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A CRIAÇÃO DE DEUS
Volume II
A CRIAÇÃO DE DEUS — 3 volumes
Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber
Traduzido por Yolanda Linau
Revisado por Paulo G. Juergensen
Direitos de tradução reservados
CopyrightbyYolanda Linau
UNIÃO NEOTEOSÓFICA
Edição 2023
ÍNDICE
AMOR E BÊNÇÃO DO PAI COMO PROVA DE SUA PRESENÇA ESPIRITUAL 17
A MÁXIMA PREOCUPAÇÃO SE PRENDE À CONQUISTA DO AMOR E DA GRAÇA DO PAI 17
URANION PERGUNTA PELO NOME DO HOMEM MILAGROSO. PURISTA RESPONDE COM INTELIGÊNCIA ÀS SUAS INDAGAÇÕES 44
SÓ PODE SER AMADO COMO HOMEM 54
A PERMISSÃO DE AMAR O SENHOR CONSTITUI O MAIOR PRÊMIO DA CRIATURA 89
CRITÉRIO DE GARBIEL SOBRE O SENTIDO PATERNAL DO DISCURSO DE ABEDAM 99
JUSTIFICATIVA DA CURIOSIDADE. VERDADE, ALIMENTO DO ESPÍRITO. AMOR, BASE DE TODAS AS VERDADES 111
TROPEÇÃO DE SEHEL. ABEDAM TESTEMUNHA A RESPEITO DE SEHEL 113
A IMPORTÂNCIA DA CONFIRMAÇÃO DA DOUTRINA ATRAVÉS DO TESTEMUNHO DO ESPÍRITO 133
A FILIAÇÃO DIVINA É MAIS ELEVADA QUE A FRATERNIDADE E A SERVILIDADE PARA COM DEUS 148
GARBIEL E BESEDIEL SÃO CONVOCADOS PARA ESCREVEREM DOIS LIVROS: “AS GUERRAS DE JEHOVAH” E “O AMOR E A SABEDORIA DE
AMOR E GRAÇA DIVINOS DIRIGIDOS A HORADAL, CHEFE DAS PLANÍCIES 173 101. HENOCH ORIENTA HORADAL E SEU EXÉRCITO 175
O MILAGRE DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR. O ESPÍRITO DE PURA, ENCARNADO EM MARIA 202
ALEGRIA DE VIVER COMO A MELHOR EXPRESSÃO DE GRATIDÃO AO CRIADOR 205
HENOCH ACONSELHA PESQUISA CONSTANTE DA VERDADE E DO CONHECIMENTO DE DEUS 251
A TRÍPLICE NATUREZA DE ABEDAM, O SUBLIME, E DE HENOCH, INSTRUMENTO DO SENHOR 256
LAMECH APRENDE O PREPARO DO OURO. CONVOCAÇÃO DE TUBALKAIN 285
A ATIVIDADE COMO MEIO DE CONSERVAÇÃO E FORTALECIMENTO DA VIDA 310
RELAÇÃO ENTRE FÉ E AMOR, E ENTRE O AMOR E O CONHECIMENTO. PARÁBOLA DA JOVEM E DOS DOIS PRETENDENTES 316
S
eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele
sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”
Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.
ObrasdaNova Revelação
O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes
A Infância de Jesus
O Menino Jesus no Templo
O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim
Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua
A Mosca
Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo
(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)
Mensagens do Pai
As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor
Cenas Admiráveis da Vida de Jesus – 2 volumes
Sol Natural
Volume II
AMOREBÊNÇÃODOPAICOMOPROVADESUAPRESENÇA ESPIRITUAL
Em seguida Abedam pergunta: “Quem surgirá quando necessitar- des de Forças e Poderes superiores? Quem poderia se apresentar em Meu Nome a fim de vos proteger contra todo o mal e afastar de vosso coração as perseguições do mundo, se ninguém possui poder e força como Minha herança e proteção contra todas as investidas da serpente?”
Todos respondem em uníssono: “Ó Abba, Tuas Palavras tradu- zem puro amor e ainda que nossos olhos físicos não tenham mais a imensa Graça de ver Tua Pessoa, por certo não hás de levar Contigo o Amor Paternal que nos suprirá de novo. Por isto Te pedimos que não retires Tua Mão abençoada, dando-nos poder e força suficientes para vencermos o mundo.”
Emocionado, Abedam retruca: “Realmente, se ficardes em Meu Amor tereis ganho o maior tesouro que nada e ninguém vos poderá tirar. Assim, continuarei convosco no Amor, hoje e sempre.”
2.AMÁXIMAPREOCUPAÇÃOSEPRENDEÀCONQUISTADOAMOREDAGRAÇADO PAI
Cientes de que esta promessa lhes traria a verdadeira Vida, Força e Poder para vencerem todos os obstáculos, os patriarcas aspiravam este dom acima de tudo e o exemplo dentro de tais normas representava a
única escola e dever. Assim, até mesmo os filhos entre seis e dez anos eram muito mais compreensíveis e sábios que hoje em dia os maiores intelec- tuais, mais ignorantes que as criancinhas alimentadas com leite materno.
Que diferença existia entre a mulher daqueles tempos e a de hoje! Entre sete mil não há uma que não pratique cem pecados mor- tais em apenas um segundo por meio de sua vaidade e presunção. Não pretendo analisar suas roupas; digo apenas que nos tempos mais per- vertidos de Hanoch as prostitutas se vestiam mais discretamente, pro- curando ocultar o que pudesse despertar a volúpia.
Hoje em dia, uma menina de dez anos já conhece seus atrativos que estuda diante do espelho, e quando cresce e nota suas formas ten- tadoras, deseja até mesmo reduzir ao máximo as suas vestes caso isto se enquadre dentro da moda e o policiamento o permita. Mas, aquilo que não ousa fazer, ela o faz intimamente, procurando seduzir os homens.
A mulher de hoje é pior que cem mil dos piores demônios no inferno que fogem diante de Meu Nome. Mas ela se ri de Mim e não se curva diante de Mim, muito menos diante de Meu Nome, perante o Qual todos os Céus, mundos e infernos se curvam. Para ela seria me- lhor se fosse obsedada por milhares de demônios dos quais poderia ser liberta através do Poder de Meu Nome.
Procurai pronunciá-Lo frente a tal criatura durante dez anos, que não desistirá de seu impudor, orgulho, vaidade e sedução. Julgais que tal criatura irá para o pior dos infernos? De maneira alguma, pois seria ainda bom demais. Todos os demônios fogem de Meu Nome e têm que se prosternar diante de um anjo punidor. Porventura ela o faria?
Quando terminar sua existência pecaminosa sem se regenerar e apresentar frutos da mais sincera penitência, há de sentir a infinita plenitude de Minha Ira.
Gemela querida, vê que diferença existe entre ti e as mulheres deste tempo; é um abismo que separa dois Infinitos! Tu repousas em Meu Coração. Elas tanto se distanciaram de Mim que Minha Mão tão Poderosa não as poderá alcançar. Distanciaram-se para um segundo In- finito que comporta a mais amarga Ira. Basta deste assunto, pois pode- ria irar-Me antes do tempo. Voltemos para a era original.
Jamais abandonarei Meus filhos escolhidos. Enquanto vossos corações estiverem voltados para Mim, estarei Presente com Meu Amor à medida de vosso amor para Comigo e vossos irmãos. Os de corações em chama hão de Me ver, mormente se os tiverem mantido puros des- de o início de sua existência, sem se deixarem seduzir pelo mundo. Guardai no coração esta promessa. Deveis continuar com todo poder e força, razão porque o mundo da Natureza vos será submisso. Tão logo vos afastardes desta promessa, a força diminuirá, e Eu me tornarei cada vez mais estranho e não ouvirei vossas súplicas. Considerai bem Quem ora Se dirige para vós.
3.UNIÃODEGEMELAE LAMECH
Em seguida, o sublime Abedam apresenta Lamech a Gemela e diz: “Minha querida, este homem se chama Lamech e é como tu cheio de amor para Comigo. Desejo entregá-lo a ti, pois sei que não te tocará antes que isto seja de Minha Vontade. Não precisas temer algo, porque é tão casto e puro no coração como tu. Não alimenta desejos referentes à tua pessoa e também procura fugir de ti, pois ambos só consideram o amor para Comigo. Ele se assemelha em tudo a ti e também chorou no Meu Peito as lágrimas do amor mais profundo. Muito embora ainda jovem, é detentor da máxima sabedoria que uma criatura livre poderia usufruir, e também possui grande poder e força como efeito do seu sen- timento profundo para Mim. Se quiseres convencer-te disto, faze-lhe qualquer pergunta para tal fim.”
Com grande receio de Lamech, Gemela não se atreve a fitá-lo e diz para Abedam: “Meu adorável Jehovah, não consigo formular algo, pois sinto tremendo pavor diante dele. Se devo obedecer-Te, é preciso que me libertes deste pavor, caso for de Tua Vontade.”
Com delicadeza Abedam a toca e diz: “Gemela, alma pura, que- ro que suceda segundo o teu amor para Comigo.” Livre de seu temor, Gemela se dirige para Lamech: “Poderias, ao lado de teu amor para com Jehovah, amar uma pobre moça que não chega aos teus pés devido à tua grandeza original? De minha parte, só posso amar o meu Jehovah e,
partindo Dele, todo o resto à medida que se enquadra em Seu Amor e Misericórdia, servindo-me para guia junto Dele. Que Me dizes?”
Atirando-se ao Peito de Abedam, Lamech exclama: “Perdoa-me, Senhor, meu coração é tão repleto de amor para Ti a ser incapaz de qual- quer outro sentimento. Porventura cometi um pecado porque preten- des punir-me? Seja quem for esta moça Gemela, nunca a desejei nem a outra qualquer. Sê misericordioso caso tenha errado e absolve-me desta punição; além disto, permite que eu silencie sobre a pergunta, embora de desejo puríssimo, manifestado por uma boca desconhecida.”
Retruca Abedam: “Lamech, és um homem estranho; teu amor supera tua confiança, pois esta não está de acordo com teu sentimento tão profundo. Como pode ocorrer-te que Eu pudesse aplicar-te um castigo através de um prêmio celeste? Serias capaz disto com relação a um estranho? Como então te lembras de tal possibilidade em virtude de simples fraqueza de tua confiança? Como poderia se tornar um castigo para ti aquela filha pura de Zuriel que foi carregada por Minhas Mãos, portanto é merecedora de Meu Amor? Digo-te isto para que consideres o valor de uma dádiva que recebes de Minha Mão.
Gemela nunca dedicou seu afeto a outro homem a não ser ao genitor, razão por que foi tomada de grande pavor ao ouvir o teu nome e ver tua figura. Quando a convidei a fazer-te uma pergunta, ela estre- meceu dos pés à cabeça, pois sabia que Me devia obediência e por isto pediu forças para tanto. Não o percebeste? Como podes considerar a Minha Vontade um castigo? Se Eu não te conhecesse na pureza e no grande amor para Comigo, terias perdido este prêmio. A chama pura de teu amor é uma justificativa para tua atitude, por isto não tens culpa perante Mim, mas perante Gemela, ainda que pequena. Dá-lhe o que pediu, através de Minha Vontade, para apagares tua culpa.”
Reconhecendo o seu erro, Lamech pede perdão a Gemela decla- rando o seu amor puro para com ela, emocionando os presentes. Com isto, ela tornou-se sua esposa única, mas ambos continuaram castos até bem mais tarde quando Lamech, com cento e oitenta e dois anos, gerou Noé, com Minha Ordem. Este matrimônio foi celebrado no Céu e deveria ser imitado para sempre.
4.LAMECHEGEMELA,OCASALMAISPURODOS PRIMÓRDIOS
Lamech insiste em expressar sua imensa gratidão a Abedam, di- zendo: “Ó Abba Abedam! Sempre observaste o meu coração que desde a infância já se ocupava somente Contigo e Tuas Obras maravilhosas, e foi este o motivo de meu receio com relação a Gemela. Ignorava que também o amor dela se prendia exclusivamente a Ti, portanto nosso sentimento só pode se fortificar e aumentar pela união. Mas o que devo fazer para agradecer-Te condignamente por esta Graça?”
Retruca Abedam: “O fato de reconheceres a imensidade de Mi- nha Graça a ponto de não encontrares palavras para tua gratidão, já é o agradecimento que Me compraz. Quem ainda encontra palavras de gra- tidão e louvor não concebe a imensidade de Minha Bênção, tampouco possui a verdadeira humildade, pois se expressa à maneira mundana. De modo algum isto Me agrada, ainda que as palavras fossem expressas pelos anjos mais sublimes.
O mesmo acontece com a gratidão ativa, pois também erra quem julga demonstrar sua gratidão através de suas ações, ainda que correspondam à Minha Vontade. Que poderia ser feito como trabalho que Eu não conseguisse realizar sozinho? Qual seria a origem da reali- zação de Minha Vontade? Porventura não é a Minha Força dentro da criatura que providencia tal realização, pela qual ainda se torna grande devedora perante Mim? Como poderia alguém Me agradecer por algo que o torna devedor da própria gratidão?
Quem quiser me agradecer de modo valioso e agradável, que o faça pelo amor, em silêncio, na mais profunda humildade de seu cora- ção, que Eu hei de considerar sua gratidão. Deste modo, caro Lamech, tua gratidão é justa por ignorares como começar e onde terminar, e foste aniquilado pela percepção da grandiosidade de Meu Amor e Mise- ricórdia, e nada mais podes senão amar-Me. Para te certificares inteira- mente do Meu Agrado, dirige-te a Gemela e dá-lhe a resposta desejada.”
Lamech então diz: “Gemela, amada puríssima de Jehovah, por certo perdoarás minha atitude descortês, pois nunca olhei uma cria-
tura como tu e todos os meus sentidos estavam voltados para o nosso Jehovah. Por isto temia ser obrigado a dividir o meu amor entre ti e Ele, ideia absurda que, aliás, me veio através de tua pergunta. Uma vez esclarecido de que nosso amor só pode aumentar o amor para com Ele, julgo que perdoes o meu erro.”
Neste instante, Gemela afasta um pouco sua cabeleira dourada do rosto e seu olhar amoroso se dirige para Lamech que, diante desta face celeste, quase perde o fôlego, dizendo para Abedam: “Não, não, ó Santo Pai, não mereço tamanho prêmio! De fato, diante deste anjo celeste sou apenas um verme pecador. Seria mais fácil fitar o sol a pino do que o rosto indizivelmente belo deste anjo do Teu Amor. Se Zuriel é pai dela, se re- almente é possível um ser humano ser genitor de tal anjo, devolve-a para que continue a protegê-la como até então. Mas Tua Vontade Se faça!”
Zuriel desata a chorar e diz para Lamech: “Por que recusas mi- nha filha, se foi o Próprio Jehovah a entregá-la a ti? Vê só como ela chora!” Abedam Se dirige para Zuriel e diz: “Não te preocupes com as lágrimas de Gemela e considera não existir poder mundano que pudes- se separar o que foi unido por Mim. Lamech não é duro de coração, mas muito sensível, razão por que o fortifico para tornar-se marido de tua filha, muito mais, porém, Minha. Lamech, curva-te diante de Ge- mela, entrega-lhe tua mão direita erguendo-a para tua esposa e postai-
-vos diante de Mim para poder abençoar-vos para todos os tempos dos tempos. Amém.” Ambos obedecem e Abedam abençoa-os e lhes ordena a pureza de coração e a castidade para toda a vida. Eles o prometem e se tornam o mais puro casal da época original.
5.UNIÃODEMAISQUATRO CASAIS
Passada esta cerimônia, Abedam chama Jared, Henoch e Matu- salém e lhes diz: “Vossa cabana é bastante espaçosa para poder abrigar Lamech e sua esposa. Enquanto viverdes em paz e concórdia, amando exclusivamente a Mim, Eu também morarei convosco, visível ou invi- sivelmente. Hei de Me apresentar por várias vezes e abençoar vosso lar. Aceitai o jovem casal, em Meu Nome.”
Após terem recebido a bênção dos patriarcas, estes conduzem o jovem casal junto de Adão e Eva que, todavia, estão de tal forma co- movidos que mal conseguem pronunciar palavra, e ela diz para Adão: “Este casal me diz em silêncio como nos deveríamos ter portado diante do Senhor. Não teria surgido um abismo lodoso debaixo de nossos pés e eu ficaria feliz se a maldição pudesse ser retirada da Terra.”
Diz Abedam: “Tua dor se justifica, mas tens diante de teus olhos a base para a fonte, da qual no futuro jorrará uma Água Viva sobre toda a Terra, lavando-a da antiga maldição. Por intermédio de Gemela se iniciará uma linha pura e quando a Terra for batizada com a Água Viva, será igualmente purificada pelo fogo de Lamech, dos Céus. Isto a purificará totalmente de sua maldição, tornando-se novamente uma es- trela do Meu Agrado, pois sua luz projetará raios possantes por todos os espaços do Infinito. Não haverá outra estrela que pudesse contar, como a Terra, os mais sublimes milagres de Minha Misericórdia.
Mas ai da serpente, cujo castigo em parte alguma será tão tene- broso como neste palco de Minha Misericórdia. Digo-te, Eva: Onde Eu espargir Minhas maiores Misericórdias, também será espargida a Mi- nha maior Ira. Todas as inúmeras estrelas serão julgadas pelos anjos, se- gundo sua espécie. Mas a raça de víboras da Terra será julgada por Mim Mesmo, dando-lhe o prêmio merecido no eterno fogo de Minha Ira.
Em verdade, o dragão de Caim e todos os seus prisioneiros terão que pagar sua perversidade no fogo mais intenso de Minha Ira, suas dores horríveis não terão fim e seus clamores de pavor e sofrimento não serão ouvidos por ninguém. Passarão para o esquecimento total, onde ninguém deles se lembrará.
Hei de tapar os Meus Ouvidos e afastar os Meus Olhos, exter- minando-os inteiramente de Meu Coração. Para que Eu Mesmo possa esquecê-los, seus nomes serão apagados da recordação do Meu Amor, tendo apenas uma existência por Meu fogo da Ira viva, sem fim, assim como o do Meu Amor e de todos os Meus filhos são eternos na máxima ventura e felicidade.
Por isto, Eva, deves viver por Mim e não te preocupes. Não está ao teu alcance purificar a Terra com toda a tua preocupação, e
foi o motivo por que te revelei isto, para que fiques calma por cau- sa da Terra.
Não demorará que a enxurrada do pecado inundará até mesmo as montanhas, chegando às nuvens. Mas os frutos deste casal serão car- regados em Minhas Mãos por cima das vagas mortíferas, e lhes prepa- rarei um país novo e fértil. Alegra-te com Minha Promessa na calma e no amor de teu coração, pois Eu te renovei e purifiquei nesta Gemela. Entende-o bem em teu coração.”
Virando-Se para Matusalém e Zuriel com suas restantes quatro filhas, Abedam prossegue: “Matusalém, tens ainda quatro filhos que muito Me agradam. Eis aqui as suas esposas. E Tu, Zuriel, eis os qua- tro irmãos que darei às tuas filhas.” Chorando de alegria, Zuriel diz: “Ó Jehovah, como posso merecer tamanha Graça?” Responde Abedam: “Lutaste com valentia contra o mundo todo e Me devolveste tuas cinco filhas tão puras como foram entregues a ti.
Os quatro casais habitarão em moradas novas, em torno da cabana de Jared, supridas de tudo. Lá deverão viver em toda pureza do coração e na castidade de suas almas, e em tempo oportuno também terão filhos da luz. Vinde a Mim para que vos possa abençoar e aceitar como filhos.”
Os quatro casais se prosternam aos Pés de Abedam e Lhe agra- decem do fundo do coração. Ele os ergue e abençoa. Em seguida, são entregues à bênção dos genitores e Abedam diz a Zuriel, em prantos: “Vem também tu receber o maior prêmio por tua fidelidade. Faço de ti um grande anjo, e serás um protetor fiel de todos os Meus filhos e, a partir de agora, verás o Meu Semblante, alegrando-te de Minha Luz.” Com isto, Abedam toca Zuriel, que se torna luminoso qual Sol — e desaparece.
6.ZURIEL,PROTETORDOS RECÉM-CASADOS
Todos estão assustados diante do acontecimento e não se atre- vem a fazer indagações. Somente Gemela consegue criar coragem e, prosternando-se diante de Abedam, pede em silêncio para fazer uma
pergunta. Ele Se antecede, dizendo: “Minha amada Gemela, por acaso temes por Zuriel, teu pai?” Ela o confirma e expressa seu pedido. Abe- dam então a consola: “Porventura julgas que Zuriel tenha desaparecido porquanto não consegues vê-lo? Não te preocupes, hás de vê-lo segui- damente, podendo falar-lhe de coisas muito mais belas que até então.
Ele recebeu Graça tão imensa diante de todos por tua causa, quer dizer, a fim de se tornar um fiel guia e protetor de ti e de teu es- poso contra todas as tentações do mundo, e sempre que Eu pretender visitar-vos, ele Me anunciará.
Além disto, também será um guia secreto de todos os filhos do Sul e penetrará seus corações, podendo sacudi-los sempre que descobrir qualquer infidelidade. Deste modo, poderão voltar-se mais facilmente para Mim, ouvindo no coração a chamada do Pai, e também entender o trovão de Deus.
Finalmente, ainda hoje vários filhos do Sul serão preparados para descerem às planícies da grande cidade Hanoch, onde uma parte é cheia da pior abominação, outra está sangrando sob o domínio e escravidão mais vil. Lá deverão anunciar-lhes o Meu nome e pregar-lhes rigorosa penitência e verdadeira regeneração a fim de se voltarem incontinenti para Aquele que de há muito aguarda seu regresso, com Paciência e Mi- sericórdia. Mas esta Misericórdia será a última para os filhos da serpen- te. — Tal incumbência, amada Gemela, requererá a grande fidelidade de Zuriel, razão por que necessito dele para que o dragão perceba que uma criatura despretensiosa é, perante Mim, maior e mais forte que ele com todas as suas corjas do mal.”
Sumamente feliz e grata, Gemela se atira aos Pés de Abedam, que a toma novamente nos Braços perguntando se ainda tem outros desejos. Comovida, ela não consegue falar, pois percebe que Jehovah continuava a amá-la tanto quanto antes de ser casada.
Abedam a aperta ao coração, chama Lamech e diz: “Estás satis- feito com Gemela que te esquece nas Minhas Mãos? Que te diz o teu coração?” Responde ele: “Pai, Santo e Amantíssimo Pai, se não conti- veres o meu coração, ele se desintegrará por um sentimento jamais sen- tido por Ti. Quando me entregaste esta Gemela pura e celeste, pensei:
Poderei amar-Te como antes se for obrigado a dividir o meu amor com ela? E no momento em que a ergui do solo, temia que ela tivesse ma- culado a minha mão e por isto não mais seria tão querida de ti. Agora, vendo que ela de novo se encontra nos Teus Braços, meu coração não se contém de alegria e, se Tu não o amparares, morrerei de imenso amor para Contigo.”
Inclinando-Se para Lamech, Abedam diz: “Querido, esta Mão ainda está livre, apoia-Te Nela e sente o quanto sou Pai de todos.” Como Lamech se achasse indigno para tamanha Graça, Abedam o comprime ao Peito Santificado e diz para ambos: “Continuai como sois agora, que jamais haveis de perder este pouso sublime. Sois o primeiro casal que desde eternidades foi carregado visivelmente por Minhas Mãos. Deve este fato constituir uma recordação eterna para todos os descendentes, que apenas serão Meus verdadeiros filhos quando se deixarem prender, atrair e carregar por Minhas Mãos. Os que não seguirem o vosso exem- plo receberão pouco amor e vida de Mim. Agora, Lamech, fita a alma de nossa Gemela.”
Nisto, Abedam sopra nos olhos de Lamech que vê Gemela numa forma tão luminosa, cujo brilho é mais forte que a luz central de todos os sóis. Perante esta visão, ele leva um verdadeiro impacto e quando aos poucos consegue se refazer, desata a chorar, pois não sabe o que fazer de imenso amor para Comigo.
Virando-Se para Gemela, Abedam diz: “Vê, Lamech chora de amor por Mim. Enxuga estas lágrimas maravilhosas com teus cabelos, que tal ação se tornará uma bênção para ti e todas as tuas descendentes.”
Pela primeira vez, Gemela abraça com seus braços delicados o seu companheiro, e com sua fronte e as faces delicadíssimas ela enxuga as lágrimas de Lamech, enquanto ambos ainda se encontram nos Braços de Abedam. Ele os carrega para junto dos genitores, dá-lhes um beijo e diz: “Todas as crianças que nascerão Me devem ser entregues tão puras como estas. Sou sua Origem, para onde deverão retornar para sempre.”
Em seguida, Abedam diz para os outros quatro casais: “Nos pró- ximos dias de trabalho, executareis o que explicarei agora. Dentro da Terra existe uma espécie de metal de aspecto avermelhado, menos duro que qualquer outro. Seu peso é maior que o de uma pedra de igual ta- manho. Este metal se forma dos raios solares absorvidos pela Terra e é encontrado em quase todas as montanhas, pois somente elas possuem grandes galerias onde se aglomera em sua umidade a força dos raios absorvidos pela Terra com auxílio da influência da Lua, recebendo uma polarização que o torna mais sólido. À medida que as águas telúricas trocam sua polarização magnética de projeção e retenção, de 13.555 a
13.555 anos, após meio percurso percorrido do Sol, e após cerca de sete mil anos, salga suficientemente o conglomerado metálico. Este metal é, por ocasião do recuo das águas, tão abundante a não ser gasto nos subsequentes 13.555 anos. O resíduo, conquanto tenha suportado mi- lhares de mutações aquáticas, torna-se precisamente mais sólido; não pior, mas ao contrário, mais puro.
Este metal ainda não foi usado por ninguém, com exceção de um príncipe de Hanoch. No entanto, foi-lhe demonstrado apenas o refugo do mesmo. Todavia, a Terra já passou, desde sua formação, mais de mil transmutações de marés. Nas montanhas se encontram grandes benefícios para os sábios, por amor, e Eu vos revelo os mesmos porque deveis usá-los com sabedoria.
É preciso colher o metal e purificá-lo no fogo, e no momento oportuno Eu inspirarei vosso espírito para que possais usá-lo. Uma vez mestres nesta arte, deveis ensiná-la aos irmãos, inclusive seu uso sábio e desinteressado.
Para tal fim, organizei vossas moradias com o necessário para a aplicação certa, e o uso dos instrumentos já existentes ser-vos-á ensina- do espiritualmente. Muito embora alguns dentre vós, desde os primór- dios, tentaram imitar os instrumentos dados por Mim, a tentativa não surgiu efeito por não terdes descoberto o necessário metal. Como acabo de demonstrar-vos o genuíno, será fácil imitar os modelos.
Eu vos proporcionando tudo gratuitamente, deveis usar a mes- ma norma e, se trabalhardes em benefício dos irmãos, eles vos poderão suprir de alimento. Jamais deveis exigi-lo, mas aceitai de bom grado tudo que vos ofertarem. Que ninguém vos exija algo por vos ter favo- recido, pois o amor deve ser vosso verdadeiro intercâmbio. Sede per- feitos em tudo e fortes no vivo amor, que estarei constantemente entre vós com Minha Mão abençoada, atraindo, ensinando e preparando-vos para todos os acontecimentos.”
Nisto, Adão se aproxima e diz: “Santíssimo Pai, há pouco men- cionaste a mudança na altura das águas e desejava saber o que será de nós, caso o mar venha a inundar nossas regiões atualmente habitadas. Poderias dar-nos uma orientação a respeito?”
Com leve sorriso, Abedam responde: “Adão, é preferível te pre- ocupares com algo melhor, já que pretendes preocupar-te de qualquer modo. Imagina uma era de 13.000 anos a partir de agora. Por certo a Terra não te preocupará quando não mais fores seu habitante, e as cria- turas que em tal época habitarão o orbe terão tempo suficiente para fu- gir da maré, porquanto ela corre tão vagarosamente que apenas de mil em mil anos se sentirá uma diferença e se, além disto, as águas tiverem iniciado o retorno partindo do Norte.
Digo a todos, preocupai-vos somente com a pureza do coração e com o verdadeiro amor para Comigo. Quanto à organização dos corpos cósmicos, somente Eu entendo de sua conservação, e Meu Poder, Força e Sabedoria bastam para toda a eternidade.
Sois capazes de vislumbrar apagados grupos de estrelas no Espa- ço infinito e os últimos habitantes da Terra também os verão; no entan- to, a Terra ainda não tinha sido criada quando elas foram desintegradas em sua existência quase eterna.
O mesmo sucederá com esta Terra e este Céu. Minhas Palavras e Meus filhos jamais se desintegrarão. Por acaso também pretendes te preocupar por este motivo? Se pretendeis vos preocupar, tratai de vossa despreocupação e que vossos corações se encham cada vez mais do ver- dadeiro amor para Comigo. A verdadeira Vida, eterna e indestrutível, consiste no vosso conhecimento de Mim e no amor para Comigo.”
8.OENVIODEDEZMENSAGEIROSPARA HANOCH
Em seguida, Abedam convoca Sethlahem, Kisehel, seis irmãos e dois filhos deste, todos compenetrados do zelo e conhecimento em vá- rios assuntos úteis, e lhes diz: “Executai sem delongas o que Meu Amor e Misericórdia exigem de vosso livre arbítrio. Segui para as planícies da cidade de Hanoch, onde existem criaturas que nada mais sabem de Mim, vivendo pior que cães, gatos, lobos, ursos, leões, tigres, hienas e serpentes.
Seu odor pestilento sobe aos Céus em virtude da impudicícia e pavorosa lascividade, matam-se reciprocamente, derramam o sangue inocente de seus irmãos e não poupam os velhos. Seu ultraje chegou ao ponto que o rei, que também se chama Lamech, declarou-Me guerra há algum tempo porque fiz dizimar por feras seu exército cruel sob direção de Tatahar, o maldoso, querendo até mesmo destruir a Terra com fogo.
Mas esta não é a pior de suas maldades contra Mim. Como eu permitisse que todas as suas concubinas lhe fossem infiéis por medo da morte, fugindo até aqui, inclusive suas duas mulheres e sua filha No- êmia, seu ódio cresceu de tal modo a não fazer outra coisa senão ima- ginar como ultrajar-Me. Organizou por todos os lados vigias e espiões para observarem as atitudes e conversas dos seus súditos. Mandou cavar uma grande cova, encheu-a de detritos e gravou o Meu Nome com excrementos numa pedra. Em seguida a amaldiçoou e, na presença de muitos, a atirou na cova, obrigando os escravos mais desclassificados a defecarem por cima e finalmente mandou tapar a mesma.
Isto feito, ele mesmo se declarou Deus Supremo e obrigou a todos à adoração de sua pessoa, sob pena de morte cruel. Os vigias e espiões têm que cuidar que ninguém venha a proferir o Meu Nome sob risco de pena de morte.
Os escravos estão proibidos de falar e, caso desobedeçam, te- rão a língua arrancada e, se quiserem fazer-se entender, devem fazê-lo com urros animalescos. Além disto, não devem usar os pés, mas andar de quatro e somente durante o trabalho podem ficar eretos. Nenhum escravo pode se casar e, se tentar desobedecer, terá que enfrentar as
piores mutilações. Foi este o motivo por que mandou executar milhares de mulheres e filhas de escravos. Eis a situação nas planícies. Além de Hanoch, existem ainda dez cidades grandes, todas sujeitas a este Meu maior inimigo, onde a situação é igual à de lá.
O sangue desses infelizes clama por Mim para vingar-se. Por isto terei piedade e vos enviarei como libertadores deste povo. Não de- veis matar ninguém, nem o próprio Lamech. Transmiti a todos o Meu Nome, Minha Ira e o breve julgamento, caso não se voltem para Mim com remorso e penitência.
Cabe a Lamech abrir aquela cova com as próprias mãos, tirar a placa gravada com Meu Nome, limpá-la com água e depois lavá-la com lágrimas de remorso. Se ele se opuser, fazei uso de vosso poder e que seja castigado com pragas até que aceite vossa ordem. Sustai não somente a sua pompa, mas a de todos, para que se tornem irmãos; e apenas os mais sábios do povo devem ser designados para guias populares. Não devem habitar os palácios reais, mas as habitações mais simples e rústicas.
Quando forem por vós reconhecidos como aptos para guias e vigias, aponde-lhes as mãos na fronte e no ombro transmitindo-lhes a força necessária para sua tarefa. Não temais ninguém, nem vos deixeis ofuscar pela pompa e opulência daquelas cidades, pois serão sempre pontos de concentração da serpente. Não vos deixeis seduzir pelo bri- lho externo, mas, como Meus profetas, sede externamente rigorosos e implacáveis, e intimamente cheios de amor ao próximo.
Tão logo tiverdes organizado tudo, voltai à pátria, e sem motivo importante não volteis às planícies. Antes de sairdes de lá, é preciso fa- zer a purificação física para não trazerdes a morte para aqui, pois aque- las planícies estão cheias de peste e morte.
Recebei a Minha Bênção e sede firmes, fortes e enérgicos em tudo, enquanto agirdes em Meu Nome. Toda a Natureza vos será sub- missa, fogo, ar e água, inclusive todos os animais e as forças do mal. Não façais mal a ninguém e tratai de ajudar a todos. O renitente pode ser castigado, não para que sofra, mas para regenerar-se. Considerai tudo isto em Meu Nome e segui com Minha Bênção.”
Os dez escolhidos agradecem fervorosamente a Abedam por tê-
-los agraciado com Sua Infinita Misericórdia, Amor, Paciência e Mei- guice, escolhendo-os para Seus instrumentos, e Sethlahem finalmente diz aos demais: “Por várias vezes contestei vossa opinião de que Jehovah sentisse apenas agrado com as coisas grandiosas, pois quanto mais po- bre, mais humilde, mais temerosa e retraída do mundo for a criatura, quanto mais simples em suas palavras e ações, e mais prestimosa para com seus irmãos, tanto maior será o Agrado de Deus.
Daí concluí: Se Ele sentisse prazer nas coisas grandes e brilhan- tes, por certo lhes teria dado o dom da fala de modo muito mais elevado do que poderíamos entender, enquanto nos deixaria mudos. Todavia, pergunto: quem já teria ouvido falar uma árvore, uma montanha, um rio, o mar, a própria Terra, a Lua e as estrelas? E o simples trigo, se bem que não fale, é mil vezes mais abençoado que uma árvore orgulhosa; basta para tanto observar-se sua indiscutível utilidade. Ele nos fornece o pão, alimenta o gado, cabras e ovelhas. Quantos animaizinhos que des- conhecemos vivem da bênção do humilde vegetal, enquanto nenhum urso esfaimado conseguiria saciar sua fome com um pedaço de cedro orgulhoso e majestoso.
Vede as árvores. Quanto mais simples, tanto mais abençoados são os seus doces frutos, obrigando-nos a agradecer ao Santo Doador. Quem teria ânimo de triturar o fruto duro do carvalho monumental e partilhar sua bênção com os suínos?
Olhai as águas, rios e córregos. Enquanto permanecem mo- destos e pequenos em seus leitos, continuam puros e transparentes. À medida que crescem e se tornam mais volumosos, também se turvam. Aquilo que anteriormente fora abençoado pelo humilde córrego será destruído pelas águas tempestuosas.
A chuva abençoada cai apenas em gotinhas. Uma vez desenvol- vendo-se em grandes pingos, ela desencadeia uma tempestade e abate o que deveria ter erguido e vivificado.
Teria ainda muita coisa para vos dizer a respeito da constante pobreza e humildade. Mas, naquele tempo, outro espírito vibrava em vosso coração e todos os vossos conceitos do Agrado de Deus brilhavam nos cumes das montanhas ou talvez acima de todas as estrelas. Este con- ceito maravilhoso, que naquele tempo eu mal conseguia formular para mim, agora está sendo demonstrado com enorme clareza pelo grande Abedam, Jehovah, Emanuel, pois Ele não considera a aparência e o bri- lho do mundo, preferindo um mosquito a um elefante. Ao mosquito Ele deu até mesmo um par de asas para voar, enquanto um mastodonte se vê obrigado a se movimentar com dificuldade sobre o solo terráqueo à procura de alimento.
O Senhor, nosso Poderoso Criador, o Santo Pai, Jehovah, o Eter- no, o Infinito em Seu Amor e Sabedoria, a Luz de toda luz, a Força de todas as forças, o Poder de todos os poderes, acaba de nos demonstrar que para Ele somente tem valor a simplicidade da verdadeira humilda- de em união com o puro amor, enquanto o resto de nada vale.
Ele poderia ter estipulado o brilho e a pompa como condição para a conquista de Seu Amor Paternal e a Vida Eterna. Considerando apenas externamente, quão terrivelmente difícil teria sido para nós en- contrar Sua Graça, sem considerar sua Ordem eterna? Agora sabemos que a Vida Eterna é facilmente conquistada, pois em minha simpli- cidade, eu e qualquer outro podemos recebê-la como dádiva do Pai. Aceitai, Pai, nossa eterna gratidão. Somente Tu mereces toda Honra e Glória, pois nos consideraste em nossa simplicidade e nos escolheste para abafar e apagar o orgulho do mundo em Teu Nome. Conserva-nos na constante humildade e amor para Contigo. Amém.”
10.JEHOVAHCOMO HOMEM
Nesta altura, Kisehel se dirige para Sethlahem, dizendo: “Deves estar lembrado no que consistia nosso ensino, ou melhor, nosso conhe- cimento, pois Jehovah nos era revelado de uma maneira que anulava até mesmo nossos pensamentos mais profundos a respeito Dele. Sabíamos de Sua infinita Majestade, Poder e Força, e vez por outra comentáva-
mos sobre Sua possível Identidade; mas quem teria tido a ideia de ima- giná-Lo qual Homem semelhante a nós, se bem que o mais Perfeito?
Nossos corações se ocupavam constantemente com Deus, mas somente tu tiveste a Graça de concebê-Lo do modo mais acertado; no entanto, não havia quem fizesse o papel de juiz. Que prova palpável terias à disposição para nos elucidar e nos convencer de tua fé? Deste modo, vivias no conhecimento, todavia era cego, apenas pressupondo a luz porque seu raio aquecedor te dava a impressão de sua proximidade. De minha parte, andava de olhos abertos, no entanto me encontrava na mais densa treva, nada vendo nem podendo pressupor uma luz.
Assim sendo, julgo não devermos nos vangloriar do passado, pesquisando se era mais ou menos afastado da verdade, pois, ainda que fôssemos detentores da mesma, como poderíamos prová-la?
Estava completamente fora de nosso alcance a ideia que nosso Santo Pai fosse um Homem e Deus Único. O engano não se baseava em nossa vontade, mas na ideia que formáramos a Seu respeito. Mas, agora, nos orientou Aquele que se encontra entre nós, Santo e Bom, e nos ajudou em nossa grande miséria, cegueira e pobreza. Visivelmente diante de nós, reconhecemos Nele o Pai Eterno e Santo, o Criador po- deroso e eterno de todas as coisas.
Se um de nós alimentava tal ideia, este alguém era Zuriel com suas filhas, calado e retraído. Mas era difícil fazê-lo falar. Quanto a nós, convém não nos vangloriarmos de forma alguma, mas darmos Honra e Glória a Quem as merece.
O teu bem continuará como tal enquanto partir Dele. Ele em si, e partindo apenas de ti, em nada é melhor do que o meu erro fun- damental. Ainda assim, agradeço ao Senhor por minha anterior igno- rância, pois ela foi o motivo de minha atual humildade, portanto, uma Graça oculta Dele. Reconheço que foi uma Graça pelo fato de jamais poder vangloriar-me desse bem.
Tu possuías conhecimento e teu coração vibra em virtude da fama desta Graça. És tanto quanto eu um escolhido, mas se quisesses dar-me teu conhecimento anterior em troca da minha ignorância, não aceitaria. Pelo teu próprio bem te recomendo não mencionares tua in-
clinação, preferindo ser meu irmão querido e humilde. Diante Daquele que ora Se aproxima de nós, ambos somos desnudos e sem mérito. Continua sendo meu querido irmão, agora e sempre.”
Neste instante, Abedam põe suas Mãos nos ombros de ambos e diz: “Amém. De fato, Kisehel, te tornaste o mais forte de todos e compete a ti conduzi-los futuramente. Tu, Sethlahem, ficarás com o dom da predição. Embora teu discurso tivesse sido verdadeiro e tão acertada tua comparação, prefiro as palavras de Kisehel porque reco- mendavam a humildade. Tuas palavras te engrandeceram, enquanto as dele o diminuíram. Qual dos dois está mais próximo de Mim? É muito recomendável falar-se como tu, mas não convém falar de si mesmo. Ainda que alguém fale algo de verdadeiro, de onde se supriu? Não deves alegrar-te externamente por Eu te ter dado algo mais que a teu irmão, do contrário ele poderia elogiar-te em Meu lugar, enquanto foste ape- nas frágil instrumento de Quem te escolheu. Tua maior conquista seja a humildade e o amor verdadeiro e sincero para Mim. Procura viver se- gundo tuas palavras que provinham de Mim, que viverás eternamente. Eis Minha Vontade. Tua palavra é verdadeira e boa porque provém de Mim. Procura viver segundo ela, que viverás eternamente.”
11.AVERDADEIRA HUMILDADE
Comovido com esta promoção, Kisehel faz menção de falar, mas Abedam o antecede dizendo: “Já li em teu coração o que pretendes pe- dir, quer dizer, desejas continuar o mais simples e não um guia. Preferes ser mandado do que mandar, obedecer em vez de prescrever ordens. Al- mejas ser o último de Meus servos e também o mais forte para servi-los, e ao mesmo tempo queres ser o mais fraco a fim de não levar vantagens perante os outros.
Não posso deixar de louvar-te como homem perfeito e de má- ximo valor moral. Quem realmente quer ser o último e mais simples, é para Mim o maior de todos, pois somente a verdadeira humildade vos torna realmente grandes perante Mim.
Por seres profundamente humilde e diante de teus irmãos e fi- lhos desejas ser o mais ínfimo por amor a Mim, e porque não rejeitaste as palavras de Sethlahem, vivificando-as pela ação, és realmente o pri- meiro de todos os escolhidos. Eles não necessitam de guia na sabedoria, pois a possuem suficientemente. Não necessitam de guia no amor, pois Me conhecem e Me amam acima de tudo. Dispensam guia de força, pois a têm como tu. Também não necessitam de guia de Poder e Graça, pois fostes todos escolhidos para a mesma finalidade.
Precisam, todavia, de um guia na constante humildade. A cria- tura pode receber tudo de Mim e suprir-se de Minha infinita provisão espiritual tanto quanto deseja. Pode amar o quanto quiser, pode forta- lecer-se através da fé a ponto de remover montanhas. Pode tornar sua vontade tão poderosa que milhares de criaturas a sigam. Seu discurso pode ser tão poderoso que todos lhe obedeçam.
Mas isto não acontece com a humildade que é posse de cada um, pois não posso proporcioná-la a ninguém, e sim, somente ensiná-la como acabo de fazer contigo. Eis o campo onde quero colher sem ter semeado. A humildade é a única coisa que Me podeis dar sem tê-la re- cebido de Mim. Na verdadeira humildade reside a verdadeira e máxima liberdade da vida, portanto, também a maior perfeição. Através da hu- mildade podeis até mesmo vos proporcionar da inatingível Santidade de Minha Divindade, pois a humildade é a suprema sabedoria, o má- ximo amor, a maior força de toda a vida e o máximo poder, diante do qual todo o Universo estremece com respeito. A humildade é a máxima Força, Poder e Soberania dentro de Mim. Tudo que preenche o Infinito surgiu da humildade.
Compreendes agora, caro Kisehel, por que te escolhi para guia dos outros? Por seres inteiramente humilde no coração e é aquilo que falta mais ou menos aos teus companheiros. Tudo que recebestes de Mim Mesmo pode ser transformado em prejuízo, caso este poder for- midável não predomine sobre as demais tendências.
Em ti, a humildade é o traço dominante em tua vida; por isto, deves e tens que te tornar um exemplo e uma regra viva pela qual se te-
rão que conduzir, caso pretendam levar a bênção à Terra, onde a antiga maldição da serpente orgulhosa e mentirosa tanto os oprime.
Quanto a vós outros, recomendo que sigais imediatamente as pegadas de Kisehel, do contrário tereis maior perdição do que bênção. Considerai as Minhas Palavras e agi segundo seu sentido, para não cair- des em pecado, arrastando convosco os que devem ser abençoados.”
12.LIMITES DO GUIA
Todos agradecem por esta magnífica determinação, pois Kisehel certamente faria jus à confiança de Abedam. Este então acrescenta: “Não esqueçais que sou Eu o Primeiro e Me encontro mais próximo de todos do que o guia escolhido por Mim. Sempre que necessitardes de conselho, dirigi-vos primeiro a Mim no coração, que farei com que se torne acessível ao conselho proferido pelo guia e vos completarei com aquilo que posteriormente ele vos confirmará. Por isto, compreendereis que a palavra dele não é posse dele, senão Minha. O guia não vos trans- mitirá leis e ordens, mas confirmará Minha Vontade dentro de vós.
Quem não se dirigir primeiro a Mim, receberá do guia fortes golpes pela obrigação de deveres, cuja execução será mais difícil do que carregar uma montanha. Portanto, Eu sou o Primeiro, e só depois vem aquele que confirmará Minha Palavra dentro de vós.” Com estas Pala- vras, Abedam despede o grupo, recomendando que O acompanhassem enquanto estivesse visivelmente entre os filhos.
Em seguida, Ele chama Jura, Busin e Orion e lhes diz: “Cer- tamente ouvistes o que acabo de falar, de sorte que se torna fácil agir- des segundo Minha Vontade. Todavia, não vos determinei para uma missão nas planícies, mas também para a prática da humildade, caso queirais vos tornar verdadeiramente Meus filhos e possuir uma vida livre e eterna.
Não necessito prolongar a explicação sobre a humildade; apenas recomendo que a pratiqueis no coração, pois sem ela não há quem Me possa amar verdadeiramente e ter uma vida de amor, perfeita e eterna.
Sempre que quiserdes amar-Me, mas vosso coração não estiver bastante forte para Me abraçar com todo amor, satisfazendo-se com pensamentos estéreis a Meu respeito, sabei que vos falta a verdadeira humildade como base fundamental de toda vida.
Desprovidos desta base, que significa vosso amor? Apenas um sonho. E Minha Misericórdia em vós é somente o tocar de uma pedra com uma vara. Minha Graça? Uma luz num tronco apodrecido. Minha Palavra? Um eco não assimilado por um monte de terra. Meu Amor para convosco? O sopro suave por cima de um entulho insensível. Fi- nalmente, que serei Eu Mesmo? Nada mais que um quadro imaginativo sem vida, ou aquilo que um raio do Sol representa a um animal que dorme na profundeza do mar e da terra.
Por isto, esforçai-vos antes de mais nada na prática da humil- dade. Quando tiverdes encontrado sua raiz interior, tereis encontrado também a Mim em todo Poder, Força e Onipotência, ao lado do Meu Amor, Graça Misericórdia e a Vida eterna com toda sua Glória.
Recebei Minha Bênção e sede guias e instrutores sábios de vos- sos filhos. Ensinai-lhes primeiro a MinhaProcura, e isto acontecendo, devem ir em vossa busca e demonstrar sua conquista. Transmito-vos a necessária força e poder que deveis empregar sempre sabiamente quan- do encontrardes uma teimosia em alguém.
Assim como Eu vos escolhi para guias de vossos filhos, também vós deveis escolher os que são de coração verdadeiramente humilde. Nunca, porém, determinai quem o queira ser, sobrepondo-se aos seus irmãos, em vez de ser o mais modesto. Tampouco quem simulasse a modéstia para ser escolhido, pois um bajulador deve ser excluído de vosso meio até que volte com Meu Testemunho dentro do coração, pedindo ser admitido como o mais humilde servo. Considerai tudo isto e sede amáveis com todos os forasteiros que dentro em breve encami- nharei para aqui. Assim estarei convosco para todos os tempos.”
Em seguida, Abedam, o Sublime, Se dirige para Abedam, o co- nhecido, e diz: “Que farei contigo? Os filhos do Norte ainda não pos- suem guia; que tal se Eu te incumbisse desta tarefa?”
Responde ele: “De saída só posso dizer que Tua Santa Vontade Se faça, pois sabes que estou sempre pronto para passar pelo fogo e deixar-me transformar em tudo que desejares. Mas, como este cargo se prende a certo grau de prestígio que, estou certo, nem Tu Mesmo podes separar totalmente enquanto o guia deve ser aquilo que determinaste, peço isentar-me deste cargo, em virtude de minha humildade que me trouxe diante de Ti. Existem tantos filhos aqui presentes em cujo meio certamente se encontrarão outros do quilate de Kisehel. Se fosse do Teu Agrado, preferia revelar o Teu Santo Nome no sigilo, sem consideração qualquer de minha parte. Sei perfeitamente que a humildade deixa de ser virtude quando é considerada em benefício próprio. Mas Tu conhe- ces o meu coração e sabes não ser este o meu caso; pelo contrário, sou humilde somente por amor e respeito por Ti, por isto constitui minha maior alegria o poder ser útil para com todos. Poupa-me desta incum- bência, todavia, respeito, como sempre, a Tua Vontade.”
Diz Abedam, o Sublime: “Então, pretendes não ser um guia por causa de um certo prestígio, sem considerar que Eu possa separá-lo do cargo?”
Responde Abedam, o conhecido: “Sim, Senhor e Pai, se isto for possível, poderás escolher-me para guia das piores feras, que Te seguirei até o fim do mundo. Apenas não posso fazer uso do poder e da força, mas somente do Teu Amor dentro de mim, pois como detentor da força e poder, quem nos protegeria do prestígio de um cargo? Se tiver ao meu dispor apenas o Teu Amor em minha mais simples humildade, poderei ser útil pela força do amor.”
Protesta o grande Abedam: “Teu sentimento é justo e merece o Meu grande agrado; no entanto, o conhecimento de Minha Ordem das coisas te falta totalmente, segundo a qual não pode haver cargo sem certo prestígio. Sem ele, o cargo não seria cargo, mas um simples moti-
vo de discórdia, onde cada um prefere discutir a respeito de sua própria tolice em vez de seguir a orientação do próximo.
Se o cargo for dotado com o necessário grau de prestígio que consiste na força e poder, o vilipendiador será retido de zombar do cargo e de Minha Ordem, e finalmente será forçado a aceitar as re- gras do mesmo. Terá de considerá-las forçosamente até que as aceite na sua totalidade, tornando-se norma de sua vida como se fosse sua própria criação.
Isto, Meu amigo, nunca será conseguido pelo cargo sem certo prestígio. Se quiseres te tornar Meu servo, terás que assimilar a Minha Vontade e aplicá-la fielmente, sem qualquer consideração de tua von- tade, apenas pela obediência submissa, ou seja, a semente da verdadeira humildade interna.
O prestígio não se prende à pessoa incumbida do cargo, mas somente ao próprio cargo que representa nada mais que a Mim Mesmo em Meu Amor, Graça e Misericórdia, quando por Mim determinado. Porventura pretendes discutir o prestígio de Minha Santidade?
No decorrer dos tempos haverá vários cargos e os homens se cansarão para conseguir tal vantagem. Tais cargos dificilmente terão Minha Autorização, e todo o seu poder e força virão de um poderio mundano por ora ainda desconhecido de vós.
Isto não ocorre com o cargo que acabo de incumbir-te, pois o recebes somente como consequência de tua grande humildade; portan- to, deves aceitá-lo como fizeram os outros; age como deves, que viverás uma vida perfeita de Mim e por Mim. Recebe a Minha Bênção e sê um guia fiel e justo de todos os filhos do Norte. A quem apuseres as tuas mãos em Meu Nome, tornar-se-á igualmente um guia de seus irmãos segundo a sabedoria de Meu Amor.”
14.OPESODEUMGUIAEASFRAQUEZASDOS HOMENS
O conhecido Abedam se sente de tal forma comovido a ponto de não saber falar, nem agir. Ao percebê-lo, Abedam, o Grande, Se aproxima e diz: “Reage, Abedam, pois não convém que um homem
como tu venha a cair em tamanho embaraço. Isto não se deu nem com as moças quando lhes demonstrei coisas grandiosas, recebendo Graças idênticas à que recebeste. Tampouco deves querer fugir, mas deves per- manecer ao Meu lado como antes.
Quando fores iniciar tua tarefa, perceberás que Meus cargos nes- te mundo não são cobertos de mel, mas de toda sorte de amarguras. Então Me agradecerás pelo dom da força e do poder, porque sentirás quão pobre eras sem esta dádiva. Levanta-te e agradece somente quan- do tiveres saboreado todas as doçuras da tua profissão.”
Eis que Abedam, o conhecido, diz com sentimento puro: “Só agora, Pai, poderei agradecer-Te. Não o farei com gestos ou palavras retumbantes, mas pelo crescente amor, humildade e paciência, mei- guice, piedade e persistência. Ainda que fizesses chover fogo e pedras incandescentes sobre mim, não hei de vacilar, continuando até o fim de meus dias, mesmo que contassem o número de grãos de areia do mar.
Podes fazer uma experiência comigo: coloca-me no fogo, man- da-me para dentro do mar, ou que eu seja perseguido pelos raios, que tudo suportarei com paciência por amor de Ti. Não o exijo para pro- var-Te minha persistência, pois desde eternidades deves saber o quanto suportarei. Apenas peço uma prova para descobrir a minha própria fra- queza e se serei capaz de suportar as amarguras de Teu ofício.”
Fitando-o com seriedade, Abedam, o Grande, retruca: “Teus projetos são deveras grandes, mas considera a Quem fazes tais promes- sas. Por acaso conheces os infinitos meios de tentação sujeitos à Minha Vontade? Julgas depender de ti, se continuas de pé ou morres?
É preferível continuares fiel naquilo que te confiei e não exijas de Mim um peso que na realidade não terias coragem de olhar de sos- laio. Se pretendes pedir-Me algo, que seja Eu afastar todas as tentações do teu caminho, em vez de tentar-te. Assim vencerás mais facilmente, alegrando-Me na fidelidade de teu cargo, do que, subjugado por novos encargos exclamando em desespero: Senhor, salva-me, que sucumbo! Para te convenceres da tolice de teu pedido, colocarei por um minuto uma mosca varejeira no teu rosto, e este minuto se tornará insuportável. Teu desejo se cumpra!”
No mesmo instante, uma mosca enorme começa a meter-lhe o ferrão no rosto, sem que Abedam, o conhecido, se pudesse esquivar, levando-o quase ao desespero se não fosse salvo por Abedam, o Grande. Caindo aos pés Dele, ele agradece pela ajuda, ao que o Sublime pergun- ta: “Desejas ainda passar por uma pequena prova de fogo?”
Tremendo qual vara ao vento, Abedam responde: “Ó Senhor, poupa-me não somente desta, como da prova da mosca; Tuas Tentações são terríveis, Senhor!”
15.DESOBEDIÊNCIAPOR AMOR
Em seguida, Abedam Se dirige para Henoch, dizendo: “Ain- da falta meia hora para meio-dia, isto é, antes de acendermos o altar. Como aproveitá-la utilmente?”
Inflamado de puro amor, Henoch responde: “Tu já o determi- naste falando ao meu espírito: Os filhos do Sul ainda não tiveram a oportunidade de ver o Seu Pai, por isto deves chamá-los para que Me vejam e sejam abençoados.”
Prossegue Abedam: “Se ouviste tal ordem em teu coração, por que não executaste a mesma?” Responde Henoch: “Sumamente santifi- cada é cada palavra Tua, porém muito mais és Tu Mesmo.
O motivo de minha desobediência reside em Ti e meu amor para Contigo que me prendeu irremediavelmente a Ti. Já não vivo mais uma vida natural, pois já morri de há muito através de Tua Imensa Mi- sericórdia, mas Tu Mesmo és toda Vida e Amor em mim; portanto, não sou mais eu, e sim, Tu és Tudo em mim.
Deste modo, também foi de Tua Vontade que eu ficasse até que me chamasses para executá-la. Acabaste de fazê-lo e meus pés aguardam Tua Ordem, conquanto saiba que não necessitas de meus insignifican- tes serviços. Teu Amor Paternal me dá uma tarefa que consideras como se fosse algo perante Ti, ao passo que Te dignas agir através de um ins- trumento fraco. Por isto Te dedico meu amor sem fim.”
Diz Abedam: “Henoch, não há o que opor à tua resposta e nem um querubim teria se expressado melhor que tu. Entretanto, existe um
ponto a esclarecer por causa dos outros, quer dizer, declaraste-Me como motivo de tua desobediência. A fim de impedir que a verdade não se torne um engano e escândalo para os demais, deves esclarecê-la melhor.”
Cheio de respeito, Henoch diz: “Entendo-o da seguinte maneira e espero que os irmãos também o façam: Se alguém tivesse uma noiva que se certificara de seu amor puro através de explicações acerca do amor puramente celestial, e ele lhe pedisse uma flor que nasce do ou- tro lado do jardim, ela não consegue separar-se dele até que é de novo relembrada. Em tal caso, o noivo fora responsável por ter ela quase esquecido o seu pedido.”
Diz Abedam: “Henoch, sabes Quem te inspirou esta parábola, ou foi de tua autoria?” Diz ele: “Sim, Pai, é criação minha porque Tu és minha própria vida, portanto o motivo de tudo.”
Exclama Abedam: “Ouvi, todos vós. Deste modo falam os vivos em espírito inspirados pela Causa verdadeira, pois Eu Mesmo sou a Causa eterna de todas as suas palavras. Segui o exemplo de Henoch que haveis de encontrar também a base sólida de vosso irmão. Agora, Heno- ch, traze-Me sete flores do Sul e que sejam acompanhadas pelos outros.”
16.URANION,SEUSSEISIRMÃOSEOSFILHOSDO SUL
Imediatamente, Henoch se põe a caminho dos filhos do Sul que se haviam acampado perto da gruta de Adão. Um ancião, chamado Uranion, se aproxima e diz com respeito: “Pai Henoch, sábio doutrina- dor do grande Deus, qual é o motivo de tua visita? Não hesite em trans- mitir-nos a Vontade Daquele cujo Nome não ousamos pronunciar.”
Diz Henoch: “Qual seria a tua opinião a respeito de um homem cuja palavra é tão poderosa que anularia uma tempestade igual à de on- tem? Que erigisse a imensa gruta de Adão que hoje cedo fora dizimada a pó, de tal forma como se fosse uma construção existente desde eterni- dades? Um homem cujo hálito faz recuar o mar, cuja voz faz estremecer o Universo, e quando Se dirige ao coração da criatura a preenche de todo poder e força sobre todas as coisas do mundo. Que dirias?”
Refletindo alguns momentos, Uranion responde: “Tuas palavras são misteriosas. Se existisse realmente tal homem, qual seria a diferença entre ele e Deus? Tudo que acabas de explanar é aquilo que imaginamos de Deus; portanto, esse personagem devia ser tomado do Espírito Divi- no, ou Deus Mesmo. Peço-te, portanto, te expressares mais claramente para definir o que realmente se oculta naquele homem.”
Diz Henoch: “Chama teus seis irmãos, avisa os mil habitantes do Sul e segui-me à colina de Adão, onde haveis de conhecer melhor aquele Personagem.”
Quando o grupo de aproxima do referido local, todos sentem tomados de grande pavor a ponto de não quererem prosseguir. Henoch procura encorajá-los, sem contudo poder convencê-los, o que o enca- bula bastante. Mas, quando ele se vira para trás — Abedam Se encontra ao seu lado e diz: “Não te aflijas, teu poder agiu até o momento previs- to. Como vim ajudar-te, não precisas te preocupar.” E, virando-Se para os sete homens, Ele prossegue: “Por que temeis continuar? Talvez Eu conheça um meio para tirar-vos o medo.”
Responde Uranion: “Bom amigo, nesta colina deve existir um homem tão poderoso como se fora Deus Mesmo, e este pensamento nos inibe de andar.” Diz Abedam: “Se este é o motivo, ele não se justi- fica, pois Eu Mesmo sou tal Homem, ao Qual a eternidade e o infinito, o Universo e todos os anjos e criaturas estão sujeitos. Mas isto não vos deve apavorar. Segui-Me, pois haveis de conhecer-Me melhor.”
17.URANIONEPURISTA,JUNTOSDEADÃOE EVA
Percorrida a curta distância, todos os filhos se curvam diante de Adão, Eva e os demais patriarcas, demonstrando seu amor e respeito. Em seguida, Uranion apresenta uma bisneta de nome Purista, incum- bida de oferecer a Adão vários frutos especiais, num cestinho feito por ela com ervas.
Como Adão nunca tivesse visto frutos tão maravilhosos, de aro- ma excepcional, ele diz: “Purista, filhinha adorável de Gabiel, onde co-
lheste estes frutos, que diria celestes, e que nunca foram vistos por mim desde o início de minha existência?”
Assustada, ela não sabe responder, pois também lhe parecem completamente estranhos. Virando-se para Gabiel, ela diz: “Pai, por acaso trocaste os frutos, porquanto nosso pomar não produz estas qua- lidades?” Diz Gabiel: “Filhinha, deu-se um milagre que deves relatar para Adão.”
Uma vez informado, Adão responde: “Já havia pensado algo se- melhante e todos nós enriquecemos com esta graça. Vira o teu rosto e vê Aquele que encheu teu cestinho com frutos celestes sem que o tivesses percebido.”
Diz ela: “Se ele assim fez, agiu mal, pois devia saber que amo somente o Pai no Céu, meu pai terreno e minha mãe Aora. Até hoje fugi dos homens e minha saudade se volta sempre para o Supremo. Como pôde este homem agir deste modo? Dize-lhe tu, que não o re- pita, do contrário atrairia um castigo do alto. Desta vez, pedirei ao Pai que lhe perdoe.”
Exclama Adão: “Adorável flor das planícies, asseguro-te que se o Pai nunca tivesse atendido um pedido teu, esteEle não te negaria. Por ora não posso explicá-lo, mas tu o saberás em tempo.”
Eis que Abedam, o Sublime, chama Henoch dizendo: “Deita no altar a ovelha sacrificada e assiste como eu farei cair um fogo dos Céus que a extinguirá.” Diante do fato realizado, todos, inclusive Purista, estremecem diante da Grandiosidade e Poder do homem anunciado por Henoch.
18.URANIONPERGUNTAPELONOMEDO HOMEM
MILAGROSO.PURISTARESPONDECOMINTELIGÊNCIAÀSSUAS INDAGAÇÕES
Tremendo no corpo todo, Uranion pergunta a Henoch pelo nome daquele personagem extraordinário, e ele responde: “De que adiantaria saberes o Nome Dele? Ele usa o mesmo nome que um outro; portanto vês não haver utilidade do nome para O conheceres melhor.
Dirige-te pessoalmente a Ele e em poucos instantes te dirá muito mais do que eu em eternidades. Embora seja Poderoso, Ele é sumamente Bom, Amoroso, Misericordioso, Meigo e a mais incompreensível Hu- mildade em Pessoa.”
Mais animado, Uranion se dirige para Abedam, o Sublime, di- zendo: “Irmão, nobre e poderoso — se assim te posso chamar — não podes dizer-me quem és e de onde vens? Acabo de ver que Céus e Terra te são submissos em grau tão elevado que, se eu não dedicasse o maior amor ao Santo Pai no Céu, facilmente acreditaria sejas tu mesmo o Pai, ou no mínimo o espírito mais poderoso dos anjos perfeitos. Se for de tua vontade, podias esclarecer-me.”
Tomando a mão de Uranion, Abedam diz: “Considera-te su- mamente feliz, pois a Vida eterna acaba de te tocar! Traze-Me Gabiel, sua esposa e sua filha, que junto deles hás de encontrar a satisfação de teu coração.” Quando a família se encontra junto de Abedam, Uranion diz: “Homem poderoso, que desejas de mim? Eis minha companheira e minha filha dada pelo Santo Pai. Tens poder bastante para tirá-las de mim e não há quem te possa impedir. Mas existe algo muito mais pre- cioso oculto no meu coração: meu amor e confiança no Pai e Criador de Céus e Terra. Porventura poderias tirar-me tal força?”
Agarrando-se ao genitor, Purista diz para Abedam: “Não hás de querer separar-nos, pois Henoch nos assegurou que és bom e misericor- dioso. Certamente também conheces o Pai Celeste e O amas como nós O amamos.”
Diz Abedam: “Dize-Me, Purista, por acaso já viste o Pai Ce- lestial?” Responde ela: “Não deves dizer apenas Pai Celestial, mas o Pai sumamente Bom e Amoroso, do contrário não poderei responder.” Corrigindo-Se conforme ela pediu, Abedam repete Sua pergunta e ela diz: “Onde estaria a criatura digna de se vangloriar de ter visto o Santo, Amoroso e Bondoso Pai? Talvez os anjos O vissem, mas as criaturas humanas, jamais.”
Insiste Abedam: “Filhinha, Adão é também apenas um homem e viu e falou diretamente com o Pai Celestial; no entanto, não é mais que um homem indigno e pecador.”
Retruca ela: “Ignoras que Adão, o primeiro homem desta Terra, surgiu diretamente da Mão do Pai Amantíssimo, cheio de Amor, Graça e Misericórdia? Eis a razão por que pode tê-Lo visto e falado com Ele.”
Diz Abedam: “Se este foi o caso, deves ter razão. Mas não sen- tirias saudade de ver o Pai, cheio de Amor?” “Mas claro,” diz ela, “que pergunta! Quem não haveria de querer vê-Lo, mormente amando-O acima de tudo como eu! Mas seria preciso ser mais devota que eu. Já me dou por satisfeita que Ele Se deixa amar por uma mísera criatura como eu, permitindo que O reconheçamos através de Suas Obras milagrosas e pelo pronunciamento de homens devotos. Não achas que recebemos tanto que nem em eternidades possamos agradecer-Lhe?”
Diz Abedam: “De novo concordo contigo e agradeço pelo ensi- namento. Nunca imaginaste a Figura Dele?” Responde ela: “Mas quem ousaria tamanha coisa? Certa vez tive a ideia de que Ele podia seme- lhar-Se com Adão — naturalmente, infinitamente maior. Depois me apavorei diante deste pecado. Chorei noites e noites até que um homem muito devoto me trouxe a informação que meu pecado tinha sido per- doado. Serviu de lição para mim e agora conto vinte e sete anos, não me deixo mais iludir.”
Diz Abedam: “Tua resposta foi inteligente. Mas presta atenção que ainda hei de te apanhar, e então sentirás uma alegria imensa.”
19.IMPORTANTEPERGUNTADE ABEDAM
Prossegue Abedam com Seu questionário: “Afirmaste há pouco ter Adão surgido do máximo Amor e Misericórdia do Santo Pai. Que dirias Eu afirmando que ele surgiu em carne e osso de Minha Mão, e ele te confirmasse Minha Assertiva?”
Diz Purista: “És extraordinariamente poderoso, no entanto du- vido que tenhas criado nosso pai Adão, a menos que o Próprio Pai e Criador assim o quisesse. Se assim foi, não foste tu, mas Ele o Autor e tu apenas o Seu instrumento. Por que então te vanglorias como se fosses o Criador?”
Retruca Abedam: “Minha doce Purista, Eu amo o Santo e Amo- roso Pai muito mais que todas as criaturas em conjunto o fazem. Se assim não fosse e Eu não fosse a máxima humildade, poderias acreditar que Me seja dado tamanho Poder a ponto que todo o Universo Me obedece ao menor aceno? E se Eu, pela necessária humildade, jamais Me pudesse vangloriar?”
Nesta altura, Purista, seus pais e Uranion quedam perplexos; finalmente, ela, ainda agarrada ao genitor, pergunta acanhada: “És de fato tão poderoso que nada se oporia ao teu poder?”
Diz Abedam: “Desejas ter uma prova de Minha Força, Poder e Onipotência?” Responde a moça: “O forte raio acompanhado daquele terrível trovão me basta como sinal. Qual seria a prova pela qual pu- desses convencer-me, verme fraco da Terra, se jamais poderei abarcar o Infinito como Deus o faz? De que me serviria um testemunho que desses num cantinho qualquer do Universo? Por acaso poderia vê-lo e me convencer do mesmo? É preferível que apliques teu poder para algo melhor do que a satisfação da curiosidade humana.”
Concorda Abedam: “Falaste bem, Minha filha, e o Sol não é tão puro quanto tu. Vejo ser difícil convencer-te; não desejas uma prova e Minha pergunta é respondida como se o mais sábio espírito angelical se pronunciasse. Mas já sei do motivo, temes que Eu possa separar-te de teus pais. Não há razão para tanto; prefiro dar-lhes milhares de fi- lhas como tu em vez de tirar-lhes um só fio de cabelo. É preciso deixar o temor e dirigir-vos a Mim com toda confiança, e dentro em pouco recebereis mais que em muitos anos.
Em verdade, amais e estais presos ao Santo e Amantíssimo Pai; no entanto, não O conheceis e esta é a razão por que vim junto de vós. Como foi possível, doce Purista, não perceberes esta Minha Intenção através das perguntas? Não agiste sabiamente, pois devias compreender que Deus, o Santo Pai, não permite a descida de mensageiros poderosos como Eu, sem uma motivação muito amorosa. Reflete bem e depois pede um sinal para que todos possam reconhecer o Pai Celestial como Ele é, pois esta é Sua Vontade.”
20.PURISTA E SUA FAMÍLIA RECONHECEM O SANTO PAI EM ABEDAM
Perplexa, Purista se vira para Gabiel e diz: “Pai, ele é certamente um poderoso mensageiro do Céu. Que sucederá conosco se tivermos pecado com relação a ele?” Responde Gabiel: “Se erramos, foi em vir- tude de nossa ignorância. Pede-lhe perdão em nome de todos, pois sua expressão é sumamente bondosa e magnânima. Vai depressa antes que seja tarde.”
Purista se atira aos Pés de Abedam e começa a chorar e soluçar. Ele a faz levantar-se e diz: “Purista, que tens para chorares tanto?” Res- ponde ela: “Meu bom amigo, deduzi de tuas últimas palavras que não és um simples mortal, mas um poderoso mensageiro celeste do Próprio Pai Santíssimo, cheio de Amor e Misericórdia. Certamente te ofendi e te peço perdão, em nome de todos. Concedeste-me o pedido de uma prova e agora permite que a externe.”
Tomando Purista nos braços, Abedam diz com máxima meigui- ce: “Pérola mais pura do Levante, que prova desejas de Mim?” Com imensa emoção, ela diz de voz trêmula: “Agora já não mais poderei pedir uma prova de ti, pois tu te antecedeste e a realizaste em mim e certamente em todos.”
De novo Abedam a estreita contra o peito e em seguida a devol- ve aos genitores, igualmente comovidos. Gabiel então diz: “Esta atitude não é de um anjo; aqui Se encontra Alguém muito superior que o anjo mais sublime poderia imaginar.”
E Abedam Se vira para Purista, dizendo: “Minha filha, ainda não percebes que Eu Mesmo sou o Teu Pai Celeste?” A estas palavras, todos reconhecem o Pai, enquanto Purista solta um grito e se atira aos Pés Dele, balbuciando: “Pai! Meu Pai!”
21.SOMENTEACONTRIÇÃOSILENCIOSAÉDOAGRADODE DEUS
Uranion, não se contendo de emoção, também se prosterna aos Pés de Abedam e exclama: “Quem ousaria pensar em semelhan- te Graça? O Senhor, Deus, Jehovah, Zebaoth, que tudo criou, Ele, o Santo e Amoroso Pai, aproximou-Se de nós como homem simples e despretensioso.
Sol, como ainda te atreves a irradiar teus raios para a Terra, se Teu Criador a pisa? Recua com teu brilho tão indigno quanto nós, pois aqui o menor grão de areia brilha mais por ter sido tocado por Seus Santificados Pés.
E tu, Terra inóspita, criadora da morte, como ousas existir? Desintegra-te em loas e produz as flores mais belas e os perfumes mais suaves.
Vós, montanhas, transformai-vos em altares luminosos, e vós, árvores e arbustos, ajudai-me a louvar o Santo Pai, pois somente Ele é Digno de receber todo louvor, honra e glória, amor e adoração. Estrelas, e tu, Lua, caí todos vós, para adorá-Lo, pois Deus, o Pai, está entre nós e nos ensina a caminhar.
E tu, meu coração, pretendes louvá-Lo; no entanto, não tens lu- gar para assimilar a menor fagulha de Seu Infinito Amor Paternal. Pai, Santíssimo Pai, sê Misericordioso para com este verme no pó.”
Erguendo Uranion do solo, Abedam diz: “Meu filho, acabas de Me oferecer o maior elogio. Criticaste o Sol, pretendeste atirar as estre- las ao solo e não poupaste a Terra, montanhas e flora. Falaste com jus- tiça, no entanto, havia maior mérito na silenciosa contrição de Purista e de seus pais.
Quem ainda consegue falar em Minha Presença é dono de seu coração. Mas quem não pode se expressar na Presença de Meu Amor, já Me entregou o coração, que será preenchido de Amor e Vida eterna.
Tu também vives porque te desfizeste de tudo que era inútil perante Mim, quer dizer, teu próprio sol mundano, ou seja, teu antigo conhecimento do amor; tuas estrelas, que representam teus conheci-
mentos; tua Lua, ou seja, o amor próprio da humanidade que ora cres- ce, ora diminui.
Dominaste tuas montanhas, dissolveste tua Terra e me ofereceste todas as árvores de teus desejos e os arbustos de tuas paixões. Chamaste os ventos de tuas intenções reais, e todos os raios de teus conhecimen- tos mundanos e o trovão do rigor Me foram ofertados como louvor. Também não poupaste teu espírito e alma, receptáculo vivo para uma existência livre, e deste modo libertaste teu coração a fim de que Eu Me tornasse Senhor dele.
Só depois de silenciares no coração Eu pude apossar-Me dele, e assim recebeste a Vida eterna e indestrutível. Não mais serei um Pai estranho e desconhecido, mas estarei sempre Presente, Poderoso, Forte e Audível, e através de ti conduzirei todos os teus filhos. O mesmo sucederá com teus seis irmãos e com todos que posteriormente se desfi- zerem do mundo como foi feito por ti.
Construirei uma nova cabana junto de Gabiel onde seguida- mente Me apresentarei, pois não há na Terra um local mais puro e mais sólido para Mim. Gabiel, abençoo a ti e a tua filha, que futuramente receberá o companheiro certo que lhe dará uma filha que será mãe de um novo povo desta Terra. E Lamech lhe dará um marido que habi- tará sempre Comigo, em Minha grande Casa. Sede todos abençoados e felizes.”
22.PURISTA,APRIMEIRAPREPARADORADEALIMENTOSDO SENHOR
Todos se prosternam, em contrição silenciosa aos Pés de Abe- dam, ao que Ele os conforta e encoraja, dizendo: “Se continuardes Co- migo como Eu em vós, a paz e a serenidade jamais terão fim em vossas vidas. Há pouco afirmei que tu, Gabiel, devias erigir uma nova cabana ao lado da tua — e esta cabana já foi construída em vosso coração, onde de fato Me apraz tomar morada.
Ainda assim, haveis de encontrar em vossa pátria uma cabana por Mim construída, na qual os homens não devem penetrar de cabe-
ça coberta, enquanto às mulheres convêm cobrir o rosto, pois aquela edificação é pura, santa e sólida. No centro encontrareis um altar, no qual há de arder um constante fogo desprendendo nuvens claras em direção ao Céu.
Cabe a ti, Purista, o preparo de repasto excepcionalmente aro- mático e somente a ti é permitida esta tarefa de puro amor para Mim. Por isto, é preciso apanhar lenha fresca e limpa, pois chegarei geralmen- te sem aviso. Na chama tereis uma prova da situação de vosso coração.
A lenha virgem e limpa demonstrará o amor sempre renovado e crescente de vosso coração, e a refeição, a total entrega e submissão à Minha Vontade. Se isto for considerado fielmente, virei seguidamente participar de vosso ágape. Se fosse possível que o fogo no coração se apagasse, a chama no altar diminuiria lentamente e Eu não mais seria vosso Hóspede.
Felizes sois vós por comerdes o pão de Minha Mão. Indizivel- mente mais feliz será aquele que for visitado por Mim, razão por que terá sempre a mesa arrumada e uma refeição bem preparada. Mesmo que Eu demorasse a aparecer, ele continuaria a estimular o fogo na cabana de toda Vida. E se Eu aparecer subitamente e encontrar o Meu anfitrião em plena atividade, seu prêmio e alegria não terão fim.
Acabo de vos incumbir da tarefa de hospedeiros e vos forneço a cabana feita em vosso coração e um fogão sempre ardente como pro- va da fidelidade irremovível. Sede mordomos fiéis deste santuário no Levante, que em breve vos certificareis da bênção enorme que surgirá sobre toda região e seus vizinhos.
Tu, minha querida Purista, continuarás sendo a preparadora da cozinha do amor e no fogão da Vida eterna, sendo Eu teu Hóspede. A quem fordes oferecer alimento e bebida em Meu Nome, tê-lo-eis feito a Mim Mesmo. Quem quiser receber um alimento daqui, terá que trazer lenha fresca; ao passo que quem vier vazio por dentro e por fora terá que voltar da mesma maneira.
Dentro da cabana encontrarás toda espécie de vasilhas, Purista, nas quais cozinharás os frutos existentes no pomar, três de cada. Acres- centarás um grande vasilhame para Mim, desde manhã até a noite, e
outro para quem desejar alimentar-se com dignidade. Para ti e teus pais usarás a vasilha e os frutos menores.
Quando os frutos estiverem bem cozidos, retira do fogo primei- ro a vasilha para os forasteiros, fazendo o mesmo com a vossa. A Minha retirarás do fogo somente quando Eu vier ou mandar alguém em Meu Nome, que tomará o alimento ou o distribuirá entre vós.
Recebei a Minha Bênção para esta nova tarefa, desempenhan- do-a fielmente, que continuarei sendo vosso Hóspede abençoador, aqui, como também no Além em Minha grande Casa Paternal.”
23.ABELEZASOBRENATURALDE GEMELAE PURISTA
Alguns dos patriarcas estão curiosos por saber qual das duas mo- ças é mais bela, razão por que Kenan pretende perguntar a Abedam a respeito. Este o antecede e diz: “Kenan, ficarás satisfeito se Eu te infor- mar apenas?”
Diz ele: “Senhor e Pai, que resposta Te darei? Conheces o meu coração. Sei que o desejo de alguns tem dois aspectos: queremos ver a face de Purista como vimos a de Gemela e ouvir também uma palavra do Teu Agrado. Só assim saberemos qual das duas é maior perante Ti. Naturalmente, não depende disto a salvação da humanidade; mas saber o que mais Te agrada não deixa de ter uma razão nesta vida.”
Diz Abedam: “Pois bem, chama os curiosos e veremos qual seu critério.” Enquanto Kenan chama os que também participavam de seu desejo, Abedam toma Gemela no Seu Braço esquerdo e Purista no direito e lhes ordena com meiguice de afastarem os cabelos que co- briam o rosto.
Quando os patriarcas veem as duas beldades divinas, eles são atirados ao solo, como que tocados por um raio, e não se atrevem a erguer os olhos. Eis que Abedam diz para Kenan: “Então, primeiro cantor de Minha Honra, qual das duas te parece mais bela e mais pró- xima de Mim? Acabas de vê-las e certamente serás capaz de formar um julgamento.”
Todo trêmulo, Kenan responde: “Ó Santo Pai, deixa-me entrar numa pele de burro; — que foi que eu fiz? Como cego, pretendia ser juiz de dois sóis luminosos e celestes, dos quais tanto um quanto outro são carregados pelas Mãos do Pai Santíssimo. Se à direita ou à esquerda, o Sol do Levante ou o Sol do Poente, qual seria mais belo? Meu Pai, perdoa-me e não queira transmitir-nos Tua Palavra, pois somos por de- mais indignos para ouvirmos um julgamento sobre os anjos de todos os anjos, dos mais puros Céus.”
Abedam pede às jovens cobrirem de novo o seu rosto e lhes diz: “Ambas Me sois muito queridas e nenhuma sobrepuja a outra. Con- tinuai como sois, que estareis tão juntas de Mim como agora.” Com muito cuidado, Abedam as põe no solo e ambas exclamam em seus corações: “Santo e Amoroso Pai, como merecemos tamanha Graça? Os patriarcas foram por nossa causa confundidos perante todos. A nós ape- nas cabe a culpa por ter Tua Graça infinita nos criado mais belas que qualquer outra mulher. Condoem-nos os patriarcas ainda prosternados e chorosos. Perdoa-os e fortifica-os, como também a nós mesmas.”
Abedam lhes responde: “Não vos preocupeis, pois ninguém se encontra mais próximo de Mim senão aquele que se humilha peran- te Mim. Isto acontece com os patriarcas, por vós lastimados, e além disto vos culpastes sem o menor motivo. Porventura julgais que seja capaz de pecar aquele que Eu carrego em Meus Braços, não obstante seu livre-arbítrio? Sede alegres e felizes, pois esta cena foi prevista desde eternidades. Aproximai-vos deles e transmiti-lhes que se levantem pe- rante Mim.”
Virando-Se para Kenan, Abedam ainda diz: “Então, qual das duas merece o prêmio?” Ele apenas põe a mão sobre a boca e Abedam prossegue: “Se estás quite com teu julgamento, Eu também estou, pois entre as duas não pode haver uma preferida. Todavia, existe uma dife- rença entre elas, mas a Terra não possui visão para isto. Voltai para vosso pouso anterior.”
24.HENOCHRECALCASUAELOQUÊNCIAPOR FALSA
HUMILDADE.DEUSSÓPODESERAMADOCOMO HOMEM
Em seguida, Abedam chama Henoch e lhe diz: “Vejo um temor em teu coração e uma sombra que te apavora e envolve há bastante tem- po, como uma mosca procura meter seu ferrão numa maçã sadia a fim de nela deitar um germe maldito para possivelmente destruí-la. Que finali- dade poderia ter tal fruto? Para que fim serviria um receio para o coração?
Deves proferir um discurso perante o povo, como verdadeiro sumo sacerdote do Meu Amor, Graça e Misericórdia. Isto já foi o desejo de Adão antes que Eu Mesmo tivesse vindo junto de vós. Ontem e hoje te falei a respeito do reforço vivo que recebeste, razão por que não te deves preocupar com aquilo que deves ou queres dizer. Eu Mesmo te inspirarei palavra por palavra. Ainda assim te atemorizas.
Não compreendes quão tolo é este temor? A mim não podes temer, pois sabes e sempre soubeste ser Eu o Máximo Amor em Pessoa. Além disto não ignoras que sou Humilde, Manso, Meigo e sumamen- te Paciente.
O que temes? Teus pais, teus irmãos ou teus filhos? Que tolice! Intimamente confabulas: como poderei sair-me bem caso for preciso proferir o discurso combinado do sábado, e isto, na Presença do Senhor da Eternidade e Criador do Universo — e na frente do Pai, cheio da máxima Sabedoria? Que efeito terão as minhas palavras após termos ouvido os Pronunciamentos da Boca Santificada como torrente de Luz que se dirigia para nós, vermes insignificantes no pó?
Não são estas as tuas divagações? Para que servem? Para a vida? Compreende: Não há motivo de te preocupares com a vida. Julgas que seja do Meu Agrado se calas e Eu falo em teu lugar? Esta humildade não Me agrada, quando te desencorajas e temes os Meus Ouvidos e Meus Olhos.
Sinto o maior Agrado com o comportamento semelhante aos pequeninos que não têm receio dos pais, pois são sempre desinibidos, falam e gritam como se fossem os senhores da casa. Quando estão com fome e sede, correm cheios de amor e submissão para junto dos pais
e agradecem mais pelo alegre saborear do que com um agradecimen- to efusivo.
Eis uma regra para o Amor e sua Sabedoria: Para o limitado, tudo deve ser mantido no justo controle, pois o ilimitado é para ele a morte. Não podes amar-Me como Deus, senão como Homem. Qual seria o peito que suportasse Deus Infinito, o eterno fogo do Amor Di- vino? Qual seria o espírito criado que suportasse a Plenitude sem fim da Sabedoria Divina?
Qual seria a criança que amasse sua genitora como ela a ama? Ainda que o pudesse com sua força reduzida, que seria em breve da criança? No entanto, seria apenas o jogo de uma limitação contra a outra. Qual seria o resultado, se a limitação pretendesse assimilar o In- finito, sob qualquer ponto de vista?
Portanto, vês, Henoch, que são infundados teu medo e teu pa- vor. Quem Me ama com todas as suas forças, terá feito o bastante, pois cumpriu sua medida, e para tanto não é preciso medo nem pavor.
Uma árvore cumpre sua missão quando enche seus galhos com frutos saborosos. Seria tolice exigir-se que suprisse o mundo inteiro com seus produtos. Sê confiante e cumpre Minha Vontade, que estarei plenamente satisfeito. Não procures satisfazer-Me infinitamente — im- possível ao mais elevado espírito criado — mas aplica as tuas forças para que encha tua medida. Quanto ao Infinito, deixa que Eu, teu Pai, dele Me incumba. O discurso faz parte de tua medida; ergue-te com cora- gem e fala, em Meu Nome.”
25.AONIPOTÊNCIADEDEUSEOPODERDE SATANÁS
Meditando sobre as Palavras de Abedam, Henoch reconhece que o Pai acertara na sua fraqueza. No entanto, não se conforma com a ação da mosca e diz: “Santo Pai, podia Satanás aproximar-se de Tua Santi- dade como fez a mosca com o fruto? Acho estranho essa possibilidade no Reino da Vida e da Luz; o que tem o espírito das trevas a ver ali?”
Responde Abedam: “Que te importa isto, se Meu Amor e Mi- sericórdia são maiores do que poderias imaginar por toda a eternidade?
Se Meu Amor e Misericórdia se estendem até o mais tenebroso espírito, por que Me perguntas como se em Minha Presença fosses prejudicado?
O Sol do mundo é uma grande luz e projeta seus raios aos mais distantes espaços. Deveriam a Terra e seus vizinhos se preocupar por ser sua luminosa genitora tão esbanjadora com seus raios? Se assim fizes- sem, ela diria: Por que vos preocupais com isto? Porventura eu vos privo de algo, enquanto cada um de vós recebe luz e calor em quantidade justa e supérflua?
O mesmo ocorre Comigo. Por isto, não te preocupes com Meus caminhos insondáveis e continua agindo na simplicidade de Meu Amor, deixando sem comentários os grandes reinos das trevas, que poderás es- tar certo que o príncipe das trevas, ainda bastante forte, nada terá que ver contigo e com todos os teus irmãos de teu amor.
Ainda que eternidades não fossem suficientes para que pesqui- sasses a imensidade de seu poder e força, não deixa de ser ele um espíri- to criado, e onde o seu poder termina para sempre aí somente começa a Minha Onipotência eterna. Por isto, não te preocupes, pois se te en- contras em Minhas Mãos, o teu mais leve hálito é mais poderoso que todo o poder e força de Satanás.
É semelhante a um leão esfaimado que urra de fome, e ai do ani- mal percebido pelo seu faro! Até mesmo o mamute passaria mal nesta luta. Embora o leão esteja rugindo de fome, muitas vezes não percebe as moscas que zumbem em redor de suas orelhas.
Nisto se baseia o grande poder da humildade do ser mais ínfimo. Uma mosca pode se tornar um tormento para muitos leões, enquanto eles nada representam para ela. De há muito te tornaste uma mosca da humildade. Deixa de lado o leão inofensivo e dedica-te à tua tarefa abençoada.”
Henoch agradece por esta libertação e fortalecimento de seu co- ração, dizendo: “Amém. Tua Santa Vontade Se faça! E vós, patriarcas, irmãos e filhos, ouvi-me. Encontramo-nos no meio-dia do Senhor, na Presença Sublime do Pai, nosso Deus Onipotente e Criador de Céus e Terra. Que faremos para merecer esta infinita Graça, dentro de nossa limitação?
Se prestamos um serviço ao próximo, ele nos pode favorecer com algo maior. Se alguém me guiou cem passos, eu o acompanharei durante duzentos passos; cem por me ter acompanhado e cem por ter sido guia; portanto, estamos quites e ninguém é devedor de seu irmão, a menos que aceite a tríplice recompensa. Se quiser ir além, poderá fazê-lo, com que o outro se tornará seu devedor.
Se alguém me dá um pedaço de pão, eu lhe devolvo três. Um, pelo pedaço dado, outro pela sua boa vontade e o terceiro pelo trabalho que teve. Poderia ele exigir mais de mim?
É fácil restituir mil vezes um favor ou um benefício prestado por outrem, mesmo que ele tenha salvo a minha vida num acidente, pois poderei morrer por ele e carregá-lo na palma da mão por toda a minha vida.
Mas — que podemos fazer aqui? Que daremos ao nosso Pai, ao Doador de todos os benefícios? Àquele Que nos deu a Terra, o Sol, as estrelas; enfim, quem poderia enumerar os tesouros dados por Ele? Além disto, Ele veio em Pessoa para nos enriquecer com tesouros mais precio- sos da Vida eterna, do Seu Amor, Graça e Misericórdia e Seu Verbo Vivo.
Meus queridos, que poderemos dar-Lhe em troca? Esta per- gunta contém um sentido tão profundo que nem a eternidade pode- ria responder. Se alguém perguntasse quantos grãos de areia contém a Terra, quantas gotas o mar e quantas estrelas o Universo, talvez um querubim nos desse uma resposta satisfatória.
Mas, qual seria o arcanjo original capaz de responder minha pergunta capital, pois ele só pode silenciar em contrição diante Daque- le que o criou. Nada mais poderá fazer senão amar e adorar o Santo Pai que o amou desde eternidades, antes que aparecesse como ser. E todos aqueles sóis que ainda não foram contados por nenhum espírito criado, com todos os seus enormes habitantes de fogo — que poderão fazer? Somente aquilo que o maior arcanjo faz: cumprir em silêncio a Vontade do Pai. E cada Sol nas criações mais distantes transmite, atra- vés de seus raios, que existe apenas um Deus, o Pai, que os criou para o Amor e também para amar os espaços sem luz e vivificá-los com o Amor Paternal.
E nós, Seus filhos, em meio dos milagres do Amor, pergunta- mos: Que devemos fazer? Nada, nada mais senão amá-Lo com todas as forças por Ele conferidas e apreciar com gratidão toda a dádiva do Amor eterno. Devemo-nos humilhar, não pela demonstração de sacri- fícios, do sangue dos animais, não pela fumaça das hastes de trigo, mas exclusivamente em espírito e na verdade de nossos sentimentos.
Construiremos verdadeiros altares, cada qual segundo suas forças e poderes. Assim como na flora e fauna existem infinitas espé- cies, cada criatura possui inimagináveis graus de forças, espirituais e psíquicas.
Quem possuir um coraçãoforte, que seja forte no amor, para que ele fortaleça todas as demais forças. Quem tiver boa visão, deve dirigi-la pra o coração para que seu sacrifício de gratidão se aposse da chama viva e assim fortifique o espírito no verdadeiro amor para com Deus. Quem tiver boa audição, pode dirigi-la para os ouvidos do co- ração, para que tudo que foi ouvido se una no coração fazendo um cântico de louvor diante do altar vivo do amor. Quem for forte nos pensamentossobre todas as coisas, que os leve de volta para o coração, incendiando-os com as possíveis chamas mais fracas do amor para o Agrado do Pai. Quem for forte no sentir , conduza esta fonte podero- sa para o altar do puro amor, para que a chama tenha uma constante nutrição pela Glória do Santo Nome de Jehovah em nós. Quanto às percepções, representam elas a lenha fresca que todo sedento e famin- to deve levar para a cabana de Purista, como contribuição e oferen- da. Quem for forte no amoraopróximodeve levar seus irmãos para esta cabana pura do Senhor, suprindo-os com o alimento da vida. Não existe maior agrado para o Pai senão pelo acolhimento de irmãos mais pobres, ainda que venham das planícies, oferecendo-lhes uma vasilha bem maior que a nossa. Do contrário, o Santo e Sublime Hóspede difi- cilmente participará do alimento do Amor para nos abençoar.
Toda e qualquer força em nós é uma dádiva do Pai e seria ir- risório usá-la como propriedade particular. Se alguém se apossasse da obra de seu irmão, estaria praticando um ato de egoísmo. Contudo,
seria apenas ladrão do próximo. Apossando-se de uma Dádiva de Jeho- vah, seria ladrão de Deus, o máximo grau do egoísmo.
Neste caso, deixaria de ser um filho do Santo Pai, entregando-
-se ao julgamento como criatura. Caso não se modificar, será filho da serpente, da morte, da ira, do inferno cheio de maldição e condenação.
Que representa nosso amor verdadeiro e puro para com Deus? A mais estreita união de nossa vida com a Vida de Deus, do Qual todo ser e vida surgiram. Amar a Deus nada mais é senão iniciar uma vida nova, eternamente imortal, quando deitarmos nossas forças, como Dá- divas divinas, no altar do espírito, alimentando a chama santificada com a lenha fresca da humildade, para que surja um fogo total que se aposse de nossas forças sacrificadas, destruindo-nos mundanamente.
Desta destruição surgirá justamente uma nova vida em Deus, nosso Pai. Isto se refere à vasilha maior na santa cabana de Purista. Tão logo os frutos estiverem cozidos, apresentar-Se-á o Espírito Santo, para participar do manjar com Seus filhos, um manjar de Amor, Graça e Misericórdia.
Se assim agirmos, teremos prestado a Deus o mais justo louvor e honra, adorando-O no pó da nossa mais completa nulidade, no novo altar do coração e estaremos sempre com Ele. Quem não se sacrificar neste altar transformando-se em pó, fumaça e cinza, quem não passar por esta prova de fogo, não conseguirá afastar de si a morte certa, tam- pouco receberá uma ‘Gemela’ como prêmio.
Quem vive e respira livremente, sentindo o imenso benefício da vida e sua doçura, considere que esta vida terrena é apenas uma vida de provação e em tudo uma Dádiva do Santo Pai.
Quem tolamente pretender apossar-se dela, perdê-la-á para sempre. Mas quem a devolver ao Santo Doador como fora demons- trado tão amplamente através do sacrifício próprio, conservá-la-á para toda a eternidade, junto de Deus, nosso Pai Eterno.
Deste modo orientados, convém não sermos apenas ouvintes, mas transferirmos o conhecimento audivelmente no coração, para que se projete no sangue e dali para toda a nossa natureza, para uma ação
verdadeira. É o maior tolo quem conhece o caminho mais curto para Deus, no entanto não se dispõe a segui-lo.
Conservando as palavras no coração, a criatura se tornará ver- dadeiramente sábia na Ordem de Jehovah, que prefere uma construção de cedros vivos a uma feita por árvores preparadas para tanto; mas, como estão mortas, apodrecem e tombam com a tempestade, matando seus moradores.
Se deitarmos uma semente no solo para em tempo certo con- seguirmos uma casa viva, no âmbito da semeadura, porventura não se- remos obrigados a aguardar com paciência e morarmos na construção sem vida até que a outra esteja pronta? E uma vez instalados, imensa será a alegria pela morada sólida e viva que nos protegerá de qualquer tempestade.
Durante anos o homem fica regando as plantinhas, uma por uma, para que cresçam depressa, podendo ele oportunamente aprovei- tar os troncos para neles entrelaçar os galhos aromáticos da mirra e do louro. Tal atitude é deveras sábia e pode ser transferida para nós mesmos.
A semente mais sadia foi sobejamente semeada. Temos água viva em grande quantidade. O Sublime, Santo e Onipotente Constru- tor está visivelmente entre nós, todos devidamente conscientes, e nos encontramos no meio sagrado do dia mais claro. As montanhas nos fornecem ricos aromas das ervas mais perfumadas. A palha dourada existe em toda parte em grande abundância. Quão pouco nos falta para a posse das habitações vivas em espírito!
Ajamos aplicando a Palavra Viva, cheia de força e poder, e o prêmio de Lamech, a divina Gemela, ou seja, o Amor do Pai, suave e meigo, não nos faltará. Já se encontra conosco, mas é preciso apossar- mo-nos dela a fim de atingir a meta imposta pela infinita Bondade e Amor de Deus.
Farei um juramento, dando-vos uma prova flagrante da Pre- sença de Jehovah, que foi, é e sempre será minha Testemunha, dizendo: A criação total está imprensada por uma queda duplamente dura. O mundo está maculado pelo antigo pecado e herdamos a morte, primei- ro em espírito e depois na carne.
Ainda que Deus não nos possa devolver a vida física em virtude de Sua Santidade, Ele Se compadece de nosso espírito, fazendo-nos de novo filhos de Sua Graça, Misericórdia e Amor para podermos partici- par novamente da Vida Eterna.
Encontra-se em nossa frente a Vida e o Caminho para junto Dele: o Amor representa a Vida; a Humildade é o Caminho. Aposse- mo-nos dela com coragem e ajamos como fomos ensinados, que certa- mente não ingressaremos na morte, na grande Presença do Causador e da Fonte de toda a Vida.”
26.HENOCH,OPRIMEIROPREGADOR.HOREDE NOÊMIA
Depois de ter concluído seu sermão, Henoch se aproxima de Abedam e Lhe agradece pela ajuda. Abedam então diz: “Acabas de te convencer quão fútil era teu temor anterior. Daqui por diante hás de falar tão puramente como fizeste, em Meu Nome, sendo esta tua tarefa principal de cada sábado. E Caso Eu te demonstrar alguém que se te- nha desviado de Mim em virtude da atração mundana, tu o procurarás diariamente, em Meu Nome, e colocá-lo-ás no justo caminho do arre- pendimento, da humildade e do amor para Comigo.
Se tais casos se repetirem e não dispuseres de tempo, poderás escolher alguém que se preste para tal função a fim de enviá-lo como ajudante, e não te preocupes com ele, pois Eu estarei com ambos.
Se apuseres tuas mãos em alguém, em Meu Nome, Eu o influen- ciarei com o Meu Espírito, de sorte que vaticinará como tu. Incendiar-
-se-á por amor a Mim a ponto que toda a natureza, flora e fauna se submeterão diante de ti, como sumo sacerdote, e diante dele.
Quem se regenerar será recebido com Minha Graça, Amor e Mi- sericórdia. Mas quem tapar coração e ouvidos e cerrar os olhos diante de vós deve sentir por sete vezes o Meu Açoite em tua mão. Se ainda assim não se modificar, tu o expulsarás da comunidade.
Se quiser voltar arrependido no coração, manda aprontar um banquete para o qual convidarás muitos amigos a fim de que haja uma alegria especial quando um perdido volte para o seu Pai no coração. Em
verdade te digo, deveis sentir muito mais satisfação com a regeneração de um perdido, do que com noventa e nove justos que dispensam tal conduta. Quem estiver na luz, dificilmente poderá errar.
O destino dos fracos é o porte do jugo suave em caminhos bem iluminados. Se Eu der a um forte um peso maior para carregar durante a noite, mas ele erra o caminho e não vos atende, não che- gará a um destino, a não ser que pressinta a queda e a morte. Então poderá retornar pelo caminho difícil até vos alcançar, e com isso tereis encontrado um irmão que julgáveis perdido para sempre, como Eu terei encontrado um filho perdido. Isso vale mais que noventa e nove justos que nunca puseram os pés fora de casa. Por isso, deve ser grande a vossa alegria com alguém que estava perdido; sim, que estava morto e ressuscitou.
O justo não tem motivo para se queixar, porquanto carrega um peso leve. Mas quem tem nos ombros um fardo pesado e se lastima quando o mesmo o atira ao solo, não se compadeceria dele e não faria tudo para soerguê-lo? E se isso não lhe for possível, sendo forçado a deixar sucumbir o irmão debaixo do peso das vicissitudes, que sentiria o seu coração?
Se, no entanto, o irmão inopinadamente se consegue erguer, o outro não acorrerá com alegria, levando-o para casa a fim de lhe pre- parar uma boa refeição? Por isso repito que deveis advertir com ênfase os desviados e procurar os que se afastaram de vós, com todo o vosso amor a Mim.
Ninguém deve castigar o irmão, a não ser que Eu lhe ordene: Pune-o com o fogo do teu amor! Deixa que se afaste da comunidade a fim de que ninguém se aborreça com ele, mas teu coração deve acompa- nhá-lo até o fim do mundo. Teu olhar de despedida deve transmitir-lhe que o consideras teu irmão, pobre e sofredor, e que ele, conquanto tenha sucumbido, não deixa de ser filho do Meu Amor.
Longe de vós seja a ira, e nunca pronuncieis qualquer maldição e muito menos a alimenteis no coração. A medida aplicada entre vós será adotada por Mim, e quem pecar contra vós tê-lo-á feito a Mim. Se o próximo for julgado por vós, Eu também o farei, mas somente Eu sei
como. Não escapareis ao vosso julgamento, também conhecido somen- te por Mim. Agora, Henoch, envia um mensageiro para a região que fica entre Ocidente e Oriente, onde Hored e Noêmia vivem na maior devassidão. Ele desconhece o que ocorre aqui. Por isso, dize-lhes que Eu o mandei chamar e que deve atender-te imediatamente.”
27.SALVAÇÃODEHOREDE NOÊMIA
Sem mais delongas, Henoch chama o irmão de Gabiel de nome Lamel, e lhe diz: “Conheço a tua boa vontade em querer trabalhar em Nome de Jehovah; por isso, deves ir à procura de Hored e Noêmia, filha do rei Lamech de Hanoch, que não fora abençoada por Adão e os demais patriarcas.
Transmite-lhe a ordem do Senhor de se encaminhar imediata- mente para cá. Caso se oponha, mostra-lhe os inimigos armados que de Hanoch o descobriram e apenas aguardam um momento propício para entregá-lo com sua mulher à vingança cruel de Lamech.
Até então ele foi protegido pela Mão do Senhor. Mas, se não te acompanhar, o Senhor retirará Seu Braço Protetor e Hored terá que se defender contra eles como puder e quiser. Se ele concordar conti- go, socorre a ambos que o Poder do Senhor, que neste momento em que coloquei minhas mãos sobre ti te insufla, vos trará com a maior rapidez para cá. Que a Graça, o Amor e a Misericórdia do Senhor vos acompanhem.”
Dentro em pouco, Lamel descobre uma cabana, da qual surge enraivecido Hored que o recebe com impropérios, dizendo: “Infeliz, o que te traz aqui? É preciso que minha maldade venha te atingir? Jurei para minha companheira que havia de estrangular o primeiro que viesse perturbar nossa feliz solidão, ainda que fosse o próprio Adão. Escondi-
-me neste recanto e queria viver feliz com aquela que encontrei. Quem te mostrou este esconderijo? Fala!”
Fitando com rigor o exaltado Hored, Lamel responde: “É assim que recebes o teu salvador mandado por Deus Mesmo, Que caminha entre nós, na colina abençoada? Antes que comeces a me estrangular,
demonstrar-te-ei que os dotados do Poder Divino não se deixam massa- crar, ainda que tivesses feito mil juramentos à tua companheira.
Para que vejas não ser simples palrador como tu, arranca do solo este cedro velho e atira-o para cima desta montanha contra os teus adversários de Hanoch. Se disto fores capaz, poderás estrangular-me. Além disto, observa no vale quem precisamente se aproxima de tua cabana, no sábado, para apanhar a ti e a ela, e em seguida entregar-te a vingança de Lamech pelo rapto de Noêmia.”
Com imenso esforço, Hored procura vergar o cedro, sem con- seguir ao menos que se mova. Irritado, esbraveja: “Prova que tu podes arrancá-lo!” Lamel apenas toca a possante árvore que se desfaz em lascas como se nunca tivesse estado de pé. Em seguida, Lamel aponta para a superfície, onde um exército de Hanoch está de prontidão e diz para Hored: “Por que hesitas com tua ameaça, pois quiseste estraçalhar-me?”
Apavorado, Hored exclama: “Estou perdido, e sempre pensei que isto acontecesse um dia!” Diz Lamel: “Se pressentiste este momen- to, por que não voltaste à pátria de teus pais para que te abençoassem como fizeram com os demais, tanto mais quando foste um verdadeiro embaixador e não tiveste culpa que Lamech te entregara Noêmia? Tal presente era apenas teu e ninguém o teria disputado, ainda que a extra- ordinária beleza dela nos fosse mostrada cem vezes. Não havia motivo para fuga; todavia, assim fizeste, e sabes por quê?
Quando te dirigiste para Hanoch, os patriarcas de dotaram de grande poder e força, de sorte que o esperto Lamech percebeu que nada podia fazer contra ti, e com astúcia escolheu o meio mais seguro de se livrar de ti e também atar-te à serpente com o presente de Noêmia.
Conjecturava o seguinte: Se for Hored enviado por uma enti- dade superior, quiçá pelo antigo Deus, cuja Voz potente eu mesmo já ouvi certa vez logo após eu ter matado os meus dois irmãos, ele nunca há de aceitar algo de mim, muito menos a mulher ligada a um homem.
Precisamente quando Lamech menos esperava, te deixaste le- var por sua astúcia, aceitando o pior veneno das mãos do pior traidor contra Deus. Qual foi a consequência deste veneno? Tua fuga para cá,
perseguido por vários espiões de Hanoch, sem considerares se o poder conferido pelos patriarcas ainda estava contigo.
Lamech e seus perseguidores assim julgavam. Mas, depois de ter prestado um grande serviço à serpente com o ultraje e maldição do Nome de Deus, ela lhe demonstrou tua total impotência. Por isso Lamech enviou um exército de mil homens fortes e bem armados para prender-te e entregar-te à sua tremenda vingança, enquanto Noêmia deve se tornar o que já fora anteriormente: uma prostituta geral de todos os homens importantes do reino, que sem ela teriam abando- nado Lamech.
Julgaste ser preciso ocultar-te no mais afastado esconderijo a fim de poder gozar uma felicidade imperturbável; também acreditáva- mos que nada te faltaria e te abençoamos sempre. Mas, nosso Pai, Santo e Amoroso, que ora Se encontra em nosso meio, abriu-nos os olhos a respeito de tua situação, enviando-nos para salvarmos a ti e a tua com- panheira. Reconhece a Vontade do Senhor, chama Noêmia e vinde co- migo para que vos salve antes de os esbirros de Lamech vos prenderem.”
Diz Hored: “Agora acabo de reconhecer-te, irmão Lamel. Mas, eis Noêmia chegando da cabana; portanto, nada nos impede de obede- cer-te.” No momento em que Lamel se apronta para conduzi-los com mão forte, eis que de todos os lados se atiram as hordas inimigas em direção à cabana. O casal se julga perdido, mas Lamel lhes diz: “Olhai bem onde estamos e depois gritai, caso for preciso.” Ambos se admiram muito ao perceberem que já se encontram perto da gruta de Adão, à cuja saída Henoch e mais Alguém os esperam de braços abertos.
28.OINCÊNDIO DA FLORESTA
Quando Lamel avista Henoch e Abedam, corre junto deles e agradece a Deus pela grande Misericórdia e Amor prestados a Hored e Noêmia. Abedam então lhe diz: “Lamel, como teu irmão conhece apenas Henoch e nada sabe de Mim, vamos tomar outro caminho para chegarmos à colina.”
A caminho para lá, deparam com imensa fumaça em direção ao Sul e Henoch se dirige a Abedam, dizendo: “Santo Pai, o que representa aquela fumaça?” E Abedam responde: “Tem um pouco de paciência e te certificarás da maldosa astúcia de Lamech. Como a tempestade de ontem tivesse provocado grandes estragos nos jardins de Lamech e prejuízos enormes em suas ricas manadas, ele mandou incendiar todas as florestas para exterminar os habitantes das montanhas. Vamos até aquela rocha branca para pegarmos em flagrante os incendiários.”
Quando Henoch avista os esbirros de Lamech, exclama: “Se- nhor, terias gasto ontem todos os raios? Aqui poderiam ser bem em- pregados. O verme pretende erguer-se contra Deus. Como gostaria de fazer uso de Teu Poder e Força que me conferiste! Que o Sol envie milhares de raios e trovões até que o orbe estremeça em seus alicerces!”
Tomando a mão de Henoch, Abedam diz: “Alto lá, querido He- noch! Por ora deixemos os raios em paz, pois estamos comemorando o sábado que não pode ser dia de julgamento, mas de calma, de paz e de amor do Senhor, Criador e Pai de todas as criaturas. Ai delas, se o sábado se transformar em dia de maldição!
Em vez do julgamento do fogo, enviaremos uma forte chuva sobre a obra da tolice e maldade dos homens, e poderás estar certo que cada gota será mais útil às árvores em chamas do que mil raios. Vamos amainar o fogo com água, pois a época do fogo ainda está distante. Mas, quando ela chegar, ai das montanhas e das florestas!
Estende tuas mãos, em Meu Nome, e ordena que as nuvens se aglomerem para uma forte chuva sobre este incêndio florestal. As altu- ras ficarão livres por hoje, amanhã e depois de amanhã, tempo determi- nado para Minha visível Presença entre vós.”
29.PRESUNÇÃODE SATANÁS
Imediatamente Henoch estende as mãos e diz: “Brisa suave, manda que teus espíritos aglomerem aqui nuvens carregadas de chuva, para que se abrande o incêndio. Tua ação não terminará em Nome de Jehovah até que não seja apagada a última chama.”
No mesmo instante se apresentam nuvens pesadas, que de pron- to desabam em chuva fortíssima sobre toda a região do incêndio. Por cima das nuvens há claridade que permite uma visão além, e dentro em pouco se nota na superfície das nuvens um redemoinho semelhante aos movimentos de uma serpente.
O torvelinho se aproxima cada vez mais e finalmente toma a forma de uma figura luminosa que se posta diante de Abedam, dizendo: “Que fazes em meu domínio? Esqueceste o prazo dado por Ti? Afasta-
-Te daqui e me deixa em paz no que é meu. Eu, e não Tu, sou senhor e mestre desta criação.”
Retruca Abedam: “Satanás, até aqui e não mais além! Se ultra- passares esta divisa sagrada entre Mim e ti, serás julgado e reconhecerás Quem é o Senhor e Deus desde Eternidades. Reconhece para que fim foi dada esta época e te afasta! Que assim seja!”
Soltando um terrível uivo, Satanás se atira, totalmente incendia- do, ao abismo. Em seguida, Abedam diz: “O fogo apagou e os crimi- nosos foram rechaçados. Partamos em paz. Por ora, Adão não deve ter conhecimento deste fato.”
30.PERGUNTADIRIGIDAPORABEDAMAHOREDE NOÊMIA
Em seguida, o pequeno grupo segue por um caminho estreito, comumente usado pelos filhos do Sul, para chegar junto dos patriarcas. Evitam a passagem pela gruta com respeito a Adão e para não ultrajá-la pelo uso diário.
Este atalho é portanto um caminho da humildade, escolhido por Abedam como interpretação simbólica para o casal a fim de che- gar às alturas da Vida, onde exclusivamente poderão reconhecer Deus. Assim caminham, e Noêmia várias vezes tem dificuldade de soltar seus trajes reais dos espinhos ali existentes. Na subida, o caminho se apre- senta cada vez mais espinhoso e ela finalmente não consegue prosseguir e desata a chorar pedindo socorro.
Como ficasse para trás devido ao constante enroscar dos espi- nhos na roupa, e os quatro homens já estando bastante longe, não se
ouve aparentemente seus gritos. Quando eles chegam ao planalto, Abe- dam Se vira como se quisesse averiguar se todos alcançaram o pico e diz: “Então, filhos de Deus, estamos todos juntos?”
Hored, que somente agora se refaz do susto com a aparição na rocha branca, percebe a ausência de sua querida companheira. Abedam nota seu embaraço e lhe diz: “Por que te preocupas em vão, se há pouco viste que ela havia ficado presa nos espinhos do atalho, chamando por ti, mas não a escutaste? É preferível que voltes e a ajudes, pois não se encontra longe daqui, emaranhada num grande espinheiro. Vai, que esperamos por ti.”
Entristecido, Hored começa a clamar: “Ouvi-me irmãos em Deus ou, se existe um pai para mim, que me atenda! Consta que Deus, nosso Pai, Se encontra entre os patriarcas. Se isto é verdade, tudo me é claro. Sua Santidade Infinita não permite que minha esposa, impura, se aproxime desta colina. De que adianta minha volta, caso um de vós não me acompanhe para soltá-la dos espinhos?
Henoch, Lamel e tu, amigo forasteiro, não me abandoneis e não permitais que minha esposa sucumba. Tenho que voltar, porque cometi uma grande falta. Que alguém de vós mostre um ponto certo na rocha branca, onde hei de fazer penitência até o fim de minha vida.”
Enquanto Hored assim se lastima, Abedam envia Lamel para trazer Noêmia incólume. Antes de Hored terminar seu desespero, Noê- mia já se encontra entre eles, e Abedam então diz: “Hored, se continuas nessas lamúrias, Noêmia pode até mesmo perecer; e se consideras que ambos não merecem se aproximar da Presença de Jehovah, quem au- torizou Lamel a salvar-vos do extermínio de vossa própria volúpia? Se isto foi feito por Jehovah, quem O impediria de vos mandar trazer aqui e vos abençoar tão logo fordes dignos? Levanta-te e procura conhecer melhor o Santo Jehovah.”
Diz Hored: “Se nem ao menos um de vós me garante ajuda para minha companheira, eu não me levanto mesmo sendo castigado com serpentes. Se ela pereceu por minha culpa, quero expiar minha tolice diante de Deus e dos patriarcas.”
Nisto, Abedam acena para Noêmia a fim de erguer Hored do solo e ela o faz, dizendo: “Hored, por que te queixas por minha causa? Já me encontro aqui há algum tempo, salva pela palavra maravilhosa deste desconhecido. Levanta-te, segundo conselho dele.” Sumamente feliz, Hored agradece pela salvação da esposa e Abedam diz: “Hored, és ainda bastante tolo. Como imaginas Jehovah? Como vento forte, ou uma chama flamejante, um sol, ou um raio?”
Responde Hored: “Não me perguntes tal coisa, pois quem se atreveria a enquadrar Deus numa forma desajeitada? Deus é Eterno e não há forma que se preste para Ele.”
Diz Abedam: “Claro que para a tua forma bastante tola Ele não presta. Mas, Noêmia, filha do mundo, hás de Me dizer como imaginas Jehovah.” Sorrindo, ela diz: “Amigo, bondoso e excepcional, perdoa se também não consigo criar uma figura que fosse digna Dele. No entan- to, não posso negar que O apreciaria em Tua Figura. Certamente disse uma tolice muito grande.” Abedam retruca: “Sê confiante, pois nesta Figura hás de reconhecer em breve Jehovah, Deus Eterno e Poderoso, como Pai cheio de Amor.”
31.PUNIÇÃODEHOREDPELOSEUCIÚMEDE ABEDAM
Após estas palavras, o grupo segue caminho para o lugar onde se encontram os patriarcas. Quando Abedam Se aproxima deles, todos se prosternam, alguns com exclamações efusivas de louvor, outros pela contrição silenciosa do coração. Essa cerimônia se estende em vasto âm- bito do planalto e tão generalizado que além das cinco pessoas recém-
-vindas ninguém se encontra de pé. Henoch e Lamel teriam seguido o exemplo dos outros, caso Abedam não os tivesse impedido por causa de Hored e Noêmia.
Estranhando este fato, ela se aproxima de Abedam e diz: “Bom amigo, podes dizer-me a quem se dirige essa prosternação geral? Talvez Se aproxima o Santo Jehovah? É isto, esse ato de contrição se dirige a Ele. Desde criança alimentei o desejo de poder ver somente uma vez o
Sublime e Santo Jehovah, pois minha mãe me orientou a respeito Dele, seguindo ensinamento de Farak, irmão de Hanoch.
Tive a desgraça de ser a mais bela filha das planícies e por isso meu pai me vendeu por várias vezes a homens lascivos. Mas, em virtu- de de minha excessiva voluptuosidade conferida por Jehovah, ninguém suportava, felizmente, o contato comigo além de três momentos. Meu próprio irmão Tubalkain não fez exceção neste caso, razão por que não conseguiu gerar um filho comigo. Em suma, todas as sevícias impostas pelo meu infeliz pai não conseguiram afastar-me de Jehovah.
Hored, meu verdadeiro salvador, pode testemunhar que du- rante o nosso convívio eu só queria palestrar a respeito de Jehovah e também não permiti o contato com ele porque não tínhamos sido abençoados.
Convirás, bom amigo, que eu, filha do mundo e da serpente, consegui muito em conservar no coração o pouco que sabia de Jehovah e, não obstante todas as lutas mundanas que procuravam me soterrar, tive a força suficiente de conservar puro o meu coração. Podes acreditar que, conquanto seja filha infeliz do pai mais infeliz do mundo, cuja loucura é muito maior do que alguém possa imaginar, eu nunca amei outra pessoa senão Jehovah, Criador de Céus e criaturas. E agora que neste local chego a gozar a extensa adoração das Obras milagrosas de Deus, tenho vontade até mesmo de morrer de amor por Ele. Se Ele aqui aparecer, permite que O veja ao menos por um instante.”
Nesta altura, Noêmia não consegue mais falar e lágrimas de amor e saudade inundam seu belo rosto. Alegria e medo lutam em seu coração, a ponto de tremer no corpo todo. Abedam, então, chama Hored e diz: “Filho do Levante, eis aqui uma representante abando- nada das planícies. Ela treme de amor e saudade, temor e alegria por Jehovah, enquanto não tiveste a menor reação e apenas dirigia olhares de ciúmes para Mim.
Por isso te digo que sou o Senhor e tirarei de ti esta nobre cria- tura e a plantarei num outro jardim, sem que tornes a vê-la, porque Me esqueceste por ciúme, desconsiderando que te fiz salvar da perdição por tua volúpia tola.
Tens conhecimento da antiga lei dos patriarcas que te nomea- ram para professor. É este o fruto de teu ofício? Que inseto venenoso te feriu a ponto que teu coração se transformou em coração de tigre? Conheces a Mim, conheces a Deus? Noêmia pressente Quem sou; mas tu estás diante de teu Deus e Criador, mudo qual tronco. Vai até a gruta e procura saber se teu coração é capaz de um remorso; pois Eu, que Ora te falo, sou Jehovah, Deus de Eternidades!”
Hored cai como que fulminado ao solo, enquanto Noêmia, ajoelhada, balbucia: “Ó Jehovah, sê Misericordioso para com esta pecadora!”
32.ABEDAM,HOMEMEDEUSAOMESMO TEMPO
Virando-Se para Noêmia, Abedam, diz: “Estás satisfeita por Eu ter te demonstrado Jehovah em Minha Pessoa, e acreditas que Eu, como Homem, também sou Deus?”
Essa pergunta causa certa estranheza em Noêmia, mas responde com voz tão suave e apenas dom das criaturas mais delicadas em mo- mentos de veneração: “Deus Sublime e Santo! Teria acreditado se me dissesses: Nesta brisa que ora passa por ti e é apenas sentida por alguns patriarcas, Jehovah Se apresenta. Creio que te mostras na forma huma- na, mais agradável e compreensiva, de modo tão suave e meigo.
Sei, por intermédio de minha mãe, Zilá, que ages em cada forma e não necessitas de ninguém, pois és em tudo Autossuficiente. Quanto à Tua Individualidade, só podes ser considerado como Homem per- feitíssimo. Se nós, criaturas, não concebemos figura mais perfeita que a humana, impossível eu ter outra concepção. Podia externar outras ideias pelas quais Te reconheço e creio firmemente seres Tu, exclusiva- mente, o Santo Jehovah. Não quero me tornar tagarela e aborrecer-Te, tampouco seria conveniente diante de Ti e dos patriarcas se eu fosse testemunhar o que sente o meu coração.
Atende somente este pedido: Não castigues por demais o hones- to Hored por ter falhado diante de Tua Santidade. Sê Misericordioso conosco e não nos expulses de Ti. Se ele errou, fui eu a causa de sua falta
e podes punir-me no lugar dele. Sou um fruto triste das trevas e do pe- cado, e carrego a morte eterna como punição certa. Como podia Hored manter-se conforme Teu Agrado, em minha companhia, enquanto para os patriarcas era fácil porque nunca caíram na tentação? Não sou eu a única responsável pela falta dele?”
Retruca Abedam: “Noêmia, teu pedido já foi atendido muito antes que o tivesses externado, portanto pode o teu coração estar cal- mo. Disseste há pouco que podias revelar certos aspectos pelos quais Me reconheces e por isso crês firmemente não haver outro Jehovah além de Mim.
Ainda que tagarelasses um dia inteiro, um ano ou durante toda a tua vida, jamais havias de Me aborrecer. Tudo que falares movida pelo amor é conveniente diante de Mim e de todos os patriarcas. Ninguém duvidará Eu penetrar em teu coração, e justamente por isso desejo que externes o que sentes, sem receio. Se Me amas verdadeiramente, despeja diante de Mim o teu coração, diante de teu Amado e Santo Jehovah.”
Toda iluminada de amor e brandura, Noêmia diz com voz trê- mula e sutil: “Posso eu, pobre pecadora, amar-Te como Te amam Tuas filhas? Eu — filha do mundo, do Teu — não posso externa-me! — Quer dizer que também — Te posso amar? Ó meu Jehovah!” Chorando copiosamente por achar-se por demais indigna, Noêmia cai de joelhos.
Abedam a toma pelo braço, a levanta e abraça por alguns mo- mentos. Em seguida a solta e diz: “Então, querida Noêmia, repetirás a pergunta se podes amar-Me?” Noêmia cai aos Pés Dele e umedece-Os com lágrimas de amor. Sumamente comovido, Abedam diz: “Meus fi- lhos, aqui a Meus Pés se encontra muito mais do que podem oferecer o Sol, a Lua e as estrelas. Eis uma nova filha da penitência, do remorso e do máximo amor.
É mais fácil encontrar-Me e amar-Me no Reino da Vida do que no da morte. Ela Me procurou e encontrou na morte. Por isso será re- compensada por Mim com um sentimento que jamais um ser humano sentiu. Noêmia, conservo tua mão para Mim por Me teres dedicado há muito tempo o teu coração. Pertences exclusivamente a Mim, e desta forma Eu Me vingo nos Meus adversários, isto é, com Amor Paternal.”
33.CONFISSÃOENOVOENGANODE HORED
Reconhecendo o Senhor após a cena acima, Hored começa a conjecturar: “Que farei agora? Eu, um verme fraco no pó, incapaz de experimentar minha força numa simples árvore. Ele — Deus Eterno, a Onipotência, Força e Poder em Pessoa. A mais elevada Santidade!
Sou um compêndio de amor-próprio, egoísmo e autossuficiência. Sou cheio de ciúme, raiva, inveja e sede de vingança. Ele é pleno de mei- guice, candura, indulgência, paciência e generosidade. Em suma, sou o pior contraste de Jehovah. Que me resta fazer? Recomendou que eu fosse para a gruta verificar se meu coração é capaz de qualquer remorso.
De que me adianta isso? Porventura não conheço o meu cora- ção, que se presta para o remorso como a pedra aceita uma pressão? Ó Noêmia, culpada sem culpa de meu coração egoísta, agora percebo que somente o Senhor, Deus e Criador, Se pode aproximar de ti. Foste dada para mim como castigo porque me vangloriava com a força e o poder conferidos.
Em virtude do meu físico forte e sensual, o Senhor Se viu força- do a me punir com justiça, pois Noêmia nunca me atendeu conquanto visse meu sofrimento em virtude de sua indizível beleza. Nem ao menos pude abraçá-la, e diante de minha excitação, me dava apenas bons con- selhos e advertências, que fariam jus a Kenan ou a Henoch. Por isso não pude abandoná-la e me vi forçado a amá-la cada vez mais.
Ó Adão, agora vejo claramente que por causa do teu afastamen- to de Deus, Ele te dividiu, tirou a metade do teu eu formando Eva. Ela se tornou para ti uma ajudante punidora que transformou a tua antiga força em fraqueza e finalmente te conduziu para fora do Paraíso, sem reação de tua parte.
Deus, meu Deus, quem pode escapar de Tua chibata? Puniste-
-me duramente, sem que eu o percebesse. Foste Misericordioso e me tiraste o grande jugo do castigo — e eu, tolo, me lastimei por isso. Agora reconheço minha enorme tolice e Te agradeço como nunca um mortal Te agradeceu. Somente Tu me libertaste e agora pertenço a Ti e a mim, inteiramente.
Acrescento mais um pedido: Se for preciso castigar-me, se o ho- mem necessita de punição segundo a Tua Ordem, faze-o com fogo, veneno e escorpiões. Jamais castigues alguém com criaturas iguais a No- êmia, do contrário, o mundo perecerá sob nossos pés.”
34.AMISSÃODA MULHER
Terminando assim sua introspecção, Hored se encaminha para Abedam a fim de externar sua gratidão. Este, porém, o antecede dizen- do: “Hored, julgas Eu não ter entendido as palavras do teu coração? Não penses isto. Quando percebeste que Noêmia estava perdida para ti, fizeste uma autoanálise e te voltaste para Mim. Ainda assim, tua conversão foi sem vida, porque Me pediste de coração alterado que Eu devia punir os pecadores com fogo, veneno e escorpiões, e até mesmo convinha Eu me cansar das punições. Neste pedido nota-se pouco amor para Mim e o próximo.
Muito embora conjecturaste a plena verdade, ela não se presta para a vida, pois o amor não estava ligado a ela. Teria preferido que cho- rasses por causa de Noêmia, pois terias demonstrado que teu coração está pleno de amor, embora numa direção falsa que facilmente podia ser corrigida.
Apresentaste olhos abertos, mas um coração fechado. Os olhos não se prestam para a assimilação da vida, e sim unicamente o coração, que se encontra insensível dentro de ti. Teu pensamento é verdadeiro somente em parte porque não contém amor, pois se o tivesse, teria en- contrado outra saída que não aquela: que Eu, como Pai, sinto agrado nas punições. Classificas Minha Ordem eterna e o mais puro Amor de castigo e pedes que desista definitivamente do mesmo.
Se fosse Eu atender teu pedido tolo, qual seria o destino das criaturas? Para que compreendas tua tolice, empregarei teu pedido na- quele cedro velho e forte. Então, onde está? Não existe nem o menor vestígio dele. Percebes agora onde o atendimento de teu pedido levaria as criaturas e quão pouca vida contém tua imensa tolice? Segundo teu
parecer, Eu devo punir antes com fogo, veneno e escorpiões do que com uma companheira semelhante a Noêmia.
De fato, dei ao homem a mulher para humilhação dele, pois desde eternidades sabia da sua natureza. Sob este ponto de vista, apenas, pode a mulher ser considerada um pequeno castigo dirigido ao orgu- lhoso coração do homem. Mas, se alguém refletir um pouco, convirá que este aparente meio de punição é precisamente o recurso mais im- portante para a conquista da Vida verdadeira, perfeita e mais sublime.
Repito pela milionésima vez que somente o amor para Mim e teu próximo condiciona a vida, porque em Mim, a Vida Original de toda Vida em sua infinita extensão, nada mais há que puro Amor. Se, portanto, não possuis amor, onde buscarias a vida? Quem não Me aceita no coração, que Sou exclusivamente a Própria Vida — como poderá viver? Se o coração está vazio de amor, está portanto sem vida perante Mim.
Medita um pouco e pensa quem primeiro ensina à criança o amor através do amor e quem desperta o coração para o amor e a vida? Quem alimenta o recém-nato de seu próprio peito? Quem te deu o primeiro alimento e te trouxe da morte para a vida, em mãos suaves?
Quando moço, pretendias erguer-te orgulhosamente com tua força viril, como se fosses designado a dizimar o Sol, a Lua e as estrelas. Quem conteve teu coração para o amor e a vida, te reconduziu à tua própria morada vital e te ensinou o amor que recebeste de tua genitora, porém o esqueceste?
Quem foi o anjo a te advertir: Ama e vive, Hored, mas vive com pureza, em Deus, e não batas na porta da morte! Aqui, a teus pés, está esse anjo que querias trocar por fogo, veneno e escorpiões. Foi Noêmia esse anjo. Vai e te arrepende de tua tolice, e quando sentires amor no coração, um amor forte para Mim, teu Pai, Santo e Amoroso, volta a fim de que te abençoe com a Vida eterna.”
A esse discurso de Abedam, Hored se atira ao solo e pede-Lhe que modifique o seu coração, pois se acha inteiramente incapaz de re- alizar algo por si só. Abedam insiste: “Faze o que te aconselhei, que serás ajudado. Vai até a gruta onde preparei um meio de cura e convém apanhá-lo incontinenti, caso consigas dar valor à vida, à Minha Graça, Amor e Misericórdia.”
Sem demora, Hored se encaminha para lá e por certo tempo fita o formidável colorido das pedras, sem atinar com o motivo de tamanha maravilha. Finalmente, conclui: “Se o forte raio solar se quebra nas su- perfícies lisas e de colorido totalmente diverso, elas se incendeiam como se fossem vivas. Seria tal fenômeno propriedade delas? De modo algum, pois quando o Sol se põe, toda essa maravilha some nas trevas.
Que diferença existe então entre mim e a mais simples pedra so- bre a qual a formiga caminha rapidamente para não ser absorvida pela sua esterilidade! Tudo é, portanto, enobrecido pela luz; no entanto, é o brilho ofuscador das coisas apenas mentira.
Há pouco, Abedam me falou de uma meia verdade, e agora co- meço a entender algo a respeito. Quem poderia negar a maravilha das formas das pedras preciosas, das flores, frutos, animais e até mesmo dos homens? Ainda assim, é sua formosura apenas parcial sem a luz.
Mas, que vem a ser a luz se seus raios se dispersam pelo infinito sem encontrar uma forma que fosse iluminada? Seria a forma da luz em si algo verdadeiramente belo? Quem poderia classificar o Sol, a Lua e todas as estrelas de belas? Ninguém, pois a mais simples flor possui muito mais que a esfera monótona do Sol, Lua e os insignificantes pon- tinhos das estrelas. Isto representa em toda parte uma meia verdade. A forma só tem metade do valor sem luz, e a luz, a metade do valor sem a forma.
O mesmo se daria com o homem caso seu coração se dirigisse sem amor ou forma, ora para lá, ora para cá. Bem que o intelecto emite seus raios como o Sol; mas de que adianta, se nada existe que o alimen- te, se cair na superfície do nada?
De fato, nada há em meu coração, nem amor nem remorso, nem tristeza, nem alegria — nem desejo algum. Porventura sinto sa- tisfação na vida? Não, ela vale tanto quanto o fulgor vale para a pedra. Nem sinto fome ou sede.
Devo arrepender-me de minha tolice. Qual delas? Por ser meu coração vazio e não haver utilidade no intelecto porque não é assimi- lado pela forma? O arrependimento é uma filha atrofiada do amor. Se a mãe se encontra alhures em vasto campo, onde encontrarei a filha? Disse-me Abedam Jehovah que sou um tolo. Acredito também que o seja, pois foi Ele, a Verdade Eterna, Quem o provou.
Mas por que sou um tolo? Por estar vazio de formas e de amor o meu coração. Como poderei enchê-lo? Com a luz? Certo que não, pois ela nada encontrando, projeta-se pelo infinito afora sem jamais voltar.
De onde suprir e alimentar o nada? — Mas, que é isto? De onde surgem esses sons tão maravilhosos? Não são palavras, não os en- tendo; no entanto, são mais sublimes que a palavra mais concisa. Agora me é claro que sou um grande tolo. Por acaso não é a palavra a forma do som? Todavia, é o som por si só mais maravilhoso que sua forma. Acabou minha sabedoria; essa aparição desfez todos os meus princípios. Senhor, eis no pó o grande pecador que só pode dizer: Querido Pai, sê Misericordioso para comigo e Tua Vontade Se faça. Amém.”
36.OMILAGRESONORODA GRUTA
Essa gruta tinha a particularidade, mormente pelas três horas da tarde quando se dava completa ausência de vento, de projetar uma sonoridade semelhante aos sons da harpa eólica, apenas mais possante no crescendo e diminuendo, ou seja, na modulação sonora. Ninguém tinha descoberto esse milagre, bastante remoto, que por isso não perdia sua utilidade. Não há quem duvide que o Sol e toda a criação são um milagre muito antigo, todavia não perdem sua utilidade ordenada. O Sol ainda alumia hoje como o fez na época de Adão.
O mesmo se dava com esse milagre sonoro, previsto desde eter- nidades para a finalidade que ora se apresenta a Hored. Esse fato é espe-
cialmente mencionado para que ninguém venha a dizer que era apenas um fenômeno natural. No caso de Hored, foi ele tão beneficamente tocado a ponto de refletir e se tornar outra criatura, cheia de remorso, amor e vida.
Hored foi desde nascença cheio de amor e inspiração, de sorte que, como menino, apanhava pedras e as apertava com violência contra o peito, quando não havia outra possibilidade de externar o seu amor. Daí desenvolveu-se com o tempo um amor à natureza que finalmente se tornou mais forte que o amor para Comigo, para com os patriarcas e familiares. Qual foi a consequência natural da aberração deste amor?
Começou a estudar com argúcia as coisas naturais. Analisava as ervas, que assim perdia sua vida, não mais podendo aquecê-lo. Des- membrava as árvores, sem nelas encontrar qualquer calor vital. Entrou para dentro da água e constatou que era fria. Ao manipular o barro, notou sua maleabilidade, podendo criar formas. No entanto, percebeu que enquanto elas permaneciam moles devido à sua umidade, apre- sentavam um frio assustador. Aquecendo-as ao Sol, tornavam-se mais consistentes, porém duras.
Admirou-se que pelo atrito de duas pedras surgissem as mais belas faíscas coloridas. Então, triturou quase todas as pedras que encon- trava e nelas procurava o fogo. Com o resultado negativo concluiu: O mundo inteiro é um tigre voraz que não pretende deixar algo de comer para o próximo.
Com tais princípios, que muito lhe agradaram, conseguiu ex- trair da natureza grande quantidade de resultados, sendo considerado um sábio do Levante. Esse conceito muito o lisonjeou e o levou a fazer brilhar seus conhecimentos a ponto que os patriarcas não se atreviam a falar em sua presença, limitando-se a abençoá-lo e fortificá-lo para a missão de apóstolo, com missão nas planícies.
Em Hanoch soube impor respeito, com palavras e ações, em Meu Nome, sendo agraciado com o melhor. Nesta recompensa ele encontrava conforto total pelo amor esbanjado com a natureza muda. Como tivesse encontrado o amor, nele se excedeu e se desfez da sabedoria, razão por que passou à sensualidade total; e agora considerava Noêmia um castigo
Meu, precisamente quando seu amor começava a se perder na sabedoria. Tornou-se diante de Mim um antigo sábio cheio de frieza.
Que fazer? Um milagre possante o teria matado. Por isso, foi depositado na pedra esse bálsamo harmonioso para compreender que Meu Amor não preenche somente o coração do homem, mas também a pedra mais dura. A fim de sabermos o resultado desse medicamento, o procuraremos para ouvir e aprender algo mais.
37.CONJECTURASEREMORSODE HORED
Cerca de uma hora Hored fica num recanto da gruta dificilmen- te atingível, quando subitamente um vento Sul termina com a sonori- dade milagrosa. Ele se levanta e diz de si para si: “Ó sublime Criação de Deus, quão santa e elevada és tu quando observada e sentida por um coração mais puro. Noto uma grande diferença dentro de mim. Ante- riormente, tudo estava frio e morto ao meu redor; meu próprio coração era frio e meus olhos incapazes de verter uma lágrima sequer. Agora, tudo vive: a pedra fala e a erva envia cânticos de louvor cheios de aroma para as alturas de Deus.
Os próprios galhos transmitem uma linguagem santa e pura que soa: Deus é puro Amor. Tudo que se projeta Dele e O envolve é apenas Amor. Meu coração! Dilata-te pelas Criações infinitas agora e concebe o que Se encontra naquele monte sagrado. É nosso Pai que Se acha em meio de Seus filhos e os ensina a conhecê-Lo.
Sua Santa Voz também chegou aos meus ouvidos, mas eu não A entendi. Meus olhos O viram e eu não O reconheci. Sua Palavra abençoada me trouxe até aqui, onde meu coração se sublimou. Que é o homem, fraco habitante da Terra, para que Deus dele se compadeça e o aceite como filho!
Porventura é o homem bom? — De modo algum. Será tão belo a ponto de Deus o procurar? — Não, pois onde há falta da verdadeira bondade também não existe beleza. Que tem o homem que não tivesse recebido? Repito, qual o seu mérito que justifique que Deus o procure, ensine, conduza e console?
Eis um mistério insondável. O fato de podermo-nos chamar de filhos de Deus é puramente graça, sem a qual seríamos apenas criaturas cheias de desobediência, enquanto uma pedra não se move durante mi- lênios onde foi colocada pela Mão Poderosa do Pai. Ó Amor indizível, Misericórdia infinita do Pai, como deve Te agradecer o coração e quais seriam as palavras que condignamente louvariam Tua Meiguice para com Teus filhos? Meus olhos não merecem se dirigir onde ainda Te encontras entre os filhos. Que tudo silencie a meu redor, pois o Pai está Presente.”
38.ABEDAME HORED
Com isto, Hored silencia; seu coração, porém, continua procu- rando palavras de gratidão ao Pai. Quanto mais penetra no seu âmago tanto mais difícil se torna sua tentativa de reconhecimento. Entremen- tes, Abedam chama Henoch, Lamel, Gabiel com Purista e Lamech com Gemela.
Quando Noêmia ouve o nome de seu pai, assusta-se muito, pois acredita que tenha sido conduzido a este local sagrado através da figura atrevida de Satanás. Abedam a acalma, dizendo: “Como podes temer algo ao Meu lado? Não sou Senhor de todas as coisas, seres e eternida- des? Além disto, o Lamech chamado por Mim nada tem em comum com teu pai, com exceção do nome, que significa: Este serve para Mim e contém o Meu tesouro em si.
Quanto ao nome de teu pai, ele o recebeu de Satanás com o mesmo significado. Não te preocupes com ele; sou também Senhor Poderoso de quem teu pai é servo infeliz e lhe abrirei os olhos em tempo oportuno. Acompanha-Me com os demais ao local onde Hored perdeu sua verbosidade, por humildade e amor.
Seth, Enos, Kenan, Mahalalel, Jared e Matusalém, ide para casa tratar de um bom repasto. Hoje, amanhã e depois todos os filhos devem se alimentar à mesa do Pai.”
Quando o grupo se aproxima de Hored, ele descobre entre todos o Sublime Abedam. Sumamente comovido, exclama: “Como poderei
resistir na Presença Dele? Eu, o mais abjeto ser, de coração e de espírito; e Ele, a Suprema Santidade. Vale lutar a última batalha, para a vida ou para a morte. Só tenho um coração cheio de amor; não sei se é puro. Se me aceitares ou não, Tua Vontade Se faça, Pai.”
Nisto Abedam toma a mão de Hored, e diz: “Descansa no Peito de Teu Santo Pai e sente pela primeira vez o repouso verdadeiro na ple- na consciência da Vida eterna. Só venho para intensificar a vida, e não a morte. Eis tua Noêmia. Só agora sois abençoados por Mim. Vinde Comigo participar da Ceia do Sábado.”
39.ACEIADESÁBADONA COLINA
Só depois de terem feito metade do caminho, Hored consegue se refazer de seu êxtase e se prontifica para falar. Abedam o antecede, dizendo: “Hored, não te canses. Ainda que consigas harmonizar boca e coração, podes estar certo que unicamente a linguagem do coração é do Meu Agrado, enquanto perde sua sutileza pela aspereza da fala. Tudo que vês enuncia a Verdade eterna, mas somente o Amor é a vida intrínseca e invisível dos seres. Não disperses o que teu coração acumu- lou, pois tempo virá em que terás de arar os Meus campos. Por isso, economiza as maravilhosas sementes da Vida para a época em que te chamarei. Vamos seguir caminho para nossa pátria.”
Chegando ao planalto, deparam com centenas de cestos de fru- tos saborosos, mel e pão, e nos cântaros, o melhor suco de frutas. Abe- dam abençoa tudo e diz para os patriarcas: “Que isso seja distribuído pelos vossos filhos ao povo, que deve ter conhecimento de estar Eu, Pai de todos, visivelmente Presente. Três cestos devem ficar aqui.
Lamel, lá adiante, onde se encontram três cedros numa coli- na, se acha um casal com sete filhos, três meninos e quatro meninas. Todos estão de tal forma confusos pela antiga veneração servil, que não conseguem arredar pé, muito embora, vejam a cabana de Adão. Traze-os aqui.
Tu, Lamech, leva o cesto para tua casa, e o terceiro fica para Mim, Henoch, Jared, Lamech e sua esposa, para Meu homônimo, Ki-
sehel, Sethlahem e seus irmãos, para a esposa de Zuriel, Hored, Noê- mia, Jura, Busin, Orion e a família que chegará dentro em pouco. Os demais devem se agrupar em redor do cesto de Adão, e os do Levante, em volta de Gabiel.”
Adão se entristece pelo fato de Abedam não querer participar de seu cesto. Este então lhe diz: “Adão, porventura existe uma diferen- ça entre os cestos? Não deves te sentir menosprezado por Eu atrair os fracos para perto de Mim. Além disto, estão os cestos lado a lado, com pouco espaço entre si. Não sou Eu o Pai em vosso meio? É preferível pensares no Meu Amor Paternal e não haverá diferença nos cestos usa- dos por Mim e ti.”
Adão se sente aliviado e pede perdão a Abedam, ao que Este responde: “Como devia Eu perdoar o teu amor como se fosse pecado? Teu ressentimento foi causado pelo teu amor para Comigo. Serve-te com alegria.”
Nisto, se apresenta Lamel com a família acima e Abedam a rece- be, dizendo: “Não temais vosso Pai, Eterno e Santo.” Eles O reconhe- cem e O adoram.
40.AINFINIDADEDEGRAUSEVOLUTIVOSNA CRIAÇÃO
Abedam deixa que se aproximem mais e aconselha terminarem com o louvor tão efusivo. Mas eles aumentam suas vozes e gritam: “Se- jas louvado, Pai Santíssimo! Somente a Ti compete todo amor, adora- ção, honra, gratidão, louvor e nossa máxima humildade!” Assim pros- seguem, sem que fosse possível fazê-los calar.
Como estavam cansados, Abedam e os patriarcas também se sentiam tolhidos para qualquer atitude. Abedam então ergue Sua Mão e traça com o indicador esquerdo uma linha do Poente ao Levante. No mesmo instante todo o firmamento é rasgado por forte raio seguido por tremendo trovão a ponto de fazer tremer o orbe.
Este fenômeno faz com que os clamadores se calem e os pa- triarcas se batam no peito, julgando que Abedam esteja irado. Por isso, Adão condena a desobediência contra a Palavra do Senhor. Abedam,
porém, o interrompe, dizendo: “Adão, por que te alterar enquanto es- tou em vosso meio? Deixa a questão Comigo, que sei da razão de tudo. É preferível que saboreie os frutos com os filhos.
Não houve quem Me louvasse como esse grupo; por que então deveria aborrecer-te, se Eu marquei sobre todo o Infinito seu grande louvor para demonstrar-vos do que são capazes?
Digo-te, que Me julgas irado: Feliz quem for atingido por ira semelhante que o salvará para a Vida eterna. Entendes agora tal ira de Meu Amor Paternal dirigida aos filhos que não sabem controlar sua alegria, tornando-se surdos porque o amor os prende?
Em verdade digo a todos: Quem não se tornar desmedido e des- controlado no amor para Comigo, não terá seu nome escrito debaixo, nem por cima das estrelas, como os nomes desses pobres da Terra, mas ricos de amor. Compreendes agora essa prova e essa Minha Ira? Então volta para junto de teus filhos.”
Profundamente emocionado, Adão exclama: “Pai, se assim é, quem alcançará a Vida eterna?” Retruca Abedam: “Por que te lastimas em vão, se não entendes os Meus Caminhos? Porventura são as estrelas do Céu e as plantas da Terra todas iguais? Se uma estrela brilha — seja grande ou pequena — não estimula a luz de teus olhos para refletir-se em ti? E onde viste nascer morta uma planta da Terra?
Eis o motivo por que também viverá aquele cujo coração sentir menos amor. Mas sua vida será idêntica ao seu amor, havendo grande diferença entre uma e outra. Um bichinho da areia também vive, to- davia, existe enorme diferença entre a vida dele e a tua. Por isso, não te preocupes com o fruto do amor, e sim apenas com o amor em si, pois o fruto corresponderá ao sentimento.”
Deste modo acalmado, Adão chama os filhos para a refeição e diz a Gabiel para fazer o mesmo. Isto feito, ele ergue as mãos e diz: “Louvemos o Santo Doador deste manjar e peçamos Sua Bênção Pater- nal. Ó Jehovah, nós Te agradecemos! A Ti rendemos toda glória, honra, amor, humildade e adoração em espírito e verdade.” Abedam abençoa os cestos de Adão e Gabiel; em seguida chama os pobres escolhidos e com eles Se posta junto ao cesto, dizendo: “Este não será abençoa-
do, pois onde estou já existe a maior Bênção. Alimentai-vos Comigo, vosso Pai.”
41.OSENHORREPROVAOAMORPRÓPRIODE ADÃO
Depois de Abedam Se ter servido primeiro, a pedido dos filhos, todos O acompanham durante uma hora, sem que os alimentos e os sucos diminuíssem; ao contrário, os frutos se tornam cada vez mais saborosos. E como Abedam continua a Se servir, ninguém pensa em acabar. Somente Adão percebe que o Sol está prestes a se pôr e pergunta o que deve ser feito, pois chegou o momento de tratar dos preparati- vos do fogo.
Eis que Abedam lhe diz: “Adão, dize-Me claramente a quem se destina essa medida: a Mim, ao céu azul, ao Sol, ao povo ou ex- clusivamente a ti? Realmente, ignoro qual tua intenção, pois essa fútil preocupação não pode se prender a Mim. Se Eu algo quisesse, o teria ordenado. Explica-Me a quem pretendes honrar com isso.”
Como Adão nada diz, Abedam prossegue: “Porventura não sen- tes a maior satisfação nesse preparativo, razão por que o referes à tua pessoa e querias demonstrar que somente por ti se estabelece o caminho para a porta da Vida? Isso implicaria no incendiar diante de Mim, o que querias fazer com maior pontualidade do que o fogo final que se destina a Mim.
Este foi o motivo por que fiz queimar o fogo no altar ainda na parte da manhã, para livrar-te de tua ignorância. No entanto, não de- monstras muita vontade de deixar tua antiga tolice. Não vale a refeição na Minha Presença muito mais que o preparativo do fogo que se refere a ti? Se, todavia, este te agrada mais que essa refeição cheia de vida, podes pô-la em ação, mas convém usar bastante cuidado para que o fogo não se torne demasiado forte e te consuma. Procura entender essas palavras e considera que a Terra é oca e cheia de fogo feroz; portanto, faze o que te agrada, ou para a morte ou para a vida.”
Sumamente assustado, Adão responde: “Ó Abedam, Tu és San- to, Bom e cheio de Amor, Graça e Misericórdia. Mas ai de quem ul-
trapassar por um fio de cabelo os limites de Tua Vontade, pois teria marcado sua morte temporal. Não admites um caminho mediano, e sim somente dois polos extremos, o da vida e o da morte.
Deste modo, se constitui Tua Palavra Viva que desconhece uma reprimenda suave, mas constrói mundos através da meiguice sem par, ou, no caso contrário, também os destrói. Por isso Te peço, sê Miseri- cordioso para comigo, pois o que foi feito não pode ser desfeito. Sê cal- mo comigo e não me condenes mais profundamente do que já estou.”
Retruca Abedam: “Adão, falas muito por ti, enquanto Me es- queceste inteiramente. Consegues assimilar o que seja a Minha Pre- sença aqui, no pior lugar de Minha Criação infinita? Que sabes Tu da Eterna Santidade de Deus? Volta sem demora e não te aprofundes ainda mais no reino da morte, e sim, no Meu Amor, Graça e Miseri- córdia. Se até agora descobriste apenas dois polos em Mim, a culpa é tua. Deves inquirir os recém-vindos, que contarão grandes milagres do terceiro polo.”
42.ADVERTÊNCIAFEITAPORPARIOLA ADÃO
Em seguida, Abedam Se dirige ao chefe da família, Pariol Garti- li, cujo nome quer dizer: os pobrezinhos que nada têm e nada querem, vivendo confiantes como os pássaros da brisa de Deus, e diz: “Meu bom Pariol, terias ânimo para dizer a Adão, com palavras suaves, que justamente o caminho do meio que ele ainda não descobriu em Mim é o mais plano dentro de Minha Vontade eterna cheia de amor?”
Responde o pobre: “Ó Senhor e Criador, por acaso o verme no pó podia alimentar outra vontade senão a tua? Farei tudo que for do Teu desejo e considero uma incrível condescendência e um caminho de meio termo Tu me perguntares, enquanto podes ordenar pela Onipo- tência. Ainda assim — meritosos ou não — Te fizeste Visível para nos ensinar o verdadeiro caminho do meio de toda vida que conduz ao Teu Coração. Por isso, peço que não me perguntes se quero ou não executar a Tua Vontade, pois sou um nada perante Ti, e dá-me apenas um man- damento que hei de me curvar imediatamente para cumpri-lo.”
Diz Abedam: “Como o reconheces plenamente, és de fato um mensageiro do Meu Amor e Vida. Dirige-te a Adão, e se ele perguntar qual o motivo de tua presença, transmite-lhe o que sabes. Entrementes, despertarei tua família para a Vida eterna, e quando voltares, teus filhos te receberão de braços abertos.”
Sem perda de tempo, Pariol se encaminha para junto de Adão e se posta na frente dele em virtude de seu grande respeito, e por não ser bom orador. Quando finalmente Adão lhe faz a referida pergun- ta, a coluna existente se transforma numa vara atingida pelo vento. Só depois de ser rispidamente inquirido por Adão, Pariol perde o medo e diz:
“Pai Adão, primeiro homem da Terra, que nos ensinaste que Jehovah, o Santo, é Deus e nosso Amoroso Pai, ao Qual compete todo louvor, honra, amor e adoração — como foi possível que te modificaste e nos mostraste outra face, e não aquela a que fazíamos jus? Agora que Ele — a própria Misericórdia — caminha Visivelmente entre nós, con- vém que te regeneres. Viraste tua face diante Dele, que veio justamente para nos salvar da noite eterna da morte. Deste-nos o apoio quando éramos fracos; por isso, não rejeites nossas mãos no momento de tuafraqueza, pois queremos ajudar-te segundo a Vontade do Pai.”
43.CONFISSÃO,REMORSOEREGENERAÇÃODE ADÃO
Só depois de ter ouvido as palavras de Pariol, Adão começa a refletir sobre si mesmo e descobre a imensidade do pecado oculto que alimentava contra Deus, razão por que Abedam não quis participar do cesto dele, e também percebeu a desgraça a que se atirou quando pre- tendia ser honrado como primeiro homem, ao lado de Deus.
Ao mesmo tempo, seu coração pergunta: “Como apagarei essa mácula de minha vida diante dos Olhos do Senhor? Quem me salvará e protegerá do sufocamento do maior vexame, na Presença Dele e de todos os meus filhos?”
Virando-se para Pariol, ele diz: “Aconselhaste-me uma rápida regeneração. Mas, se eu te perguntar como fazê-lo para quem se afastou
tanto de Deus, que resposta me darás? Considera o abismo intranspo- nível desta minha queda miserável. Quem me incutiu o pensamento do preparativo do fogo, levando-me à atual desgraça? Ó Sol, apressa os teus trâmites, para que teus raios não iluminem minha desgraça por muito tempo. Pariol, que me dirás, a fim de que possa me erguer de novo diante de Deus? Fala e cobre com tua voz a minha face, para não ser exposta diante Daquele Que ora Se encontra entre nós.”
Responde Pariol: “Como podes ainda perguntar pela possibili- dade de uma rápida transformação, se foste a primeira testemunha de Suas Infinitas Misericórdias e conheces por tempo muito mais longo do que eu o Infinito Amor de Jehovah?
O preparativo do fogo, determinado há três séculos a fim de se- res honrado por nós, era precisamente uma tolice oculta de teu coração. Deus te viu padecer sob o peso deste jugo, razão por que apiedou-Se de ti, tirando-te o mesmo do teu coração. Como é possível que tu, nosso professor original, ainda perguntes por uma rápida regeneração, se Ele já te regenerou muito antes que pensasses a respeito daquilo que se ocultava naquela cerimônia?
Por que te revoltas no íntimo, se o Pai arranca violentamente um mal violento do teu coração? Porventura julgas que Ele queira prejudi- car-te quando te ajuda?
Observa Sua Face amorosa, Seus Braços Paternais que se esten- dem com todo o Amor. A expressão do sentimento mais sublime se ir- radia de Seu Olhar — e ainda perguntas se existe possibilidade de rápi- da regeneração? Adão, não consigo dizer outra coisa na Presença Dele, Que te transmite o seguinte: Adão, por que vacilas tanto e não acorres aos Braços abertos do Santo Pai, cujo Amor Se preocupa contigo desde eternidades? Por acaso ainda não entendes essas palavras?”
Tomado de imensa felicidade, Adão abraça Pariol e diz: “Quem te inspirou tais palavras? Certamente não foi a treva que fez amadurecer esse fruto celeste dentro de ti. Vamos abraçá-Lo com as chamas santi- ficadas de nosso amor, pois agora Ele acaba de incendiar o verdadeiro fogo no meu coração. Nunca em minha vida senti tamanho impulso de amor. Vamos junto Dele.”
44.O PAIEO JUIZNANATUREZA DE ABEDAM
Pariol conduz Adão à Presença de Abedam, que recebe amavel- mente o arrependido e diz: “Adão, quando virá o tempo em que Me reconhecerás mais como Pai e não como Juiz? Ontem Me viste mani- festando a maior humildade, e Eu Me dei a conhecer a ti e a teus filhos, paulatinamente, para impedir que alguém ficasse perturbado com Mi- nha Presença Visível.
Reconheceste-Me e Me deste testemunho, mas teu coração não deu margem total a este Pai, pois o Juiz também O acompanhou e obri- gou o teu coração a Me amar, mas também a temer-Me três vezes mais. Esta relação dupla foi alimentada por ti até este minuto, de sorte que não Me podias assimilar com amor em virtude do temor perante o Juiz.
Agora acabo de te despertar violentamente e vens junto de Mim como filho amoroso; todavia, não é posse tua o amor que ora arde em teu coração. Eu o despertei a fim de te acordar, pois o Pai e o Juiz ain- da não estão separados dentro de ti. Procura apossar-te do Pai com a força de tua própria vida, e afasta Dele o Juiz que sempre impediu que visses o Infinito Amor de Deus na maior luminosidade, diante de ti e de teus filhos.
É preciso que sintas Eu não ter vindo como Juiz, mas como Pai, a fim de facultar a todos os filhos a semente mais maravilhosa e santa para a Vida eterna. Então perceberás finalmente, no coração em chamas, que Juiz e Pai não Se podem unir num coração cheio de amor. Somente o Pai, ou o Juiz, devem equilibrar a vida; o Pai, para a Vida eterna, e o Juiz, para a morte eterna do Espírito do Amor.
Convém separares definitivamente o Pai, Santo e Amoroso, do Juiz, irado e severo, dentro de ti, e jamais hás de tremer perante Mim, mas saltar de alegria e de amor filial para Comigo, teu Pai. Todos aque- les que Me chamarem como Pai nunca verão em Mim o Juiz. Ao passo que os que sempre e com mais facilidade confessam o Juiz no coração, infelizmente hão de encontrar o inclemente Juiz. Guarda bem: Hás de encontrar o que procuras: ou o Pai, Bondoso e Santo, e o Amor e a Vida eterna; ou o contrário, o inclemente Juiz destruidor dos mortos que
nunca se dirigiram a Mim nesta vida de provação, para que Eu os aceite e vivifique no coração, Adão, para sempre.”
Adão se atira nos Braços de Abedam e chora de êxtase de puro amor, pois só agora reconhece o Santo Pai, a ponto de não poder falar. Abedam o comprime contra o Peito, demonstrando a todos que Jeho- vah é Verdadeiro Pai de todas as criaturas. Aos poucos, todos começam a se aproximar Dele, confiantes, e toda a colina está envolta em chamas suavemente aquecedoras do Amor Paternal.
Virando-Se para Adão, Abedam diz: “Eis o preparativo do fogo nesta Terra, como início do fogo principal que se efetuará após esta vida, no Meu Reino Eterno da vida espiritual.”
45.APERMISSÃODEAMAROSENHORCONSTITUIOMAIORPRÊMIODA CRIATURA
Em seguida, Abedam se vira para Pariol e diz: “Cada trabalhador honesto e inteligente merece o seu prêmio. Embora tivesse vivificado a tua família, que te recebeu de braços imortais quando aqui voltaste, como pai podias conjecturar: Onde está minha vantagem se minha fa- mília se tornou imortal, quando apenas me cabe a alegria deste fato, no entanto sinto minha própria vida mortal?
Esta pergunta formulada por ti, mas de que Eu sou Autor, é muito justa, de sorte que também receberás o prêmio deles, o que aliás já se deu através do abraço, e por Eu ter te escolhido para onde o Meu Amor te conduziu. Ainda assim, mereces uma recompensa como fiel transmissor de Minha Vontade para Adão. Entrego esta Vontade ao teu livre arbítrio. Pergunta ao teu coração, que receberás o que desejas.
Se desejares o Sol a teus pés, ele terá que se submeter à Minha Vontade. Talvez queiras a Lua? Ela se submeteria ao mais leve aceno de Minha Parte. As estrelas também cairiam quais flocos de neve a teus pés. Pretendes possuir as vísceras da Terra? Podes crer que haveriam de subir junto de ti, como imenso novelo de serpentes. Portanto, é só pedir, que receberás.”
Caindo aos Pés de Abedam, Pariol implora: “Senhor, Deus e Pai, se já me deste a imortalidade, qual seria a tolice que meu coração poderia pedir? Jamais poderei agradecer condignamente pela parte mais ínfima que me concedeste, pois em cada respiração se encontra uma bênção tão infinita que nem todos os anjos poderiam avaliar.
Eu, verme do pó, deveria me atrever a pedir coisas desmerecidas? Não, meu Pai, prefiro ser estraçalhado por cobras e serpentes antes que meu coração alimentasse o mais leve pensamento em relação a um prê- mio. Tudo que posso desejar é a permissão de poder amar-Te.”
Diante dessas palavras, Abedam cobre Seus Olhos para ocultar as lágrimas diante dos patriarcas. Em seguida, vibra fortemente e ergue Pariol do chão, dizendo: “Aparentemente, pediste uma coisa sem valor; porém, é a mais sublime. Por isto, usufruirás com tua família de Meu Amor total, para sempre. Tuas filhas serão tão belas como as estrelas da aurora, e teus filhos serão dotados com uma força visual que lhes facili- tará verem os trâmites das estrelas. Tua companheira terá parte do Meu Coração, assim como tu, do Meu Amor. Jamais hei de abandonar-te. Vinde todos para junto de Mim.”
46.ANATUREZADEDEUSEDA VIDA
Sem demora, todos se dirigem para junto de Abedam, que os abençoa, dizendo: “Assim como respirais, em companhia desse grupo, a Vida eterna em espírito e verdade, todos devem respirar consciente- mente no Amor para Comigo e na Verdade surgida da Vida eterna. Não existe um que não fosse chamado por Mim; no entanto, não alcançará o Meu Peito caso não se dispuser por livre e espontânea vontade, com amor e humildade, confessando no coração que sou Eu o Pai. Repito: Quem não Me reconhecer no coração como Pai Único e Verdadeiro, não chegará perto de Mim. Chamando-Me de ‘Abba’, no coração, com humildade, amor e verdade será atendido.
Mas quem implorar constantemente: Senhor, Deus de Justiça, Deus da Graça, do Amor e de toda Misericórdia! — não será rejeitado
por Mim, nem perderá a vida, mas será difícil atingir o âmago da Vida libérrima.
Deus não Se deixa abraçar e o Senhor de toda Justiça não pode permitir tal aproximação, devido à Sua Infinita Santidade; pois isto é possível apenas ao Pai que abarca tudo para Seus filhos em Seu infinito Amor, para poderem se aproximar Dele mais estreitamente, gozando de tudo que Lhe pertence. Guardai para todos os tempos que somente o Pai possui a Vida como Manifestação da Vida eterna em Deus.
Deus Mesmo não é a Vida; Ele é apenas a Luz do Pai, assim como o Pai é a Vida em Sua Luz. O Senhor também não tem Vida, pois esta pertence exclusivamente ao Pai, enquanto o Senhor é o Poder Infinito do Pai para sempre.
Quem não se dirigir diretamente ao Pai, não O alcançará; por- tanto, sentirá manifestação fraca da vida. Existe uma diferença eterna entre vida e Vida.
A pedra também vive porque existe, porque vida e existência são uma só coisa, razão por que toda vida é luta constante entre duas forças. Uma procura a destruição, outra o polo contrário, no que nenhuma atingirá o desejado estado de paz, senão em Mim, o Pai.
A pedra existe, mas que diferença intraduzível há entre a vida de uma pedra e a de um verme — sem mencionar estacom a vida de um espírito perfeito no amor e na liberdade.
Todos terão, portanto, uma vida também em Deus e no Senhor. Mas a Vida unicamente verdadeira e conscientemente livre só existe no Pai, frente ao Qual toda e qualquer outra vida é apenas morte. Guardai-
-o bem e dirigi-vos ao Pai caso pretendais viver verdadeiramente. Todos vós fostes chamados para esta Minha Vida. Vinde recebê-la de Mim e deixai-vos selecionar por Mim, para que não se venha a dizer: Poucos dos chamados foram escolhidos.”
47.HUMILHAÇÃODOSMENSAGEIROS INDISCRETOS
Entrementes, o Sol se havia escondido atrás das montanhas, portanto já tinha passado o sábado. Como todos soubessem que à noite não se prestariam sacrifícios de fogo no altar e indecisos se deviam ficar ou voltar para suas moradas, enviaram mensageiros incumbidos de pe- dir orientação. Todavia, Adão continuava abraçado com Abedam e Este então pergunta: “Filhos, qual é vossa intenção? Por que viestes?”
Os mensageiros ainda desconheciam Abedam, e as grandes provas já tinham sido feitas anteriormente por Henoch, Jared, Kenan, Enos e Seth, como recurso preparatório. Deste modo, a resposta é bas- tante atrevida, pois dizem: “Por que nos perguntas? Não és nenhum dos patriarcas, nem dirigimos a ti nossa questão. Onde nasceste e onde foste criado a ponto de ignorares que é inconveniente antecipar-se ao pro- nunciamento de Adão? Além do mais, nos chamas de filhos, enquanto a julgar pela aparência podíamos ser seus bisavós. É comum aos jovens apresentarem-se indiscretos, sem se aperceberem que só proferem toli- ces. Para o futuro, convém seres mais controlado com tua língua.”
Isto dito, eles seguem à procura de Adão, sem encontrá-lo. To- dos que se achavam na colina receberam ordem silenciosa por parte de Abedam de não denunciá-Lo, porém relatar-lhes o paradeiro de Adão. Assim, Seth aponta Adão, causando grande admiração pelo fato de te- rem passado sem notarem o patriarca.
Seth então diz laconicamente: “É preciso muita cegueira para não descobrirdes o Pai de todos os patriarcas, e grande surdez para não ouvirdes a fabulosa maravilha deste dia. Ide em direção a Adão.”
Essa orientação atemoriza de tal forma aquele grupo que não consegue se mover. Irritado, Seth, prossegue: “Por que não vos mexeis? Não vos apontei a figura de Adão? Porventura aguardais que o próprio solo vos carregue? Sumi de minha frente!”
Apavorados, os mensageiros correm para longe e não se atrevem a procurar Adão, em vista da aspereza do habitualmente suave Seth. Finalmente, um deles comenta: “De que adianta ficarmos aqui, a uns cem passos distantes dos patriarcas? Ou nos afastamos definitivamente
da presença deles, ou um de nós inquire o homem de cabelos louros e compridos qual a medida que devemos tomar. Sinto ser ele todo espe- cial, pois o próprio Adão continua abraçado a ele. Quem de nós tomará a si essa tarefa difícil?”
Um do grupo concorda com o plano, mas comenta: “É realmen- te uma coisa bastante desagradável. Prefiro levar uma surra de todos do que procurar de novo os patriarcas. Tenho a impressão de ter recebido um castigo por um pecado sumamente tolo. Nem quero pensar em aproximar-me dos veneráveis patriarcas. De minha parte, aguardarei a escuridão para afastar-me despercebidamente.”
Diz um outro: “Tua ideia me agrada; todavia, considero aqueles que nos mandaram aqui e aguardam uma resposta. Como nenhum de nós se encoraja a procurar Adão, acho de bom alvitre voltarmos para junto dos nossos e contar-lhes a verdade, e ninguém se admirará do insucesso em virtude da sublimidade da consagração do sábado.”
Alega um terceiro: “Que nos podia suceder se chegarmos com humildade para junto de Adão? Se ele não responder, prosseguiremos caminho. E com relação ao louro abraçado por ele, não dá a impressão de um tigre, muito embora tenha grande semelhança com aquele que vi ontem montado no lombo de tal fera.
Estou pronto a tentar a sorte, e quem concordar não será impe- dido de acompanhar-me. Defendemos o salutar conceito de que todo bem tem seu mal, e todo mal sua vantagem; assim como o dia não seria dia sem a noite, e vice-versa. Quem quiser, que me acompanhe.”
O resto do grupo começa a se coçar atrás da orelha e conjec- tura: “Tens toda razão. Mas suponhamos que venhamos a ouvir uma maldição por parte de Adão, e sabendo ser a voz dele tanto quanto a Voz de Jehovah — que será então?”
Retruca o primeiro orador: “Não havia pensado nisso e a ques- tão muda de aspecto. Mas vede, dois homens vêm descendo a colina em nossa direção. Veremos se existe possibilidade de um acordo. Farei papel de intermediário de todos.”
48.OGRANDEAMORDEGARBIELPOR ABEDAM
Após certo tempo, o orador diz acanhado para os amigos: “Se não me engano, trata-se de Adão e do forasteiro. Ajude-nos quem pu- der! Convém prosternarmo-nos diante deles; vamos!” Todos se atiram por terra e começam a clamar: “Venerado pai Adão, poupa-nos com tua ira e tem condescendência para com nossa imensa tolice.”
Assim prosseguem, conquanto Abedam e Adão já se encontrem há bastante tempo na frente deles. Eis que Abedam pergunta intima- mente: “Adão, que Me dizes desta gritaria?” Responde Adão: “Meu Pai, é uma gritaria de desespero que euprovoquei neles. Ontem pela manhã ainda teria sentido agrado; agora, tenho vontade de chorar. Coitados, sentem medo de mim, e eu não sei o que fazer por amor a eles. Pai aman- tíssimo, sê Misericordioso e apaga mais uma tolice do meu coração.”
Diz Abedam: “Não será a última tolice que terei de reparar. Já Me deste tanto trabalho com tua cegueira, que terei muito que fazer até o fim dos tempos para repor tudo em sua Ordem original. Existem ainda muitos que iguais a estes padecem ao nosso redor. A família Gar- tili é um forte exemplo. De que maneira chegaram aqui Uranion e seus descendentes? No entanto, é sua casa a mais luminosa do Levante. Não será lançado em tua conta o que fizeste, pois Eu o creditei em Minha Conta e sei perfeitamente o que farei por isto, para todos os tempos. Por enquanto, ainda tens um pequeno débito. Chama este que está mais próximo de nós e veremos o que pode ser feito.”
Adão se abaixa para o orador, pega de sua mão e diz em seu ou- vido: “Garbiel, levanta-te e acaba com essa gritaria.” Continuando de bruços, este diz aos companheiros: “Não adianta continuardes a clamar; levantai-vos e cada um se prepare para um julgamento severo. Sabeis que se Adão toma a mão esquerda de um pedinte mandando que se levante, ele quer dizer o seguinte: Afasta-te de mim por vinte anos! — Ai de nós, que nem podemos levar mulher e filhos conosco! Estamos perdidos!”
Adão o interrompe, dizendo: “Garbiel, como és tolo! Isto termi- nou para todos os tempos. Nada temas, pois ninguém será banido da-
qui. O forasteiro e eu aqui viemos não para vos oprimir, mas vos erguer e se possível vos vivificar completamente. Erguei-vos!”
Não se contendo de felicidade, Garbiel dá um salto e beija o peito de Adão por sete vezes; depois se dirige para Abedam e diz: “Seja quem fores, mereces meu amor transbordante. Jehovah ama até mesmo as mos- cas; por que deverias ser excluído de meu amor, como desconhecido?”
Beijando o Peito de Abedam com sete beijos, ele se vira para os demais e diz: “Vinde aqui, irmãos! Não podeis imaginar o que acabo de sentir. Não há palavras para exprimi-lo. E imaginar que fomos capazes de dar uma resposta tão imperdoável a este homem celeste!”
49.ABEDAMREVELAAVERDADEIRAINTENÇÃODOS MENSAGEIROS
Os onze companheiros seguem o exemplo de Garbiel e consta- tam a veracidade do êxtase. Intimamente admirados, não conseguem dar explicação ao fenômeno e Abedam inquire por isto Garbiel, dizen- do: “Consegues te lembrar da pergunta que fiz na colina?”
Perplexo, Garbiel responde: “Sim, fizeste uma pergunta estranha à qual demos uma resposta bastante tola. Tratava-se da intenção e do sentido; só não me lembro se a intenção se encontrava no sentido ou vice-versa.
Recordo-me perfeitamente da segunda parte, quer dizer: por que aqui viestes? Mas a primeira parte não consigo formular. Nunca fui tão tolo em toda a minha vida; embora não fosse tão ignorante, o pavor quase me fez esquecer meu próprio nome. Certamente ainda te lembras do assunto e talvez pudesses repeti-lo, e conseguiríamos agora uma resposta mais modesta.”
Satisfazendo o pedido de Garbiel, Abedam repete a pergunta completa e aquele diz: “É isto mesmo: Qual é vossa intenção? Por que aqui viestes? E agora?” Diz Abedam: “Dá-Me resposta; quero saber se a pergunta ainda se encontra em vosso meio.”
Refletindo mais, Garbiel diz: “Quanto à segunda parte, fomos enviados à colina a fim de nos informarmos se devemos permanecer à
noite aqui, pois a essa hora não é hábito fazer-se um sacrifício de fogo. Eis o motivo de nossa chegada e talvez também seja o sentido de nossa intenção. Se porventura ainda existe outra motivação, não posso infor- mar. Talvez possas revelar-nos o sentido de tua intenção.”
Responde Abedam: “Respondeste certo quanto ao motivo de vossa subida. Mas nele não estava o sentido de vossa intenção, e sim que vosso coração estava repleto de aborrecimento oculto e quiseste pesquisar sob o manto da segunda pergunta por que a cerimônia do sábado fora modificada.
Como Eu o descobrisse e antecipadamente perguntasse pela ra- zão, traístes vossa intenção pelas palavras rispidamente dirigidas a Mim. Pretendíeis apenas perguntar se era preciso ficar ou seguir caminho. No íntimo tencionáveis bisbilhotar secretamente e satisfazer o mau humor, e em ocasião oportuna despejá-lo perante os patriarcas, na próxima ter- ça-feira (dia de contenda) em que sempre vos dão a devida atenção. Não foi assim?”
Inteiramente perplexos, todos se calam. Mas Abedam prossegue: “Acompanhai-Me com Adão à colina, onde deveis fortalecer-vos pri- meiro, pois não vos alimentastes hoje, e em seguida trocaremos algumas boas palavras a respeito de Minha Intenção.”
50.ONISCIÊNCIAESABEDORIADO FORASTEIRO
Muito admirado, Garbiel se vira para o forasteiro e diz: “És de fato um homem curioso. Como podes ler em nossos corações e des- cobrir o que lá se passa? Tenho certeza que não és criatura comum. Primeiro, pela sensação extraordinária que senti quanto te abracei; e, fora isto, teu penetrante olhar, diante do qual nada está seguro den- tro de nós.
Não posso negar que existem pessoas com certo dom conferido pelo alto, como Henoch, Kenan, Jared, Enos e Seth, que realizaram coisas milagrosas; a menos que tivesses tido uma ação indireta naquela ocasião. No entanto, meu coração sempre ficou intocável e nem o mais importante patriarca conseguiu pesquisar o meu íntimo.
Se isto te é possível, não temos autoridade de permanecer ao teu lado. Sinto verdadeiro pavor diante de ti e peço que nos isentes do convite de acompanhar-te para a colina e saborearmos o alimento ime- recido na cabana de Adão.
Estamos cientes do motivo dúbio de nossa intenção; mas, quan- to à tua motivação, demonstraste claramente que éramos verdadeiros velhacos. Podes estar certo que isto não se repetirá. Sendo tu o mais importante na colina e até mesmo Adão te rendendo o máximo res- peito, peço nos informes a razão de nossa vinda aqui, para podermos retransmitir aos familiares a informação antes do anoitecer. Expresso apenas um pedido, pois se meu desejo te for desagradável, preferimos seguir-te até o fim do mundo do que reagirmos em qualquer sentido. Respeitamos exclusivamente tua vontade poderosa.”
Retruca Abedam: “Garbiel, tua oratória representa uma verda- deira obra de arte, pois consegues com ela cegar-te e não ouves as impe- tuosas exigências de teu coração, cuja base não é má. Tudo que acabas de falar não tem pé nem cabeça, e nada mais é que uma fútil brisa com a qual pretendes abafar o teu medo. Afirmaste que não há quem pos- sa subsistir ao Meu lado, que sei ler os pensamentos humanos, razão por que te sentias tomado de pavor. Somente isto se originou no teu coração. Aconselho-te segurares a tua língua entres os dentes para que ela não engane o coração, fazendo crer que tivesses descoberto Minha Intenção para convosco.
Isto foi muita presunção de tua parte, pois hás de perceber com teus companheiros que o verdadeiro sentido de Minha Intenção para com todos, nem o mais elevado e perfeito espírito angelical do Céu mais sublime poderá entender e compreender.
Quanto à tua preocupação como mensageiro, todos já estão cientes que devem permanecer aqui até depois de amanhã, o dia da contenda. Assim sendo, não há mais motivo de não aceitares o Meu Convite. Então, poderás seguir-Me?”
Vertendo lágrimas de alegria, Garbiel exclama: “Sim, agora Te seguirei para onde quiseres, pois pressinto algo importante porque afir- maste a insondabilidade de Tua Intenção. Não me atrevo a pronunciá-
-lo, mas meu coração expressa, através de um amor jamais sentido, que és um Pai; por isso Te acompanharei eternamente.”
51.ABEDAMFALA SOBRE A LUZ
Abedam Se apronta para seguir caminho e diz: “Quem Me acompanhar, andará em vereda certa e não se enganará na trilha da vida que dá para a Vida. Quem poderia caminhar sem luz numa picada da floresta em noite escura? A floresta representa o mundo, e a vida da criatura é o caminho, e o tempo físico é a noite densa.
Não possuindo luz, poderia a criatura acertar o caminho estreito e justo que conduz à meta sagrada do amor, ou seja, à Vida eterna? Eu Mesmo sou uma Luz verdadeira e segura, sou o Caminho e a Própria Vida Eterna.
Se Me seguirdes, tereis Luz em profusão e nunca haveis de errar o justo caminho, por ser a Luz o Próprio Caminho. Do mesmo modo, não podeis errar a meta sagrada do Amor, a Vida Eterna, por serem Caminho e Luz a própria meta, ou seja, a verdadeira Vida eterna. Se- gui-Me, e não pergunteis para onde vou. Onde Eu estou existe o lugar certo e em toda parte a Vida eterna.
Se alguém tomasse uma lâmpada à noite e a colocasse numa montanha, num vale ou em outros locais, por acaso a luz daria a im- pressão de não se encontrar em ponto certo?
Digo-vos: A luz cabe em toda parte, pois não há quem diga: Este ou aquele ponto não se presta para a luz do dia, onde o Sol projeta seus raios. O mesmo acontece com a luz do espírito, razão por que ninguém deve perguntar se a luz se presta para ele ou não, ou se a pessoa é digna da luz ou não.
Quando chegar a Luz, preciso é que cada um dela se aposse e a use, pois Ela virá para servir a todos. Mas, uma vez que aí foi colocada e desapareceu, tanto o meritoso quanto o indigno hão de sentir a carência da mesma. Chamarão pela aurora que será retardada e tal demora se tor- nará uma grande pedra de escândalo para todos e em todos os tempos.
Ai dos que caem durante o dia e não se querem deixar erguer pela Luz enquanto Ela palmilha entre eles. Em verdade vos digo, terão dificuldades para se levantar quando a noite os atingir.
Por acaso não deve ser perdoado quem tomba durante a noite? Sim, os que tombam à noite se erguerão mais facilmente quando chegar a Luz, do que os que caem durante a luz do dia e são preguiçosos para se levantarem imediatamente a fim de que a Luz os conduza à meta abençoada do Amor.
Por isso, repito: Apossai-vos da Luz com vosso coração enquanto Ela Se acha em vosso meio. O tempo da Luz é curto, porém longo o da noite. Quem Dela se apossar agora, jamais sentirá falta da luz. Final- mente, entendei que Eu Mesmo sou a Luz de toda Vida e a Própria Vida original. Aceitando isso no coração, tereis aceito a Luz e a Vida totais.
Que vem a ser a Luz e a Vida, Santa e Eterna? Deus Mesmo é a Luz. E o Amor eterno desta Luz é a Vida Eterna e o Pai, que há pouco foi por ti reconhecido, Garbiel. Eu sou o Pai Único e Verdadeiro e vós sois Meus filhos, caso Me aceitardes como Pai.
Quem não Me aceitar no coração como Pai, para este serei o que sou para a pedra, quer dizer, um Deus e Criador eternamente julga- dor. Minha Força, Poder e Onipotência não têm fim — assim fala Deus por Si; quem poderá ou há de querer opor-se a Mim?
O Pai Se sujeita a Seus filhos e oculta a Divindade Onipotente diante de seus olhos temerosos, para que todos possam Dele se apossar no coração e seguir à Sua Chamada. Eu Mesmo sou o Pai e vos chamo para seguir-Me. Não hesiteis, e acompanhai-Me.”
52.CRITÉRIO DE GARBIEL SOBRE O SENTIDO PATERNAL DODISCURSODE ABEDAM
Todos se prosternam aos Pés de Abedam, e Garbiel dirige al- gumas palavras aos irmãos que merecem o seguinte elogio por parte de Adão: “Garbiel, já tive oportunidade de ouvir muitos discursos de pessoas não inspiradas, mas nunca iguais ao teu. Sê alegre, pois Abedam
realizou muitas coisas em ti; o que não te aguardará se teu coração se unir a Ele no puro amor?
Repito o conteúdo de tuas palavras: Irmãos, entendestes o que acabamos de ouvir? Quem teria sido capaz de proferir verdades tão pro- fundas? Não foram humanas, nem provindas de um espírito angelical, todavia, é uma entidade criada.
Meditai um pouco: quem pode, quem deve ser Aquele que diz de Si Mesmo: Eu sou a Luz, o Caminho e a Meta abençoada!? Só pode ser a Própria Vida original e eterna. Porventura não percebeis quem é o Foras- teiro? Se um de nós fizesse tal afirmação de si mesmo, sua língua não che- garia a pronunciar a segunda palavra, pois tal pessoa estaria pulverizada.
Se a Terra tivesse poderes para falar, o próprio pensamento de tal ultraje haveria de dizimá-la. O Sol teria o mesmo destino. Se não sois capazes de assimilar tal axioma, imaginai o Caminho de todos os cami- nhos e a meta final de todas as coisas. Imaginai-vos como sendo a Força mais potencializada, o Poder de todos os poderes — e procurai subsistir.
Nunca fui profeta, no entanto afirmo com toda a certeza e con- vicção de que se alguém dissesse: Sou a máxima Força de todas as forças!
ele não seria capaz de rasgar uma teia de aranha. E se declarasse: Sou o máximo Poder de todos os poderes! — uma poeirinha de Sol haveria de esmagá-lo.
Se dissesse: Sou a máxima potência de todas as potências! — um mosquito haveria de triturar seus membros e músculos. Se dissesse: Sou a meta final de todas as coisas! — um abismo sem fim haveria de tragá-
-lo no fogo da eterna perdição. Se dissesse: Sou o Caminho de todos os caminhos! — a Terra haveria de dizimá-lo no fogo de sua ira. Se disses- se: Sou a Luz de toda luz! — a treva mais densa haveria de envolvê-lo. E se finalmente afirmasse: Sou a Vida mais santa, eterna de toda vida!
não há quem pudesse imaginar a velocidade com que tal afirmação haveria de pulverizá-lo como se nunca tivesse existido.
Se isto entendemos, e vemos o Forasteiro que tudo isso afirma de Si, ouvindo como nos chama qual pai a seus filhos, e nosso coração nos diz: Sim, Tu és um Verdadeiro Pai, e ai dos que vilipendiam esse Nome sagrado intitulando-se de pai! Quem finalmente é esse Forastei-
ro e de onde vem? — Os Céus infinitos cheios de milagres luminosos, a Terra, nosso coração, a maior das maravilhas, exclamam: Jehovah, Deus, o Eterno Criador de todas as coisas, o Santo Pai Se encontra em meio de Seus filhos na Terra!”
Terminado o discurso de Garbiel, Abedam manda que todos se levantem e diz: “Está na hora de Me seguirdes ao monte para que vos possa mostrar um outro sentido de Minha Intenção, em presença de todos os patriarcas.
A Terra é um vasto campo onde cresce grande variedade de er- vas, arbustos e árvores. Sobre o solo rastejam inúmeros vermes e as flo- restas, as águas e o ar estão cheios de bichos e animais. Quem considera isto tudo? Onde está o coração que sustenta uma ordem naquilo? No entanto, é o coração obra desta ordem. Vamos, para que vos seja trans- mitido um outro sentido de Minha Intenção.”
53.PALESTRAENTREBESEDIELE GARBIEL
Todos seguem Abedam com profundo respeito, temor e amor, e um irmão de Garbiel diz: “Ao observar este Céu cravejado de incon- táveis estrelas, que são imensos corpos cósmicos, quando lá na frente caminha o Criador destes milagres sem fim, e que bastaria um pensa- mento Dele e o Espaço infinito estaria enterrado na noite mais densa, podendo Ele ao mesmo tempo criar novas criações — um sentimento indescritível se apodera do meu coração.
Porventura já viste olhos semelhantes ou uma boca igual à Dele? Que dignidade, santidade, força e poder se expressam através deles! Quem não cairia em êxtase quando Ele nos olha de perto? E quão con- vidativo é Seu Semblante! Mas, à medida que a pessoa Dele se afasta, Ele se torna cada vez mais sério, adquirindo algo indescritível. Não consigo definir se desperta em meu coração uma veneração sublime, ou o mais profundo remorso e a mais forte saudade de aproximar-me Dele mais e mais e, se fosse possível, integrar-me Nele.
Na Sua aproximação, toda sensação de distância se desvanece, dando margem a um amor jamais sentido, onde a Vida e a destruição
se expressam de modo idêntico, num êxtase infinito. Já passaste por isto? Talvez me possas dizer se devo confiar no meu sentimento ainda mesclado com enganos?”
Responde Garbiel ao seu irmão Besediel: “Tem fé no teu senti- mento, mas sabe que ele não vem de ti, e sim se irradia Daquele que nos conduz para as alturas, não apenas terráqueas, mas às alturas da Vida interna e eterna provinda Dele.
Tu, meu irmão, e vós outros, abri vossos corações e despojai deles toda matéria inútil, tornando-se mais espaçosos e livres a fim de poderem assimilar os grandes tesouros derramados sobre nós e os que ainda serão espargidos.
Besediel, por ora desiste de teus pensamentos profundos; tenho a impressão de que o Infinito é demasiado santo para nosso coração ain- da impuro. Se algum de nós estiver ocupado com algo em seu coração, deve antes purificá-lo pelo justo remorso e o amor para com Aquele que nos guia. Já estamos próximos do destino e os patriarcas se prosternam diante Dele. Todos eles e o próprio monte se acham envoltos de uma santa claridade. Chorai e orai, irmãos, pois este local é santo, santo, santo. Meu pobre coração, cheio de pecados, suportarás a Revelação, a Luz de Deus Eterno, do Santo Pai?”
54.DEFEITODEFALADESETHÉCURADOPOR ABEDAM
Quando todos alcançam o cume, Abedam os convida a recebe- rem o grupo dos doze personagens trazidos por Ele e Adão. Eles assim fazem, estendendo os braços, com exceção de Seth, temeroso dos que ele havia tratado com rispidez. Adão o chama e pergunta: “Abel-Seth, por que ficas afastado quando todos seguem a Voz do Pai? Talvez não ouviste a chamada?”
Caindo de joelhos, Seth suplica: “Perdão pelo que fiz, que sou um tolo.” — Abedam o interrompe, dizendo: “Já foi feito por Mim e está tudo bem. Teu receio é fútil, pois temes em aceitar o que Eu Mesmo aqui trouxe e vos orientei como recebê-los. Despoja-te do medo, segue
o exemplo dos outros, que isentarás teu coração de qualquer reprimen- da consciencial, tanto mais que és um homem livre de todo pecado.”
Seth abraça os doze componentes, que por sua vez lhe pedem perdão por terem dado motivos de aborrecimento. Seth não consegue pronunciar palavra de emoção; todavia, seus gestos demonstram ca- rinho tanto maior, provando que nunca esteve aborrecido. Tudo que fez foi certamente motivado por um impulso superior em benefício da vida deles. Percebendo que o grupo não entendia sua gesticulação, ele se vira para Abedam, apontando-Lhe a boca e o peito. Seth tinha um defeito de nascença que lhe impedia de falar quando sua alma se sentia emocionada.
Abedam então toca boca e peito de Seth e lhe diz: “Abre tua boa, que tua língua jamais há de negar seu uso. Dá vazão ao teu coração.” No mesmo instante, Seth começa a falar o seguinte: “Filhos do Amor do Santo Pai, se anteriormente não tivesse sido obrigado a vos reter diante de meu coração vibrante, ele vos teria tragado a todos.
Quando fugistes do cume após eu vos ter indicado o pai Adão, senti pena por não quererdes receber orientação precisa a respeito de vossa subida. Enquanto o Santo Pai, acompanhado de Adão, não vos tinha alcançado, andei tomado de grande aflição por vossa causa. Agora esqueçamos tudo isso, pois o Pai assim o quis. Devotai-Lhe eterna grati- dão e o amor mais puro de vosso coração. Aceitai o alimento abençoado por Ele, para a Vida eterna.”
55.ABEDAMFALASOBREOEXAGERODA GRATIDÃO
Quando os doze personagens se haviam saciado, dirigem-se para Abedam, Adão e Seth e agradecem com efusão pelo manjar saboreado no cesto de Adão. Finalmente, Garbiel aduz: “Creio que temos todos o mesmo paladar e só podemos constatar a qualidade especial e o aroma que, a meu ver, não pode ser comparado com qualquer fruto da Terra.
Daí concluo que eles têm uma origem muito mais elevada do que conhecemos. Qual então seria nosso dever? Vede, meu coração pal-
pitante será incendiado para o Doador Máximo e hei de louvá-Lo dia por dia, hora por hora. Louvado seja o Nome Santo de nosso Criador.”
Todos se atiram ao solo e acompanham Garbiel em sua mani- festação de louvor. Abedam os faz se levantarem e diz: “Não deixa de ser recomendável e de grande satisfação para um pai quando os filhos enchem seu coração com verdadeiro amor para com ele.
Mas, que diríeis se um pai entregasse uma maçã madura a um filho, que de tal modo se comovesse com o presente que não cessaria de lhe agradecer? Mesmo que ele quisesse acalmar o filho, este continu- asse em sua manifestação de gratidão até que a voz lhe sumisse? Como seria difícil àquele pai repetir sua atitude, prevendo o martírio ao qual exporia o filho; muito mais ainda isto se daria se quisesse oferecer-lhe um presente maior.
Se quisésseis agradecer-Me eternamente por uma asa de mosqui- to e por um fio de cabelo, desejava saber por quanto tempo haveríeis de Me agradecer se Eu vos ofertasse a Dádiva Máxima, ou seja, a Vida eterna e mais sublime.
Se por uma noz quisésseis retribuir-Me a Terra, a Lua, o Sol e as estrelas, qual seria vossa retribuição pelo presente de um planeta? Deveis reconhecer que também a gratidão deve ser medida por ser uma constatação amorosa daquilo que a pessoa recebeu.
Se alguém agradecer por uma palha como se fosse um cedro, dá testemunho de tolo ou expressa uma inverdade sobre algo que nunca recebeu. Terminai portanto com o louvor e preparai vosso coração para receberdes de Minha Mão aquilo que está infinitamente acima desses frutos. Antes disto, pesquisai em vosso íntimo e transmiti vossa desco- berta em uníssono.”
56.DIFERENÇAENTREALUZDOINTELECTOEALUZDO CORAÇÃO
Depois destas palavras de Abedam, Henoch convida os doze a recuarem alguns passos e diz: “Como o Santo Pai visse que não compre- endestes o sentido de Sua recomendação, Ele me ordenou no coração
que eu vos acompanhe nesta tentativa. Isto talvez vos cause espanto; mas, dentro em pouco, percebereis não ser fácil se dirigir os olhos para dentro do coração a fim de analisá-lo totalmente.
Até então foi o intelecto a luz de vossa alma. Mas o espírito vivo que habita no coração dela, como luz verdadeira e viva da Vida, nunca fora desperto por vós. Neste caso, é inútil pesquisardes o coração, pois onde não há luz, nada pode ser visto.
O mesmo sucede com a visão espiritual no próprio coração, onde nada pode ser visto caso a criatura não tiver antes vivificado o seu espírito. Perguntais: como pode o espírito ser despertado? Esta é a razão pela qual recebi ordem de vos conduzir até aqui, e com ajuda Dele chegaremos lá onde Ele nos quer levar.
O caminho, ou seja, o único meio para despertar o espírito, é di- rigir vosso coração no mais puro amor ao Santo Pai, cheios de confiança e fidelidade desinteressada. Quando perceberdes um grande calor no coração, sabei que chegou o momento do despertar da luz, e então con- vém analisardes o vosso íntimo, onde vereis os milagres da Vida eterna.
Uma coisa deve ser observada: Que não seja este o motivo de começardes a amar o Pai, pois Ele quer ser amado por Sua Causa. Além disto, não deve vosso amor ter apenas duração até o próximo dia, pois com um amor temporal nem a mulher se satisfaz, muito menos Deus Eterno.
A vida terá a mesma constituição do amor. Se o amor for tempo- ral, a vida será passageira, e em tal amor não haverá luz. Mas se o amor tiver formação eterna, a vida também a terá. Tal amor eterno é justamen- te o despertar do espírito, que é apenas puro amor. Agora sabeis de tudo. Agi deste modo, que facilmente podereis auscultar o vosso íntimo.”
Tomando a mão de Henoch, Besediel exclama: “Caro irmão, como poderei agradecer-te por esta ajuda tão maravilhosa para nos- sos corações necessitados? Encontrava-me precisamente no ponto que abordaste, pois até então procurei aprimorar o intelecto e analisar tudo que se passava em meu redor.
Julgava o seguinte: A Perfeição de Deus Se diferencia da nossa imperfeição somente no mais perfeito intelecto, de sorte que podemos
nos aproximar de Deus apenas pelo desenvolvimento do mesmo. É des- necessário frisar que dentro deste conceito nunca considerei o coração, porquanto já percebeste a situação do mesmo.
Agora noto quão tolo e inútil foi tal esforço, pois que utilidade teria a ciência para o morto? O espiritualmente vivo dispensa a ciência. Como acabas de bater no meu coração, ele me diz: O Amor é a Causa de todo ser. Se o tiveres para sempre em Deus, terás também toda a Vida de Deus e em Deus, e tudo que Lhe pertence. Não possuindo amor, tens apenas a morte dentro de ti. Já sei a Quem compete toda a gratidão; portanto, O procurarei.”
Obtempera Henoch: “Espera mais um pouco até que os outros também iluminem seus corações.”
57.INTROSPECÇÃODE GARBIEL
Nisto, Garbiel se adianta e pretende trocar algumas palavras com Henoch, não por necessidade interior, mas querendo satisfazer sua eloquência. Henoch o antecede, dizendo: “O Senhor e nosso Pai Ama- do te diz que deves calar caso queiras também ser despertado. Teria eu anteriormente recomendado por Ordem Dele que a tagarelice seria útil como meio de introspecção?
Considera o que foi dito a fim de encontrares o caminho para o teu coração, mas nunca através da tagarelice que te obstruiria o cami- nho para a Vida eterna. Até então foste o primeiro, ou julgavas ser um chefe entre os irmãos. Mas isto não tem valor diante do Senhor de toda a Santidade, Amor, Meiguice e Paciência, e sim somente um coração amoroso, arrependido e contrito.
Tudo aquilo que no mundo se enaltece é por Deus considerado sem valor. Mas, se aqui se apresentar o último habitante da Terra, in- teiramente despretensioso, será para Deus o mais importante. No en- tanto, deve toda pessoa precaver-se em querer ser a última de todas. O motivo deve ser o seguinte: Podes amar mais profundamente o Pai em tal isolamento, despertando no coração a saudade da pátria eterna onde Ele habita como Deus de todo Poder, Força e Onipotência. Se isto ig-
noravas, não o esqueças a fim de poderes também participar o quanto antes do despertar interior. Não te poderás aproximar do Pai antes de teres feito a introspecção.
Sabes tanto quanto eu a diferença que existe entre um fruto normalmente amadurecido e um amadurecido por coação. Todos vós, cuidai de não serdes contados entre os últimos. Não deixa de ser verda- de que o Divino Criador Se encontra entre nós, ensinando-nos e nos guiando. Mas quem Dele se aproximar de coração imaturo será deixado de lado até que o consiga de coração puro que também garante a pre- sença do próprio espírito.
Não basta que alguém seja despertado para o tempo de um ano, dia e hora. Quem for despertado, sê-lo-á para toda a eternidade. O espíri- to não habita na língua, mas unicamente no coração. E quem tiver gran- de eloquência, não quer dizer que tenha despertado o espírito no coração.
Quando o espírito for despertado, a língua prefere calar, pois só então poderá o intelecto, como luz da alma, penetrar no seu recôndito, o que não deixa de ser uma grande diferença entre a língua do espírito e a da matéria. Por isto, caro Garbiel, cala e procura falar no coração a fim de despertares o teu espírito para a conquista segura da Vida Eterna.”
Ouvindo tais palavras, Garbiel se atemorizou, não sabendo o que fazer e começou a pensar sobre si mesmo. À medida que prosseguia com mais intensidade, seu coração se iluminava mais e mais. Assim, percebeu que surgia uma luz após outra da profundeza de seu íntimo, que se dilatava a um tamanho cósmico. Nele vislumbrou no centro um grande altar, no qual se encontrava um adolescente forte, de trajes brancos. A entidade olhou para o Céu, do qual se projetou uma forte luz sobre ele.
E desta luz soou o seguinte: “Garbiel, olha os sinais de tua mão esquerda e escreve-os em uma pedra para ensiná-los aos teus irmãos.” Nisto, o adolescente se transformou num homem, olhou sua mão, onde encontrou vinte e cinco sinais — o alfabeto — e também encontrou seus nomes, origem e interpretação.
Todos os outros notaram sinais idênticos em si. Henoch en- tão recebeu ordem para despertá-los após terem permanecido duas
horas nessa introspecção. Henoch assim fez e os conduziu para junto de Abedam.
58.VISÃODEVRATAHSOBREANATUREZADA ESCRITA
Abedam então pergunta a um dos doze companheiros: “Vra- tah, dize-Me em poucas palavras o que viste em teu coração e quais as tuas deduções.” Com profunda humildade, este responde: “Pai de todo Amor e Criador de todas as coisas, seria preciso dizer-Te o que desde eternidades está mais claro e evidente para Ti do que para mim o Sol num dia mais radioso?”
Responde Abedam: “Como podes perguntar-Me tal coisa, se Eute fiz tal pergunta? Se sabes que previ tal acontecimento desde sempre, também devias saber que havia de fazer-te tal pergunta. Assim sendo, responde como se Eu não estivesse Ciente de Tua resposta. Todos vós, considerai que tendes de responder a qualquer pergunta. Não quero fa- lar-vos como se fôsseis pedras, mas como Pai a Se dirigir aos Seus filhos capacitados de responder.”
Diz então Vratah: “Vi nascer no centro do meu coração uma forte luz que brilhava mais que o Sol ao meio-dia, enquanto fora de mim, na Terra, tudo escurecia a ponto de não poder vislumbrar nada. Esta luz crescia mais e mais e se tornou tão poderosa que chegou a me fazer transparente, como se minha pele desse oportunidade de a luz iluminar grande parte da Terra.
Mas, quando a luz caía no solo, as coisas tomavam outro aspecto que o comum. Vi, por exemplo, uma folhinha trazida para minha mão direita por uma brisa suave e de sonoridade maravilhosa, gravada com os caracteres mais estranhos. Deitei a folhinha na mão esquerda para poder analisá-la por mais tempo.
Então descobri que a folhinha apresentava os mesmos sinais que eu havia descoberto em minha mão. Nela se encontravam vinte e cinco sinais isolados, enquanto na folhinha se repetiam em grupos. A folhi- nha começou a crescer mais e mais e me dava a impressão de se estender sobre a Terra toda, e os grupos de caracteres aumentavam a ponto de
ser inteiramente impossível analisar apenas a parte mais ínfima. — Su- bitamente, apagou-se a luz celeste dentro de mim, a folhinha sumiu junto com as harmonias do éter, e a voz de Henoch nos convidou a Te procurar, Senhor.”
Diz Abedam: “Caro Vratah, acabaste de ver o Reino de Minha Graça sobre a Terra. Não poderei ficar convosco assim como ora Me vedes, e também não seria de utilidade para a Vida eterna de ninguém se Eu ficasse. Deixarei sinais para todos, como tu e teus irmãos acaba- ram de ver, e com o auxílio do Meu Espírito podereis anotar todas as Palavras que vos dirigi, em benefício de vossos descendentes. Em tais Palavras estarei Presente, Santo, Misericordioso, Forte e Poderoso. Atra- vés do Meu Espírito, Garbiel vos ensinará o uso dos sinais.”
59.VISÃODESEHELCOMRELAÇÃOAO DILÚVIO
Em seguida, Abedam Se vira para outro membro do grupo e diz: “Sehel, dize-Me também tu o que viste e ouviste no coração.” A este con- vite, Sehel se sente fulminado e não consegue proferir palavra. Tinha difi- culdade de expressão para que sua língua pudesse transmitir uma grande glorificação ao Meu Nome. Como de fato nada pudesse dizer, Abedam Se aproxima e pergunta: “Sehel, como é possível falares sem susto e medo aos teus irmãos que não te amam em comparação a Mim?
Meu Amor para contigo e para todos é tão grande que de Seu fogo se incendeiam os infinitos espaços da Criação, repletos de inúme- ros sóis e regiões solares. No entanto, são tais sóis apenas as mais ínfimas centelhas do Meu Amor para convosco e tu não te atreves, por excessivo medo e pavor, a dar-Me a devida resposta? Como é isto possível?
Responde-Me no coração se algum irmão já te deu um tapa na boca quando lhe davas uma resposta. Respondes que não. Se isto não fez um teu irmão, fraco e igual a ti, muito menos Eu o faria, que sou Deus Eterno e teu Pai cheio de Amor. Domina teu fútil receio e fala de coração livre diante de Mim e dos patriarcas. Mas não percas tempo na procura de palavras adequadas, no que Eu não teria agrado, mas fala o que te vai no coração.”
Com este incentivo, Sehel se encoraja, dizendo: “Perdoa-me, Pai, o meu temor e medo tolos, não motivados pela Tua Santa Presen- ça, e sim em virtude da extraordinária maravilha que deparei no meu íntimo. No começo, meu coração incandesceu-se qual rosa primaveril quando tocada pelos primeiros raios da aurora. Aos poucos, a tonali- dade foi se intensificando e, por incrível que pareça, um Sol despontou em meu coração, emanando forte brilho.
Ele tornou-se tão imenso que vi um novo Céu cravejado de inú- meras estrelas, em formidáveis agrupamentos, e em seguida nascia uma nova Terra, como se emergisse de enormes vagas, e trazia uma geração pacífica dentro de uma casa enorme.
Tal geração conseguiu sair por terra, onde Te ofertou um sacri- fício aromático. A fumaça que se desprendia do altar subia às alturas e formava um arco enorme e maravilhoso sobre todo o orbe brilhante.
Do próprio arco soava uma voz idêntica à Tua e se dirigia ao che- fe daquela geração, prometendo-lhe paz e lhe demonstrando que o arco era prova visível que a Terra jamais haveria de ser castigada por tamanha enchente. A Voz ainda falou muitas coisas para aquele homem, mas o sentido era incompreensível.
Em cima da casa viam-se sinais estranhos e o chefe os copiou em uma pedra vermelha. Quando terminou, aproximou-se dos filhos e disse: Ouvi o que Deus gravou nesta casa protetora: De agora em dian- te não farei mais guerras com as criaturas. Esta foi a última. Quem de vós se Me tornar infiel receberá um julgamento até a grande Época das épocas. Por isto, deve haver paz na Terra e para os seus habitantes que tiverem bom coração, pleno de fidelidade. — Eis tudo que vi, meu Pai.”
Diz Abedam: “Sehel, transmitiste bem o que te mostrou tua vi- são. O sentido mais profundo da mesma será revelado somente dentro do tempo mau. Desejava que esta guerra fosse evitada, mas acontecerá aquilo que as criaturas querem e não como Eu o quero. Dentro em breve hás de conhecer os sinais vistos por ti.”
60.JUSTIFICATIVADACURIOSIDADE.VERDADE,ALIMENTODOESPÍRITO.AMOR,BASE DE TODAS AS VERDADES
Embora satisfeito com a assertiva de se tornar detentor dos si- nais, Sehel não compreendia que não lhe fosse dada a revelação a respei- to da guerra e do tempo mau. Isso o preocupava de tal modo, que até mesmo se esqueceu de agradecer a Abedam, que lhe disse: “Que coisas confusas admites em teu coração? Para que te serviriam? Julgas ficares mais vivo se tua curiosidade insaciável fosse satisfeita?
Se já te preocupas com o pouco que viste como provação da Terra, que farias se tivesses tido a visão de Kenan com as dez colunas? Pede-lhe que te conte a respeito delas, mas considera bem a última, que te trará muito conhecimento que todavia te entristecerá. O Pai, que ora te diz isto, Se transformará em Juiz inclemente e teu olhar correrá inu- tilmente pelas trevas. Procurarás o Meu Semblante sem resultado. Por onde fores dirigir tua atenção visual e auditiva nada encontrarás senão a Minha grande Ira. Se quiseres maiores detalhes, procura Kenan e pede que te fale, mas somente se o quiseres.”
Desesperado diante de tais revelações, Sehel se atira ao solo pe- dindo que Eu o poupasse com as mesmas. Preferia ser aniquilado para sempre a ser obrigado a aceitar Minha Ausência Paternal. Abedam o conforta, dizendo: “Está bem, se preferes a Mim em vez da terrível re- velação, fica Comigo. Te garanto que não necessitarás procurar-Me, teu querido e Santo Pai. Quanto à tua curiosidade, não quero considerá-la imprópria e injusta, pois através dela se anuncia em todos uma vida superior e espiritual.
Uma pessoa sem desejo de saber assemelha-se a um tronco de ár- vore, no qual só existe uma manifestação de podridão que tudo absorve e aniquila qual pólipo marítimo no fundo lodoso do mar, onde tudo é tragado pelos seus tentáculos, cada um dotado de uma boca de sucção que se alimenta até morrer. Então volta a ser lodo que servirá de base a semelhante glutão animalesco.
Digo a todos: Uma criatura sem curiosidade espiritual ainda não é um ser humano na acepção da palavra, e sim um animal em
forma humana, sem outro sentido senão o da voracidade. Quando se tiver saciado e tendo saúde, se interessará somente com o dormir e se juntar ao polo oposto, e que todas as suas funções biológicas se façam normalmente.
A convivência com tal pessoa é sumamente desagradável, pois nela habita ainda uma alma animal que não se dispõe a desistir de seus estados primitivos, razão por que sempre se sente mais satisfeita como glutão do que em um trabalho que desperte o espírito imortal. Tal cria- tura materialista considera exclusivamente seus apetites.
Se tudo isto justifica a curiosidade, não posso deixar de conde- ná-la sob certos aspectos. Quem sente curiosidade já despertou o es- pírito, assim como um lactante desperta nos seios maternos. Qual é o desejo dele? Que significa seu choro? Ele quer ser alimentado.
O mesmo sucede com o espírito que fora desperto de seu de- morado sono e sua fome se manifesta pela curiosidade. Agora Me res- ponde: A criança se satisfará se a mãe lhe meter um dedo na boca, ou coisas semelhantes, sem nutrição? Digo-te, o lactante sucumbirá ainda que lhe fossem dados mil dedos que não o satisfarão, pois estão vazios de alimento da vida. Creio que nenhum de vós duvida que o leite é o alimento verdadeiro, quer dizer, uma verdade total para o estômago infantil, faminto e desejoso de nutrição.
Por acaso a mãe não comprime o filhinho contra o peito onde arde seu ilimitado amor em chamas vivas e em cujo fogo tal nutrição doce é realmente preparada? Agora chegamos ao ponto nevrálgico: o es- pírito também quer ser nutrido com a Verdade mais segura e completa.
Se pretendes saciar o teu espírito através de ciências vazias, nas quais não há uma gota de verdadeiro orvalho, qual será a evolução do mesmo? Assim como na genitora o amor é a base do verdadeiro ali- mento para a criança, o amor também é para o espírito a base de todas as infinitas Verdades, único alimento bom e real. Quem é ou onde se encontra este Amor? Olha para Mim, para Este Peito, onde há alimento em quantidade infinita. Por isto, deves ficar, pois é melhor te alimenta- res aqui do que correr atrás de interpretações e visões, e neste afã morrer à míngua espiritualmente e no final sucumbir sob o peso das mesmas.
Entendes agora a diferença entre alimento verdadeiro e falso, e o que é a curiosidade? Se o entendeste, age de acordo, que viverás eternamente.”
61.TROPEÇÃO DE SEHEL. ABEDAM TESTEMUNHA ARESPEITODE SEHEL
Compenetrado das Palavras de Força, Poder e Vida divinos, Sehel continua firme ao lado de Abedam, sem dar lugar a um outro que tam- bém fora chamado. O motivo não se baseava numa certa ambição ou orgulho, mas unicamente no amor filial que o prendia a Mim. Por isto, Eu disse, como Abedam, somente por causa do lugar externo: “Sehel, os outros também devem se aproximar de Mim como tu o fizeste. Podes, portanto, chegar mais para o lado sem te preocupares com Minha perda.
Aqui chegaste por própria iniciativa e vontade, e andaste sozi- nho enquanto te fora possível. Mas, quando vieste perto de Mim, Eu corri junto de ti e de todos. Como te encontras bem junto de Mim, po- des dispensar qualquer passo, continuando Comigo com toda a calma ou acompanhar-Me para onde Eu for.
Isto se refere exclusivamente ao coração, ao espírito e suas rela- ções, mas nunca se prende ao físico. Podes estar onde for, se teu coração estiver com todo o amor de teu espírito Comigo, estarás em toda parte perto de Mim.
Se estivesses sentado nas Minhas Costas, mas teu coração se ocu- passe com as profundezas do mar, ou teu espírito remexesse em meio das estrelas ou em regiões distantes da Terra, estarias tão distante de Mim quanto o teu espírito e seu amor.
Por isto, Meu querido Sehel, podes te afastar um pouco de Mim, para dar oportunidade a teus irmãos de se aproximarem pelo mesmo motivo com que tu o fizeste. Compreendes?”
Louvando Deus no coração, Sehel dá um passo para trás, sem desprender o olhar de Abedam. Não olhando onde anda, pisa com o calcanhar o pé de Garbiel. Este se altera, dizendo: “Por que não cami- nhas como te foram dados os teus pés? Por que andas para trás descon- siderando os pés de teus irmãos, se teus joelhos se curvam para frente?
Além disto, nunca te moves do lugar, seja onde for que te mo- vimentas. Julgas que se possa permanecer diante do Senhor do mesmo modo que ficas diante de nós? Como és tolo, Sehel. De longe percebi que te tornaste incômodo para Abedam, o que Ele te deu a entender com as últimas Palavras.
Mas não percebes e ainda agora te portas como se teus senti- dos estivessem desordenados, andando para trás sem considerar Quem Se acha à nossa frente e onde pisas. Peço que te controles finalmente e te tornes outro homem, ao menos perante Deus, já que não achas necessário fazê-lo diante de nós. Realmente, estou envergonhado em teu lugar.”
O pobre Sehel se vê sumamente embaraçado, pois no momento não sabe a quem pedir desculpas primeiro. Além disto, a língua não se solta, de sorte que só depois de algum tempo consegue se atirar aos Pés de Abedam e Lhe pede perdão por não tê-Lo considerado, chegando até mesmo a aborrecê-Lo. Ao mesmo tempo, suplica-Lhe que cure o pé de Garbiel que ele havia magoado.
Erguendo Sehel do solo, Abedam o comprime contra o Peito e diz: “Sehel, não és humano, mas um anjo puro e grande do Céu mais sublime. Digo mais: O que és agora, já o foste no ventre materno, isto é, um descendente original e imortal do mais elevado Céu, onde habi- tam os anjos mais simples, em seu amor inocente, mas que por isto são os mais poderosos e mais sábios, porque vivem nos recônditos santifi- cados do Meu Coração.
Sehel, Meu grande favorito, reconheces-Me como teu Pai Ama- do e Santo, assim como o fazias há eternidades? Recordas-te que a Meu lado flutuavas pelo Espaço infinito e inteiramente vazio, e Eu te dizia: Irmão fiel do Meu Amor, um nosso irmão acaba de cair no abismo sem fim e eternamente repleto do fogo de Minha Divindade eterna.
Criemos o primeiro Sol desta Minha Lágrima! — e respondias: Santo Pai! Tua Santa Vontade Se faça! — Assim falando, também os teus olhos verteram uma lágrima que foi abençoada por Mim, e Eu disse: Por esta lágrima deve este Sol, o primeiro e maior, ser frutifica- do, a fim de que futuramente possa preencher todo o Espaço infinito
com incontáveis filhos até que lá mesmo se inicie o fogo eterno de Minha Glória.
Não te preocupes, portanto, pois nosso conhecimento e amor são bem antigos. Certamente compreenderás o motivo pelo qual an- daste para trás, sem conseguir desviar os olhos de Mim. Esta foi tua penúltima prova, pois passarás ainda por outra, por pouco tempo, e mais uma, quando te enviarei diante de Mim. A partir de agora, podes conservar o teu corpo até quando quiseres e jamais há de ser privado do Meu Semblante.
Assim, também deves entender tua visão e todo o resto, mas guarda-o para ti. Em virtude de teres pisado o pé de Garbiel, deve ele se tornar professor de sinais, e tu, seu mestre. Isto lhe sirva de humilhação, como para todos, pois acaba de saber que aquele a quem tomava por grosseiro, é um antigo irmão do Meu eterno Amor e existiu antes que existissem todas as estrelas, Sol, Lua e Terra. Agora vamos ouvir o que viram os demais irmãos.”
62.TRANSFIGURAÇÃODE SEHEL
Durante essa explicação, Sehel ficou como que transfigurado e todos os patriarcas cumprimentam hóspede tão elevado junto de Abe- dam. Seth, pai de Sehel, toma a sua mão e diz: “Meu filho, que até este momento continuas solteiro e nunca te uniste a ninguém, não deixan- do descendente direto, razão por que te bani para o Sul — como me perdoarás tal ultraje?
Que representam Enos e toda a estirpe comparados a ti? Ó Jeho- vah, por que meus olhos se abriram tão tarde? Perdoa-me, Sehel, e volta junto de mim e deixa-me tratar-te como filho. Todavia, Se faça a Von- tade de Abedam.”
Ouvindo os queixumes de Seth, Sehel volta de seu êxtase de suas grandes recordações e diz: “Meu pai, não te preocupes. Jamais hei de deitar por terra a Ordem de nosso Santo Pai, pois permitiu que este meu corpo, que já carrego há vários séculos, fosse gerado por ti. Por que então não deverias ser mais o pai do mesmo? Continua sendo o que
foste, em Nome Daquele que nos gerou há eternidades e de Quem éra- mos filhos antes que fossem criadas todas as coisas visíveis. Todos nós começamos aqui uma nova vida por causa daquele que caiu de modo próprio, de sorte não haver relação entre o que fomos em espírito. As- sim, és tu o meu pai, e eu teu filho.
Se o Pai Eterno e Santo Se mostra como homem e irmão, nos fala qual semelhante e nos ensina a arte secreta de aceitarmos Dele a Vida eterna, que nada somos, inclusive toda a Criação — por que ha- veríamos de fazer distinção entre nós que surgimos todos de modo se- melhante? Que diferença há para Deus eu sendo um espírito original ou um posteriormente surgido do mesmo Amor?
Se Deus, segundo Sua Ordem eterna e infinita Sabedoria, deter- minou que tu fosses o meu pai e não eu o teu, por acaso deveria eu me elevar acima de ti por ter Ele demonstrado meu estado espiritualmente elevado? Só Ele é Santo. Nós somos Seus filhos amados por Ele quando somos como devemos ser.
Se nos desviamos de Seus Caminhos santos, Ele vai ao nosso en- contro com Sua Misericórdia infinita e ilimitada. Aos renitentes espera Seu Julgamento, para a vida ou para a morte. Só Ele sabe que espécie de morte será.
Como filhos Dele, devemos ficar fiéis, em Seu Santo Nome, nas relações em que nos colocou, por três momentos, nesta Terra. Mas, quando esta vida terrena terminar, Ele já terá providenciado, há tem- pos, as novas relações a nos esperarem. Quanto à volta à tua casa, deixe- mos entregue, como tudo, nas Mãos Dele.
Tenho a liberdade de exigir de todos, com todo o rigor, que nun- ca me demonstreis a menor veneração pelo fato de o Santo Pai me ter chamado de irmão. Não há quem desconheça a Quem compete toda Honra, Louvor, Glória e Veneração. Veneremo-Lo através do fiel cum- primento de Sua Santa Vontade. Portanto, exijo que me considereis apenas como o velho Sehel.
A ti, caro irmão Garbiel, digo em Nome de Quem está ao meu lado: Levanta-te do chão, pois sou apenas um homem como tu. Ambos temos Seth como pai; por que então me prestas aquilo que somente
cabe a Deus? Nunca uma criatura se deve arrastar no pó diante de ou- tra, e terá cometido o maior ultraje diante de Deus quem admitir, por um só momento, que um irmão rasteje diante de si. Nunca me ofendes- te; portanto, nada tenho a perdoar, mas ofertar somente meu coração fraternal. Se algo comprime o teu coração, dirige-te a Ele, que tirará o teu peso e libertará tua alma.”
63.AHUMILDADEÉAMAIORGLORIFICAÇÃODO HOMEM
Abedam acrescenta: “Meu caro Sehel acaba de falar com justiça e verdade. Entre todos os ultrajes, o egoísmo é o maior. Ao passo que a maior e mais sublime glorificação do homem está na humildade e, como resultado, a Glorificação do Meu Nome perante o mundo.
Quem sentir um peso no coração, que Me procure, pois repito o que disse Sehel: não encontrará alívio senão Comigo. Tu, Garbiel, não erraste ao pedires perdão ao teu grande irmão, e Seth também não errou confessando seu antigo engano, pelo qual se aborreceu com Sehel porque não queria seguir as pegadas de Adão, preferindo manter sua pureza original, por imenso amor a Mim.
Não deve um irmão rastejar no pó diante do seu próximo, pois nem Eu faço esta exigência. Muito menos deveis honrar-vos como deu- ses. Honrai-vos exclusivamente pelo Amor, sem sobrepor-vos acima do semelhante. Tal consideração, que cada um deve a seu próximo, é justa. O que passa daí é contra Minha Ordem e deve ser evitado. Em tudo basta o puro amor, porquanto Eu Mesmo nada vos peço senão vosso amor em espírito e verdade.
Podeis orar dia e noite e vos rastejar no pó, que Eu não vos aten- derei antes que vos tenhais dirigido a Mim, vosso Santo e Amoroso Pai. Se Eu, que sou Santo, aceito vosso amor filial, honesto e sincero, como a melhor e verdadeira veneração, por que deveria haver diferenças entre vós que vos levassem a rastejar no pó diante do próximo?
Tu, meu caro Sehel, gravarás em pedras o único mandamento de amor, para que todos vejam do que se trata e qual o ponto central de todas as coisas. E tu, ciumento Garbiel, não te preocupes por Eu não te
ter chamado como primeiro a relatar sua visão. Julgas Eu o ter feito de propósito para sentires tua nulidade, enquanto também querias ser algo que não deves? Que tolice!
Declaro-te que Minha Ordem eterna, Meu Amor e Minha in- finita Sabedoria seguem outros caminhos que os por ti aceitos como justos. Teu coração deve ser humilde e não ambicioso. Se fores humilde, não prestarás atenção em quem seja o primeiro, o segundo, o terceiro; pois, quando fores chamado, estarás plenamente satisfeito. Devido à tua ambição, o tropeção de Sehel te magoou. Purifica o teu coração e vem a Mim quando fores chamado. Procura Henoch e pede para indi- car-te o caminho certo que leva para Mim. — Agora, vem tu, Horidael, e conta-nos o que viste no teu âmago.”
64.AVOZINTERNADA CRIATURA
Horidael se adianta e começa a falar, imbuído de alegria e cora- gem: “Sei perfeitamente que tudo que vi se origina de Ti. Porventura deveria transmitir-Te aquilo que desde eternidades Te é mais claro que o Sol a pino? Isto seria o mesmo que levar uma gota d’água para o mar a fim de aumentá-lo, ou acender uma tocha de cera para auxiliar a luz do Sol. Seria a maior tolice se a criatura despejasse seu coração diante de Ti, como se ignorasses o que nele se oculta.
Quem se encontra diante de Ti como eu, precisa de uma só coi- sa: bater no peito e afirmar: Deus Onipotente, Santo e Amoroso Pai, sê misericordioso para com este pecador. Todos os meus pecados, todas as máculas do meu coração se revelam diante de Ti tão claros como o dia mais radioso, e todos os meus desejos foram contados por Ti. No entan- to, sei que é de Tua Vontade que todos se externem como se ignorasses tudo. Assim sendo, peço atenção àquilo que ouvi durante minha visão.
No começo, senti pancadas fortes no meu peito e, se não me engano, foram sete. Não doeram; no entanto, fui abalado até o âmago de minha alma e me apavorei. Quando na última pancada o pavor me dominou e todos os meus sentidos deixaram de corresponder à minha vontade, algo começou a vibrar em meu coração.
Pareceu-me que inúmeras estrelas se cruzavam com muita in- tensidade a ponto de, no final, meu próprio coração se transferir para a matéria radiosa e iluminava de tal forma como se a pessoa pudesse obrigar um raio a não se apagar.
Tal luz começou a dilatar o meu coração, que quase ultrapassava os limites do Céu. Nessa constante dilatação, o imenso nódulo de es- trelas se dissolveu em estrelas fixas e isoladas, e cada uma brilhava mais fortemente que a estrela da manhã na primavera. Como tudo se acal- mou, e eu não conseguia perceber se meu coração se dilatava, parava ou contraía, eis que encontrei a mim mesmo, sem saber onde estava.
Nesse instante, três maravilhosas estrelas se desprenderam do Céu do meu coração e se pareciam com três bolas de luz solar. Então pensei: Que vem a ser isto? Onde estou e quem sou? — Imediatamente, cada uma das três bolas se dilatou e retraiu numa profundeza inconce- bível. A do meio abriu-se, absorveu as outras e aproximou-se de mim. Então ouvi um forte trovão que transmitia o seguinte: ‘Te encontras unido ao espírito. Tudo que vês está dentro de ti, e nada existe que esteja fora de ti. Isto quer dizer que deves futuramente pesquisar os fenômenos internos da criatura sem te preocupares com os detritos do mundo exterior.
Toda forma inerte no mundo exterior se encontra dentro de ti, cheia de vida, sem número e sem fim. Procura a vida interior, que en- contrarás revelado tudo o que externamente te tocou ou na maior parte não te atingiu. Este é o Mundo Interno de Deus, do Pai Eterno e Santo. Nele podes, deves e viverás eternamente.’
Isto dito, a grande bola de luz diminuiu e finalmente desapa- receu com tudo e eu me encontrava de novo na Terra. Só me restou a recordação viva. Aceita este relato e sê misericordioso para comigo, pois não sou um puro Sehel, mas um impuro Horidael.”
65.HORIDAEL,NOMEADOPARALIVREINTERPRETADORDOS SINAIS
Abedam estende Sua Mão para Horidael, que a aperta contra o peito. Abedam então diz: “Meu filho, acabas de transmitir fielmente o que descobriste em teu coração; por isso te designarei para pesquisador dos tesouros ocultos da vida interna. Receberás o dom da interpretação, pelo qual testemunharás o sentido vivo e real de cada coisa.
A tua visão prova que o amor para Comigo deve preencher e dilatar o coração através do calor espiritual, conforme viste uma quan- tidade de estrelas palpitantes, que pouco a pouco se uniram para uma só luz que dilatava o teu coração.
Uma vez realizada tarefa tão importante, te acalmaste e tornaste a ver as estrelas iluminarem teu mundo interior, onde te encontraste como homem perfeito. Nesta altura, não sabias onde estavas. Três estre- las do teu céu interior se desprenderam e flutuavam diante de ti. Como não entendias a razão daquilo, perguntaste de novo.
Elas recuaram para longe e a do meio abriu-se e absorveu as duas laterais. Em seguida, ouviste uma voz possante dentro de ti que te transmitiu o primeiro ensinamento básico sobre ti mesmo e daquilo que devias ser e fazer.
De novo começaste a perguntar: Mas, as estrelas, que represen- tam elas dentro de mim? Por que palpitavam no começo tão fortemen- te? Por que se uniram e depois se isolaram e se acalmaram? — Vê, as estrelas são no começo nada mais que os conhecimentos absorvidos pela alma, ou seja, o intelecto no sentido mais restrito. Sua projeção em diversas direções demonstra a procura da alma pelos caminhos da verdade e da vida, e a unificação da sua luz prova que a alma se apossou de Mim com todas as suas forças.
A posterior separação e calmaria das estrelas traduzem que uni- camente pelo amor a Mim a vida encontrou sua base original, tão infi- nita quanto a Vida reencontrada em Deus e por Deus. Este foi o motivo de te teres descoberto e perguntaste, baseado na razão de teu ser: Onde me encontro? — E as três estrelas separadas te responderam; mas tu não
as entendeste. A resposta, dada pela estrela central, dizia que te tornaste amor e vida em meio de teu próprio amor, capaz de aceitar toda Luz de Mim. Isto prova que à tua segunda pergunta as estrelas se afastaram de ti e pudeste verificar sua grandiosidade infinita; e em seguida a estrela central, o mais puro amor, assimilou as laterais, correspondentes à tua fé e à tua antiga sabedoria.
Uma vez feita a fusão, ouviste a primeira palavra viva dentro de ti, que te ensinou e explicou a visão de tua própria vida interior. Aquela pala- vra era Minha Palavra em ti, ou seja, a Palavra Personificada, pela qual tu e todas as coisas foram feitas. E Ela te explicou que devias entender as inter- pretações internas do mundo exterior em relação ao interior, vivo e eterno.
Por isso te tornarás um escrivão dos sinais interpretadores da vida humana de todas as coisas visíveis e invisíveis que preenchem todo o Universo, do mais ínfimo ao máximo. Dar-te-ei também outros sinais que esclarecerão nos sinais primários o que neles se oculta em espírito, ou seja, na vida eterna e intrínseca. Com outras palavras: aquilo que os outros anotarão para os olhos físicos e psíquicos, será testificado por ti pelo espírito da verdade interna. Acabas, portanto, de receber os sinais das interpretações. Por ora, ainda desconheces o seu uso e nem mesmo tens noção dos próprios sinais. Mas não te preocupes; na escola do teu próprio coração, que viste hoje pela primeira vez, encontrarás tudo. O espírito do amor dentro de ti te conduzirá a todos os segredos, revelan- do-te o que até então era oculto para todos.”
66.AVERDADEIRAADORAÇÃODEDEUSEAJUSTA CARIDADE
Após esta promessa, Horidael, tomado de imensa gratidão, se atira aos Pés de Abedam, vertendo lágrimas de alegria, e não houve um que não se comovesse. Abedam manda que se levante e diz: “Se teu coração for pleno de amor e humildade, terás feito jus à verdadeira gratidão, podendo poupar-te da prosternação.
Toda manifestação física é um horror para Mim, mormente al- guém supondo Eu me satisfazer com lágrimas movidas por um mo-
mento doloroso, enquanto o coração pouco se preocupou Comigo. De- claro para todos: Sou o Espírito mais Perfeito, e quem não Me procurar no espírito do seu amor, pedindo e agradecendo neste sentido, não será considerado até que se tenha mortificado e, através da introspecção, praticado um sacrifício novo e vivo do puro amor no coração de sua alma, onde habita o espírito vivo, descendente de Meu Amor eterno.
Não sendo o teu espírito alheio a tudo que ocorreu e ainda ocorrerá, mas justamente o contrário — pois como espírito és senhor perfeito de tua casa (o corpo), portanto também sentes amor em todo o teu ser — que significação teria tua prosternação? Desiste de tais hábitos antigos e sem nexo que fazem parte das baixezas, e torna-te homem livre.
Quem quiser dobrar seus joelhos diante de Mim, que o faça em espírito e verdade; quer dizer, na justa humildade do coração. Se, através do dobrar dos joelhos, houvesse um serviço útil a Mim, seria su- ficiente a pessoa andar de cá para lá, pretendendo assim orar para Mim. De que serve isto para os Meus filhos, aos quais dei um espírito vivo?
Os animais também podem dobrar as juntas dos pés e deitar-se no solo. Se isto é feito por vós, que diferença existiria entre vós e eles? É fútil e tola tal manifestação externa para Mim, Deus Eterno e Vivo, vosso Santo e Amoroso Pai, Que vos deu uma alma viva e um espírito eterno de amor e verdade.
Usai vosso corpo somente para vossas necessidades, e quando se trata de Minha Pessoa, fazei de conta que não tendes físico. Não Me podeis fazer um agrado através dele, pois Eu sou um Espírito. Se quiser- des elevar corpo e alma para Mim, usai vossos membros para o bem ao próximo, que hei de considerar as obras do corpo como se fossem obras do amor do vosso espírito e vos recompensarei de acordo.
Quem der ao irmão um pedaço de pão, ou uma maçã, uma pera, qualquer fruto ou animal, uma veste ou uma casa, e não o fizer de cora- ção, mas movido por um dever, nada terá dado ao próximo e Eu não o considerarei, nem sua dádiva, ainda que fosse maior que uma montanha.
Alguém tendo pouco, mesmo que fosse a metade de uma noz, e por amor não se esquece do irmão, Eu considerarei a dádiva como se
fosse um corpo cósmico. Agora estais orientados no que diz respeito à veneração para Mim. Respeitai-o à risca e não tereis queixa de Eu não atender ao pedido de vosso coração. Agora, chamemos Pural a fim de sabermos o que viu e ouviu.”
67.AVISÃODE PURAL
Quando Pural se encontra diante de Abedam, Este lhe diz: “Chegou tua vez de relatares tuas impressões. Faze-o sem susto, pois não estamos reunidos para nos temermos, e sim, nos amarmos.”
Cônscio de sua força interior, Pural começou: “Senhor, Deus e Pai! Até agora todos se desculpavam em não poder falar daquilo que sa- bes melhor que nós próprios. Farei uma exceção, pois tudo que vi e ouvi é Obra Tua, portanto, do Teu Conhecimento. Pois bem, inicialmente divaguei de um pensamento para outro e confabulei: Deves vislumbrar o que se encontra dentro de teu coração; mas, como? Convém ter pa- ciência, pois Quem o exige de ti há de mostrar o caminho, se for da Vontade Dele.
Durante tais conjecturas fúteis, deu-se um forte estrondo, a terra sumiu debaixo de meus pés e eu flutuava no centro de uma noite sem fim. Nada via, nem ao menos o mais leve pensamento, e mal tive for- ças para dizer de mim mesmo: É este o aspecto de teu coração? Santo Pai, tem Misericórdia de mim e me chama de volta. Nesta treva, hei de morrer.
Nem bem terminara de formular tal pedido, deu-se um segundo estrondo e no mesmo instante vi labaredas imensas surgindo de todos os lados do abismo. Na claridade daquelas chamas percebi que a treva anterior era treva do meu coração, e as labaredas despertadas com o segundo estrondo nada mais eram que meu amor até então fortemente adormecido.
Eis que ouvi um terceiro estrondo, mais forte que os outros. As chamas se apagaram diante do nascer de um Sol inigualável em todo o Universo. Na luz deste Sol tudo criou vida. As labaredas de meu amor se transformaram em seres iguais a mim e seu número parecia não ter
fim. Eles se movimentavam em minha direção unindo-se a mim, o que me proporcionou um estado de êxtase tão sublime que não consigo compará-lo com qualquer outro.
Tal unificação não demorou, e dentro em pouco eu me encon- trava sozinho. Em compensação, ouvia muitas vozes dentro de mim, tão maravilhosas como cânticos alegres de pastores. Elas diziam: Eu Sou Tudo em tudo, e tudo está em Mim e surgiu de Mim. Tu és Mi- nha Semelhança, por isso reconhece quem és, e Quem é teu Pai, Deus e Criador.
Em seguida, tudo escureceu e voltei para aqui. Eis o que vi, senti e ouvi, Santo Pai, e To ofereço como sacrifício que peço aceitares.”
68.ADVERTÊNCIADEABEDAMFEITAA PURAL
A este relato de Pural, Abedam diz: “De fato nos apresentaste todos os teus frutos, não deixando nem uma maçã na árvore de teu co- nhecimento interno e, de acordo com teu hábito, não desconsideraste tua sapiência, pois ofereceste primeiro os frutos imaturos e só no final os mais saborosos.
Em suma, foste fiel no teu relato. Todavia, tenho que chamar tua atenção ao seguinte: não houve propriamente pecado de tua parte pelo pronunciamento de teu palavreado, no qual não havia nem coisa boa, nem má, semelhante à podridão de uma maçã. Mas, quem haveria de querer saborear uma maçã estragada, embora não fosse algo de ruim? Eis o que houve com o relato de tua grande coragem. Entendes onde quero chegar?
Como não o entendas, presta atenção. Referindo-te às desculpas humildes de teus companheiros, querias ser uma exceção. Está certo, deve haver até mesmo uma exceção, pois nunca exigi de vós além da- quilo que se enquadra dentro de Minha Vontade. Contudo, alguns não conseguiram abrir a boca, por amor e respeito, e esta atitude foi por ti considerada algo de tolo e no teu íntimo resolveste fazer menção, caso Eu te chamasse.
Foste de fato chamado, e tua primeira manifestação foi de que- rer ser uma exceção a fim de envergonhar os outros. Desta forma, te apresentaste mais corajoso do que realmente és. De um lado afirmaste saber tanto quanto os irmãos, que todas as coisas Me são conhecidas e não haver motivo para ter medo de falar. Do outro lado, ignoras que Eu desconheça algo oculto dentro de teu coração. Como foi isto possível?
Como já disse no início, teu engano não será considerado peca- do. No futuro, sê precavido que teu coração não venha a ser confundi- do por um sentimento dúbio, do contrário a grande treva não será tão facilmente iluminada pelas chamas do amor, e o maravilhoso Sol que viste despontar dentro de ti demorará a se manifestar.
Como vês, nada é oculto para Mim, e não convém querer en- ganar-Me. Aceita isto como norma de vida, que teu caminho sobre a Terra será mais fácil. Isto foi provado pela tua visão e devia se tornar do começo até o fim um sinal muito forte e um aviso que teu amor para Comigo, como também para teus irmãos, ainda não é puro, portanto, imperfeito.
As chamas que irrompiam de todos os lados das trevas de teu coração diziam pelo estrondo: Olha quão dilacerado é teu amor e tua vida. Quando fiz surgir o Sol, isto é, Meu Sol da Graça, percebeste que tais chamas sem luz nada mais eram que teu eudilacerado por ti mes- mo através de vários desejos, preocupações e paixões. Como pode uma criatura tão dilacerada consolidar-se? Este processo te foi demonstrado quando todas as entidades semelhantes a ti te procuravam e através da fusão te tornaste homem perfeito, capaz de ouvir onde Estou e onde se encontram todas as coisas, e o que finalmente tu mesmo és ou deves ser. Desta forma orientado vivamente, concentra-te no verdadeiro amor, puro e desinteressado para Comigo, que viverás e corresponderás ao próprio sinal maravilhoso dentro de ti, e assim te tornarás um pesquisa- dor e interpretador de sinais, por amor dos teus irmãos.”
69.EFEITODAREPRIMENDADIRIGIDAA PURAL
Diante de tais palavras, todos, com exceção de Henoch e Adão, quedam perplexos e não se atrevem a falar, muito embora Abedam os fitasse como Pai, Verdadeiro e Bom. Cada um pensava: Ele tem uma expressão muito bondosa, mas não se pode confiar Nele; pois, antes de a pessoa se dar conta, Ele já a pegou desprevenida. Ele tem a melhor das intenções para com todos e, se não fosse tão exigente, seria fácil supor- tá-Lo. Mas, quando se refere à pureza, a questão se torna difícil. Quem não a possuir na acepção da palavra, não se pode aproximar Dele, pois não perdoa o menor erro no coração. Que fazer? Não há quem O possa modificar; será eternamente tão Puro e Santo como agora. Portanto, convém conformar-se.
Como Abedam percebesse tais pensamentos, vira-Se para Pural e diz: “Conta-Me se arranquei tua cabeça por te ter purificado com as palavras mais suaves, para que tu e os demais pudésseis vos capacitar para a aceitação mais livre do Amor?
Teria teu pai carnal usado de tamanha indulgência? Aponta-Me um que não tivesse usado o relho, vez por outra. Não tens conhecimento de um apenas, pois de há muito és pai e bem sabes como educaste tua prole.
Agora Me conta qual foi o açoite por Mim usado e quem por ele sucumbiu. Emprego somente Meu Amor Paternal a fim de vos educar, ensinar e libertar, e ainda assim alegais ser impossível confiar em Mim. Cegos que sois! Se não for possível confiar em Mim, vosso Pai Verda- deiro, Fiel e Paciente, em quem pretendeis depositar vossa confiança?
Se perto de Mim vos sentis amedrontados e inseguros, qual não será vossa sensação recíproca, que sois todos cheios de maldade e trai- ção? Cegos, diante de Mim, vosso Pai Eterno e Amoroso, tremeis igual vara ao vento quando vos elevo para junto de Mim, portanto vos arran- co da morte para a vida. Mas, perante o mundo não sentis pavor, muito embora nada mais seja que a própria morte.
Por quem fostes gerados, levando-vos a temer Aquele a quem deveríeis amar acima de tudo? Mas aquilo que deveríeis temer e evitar por todos os meios é por vós guardado no coração com agrado.
Pural, dize-Me que mal Eu te fiz por te ter purificado pelo gran- de Amor que sinto por ti. Porventura sabes o que vem a ser a vida e como deve ser constituída a fim de se prestar para duração eterna? Isto ignora qualquer espírito criado e somente Eu, Mestre Eterno de toda Vida, o sei. Se Eu vos preparo e completo Pessoalmente para esta Vida eterna e insondável, afastando de vós tudo que pertença à morte, como é possível que tu e os teus irmãos chegueis a conjecturar que é impossí- vel confiar em Mim? Se Eu não for capaz de vos ajudar, quem teria tal capacidade? Para que isto Me seja possível, não se justifica que todos os vossos pensamentos e desejos ocultos sejam de Meu Conhecimento mais perfeito e, em virtude disto, devem ser revelados a fim de que vos possa ajudar sempre que se apresente um perigo mortal? Dize-Me, Pu- ral, se por este motivo não se pode confiar em Mim?”
A esta pergunta, todos começam a soluçar, e o próprio Adão chora qual criança e finalmente exclama: “Santo e Bom Pai, agora vejo nitidamente como és Bom! Onde estaria a pessoa capaz de Te amar acima de tudo? Perdoa-nos o ultraje cometido por todos.”
Responde Abedam: “Sede calmos e não vos preocupeis, pois ne- nhum dos que ora se encontram em Meu Seio se perderá, porque Eu, a própria Vida Eterna, estou convosco e afasto todo perigo da morte. Se porventura for de novo recolher alguém como fiz a Pural, não percais vossa confiança em Mim, lembrando-vos que sou Eu, vosso Pai, Bom e Justo a fazê-lo. Compreendei-o para toda a eternidade.”
70.AVISÃODE JURIBAEL
Em seguida, Abedam chama Juribael e diz: “Conta-nos, como o fizeram teus irmãos, o que se passou contigo.” Tomado de profundo amor, este se adianta e diz: “Santo e Querido Pai, despertaste-me do sono para a vida verdadeira e livre de Teu Infinito Amor Paternal. Do verme fraco e cego fizeste uma criatura livre que conseguiu pesquisar eternidades longínquas como se fossem círculos incontáveis, plenos de imortalidade, e em cada um eu me via mais semelhante e mais perto de Ti, ó Pai.
Quem seria capaz de conceber a imensidade de Teu Amor Pa- ternal? Pois o verme poeirento, a criatura fraca e pecaminosa pode chamar-Te de querido Pai, Tu Que és Deus de Eternidade. Enquanto permanecias apenas Criador, Deus Eterno e Infinito, não havia relação entre nós, senão a completa nulidade de minha parte frente à Tua Oni- presença em todo Poder de Teu Ser Divino.
Chamando-Te de Pai, termina essa relação sem ligação. Meu coração é inundado de grande êxtase, meu espírito vibra tomado de um profundo pressentimento, e só me resta o amor, Teu Amor Puro e Santo. Perdoa se não consigo agradecer-Te condignamente, pois meu coração transborda de um forte amor e meu relato certamente não será bem apresentado; por isto, Te peço perdão antecipadamente.
Quando meditei acerca de Tua Paternidade e que nos fizeste os Teus filhos, subitamente tudo se aclarou dentro de mim como se vê o fundo de um lago sereno. Tal introspecção não demorou, pois vi em meu coração um anel ou círculo fortemente luminoso que girava cons- tantemente.
Então pensei: Que vem a ser este anel? — e ele começou a se dilatar como fazem os círculos dentro d’água, de forma tal que ultra- passou o meu ser que se encontrava completamente só. Este quadro também não durou muito, pois o círculo se desfez em inúmeros outros que cresciam e iluminavam com grande intensidade. Vi-me em cada um daqueles círculos, mais forte e brilhante e, numa distância incon- cebível, percebi uma luz imensamente potente e enorme. De repente percebi que Tu, Santo Pai, eras a Luz da luz.
Partindo desses inúmeros círculos, senti um sussurro delicado que partia de Ti e dizia: ‘Eis o caminho do Amor para a Vida Eterna, e através dele chegarás a Mim, teu Deus Eterno, Santo e Amantíssimo Pai.’ Com isto, tudo se apagou e peço que não me rejeites, mas aceites meu coração imperfeito, dando-me forças para Te amar cada vez mais forte e perfeitamente.”
71.EXPLICAÇÃODAVISÃODE JURIBAEL
Dando vazão ao impulso amoroso de seu coração, Juribael se atira aos Pés de Abedam, expressando sua completa humildade e pro- funda gratidão. O Pai Se abaixa para comprimi-lo contra o Peito a fim de ele respirar a Vida verdadeira e eterna, de sorte que o próprio físico de Juribael se tornou pleno de amor para com Abedam, Que lhe diz: “Só agora vives verdadeiramente, e esta vida jamais te será tirada, pois acabaste de recebê-la diretamente de Mim.
O eterno círculo luminoso em teu coração prova que vives do Meu Amor em ti. Meu Amor no coração de Meus filhos é um círcu- lo que se multiplica e aumenta ao Infinito. Os círculos que nasceram através da multiplicidade do primeiro, estão unidos como os anéis de uma corrente; ou igual à espiral de um caramujo em que cada charneira cresce e se torna mais espaçosa e livre. Assim se aproximam mais e mais da imensa fonte no espaço eterno e infinito que, espiritualmente falan- do, é o gozo mais sublime de Meu Amor Paternal, Graça e Sabedoria.
Tal gozo completo é a Vida Original em si em toda liberdade do uso da Graça, segundo Minha Sabedoria Eterna que será posse daquele que, através de seu sentimento, se tornou um justo filho de Meu Amor. Eis a explicação de tua visão, caro Juribael, e te demonstrou o justo caminho para o teu e vosso Pai. Todos deveriam segui-lo, e o sentido profundo de Minha Intenção para convosco seria revelado diante de todos, não havendo necessidade de perguntares: Onde, de onde e para onde? Cada qual descobriria o Amor, tanto quanto o espírito portador do mesmo; como também o sentido profundo de Minha Intenção, ou seja, a liberdade eterna e mais perfeita, segundo Minha Sabedoria infi- nita, a eterna Ordem original de todas as coisas e seres.
Quem não andar por este caminho, há de procurar até morrer, sem encontrar a meta mais curta e justa, por ser tal caminho o do amor e de toda a vida, e nunca um caminho da teimosia onde não existe a menor fagulha de Meu Amor. Mesmo que haja qualquer sentimento, tal amor é roubado e este ladrão vive do puro egoísmo.
Mas a existência de tal afeto não dura para sempre e se consome dentro em breve, por ter sido separado do Meu Amor Paternal, não recebendo mais suprimento. Com tal amor-próprio sucede o mesmo que a uma lamparina de óleo que fora suprida de vários pontos das montanhas e surge de pequenas fontes de pedras oleosas para adubar o solo terráqueo. Uma vez acesa, a lamparina começa a queimar; mas quando o óleo estiver gasto, por acaso ela continuará a arder se não for acrescido de novo suprimento?
Mas, se tu acenderes o óleo na fontee protegeres o local dos ventos e das águas, a chama nunca se apagará, mas queimará cada vez mais fortemente, porque aquecerá o lugar, desprendendo mais óleo da fonte interior.
Quem, meu caro Juribael, dirigir o seu amor para Mim, apos- sando-se de Mim, terá aceso o óleo de sua vida na própria fonte e tal chama nunca se apagará, por ser uma luz eternamente viva. Acabas de acender o óleo de tua vida na Fonte; portanto, sê feliz, pois nesta Luz encontraste o Pai como a Luz Eterna. — Agora, perguntemos também a Oalim a respeito de sua visão.”
72.AVISÃO DE OALIM
Prontamente Oalim se apresenta, agradece pela chamada e co- meça o seu relato: “Santo Pai e todos vós, ouvi-me. No começo achei estranho eu dirigir os olhos para dentro de meu coração; mas, quando calculei tal possibilidade, apagou-se minha visão exterior e no mesmo instante tudo se tornou claro dentro de mim. Estranhando tal fenôme- no, constatei que meu coração se tornava transparente e vi três cora- ções, um dentro do outro, como acontece com a castanha, que contém três elementos: primeiro a casca; nela, a massa do fruto; e dentro dele, a pequena semente onde se acha enclausurada a vida, e nesta, infinita multiplicidade.
Logo, o coração externo fendeu-se e caiu no abismo, onde foi dissolvido. Isto representa o coração físico da criatura. O coração in- terno, substancial, dilatou-se constantemente, instigado pelo coração
intrínseco, fortemente luminoso, que crescia sem parar como acontece ao germe deitado no solo até se transformar para uma forte árvore.
O mesmo sucedeu com o coração germinativo. No início pare- cia apenas um coração. À medida que crescia, tomou a forma humana; isto é, vi a mim mesmo neste indivíduo novo que nasceu do meu ín- timo. Então pensei: Terá este homem um novo coração à parte? — E assim foi. Mas tal coração parecia um Sol, mais forte que a luz solar.
Quando observei mais e mais tal coração solar, descobri no seu centro uma pequena imagem, inteiramente igual a Ti, Ó Pai, sem atinar como isto era possível. Enquanto meditava a respeito, senti-me tomado de profundo êxtase e Tua Imagem Viva me disse: Ergue os teus olhos, que perceberás onde habito e ora estou vivamente dentro de ti.
Eu assim fiz e imediatamente vi numa profundeza incomensurá- vel, um Sol imenso, em cujo centro Tu Te encontravas, meu Pai. De Tua Imagem partiam inúmeros raios luminosos e um deles caiu no coração solar do meu novo ser e se formou a Ti Mesmo dentro de mim. Súbito, este novo ser estendeu o braço querendo prender o homem físico. Levei forte susto que me atirou para dentro de minha antiga habitação. O coração anteriormente afastado, subiu das profundezas e enfeixou de pronto os dois corações internos. Isto feito, apresentou-se o mundo exterior, e o interior sumiu. Eis tudo que vi e senti. Aceita meu relato e queira completar as falhas segundo Tua Vontade.”
73.AINFINITAVARIEDADEDAINDIVIDUALIDADE ESPIRITUAL
Com o término do relato de Oalim, os patriarcas confabulam: “Que coisa formidável! O milagre espiritual ultrapassa todas as nossas imaginações. Deveria se supor que todos descobrissem o mesmo; no entanto, existe uma imensa variedade nas aparições.”
O outro Abedam se aproxima de Henoch e diz: “Com toda a minha inspiração, começo a duvidar de minha lucidez. Porventura entendes algo? Seis descendentes de Seth acabam de transmitir suas visões, mas cada um apresentou algo diferente. Que ocorre finalmente
no mundo espiritual; por acaso não viverão os espíritos em comunhão, como acontece na Terra?
Se cada um traz dentro de si seu mundo particular, é de se per- guntar se em tal mundo também os irmãos terão lugar, ou se poderão se aproximar dos outros com seu mundo colossal! Talvez seja preciso que ocultem seu mundo, como o caramujo com suas antenas? Confesso que fico confuso à medida que medito a respeito. Se tiveres algum conhe- cimento, peço que me orientes, pois não me atrevo a procurar Aquele Que Se oculta com o grupo das doze pessoas. Sinto-me fortemente atraído por Ele, mas é arriscado receber-se uma reprimenda.”
Quando o conhecido Abedam termina de falar, o Sublime Abe- dam se apresenta e diz: “Caro Henoch, que resposta darás a esta confu- são por parte de Meu homônimo?”
Responde Henoch: “Santo Pai, creio que onde não existe árvore, o vento terá pouca coisa para arrancar. As perguntas de Abedam são, a meu ver, tão aéreas que além de Ti dificilmente alguém encontraria uma resposta.”
Nesta altura, o homônimo do grande Abedam cai de joelhos e implora: “Perdoa-me, Santo Pai, pois certamente cometi uma imensa tolice com minhas perguntas fora de tempo. Que posso fazer diante de aparições tão milagrosas?”
Diz o grande Abedam: “Levanta-te e sê calmo. Tuas perguntas são um verdadeiro joio do mundo material; mas cardos e abrolhos tam- bém foram criados por Mim, para que seus espinhos vos despertassem, caso andásseis quais cegos, sem destino e motivação.
Tuas perguntas foram deste teor; mas, não penses que brotaram no teu solo, pois Eu Mesmo fiz com que surgissem dentro de ti. Devias ser despertado de teu sono antigo e repetido, e sentir ao menos uma necessidade para que teu íntimo acordasse e finalmente se apossasse de ti com sua luz original.
A fim de que percebas nitidamente a grande tolice de tua per- gunta, responde: Que vêm a ser todas as coisas criadas?”
Algo perplexo, o outro Abedam diz: “Segundo meu conheci- mento dado por Ti são elas apenas Pensamentos contidos em Ti.”
“Muito bem”, diz o Sublime Abedam, “agora Me explica se Eu sou obrigado a ocultá-los como faz o caramujo com suas antenas, quando pretendo Me aproximar de Meus filhos, como ora acontece.” Totalmente confuso, o outro Abedam nada diz. Prossegue o grande Abedam: “Se tens vários pensamentos e desejos que deles nasceram, quando teriam sido um impedimento para que te aproximasses de alguém? Ainda assim, estes teus pensamentos são teu mundo interior e espiritual, e quando pensas em alguém, este alguém já se encontra contigo, em espírito.”
Exclama o outro Abedam: “Santo Pai, perdoa este pobre tolo; ago- ra tudo se me tornou claro.” Acrescenta o grande Abedam: “Então volta para o teu lugar e presta atenção a tudo, que não haverá joio capaz de nascer dentro de ti através de perguntas tolas. Permito que estes doze transmitam suas visões, para que fiqueis poupados de qualquer dúvida posterior.”
74.AIMPORTÂNCIADACONFIRMAÇÃODADOUTRINAATRAVÉSDOTESTEMUNHODO ESPÍRITO
Em seguida, o grande Abedam dirige Seu Olhar para Oalim e diz para ele, portanto para todos: “É muito importante o que pretendo vos dizer, e é preciso compreendê-lo no coração. Muito embora vós, que Me vedes e ouvis, não o necessitais, haverá muitos que o necessitam quando Me tiverem aceito no coração e lá querem Me conservar.
Os que negligenciarem este ensinamento hão de Me perder em todos os seus sentidos internos e farão deuses da matéria que serão ado- rados em Meu lugar. Alguns farão o que já está sendo feito por Lamech nas planícies.
A criatura que não Me viu e ouviu como vós, nada pode saber de Mim, a menos que receba orientação de seus ancestrais. O mesmo sucedeu convosco, porquanto ninguém Me havia visto, com exceção de Adão e Eva, a não ser através do relato deles e de alguns conterrâneos de Abel, que ouviram Minha Voz através do Meu anjo.
O que aconteceu convosco, acontecerá com vossos descendentes que Me conhecerão através do vosso relato, e principalmente por meio de vosso coração ativo.
Quais seriam as provas de Minha existência que pudésseis dar aos filhos, se não posso e não devo Me manifestar? Só podeis repetir que estou em toda parte invisivelmente, mas habito acima das estrelas numa profundeza infinita, e que Me vistes Pessoalmente.
Porventura vossos filhos serão capazes de transmitir tal conhe- cimento à sua prole, porquanto não foram testemunhas de Minha Pre- sença? Se ensinassem como tendo sido testemunhas, haveriam de corar de vergonha, pois os filhos logo perceberiam que houve mentira por parte dos pais.
Por isso, devem indicar-vos como testemunhas de Minha Exis- tência, prosseguindo assim com os filhos, netos e bisnetos. Se, pos- teriormente, as próprias testemunhas tiverem desaparecido e os des- cendentes até mesmo duvidarem de sua existência — que aspecto terá Minha Doutrina? Digo-vos que toda pessoa com um poder qualquer erigirá um deus natural, honrando-o com suas próprias paixões e final- mente obrigando seus irmãos a venerar tal deus.
Quando isto acontecer, tudo sucumbirá por tal idolatria na pior treva da perdição e da morte eterna, e Eu serei forçado a castigar o mun- do que soçobrou na morte, através de armas e açoites de fogo a fim de vivificá-lo, a ponto de se tornar apto para outro julgamento. Entre mil, não haverá um que poderá atingir a liberdade, o que vale dizer que sua morada será a própria matéria.
Creio que compreendestes que todo ensinamento oral ou de co- ração para coração não terá utilidade, se não for testemunhado pela transformaçãointerior. Digo-vos: a Doutrina pode ser boa, verdadeira e bela; mas, se ela dependerexclusivamentedafé, que em si é apenas a tradição oca e a cegueira do coração como prova de sua veracidade, ela de nada serve.
Todos vós já estais bastante enfraquecidos espiritualmente, não obstante ainda estejam vivos os doutrinadores originais. Que acontece- rá com os que se atirarão à luta mais cega para provarem vossa existên- cia? Por isso, repito que não existe ensinamento útil se seus princípios não forem confirmados através de Meu Testemunho Vivo no coração de cada um.
Em vosso irmão Oalim acabastes de notar tal testemunho per- feitamente vivo. É preciso que também ensineis os filhos a respeito de Meu Nome, Minha Graça Eterna, Santidade e Identidade sumamente Amorosa, conforme vos demonstrei. Todavia, não deveis ficar somen- te na doutrinação, mas tratar que ela se torne uma ação real e viva, e estejais certos de que os aceitadores positivos dentro em breve desco- brirão dentro de si o grande testemunho de Oalim, vivo e santo, que testemunhará com forte brilho da genuinidade desta Minha Palavra dirigida para vós.
Oalim encontrou no terceiro coração germinativo, após ele se ter transformado para uma criatura, um coração solar onde Eu Mesmo Me encontrava, assim como descobris o Sol em cada gota de orvalho. Aquela Imagem lhe falava e Sua Palavra lhe mostrava a Mim como Pai Eterno e Santo, nas alturas de Minha Divindade Infinita.
Aquela criatura interior de Oalim queria se fundir com o seu eu substancial ou material. Mas, para tanto, Oalim ainda não estava preparado. Tudo isto sabereis quando fordes renascidos, e então o co- nhecimento ficará para sempre.
Agi e ensinais vossos descendentes desta forma, que transmiti- reis um testemunho duradouro da genuinidade desta Minha Doutrina, e ser-lhes-á um prêmio para sempre, porque praticaram estas palavras. Quem descobrir tal testemunho dentro de si, terá recebido a Vida eter- na de Mim, que jamais lhe será tirada. Eis a interpretação da visão de Oalim. Aquilo que ainda deve ser compreendido e considerado será revelado pelos outros, e para tanto ouviremos Tuarim.”
75.AVISÃODETUARIM:SUAPROVADE AMOR
Agradecendo pela chamada de Abedam, Tuarim se adianta e diz: “Santo e Querido Pai, passei por uma prova dura e Tu sabes o que acon- teceu em poucos instantes, que me pareciam eternidades de sofrimento. No princípio, pensei, algo aborrecido: Como posso olhar para dentro de mim mesmo? Parece pura tolice e Tu, como Criador, deves saber para que finalidade nos deste os olhos, que sempre foram dirigidos para
o exterior. Como devo agora virá-los e olhar o que se passa dentro do meu corpo?
De fato tentei dirigi-los para o interior, mas o efeito foi assustador, porquanto comecei a ver chamas de fogo em círculos que me apavora- ram. Esta tentativa foi inútil, pois quando descansava os olhos, via apenas
o que me rodeava; nem os irmãos apresentavam algo fora do comum.
Meu aborrecimento duplicou e pensei: Isto é nada mais que uma prova para o meu intelecto. Mas não sou tão tolo como pensam e deixarei os outros praticarem suas tolices enquanto prefiro continuar na antiga ordem, usando meus olhos para a finalidade determinada pelo Criador.
Deste modo, deixei de me aborrecer e fiquei mais calmo. Mas a calma não durou, pois o solo debaixo de meus pés tornou-se fofo qual areia fina e, antes que me desse conta, já estava enterrado num abismo. A escuridão era tremenda e só pude afastar um pouco a areia diante da boca para poder respirar.
Nesta aflição, lembrei-me de Ti, Senhor, e pedi socorro e salva- ção. Minha súplica se perdia na areia na qual ia me afundando cada vez mais. À medida que afundava, um odor pestilento ia penetrando em minhas narinas e era indizivelmente pior que tudo o que eu já havia sentido em vida.
Então a areia desapareceu e pensei que tivesse chegado o mo- mento da salvação. Minhas esperanças foram em vão, pois agora co- meçava um sofrimento tão horrível que mal sei como descrevê-lo. Só sei que no lugar da areia eu caía num lodo quente que esquentava e aumentava de mau cheiro à medida em que me afundava.
Meu Santo Pai, que horrores passei quando percebi que não pa- rava de me enterrar, e o próprio lodo se transformava em lava incandes- cente, provocando-me dores indizíveis, muito embora não fosse cha- muscado um fio de cabelo sequer. Foi inteiramente impossível suplicar e orar, pois todo o meu ser era apenas uma maldição para aquilo que me obrigava a viver tal suplício.
Quanto mais eu praguejava, mais me afundava, e finalmente gritei: ‘Deus, fantasma pavoroso! Se é que existes, pulveriza-me, pois
por tal existência nem Te posso amaldiçoar, muito menos agradecer. Que prazer podes sentir, criando-me para esse sofrimento?’
Enquanto assim praguejava, ouvi um tremendo trovão que di- zia: ‘Miserável, por que amaldiçoas a Mim, teu Pai? Acabo de te criar no fogo do Meu Amor infinito para um ser imortal, que deve ser intei- ramente igual a Mim; te conduzo pela Mão paternal a fim de que nem um fio de cabelo te seja chamuscado; determinei a duração desta prova de amor para apenas três instantes — e proferiste a pior maldição con- tra Mim. Que devo fazer, então?’
Respondi: ‘Santo Pai, aniquila-me, pois não mereço esta exis- tência porque Te amaldiçoei.’ Neste instante, o mar de fogo se trans- formou numa luz suave, da qual se projetavam as seguintes palavras: ‘Eu, Teu Pai, não te amaldiçoarei e hei de esquecer o que Me fizeste, pois o que acabas de ver foi tua relação para Comigo, na Terra. Precisas reconhecer que sou teu Pai e te conduzo para um ser eterno; através de teu estado de vida arenoso, pelo lodo de tua sapiência e pela tua própria lava te conduzo ao fogo purificador do Meu Amor Paternal; e finalmen- te por esta luz, à Luz puríssima da Vida de Amor em Mim. Com esta consciência podes voltar à Terra, onde te aguardarei.’
Eis-me aqui, meu Pai; mas como? Se fosse possível Tu me per- doares minha infâmia, estaria disposto a suportar mil anos o pior fogo aterrador. Perdoa a este pecador que não Te merece.”
76.AGRANDELUTAENTREINTELECTOE SENTIMENTO
Vendo Tuarim vertendo lágrimas de arrependimento, Abedam toma-lhe a mão e diz: “Tua atitude durante a visão é considerada tão pecaminosa quanto a queda de uma pedra que provocasse algum dano. As palavras que ouviste não tocam apenas a tua pessoa, mas, em sentido geral, a qualquer uma.
Foste por Mim escolhido para teres esta visão espiritual e não como se tivesses praticado um ultraje contra Mim. Para que todos possam compreender o sentido, de grande utilidade para a posterida- de, prestai atenção. A tentativa de olhar para dentro de ti representa
o empreendimento tolo e cansativo do intelecto mundano em querer penetrar nas relações espirituais, enquanto ele é apenas constituído de noções materiais, isto é, ele é simples órgão receptivo da alma pelo qual ela consegue a percepção do mundo exterior. Se assim é, como poderias vislumbrar fatores espirituais?
Os círculos de fogo produzidos através de tua ginástica ocular representam os ditos rasgos chistosos do intelecto, tão inúteis para a visão espiritual quanto os próprios círculos o foram para teus olhos; quer dizer, ele se torna tão pouco mais aguçado e salutar como o es- forço ocular.
Este foi o início de tua visão e que não só toca teu estado interior, mas o mundo total, razão por que te classifico profeta neste sentido. Por duas vezes te aborreceste; uma vez porque Eu havia or- denado a visão introspectiva, e em seguida porque teus esforços de nada serviram.
Tal aborrecimento não era natural, pois ele te assaltou como prova do orgulho do intelecto mundano, que nunca aceita ser prisio- neiro da verdade, mas quer ser livre e soberano, não obstante toda ca- rência de luz. Ele só se sente feliz quando homenageado de todos os lados em virtude de sua estultice, e se acalma apenas quando pode tratar seus semelhantes com ironia e sarcasmo. Isto não te diz respeito, pois te nomeei para profeta por não teres culpa no coração.
Esta foi a situação até o momento em que começavas a afundar na areia. Mas, que significa o estado em que a noite arenosa te soterrou cada vez mais profundamente, causando a falta de respiração, e pediste socorro que, todavia, não te foi dado? Nesta altura, tua explicação in- terna começava a agir e iluminar.
A areia significa o conglomerado de conhecimentos quando co- meçam a aprisionar o coração da alma, que se sente apavorada e per- turbada em virtude da pressão e da escuridão motivadas pelo intelecto.
O coração reage por todos os meios e afasta a areia da boca, consegue um pouco de ar e implora pela salvação. Mas o intelecto farto não permite que se lhe tirem os seus direitos e afunda cada vez mais o coração. Como este se impacienta e desespera, e o intelecto percebe a
impossibilidade de vencer, ele no final deixa que o coração sucumba no lodo dos desejos que há tempos ele mesmo lá depositou.
Então o coração começa a sentir a insuficiência e a infâmia da- quilo que o intelecto lhe tinha insuflado. Sua revolta se faz sentir contra aquela traição e se incendeia qual lava. Este momento sendo de grande amargura, tanto para o sentimento quanto para a razão, o coração se atira à pior loucura em virtude da ausência de luz. Nesta altura te atiras- te contra Mim no coração e Me amaldiçoaste pela razão.
Afirmo-te que não considero as obras do intelecto quando foi despedido pelo coração, pois esparjo sobre ele Minha Luz de Amor que cura para a Vida eterna, como ouviste claramente pela voz interna. Tudo isto não te diz respeito. Foste designado para profeta para testemunha- res contra o mundo e sua sapiência. Acalma-te e não te atemorizes.”
77.DIRETRIZES PARAACONQUISTADAPALAVRA VIVA
Com estas palavras de Abedam, Tuarim fica tão feliz que não solta a Mão Dele, ao que Abedam observa: “Te apossaste de Mim com o coração e a mão; por isto foste elevado para um novo profeta. Digo a todos: quem não fizer o mesmo que tu, dificilmente ouvirá o Som de Minha Voz no coração. E quem não O ouvir ao menos uma vez nesta vida terrena, vacila ainda entre a vida e morte.
Deste modo, teu amor para Mim representa o amor verdadeiro, ativo e vivo. Quem não se apossar de Mim com o sentimento e boas obras ao próximo, terá um amor imaturo qual fruto que facilmente pode ser atirado da árvore da vida por qualquer brisa mais forte.
Mas, quem possuir o amor ativo já se tornou maduro e pronto para a vida eterna, pois terá descoberto dentro de si o sentido vivo de Minha Intenção, ou seja, Meu Verbo eternamente vivo. Este Verbo é a semente da Vida eterna.
Se alguém tiver encontrado uma moça a qual deseja desposar, pois lhe tem amor no coração, mas não se atreve a estender-lhe a mão, por acaso ela acreditará em suas intenções? Pelo contrário. Há de pensar o seguinte: Se realmente gostasses de mim, não virias com as mãos para
trás, e sim me procurarias de braços abertos. Conheço tua tibieza e astú- cia ocultas, pois lisonjeias a várias e queres escolher uma de teu agrado e indolência. Deixa-me em paz, pois meu coração nunca te aceitou.
Esta pessoa tem um critério perfeitamente justo contra o tíbio pretendente. Quanto a Mim, não formularei outro julgamento a res- peito de vós e vosso amor para Comigo, após o retorno ao grande reino do espírito quando tiverdes deixado este corpo.
Se aquela moça for procurada por outro pretendente, sem que nele tivesse pensado, mas ele a abraça com paixão e lhe beija a testa, di- zendo: Querida, que prova desejas para eu te demonstrar quão possante é meu sentimento? — porventura ela o dispensará como fez ao outro? De modo algum! Ela o conservará com todo o calor do coração.
O mesmo farei Eu. Quem Me conquistar com sentimento e obras de amor, também será por Mim acolhido com todo Poder de Meu Amor, que jamais o soltarei. — És, portanto, caro Tuarim, um novo profeta no amor e provaste como deve ser constituído o verdadei- ro sentimento, caso alguém pretenda chegar a Mim através dele. Quem agir como tu, em espírito e verdade, dentro em breve se encontrará na tua situação profética. Eis Minha Intenção que deve ser descoberta den- tro da criatura que, ipso facto, terá a Vida eterna em Mim. Passemos agora a ouvir Rudomin e considerar sua visão.”
78.AVISÃODOGIGANTE RUDOMIN
Após ter recebido a chamada de Abedam, Rudomin se apresenta qual estátua celeste, de tanta humildade, amor e respeito para com Abe- dam. Não obstante seu acanhamento, expressava ele uma serenidade e postura que o faziam sobressair, pois seu tamanho ultrapassava inclusive o de Adão. Como Abedam o animasse a falar sem receio, ele se faz ouvir com sua voz formidável que fazia eco nas montanhas.
Eis o que diz este gigante: “Deus, Pai, eterno Amor, que és San- to, Santo, Santo. Que é o homem em sua nulidade para que dele Te lembres e lhe transmitas os eflúvios de Tua infinita Graça, Amor e Mi-
sericórdia? Agora reconheço claramente que és um Verdadeiro Pai para Teus filhos.
Entregues a nós mesmos, nada somos. Mas, no Teu Coração Paternal somos indizivelmente grandes, fortes e poderosos, a ponto de mundos, sóis e lua debandarem diante de nosso hálito como se fossem poeira. Não o afirmaria se não o tivesse visto e sentido em minha visão.
Logo após Tua Ordem que devíamos fazer a introspecção, de- sapareceram a Terra e o Céu, e eu me encontrava no centro do espaço infinito. Meus olhos fitaram prolongadamente os abismos das eterni- dades. Tudo em vão, pois até mesmo a poeirinha mais ínfima tinha su- cumbido naqueles abismos. Eu, sozinho, flutuava sem base de qualquer corpo celeste.
Subitamente, surgiu de meu íntimo um pensamento profundo, que era uma palavra santa e dizia: Limpa com o mindinho, o dedo mínimo de um dos teus pés, onde se agarra uma poeirinha. Observa-a.
Eu assim fiz, e a poeirinha começou a se dilatar sobre meu mindinho e finalmente dissolveu-se em inúmeros átomos. Estes se desenvolveram em sóis, planetas e luas a se precipitarem nos espaços infindos, preen- chendo-os de luz e seres.
Estremeci até o âmago de meu ser diante de minha própria gran- deza e pensei: Isto tudo se encontrava agarrado ao mindinho, sem que o sentisse?! — Eis que outra frase subiu à minha consciência, dizendo: Julgas que os filhos de Deus sejam apenas mosquitos a passarem por sobre o pó? Observa teu crescimento e compara-te com tudo que surgiu da poeirinha, e perceberás o que és e o que são as coisas que grudavam no teu mindinho.
Nesta altura fui elevado. Todas as coisas flutuavam qual areia cintilante diante de meus olhos, e de mim se projetava uma possan- te luz que enchia o espaço infinito. Somente nesta luz compreendi a grandiosidade dos filhos de Deus, a nulidade das coisas comparadas a eles, e porque o Santo Pai veio junto de nós e nos ensina os caminhos do Infinito. Foi isto que vi. Toda honra e louvor sejam ofertados a Ti, Deus, nosso Pai.”
79.PREPARAÇÃODERUDOMINPARA PROFETA
Terminado o relato de Rudomin, Henoch se dirige para Abe- dam e diz em surdina: “Querido e Santo Pai, Rudomin relatou com voz fortíssima a grandiosidade do homem; no entanto, parece ter exagerado um pouco seu antigo hábito, não respeitando a fidelidade do aconte- cimento. De um grão de areia ele faz um mundo, de uma mosca um elefante, razão porque seus irmãos o evitavam. Sempre os obrigava ao silêncio por causa de sua gritaria, o que também motivou que eu, seu pai, pedisse para apanhar sua herança e se dirigir para o Sul
Ele obedeceu, pois viu que eu me empenhava muito por uma situação de paz e ordem. Se bem que se casasse, gerou apenas três filhos em oitenta anos. É uma pessoa um tanto estranha, e por isso espantou-
-me sua história fantástica que me obriga a Te pedir perdão, caso ele tenha se deixado levar pelo exagero.”
Responde Abedam: “Meu caro Henoch, esta foi tua única preo- cupação no mundo, tendo como base teu amor para Mim. Mas, desta vez, tua preocupação foi em vão, pois Eu Mesmo fui Seu mentor desde nascença e fiz dele o que ora representa.
Conquanto também o tivesses educado para Mim, tua educação não foi tão boa quanto a Minha, que ele recebeu secretamente, sem que tu e ele algo soubésseis. Em virtude dessa educação, ele aqui está e deu a todos uma prova fiel de não ter passado sem aproveitamento. Não te preocupes, pois nunca faço dos mentirosos pregadores da Verdade, mas sim, os que como tu são puros de coração. Sua pretensa má conduta foi apenas Minha Obra.
Fiz com que Rudomin se tornasse até fisicamente grande e, se- gundo Minha Escola, sempre vos ensinou que o homem é mais que um verme no pó. Sua forte voz, dada pela mesma escolha, demonstrou que existe mais força e poder no peito que na cabeça. Além disto, ela tam- bém deu a medida certa da superioridade do amor sobre o intelecto. Como seus irmãos lhe tinham que obedecer silenciosamente, provaram que a razão, com todos os seus senões e cálculos, deve ceder quando o coração se apresenta como melhor professor.
Além do mais, fez ele de um grão de areia um mundo inteiro, como aconteceu em sua visão. Assim ensinou a origem das criaturas e que a Semelhança Divina repousa no coração, com a qual é capaz de realizarcoisas grandiosas, em vez de se extasiarsomente com elas.
Recomendo a todos que deveis fazer de uma mosca um elefante no coração; sim, deveis transformar vossos corações psíquicos de tama- nho insignificante, em verdadeiros elefantes. Ao passo que o intelecto do tamanho de montanhas, em mosquitos, e facilmente poderíeis com- preender no relato de Rudomin coisas de Minha Escola.
Como para muitos ainda se dá o contrário, não entendeis o por- quê da nomeação de Rudomin. No íntimo perguntais: Mas, que escola secreta vem a ser esta? Como entendê-la? Respondo: Diante de sinais nos Céus, pesquisais durante anos afora e finalmente chegais à seguinte conclusão: Este fato foi consequência daquele; portanto, esta deve ser a explicação.
Observastes o cintilar das estrelas, a direção dos ventos, o chil- rear dos pássaros, o grito dos animais, o rugir do mar, e sempre desco- bristes prenúncios fabulosos. Por que então não submetestes os sinais imortais no homem à vossa astrologia? O cricrilar de um grilo era para vós mais maravilhoso que a fala de um irmão imortal, semelhança de Meu Amor Paternal.
Que vale mais: o gesto de uma criança, ou o desmoronar de uma montanha provocado por milhões de raios? Eis a Escola da Vida eterna que vale mais que uma poeira no mindinho de Rudomin, infini- tamente maior que a Criação total.
Conhecei no homem o próprio homem em seus sinais, que de- vem ser interpretados no espírito do amor e da verdade, e assim enten- dereis o que venha a ser o máximo e o que é ensinado em Minha Escola. Em verdade vos digo, uma lágrima de um recém-nascido contém coisa mais grandiosa que um Sol central. Eis o sentido da visão de Rudomin.”
Em seguida, Abedam se dirige a todos, dizendo: “Estais bem in- formados que Sou Deus Único e Eterno, enquanto, como Pai, vos falo e ensino. Subentende-se que os filhos devem corresponder a esta filiação e terão que agir onde Ele Se encontra e age.
Minha Ordem exige que em todos os seres e criaturas, os filhos devem ser tão perfeitos quanto o pai. Por esta razão, já se encontra um germe em cada fruto, no qual reside toda a Perfeição do Gerador. Deste modo, toda semente colocada na terra terá que se tornar a mesma plan- ta, arbusto ou árvore de sua origem.
O mesmo sucede com a fauna até atingir o gênero humano, onde o filho será dotado das mesmas capacidades que o pai; e a filha, semelhante a pai e mãe, será um campo santo para semeadura da minha Vida eterna.
Se isto ocorre no mundo da natureza, quanto mais se justifica em espírito. Por que motivo Me chamais de Pai, e Eu vos chamo de filhos? Que mais sou além de vosso Pai? Sou também Deus, Único, Eterno e Verdadeiro. Se, portanto, sou Pai, vosso Único Pai, Deus de Eternidades, que sois vós como Meus filhos? — Sois também deusescomo Eu sou Deus, apenas com a diferença que o Pai sempre será Pai, e o filho nunca poderá inverter esta situação. Eis a enorme diferença entre nós: Eu, unicamente, sou o Pai; e vós somente os filhos, aos quais aguarda uma grande herança na Casa Paterna.
Eis a interpretação da visão de Rudomin, testemunhando a ver- dadeira índole de Meus filhos, que diz: Criatura, considera bem, no fundo do coração, a Quem chamas de ‘Santo Pai’, e porquê. Torna-te merecedora de Sua Graça e daquilo que Ele exige de ti na Terra, para que sejas um filho verdadeiro e perfeito como Ele Mesmo. Todos vós deveis vos tornar tão perfeitos como Eu, para atingirdes para sempre a filiação divina, que representa o máximo na evolução. A fim de que possais penetrar mais profundamente nesta maior e mais santa verdade, chamaremos Horedon, para ouvir seu testemunho.”
Entrementes, já estava anoitecendo e, além disto, as nuvens co- briam o Céu, de sorte que havia apenas luz natural projetada por reflexo fraco de montanhas ardentes a longa distância. Ainda assim, Abedam chama Horedon, dizendo: “Se teus olhos não te ajudam, segue apenas a Minha Voz para te fazeres ouvir. No futuro hás de seguir exclusiva- mente a Voz dentro de ti, enquanto não Me verás mais, após decorrido o tempo de Minha atual Presença.”
Horedon se dirige para Abedam, mas como a Voz Dele não era constantemente ouvida, ele anda de lá para cá entre os patriarcas, sem alcançar o ponto onde Se encontrava Abedam. Daí a pouco, Abe- dam tornava a chamá-lo e Horedon, assustado, se virava por ter errado o caminho.
Imediatamente caminha em direção da Voz, mas como esbarra ora em um ora em outro, sendo obrigado a desviar-se, acontece que perde a direção, chegando num ponto onde não Se encontrava Abe- dam. Este o chama de novo e Horedon se faz ouvir, chorando, do ponto oposto, dizendo: “Meu Pai, se não vieres a Mim, nesta treva, estarei realmente perdido. Constantemente perco a direção, por ser obrigado a me desviar dos outros.”
Diz Abedam: “Aqui, Horedon, onde avistas atrás de mim uma montanha ardente, a longa distância.” Horedon segue a Voz. Mas, como não podia andar em linha reta, pois é obrigado a desviar-se deste ou da- quele grupo, de nada lhe adianta fitar a montanha e não chega à meta.
Quando Abedam lhe diz: “Horedon, quanto tempo terei de es- perar por ti?” — ele se entristece, dizendo: “Amaldiçoada seja esta treva que me impede no caminho à meta abençoada, ocultando Aquele a Quem meu coração procura com amor. Pai, faze com que a treva desa- pareça e a luz se faça, podendo eu correr para junto de Ti. Tua Vontade Se faça. Amém.”
Diz Abedam: “Não te sendo possível encontrar-Me, dize, em Meu Nome: Montanha na fronteira onde residem os filhos do Sul, ilu-
mina este local! — Se tiveres fé e confiança nas tuas palavras, isto há de acontecer tão logo as proferires.”
Nem bem Horedon pronuncia o que o Pai lhe dissera, o solo estremece fortemente e com enorme estouro irrompem as labaredas do cume da montanha, projetando uma claridade formidável sobre a região.
Imediatamente, Horedon descobre Abedam ao lado dele e Lhe agradece, dizendo: “Meu Santo Pai, agora percebo quão Bondoso és Tu e que através de minha caminhada de lá para cá querias poupar o trabalho de falar. Pois o que aconteceu comigo sucedeu dentro de mim, até o momento de eu encontrar-Te. Todo amor e louvor Te sejam tributados.”
82.DIGNIDADEEGRANDIOSIDADEDAFILIAÇÃO DIVINA
Em seguida, Abedam Se dirige para Horedon, dizendo: “Após ter sido revelada a tua visão perfeitamente, pergunto a ti e a todos qual o seu sentido. Uma grande parte foi abordada pela revelação de Rudo- min e não deve ser difícil concluirdes o final. Quem tiver coragem e conhecimento, que se adiante.”
Então todos começam a pedir que o Próprio Abedam faça o que deles se espera. Conquanto soubessem que ninguém, em Seu Nome, seria capaz de pronunciar uma inverdade, tal pronunciamento não seria tão potente e vivo como a Palavra do Pai.
Retruca Abedam: “Quanta tolice se oculta em vossos corações! Que acabou de fazer Horedon através de Minha Palavra dentro dele, quando em virtude da treva não Me conseguiu encontrar? Pronunciou confiantemente o que Eu lhe falava, e os picos da montanha se rasga- ram, incendiando, de momento, a brasa em chamas vivas através das fendas existentes.
Se, com isto, tivestes a prova imediata da Força e do Poder de Minha Palavra, ainda que pronunciada por um filho, por que afirmais ser ela menos poderosa se for proferida por vós? Quando o Pai é mais Pai: ao Se pronunciar como Tal, ou ao ser chamado pelos filhos? Al- guém que dissesse ser pai, sem ter filhos; ou aquele que, ao chegar à
casa, fosse recebido com exclamações de amor por parte da prole? — Qual dos dois é mais pai? — Respondeis: Aquele que assim fora cha- mado pelos filhos. Se aquele que foi chamado de Pai é mais pai do que aquele que isto diz de si, a Palavra de Pai pronunciada por um filho é poderosa e tem maior valor do que a proferida por ele.
O que vos dá mais alegria: vos chamardes de pai perante os fi- lhos, ou se estes alegremente e cheios de confiança assim vos chamam? Se vós mesmos descobris diferença tão grande, porventura sou Eu me- nos Pai do que vós? Por acaso ainda não percebeis que almejo somente o melhor e mais poderoso em virtude do livre arbítrio dado para toda a eternidade? Não sendo possível discordardes de Mim, de que vos serve vossa desculpa? Explica, Horedon, em poucas palavras, para que fina- lidade Eu vos chamei. Vós outros, gravai no coração o que se segue.”
Sem hesitar, Horedon começa seu discurso: “Devo explicar a grandiosidade que se oculta na Filiação Divina, o que foi revelado atra- vés das visões obtidas por mim e por Rudomin. Acredito que o proble- ma já foi resolvido e só me cabe chamar a atenção que o genitor é mais pai através do pronunciamento dos filhos, do que por ele mesmo.
Nesta verdade reside a máxima dignidade e grandiosidade de nossa filiação, pois Deus Mesmo Se declara Pai somente em nós, e o será verdadeiramente, no máximo amor, se nós assim o reconhecemos e chamamos. Haveria coisa mais elevada? Que importância tem, se com um hálito podemos pulverizar a Criação total? Isto nada representa, comparado ao nosso pronunciamento, com todo amor e verdade: Que- rido, Santo Pai! Ele, que é Deus, o Eterno, é Pai em virtude de Seu infinito Amor em nós, que somos Seus filhos. Ele é o que é por Si Mesmo; — nós nada somos por nós, mas somos tudo por Ele e através Dele. Eis nossa infinita grandiosidade de sermos Seus filhos e Ele nosso Pai. Acabo de definir completamente o sentido de minha visão, em Nome Dele.”
83.AFILIAÇÃODIVINAÉMAISELEVADAQUE A
FRATERNIDADEEASERVILIDADEPARACOM DEUS
Após terminado o relato, Abedam Se dirige para Horedon e diz: “Tu te tornaste um bom instrumento para Mim. Aquilo que muitos já procuraram sem encontrar foi fielmente transmitido por ti, tal qual Eu, a Fonte de toda fidelidade e verdade, te inspirei. Por isto, te louvo e digo que conquistaste para ti e para todos a verdadeira filiação e não há poder terre- no que possa arrancá-la de ti. O poder que reside nos verdadeiros filhos é maior que todos os poderes dos mundos e de todos os corpos e seres.
Assim como Horedon acaba de receber a filiação, Eu a transmito a todos, pois nada existe no Céu e na Terra tão grandioso, poderoso e sublime que Meus filhos. Quem conquistou a filiação tem dentro de si a Mim, Deus Eterno e Infinito, com toda Sua Majestade e Glória como Pai, unicamente Verdadeiro e Amoroso, e se encontra inteira- mente dentro de Mim, isto é, em toda a Minha Perfeição, ou seja, o Meu Infinito Amor, Graça, Sabedoria e Força.
Se fôsseis Meus irmãos, seríeis inferiores a Meus queridos filhos; pois qual seria o pai que preferisse seu irmão ao seu filho? Porventura alguém participa da herança do irmão quando se casa com alguém? Se vós mesmos considerais os filhos acima dos irmãos, quanto mais Eu, o Pai mais Verdadeiro e Perfeito, saberei considerar o seu valor.
Costumais dar aos filhos o resultado de vossos trabalhos manu- ais como enxoval. Eu vos dou tudo, ou seja, o Meu Amor, ou Minha Própria Vida eterna.
É de suma importância saberdes quem recebe a filiação de Mim e por Mim, pois nem todos são filhos que dizem: Querido Pai, atende-
-nos, Teus filhos! — enquanto seus corações continuam duros e frios como se tivessem classificado um objeto qualquer. Deste modo, sua confiança é idêntica ao coração.
Tal categoria de pretensos filhos quer apenas usufruir do Meu Poder e Força a fim de verificar se seus atos tolos trazem vantagem ou prejuízo. Tais criaturas se encontram tão longe da verdadeira filiação quanto um polo do Céu dista do outro.
Outros há que estendem o conceito da filiação de tal modo a considerarem a si mesmos e todos os seres como Meus filhos. É desne- cessário analisar que cometem um engano ainda maior, pois todos vós sabeis quem sejam Meus filhos em espírito e verdade.
Preciso é perceberdes a grande diferença entre os que aceitam um Deus e Criador, e aqueles cujo coração se apossou de Deus, e com nada mais se preocupam senão em amá-Lo cada vez mais. Os primei- ros confirmarão: Deus, Criador Onipotente, Santo e Sublime, quão maravilhosas são Tuas Obras; por isto Te louvamos e exaltamos aci- ma de tudo.
Os outros dirão: Meu Deus, quão Bondoso és Tu, pois com toda a Tua Sublimidade e Santidade não podemos deixar de Te amar acima de tudo. — O primeiro grupo se extasia diante do conhecimento de Deus. O segundo se desfaz em lágrimas sempre que algo os faz lembra- rem-se de Mim, pois pressentem em Deus um Pai cheio de Amor.
Percebestes a enorme diferença? Os primeiros são apenas servi- çais a trabalharem por pagamento. Os outros são filhos que nada mais querem senão o Pai. Para que isto fique bem claro, ouviremos Jorias e só então será dada, neste assunto importante, uma luz mais clara em vosso coração.”
84.JORIAS,ODÉCIMO VISIONÁRIO
Imediatamente Jorias se apresenta e diz: “Querido e Santo Pai, se me fosse possível virar o íntimo para fora a fim de que todos pudessem assistir o quadro de minha visão, talvez atingiria um coração crente. As- sim não sendo, porventura os ouvintes acreditarão no relato? Havendo coisas inacreditáveis naquilo que vi, os patriarcas quiçá se aborreceriam e, além disso, sou péssimo narrador.”
Nesta altura, Abedam o interrompe bastante sério e diz: “Justa- mente por tal motivo hás de transmitir teu relato, ou então morrerás espiritualmente. Não queres considerar as Palavras do Pai, mas devias respeitar as de teu Senhor. Se Ele também nada representa para ti, Deus estenderá Seu Braço sobre ti. Por ora, dispões da Palavra do Pai. Mas,
quando sobrevier a Palavra do Senhor para julgar os servos indolentes, enfrentarão o trovão do julgamento. É preferível obedeceres à Palavra do Pai para não recairdes na servidão e no julgamento. Conta tudo que viste, porquanto esta é Minha Vontade.”
Somente agora Jorias dá conta de si e pede perdão por ter esque- cido Quem o havia chamado. Uma vez assegurado por Abedam que o Pai nada tinha a perdoar, pois sempre ajudava a soerguer o caído e procurava o perdido até encontrá-lo, Jorias começa a falar.
“Estava de pé em cima de uma nuvem luminosa assim que a visão externa se havia desvanecido. Não via coisa alguma em cima ou embaixo de mim; tampouco posso afirmar se a nuvem me levava por distâncias sem fim ou se ela estacionava. Tive a impressão de encontrar-
-me neste estado durante uma eternidade, e a insuportável monotonia me obrigou a falar comigo mesmo:
Que vem a ser isto? Por que me encontro nesta base etérea? Sin- to forte sede e fome, e não quero morrer por falta de alimento. Farei uma tentativa de saltar, ainda que tal empreendimento me leve a uma queda sem fim. — Arrastando-me até a beira da nuvem, fechei os olhos e saltei. Depois de longo tempo, abri vagarosamente os olhos e vi-me na situação anterior. Era impossível afastar-me da nuvem, assim como ninguém poderia ausentar-se do nosso planeta, de modo próprio.
Nesta prisão, veio-me um pensamento grandioso, e Deus Mes- mo era este pensamento. E confabulei: Quem poderia pensar em Ti, meu Deus, onde não estivesses? Como penso em Ti, estás Presente, pois este pensamento é Tua Palavra dentro de mim. E onde está Tua Palavra, também Tu estás. Anteriormente não pensava em Ti. Onde Te encontravas? Aqui, por certo. Mas não querias Te pronunciar. Uma vez que assim fizeste através do meu pensamento em Ti, estás comigo e dentro de mim.
Durante essas conjecturas profundas, senti-me envolvido pelo sono e sonhei que traguei a Terra, a Lua, o Sol, enfim todo o Universo com suas águas. No entanto, não fiquei saciado. Então pensei: Como posso sentir fome? Não tenho Deus dentro de mim e todo o Universo dentro do meu estômago?
Neste instante, ouvi as seguintes palavras surgidas da nuvem: Mesmo que tragasses o Infinito e a Eternidade, além daquilo que já sorveste, mas não possuísses o Amor, haverias de sentir fome e sede para sempre. O Amor é o Pão verdadeiro que satisfaz, a água viva e refrescante para toda a eternidade.
De que te adianta Deus, sem amor; e de que te serve o Céu inteiro sem amor? Por isto, é uma criança no berço maior que tu, não obstante tivesses tragado todo o Céu. Pois a criança tem amor. Leva o teu coração para o amor, que encontrarás em apenas um átomo muito mais que tua antiga sapiência conseguiu te dar.
Nesta altura, acordei e me encontrei em meio dos patriarcas, irmãos e filhos — e também diante de Ti, meu Pai. Eis tudo que vi. Por ora, pouco entendo daquilo, mas Quem me proporcionou a visão, certamente acrescentará a explicação. Por isto, Te agradeço de coração.”
85.NOVAUNIÃOENTREOPAIEOS FILHOS
Eis que Abedam toma da palavra e diz: “Antes de Minha Desci- da para junto de vós, tivestes o hábito de vos chamardes de Meus filhos, e Eu, vosso Pai. Foi justamente este fator que Me atraiu paravosgerardenovonoespíritodoAmor, fato raríssimo em todo o Universo.
Pelo fato de usardes essa denominação de modo próprio, fostes apenas filhos na expressão, assim como Eu também era denominado somente pela boca.
Muito embora tivésseis pecado, atendi vosso chamado e vos crio para verdadeiros filhos, no espírito e no coração. A partir de agora não deveis chamar-Me de Pai, mentalmente, e sim com todo o direito vivo e santo: nosso querido e único Pai.
Anteriormente vos classificastes de Meus filhos e deuses, sem sê-lo. Era o orgulho, habitante das montanhas, que vos levava a cha- mar-Me assim, para estabelecerdes uma enorme diferença entre vós e os descendentes de Caim.
Como alguns descobrissem o caminho da humildade e do único amor para Comigo, cheguei junto de vós como um descendente de
Caim. Como o amor não se negou a acolher o cainita e conservá-lo em vosso meio, ele ainda se encontra convosco e, se quiserdes, ele jamais se afastará do vosso local, que é um local vivo em vosso coração.
Sou Eu tal ‘descendente’ de Caim; sou Aquele a Quem cha- mastes anteriormente de Pai e agora vos dou o direito de serdes Meus verdadeiros filhos. Esta é uma união que estabeleço convosco para toda a eternidade.
Quem dela se separar ter-se-á separado de Mim, perdendo, por- tanto, a filiação, até que retorne depois de ter empregado muito esforço. O ingresso será mais fácil do que a separação, pois quem for apossado por Mim através desta união, não se soltará tão facilmente.
Esta é a explicação de Jorias quando pretendia afastar-se da nuvem, ou seja, da humildade do seu amor, e fazendo-se de cego saltou da mes- ma. Onde se encontrava quando despertou? Deste modo, o amor prende mais fortemente do que pensais e é o laço desta união agora estabelecida entre nós. Julgais ser possível romper tão facilmente este laço? Pode ser es- ticado à vontade, mas não rompido quando tiver algemado alguém pelo amor, ou seja, pela verdadeira filiação. Quem tiver recebido o amor, terá recebido a filiação, porquanto amore filiação são uma só coisa.
Anteriormente vos esforçastes na conquista da sabedoria, pisan- do o amor. Nesta sabedoria vos sentistes esfaimados e sedentos. A ânsia de saber tragou a Criação total, e Deus era apenas Deus, e não podia ser outra coisa senão o que vosso intelecto suportava. Assim, também Lhe prestastes sacrifícios segundo vosso agrado, e Ele teve que Se satisfazer com aquilo que vos era mais cômodo e agradável.
Na concepção deste Deus, que não era vosso Pai, andáveis cheios de fome e vossos filhos padeciam sob o peso implacável de vosso Deus de Sabedoria. O que então acabastes de fazer nesta superioridade de conhecimento na qual tivestes que passar fome e sede? Dirigistes vossa atenção e coração à boca amorosa de Henoch. Foi justamente a voz do Amor que vos dizia da nuvem, que vosso Deus sem amor de nada vale. Unicamente o amor é a própria vida.
Percebeis a finalidade da visão de Jorias? Só agora conheceis a Mim, através de vosso amor, o Deus verdadeiramente Pai que vos gerou
para Seus filhos. Só agora recebestes a luz real pela qual vedes que entre Mim e vosso antigo Deus de Sabedoria existe uma diferença infinita, na qual Eu, exclusivamente, sou Deus, masElenadaésemMim. Nisto se concretiza o máximo pela filiação divina. Permanecei dentro dela como filhos, assim como Eu, vosso Pai.”
86.OUNIVERSODENTRODA CRIATURA
Após este discurso, Jorias se atira aos Pés de Abedam, agradecen- do pelas palavras, e seu amor crescia a tal ponto que o próprio corpo se tornava incandescente. Como Abedam percebesse a estupefação dos patriarcas, Ele diz: “Quem amar como Jorias, terá a mesma sensação que ele. Quando o amor se torna cada vez mais poderoso, ele inflama o próprio ser, porque é o fogo verdadeiro, e nãoexisteoutraluzsenãoadofogo; razão pela qual o verdadeiro amor é uma luz real, ou seja, um fogo vivo.
Assim sendo, a luz e a sabedoria correspondem ao amor da cria- tura para Comigo. Todos vós surgistes de Mim bem equipados, pois cada um traz dentro de si o que existe em Mim. Por isto, sou vosso Pai perfeito, assim como vós deveis ser Meus filhos perfeitos.
Quem isto ouve de Mim, no entanto, não erige um grande fogo de amor em seu coração a fim de que ilumine toda sua natureza, per- cebendo os tesouros infinitos, é realmente um grande tolo. Vede Jorias, totalmente iluminado e translúcido. Vislumbra e saboreia os Meus inú- meros tesouros eternos que se multiplicam até o infinito, assim como o faz o grão de trigo na Terra, com apenas uma diferença: os tesouros absorvidos do amor se glorificam constantemente, enquanto o grão de trigo reproduz no máximo cem grãos.
Em verdade vos digo: esta Terra, o Sol, todas as estrelas com seus inúmeros satélites, com tudo que comportam e ainda comportarão até épocas infindas, todos os exércitos de anjos com sua glória, até Eu Mes- mo, existimos dentro de vós.
Tolo é, portanto, quem aqui disputa um pedaço de terra, como já aconteceu por diversas vezes, quando possui dentro de si um mundo
inteiro e vivo que jamais lhe poderá ser tirado, pois se dilatará, glorifi- cará e multiplicará segundo a sua vontade.
Se assim não fosse, ninguém seria capaz de projetar um pen- samento. Tudo que alguém queira pensar, sejam quais forem forma e qualidade, tem que existir dentro da pessoa, assim como no grão de trigo já se encontra a multiplicidade de seu produto, inclusive sua flora produtora.
Se isto vos ensinam vossos pensamentos e Eu, como Criador e Verdadeiro Pai vo-lo transmito, e vós necessitando apenas do verdadei- ro amor a fim de apossar-vos desses tesouros infinitos, não seria tolo quem se preocupasse com um punhado de pó desta Terra, que é apenas uma fantasia experimental ou um mundo aparente? Fugi do mundo e procurai a vós mesmos e a Mim dentro de vosso âmago.
Se com vossa luz de amor tiverdes encontrado tudo, havereis de convir o quanto vale o mundo em comparação ao menor tesouro inte- rior da Vida provinda de Mim. Quem se inflama no amor igual a Jorias, há de encontrar o mesmo que ele. Caro Jorias, demonstra aos outros o que encontraste, ao menos a menor parte daquilo que descobriste atra- vés de tua chama de amor.”
87.JORIASFALASOBREO AMOR
Manifesta-se Jorias: “Meus queridos, realmente não existe senti- do psíquico, nem palavras humanas capazes de transmitir o que nosso Deus e Pai prepara para os que O amam acima de tudo e nunca des- viam seu coração Dele.
Por isso, só pode ser revelada uma partícula ínfima para a nossa fraca compreensão, pois uma palavra terrena é, comparada ao sentido verdadeiro, nem mesmo a casca externa de uma árvore secular. Quem poderia, através da casca, perceber a vida maravilhosa, a semente, sua multiplicidade e aquilo que só com o tempo poderá ser visível dentro da árvore?
Quem poderia supor os milagres espirituais ocultos numa pe- quenina fibra, assim como a folhagem, a flor e o fruto, preparados
por milhares de mãos de espíritos que levam os humores através dos inúmeros canais aos galhos, numa perfeição estupenda cuja qualidade nos encanta!
Se isto não é possível deduzirmos somente pela casca do vegetal, muito menos alguém poderia transmitir pela palavra o que nosso Pai preparou nos corações que O amam acima de tudo. Ó amor, quanta plenitude, quanta profundeza de vida e luz se concentram em ti!
Deus Mesmo é o Amor puríssimo, e ora Se encontra diante de nós. É nosso Pai, amado e querido, em nosso meio, em nosso cora- ção. Isto se oculta diante dos olhos físicos e psíquicos, mas não perante os do espírito onde reside o amor, que é o Próprio Amor no Infinito Amor Paternal.
Para o espírito vale mais um grão de areia, do que para a visão externa a Terra e todo o Universo. Ó grãozinho de areia, obra milagro- sa, como és lindo! Quem poderia supor a indizível majestade daquilo que se agarra à sola do pé? Meus queridos, não é uma simples poeirinha, é um mundo incrivelmente grande, onde existem luz e vida.
Rios caudalosos atravessam seus vales de cristal. Nos seus picos iluminam milhares de sóis cheios de luzes cintilantes e seres incontáveis habitam em formas inimagináveis este mundo espetacular. Alimentam-
-se de luz e calor, e seus movimentos são de um viandante a quem fora imposta uma meta sublime. Meus queridos, não posso prosseguir, pois a poeirinha aumenta e se torna cada vez mais maravilhosa.
Qual seria o conteúdo de um mundo e sua maravilhosa multi- plicidade? E o que seria um Sol, o Universo todo, o Céu dos espíritos e anjos, e nós e o Amor de Deus em nós? Por isto, amai-O; no amor havereis de compreender o que seja o amor e como é Bom nosso Pai. Devemos-Lhe todo o nosso amor eternamente.”
88.O SENHORUNE JORIASEBESELA,FILHA DE PARIOL
Diz em seguida Abedam, apertando Jorias contra o peito: “Aca- baste de transmitir segundo Minha Vontade o que exigi de ti, razão pela qual te incendiaste por amor a Mim e a todos os teus irmãos.
Todavia, ainda não estás bastante preparado para poderes permanecer nesta chama. O fato de Eu caminhar entre vós vos torna frutos prema- turamente amadurecidos na árvore da vida e tereis que passar por um forte amadurecimento , do contrário cada um se desintegraria neste amor espiritual.
A fim de que tua chama venha a ser um pouco abrandada, dar-
-te-ei uma esposa, porquanto ainda és solteiro, e contas cento e poucos anos de vida. Junto à tua companheira terás uma experiência pela qual se solidificará aos poucos esta chama de amor poderoso para Mim. Por ora ainda não chegou o tempo em que as criaturas poderão ingressar no matrimônio perfeito, sem companheira. Por isto, ainda é necessário que cada um tome uma esposa, pela qual ele se separa de si mesmo como também de Mim, e possa depois se tornar inteiramente uno Comigo.
Assim como Eva surgiu de Adão, toda mulher terá que se uni- ficar com o homem, e ele voltará a ser uno pela união com ela. Uma vez que tiver realizado esta união interior, poderá se unir inteiramente a Mim. Enquanto continuar separado de Mim, será incapaz de perma- necer no máximo Amor para Comigo.
Vossa inteligência vos ensinou não existir coisa alguma sem con- traste ou oposição, e a mulher foi dada ao homem como contraste. Ele não se unindo ao seu contraste, ipso facto não poderá se tornar um contraste com relação a Mim. Enquanto isto não ocorrer, é ele perfei- tamente homogêneo a Mim e não receptivo, mas igual a Mim, sempre transmissivo.
Eis a grande diferença entre Pai e filho: o Pai distribui, os filhos recebem e se tornam idênticos a Ele por serem contrastes Dele. Se os filhos não quiserem aceitar algo e se colocarem sempre numa linha com o Pai, quem formará o contraste receptivo? Este faltando, qual será o futuro dos filhos? Se desgastariam até a última gota de sua existência, e o Pai teria que suspender Sua Transmissão e assim Se tornar o próprio contraste de Si Mesmo para continuar o que foi desdeeternidades, isto é, um DeusAutossuficiente,EternoePoderoso.
Neste momento, te encontras na mesma linha que Eu e ainda não és um contraste, mas um indivíduo homogêneo Comigo. Portanto,
necessitas de uma companheira para te tornares um contraste para Mim e Eu, com isto, um Pai para ti.
No teu íntimo indagas: Onde estará a mulher que terei de des- posar? — Ei-la. Seu nome é Besela, e Pariol é seu pai. Vem cá, Besela, não temas o homem que destinei para ti. Ele há de carregar-te na palma da mão e tua morada será o coração dele, e tua união com ele estabele- cerá também tua união Comigo. Amém.”
Tomando Besela em Seus Braços, Abedam prossegue: “Filha excessivamente bela de espírito e corpo, apresenta-te diante daquele a quem, a partir de agora, pertencerás, para que veja que criatura Eu lhe reservei por causa de seu grande amor para Comigo.”
A este mando, Besela, que contava trinta e poucos anos, afasta seus cabelos louro-escuros, levando Jorias a exclamar: “Ó Céus e Terra, como sois pobres diante de mim, pois algo semelhante não haveis de presenciar! Pobre Sol, o que se passará contigo se amanhã este Sol se desvendar diante de ti? Meu Pai, não mereço tamanha dádiva!”
Diz Abedam: “Se Eu te julgo meritoso, tu assim o és. Leva-a para junto de Adão e Eva, de Jared e Pariol, pais de ambos, para que sejais abençoados. Em seguida, serás consagrado profeta de todas as estrelas.”
89.DIRETRIZESPARAOS RECÉM-CASADOS
Mais tarde, Abedam deposita Suas Mãos na cabeça e no peito de Jorias e Besela, e diz: “Recebei Minha Bênção para a vida eterna e gerai frutos vivos do puro amor. Afastai de vosso corpo a satisfação do desejo carnal, no qual está o pecado, e assim caminhareis fielmente diante de Mim. Quem satisfizer sua carne, e não a alimentar na medida justa, procurando alegrá-la por meio da volúpia, terá alimentado o seu corpo e tê-lo-á entregue ao poder da morte.
Controlai vossos desejos quando não for propícia a geração de um fruto vivo. Quando o tempo chegar, chamai por Mim para que Eu vos ampare no momento em que fizerdes um sacrifício ao pecado e assim permaneçais na Minha Graça.
Quem tomba neste sentido, dificilmente se ergue, e em cada queda o espírito é cercado por uma nova prisão mortal. Quando pre- tender erguer-se da prisão carnal, o antigo pecado e morte do espírito
que situação há de enfrentar se em vez de uma casca tiver que rom- per centenas, cada qual mais dura?
Cuidai somente do que diz respeito ao espírito e entregai a carne a Mim. Agi segundo a Minha Vontade para que ela se torne fraca, e assim crescereis em espírito, à medida que a morte desapareça como pecado, ou seja, a carne.
Repito: Não alimenteis, nem fortifiqueis e alegreis vosso físico, pois seria alimentada vossa própria morte que prende o espírito como último cárcere, antes de sua libertação ou ressurreição para a perfeita Vida eterna.
Tu, meu caro Jorias, viste a grandiosidade e sublimidade do que seja um filho do Meu Amor. Sentiste a plenitude da chama de Meu Amor Paternal. Permanece portanto fiel à Minha Vontade, a Mim, teu Deus e Pai.
Sempre que tua carne fizer exigências desmedidas ao teu cora- ção, observas as estrelas celestes, que Eu te direi o que deves fazer. Mas, se te desviares deste caminho, também o Céu se ocultará em nuvens densas até que retornes cheio de remorso.
Permanecendo fielmente segundo a Minha Vontade, dentro em breve hás de sentir o grande poder dentro de ti, pois pela aceitação da Mesma, Ela será tua. Minha Onipotência Se tornando tua ordem, como também é a Minha, qual seria o poder mortal capaz de te subjugar?
Por isto dou a ti e a todos este mandamento, para que possais, através da obediência, vos apossar do Poder de Minha Vontade, pela qual todas as coisas foram criadas e diante da qual elas estremecem. Quem não se tiver apossado de Minha Vontade, será prisioneiro da morte e escravo do pecado.
Quem se tiver apossado de Minha Vontade, ter-se-á tornado tão perfeito quanto Eu, seu Pai, e fará as obras da Vida como Eu, e assim terá recebido a verdadeira filiação divina.
Quem terá portanto aceito a Minha Vontade? Aquele que Me ama e a cumpre. A verdadeira filiação implica na permanência em Mi-
nha Vontade, e isto representa o fruto verdadeiro e vivo do puro amor e da Vida eterna. Tal fruto deves gerar com tua companheira, e tais filhos serão idênticos a quem os criou. Minha Bênção se prende à tua obedi- ência e que Minha Vontade Se torne tua. Junta-te a Jared, e manda que Garbiel e Besediel venham aqui.”
90.HUMILHAÇÃODE GARBIEL
Garbiel e Besediel se encaminham incontinenti para junto de Abedam, e o primeiro toma imediatamente a dianteira e, curvando-se como se tivesse um peso de várias toneladas na nuca, de humildade, diz: “Querido e Santo Pai, qual de nós dois deve iniciar o relato da visão obtida? De minha parte, opino que Besediel seja o primeiro e eu, no final, contaria o que vi.”
Ele assim fala porque não fora chamado como primeiro e no- tara certa consideração dos que se tinham manifestado. Deste modo, esperava encontrar-se acima de todos, ainda que fosse o último a ser convocado.
Abedam, porém, diz: “De Minha parte, discordo totalmente, e acho que nem tu, nem Besediel devem relatar a visão obtida, porque não contêm valor geral e sim mais pessoal, cuja aplicação será por Mim dada somente amanhã.
Eis Meu Parecer inabalável. Entretanto, sou de opinião que a pes- soa convocada deve esperar Meu Pronunciamento e falar somente quando convidada, e não se adiantar querendo instruir-Me sobre Minha Atitude.
Não aprecio privilégios sedentos de primazia e prefiro alguém que se humilhe a ponto de pretender ser o último, antes servo que senhor, menor do que maior, e ser considerado em vez de ser demasia- damente elevado. Eis o Meu Parecer.
Além disto, aprovo que cada um seja irmão do próximo, pois, enquanto não o for, também não lhe posso ser um Pai. Como sou o Único Pai Verdadeiro, não concebo, sendo a mais elevada Sabedoria, quediferença poderia existir entre Meus filhos. Porventura o amor ali- menta diferenças quando surgido totalmente de Mim?
Em verdade, existe diferença entre amor e amor em sua cres- cente proporção. Essas variedades são constituídas de tal forma que os irmãos se respeitam em virtude delas, e quanto maior for o amor, tanto mais humilde será a criatura, querendo ser serva de todos.
Por isso, opino que deves te humilhar, reconhecer teu erro, arre- pender-te e preencher o teu coração com o verdadeiro amor para com os semelhantes; do contrário, não receberás grandes vantagens da vida eterna. Tu também, Besediel, poderás agir desta forma, enquanto Meu caro Sehel vos demonstrará o justo caminho. Amanhã todos receberão orientação individual.”
Em seguida, Abedam Se dirige para Adão, dizendo: “Acabamos de finalizar o Sábado com propriedade, pois já é meia-noite. Recomen- da a todos que se proponham ao descanso a fim de despertarem bem dispostos.” Assim orientados, milhares de assistentes iniciam um cânti- co de louvor e, quando terminam, Abedam os abençoa e convida Adão a seguir o exemplo deles.
Adão então pergunta: “Santo Pai, onde desejas descansar, aqui ou em minha cabana?” Responde Ele: “Já passei muitas eternidades debaixo de Meus Céus, portanto permaneceremos ao ar livre, pois o firmamento está claro e não apresenta ameaça de tempestade.” Deste modo, uma paz solene e santa desce sobre todos os picos sagrados dos filhos de Deus.
91.OSOLFICTÍCIO.ABORRECIMENTOEMALDIÇÃODE ADÃO
Uma hora antes da aurora não havia ninguém de pé, com exce- ção de Adão, inconformado com o sono de todos. Mas, como o grande Abedam Se encontrava entre o outro Abedam e Henoch, ele não se atreve a reclamar, entregando-se à paciência e conformação.
Entrementes, já se ouviam cânticos matinais de todos os lados, mas no próprio cume tudo estava em silêncio. Isto era outro motivo de aborrecimento para Adão, que com prazer teria se alterado, caso o sublime Abedam lhe tivesse dado consentimento. Abedam continuava deitado entre os dois prediletos e não fazia menção de Se levantar.
Conquanto nada dissesse, Adão confabula: “É de fato uma vergonha para nós, eleitos, que os filhos mais distantes se adiantem com aquilo que compete a nós. Mas, que fazer? O Próprio Abedam ainda dorme.
Espero que o Sol não surja antes do nosso cântico matinal. Em outras ocasiões já tínhamos tomado o desjejum antes da aurora. Mas hoje o Sol talvez nos apanhe deitados. É impossível despertá-Lo, mas não deixa de ser aborrecido que além de mim e Eva ninguém se anime a levantar-se. Só espero que o Sol ainda demore a surgir.”
Enquanto Adão se entrega a tais pensamentos, eis que surge o Sol no horizonte. Então rompe-se a paciência de Adão a ponto de dar um empurrão em Seth ao seu lado e lhe diz: “Vê que vergonha! O Sol está subindo, de todos os lados se ouvem as vozes matutinas, enquanto aqui mais que a metade está dormindo.”
Seth fita o Sol bastante alto e observa seu fraco brilho que, além disto, apresenta uma bola informe em vez de uma esfera normal. Por isto diz: “Se não me engano, não demora a nascer o Sol verdadeiro. Quanto a este, te convencerás de teu engano e qual a origem do cântico matutino.”
Prestando atenção, Adão ouve a seguinte estrofe: Louvado sejas, ó Grande Deus, nessas profundezas. Louvamos-Te, grande Lamech, as- sim como tua astúcia. Despertaste o justo Sol através de tua força sendo todas essas grandes obras tuas e dele. Ó Lamech, grande deus, preen- ches todos os céus após teres levado o antigo Deus à queda. Encontra-
-Se Ele cansado e esgotado, no solo, igual aos homens, deixando-Se iluminar pelo teu Sol.
A estas palavras, Adão exclama assustado: “Pelo Deus Onipoten- te, que vem a ser este dia, este Sol e este cântico amaldiçoados?” Neste instante, ergue-Se o grande Abedam e diz: “Que se passa, por que es- tás praguejando?” Tremendo, Adão responde: “Ó Abedam, vê este dia, uma obra de Satanás!”
Retruca Abedam: “Por que o julgaste? Ele não será o último nesta Terra e há de se repetir como um joio que não será exterminado até o fim de todos os tempos.” Diz Adão: “Ó Santo Pai, extermina-o
para sempre!” Responde Abedam: “O autor deste dia é também livre como tu e vive do Meu Poder. Deixemo-lo entregue ao seu tempo, que ele poderá estender o quanto quiser.
Mas, quando sobrevier a Minha Eternidade, sua grande tolice será evidenciada à luz do verdadeiro dia. Sê calmo até a época em que Eu vos despertarei na aurora do verdadeiro dia de Sol. Deita-te outra vez e, quando Eu levantar, todos poderão se erguer, pois Me levantarei no justo Domingo e vos despertarei pelo Meu Espírito. Até lá deixemos que Satanás brinque no verdadeiro lamaçal de Lamech.” Estas palavras acalmaram Adão. Abedam deitou-Se de novo ao solo e todos seguiram o Seu Exemplo.
92.TEMPESTADENOCUME.ABÊNÇÃODO SENHOR
Durante meia hora os patriarcas continuam repousando e Adão aperta os olhos o quanto pode a fim de não assimilar o menor raio do dia falso. Súbito se desencadeia uma tempestade fortíssima. A venta- nia arranca as árvores mais fortes e os raios rasgam o ar, enquanto nas montanhas vizinhas se desprendem rochas imensas que são dizimadas qual poeira.
Diante de tal furação, Adão é tomado de excessivo temor, pen- sando: “Meu Deus e Pai, teria conseguido Leviatão, Teu grande inimigo e serpente do mal, elevar-se ao Teu trono enquanto aqui Te encontravas nos abençoando? A fúria dos elementos prova ter ele alcançado seu in- tento. Que será de nós?”
Como Eu continuasse entregue ao descanso, Adão julga que Eu e todos os filhos fôssemos prisioneiros de Satanás, razão por que lança um olhar furtivo em Minha direção. Seu susto é enorme, pois lhe parecia que montanhas ardentes voassem pelos ares e grandes partes caíam ao solo com pavoroso estrondo. Por isto ele grita: “Grande Abedam, se ainda dispões de algum poder, eleva-Te acima deste nosso inimigo comum e faze com que seja obrigado à desistência e compreensão de sua fraqueza.”
A esta gritaria todos se levantam e caem em desespero, com ex- ceção de Henoch, Jared, Lamech e sua esposa Gemela, Hored e Noê-
mia, Uranion, Gabiel, e Aora e sua filha Purista, Lamel, Pariol e sua família, Sehel, Jorias e Besela. Percebendo que os demais se deixavam atingir pelo pavor de Adão, Hored reage dizendo: “Que pavor mais tolo prende vossos corações, levando-vos a imitar as palavras sem nexo? Nunca alguém passou por perigo tão tenebroso de ser tragado por Satã como eu. E Quem me arrancou das garras do monstro? Não foi Aquele Que ora Se encontra entre nós visivelmente nos abençoando? Ele, Deus Eterno e Santo, poderia deixar-Se vencer como uma criatura miserável? Sou homem fraco igual a vós; mas, tendo recebido como vós a bênção poderosa Dele Mesmo, afirmo que desafio milhares de demônios com esta força que, comparada ao Seu Hálito mais suave, nada representa. A fim de que vejais quão tolo é vosso temor, ordeno a este inimigo das trevas que se oculte em qualquer lamaçal do inferno! Como vedes, já se manifesta a maior calma em toda parte e o Sol verdadeiro se aproxima de nós em esplêndida aurora.”
A estas palavras, Abedam Se ergue do solo e Hored se atira a Seus Pés para agradecer pela ajuda recebida. Todos os patriarcas, porém, olham estarrecidos ora para Hored, ora para Abedam, e não sabem o que dizer. Louvando Hored, Abedam Se dirige a todos: “A paz esteja convosco e Meu Amor seja a Bênção para todos. Levantai-vos, pois Seth se incumbirá de um farto desjejum, enquanto podeis meditar so- bre Quem Se encontra em vosso meio. Após a refeição, demonstrarei a futilidade de vosso pavor.”
93.PROMESSADEENCARNAÇÃODO SENHOR
Sem demora, Seth organiza o transporte de vários cestos com frutos, pão, mel e leite e seus servos avisam todos os povos presentes a fim de se saciarem. Quando ele mesmo sobe o monte com um grande vasilhame cheio de mel, o grande Abedam lhe vem ao encontro e diz: “Seth, predileto do Meu Coração Paternal, sê tu e teus descendentes abençoados por teres te lembrado dos necessitados de todas as tribos.
O máximo que alguém pode fazer é o cuidado dos pobres, a aju- da à velhice e o acolhimento dos pequeninos. Se isto for feito por puro
amor, ainda que a pessoa tivesse pecados em número idêntico à erva da terra e à areia do mar, eles lhe seriam relevados. No momento em que alguém abrir seu coração para o próximo, Eu estarei ao seu lado e tudo que é Meu será dele.
Quem cumprir o que Eu lhe ordeno é servo fiel. Mas, quem di- rigir seu coração constantemente para Mim, é um verdadeiro filho Meu. Quem pratica ações movido pelo espírito, sente repugnância do mundo e dirige todos os seus sentidos para Mim, é um anjo e um irmão em espí- rito de toda verdade, semelhante a teu filho Sehel. Mas, quem agir como tu, é mais que todos, pois é irmão no Meu Amor e atinge o máximo.
Seth, Meu irmão, dou-te a vida eterna, pois executaste a maior ação, fazendo além do que Eu te ordenei. É a ação mais perfeita posta em prática até hoje neste monte. Este lugar existirá até o fim dos tem- pos e jamais será pisado pelos pés de um povo indigno. E onde pisares deve haver abundância. Teu hálito será o maná dos Céus e cada palavra tua se transformará em mel da vida eterna.
Aqui a mulher de Lamech será futuramente abençoada por um salvador que conservará sua tribo até o fim dos tempos. Minha satisfa- ção contigo é tão grande que cumprirei Minha Promessa, aceitando do teu tronco carne e sangue, tornando-Me homem igual a ti, se bem que um Homem Onipotente. Não te sendo possível suportar a Onipotên- cia total, terás partes iguais do poder do amor, Comigo, teu verdadeiro Irmão. Deixa-te abraçar com todo o Poder e Força de Minha Vida! Há quanto tempo desejava ter um irmão, e não houve um que o quisesse ser de livre e espontânea vontade. Acabas de te tornar aquilo que Meu Coração desejou em vão. Já não mais estou só no Universo sem fim e não foi em vão que preenchi o Espaço com inúmeros seres e exércitos de espíritos. Tu Me devolveste o irmão que, Me desprezando, perdeu-se como espírito de todos os espíritos. Ó Terra, como enriqueceste por Me teres dado um irmão! Por isto saberás aquilo que todo o Univer- so jamais saberá. Hei de aceitar teus filhos como filhos Meus, e teus patriarcas serão Meus irmãos. Subamos no planalto para tomarmos o desjejum com nossos filhos, que ouvirão Eu ter encontrado um irmão verdadeiro, e Céus e Terra se rejubilarão com isto.”
Ouvindo tais palavras de Abedam, Seth se atira aos Pés Dele e diz: “Pai, sumamente Bondoso e Santo, não mereço que entres em minha cabana, no entanto me fizeste um irmão de Teu Amor! Peço-Te que me tires este pensamento do peito, pois é demasiado sublime. Retira o irmão e deixa que eu continue sendo o mais simples dentre Teus filhos!”
Curvando-Se para Seth, Abedam o abraça, beija sua fronte e diz: “Agora és realmente Meu irmão, por tê-lo devolvido. Se bem que tivesse encontrado em ti um irmão muito caro, em virtude de teu amor altruísta, só agora, que teu amor se uniu à máxima humildade, és em verdade um justo irmão de Meu Amor. Vê, o Amor é Minha Natureza Intrínseca, da qual a Divindade, ou seja, a Força eternamente ativa se projeta como Meu Espírito Infinito de toda Santidade.
Eu Mesmo sou tal Ser Original, ora diante de ti, e este Peito preenche todo o Universo com Meu Espírito, Meu Braço Poderoso que age constantemente segundo Minha Vontade. Eis porque sou Presente, através do Meu Espírito, e crio, formo e ordeno em toda parte. Meus Pensamentos preenchem o Espaço infinito que surgiu de Mim desde eternidades, mas se apresentamsomentequandoeondeEudelesMeapossocomMinhaVontade. Este Meu Ser Original também criou a ti, não apenas como pensamento projetado, mas como emanação livredeMeuAmor.
Se, portanto, completas um só amor Comigo, como então po- dias deixar de ser Meu irmão? Nada temas e continua sendo um justo irmão Meu, que agirás em espírito como Eu ajo livremente preenchen- do o Universo. Ao atirares uma pedra ao ar, tens a prova que tua força física é mais extensa que teu braço. Quanto mais não será o braço de teu espírito!
Se és, portanto, Meu irmão no amor, também o serás no espírito e poder, e o futuro te demonstrará que Meu Amor dentro de ti merece ser Meu irmão, pois Eu Mesmo sou tal amor liberto em ti. Agora Me acompanha ao cume, pois és e serás eternamente Meu irmão.”
Com estas Palavras consoladoras, Seth se encaminha ao lado de Abedam para o cume, onde o Sol projeta seus primeiros raios para toda a região. Imediatamente Adão se vira para Abedam e diz: “Querido Pai, não conviria cantarmos a habitual saudação do Sol, a qual sempre me confortou?”
Retruca Abedam: “Adão, porventura ainda Me desconheces? A quem pretendes honrar com tua saudação? A Mim por certo que não, pois que utilidade teria se Me encontro em vosso meio e não exijo que alguém viesse cantarolar tal canção?
Se quiseres, em Minha Presença, praticar um ato de idolatria com o Sol, poderás fazê-lo caso julgares ser ele mais importante que Eu. Pergunto apenas: que espírito será levado por ti para todos os descen- dentes? Não basta terem eles recebido por ti a morte física para sempre? Pretendes acrescentar a esta a morte eterna do espírito?
Tolo, por acaso não sou Eu mais que o Sol que Eu poderia des- truir com o mais leve hálito e criar em seu lugar milhares de outros? A fim de que vejas, não obstante tua tolice endurecida, até onde vai tua incoerência, olha para o alto e escolhe, dos milhares de sóis, aquele que pretendias venerar.”
Adão e os demais se apavoram, pois o Céu está semeado de mi- lhões de sóis, todos iguais. Totalmente ofuscado pela luz fortíssima, eles imploram a Abedam o afastamento de tão grande número de astros, e Adão se atira ao solo e Me pede perdão pela sua grande tolice.
Abedam manda que se levantem e diz para Adão: “Ergue-te e paga tua tolice com uma constante visão enfraquecida que te acompa- nhará até o fim de teus dias. — Tu, Meu querido irmão Seth, ordena o afastamento dos sóis, com exceção de um que ficará em sua ordem anterior.”
Seth ergue suas mãos para o alto e diz diante de todos: “Em Nome Daquele Que caminha entre nós e é Senhor de todas as coisas e criaturas, Deus, Zebaoth, digo-vos: Ele quer que vos desfaçais, com exceção de um que sempre iluminou a Terra.” E assim se dá. Quando
Adão percebe que sua visão não permite ver ao longe, começa a chorar porque não seria mais capaz de supervisionar todos os filhos.
Abedam então lhe diz: “Não te prendas à luz da matéria e do mundo que cega o espírito. É preferível ter olhos cegos do que um espírito cego, e convém cuidares que teu espírito se torne vidente pelo verdadeiro amor e humildade, e então poderás dispensar a vi- são física.
Fiz isto como grande prova de amor, para te exercitares na pa- ciência, evitando te tornares uma presa daquele que hoje te despertou através de seu Sol malvado. Além do mais, também é melhor se ver os filhos de perto do que de longe, e para tanto tua visão ainda é suficien- te. — Agora, saciai-vos com o que foi abençoado por Mim, e tu, Meu caro irmão Seth, serve teu velho genitor. A ordem da ceia de ontem será também respeitada pelo desjejum de hoje.”
96.ASPAVOROSASAPARIÇÕESDURANTEO DESJEJUM
Durante o repasto, do qual o grande Abedam também partici- pa, ouve-se grande gritaria partindo do Sul e várias colunas de fumaça sobem nas planícies. Todos ficam estarrecidos, sem saberem o que de- duzir daí, inclusive Seth e Henoch. Adão, apavorado, corre junto de Abedam e pergunta: “Santo Pai, que vem a ser isto? Nem bem minha alma se acalmou e eis que surge outro espetáculo, pior que tudo até en- tão ocorrido. Orienta-nos a respeito do causador desta gritaria e quais suas consequências.”
Continuando ao lado do cesto de provimentos, Abedam retruca: “Que farás se Eu te disser claramente a origem, a causa e seu efeito? Nada mais do que o que estás fazendo. Se tivesses um pouco de com- preensão, farias o mesmo que Eu, quer dizer, continuarias te alimentan- do e Me amando em teu coração.
Quem a Meu lado se preocupa e se aflige é responsável pelas tempestades que em seu íntimo começam a rugir, e uma montanha após outra cheia de confiança em Minha Onipotência e Amor começa a ser dizimada em seu coração. Portanto, é bem feito que tua alma se
inquiete, porque ainda não acreditas inteiramente que todas as coisas estão sujeitas exclusivamente a Mim.
Qual foi o prejuízo que tu ou algum outro teve em virtude de todas as grandes ocorrências que se deram durante a Minha Presença neste cume, desde sábado? Se todos passaram ilesos, por que te apavoras agora? Volta para o teu lugar e continua o desjejum. Quando vires Eu Me levantar, poderás fazer o mesmo.”
Adão obedece sem hesitar, mas a refeição não lhe agrada e ele pensa no íntimo: “Meu Deus e Senhor, tens razão em tudo e a culpa de minha preocupação cabe somente a mim, pois venha o que vier, Tu nos salvarás. Ainda assim, eu e muitos outros passamos sempre por grandes pavores. Por que me apavoro sem motivo e de que adianta o medo? No entanto, sinto medo neste momento, embora saiba que nenhum cabelo nos será tirado.
Talvez me apavore por sentir medo diante do medo de meu co- ração? Como é possível se sentir medo do medo? Mas, se sinto medo de algo, este medo é um mal simples e não duplo. Se o Senhor sempre nos salva diante daquilo que nos apavora, por que então permite que caiamos no pavor? Seria o mal subsequente, sem o medo anterior, talvez melhor que o próprio medo? Em suma, não consigo descobrir a finalidade do medo de qualquer mal. Por isso, o grande Salvador de todos os males nos poderia libertar do medo e ao menos demonstrar o que seja e de que serve.”
Enquanto Adão assim confabula, Abedam se levanta, chama Seth e Henoch, falando-lhes em segredo. Isto irrita Adão, mas quando os dois se encaminham em direção ao Sul, ele não se contém de protes- to íntimo. Naturalmente, não se atreve a falar, mas no seu coração as cores se tornam mais vivas de medo e curiosidade. Abedam faz como se não o percebesse e manda chamar Garbiel e Besediel.
97.GARBIELEBESEDIELSÃOCONVOCADOS PARA
ESCREVEREMDOISLIVROS:“ASGUERRASDEJEHOVAH” E“OAMOREASABEDORIADE JEHOVAH”
Conquanto ambos também receassem a crescente gritaria das criaturas do Sul, todo temor desaparece diante de Abedam, de sorte a estarem preparados a ouvir e falar. Por isto, Ele lhes dirige as seguintes palavras: “A folha de que vos falei há tempos, traçada com os desenhos e a arca também escrita que navega sobre as águas, significam que vós e mais alguns designados para tanto deveis desenhar aqueles sinais que correspondem a palavras, coisas e ações, em quadros de pedra ou em grandes folhas de papiro. Usareis um instrumento pontudo feito de metal pelos irmãos de Lamech, e explicareis tais sinais aos filhos, irmãos e pais, de sorte que em breve todos os entenderão, tendo a maior paci- ência com os menos compreensivos.
Vosso espírito vos ensinará como formar uma palavra, pois cada palavra é formada de vários sinais, escritos da direita para a esquerda, segundo a ordem da palavra. Uma vez formada, a palavra não deverá ser alterada a fim de que os descendentes também as possam ler. Além disto, dou-vos um Mandamento, segundo o qual os sinais de uma pala- vra devem ser considerados como santos. Quem pretender modificar os sinais e a maneira de formar as palavras será olhado por Mim com ira.
Agora vem a questão mais importante, e deve ser obedecida com o máximo rigor: O que deveis anotar e quando deveis fazê-lo. Quanto ao primeiro ponto, deve tu, Garbiel, anotar toda a história da criação original dos espíritos, das coisas visíveis e as Minhas organizações de Amor e Misericórdia até o ponto final de Minha Presença entre vós.
Escreverás sempre que Eu te convocar em espírito, mas não de- ves te preocupar com o assunto, pois Eu, que ora te transmito esta tarefa, falar-te-ei e guiarei tua mão para que não faças um traço ou um ponto a mais ou a menos. Sempre que Eu te chamar audivelmente den- tro de ti, deves incontinenti estar preparado para obedecer.
Mas, quando não fores chamado por Mim no coração, nada deves anotar, mas ensinar a todos, inclusive as mulheres; todavia, ensi-
narás mais a ler que a escrever, e naturalmente fiscalizarás os copiadores. Eles hão de copiar as Minhas Mensagens, milhares de vezes, para que toda tribo venha a possuir as mesmas anotações para seus descendentes.
O que acabo de revelar a Garbiel, também tu, Besediel, hás de considerar até o ponto final. Garbiel fará o relato do formidávelpassa-doe tu farás a descrição do grandefuturo, sob a orientação de Henoch.
Garbiel receberá a revelação diretamente de Mim, pois o passa- do deve ser aberto a todos. Tu a receberás indiretamente de Henoch, como prova de que ofuturodevepermanecersempremaisocultoque o passado. Será elaborado um Livro do Passado sob o título ‘Con- tenda, Ira e Guerra de Jehovah’, e um Livro do Futuro chamado ‘AmoreSabedoriadeJehovah,oGrandeDeus’. Recebei Minha Bênção para vos capacitardes para a missão dada por Mim.”
Depois que ambos haviam agradecido por esta Graça, eis que se aproximam Seth e Henoch a fim de cientificar o curioso Adão do que entrementes ocorreu nas planícies. Foi este o motivo pelo qual Abedam os havia mandado para lá, pois Adão devia receber nova orientação para a vida, bem como seus filhos.
98.CRUELDADESPRATICADASNOSULPELOSFILHOSDAS PLANÍCIES
Não demora, os dois se postam diante de Adão, temeroso e curioso, perguntando a respeito dos acontecimentos. Henoch diz: “Como eu e Seth assistimos o mesmo, só podemos fazer relato igual. Sendo impossível que falemos ao mesmo tempo, pergunto quem de nós deve contar as pavorosas cenas e horríveis maldições proferidas contra ti e Deus?”
Profundamente assustado, Adão não consegue proferir palavra, levando Henoch a repetir sua pergunta. Com impetuosidade, Adão se decide por Henoch, que começa a contar: “Estás a par que Lamech tentou ontem efetuar um ataque furioso para nos assaltar em nossas alturas. No entanto, foi rechaçado por nosso Santo Pai.
A serpente não encontrando paz e sossego, aproveitou a noi- te espetacularmente iluminada, incendiando vários pontos nas matas. Com isto, todas as feras, nossos vigias, foram enxotadas e incontáveiscriaturas pequenas, de cabelos negros, e quase totalmente desnu-das, subiram as encostas. Lá se acamparam e se apoderam de tudo: fru- tos, animais e utensílios, fazendo-se passar por donos das moradas dos filhos do Sul. Existe também grande número de mulheres e crianças.
Enquanto nós dois estávamos observando o quadro, o chefe ex- pediu alguns mensageiros após a seguinte ordem: ‘Procurai por todos os cantos para descobrir a corja nefasta do monstro chamado Adão e seu paradeiro. Deveis assassinar a todos e cortar-lhes as orelhas como prova de vossa fidelidade.
Mas, se encontrardes o próprio monstro, trazei-o aqui para que eu possa saciar minha vingança em suas vísceras pela maldição sobre Caim, nosso ancestral.
Além disto, consta que o antigo Deus Jehovah Se encontra em meio deles completamente vencido pelo espírito de Lamech. Quem trouxer este personagem à minha presença será vice-rei de Farak e rece- berá como dote mil mulheres formidáveis. Eu mesmo quero amordaçar esse Jehovah e entregá-lo ao grande Lamech para que lhe seja feita jus- tiça conforme costuma fazer em nome dele.
Se porventura descobrirdes Noêmia, filha de nosso grande deus Lamech, e suas duas mulheres, deveis trazê-las incólumes. Seus maridos devem ser estrangulados com a máxima crueldade, suas cabeças corta- das e aqui apresentadas para prova de seu extermínio.
Encontrando ainda as trinta concubinas raptadas, do grande deus Lamech, também devem ser transportadas aqui e vossa recompen- sa não será pequena. Ai de vós se voltardes de mãos vazias! Vistes hoje como Lamech, num momento, encheu o céu de sóis e em seguida os fez desaparecer. Considerai de quem sois servos e em seu nome as próprias montanhas recuarão.’ — Vê, Adão, tais coisas vimos e assistimos, mas entre nós Se encontra o Santo e Amoroso Pai em Abedam. Por isto deve ser afastado todo o medo e pavor de nosso coração.”
Tomado de ira incontida, Adão se propõe a pronunciar a pior maldição contra seus inimigos. Abedam o contém, dizendo: “Por que fazes isto? Eu sou o Senhor; Se Eu nada disto faço, por que devias tu fazê-lo? Se as vagas subirem até aqui, seremos pescadores para vermos se conseguimos pescar esses infelizes nas redes da vida. Isto será pior para Lamech que mil maldições diante das quais nem um pardal se assustará. Em verdade te digo: Ainda hoje hás de abençoar todos os que pretendia amaldiçoar. Volta ao teu lugar. Kisehel e Sethlahem, ide incontinenti, providos de poder e força, ao chefe de Lamech e transmi- ti-lhe Minha Vontade.”
99. O EXÉRCITO DAS PLANÍCIES
Os dois escolhidos atravessam a gruta de Adão a fim de alcan- çarem mais depressa seu destino. Quando já estavam longe da mesma descobrem os espiões dos chefes de Lamech que gritam para as senti- nelas mais próximas: “Transmiti rapidamente ao chefe de nosso grande deus Lamech, que neste momento se aproximam de nosso posto dois homens de tamanho excepcional. Não sabemos como agir. Devemos enfrentá-los ou convém deixá-los avançar? Parecem sumamente fortes, pois a cada passo o solo estremece.”
Após alguma reflexão, o chefe ordena que deixassem passar os dois homens e em seguida deviam prendê-los. Como estes não reagis- sem diante de uma multidão armada de lanças, pois não tinham arma alguma, são levados como prisioneiros e, além disto, tratados com os seguintes ataques: “Como estão passando os monstros Adão e Jehovah? Por que tremeis tanto diante de nós que somos pequenos, todavia vosso medo faz tremer o solo?
Não há motivo para tanto. Nenhum mal vos sucederá, a não ser o decepamento sucessivo de vossos dedos, mãos e pés. Em seguida, serão arrancados o nariz, os olhos, a língua, as orelhas e finalmente a ca- beça toda. Isto será feito com grande lentidão para poderdes recuperar o ânimo entre um e outro sofrimento. Sabendo que durará apenas três dias, o pavor não se justifica.”
A estas palavras, um deles tenta um ataque contra Kisehel, mas a lança ainda não tinha tocado o braço deste, quando um fogo súbito se desprende do braço e reduz a cinzas a lança e o próprio atacante. Este fenômeno provoca tamanho susto a ponto que todos debandam em fuga e teriam tomado a direção da planície se não fossem impedidos por alguns tigres enormes.
Três dos guias correm depressa para junto do chefe, contam apa- vorados o acontecimento e aconselham não tocar-se naqueles persona- gens produtores de fogo. Este relato impõe grande respeito ao chefe das tropas, de sorte que se atira ao solo com a aproximação dos emissários do Sul e diz: “Sede bem-vindos, mensageiros de um deus certamente maior que nosso miserável deus Lamech. Seria possível cientificar-me a quem obedeceis, caminhando com vossos pés santificados diante de minha monstruosidade?”
Em vez de responder a tão ridícula pergunta, Kisehel diz: “Hora- dal, é da Vontade do Senhor que te levantes e nos acompanhes com teu exército ao monte bendito, para confessares teu delito diante do Deus Vivo e Visível, e diante de Adão, primeiro homem criado por Deus.”
O convite atira Horadal ao desespero, não podendo responder. Sethlahem se aproxima, pega de sua mão e diz com calma: “Horadal, por que temes ressuscitar, se há tanto tempo caminhaste, sem medo, na morte? Em Nome Daquele Que nos enviou, afirmo que Seu Amor é maior que a ira de Lamech. Faze o que meu irmão exigiu.” A estas pala- vras, Horadal se encoraja para seguir, com todo seu exército, a Kisehel e Sethlahem.
100.AMOREGRAÇADIVINOSDIRIGIDOSAHORADAL,CHEFEDAS PLANÍCIES
Quando os três se encontram no cume da montanha, Abedam chama Adão, Seth e Henoch dizendo: “Kisehel e Sethlahem acabam de encher suas redes com vários peixes, incluindo aqueles para quem o chefe havia dado ordem tão infame. Assim sendo, vamos recebê-los com vida.”
Como Horadal notasse que quatro homens fortes deles se apro- ximam, dirige-se para Sethlahem perguntando: “Quem são estes, cujo aspecto traduz algo excepcional?” — O outro lhe aconselha paciência, pois tão logo estivessem presentes, um novo Sol haveria de revelar sua identidade.
Assim foi. Dentro em poucos instantes, Abedam ergue Sua Mão poderosa, demonstrando não poderem avançar mais. Kisehel e Sethlahem se ajoelham diante Dele e agradecem pela ajuda com relação ao cumprimento da Sua Vontade. Abedam lhes diz: “Deste modo de- veis sempre vencer em Meu Nome, ao Qual todas as coisas em Céus e Terra são submissas. Quem caminha em Meu Nome tem todo o Poder e Força, pois não existem outros que se comparem com Ele. Permanecei neste Nome, que tereis Poder e Força para sempre.”
A estas Palavras, também Horadal se atira ao solo tomado de máximo respeito, a ponto de pensar: “Assisti ao poder dos dois mensa- geiros, enquanto se prosternam diante deste homem agradecendo-lhe por tal Poder. Quão poderoso não será Ele, se apenas em Seu Nome tudo é submisso em Céus e Terra! Portanto, não convém ao fraco ficar de pé e hei de me humilhar até o dedo mindinho.”
Neste instante, Abedam Se aproxima Dele e diz: “Horadal, le- vanta-te e olha diante de ti o antigo monstro, primeiro homem desta Terra e pai de Caim e Abel. Em seguida, olha para Mim, teu Deus completamente vencido, conforme afirmaste.”
Apavorado, Horadal grita para seu exército: “Atirai-vos ao solo, pois estamos diante do Único Deus Verdadeiro ao Qual pedía- mos quando crianças. A Ele somente compete todo o respeito, vene- ração e honra.
Ó miserável Lamech! Eu, seu assecla e chefe supremo que o divi- nizava por simples política, lhe aconselhava todas as crueldades e agora estava prestes a tirá-lo do trono e tomar a mim todo o Poder — eu, monstro de todos os monstros — me encontro diante de Deus Verda- deiro. Deus, todo Poderoso, extermina este monstro da Terra, pois ela, que ora Te carrega, é por demais santa para suportar-me.”
101.HENOCHORIENTAHORADALESEU EXÉRCITO
Abedam chama Henoch de lado e lhe diz: “Essas criaturas per- turbadas não estão em condições de ouvir e assimilar Palavras Minhas, porque seus espíritos pertencem à serpente, e Elas teriam efeito mortal. Fala tu em Meu Nome e transmite-lhes Minha Vontade à medida que Esta se fará ouvir em ti. Só depois Eu lhes direi três Palavras, para a vida ou para morte.”
Imediatamente Henoch se dirige para Horadal, dizendo: “Presta atenção e guarda em teu coração aquilo que ouvirás de mim. Não são palavras minhas, mas exclusivamente Daquele Que Se encontra entre nós e me ordenou falar-te.
Tua vida atual é uma vida de mentira e maldade, ou seja, a ma- nifestação do espírito orgulhoso, renitente, que jamais se dispõe a voltar para seu Criador. Prefere mentir a si próprio como sendo ele mesmo o mais poderoso espírito de todos, enquanto é mais fraco que uma mosca e não possui força além da mentira na qual é verdadeiro mestre.
Tal vida não é vida, mas a morte total. Esta não pode subsistir quando atingida pela Voz de Deus, pois perece tanto quanto a mentira na luz da verdade. Enquanto a mentira não for trazida à luz, ela existe como se fosse algo em sua ilusão. Mas, na luz da verdade, deixa de exis- tir como se nunca tivesse sido.
A Palavra de Deus partindo de Sua Boca é a luz mais elevada. Se fosse dirigida a ti em sua potência, que és pura mentira, que seria de ti? A fim de que percebas a grandeza do Amor de Jehovah, Ele me escolheu para que falasse contigo.
Seu imenso Amor chega ao ponto de poupar a mentira retraindo Sua poderosa Luz, fazendo com que Ela volte muito fraca para que a mentira, caso aceite os raios de Sua Luz, possa ingressar numa vida ver- dadeira. Ela então se torna cada vez mais capacitada de aceitar esta Luz e finalmente consegue resistir em sua plenitude para penetrar em Seu infinito Amor. Eis que se torna uma criatura nova de amor, podendo assim receber a filiação dos Céus e, no final, de Deus.
Estas Palavras são justamente tais faíscas em retorno, e se tu as quiseres aceitar dar-se-á contigo o que acabo de explicar. Se insistires na mentira, digo-te em Nome Daquele Que agora é nosso Pai: Ele, Senhor de Céus e Terra, Deus de Eternidade, veio e virá com muitos de Seus anjos a fim de estabelecer um julgamento com Sua Luz sobre a mentira, e para punir todos os ímpios por causa de suas obras profanas, sua dure- za e as blasfêmias que tais criaturas proferiram contra Ele.
Que vem a ser um ímpio? Todo aquele que leva uma vida de mentiras. A Verdade é a Luz divina que não existe na mentira. Mas, quem vive de mentiras, para este toda verdade se torna um julgamento mortal, portanto é ímpio como tu e todos os teus asseclas. Estes foram ameaçados por Deus com um julgamento irremediável, pois nem sem- pre Ele conterá Sua Luz para poupar os pecadores.
Se Ele vier com Sua Luz — em que situação se encontrará o pecador cuja natureza é mentira total?
Ergue-te, convoca teu povo de mentiras e procura juntar em todos vós faíscas de Luz. Atirai para longe as armas da mentira, cobri-
-vos com a veste do remorso e verdadeira humildade para perceberdes o que é feito pelo imenso Amor de Deus, antes que Ele projete a Luz infinita na qual todos os pensamentos se tornam visíveis.
Parti para o Norte, e que nenhum de vós procure rever a cida- de de Hanoch. O Senhor já providenciou uma terra para vós na qual haveis de passar uma vida do verdadeiro retorno para Ele. Cumpre pela primeira vez a Vontade de Deus Verdadeiro, que depois Adão vos aben- çoará para poderdes partir.”
102.OSHABITANTESDASPLANÍCIES,PRISIONEIROSDAGRAÇAEMISERICÓRDIA DIVINAS
Sem perda de tempo, Horadal transmite às suas tropas o que lhe fora dito, e todos, inclusive suas famílias, se regozijam com a trans- formação de seu chefe, louvando o Criador Que amainara seu cora- ção. Apenas alguns que haviam deixado os familiares nas planícies não sabem como agir, mas Horadal lhes responde: “Encontramo-nos nas
Mãos do Todo Poderoso, portanto, nada temos que temer senão o cum- primento de Sua Vontade Divina.
Se a ordem de Lamech conseguiu fazer com que abandonásseis tudo para encetar uma luta perigosa contra os habitantes das monta- nhas, não resta dúvida que tereis de vos submeter à Vontade de Quem tudo criou. Havendo alguém que insista na descida, que o faça e veja como salva sua pele.
Mesmo que os guardas o deixassem passar, pode estar certo que o raivoso Lamech o tratará pior que um tigre. Podeis escolher à vonta- de. Quem quiser seguir-me para junto dos quatro grandes personagens será atraído pela força deles.”
Entrementes, Abedam Se vira para Henoch e diz: “O povo da Meia-noite assimilou tuas palavras e um servo da serpente transmite Minha Vontade a seus filhos. Este milagre é maior que todos por nós conseguidos aqui. Por isto, aceitarei a ninhada da serpente como se fossem Meus filhos; e os que haviam deixado suas famílias nas planícies hão de encontrá-las na terra destinada. Lamel já o sabe e está realizando sua tarefa.
Teu discurso, a começar do futuro julgamento até tua pergunta quem é ímpio, será transmitido, palavra por palavra, a todos os povos até o fim de todos os tempos, e teu nome será pronunciado tal qual como hoje pelos últimos filhos da Terra. A grande alegria que Me pro- porcionaste será restituída inúmeras vezes por todo o sempre.”
Em seguida, Abedam Se vira para Adão e diz: “Os filhos de Caim estão prontos para tua bênção. Vamos!” Adão toma a dianteira e conclui: “Agora agiste com justiça, pois digo a todos: Abençoai aqueles que pretendeis amaldiçoar, tornando-vos vencedores sobre vossos ini- migos. Nunca deveis pagar o mal com o mal, como Meus verdadeiros filhos, pois Eu deixo Meu Sol irradiar sua luz sobre justos e injustos. Horadal, ficarás aqui durante o dia e só depois de todos refeitos segui- reis caminho. Mas, antes, levarás três palavras para ti e teu povo, para a vida ou para a morte.”
Em seguida, Abedam Se vira para Seth, dizendo: “Irmão, man- da trazer alimento para esses triplamente necessitados, para poderem seguir caminho totalmente fortalecidos. Com exceção dos asseclas do chefe e suas famílias, nenhuma das milhares de pessoas comeram algo, a não ser capim azedo e algumas raízes amargas. Tenho pena deles, por isto serão saciados. Trata do suprimento dividindo-o em dez cestos, que cuidarei da bênção necessária.”
Seth se apronta para obedecer, mas se admira muito ao ser rece- bido pelos próprios filhos, carregando dez cestos pesados. Parando no meio do caminho, ele cruza as mãos sobre o peito e diz: “Sou muito feliz porque vos adiantastes na tarefa que o Pai mandou que eu execu- tasse. Quem foi o anjo a vos informar a respeito?”
Eles respondem: “Como podes perguntar, pai, se foste tu a nos dar tal ordem, e em seguida subiste até aqui?!” Profundamente comovido, Seth exclama: “Ó Santo Pai Jehovah, que coisas maravilhosas executas com a maior facilidade! Podes dividir a criatura sem que uma parte saiba da outra; no entanto, ambas agem sob orientação de um só espírito. Eis outro mila- gre de nosso Pai Santo e Amantíssimo. Céus e Terra transbordam de Sua Bênção e Graça. Por isso, seja louvado Seu Nome para sempre!”
Neste momento, Abedam já Se encontra ao lado de Seth, dizen- do: “Irmão, os pobres aguardam nossa dádiva. És um homem como o deseja Meu Coração; vamos, portanto, realizar nossa obra de amor. Isto feito, faremos uma declaração de amor, mutuamente.”
Após ter abençoado os cestos, Abedam chama Horadal e lhe diz: “Comei, tu e todos os outros, deste alimento, e o que sobrar pode ser levado para que sejais supridos por hoje. Para o futuro, a Terra vos su- prirá de Meu imenso estoque enquanto permanecerdes sob Meu Man- damento, que levareis para a terra nova.”
Horadal se ajoelha e exclama: “Como meu conhecimento de Ti, meu Deus, foi assimilado por ensinamentos duros e horríveis! Cada fibra se revoltava contra o pior tirano e me vi forçado a amaldiçoar tal deus, tornando-me também um déspota.
Quão diferente és Tu! Em vez de me aniquilar com meu exérci- to, Tu nos ofereces alimento abençoado. Teu Julgamento é suave peran- te nossa infâmia.” Abedam acrescenta: “Alimenta-te primeiro, depois passaremos a palestrar.”
104.AMARQUERDIZER:VIVEREM ESPÍRITO
Horadal agradece ao Senhor pela grande Graça e em seguida se vira para seu povo dizendo: “Irmãos, aceitai de coração reconhecido o alimento dado pelo Pai depois de terdes dividido tudo entre todos. Hei de me satisfazer com qualquer sobra dos cestos.”
A esta ordem, os dez subchefes tomam dos cestos e, após o povo se ter acampado em dez fileiras, distribuem os alimentos de tal modo que o primeiro passava também um vasilhame de água e outro de mel para o vizinho. Isto feito, os distribuidores verificam que os cestos não tinham sido esvaziados nem pela metade. Por isto, pretendem voltar pelas fileiras, todavia observam que todos ainda estavam supridos.
Quando os cestos são levados para junto de Horadal, ele os re- crimina, dizendo: “Se bem que os cestos sejam muito grandes, a mul- tidão conta mais de dez mil pessoas. Quanto recebeu cada um? Podia estar satisfeito segundo a Vontade do Senhor?”
Um dos subchefes retruca com respeito: “Se quiseres te cienti- ficar do milagre, basta observares que todas as fileiras estão fartamente supridas e poderás exclamar: Tais coisas são apenas possíveis a Deus; por isto, Lhe rendemos todo louvor, honra e respeito.”
Diz Horadal: “Senhor, a única coisa consciente que possuo é esta minha vida inteiramente sem valor perante Ti; se fosse de Teu Agrado, desejaria oferecê-la a Ti, como gratidão para este pobre povo.” Com estas palavras, se atira chorando ao solo.
Ouvindo isto, Abedam cobre Seus Olhos para ocultar uma lá- grima de Misericórdia e só passado algum tempo Ele toca o ombro de Horadal e diz: “Levanta-te, pois acabo de te relevar toda culpa.”
Suspirando profundamente, Horadal se enche de coragem e diz: “Senhor, não Te aborreças comigo, pobre pecador, se Te peço permis-
são para amar-Te com meu povo. Minha razão me diz que somente os corações puros podem amar Deus; no entanto, meu coração protesta contra esta objeção.”
Responde Abedam: “Já o fazes, por isto sê abençoado por Mim. Em troca, te digo as três palavras prometidas: Ama, amae ama , que vive- rás eternamente em espírito, morrendo para o mundo. Já morreste para o mundo; portanto, ama, amae amaa Mim, teu Santo Pai, para sempre.”
105.ADÃO FALA A RESPEITO DA NATUREZA DE SATANÁS E DOAMORAO SEXO
Obedecendo a uma ordem silenciosa de Abedam, Adão se di- rige para Horadal: “Levanta-te segundo a Vontade de Jehovah e presta atenção. Nas tuas veias, bem como nas de teu povo, nas de meus filhos nas montanhas corre só meu sangue, porque fui criado por Deus como primeiro homem da Terra, assim como minha mulher, surgida de mim para ser a primeira genitora de toda a humanidade.
Devem as criaturas ter um só pai e uma só mãe, físicos, bem como Um Só Deus, Um Criador e Um Pai Eterno e Santo. Se isto con- sideras, podes calcular quão brutal foi tua blasfêmia ao me classificares de monstro, e a Deus — nosso Pai e Criador Onipotente — de um Deus velho, fraco e decrépito.
Como foi possível que os descendentes de Caim caíssem em tal cegueira e maldade? Assimila o que te direi. Quando Caim, meu pri- meiro filho, matou seu irmão Abel, por inveja, ação esta inspirada pela serpente ou Satanás, que habita na carne de todas as criaturas e em toda a matéria — ele foi julgado por Deus e não teve mais paz, nem de dia, nem à noite. A Terra lhe parecia pequena e o firmamento muito baixo, a ponto de não poder nem mais respirar.
Chorou desesperadamente e tanto se enraiveceu contra a serpen- te que lhe jurou eterna inimizade. Ela então o procurou e fez todas as tentativas para reconquistá-lo. Caim, porém, percebeu que ele se tor- nara mestre da serpente, porquanto ela nada conseguia nem ao menos na figura de Abel.
Ciente de que Caim era possuído pelas fraquezas carnais, a ser- pente de pronto tomou a figura de uma linda mulher e se aproximou dele com castidade virginal e ele ficou incapaz de desviar os olhos da- quelas formas voluptuosas. Tarde demais reconheceu a armadilha, pois ele mesmo testificou para todos os descendentes que ela haveria de ven- cer, com o tempo, inclusive os filhos de Deus.
Percebes agora onde te encontras espiritualmente? Todos vós sois servos da carne, e como a carne de Caim tentou-o, também fostes tentados. A serpente dotou vossas filhas com os mais belos físicos e não há quem lhes resista. Por isto instituístes a poligamia, contra a Ordem Divina, segundo a qual eu sou homem e Eva a mulher, através do infi- nito Amor Daquele Que ainda Se encontra em nosso meio e acabou de te ordenar o amor, por três vezes. Todoamorcarnaldevepassarparaa vida da alma; e esta vida deve ingressar no espírito; e finalmente,todamanifestaçãodoamorfísico,psíquicoeespiritualdevevol-tara Deus.
Como seria isto possível se alimentais a poligamia? Persistindo neste poder carnal, permanecereis também nas blasfêmias, como ficou provado. Se a Ordem Divina concede ao homem apenas umamulher, para que sua luta seja mais simples e ele possa vencer seu inimigo a sol- do da volúpia de Caim — como pretendeis vencê-lo quando vos atirais em seus braços fortes?
Renunciai à poligamia e voltai para a antiga Ordem Divina, que haveis de vencer a morte que reside em vossa carne como serpente, e Satanás que não queria voltar voltará para mim, pois separou-se de minha carne e agora vive sua própria vida, como antigo príncipe de toda mentira. Deves considerar isto, Horadal, caso pretendas chegar à vida verdadeira como vitorioso. Leva esta revelação contigo, para o país destinado pelo Senhor, e deste modo as três palavras santas te servirão para a vida.”
A uma ordem interna, eis que Henoch se dirige para Horadal dizendo: “É da Vontade do Senhor que tu e teus companheiros vos alimenteis, para em seguida partirdes sob orientação daqueles dois ho- mens fortes. Haveis de reconhecer o ponto final da marcha quando en- contrardes vossas companheiras que deixastes em Hanoch e que foram designadas como prova de fidelidade para Lamech.”
Enquanto este grupo se entrega à refeição, Abedam diz para Adão: “Teu ensinamento paternal para esses pobres não deixa de ser bom; no entanto, há algo a ser retificado com relação à poligamia. Estás plenamente certo apresentando a poligamia contrária à Minha Ordem e ser ela o conceito sempre válido para a serpente e a morte.
É preciso considerares o que seja melhor para os praticantes se cada um — especialmente os chefes — tomou a si no mínimo dez mulheres: convém separá-los, deixando-lhes somente uma, ou deixá-los como são? Se um deles abandona nove ficando só com uma, que farão as mesmas com seus filhos, e que hão de sentir seus corações?
Se em caso contrário ele ficar com todas e zelar pelo coração também da prole, e as mulheres chegarem a nos conhecer e que, não obstante a verdadeira ordem, deixamos que continuem em sua atual situação, hão de reconhecer nossa grande misericórdia e amor.
Afirmo-te, para filhos do mundo muito sensuais, é preferível praticarem a poligamia em vez de caírem na prostituição, violação ou pederastia. Digo mais: a poligamia é melhor que o concubinato em que se desconsidera a fecundação, mas simplesmente a satisfação carnal, mormente quando ela já se encontra em visível estado de gestação.
Quem possui dez ou mais mulheres quase sempre gera um filho quando procura contato com o sexo o oposto. Fazendo-o sem este fito, não só deixa de gerar um fruto, como também as vezes prejudica o feto e finalmente provoca a esterilidade dela.
Se este fato, como sabes, já ocorreu aos filhos das montanhas que surgiram de Mim e de Minha Graça, quanto mais não é o caso com os surgidos de Meu Julgamento. Opina tu mesmo o que seria
preferível, no momento, para os filhos das planícies. Conquanto não pretenda instituir a poligamia, principalmente entre vós, quero que transmitas isto aos habitantes das planícies. Podes acrescentar que não devem educar sua prole para a poligamia, mas como o exige Minha verdadeira Ordem.”
107.SEGREDOERELATODE HORADAL
Após Adão ter orientado Horadal a respeito da Vontade do Senhor com relação à poligamia, este pede permissão para fazer uma confissão. Uma vez obtida, ele diz: “Revelarei um grande segredo de meu coração, tão oculto que nem a serpente conseguiu até hoje nem ao menos supor. Eis que chegou o momento oportuno para falar.
Em tempos de Hanoch, Deus aprouve inspirar um irmão dele a fim de que desse conhecimento ao povo da existência de Deus Ver- dadeiro. Sua doutrina se manteve pura até Lamech, e eu e mais alguns outros fomos bem instruídos.
Quando Lamech resolveu estabelecer uma união com a serpente e por meio de Tatahar mandou executar os inspirados irmãos daquele, também a doutrina fora abatida. Como desde menino sempre fui ami- go de Lamech, é claro que ele me fizesse nomear conselheiro sem que ninguém algo soubesse.
No começo procurei despertar nele a doutrina de Farak que fora inspirada pelo Senhor. Mas era inútil alcançar algo neste sentido, pois a serpente o havia prendido de tal forma que nem as importantes Palavras de Deus, que ele logo em seguida ouvira quando matou seus irmãos, produziram a menor impressão.
Ao participar-me isto, não deixei passar a oportunidade para ad- moestá-lo seriamente no sentido de voltar-se para Deus que lhe fora tão magnânimo. Revoltado, ele me declarou: ‘Horadal, até então foste meu amigo. Como deus e rei, advirto-te pela última vez que silencies para sempre a respeito de teu deus. Se quebrares esta promessa, sofrerás o mesmo que meus irmãos que pretendiam divulgar o teu deus descon- siderando ser eu mesmo o único deus poderoso.
Renuncia diante do povo ao teu deus velho e ridículo, para mi- nha e a tua justificativa, e reconhece em mim o deus unicamente verda- deiro, justo, inclemente e poderoso. Se isto não fizeres, serás estraçalha- do diante de todos. Vai e executa a minha vontade.’
Ocultando no meu íntimo a doutrina de Farak, aceitei a figura mistificadora da máxima crueldade e ensinei ao povo a vontade de La- mech. Percebendo que em mim contava um servo fiel, ele em breve pas- sou-me todo o poder de rei, enquanto ele continuava deus para todos.
Quando a serpente descobriu minha servilidade para com La- mech, e não podendo perceber o que eu ocultava no coração, uniu-se a mim na figura de uma encantadora mulher e eu jurei pró-forma fa- zer tudo que agradasse a ela e a Lamech. Satisfeita, ela me fez grandes promessas.
Quando ela me deixou, jurei no íntimo: ‘Serpente, Satã astu- ciosa, conquanto sempre ages com grande sagacidade, hás de sentir em breve o Poder Daquele Que ora tenho que manter oculto. Isto juro por Deus, Único e Verdadeiro.’
Em seguida, pedi ao Senhor que não revelasse minha intenção secreta nem ao mais puro anjo, e Ele me atendeu e sempre me inspirou as atitudes a tomar em cada situação de meu ofício na corte. Deste modo me tornei um instrumento cruel nas Mãos de Deus e pratiquei todas as crueldades possíveis, pelo suposto poder de Lamech. Fui eu quem aconselhou uma verdadeira guerra contra Deus quando meu ir- mão Meduhed conduzia um grande povo. Sabia perfeitamente o desti- no que aguardava o maldoso Tatahar.
Fui eu quem mandou praticar a segunda vingança em Deus aos poucos homens que voltavam, porquanto estava ciente dos Planos de Deus. Aconselhei Lamech que proibisse a fala ao povo, sob pena de morte, e que ninguém se atrevesse a pronunciar, nem mesmo pensasse o nome santo do deus Lamech. Por que fiz isto? Para evitar que os co- rações ainda puros fossem ultrajados pelo maior vilipêndio de Lamech, pois ao mundo nada se pode pregar.
Muitos foram executados com minha ordem, pois meu Orien- tador secreto me dizia: A serpente já abriu sua boca sobre estes e Eu os
tornei insensíveis. Extermina-os a fim de que ela não venha a suspeitar de ti. Praguejei contra Deus dez vezes mais que Lamech e lhe aconselhei de enterrar o nome de Jehovah sob os excrementos do povo.
E por que? Para salvar este Nome. É preferível enterrá-Lo sob o excremento da pobreza, que ainda é o mais puro na planície, do que vê-Lo exposto às piores blasfêmias. Este foi o motivo de minhas ações. E quando chegou o tempo, tomei a mim o poder e trouxe a pobre- za quase total, como dirigente sem clemência de Lamech, e até este momento ninguém sabia qual a intenção que me levava para todos os pontos e até aqui.
Agora aprouve a Deus que me desfaça de minha máscara dura e me revelo com toda a fidelidade que sempre existiu oculta dentro de mim. Também praguejei contra ti e contra Deus perante o povo. Como estás ciente do motivo, certamente me perdoarás. Quanto à poligamia, podes ficar descansado, pois saberemos cumprir perfeitamente a Von- tade de Deus.”
108.PREJUÍZODAMALDIÇÃOEDA IRA
Diante das palavras de Horadal, Adão se comove a tal ponto que não pode pronunciar uma só sílaba. Por isto, Abedam Se aproxima e diz: “Adão, porventura ainda pretendes amaldiçoar esses blasfemadores? Deve o homem evitar ao máximo qualquer julgamento, especialmente quando se trata da maldição paternal, pois quem poderia sondar os Meus Caminhos e Desígnios?
Se alguém amaldiçoa algo cuja base desconhece, quão facilmente poderá amaldiçoar Meu grande Amor, Misericórdia, Paciência, Bonda- de, Graça, Meiguice, enfim, todas as manifestações surgidas da Ordem divina! Se, portanto, alguém praguejou contra esta Ordem, qual seria a bênção futura para seu espírito?
Quais seriam os dotes do homem que não tivesse recebido de Mim, e onde se supriria de algo senão de Meu Amor, Misericórdia e Graça? Como se abasteceria de água, se encheu o poço com terra, pe- dras, areia e cascalho?
Ninguém deve jamais julgar seu irmão, a menos que Eu lhe dê uma ordem especial. Mas, quem o fizer de própria iniciativa, terá pro- nunciado sua sentença mortal por que baniu de si a Vida de toda a vida.
Caso um homem se tenha enraivecido com seu irmão a ponto de querer incendiar a sua casa, mas uma fagulha tocasse fogo em sua própria casa antes de atingir a do outro, a quem caberia a culpa da perda total de seus pertences?
Este quadro ocorre espiritualmente com toda pessoa irada, pois antes que chegue a pronunciar a maldição contra o próximo, já deu motivos de consumir tudo aquilo que Eu lhe havia proporcionado para a vida eterna.
Se alguém pretende amaldiçoar o irmão, deve sempre abenço- á-lo, e assim ambos estarão destinados para a Vida eterna. Se Eu ti- vesse criado tudo para a destruição final, teria agido segundo a Minha Sabedoria? Sou de opinião que nem o maior tolo seria capaz de agir desse modo, muito menos Eu, Deus, Pai Eterno e Sábio de todos os Meus filhos.
Como criei tudo para a eternidade de modo tal que nem um pensamento mais sutil que a criatura mais simples tenha pensado de leve se possa perder, qual seria o motivo de quererdes julgar-vos recipro- camente? Guarda bem, Adão, somente Eu sou verdadeiro Juiz. Tu deves ser um filho verdadeiro, que há de julgar como Eu julgo todas as coisas
não pela maldição, mas com Amor, Misericórdia, Paciência, Bonda- de, Graça e Meiguice. Age como Eu, que terás a Minha Vida eterna.”
109.HORADALRECEBETRÊSGRAÇAS DIVINAS
Em seguida, Abedam Se vira para Horadal, dizendo: “Como guardaste a pequena chama de Farak em teu coração, atravessando to- das as tempestades da tentação da serpente e do mundo, agora vês dian- te de ti um Sol Infinito, Eu, Pai Verdadeiro de todos, que te confere uma grande missão. Serás guia e professor de teu povo, onde ainda se encontram muitos ignorantes, e Minha Palavra Viva em ti fará com que se tornem esclarecidos para sempre.
A partir de agora, não ouvirás de modo sutil a Minha Von- tade em teu coração, mas sim, como neste momento Me dirijo a ti, e saberás Minha Vontade, conquanto não mais Me vejas em Pessoa. Tua fé é grande, Horadal, pois sem prova direta acreditaste que era Eu a te falar.
Para tua pessoa seria dispensável a segunda prova da bênção dos alimentos, pois em teu coração já estavas seguro de Mim, antes que teus olhos vissem Minha Figura e teus ouvidos ouvissem a Voz Paternal. Receberás, como prêmio, três grandes provas, por teres crido ser Eu o Criador e Deus Onipotente, Conservador de todas as coisas e Pai de homens e anjos.
A primeira prova consistirá na realidade de tudo que te garanti e a teu povo no país prometido. A segunda será a transmissão de Minha Palavra, segundo sua força de vontade, Daquele Que ora te revela, pro- mete e dá. Como terceira prova terás Meu Verbo Vivo e a Vida eterna. Recebe Minha Bênção e segue sem demora para teu destino. Os dois mensageiros hão de vos conduzir. Tuas armas ficarão com Adão, pois Meu Amor é mais forte que todo o poder da serpente. Amém.”
110.DESPEDIDADEHORADALESEU POVO
Todos se levantam e Horadal agradece em nome do povo pelas Graças recebidas, pedindo orientação no sentido de fornecer à mul- tidão uma prova especial por esse dia, a fim de se lembrar da grande Bondade de Deus. Abedam então diz: “Horadal, louvo tua intenção de que Meu Nome seja considerado para sempre. No entanto, deves saber que se o povo for bem instruído, encontrará em Minha Criação grande quantidade de recordações de Minha Bondade.
Se o povo for ignorante a ponto de não perceber os sinais que efetuo dia a dia, jamais há de dar importância para qualquer prova fei- ta pela mão humana. Se considera os sinais vivos, para que finalidade serviriam os outros?
Aliás, já te provi de uma grande prova de recordação para ti e a teu povo através de Minha Palavra Viva e de todo Poder e Força de
Meu Nome. Quem quiser participar dela manifestando rigor total no despertar de seu espírito, poderá ser atendido.
Que mais poderia Eu te dar senão aquelas três palavras, e qual seria o lembrete mais sublime e melhor do que o sinal vivo no coração de cada criatura? Continua, portanto, com este, que estarei sempre For- te e Poderoso entre vós como prova de recordação de Mim Mesmo e de todas as ações de Amor praticadas.
Se, no entanto, deixardes apagar a única prova válida para Mim, a recordação também desaparecerá, e os demais sinais sem importância teriam o mesmo efeito que os ventos terrestres que sopram em outros planetas, todavia a Terra nada haveria de sentir.
Ficai todos vós exclusivamente no amor para Comigo, a maior e mais segura recordação do que se ama verdadeiramente. Se ele esfriar, o objeto anteriormente amado, porém esquecido pela frieza de coração, nem milhares de sóis expressamente criados para tal fim conseguirão derreter aquele gelo.
Mas, quem tiver guardado o grande sinal do amor em seu co- ração, para todos os tempos, também continuará no fogo da vida tão indestrutível quanto o próp