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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume I

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2019

ÍNDICE

NATUREZA E SIGNIFICAÇÃO DAS REVELAÇÕES 17

PREFÁCIO 19

  1. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO PREÂMBULO DO EVANGELHO DE JOÃO 25

  2. O ARCANJO MIGUEL, ENCARNADO EM JOÃO BAPTISTA, DÁ

TESTEMUNHO DO SENHOR 29

  1. A ENCARNAÇÃO DO VERBO ETERNO E O TESTEMUNHO DE JOÃO

BAPTISTA 33

  1. A LEI E A GRAÇA. PAI E FILHO SÃO IDÊNTICOS COMO A CHAMA E A LUZ 34

  2. JOÃO BAPTISTA TESTEMUNHA DE SI MESMO. MOTIVO POR QUE NEGA

O ESPÍRITO DE ELIAS DENTRO DE SI 37

  1. JOÃO CONFIRMA TER RECONHECIDO O SENHOR COMO HOMEM. ELE BATIZA O SENHOR 42

  2. TRÊS VERSÍCULOS COMO EXEMPLO DA MANEIRA DE SE ESCREVER NAQUELA ÉPOCA 44

  3. OS PRIMEIROS DISCÍPULOS DO SENHOR. CONVOCAÇÃO DE ANDRÉ E PEDRO 46

  4. A PÁTRIA DE PEDRO. CONVOCAÇÃO DE PHILIPPE E NATHANAEL 48

  5. O SENHOR COM OS QUATRO DISCÍPULOS NA CASA DE SEUS PAIS. OS

TRÊS GRAUS DO RENASCIMENTO 51

  1. AS BODAS DE CANÁ. O MILAGRE DO VINHO 54

  2. O SENHOR COM OS SEUS EM CAPERNAUM. PROMESSA DE ISAÍAS 57

  3. SITUAÇÃO HORRENDA NO TEMPLO DURANTE A PÁSCOA.

PURIFICAÇÃO DO TEMPLO PELO SENHOR 58

  1. PALAVRAS PROFÉTICAS DO SENHOR SOBRE A DEMOLIÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO TEMPLO EM TRÊS DIAS 61

  2. CONTINUAÇÃO DA DISCUSSÃO ENTRE OS JUDEUS E O SENHOR 64

  3. O SENTIDO ESPIRITUAL DA PURIFICAÇÃO DO TEMPLO 66

  4. O SENHOR NUM ALBERGUE RETIRADO DA CIDADE 69

  5. CENA COM NICODEMUS, PREFEITO DE JERUSALÉM. O RENASCIMENTO ESPIRITUAL 70

  6. CONTINUAÇÃO DA PALESTRA. PARÁBOLA DA FERMENTAÇÃO DO VINHO 72

  7. MAIS TRÊS VERSÍCULOS INCOMPREENSÍVEIS A NICODEMUS 74

  8. A ENCARNAÇÃO DO FILHO E SUA MISSÃO 76

  9. NICODEMUS NÃO ENCONTRA, AINDA, O FILHO DIVINO 78

  10. AÇÃO DO SENHOR NA JUDEIA. O BATISMO DE ÁGUA E DE FOGO 80

  11. MAIOR E ÚLTIMO TESTEMUNHO DE JOÃO A RESPEITO DO SENHOR 82

  12. O NÚMERO DOS DISCÍPULOS AUMENTA 86

  13. O SENHOR E A SAMARITANA JUNTO AO POÇO DE JACOB. A ÁGUA VIVA 88

  14. A VIDA CONJUGAL DA SAMARITANA 91

  15. A SEDE ESPIRITUAL DO SENHOR PELOS CORAÇÕES DOS HOMENS 94

  16. A VOLTA DOS DISCÍPULOS. CURA DA SAMARITANA. DELEGAÇÃO DE

SICHAR 96

  1. “O ALIMENTO VIVO” DO SENHOR. A GRANDE COLHEITA 98

  2. O SENHOR É RECONHECIDO E ACEITO PELOS SAMARITANOS 101

  3. CENA DELICIOSA ENTRE O SENHOR E A SAMARITANA 103

  4. ACONTECIMENTOS MILAGROSOS NA CASA DA SAMARITANA 105

  5. ANOTAÇÕES DOS ENSINAMENTOS E MILAGRES DO SENHOR PELO EVANGELISTA JOÃO. DEUS-PAI E DEUS-FILHO 107

  6. OS DISCÍPULOS VEEM OS CÉUS ABERTOS 108

  7. INCUMBÊNCIA DE JOÃO COMO EVANGELISTA. PROMESSA DA ATUAL REVELAÇÃO 110

  8. CONVOCAÇÃO DE MATHEUS PARA EVANGELISTA E APÓSTOLO 112

  9. MATHEUS, ANTIGO ESCRIVÃO, É INDICADO PARA ANOTAR O SERMÃO

DA MONTANHA 114

  1. DISCURSO DURANTE O ALMOÇO. O SERMÃO DA MONTANHA 117

  2. CRÍTICA DO SERMÃO DA MONTANHA. O SENHOR ACONSELHA A

PROCURA DO SENTIDO ESPIRITUAL 119

  1. CONTINUAÇÃO DA CRÍTICA DO SUMO PONTÍFICE 122

  2. ELUCIDAÇÃO CLARA DE NATHANAEL. SENTIDO E UTILIDADE DA

PARÁBOLA DO ARRANCAR-DO-OLHO 124

  1. O SENHOR DÁ SUA DOUTRINA EM SEMENTES ENCAPSULADAS 126

  2. EXPLICAÇÃO SOBRE OS QUADROS “OLHO DIREITO” E “MÃO ESQUERDA” 127

  3. MODÉSTIA DE NATHANAEL COMO CONFISSÃO MARAVILHOSA DO APOSTOLADO 129

  4. CURA DE UM LEPROSO. BOM ÊXITO DESTE MILAGRE 131

  5. CEIA MILAGROSA EM CASA DE IRHAEL 133

  6. OS HÓSPEDES E OS SERVOS CELESTIAIS 134

  7. A VERDADEIRA ADORAÇÃO DE DEUS. O TEMPLO DA CRIAÇÃO 136

  8. JUSTA COMEMORAÇÃO DO SÁBADO POR BOAS OBRAS 138

  9. O EVANGELHO DE SICHAR. HISTÓRIA DA CONVERSÃO DE NATHANAEL 140

  10. A VESTIMENTA DE MARIA 143

  11. TESTEMUNHO DE PEDRO SOBRE O FILHO DE DEUS 144

  12. O SENHOR E A FAMÍLIA DE JONAEL 149

  13. O VELHO CASTELO DE ESAÚ 150

  14. “QUEM É O SENHOR?” 153

  15. “QUEM É MAIOR DO QUE O IMPERADOR?” O SENHOR SE CONFESSA

COMO O MESSIAS 156

  1. É PREFERÍVEL DAR QUE RECEBER 158

  2. O COMERCIANTE NÃO CONFIA NA DIVINA PROVIDÊNCIA. DEUS DEVE

SER MAIS AMADO QUE TEMIDO 159

  1. SURPRESAS PARA JAIRUTH. PREPARO PARA A CEIA CELESTE 160

  2. JAIRUTH JULGA SONHAR E PRESSENTE EM JESUS O FILHO DE DEUS 163

  3. DISSERTAÇÃO CLARA DO SENHOR A RESPEITO DO REINO DE DEUS E A MISSÃO DO MESSIAS 165

  4. EFEITO DO VINHO CELESTE 167

  5. JAIRUTH DESISTE DO VINHO, FAZ CARIDADE E RECEBE DOIS ANJOS PROTETORES. FINAL DA CEIA 168

  6. JAIRUTH ACOMPANHA O SENHOR. CENA COM OS MERCENÁRIOS ROMANOS 171

  7. CURA DO ARTRÍTICO. SEU AGRADECIMENTO COM CANTOS E PULOS 173

  8. JONAEL E O CURADO DISSERTAM SOBRE A ONIPOTÊNCIA DIVINA,

SATANÁS E A ORDEM DIVINA 176

  1. O SENHOR LÊ OS PENSAMENTOS. “MINHA DOUTRINA SE CONCRETIZA

NA IMITAÇÃO” 178

  1. NULIDADE DOS DEUSES. O AMOR É O CAMINHO PARA A VERDADE,

COMO BASE DE TODO SER. CHAVE DA VERDADE 181

  1. EXEMPLO DO JUIZ. ONDE EXISTE AMOR NÃO HÁ MENTIRA 183

  2. O SENHOR CURA A ESPOSA DO COMANDANTE 185

  3. PREDIÇÃO IMPORTANTE SOBRE O FUTURO 187

  4. O SENHOR EM COMPANHIA DOS SEUS EM CASA DE IRHAEL 189

  5. O POVO EM AGITAÇÃO. REPREENSÃO DO SENHOR: “NÃO PAGUEIS O

MAL COM O MAL!” 191

  1. LIMITES DA CARIDADE. A SALVAÇÃO DO MAL 193

  2. BOM DISCURSO E PRECE DE PEDRO 195

  3. O SENHOR AGE COM RIGOR CONTRA OS ATREVIDOS 197

  4. A TOLERÂNCIA. ALUSÃO À ALOPATIA 200

  5. DOENÇAS PSÍQUICAS. A PENA DE MORTE. DAVID E URIAS 202

  6. PROTEÇÃO CONTRA O PODER DAS ALMAS DESENCARNADAS PELA APLICAÇÃO DA DOUTRINA DO SENHOR 205

  7. MOTIVO PRINCIPAL DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR 206

  8. DESPEDIDA DE SICHAR. JONAEL É DESTINADO PARA PROFESSOR E

RECEBE O AUXÍLIO DUM ANJO 208

  1. IMPORTANTES ENSINAMENTOS MISSIONÁRIOS 210

  2. MATHEUS RECEBE ESCLARECIMENTOS SOBRE O COSMOS 212

  3. PROSSEGUIMENTO DA JORNADA. CHEGADA À GALILEIA. O REINO DE

DEUS 214

  1. PREJUÍZO DA IMPUDICÍCIA, AQUI E NO ALÉM 216

  2. A VERDADEIRA PÁTRIA ESTÁ COM O SENHOR 217

  3. EFEITO DA PURIFICAÇÃO DO TEMPLO SOBRE O SACERDÓCIO 220

  4. A APLICAÇÃO DE JUROS. THOMAZ E JUDAS. PEDRO E O SENHOR 222

  5. CURA DO FILHO DO RÉGULO 224

  6. EXPLICAÇÃO SOBRE A DIVERGÊNCIA ENTRE OS DOIS EVANGELHOS 227

  7. BÊNÇÃO DA ORDEM 230

  8. O LIVRE ARBÍTRIO. A VERDADEIRA VIDA VEM DO CORAÇÃO 233

  9. JUDAS DISCUTE SOBRE O DINHEIRO 234

  10. QUERELA ENTRE THOMAZ E JUDAS 238

  11. JUDAS, UM DEMÔNIO, QUER APRENDER A SABEDORIA DE DEUS 240

  12. CENA COM O CENTURIÃO DE CAPERNAUM. EVANGELHO DE MATHEUS 242

  13. SACERDOTES E LEVITAS SÃO ENSINADOS PELO POVO 243

  14. OS TEMPLÁRIOS QUEREM VINGAR-SE NO SENHOR. A NORA DE PEDRO 245

  15. DIVERSIDADE DOS EVANGELHOS DE MATHEUS E DE JOÃO. O

TESTEMUNHO DE PEDRO 246

  1. JANTAR EM CASA DE PEDRO 248

  2. GRANDE CURA MILAGROSA 249

  3. “DEIXAI OS MORTOS ENTERRAREM OS MORTOS!” 251

  4. CURA DE DOIS ENDEMONINHADOS 253

  5. VOLTA PARA NAZARETH. EM CASA DE MARIA. “FALAR É BOM, MAS

CALAR É MELHOR!” 255

  1. O BOM DEFENSOR DO SENHOR 258

  2. ALEGRIA JUSTA E ALEGRIA MALICIOSA 260

  3. PREOCUPAÇÃO DOMÉSTICA DE MARIA. ADVERTÊNCIA À PRESUNÇÃO 262

  4. PEDRO E SIMON DISCUTEM SOBRE O DESTINO DA DOUTRINA DE JESUS 264

  5. JUDAS, COMILÃO E OLEIRO. JAIRO, O REITOR DAS SINAGOGAS 266

  6. VOLTA À CASA DE JAIRO. CURA DA MULHER GREGA 268

  7. RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO 270

  8. NINGUÉM ALCANÇA SUA BASE VIVIFICADORA APENAS PELA LEITURA

DOS EVANGELHOS 272

  1. A VERDADEIRA GRATIDÃO. O ESPÍRITO DE CAIM DENTRO DE JUDAS 274

  2. O POVO QUER PROCLAMAR A JESUS, REI 278

  3. CURA DUM PARALÍTICO 280

  4. A CRIAÇÃO DE ADAM. ZACHARIAS E SEU FILHO JOÃO BAPTISTA 283

  5. OS SACRILÉGIOS NO TEMPLO 285

  6. JURAMENTO FEITO AO TEMPLO 287

  7. O ALBERGUE DE MATHEUS, O ADUANEIRO. EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS 289

  8. COMENTÁRIO DOS FARISEUS SOBRE JOSÉ, MARIA E JESUS 291

  9. OS DOIS MATHEUS: O ADUANEIRO E O ESCRIVÃO. DISCÍPULOS DE

JOÃO BAPTISTA E DISCÍPULOS DE JESUS 292

  1. TESTEMUNHO DE JOÃO BAPTISTA. PARÁBOLA DO NOIVO, DOS

CONVIVAS E DA NOIVA 293

  1. PARÁBOLA DA ROUPA NOVA E DA VELHA, DO VINHO NOVO E DOS

ODRES VELHOS. MOTIVO DO DILÚVIO 295

  1. O SENHOR CRITICA OS CORAÇÕES DUROS E O INTELECTO MUNDANO

DOS DISCÍPULOS DE JOÃO BAPTISTA 298

  1. ABASTECIMENTO MILAGROSO NA CASA DE MATHEUS, O ADUANEIRO 301

  2. MORTE DA FILHA DE CORNÉLIUS. A IMITAÇÃO DE CRISTO 303

  3. CURA DE OUTRA MULHER COM UM FLUXO DE SANGUE 305

  4. AVENTURAS NO ALÉM 307

  5. CURA DE DOIS CEGOS MENDIGOS 309

  6. CURA DO SURDO-MUDO ENDEMONINHADO. CALÚNIA DOS FARISEUS 310

  7. A VILA DO SOFRIMENTO COMO OBRA DO TIRANO HERODES 313

  8. MILAGRE DE ROUPAS E ALIMENTOS. JESUS E A CRIANCINHA 315

  9. CONVOCAÇÃO DOS DOZE APÓSTOLOS. OS ATUAIS EVANGELHOS. AS RELIGIÕES ASIÁTICAS 317

  10. O SENHOR ESTABELECE AS NORMAS DE CONDUTA PARA OS

APÓSTOLOS 320

  1. OBJEÇÃO DE JUDAS QUANTO À VIAGEM SEM DINHEIRO 323

  2. A ALMA DE JUDAS É DE BAIXO. DIRETRIZES PARA OS DISCÍPULOS 325

  3. O SENHOR CLAMA PELA CONFIANÇA E DIVULGAÇÃO DESTEMIDA DO EVANGELHO 328

  4. QUEM AMAR ALGO MAIS DO QUE AO SENHOR, NÃO O MERECE! 332

  5. A IMENSIDADE DO MUNDO CÓSMICO E ESPIRITUAL 333

  6. OS VERDADEIROS E OS FALSOS PROFETAS 335

  7. PRIMEIRA TAREFA MISSIONÁRIA. BOM ÊXITO 337

  8. PORMENORES SOBRE JOÃO BAPTISTA E SUA RELAÇÃO COM HERODES 339

  9. O GRANDE TESTEMUNHO DO SENHOR A RESPEITO DE JOÃO BAPTISTA 341

  10. ESPÍRITO E ALMA DE JOÃO BAPTISTA 343

  11. CONVERSÃO DO ADUANEIRO KISJONAH 344

  12. PARTIDA DOS JUDEUS. PARÁBOLA DOS ASSOBIADORES 347

  13. MALDIÇÃO DO SENHOR SOBRE CHORAZIM, BETHSAÍDA E

CAPERNAUM. UMA VISÃO SOBRE O JULGAMENTO FUTURO 349

  1. EVANGELHO GREGO DE NATHANAEL. O JUÍZO FINAL 351

  2. MALDADE DOS FARISEUS 352

  3. SUBIDA ÀS ESTALAGENS DE KISJONAH 354

  4. VISTA MARAVILHOSA E ACONTECIMENTOS ESPIRITUAIS NO CUME 356

  5. ALMAS DA LUA INSTRUEM AS FILHAS DE KISJONAH 358

  6. TRÊS QUERUBINS TRANSPORTAM OS DOZE APÓSTOLOS PARA A MONTANHA. O LIVRO DAS “GUERRAS DE JEHOVAH” 360

  7. PREPARO GRADATIVO PARA O CONHECIMENTO ESPIRITUAL 362

  8. ESPÍRITOS DE PAZ NA BRISA DA MANHÃ. CRÍTICOS MOSAÍSTAS FALAM SOBRE A GÊNESIS 364

  9. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DA GÊNESIS DE MOYSÉS. O PRIMEIRO DIA 365

  10. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO SEGUNDO DIA 367

  11. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO TERCEIRO DIA 370

  12. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO QUARTO DIA 372

  13. CONTINUAÇÃO DO QUARTO DIA 374

  14. EXPLICAÇÃO DO QUINTO E SEXTO DIA 375

  15. OBJEÇÃO DOS FARISEUS À INTERPRETAÇÃO DA GÊNESIS 376

  16. RELATO DE JUDAS SOBRE A VIAGEM AÉREA 378

  17. A QUEDA DOS ARCANJOS E SUA RECONDUÇÃO ATRAVÉS DA MATÉRIA 380

  18. A NATUREZA DO HOMEM E DA MULHER. A COSTELA DE ADAM 382

  19. EVANGELHO PARA O SEXO FEMININO 384

  20. A VERDADEIRA CULTURA DEVE SURGIR DE DEUS, NO CORAÇÃO DO

HOMEM 386

  1. UM EVANGELHO SOBRE O RISO 388

  2. CURA DE TOBIAS. A CEIA NA MONTANHA 391

  3. RIBA, O ESPERTO, PROPÕE MATAR JESUS EM VIRTUDE DA PAZ 392

  4. BOA RÉPLICA DE TOBIAS 396

  5. TOBIAS É PROTEGIDO PELOS ANJOS CONTRA A IRA DOS FARISEUS 399

  6. DEUS SE APRAZ COM A APRECIAÇÃO GRATA DA NATUREZA 402

  7. O SÁBADO FARISAICO. DESCIDA DA MONTANHA 404

  8. “O FILHO DO HOMEM É UM SENHOR DO SÁBADO” 406

  9. MOTIVO POR QUE O SENHOR SE ESQUIVA DA IRA DOS TEMPLÁRIOS 409

  10. VIAGEM PARA JESAÍRA. BARAM CONVIDA O SENHOR E OS SEUS 411

  11. A GRAÇA DO ALTO. A GLÓRIA DE DEUS 413

  12. CONSELHO DOS TEMPLÁRIOS. UM DELES QUER PROTEGER O SENHOR 415

  13. ASTÚCIA DO JOVEM FARISEU 418

  14. AHAB, O JOVEM FARISEU, É CONVOCADO PELO SENHOR 420

  15. AHAB CONDUZ SEUS COLEGAS PARA PERTO DO SENHOR 423

  16. O POVO INVECTIVA CONTRA OS FARISEUS 425

  17. O SENHOR ACALMA O POVO E CONVIDA OS FARISEUS A ENTRAR 427

  18. DIVERSOS ESTADOS DE POSSESSÃO E A INFLUÊNCIA DOS MAUS

ESPÍRITOS 430

  1. A SALVAÇÃO DE TODAS AS CRIATURAS VEM DOS JUDEUS 433

  2. MARIA COM OS FILHOS DE JOSÉ, EM JESAÍRA. “QUEM É MINHA MÃE,

QUEM SÃO MEUS IRMÃOS?” 436

  1. BARAM, APRENDIZ DE JOSÉ. A INGRATIDÃO DE JAIRO 439

  2. MARIA É EXPULSA DE SUA PROPRIEDADE PELOS FARISEUS 441

  3. AS PARÁBOLAS DO REINO DO CÉU, DO SEMEADOR E DA SEMENTE 443

  4. PARÁBOLA DO JOIO ENTRE O TRIGO, DA SEMENTE DE MOSTARDA E

DO FERMENTO 447

  1. O SENHOR DOMINA A TEMPESTADE. SABEDORIA DE AHAB 449

  2. A PÁTRIA ESPIRITUAL 450

  3. JAIRUTH E JONAEL EM KIS. AÇÃO MILAGROSA DO ANJO DE JAIRUTH 451

  4. TODO O REINO VEGETAL É DIRIGIDO POR UM ANJO 453

  5. SUBIDA DO MORRO DAS SERPENTES. CONDIÇÕES MUNDANAS 455

  6. PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS. PARÁBOLA DO TESOURO NO CAMPO 458

  7. PARÁBOLA DA GRANDE PÉROLA E DA REDE 459

  8. RELATO DO SOFRIMENTO DO SUMO PONTÍFICE DE SICHAR 461

  9. O VERDADEIRO HEROÍSMO 463

  10. A VERDADEIRA IGREJA LIVRE. “SOIS TODOS IRMÃOS!” 465

  11. O VERDADEIRO ESPÍRITO DA DOUTRINA PURA DE JESUS 466

  12. POLÊMICA DE AMOR. O AMOR PURO E O AMOR INTERESSEIRO 468

  13. NATUREZA DO AMOR 471

  14. UMA GRANDE ALEGRIA NÃO DISTA MUITO DO PECADO. PROCESSO DE NUTRIÇÃO DO HOMEM 473

  15. O PREJUÍZO DA GULA SOBRE A ALMA. O VERDADEIRO JEJUM 475

  16. O SENHOR NO JARDIM COM OS SEUS 476

  17. MOTIVO DO TEMPORAL 479

  18. EXCURSÃO A CANÁ, NO VALE 481

  19. GRANDE CURA MILAGROSA EM CANÁ 483

  20. OS GREGOS SE VEEM LUDIBRIADOS E NÃO QUEREM DESISTIR DE SEU

“SOLO FIRME” 486

  1. ALMAS EM APRENDIZAGEM SOBRE A TERRA. O MUNDO SOLAR

CHAMADO PROCYON. MURAHEL E ARCHIEL 489

  1. NUMA VISÃO ESPIRITUAL, PHILOPOLDO SE INTEGRA DA VERDADE 490

  2. CONVOCAÇÃO DE PHILOPOLDO 492

  3. OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS. A ATUAL REVELAÇÃO 494

  4. ADVERTÊNCIA ÀS ARTIMANHAS DE SATANÁS 496

  5. GRANDE CURA MILAGROSA 498

  6. FERMENTAÇÃO PSÍQUICA ATRAVÉS DE MISÉRIAS E SOFRIMENTOS 501

  7. O VERDADEIRO E BEM-AVENTURADO REPOUSO EM DEUS 503

  8. A CHAMADA “PRÉDICA NOTURNA”, DO BENEFÍCIO DA ATIVIDADE 505

  9. OS FARISEUS LAVAM OS PÉS DO SENHOR 508

  10. A RAZÃO POR QUE O SENHOR NÃO SE REVELA AOS MESMOS 510

  11. NECESSIDADE E NATUREZA DA CONTEMPLAÇÃO INTROSPECTIVA 511

  12. PERTURBAÇÕES CAUSADAS PELO INIMIGO, QUE É AFUGENTADO PELO ANJO ARCHIEL 513

  13. O GRANDE BENEFÍCIO DA INTROSPECÇÃO SISTEMÁTICA 515

  14. PASSEIO DE BARCO. DOENÇA REPENTINA DA FILHA DE JAIRO 517

  15. JAIRO E O MÉDICO BORUS NO LEITO DE SARAH 519

  16. RESPOSTA COVARDE DE JAIRO. CRÍTICA SEVERA DE BORUS 522

  17. RELATO DO FILHO MAIS VELHO DE JOSÉ A RESPEITO DA MORTE DE

SEU PAI 525

  1. PRISÃO DE UM BANDO DE LADRÕES DO TEMPLO 527

  2. LIBERTAÇÃO DAS CRIANÇAS RAPTADAS 530

  3. JULGAMENTO DOS CRIMINOSOS 531

  4. NOVA SUSPEITA PELA ATITUDE DOS FARISEUS 534

  5. FAUSTO E O SENHOR. CUMPRIMENTOS COMOVEDORES 536

  6. O SENHOR ABENÇOA A UNIÃO DE FAUSTO E LYDIA 537

  7. CHEGADA DE PHILOPOLDO. CONTINUAÇÃO DO JULGAMENTO 540

  8. UM FARISEU ARREPENDIDO CONFESSA TUDO E PEDE INDULGÊNCIA

PARA SI E SEUS CÚMPLICES BEM INTENCIONADOS 542

  1. OS LADRÕES PEDEM PERDÃO 544

  2. O SENHOR DETERMINA A FINALIZAÇÃO DO JULGAMENTO 548

  3. COMO O SENHOR AGE NA ALMA DAS CRIANÇAS 550

  4. REGRAS ALIMENTARES PARA AMAS. PREJUÍZO DE ALIMENTOS

ARTIFICIAIS E DESAPROPRIADOS 552

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor

NATUREZA E SIGNIFICAÇÃO DAS REVELAÇÕES

Num sentido intrínseco podemos denominar uma Revelação de Deus, para suas criaturas, como notificação pessoal para a ins- tituição de uma nova ordem de vida, correspondente a um certo progresso alcançado.

É uma comunicação divina para o mundo que tem por objetivo sua salvação! Assim foi desde Adam até nossos dias; numa sequência impressionante, o desvelo de Deus se insurge contra a obra negativa de seu inimigo que infesta o mundo, a fim de não deixar Seus filhos sem instrução e sem meta espiritual!

Neste sentido, pois, não podemos falar numa primeira, segunda ou terceira Revelação, que historicamente não pode ser mantida. Além disto, foram elas todas o prenúncio dum grande julgamento. A Revelação dada a Adam, não obedecida, foi, no entanto, sancio- nada com a perda do Paraíso.

Surgem depois as seguintes dadas aos patriarcas, onde Deus lhes dita Sua Vontade — respeitando-lhes, porém, o livre arbítrio — até Noé, o qual recebeu para os descendentes de Caim também uma grande Revelação. Esta foi preciso sancionar com o Dilúvio, porque as criaturas não se queriam submeter às sábias Leis dadas por Deus.

Ao tempo de Abraham veio outra, ratificada com a destruição de Sodoma e Gomorra; o Mar Morto ainda hoje é o seu testemunho. A que foi dada ao velho Jacob teve sanção para os filhos de sua raça com a escravatura no Egito. Mais e mais as criaturas se rebela- ram contra o leve jugo de Deus, a ponto de ser preciso submetê-las

a uma lei severa com imediata sanção.

Sob o gládio da Justiça foi assim dada a Moysés uma grande Revelação, mais severa para o Egito que para os próprios israelitas! Data daí a queda deste país e de sua opulência.

Quando as hostes israelitas foram levadas por Josué a abando- nar o deserto, outra Revelação foi dada por Deus — e a cidade de Jericó desapareceu de sobre a terra!

Assim também foi ao tempo de Samuel, Elias e também ao dos quatro grandes profetas, isto é, seguidas sempre por grandes julga- mentos! Pergunta-se: mas por que essas tremendas sanções?

Vejamos um indivíduo bem instalado na vida, com fartos re- cursos que fundamentam sua alma em convicções próprias que o livram de qualquer dependência: aceitaria ele uma Nova Revelação não sancionada, enquanto que as leis terrenas nunca deixam de ser rigorosamente executadas?

É de se perguntar se a máxima Revelação dada ao mundo foi aceita pelos judeus! Eles a repeliram — e a consequência foi a des- truição completa de Jerusalém, o que os dispersou pelo mundo in- teiro. Resistiram, como há dois mil anos, contra o que poderíamos chamar de ingerência de Deus nas coisas deste mundo, do qual o homem se diz senhor absoluto. Quanto sangue desde aquele tempo até hoje foi derramado, e isto até em honra e glória deste Mesmo Deus, cujas leis de Amor repeliram!

Extinta a fé quase totalmente, reinantes o horror e a devasta- ção nas almas que não sabem mais em que e em quem acreditar, esboça-se já no horizonte o maior dos cataclismos; este, consuma- do, fará com que uma alma caminhe oito dias até encontrar outra semelhante!

Prevendo isto, o Pai, na Sua grande Misericórdia, com muita antecedência deu, com a Nova Revelação que ora publicamos, o Seu EvangelhoDesvendado, compreensível à nossa razão. Vemos, pois, que não colide com alguma crença ou seita existentes, mas que, ao contrário, trará a Luz para todos.

“Para o puro tudo se torna puro, e feliz aquele que ler esta Obra sem se aborrecer!” Amém!

PREFÁCIO

Em todas as épocas houve criaturas puras e devotas que ouviam a voz do Espírito Divino em seus corações.

Todos nós conhecemos as diversas passagens do Velho Testa- mento, quando o profeta fala: “E a palavra do Senhor veio a mim!” Seria admissível que esta união íntima entre Deus e o homem, como nos foi relatada por Moysés, Samuel, Isaías e outros profetas e

iluminados, não mais fosse possível em nossa época?

Não é Deus, o Senhor, desde os primórdios, o Mesmo, e as cria- turas de hoje não são elas da mesma índole como de antanho? Seria inteiramente ilógico admitir que Deus falasse apenas para Moysés e os profetas, e jamais a outros filhos Seus, e que a Bíblia encerrasse todas as revelações de maneira definitiva. Somente os crentes na le- tra poderiam ter tal compreensão!

Sabemos também, através de fontes autênticas, que a voz in- terna, sendo meio para a revelação divina, já iluminava, antes de Moysés, os “Filhos do Alto” — como por exemplo por Henoch — alegrando também aqueles que a procuravam saudosamente, depois dos apóstolos. Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da voz interna pela História dos séculos cristãos. O significado da revelação interna para o homem, bem o conheciam e apontavam Sto. Agostinho e S. Jerônimo, como também os místicos da Idade Média: Bernard de Clairvaux, Tauler, Suso e Thomas von Kempen. Além desses, muitos outros santos da Igreja Católica, Jacob Boehme e mais tarde o visionário nórdico Emanuel Swedenborg receberam revelações pela voz interna.

Pelo próprio Senhor, Jesus, o “Verbo Vivo de Deus” foi prome- tido: “Aquele que cumprir Meus Mandamentos (da humildade e do amor) é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai e Eu o amarei e Me manifestarei a ele.” (João 14, 21). — E mais adiante: “O Espírito Santo que Meu Pai enviará em Meu Nome ensinar-vos-á todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos foi dito.” (João 14, 26)

NOVA REVELAÇÃO PARA A ÉPOCA ATUAL

Este fluxo espiritual da palavra interna, todavia, não pôde impe- dir que a grande Dádiva de Luz enviada pelo Pai, em Jesus, aos ho- mens fosse obscurecida no decorrer dos séculos pelo amor-próprio da Humanidade, sendo, pouco a pouco, quase que exterminada.

Como os homens, na maioria, não se deixavam guiar pelo Es- pírito de Deus, preferindo seguir suas tendências egoísticas e volun- tariosas, as sombras de uma noite espiritual se manifestavam mais e mais, tanto que a queda completa da fé e do amor a Deus (não obstante a Bíblia e a Igreja) exigia uma nova grande revelação da Vontade Divina para a nossa época.

Prevendo a evolução desastrosa do mundo, em consequência das guerras passadas, o Pai da Luz transmitiu esta grande Nova Revelação no decorrer do último século a diversos povos da terra, anunciando, através de profetas e outros iluminados, a Velha e Ver- dadeira Doutrina de Jesus Cristo, ou seja, a Religião do Amor.

A revelação mais imponente foi transmitida no idioma alemão, durante os anos de 1840 a 1864, a um homem simples e de alma pura chamado Jacob Lorber, que, pela voz interna do espírito, rece- beu comunicações incalculavelmente profundas sobre a Divindade, a Criação, o plano de salvação e o Caminho para a Vida Eterna.

JACOB LORBER

Sobre a vida desse instrumento da Graça e do Amor Divinos, existe uma pequena biografia dada por um amigo e conterrâneo de Jacob Lorber.

Nascido a 22 de julho de 1800, numa pequena vila de nome Kanischa, na Áustria, era filho de pais pobres que viviam do culti- vo da vinha.

Cursou com grandes sacrifícios o ginásio, dando aos colegas mais novos aulas de música. A contingência da vida, porém, obri- gou-o a interromper seus estudos e a empregar-se como professor, o que lhe proporcionou os meios para concluí-los.

Como teve oportunidade de ouvir e conhecer pessoalmente o grande violinista Paganini, recebendo até algumas aulas desse “virtu- ose”, surgiu em sua alma o desejo de abandonar o professorado e de- dicar-se exclusivamente à música. Mas também esta ocupação não o satisfazia inteiramente. Interessava-se muito pela astronomia, tanto que construiu um telescópio para aprofundar-se nas maravilhas do céu estelar. Nos livros de conterrâneos iluminados, como Justinus Kerner, Swedenborg, Tennhardt, Kerning e outros, principalmente no Livro dos livros, a Bíblia, procurava conhecimentos do mundo dos espíritos e sua relação com a nossa vida.

CONVOCAÇÃO

Assim se passaram quarenta anos de sua vida simples, quando um acontecimento notável lhe mostrou qual a missão que as Forças do Céu lhe destinavam.

Era março de 1840 quando Lorber recebia de Trieste uma ofer- ta para regente, que representava para ele um bom sustento material. No dia 15, porém, quando Lorber acordava cheio de esperança e alegria e fazia sua prece matinal — eis que ouve uma voz no coração: “Levanta-te e escreve!”

Perplexo, ele obedece a essa voz. Toma da pena e escreve as pa- lavras que ouvia numa admiração sagrada, como um fluxo de pensa- mentos claros no seu coração:

“Assim fala o Senhor para cada um e isto é verdadeiro, fiel e certo: Quem quiser falar Comigo que venha a Mim, e Eu lhe darei a resposta em seu coração. Somente os puros, porém, cujos corações são cheios de humildade, deverão ouvir o som de Minha Voz. E quem Me prefere diante de todo mundo, quem Me ama como uma noiva dedicada ama seu noivo, com este Eu caminharei de braços dados; poderá ver a Mim como um irmão vê seu outro irmão e co- mo Eu o vi de Eternidades, antes que ele existisse!”

Enquanto Lorber ouvia e escrevia estas palavras, as lágrimas lhe corriam. Teria o Altíssimo o considerado digno de dar uma mensa-

gem à Humanidade, como fez com os profetas? Isto era quase ina- creditável! A Voz, porém, continuava a falar com toda a clareza e persistência, tanto que Lorber se viu obrigado a pegar de novo da pena para escrever o que lhe era dito. E assim surgiu um capítulo inteiro, cheio de maravilhosos ensinamentos de amor e sabedoria. No dia seguinte, o mesmo — um capítulo após outro!

Podia ele se esquivar dessa voz maravilhosa? — Não! — Mas, e o emprego em Trieste? Não seria uma loucura desistir de um ga- nha-pão certo, só por causa desse fenômeno que não sabia explicar?

A VOZ INTERNA DO ESPÍRITO

Mas o convocado resistiu à tentação. Seu coração não almejava dinheiro nem posição, e dedicou 25 anos, ou seja, a vida toda, à Voz maravilhosa de dentro do seu coração.

Todas as manhãs ele sentava à sua pequena mesinha e escrevia ininterruptamente, sem pausa nem correção, como se estivesse rece- bendo um ditado.

Quanto à maneira pela qual ouvia essa Voz, certa feita, interro- gado por uma pessoa mui devota, recebeu a seguinte resposta:

“Isto que o Meu servo, materialmente tão pobre, faz, todos os Meus verdadeiros adeptos deveriam fazer. Para todos servem as pala- vras do Evangelho: ‘Deveis ser ensinados por Deus! Pois quem não for conduzido pelo Pai, não chegará ao Filho!’ Isto significa que: De- veis alcançar a Sabedoria de Deus através do amor vivo e ativo para Comigo e com vosso próximo! Pois todo verdadeiro e ativo amor de cada um, sou Eu Mesmo em seu coração, como o raio do sol age em cada gota de orvalho, em cada planta e em tudo que existe nesta terra. Portanto, quem Me ama verdadeiramente, de todo coração, já possui dentro de si a Minha Chama de Vida e Luz! É compreensível que desta maneira se estabeleça uma correspondência entre Mim e uma criatura cheia de amor para Comigo, assim como uma semente sadia germina um fruto abençoado num solo fértil e debaixo do raio solar.

Este Meu servo é um testemunho de que isto é possível para todas as criaturas que cumprem os Mandamentos do Evangelho! E digo mais: Nada se consegue somente pela devota veneração da Mi- nha Onipotência Divina! Tais cristãos beatos há muitos no mundo; entretanto, conseguiram pouco ou mesmo nada. Tudo depende da criatura se tornar cumpridora do Meu Verbo, caso queira alcançar a Minha Voz Viva em si. Eis uma orientação para todos!”

AS OBRAS DA NOVA REVELAÇÃO

Deste modo surgiram as seguintes obras: A Doméstica Divi- na (A Criação de Deus), O Sol Espiritual, Bispo Martim, Roberto Blum, A Terra e a Lua, o Sol Natural, Explicações de Textos da Es- critura Sagrada, O Saturno, Correspondência entre Jesus e Abgarus, Cartas do Apóstolo Paulo à Comunidade em Laodiceia, Dádivas do Céu, A Infância de Jesus, O Menino Jesus no Templo e outras.

A obra principal, porém, a coroação de todas as outras, é o pre- sente “O Grande Evangelho de João”, em onze volumes. Nele pos- suímos uma narrativa minuciosa e profunda de todas as palavras e obras de Jesus. Todos os segredos da Pessoa de Jesus Cristo, bem como Sua Verdadeira Doutrina de Fé e Amor, são desvendados nesta Revelação Única. A Criação surge diante de nossos olhos como um acontecimento imponente de evolução, com as maiores e maravi- lhosas metas da Salvação Espiritual! Todas as perguntas concernen- tes à vida são esclarecidas neste Verbo Divino. Ao lado da Bíblia, o mundo não possui obra mais importante!

Possa a presente obra em vernáculo trazer as Bênçãos e a Luz do Céu como maior dádiva que o Pai poderia proporcionar a Seus filhos de boa vontade!

A TRADUTORA

Rio de Janeiro, novembro de 1951.

    1. Pequena introdução na compreensão do Evangelho de João, o apóstolo predileto de Nosso Senhor e Salvador Jesus, cujas palavras são cheias de espírito e profundeza. (João 1, 1–5)

      1. NOPRINCÍPIO,ERAOVERBOEOVERBOESTAVACOMDEUSEDEUSERAO VERBO.

  1. Este versículo já sofreu inúmeras explanações e interpreta- ções errôneas, pois os mais enraizados ateus se serviram justamente dele para rejeitar a Divindade. Não vamos repetir tais disparates, mas sim fazer surgir uma explicação concisa: ela, sendo a Luz, na Luz da Luz, por si mesma combate e vence os erros.

  2. A causa principal da incompreensão de tais textos é a tradu- ção deficiente e falsa da Escritura, do idioma original para os idio- mas da época atual; mas isto está bem assim, porque, se o espírito de tais textos não fosse tão bem oculto como é, o sentido santíssimo que reside neles de há muito teria sido profanado da maneira mais vil, o que acarretaria um grande prejuízo para toda a Humanidade. Assim, chegou-se a roer somente a casca, sem alcançar o Santuário Vivificador.

  3. Agora, porém, chegou o momento de demonstrar o verda- deiro sentido intrínseco destes versículos a todos aqueles que me- recem esta graça; aos indignos, previno que o prejuízo deles será gravíssimo, porquanto não permito que nestas ocasiões seja Eu pro- curado com gracejos, tampouco aceitarei condições.

  4. Depois desta recomendação imprescindível, vamos iniciar a explicação. Antes de mais nada observo, porém, que só deveis es- perar o sentido psicoespiritual, e não o mais intrínseco, ou seja, o puríssimo sentido celestial. Este é sumamente santo e só poderá ser transmitido sem prejuízo àqueles que o procuram pela conduta ele- vada, de acordo com as palavras do Evangelho. O sentido puramen- te psicoespiritual é fácil de encontrar; às vezes, basta uma tradução certa de acordo com a época, o que vos será mostrado na explicação do primeiro versículo.

  1. Muito errada e encobrindo o verdadeiro sentido é a expressão “No princípio”, porque com ela poder-se-ia contestar o Ser Eterno da Divindade e pô-Lo em dúvida, fato este que se deu com alguns sábios de outrora, de cuja escola saíram os ateus daquela época.

  2. Portanto, a verdadeira tradução será: No Ser Primário, ou seja, na Causa Primária de todo o Ser, existia a Luz, o Pensamento Grandioso e Santíssimo da Criação ou a Ideia Fundamental. Essa Luz não estava somente em Deus, mas sim também com Deus, quer dizer, a Luz manifestou-Se na Sua Essência através de Deus; portan- to, não estava apenas Nele, mas também com Ele, e envolvia com- pletamente o Ser Divino, o que nos prova a causa da Encarnação posterior de Deus, que vamos deduzir no seguinte texto.

  3. Quem era a Luz, esse Pensamento Grandioso, essa Ideia Bá- sica, Santíssima de todo o Ser Futuro e Real? — Só podia ser a Divindade Mesma, porque em Deus, por Deus e através de Deus só poderia surgir Deus Mesmo, no Ser Perfeito e Eterno. Portanto, esse texto poderia soar assim:

  4. Em Deus estava a Luz, que emanava Dele e Deus Mesmo era a Luz.

2.ELAESTAVANOPRINCÍPIOCOM DEUS.

  1. Depois de termos elucidado suficientemente o primeiro ver- sículo, de modo que toda pessoa com alguma luz própria o possa compreender, o segundo, por sua vez, explica-se por si mesmo, pro- vando que o mencionado Verbo ou Luz ou o IMENSO PENSA- MENTO CRIADOR não podia ser uma sucessão do Ser Divino, mas sim Eterno com Deus. Assim Deus, por Si, também é Eterno, não podendo ocultar um processo de origem em Si; portanto, a ex- plicação é esta: Aquela Luz estava no início ou na Causa Primária de todo Ser e Posterior Criação com Deus, em Deus e através de Deus, logo éDeusemSuaEssência.

3.TODASASCOISASFORAMFEITASPORELA(LUZ),ESEMELANADADOQUEFOIFEITOSE FEZ.

  1. Neste versículo se confirma evidentemente o que foi es- clarecido no primeiro, isto é: a manifestação do Verbo ou Luz na Origem de todo Ser e Criação, a qual, porém, ainda não Se tinha exteriorizado como tal.

  2. Portanto, este versículo deverá soar simplesmente assim: TODO SER ORIGINOU-SE DESTE SER BÁSICO, O QUE É EM SI O SER DE TODO SER.

  3. Quem tiver compreendido inteiramente estes três versícu- los, com facilidade assimilará o quarto.

4.NELAESTAVAAVIDA,EAVIDAERAALUZDOS HOMENS.

  1. É mais do que compreensível que o Ser Primário de todo Ser, a Luz de toda Luz, o Pensamento Primário de todos os Pen- samentos e Ideias, a Forma Básica como Causa Eterna de todas as Formas, primeiramente não podia ser semforma e, por conseguin- te, tampouco ser a morte, porque esta seria o polo completamente oposto de todo e qualquer ser. Tanto que neste VERBO ou LUZ, ou neste Pensamento Divino em Deus, existia uma Vida Perfeita. Deus, portanto, era a Vida Eterna. Perfeita em Si, por Si, e esta Luz, esta Vida criou os múltiplos seres que, por sua vez, eram perfeitos, de acordo com o seu Criador.

  2. A Vida Primária de Deus, porém, só poderia ser completa- mente independente e livre, do contrário não seria vida alguma, de modo que era parte integrante dos seres criados. A Perfeição Divina só podia criar seres perfeitos, que por sua vez se reconheciam como tais; mas justamente este conhecimento dava-lhes a noção nítida de que não eram criaturas com origem própria, mas sim geradas pela Eterna Onipotência Divina.

  3. Esta concepção existia, forçosamente, em toda a Criação, bem como a de que sua vida era perfeita, como Deus também é perfeito.

  4. Se analisamos este fato mais de perto, concluímos que exis- tem dois sentimentos no ser humano que se desafiam: um é a con- vicção da Perfeição Divina dentro de si; outro, trazido pela Luz Di-

vina, pela qual reconhece sua existência temporária de acordo com a Vontade do Criador.

  1. O primeiro sentimento iguala a criatura com o Ser Divino, como se fora completamente independente do Mesmo, pois sente-

-O dentro de si; o segundo, por sua vez, embora surja desta primeira noção de vida, infalivelmente reconhece que é uma criação de Deus e somente no decorrer dos tempos livremente manifestada, portanto dependente de sua Causa Primária.

  1. Desta noção de dependência surge o sentimento de humil- dade e faz com que o primeiro, ou seja, o de altivez, também se humilhe, alternativa indispensável na evolução da criatura.

  2. O sentimento de altivez luta, até o extremo, contra esta hu- milhação e tenta abafá-la.

  3. Nesta luta surge a revolta e, finalmente, o ódio contra a Causa Primária de todo o Ser (Deus) e contra o sentimento de hu- mildade ou dependência; eis a causa da debilidade e do obscurecer da noção de sua origem, e a Luz que até então Se manifestava na criatura passa a ser noite e treva. A obscuridade não reconhece mais a Luz dentro de si, afastando-se nesta cegueira do seu Divino Criador.

5.E A LUZ RESPLANDECEU NAS TREVAS, E AS TREVAS NÃO A COMPREENDERAM.

  1. Eis por que esta Luz poderá resplandecer com todo Seu fulgor, e as trevas, se bem que Dela surgissem, são desprovidas de uma visão eficaz e não A reconhecem, Ela que veio justamente para transformá-las em Luz Original.

  2. Assim, pois, Eu vim como o Eterno Ser de todo Ser e como Luz de toda Luz e Vida ao mundo das trevas, àqueles que surgiram por Mim; eles, porém, não Me reconheceram na noite do seu orgu- lho espiritual!

  3. Este quinto versículo mostra como Eu — que sou de toda Eternidade, pelos fatos e consequências primárias, sempre o Mes- mo — vim a este mundo criado por Mim e ele não Me reconheceu como sua Causa Primária (Deus).

  1. Sendo o Ser de todo Ser, Eu tinha que observar, através da Minha Eterna Luz, que a noção de sua origem, como luz espiritual no homem, ia se enfraquecendo mais e mais, inclinando-se para a presunção e o orgulho na luta incessante contra o sentimento de humildade, até que se extinguiu completamente. Se Eu Me tivesse aproximado das criaturas na Perfeição que elas também haviam re- cebido por Mim, jamais Me teriam reconhecido, mormente se Eu, de maneira repentina, surgisse num corpo humano limitado; tanto que Eu seria o único culpado se os homens não Me reconhecessem sem o necessário preparo.

  2. Foi esta a razão que Me levou a predizer a Minha Vinda por muitos e muitos profetas — que, em tal luta, não tinham perdido sua luz espiritual — desde os tempos remotos até o Meu Nascimen- to, apontando mesmo a maneira, o lugar e a época deste fato; quan- do chegou este momento, fiz com que sinais surgissem, despertando um homem no qual encarnou um arcanjo a fim de pregar aos cegos a Minha Vinda e Completa Presença nesta terra.

2. O arcanjo Miguel, encarnado em João Baptista, dá testemunho do Senhor. As leis básicas do Ser Divino, do homem e de suas relações para com Deus. Da queda do homem e dos caminhos extraordinários de Deus para salvá-lo. (João 1, 6–13)

6.HOUVEUMHOMEMENVIADODEDEUS,CUJONOMEERA JOÃO.

  1. Esse homem, que se chamava João, pregava a penitência, ba- tizando os convertidos com água. Nele estava oculto o espírito do profeta Elias, e era o mesmo arcanjo que venceu a Lúcifer no come- ço dos tempos e, mais tarde, também lutou contra ele pelo corpo de Moysés.

7.ESTEVEIOPARATESTEMUNHO,PARAQUETESTEMU-NHASSEDALUZ,AFIMDEQUETODOSCRESSEMPOR ELE.

  1. João veio como antigo e novo testemunho do Alto, ou seja, da Luz Primária como Luz, a fim de que testificasse do Ser Primário,

de Deus, cujo Ser tomou carne, vindo para Seus filhos, na mesma forma humana, para iluminá-los novamente nas suas trevas, devol- vendo-os desta maneira à sua Luz Original.

8.NÃOERAELEALUZ,MASVEIOPARA TESTIFICÁ-LA.

  1. João não era a Luz Original, mas sim, como todas as criatu- ras, apenas uma partícula desta Luz. A ele, porém, foi dado perma- necer com Ela, pela sua imensa humildade.

  2. Nesta constante união com a Luz Original e reconhecendo a diferença existente entre a Divindade e ele, pôde dar Dela o teste- munho convincente, despertando-A no coração dos homens; deste modo eles, embora no começo um tanto enfraquecidos, pouco a pouco reconheceram que Ela, Luz Original ora envolta na carne, era infalivelmente a Mesma à qual toda Criação deve sua vida li- vre, podendo conservá-la assim eternamente, de acordo com a pró- pria vontade.

9.ESTAERAALUZVERDADEIRA,QUEILUMINATODOHOMEMQUEVEMAO MUNDO.

  1. Não é a testemunha, mas sim seu testemunho e Aquele de Quem testemunha, a Verdadeira Luz Primária que desde o início iluminou e vivificou todas as criaturas que vieram a este mundo, aumentando cada vez mais esta sua ação. Por isto lemos no nono versículo que foi justamente esta a Verdadeira Luz que criou os seres para uma vida independente, vindo agora para iluminá-los de forma integral, igualando-os Consigo.

10.ESTAVANOMUNDOQUEFOIFEITOPORELE,EOMUNDONÃOO RECONHECEU.

  1. No quinto versículo foi esclarecido como as criaturas, no seu obscurecimento, não reconheciam a Mim nem a Luz deste mundo, embora tivessem surgido por Mim e Eu lhes enviasse tantos prenún- cios e avisos da Minha Vinda. É necessário, porém, mencionar que não se deve compreender por mundo esta terra portadora de almas

julgadas como réus do Juízo Divino, que perfazem a matéria; apenas aquelas que, em parte, surgiram dela, mas, como seres independen- tes, não mais podem pertencer a este conglomerado psicomaterial. Pois seria pretensão injusta de Minha parte exigir que a pedra, que se encontra presa pelos seus átomos, Me reconhecesse. Isto só se poderá esperar de uma alma libertada, que já possui o Meu Espírito dentro de si.

11.VEIOPARAOQUEERASEU,EOSSEUSNÃOO RECEBERAM.

  1. Pela palavra “mundo” deve-se, portanto, compreender ape- nas aqueles seres que, por sua individualidade psicoespiritual, faziam parte integrante de Mim, pois eram da Minha Luz e, como tal, unos com o Ser Primário.

  2. Como a noção de sua origem, porém, que a Mim os iguala- va, havia se enfraquecido — razão por que Eu tomei carne — eles não Me reconheciam e tampouco a sua própria origem, que jamais poderá ser destruída, porquanto perfaz em si a Minha Natureza Intrínseca.

12. MAS,ATODOSQUANTOSORECEBERAM,DEU-LHESOPODER DE SE TORNAREM FILHOS DE DEUS, A SABER: AOSQUECRESSEMEMSEU NOME.

  1. É fácil de se compreender que a ordem primária sofreu um distúrbio entre todos aqueles que não Me receberam nem reconhe- ceram, e com este distúrbio surgiu um estado de sofrimento, o cha- mado “mal” ou “pecado”. Ao passo que, entre muitos outros que Me reconheceram em seus corações, este mal, forçosamente, extinguiu-

-se pela união restabelecida Comigo, que lhes dava a compreensão nítida da Vida Eterna e Indestrutível dentro de si.

  1. Em tal Vida verificaram que não só são criaturas Minhas, noção esta advinda dum sentimento inferior como seres materiais, mas que também, pela Centelha Divina dentro de si, são portadoras do Meu Próprio Ser, surgidas por Mim e pela Minha Onipotência, sendo, portanto, Meus Próprios Filhos. Sua luz ou fé é igual à Mi-

nha Própria Luz e, por conseguinte, tem a Onipotência e força que está em Mim e através desta o direito integral como filhos, não só na denominação, mas sim em toda a plenitude.

  1. Porque a fé é esta dita luz, e Meu Nome, ao qual suas ir- radiações são dirigidas, é a força, a Onipotência e o Próprio Ser do Meu Ser Primário, pelo qual toda criatura poderá conseguir a Filiação Divina. Por isto lemos, no 12º versículo, que todos que Me aceitarem e acreditarem em Meu Nome terão o direito de se chama- rem “Filhos de Deus”!

13.OSQUAISNÃONASCERAMDOSANGUE,NEMDAVONTADEDACARNE,NEMDAVONTADEDOVARÃO,MASDE DEUS.

  1. Este versículo é somente uma afirmação e elucidação do anterior, e os dois poderiam soar da seguinte maneira: Aos que O aceitavam e acreditavam em Seu Nome, Ele dava o poder de se cha- marem “Filhos de Deus”, não nascidos do sangue, nem da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

  2. É mais do que compreensível que não se trata aqui de um primeiro nascimento da carne pela carne, mas unicamente de um segundo nascimento pelo espírito, do amor para com Deus e pela verdade da fé intensa no Nome Vivo de Deus, que é JESUS

  1. O “BATISMO DOS CÉUS” é a completa rendição do es- pírito e da alma com todos os seus desejos, unindo-se, destarte, ao espírito do amor para com Deus e do Amor em Deus Mesmo.

  2. Uma vez conseguida esta rendição pela livre vontade do ho- mem, todo o seu amor, como o homem mesmo, encontra-se em Deus e por este amor santificado surge uma criatura nova, renascida por Deus após sua completa maturação. Com este renascimento, que não é precedido do desejo da carne tampouco da vontade pro- criativa do homem, a criatura torna-se um verdadeiro Filho de Deus pela Graça, ou seja, pela Onipotência Divina em seu coração.

  1. Esta Graça, porém, é a grande atração de Deus dentro do es- pírito do homem, pela qual ele alcança sua verdadeira e viva sabedoria, pois é atraído pelo Pai ao Filho, ou seja, para a Divina Luz Primária.

3. A Encarnação do Verbo Eterno e o testemunho de João Baptista. Ensinamentos básicos dum novo ser pelo renascimento. A primeira Graça e a segunda. (João 1, 14–16)

14.EOVERBOSEFEZCARNEEHABITOUENTRENÓS,EVIMOSSUA GLÓRIA COMO A GLÓRIA DO FILHO UNIGÊNITO DOPAI,CHEIODEGRAÇAEDE VERDADE.

  1. Quando a criatura consegue, desta maneira, a Verdadeira Fi- liação Divina pelo renascimento, onde penetra pelo amor do Pai, atinge a Magnificência da Luz Primária em Deus, a Qual, por sua vez, é o Ser Primário Mesmo. Este Ser é o Verdadeiro Filho Unigêni- to do Pai, que, como a Luz, permanece submerso dentro do calor do amor enquanto este não o vivifica, deixando que emane dele. Esta Santa Luz é, portanto, a Real Magnificência do Filho do Pai, a qual toda criatura renascida alcança e, então, torna-se-Lhe idêntica. Pois que por toda a Eternidade está cheia de Graça (como Luz Divina) e de Verdade, que em si é A PURA REALIDADE OU O VERBO ENCARNADO.

15. JOÃO TESTEMUNHOU DELE, DIZENDO: “ESTE É AQUELE DE QUEM EU DIZIA: O QUE VEM DEPOIS DE MIM É ANTES DEMIM,PORQUEERAPRIMEIROQUE EU.”

  1. Eis o testemunho certo de João, dizendo aos homens, após o batismo no rio Jordão, que Aquele a Quem batizou era o Mesmo por cuja vinda tinha pregado a penitência para recebê-Lo condigna- mente, e mais: que Aquele que veio depois dele era primeiro do que ele. Num sentido mais profundo, significa: Eis a Luz Divina, Luz Primária de toda Luz, que precedeu todo ser, fazendo surgir todos os seres deste Ser.

16. E TODOS NÓS RECEBEMOS TAMBÉM DE SUA PLENITUDE, E GRAÇAPOR GRAÇA.

  1. Esta Luz Primária também é a Eterna e Imensa Magnificên- cia em Deus, e Deus Mesmo é esta Magnificência; e de Sua Pleni- tude todos os seres receberam seu ser, sua luz e vida independentes.

  2. Portanto, toda vida é uma Graça de Deus e preenche de ma- neira completa a forma portadora de vida. Assim sendo, a vida pri- mária em toda a criatura é a primeira Graça Divina, porque é em si a Magnitude de Deus. Esta, porém, foi danificada pelo mencionado enfraquecer do sentimento altivo em choque com o sentimento in- ferior da existência temporária, trazendo, como resultado, a infalível dependência da Luz e do Ser Primário.

  3. Como esta primeira Graça no homem estava prestes a sub- mergir, eis que a Luz Primária Mesma vem ao mundo e ensina às criaturas ser necessário devolverem esta primeira Graça a Deus, ou seja, voltar a Este Ser Primário e receber então, pela Luz antiga, uma nova vida. Esta troca representa o “receber Graça por Graça” ou, igualmente, a rendição da vida antiga, enfraquecida e inútil, para receber uma nova, indestrutível em e porDeus na plenitude.

  4. A primeira Graça foi uma necessidade, na qual não havia in- dependência e, tampouco, constância. A segunda, porém, é uma li- berdade completa, livre de qualquer obrigação e, como tal, imutável por toda a Eternidade, pois é isenta de coação e violência. Onde não existe inimigo, também não há destruição; por inimigo, entende-se tudo que recalca um ser livre por qualquer meio.

4. A Lei e a Graça. Lutas sucessivas para os seres destinados à Filiação Divina. Aparecimento do Salvador. PAI e FILHO são Idênticos como a chama e a luz. (João 1, 17–18)

17.ALEIFOIDADAPORMOYSÉS.AGRAÇAEAVERDADEVIERAMPOR CRISTO.

  1. Eis a Lei imprescindível aos primeiros seres e criaturas, e transmitida posteriormente por Moysés, que neste versículo é men- cionado como representante da Lei. Entretanto, jamais alguém po- derá alcançar a verdadeira liberdade vital pela Lei, pois esta constitui um recalque, e nunca um estímulo na vida.

  1. Através dum imperativo categórico, emanado da Imutável Onipotência Divina, foram projetadas as primeiras Ideias Criadoras numa vida isolada, como que independentes; deste modo deu-se a primeira separação e formação de vidas limitadas pelo espaço e tempo.

  2. Com isto surgiu o homem (Lúcifer), como receptáculo nega- tivo das Ideias Divinas e de certa maneira a Própria Divindade, ape- nas separado de sua Origem, porém consciente Desta e preso numa forma limitada, dentro dum imperativo imutável. Este estado não podia ser do seu agrado, tanto que seu sentimento altivo se atirou numa luta titânica contra a necessária limitação e projeção.

  3. Já que a luta se tornou cada vez mais intensa na primeira fileira dos seres (Lúcifer com seu séquito), foi preciso aguçar a Lei básica, prendendo-os num julgamento temporário e severo. Com isto surgiram os corpos cósmicos (matérias atômicas) e através deles a maior separação dos seres primários.

  4. Na segunda fileira dos seres aparece o homem na forma hu- mana (Adam), pisando o solo do seu primeiro julgamento. Apesar da terceira separação do Ser Primário, ele em breve reconheceu em si sua Origem Divina, tornando-se, porém, teimoso, orgulhoso e desobediente a uma Lei então já facultativa e que não exigia o impe- rativo categórico, mas o dever moral emanado do seu livre arbítrio!

  5. Não querendo, pois, sujeitar-se e desvirtuando esta Lei, foi-

-lhe imposta uma outra bem penosa, sancionada com toda violência e de execução pontual (vide dilúvio).

  1. Após esta lição, o Ser Divino veio ao mundo na pessoa de Melchisedek, guiando os homens; mas não levou tempo e as criatu- ras começaram novamente a combater, tanto que foram algemadas por novas leis e conduzidas à ordem (Lei Mosaica), de sorte a lhes restar somente movimentação maquinal, impedindo de se manifes- tarem em quase todas as inclinações.

  2. Logo, criou-se pela Lei um abismo imenso, intransponível, tanto para o espírito como para a criatura, pondo em dúvida sua consciência íntima e a possibilidade da continuação eterna desta vi- da tão limitada.

  1. Depois desta restrição, eis que surge o Ser Divino em Sua Própria Plenitude, na Pessoa de JESUS CRISTO.

  2. Com Ele apareceu de novo a Graça Eterna, tomando a Si todas as fraquezas humanas e dando às criaturas, em troca, uma no- va Graça, uma nova Vida cheia de Luz Verdadeira, mostrando-lhes, nesta Luz e por Si Mesmo, o Verdadeiro Caminho e a Finalidade de sua vida.

18.DEUSNUNCAFOIVISTOPORALGUÉM;OFILHOUNIGÊNITO,QUEESTÁNOSEIODOPAI,NO-LO DECLAROU.

  1. Somente agora as criaturas — que até então jamais pude- ram ver a Deus em Sua Plenitude — conseguiram o Seu Verdadeiro Conhecimento em Jesus, podendo mirá-Lo de perto e fora de si, vendo, através Dele, a si mesmas e a finalidade duma vida libérrima.

  2. Com isto o abismo intransponível provocado pela Lei foi abolido e toda criatura pôde e poderá afastar-se de seu jugo, trocan- do o velho “eu” pelo novo, de Cristo. Tanto que se lê: Quem ama sua vida de antanho, perdê-la-á; quem, porém, a abandonar, recebê-la-á (a vida nova)! Eis aqui a anunciação do Seio do Pai e o Evangelho Vivo de Deus!

  3. A expressão “Aquele que está no Seio do Pai” quer dizer o seguinte: A Sabedoria Divina ou o Próprio Ser Divino está no Amor, assim como a luz está dentro do calor; tendo sua origem na chama flamejante deste amor e, finalmente, produzindo de novo o calor através de sua existência, esta, por sua vez, produz novamente a luz. Igualmente surge do Amor, que é o Pai em Si, a Luz da Sabe- doria Divina, que é o Filho, tanto que Pai e Filho são UM, como a luz e o calor são idênticos, pois o calor gera constantemente a luz e vice-versa.

5. João Baptista testemunha de si mesmo. Motivo por que nega o espírito de Elias dentro de si. Confissão humilde do predecessor do Messias. Ideia errônea dos sacerdotes sobre a Vinda do Cristo. Repetido e claro testemunho de João a respeito do Senhor. (João 1, 19–30)

19. E ESTE É O TESTEMUNHO DE JOÃO QUANDO OS JUDEUSMANDARAM DE JERUSALÉM SACERDOTES E LEVITAS PARAQUELHEPERGUNTASSEM:“QUEMÉS TU?”

  1. Este versículo representa um fato puramente exterior, por- tanto não tem sentido espiritual; apenas dele se deduz, facilmente, que a noção espiritual dos judeus, naquela época, pressentiu que a Luz, ou o Ser Divino, aproximava-Se dos homens e já devia estar sobre a terra. Conjecturavam que esta Luz Se encontrasse, talvez, em João, e que fosse o Messias prometido.

  2. Por isto, mandaram lhe perguntar, não levados pela chamada à penitência de João, mas sim pelo dito pressentimento, quem era ele: se Cristo, se Elias ou, então, um outro profeta.

    1. E CONFESSOU E NÃO NEGOU, DIZENDO: “EU NÃO SOU O CRISTO,OMESSIAS PROMETIDO.”

    2. EPERGUNTARAM-LHE:“QUEMÉS,ENTÃO?ÉSTU ELIAS?”

      • ELERESPONDEU:“NÃOSOU!”“ÉSTUO PROFETA?”

      • RESPONDEU: “NÃO!”

  3. O motivo por que lhe perguntavam quem era baseava-se nas Escrituras proféticas, onde constava que Elias viria antes do Messias Prometido, preparando toda Israel para Sua Chegada Grandiosa! Da mesma maneira deveriam ainda surgir, em tal época, outros profetas que, igualmente, precederiam o Messias. Tudo isto os enviados de Je- rusalém sabiam, perguntando a João a respeito — e ele tudo negava.

22. DISSERAM-LHE, POIS: “QUEMÉS, PARAQUEPOSSAMOSDAR RESPOSTAS AOS QUE NOS ENVIARAM? QUE PENSASDETI MESMO?”

  1. Por isto lhe perguntavam quem era.

23. ELE REPLICOU: “EU SOU A VOZ QUE CLAMA NO DESERTO: PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR, COMO DISSE OPROFETA ISAÍAS.”

  1. João, porém, confessa ser apenas alguém que clama no de- serto, preparando o caminho do Senhor, de acordo com a profecia de Isaías.

  2. Com muita razão se poderia perguntar por que João pregava penitência no deserto, que quase não é habitado; pois seria mais razoável procurar lugares que fossem bastante povoados. Que adian- taria clamar num deserto árido, onde o eco se perderia muito antes de atingir o ouvido de alguém? E mesmo se tal acontecesse, não seria suficiente para um fator de tão grande importância para todas as criaturas!

  3. A esta pergunta respondo que, pela palavra “deserto”, não se deve compreender o conhecido deserto de Bethabara, situado além do rio Jordão, mas sim o espiritual no coração dos homens. O deser- to no qual João realmente viveu, pregou e batizou foi escolhido para este fim unicamente para demonstrar às criaturas como seu estado atual de sentimentos, seus corações estavam não só vazios, sem bons pensamentos ou intenções, mas repletos de espinhos, ervas daninhas e serpentes. Neste deserto aparece João, qual se fora uma consciência despertada, o que ele, espiritualmente falando, também representa; prega a penitência pelo perdão dos pecados, preparando deste modo o caminho do Senhor para os corações empedernidos dos homens.

  4. Resta agora responder por que João não afirmava que era Elias ou um outro profeta, pois, pelo Meu Próprio Testemunho, dado oportunamente aos apóstolos e demais ouvintes, afirmei que João era Elias, que Me devia preceder.

  5. A causa de sua negação foi que ele só se cognominava pela atual finalidade, e não pelo que fora noutra encarnação. Elias teve que castigar e destruir Moloch; João, porém, clamava pela penitên- cia, dava o perdão dos pecados pelo batismo com água, preparando, assim, Meu caminho. Eis por que só dizia aquilo que realmente era.

  1. ORA,ELESTINHAMSIDOENVIADOSPELOS FARISEUS.

  2. PERGUNTARAM-LHE,TAMBÉM:“PORQUE,ENTÃO,BATIZAS, SE TU NÃO ÉS O CRISTO, NEM ELIAS, NEM O PROFETA?”

  1. Como o batismo só podia ser efetuado pelos sacerdotes ou profetas destinados para este fim, os fariseus, enciumados, pergunta- vam a João como podia fazê-lo, não sendo um nem outro.

26. RESPONDEU-LHESJOÃO:“EUBATIZOCOMÁGUA;NOVOSSO MEIO ESTÁ AQUELE PELO QUAL PERGUNTAIS — EVÓSNÃOO RECONHECEIS!”

  1. João dizia: “Eu batizo apenas com água, quer dizer, lavo somente os corações impuros para a recepção Daquele que, de certo modo, já Se encontra há muito tempo entre vós, mas que, em vossa cegueira, não reconheceis.”

  2. Aqui se subentendem todas as criaturas que, à Minha busca, atravessam mares e terras, perguntando a todos os sábios: “Onde está o Cristo, quando e de onde Ele virá?” — No entanto, o Verda- deiro, não O procuram em seus corações, onde Ele construiu uma morada para Si!

  1. É AQUELE QUE HÁ DE VIR DEPOIS DE MIM, E DO QUAL EUNÃOSOUDIGNODEDESATARACORREIADAS SANDÁLIAS.”

  2. ISTO PASSOU-SE EM BETHABARA, ALÉM DO JORDÃO, ONDEJOÃOESTAVA BATIZANDO.

  1. Vede o testemunho humílimo de João perante os sacerdotes e levitas, pois sabia perfeitamente Quem, no Cristo, havia pisado a terra. Mas tal não interessava aos fariseus, não lhes agradava um Messias humilde, pobre e desprovido de toda pompa, mas um que a todos apavorasse.

  2. O Messias deveria, logo de saída, fazer-Se acompanhar por milhares de anjos; deveria morar unicamente no Templo, depor e aniquilar todos os potentados existentes — e, em seguida, tornar

todos os judeus imortais, munindo-os de todo o ouro do mundo; deveria arremessar centenas de montanhas, aparentemente inúteis, para dentro do mar e determinar o extermínio da plebe suja e imun- da! Isto feito, eles acreditariam Nele, exclamando: “Senhor, Tu és tremendamente poderoso, todos nós temos que nos curvar e ajoe- lhar no pó diante de Tua Santidade, e o Sumo Pontífice não merece desatar a correia de Tuas sandálias!”

  1. Cristo, porém, veio ao mundo muito pobre, pequenino e aparentemente fraco; durante trinta anos (com exceção do tempo até Seus doze anos) não deu provas de Si diante dos potentados, trabalhando pesadamente como carpinteiro na companhia de Jo- sé, mais tarde lidando com o reles proletariado. Como poderia ser este o Messias há tanto tempo esperado pelos judeus orgulhosos e sapientes? “Longe de nós tamanho blasfemador, um mago que exe- cuta seus milagres com ajuda do príncipe dos diabos! Um ajudante de carpinteiro, ordinaríssimo, rude e bruto, que anda descalço e é amigo da mais ínfima gentalha, aceita as prostitutas, come e bebe com os mais conhecidos ladrões, age por todos os meios contra as leis — este o Cristo, o Messias Prometido?! — Não! Nunca uma ideia tão blasfemadora poderá surgir dentro de nós!”

  2. Eis o julgamento dos judeus sábios e orgulhosos sobre Mi- nha Integral Presença na terra; e esta opinião persiste, ainda hoje, entre milhões de criaturas, que nada querem saber de um Deus mei- go, humilde e cumpridor de Suas palavras.

  3. O Ser Divino, para estas criaturas, deve primeiro: morar acima de todas as estrelas e, pela Sua Infinita Sublimidade, qua- se não ter existência; só poderá criar sóis, se quiser ser um Deus Digno! Segundo: não deve atrever-Se a apresentar qualquer forma, muito menos a forma humana; deve, sim, ser algum monstro in- compreensível.

  4. Terceiro: se o Cristo realmente pudesse ser Deus em Pessoa, só poderia comunicar-Se pela Palavra Vivificante a pessoas de classe, a certas sociedades, concílios, a devotos extraordinários, a hipócri- tas munidos de uma auréola santificadora, transmitindo ao mesmo

tempo a estes felizardos o poder de remover montanhas; se não fosse assim, nada feito com o Divino Verbo e a Revelação do Cristo!

  1. O Senhor jamais deveria lidar com leigos ou pecadores; pois, neste caso, a Revelação seria suspeita e não aprovada, assim co- mo Eu não fui aceito pelos levitas, pois Minha Apresentação perante seus olhos ambiciosos era tudo, menos Divina. — Mas isto não vem ao caso! Prevalece, unicamente, o testemunho de João!

  2. O mundo será sempre o mesmo e continuará a ser o deserto de Bethabara, onde João deu seu testemunho. Mas Eu também sou sempre o Mesmo e Me apresento entre as criaturas para reprimir seu orgulho e vivificar a verdadeira humildade e amor! Felizes os que Me reconhecem e aceitam, como o fez João pelo seu testemunho em alta voz, aborrecendo com isto os sacerdotes e levitas de Jerusalém!

29.NODIASEGUINTEJOÃOVIUJESUS,QUESEDIRIGIAAELE,EDISSE: “EIS O CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRA OS PECADOSDO MUNDO!”

  1. No dia seguinte João repete seu testemunho, na ocasião em que os indagadores ainda se encontravam em Bethabara, perguntan- do qual era sua ação e em que consistiam suas prédicas; isto justa- mente na hora em que Eu vim do deserto para perto dele e lhe peço que Me batize com águas do Jordão.

  2. Enquanto Me aproximava, João chama a atenção do diri- gente desses pesquisadores, que lhe confessa ter refletido muito so- bre suas palavras. João diz: “Eis que vem o Cordeiro de Deus, que toma a Si todas as fraquezas humanas a fim de que as criaturas que O receberem possam adquirir uma nova vida, tendo, deste modo, o direito de se chamarem Filhos de Deus; pois Jehovah não vem na tempestade, nem pelo fogo, mas sim no sussurro delicado!”

30. ESTE É AQUELE DO QUAL EU DISSE: “APÓS MIM VIRÁ UM HOMEMQUEERAPRIMEIROQUE EU.”

  1. João repete, mais uma vez, o que tinha declarado no dia an- terior a Meu respeito, provando, de um lado, que Eu venho ao mun-

do como se fora um espelho de verdadeira e necessária humildade humana para ajudar as criaturas em sua fraqueza, e nunca em sua suposta força! De outro lado, ele também afirma que o mencionado Cordeiro de Deus é a Causa de todo Ser, ou seja, Deus Encarnado! A expressão “Ele era primeiro do que eu” quer dizer que João — reconhecendo, num momento, seu espírito elevado — explica aos emissários que, embora nele habite o mesmo arcanjo, ele havia sido projetado não pelo seu próprio poder, mas pelo Ser Primário, que reside unicamente no Cordeiro Divino. Com esta projeção, que em si é uma obra real do Espírito Primário, inicia-se a primeira era, an- tes da qual nada existia no infinito a não ser o Espírito de Jehovah, sendo o Mesmo como Se apresenta visivelmente neste Cordeiro Di- vino e deseja ser batizado por ele.

6. João confirma ter reconhecido o Senhor como homem. Ele batiza o Senhor com água, e Este a João com o Espírito Santo. Testemunho do Pai a respeito de Seu Filho. (João 1, 31–34)

31. EU TAMBÉM NÃO O CONHECIA. MAS, A FIM DE QUE ELE FOSSE MANIFESTADO A ISRAEL, EU VENHO BATIZANDOCOM ÁGUA.

  1. Era muito natural que os pesquisadores perguntassem a João: “Desde quando conheces este homem estranho e de onde tiraste estas informações?” — Sua resposta era simplesmente que ele, como homem, não conhecia o Senhor; Seu Espírito, porém, lhe revelara isto, impulsionando-o a preparar as criaturas para Sua Vinda, lavan- do as grandes chagas do pecado com as águas do Jordão.

32. E JOÃO TESTIFICOU, DIZENDO: “EU VI O ESPÍRITO DE DEUS DESCER DO CÉU, COMO POMBA, E PERMANECER SOBRE ELE.”

  1. Após o testemunho de João, os pesquisadores examinaram bem “este homem” durante o batismo, que ele, no princípio, ne- gava-se a efetuar, dizendo que seria mais justo que Eu o batizasse! Mas, como Eu insistisse, João cedeu, afirmando que Meu Espírito

Divino se apresentava numa nuvem mui luminosa, qual se fora uma pomba, pousando sobre a Minha Cabeça; e eis que ele escuta as seguintes palavras:

  1. “Eis o Meu Filho amado em Quem Me comprazo, a Minha Própria Origem Primária! A Este deveis ouvir!”

33. EU NÃO O CONHECIA, MAS O QUE ME ENVIOU A BATIZAR COMÁGUADISSE-ME:“AQUELESOBREQUEMVIRESDESCER O ESPÍRITO E FICAR SOBRE ELE, ESSE É O QUEBATIZACOMOESPÍRITO SANTO.”

  1. Por tal razão é que João disse: “Se não tivesse estas provas, não O reconheceria!”

34. EU TENHO VISTO E TESTIFICADO QUE ELE É O FILHO DE DEUS.

  1. Depois do batismo, João conta aos levitas as provas que teve, reafirmando, novamente, que o Batizado é o Cordeiro de Deus, o Messias esperado por toda Israel, em síntese, Deus Encarnado!

  2. Ele, João, vira com seus próprios olhos o Espírito Divino pousar sobre Jesus, não como se com isto Ele O houvesse recebido, mas sim esta aparição se dera, unicamente, para o testemunho dele, que, até então, ainda não O conhecia.

  3. Poderia surgir quem perguntasse se os enviados de Jerusalém nada disto perceberam; e eis a mesma resposta, para todos os tem- pos: estas coisas são ocultas aos sábios e entendidos, mas reveladas aos pequeninos!

  4. Portanto, os levitas só viram um batismo comum, e se enfu- receram bastante quando souberam dos milagres que João dizia ter visto, acusando-o de mentiroso; mas os discípulos de João o defen- deram, dizendo que ele havia dito a verdade!

  5. Eles, porém, não aceitaram esta alegação, exclamando: “Vos- sa defesa é duvidosa, pois sois os discípulos de João; nós somos co- nhecedores das Escrituras que foram dadas por Deus aos profetas, e estamos verificando que todos vós sois doidos e contaminais o povo;

este caso já está se tornando um incômodo para os sacerdotes e me- lhor seria prender-vos todos!”

  1. Nisto João se irrita e diz: “Raça de víboras que sois! Jul- gais, com isto, escapar do julgamento? — Vede, o machado que nos era destinado já atingiu as vossas raízes; cuidai em escapar da vossa destruição! Se não fizerdes penitência e aceitardes o batismo, sereis aniquilados!

  2. Em verdade vos digo! Este é Aquele de Quem vos falei: Após mim virá Quem era antes de mim! De Sua plenitude recebe- mos graça por graça!”

  3. Após esta advertência de João, alguns aceitam o batismo; a maior parte, porém, afasta-se cheia de raiva.

  4. Estes versículos transmitem apenas fatos históricos, sem sentido mais profundo; somente vale mencionar que serão mais fa- cilmente compreendidos quando acompanhados pelas circunstân- cias. Na época em que se escrevia o Evangelho, era hábito omitir tudo que pudesse ser deduzido, isto é, fazia-se necessário “ler entre linhas”. Exemplo para isto são os três versículos que se seguem.

7. Três versículos como exemplo da maneira de se escrever naquela época. (João 1, 35–37)

35.NODIASEGUINTE,JOÃOESTAVAOUTRAVEZ,COMDOISDESEUS DISCÍPULOS.

  1. Aqui surge a pergunta: Onde estava ele? E os dois discípulos? Estavam perto dele? — É evidente que tampouco foram apontados o lugar e a ação dos dois discípulos.

  2. Por que o evangelista não teria feito menção disto?

  3. A razão já foi mencionada acima; considerando a maneira como se escrevia naquela época, deduz-se que João Baptista se en- contrava perto do rio Jordão, à espera de alguém que quisesse ser batizado. Possuindo já vários discípulos que ouviam e anotavam sua doutrina, sempre havia dois e, às vezes, vários ao lado dele, para au- xiliá-lo nesta incumbência.

  1. Portanto, escrevia-se apenas o fato principal, unindo pela conjunção “e” as frases que tivessem ligação entre si. Estas conjun- ções quase sempre eram anotadas por sinais próprios.

  2. Esta explicação não é evangélica, porém muito necessária, porquanto sem ela os Evangelhos, no seu sentido histórico, qua- se que não poderiam ser compreendidos e, no sentido espiritual, muito menos; os livros proféticos do Velho Testamento, nos quais só se falava em sentido figurado, esses apresentariam uma dificulda- de absoluta.

36.E,OLHANDOPARAJESUSQUEPASSAVA,DISSE:“EISALIOCORDEIRODE DEUS.”

  1. Esta conjunção demonstra um fato que se prende ao ante- rior, mostrando que Jesus, após o batismo, ainda se deteve por al- gum tempo perto de João Baptista.

  2. Ao vê-Lo, João Baptista exclama num entusiasmo elevado: “Vede, o Cordeiro de Deus!” Na época atual ele teria se expressado da seguinte maneira: “Vede, ainda hoje caminha à beira do rio o Supremo Homem-Deus, tão despretensioso e humilde como um cordeiro!” João, porém, fala apenas conforme consta do versículo.

37.EOSDOISDISCÍPULOS,OUVINDO-ODIZERISTO,SEGUIRAMA JESUS.

  1. Este versículo apenas é a consequência dos dois precedentes e também começa pela conjunção “e”.

  2. No texto original, lê-se apenas: “E dois discípulos, ouvindo-

-o falar, seguiram a Jesus.” Para a nossa época este versículo pode- ria constar da seguinte maneira, sem alterar seu sentido: “Quando os dois discípulos, que acompanhavam João Baptista, ouviram seu mestre falar assim, abandonaram-no e se dirigiram a Jesus; e, como Jesus estivesse prestes a deixar esse lugar, eles O seguiram.”

  1. Tudo que acaba de ser mencionado aconteceu tal e qual, senão o fato não poderia ter ocorrido. Mas, como já foi dito, de acordo com a maneira de escrever, só se apontam as palavras “ou-

vir” e “seguir”, omitindo o que as pudesse ligar. Compreendendo-se isto, tanto a parte histórica como o sentido intrínseco poderão ser assimilados.

8. Os primeiros discípulos do Senhor. Sua choupana no deserto como origem da vida dos ermitãos. André e Pedro, dois irmãos pescadores. Ensinamento importante, por ocasião da aceitação de Pedro, sobre a solicitude do Senhor e o verdadeiro testemunho íntimo. (João 1, 38–42)

38. VOLTANDO-SEJESUSEVENDOQUEELESOSEGUIAM,PERGUNTOU-LHES: “QUE BUSCAIS?” — DISSERAM-LHE:“RABI,ONDE ASSISTES?”

  1. Também este texto é mais histórico do que espiritual, pois inicia-se a convocação ainda material dos apóstolos, na mesma zona onde João Baptista se mantinha — em Bethabara, um lugar paupér- rimo e habitado por pobres pescadores. Eis a razão por que os dois discípulos perguntam onde moro.

  2. Como Eu, pessoalmente, tinha permanecido antes do batis- mo perto de quarenta dias nesta zona, preparando a Minha natu- reza humana pelo jejum e outros exercícios para a doutrinação que iniciaria, era evidente que necessitasse de um albergue numa zona deserta e árida, que se prestava muito para esta finalidade.

  3. Os dois discípulos sabiam que Eu, desde algum tempo, en- contrava-Me ali; possivelmente, tinham Me visto várias vezes, sem saber quem Eu era. Assim, não perguntaram pelo Meu lugar de nascimento, mas pelo albergue em Bethabara, onde as cabanas dos pescadores eram construídas de barro e junco e mal davam para um homem ficar de pé.

  4. Em uma cabana semelhante — obra Minha — Eu habitava, bem dentro do deserto. Dali surgiram as eremitagens, tão conheci- das em todos os países cristãos.

39. ELE RESPONDEU: “VINDE E VEREIS.” — FORAM, POIS, E VIRAM ONDE ASSISTIA; E FICARAM AQUELE DIA COM ELE.ERA,MAISOUMENOS,AHORA DÉCIMA.

  1. Esta cabana, portanto, não ficava longe do lugar onde se en- contrava João Baptista. Por isto, Eu dissera aos dois discípulos: “Vinde e vereis.” Acompanhando-Me até lá, não se admiraram pouco que o Enviado de Deus habitasse a cabana mais pobre, dentro do deserto!

  2. Isto, porém, não se deu na época do ano em que as comuni- dades cristãs de hoje se dedicam ao jejum de quarenta dias, mas sim dois meses mais tarde. Quanto à hora da nossa chegada ao albergue, era mais ou menos a décima, quer dizer, às três da tarde de nossa épo- ca. Pois lá a aurora determinava a primeira hora do dia. Como isto não se dava sempre com a mesma regularidade, o horário só poderá ser mencionado de maneira vaga. Como os dois discípulos ficassem Comigo até o pôr-do-sol, poder-se-ia indagar o que fizemos nesse tempo. Compreende-se que Eu os ensinava sobre sua futura missão e que tencionava angariar outros mais de boa vontade, como eles. Ao mesmo tempo, incumbi-os de fazerem o mesmo com seus colegas. Quando veio a noite, Eu os despedi e eles voltaram pensativos para seus lares; tinham mulheres e filhos e não sabiam o que fazer.

40. ANDRÉ, IRMÃO DE SIMON PEDRO, ERA UM DOS DOIS QUE OUVIRAMJOÃOFALAREQUESEGUIRAMA JESUS.

  1. Um deles, chamado André, logo se decide e quer Me seguir a todo preço; por isto, procura seu irmão Simon, que andava ocupado alhures com suas redes.

41. ELE PROCUROU PRIMEIRO SEU IRMÃO SIMON E LHE DISSE: “ACHAMOS O MESSIAS.” (MESSIAS SIGNIFICA O MESMOQUE CRISTO)

  1. Assim que o encontra, logo lhe revela que tinha encontrado o Messias com mais um discípulo, cuja resolução em Me seguir não era tão firme.

42. E O LEVOU A JESUS. JESUS, OLHANDO PARA ELE, DISSE: “TU ÉS SIMON, FILHO DE JONAS; SERÁS CHAMADO KEPHAS.”(SIGNIFICAPEDRO,UMA ROCHA)

  1. Simon, que alimentava em sua imaginação feitos fantásticos do Messias Prometido e achava que Ele devia ajudar os pobres e extermi- nar os ricos egoístas, disse a André: “Não temos um segundo a perder; abandonarei tudo e, se for preciso, segui-Lo-ei até o fim do mundo. Tenho que falar com Ele ainda hoje, amanhã talvez seja tarde.”

  2. Diante desta insistência de Pedro, André o conduziu até Mim; quando a uns trinta passos do albergue em que Eu Me hos- pedara, eis que Pedro para extasiado e diz a André: “Coisa estranha estou sentindo, tenho receio de ir além e, ao mesmo tempo, estou ansioso por vê-Lo!” Neste momento, apareço diante deles; Pedro é imediatamente aceito, como todos que Me procuram com o cora- ção, e recebe até um nome novo, que significa uma rocha de fé em Mim, pois desde muito tempo Eu sabia qual sua índole.

  3. Para Pedro, isso foi prova suficiente de que Eu era o Mes- sias; daí por diante não duvidou, nem Me fez perguntas a esse respeito, pois seu coração era a única testemunha válida e certa para ele. Ambos ficaram Comigo até a manhã e não me dei- xaram mais.

9. Prova de renúncia dos dois primeiros discípulos. A pátria de Pedro. Convocação de Philippe, um pobre professor; seu pressentimento a respeito do Messias; minúcias de sua convocação. Esta explicação como guia para a luz viva. (João 1, 43–51)

43.NODIASEGUINTERESOLVEUJESUSIRÀGALILEIA,ENCONTROUPHILIPPEELHEDISSE: “SEGUE-ME!”

  1. No dia seguinte Eu disse aos dois: “Meu tempo aqui no de- serto findou; voltarei à Galileia. Quereis acompanhar-Me? Tendes o livre arbítrio de fazê-lo, pois sei que possuís família e ser-vos-á difícil abandoná-la. Ninguém, no entanto, perderá o que abandona por amor a Mim, mas lhe será restituído inúmeras vezes.”

  2. Responde Pedro: “Senhor, por amor a Ti, deixaria minha vi- da, quanto mais minha família! Ela viverá sem mim, pois sou pobre e tenho dificuldade para conseguir o alimento necessário. Nossa pes- ca sustenta, quando muito, uma boca; meu irmão André que o diga.

Nascemos em Bethsaída, mas a subsistência encontramos somente às margens desertas do Jordão, que, no entanto, é rico em peixes. Nosso pai Jonas, nossas mulheres e irmãs são fortes; com a bênção do Alto, facilmente se manterão!” Eu elogio ambos e, em seguida, encetamos nossa marcha.

44. PHILIPPEERADEBETHSAÍDA,CIDADEDEANDRÉEDE PEDRO.

  1. Durante o trajeto nas margens do rio, deparamos com Phi- lippe, também nascido em Bethsaída, que desde cedo havia se mu- nido de uma rede um tanto rasgada à procura de um almoço nas águas do rio. Pedro, apontando-o a Mim, diz: “Senhor, este homem é um sofredor e muito pobre, porém honesto e devoto! Que tal se lhe permitisses que nos acompanhasse?”

  2. A esta proposta amável de Pedro, Eu apenas digo: “Phili- ppe, segue-Me.” Este não se faz de rogado, joga para longe sua rede e Me segue, sem perguntar para onde vamos. A caminho, Pedro dirige-se a ele, dizendo: “Estamos seguindo o Messias!” — Phili- ppe responde: “Isto senti no meu coração, no momento em que me chamou!”

  3. Philippe era solteiro e professor, pois tinha alguns conheci- mentos da Escritura. Era também conhecido de José, portanto Me conhecia e sabia dos fatos ocorridos durante Meu nascimento e adolescência. Ele era um dos poucos que esperavam, intimamente, que Eu fosse o Messias; mas, como vivi e trabalhei como homem comum desde os Meus doze anos, o milagre que envolvia o Meu nascimento já se tinha desfeito pela Minha posterior simplicidade. Philippe, porém, guardava um certo pressentimento com referência à Minha Pessoa, pois não ignorava as profecias feitas no Templo por Simeon e Anna.

    1. PHILIPPE ENCONTROU NATHANAEL E DECLAROU-LHE: “ACHAMOSAQUELEDEQUEMESCREVEUMOYSÉSNALEIE DE QUEM FALARAM OS PROFETAS: JESUS DE NAZARETH,FILHODE JOSÉ.”

    1. PERGUNTOU-LHE NATHANAEL: “DE NAZARETH PODE SAIR COISAQUEBOA SEJA?”

  1. Nathanael vira-se um tanto irritado e diz: “Quem não co- nhece este antro de Nazareth? Que benefício poderia advir dali? Muito menos o Messias!”

  2. Philippe responde: “Eu bem sei que foste sempre meu adver- sário neste ponto, embora te desse as minhas razões em favor dele. Agora vem e convence-te, logo me darás razão.”

  3. Nathanael levanta-se pensativo e diz: “Amigo, isto seria um milagre dos milagres! Sabemos que a gentalha de Nazareth é a pior que se possa imaginar! Pois não é verdade que com u’a moeda romana tudo se consegue de um nazareno? Lá, há muito tempo, não existe mais fé em Moysés nem nos profetas; e tu dizes que de lá veio o Mes- sias e que me queres levar até Ele? Bem, seja lá o que Deus quiser!”

  1. JESUS, VENDO NATHANAEL APROXIMAR-SE, DISSE DELE: “EIS UM VERDADEIRO ISRAELITA, EM QUEM NÃO HÁ DOLO!”

  2. PERGUNTOU-LHENATHANAEL:“DONDEME CONHECES?”

RESPONDEUJESUS:“ANTESDEPHILIPPECHAMAR-TE,EUTEVI,QUANDOESTAVASDEBAIXODA FIGUEIRA!”

  1. Nathanael admira-se muito desta real pretensão de Minha parte e pergunta: “Donde me conheces, para fazer este critério de mim? O meu íntimo só é conhecido por Deus e por mim; eu, po- rém, nunca fui ostentador e elogiador de minhas próprias virtudes, portanto como podes saber de minha índole?” — Eu, porém, afir- mo: “Antes que Philippe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, Eu te vi!”

49. REPLICOU-LHENATHANAEL: “MESTRE, TUÉSOFILHODEDEUS,TUÉSOREIDE ISRAEL!”

  1. Esta afirmação surpreende profundamente Nathanael, que, tomado de uma grande excitação, exclama: “Mestre, Tu és verda-

deiramente o Filho de Deus! Sim, infalivelmente és o Rei de Israel, esperado por tanto tempo e que irá salvar o Seu povo das garras do inimigo! Ó Nazareth! Como foste pequenina e como te tornaste grande! A última das cidades será a primeira! Senhor, quão rapida- mente Me deste a fé! Como é possível que todas as minhas dúvidas se tenham evaporado, para que eu cresse convictamente que Tu és o Messias Prometido?”

  1. DISSE-LHE JESUS: “POR EU TE DIZER QUE TE VI DEBAIXO DA FIGUEIRA, CRÊS? MAIORES COISAS DO QUE ESTAS VERÁS!”

  2. E ACRESCENTOU: “EM VERDADE, EM VERDADE VOS DIGO, VEREIS O CÉU ABERTO E OS ANJOS DE DEUS SUBINDO EDESCENDOSOBREOFILHODO HOMEM.”

  1. De agora em diante, podereis conseguir o renascimento pe- lo vosso espírito; as portas da Vida se abrirão, e vós, como anjos, vereis outros neste subir e descer; ao mesmo tempo, observareis os arcanjos descerem para junto de Mim, que sou o Senhor de toda Vida, pisando, assim, nas pegadas do Filho do homem, de acordo com o exemplo e testemunho de João!

2º CAPÍTULO

AS BODAS DE CANÁ NA GALILEIA A PURIFICAÇÃO DO TEMPLO

  1. O Senhor com os quatro discípulos na casa de seus pais. José havia morrido. Ponto de vista errôneo de Maria em relação à ação do Messias. Jacob, João e Thomaz são aceitos como apóstolos. Ensinamento a respeito da interpretação espiritual dos acontecimentos nas Bodas de Caná. Os três estados do renascimento. (João 2, 1–5)

    1. E AO TERCEIRO DIA FIZERAM-SE UMAS BODAS EM CANÁ DAGALILEIA,EAMÃEDEJESUSESTAVA PRESENTE.

  1. Estas bodas se realizaram na casa de uma família conheci- da de José, que já havia falecido. Acompanhado por Meus quatro

discípulos, passei um dia inteiro em casa de Maria, Minha Mãe, que se desfazia em atenções junto de Meus demais irmãos para bem servir-nos.

  1. Ela sentia no seu íntimo que o tempo havia chegado para o início de Minha Manifestação como Messias; ignorava, porém, de que maneira isto se daria. Por enquanto, também acreditava na ex- pulsão completa dos romanos e na reconstrução do trono poderoso de David, sua glória incontestável, inatingível e eterna.

  2. A boa Maria e toda Minha Parentela terrestre imaginavam o Messias como vencedor dos romanos e outros inimigos da Terra Abençoada. De fato, os melhores entre eles tinham uma ideia simi- lar em relação ao Messias, assim como no presente muitas pessoas honestas têm uma noção bastante errônea acerca do Reino dos Mil Anos. Mas o tempo não era chegado para dar-lhes uma explicação diferente.

  3. Se todos os Meus, inclusive Maria, mantinham esta opinião, é fácil deduzir que outras famílias conhecidas não poderiam ter um ponto de vista melhor.

  4. Por este motivo, a atenção por parte de todos não se prendia somente a Mim, mas também àqueles que Eu designava como dis- cípulos. Tanto que Jacob e João resolveram acompanhar-Me, por ser compreensível que muita coisa que Eu lhes havia claramente predito na Minha Infância já tivessem esquecido.

2.EJESUSTAMBÉMFOICONVIDADOÀSBODASCOMSEUS DISCÍPULOS.

  1. Durante as bodas, que aliás eram bem paramentadas e on- de todos estavam alegres e satisfeitos, os Meus quatro discípulos de Bethabara se dirigiram a Mim, dizendo: “Senhor, aqui se vive bem melhor do que em Bethabara! Talvez esta refeição, tão bem preparada, agradasse mais a João do que o mel de abelhas silves- tres e os gafanhotos escaldados, que perfazem comumente o seu alimento!”

  1. Respondo Eu: “A razão por que João precisa viver assim, não compreendeis agora; é preciso que assim seja para que se cumpra o que consta da Escritura. Brevemente, porém, terá vida melhor, pois Jerusalém não permitirá que ele se manifeste por mais tempo no deserto. É preciso que ele diminua, para que Outro cresça!

  2. Que há com o discípulo que chegou a Mim junto contigo, André? Ele nos acompanhará ou ficará em Bethabara?” — Responde André: “Eis que ele vem aí; certamente foi organizar os seus afaze- res.” — Digo Eu: “Muito bem, porque onde existe um Pedro, o Thomaz não poderá faltar!” — Diz André: “Sim, este é seu nome; é alma honesta e generosa, porém cheia de escrúpulos e dúvidas, mas, uma vez que aceita algo, não o renega tão facilmente. Ele está aqui; posso chamar este gêmeo espiritual?” — Digo Eu: “Sim, faze isto, porque quem vem em Meu Nome deve ser convidado às bodas!”

3.TENDOACABADOOVINHO,AMÃEDEJESUSLHEDISSE:“ELESNÃOTÊMMAIS VINHO!”

  1. De acordo com os hábitos daquela época, um conviva recém-

-chegado devia ser recebido com um cálice de vinho. Maria já tinha observado que o estoque de vinho se esgotara, tanto que Me diz em surdina: “Meu querido Filho, que situação embaraçosa! Não há mais vinho! Não poderias Tu arranjar algum para o recém-vindo?”

4.JESUSLHEDISSE: “MULHER, QUETENSAVERCOMIGO?AINDANÃOÉCHEGADAAMINHA HORA!”

  1. Esta Minha resposta ambígua dada a Minha Mãe perante os convivas desgosta a muitos que desconhecem os costumes de tal época, mormente em Nazareth, pois a exclamação “mulher” signi- fica “mãe”, e a resposta toda é: “Mãe, que temos Eu e tu a ver com isto? Como conviva que sou, não Me compete cuidar do vinho, pois o Meu Tempo ainda não é chegado!”

5.SUAMÃEDISSEAOSSERVENTES:“FAZEITUDOQUANTOELEVOS DISSER!”

  1. Até aqui temos fatos históricos, mas pessoa alguma, possui- dora de capacidade intelectiva mais profunda, poderá negar o senti- do espiritual e, como tal, profético, que se prende aos mencionados acontecimentos.

  2. Acaso não é evidente que entre estas bodas (que se deram no terceiro dia depois de Minha Volta do deserto de Bethabara) e a Minha Ressurreição, a qual também ocorreu três dias após a Minha Crucificação, existe uma correspondência estranha?

  3. Nestas bodas é demonstrado, num sentido profético, o que Me sucederia três anos mais tarde, e, num sentido mais amplo, que Eu, como Noivo Eterno, iria festejar as Bodas Verdadeiras com to- dos os Meus discípulos e verdadeiros amadores em seu renascimento para a Vida Eterna!

  4. Num sentido prático, a história destas bodas representa os três estados evolutivos por que toda criatura tem que passar para conseguir o renascimento do espírito, ou seja, as Bodas da Vida Eterna na imensa Caná da Divina Galileia.

  5. Chamam-se estes três estados: primeiro, o domínio da car- ne; segundo, a purificação da alma pela fé viva, que se manifesta por obras de caridade; terceiro, o despertar do espírito da tumba do julgamento. Tudo isto se vos apresenta, num quadro real, na ressur- reição de Lázaro.

11. Os acontecimentos nas bodas de Caná. O milagre do vinho. Confissão de Pedro. Testemunho do Senhor a respeito da Sua Missão. Brinde importante de Pedro. Interpretações. (João 2, 6–11)

6.ORA, ESTAVAM ALI COLOCADAS SEIS TALHAS DE PEDRAQUEOSJUDEUSUSAVAMPARAASPURIFICAÇÕES, ELEVAVA,CADAUMA,DUASOUTRÊS METRETAS.

1. Depois de Maria ter advertido os serventes a fazerem o que Eu mandasse, exigi que estas talhas fossem enchidas de água.

7.DISSE-LHES JESUS: “ENCHEI DE ÁGUA AS TALHAS!” —ENCHERAM-NASATÉEM CIMA.

  1. Os serventes, pensando que o recém-vindo iria lavar-se, de pronto foram enchê-las. O hóspede entra e senta à mesa sem ter lavado as mãos. Os serventes, irritados com isto, perguntam entre si: “Para que enchemos as talhas, se este hóspede não faz uso da água contida nelas?” — Eu então lhes digo: “Por que não perguntastes an- tes? Não ouvistes Maria dizer que não havia mais vinho? Embora o Meu Tempo ainda não tenha chegado, Eu transformei a água dentro das talhas em vinho, para revelar a Glória Daquele que dizem ser seu Deus, porém nunca O reconheceram! Fiz isto não por magia, mas, unicamente, pela Onipotência Divina, que está dentro de Mim!”

    1. ENTÃOLHESDISSE:“TIRAIUMPOUCODOVINHOELEVAI-OAOMORDOMO.”ELESO FIZERAM.

    2. QUANDO ESTE PROVOU A ÁGUA TRANSFORMADA EM VINHO, DESCONHECENDO SUA PROCEDÊNCIA, CHAMOUONOIVOELHE DISSE:

    3. TODO HOMEM PÕE PRIMEIRO O BOM VINHO E, QUANDOOSCONVIVASTÊMBEBIDOBASTANTE,APRESENTA-LHESOINFERIOR;MASTUGUARDASTEOBOMATÉ AGORA!”

  2. O noivo, porém, responde: “Falas como um cego das cores. Vê, este vinho não foi extraído em parte alguma, veio como o Maná dos Céus para a nossa mesa; por isto, ele deve ser melhor do que qualquer vinho desta terra.”

  3. Diz o mordomo: “Achas, por acaso, que sou um doido? A não ser que Jehovah, Pessoalmente, ou Seu servo Moysés, sentasse a esta mesa!”

  4. Diz o noivo: “Vem e convence-te!”

  5. O mordomo se cientifica de que as seis talhas estão re- pletas do melhor vinho e diz: “Senhor, perdoa-me os pecados! Somente a Deus seria possível este milagre — e Deus deve estar entre nós!”

  6. O vinho, então servido aos outros, fez com que todos Me saudassem, acreditando que Eu fosse realmente o Messias.

  1. Pedro, porém, aproxima-se de Mim e diz: “Senhor, deixa que eu me afaste, não sou digno de permanecer a Teu lado, pois és Jeho- vah em Pessoa, como foi predito nos salmos de David!”

  2. Digo-lhe Eu: “Se te achas indigno de ficar a Meu lado, quem teria este mérito? Vê, Eu não vim por causa dos fortes, mas para aju- dar os fracos e doentes. São estes que precisam de médico. Portanto, continua Comigo, que já te perdoei teus pecados; se, por acaso, pe- cares em Minha Presença, também te perdoarei; terás que alcançar a perfeição na tua fraqueza, pela qual Me reconheceste e já te tornaste uma rocha de fé!”

  3. Ouvindo estes ensinamentos, os olhos de Pedro se enchem de lágrimas e ele diz: “Senhor, se todos Te abandonarem, eu nunca o farei, pois Tuas Palavras são Verdade e Vida!”

  4. Após isto, Pedro toma do cálice e exclama: “Um viva a Israel e três vivas a nós! Somos testemunhas da promessa feita! Realizou-se o que era difícil de se acreditar! Glórias Àquele que está entre nós e nos deu, pelo Seu Poder, este vinho, para que acreditássemos Nele e Lhe déssemos a honra devida!”

  5. Eu, porém, digo-lhe em particular: “Tuas palavras não vie- ram do teu intelecto; o Pai, que está dentro de Mim, revelou-as ao teu espírito. Por ora, não te externes mais; tempo virá em que deve- rás gritar, para que o mundo te ouça!”

11. ASSIM,DEUJESUSINÍCIOAOSMILAGRESEMCANÁDAGALILEIA, MANIFESTANDO SUA GLÓRIA; E OS DISCÍPULOSACREDITARAM NELE.

  1. Assim como o Meu Jejum no deserto anunciava a persegui- ção que vinha de Jerusalém, e o batismo de João apontava a Minha Crucificação, as bodas, por sua vez, anunciavam a Minha Ressur- reição como exemplo do Renascimento pelo Espírito para a Vida Eterna! — Do mesmo modo como Eu transformei a água em vinho, o homem transformará sua matéria em espírito, se viver de acordo com o Meu Verbo! Todos vós deveis seguir o conselho de Maria aos serventes, quando disse: “Fazei o que Ele vos mandar!”, para que Eu

vos possa ofertar uma prova, como em Caná, pela qual cada um po- derá reconhecer, facilmente, o próprio renascimento pelo espírito!

12. O Senhor em companhia de Seus parentes em Capernaum. Realização de uma promessa de Isaías. Início da Doutrina Verdadeira do Senhor e Sua Dupla Ação. Explicação sobre o espírito mercantil. O Senhor e todos os Seus vão assistir à Páscoa em Jerusalém. O que representava a Páscoa naquela época. O Templo de Deus é usado como mercado de gado e agiotas. (João 2, 12–13)

12. DEPOISDISTO, JESUSDESCEUACAPERNAUMCOMSUAMÃE, SEUS IRMÃOS E DISCÍPULOS, E NÃO FICARAM ALIMUITO TEMPO.

  1. Sete dias após estas bodas, Eu deixei Nazareth, tomando o rumo de Capernaum em companhia de Maria e Meus cinco irmãos, dos quais dois já eram Meus discípulos e os demais, adeptos. Caper- naum tinha um comércio regular e ficava situada entre as províncias de Zebulon e Naphtalim, não muito distante do lugar em que João havia batizado. Alguém poderia perguntar qual era o Meu fito nesta cidade, que se tornara quase pagã. A este, aconselho a leitura da profecia de Isaías 9, 1: “Mas a terra de Zebulon e de Naphtalim, a caminho do mar, além do Jordão, e o povo que andava em trevas vi- ram uma Grande Luz, e sobre os que habitavam na terra da sombra da morte ela resplandeceu!”

  2. Uma vez que Eu vim para que se cumprisse a Escritura, era necessário que procurasse Capernaum. E não só isto — tinha também de adotar como discípulos dois filhos de Zebedeu: João e Jacob, mercadores do Mar Galileu. Foi então que iniciei Minha Doutrinação, chamando as criaturas à penitência, pois o Reino de Deus estava próximo. Dentro das sinagogas Eu pregava a Boa No- va, conseguindo que muitos acreditassem em Mim; outros, porém, aborreceram-se, querendo agredir-me e arremessar-me de cima de u’a montanha. Eu, entretanto, esquivei-me com todos os Meus e procurei outros lugarejos para pregar a Salvação do mundo e curar muitos doentes. Muitos pobres e humildes Me aceitaram, acompa- nhando-Me como ovelhas a seu pastor.

13.ESTAVAPRÓXIMAAPÁSCOADOSJUDEUS,EJESUSSUBIUA JERUSALÉM.

  1. Como tinha chegado a festa da Páscoa dos judeus, Eu Me dirigi, com todos os que Me acompanhavam, à Jerusalém. Naquele tempo esta festa não era celebrada no mesmo mês como hoje o fa- zem as congregações cristãs, e sim quase três meses mais tarde. Nessa Páscoa judia se homenageava Jehovah ofertando a primeira colheita do ano, tanto que se comia o pão feito com o trigo novo, mas que não podia ser fermentado. Nessa ocasião chegava u’a multidão à ca- pital dos judeus, que também era chamada de “A Cidade de Deus”, pois o nome Jerusalém significa basicamente “Cidade de Deus”.

  2. Entre os comerciantes havia muitos gentios que compravam e vendiam utensílios, tecidos, gado e frutos de toda espécie, de tal forma que essa festa já tinha perdido seu cunho divino. A ganância dos sacerdotes levava-os a alugar o átrio e o peristilo a judeus ou gen- tios, por uma soma bem considerável. Eu dirigi-Me à Jerusalém na época do Sumo Pontífice Caifás, que teve a habilidade de manter-se nesse cargo tão lucrativo por mais de um ano. O cumprimento das leis mosaicas era apenas considerado na sua cerimônia externa, a fim de ludibriar o povo ignorante.

  1. Mercado desonroso no Templo por ocasião da Páscoa. Aborrecimento de Pedro e Nathanael. Um velho judeu relata os horrores no Templo. Purificação do Templo pelo Senhor. (João 2, 14–17)

  2. ACHOUNOTEMPLOOSQUEVENDIAMBOIS,OVELHASEPOMBASETAMBÉMOSCAMBISTAS SENTADOS.

  1. Quando cheguei a essa cidade, encontrei uma situação indes- critível, pois havia muitos que temiam penetrar no Templo devido à aglomeração dos vendedores e também dos animais, que muitas vezes debandavam por entre os homens. Não só isto, mas também o barulho e o mau cheiro que se exalava dos bichos perturbavam sobremaneira a Mim e aos Meus, tanto que Pedro e Nathanael Me perguntaram: “Senhor, não tens raios e trovões à Tua disposição? Vê,

os pobres fiéis que vêm de longe para honrar a Jehovah nem sequer conseguem passar por entre os bois e carneiros; outros se lastimam de que, após muito sacrifício, conseguem entrar e sair, porém com- pletamente roubados dos bens que traziam. Isto é o cúmulo! É pre- ciso pôr termo a este despropósito! Já excede os horrores de Sodoma e Gomorra!”

  1. Um velho judeu, que estava perto, aproxima-se e fala: “Meus amigos, não sabeis de tudo! Há três anos atrás eu fui servo comum no Templo e vi coisas que arrepiavam meus cabelos!”

  2. Digo Eu: “Guarda isto contigo, pois sei de tudo o que se passa aqui. Asseguro-te, porém, que a medida está completa e ainda hoje verás a ação da Onipotência e da Ira de Deus! Afastai-vos um pouco dos portais para que não sejais prejudicados quando estes profanadores do Templo forem expulsos!”

  3. O judeu se afasta louvando a Deus, pois Me julgava um pro- feta. Juntando-se aos amigos, contou-lhes o que viu, e eles, cerca de cem pessoas, louvaram a Deus em alta voz!

15. E, FEITO UM AÇOITE DE CORDÉIS, LANÇOU TODOS FORA DOTEMPLO;TAMBÉMOSBOISEOVELHAS;EESPALHOUODINHEIRODOSCAMBIADORESEDERRIBOUAS MESAS.

  1. Eu, porém, chamo Pedro e digo-lhe: “Vai àquele cordoeiro, compra três cordas fortes e traze-as aqui!” Pedro obedece, entregan- do-Me três cordas grossas que Eu entrelaço fazendo um açoite. Des- ta maneira munido, digo a todos que Me rodeiam: “Entrai Comigo no Templo e sereis testemunhas, porque a Onipotência e Glória de Deus Se confirmará novamente diante de vós!” — Tomando a dian- teira ali penetro, abrindo alas para todos os que Me acompanham, embora o chão estivesse coberto de detritos.

  2. Chegando ao último peristilo do Templo, onde se encontram os mais afamados vendedores de gado para efetuarem seus negócios, justamente do lado esquerdo, pois o outro era ocupado pelos agio- tas, Eu Me posto nos degraus do pórtico e falo, com voz penetrante: “Está escrito: A Minha Casa é uma Casa de Oração; vós, porém,

a mudastes em um antro de ladrões! Quem vos deu o direito para tamanho sacrilégio?”

  1. Gritam eles: “Compramos por muito dinheiro este direito do Pontífice e gozamos de sua proteção e da de Roma!”

  2. Digo Eu: “Tendes realmente esta proteção; o Braço de Deus, no entanto, está contra vós e vossos protetores. Quem vos protegerá se Ele atingir a todos?”

  3. Dizem os vendedores e agiotas: “Deus reside no Templo e os sacerdotes são Dele; portanto, só poderão agir pela Sua Vontade! A quem eles protegem, também Deus protege!”

  4. Respondo Eu, com voz vibrante: “Como podeis proferir tamanho ultraje? Se bem que os sacerdotes continuem a ocupar os assentos de Moysés e Aaron, eles não mais servem a Deus, mas sim a Satanás e ao dinheiro; o direito de que falais é um direito do diabo, e não de Deus! Por isto, levantai-vos imediatamente e abandonai o Templo, do contrário sofrereis as consequências!”

  5. Eles, porém, se riem, dizendo: “Vede o atrevimento deste reles nazareno! Ponde-o fora daqui!” Com isto se dirigem a Mim para Me agredir.

  6. Eis que Eu levanto a mão com o açoite, fazendo-o girar com uma força sobrenatural por sobre as cabeças daqueles judeus; quem fosse atingido por ele seria atacado por uma dor insuportável. A con- fusão e a gritaria são indescritíveis: tanto os homens como os ani- mais procuram fugir, arremessando e pisando tudo que lhes impede o caminho. Eu, então, derrubo a barraca dos agiotas, derramando todo o dinheiro no chão, no que Meus discípulos Me ajudam.

16. EDISSEAOSQUEVENDIAMASPOMBAS: “TIRAIDAQUIESTASCOISAS;NÃOFAÇAISDACASADEMEUPAIUMACASADE NEGÓCIOS.”

  1. Em seguida Me aproximo dos vendedores de pombas, que se encontram no Templo esperando um comprador para suas aves. Como se trata de gente pobre e sem intenção de grandes lucros, e a venda de pombos constituía ali um fato muito antigo, Eu lhes dirijo

as seguintes palavras: “Levai tudo isto e não façais da Casa de Meu Pai uma casa de negócios; podeis vos estabelecer à saída do Templo!” Desta maneira foi realizada a limpeza.

17.ENTÃOSELEMBRARAMSEUSDISCÍPULOSDEQUEESTAVAESCRITO:“OZELODATUACASAME DEVORARÁ.”

  1. A limpeza do Templo foi de grande repercussão entre o po- vo, e os Meus discípulos temiam intimamente que os sacerdotes nos mandassem prender como revolucionários pelos guardas romanos, e julgavam difícil escaparmos da responsabilidade e do castigo, pois estava escrito: “O zelo da Tua Casa Me devorará!”

  2. Eu, no entanto, lhes disse: “Não vos preocupeis! Olhai lá fora o peristilo do Templo, como os serventes e sacerdotes se apres- sam em ajuntar o dinheiro entornado dos agiotas, guardando-o em seus bolsos. Certamente nos perguntarão a respeito dos lesados e como podíamos ser capazes de tal disparate, mas no fundo estarão muito satisfeitos. O lucro que obtiveram foi bem rendoso e não será restituído a seus legítimos donos.

  3. O zelo pela Minha Casa Me devorará, em verdade, mas não agora. Talvez uns poucos judeus venham a Me perguntar de onde provém o poder desta ação assombrosa e peçam uma prova para sua fé. Eu, no entanto, já sei disto e do que tem que acontecer, por isto não vos preocupeis! Observai na direção do reposteiro, onde estão alguns que se aprontam para esta indagação, cuja resposta lhes não será negada.”

14. Palavras proféticas do Senhor sobre a demolição e reconstrução do Templo em três dias. A incompreensão dos judeus; eles são recomendados aos discípulos. Testemunho e confissão destes. O Senhor dá um grande testemunho de luz aos judeus; eles exigem provas. (João 2, 18–22)

18.PERGUNTARAM-LHEOSJUDEUS:“QUEMILAGRESNOSMOSTRAS,VISTOQUEFAZESESTAS COISAS?”

  1. “Não conheces, por acaso, a severidade das leis?”

  1. RESPONDEU-LHESJESUS:“DEITAIPORTERRAESTETEMPLOEEMTRÊSDIASO LEVANTAREI!”

  2. REPLICARAM-LHE,POIS,OSJUDEUS:“ESTETEMPLOFOI EDIFICADO EM QUARENTA E SEIS ANOSE TU OLEVANTARÁSEMTRÊS DIAS?”

  3. MASELESEREFERIAAOSANTUÁRIODESEU CORPO.

  1. Com esta Minha resposta decisiva, os judeus ficam como es- tatelados e não sabem o que dizer, até que um deles se lembra de que foram precisos quarenta e seis anos para a construção do Tem- plo, dando trabalho consecutivo a milhares de pessoas; assim, este se Me dirige, dizendo: “Meu jovem, por acaso calculaste a grande tolice que acabas de pronunciar? Pensa um pouco, que testemunho dás de ti!

  2. Tua ação recente nos causou grande admiração e já começá- vamos, como dirigentes de Jerusalém, a estudar qual o poder que a motivou, tão louvável: se constitui um poder físico ou sobrenatural. Eis a razão por que te perguntamos. Se por acaso nos tivesses esclare- cido com palavras sábias, que entendêssemos perfeitamente, que tu és um profeta iluminado por Deus e, como tal, pudeste executar esta ação, nós te teríamos dado crédito. Entretanto, deste-nos uma res- posta tão incrivelmente presunçosa, destituída de qualquer verdade, que reconhecemos em ti somente um homem que talvez tivesse tido oportunidade de aprender um pouco de magia numa escola pagã, e com isto te quisesses fazer respeitar em Jerusalém. Lastimamos este equívoco!”

  3. Digo Eu: “Também Eu lastimo que sejais tão cegos e surdos! Eu vos dei uma prova visível, que ninguém até hoje conseguiu, falo a verdade pura e vós afirmais que sou um fanfarrão, com certa habi- lidade em magia pagã! Que imensa tolice! — Vede aquele grupo que Me segue desde a Galileia! Eles já Me reconheceram, embora digais que o povo de lá é mau e destituído de qualquer fé. Que Me dizeis?”

  4. Dizem os judeus: “Pois nós também queríamos conhecer-te; mas tu nos deste uma resposta absurda, que nos levou a este juízo.

Não reconheces a nossa boa vontade? Se tu fosses um verdadeiro profeta, poderias ter vida fácil em nosso meio; no entanto, não re- conheces isto, o que prova que não és um profeta, e sim um simples mago que profana muito mais o Templo do que aqueles que foram expulsos por ti!”

  1. Digo Eu: “Procurai vos orientar com os que Me seguiram até aqui; eles vos dirão quem sou Eu!”

  2. Os judeus seguem o Meu conselho e recebem os necessários esclarecimentos pelos Meus discípulos, que, no entanto, confessam também não compreender a Minha resposta anterior.

22. OSMEUSPRÓPRIOSDISCÍPULOSCOMPREENDERAMMINHASPALAVRASEAESCRITURAAPÓSMINHARESSURREIÇÃOMILAGROSA,TRÊSANOSMAIS TARDE.

  1. Depois de receberem os esclarecimentos por parte dos discí- pulos, os judeus se dirigem novamente a Mim e dizem: “Tudo leva a crer que tu és, realmente, o Messias! Tanto o testemunho de João como o teu milagre provam isto. Somente tuas palavras são o oposto de todo o resto. Como poderia o Messias ser Deus pela ação e um tolo pelo que fala? Explica-nos isto e nós te aceitaremos e te ajudare- mos no que for possível!”

  2. Digo Eu: “O que podereis dar a Mim, que não tivésseis rece- bido de Meu Pai, que está no Céu? Como quereis dar-Me algo, que não seja Meu? Porque aquilo que é do Pai também é Meu, pois o Pai e Eu não somos dois, mas Um só! Eu vos digo: Somente a vontadeé vossa, o resto todo é Meu!Entregai-Me a vossa vontade no ver- dadeiro amor, acreditai que Eu e o Pai somos Um, e com isto tereis dado tudo que Eu vos possa pedir!”

  3. Dizem os judeus: “Então faze um milagre — e nós acredi- taremos que tu és o Prometido!”

  4. Digo Eu: “Por que desejais uma prova? Ó criaturas erradas! Ignorais que os milagres a ninguém libertam, mas sim tornam a cria- tura réu de juízo? Eu, entretanto, não vim para o vosso julgamento, mas para dar-vos a Vida Eterna, se tendes fé em Mim! Muitos mila-

gres se hão de dar e sereis testemunhas, mas não vos trarão a vida; ao contrário, matar-vos-ão!”

15. Continuação do episódio entre o Senhor e os judeus. Um deles quer convidá-Lo e a Seus discípulos para se hospedarem em sua casa. O Senhor revela os pensamentos hostis dele e de seu grupo, bem como a maldade das leis humanas. O Senhor abandona em seguida o templo. (João 2, 23–25)

23. ESTANDO JESUS EM JERUSALÉM NA FESTA DA PÁSCOA,MUITOS, VENDO OS MILAGRES QUE FAZIA, ACREDITARAMEMSEU NOME.

  1. Eu vos digo: “Estamos na Páscoa e Eu ficarei durante estes dias em Jerusalém; ide para onde Eu vou e tereis provas verdadeiras em quantidade. Mas cuidai que elas não vos matem!”

  2. A estas palavras os judeus se admiram muito. Eu, porém, os deixo, saindo do Templo com Meus discípulos. Os judeus Me seguem disfarçadamente, porquanto não tinham coragem de fazê-lo abertamente, pois Eu havia falado “de provas que poderiam matá-

-los”. Eles não compreendiam que Eu Me referia à morte de sua alma, e não à do corpo; eles, como todos os ricos, eram grandes amigos da vida terrena.

  1. Um dentre eles se dirige a Mim e diz: “Mestre, eu Te reco- nheço como Messias e desejo seguir-Te. Onde assistes?”

    1. MAS O PRÓPRIO JESUS NÃO CONFIAVA NELES, PORQUE CONHECIAA TODOS.

    2. E NÃO PRECISAVA QUE ALGUÉM LHE DESSE TESTEMUNHO DO HOMEM, POIS CONHECIA PERFEITAMENTE O QUEHAVIANO HOMEM.

  2. Eu vi que ele não tinha boas intenções em querer descobrir o Meu pouso e disse: “Os pássaros têm seus ninhos, as raposas seus covis, mas o Filho do homem não tem uma pedra onde repousar Sua cabeça, muito menos nesta cidade. Vai primeiro purificar teu cora- ção e depois volta com intenções sérias e honestas; e verás se podes permanecer a Meu lado!”

  1. O judeu responde: “Mestre, enganas-Te comigo e com os meus amigos; se não tiveres pouso, podes vir conosco e Te acolhere- mos, tanto a Ti como a Teus discípulos.”

  2. Eu, no entanto, vi que ele tinha maldade no coração e fa- lei: “Não é possível confiar em vós, que sois amigos de Herodes e apreciais escândalos gratuitos. Eu não vim a esta cidade para vos distrair com comédias, mas a fim de anunciar que o Reino do Céu está próximo e que deveis fazer penitência para tomardes parte nele. Agora, vede: Eu não necessito de pouso! Quem mora numa casa, só poderá sair dela pela porta, que tem fechadura e trinco, com o que facilmente se faz prisioneiro um hóspede. Aquele, porém, que reside ao relento, não corre este perigo!”

  3. Diz o judeu: “Como podes proferir tamanha injustiça? Pen- sas que nós não respeitamos um hóspede? Se nós Te convidamos e se entrares em nossa casa, serás o que há de mais sagrado nela, e ai daquele que Te não respeitar!”

  4. Digo Eu: “Conheço bem esta organização vossa; porém, não ignoro a outra, que protege o hóspede enquanto dentro de casa; mas, quando este quer sair, vossos capangas o esperam atrás da porta com algemas e correntes! Dize-Me tu, este hábito também faz parte da proteção ao hóspede?”

  5. Diz o judeu, um tanto encabulado: “Quem poderá fazer este juízo de nossa casa?”

  6. Respondo Eu: “Aquele que o sabe! Não se deu isto há pou- cos dias, sendo a pessoa entregue nas mãos da justiça?”

  7. O judeu, ainda mais encabulado: “Mestre, quem Te disse isto? E se assim foi, dize-me, aquele criminoso não merecia isto?”

  8. Digo Eu: “Considerais muita coisa como crime que, para Deus e para Mim, não o é; a dureza de vossos corações condena em muitos casos para os quais Moysés não deu lei. Eis vossos estatutos que, para Mim, não têm autoridade para julgar alguém como crimi- noso! Eles são um pecado contra as leis de Moysés; como é possível condenar alguém que pecasse contra eles, considerando essas leis?! Eu vos digo: Sois cheios de malícia e astúcia!”

  1. Diz o judeu: “Mas, como assim? Moysés nos deu o direito de criar leis para casos excepcionais; assim sendo, nossos estatutos bem estudados são tanto como aquelas leis! Quem não os considera é tão criminoso como aquele que peca contra as leis mosaicas!”

  2. Replico Eu: “Assim fazeis vós, não Eu. Moysés ordenou que amásseis e honrásseis vossos pais; dizeis, porém, e os sacerdotes até ordenam: ‘Aquele que fizer uma oferenda no Templo resgatará a obrigação para com as leis de Moysés.’ Mas, se por acaso alguém vos dissesse: ‘Sois verdadeiros difamadores de Deus e miseráveis im- postores, pois anulais a Lei por causa de vossa ganância, inventando outra a fim de judiar com a pobre Humanidade!’ — sendo esta a causa por que mandastes prender aquele homem — Eu pergunto: Teria ele merecido isto? Não sois vós os criminosos?”

  3. O judeu, irritado, procura seu grupo de amigos, a quem conta o que se passou. Eles, porém, meneiam a cabeça, dizendo: “Coisa estranha, como poderia este homem saber disto tudo?!” — Eu, no entanto, Me afasto dali, procurando um pequeno albergue fora da cidade, onde permaneço vários dias com todos os Meus.

  4. O sentido espiritual da purificação do Templo revelado pelo Senhor.

  1. O Templo representa a criatura em sua esfera natural do mundo. Tanto no Templo como no homem, encontra-se um santu- ário. Por isto, o exterior do Templo deve ser santificado e purificado, para que o seu santuário, como o do homem, não se profane.

  2. Esse santuário, o do Templo, é coberto por um espesso véu e somente ao Sumo Pontífice é permitido ali penetrar, em certa época. O véu, tanto como a entrada raras vezes permitida no santuário, é uma proteção contra sua profanação. Pois, se alguém peca pela carne, não somente mancha seu corpo, mas também sua alma e, através dela, seu espírito, que representa na criatura o intrínseco e santíssimo.

  3. Tanto no Templo como no homem, esse véu somente poderá ser levantado pelo amor a Deus, que é, na criatura, o verdadeiro pontífice divino. No entanto, se este único pontífice dentro do ho-

mem também fica impuro em se apegando às coisas do mundo, como o santuário poderá ficar isento de imundícies?

  1. Uma vez que o Templo e o homem se tornem impuros, não poderão ser limpos pelo próprio homem; pois uma vassoura suja não fará limpeza dum quarto. Eis que Eu, infelizmente, tenho que pôr mãos à obra e limpar o Templo com energia, mandando doenças de toda espécie e outros aparentes acidentes.

  2. Os vendedores e compradores representam as paixões e per- versidades; os animais expostos à venda significam o grau mais ínfi- mo da sensualidade e, também, a imensa tolice e cegueira da alma, cujo amor é igual ao de um boi — que é destituído de amor procria- tivo, manifestando apenas a voracidade — e cujo conhecimento é igual ao dos carneiros.

  3. E que representam os agiotas e suas transações? Tudo aquilo que surge do amor-próprio animalizado! Porque o animal só ama a si mesmo, e um lobo devora o outro quando tem fome. Este amor-

-próprio animalizado tem que ser expulso do homem com toda sor- te de sofrimento, e aquilo que vivifica este amor deve ser derramado e dispersado.

  1. Mas por que não é completamente destruído?

  2. Porque até a este amor não poderá ser tirada a liberdade, as- sim como a semente nobre progredirá melhor num campo estruma- do com detritos animais, dando, desta maneira, uma colheita abun- dante. Se o estrume fosse tirado da terra para limpá-la dos detritos, a semente progrediria muito dificilmente, não dando boa colheita.

  3. Tanto que estes detritos, que foram inicialmente amontoados no campo, devem ser entornados e espalhados, passando a ser úteis a este campo; pois, se fossem deixados como estão, sufocariam tudo.

  4. Agora, qual é a significação dos vendedores de pombos den- tro do Templo, que também precisam se afastar e aceitar o lugar indicado para eles?

  5. Nada mais são do que as virtudes externas, que consistem em toda sorte de cerimônias, boas maneiras, gentilezas e atenções, aplicadas puramente no meio mundano, mas que a cegueira da Hu-

manidade eleva a culto respeitável, querendo basear nisto a verda- deira vida do homem!

  1. A pomba é uma ave que comumente era usada no Oriente como mensageira, especialmente em assuntos de amor; por isso, já com os antigos egípcios como um hieróglifo, representa conversação delicada e amorosa. Os jovens casais sacrificavam-na no Templo por ocasião do nascimento de seu primeiro filho como prova de que desistiram destas mensagens externas, gentilezas e cerimônias, pene- trando, deste modo, no verdadeiro amor vivificador.

  2. Sabemos, porém, que, pela ordem das coisas, o externo faz parte do exterior; a casca nunca deve encontrar-se na polpa da árvo- re, pois é algo completamente sem vida. Esta casca, no entanto, é de grande utilidade para a árvore, quando na medida justa. Se alguém quisesse fazer penetrar a casca dentro da polpa, tirando da árvore este elemento vital, ela em breve secaria e morreria.

  3. Este é o motivo por que estes vendedores de pombas têm que se afastar do santuário e aceitar o lugar indicado, mostrando que o homem não deve tomar as virtudes externas por qualidades espi- rituais, pelo que se torna um boneco social. Tendes aqui o sentido espiritual da purificação do Templo, e facilmente se compreenderá que a correspondência entre ele e o homem só poderia ser explicada pela Sabedoria Divina.

  4. Mas por que o Senhor não Se estabelece dentro do templo purificado? Porque Ele sabe como deve ser o íntimo da criatura para que possa tomar morada dentro dela. Igualmente a liberdade do homem é respeitada por Deus, para que não se torne autômato.

  5. Por isto Ele Se afasta do santuário, influenciando apenas, como que por acaso, o íntimo da criatura, não Se sujeitando às suas exigências em ficar com ela e dentro dela, estimulando assim sua inércia. Pois tem que despertar para a ação própria e tornar-se um ser perfeito, como será demonstrado no próximo capítulo.

3º CAPÍTULO

PALESTRA DE JESUS COM NICODEMUS SOBRE O RENASCIMENTO, E DE JOÃO COM SEUS DISCÍPULOS SOBRE O CRISTO

  1. Ação caridosa do Senhor pela doutrinação e as curas milagrosas. Contato com os visitantes ricos, durante a noite. “Deus escolhe aquilo que é pequeno perante o mundo!” (João 3, 1)

    1. HAVIAUMHOMEMCHAMADONICODEMUS,CHEFEENTREOS JUDEUS.

  1. Durante estes dias em que fiquei no albergue, muitos Me procuraram; os pobres vinham geralmente durante o dia, os ricos e distintos, à noite, porque não queriam passar por fracos e suspeitos.

  2. A curiosidade, porém, e o pressentimento de que Eu pudesse ser o Messias os instigavam a travar relações Comigo, tanto que Me visitavam na escuridão da noite.

  3. Estas visitas os deixavam, no entanto, amuados e escandaliza- dos, porque estes convencidos se irritavam bastante pelo fato de não receberem de Mim o mesmo trato que os pobres, os quais louvavam Minha Bondade e Amizade.

  4. Como médico, fiz muitos milagres; libertei os obsedados dos seus algozes, curei os entrevados pelo reumatismo, limpei os lepro- sos, os surdos e mudos ouviram e falaram, os cegos enxergaram de novo — e tudo apenas pela palavra!

  5. Isto era também sabido por aqueles que Me procuravam à noite, desejando uma prova do Meu Poder; no entanto, Eu sempre respondia da seguinte maneira: “O dia tem doze horas e a noite também. O dia é destinado para o trabalho, e a noite para o repou- so; quem trabalha de dia não se prejudica, mas quem o faz de noite pode ferir-se, pois não vê onde põe o pé!”

  6. Muitos desejavam saber de onde Me vinha o poder para re- alizar tantos milagres. E a resposta também era sempre a mesma: “Faço isto com o Meu Próprio Poder, não necessitando de ajuda de quem quer que seja!”

  1. Noutra ocasião, indagaram por que Eu não procura- va morada na cidade, pois, para grandes feitos, era preciso lu- gar adequado.

  2. Eu lhes disse: “Num lugar onde os guardas se postam dian- te dos pórticos e só dão entrada aos ricos e recusam os pobres, Eu não posso ficar. Além disto, Eu aprecio só aquilo que é pequeno e desprezado perante o mundo, porque está escrito: O que é grande perante o mundo é um horror para Deus!”

  3. Eles disseram: “Então o Templo, em que reside Jehovah, não é grande e maravilhoso?”

  4. Disse Eu: “Ele deveria morar lá, mas, como vós o profanas- tes, Ele o abandonou, e a Arca de Moysés está vazia e morta!”

  5. Responderam os ignorantes: “Que absurdo estás dizen- do? Não sabes o que Deus falou a David e Salomon? As palavras de Deus poderiam ser mentiras? Quem és tu, para arriscar tama- nha tolice?”

  6. Disse Eu: “Do mesmo modo que tenho, de Mim Mesmo, o Poder e a Onipotência de curar todos os doentes que Me procuram, também tenho o direito integral de dizer-vos o que ali existe; e repi- to: este vosso Templo é um horror para Deus!”

  7. Aí alguns se aborreceram, mas outros disseram: “Ele deve ser um profeta, e os profetas sempre se externavam desfavoravel- mente sobre o Templo! Deixemo-lo!”

18. Cena com Nicodemus, o prefeito de Jerusalém. Embora tivesse calculado certo as profecias sobre o Reino do Céu, ele não reconhece o Senhor. Importantes ensinamentos sobre o renascimento. (João 3, 2–5)

  1. Na penúltima noite de estada nos arrabaldes de Jerusalém, um judeu chamado Nicodemus veio à Minha procura, pois era um nobre naquela cidade. Pelo ofício, dignidade e distinção, ele era, mais ou menos, o que atualmente é um cardeal em Roma e, além disto, o mais rico cidadão de Jerusalém, capitão dos judeus e prefeito da cidade toda, pelo voto romano.

  1. ESTE FOI TER COM JESUS DE NOITE E LHE DISSE: “RABI, SABEMOS QUE ÉS MESTRE VINDO DA PARTE DE DEUS;POIS NINGUÉM PODE FAZER OS MILAGRES QUE FAZES, SEDEUSNÃOESTIVERCOM ELE.”

  1. Este homem, pois, procurou-Me durante a noite, dizendo: “Mestre, perdoa-me se venho perturbar Teu repouso, mas, como me falaram que deixarias este lugar pela manhã, eu não poderia dei- xar de demonstrar o meu grande respeito por Ti! Pois eu e muitos fariseus, após observarmos Teus atos, chegamos à conclusão de que Tu és um real profeta, e que Jehovah está Contigo! Nesta qualidade deves saber do mal que nos afeta, malgrado Teus predecessores nos prometerem o Reino do Céu. Dize-me, por favor, quando ele virá, como devemos compreendê-lo e o que será exigido para entrar nele?”

  2. JESUS RESPONDEU: “EM VERDADE, EM VERDADE TE DIGO QUE,SEALGUÉMNÃONASCERDENOVO,NÃOPODEVEROREINODE DEUS.”

  1. Estas palavras tão conhecidas têm a seguinte significação: A não ser que despertes tua alma por meios que Eu demonstro pelo Verbo e a Ação, não poderás sequer perceber o sentido vital divino que nele se encontra, tampouco penetrar em suas profundezas!

  2. PERGUNTOU-LHE NICODEMUS: “COMO PODE UM HOMEM NASCER DE NOVO, SENDO VELHO? PODE, PORVENTURA,ENTRAR NOVAMENTE NO VENTRE DE SUA MÃE E RENASCER?”

  1. “Meu querido Mestre, isto que dizes é impossível! Talvez não estejas bem informado do Reino vindouro, ou então sabes-lo e não queres esclarecer-me, com receio de que eu venha prender-Te!

  2. Mas esta preocupação é inútil; jamais privei alguém de sua liberdade, a não ser quando era um assassino ou ladrão! Tu, porém, és um grande benfeitor da pobre Humanidade e curaste muitos do- entes, apenas pela Onipotência Divina dentro de Ti; como poderia eu querer impedir esta Tua Ação?

  1. É preciso que saibas que estou seriamente interessado no Rei- no de Deus! Se souberes algo a respeito, dize-me, mas de uma forma compreensível! Pelos meus cálculos sei, positivamente, que o Reino de Deus já deve ter chegado — e desejava ter de Ti uma resposta definitiva!”

5.JESUS RESPONDEU: “EM VERDADE, EM VERDADE TE DIGOQUE,SEALGUÉMNÃONASCERDAÁGUAEDOESPÍRITO,NÃOPODERÁENTRARNOREINODE DEUS.”

  1. A esta nova pergunta dei a Nicodemus a mesma resposta que se lê no 5º versículo; apenas difere da primeira pela explicação mais nítida, quais os meios necessários para o renascimento, que são: ÁGUA E ESPÍRITO. Isto representa que:

  2. A alma necessita primeiro da purificação pela água da hu- mildade — pois ela é o símbolo antiquíssimo desta virtude e aceita tudo que se lhe faz, procurando sempre os recantos mais profundos e jamais se elevando — para só então poder receber o Espírito da Verdade, nunca compreendido por uma alma impura.

  3. Quem, portanto, assimilar a Verdade com sua alma purifica- da, será liberto pelo Espírito da Verdade e penetrará no Reino do Céu.

  4. Esta explicação, aliás, não foi dada a Nicodemus, porque sua esfera de conhecimento atual não o teria permitido. Por esta razão, ele Me pergunta novamente como deveria compreendê-lo!

19. Continuação da cena com Nicodemus. O Senhor, Mestre em tudo, também o é na Verdadeira Sabedoria. A natureza do homem. O segredo do espírito. Parábola maravilhosa do vinho novo, como interpretação de uma alma ainda não amadurecida para a luz espiritual. (João 3, 6–12)

6.“O QUE É NASCIDO DA CARNE É CARNE; O QUE É NASCIDODOESPÍRITOÉ ESPÍRITO.”

  1. E Eu lhe respondi conforme consta do 6º versículo: “Não te admires de que Eu te fale desta maneira, pois o que vem da carne é carne e nada mais do que matéria sem vida, ou invólucro da alma; mas o que vem do espírito, também é espírito e a verdade em si!”

  1. Nicodemus, porém, compreende cada vez menos e se admi- ra não deste fato, mas pela simples razão de que ele, como fari- seu erudito e versado nas Escrituras, não perceba o sentido de Mi- nhas Palavras.

  2. Por isto, pergunta-Me novamente: “Mas, como?! Poderá o espírito gerar outro espírito?!”

    1. NÃO TE ADMIRES POR EU TE DIZER: É NECESSÁRIO A VÓSNASCERDE NOVO!

    2. O VENTO SOPRA ONDE QUER, E OUVES SUA VOZ, MAS NÃO SABES DONDE VEM, NEM PARA ONDE VAI; ASSIM É TODOAQUELEQUEÉNASCIDODO ESPÍRITO.”

  3. “Vê, assim como não vês o vento, embora o escutes, não po- derás ver o espírito, tampouco compreender Aquele que vem do Espírito e fala contigo! Mas, como és de boa vontade, saberás em tempo oportuno o que hoje ainda não podes conceber!”

9.PERGUNTOU-LHENICODEMUS:“COMOPODESER ISSO?”

  1. “Tudo que compreendo, compreendo em minha carne; mas, se esta me for tirada, não compreenderei coisa alguma! Como me tornarei espírito dentro da carne, e como meu espírito poderá con- ceber um outro para um novo nascimento?”

10.RESPONDEU-LHE JESUS:“TU ÉS MESTRE EM ISRAEL ENÃOENTENDESESTAS COISAS?”

  1. “O que esperar dos outros, que mal sabem que existiu um Abraham, um Isaac e um Jacob?”

  1. EM VERDADE TE DIGO, FALAMOS O QUE SABEMOS ETESTIFICAMOS O QUE TEMOS VISTO, E NÃO RECEBEIS ONOSSO TESTEMUNHO.

  2. SE NÃO ME ACREDITAIS QUANDO FALO DE COISASTERRENAS, COMO IREIS CRER SE VOS FALAR DAS COISAS CELESTIAIS?”

  1. “Eu te digo: Somente o espírito, que em si e por si é espírito, sabe o que está nele e o que é a sua vida! A carne, porém, é apenas uma casca externa e nada sabe do espírito, a não ser que ele lhe trans- mita algo! O teu ainda está muito dominado e encoberto pela carne, por isto desconheces o que vem dele.

  2. Mas tempo virá, como já te disse, em que teu espírito se li- bertará e então compreenderás e aceitarás o nosso testemunho!”

  3. Diz Nicodemus: “Querido Mestre, ó mais Sábio entre os sá- bios! Quando virá este tempo?”

  4. Respondo Eu: “Meu amigo, não tens a necessária matura- ção para que Eu te possa dizer a época, dia e hora.

  5. Enquanto o vinho novo não tiver fermentado bastante, ele permanece turvo; e se fosse colocado numa taça de cristal e tu o segurasses contra o sol, sua luz não penetraria o líquido opaco. O mesmo se dá com o homem. Enquanto não expelir as impurezas de sua alma, a luz dos Céus não poderá transpassar seu ser. Agora, dir-te-ei algo: se o compreenderes, terás a Luz necessária! Ouve-Me!”

  1. Mais três versículos importantes, não compreensíveis a Nicodemus. Seu discurso pessimista. Pequena advertência do Senhor. (João 3, 13–15)

    1. NINGUÉM SUBIU AO CÉU, SENÃO AQUELE QUE DE LÁDESCEU, A SABER: O FILHO DO HOMEM QUE PERMANECENO CÉU.

    2. COMO MOYSÉS ELEVOU A SERPENTE NO DESERTO, ASSIM IMPORTAQUEOFILHODOHOMEMSEJA ELEVADO.

    3. A FIM DE QUE TODOS QUE NELE CREEM NÃO PEREÇAM, MASTENHAMAVIDA ETERNA.”

  1. (O Senhor): “Dize-Me, compreendes isto?” — Diz Nicode- mus: “Querido Mestre, como poderia? Possuis uma sabedoria toda especial; como já disse, mais fácil me seria ler hieróglifos do que compreendê-la!

  2. Sinceramente, se não fossem Teus milagres, eu me veria obri- gado a julgar-Te um doido, porque, como Tu, ninguém até hoje fa-

lou! Portanto, se Tuas Ações são Divinas, Tua Doutrina do Reino do Céu sobre a terra também deve sê-la, quer eu a compreenda ou não!

  1. Considerando ligeiramente a Tua Tese: ‘Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu’, eu me vejo perdido! Caro Mes- tre, depois de Henoch e Elias, ninguém teve a felicidade de subir visivelmente para o Céu! Talvez sejas Tu o terceiro? Mas qual seria o benefício da Humanidade, que não poderá subir ao Céu, uma vez que não vem de lá?

  2. Além disto, afirmas que Aquele que de lá desceu só se en- contra aparentemente sobre a terra, porque em verdade continua no Céu! Meu caro Mestre, eu Te garanto que as pobres criaturas daqui agradecem por tal Reino! Quem não sabe que uma andorinha só não faz verão? Qual foi o mérito de Henoch e Elias, para que fossem elevados ao Céu? Realmente nenhum, a não ser aquilo que era afim com a sua natureza celestial!

  3. Em tudo isto não existe esperança nem consolo para esta po- bre Humanidade! Mas, como já disse e reafirmo, Tua doutrina é divina e sábia, embora o meu raciocínio a condene como absurda!

  4. Tampouco compreendo o que dizes da elevação do Filho do homem igual à elevação da serpente de Moysés, e que todos terão a Vida Eterna quando acreditarem Nele. Quem é este Filho do ho- mem? — Onde está? — O que faz? — Virá como Henoch e Elias, do Céu? — Já nasceu? — O que aqueles que, como eu, jamais o viram devem esperar deste Filho do Homem? — Como poderá vir à terra se continua no Céu? Onde e quando será elevado? E com isto será rei dos judeus, inatingível pelo seu poder?

  5. Vês que não sou como aqueles que rejeitam uma doutrina porque não a compreendem. Peço-Te, porém, que me dês uma ex- plicação fácil, porque, se eu a introduzir em Jerusalém, todos terão que aceitá-la!”

  6. Digo Eu: “Pronunciaste muitas palavras, como alguém que não entende coisa alguma de assuntos espirituais, mas isto não pode ser de outra maneira, pois te encontras ainda nas trevas do mundo e não podes receber a luz que veio iluminar as trevas. Tens apenas um

pequeno vislumbre, entretanto não vês o que se encontra diante do teu nariz!”

21. O Senhor elucida Nicodemus sobre a encarnação do Filho e a Sua Missão como Filho de Deus e Filho do homem. Aquele que não reconhece o Senhor está sendo julgado. O que é o julgamento? (João 3, 16–21)

16.“POISASSIMTANTOAMOUDEUSAOMUNDO,QUELHEDEU SEU FILHO UNIGÊNITO, PARA QUE TODO QUE NELECRÊNÃOPEREÇA,MASTENHAAVIDA ETERNA.”

  1. “Eu te digo: Deus é o Amor e o Filho é a Sua Sabedoria! As- sim amou Deus tanto ao mundo, que lhe deu Seu Filho Unigênito, isto é, Sua Sabedoria, a qual emana Dele de toda a Eternidade, a fim de que todos que creem não pereçam, mas tenham a Vida Eterna! Dize-Me, também não compreendes isto?”

  2. Diz Nicodemus: “Tenho a impressão de que devia compre- endê-lo, mas, no fundo, isto não se dá. Se ao menos soubesse o que fazer com o Filho do homem, já me encontraria numa certa ordem! Dize-me uma coisa: Acaso o Filho do homem e o Filho Unigênito de Deus são uma só individualidade?”

  3. Digo Eu: “Vê, Eu tenho uma cabeça, um corpo, mãos e pés. Tudo isto é carne e pertence ao Filho do homem. Mas neste Filho do homem, carne, reside a Sabedoria Divina, isto é, o Filho Unigê- nito de Deus. Entretanto, somente o primeiro será elevado como a serpente de Moysés, e não o Filho Unigênito de Deus. Aqueles que não se aborrecem com isto e creem no Filho do homem receberão o poder dos Filhos de Deus, e sua vida e seu reino não terão fim.”

17. “POISDEUSNÃOENVIOUOFILHOAOMUNDOPARAJULGÁ-LO, MAS PARA QUE O MUNDO SEJA SALVO POR ELE.”

  1. “Este julgamento não vos trará guerra, dilúvio ou fogo do Céu, pois Deus mandou Seu Filho para que a carne não pereça, mas sim ressuscite para a Vida Eterna. Esta carne não é a do corpo, mas os desejos carnais da alma. A fim de que ressuscite para a Vida

Eterna, é preciso que a fé venha destruir as tendências materiais daalma— esta fé verdadeira no Filho do Homem, que de toda a Eternidade reside em Deus, e veio ao mundo para dar vida àqueles que creem em Seu Nome!”

18. “QUEM NELE CRÊ NÃO É JULGADO; O QUE NÃO CRÊ JÁESTÁ JULGADO, PORQUE NÃO CRÊ NO NOME DO FILHOUNIGÊNITODE DEUS.”

  1. “Todo aquele, seja judeu ou pagão, que Nele crê, jamais será julgado; aquele, porém, que se aborrecer no Filho do homem e Nele não crer, já estará julgado. Pois o orgulho — emanação do amor-

-próprio que se manifesta como altivez, impedindo que creia no Filho do homem — é seu julgamento. Terás compreendido agora?”

  1. Responde Nicodemus: “Sim, em parte compreendo o senti- do místico de Tuas palavras; mas, enquanto este Filho do homem, tão poderoso, não se apresentar e Tu não puderes indicar o tempo e o lugar de seu aparecimento, tudo isto soará muito vago.

  2. Do mesmo modo, Teu julgamento parece mais do que mis- terioso. Que novo sentido ligas a ele?”

  3. Digo Eu: “Meu amigo, com toda razão poderia perguntar-te: Qual o motivo que te impede de compreender o sentido claro das Minhas Palavras?”

19. “O JULGAMENTO É ESTE: A LUZ VEIO AO MUNDO E OSHOMENS AMARAM MAIS AS TREVAS DO QUE A LUZ, POISERAMMÁSASSUAS OBRAS.”

  1. “Vê, este é o julgamento: a Luz Divina veio dos Céus para este mundo; as criaturas, porém, embora recebendo-A, preferem as trevas por serem más as suas obras!

  2. Onde encontras uma fé integral? Onde, o temor justo de Deus? Acaso existe alguém que ame o próximo sem visar algum lu- cro? Onde estão aqueles que amariam a mulher apenas pela procria- ção? Procuram unicamente a satisfação do seu gozo! Onde está o ladrão que toma de uma vela para roubar à vista de todos?”

20. “PORQUANTO TODO AQUELE QUE PRATICA O MAL ODEIA ALUZEDELANÃOSEAPROXIMA,AFIMDEQUESUASOBRASNÃOSEJAM ARGUIDAS.”

  1. “Todos que praticam estas ações são maus e, portanto, ini- migos da Luz, tudo fazendo para que Ela não ilumine suas obras.

  2. Nisto consiste o julgamento; tu, porém, entendes como tal o castigo que o segue como veredicto.

  3. Já é um julgamento para tua alma o fato de preferires andar à noite; se tu, por isto, te ferires ou caíres numa vala, estarás sofrendo o castigo do teu erro, pois amas a noite e desprezas o dia.”

21. “AQUELE, PORÉM, QUE AGE PELA VERDADE, CHEGA-SE À LUZ, A FIM DE QUE SEJAM MANIFESTAS SUAS OBRAS, QUEFORAMFEITASEM DEUS.”

  1. “Quem, portanto, for amigo da Luz andará de dia, e não à noite, reconhecendo-A imediatamente, pois ele próprio surgiu desta Luz, que se chama — a fé no coração, manifestando-se co- mo verdade!

  2. Repito: Aquele que crê no Filho do homem e que Este é a Luz de Deus, já possui a vida em si; aquele que não crê se encontra sob julgamento, que é a própria falta de fé! Compreendeste isto?”

22. Nicodemus não encontra, ainda, o Filho Divino; por isto o Senhor o manda a João. Finalmente desperta uma luz em sua alma. “Segue a voz do teu coração.” O valor do amor. O Senhor pede uma caridade a Nicodemus. Sua declaração de amor ao Desconhecido.

  1. Diz Nicodemus: “Bem, agora tudo me é compreensível; fal- ta, porém, algo muito importante: o Filho do homem, sem O qual as Tuas interpretações sábias não têm valor algum. De que me adian- ta a fé ou a melhor boa vontade em querer acreditar no Filho do homem, se não existe? Não é possível criá-Lo apenas por uma ideia fixa. Dize-me, pois, onde posso encontrá-Lo e Te garanto que O aceitarei com uma fé completa!”

  1. Digo Eu: “Se Eu não tivesse percebido isto, não teria da- do esta explicação. Acontece, porém, que vieste durante a noite a Mim, embora tivesses tido conhecimento de Minhas Ações mila- grosas. Como procuravas na noite do tempo e na noite de tua al- ma, é fácil de se compreender a tua incompreensão a respeito do Filho do homem.

  2. Eu te digo: Aquele que O procurar durante a noite, pois se envergonha de fazê-lo de dia, jamais O encontrará! Como sábio que és, deves saber que a noite não se presta para procurar e achar algo!

  3. Dou-te um conselho: procura João, que ainda batiza nas águas em Enom, perto de Salim, e ele te dirá se o Filho Unigênito de Deus já veio, ou não! Lá irás conhecê-Lo!”

  4. Diz Nicodemus: “Ora, querido Mestre, isto é inteiramen- te impossível! Tenho mil afazeres, dos quais não me posso afastar! Calcula que na cidade e seus arrabaldes moram, inclusive os estran- geiros, perto de oitocentas mil pessoas, que dependem somente de mim! Fora disto, esperam-me os negócios do Templo, os quais não podem ser adiados. Caso esta graça do conhecimento do Filho do homem não me seja dada agora, em Jerusalém, vejo-me obrigado a desistir!

  5. Portanto, peço-Te que me desculpes não poder aceitar Teu conselho. Sempre, porém, que tiveres oportunidade de vir a Jerusa- lém com os Teus discípulos, vem morar em minha casa, que facil- mente comporta mil pessoas e fica na Praça David. Qualquer coisa que precisares estará à Tua disposição.

  6. Vê, deu-se uma grande modificação dentro de mim! Amo-Te, querido Mestre, mais do que tudo que me é caro, e este amor me diz, de uma certa maneira: Tu és em Pessoa Aquele que me mandaste procurar em Enom! É possível que me engane, mas, seja como for, sinto um amor profundo para Contigo! Dize-me, este testemunho de meu coração é certo?”

  7. Respondo Eu: “Tem paciência! Em breve voltarei e serei teu hóspede; então, saberás de tudo!

  1. Segue sempre à voz do teu coração, que te dirá mais do que os cinco livros de Moysés e todos os profetas! Nada é verdadeiro dentro da criatura a não ser o seu amor! Que ele seja o teu guia, para poderes andar na luz!

  2. Agora, irei anunciar o Reino de Deus na Judeia, que diriges como prefeito. Não por Mim, mas por causa dos Meus discípulos, peço-te que Me dês um salvo-conduto, como é de lei dos romanos entre os judeus, a fim de que possam passar livremente entre uma cidade e outra. Para Mim seria facílimo viajar com uma legião, mas não quero aborrecer ninguém e Me sujeito às leis de Roma.”

  3. Diz Nicodemus: “Agora mesmo, num momento, vou até à casa e farei pessoalmente o que me pedes.”

  4. Dentro em pouco ele Me entrega o documento e Eu aben- çoo este homem honesto. Ele se despede de Mim com lágrimas nos olhos e repete o seu convite de fazer uso de sua hospitalidade quando Eu voltar a Jerusalém. Eu, no entanto, recomendo-lhe que conserve a limpeza dentro do Templo, e assim nos separamos de madrugada.

23. Ação do Senhor na Judeia. O batismo de água e de fogo. O ensinamento do amor e o seu testemunho pelas boas obras. Só é necessária uma coisa. Discussão dos discípulos sobre o verdadeiro batismo. “Tu O és?” A resposta do Senhor. (João 3, 22–26)

22.DEPOISDISTO,JESUSFOICOMSEUSDISCÍPULOSPARAAJUDEIA;ALISEDEMORAVACOMELESE BATIZAVA.

  1. Todos aqueles que aceitaram, de maneira integral, a Minha Doutrina foram batizados externamente com água e, internamente, com o Espírito Eterno do Meu Amor e Sabedoria, adquirindo, as- sim, o direito de se chamarem “Filhos de Deus!”

  2. A Doutrina, propriamente dita, e as Minhas Ações foram anotadas, em parte, pelos outros três evangelistas; não necessita, pois, ser repetida aqui. Consistia principalmente na demonstração

dos defeitos dos judeus e templários e na recomendação do amor a Deus e ao próximo.

  1. Eu lhes apontava suas inclinações, advertia os pecadores à penitência, prevenindo-os do perigo de uma recaída, dando, ao mes- mo tempo, as provas mais significativas da Minha Doutrina.

  2. Curei muitos doentes, tanto do corpo como da alma, e anga- riei muitos adeptos.

    1. JOÃO TAMBÉM ESTAVA BATIZANDO EM ENOM, PERTO DE SALIM, ONDE HAVIA MUITAS ÁGUAS, E O POVO IA E ERA BATIZADO.

    2. POISJOÃONÃOTINHASIDOAINDALANÇADONO CÁRCERE.

  3. Neste trajeto pela Judeia, passei perto do pequeno deserto de Enom, onde João batizava, encontrando ali as águas necessárias, que no Jordão estavam quase secas.

  4. Havia muitos que já haviam aceitado Minha Doutrina sem o batismo de João. Estes Me perguntam se é necessária esta cerimô- nia, antes de aceitarem Meus Ensinamentos. Eu lhes digo: “Somen- te uma coisa é imprescindível: a ação de acordo com a Doutrina! Quem, entretanto, desejar sujeitar-se a esta purificação, enquanto João tiver ação livre, levará o seu benefício.” — Com isto, muitos se deixam batizar por João.

25. ORA,LEVANTOU-SEUMACONTENDAENTREOSDISCÍPULOS DE JOÃO E OS JUDEUS BATIZADOS, ACERCADA PURIFICAÇÃO.

  1. Entretanto, os discípulos de João não compreendiam como Eu também batizava com água, pois ouviram seu testemunho de que Eu o faria apenas com o Espírito Santo. Os judeus, Meus discí- pulos, afirmavam que o Meu batismo era o verdadeiro, pois, embora batizasse com água da natureza, também o fazia com a do Espírito Divino, dando assim aos batizados o poder de se chamarem “Fi- lhos de Deus”!

26. ELES FORAM TER COM JOÃO E DISSERAM-LHE: “MESTRE, AQUELE QUE ESTAVA CONTIGO ALÉM DO JORDÃO, DEQUEM TENS DADO TESTEMUNHO, ESTÁ AÍ BATIZANDO ETODOSVÃOA ELE.”

  1. “Será que é Aquele, de quem testemunhaste?”

  2. Diz João: “Ide e perguntai-Lhe: ‘És Tu Aquele que deverá vir ou devemos esperar por um outro?’ Prestai bem atenção e dizei-me também o que Ele vos responder!”

  3. Os discípulos, em seguida, dirigem-se a Mim. A Minha res- posta é bem conhecida; deviam dizer a João o que viram, quer dizer: os cegos tornam a ver, os coxos a andar, os surdos a ouvir e os pobres de espírito recebem a Boa Nova do Reino de Deus! E feliz daquele que não se aborrecer Comigo! Isto eles transmitem a João.

24. Claríssimo, maior e último testemunho de João a respeito do Senhor. Quem é a noiva e o Noivo. Humildade de João. O segredo de Deus como Pai e Filho. Condição para a Vida Eterna: a Fé no Filho do homem. (João 3, 27–36)

27. RESPONDEU JOÃO: “O HOMEM NÃO PODE RECEBER COISA ALGUMA,SEDOCÉUNÃOLHEFOR DADA.”

1. “Aquele Homem Extraordinário, que Se deixou batizar por mim e sobre O Qual eu vi o Espírito Santo descer qual pomba e de Quem testemunhei, não poderia tomar a Si o que tem se fosse simplesmente um homem. Portanto, Ele é mais do que isto e tem o poder em Si de receber do Céu e dá-lo a quem Ele quiser. Tudo que temos, recebemos por Sua Graça, portanto é impossível ditar-Lhe o que deve fazer. Ele dá — e nós recebemos! Ele tem Sua Pá em Sua Mão; Ele varrerá a Sua Terra como quiser e juntará o Trigo no Seu Celeiro; o joio, porém, será queimado com o fogo eterno e da cinza Ele fará o que for de Sua Vontade.”

28. “VÓS MESMOS ME SOIS TESTEMUNHAS DE QUE EU DISSE: EUNÃOSOUOCRISTO!MASSOUENVIADODIANTE DELE.”

  1. “Como, então, poderia eu criticá-Lo, se tem Sua Própria Pá em Sua Mão? Varrendo Sua Terra, como poderíamos nós dar-Lhe leis? Pois o agro (o mundo) é Dele, assim também o Trigo (os Filhos de Deus) e o joio (os filhos do mundo), e Seu também é o Celeiro (o céu) e o fogo (o inferno) que jamais se extinguirá.”

29.“OQUETEMANOIVAÉONOIVO;MASOAMIGODONOIVO,QUE ESTÁ PRESENTE E O OUVE, MUITO SE REGOZIJA PORCAUSA DA VOZ DO NOIVO. ASSIM, POIS, ESTA MINHAALEGRIAESTÁ COMPLETA.”

  1. “O que tem a noiva (a Sabedoria do Céu) é o Noivo. Mas, quando o Senhor vem, Pessoalmente, a missão do mensageiro está terminada, pois ele só tem que anunciar a Vinda do Senhor.”

30.“ÉPRECISOQUEELECRESÇAEEU DIMINUA.”

  1. “Fostes sempre meus discípulos desde que eu vim como mensageiro; quem de vós ouviu que eu me vangloriasse com isto?! Conservei sempre a glória justa para Aquele que a merece. Se eu testemunhei de não merecer desatar-Lhe a correia de Suas sandálias, apenas dei-Lhe a honra que a cegueira dos homens quis prestar a mim. Por isto, repito: a minha missão está terminada. O mensageiro (a carne) tem que diminuir e Ele, como Senhor (o Espírito), tem que crescer sobre toda a carne.”

31.“OQUEVEMDECIMAÉSOBRETODOS;OQUEÉDATERRAÉDATERRAEFALADATERRA.OQUEVEMDOCÉUÉSOBRE TODOS.”

  1. “Aquele que tem o poder de dar leis, é de cima; aquele que tem que obedecer, é de baixo. Aquele que vem do Céu está sobre todos, pois é o Senhor e pode fazer o que quiser e pode batizar com água, fogo e espírito, pois tudo é Dele.

  2. Acho, porém, que Ele não batizou com água, mas com fogo do espírito; os Seus discípulos, porém, batizaram os homens com

água, como eu o fiz. Este batismo não tem valor algum, se não rece- berdes, depois, o Espírito Divino.”

32.“OQUEELETEMVISTOEOUVIDO,ISSOTESTIFICA;ENINGUÉMRECEBEOSEU TESTEMUNHO.”

  1. “A água só dá testemunho da água, e limpa a pele da sujeira da terra. O Espírito Divino, porém, com que apenas o Senhor pode batizar, pois o Espírito Divino está dentro Dele, testifica de Deus e daquilo que ele vê e ouve em Deus.

  2. Mas, infelizmente, quase ninguém aceita este testemunho. Porque o que é detrito é detrito e não pode aceitar o espírito, a não ser que fosse primeiro passado pelo fogo e lá se lhe tornasse idêntico; pois um fogo verdadeiro aniquila toda a matéria. Eis a razão por que o batismo espiritual do Senhor destruirá muitos, o que explica o receio deles em aceitá-lo.”

33.“AQUELEQUEACEITOUOSEUTESTEMUNHODEVESELARDENTRODESIQUEDEUSÉ VERDADEIRO.”

  1. “Perguntais-me: ‘Mas por que lacrar dentro de si o testemu- nho do Céu dado por Deus?’ — Eu vos digo, entre o homem e o espírito há uma grande diferença! Se o homem do mundo receber o espírito dentro da sua concepção mental, poderá o espírito perma- necer com ele se não for guardado dentro de seu coração?

  2. Poderia haver uma medida certa, pela qual o espírito fosse distribuído de sorte que cada um soubesse o quanto dele recebeu? Como esta medida não existe, é preciso que o homem mental abra uma dentro do seu coração. Quando, então, o espírito se estabelecer na paz de seu coração, preenchendo uma nova medida, ele também perceberá o seu grau de evolução.

  3. O que vos adiantaria encher com água do mar um tonel furado? Poderíeis algum dia dizer e reconhecer que colhestes uma determinada quantidade d’água deste mar imenso? Quando, porém, o tonel for bem atado, podereis facilmente averiguar quanto conse-

guistes colher. Mas a água do mar é uma só, em pouca ou grande quantidade.”

34. “POIS AQUELE QUE DEUS ENVIOU FALA AS PALAVRAS DE DEUS;PORQUEELENÃOOESPÍRITOPOR MEDIDA.”

  1. “Se Deus quer transmitir o Seu Espírito a alguém, não o faz na medida infinita, que somente existe em Deus em toda Sua Pleni- tude, mas na medida existente na criatura. Se esta deseja recebê-Lo, sua medida não deve ser defeituosa ou aberta, mas sim bem atada e lacrada!

  2. Aquele a Quem perguntastes se era o Cristo tem dentro de Si o Espírito de Deus, não pela medida do homem que representa, mas na medida infinita de Deus Mesmo, recebida de toda a Eter- nidade! Ele é o mar infinito do Espírito Divino em Si! Seu Amor é Seu Pai de Eternidade e está não fora do homem visível, porém Nele Mesmo, que é o fogo, a chama e a luz de Eternidade, dentro do Pai!”

35. “O PAI AMA AO FILHO E TUDO TEM POSTO NAS SUAS MÃOS.”

  1. “Tudo que temos na medida justa, colhemos de Sua Pleni- tude. Ele Mesmo tornou-Se um homem de carne pelo Seu Próprio Verbo, e Sua Palavra é Deus, Espírito e Carne, que chamamos o ‘Filho’! Este Filho, portanto, é em Si a Vida da Vida!”

36. “O QUE CRÊ NO FILHO TEM A VIDA ETERNA; O QUE, PORÉM, DESOBEDECE AO FILHO NÃO VERÁ A VIDA, MAS SOBREELEPERMANECERÁAIRADE DEUS.”

  1. “Quem, portanto, aceitar o Filho e crer Nele, já tem a Vida Eterna em si; pois, assim como Deus Mesmo é, em toda Palavra, Sua Eterna e Perfeita Vida, o mesmo se dá com toda criatura que assimi- la e guarda o Seu Verbo. Mas quem, por sua vez, não aceita a Palavra Divina pela Boca do Filho, portanto não crê Nele, não poderá rece- ber a Vida, tampouco vê-la e senti-la em si, e a ira de Deus, que é o

julgamento das coisas, pousará sobre ela, não possuindo Vida, a não ser aquela imposta pelo determinismo da Lei.

  1. Eu, João, disse-vos isto e vos dei um testemunho comple- to. Purifiquei-vos do lodo da terra por minhas próprias mãos. Ide, aceitai a Sua Palavra, para receberdes o batismo do Seu Espírito; sem este, todo meu trabalho seria inútil. Até eu tenho vontade de me achegar a Ele! Mas Ele não o quer e me revelou, pelo espírito, que devo ficar aqui, pois já recebi o que vos falta!”

  2. Eis o último e maior testemunho de João a Meu respeito.

  3. O motivo por não ter sido tão completamente explicado no Evangelho é que, naquela época, só eram anotados os pontos principais, pois todo espírito lúcido compreendia tudo isto com facilidade. Além do mais, o Verbo Santíssimo e Vivo não devia ser profanado e deturpado. Cada versículo é uma semente oculta sob um véu, na qual germina a Vida Eterna em sua jamais concebível sabedoria!

4º CAPÍTULO

CONVERSÃO DOS SAMARITANOS CURA DO FILHO DO RÉGULO

  1. A Graça concedida aos crentes aumenta o número dos seguidores do Senhor. Aparecimento de Evangelhos falsos. Ciúme e perseguição dos sacerdotes. O Senhor vai à Galileia pela Samaria. Caráter dos samaritanos. Sichar. O Senhor repousa com os Seus discípulos à beira do poço de Jacob. (João 4, 1–6)

    1. QUANDO, POIS, O SENHOR SOUBE QUE OS FARISEUS TINHAMOUVIDODIZERQUEELE,JESUS,FAZIAEBATIZAVAMAISDISCÍPULOSQUE JOÃO,

    2. SE BEM QUE JESUS MESMO NÃO BATIZASSE, MAS SIM SEUS DISCÍPULOS,

    3. DEIXOU AJUDEIAEVOLTOU PARAA GALILEIA.

  1. Após este discurso de João, seus discípulos passaram a vir a Mim e o número deles aumentava de dia para dia, sim, de hora para hora. Todos que começavam a crer em Mim, recebendo a Minha Bênção de acordo com a medida da sua fé, após o batismo aplicado pelos Meus discípulos, enchiam-se do espírito da força e da coragem e todo pavor da morte desaparecia.

  2. Embora Eu tivesse proibido a divulgação a respeito, em pou- co tempo toda a Judeia estava ciente dos Meus Atos, que muitas vezes eram exagerados, o que atraía outros judeus para a Minha companhia.

  3. A consequência disto foi que os fariseus tomaram conheci- mento de tudo, de sorte que os próprios romanos principiavam a pensar que Eu devia ser Zeus ou um filho dele!

  4. Em breve, alguns investigadores foram enviados ao Meu en- calço, entretanto não achavam aquilo que esperavam, porque nestas ocasiões Eu não fazia milagres, para evitar que o povo ficasse mais supersticioso do que já era.

  5. Estes exageros provocaram em seguida uma série de Evange- lhos falsos, deturpando o verdadeiro.

  6. Os fariseus, como chefes do Templo e da Escritura, conjec- turavam como impedir a Mim e a João em nossas ações, sendo o meio mais inocente a nossa internação num “asilo de previdência perpétua”, como mais tarde o realizaram na pessoa de João, por or- dem de Herodes.

  7. Não é preciso mencionar que estes planos Me eram conheci- dos, mas, para evitar atritos e escândalos, vi-Me obrigado a abando- nar a Judeia ultramontana e dirigir-Me à Galileia mais liberal.

4.PRECISAVAATRAVESSARA SAMARIA.

  1. Como os samaritanos tinham conseguido a sua libertação dos sacerdotes do Templo com ajuda dos romanos, eram considera- dos por estes o povo mais desprezível e ateu sobre a terra.

  2. Em compensação, os sacerdotes eram por eles julgados como a ralé. Se, por exemplo, um samaritano numa discussão chamasse

um outro de fariseu, este imediatamente ia perante o juiz e o acusa- va de caluniador, o que redundava sempre numa indenização. Esta situação era muito favorável para a nossa viagem, pois na Samaria não seríamos perseguidos pelos fariseus.

5.CHEGOU A UMA CIDADE DA SAMARIA CHAMADA SICHAR,PERTODASTERRASQUEJACOBDEUASEUFILHO JOSÉ.

  1. O caminho conduzia pela cidade de Sichar, perto duma aldeia antiquíssima que Jacob e Raquel receberam como dote e ha- viam dado a seu filho José como presente natalício, inclusive com seus habitantes, que na maioria eram pastores.

6.ERA ALI O POÇO DE JACOB. JESUS, POIS, CANSADO DOCAMINHO, ASSENTOU-SE JUNTO DA FONTE. ERA QUASE AHORA SEXTA.

  1. Era verão e o dia estava quente, de modo que até Eu Me sentia fisicamente cansado desta longa viagem. Todos que Me se- guiam desde a Galileia e Judeia procuravam abrigo na vila ou então debaixo das árvores para repousar. Até Pedro, João, André, Tho- maz, Philippe e Nathanael caíram como mortos na grama à sombra das árvores.

  2. Embora muito cansado, sentei-Me à beira do poço, pois previamente sabia que ia ter uma boa oportunidade de palestrar com um samaritano teimoso, porém livre de preconceitos. Além disso, sentira muita sede e esperava por um discípulo que fora em busca de uma vasilha para que Eu pudesse beber.

  1. O Senhor e a samaritana perto do poço. As palavras do Senhor sobre a qualidade de Sua Água Viva. (João 4, 7–16)

    1. UMA MULHER DA SAMARIA VEIO TIRAR ÁGUA NO POÇO. DISSE-LHEJESUS:“DÁ-MEDE BEBER!”

    2. POIS SEUS DISCÍPULOS TINHAM IDO À CIDADE COMPRAR ALIMENTOS.

  1. Enquanto esperava pelo vasilhame, aparece uma samaritana com um cântaro a fim de enchê-lo com água do poço. Após ela ter feito isto, falo-lhe: “Mulher, dá-Me de beber!”

9.DISSE-LHE A MULHER: “COMO, SENDO TU JUDEU, PEDESDE BEBER A MIM, QUE SOU SAMARITANA? OS JUDEUS NÃOSECOMUNICAMCOMOS SAMARITANOS.”

  1. A samaritana se espanta, pois vê que sou judeu e diz: “Tu fazes parte daquele grupo que encontrei diante da cidade e pergun- tou onde poderia comprar víveres? Pela tua vestimenta vejo que és judeu, e eu sou uma pobre samaritana! Como exiges de mim que te dê de beber?! Realmente, quando estais em dificuldades, sabeis vos dirigir a nós! Sim, se me fosse possível afogar com esta água toda a Judeia, eu com prazer te daria de beber deste cântaro! Fora isso, pre- feria ver-te morrer de sede, do que dar-te uma gota d’água!”

10. RESPONDEU-LHEJESUS:“SETIVESSESCONHECIDOADÁDIVA DE DEUS, E QUEM É O QUE TE DIZ: ‘DÁ-ME DEBEBER’, TU LHE TERIAS PEDIDO E ELE TE HAVERIA DADOÁGUA VIVA.”

  1. Digo Eu: “Como és cega em teu conhecimento, falas des- ta maneira; se assim não fora, reconhecerias a dádiva de Deus e Aquele que fala contigo e disse: ‘Mulher, dá-Me de beber!’ Cairias a Seus pés, pedindo uma verdadeira água e Ele te daria de beber uma água viva! Eu te digo, aquele que crê em Minhas Palavras, sobre este derramarei o Meu Espírito, conforme se lê em Isaías 44, 3 e em Joel 3, 1.”

11. ELA LHE RESPONDE: “SENHOR, NÃO TENS COM QUE ATIRAR E O POÇO É FUNDO; DONDE, POIS, TENS ESSA ÁGUA VIVA?”

  1. Diz a mulher: “Parece-me que és conhecedor das Escrituras! Mas, como não tens vasilha e a tua mão não alcançaria a água do poço, desejo saber como pensas consegui-la! Talvez queiras me dar a

entender que desejas algo de mim?! Sou jovem ainda, pois não com- pletei os trinta anos e tenho os meus encantos; mas um desejo desta ordem seria, da parte de um judeu com relação a uma samaritana desprezada, um verdadeiro milagre, pois preferis os animais que nós, samaritanos! Penso que este não pode ser o teu fito!”

12.“ÉSTU,PORVENTURA,MAIORQUENOSSOPAIJACOB,QUENOS DEU ESTE POÇO DO QUAL ELE BEBEU, ASSIM COMOSEUSFILHOSESEU GADO?”

  1. “Quem és então, que falas desta forma comigo? Vê, sou uma pobre mulher, pois se fosse rica não viria pessoalmente, neste ca- lor, buscar água para beber! Queres aumentar a minha infelicidade? Olha as minhas vestes que mal me cobrem o corpo, e saberás que sou bem pobre! Como podes exigir de mim que te sirva para tua satisfação? Que horror, se tal fosse teu intento! Entretanto, não dás esta impressão e eu não quero positivar minha suspeita! Mas, já que falaste comigo, explica-me o sentido de tua água viva!”

13. REPLICOU-LHE JESUS: “TODO O QUE BEBE DESTA ÁGUA TORNARÁATER SEDE!”

  1. Digo Eu: “Considerando a tua cegueira, facilmente se de- duz por que não Me compreendes. Eu te disse: ‘Quem acreditar nas Minhas Palavras, receberá as bênçãos da água viva!’ Fica sabendo que estou há trinta anos neste mundo e jamais toquei nu’a mulher; como poderia desejar a ti?! Oh! Tola que és! E mesmo se isto acon- tecesse, em breve sentirias novamente sede e necessidade de beber para saciá-la! Se Eu te ofereci uma água viva, é claro que desejava com isto saciar tua sede eternamente; pois a Minha Palavra, a Minha Doutrina, é tal água!”

14. “MAS QUEM BEBER DA ÁGUA QUE EU LHE DER, NUNCAMAIS TERÁ SEDE; PELO CONTRÁRIO, POIS QUE SETORNARÁNELEUMAFONTEDEÁGUAQUEEMANAPARAAVIDA ETERNA.”

  1. “Julgas-Me um judeu orgulhoso, entretanto sou, de toda al- ma, meigo e verdadeiramente humilde.

  2. A Minha água viva é justamente esta humildade; quem, por- tanto, não se tornar tão humilde como Eu, não tomará parte no Reino de Deus, que veio ao mundo.

  3. Da mesma maneira, esta água viva que Eu te ofereci é o único e verdadeiro conhecimento de Deus e de sua Vida Eterna, emana portanto Dele, da Vida de toda Vida para os homens, tornando-se então uma vida eternamente inesgotável que volta para Deus, oca- sionando ali esta mesma Vida cheia de liberdade. Vê, foi esta água que te ofereci! Como podes interpretar-Me tão mal?”

    1. DISSE-LHE A MULHER: “SENHOR, DÁ-ME DESSA ÁGUA PARA QUE NÃO TENHA MAIS SEDE NEM NECESSITE VIRTIRÁ-LA AQUI!”

    2. DISSE-LHEJESUS:“VAI, CHAMATEUMARIDOEVEM CÁ!”

  4. “És extremamente tola! Não posso falar contigo, pois não percebes coisa alguma do espírito! Vai à cidade, chama teu marido e volta com ele; falar-lhe-ei e ele compreender-Me-á melhor! Ou será que também é como tu, desejando saciar sua sede natural com a água espiritual da humildade?”

  1. Continuação da cena junto ao poço. Diálogo entre o Senhor e a samaritana a respeito de seu marido. Ela O reconhece como profeta e pergunta onde deveria adorar a Deus a fim de ser curada. A verdadeira adoração de Deus em Espírito e Verdade. Ensinamentos. (João 4, 17–24)

    1. RESPONDEU A MULHER: “NÃO TENHO MARIDO” REPLICOU-LHE JESUS: “DISSESTE BEM QUE NÃO TENS MARIDO.

    2. PORQUE CINCO MARIDOS TIVESTE, E O QUE TENS AGORA NÃOÉTEU MARIDO!”

  1. “Minha filha, os teus cinco maridos morreram porque a tua natureza não correspondia à natureza deles, tanto que o teu convívio

não era suportável além de um ano. No teu corpo residem fluidos destruidores, e quem tem que lidar contigo, em breve é morto por eles. Aquele que vive em tua companhia não é teu marido, mas sim teu amante, para a infelicidade de ambos!”

19. “SENHOR”,DISSE-LHEAMULHER,“VEJOQUEÉSUM PROFETA!”

  1. “Se sabes tanta coisa, talvez saibas o que me possa salvar!”

20. “NOSSOSPAISADORARAMNESTEMONTE(GARIZIM)EVÓS DIZEIS QUE EM JERUSALÉM É O LUGAR ONDE SE DEVEADORARA DEUS!”

  1. “Bem sei que no meu caso somente Deus poderia ajudar-me; mas como e onde devemos adorá-Lo? Já que és um profeta verdadei- ro, esclarece-me isto! Ainda sou moça e o mundo diz que sou bonita; seria, pois, um horror se estes maus fluidos me destruíssem em vida! Oh, como sou infeliz!”

21.DISSE-LHEJESUS:“MULHER,CRÊ-ME,AHORAVEMEMQUE,NEM NESTE MONTE, NEM EM JERUSALÉM, ADORAREIS O PAI!”

  1. “Minha filha, conheço bem tua pobreza, teu sofrimento e teu organismo doentio; também sei do teu coração, que não é bom nem mau, e esta é a razão por que falo agora contigo. Pois, quando a índole é mais ou menos boa, ainda há salvação! Quanto às tuas dúvi- das de como e onde deves adorar a Deus, estás muito enganada! Eu te digo e afirmo: O tempo vem e já chegou em que não ireis adorar o Pai nem em Garizim, nem em Jerusalém!”

  2. Diz a mulher, assustada: “Ai de mim e de todo o povo ju- deu, que devemos ter pecado horrivelmente! Mas por que Jehovah não nos mandou desta vez um profeta que nos advertisse? Que nos adianta tudo isto agora, se dizes que não se adorará a Deus em Gari- zim, nem em Jerusalém? Será que Deus abandonará Seu velho povo e tomará morada no meio de um outro? Dize-me o lugar, para que

possa dirigir-me até lá e adorá-Lo como penitente, a fim de que me ajude e não abandone completamente meu povo?!”

  1. Respondo Eu: “Escuta-Me e compreende o que te digo! — Por que duvidas e tremes? Acaso achas que Deus seja tão infiel em manter Suas Promessas, como o fazem os homens entre si?”

22.“VÓSADORAISOQUENÃOCONHECEIS,NÓSADORAMOSO QUE CONHECEMOS, POIS A SALVAÇÃO VEM DOS JUDEUS!”

  1. “Embora subais a montanha para orardes, não sabeis a quem dirigis vossas preces! O mesmo acontece com aqueles que oram em Jerusalém; vão ao Templo e fazem grande alarde com suas orações, mas também não sabem o que fazem!

  2. Entretanto, a salvação não virá por vós, e sim pelos judeus, conforme Deus falou pela boca dos profetas. Lê o terceiro versículo do segundo capítulo de Isaías, onde tudo está escrito!”

  3. Diz a mulher: “Sei que isto consta ali e que a lei vem de Zion, pois ela será guardada lá na Arca; mas, como dizes: nem em Gari- zim, nem em Jerusalém?!”

23. “MAS A HORA VEM E AGORA É, EM QUE OS VERDADEIROS ADORADORES ADORARÃO O PAI EM ESPÍRITO E VERDADE;POISOPAIASSIMO QUER.”

  1. Digo Eu: “Ainda não Me compreendes! Olha, Deus, o Pai de Eternidade, não é Garizim, nem templo, nem Arca, portanto não está nem em cima da montanha, nem dentro do Templo e tam- pouco dentro da Arca! Por isto te disse: Virá o tempo e já chegou, em que os verdadeiros adoradores (como os estás vendo repousar debaixo das árvores) adorarão Deus, o Pai, em Espírito e Verdade! Pois assim é que o Pai quer que eles o façam!”

24. “DEUSÉESPÍRITO,EÉNECESSÁRIOQUEOSQUEOADORAMFAÇAM-NOEMESPÍRITOE VERDADE.”

  1. “Para isto não é preciso u’a montanha nem um templo, mas somente um coração puro, amoroso e humilde!

  2. Quando o coração é o que deve ser, isto é, um tabernáculo de amor a Deus, cheio de meiguice e humildade, a verdade com- pleta está dentro dele. Onde estiver a verdade, estará também a luz e a liberdade, pois a luz da verdade liberta todo coração! O coração estando livre, também estará a criatura!

  3. Aquele, portanto, que ama a Deus com um coração assim é um verdadeiro adorador do Pai, e o Pai ouvirá sempre a sua prece, porque Ele olhará unicamente o coração do homem, e não o lugar, que não tem valor algum, pois a terra é toda de Deus! Penso que me compreendeste agora!”

28. A samaritana se prontifica a dar de beber ao Senhor. A sede espiritual do Senhor pelos corações dos homens. O poder milagroso do espírito no homem crente. O Senhor Se revela à samaritana como o Messias. (João 4, 25–26)

  1. Diz a mulher: “Senhor, agora sim, pois falaste mais claro! Mas dize-me, não tens mais sede e não queres beber do cântaro de uma pecadora?” — Digo Eu: “Minha filha, deixemos isto de parte, pois tu Me és mais querida do que teu cântaro e tua água. Quando há pouco te pedi de beber, não Me referi ao teu cântaro, mas ao teu coração, onde está uma água muito mais deliciosa do que neste poço. Com a água do teu coração poderás curar também teu corpo, pois aquilo que em ti Me compraz te curará, se tu acreditares!”

  2. Diz a mulher: “Senhor, como farei para oferecer-te a água de meu coração? Perdoa-me se te falo tão abertamente; sou uma criatura miserável, e a miséria desconhece a vergonha, conhecendo unicamente a si mesma. Se eu não fosse tão desprezível, realmente te ofereceria o meu coração. Mas ó Meu Deus, meu querido Pai que me ajude! Estou demasiado doente e não devo juntar novos pecados aos antigos; pois oferecer um coração tão impuro a um Puro como Tu seria, na certa, o maior dos pecados!”

  1. Digo Eu: “Minha querida, enganas-te em pensar que não po- des oferecer-Me o teu coração, pois Eu já Me apossei dele ao te pedir água. Portanto, podes Me ofertá-lo, que aceito também os corações dos samaritanos. Fazes bem se Me amas; pois Eu já te amei muito antes que tu pudesses imaginar!”

  2. Nisto, a mulher enrubesce e diz, um pouco encabulada: “Desde quando me conheces? Já passaste em outra época por este lu- gar? Eu jamais te vi. Peço-te que me digas onde e quando me viste?!”

  3. Digo Eu: “Nem aqui, nem em Samaria, nem em qualquer outro lugar, pois já te conheço desde o teu nascimento, e ainda an- tes disto, e sempre te amei como a Minha Vida! Como aprecias este Meu Amor? Estás satisfeita? Lembras-te quando aos doze anos caíste num poço? Fui Eu que te salvei; tu, porém, não podias ver a mão que te salvou! Estás lembrada disto?”

  4. Com isto a samaritana fica toda confundida, pois seu coração era uma chama viva e seu amor crescia visivelmente.

  5. Após alguns minutos de confusão, Eu lhe pergunto se ela não sabia algo do Messias que devia vir.

25. “EU SEI”, RESPONDEU A MULHER, “QUE VEM O MESSIAS QUE SE CHAMA CRISTO; QUANDO ELE VIER, ANUNCIAR-NOS-ÁTODASAS COISAS.”

  1. Ela Me responde, com as faces coradas: “Senhor, ó mais sá- bio dos profetas de Deus, bem sei que o Messias Prometido deverá vir e que o Seu Nome será Cristo! Se Ele vier, só poderá anunciar o que tu me relataste! Mas quem nos dirá quando e donde Ele vem? Talvez tu possas responder-me isto, e talvez Ele me ajudasse se eu Lhe pedisse?”

26.DISSE-LHEJESUS:“EUOSOU,EUQUEFALO CONTIGO!”

29. O diálogo entre o Senhor e a samaritana é interrompido pela volta dos discípulos. A verdadeira adoração de Deus consiste no amor ativo. Cura da samaritana. Sua alegria e vontade de angariar novos adeptos para o Messias. Os sicharenses mandam uma delegação ao Messias. (João 4, 27– 30)

27. NISTO CHEGARAM SEUS DISCÍPULOS E ADMIRARAM-SE DE QUE ESTIVESSE FALANDO COM U’A MULHER. NINGUÉM,TODAVIA, PERGUNTOU-LHE: QUE PERGUNTAS? OU: QUEFALASCOM ELA?

  1. Com estas Minhas Palavras a samaritana se assusta muito, tanto mais que, justamente neste instante, os discípulos voltam da cidade com os alimentos e se admiram de encontrar-Me conversan- do com u’a mulher, embora não se atrevessem a perguntar o que se tinha passado entre nós. Os outros companheiros, incluindo Minha Mãe, estavam dormindo, pois a viagem os tinha extenuado bastante. Finalmente, também voltou aquele discípulo que tinha ido à vila em busca de uma vasilha, e no entanto não a encontrou. Por isto, ele se desculpa, dizendo: “Senhor, a vila possui umas vinte casas, entretan- to não há vivalma lá e as portas estão fechadas.”

  2. Digo Eu: “Não te preocupes com isto! Pois este fato se nos apresenta seguidamente, que somos levados pela sede do nosso amor a bater nas portas (os corações das criaturas) à procura de uma va- silha para colhermos a água viva. Mas os corações estão fechados e vazios! Compreendes este quadro?”

  3. Diz o discípulo, sensibilizado e perplexo: “Senhor, querido Mestre, infelizmente Te compreendo bem! Mas, assim sendo, não teremos grande êxito!”

  4. Digo Eu: “Apesar disso, Meu irmão, vê esta mulher; Eu te digo: Tem mais valor encontrar um perdido do que noventa e nove justos, os quais, de acordo com sua consciência, não necessitam de penitência! Pois julgam servir a Deus aos sábados em Garizim. Aqui, entretanto, eles tiram na véspera do sábado todos os vasilhames para que ninguém venha saciar sua sede neste poço, o que aos olhos dos justos seria uma profanação! Aqui, porém, está uma pecadora com

um cântaro para nos servir! Dize-Me: O que é melhor? Ela ou no- venta e nove justos em Garizim?”

  1. Diz a mulher, toda contrita: “Senhor, Tu, Filho do Eterno, aqui está meu cântaro! Servi-vos dele, que o deixarei aqui! A mim permiti voltar depressa à vila, pois estou com vestes indignas perante vós!” — Digo Eu: “Filha, tem saúde e faze o que te agrada!”

28.AMULHERDEIXOUOCÂNTARO,FOIÀCIDADEEDISSEAO POVO:

  1. Chorando de alegria ela corre à vila, voltando-se de vez em quando para saudar-nos, pois já Me ama muito. Chegando, quase sem fôlego, à cidade, encontra alguns homens passeando nas ruas, como de costume num sábado. Vendo a mulher tão apressada, eles dizem: “Mas, então houve algum incêndio?” — A mulher responde: “Não gracejeis, senhores, pois o nosso tempo é muito mais sério do que podeis imaginar!”

29.“VINDEVERUMHOMEMQUEMECONTOUTUDOOQUEFIZ;SERÁ,PORVENTURA,O CRISTO?”

  1. Os homens a interrompem cheios de curiosidade: “Mas, o que há? Estão inimigos em marcha contra o nosso país ou aproxi- ma-se uma nuvem de gafanhotos nesta zona?”

  2. Diz a mulher, completamente extenuada: “Nada disto. O as- sunto é muito mais extraordinário! Ouvi-me: quando há uma hora atrás eu me dirigia ao poço de Jacob em busca de água, encontrei um homem à beira da muralha. Depois de ter enchido o meu cântaro sem tomar nota dele, eis que se me dirige e pede um pouco d’água do meu cântaro, o que rejeitei, pois me parecia judeu.

  3. Ele, porém, continuou a falar sabiamente comigo, como um Elias, dizendo-me tudo o que fiz na vida.

  4. Finalmente levou a conversa para o Messias e, quando per- guntei onde, como e quando Ele viria, olhou-me com seriedade e disse, com uma voz que jamais esquecerei: ‘Sou Eu, que estou falan- do contigo agora!’

  1. Antes disso, porém, eu havia pedido se não era possível curar-me das moléstias que avassalavam meu corpo, e Ele, por fim, exclamou: ‘Tem saúde!’ — e todo o meu mal-estar desapareceu!

  2. Ide, portanto, e vede pessoalmente se não é o Cristo Verda- deiro, o Messias Prometido!”

  3. Dizem os samaritanos: “Realmente, se assim for, a nossa época será de grande importância! Seria melhor se fôssemos em nú- mero maior até lá, e que alguns dentre nós tivessem conhecimento das Escrituras. É uma lástima que os nossos sacerdotes se encontrem todos no monte Garizim. Talvez Ele se prontifique em ficar aqui por alguns dias, a fim de que possamos examiná-Lo melhor!”

30.SAÍRAMDACIDADEEVIERAMTERCOM ELE.

  1. Juntaram-se, assim, cerca de cem pessoas para ver o Messias.

  1. Explicação do Senhor a respeito de Seu Alimento Vivo. A grande missão da colheita. “Pedi mais cooperadores!” A tolice do sábado e como deve ele ser celebrado. (João 4, 31–38)

  2. ENTRETANTO,OSDISCÍPULOSLHEROGAVAM,DIZENDO:“MESTRE, COME!”

  1. Enquanto isso, Meus discípulos Me pedem que Eu coma al- go antes, pois sabiam que não tomava alimento quando alguém Me procurava. Embora acreditassem que Eu fosse o Cristo, julgavam-

-Me dum físico fraco, o que os preocupava.

    1. MASELELHESRESPONDE:“TENHOUMMANJARPARACOMERQUE DESCONHECEIS.”

    2. OSDISCÍPULOSDIZIAMUNSAOSOUTROS:“PORVENTURAALGUÉMLHETROUXEDE COMER?”

    3. DISSE-LHESJESUS:“OMEUALIMENTOÉFAZERAVONTADEDAQUELEQUEMEENVIOUACOMPLETARSUA OBRA!”

  1. “Não vos falo de um alimento material, e sim de um espiri- tual, que é muito mais elevado e nobre, e consiste em que Eu faça a Vontade Daquele que Me enviou para concluir Sua Grande Obra!

  2. Ele é o Pai, do Qual dizeis que é o vosso Deus, entretanto não O conheceis! Eu, porém, O conheço e executo o Seu Verbo. Eis o Alimento que desconheceis!

  3. Eu vos digo: Não somente o pão é alimento, e sim toda boa ação e obra; embora não o seja para o corpo, muito mais o é para o espírito!”

35. “NÃODIZEISQUEAINDAQUATROMESESATÉACEIFA? EU, PORÉM, VOS DIGO: ERGUEI VOSSOS OLHOS ECONTEMPLAIESSESCAMPOS,QUEESTÃOBRANCOSPARAA CEIFA.”

  1. “Não falo dos campos da natureza, mas do imenso campo que é o mundo, onde os homens se encontram como o trigo madu- ro, que deve ser recolhido no Celeiro de Deus!”

    1. QUEMCEIFAESTÁRECEBENDOSALÁRIOEAJUNTANDOFRUTOPARAAVIDAETERNA,AFIMDEQUEOQUESEMEIAEOQUECEIFAJUNTAMENTESE REGOZIJEM.

    2. POIS NISTO É VERDADEIRO O DITADO: UM SEMEIA E OUTRO CEIFA.”

  2. “Porque, após a colheita, tanto o semeador como o ceifador comerão de um só fruto e de um só pão da Vida; vede a multidão que vem para ver o Messias; estes já são o trigo maduro, que há mui- to tempo devia ter sido ceifado!

  3. Digo-vos com muita alegria: A colheita é grande e há poucos ceifadores! Pedi ao Senhor da Colheita que envie mais ceifeiros!”

38.“EU VOSENVIEIA COLHERAQUILOQUE NÃOTENDESSEMEADO; OUTROS SEMEARAM E VÓS ENTRASTES NO SEU TRABALHO.”

  1. “Aquele que semeia está longe da colheita; aquele que está ceifando colhe e tem em suas mãos o novo pão da Vida! Portanto, sede colhedores ativos, porque o vosso esforço é mais bem-aventura- do do que o do semeador!”

  2. A maior parte dos discípulos compreende bem este ensina- mento e começa imediatamente a anunciar aos samaritanos a Minha Doutrina do amor a Deus e ao próximo.

  3. Outros, porém, um tanto fracos de compreensão, pergun- tam-Me a sós: “Senhor, donde tirar as foices, quando hoje é sábado?”

  4. Eu respondo: “Por acaso vos disse que devíeis ceifar os cam- pos de trigo? Oh, que sois estúpidos! Quanto tempo terei de aturar-

-vos assim?

  1. Não compreendeis por acaso isto: O Meu Verbo do Reino de Deus, manifesto em vossos corações, de lá se projetando pela vossa língua aos ouvidos e corações de vosso próximo, é a foice espi- ritual que Eu vos dou para ceifardes e colherdes vossos irmãos para o Reino de Deus, ou seja, o Reino do verdadeiro conhecimento de Deus e a Vida Eterna, em Deus!

  2. Realmente, hoje é sábado, mas o sábado é absurdo, como é insensato vosso coração! Eu, como o Senhor do sábado, digo-vos: Exterminai-o de dentro de vós, se quiserdes ser Meus verdadeiros discípulos!

  3. Todos os dias são iguais para o trabalho; quando o Senhor do sábado trabalha, Seus servos não deverão ficar inativos!

  4. Pois o sol não projeta diariamente seus raios para esta terra? Se, portanto, o Senhor do sol como do sábado descansasse, estaríeis satisfeitos com o sábado às escuras? Vede como sois cegos? Por isto, levantai-vos e fazei o que Eu e os Meus discípulos estamos fazendo; assim festejareis um verdadeiro sábado!”

  5. Após estas palavras, os discípulos mais fracos também se dirigem aos samaritanos, ensinando-lhes a Minha Doutrina.

31. O Senhor é reconhecido e aceito pelos samaritanos. Cena entre os cidadãos de Sichar e a samaritana. Discurso desta sobre o verdadeiro distintivo: o amor para com o Senhor. (João 4, 39–42)

39. MUITOS SAMARITANOS DAQUELA CIDADE CRERAM NELEPOR CAUSA DAS PALAVRAS DA MULHER QUE TESTIFICARA:“ELEMEDISSETUDOQUE FIZ.”

  1. E assim passou-se o dia, e muitos, no começo, acreditavam em Mim pelo testemunho da mulher; outros, porém, pelo que di- ziam os discípulos, e mais firmemente aqueles samaritanos que ou- viam Minhas Palavras.

  2. Entre estes havia alguns bem informados sobre as Escrituras, que então dizem: “Este fala como David nos salmos: ‘Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; os mandamentos são puros e iluminam os olhos. O temor do Senhor é limpo e permanece para sempre, os juízos do Senhor são verdadeiros e justos. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino, e mais doces que o mel e o licor dos favos!’ — Nós também o sabemos, e este é o nosso testemunho cheio de verdade e força, que Aquele que assim fala e age como David é o verdadeiro Messias Prometido. Pois a este queremos aceitar!”

    1. QUANDO, POIS, ESTES SAMARITANOS VIERAM TER COM JESUS, PEDIRAM-LHE QUE FICASSE COM ELES; ASSIMPASSOUALIDOIS DIAS.

    2. MUITOS MAIS CRERAM POR CAUSA DAS PALAVRAS DE JESUS.

  3. A samaritana, que também se encontrava no meio deles, dis- se-lhes: “Caros amigos, penso que aceitareis também a mim, pois fui eu quem vos mostrou o caminho até aqui?”

42.EDIZEMÀMULHER:“NÃOÉTANTOPELASTUASPALAVRASQUE NÓS CREMOS; MAS POR QUE NÓS MESMOS TEMOSOUVIDO E SABEMOS QUE ESTE É VERDADEIRAMENTE OSALVADORDO MUNDO.”

  1. Dizem os samaritanos: “É justo que recebas a honra devida, uma vez que não peques mais.”

  2. Diz a mulher: “Infelizmente fazeis um juízo errôneo de mi- nha pessoa. O mal que transmiti aos meus cinco maridos e lhes pro- vocou a morte não foi tanto por culpa própria, e sim pela herança de meus pais. Isto me causou uma moléstia insuportável do coração, e eu resolvi não me unir mais a quem quer que fosse. Decorrido um ano, chegou a Sichar um médico com ervas, tinturas e unguentos, que curou muita gente. Conhecendo o meu estado precário, tam- bém o procurei.

  3. Ele, porém, disse-me: ‘Mulher, daria um mundo inteiro se me fosse possível curar-te, pois jamais vi uma criatura tão linda como tu! Mas, já que não posso curar-te completamente, poderei, contudo, aliviar-te o sofrimento!’ Ele veio, então, morar em mi- nha companhia, dando-me diariamente os remédios necessários e tomou conta de mim; jamais, porém, tocou-me com intenções condenáveis!

  4. Perante Deus, tanto eu como vós somos pecadores; mas, aos vossos olhos, não me acho tão culpada como me julgais. Aqui, porém, está Quem pode julgar com justiça; perguntai-Lhe e Ele vos dirá até que ponto eu mereço ser chamada abertamente uma pecadora!”

  5. Os samaritanos se admiram muito destas palavras da sama- ritana e dizem: “Bem, não fiques logo ofendida, pois não tínhamos esta intenção; em compensação, serás uma cidadã de honra em Si- char. Estás satisfeita com isto?”

  6. Diz a mulher: “Oh! Não vos preocupeis com a honra de uma pobre mulher! Já tomei a mim a maior parte da honra!”

  7. Dizem os samaritanos: “Mas como? Nada nos consta a res- peito de um distintivo! Donde o tiraste?”

  8. Diz a mulher, apontando para Mim com lágrimas de ver- dadeiro amor e gratidão: “Aqui Ele ainda Se encontra! É a minha única honra; honra esta que tampouco o mundo me poderá dar ou tirar, pois foi dada por Ele Mesmo! Sei perfeitamente que, em abso-

luto, tenho mérito para receber uma honra Dele, Senhor de toda a Glória! Ele, porém, deu-ma, e eu a recebi antes de vós, pois não O conhecíeis, e isto é um distintivo verdadeiro e tem seu valor por toda a Eternidade! O vosso é apenas temporário e somente para Sichar. Deste eu desisto! Espero que compreendais agora como e de onde recebi a maior parte da verdadeira honra!”

  1. Dizem os samaritanos: “Mas será privilégio o fato de teres encontrado, casualmente, em primeiro lugar, o Cristo? Nós também O achamos e O louvamos em nossos corações, como tu, e Ele nos prometeu, como também a ti, permanecer mais dois dias em nossa cidade. Como podes, então, falar de uma honra especial?”

  2. Diz a mulher: “Meus amigos, se eu quisesse discutir convos- co, jamais acharíamos um fim. Falei-vos a verdade e não a repetirei! Muitos de vós estudaram a lei romana e se tornaram juízes dentro desta lei que alegam ser sábia. Eu compreendo o idioma romano e li o seguinte: Primo occupantis jus!Fui a primeira e não podeis tirar-me este direito!” A isto os samaritanos não sabem o que responder, pois apreciavam muito as leis de Roma.

32. Cena deliciosa entre o Senhor e a samaritana, em cuja casa Ele quer hospedar-Se. Discurso do Senhor aos samaritanos. O Senhor vê o coração, o homem vê o exterior. A honra da samaritana.

  1. Neste meio tempo a noite se havia aproximado e todos que Me acompanharam desde a Judeia e se encontravam adormecidos começam a despertar pouco a pouco, e se admiram ao notar que já é noite fechada! Perguntam-Me, então, o que deveria acontecer: se procurariam um albergue ou se a marcha iria prosseguir.

  2. Eu lhes digo: “Enquanto as criaturas dormem, o Senhor fica vigiando e Se preocupa com tudo; vós nada tendes a fazer, senão ficar a Meu lado. Levantai-vos, portanto, para entrarmos na cidade dos samaritanos! Encontraremos um bom albergue para todos; esta mulher que Me rejeitou a água possui uma casa espaçosa e não nos negará pousada por dois dias!”

  1. A samaritana se ajoelha, soluçando de amor e alegria, e diz: “Senhor, meu Salvador, eu, que sou pecadora, como mereço es- ta graça?!”

  2. Digo Eu: “Acolheste-Me em teu coração, que é muito mais precioso que tua casa, portanto creio que também Me acolherás nela, que igualmente foi construída por Jacob para seu filho José. Acontece, porém, que somos muitos e terás muito trabalho, o que te será recompensado mil vezes!”

  3. Diz a mulher: “Senhor, e se fôsseis dez vezes mais, abrigar-

-vos-ia a todos, de acordo com os meus recursos! A minha casa, embora já muito velha e defeituosa, possui muitos quartos arejados e mobiliados com simplicidade; é habitada por mim, por meu médico e alguns criados seus. Eu, porém, digo-Te: Senhor, ela é Tua, pois tens o direito mais antigo! Vem, portanto, Tu, que és o Senhor de tudo o que nela se encontra!”

  1. Digo Eu: “Minha filha, tua fé é imensa e amoroso o teu cora- ção, por isto serás Minha discípula, e onde quer que este Evangelho for anunciado deverá ser feito menção de ti!”

  2. Os samaritanos se aborrecem não pouco, e Me dizem: “Se- nhor, também possuímos casas, e teria sido mais decente se Tu tives- ses procurado um albergue conosco. A casa desta mulher é difamada e, além disto, assemelha-se mais a uma ruína do que a uma casa!”

  3. Digo Eu: “Já Me acompanhais durante três horas e sabeis quem Eu sou e que já é noite; como, então, nenhum de vós nos ofereceu um albergue, embora tivesse Eu cedido ao vosso pedido de permanecer mais dois dias aqui?!

  4. Vi o coração desta criatura e observei sua ansiedade de que aceitasse sua hospedagem! Não fui Eu, portanto, quem pediu, e sim seu coração! Mas, como não ousava externar diante de vós este dese- jo, Eu vim ao encontro dele e pedi o que tão amorosamente e cheio de saudade e disposição deseja dar-Me!

  5. Este é o motivo mui concludente, pelo qual irei hospedar-

-Me na casa desta mulher! Feliz daquele que não se aborrecer por isto!

  1. Digo-vos mais: Da maneira como semeais, ides colher; quem semeia economicamente, colherá parcamente; quem semeia fartamente, colherá com abundância. Dentre vós, ninguém ofereceu algo a Mim ou a Meus discípulos; esta, porém, deu-Me tudo que possui! Achais injusto que lhe dê uma honra merecida? Quem de vós discutir com ela se verá Comigo!”

  2. Os samaritanos não sabem o que dizer, e finalmente pedem licença para visitar-Me no dia seguinte.

  3. Eu lhes respondo: “Não vos convido, nem exijo a vossa pre- sença; quem quiser vir de livre e espontânea vontade, não encontra- rá as portas fechadas!”

  4. Os samaritanos se levantam e se dirigem para a cidade. Eu, porém, permaneço mais algum tempo ao lado do poço, onde a sa- maritana saciava a sede de todos que Me acompanhavam.

33. Acontecimentos milagrosos em casa da samaritana. O médico e os samaritanos mosaístas. Ultraje infame deles com referência a Jesus e o castigo merecido. Relato do médico e advertência do Senhor.

  1. O médico da samaritana, porém, que também estava ali, di- rige-se às pressas para a casa a fim de preparar pousada e jantar para Mim. Qual não é sua surpresa ao encontrar quase tudo feito, tudo que iria determinar aos empregados! Tanto que lhes pergunta quem tinha dado aquelas ordens. Eles respondem: “Um jovem de uma figura maravilhosa aproximou-se de nós e disse: ‘Arrumai tudo, por- que o Senhor, que virá até esta casa, o necessita!’ Com esta ordem, executamos tudo que o jovem mandou!”

  2. O médico se admira e pergunta: “Mas onde está este jovem?!”

  1. Em seguida sai correndo para avisar-Me que está tudo preparado!

  1. No meio do caminho ele dá com uns ultramosaístas, que lhe dizem: “Amigo, não fica bem correres assim num sábado; ignoras, por acaso, como se profana o dia de Jehovah?”

  2. Diz o médico: “Cavalgadores de letras de Moysés! Julgais que andar depressa num sábado, cujo sol já se foi, é pecado? Mas, se pecais pela carne, com vossas mulheres e prostitutas, que vos parece isto? Será que Moysés instituiu isto num feriado de Jehovah?” — Dizem os samaritanos: “Se não fosse sábado, nós te apedrejaríamos! Por hoje serás perdoado!” — Diz o médico: “Realmente, vossa ati- tude se aplica bem numa época em que o Messias Prometido Se en- contra justamente às portas de Sichar, e eu me apresso em avisá-Lo de que tudo está pronto para a Sua recepção! Então, não sabeis o que sucedeu?”

  3. Dizem os samaritanos: “Contaram-nos que uma caravana de judeus fez acampamento perto do poço de Jacob e que um deles, certamente o dirigente, alega ser o Cristo. Tu és médico e não com- preendes que os judeus querem pregar-nos uma peça? Que Messias? De onde?! Pensas que não o conhecemos? Pois não somos também da Galileia e vossos irmãos na fé, severos nas leis de Moysés? Conhe- cemos este nazareno, que é filho dum carpinteiro. Como o trabalho não lhe agradasse, ele se deixa explorar pelos fariseus aplicando algu- mas artes mágicas, dizendo-se o Messias! E tolos como tu acreditam nas suas palavras sedutoras! Deviam ser todos presos, depois açoita- dos e jogados para lá da fronteira, como imundos!”

  4. Diz o médico: “Oh, que sois cegos! Em minha casa os anjos esperam o Senhor e trouxeram comida, bebida e leitos dos Céus pa- ra Ele, e dizeis tamanha estultice! Que o Senhor vos castigue!”

  5. Mal o médico havia pronunciado estas palavras, dez dentre eles perdem a fala, permanecendo neste estado durante a Minha Presença em Sichar.

  6. O médico os deixa, volta a Mim e exclama: “Senhor, a Tua casa está preparada! Tudo se deu milagrosamente! Mas, na volta para cá, fui abordado por um número de difamadores que se atreveu a dar um testemunho criminoso a Teu respeito! Isto, porém, não du-

rou muito tempo, pois o Teu anjo castigou-lhes a boca e dez emude- ceram; dois outros fugiram!”

  1. Digo Eu: “Tem calma, tudo isto tinha que acontecer, a fim de que aqueles que já creem em Meu Nome não fossem desvia- dos. Agora vamos, e tu, querida mulher da Samaria, não te esqueças do teu cântaro!” — Mais uma vez a samaritana enche seu cântaro e o leva para casa. Assim se passou metade do primeiro dia perto de Sichar.

34. Anotações dos ensinamentos e milagres do Senhor pelo evangelista João. O Senhor, acompanhado de Seus discípulos, vai à velha casa de José em Sichar. Preparativos dos anjos para a Santa Assembleia. A relação entre DEUS-PAI e DEUS-FILHO.

  1. Meu discípulo João, porém, pergunta: “Senhor, se Tu permi- tires, eu poderei anotar, durante a noite, tudo que se passou?!”

  2. Digo Eu: “Nem tudo, Meu irmão, mas sim aquilo que Eu te disser. Porque, se fosses anotar tudo integralmente, encherias vários pergaminhos; quem, porém, iria ler e compreender tudo isto? Se, entretanto, escreveres somente os pontos principais numa corres- pondência certa, como é de tua particularidade, todos que possu- írem alguma noção espiritual compreenderão tudo que se passou e tu pouparás tempo e forças. Assim, facilitarás teu trabalho e, ao mesmo tempo, serás o primeiro escrivão da Minha Doutrina e dos Meus Feitos.”

  3. João Me abraça e nos dirigimos para a cidade e a casa de José, em companhia da samaritana e do médico.

  4. Em lá chegando, ela encontra uma arrumação para a Mi- nha Chegada como jamais tinha imaginado! Há uma quantidade de mesas e bancos, e em cima de cada mesa um castiçal de prata! O soalho está coberto com lindos carpetes, as paredes ornamentadas simetricamente com tapetes floridos, e dentro dos mais belos cálices de cristal, resplandece um precioso vinho!

  5. A mulher custa a voltar a si, e só depois de alguns minutos exclama: “Mas, Senhor, que fizeste? Ordenaste isto aos Teus discí-

pulos? Donde foram buscar isto tudo? Eu sei o que tenho: de prata e ouro, nada, e aqui está tudo abarrotado com estes metais! Jamais vi um cálice de cristal igual a este! E aqui vejo mais de cem! Oh, Senhor, dize-me, donde vem tudo isto?”

  1. Digo Eu: “Não afirmaste, há pouco, que esta casa é Minha? Assim sendo, não seria delicado de Minha parte apresentar à doado- ra um ambiente indigno! Eu também sou possuidor de bom gosto, e penso que estás contente com esta troca.

  2. Aprendi isto com Meu Pai; as Moradas Dele são munidas dos mais delicados adornos, o que podes observar pelas flores que enfei- tam os campos, sendo a mais simples mais linda do que Salomon em seus trajes de Rei!

  3. Se o Pai já enfeita as flores que murcham rapidamente, quan- to mais não o fará em Sua Casa, que está nos Céus? Mas o que faz o Pai, também Eu faço, porque Eu e o Pai somos UM! Quem aceita a Mim, também aceita o Pai, pois Ele está em Mim, como Eu estou Nele! Quem Me fizer algo, fazê-lo-á também ao Pai! Portanto, não podes dar-Me algo sem receberes, em troca, cem vezes mais!

  4. Agora vamos à mesa, pois há muitos famintos e sedentos en- tre nós. Depois de termos refeito as nossas forças, continuaremos a nossa palestra!”

35. Em Sichar. — Relato do servo a respeito da arrumação milagrosa da casa. Veneração e reconhecimento da samaritana perante o Senhor. Sua Ordem de silêncio e Seu Cuidado por Maria. Os discípulos veem os Céus abertos. Boa confirmação de Nathanael. Advertência do Senhor para silenciarem sobre o segredo milagroso.

  1. Após a refeição, a samaritana se Me aproxima novamente, mas não ousa falar, pois durante o repasto conversou com os em- pregados do médico, querendo saber como se tinha dado aquela arrumação extraordinária. Os criados lhe respondem: “Querida se- nhora, só Deus sabe como se deu isto! Nós fizemos quase nada, e o médico ainda menos. Quando, muito antes da chegada dele, nos ocupávamos com nossos afazeres, apareceu um jovem de uma beleza

retumbante e nos disse o que devíamos fazer. Mas o que é mais des- concertante é que, quando íamos executar suas ordens, tudo já esta- va feito! Acreditamos que aqui tenha agido a Onipotência de Deus e que o jovem fosse um anjo! Aquele que entrou a teu lado deve ser um grande profeta, pois as Forças Divinas Lhe servem!”

  1. Ouvindo isto, a samaritana perde mais de sua coragem e só consegue balbuciar com voz fraca: “Senhor, Tu és mais que o Mes- sias! Infalivelmente foste Tu quem castigou o Faraó, salvou os israe- litas no Egito e ordenou-lhes as Tuas Leis no Monte Sinai!”

  2. Eu, porém, lhe digo: “Mulher, ainda não chegou a hora em que o mundo deva saber disto, portanto guarda-o em teu coração! Agora te peço, distribui nos diversos quartos a multidão que Me acompanha; tu, porém, o médico e os Meus discípulos, em número de dez, ficai aqui. A esta, que vês a Meu lado e é Minha Mãe, darás o melhor leito, pois está cansada e necessita de um bom repouso.”

  3. A samaritana, muito contente em conhecer Minha Mãe na- quela criatura tão despretensiosa, trata-a com todo o carinho. Maria lhe agradece e recomenda que faça tudo que Eu lhe pedir.

  4. Depois de tudo calmo, sentamo-nos na sala de refeição e Eu então Me dirijo aos discípulos, dizendo: “Estais lembrados do que vos disse em Bethabara: De agora em diante, vereis os Céus abertos e os anjos de Deus descerem sobre a terra! E vede, isto está se dando em verdade! Pois tudo que vedes aqui e que comestes e bebestes não é desta terra: foi trazido dos Céus pelos anjos de Deus! Agora abri vossos olhos e vede quantos anjos estão prontos para servir-Me!”

  5. Com isto, abriu-se a visão espiritual de todos, que viram a imensidade de anjos descerem dos Céus.

  6. Diz Nathanael: “Senhor, Tu és Verdadeiro e Fiel! Tudo que disseste se realiza maravilhosamente! Em verdade, Tu és o Filho de Deus Vivo! Com Abraham, Deus falou pelos Seus anjos; Jacob viu em sonho uma escada pela qual os anjos desciam e subiam; a Jeho- vah, porém, não viu, a não ser um anjo, que tinha o Nome de Deus escrito na sua direita. Como Jacob duvidou que fosse Jehovah, tor- nou-se coxo, devido a um golpe que recebeu. Moysés falou com

Jehovah, mas só viu fogo e fumaça, e quando teve de se ocultar em uma gruta, porque Jehovah iria passar por aí, não devia mirá-Lo até que tivesse passado! Mas, depois, teve que cobrir seu rosto com uma tríplice coberta, pois iluminava mais que o sol e ninguém po- dia vê-lo sem morrer! Ainda houve Elias, que percebia Jehovah pelo sussurro delicado. E agora — Tu estás aqui!”

  1. Eis que Eu interrompo a dissertação de Nathanael e digo: “Basta, Meu irmão, a hora ainda não é chegada! Somente a uma alma pura como a tua, sem hipocrisia e subterfúgios, é possível con- ceber isto! Mas guarda-o para ti, pois nem todos têm este preparo!

  2. Esta samaritana não era como tu, mas tornou-se assim; por isto, sente o que disseste. Quando o véu do Templo se rasgar em dois, podereis afastar a coberta da face luminosa de Moysés!”

36. Em Sichar. — O Senhor informa a João que nem tudo se presta a ser anotado. Promessa da atual Revelação. “Basta que tu creias e Me ames!” O Messias e o Seu Reino. Bênçãos para o médico e a samaritana. Joram e Irhael são unidos pelo Senhor num matrimônio verdadeiro e indissolúvel. O Senhor não dorme.

  1. Pergunta-Me João: “Senhor, isto é preciso que eu anote, pois é mais que o milagre de Caná e prova de onde vieste!”

  2. Digo Eu: “Deixa isto; o teu Evangelho é um testemunho pa- ra o mundo que não tem a verdadeira compreensão; portanto, para que o teu sacrifício? Julgas que te dará crédito? Estes que aqui se acham acreditam porque viram! O mundo que está nas trevas não poderá acreditar, pois não imagina as obras da Luz! E se tu fosses explicá-las, serias ridicularizado! Anotarás só aquilo que faço aber- tamente; o resto, mesmo sendo milagroso, anotarás em teu coração!

  3. Tempo virá em que todas estas coisas sagradas serão reveladas ao mundo; mas, até lá, muitos frutos verdes cairão das árvores. Em- bora estejam cheias de frutos, nem um terço chegará à maturação. Os dois terços deverão ser pisados, apodrecendo e secando, para que uma chuva os dissolva e um vento forte os leve para o tronco, fina- lizando um segundo nascimento!”

  1. Diz João: “Senhor, isto é muito profundo; quem o com- preenderá?”

  2. Digo Eu: “Também não é preciso! Basta que tu creias em Mim e Me ames; a compreensão mais profunda de tudo virá quan- do o Meu Espírito da Verdade for espargido sobre vós! Antes disto, muitos se aborrecerão Comigo e em Meu Nome!

  3. Todos vós tendes ainda uma noção errônea do Messias e do Seu Reino, e levará tempo até que tudo se esclareça den- tro de vós!

  4. Pois o Reino Dele não será um reino deste mundo, e sim do Espírito da Verdade, no Reino Eterno de Meu Pai, que jamais terá fim! Quem for admitido nele terá a Vida Eterna, que é uma bem-a- venturança a qual jamais alguém viu, ouviu e sentiu!”

  5. Diz Pedro, que andava calado: “Senhor, quem poderá capaci- tar-se para esta felicidade?”

  6. Digo Eu: “Meu amigo, hoje é tarde e necessitais de repouso, a fim de que estejais fortes para a labuta de amanhã! Assim, finalize- mos o dia de hoje para andarmos amanhã em boa luz. Que cada um procure o seu leito!”

  7. Todos voltam à visão natural e acham uma espécie de di- vã para o repouso. Os discípulos, bastante cansados, agradecem e se deitam.

  8. Somente Eu, o médico e a samaritana continuamos acorda- dos. Quando veem estes os outros adormecidos, ajoelham-se diante de Mim e agradecem fervorosamente a grande Graça que lhes suce- deu; ao mesmo tempo, pedem permissão para também seguir-Me.

  9. Eu, porém, lhes digo: “Não é isto necessário para vossa feli- cidade; mas, já que assim o quereis, fazei-o em vosso coração! Deveis permanecer aqui como Minhas Testemunhas.

  10. Tu, Meu querido Joram, serás de agora em diante um ver- dadeiro médico! A quem aplicares tuas mãos, terás curado, seja o mal qual for! Fora isto, deveis unir-vos num matrimônio indissolú- vel, pois, do contrário, a vossa convivência seria um escândalo para os cegos, que só veem o exterior.

  1. Tu, Joram, não precisas temer a Irhael, que está comple- tamente curada de corpo e alma. E tu, Irhael, terás em Joram um marido dos Céus e a felicidade completa; pois ele não é um espírito da terra, e sim do Alto!”

  2. Diz a mulher: “Oh, Jehovah, como és Bom! Quando será de Tua Vontade que nos unamos perante o mundo?”

  3. Digo Eu: “Já vos uni — e esta união é a única que tem valor, tanto nos Céus como na terra! Eu vos digo: Desde Adam não houve sobre a terra uma união mais perfeita que a vossa, pois foi abenço- ada por Mim!

  4. Amanhã cedo virão para cá muitos sacerdotes e cidadãos desta cidade; deveis contar-lhes que sois casados perante Deus e o mundo! E se algum dia tiverdes filhos, educai-os de acordo com a Minha Doutrina e batizai-os em Meu Nome, como tereis oportuni- dade de assistir amanhã ao batismo de muitos. E tu, Joram, começa- rás também a batizar todos que creem em Meu Nome!

  5. Agora recolhei-vos, mas, enquanto Eu permanecer nesta ca- sa, não vos aproximeis um do outro! Tampouco vos preocupeis com a mesa e a adega, que serão providas pelos Céus! Mas não comenteis isto, pois ninguém o aceitaria. Quando Eu tiver deixado este lugar, podereis contar este milagre.”

1º DIA EM SICHAR, UMA CIDADE DA SAMARIA

37. Cântico dos sacerdotes em Sichar. O Senhor os ordena para o monte. Convocação de Matheus como evangelista e apóstolo. A natureza dos sonhos.

  1. De manhã cedo, quando o sol ainda não tinha subido um palmo além do horizonte, já se aproximava um grande número de sacerdotes da casa de Irhael, começando a gritar com voz estridente: “Aleluia, aleluia, e um salve para Aquele que veio em Nome da Gló- ria de Deus! Ó sol e tu também, ó lua, estacionai até que o Senhor de toda a Glória venha bater e destruir, com Sua Mão poderosa, todos os Seus inimigos, que também são os nossos! Poupa apenas os

romanos, pois são nossos amigos e nos protegem contra os judeus, que já não são filhos de Deus, e sim filhos de Satanás, fazendo sacri- fícios a esse pai no Templo que Salomon construiu em Tua Honra! Fizeste bem, ó Senhor, em vir para perto dos Teus Filhos verdadei- ros, que acreditavam nas Tuas Promessas e Te esperavam até hoje, com ansiedade! Se bem que vieste dos judeus — pois consta que a Salvação virá por eles — ouvimos como os castigaste no Templo com os Teus açoites! Que todos os Céus Te rendam louvores com salmos, harpas e trombetas! Afirmávamos sempre que Tu não dei- xarias de passar neste lugar abençoado em que Daniel, Teu profeta, anunciou o horror de devastação de Jerusalém! E é daqui que irás anunciar a Salvação dos povos! Abençoado Teu Nome, Glória nas Alturas e salve a todos de boa vontade!”

  1. Esta gritaria, em parte sensata e em parte absurda, atrai uma grande multidão. O vozerio aumenta mais e mais, e todos dentro de casa se veem obrigados a levantar-se para ver o que se passa. Os dis- cípulos são os primeiros e Me perguntam se não seria aconselhável afastar-nos dali.

  2. Mas Eu lhes digo: “Como sois medrosos! Ouvi como cantam Aleluia, e onde se faz isto não poderá haver perigo!”

  3. Os discípulos se acalmam e Eu continuo: “Descei e informai-

-os de que devem calar-se e dirigir-se à montanha, pois irei até lá às seis horas (quer dizer, depois do meio-dia) com todos vós e procla- marei a Salvação! Que levem também escrivães para as necessárias anotações!

  1. Tu, Meu querido João, não precisas fazer isto, pois haverá muitos que o farão. Aqui se encontra um judeu da Galileia com nome de Matheus; já anotou muita coisa de Minha Adolescência e, como é muito ligeiro, facilmente anotará tudo. Chamai-o, pois que- ro falar com ele. Informai também os primeiros sacerdotes e aqueles que estavam presentes ontem, perto do poço!”

  2. Enquanto os discípulos executam as Minhas Ordens, os ou- tros convivas, junto com Maria, entram na sala de refeição, cum- primentam-Me com carinho e contam, rapidamente, sonhos ma-

ravilhosos que tiveram durante a noite e se era possível ligar-lhes importância.

  1. Eu lhes digo: “A alma só vê aquilo que lhe é afim! Se ela se encontra na verdade e bondade daquilo que vos ensinei, só poderá ver coisas verídicas, tirando dali boas conclusões para sua vida. Se, entretanto, achar-se na mentira e, através disto, na maldade, só verá em sonho coisas erradas, concluindo para si a maldade. Como vos encontrais na verdade pela Minha Doutrina, vossa alma só poderia ver a verdade, pelo que chegará a fazer muita coisa boa.

  2. Agora, se ela consegue penetrar naquilo que vê, isto é um assunto diferente. Assim como há muitas coisas no mundo exterior que não compreendeis, a alma também poderá não compreender o que vê dentro de seu mundo. Quando, como já disse a Nicodemus, o vosso espírito renascer na alma, facilmente compreendereis tudo!” Todos se retiram satisfeitos com esta explicação.

38. Em Sichar. — Matheus, antigo escrivão, é indicado para anotar o Sermão da Montanha. Discurso de recepção do Sumo Pontífice dirigido ao Senhor. Resposta Deste. Ensinamentos. “Não somente ouvindo, mas sim agindo dentro de Minha Doutrina, ela vos trará a Salvação!” Almoço campestre.

  1. Nisto se aproxima a hospedeira com seu esposo, cumprimen- ta-Me com dignidade e pergunta se queremos tomar a primeira re- feição, pois já está tudo preparado.

  2. Eu lhe digo: “Querida Irhael, espera mais um pouco, os dis- cípulos trarão mais alguns hóspedes que tomarão parte no almoço e que saberão, por Mim, que tu e Joram sois um verdadeiro casal; verão também que a vossa casa não é uma ruína, e sim, tanto interna como externamente, uma casa de primeira ordem desta cidade, e por isto Eu Me hospedei aqui!”

  3. Eis que Pedro e João abrem a porta e fazem entrar Matheus, que se inclina diante de Mim e diz: “Senhor, estou pronto a servir-Te integralmente! Sou escrivão de profissão, mantendo assim minha pe- quena família; mas, se Tu precisares de mim, abandonarei neste mo- mento o meu emprego e Tu, Senhor, não deixarás perecer os meus.”

  1. Digo Eu: “Quem Me segue não deve preocupar-se, a não ser em ficar a Meu lado para sempre. Olha esta casa: seus legítimos do- nos abrigarão em Meu Nome a tua família, bem como a ti, quando vieres até cá!”

  2. Matheus, que conhecia esta casa como ruína, diz admirado: “Senhor, aqui deu-se um grande milagre! Esta ruína tornou-se um palácio como não haverá outro em Jerusalém! E este arranjo luxuoso devia ter custado milhões!”

  3. Digo Eu: “Se te convenceres de que muita coisa que para o homem parece irrealizável é possível para Deus, saberás como esta ruína pôde ser transformada num palácio! Agora, tens o material necessário para escrever?”

  4. Fala Matheus: “Possuo o suficiente para três dias.”

  5. Digo Eu: “Isto basta para dez dias; mais tarde, prover-nos-e- mos noutro lugar! Fica aqui e toma parte no nosso almoço; depois de meio-dia subiremos à Montanha! De lá anunciarei a Salvação a estes povos; escreverás tudo, conforme falarei, em três capítulos, subdivididos em pequenos versos como o fazia David. Procura mais alguns escrivães, que tirarão cópias para este lugar.”

  6. Fala Matheus: “Senhor, a Tua Vontade será cumprida!”

  7. Depois desta conversa necessária com Matheus, os outros discípulos entram em companhia dos sacerdotes e outras notabilida- des de Sichar, que Me cumprimentam completamente contritos. O primeiro sacerdote se adianta e diz: “Senhor, preparaste bem a Tua Morada, para que fosse digna de receber-Te! Salomon construiu o Templo com muito esplendor, a fim de que merecesse a Presença de Jehovah entre os homens, mas estes profanaram esta Morada pelos seus vícios horripilantes, e Jehovah abandonou o Templo e a Arca, e veio a nós na Montanha! Assim como Tu: de início estiveste em Jerusalém; não recebendo acolhimento, Te encaminhaste para nós, Teus antigos adoradores.

  8. E agora realizar-se-á conforme consta em Isaías 2, 2–3: ‘E acontecerá, no último dos dias, que se formará o Monte da Casa do Senhor no cume dos montes e se exalçará por cima dos outeiros; e

concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos e dirão: Vin- de, subamos ao Monte do Senhor, a Casa do Deus de Jacob, para que nos ensine acerca de Seus Caminhos e andemos em Suas Vere- das; porque de Zion sairá a Lei, e de Jerusalém a Palavra do Senhor.’

  1. Todos nós estamos contentíssimos como uma noiva quan- do vem o noivo e lhe oferece, pela primeira vez, seu coração, sua mão e sua saudação! Em verdade, Senhor, Jerusalém, a Cidade Eleita pelo grande Rei, tornou-se desprezível e Te não merece! Não que nós nos achássemos meritosos — pois o que não é preciso para ter mérito perante Deus? — mas uma coisa está certa: se o Senhor tiver que escolher entre dois males, escolherá a nós como o mal menor! E isto se realiza diante dos nossos olhos, de uma forma milagrosa! És Tu Quem esperávamos há tanto tempo; por isto, Aleluia a Ti, que vens em Nome do Senhor!”

  2. Digo Eu ao orador: “Sim, falaste certo, mas Eu também vos digo: se ouvis a Minha Doutrina, deveis aceitá-la e permanecer ati- vos dentro dela; só então tomareis parte na Salvação, que vos anun- ciarei do cume da Montanha! Pois, se bem que a Graça vos vem do Alto, ela não ficará convosco se não for posta em ação! Será o mesmo se tu te encontrares faminto debaixo de uma árvore cheia de frutos; ainda que o vento a sacuda e os figos maduros caiam, se tu não os apanhares e comeres, por acaso te saciarão?

  3. Não basta ouvir, e sim agindo pela Doutrina é que recebeis a Salvação que veio a vós de Jerusalém! Compreendeste isto?”

  4. Fala o orador: “Sim, Senhor, pois como Tu, só Deus po- derá falar!”

  5. “Pois bem”, digo Eu, “então, vamos ao almoço; depois anotarás que Eu abençoei, ontem à noite, o matrimônio de Irha- el e Joram, e que ninguém mais se escandalize com eles! Que assim seja!”

  6. Todos se sentam para saborear um bom leite com pão e mel.

39. Em Sichar. — O almoço em casa de Irhael. Discursos. Leite e mel da Judeia, os melhores do mundo. O discurso do sábio em louvor do Criador. Dissertação do Senhor sobre a meta do homem para a perfeição.“Meu jugo é suave e Meu fardo, leve!” A Verdadeira Casa de Deus: a natureza livre e a alma humana. O Sermão da Montanha. (Matheus capítulos 5, 6 e 7)

  1. Hoje em dia, este gênero de almoço não seria considerado muito delicioso; porém, num país que era, ao pé da letra, inundado por leite e mel, não deixava de sê-lo; pois o mel da Judeia era o me- lhor do mundo e ainda o é, assim como o leite, que não podia ser ultrapassado por qualquer outro.

  2. Em seguida, serviram-se frutas saborosas e todos louvavam a Deus que lhes dava este sabor!

  3. Um dentre os convivas, que era um sábio, disse: “Não se pode louvar suficientemente a Sabedoria, Onipotência e Bondade de Deus! Pois a chuva cai na terra, milhares de plantas, arbustos e árvores sugam esta mesma chuva e se encontram no mesmo solo; entretanto, cada espécie possui um paladar, um odor e uma forma diferentes!

  4. E no reino animal, vede os espécimes da terra, da água e do ar! Que quantidade e variedade, desde a mosca ao elefante, da traça até o cavalo-marinho! Senhor, que Força, que Poder e que Profunde- za Infinita de Sabedoria devem existir em Deus, que conduz o sol, a lua e todas as estrelas, mantendo o mar na profundeza, construindo as montanhas sobre a terra e criando a terra mesma pelo Seu Verbo Onipotente!”

  5. Digo Eu: “Sim, sim, Deus é sumamente Sábio e Justo, e não precisa de conselhos e ensinos de ninguém, quando quer criar algo! Eu, porém, vos digo: O homem não tem menos direito em tornar-se perfeito como é Perfeito o Pai nos Céus!

  6. Até então, isto era impossível, porque a morte dirigia o cetro sobre a terra; de agora em diante, será possível para todos viver de acordo com a Minha Doutrina, quando isto for da von- tade da criatura!

  1. Penso que, se Deus oferece esta possibilidade à criatura em troca de um pequeno esforço, o homem não deveria ter receio de trabalhar com afinco para conseguir esta Graça!”

  2. Diz o Sumo Pontífice: “Sim, Senhor, pelo mais sublime, o homem deve arriscar o máximo! Quem quiser apreciar a vista do alto de uma montanha, forçosamente terá que se sujeitar a uma su- bida penosa. Quem quiser colher, deverá primeiro arar a terra e se- mear; e quem souber que poderá ter algum lucro, há de arriscar algo! Assim que, uma vez de posse dos Teus Ensinamentos, não poderá haver dificuldade em alcançarmos o que nos anunciaste: a perfeição, como é Perfeito o Pai nos Céus!”

  3. Digo Eu: “Exato, e ainda acrescento: O Meu jugo é suave e o Meu Fardo é leve! Mas os homens tiveram um fardo pesado so- bre seus ombros, nada conseguindo com isto; resta saber que rumo tomará sua fé, quando trocar o peso de antanho por uma novidade suave! Não irão dizer: Se pelo sacrifício e esforço não realizamos coisa alguma, o que esperar de um trabalho infantil?

  4. Eu vos digo: Tereis que tirar o velho ‘eu’, como se tira uma roupa velha, e vestir outra completamente nova! No começo ela não será muito cômoda; mas quem não se impressionar com um peque- no mal-estar alcançará a perfeição de que vos falei.

  5. Agora aprontai-vos, pois iniciaremos o nosso pequeno pas- seio à montanha! Quem quiser acompanhar-Me que se levante, e tu, Matheus, vai sem demora buscar teu material para escrever!”

  6. Diz Matheus: “Senhor, sabes de minha boa vontade em servir-Te; mas, se eu for para casa agora e passar na fronteira da cidade onde está o meu escritório, infalivelmente encontrarei muito serviço, e os guardas romanos não me deixarão sair enquanto não aprontar tudo. Por isto preferiria, se possível, achar por aqui os per- gaminhos necessários e, logo à noite, ir buscar minha reserva, pois não recebo além daquilo que preciso para três dias!”

  7. Digo Eu: “Meu amigo, faze sempre o que Eu te disser! Vai como te disse, e não encontrarás nem trabalho nem guardas à tua espera!” — Diz Matheus: “Assim sendo, já vou!”

  1. Tudo se dá conforme Eu havia dito, e em breve Matheus volta com mais três escrivães; assim iniciamos nossa marcha para o Monte Garizim. Chegando lá, depois de uma hora, o Sumo Pontífi- ce Me pergunta se deverá ir lá em cima e abrir a velha Casa de Deus.

  2. Eu lhe aponto a zona toda e a multidão que nos segue e di- go: “Amigo, vê! Esta é a igreja mais velha e mais condigna de Deus! Mas está muito abandonada, tanto que irei erigi-la novamente, co- mo fiz com a casa de Irhael. Vamos ficar ao pé da montanha, onde se encontram várias mesas e bancos, que serão de grande utilidade para os escrivães. Abri vossos ouvidos, olhos e corações e preparai-

-vos, pois agora se dará diante de vossos olhos o que foi predito pelo profeta Isaías!”

  1. Diz Matheus: “Senhor, estamos prontos para ouvir-Te!”

  2. Com isto, começa o Sermão da Montanha, que se lê no Evangelho de Matheus capítulos 5, 6 e 7. Durou perto de três horas, pois falava devagar por causa dos escrivães.

40. Em Sichar. — Crítica sobre o Sermão da Montanha pelos sacerdotes. O Sumo Pontífice, sincero, dirige-se ao Senhor em continuação da crítica. Advertência do Senhor de que se deve procurar a interpretação espiritual destes quadros.

  1. Quando o Sermão terminou, muitos estavam espantados, principalmente os sacerdotes, e alguns diziam: “Quem poderá assim alcançar a felicidade? Nós, escribas, também pregamos de acordo com as leis dadas por Moysés, mas aquilo era orvalho e brisa da noite, em comparação com esta doutrina e este sermão impetuoso! Não que se possa impor argumentos, mas esta doutrina é demasia- damente dura e ninguém poderá aplicá-la em si!

  2. Quem poderá amar seu inimigo, fazer o bem àquele que nos prejudica, abençoar os que nos odeiam e só falam mal a nosso respei- to? E se alguém me pedir um empréstimo, não devo afastar-me dele e fechar ouvidos e coração, sabendo que o devedor jamais me poderá restituí-lo? Isto é uma tolice! Quando os preguiçosos souberem dis- to, não irão pedir empréstimos tantas vezes aos ricos, enquanto estes

tiverem alguma posse? Se, desta maneira, os pobres tiverem recebido tudo dos ricos, será interessante saber quem futuramente irá traba- lhar? É de se compreender que, com a observância desta doutrina, o mundo em breve se parecerá com um deserto!

  1. Assim sendo, onde iriam as criaturas progredir culturalmen- te, se todos os colégios forçosamente fechassem suas portas, pois não haveria quem os sustentasse? Esta doutrina de nada vale! Os crimi- nosos deverão ser castigados, e quem me bater na face receberá duas bofetadas, a fim de perder a vontade de me aplicar outra!

  2. O devedor negligente deverá ser preso numa penitenciária, para que aprenda a trabalhar e ganhar seu pão, e o mendigo que peça esmolas, que as receberá! Isto sim é uma boa lei, sob a qual a Humanidade poderá manter-se! Não que eu queira criticar isto tudo, embora seja bem absurdo; mas a mutilação dos membros quando nos aborrecerem e fora isto a preguiça estimulada, pela qual ninguém deverá preocupar-se com o dia de amanhã, mas sim pro- curar o Reino do Céu, a todo transe, que receberá todo o resto por acréscimo?! Façamos uma experiência de alguns meses, procurando evitar o trabalho, e veremos se os peixes fritos nadarão para dentro de nossa boca!

  3. E que idiotice a tal mutilação dos membros! Se alguém pe- gar du’a machadinha com sua mão direita para decepar a esquerda, que fará se esta também o aborrecer, como decepá-la? E como irá arrancar os seus olhos e cortar seus pés? Ah! Deixai-me em paz com tal doutrina!

  4. Basta imaginar as consequências e se deduzirá com facilidade que ela é apenas o resultado do fanatismo judaico!

  5. Mesmo se todos os anjos do Céu viessem para ensinar aos homens estes meios para conseguirem a Vida Eterna, eles deveriam ser enxotados deste mundo e satisfazer a si mesmos com este céu idiota! Que incoerência — pela opinião dele, o ‘dente por dente’ e ‘olho por olho’ é injustiça e barbaridade, pregando a maior docili- dade e indulgência, abrindo as portas aos ladrões, enquanto diz: ‘A quem te pedir a túnica, também darás teu manto!’ Bonita doutrina!

Em compensação, devem as criaturas arrancar seus olhos e decepar mãos e pés! Meus agradecimentos! Quem de vós já ouviu tamanha idiotice?”

  1. O sacerdote se aproxima de Mim e diz: “Mestre, Teus Atos demonstram que podes mais que um homem comum. Mas, se tens a capacidade de pensar logicamente, o que não duvido, pois escutei Tuas Palavras em casa de Irhael, revoga certos parágrafos impraticá- veis desta Tua doutrina! Do contrário, somos obrigados a conside- rar-Te um mago fanático, que estudou numa escola do antigo Egito, e expulsar-Te como impostor!

  2. Observa Tu mesmo Tua doutrina mais de perto e verás que ela é completamente inútil para a obtenção da Vida Eterna! Pois seria melhor não ter nascido, do que alcançar um céu completamen- te mutilado! Dize-me, sinceramente, concordas comigo ou tomas a sério a Tua doutrina?”

  3. Digo Eu: “Mas tu, sendo Sumo Pontífice, és mais cego que uma toupeira?! O que esperar dos outros? Eu vos falei em quadros, e vós engolis apenas sua matéria, que vos ameaça abafar! Do espírito, porém, que Eu deitei nestes quadros, pareceis não ter um vislumbre!

  4. Crê-Me, somos tão sábios quanto vós e sabemos muito bem se é preciso alguém mutilar-se para receber a Vida Eterna! Mas tam- bém sabemos que não compreendeis o espírito desta Doutrina e le- vareis muito tempo para chegar até lá! Jamais revogaremos as Nossas Palavras! Tu tens ouvidos que não escutam a verdade; como também tens olhos que são espiritualmente cegos! Tanto que não ouves e não vês, embora de ouvidos e olhos abertos!”

41. Em Sichar. — Continuação da crítica do Sumo Pontífice a respeito da Doutrina do Senhor. Sua boa parábola do cântaro lacrado e do sedento. Lógica prática do homem da razão. A paciência do Senhor para com o sacerdote sincero. Repetição de sua crítica. O Senhor lhe indica procurar Nathanael.

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Bem, realmente dou-Te razão e por ora não posso e não quero discutir qual o sentido espiritual contido em Teus quadros; mas uma coisa deves considerar: se por acaso eu quisesse passar a outrem uma doutrina que desejasse ser compreen- dida e aplicada, forçosamente teria que apresentá-la de u’a maneira acessível ao meu discípulo.

  2. Assim sendo, também poderia exigir dele uma conduta de acordo. Mas, se eu transmitir uma doutrina em quadros que de forma alguma poderão ser postos em prática, e o discípulo me perguntar: ‘Mas, como? De que forma deverei tirar-me a vida, para ganhá-la? Como posso matar-me, para, assim morto, tirar da morte uma Vida Eterna?’ — eu então lhe direi: ‘Isto deves fazer assim, assim, porque entre os quadros e a verdade contida neles existe tal correspondência; portanto, deves seguir esta correspondência, e não o quadro externo!’

  3. Vê, querido Mestre, isto qualquer discípulo compreenderá e eu poderei exigir dele o cumprimento de minha doutrina! Agora, poderei exigir isto sem ser tomado por um doido, se ela não o per- mite? Se assim fizesse, todo mundo considerar-me-ia como alguém que carregasse água num cântaro lacrado. Um sedento se aproxima dele e pede de beber; o portador d’água, porém, lhe entrega o cânta- ro lacrado e diz: ‘Aqui a tens para beber — bebe!’ O outro procura saciar sua sede, mas, não encontrando a abertura, diz: ‘Como po- derei, se o cântaro está fechado por todos os lados?’ — O primeiro responde: ‘Se és cego e não achas a abertura, engole todo o cântaro e terás engolido a água!’

  4. Dize-me, querido Mestre, o sedento não teria razão em cha- mar o outro de doido?

  5. Não que ousasse dar-Te este nome; mas, se afirmas que não compreendemos Tua doutrina por causa da nossa cegueira e surdez

espiritual, comparo-a a este cântaro lacrado que deverá ser engolido com a água, exigência esta que só poderia ser reclamada por um pro- feta que tivesse fugido dum manicômio! — Considere esse parecer como quiser! Enquanto não deres uma explicação razoável de Tua doutrina, que em outras partes contém muita coisa boa e verdadeira, confirmo, com muitos outros presentes, minha opinião acima! Por isto, jamais hás de ver iniciarmos nossa mutilação por Teus Ensina- mentos! Também trabalharemos como sempre para nosso sustento e ai daquele que procurar roubar-nos astuciosamente!

  1. Tampouco presentearemos com um manto o ladrão que nos roubar a túnica! Se és verdadeiramente um sábio enviado por Deus, compenetrar-Te-ás da necessidade do cumprimento das Leis de Moysés. Entretanto, se tencionas romper a Lei com a Tua doutrina, terás que entender-Te com Jehovah!”

  2. Digo Eu: “Sou de opinião que depende do legislador cum- prir a Lei em Espírito e Verdade, ou então sustá-la sob certas condições!”

  3. Diz o Sumo Pontífice: “Isto soa estranho de Tua boca! Hoje de manhã teria honrado esta explicação, pois me parecia que Tu fosses, realmente, o Messias. Agora, porém, com esta doutrina, és a meus olhos um tarado que se apraz em oferecer suas ideias fixas como Sabedoria do Messias! Portanto, é preferível que expliques melhor Tua doutrina dura, que jamais será compreendida assim!”

  4. Digo Eu: “Então fala o que te deixa tão consternado, que te aliviarei!”

  5. Fala o Sumo Pontífice: “Já Te disse por diversas vezes, mas, a fim de que vejas que sou razoável, confesso-Te que, enquanto todos os outros pontos são praticáveis, não aceito o arrancar dos olhos e a mutilação de pés e mãos. Considera Tu se existe a possi- bilidade de alguém arrancar uma vista! Ou por outra, não morrerá aquele que decepar u’a mão ou um pé? E, uma vez morto, qual o seu progresso?

  6. Vê, eis o ponto inútil de Tua doutrina que não poderá ser executado! E se morrer, pergunto como David: ‘Senhor, quem po-

derá louvar-Te na morte e na tumba?’ Portanto, explica este ponto com mais clareza, que aceitaremos o resto como doutrina humani- tária, levada ao extremo!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, teu pedido é aceitável e Eu te digo: Depois de Samuel, és o mais sábio dos sacerdotes, pois tens bom coração e não rejeitas Minha Doutrina, pedindo, apenas, que te seja explicada. Mas receberás a Luz não por Mim, e sim por um dis- cípulo Meu! Dirige-te a qualquer um deles e saberás que Minha Doutrina desde já é compreendida sem explicação de Minha parte!”

42. Em Sichar. — Elucidação clara e rude de Nathanael sobre os pontos escandalizantes do Sermão. A Missão do Messias de falar em parábolas. Correspondência entre o natural e o espiritual. O caminho para a compreensão espiritual. Razão da vida de provação. Ensinamentos elucidados. Perigo do amor para com o mundo. Advertência aos críticos.

  1. Eis que o Sumo Pontífice se dirige a Nathanael e diz: “Pelo conselho do Mestre, dirijo-me casualmente a ti; por favor, explica-

-me, apenas, o ponto mais duro da doutrina de vosso Mestre. Mas peço-te, dá-me palavras claras e puras, pois que com fumaça não se ilumina um quarto!”

  1. Diz Nathanael: “Sois tão tapados que não compreendeis o verdadeiro sentido desta Doutrina? Não foi predito pelos profetas que o Cristo só falaria em parábolas?”

  2. “Sim”, diz o Sumo Pontífice, “tens razão!”

  3. Diz Nathanael: “Bem, se sabes isto como escriba, como po- des intitular o Senhor de doido se Ele, de acordo com a Escritura, fala alegoricamente? Devias pedir que Ele te desse uma Luz, e não O chamar de doido!

  4. Vê, as coisas da natureza têm uma ordem pela qual são man- tidas; o mesmo se dá com as coisas do espírito, que não poderiam existir, nem ser pensadas ou faladas fora de sua ordem própria. Mas, entre ambas, existe uma correspondência exata — pois a natureza surgiu do espírito — que só poderá ser conhecida pelo Senhor.

  1. Se Ele transmite coisas puramente espirituais a nós, que nos encontramos na ordem terrena da natureza, só poderia fazê-lo por meio de quadros alegóricos. Para compreendê-los, devemos tratar de despertar nosso espírito para o cumprimento das Leis Divinas. Somente então se fará a Luz dentro de nós e saberemos interpretar tais quadros, o que prova a diferença entre a Palavra Divina e a pa- lavra humana.

  2. Presta atenção: O que para a criatura é visão, para o espírito é a percepção das coisas divinas e celestiais, únicas que se prestam à natureza do espírito para sua existência abençoada e eterna.

  3. Mas, como o espírito, de acordo com a Ordem Imutável de Deus, deve ser submerso na matéria da carne neste mundo, para que se firme em sua liberdade e quase total independência de Deus, sem a qual jamais poderia vê-Lo e tampouco existir em Deus, ao lado de Deus e com Deus (não obstante nesse período em que o espírito amadurece dentro da matéria e se firma na liberdade e in- dependência de Deus, ele se encontrar no inevitável perigo de ser absorvido pela matéria e ser destruído junto com ela, destruição esta que tornaria uma ressurreição para a Vida em Deus extremamente difícil e um grande sofrimento para ele), o Senhor fala não para o homem racional, mas para o espiritual: se teu olho direito te es- candaliza, arranca-o e atira-o longe de ti, pois te é melhor que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno! Quer dizer: se a luz do mundo te seduzir, deves te conter e afastar desta luz que te atrairia para a morte da matéria! Portanto, priva-te como espírito do prazer fútil da contemplação do mundo e dedica-te com tua alma às coisas puramente celestiais, pois será melhor penetrar no Reino da Vida Eterna sem sapiência mundana, que com um excesso desta e um mínimo em assuntos espirituais, e ser absorvido pela matéria!

  4. Se o Senhor falou em dois olhos, mãos e pés, não se referia ao corpo, e sim à capacidade dupla da visão, da atividade e da ca- pacidade progressiva, e prevenia não ao corpo, que não tem vida, e

sim ao espírito em não se unir ao mundo, quando percebe que este o atrai em demasia.

  1. O espírito deve ter conhecimento do mundo, mas não achar prazer nele! Assim que sente que o mesmo o seduz, deve afas- tar-se imediatamente, pois já lhe ameaça o perigo! Esse afastamento brusco é expresso pelo quadro do arrancar do olho, e Aquele que nos deu esta parábola deve certamente ser entendido em todos os assun- tos espirituais e materiais do homem, o que, a meu ver, só é possível Àquele que, através de Sua Própria Onipotência, Amor e Sabedoria, criou tanto o espírito como a matéria! Penso que me compreendeste bem e reconhecerás o quanto pecaste contra Ele, que tem tanto a tua como a minha vida em Suas Mãos!”

43. Em Sichar. — A fundamentação de Nathanael a respeito do discurso alegórico do Senhor. Continuação da explicação do Sermão. Ensinamentos práticos.

  1. Com estas palavras o Sumo Pontífice fica um tanto perplexo, e muitos outros com ele, e diz: “Agora compreendo bem! Mas por que o Senhor não fala logo assim, de maneira compreensível como tu? Eu teria evitado, com isto, cometer um pecado tão grande!”

  2. Diz Nathanael: “Se tivesses sete anos de idade, tua pergunta seria justificável; mas tu és um dos mais sábios deste lugarejo, por- tanto me admira isto.

  3. Porventura não queres perguntar ao Senhor por que deposi- tou nas sementes diversas a capacidade de forma e progresso até o infinito, dentro da árvore germinada? Não teria sido melhor se fizes- se chover os frutos maduros dentro das mãos dos homens? Para que esta evolução cansativa de uma árvore pela semente e uma espera tão longa pelo fruto? Vê, como és tolo!

  4. A Doutrina do Senhor é como todas as Suas Obras! Ele no-

-la dá em sementes encapsuladas; estas devemos semear no solo do nosso espírito, que é o amor, para que possa germinar e crescer uma árvore do Verdadeiro Conhecimento de Deus e de nós mesmos. Só

então poderemos colher desta árvore, na época justa, os frutos ma- duros para a Vida Eterna!

  1. O amor é o essencial, sem ele não germinará o fruto do espírito. Experimenta semear trigo no ar e verifica se ele germina e dá fruto! Se tu, porém, o depositares num bom solo, crescerá e dará muitos.

  2. Esta é a razão por que o Senhor aboliu a Lei dura do casti- go, dada por Moysés, a fim de que vos tornásseis brevemente mais ricos em solo fértil nos vossos corações. Quem pune pela Lei possui pouco ou nenhum amor, e neste coração dificilmente germinará a Semente Divina do Verbo! O outro, que recebe a punição, já se en- contra num julgamento que não tem amor!

  3. Por isto, é preferível não procurar os erros do próximo, mas sim ser mais condescendente e paciente! E se ele, em sua fraqueza, pedir-vos algo, não deveis privá-lo do que quer que seja, para que o amor aumente em vós e felizmente também no vosso irmão neces- sitado! Quando este amor existir em abundância, a Semente Divina germinará em vós e o fraco considerar-vos-á em sua gratidão, recom- pensando-vos o que fizestes por ele.

  4. Mas, se sois mesquinhos e duros contra vossos irmãos fracos, jamais conseguireis um fruto divino, e a provação do fraco levar-vos-

-á finalmente à desgraça!

  1. Se o Senhor diz: ‘A quem te pede a túnica também darás o teu manto’, quer apenas dar a entender que vós, que sois ricos, deveis ter mão aberta quando os pobres vos procurarem. Este é um meio para conseguirdes um campo vasto no vosso coração, o que vos trará uma imensa felicidade e os pobres vos abençoarão!”

44. Em Sichar. — Outras perguntas do sacerdote sobre a interpretação dos quadros alegóricos no Sermão. Explicação de Nathanael sobre o “olho direito” e “mão esquerda”. Agradecimento do sacerdote.

  1. Diz o Sumo Pontífice, que ouviu a explanação muito atento: “Está tudo muito certo e creio compreendê-lo. Mas tenho que fazer mais uma observação: o Senhor só falou do arrancar do olho direito

e do decepar da mão direita. Em meu zelo de investigador, incluí também os pés na mesma interpretação. Acontece que tu me expli- caste o decepar dos pés assim como o do olho e da mão, que foram os únicos que o Senhor mencionou. Disseste-me que existia corres- pondência somente na Palavra do Senhor, que fala para o espírito do homem. Como, então, encontraste uma interpretação também em meu aditamento?”

  1. Diz Nathanael: “Enganas-te; o Senhor também falou do pé direito. Apenas deu um sinal aos escrivães para que excluíssem o ensinamento dos pés, porque aqueles que já dirigiram sua visão in- terna ao Céu, ativando sua vontade no amor — que corresponde à mão esquerda, vinda do coração — dentro da Vontade Divina, não mais necessitam se desfazer do pé direito, pois já desistiram da tendência pela ação puramente mundana, que compreende a mão direita. Em síntese: com a visão interna da alma e a justa vontade na ação, já se iniciou na criatura a evolução nas regiões da Vida Eterna, com o que automaticamente efetuou-se o desprendimento do pé direito, ou seja, o progresso material, não mais necessitando dum esforço peculiar.

  2. Vós, samaritanos, podeis começar a vos corrigir pelo pé; pois, conquanto vossa visão esteja dirigida ao divino e vossas mãos execu- tem uma atividade justa, vosso pé, ou seja, vossa cobiça de progresso, projeta-se unicamente no mundo material! Esperais do Messias algo mui diferente do que, pela predição, Dele deveríeis aguardar! Isto representa, espiritualmente falando, o pé direito que deveis decepar, a fim de poderdes penetrar no Caminho para o Reino de Deus. Por vossa causa o Senhor mencionou o pé direito e impediu que tal fosse anotado, porquanto os Seus posteriores adeptos bem saberão onde e em que consiste o Reino do Messias, e o essencial para penetrá-Lo. Tens mais algumas objeções a fazer?”

  3. Diz o Sumo Pontífice: “Tudo me é claro dentro de minha compreensão. Mas, mesmo assim, acrescento que vossa Doutrina, na forma como deve ser aplicada, é dura e dificilmente compreendi- da, e vereis que muitos se oporão a ela!

  1. Não quero profetizar o vosso insucesso, mas sei que os ju- deus orgulhosos não a aceitarão, o que nós, embora ignorantes, não fazemos! Exigirão milagres, e talvez vos irão perseguir por causa des- tes milagres!

  2. Nós acreditamos não por este motivo, mas pela Doutrina como foi explicada. Deveríeis permanecer conosco, pois, com os judeus altivos e os gregos incrédulos, fareis maus negócios.”

45. Em Sichar. — A modéstia de Nathanael como confissão maravilhosa do apóstolo. Quem não for capaz de renunciar a tudo por amor ao Senhor, não O merece! O desejo do Sumo Pontífice em segui-Lo e sua preocupação pelo bem do seu rebanho.

  1. Diz Nathanael: “Até aqui eu tive que falar contigo! Dora- vante, está tudo nas Mãos do Senhor. A Vontade Dele também é a nossa, pois somos muito pobres de espírito. Por isto, precisamos ficar ao lado Dele para conseguirmos o Reino do Céu! Igualmente desejamos sofrer todas as calamidades e perseguições, a fim de nos consolarmos com Ele. Em Seu Nome queremos ser dóceis em todos os nossos pensamentos, julgamentos, desejos, vontades e ações, para alcançarmos a posse verdadeira do solo fértil, que é o amor puro em nossos corações.

  2. Do mesmo modo, não tememos o país onde existem a injus- tiça e a dureza de coração, para que possamos sentir fome e sede pela justiça, pois temos Aquele que nos saciará eternamente!

  3. Queremos ser misericordiosos para com todos, independen- temente de que nos tratem com justiça ou não, para que sejamos mais merecedores da Grande Misericórdia de Deus.

  4. Almejamos proteger nossos corações de toda e qualquer im- pureza, para que o Senhor não nos abandone quando O mirarmos. Pois não é possível aproximarmo-nos de Deus de corações impuros, fitá-Lo em Espírito e Verdade, bem como a Plenitude dos Milagres em Suas Obras.

  5. Se somos de coração puro, devemos ser pacíficos, pacientes e dóceis para com todos, pois um coração raivoso não poderá ser

puro; assim sendo, é-nos permitido aproximarmo-nos Daquele que nos trouxe a FiliaçãoDivina, ensinando-nos a orar a Deus como nosso Pai!

  1. E se formos, como é de vossa opinião, perseguidos por esta causa justa, em nada importa; pois temos a Ele, e por Ele o Céu dos Céus! Esta é a nossa maior felicidade já em vida, mesmo se o mun- do nos desprezar e perseguir, porque Ele é um Senhor sobre todos e sobre tudo! O nosso maior mérito e maior honra consistem em podermos servir Àquele a Quem obedecem todos os Céus! Portanto, não te preocupes conosco, já sabemos a quantas andamos!”

  2. O Sumo Pontífice se admira muito com este discurso enérgi- co de Nathanael e diz: “Em verdade, se a minha presença não fosse necessária aqui e eu não tivesse mulher e filhos, acompanhar-vos-ia!”

  3. Diz Nathanael: “Também abandonamos mulher e filhos e O seguimos, e eles continuam vivos! Eu acho que aquele que não pode abandonar neste mundo seja lá o que for, por amor a Ele, não mere- ce a Sua Graça! Talvez isto te ofenda, mas é um fato! O meu coração assim fala e nele tudo é verdade, uma vez que o espírito despertou no pensamento vivo em Deus! Ele não necessita de nós; mas nós necessitamos Dele!

  4. Já te foi possível ajudar-Lhe fazer surgir o sol imenso no ho- rizonte, para que estendesse sua luz sobre a terra? Por acaso viste algum dia as algemas que o Senhor impõe aos ventos? Como con- trola os raios, os trovões e o mar em sua profundeza? Quem poderia dizer que ajudou ao Senhor em qualquer coisa? Assim sendo, como é possível mencionar mulher e filhos quando Ele nos chama? Ele, o Senhor de toda Vida, que esperamos por tanto tempo e que final- mente veio, tal como foi predito pelos profetas e patriarcas?”

  5. Diz o Sumo Pontífice: “Se eu não fosse Pontífice, faria o que todos vós fizestes! Mas sou indispensável aqui para os fracos na fé, que necessitam dum preparo lento. Que posso fazer?

  6. Estou convencido de que vosso Mestre é o Messias Prometi- do, mas que fazer com a minha comunidade? Tu mesmo viste como muitos se afastaram durante o Sermão! Estão muito aborrecidos e

divulgarão sua incredulidade, e outros, que ainda ontem estavam cheios de fé, começam a duvidar e não sabem o que acreditar!

  1. Agora, imagina o trabalho que terei, pois me consideram um oráculo! Se não os convencer, continuarão por toda a vida o que são hoje! Este é o motivo principal por que preciso ficar aqui, e penso que o Senhor não Se irá aborrecer comigo por causa disto! Embora não continue fisicamente em Sua companhia, fá-lo-ei em espírito por toda a Eternidade como servo fiel e pastor do Seu Reba- nho, esforçando-me por passar adiante a Sua Doutrina!”

  2. Digo Eu: “Sim, assim estará bem! Pois serás um instrumen- to valioso em tua comunidade e tua recompensa no Céu será grande! Mas agora já é noite e temos que voltar para casa! Que assim seja!”

  3. Em seguida todos se põem a caminho.

46. Em Sichar. — A cura do leproso após seu pedido: “Senhor, se Tu queres, podes purificar-me!” Bom êxito deste milagre. Entusiasmo e iniciativa louvável do Pontífice. Ensinamentos do Senhor para a moderação em tudo.

  1. Como já era noite e houvesse muitas pessoas idosas em nossa companhia, a caravana movia-se lentamente.

  2. Chegando mais na planície, encontramos no caminho um homem cheio de chagas horripilantes que, assim que Me viu, levan- tou-se, veio a Mim e disse com voz lastimosa: “Senhor, se Tu queres, podes purificar-me!” Eu em seguida estendi Minha Mão sobre ele e disse: “Quero que sejas puro!” O doente no mesmo momento ficou curado, todas as chagas, caspas e crostas desapareceram como por encanto. Tratava-se de lepra muito adiantada, impossível de cura, tanto que o povo ficou perplexo em ver quão rapidamente o homem ficara bom.

  3. Ele de pronto começou a louvar-Me, mas Eu o ameacei e disse: “Relata isto apenas ao Sumo Pontífice, que vai lá atrás com Meus discípulos! Depois vai à tua casa e oferta no altar o que Moysés determinou!”

  4. O purificado obedeceu e o Sumo Pontífice, estupefato, ex- clamou: “Se algum médico me tivesse dito: ‘Olha, vou curar este

homem!’, eu teria dado uma gargalhada e respondido: ‘Tolo, vai ao Eufrates e experimenta esvaziá-lo! Quando tirares um balde d’água deste rio, ele porá mais mil no lugar; contudo, será mais fácil secar o Eufrates do que curar este homem, cuja carne já está em decom- posição!’ E Aquele, que reconhecemos como Messias, conseguiu-o com uma só palavra! Isto é o bastante! — Ele é o Cristo! — Não necessitamos de mais provas!

  1. Digo mais, a quem hoje pedir-me uma túnica, a este darei não somente o manto, mas sim todas as minhas roupas! Ele é Jeho- vah em pessoa! O que almejamos mais? Farei um arauto, esta noite, proclamar em todas as ruas a Sua Presença!”

  2. Depois desta exclamação ele se joga a Meus Pés e diz: “Se- nhor, deixa que eu Te adore! Tu não és somente o Cristo, o Filho de Deus, e sim Deus Mesmo oculto na Carne!”

  3. Digo Eu: “Amigo, deixa isto! Já vos mostrei como deveis orar; pois orai calados e isto é o bastante! Não faças hoje demais e ama- nhã de menos! Para tudo é preciso uma medida justa! Se juntares o manto à túnica, terás conseguido um amigo no pobre! Mas, se fores dar-lhe todo o estoque de roupas, ele ficará encabulado e julgará que o queres envergonhar ou que talvez estejas sofrendo das tuas facul- dades mentais, o que não teria resultado!

  4. Mas, se alguém te pedir um talento1e tu lhe juntares mais dois ou três, alegrarás o coração do pedinte e te sentirás feliz. Se, do contrário, lhe desses mil, ele se assustaria, pensando: ‘O que significa isto? Será que me acha insaciável e quer me envergonhar? Quem sabe se não é doido?’ Este homem nunca seria um lucro para teu coração, nem tu para ele! Portanto, aplica sempre uma medida jus- ta em tudo!”

  5. Com este ensinamento, o Pontífice dá-se por satisfeito.

  1. Moeda grega.

47. Em Sichar. — A ceia milagrosa em casa de Irhael, em companhia dos anjos. Explicação do Senhor a respeito destes Seus Servos celestiais. Aborrecimento e incredulidade por parte dos conterrâneos do Salvador.

  1. Chegando à casa de Irhael, encontramos tudo como no dia anterior; somente os preparativos para a ceia eram mais fartos. No limiar da casa, porém, os sicharenses que nos tinham acompanhado querem se despedir. Acontece, entretanto, que uma série de jovens, vestidos de branco, os convidam todos para a ceia.

  2. O Sumo Pontífice, admirado por tudo, principalmente com a amabilidade e fino trato, pergunta-Me com humildade: “Senhor, quem são estes jovens? Não devem ter mais de dezesseis anos de ida- de, no entanto demonstram em cada palavra e gesto sua educação aprimorada! Por favor, dize-me, donde vêm?”

  3. Digo Eu: “Não ouviste falar que todo senhor tem seus servos e criados? Tu Me chamas de Senhor, pois então é justo que os tenha também! Se demonstram cultura, provam que Seu Senhor é mui sá- bio e delicado! Os senhores do mundo são duros e ríspidos, e assim também são os servos; o Senhor do Céu veio à terra e trouxe Seus Servos de lá; assim, eles se parecem com Ele, pois também são filhos de Sua Sabedoria e de Seu Amor. Compreendes-Me?”

  4. Diz o Sumo Pontífice: “Sim, Senhor, na medida que me é dado compreender-Te. Muita coisa queria perguntar-Te a respeito e espero encontrar ainda hoje oportunidade para isto!”

  5. Digo Eu: “Naturalmente! Agora vamos à ceia, pois está tu- do pronto.”

  6. Todos que creram em Mim tomaram parte; outros se afasta- ram, pois julgavam aquilo um ardil. A causa disto devia-se a serem todos galileus imigrados, muitos de Nazareth, que conheciam tanto a Mim como a Meus discípulos. Estes falam, então, aos samaritanos: “Conhecemo-lo e a seus adeptos; ele é carpinteiro de profissão, e eles, pescadores. Ele frequentou a escola dos essênios, que é especia- lizada em diversas artes, na terapêutica e no fetichismo. Tudo isto conseguiu aprender lá e agora o aplica com esmero para fazer adep-

tos e dar lucros aos essênios. Estes jovens são moças disfarçadas e compradas pelos essênios no Cáucaso, como meio de maior atração! Mas nós não nos deixamos ludibriar, pois sabemos que não se deve brincar com o Deus de Abraham, Isaac e Jacob. Mesmo que perdês- semos nossa fé, não poderíamos esperar uma equivalente por parte dos essênios; eles nos transformariam em verdadeiros saduceus, que não acreditam na ressurreição e na vida eterna! Que Jehovah nos proteja disso!” — Com estas afirmações este grupo volta para casa.

  1. Eu, porém, e uma grande parte dos samaritanos apreciamos a boa ceia e os anjos nos servem, pois lá também trabalhei num de- serto, onde se lê: “Quando Satanás se viu obrigado a ceder, os anjos vieram e O serviram!”

48. Em Sichar. — Os hóspedes e os servos celestiais. A dúvida do Sumo Pontífice sobre sua missão de conversão do povo incrédulo. O êxito da missão dos mártires após a morte. Advertência do Senhor e predição sobre o Seu Nascimento, Morte e Ressurreição. Aparição de espíritos. Promessa final e maravilhosa dos verdadeiros seguidores.

  1. Poucos dos que estavam sentados à mesa sabiam que eram servidos por anjos com alimentos dos Céus. Julgavam que Eu real- mente trazia servos excepcionais no Meu Séquito e talvez os tivesse comprado na Ásia Menor. Só não compreendiam a presteza, amabi- lidade e educação deles, pois geralmente os escravos executavam os trabalhos de caras amarradas e de má vontade. Em suma, os presen- tes se divertiam muito e o Sumo Pontífice, vendo que estes jovens só podiam ser criaturas sobrenaturais, começou a sentir-se mal vendo como o povo se misturava livremente no meio deles.

  2. Principalmente o aborreciam aqueles que, embora tivessem obtido provas do Céu, tinham ido para casa. Com o coração opri- mido, ele diz: “Meu Senhor e meu Deus, quais serão os meios que levarão estas criaturas à fé, se tudo isto não frutificou? Até Tu, Se- nhor, e os muitos anjos não foram capazes de converter esta súcia; que poderei eu fazer? Não me insultarão quando ousar ensiná-los?”

  1. Digo Eu: “Mas também tens muitos crentes a teu redor; faze com que te ajudem e tudo irá bem. Pois, se alguém tiver que levantar um peso e não possuir a força suficiente, procurará um auxiliar. Se um não for bastante, tomará mais um ou dois, dominando, assim, o peso. Como aqui já se encontra um número maior de crentes do que de descrentes, o trabalho será fácil!

  2. O mesmo não será em lugares onde não existirem crentes. Lá convém fazer uma tentativa, a fim de que ninguém venha a descul- par-se de que nada sabia a respeito.

  3. Se encontrares um crente, deves ficar com ele e revelar-lhe o Reino da Graça de Deus! Caso contrário, abandonarás o lugar, sa- cudindo o pó de teus pés; pois não merece mais graça alguma, a não ser aquela que é dada aos animais. Aqui tens instruções bastantes da maneira de agir com os descrentes!

  4. Uma coisa, porém, te digo: Permanece fiel à tua fé, do con- trário não poderás agir em favor do Meu Reino! Não te deixes aba- lar por diversas notícias que receberás de Jerusalém daqui a alguns anos! Porque Eu serei entregue às autoridades, que irão exterminar este Meu Corpo! No terceiro dia, porém, Eu o vivificarei de novo e continuarei convosco até o fim dos tempos! Pois aquela ralé em Jerusalém só acreditará quando convicta de que Eu não poderei ser aniquilado!

  5. Acontecerá que, em muitas partes do mundo, os transmis- sores do Evangelho serão mortos fisicamente pelos obstinados. Mas justamente esta morte será motivo de sua crença posterior, pois ve- rificarão que todos aqueles que vivem pela Minha Doutrina têm uma vida espiritual, portanto jamais serão exterminados! Os mortos voltarão, a fim de ensinarem a seus discípulos os Meus Caminhos!

  6. Mas aquelas criaturas mundanas que não têm fé, ou, embora a possuindo, não agem de acordo, jamais receberão a Minha visita ou a de Meus discípulos, para afastar de seus corações as trevas da dúvida. Quando, porém, o fim de seus dias vier, sentirão o mal da incredulidade e as consequências da inobservância de Minha Dou-

trina, ao passo que os outros, que aplicam Meu Verbo, não sentirão a morte da carne!

  1. Pois Eu abrirei a porta de sua carne e eles seguirão qual pri- sioneiros que abandonam seus cárceres.

  2. Portanto, não te perturbes quando ouvires isto ou aquilo a Meu respeito! Quem persistir fiel e imutável até o fim, na fé e no amor, como Eu vos ensinei, será bem-aventurado no Meu Reino Eterno, no Céu, que tu vês agora aberto, com os anjos descendo e subindo!”

49. Em Sichar. — Ensinamentos sobre o modo e lugar onde se deve adorar a Deus. Bom discurso de Irhael. “Não deveis construir casas de oração, e sim albergues e hospitais para os pobres!” Indicação sobre o Templo da Criação.

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Agora estou completamente instruí- do e espero que, em breve, todos deste lugarejo também o estejam. Permite-me somente uma pergunta: Será do Teu Desejo que conti- nuemos a honrar o sábado nesta velha igreja ou queres que constru- amos uma nova, a fim de nos reunirmos em Teu Nome? Poderias indicar-nos o lugar mais acertado para isto!”

  2. Digo Eu: “Amigo, já vos disse na montanha o que é preciso para todas as criaturas.

  3. Para este cumprimento não é necessária a casa na montanha nem uma nova na cidade, mas sim um coração crente e uma von- tade firme.

  4. Vossa pergunta também Me foi feita por Irhael e ela vos dará a Minha Resposta!”

  5. O Pontífice dirige-se a Irhael, que lhe diz: “O Senhor me disse o seguinte: ‘A hora virá, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores não adorarão a Deus nem em Garizim, tampouco em Jerusalém! Pois Deus é Espírito e só poderá ser adorado em Espírito e Verdade!’ Estas foram as Palavras do Senhor e tu, como Pontífice, saberás o que fazer.

  6. Eu sou de opinião que, se o Senhor nos deu a grande graça de tomar morada nesta casa, que não é minha mas unicamente Dele,

ela deverá ser para sempre o lugar onde nos poderemos reunir em Seu Nome e celebrar o sábado!”

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Sim, terias razão se todos já fossem crentes; mas é preciso considerar os fracos na fé, que ofender-se-ão com isto!”

  2. Digo Eu: “Irhael está com a razão; quem se ofender, que o faça e suba sua montanha! Nada encontrando de valor, procurará outra coisa!

  3. Não deveis construir casas de oração, e sim albergues e hos- pitais para os pobres, que não vos podem pagar.

  4. No amor para com o próximo sereis Meus verdadeiros ado- radores e Eu estarei Presente nestas verdadeiras casas de adoração, sem que o saibais. Num templo, porém, que foi construído apenas para que Eu fosse adorado com os lábios, estarei tão pouco como o vosso intelecto se encontra no dedinho do vosso pé.

  5. Se quiserdes erigir um templo sublime em vossos corações e humilhar-vos, ide mirar no vasto templo da Minha Criação o sol, a lua e as estrelas, o mar, as montanhas, as árvores e os pássaros no ar, os peixes n’água e as múltiplas flores nos campos, que vos transmi- tirão a Minha Honra!

  6. Dizei-Me, não é a árvore imensamente mais linda que o Templo de Jerusalém? Pois ela é uma Criação de Deus, tem vida e dá fruto! Mas o que é o Templo? Digo-vos: nada mais do que orgulho, raiva, inveja, ciúme e altivez, pois não é obra de Deus, mas do homem!

  7. Em verdade vos digo, quem Me adorar pelas boas obras terá a sua recompensa eterna nos Céus. Quem, no entanto, o fizer em templos construídos para este fim, terá seu prêmio temporário por eles. Se depois da morte exclamar: ‘Senhor, Senhor, sê clemente para comigo!’, Eu direi: ‘Não te conheço, por isto afasta-te de Mim e busca teu mérito com aquele a quem serviste!’ — Assim sendo, não deveis mais ter ligação com o Templo.

  8. Nesta casa, porém, podeis vos reunir, seja no sábado ou num outro dia qualquer, pois todos os dias são do Senhor!”

50. Em Sichar. — A santificação do sábado. O que Deus quer que o homem faça. A constante atividade de Deus. Ensinamento de Moysés sobre o sábado. “Deveis ser perfeitos como é Perfeito o Pai no Céu!” O Senhor promete atender as preces.

  1. (O Senhor): “Podeis santificar com mais justiça o sábado sendo mais ativos nas boas ações do que nos outros dias!

  2. Somente não deveis fazer o serviço do operário que é efetu- ado pelo salário e por uma recompensa do mundo, tanto num dia comum como num sábado. Aqui tens, Meu amigo, uma regra com- pleta de como deves servir a Deus no futuro!”

  3. Diz o Sumo Pontífice: “Reconheço a verdade pura desta re- gra, que prefiro aceitar como lei. Mas os judeus cheios de preconcei- tos terão dificuldades em aceitá-la como dada pela Vontade Divina! Penso que muitos não a aceitarão até o fim do mundo, porque a Hu- manidade habituou-se ao sábado desde os primórdios, e dificilmen- te desistirá desta ideia preconcebida. Isto será um trabalho insano!”

  4. Digo Eu: “Também não é preciso que seja ele abolido inte- gralmente, mas sim o absurdo mantido até hoje! Deus, o Senhor, não necessita de vossos serviços e de vossa honra, pois Ele criou o mundo e o homem sem auxílio algum e exige apenas que as criaturas O reconheçam e O amem de todo o coração, isto não só num sába- do, mas diariamente, sem cessar!

  5. Que culto será este se vos lembrardes de Deus só num sába- do, e jamais durante o resto da semana?

  6. Não é Deus O Mesmo todos os dias? Não trabalha diaria- mente? Se o Senhor não faz feriado, por que deveriam as criaturas fazê-lo, apenas para a ociosidade? Nada é tão pontualmente respei- tado por elas como a ociosidade num sábado! Mas, com isto, não prestam homenagem a Deus!

  7. Deus quer que os homens se habituem mais e mais à ativi- dade pelo amor, para que possam procurar e encontrar nesta ação a verdadeira e única bem-aventurança quando chegarem ao Além! Mas, será possível consegui-la pela preguiça? Eu te digo: Jamais!

  1. Num dia útil o homem se exercita no amor-próprio, mesmo trabalhando, pois o faz para sua carne e diz que é seu o que con- seguiu! Quem quiser usufruir algo desta posse terá que pagar com dinheiro ou trabalho, do contrário não conseguirá coisas de valor! Agora, se ele durante a semana trabalha em favor de seu amor-pró- prio e no sábado, como único dia em que deveria aplicar o amor ao próximo, entrega-se ao ócio, resta saber quando irá pôr em prática o verdadeiro culto a Deus, que consiste apenas na ajuda caridosa para com seu semelhante!

  2. Deus mesmo não descansa um minuto e sempre trabalha para as criaturas, pois não necessita para Si nem sol, nem lua, nem estrelas, nem de tudo aquilo que surge dali. As criaturas, porém, necessitam disto tudo e o Senhor trabalha constantemente para elas.

  3. Assim sendo, como poderia Ele querer que Seus Filhos O adorassem no sétimo dia pelo ócio, depois de terem trabalhado seis dias pelo seu amor-próprio?

  4. Eu te digo isto com tanta clareza a fim de que mostres à tua comunidade o sentido verdadeiro do sábado, que desde Moysés até hoje não foi compreendido. A Minha Explicação é a mesma que foi dada a Moysés; o povo, porém, em breve o transformou num dia de ócio pagão, julgando assim prestar um bom serviço a Deus através da preguiça e do castigo àqueles que às vezes ousavam, também num sábado, efetuar pequenos trabalhos ou auxiliar os doentes! Que ce- gueira imensa e que tolice absurda!”

  5. Diz o Sumo Pontífice: “Senhor, verdade tão clara e pura só poderia surgir de Tua Boca! Tudo me é claro, afastando de meus olhos a tríplice coberta de Moysés! Já não preciso mais de provas. Aqui Tua Palavra é o suficiente! Eu afirmo com toda a segurança que, no futuro, todos aqueles que não acreditarem em Ti pelo Ver- bo, e sim pelas provas, não possuirão a verdadeira fé viva e serão apenas seguidores automáticos de Teus Mandamentos e de Tua Von- tade! Conosco será diferente! Não as provas dadas por Tua Presença, mas Tua Palavra Santificada será a condição para poder despertar em

nossos corações o verdadeiro amor para Contigo! Que Tua Vontade seja feita por toda a Eternidade!”

  1. Digo Eu: “Amém! Sim, Meu querido amigo e irmão! Só as- sim alcançareis a Perfeição do Pai que está nos Céus, o que vos dará o direito de chamá-Lo: ‘Pai, querido Pai!’ E tudo que Lhe pedirdes como Seus Filhos Ele vos dará, pois Ele é Bom e dá tudo o que possui! Agora, comei e bebei, pois este alimento não é desta terra, porquanto o Pai vo-lo manda dos Céus e está Presente entre vós!”

51. Em Sichar. — Palestra dos anjos com os hóspedes amedrontados. O Evangelho de Sichar. A história da conversão de Nathanael. A Ordem do Senhor de silenciarem sobre Sua Divindade até Sua Elevação na cruz.

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Senhor, devemos novamente comer? Já nos saciamos durante a ceia, embora sempre tivéssemos conver- sado sobre vários pontos. Eu, por mim, estou satisfeito e não posso mais comer e beber!”

  2. Digo Eu: “Tens razão, pois estás repleto de comida e bebi- da dos Céus! Porém, aqui há muitos que não ousavam comer nem beber, pois não Me conheciam e tinham medo de bruxaria! Mas, depois que ouviram nossas palestras e compreenderam a verdade pu- ra, perderam o medo tolo; a fome e a sede se manifestaram, porém não têm coragem de saciar-se. Achas que devemos deixá-los assim? Em absoluto! Devem sentir-se à vontade, porque deste alimento só receberão novamente quando estiverem Comigo nos Céus!”

  3. Animei novamente a multidão para que se alimentasse e disse aos jovens: “Não deixeis que lhes falte algo!”

  4. Os jovens novamente foram depositar pão, vinho e frutos nas mesas. Muitos hóspedes, entretanto, estavam receosos de comer estes frutos que não conheciam. Os jovens lhes dizem: “Queridos irmãos! Comei sem susto, que são puros e de sabor maravilhoso! Nesta terra existem muitos frutos, plantas e animais em cuja forma- ção trabalham espíritos impuros por Ordem do Senhor, porque os maus espíritos têm que servi-Lo, queiram ou não queiram! Assim

como um escravo algemado tem que servir a seu senhor, do mesmo modo o têm os diabos, mas este trabalho não é abençoado!

  1. Assim, há na terra muitas obras, ações e fatos de qualidade impura, dos quais os homens não se devem servir caso queiram ficar ilesos de toda sorte de moléstias; pois, muitas vezes, acontece que homens, animais e diabos residem sob o mesmo teto. Por este mo- tivo, o Senhor fez com que Moysés descrevesse todos os alimentos puros, advertindo os homens do uso daqueles que foram produzidos pelos maus espíritos. Aqui, porém, tudo é puro, pois veio dos Céus para vós, razão por que podeis tudo apreciar sem susto. O que o Pai dá dos Céus é bom e incentiva a vida da alma e do espírito por toda a Eternidade!”

  2. Todos se alegraram com esta explicação dos jovens sábios e louvaram a Deus por esta Graça! Este ensinamento foi posteriormen- te anotado de memória e conservado nesta cidade por muitos anos.

  3. Quando, mais tarde, este lugar foi invadido pelo inimigo, muita coisa se perdeu, inclusive este ensinamento, do qual Paulo faz menção por palavras místicas em suas cartas, quando fala de diversos espíritos.

  4. A grande assembleia estava satisfeita e os anjos ensinavam os convivas sobre Mim e Minha Doutrina.

  5. Nathanael, porém, levantou-se e disse: “Queridos amigos e irmãos, há poucos meses eu ainda era pescador de Bethabara no rio Jordão, quando um homem muito simples deixou-se batizar por João, e este, sem tê-lo visto antes, testificou e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que lava os pecados do mundo! Este é Aquele de Quem eu disse, que era antes de mim e vem após mim, e que não mereço desatar as correias de Suas sandálias!’

  6. Aquilo impressionou-me muito e contei isto a minha mu- lher e a meus filhos; todos se admiraram deste testemunho de João.

  7. Pois ele era difícil de entender e suas palavras eram rudes, não poupando a ninguém; fosse fariseu, sacerdote ou levita, todos tinham de enfrentar a lâmina de sua língua.

  1. Mas, quando veio Este que agora é nosso Senhor, João tor- nou-se o mais manso dos cordeiros e falou de maneira mui suave, igual ao canto do rouxinol. Pois bem, minha família quase não me dava crédito, pois conhecia o feitio de João.

  2. Dois dias depois, fui consertar minha rede debaixo de uma árvore, quando surgiu Aquele, de quem João testificou, e me cha- mou pelo nome. Como eu me admirasse disso, pois nunca O tinha visto antes, Ele me disse: ‘Não te admires com isto, pois de agora em diante verás os Céus abertos e os anjos descerem e subirem sobre o Filho do homem!’

  3. E vede, tudo que o Senhor me disse naquela ocasião reali- zou-se de maneira milagrosa! Os Céus estão abertos e os anjos estão descendo para servir-nos. Que prova maior necessitamos para saber que Ele é Aquele que deveria vir, de acordo com a promessa que desde Adam foi feita até esta época? Por isto, também o julgo mais de que o Messias! Ele é...”

  4. Aqui Eu interrompi Nathanael e disse: “Meu querido ami- go e irmão, até aqui e não mais além! Somente quando esta Car- ne for exaltada pelos judeus poderás falar abertamente o que sa- bes de Mim!”

  5. Nathanael se calou, mas não compreendeu bem o que sig- nificava a exaltação de Minha Carne; outros acharam que Eu iria subir ao trono de David em Jerusalém. — Apenas o Sumo Pontífice o compreendeu, mas calou-se e entristeceu-se! Eu, porém, conso- lei-o relembrando Minhas Palavras ditas noutra ocasião, o que o confortou.

  6. Neste meio tempo vinha chegando a alvorada, mas ninguém sentia cansaço ou sono e todos Me pediam que lhes fosse permitido permanecer este dia Comigo, o que lhes concedi de bom grado!

SEGUNDO DIA EM SICHAR

52. O Senhor orienta o Sumo Pontífice a respeito da prática doméstica. A vestimenta de Maria. Calúnia feita à família do Sumo Pontífice. Tristeza de Jonael. O bom consolo e testemunho do Senhor referente ao mundo.

  1. O Sumo Pontífice levanta-se e diz: “Senhor, já que desejas nos proporcionar a grande Graça de Tua Presença por este dia, peço-

-Te venhas comigo visitar três lugares aqui por perto; talvez encon- tremos alguém que acredite em Teu Nome!”

  1. Digo Eu: “Não por causa deles, mas por tua causa, pois isto alegra teu coração. Mas tens mulher e filhas, não Me queres apresen- tá-las? Onde estão e quantas são?”

  2. Diz o Sumo Pontífice, um pouco embaraçado: “Senhor, te- nho uma boa companheira, que já é idosa como eu, e sete filhas, entre doze e vinte e um anos de idade. Tu sabes que não constitui honra para um israelita não ter descendentes masculinos; assim, Se- nhor, tem paciência com minha fraqueza, não tive coragem de apa- recer com meu batalhão de mulheres.

  3. Mas, se for de Teu Gosto, peço-Te que passes por minha casa, que Te apresentarei minha família. Não ficaria bem se elas viessem até cá, porque, embora nada nos falte, pois vivo modestamente com os meus, nossa vestimenta é muito pobre. Para uso caseiro estão bem vestidas, mas, para se apresentarem numa assembleia como esta, fa- riam um feio como família de um Sumo Pontífice. Acho que seria melhor ficarem em casa, onde não serão ridicularizadas pelo mundo nem serão expostas à sua vaidade inata. Prefiro afastá-las do mundo, porque este sempre foi e será mau!”

  4. Digo Eu: “Farei o que desejas, depois deixa que Me acom- panhem. Também já foi previsto uma roupagem melhor para elas. Fazes bem em afastá-las do mundo, mas para nosso meio, que certa- mente não é mundano, estariam bem vestidas.

  5. Observa Maria, Mãe de Minha Carne; usa roupa branca e um simples avental azul por cima, que lhe fica muito bem! Na ca- beça traz um chapéu para proteção contra o sol, como é uso entre

as mulheres da Galileia e Judeia. Isto tudo, no entanto, não vem ao caso; tua mulher e filhas estarão ainda hoje em nossa companhia!”

  1. Diz um samaritano: “Estaria tudo bem, se o que ouvi falar da boca de muita gente desta zona não fosse verdade. Consta que, sempre que o Sumo Pontífice está ausente, as quatro filhas mais velhas de Jonael são vistas à noite nas ruas, onde fazem mau uso de sua beleza. Isto é o que consta por aí; eu, porém, não tenho provas; acho que seria melhor — por causa dos descrentes — não permitir a presença destas quatro moças! Pois tu, Jonael, conheces nosso povo atrasado e mesquinho!”

  2. Diz o Sumo Pontífice, muito triste: “Senhor, se eu tivesse si- do menos severo na educação de minhas filhas, não estaria tão triste; mas, sabendo que tudo foi feito para a formação do intelecto e do coração, ouso fazer um juramento sagrado: todas as minhas filhas são tão puras quanto as flores na Montanha de Jehovah! Como é possível tamanha calúnia?”

  3. Digo Eu: “Meu querido Jonael, não te aborreças. Se Eu con- sidero puras as tuas filhas, isto te deve satisfazer! Pois o mundo é to- do do diabo! Já ouviste falar que alguém colhesse uvas dos espinhei- ros ou figos dos abrolhos? Tudo isto Eu sabia e foi o motivo por que falei no Sermão da Montanha sobre o argueiro no olho do próximo, com o que se afastaram muitos, pois sabiam que Me dirigia a eles!

  4. Eu, porém, te digo, justamente agora é que tuas filhas irão conosco e Eu no meio delas! Vamos, pois elas já receberam Meu Aviso e estão a nossa espera!”

53. Em Sichar. — Testemunho entusiasmado de Pedro sobre o Filho de Deus e seu julgamento severo a respeito do galileu descrente. Crítica do galileu sobre Jesus e Seus discípulos. Resposta sincera de Pedro. O Senhor e o anjo julgam o mentiroso e caluniador. Um espírito mau como algoz. O castigo da maldade.

  1. A caminho da casa de Jonael, Pedro começa a falar de si para si: “Agora tudo gira em torno de mim, de tanto milagre! Quem ain- da não reconhecer que Este Jesus de Nazareth é o verdadeiro Filho

de Jehovah, forçosamente será castigado com a cegueira dos faraós, ou então estará completamente morto! Pois os doentes são curados pela simples palavra, os surdos-mudos escutam, os coxos andam e os leprosos são purificados, como se nunca tivessem pecado!

  1. Fora disto os anjos lidam conosco como se desde a formação do homem jamais tivessem abandonado a terra; são de uma beleza tão rara, quase insuportável! Quando Ele fala numa Sabedoria inau- dita, estes servos são de uma atenção e respeito tão profundos, e ao mesmo tempo tão alegres como as andorinhas num dia de verão! Realmente, quem fosse capaz de dizer que ‘este Jesus é um simples mago e nada mais’ deveria ser morto como um boi, pois tal pessoa não é de Origem Divina, e sim um animal com capacidade de falar!”

  2. Enquanto Pedro fala assim sozinho, sem saber o que se passa em redor, um cidadão descrente lhe bate com toda a força sobre o ombro e diz: “Neste caso, serás o primeiro a morrer como um boi! Se até hoje, pois, ainda não sabes o que é possível a um verdadeiro mago, não deverias abrir tua boca em presença de pessoas com ex- periência própria!”

  3. Diz Pedro: “Oh! Espírito nefasto! Dize-me, teus magos tam- bém curam os doentes apenas pelo Verbo e abrem os Céus, jamais alcançados por sua mão e intelecto?”

  4. Diz o cidadão: “Como és cego! Por acaso não sabes que um mago verdadeiro pode transformar um pau num peixe ou numa ser- pente? Ainda há pouco, houve um do Egito que jogava varas na água e surgiam peixes; mas, se as jogasse sobre a terra, apareceriam cobras e serpentes! Soprando seu hálito no ar, este ficava repleto de gafa- nhotos e outros insetos. Se atirasse pedras brancas no ar, surgiriam pombos que esvoaçariam; depois, pegou de um punhado de areia e, atirando-o contra o vento, imediatamente o ar ficou repleto de moscas, tanto que mal se via o sol. Em seguida, levou-nos para perto de um lago, de onde tinha tirado os peixes; mal tocou a água com uma vara, esta se transformou em sangue; tocando-a novamente, a água voltou a ser o que era! À noite, ele chama as estrelas e elas caem dentro de suas mãos. Quando lhes ordena, elas voltam para o firma-

mento! — No entanto, tu dizes: ‘Onde está o homem cujas mãos atingem o céu?’ Posso apresentar-te cem testemunhas deste fato. — Que me dizes agora do teu Filho Divino de Nazareth, que conheço perfeitamente, sei de quem é filho e onde aprendeu o que sabe?”

  1. Diz Pedro: “Se isto tudo não for uma mentira que me pre- gaste após ter conseguido comprar por algum dinheiro as cem teste- munhas, todos os que reconhecem em Jesus o Cristo forçosamente devem ter conhecimento deste mago! Imediatamente irei perguntar a Jonael! Ai de ti, se me pregaste tamanha mentira!”

  2. Diz o cidadão: “Aqueles não te informarão a respeito, pois não assistiram às magias, de medo que fossem obras de Satanás! Só nós, que somos mais corajosos, presenciamos tudo, porque não acreditamos nisto e sabemos que existem forças ocultas na natureza, convencendo-nos de que muita coisa é possível ao homem!”

  3. Diz Pedro: “Tu deves ser um cliente muito fino, com certeza! Entretanto, asseguro-te: não escaparás ao castigo! Acompanha-me até o Sumo Pontífice desta cidade! Lá poderemos esclarecer nossa questão!”

  4. Diz o cidadão: “O que tenho eu a ver com o teu Pontífice? Sou galileu, quer dizer, sou mais grego que judeu; o teu Pontífice é muito ignorante, enquanto suas quatro filhas mais velhas se de- dicam à prostituição, com o consentimento materno. Que vou eu fazer com um tolo desta ordem? Aprecio, acima de tudo, artes e ciências, dedicando o maior respeito aos verdadeiros artistas e cien- tistas, que no entanto não devem fazer mais de si do que são!

  5. Se vosso mestre, que realmente é muito habilidoso e sábio, tivesse permanecido o que é, seria um dos homens mais conside- rados entre judeus, gregos e romanos! Mas ele se diz Deus, o que é sumamente ridículo e faz parte da antiguidade!

  6. Sois criaturas honestas e simples; mas, além da pescaria, não entendeis de coisa alguma! Por isto, deixemos nossa discussão! Po- deis acreditar no que vos apraz, nós não nos deixamos ludibriar!”

  7. Diz Pedro: “Amigo, não consegues inocentar-te! Não se tra- ta aqui de creres nisto ou naquilo do nosso Mestre, e agora te esfor- ças numa discussão aparentemente razoável para fazer-me esquecer

que me mentiste escandalosamente! Vá lá que o Pontífice, na tua opinião, não seja um zeloso exagerado, mas, como pessoa credencia- da, deverá saber se há pouco tempo passou por aqui um mago como tu o descreveste! Isto é que desejo saber, porque deduzirei daí o que pensar do meu Mestre.

  1. Vê, eu e muitos outros abandonamos tudo, inclusive mu- lher e filhos, e O seguimos incondicionalmente, porque vimos feitos que jamais alguém conseguiu fazer e também ouvimos como falou tão sabiamente como ninguém, antes nem depois, poderia falar!

  2. Tu, porém, queres me convencer de um outro mestre, que faria os mesmos milagres!

  3. Se tuas palavras são verdadeiras, afirmo-te que hoje mes- mo abandonarei meu Mestre, no qual supunha Poderes Divinos, e voltarei para minha família! Entretanto, se tu mentiste — o que eu acredito — a fim de lançar uma grave suspeita sobre meu querido Mestre, ai de ti! Terás a prova de que eu também já possuo algum poder dado por Ele, sem querer passar por mago!

  4. Por isto, aconselho-te que me sigas junto ao Pontífice que neste momento está conversando com Matheus; este certamente também conhece teu mago, pois mora há muito tempo nesta cidade! Vamos, senão te obrigarei!”

  5. Diz o cidadão: “Como poderias me obrigar, se não quisesse acompanhar-te? Lá atrás estão umas centenas de pessoas que te ata- carão, se usares de força contra mim!”

  6. Diz Pedro: “Não porei minha mão sobre ti, como tu o fizes- te há pouco comigo, e mesmo assim serás atraído para lá. Parece-me que não vês a quantidade de anjos que nos acompanham. Basta um simples aceno e eles te levarão para onde eu quiser!”

  7. Diz o cidadão: “Falas destes garotos vestidos de branco? Es- ta é boa! Se vossa defesa está nas mãos deles, basta uns piparotes e todos vós estareis no chão, juntos com estes garotos!”

  8. Esta exclamação irrita de tal maneira a Pedro, que chama um anjo para castigar o cidadão. O anjo, porém, diz: “Bem eu qui- sera, se fosse da Vontade do Pai; mas ainda não recebi ordem Dele,

e por isso não posso atender ao teu pedido ainda! Pergunta tu ao Senhor, que eu executarei Suas Ordens!”

  1. Pedro de pronto se dirige a Mim e Me conta sua dificul- dade. Como já chegáramos à casa de Jonael, Eu lhe digo: “Vai e traze-Mo aqui!”

  2. Pedro se sente aliviado, volta para perto do anjo e diz: “É da vontade Dele que seja trazido até cá!”

  3. O anjo apenas olha para o cidadão, que começa a tremer e segue a Pedro para perto de Mim! Eu, porém, o fito e ele confessa que tinha mentido e que jamais viu tal mago, apenas lhe contaram algo dum suposto. Alega não ter más intenções, somente queria ex- perimentar a fé de Pedro.

  4. Digo Eu: “Para salvar-te da primeira mentira, proferes uma segunda, o que prova que és do diabo! Vai, que ele te dará o prêmio que mereces!”

  5. Imediatamente o cidadão é acometido dum espírito mau, que começa a martirizá-lo! Ele, então, grita: “Senhor, ajuda-me! Confesso que pequei!”

  6. Eu, porém, lhe digo: “Quem te contou que as quatro filhas mais velhas de Jonael eram levianas? Fala, senão serás martirizado até o fim do mundo!”

  7. Diz o cidadão: “Ninguém me falou, mas, quando as encon- trei uma noite levando água do poço, eu quis tentá-las. Elas, entre- tanto, repudiaram-me de tal maneira que desisti para sempre; jurei, porém, que havia de vingar-me e inventei esta calúnia. Tudo isto foi arquitetado por mim, pois elas são puras e só eu que sou mau!”

  8. Em seguida Eu ordeno ao espírito que se afaste do cidadão, o qual, por sua vez, dá às filhas de Jonael dez vezes mais do que Eu havia prescrito como indenização.

  9. Eu, porém, lhe digo: “Não basta uma indenização material por tamanha calúnia! Revoga tudo o que disseste e, então, serás per- doado! Que assim seja!”

  10. O cidadão promete fazer tudo que lhe é possível.

54. Em Sichar. — O Senhor e a família nobre de Jonael. Aborrecimento dos discípulos com a cena comovedora das filhas de Jonael em plena rua. Repreensão séria do Senhor. Onde está o Reino de Deus. “Permanecei no amor!”

  1. Depois do afastamento do cidadão, Eu chamo a mulher e as filhas de Jonael, que tinham recuado para dentro de casa quando viram seu caluniador.

  2. Elas se aproximam de Mim e Me agradecem, com lágrimas nos olhos, por lhes ter restituído sua honra difamada.

  3. Eu abençoo a todas e lhes asseguro que deverão permanecer a Meu lado o dia todo! Elas, entretanto, Me dizem: “Senhor, não me- recemos esta grande Graça e já ficaremos contentíssimas em poder seguir-Te na retaguarda da grande multidão!”

  4. Eu, porém, respondo: “Pois justamente por causa de vossa verdadeira humildade é que Eu vos quero a Meu lado!”

  5. Nisto Jonael lhes pergunta: “Minhas queridas filhas, onde fostes buscar estes lindos vestidos que vos ficam tão bem?”

  6. Só agora as filhas observam que estão vestidas com roupas do mais fino tecido e suas cabeças ornadas com diademas preciosos, de modo que se parecem como filhas de um rei.

  7. Com este encanto, ficam completamente extasiadas e não sa- bem como interpretar o sentimento de amor puro e a gratidão que lhes invade o coração. Completamente atrapalhadas, perguntam ao pai quem poderia ter sido o doador tão bondoso!

  8. Jonael, encantado com sua aparência graciosa, responde: “Agradecei Àquele que vos abençoou, pois é o doador!”

  9. As filhas Me abraçam, chorando de alegria e são incapazes de falar. Os discípulos, com isto, se escandalizam e falam: “Para que esta cena em plena rua? Deviam ter feito isto dentro de casa!”

  10. Eu Me viro e lhes digo: “Já Me encontro em vossa compa- nhia há muito tempo, no entanto nunca Me destes u’a manifestação de alegria tão sincera como estas moças! Eu vos digo, elas estão no caminho certo e escolheram para si a melhor parte! Se não seguirdes

este exemplo, dificilmente achareis a entrada para o Meu Reino! Pois aqueles que se aproximam de Mim como estas, ficarão em Minha Companhia; os outros, que o fazem apenas com louvores e agrade- cimentos puramente obrigatórios, só sentirão um vislumbre, e não a Minha Pessoa em seu meio.

  1. Mas o Meu Reino só existe onde Eu Me encontro com todo o Meu Ser! Compreendei isto! O Senhor é um Senhor também de todo o orbe, e não necessita preocupar-Se com o que possa escanda- lizar o vosso mundo tolo!”

  2. Diz Pedro: “Senhor, tem paciência com as nossas tolices! Tu sabes que a nossa educação não é do Céu, mas mundana! Perdo- a-nos, pois também Te amamos sobre todas as coisas, do contrário não teríamos seguido Teus Passos!”

  3. Digo Eu: “Então permanecei no amor e não tomeis conhe- cimento do mundo, mas, sim, dos Céus por Mim!”

  4. Com isto, os discípulos se satisfazem e Me louvam em seus corações.

55. Em Sichar. — Passeio pelo delicioso bosque. O velho castelo de Esaú. Cena entre o dono do castelo, seus servos e o Senhor. O comerciante inteligente, como amigo da verdade, vê-se atrapalhado com o Senhor, que lê seus pensamentos. Pergunta dúbia.

  1. Nós, entretanto, continuamos nosso passeio e, depois de uma hora, chegamos a um bosque bem tratado, que pertencia a um rico comerciante de Sichar. Este bosque era artisticamente enfeitado com canteiros, cheios de pássaros, cascatas, lagos com peixes etc. No fim, chega-se a um velho e enorme castelo protegido por uma forte muralha; fora construído por Esaú, que morava lá enquanto Jacob se encontrava no estrangeiro. No decorrer dos tempos ficou um tanto avariado, mas este comerciante tinha gasto vultosas somas a fim de reconstruí-lo como morada para si e sua família. Era homem de pos- ses e muito generoso; entretanto, estimava muito este solar e ficava irritado quando era invadido por muita gente.

  1. Quando viu que u’a multidão se dirigia ao castelo, mandou imediatamente empregados e servos impedir que nele penetrássemos.

  2. Eu, porém, disse aos servos: “Dizei a vosso patrão que o seu e o vosso Senhor lhe comunica que virá com todo o Seu Séquito hospedar-Se em sua casa.”

  3. Os empregados transmitem esse recado a seu dono. O patrão lhes pergunta se não sabiam quem Eu era. Eles respondem: “Já te dissemos que é o teu e o nosso Senhor; como podes ainda perguntar? Ele caminha em meio de sete moças tão bem vestidas como prince- sas. Talvez seja um Príncipe de Roma, e conviria recebê-lo com todas as honras no portão do castelo.”

  4. O comerciante, ouvindo isto, diz: “Então trazei depressa mi- nha vestimenta mais rica e preparai festivamente toda a casa!”

  5. Depois desta ordem dada, estabelece-se um grande movi- mento no castelo; as cozinheiras vão às despensas para preparar uma boa refeição, e os jardineiros vão à horta a fim de escolherem os melhores legumes e frutos.

  6. Passados alguns minutos, aparece o dono do castelo acom- panhado por cem dos seus mais atenciosos servos, dirige-se a Mim, faz três reverências até o chão e dá-Me as boas-vindas, agradecen- do a grande Graça de Minha Visita, pois Me julgava, em verdade, um príncipe.

  7. Eu o fito com seriedade e pergunto: “Amigo, qual te parece ser a máxima honra que o homem pode alcançar neste mundo?”

  8. Diz o rico comerciante: “Senhor, perdoa ao teu escravo obe- diente, pois sou tão ignorante, que não compreendo tua sábia per- gunta! Queira descer das alturas imensas de tua sabedoria e formar a pergunta de tal maneira que eu possa compreendê-la com minha inteligência diminuta!” (Bem que ele me tinha compreendido, mas era uso social que a pessoa alegasse não entender as coisas mais sim- ples, para assim exaltar a sabedoria do outro.)

  9. Eu lhe digo: “Meu amigo, compreendeste-Me muito bem, e fazes um rapapé inútil e fora de curso. Portanto, responde a Minha Pergunta!”

  1. Diz o comerciante: “Já que me permites responder, direi que, a meu ver, o Imperador é o maior dignitário deste mundo!”

  2. Digo Eu: “Mas, Meu amigo, por que te contradizes, quan- do teu coração já formou o seguinte lema: ‘A verdade é a coisa mais sublime e elevada nesta terra e o empregado que exercer suas funções de verdade e justiça é portador do cargo mais digno do mundo!’ Eis tua divisa! Como podes afirmar que a posição de Imperador — que apenas exerce o cargo do poder absoluto como dirigente máximo de um povo — seja a mais digna, pois nem sempre se baseia na verdade e na justiça e, de acordo com tua convicção, está em pleno desacordo com o mais sublime?”

  3. O comerciante se admira muito e diz: “Senhor supremo, quem te revelou este meu lema? Jamais o externei, embora o tivesse pensado mil vezes! Pois é sabido que nem sempre convém externar a pura verdade quando se quer passar ileso entre a Humanidade!

  4. Mas, pelo que vejo, és tu mesmo um grande amigo da ver- dade e da justiça, e eu poderia arriscar-me a lhes fazer jus em tua presença; pois os grandes senhores jamais querem ouvi-las e honram a bajulação, condenando os direitos humanitários. O que eles que- rem, conseguem e mesmo à força! Por isto, convém usar de diploma- cia quando em presença deles, do contrário haverá prisão e galeras.”

  5. Digo Eu: “Falaste bem e dentro da verdade, e sou também de tua opinião; mas dize-Me, por quem Me tomas tu?”

  6. Diz o comerciante: “Senhor, eis uma pergunta muito emba- raçosa! Se eu exagerar, serei ridicularizado! Se não falar à altura, serei preso! Portanto, prefiro não responder!”

  7. Digo Eu: “Mas, se Eu te der a certeza de que não precisas temer nem uma coisa nem outra, poderás responder-Me sem susto! Portanto, que achas que Eu sou?”

  8. Diz o comerciante: “És um príncipe de Roma, já que sou obrigado a falar!”

  9. Diz Jonael, que se encontra atrás de Mim: “Isto é muito pouco! Precisas calcular mais alto! Porque o cargo de príncipe não satisfará!”

  1. O comerciante, assustado: “Senhor, talvez sejas o próprio Imperador?”

  2. Diz Jonael: “Ainda mais alto!”

  3. Diz o comerciante: “Então desisto, porque além do Impera- dor não há cargo mais elevado!”

  4. Diz Jonael: “Mesmo assim! Existe algo de maior projeção; pensa um pouco e fala ousadamente! Vejo em teu coração que dás ao Imperador de Roma o lugar mais ínfimo! Por que falas diferente- mente do que sentes?”

56. Em Sichar. — Resposta dilatada do cauteloso comerciante sobre a pergunta: “Quem é o Senhor?” As experiências desagradáveis daqueles que testemunham a verdade sobre a terra. Exemplo do ladrão e do impostor. Argumentação de Jonael sobre a mentira como causadora de todos os males na terra.

  1. Em seguida fala o comerciante: “Meus queridos hóspedes! Não há coisa melhor do que evitar, o mais possível, a atividade de nossa língua. Nunca se deve, na presença de pessoas elevadas, exter- nar o que se sente ou pensa no coração, pois os personagens impor- tantes têm uma pele muito sensível, que não suporta o choque da verdade. Por isto, é muito perigoso falar abertamente em presença de autoridades. Cada um pense o que quiser; na ação, ele deve ser um bom patriota, para poder viver sossegadamente! Mas contenha sua língua, do contrário sofrerá as consequências.

  2. Já falei demais e persisto em minha opinião de que o Impe- rador é o máximo dignitário sobre a terra! CaesaremcumJoveunamessepersonam. 1

  3. Portanto, é preciso abolir a verdade, se existe, pois não presta para a Humanidade! Quanto sofrimento não surgiu pela verdade, e seus propagadores a expiaram na cruz ou pela espada! Aquele, po- rém, que se dedica à mentira, sempre consegue escapar ileso.

    1. César e Deus unificam esse personagem.

      1. Por isto, quem poderia ser amigo da verdade, quando lhe espera tal recompensa? É preferível contê-la no peito, viven- do livremente entre os homens, que libertá-la e deixar prender corpo e alma!

      2. Jamais ouvi que a verdade trouxesse um benefício a alguém! Alguns exemplos verterão mais luz nesse assunto:

      3. Um ladrão foi acusado de furto; se ele for entendido em mentir, será liberto por falta de provas. Se, entretanto, relatar o fato real, será punido com rigor. O diabo leve a verdade!

      4. Outro caso: alguém foi lesado em algum negócio. Como possui muitos bens, não percebe a fraude e vive satisfeito e feliz. Um amigo da verdade, que percebeu o logro, esclarece-lhe sobre o pre- juízo que levou em tal negócio! Daí em diante o lesado se desespera, procura o juiz e gasta muito dinheiro para castigar o impostor. Esta verdade lhe trouxe algum benefício? Não! Apenas despertou raiva e vingança em seu coração, levando-o a maiores gastos de sua fortuna. O impostor, que soube mentir, não sai prejudicado, mas o defensor da verdade é preso como caluniador! Pergunto eu: Qual o lucro do amigo da verdade?

      5. Por isto, aboli-a de sobre a terra; ela é a única culpada do estado infeliz da Humanidade, pois Moysés já falou: ‘Da árvore da ciência do bem e do mal não hás de comer, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás!’ — Até hoje as coisas andam assim: com a mentira irás ao trono, e com a verdade, à prisão.

      6. Procurai-a onde quiserdes, mas deixai-me ileso! Tudo que contêm minhas despensas e que encontrais em meus jardins está às vossas ordens; mas o santuário do meu coração é meu, como dádiva de Jehovah! O que Ele me dá, dou a vós e ao mundo! Mas a Salvação de Deus é unicamente minha!”

      7. Diz o Sumo Pontífice: “Confesso que tua descrição a respei- to do mundo é certa. Mas já que falaste em Moysés, deves saber que Deus lhe ofertou uma Lei em que a mentira e o falso testemunho são proibidos e somente a verdade é um dever! Não achas que a vida seria maravilhosa se todas as criaturas considerassem esta Lei?

      1. Deves reconhecer que não é a verdade culpada do sofrimen- to na terra, e sim a mentira, pois as criaturas, com raras exceções, são orgulhosas e altivas. Cada qual quer ser mais do que seu próximo e, assim, o homem cego usa de todos os meios para mostrar sua supre- macia perante aquele que, por esta ou por aquela razão, não pode concorrer com ele!

      2. Esta concorrência leva a criatura, pouco a pouco, a praticar toda sorte de vícios — até o homicídio, caso não lhe seja possível, por outros caminhos da mentira e da fraude, conseguir maior domí- nio e respeito perante os homens.

      3. Como todos querem ser meritosos e melhores do que real- mente são, não lhes resta senão mentir constantemente — e a verda- de não tem cotação alguma em seu meio.

      4. Facilmente, porém, conseguiriam reconhecer a vantagem da verdade sobre a mentira se respeitassem a Deus e Suas Leis Sábias, fugindo com isto daquela como se fora a peste; a Justiça Divina cas- tigaria um mentiroso com a morte — enquanto a altivez e o orgulho levam a criatura a amar a mentira.

      5. Nós, entretanto, já sabemos que ninguém vive eternamente sobre a terra e que devemos, em breve, morrer, a fim de que este cor- po seja entregue aos vermes. Não obstante, a alma terá que enfrentar o julgamento de Deus! Como será este juízo se ela só tiver feito jus à mentira?

      6. Eu sou de opinião que é melhor ser crucificado em prol da verdade, do que enfrentar a Deus e a Sua Exclamação: ‘Afasta-te de Mim, que te não conheço!’

      7. Se me compreendeste bem, chegaste à conclusão de que so- mos reais amigos da verdade e não precisas temer um castigo por sua causa. Portanto, fala abertamente o que julgas de nós e, principal- mente, Daquele que está conversando com minhas filhas.”

57. Em Sichar. — A resposta dada à pergunta dúbia.“Então, és o Messias? Sê bem-vindo! Trabalhei a vida inteira para Ele!” O Senhor aceita o convite do comerciante para a refeição.

  1. Diz o comerciante: “Amigo, falaste sabiamente e repetiste apenas aquilo que muitas vezes senti em meu íntimo. Mas uma coi- sa não compreendo: Por que insistes em saber minha opinião sobre vós?! Já vos disse, no começo, o que julgava e me dissestes que de- veria calcular mais alto. Eu, porém, não posso saber como se possa ser mais do que o Imperador, sem ser Deus! Jehovah, unicamente, é, mundana e espiritualmente falando, mais do que o Imperador! Será que aquele é Jehovah?”

  2. Diz Jonael: “Observa melhor nosso séquito. Talvez estranhes a presença dos múltiplos jovens que nos acompanham.”

  3. O comerciante: “Pensei que fossem pajens do Imperador e fi- lhos de nobres de Roma, embora sua pele e cor levassem a crer serem habitantes da Ásia Menor. Jamais vi criaturas mais lindas, se bem que, em tempos passados, estivesse habituado a negociar com moças do Egito para a Europa, principalmente para os romanos sensuais. Nunca vi jovens de beleza tão inaudita! Quem são e donde vêm?”

  4. Diz Jonael: “Não compete a mim esclarecer-te, e sim unica- mente Àquele que vês em meio de minhas filhas. Dirige-te a Ele, que receberás a necessária informação.”

  5. O comerciante não hesita, vem a Mim e fala: “Senhor de toda esta multidão, que a meu ver te segue como as ovelhas a seu pastor, dize-me: com quem tenho a elevada honra de falar? Fui inquirido e adivinhei o cargo mais elevado, porém informaram-me que não estava certo. Agora, nada mais sei e peço que te dignes informar.”

  6. Digo Eu: “Também fazes parte daqueles que não acreditam sem provas; mas, quando as têm, dizem: ‘Ah! Este, ou é um discí- pulo dos essênios, quiçá um mago do Egito, talvez daquele país que é banhado pelo Ganges, ou servo do diabo!’ Que posso fazer? Se te disser abertamente Quem Sou, não Me acreditarás!

  1. Externaste tua opinião, que era falsa. Quando Jonael te disse que Eu era mais do que o Imperador, respondeste: ‘Somente Jeho- vah é maior que o Imperador!’ — e calaste, ante a hipótese de que Eu pudesse ser maior que ele, a quem temes como poderio munda- no mais elevado, mas no teu coração desprezas como a peste.

  2. Hoje já é o terceiro dia de Minha Presença em Sichar e a dis- tância daqui até lá é de apenas alguns cem metros. Admira-Me que não tivesses sido informado por teus colegas a Meu respeito!”

  3. Diz o comerciante: “Ah! Então tu és o Messias de quem me contaram, ontem e hoje, fatos extraordinários! Consta que refor- maste e mobiliaste, mui regiamente, a casa da bonita Irhael! Rela- taram-me, também, uma prédica imponente na Montanha, na qual muitos se escandalizaram por ter sido inteiramente antimosaísta. Então, tu o és?!

  4. Realmente, regozijo-me muito com tua visita e espero co- nhecer-te mais de perto! Sabes que não condeno a ideia da vinda do Messias e creio firmemente que Ele deve vir, e virá! A época para isto é mais do que propícia, pois o jugo romano não é mais suportável! E por que não deverias ser o Messias? De minha parte, não tenho dificuldade em acreditar nisto.

  5. Se és ciente do teu poder e sabes apresentar-te condigna- mente, auxiliar-te-ei com toda a minha fortuna. Isto porque dedi- quei, desde a infância, todas as minhas forças em juntar uma fortuna vultosa para que o Messias pudesse organizar com ela um exército de guerreiros destemidos e audaciosos. Há tempos comuniquei-me com povos lutadores da Ásia Menor, e basta apenas enviar um men- sageiro para, em poucos meses, um exército poderoso estar ao teu dispor. Por agora, nada mais! Em minha casa teremos oportunidade para tratar do necessário!

  6. Penso que também nosso almoço esteja pronto e convido-

-vos a todos para participarem dele!”

  1. Digo Eu: “Por ora está tudo bem, o resto combinaremos mais tarde! Conduze-nos ao salão. Aqueles homens que vês lá atrás, deixa-os aqui; não fazem parte dos Meus, e sim do mundo!”

58. Em Sichar. — Ensinamentos sobre a vida e a conduta. É preferível dar que receber. As obras de amor duram eternamente. A miséria no Além dos amigos do mundo. Conselho do Senhor sobre a boa administração de bens. Como se conseguem as Bênçãos Divinas.

  1. Diz o comerciante: “Eu os conheço, são sicharenses egoístas que, de acordo com sua fé e ação, assemelham-se mais aos pagãos do que aos filhos de Israel. Os piores são os da Galileia, por serem materialistas enraizados e não cogitarem de coisas elevadas e subli- mes! Preferem mil vezes um mago da Pérsia a Moysés e os profetas. Mas, a fim de não lhes dar oportunidade de crítica, hospedá-los-ei no jardim de inverno. Ai de mim, se não lhes atender!”

  2. Digo Eu: “Faze o que queres e podes, porque é melhor dar que receber! No futuro, darás apenas aos pobres e necessitados; se algum rico te pedir dinheiro emprestado e tu souberes que ele te res- tituirá o empréstimo com juros, não lhe deves fazer o empréstimo. Pois, uma vez que lhe tiveres emprestado, tornar-se-á secretamente teu inimigo, e terás que lutar muito para receber de volta o dinheiro com os juros.

  3. Mas, se um pobre te pedir e tu souberes que ele não te poderá devolver a importância, a este deves emprestar, pois o Pai te resti- tuirá mil vezes mais, de outra maneira, sobre a terra, sendo que as Bênçãos do Céu te esperam quando chegares no Além.

  4. Eu te digo: As obras de amor na terra também se realizam nos Céus e duram eternamente; mas o que é feito pelo intelecto mundano é destruído pelo solo. Qual será o benefício para uma alma, angariando posses materiais?

  5. Tolo é quem trabalha para a terra e a carne; pois ambas serão destruídas. Assim sendo, onde irá a alma construir sua morada?

  6. Toda criatura que perde seu corpo também perderá a terra, e se não tratar de conseguir uma nova terra pelo seu amor, a alma será entregue aos ventos, às nuvens e neblinas, sendo levada pela Eternidade sem pouso nem descanso, a não ser nas criações vagas e errôneas de sua própria fantasia que, quanto mais tempo duram,

mais fracas se tornam, até chegarem às completas trevas, donde di- ficilmente uma alma poderá sair e salvar a si mesma! Portanto, fa- ze futuramente o que Eu te ensinei; por ora, entretanto, como o quiseres!”

  1. Diz o comerciante: “És extremamente sábio e poderás ter razão em todos os assuntos; mas, quanto aos empréstimos, não concordo contigo, pois, se alguém conseguiu fazer fortuna e resol- ve emprestar seu dinheiro a juros modestos, terá agido justamen- te, porque, se o tivesse enterrado, facilmente poderia ser roubado. Naturalmente, pode-se fazer a caridade e auxiliar o próximo com o supérfluo!”

  2. Digo Eu: “Deixa que o Senhor resolva estes assuntos e au- xilia àqueles que Ele te enviar; assim, nunca terás prejuízo em tua fortuna! Por acaso não possuis pastos, campos e hortas repletos de frutos? Teus estábulos não estão cheios de gado? Se negociares com estes bens, terás lucros que te restituirão completamente o que du- rante o ano gastaste com os pobres. Os juros, porém, que esperas do teu dinheiro emprestado aos ricos jamais te trarão as bênçãos, e sim constantes preocupações. Faze, pois, o que te ensinei e terás uma vida folgada e os pobres te abençoarão, o que será melhor que se cuidares de teus juros.”

59. Em Sichar. — Falta de fé do comerciante com relação à Solicitude Divina em assuntos diários. Sua veneração a Jehovah e benevolência para com os pobres. Deus deve mais ser amado que temido.

  1. A caminho do castelo o comerciante diz: “Senhor e amigo, vejo que de ti emana a Sabedoria Divina e de maneira tão suave co- mo jamais ouvi de uma boca humana. Mas para observar tua doutri- na é imprescindível uma confiança absoluta em Jehovah, o que me custa muito, embora tenha uma fé segura. Sei perfeitamente que Ele é o Criador de tudo, que rege e conduz todas as coisas; entretanto, não posso imaginar que, como Espírito Supremo, queira ou possa intervir em assuntos particulares. Para mim, Ele é tão sumamen-

te Santo que mal ouso pronunciar Seu Santo Nome, muito menos poderia esperar que me ajudasse nos meus assuntos financeiros com Sua Mão Abençoada.

  1. Procuro ajudar os pobres e não tenho cachorro que os pos- sa afugentar; somente evito a penetração de estranhos neste meu bosque muito estimado, porque costumam estragar os canteiros e plantações, onde não encontram o que comer e beber. Por isto, cul- tivei uma grande horta com figueiras e ameixeiras que está ao dispor de todos; somente não devem danificar as árvores, motivo por que organizei a guarda.

  2. Por aí vês que não me esqueço dos pobres; porém, jamais poderia me dirigir a Deus com um pedido no sentido de que admi- nistrasse, material ou espiritualmente, minha fortuna. Se Ele assim fizer — e realmente já fez, não tenho dúvida — isto dependerá, unicamente, de Sua Vontade Suprema! Meu profundo respeito a Ele até me impede agradecer-Lhe, pois, se assim fizesse, poderia consi- derá-Lo um servente, coisa que O desonraria imensamente! Por isto, procuro viver retamente, de acordo com as forças dadas por Deus, e não amarro as bocas dos bois e dos burros quando pisam o trigo. Porém, venero-O em Seu Dia, pois consta que: Não tomarás o No- me do Senhor, teu Deus, em vão!”

  3. Digo Eu: “Se não soubesse, há muito tempo, que és um ho- mem justo, Eu te não teria procurado. Mas não é admissível que temas Aquele que deverias amar sobre tudo, e Eu vim a ti para mostrar-te co- mo deves, futuramente, amar, mais do que temer, a Deus. Deste modo, Ele Se dignará servir-te de maneira segura, potente e incondicional!”

60. Em Sichar. — Uma surpresa após outra, milagre sobre milagre. O Senhor como hóspede do comerciante trata-o neste velho castelo de Esaú com alimentos celestes, por servos divinos, no grande salão recriado.

  1. Neste ínterim, penetramos no grande pátio do castelo, quan- do todo o séquito de criados se aproxima do comerciante, comple- tamente embaraçado e surpreso, e o administrador toma a palavra e diz: “Senhor, que organização desastrosa! Os cozinheiros não con-

seguem preparar um prato, tudo sai mal! Por isso, queria ao menos enfeitar as mesas com frutos e vinho, mas acontece que todos os quartos estão fechados e não foi possível abrir uma porta sequer! Que faremos?”

  1. O comerciante, em parte admirado, em parte aborrecido, diz: “Eis o que se dá quando me afasto de casa! Nada mais do que desordem sobre desordem! O que estão fazendo os cozinheiros? Já recebemos mais de dez mil pessoas e tudo correu normalmente! Agora, não somos nem mil e está tudo no ar! Mas, que vejo?! As janelas estão ocupadas por jovens, portanto o castelo está cheio — e tu me dizes que as portas estão fechadas? Como é possível? Estais todos mentindo ou quereis desculpar vossa preguiça! Respondei-me, quem fechou as portas?”

  2. O administrador não sabe responder e todos os criados estão consternados e sobressaltados.

  3. Eu, porém, digo ao comerciante: “Querido amigo, deixa, conforme está, está bem! Vê, quando, há pouco, mandaste teus ser- vos perguntarem quem Eu era e o que procurava, Eu pedi como teu Senhor que tu nos desses a todos um bom almoço! Imediatamente te decidiste, embora não sabendo quem era Aquele que se dava ao direito desta exigência.

  4. Tanto tu como teus servos vos prontificastes em atender-nos, pois julgastes que Eu fosse um príncipe de Roma. Durante nossa palestra chegaste, pouco a pouco, à conclusão de que Eu era o Mes- sias — o que muito alegrou teu coração — e calculaste servir-nos até que teu mencionado exército estivesse em forma para, sob Meu Comando, expulsar da terra de Deus todos os inimigos, que são pagãos e não acreditam no Deus Vivo e Verdadeiro!

  5. Quando notei esta decisão tua, Eu também decidi algo, pois que tudeverias ser Meu Hóspede, embora em tua própria casa! Para este fim, dei as Minhas Ordens e Meus servos se puseram em ação, tanto que serás servido a Meu lado com alimentos dos Céus!

  6. A colheita de tua horta poderás oferecer aos sicharenses que se não conformam em não terem sido convidados. Penso que estarás

de acordo, porque, quando vejo boa vontade na criatura, Eu aceito esta vontade como ação, e te livrei de uma despesa inútil. Sou mais rico que tu e quero, por isto, saciar-te!”

  1. O comerciante se admira e fala após uns minutos de silêncio: “Senhor, isto é demais para uma alma pecadora! Não posso conceber este milagre em toda a sua profundeza! Se fosses um homem igual a mim, isto não te teria sido possível, pois não vejo nesta multidão quem pudesse ter sido o portador de alimentos naturais. Notei, há pouco, servos lindíssimos entre este povo e pergunto: donde vêm?”

  2. Digo Eu: “Amigo, quando te mudas para outro país a fim de negociar, também levas teus servos para tua ajuda. O mesmo faço Eu! Possuo muitos e jamais poderias conceber seu número. Por que deveria deixá-los em casa quando viajo?”

  3. Diz o comerciante: “Senhor, está tudo muito bem; apenas quero saber: de onde vieste tu e teus servos maravilhosos?”

  4. Digo Eu: “Primeiro vamos ao nosso almoço e mais tarde teremos oportunidade para maiores esclarecimentos. Vamos, pois, para a sala grande que fica para oeste e que não podemos ver daqui, porque nos encontramos do lado oposto do castelo!”

  5. Com estas palavras o comerciante quase tem uma vertigem e diz, estupefato: “Senhor, agora basta! Como podes mencionar este grande salão, que existiu, talvez, há duzentos anos e quase não era conhecido pelos meus antepassados?”

  6. Digo Eu: “Só depois, se não encontrares esta ala, poderás falar; achando-a, saberás que muita coisa é possível para Deus! Mas cala-te por enquanto, porque os que Me acompanham não estão maduros para isto!”

  7. Diz o comerciante: “Realmente, agora estou aflito para ver este salão do castelo, desconhecido por meus ascendentes. Existem apenas os alicerces, que conheço desde que vim para cá.” O comer- ciante se encaminha para lá apressadamente e nós o seguimos.

61. Em Sichar. — Continuação das surpresas milagrosas. Os anjos como construtores do salão maravilhoso. O comerciante, estatelado, pressente em Jesus o Filho de Deus.

  1. Chegando ao primeiro andar, ele vê de pronto a ala mencio- nada e corre precipitadamente em direção da grande porta aberta, lança um olhar para dentro do salão — e perde os sentidos! Alguns dos Meus servos o assistem e ajudam a se levantar! Depois de se ter refeito um pouco, ele se Me aproxima e, tremendo de surpresa, diz: “Senhor, dize-me com certeza, estou acordado ou dormindo e sonhando?”

  2. Digo Eu: “Pelo jeito com que perguntas, pareces estar so- nhando; entretanto, estás acordado e tudo que vês é real. Não Me contaste, há pouco, constar que Eu reconstruí a casa de Irhael? Por que então não Me havia de ser possível fazer o mesmo com o velho castelo de Esaú?!”

  3. Diz o comerciante: “Sim, sim, está visível a verdade; entre- tanto, é incrível que um homem possa fazer estas coisas! Senhor, se não fores um profeta, como Elias, então és um arcanjo em forma humana ou talvez Jehovah em Pessoa!”

  4. Digo Eu: “Sim, sim, se não tivesses visto este milagre, não Me acreditarias. Agora crês, mas não com o espírito livre! A fim de que possas libertar teu coração desta prova, digo-te: Não sou Eu o criador de tudo isto, mas sim os jovens que aqui vês, pois têm este poder de Deus! Pergunta-lhes como o realizaram!”

  5. Diz o comerciante: “É verdade, já perguntei a Jonael sobre estes jovens e ele me endereçou a ti. Não sei por que me esqueci disto quando em tua presença, e agora te peço que me dês uma in- formação certa a respeito.”

  6. Digo Eu: “Não quero entreter-te com evasivas e digo que são anjos, se o podes conceber; caso contrário, podes tomá-los pelo que quiseres, somente não os julgues diabos ou seus servos.”

  1. Diz o comerciante: “Senhor, Senhor, onde irei parar? Há pouco perguntei se estava acordado; agora, pergunto se estou vivo! Pois estas coisas não podem suceder nesta terra!”

  2. Digo Eu: “Como não? Eu apenas abri tua visão espiritual, por isto vês os espíritos dos Céus! Agora, basta de perguntas, pois o almoço está pronto!”

  3. Diz o comerciante: “Sim, sim, ótimo! Mas não poderei co- mer muita coisa, pois aqui tudo se tornou milagre. Se pudesse ter imaginado isto hoje de manhã! Acontece tudo tão rápido e ines- perado! Ainda não faz três horas que vieste de Sichar até aqui, e o que não aconteceu neste curto lapso?! Parece incrível, no entanto é verdade! Mas quem acreditará, a não ser as testemunhas? Senhor, ó grande Mestre ensinado por Deus, eu acredito porque vi com meus próprios olhos; mas, se fores contar estes fatos a milhares de pesso- as, elas se aborrecerão e insultarão o relator! Por isso, não conteis a ninguém o que se passou, que é muitíssimo milagroso! Quem algum dia viu tamanha maravilha como este salão? As paredes são de pedras preciosas, o teto de ouro, o soalho de prata, as múltiplas mesas de jaspe, jacinto e esmeraldas, as estantes de ouro e prata, os castiçais de cristal e as baixelas de um fino e luminoso rubi! Os bancos em volta da mesa são também de fino metal, os estofos de seda, cor de car- mim e os alimentos de odor sublime! — Senhor, ou és Deus Mesmo ou, infalivelmente, o Seu Filho!”

  4. Digo Eu: “Muito bem, muito bem, agora vamos à mesa! Depois podemos conversar, porque há muitos que estão com fome e sede, pois o dia está muito quente!”

62. Em Sichar. — A Ceia Divina no salão angelical. Boa promessa do comerciante. Discurso pessimista, porém verdadeiro, de Jairuth sobre a situação dos povos daquela época. Dissertação clara do Senhor a respeito do Reino de Deus e a Missão do Messias. A morada das almas desencarnadas antes da Ascensão do Senhor.

  1. O comerciante agora se cala, agradece e senta-se à mesa gran- de no meio da sala. Eu e todos os discípulos, Jonael com sua família, Irhael e seu marido, entre eles Minha Mãe, também nos sentamos a esta mesa.

  2. O comerciante se alegra muito com isto e diz: “Como gra- tidão pela honra que me deste de sentar à minha mesa, prometo dar um décimo de todos os meus bens aos pobres; os impostos, que são obrigados a pagar aos romanos, pagarei adiantado por dez anos! Após este tempo, espero que Deus, o Teu e o nosso Pai, salve-nos desta praga, no que, como já disse, ajudar-Te-ei com todas as mi- nhas forças.

  3. Mas liberta-nos deste jugo e faze com que os judeus de Jeru- salém se unam a nós, porque se afastaram completamente da verda- de. No meio deles prevalece o domínio, o egoísmo e a luxúria. De Deus não se lembram e muito menos do amor ao próximo! Despre- zam Garizim — e transformaram o Templo de Jerusalém num antro de agiotas e mercadores! Quando se lhes diz que estão ultrajando a Arca Divina, eles proferem injúrias e maldições. Isto não pode continuar, pois, do contrário, teremos em breve um outro dilúvio! O mundo está cheio de pagãos; em Jerusalém e na Judeia vivem judeus, sacerdotes, levitas, escribas, fariseus, agiotas e mercadores, que são mil vezes piores do que os pagãos! Em suma, o mundo está mais pervertido que na época de Noé! Senhor, faze o que está em Teu Poder e eu Te ajudarei!”

  4. Digo Eu: “Querido Jairuth, vê estes jovens! Eu te digo que possuo tantos que não teriam lugar em milhões de terras como esta, e bastaria um deles para destruir o Império Romano em três minu- tos. Vós, porém, embora de uma fé mais firme, tendes a mesma falsa compreensão que os judeus a respeito do Messias e do Seu Reino.

  1. Bem que Ele irá construir um novo Reino sobre esta terra, mas — observa bem — não um material com coroa e cetro, e sim um Reino do Espírito, da Verdade, e da Liberdade por esta Verdade, sob o regime do Amor!

  2. O mundo será chamado para nele penetrar e, se assim o fi- zer, seu prêmio será a Vida Eterna; não atendendo a esta chama- da, continuará sendo o que é, para finalmente ser alcançado pela morte eterna!

  3. O Messias, como filho do homem, não veio para julgar este mundo, mas sim para chamar a todos que estão nas trevas da morte, para entrarem no Reino do Amor, da Luz e da Verdade!

  4. Ele não veio a este mundo para reconquistar o que os vossos pais e reis perderam para os pagãos, mas unicamente para dar-vos aquilo que Adam perdeu para toda a Humanidade que viveu e ainda viverá sobre este orbe!

  5. Desde Adam até hoje não há uma alma sequer que tenha sido levada para os Céus; existe uma imensidade delas que até este mo- mento padecem no limbo! Mas, de agora em diante, serão libertas! E quando Eu subir aos Céus abrirei a todos o caminho da terra para lá, a fim de nele ingressarem para a Vida Eterna!

  6. Vê, esta é a Obra que será realizada pelo Messias! Portanto, não precisas chamar teus guerreiros da Ásia Menor, pois jamais pre- ciso deles. Necessito de trabalhadores espirituais para o Meu Reino

  1. Diz Jairuth: “Senhor, preciso de tempo para meditar! Jamais alguém ouviu falar dum Messias desta ordem e, penso, não trará grande benefício, enquanto este mundo for o que é: inimigo de tudo que for espiritual.”

63. Em Sichar. — Bom efeito do alimento e, principalmente, do vinho celeste. Discurso de Jairuth sobre a diferença entre a Lei e o bom conselho. O efeito diverso do vinho sobre pessoas diversas.

  1. Todos começam a comer e beber e até Jairuth, distraidamen- te, dedica-se em excesso ao vinho, que não deixa de fazer seu efeito, e ele, transformado em amor por este néctar do Céu, diz: “Senhor, tive uma ideia maravilhosa! Seria possível eu conseguir algumas mu- das desta uva milagrosa, que deixa todos que a apreciam repletos de amor?! Eu mesmo tive esta prova; sou uma criatura que considera tudo o que é bom e belo; mas, que tivesse algum dia sentido um tão forte amor para com meu próximo, não me lembro!

  2. Tudo que eu fazia tinha a mola de uma certa obrigação, que eu mesmo me prescrevia pelo conhecimento das leis. Nunca me pre- ocupei se uma lei era boa ou má. O meu lema era: Lei é lei, se de Deus ou de César! O nosso amor-próprio nos diz se é conveniente cumpri-la. Uma lei não sancionada deixa de ser lei para tornar-se um bom conselho, que a criatura pode seguir ou não.

  3. O não cumprimento de um bom conselho pode trazer-nos um prejuízo, semelhante a uma pena jurídica, mas não é pecado, uma vez que atinge apenas aquele que não o cumpriu. Quando o conselho é mau, pecarei no seu cumprimento.

  4. Com a lei o caso é diferente: boa ou má, ela deve ser mantida, donde se conclui que o bem, feito por obrigação, não contém amor. E agora que bebi este vinho dos Céus, sinto apenas um amor imenso dentro de mim e tenho vontade de abraçar e beijar o mundo inteiro!

  5. Pelo que vejo, todos sentem o mesmo efeito; por isto, gos- taria de cultivar uma grande vinha, daria a todos deste vinho e em breve eles se teriam transformado pelo amor! Se, portanto, fosse pos- sível arranjar alguns pés, considerar-me-ia o homem mais feliz desta terra abençoada!”

  6. Digo Eu: “Nada mais fácil; entretanto, o efeito que se apre- sentar nem sempre será o desejado, pois este vinho desperta o amor quando já existe na criatura; mas quando, no caso contrário, existe a

maldade no coração, despertará tudo quanto é mau e a pessoa fará, com grande entusiasmo, tudo aquilo que o vinho despertou em si!

  1. Portanto, é preciso sempre considerar a quem é ele ofere- cido; mas não deixarei de proporcionar-te uma vinha abundante- mente carregada com frutos desta qualidade; porém, sede cuidadoso quanto a quem o vais oferecer! Em verdade, muito bem pode ser praticado por um amor assim despertado; porém, é preferível que o amor seja despertado pela Palavra Divina, pois assim perdura, ao passo que, sendo despertado pelo vinho, evaporar-se-á assim como o efeito deste. Tenha isso em mente, ou poderás infligir muito mal ao invés de bem!”

  2. Diz o comerciante Jairuth: “Neste caso, será melhor não o fazer.”

  3. Digo Eu: “Como quiseres. Eu te digo: todas as qualidades de vinho desta terra possuem, mais ou menos, este dom. Experimenta oferecer de tua vinha uma porção idêntica à que tomaste a diversas pessoas e verás como algumas ficarão amorosas; outras, porém, tão exaltadas, que será preciso prendê-las. Se vosso vinho faz isto, quan- to mais não o fará o vinho do céu!”

64. Em Sichar. — Jairuth desiste do vinho, faz caridade aos pobres e recebe dois anjos protetores. Natureza e missão dos anjos. Boa opinião de Jairuth sobre a bênção da fraqueza humana.

  1. Diz Jairuth: “Senhor, é isto mesmo, pois já tive diversas opor- tunidades de verificá-lo; tanto que prefiro desistir da plantação de uvas e abolir completamente o uso desta bebida dentro de minha casa. Compreendo que o verdadeiro amor também poderá ser des- pertado dentro da criatura pelos Teus Ensinamentos e a maldade não terá ocasião de se manifestar. Irei, por isto, desistir do vinho da terra, depois de ter provado este; que me dizes a respeito?”

  2. Digo Eu: “Não posso louvar-te, nem te censurar! Faze o que achares melhor! Faze o que apraz a tua alma de acordo com uma boa compreensão! Além do mais, podes pedir-Me o que quiseres, porque és justo e severo, e Eu te fiz esta promessa.”

  1. Diz Jairuth: “Senhor, peço-te que fiques com todos os Teus amigos em minha companhia, ou ao menos deixa um ou dois destes jovens comigo, para que me possam ensinar o verdadeiro Amor e Sabedoria!”

  2. Digo Eu: “Não posso satisfazer teu primeiro pedido, pois te- nho muita coisa a fazer neste mundo; mas podes escolher dois jovens para tua companhia. Cuidado, porém, para não caíres tu, ou alguém de tua família, em qualquer pecado, pois neste caso eles se tornariam teus algozes e te abandonariam em seguida! É preciso que saibas que são anjos de Deus e podem mirá-Lo a toda hora!”

  3. Diz Jairuth: “Oh, Senhor, isto é penoso! Pois quem poderá afirmar que não pecará uma vez durante o ano por pensamentos, palavras e ações? Agora, imagina estes algozes, aos quais nada fica oculto; isto será um desastre, por isto prefiro desistir deste pedido e tudo ficará conforme está!”

  4. Digo Eu: “Muito bem, tudo se fará conforme a tua vontade! És livre e nada te será obrigado, esteja certo disso!”

  5. Diz Jairuth: “Mas... imaginar estes verdadeiros anjos tão lin- dos e amáveis e calcular a possibilidade de um pecado... jamais! Por isto, seja lá como for — eu fico com dois deles!”

  6. Digo Eu: “Pois bem, ficarás com eles enquanto se sentirem bem em tua casa. Meu amigo Jonael ensinar-te-á os Meus Cami- nhos. Terás dois anjos protetores contra toda sorte de infelicidades se permaneceres nestes Ensinamentos, mas, se tu os abandonares, eles também o farão!”

  7. Diz Jairuth: “Ótimo, está tudo combinado! Jamais alguém tomará vinho em minha casa; com o estoque existente pagarei aos romanos os impostos dos pobres e secarei as uvas dentro da horta, o que as tornará um alimento delicioso e as sobras serão vendidas. Achas que está bem assim?”

  8. Digo Eu: “Perfeitamente! Tudo que fizeres por amor a Mim e ao próximo será bom e justo!”

  9. Em seguida Eu convoco dois jovens, apresento-os a Jairuth e pergunto: “Servem-te estes?” Jairuth, extasiado com a beleza dos

jovens, exclama: “Senhor, se Tu achas que mereço esta Graça, fico profundamente satisfeito com isto. Sinto, porém, que não mereço tão imensa dádiva, mas esforçar-me-ei para conseguir esta beneme- rência e a Tua Vontade seja feita!”

  1. Os dois jovens, porém, dizem: “A Vontade do Senhor é o nosso ser e a nossa vida. Onde esta é executada, nós nos tornamos auxiliadores e agimos com todo o poder e plenitude. Nosso poder ultrapassa toda a Criação visível; a terra é para nós um grão de areia, e o sol, qual ervilha na mão de um gigante; toda a água da terra não basta para umedecer um cabelo nosso, e as estrelas estremecem dian- te do hálito de nossa boca! Este poder não nos foi dado para que nos vangloriássemos perante a fraqueza dos homens, mas sim para aju- dá-los de acordo com a Vontade do Pai! Por isto, nós te auxiliaremos dentro desta Vontade, enquanto tu a reconheceres, aceitares e respei- tares na ação. Mas, uma vez que tu a abandones, terás também nos abandonado, pois nada mais somos do que a Vontade personificada de Deus. Falamos tudo isto na Presença do Senhor, cujo Semblante miramos eternamente, obedecendo aos Seus mais leves acenos!”

  2. Diz Jairuth: “Queridos jovens, compreendo perfeitamente que possuís um poder incalculável para nós, que somos mortais; eu, entretanto, também consigo muita coisa que talvez vos fosse difícil! Pois me vanglorio perante vós de minha fraqueza, na qual não há força, nem poder. Mas justamente nesta grande fraqueza está o po- der de eu reconhecer, aceitar e executar a Vontade do Senhor!

  3. Não da maneira comum a vós, mas o Senhor, certamente, não me sobrecarregará além de minhas forças. Por isto, honro minha fraqueza, pois ela me garante a ajuda do Senhor!

  4. E pelo que deduzo dos Ensinamentos Dele, Ele prefere a fraqueza dos Seus Filhos, e os espíritos fortes e poderosos dos Céus devem se deixar conduzir pelos filhos fracos desta terra, a fim de chegarem à mesa Dele. Pois, se o Senhor vem aos fracos, parece-me que seja para torná-los fortes!”

  1. Dizem os jovens: “Sim, tens razão. Reconhece pois a Vonta- de do Pai, age de acordo com ela e terás nossa força e poder em ti, o que nada mais é do que a Vontade Dele!”

  2. Digo Eu: “Por ora chega; refizemos as nossas energias, por isto levantemo-nos e deixai-nos continuar o nosso passeio!” Todos se erguem de seus lugares, agradecem e se dirigem ao jardim.

65. Em Sichar. — Jairuth acompanha o Senhor. Ajuda dos anjos. Cena com os mercenários romanos.

  1. Depois de Jairuth se convencer de que Eu tinha de curar vários doentes na redondeza e, portanto, não podia permanecer em sua companhia, ele Me pergunta se não seria possível acompanhar-

-Me até à vila. De bom grado Eu lhe dou esta permissão e ele pede aos jovens para nos seguir.

  1. Os anjos, porém, dizem: “Será melhor permanecermos aqui, porque os hóspedes que estão no jardim de inverno denunciaram-te aos romanos como provocador dum motim, e tua casa estaria numa situação precária sem nossa presença. Estás compreendendo?”

  2. Jairuth se altera muito e diz: “Quem teria sido o desastrado autor desta infâmia e qual seria o motivo de sua ação?”

  3. Diz um jovem: “Vê, em Sichar vivem comerciantes que não são tão felizes quanto tu: não podem adquirir castelos tampouco comprar uma área imensa, como tu fizeste, à beira do Mar Vermelho na Arábia. Eles, portanto, invejam-te muito e desejam tua queda. Esta intenção seria executada se não fosse a assistência que te pro- porcionamos em Nome do Senhor, de sorte que nada acontecerá! Mas trata de afastar-te daqui por três dias.”

  4. Jairuth se acalma e se apressa em sair do castelo.

  5. No momento, porém, em que atravessamos o pátio do cas- telo, somos abordados por uma tropa de mercenários e esbirros ro- manos que nos ameaçam e impedem de prosseguir. Eu, entretanto, adianto-Me e apresento o documento de Nicodemus. O cabo, po-

rém, Me diz: “Isto de nada vale, pois existe uma suspeita justa de levante contra Roma!”

  1. Digo Eu: “O que desejas de nós? Foste levado a este passo pela mentira descabida de um grupo de invejosos. Eu, no entanto, te digo que tudo é calúnia! Se até agora prestaste ouvidos à mentira, faze-o mais condescendentemente em prol da verdade, da qual en- contrarás muito mais testemunhas aqui do que na cidade, e não da mentira mais chã destes caluniadores.”

  2. Diz o cabo: “Isto são puros subterfúgios e não têm valor para mim. Apenas na defrontação com o acusado poder-se-á apurar a verdade. Por isto, aprontai-vos para seguir-nos perante a justiça; caso contrário, usaremos de força!”

  3. Digo Eu: “Lá está o castelo! Seu dono foi acusado como amo- tinador; averiguai lá o que há com relação dum motim. Se, porém, tendes a intenção de forçar-nos a enfrentar um julgamento injusto, dar-vos-emos a prova de que também somos capazes de reagir. Fazei, portanto, o que vos apraz, o Meu tempo ainda não chegou! Eu vos assegurei que não há culpa de quem quer que seja. Quem está na justiça deverá defendê-la por todos os meios.”

  4. O cabo lança um olhar sobre nós e ordena aos soldados nossa prisão. Começando pelos jovens, eles tentam prendê-los; estes, po- rém, são tão ligeiros que não é possível agarrá-los. Nesta luta em que os soldados são dispersados, Eu Me dirijo ao cabo e digo: “Parece-Me que terás dificuldades em nos aprisionar!” — Este tenta bater-Me com sua espada, mas, no mesmo momento, um jovem arranca-a de suas mãos e joga-a com tanta violência para o ar que ela se destrói.

  5. Digo Eu: “Então, qual arma tens para atacar-Me?” Diz o cabo, furioso: “É assim que respeitas as leis de Roma? Muito bem, irei comunicar estes fatos às autoridades romanas e podereis espe- rar as consequências, pois que nesta zona não ficará uma pedra so- bre a outra!”

  6. Eu, porém, mostro-lhe como os jovens conduzem os sol- dados em grupos, todos algemados! Quando ele vê isto, começa a invocar os deuses Zeus e Marte e até as Fúrias!

  1. Eu, entretanto, digo aos jovens que soltem os soldados e eles obedecem. Então, pergunto ao cabo: “Ainda tens vontade de experimentar o teu poder?” Diz ele: “Estes jovens devem ser deuses, pois doutra maneira não seriam capazes de dominar estes guerrei- ros todos!”

  2. Digo Eu: “Sim, sim; para vossa crença poderão ser deu- ses; portanto, deixai-nos continuar nossa marcha, senão acontecerá coisa pior.”

  3. Diz o cabo: “Bem, considero-vos inocentes e vos permito prosseguir. Vós, meus soldados, dirigi-vos ao castelo, examinai tudo e não deixeis que alguém se afaste até que esteja tudo apurado!” Diz um deles: “Mas por que não queres tu mesmo dirigir a investiga- ção?” Responde o cabo: “Não vês que fiquei sem espada? Assim, a investigação não terá valor!” Diz o soldado: “Nós estamos em situ- ação idêntica; que fazer?” Exclama o outro: “Mas, que — também estais sem armas? Que desastre! Sem armas nada faremos!”

  4. Digo Eu: “Vede, em direção do velho cedro estão vossas armas. Ide apanhá-las, pois não vos tememos, com ou sem armas.” Eles se dirigem rapidamente para lá, para apoderar-se delas.

66. Em Sichar. — Cura do artrítico perto da pequena vila. Seu agradecimento com cantos e pulos. Fuga e volta dos soldados romanos.

  1. Nós, entretanto, continuamos nossa marcha em direção do levante e em breve chegamos a uma vilazinha, mais ou menos a duzentos metros distante do castelo. Toda a população nos recebe alegremente e indaga em que nos poderia servir. Eu lhes pergunto: “Não tendes algum doente aqui?” Eles afirmam e dizem: “Sim, te- mos um, completamente aleijado pelo reumatismo.”

  2. Digo Eu: “Então, trazei-o até cá, a fim de que receba a saú- de!” Responde um deles: “Senhor, isto será difícil, pois é tão doente que não deixa o leito há três anos e a cama está parafusada no soa- lho.” Digo Eu: “Neste caso, enrolai-o numa esteira e carregai-o até aqui!” Eles assim fazem, deitam-no na rua e dizem: “Senhor, aqui está ele!”

  1. Eu, porém, pergunto ao doente se acha que Eu poderia curá-

-lo. Ele Me olha e diz: “Querido amigo, parece-me que sim, pois te assemelhas a um verdadeiro salvador! Sim, sim, eu o acredito!”

  1. Em seguida, Eu digo: “Pois bem, levanta-te e caminha! Tua fé te ajudou, mas, futuramente, abstém-te de certos pecados para que não tenhas uma recaída, que seria pior do que o estado atual!”

  2. O doente de pronto se levanta, pega da esteira e começa a caminhar. Quando percebe que está completamente curado, joga-se a Meus Pés, agradece e diz: “Senhor, em Ti existe mais que o poder humano; abençoada seja a Onipotência Divina em Ti! Bem-aventu- rado o ventre que Te trouxe e os seios em que mamaste!”

  3. Eu, porém, acrescento: “Felizes todos que escutam as Mi- nhas Palavras, guardam-nas em seus corações e vivem de acordo com elas!” Diz o curado: “Senhor, onde poderia ouvir-Te?”

  4. Digo Eu: “Conheces o Sumo Pontífice Jonael de Sichar, que ministrava em Garizim? Ele possui o Meu Verbo; procura-o e ele te ensinará.” Diz o curado: “Senhor, quando poderei encontrá-lo?” Digo Eu: “Aqui está ele, perto de mim. Fala-lhe!”

  5. O curado se dirige a Jonael e diz: “Meritoso Pontífice de Jehovah em Garizim, a que horas poderei procurar-te?”

  6. Diz Jonael: “Até então teu trabalho consistia em ficares dei- tado e suportar teu sofrimento; portanto, já que nada perdes em casa, acompanha-nos e presta atenção, muita coisa se dará e amanhã saberás do resto.”

  7. Diz o curado: “Com muito prazer vos acompanharei, se tiver mérito para isto. Porque, meu amigo, quando se padeceu du- rante três anos as dores mais atrozes e agora, apenas por uma Palavra Divina, consegue-se a libertação do mal, é que se aprecia verdadeira- mente o valor da saúde! Que alegria, poder caminhar com as pernas direitas! Por isto, tinha vontade de pular e cantar como David e exultar a grande Bondade do Senhor!”

  8. Diz Jonael: “Então faze-o, a fim de que se realize diante de nossos olhos o que foi dito pelo Senhor: O coxo pulará como um veado!”

  1. Aí o curado joga a esteira longe, põe-se na frente da mul- tidão e começa a pular e exultar, não se deixando perturbar em sua alegria. Justamente neste momento se aproximam os soldados, que no castelo de Jairuth foram dispersados pelos dois jovens, e per- guntam o que se passa. O curado imperturbável exclama, enquanto pula e canta: “Quando os homens estão alegres, as bestas se entris- tecem, pois a alegria deles lhes traz a morte! Por isto, viva! Viva!” Ele continua, sem cessar, aborrecendo muito o cabo, que lhe proíbe esse barulho!

  2. O curado, porém, diz: “Por que proíbes minha alegria? Fi- quei completamente aleijado durante três anos na cama! Se tu ti- vesses vindo e me dissesses: ‘Levanta-te e caminha!’, e eu com es- ta sentença ficasse curado, veneraria todas as palavras de tua boca. Mas, como não tens este dom, obedeço ao meu Senhor e por isto

  1. O cabo lhe proíbe severamente o barulho e o ameaça com o castigo. Mas, neste momento, aproximam-se os dois jovens e lhe dizem: “Não te deixes perturbar em tua alegria!”

  2. Quando o cabo vê os dois jovens conhecidos, grita pa- ra seu bando sem armas: “Correi depressa! São outros dois servos de Plutão!”

  3. Ouvindo este comando, todo pelotão corre em debandada nunca vista antes. O curado, porém, pula e canta mais ainda atrás dos fugitivos: “Viva! Viva! Quando os homens estão alegres, as bestas estão tristes!” Depois se acalma, volta para perto de Jonael e lhe diz: “Amigo, se não fosse cansativo falares comigo enquanto andamos, poderias esclarecer-me sobre a Doutrina do Senhor, que me deu a saúde! Penso que devo conhecer uma lei, antes de poder aplicá-la!”

  4. Diz Jonael: “Olha, estamos nos aproximando duma vila- zinha e julgo que o Senhor realizará algo ali. Tu, entretanto, nos seguirás até a cidade e encontrarás em minha casa, ou na de Irhael, pousada pelo tempo que desejares. Lá saberás de tudo! Já estamos perto da vilazinha que, por uma nova lei, já faz parte da cidade propriamente dita. Mas, como serve de forte para os romanos, se-

pararam-na de Sichar, circundando-a com um vale, dando-lhe um nome próprio. A vila é pequena, em menos de mil passos a teremos atravessado. De lá tomaremos a esquerda e, andando mais uns cento e quarenta metros, chegaremos às primeiras casas de Sichar. Por isto, tem um pouco de paciência, que o teu desejo será atendido!”

  1. Diz o curado: “Deus meu! Se este lugar serve de forte para os romanos, estaremos enrascados!”

  2. Diz Jonael: “Entreguemos isto ao Senhor! Ele saberá resol- ver tudo da melhor maneira possível. Mas estou vendo um grupo de guerreiros com bandeira branca marchando em nossa direção, e acho que isto seja um bom agouro!”

  3. Diz o curado: “Se não for um ardil muito comum, pois nestes assuntos os romanos e gregos são peritos!”

67. Em Sichar. — Importante dissertação sobre o Messias, Satanás e a Ordem Divina. O Senhor como Anunciador da Nova Lei do Amor. A presença de Jehovah no sussurro delicado.

  1. Diz Jonael: “Contra o poder humano este ardil poderia surtir efeito, mas não contra o Poder de Deus. Somente o amor puro e ver- dadeiro consegue influir no Poder Divino; todo o resto é um galho seco ao vento. Portanto, tranquiliza-te!”

  2. Diz o curado: “Sim, tens razão! Mas nós sabemos que Deus também estava com Adam — e mesmo assim Satanás conseguiu capturá-lo com astúcia! O arcanjo Miguel se viu obrigado a entre- gar o corpo de Moysés após uma luta de três dias contra o príncipe das trevas! Deus é Poderoso, não resta dúvida, mas Satanás é cheio de astúcia e conseguiu prejudicar o povo de Deus. Por isto, muita cautela à vista do tigre, enquanto vivo; no entanto, uma vez morto, poder-se-á respirar sem cuidado e preocupação.”

  3. Diz Jonael: “Tens razão, mas pensa bem que Deus permitiu a Satanás agir à vontade, pois é preciso facultar a Lúcifer, o primeiro e maior espírito criado por Deus, um tempo imenso para a prova de sua liberdade.

  1. Mas esse tempo findou agora e o príncipe das trevas terá que suportar algemas muito fortes, que impedirão sua ação livre de antanho.

  2. Esse é o motivo por que podemos caminhar mais despre- ocupadamente por este mundo, uma vez que nosso amor resi- de em Deus.

  3. Desde Adam até hoje, a Lei da Sabedoria dominou a Huma- nidade e era preciso muito conhecimento e uma vontade inabalável para cumprir uma lei desta ordem.

  4. Deus viu, porém, que as criaturas não eram capazes de cum- pri-la, tanto que Ele veio Pessoalmentea este mundo para dar-lhes uma Nova Lei de Amor, de fácil cumprimento. Da Lei de Sabedoria, Jehovah emanava a Sua Luz; esta Luz não era Ele Mesmo, assim como os homens, como emanação de Deus, não são Jehovah. Mas, pelo amor e no amor, Jehovah Mesmo veio aos homens e mora es- piritualmente, em toda a Sua Plenitude, neles, fazendo-os iguais a Si em tudo. Por este motivo, não mais é possível a Satanás atacar com sua esperteza o homem assim protegido, pois o espírito de Jehovah dentro dele penetra sempre a maldade mais oculta de Satanás e pos- sui poder em demasia para destruir todo seu suposto poder.

  5. Elias denominava este estado atual das criaturas, em que Jehovah Se aproxima diretamente delas, o sussurro delicado que passava diante da gruta, pois Deus não está na grande tempestade, nem no fogo.

  6. O sussurro delicado é o amor da criatura para com Deus e seus irmãos, nos quais Jehovah está Presente, pois Ele não Se encon- tra na tempestade da Sabedoria nem na espada flamejante da Lei!

  7. Como Jehovah agora está conosco, já não precisamos temer os estratagemas de Satanás como era necessário nas eras primárias, tanto que podes enfrentar o tigre de Roma com mais coragem e des- preocupação! Não viste, há pouco, como toda a legião saiu correndo quando avistou os dois jovens? Em nossa companhia se encontra uma quantidade enorme deles — e achas que devemos ter receio

dos romanos, que se encaminham em nossa direção com bandeira branca? Afirmo-te: nem sonhando, quanto mais na realidade!”

  1. O curado arregala os olhos e diz: “Que me dizes? Jehovah está entre nós? Pensei que o homem que me curou fosse o Messias! Como é que tomas a Jehovah e o Messias como uma Pessoa só?

  2. Vejo então que no Messias Se manifesta o Poder de Jehovah de maneira muito mais poderosa que em todos os profetas. Jamais teria pensado, muito menos ousado dizer, que o Messias e Jehovah são Um só! Além disso, consta que não se deve fazer uma imagem de Jehovah, e agora este homem, que possui realmente todas as qua- lidades do Messias, deve ser Jehovah Mesmo? Bem, concordo plena- mente se tu, como Sumo Pontífice, não te opuseres!

  3. Logo depois de minha cura pensei que o Messias pudesse ser um deus, porque, de acordo com as Escrituras, todos nós somos deuses se cumprimos as Leis de Deus. Mas, que fosse Jehovah em Pessoa?! — Sim, mas, neste caso, preciso tomar outra atitude. Fui curado pessoalmente por Ele — e é necessário agradecer-Lhe de ma- neira diferente!”

  4. Com isto ele quer se Me dirigir. Jonael, porém, o impede e aconselha a fazê-lo quando estivermos em Sichar. O curado se dá por satisfeito com este conselho.

68. Em Sichar. — A delegação militar de Roma. Diálogo entre o Senhor e o comandante romano sobre a Verdade. Homens e larvas de homens. A Perfeição. Os seguidores do Senhor.

  1. Neste ínterim, a delegação militar chega até nós e seu diri- gente Me entrega uma petição por parte do comandante deste forte, na qual Me pede, pela salvação dos homens, não tomar em consi- deração o caso ocorrido e preparar a multidão no sentido de não mencionar o que se passou, pois isto poderia prejudicar muito, sem trazer benefícios a quem quer que fosse! Todos nós só poderíamos lucrar com a amizade do comandante. Jairuth também devia calar-se e podia estar certo de que não seria mais incomodado em sua casa!

Além disto, ele Me pedia que o visitasse, pois tinha assuntos secretos e importantes a discutir.

  1. Eu respondo ao mensageiro. “Transmite ao teu senhor que o desejo dele se realizará. Porém, não irei à sua residência; se tiver que conversar Comigo sobre assuntos secretos, que Me espere no portão desta vila, que lhe esclarecerei no que desejar discutir Comigo!”

  2. Com esta explicação o delegado se afasta em companhia de sua comitiva e informa ao seu senhor o que lhe foi dito; este se di- rige, incontinenti, com seus oficiais selecionados ao portão da vila, onde Me espera.

  3. Jairuth Me pergunta se era possível dar fé a este convite, pois conhecia a esperteza deste comandante, que já despachara desta ma- neira diversas pessoas para o outro mundo!

  4. Digo Eu: “Caro amigo, Eu também o conheço como foi e como é. Os jovens lhe impuseram um grande respeito, e ele os toma por gênios e a Mim por um filho de Júpiter, e agora deseja saber o que há de verdade nisto. Já sei o que responder.”

  5. Jairuth se dá por satisfeito, e em poucos minutos chegamos ao portão, onde encontramos o comandante com seus oficiais. Ele se adianta, cumprimentando-Me atenciosamente, e quer Me fazer suas perguntas.

  6. Eu, entretanto, antecipo-Me e digo: “Amigo, Meus servos não são gênios, nem Eu um filho de Júpiter! Agora sabes tudo que tencionavas perguntar!”

  7. O comandante fica melindrado com a Minha atitude, pois não havia falado com ninguém sobre suas dúvidas.

  8. Somente depois de alguns instantes ele Me diz: “Se é assim, então, quem és tu e quem são teus servos? De qualquer maneira, sois mais que criaturas comuns e me seria agradável honrar-vos de- vidamente!”

  9. Digo Eu: “Toda pessoa que pergunta honestamente merece uma resposta à altura; Eu sou, como Me vês agora, um homem! So- bre esta terra existem muitos que têm a Minha Aparência, mas não são homens, e sim apenas larvas de homens! Quanto mais perfeito

um verdadeiro homem é, mais poder e força apresentará no seu co- nhecimento e na sua ação poderosa!”

  1. Diz o comandante: “Então, toda criatura poderá tornar-se tão perfeita como tu?”

  2. Digo Eu: “Como não! Se praticar os Meus Ensinamentos para conseguir esta perfeição!”

  3. Diz o comandante: “Então me explica tua doutrina, que eu desejo agir e viver de acordo com a mesma!”

  4. Digo Eu: “Bem que Eu poderia fazê-lo, mas ela não te seria de muita utilidade, porquanto não viverias dentro dela. Enquanto fores aquilo para que foste nomeado em Roma, esta Minha Doutri- na não te será útil — a não ser que abandones tudo para seguir-Me. Do contrário, não será possível praticá-la.”

  5. Diz o comandante: “Realmente, isto seria difícil; mas, mesmo assim, poderias esclarecer-me sobre alguns pontos; por que não deveria aceitá-los? Talvez me fosse possível praticá-los de qual- quer maneira!”

  6. Digo Eu: “Meu amigo, se a Minha Doutrina consiste justa- mente em seguir-Me, pois, caso contrário, a criatura não poderá entrar no Reino da Minha Perfeição — como queres botar isto em prática?”

  7. Diz o comandante: “Isto soa de modo estranho! Mas pode- rá haver algo nisto! Deixa que eu pense um pouco!”

  8. Depois de alguns minutos ele pergunta: “Falas de uma imi- tação pessoal ou moral?”

  9. Digo Eu: “A imitação pessoal, quando é possível em con- junto com a moral, sempre é a mais perfeita. Mas, se a primeira, por motivo de administração militar, que também é necessária, tor- na-se impossível, basta a moral, de acordo com a consciência. Esta consciência, porém, deve considerar a Mim no amor para Comigo e, consequentemente, para com todas as criaturas, tendo a verdade como base. Caso contrário, a imitação puramente moral seria espi- ritualmente sem efeito. Compreendeste isto?”

  10. Responde o comandante: “Isto é obscuro! Mas, assim sen- do, que devo fazer com todos os meus lindos deuses? Meus ante-

passados acreditaram neles; será justo manter a fidelidade aos meus ancestrais, ou devo iniciar-me na fé do Deus Único dos judeus?”

69. Em Sichar. — Da nulidade dos deuses. Valor e natureza da verdade e o caminho que conduz a ela. O real nó górdio. Segredo do amor. Cabeça e coração. Chave e sítio da verdade.

  1. Digo Eu: “Tanto os teus ancestrais como os deuses que ado- ravam não têm valor algum, pois eles já morreram há muito tempo e os deuses só têm existência na fantasia de pessoas poéticas. Mas os seus nomes e imagens não possuem uma realidade. Se, portanto, abandonares esta fé oca nos teus deuses, pouca diferença fará, pois não poderão fortificar tua alma, tal como os alimentos pintados nu- ma tela não poderiam saciar tua fome. Nisto tudo não existe verda- de, porque tudo depende daquelaverdade e da vida por ela e nela!

  2. Pois, se viveres pela mentira, tua vida também se tornará u’a mentira e jamais chegarás a uma realidade. Mas, se tua vida emanar da verdade, será a própria verdade e realidade o que surgir de tua vi- da! Ninguém poderá ver e reconhecer a verdade na mentira, porque nesta tudo é mentira.

  3. Somente aquele que renascer pelo Espírito da Verdade, tornando-se verdade — sim, completa verdade — para este até a mentira tornar-se-á uma verdade! Porque quem puder reconhecer a mentira como tal já se tornou em tudo verdadeiro, pois a reconhece como é, e isto também é verdade! Compreendes isto?”

  4. Diz o comandante: “Amigo, falas certo, e dentro de ti repou- sa uma sabedoria profunda! Mas aquela grande e maravilhosa verda- de, onde está e o que é? São as coisas tal qual nós as vemos ou será que os olhos do negro as vê diferentemente? Para alguns, um fruto parece doce e agradável; para um outro, o mesmo é amargo e asque- roso. Do mesmo modo diversas raças falam diversos idiomas; qual dentre eles é verdadeiro e bom? É possível que haja uma verdade aplicável de indivíduo para indivíduo, porém uma verdade absoluta, que tudo abrange, não pode haver, de acordo com a minha opinião. Mas, se é que existe, dize-me onde está e o que é?”

  1. Digo Eu: “Meu amigo, eis aqui o velho e bem conhecido nó górdio, que só foi resolvido pelo Rei e herói da Macedônia.

  2. O que vês e sentes por meio de teus olhos carnais faz parte da matéria e de seus meios, pois é instável e passageiro; assim sendo, como poderia fornecer-te a base da verdade imutável e eterna?

  3. Só existe uma coisa dentro da criatura e esta coisa imensa e sagrada é o amor, que por sua vez é fogo junto de Deus e reside no coração. Somente no amor existe verdade, porque o amor é a Causa Primária de toda a Verdade em Deus e, por Ele, também na criatura!

  4. Se quiseres observar e reconhecer as coisas e a ti mesmo na verdade plena, necessário é fazê-lo sob esta base única e verdadeira do teu ser. Todo o resto é ilusão — e o intelecto da criatura faz parte do nó górdio, que ninguém poderá desatar com cuidado.

  5. Apenas com a força cortante da vontade o homem poderá decepar este nó — o intelecto — com o espírito do amor dentro do coração e, assim, principiar a pensar, ver e reconhecer no coração, conseguindo penetrar na verdade do seu ser e de todo e qualquer outro ser e vida.

  6. Tua cabeça poderá criar uma imensidade de deuses, mas que serão? Eu te digo — nada mais que imagens vãs e mortas, cria- das no cérebro pelo seu mecanismo fértil.

  7. No coração, porém, encontrarás apenas umDeus e Ele é Verdadeiro, porque o amor, pelo qual O encontraste, é a verdade mesma. A verdade, portanto, só poderá ser procurada e achada na verdade. A cabeça terá feito o suficiente quando te der a chave para aquela. Tudo que te induz ao amor poderá tornar-se uma chave para a verdade, por isto segue sempre estas intuições e descobre o amor de teu coração, quando acharás a verdade que te libertará de todo e qualquer engano!”

70. Em Sichar. — Exemplo em a natureza da cabeça e do coração. “Trata o pecador não como juiz, mas sim como irmão amoroso, e encontrarás a verdade e salvação!” Raiva é provação. Onde existe amor não há mentira. Verdade geral sobre a Eternidade. Ensinamentos sobre a individualidade do ser no Além. “Quem és Tu?”“Segue-Me!”

  1. (O Senhor): “Vou dar-te um exemplo para maior elucidação!

  2. Vê, entre os teus empregados tens alguns que se opuseram às tuas ordens e, portanto, queres castigá-los! Por meio de indaga- ções astuciosas, procuras arrancar-lhes uma confissão; mas eles, não menos inteligentes, negam toda e qualquer insinuação de tua parte. Desta maneira, uma mentira reveza outra, e não alcançarás êxito até que resolvas condená-los sem confissão, apenas pela denúncia de testemunhas malévolas. O resultado será que entre dez talvez um seja julgado com justiça e, na maioria das vezes, o culpado como o inocente sofrem o mesmo destino.

  3. Experimenta enfrentar teus irmãos pecadores como homem cheio de amor e desperta este sentimento em seus corações, e eles te confessarão, com arrependimento, como e quando pecaram contra ti. Mas, depois disto, não deves pensar ainda em castigo! Toda e qualquer punição não contém verdade, e sim mentira, pois não sur- ge do amor, mas, unicamente, da ira do adversário. A ira, porém, é um julgamento no qual não existe amor, e onde este não predomina, não há verdade.

  4. Dedica-te ao amor puro e age em sua verdade e força, e en- contrarás por toda parte a verdade, reconhecendo, em breve, que existe uma verdade geral, que penetra não só nesta terra, mas no Universo todo!

  5. Se observares uma atitude assim, seguir-Me-ás moralmente com toda a justiça e esta imitação te trará a Vida Eterna. Se, entre- tanto, continuares como até então, nada mais te espera no Além-tú- mulo a não ser as trevas e uma vida oca e mentirosa, o que representa a morte do amor e da verdade!

  1. Sabes que esta vida é curta e depois terás que enfrentar a Eternidade! Se não tiveres despertado a verdade absoluta dentro de ti, continuarás a ser aquilo que foste em vida!

  2. Agora sabes tudo o que de momento necessitas saber; se de- sejas maiores conhecimentos, procura Jonael, o Sumo Pontífice em Sichar. Poderá ele informar-te sobre tudo que aprendeu, viu e co- nheceu. Age de acordo com o que te disser e serás feliz!”

  3. Diz o comandante, compenetrado da verdade de Minhas Pa- lavras: “Amigo, deduzi, pelos teus ensinamentos, que és o mais sábio dos sábios desta terra e farei tudo o que me aconselhaste; apenas queria saber, de ti mesmo, quem és verdadeiramente! Não obstante ter sofrido uma derrota vexatória por parte dos jovens que te acom- panham e não tendo outra explicação para isto, a não ser que sejam deuses ou gênios do céu, reconheço pela tua imensa sabedoria que és verdadeiramente mais que um simples homem! Certamente já dis- seste a muitos dos teus discípulos quem és! Por isto, dize-o também a mim, e donde vens!”

  4. Digo Eu: “Primeiramente, já te falei de maneira acessível, e se meditares um pouco, compreender-Me-ás! Depois, indiquei-te a pessoa de Jonael para maiores explicações. Lá saberás de tudo. Agora não nos detenhas, pois o dia está findando e Eu tenho mais alguma coisa a fazer!”

  5. Diz o comandante: “Então, permite que te acompanhe até a cidade.”

  6. Digo Eu: “O caminho está livre, e se queres acompanhar-

-Me com boas intenções, podes fazê-lo. Mas, se tens um motivo diabólico em vista, será melhor ficares em casa, pois te sairias mal com isto. Já experimentaste o Meu Poder!”

  1. Diz o comandante: “Longe de mim tal intenção, embora tivesse motivo de sobra para isto, porque os judeus esperam um Sal- vador enviado pelo seu Deus a fim de conseguirem sua libertação de Roma, e de vez em quando surgem boatos de que já se encontra nesta terra! Facilmente poderia imaginar que tu fosses esse Salvador

como o mais sábio dos sábios e estimo-te como um verdadeiro ami- go da Humanidade! Penso que estes meus sentimentos não poderão me impedir de seguir-te pessoalmente pela verdade até Sichar, e es- piritualmente durante toda a minha vida, embora isto não me traga honra alguma como romano! Agora te esclareci todo o meu ponto de vista e pergunto novamente se posso acompanhar-te. Se disseres sim, irei; mas, se responderes não, ficarei aqui!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, podes acompanhar-Me com todos que te rodeiam, para que tenhas as testemunhas necessárias!”

71. Em Sichar. — O Senhor cura a esposa do comandante. Ensinamentos importantes para alcançar a verdade e força plena. O Senhor dá testemunho do Pai. Critério da Doutrina.

  1. Depois desta advertência, pergunto ao comandante se não há doentes neste lugar. Ele responde: “Amigo, se és entendido na arte de curar, salva minha esposa, que sofre há um ano de moléstia desconhecida para os médicos! Talvez seja possível, para tua imensa sabedoria, descobrir a doença e curá-la!”

  2. Digo Eu: “Tua esposa está com saúde! Manda chamá-la!”

  3. O comandante manda imediatamente um criado à sua re- sidência e sua esposa o recebe à porta, completamente sã e alegre, dirigindo-se para perto do comandante. Este se admira muitíssimo e Me diz: “Amigo, tu és um deus!”

  4. Digo Eu: “Sois todos iguais! Acreditais apenas quando ten- des provas! Contudo, sois bem-aventurados, acreditando por causa das provas; mas, se alguém não acreditar apesar delas, perecerá in- falivelmente.

  5. No futuro, somente encontrarão a felicidade aqueles que acreditarem em Minhas Palavras sem provas de Meu Poder, pela conduta dentro dos Ensinamentos! Descobrirão dentro de si a ver- dadeira e viva prova, que é a Vida Eterna, a qual jamais lhes poderá ser tirada!

  6. Alegras-te por Eu ter curado tua esposa apenas pela Vontade de Meu Coração e te perguntas constantemente como isto é possível!

Eu, porém, digo-te: Se alguém vivesse dentro da verdade absoluta, apoderando-se assim dela e jamais duvidando, poderia dizer a um destes montes que circundam esta zona: Levanta-te e joga-te ao mar!

  1. Mas, como esta verdade não se encontra em ti, nem em mui- tas criaturas, não podeis realizar obras como esta e vos admirais mui- to quando Eu, que possuo esta Verdade em toda sua Plenitude, faço coisas que apenas podem ser realizadas pelo poder desta Força!

  2. Por esta verdade se desperta e ativa a fé, que é no homem a mão direita espiritual; seu braço é longo e executa coisas grandiosas!

  3. Se algum dia chegardes a fortalecer o braço do vosso espírito através desta Verdade, fareis o que Eu fiz diante de vossos olhos, chegando à conclusão de que isto é muito mais fácil do que apanhar com vossas mãos uma pedra e arremessá-la longe!

  4. Portanto, vivei dentro de Minha Doutrina; sede executores, e não apenas ouvintes e admiradores de Minhas Palavras e Ações, pois assim conseguireis realizar o que se deu em vossa presença!

  5. Mas não vos provo isto de Mim Mesmo, porém Daquele que Me ensinou estas coisas diante do mundo. Dizeis que é vosso Pai — mas não O conheceis! Entretanto, Ele é o Pai que fez todas as coisas: anjos, sóis, lua, estrelas e a terra, com tudo que nela existe!

  6. Assim como Este Pai ensinou-Me diante de todo o mundo, Eu agora vos ensino para que Ele, que vive dentro de Mim, tam- bém possa morar dentro de vós, querendo provar, também em vós, a eterna e pura Verdade de Sua Natureza intrínseca, que é o Amor em Deus, que em si é o verdadeiro Ser de Deus Mesmo!

  7. Não vos deixeis arrebatar tanto pelos milagres que vos de- monstro, a fim de não cairdes numa fé morta que vos julgará, mas sim vivei e agi como vos ensinei, pois todos vós sois destinados a serdes perfeitos como o Pai no Céu é Perfeito! Agora sabeis tudo, aplicai estes Ensinamentos e podereis verificar se vos disse a verdade ou não! Não sejais, nunca, mornos, e sabereis se esta Doutrina é Obra de Deus ou do homem!”

  8. Após esta dissertação decisiva, diz o comandante: “Agora começa a se fazer alguma luz dentro de mim. Tudo isto que ouvimos

contém uma sabedoria tão profunda que, no começo, é de difícil assimilação para criaturas comuns. Mas penso que isto não importa, porquanto, pela prática dos Ensinamentos, a criatura chega a um verdadeiro conhecimento, que a fará penetrar nesta imensa sabedo- ria. Tanto que deixarei de questionar e, quando tiver recebido de Jo- nael toda a explicação, dedicar-me-ei de corpo e alma a esta tarefa.”

  1. Digo Eu: “Muito bem, Meu amigo; se tu um dia alcançares a luz, faze com que também ilumine a teus irmãos — e terás um prêmio no Céu! Agora, porém, vamos para Sichar, pois tenho algo a fazer ali!”

72. Em Sichar. — Predição importante sobre o futuro. O fim do mundo e o julgamento geral. A grande atribulação. Promessa dos anjos com a trombeta a respeito da Vinda do Cristo. A terra como paraíso. Última prova para Satanás. Sofrimento e ressurreição do Senhor.

  1. Iniciamos todos a caminhada para Sichar e o comandante, sua mulher e dois tenentes nos acompanham. Entre o comandante e sua mulher caminha Jonael, e eles indagam a respeito da religião judaica com relação a Mim. O rapaz que foi curado do artritismo assiste às explicações com muita atenção. Eu, entretanto, encontro-

-Me no meio das filhas e da mulher de Jonael, que também desejam saber muita coisa do mundo, de Jerusalém e de Roma. Esclareço-as com bondade e demonstro como, em breve, o príncipe das trevas se- rá julgado e em seguida todo o seu séquito! Igualmente mostro-lhes o fim do mundo e um julgamento geral, igual ao do tempo de Noé, e elas me perguntam, profundamente admiradas, quando e como isto se dará!

  1. Eu lhes digo: “Minhas queridas filhas, será do mesmo modo como na época de Noé: o amor diminuirá e esfriará completamente. A fé e uma Doutrina pura, trazidas do Céu para as criaturas, e o verdadeiro conhecimento de Deus transformar-se-ão numa supers- tição nefasta, cheia de mistificações e ludíbrios. Os potentados se servirão novamente dos homens como se fossem animais e deixarão que sejam mortos friamente e sem escrúpulos, se não cumprirem a vontade deste poder enganoso! Os dirigentes atormentarão os po-

bres com toda sorte de imposições, perseguindo e oprimindo todo espírito livre, o que trará uma atribulação para a Humanidade como jamais foi vista! Mas eis que os dias serão encurtados por causa dos escolhidos, pois, se assim não fora, até os escolhidos, que se encon- trarão entre os pobres, seriam aniquilados!

  1. Até lá se passarão quase dois mil anos! Então, enviarei os mesmos anjos como os vedes agora com as trombetas, em auxílio das pobres criaturas! Despertarão das tumbas de suas trevas aqueles espiritualmente mortos, e estes muitos milhões de despertados pre- cipitar-se-ão sobre todos os potentados, como se fossem uma coluna de fogo que se estende de um polo a outro, e ninguém lhes poderá fazer resistência!

  2. Quando isto acontecer, esta terra se transformará num pa- raíso e Eu conduzirei para sempre os Meus Filhos no caminho verdadeiro.

  3. Depois do decurso de mil anos, o príncipe das trevas será libertado por sua própria causa pela duração de sete anos, alguns meses e dias, para sua queda definitiva ou para o possível retorno.

  4. Na primeira hipótese, a terra seria transformada num cár- cere eterno, em suas partículas internas; nas suas camadas externas continuaria a ser um paraíso! No segundo caso, ela se tornaria um verdadeiro Céu e a morte do corpo e da alma desapareceriam por toda a Eternidade! — Nem o primeiro anjo do Céu poderá saber como e quando isto poderá acontecer, somente o Pai o sabe! Não digais a ninguém o que vos acabo de revelar, até que saibais, dentro de alguns anos, que fui elevado desta terra!”

  5. As filhas de Jonael, então, indagam em que consistirá tal elevação.

  6. Eu lhes digo: “Quando tiverdes conhecimento disto, vossos corações se afligirão! Consolai-vos, porém, porque voltarei para o vosso meio depois de três dias, entregando-vos, pessoalmente, a grande confirmação do Novo Testamento e as chaves do Meu Reino Eterno! Tratai, pois, que vos encontre tão puras como agora; do con- trário, não podereis ser as Minhas Noivas para sempre!”

  1. Após isto, as filhas e a mãe prometem observar tudo que lhes havia ensinado.

73. Em Sichar. — O Senhor em companhia dos Seus em casa de Irhael. João, o curado, e Jonael. A boa compreensão de ambos é louvada e abençoada pelo Senhor. O Senhor e Jairuth.

  1. Nesta ocasião, alcançamos a cidade e a casa de Irhael e Jo- ram. Jairuth e o comandante, bem como a esposa e os dois tenentes, ficam extasiados diante da beleza da casa, e o curado se externa da seguinte maneira: “Isto só é possível a Deus! Quando garoto, muitas vezes brinquei e peguei lagartos nas ruínas deste palácio, que Jacob tinha construído para seu filho José! Agora, está muito mais impo- nente que naquela época! Homem algum poderia realizar isto! Já sei o que fazer! Meu nome é João, lembrai-vos disto!”

  2. Este é o mesmo João que foi ameaçado pelos Meus apóstolos quando os enviei para ensinar o povo no segundo ano, pois também curava os doentes e afastava os maus espíritos, sem ter recebido uma ordem. (Marcus 9, 38–40)

  3. Diz Jonael: “Amigo, tua vontade, tuas palavras e teu senti- mento são incontestavelmente bons; todavia, falta-te algo que é o conhecimento puro da Vontade Divina! Por isso, procura-me por estes dias ou, então, fica aqui mesmo, que te darei o conhecimento desta Vontade de Deus! Só então poderás realizar, em boa ordem, tudo que teus bons sentimentos te insinuam.”

  4. Diz o curado: “Que Deus, o Senhor, te ilumine! Farei o que me dizes, pois vejo que és um verdadeiro amigo deste grande profeta e por isso tens o verdadeiro conhecimento Dele; Ele está sobre todos os outros e, penso, é Aquele que David honrou no salmo:

  5. ‘Do Senhor é a terra e sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque Ele fundou-a sobre os mares e firmou-a sobre os rios. Quem subirá ao Monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a Bênção do Senhor e a justiça da sua salvação.

  1. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas e entrará o Rei da Glória! Quem é este Rei da Glória? O Senhor, forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos exércitos, Ele é o Rei da Glória!’

  2. Eu, João, que fui curado por Ele, testemunho abertamente que Este é, em Pessoa, o Mesmo Rei da Glória de quem David can- tou e predisse! Portanto, rendamos toda a Glória a Ele por toda a Eternidade!”

  3. Diz Jonael: “Agora sim encontras-te numa base sólida! Toda- via, isto deve ficar entre nós, pois ainda não é chegado o tempo de falarmos abertamente! Quando Ele, porém, conforme a Sua Vonta- de, afastar-Se daqui, talvez para a Galileia, poderemos ensinar o po- vo a Seu respeito, e quando voltar em breve a este lugar, encontrará as entradas bem abertas e as portas do mundo bem altas para Sua Chegada, quer dizer, nossos corações dilatados o quanto possível e nosso amor para com Ele elevado até às estrelas.”

  4. Neste momento, acerco-Me dos dois, coloco as Minhas Mãos sobre seus ombros e digo: “Assim está bem, Meus queridos amigos! Sempre que estiverdes reunidos em Meu Nome, estarei entre vós, não física, mas espiritualmente! Agora, porém, estou ouvindo um alvoroço nas ruas da cidade, por isto mantende-vos todos calmos! Veremos qual o elemento que se apoderou destas criaturas!”

  5. Jairuth se dirige a Mim e diz: “Senhor, isto não me soa bem! Se for de Tua Vontade, chamarei neste momento duas legiões e a ordem se fará em breve!”

  6. Digo Eu: “Podes deixar isto! Se for necessário, usarei da ver- dadeira arma; mas é aconselhável a ti ocultares-te dentro de casa, a fim de que ninguém te veja e reconheça! As criaturas mundanas nesta cidade atraem maus elementos e facilmente poderiam dar-te grandes prejuízos materiais!”

  7. Diz Jairuth: “Mas ainda tenho os dois jovens, que certa- mente protegerão minhas propriedades!”

  1. Digo Eu: “Mesmo assim, faze o que te digo, pois, se neces- sitar de auxílio humano, chamarei o comandante, que também se encontra aqui. Mas nada disso será preciso, por isso acalma-te!” — Jairuth se conforma e penetra na casa de Irhael.

74. Em Sichar. — Os mudos atrevidos e seus companheiros mentirosos em atitude agressiva. Rigor de Joram e zelo dos discípulos contra os mentirosos. Repreensão do Senhor e ensinamento a respeito da maldade da criatura. “Não pagueis o mal com o mal!” Parábola do senhor e do servo. Exemplo do erro da contestação e do revide!

  1. Logo em seguida se aproxima u’a multidão munida de porretes, em cujo meio se encontram os dez mudos que tinham sido castigados pelo médico por causa do ultraje feito a Meu No- me. Esta gente exige, com ameaças, que os mudos readquiram o dom da fala.

  2. Joram, o médico, dirige-se a eles, falando com voz penetran- te: “Ó filhos do mal! Será esta a nova maneira de vos dirigir a Deus e implorar-Lhe alguma Graça?”

  3. A multidão recua um tanto e grita: “Quem é Deus aqui e onde está? Por acaso te consideras Deus, ou, talvez, aquele mago da Galileia, blasfemador atrevido?”

  4. Diz Joram, alterado: “Quem é vosso mago da Galileia, ce- lerados inconscientes?” — Respondem os outros: “Falamos do tal carpinteiro de Nazareth, com nome de Jesus; conhecemo-lo bem, assim como sua mãe e irmãos que se encontram aqui! Também co- nhecíamos seu pai, que dizem ter morrido, há pouco, de desgosto, pois sua mulher e filhas não lhe queriam obedecer e o enganavam por todos os meios!”

  5. Joram quase enlouquece de raiva por tamanha injúria, corre para perto de Mim, assim como João e Jacob, e Me diz: “Senhor, Senhor, deixa cair fogo do Céu sobre estes atrevidos, a fim de que sejam devorados! Isto é por demais injusto!”

  6. Digo Eu: “Mas então, ó filhos do trovão, deixai-os mentir, pois não existe fogo mais ardente que o da mentira! Tratai-os com

bondade e tereis colocado brasas em suas cabeças! — Guardai bem isto! Jamais deveis pagar o mal com o mal!” — Os três se calam e Joram em seguida Me pergunta o que deveria fazer com eles.

  1. Digo Eu: “Faze em Meu Nome o que exigem e manda-os embora!” Joram dirige-se à multidão e diz: “Em Nome do Senhor! Que os mudos entre vós voltem a falar e ofertem a Deus, con- forme a Lei!”

  2. Com estas palavras readquirem a fala, mas não Me dão a hon- ra devida, exceto um, que adverte os outros para o fazerem. Estes, porém, respondem: “Tolo que és, pensas que foi Jehovah que nos emudeceu? Foi apenas um entendido nas magias que nos aplicou este dano — e agora queres que honremos um deus pagão? Se assim fizéssemos, que deveríamos esperar do Poderoso Deus de Abraham, Isaac e Jacob?” Com esta insinuação, aquele que ainda tinha melho- res intenções junta-se aos outros e perde a ocasião de honrar-Me.

  3. Joram e os Meus se aborrecem com isto e Simon Pedro, tam- bém cheio de revolta, diz: “Senhor, está tudo bem de acordo com a Tua Vontade, mas, se tivesse uma centelha do Teu Poder espiritual, saberia o que fazer com estes caluniadores do Teu Santo Nome!”

  4. Digo Eu: “Simon, já esqueceste do Meu Sermão da Monta- nha? Qual seria o bem que lucrarias em pagar o mal com o mal? Se preparas uma comida de paladar insípido e, ao invés de temperá-la com sal, leite e mel, adicionas-lhe fel e vinagre, por acaso terás agido com sabedoria? Se, ao contrário, juntares algo de melhor a uma refei- ção que já possui bom paladar, ninguém te chamará de tolo. Mas, se te deparas com uma refeição ruim e ainda lhe adicionas ingredientes inferiores, onde estará aquele que não dirá: ‘Vede que homem tolo!’

  5. Vê, muito mais isto se aplica à criatura! Pergunta a ti mesmo se consegues melhorar uma pessoa má fazendo-lhe mal. Porém, se pagares o mal com o bem, suavizarás a maldade no teu irmão, que pouco a pouco se modificará completamente!

  6. Se um patrão tem um empregado no qual confia muito e este, abusando desta bondade, engana-o, merece uma admoestação; será que o patrão se torna mais condescendente ao repreendê-lo se

este empregado, por sua vez, revolta-se pela acusação? Não! O patrão se enraivecerá com o empregado infiel e o mandará embora!

  1. Se, entretanto, o empregado, percebendo que o patrão agirá contra ele, confessar-lhe o delito e pedir perdão pelo que lhe fez, o patrão infalivelmente abrandará sua raiva, não somente o perdoan- do, mas até mesmo o beneficiando.

  2. Por isto, jamais pagueis o mal com o mal, se vos quereis tornar bons! Mas, se desejais julgar e castigar aqueles que vos preju- dicarem, todos vós vos tornareis maus e ninguém terá o verdadeiro amor e bondade dentro de si!

  3. O poderoso se dará o direito de castigar aqueles que agi- rem contra suas leis. Os infratores por sua vez se encherão de raiva, procurando aniquilar os dirigentes. Pergunto: qual será o bem que resultará disto tudo?

  4. Portanto, não julgueis e condeneis a ninguém , a fim de não serdes julgados e condenados. Tendes compreendido este mais importante ensinamento, sem o qual o Meu Reino jamais existirá para vós?”

75. Em Sichar. — O lado oposto da aplicação do bem. Exemplo do jardim zoológico. A salvação do mal. Novo caminho para a liberdade dos Filhos de Deus. Tratamento dos criminosos. Comparação com o leão. Um Evangelho da missão e do apostolado.

  1. Diz Simon Pedro: “Sim, Senhor, compreendemos até a sua profundeza. Mas este caso tem um lado mau, que a meu ver consiste no crescimento do número dos malfeitores, se nós, de acordo com Tua Doutrina, sustarmos os castigos para eles. Onde existir uma lei, esta deve ser sancionada, pois do contrário não seria lei!”

  2. Digo Eu: “Meu caro, julgas como o cego a cor da luz! Ob- serva apenas o parque dos ricos e verás uma variedade de animais selvagens como tigres, leões, panteras, hienas, lobos e ursos. Se não estivessem dentro de jaulas poderosas, ninguém estaria seguro nas suas proximidades! Por outro lado, seria um absurdo engaiolar cor- deiros e pombos!

  1. O inferno necessita de leis severas, que deverão ser executa- das rigorosamente! O Meu Reino do Céu, porém, não necessita nem de um, nem de outro!

  2. Eu não vim com a finalidade de vos educar para o inferno pelo cumprimento das leis, mas sim para o Céu pelo Amor, a Doci- lidade e a Verdade. Se, portanto, liberto-vos da lei pela Minha Dou- trina do Céu, mostrando o novo caminho pelo coração para uma vida verdadeira, eterna e livre, por que quereis viver sempre dentro do julgamento, não considerando ser melhor morrer mil vezes fisi- camente pelo amor livre, que caminhar um dia na morte da lei?

  3. Entende-se que se deva prender ladrões, salteadores e assas- sinos, pois são iguais às bestas selvagens, que habitam as cavernas à espreita de alguma presa. Consiste num dever até para os anjos, caçá-los; mas não devem ser mortos, e sim presos, a fim de melho- rarem! Somente numa reação violenta deverão ser mutilados e, se reagirem com teimosia, aniquilados! É preferível um inferno morto, do que vivo.

  4. Mas quem continuar a julgar e matar um malfeitor dentro da prisão terá que enfrentar a Minha Ira. Quanto mais severamente os homens julgarem e castigarem os malfeitores, mais perversos e astuciosos serão os que se encontrarem em liberdade. Se invadirem uma residência durante a noite, não somente carregarão tudo, como também matarão aqueles que os poderiam denunciar.

  5. Sustai o julgamento severo e aconselhai as criaturas a ajuntar o manto quando alguém lhes pedir a túnica, e os ladrões possivel- mente vos pedirão isto ou aquilo, mas nunca assaltarão e matarão!

  6. Quando a Humanidade deixar de juntar os bens perecíveis desta terra por amor a Mim e se portar como Eu, não haverá mais ladrões, assaltantes e assassinos!

  7. Erro é considerar que as leis severas e os julgamentos duros extinguirão os malfeitores deste mundo! O inferno sempre os teve! O que te adiantaria matar um diabo se o inferno restitui dez, dos quais um já é pior do que dez iguais ao primeiro? Se o mau encon- tra um outro, ele se torna um verdadeiro diabo; mas, encontran-

do amor, docilidade e paciência, acaba desistindo de sua maldade e se afasta.

  1. Se o leão vê que se aproxima dele um tigre, ele se enraivece, ataca-o e aniquila. Se vier um cachorrinho, deixa que brinque consi- go e fica todo manso. E se vier u’a mosca e se sentar sobre suas patas enormes, ele nem lhe dará atenção, deixando que ela continue seu voo, pois o leão não se mete a pegar moscas. Assim também todo inimigo poderoso se portará convosco se não o enfrentardes com violência.

  2. É preferível abençoar vossos inimigos do que prendê-los e justiçá-los, depositando assim brasas em suas cabeças.

  3. Alcançareis tudo com amor, meiguice e paciência. Se, entre- tanto, julgardes e condenardes as criaturas que, embora cegas, não deixam de ser vossos irmãos, semeareis apenas imprecações e dissen- ções sobre a terra, ao invés da Bênção do Evangelho!

  4. Portanto, deveis ser sempre os Meus discípulos pela Pala- vra, Doutrina e Ação, se quiserdes ser auxiliadores na divulgação do Meu Reino neste mundo! Se isto não vos aprouver, por achar- des os meios muito difíceis ou errados, ainda está em tempo de voltar para vossos lares! Eu, todavia, também poderei criar discí- pul