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O REINO DOS ESPÍRITOS
Recebido por Gottfried Mayerhofer
em 15.05.1876
I
No último comunicado, vos dei um quadro de costumes no Reino dos Espíritos; naturalmente, só abrangia uma pequena parte das ocupações e inclinações pelas quais alguns espíritos esperam progredir no Reino dos Espíritos.
Hoje quero vos dar um quadro mais vasto da própria existência do Reino dos Espíritos, e direi onde ele se encontra, qual o seu tamanho e aspecto, como influencia a vós e a todos os outros seres viventes que habitam tanto os grandes mundos solares, como os planetas que orbitam ao redor deles.
Mostrar-vos-ei ainda que lugar no Universo ocupa o grande Reino dos Espíritos na sua qualidade única e mais alta. Demonstrar-vos-ei, de novo e por um outro lado, a infinidade, progredindo, não como a última vez, do material ao espiritual, mas explicando a matéria a partir do espiritual, fazendo-vos entender que ela continua presente ainda lá, onde, conforme idéias humanas, não há mais nada de material.
Ora, vede: Os homens atualmente fazem tantas experiências(tentativas) para comunicar-se com o mundo dos espíritos, sendo que, para a maioria dos adeptos do espiritismo, tudo o que os espíritos comunicam é considerado “evangelho”, originando-se assim muitas idéias falsas e, naturalmente, também contradições. Está, pois, na hora de levar-vos a uma melhor compreensão do que na verdade é um espírito, como ele vive e até que ponto lhe é facultado conservar, também no Além, o seu livre arbítrio que tinha como homem, e de agir por ele. Da clara concepção de tudo isto depende o discernimento justo de um mundo que agora tanto vos interessa e para o qual também deveis passar mais dia menos dia.
Comecemos, pois, com o lado mais fácil, respondendo primeiro à pergunta:
O que é, no fundo, um espírito?
O espírito não é senão um ser capaz de pensar, o qual - uma vez criado sob certas condições - pouco tem a ver com a matéria que é do vosso conhecimento, uma vez que seu fino invólucro e sua individualidade determinada pela sua forma, como também seu organismo vital, consiste em tais veículos que não refletem a luz, mas deixam passar todos seus raios. Por isso, o espírito é invisível aos olhos humanos, e visível apenas a olhos também espirituais, dotados com a faculdade de perceber também os mais finos componentes de cada átomo no espaço etéreo, onde nenhum outro órgão visual poderia descobrir algo mais.
Ora, se um homem ou um outro ser vivo morre, sua alma - ou o princípio de vida espiritual - que até agora construiu e guiou o corpo, sempre empenhada em afastar perigos ou aplanar estorvos, abandona o corpo material e o entrega à terra de cujos elementos o formara. Daí, obedecendo às leis da transformação, ele passa a outras formas e outros elementos, a fim de ser útil a outros seres, já que não pode mais acompanhar o guia espiritual na sua carreira futura, por que o organismo dele precisa daqui em diante de elementos mais leves. O corpo abandonado vai para trás, e o princípio espiritual, revestido de partículas mais sutis, como que extrato das anteriores, vai em frente, rumo ao seu ulterior destino.
Durante a vida humana, assim como na vida animal, o processo de transmutação continua acontecendo, transformando-se sempre a substância mais rude em outra mais sutil, até o ponto divisório onde não é mais possível, sob as condições terrestres, desenvolver matérias mais refinadas. Nos animais, este processo é regulado pela grande lei natural, ocorrendo agora como foi desde sua criação. Não é assim no homem, pois ele recebeu o livre arbítrio, podendo ainda apreciar o que faz e por que o está fazendo. Por esta razão, o processo de transformação do seu invólucro material ou organismo físico é tão diferente, como são os homens. Para tal contribui, sobretudo, sucederem condições e circunstâncias que os impedem, por falta de tempo, cultivar seus espíritos ou suas almas a partir do corpo humano, o que lhes teria sido possível com uma idade mais avançada. Porém milhares e milhares abreviam suas próprias vidas; a outros elas vêm sendo reduzida sem eles intervirem. Desta maneira, milhões chegam ao Reino dos Espíritos com o corpo psíquico não desenvolvido e com deficientes qualidades espirituais que são absolutamente necessárias para progredir acolá.
Cada homem, seja nativo de vossa Terra, de um planeta ou de um Sol, leva consigo, na sua saída do mundo corporal, ainda matérias sutis do mesmo para o Reino dos Espíritos; elas perfazem sua individualidade, e com elas ele forma lá um ser que possui forma, feição e vida. Olhai para vós mesmos e vereis que aqui na Terra sois providos de ossos, carne, músculos e vários órgãos próprios de funções vitais, e que todos devem contribuir para a formação do futuro corpo espiritual que um dia deve ser a expressão (ou o reflexo) do princípio espiritual em vós, que se deve mais e mais aperfeiçoar e espiritualizar, tornando-se pouco a pouco semelhante a Mim. Durante a vossa vida, no estado normal, não sentis como pulmões, fígado, baço, coração e todos os demais órgãos devem contribuir para edificar o homem psico-espiritual; mas não fossem àqueles, isso não seria possível. Considerando este processo, é natural que nem todos os homens na sua última hora de vida cheguem no Além no mesmo estado, pois eles espiritualizaram seu corpo em graus diferentes. Um leva as partículas mais sutis para a vida no Além, um outro carrega ainda pesada matéria grossa em estado não purificado.
Um , ligeiro como o ar, eleva-se rapidamente para esferas superiores, enquanto que outro, pesado como massa rude, deve ficar mais perto da superfície terrestre, porque seu peso corporal manifesta o peso moral nas partículas de seu invólucro.
Desta maneira, tanto vossa atmosfera e para muito além dela, como o próprio ar, cuja densidade diminui com a aproximação ao grande éter, estão envolvidos de um sem-número de espíritos, os quais, apesar de todos possuírem o livre arbítrio, não podem viver nas mesmas esferas, pois cada um deve necessariamente habitar aquela que corresponde a sua própria constituição espiritual e material, assim como vossos peixes na água, se pudésseis perguntá-los, não poderiam compreender como vos é possível viver à vontade no ar que aspirais, uma vez que para eles seria o fim da vida.
Ora, estes espíritos em todas as esferas procuram uma ocupação, da mesma maneira como o homem na Terra sempre quer algo fazer ou trabalhar. Quanto mais desenvolvido era o conhecimento espiritual do espírito desencarnado, tanto mais facilmente ele compreende e reconhece o que é preciso acolá, para progredir e para alcançar maiores prazeres espirituais do que os que já possui em sua esfera. Quanto mais baixa e imperfeita permanecia a faculdade espiritual nesta Terra, tanto mais difícil lhe será elevar-se sobre a vida terrestre que deixou para trás. Ele não conhece coisas mais altas nem as vê; por isso, quer reganhar o que teve de abandonar, sem querer, tão cedo.
Assim como lá espíritos da mesma afinidade só se encontram em esferas idênticas, assim também os de evolução mais baixa procuram sociedades afins. Se não o conseguem no Além, aproveitam da mania dos terrestres de querer entrar em contato com o Reino dos Espíritos e procuram defender, com ajuda de médiuns, suas velhas idéias enferrujadas que foram a causa de sua infelicidade no Além, do que, porém, não se lembram.
Daí vêm os frequentes resultados ambíguos que são obtidos na manifestação de espíritos; pois, se as pessoas que querem pôr-se em contato com o Além forem motivadas por interesses terrestres ou por curiosidade, recebem respostas conforme seu próprio ponto de vista espiritual, sendo enganadas com mentiras e servindo geralmente só de joguetes de tais espíritos baixos que conversam com elas, logrando-as muitas vezes por nomes fictícios. O mundo dos espíritos que vos envolve é constituído por almas humanas de desencarnados que bem podem ser escravos de paixões humanas, como o eram durante sua vida na Terra.
Na maioria das sessões espíritas, são pessoas curiosas que se reúnem, não reinando na ocasião nenhum princípio mais elevado, nenhuma idéia melhor do que a de simplesmente saber algo do Além.
Não procuram informações instrutivas; o único que importa é ouvir algo novo, coisas que nunca foram ouvidas. Eis o terreno ideal para a multidão de espíritos baixos que servem aos ávidos de saber, do modo como o merecem.
Assim como há a atmosfera sobre a vossa Terra, assim estende-se nela e acima dela o Reino dos Espíritos, povoado somente por espíritos que tiveram de passar sua escola de provação na Terra. Mas em cada uma destas esferas há dirigentes e instrutores de outras esferas. Até nestas esferas terrestres há seres mais bem qualificados que descem até as regiões mais baixas, cumprindo a missão aceita de salvar almas e conduzi-las das trevas à luz.
Nestas esferas há ainda outros lugares destinados a seres aos quais nem agrada a demora na superfície da Terra, onde há ainda luz; para tais espíritos em profundas trevas, são próprios aqueles lugares sombrios, cuja noite carregada corresponde a suas almas. Não quero descrever-vos estes lugares com mais detalhes; suas características refletem perfeitamente a consciência de seus habitantes.
Sois circundados por uma multidão de espíritos que tanto vos podem ajudar, como também prejudicar. Freqüentemente, eles pedem a vossa ajuda, podendo vós também receber deles instrução e conforto, conforme o desejais e quereis. Qual vosso interior, tal vossa companhia de espíritos. Tomai nota disso, e não vos aborreçais ao receber muitas vezes respostas que não satisfazem ou que suscitam mil dúvidas em vós. Vale o vosso provérbio: “Como falardes, assim ouvireis!”. Aplicai este provérbio a vossas experiências espíritas e tereis a justa resposta.
Assim como a Terra manda seus grandes filhos, após o caminho terrestre, para o mundo dos espíritos ao seu redor, onde são classificados conforme seu peso moral, assim também cada mundo tem suas esferas espirituais, onde os que passaram daí para o Reino dos Espíritos estão em parte uns com outros, e em parte também com os habitantes dos respectivos mundos, em constante relação. O grande ciclo de formação espiritual dos habitantes daqueles mundos determina também a posição de seus espíritos, se mais altos ou mais baixos, mais puros ou menos desenvolvidos.
Em todos estes milhões de mundos e ao seu redor há um mundo de espíritos que lhes é sempre homogêneo. Nisto, os grandes mundos materiais encontram-se proporcionalmente, mesmo como criações materiais, em condições diferentes; assim também, seus habitantes e os respectivos espíritos acusam um peso mais ou menos ligeiro ou pesado, apesar do impulso para frente vigorar como princípio básico e condicionar a vida espiritual.
Desta maneira, toda a progressão gradual visa para adiante; enquanto que os mundos, orbitando um ao redor do outro, permutam de um para o outro os elementos materiais, a fim de poderem formar-se mutuamente. O Reino dos Espíritos, que envolve cada mundo, constitui a ligação pela qual os mundos, unidos também espiritualmente, constituem toda a Criação material e espiritual.
Nas atmosferas dos vários mundos, o metabolismo material realiza-se revivificando o que é gasto; também nas esferas espirituais de mundos afins reina uma aproximação, na maioria dos casos um entendimento mútuo, o que é a suprema finalidade e meta de todos os espíritos. A matéria está ligada ao espaço etéreo, as esferas espirituais dos vários mundos ao grande Reino dos Espíritos, que se encontra bem fora da Criação material de onde veio tudo o que foi criado, e para onde tudo deve voltar em estado espiritualizado.
Disse que cada espírito possui ainda, servindo de revestimento, partículas de seu mundo material, como elemento de seu próprio organismo, ou Eu mesmo; assim, em todos os mundos de espíritos que envolvem os grandes sóis e os planetas, tudo nas esferas espirituais deve pouco a pouco de tal maneira ser espiritualizado, que o espírito, revestido agora de verdadeira nobreza, no fim não leva mais elementos terrestres consigo, mas somente etéreos que constituem o seu Ego; e é só com eles que vai chegar ao grande Reino dos Espíritos. Neste, como nas esferas superiores de cada mundo, terminam credos, nacionalidades ou diferenças raciais, sendo que no grande Reino dos Espíritos todos os espíritos chegados de seus mundos materiais devem ficar aperfeiçoados a tal ponto, que não há mais o mínimo vestígio de sua origem - seja qual for este mundo - e que somente uma veste de matérias etéreas, iguais aos princípios originais do Amor Divino, deve constituir todo o seu Ego.
Ali é a meta final do mundo material e o começo de uma criação espiritual que - sem jamais ter fim - guiará e conduzirá os espíritos de degrau em degrau. Todo o mundo material, formando-se do espaço etéreo, originou-se, como algo espiritual em estado condensado, daquela criação espiritual, devendo percorrer o mesmo caminho para alcançar finalmente, se bem que por um caminho mais longo, aquele resultado onde tudo o que é espiritual - desatado agora, portanto livre no Reino dos Espíritos - voltará, segundo as leis em vigor, a criar novos mundos que serão edificados não mais por grossa matéria, mas - como os próprios espíritos - pelos mais finos átomos. Será, pois, por estas partículas etéreas que naquele ambiente espiritual parecem pesadas e hão de se transformar em algo espiritual, que se formará aquele mundo onde - como disse outrora - há bem-aventuranças que nenhum olho ou ouvido humano jamais viu ou ouviu.
Por esta Palavra, tendes de novo uma Infinidade diante de vós, um eterno aperfeiçoamento continuado de um por um outro, como vos mostrei na Palavra anterior, pela qual também vos conduzi para longe e acima de todos os espaços, onde não há fronteira para a luz nem medida para o tempo (“A Infinidade”, em “Lebensgeheimnisse”(Segredos da Vida), pag. 198).
Todo o mundo dos espíritos nada mais é do que uma repetição de tudo o que foi criado. Em cada animal e no homem vedes que os vários órgãos receberam formas diferentes para servirem no fim somente a finalidades espirituais. No grande Universo material vedes milhões de mundos, cada um com forma diferente, com atmosferas, envolvidos por esferas espirituais; e cada um encontra-se no lugar que lhe compete, para cumprir a sua missão e contribuir para a grande construção de um outro mundo eterno. No “Grande Homem Cósmico Material” todos estes mundos estão contidos iguais aos órgãos em vosso corpo, e eles funcionam satisfazendo sua finalidade materialmente; e as esferas dos espíritos formam também, em analogia aos mundos materiais, o “Grande Homem Cósmico Espiritual”, em cujos espaços a criação material ocupa apenas uma pequena parte, sendo assim unidos, um com outro, os mundos espiritual e material. Por toda a parte reina o impulso para criar de novo e de progredir - este “Algo Infinito”, que conduz do grosso-material ao espírito-intelectual, e deste ao Grande “Divino”.
Desta maneira, o mundo dos espíritos se estende sobre tudo o que foi materialmente criado, unindo e concatenando tudo para um grande “TUDO”, onde até o que há de espiritual numa pedra em estado atado tem o seu lugar, de onde um dia encontrará sua libertação.
É esta a organização do Reino dos Espíritos; e o que vos foi dito aqui vos deixa reconhecer e compreender qual é muitas vezes o valor das falas e comunicações de espíritos que querem vos fazer acreditar, como se já soubessem de tudo e estivessem em contato direto Comigo, e como se o futuro de vosso pequeno globo terrestre não fosse mais um segredo para eles. São seres com pouco alcance que não têm ainda a mínima idéia do que quer dizer “ser um espírito”(isto é, um espírito já perfeitamente puro), e muito menos ainda do que se passa fora de sua esfera! Eles são míopes, e vós sois crédulos, o que vos deixa dar-vos tão bem uns com outros. Mas perguntai uma vez a um tal espírita que era frequentador assíduo de todas as sessões, o que aprendeu de fato e o que chegou a saber do outro mundo, e certamente a resposta sairá muito pobre, ficando ele nem por um triz mais inteligente. Só começará a aprender com efeito, quando tiver passado de cidadão terrestre para cidadão de uma ou outra esfera de espíritos. Se tudo corre bem, chegará a saber de um guia como gastou seu tempo na Terra, deixando passar sem proveito seu melhor capital, o tempo.
Por isso, Meus filhos, aprendei finalmente a considerar o Meu mundo, sua organização e finalidade, e seu princípio espiritual com mais seriedade, aprendei a compreender que o mundo material não é o essencial pelo que vos fatigais sempre, mas que um Reino de espíritos muito maior o envolve, é entrelaçado com ele e vos acompanha do nascimento até o túmulo; - aprendei a compreender que nem tudo que um espírito vos diz na vossa caça de novidades é verdade.
Eu permiti a comunicação com o mundo dos espíritos. Sim, podeis chamar do Além parentes e queridas pessoas. Às vezes, são eles que vêm, às vezes são outros que fazem uso de seus nomes para enganar-vos. Permanecei com cautela, não vos entregueis a ilusões! A Verdade mesma só podeis saber de Mim, sim, e comunicá-la aos que a procuram do outro mundo, tornando-os com isso mais felizes do que julgais a vós mesmos.
Deveríeis proceder com seriedade e amor, trazendo convosco elevado moral e amor fraternal para tais sessões espíritas; só então um espírito de melhor índole poderá se aproximar de vós e, motivado pelo impulso de fazer algum bem, tentar levar a vós que viveis ainda na carne, conforto e conselho que ele outrora procurava na Terra em lugares onde não puderam ser encontrados; e onde lhe foram oferecidos, ele teimou em desprezá-los. Tais espíritos, reconhecendo os próprios erros, querem prevenir-vos para que não incorrais nas mesmas faltas. Tomai a sério estas Palavras, desistindo de muitas perguntas, pois as condições no Reino dos Espíritos são de tal maneira, que não entendeis, não podeis compreender o que um espírito quer explicar-vos a respeito. E se ele vos diz algo que pensais poder compreender como humanos, é sinal que o espírito mentiu. Fiai-vos em Minhas Palavras; creio ter-vos explicado toda a Criação já de muitos lados, de maneira que tendes farto material para instruir-vos. A presente explicação do inteiro Reino dos Espíritos, que completa a anterior sobre a Infinidade, quer provar de novo que nada deixo de fazer para abrir vossos olhos espirituais, a fim de poderdes justamente julgar e espiritualmente aproveitar tudo o que com o tempo ainda ocorrer. Não esqueçais que vós mesmos sois espíritos, se bem que ainda encerrados em um firme invólucro. Mas não passará muito tempo, e também vós tereis despido esta veste em troca de uma mais sutil. Podereis então, do segundo degrau, apreciar bem o primeiro que deixastes para trás. Que este julgamento e o resultado sejam então em vosso favor, o que facilitará bastante a continuação do vosso progresso. E reconhecereis cada vez mais que falta ainda muito para completardes vossa educação espiritual, deveras divina, mesmo já sendo espíritos. Inumerável tempo será necessário até saberdes, como espíritos, o que um espírito deve alcançar para poder ser chamado um verdadeiro filho de Deus.
Refleti e tomai a sério estas Palavras, e todas as vossas dúvidas vão desaparecer, e sereis capazes de formar conceito do que é um espírito, como pode manifestar-se, e se há verdade ou falsidade em suas comunicações. Senão, ficareis presos em contradições que só confundem, ainda mais enquanto Eu quero descrever-vos todo o processo de comunicação e a organização de todo o Reino dos Espíritos em sua forma legítima. Amém!
II
Perguntas-Me qual o aspecto das esferas do mundo dos espíritos, já que recebeste algumas noções a respeito por diversas comunicações de espíritos. Vou dar-te esta explicação, para que não haja mais dúvidas e sombras a respeito.
Na atmosfera de cada corpo celeste - seja planeta ou sol - existe, em estado dissolvido (em forma etérea), TUDO aquilo do qual é composto o próprio corpo celeste; do mesmo modo, na atmosfera espiritual da formação das esferas, tudo o que corresponde ao lado material do planeta ou do sol é contido espiritualmente; isto significa: nas grandes atmosferas espirituais encontram-se todos os tipos originais do mundo criado, tanto em forma puríssima como também na forma oposta, conforme a tendência espiritual nas próprias esferas for dirigida para cima ou para baixo. Em outras palavras: Tudo o que foi criado mostra-se aí, na forma primitiva de criação, àqueles espíritos que se aproximaram do verdadeiro tipo humano, assim como o criei outrora em corpo e espírito, - ou ainda: as imagens espirituais da natureza mostram-se em algumas esferas da mesma maneira como se apresentam as mentes dos próprios espíritos que destruíram, pela sua conduta, dentro de si e ao seu redor, toda luz, todo calor e todo amor.
Quero dar um exemplo do vosso próprio ambiente, para compreenderdes melhor o que quero dizer. Vede, toda a natureza ao vosso redor vos mostra lados muito diferentes: para uns, é uma fonte eterna de felicidades espirituais, enquanto que para outros representa apenas um conglomerado de coisas sem vida, ou, para falar com vossas palavras, um vale de lágrimas para animais e homens.
Um dos vossos sábios (Büchner?) adiantou-se em seus pronunciamentos a tal ponto que disse: “Se há um Criador, deveria envergonhar-Se por ter criado um mundo tal como de fato existe.” Ora, tudo depende da maneira como se enxerga a natureza ou este mundo visível. Podeis avistar numa gota de orvalho um mundo cheio de maravilhas, e numa flor podeis, ao menos parcialmente, compreender o amor, os cuidados e a mestria do vosso Criador, enquanto que outros, espiritualmente menos desenvolvidos, em tudo nada percebem.
O sopro balsâmico da primavera que aspirais pelos pulmões; o verde escuro de uma árvore sombrosa; todo o mundo animal, pequeno e grande, que vedes ocupado em cumprir instintivamente sua finalidade e missão; tudo isso e mil outros prazeres proporcionados pela observação da vida na natureza, em um provocam até sentimentos religiosos, para outro soam inteiramente estranho. Para um, em todo lugar há compreensão, luz e beleza espirituais enquanto que para outro só há trevas e nada mais, senão gozos sensuais que embelezam a natureza aberta. Um tal procura a sombra duma árvore quanto muito para aí adormecer após ter se fartado de comer e beber.
Como vedes, cada um enxerga a natureza de maneira diferente, conforme o grau de sua formação humana. O sábio, o mineralogista, o geólogo, o químico, o botânico ou quem quer que seja, todos contemplam a natureza conforme seus estudos preferidos; sua procura é material, e só encontram a matéria. O livro do passado não deixa de estar aberto diante de seus olhos; eles vêem as formações da fauna e flora passadas nas camadas minerais, vêem as petrificações, adivinham períodos de grandes transformações não presenciados por nenhum ser humano, mas nenhum pensamento mais elevado cintila em seu cérebro; eles classificam as várias matérias, reconhecem leis que nortearam todas estas ocorrências, mas não pressentem o Legislador, ignorando-O simplesmente. Quando muito, O reconhecem como criador, como eterno construtor e destruidor, o TEMPO, divinizado pelos antigos gregos como Chronos ou “Deus do Tempo”, posteriormente chamado “Saturno”, o que devora suas próprias crianças.
Em horas entusiásticas, o poeta decanta os períodos do dia, pintando em belos versos e quadros brilhantes a manhã, a tarde, o sagrado silêncio da noite com seus milagres apenas adivinhados. O pintor reproduz na tela um pensamento, os vestígios de uma hora feliz no silêncio duma floresta solitária ou numa costa do mar agitado. Ambos querem reproduzir o que sentiam, o que adivinhavam, ao passo que um outro vê na árvore apenas um meio para construção, visando lucros econômicos, e considera como elo de comunicação só aquilo que serve às nações para trocar os produtos de seus países - sendo a ganância o interesse principal.
Como vedes, a natureza de vosso globo terrestre vem sendo apreciada em mil diferentes maneiras, conforme a orientação espiritual de cada um, considerando-se apropriada só a própria opinião que se quer válida para todo mundo. Nem quero falar aqui das opiniões decorrentes de situações especiais, onde na maioria dos casos nem se liga para a compreensão da natureza, e onde, por ambição de poder e cobiça, procura-se subordinar tudo o que é visível ao sujo tipo do próprio procedimento.
Assim como vos descrevi, exemplificando, vosso próprio mundo, assim também está o mundo das esferas espirituais de cada corpo celeste. Todas as coisas são puras para o puro: a Verdade destas Minhas Palavras manifesta-se também no Além. Nas esferas onde moram espíritos nobres, cujo olho espiritual, amplamento aberto, contempla até a criação do que é material só espiritualmente - naquelas esferas de Amor, tudo é harmonioso, e em toda parte só há paz e luz, pois o Sol espiritual da Verdade brilha aí imutável, aquece docemente os corações, fomentando neles o amor ao próximo, o amor a Deus. Não há contendas nem altercações, pois espíritos pacíficos encontram sua paz interior também ao seu redor.
Disse uma vez em outra mensagem que o homem - quando está cheio de impressões espirituais e quando a palavra não consegue mais exprimir seus sentimentos - sente o impulso de falar pelo canto e pela música; também naquelas esferas, tudo é música, tudo manifesta-se no som, linguagem do sentimento, conformando-se a música mais com os desafogos do coração, ao passo que as palavras correspondem mais ao pensamento normal da razão. Assim, a morada dos que estão contentes e felizes e dos duramente provados é o paraíso, com as formas virgens de toda vegetação terrestre, assim como outrora as criei. E foram os homens, não Eu, que em tempos posteriores as estragaram e, abusando-as, as despojaram de seu adorno espiritual.
Assim, as esferas espirituais de todos os mundos estão em relação, tanto com seus próprios corpos terrestres como reciprocamente, e tudo, das mais belas formas puras até as esferas abaixo, tudo toma forma conforme o interior dos espíritos que aí habitam.
Isso explica por que podeis aí - falando com imagens espirituais - encontrar todas as possíveis regiões do respectivo corpo celeste, em correspondência com o material: para o espírito bom e nobre, os perfumes balsâmicos e as magníficas formas duma natureza tropical; para o espírito sombrio, as estepes inóspitas e os abismos sombrios de vossas formações mais selvagens de montanha, com suas correntes caudalosas; de lagoas pacíficas, onde as margens ao redor refletem-se em magníficos quadros, até o mar furioso, onde as ondas pulverizam, fustigadas pela borrasca, e onde não há mais luz, mas apenas fraco crepúsculo ou escuridão total, correspondente às mentes de espíritos que, em desacordo consigo e com o mundo, não querem saber nem do bem nem do mal, nem de Deus nem do diabo, e cujo máximo valor é apenas o próprio “eu”.
Assim, podes facilmente imaginar o aspecto destas esferas espirituais e o grau de felicidade ou desgraça da vida nelas. Por isso, reparai cada um nestas palavras, preparando seu “eu” espiritual de maneira que sua primeira demora no outro mundo não venha a ser na esfera mais abaixo.
Esta classificação tem valor para todos os milhões e milhões de mundos; suas esferas espirituais serão sempre em conformidade com o estado material dos mundos e dos espíritos que as deixam atrás. Mas sempre vigora a lei da transição lenta de uma esfera para outra, da mesma maneira como nas transformações da criação material. Em todo lugar, as tarefas são as mesmas; todas elas dependem do ponto de vista individual dos habitantes dos mundos e de sua transformação mais fácil ou difícil como espíritos. Cada um deve se desfazer do seu material, esforçando-se a espiritualizá-lo, a fim de poder subir na passagem para o grande Reino dos Espíritos. Só então começará seu aperfeiçoamento como espírito, conforme tudo o que era material for voluntariamente deixado.
Agora, Meu filho, te contentarás com este suplemento, e terás compreendido que Eu, sendo o Ser Supremo como Espírito, não posso fazer-vos, como Meus fracos descendentes, chegar de relance para perto de Mim, mas que até a Idéia de Deus ou a Imagem do Meu “EU” sempre deve dar-se unicamente nos moldes como podeis compreender-Me. Por isto os melhores, ao chegarem no Além e experimentando grande desejo por Mim, poderão avistar-Me conforme sua capacidade de compreensão.
Antes vos dei a explicação espiritual da vossa natureza visível que, mesmo considerada de pontos de vista diferentes, permanece sempre a mesma; igualmente, o Meu “EU”, conforme a discrição do espírito, só pode ser avaliado e compreendido como a esfera espiritual em que um espírito se acha o permite.
Assim podeis encontrar no Reino dos Espíritos toda sorte de seitas religiosas com seus cultos, toda sorte de nações, porque o homem deve, de própria iniciativa e vontade, motivado pelo seu interior, primeiro desfazer-se daquilo que o deteve da pura concepção universal. Enquanto não for capaz disso, cada um continua no Além aquilo que era na Terra. Encontrará seus sacerdotes, seus rabinos, seus brâmanes, etc..., precisamente como o culto religioso o satisfazia na Terra. Também lá há igrejas, templos, sinagogas, etc..., enquanto o homem não tiver aprendido a procurar o seu Deus em si mesmo e na grande natureza visível, material ou de cunho espirital.
Tens agora um quadro geral e em detalhes para explicar-te o suficiente o grande Reino dos Espíritos, enquanto um homem pode compreendê-lo.
Um dia, quando tiveres chegado no Meu Reino, dependerá de ti mesmo se serás capaz de elevar-te com grandes asas sobre o material, ou se terás que ficar preso naquela esfera espiritual que te receberá na passagem, em conformidade com tua vida terrestre.
Há muito em que reparar com esta Palavra; dependerá de ti e dos teus se será observada como o queria. Em todo caso, repito a advertência: Lembrai-vos de que vosso caminho terrestre é breve e o espiritual longo, para que não percais o espiritual por causa de um breve prazer sensual na vida terrestre. Reconheceríeis assim tarde demais que Eu tinha razão com Minhas Palavras, mesmo que não estivessem sempre de acordo com vossos conceitos.
Há uma só Verdade, e sou Eu que a divulgo, e vós deveis seguí-la. Aceitai o Meu Conselho e procurai pô-lo em ação! Amém.
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