, mas tudo é presente. Porém isso vale apenas para o tempo terrestre que tiver sido vivido dentro da Ordem Divina.

"Tu, velho amigo, que te esforçaste fielmente para viver com justiça perante Deus e os homens, pudeste ver o passado sem te assustares! E retive com minha vontade o teu futuro, para não impedir teu desenvolvimento rumo à liberdade espiritual!"

"E assim Se faça também a Vontade de Deus em todos vós!" E, por meio de belas imagens e parábolas, Rafael mostra aos amigos o Magnífico Amor de Deus, cheio de Graça e Misericórdia, terminando com as palavras: "Só Aquele que veio do Céu pode falar do Céu! Mas agora que o Eterno Amor Divino vestiu-se de carne, também os homens estão sendo preparados para fundar no seu próprio interior um novo Céu, pelo Espírito da Vida de Deus. E este Espírito Se chama e Se chamará eternamente: Amor! Amor inconcebível, Magnífico, Puro para os sentidos humanos! Mas é perceptível no coração daqueles que procuram e se esforçam seriamente para ajudar, incentivar e salvar.

É a este Amor que pertence o futuro! E deste Amor dependem todos os destinos dos homens e dos seres criados! E é necessário apenas um átomo deste Puro Eterno Amor Divino, para tornar cada coração humano alegre e livre! Deixai, pois, crescer em vós a centelha deste Amor, porque é a Vida de Deus em Vós!

Ela nasceu da Força Universal de Seu Amor, que é e será propriedade eterna do Nosso Senhor e Deus! Pois também no futuro ninguém poderá realizar atos de amor por si mesmo, pois eu também nada faço por mim, mas só pela Força de Deus que age em mim com minha plena consciência!"

A GRANDE MAGNÍFICA META DESTA VIDA ORIUNDA DE DEUS EM TODOS OS SERES

O dia terminava, e Jesus disse: "Separemo-nos agora, basta por hoje! E tu, querido Rafael, mostra-nos ainda, como despedida, a grande meta de toda esta Vida oriunda de Deus nesta escura matéria; e será o suficiente por hoje!"

Então desvaneceram-se as paredes perante os olhos de todos, e toda matéria dissolveu-se em mundos espirituais! E da escuridão brotou Luz e mais Luz! E nesta Luz da Verdade apareceu mais outra Luz. E inúmeros seres viviam nesta Luz, tornando-se UM com Ela!

E ouviu-se uma voz: “Consumou-se a grande Obra de Amor e extinguiu-se o ódio e a inveja, espiritualizando tudo o que ainda era mau e sombrio, cobrindo-se agora com a veste da Redenção! Aleluia! Amém!”

Antes que os outros pudessem ter um pensamento, Rafael desaparecera. Todos ficaram juntos ainda uma hora, alimentando-se deste grande e solene acontecimento.

E disse Jesus a Jacó: "Aqui termina nossa viagem! Guarda silêncio sobre isso perante Meus irmãos; somente Maria e José podem sabê-lo. E vós, queridos amigos, sede também prudentes e silenciai sobre o que vivenciastes. E não espereis que Eu possa ceder aos vossos desejos íntimos! Isto somente será possível quando Deus Me chamar!

Não sei ainda quando isto acontecerá! Ainda devo muito unir em Mim e em torno de Mim! Continuemos, pois, a servir-nos mutuamente e depois nos separemos no Espírito deste Amor, conforme a Vontade de Deus!"

E assim foi. Ninguém perguntou por Rafael, pois já era natural que ele desaparecesse, e intimamente rejubilaram-se todos por Deus lhes ter dado tantas coisas belas a vivenciar.

A despedida de Julius e Jesus foi comovente, e Julius não se cansava de abraçar seu Jesus.

O velho e fiel hospedeiro ainda abençoou Julius e todos os seus, e este acompanhou o grupo até perto da hospedaria, regressando em seguida para sua própria casa.

DESPEDIDA DO HOSPEDEIRO E VOLTA PARA NAZARETH

O velho hospedeiro rejubilou-se intimamente, pois agora sabia: Este é o Messias! E chegando em casa pediu a Jesus e a Jacó de ficarem sempre com ele, o que Jesus decididamente negou, uma vez que o velho hospedeiro tinha que compreender Seus deveres e Sua Missão! "Ter-Me reconhecido é uma grande felicidade para ti!" disse Jesus. "Mas se chegar a hora de viveres pelo Meu Espírito, então serás bem-aventurado e livre do mundo! Pois Aquele que vive em Mim viverá também em ti! Então seremos irmãos para sempre! Para isto ainda não chegou a hora; esforcemo-nos, pois, para que isto aconteça! Deus dará Força e Bênção!" Chegou a vez de Jacó falar, e depois da ceia recolheram-se no seu quarto.

Bem cedo deixaram a casa. O velho hospedeiro os acompanhou ainda por uma hora, até que Jesus pediu: "Volta agora para casa, pois lá também te esperam tarefas! E, se posso pedir-te, não Me visites em Nazareth, pois lá Eu não poderia servir-te como tu o desejas nem poderia dar-te o que procuras! Procura-o em ti e o encontrarás!

Satisfaze-te em ter sempre Deus perante teus olhos e mais ainda em teu coração! Então ninguém mais te desiludirá, seja judeu, sacerdote ou pagão!

Quando Meu Tempo chegar, não vos trarei nenhum Céu e nenhum Deus, mas vos mostrarei apenas como preparar-vos o caminho para Ele! E este caminho conduz para o próprio interior de cada um! Volta, pois, em paz para tua casa e saúda cordialmente, pelo Meu Espírito de Amor, ao Meu irmão Julius! A paz seja contigo! E abençoados sejam teus passos e tua ação, se sempre forem feitos no Espírito do Eterno Amor Divino!"

E assim, separaram-se os três. O velho encobriu seus olhos, lágrimas corriam pela sua barba; e seu olhar os acompanhou enquanto ainda podia vê-los, abençoando-os com ambas as mãos. Depois voltou para casa. Os dois caminhavam rapidamente, comentando ainda em detalhes sobre todos os acontecimentos dos últimos dias, até que Jesus disse: "Sabes, querido Jacó, às vezes tenho receio por uma coisa e nem ouso pensar nisto: é que tu venhas a enfraquecer! Peço-te encarecidamente: Olha somente para Mim e o que Eu faço! Consulta, como anteriormente, apenas teu coração; então tudo se tornará claro para ti, e serás para Mim apoio e ajuda!

Quando chegarmos em casa, começará uma nova luta ainda mais pesada do que antes! Asseguro-te que os adversários empregarão todos os esforços para Me abalar em Meu Princípio de Vida! E, no entanto, devo calar-Me em muitas coisas!

Calar-Me e sempre de novo calar-Me! E de onde achas que Eu consigo a coragem e a força para resistir a isto? No silêncio!

Assim, Meu coração se enche de tristeza e também de Amor! Pois cada dia Me mostra a Minha Grande Meta! Mas, sempre no silêncio, digo a Mim Mesmo: “Fica firme! Sê forte! Nenhum passo para trás! Que o Meu Zelo sempre seja para frente!” Tive a prova em Mim Mesmo que consigo o que quero! Porque tudo o que nós realizamos depende apenas da nossa vontade, mas toda vontade deve se curvar perante a reconhecida Vontade Divina! Só então o interior será liberto e o coração repleto, o coração que bate por Amor a Deus e a seus irmãos!

Regozijemo-nos, pois, do nosso Amor, que também é uma dádiva de Deus que nos é dada para servir!"

"Meu querido Jesus", disse Jacó lentamente, "novamente me vem uma dúvida e creio que a causa disso é Nazareth! Pois, longe da nossa pátria, acreditei que fosses Deus, e me sentia alegre e livre! Mas agora que nos aproximamos de casa, vejo que és Homem e não Deus! Dize-me, como se explica isso?"

Sorrindo e estendendo Sua Mão a Jacó, Jesus disse: "Ainda tens muito a aprender e sepultar o passado! Presta atenção:

Eu Sou Homem como tu e encerro o Divino em Mim, assim como tu! Une-te a Deus como Eu o faço, então te unirás realmente com Ele, pois Deus em Sua Natureza Íntima, que é de Amor, nada deseja para Si Mesmo, mas quer Ser Tudo somente nos Seus filhos.

E é por isso que Eu Me esforço; e deves fazer o mesmo! Então te unirás, não apenas com Deus, mas também Comigo! E assim como nós chegamos a formar uma união, outros se associarão ainda conosco. Só assim teremos a garantia que esta semeadura do Amor Eterno de Deus terá feito raízes nesta Terra! E desta semeadura sairão filhos da Luz, filhos do Amor, serão educados para que ajudem e estimulem a Vida de Deus. Aprende então de Mim, e tua vontade se tornará ação!"

Tranquilamente continuaram seu caminho. E com o pôr-do-sol chegaram cansados em casa, onde os seus os esperavam ansiosamente!

Jacó narrou sobre a bela construção, sobre o amor e a hospitalidade do velho Zaqueus, bem como do apego do filho dele.

E o velho José (bem idoso), alegre pelo que ouviu, abraçou a Jacó e a Jesus; era este o seu reconhecimento. José, que gostava de falar, hoje estava tranquilo, pois sua alegria após a longa separação era grande demais. E então se recolheram após as orações da noite.

Assim terminou esta cena que foi um ato sagrado na vida do jovem Jesus!

A TENTAÇÃO DE JESUS

A áspera estação já passara; o começo das chuvas indicava que a primavera estava próxima, mas que também o trabalho aumentaria, e assim na casa de José começou uma vida ativa.

O velho José não podia fazer mais nada, pois se sentia muito cansado; e falando a Maria, não ocultou que seu maior desejo era o de voltar para seus pais.

"Mas", disse, "a preocupação por Jesus aperta meu coração! Se não tivéssemos deixado Jesus e Jacó irem sozinhos no ano passado... ; pois agora, mesmo Jacó foi contaminado com Seu silêncio e Sua reserva! Ambos trabalham mais do que é justo, mas não gosto do fato de que ficam sempre a sós! Por que não abrem o coração para conosco? Essa é minha dor! Meu Deus! Como terminará isso? Quando terão fim essas provações?"

E cada queixa também fazia mal a Maria, pois ela não sabia o que responder a José.

"Com quanto prazer", diz José, "teria tido netinhos em meus braços; mas infelizmente isto não me foi dado! Dize-me: por que Jacó não quer se casar? Quanto a Jesus, isto é evidente, uma vez que Sua missão espiritual e divina não o permite! Mas Jacó... ? Ó, meu Deus! Não me deixes perder a confiança!"

Assim continuam as palestras durante as semanas, mas Jesus e Jacó fazem como se não vissem ou ouvissem nada!

É como um acordo mudo entre os dois. São fortemente unidos, tranquilos no trabalho, mais tranquilos ainda nas refeições comuns, e mesmo as visitas que chegam com frequência não os tiram de sua reserva.

Maria já se habituou e se conforma; quanto a Jesus, ela sabe do porquê e para que, mas Jacó intranquiliza seu coração.

E eis que vem visitá-los uma parenta afastada, a fim de, se possível, ficar para sempre em casa de José, como fora combinado entre seus pais. A moça se chamava Gabi; era alta, esbelta e ligeira como uma doninha. José queria casar Jacó com Gabi e disse isso a ele.

Este respondeu: "Querido pai! Se for da Vontade de Deus, eu o farei; mas primeiro devo examinar-me e também a Gabi, antes de pedir sua mão! Dá-me, pois, algum tempo; asseguro-te que me esforçarei por ser um bom filho!" Também Maria ficou feliz por Jacó se ter finalmente familiarizado com este pensamento; e assim todos continuaram cumprindo suas tarefas. Mas, o que fez a nova companheira? No princípio, seguiu rigorosamente a ordem da casa de José, mas seu coração e seus sentidos atraíram-na para Jesus! Jacó notou isso e não demorou a haver uma discussão que causou imensa aflição na casa de José.

Gabi amava a Jesus e não a Jacó, e ela declarou em poucas palavras: "Nunca poderemos nos casar! Não poderei cometer esta traição para com meu amor! Ou Jesus, ou ninguém!"

Quanto sofria Maria por causa daquela jovem bonita, virtuosa e piedosa! Como uma mãe, a vigiou; mas onde estivesse Jesus sozinho, a moça estava ao seu lado!

Até que Jesus disse: "Gabi, assim não pode continuar! Eu não posso e não devo Me casar contigo! Tu pensas que Me amas, mas é uma ilusão! O que chamas de amor, nada mais é do que o desejo por Meu Corpo. Vai! Vai! Sob essas condições Me és enfadonha!"

Mas Gabi não queria ouvir e cortejava Jesus abertamente. Mais uma vez, Jesus a repreendeu. No início pedindo humildemente; porém, depois, com severo rigor, dizendo: "Nunca podes tornar-te Minha mulher, porque Deus Me destinou para algo diferente, muito mais grandioso! Por isso, Gabi, sê razoável aproximando-te assim de uma felicidade infinitamente maior, uma felicidade que a Terra ainda não conhece! Não Me detenha, pois! Através de Mim, este caminho será preparado para a grande e imensa felicidade da vida!"

Gabi deixou-se acalmar; mas não demorou e a luta recomeçou.

Era sábado: José, Maria e os outros estavam todos na Sinagoga, só Jesus ficou em casa. Desde que Gabi morava com eles, Jesus se isolava mais ainda, até de Jacó; não somente para não influenciá-lo, como para conseguir se interiorizar ainda mais.

Gabi devia saber que Jesus estava em casa e O procurou em Seu quarto, onde Ele estava descansando.

Jesus quis levantar-Se, mas Gabi lhe disse: "Fica deitado, devo falar-Te e resolver minha situação, pois não a suporto mais na casa de José." E Gabi revelou mais uma vez seu amor por Jesus, pedindo-Lhe para renunciar aos Seus projetos e aceitar sua proposta.

Jesus Se levantou e disse: "Gabi! Mesmo se Me deres todos os tesouros da Terra e se Me carregares em tuas mãos, nunca poderei pertencer-te! Pensa no que já te disse tantas vezes! Por que Me persegues com tua sensualidade? Eu só conheço um Amor, e este Amor é livre de paixão! Este Amor Puro não deseja senão doar! E porque amo também a ti neste Amor, te digo: Vai embora, afasta-te até dominares tua paixão! Depois podes voltar, e nossa casa te estará aberta!"

"Meu Jesus, nunca me afastarei! Tua mãe mesmo me disse que lhe agrado como filha; assim, não vou me afastar daqui, do lugar ao qual pertence o meu amor!" Com o olhar triste, Jesus quis sair. Gabi se apressou e fechou o trinco da porta. "Não, eu não Te deixo!" exclamou. E queria abraçar Jesus. Ele a afastou de mansinho e dirigiu-Se à porta. Então Gabi precipitou-se perante Ele: "Jesus! Não me faças isso! Não Te afastes! Olha-Me! Eu suplico pelo Teu Amor!"

Jesus sorriu tristemente e meneou a cabeça, negando.

Gabi então resolutamente se levantou, arrancou suas vestes e estava nua perante Jesus: "Então possui-me! Não posso agir de outra forma!" — eram suas palavras.

Jesus já queria estender Suas Mãos para ela, mas, neste instante, estremeceu diante desta grande tentação!

Ele abriu o trinco, deixando a moça sozinha no quarto, e saiu apressadamente da casa, correndo para a floresta, rumo à montanha! Gabi esperou Jesus, envergonhada, mas Ele não voltou! E então esperou a família de José, diante da casa. Em prol de sua honra, deve ser dito: imediatamente depois de aparecer a família, Gabi pediu uma conversa com José e Maria, não ocultando nada e pedindo perdão; "pois agora não posso mais ficar nesta casa!" Foi então decidido que Gabi ficaria ainda por dois dias, pois queria receber antes o perdão de Jesus; depois voltaria para casa.

Mas passou-se uma semana inteira, e Jesus não voltou! Nenhuma notícia Dele! Ninguém O viu! Novamente a casa de José encheu-se de grande aflição. Gabi chorava o dia inteiro e mesmo à noite não conseguia dormir.

Um dia, no meio da noite, alguém chamou: "Gabi, vem! Preciso de ti!" Ela se levantou e disse a Maria: "Jesus está me chamando! Ele precisa de mim! Vou até Ele!" E foi saindo pela porta.

Estava escuro e sozinha corria por caminhos desconhecidos, com todos os sentidos dirigidos só para Jesus. Assim não notou como as horas passaram, como se fez dia dentro do deserto, na cumeada e ao longo das gargantas, para finalmente chegar a um lugar desconhecido, onde Jesus a esperava ansiosamente!

Finalmente chegou perto Dele!

Mas quando queria precipitar-se para Ele, parou a três passos Dele, olhou-0 e começou a chorar: "Meu Jesus, o que Te fiz! Perdoa-Me! Esqueci o que tantas vezes me disseste!" E com essas palavras se dirigiu a Ele, estendendo-lhe ambas as mãos.

Jesus lhe disse: "Gabi! Por Minha causa e pela tua, Eu tinha que ficar sozinho! Por Minha, porque devo vencer totalmente o que existe ainda de baixo na Minha Alma! E por tua causa, porque deves tornar-te feliz para sempre!

Vê! Tua vida não pode ser ligada à Minha conforme os conceitos terrestres, porque conhecerás e amarás um outro homem! E mais tarde Me serás grata, quando Eu abençoarei a ti e às tuas crianças! Mas então conhecerás também a grande e sagrada Obra de Amor que irei cumprir para a salvação de todos os homens!

Procura então compreender-Me, Gabi! Passemos aqui este dia sozinhos, e à noite voltaremos para casa!"

Assustada, ela olha para Jesus e assusta-se mais ainda quando vê os arredores, pois no caminho de vinda ela correu desatenta a todos os perigos.

"Jesus! Jesus! Onde estamos?" perguntou assustada. "Por que me chamaste para cá? Por que não retornaste para casa? Lá todos estão preocupados por Tua causa! E agora que também eu me afastei, maior é sua aflição! Vem, voltemos e remediemos o mal que fiz a vocês!"

"Gabi, assim gosto mais de ti! Mas voltaremos para casa somente à noite, para que não sejas caluniada. E nós dois devemos verdadeiramente provar se realmente vencemos tudo o que é carnal e sensual. Não Me olhes tão espantada! Não receies, mas rejubila-te, pois terminou em Mim esta luta, e tu foste utilizada como instrumento do Amor Eterno!

Gabi, olha ao teu redor! O Sol no Céu, como participante do Amor Divino, nos saúda. Sua Luz nos mostra o nosso destino: correr ao encontro desta Luz de Amor para nos tornarmos, nós mesmos, distribuidores da Luz: como homem, para os homens e como homem —para tudo o que foi criado! E por causa disso, devemos firmar-nos no Alto, em plena liberdade, e elevar tudo o que é baixo, desligados de tudo o que poderia nos atrair para o pecado! Só então poderemos começar a agir no sentido de Jehovah, isto é, no Espírito de Seu Amor Salvador!"

Desvendaram-se os olhos da jovem e ela vê agora, em Jesus, o mais Puro Amor Divino! Dirige-se a Ele e diz solenemente: "Ó, Jesus! Ajuda-me, para que eu aprenda a servir-Te e tornar-me Tua irmã!"

Passou toda paixão, passou todo desejo de possuir Jesus! E ela pergunta: "Mas de que vives aqui no alto? Eu também tenho fome; providenciaste comida e bebida?" Sorriu Jesus. Um raio de puríssimo Amor encontrou a jovem, e Ele disse:

"Gabi, não te preocupes com o que vamos comer e o que vamos beber! Nos alimentaremos com aquilo que o homem interno nos dá. E de bom grado o homem externo poderá ser mantido, quando o limite do natural for superado! Pois vê, tudo o que nós comemos no plano terrestre também é oriundo do espírito e da vida, da vida que é UM com o Homem interno! Tu não o entendes, porque não foste ainda colocada na alta escola da vida. Mas não te preocupes, não vamos passar fome!"

Jesus então lhe contou da Sua grande luta, dizendo-lhe de que maneira Ele Se fortificou, e como tudo finalmente tinha que se curvar perante Sua Vontade Viva reconhecida no Seu âmago.

Gabi participou assim da Vida íntima de Jesus, A compreendeu, e compreendeu de que maneira aqui na solidão Ela se revelou Nele.

E Jesus testemunhou: "Esta tentação foi uma das mais fortes lutas que tive que vencer! Por isso, Gabi, despe-te agora! Não temas qualquer profanação, mas procura santificar e consagrar em ti a pujante Vida Divina!"

E assim Gabi se despiu. Não se sentia envergonhada, mas estava diante Dele como que envolvida com a Glória Divina. Seu corpo tornou-se Lhe como um templo, cheio de profundos e sagrados Pensamentos Divinos. Jesus então viu a vitória em Si e conscientizou-Se da celestial alegria: Venci! Nenhum pensamento de sensualidade surgiu em Seu Coração! Ele vencera, para profundamente abaixo de Seus Pés, este maior mal os homens!

"Agora, querido coração de irmã, veste-te de novo! Por eternidades reconhecerás o serviço que prestaste à humanidade! E ainda que nenhum homem soubesse deste teu serviço, serás um dia recompensada como se todos os homens te agradecessem!

Torna-te agora feliz como ser humano junto aos teus, e cumpre com amor os deveres que futuramente te aguardam.

Mas não esqueças este sagrado dia! Pois foi o mais difícil e também o mais belo! O mais difícil, como luta final de tudo que havia de sensual em Mim; e o mais belo, como ato final coroando este drama que poderia ter causado um imenso mal!"

Eles viveram aquele dia como crianças debaixo dos olhos da “mãe-sol" cheia de amor; assim também começaram o caminho de volta. Nos lugares perigosos, andavam de mãos dadas como namorados, mas seguros pela Mão do Sagrado Amor Divino.

Chegaram tarde da noite, e de mãos dadas entraram em casa. Só Maria e Jacó estavam ainda acordados. Maria estranhou bastante ao ver Jesus chegar de mãos dadas com a moça. Então Gabi correu para Maria, a beijou e disse: "Agora está tudo bem, querida mãe, e nenhum mal e nenhuma aflição será mais provocada por mim ou por qualquer outra mulher! Jesus venceu!"

Maria chorou de alegria quando olhou para Jesus, pois no Seu Rosto brilhava a alegria e Seus olhos testemunhavam a Sua vitoriosa Vida Interna. Então Jesus descreveu Sua luta. E recebeu o mais belo prêmio: foi compreendido!

Assim terminou mais uma fase da vida de Jesus que O aproximou de Sua grande Meta!

A VOLTA DE JOSÉ PARA SEUS PAIS

No lar de José, onde Maria governava a casa, mas onde os assuntos comerciais ficavam a cargo de Joel, tudo andava como sempre, e parecia que a paz e a harmonia se tinham alojado na família. Pois desde que Jesus Se ausentara da casa pela última vez por causa de Gabi, agora ficava sempre no lar e no trabalho; e evitava mesmo acompanhar os irmãos quando eles trabalhavam longe.

Gabi deixara a casa, assim como também as outras moças, e quando Maria precisava de uma ajuda, ela pedia a Jesus, que atendia com o maior prazer a seus pedidos.

Entre Jesus e Jacó houve uma transformação. Quando à noite, depois das orações noturnas todos queriam se recolher, às vezes Jesus lhes pedia que ficassem todos juntos por mais uma hora, a fim de conversarem.

Só José ia se deitar, pois estava cansado, sempre cansado, sentindo o peso dos anos sobre seus ombros; e o velho José se integrou no espírito de coração que o conduzia cada vez mais ao seu próprio interior. E se algumas vezes sentia mais fortemente a proximidade de Deus, então, como que por acaso, Jesus vinha para o seu lado e os dois conversavam durante horas.

Incríveis mudanças se fizeram em José! Enquanto que no passado ele não podia aceitar que alguém faltasse por uma hora apenas ao trabalho, pois isto lhe parecia ser um pecado contra Jehovah, agora reconheceu que o trabalho no seu próprio interior também era necessário! E Jesus ajudou-o de bom grado com Suas afirmações.

O mesmo aconteceu hoje. Os irmãos executavam um grande trabalho em Capernaum. Precisavam para isto de vários meses, e só uma ou duas vezes por semana podiam vir à casa, sempre para partir de volta para Capernaum na manhã seguinte. Os irmãos tinham se levantado bem cedo, e Maria estava ocupadíssima, preparando comida para eles para vários dias.

Então veio José no quarto, pedindo a Joel: "Não poderias na manhã de hoje deixar Jesus comigo? Meu coração pede por Ele!"

"Pai!" disse Joel. "Com prazer cumpro teu desejo! Não apenas esta manhã, pois pode vir juntar-se a nós somente amanhã; por causa disso nosso trabalho não vai sofrer! Mas, querido pai, perdoa uma pergunta: Como é que precisas agora de Jesus?

No passado, era a mãe que não podia ficar sem Jesus, e agora parece que este mal se apoderou de ti! Por que não pedes, de vez em quando, também por um de nós? Não somos nós também teus filhos e não te representamos sempre no sentido justo? Jehovah saberá que rumo tomarão as coisas!"

"Meu filho Joel", disse José aflito, "o tempo te dará a resposta a isso, mas pensa no seguinte: Eu, teu pai, te fiz um pedido, e tu, meu filho, queres atender-me com mau-humor? Reflete! Nunca exigi demais e isto vale também para hoje! Mas ide, e que Jesus também vá convosco! Hoje quero ficar só!" – E voltou aflito para o seu quarto.

Joel não esperava esta resposta e queria correr atrás dele, mas Jesus se interpôs e disse: "Deixa o pai sozinho! Antes de partirmos, falarei novamente com ele!" E assim todos se aprontaram para a partida.

Na despedida, todos foram para o quarto de José pedir a bênção para os próximos dias. E disse José: "Meus filhos, ide acompanhados pelo meu amor e fazei vosso trabalho. Mas hoje não posso abençoar, pois não sinto a força para isto no meu coração.

Mas peço a Ti, Jesus, que abençoes a mim e a teus irmãos! Pois onde Tu abençoas, há verdadeiramente a bênção! Sim! Vejo agora cada vez mais claro: Não posso mais ficar sem a Tua Bênção; e tudo o que nós comemos e alcançamos até agora tem sua fonte unicamente nela.

E José pela primeira vez se ajoelha diante de Jesus, e Este lhe impõe as Mãos na cabeça grisalha e diz: "Em Nome de Jehovah, teu fiel Deus, Eu te abençoo, para que te tornes pleno do Espírito que te conduzirá em toda verdade da vida e que conhecerás dentro em breve Aquele que te abençoou e tanto te amou! Amém!

E vós, queridos irmãos e também tu, Maria: sede abençoados pela Força do Amor fraterno e filial, que é o Próprio Jehovah, a fim de que possais receber a Vontade e a Força, e compreender Aquele que Se acha tão perto de vós, vosso Deus, vosso Pai de Eternidade em Eternidade! Amém!"

Todos estavam profundamente comovidos ao redor de José; e este falou como que em êxtase: "Ó, meu fiel Deus! Tu, meu fanal! Tu, meta de minha vida! Os meus caminhos, às vezes escuros, começam a clarear!

Conheço agora todas as provações de minha vida e também desta minha casa. Eram apenas o Teu Grande Amor, que até hoje não consegui reconhecer! Mas, agora, deixa-me voltar para Ti!

Encontrei-Te e Te reconheci: Tu és a salvação de minha vida, és a meta e a bem-aventurança!

Tudo que eu, empregando as minhas próprias forças, não consegui alcançar, Tu me dás agora por Amor e Graça! Dou graças de todo coração; ó meu Deus, meu Senhor! Me faltam as palavras, meu coração bate apenas por Ti! Amém!"

Os irmãos e Jesus saíram em silêncio, para cumprir as tarefas do dia.

Bem tarde do dia veio um mensageiro mandado por Maria: Jesus, e se possível todos, deveriam voltar ainda hoje! O pai pede por todos, sobretudo por Jesus.

Joel foi ver Jesus e pediu-lhe um conselho. "Pois achei estranho essa chamada de Maria! Queres voltar Tu sozinho, ou deveríamos todos deixar o trabalho a pedido do pai?"

Com seriedade, disse Jesus: "Sim, meu irmão Joel, vamos todos! Sabia que isto ia acontecer! Pois nosso José, nosso pai, se prepara para dar o último passo aqui na Terra. E assim, seu coração pede para ainda hoje nos ver e nos falar." E todos voltaram. O dia que começara tão promissor de bênçãos, como terminaria? Se os irmãos na manhã partiram em silêncio, agora retornavam voltados mais ainda para o seu interior; foi como se todo o caminho fosse apenas uma prece.

Com ânsia cada vez mais ardente, Maria os procurava com os olhos que se encheram de lágrimas quando eles entraram em casa.

O velho pai adormecera um pouco, mas pelas vozes em casa despertou e pediu por Jesus e seus filhos. Quando eles entraram no quarto, ele quis levantar-se do leito, mas sentiu-se fraco demais.

Joel perguntou: "Querido pai, como te sentes, o que posso fazer por ti? Queres que te leve para a sala, para que fiques mais confortável?" José confirmou com a cabeça, e assim foi feito.

E veio a noite que deveria ser a última em que puderam ficar juntos com seu velho pai. José não perguntou mais nada e também não quis falar; quis apenas estar com os seus.

Assim, reuniu-se nesta noite não apenas a numerosa família, mas também alguns parentes e amigos que pressentiram que iria haver luto na casa de José. Pouco depois da meia-noite, José se deitou e tudo se acalmou. Como que já desligado dos assuntos terrestres, ele sabia:

`Ser-me-ão dadas apenas poucas horas para ficar entre os meus!'

E a paz entrou no seu coração, pois sabia: Jehovah leva tudo a bom termo!

Mas Maria, assim como os filhos, não descansou, pois nos seus corações estava a certeza: Hoje ele nos deixará! Era o que um dizia para o outro.

Só Jesus não dizia nada. Ele parecia solene, sem nenhuma tristeza! A mãe não podia entender isto. Se o seu coração não estivesse tão cheio de angústia, talvez teria valido a pena uma conversa com Jesus.

Ao amanhecer, José pediu, mais uma vez, por Maria e seus filhos. Um por um ele os apertou, com bênçãos, ao seu coração; mas isto lhe exigiu muito esforço e a voz lhe ficou presa na garganta!

Quando Jesus chegou diante de José, não foi José, mas sim Jesus que segurou José e o apertou ao Seu Coração! Todos ao redor do leito choravam, só Jesus estava tranquilo, e esta tranquilidade passou também para José. E assim, José passou uma hora inteira nos Braços de Jesus, no Seu Peito.

Uma luminosidade transfigurada envolveu José moribundo, e com as graves palavras:

"Meu Jesus, meu Deus e meu Senhor!

Dou graças a Ti! Pois Tu O és!

Tu, meu fiel Deus e meu Senhor!"

Expirou mais uma vez profundamente, e a luta terminou.

Jesus deitou o corpo na cama, e os outros, chorando, não compreendiam como Jesus podia ficar tão tranquilo! E Jesus foi para fora, deixando os outros chorando sozinhos, pois para Ele não havia separação. A morte não era um pavor para Ele, era apenas um mal necessário que era preciso superar se a vida — a sagrada vida interior — devia surgir.

E com isto, também este caderno está terminado, que quer servir àqueles que querem tornar-se — uma criança, assim como Jesus foi uma Criança.

Que querem tornar-se — um filho fiel, assim como Jesus foi um Filho!

Que querem tornar-se — um vencedor de tudo que é o e errado, assim como Jesus foi um Vencedor!

E assim, também, acontecerá a cada um: Da mesma maneira como Jesus não foi compreendido, o mesmo acontecerá também com eles, para que o impulso do coração de caminhar apenas para Aquele que é a Vida e o Amor Eterno não seja influenciado por tudo aquilo que possa negar esta sagrada vida interior!

Amém!

CADERNO NÚMERO 5

JESUS E NATHAN

A morte do velho José não tinha causado grandes alterações em casa, uma vez que o filho mais velho, Joel, conforme o que foi combinado com seu idoso pai, assumiu os negócios e a chefia da casa. Maria continuou governando a casa e, tanto na cozinha como nas outras partes, reinava a maior ordem. Mas ao passo que José, como pai de família, assumira também a responsabilidade nos assuntos espirituais, e que todos os filhos se submetiam às suas disposições de bom grado — com exceção de Jesus, que serviu a Deus à Sua própria maneira — isso agora mudou bastante, pois Jacó e a mãe Maria se ativeram a Jesus.

"Que Deus te saúde, irmão Joel!" Com estas palavras Nathan, um ancião de Nazareth, entra na oficina de Joel e, em seguida, diz repreendendo: "Vós vos tornais muito raros na Sinagoga! Parece que não precisais de conforto, pois nota-se que nem visitais o túmulo de vosso pai. Não sabeis mais o que deveis ao serviço de Jehovah?"

"Irmão Nathan", respondeu Joel tranquilamente, "do ponto de vista do sacerdote, tua pergunta pode ser justificada, e assim vou te responder: Nosso pai, sendo ele mesmo ancião, fez o serviço a Deus e as orações aqui em casa, e nenhum sacerdote nos repreendeu por causa disto. Eu assumi agora a casa com tudo, isto é, também com os direitos; e apesar de não ser um ancião na congregação, o sou agora na casa de José. Nosso serviço religioso sempre nos proporcionou o necessário, e estou, pois, admirado que exatamente tu, que te davas tão bem com nosso pai, vês agora uma mácula na nossa ordem doméstica!

"Irmão Joel, admiras-te que venho a vós, mas não sentis que toda Nazareth estranha vossa atitude? Quero sobretudo falar contigo sobre teu irmão Jesus, pois Ele é pior que um pagão. Nós aceitamos muito de José por causa de sua fraqueza por Jesus; mas tu não precisas atendê-lo, pois Jesus é filho do segundo casamento."

"Então vens por causa de Jesus?" pergunta Joel, admirado.

"Sim! Faz anos que ouvimos vossas queixas sobre Jesus. Dias e noites vos preocupastes e orastes para que Jehovah vos ajude, e agora nem mais a Sinagoga existe para vós! Sabemos que Jesus não participa de nenhum serviço religioso; e enquanto fazes em casa teu serviço religioso, Ele vai por outros caminhos." "Por que não falas diretamente com Jesus?" pergunta Joel. "Eis que vem aí!"

Jesus entra, saúda-os e quer dirigir-Se ao seu banco de carpinteiro. Então vem Joel e Lhe diz: "Jesus, Nathan se queixa de nós, sobretudo de Ti e, se queres, podes falar com ele sobre isto."

"Sim, eu vim para me queixar", disse Nathan com ênfase, "pois nunca és visto no serviço religioso, nem participas das orações da manhã e da noite em casa, procurando entrementes caminhos solitários e, quem sabe, talvez proibidos!"

Jesus responde: "São só essas as tuas preocupações a Meu respeito, ou há ainda outro motivo que te traz aqui? Queixas-te que nós — quer dizer, Eu e Minha mãe — não vamos mais a vós. Mas já te perguntaste se também a Sinagoga nos satisfaz? Minha mãe gostaria de participar do serviço religioso, mas ele nunca Me satisfez!"

"Jesus! Dizes a um ungido de Deus que o serviço religioso não Te satisfaz? Pensa bem! Tenho mais de 70 anos e Tu nem ainda 30. Oh, que vergonha de ouvir isso de Ti!"

"Chamas de vergonha se Eu, um homem muito mais jovem do que tu, digo francamente Minha opinião? Deveríeis estar satisfeitos que Eu não revelo vossa vergonha, pois pode ser provado que estivestes cobiçando Minha mãe desde que José não está mais entre nós! E é por isso, Nathan, que minha mãe não pode mais ir à Sinagoga, uma vez que também ela vos reconheceu. Eu sirvo a Deus à Minha maneira, e isso Me dá mais do que vossa Sinagoga."

Nathan se excita: "Vê só! Venho aqui para me informar sobre a salvação de vossas almas, e recebo esta resposta à qual nem sei o que dizer? Vê, é com sagrado rigor que me preocupo por Ti!"

Jesus o tranquiliza, dizendo: "Ouve, Meu amigo! Sinto muito, mas não posso mudar Minha Natureza a teu respeito, e hoje quero dizer-te que o sonhador Jesus, o esquisito, é mais perigoso do que parece! Não te assustes, porém, pois tereis que sabê-lo um dia! Eu sinto em Mim a vocação de esclarecer o povo sobre o seu verdadeiro Deus e Seu Reino Eterno! Mas vós aniquilastes toda boa e verdadeira fé em Deus e o Senhor Zebaoth com vossa hipocrisia e os privilégios dos quais usufrui o Templo. Só se deve acreditar em vós. Vós somente sois "os escolhidos e os ungidos", e deixais suspirar o povo pela verdade sobre Deus e o verdadeiro serviço divino. Vós sim, podeis ameaçar com chicote, podeis decretar leis e onerar o povo com impostos tremendos, alegando ainda ser essa a Vontade de Deus por causa da sua falta de fé! Mas vos enganais, pois não contastes com Deus! Eu poderia provar-te pela Escritura o que está errado em vós e em vossas ações, mas sois suficientemente espertos para amenizá-las com outros trechos da Escritura. É por isto que Deus me enviou na vossa noite e no vosso mundo escuro para evidenciar, como um jato de fogo, vossa ação e vida errada. Quem agora quiser aceitar Minha Luz e começar a viver conforme Ela, se inteirará que tudo o que Eu testemunho não vem de Mim, mas de Deus. E aquele que Me maltratar antes do tempo, queimar-se-á nesta luz!"

"Oh, quanto a isso não deveria aborrecer-me! Tu, jovem, que não queres a companhia de teus conterrâneos e irmãos de fé, que Te dás mais com os romanos, os pagãos e os ateus do que com os próprios irmãos! Mas, não és o primeiro cuja mente será modificada pelo Templo! Que vergonha para Ti e Tua casa paterna por provocares tamanha miséria!"

Seriamente disse Jesus: "Nathan, quem te dá o direito de insultar dessa maneira a Mim e a casa de José? Tens o direito, sim, de informar-te sobre a situação na casa dele, mas, insultar-nos excede tua prerrogativa! Revoga, pois, essa palavra ofensiva, para que não sejas o primeiro a se queimar em Mim!"

"O quê? Tu, fanfarrão e fantasista, queres me ameaçar?" "Nathan! Zelo é bom, mas zelo exagerado prejudica! Podes Me insultar, pois Eu te perdoo, porque não sabes o que fazes. Mas, para que não cries prejuízo maior, fica parado em pé e mudo, até que tenhas revogado o insulto contra a casa de José!" E, tranquilamente, Jesus voltou para casa enquanto Joel continuou trabalhando.

Nathan quis se enfurecer, mas suas mãos e pés ficaram pesados como ferro. Quis chamar e gritar, mas nenhum som saiu. Tentou se defender energicamente contra este estado, mas sem efeito; estava indefeso!

Quando Jesus encontra Sua mãe em casa, diz: "Mãe, eis lá ao lado o primeiro que quis opor-se ao Meu caminho, querendo Me impedir de fazer o que o Meu íntimo Me impele! Ele injuriou não apenas a Mim, mas a toda nossa casa e, por isso, Eu lhe dou agora oportunidade de reconhecer seu erro e reparar seu pecado!"

"Jesus! Sê prudente! Não Te excedas! Pois é mais fácil fazer uma injustiça, do que o bem a alguém! Certamente acredito em Ti, acredito na Tua Missão, mas modera-Te, pois também em Ti há ainda agitação e luta!"

"Mãe, querida e boa mulher! O teu amor é um bem do Céu e tornar-se-á uma bênção para a Terra! Mas Amor também não deve se tornar tolice. Acredita-Me! Eu compreendo as intenções desse fariseu! Seu interior ainda é cheio de raiva e ódio, mas ele se transformará!"

"Jesus, não seria possível uma outra solução? Pois o Templo é e continua sendo a Casa de Jehovah! Como Tu mesmo disseste quando Te procuramos e encontramos no Templo: “Não sabeis que devo estar na Casa do Meu Pai!' Meu Jesus, não haveria um caminho diferente daquele que Tu mesmo Te propões?"

"Mãe! Falas e pensas ainda de maneira muito humana. Mas Eu procuro realizar coisas divinas em Mim, não humanas. Se Eu Me afastar apenas um palmo da meta que Me propus, então toda Minha luta teria sido inútil e o destino de toda humanidade estaria selado! Compreende-Me também no futuro e tem paciência!"

"Certamente, meu Jesus! Queria compreender-Te totalmente! Queria servir-Te com todo meu amor materno e poupar-te qualquer decepção!"

"Mãe, se queres Me compreender, deves também acompanhar-me internamente. Não mais olhar para os homens e suas instituições, mas te conscientizares plenamente de ti mesma. Somente então toda barreira cairá, a que separa ainda o nosso interior do Nosso Pai Celestial! Acreditas, querida mãe, que Eu seria Teu Filho totalmente, se Eu não tivesse sido antes Filho de Deus? Tu perguntas: Que queres dizer com isto? Não és já há muito Filho de Deus? Sim, O sou, porque Eu sou de Deus! Mas Eu quero sê-Lo por Mim Mesmo! E quero, pela máxima fidelidade e a mais rara dedicação, realizar tudo o que é necessário para a Minha Perfeição, em obediência constante para com a Voz de Deus em Meu Interior. Então, Eu — como Homem — Me torno Seu Filho e mostro com isso a todos os homens o caminho para se tornarem também filhos de Deus!"

"Oh, Meu Jesus, se não soubesse há muito o que queres, eu desconfiaria de Ti! Mas dize-me: quando chegarás a este ponto? Quando começas Tua Grande Obra? Está tudo tão bom agora entre nós! Não sentimos falta de nada, nem do nosso pai José; mas será que continuará sempre assim? É difícil afastar de mim toda a preocupação sobre Ti; às vezes, porém, ela se apresenta!"

"Oh, Minha mãe! Não posso dizer-te quando e de que maneira Me será feita a chamada! Mas assim está bem, pois deste modo posso ainda examinar-Me todos os dias, se já sou em verdade UM com o Pai. E da mesma forma como encontro sossego no pensamento de que Minha Hora ainda não chegou, também deves consolar-te. Vós todos sereis um dia ricamente indenizados por Me terdes ajudado a alcançar esta maturidade: de ser — realmente por Mim Mesmo — Filho de Deus!"

Entrementes, Joel, apoiado em experiências passadas, deixou de observar Nathan e continuou tranquilamente seu trabalho. Vem agora Jacó com suas ferramentas na oficina e, vendo Nathan, o saúda à maneira dos judeus; estranha o comportamento dele, e só agora o observa mais minuciosamente. Nathan está intimamente excitado, mas nada pode dizer. Então pergunta Jacó: "O que aconteceu contigo, Nathan, que estás tão mudo, mas intimamente tão excitado? Posso ajudar-te?"

"Não", disse Joel seriamente a Jacó, "ele acusou a Jesus e ofendeu a todos nós, e agora deve ficar mudo e imobilizado até revogar esse insulto!"

"Oh, então Jesus pode aguardar muito tempo, pois Nathan é irreconciliável! Mas não poderíamos pedir a Jesus para terminar este estado?" E quando encontra Jesus junto com a mãe, Jacó diz imediatamente: "Oh, Jesus, peço-Te dar ao templário a liberdade, pois tem um aspecto miserável!"

"Querido Jacó! Estás comovido apenas pelo seu aspecto?" responde Jesus; "seria mais justo se estivesses comovido pelo seu estado interior, pois ele demonstraria uma outra imagem. Nenhum mal lhe é feito, e esta lição deve apenas ser-lhe útil e não prejudicial. Ele finalmente deverá reconhecer que Eu não Sou mais o Jesus silencioso! Pois foi exatamente Nathan que mais Me fez passar por sonhador e menino mimado."

"Mas, Jesus! Queres pagar na mesma moeda? Se agora viesse alguém e visse Nathan, deveria pensar que endoideceu!"

"Não te preocupes com Minhas Ações, Meu Jacó! Deverias conhecer teu Jesus e também que não Me é possível pagar aqui na mesma moeda. Isso só poderia acontecer se quisesse retribuir um amor verdadeiro. Demos, pois, livre curso às coisas!"

"Jesus, poderia talvez ajudá-lo, se Tu o permitires? Gostaria de poder transformar sua mente!"

"Irmão Jacó, aprecio teu bom coração e tua boa vontade e não te proíbo de agir. Considera, porém, que aqui não se trata de Mim, mas da Verdade interna e do fato que onde Eu começo uma obra quero também concluí-la! Em breve, virá o tempo quando poderei dizer-vos: faze isto ou faze aquilo! Por enquanto, não."

"Querido Jesus, quando virá este tempo?" pergunta Jacó abertamente, "Também eu desejo conhecer o dia e a hora em que toda a Glória que repousa em Ti se tornará manifesta! Nada poderá me impedir de ficar inteiramente ao Teu lado, pois significas a felicidade da humanidade!"

"Não fales mais nisso, irmão!" diz Jesus. "E tu, mãe, dá-nos o que comer, pois os outros virão logo!"

"E Nathan?" pergunta Maria, inquieta.

"Ele ficará assim o tempo necessário, até que consiga pedir perdão a nós e sobretudo a ti!" "Jesus, é esta a Tua vontade irrevogável? Não há meios de questionar Contigo?"

"Maria, só reconheço uma Vontade, e esta é a Vontade de Deus", diz Jesus seriamente. "Deus não permite que se questione com Ele, e é determinado em tudo! Consideras sem importância a discussão do patriarca Abraão com Deus a respeito de Sodoma e Gomorra? Pois, se Abraão tivesse sabido que havia apenas cinco justos naquelas cidades, ele teria dito:

Por causa destes cinco, peço-Te Misericórdia' (1. Mos. 18, 22-23). Mas o próprio Abraão estava em dúvida se não havia apenas um, e assim Deus quis apenas pôr à prova o amor de Abraão e sua fé. Podes examinar toda a história do antigo povo judeu, e encontrarás sempre: Deus é firme em todas as Suas Ações. O Meu Caminho é claro e cheio de Luz. Pois em Mim vive agora a certeza: Conseguirei tudo o que Eu quero, pois todas as Forças estão à Minha disposição! E por isso te digo também: Não Me detenhas! Eu sei o que devo fazer! E nenhuma força da Terra nem do inferno pode Me abalar nisso, pois Deus está em Mim, e Suas Forças são as Minhas!"

Maria se assusta, pois Jesus há muito tempo não falava tão seriamente. Chegam agora os outros filhos à refeição, e Joel lhes conta: "Ouvi irmãos! Faz-se queixa contra nós que frequentamos muito pouco os serviços religiosos! Nathan, que nos trouxe esta mensagem e que ainda ofendeu gravemente nossa casa, encontra-se lá na oficina e não pode se movimentar, pois Jesus lhe deu uma prova de Sua Força! Mas eu vos peço cordialmente: Não registreis aquilo que se fala sobre nós, mas tende para com todos amor e boa vontade."

Diz Jacó: "Irmãos, Joel tem razão! Somente na Paz e no Amor encontra-se a melhor proteção contra a maldade dos homens. Sabendo, porém, Quem está em nosso meio, não precisamos temer o mundo! Mas evitemos de comentar isso, a fim de não dificultarmos a Obra de nosso Irmão Jesus! Desde que nosso pai partiu, paira dupla bênção sobre nós! Sou de opinião que agora Jesus seguirá cada vez mais Sua Vocação Interna, e nós queremos contribuir para que conclua Sua Obra."

—"Meu querido Jacó", diz Jesus seriamente, "desiste dessas palavras! Pois só faço o que quero e o que devo fazer! Quanto a vós, deveis calar a Meu respeito; então ninguém, e nem mesmo um templário poderá meter-se convosco. Mas se não fordes prudentes, o inimigo de todo Amor e Verdade será antes do tempo prevenido e Minha Luta será mais difícil, uma vez que Eu não apenas sinto todos os inimigos invisíveis, mas os vejo também! Quantas vezes vos admirais sobre Minha solidão, e dizeis: Jesus vai orar! Mas não podeis compreender que apenas na oração e na tranquilidade interna é possível crescer em Deus! Se Eu não tivesse feito isso, não Me encontraria tão perto da meta final e não veria tão claramente as tarefas que Me esperam."

Maria, no entanto, durante a refeição não pôde ficar intimamente tranquila, pois o templário não saía de sua mente. Então Jesus lhe diz: "Mãe, tem um pouco de paciência, pois dentro em breve ele poderá movimentar-se novamente! Só por pouco tempo ficarei ainda entre vós! Depois o Pai Me chamará para o trabalho, para a realização! Então Eu vos deixarei e irei para onde Meu Pai precisa de Mim!"

"Jesus, não nos deixes!" exclama Joel assustado. "Devemos tanta coisa boa ao Teu Amor e quantas vezes fomos injustos Contigo! Oh, se nosso pai José estivesse ainda conosco!"

"Irmãos, vosso pai José sabe agora de tudo isso e, em seu amor, procura afastar de vós tudo o que poderia prejudicar-vos, e hoje exatamente quero dar-vos uma prova, como um sinal da Grande Graça e Magnificência de Deus, pois também vos tornastes mais maduros! Agora, sede calmos, intimamente calmos!"

JOSÉ NO ALÉM

Ao redor dos objetos no quarto faz-se uma luminosidade, depois desaparecem de seus olhos também as paredes, e todos se encontram num jardim maravilhoso. Palmeiras do tamanho de uma casa e árvores frutíferas carregadas de frutas maduras e perfumadas estendem seus ramos, oferecendo uma sombra deliciosa que não refresca, mas aquece. Embaixo destas árvores estão sentados muitos seres puros iguais a anjos, que comem das frutas deliciosas. José, como proprietário e dono deste jardim, não mostra vestígios de velhice ou cansaço. Alegre e vivo, convida seus hóspedes a se servirem.

Um deles diz: "Irmão no Senhor! Uma grande pergunta nos preocupa e esperamos receber de ti a solução. Tu és da Terra, presenciaste o Maior Ato de Graça que um ser humano jamais poderia assistir; então perguntamos: Não tens grande saudade da Terra, se o Senhor não está aqui, mas lá?! Não podemos conceber que tu, que carregaste o Senhor nos teus braços, podes estar feliz agora que estás longe Dele!"

"Oh, meus caros", respondeu José sorrindo, "não vedes que estou totalmente feliz aqui? Pois o que vós imaginais ser a bem-aventurança, era para mim apenas um primeiro degrau para ela. Esqueceis que, se bem que eu tivesse carregado o Senhor da Eternidade nos meus braços, não O carreguei no coração! Mas agora Ele vive em mim e eu vivo Nele! Isto é algo maior do que a imaginada bem-aventurança na Terra! Pois o que é toda criatura, o que são todos os seres sem Ele? Nada! Um sopro Dele pode dissipar tudo! Que sois vós em vosso mundo? Nada, apesar de toda sabedoria e discernimento! Um sopro Dele, e tudo pode deixar de existir. Mas, quem se esforça em portar em si Deus e a Vida Dele, trabalha e realiza com as Forças de Deus, e nada pode jamais destruir algo destas obras! Vede este meu mundo com seus jardins! Eles se estendem até o Infinito e poderiam nutrir não apenas todos os homens desta minha Terra, mas também todos os seres do vosso mundo. Vede, assim como eu me esforçava quando na Terra de cumprir tudo que me era possível dentro da Lei, assim também cresceu em mim não apenas a consciência de que eu sirvo a Deus, mas também: que Deus me serve. E com isso cresceram cada vez mais também minhas aptidões, para servir ao Eterno e Imperecível! E é assim que vivo agora aqui! Caso o desejo ou a saudade se manifestem em mim: “Ah! Se pudesse ficar com os meus queridos na Terra!”, este desejo já é cumprido no momento em que ele alcançou a necessária intensidade! Mas o meu Senhor, o Deus Maravilhoso e Santo, eu O trago em mim como lembrança viva! E quando Sua Obra prevista desde Eternidades estiver terminada, então Ele Se encontrará Pessoalmente em todos os lugares onde o Amor tiver alcançado um grau perfeito!"

Com admiração, os seres espirituais ouvem estas palavras de José, então se aproxima um anjo e lhe diz: "Irmão no Senhor! Também teus filhos puderam hoje usufruir do teu amor! E não tardará o momento em que o Senhor começará Sua Obra, então visível e audível para todos!"

Este acontecimento espiritual se desvanece agora diante dos olhos de Maria e dos irmãos. E diz Jesus: "Irmãos, estais agora convencidos de que nosso pai José pode participar de tudo aqui? Exatamente como vós, também ele é informado sobre Meus Planos; e também ele contribui, no lado espiritual, para que Minha Obra tenha sucesso! Agora ficai um momento em silêncio, pois Nathan se venceu e vai chegar aqui."

NATHAN COMO AMIGO

Abre-se a porta, Nathan entra e diz, estendendo a mão para Jesus e Maria: "Graças a Deus que estais aqui, pois queria pedir perdão a todos, e também a Ti, Jesus! Agi mal contra vós, e reconheço agora meu agravo. Perdoai-me e não guardeis rancor contra mim, mas não o reveleis a ninguém!"

"Querido Nathan", diz Jesus, "fizeste bem em nos pedir perdão. Nada faço com maior Vontade do que perdoar! E se tivesses agido cem vezes pior contra Mim e a casa de José, Eu te perdoaria, se pedisses perdão do fundo do teu coração."

"Agradeço por essas palavras! Sede, porém, pacientes, pois cresci e envelheci dentro deste espírito. Posso realmente acreditar que me perdoastes tudo?"

"Sim", diz Jesus, "e como prova, senta-te aqui à mesa, para participares da nossa simples refeição."

— "O quê? Também isso? Como pudemos nos enganar tanto convosco? Vós retribuís maldade com Amor!"

"Não perguntes, Nathan! É a maior felicidade para o Filho do Homem quando aquele que se desviou reconhece seu erro!

Mas se queres tornar-te feliz, procura também curar os que se perderam na sua ilusão falsa, e Deus te retribuirá publicamente. Pois chegou o tempo em que Deus Se nos manifesta e Se manifestará mais ainda; e para isto Deus não pedirá permissão ao Templo e aos seus servidores. Um sopro Sagrado envolve este Espírito! Se queres, pois, tornar-te verdadeiramente feliz, reconhece o teu verdadeiro eu interior, pois Deus olha somente para o coração e nunca Se deixará guiar pelos homens."

"Jesus, falas como se conhecesses Deus melhor do que eu! É verdade que recebi uma prova de Tua Força e não quero perder Tua amizade pela segunda vez, mas o que Tu me dizes é demasiado incrível! Pois também eu conheço a história do povo de Israel e li muita coisa das Revelações Divinas, de Moisés e dos Profetas! Mas não compreendo de onde tens esta Força e Tua fé sobre as Revelações Divinas!"

"Nathan, come e bebe primeiro à nossa mesa", diz Jesus, "para que seja cumprida também a hospitalidade! Sobre todo o resto, falaremos mais tarde, pois não quero Me impor a ti! Só desejo uma coisa: que cesses com a inimizade que tanto te exasperou contra a casa de José! Sê nosso amigo como o foste de José; então vencerás também todas tuas paixões inferiores, e nós teremos prazer quando nos visitares. Quanto a Mim, não penses que faço Minhas Obras por forças estranhas ou até más; pois assim te afastarias de Mim e do Meu Espírito!"

"Jesus, Jesus! Enigma Humano!" exclama Nathan. "Às vezes és cheio de Amor, e às vezes cheio de Forças misteriosas! Lá na oficina me castigaste, e aqui acontece o contrário! O que é genuíno em Ti? Se não conhecesse tão bem teus pais e irmãos, deveria pensar que tens duas naturezas!"

"Nathan, ninguém poderá Me acusar de não lhe ter dado Amor! E tudo o que aconteceu de extraordinário na nossa família, foi por Minha causa. Mas, se pensas que em Mim há duas naturezas, Eu te digo: Estas totalmente enganado! Meu interior é igual ao Meu Exterior! Mas em ti, como nos outros homens, o interior é tão diferente do exterior!"

"O que queres dizer com isto? Não Te entendo!" diz Nathan. "Porque não Me queres entender!" respondeu Jesus, "pois aquele que age de maneira diferente do que pensa e fala tem duas naturezas, sendo seu interior o contrário do que ele demonstra externamente. Mas se ele se esforça em ser honesto, mostrando também seu íntimo externamente, este homem venceu o homem exterior, tornando-se UM com seu interior! Esta foi Minha luta até hoje. E enquanto lutei com Santo Rigor contra Mim Mesmo, vós ristes do sonhador e do fantasista. Mas eis agora o resultado da Minha União em Mim! Eu deixarei Nazareth e virá o dia em que reconhecerão o que perderam Comigo! Pois quem são Meus amigos, além de Meus irmãos? Os romanos, pagãos sombrios, mas em compensação homens melhores, para os quais foi fácil reconhecer Minha Vontade Honesta e Boa. Mas todos vós, e os templários mais ainda, só tivestes escárnio por Mim. Vê, se pensas que quero te converter para Minhas opiniões, estás enganado! Quero é que continues sendo amigo da casa e que também proves esta amizade quando Eu não mais estiver aqui, pois Eu serei odiado, perseguido e proscrito pelo Templo; mas que isso só atinja a Mim. Cuida, então, para que o ódio não se estenda para Minha mãe e Meus irmãos!"

"Jesus, isso vou Te prometer! Mas por que foges do Templo e tens medo dele? Se dispões de forças, como dizes, para vencer tudo, por que não as pões à prova contra o Templo e seus servos? Aqui devo novamente duvidar e dizer que não Te comportas como alguém que tenciona fazer grandes coisas!"

"Nathan, se Me conhecesses, saberias que o medo não Me atinge, pois o Pai em Mim Me deu todo Poder. Mas Eu não fui chamado para transformar o Templo, e sim para testemunhar, como homem verdadeiro, da Verdadeira e Eterna Vida Divina no íntimo de cada um, para brilhar pela Luz, que é o próprio Deus como o Amor Eterno! Mas isso te é indiferente, senão terias tocado neste assunto com José."

JESUS COMO MÉDICO E AMIGO DAS CRIANÇAS

Os irmãos voltam agora de novo ao trabalho. Subitamente, há vida no pátio. Rapidamente a porta se abre e uma mulher, seguida de duas crianças que choram, se precipita sobre Maria e pede ajuda em altos brados, pois a viúva da vizinhança caiu e deve ter quebrado a perna.

Maria quer ir imediatamente, mas Jesus diz: "Mãe, fica aqui com a vizinha e as crianças! Nathan é médico, e Eu o acompanharei."

Nathan pergunta surpreendido: "O que queres fazer lá?" — "Meu Nathan, Eu vou contigo", disse Jesus, "porque quero mostrar-te que Eu também tenho compaixão!"

Ambos se afastam sem falar. Em breve chegam à casa da doente e veem, já na entrada, que a mulher sofre realmente grandes dores. Quando Nathan quer examiná-la, ela geme ainda mais alto. Então diz Jesus: "Tu lhe causas maiores dores do que o necessário! Vem, deixa-Me tocar a fratura."

— "Tu?! És carpinteiro e não médico!"

— "Mas o carpinteiro também pode ser médico!" respondeu Jesus. E o empurra para o lado. Em seguida Jesus estende ambas as Mãos e abençoa a mulher. Ele se ajoelha e coloca cuidadosamente Suas Mãos sobre a fratura. Imediatamente, ela para de chorar, e — alguns minutos depois — está curada! Ele a conduz para seu leito e diz: "Ada, fica agora deitada tranquilamente e agradece do fundo do teu coração ao teu Deus que te curou. Mas no futuro, lembra-te: devagar se vai longe!"

Sem entenderem, Nathan e Ada olham para Jesus, mas Ele diz: "Acreditai nas Minhas Palavras e honrai a Deus! Deus só pode ajudar onde Ele encontra fé!" Depois virou-Se para sair e Nathan, seguindo-O estonteado, disse: "Jesus, o que foi isso? Tu Te tornas cada vez mais misterioso! Aquela mulher estava para morrer, pois já tinha começado a gangrena."

"Sim, Nathan, ela precisava de uma ajuda rápida! Mas Eu queria demonstrar-te que o homem que está unido a Deus dispõe de Forças que recebe Dele. Pois, no fundo, quem ajudou foi Deus, e Eu contribui apenas com Minha Vontade confiante na Sua Ajuda!"

"Então poderias ajudar também a outros, e também a mim?” perguntou Nathan.

"Certamente, se pudesses acreditar que não sou Eu, mas Deus em Mim, que te ajudaria. Então poderias também experimentar Bondade e Ajuda de Deus."

"Jesus, Jesus, isso compreenda quem puder, eu não o consigo! É demais para um velho como eu! Por isso, perdoa-me! Devo voltar para casa, senão enlouquecerei!"

"Vai sem medo, mas não esqueças de voltar! Pois poderá vir o tempo em que Me procurarás em vão!" Ambos se separam; Jesus pensativo, mas Nathan dominado pelo espírito da inquietude!

Jesus volta para casa. Maria conseguira, entrementes, tranquilizar as crianças e mandar a vizinha para casa. Ela olha para Jesus e logo sabe: Deus ajudou de novo com Sua Misericórdia! "Será que não era tão grave?" perguntou. "Foi pior ainda! E sem ajuda, as duas crianças teriam ficado órfãs! Mas mais uma vez cumpriu-se o Meu Pedido: Deus Me agraciou e Eu só fui Seu Servo." E Jesus contou tudo o que aconteceu, falando em voz muito baixa, para que as crianças não soubessem da verdade!

Maria colocou suas mãos no coração palpitante e perguntou: "Oh, Jesus, o que teria acontecido caso Tua Ajuda não tivesse chegado em tempo?"

"Oh, mãe! Então terias tido mais duas crianças! E não te teria sido difícil demais tornar-te mãe delas!" Pergunta Maria: "Onde está Nathan? Ele ficou lá?"

"Não, foi para casa! Mas ele não encontra sossego, uma vez que Eu Me tornei um grande enigma para ele!"

"Oh, Jesus, por que é tão difícil compreender-Te, por quê? O mesmo nos aconteceu e quanto sofremos com isso! Vê, essas perguntas sempre se repetem."

"Minha mãe", respondeu Jesus com meiguice, "gostaria de perguntar: Por que é tão difícil para vós aceitar o Espírito de toda Vida? Quão luminosa Se mostra e Se anuncia a Mim esta Vida, uma vez que venci todos os porquês! E para vós seria a maior bênção, se deixásseis também todas as perguntas e todas as dúvidas, colocando em lugar delas a confiança. Quem Me deu esta Força na luta? Minha confiança! Não confiança em Mim, mas confiança no Meu e também vosso Deus, que vive em Mim, e Eu por Ele! Eis o fundamento sobre o qual estou construindo! Moisés também O reconheceu, e este fundamento da confiança em Deus é um terreno sagrado; para Mim, este solo se tornou mil vezes mais luminoso! Mas enquanto este solo, por mais sagrado que seja, não se tiver tornado tua propriedade, deverias recear perdê-lo! Deus, o Eterno, é o Meu Verdadeiro Solo de Vida, e sinto cada vez mais em Mim Sua Força e Seu Poder! E Sua Magnificência Me enche de maneira tão luminosa, que só quero viver conforme a Vontade e os Desejos de Meu Deus! Oh, Maria! Oh, mulher e mãe! Para este Sagrado Ser e Vida falta-vos, ainda a todos, a verdadeira compreensão!"

"Mas, Jesus, será que não Te compreendemos ainda?" pergunta Maria assustada. "Quantas vezes Te regozijaste porque Te entendíamos, e hoje voltas a falar desta maneira? Hoje realmente és incompreensível!"

"Sim, mãe, mas isso tinha que ser dito, porque vos ocupais demais com Minha Pessoa! E é este o desvio! Deveríeis ocupar-vos com o Espírito em Mim, e só então muitas coisas se tornariam claras para vós. Não vistes hoje o velho pai José no Além? Pensais que ele está ainda preso à antiga Lei e aos Profetas? Oh, não! Porque seu espírito interior, por meio de grandes sacrifícios, foi despertado para a vida, criando nele o seu mundo maravilhoso! E este Espírito é o Eterno Espírito de Deus do qual também uma centelha se encontra em todos vós!"

"Jesus, se falas com tanta convicção, uma voz diz em mim: Tens razão! Mas quando estou novamente sozinha, o caminho me parece longo até que consiga este alvo!"

Neste momento abre-se a porta e Ada, a curada, entra. Suas duas crianças correm ao seu encontro e a puxam para a mãe Maria.

Toda comovida, Ada diz: "Oh, Bom Jesus, que grande caridade me fizeste! Pois a dor que sofria era tremenda! Mostra-me Tua Mãos, pois jamais me tocaram Mãos tão Meigas e Delicadas, que fizeram logo desaparecer toda dor."

"Oh, mulher, que dizes que Eu te teria feito?" obsta Jesus. "Em tudo é importante que não percamos a visão certa das coisas que acontecem! Agradece a Deus e dá-Lhe a honra, todo o resto está errado! Vê, a pressa e o teu aborrecimento te privaram de toda cautela; e assim tinha que acontecer: tu caíste! Mas Deus não manda um sofrimento para torturar, Ele apenas admite o sofrimento para provar! Aproveita bem essa lição, louvando e agradecendo a Deus!"

Vêm agora os irmãos, pois também eles ouviram sobre o acidente, e Jacó diz: "Não ficaria admirado se para Ada resultasse ainda uma grande felicidade deste acontecimento! Pois, em verdade, Jesus nunca foi ver especialmente um doente; só ao encontrá-los pelo caminho Ele tinha para eles Palavras de Consolo e de Amor!"

A vizinha agora apanha suas crianças e quer se despedir; então diz Maria: "Ada, não esqueças as palavras do nosso Jesus e volta!"

"Nunca esquecerei a caridade que me fizeste hoje", diz ela a Jesus, "e pensarei pelo resto de minha vida em Tuas Mãos, pois foi Delas que recebi força e bálsamo!"

"Vai com Deus!", disse Jesus. "E começa unicamente tudo o que fizeres no Seu Santo Nome e sê abençoada agora e para sempre!"

A filhinha chega junto de Jesus e diz: "Querido e bom Jesus, curaste minha mãe! Por isso quero amar-Te também! E se eu vou rezar a Deus, vou pedir que Tu possas curar também outras pessoas!"

"Faze isso, minha pequena Léa, e continua Me amando, porque também Eu te amo; e assim podes visitar-Me frequentemente, mas cada vez terás que pedir permissão à tua mãe."

A pequena Léa achega-se a Jesus, mas o menino ficou do lado, não tendo coragem para tanto. A viúva volta com suas crianças para sua casa com o coração cheio de gratidão; mas no seu coração nasce o grande pressentimento: Jesus é mais do que um Homem comum!

A MENSAGEM DE GABRIEL

Na casa de José os irmãos ainda discutiam animadamente o acontecido. Mas Jesus saiu tranquilamente, dirigindo-Se a uma colina para lá fazer, como sempre, Sua oração. Seus pensamentos divagaram para o passado e depois de algum tempo, para o futuro.

"Oh, Pai; Amor de Todo Amor! Essência da Qual se originam todas as bem-aventuranças! Novamente estou Unido a Ti — em Mim! Oh, Amor! Vida Sagrada! Quando Me chamarás para a Missão? Em Meu íntimo há um ardente desejo: Quero servir-Te integralmente, servir, só servir!"

Jesus está sozinho. E ao redor Dele tudo se acalma, e santa Paz reina também Nele. De longe ouve-se o pio de uma coruja e rapidamente cai a noite. Uma noite clara, e um céu estrelado mostra-se no mais belo esplendor. Solta-se uma estrela cadente, deslizando pela abóboda celeste. Mas Jesus quase não se volta para lá, pois Ele contempla a região e o céu estrelado pelo Seu Interior.

Eis que uma figura luminosa se apresenta diante Dele, inclina-se profundamente e diz: "Senhor! Senhor! No grande universo nota-se um impulso novo, uma sagrada corrente, e todos os seres desejam ardentemente saber em verdade de onde vem este impulso! Nós sabemos que Tu estás na Terra! Sabemos que Tua Santa Vontade deseja silenciar sobre isso! Mas Senhor! Senhor, agora não podemos mais ficar calados, uma vez que Teu Interior brilha sobre a Terra qual um Sol! Oh, Senhor! Porque ficar calado por mais tempo? Não poderíamos nós também, como Tu, agir e ajudar?"

"Meu irmão e Meu arauto! Foste o primeiro que anunciou Minha chegada e encarnação, e teu coração brilhava de felicidade qual sol ao meio-dia! Todos os bem-aventurados e os que se encontravam no melhor caminho para lá, jubilaram, exultaram e acreditaram ser isto a maior felicidade e glória. Mas Aquele a Quem se dedicou todo este júbilo e essa alegria Se ocultou totalmente no Homem, e então a alegria esfriou! Mas agora revive novamente a esperança de que finalmente as glórias devem se manifestar. Vós todos fizestes o vosso serviço fielmente e nenhum de vós teria merecido alguma repreensão. Mas, Meu querido Gabriel, o tempo ainda não chegou! Assim como esperais a chamada divina que vos é tão familiar, assim também Eu espero por Ela! E devo sempre examinar de novo se tudo em Mim, nos mínimos detalhes, está verdadeiramente espiritualizado!"

"Senhor! Senhor!" diz Gabriel. "Nós, Teus servos mais fiéis, às vezes estávamos perto de Ti quando lutavas com todas as Forças em Teu Interior contra o que está nas baixezas. Só pudemos observar e implorar no nosso íntimo: “Senhor, permite que Te ajudemos!” mas Tua Vontade nunca nos deu o consentimento para tal! Por isto o inimigo de toda vida criou dificuldades também para nós; mas em nenhum caso ele nos fez vacilar. Agora, porém, a situação é diferente, pois tudo o que é humano obedece à Tua Vontade! Em todas as esferas celestes os habitantes sentem: Oh, Terra! Agora chegou o Tempo, em que tu, como a menor criação, mereces a máxima atenção! Pois reina a esperança universal: O Senhor anula agora a maldição que pesa sobre toda a criação; e Tu, como Jesus, Te tornaste a ponte central!"

"Tens razão, Meu irmão", respondeu Jesus seriamente, "tudo isso é verdade. Mas pensa que apenas os frutos que estão verdadeiramente amadurecidos se conservam bem, e para isto ainda falta muito! Ainda é preciso muita luta, muita fidelidade e entrega humilde! Mas uma coisa te digo hoje: Anuncia em todos os mundos que a Obra da Redenção entrou em sua última fase! E o Filho do Homem não mais ocultará tudo misteriosamente, mas tornará patente: Deus tornou-Se Homem! E com isto, tudo que é humano está apto a divinizar-se! Trata-se ainda de concluir o que até agora foi vitoriosamente arrancado do inimigo de toda vida. Continuai fazendo vosso serviço na costumeira e leal dedicação!" O anjo se inclina profundamente, e novamente Jesus está sozinho.

A CHAMADA INTERNA

Então Jesus volta para casa, onde Maria está ainda ocupada com seus afazeres. Quando Ele entra, ela levanta os olhos. Jesus Se aproxima dela e diz: "Mãe! Agora alcancei a meta! E não será mais por muito tempo que ficarei em casa contigo e com os irmãos. Sabes do que se trata. Não devo faltar à chamada, pois de repente tudo tornou-se claro para Mim! O que hoje durante o dia ainda estava obscuro, agora tornou-se cheio de Luz em Mim! Agora sou Unido a vós, não posso mais separar-Me de vós, mesmo se fosse materialmente distante por várias milhas. Oh, Maria, se pudesses sentir Minha alegria, dirias: “Jesus, por que ficas ainda em Nazareth?”; e Eu deveria responder-te: Só por pouco tempo, pois não darei nenhum passo sem a Santa Vontade de Deus reconhecida no Meu Íntimo! O que fiz e trabalhei até hoje Eu o fiz, em Verdade, por Mim, uma vez que vi os alvos divinos, luminosos sim, mas como fora de Mim. E todo Meu esforço, toda Minha luta, foi contra o que há de baixo e humano, aquilo que se quis opor ao Divino em Mim. A. luta final foi fácil, não podendo se comparar com o começo.

Pois agora não sou mais Eu, mas o Pai ou Deus em Mim que age! E isso hoje tornou-se tão claro para Mim!"

"Jesus!", exclama Maria. "É isso verdade sagrada? Não poderias estar enganado?"

"Mulher! Por que não queres acreditar em Mim?" responde Jesus. "Por que és a primeira a duvidar destas Minhas Palavras? Nota bem: o homem pode errar, mas Deus não! E Deus habita agora em Mim! Descansemos então."

Mas Maria não conciliou o sono, pois o que há muito pressentia tornou-se realidade: Jesus deixa de ser seu filho, estando agora muito acima dela! Mas onde e de que maneira começará Sua Obra? Finalmente consegue dormir, e rapidamente a noite passou.

JESUS ANUNCIA SUA DESPEDIDA

Todos se levantam bem cedo e Maria prepara o desjejum. Jacó se achega a ela e diz: "Maria, hoje novamente Jesus não foi para Seu quarto; para onde terá ido?"

"Jacó, deixa toda preocupação por Jesus!" respondeu Maria. "Ele é nossa salvação, como já sabes há muito tempo; e ontem à noite Ele me anunciou: 'Agora cheguei à meta!' —Oh, Jacó, se também nós estivéssemos neste ponto, então toda preocupação e toda luta terminaria em nós."

Entra Jesus. Amavelmente saúda a mãe e os irmãos e, voltando-Se para Maria diz: "Maria, deixa todas as preocupações, já agora, longe e atrás de ti! Pois Deus só pode Se manifestar em Sua Glória onde verdadeiramente recebe confiança filial! Acredita-Me: todos os Céus estão prontos a servir-te."

"Jesus, tira-me o peso de meu coração, porque ainda sou tua mãe."

"Que não deixarás de ser!", respondeu Jesus com Amor. "Não te ofendas com nada, pois Eu sou Homem e teu Filho! Mas Meu Espírito Interior é Deus de eternidades em eternidades! Continua, pois, no Amor Puro e nós seremos UM!"

Todos se sentam para tomar o desjejum; Joel entoa a oração de louvor e todos cantam; só Jesus fica calado. Terminado o canto, tomam o desjejum em silêncio; então levanta-se Joel e pergunta: "Jesus, vens hoje conosco? Temos muito trabalho e gostaria de terminar até o pôr-do-sol!"

"Joel, Meu irmão, festejemos hoje e amanhã! O teu trabalho já está pronto, porque Eu assim o quis! Quem sabe quando estaremos novamente unidos desta maneira? Nathan não tem sossego e dentro em pouco estará aqui. Então também vós devereis ver e viver a grande Bondade e a Glória de Deus."

"Jesus, querido Irmão", diz Joel comovido, "já não experimentamos suficientemente a Glória? Há muito pressentimos Tua despedida, uma vez que agora estás mais alegre e mais livre. Mas, já que estamos ainda todos sentados ao redor da mesa, eu Te peço em nome de todos os irmãos: Jesus! Se nós não Te assistimos em Tua luta e muitas vezes não Te compreendemos e Te magoamos, perdoa-nos nossa fraqueza e guarda-nos em Teu Amor, como Irmão!"

"Meu Joel e vós todos, Meus irmãos! Não é preciso esse pedido. Ficai fiéis e verdadeiros em toda humildade; e que todas vossas ações sejam impregnadas pelo Espírito de Amor! Então seremos Um e unidos pelo Amor do Pai, e vós sois e permanecereis Meus irmãos aqui como também na Eternidade!"

NATHAN CONTEMPLA O SEU MUNDO INTERIOR

Assim como Jesus anunciara, veio Nathan desculpando-se por chegar tão cedo: "Jesus e vós todos, ouvi! Não encontrei sossego e não sei mais o que fazer! Desde ontem encontro-me num estado miserável, e todos os meus pensamentos não me levam à clareza. Supliquei a Jehovah, mas em vez de tornar-me mais tranquilo, tornei-me a própria inquietação. Cansado, dei voltas na minha cama e, quando finalmente peguei no sono, tive um estranho sonho que depois do despertar me fez mais irrequieto ainda."

Jesus diz: "Mas, Nathan! Tu, como sacerdote, deverias chegar a um termo contigo mesmo e dar-nos uma imagem melhor de ti! Pois sabes que conselho humano raramente é útil."

"Sim, Jesus, podes ter razão; mas acontece que Tu és a causa da minha agitação! Devo contar-vos o meu sonho?"

"Podes contá-lo tranquilamente por causa dos irmãos; porque Eu conheço o teu sonho." respondeu Jesus.

"Como, Tu o conheces?" Como podes conhecê-lo?" "Nathan, se Eu quero, nada Me é escondido!"

Nathan se admira e começa a narrar: "Custei a pegar no sono para esquecer, pois não saía da mente o fato que minha vergonha se tornou patente. Vós de maneira magnânima — e sobretudo Tu, Jesus — me estendestes vossa mão e renovastes os laços de amizade de tantos anos. Eu pensei e agi de maneira vil e baixa, retribuindo com inveja e ódio o vosso amor! Não me conformei que Tu, Jesus, descobriste o meu íntimo, podendo ainda isto provar pelos fatos! Finalmente peguei no sono e sonhei vivamente: Eu sou proprietário de um grande terreno. Tenho muito pessoal, muito gado e grandes campos. E saio para visitar os estábulos. O gado berra, pois está sem pasto! Procuro os criados, para que deem pasto aos animais; eles respondem preguiçosos: “Nathan, não temos mais pasto! Nos campos a colheita acabou. Também não temos pão, e também acabou o cereal; providencia outro!” — “O quê? gritei horrorizado, não há pasto para o gado, nem pão para nós? Isto não é possível!” — “Convence-te tu mesmo!” é a resposta deles. Eu corro para os campos, não há erva nem forragem; tudo está recolhido e sem brotos, uma vez que há semanas não chovia mais. Fui depois para os campos de trigo; os cereais têm a altura de um homem, mas quando me aproximo, os cálamos estão sem espigas! Então caí arrasado e chorei amargamente. E Tu, Jesus, Te aproximas e perguntas: “Nathan, o que perdeste? Por que choras tão amargamente?” E eu digo: “Olha lá; os campos têm aparência soberba, mas sem espigas. O que será? Agora não nos falta apenas o pão, mas também a sementeira! Oh, Jesus, o que significa tudo isso? Devolve-me a minha paz!"

"Nathan, não posso devolver-te tua paz, uma vez que não fui Eu a tirá-la. Ninguém pode devolver algo que primeiro não tenha recebido ou tomado. Mas há um motivo especial que te guiou para esta luta, que é: Deus, o Eterno, mostra-Se misericordioso contigo. Ele contrariou tua vontade! E por este sonho Ele demonstrou o teu mundo interior. Se tivesses que morrer neste instante, viverias a mesma coisa no teu mundo espiritual; com uma só diferença: neste sonho, há aqui ainda um despertar para ti. Mas, lá no Além, o teu estado poderia durar eternidades. Pois tal a sementeira, tal é a colheita!"

"Mas Jesus!" pergunta Nathan fora de si. "Não dediquei toda minha vida a Jehovah? Não O servi desde criança, observando a Lei e os Profetas da melhor maneira que pude? E agora tudo isso não vale nada? Oh, Jesus, então seria melhor se me tivesse tornado pagão e adorador de Baal."

"Para cair numa miséria ainda mais profunda!" respondeu Jesus. "Pois teu solo, apesar disso, ao menos produziu cálamos, ainda que sem frutos! Como te sentirias, se estivesses envolvido em noite e trevas, vendo apenas rochas ao teu redor e não soubesses o que fazer? Ainda não é tarde demais, ainda podes com esperança e fé cultivar o 'teu solo', e nós todos queremos ajudar-te nisso. Nathan, por que não queres Me compreender? Desiste primeiramente de todo medo e receio para conosco, e considera que somos teus amigos!"

"Jesus! Jesus! Não Te compreendo. Eu sinto, sim, o vosso Amor! Mas o que devo fazer? O que é necessário para encontrar de novo paz e tranquilidade em mim?"

"Querido Nathan, uma parábola deve dar-te a resposta. Pois este assunto é sério demais e depende unicamente de tua forte vontade!

Vê! Um pai tinha três filhos. O mais velho, dotado de grandes talentos, encantou o mundo com suas criações na arte e na ciência, e sua fama atingiu quase o céu. E assim como cresceu sua fama, cresceu também sua riqueza. Mas internamente está pobre, pois não possuía nenhum amigo verdadeiro e nas horas de tranquilidade ele sentia tremendo frio, pois seu coração desejava algo diferente e que não podia alcançar.

O segundo filho era um leviano; cantando vem, cantando vai! Tudo o que começou deu certo, mas sua leviandade fez com que perdesse tudo de novo. Ele foi amado enquanto tinha meios; mas quando perdeu tudo, ficou sozinho, e o arrependimento roía seu coração.

O mais moço, um homem tranquilo e doentio, amava a solidão. Seus amigos eram os animais da floresta, os pássaros eram seus acompanhantes. Ele preferia sofrer de fome, do que deixar sem comida no inverno os seus favoritos. Uma vez as crianças dos vizinhos o procuraram e ele ensinou-lhes coisas estranhas. Chegaram não apenas a conhecer, mas também a amar a natureza e suas criaturas por meio dele! E durante o inverno, quando não podiam se encontrar, faltava às crianças seu professor, seu amigo e benfeitor. Este filho menor tornou-se cada vez mais feliz, apesar dos sofrimentos e das dores, pois possuía o amor do seu próximo; e este amor tornou-se sua força e a grande riqueza de seu coração!

Assim, querido Nathan, aqui tens a história dos três filhos. Aprofunda-te nela e procura saber com qual dos três te pareces!"

Não apenas Nathan, mas também a mãe e os irmãos ouviram atentamente; e então disse Maria: "Mas Jesus, a história já acabou? Está faltando a conclusão!"

"Certamente, tens razão, mas a conclusão sois vós que deveis encontrar, uma vez que era apenas uma parábola."

DO MUNDO INTERIOR DE JESUS

Neste momento, a pequena Léa entra na sala e diz: "Mãe Maria, a minha mãe manda perguntar se ela pode te visitar, uma vez que quer saber muito de ti. Posso vir com ela?"

Maria responde: "Dize à tua mãe que, se os deveres dela o permitem, ela será bem-vinda; e tu, pequena Léa, podes sempre vir, pois gosto de crianças bem comportadas."

"Jesus também ama as crianças?" "Pergunta a Ele mesmo; está sentado ali na mesa."

"Jesus, se Te pergunto algo ficarás zangado?"

"Não, Minha filha, não posso Me zangar, porque amo todos os homens, quer dizer, amo também as crianças!"

"Até os maus?"

"Sim, pequena Léa, amo também os maus; porque, na maioria, eles não sabem que são maus."

"Oh, mas então és um homem estranho! Minha mãe diz sempre: 'É preciso evitar homens maus."

"Está certo, tua mãe também tem razão! Mas mesmo os evitando, pode-se amá-los! Mas isto ainda não podes entender; com os anos, aprenderás a Me entender. Mas agora vai, pois tua mãe te espera."

Dentro em pouco vem Ada com Léa, e lágrimas de gratidão correm quando saúda Jesus: "Oh, Tu, Homem Bom! Nós te desconhecíamos, e agora somos todos Teus devedores!"

"Isso não, querida Ada! Mas, já que estás aqui, queríamos te fazer um pedido. Vê, é possível que venham circunstâncias em que Eu e Minha mãe não estaremos em casa, ficando longe daqui por semanas ou meses. Então faltará a dona-de-casa, a mão que aqui tudo organiza. Assim, Meus irmãos, mesmo ficando fora e trabalhando longe de casa, precisarão de vez em quando da ajuda de uma mulher. Estarias pronta a fazer este serviço à casa de José?"

"Mas, Jesus, como podes perguntar isso? Da parte de José só recebemos amor, favores e bondade, e eu deveria esquecê-lo agora? Oh, não! Vosso amor é como um sol e sentia tanta "fome" deste amor! Era tão bom quando o pai José nos falava das imensas bênçãos de Jehovah e dos desempenhos dos grandes profetas! Mas Tu, Jesus, em geral não estavas em casa e então perdeste muito; queria saber onde estavas e por que não ficavas em casa?"

"Querida vizinha Ada", responde Jesus, "não é bom querer saber tudo! Mas uma vez que também Nathan tem o direito de aprender algo sobre Mim, o que frequentemente o irritou, mostrarei a vós uma fase da Minha luta interna. Escutai! A maioria Me conhece apenas como filho de carpinteiro, calmo e simples! Mas desde criança vivia em Mim a ânsia de coisas divinas, o que dava à Minha Alma o ímpeto verdadeiro; queria permanecer onde Se encontra o `Santíssimo! Com alegria e santa satisfação interior, percebi cada vez mais sedimentos de coisas baixas em Mim e junto a Mim! E ao reconhecê-lo, consegui Me libertar daquilo, muitas vezes após grandes esforços. E reconheci um poderoso contraste em Mim, que queria se opor entre Mim e o Santo que almejava. Uma grande e grave pergunta nasceu em Mim: Até que ponto estou comprometido com estas coisas inferiores? Pois palavras e pensamentos não podiam solucionar esta questão. E para Me libertar deste flagelo, desta tendência para as coisas inferiores que ameaçavam sufocar tudo o que era superior, também Eu usei meios violentos! Muitas vezes procurei lugares solitários, analisando profundamente Minha Natureza. E vivi então milagres sobre milagres, e fui arrebatado em glórias que Me eram tão familiares, como se nunca tivesse sido separado delas.

Outras vezes, porém, vivi também a escória e o inferno; mas fiquei imune contra eles em consequência das sérias lutas que precederam em Mim. Outras vezes ainda fui para feiras e salas de dança e deixei agir sobre Mim tudo o que era 'mundo' e o seu séquito; mas, então também pude ficar intocado como um esclarecido, como alguém já superior a tudo isto. Em meio de pecados e vícios, senti-Me protegido como por uma couraça que não deixava passar nada! Sim! Aprofundei-Me nas almas dos desgarrados, dos viciados que mostraram-se a Mim como um grande mundo. Percorri muitos barrancos e mais de um deserto. Foi então que conheci primeiro a ânsia de querer ajudar, mas ainda não podia fazê-lo! E esta ânsia cresceu em Mim. Cada vez mais fugia do que era apenas humano, natural, procurando em Meu íntimo até que ponto sou obrigado a ajudar a salvar? Foi então que descobri o 'Meu Próprio Eu'! E uma alegria bem-aventurada invadiu toda Minha Natureza. `Quem és Tu?' exclamei. 'Tu que Me dás tanta felicidade?' — 'Eu sou Tu! E Tu és Eu!' ouço em resposta; e cada palavra é como uma música sagrada, vida sagrada; e uma nova, imprevista alegria se fez sentir em Mim. Mas, por outro lado, tinha também que cumprir os Meus deveres mundanos como homem, como irmão e como filho. E vede, queridos irmãos, ao invés de palavras que não compreendestes, teria preferido dizer-vos coisas agradáveis, mas não podia ser assim. Pois a Lei estava marcada com ferro em Mim, com letras candentes. Meu esforço e zelo só visavam a consumação desta Lei em Mim! Agora, finalmente, atingi o Grande Alvo tão almejado:

Eu e Deus somos UM!"

Maria perguntou com apreensão: "Jesus, não é possível que Te enganes? E se fosse apenas uma ilusão essa Tua união com Deus? Muitos já acreditaram ter alcançado a meta, mas nem haviam chegado ao justo começo! Pois na vida há tanto erro e tanta confusão!"

"Maria! Quando poderás acreditar que assim é? Serão sempre necessários fatos para te convencer? A força só está na Fé pura e livre. Todo o resto tem pouco valor!"

"Meus Jesus, não quero duvidar de Ti! Tu segues Teu caminho, quer acreditemos ou não. Será também o caso de muitos nazarenos que ouvirão, verão e nem assim poderão acreditar."

"Não te preocupes, pois iguais a Mim, haverá outros que acreditarão na 'Glória de Deus'!"

Também a pequena Léa prestava atenção a cada palavra que Jesus falava, e parecia que tinha compreendido. Ela vem a Jesus e pergunta: "Jesus, Tu não me sais da cabeça. Como podes amar também os maus se reconheceste o mal como mau? Minha mãe sempre tem medo que possamos também nos tornar maus!"

"Léa, presta atenção: Gosto muito de ti e tu também de Mim, não é verdade? Acreditas nisso?"

"Sim, acredito."

"Se porém fores uma vez desobediente, acreditas que não poderia mais amar-te assim?"

"Penso que não gostarias mais tanto de mim, porque não seria mais a Léa que Tu amas!"

"Mas sim, Minha Filha! Lembra-te por todos os tempos: Ama todos os homens, mas não o humano neles! Ama tanto quanto podes e queres, mas nunca aquilo que é mau e negativo. E considera que Deus te criou, mas criou também os outros! Deus é o Bem; e o homem recebe, como presente de Deus, só o Bem. O mal, porém, que sempre faz parte do espírito maligno, não deve ser praticado, mas vencido! E só aquele que o domina é vencedor também do mal! Compreendeste isso?" "Sim, Meu Jesus, entendi e compreendi! Mas quero evitar o contato com pessoas más, pois poderiam roubar o meu amor para Contigo!"

"Oh, Minha criança! Vem ao Meu Peito e imagina que Eu seja teu pai que vive agora no Céu! Mas fica calada quando os adultos falam, porque ainda és pequena!" A pequena Léa se achega a Jesus, que continua: "Essa criança tem um espírito muito agudo e percebe coisas que são ainda remotas para muitos adultos, e para tais crianças é preciso dupla cautela."

"Por que isso?" pergunta a mãe de Léa. — "Porque todos os que possuem um espírito poderoso do Alto não podem ser transplantados tão profundamente no que é animal e material, mas espiritual. Quando uma árvore cresce e se torna mais velha, sempre se esforça em penetrar com suas raízes mais profundamente e largamente no solo, para adquirir maior resistência contra todos os perigos e tormentas; assim também, nós homens. Por isso, se queremos subsistir, devemos ter raízes profundas no solo espiritual! Quanto mais nos aprofundamos na vida divina pura e verdadeira, tanto mais nos apossamos dela. Apenas os preguiçosos e os orgulhosos chegam rapidamente a desenraizar-se e lamentam-se, implorando a ajuda de Deus. Mas Deus dispôs tudo de maneira tão sábia, que cada um é o autor da própria sorte!"

Jesus olha para Nathan — pensativo — e continua falando: "Nathan, não Me olhes tão incrédulo; pois teu interior é como um espelho, e posso ler teus pensamentos como um livro aberto. Se não te sentisses agora como um vencido, irias querer discutir Comigo! Mas Eu te digo que não estamos aqui para julgar e discutir, mas para nos unir! Torna-te humilde e pequeno e aprende de Mim, então te encontrarás no caminho certo para o teu interior! Que seja tua sagrada tarefa servir somente a Deus!"

"Jesus, de onde tens Tua Sabedoria e Força?" pergunta Nathan espantado. "Não é possível que a Sabedoria, a Força e o Juízo sejam acumulados em Teu Coração, assim como se armazena trigo e vinho! Por que não se encontra nada disso em Moisés e nas outras escrituras? Como se alcança esta meta?"

"Porque, Nathan, a maior parte da vossa vida vós dormis espiritualmente, assim como Léa dorme agora e sonha. Não quero dizer-te mais, porque tu mesmo deves encontrar a verdade."

Ada retira a pequena Léa do colo de Jesus, deita-a num sofá e desculpa-se por causa da criança.

Mas Jesus diz: "Ada, amo sempre as crianças, e a pequena Léa ama-Me sobretudo; por isso não te preocupes por ela. Mas agora poderias, com Maria, preparar o almoço. Nós, porém, queridos irmãos e Nathan, subamos à colina; em duas horas estaremos de volta."

Diz Joel: "Irmão, o que dirão os nossos vizinhos, se nós não trabalhamos hoje?"

"Bem, Joel, que não se fala muita coisa boa sobre nós, isto já sabemos; e não os puniremos por causa disso. Depois, Nathan está em nosso meio. Nenhuma preocupação portanto! Não dês ouvidos àquilo que os homens falam e fazem, mas mostra aos homens teu espírito interior despertado, e eles se calarão!"

A CONSAGRAÇÃO NA COLINA

Foram, então, para a colina, cada um procurando aí sua comodidade, e Jesus observou: "Nathan, estás bastante cansado do caminho, não é? Descansa agora um pouco, pois para receber pensamentos grandiosos é preciso estar descansado. Eu não conheço o cansaço, se não o quero; e acontece que não dormi nem ontem, nem hoje, mas permaneci acordado. Quem Me mantém desperto é o Espírito em Mim.

Queridos Irmãos, ouvi o que tenho a vos dizer: Agora Eu vos deixo e começo o 'Meu Caminho'. Sabeis que desde Noé, o Salvador é desejado; e desde Abraão é efetivamente esperado. Não há dúvida que Deus, o Senhor, criou possibilidades para que Seu Espírito seja a Força dominante e ativa no interior de cada homem, mas ninguém ainda conseguiu isso. De fato, alguns alcançaram algo grandioso e através disso os homens receberam muitas bênçãos, mas nunca de efeito permanente. Depois de todos estes anos em que vós Me conheceis, consegui submeter ao Espírito tudo o que é carnal e psíquico. Eu realizo agora, no puro Espírito de Deus, uma Obra de valor permanente que beneficiará todos os homens e todos os seres! Tu, Irmão Joel, és o herdeiro do pai José; mas todos os homens e tu entre eles, sereis também os Meus herdeiros! O que Eu deixo aos homens quase não será reconhecido, exceto quando chegar a miséria, a grande e ingente miséria que alcançará todos os homens, desviando-os, após longas e penosas aberrações, de seus pensamentos e feitos mundanos, fazendo-os acreditar no espiritual que Eu lhes mostrarei e darei, para finalmente eles Me seguirem!"

"Querido Jesus!" diz Nathan pensativo. "Eras em Nazareth a minha constante preocupação. Todos obedeceram a Lei e as Palavras Divinas, só Tu seguiste caminhos próprios. Mas agora, devo acreditar em Ti; Tu me obrigas a isso, já que não posso contradizer-Te em nada! Mas, como sacerdote, eu Te pergunto Jesus, como homem ao homem: Não estás, talvez, errado? Tens tanta convicção de Tuas ideias, que poderias até arriscar Tua Vida? Vê, às vezes sentimos Força interna e plenitude vital tão grandes, que acreditamos ser gigantes; no dia seguinte, porém, sentimo-nos de novo pequenos e sem coragem!"

"Querido Nathan! Tuas palavras são boas e verdadeiras para muitos; mas não podem ser aplicadas a Mim. Pois Me examinei a fundo e nas próximas semanas passarei pelas Minhas últimas provações. Pois Minha Carne foi vencida, e em Minha Alma tudo está espiritualizado! Mas isto deve ser ainda provado às grandes e poderosas forças das trevas no Além! Pois também para lá Eu dirijo os Meus raios vivificantes. Também os habitantes no grande reino espiritual deverão ter a oportunidade de ver o que vós vedes. Todos os Céus estão abertos! E através dos espaços infinitos, soa um canto e um júbilo! Pois, nesta Terra, Deus Se manifesta agora como o 'Amor Santo'! E quer que todos, todos, sejam ajudados!"

Tudo se cala ao redor de Jesus. Ninguém se atreve a dizer uma palavra; também Nathan se rendeu. E neste silêncio consuma-se uma Consagração Interior.

Depois diz Jesus: "Irmãos! No Espírito do Eterno Amor Divino, Eu vos agradeço por Me terdes ajudado até aqui, deixando-me a liberdade. Mas nessa hora Eu vos faço um pedido, um grande, urgente pedido dirigido ao vosso coração. Ei-lo: Não vos torneis orgulhosos e altivos, se tiverdes notícias de vosso Irmão Jesus, de Seus milagres e feitos! Pois acontecerão coisas importantes! E o Templo não vai observar com calma, quando provavelmente persuadirei os seus melhores membros à Minha Doutrina de Vida. Sede humildes, pequenos e calados, mas uni-vos cada vez mais intimamente com Meu Espírito. Pois este Espírito é Deus de eternidade em eternidade! Sede, pois, abençoados não apenas agora, mas para todas as eternidades! Não sois abençoados, porque Sou e Fui vosso irmão; não, mas porque a bênção só vem de Deus, que quer habitar também em vós! E a partir de agora, todos os homens serão Meus Irmãos, caso lutem para obter o Espírito que vive em Mim e que Se chama:

Amor — Amor — Amor!

Daqui em diante não há mais um Céu local. Pois tudo se torna Céu onde este Espírito do Amor Divino for a base da vida!

Daqui em diante, não há mais amaldiçoados e condenados; pois o Amor Divino é compaixão e só Misericórdia! Daqui em diante, um caminho está aberto no coração humano para o coração de Deus, que quer tornar-Se Bênção para todos. Mas quem não quiser entrar neste caminho do coração será culpado de não encontrar o Céu dentro de si. Pois ouvi, irmãos: No início era o Verbo Eterno que tudo criou através do Seu "Assim Seja!", e este Verbo era Deus Mesmo! E este Verbo tornou-se Vivo agora em Mim, tão vivo, que Eu deixei de significar algo para Mim Mesmo! E aquilo que cheguei a ser, Eu o fui por este Verbo Vivo de Deus!"

"Irmão Jesus", diz Joel, "Tuas Palavras nos fazem emudecer! Tu nos dizes que deveríamos ficar tranquilos quando Tu nos deixares. Por que não dizes: Andai Comigo; pois tendes, em primeiro lugar, o direito de Me seguir! Quantas maravilhas já presenciamos por Ti! E sabes, melhor do que podemos dizer, que Te amamos!"

"Querido Joel, esqueceste que nunca poderemos nos separar? E qual seria o proveito se o vosso acompanhamento fosse apenas externo? Certamente não recusaria ninguém; mas Meu Conselho é: Ficai em Nazareth e tornai-vos uma luz dentro daquele lugar escuro! Dai a todos os homens o vosso amor e uma Luz verdadeira! Esse é o Meu desejo para vós nesta hora. E agora, voltemos para casa, pois a mãe já aprontou a refeição; e tu, Nathan, és nosso convidado!"

REFLEXÃO FINAL

Antes que a chamada de Deus tão esperada pudesse ser dada a Jesus para que começasse Sua Sagrada Obra da Redenção, Ele devia passar por grandes provas, a fim de provar a força Redentora Divina de Seu Amor, como invencível para Si e para os outros.

Jesus, como Redentor de todos os erros humanos, devia não apenas estar em condições de resistir tranquilamente às adversidades dos homens, mas saber redimir ódio e inveja da maldição de suas intenções sombrias.

Esta chamada Sagrada de Deus não Lhe foi transmitida por um anjo, mas ressoou em Sua Vida íntima através da clareza da Sua Consciência Iluminada: Deus e Eu somos agora UM!

O significado dessa União de um Homem com o Fogo Primordial do Amor Divino que envolve o Universo, isso lemos, por exemplo, no caderno 3, capítulo 4 e no caderno 4, capítulo 4.

Mas, há ainda muita revelação sagrada e importante da nossa vida interior entre as linhas de cada caderno, e seria, portanto, bom lê-los tranquilamente por sete vezes, para que os mistérios contidos neles fossem reconhecidos e transformados em próprias palavras, para se tornarem nossa propriedade!

CADERNO NÚMERO 6

JESUS COMEÇA O SEU MAGISTÉRIO

Sumário

Em harmonia celestial com todas as almas ao Seu redor, Jesus se despede agora dos Seus na casa paterna como Aquele que internamente está amadurecido. Mas vimos também quanto trabalho e paciência Lhe custou para corrigir as expectativas enraizadas dos judeus a respeito do Messias. Jesus procura explicar a cada um que não são os romanos a causa da Sua situação subjugada, pois, ela é muito mais profunda; ela consiste no velho mal hereditário da falta de amor para com Deus e o próximo. E por esta falta, todos os homens até agora ainda se subjugam uns aos outros (não apenas naquele tempo, mas desde tempos antigos e até hoje).

Eis porque o Salvador prometido desde Adão quer libertar todos os povos deste mal hereditário, porém sem qualquer violência, apenas pela revelação do Seu Amor ativo e totalmente desinteressado, que Ele demonstra pelo Seu Próprio exemplo. São caminhos totalmente novos para as riquezas internas do homem, para que cada um aprenda a fazer uso das magníficas possibilidades no próprio coração.

Mas só pela livre vontade nossa alma pode segui-Lo, penetrando nestes mistérios! Então Ele nos ajudará a ativar o nosso amor altruístico para o bem do próximo, a fim de podermos, muitas vezes por caminhos difíceis de abnegação e renúncia dos desejos terrestres, subir ao elevado alvo do desenvolvimento interno, até atingir a semelhança com Deus.

CELEBRAÇÃO DA DESPEDIDA NA CASA DE JOSÉ

Em silêncio, todos voltam para casa. Maria e Ada já avistam os ausentes e se regozijam quando estão novamente todos reunidos ao redor da mesa. A pequena Léa, cheia de vida, senta-se entre Jesus e Maria. Vem ainda o pequeno David e procura a mãe, impulsionado pela fome intensa, e encontra um lugar ao lado dela.

Maria serve a refeição que Joel agradece e abençoa, e todos se servem à vontade. Terminada a refeição, Jesus diz: "Mãe, traze as canecas e os copos, pois esta é a nossa Ceia de despedida que vamos festejar juntamente com nossos amigos!"

Pergunta Maria: "Mas, Jesus, com água? Vinho não temos em casa."

"Faze o que te digo, Maria; Meu coração está cheio de alegria, e quero que todos os que hoje estão reunidos na casa de José estejam alegres!" Maria assim fez; Jesus serviu a todos, e um aroma precioso encheu a grande sala.

Alegre, Jesus exclama: "Vinde e bebei Comigo! E recebei a saudação que o Amor Eterno vos envia! Em santa seriedade deve vos ser manifestado que Deus, como Homem, como vosso Irmão, renunciou a todas as Glórias e agora quer também alegrar-Se e saciar-Se onde Seus Filhos humanos se alegram em verdade! Esta é a última hora em que Eu —como vosso Irmão, vosso servo e criado — fico em vosso meio. E é a primeira hora tão almejada em que Eu — ainda como Irmão, mas já como Mestre e Senhor — estou sentado diante de vós. Não temais! Meu Amor vos pertence e ficará convosco para todos os tempos. Oh, bem-aventurados, bem-aventurados todos os anjos! Bem-aventurados todos os que vivem na Luz! Mas, mais bem-aventurados serão os que Me amam como esta pequena Léa Me ama. Aprendei dos pequeninos, porque eles não perguntam, e aprendei a acreditar e confiar partindo deste ponto de vista infantil! Este primeiro copo dedico a todos os que Me amam e que querem seguir-Me por Amor! Vede, da mesma maneira como a água transformou-se neste vinho delicioso, assim também cada ação vossa — dentro deste Sagrado Amor — deve tornar-se Força e Nova Vida. Sim, cada ação de Amor pode criar novas criações e novas bênçãos! A ti, Mãe, Eu digo nesta hora solene: A promessa é agora cumprida! Pois o Espírito em Mim é a Luz que irradia para toda e também para a mais profunda treva. Quem seguir esta Luz tornar-se-á também luz e farol para os outros! Assim seja abençoado esse vinho para Minha Alegria e para a salvação eterna de todos vós! Amém!

"Jesus esvazia o copo, e os outros, algo excitados, O seguem! Também a pequena Léa quer tomar um gole, mas a mãe a impede. Então Jesus pergunta docemente: "Léa, queres beber Comigo do Meu copo?" — "Mas, meu querido Jesus, como posso fazer isto? Mamãe não o quer, e tu queres dar-me a beber? Melhor não, senão mamãe ficará triste."

"Vem, pequena Léa, tua mãe estará feliz caso bebas Comigo, pois para ti tenho um outro vinho que não te fará mal; podes beber alegremente e sem preocupação!"

Com ânimo, a pequenina pega o copo das Mãos de Jesus, olha para a mãe, prova um gole e diz: "Oh, Jesus, como é gostoso! Disso também minha mãe e David devem beber!" E rapidamente ela estende o copo à mãe, que olha sorrindo para Jesus, toma um gole e devolve o copo à filhinha. Agora David também pode beber; mas este esvazia o copo, o que entristece Léa, pois ela teria vontade de beber mais um pouco. Com lágrimas nos olhos devolve o copo a Jesus, esquecendo mesmo de agradecer!

Então diz Jesus: "Meus irmãos, Maria e Ada, vistes o que aconteceu? Sucederá o mesmo a muitos de vós e de Meus seguidores: Fareis muito, confiando nesta sagrada Força do Amor, mas às vezes tereis graves desilusões. E ao aplicardes o Amor, sereis às vezes explorados e friamente prejudicados. Mas isto não deverá vos entristecer, pois cada serviço feito por Amor é escrito eternamente no Livro da Vida. E, no futuro, só o Amor, só o Amor Sério e Sagrado poderá aliviar e expiar. Vê, Nathan, o Amor puro anima a ti e a outros. O amor-próprio, porém, mata toda a Vida no mundo interior, tornando o solo duro e pedregoso! Este Amor abnegado e puro é o Bem Divino que Eu trago de novo à Terra! Pelo Meu Amor afasta-se toda a maldição, pelo Meu Amor cresce a Minha Bênção, da qual usufruem aqueles que reconhecem em Mim o amor que quer salvá-los da impiedade!"

Nathan agradece e diz: "Oh, Jesus, se apenas pudesse compreender inteiramente e seguir-Te! Quão horrível é pensar que ontem era ainda teu inimigo, enquanto hoje sou teu amigo! Chamas também a mim de irmão, apesar de saberes o que fiz de mal a Ti e à Tua mãe! Oh, quisera poder fugir daqui, mas meu coração me prende!"

"Nathan", diz Jesus, "o passado está atrás de nós e em nossa frente está o futuro. Atrás de nós, a luta; diante de nós, a vitória. Atrás de nós, a Lei; diante de nós, a Vida! Dize-Me, queres regressar e morrer, ou queres viver para sempre?"

Nathan pede: "Oh, Jesus, perdoa-me! Quero viver, viver para reparar! Viver para ser-Te -útil! Pois só agora Tua Missão se torna clara para mim: Tu, unicamente podes ser o Messias há tanto tempo esperado! Oh, onde estavam os meus olhos, os meus ouvidos? Agora vejo: És Aquele de Quem está escrito que salvará e redimirá da mão do inimigo!"

"Querido Nathan! Acalma-te, pois agora despertaste. Digo-te apenas: Acredita em Mim! Tua fé te fará ver realmente!"

HILARIUS

Neste momento, entra um amigo grego na grande sala. Estranhando encontrar toda a família de José, Nathan e a vizinha com as crianças sentados à mesa, ele diz: "Que Deus vos saúde! A oficina está vazia, e todos vós pareceis tão alegres! Que festa celebrais? Há muito tempo não via tanta visita em vossa casa!" E dá a mão a cada um deles.

Responde Maria: "Querido Hilarius, sê bem-vindo de todo coração!" Ela o convida a sentar à mesa e lhe traz um prato de sopa.

Em seguida Joel lhe pergunta: "Estarias, irmão Hilarius, insatisfeito com o trabalho que Jacó e Jesus fizeram para ti?"

"Mas, Joel, como podes pensar tal coisa?" responde Hilarius. "O trabalho foi bom e encontra aprovação e louvor. Gostaria de louvar a Jesus; mas Ele não aceita. Já no passado, nos tempos de José, sempre estive contente, mas "estar contente" não basta agora, pois os dois armários são realmente obras de arte."

Jesus se levanta e diz: "Hilarius, nós celebramos uma festa de alegria. Esquece teu elogio pelo trabalho, pois tem um efeito deprimente; e sabes, cada obra louva em si o seu mestre! Mas confessa: quiseste passar um tempinho conosco, não é assim?"

Sorrindo, diz o grego: "Mas que festa comemorais, posso sabê-lo?"

"Certamente, querido Hilarius; celebramos Minha despedida, pois amanhã será Meu último dia na casa paterna!"

"E nestas circunstâncias estais alegres e felizes? Oh, que gente estranha que sois! Outros choram quando vem a hora da despedida, e vós vos alegrais?"

Jesus responde: "Sim, Hilarius, tens razão. Mas se conhecesses e compreendesses tudo, também te rejubilarias."

"Para onde irás, Jesus?" pergunta Hilarius. "Queres continuar Tua profissão sozinho?"

"Hilarius, lembras-te do que te disse na nossa última despedida: ‘Assim como Eu te servi nestes dias, um dia almejarás servir a Mim!’ E gostaste destas palavras, mas as interpretaste com outro sentido. Devo dizer-te que agora o Meu Tempo chegou. Não mais cumprirei Meu dever com plaina, serra e machado. Mas com a Luz encontrada em Mim, tentarei mostrar a todos os homens o caminho para sua verdadeira felicidade!"

"Jesus, eu também sou considerado sábio. Mas esta Tua Sabedoria não tem minha aprovação. Um operário como Tu deve ficar com seu ofício. Que tente satisfazer aos homens, e assim nunca sentirá a miséria!"

"Meu Hilarius", diz Jesus bondoso, "justamente porque sei que a felicidade externa tão almejada não pode satisfazer a ninguém por muito tempo, quero mostrar aos homens um caminho e os meios para que se tornem realmente felizes. Pois toda a miséria dos homens tem sua causa na ilusão de que coisas materiais poderiam fazê-los felizes!"

"Querido Jesus, até agora Te conheci como o melhor dos homens, e sempre me sinto à vontade em Tua companhia. Mas para tornar-me feliz Contigo deveria então renunciar aos meus próprios desejos e opiniões? Por mais que dês razão a alguém, sempre apresentas muitos "poréns", e sabes apresentar tudo tão claramente ao Teu modo de maneira que apenas Tua opinião deveria ser considerada justa! Não estou zangado Contigo, mas me é difícil admitir, como sábio que sou, que sejas mil vezes mais sábio do que eu! Possa o futuro resolver também para mim este grande enigma!"

Diz Jesus: "Meu querido amigo! Vê, um dia falarás de maneira bem diferente, quando compreenderás tudo em Mim e de Mim. Sinto muito que vós todos, e também tu Maria, vos dedicais a falsas ideias. Nunca serei Aquele nem Aquilo que desejais; pois Minha Grande Obra é uma Pura Obra Divina! O Messias que esperais de Mim vos desiludiria, pois pouco a pouco compreendereis que a salvação e a libertação da maldição não devem ser proveitosas apenas para o povo eleito de Deus, mas para todos os povos da Terra! Vós quereis ser livres, tornar-vos livres; eis o vosso anseio. Mas para vos tornar livres, é preciso mais do que uma vontade fraca; é necessário que a energia sempre se renove em vós. Mas enquanto cultivardes o velho mal do comodismo, nunca sereis realmente livres! Conquanto um Messias poderia facilmente libertar-vos dos romanos, ainda assim seríeis escravos do antigo mal, e isto seria a vossa perdição certa. Meus irmãos, ouvistes o que Nathan viveu na noite passada, e vistes também vosso pai José no seu mundo. Qual dos dois é o mais feliz? Dizeis: 'nosso pai' — e com toda razão! Porque ele está agora livre do antigo mal."

Pergunta Hilarius: "Jesus, o que é verdadeiramente este antigo mal que não nos deixa ser livres e alegres e que pode nos oprimir a ponto de qualquer alegria se tornar impossível?! As Leis de Moisés deveriam impedir todos estes males!"

"Meu amigo", responde Jesus, "tu não és judeu, mas és internamente fiel a Jehovah, que reconheceste. Conheces a história do nosso povo e participas de todo seu júbilo e sofrimento. José era para ti um bom exemplo, mas o mal estava profundamente enraizado também nele; isto é, o amor para com o velho Templo e a vontade férrea de cumprir a Lei! Mas, pelo cumprimento sério e externo dos mandamentos divinos e todas as cerimônias, cresceu o espírito do amor-próprio, o amor que deve de livre vontade ser sacrificado e morrer! Pois, enquanto o amor-próprio dominar os homens, os desejos e apetites mundanos nunca se acalmarão! Só aquele que venceu seus desejos e se conforma com tudo pode se desligar do antigo mal e libertar em si o espírito, que é a Força Original e a Luz da Luz Primária!"

Admirado, Hilarius pergunta: "Jesus, podes afirmar que és livre de todos os desejos e apetites? Podes dizer que és Força da Tua Vida Interna e que vives desta nova força? Se assim é, dá-nos provas! Pois é fácil descrever com palavras o que Te preenche internamente, mas é muitas vezes difícil provar esta Verdade!"

Tranquilamente, Jesus responde: "Tens razão, querido amigo, se examinas o que aqui foi dito. Mas Eu te digo, e a todos: Se não queres acreditar nas Minhas Palavras, acredita ao menos em Mim, uma vez que sabes que não sou capaz de uma mentira. Eis o Meu maior testemunho: Eu sou a Verdade! Eu sou Vida da vida de Deus e vivo apenas para a Verdade Divina! Só seguindo os caminhos que encetei primeiro, perceberás que Minhas Palavras são verdadeiramente Divinas! Agora fortalece-te e fica à vontade em nosso meio!"

Foi um belo dia! Ninguém pensava na despedida, até que as crianças se mostraram cansadas e Ada se despediu, agradecendo afetuosamente a Jesus e Maria.

Disse Jesus: "Vai em Paz! A verdadeira Paz Divina é prometida a todos que amam o seu próximo. Tenta aplicar nos outros o que Eu te fiz, e desta maneira servirás realmente a Deus. E assim, sejas abençoada pelo Espírito do Amor Eterno!"

Comovida, Ada quer sair da sala, mas a pequena Léa se esforça para chegar a Jesus erguendo os bracinhos para Ele. Jesus, notando sua intenção, a levanta e a aperta contra Seu Peito, dizendo: "Léa, Minha pequena filha, lembra-te sempre que Eu te amo como se fosse teu pai, então não Me esquecerás!"

"Querido Jesus, porque não és o meu pai e eu a tua Léa? Por que meu pai devia morrer e deixar-nos todos tão sozinhos?"

"Léa, o Bom Deus no Céu sabe de tudo, e teu pai está agora com Ele, e ele não te esqueceu. E quando Eu não mais estiver em Nazareth, continuarei te querendo bem como se fosse teu pai! Agora voltai para casa e cumpri vossas tarefas!"

O pequeno David olha para trás e, de maneira esquiva e rápida, sai pela porta. A mãe o chama de volta: "David, esta não é a maneira de se despedir. Tens a consciência pesada, pois Jesus fez tanto por nós. Pede-Lhe rapidamente perdão!" Timidamente o pequeno volta a Jesus, mas sem dizer palavra.

Então Jesus lhe diz com seriedade: "David, ainda bem que és uma criança. Mas se um dia compreenderes toda a Grande Verdade e desejares morrer de arrependimento, então pensa em Jesus que te diz agora: 'Amo também a ti!' Agora ide, e que a Paz esteja convosco!"

Nathan também que ir embora, mas Jesus lhe diz: "Nathan, por que queres partir? Tua casa está em boa ordem e quem sabe quando poderemos nos rever, uma vez que vou sair de Nazareth!"

"Querido Jesus, Tua Obra de Redenção, como Tu a descreveste, não deverá trazer proveito também aos nazarenos? Começa então aqui mesmo; eu não vou Te impedir de ir na Sinagoga."

Diz Jesus: "Tua vontade é boa, querido amigo, mas Eu não posso ficar aqui, pois Meu Pai Eterno já Me mostrou Meu Trabalho para os próximos dias. E para os nazarenos não seria proveitoso. Vê, há quanto tempo moro entre vós, mas ninguém pensou jamais que Eu pudesse ser o Prometido. Alguma coisa de Mim transpareceu, mas alguns cuidaram para que nada de bom se falasse Daquele sonhador. Aqui seria um bom campo de trabalho para ti, Nathan! Mas não posso dizer-te: Faze isso ou faze aquilo! Pois então não seria uma obra de teu amor livre, mas uma obra forçada. Creio que Me compreendeste!"

Pergunta Nathan: "Sim, mas por que Me obrigas a ficar aqui? Isso é também uma coação!"

Responde Jesus: "Tens razão, mas esta coação é para tua salvação! Pois o que fazes movido pelo amor interno não deve servir a ti, mas ao teu próximo! E quanto mais servires às almas dos teus próximos, tanto mais servirás a Deus!"

"Oh, Meu Jesus, estremeço diante das profundezas que reconheço agora em Ti. Estou vislumbrando algo grandioso. Mas, querido Jesus, revela-me uma coisa: Por que levantas apenas hoje o véu com o qual Te cobriste tão misteriosamente? Por que aprendemos só agora o Teu grande Projeto?"

"Querido Nathan, escuta: Quem Me amava como Minha Mãe e Meus Irmãos sabia. Pergunta a Jacó há quanto tempo ele já Me conhece, todos em casa sabiam da Minha Missão. Naturalmente foi difícil para Mim não privar Meus irmãos de sua liberdade. Mas pergunta a cada um deles se alguma vez exerci uma pressão sobre eles, e responderão: 'Não, nunca o fizeste!' Pergunta a Jacó quantos dias deixamos de nos falar, continuando, porém, unidos no coração! Se os nazarenos tivessem acreditado como Meus irmãos acreditavam, em Verdade nenhum Céu poderia ter sido mais maravilhoso! Mas assim, eles deverão Me procurar e dificilmente Me encontrarão!"

JESUS E SEU MENSAGEIRO GABRIEL

Ninguém tinha coragem de responder uma só palavra, e o silêncio se fez cada vez mais profundo. Na sala aparece um fulgor dourado, e subitamente um anjo se acha diante do Senhor, visível também aos outros. "Senhor, Tu, Vida de toda Vida! Tua Ordem foi executada! Todos os espaços do Infinito estão cheios da expectativa: Anunciarás agora Tua Mensagem, visível e audível, e cada ser, seja da Luz ou das trevas, terá a permissão de ouvi-La. Muitos, porém, não conseguiram compreender porque Tu, o Senhor, quiseste tudo isto desta maneira."

"Então escuta", diz Jesus, "uma vez que outra base deverá ser colocada para todo o futuro: Aquele que se acha grande deverá ser humilhado! Mas aquele que é pequeno e humilde deverá ser elevado! Vós observastes o inimigo de toda vida; também ele não estava ocioso, e os seus asseclas mal podem esperar o momento de infligir-Me a maior derrota. Mas sua decepção será grande, uma vez que o Meu Amor para todos os seres dá e renova sempre a Força. Ainda que haja muito, mas muito mesmo a ser vencido, um dia Eu poderei exclamar: `Está Consumado!' Anuncia isto a todos que perguntarem com interesse verdadeiro, e agora fica uma hora entre os Meus irmãos!"

O anjo se inclina diante dos irmãos, diante de Nathan e Hilarius, e diz: "Amigos desse mundo terrestre, eu vos saúdo e fico satisfeito em poder finalmente me demorar entre os homens da Terra, uma vez que nós anjos podemos ver vossas ações e ler os vossos pensamentos e palavras, mas vós não podeis ver-nos. Oh, ser homem agora é uma grande Graça! Se soubésseis quão grande felicidade vos é reservada, enfeitaríeis a Terra e tudo que há sobre ela tão maravilhosamente, como só é possível a um amor puro e verdadeiro!"

Jacó dá a mão ao anjo e diz: "Admirável servidor do nosso Senhor e Deus, nós somos pobres cidadãos e peregrinos dessa Terra. O que te parece belo e magnífico, para nós parece turvo e escuro. Tu vês com olhos de amor, e todas as coisas levam-te a um louvor; nós, porém, vemos esse mundo com os olhos da mente, e ele se apresenta muitas vezes sombrio e tenebroso. Vê, o Senhor já Se nos manifestou muitas vezes de maneira magnífica, mas hoje vivemos a maior revelação: Jesus é o Senhor, é o Salvador, o tão almejado! Acredita-me, que sou pobre peregrino terrestre: maior não pode ser o júbilo nos mundos que te são conhecidos, do que hoje aqui entre os poucos que podem presenciar isso: 'Ele é o Senhor! Ele é o Senhor! "Alargai, ó portas, os vossos frontões! Ampliai-vos, portais eternos, para que Ele entre com Força e Glória!'

Oh, tão rapidamente passará esta hora, mas sempre será Ele o nosso desejo e o nosso Amor."

Aproxima-se agora Hilarius, olha para o anjo e pergunta: "Posso também falar contigo, ser angélico?"

"Certamente, meu amigo e irmão terrestre, pois também amas o Senhor, mesmo que seja à tua maneira. Quando um dia vires mais claramente, então teu peito não terá espaço suficiente, e também tu quererás tornar-te um jardineiro, para plantar em todos os corações humanos esta felicidade! Mas não vos enganeis! Pois Ele é o Senhor, o Senhor Zebaoth, Ele é o Amor e Seu Reino Eterno se estende para o infinito. Assim como o Senhor não tomou em consideração nenhum homem ou anjo por causa de seu Augusto Alvo, assim também no futuro Ele seguirá apenas o Seu próprio caminho! E feliz serás se quiseres segui-lo, para agir conforme Sua Vontade revelada! Refleti todos: Seu Reino é Eterno e Seus Alvos também o são, e tudo que é terrestre nada mais é do que um acréscimo. Mas vejo em vós ainda uma dúvida, uma vez que não podeis perceber esta grandiosidade. Vós esperais a libertação dos grilhões terrestres. Mas vede, aqui está diante de vós apenas um servo fraco deste Senhor, mas cuja força poderia destruir em um átimo todos os vossos inimigos terrestres. De quanta Força então dispõe Aquele que outrora chamou tudo para a vida, e que só deseja mostrar a todos o caminho que leva à Perfeição! Queridos amigos da Terra, compreendei essas minhas palavras! Elas vêm de um coração que por Amor não receia nenhum sacrifício!"

Ouvindo essas palavras, todos olharam para o Senhor, pois elas não eram apenas uma advertência, mas continham também uma repreensão. E Jesus perguntou: "Meu Irmãos e também tu, Maria, por que estais tão calados? Quantas vezes já ouvistes o que vos foi dito agora? Eu continuo sempre O Mesmo. Sou vosso Jesus, mas em Mim está Deus! E com Ele estou Unido para sempre. E o que Deus quer, Eu também quero!"

"Oh, irmãos, regozijai-vos Comigo!" exclama Jesus com voz alta. "Através de todos os Céus passa um sussurro, um júbilo, pois está para se cumprir a esperança nutrida desde eternidades: a reunião com o que foi perdido. E o Amor Eterno clama novamente: 'Vinde a Mim! Tudo está pronto! Vinde e ouvi a Mensagem: As portas estão abertas! Já foi afastado o anjo com a espada flamejante, e em seu lugar há agora dois anjos com corações em chamas. Finalmente chegou o Tempo em que apareceu para todos a Salvação!' Então, Meus irmãos, não quereis também ser felizes?"

"Meu querido Jesus", diz Joel, "não posso aceitar de um momento para o outro esta grande, grande Revelação Divina, uma vez que Tu, como nosso Irmão Jesus, ainda és o Mesmo. Eu te conheço há trinta anos, e desde aquele tempo és Homem como eu! Que Tu possuis em Ti um Espírito gigantesco, aprendemos já quando eras criança. Não me preocupei muito com o fato que o nobre Cirenius e outras altas autoridades Te consideravam um Deus, uma vez que a fé em Jehovah está enraizada em mim! Não me entra na cabeça que Tu sejas o Próprio Jehovah, Meu querido Irmão Jesus; para mim, o próprio pensamento já é um sacrilégio! Está provado que tens forças; mas, que Tu sejas a Eterna Força Original... Jesus, não me leves a mal, isso não posso compreender, pois muitas vezes apresentavas um quadro miserável. Quem Te viu quando voltavas esfomeado e com roupas rasgadas depois de vários dias ausente, não acreditará que já conseguiste consumar a Tua meta. As Escrituras nos falam de Josué e Elias; estes também fizeram grandes coisas, e assim acredito também que Tu sejas o Prometido, mas, Deus Mesmo — não, isso não acredito!"

"Meu Irmão Joel, permanece na tua convicção!" responde Jesus. "Virá ainda o tempo em que apresentarei um quadro de maior desgraça e miséria, e então reconhecerás quão grandes sacrifícios são necessários para palmilhar o caminho consumação."

A CEIA

"E agora festejemos juntos, mais uma vez, a Ceia! O Anfitrião é agora o Pai Celestial em Mim, e este Meu mensageiro e servidor a preparará para vós. Vede, assim como hoje esta Ceia é a conclusão do Meu Tempo de jovem e adolescente, assim também será festejada uma outra Ceia no término do Tempo do Meu Magistério. Mas hoje Meu Coração está cheio de alegria. Sede alegres também!"

Sem que os presentes o percebessem, a mesa estava posta com pão e vinho. O anjo convidou todos a tomarem seus lugares na grande mesa, e em silêncio esta refeição simples e maravilhosamente boa foi tomada. Jamais Hilarius e Nathan provaram algo tão saboroso; os irmãos, porém, se lembraram do Egito, onde já tinham vivido coisas semelhantes. Também o anjo participou da Ceia, o que admirou muito a Hilarius e a Nathan.

Jesus toma Seu copo, faz a volta em torno da mesa e bebe um gole do Seu copo com cada um, olhando cada um profundamente por um minuto. Terminando de demonstrar este Amor e retornando ao Seu lugar, Seus Olhos brilhavam admiravelmente; e Ele diz: "Irmãos, lembrai-vos sempre desta hora! Que jamais se desvaneça esta lembrança, uma vez que recebemos um pedaço do Céu, Eu e vós! Sabeis agora o que é necessário, mas o futuro vos ensinará ainda outras coisas; por isto sede calmos e aprendei em silêncio! No silêncio concentram-se as Forças que dão Força e Alegria internas. Eis que o dia está declinando; subamos para a colina vizinha e aprofundemo-nos no silêncio de devoção, juntamente com os bem-aventurados e felizes que estão junto a nós e ao nosso redor!"

VIVÊNCIAS NUMA ESTRELA

E assim aconteceu! Quando chegaram ao cume e todos se instalaram comodamente, faltava o anjo, e Hilarius disse: "Estranho, nem se despediu de nós!"

Diz Jesus: "Hilarius, estás enganado, ele não se ausentou; ele e muitos outros estão conosco, participando alegres desta hora. Eis a grande infelicidade dos homens: a impossibilidade de verem todos aqueles que se foram."

Admirado Hilarius pergunta: "E Tu podes vê-los, querido Jesus?"

"Oh, sim! Não apenas vê-los, Eu estou unido a eles, assim como estou unido a vós. Eu não apenas os ouço e vejo o que fazem, mas vivo com eles; e vejo também seus pensamentos mais profundos, assim como vejo os teus."

"Mas deve ser horrível ver tudo ao Teu redor, suas alegrias, mas também sua ira e todas as maldades! Então prefiro ficar assim como sou!"

"Hilarius, Meu amigo", respondeu Jesus, "tu, como filho da Terra, não podes compreender ainda esta visão no seu sentido mais profundo. Estás limitado, pois pensas como homem, e teus conceitos de tudo o que é espiritual também são limitados. Vê, acima de nós a imensa abóboda celeste te fala todas as noites dos infinitos mundos estrelados! Dize-me, por que não vês nenhuma estrela durante o dia? Dizes: É por causa da luz do sol; só quando está escuro as estrelas se mostram! Está certo! Mas presta atenção: Eu quero que examines a natureza destas estrelas; fica então agora bem quieto e silencioso!" Hilarius e os outros permaneceram em silenciosa contemplação e concentração. Anoiteceu; as estrelas começaram a brilhar! Neste momento, uma estrela cadente percorreu o espaço e todos os presentes se assustaram um pouco. Olhando para cima, neste instante avistaram as constelações. Hilarius então vê uma estrela se aproximar dele, cada vez maior, maior e mais clara; e, de repente, ele se encontra num jardim imenso. Lá também há homens; eles não falam nenhuma palavra, mas Hilarius sabe o que eles se transmitem por pensamentos. Ele vê suas instalações, sem dar um passo; ele vê o que fazem nas casas, o que comem, bebem e também ele é visto.

Num Templo, faz-se um culto divino. Ele é atraído para lá e, como com rápidos passos, já se encontra lá! Começa um ancião a falar; suas palavras soam como sons de órgão e penetram profundamente no seu coração! É uma advertência: permanecer sempre dentro da Ordem sagrada, pois a Terra que hospeda agora o Espírito Altíssimo tinha que sofrer imensamente por causa de ações contra Sua Ordem. "Sabeis", diz ele, "que um hóspede está entre nós, um habitante desta Terra tão deplorável. E se vós todos, meus filhos e netos, quereis continuar nesta existência e neste estado maravilhoso, então permanecei na Ordem, na Ordem; observai a Ordem Divina! Mas sucedeu agora uma grande felicidade a esta escura Terra! O Grande Espírito esmagará a cabeça da velha serpente e, com Seu Próprio Sangue, Ele lavará toda a ignomínia e desonra; e assim, todas as coisas unir-se-ão ao Espírito Universal."

Hilarius se aproxima mais alguns passos, e agora o ancião diz: "Sê bem-vindo! O Grande Bondoso Espírito me informou da tua chegada; mas meus filhos e netos gostariam se tu lhes contasses algo da Terra, tua pátria."

Hilarius sente em si o impulso, respira profundamente e começa: "Queridos habitantes desse mundo maravilhoso e paradisíaco! Pela imensa Graça de Deus, que é o Grande Espírito, me foi permitido ver o vosso mundo e observar vossas instalações, e eu devo realmente declarar-vos bem-aventurados! Nós, em nossa Terra, não nos encontramos em tão boa situação como vós; pois nossa Terra não é uma morada permanente para nós, e ninguém pode permanecer lá eternamente. Quando chega o tempo em que nosso Deus e Criador fixou para cada um, vem a amarga morte. Ela não esquece ninguém, não atende a nenhum pedido e leva com mão fria o que lhe pertence! Mas ninguém sabe o que de fato é a morte, pois só podemos acreditar no que alguns homens sábios nos transmitiram. O homem nasce totalmente desamparado, e qualquer outra criatura é menos necessitada do que ele; pois elas, após poucas horas ou dias, já podem quase sustentar a si mesmas, ao passo que para nós são necessários anos até que razoavelmente possamos pensar e julgar. Todas as demais criaturas comem o que a Terra lhes produz como alimento e crescem magnificamente. Só nós, homens, devemos trabalhar duramente, devendo fertilizar com o nosso suor o solo da Terra, para que nos dê os frutos que são necessários para nossa vida. Do Grande Espírito que, como vosso pai disse, Se encontra agora na Terra, só posso dizer que Ele é Homem como nós, e que deve cumprir todas as exigências da vida terrestre. Mas dentro Dele há um outro testemunho! Sua Natureza é Amor, o mais abnegado Amor. Ele se encontra agora diante de grandes tarefas, Ele, o tão anunciado e esperado! E agora sei também que Ele cumprirá Sua Missão; Ele trará não apenas a nós, mas também a vós, a maior felicidade! Ele é a grande felicidade dos Filhos de Deus: pois nós podemos nos tornar Seus Filhos, e Ele quer ser nosso Pai para sempre! Ele destruirá a morte cruel! Ele fundará Seu Reino Eterno de Amor não apenas na nossa Terra, mas também junto a vós! Tu ordenaste: 'Mantende a Ordem! a Ordem! a Ordem!' Mas Aquele — Jesus é Seu Nome — está pedindo: Ficai no Amor, neste Amor, e amai-vos! Pois Amor é a Nova vida, e Vida é desenvolvimento! E Ele Mesmo é o Amor Eterno e o Eterno Desenvolvimento! Por isto, peço também a todos vós: amai-vos, amai-vos! Então Ele mandará também a vós Seus anjos e mensageiros que poderão anunciar-vos mais ainda, conforme a Vontade do Eterno Deus!"

Os milhares de ouvintes escutaram com respeito. E o ancião diz: "Agradecemos-te, e recebe como lembrança permanente nossa promessa para tua Terra: nos esforçaremos para amar e ficamos verdadeiramente gratos pela boa mensagem! Já que nossa vida aqui é menos penosa, o Amor que nos foi recomendado só nos dará também alegria, e por isso queremos agradecer, agradecer, agradecer!" E em silêncio todos se inclinaram profundamente com as faces até o solo e agradecendo em seus corações ao Senhor! Após algum tempo, esta revelação desapareceu para Hilarius. Então ele pergunta ao Senhor: "Querido Jesus, o que foi isso?"

Jesus responde: "Meu amigo, o que presenciaste foi visto também pelos outros; então não pode ter sido uma alucinação. Pela Minha Vontade, foste deslocado para este mundo distante, e este acontecimento foi Meu Presente para ti e Nathan. Guardai-o como lembrança permanente, pois vos dará a certeza que Meu Reino é Eterno e Imperecível. E agora, deitemo-nos; pois, antes do dia clarear, já estarei longe daqui! Então não vivo mais para Mim, mas para Meu Pai. O meu próximo objetivo é visitar aquele que será Meu arauto, aquele que prepara o Meu Caminho. E agora, adeus; vivei com justiça e, estaremos unidos eternamente! Amém!"

E com uma bênção Se despediu de Seus irmãos, de Nathan e de Hilarius; "Mas nós, querida mãe, ficaremos ainda acordados!" Com lágrimas nos olhos, Hilarius e Nathan saíram e prometeram solenemente: "Lembrar-nos-emos sempre das Tuas Palavras e de Teu Amor! Oh, se tivéssemos conhecido tudo isto mais cedo!" — "Ide em Paz! Deus está convosco!" — foram as palavras do Mestre, e assim se separaram.

Jesus diz ainda: "Irmãos, ide descansar! Vivestes e experimentastes novamente muita coisa, pois nunca poderemos nos separar! Sede gratos, assim como também Eu vos agradeço, e permanecei fiéis ao vosso Jesus!" Profundamente emocionados, os irmãos seguram as Mãos de seu Jesus, desejando-Lhe boa-noite e pedindo ainda Sua Bênção. Jesus os abençoa, e em silêncio entram em casa.

DESPEDIDA DA MÃE

Agora Jesus está sozinho com Maria. Suavemente Ele toma suas mãos e diz: "Maria, Minha querida Mãe, este dia te trouxe muito trabalho, mas também grande recompensa. Eu queria lembrar-te agora de algo que aconteceu pouco antes do Meu Nascimento. Lembras-te do momento em que o pai José te perguntou: ‘Por que choras e logo depois estás alegre?' Maria diz: "Sim, meu Jesus! Eu vi um povo chorar, e chorei com ele. Em seguida vi um povo alegre, e me alegrei também; mas não sei Te explicar isto agora claramente. Por que me lembras disto?"

"Oh, Minha boa Mãe! É porque exatamente estes dois povos se encontram novamente diante de nós; mas não mais chorando ou rindo, mas perguntando. Pois tornam-se conscientes daquilo que agora está em jogo; e jamais os destinos de todos os homens e todos os seres estiveram tão no "fio da navalha" como agora! Sempre Me perguntavas: Quando começas Tua Missão? E povos inteiros também perguntavam: Quando vem o Salvador e Redentor? Vê, Maria, Eu vos deixo agora, mas Meu Amor fica aqui. Procura libertar-te do pensamento que Eu seja o Messias só para vós, somente o Salvador do povo judeu! Quão mais alegre dirigiria então Meus passos para o deserto de Bethabara."

Responde Maria: "Meu Jesus, o que Tu dizes é muito importante, mas vê: nenhuma outra mãe teve certamente de suportar maiores preocupações e lutas do que eu. Tu dizes agora: `Finalmente alcancei a Meta!', mas me eliminas esta grande e forte esperança. Vê, apenas um povo livre pode ter raízes em seu Deus Eterno, cumprindo alegre e livremente a Sua Santa Vontade! Mas um povo oprimido e escravizado perde o último resto da sua fé em Deus! Eis porque, meu Querido Jesus, esperei e continuava esperando só por Ti!"

Pede Jesus: "Maria, esta última hora deveria trazer-nos maior compreensão e maior união íntima. Considera o seguinte: Um povo que no íntimo de sua alma está enraizado em Deus não tem opressores nem inimigos. Pois esta união íntima, esta ligação é uma força que também outros povos respeitam. Reflete nisto: por que é o povo de Deus tão oprimido? Porque perdeu seu Deus, e seus servidores de Deus são cheios de horrenda altivez? O que sobrou da Verdade? Nada! Eis porque sou feliz em poder finalmente servir ao meu povo, mostrando a todos a Verdade e o Amor! Maria, une-te plenamente e totalmente Comigo! Então serás a primeira a dar a resposta justa aos povos, dizendo: 'Eis aqui Nosso Salvador que nos traz Verdade e Amor! Eis aqui o coração que está disposto a fazer o maior sacrifício. Olhai para Ele; será Ele o nosso Salvador!” Vê, Maria, se cada dia — quando tens pessoas ao teu redor ou quando sentes a presença de seres — pensares assim e acreditares verdadeiramente na Minha Missão, então criarás ondas de Luz e Força que Me apoiarão na Minha Obra! Mas, para isto há uma condição fundamental: Ficar livre de toda dúvida! Observa os pássaros abaixo do céu: eles são livres e sempre alegres, porque veem o mundo e o ambiente conforme realmente é. Mas os homens querem ver o mundo e seus habitantes conforme o próprio desejo; daí os contrastes entre eles. Só a alegria interior nos dá a Força livre de ver tudo em verdade. Ajuda-Me em Minha Obra, acreditando verdadeiramente em Mim, e todos os seres te aclamarão com júbilo, e sua alegria será sem fim! Agora vem, também nós vamos descansar!"

Comovida, diz Maria: "Meu Jesus, só uma pergunta: Se és verdadeiramente Aquele do Qual está escrito, por que Te ausentas tão frequentemente para orar sozinho? Sei que ontem também não descansaste. Se és verdadeiramente Um com Deus, o Eterno, será ainda necessário procurar na oração a consolação, a paz e a força?"

Responde Jesus: "Minha Maria! Vê, tudo o que possuo, Eu tive que conseguir por Mim Mesmo, para que se tornasse Minha Propriedade intrínseca! Nada pude receber de graça, para que os inimigos da vida não tenham uma arma para discutir Comigo! Se Eu tivesse pedido a ti ou aos irmãos de Me ajudar na oração, no silenciar, teria Me exposto aos seus ataques. Mas agora que todos os obstáculos estão superados, sem ajuda humana ou qualquer outra, tudo o que é humano em Mim também está espiritualizado e só pode servir ao que é Divino! Deus, em Sua Eterna Existência Original, é Força e Amor! Esta Força, este Amor, é agora a Minha Vida Interior. Por Ela sou Um com Deus, e nada mais posso fazer sem esta Vida." Maria inclina a cabeça em sinal de aprovação, enquanto aperta as Mãos de Jesus; e Jesus pede mais uma vez: "Vem; vamos descansar! Só no silêncio existe solução para qualquer pergunta."

DESPEDIDA DOS IRMÃOS

A noite passou rapidamente.

Os irmãos já estão de pé e conversam em voz baixa, enquanto esperam a mãe e Jesus. Estes entram na sala e todos se saúdam. Maria prepara no fogão a sopa da manhã e a serve. Ninguém diz palavra. A tristeza da despedida comove todos os corações; cada um se pergunta internamente: O que será agora? Jesus também fica calado.

Maria convida para refeição, que Joel agradece e abençoa, e todos a tomam em silêncio. Quando terminam, Maria tira os pratos e finalmente Jesus quebra o silêncio: "Maria e vós, queridos irmãos, permanecei no que é vosso, como também Eu permaneço no que é Meu! E cuidai para que em vossos corações não se instale nenhum pensamento ou impulso falso, contrário à Minha Alta Missão Salvadora! Vós Me ajudastes a construir a grande Obra Divina. E assim como Eu continuo a trabalhar para Ela, trabalhai também vós, pois devem ser criadas Obras que pertençam à Eternidade. E agora, separemo-nos alegremente! O nosso reencontro está nas Mãos do Pai Eterno.

Meu Joel! Tu, o mais velho, cuida sempre da conservação do nosso lar! Mas esforça-te a fortificar também o Amor espiritual, pois é teu dever para a casa do teu pai José!

Tu, Joses, sejas a luz que sempre mostraste radiante, pois és cheio do Espírito de Deus!

E tu, Samuel, que nenhuma outra vontade te preencha, senão Aquela que Eu te mostrei como teu Irmão!

E tu, Simão, fica na Ordem verdadeira! Aconteça o que acontecer, permanece cada dia dentro da Ordem!

E tu, Meu Jacó, suporta com paciência o que os outros ainda não podem suportar!

E agora, tu, Mãe, sê sempre Meiga e Misericordiosa!

Então Eu não farei falta a ninguém na casa de José. Que nenhuma lágrima brilhe em vossos olhos e nenhuma mágoa preencha o vosso coração, por que Eu, como Jesus vosso Irmão — mas agora como Mestre — sigo ao Meu Pai, que Me chama para a Obra Viva. Brevemente nos veremos e nos sentiremos unidos novamente. Sede, pois, fiéis, Meus irmãos, e, como Eu, metei mãos à Obra! Amém!"

JESUS E LÚCIFER

Num vermelho incandescente, o sol se põe, iluminando pequenas nuvens que passam pelo firmamento. Era um dia de calor, e uma grande calma reinava na natureza; não se via nenhum ser humano e nenhum animal, parecia que todos esperavam primeiro a frescura da noite. Névoas claras baixavam sobre o cume do Monte Tabor, para depois expandir-se na direção da baixada. Já escurecia, e um vento refrescante começava a soprar. Um viandante solitário procurava o ponto mais alto do monte.

É Jesus. O vento brinca com Seus Cabelos anelados; Seus Olhos exprimem satisfação e irradiam Paz. Seu andar é leve, e sem esforço. Ele chega ao cume. As estrelas acenam com seu brilho, a lua que nasce esparge um círculo de luz ao seu redor, porém perto Dele está escuro. Jesus procura um lugar para descansar, mas Seu Olhar se dirige às estrelas e ao espaço longínquo. Ele se dirige às estrelas, dizendo: "Se todas vós fôsseis tão alegres e livres como Eu, e se pudésseis entender a felicidade de não mais estar ligado a nada, quão mais magnificamente iluminaríeis e brilharíeis!" E Ele as olha e Se alegra com sua beleza luminosa.

Jesus fecha os olhos e em silêncio avista o Seu mundo interior. Sua respiração se torna mais forte, e tudo Nele ganha mais vida: toda Sua Vida passa diante Dele! Uma magnífica música das esferas se faz ouvir, e ao redor Dele agrupam-se seres maravilhosos rendendo-Lhe sua homenagem.

Mas Jesus declina, dizendo: "Meus fiéis servos e mensageiros plenos da Vontade de Deus, estou satisfazendo vosso desejo e participo da vossa alegria e do vosso amor. Mas nada é puro, tampouco esta alegria, uma vez que muitos, em demasia, ainda perecem em profunda miséria! Vós vos alegrais por Eu ter vencido as algemas da Terra e vos rejubilais por aquilo que farei agora como Senhor e Mestre, como Ser verdadeiramente livre. Mas vossa alegria com as maravilhas seria ainda maior, se contribuísseis para aliviar a miséria dos que ainda estão presos, dos verdadeiramente pobres e desgarrados. Conheceis Minha Tarefa de cumprir como Homem o que é de máxima importância, isto é, não mais servir somente a si mesmo, mas a Deus e aos homens. Trazei-Me, pois, agora o vosso irmão desgarrado e mostrai-lhe vossa felicidade!"

Em silêncio se inclinam os anjos e no minuto seguinte Lúcifer, na aparência de um homem de idade, esperto, se acha diante de Jesus. "Uma vez que não vieste de livre vontade, mandei Meu mensageiro te buscar, para dar-te a oportunidade, diante destes Meus servos e mensageiros, de manifestar também tua vontade! Não te foi possível contrariar o Meu propósito. Não pudeste impedir que Eu cortasse até os mais íntimos vínculos que Me prendiam a ti, afastando-os do Meu Eu Humano! Nada mais pode Me reter! Nada mais pode Me impedir de viver e agir unicamente por Deus e pelo Seu Reino Eterno! E por isso pergunto-te, Lúcifer, tu que és o ponto de concentração de toda Luz e de todas as maravilhas de Deus, não tens saudades daqueles tempos longínquos em que tu, como um coroado, cumprias a Vontade de Deus? Pois se antes de eternidades te rodeavam Luz e Vida, agora estás isolado com os poucos fiéis que ficaram contigo. O que possuis ainda? Nada mais do que a consciência de ser o grande adversário de Deus!"

"Podes ter razão", responde Lúcifer friamente, "mas ainda não está decidido se não serei eu o maior e o mais forte! Tu não podes me impedir de executar minha vontade, assim como também eu não pude impedir a Tua. Mas quanto maiores forem os obstáculos que Tu me prepararás, maiores também serão os que eu Te prepararei e o farei no futuro! Mostra Tua Onipotência e aniquila-me! Ser-te-ei grato pela última pulsação, se puder parar de existir! Mas eis o Teu fraco, pois deves deixar viver tudo o que existe, mesmo se se tornasse um caos! Ninguém pode me impedir de permanecer Teu adversário, e nenhuma maravilha poderia me tentar a Te servir! Que disseste em resposta à minha saudade, ao meu desejo de ver-Te e de me dar Contigo? Nada! Deixaste que Te procurássemos, sem Te deixares encontrar; e não atendeste minhas súplicas! (Caderno 3, capítulo 4, Revelações sobre a Criação Primitiva).

Sim, uma vez ou outra ouvia uma voz em mim de que deveria procurar-Te, encontrar-Te e ouvir-Te, mas podiam ser também meus próprios pensamentos. Agora que Te vejo e Te ouço, digo-Te perante essas milhares de testemunhas: Perdi qualquer desejo de reconhecer-Te como meu Senhor e Dono! Eu mesmo quero ser e serei Senhor!"

Com seriedade, responde Jesus: "Lúcifer, Senhor é aquele que será vencedor! Sabes que Eu Me igualei a ti. Tornei-Me tão pobre como tu! (na natureza humana). E se agora sou dono de Forças e Riquezas que vivem em Mim, tu também terias a possibilidade de alcançá-las e de usá-las para o teu próprio bem!"

Responde Lúcifer, agitado: "Não, isto não acredito! —Tuas palavras só querem me motivar a colocar todo meu poder e toda minha vontade nas Tuas Mãos."

Com dureza, responde Jesus: "Lúcifer, não digas que não acreditas! Dize livremente que não queres! E assim verás que no fim de tudo, tudo e mesmo o ínfimo te será tirado! Eu irei agora mundo afora, recrutando e levando a tocha para a noite escura! Não forçarei ninguém, mas terei também um Olhar vigilante sobre ti. Pois agora tudo está em jogo, Lúcifer!

Exatamente para impedir o caos, Minha Missão é duplamente importante! O Amor por Meus Filhos humanos Me mostra o caminho e Me dá forças de consumar tudo!"

"Tu bem podes falar!" responde Lúcifer. "A um aceno Teu, legiões estão à Tua disposição, e ninguém pode Te impedir, pois és o Senhor! Eu, porém, estou abandonado e isolado, e tenho que assistir quando destróis minha propriedade! Mas se apareço e quero me defender, então Teus anjos se mostram rapidamente, querendo aniquilar-me."

Tranquilamente, responde Jesus: "De maneira nenhuma, Lúcifer! Todos os anjos respeitam Minha Vontade, e esta te assegura a máxima liberdade da tua vontade. Mas caso te mostres violento e destruidor, serão colocados limites contra ti. Vê, Lúcifer! Agora começa a luta final entre nós! Deixarei cair tudo o que teus fiéis possam ver de divino em Mim. Serei `Homem' e irei como Homem para os homens, e como Espírito para os espíritos, e testemunharei da Vida Divina no próprio interior, que pode ser alcançada pela luta nesta vida fictícia. Tem cuidado com medidas violentas, pois teriam consequências amargas para ti! Somente quem Me segue de livre vontade será por Mim aceito. E quem quiser te seguir também deverá fazê-lo de livre vontade. Aqui, em tua presença, manifesto mais uma vez: longe seja qualquer violência! Se tentares ser violento, isto te será impedido."

"Então deveria ser castigado novamente", queixa-se Lúcifer, "só para que alcances Tua Meta? Tens Misericórdia com os homens e com os habitantes do mundo dos espíritos, mas o meu sofrimento Te deixa insensível. Para com todos os seres és Amor, mas para comigo és severo. Que me interessa Tua Luta que Tu mesmo quiseste? Que me interessam Teus Alvos? Deixa-me o meu direito, o direito do mais forte!"

"Lúcifer, pobre obcecado", diz Jesus, "é por tua causa que tudo isso acontece! Foi por tua causa que Eu desci nesta existência! Mas, no futuro, o mais fraco, o menor e o mais humilde será por Mim preenchido de Força, a fim de poder resistir-te! Pois nunca mais terás necessidade de te queixares de que algo te foi tirado! Digo, pois, novamente: 'Não darei a nenhum homem, a nenhum ser, algo da Minha Onipotência Eterna!' Mas mostrarei a todos os homens, a todos os seres, o caminho para seu desenvolvimento interno até a máxima perfeição! Ninguém será coagido. Só irei ao encontro daquele que Me quiser, assim como vim também ao teu encontro! Vê, tinhas a perfeição em ti e não acreditavas poder jamais perdê-la. Mas uma vez que menosprezaste a Mim, teu Deus e Criador, Me expulsaste do teu centro de vida. Agora, vê essas multidões; nelas, cada um quer te dizer: ‘Vem e vê como é Bondoso nosso Deus e quão maravilhosamente se pode viver em Seu Reino!' Vê, Meu Coração tem apenas um desejo não cumprido: que tu voltes, voltes para os Braços do Eterno Amor Divino! Lúcifer! Meu pobre e obcecado filho! Nesta hora séria e sagrada, Eu te estendo novamente a Mão e te peço: desiste da tua obcecação, e todas a criações brilharão com seu anterior fulgor! E assumirei nos Meus Ombros tudo o que fizeste de mal! Nunca mais estarei tão perto de ti como agora, como Homem para homem. É a última vez que te peço, é a última chamada da Minha Boca. Se queres permanecer como és, não poderás mais alcançar tão facilmente Minha Vida e Meu Amor, mas deverás trilhar o caminho da Ordem da Vida, em vez do Caminho da Graça que Eu mostro agora aos Meus Filhos!"

"Tu queres ser Senhor e me imploras?" (diz Lúcifer com sarcasmo). "Isso não combina bem com Tua Onipotência! E agora Te digo: esta é uma grande satisfação para mim e me dá nova esperança de alcançar meu objetivo. Colocarei todo tipo de obstáculos no Teu caminho e procurarei um homem que será a máxima prova para o Teu Amor! Ah, não penses que já consumaste Teu Plano e não imagines que serás esperado em todo lugar com saudade! Pois para tanto teus queridos filhos humanos obtiveram demais de mim, teu maior adversário! Na Terra, sou eu o 'senhor e seu príncipe'. E preencherei novamente os homens com minha natureza, para que te arrependas de ter invadido o meu reino. Com novo zelo semearei a discórdia entre teus seguidores, a fim de que Tu Mesmo feches as portas dos Teus Céus!"

Tranquilamente, responde Jesus: "Que tudo siga então o seu curso como deve ser! Eu não te impeço mais. Mas, com redobrado Amor e Dedicação, darei início à Minha Obra. Mas ai, ai, ai de ti, porque todo o sofrimento e todas as lágrimas tornar-se-ão um peso tremendo que te esmagará! Serás abandonado e com aborrecimento te separarás dos teus próprios filhos! Então, pensa nesta hora em que quis poupar-te, e a todos, do maior sofrimento! Lúcifer, assim como é grande a tua culpa, assim ela Me oprimirá! Mas se Me vires na máxima luta e no mais duro sofrimento, e um júbilo triunfante quiser penetrar no teu coração, então tu mesmo te terás julgado e uma voz te avisará: 'Esta também será a tua sorte!' E agora nossos caminhos se separam novamente!"

Com sarcasmo nos lábios, afasta-se Lúcifer, e todos os anjos o seguem de olhares tristes. E Jesus diz: "Ide agora também vós, e cumpri vosso dever! Assim como Eu redobrarei o Meu Amor, vós também devereis cumprir com redobrado zelo vossa tarefa, pois acabais de conhecer novamente as intenções do inimigo da Vida!"

Em silêncio, se inclinam os seres brilhantes. O Olhar do Senhor repousa neles com agrado; então um leve véu desce e Jesus está novamente sozinho. Sozinho, mas não solitário, pois Seu Olhar volta para a casa paterna e os Seus Lábios murmuram: "Sede todos repletos do Meu Amor e da Minha Bênção! E aqui aguardo agora o amanhecer."

Jesus procura um lugar para repousar e Se deita para dormir. Como travesseiro, procura uma pedra, mas não pode achá-la por causa da escuridão; assim coloca a cabeça nos dois braços e adormece. Ao romper da aurora, desperta Jesus e, de joelhos, abençoa a Terra com seus habitantes, dizendo: "Que também este dia seja dedicado ao verdadeiro Amor!" Jesus Se levanta e desce das alturas do Tabor em direção da baixada.

DESCANSO NO ALBERGUE

É meio-dia. Num lugar entre Tabor e Naim há uma feira, e no albergue há muito barulho. Um viandante entra procurando uma mesa vazia, mas todas estão ocupadas. O hospedeiro, bastante atarefado, ainda não notou o novo hóspede; assim, Este saúda e, ao Lhe ser oferecido um lugar numa mesa, aceita agradecendo.

É Jesus. Na mesa estão sentados cinco homens e duas Mulheres, que tomam a refeição durante uma conversa animada. Jesus lhes deseja bom apetite; então, uma mulher pergunta: Nada tens para comer, ou não queres encomendar algo? Queres um pedaço do meu pão? Tenho o suficiente, e para o futuro Deus e minha mãe cuidarão."

Com um sorriso, Jesus responde: "Thirza, teu amor já Me saciou; não preciso mais de pão, só tenho sede, e o hospedeiro já traz vinho, pois entretanto, já Me viu. Mas recebe Meu agradecimento!" O hospedeiro traz um copo de vinho e pergunta o que mais Ele desejaria. Então Jesus diz: "Gostaria de ter um quarto para esta noite, pois amanhã de madrugada partirei novamente. Mas devo dizer-te, hospedeiro, que não tenho nem dinheiro, nem qualquer outro recurso Comigo."

Diz o hospedeiro amavelmente: "Fica aqui; vou instruir minha mulher, que Te proverá! Hoje em dia são muitos os chegam aqui sem dinheiro algum!" Responde Jesus: “Então Deus te abençoará!" Muito atarefado, o hospedeiro vai à cozinha, enquanto Jesus bebe o vinho em silêncio! A moça Thirza O observa e pensa: Que voz suave! Que olhos! Mas como é sério! Poderia se ter medo do rigor, mas mesmo assim Ele não parece ter alguma aflição. Como é que Ele sabe o meu nome?" Jesus acaba de beber o vinho e Se prepara para levantar. Os homens, que entrementes também terminaram sua refeição, encomendaram vinho outra vez, e o hospedeiro trouxe um cântaro e encheu seus copos. Um deles, Hiram, diz:

"Hospedeiro por que esqueces o convidado da nossa mesa? Sabes que eu não deixaria de servi-lo!"

"Tens razão", responde o hospedeiro, "na pressa não pensei nisso. E agora, jovem amigo, bebe e não Te zangues comigo por causa disso!"

"Oh, não", responde Jesus, "não posso Me zangar por causa disso, mas Hiram teria apreciado se o tivesses feito logo; agora não é mais uma alegria especial para ele."

"Conheces meu amigo Hiram?" pergunta o hospedeiro admirado.

Responde Jesus: "Conhecer é dizer pouco, pois é de Minha Natureza penetrar nos pensamentos e sentimentos de cada homem. Vê, estás sorrindo e pensas: 'Este pode contar muita coisa antes que eu acredite numa só palavra. É mais um visionário!', não é assim?"

O hospedeiro se assusta e diz: "Homem de Deus, como podes conhecer os meus pensamentos? Mas tens razão, foi isso que pensei."

Jesus o tranquiliza dizendo: "Não te assustes por causa disso, pois uma natureza tão honesta como a tua, não tem razão para temer. Foi por isto que entrei aqui, uma vez que já te conheço há muito tempo, pois passaste muitas vezes na casa do Meu pai adotivo; mas não podes te lembrar de Mim, pois José não gostava de falar de Mim!"

"Então Tu és Jesus, o filho mais moço? Sê cordialmente bem-vindo e fica à vontade! À noite conversaremos, pois agora tenho muito para fazer. Que alegria sentirá minha mulher!" E se foi...

Os hóspedes na mesa escutam atentamente essa conversa, e Hiram pergunta: "Tu, jovem, onde é Tua casa, e para onde vai o Teu caminho? Não tens nenhuma bagagem Contigo?"

Jesus responde gentilmente: "Um viandante solitário não precisa de bagagem quando tem no Seu coração a firme convicção de que nada lhe faltará! Eu venho de Nazareth, e Meu objetivo é visitar um amigo de juventude que se encontra perto de Bethabara, para possivelmente não mais Me separar dele."

"Então tens ainda um longo caminho", diz Hiram. "Nosso dever nos chama agora; mas hoje à noite nos reencontraremos aqui e então poderemos conversar mais." Hiram se levanta, estende a mão para Jesus, acena para seus colegas e para as duas mulheres e sai, sendo saudado por todos da sala. "Se queres vem para a feira", cochicha Thirza para Jesus, "lá poderás nos encontrar novamente." Jesus sorri mas nada diz, e a mesa fica vazia.

O honrado hospedeiro volta depois de algum tempo e convida Jesus para o almoço, uma vez que sua mulher assim o deseja. Jesus agradece e segue o hospedeiro. Na cozinha, a mesa já estava posta para Jesus, e a mulher diz: "Vem, filho de José, fica à vontade! Infelizmente estamos bastante ocupados hoje, uma vez que há muitos forasteiros aqui; mas teremos tempo por alguns minutos."

Jesus agradece e diz: "É raro encontrar tanto amor como vocês Me dão, um forasteiro, mas Deus no céu os pagará por isso! Infelizmente, perdeu-se muita coisa entre os homens que poderia fazê-los felizes. Não deixem de fazer o bem ao próximo e de confiar em Deus, pois Ele conhece os Seus e não abandona quem acredita Nele."

Jesus come agora e os dois hospedeiros têm prazer em ver que Ele gosta da comida. Entrementes, o hospedeiro serve também os outros hóspedes e Jesus está sozinho com a mulher, pois os outros empregados ainda se encontravam no campo. Hanna, a mulher do hospedeiro, pergunta: "Para onde vai o Teu caminho?"

E Jesus diz: "Mulher, é difícil responder a esta pergunta, uma vez que não Me compreenderás, pois não tenho um caminho definido. Eu só tenho uma Meta, e muitos caminhos conduzem a esta Meta, que é: levar a redenção e a libertação ao Meu povo atado e subjugado. E esta Graça rara será dada a todos os que acreditam e confiam em Mim."

Incrédula, Hanna pergunta: "Como pretendes Tu, homem fraco e pequeno, trazer-nos a redenção e a libertação? Os poderosos romanos dominam tudo, e quem se opõe a eles é feito prisioneiro."

Responde Jesus: "Escuta, se os romanos fossem o maior mal, então os fiéis poderiam facilmente se libertar! Mas o mal é muito mais profundo, e todos agora são atingidos por ele. É a falta de amor! É o ódio e a inveja, é a insaciável cobiça de dinheiro, é a corrida de um prazer a outro. E infelizmente ninguém acredita que todos estes males dominam atualmente a todos; e os piores são os chamados servidores de Deus!"

"Cuidado, jovem", diz Hanna em voz baixa, "que nenhum templário Te ouça, senão Te acontecerá o mesmo que a João, o pregador do deserto. Eles já estão cogitando eliminá-lo; e se não fosse conhecido que Herodes lhe quer bem, quem sabe o que já lhe teria acontecido!"

Jesus diz: "Oh, mulher, Eu não sou João, sou Aquele que sou por Mim! E ninguém pode resistir a Mim, pois Deus vive em Mim, e estou resolvido a cumprir apenas Sua Vontade."

Entrementes, entra o hospedeiro e, ouvindo ainda as últimas palavras, diz a Jesus: "Jovem amigo! Teu pai José era a personificação da fé e da fidelidade, e em seu coração vivia a maior humildade. Mas tu pareces ser de outra índole, pois Tuas palavras soam como presunção e altivez."

"Meu querido Joram, enganas-te muito!”, responde Jesus. "O que te parece altivez em Mim é independência e domínio sobre tudo o que é mau! E, exatamente porque possuo esta grande renúncia, conheço o mal desde sua raiz e ninguém conseguirá fazer mudar a Minha convicção!"

Diz o hospedeiro: "Meu querido jovem Jesus! Segue meu bom conselho; também eu conheço os homens e amo a quem posso amar. Mas ainda não encontrei ninguém que tivesse podido afirmar com seriedade: eu sou vencedor de todo mal e de todo pecado! João também parece ter feito esta experiência, pois sua prédica soa sempre assim: 'Arrependei-vos e deixai-vos batizar!' Vivemos certamente um tempo tremendo, muito sério, e os pensamentos e desejos dos homens são maus desde a juventude! Mas ninguém conseguiu ainda se tornar senhor de todo o mal e de toda a iniquidade! Não cries inimigos sem necessidade, pois quem sabe quando virá o Messias, nos chamando para ajudá-Lo!"

"Joram! Tu estás bem intencionado para Comigo", responde Jesus, "mas o que te faz pensar que o Messias está chegando?"

O hospedeiro quer ensiná-Lo: "Meu querido e jovem amigo! Na tua visita ao Jordão, onde João está batizando, ouvirás como ele diz: 'Eu sou apenas um arauto, aquele que chama! Mas dentro em breve virá Outro que era antes de mim; só estou preparando os caminhos do Senhor!' Acrescenta a isso as promessas dos profetas e também Te convencerás que o Messias virá!"

Pergunta Jesus: "Joram, como imaginas o Messias que virá, o grande Redentor e Libertador? O que achas que Ele fará?"

O hospedeiro responde, pensativo: "Querido Jesus, sobre estes problemas já se falou muito, mas quem nos dá uma justa elucidação? Vê o Templo, lá reina mentira e engano. O povo tem esperança e fé, mas só um iniciado poderia sabê-lo. Teu pai José, por exemplo: quanta esperança ele tinha em Ti, mas o tempo e a experiência se encarregaram de tirar-lhe a esperança que Tu poderias ser O Esperado. Eis que agora ele se acha com seus pais; e quanto tempo levará para que eu também lá esteja! Mas gostaria de vivenciar o tempo e de ver Aquele que salvará nosso povo! Se imagino que também poderia falar-Lhe e ficar sentado numa mesa com Ele, oh então, como me sinto bem!! E passa toda a tristeza que vive em mim por causa do meu povo."

Jesus continua perguntando: "Joram, amas apenas teus compatriotas? Nunca pensaste que os pagãos e todos os outros povos também são oriundos do nosso primeiro pai original, Adão? Qual é a culpa de um romano, se seus pais eram romanos? Qual a tua contribuição por teu pai ser um judeu e tua mãe uma judia? Se partes deste conceito, também a imagem que tens da Missão do Messias esperado deveria mudar. E se te digo agora que Ele anunciará a todos: 'O Meu Reino não é deste mundo!' E que tudo o que se encontra neste mundo deverá apenas ser um instrumento para formar o seu Eterno Reino Espiritual!"

"Isso eu não posso entender", responde o hospedeiro, "será, pois, melhor não falarmos mais disto; o futuro dirá. Agora, devo dedicar-me aos outros hóspedes."

"Faze o que é teu dever", responde-lhe Jesus, "também Eu quero dar uma volta pela feira, a fim de observar essa gente; voltarei, porém, antes do anoitecer."

JESUS PASSA PELO TUMULTO DA FEIRA

O mercado está cheio de gente que faz grande barulho. Jesus evita misturar-Se e observa a multidão, no que pensam e no que fazem. Hiram repara em Jesus e, aproximando-se rapidamente Dele, O traz para o seu carro onde há tecidos de todas as cores e desenhos e onde Mira, sua mulher, se ocupa da freguesia interessada.

"Onde estão teus filhos e tua filha", pergunta Jesus, "não ficam com vocês?" Hiram responde: "Eles se encontram do outro lado, onde têm sua barraca, na qual minha filha Thirza é dançarina. Eu prefiro ficar aqui com minha mulher, mas vou Te conduzir até lá."

Jesus declina: "Não, fica aqui; Eu quero vê-la apenas de longe, pois não aprecio a dança."

"Tens alguma preocupação, meu jovem amigo?" pergunta Hiram com compaixão. "Então conta-me; pois deves saber: Hiram gosta de ajudar onde pode. Mas existem dores às quais ninguém pode ajudar."

"Hiram, escuta o que vou te dizer", responde Jesus com seriedade, "existe um mal, um grande e poderoso mal; mas existe também o sofrimento! Todo sofrimento pode ser curado, mas não todo sofredor! Mas o mal que Eu carrego no fundo de Minha Alma ninguém pode tirar de Mim, uma vez que tem sua raiz no Meu Amor para com todos os homens! Que sentirias tu, se visses o teu irmão cambaleando à beira de um abismo, ele não podendo ouvir tua chamada de advertência e tu não podendo chegar a ele, pois estais separados por um grande precipício?"

Hiram diz: "Naturalmente sentiria uma dor imensa, mas não sei o que poderia fazer."

Continua Jesus: "Vê, Hiram, esta dor Eu sofro em Mim! Pois o abismo é o mundo, no qual cada alma humana deve perecer, se não receber ajuda e libertação. Sobre o abismo entre aquele que vê e o desgarrado, deve ser primeiro lançada uma ponte; esta ponte é o nosso verdadeiro e puro Amor ao próximo, um Amor que nada procura, senão servir para ajudar as almas perdidas."

"Meu Jovem amigo", diz Hiram admirado, "se Te entristece toda esta balbúrdia da feira, por que vieste aqui? Teria sido melhor se tivesses ficado afastado!"

Responde Jesus: "Querido Hiram! Estar aqui ou acolá é a mesma coisa. Porque de qualquer maneira estou unido com todos! O que Meu Olho não vê, Meu Espírito que vive em Mim Me revela; Ele Me faz sentir e ver as coisas mais secretas. Podes acreditar ou não: nada Me é escondido!"

Hiram pede, então, com seriedade: " Jovem, para com essas palavras, senão deverei separar-me de Ti! Pois receio que não falas a pura verdade!"

"Hiram, teu amor pela verdade é conhecido", responde Jesus. Preferes antes morrer por causa dela, a proferir uma única mentira. Mas devo dizer-te uma coisa: toda tua vida nada mais é, apesar de tudo, do que uma grande e única mentira!"

“Como? O quê?! Minha vida uma mentira?! ", pergunta Hiram, excitado.

Jesus lhe responde: "Hiram, tu te assustas com essa palavra; mas, vou te provar quão verdadeiro é o que disse. Tu és um judeu, tua mulher e tuas crianças também; frequentas as Sinagogas, o Templo e observas todas as prescrições que deveriam servir para tua salvação. Mas no íntimo estás insatisfeito, pois teu coração deseja algo diferente! Desejas conhecer a Verdade, quem é e onde está Deus — o Criador de todas as coisas — e como posso receber a única e verdadeira resposta? Foste ver João (no Jordão), mas teu coração ficou insatisfeito. Na tua mente lhe davas razão, mas teu coração continuou com fome e saudade. Exiges da tua mulher e de tuas crianças religiosidade e também a fé em Jehovah! Mas em ti há discordância e o desejo de algo que não podes dizer com palavras. Por fora és um judeu, mas no íntimo um desorientado. E de desorientado para desgarrado há só um pequeno passo."

Hiram pergunta, muito admirado: "Oh, Senhor, quem és Tu? Como podes conhecer o mais íntimo de mim, que guardei com todas as minhas forças? Tu és mais do que um homem! Deves ser um profeta, e Jehovah põe à prova o Seu Povo através de Ti!"

"Hiram, quem Eu sou não é importante", responde Jesus, "mas sim o que poderia ser para ti! E se quero ajudar e servir a todos, e também a ti, deverias dizer-te: Este é mais rico interiormente com seus 30 anos do que eu com meus 60! Mas teu intelecto impede que teu coração prevaleça. Vê, milhares saem satisfeitos da casa de Jehovah e sentem lá a corrente da união celestial! Quantos que ouviram a João bateram no peito e fizeram penitência! Mas teu coração não foi tocado! Reconheces agora a verdade, se te disser: tua vida piedosa, apesar de tudo, é uma mentira!"

"Tens razão", respondeu Hiram comovido, "mas esta revelação é horrível para mim!"

Continua Jesus: "Hiram, chamas este conhecimento que Eu te dei agora de horrível? Por que não seguras com as tuas mãos as Minhas, que estendo para ti com Amor? Por que tens medo e por que fechas teu coração contra a torrente de Amor que quer te libertar da tua ilusão? Deixar-te-ei agora a sós; mas se sentires saudades de Mim, chama-Me! Meu nome é Jesus!

Jesus deixa o comerciante e continua Seu caminho. Mas aquele diz para si: "Jesus? Jesus? Sim, onde foi que já ouvi este nome? Já devo tê-Lo encontrado! Jesus? Jesus? Tu me és conhecido, mas ao mesmo tempo tão estranho! Tu me fizeste certamente um grande favor, mas quando e onde?" Ele medita e, com seus pensamentos em Jesus, volta para sua mulher.

Jesus continua Seu caminho observando o movimento e chega à barraca da dançarina. Tenta-se atrair os passantes com alta voz; ela se mostra em costume colorido, e há muitas pessoas em volta desta barraca; mas ninguém tem vontade de entrar, pois ainda falta muito para a noite.

Agora também seus irmãos percebem Jesus no meio do povo, e um deles, de nome José, diz: "Thirza, lá está nosso vizinho de mesa; deixa-0 entrar sem pagar, talvez sigam outros."

Thirza olha para lá, vê Jesus e acena para Ele, dizendo: "Vem amigo, vê nossas artes, pois já tens um lugar preparado!" Mas Jesus recusa com a cabeça e diz: "Obrigado! Não tenho vontade de Me divertir; Meu desejo é outro."

"Mas, amigo, queres recusar o nosso amor? Esperei justamente por ti!"

"Thirza, pensa que Eu estou agora convosco", responde Jesus, "mas não posso entrar, pois muita coisa diferente Me espera; antes de continuar a viagem, porém, vamos nos falar mais uma vez!"

E Jesus segue adiante. José pergunta à sua irmã: "O que é que Ele te disse?" Thirza diz com seriedade: "José, este homem é alguém especial! Ou é um grande infeliz que esconde sua situação, ou um dos "grandes" que é senhor e livre para tomar suas decisões. Esperemos; encontrá-lo-emos mais uma vez, então provavelmente tudo se esclarecerá."

PRIMEIRO ENCONTRO COM JUDAS

Jesus caminha adiante e agora chega a uma barraca de louças. O proprietário dos potes sabe conversar com inteligência e faz bons negócios. Judas então vê Jesus e Lhe oferece alguns de seus potes. Jesus, porém, recusa e diz: "Não vim para comprar, mas para ver até que ponto há ainda verdade e honestidade entre os comerciantes! Teus potes poderiam ser mais baratos e terias vendido muito mais."

"Então, deveria comer pão seco com minha família", responde Judas, "e isto não aumenta a alegria de viver!" Diz Jesus: "É preferível comer pão seco, mas adquirido com honestidade e fidelidade. Esta consciência já é a alegria de viver, e não a cria apenas. Mas se tivesses vendido esses potes, e três vezes mais ainda, nem assim estarias contente! Pois teu coração só pensa numa coisa: “Ah, se todas essas mercadorias fossem minhas, então eu seria o único a determinar o seu preço."

Judas pergunta admirado: "E o que há de ruim neste pensamento?"

"Judas, o pior!" responde Jesus. "Pois não pertencerias mais a ti, mas aos teus potes, não pensando quão frágeis são essas mercadorias. Se caíssem, quebrados, aos teus pés, o que farias?" Judas olha para Jesus, mas Este continua falando: "Tudo o que tens em tuas mãos pode perecer facilmente. Mas o que vive no coração continua vivo além da morte!" Jesus dirige então Seus passos para um pequeno bosque onde não há ruído nem distração ao Seu redor; então descansa física e interiormente.

À TARDE NO ALBERGUE

Ao anoitecer, Jesus volta para o albergue. Joram, o hospedeiro, está feliz por poder saudar novamente o seu hóspede e o convida para o jantar. Jesus agradece e diz: "Joram, um outro já me convidou em seu coração; é o comerciante Hiram. Prepara a refeição em tua outra sala, para podermos ficar juntos sem sermos incomodados."

"Jesus!", exclama o hospedeiro admirado. "Afirmas novamente algo que também não poderia ser assim! Mas, por Tua causa, seja feito como queres."

Jesus responde com seriedade: "Joram, isto acontece não por Minha causa, mas pela vossa! Naturalmente, não Me conheceis nem a Minha Missão. Mas dentro em breve a estrela que brilhou no Meu Nascimento sobre Belém brilhará também sobre toda Judéia e Samaria. Não te faz meditar a grande saudade que vive em ti e em todos os teus compatriotas? Vê, tua situação não é a pior; teus filhos te amam, fizeste bem em educá-los no temor a Deus e também plantaste o teu desejo em suas jovens mentes. Também eles esperam o Libertador, o Salvador da miséria do seu povo, que na realidade não é miséria. Mas dentro em breve se fará Luz também em ti, e reconhecerás que Deus sempre esteve com Seu povo, sempre esteve com Sua grande Graça. Então fica sabendo: Deus nunca Se separa de Seus filhos; os filhos, porém, podem se separar do seu Deus!"

Admirado, pergunta o hospedeiro: "Jesus! Jesus! Quem és Tu? Que língua falas? Como Te vem tal sabedoria na Tua idade?"

Responde Jesus: "Joram, unicamente por meio do autoconhecimento e da humildade. Tu e todos os homens deveis também seguir este caminho! E então a palavra de Moisés tornar-se-á realidade.

Eis que Eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde pelo teu caminho, e te leve ao lugar que tenho preparado!

Guarda-te diante dele, ouve a sua voz e não sejas rebelde contra ele, porque não perdoará as vossas transgressões, pois nele está o Meu Nome!' (2. Moisés 23, 20-21)

Vê, este lugar e esta meta Eu alcancei, e agora são Minha Propriedade! Eis porque Eu não falo a Minha língua, mas a de Meu Deus e Eterno Pai!"

CADERNO NÚMERO 7

CONVERSAS SOBRE JOÃO BATISTA E O FUTURO MESSIAS

Tornou-se agora maior o movimento na grande sala e o hospedeiro, com o coração palpitante, se afastou de Jesus, pois pressentiu coisas grandiosas. Jesus, sentado a uma mesa, parecia indiferente, mas seu interior estava agitado.

Joram coloca um copo de vinho e um grande pedaço de pão em frente de Jesus, e desculpa-se que, por causa de seu serviço com os outros fregueses, deve deixá-Lo sozinho. Jesus sorri e Joram se regozija, pois percebe Nele um Olhar cheio de Amor e Bondade.

Há um grande vai e vem; numa das mesas menciona-se o nome de João. Todos escutam, e alguém começa a contar: ‘Templários foram ter com ele, que os repreendeu com veemência por suas maldades e hipocrisias. Eles, porém, se riam dele, e um falou abertamente: “João, enquanto nos trazes adeptos ao Templo, toleramos tuas atividades; mas se continuares neste tom, então saberemos também pôr lhes um fim, e isto muito em breve!”

“Podeis ter razão”, respondeu João com seriedade, “e também alcançareis este objetivo. Mas não antes da vinda d'Aquele que com Sua Luz iluminará todas as trevas e que acenderá um fogo que queimará tudo que não é de Deus e de Jehovah!”

“Que venha teu Espírito de fogo!” gritou um rabino, “vamos lutar contra ele também e o esmagaremos como tantos outros, como um blasfemador!”

“Filhos de serpentes e víboras! É mais fácil o mundo inteiro perecer, do que impedir que Aquele que vem, fale e aja!” respondeu-lhes João, dirigindo-se aos que estavam acomodados às centenas no vau do Jordão. João vestia um manto de pele de camelo e um cinto de couro; e sua figura magra, e seus longos e descuidados cabelos, davam-lhe a imagem de um asceta.'

Quem tinha falado calou-se, e começou agora um vozerio na sala da hospedaria a respeito de João e do Homem que estava por vir. 'O que é isto?’, grita um outro. 'Por que silencia o Templo? Não temos todos o direito de saber a verdade? Ou João vive numa ilusão e é dever do Templo convencê-lo da sua tolice, ou João sabe algo sobre Aquele que vem! Então é dever do povo de exigir de João que fale mais claramente. Amanhã mesmo me encaminharei para ele, indo a Bethabara.'

`Então te acompanho', diz um outro, 'pois quem poderia ficar quieto, se o Messias pode vir a qualquer dia?!'

Neste instante, entra o comerciante Hiram com sua mulher e ouve ainda as últimas palavras pronunciadas em voz alta. Ele se aproxima da mesa e saúda: "A Paz do Senhor seja convosco! Vós falais do Messias que há de vir? O que soubeste a respeito, Tomás? Sabes como todos nós pensamos!"

"Hiram, irmão no Senhor", respondeu Tomás, "nosso irmão Esra foi ver João no deserto e pensa que ele pode dar uma informação certa; é tudo que te posso dizer."

"Irmão Tomás", diz Hiram, "conheci um jovem que saberá nos dizer algo melhor; a Este devemos ouvir." E só agora Hiram percebe Jesus, que está sentado na outra mesa. "Daquele é que estou falando!" , e rapidamente se aproxima Dele.

Mas Jesus diz: "Hiram, aceitei o convite que Me fizeste no coração e já avisei Joram que hoje à noite queremos ficar juntos. Convida também teus dois irmãos, Tomás e Esra, assim como teus filhos, pois uma grande felicidade sucederá à tua casa."

Hiram se admira: "Jesus! Como podias saber e conhecer os meus pensamentos? Sobretudo dize-me: desde quando me conheces? Eu devo já ter-Te visto durante minha vida de peregrino, pois não me és um estranho."

Responde Jesus, com calma: "Hiram, faze o que digo, pois será uma grande bênção para ti! Mas lembra-te de uma coisa: não perguntes demais! Pois o Senhor te conhece e sabe de tudo! Nos Seus Desígnios está escrito desde eternidades: ajudar a vós todos; porém, primeiro o Tempo deve ter chegado para isto!"

Roga Hiram: "Querido Jesus! Tua Palavra faz bem ao meu coração; mas o desejo de conhecer-Te melhor faz surgir muitas perguntas em mim, por isto Te peço aquietar o meu desejo."

"Meu Hiram, vamos para outra sala", pede Jesus, "e pensa primeiro no bem-estar físico, depois conversaremos." E assim foi feito. O hospedeiro Joram prepara a mesa para Hiram, para sua mulher, seus filhos e a filha. Também se juntaram Tomás e Esra, e durante o jantar só se falou de João e do futuro Rei. Jesus, porém, ficou calado.

Então Joram manda tirar a mesa, e finalmente pôde reinar silêncio e bem-estar na grande sala. Os outros hóspedes, na maioria comerciantes, já se recolheram nos bancos da sala principal. E na cozinha, Hanna dava instruções para o próximo dia; depois se juntam também Joram e Hanna com Hiram, formando assim um pequeno grupo.

Esra começou novamente a falar do futuro Rei Messias, e o hospedeiro Joram perguntou: "Esra, teus sentidos são bons e teu olhar penetrante; dize-me: que impressão tiveste de João, como arauto do futuro Rei?"

"Joram, a esse respeito não se pode dizer muita coisa", responde Esra, "João tem muitos seguidores, mas se afastou há muito tempo da convivência humana e vive numa caverna, fazendo penitência. Apoderou-se de João um cansaço total. Só seus olhos brilham e anunciam uma profunda vida interior. Seu único interesse é pregar sobre o futuro Salvador."

"Salvador?" pergunta Joram, "Salvador? Isto não posso compreender! Pois nós queremos ajudar a erigir um 'novo reino' e nossos meios são dedicados ao Rei, sendo o Messias!"

Diz Hiram: "Irmãos, falemos com Jesus; pois me parece que Dele poderemos ter a melhor informação."

"Tens razão", confirma o hospedeiro, "e Tu, querido jovem Jesus, dá a todos nós uma resposta satisfatória!"

"Queridos amigos", diz Jesus, "posso dar tudo, menos uma resposta que vos satisfaça, pois aquele que desejais vos confirmaria apenas na vossa fraqueza e deformaria mais ainda a imagem do Esperado. Sobretudo desisti dos segredos, pois Aquele que vem não precisa da vossa ajuda. Não está escrito: `Que o esplendor do Seu Reino nunca acabará?' E noutro lugar: 'Que Ele será pobre e terá que ficar pobre?' Queridos amigos, não ficareis satisfeitos se Eu vos digo: Aquele que vem evitará toda violência, mas seus esteios serão apenas humildade e dedicação."

Hiram se levanta da cadeira, se aproxima de Jesus e diz: "Jesus, Homem maravilhoso! Sabes certamente mais do que nós e João, pois Tuas Palavras fazem pensar que já conheces o Messias! Dize-nos que aparência tem e o que fará?"

"Hiram e vós, queridos amigos", responde Jesus pensativo, "sinto muito decepcionar-vos, pois o Messias não satisfará vossas expectativas. Ele vem para os doentes e fracos, para os cansados e famintos, oferecendo Sua ajuda onde for preciso. Sua Missão é dirigida para a alma de Seu povo, que se encontra prisioneira na mais profunda ilusão, no egoísmo e na arrogância. Suas armas são: Amor! Suas ações são: Amor; e o que Ele exige de seus seguidores é só Amor, Amor e mais Amor! Seu Reino é o Reino do Amor e da Paz, que nenhum inimigo poderá jamais destruir. Não pergunteis onde se encontra, pois está em toda parte e tem sua origem e suas raízes no íntimo do coração humano."

Pergunta Joram: "Então todo o nosso esforço foi em vão, e o Messias é diferente do que esperávamos?"

"Absolutamente", responde Jesus, "mas reconhecei agora vossas tarefas e continuai a recrutar seguidores num fervor justo, mas sem dinheiro e sem bens. Em verdade, Eu vos digo: cada Palavra e cada partícula de Amor tornar-se-á para todos uma bênção!"

"Querido Jesus", pergunta Hiram pensativo, "por que queres ir ao encontro de João no deserto, se, conforme dizes, és melhor informado do que ele?"

Responde Jesus: "Meu amigo Hiram! É justo que perguntes isto, assim desaparecerá ao menos no teu coração também esta sombra. Ouve pois: é o Espírito em Mim que Me impulsiona de ir até lá; e por causa de João. Satisfaze-te com esta resposta, pois dentro em breve ouvireis mais. Se queres Meu conselho, ide também vós ao lugar onde João ensina, pois vossos afazeres aqui já estão terminados. Lá conhecereis Messias, e Ele mesmo vos revelará Sua Vontade."

"Jesus!", exclama Joram excitado. "Tu escondes algo! Tu sabes mais do que dizes! Não merecemos tua confiança?"

Responde Jesus mansamente: "Joram, sei de tudo e conheço também os teus pensamentos. Mas te digo: primeiro, vou visitar João, pois o Espírito em Mim estipula isto como condição. Eu não pergunto por que e para que finalidade, pois tudo será revelado a quem é obediente e humilde para com a Vontade Divina! Eu poderia prever tudo e saber tudo; mas não o faço, pois somente o Espírito Eterno e Verdadeiro de Deus Mim determina a Minha conduta."

"Jesus, quem Te dá esta certeza?" pergunta Hiram novamente. "O que é em verdade o Eterno Espírito Divino que ensina em todas as coisas e que quer Te conduzir? Não pensaste que poderiam também ser os Teus próprios pensamentos? O que dizes soa muito bem, mas para nós que Te ouvimos é importante saber: É mesmo a pura Verdade que fala por Ti?"

"Meu amigo e todos vós que estais reunidos aqui", responde Jesus, deixai-Me dizer-vos uma palavra com todo Amor, e não penseis que Eu sofro de presunção. Não Me é possível dizer algo diferente do que a mais Pura Verdade, uma vez que Eu mesmo sou inteiramente Verdade. Desde que comecei a pensar, tive como princípio: ser verdadeiro e sincero. Pois se queres alcançar muitas e grandes coisas na vida, começa primeiro contigo mesmo e esforça-te para te conheceres até o âmago, a fim de poderes discernir o que é verdade e o que não é. Sé então fortificares cada vez mais a tua vontade, expulsarás de ti tudo o que é falso e não verdadeiro, então se apoderará do teu íntimo o amor pela verdade, e terás uma poderosa ajuda na luta por esta Verdade dentro de ti. Quanto maior for a luta, mais brilhante será a vitória! Pois quem Se tornou verdade pode também mostrar e revelar a outros a plenitude das Verdades Divinas. Mas quem ainda pergunta e pensa se aquilo que vive nele é verdade, acha-se longe da verdadeira Vida Interna, e muitas ilusões e dores lhe causarão horas infelizes. Mas uma vez que Deus, o Santo e Eterno, é a Verdade Eterna, esta Verdade só pode habitar com a Verdade. E assim já vive em Mim a prova mais maravilhosa e bela: Eu estou em Deus e com Deus, e sou Um com Sua Vida! Em mim vive só o pensamento de Deus, só a Vontade de Deus e só a Vida de Deus! Eis a Minha confissão. E é por isto que eu cumpro a Vontade de Meu Deus e Meu Pai no Céu!"

"Meu querido jovem amigo!" diz Hiram admirado. "Desta maneira nenhum homem e, que eu saiba, nenhum profeta falou até agora! Hoje demonstraste suficientemente que possuís faculdades especiais, mas que Tu és inteiramente Um com Deus, com Jehovah, isto eu não posso averiguar. Se falas a pura Verdade, então poderás fazer também as Obras de Deus. E me parece que é melhor viver Contigo em harmonia, pois não é bom comer com grandes senhores na mesma mesa."

"Meu querido Hiram", responde Jesus afavelmente, falas humanamente e por isto tuas palavras não Me ferem; se pudesses seguir-Me no espírito, então Me compreenderias. Lembra o que hoje já te avisei e pensa: toda ação provinda do Espírito do Eterno Amor Divino só deve ser feita por livre decisão! E se, reconhecendo o Meu Espírito Divino, te apoiares em Mim, que o único motivo seja o puro amor fraterno. Vê, aceitei sem hesitar o teu convite, sem pensar numa vantagem. Aceita da mesma maneira o Meu Amor, e teu coração se tornará livre e jubilante, pois fará uma ligação que em verdade já existe desde eternidades, porém de maneira inconsciente para ti. Hoje à tarde pensaste: 'Onde, onde já estive eu junto com Jesus?' Pois Meu Nome não te era desconhecido, agora Eu te digo: por Eternidades não estivemos separados, quando finalmente nos separamos, Eu te disse: 'Nós nos encontraremos de novo na vida na Terra!"

Hiram pede: "Para Jesus, homem misterioso! Pois Teu Ser torna-se cada vez mais misterioso para mim! Certo, parece-me que foi assim! Mas ainda me falta a fé; e por isto te peço: perdoa minha incredulidade!"

Diz Jesus: "Hiram, não te pedi de teres fé e por isto nada Me fizeste de errado. E Eu te digo: não há nada que nos separa! Dentro em breve Me reconhecerás inteiramente, e então tudo o que hoje ainda te é incompreensível tornar-se-á claro para ti."

Joram então se levanta, se aproxima de Jesus e diz: "Querido Jesus! Hiram tem razão quando diz: És um homem misterioso! Mas se reflito sobre todas as Tuas Palavras, lembro de vários detalhes da Tua convivência com Teu pai José. Sempre foste um garoto misterioso e eras incorrigível quando metias algo na cabeça. Ainda me lembro quando tinhas treze anos, teus pais quiseram ir Contigo para o Templo, mas Tu não os acompanhaste. Um ano antes disseste: 'Não sabeis que devo ficar no lugar que pertence ao Meu Pai?' (Lucas 2, 42). E um ano depois, faltou pouco para que teu pai Te castigasse, já que tiveste a coragem de lhe dizer: 'Se o Templo vos atrai tanto, por que não vos mudais inteiramente para Jerusalém? Vós dois, pai José e mãe Maria, sabeis que Deus não mora mais no Santíssimo do Templo, e apesar disso este lugar vos atrai com tanta força!' Teus pais silenciaram; mas eu pensei então: a este jovem eu saberia disciplinar! Agora estás adulto, mas acredito que será mais fácil que o mundo pereça, do que Tu mudes Tua opinião!"

"Querido Joram, julgaste-Me bem", respondeu Jesus, "porém, não se trata de 'uma opinião'! Pois enquanto tiveres uma opinião, poderás também mudar de opinião. Mas Eu trago Vida, Vida Sagrada da Plenitude de toda Vida em Mim. E a Vida que possuo é Minha Propriedade por todas as Eternidades e foi adquirida na luta mais difícil! Não pergunteis mais nada hoje. Pois dentro em breve também o Espírito de Toda Vida vos revelará toda a Verdade.”

Todos ao redor da mesa se admiraram das graves Palavras, e ninguém teve mais coragem de dizer algo.

A DANÇA DE VÉU

Neste instante, Thirza, a filha de Hiram, levanta-se, faz uma reverência diante de Jesus e começa a cantar e a dançar. Ela canta o Salmo 24: 'É o Rei! É o Rei! O Rei dos exércitos! Todos se rejubilam! Todos se rejubilam, pois Ele é o Rei da Glória! A Ti, toda honra! A Ti, toda honra, pois Tu nos libertarás a nós todos! Sela.' Ela movimenta o seu véu com perfeição e seu corpo gracioso se torna cada vez mais vivo, em uma arte realmente perfeita.

Diante de Jesus ela para e gira seu véu sobre a cabeça Dele, dando a impressão de uma coroa.

Muito sério, Jesus lhe diz: "Thirza, Eu te agradeço! Mas não deixes que aquilo que brota em ti se torne paixão. O mundo ainda não sabe nada de Mim. E quando tiverem chegado tempo e hora, também tu Me reconhecerás!"

Hiram e os outros olham para Jesus e para a menina entusiasmada, e Jesus diz: "Meus queridos! O que vós, pessoas maduras e experimentadas, ainda não podeis captar e compreender, esta jovem está vislumbrando. Mas também aqui vale a palavra: ninguém pode dar algo que não tivesse primeiro recebido! Foi o espírito que habita nela que lhe manifestou isso."

"Então, serias Tu o Esperado?" pergunta Joram lentamente. "Aquele que nós aguardamos cheios de saudade?"

"Não, querido amigo, Eu não O sou", respondeu Jesus, "e nem posso sê-Lo, pois vós esperais alguém bem diferente. E também não aceitais qualquer ensinamento, pois a ideia do futuro Rei está enraizada em vossos próprios desejos. Recrutastes inúmeros amigos para a vossa ideia, mas ficareis todos decepcionados, pois Eu vim para vos revelar a 'Vontade de Jehovah'. E 'Sua Vontade' tornar-se-á ação! Não insistam, mas acompanhai-Me até as águas sagradas lá no deserto, e vinde ver e aprender a Vontade de Deus."

PARTIDA PARA BETHABARA

Tomás e Esra conversam, opinando que não será errado irem juntos a Bethabara; e Riram diz a Joram: "Por que não fazer mais este sacrifício?"

Mas Jesus lhe diz: "Amigo, não se trata de sacrifício. Já fizestes muitos sacrifícios materiais para o vosso futuro Rei; este pequeno esforço vos trará também uma grande bênção! Pois se fordes curados de vossas ideias falsas a respeito da Vinda do Esperado, vossa vida receberá seu verdadeiro sentido. E todo o passado considerareis como algo perdido. Mas Aquele que virá em Verdade preencherá vossa vida interior com vigor e força. E a finalidade da vida de cada um brilhará diante de vós com as mais belas cores. Deixar-vos-ei sozinhos e vós, Hanna e Joram, levai-Me ao Meu quarto. Não Me pedi para ficar aqui, pois vale o que disse! E assim desejo a todos vós um descanso abençoado." E Jesus Se retira. Entre os que ficaram na sala a conversa se torna mais viva . "Quem é Jesus?" é a pergunta principal.

Hiram diz depois de um certo tempo: "O futuro nos dará a justa resposta! Pois é claro que Jesus não pode dizer: 'Eu sou o Rei! Quereis ser Meus vassalos?' Deixemos, pois, Jesus ir em paz; Ele saberá o que é bom para nós."

Agora reina a calma, e todos se recolhem. Mas Hanna não para, preparando o pão para a viagem; e quando de manhã todos despertam, a casa inteira exala um cheiro bom de pão fresco.

Na grande sala, os hóspedes se sentam para tomar o desjejum. Jesus também aparece e saúda cordialmente os presentes. Joram, como hospedeiro, quer dizer a bênção matinal; então diz Jesus: "Queridos amigos! Quando fizerdes isto, calai com a boca, mas falai tanto mais no coração! E abençoai, abençoai, porque é preciso que haja bênção! Na bênção manifestam-se as forças do vosso amor e da Vida Eterna de Deus. E cada dia que começa abençoado tornar-se-á uma bênção, não apenas para vós, mas também para o mundo ao vosso redor. Por isto, silenciemos e neste tempo abençoai o que vos importa!"

Após um tempo de calma interior, Jesus continua: "Hanna, tu que és a mãe desta casa! Enquanto dormíamos, teu amor criou este pão cheiroso para nos fazer felizes. Em Verdade, Meu Pai saberá recompensar-te! E que teu amor se torne um fundamento de vida sobre o qual descobrirás muitas maravilhas no teu próprio interior!"

Todos tomam agora o desjejum em silêncio; depois Jesus Se despede, e os quatro amigos O acompanham no caminho para João.

BATISMO DE JESUS NO JORDÃO

O dia está quente. Joram e Hiram carregam os víveres que suas mulheres, Hanna e Mira, embrulharam numa bolsa. Com frequência fizeram pequenas paradas, mas não se falou muito, uma vez que os quatro homens tinham um certo receio diante de Jesus. Só no fim da tarde chegaram ao lugar onde João pregava. De longe já se via uma grande multidão acampada no vau vazante; havia até alguns camelos, uma prova de que havia pessoas vindo de grande distância para ouvir o pregador do deserto.

Quando Jesus (com Hiram, Joram, Tomás e Esra) Se aproximou do lugar onde João pregava, havia muita gente ao seu redor. E João percebeu os recém-chegados.

Jesus Se sentou numa pedra com meio metro de altura e o mesmo fizeram os outros, pois no lugar havia muitas podas grandes e pequenas. Neste momento, um raio de Luz caiu em Jesus, tornando-O quase invisível, pois acima de Sua Cabeça e ao Seu redor tudo era Luz, apenas Luz!

Deste modo o espírito interno de João reconhece o Salvador, e em voz alta João dá o testemunho: "Eis o cordeiro de Deus!" (João 1, 31-33) "Vede, aí vem Aquele de Quem não sou digno de desatar as correias de Suas sandálias! Eis Aquele, que libertará o povo de todo o mal!" Mas Jesus silencia. João, porém, torna-se cada vez mais eloquente, e sua voz parece um trovão quando diz: "A Este deveis seguir, pois é Ele o Prometido!"

Jesus então Se aproxima de João a passos lentos e diz: 'Irmão! Venho a ti no espírito do Amor e a Paz seja contigo! Um desejo ardente Me impele para ti, para cumprir a Vontade o Senhor; e, unido contigo e com o Senhor, vamos esperar na tua caverna a manhã de um novo dia!"

"Oh, Jesus! Não sou digno da Tua Presença na minha obre caverna!" respondeu João seriamente. "Pois Tu és o Prometido!"

"João, esqueceste que somos irmãos e que nos une 'um espírito': o de servir? Vê, neste servir somos iguais!"

Mas João insiste: "Senhor, afasta-Te de mim, pois Tu és Santo; eu porém ainda carrego em mim demais da poeira terrestre!"

"Que seja feita a tua vontade!" responde Jesus resignado. "Mas, Meu irmão João, amanhã Eu voltarei! E então te darei a prova de que te amo com fervor e de todo coração e que não penso na tua poeira terrestre. A Paz seja contigo!"

Jesus Se afasta e volta para os amigos; eles, porém, não puderam compreender esta cena. "Esperai o amanhã", diz Jesus, "então tudo será revelado!"

Em seguida, os quatro andaram um bom trecho com Jesus. Numa caverna de pedra descansaram e queriam comer algo, mas Jesus não aceitou nem comida nem bebida. Os outros estranharam e Joram disse: "Jesus, não foi esta a nossa intenção. Nós comemos e Tu Te absténs? Então vamos também jejuar, para ficarmos inteiramente unidos a Ti."

"Meus amigos", diz Jesus tristemente, "Meu coração está cheio de tristeza e dor. Vim aqui com uma grande esperança e encontro João de uma maneira como não queria. O espírito lhe diz que Eu sou o Esperado, mas ele criou um abismo que nos separa. João se sente cheio de culpa e de poeira terrestre, e quer purificar-se ele mesmo por meio de mortificações e extremo cumprimento de deveres. Eis amigos, o que nos separa!"

"Não poderíamos ajudar, apontando a João o seu erro?" pergunta Tomás. "Pois também conheço a vida e com a ajuda de Jehovah muita coisa pode ser conseguida."

"Deixemos isso, queridos amigos!", respondeu Jesus com seriedade. "Tomai vossa refeição, ela está abençoada. Eu, porém, procurarei a solidão."

"Então eu vou Contigo", diz Hiram resoluto, "pois a região aqui não é muito segura."

"Ficai! E quando estiver cansado, voltarei para o lugar de vosso descanso." E Jesus Se foi sozinho da caverna, enquanto os outros deliberavam como poderiam ajudá-Lo.

Tomás disse: "Irmãos! Ele é mesmo O Esperado, porém não como nós pensávamos! Sim, nós esperávamos em vão que Ele triunfasse sobre nossos inimigos. Mas eis que vem como Salvador para os pobres e subjugados, e Sua Missão será cheia de espinhos."

"Eu não posso nem acreditar Nele e nem compreendê-Lo!" diz Joram. "É melhor que perguntemos a João. Para que então toda a nossa esperança e saudade? Não pode estar na Vontade de Jehovah que nós permaneçamos sempre avassalados, pois nós somos o Seu Povo."

"Sim, pode ser que tenhas razão", respondeu Hiram, "mas a Missão de João e de Jesus não desempenhará algo maior? Por que deveríamos todos fazer penitência como prega João, quando o Esperado já está entre nós? Se reconhecermos isto na justa Luz, então compreenderemos Jesus. Pois com Ele vem a Luz que em nós fora apagada. João testemunhou: "Ele é a Luz; eu, porém, sou apenas testemunha da Luz!" Amanhã pedirei a João para me testificar: Quem é de fato Jesus, e o que devemos fazer agora?"

Joram diz: "Está bem! Mas agora vamos tomar nosso jantar." E assim continuaram palestrando e saboreando a refeição. Rapidamente caiu a noite, mas Jesus não aparecia; suas chamadas ficaram sem resposta, e assim se deitaram. Só no meio da noite Jesus entrou, abençoou os adormecidos e também Se deitou para dormir.

O novo dia rompeu. Ventos frescos chegaram do Jordão, os quatro despertaram. Jesus, porém, ainda dorme e Joram diz em voz baixa: "Vinde, irmãos, deixemos Jesus dormir; quem sabe quanto tempo Ele esteve desperto esta noite! Deixemos para Ele a bolsa com os víveres. Iremos agora à procura de João; em seguida voltaremos para essa caverna e, então, tomaremos o nosso desjejum com Ele." Assim se afastam em direção do Jordão.

Passaram-se horas. No vau onde João pregava já havia muita gente, assim como templários e escribas. Os nossos quatro amigos encontram muitos conhecidos, e então João aparece o com seus discípulos.

Rapidamente todos o procuraram e começaram a perguntar sobre o Prometido e o Salvador: "Quem e o que é O Prometido? E quem és tu?"

E João diz: "Eu sou apenas a voz do que clama e prega no deserto! (João 1, 23) Preparai o caminho ao Senhor e endireitai as Suas veredas! Como está escrito em Isaías. (Isaías 40,3) Eu vos batizo com água. Mas Aquele que vem depois de mim vos batizará com fogo!" (Matheus 3, 11)

"Então teu batismo não vale nada se vem outro mais forte!" retrucam alguns.

Mas João diz: "Antes de mim, era Ele! Na Sua Mão se acha a pá. Ele limpará a Sua eira. Tudo o que serve, Ele recolherá, e tudo o que não presta, entregará ao fogo!" (Matheus 3, 12) Sua prédica fez efeito grandioso e muitos se converteram, deixando-se batizar.

"Que dizes agora?", diz Tomás a Joram, "temos ainda algo a perguntar: Tu ouviste o bastante, pois, conforme João, Jesus nunca se tornará um Rei. Pois um Rei como nós almejamos deveria ter outro arauto, alguém diferente para Lhe preparar o caminho?

E assim como eu conheço João e Jesus agora, nenhum dos dois aplicará qualquer violência contra os nossos opressores!"

Joram responde: "Tomás, como imaginas o Novo Reino caso Jesus tome o poder?"

Neste instante, apontando para Jesus, João diz com voz alta: "Vede! Eis o Cordeiro de Deus que carrega os pecados de mundo!" Todos os olhares se dirigem para onde João aponta. E em passos lentos, com um manto de um branco rústico (entre todas as variadas cores dos outros), Jesus se aproxima da multidão. Seu Olhar é sério; Seus Cabelos louros, anelados, se movimentam ao vento e João clama novamente: "Vede, eis o Cordeiro de Deus!" Com respeito, abrem lugar para Ele. E todos silenciam.

"A Paz seja contigo e com todos vós!", diz agora Jesus. E Sua Mão lentamente Se movimenta abençoando da esquerda para a direita. "E agora, Meu João, batiza-Me conforme a Vontade de Deus!" "Nunca poderei batizar-Te", exclama João, "antes, deveria eu ser batizado por Ti!" Mas Jesus responde calmamente: "Deixa isto por ora! Porque nos convém cumprir toda a justiça!" (Matheus 3, 14-15) Então João batiza Jesus! E quando Jesus foi batizado e saiu da água, o céu inteiro raiou de esplendor, e desta magnificência ouviu-se uma voz maravilhosamente harmoniosa: "Eis o Meu Amado Filho em Quem Me comprazo!" (Matheus 1,11).

Admirados, os amigos se entreolham, e Tomás diz: "Irmãos, quereis ainda outras provas? Eis o Cristo, e Ele nos libertará, também a nós!" E Jesus, com Seus Olhos azuis brilhantes, olha para todos, e uma delicada emoção toca todos os corações, pois este acontecimento era por demais admirável. Em seguida, Jesus dirige Seus passos para os quatro e diz: "Amigos, voltai agora para casa! Eu, porém, ficarei alguns dias nessa região; mas levai vossa sacola, pois não preciso dela. Não esqueçais o que aqui ouvistes e experimentastes, assim como também Eu não vos esqueço. Meu Pai Eterno dentro de Mim Me mostra o caminho que devo seguir agora. E Meu Amor Me atrai sempre aos lugares onde posso ajudar, curar e fazer feliz. Se, porém, tiverdes saudades de Mim, procurai-Me em vossos corações, pois aí Me encontrareis e então rejubilareis! Pois àqueles que amo, Eu faço felizes! Mas àquele que Me ama Meu Santo Pai fará feliz com uma alegria verdadeiramente celestial!"

Os amigos suplicam a Jesus de voltar com eles, mas Jesus recusa e diz: "Que seja feita não a Minha Vontade, mas a de Deus, Meu Pai, agora e para sempre! Ide em Paz com Minha Bênção e compenetrados da Verdade que ouvistes dos Céus!" Finalmente os amigos se despedem de Jesus, reconhecendo Nele agora o Cristo e Salvador! Jesus, porém, foi sozinho para o deserto, e ninguém O seguiu.

Mais uma vez o sofrimento quis esmagar Seu Coração, mas Ele Se levantou dizendo: "Pai, sou Teu e da Tua Mão aceito o que é bom para Mim e para todos os homens! Só a Ti quero glorificar! Nenhum sofrimento poderá me oprimir! Só o amor deverá tornar-Te feliz, assim como a todos os homens desta Terra!”

I - JESUS NO DESERTO

É noite. No límpido céu estrelado as maravilhosas constelações anunciam Paz, a Paz de Deus. Um silêncio sagrado envolve Jesus, que ouve e olha para dentro de Si, sentado numa rocha no meio do deserto. Nada se pode ver, pois a noite cobriu tudo com suas sombras; mas ao redor de Jesus, há um clarão de Luz maravilhosa. Pode-se ouvir um leve escorregar da areia, já que um vento suave começa a soprar do levante; Jesus levanta a Cabeça e Seus Olhos luminosos não Se cansam de observar este jogo da areia. De longe pode-se ouvir os uivos de animais que vagueiam e procuram comida, pois seu faro lhes indica a proximidade de um homem. Mas Jesus quase não olha na direção de onde vêm estes uivos, pois está despreocupado; Ele Se sente alegre e seguro. Suas Mãos Se fecham ao redor d'um joelho e diz:

"Pai, Meu Pai! sinto-Me inteiramente dentro de Ti e Minha felicidade é infinita! Minha Missão é visível para Mim, cheia de Luz, e vejo também que serei vitorioso, pois Tu estás em Mim! Só Tua Vida existe em Mim! E a Tua Vontade é a Minha! Oh, Meu Pai! Tu és Meu Eu, e Eu sou Tu. Nada Nos pode separar, pois Minha Alma está totalmente penetrada pelo Espírito da consumação, o Espírito do Teu Ser Eterno Original." — "E assim deve permanecer", soa dentro Dele, "até que tudo esteja consumado!" — "Amém!" diz Jesus. — "Amém!" ressoa Nele; e Ele está perfeitamente contente e feliz.

* * *

Um anjo se acha diante de Jesus, inclina-se cheio de reverência e diz: "Senhor! Meus irmãos me pediram de implorar-Te que possam Te servir, uma vez que suas orações a este respeito não foram atendidas. É humilhante para eles viver em glória e abastança, ao passo que Tu, Senhor, queres viver em pobreza e humildade. É para todos nós incompreensível que Tu, Senhor, queres até ficar só."

"Meu fiel Rafael", diz Jesus, "tu conheces todas estas condições. Então sabes também que para Mim, como Filho do Homem, é imprescindível que alcance a meta determinada! Dize a todos os teus irmãos que não vou Me afastar nem um palmo deste caminho, que não vou estimular nenhum falso impulso em Mim, a fim de poder ser totalmente UM com o Eterno e Santo Pai. O que faço e o que farei, faço pela Vida e pela Força do Eterno Pai. Meu Pai sabe de tudo! E Eu sei tudo pelo Pai; pois sou UM com Ele! Dentro em breve, virão dias e horas quando também o vosso desejo será atendido: servir a Mim! Mas por enquanto, devo ficar sozinho, por Minha causa, pela vossa e de toda a humanidade!"

"Oh Senhor! Só Tua Vontade seja feita!" E Jesus está novamente só. Mais uma vez, Seu Olhar Se dirige ao Seu Interior e diante de Seus Olhos espirituais Ele revive novamente Sua Sagrada e Sublime Missão. Ele vê povos lutando, vindo e passando, e deles somente ficam sombras; seres vagos, ideias vivas de seus falsos conceitos e de seu amor errado sobre a razão da vida, mas sem nenhum fundamento. Neles, Ele vê o desejo de viver ou de morrer.

Ele vê mais: como surgem personalidades, homens e videntes, impulsionados pelo espírito interno para doutrinar os povos conforme a Vida Divina que amadureceu neles. Eles já reconhecem em Jesus a mais forte Vida Divina. Eles querem apontá-Lo e dizer: "Eis lá o nosso Salvador!", mas não podem pronunciá-lo, pois lhes falta ainda o justo conceito da grande Obra de Salvação.

Jesus levanta a Mão direita e, na atitude de Bênção, diz: "Também para vós haverá um amanhã, quando Minha Obra agora começada estiver terminada!"

Ele vê uma nova imagem com toda clareza diante de Seus Olhos: vê a Terra como o Aquém — como a vida imperfeita; o Céu como o Além — como a vida perfeita.

Uma longa mas muito fraca ponte une os dois mundos, e no meio há uma imensa torrente de água, e esta água é animada por ávidos e feios animais.

E Jesus vê como é difícil a luta no Aquém, e o alvo magnífico quase inatingível. Ele vê Sua última prova forte e difícil; e vê aquém da ponte dois anjos com uma balança e uma espada, que muitas vezes devem declamar: "Pesado, mas julgado leve demais." Na outra margem, entretanto, há multidões de seres vestidos de branco com palmas na mão.

Jesus também estende Suas Mãos em atitude de Bênção para eles, e diz: "Vós também vos regozijareis Comigo, quando uma Nova Ponte for construída pela Obra do Meu Amor! E ninguém mais será examinado se é ou não capaz de ir para os Céus! Pois Minha Vida será para todos no futuro um guia para a vida justa; no entanto, ninguém poderá encontrar a porta para os Céus internos sem esta Minha Vida Interior!"

E surge uma terceira imagem: todos os patriarcas, todos os profetas vêm diante Dele e Lhe mostram numa das mãos o Livro dos Livros, e na outra as Tábuas da Lei, inclinando-se profundamente diante de Jesus. Ele os abençoa com ambas as Mãos e diz: "Voltai em Paz; dentro em breve o vosso desejo também será atendido, pois Eu Sou a Consumação!"

Jesus fecha os Olhos e em Espírito descansa no Peito de Seu Pai, sorrindo feliz.

II - VEM A REALIDADE!

O dia faz-se mais claro; o sol se levanta como em brasa, tingindo muito ao longe o céu com seu clarão. Jesus é de novo inteiramente Homem e aguarda o dia que começa: "Vem, ó dia! Que seja abençoada a tua luz, pois quero trabalhar conforme a Vontade do Santo Pai. E tu, ó Terra com teus habitantes, sejas abençoada com a plenitude da Vida Divina!" Jesus desce da rocha, dirigindo-Se para uma água que escorre rumo ao Jordão. Lava o Rosto, as Mãos e Se deleita bebendo-a. Seu Olhar procura algo na região, mas não se pode ver ninguém; pois o lugar onde Se encontra dista meia jornada de onde João ensinava e batizava.

Agora olha para a região; ao Seu redor há grupos de rochas espalhadas, árvores atrofiadas e muita brenha com fortes raízes. Das poucas árvores, pinga um mel, e as abelhas trabalham intensamente.

Jesus começa a quebrar alguns galhos das árvores, juntando-os; quando o sol alcança o seu zênite, Ele já pode Se abrigar na sombra da cabana que construiu. Sente agora fome, assim, o mel e raízes macias são o Seu único alimento.

Está contente de estar sentado diante da cabana, auscultando o vento. São sons de lamentações e questionamentos que Lhe vêm de seres que ouviram que "o Cordeiro que carrega os pecados do mundo" já Se encontra nas proximidades. Mas eles não veem Jesus. Este porém, lhes diz: "Também a vós Eu levo o Pão da Vida, mostrando-vos o Caminho para a vida interior! Mas só podereis entrar nesta verdadeira vida, quando Eu tiver terminado Minha Missão. Até lá, usai de paciência e amor!"

Eles O olham e tímidos se aproximam, mas para eles é um enigma: lá está um Homem, e Ele seria o Cordeiro'?! Um Homem, e Ele nos vê?! Então um deles toma coragem e diz: "Nós nos aproximamos de Ti em paz, uma vez que mensageiros divinos nos anunciaram que Tu és nosso Salvador! E se Tu nos ouves, pedimos-Te uma resposta."

"Eu ouvi o vosso pedido", responde Jesus, "e o mensageiro que vos fora mandado por Deus falou certo. Mas posso ser 'Salvador' apenas para aqueles que acreditam em Mim e em Minha Missão e que, então, fazem as obras que Eu faço com Amor desinteressado. Mas tudo o que Eu faço, Me foi primeiro ordenado por Meu Pai!"

"Quem é Teu Pai? E onde foste gerado?" pergunta o espírito. "Nós queremos acreditar em Ti, se puderes nos salvar dessa existência monótona."

"Ouve, tu que eras um sacerdote mau e um servo de Deus pior ainda", responde Jesus com seriedade, "deverias em tua longa vida terrena, ter aprendido o suficiente para saberes Quem é Aquele de Quem os patriarcas e profetas falaram! E que ninguém pode herdar o Reino de Deus, senão se tiver tornado primeiro "herdeiro".

Tu conhecias a fundo os Livros de Moisés e de vários profetas. Mas quando tiveste de separar-te do corpo, quase tudo foi esquecido; e se não tivesses recebido o amor e a afeição de tua Sinagoga, estarias agora totalmente isolado. Para o privilégio de ser também reconhecido como 'herdeiro' nada fizeste, pois o dízimo era para ti mais importante do que o Mandamento mais leve dado por Moisés.

"Tu falas como um Senhor", disse o espírito do sacerdote, "e Tuas Palavras são mais agudas que uma espada afiada. Mas és ainda Homem e aplicas aqui uma medida como se nós também fôssemos homens. Nós nos aproximamos de Ti em paz, mas Tuas Palavras nos privam de qualquer esperança de salvação."

"Devagar, Meu amigo", diz Jesus, "exatamente porque Sou também Espírito como tu e vós todos, apenas com a diferença que Eu possuo ainda corpo carnal, posso falar convosco como a um igual. E Eu te digo: não darás nenhum passo para a frente, se tu e os que estão contigo, não vos esforçardes de devolver tudo o que recebestes injustamente. Estás meneando a cabeça sem compreender, e pensas: 'como é isso?'; mas nunca te perguntaste a quem pertencia realmente o sacrifício que o povo fazia ao Senhor? Devíeis viver dos sacrifícios; está certo, pois todo serviço é digno de uma recompensa. Mas todo o resto pertence aos pobres, e assim vos tornastes culpados de furto contra os pobres! Pensas que Deus pode perdoar se simplesmente pedes — para ti e para os outros — a salvação? Eu te digo: tu ainda estarás durante eternidades neste solo que nada pode te dar e que te privará até mesmo da esperança.

Por isto, esforça-te de aprender de Mim a resignação, a dedicação e o conhecimento. Eu não te mando embora, e enquanto Eu permanecer aqui nesse deserto, podeis ser testemunhas e ouvintes da Minha Vida Espiritual."

O sacerdote se retirou, perdendo toda a coragem de dizer mais alguma coisa, mas transmitiu fielmente aos outros o que sentia.

Jesus, porém, abençoou estes cegos. E o silêncio que havia no Seu íntimo fez-se também ao Seu redor. Em Espírito, entrou nas profundezas da Sua Alma e, perscrutando Seus sentimentos, criticava aqueles que ainda poderiam perturbar Sua união com o Pai Eterno.

Sua Alma agora estava aberta para receber pensamentos de Amor, de Piedade e Misericórdia. E foi preenchido de sublime êxtase e íntima solidariedade, exclamando então: "Vinde todos e recebei o Amor e a Graça do Senhor! Pois Sua Bondade e Amor são Eternos, e Sua Misericórdia atinge até os mais profundos abismos!" Estas palavras cheias de Amor sublime soavam com força e criaram um eco: "Por isso sejamos Um Só e que Tu sejas um 'Irmão' para todos os homens!"

"Pai admirável", respondeu Jesus, "como Te agradeço! Eu posso ser agora Irmão pela Tua Vontade Santificada em Mim. Agora não sou mais solitário! Pelo que posso pensar, quanto Meu desejo pode alcançar, quero tornar felizes e bem-aventurados a todos! Pois Teu Amor, ó Pai, Me mostra como um irmão mesmo aquele que é Teu inimigo e adversário e que considera nula Tua Sagrada Vida Divina. Eu quero agradecer-Te, fazendo apenas Tua Vontade! Que tua Vontade seja feita! Amém!"

O sol declinava para o ocaso. Jesus, sentado diante da abana, olhava para o céu colorido do poente e a Paz em Seu rosto era quase solene, pois em Seu Mundo Interior levanta-se uma claridade luminosa, o novo Sol da Vida.

Ele via agora um segundo Jesus dentro de Si, que, irradiado pelo Sol que nascera Nele, Se encontrava na plena Luz. E deste Jesus, viu saírem raios dos Olhos, da Boca e de ambas as Mãos. E a Luz destes raios irradiava do Seu Mundo Interior, tornando-se uma mensagem para a Terra inteira. Também as multidões de espíritos que O rodeavam viam este fenômeno luminoso qual uma chuva de estrelas.

O sol se deitara totalmente, e as trevas aumentaram rapidamente, mas a cabana e o lugar onde Jesus Se encontrava continuavam iluminados. Então um da multidão de espíritos se aproximou humildemente, perguntando: "Senhor, devemos Te adorar? Pois Tu não és Homem nem Espírito. Se Teu Rosto não irradiasse uma paz tão solene, eu teria medo de Ti; mas assim, sinto-me atraído por Ti e gostaria de poder servir-Te."

Jesus responde: "Enganas-te, se pensas que Eu não sou nem Homem nem Espírito, pois Eu sou ambos! Não preciso de teus serviços hoje, mas serve a teus irmãos e sentirás a mesma alegria que vive em Mim. Assim como Eu estou feliz de estar unido com a Eterna Vida Divina, também te regozijarás de estar unido no Espírito do Amor com todos os teus irmãos."

"Senhor, de onde tirarei os meios para servir?" pergunta o espírito. "Aqui não há nada além do deserto; se não Te tivéssemos encontrado, quem sabe para onde teríamos ido!" Jesus disse: "Estás assim tão convencido de tua pobreza? O que é que Eu trouxe para o deserto? Vê, apenas um coração cheio de Amor, do desejo de ajudar a todos e a consciência de estar unido a Deus! Dize-Me, não poderias possuir o mesmo? Enquanto o mundo exterior ainda te atrai, ele quer dizer-te que deverias conquistar o teu mundo interior. Se te esforçares por conhecê-lo, reconhecerás Aquele que te deu este conselho. Vai em Paz, e que tua ação e o teu desejo sejam abençoados. Amém!"

"Amém!", disse o espírito com alegria, pois em seu coração acendeu-se a centelha do Amor luminoso de Jesus.

Jesus então foi descansar na cabana. Com devoção, acamparam também espíritos ao Seu redor; e inúmeros anjos felizes vigiavam atentamente Aquele que era toda sua felicidade e vida. Eles velaram com todo rigor, pois sabiam que também o inimigo estava à espreita.

III

Ao romper de um novo dia, Jesus acorda. Ele agradece a todos os que o ajudaram e ora: "Santo Pai! Um novo dia e uma nova tarefa estão diante de Mim! Um grande Amor Puro e Sagrado faz-se sentir em Mim, para unir-Me totalmente ao Teu Eu, à Tua Vida, e quer erguer todo aquele que levantar as mãos para Ti. Oh Meu Pai, também este dia deve Te pertencer totalmente! E em Verdade, Eu quero alegrar-Me nele!"

Jesus abençoa, e raios de Luz e Vida se difundem para o universo. Depois, Ele precisou de um momento de silêncio para novamente orientar-Se no âmbito terrestre ao Seu redor. Depois de Se ter refrescado e novamente saciado como no dia anterior, Ele começa a caminhada para o Jordão, que se acha a uma distância de aproximadamente três horas. Seu caminho passa ao longo de grandes e pequenas árvores, em parte atrofiadas, e de escassos arbustos. Mas Jesus não repara neles, pois só tem um ímpeto: chegar o quanto antes ao Jordão. E após caminhar algumas horas na areia sem trilha, chega finalmente ao Seu destino.

Lá não se acha nenhum ser humano, apesar de nas margens do Jordão já existir maior vegetação. Animais selvagens e algumas corças mansas veem de longe chegar o viandante, mas não mostram nenhum medo; ao contrário, procuram a proximidade deste Homem que está chegando, como se fosse seu amigo. Nos Olhos de Jesus há um brilho, porque sente em Si o poder de se aproximar também destes animais com Amor. "Oh, se Eu pudesse tirar de vós todo o medo, todo o terror, que felicidade seria isto também para o Meu Pai! Mas para tanto preciso ainda um número sem fim de anos!" diz Jesus; e abençoa o orbe terrestre.

De longe, aproxima-se uma caravana, e Jesus Se esconde atrás de arbustos e deixa-a passar. A caravana é acompanhada por espíritos cobiçosos e sombrios, e estes veem a Luz interior irradiada por Jesus! Logo acorrem, cercando-O e perguntando entre si: 'o que isso significa?' Eles sabiam: ‘Isso é um Homem!’; mas o brilho misterioso em Seu Corpo provoca neles a maior curiosidade.

Jesus vê a todos, mas não diz nada. E então se perguntam uns aos outros: "O que fazemos aqui, pois Este é apenas um Homem?" Um outro diz: "Sim, mas que Homem! Não consigo me separar Dele, pois Seus raios são como um ímã do qual não posso me afastar..." Um outro diz: "O mesmo acontece a mim", mas qual é o nosso proveito? É, afinal, apenas um Homem!" Mas um deles, com fisionomia astuta e traços brutais, exclama: "Que nos interessa esse homem do qual nada podemos receber? Ele nem bolsa tem! Que se nutra da sua luz, mas nós vamos caminhar adiante com a caravana!" Os outros, porém, discordam e dizem: "Nós ficamos aqui, pois há muito tempo que não sentimos algo que nos fizesse tão bem e nos acalmasse. Tu, porém, podes continuar teu caminho."

"Sim, mas junto convosco, pois tendes que me obedecer!", replica aquele, "e assim vos intimo: Vinde! Sigamos caminho!"

"Não, nós ficamos e veremos quem é mais forte — tu ou nós!" Com um ranger de dentes, este chefe reconhece sua impotência e muda de tom: "Mas amigos, nenhuma briga! Se quereis ficar, naturalmente também eu fico, porém perderemos um grande lucro!" "Só te interessas por lucro, mas nunca nos deste algo; podemos vociferar, nos queixar, discutir, e ver os homens se defraudarem uns aos outros, sendo este o nosso único prazer. Mas Este não tem aparência de um mercenário e impostor, e ficaremos aqui por enquanto."

"Eu também", gritam quase todos, e o companheiro sombrio ficou sozinho. "Horeb! Como se explica que de repente estás só?!", pergunta Jesus. Assustado, Horeb olha para Jesus e diz: "Tu me conheces? Quem és e qual tua intenção?"

"Horeb! Eu não te devo satisfação", diz Jesus, "e quem Eu sou não te é de utilidade saber no momento, uma vez que não respondeste à Minha pergunta. Serias mais inteligente se seguisses teus colegas, pois eles fizeram a melhor escolha."

"Não Te compreendo", replica Horeb, "como podes saber se eles são mais inteligentes do que eu? Todos eles são recém-chegados no reino dos espíritos. E é estranho quereres me dar bons conselhos!"

Responde Jesus: "Quando eras homem, acreditavas em milagres; por que não deveriam acontecer milagres também no reino dos espíritos?"

"Assim não avançamos", diz Horeb, "mas sem Ti também não, uma vez que os outros gostam tanto de Ti. Talvez dês Tu aos meus colegas o conselho de seguirem caminho."

Jesus responde: "Não vejo porque deveria fazer algo que tornaria teus acompanhantes ainda mais infelizes, pois nossas metas são muito diferentes; e assim, Eu te pergunto na presença de teus colegas: Qual é a tua meta?"

Horeb responde com ironia: "Que pergunta ridícula! Para que precisamos de uma meta? O importante é que encontremos satisfação e que não nos aborreçamos."

"Acreditas que isto durará para sempre?" pergunta Jesus. "O que farias se teus colegas te abandonassem e ficasses sozinho? Não te conscientizaste ainda que estás te movimentando num solo totalmente desconhecido, habitando atualmente um mundo estranho e que corresponde ao teu mundo interior. Se estes homens, em cuja esfera vives, mudassem de Ideias e tivessem um outro conhecimento, que farias tu? Estarias logo sem lar e sozinho!" Diz Horeb: "Não posso entender o que estás dizendo! Nem tenho compreensão para tanto!" Jesus: "Bem, então cala-te, e Eu falarei com os outros! Vem tu, Achim, e responde-Me: O que sentiste quando Me viste?"

Achim pergunta: "Como devo Te chamar, uma vez que não te conheço? O que eu senti quando Te vi não posso expressar com palavras, pois jamais tive este sentimento, nem na minha vida terrestre nem aqui no reino dos espíritos! O que irradias deve ser muito, muito bonito, pois não posso separar-me da Tua figura."

Jesus: "Bem, Achim, tua resposta Me satisfez! E assim, vou dizer-te também o Meu Nome: Chamo-Me Jesus e sou de Nazareth! Mas o que vive em Mim é compaixão e misericórdia por vós, e quero vos ajudar a atingir a felicidade duradoura."

Achim: "Jesus? Oh Jesus! Teu Nome é raro! Mas se podes proporcionar-nos uma felicidade duradoura, certamente não a recusaremos; mas quais são as condições para tanto?" Jesus: "Achim, se te sentiste feliz ao te aproximares de Mim, por que perguntas ainda sobre condições? Não acreditas que, sentindo compaixão por vós, também quero vos ajudar sem visar um lucro? Olha-Me! Não possuo nenhuma propriedade terrena; o que possuo Eu ganhei na luta Comigo Mesmo, e é o Amor do Meu Eterno Pai. E Este Amor agora vos oferece o Coração e ambas as Mãos em ajuda!"

"Ó, Jesus, agora Te compreendo e muito se aclarou para mim. Peço nos ajudares. e com gratidão faremos tudo o que também Te dará prazer. Pois agora vejo não apenas os Teus Olhos, mas também Teu Coração. Oh Jesus! Amigo dos que se perderam, amigo dos pobres, dos abandonados, erigiste em Teu Coração um lar para nós, onde poderemos ficar para sempre!"

Responde Jesus: "Querido Achim! Estás feliz pelo que viste; mais feliz serás ainda quando te apossares da Minha Vida! Pois Minha Vida é o Amor! E aquilo que viste em Mim, todos os teus irmãos deverão também ver em ti. Então, tornar-nos-emos irmãos! E tudo o que nos separa ainda será vencido pela nossa Vida oriunda do Grande Amor Divino." "

Para, Jesus querido!", exclama Achim, "pois ainda estamos muito ligados à nossa vida passada na Terra! E nem de longe somos dignos de nos tornarmos Teus irmãos! Aliás, esqueci que somos espíritos, e Tu és ainda um Homem!"

Jesus explica: "Querido Achim! Será como Eu disse, pois posso ver também o teu mundo interior. Vejo em ti a boa vontade que quer com prazer se inclinar diante do que é Divino. Se és digno de tornar-te Meu Irmão, isto depende do Meu Amor, e Este já te considera como tal. Quanto a ti, depende da tua vontade e do teu desejo íntimo, pois o verdadeiro e justo Amor fraterno deve nascer do impulso do coração. O fato de Eu ser ainda Homem não importa, uma vez que sou também habitante do mundo dos espíritos."

"Querido, querido Jesus!" responde Achim, "exige o que queres e tudo farei por Ti, pois Tu és Amor! Oh Jesus! Eis que sou cheio de inveja, de avidez e de malícia. Mas faze comigo o que quiseres, pois Teu Amor me venceu!"

Diz Jesus: "Então sejas bem-vindo como Meu Irmão e torna-te digno deste Amor! Age para com teus irmãos, como Eu agi contigo; então começará uma nova vida, uma vida de alegria e de serviço, alimentada pela Santa Vida, e pelo mais excelso Amor Divino. Olha agora ao teu lado; um novo irmão se associou a ti, para vos servir a todos!"

Achim olha em volta. Um anjo magnífico o saúda e diz: "Irmão no Senhor, é da Vontade de Deus que eu te conduza e a teus irmãos para o lar que vos é destinado. E Já vos espera uma Graça especial, pois o Amor e a Misericórdia de Deus são ilimitados. Peço, então, que me sigas, assim como todos os teus irmãos."

"Oh ilustre mensageiro e anjo do Senhor!" responde Achim. "Seguir-te-ei somente se Jesus de Nazareth o desejar; senão, prefiro ficar aqui. Desde que estou no reino dos espíritos, nunca encontrei a graça e a delícia de me sentir verdadeiramente feliz. Porém com Jesus, temos Felicidade e Delícia ao mesmo tempo; por isso, prefiro ficar aqui."

Diz Jesus: "Irmão Achim, segue-o! Pois, seguir e obedecer ao Meu Conselho é a raiz da felicidade e da vida! Asseguro-te que nos separamos apenas exteriormente! Fica no Meu Amor, e estaremos unidos por toda Eternidade."

"Se é assim, querido e bom Jesus", diz Achim, "então sigo com prazer! Quão poderoso deve ser o Teu Amor, se até anjos Te servem! E assim Te agradeço e tentarei com todas as forças realizar o que Tu, Magnífico e Maravilhoso Jesus, nos dirás. E tu, querido amigo e mensageiro do Senhor, deixa-me falar ainda com meus irmãos, para que também eles sigam de boa vontade."

Diz o anjo: "Faze conforme o teu amor, e que a bênção de Deus seja contigo!" Achim está todo feliz e de repente é transformado; dos seus olhos brilha a felicidade e ele diz: "Meus irmãos — pois não posso vos chamar de outra maneira — ouvistes o que o Maravilhoso Jesus nos disse. Ele quer realmente a felicidade e o bem-estar de todos nós; e assim peço não vos opordes, pois também eu preferiria ficar aqui com Jesus. Mas é Sua Vontade que sigamos ao anjo, e então vos pergunto: estais de acordo?"

"Sim! Sim!" exclamam todos; mas um brada: "Nada disto! Pois pertenceis a mim, e não àqueles que só sabem falar! O que recebestes aqui? Apenas bonitas palavras, mas nenhuma ação! Sois os mesmos de antes, e o Homem Jesus? Ele é só um Homem! E este anjo? Bem..., não o vimos antes!"

"Horeb! O teu poder sobre nós terminou!" diz Achim. "Uma outra Força se apoderou de nós: a Força do Amor! Se tu nos tivesses amado, nada nos teria separado. Mas fizeste de nós apenas escravos da tua vontade, obrigando-nos a te seguir. Agora queres que renunciemos à felicidade e à vida, vivendo uma vida cheia de inquietações? Não, meu irmão Horeb, esta questão não existe mais para nós!"

"Não me chames de irmão" exclama Horeb irritado, "pois até agora eu era o vosso chefe! Vós me jurastes fidelidade, e eu exijo de vós obediência!"

Diz Achim: "Horeb, esqueceste o que o Homem maravilhoso disse: que dentro em breve poderias ficar sozinho! E isto já se verificou; pois nós seguiremos ao anjo, e te imploramos: muda tua opinião e vem conosco!" Horeb: "Jamais! Ide, pois encontrarei outros companheiros."

"Irmão! Nós seguiremos o convite do anjo!" diz Achim ainda. O anjo se inclina diante de Jesus, acena para todos, e os que estão de acordo exclamam: "Obrigado, amigo, pelo Teu Amor!" E Jesus os abençoa em silêncio.

Horeb assiste à cena e gostaria mesmo de conversar com Jesus. Mas também olha para os que se afastam e vê com admiração com que facilidade eles passam pelo Jordão. E ao chegarem à outra margem, são saudados por seres luminosos. Lá há uma grande mesa com assentos, onde todos recebem pão e vinho, e ouve-se grande júbilo.

O rosto de Horeb, porém, se obscurece, e mais ainda seu coração; e assim ele parte para o norte. Pensamentos sombrios preenchem todo o seu ser, pois torna-se noite ao seu redor e seu horizonte não abarca mais nada.

Jesus, no entanto, sente compaixão, pois Seus Lábios murmuram: "E mesmo assim também para ti virá o tempo em que tu, obcecado, reconhecerás o Meu Amor para contigo!" E Ele abençoa com ambas as Mãos a Horeb e aos outros que estão sentados à mesa.

IV

Jesus está de novo só nas margens do Jordão, descansando à sombra de alguns arbustos. O sol está quente; fome e sede se fazem sentir, mas Jesus não tem nada com que pudesse saciar Sua fome. Assim, Ele vai à margem do rio para refrescar-se, mas a água era quente demais para beber.

Jesus está totalmente voltado para o Seu Interior, e surgem-lhe pensamentos como: "Eu não preciso beber esta água que não é fresca, pois, se Eu quisesse, poderia transformá-la em vinho!" Então fez-se sentir um marulho Nele, como de cachoeiras, e este marulho torna-se um som que já começa a se fazer ouvir como harpas eólicas. Então a sede e a fome passam.

Jesus pensa: "Pai Glorioso! Tens pão e água em abundância! Cuidas de Mim, Teu Filho, e sabias o que ia acontecer; por isso abriste o Teu Coração e fizeste soar em Mim a chamada do Teu Amor Paternal. Fortalece-Me também no futuro! Pois só Tu és a Força e a Fonte da Vida! Agora, Eu Te vejo de novo em Mim!"

Jesus sente-Se reconfortado, mas reconhece que ainda há coisas humanas Nele, e por isto Ele diz para Si: "É difícil ser um Verdadeiro Procurador do próprio Mundo Interior. Existem ainda laços fortes que oprimem a Vida Interna em Mim. Mas Tu, Pai de toda Vida, sabes disto! E assim reconheço Tua Vontade: que Eu devo nestas provações agir inteiramente como Teu Filho, tornando-Me também testemunha para todos os que estão nas trevas!"

Ele passa o dia descansando. Só quando o dia declina, começa o caminho de volta, chegando à Sua cabana ao cair da noite.

Uma multidão de espíritos atraídos por outros O observa no Seu sono. Eles pressentem grandes coisas, mas não sabem que multidões de anjos luminosos vigiam o lugar!

Jesus desperta. Seu Corpo está enfraquecido pelo jejum inusitado, e assim Ele fica na cabana até o meio-dia. Num leve cochilo, Ele esquece fome e sede. Mas quando o sol chega ao seu zênite, Jesus procura algo para comer, o que, porém, não Lhe agrada muito. Novamente, e com mais força, Lhe vem o pensamento: "Por que sentir fome agora?"

Então avista os muitos espíritos ao Seu redor, e eles têm imensa fome! Jesus acena para um deles, que vem rapidamente e diz: "Senhor! À Tua chamada, eis-me aqui, com um coração cheio de saudade. Mas vemos que Tu também tens fome. Nada Te podemos dar, pois nós mesmos nada possuímos."

Diz Jesus: "Não foi para receber algo de vós que chamei. Mas a fome que sinto no Meu Corpo, Eu a vi também em vós; quero vos ajudar e vos mostrar o caminho para a saciedade espiritual!"

Admirado, o espírito pergunta: "Senhor, Tu queres nos ajudar!? Mas Tu mesmo és pobre! Queres nos saciar, tendo Tu mesmo fome? Como queres fazer isso, Senhor?!"

Responde Jesus: "Permitindo, pela Força do Meu Amor, que lanceis um olhar no Meu Mundo Interior. E por isto, vos digo: Vede o que é possível ao Amor!" Diante do olhar de tantos espíritos, surgem paisagens e sítios de grande beleza, e figuras luminosas passam rapidamente cá e acolá, acenando e saudando.

A pobre cabana de Jesus tornou-se como um Templo. No meio se acha um altar e Jesus Se aproxima dele, pega o pão e o abençoa. Um anjo se aproxima e pega da Mão de Jesus o pão, dando um pedaço para cada espírito. Em seguida, Jesus pega o cálice que também se encontrava sobre o altar. Outro anjo pega nele e faz com que cada um se sirva. Há ainda outro vaso no altar, sobre o qual Jesus sopra, surge uma chama espargindo uma suave fragrância.

Os expectadores, saciados e reconfortados, estão encantados e silenciosos. Jesus os abençoa, e diz: "Ide em paz! Não demora muito, e também para vós soará a hora da salvação; até lá, servi-vos uns aos outros assim como Eu vos servi! Desta maneira, servis a Deus, contribuindo para o êxito da grande Obra da Salvação!"

A visão passou. Jesus está sorrindo diante dos espíritos mudos de admiração, e diz a um deles: "Andréas, acreditas ainda que sou tão pobre, ou pensas que tudo isso não passou de uma fantasmagoria? Vê, tens na mão ainda um pedaço do pão que, de tanto olhares, esqueceste de comer."

"Senhor, o que está acontecendo?" pergunta Andréas. "Quiseste que déssemos uma olhada no Teu Mundo Interior, mas lá era tão bonito como o Céu; ah!, neste mundo gostaria de viver, seria uma verdadeira bem-aventurança!"

Responde Jesus: "Andréas, também em ti existe tal beleza, mas oculta e inconsciente para ti e todos vós. Mas se te esforçares de ser não apenas devoto, mas vivo no amor, também ficarás consciente de tudo isso."

"Quem és tu, Senhor", pergunta Andréas, "que nos dizes isso e podes nos mostrar tais coisas? É verdade que os outros disseram seres o Cordeiro que carrega os pecados do mundo, que Tu és o Salvador! Mas o Teu aspecto é de um Homem comum, porém cheio de grande bondade!"

Diz Jesus: "Querido Andréas! Teu coração humilde e piedoso permitiu que vivenciasses esta hora de Graça. Se tivesses empregado Amor em vez de rigor, há muito já terias tido pão e alimento em abundância. Eu sou Jesus, esperado por muitos milhares para fundar um Novo Reino! E este Meu Reino começa no Meu País Interior e se estende até onde alcança o Meu Amor, mas só se tornará compreensível e visível para aqueles que acreditam em Mim e na Minha Missão. Mas as bênçãos do Meu Reino poderão também ser sentidas por aquele que esteja afastado de Deus; podes Me compreender?"

Andréas se admira: "Tu és Jesus? Aquele que perdi de vista? E agora que vivo no espírito, me ofereces novamente o Teu Amor? Ó, Jesus, por que não pude compreender-Te mais cedo, pois muita coisa na minha vida me teria sido poupada!"

"Não te entristeças por isso", responde Jesus, "mas desperta finalmente, torna-te vivo e conduze também os teus irmãos para a vida espiritual que pudeste ver em Mim. Agora Me conheces; então ama-Me e sê um justo servidor dos teus irmãos, no espírito do Amor Eterno!"

"Jesus! Jesus!" exclama Andréas. "Com prazer o farei enquanto minhas forças o permitirem; mas por que ofereces justamente a mim o Teu Amor?" Diz Jesus: "Andréas! Tu já me amaste, porém de outra maneira, quando ainda eras homem na Terra. E é hábito Meu retribuir mil vezes cada amor. Mas se queres tornar-te verdadeiramente feliz, então ama e serve a teus irmãos! Vê este anjo; ele vos conduzirá para uma existência nova e melhor. Mas se queres ficar unido a Mim, não esqueças que Eu, Jesus, te amo e a teus irmãos profundamente! Ide em paz, e que vossa vontade e vossas ações sejam abençoadas! Amém!"

Andréas pega a mão que o anjo lhe estende e todos são arrebatados imediatamente. Jesus os abençoa, pois sabe para onde eles vão.

V

Jesus passou a tarde descansando na Sua cabana. Antes que o sol se ponha inteiramente, Ele se sacia com raízes e mel, agradecendo no coração por estas dádivas, pois só assim Lhe veio um alívio. Então exclama: "Pai Amoroso, Vida de Toda Vida, que só Tua Santa Vontade Se faça e Se una cada vez mais dentro de Mim, para que em Mim o último seja o primeiro e o primeiro seja o último! Amém!"

Sentado diante de Sua cabana, Jesus passa a noite refrescada pelo orvalho. Então o sombrio Horeb volta com outro espírito semelhante e, praguejando e barulhentos, cercam Jesus que, sentado tranquilamente, finge não os ver. Isso os confunde, pois não sabem se são vistos ou ouvidos.

Finalmente Pius diz a Horeb: "Amigo, tu me mentiste; disseste que este homem nos vê e que dispõe de grandes forças. Não me parece que seja assim, senão ele teria nos dado pelo menos um aceno."

"Espera um pouco", diz Horeb, "o que disse é verdade, pois todos os meus companheiros se inclinaram diante de Sua Vontade e me abandonaram."

"Está bem, esperemos ainda mais um pouquinho, pois nada temos a perder" diz Pius. "Mas por que me conduzes, justamente a mim, para este Homem!? Seu semblante nada tem de errado e também não nos será útil!"

"Isso depende", observa Horeb, "pois não tenho a mínima confiança Nele." Rindo, Pius diz: "Então evita o encontro com Ele, se O temes! Tu tens medo desse Homem, e procuras a mim, que todos evitam?"

"Não te gabes disso", responde Horeb friamente, "pois também tu encontrarás o teu mestre! Nunca teria pensado que acabaria sozinho, mas aconteceu exatamente o que ele me disse. Quando se está sozinho na escuridão, surgem muitos pensamentos. Mas o perigoso é que não posso esquecer este Jesus, e só pelo pensamento de reencontrá-Lo o ambiente ao meu redor tornou-se mais claro, de maneira que pude ao menos te encontrar. Mas quanto a Jesus, não estou ainda resolvido." Pius quer responder algo...; então Jesus pergunta em voz alta: "Horeb! A quem trazes aqui para perto de Mim?! Resolveste mudar de opinião?"

"Não voltei para me modificar", diz Horeb, "pois na realidade, nunca pensei nisto. Mas este Pius, que era chefe de grandes caravanas, não quer acreditar que dispões de forças às quais não é fácil opor-se." Jesus diz amigavelmente: "Então, Pius, queres medir-te Comigo? O que pensas?"

"Tu nos vês e nos ouves?", pergunta Pius, admirado, "apesar de seres homem? Então não deves ser desprezado! Mas ainda não tenho prova alguma de que sejas realmente um homem tão excepcional, uma vez que evitas a tua própria sociedade. Mas se és Aquele que Horeb mencionou, então quero conhecer Tuas faculdades, porém duvido que me sejam úteis ou que me prejudiquem."

Diz Jesus: "Pius, digo-te: posso te ser muito útil! Mas se Me deixas de lado, prejudicas a ti mesmo, e Meu Coração Se encheria de tristeza."

"Por que?" pergunta Pius. "Que te importa o meu destino? Tu és ainda homem, enquanto eu não o sou mais!"

Responde-lhe Jesus: "Se sou ainda Homem ou não, isto não importa. O principal é se julgas possível que vive em Mim algo superior a ti e a todos."

Diz Pius: "Então deveria primeiro saber o que é que vive em ti, depois te daria minha opinião. Mas não penses que digo "sim" a tudo, pois também eu colhi muitas experiências."

"Está bem", responde Jesus, "ouve então! Tu, como homem, levavas contigo o teu Deus, que deveria te guiar e conduzir até a máxima perfeição; mas agora estás diante de Mim como espírito pobre e abandonado. Onde se encontra agora o teu Deus, e o que foi e ainda é Ele para ti?"

Diz Pius: "Isto não é uma resposta para o que eu queria saber. E que eu levava em mim Deus, isto é novidade! Aliás, nem reconheço algum Deus, uma vez que nunca Se deixou ver e também nem acredito que Deus exista." Então Jesus explica com seriedade: "Pius, teu interior está cheio de rancor e crueldade, pois nada conseguiste na vida terrena; mas também nunca acreditaste que foi exatamente Deus quem contrariou tuas iniciativas egoísticas. Vê, como se explica que Eu Me sinto sempre unido a Deus e que conheço plenamente Sua Santa Vontade? Tu pensas: Que entusiasta! Mas quero dar-te uma prova da veracidade de Minhas Palavras. Então pede algo que Deus deveria fazer. Estou pronto para executá-lo!"

Pius diz, admirado: "Falas seriamente? Mas ai de ti se te permites fazer uma brincadeira comigo; eu te destruiria!"

"Pius, por que não acreditas em Mim?" pergunta Jesus, "Pede algo, como te disse, e fala depois!" Incrédulo, diz Pius: "Então faze com que se torne agora dia e que todo esse ambiente tome o aspecto do lugar onde eu nasci e passei minha infância!"

Diz Jesus, sorrindo: "Então coloca tuas mãos sobre os olhos, para que a luz não te cegue! Que assim seja!"

Pius tapa seus olhos e devagar retira as mãos e assusta-se, pois diante dele se encontra o sítio onde nasceu e exatamente as mesmas árvores, e ele solta um grito. Depois entra na casa. Sua mãe está sentada à velha mesa. Feliz, ela o olha e diz: "Filho! Finalmente encontraste o caminho de casa! Encontraste também a paz que faria de ti novamente uma pessoa alegre?"

Pius balbucia: "Mãe! Mãe! Não fui eu quem voltou, mas um homem chamado Jesus me trouxe aqui. Há instantes eu me encontrava ainda na terra dos judeus; agora estou aqui, na Arábia!"

"Filho, o que dizes?" pergunta a mãe: "Onde está o homem? É este ou aquele? Não! É este! Eu vejo os seus olhos tão bondosos dirigidos a mim. Eu te agradeço, Jesus, que me trouxeste meu filho de volta. Que alegria terá o seu pai!"

"Oh mulher!", diz Jesus, com bondade. "Por causa de teu filho, Eu cumpri teu desejo, já que pediste tantas vezes a Deus de lhe ser também Misericordioso. Teu pedido foi ouvido, mas ele não pode ficar aqui, pois ele mesmo deverá encontrar o caminho de volta. Por isto, gozai desta hora como um presente do Céu e aprendei a amar e a compreender Deus!"

"Oh homem, o que estás dizendo?" fala a mãe. "Tu ainda és um homem! Mas nós somos habitantes de um outro mundo que no início nos era muito estranho e desconhecido; mas graças à grande Bondade de Deus, nos acostumamos aqui, podendo fazer muitas coisas de maneira diferente do que as teríamos feito como homens. Sabíamos que nosso Pius também já se encontrava no grande mundo dos espíritos, e oramos muitas vezes a Deus de nos permitir viver uma hora de reencontro. Mas quem és tu e qual a força que te permitiu efetuar isto?" "Mulher e mãe", responde Jesus, com bondade, "teu filho já te disse quem Eu sou, e o que faço. Eu o faço pela Força do Amor, que é Deus de eternidades em eternidades! Assim como teu amor para com teu filho Pius é um reflexo de Deus em ti, assim também em Mim, o Meu Amor é a mesma Vida que há em ti. Com a diferença que a vida do amor em ti foi oprimida por teus próprios conceitos limitados, ao passo que em Mim esta Vida cresceu para dentro da grande Vida Divina, unindo-Me totalmente com Deus. Eu conheço Deus e Deus Me conhece! Em nenhum instante estou sem Deus e sempre conheço Sua Santa Vontade!"

Diz a mãe de Pius: "Oh, que homem feliz deves ser, possuindo o raro dom de ser unido a Deus! Então poderias também, sem perder algo, fazer com que meu filho Pius possa ficar aqui! E, já que Deus Te comunicou minhas orações para meu filho, eu te peço agora: deixa aqui o meu Pius, para que ele se reencontre, tornando-se um homem ou espírito feliz!"

"Arabella", diz Jesus bondosamente, "há pedidos que ainda não podem ser atendidos, uma vez que a felicidade das almas está em jogo. Como tu mesma já experimentaste durante tua estada aqui, o mundo espiritual se encontra nos mesmos moldes que o terrestre, onde a ordem é o fundamento e cada construção deve ser feita de acordo com certas leis. Vê, Pius, teu filho, não suportaria ficar aqui por muito tempo, uma vez que ainda há nele um ímpeto de tornar-se grande. E enquanto estas inclinações e ímpetos falsos e errados não forem coordenados dentro das leis básicas para a vida, conforme a Ordem Divina de Deus, eles agem impedindo e separando. Mas tu, como mãe, podes usar toda tua influência, fazendo-o talvez aceitar os teus bons conselhos, tornando-se humilde!"

Arabella logo diz: "Pius, meu filho! Ouviste o que disse o sábio homem Jesus? Consideraste o sentido de suas palavras? É uma Graça estares aqui e deves agradecer a Deus e a este homem Jesus. Oh, se pudesses ficar aqui, em tua casa paterna, onde braços de mãe amorosa cuidariam de ti e onde o amor de pai te daria aquilo que precisas para novamente seres alegre e bom! Pius, a escolha não pode ser difícil: aqui, a casa paterna e o amor; lá fora, a falta de pátria e solidão!" "Mãe! Mãe! Para com isso!" exclama o filho aflito. "Quanto gostaria de ficar aqui, mas em mim vive algo que é mais forte do que tu e teu amor. Quantas vezes já lutei contra isto, mas em vão! Minha vida interior é a minha fatalidade, uma vez que forças estranhas me seguram e me obrigam a ser mau e violento! Ainda não encontrei ninguém que fosse superior a estas forças. Agora, porém, estou sendo conduzido a um homem, e o meu mundo interior está prestes a ruir, pois sou muito inferior a este!"

"Que importa se não és mais como antigamente?" consola a mãe. "Pois a tua força e superioridade sobre outros não te fez encontrar a casa paterna. Mas este Jesus, este homem pleno de Deus, te traz simplesmente para cá, tornando-me a pessoa mais feliz; pois agora tenho-te como outrora, para te apertar contra o meu peito. Meu coração me diz que um dia retornarás inteiramente para casa, mesmo que agora sejas empurrado novamente para fora, para um rumo sem fim. Sim, meu filho, vai agora antes que teu pai volte! Poupemos-lhe a aflição, uma vez que estás perdido enquanto não te decidires voltar por iniciativa própria. Oh Jesus, sinto que a hora da despedida chegou. Mas peço-te uma coisa: Tu, homem nobre, guarda meu filho nos teus pensamentos! Pois tua força alcança muito longe. Mas faze que teu Amor alcance mais ainda do que é humanamente compreensível, e sei que o libertarás dos laços de forças negativas."

"Ó, mulher e mãe Arabella!", diz Jesus, "tudo o que pedes o Eterno Deus e Pai sabe de há muito, prometendo-te que tudo vai acontecer conforme os teus pedidos, se for possível! Mas primeiro deve haver uma conversão em teu filho. Continua pedindo e tocando em espírito o seu coração; pois só o amor e o perdão podem efetuar esta conversão. Aqui em vosso mundo reina o pleno livre arbítrio, e só à livre vontade abrem-se as portas para o Reino dos Céus. Por isto, nem teu filho pode ser coagido ou persuadido para voltar. Lembra-te de Mim e pede a Deus que também o teu mundo interior seja preenchido pelo Espírito do Qual Eu estou Pleno. Então sentirás a Força e a Nova Vida que te recompensará por tudo aquilo que deixaste. E, tu Pius, despede-te, pois o prazo que o Amor de Deus te concedeu se esgotou!"

Mais uma vez Arabella abraça seu filho e diz: "Filho! Fica com Jesus! Com ele encontrarás o que te falta e do qual ele me falou. E então volta, tua mãe te espera!" Um beijo e.. .; Jesus, Pius e Horeb estão de novo diante da cabana no deserto.

Muito admirados estão os dois; finalmente Pius pergunta: "Jesus! Foi isso realidade ou ilusão? Não consigo acreditar que isso seja realidade!"

"Pius", diz Jesus, "pensas que sou Alguém que simula algo ou que Se permite uma brincadeira contigo? Oh Pius, queria provar-te que todas as tuas forças não são nada em confronto com as Minhas. Mas estas Forças não são Minhas, mas de Deus; e tu querias uma prova da existência de Deus! Vós dois precisais de ajuda, mas que só vos poderá ser dada, quando expulsardes todo orgulho e altivez e quando, de boa vontade, seguirdes os que vos deixaram. Eu poderia vos mostrar quanto eles agradecem pela felicidade de terem sido libertos da antiga ilusão. Pois um futuro áureo está diante deles, ao passo que o vosso é aflitivo. Não adianta falar muito convosco, pois vos considerastes sempre os mais sábios, julgando-vos senhores; enquanto que Eu deveria ser Senhor, pois em Mim Se acha Meu Deus Eterno e Pai — que é o Senhor — e, no entanto, continuo sendo Seu Filho e Servidor!"

Pius implora: "Jesus! Não digas mais uma palavra, pois preciso de silêncio! Este tratamento foi fatigante demais e meu estado é tudo, menos belo. E tu, Horeb, terás que ficar sozinho, pois não posso continuar contigo, uma vez que encontrei o meu Mestre!"

Horeb: "Ora essa ...! E eu? O que será de mim e do meu dilema interior? Achas que fiquei satisfeito de ter estado de repente com Jesus e contigo em tua casa? Nem te lembraste de mim, que estava também presente, tendo ouvido e visto tudo!" Diz Pius: "Que seja ou não Jesus o Filho de Deus, Ele cumpriu o meu desejo e por isso quero servi-Lo!"

"Pius, se queres servir-Me dou-Te de coração as boas-vindas", diz Jesus, "mas apenas no Espírito do Amor Divino! Eu não preciso que alguém Me sirva, uma vez que Eu Mesmo desci à Terra só para servir. Mas se queres ser Meu servo, então serve Comigo a teus irmãos. E podes começar já o teu serviço com Horeb. Quem serve a Mim, serve a Deus, e Este te recompensará. Eu, porém, te abençoarei por isso."

Com estranheza, Pius pergunta: "Dize-me, homem misterioso, por que escolheste justamente a mim, um ser sombrio e cheio de ódio, para servir-te? Por que não nos desprezas em tua pureza? Nós poderíamos causar-te um dano indizível em corpo e alma, da mesma maneira como já envenenamos milhares com a nossa natureza!"

"Porque vos amo!" responde Jesus, "porque vosso mundo cheio de trevas, de ódio, de mentira e fraude não pode perdurar diante do Meu Amor Universal. Um só raio de Luz do Meu mundo cheio de Luz e Vida enviado ao vosso vos torna seres dos mais infelizes. Pois diante desta Luz que é Luz de Deus e Vida do Eterno Amor de Deus, tudo o que é sombrio deve retroceder. E é por isso que vos ofereço o Meu Amor e Minha Misericórdia, protegendo-vos do inferno que já começa a crescer em vós. Compreendei isso agora, pois poderá se passar para vós um tempo infinitamente longo, até que vos venha novamente uma chamada." Por muito tempo reina silêncio. Ninguém diz uma palavra.

Também Jesus Se cala, mas pela fileira dos anjos ouve-se um clamor de júbilo. Pois com as Palavras de Jesus: 'Porque vos amo', inflamou-Se Seu Coração numa Luz maravilhosa. E esta revelação era para eles, os anjos, uma visão do mundo interior de Jesus, o que os preencheu de imensa felicidade.

Jesus os saúda pela Mão e o éter encheu-se com um rumor, pois todos os anjos cantaram: "Sejas louvado, Senhor-Deus-Zebaoth, que Teu Amor seja exaltado! No meio do deserto, erigiste um Trono e de lá anunciaste para todos os espíritos sombrios: 'Também para vós tenho Amor!' Aleluia! Aleluia! Amém!"

Jesus agradece e diz: "Ide em Paz, e que não vos falte paciência até que tudo seja consumado!"

Pius observa Jesus e ouve também as Palavras que disse em voz baixa, e pergunta: "Jesus! Há ainda outros seres aqui além de nós dois, pois te vi saudar e te ouvi falar?" Viste e ouviste certo", responde Jesus, "estavam aqui servos de Deus desejando Me ver, e Eu lhes agradeci pelo seu Amor. Eles estão aqui não apenas para Me ver, mas também porque todas as maravilhas da sua pátria espiritual não representam nada sem Mim ... Estas palavras te causam estranheza e não as compreendes, mas uma vez que queres ser Meu servo, ouve e guarda também isto em teu íntimo! Também Eu possuo um Reino! É invisível para os que não Me conhecem. Para aqueles, porém, que Me conhecem, Meu Reino é tão grande e maravilhoso, que todos desejariam viver sempre nele. Podes também tornar-te servidor deste Reino, se cumprires as seguintes condições: servir, servir e renunciar!"

Pius estremece com estas Palavras que soam como marteladas no seu coração, e diz: "Oh homem misterioso! O que irradia de ti e quão grande deve ser a felicidade que podes proporcionar a todos os seres? Oh, permite-me apenas um vislumbre do teu Reino e quero agradecer-te para sempre, pois tu me venceste!"

"Pius, com prazer cumpriria este teu desejo", diz Jesus, "mas com isto não serviria a ti, mas a Mim, pois estarias forçado a reconhecer algo que deves encontrar por ti mesmo. Eu quero ser para ti apenas 'Jesus', e não quero influenciar tuas decisões, pois sou ainda Homem, devendo cumprir todas as Leis até ser também consumado em Espírito!" "Oh Jesus, estás zangado comigo?" pergunta Pius, -- "Pois me atrevi a pedir demais; perdoa o meu engano!"

"Pius! Vai em Paz pela tua estrada", responde-lhe Jesus, "não estou nem um pouco zangado! E se tivesses inúmeros pecados e tua consciência tivesse o peso de montanhas, Eu te diria mesmo assim: Vai em paz na tua estrada e procura o caminho certo onde poderás encontrar aqueles contra os quais agiste mal. E quando for difícil demais remediar o mal que fizeste, então pensa em Mim e nesta hora que Deus te concedeu no Seu Amor Infinito. Aqui não podes ficar por mais tempo, porque teu mundo é diferente do Meu! Mas se queres seriamente o que te propuseste, então procura-Me --- dentro de ti — e Me encontrarás. O caminho para lá chama-se: Amor!"

"Oh Jesus! Tua Palavra me faz feliz", diz Pius, "e como desejaria ficar aqui! Mas vejo que não posso ficar contigo e com outros homens; mas dize-me para onde devo ir? Tu disseste: Vai pela tua estrada! Mas desde que me encontro no reino dos espíritos, não vi nenhum caminho e muito menos uma estrada."

Jesus diz: "Meu amigo, diante de ti há uma estrada que podes percorrer se quiseres, e ela se chama: 'Servir a todos os meus irmãos' E no momento em que quiseres servi-los por livre amor, irradiar-se-á de ti uma luz iluminando os teus arredores e, depois de algumas provações e dificuldades, atingirás também o teu alvo. A Força para tanto receberás de Mim, se Me guardares com Amor no coração. Vai então em paz! Que Minha Bênção te acompanhe!"

VI

Jesus está só, pois pela Sua Vontade havia afastado Pius e Horeb de Sua esfera. Ele olha novamente Seu interior e agradece: "ó, Pai! Vida Santa em Mim! Que Teu Nome seja santificado e Teu Amor glorificado! A Luz do Teu Amor ilumina Minha Vida interior qual tocha! E como com fachos de fogo, aclaras todas as trevas. É só Te servindo e Te seguindo que trago Tua Vida em Mim, e isto para Mim é a mais alta realização!"

Ao redor Dele, silêncio, sagrado silêncio, parecido com a Paz no Seu interior. Jesus Se deita para descansar e cai num profundo sono do qual só desperta quando o sol atinge o zênite. A água que corre murmurando mata Sua sede, mas o desejo do alimento costumeiro novamente se faz sentir. Tratava-se agora de dominar também este desejo terrestre! Seus pensamentos vaguearam para Nazareth, à casa de Sua mãe, mas com isto o desejo de pão não diminuiu; e assim Se deita na Sua cabana. Eliminou os pensamentos, menos um: "Pai, és Tu que Me manténs, e o cumprimento da Tua Vontade seja o Meu alimento!"

E a Vida Sagrada Nele anuncia suavemente que todo sacrifício cria nova vida. Diante do Homem-Jesus revela-se agora toda a Criação, como um altar de oferendas. E de novo ressoa Nele: "O sacrifício da vida de um 'ser, é a vida de outro!" Assim, Ele vê em tudo passar um novo nascer; e deste novo nascer surgiram seres que se inclinaram diante Dele, e um deles disse: "Teu espírito de sacrifício nos deu vida; dá-nos agora também da Tua Própria Vida, para que possamos cumprir o nosso dever e realizar o nosso ser conforme Tua abnegação!"

Houve um reluzir em Jesus, e a Luz que se espargiu Dele era para eles a plena satisfação. Nele ressoou de novo: "Quando o maior sacrifício tiver sido feito, o caminho estará aberto para toda vida!" Jesus se levantou e os abençoou: "Ide em Paz e que vossa vontade se torne UMA com vossa ação!" Vem um anjo e toma o grupo aos seus cuidados; eles fazem uma reverência e se dirigem ao oriente.

VII

Jesus procura, então, algo para comer e passa a noite em oração. De manhã, fortificado interiormente, Ele sai de Seu lugar e corre com passos largos rumo ao Jordão, perto de Bethabara. Não olha nem para a direita nem para a esquerda, seguindo apenas o ímpeto de Seu Espírito.

Após caminhar horas, chega às proximidades do Jordão, e encontra dois pescadores que querem levar seu pescado para a região onde se encontra João, uma vez que lá há sempre visitantes que compram peixes; pois o afluxo de forasteiros continua sendo grande.

Ambos os pescadores veem Jesus chegar de longe e O aguardam, pois pensaram que também Ele iria ter com João. Jesus os saúda: "A Paz do Senhor seja convosco!" E eles agradecem: "Por toda eternidade!"

Um deles, de nome Tobias, pergunta: "Irmão no Senhor, de onde vens? Aqui não há em nenhum lugar morada nem albergue, e facilmente poderias te perder neste deserto!"

Responde Jesus: "Não vos preocupeis! Pois Eu sou bem conhecido aqui e não preciso de guia; Eu Mesmo poderia ser guia através de toda essa região desértica. E todo lugar é um albergue, pois em todos os lugares a Terra é de Deus. Não carrego pesos e tenho leve o Meu Coração; e de resto, Deus está Comigo!"

"Tu és um homem estranho", diz Tobias, "vens do deserto e assim mesmo estás alegre! Não tens medo que as feras, que aqui se acham em grande número, possam te atacar? Pois nem tens um bastão! A isto chamo de descuido!"

Jesus: "Absolutamente! Pois também um bastão não poderia Me proteger; o que Me protege é a Minha confiança na proteção de Deus."

"Estás convencido que tua fé e confiança resistem a um tal perigo?" pergunta Tobias. "Pois nós sabemos que não se deve tentar Deus. E agir com precaução, é agir sabiamente!"

"Tobias, Eu te conheço e vejo teu coração", diz Jesus. "Vejo também muita coisa boa nele, e que também nutres a fé de que Jehovah é o teu Criador que te mantém! Tu és grato por qualquer pequena dádiva; mas em seguida também pensas que já fizeste o teu dever para com Deus. Eu sou de outra opinião. Há muitas pessoas que agradecem, e que também pedem o sustento para a vida cotidiana, mas há poucas que pensam:

Será que Deus só existe para dar? Ele não Se alegraria se um ou outro Lhe trouxesse algo? Por isto, Eu Me propus a servir Deus desta maneira e transformar Meu Coração em um altar de oferendas, no qual arde sempre a chama do Meu Amor. Mas Amor sem confiança é inconcebível; assim, vive em Mim a plena confiança na proteção do Amor de Deus."

"Ouve, jovem, não digo que não tenhas razão", responde Tobias, "mas já sou idoso e envelheci na fé dos meus pais. Vós, jovens, tendes pensamentos diferentes, como prova também João Batista; mas se isto agrada a Deus, eu não sei."

"Tobias, asseguro-te que não quero abalar tua fé ou pedir algo contra a tua consciência", responde Jesus, "mas podes ao menos examinar melhor o que falei. Quem te dá a prova que teus pais acreditaram de maneira justa? Ninguém, se teu próprio coração e todo teu ser interior não te pode dar esta prova. Vê, Eu sempre sei o que é justo ou não diante de Deus, pois sinto Deus dentro de Mim!"

"Jovem, sejas mais moderado!" adverte Tobias. "Pois Deus não deixa crescer impunes as árvores da arrogância até o Céu. Tens talvez razão no que dizes, mas teu aspecto mostra algo diferente; e que não passaste dias bons ultimamente, isto pode-se ver de longe, pois não és o primeiro que vemos chegar do deserto. A alegria que notamos em ti pode também ser ilusão."

"Querido velho amigo, aqui estás redondamente enganado", responde Jesus. "Ouve bem: Eu sei o que faço e o que devo fazer! E podes acreditar: Eu não fui ao deserto sem uma finalidade. Mas se pensas que este Homem esfomeado é uma figura digna de misericórdia, te enganas, pois a fome também pode ser saciada pela confiança. Olhas-Me incrédulo e pensas: ‘Quando me pedirá o pão que tenho comigo?’ Mas Eu te digo: Eu não preciso do teu pão, pois Deus Me deu a prova de manter-Me com vida, sem pão e sem frutas!"

Diz Tobias: "Não receias, jovem, de afirmar um tal absurdo: saciar a fome pela confiança? Oh, se Jehovah quisesse te experimentar agora, queria ver-te depois de alguns dias! Como te queixarias pela tua tolice desmedida!"

"Meu querido Tobias e tu, Simão", diz Jesus, "acreditai nas Minhas Palavras se vos digo que há sete dias não vi nem comi pão. Certamente tive o desejo de outro alimento do que raízes e mel silvestre, mas Eu sei porque o Pai Celestial exige de Mim, — o Filho do Homem — esta provação. E para Mim é uma satisfação bem maior de saber que cumpri totalmente a Vontade de Deus, muito mais do que se comesse com prazer o vosso pão. Vós ouvistes de João: 'Depois de mim, virá Alguém de Quem eu não sou digno'. Nunca cogitastes que este Alguém poderia vir dentro em breve? E o que ensinará Ele então? Posso vos garantir que os vossos negócios tomarão outro aspecto do que hoje! Por que tendes que levar os vossos peixes aos curiosos forasteiros no deserto, somente para ter um lucro maior, uma vez que pensais: 'Lá onde não há outra coisa, pagam-se preços melhores!' Isto é indigno de um judeu de fé! Vossos corações não se assustem com Minhas palavras, mas foi por vossa causa que Deus Me mandou para vós com a mensagem: 'Tende fé e confiança no Deus Eterno; então nada vos faltará!' E até agora, ninguém pereceu, se realmente acreditou Nele!"

Diz Simão: "Quem quer que sejas, as tuas palavras me abalam! E tens razão: não foi apenas a preocupação pelo pão de cada dia, mas sim a ganância que nos motivou. Mas o que devemos fazer agora? Não podemos levar conosco o pescado durante vários dias até que voltemos para casa. E em casa se espera também o nosso lucro, uma vez que a vida é bastante onerosa."

"Levai os peixes tranquilamente aos forasteiros", diz Jesus, "mas só pelo preço que vossos velhos fregueses vos pagam. Deus vos recompensará por isto. Se depois alguém vos der mais por vontade própria, estareis livres da ganância e vossa consciência não vos reprovará." "Será feito conforme Tua Vontade!" diz Simão, resoluto. "Mas gostaria de saber quem és, e o que pretendes? Pois, que deves ter um objetivo importante, isso o coração me diz, porque ninguém vai à solidão do deserto sem nenhuma razão. És um daqueles que João manda para anunciar a chegada do Reino dos Céus? Então posso compreender-te, uma vez que jejum e oração são partes principais do ensinamento de João."

"Ouvi vós dois", responde Jesus, "Eu sou o mesmo que vós, um pescador. Mas Meus peixes são diferentes dos vossos. E os peixes de hoje sois vós! Guardais os peixes não vendidos nos vossos viveiros e esperais a ocasião até que eles tragam lucro, e com isto, o pão. Mas Eu guardo Meus peixes no Meu Coração e os amo como Meus Irmãos, e eis o grande lucro para Meu mundo interior. Mas todos aqueles que trago em Mim são amados também por Meu Pai no Céu. E assim, Ele abençoa com prazer a Mim e também a todos os que Eu trago em Mim com Amor."

"O que nos dizes agora soa como um som dos Céus. Mas este som para nós é ainda estranho", responde Simão, "devemos ainda chegar até à plena compreensão do teu amor. Oh, como a Terra seria bela se todos os homens fossem assim! Então não teríamos mais que esperar e aguardar o nosso Salvador!"

"Está certo, Meus irmãos, pois é assim que vos chamo agora. Tendes razão, mas se o futuro Salvador não corresponder às vossas expectativas, o que será então?" pergunta Jesus. "Já que João pregou: 'Penitenciai-vos!', e o que deveria, conforme a vossa opinião, pregar Aquele que há de vir? Importa-Me muito conhecer vossa opinião, pois ouvistes também de João que Ele já Se acha aqui!"

"Querido amigo e também irmão!" diz Simão, "Não nos é possível responder a esta pergunta, pois não refleti ainda sobre qual será a doutrina que nos trará Aquele que esperamos tão ardentemente. De um lado, o Templo. Do outro, os romanos. De ambos os lados somos duramente oprimidos. Então a missão Daquele que há de vir será bem difícil! E nada nos indica que Ele já estaria aqui. Ah! Mas se eu pudesse falar-Lhe ao menos uma vez, todo o meu desejo seria saciado, e eu Lhe confiaria tudo o que eu chamo de meu!"

Pergunta Jesus: "Simão, não estás sendo leviano no teu desejo? E se agora alguém viesse e dissesse: 'Eu sou Aquele que há de vir!', de que maneira e por qual sinal O reconhecerias? Pois também um impostor pode dizer: 'Eu sou Aquele que vossos pais esperavam!' "

"Tu me afliges o coração!" responde Simão. "Pois ainda não havia pensado nisto! Mas já que falamos no assunto, dize-me tu se já pensaste no Salvador — como deveria ser Ele —para que possas ter imediatamente a certeza: É este e nenhum outro!?"

"Irmão Simão", responde Jesus, "o Criador não te deu um coração que pode sentir? Seria necessário que tudo, tudo fosse medido pelo intelecto? Em Verdade, Eu te digo: A humanidade estaria muito melhor, se o que o homem sente no seu coração fosse provado por ações externas. Vós dois já tendes uma idade avançada e já carregastes filhos e netos em vossos braços, e vosso coração estava cheio de alegria e esperança, num sagrado pressentimento. O amor filial preencheu vosso coração, no que o intelecto não participou, pois que se tratava de Amor. Os homens são quais crianças diante de Deus, e o Amor de Deus só pode querer o que é justo para elas, como um pai ou uma mãe. Vede, o povo inteiro encontra-se cambaleando à margem do abismo, pois conhece seu Deus e Criador somente pelo Nome. Mas se Deus designar alguém digno desta missão e O mandar como guardião dos Sagrados Direitos Divinos e de Seu Amor para esta Terra, poderia ainda haver alguma dúvida sobre a índole Deste que é ardentemente esperado? Certamente deveria se afirmar: 'Eis o Filho justo do nosso grande Deus, do nosso Pai Celestial!', e este Filho só vai querer o que o Pai quer. Pai e filho serão ‘UM', assim como o fogo e luz são `um'. Mas não sabeis mais quase nada de vosso 'Pai', por isto Minha linguagem soa tão estranha para os vossos ouvidos. Mas abri vossos corações e senti o que vos está comovendo. Sentireis o mesmo quando o Desejado Se apresentar diante de vós."

"Diante de ti", diz Tobias, "temos que ficar calados, pois tua linguagem é poderosa demais, nos revelando de uma só vez todos os nossos erros! E por isso te digo abertamente: eu te considero como Aquele que há de vir, pois nenhum outro pode elucidá-Lo como tu o fazes! Mas, tu, meu povo, tu, Israel, que desilusão te aguardará! Pois não nos libertarás da opressão e dos grilhões que nós mesmos nos aplicamos pela nossa tibieza e cegueira. Agora Te compreendo! Um sagrado sopro e pressentimento invade o meu coração: devemos tornar-nos filhos e irmãos, e aquilo que oferecemos a Deus no Templo deve primeiro ser ofertado em nossos corações. Só então poderemos reconhecer Deus, e por Deus, Seu Ungido!"

"Irmão Tobias!", exclama Jesus, contente. "Não foi teu intelecto, mas teu coração que te revelou isso! Rejubila-te, pois assim como Me reconheces e aceitas como 'O Esperado', assim também reconheceste e aceitaste a Deus! Mas, Simão, o que dizes de teu irmão Tobias?"

"Que nós fomos grandes tolos", responde Simão, "pois nosso coração palpitava fortemente, mas nosso intelecto não queria admiti-lo. Agora eis-nos diante de Ti, rogando-Te: perdoa-nos, que não Te reconhecemos logo!"

Diz Jesus: "Chamei-vos de irmãos, e irmãos permaneceremos! Mas calai-vos ainda por um certo tempo diante do mundo, até que Eu Mesmo Me revele para ele. Por enquanto, continuo só, até que as condições sejam resgatadas. Eis por que retorno à Minha solidão no deserto. Não tenhais medo por Mim, pois tu deves ser bem preparado, uma vez que também todas as forças das trevas estão contra Mim. Certamente Eu não levo a liberdade nem a redenção para quem não acredita em Mim e na Minha Missão. O que quero é levar para todos os meios para libertar-vos do peso do pecado e dos grilhões que vos privam da liberdade. Aceitai-os! Encontram-se em cada um de vós, e em vossos corações estes meios serão também patentes. Tende ainda paciência, porém plena confiança!"

"Senhor!" pede Simão. "Se Tu nos consideraste dignos, dando-nos tanto e firmando em nós a certeza de agora podermos dizer: 'Sim, Tu O és!', dize-nos o Teu Nome, pois mesmo nos mandando silenciar, nosso coração terá prazer em chamar-Te pelo Nome."

"Irmãos", diz Jesus, "Eu sou Jesus de Nazareth, filho do carpinteiro José. A Minha Vida Intrínseca porém Se chama: Emmanuel, Deus de eternidades em eternidades! E se pensais em Mim, deveis pensar também em Deus. E se orais a Deus, lembrai-vos também de Mim com Amor, pois só o que se ama pode se unir. Sentai-vos agora e saciai-vos com vosso pão, para que possa vos abençoar e ao vosso alimento!"

Ambos olham para Jesus, e Este abaixa a cabeça em sinal de aprovação. Então sentam-se na areia, desembrulhando o pão. Simão o parte em três pedaços e diz: "Senhor, não abençoes apenas o pão, mas come também conosco o que abençoas-te! Atende a este nosso pedido!"

"Irmãos", diz Jesus, "vosso amor e o pão sejam abençoados; e que vosso coração seja repleto da consciência de ter servido a Deus. Mas hoje comei sozinhos, pois o vosso amor já saciou a Minha Alma. É da Vontade de Meu Pai que Eu regresse à Minha cabana. Que o Espírito de Paz e da Força vos preencha também no futuro e vos faça sábios! Amém!"

Antes que os dois pudessem refletir, Jesus apressou-Se de voltar a passos largos, pois o pão criou Nele um forte desejo, de maneira que exclamou: "Pai! Faze com que Eu seja penetrado inteiramente pela Tua Santa Vontade! Pois somente Tu podes nos manter!"

Paz, Sagrada Paz entrou Nele; e continuou caminhando rumo à Sua cabana. Mas, quanto mais andava, mais era afligido pela fome à qual se associou também a sede. E por toda parte nada mais havia do que areia, de vez em quando algumas árvores deformadas, estendendo seus galhos como que advertindo rumo ao céu. ‘Mais adiante, adiante!’, sentiu Ele em Si a advertência, pois Seus passos eram espreitados por seres sombrios que vagueavam pelo deserto à procura de vítimas para o seu ódio indelével.

Seus passos diminuíram de velocidade. Finalmente pôde matar a Sua sede, pois chegara próximo ao grupo de rochas onde estava erigida a Sua cabana. Agora estava em casa! Em casa, uma paupérrima cabana!

E Maria, em Nazareth, disse: "Onde estará Jesus agora? Como foi bom quando Ele estava ainda em casa!"

Todo o sofrimento passou. Sua cabana foi envolta por uma luz tão clara, que Ele Mesmo admirou-Se, e uma voz Lhe falou: "Meu filho! Um novo Céu foi construído e novo esplendor e nova vida são os frutos da Tua dedicação! Por isso, Te peço: Persevera, para que Eu e Tu possamos continuar unidos!"

Estas Palavras soaram como sons de harpa e foram ouvidas também pelos anjos e espíritos, e ecoou: "Para que Eu e Tu sejamos UM!" Jesus está à vontade diante da cabana e responde: "Pai! Eterno! Vida de toda Vida e de todo Ser! Tu Me pedes, ao Filho do homem? Preocupas-Te Comigo e com o êxito da Minha difícil Missão! Mas és Tu Mesmo Quem age e conclui tudo. Pois Tu estás em Mim, e Eu em Ti! Como tudo se torna vivo ao Meu redor! Vejo tudo cheio de vida e movimento! A Vida é o único testemunho de Ti, visível agora como Luz com radiante esplendor! Mas não dás importância aos Teus Céus nem a todas as maravilhas neles; queres alegrar-Te com o Céu que Teu Filho Te erigiu e quer construir no país do interior de Seu Coração! Oh! Deixa-Me Te servir com todo o Amor do Meu Coração, servir-Te, viver para Ti, ser Teu, para que nada em todo o Infinito possa nos separar! Que Tua Vontade seja a Minha e Se faça sempre! Amém!"

VIII

Jesus Se acha agora em Paz, sossegado e dedicado, unido à Vida Altíssima de Deus; e Sua Alma Se afasta cada vez mais do que é terrestre e material. Nenhum desejo, nenhum anelo faz-se sentir Nele, e o Amor Eterno Se anuncia de novo e diz: "Filho, Tua devoção foi recompensada! Pudeste receber o que nenhum homem recebeu! E tudo o que recebeste vem de Mim, do Amor Eterno. Mas só era aquilo que Tu Mesmo Me sacrificaste em Amor desinteressado. Eu Te retribui com abundante Bênção, para que Ela germine e cresça em Ti para uma nova vida. Porém, Tua tarefa ainda não está concluída, uma vez que coisas maiores deverão ser reveladas. Mas se Eu estou em Ti, e Tu estás em Mim, então tudo o que é grande se torna pequeno e tudo que é pequeno se torna grande. Meu único desejo está agora concentrado em Ti. Paternalmente Eu protejo Tuas ações e Te digo: "Meu filho! Tu, Filho do Homem, completa Tua Obra, e traze-Me de volta 'o homem'!"

Jesus estava cônscio de que O Amor Eterno O colocaria diante de novas tarefas e rejubilou-Se interiormente. Agradece de novo, apoiado em Espírito ao Seu Pai; e é como Se tivesse cessado de viver, mas que a Vida do Pai tivesse renovado tudo. Nele tudo parece como novo, mas não estranho. A ânsia e o desejo de outrora cedem agora ao contentamento e à realização. Internamente tornou-Se outro, ficando, porém, o Mesmo. "Pai!", exclama feliz", que fizeste de Mim!? É quase impossível viver esta Vida maravilhosa!"

"Meu Filho!" ressoa Nele. "És apenas aquilo que fizeste de Mim, em Ti! Pois agora levas em Ti a Minha Alma e a Minha Vida! E aquele que quiser Me procurar, só poderá Me encontrar em Ti. Amém!"

De novo Jesus Se aprofunda no Seu Espírito, e sumamente contente exclama: "Pai! Tudo o que encontrei e vi em Mim é Tua Obra e é penetrado de Teu Espírito. Agora nada mais desta Terra tem algo a reclamar ao Meu Interior. Faze que também Minha Carne e Meu Sangue pertençam inteiramente a Ti, para que sejam úteis à Consumação perfeita!"

IX

Assim passa um dia após o outro. Jesus, ao procurar mel e raízes para saciar Sua fome, quase não percebe que tem também outras necessidades, até que Pius e Horeb voltam para Ele, trazendo um espírito das mais profundas trevas.

"Senhor!" diz Pius. "Consciente de prestar-Te um serviço, trago com Horeb esse irmão perdido. Ele afirma Te conhecer e ri da nossa ‘tolice’, uma vez que nos esforçamos de ser úteis conforme Tuas Palavras. E esse aqui afirma que Tu realmente és O Desejado, mas que perdeste no jogo, pois não venceste a Lúcifer!"

Responde Jesus: "Pius! Vê: os tolos afirmam terem sempre razão! Não importa o que afirmo, mas o que faço! Pois cada afirmação é apenas uma opinião, mas não a vida verdadeira. Minha Vida interior é marcada pelas Minhas ações, dependendo unicamente do Meu Pai Eterno. O que Ele quer, Eu o faço e o farei também no futuro!"

"Então afirmei o que estava certo", diz Pius, mas este aqui quer medir-se Contigo. Cada instrução de minha parte foi em vão."

"Meu querido Pius", diz Jesus, "deixa também isto para Mim. Não quiseste também medir-te Comigo, e acabamos sendo bons amigos?"

"Sim, Meu querido Jesus", responde Pius, "mas temo por Ti! Pois este não quer experimentar-Te na Tua Força e na Tua Sabedoria, mas na Tua Paciência, no Teu Amor e na Tua Confiança em Deus."

"Meu irmão", diz Jesus tranquilamente, "enquanto te preocupas por Mim, ainda não Me conheces, estimulando o Meu adversário. Com isso não Me prejudicas, mas muito mais a ti mesmo! Pois o que é ainda preocupação em ti deve tornar-se certeza: quem Eu sou e o que sou para ti! Só então os alicerces em ti estarão firmemente assentados. E sobre esta fortaleza deves fundar e construir a obra da tua vida; Eu te fortificarei e apoiarei!"

"Ó, Senhor! Tu fazes de mim um eterno devedor!" exclama Pius. "Perdoa-me se não posso fazer mais por Ti!"

"Vai, pois, e faze o que deixaste de fazer", diz Jesus, "e Deus te recompensará! Mas a este coitado, influenciado por Satanás, não vamos mandar embora. Ficai tranquilamente perto de Mim e se manifestará a vós o Espírito do Amor e da Paciência."

O outro sorri com ironia, e Pius e Horeb dele se afastam, estranhando a impertinência com que ele espia Jesus.

Mas Jesus reconhece: "Este Me é colocado como provação!" E em Seu Coração faz-se sentir a afirmação da fome, da sede, de todo o sofrimento da alma sobre as trevas espirituais que, de fora, querem se acercar Dele. Novas Forças fazem-se sentir Nele como testemunho: o Amor Eterno coloca-Me diante de novas tarefas e, satisfeito, exclama: "PAI, ESTOU PRONTO!" Estende largamente os Seus Braços e em Espírito abraça todos os homens e todos os espíritos. Orando, abençoa a Terra e seus habitantes.

X

Segue agora a tentação, como foi descrita pelos homens escolhidos por Deus (Evangelho de Lucas 4, 1 a 13).

Finalmente, o tributo à Terra está pago! Nenhum poder da Terra, nenhuma força das trevas pode mais se atrever a se medir com Aquele que se tornou Mestre, o Mestre de toda Vida. E isto porque dominou tudo o que se opôs à Vida de Deus. Agora não havia mais inimigo para Ele, porque venceu tudo. E todo Seu Interior está consagrado à Vida do Amor!

Faz-se, então, ouvir um clamor de júbilo em todos os Céus! Pois a Estrela de Belém estava brilhando para todos, anunciando a todos os seres: Só nesta Luz e nesta Vida podereis alcançar a verdadeira Paz! Amém!

* * *

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