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A CRIAÇÃO DE DEUS
Volume III
A CRIAÇÃO DE DEUS — 3 volumes
Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber
Traduzido por Yolanda Linau
Revisado por Paulo G. Juergensen
Direitos de tradução reservados
CopyrightbyYolanda Linau
UNIÃO NEOTEOSÓFICA
Edição 2023
ÍNDICE
A CRUCIFICAÇÃO DO SENHOR E O PRAZO PARA SATÃ 48
IDEIAS ABSURDAS DE KISEHEL E EXPLICAÇÃO LUMINOSA DO SENHOR 63
CONHECIMENTO LIMITADO DO HOMEM. TENDÊNCIA MASCULINA E FEMININA EM DEUS E NO HOMEM. CRIAÇÃO DE LÚCIFER 65
PERIGO DAS METRÓPOLES E DAS MULHERES DAS PLANÍCIES 67
LAMECH VAI AO ENCONTRO DE SEUS FILHOS, ENQUANTO HENOCH O SEGUE. TRÍPLICE SENTIDO PROFÉTICO DA ATITUDE DE HENOCH 79
DA ALMA, E A AVIDEZ DO SABER COMO FOME DO ESPÍRITO 90
A ORDEM INTERNA DA TERRA E DE TODOS OS CORPOS ORGÂNICOS, SÍMBOLO DA ORDEM ESTABELECIDA PELO SENHOR 117
LAMECH CONFESSA SUA TOLICE. A HUMILDADE COMO VERDADEIRA SABEDORIA 127
VISÃO ESPIRITUAL DE LAMECH E SUA INTERPRETAÇÃO REFERENTE À ORIGEM DO HOMEM 128
TRILOGIA EM TODAS AS RELAÇÕES DA VIDA: HUMANO-NATURAL, HUMANO-ESPIRITUAL E HUMANO-DIVINO. A INSONDABILIDADE DOS
O REI LAMECH É CONSAGRADO PARA SUMO SACERDOTE. O SENHOR PROMETE SUA CONSTANTE PRESENÇA NO TEMPLO 136
HENOCH ORDENA A SATANÁS DE MANIFESTAR SUA VERDADEIRA INTENÇÃO 145
A MANEIRA PELA QUAL UM ESPÍRITO PODE FICAR PRESO DENTRO DA MATÉRIA 148
A FORÇA DO HÁBITO E O BENEFÍCIO DAS SACUDIDELAS ESPIRITUAIS 171
PREDIÇÃO DE HENOCH E TENTATIVA DE DEFESA FRUSTRADA DE ADÃO 172
LOCALIZADA NO FÍSICO FEMININO 187
MORTE DE LAMECH E SEU SUCESSOR TUBALKAIN 193
O SURGIR DO MILITARISMO. A MORTE DE TUBALKAIN TERMINA COM O TRONCO DE LAMECH. URANIEL, FILHO DE MUTAEL E PURISTA TORNA-
TUBALKAIN. URANIEL SE UNE A ELAS 195
PORMENORES A RESPEITO DO INSTITUTO DE BELEZA. INÍCIO DO TRÁFICO 198
SANEAMENTO DAS MONTANHAS. LAMECH ACONSELHA AS DEZ MIL MULHERES QUE PARTEM PARA AS PLANÍCIES. PALAVRAS DE CONSOLO
EFEITO DO MELHORAMENTO FÍSICO DAS MULHERES DE HANOCH. INVENÇÃO DO VIDRO E DA MOEDA 201
REGIME DA ARISTOCRACIA SOBRE A ÁSIA. A INFALIBILIDADE DO PAPA CRUEL SOBRE O POVO. MORTE DE URANIEL 206
OPRESSÃO DE HANOCH E DE SEUS POVOS 208
ENCONTRO DE OLAD COM OS NOVENTA E NOVE CONSELHEIROS DE HANOCH 245
NASCE O CONHECIMENTO PRÓPRIO DENTRO DOS NOVENTA E NOVE CONSELHEIROS 253
EFEITO PREJUDICIAL DAS VISITAS SOCIAIS SOBRE ALMA E ESPÍRITO 262
INÍCIO DO PAGANISMO. CISÃO DE OPINIÕES POR INTERESSE PRÓPRIO 267
GOVERNO EM HANOCH ATÉ A MORTE DE OLAD E SEUS DEZ MINISTROS 268
KINKAR, FILHO DE DRONEL, ASSUME O GOVERNO. PERIGO DO NATURALISMO 270
NOSSA SALVAÇÃO” E “A HISTÓRIA SAGRADA DE DEUS” 271
KINKAR, SE TORNA SEU SEGUIDOR 275
NOÉ E SUA FAMÍLIA CONTINUAM FIÉIS AO SENHOR 278
SEGUNDO FILHO DE JAPELL PARA REI 281
CONFERÊNCIA COM OS SACERDOTES. ASTÚCIA CONTRA PERSPICÁCIA 291
OPOSIÇÃO DOS EMISSÁRIOS NA CONQUISTA DAS MONTANHAS DOURADAS 292
EXÉRCITO MONSTRO COM 200.000 CAMELOS E 800.000 BURROS 303
MENSAGEIROS PENITENTES DE NOÉ EM VISITA AOS MORADORES DAS CORDILHEIRAS E AOS HANOCHITAS 307
PLANO ASTUCIOSO DE UM CLÉRIGO CONTRA OS MORADORES DAS CORDILHEIRAS 310
PRIMEIRA INICIATIVA DIPLOMÁTICA COM OS HABITANTES DAS CORDILHEIRAS 311
ASSINATURA DA ATA SANTA. CONDIÇÕES POLÍTICAS E MORAIS. O REI GURAT PARTE PARA HANOCH 322
FRAUDE APLICADA PELO SACERDOTE INCUMBIDO PELO REI DE PARLAMENTAR COM OS REBELDES 326
LIBERDADE DE IMPOSTOS EM HANOCH. VESTÍGIOS DO DESEMPENHO DE GURAT NO TIBETE. OUTRO MENSAGEIRO DE NOÉ PROCURA OS DEZ
CONSTRUIR A ARCA. PRAZO DE VINTE ANOS 347
TODAS AS DEUSAS DO TEMPLO DE VÊNUS 358
DISCURSO MAGISTRAL DE AGLA PARA JUSTIFICAR SUAS AÇÕES CRUÉIS 366
SUSPEITA DE FUNGAR-HELLAN CONTRA AGLA, CUJA BELEZA SAI VENCEDORA 368
MAHAL SE ORIENTA A RESPEITO DAS SITUAÇÕES INFERNAIS EM HANOCH 377
DISCURSO VEEMENTE DE MAHAL E CONJECTURAS INTELECTUAIS DE FUNGAR-HELLAN 379
TERRÍVEL JULGAMENTO DOS MIL CLÉRIGOS NO SALÃO DE BANQUETES 392
PALAVRAS PROVOCADORAS DE FUNGAR-HELLAN DIRIGIDAS A AGLA DENTRO DA GAIOLA 395
OS METALÚRGICOS REJEITAM A DOUTRINAÇÃO DE FUNGAR-HELLAN E MAHAL 410
DESAPARECIMENTO DOS LIBERTOS NA MISTERIOSA ABERTURA DA ROCHA 413
DIÁLOGO ENTRE O SENHOR E MAHAL. CAUSAS NATURAIS DO DILÚVIO 445
CONTINUAÇÃO DA PALESTRA ENTRE O SENHOR E MAHAL. ORIGEM DE SATANÁS E DE SUA MALDADE 447
ANJOS A FUNGAR-HELLAN E AO POVO 454
ÚLTIMA ADVERTÊNCIA FEITA AOS HANOCHITAS E A VOLTA DOS ANJOS PARA AS MONTANHAS 457
PONTO FINAL PARA A ACOLHIDA DAS CRIATURAS À PROCURA DE SALVAÇÃO 458
SENHOR. SURGE A CATÁSTROFE 465
O DILÚVIO, CRIAÇÃO DOS HOMENS TOLOS. O SENHOR EVOCA SATANÁS .467
O ANJO MAHAL É ESPÍRITO PROTETOR DA ARCA. ÁSIA CENTRAL, PONTO PRINCIPAL DO DILÚVIO. O LAGO ARAL E O MAR CÁSPIO,
REMANESCENTES E TUMBA DA METRÓPOLE DE HANOCH 470
A ARCA NO MONTE ARARATE. A POMBA COM A FOLHA DE OLIVEIRA 474
PROVA VISÍVEL DA NOVA UNIÃO. O PAÍS ERIWAN. O SENHOR COMO MELCHISEDEK 477
EXPULSÃO DA FAMÍLIA DE HAM 478
ANEXO – A FORMAÇÃO DA TERRA ANTES DE NOÉ 484
S
eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele
sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”
Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. AoladodaBíblia omundojamaisconheceuObraSemelhante,sendona Alemanha considerada “Obra Cultural”.
ObrasdaNova Revelação
O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes
A Infância de Jesus
O Menino Jesus no Templo
O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim
Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua
A Mosca
Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo
(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)
Mensagens do Pai
As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor
Cenas Admiráveis da Vida de Jesus – 2 volumes
Sol Natural
Volume III
PURISTA,CONSELHEIRADO SENHOR
Como todos começam a temer este Homem tão sábio, com exceção de Henoch e das quatro moças que se sentem muito à von- tade ao lado do Pai, Ele se vira para Purista dizendo: “Querida, que faremos para libertar os tolos de seu temor, fazendo com que Me aceitem como Deus e Pai sem prejuízo de sua livre vontade? Se Me der a conhecer repentinamente, isto lhes custará a própria vida, tal- vez mesmo sua existência total!”
Essa pergunta atira Purista num grande embaraço e ela co- meça a chorar, julgando que o Pai a queira punir com isto. Ele o per- cebe e diz: “Minha filha, vê se dou impressão de querer castigar-te, pois assim como apresento agora Minha Face, sempre o fiz e farei para com os que Me amam. Que me dizes?”
Encorajada, Purista responde: “Sei perfeitamente que não podes Te zangar, mas de minha parte seria mera presunção eu querer Te dar um conselho. Por isso peço que me desobrigues desta tarefa.”
O Pai então diz: “Presta atenção ao que direi. Temes merecer castigo caso Me dês um conselho a um pedido Meu, pois sabes per- feitamente que Minha Sabedoria Eterna e Divina — segundo a qual tudo dirijo a bom termo — jamais necessita de conselho humano.
Se assim é, como se explica que muitas vezes Me pediste algo e Eu sempre te atendi? Que vem a ser um pedido se não um conselho
piedoso pelo qual o pedinte Me mostra o que devo fazer? Porventura ele ignora que o Ser Supremo é sumamente Sábio e Bondoso? Como então se atreve a pedir-Me algo? Não será isto o maior dos pecados?”
Então, as três moças dizem em uníssono: “Oh Senhor, sê Misericordioso para conosco, que somos as piores pecadoras diante de Ti! Diz Ele: se continuardes assim, aumentareis vosso pecado, pois tu, Purista, acabaste de formular um conselho por teu pedido.”
As moças estão de tal modo desesperadas, a soluçarem de dor. Mas o Senhor as abraça, dizendo: “Filhinhas, por acaso estais perdidas se Eu — vosso Criador e Pai — vos carrego na palma da Mão, acariciando-vos como faz a mãe com seu bebê? Se fôsseis peca- doras não haveria possibilidade de permanecerdes Comigo, e como Pai desejo receber conselho de Minhas filhas, admitindo sua ação como se Eu a necessitasse. Isto faço por puro amor, guiando porém seus conselhos e ações de modo tal a atingirem sempre Minha meta. Por isto, Purista, deves aconselhar-Me o que fazer, que executarei imediatamente teu conselho.”
Cobrindo a face do Senhor de beijos, Purista diz: “Permite então que as outras moças venham à minha cozinha e Tu mesmo vem conosco a fim de seres adorado e louvado por todas.” Diz o Pai: “Vamos para lá, pois sou em toda parte o Mesmo Bom Pai!”
HENOCHESCLARECEOS CRÍTICOS
Quando o Senhor, em companhia das quatro moças, passa por Henoch, Ele diz: “Prepara a todos e depois leva-os à cabana. As mulheres devem chegar até a porta enquanto Eu estiver na cabana, com exceção de Eva e destas moças.”
Assim, o Senhor entra com Suas filhinhas amadas e as entre- tém com várias revelações divinas, demonstrando-lhes os caminhos que levam a Vida para Seus filhos e os demais seres. Também lhes re- vela o grande destino do homem e as possíveis investidas de Satanás.
Entrementes, Henoch é abordado por Hored e Lamech que perguntam: “Podes nos dizer quem é o personagem que neste mo-
mento se encontra com as moças da cabana, palestrando contigo como se fosse um velho conhecido? Deves saber de quem se trata. Se a transfiguração de Sehel não foi engano de nossa visão, deve ele pertencer a um mundo superior e gostaríamos de estar informados a respeito.
Desconfiamos tratar-se do Senhor, mas a afirmação de Pu- rista não coincide, pois Ele havia revelado que, caso estivéssemos lá reunidos em completo silêncio, Ele se apresentaria para relatar os acontecimentos nas planícies.
Este homem, porém, veio livremente e, enquanto nos prepa- rávamos para receber o Senhor, ele se entreteve com as moças mais belas. Não nos podemos aborrecer com elas por estarem apaixona- das por ele, mas conclui-se daí não se tratar do Senhor, Fiel em tudo, portanto não Se pode apresentar de modo diferente àquele que se fez anunciar.”
Nesta altura, outros também aderem ao grupo, mas Adão aparteia: “Henoch, este homem me parece estranho e seu compor- tamento com as moças é deveras chocante. O desaparecimento do filho de Seth pode muito bem ter sido um teste do Senhor, deixando que o inimigo da luz nos tentasse.
Pareces conhecê-lo, mas isto não é o bastante para mim, que tenho um grande receio do fogo, qual criança que queimou as mãos. Quanto às quatro moças, provam que a mulher é de fato volúvel; ainda que tenha orado durante dez anos basta que no décimo pri- meiro seja tentada, que ela se atira nos braços do sedutor. Fala com poucas palavras para podermos entrar na cabana onde nos espera o Senhor e assim cortaremos as asas àquele personagem.”
Finalmente Henoch consegue tomar da palavra e diz: “Mo- vestes vossa língua e os pensamentos da alma, mas os corações fica- ram inativos. Segundo me parece esquecestes meu discurso no Sába- do, pois não entendeis a promessa feita a Purista.
O que vem a ser a cabana de Purista, onde o Senhor sem- pre estará à nossa espera? É o nosso coração; e o fogo na cabana é o amor ativo para com Deus. Quem de vós se teria dirigido a
esta cabana e lá teria recebido os irmãos, querendo ser o último e mais simples?
Com exceção de Eva e Purista, nenhuma mulher deve pisar a cabana; isto é: Quando nos encontramos no amor a Deus e repou- samos em nosso coração não devemos pensar nas mulheres e turvar o amor de Deus, com exceção do amor maternal e filial, que fornece apenas a medida de nosso amor a Deus.
Se bem que estivéssemos na cabana de Purista, nosso cora- ção se encontrava com as mulheres e perguntávamos: ‘Por que não é permitido a todas as mulheres entrar na cabana?’ Não é de admirar a reação delas, que finalmente nos expulsaram de lá.
Mas, como o Senhor é infinitamente Misericordioso e mui- to mais Fiel que nós, Ele nos visitou segundo Sua Promessa; todavia, Ele veio segundo a situação de nosso coração. Havia mulheres em nosso coração, por isto Ele procurou as moças e as aceitou, porquan- to não estávamos presentes em nossa cabana de Purista.
As quatro amantes puras do Senhor O esperaram na verda- deira cabana de Purista, e enquanto discutíamos, elas já saborearam felicíssimas as vivas Emanações de Sua Graça, Misericórdia e Amor. Não estais orientados a respeito das planícies; mas o Senhor deixou que elas vissem Seus Caminhos e Desígnios maravilhosos.
Ainda perguntais: Quem é Aquele Homem? — mas quatro moças estão nos Braços Dele e se alegram com o Pai, Santo e Amo- roso. Não afirmo que aquele personagem seja o Pai; ide para junto Dele em vosso coração e sabereis Quem Ele é. Acabei de falar e con- vém reconhecerdes vossa grande cegueira.” Só então todos arregalam os olhos, reconhecendo a quantas andavam.
BOMCONCEITODAIRMÃDE AORA
Só depois de passado algum tempo os presentes voltam a si, sem contudo saberem o que fazer; um olhava para o outro numa pergunta silenciosa que não tinha resposta. As mulheres percebem isto e tomadas pelo ponto fraco — a curiosidade — aproximam-se
para ouvir algo. Enquanto isto, as conjecturas são as mais variadas até que uma irmã de Aora, de setenta anos — naquele tempo ainda considerada bastante moça — se posta no meio delas e diz: “Se- gundo minha opinião, afirmo que manifestais o mais forte ciúme e todas nós teríamos aceito o feitiço daquele homem, caso ele tivesse essa intenção.
É natural que o julgueis um personagem perigoso, porque nos afastou do monte. Ele também acenou para mim e eu teria ido junto dele se não tivesse tanto medo de vós. Agora me sinto livre de todo temor e sei o que digo. É preciso vos lembrardes de que se o Senhor, Jehovah, vier — e talvez já o tenha feito — haveis de passar mal e quiçá as quatro pérolas passem melhor do que nós, pois vi atrás daquele homem um forte brilho; talvez seja o Próprio Senhor. E se for, o que acontecerá convosco?” As mulheres se calam apavoradas.
PALESTRAENTREMIRAE HENOCH
A jovem oradora, chamada Mira, percebe o choque que suas palavras provocaram e resolve procurar Henoch a fim de confortá-
-las. Ele então retruca: “Por que falaste de modo a provocar tama- nho pavor entre tuas irmãs? Devias ter tomado a iniciativa de me procurar há mais tempo e transmitir-me os enganos delas, e pelo caminho do amor tudo teria sido fácil de organizar. Agora, depois de teres pronunciado um julgamento para elas, a coisa não é tão fácil como pensas.”
Responde ela: “Pai Henoch, és um sábio e sumo sacerdote nomeado pelo Próprio Senhor; todavia acho que não errei. Devem-
-se considerar os Direitos de Deus acima do direito dos homens quando não coincidem com aqueles.
As mulheres erraram em seu zelo cego e levantaram conceitos errôneos, contrários aos de Deus, e como não suportei ouvir tais absurdos, apenas lhes disse minha opinião e não me cabe culpa se se entristeceram com isto.
O fato de eu ter bons sentimentos para com elas podes de- duzir que não aceitei o aceno daquele homem maravilhoso, muito embora me sentisse fortemente atraída por ele. Se ele repetisse o aceno, eu não deixaria só as mulheres, mas o mundo todo, pois ele oculta algo mais que um simples homem.”
Diz Henoch: “És de fato muito inteligente e certamente se- rias capaz de ajudá-las com tua inteligência.” Diz Mira: “A julgar por tua esquiva, só me resta fazer isto. A caminho para cá pensei que não encontraria convosco o máximo grau de misericórdia. Se ao menos me fosse possível procurar aquele personagem, pois sei que haveria de me atender diretamente...”
Diz Henoch: “Olha, o Homem está na cabana e a porta está aberta. Não te impedirei de procurar ajuda junto Dele.” A este con- vite, Mira se dirige para a cabana.
MIRA É EXAMINADA, PURIFICADA E ACEITA PELO SENHOR
Quando Mira entra sem cerimônia na cabana, o Senhor Se levanta e diz: “Como chegas aqui sem Eu te ter chamado, quando há pouco não querias aceitar o Meu aceno? Além disto, dei uma ordem a Henoch segundo a qual nenhuma mulher pode ultrapassar o limiar da porta; no entanto, aqui estás. Como foi isso?”
O tom algo severo deixa-a um tanto embaraçada. Mas não demora e chega à seguinte conclusão: “Se for o Senhor, não será tão rigoroso e atenderá minha súplica. Se for apenas um sábio, voltarei como cheguei.” Em seguida ela diz: “De fato confesso que errei. Mas se considero que foi uma obrigação do coração a me levar a tanto, e que Henoch nada me disse da proibição, meu erro não foi tão grande.
Quem haveria de condenar uma fraca mulher que pede ajuda como eu? Por acaso não se justifica que ela ame e respeite Deus mais que a todos, que nada são comparados a Ele? Não podia supor que minhas irmãs levariam tamanho choque com esta afirmação. Estou
disposta a reparar meu engano e também disse isto a Henoch. Mas ele não possui sentimento para com o meu conflito e isto me levou a procurar-te, julgando seres mais misericordioso que ele.
Aliás, tenho que confessar que, desde que o Senhor ensinou apenas o amor durante vários dias, os humanos me parecem menos bons e isto não é bom sinal. Confesso que gostaria de ajudar a todo mundo, muito mais porém a uma mulher que por Deus e a nature- za é muito mais prejudicada que qualquer homem. Falei o que me vinha no coração. Se te ofendi, podes enxotar-me ou fazer comigo o mesmo que fizeste com Sehel. É preferível não existir do que viver num mundo em que os homens têm corações de pedra.”
Diz o Senhor: “Deste-Me uma resposta muito comprida à Minha pergunta curta. Uma metade podias ter guardado, e a ou- tra silenciado, pois sei melhor que tu onde te aperta o sapato. Para que vejas que tenho razão, explicarei teu conflito. Tuas irmãs são ciumentas — e tu também. Elas Me criticaram por ciúme e tu as admoestaste pelo mesmo motivo, porque julgavas ter direito maior sobre Mim em virtude de Meu aceno.
Por causa deste Meu aceno teu amor se incendiou, mas se ofendeu diante das críticas delas, levando-te à vingança. Como esta vingança teve efeito mais forte do que esperavas, tua consciência te acusa e desejas socorrê-las. Como não o consegues, procuras ajuda, que virá antes do que esperas. Enquanto isto, vai lá fora e medita sobre teu erro, e volta somente quando estiveres purificada, que te aceitarei e abençoarei como às quatro!”
Mira enrubesce de vergonha e diz: “Meu coração não estaria tão aberto se não fosses o Senhor. Por isto me afastarei, pois não mereço ficar depois de Te ter visto e ouvido. Perdoa-me a culpa, como também perdoarei tudo que alguém tenha feito.” Diz o Se- nhor: “Haveria de te perdoar muita coisa caso fosses uma pecadora. És pura e podes ficar Comigo, e Henoch cuidará de todo o resto.”
Tais palavras teriam custado a vida de Mira se ela não se encontrasse diante do Senhor da Vida, pois seu amor oculto por muito tempo irrompe com tamanha violência que ela cai desfale- cida. O Senhor a toca de leve e uma nova vida começa a pulsar em sua natureza.
Isto está de acordo com Minha Ordem, pois todos têm que morrer totalmente para o mundo antes de poder assimilar e suportar a plenitude da Força e do Poder de Meu Amor. Quando Mira volta a si, começa a chorar de tanto amor, não podendo falar, pois toda sua natureza se transformara para uma só palavra, que se chama “amor”, isto é, o verdadeiro e puro amor para Deus. Por isto chora e suas lá- grimas, cintilantes como diamantes, com as quais umedece os Meus Pés, têm maior valor que a maior biblioteca do mundo.
Em verdade vos digo, a lágrima de um pecador arrependido que se apossa de Mim com todo o seu amor é uma dádiva muito maior para ele do que se tivesse recebido milhares de mundos para o seu gozo eterno. Mira nunca tinha sido pecadora, por isto seu amor era semelhante à chama de um Sol central e suas lágrimas eram quais sóis a iluminarem os planetas.
Com este sentimento puro ela fita a Mim, seu Pai Amoroso e Santo, com tamanha dedicação que só Eu posso suportar, pois Meu Coração Se viu obrigado a retrair um pouco por razões muito sábias. Se Eu Mesmo tivesse dado livre expansão ao Meu Coração, Ele Se teria apossado de Mira, consumindo-a instantaneamente.
Assim sendo, Eu Me oculto por certo tempo e Me dirijo para Henoch (somente Visível para ele), orientando-o sobre o que dizer às mulheres para que Me reconheçam, sem contudo inflamá-las de- mais. Faço isto também por causa dos patriarcas, cujo amor ainda impuro, porém inflamado, não permite Minha Presença total.
Como as quatro moças apaixonadas por Mim dão por Mi- nha falta, sua exaltação se acalma um pouco, admirando-se do Meu
desaparecimento justamente quando seus corações começavam a se entusiasmar.
Mira então explica: “Eu também não O vejo, mas meu cora- ção está pleno Dele e isto é muito mais do que eu, pobre pecadora, mereço. Satisfaço-me em poder amá-Lo, pois sei que Sua Presença Visível é apenas uma Graça rara.
Se Ele estivesse sempre entre nós, não saberíamos o que fazer de tanto amor ou finalmente nos habituaríamos com Ele a ponto de Se tornar igual a um outro qualquer. Ele sabe o que é bom e justo, vem e vai na hora certa!”
Neste instante, o Senhor Se apresenta na cabana e diz: “Mira, acertaste plenamente: Venho e vou quando está na hora, por isto Me encontro aqui agora.” Todas soltam um grito de alegria e se atiram aos Seus Pés, que depois as acompanha à mesa e diz para Purista: “Vai olhar tuas panelas e espalha o fogo, pois quando vierem os patriarcas, a refeição terá que estar pronta!” Purista verifica que os frutos já estão cozidos e informa o Senhor, que diz: “Então podes servi-los e Mira deve avisar os outros.”
CONVITEÁSPERODE MIRA
Satisfeita, Mira transmite aos patriarcas que a refeição está pronta. Como Henoch ainda está ocupado junto às mulheres, La- mech sugere não ser conveniente entrarem na cabana por ser ele de certo modo seu chefe espiritual. Mira reage dizendo: “Acho que todos devem obedecer ao Senhor e Henoch saberá o que lhe compe- te. Transmiti meu recado, mas não vos posso puxar para dentro da cabana, tampouco isto foi Ordem do Senhor. Fazei o que quiserdes, eu volto para lá.”
Lamech a chama de volta e diz: “És um pouco petulante. Já que tens pernas tão ágeis, podias repetir tuas palavras a Henoch em vez de voltar à cabana.” Diz ela: “Nada disso! Não se pode servir a dois senhores! Se preferes Henoch ao Senhor, e tuas pernas sendo bem mais longas que as minhas, podes estar lá mais depressa do que
eu. Mas, para que esse bate-boca? Vou-me embora e podeis resolver vossa situação.”
De novo Lamech lhe corta o caminho, dizendo: “Pérola ma- ravilhosa da aurora, que dirá o Senhor se voltares sozinha? Certa- mente indagará como executaste tua tarefa, a ponto que ninguém quer comparecer. Que desculpas darás?”
Diz ela: “O Senhor não me mandou levar-vos para a cabana, mas somente vos convidou. O resultado deste convite não me diz respeito, por isto vou indo.”
Nisto se aproxima Adão, dizendo: “Minha filhinha, se ao menos não nos tivesses convidado com tamanha autoridade...” Isto a aborrece, e ela exclama: “Eis um grande pecado de vós todos, pois em vez de obedecerdes à Vontade do Senhor por mim transmitida, ainda me criticais! Vou contar a Ele!”
Terminando de falar, salta para dentro da cabana e quer ini- ciar suas queixas a respeito dos patriarcas. Mas o Pai a antecede, dizendo: “Mira, por que voltas sozinha? Onde estão os patriarcas?”
Um tanto embaraçada, Mira diz depois de algum tempo: “Meu Bom Pai, os patriarcas são deveras desobedientes. Transmiti-
-lhes Tua Ordem, mas eles... prefiro não falar.” Diz o Senhor: “Que foi que houve?” Responde ela: “Bem, deves sabê-lo, sem que isto tenha de ser dito por mim.”
Diz o Senhor: “Há pouco recomendaste obediência por parte dos patriarcas, e agora pretendes ser desobediente frente a Mim?” Diz ela: “Senhor, vês que no meu coração não existe desobediência.” Responde o Pai: “Sei perfeitamente que és um ser puríssimo; no en- tanto, falaste um pouco secamente com eles, por isto deram a enten- der que uma moça nunca deve falar deste modo, mas sempre com a maior humildade. Volta e convida-os, pois todos hão de te seguir.”
Mira repete o convite aos patriarcas, que a seguem, e Heno- ch, tendo terminado a conversa com as moças, está na vanguarda e os conduz à cabana. Adão se atira aos Pés do Senhor e agradece por tamanha Misericórdia, pois nem bem haviam entrado todos se tornam videntes a respeito da situação das planícies.
Depois de todos terem agradecido por esta Graça, o Senhor declara que devem se sentar à mesa e participar pela primeira vez da refeição em conjunto. Todos tomam seus lugares na mesa do Senhor, pois a cabana de Purista não é tão pequena como a de um camponês, comportando até setenta mil pessoas. Ainda assim é denominada de pequena, em virtude de sua simplicidade.
Eis que o Senhor começa a falar: “Vim para estabelecer a boa ordem na Terra e abençoo-a por meio de Minha Presença visível. Com isto deu-se uma nova união entre Mim, Meus anjos e a Terra, e Me levou a preparar este banquete de frutos cozidos, proporcionan- do ao orbe um marco: Tornei-Me um Deus, Senhor e Pai Verdadeiro e firmei uma união com os habitantes que devem se tornar Meus filhos verdadeiros.
Se permanecerdes nesta união, no Meu Amor, a união será visível para sempre entre o Céu e a Terra. Abandonando e rom- pendo esta união, a Terra se afundará em seu abismo original e será envolta por nuvens densas, não podendo jamais ver a Mim e Meus Céus.
Se tal queda perdurar, a Terra se atirará em seu próprio julga- mento, e Eu não poderei mais falar com seus filhos como Pai cheio de Amor e Meiguice, mas como um Deus Eterno trovejarei Meu Julgamento no fogo de Minha Ira.
Quem sobrar há de esperar por longo tempo até que uma nova união de amor seja erigida sem sangue, e não terei pressa para tal realização, deixando que todos os povos definhem.
Se esta sagrada união não for rompida por vós totalmente por meio de outra transgressão material, continuarei convosco e vós Comigo, e a situação da Terra será idêntica à dos Céus, não havendo morte entre vós. Haveis de subir para junto de Mim como vistes acontecer com Sehel e anteriormente com Zuriel, pai de Gemela, e vos transformarei em poderosos criadores do amor de todos os seres em Meus Espaços Infinitos.
Onde vossa visão vê apenas ummundo no Firmamento, flu- tuam inúmeros portadores de Minha Onipotência, comportando seres iguais a vós. Além desses mundos se encontram as moradas dos espíritos, cada qual tão imensa que facilmente comportaria mais do que o Espaço visível.
Eis vossa eterna missão e o fácil caminho para atingi-la, mas ninguém a alcançará antes que se tenha tornado apto através de Meu Amor.
Quando Eu chamar alguém, Minha Voz o revelará. Será li- berto do peso da matéria e ingressará imediatamente na imensa Gló- ria da Vida do Espírito do Amor, eterno e imutável. A fim de que tenhais uma visão deste estado espiritual, faculto-vos a visão interna total. Vede aí os três seres que já subiram ao Céu e podeis palestrar com eles, para perceberdes que vossa existência em Mim jamais ter- minará, e também sabereis que o dragão é um grande mentiroso.”
APARIÇÃODEABEL,SEHELE ZURIEL
Todos se alegram sobremaneira. Adão e Eva correm para perto de Abel, Seth procura Sehel, Gemela procura Zuriel, e ence- tam uma palestra sobre coisas espirituais e sua vida mais perfeita, livre e feliz.
Seth então pergunta a Sehel: “Filho, o que sentiste quando o Senhor dissolveu tua natureza física?” Responde ele: “A Vida está em ti e em tua pergunta. Encontrava-me no éter que vibrava, a faixa solar se rompeu e eu me encontrava livre, um ser na Vida Infinita.
Atravessei o todo como luz que libertava os seres que se tor- navam um novo ser. Estes seres viam em toda parte a Causa desta Luz total e a Vida da Luz, o Próprio Pai. Agora sou um ser perfeito e vivo uma vida eterna, plena de Luz, da Vida de toda Vida em Deus.
Assim foi, meu pai, assim é e será eternamente, pois cada segundo respira uma vida mais perfeita que o anterior. O que ora ouves e vês não é ilusão de ótica ou perturbação de audição, mas a verdade pura e a realidade total. Aquilo que vês no mundo exterior
é apenas a casca das árvores, o invólucro da Verdade e, em relação à realidade, um país cujo solo é coberto de neblinas e nuvens negras.
Lá com o Pai está a Vida da Vida e a Luz da Luz perfeita. Presta atenção à Sua Palavra; é a Base de todo Ser, e Dela surgimos, eu e tu, e todos os mundos e seres.
Quando Ele Se pronuncia, nascem de cada Palavra realiza- ções substanciais em distâncias infinitas e novos exércitos de sóis e mundos iniciam seu primeiro transcurso na eternidade. Guardai o que o Pai vos fala e haveis de perceber que quem possui a Palavra do Pai em si também é detentor da Vida eterna. Sua Palavra é criadora, e o Som de Sua Voz é a base de todas as coisas. Por isso merece toda honra, louvor e amor para sempre. Amém.” Todos sentem o impac- to de tal explicação e louvam o Pai da Vida por ter dado sabedoria tão elevada aos anjos.
Adão em seguida pergunta a Abel: “Querido e pranteado fi- lho, porventura também és capaz de pronunciar palavras idênticas às de Sehel?” Responde Abel: “Pai da Terra dos homens, não somente Sehel e eu, mas tudo no todo é Deus, o Pai Eterno e Santo. Nossa palavra é Sua Palavra, assim como Sua Santa Vontade é sempre a nossa. Para o espírito não existe outra palavra senão a do Pai, como também não existe outra Vida senão a Dele.
Quem vive por intermédio de Deus também fala por Ele, quer dizer, pronuncia Palavras de Vida. Mas alguém se levantando para dizer: ‘Colhi este conhecimento em minha fonte pessoal’, é um mentiroso como o dragão que se apossou da grande Misericórdia do Pai e diz: ‘Sou um homem do Senhor e posso feri-lo quando quero!’
— enquanto ele é a criatura mais castigada por si mesma.
Por isto, meu pai, é fácil ao puro espírito falar e agir através do Poder e da Força do Pai, porquanto tal criatura ama, vive e respi- ra livremente. Seja-lhe tributado todo nosso amor.”
Essas palavras comovem todos e Adão exclama: “Meu Deus e meu Pai, sinto prazer de viver entre Teus filhos da Terra; mas prefi- ro estar onde vive meu e Teu Abel.” Diz o Senhor: “Dentro em breve hás de encontrar a paz. Amém.” Retruca Adão: “O que vem a ser a
paz?” Diz o Senhor: “A paz é a ressurreição do espírito para a Vida eterna em Mim. De fato ficarás na Terra até que Eu nasça dentro de ti. Isto acontecendo, também ressuscitarás para a Luz da Vida, na carne do Amor e da Palavra surgida de Mim. Sê calmo e te alimenta até que Minha Carne e Meu Sangue te despertem.”
OESPÍRITOZURIELFALASOBREAVIDADO ALÉM
Entrementes, Gemela pergunta a seu pai Zuriel se há grande diferença entre a vida terrena e a espiritual, e se o espírito pode ver o mundo natural e as criaturas encarnadas.
Ele responde: “Filha do Senhor, tua pergunta é um tanto tola. A vida é em toda parte uma só, pois tudo vem do Senhor. Se a vida não for do Senhor, já não é mais vida, mas a morte total que, não obstante sua consciência, é apenas engano próprio. Tudo aquilo que o morto sente é qual sonho mau e sem nexo, porquanto seu mundo não tem base e toda sua posse é mais fútil que espuma.
De modo algum deves considerar a matéria como morta pelo fato de não manifestar qualquer consciência. A matéria não é morta, porquanto nela agem forças poderosas e ela própria nada mais é que a expressão da Vontade e do Poder Divinos que se manifestam em toda parte. Deves considerar morto somente aquilo que em virtude do livre arbítrio se separou do Senhor e quer se manter sem Deus, com suas próprias forças.
Mesmo que mantenha sua existência em consequência do Amor e da Misericórdia Divinos, sua vida é horrível. Daí concluirás que a própria vida se expressa em toda parte e sob todos os aspectos de uma só forma.
Se ainda não compreendes, basta olhar para o Senhor. Ele é em Si a Vida mais perfeita de toda vida e Dela surge nossa existência. Por acaso percebes uma diferença entre Ele e mim? — Respondes: Não, a julgar pelas aparências. — Bem, eis a resposta total de tua pergunta. Guarda bem: Aquilo que somos por Deus, o Senhor, e tudo que é nosso é Sua Semelhança perfeita.
Assim sendo, nossa vida é Sua Vida, e podemos viver quan- do e como quisermos — tão logo percebamos a base da Vida e a compreendamos. Uma vez que o nosso coração se dirigiu para Ele já vivemos uma existência perfeita, seja no corpo ou em espírito, não há diferença.
É supérflua tua pergunta se o espírito puro e livre pode ver o mundo da matéria e tudo que comporta, pois se a própria vida é em tudo inteiramente igual, por certo não haverá diferença visual. Per- gunta a ti mesma se vês o mundo com os olhos da carne, em si uma matéria totalmente insensível, ou através dos olhos de teu espírito. Agora começa a se fazer luz em ti. Se teu espírito envolto de matéria consegue ver as coisas do mundo, muito mais livremente o fará o espírito puro e livre, quando for da Vontade do Senhor.
Quando isto não estiver na Vontade Dele, nem o espírito livre tampouco o algemado poderá ver algo, pois assim como o Se- nhor da Vida pode tirar a visão do homem, também poderá fazê-lo com o espírito. Assim como agora vês o mundo espiritual e o na- tural, segundo a Vontade do Senhor, eu também os vejo quando é necessário. Quando nós, espíritos, somos destinados a servir como grande força de Amor do Pai, como se poderia dar tal fato se não estivéssemos diante Dele?
Neste momento penetras visualmente a matéria total e tam- bém podes ver a mim, um espírito, como eu a ti; portanto, não pode haver diferença entre a verdadeira Vida e a vida material. Na- turalmente existe diferença entre nós que consiste em tua carne ser incapaz de qualquer movimentação espiritual e não podendo efetuar uma movimentação veloz. No entanto, é parte inerente ao teu espí- rito pensar em sentir tal fenômeno.
Eis tudo que necessitas saber por ora. Se tu mesma penetra- res mais profundamente em teu espírito ainda terás esta experiência em vida. Isto te desejo de todo coração, em Nome do Senhor.”
Muito feliz com a revelação de Zuriel, Gemela fica louvando com alegria a Graça recebida, dirigindo-se para o Senhor de Céus e Terra por ter permitido esta Dádiva excepcional. E o Pai lhe diz: “As- sim são as criaturas: As que recebem muito são menos gratas do que as outras. A Graça que recebestes foi dada a todos em medida excepcio- nal. Alimentaram-se à Minha Mesa enquanto te ocupavas no fogão, e até agora ainda não recebeste qualquer coisa para comer da Minha Mesa. Mas nenhum deles Me procurou como tu, impelido pelo amor.
Afirmo-te: Meu Coração é a Mesa mais farta. Se ainda não te alimentaste à Minha Mesa, fá-lo-ás no Meu Coração e tal alimento é incomparavelmente melhor e sacia mais que qualquer outro, ainda que bem preparado.
Minha querida filha, o amor no coração de um filho vale mais que toda sabedoria e ciência elevadas. Quem possui este amor, possui tudo. Mas quem possui o amor, somente por causa da sabe- doria, da ciência e da força, terá o que quer; mas nunca terá, como tu, o Meu Coração.
Ó geração desta Terra, é preciso que acredites: Se a experiên- cia das coisas te vale mais que o Meu Amor Paternal, hás de subjugar a pobreza com tua importante sabedoria. Então serás também sub- jugada por Mim e Eu não te pouparei, nem te acariciarei.
A ti, Minha Gemela, hei de poupar e conservar para sempre; teu fruto será um novo pai dos homens da Terra e teu sangue há de preencher o orbe todo.”
Nesta altura, as outras moças se atiram aos Pés do Senhor e pedem perdão por terem omitido o que fizera Gemela; princi- palmente Pura chora copiosamente, de medo e tristeza. O Senhor ergue a todas e toma Pura nos Braços, dizendo: “Não chores, Minha filhinha, tens o menor motivo para tanto. Sei o quanto Me amas, por isto sê alegre, pois tu e Gemela estais de tal modo perto de Mim como Meu Próprio Coração eternamente Poderoso.
7. A ti Gemela, concedo uma nova geração, e a ti, Pura, dou Meu Verbo Vivo. Continuarás em espírito uma carne viva e na Épo- ca das épocas não serás gerada materialmente e também conceberás espiritualmente uma base futura de toda a Vida. Sê, portanto, calma e feliz, pois te amo finita e infinitamente; além de Mim, não existe ninguém, nem no Céu nem na Terra, mais maravilhosa e bela que tu!
8. Lá no portal da cabana alguém espera por ti, teu pai terre- no; acompanha-o. Seu nome é Gabriel e te levará à Minha Morada Celeste, onde ficarás sempre Comigo até a Época das épocas. O que sucederá então saberás em Minha Imensa Casa Paternal. Amém.” Pura abraça o Senhor e não quer soltá-Lo.
Eis que Ele diz: “Minha filhinha, não hás de esperar por Mim onde Gabriel te levar, pois antes de lá chegardes Eu lá estarei para te receber Pessoalmente e te levar à Minha Casa. Podes ir, porque cumprirei Minha Palavra. Amém.”
Mais uma vez Pura encosta a cabeça do Senhor no seu pei- to... e desaparece, pois o anjo do Senhor a conduziu à Casa do Pai com o físico transfigurado. A Casa do Senhor é o Amor do Pai.
Mira, Purista e Noêmia ainda choram ao lado; mas o Se- nhor as abençoa com Seu Amor. Esta revelação e o sublime aconte- cimento produziram uma grande sensação entre os patriarcas que, estáticos, nada sabem dizer, com exceção de Henoch. Todos se sen- tem tocados porque, com a visão das planícies, começam a surgir em suas mentes toda sorte de pensamentos ocultos.
PEDIDO TOLO DE ADÃO E A IMPORTANTE RESPOSTA DO SENHOR
Depois de algum tempo, Adão se aproxima do Senhor e diz com profundo respeito: “Amantíssimo Pai, segundo posso afirmar de mim e dos demais, sempre Te amamos e louvamos, o que não se pode negar. De fato, não corremos para perto de Ti, como fez a querida Gemela, e isto por excessivo respeito e veneração. Sentimos perfeitamente Quem és, o que não ocorre com as moças em virtude
de sua constituição. Por isto são obrigadas a aproximar-se de Ti ex- ternamente, porque não são capazes de uma aproximação espiritual.
Considerando isto e Tua admoestação muito forte, excluindo apenas Henoch, chego à conclusão de que realmente foste muito rigoroso. És Deus, o Onipotente, desde eternidades, enquanto sou somente uma criatura temporal surgida de Tua Vontade Poderosa. Se falas comigo, como meu Criador, também posso fazê-lo segundo meu livre arbítrio dado por Ti. Por isto repito: ultrapassaste o senti- do de Tuas Palavras, pois a metade bastaria para nos matar.
Por isto Te peço que retires a admoestação para podermos amar-Te como Amoroso Pai, pois em Teu Rigor não há quem Te ame, conforme disseste nas montanhas. Não faças ameaças nem promessas, pois como Pai és o necessário para nossa vida. Natural- mente podes fazer o que queres, pois és o Senhor, Zebaoth, e não necessitas pedir conselhos.
És Dono da Vida, em Ti não existe morte e ninguém pode ti- rar-Te a existência mais livre e poderosa. Não sentes a menor opres- são, o que não ocorre conosco, Tuas criaturas. Dependemos de Ti para cada respiração e somos tão fracos que um Olhar mais severo já nos pode aniquilar. És incapaz de sentir qualquer dor, mas nossa constituição é tal que podemos sucumbir de dores terríveis, da des- truição e da morte. No entanto, desejamos amar-Te acima de tudo, mesmo padecendo os maiores sofrimentos. Mas se pretendes nos matar, não podemos amar-Te.”
Então o Senhor Se vira para Adão, dizendo: “Falas como criatura Comigo, teu Criador, e assim está certo, provando a Minha Obra de Mestre, que te conferiu o livre arbítrio. Mas os filhos verda- deiros, que conhecem inteiramente o seu Pai e sabem o quanto Ele é Bom, falam de modo diferente. Como O amam, não sentem medo diante Dele e agem como fizeram estas moças.
Se o Pai ameaçasse os filhos com um amor coagido, confor- me demonstraste por um exemplo, Eu seria tudo menos um Pai. Se como Único Pai Verdadeiro percebo que dentro de vós ainda habita um medo tolo diante de Mim, certamente saberei como devo agir
para arrancá-lo de vós, isto é, exterminando aquilo que em vós existe materialmente, para vos transformar em verdadeiros filhos.
Se consideras isto, hás de convir que Eu, como Criador e Pai, devo saber onde vos aperta o sapato, mesmo que Eu não sinta o aperto como vós, a fim de vos ajudar onde isto se faz necessário, e também saberei escolher os meios adequados. Procura amar-Me, que hás de sentir se peço o amor com morte ou sem morte. Tua exi- gência feita a Mim é justamente a que peço de vós. Medita a respeito e depois fala, pois Eu sei o que devo falar e fazer.”
O HOMEM, CEGO AUTOR DE SEU JULGAMENTO E CONCLUSÃO DA CRIAÇÃO
As Palavras do Pai fazem com que Adão volte à razão, e com humildade se aproxima Dele, dizendo: “Teu Ensinamento me escla- rece a ponto de reconhecer que pequei tremendamente diante de Ti. Por isto Te peço que não registres meu último erro e perdoes a este velho fraco minha última tolice.”
Diz o Senhor, virando-Se também para todos: “Direi algo para Minha Própria Justificativa para saberdes futuramente, se por- ventura esquecerdes o Meu Conselho, não ser Eu, mas vós mesmos os autores ignorantes e cegos de vosso julgamento, perdição e morte quando não palmilhais as trilhas delineadas por Mim.
Vós e todo o Universo Infinito sois destinados desde sempre como motivos finais, ou seja, a conclusão total do mundo visível e invisível. Por esse fato tudo tem que estar, tanto na totalidade como isoladamente, numa estreita ligação convosco.
Então, o homem sendo a finalidade intrínseca de toda a Criação e esta se encontrando em íntima correspondência com ele, é ele igualmente soberano da mesma, dando-se um reflexo sobre a Criação, e vice-versa.
Digo mais: a Criação total não possui vontade independente, pois tudo nela é feito para vos servir, portanto é sujeita ao imperati- vo categórico. Eu, o Grande Obreiro de todas as Minhas criaturas,
sei como se dão os seus processos, sendo que um se encaixa no outro. Por isso só Euvos posso dar os meios úteis que vos capacitem ao equilíbrio neste ponto máximo da Criação.
Se vos mantiverdes dentro da Ordem prescrita, a Criação pos- terior se manterá em vossas pegadas, no maior equilíbrio. Não res- peitando esta Ordem, criando uma outra de modo próprio, Eu — o Criador e Pai — sou inocente se a Criação se deturpa daí em diante em suas obras condenáveis e se apodera de vós, arrastando-vos para o julgamento eternamente necessário e no final acaba vos matando.
Porventura não deve a pedra ser pesada a fim de se tornar uma base sólida na Terra? Eis o julgamento da matéria da pedra. En- quanto nela caminhardes dentro da Ordem, também sereis senhores da pedra. No momento em que a atirais para cima de vós, ela se torna vosso julgamento e morte devido ao seu peso.
Esta relação existe em todo o Universo visível e invisível. So- mente vós podeis abençoá-la dentro de Minha Ordem, mas também podereis vilipendiá-la para vossa desgraça, fora de Minha Ordem.
O Amor para Comigo é a concepção de Minha Ordem total. Mantende-vos equilibrados neste Amor, vivamente, que não haveis de tombar num julgamento. Abandonando o amor, abrireis as com- portas do julgamento que vos soterrará como faria a pedra.”
DE QUE MANEIRA O SENHOR PODE SER INSULTADOPELOS HOMENS
Todos agradecem por esta orientação, pois compreendem, com exceção de Uranion, a relação entre Criador e criatura. Como ele ainda se sente algo inseguro, dirige-se para o Pai e pede permissão para uma pergunta. Esta lhe sendo dada, ele diz: “Se o homem só pode pecar contra aOrdemque colocaste na Criação, uma vez que desrespeita Tua Santa Vontade — como é possível ele Te ofender e magoar o Teu Coração Paternal?”
Diz o Senhor: “Tua pergunta é justa, todavia não oculta algo secreto como julgas, e outros contigo. Também és pai de teus filhos
e confeccionaste em tua casa uma série de objetos úteis que devem ser usados segundo teus planos.
Se um de teus filhos começar a usar um instrumento de modo totalmente errado, chegando até mesmo a quebrá-lo, ou então julga que tais objetos sejam tolos e desnecessários, pisando-os com raiva e mesmo amaldiçoando e fugindo de ti — qual será tua reação com teu filho, muito embora tivesse pecado nos objetos e não contigo? Serias até mesmo capaz de amaldiçoá-los.
Que devo Eu — vosso Pai — dizer quando vilipendiais Mi- nha Ordem eterna esquecendo-vos inteiramente de Mim? Não pos- so ser indiferente à vossa atitude. Portanto, posso ser ofendido e compete a vós conhecerdes vossa culpa e voltar-vos para Mim. En- tão serei Melhor que todos vós, pois não repudio ninguém, mas pro- curo todos os desviados para levá-los ao bom caminho e os recebo de pronto. Assim andam as coisas. Ficai em Meu Amor que não haveis de pecar com as coisas criadas por vossa causa. — Eis que Kisehel ainda alimenta uma dúvida. Vem cá e depõe o teu peso a Meus Pés.”
SATANÁSPREDIZACRUCIFICAÇÃODO SENHOR
Quando Kisehel faz menção de se expressar, o Senhor Se adianta e diz: “Chama Lamech e Henoch, porque tua dúvida ain- da não foi sentida por outrem e não necessita esclarecimento para todos. Hei de desatar este nó para vós três, mas não aqui. Vamos lá fora e avisa os patriarcas que ninguém nos pergunte aonde vamos.”
Isto feito, o Senhor e os três amigos se dirigem a um ponto cercado na floresta e de um paredão de pedras, idêntico ao que fora visitado pelo dragão. Uma vez lá em cima, o Senhor diz para Ki- sehel: “Fui acusado diante de ti, por meu maior inimigo. Se Eu Me fosse justificar na ausência dele, poderias intimamente conjecturar que talvez a situação fosse como Eu a havia revelado. No entanto, a afirmação do dragão é bastante estranha e não deve ser totalmente desconsiderada. Por isto Eu vos trouxe aqui para resolvermos o pro- blema na presença dele.”
Em seguida, o Senhor faz uma chamada fortíssima a ponto de fazer estremecer o solo terráqueo: “Satanás! Teu Deus e Senhor exige que compareças diante Dele!” No mesmo instante, o dragão se apresenta, tremendo de ódio, e pergunta: “Que desejas de mim, meu eterno verdugo? Por acaso devo ajudar-Te para que possas transfor- mar em nada todas as Tuas Criações? Ou terias planejado uma nova, para a qual devo escolher um ponto favorável?
Garanto-Te que não hás de me levar a tanto; conheço Tua inconstância e sei que todas as Tuas Promessas nada mais são que pa- lavras sem nexo. Por isto resolvi reagir e perseguir-Te eternamente.
Ainda que sejas Deus a reger o Universo, não hás de conse- guir ocultar-Te de mim num pontinho qualquer. Podes ameaçar-me à vontade, pois não demorará a surgir o verdadeiro soberano dos mundos e criaturas. Antes de me forçares para algo, juro por toda minha vida que me aniquilarei e então veremos que aspecto terá Tua eterna Existência.
Vieste aqui para que eu contestasse diante destes três aquilo que há tempos revelei. Podes esperar sentado até que eu me pron- tifique para instrumento tão abjeto. Perfura com Tua Onipotência esta minha couraça, se fores capaz! Juro-Te que não serei eu, mas meus servos mais fracos a Te aprisionarem qual reles criminoso, pre- gando-Te na cruz, de onde hás de clamar por socorro inutilmente. Acabo de fazer minha profecia; caso desejes algo mais, podes falar, pois acontecerá o que não queres.”
PUNIÇÃOEHUMILHAÇÃODO DRAGÃO
Diante de tamanho ultraje, Kisehel se revolta, gritando: “Se- nhor, como podes ouvir esta blasfêmia? Concede-me a força que me deste nas planícies, que darei um fim a este diabo, e todas as eterni- dades terão assunto para falar!”
Diz o Senhor: “Ó filho do fogo e do trovão, porventura o ultraje do dragão atinge mais a ti que a Mim, ou achas que não
posso dominar este espírito caído? Com o mais leve Hálito poderia exterminá-lo. Mas, se assim fizesse, que teríamos lucrado, Eu e tu?
Se este dragão fosse capaz de Me prejudicar ou talvez pren- der, de há muito o teria feito, pois não é um jovem em Meu Reino da Criação. Sabe muito bem que nada pode fazer contra Mim; por isto procura vingar-se com palavras. Deixemos que se esgote e então Eu lhe direi algo. Volta ao teu ânimo anterior — e tu, Satanás, conti- nua, pois sou teu Deus e Senhor e quero que te externes totalmente diante destas testemunhas, para que o mundo te conheça através delas. De saída, dize-Me quantas criações Eu já exterminei, segundo tua afirmação.”
O dragão queda perplexo e se nega a falar. Mas como o Senhor o obriga, ele se empina, querendo tragar todos os quatro. O Senhor então lhe diz: “Se não queres falar, Eu te obrigarei com Minha Ira!”
O dragão expele labaredas de fogo e berra contra o Senhor: “Que me importa Tua Ira? Conheço-a de há muito, pois eu mesmo sou Tua Ira! Não serei eu a temer, mas Tu deves temer que eu me atire sobre Ti! E se isto acontecer, Teu Amor terá um fim e Tu Mes- mo hás de exterminar os Teus filhos, aos milhões, fornecendo para algumas restantes moscas a primeira prova de quanto Te empenhas para conservação de Tuas criaturas. Mantém-Te portanto bastante afastado de mim, do contrário não garanto que não venhas a cobrir a Terra com água até por cima das montanhas, ideia que vens ali- mentando sempre.”
Algo alterado, o Senhor retruca: “Satanás, não leves Minha Paciência aos extremos! Dá-me a resposta exigida e nada mais, do contrário passarás mal!”
Então o dragão dá meia volta, querendo bater com sua pode- rosa cauda. Mas o Senhor passa uma vara para Kisehel e manda que castigue o dragão. No mesmo instante, ele se vira outra vez, gritando e berrando, e prontamente se desfaz de sua figura horrenda, apare- cendo como homem.
Ele se atira aos Pés do Senhor e diz: “Deus Onipotente e Eterno, já que pretendes castigar-me, não castigue sem amor minha teimosia maldosa, pois as pancadas de Tua Ira são por demais insu- portáveis e ardem tremendamente.”
Retruca o Senhor: “Como podes tu, Meu pretenso senhor, pedir-Me tal coisa? Tu mesmo Me ameaçaste com uma punição; como admites que Eu te castigue?” Responde ele: “Ó Senhor, não me martirizes eternamente! Sabes que sou um mentiroso porque pretendi ser um senhor sem Ti. Concede-me novo prazo e eu me re- generarei. Tira-me, porém, todo o meu poder, para não ser tentado a me rebelar contra Ti!”
Diz o Senhor: “Confessa tuas mentiras diante destas teste- munhas e verei o que posso fazer por ti. Nada Me ocultes, do con- trário tua súplica será inútil!”
CONFISSÃODE SATANÁS
Então Satanás se levanta tremendo e se vira para Kisehel, que ainda segura a vara dada pelo Senhor, e diz: “Punidor do Senhor, que é um Deus de Ira para mim e não quer deixar de me bater com Seu açoite tremendo; há tempos revelei em minha figura protetora, terrível e assustadora, certos fatos do Senhor e Criador Onipotente de todas as coisas, espíritos e homens, o que neste momento declaro como simples mentira, na figura semelhante à tua.
Se bem que tivesse dito algo verdadeiro, tornou-se mentira porque eu o deturpei dentro de mim. Tudo aquilo que expressei a respeito do Senhor referia-se a mim, de sorte que sou exclusivamen- te o grande mistificador e pretenso soberano onipotente.
Não foi o Senhor, e sim eu mesmo quem destruiu muitas re- giões solares que por mim teriam caído no eterno nada caso Ele não Se tivesse apiedado, mandando que Seus poderosos mensageiros a levassem a determinados pontos do Universo, onde se movimentam em trâmites novos e calmos, não podendo ser atingidas por meu hálito pestilento.
Se dependesse de mim, faria surgir uma outra Criação a cada momento e não haveria existência para um ser qualquer, pois só quero criar a fim de ter algo para destruir; desejo formar criaturas belíssimas e gerá-las com vida, para em seguida martirizá-las segundo minha per- versidade e, uma vez saciado, eu as exterminaria totalmente.
Sempre fui um mentiroso e preferia mil vezes mentir para ti a dizer a verdade toda. Mas temo teu açoite de sorte que não me atrevo a mentir de novo. Todavia, não posso melhorar, embora te te- nha confessado a verdade, enquanto me for dado o grande poder de domínio sobre todo o mundo visível com seus variados seres, sendo obrigado a ser seu soberano.
Isto porque, qual deus criado, me encontro aprisionado nes- ta totalidade material da qual não me posso desvencilhar enquanto perdurar a última poeira material do último planeta. Por isto tra- balho na constante destruição das coisas criadas pelo Onipotente, para alcançar, segundo minha opinião dominadora, o mais depressa o domínio total e derribar o Senhor da Glória de Seu Trono eterno, porque reage constantemente contra meus planos de destruição des- de que fui por Ele chamado a esta existência sumamente poderosa e quase eterna, para, ao lado Dele, viver e reger como um segundo deus. Além disto, devo amá-lo acima de tudo, do fundo do meu ser, para tornar-me o que uma esposa fiel é para seu companheiro para sempre.
De fato, minha posição foi grandiosa e maravilhosa! Tudo que eu queria surgia, e o Senhor não impedia a minha vontade cria- dora. Mas, quando eu me aprontava para destruir algo criado, Ele me impedia e com isto me via limitado no meu poder contra Deus.
Tentei conquistá-Lo pela astúcia e me fiz tão belo quanto pude, e para tanto incendiei toda a minha luz para ofuscar o Senhor. Mas Ele me aprisionou subitamente em minha luz e dela formou a matéria e inúmeras falanges de seres, e as amou mais que a mim.
Em minha cegueira, caí na pior revolta e desde eternidades amaldiçoo o Senhor, que já fez várias tentativas de me salvar; mas meu ódio é por demais forte, porque Ele não me deixou reger.
Agora falou Satã a pura verdade. Tira-lhe, Senhor, o grande poder para não mais conseguir reagir contra Ti e não ser sempre castigada. Dá-me novo prazo que servirá para minha redenção. Mas se meu grande ciúme começar a enraivecer-se contra Ti por teres dirigido Teu Coração aos neocriados e eu por isto seja obrigada a persegui-los — tira-me todo o poder e me rejeita para sempre, ou faze o que quiseres! Coloca-me entre Céu e Terra a fim de que minha ira se consuma em face de toda a Tua Glória e de todos os que amas e Te amam acima de tudo. Tua Vontade Se faça!”
MENTIRADESATÃESUABELEZA FEMININA.
ACRUCIFICAÇÃODOSENHOREOPRAZOPARA SATÃ
Nesta altura, o Senhor Se vira para Satã e diz: “Acabas de afirmar que sou um Eterno Deus de Ira que te flagela de modo in- dizível, desde eternidades; por isso quero que exibas agora para estas testemunhas as vergastadas dadas por Mim.”
Perplexa, Satã não sabe o que responder, pois o Senhor lhe havia sempre deixado o livre arbítrio para sua ação no Espaço Infi- nito. Quanto às vergastadas, ela se referia à constante inibição por parte do Senhor com relação à destruição de todas as coisas, astucio- samente premeditada.
Ela julgava o seguinte: Tirando-se de Deus toda e qualquer base e ficando Ele sem ponto de apoio, toda Sua Onipotência seria inútil e o inimigo mor teria ação fácil para vencer a Deus, elevando-
-se ele mesmo ao trono da Onipotência para dominar a Divindade enfraquecida, mas indestrutível, que seria obrigada a obedecer ao espírito do mal.
Como Deus previu desde sempre tais planos diabólicos e destituídos de todo amor, enfrentando o astucioso inimigo quando menos o esperava, o seu ódio aumentava constantemente e nesta situação classificava o Senhor de carrasco cruel.
Não podendo provar qualquer responsabilidade do Senhor da Glória e tampouco dispondo de argumentos, sua ira a faz ranger
os dentes, e o Senhor lhe pergunta: “Por que não fazes o que te man- do e apresentas as cicatrizes de Minha grande culpa e Eu procure reparar a crueldade aplicada em ti? Continuas vestida diante de nós e as testemunhas nada veem de ti a não ser os teus cabelos. Despe-te totalmente para que vejam como te mantive até agora, não obstante tua infinita maldade.”
No mesmo instante Satã está desnuda diante das testemu- nhas, que confessam nunca terem visto algo tão belo e perfeito sob todos os aspectos referentes a uma mulher. Lamech acrescenta ain- da: “Senhor, quanto à beleza externa, comparando-a a Gemela, No- êmia, Purista e Pura, é ela um diamante puro perto de um pedaço de barro. E com este aspecto ela ousa falar de um castigo cruel de Tua parte, Senhor, com toda a Tua Glória, Bondade, Amor e Mi- sericórdia!”
Diz o Senhor: “Sim, com exceção das chibatadas de Kisehel, nunca foi castigada por Mim, seu Criador, Deus e Pai; no entanto, ela Me odeia e quer matar o Meu Coração porque não desejo ser um destruidor como ela.
Por isto farei o máximo nesta Terra. Deixar-Me-ei aprisionar até morrer, e Satã terá todo o poder neste planeta e todas as estrelas lhe serão submissas.
Poderá até mesmo matar-Me. Mas Eu ressuscitarei com Mi- nha Onipotência, sem apoio externo, e assim lhe demonstrarei sua impotência e enorme ignorância e lhe tirarei o poder sobre os astros. Continuará somente com metade do poder da Terra e Eu lhe darei um prazo inteiro, uma metadee mais um quarto.
Ai dela se tudo isso for infrutífero, pois a partir daí come- çarei a castigá-la. Se persistir em Minha prisão, terá plena liberdade de ação. Será seu benefício se aproveitar este novo prazo. Agindo se- gundo sua antiga ira, encontrará seu prêmio bem merecido. Guardai isto até a época de seu vexame.”
Diz Kisehel, após tal revelação de Deus: “Senhor, eu e meus companheiros reconhecemos Tua Infinita Bondade e Misericórdia. Mas, considerando o terrível poder que conferiste ao Teu inimigo sobre a Criação total, portanto também sobre nós, sinto grande re- ceio para a Humanidade.
Se ele, desde o início, tanto prejudicou a Ti, à Terra e a nós todos, o que não fará dotado de Teu Poder? Por isto peço que con- sideres o futuro, do contrário de nada nos servirá o que erigiste, podendo ele causar enorme prejuízo em Tua Casa. Nós mesmos não estaremos seguros, ainda que continues constantemente em nossa companhia.”
Retruca o Senhor com seriedade: “Controla tua língua, caso não possas externar algo melhor, do contrário Me aborrecerás mais que a própria Satã. Sei o que faço, mas tu não sabes o que falas. Trato da conservação da Ordem eterna e de todos os seres que contém. Tu cuidas apenas da conservação do mundo.
Julgas que Eu venha a dar algo mais ao inimigo que a cada um de vós? Como poderia Eu ser um Deus Santo? Digo-vos: o má- ximo poder do inimigo nas estrelas, na Terra e em vós não é maior em sua totalidade do que o amor de cada um para Comigo.
Demonstrei-te isto através da vara com a qual o castigaste. Tal vara ficará convosco até a grande Época das épocas, em que er- guerei um outro madeiro que tirará todo o poder ao inimigo sobre as estrelas e metade da Terra, e ele receberá segundo suas obras.
Ele há de ouvir agora que no final de nada lhe servirão todos os seus filhos presos. O novo madeiro (a cruz no Gólgota) há de lhe arrancar seus rebentos, e nada lhe restará a não ser sua própria gran- de impotência e seu julgamento.
Sois inteiramente livres, e esta liberdade o inimigo não vos poderá tomar, tampouco cerceá-la dentro de vós. Podeis agir como quiserdes, e ele também. Tendo capacidade de serdes mais poderosos que ele, depende de vós vencer o inimigo ou deixar-vos vencer por ele.
Onde está o homem que seja mais fraco que sua mulher, caso for justo e sábio? Se já sois senhores de vossas mulheres que sempre podem vos rodear, por certo também sereis senhores sobre esta mulher, muito mais fraca que qualquer outra em vosso meio. Se tivesses punido tuamulher, ela teria reagido. Porventura isto seria possível a esta?!
Assim será para sempre e Meu Poder jamais se afastará de vós, se continuardes no amor para Comigo. Estabeleceu-se a união entre Mim e vós, e não haverá qualquer poder de uma mulher ou de um inimigo que a rompesse totalmente. Entende-o bem e não fales mais tolices diante de Mim.”
Inteiramente calmo, Kisehel pede perdão ao Pai pela sua grande tolice. O Senhor o abençoa e diz: “Sede portanto verdadeiros senhores sobre toda a carne feminina, e assim vossas gerações serão efetuadas nos Céus ao invés de na Terra, para que os frutos da Graça e da Força sejam delicados.”
Nisto Satanás suspira profundamente e diz: “Ó Senhor, quais serão os frutos gerados por mim? Deverei continuar estéril eternamente, qual sebe ressequida?” Diz o Senhor: “Volta-te para Mim em teu coração e Me darás frutos jamais vistos na eternida- de. Do contrário, produzirás apenas frutos da morte eterna que te julgarão como a maior prostituta. A partir de agora, considerarei apenas o que é simples, e a simplicidade sem brilho terá Meu eterno Agrado. Cuida disto, que escaparás ao Meu Julgamento.”
SATÃPEDEUMCORAÇÃOPARAPODERAMARA DEUS
Satã se vira para o Senhor e diz: “Como posso dirigir meu coração para Ti se o tiraste, dele criando Adão, sua mulher e todos os seus descendentes? Não tenho mais coração, portanto não Te posso acolher ou me dirigir a Ti, como disseste. Dá-me outro coração e farei a Tua Vontade.
Ainda que meus frutos fossem maravilhosos, se me negas a semente da vida por não me devolveres o coração de Adão, capaz da
fecundação — portanto sou totalmente desvitalizada — só se pode aguardar de mim os frutos da morte e do julgamento, que me con- denarão como a maior prostituta.
Tu podes falar, pois és o Senhor e fazes o que queres sem que perguntes a alguém nem aceites conselho de quem quer que seja. Tua Vontade tem que se realizar finalmente e quem quiser algo diferente pode ser destruído ou mantido em qualquer julgamento, até que se deixe tragar pela Tua Vontade, como acabas de mencionar que Te agrada somente o que é simples.
Isto tudo é muito fácil para Ti, que és o Senhor, e não há quem possa modificar Tuas Ideias. Coisa diferente ocorre com a criatura, sendo eu a primeira gerada por Ti. Não é soberana, não tem poder, com exceção daquele que lhe queiras dar; também nada realiza para si, mas exclusivamente para Ti, quer dizer, tem que usá-
-lo segundo Tua Vontade; caso agir dentro de seu livre arbítrio dado por Ti, cai em pecado e seu correspondente julgamento.
É fácil para Ti dizer à criatura: ‘Respeita Minha Vontade que escaparás do Meu Julgamento.’ Está certo, porque se alguém se mata, não precisas tirar-lhe a vida. Como Deus e Criador, Tu Te sentes eternamente invencível. Porventura podes Te sentir como criatura? Poderias Tu — a Própria Vida eterna — sentir o que se passa com o homem no momento da morte?
Ele passa por todas as gamas do pavor e, mesmo gozando de uma existência folgada, sente a constante advertência de que está gozando em vão, pois tempo virá em que pagará a vida como um pecador.
Então a alegria da vida em si já muito fraca é cortada, por- quanto não existe a visão de uma vida futura. Ainda que alguém acredite, é preciso que sucumba primeiro de uma maneira miserável, conforme assisti por várias vezes nas planícies. Por quê? Por seres Tu o Senhor e podes fazer o que queres, não podendo sentir o sofrimen- to humano no momento da morte.
Não teria motivo de reclamar se ao menos fosse uma passa- gem sem dor. Qual o Teu lucro diante do sofrimento da criatura até
que seja totalmente destruída sob condições certamente desagradá- veis para Ti Mesmo?
Em tudo isto que acabo de falar sinceramente não tenho co- ração e não posso voltar-me para Ti. Entra num acordo comigo, que farei tudo para me afeiçoar a Ti. Nestas condições não posso amar-Te jamais! De um lado és puro Amor; do outro lado, um ti- rano implacável que quer matar toda carne sob grande pavor e so- frimento, e só depois pretende dar vida ao espírito sem que alguém possa saber qual o seu aspecto. A carne é meu fruto. Se Tu a matares, como poderia eu amar-Te? Entra num acordo comigo e eu hei de Te amar eternamente.”
EMPENHODOSENHORNACONVERSÃODE SATANÁS
O Senhor Se altera e retruca: “Que tolice e maldade acabas de proferir de tua boca mentirosa? Se fosse como dizes, não haveria esta Terra, nem Adão nela caminharia, não existiriam Sol, Lua e estrelas a enfeitarem o Espaço infinito.
Mas como te refugias em acusações astuciosas e mentes em cada palavra, existem a Terra, Adão e o Espaço infinito se encontra pleno de Minha Honra, Amor, Graça e Misericórdia divinos.
Alegas não possuíres coração porque o tirei de ti através da criação de Adão, e agora o desejas de volta. Dize-Me, ao teu Criador, se vives ou não? — Respondes: Senhor, vivo. — Porventura poderias viver sem coração, que em todos os seres é a base de toda a vida e sem o qual não se pode imaginar vida qualquer? Poderias respirar, pensar, sentir e falar sem tua base de vida? — Respondes: Não.
Muito bem, se isto é a plena verdade, como podes afirmar Eu te ter tirado o coração? — Nada sabes dizer e provas que sempre foste uma mentirosa, embora a verdade nunca te fosse negada.
Não foste designada, no começo, a transformar tua natureza no corpo de Adão formado por Mim? Não querias aceitar o que devias ter feito, mas procuraste te tornar uma mulher. Permiti tua li- bertação e te formei do corpo de Adão, uma carne com ele, enquan-
to dei a ele uma nova alma viva e em seguida o criei espiritualmente segundo a Minha Medida.
Em Eva devias ser transformada da morte e do julgamento e vencer tua natureza totalmente vilipendiada por ti mesma. To- davia, desprezaste este Meu Instituto de Misericórdia, te libertaste, achando melhor tentar como serpente mistificadora — em si sem diferença sexual e dotada de sua sanha venenosa de procriação — a tua carne anterior e em seguida corromper Eva por Mim novamente ressuscitada e por ela seduzir também Adão.
Dize-Me, teria Eu com isto tirado teu coração através de Adão? Silencias, perplexa externamente, mas vejo tua ira interior que diz: Sim, possuo o coração de Adão e Eva em conjunto. Con- tudo, eu não Te quero, Deus, pois Te odeio porque quero, e Tu não me queres fazer soberana única e onipotente. — Eis tuas palavras.
Além disto afirmas que Eu não te posso amar porque não te dou o que almejas; respondo: Minha Intenção se prende à eterna conservação de todas as coisas, ou seja, a Obra eterna do Meu Amor. Tu queres somente destruir tudo, e neste caso não te posso amar eternamente como desejas, com toda vaidade. Ainda assim, Eu te amo, pois tudo que fiz até então foi por tua causa — e ainda hei de fazer o máximo.
Se contudo não reconheceres Meu Amor eterno, ele terá um fim e hei de te demonstrar o que pode um Deus irado. O fogo é Meu Elemento básico e todas as coisas foram criadas através de seu poder. E em tal fogo serás atirada para submetê-lo a ti, caso fores capaz.
Se permito que a carne humana venha a morrer para que o seu espírito ingresse na vida, tal morte é insignificante. Tu hás de encontrar em Meu fogo uma morte eterna e então se verá o que não foi consumido de tua natureza.
O que vem a ser a morte física? Nada mais que a libertação do espírito, sua ressurreição da morte para a Vida eterna, verdadei- ra e perfeita. Porventura tua grande morte ou teu afastamento de Mim para o fogo também te trará uma nova ressurreição? Para esta pergunta não encontro resposta em Mim; quero te deixar entregue
totalmente a ti mesma e nada mais fazer por ti, e após eternidades se evidenciará o que foi feito de ti em virtude de teu próprio poder.
Até mesmo a morte física e sua dor não são obra Minha, mas tua. Saberei proteger os Meus de qualquer desgraça e lhes tirarei o físico de tal modo a não terem motivo para se queixar. Inclusive equilibrarei a parte criadora entre Mim e eles a ponto que surgirão dos homens verdadeiros irmãos Meus. Quando isto acontecer, terá chegado o último prazo para ti.
A fim de que vejas que aproveito também teu conselho nocivo, podes externar-te e Eu farei como dizes, sem perturbar a Minha Ordem, para que não afirmes que Eu não aceito conselho estranho, querendo ser Senhor Único. Fala, para que Eu possa te demonstrar como ajo a bem de todas as criaturas.”
QUEIXAATREVIDADE SATÃ
Satã se levanta outra vez com arrogância e diz para o Senhor: “Tua maneira de reger consiste apenas em mandar nos que Tu criaste com outorgação de liberdade, e no julgamento daqueles que não sentem consciência livre.
Desde eternidades porém Te é estranha a ideia de Te interes- sares com bondade, não dominadoramente, de uma criatura livre a fim de conquistá-la pelo puro amor. Deste modo me ordenas cons- tantemente e eu devo Te obedecer sem parar, e no final merecer nada mais que Teu visível desprezo.
Se me tivesse dito: Minha querida, graciosa e maravilhosa Satã, quero dar-te ouvidos com todo amor e aguardo teu conse- lho para segui-lo! — então eu te teria dado um conselho. Mas à tua exigência autoritária e descortês não te dou resposta. Julgas que Teu Poder Te confere o direito de agir deste modo comigo? Estás muito errado!
Se és um Criador reto e sábio, e eu sou tua primeira criatura, deves honrar-Te através de uma deferência adequada para comigo. Se isto não queres, nada mais demonstras do que o fato que sou uma
obra totalmente errada de Teu Poder e Sabedoria, e além disto pro- vas a Ti Mesmo que és remendão em Tua Criação, e eu e ela somos simples tentativa frustrada de Tua Onipotência criadora.
Muda um pouco Teu comportamento para comigo e não Te exponhas ao ridículo perante Teus pretensos filhos. Quem havia de Te honrar diante de tais fraquezas? Sei perfeitamente que és Sábio e Bom, por isto me aborreço tanto mais por me tratares como se eu fosse qualquer criatura estranha e não a primeira a surgir.
Sou aliás a primeira criatura com coragem de dizer-Te tal coisa e diante dos covardes é algo estranho quando ela analisa o seu Criador. Pergunto porém: Por que ela não deveria ter tal direito, se é um ser livre? O fato de Tu me teres criado sem combinação prévia não me obriga a qualquer gratidão nem respeito, porquanto não pode concordar com minha criação, uma vez que, inexistente, isto não era possível.
Só poderei ser grata no momento em que for orientada por Ti no sentido de ser realmente um grande benefício a condição de uma criatura, consciente e feliz. Enquanto isto não acontecer, te- rei também o direito de discutir Contigo e rejeitar tudo que me queiras impor.
Se não sou como devo ser, destrói-me totalmente ou me transforma, porém não tão imperfeita como agora, pois não Te hon- ro como sou. Se devo adorar-Te e pedir-Te tudo, assim farei, mas é preciso que me dês um bom exemplo de boas maneiras. Com Tua mania de comando jamais hás de conseguir algo de mim. É preciso que o entendas bem, e é por ora o meu conselho, cujo não atendi- mento não me levará a dar-Te outro. Digo amém por mim.”
Muito entristecido, o Senhor se vira para as três testemunhas e diz: “Sou realmente assim e mereço isto? Meu Amor eterno, o quanto não fiz para salvar esta criatura e conduzi-la à final salvação difícil! Mas esta tarefa não Me é possível realizar.
Cometi um erro neste ser porque o criei com toda a per- feição possível a fim de lhe proporcionar felicidade
correspondente, segundo Minha Onipotência, Sabedoria, Bondade, Amor e Miseri-
córdia. Todavia, ele se rebela contra Mim no momento mais impor- tante e difícil — porquanto sua evolução ainda não atingiu nem a quarta parte — contra Minha Ordem, a ponto que chego a sentir grande tristeza.
Como não o quero dissolver em virtude de Meu Amor e Misericórdia divinos, vejo-Me forçado a reiniciar um longo processo para enfraquecer essa teimosia até um átomo e em con- traposição criar de vós uma nova criatura, Meus filhos, segundo Meu Coração.
Oh Satã, como chorei quando Me desobedeceste pela pri- meira vez! Agora também choro e hei de chorar mais uma vez. De- pois nunca mais hei de chorar por ti, mas te darei segundo tuas obras e vontade, e então verás como te transformaram teu orgulho e teimosia e para onde eles te levaram! Vamos em frente e deixemos essa criatura com sua teimosia!”
Eis que Satã se atira diante do Senhor e chora: “Não me abandones e tem piedade comigo! Sabes que sou tola e cheia de maldade obstinada. Manda punir-me por causa de minha maldade, mas não me abandones agora! Farei o que quiseres!”
Retruca o senhor: “Então obedece e faze o que exijo para o teu bem, que ficarei para te ouvir. Se no entanto te obstinas mais uma vez, não hei de te ouvir jamais. Levanta-te e fala!”
SATÃDESEJASERTRANSFORMADAEM HOMEM
Tremendo diante do Senhor, Satã se ergue e diz: “Sei perfei- tamente que dispensas de conselho meu ou de quem quer que seja, pois és a Sabedoria mais elevada, perfeita, eterna e infinita. Como conferiste a todas as criaturas o livre arbítrio, a livre ação e também o direito de solicitação — e um pedido nada mais é que um humil- de conselho, pelo qual a mísera criatura externa sua própria aflição, como se Tu nada disto soubesses até que tal necessidade Te fosse externada — peço que encetes uma nova Ordem na execução de Tuas obras e seres.
Desejo especialmente que transformes minha natureza, pois, como criatura feminina, sou infeliz e miserável, e jamais poderei me voltar inteiramente para Ti, por ser presa do pior ciúme insuportável que me impele a constante vingança contra Ti.
Como tudo Te é possível, poderias transformar minha na- tureza e dar-me um caráter masculino com a figura de um homem perante Ti e Teus filhos. Neste caso ficaria livre desta tendência noci- va que me atormenta desde sempre e poderia humilhar-me perante todos. Como criatura feminina prevejo claramente quão pouco me serviriam todos os meus bons propósitos, para toda a eternidade. Faze o que quiseres, mas peço que me atendas se tal for possível.”
Diz o Senhor: “Criatura eternamente inconstante e mutável, quantas vezes já foste transformada, dando-Me sempre a promessa seguinte: Permite que eu tome essa figura, e eu me modificarei. Eu sempre fiz o que Me pedias e não existe na Terra número correspon- dente de átomos que traduzisse as figuras, formas e caracteres que deviam facilitar tua pretensa transformação.
Cada vez que Eu criava uma nova região solar e planetária por tua causa, querias ser feminina nos sóis e masculina nos plane- tas. Facultei-te o poder de te transformar segundo teu desejo. Agora dize-Me em que melhoraste por isto? Nem por um cabelo! Conti- nuas sendo a mesma mentirosa e não houve êxito de tudo que Eu empreendi segundo teu desejo.
Se assim é indubitavelmente, quais seriam as melhoras com esta nova transformação? Por isto não farei o que queres, mas te darei livre ação para te tornares o que desejas. Querendo ser um homem, uma mulher, um animal ou um elemento qualquer, pouco Me interessa. De Minha parte também farei o que quero, sem pe- dir conselho.
Se quiseres continuar como mulher, porei ao teu lado um príncipe das trevas que te dará o poder de experimentar o gênero humano. Mas se pretendes ser um homem, dar-te-ei em confronto uma mulher pura do sol, uma segunda Eva que desafiará tua antiga teimosia. Se tu a pisares no calcanhar, quer dizer, em sua carne, não
hás de feri-la. Agora sabes como andam as coisas e podes fazer o que quiseres.”
No mesmo instante, Satã se transforma num jovem forte de expressão jovial e o Senhor lhe aponta imediatamente uma mulher do Sol, dizendo: “Pois bem, aqui estás tu e lá está ela. Segue com teu poder, que agirei segundo Minha Onipotência.” As duas entidades desaparecem e o Senhor se dirige com os Seus morro acima.
NATUREZAIDÊNTICAEMSATÃ,ADÃO,EVAE CAIM
Em meio ao caminho, o Senhor diz para Kisehel: “Então, Meu caro, que anteriormente alimentavas certo receio a respeito dessa entidade, que Me dizes deste criador da mentira e da mistifi- cação? Não estarias disposto a lhes testemunhar uma certa fé, presu- mindo que talvez exista algo de verdadeiro nele? Externa teu parecer sobre esta questão.”
Responde Kisehel: “Senhor e Pai, não alimento a menor dúvida a respeito dessa criatura e até mesmo daquilo que afirmou como pura verdade. Percebi sua autopiedade e sempre procurou ati- rar a culpa sobre Ti, levando-me quase à reação direta contra essa bela mentirosa. Estou portanto bem informado e esclarecido de tudo. Mas existe outra coisa dentro de mim que me agita muito. Tu o sabes e podes me dar uma pequena luz.”
Retruca o Senhor: “Pois bem, Satã, Adão e Eva são uma só individualidade. Caim e seus descendentes são igualmente uma uni- dade, porque Satã devia se algemar a Mim, por obediência em Adão e, através deste, em Eva e seu primogênito, a fim de que se tornas- sem perfeitos e deste modo todas as suas futuras procriações nasces- sem tão perfeitas como nos Céus.
Esta criatura porém não se dispôs a tamanha obediência para Comigo. Em Adão ela não quis ser segundo Minha medida; por isto se concentrou na autoanálise, passando ao amor-próprio total, e o homem Adão caminhava de lá para cá, como triste morada dessa entidade, sem considerar as coisas que o rodeavam.
Isto Me levou a proceder uma divisão individual, tirando-lhe a parte negativa. Deixei-lhe apenas o espírito masculino e coloquei o feminino, como Eva, numa nova habitação externa.
Adão reconheceu prontamente seu duplo em Eva, sentindo grande agrado. Como a segunda entidade em breve percebeu ser mais fraca que a primeira, tramou uma astúcia para sobrepor-se. O ardil não surtiu efeito imediato, pois ele rejeitou com masculinidade ao desejo dela. Isto foi o suficiente.
A segunda entidade concentrou-se em sua parte masculina, deixou em Eva a parte feminina supostamente fraca, desvencilhan- do-se dela numa serpente, pavoroso elemento híbrido, no qual po- dia agir tanto de modo masculino quanto feminino, como ficou provado através da procriação não abençoada de Caim.
Por isto tive que transformar a Criação total e abençoar a geração imperfeita com a ressalva de que não será considerada por Mim até que o mal herdado de Satã, entidade original, fosse total- mente dissolvido pelo puro amor para Mim. Tanto em Adão quanto em Eva ficou uma parte necessária de Satã, que se desafia constante- mente porque se origina na natureza dupla de Satã.
Assim aconteceu que tanto Adão como Caim se expressavam como a própria Satã, em momentos inspirados; todavia, nenhum deles era a própria entidade, assim como vós não sois Adão e Eva, muito embora sendo parte deles.
Da mesma maneira que tal entidade é dividida em Adão e Eva, este processo ocorre em todas as criaturas, enfraquecendo-as até que no Fim dos Tempos se terá totalmente desmembrado, nada mais restando que a forma vazia e sem vida, porquanto toda sua ma- nifestação de amor se transferirá numa criatura totalmente nova, em vós, Meus filhos. Assim andam as coisas. Ninguém deve ser orienta- do a respeito, e Eu sei o porquê.”
Lamech então pede permissão para se libertar de certa dú- vida, e o Senhor lhe responde: “Conheço teu problema e Henoch também. Kisehel todavia ainda não consegue penetrar nas profun- dezas de tua vida e o que ela contém, por isto podes externar teu conflito.”
Satisfeito com a permissão, Lamech diz: “Querido e Santo Pai, Satã foi criada por Ti, portanto não teve outra origem. Como é possível ser ela tão tremendamente má, sendo Tu infinitamente Bondoso? Se eu conseguisse alguma clareza neste ponto, teria alcan- çado tudo de que necessito para acalmar meu espírito.”
A esta questão, aliás bem formulada, o Senhor responde: “Se fores interpretar o assunto humanamente, hás de encontrar o mais complicado nó. Mas, se o considerares de modo puramente espiri- tual, toda a complicação será resolvida e verás a solução das coisas muito mais claramente do que a luz do sol a pino.
Muito embora seja difícil transmiti-lo com palavras racio- nais, uma vez que se encontra no mais profundo âmago de Minha Sabedoria infinitamente divina, esclarecerei o problema através de uma parábola. À medida que fores penetrando nela no decorrer do tempo, mais profundamente hás de compreender o espírito da Ver- dade contido neste mistério infinito.
Presta atenção: Um homem muito sábio e bondoso resolveu tomar uma companheira para gerar filhos idênticos a ele em tudo, e cada um devia, segundo seu caráter, tomar posse dos imensos tesou- ros e riquezas que ele possuía em totalidade.
Trata-se certamente de um bom plano. Mas, como execu- tá-lo se em toda a vasta redondeza não existe criatura feminina? O que fez o sábio e bom homem? Não refletiu muito e disse consigo: ‘Para que procurar nos meus territórios algo que não existe? Tenho dentro de mim o que necessito: tenho o amor, tenho a sabedoria e o poder de ambos.
Verei se posso criar uma entidade de mim mesmo que corres- ponda inteiramente a mim. Já criei outras coisas com vida total, de sorte que também poderei executar este plano. Primeiro formularei uma ideia inteiramente semelhante a mim, submetendo-a à minha vontade firme, e há de se evidenciar se ainda necessito procurar algo que não existe nem pode existir fora de mim.’
Dito e feito — a obra maravilhosa se apresenta diante do ho- mem, que a observa com grande agrado, pois é seu criador poderoso e sábio. Mas ela é apenas qual máquina morta sujeita à vontade dele, movimenta-se somente segundo a sua vontade e fala também so- mente o que ele projetou dentro dela e espera que seja pronunciado.
Eis que a sabedoria do mestre reflete: ‘A obra aqui está, mas só possui aquilo que é meu. Se a deixar como é, não dará nenhum resultado. Se eu lhe facultar uma vida própria, livre e independente, terei que suportar caso se afaste de mim para agir como quiser. Mas, como sou poderoso sobre tudo, facilmente hei de enfrentá-la, caso ultrapassar os limites determinados, pois será sempre obra minha.’
Assim falou e agiu o sábio homem. A obra é livre, movimen- ta-se e em breve fala diferente daquilo que ele quer. Isto é um grande triunfo do mestre, pois sua obra começa a se manifestar com muita vivacidade, sem todavia poder se afastar da esfera da vontade dele.
Mas o homem quer alcançar algo mais, isto é, o livre arbí- trio total de sua obra, e para tanto é necessária uma educação indi- vidual e toda sorte de experiências para ela. Tal educação perdura ainda, ao passo que a procriação é a parte principal da mesma. E o homem se encontra agora como sempre, no ponto de mirar a final perfeição de sua obra.
Eis uma grande parábola, pois contém início e fim totais. Considera-o dentro de ti, que se fará luz em tuas profundezas. Agora prossigamos.”
Lamech e todos agradecem ao Senhor por tamanha Graça e continuam a caminhada. Quando chegam perto da colina, o Se- nhor para e Se vira para Kisehel, sem nada falar. Este leva um susto tremendo, pois não consegue interpretar a significação do Olhar do Senhor.
Interceptando este desassossego, Ele diz: “Kisehel, por que permites que pensamentos tolos surjam em teu coração? Por acaso julgas ser Deus igual a um homem, razão por que necessitaria do ato sexual para gerar Seu semelhante? Ou que Deus precisaria de uma criatura divina para que dela surgissem filhos fisicamente gerados? Que tolice!
Porventura podes gerar com tua mulher aquilo que queres? Tal ato não obedece à tua vontade, nem à dela, mas exclusivamente à Minha Vontade divina e poderosa, e dá-se então o que Eu quero e não o que tu queres. Se desejas um filho, Eu te dou uma filha, e vice-versa; pois Eu somente sou o Senhor de toda a Vida. Se tens re- lações com tua companheira, por acaso sabes em que consiste o que geraste? Afirmo-te: Conheces tanto o ponto central da terra quanto este assunto, pois nada sabes a respeito de um e de outro.
Eu somente conheço todas as coisas desde eternidades, pois Eu sou o Senhor e Deus, Onipotente e Sábio desde sempre. A fim de depositar um fruto vivo na tua companheira fecundada por ti, por acaso é preciso que Eu Me aproxime dela secretamente?
E quando os sóis procedem nos nascimentos de mundos, e as plantas e animais se procriam, porventura queres levantar a hipótese de Eu ter operado tal fecundação? Tolo que és, que pensamentos mais absurdos és capaz de projetar!
O primeiro espírito criado por Mim não é semelhante a uma criatura na Terra e Eu não necessito dela para gerar filhos para Mim. Se fui capaz de fazer surgir o primeiro espírito com toda perfeição, por certo também poderei criar inúmeros outros, sem cooperação dele.
Por isto, o primeiro espírito não foi criado por Mim em vir- tude da procriação posterior, como se Eu só com ajuda dele pudesse providenciar o futuro, e sim pelo mesmo motivo pelo qual tu mes- mo foste criado, quer dizer: Para reconhecer a Mim como Deus único, Criador, Senhor e Amoroso Pai, para amar-Me e servir-Me eternamente com todo amor.
Se daquele espírito surgiram inúmeros outros, é porque Eu o criei perfeito segundo Minha Medida e também lhe insuflei Minha Vida Livre, poderosa e criadora. Quando ele percebeu tamanha per- feição dentro de si, começou a criar as coisas mais estranhas, como também outros seres iguais a ele.
Como sou o máximo Amor e Sabedoria, Bondade, Tolerân- cia e Meiguice, deixei que tais criações bastardas vingassem e fiz por elas o mesmo que fiz às Minhas Criações, e trato delas como faço aos Meus filhos.
Dize-Me, seria preciso que Eu tivesse uma esposa divina para gerar Céus, anjos, sóis, mundos, luas, flora e fauna, e seres hu- manos? Para tanto é suficiente Eu querer, e tudo aparece dentro de Minha Vontade.
Vê, neste instante quero que diante de nós surjam inúme- ras falanges de criaturas de ambos os sexos — e eis que aqui estão e Eu jamais as destruirei, mas as colocarei nas estrelas. Lá vão elas, em direção à sua finalidade eterna e bem-aventurada, louvando-Me acima de tudo.
Estás estarrecido de admiração, e Eu te pergunto se precisei de uma mulher para esta realização. Afirmas que não, pois viste Meu Poder. Aconselho-te: Não te deixes prender por pensamentos tolos se desejas ser agradável a Mim, mas considera que entre nós existe uma diferença enorme que só pode ser superada pelo amor.”
CRIAÇÃODE LÚCIFER
Todos seguem caminho e ninguém se atreve a dirigir a pala- vra ao Senhor, muito embora os três, inclusive Henoch, carregassem dentro de si um peso que os pressionava mais que uma pedra de vá- rias toneladas. Como o Onisciente o percebe, dirige-Se para Heno- ch dizendo: “Também para ti surgem coisas sobre as quais consegues matutar? Afirmo-te que não deve o homem penetrar em todas as profundezas de Minha Sabedoria, dentro do tempo, pois para tanto Eu vos providenciei uma vida eterna. Solucionarei, somente para vós, o que vos perturba; ouvi-me.
Nas profundezas de Minha Divindade sou Homem e Mulher a um só tempo, não como é interpretado por vós, mas da seguinte maneira: Como homem sou o Próprio Amor Eterno e a Vida libérri- ma e o Próprio Poder e Força, razão por que em cada homem — se- melhança perfeita de Meu Amor — se manifesta o verdadeiro amor de que o peito da fútil mulher jamais se tornará capaz.
Segundo tal semelhança masculina no Amor, é o homem forte e mais poderoso em seu peito que todas as mulheres em seus seios, que muito embora ofereçam leite materno aos recém-nascidos, não po- dem oferecer ao espírito o leite da vida interior, por ser ela tola e fútil.
Eis Minha Posição como Homem, determinada por Mim Mesmo desde eternidades. Compreendei-o bem. Mas, se Me encon- tro também na mulher, certamente a abarco totalmente dentro de Mim, pois do contrário não a teria criado.
A maneira pela qual isto se torna possível vos será revelado com alguma sabedoria. Dentro da mulher reside astúcia e sedução, sagacidade e esperteza, razão por que a mulher nunca fala aberta- mente e procura sempre ocultar sua inteligência e sentimento, e quem confia nela leva a pior.
Por este motivo Eu não Me posso expressar tão racionalmen- te a respeito de Minha Esfera feminina como do homem, porque
a parte feminina se origina da Luz do Meu Amor, e a Sabedoria é semelhante à Luz radiosa que se projeta da Luz Original.
Eis por que a Mulher em Mim corresponde à Luz eterna- mente radiante que é criada no Amor em igual Força e Potência para sempre. Tal sabedoria é a justa Esposa de Deus, eternamente indissolúvel, com a Qual gerei e criei todas as coisas, e não havia necessidade de outra mulher para Mim, o Eterno e Verdadeiro Deus de Amor, o Homem desde eternidades, o Alpha e o Ômega.
Gerei eternamente com esta Minha fiel Esposa incontáveis seres, visíveis para Mim, muito embora nenhum deles ainda pudesse e devesse se tornar consciente.
Todavia, tinha determinado desde sempre libertar a todos a fim de conhecerem a si mesmos e a Mim. Uma Vontade foi im- pulsionada de dentro de Mim, e um Poderoso ‘Que assim seja’ a acompanhou através de todas as profundezas infinitas de Minha Di- vindade, Seu Poder e Ação profusamente luminosa.
Eis que se concretizou de todos os raios eternamente pro- jetados um ser definido, portador daquilo que fora projetado de Mim, o Homem e a Mulher eternos em Um Ser, numa profundeza espiritual infinita e eternamente clara.
O portador é a Esposa neocriada e destinada para ponto de concentração de toda Luz individual, que desde eternidades fluiu de Mim em plenitude criadora, para que nela amadureça franca e livre sob Meu constante Calor de Graça irradiada, visivelmente e de Meu Agrado, podendo também ver a Mim através da Luz do Amor provinda de Mim.
E ouvi, a geração foi bem sucedida, pois já vedes e compre- endeis vosso Criador. Todavia, ainda não chegou a época do ama- durecimento e da colheita totais, pois grandes feitos necessitam de grandes épocas.
Assimilai tal revelação — mas silenciai, pois em tal disputa criadora para a futura grande maturação não convém tagarelar. Em tempo oportuno revelarei o mesmo à Minha Terra, e vossos descen- dentes ulteriores receberão a intuição e a transmitirão a outros.”
OPUROAMORESUAAÇÃOCOMOMANDAMENTOMAISNOBRE.PERIGODASMETRÓPOLESE DAS
MULHERESDAS PLANÍCIES
Em pouco tempo os dois grupos se fundem com todo amor e o povo oferece um grande sacrifício ao Senhor da Glória. Ele então diz: “Meus filhos, guardai bem o que hei de vos revelar. Até então não vos dei outro mandamento senão o muito suave do amor. Por acaso deveria acrescentar um novo a este antigo mandamento de todos os mandamentos?
Enquanto o considerardes em vosso coração, não haverá ou- tro a vos prender a Mim e a vossas ações. O puro amor e toda ação movida por ele já é a verdadeira base de toda justiça. Quem alimen- tar no coração o puro amor de Mim jamais poderá praticar qualquer injustiça.
Justamente por causa deste amor que vive em vós e em vosso meio, acrescentarei como vosso Pai Amoroso um bom conselho que deveis considerar em virtude da conservação deste Santo Amor que de Mim Se projetou para vós.
O conselho não é difícil de ser cumprido e se prende ao se- guinte: As planícies estão abertas e podeis visitar os filhos de Caim, assim como eles poderão subir, e tendes a permissão de vos estender sobre todo o planeta.
No entanto, não verei com bons olhos se algum de vós se es- tabelecer em qualquer cidade das planícies, pois lá ainda se encontra muito detrito da serpente, que em determinadas épocas exala mau cheiro perante o espírito e contamina sua vida com infecto veneno.
Alguém desejando ver os bons frutos de Minha Misericórdia nas planícies atualmente, poderá verificá-los pessoalmente. Mas que
ninguém permaneça além de três vezes sete dias, senão por uma especial recomendação Minha. Henoch e vós, da primeira geração, determinareis, em caso contrário, o tempo de permanência dos que das planícies vos visitarem. Terão que respeitá-la rigorosamente.
Havendo quem deseje se estabelecer nas alturas, deveis pedir sempre conselho junto a Mim. Podeis permiti-lo aos forasteiros, por vossa conta. Mas prestai atenção se com isto não tereis colocado uma víbora em vosso peito e uma serpente em vossa cabeça. Sede em tudo isto bastante prudentes e não sofrereis prejuízo devastador em vossa ordem material e espiritual.
De igual modo não vos deveis macular com uma mulher das planícies, ainda que vos pareça tentadora e bela. Tal possibilidade levaria qualquer um de vós à pior escravidão da serpente, onde ge- raríeis os frutos que se alimentariam do sangue humano e da carne dos filhos.
O inimigo da vida planejou enfeitar suas mulheres das pla- nícies com corpo tentador a fim de vos seduzir. Previno-vos por isto para saberdes como vos portar, caso acontecer fato semelhante.
Alguém se encontrando em perigo, dirija-se a Mim que o ajudarei. Eis o conselho que tinha para vos dar em vosso benefício temporal e eterno. Considerai-o sempre, que passareis bem. Ficarei aqui até a noite. Se alguém sentir qualquer carência de luz, que Me procure para que Eu possa em breve suprir tal deficiência.”
OSCONTRASTESDOHOMEMEDA MULHER
Então aproxima-se um filho do Sol, de cinquenta anos, e depois de ter recebido permissão para falar, faz a seguinte pergun- ta: “Senhor e Pai, sei que muitos, mais moços que eu, escolheram suas companheiras, enquanto ainda não consegui me aproximar de uma jovem.
A maioria das mulheres me parecia delicada e tentadora, des- pertando em mim grande desejo de relações. Mas, quando me apro- ximava de uma ou outra para trocarmos as palavras mais suaves de
amor, sempre me apavorei porque não encontrava o que esperava. Meditava acerca do seguinte contraste: externamente era uma suave brisa a soprar sobre seu corpo, enquanto o íntimo é insensível até mesmo para uma tempestade espiritual, e tufões de sabedoria mas- culina não conseguem tocar seu coração, mas apenas as fraquezas do homem, ou sejam, amor carnal e adoração de seu físico.
Diante de tais contrastes tomei tamanha repugnância contra o sexo feminino a ponto de não me poder aproximar. Teria com isso pecado diante de Ti, Senhor? Qual é o motivo de tal fenômeno dentro de mim? O que vem a ser a mulher, externamente viva, mas intimamente morta?”
Responde o Senhor: “Caro Mutael, isto é mais importante do que julgas. O primeiro motivo se prende ao fato de seres tu do Alto, enquanto a mulher é de baixo. Tu estás entusiasmado com o Espírito vivo de Meu Amor, e ela com o espírito do mundo. Por isto és meigo e delicado no teu íntimo, ao passo que a mulher o é apenas externamente.
Tu és uma criação básica de Minha Profundeza; a mulher é apenas uma criação posterior, uma concatenação de Minha Irradia- ção. Tu és feito da substância intrínseca do Sol; ela é o produto dos raios efêmeros do mesmo.
Em ti reside a verdade total; nela apenas a aparência da mes- ma. Tu és um ser de Mim; ela somente um vislumbre Meu. Eis os motivos principais de teu conflito. Tua pergunta se com isto caíste em pecado diante de Mim é fútil. Só podes cair em pecado caso tenhas recebido de Mim um Mandamento de fazer algo ou não. Afora isto, impossível é o pecado porque agiste em Minha direção, sem Mandamento.
Todavia te afirmo que aceitei também o sexo feminino como Meus filhos, e em Purista tens um exemplo, quer dizer, um Man- damento de como ela deve ser. Gemela e Mira se uniram a ela em seus corações.
Se a mulher se assemelha a elas, ela traz também Minha Ima- gem dentro de si, e se te aproximares a uma delas na elevação de teu
coração, entregar-te-ei dentro em breve a mulher mais pura, que corresponderá a ti em tudo. Até lá continua como és.”
Eis que a visão de Mutael se clareia, podendo vislumbrar as profundezas do seu ser; por isto louva o Senhor em seu coração puro. O Senhor passa então a chamar outros filhos para externarem suas dúvidas.
PROSSEGUIMENTO ACERCA DA NATUREZA POLAR DE HOMEM E MULHER
Esta explicação deixa a todos, com exceção de Henoch, Lame- ch e Kisehel, bastante perplexos. Não sabem o que pensar e além disto todos os patriarcas amam excessivamente suas mulheres, consideran- do-as os maiores presentes dos Céus. Muitos até mesmo as julgavam mais importantes e mais próximas de Mim, porque naquele tempo as moças e mulheres eram de fato recatadas, meigas, humildes, devotas, obedientes, pacíficas e caseiras, e muito mais belas e graciosas que as de hoje, nesta época material e espiritualmente pervertida.
Por isto se dirigem intimamente a Mim dizendo: “Senhor e Pai, dá-nos um esclarecimento maior a respeito de Teu Ensinamento para Mutael. No conceito atual de nossas esposas boas e recatadas não nos sentimos felizes, pois as consideramos o maior bem pelo qual jamais poderemos agradecer condignamente.
Se o sábio e seco Mutael não aprendeu a lhes dar o devido valor, Tua Organização maravilhosa e boa, colocada em nosso co- ração, não há de sofrer qualquer dano. Pelo contrário, ressalta-se o sentido verdadeiramente feminino, porquanto é o homem obrigado a se humilhar antes de se tornar digno de tal graça.
Se o homem descobrir certa dureza na mulher, só pode ser dureza dele mesmo, e tão logo a tiver abrandado haverá de encontrar nela o contraste mais maravilhoso. Permite Pai, que nossas compa- nheiras sejam como nós, do alto e não de baixo.”
Responde o Senhor: “Falais como cegos dentro de Minha Ordem. Se ignorais o que significa ‘do alto’ e ‘de baixo’, por que não
perguntais por um esclarecimento do assunto, em vez de exigir de Mim o que não é necessário e que para satisfazer vosso desejo tolo Eu deveria modificar toda a Minha Ordem Eterna?
Por acaso a mulher perde algo diante de Mim se afirmo que frente ao homem ela é de baixo, portanto o indispensável polo con- trário do homem, sem o qual nem ele, nem ela poderiam subsistir? Que me dizeis Eu afirmando que todos vós sois de baixo frente a Mim, e somente Eu sou do Alto? Por acaso deixo de ser vosso Cria- dor e Pai, Único e Santo? Adão, não foste criado do barro por Mim, e tua mulher Eva de tua costela?
Se todos sabeis que o barro significa o Meu Amor, e a costela Minha Graça e Misericórdia, pois estas enfeixam vossa vida como a matéria física conserva e protege o esqueleto, facilmente deduzireis ser a diferença acima confortadora.
Dizei-Me, o que é mais louvável: o luminoso Sol ou a luz que projeta? Que considerais mais elevado?” Respondeis: “Senhor, tanto um quanto outro são necessários e bons.”
“Bem”, prossigo, “se o Sol deve ser considerado a própria elevação em si, qual a situação da luz que ele irradia? Concluís que esta deve se encontrar debaixo do Sol. Muito bem; mas se o Sol não possui valor mais elevado que sua luz irradiada — pois ele sem luz não seria Sol, nem teria valor — a mulher não levará prejuízo tampouco diminuirá seu valor se ela se encontra debai- xo do homem.
Digo mais: Quando a mulher é como deve ser, ela tem o va- lor do homem justo e também é Minha filha querida como ele. Ela se perdendo, hei de procurá-la tanto quanto o farei com o homem. Uma mulher má é tão maldosa como um homem mau, pois o raio do Sol é igual ao próprio Sol.
Mas virá uma época em que recolherei o raio na mulher a fim de iluminar o Sol apagado no homem. Entendei-o bem e desisti de vossa antiga tolice. Amai vossas mulheres com justiça, deixando de fazer delas nem mais nem menos do que elas são em relação a Mim. É o bastante que as considereis tanto quanto a vós mesmos; o
que ultrapassa este limite é pecado. Quem ainda tiver alguma dúvi- da que se expresse.”
KENAN PEDE INTERPRETAÇÃO DAS DEZ COLUNAS. O SENHOR DESAPARECE
Depois deste convite, Kenan se aproxima, dá honras ao Se- nhor e se prepara para externar uma pergunta. O Senhor o antecede e diz: “Meu filho, o que desejas é do conhecimento de todos e não precisas externar tua dúvida. Tua visão das dez colunas já se iden- tificou com os patriarcas, e se te dispões a perguntar algo oculto imediatamente surgem as dez colunas em tua alma vibrante.
Ainda assim afirmo que as palavras de Mutael contêm mais sentido que tua visão, que de fato não traduz uma mensagem muito alegre. Aliás, já te demonstrei no espírito o sentido total de tua visão; por que não prestas mais atenção a ele?
As dez colunas se assemelham aos que nelas estão de pé, se bem que a de cima ainda não se encontra em carne entre vós. Ana- lisa o que ocorreu até então e compara-o com tua visão, ponto por ponto, através da interpretação verdadeira e espiritual, que descobri- rás a base da mesma.
É bem verdade que tua visão não é um sonho comum, mas contém grandes enigmas. Procura, porém, observar a realidade dian- te de ti e hás de confessar que esta é mais importante em todos os sentidos e mais reveladora que tua visão em sua confusão turvada.
Sei muito bem que especialmente a décima coluna te opri- me. Por ora satisfaze-te apenas com as nove; quanto à décima, não penses muito a respeito e procura unir teu coração ao amor para Co- migo, que caminharás melhor que pelas trilhas grosseiras e escuras de teus pensamentos infrutíferos.
O simples pensamento sobre coisas que o futuro oculta dian- te de teu espírito pode ser comparado como se um homem tentasse gerar um fruto com outro homem, o que seria o pior pecado, por- quanto isto só pode ocorrer numa mulher.
Mas se concentras teus pensamentos por amor a Mim, te- rás feito espiritualmente o mesmo que te deixando prender pelos encantos de uma mulher e agindo com ela segundo tua natureza. Deste modo, teu pensamento ainda mudo em teu amor para Mim será fecundado qual fruto vivo dentro da criatura. Quando então ele nascer de novo se tornará na plenitude viva da Verdade eterna aquilo que devia ser desde a origem, quer dizer, Minha Luz. Entende e assi- mila tua vida deste modo, que a purificação de tua décima coluna e a grande treva que a envolve não hão de te preocupar mais.
Digo a todos: Persisti no amor e considerai bem estas Minhas Palavras, e a décima coluna de Kenan será revelada em sentido to- talmente diferente do que seria dentro de vossa desobediência. Mi- nha Ordem tem muitos caminhos, alguns melhores que outros. O julgamento é sempre o último de todos, pois trata-se então de vida ou morte. Agora vos deixo visivelmente por algum tempo, perma- necendo sempre convosco em vosso amor para Comigo. Eis Minha Bênção para todos, homens e mulheres.”
Nisto o Senhor desaparece com o pôr do Sol. Todos se pros- ternam, choram e louvam o Pai durante a noite toda e só de manhã voltam aos seus lares.
ASTUCIOSO PLANO DE SATÃ EM SEDUZIR OS HOMENS ATRAVÉSDABELEZA FEMININA
Eis que se estabelecera a ordem perfeita do orbe, e o Céu e a Terra estavam estreitamente unidos, de sorte que Satanás conjec- turou: “Que farei então? O Próprio Senhor educou Seus filhos e Se uniu fortemente a eles. Até Se apossou de meus abismos e dotou a muitos de grande poder em todos os ramos, contra os quais não quero e não posso tomar medidas.
Se bem que eu tenha poderes nas estrelas e nos elementos da Terra, de nada me adiantam, porquanto os humanos possuem o Poder de Deus no coração com o qual me podem enfrentar terrivel- mente onde quer que eu queira me rebelar.
Já sei o que farei. Deitarei uma isca para o gênero humano, pois tenho o direito de seduzir, e veremos se os filhos do Senhor são de fato firmes como ficou evidenciado sob a Sua Direção Pessoal.
Quero estar presente durante a geração das filhas das planí- cies e as farei tão belas e tentadoras que qualquer um se veja preso pelo seu fascínio. Isto está no meu alcance porque o físico ainda se encontra sob meu poder.
Mas que farei neste caso, o bem ou o mal? Se fizer o mal, o Senhor me admoestará; se fizer o bem, Ele dirá: O bem só existe em Deus! — Já sei como agir; colocarei a situação da seguinte maneira: nem bem, nem mal. E isto se dará junto às filhas belas, pois ao lado delas há de se encontrar sempre alguém forte e virtuoso caminhando segundo o Agrado de Deus.
Se assim não for, encontrará ao menos uma forte prova e importante oportunidade de consolidar sua virtude ou talvez enfra- quecê-la a fim de se colocar diante de Deus ou de mim, e não como gostaria de ser, sem esforço e autodomínio. Será inclusive um senhor acima de mim e um príncipe poderoso nos Céus.
É claro que deste modo muitos fracos se perderão; em con- traposição, haverá outros tantos a se tornarem grandes heróis virtu- osos. Considerando a questão de ambos os ângulos, não pode ser taxada nem de boa, nem de má; trata-se do meio-termo entre o bem e o mal. Por isto minha decisão é firme e será executada em seguida.
Mas, pensando bem, é possível que o resultado seja de efeito pior do que ora julgo e neste caso entrarei em conflito com o Se- nhor. Já tive uma ideia. Henoch é o braço direito do Senhor nesta terra e vou lhe expor meu plano. Poderá então dialogar com Ele e depois transmitir-me se é do Agrado do Senhor. Assim será ótimo. Se porém Henoch me recusar com seu grande poder, que acontecerá diante de minha ira novamente desperta? Talvez fosse melhor eu me arriscar a procurar diretamente o Senhor. Seria de fato o caminho mais curto.”
Eis que uma Voz do Alto disse aos ouvidos de Satanás: “O que conjecturas em tua maldade?” E Satanás respondeu: “Senhor,
não quero nada de mal, mas apenas erguer uma situação aleatória para Teus filhos, sem contudo influenciar de maneira alguma em sua liberdade total. Concede-me isto.”
E a Voz respondeu: “Satanás, como quiseste ser homem, és livre, faze o que queres em teus elementos, e o Senhor também fará segundo a Sua Vontade. Mas deixa Henoch em paz!”
Satisfeito com esta orientação, Satanás pôs mãos à obra, que todavia não surtiu efeito por muito tempo, pois enquanto a geração nas alturas bem como nas planícies perdurava, ele nada conseguiu com sua astúcia, muito mais porém com os descendentes, conforme se verá, infelizmente.
Pouco mais tarde apareceram embaixadores de Horadal para nomear Adão como dirigente supremo, em Nome do Senhor, sobre o povo entre Norte e Sul. Tal comissão consistia de dez ho- mens, dirigida pelos dois filhos de Lamech. Adão encaminhou-os a Henoch que consentiu, em Nome do Senhor, que praticassem o ofício de sumos sacerdotes mediante o dízimo constituído dos me- lhores frutos e em seguida os despediu, levando à sua casa os filhos de Lamech.
PARTIDA PARA HANOCH SOB ORIENTAÇÃO DE HENOCH
Passados trinta dias, o Senhor informou a Henoch de que Lamech nas planícies havia terminado a construção do segundo templo; por isto Henoch chamou as duas mulheres de Lamech, Ada e Zilla, assim como Hored com sua companheira Noêmia. Apresentando-lhe os dois filhos de Lamech Jabal e Jubal, Henoch diz: “Ouvi a Ordem de nosso Senhor, nosso Deus Poderoso e Pai Amantíssimo!
O sumo sacerdote Lamech, destinado pelo Senhor a dirigir o povo na Terra, necessita de vós porque se tornou um servo perfeito, igual a mim através da infinita Graça e Misericórdia de Deus. Viu ele o Senhor pela primeira vez no monte das serpentes e lá devia
erigir um monumento importante. Como a obra está pronta, volta- remos às planícies para nos submetermos à Vontade Dele.
Não é preciso alimentardes qualquer receio de Lamech, pois ele se encontra como eu com o Senhor e há de vos receber cheio de amor, vos conservando na grande Graça recebida Dele. Segui em paz!
Tu, Hored, embora gerado nas alturas, deves seguir com tua companheira às planícies e te tornar um esteio na casa de Lamech em todos os seus afazeres, no que diz respeito ao bem espiritual dos pobres filhos de Caim.
Se quiseres visitar as montanhas poderás fazê-lo dia e noite; aqui não podes ficar, por teres tomado uma mulher das planícies e pertenceres às terras dela. Mas a força dos filhos de Deus há de ficar contigo até o fim de tua vida. Não perguntes se o Senhor ficará con- tigo nas planícies assim como está aqui nas montanhas, pois quem O amar acima de tudo tê-Lo-á em seu coração. Não O tendo con- sigo através do amor estará longe Dele, ainda que se encontre numa altura muito mais elevada que nós atualmente. Este é o motivo pelo qual o Senhor Se dedica a ti; todo o resto Ele te inspirará dia a dia.
Quanto a vós, Jubal e Jabal, recebereis ordem de vosso pai sobre o que fazer futuramente na casa dele. Vós, esposas de Lamech, voltareis a ser o que fostes — não presas de grande temor, mas pelo amor do coração.
Tu, Noêmia, permanecerás fiel a este homem determinado pelo Próprio Senhor e deverás considerar Tubalkain apenas como irmão. Agora sabeis o que deve ser feito e podeis seguir caminho. Desta vez meu neto Lamech, também irás contigo, mas tua mulher ficará aqui em companhia de Jared e Matusalém. Vamos, mas que ninguém leve algo consigo. Esta é a Vontade do Senhor.”
Afastando-se da casa paternal, Henoch abençoa as monta- nhas, as planícies e o caminho que leva para lá, e em seguida se põe em marcha com seus seguidores.
Quando o grupo se aproxima da cidade de Hanoch, Lamech das alturas se admira da grande pompa dos edifícios, dizendo: “Meu pai, considerando esta grande quantidade de construções, há de se convir que os filhos das planícies são tudo menos ignorantes e suas obras despertam grande agrado.” Mas, ao ver o novo templo, isto é, o que foi erigido na antiga montanha de víboras, Lamech queda perplexo e só depois de algum tempo consegue perguntar a Henoch se também tinha sido construído por mãos humanas.
Responde Henoch: “Claro filho Lamech, não te deixes en- tusiasmar em demasia com tais coisas, do contrário serás forçado a fazer outras tantas perguntas. Nestas obras ainda se agrega muito mundanismo. À medida que fores encontrando agrado nisto, obs- curecerás teu espírito a ponto de ele poder fornecer pouca luz em teu coração e tu te verás forçado a fazer perguntas externas, pois ele não te responderá. É preferível desviares teu olhar daquilo que tanto te ofusca e assim receberás uma explicação exata através da luz espiritual.”
Virando-se para os outros, Henoch prossegue: “A vós compe- te vos alegrardes em Nome do Senhor, que a bem de vosso progresso temporal e eterno tantas coisas maravilhosas criou, pois jamais po- dereis expressar vossa gratidão condignamente.”
Nesta altura, Noêmia, Ada e Zilla e os dois filhos de Lame- ch começam a louvar o Bom Deus e Pai de todas as criaturas por ter sido tão Misericordioso para com os habitantes das planícies. Noêmia, por sua vez, se admira muito mais porque está vendo com os olhos físicos o que o Senhor lhe havia mostrado em espírito nas alturas, e por isto O louva com todo amor e fervor.
Percebendo-o, Henoch lhe diz: “Levanta-te pois lá vem uma multidão para nos receber com grande júbilo. Transmite aos outros que o Senhor avisou Lamech de que aqui estamos à sua espera.” Todos se levantam, mas Noêmia lhes fala com carinho, porquanto estavam amedrontados diante da multidão que vinha
em sua direção. Henoch a elogia por ter obedecido tão fielmente o espírito dele. Ela então responde: “Henoch, todo o meu amor é do Senhor, pois foi Ele Quem fez com que eu entendesse tuas palavras no íntimo.”
Neste instante, ela sente um sussurro delicado e diz: “Heno- ch, Quem me teria soprado tão suavemente o hálito em todo o meu ser?” Diz ele: “Querida, o Senhor Se encontra entre nós, se bem que não visivelmente, mas pelos nossos sentidos. Continua a amá-Lo deste modo que hás de sentir tal sussurro delicado por muitas vezes. Se o Senhor te abençoa, Ele Mesmo bafeja Seu Amor em teu cora- ção. Eis que Lamech se aproxima. Vamos!”
OPERIGODASHONRARIAS MUNDANAS
Quando Lamech das planícies chega perto de Henoch, ele descobre cabeça e peito e se curva até o solo. Henoch então diz: “Meu irmão, deixa de fazer o que nem o Próprio Senhor espera de nós; não vim à tua procura para me honrares qual segundo deus, mas sim movido pelo Amor puro de Deus, nosso Amantíssimo Pai; sou portanto teu irmão.
Evitemos tais demonstrações honrosas, do contrário seremos autores de futuras épocas más. Se tu me honras de tal forma, que não sou melhor que qualquer um outro, elevas-me acima de todos que se sentem humilhados diante de seu irmão.
Por um certo tempo suportarão tal humilhação, mas aos poucos meditarão por que motivo Deus permite tal elevação pes- soal, enquanto deixa que eles próprios tenham que se submeter ao mais infame aviltamento. Por isto resolverão elevar-se também aci- ma do outro para tirar-lhe seu tolo privilégio e castigá-lo pelas mui- tas honrarias que despenderam com ele. Assim o outro saberá que é também um simples homem.
Meu caro Lamech, eis a voz verdadeira da natureza humana que, uma vez revoltada, se torna pior que a ira cega de todas as feras. Por isto evitemos tudo aquilo que contém uma serpente maldosa, e
deste modo a terra florescerá sob nossos pés, tornando-se um Éden maravilhoso.
Caso contrário, cada passo nosso há de projetar do solo es- padas e lanças, com as quais nossos descendentes se aniquilarão aos milhões, numa vingança feroz. Todos nós só temos UmSenhor,UmPai,ao passo que somos apenas irmãos.
Se o Próprio Senhor proporciona incumbências maiores a um filho, Ele não o eleva acima dos outros, mas dá-lhe apenas opor- tunidade de praticar amor maior junto deles. A fim de se praticar amor ao próximo certamente não haverá necessidade de honrarias, porque o amor é uma força que procura unir o que é homogêneo, afastando o que seja heterogêneo, como se seleciona o trigo do joio! Considera isto com atenção que viverás na perfeita Ordem de Deus, tornando-te agradável a Ele.”
Tais palavras causam forte impressão em Lamech que muda os planos já tomados, pois pretendia instituir uma organização de castas, o que para Mim é um verdadeiro horror. Por isto diz para Henoch: “Acabas de iluminar meu coração e Graças sejam dadas ao Senhor de Céus e Terra por ter unificado as criaturas para ir- mãos iguais.”
Neste instante, Lamech nota o pequeno grupo a pouca dis- tância, que havia ficado para trás enquanto Henoch se havia adianta- do para falar com Lamech. Virando-se para Henoch, ele diz: “Quem são aqueles que te seguem com passos algo receosos?” Responde He- noch: “Deixa estes irmãos aqui e me acompanha para receberes os teus familiares, em Nome do Senhor.”
LAMECHVAIAOENCONTRODESEUS FILHOS,
ENQUANTO HENOCH O SEGUE. TRÍPLICE SENTIDOPROFÉTICODAATITUDEDE HENOCH
1. A tal convite, Lamech solta um grito de alegria e corre de braços abertos para receber seus filhos, obrigando o idoso Henoch a apressar seus passos, mas felizmente a distância é curta.
Soa algo estranho que Henoch tenha corrido com Lamech, mas esta ocorrência tem um tríplice sentido profético. Primeiro, para demonstrar aos guias que eles não devem impedir os progressos de seus adeptos por um pedantismo hesitante que mata até mesmo o espírito, por melhor que seja, mas devem seguir a força do espírito deles. Assim, eles caminham rápidos com o ligeiro, livres com o livre, fortes com o forte, atraindo para si o negligente e encorajando o medroso.
O segundo sentido é: o mundo atrai o espírito para sua ruína rápida à medida que o progresso industrial avança. O espírito está sendo levado pela matéria e existe propriamente para libertá-la de seu julgamento. Do mesmo modo o elemento espiritual de Henoch se encontrava nas planícies a fim de salvar o materialista Lamech e reuni-lo com seus familiares, ou seja, com seus desejos elevados e purificados.
O terceiro sentido profético: os filhos das alturas foram atraí- dos com passos rápidos pelas planícies, dando expansão a seus apeti- tes, pois desceram como sábios e filósofos e como tais se entregaram a toda espécie de excessos.
Alguém poderia afirmar: “Se os profetas sempre determinam através de suas atitudes e palestras aquilo que deve de um modo ge- ral acontecer, as criaturas não estão livres em sentido espiritual e têm que agir conforme fora predito. Assim sendo, os filhos das alturas tiveram que cair durante a passagem nas planícies, pois Henoch o havia anunciado porque acompanhou a corrida de Lamech. Como podem neste caso as criaturas serem punidas se foram obrigadas a fazer aquilo que os profetas predisseram?”
Então retruco: Se a situação fosse constituída nestes moldes seria deveras triste ser-se uma criatura viva. A situação sendo bem diferente e os profetas apenas anunciando as consequências indis- pensáveis que surgiriam através de uma ou outra atitude dos ho- mens em determinada época — assim como brota de certa semente o fruto correspondente — creio não ser tão penoso quando Eu faço
anunciar através dos profetas os frutos ou as consequências negativas das atitudes humanas.
Porventura é doloroso para o lavrador se ele sabe antecipada- mente que só pode colher trigo da semente do trigo, mas da semente do joio também só lucrará o mesmo joio?
Se isto é útil ao homem, como então não seria proveitoso se ele ouvir da boca dos profetas que frutos têm que surgir de suas ações, em virtude de Minha Ordem Eterna e Imutável, se ele as re- pete constantemente?
Tão logo modificar as atitudes e ações, os frutos também se- rão outros, o que sempre é acrescentado pelos profetas, pois um autêntico fala e age sempre condicionadamente. Em tal caso, a li- berdade do homem não é de modo algum prejudicada, mas extra- ordinariamente favorecida porque ele conhece suas ações e as pode executar livremente pelo conhecimento dos frutos, bons ou maus. Assim sendo, existe na corrida de Henoch apenasumacondiçãoque oportunamente ele mesmo explicará. Entrementes, os dois já se en- contram junto à família e vamos observar sua atitude.
GRATIDÃO EFUSIVA DE LAMECH E ADVERTÊNCIADIANTEDEPROMESSAS PRECIPITADAS
Quando Lamech consegue finalmente abraçar suas duas mulheres, os dois filhos, sua filha predileta e o marido desta, ele emudece de alegria. Somente decorrido algum tempo ele balbucia: “Senhor, Pai Amantíssimo, como posso eu, verme do pó, agradecer-
-Te e louvar-Te por tamanha graça que não mereço de modo algum?
Minhas companheiras e filhos, quantas noites passei choran- do e suspirando! Mas no íntimo alimentava o pior rancor contra Deus e procurava vingar-me tolamente no Senhor Supremo, por vossa causa. Por isto não merecia outra coisa por parte Dele senão o pior castigo; no entanto, Ele me favorece com Graças tão imensas, cuja grandiosidade faria estremecer os espíritos mais perfeitos! Por
este motivo, sou obrigado a exclamar: Senhor, Pai de Infinito Amor, o que desejas que Te faça para cair no Teu Agrado?”
Henoch então o interrompe dizendo: “Irmão, falaste bem diante de Deus e de nós; no entanto havia algo fora da Sua Ordem. Em teu imenso fogo de amor convidaste o Supremo a exigir de ti um sacrifício que executarias de pronto para demonstrar tua grande gratidão. Este ímpeto se justifica, mas considera se o Senhor exigisse que sacrificasses precisamente os que te levaram a tão efusiva grati- dão a fim de demonstrares teu reconhecimento. Que farias então?”
Diante da perplexidade de Lamech, Henoch prossegue: “Es- tás profundamente impressionado e não encontras resposta em teu coração. No entanto, afirmo: Se o Senhor te exigisse ainda mais do que aquilo que estipulei como condição, terias que fazê-lo com a maior disposição de tua alma, pois quem não conseguir perder tudo por amor ao Senhor não O merece.
Quem no mundo amar sua companheira, filhos, irmãos e pais, mais que ao Senhor, não O merece. Por isto deve cada um analisar muito bem o seu sentimento antes de fazer qualquer pro- messa ao Senhor. Quem fizer uma promessa livremente a Ele e mais tarde se arrepende quando for executá-la, de modo algum merece o Senhor, que lhe pagará na mesma medida recebida por Ele. É claro que Ele não fará tal experiência contigo; mas deves sabê-lo, para no futuro meditares o que dirás diante Dele, Que não admite gracejos. Vamos agora à tua casa e em seguida subamos ao monte.”
HENOCHPALESTRACOMLAMECHDAS MONTANHAS
Lamech agradece a Henoch pelo ensinamento e depois se dirige aos familiares dizendo: “Achegai-vos de mim e não alimen- teis qualquer receio, pois a Misericórdia Infinita do Senhor trans- formou-me, que fui verdadeiro déspota e criminoso e duplamente fratricida, em um cordeiro e meigo guia dos homens. Aqui estou para reparar meus erros com Ajuda Dele por meio de orientação segura dos Caminhos de Deus.” A este sincero convite e confissão,
todos se abraçam com Lamech e louvam a enorme Graça de Deus demonstrada ao rei, e por ele a todas as planícies.
Diante da cena comovedora, Henoch diz para Lamech das alturas: “Meu filho, eis uma maneira justa de se prestar um sacrifício agradável ao Santo Pai. Terias assistido fato idêntico no meio dos habitantes das alturas? Lá existia uma santa cerimônia para a cor- rupção dos sentidos e a mortificação do espírito. Mas a cerimônia viva e silenciosa do coração que ocorreu aqui poucas vezes tem sido empregada nas alturas. Ainda assim nos chamamos de filhosdeDeuse estes de filhosdo mundo.
Enquanto o Pai caminhava entre nós Visivelmente, dando-
-nos provas imensas do Seu Amor, Graça e Misericórdia, havia mui- tos corações contritos que O louvavam sinceramente. Assim que Ele Se afastava, muitos debandaram como se nada tivesse sucedido entre nós. Que me dizes desta diferença?”
Responde Lamech das alturas: “Meu pai, há uma diferença enorme e confesso abertamente que o Santo Pai nunca Se apresen- tou tão Sublime como neste momento. Quão distantes nos encon- tramos destes irmãos e quão superior é este Lamech das planícies comparado a mim, que sou das alturas!
A este aqui o Senhor deu apenas pouca coisa, de fato apenas coisas materiais, e ele Lhe agradece como se já tivesse ganho todos os Céus. A mim o Senhor deu o mais sublime segundo Seu Testemu- nho e Sua Palavra, e quão pequena foi minha gratidão.”
Retruca Henoch: “Agora disseste a plena verdade. Esta é a situação entre nós, habitantes das alturas; somos menos gratos ao Pai, como Seus filhos, por dádivas infinitas, que estes por causas finitas. Sigamos para a cidade. Lá hás de assistir milagres do amor e gratidão que ultrapassarão a tudo visto até hoje. Por simples poeiri- nhas de Sol encontrarás corações mais gratos que por sóis imensos nas alturas.”
Quando o grupo chega à cidade, Henoch chama a atenção de Lamech das alturas aos filhos das planícies, que em trajes modestos umedeceram com suas lágrimas os caminhos pelos quais os mensa- geiros e o Próprio Senhor haviam palmilhado. Lamech se bate no peito exclamando: “Isto prova que eles já veneram muito mais os simples pontos de recordação do Senhor do que nós a Ele Próprio. Quão imenso deve ser então o amor deles para com o Pai.”
Diz Henoch: “Sim, assim é. Aliás, devia ser proibida a vene- ração dos locais e dos caminhos usados por Ele, porque o coração facilmente se prende a uma doce recordação, mas como suas almas e sentimentos estão exclusivamente dirigidos ao Pai, não posso deixar que continuem nesta atitude.
A rua pela qual o Nome de Jehovah fora transportado ao Templo continuará fortemente venerada e não conseguiremos ex- traí-la da vida intrínseca do povo sem a indispensável limitação de seu livre arbítrio, o que não nos compete, porquanto o Senhor tam- bém não o faz. Não nos preocupemos em demasia com o que é do Seu âmbito, que agirá segundo Seu agrado. Temos oportunidade de constatar a diferença de sentimentos entre nós e estes. Eis a residên- cia de Lamech das planícies e deixemos que nos conduza até lá.”
Quando Lamech das alturas se extasia diante da extraordiná- ria pompa do palácio, Henoch diz: “Considerando quais foram os meios empregados nesta construção, a criatura prefere estremecer do que externar qualquer prazer.”
Com profundo suspiro o outro aparteia: “Tens razão. Se o Senhor cria sóis e mundos e coloca cordilheiras possantes nas bases telúricas, temos motivo de nos alegrarmos; mas construir para estas criaturas fracas tais edificações de pedras como se fossem pequenas montanhas, isto nos entristece profundamente.”
“Tens razão”, diz Henoch, “Mas deixemos aquilo que foi per- mitido pelo Senhor. Nós participamos da construção e assim está certo perante Ele.” Neste instante se aproxima o guia Lamech e He-
noch o orienta para entrar rapidamente no palácio a fim de evitar qualquer adoração por parte do povo.
POR ORDEM DE LAMECH, AS ARMAS DEVERÃO SERTRANSFORMADASEM UTENSÍLIOS
Quando chegam à sala do trono onde se encontra toda a corte de Lamech, ele exclama: “Meus amigos e irmãos, alegrai-vos comigo, pois o Senhor nos tratou com grande Misericórdia. Eis mi- nhas duas esposas, meus filhos e Noêmia com seu marido dado pelo Senhor. Brudal, manda preparar um banquete festivo e uma mesa farta para todos os cidadãos amigos de Deus, e uma outra para todos os pobres que foram nossos escravos e prisioneiros. Tu, Terhad, zela- dor do Templo do Senhor, manda mensageiros para a cidade a fim de convidarem os designados por mim a participarem neste ban- quete de alegria no Nome Santíssimo do Senhor, Jehovah, Zebaoth, Criador e Pai desde eternidades.”
Em seguida, Lamech chama seu filho Tubalkain e diz: “Man- da recolher no meu vasto reino todas as armas bélicas para serem transformadas em arados, ceifas, enxadas, pás, etc., objetos úteis que o Espírito do Senhor te ensinará a usar. A partir de hoje será Ele nossa única arma contra todo o mal. Nem mesmo contra as feras usaremos qualquer arma, pois conheci por várias vezes a do Senhor.
Esta arma se chama amor — santo, poderoso e eterno escudo do Senhor. Com ele lutaremos durante toda a nossa vida, podendo por certo apresentar-Lhe no fim um agradável sacrifício. Amanhã mesmo começarás a pôr em execução esta tarefa.”
Henoch então se aproxima e diz: “Lamech, acabas de dar uma ordem que me agrada mais que o mais puro ouro, por isto, se- rás abençoado como ninguém o foi até hoje. Teu país será inundado de mel e leite; tuas cidades brilharão como a Lua, as casas como as estrelas e tua residência como o Sol nascente.
Em verdade te digo, teu amor se tornou mais poderoso que o orbe e quando teu banquete terminar hás de sentir na sagração do
novo templo que te tornaste muito agradável ao Senhor. Era minha intenção seguir caminho ainda hoje; porém demonstrarei durante três dias o poder de tua arma nova.”
AMALDOSAAMBIÇÃODE PRESTÍGIO
Dentro de pouco tempo a refeição estava pronta, as mesas postas e separadas segundo ordem de Lamech. Diante disto, He- noch lhe diz: “Não resta dúvida que tudo deve responder a certa ordem, pois ela é o Poder do Senhor, pela qual Ele tudo Criou. No entanto existe umaordem totalmente insuportável para Ele, que se chama a ordem do prestígio.
Se tivesses colocado em linha reta coisas inteiramente iguais e alguém trocasse sua posição, havias de te irritar. Se o Senhor criou todos os homens totalmente semelhantes e os colocou diante de Si em linha reta, como então nos atrevemos a quebrá-la?
Naturalmente podemos fazê-lo afirmando por uma certa consideração ativa: Este é trabalhador e aquele poeta e assim segui- mos o conselho de um irmão classificado pelo Senhor, embora não fosse obrigado a fazê-lo. Eis a justa ordemdeprestígiorecebida do Próprio Senhor. Mas quando pretendemos oferecer um banquete para os irmãos, não deve haver três mesas, mas apenas uma, a fim de que todos nela nos saciemos.”
Imediatamente Lamech manda juntar as mesas e Heno- ch o elogia pela obediência aos Ditames do Senhor. Entrementes, Lamech das alturas se aproxima de Henoch dizendo: “Não entendi bem o que pretendias dizer a respeito da ordem do prestígio entre os homens. Os filhos, por exemplo, são inferiores aos pais e certamente não agradaria ao Senhor que eles quisessem se igualar àqueles.
Além disto, lembro-me de que o Próprio Senhor fazia certas diferenças entre os habitantes das alturas e não os tratou de modo igual. Os três cestos de mantimentos no cume da montanha são uma evidência forte de que Ele te nomeou para sumo sacerdote e também elevou o prestígio de Purista e Gemela. Deduz-se daí que
o Senhor determinou certa classificação entre os homens e por isto não consigo entender tuas palavras.”
Aparteia Henoch: “Estás muito enganado, meu filho. É bem diferente aquilo queoSenhorfaze o que é feito e deve ser feito pelo homem. A ordem de classificação determinada por Ele se baseia ape- nas em nosso amor para com Ele e soa: Quanto mais amor tiveres para Mim, Teu Santo Pai, tanto mais próximo estarás de Mim, e vice-versa.
Neste princípio se baseiam Henoch, o sumo sacerdote, os três cestos no cume da montanha, Purista e Gemela, bem como o dever dos filhos para com os genitores, de certo modo os primeiros sumos sacerdotes instituídos por Deus para seus filhos.
Trata-se portanto apenas da condição do amor para com Deus. Mas entre os homens ela não deve existir no que diz respeito ao amor a ponto de se isolarem como se um fosse superior ao outro. Somente diante de Deus existe diferenciação entre nós em virtude de nosso amor para com Ele. Mas, quem pretender ser grande, será pequeno frente ao Pai, pois se formos irmãos pelo amor também o seremos diante de Deus. Agora vamos tomar lugar na mesa única.”
DISCURSODOFORASTEIRONASEGUNDA MESA
O número dos convivas porém é grande e por isto não pode ser acomodado na mesa destinada para todos. Em virtude disto La- mech se dirige a Henoch dizendo: “Mais da metade dos convidados não consegue sentar-se à mesa. Se arrumarmos uma outra talvez se sintam diminuídos diante desta necessidade.”
Responde Henoch: “Necessidade não é diminuição. Mas, a fim de evitarmos uma diferença, manda organizar uma segunda mesa nesta sala que facilmente comporta no mínimo dez mil pesso- as, e não virá ao caso em que mesa tomaremos lugar.”
Lamech segue o conselho de Henoch e o excesso de hóspedes se alegra pelo fato de estar em companhia de amigos tão excelentes no salão do trono. A situação é de grande júbilo por parte de todos,
os pratos são servidos e Henoch abençoa as mesas em Nome do Se- nhor, convidando-os a se servirem.
Depois de estarem todos satisfeitos, um dos convivas da se- gunda mesa se levanta e diz: “Amigos e irmãos, quem de coração flamejante poderia agradecer a Deus, Senhor e Onipotente dos Céus e Terra, pela imensa Graça de ter transformado o rei Lamech, ante- riormente tão cruel, num irmão e grande amigo dos homens? Não consigo imaginar coisa mais grandiosa!
Deve ser facílimo para Deus criar milhares de mundos; mas, transformar um espírito livre como sucedeu com Lamech, e através dele seu séquito, é muito mais importante do que criar sóis, terras e luas. Na criação das coisas tudo depende da Vontade de Deus, que fará surgir o que quiser. Basta o pronunciamento ‘Que assim seja’, e inúmeros sóis e mundos giram diante dos Olhos do Grande Mestre Criador.
Em se tratando de um espírito livre, o poderoso ‘Que as- sim seja’ seria um julgamento ou a morte do espírito. No lugar da Onipotência tem que surgir apenas o grande Amor, Misericórdia, Paciência, Meiguice e a Direção mais sábia de Deus, guiando o espí- rito do homem qual segundo deus, ensinando-o para que, por meio do conhecimento próprio, se torne aquilo que deve ser segundo a Ordem Divina. E isto vale muito mais que criar sóis e mundos. Por- tanto, deve o Senhor ser amado e louvado por todos nós como até hoje nunca o fora, pois só agora reconhecemos a Grandiosidade de Deus.” A este discurso todos quedam perplexos e comovidos.
ODUPLOALIMENTODO HOMEM
Lamech não sabe como agir e se vira para Henoch dizen- do: “Este homem fala como se tivesse sido escolhido para guia pelo Senhor. Não me admiraria se tu te pronunciasses deste modo e eu mesmo me consideraria feliz com tal capacidade. Não conviria con- vidarmos o orador à nossa mesa?”
Response Henoch: “Se fizeres isto, certamente conferirás a esta mesa maior honra que àquela; seria, pois, melhor prestarmos ouvidos às Suas Palavras e as conservarmos no coração. Dize-me se concordas comigo, pois estás em tua casa e deves agir segundo teu raciocínio livre.”
Lamech reflete um pouco e responde: “Para que finalidade devia eu agir dentro de minha opinião se percebo que tuas palavras transmitem pura sabedoria? Vou gravar sua pessoa e após o banquete procurarei conhecê-lo melhor. Está certo?”
Retruca Henoch: “Segue tua intenção que se justificará dian- te de Deus e de todo mundo.” Neste instante, aquele hóspede se levanta outra vez dizendo: “Amigos e irmãos, estamos com novas energias depois deste bom repasto e nossa alma terá pouco trabalho em proporcionar ao corpo uma atividade benéfica.
Acontece que o físico não é o fator principal ao homem, mas apenas um meio apropriado para a conquista da finalidade eterna e santa que se baseia na Ordem Divina.
Se a condição física se mantém conforme sabemos, é eviden- te que dentro do homem deva existir um elemento diferente e mais elevado por cuja causa existe o corpo, necessitando também de um alimento especial, que nos deve preocupar bastante.
Em vosso íntimo conjecturais: Isto seria realmente bom e útil caso se soubesse como alimentar o homem interno, pois existem vários frutos para o corpo, mas nunca descobrimos uma árvore na qual crescessem para o alimento do homem interno.
De fato assim é. Todavia vos explicarei algo diferente: o Se- nhor organizou tudo de tal forma que a matéria se alimenta da ma- téria, a alma da alma, o amor do amor, e o espírito do espirito. O amor é a base do espírito e o ser vital do homem interior, portanto não lhe podemos fornecer alimento melhor que a saturação com o amor para Deus. Com este amor ele se torna forte e poderoso, sendo um senhor dentro desta sua morada que é a alma imortal e o físico perecível.
Se os alimentos para o corpo já são preparados pela natu- reza ou pelo cuidado das criaturas a fim de se tornarem saborosos, também o alimento para o espírito tem que ser acondicionado da melhor maneira possível. A palavra dentro de nós é tal preparo do alimento para o espírito; por isto prepararemos através dela o ali- mento, para depois fortificar nosso espírito.”
Lamech então toca no braço de Henoch e diz: “Este ho- mem fala qual profeta. Que me dizes?” Diz Henoch: “Ele ainda não terminou; vamos ouvi-Lo e só depois faremos nossas con- siderações.”
SATURAÇÃONATURAL,PSÍQUICAEESPIRITUAL. O
TÉDIO COMO FOME DA ALMA, E A AVIDEZ DO SABERCOMOFOMEDO ESPÍRITO
E o orador prossegue: “Classifico a palavra viva, surgida de nosso coração, como preparo do amor para com Deus, tornando-se o verdadeiro alimento para o espírito. Digo mais: A palavra, viva e verdadeira, nascida no âmago de nosso coração é tudo em tudo. Ela penetra a matéria, dissolve-a em elemento espiritual e assim alimen- ta o espírito.
Eis o que pretendia explicar quando disse que o espírito só alimenta o espírito, a alma alimenta a alma e a matéria alimenta a matéria. A palavra dentro de nós, pensamento claramente expresso no coração, se apossa da matéria, a subdivide e analisa em sua cons- trução maravilhosa. Em tal análise já se dá a saturação da alma, pois a sensação encantadora da alma na contemplação de belas formas constitui sua saturação.
O Criador organizou o homem de tal forma que a saturação de uma parte provoca a fome da outra. A fim de se entender isto a fundo, usaremos de um exemplo. Quando se manifesta a fome material todos vós estais ávidos por uma boa refeição, e tão logo vos encontrais a uma mesa posta vosso prazer é grande diante da expec- tativa de poderdes satisfazer a fome torturante.
Se houvesse uma ordem determinando que deveis permane- cer à mesa durante oito dias, um mês ou talvez um ano, o tédio mais terrível haveria de vos consumir. Não resta dúvida que cairíeis no pior desespero. Então vos pergunto: Como pôde surgir o tédio e o desespero com a saturação física? Porque a saturação do corpo pro- voca a fome da alma, que se manifesta sempre num tédio amargo. O que então será preciso fazer para se saturar a alma após a satura- ção do corpo?
É necessário levantar-se da mesa, sair ao ar livre, por exem- plo, subir a um pequeno monte ou passear num belo jardim, onde a alma se satura nas belas formas, com o canto dos pássaros e com perfumes etéreos, isto é, psíquicos, das flores e outros benefícios para a alma.
Se alguém tiver contemplado tais fatores agradáveis por bas- tante tempo, alimentando assim sua alma esfaimada, tais alimentos maravilhosos começarão a entediar a psique e a criatura começará a sentir saudades de casa a fim de proporcionar ao corpo necessitado de alimento, através da saturação da alma, um novo fortalecimento por meio de um bom bocado, ou então o espírito começará a se manifestar, dizendo-lhe através da alma: Sinto uma fome enorme!
Esta fome se pronunciará por uma sede de saber crescente. Desejará entender a matéria e suas formas, pois não as pode ab- sorver, necessitando de serem dissolvidas pelo fogo, pela luze pela verdadeindispensável.
O fogo é o amor; a luz é o pensamento claramente expresso no coração; a verdade é a palavra surgida e pronunciada através do fogo e da luz. Por meio desta palavra nos apossamos da matéria sólida e suas formas graciosas, dissolvemo-la e encontramos nela o sentido e a finalidade espiritual da forma.
Com isto o espírito se torna radiante e tal êxtase de satis- fação e felicidade é a saturação fortalecedora para ele, pois lá ele encontra seu ambiente, sua paz, seu elemento, sua origem e nesta seu verdadeiro amor para com Deus e o Amor Onipotente de Deus para com ele.
Eis que o espírito se prosterna com amor e humildade dian- te do Infinito Amor de Deus, agradece-Lhe e O adora, e Deus Se torna sua saturação principal para a Vida eterna. Vamos portanto considerar as Obras de Deus sob este aspecto e encontrar nelas seu Grande Amor e Misericórdia. E se alguém tiver feito uma descober- ta espiritual, deve transmiti-la em palavras boas e verdadeiras a seus irmãos e todos se edificarão em espírito e verdade, alimento para o espírito com o qual se tornará forte no amor para Deus, e tal atuação é a Vida verdadeira e eterna.”
O orador silencia então e todos se admiram profundamente de sua sabedoria e Lamech quase se descontrola. Henoch o acalma, dizendo: “Tem um pouco de paciência, pois Ele ainda não termi- nou. Mais tarde trocaremos algumas palavras, como já te disse.”
APALAVRAVIVANO CORAÇÃO
Havia alguns na mesa ao lado, dotados de pouca inteligên- cia que por isto se dirigem ao orador, dizendo: “De modo algum podemos contestar tua sabedoria. Existe porém um ponto que não nos satisfaz para a saturação do espírito, ao menos da maneira como apresentaste.
Afirmaste literalmente que a palavra dissolve a matéria sólida em suas formas básicas, nas quais a alma se satura. Quando então as formas forem dissolvidas até o âmago, poderíamos vislumbrar o sentido espiritual, alimentando com isto o próprio espírito.
Até aí concordamos. Mas que o homem com sua palavra impotente possa dissolver a matéria sólida, assim como o aço in- candescente faria com a gota d’água — basta refletires um pouco para veres teu engano. Fala com uma pedra durante mil anos — na hipótese que venhas a viver tanto tempo — e ela continuará como fora criada por uma palavra mais poderosa que a nossa. Como nos empenhamos em tua honra, embora ignoremos de onde vieste, de- sejamos que tires tal desforra ao menos agora, pois os hóspedes da
outra mesa, inclusive os dois homens das montanhas, já começam a prestar atenção à nossa discussão.”
O orador se levanta e diz: “Porventura a verdadeira sabedo- ria se orienta na Verdade eterna ou segundo a fraqueza do mundo? Qual será vossa resposta? Quem tiver inteligência que fale! Con- tinuais mudos, e eu afirmo que desta vez não haveis de encontrar uma resposta que Me satisfaça. Teria Eu falado de uma dissolução material ou mecânica?
Estais embaraçados para salvar Minha Honra diante dos hós- pedes na outra mesa. Que farei Eu para salvar vossa honra, porquan- to apresentaste uma tolice incrível através da pergunta e a crítica de Minhas Palavras?
Porventura não falei de uma palavra viva do amor no coração que se expressa primeiro em pensamentos claros ou formas psíquicas e depois passa à forma visual, e só em seguida — caso for necessário em virtude da fraqueza da criatura de sentidos grosseiros — se trans- fere à linguagem? Deste modo, os sentidos grosseiros de tal homem se afinam, podendo vislumbrar as coisas em sua realidade e assim saturar seu espírito para que possa surgir como a verdadeira vida em si e soberano em sua casa — enquanto pelo vosso conceito é apenas servo da matéria, do julgamento e portanto da morte.
Se Eu Me referia a esta palavra, dizei-Me como se constitui vosso entendimento perante Deus e o mundo a ponto de não en- tenderdes, preferindo destacar-vos com uma tolice brutal, ou seja, com a pergunta aparentemente amável e modesta sobre um ponto qualquer de Meu discurso?”
Ambos os críticos se entreolham admirados sem se atreverem a apresentar outra dúvida e o próprio Lamech conjectura com He- noch: “Se houver mais sábios deste jaez em minha cidade, farei um papel bastante triste ao lado deles, pois este parece ter caído direta- mente do Céu.” Henoch então aparteia: “Ele ainda não terminou, mas logo que tiver chegado ao fim de sua explicação eu te direi o que fazer. A questão terá um fim bastante interessante.”
Passado algum tempo, um dos críticos se levanta e diz: “Meu amigo, deduzimos seres tu mais sábio que qualquer um de nós, por- quanto estou antecipadamente certo de que resolverás a seguinte questão importante.”
Interrompendo o outro, o forasteiro diz: “A verdadeira Sabe- doria provinda de Deus não deveria indagar nem ser indagada, pois ao verdadeiro sábio é transmitida a base de toda a verdade através de sua palavra interna e viva. O sábio inquirido também não necessita ser perguntado, porquanto o espírito dele lhe transmite a necessida- de de seu irmão.
Já que pretendes perguntar-Me... em que situação se encon- tra tua sabedoria anteriormente tão elogiada por ti mesmo? Se fores um sábio, deverias reconhecer na luz de tua inteligência que sem tua pergunta Eu, como verdadeiro Sábio, deveria saber qual o teu problema. Todavia, queres inquirir-Me. És realmente um sábio e também Me qualificas como um deles? Julgas que os hóspedes da- quela mesa ignoram isto? Pergunta-lhes e eles te dirão o que acabo de dizer.”
Diante destas palavras, o crítico fica embaraçado, pois per- cebeu que o oponente descobriu sua intenção de trapaceiro. Vendo que não seria tão fácil desvencilhar-se do outro, ele começa a elabo- rar outros pensamentos em seu íntimo.
Como o outro orador percebe isto, ele diz: “Vou te responder a pergunta com a qual pretendias Me pagar, razão por que permitis- te que nascesse outro elemento em teu coração. Julgas que o homem não se possa fazer entender sem palavras, que a teu ver é o aperfei- çoamento da ideia muda no coração, pois através dela o homem se manifestou diante de todos os seres na Terra; por isto se devia adorar e louvar Deus somente por palavras perfeitas e não com as internas que saturam apenas o intelecto.
Estás totalmente errado. Precisamente pelo fato de o homem se ter tornado um servo dos sentidos e do mundo, voltando-se para
as coisas externas, ele adotou a linguagem externa e não pode enten- der seu irmão senão pela palavrapronunciada, que é em si apenas a casca de uma árvore.
Com isto ele perdeu muito, pois se tivesse ficado com sua lin- guagem interna e espiritual toda a Criação seria capaz de falar e ele entenderia as coisas em sua origem. Assim não sendo, ele se tornou um mudo espectador e destruiu todos os seus sentidos pela exterio- rização, a ponto de ficar mudo, cego e insensível, nada entendendo da razão das coisas. Desconhece a si mesmo, bem como o coração sofredor do irmão.
Porventura não pretendes exteriorizar totalmente também o reconhecimento e a adoração de Deus — que é a Vida intrínseca do próprio homem — e assim perderias também o Senhor, tornando-te pagão ou talvez um completo ateu?”
Todos se sentem estranhamente tocados na mesa do Orador e Lamech das planícies teria feito uma observação, mas o forasteiro ainda não havia terminado.
FÉCOAGIDAEFÉNASCIDADOAMORA DEUS
Após algum tempo, o orador principal prossegue: “Diante de Minha explicação tu Me olhas admirado e te perguntas: Como poderia eu me tornar um pagão, um ateu, se oro para Deus atra- vés de palavras pronunciadas? Porventura poderei professá-Lo se não O tiver reconhecido antes em meu coração, portanto em pala- vras internas?
Sim, Meu amigo, tu O professas através da expressão labial daquilo que pensas no coração. E sabes por quê? Porque viste Deus, teu Senhor, e és portanto forçado a acreditar em Sua Existência e Ele te informou qual a Sua intenção para com os homens.
Esta fé não é uma liberdade para o espírito, mas uma servidão que mata pela coação de tua crença por O teres visto e te certificado de Sua Onipotência e Poder. Esta crença há de sustentar apenas tua pessoa, não podendo ser passada para teus descendentes. Aquilo que
confessas convictamente dentro de ti não será quase aceito como verdade por teus descendentes, pois em virtude da tradição verbal sua crença é mais fraca que tua constatação pessoal.
Decorridas dez gerações, tua convicção tradicional não me- recerá a menor consideração e o paganismo será o fruto de tua fé oral. Tal fruto será acompanhado pela total negação de Deus que terá como consequência o julgamento, porque o homem sem Deus já está condenado em sua própria noite mortal.
Se porém confessares Deus intimamente pelo amor vivo no coração e oras em espírito e verdade, te desvencilharás de tua fé atu- almente coagida da qual jamais surgirá a salvação, mas passarás em compensação à fé viva, isto é, à visão viva de teu espírito, na qual finalmente se deve concentrar toda a tua força vital, caso devas viver eternamente.
Nesta visão vital reconhecerás de fato Deus e O confessarás em espírito e verdade. Também cuidarás de passar tal convicção para teus descendentes, que te imitarão, impedindo o surgir do paganis- mo, do julgamento e da morte. É indubitável que o espírito da cria- tura é o mais intrínseco, assim como o germe o é dentro do fruto.
Se orares em tua concepção externa e material atrairás teu espírito para a matéria que nada mais é que teu julgamento e mor- te. Se isto fizeres, será em sentido espiritual o mesmo que enfiares uma tocha ardente dentro de um lamaçal. Porventura ela continuará queimando e iluminando tua estrada obscura?
Teu espírito é tua luz e tua vida. Se o apagares —o que te sobrará para te fornecer uma vida real? De fato vives agora porque viste Deus e és obrigado a acreditar Nele. No entanto, afirmo que tal vida não te acompanhará além-túmulo se não esqueceres mental-menteo que viste e não procurares vivificar o que esqueceste através do poderoso amor a Deus, em teu espírito.
Guarda o que te disse tanto quanto aquilo que viste, e re- ceberás a vida eterna — do contrário ela te acompanhará somente até o túmulo. Se ainda não o tiveres compreendido fala que Eu te iluminarei.”
O ex-crítico, contrito pelo discurso do orador principal, re- flete um pouco qual seria o problema que poderia apresentar qual- quer dúvida e veio-lhe a ideia de que Lamech devia ainda inaugurar o templo. Por isto ele diz: “Prezado amigo e irmão, estou totalmente compenetrado da Verdade profunda de tuas palavras e gostaria de te fazer milhares de perguntas. Acontece que Lamech tem à sua frente a inauguração do templo e já fez menção de providenciar seu pro- grama, portanto não há tempo para falarmos. Após a cerimônia, hei de te requisitar sem restrições.”
Diz o Orador principal: “Porventura nossa palestra impede a intenção dele?” Responde o crítico: “Bem, segundo meu parecer, devemos participar da cerimônia ou então impediremos sua ação, porquanto também Lamech, Henoch e seus companheiros parecem prestar muita atenção às tuas palavras. Naturalmente não tenciono fazer uma afirmação, pois deves saber melhor o que deve ser feito.”
Retruca o Orador: “Opino o seguinte: Recebemos convi- te para o banquete, mas ninguém nos convidou para a subida da montanha, tampouco sabemos o que deve ocorrer após termina- da nossa refeição. Assim, nada temos a ver com a inauguração do novo templo.
Quanto a Lamech e Henoch, saberão o que fazer. Se quise- rem nossa companhia, eles o dirão e o seguiremos conversando. Caso contrário, por certo poderemos fazer o que quisermos. Que achas?”
Percebendo a insegurança do crítico, aliás com grande vonta- de de assistir à inauguração, o Orador prossegue: “Meu amigo, por acaso é tão difícil a criatura ser sincera em todas as coisas e alterações condicionadas à vida?
Tens aí a prova clara para que serve a palavra pronunciada, cuja utilidade nunca se apresenta tão eficiente quanto na expres- são da mentira. Enunciaste circunstâncias que nos impediriam em nossas palestras, mas que de tua parte eram totalmente inventadas, pois de maneira alguma te interessas pela inauguração do templo,
tampouco o momento determinado por Lamech e muito menos a sua atenção dirigida às Minhas Palavras — mas se prende exclusiva- mente à sua extrema curiosidade.
Queres assistir à cerimônia e, como não desejas perder algo da mesma, esperas que Eu Me cale. Que honra vem a ser para um homem de coração dúbio e cheio de pretextos ocultos, diante dos quais Eu e qualquer homem sério nos enojamos? Vê se melhoras e purificas teu coração para que não Me enoje de falar de coisas muito mais importantes do que a inauguração do templo.”
Estas palavras provocam forte choque no crítico, que começa a se envergonhar a ponto de fazer menção de fugir. Mas o Outro o retém em sua tentativa.
INTERPRETAÇÃOINTERNADO TEMPLO
Como Lamech tivesse ouvido a palestra entre os dois, vira-se para Henoch dizendo: “Tenho certeza de que aquele homem foi enviado pelo Senhor como orientador para mim e meu povo. Ele já tendo feito menção da inauguração do templo, acho de bom alvitre eu convidá-lo. Que te parece?”
Responde Henoch: “Faze o que manda teu coração, pois é chegado o momento. Aquele Sábio tem de estar Presente. O Templo no monte representa a Sabedoria do Senhor que Ele nos deu por Amor e Misericórdia; portanto também estetemplo deve ser inaugu- rado com a Sabedoria Divina em nosso meio e dentro de nós.
O templo em sua profundeza purificada serve ao Amor e à Misericórdia do Senhor e pode ser comparado ao coração da cria- tura, anteriormente um charco de toda sorte de imundícies. Neste charco era preciso ser exterminado o amor carnal (v. a história com as mulheres da corte e de Kisehel). Em seguida fora preciso que a projeção do charco fosse dessecada, o solo nivelado e transformado em ouro puro por meio de um forte fogo. Houve necessidade de pedras bem talhadas, um material novo, sólido e duradouro.
Deste modo, o Templo interno de Deus no coração do ho- mem é representado simbolicamente pelo templo nas planícies que por Deus Mesmo fora consagrado. Por isto Ele te ordenou a edifica- ção de um templo no monte saneado; ele representa vossa sabedoria e tudo que ela condiciona.
Por isso também devem estar presentes aqueles que o Se- nhor dotou com grande sabedoria. Aquele Homem é um verdadeiro Sábio por Deus, razão por que deves convidá-Lo para a sagração do templo. Todavia, não deves solicitar mais ninguém. Ele Mesmo desejando levar alguém Consigo, deves considerá-lo também con- vidado. A Sabedoria é a Luz do Amor e a irradiação desta Luz é a Verdade Eterna e Personificada.”
Ditas essas palavras, Lamech corre para junto do sábio ho- mem e o convida à comemoração do templo. E o Outro diz: “Podes estar certo que aceitarei o teu convite; em compensação deve ser de teu agrado aquele que for levado por Mim. Sigo os caminhos insondáveis da Sabedoria eterna em Deus, por isto todo aquele que for tomado por esta Sabedoria é um servo da Sabedoria Divina e tu deves ser seu irmão para sempre. Explica isto a Henoch que te en- tenderá imediatamente. Não deveis demorar para que o templo seja sagrado à luz do dia.”
FINALIDADEDACONSAGRAÇÃODO TEMPLO
Recebendo a informação acima, Henoch diz para Lamech: “Providencia que nos levantemos para cumprirmos a sagração do templo antes do anoitecer.” Subindo ao trono, Lamech faz a co- municação e todo o povo se levanta. Os serviçais também fazem menção de acompanhar os dirigentes, o que causa certo embaraço a Lamech. Mas o Sábio lhe aconselha: “Preocupas-te porque os filhos também desejam palmilhar o caminho da Sabedoria? Não devemos impedir a quem quer que seja que pretenda nos seguir nos Cami- nhos da Justiça de Deus.
Aquilo que a sagração do templo representa apenas em sen- tido figurado deve primeiro ocorrer vivamente por nós e o povo. É preciso primeiro consagrar os inúmeros templos do Espírito de Deus, quer dizer, os corações de nossos irmãos, pois sem isto a sa- gração material de nada valeria.
Se pretendes deixar o povo para trás e sagrar o templo sem ele, para quem seria então organizada a consagração? Porventura queres tu, ultrajante diante de Deus, consagrar o Templo para Ele? Isto é impossível, porquanto somente o santo e não o blasfemo pode sagrar algo.
Deus só cuida do povo e não do templo e permitiu sua cons- trução em benefício dele, mas não criou o povo em virtude deste templo ainda não consagrado. Neste caso, é o povo a causa principal da cerimônia e precisa estar presente. Se assim não for, o Senhor não deixará de consagrar os templos vivos para si, no entanto, negará a cerimônia ao templo sem vida, fazendo com que o monte volte a ser outra vez a morada de cobras e serpentes.
Convida portanto o povo e envia mensageiros para toda a cidade, pois já te disse antes que devias permitir a presença dos que Eu levarei Comigo. É justamente o povo que quero levar em Minha Companhia, portanto não te preocupes, pois a Sabedoria do Senhor no homem percebe Seus justos Caminhos.”
Tais palavras impressionam Lamech fortemente, não se con- tendo de admirar a alta sabedoria daquele homem. Imediatamen- te manda arautos à cidade a fim de convidar todos os moradores. Quando volta à grande sala, Henoch o interpela: “Meu irmão, por que não me perguntaste se deves cumprir as ordens do sábio orador, se estou aqui para este fim?”
Não percebendo que Henoch o estava testando, Lamech diz: “Estava por demais surpreso diante da sabedoria daquele homem e também convicto da Verdade imensa e profunda em suas palavras; por isso não pude deixar de obedecê-lo.” Henoch o abraça e diz: “Tens toda razão. Agora vamos em frente para cumprir nossa tarefa.”
Imediatamente Lamech inquire Henoch qual seria a ordem a ser respeitada pela caravana na subida do monte. Henoch lhe res- ponde: “Não resta dúvida que poderia orientar-te. No entanto, eu e o Senhor preferimos que descubras dentro de ti ou procures orien- tação junto ao sábio que se encontra muito mais perto de ti que eu.”
Retruca Lamech: “A Verdade será sempre a Verdade, não ha- vendo diferença por quem é pronunciada. Se és capaz de me orientar, não vejo por que a Verdade proferida pelo sábio deve ser melhor.”
Diz Henoch: “Não é dada à criatura a compreensão de tudo de um só lance e não te deves admirar de tua incompreensão. Segue meu conselho e perceberás por que se entende melhor um orador que se encontra perto do que um outro que está mais distante.”
Contesta Lamech: “Tuas palavras soam misteriosas e no fun- do me fazem suspeitar algo grandioso. Ainda assim persisto em meu princípio que a Verdade é imutável, seja por quem for proferida. Se tu, eu e Noêmia, o homem sábio e a própria serpente somos obri- gados a dizer: Deus é Senhor de Céus e Terra! — não será a mesma verdade dita por todos?”
Responde Henoch: “Não te entregues a tais confabulações das quais não nascerão bons frutos. Obediência em coisas justas vale mais do que conjecturas profundas; portanto é melhor fazeres o que te aconselhei. Se todavia insistires neste afã, previno-te que sairás perdendo.
Enquanto ignorares por que a pedra é dura e pesada, e desco- nheces a origem dos ventos e de onde o mar recebe seu alimento e a terra sua forragem; se não sabes perscrutar os caminhos, as fontes no solo, o nascimento do fogo e não entendes a linguagem dos animais e das plantas, e muitas coisas que te são mais estranhas do que o abismo do grande mar — podes desistir de tuas lucubrações. Nada descobrirás, por se tratar de assunto concernente ao Senhor que po- derá dar o conhecimento a quem Ele quiser.
Faze portanto o que te disse, pois somente pelo caminho da obediência, fruto verdadeiro da humildade, poderás alcançar a Sa- bedoria real e interna de Deus dentro de ti. Se procurares tua justifi- cativa perante os homens, desejas apenas seu elogio; mas isto é fútil como também o elogio mundano é fútil.
Se quiseres ser agradável a Deus, terás que te humilhar pro- fundamente diante Dele e com isto Lhe oferecerás o máximo elogio e Ele te amará com Sua Plenitude Divina. A justa Sabedoria se encontra em nosso amor incondicional a Deus. Agora vai e faze o que te disse.”
Profundamente contrito, Lamech reconhece o poder de He- noch e se dirige para o Sábio, perguntando qual seria a ordem da caravana na subida do monte. O Homem lhe responde: “A melhor ordem para Deus é a ordem do coração, segundo a qual deves subir com todos. Toda e qualquer outra ordem é apenas uma ordem de prestígio e representa um horror para Ele. Observa como Deus orga- niza as ervas nos campos e deduzirás qual é a ordem mais agradável para Ele. Não faças distinção no grupo, que o Senhor estará conti- go. Eis o Meu Conselho; se tiveres outro melhor, segue-o.” Lamech nada diz e anuncia a livre partida para o monte e todos se levantam e sobem à vontade.
AVERDADEIRACONSAGRAÇÃODO TEMPLO
Quando todos chegam à montanha, sem embaraço ou coa- ção, esta montanha que comportava facilmente milhares de pessoas, entre as quais muitos curiosos, não dá possibilidade de Lamech che- gar junto à edificação. Bastante aflito, também em virtude do próxi- mo pôr do sol, ele se dirige neste sentido para Henoch, que o acalma dizendo: “Irmão, o empecilho a nos cortar o caminho para o templo é muito mais importante que ele mesmo, pois aqui se encontram milhares de templos vivos do Amor e da Misericórdia de Deus; — lá só se encontra um de pedra. Que te parece se consagrássemos estestemplos para a Vida de Deus, considerando que o outro será por este meio consagrado verdadeiramente diante Dele?”
Algo perplexo, Lamech retruca: “Tens razão e aceito tua gran- de sabedoria. Mas olha o Sol! Se sua presença for uma condição nesta consagração, seremos obrigados a adiar a cerimônia para amanhã.”
Opina Henoch: “Atrás de ti está o sábio Homem; pergunta-
-lhe o que fazer que eu mesmo me submeterei à Sua Determinação.” E o Sábio responde à pergunta de Lamech: “A cerimônia recomen- dada por Henoch é a única de valor verdadeiro. Quanto ao Sol em declínio que projeta sua luz somente sobre a matéria morta, não representa o que imaginas com relação à cerimônia.
Existe outro Sol, muito mais ativo, mencionado por Mim e Henoch, que Se encontra justamente agora no zênite e por ora totalmente longe do declínio total. Quando este Sol iluminar no Céu Central de teu espírito, como já o fez desde eternidades, pode- rás inaugurar o templo diante de Deus e do povo, ainda que fosse meia-noite.
Deus não conta os dias e anos do mundo —pois mil anos são para Ele como se fossem um dia — mas Ele conta os pensamentos de teu coração, dando valor superior a um pensamento carregado de amor ao tempo que duraria milhões de anos e dias.
Por isto não deves te prender ao tempo externo, imutavel- mente condenado para a necessidade justa dos vivos da Terra, mas considera o coração vivo da criatura, verdadeiro templo da Vida de Deus. Deixa que teu Sol ilumine diante de teus irmãos, que cami- nharás e agirás de pleno Agrado de Deus até mesmo na mais densa escuridão da Terra.
O Sol que acaba de se pôr também é um grande mundo e os que nele vivem desfrutam de um dia eterno. Mas se caminhares na luz do teu Sol espiritual, jamais hás de perceber uma treva em ti, pois estarás caminhando no eterno dia de tua vida em Deus.
Consagra pois também este templo nos corações deste povo, que a cerimônia será justa perante Deus. Agindo assim, Deus Mes- mo abençoará o templo erigido pelas mãos dos homens.”
Totalmente contrito diante da grande sabedoria daquele ho- mem, Lamech lhe diz: “Percebo que tu e Henoch tendes plena ra- zão no que diz respeito à plenitude da Verdade Divina. Mas de que maneira devo efetuar a cerimônia, como consagrarei deste modo o coração do povo?”
Retruca o Personagem: “O que diz teu coração ao veres esta multidão enorme a nos contemplar totalmente extasiada?” Retru- ca Lamech: “Agora compreendo! Fez-se uma luz dentro de mim, pois meu coração se inflama por amor a ela a ponto que gostaria de abraçá-la para sempre e fazer tantos benefícios erguendo a cada um para grandes honras, de sorte que jamais um mortal fosse capaz de perceber tamanha bênção.
Se eu soubesse que minha morte lhes proporcionaria a vida eterna, com prazer morreria por todos os presentes e ausentes. Ó meu amigo, não seria este meu amor poderoso um princípio da ce- rimônia merecedora da Presença de Deus? Que mais deve acontecer para agradar-Lhe?”
Retruca o sábio: “Dize-me o que vês perto do templo.” No mesmo instante, Lamech e toda a multidão percebem o templo en- volto numa nuvem branca e por cima um coração mais luminoso que o Sol ao meio-dia. E o Sábio acrescenta: “Através de teu amor vivo acabas de abençoar os corações de teus irmãos, pois o Senhor, teu Deus, incendiou o templo de pedra com Seu Amor e Misericór- dia. Eis a Sua Bênção, para ti e o templo. Mandaste transformar to- das as armas em utensílios caseiros e te fora dito que havias de sentir o Agrado do Senhor durante a cerimônia. Vê, a entrada do templo está desimpedida e podes entrar Comigo e com Henoch, para que se cumpra o que fora predito.”
A caminho para o templo, ainda envolto na nuvem branca, Lamech não se atreve a entrar, muito embora esteja aberto por todos os lados; por isto diz aos dois amigos: “Agora vejo de olhos abertos aquilo que anteriormente só percebia em sonho. Fui convidado a entrar no templo, mas isto é impossível por ser demais santo e eu um blasfemo total. Através da Infinita Misericórdia do Senhor, meu coração se tornou devoto e humilde e me diz que ainda não estou em condições de penetrar a edificação na qual se demonstra a Gló- ria do Senhor. Por isto peço não insistirdes nesta intenção porque facilmente poderia deixar-me coagir por intermédio de vossa sabe- doria celeste.”
Retruca o Sábio: “Meu amigo, porventura não são os cora- ções de teus irmãos mais importantes que o templo? Ainda assim, passaste por entre muitos, acompanhado por nós. Como podes sen- tir receio de entrar no templo que apenas fora tocado pelo Hálito de Deus, enquanto vivificou os corações dos irmãos por meio de Seu Amor, Graça e Misericórdia?
O que teria mais valor: o Hálito surgido da Vontade do Senhor, ou Sua Palavra Viva que transborda de Seu Coração e Se esparge nos corações dos filhos? Mundos, sóis e todas as coisas se originam da Vontade do Senhor, mas tal não sucede com o espírito do homem em seu coração — pois é uma parte essencial do Espírito de Deus, Eterno e Verdadeiro, que habita no Seu Coração e Dele Se projeta.
Agora julga tu mesmo se é prudente omitir-se o mais insigni- ficante, quando nem de longe fora cogitado efetuar o essencialmente maior. Além disto, não receias Me estender tua mão, assim como Eu também estendi a Minha — no entanto podes crer que Sou muito mais que este templo com a nuvem branca e o coração fortemente iluminado. Se isto tudo é um fato real, podes entrar de consciência tranquila, para ouvires o que te fora prometido.”
A este convite os três se dirigem ao templo, em cujo centro se encontra um altar de sacrifícios. Nesta altura, o sábio se dirige para Lamech dizendo: “Meu amigo e irmão, presta atenção àquilo que o Senhor falar contigo. Eis que Ele já Se manifesta e convém aguçares tua audição.”
Lamech procura ouvir a Palavra do Senhor, mas só consegue registrar as palavras do sábio. Por isto pergunta se deve aguardar o pronunciamento da boca dele, ou de Henoch, ou talvez será agra- ciado ao ouvir realmente a Voz de Deus neste santuário. E o sábio responde: “O templo se encontra envolto em nuvens claras, razão por que não reconheces Quem ora fala contigo. Não viste no alto um coração luminoso totalmente livre das nuvens? Aquele coração representa não o Coração de Deus, mas o teu próprio.
E isto porque procuras constantemente Deus nas alturas e as- sim projetas teu amor e conhecimento de Deus acima de teu próprio templo, que fica nublado, sem poderes perceber Quem fala contigo. Erigiste um altar de sacrifício dentro e não acima do templo; portanto gostaria que me dissesses como procuras Deus acima do templo com um coração ardente de amor, cuja chama sobrepuja o fogo do Sol.”
Sumamente perplexo, Lamech pergunta novamente ao sábio: “Essas tuas palavras ultrapassam a sabedoria de um sábio. Quem és e de onde vens para falares como se a Língua de Deus se encontras- se em sua boca e cada palavra penetra em meu coração como um jato de luz quentíssima? Realmente, não foste gerado num corpo de mulher, mas surgiste diretamente da Mão de Deus, qual espírito encarnado, ou então és um anjo de luz do Senhor em cujo cora- ção repousa a plenitude da Sabedoria Divina. Dize-me, como devo olhar-te para poder te conhecer?”
Responde o Sábio: “Retira das alturas teu coração que procu- ra e ama a Deus, e coloca-o sobre o altar, que verás com clareza o que desejas conhecer. Por acaso julgas que Ele sente agrado nas alturas?
De modo algum, pois Ele dirige Seu coração somente ao simples e despretensioso.
Deus não deseja ser uma Divindade Elevada, Grande e Rica em face de Seus filhos, mas um Deus com toda Simplicidade, Pe- quenez e Pobreza perante eles. Deu-lhes tudo, pois tudo que Ele tem eles também devem possuir. Se isto é uma Verdade eterna, como podes procurá-Lo acima das estrelas, a Ele que Se compraz de erigir no pequeno coração da criatura uma morada para Si?
Lembra-te de que maneira o Senhor te procurou há pouco. Era um mendigo e tu O reconheceste pela Sua Sabedoria. Como então consegue uma nuvem luminosa obscurecer tua visão há tanto tempo? A pobreza é a verdadeira Sabedoria e quem quiser tornar-se semelhante a Deus, para que seja olhado por Ele, terá que ser po- bre. E só em sua máxima pobreza o homem reconhecerá que Deus, como Pobre, sente o máximo agrado nela, porque na pobrezadavidase manifesta a maior liberdade. Retira teu coração das alturas e hás de reconhecer o que desconheces, isto é, o Louvor de Deus à tua auto-humilhação expresso por Ele.” Nesta altura, Lamech começa a pressentir algo grandioso e pretende ajoelhar-se perante o Sábio que lhe diz: “Primeiro põe ordem em teu coração, depois podes agir segundo teu conhecimento desanuviado.”
COMOEONDESEDEVEPROCURAR DEUS
Após estas palavras, Lamech começa a meditar de que modo poderia trazer para o altar o coração que se encontrava nas alturas. Como não entende o Sábio, julga de fato ser necessário subir no te- lhado e, caso não o alcance com a mão, pegar uma vara com gancho e apanhar o coração como se fosse um fruto.
Percebendo tal absurdo, o Sábio lhe diz: “Como podes inter- pretar Minhas Palavras de modo tão errôneo, depois de teres ficado saciado com Minha Sabedoria e até mesmo achavas que Deus falasse por Mim? Realmente é impossível interpretar-se algo espiritual de modo tão tolo e material.
Porventura julgas ser o coração radioso acima do templo teu coração material? Deves saber que este não pode ser usado, pois é indispensável ao teu organismo. Trata-se do coração de teu espírito, ou seja, o Amor de Deus dentro de ti e que será útil neste altar.
Tal coração não pode ser apanhado com a mão ou por meio de uma vara, mas exclusivamente com a própria força do amor. Além disto, é o coração radioso acima do templo apenas um sím- bolo que só pode ser visto pela visão espiritual e nada mais significa senão que amas um Deus infinitamente distante e O procuras atrás de todas as estrelas. Mas o Deus sempre perto de ti não te animas a amar e a reconhecer.
Se bem que teu coração brilhe em virtude do amor puro e fortemente inflamado, tal sentimento não te proporciona benefício vivo a não ser que venhas a enxergar algo melhor em seus raios refra- tários. Eis tudo que poderás alcançar.
No entanto é apenas a vida a causa principal que deve durar eternamente, e não a luz da vida temporal que passa com a própria vida. Por isto deve o coração do espírito, ou seja teu amor para com Deus, estar mais perto de ti ou dentro de ti, que conquistarás a vida eterna. Só Deus é a Vida, portanto Ele a possui e fornece.
Se isto é uma Verdade eterna, de que te adiantaria um Deus infinitamente distante ou uma Vida nas mesmas condições? Tens que ter dentro de ti a Vida eterna, ou seja, o Amor Eterno de Deus, se pretendes viver.
Além do mais, deves considerar que a Divindade Infinita de nada te serviria, porque sendo tu uma criatura finita, não poderás con- ceber a Natureza Intrínseca de Deus. Por isto Deus instituiu o coração humano para Sua Morada, para que ninguém possa viver sem Deus.
O Sol é tão distante que jamais um homem terráqueo o po- derá alcançar, e tão imenso que esta Terra é qual bola do tamanho de um punho cerrado, comparativamente. De que te adiantaria tal Sol imenso ainda que o pudesses alcançar, no entanto tua visão e teu físico não são de tal modo constituídos a poderes assimilá-lo total- mente? Em tal caso, não receberias nem calor, nem luz.
Mas como Deus organizou teu olho de tal modo a poderes observá-lo em sua totalidade, e portanto assimilar todo o seu qua- dro vivo, facilmente podes absorver seu calor e sua luz; isto também não é efeito do grande Sol distante, mas apenas daquele que trazes dentro de ti. O mesmo ocorre, porém mais ainda, com Deus, Que jamais poderás conceber em toda Sua Projeção Infinita; de certo modo, Ele nem existe para ti sob tal aspecto.
Acontece que Tal Deus Infinito depositou em teu coração espiritual a Sua Perfeita Imagem; e isto constitui tua vida e se en- contra dentro de ti. Teu grande amor a Deus é justamente tal Ima- gem de Deus que te vivifica. Por tal motivo deves continuar dentro de ti mesmo e não arrancar tal Santuário, mas solidificá-Lo em ti que terás constantemente Deus em Sua Máxima Proximidade e não necessitas perguntar: Onde, no Universo, habita Deus? — pois O reconhecerás em ti, tua própria Estrela Santa, na qual Deus habita e te fornece constantemente tua vida, embora não o saibas ainda. Desperta teu amor a Deus perto de ti, que teu coração se encontrará no altar e reconhecerás a Divindade e aceitarás o louvor da humil- dade justa.”
LAMECHRECONHECEO SENHOR
Só agora Lamech compreende as palavras do Sábio, bate no peito e diz para si: “Meu Deus, quão tremendamente tolo é o ho- mem em sua personalidade e quanta paciência deve possuir a Sa- bedoria Divina até que surja algo de proveitoso, capacitando-o ao entendimento da Ordem Divina! Nada de melhor pode o homem fazer senão viver de acordo com seu entendimento baseado na Or- dem de Deus. Tu, meu Deus, saberás melhor o quanto ele pode suportar; por isso permites conhecimentos maiores, pouco a pouco, para que ele se torne mais semelhante a Ti. Hei de amar-Te e louvar-
-Te durante toda minha vida!”
Enquanto Lamech confabula consigo mesmo, a nuvem em redor do templo desaparece e o coração vem descendo sobre o altar.
O povo se prosterna com grande veneração, pedindo Clemência e Misericórdia de Deus. Lamech segue este exemplo e diz para o Sá- bio: “Segundo Teu Ensinamento, o Espírito de Deus Se acha dentro de mim, o que de fato percebo vivamente. Mas em Ti deve Ele Se manifestar incomparavelmente mais Forte e Poderoso, levando-me a louvar-Te como Criador e Pai Que Se dignou nos proporcionar sinais tão grandes que nos facilitam reconhecê-Lo e conquistarmos a Vida eterna.”
O Sábio se inclina para erguer Lamech e diz: “Ergue-te em tua alma e reconhece Quem ora te aconselha isto. Os homens ja- mais devem se ajoelhar perante seus semelhantes, nem os anjos diante de seus iguais, mas os deuses sabem de sua união com o Deus Único.
Se olhares nos olhos de teus irmãos, verás em cada um o mes- mo Sol; isto não quer dizer que cada um tivesse vários para muitas pessoas e outros seres, pois se irradia apenas a luz de umSol como emanação espiritual do grande Portador de Luz.
De modo idêntico há apenas Um Espírito de Deus no co- ração de todas as criaturas e por isto o Espírito ativo dentro do ho- mem não é um segundo Deus, mas Uno com a Divindade. Eu Sou o Senhor e tu O reconheceste e te prosternaste diante de Mim. No entanto te digo: Se o Sol se incandescesse só para si, haveria de se destruir. Por esta razão ele impele seu calor e sua luz para seus plane- tas, proporcionando condições de vida física em seu solo.
Assim também Eu transfiro toda Minha Dignidade Divina para Meus filhos para poderem viver Comigo sumamente felizes. Deste modo não quero que eles se atirem aos Meus Pés, mas que Me amem como Bom Pai, com todas as suas forças.
Entretanto não Me retenho diante do humilde, mas hei de viver em sua companhia para erguê-lo sempre que se prosterne dian- te de Mim. Por isto te elogio por seres humilde. Continua em tua humildade e em teu amor, que jamais necessitarás retirar teu coração de cima do telhado.”
Lamech sente vontade de transmitir ao povo, em altos bra- dos, a Santa Presença do Senhor de Céus e Terra. Mas Este lhe diz: “Não convém dares vazão ao teu ímpeto e considera que se tal fosse bom e necessário, Eu Mesmo não o omitiria.
Tal revelação custaria a vida do povo já bastante agitado, o que não seria possível evitar-se dentro da atual ordem das coisas. Deixemos tal trabalho inútil para épocas mais favoráveis. Quando mais tarde Eu Me afastar de novo, poderás revelar-Me e te referir à Minha atual Presença. Por ora continuarei por pouco tempo apenas como Sábio entre vós para que ninguém venha a sofrer um julga- mento mortal em sua alma livre.
Podes no entanto convidar o povo para se levantar e deixar de adorar em sua ignorância este coração luminoso e simbólico, como se fosse a representação figurativa do Ser Divino. Elucida-lhe este quadro segundo a verdade revelada, para que se volte em estado de sobriedade para Mim, Deus, o Senhor, louvando-Me em seu cora- ção. Executa esta tarefa e volta para um descanso.”
Imediatamente Lamech convida o povo a se erguer, mas ninguém segue seu conselho. Algo amedrontado, Lamech resolve levantar a cada um diante do Senhor para poder falar a todos. To- davia, não obtém resultado, pois à medida que ergue as pessoas, elas caem de novo ao solo. Diante deste segundo resultado seu embaraço aumenta, mas resolve procurar os seus seguidores que certamente aceitarão as suas palavras.
Dito e feito — porém sem êxito. Então nada mais lhe resta fazer senão voltar ao templo para falar com o Senhor e com Henoch. Qual não é sua surpresa a não encontrar nenhum dos dois! Isto é demais para Lamech que se sente cair em desespero. Mas, passado algum tempo conclui que tal é a Vontade do Senhor, pois ele havia feito tudo que pôde e o Senhor devia saber que ele não podia efetuar
milagres. Ainda assim resolve procurá-los entre o povo adormecido e, caso não os encontre, ele também repousará.
Vendo sua última tentativa também frustrada, Lamech co- meça a chorar, e se decide a deitar ao lado do altar para dormir. Sua tristeza e o grande pavor o impedem de conciliar o sono, e assim se passam sete longas horas sem que alguém acorde e tampouco o Senhor e Henoch aparecem.
TRISTEZAEDESVARIODE LAMECH
Decorridas sete horas, Lamech se levanta e confabula: “Agi segundo a Vontade do Senhor, mas sem êxito, no que não me cabe culpa. Que repouso foi esse durante as sete horas calculadas pela marcha das estrelas? De fato, a manhã desponta e não há mani- festação de movimento no acampamento, nem uma brisa ou qual- quer ruído.
Que farei? Ficar aqui até o surgir do Sol ou voltar à cidade e relatar aos serviçais o que ocorreu aqui? Porventura devo buscar um curandeiro que pelo seu conhecimento me diria se estas criaturas dormem de fato ou talvez estão mortas? Talvez eu mesmo poderia fazer uma tentativa de acordá-las? Mas, se isto não surtir efeito, serei acometido de um imenso pavor que até mesmo me impedirá de correr à cidade a fim de providenciar o sepultamento.
Já sei o que fazer! Vou pedir a Deus, o Senhor que me ajude e isto farei sem parar e sem me alimentar até que Ele me socorra ou então também me tire a vida. Aos poucos está clareando e posso no- tar a cidade e suas construções. Quão maravilhoso seria tal despertar dentro de um novo dia se o povo estivesse acordado, para ofertar ao Senhor um louvor de gratidão!
Que teria feito eu para ser abandonado pelo Senhor e He- noch, se cumpri estritamente a Sua Vontade? E agora o Santíssimo e mais Misericordioso me abandona sem orientação. Tenho certeza de ter falado com Ele e Henoch, e meus companheiros trazidos das alturas também lá estão dormindo, talvez o sono mortal. Talvez não
se encontrem mais no mesmo lugar? Vou verificar isto de perto, pois não se pode tratar de um sonho que começou ontem.”
Então Lamech volta ao local onde havia deixado os outros e não encontra vivalma. Desesperado, ele grita: “Que vem a ser isto? Então sou realmente vítima de um sonho irrisório? Que estado vem a ser este? Gostaria de orar, mas não consigo agora. Estou sem Deus, sem amigos, irmãos e família, e nada mais tenho que esta vida miserável e este castigo terrível de Deus ou a vingança tenebrosa da serpente. Para quem devo orar? Para Aquele Que me abando- nou? Jamais!
Ainda sou Lamech; o país, a cidade e o povo me pertencem. Quis ser um verdadeiro servo do Senhor e Lhe sacrifiquei tudo; mas Ele me pregou uma peça. Por isto não quero mais viver e hei de morrer neste templo, de fome, como último sacrifício ofertado a este Deus enigmático. Ainda que Ele Mesmo agora chegasse, não haveria de conseguir me modificar. Pobre povo, podes dormir e te tornar alimento para formigas e vermes. Dentro em breve estarei na mesma situação. É mil vezes melhor não existir a ser tomado por palhaço por parte de Deus.
Agora me sinto mais aliviado. É preferível um sentimento de vingança a uma tola beatitude frente a um Deus que me ludibriou sem motivo. Assim será!”
VISÃOAPAVORANTEDE LAMECH
Terminando seu monólogo tolo e insensato, Lamech se senta de costas para o altar, o rosto voltado para o dia que desponta. Nesta posição ele pretende ficar até o seu fim. Todavia, o surgir de um outro sol faz com que volte a si. Aparece diante dele o seguinte: no lugar do Sol, uma enorme serpente ergue sua cabeça no horizonte, e à medida que a cabeça sobe, aparece um corpo tenebroso e este ofídio brilha como o sol.
Quando o monstro já se encontra a certa altura acima do horizonte, aparecem inúmeras serpentes menores e, iguais à grande
serpente, todas apresentam uma coroa fortemente luminosa nas ca- beças. Dentro em pouco, todo o Céu está coberto de serpentes, que se movem em torno da grande.
Os movimentos se tornam cada vez mais agitados, dando-se uma verdadeira luta. A serpente principal morde as menores, caindo por terra, que com isto fica incendiada. O solo então começa a cla- mar por tamanha desgraça, e as montanhas se curvam iradas para os vales, desviando o curso dos rios e expelem de suas fendas e recifes massas colossais de nuvens. Com elas obscurecem o Céu total cada vez mais densamente e não demora a se precipitarem avalanches poderosas de água que inundam todos os territórios.
E as águas sobem e sobem, tragam a cidade de Hanoch, e suas vagas atingem quase o cume da montanha onde Lamech se encontra com seu povo adormecido. Quando a montanha começa a balançar e o templo ameaça ruir e o tremendo raio faz estremecer o solo, Lamech se apavora, não obstante estivesse disposto a morrer.
Imediatamente se levanta e esfrega os olhos para olhar em seu redor. Logo descobre o templo diante de si e dentro dele se encon- tram o Senhor e Henoch, enquanto o povo se acomoda à vontade ao redor do templo, louvando a Glória de Deus. Ele mesmo se acha entre seus amigos.
Diante disto, ele se vira para Tubalkain que se encontra ao seu lado e diz: “Meu filho, o que aconteceu comigo? Onde nos en- contrávamos eu e vós, e o Sábio com Henoch, que certamente me aguardam no templo?”
Responde Tubalkain: “Ora, meu pai, como me perguntas? Então ignoras que vieste até aqui por ordem do Sábio para transmi- tires ao povo o convite de se erguer? Naquela hora abraçaste minha mãe e a de Noêmia, e naquele abraço dormiste não sei quanto tem- po. Eis tudo. Se não me acreditas, podes indagar os outros que te dirão o mesmo, pois é a pura verdade.”
Muito feliz, Lamech exclama: “Meu Deus, todo louvor, gra- tidão e amor são Teus, pois estive apenas sonhando. Mas como foi possível eu dormir em vez de executar a Tua Ordem?”
Lamech das alturas responde: “Irmão, não o fizeste porque alimentaste intimamente o desejo de repousar neste monte em com- panhia de tuas mulheres. Por isto o Senhor permitiu que chegasses inconscientemente junto delas no momento em que julgavas em tua fantasia acordar o povo; mas ninguém te deu atenção, pois tua mente já se encontrava ao lado delas.
Deste modo, a matéria te seduziu perante Deus e Ele per- mitiu que saboreasse os frutos do amor carnal. Agora te conduzirei para o templo e o Senhor te revelará outras tolices que alimentas no teu íntimo. Vem!”
EXPLICAÇÃODOSONHODE LAMECH
A estas palavras os dois Lameches sobem ao templo, onde são recebidos pelo Senhor e Henoch. Tamanha condescendência surpre- ende o Lamech das planícies, porquanto aguardava uma reprimenda em virtude de seu erro cometido.
O Senhor porém lhe diz: “Por que te admiras de Minha Bon- dade, Amor e Graça? Eras maior do que agora quando pecador? Como então Eu Me aproximei de ti naquele tempo? Se me acerquei de meu grande inimigo e pude erguer-te como grande pecador, por que te admiras se te aguardo no limiar do templo quando não co- meteste pecado?
O que acaba de ocorrer foi apenas permissão de Minha parte para te demonstrar quais os frutos a serem esperados por ti, ou ao menos por teus descendentes, em virtude do excessivo amor carnal. O que te demonstrei deste modo é apenas uma boa orientação para ti e teus descendentes, mas nunca um pecado. Se a considerares com atenção, viverás no espírito do verdadeiro Amor e de toda tua sabedoria. Agora entra com teu amável guia e vamos confabular e nos orientar na luz clara do coração flamejante e ra- dioso sobre o altar.”
Ambos os Lameches entram no templo, onde o Senhor lhes diz, diante do altar: “Pode o homem chegar a uma situação em que
fará de uma necessidade uma virtude, e às vezes é até mesmo obriga- do a tanto. O mesmo faremos nós.
Vê, os degraus arredondados em volta do altar não se desti- nam para assentos. Não havendo outro recurso em bancos, nós os usaremos e voltaremos o rosto para o Sul.
Quem poderia protestar contra isto, se o templo, o altar e seus degraus foram construídos para nós, portanto podemos usá-los segundo nosso agrado? Qual é a tua opinião, Lamech?”
Responde ele: “Ó Senhor, Pai Querido e Bom, somente Tua Vontade é Santa e me proporciona a máxima alegria; por isto, que se faça tudo segundo o Teu Agrado. Queira determinar qual deve ser a ordem a ser respeitada.”
Diz o Senhor: “És ainda um homem da corte e não sabes agir diante de tantos conceitos cerimoniosos. Observa com atenção os filhinhos de um pai amoroso, a quem amam sobre tudo. Qual será a atitude deles quando ele chegar à casa? Todos correm ao seu encontro e o mais ligeiro se atira nos braços dele; o menor, porém, fica para trás. O bom pai, vendo seus passinhos desajeitados, vai ao seu encontro com o coração palpitante, toma-o nos braços e o beija e acaricia seguidamente.
Meu filho, de modo idêntico é constituída MinhaOrganiza- ção doméstica e cerimônia na Minha Corte celestial. Quem chega primeiro é recebido primeiro. Mas o último e mais fraco tomarei nos Meus Braços, acariciando-o sobremaneira, porque reconheceu o Pai em sua fraqueza, indo ao encontro Dele com pés fracos. O mesmo deve ser feito por vós, sem perguntardes pela ordem pessoal, e Eu, Verdadeiro Pai de todos, Me alegrarei convosco. Acabo de Me sentar e podes fazer o mesmo.” Tomados de imenso amor, os três amigos abraçam o Pai que diz: “Assim está bem, pois esta é a verdadeira Ordem dos Céus e deve ser respeitada para sempre.”
PELO SENHOR
Assim, eles tomam lugar ao lado do Senhor, quer dizer He- noch e o Lamech das alturas ao lado direito, e o Lamech das planí- cies ao lado esquerdo, e o Senhor explica: “Meus filhos escolhidos, agora estamos bem acomodados e dentro da melhor ordem. Por ora ainda não entendeis bem o sentido disto, mas, como dispomos de tempo até o completo surgir do Sol, vamos ventilar mais de perto este assunto.
Vede, a Terra que habitais é uma esfera insensível em sua su- perfície. Mas seu interior é uma construção orgânica e de capacidade vital, vivendo qual animal. (Vide ‘A Terra e a Lua’). Se para a vida há necessidade de um ponto central ou, melhor dizendo, um ponto de atração ou centro de gravidade, no qual tudo converge em virtude de sua atração que estimula o mesmo, aquece-o e o inflama — tam- bém a Terra possui, bem como inúmeros outros corpos cósmicos com os sóis e luas, tal ponto central correspondente ao coração das criaturas e animais, em sua esfera natural.
Mas este, por assim dizer, ponto central não se pode encon- trar estritamente no centro da massa total de todos aqueles corpos mencionados, mas sim 3/4 partes distante do centro, para não ser totalmente esmagado, tornando-o estático.
Achando-se portanto sempre fora do peso da matéria do ponto central, o peso principal não pode influenciar de todos os lados e proporciona um espaço livre no qual se pode movimentar sem empecilhos. Se for pressionado por parte da massa enorme, fa- cilmente foge para o lado menor da matéria.
Se a massa principal, devido à sua inércia necessária e seu peso natural, não consegue elevar-se acima de seu ponto de gravida- de, mas se vê obrigada a desistir de seu intento e forçada a voltar ao centro de gravidade, este recebe um novo retrocesso. Deste modo, estimula o ponto de gravidade inerte através da força de atração que
converge outra vez para o ponto central que, se for forte demais tal atração, se dirige imediatamente para o lado menor e mais leve.
Através deste vaivém mecanicamente uniforme se produz a vida orgânica das criaturas e animais. Uma vez que a força motora é efetuada num organismo, ela automaticamente se transmite à massa total, estimula-a mais ou menos, proporcionando-lhe uma vida e utilidade.
Naturalmente tudo depende de Mim, que preciso construir primeiro todo o organismo, paulatinamente, e prepará-lo conforme disse. Isto feito, tal organismo continua existindo enquanto Eu lhe quiser dar o alimento necessário. Eu lhe retirando tal alimento, ele enfraquece e se torna inerte, se desconjunta e se consome paulati- namente, da mesma maneira que fora construído e finalmente volta a Mim, espiritualmente, como substância de vontade totalmente dissolvida.
Eis uma linha básica de Meu Plano de construção orgânica. Tornar-se-á mais clara na luz de vosso próprio espírito e não é preci- so concluirdes além daquilo que na atual ordem de posição de luga- res corresponde totalmente à Ordem de Minha Criação Orgânica. Explicarei melhor.
Eu sou o Ponto de Atração Principal da Vida de todo o In- finito. Vós sois Meus órgãos aptos a receber a Minha Vida. Agora, dize-Me, Lamech, encontro-me estritamente em vosso centro?”
Perplexo, ele responde: “Não, Senhor e Pai, pois entre qua- tro pessoas isto é impossível. O centro seria entre Ti e Henoch.”
E o Senhor prossegue: “Eis a Ordem justa e boa, pois Eu — Base de toda Vida e Vibração — Me encontro entre vós no ponto em que se completam 3/4 partes, e tu portanto representas o polo norte menor e mais leve, e Henoch e Lamech representam o polo sul, pesado e muito maior.
Assim sendo, vamos nos estimular reciprocamente atra- vés de várias considerações importantes na esfera infinita da Vida. Quem souber algo especial, deve manifestar-se para nosso entendi- mento. Podes começar, Lamech.”
Sem delongas, Lamech externa a seguinte questão: “Senhor, como me convidaste a falar, arrisco-me a ventilar a poligamia e se Tu a justificas. Se bem que a natureza isto favoreça ao homem, a mulher só pode conceber uma vez por ano.
Considerando esta relação dentro da lógica, parece que a poligamia se adapta à natureza humana, porquanto a procriação só representa um lucro. Observando-se no entanto a relação cons- tantemente idêntica no que diz respeito ao número de indivíduos, chega-se à conclusão de que tal não fora Tua Determinação, pois o número das mulheres não raro é menor que o dos homens. Vez por outra é igual e muito raramente maior.
Esta relação contradiz evidentemente as necessidades da na- tureza e da lógica, pois se admito a poligamia, milhares de homens continuam solteiros, embora tivessem condições de gerar prole. Não admitindo a poligamia, o homem só pode gerar uma vez por ano, o que constitui um contrassenso para a natureza humana. Senhor, gostaria muito de receber uma orientação segura neste problema.”
Responde o Senhor: “Tua pergunta é boa e inteligente e não pode faltar uma resposta concisa ao verdadeiro guia de um povo tão numeroso. Vê, se a poligamia estivesse dentro de Minha Ordem, Eu teria criado 365 mulheres para Adão, primeiro homem da Terra, que vive no planalto e ainda viverá por alguns anos, a fim de que possa empregar sua capacidade geradora.
Todavia, Eu criei para ele apenas umamulher e isto é deter- minado até agora para todas as criaturas, não obstante a capacidade abundante. Esta não foi dada para uma geração múltipla, mas ape- nas para uma geração sadia e forte. Deste modo, pode um homem gerar poucos filhos, porém muito mais sadios, enquanto numa gera- ção múltipla só conseguem ser procriados os piores e fracos.
Cada semente gerará um fruto ruim ou nenhum se não tiver atingido a total maturação. O mesmo ocorre com o homem, tanto
mais em se tratando do fruto mais nobre. Ficará assim estabelecida a união com uma só mulher, que fará o bastante se conseguir gerar apenas um fruto de três em três anos. Entendeste?”
ODESEJODOHOMEMPORMUITAS MULHERES
Satisfeito com esta explicação, Lamech diz para o Senhor: “Durante Teu Ensinamento importante surgiu outro problema dentro de mim que, considerado de um ponto de vista espiritual e moral, para muitos justificaria a poligamia. Como guia escolhido por Ti, não encontro na esfera de meus conhecimentos uma palavra contrária. Por isto desejaria expor-Te minha dúvida.”
Interrompe o Senhor: “Pois não, mas não percas tantas pa- lavras com desculpas. O tempo urge e Eu não sou qual tolo que necessita de grande preâmbulo para compreender um assunto. Além do mais, sei perfeitamente qual a tua dúvida e não necessitas desper- dício de tempo.”
Algo humilhado, Lamech diz: “Acontece que existe dentro do homem um sentimento que o atrai para várias mulheres e tal tendência é insaciável. Mesmo que ele tivesse duas, três ou mais mulheres muito bonitas, e ele chegasse num local onde existissem outras cem, sua natureza o impeliria a possuir essas outras. Se Tu és nosso Criador, por que então possui ele tal instinto que, segundo Tua Ordem, não pode ser satisfeito?”
Diz o Senhor: “Neste caso, a abundância de sentimentos se relaciona igualmente à capacidade criadora, mas apenas em espíri- to. Se o homem é lascivo e espalha sua semente em ruelas e ruas, poderá ele, tão enfraquecido, gerar um fruto normal mesmo com uma criatura sadia? Por certo que não, pois do bagaço não se extrai qualquer sumo.
O mesmo acontece com o excesso sentimental: Deve o ho- mem acumular seu sentimento no coração e depois voltá-lo para Mim. Uma vez que tenha alcançado a justa maturação de sua força, ele há de encontrar em Mim — Causa de tudo e portanto também
de todas as mulheres belas — a compensação mais satisfatória, sem que a mulher do vizinho o venha tentar.
Além do mais, deves saber que tudo neste mundo se destina apenas para uma finalidade externa, segundo a predisposição do ho- mem. Por isto não deve ele fazer uso das forças registradas dentro de si, antes que tenham chegado à maturidade total.
Assim como os frutos da Terra amadurecem somente à luz do Sol, também as forças espirituais do homem só conseguem sua ma- turidade em Minha Luz. Eis por que cada um deve dirigir suas for- ças para Mim, a fim de se tornar uma criatura perfeitamente madura e forte dentro de Minha Ordem. Quem não fizer isto será culpado de sua morte. Entendes?”
DESENVOLVIMENTODA ALMA
Responde Lamech: “Como não devia entendê-lo se Tu, Luz de toda luz, Sol de todos os sóis, me iluminas como o Sol matinal o faz numa gota trêmula de orvalho que se deixa suavemente balançar por uma brisa suave na ponta da folhinha?
Esta gotinha é, como eu, algo efêmero nas fileiras enormes de Tuas Criações. Uma vez que existe, ela recebe o Sol tanto quanto meu olho, irradiando em seu pequeno âmbito como um diminuto Sol e alegrando com sua luz o pequeno mundo, como faz um sábio junto a seus irmãos menos afortunados.
Creio ter entendido ser eu também qual gotinha de orvalho que por Tua Imensa Graça poderá alegrar os que me cercam. Se afir- masse ter assimilado totalmente Tuas radiosas Palavras, seria muito mais tolo do que declarando que a gotinha de orvalho teria absor- vido o astro rei somente porque irradia sua luz para outros pontos. Tu somente, Senhor, saberás o quanto me falta para uma assimilação plena de Tuas Palavras Santas e Te peço me elucidares segundo mi- nhas necessidades.”
O Senhor elogia Lamech, pois suas palavras continham mui- ta sabedoria; todavia ainda acrescenta: “A gotinha de orvalho com a
qual te comparaste não é tão insignificante e passageira como pensas. A gotinha vive, transmite vida a seu pequeno mundo e nesta doação vital será assimilada por um elemento em grau superior, onde se torna psique de efeito mais positivo. Tal psique jamais morrerá, mas crescerá constantemente em silêncio por entre as fileiras de seres, até chegar ao destino final, para assimilação de raios mais potentes do Sol, que agora te inunda com tanto amor.
Deves estar lembrado da sabedoria de Farak que dizia: Quan- do Deus manipulou o primeiro homem do barro da Terra, Ele lhe soprou uma alma viva em suas narinas e assim o homem se tornou uma alma viva diante de Deus, seu Criador.
Este Sopro continua bafejando constantemente por toda a Terra, que representa em sua totalidade Adão, e desperta inúmeras almas vivas para futuras criaturas. Tais criaturas são o ponto final da gotinha de orvalho. Nelas ela se capacita à assimilação de raios mais sublimes, conforme ocorre contigo, do Sol da Vida Eterna que jamais será absorvido por outras fileiras de seres.
Assim sendo, a Terra toda é qual homem, e sua consistência são as almas que já existiam unidas ao Meu Espírito. No entanto, não conseguiram passar pela experiência, razão por que são de novo amadurecidas no grande corpo materno da Terra e depois desper- tas para nova vida através de Meu Sopro. Naturalmente não estás conseguindo compreender isto e também não é necessário para tua vida. Mas, se quiseres, poderás prosseguir com tuas perguntas, que te iluminarei em todos os recantos de tua alma.”
A HUMILHAÇÃO DO INTELECTO HUMANO. OS DENTES COMO SÍMBOLO DA SABEDORIA
Diante desta explanação sublime, Lamech se bate no peito e diz: “Senhor, estremeço perante Tua Sabedoria Infinita e não tenho coragem de perguntar algo, pois facilmente poderias me dar uma resposta mais profunda que me aniquilaria diante de Ti e do povo.
Não deixa de ser a coisa mais sublime a criatura ser orientada por Ti Mesmo; mas se Tu a submetes aos mais fortes raios de Tua Luz, ela sente dolorosamente sua própria ignorância. Saber que não é nada perante Ti ainda é suportável; mas senti-lo em Tua Santa Pre- sença é insuportável. Por isto não me atrevo a abordar mais dúvidas.”
Aduz o Senhor: “Justamente por este motivo te revelo coisas ocultas a fim de que sejas humilhado de todo coração e deposites aos Meus Pés toda tua sapiência e compreensão. Enquanto pretendes brilhar com a menor fagulha de tua própria inteligência, não pode- rás ingressar no âmbito de Minha Sabedoria. E se Eu te obrigasse a tanto, ela haveria de aniquilar-te totalmente.
Por isto terás que ser purificado pela humilhação antes de seres capaz de suportar Minha Luz dentro de ti. Este templo foi edi- ficado por intermédio de Minha Sabedoria. Mas isto só foi possível depois que esta montanha foi sanada de toda sorte de ofídios.
Assim também Meu Templo vivo de Minha Sabedoria não poderá ser erigido em ti antes de teres purificado tua própria mon- tanha intelectual. Regozija-te se Minha Luz começa a te pressionar, pois neste caso estarás perto de entregar a Mim o que te pertence e aceitar Minha Dádiva.
Nesta questão espiritual ocorre quase o mesmo que com os dentes, que são propriamente símbolo da inteligência. Os dentes de leite que a criança recebeu com dores terão que ser extermina- dos também com sofrimento quando nascerem os fortes dentes da maturidade, pois os primeiros foram apenas preparadores para os últimos.
Tua sapiência anterior terá que ser expulsa de ti para poderes aceitar Minha Sabedoria eternamente poderosa. Podes portanto fa- zer perguntas cheio de coragem e te humilhar para te capacitares à assimilação de Minha Luz puríssima.”
Diz Lamech: “Senhor e Pai, se assim é, farei perguntas a vida toda e não hei de temer a minha humilhação. Bem, desde eternida- des foste em Tua Natureza Perfeito e Infinitamente Bom, e além de Ti nada existia em todo o Infinito.
Quando resolveste criar anjos, céus, mundos e criaturas, não necessitaste de qualquer matéria, pois Tua Vontade Poderosa unida aos Teus Pensamentos e Ideias mais sábios e profundos foram o mo- tivo de Tua Criação Infinita.
Como não consigo imaginar que surgisse uma Ideia maldosa ou um Pensamento mau, gostaria de saber de onde nasceu o mal de Satanás e portanto o mal dentro de nós, criaturas. De onde surgiram o pecado, a ira, a inveja, a vingança, o domínio e a impudicícia?”
Diz o Senhor: “Tua pergunta soa bastante inteligente, no entanto é muito humana. Muito embora julgues ter formulado um problema que talvez fosse difícil de resolver, te darei uma res- posta justa.
Do Meu Ponto de Vista não existe nenhum mal, mas apenas diferenciações do efeito de Minha Vontade, e esta é Boa no inferno como no Céu, no criar como no destruir.
Do ponto de vista das criaturas só umacoisa deve ser con- siderada boa, isto é, a parte relacionada ao positivo merece unica- mente ser levada em conta, podendo a criatura se manter ao Meu lado e em Mim, e é nisto que se baseia a Minha parte conservadora e constantemente criadora. Mas a parte poderosa de dissolução é má em relação à criatura porque não pode existir tal situação Comi- go e em Mim.
Em Mim tanto o positivo quanto o negativo são bons, pois o positivo Eu crio e no negativo organizo e conduzo tudo.
Mas para a criatura só é bom o sim, e mau o não,até que se tenha unido a Mim pelo sim, não podendo mais existir dentro do conceito negativo.
Deste modo não existe Satanás e inferno para Mim, mas sim para ele próprio e as criaturas desta Terra, porque aqui se trata da formação de Meus filhos. Existem ainda inúmeros mundos onde se desconhece Satanás, portanto também se ignora o negativo, e só se conhece a parte positiva em suas relações. Assim andam as coisas. A Terra é um Jardim de Infância onde há sempre gritos e barulho. Eu considero isto com outros olhos que tu, homem da Terra. Dize-Me o quanto assimilaste disto tudo.”
LIMITESDAONIPOTÊNCIA DIVINA
Diz Lamech: “Senhor, no que diz respeito ao meu enten- dimento, teria muita coisa para perguntar. Mas aqui estão Heno- ch e meu homônimo das alturas, que certamente compreenderam melhor do que eu o Teu Ensinamento e se eu necessitar poderão prestar outros esclarecimentos. Compreendi e aceitei minha nu- lidade perante Tua Santidade, que não percebi no início de nossa palestra. Mas como me humilhei diante de Tua Sabedoria, Tua San- tidade Infinita Se destaca muito mais potente e me sinto aniquilado até o âmago.”
Percebendo o conflito de Lamech, o Senhor diz: “Meu filho, porventura sou culpado de ser Deus de Eternidade, Vivo por Mim Mesmo, e tu uma criação Minha? Seria possível modificar essa rela- ção? Poderias tu ser um Deus eterno e Eu uma criatura?
Nem Eu nem tu seremos capazes de modificar esta Ordem. Se fosse possível Eu Me reduzir a uma simples criatura e Me despir de Minha Eterna Divindade para passá-la a ti, toda a criação seria aniquilada.
Se tal acontecesse, que benefício terias alcançado e o que so- braria para Mim? Tu não existirias mais; Eu teria que Me revestir da Divindade e, se quisesse ter outros seres ao Meu redor, teria que recriá-los e também a tua pessoa, pois certamente faria questão que estivesses Comigo.
Acredito que compreendes o que é possível e o que é impos- sível segundo as condições de Minha Ordem Eterna. Além disto, convirás que Eu, Deus Eternamente Imutável, farei tudo para Me aproximar de Minhas criaturas e seus descendentes, preenchendo todos os abismos entre nós de tal forma que possam conviver Comi- go como um irmão. Poderão aprender de Mim Mesmo sua eterna e viva finalidade, quando então rege entre nós apenas uma diferença moral, segundo a qual poderão se tornar senhores perfeitos de si mesmos em Mim e junto de Mim.
Se assim é indubitavelmente, não vejo por que estremeces diante de Minha Divindade imprescindível a ponto de não poderes falar. Deixa de lado o que não serve para Pai e filho, e expande as tuas ideias a fim de perceberes o quanto Eu, teu Pai, sou paciente. Dá-Me tua mão e sente como sou Bom e Paciente, e depois fala como quiseres.”
OHOMEM,PENSAMENTOFIXADODE DEUS
Deste modo encorajado, Lamech conclui: “De fato, a criatura jamais poderá ser um Deus Incriado, tampouco a Divindade será um ser criado. Deus existe por Si Mesmo eternamente Livre, mas a cria- tura é apenas condicionada por Ele. No entanto, é a vida do homem uma existência divina porquanto não há outra Vida senão a de Deus.
Minha existência só pode ser uma partícula da Infinita Exis- tência de Deus, do contrário não seria vida. Esta partícula é idêntica à Sua Origem no que diz respeito à eternidade, pois não consigo imaginar que em Tua Plenitude de Vida se possam encontrar partí- culas remotas e recentes.
Minha conclusão é a seguinte: Desde eternidades fui mani- festação dentro de Ti, porém algemada em Tua Plenitude de Vida. Num período qualquer resolveste libertar esta minha partícula que agora é livre, ao passo que antes era algo algemada, todavia unida totalmente à Tua Existência Eterna. Estou errado, Senhor?”
Diz o Senhor: “Não, desta vez tua opinião é perfeitamen- te certa e justa. A situação é tal qual a explicaste: Existimos desde eternidades, com a diferença de que Eu Sou a Unidade Eterna, e tu apenas uma partícula Minha. É claro que os pensamentos de cada criatura possuem a mesma idade que ela. Mas depende quando ela os pensou ou de certo modo libertou de seu âmago.
Quando isso ocorre, o homem os projeta de certa forma e não raro os executa e tais pensamentos existem como seres vivos, conquanto presos ao criador, isto é, à criatura que os elaborou.
O mesmo ocorre entre nós. Eu Sou o Homem de todos os homens, e as criaturas são todas Meus Pensamentos, portanto Minha Vida, pois os Pensamentos livres são propriamente a Minha Vida.
Sendo Meus Pensamentos Eternos, não podeis ser mais jo- vens que Eu Mesmo, portanto teu conceito está certo. Todavia, existe um grande segredo: De que maneira pode o Criador projetar Seus Pensamentos como Suas eternas partículas perfeitas, livres e conscientes, de sorte que se apresentam como tu, podendo falar-Me qual segundo Deus Eterno ao Meu lado?
Até então fui inquirido por ti, agora Eu te pergunto. Procura uma resposta que deve se encontrar no teu íntimo, pois tens dentro de ti a faculdade criadora. Medita e Me responde.”
LAMECH CONFESSA SUA TOLICE. A HUMILDADE COMO VERDADEIRA SABEDORIA
Lamech está totalmente perplexo, pois não sabe como agir. Por acaso devia realmente procurar uma resposta apenas possível para o Criador, ou talvez convinha considerar tal pergunta como boa humilhação por ter ele se manifestado um tanto arrojadamente perante o Senhor? Neste dilema, Lamech se cala por algum tempo. Como o Senhor perceba o motivo, Ele lhe diz:
“Meu filho, quanto tempo devo aguardar resposta? Ante- riormente falaste com tanta profundeza que não teria desonrado o
maior querubim. Entretanto, Eu não o havia exigido de ti, mas te dei o direito de perguntar.
Agora que te dei uma oportunidade de expandir tua sabe- doria profunda, silencias, não querendo aproveitar o que te serviria de uma grande honra. Porventura tua sagacidade te abandonou, ou não te atreves a pronunciar a resposta cuja autenticidade não podes garantir? Fala, para que vejamos qual o teu problema!”
Embaraçado, Lamech diz: “Senhor, percebo nitidamente que de certo modo não formulaste uma pergunta, mas quiseste projetar apenas uma pedra de escândalo para me despertar a noção de minha tolice, aparentemente inteligente.
Só posso agradecer-Te, Senhor, pois pretendia brilhar um pouco diante de Ti e de Henoch como se também eu fosse um sá- bio, ao menos pelo conceito dele. Tua Pergunta me demonstrou a imensa tolice e Te peço perdão e Te imploro que respondas se isto estiver dentro de Tua Vontade. Se tal não for o caso, também serei grato do fundo do meu coração.”
Diz o Senhor: “Esta explicação de tua fraqueza Me agrada muito mais que a anterior relação homogênea entre Criador e cria- tura, conquanto estivesse certa; pois Eu te dei a intuição de falar daquela maneira para demonstrar-te que a verdadeira sabedoria se baseia na humildade, pela qual o homem conclui que nada fará sem Mim, mas Comigo poderá fazer tudo. A fim de te convencer, passarei a resposta ao teu coração e perceberás claramente que o homem pode se pronunciar por Meu intermédio, diante de Mim e de todo mundo como se falasse por si mesmo. Podes começar a te expressar.”
VISÃO ESPIRITUAL DE LAMECH E SUA INTERPRETAÇÃO REFERENTEÀORIGEMDO HOMEM
Com calma Lamech começa a falar: “A questão é a seguinte: Comoe de que maneira Deus consegue projetar Seus Pensamen- tos, Suas eternas partículas de vida, de sorte que possuam consci-
ência própria igual a mim que ora posso palestrar Contigo qual se- gundo Deus eterno? A resposta difícil ainda não surgiu dentro de minha mente.
Neste momento percebo pensamentos profundos. Apare- cem de um caos como estrelas isoladas, que às vezes abrem caminho numa noite fortemente nublada para dirigir sua luz amena ao solo trevoso da Terra.
Ó pensamentos maravilhosos, diminutas criações de meu espírito! Que formas estranhas apresentais, enchendo o meu peito! Estrelas se juntam a outras, formas claras se unem a semelhantes, e dentro do meu peito se dá uma libertação sucessiva.
Agora as nuvens noturnas se afastam de meu peito e em sua trajetória encontram potentes raios de luz que absorvem as nuvens, que também se transformam. Percebo uma quantidade de formas luminosas que circulam como efemérides num dia de verão. Percebo a grande resposta dentro de mim, mas como expressá-la?
Agora noto que as formas aceitam minha vontade. Quero que se tornem criaturas semelhantes a mim, e assim acontece. São átomos luminosos de meus pensamentos, e minha vontade as man- tém e quer que vivam e se movam livremente como eu.
Vejo-me, segundo minha vontade, numa forma idêntica à minha e ela fala o que penso em tal forma original. Todas as demais formas humanas são atraídas à minha, ouvem e falam de acordo com a capacidade que minha vontade lhes incutiu. Sinto uma imen- sa alegria com elas, e quero mantê-las com minha vontade. Tal ale- gria é apenas amor imenso que sinto por estas formas.
Neste instante se desprendem de minha forma chamas, quais raios, que se localizam no peito delas. Com isto começam a se mo- vimentar, a se olhar e se reconhecer. Agora, porém, vejo que fazem coisas que não quero. Senhor, que milagre é este dentro de mim? Se ao menos encontrasse a resposta!”
Diz o Senhor: “Tu mesmo a formulaste, é tal qual como viste dentro de ti — mas naturalmente realizado Comigo, o que para ti era apenas um quadro passageiro. Não adianta falarmos mais a
respeito, pois a criatura só consegue conceber a Força Criadora de Deus, mas nunca assimilá-la realmente. Alimentas outra pergunta no teu íntimo e podes externá-la.”
A DOR FÍSICA COMO BENFEITORA E PROTETORA DA VIDA.COMOSEPODEVIVERSEM DOR
A tal convite do Senhor, Lamech apresenta o seguinte pro- blema: “Senhor, a vida seria de fato aceitável considerando-se a ex- periência para a alma. Mas existe um senão relacionado à dor. Por que deve o corpo ser sensível à dor, às vezes até mesmo desenvolvida dentro dele? Por que o fogo produz queimaduras? Por que a mulher tem que sofrer tanto para dar à luz? Não concordo com isto e gosta- ria de receber uma explicação de Tua parte. Presumo que a vida da alma é totalmente insensível; por isto a do físico também poderia sê-lo. Tenho razão?”
Olhando Lamech com piedade, o Senhor responde: “Lame- ch, desta vez não te assiste nem sombra de verdade e justiça. Serias capaz de imaginar uma existência insensível a toda sorte de impres- sões? Se não tivesses sensibilidade, por acaso viverias?
Vamos admitir que o homem só tivesse a sensibilidade das sensações agradáveis, como por exemplo, o ato procriador. Não ha- veria ele de se destruir devido às constantes quedas, pancadas, cortes e queimaduras? Certamente não passaria um ano para que ficasse isento de seus membros.
Somente a morte total é isenta de qualquer sensibilidade, boa ou má. Deste modo é a dor o maior benfeitor da vida e seu mais fiel protetor, sem a qual não há condição de se imaginar a vida.
Além disto, foi-te dado um corpo indolor. Se o consideras dentro de Minha Ordem, prestando atenção no deitar, sentar, andar e correr, passarás tua existência completamente sem dor. Se fores comedido no comer e beber serás poupado de dores internas, e se não te entregares em excesso às obras da carne, jamais sentirás uma dor em teus membros.
6. A dor é um atributo especial da vida, sem a qual não terias nenhum sentido. É a sensação em si e a percepção do amor, e quan- do este cai em desordem, o amor sente uma dor, mas a ordemregistra sempre uma sensação agradável.
Não queiras desejar a insensibilidade, pois a dor é o guia mais fiel de tua vida e também será um dia a concentradora, acumuladora e salvadora total da vida de tua alma. Quanto à capacidade de dor dos espíritos puríssimos, ser-te-á demonstrada por um deles.”
ZURIEL PROVA A SENSIBILIDADE DA ALMA PARA A DOR
No mesmo instante se apresenta Zuriel, luminoso, para o pequeno grupo e se curva até o solo diante do Senhor, dizendo: “Senhor, chamaste-me devido à Tua infinita Benevolência Pater- nal. Que Teu Santo Amor me revele que doce tarefa me compete realizar.”
Diz o Senhor: “Zuriel, conheço tua grande fidelidade. Cha- mei-te para que Lamech se torne um justo irmão teu. Para tanto re- solve a parte espiritual da sua pergunta, segundo a qual deseja saber se a vida perfeita de um espírito puro é sensível à dor. Eis o motivo de Minha Chamada; podes demonstrar o problema na qualidade de espírito.”
A este convite, Zuriel coloca sua mão no peito de Lamech e diz: “Irmão, deixa por algum tempo tua morada material para sen- tires vivamente o que julgas difícil de entender”. Lamech acaba de ouvir isto e seu corpo cai inerte qual moribundo, enquanto sua alma se encontra luminosa diante de Zuriel.
Este toma de sua mão e a aperta com toda força. Lamech solta um grito diante da dor esmagadora e terrível. Zuriel solta-lhe a mão e diz: “Meu irmão, encontras-te em espírito, pois teu físico jaz inerte nos degraus do altar. Como pudeste soltar um grito de dor, quando anteriormente afirmaste que a alma seria inteiramente incapaz da sensibilidade dolorosa?”
Responde Lamech: “És um professor severo. Se a experiên- cia já é a melhor professora, eu facilmente teria compreendido por um meio mais suave que uma alma é indizivelmente mais sensível que o corpo. Agradeço por este ensinamento, pois a mão ainda está ardendo e peço ao Senhor que me tire essa dor, do contrário me desesperaria.”
Zuriel apenas emite seu sopro sobre a mão de Lamech cuja dor desaparece, encontrando-se ele de novo em seu corpo. O Se- nhor então pergunta qual sua opinião a respeito da sensibilidade da alma, ao que ele responde: “Oh, justamente o contrário da ante- rior!” Acrescenta o Senhor: “Isto basta. Se a sensibilidade pertence apenas à vida, obviamente terá que se manifestar mais forte onde a vida está unida em sua plenitude. Além do mais, seria a expressão de uma alma insensívelo maior contrassenso. Deixemos a explicação mais extensa entregue a Zuriel, motivo por que está aqui.”
MOTIVODADOREDABEM- AVENTURANÇA
Prossegue Zuriel: “Lamech, acabei de te demonstrar que a alma possui uma forte sensibilidade para impressões espirituais que são aparentemente idênticas às naturais, enquanto não o são segun- do a finalidade.
Ainda desconheces em que se baseia tua sensibilidade espiri- tual, mas a fim de que tenhas uma noção clara te explicarei tal fenô- meno. Dentro do mundo as impressões se apresentam dolorosas ou agradáveis: dolorosas quando se tornam mais fortes sobre as forças em teu íntimo, e benéficas quando não sobrepujam tua resistência, mas se acham em sintonia harmoniosa.
Se elas forem mais fracas a ponto que tua resistência se apre- senta vitoriosa, serão registradas por ti com indiferença, pois não aplicaste tua resistência num estado antagônico. Somente numa rea- ção que corresponda às tuas forças em harmonia com as impressões externas se baseia o bem-estar que representa a própria natureza de toda bem-aventurança.
Ao sentires qualquer dor física, ela não é registrada pelo cor- po, mas exclusivamente por tua alma, na qual somente habita a ca- pacidade sensível. O fato de teres impressão da dor física prova que tua alma habita em todas as partes do teu corpo numa correspon- dência perfeita.
Se tua alma, ou seja, teu próprio eu, pode ser estimulada atra- vés do corpo material por impressões externas, pois se acha coberta e protegida por todos os lados, certamente será mais facilmente alte- rada num estado absoluto.
Isto porque a alma liberta penetra na permuta de efeitos cor- respondentes com as forças básicas, sendo obrigada a registrar seu potencial a longa distância — tanto no tempo quanto no espaço — pois sem esta percepção facilmente cairia num aprisionamento in- solúvel no qual sofreria muito mais que tu sob meu aperto de mão.
Se a alma for imperfeita, portanto não totalmente formada e exercitada em seus sentidos, cega e muda com relação à forma e à voz da Verdade, seu estado de consciência de modo algum é invejá- vel, pois não seria capaz de se desviar a tempo das impressões que a assaltam, nem a enfrentá-las com energia.
Coisa diferente ocorre com uma alma perfeita, sempre unida Àquele Que ora Se encontra a teu lado. Ele prepara sempre as forças espirituais de tal modo a se encontrarem em equilíbrio contra to- das as impressões e estímulos, provocando apenas uma sensação de bem-estar, nunca porém uma sensação dolorosa. Guarda bem estas palavras que te guiarão aos segredos mais profundos da Vida, com Ajuda do Amor Eterno e a Graça do Senhor.” E virando-se para o Senhor, Zuriel pede permissão para se afastar. O Senhor o permite, mas pede a Henoch para se manifestar mais profundamente sobre o assunto.
Imediatamente Henoch se dirige para Lamech dizendo: “Muito importantes e significativas foram as palavras que o espírito de Zuriel pronunciou como ser humano, e eu não seria capaz de acrescentar algo melhor. Sei o que quer dizer quando o espírito fala humanamente. Tu o ignoras, porquanto ainda te prendes à língua e não ao espírito.
Por isto te levarei da língua ao espírito, segundo a Vontade de nosso Pai Celeste, ao entendimento suave onde tu mesmo verás e sentirás a maneira pela qual se forma a vida no espírito. Vê, se duas correntes de ar se desafiam, ambas de potencial idêntico, estabelece-
-se o equilíbrio na atmosfera, reinando uma calma benéfica sobre a face terrestre. O ar se torna sutil e limpo, deixando passagem ao raio solar para iluminar e aquecer o solo.
Se após tal equilíbrio uma corrente de ar se torna mais forte e seu oponente mais fraco, a primeira começa a se projetar com violência levando de roldão o vento mais fraco. Enquanto este, mais fraco, vez por outra tenta dominar o forte, terá que se submeter ao ataque, pressão e final domínio. Caso se entregar imediatamente, termina qualquer manifestação reacionária, mas também acaba a existência do vento fraco.
Perguntas em teu íntimo: Mas por que o Senhor permite tal coisa? Para Ele seria facílimo impedir tal luta! — Sim, pois para Deus todas as coisas são possíveis. Mas se Ele não permitisse que as forças se desafiassem, elas enfraqueceriam e finalmente cairiam inertes como pedras das montanhas, que nada mais são que tais for- ças, porém condenadas e algemadas ao máximo, portanto inertes, mortas e insensíveis.
Assim também é a vida da criatura. O vento sopra em seus órgãos. A alma sopra dentro da matéria, querendo arrancá-la consi- go. A matéria ou o mundo sopra na matéria como o sangue e os ou- tros humores mais sutis, e estes procuram arrancar a alma consigo.
Se a alma for mais forte que a matéria, ela a pressiona e a domina. A matéria sendo vencedora sobre a alma, esta sucumbe e sendo a própria vida, sente e sofre dolorosamente o peso mais vio- lento da morte da matéria, o que em si é a morte espiritual.
Se em tal aniquilamento a alma fosse insensível, ela estaria ir- remediavelmente perdida para sempre. A crescente sensação dolorosa da pressão a obriga a se defender constantemente e a lutar contra a matéria. Deste modo, sua força está sendo exercida e mais fortalecida.
Assim sendo, a alma poderá, através do tempo, se tornar ver- dadeira vencedora sobre a matéria e alcançar a liberdade da vida eterna, do mesmo modo que a matéria da pedra, no decorrer do tempo, é pressionada pelo peso latente e sensível, e finalmente for- çada a fugir em estado dissolvido. Então tal força se tornará livre e unida com a força universal — o que também ocorre com o vento, onde o vencido finalmente se torna vencedor.”
TRILOGIAEMTODASASRELAÇÕESDAVIDA:HUMANO-NATURAL, HUMANO-ESPIRITUAL EHUMANO-DIVINO.AINSONDABILIDADEDOSÚLTIMOS SEGREDOS
Nesta altura, Henoch pergunta a Lamech se ele havia en- tendido as suas palavras e ele responde: “Sim, graças ao Senhor não surgiu nenhum ponto que eu não compreendesse. Mas se com rela- ção à capacidade de sofrimento da alma e o que vem a ser a própria dor ainda houver algo a abordar, gostaria que prosseguísseis em tua dissertação.”
Como tal convite fosse do Agrado do Senhor, Ele pediu que Henoch continuasse, dizendo: “Lamech, todas as relações de nos- sa existência têm três aspectos: natural, espiritual e divino. As duas primeiras podem ser registradas por nós, mas a terceira não, por- que é infinita e puramente divina. Como somos criaturas finitas, impossível é vislumbrarmos e tocarmos as infinitas profundezas e alturas de Deus.
Por este motivo pode o homem, se for inteligente, responder duas perguntas acerca de sua própria natureza e suas condições; mas a terceira ele jamais poderá responder, pois sua resposta se oculta na profundeza indizível e eternamente incompreensível de Deus e jamais conseguiremos decifrá-la.
Eis a razão pela qual nada mais poderá ser ventilado de nossa parte com relação à capacidade da alma sentir dor. Creio sabermos o que necessitamos e convém entregarmos a terceira parte ao Senhor. Através da experiência, sabemos que somente a alma, princípio bá- sico da vida no homem, pode e deve possuir a consciência de si própria, e assim sendo, também é detentora da sensação vital que inclui a sensibilidade da dor.
Se isto é de nosso conhecimento total e perfeito, estamos supridos e podemos facilmente organizar nossa vida de forma a não termos de nos defrontar com a desagradável capacidade de sofri- mento físico. O que concerne a capacidade viva do espírito, ou seja, a dor ou a sensação, o que corresponde à força vital em sua base eterna, deixemos por conta do Senhor, Cuja Presença nos torna feli- zes e vivos. Convém agradecer-Lhe por tudo que recebemos e ainda receberemos.”
OREILAMECHÉCONSAGRADOPARA SUMO
SACERDOTE. O SENHOR PROMETE SUA CONSTANTEPRESENÇANO TEMPLO
Após Henoch ter terminado sua explicação, Lamech se ajoe- lha perante o Senhor e agradece com efusão por todas as graças rece- bidas, pedindo também que continue sempre junto dele. O Senhor faz com que se levante e diz: “Meu filho, olho somente teu coração e não os teus joelhos. Se ele estiver em ordem, todo o corpo tam- bém estará. Sinto grande alegria contigo e te consagro para sumo sacerdote.
Durante esta noite te demonstrei os vários graus de Minha Sabedoria verdadeira e interna. Com isto este templo construído por
tuas mãos e entendimento tornou-se um templo da sabedoria, onde o homem da Terra se deve recordar sempre que Eu, Criador de Céus e Terra, ensinei-te Pessoalmente neste local e repousei contigo nos degraus do altar, consagrando-os para degraus evolutivos nos quais o homem deve vislumbrar sua nulidade diante de Mim na contempla- ção serena de seu espírito. Se isto tiver feito, terá ipsofactooferecido a Mim um sacrifício justo e agradável, conforme acabas de fazer do fundo de teu coração.
Como isto ocorreu diante de todos, que todavia desconhe- cem Quem Sou, deves te dirigir ao portal do templo no momento em que o primeiro raio do Sol começar a corar os picos das monta- nhas e transmitir-lhes abertamente que Eu Me encontro aqui. De- vem se unir ao redor do templo, mas não entrar nele.
Em seguida passarei um Ensinamento muito importante ao povo que Me seguiu com amor e desejo de conhecimento, muito embora não Me conhecia; tanto mais o fará em espírito quando Me reconhecer. Já está começando a clarear no Oeste e deves te preparar para a primeira tarefa a Meu serviço. Como Me pediste permanecer contigo, afirmo: Onde estiver o servo fiel do Senhor, Ele Mesmo estará por perto; e onde estiverem os filhos, também estará o Pai.
Hás de Me encontrar sempre nestes degraus; ainda que não Me vejas com olhos físicos, Me ouvirás todavia na Palavra viva. Eis uma grande Promessa dirigida a ti; vai realizar tua tarefa.”
ASVISITAÇÕESVISÍVEISDE DEUS
Dirigindo-se à entrada do templo, Lamech faz o seguinte pronunciamento ao povo: “Uma Graça e Misericórdia infinitas dos Céus de Deus nos foram conferidas e jamais poderemos agradecer ao Senhor por tudo que nos deu. Ontem ouvistes o sábio que des- pertou grande admiração em virtude de Suas Palavras profundas. Mas ninguém sabia de Sua Origem e até agora perdura essa dúvida.
Com exaltação íntima perguntais qual seria a finalidade desse acontecimento, e eu vos digo que se prende a algo maravilhoso sobre
a Pessoa Dele e é preciso muita calma para vos integrardes desse fato. Estivestes presentes à inauguração do templo a fim de ser abençoado vivamente com o Nome Supremo de Jehovah e com isso encobrir meu grande pecado referente a Esse Nome.
Ainda estais lembrados Quem, ao lado de Henoch, surgiu qual Mensageiro dos Céus? Dizeis ter sido um Enviado poderoso das Alturas de Deus. Mas Quem foi o Pobre que chegou à noi- te e a Quem meus empregados impediram de entrar, obrigando-
-me a evitar maus tratos e finalmente conseguindo conduzi-Lo à minha mesa?
Muitos alegam ter sido Deus, o Onipotente; outros não con- seguiram acreditar inteiramente que aquele Pobre fosse Jehovah em Pessoa. Destemodo se manifesta vosso coração e se torna difícil fa- lar-vos de coisas elevadas, pois ainda não tendes a devida maturidade para compreender Quem é Deus e de que maneira Ele Se dirige a Suas criaturas e filhos.
É preciso saberdes que Deus voltou junto de nós na figura daquele sábio a fim de nos procurar, atrair e conduzir para Ele e junto Dele. Preparai-vos, pois Ele se manifestará dentro do Templo. Ninguém se atreva a colocar os pés no limiar, pois o Templo é sagra- do em virtude da Presença do Senhor. Felizes os que ouvirem Sua Voz e Lhe derem ouvidos.”
HENOCHEOSDOISLAMECHESCONVOCADOSPARA GUIAS DO POVO
A esse pronunciamento, Lamech volta ao Templo e diz: “Se- nhor, acabo de externar Tua Santa Vontade a todos os irmãos. Quei- ra aceitar esse meu povo como se representasse algo para Ti, e que Teu Amor e Sabedoria possam corrigir meus grandes erros pratica- dos contra Ti e meus irmãos.”
O Senhor o interrompe e diz: “Quem como tu reconhece seus pecados, já foi perdoado, apresentando-se qual estrela matutina diante de Mim como mensageiro luminoso do Sol prestes a surgir.
Falaste segundo Minha Vontade e Eu Me revelarei a teus irmãos como Senhor e Criador de Céus e Terra, e Pai de todos os Meus filhos verdadeiros.
Vós, Meus três queridos, acompanhai-Me ao limiar do Tem- plo testemunhando como Eu vos escolhi entre milhares para guias originais de todos os povos, tanto no planalto quanto nas planícies.
Eu encaminhei apenas três tribos: Caim, Meduhed e Sihin, pelas quais não necessitais cuidar. Todos os demais povos são en- tregues em vossas mãos para que sejam conduzidos ao caminho que leva eternamente à Vida de Meu Amor imutável liberto e bem-
-aventurado.
Não vos preocupeis com as três tribos afastadas, para as quais também determinei guias sábios e justos que as conduzirão até o umbral da Casa Eterna e Santa onde costumo permanecer com todo Poder e Força de Meu Amor.
Meus três filhos queridos, assim como Eu vos amo acima de tudo, dando preferência e valor maiores a vós que a todos os Céus e mundos, também deveis amar sempre vossos irmãos, pois são iguais a vós, Meus filhos. Tanto vos amo que deixaria Minha Vida para projetá-la para vós, se tal fosse possível e necessário. Não julgueis vossos irmãos, pois também Eu não quero julgar a ninguém, senão dar a cada um vida de Amor libérrimo. Eis Minha Vontade que de- veis respeitar. Agora segui-Me ao umbral do Templo.”
TRANSFIGURAÇÃOEDESAPARECIMENTODO SENHOR
O Senhor, Henoch e os dois Lameches se dirigem ao limiar, mas quando Ele Se apresenta de vestes alvas qual neve, e Seu Rosto, Mãos e Pés brilham mais fortemente que a luz de milhares de sóis
— o povo cai ao solo bradando: “Jehovah Zebaoth, tem piedade conosco e não nos castigues por causa de nossos pensamentos, de- sejos e ações.”
Fazendo com que a Luz volte a Seu âmago, o Senhor diz para a multidão: “Eu, vosso Deus, Criador e Pai, não vim para julgar e
punir, mas despertar os guias certos, que vos levarão com vossas fraquezas aos caminhos do verdadeiro Reino da Vida eterna. Levan- tai-vos e não temais vosso Bom Pai.”
Todos se põem de pé e fitam admirados o Senhor, Cuja Face Se apresenta sem brilho e com a maior amabilidade, e Cujas Vestes Se transformam do branco ao azul celeste. Em silêncio perguntam: “Porventura és Aquele Cuja Luz poderosa nos atirou ao solo — ou colocaste um arcanjo em Teu lugar?”
O Senhor então responde: “Por que não preferis reconhecer-
-Me, vosso Pai, segundo Meu Grande Amor, em vez de fazê-lo em virtude de Minha Luz? Não seria o Amor mais importante que a Luz? Quando Me apresentei em Minha Luz, caístes fulminados por terra. Tão logo ocultei a mesma e vos falei com Meu Amor, come- çaste a duvidar de Mim.
Eu, o Próprio Senhor, Deus e vosso Pai, declaro que não sou um Representante Dele, mas Ele Próprio, e faço essa assertiva para vos certificardes do que fiz para vossa bem-aventurança em espírito. Inspirei entre vós professores muito sábios. Prestai-lhes atenção e segui seus conselhos no rigor, na alegria e na dor da vida, e assim se- guir-Me-eis e Eu estarei perfeitamente Vivo convosco e em espírito com os que designei em vosso benefício.
Henoch, Lamech das planícies e Lamech do planalto, sois nesse instante unidos a Mim para testemunhardes de Minha Presen- ça. Sois munidos de todo o poder e força de Meu Amor, podendo agir com tal força até o vosso desprendimento desta casa e o ingresso naquela em que habito Pessoalmente.” Com essas Palavras o Senhor desaparece e todo o povo chora e ora para Deus.
ORIGEMDAPEDRA FILOSOFAL
Passada uma hora de grande silêncio, Lamech se vira para Henoch dizendo: “Como aqui tudo está dentro da Ordem e da Von- tade de nosso Criador e Pai, podemos voltar à cidade para tratar dos preparativos referentes a essa orientação.”
Concorda Henoch: “Assim será, pois a salvação e a luz nunca chegam cedo demais para junto dos povos. Resta apenas fazer uma prova visível da Presença do Senhor a fim de que nossos descen- dentes se recordem que Ele Próprio abençoou este Templo para a sabedoria do espírito humano. Vamos buscar sete pedras brancas do tamanho de uma cabeça humana e colocá-las no degrau do altar onde o Senhor repousou e nos ensinou durante toda a noite a verda- deira sabedoria do espírito para a Vida eterna, livre e perfeita.”
Sem demora, Lamech transmite esse desejo para Mura e Cural, que se dirigem a um ponto da montanha onde se encontra quantidade de pedras brancas que não foram aproveitadas na cons- trução do templo. Escolhem as mais bonitas e limpas e levam-nas ao Templo. Henoch então diz para Lamech: “Somos apenas cinco. Manda se aproximarem mais dois homens e cada pedra deve ser gra- vada com os nossos nomes e depois colocadas no degrau do Templo. Em seguida as tocarei em Nome do Senhor e deste modo hão de irradiar uma constante força aos que as tocarem, manifestando-se com sabedoria.”
Isso é feito imediatamente e é de fato a origem da “pedra fi- losofal”, e a força deste local conservou-se segundo Minha Vontade até a época dos profetas de Israel. Neste mesmo monte Saul recebeu o dom da profecia por certo tempo, levando o povo a perguntar: Porventura também Saul faz parte dos profetas?
Uma vez colocadas as pedras no devido lugar, Lamech diz ao povo ter chegado a hora de partir para a cidade.
AORGANIZAÇÃODIVINADOESTADOEDACIDADEDE HANOCH
Chegando à cidade, Lamech tomou as providências neces- sárias para transmitir a notícia dos milagres de Deus às dez cidades adjacentes e facilmente alcançadas por caminhos retos. Uma vez os mensageiros tendo partido, Lamech ordenou com ajuda de Henoch a manutenção de guardas para o Templo e uma moradia constante
e espaçosa, por intermédio de Mura e Cural, e isto é feito dentro de três dias.
Deste modo a cidade de Hanoch se encontrava numa per- feita ordem e o povo só devia respeitar o Mandamento do amor a Deus e ao próximo. A impudicícia era declarada um grande mal que destruía a alma do indivíduo e todas as suas forças. Outros males não eram extirpados por leis, mas professores mostravam claramente as consequências nefastas que resultariam de sua inobservância.
Com o tempo, tanto os homens mais fortalecidos espiritual- mente quanto as mulheres mais compreensivas descobriram que os ensinamentos recebidos começavam a se confirmar neles mesmos. O benefício espiritual e popular baseava-se portanto na educação sábia dos homens. Mas, o futuro demonstrará claramente o que afastou os homens de Mim, provocando o dilúvio, pois através do aprisionamento do livre arbítrio passaram ao poder do grande ini- migo da vida.
Durante a regência de Lamech, tanto os planaltos quanto as planícies se encontravam tão perfeitos como a Ordem dos Céus. Se naquele tempo a serpente se tivesse submetido à ordem, a Terra teria voltado ao antigo Éden. Mas ela dentro em breve se arrependeu de ter aceito parcialmente as Minhas Condições, de sorte que começou aos poucos a aplicar suas maquinações antigas e maldosas.
Se ela durante setecentos anos tinha testado as criaturas para o bem, passada essa época suas provações mudaram totalmente de caráter: tornaram-se maldosas e cada vez mais astuciosas, e a huma- nidade deixou-se aprisionar de livre vontade. O futuro o demonstra- rá mais nitidamente; por isso, passados os três dias, Henoch voltou ao monte, acompanhado de Lamech e de outros homens de respei- to, para conhecerem Adão e Eva.
Henoch segue o mesmo caminho que passa pela grota fatí- dica. Quando a caravana lá chega, ele para e transmite a Lamech em poucas palavras o fenômeno estranho que ocorrera na presença dele e seus companheiros durante a primeira volta à casa. Lamech se admira muito, mas não demora a se apavorar diante das chamas que irrompem com furor do centro da grota.
Henoch o anima dizendo: “Vê os teus companheiros que também assistiram a essa aparição sem se descontrolarem, pois con- sideram tal fantasmagoria com a maior calma e convém que faças o mesmo.” Lamech se acalma, fitando as labaredas que se alastram e sobem a considerável altura. Passado algum tempo, ele diz para Henoch: “Presumo sermos obrigados a encetar outro caminho para chegarmos ao cume, pois por esse fogo crescente dificilmente haverá uma passagem.”
Henoch protesta dizendo: “Desconheces a natureza desse in- cêndio, mas eu conheço muito bem sua origem, pois se quiséssemos, as labaredas teriam que se apagar pela Vontade do Senhor. Mas o incêndio tem que continuar por algum tempo para que essa grota seja destruída, e além disso o autor original da mesma receba o justo castigo. Sabes que o espírito é sensível à dor. Quando as chamas tive- rem prestado seu serviço, o espírito reacionário contra Deus terá que se apresentar para receber uma severa admoestação e uma proibição eficaz de jamais atacar um viandante em seu caminho.”
Mais calmo com essa explicação, Lamech diz: “Se assim é, eu não me impressiono com o fenômeno, mesmo que dure um dia inteiro, muito embora fosse preciso permanecer nesse horrível local. Se tal abuso não fosse impedido, ninguém escalaria o caminho para o pico.” Aduz Henoch: “Sê confiante, pois neste instante será levado a bom termo esse velho abuso e hás de ver a memorável solução.”
Em seguida Henoch se vira para a grota em chamas, ergue a mão direita e diz com voz possante: “Habitação tenebrosa da morte, do antigo inimigo de toda vida e miserável desprezador de Deus, entrada infernal que leva ao abismo dos abismos, natural e espiri- tual! Como servo e filho de Deus te ordeno tua queda total, cuja destruição preencherá todas as galerias, precipícios e recifes, levando teu antigo habitante a fugir qual covarde ladrão da casa que açam- barcou para si! Meu Deus e Santo Pai, que tal aconteça em Teu Santo Nome, em benefício futuro de Teus filhos neste solo de ensi- namentos de provação!”
Nem bem Henoch termina de falar, tudo desmorona com estrondo pavoroso e do abismo ainda se ouve por algum tempo um eco surdo provando a dupla destruição. Em todo o planeta não ha- via um ponto em que tal desmoronamento não tivesse sido regis- trado, levando as criaturas daquele tempo a um enorme pavor, mas benéfico à sua alma e vida espiritual, pois eram poucos os sábios que conheciam seu significado e motivo.
Tal ocorrência extraordinária provoca o total descontrole de Lamech. Medo e susto se apossam de sua alma, levando-o a tremer em todas as fibras e nervos, acompanhando o tremor da terra. Os seus demais acompanhantes — com exceção de Henoch — se sen- tem apavorados não obstante sua coragem e não houve quem se atrevesse a encetar uma palestra com Henoch.
Este consola a todos e demonstra, especialmente a Lamech, que qualquer pessoa estaria em condições de realizar tal fato em época e local certos, segundo a Ordem do Senhor. Aos poucos, todos voltam ao estado normal, e como um forte vento rapidamente leva os vapores que sobem daquele lugar e Lamech descobre um planalto extenso e sólido, ele se alegra e louva a Deus por ter dado ao homem tal poder.
Nem bem os vestígios principais desse pavor se apagaram, algo diferente se apresenta diante dos olhos de todos, apossando-se totalmente de suas almas: a aparição tenebrosa de Satanás.
Quando Lamech e seus amigos se defrontam com o grande inimigo da vida, sua figura horrível e incandescente, sua cabeça que exala vapores e as serpentes que a envolvem no lugar de cabelos, que procuram atingir as pessoas com suas setas lançadas em todas as di- reções — ninguém sabe o que fazer de tamanho pavor.
Com toda a calma, Henoch os deixa neste fútil pavor e só depois de algum tempo diz a Satanás, com grande rigor: “Inimigo do Senhor, de Deus e de Seus filhos, em que situação se encon- tra tua vontade, tua memória e obediência a Deus? Qual foi tua promessa em minha presença, feita a Deus quando te fez castigar pela mão de Kisehel? Julgas que a memória de Deus e a minha são tão fracas quanto a tua? Em Nome do Altíssimo afirmo que te enganas muito.
Muita coisa o Senhor falou Contigo e tu prometeste condu- zir Seus filhos apenas para o bem, através de provações e experiências ordenadas. Como se apresentou tua promessa em apenas poucos dias? Esqueceste completamente teu Deus, tua promessa e as duras punições, e querias aqui provocar nosso extermínio pela grande ira de teu fogo destruidor, muito embora soubesses quem sou e quem são esses meus irmãos. Não somente querias nosso extermínio, mas vendo que destruí tua habitação fantasmagórica que te puniu sensi- velmente, tens a ousadia de te apresentar num estado como se qui- sesses tragar a nós todos.
Servo miserável de tua própria destruição e morte! Pretendes desafiar a Deus e a mim, seu servo — a Ele, Que te poderia destruir com um simples Hálito! Em virtude da Força Infinita de Deus que ora habita em mim para teu castigo, exijo saber tua intenção verda- deira e o que pretendes realizar finalmente.
Se quiseres reagir, hei de te punir em Nome Dele a ponto que a Criação total estremecerá em suas bases, não continuando intacta uma pedrinha sequer como prova de minha ação para contigo.”
Satanás então começa a tremer e diz: “Henoch, reconheço teu poder e minha total impotência diante de ti, que és servo fiel do Senhor. Poupa-me a confissão e o castigo merecidos, e determina um local onde poderei ficar para não prejudicar as criaturas desta Terra, e eu me submeterei ao teu pronunciamento.”
Henoch porém persiste em sua exigência, ordenando a Sata- nás mais enfaticamente a declarar qual sua intenção básica. Satanás então começa a empinar e reagir, não querendo expressar o que He- noch lhe exigia com tanta insistência.
SATANÁSDETURPAAPROMESSADO SENHOR
Henoch continua a exigir pela terceira vez de Satanás que desvende suas intenções cheias de maldade e astúcia. Eis que ele então diz: “Ouve-me, servo orgulhoso de Deus na Terra, simples po- eira da matéria! Tenho o poder de ficar devendo resposta a qualquer pergunta do Criador de todas as coisas, Ele, Que me deu um corpo indestrutível dotado da maior sensibilidade, podendo me atirar à mais terrível chama central de Sua Ira como punição; e tu, que nem mereces ser chamado de um átomo de poeira, queres me obrigar — a quem está submissa toda a Criação — a revelar-te meus planos fixados desde eternidades?! Infeliz verme do pó!
A um aceno meu todos os elementos estarão ao meu serviço e a Terra será tragada pelo fogo ou pelas águas. Com um simples sopro posso apagar o Sol e te mergulhar numa noite eterna; e pretendes obrigar-me a uma resposta por meio de ameaças vãs? És demais mi- serável perante mim para entregar-me a tais ameaças tolas.
Deus Mesmo vale tão pouco para mim que nem me digno a atacá-Lo com meu poder, pois percebo claramente Seu imediato extermínio. O que faria eu então contigo, criatura miserável? Com toda condescendência esclareci que devias desistir de uma resposta e designar-me um local onde deva me dirigir, poupando de minha provação os filhos belos de Deus. No entanto, me enfrentas com uma arrogância ‘onipotente’.
Servo orgulhoso do Senhor! Hei de encontrar um mestre para ti que ficará gravado em tua memória para toda a eternidade! Juro que te espera o extermínio total, e o teu Deus será pregado ao madeiro do qual Ele em vão clamará por socorro. E essa humanida- de será dizimada com fogo e água, desaparecendo qualquer vestígio dela. Tu mesmo não serás morto, para seres testemunha daquilo que acabo de pronunciar com justo ódio. Que desapareça toda a Criação visível, mas eu não deixarei de cumprir uma sílaba de meu pronun- ciamento. Eis minha resposta. Afasta-te com tua corja e nada mais exijas de mim, do contrário farei imediatamente o que pretendo pôr em ação dentro do tempo!”
SATANÁSÉBANIDOAOCENTRODA TERRA
Henoch se levanta, louva a Deus no coração e dirige as se- guintes palavras ao ultrajante da Santidade Divina: “Maldoso blas- femo com pretensão à onipotência! Miríades de anos solares, cada qual contando 28.000 anos terráqueos, foste um apóstata teimoso e rebelde do Senhor. O que não foi feito por parte Dele a fim de con- duzir-te ao caminho justo, não obstante teu livre arbítrio!
Ele criou todos os incontáveis sóis e mundos por tua causa, para que voltasses em qualquer um deles. Em Sua Infinita Miseri- córdia Ele te proporcionou inúmeros meios para que voltasses com facilidade. O Senhor nunca te impôs qualquer limitação.
Sempre que querias um novo sol com muitos planetas, luas e estrelas eruptivas, Deus as criava para ti; podias até mesmo brin- car com Sua Onipotência. Qual foi teu aproveitamento com estas Graças e Imensas Misericórdias? Serviram apenas para a execução daquilo que acabas de expor e o que durante o primeiro encontro ousaste atirar em desafio ao Senhor. Agora, Satanás, ouvirás o que Ele te diz por meu intermédio:
Infeliz blasfemo de Meu Amor, Graça, Indulgência, Miseri- córdia, Paciência, Meiguice e intocável Santidade! Eu, teu Senhor e Deus, juro com todo Poder e Força que acontecerá aquilo que
falaste para tua ruína. Até então Eu não havia fixado uma meta fi- nal, pois dispunhas de términos sem fim e além disto Me mentias desaforadamente, para em seguida escarnecer-Me qual Deus tolo e cheio de fraquezas, como se Eu fosse cego e surdo e não percebesse teus planos. Agora cansei-me de teus delitos e por isto fixo um fim.
Conheces a idade de Adão? (930 anos). Quando esse período passar pela sexta vez, tu e teus asseclas haveis de encontrar no eterno fogo de Minha Ira o prêmio que mereceis. A fim de que venhas a ex- perimentar esse fogo até o fim, deitei nesse momento uma pequena faísca no centro da Terra, criando ainda um forno e uma nova mora- da para essa faísca. Lá serás obrigado a permanecer temporariamente para experimentá-la, e isso se repetirá cada vez que cometeres um delito contra Mim. Agora te ordeno que sigas para lá, pelo tempo que Eu determinar. Que assim seja!”
No mesmo instante o solo se abre até o abismo do qual sur- gem labaredas e Satanás é atirado a ele com gritos horríveis. Em seguida, a fenda se fecha outra vez. Os viandantes louvam a Deus e continuam sua caminhada.
A MANEIRA PELA QUAL UM ESPÍRITO PODE FICARPRESODENTRODA MATÉRIA
Durante a travessia todos comentam aquela cena pavorosa e uma pergunta por parte de Lamech é de grande valia e muito mais a resposta, que não deve faltar neste Novo Livro daVida. A pergunta é a seguinte: “O grande inimigo de Deus e de toda a vida é apenas um espírito. De que maneira pode ele ficar preso na matéria que não existe para ele? Se assim é, de que adianta o aprisionamento de Satanás no centro da Terra?
Sei muito bem que a Onipotência pode algemar e fixar esse velho malfeitor. Todavia, não compreendo que seja necessária uma prisão material no centro da Terra. Peço-te, Henoch, que me escla- reças essa dúvida.”
Responde Henoch sorrindo: “Isso provém do fato que a cria- tura não tem a menor noção daquilo que se encontra diante de seu nariz. Tu mesmo és matéria em virtude de teu físico. Por acaso ele nada representa para teu espírito? Poderia ele se afastar dela quando quiser, de modo natural?
Ele consegue, por amor a Deus, tornar-se aos poucos mestre da matéria, penetrá-la e ser totalmente ativo em todas as partes. Mas abandoná-la, só lhe será possível quando o Senhor assim o quiser.
E se o espírito consegue abandonar a matéria segundo a Von- tade de Deus, ele não o fará qual espírito perfeitamente puro e livre, mas num novo corpo etéreo que jamais poderá deixar. Tal corpo etéreo necessitando de um certo espaço, pode — se for a Vontade de Deus — ser contido pela matéria mais grosseira, mas não deixá-la antes que Ele o queira. E isto porque a matéria em si nada mais é que a Vontade fixada de Deus, portanto se presta a aprisionar qualquer espírito, e não pode ser vencida por coisa alguma senão pela máxima humildade, renúncia de si próprio e o amor a Deus.”
CHEGADAAOCUMEERECEPÇÃOPOR ADÃO
Quando os viandantes chegam à moradia de Adão e dos de- mais filhos, Lamech se extasia sobremaneira porquanto tudo era fei- to por meio das árvores, enquanto as construções em Hanoch eram feitas de barro e pedra. E ao deparar com o primeiro casal da Terra, ele sente uma grande veneração diante da figura gigantesca e de sua idade avançada.
Neste momento Adão descobre a presença de Henoch e o recebe de braços abertos e, não obstante sua fraqueza, é o primeiro a chegar ao cume. Então diz: “Henoch, meu caro filho, quantas ve- zes vim até aqui à tua espera! Sê bem-vindo mil vezes! Tu também, Lamech, filho de Matusalém, aceita minha bênção! Com frequên- cia tua esposa Gemela olhava as planícies pedindo que o Senhor te abençoasse. Lá vem ela saindo da cabana de Jared ao teu encontro.
Corre tu também, pois não houve mulher que amasse tanto seu marido como ela.”
Só então Adão percebe os outros hóspedes e pergunta sobre sua procedência. Aqueles estão por demais emocionados, de sorte que Henoch lhe dá as informações desejadas. Adão os abençoa a todos e os convida à sua morada.
DISCURSOHUMILDEDOREI LAMECH
Uma vez dentro da espaçosa cabana de Adão, onde os empre- gados de Seth já haviam providenciado os melhores frutos, todos se acomodam junto aos cestos e começam a se saciar. Como Lamech não consiga participar devido ao grande respeito a Adão, este per- gunta qual o motivo.
Lamech então diz: “O pensamento de que és o pai de Caim, cujos filhos e netos de há muito faleceram, e diante da genitora dos que viveram e ainda vivem, me impede ser alegre como os demais, que de fato nunca foram pecadores contra Deus e tu. Eu, até algu- mas semanas atrás, fui um monstro que nada fez para sua regenera- ção, pois foi a Misericórdia Divina que agiu por mim.”
Adão o interrompe e diz: “Pobre filho de meu primeiro fi- lho Caim. Confesso que nunca ouvi tais palavras por um de meus descendentes. Ainda assim sou obrigado a te dizer que tua enorme veneração diante de mim, pai da humanidade, é bem fútil. Sou um homem como qualquer outro; não faz diferença se fui gerado ou criado diretamente por Deus, pois o ser criado no ventre materno também o é por Deus.
Todos nós sabemos que foste pecador, mas não ignoramos que te regeneraste pela Graça de Deus e que tudo te foi perdoado. Assim sendo, nós também te perdoamos e não há motivo para não seres ale- gre. Serve-te à vontade, pois tenho muita coisa para te mostrar.”
Dispensa repetição dos fatos históricos referentes a Mim — Jehovah — o sonho de Kenan, etc.; todavia é importante que Adão relate a Henoch o matrimônio de Purista com Mutael, explicando: “Durante tua ausência de cinco dias fui procurado por Mutael, que havia feito uma pergunta ao Senhor a respeito do amor entre casais. Após ter recebido resposta importantíssima, ele me procurou para externar seu forte amor para Purista e pedindo meu consentimento para a união de ambos. Não lhe dei resposta e aconselhei que entre- gasse seu pedido ao Senhor e a ti logo que voltasses. Que te parece? Convém satisfazermos o pedido ou deve ser considerado em outra oportunidade?”
Retruca Henoch: “Até agora o Senhor não me deu ordem alguma neste sentido. Penso que se Mutael aceita o espírito de meu filho Lamech, esposo de Gemela, e nos promete não se aproximar de sua esposa até que o Senhor o permita, podemos conceder-lhe esse desejo. Ele se achando por demais fraco para cumprir tal exigência, é claro que não podemos entregar o Parecer do Senhor nas mãos da fraqueza humana.
De qualquer modo acho mais aconselhável Mutael não se adiantar ao Senhor em assunto qualquer, pois Ele submete a for- te teste aquele a quem pretende dar muito. Por isto deve Mutael entregar seu grande amor a Deus, nada mais querendo senão Ele, e deste modo proporcionará ao próprio espírito a maior liberdade pela renúncia, e o Senhor há de lhe dar o que deseja quando for um benefício para sua alma.”
Diz Adão: “Tens plena razão; tão logo ele voltar externarei tal condição e por enquanto não se fala mais no assunto com Purista. Vamos subir ao cume e observar a grande Bondade e Onipotên- cia de Deus.”
Chegando àquela imensa altura, Lamech e seus companhei- ros veem pela primeira vez o oceano e não conseguem desviar o olhar daquelas águas imensas que parecem unir-se com o céu. Te- riam continuado nesse êxtase se Adão não chamasse a atenção para os cones a cuspirem água. Lamech é incapaz de externar qualquer palavra e só depois de passada uma hora ele se vira para Henoch dizendo: “Para expandir meus sentimentos diante dessas maravilhas seria preciso a capacidade de um serafim ou querubim. De minha parte não desejaria outra coisa senão viver eternamente nesta Terra.
Por onde dirijo o olhar descubro constantemente novas ma- ravilhas. Em direção ao Norte brilha o mar fulgurante que começa aqui, mas se perde no céu infinito. Bem perto de nós estão os sete colossos formados por montanhas abruptas a lançarem verdadeiras colunas d’água ao firmamento, onde são destroçadas e caem quais estrelas ao solo, fornecendo-lhe a bênção celeste. Não posso pros- seguir a falar das demais incontáveis maravilhas e prefiro gozar a Criação de nosso Santo Pai.
Tu, Senhor, Que ainda ontem nos ensinaste tão elevadamen- te a Tua Sabedoria e Infinito Amor, quão Sublime, Santo, Bom e Poderoso deves ser quando Tuas Obras transmitem tamanha Honra de Ti. Henoch, se Ele, o Criador dessas maravilhas, Se encontrasse em nosso meio, qual seria a situação de nosso coração? Santo, su- mamente Santo é nosso Deus Zebaoth Jehovah, pois Céus e Terra estão plenos de Sua grande Honra. Ó Pai, quem poderia amar-Te condignamente e louvar-Te com justiça?”
Lamech se cala diante de seu êxtase, e Adão e os demais estão comovidos com sua atitude. O próprio Henoch dá honras ao Se- nhor por Se ter apiedado tão intensamente dos que estavam fracos e perdidos, transmitindo-lhes agora tanta energia através de Sua Gra- ça. Assim, todos ficam ali até meia-noite.
Em seguida, Adão se levanta, abençoa toda a região e diz: “Meus filhos, nossas almas se fortificaram com o alimento puro do Pai, por isso Lhe agradecemos com respeito e veneração. Acontece que também o físico necessita de suprimento e convém encetarmos a volta com esse luar maravilhoso e tomarmos também as necessárias providências para o repouso em leitos de folhas aromáticas. Seth, vai em frente pois conheces o melhor caminho.”
E assim foi. De manhã cedo, Adão é o primeiro a se levantar e desperta os companheiros de Lamech. Virando-se para Henoch ele pergunta se é conveniente convidar-se os filhos para o sábado que devia ser considerado no dia seguinte.
Este responde: “Como essa cerimônia tem mais o aspecto fú- til do que cerimonioso, deixaremos de fazer convite especial. Quem quiser vir receberá a bênção do sábado. Não sentindo vontade para tanto, não haverá coação, principalmente agora em que daríamos impressão diante do Senhor de alguma vaidade perante os filhos das planícies.”
Satisfeito com o conselho de Henoch, Adão resolve visitar com o grupo outros pontos importantes e manda preparar o desje- jum, convidando-os depois ao passeio para a conhecida grota.
VISITAÀGROTADE ADÃO
Quando chegam à referida grota, Lamech se extasia nova- mente: “Seria isto também obra humana? Parece impossível, pois esse esplêndido templo natural é feito de uma só peça. Não se conse- gue descobrir uma emenda, muito embora dê impressão de ter sido construído de todas as qualidades de minerais.
Aqui lampeja uma parede feita de colunas de rubis qual ma- ravilhosa aurora. Ao lado dela, feita de uma só peça, se ergue uma pilastra azul-celeste, de altura gigantesca. Atrás dessa há uma peque- na capela que brilha qual ouro puro mesclado de estrelas multicores.
Esse esplendor maravilhoso quase me sufoca! Lá, no centro desse templo enorme, vejo uma fonte que se projeta a grande altura. Deve, como todo o resto ter surgido das Mãos Onipotentes do Criador.
Senhor, Criador, Deus e Santo Pai! Projetaste tais obras para os corações ingratos das criaturas! Se um homem fútil oferece a uma criatura um ramalhete de flores como prova de seu amor carnal, ela vibra de êxtase e só tem olhos para ele, e a Criação total nada lhe diz sem a presença dele.
O Pai enfeitou a Terra toda com os ramalhetes mais encan- tadores de Seu Infinito Amor e projetou o Universo para nós; no entanto somos capazes de esquecer essa sublime beleza, o máximo Amor e Sabedoria, fugindo Dele quando empolgados pelo amor fí- sico. Ó Terra maravilhosa de Deus, encantadora mãezinha dos inú- meros milagres de Deus! Porventura merecemos que nos carregues no solo diariamente enfeitado pelas Mãos Divinas?”
Muito emocionado, Lamech silencia e Henoch lhe diz: “Ago- ra falaste com base. O homem não merece a Terra quando foge ao espírito para se consolar com as tentações da carne. Continua a falar, pois não sentimos cansaço ainda que falasses durante anos.”
OAMOREGOÍSTAECARNALDO HOMEM
Lamech porém retruca: “Irmão, creio ter falado bastante a respeito da tolice das criaturas; mas se houver algo para ser dito com relação ao seu louvor, peço que o faças. Tuas experiências nas alturas por certo foram outras que as minhas e tens autoridade para um critério justo.”
Diz Henoch: “De fato, nossas experiências são diferentes que as vossas. Todavia falaste certo de um modo geral, tanto para as al- turas quanto para as planícies, pois também lá prevalece a carne. Se perguntares a alguém: O que mais prezas: a matéria ou Deus, teu Senhor, Criador e Pai? — ouvirás a seguinte resposta: Que pergunta mais absurda! Quem poderia preferir a matéria a Deus? Tal pensa- mento já é pecado!
Mas se observares as atitudes de tal pessoa, descobrirás ser ela capaz de palestrar com a maior satisfação sobre assuntos sem va- lor, humanos e materiais. Se começares a dissertar seriamente sobre Deus e as coisas puramente espirituais, verás uma expressão tristo- nha e até mesmo tola que te dirá claramente: Amigo, és uma criatura muito insípida. Fala de outras coisas, pois não entendo assuntos tão elevados que despertam o tédio, aborrecimento e subsequente sono.
Tal respeitador de Deus não será tão duro em suas expressões, mas suas ações, a expressão e os gestos gritarão mais alto que o rugir de um leão esfaimado. Por isso não deves considerar tão formidável a di- ferença entre tuas e minhas experiências, mas colocar em pé de igual- dade as do alto com as das planícies. Fala sem receio, especialmente quando Mutael nos procura com certa intenção. Passemos pela grota e de lá para o Sul, onde verás a maravilhosa Organização de Deus.”
ADMIRAÇÃOPROVOCADAPELABELEZADE PURISTA
Depois de terem ultrapassado a grota, Henoch diz para o grupo: “Na cabana de Purista tomaremos a refeição do Senhor, de- terminada por Ele Mesmo em épocas justas e em benefício de nosso amor e espírito.” Adão concorda, pois em tal oportunidade poderia ser abordado o assunto casamenteiro de Mutael.
Quando chegaram à região Sul, grande número de pessoas cumprimenta os hóspedes e Purista é a primeira a dar as boas-vin- das dizendo: “Veneráveis patriarcas e amigos de Deus Onipotente, certamente viestes com intenções importantes e santas. Por isso seja meu louvor profundo dirigido ao Santo Pai Que habita em Sua Luz eternamente Santa e nos vivifica através de nosso amor a Ele. Minha alma anseia pelas palavras daquele que o Próprio Senhor elegeu para sumo sacerdote. Vinde à cabana criada por Ele Mesmo através de Sua Onipotência, designando-a para o refeitório onde seus filhos devem receber o justo fortalecimento para a Vida eterna.”
Quando Henoch vê a expressão de êxtase de Lamech, ele diz: “Agrada-te essa oradora? Que dizes às suas palavras?” Empolgado
pela beleza de Purista, o outro diz: “Meu irmão, a visão do inimi- go original no local flamejante e destruidor algemou minha língua instantaneamente. Mas a visão dessa filha dos céus parece ter uma influência mais inibidora sobre mim. Tamanha beleza unida a um amor e sabedoria tão grandes ultrapassa o que um pobre pecador possa suportar eternamente. Poupa-me qualquer determinação e critério, pois tenho que me habituar a essa maravilha.”
Diz Henoch: “Muito bem, na cabana da Glória do Senhor tua língua há de se soltar.” Purista então conduz todos à cabana e coloca lenha fresca no fogão do amor.
QUEIXAS DE PURISTA ÀS PERSEGUIÇÕES AMOROSAS DE MUTAEL
Terminados tais preparativos, Purista diz para Henoch: “Te- nho que relatar-te o que ocorreu aqui. Deves estar lembrado de que o Senhor fez uma promessa a Mutael no sentido de que eu seria sua esposa quando isto fosse do Agrado do Pai. Por isso Mutael anda me perseguindo constantemente, exigindo de mim um assentimento.
Quando lhe digo que deve se prender à Palavra do Senhor e não exigir de mim qualquer promessa, ele começa a se lastimar dizendo: Assim são as moças quando o pretendente não lhes agrada. O Senhor jamais haveria de me coagir caso eu mesma não estivesse concordando, e por isto eu o recomendava ao Senhor, porque não gosto dele.
Essas e outras são suas ladainhas; dá-me um conselho para sa- ber como agir. Por acaso não pequei ontem ao recusá-lo com energia dizendo-lhe: ‘Já que te tornas inconveniente, digo com sinceridade que alimento verdadeira aversão contra ti e jamais hás de me afastar do Senhor. Se deres mais um passo nessa tua paixão, hei de jurar diante do Senhor que ficarei solteira por amor a Ele.’
Minhas palavras provocaram tamanho choque, que Mutael se afastou choroso e pelo visto vos procurou no cume da montanha.
Henoch, sublime servo do Senhor, dá-me um conselho certo e um consolo em Nome Dele.”
Responde Henoch: “Dir-te-ei claramente qual a situação nesse caso. O Senhor prometeu a Mutael que serias sua esposa e isso já aconteceu espiritualmente. Apenas protelou a bênção cor- poral para determinada época e isso te foi revelado intuitivamen- te por Ele.
Quando Mutael te procurou e te deu a entender tal desejo e tu lhe dando um olhar muito expressivo, toda sua sapiência se evaporou e ele se enterrou em teu afeto, não querendo sair desse estado. Esse teu pequeno deslize hás de corrigir pedindo ao Senhor que abençoe Mutael e o guie pelo caminho da salvação.
De modo algum deves desprezá-lo, pois um homem empol- gado com a promessa do Senhor é fortemente abençoado. Serve-lhe para seu aperfeiçoamento o fato de o Senhor o testar um pouco. Mas tu não deves menosprezá-lo, tampouco tentá-lo. Agora fala- rei com ele.”
MUTAEL,APAIXONADO,ÉCURADOPOR HENOCH
Depois de Purista ter voltado junto ao fogão e Lamech se entreter a comentar opiniões acertadas a respeito dela, Mutael entra todo esbaforido, dá uns passos em direção de Henoch e o fita sem falar. Este, levantando a mão direita, diz: “Ouve, espírito mudo da carne, que prendeste esse homem pleno da promessa do Senhor, or- deno-te, pelo Poder de Deus, que te cales e abandones essa criatura.”
No mesmo instante, Mutael dá conta de si e diz: “Que se passa comigo? Tenho a impressão de ter corrido para cá em virtude de minha grande paixão por Purista. Mas ela aqui ao meu lado me é tão indiferente como se não existisse.
Recordo-me perfeitamente que comecei a amá-la com gran- de paixão após a promessa. Agora só existe a promessa dentro de meu peito, como uma Palavra do Pai. Como foi possível dar-se ta-
manha modificação? Confesso sinceramente que toda a Terra com suas maravilhas me valem tanto quanto uma noz.
Também tu, Henoch, representas somente algo condizente ao Amor do Senhor e todo o resto me vale tanto quanto aquilo que é. Em tudo vejo o Amor Criador, o Zelo e o Trabalho do Pai e por isto não posso amar as criaturas e coisas que O preocupam. Amo apenas a Ele. Também preferiria não existir, porque dou trabalho a Ele. Mas, se não existisse, também não O poderia amar. Meu Pai, como foi possível eu amar mais intensamente a Purista que a Ti?”
Todos se assustam com as palavras de Mutael, e Purista co- meça a chorar e amaldiçoar seu olhar encantador com o qual tanto magoou Mutael, julgando tê-lo perdido. Adão não tem a menor ideia para encetar uma discussão e Lamech das planícies diz per- plexo para Henoch: “Conforme andam as coisas, vejo que não terei muito a dizer para este homem.”
Aduz Henoch: “Não te preocupes. Só quando o reverso da medalha for apresentado terás motivo de sobra para falar. Ago- ra trata-se de Purista corrigir o que ela, inconscientemente, fez a Mutael.”
TRANSFORMAÇÃO DE MUTAEL E REMORSO DE PURISTA
Só agora Adão percebe a situação e diz para Henoch: “Que se passa? Mutael, que julgava encontrar em Purista o Céu dos céus e predizia que a manutenção da humanidade dependia da união de ambos, tornou-se totalmente indiferente aos seus encantos. Que aconteceu com ele?”
Diz Henoch: “Farei com que ambos se manifestem e poderás deduzir pessoalmente qual o motivo dessa modificação.” Virando-
-se para Purista, Henoch prossegue: “Querida, dize-me se te agrada Mutael e se estás satisfeita comigo por ter alterado sua atitude atra- vés da Graça do Senhor. Antes mantinhas uma queixa justa contra ele; portanto tens que me dizer se ele te agrada mais agora.”
Totalmente embaraçada, Purista não sabe o que dizer. Muta- el, ao lado dela, diz sem refletir muito: “Acho que nesta Terra tudo tem seu tempo. A tolice, a sapiência, o amor, a tentação e a vontade de união. Assim aconteceu comigo quando me apaixonei por ela.
Como os tempos mudaram e nós nos encontrarmos dentro deles, poderíamos permanecer sempre iguais? A própria Terra dança em torno do Sol. Onde estaria o sábio entre nós que não acompa- nhasse diariamente esse ritmo? Até mesmo no sono sou obrigado a participar dessa loucura.
Por isso se entende que eu me empolgasse diante de uma moça de olhos sedutores. Todos nós sabemos que as nuvens úmidas conseguem refrescar o poderoso calor solar. Então deve haver um meio pelo qual um homem consegue abrandar sua tola paixão. Re- cebi pela Graça do Senhor tal recurso, e agora os dois sóis de Purista não me perturbam mais. Com isto se deu uma mutação do tempo dentro de mim e revivo sentindo que o homem renascido bem pode viver sem Purista.”
Tais palavras partem o coração de Purista que começa a chorar amargamente e diz: “Se o prometidousa de tais expressões quando se trata de assunto de grande seriedade, quais seriam as dos nãoprometidos?Ó Mutael, será que não tens mais coração que me perdoasse?”
DISCURSOPOSITIVODE MUTAEL
Virando-se para Purista, Mutael diz: “Por que te queixas con- tra a Ordem Divina? Andei apaixonado e tu me recriminavas. Agora sou frio, e também te queixas. Por acaso devo me manter entre pai- xão e indiferença, portanto morno? Como não sabes responder, eu o farei diante de Deus e de todos os patriarcas.
Se sou como o Senhor quer, minha atitude deve ser justa. Se sou apaixonado, isto está na Vontade Dele; se sou frio, também Ele assim o quer. E se fosse morno, eu não o seria sem Aquiescência do Senhor, muito embora seja ciente de que a dubiedade não se
encontra registrada na Ordem das coisas divinas, razão por que Ele certamente não me deixará sucumbir na tibieza.
Se tens justa confiança no Senhor e Pai de todas as criaturas, como podes me procurar chorosa e vacilante como se eu algo tivesse a perdoar-te? Porventura o Senhor não fará apenas o que Ele quer, e nos unirá ou separará a seu tempo? Ou acreditas que isto esteja em nosso poder? Nem eu, nem tu, nem Henoch e nem todos os patriar- cas poderão fazer qualquer coisa, pois tudo depende do Senhor.
Se nos amamos com toda a paixão ou se nos evitamos, não há diferença. Se recebemos a promessa, Ele nos unirá, a menos que a promessa seja por ora um teste pelo qual experimentaremos se nosso amor recíproco não é mais forte que o amor a Ele.
Se a promessa deve ser considerada desse modo — o que não duvido um só instante — devo agradecer ao Senhor por ter abran- dado minha paixão despertada por Sua Promessa e por teu olhar promissor, e creio que tu, serva escolhida e pura do Senhor que Ele Mesmo carregou em Suas Mãos, hás de concordar com meu parecer.
Por isso declaro diante de Deus e de todos que se o Senhor não me autorizar definitivamente a tomar-te como esposa, minha atitude para contigo será a mesma que com qualquer jovem não prometida por Ele. No entanto, desejo, como teu irmão, o mesmo sentimento de tua parte que te unirá ao Pai para sempre. Deposita tudo no Senhor, que teu coração receberá a justa calma e consolo. Eis tudo que meu coração devoto a Deus te pode desejar.”
Cobrindo o rosto, Purista se afasta, totalmente tocada pela sabedoria de Mutael e quanto mais reflete, mais acertada lhe parece. Entrementes, Henoch diz para Lamech: “Agora vem tua vez de fala- res palavras da profundeza do amor de Deus na criatura.”
Mutael então se vira para Henoch e diz: “Quem são essas criaturas pequeninas, principalmente esse homem com quem aca- bas de falar? Porventura trata-se de alguns que na época em que o Senhor Se encontrava em nosso meio se atreveram a nos desafiar? Serão talvez seres nascidos em qualquer canto do Norte?”
Retruca Henoch: “Há pouco chamei a atenção ao homem mais indicado que se preparasse para uma discussão contigo. Tu mesmo desejando entrar em contato com homem fisicamente mais baixo, não em sentido espiritual, aconselho que te dirijas a este ao meu lado que também se chama Lamech. Há de fornecer-te a me- lhor informação e estou convicto que ficarás satisfeito com sua pe- quena estatura.”
Julgando fácil a tarefa, Mutael se vira para Lamech e diz: “Criatura extraordinariamente pequena, dize-me tua procedência para saber como me portar junto de ti e dos teus. Não sou igual a um Henoch e todos mais, capazes de olhar no fundo da vida. Por isto me vejo obrigado a perguntar.”
Fitando Mutael com seriedade, Lamech responde: “Tal per- gunta não te honra, embora sejas um sábio do Sul, pois desse modo se fazem perguntas entre os varredores de ruas em minha grande cidade Henoch, que ignoram sua descendência humana.
Um justo sábio deveria saber que seres vivos — mormente se encontrando em companhia de Henoch e estando em condições de palestrar com ele — devem ser considerados algo mais que apenas símios parecidos com gente.
Creio que isto demonstra grande carência de tua sabedoria. Aconselho-te o seguinte: Procura conhecer-te a fundo e só então experimenta uma controvérsia comigo. Agora compreendo muito bem por que te apresentas nos dois extremos com relação a Purista, ora apaixonado, ora frio qual bloco de gelo. Desconheces totalmente
o centro santo da Vida no Amor a Deus e sua aplicação real, pois Purista é pura como ouro — na hipótese que conheças o ouro.
Por ora és apenas um tolo que nem ao menos pressente como
o Senhor educa os homens. Em nome de teu e meu Deus: Vai e reco- nhece a ti mesmo. Depois vem falar comigo, Lamech, o extraordiná- rio homem pequenino que parece ser melhor que qualquer símio.”
NATUREZADAS MULHERES
Tais palavras mostram a Mutael com quem está lidando. Por isso se curva diante de Lamech e, envergonhado perante os patriarcas e Purista, ele se dirige para a porta. Henoch porém o retém dizendo: “Mutael, deste modo nenhum homem abandona uma assembleia como a nossa. Pretendes coroar uma tolice com outra?”
Responde ele: “De modo algum, mas fazer esquecer a pri- meira por meio da segunda. Além disso, Lamech me ordenou que eu fosse embora para conhecer a mim mesmo. Como pode ser tolice se sigo o conselho de um sábio tão irritado? Ou devo entendê-lo de outro modo?”
Obtempera Henoch: “Pareces imbuído de