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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO
O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes
Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber
Traduzido por Yolanda Linau
Revisado por Paulo G. Juergensen
Direitos de tradução reservados
CopyrightbyYolanda Linau
ÍNDICE
AS RELAÇÕES DAS CRIATURAS DESTA TERRA PARA COM O PAI CELESTE 134
A RESPEITO DO SER, DA VIDA E DO TRABALHO DOS ESPÍRITOS DA NATUREZA 143
ESTUPEFAÇÃO DE BAB E SUA MULHER. PROMESSA DE IMORTALIDADE DADA A JOSOÉ 158
PALESTRA ENTRE CHIWAR E KORAH A RESPEITO DO MESSIAS. SATANÁS DESAFIA CHIWAR 191
JOÃO E BARTHOLOMEU EXPLICAM A JUDAS OS TRUQUES DOS ESSÊNIOS 208
O SENHOR ABENÇOA A FAMÍLIA DE EBAHL E CRITICA OS ESSÊNIOS 218
OS PROFETAS E A DIFERENÇA DE SUA ATITUDE QUANTO A DO SENHOR 227
YARAH EXPÕE SUAS EXPERIÊNCIAS COM RELAÇÃO ÀS SUAS PRECES 234
A CHEGADA DE DOENTES. OS HÓSPEDES DE JERUSALÉM E SUA MISSÃO .238 118. CENA ENTRE O COMANDANTE E OS TEMPLÁRIOS 239
CONSTRUÍREM UMA ESCOLA MAÇÔNICA 292
REVOLTA DOS DISCÍPULOS EM VISTA DAS CRUELDADES TEMPLÁRIAS 342
JOÃO EXPLICA A DIFERENÇA ENTRE A COMPREENSÃO NATURAL E ESPIRITUAL 354
S
eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele
sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”
Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.
ObrasdaNova Revelação
O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes
A Infância de Jesus
O Menino Jesus no Templo
O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim
Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua
A Mosca
Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo
(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)
Mensagens do Pai
As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor
PERMANÊNCIADEJESUSEDOSSEUSEMKISE NAZARETH
Evangelho de Matheus Cap. 13 (continuação)
ACERCADAPUNIÇÃODE CRIMINOSOS
Altas horas da noite, chegam os tesouros da caverna de Kisjo- nah, representados em ouro, prata e uma quantidade enorme de pedras preciosas; há três libras de diamantes lapidados, cerca de sete libras em bruto, outro tanto de rubis, o dobro em esmeraldas, jacintos, safiras, topázios, ametistas e quatro libras de pérolas do tamanho de ervilhas. Em ouro, vinte mil libras e em prata, cinco vezes mais.
Quando Fausto vê esta riqueza imensa, exclama: “Senhor! Como filho de um dos mais ricos patrícios de Roma, tive oportunidade de apreciar grandes tesouros; mas coisa idêntica, jamais vi! Isto sobrepuja todo o poderio dos faraós e a fábula de Creso, cuja riqueza era tal, que desejou construir um palácio de ouro, no que foi impedido pelo seu inimigo.
Agora, dize-me Tu, Senhor, que és conhecedor de tudo, como poderiam estes onze servos de Satanás conseguir tamanha ri- queza! Não lhes teria sido possível por meios lícitos! Como, pois, deu-se isto?”
Digo Eu: “Amigo, não te preocupes mais! Não vale a pena perder muitas palavras com estas imundícies do demônio. Asseguro-te, porém, que em toda esta riqueza não há uma, sequer, moeda honesta! Seria perder tempo discriminar as traficâncias vergonhosas que esta ninhada de víboras praticou para juntar tudo que vês.
Certamente não duvidas de que são todos uns criminosos, os mais perversos; ninguém, porém, necessita saber até que ponto chega sua perversidade. Pela lei de Roma merecem dez vezes a morte, ape- nas pelo crime de saque à caravana de impostos imperiais; e o roubo presente em nada é mais atenuado, embora não atinja tão de perto os impostos romanos.
Mesmo se soubesses de tudo, não poderias matá-los mais de uma vez. Podes aguçar o martírio, mas para que? Sendo violento — usando de vossos termos jurídicos — não deixa de se tornar mortal; se for mais ameno, porém mais prolongado, o criminoso não sentirá muito mais do que sentirias, caso uma mosca te importunasse. A alma, cega de conhecimentos espirituais, apavora-se com a morte certa do seu corpo e se retrai para dentro de sua morada mais recôndita; começa de livre e espontânea vontade a se libertar do invólucro material, que não lhe proporciona mais estada, tornando-o deste modo completamente insensível. Poderás martirizá-lo à vontade, que ele pouco ou nada sen- tirá. Se, de outro modo, lhe aplicares uma dor muito intensa, a psique não a suportará por muito tempo, rompendo o laço; poderás, então, queimá-lo ou assá-lo, que ele nada disto sentirá.
Por isto sou contra a pena de morte, porque não tem valor para o sentenciado e, muito menos, serve de escudo ou utilidade à justiça; terás matado um — e milhares jurarão vingança! Sou a favor de que um criminoso deva ser tratado com a maior severidade, até que se rege- nere completamente! Um açoite em época oportuna é melhor do que dinheiro e ouro puro, pois a alma deste modo se liberta mais e mais de sua matéria e, finalmente, acaba se dirigindo para o seu espírito; assim, ela é salva da perdição e a criatura da morte eterna!
Eis a razão por que juiz algum deveria castigar o maior crimino- so com a morte física, que de nada vale, mas sempre com o açoite, de acordo com o crime cometido. Se assim fizer, será juiz das criaturas para o Céu; em caso contrário, para o inferno, pelo que jamais terá recom- pensa de Deus, mas sim daquele reino, pelo qual julgou os crimino- sos! Agora sabes bastante e podes mandar guardar os tesouros! Amanhã também chegarão os de Chorazim e então se iniciará a distribuição e os
despachos de toda esta imundície de Satanás. Agora, porém, entremos no refeitório, que o jantar já nos espera! Realmente, este caso está Me aborrecendo e é tempo de Me apressar para Nazareth!”
Diz Fausto: “Senhor, reconheço que tudo isto Te incomoda, mas que fazer? Peço-Te, meu Senhor e meu melhor e maior amigo, que não partas daqui antes de mim. Em primeiro lugar, nada poderei sem Ti, e, além disto, morreria de enfado sem Tua Presença, não obstante a minha querida esposa aqui se encontrar! Espero que até amanhã à tarde tudo esteja em ordem!”
Digo Eu: “Muito bem! Nada mais, porém, quero ver destes tesouros, nem dos onze fariseus! Já Me repugnam como se fossem cadá- veres!” Responde Fausto: “Tratarei disto!”
2.JUDASISCARIOTES, LADRÃO
Mal tínhamos iniciado a refeição, quando dois servos conduzem Judas perante o juiz supremo e lhe comunicam que aquele tivera a in- tenção de furtar algumas libras de ouro; eles, porém, pegaram-no em flagrante, tiraram-lhe o ouro e o trazem até aqui.
Judas, horrivelmente envergonhado, diz: “Nem de longe me passou pela ideia apossar-me do ouro; apenas queria conferir o seu peso. E estes tolos me acusam de ladrão e me apresentam como tal! Peço-te, Fausto, que este vexame me seja tirado!”
Diz Fausto aos servos: “Deixai-o ir! É um adepto do Senhor e, por isto, poupá-lo-ei.” E, dirigindo-se a Judas: “Futuramente evita, principalmente à noite, pegar em barras de ouro, a não ser que sejas um taxador imperial. Caso contrário, sofrerás a punição judicial por tenta- tiva de roubo! Compreendeste bem o juiz supremo, Fausto?”
Responde Judas, todo confundido: “Senhor, não houve o mí- nimo vestígio dum roubo tencionado, e apenas uma experiência do seu peso.”
Digo Eu: “Vai e procura teu leito! Morrerás também deste mal, pelo qual todos os ladrões morrem, pela mão de Satanás; pois foste, és e serás um ladrão! Enquanto a severidade da lei te retém, não o és em
ação; mas, no teu íntimo, há muito tempo! Se Eu revogasse todas as leis, serias o primeiro a pôr a mão nos tesouros. É uma lástima não pulsar sob tua cabeça um coração mais prestável! Vai dormir, a fim de que amanhã sejas mais cordato!”
Com esta admoestação Judas se retira envergonhado e, no seu quarto, reflete durante duas horas como poderia se esquivar daquilo que Eu lhe havia profetizado; mas não há saída no seu coração, por- quanto este faz ouvir constantemente a sua voz ávida pelo ouro. Deste modo, adormece. Como as duas noites anteriores nos tivessem cansado bastante, também nos recolhemos. A alvorada, porém, não está longe.
Enquanto Fausto tenciona cochilar mais um pouco, eis que che- gam os portadores do tesouro de Chorazim e ele se vê obrigado a levan- tar para revistá-lo e taxá-lo. Quando termina, já nos encontra de pé e a merenda também se acha arrumada na sala de refeição. O juiz, exausto, entra com sua jovem esposa e toma lugar ao Meu lado.
Em seguida Me conta que sua tarefa matinal já está terminada e que tudo tinha seguido seu destino. Tanto os documentos como as car- tas judiciais se encontram prontos no escritório. O tesouro da caverna de Kisjonah tinha sido bem dividido e munido de documentos com- probatórios, o mesmo se dando com o outro tesouro. Somente havia ainda considerável quantidade de apetrechos de carpintaria, cujo dono não se tinha manifestado.
Digo Eu: “Lá, na ponta da mesa, sentados ao lado de Maria, es- tão dois filhos de José, de nomes Joses e Joel; isto lhes pertence! Foi-lhes tirado como penhora junto à pequena casinha em Nazareth e lhes será restituído!”
Diz Fausto: “Senhor, inclusive a casinha! Dou-Te a minha pa- lavra! Oh, Senhor e amigo! Quantos aborrecimentos já me proporcio- naram estas asas-negras; mas a lei é a favor deles e não há meios de condená-los. Praticam as maiores injustiças diante dos meus olhos, sem que seja possível agir, embora o poder me assista; aqui, porém, Satanás os abandonou e tenho uma arma em mãos, que os fará tremer como uma folha seca na tempestade! O relato ao governador Cirenius é uma obra-prima, atestada por ele e imediatamente expedida para Roma.
Partindo de Tyro, Sidon e Cesareia, o navio imperial, munido de uma vela possante com vinte e quatro remadores, estará em doze dias na costa romana, portanto, nas mãos do imperador! Bom proveito para estes ladrões!”
Digo Eu: “Amigo, afirmo-te que te regozijas cedo demais! Dentro do Templo os doze terão que aguardar boa coisa; não serão mortos, mas presos na câmara de penitência até o fim da vida! Perante Roma, porém, serão abertamente desculpados — e depois exigir-se-á de ti explicações minuciosas e terás dificuldade em responder a todas as perguntas. Por isto, deixar-te-ei Pilah, que te prestará bons serviços. Trata de arranjar depressa uma indumentária romana para ele a fim de que não seja reconhecido por seus colegas de Capernaum! Pois digo-te: nem o próprio Satanás tem seu regimento tão bem adestrado como esta ninhada de serpentes. Por isto, sê meigo como as pombas e precavido como a serpente, senão terás dificuldades com esta geração!”
Diz Fausto: “Agradeço-Te bastante por este conselho! Como, porém, este negócio teve solução, vamos tratar de coisas mais agradáveis!”
Digo Eu: “Pois não! Esperemos apenas por Kisjonah, que está aprontando seu cofre!”
3.OEMPREGOJUSTODOPODERMILAGROSOE CURADOR
Depois de algum tempo chega Kisjonah, cumprimenta a todos com amabilidade e diz: “Meu querido amigo Jesus! Dou-Te este Nome apenas externamente, pois sabes Quem és no meu coração! Agradeço tudo isto unicamente a Ti! Isentei os pobres habitantes de Caná apenas com a pequena soma de cinco mil libras e Tu me proporcionaste cin- quenta mil, não contando o valor incalculável dos tesouros restantes, que talvez representem o dobro! Prometo, pelo amor indescritível para Contigo, empregar tudo isto em benefício dos necessitados e oprimidos, e desta imundície de Satanás ainda se fará ouro para os Céus de Deus!
Não pretendo, em absoluto, dar ouro e prata aos pobres, pois isto é sempre um veneno para as criaturas fracas; proporcionar-lhes-ei casa e terreno sem juros, dando-lhes também gado, pão e roupas. A
todos os beneficiados pregarei o Teu Verbo, anunciando o Teu Nome, para que saibam a Quem devem tudo isto, pois sou apenas um servo mau e preguiçoso! Tu, ó Senhor, fortalece-me sempre quando servir em Teu Nome! Se algum dia, porém, deixar-me tentar em dirigir apenas um sentido ao mundo, faze com que todas as minhas forças fraquejem para que eu mesmo possa reconhecer em mim um homem falho, nada conseguindo pelo próprio esforço!”
Coloco Minha Mão sobre seu peito e lhe digo: “Amigo e irmão, guarda-Me aí dentro e jamais te hão de faltar forças para a realização de obras nobres! Na fé viva e no pleno amor puro para Comigo e na intenção de fazer o bem às criaturas em Meu Nome, poderás mandar nos elementos e eles te obedecerão! Tua chamada aos ventos não lhes será incompreensível e o mar reconhecerá tua vontade. E ao falares à montanha: ‘Levanta-te e joga-te no mar!’, ela obedecerá à tua ordem!
Se alguém, no entanto, exigir uma prova para sua fé, não o aten- derás. Quem não quiser reconhecer a plena verdade, se esta não lhe for prova suficiente, melhor será continuar em sua cegueira; pois, se for obrigado a aceitá-la em consequência da prova e não agir dentro da Doutrina, esta prova se tornará um julgamento duplo para ele. Pri- meiramente, ver-se-á obrigado a aceitar a verdade por si mesma — re- conhecendo-a ou não em sua cegueira — segundo, cairá forçosamente num julgamento mais profundo em si próprio, em virtude da Ordem Divina, quando não agir pela convicção da prova. Isto já é o bastante; a compreensão ou incompreensão não justifica quem quer que seja.
Pois se alguém desejar um comprovante para confirmação da verdade e disser: ‘Não reconheço a causa da verdade em tuas palavras; mas, se fizeres um milagre, aceitarei esta doutrina como autêntica!’ Bem, cedendo ao pedido de tal pessoa, ela não poderá se esquivar em aceitar a Luz da Doutrina, mesmo não a compreendendo a fundo, pois a prova é um testemunho convincente.
Como sua cegueira não lhe permite atingir a causa da mesma e a imitação da Doutrina lhe traz situações de vida muito incômodas, pensa de si para si: ‘Deve haver algo nisto, pois do contrário não seria possível esta prova; mas, mesmo assim, não vejo a causa de tudo e, se agisse de
acordo, teria que me sujeitar a uma renúncia inclemente. Por esta razão, prefiro não fazê-lo, e sim continuar na minha maneira de viver, que não me proporciona fatos extraordinários, entretanto agrada-me muito!’
Vê, nisto consiste o julgamento a que o pedinte se preparou pela exigência de provas; por sua conduta contrária, declara-se um lutador contra a Verdade Eterna, renegando-a completamente, não obstante a prova obtida, que lhe foi dada como indicador da verdade, que jamais poderá ser desfeita. Por isto, é muito melhor não fazer milagres como prova da verdade!
Para beneficiar as criaturas, todavia, poderás agir secretamente neste sentido, sem que alguma coisa te peçam — e ninguém terá peca- do nem caído em julgamento. Depois de uma prova, poderás doutrinar a pessoa, se tal desejo existir; caso contrário, faze-lhe apenas uma séria advertência contra o pecado. Mas não te deixes levar em prosseguir na doutrinação, porquanto aqueles que curaste te tomariam por médico mago e a prova não lhes seria um julgamento.
Todos aqueles que receberam o poder de agir milagrosamente deverão seguir fielmente este Meu Conselho, caso queiram fazer real- mente a caridade.
Além disto, ninguém deve fazer um milagre num momento de alteração ou aborrecimento! Pois toda prova só deve ser efetuada na base do mais puro e verdadeiro amor e da meiguice! Se o motivo, porém, for a ira ou o aborrecimento — o que é muito bem possível — então o inferno já toma parte e tal prova não traz a bênção, e sim a maldição.
Se por diversas vezes já vos dei o Ensinamento de que deveis até abençoar àqueles que vos amaldiçoam, com muito mais razão deveis evitar uma maldição aos cegos de espírito!
Refleti bem sobre isto e agi assim, que transmitireis por todos os lados as bênçãos, se bem que não espiritual, mas fisicamente, como Eu fiz e ainda faço! Às vezes, uma caridade puramente material age mais no coração e no espírito do necessitado que cem dos melhores ensinamentos virtuosos; tanto que está dentro da ordem da divulgação do Evangelho abrir caminho no coração dos necessitados e só depois pregá-lo às índoles sadias. Melhor assim do que passar adiante a prédica
e em seguida lançar, através dum milagre, os pobres ouvintes numa miséria maior do que fora o seu estado anterior.
Se fores chamado a socorrer um doente, antes de mais nada toca-lhe com as mãos para que melhore; se ele te perguntar: ‘Amigo, como te é possível isto?’, então dirás: ‘Pela fé viva no Nome Daquele que foi enviado por Deus dos Céus para a verdadeira bem-aventurança de todas as criaturas!’ Se depois perguntar pelo nome, dar-lhe-ás o en- sinamento inicial de acordo com a capacidade de assimilação, para que possa compreender a possibilidade deste fenômeno.
Quando chegares neste ponto, podes-lhe proporcionar mais e mais na medida justa. Se durante estas palestras perceberes que o cora- ção do ouvinte se anima de maneira positiva, poderás dizer-lhe muito, que ele o aceitará e acreditará em todas as tuas palavras. Se, porém, lhe deres demais de uma só vez, seus sentidos se perturbarão, o que te dará muito trabalho.
Do mesmo modo como não se dá às crianças recém-nascidas o alimento de um adulto, que as mataria, assim também não se deve for- necer, de início, a uma alma infantil um alimento espiritual completo, e sim somente aquilo que possa assimilar; senão será aniquilada e difícil se tornará revivificá-la espiritualmente! Tereis compreendido isto?”
Respondem todos com corações sensibilizados: “Sim, Senhor, tudo isto é tão claro como o sol ao meio-dia e o cumpriremos fielmente!”
Digo Eu: “Bem, então vamos até à caverna na qual os fariseus haviam escondido seus tesouros; pois nessa gruta existe outra, que ire- mos examinar. Muni-vos de archotes, vinho e pão; pois encontraremos seres mui famintos!”
4.VISITA E DESCRIÇÃO DE UMA CAVERNA ESTALACTÍTICA
Kisjonah prepara tudo; Baram, que não se podia separar de nós, faz com que seus estoques de vinho e pão sejam trazidos pelos emprega- dos. Jairuth e Jonael Me pedem para acompanhar a expedição.
E Eu digo: “Como não? Sois até muito necessários e Archiel nos prestará bons serviços! Digo-vos mais: neste momento, uma delegação
de vossos eternos inimigos se encaminha de Sichar para cá, a fim de convencer-vos a voltar em breve; o povo levantou-se contra eles e depôs ontem o novo sacerdote, membro da delegação. Estarão aqui à noite e serão bem tratados por nós! Agora, porém, vamos!” As mulheres e mo- ças também fazem menção de acompanhar-nos.
Eu, porém, lhes digo: “Minhas queridas filhas, isto não é passeio para vós; ficai em casa e tratai de um bom jantar!” Elas se acomodam, inclusive Maria. Lydia com prazer se teria juntado a nós, mas, como vê que isto não é de Minha Vontade, faz o mesmo que as outras.
Entrementes, encaminhamo-nos para a gruta, alcançando-a em algumas horas. Imediatamente nela penetramos com os archotes incen- diados. Kisjonah se admira de sua grandeza e tão interessante formação estalactífera, a mais considerável de toda Ásia Menor, que conta com uma grande quantidade destas grutas. Figuras gigantescas de toda espé- cie recebem os visitantes amedrontados.
O próprio Fausto, que não carece de coragem, torna-se medroso e diz: “Aqui pode-se chegar à conclusão de que no subterrâneo habita uma espécie de deus, que consegue efetuar estas obras colossais pelo seu poder nefasto. Vejo figuras de homens, animais e árvores; mas, de que dimensões! Perto disto, que são os formidáveis templos e as estátuas de Roma? Vede aí este árabe bem esculpido! Realmente, quem quisesse chegar à sua cabeça levaria uma hora, subindo em degraus. Acha-se sen- tado — e já fico tonto só de olhar para cima! Isto é sobremaneira raro, estranho e não pode ser obra do acaso! Ali está um grupo de guerreiros com espada e lança! Lá no fundo um enorme elefante nos ameaça; a figura nada deixa a desejar! Senhor, como isto pôde ter surgido?!”
Digo Eu: “Amigo, observa tudo que se apresenta à tua visão e não perguntes muito; a explicação natural seguirá depois. Ainda se dará muita coisa aqui que te causará grande admiração; mesmo assim, não indagues demais! Quando tivermos deixado a caverna, esclarecer-vos-ei a respeito!”
Prosseguindo em nossa excursão, alcançamos um imenso vestí- bulo bem iluminado; pois existem aí várias fontes de petróleo, que ti- nham sido incendiadas há muitos anos por pessoas que habitavam esta
gruta, e desde então ardiam constantemente! No alto deste vestíbulo há uma saída, pela qual também cai uma forte luz durante o dia.
O solo apresenta diversas figuras: serpentes, sapos gigantescos e múltiplas formas animais, regularmente bem esculpidas, bem como grande quantidade de pequenas e enormes figuras de cristais de todas as cores, o que causa aspecto deslumbrante.
Fausto, então, diz: “Senhor, disto se fariam joias imperiais de tamanha abundância, como jamais um imperador poderia imaginar! Certamente deve ser uma espécie de Tártaro, como foi descrito pelo mito grego? Faltam apenas o Estígio, o velho Caron, os três implacáveis juízes de almas — Minos, Éako e Radamanto — finalmente o cão de três cabeças, chamado Cérbero, algumas Fúrias e, talvez ainda, Plutão com a linda Proserpina — e o inferno estaria completo! Estes diversos fogos do solo e das paredes, estas figuras medonhas de animais — em- bora mortas e petrificadas — anunciam estarmos perto, talvez já dentro do Tártaro. Ou então, o que me parece mais admissível: esta gruta é na certa a base fundamental da mitologia grega!”
Digo Eu: “Existe muita veracidade nisto, embora não em tudo; pois o sacerdócio esperto de todos os povos sempre soube tirar o maior proveito destas formações da Natureza. O mesmo fizeram em Roma e na Grécia, dando livre curso à sua fantasia nefasta, conseguindo enga- nar povos e povos, no que terão êxito até o fim dos tempos, ora mais, ora menos.
Enquanto a Terra apresentar formações consideráveis, de acor- do com sua múltipla maleabilidade, as criaturas em sua cegueira lhes atribuirão forças e efeitos divinos, porquanto criam em sua fantasia di- versas caricaturas, sem poder distinguir a verdadeira causa.
Vês aí o Estígio (rio), o navegador Caron e, além deste rio da largura de doze braças e uma vara de profundidade, precisamente um lago de fácil travessia no ponto mais raso, verás, numa fraca ilumina- ção, os três juízes, algumas Fúrias, Cérbero e Plutão com Proserpina
figuras estas que apenas são reconhecíveis duma certa distância, mas, de perto e numa iluminação forte, parecem-se com tudo, menos com aquilo que a fantasia humana lhes atribui. Agora vamos, sem pagar o
Naulo (passagem) ao Caron, a pé sobre o Estígio, para examinarmos de perto este Tártaro.”
Em seguida, atravessamos num ponto mais raso o dito rio, pe- netrando o Tártaro através duma fenda bastante estreita, onde, pela ilu- minação dos archotes, apresenta-se um tesouro imenso e desconhecido de todos os fariseus; assim, pois, tudo que era tão oculto surge por Mim à luz do dia.
5.HISTÓRIADOSTESOUROS DESCOBERTOS
Fausto, estonteado, chama imediatamente Pilah e lhe diz: “Não tens conhecimento disto? — Fala, senão te verás comigo!”
Diz Pilah: “Senhor, não sabia coisa alguma e nunca penetrei tão profundamente nesta gruta! Os velhos sacerdotes certamente o sabiam; porém, ocultavam-no para guardar o resgate de possível prisão.”
Fausto Me pergunta se Pilah fala a verdade e Eu lho confirmo, dizendo: “Amigo, se alguém desposar a filha de família conceituada, com razão poderia esperar um dote. Até então, tiveste muito trabalho e ainda não foste recompensado; portanto, aceita este imenso tesouro e considera-te seu legítimo dono. Tem o valor de um milhão de libras.
As grandes pérolas, cada uma do tamanho de um ovo de galinha, possuem maior valor. Um grande cofre de bronze está repleto delas. Tais pérolas não surgem mais neste planeta, porquanto os crustáceos que lhes deram origem, bem como muitos outros animais pré-históri- cos, não mais existem. Outra particularidade é não terem sido pescadas no mar, mas encontradas na terra pelo rei Nínias, também chamado Nino, durante as escavações do solo quando mandou construir a cidade de Nínive. Depois de muitas peripécias chegou a Jerusalém uma peque- na parte, na época de David; a maior, porém, veio durante o reinado de Salomon. Para esta caverna foram trazidas quando os romanos conquis- taram a Palestina, ou melhor dizendo, apossaram-se da metade da Ásia.
Os sumos pontífices, conhecedores de há muito da existência desta gruta, transportaram todos os tesouros do Templo para cá, logo que souberam da invasão romana. Os leões de ouro, que em parte car-
regavam o trono de Salomon e em parte vigiavam seus degraus, ficaram soterrados durante a destruição de Jerusalém pelos babilônios, mas na época da reconstrução foram descobertos novamente e recebidos pe- los sacerdotes para uso do Templo. A maior parte também se encontra aqui; um grande número de riquezas do Templo foi levado durante a invasão dos babilônios poderosos para a conhecida caverna de Cho- razim. Entretanto, os invasores, mais tarde ainda, encontraram vários cálices e outros objetos preciosos, destinados ao uso perpétuo do Tem- plo, e os levaram para a Babilônia. Agora, ordena ao teu pessoal que tire tudo desta gruta; em seguida, Archiel irá lacrar a entrada de tal maneira que jamais uma criatura aqui poderá penetrar!”
Fausto emite suas ordens, mas os empregados não são capazes de suspender os cofres pesados. Então pedem-Me que lhes proporcione a força necessária.
Neste instante chamo Archiel e digo-lhe: “Transporta toda esta imundície para o grande armazém alfandegário em Kis!” — De súbito desaparecem todos os cofres e Archiel também já está de volta, de sorte que ninguém pôde perceber sua ausência.
Fausto, em seguida, afirma: “Isto ultrapassa tudo que se possa imaginar! Meus servos teriam levado três dias para esta tarefa — e agora se fez tudo num abrir e fechar de olhos! Já não pergunto mais pela pos- sibilidade deste fato, é necessário um sentido divino para compreender e avaliar com justiça tais milagres!”
Digo Eu: “Sim, tens razão! Por enquanto, também não seria be- nefício para o homem se compreendesse tudo que se lhe apresenta. Pois consta: ‘No dia em que comeres do fruto do conhecimento, mor- rerás!’ Por isto, é melhor aceitar todo milagre como se apresenta, ima- ginando que para Deus nada é impossível, do que tentar explicá-lo em sua origem, enquanto se compreende tão pouco depois da explicação como antes.
Basta que vejas ser a Terra feita para abrigar e nutrir as criaturas! Se soubesses como foi organizada, perderia toda graça, nem sentirias mais prazer algum, mas avidez de pesquisar uma outra. E, caso desco- brisses nesta segunda a mesma base de formação e consistência, e assim
também numa terceira, quarta e quinta, não mais te interessaria anali- sar uma sexta e sétima. Com isto, tornar-te-ias preguiçoso, enfadado, cansado da vida, amaldiçoando a hora que te proporcionou tais conhe- cimentos, estado este que representa a morte completa para tua alma!
Mas, como tudo é de tal maneira organizado — de acordo com a Ordem Divina — que tanto o homem como também todo anjo só poderão reconhecer pouco a pouco o que se relaciona à Natureza Divina em si em todas as coisas criadas, e isto somente até certo grau, a crescente vontade de viver e o amor para com Deus e o próximo perduram e lhe facultam o único meio para a bem aventurança eterna. Compreendes isto?”
Diz Fausto: “Sim, Senhor e Amigo, compreendo-o comple- tamente! Portanto, também não mais Te perguntarei pela origem da formação desta gruta!”
6.ORIGEMEDEMOLIÇÃODACAVERNA ESTALACTÍFERA
Digo Eu: “O conhecimento a respeito não aumentará nem di- minuirá tua vida. Poderás, porém, saber que jamais a mão humana a formou, mas unicamente a natureza dos elementos. As montanhas ab- sorvem constantemente a umidade do ar, a chuva, a neve e a neblina que, não raro, circundam seus cumes. Toda esta umidade ali depositada se infiltra, na maior parte, pela terra e nas pedras, e, quando atinge uma zona oca, junta-se em gotas, que consistem em parte de cal diluída. Es- tas gotas caem. A água pura vai se infiltrando mais profundamente ou, então, evapora-se no vácuo. A massa calcária se torna mais consistente, surgindo, pela constante aglomeração, as múltiplas formas, que mais ou menos assemelham-se às já existentes sobre a Terra. Desta maneira, surgiram todas as formas nesta caverna de um modo natural, embora também seja admissível que os servos de Satanás muito tivessem con- tribuído para o aperfeiçoamento, a fim de ofuscar as criaturas fracas.
Portanto, é melhor impedir a penetração nesta gruta por todos os tempos, porque ela muito favoreceu a superstição. Vamos, pois, dei- xá-la, para que Archiel possa executar sua incumbência!”
Fausto Me agradece por esta explicação e diz: “Compreendo isto perfeitamente, pois já ouvi esta hipótese por físicos romanos. A suges- tão da cooperação de Satanás é de grande importância, pois o inimigo da vida não deixará de aproveitar tais coisas, e suas consequências de- sastrosas se apresentam nas três partes do mundo! Tudo isto me é claro; somente uma coisa não compreendo: a bem-aventurança de Deus!
Dize-me, que prazer Deus poderá sentir em Sua Própria Vida Imutável, quando a razão intrínseca de todo Ser Lhe é eternamente consciente, quando para o homem seria um enfado mortal?”
Digo Eu: “Observa estas criaturas! São um prazer para Deus, quando se tornam aquilo para que foram destinadas por Sua Ordem. Nelas, Ele Se resplandece e seu crescimento constante em vários conhe- cimentos e, através disto, em todo amor, sabedoria e beleza representam o gozo e a bem-aventurança eterna para Deus! Pois tudo que encerra a Eternidade existe apenas para a pequena criatura e nada há que não fosse exclusivamente criado para ela. Agora também foste informado sobre isto! Vamos, pois, sair daqui!”
Em poucos minutos tínhamos deixado a gruta e Eu dou um aceno a Archiel. No mesmo instante, ouve-se um grande estrondo. A abertura folgada se apresenta agora como uma parede alta de granito, que dificilmente um mortal poderia atravessar. Mas, para impossibilitar terminantemente a penetração, fez-se um declive no terreno — após o nosso afastamento dali — de sorte que a tal entrada apresentou-se en- tão na altura de uns duzentos metros, mais ou menos, e teria sido pre- ciso uma escada desse comprimento para alcançá-la, o que, por sua vez, não traria êxito, porquanto o paredão de granito seria um empecilho.
Quando Fausto e os outros assistem a esta transformação, diz-
-Me aquele: “Senhor e Amigo, realmente, agora custo a me controlar. Os acontecimentos estão se tornando demasiado fenomenais e distam uma Eternidade de meu horizonte de assimilação! Positivamente, não sei se vivo ou se sonho! Dão-se coisas tão extraordinárias, que a pessoa mais sensata poderia perder a noção do seu próprio sexo. Eis esta parede colossal de granito! Onde se encontrava quando, há pouco, trilháva- mos, comodamente, o caminho que dá para a gruta?
O mais estranho é que, com toda esta transformação, não há vestígio, sequer, de uma demolição violenta. Parece que isto já estava assim, desde eras remotas! Se, por acaso, mil homens trabalhassem du- rante anos, ainda duvido que tivessem conseguido remover estas massas colossais! Isto é incrível! Estou curioso acerca da reação dos navegantes quando derem com esta rocha! Muitos não poderão orientar-se e outros farão o que faz o gado quando vê uma nova cerca!”
Respondo Eu: “Por isso, digo a vós todos que caleis a respeito e nem façais menção disto às mulheres; não permiti que nos acompa- nhassem porque não podem silenciar sobre fatos extraordinários. Podeis relatar a formação da gruta e a descoberta de novos tesouros; mas, fora disto, nem uma sílaba!” Todos Me prometem assim agir e em seguida encetamos a caminhada de volta para Kis, chegando lá ao pôr-do-sol. Somos recebidos pelas moças e mulheres que, naturalmente desejosas de saber das novidades, são informadas serem importunas as perguntas, e que só houve transporte de um tesouro oculto pelos fariseus. Elas se satisfazem com isto e se calam. Nós, porém, fomos jantar, pois estáva- mos todos com apetite.
7.FAUSTOENCONTRAOSTESOUROSBEM ORGANIZADOS
Somente depois do jantar Fausto vai verificar se os tesouros estão bem acondicionados no armazém. Tudo está numa ordem perfeita, ha- vendo inclusive uma minuciosa lista, que registrava cada preciosidade e seu valor, conforme encontrada na gruta. Fausto então pergunta aos vigias quem havia feito esta lista.
Os vigias respondem: “Senhor, já encontramos tudo conforme está e não sabemos quem a tenha feito.”
Continua a perguntar o romano: “Dizei-me como chegou isto aqui e quem o trouxe?”
Respondem eles: “Também não o sabemos; só pode ter sido um jovem que, há dias, se encontra aqui em companhia do médico milagroso de Nazareth e que mandou que vigiássemos isto. Recebemos a ordem pelo juiz subalterno e aqui nos encontramos há duas horas. Eis tudo!”
Fausto dirige-se, então, ao juiz com a lista e faz as mesmas per- guntas; este sabe tanto quanto os vigias. Como Fausto vê que ninguém em Kis sabe algo da origem dos tesouros, pensa consigo: “Como nada sabem, não mais chamarei a atenção sobre este fato.”
Voltando à sua residência, é recebido de braços abertos por sua jovem esposa. Antes, porém, de recolher-se, ele Me procura para dis- cutir assuntos importantes. Eu, no entanto, transfiro isto para o dia seguinte e o aconselho a dar o devido descanso ao corpo e à alma.
Cedo, porém, todos se levantam a fim de tomar o desjejum na sala de refeição e depois disto rendem louvores a Jehovah, conforme consta no salmo 33, de David: “Regozijai-vos no Senhor, vós justos, pois aos retos convém o louvor. Louvai ao Senhor com harpa, cantai a Ele com saltério de dez cordas. Cantai-Lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo. Porque a Palavra do Senhor é reta, e todas as Suas Obras são fiéis. Ele ama a justiça e o juízo: a Terra está cheia da Bondade do Senhor. Pela Palavra do Senhor foram feitos os Céus e todo o Seu Exército pelo Espírito da Sua Boca. Ele ajunta as águas do mar num montão; põe os abismos em depósitos. Tema toda a Terra ao Senhor; temam-No todos os moradores do mundo. Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu. O Senhor desfaz o conselho das nações, que- branta os intentos dos povos. O Conselho do Senhor permanece para sempre; bem como os intentos do Seu Coração de geração em geração. Bem-aventurada a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele es- colheu para Sua Herança. O Senhor olha dos Céus e está vendo todos os filhos dos homens. Do lugar da Sua Habitação contempla todos os moradores da Terra. Aquele que forma o coração de todos eles, que con- templa todas as suas obras. Não há rei que se salve com a grandeza dum exército nem o homem valente se livra pela força desmedida. Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que O temem, sobre os que esperam Sua Misericórdia, para lhes livrar as almas da morte e para os conservar vivos na fome. A nossa alma espera no Senhor: Ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois Nele se alegra o nosso coração; porquanto temos confiado no Seu Santo Nome. Seja a Tua Misericórdia, Senhor, sobre nós, como em Ti esperamos.”
Fausto, que havia assistido a isto, pergunta-Me: “Mas onde fo- ram Teus discípulos buscar esta ovação maravilhosa, verdadeira e tão merecida por Ti? Jamais ouvi coisa mais grandiosa!”
Digo Eu: “Procura arranjar a Santa Escritura com os fariseus e lê os salmos do rei David; lá encontrarás tudo! O reitor Jairo, com o qual teremos um assunto a liquidar hoje, poder-te-á fornecer uma cópia. Há dois dias sepultaram sua filha e ele está profundamente arrependido dos seus pecados contra Mim. Por isto, será ajudado para que não se perca para o Reino do Céu!”
Diz Fausto: “Senhor, que reino é este e onde se encontra?”
Respondo: “Bem, caro amigo, o verdadeiro Reino do Céu está para os amigos de Deus em toda parte; para os inimigos, em parte al- guma, pois para estes é inferno tudo que se prende aos seus sentidos. Neste ponto não existe diferença entre o que está em cima e o que está embaixo. Não olha para as estrelas, tampouco para esta Terra, que tudo está sob julgamento, como teu corpo, que morrerá um dia! Em vez dis- to, investiga e procura no teu coração, onde encontrarás o que almejas. No coração de cada criatura está a semente viva, da qual germinará a eterna aurora da Vida.
Vê, o Espaço no qual flutua esta Terra, bem como o Sol, a Lua e as incontáveis estrelas, que nada mais são do que sóis e terras, é infinito! Com a velocidade dum pensamento, poderias deixar este planeta, pro- jetando-te nesta velocidade em linha reta — e se, deste modo, percor- resses eternidades sobre eternidades, jamais te aproximarias do fim! Em toda parte, porém, irias encontrar criações mais raras e maravilhosas, que preenchem e vivificam todo este imenso Espaço.
Pelo teu coração projetar-te-ás, após a morte física, dentro deste imenso Espaço Divino e, de acordo com este teu coração, vê-lo-ás como Céu ou como inferno!
Um Céu propriamente criado não existe em parte alguma, tam- pouco um inferno nesta qualidade; tudo vem do coração do homem. Por suas obras, boas ou más, ele prepara no seu coração ou o Céu ou o
inferno e, de acordo como crê, deseja e age, manifestará sua fé, pela qual se nutriusuavontade,entrandoemação.
Que cada um examine as próprias tendências e facilmente saberá qual o espírito que o domina. Se essas tendências atraem o coração e seu amor para o mundo e o fazem sentir o desejo de tornar-se algo de grande e importante, quando o coração com tendências para o orgulho sente um desagrado com a pobreza, desejando dominar outrem, sem ter sido escolhido e ungido por Deus para este fim, a semente do inferno já se acha nele e, se não for combatida e sufocada, proporcionará o inferno ao homem após sua morte na matéria.
Quando o coração do homem é cheio de humildade, sentindo-
-se feliz por ser o mais ínfimo entre os outros, servindo a todos, não ligando a si mesmo por amor a seus irmãos, obedecendo de boa von- tade seus superiores, amando a Deus sobre tudo, então a semente no coração germinará e tornar-se-á um verdadeiro Céu eternamente vivo! A criatura cujo coração encerra a plenitude do Céu e é repleto da fé ver- dadeira, da esperança e do amor puríssimo, impossivelmente penetrará em algo diferente do que o Reino do Céu de Deus, que já possuía, há muito tempo e em toda pujança, no seu coração! Se considerares isto a fundo, compreenderás com facilidade o sentido do Reino do Céu e do inferno!”
Diz Fausto: “Querido, mui sábio Senhor, Mestre e Amigo! Realmente, Tuas Palavras são muito profundas, mas desta vez não me foi possível compreender e assimilá-las! Como pode o Céu e o inferno estarem num lugar só, de modo que um teria que penetrar infalivel- mente no outro? Tal fato é, para criatura materialista como eu, uma impossibilidade! Ainda mais incompreensível é que, do meu coração, deverá surgir um Céu infinitamente feliz ou infeliz! Vejo-me, portanto, obrigado a pedir-Te elucidação maior; do contrário, seguirei para casa, embora com toda a luz do dia, numa cegueira completa de espírito!”
Digo Eu: “Então presta atenção, pois faço questão que sigas com a visão espiritual.
Vê, numa casa moram dois homens. Um está contente com aqui- lo que consegue extrair do solo com o suor do seu esforço e a Bênção do Céu. Goza seu lucro escasso e o divide com imensa alegria com seus irmãos mais pobres. Quando é procurado por um faminto, regozija-se em poder saciá-lo e jamais lhe pergunta, com irritação, o motivo de sua pobreza, nem lhe proíbe voltar quando a fome o perseguir de novo.
Não se queixa do Governo e, quando lhe é pedido um imposto qualquer, ele diz como Job: ‘Senhor, Tu mo deste; tudo é Teu! O que me deste poderás tirar; a Tua Santa Vontade Se faça!’
Em suma, nada há que possa perturbar a alegria deste homem, bem como seu amor e confiança para com Deus e, consequentemente, sua dedicação para com o próximo; ira, inveja, discussão, ódio e orgu- lho lhe são estranhos.
Em compensação, seu irmão é a criatura mais descontente! Não acredita em Deus e diz: ‘Deus é uma ideia vã pela qual as criaturas de- signam o máximo grau dos heróis da Terra. Somente um tolo poderia ser feliz na pobreza, tal como os irracionais, que se contentam com a satisfação de seus instintos. Aquele, porém, que se elevou pelo intelecto acima do instinto não se deve dar por satisfeito com o alimento para animais, nem cavar a terra com suas próprias mãos, destinadas para coisa melhor; deve, sim, tomar da espada e se elevar a um poderoso ge- neral, a fim de conquistar as grandes cidades. Sentir a terra estremecer sob as patadas do ginete resplandecente de ouro e pedrarias, que garbo- samente carrega o senhor de poderosos exércitos.’
Com tal índole este homem amaldiçoa sua vida miserável, conjeturando sobre os meios de angariar fortuna para realizar suas ideias altivas.
Detesta seu irmão feliz, e todo pobre lhe é um horror. De mise- ricórdia não há vestígio, pois a tem como tendência ridícula de escravos covardes e macacos sociais. Aplica atenuadamente sua malvadez como
pseudogenerosidade — mas isto mesmo, tão raro quanto possível! O pobre que o aborda é recebido com as seguintes palavras: ‘Afasta-te de mim, seu preguiçoso! Trabalha, se desejas comer! Procura o desprezível irmão do meu corpo, mas não do meu espírito elevado! Ele trabalha como um burro de carga para seu semelhante e é misericordioso como um macaco social! Eu, apenas, sou generoso, perdoando-te, por esta vez, tua vida miserável!’
Vê, estes dois irmãos, filhos dos mesmos pais, habitam na mes- ma casa. O primeiro é um anjo, o segundo quase um demônio. Para aquele a cabana tosca é um Céu; para este, um inferno completo. Vês, agora, como Céu e inferno podem estar juntos?!
Certamente pensarás: ‘Bem, nesse caso ofereçamos um trono ao altivo, que se prestará para proteger os povos e afugentar os inimigos!’ Como não? Isto seria bem possível; mas onde está a justa medida, que lhe prescrevesse o limite de suas ambições? Que fará com as criaturas que não se submeterem à sua vontade? Ele as fará martirizar horri- velmente e a vida humana terá o mesmo valor que uma erva pisada! Agora, pergunto: que espécie de homem é este? Digo-te: um verdadei- ro demônio!
Regentes e generais são indispensáveis, mas é preciso que se- jam destinados por Deus para estes fins. Ai daquele que abandona sua choupana para conquistar, por todos os meios, o emblema do poder! Em verdade, teria sido melhor que nunca tivesse nascido!
Dar-te-ei mais um quadro do Reino do Céu de Deus: Compa- ra-se a um bom solo, no qual crescem e amadurecem tanto as uvas mais finas como os cardos e abrolhos! A diferença consiste unicamente no aproveitamento deste mesmo solo: a vinha o reverte para o que é bom; os cardos e abrolhos, para o que é nocivo e inútil.
Assim também o Céu penetra no demônio e nos anjos de Deus; mas cada qual vale-se dele diferentemente!
Também pode ser comparado a uma árvore frutífera, que pro- duz frutos bons e doces. Aproximam-se pessoas desejosas de saborear tais frutos. Algumas, parcimoniosas, apenas aproveitam o que lhes satis- faça a fome. Outras, ávidas, porém, comem tudo até o último fruto. A
consequência disto é a doença e, talvez, até a morte, enquanto aquelas somente sentiram o benefício do mesmo fruto!
Do mesmo modo o Céu pode ser comparado a um bom vinho, que fortifica o sóbrio, prejudicando e matando o intemperado; portan- to, o mesmo vinho foi aproveitado por um para o Céu, e por outro para o inferno! Dize-Me, amigo, se compreendes agora o que sejam o Céu e o inferno!”
10.ALEIDA ORDEM
Diz Fausto: “Senhor, vislumbro agora uma pequena luz! Em todo o Infinito só existe umDeus, umaforça e umaLei da Ordem Eterna. A criatura que acatar esta Lei encontrará em tudo o Céu; mas quem procurar reagir pelo livre arbítrio só descobrirá em toda parte o inferno, sofrimento e martírio!”
Digo Eu: “Isto mesmo! O fogo, por exemplo, é um elemento utilíssimo, e quem o empregar sabiamente terá um benefício incalcu- lável. Seria muito extenso citar todas as vantagens que poderão advir ao homem através do fogo. Mas, se alguém o empregar apenas para a distração fútil, de maneira a incendiar casas e matas, este mesmo fogo tudo destruirá!
Durante o inverno não há quem não procure o calor da lareira, mas aquele que caísse dentro dela sofreria as consequências do fogo.
Digo mais: As criaturas deste mundo têm que passar pela água e pelo fogo, a fim de se tornarem verdadeiros filhos de Deus. O Céu, na sua natureza intrínseca, é água e fogo. O que não for idêntico à água será morto por ela, e o que não for fogo não poderá suportá-lo.”
Diz Fausto: “Senhor, eis outra coisa que não compreendo! Como é isto? Como é possível alguém tornar-se água e fogo? Pois ambos são elementos antagônicos; um destrói o outro. Sendo o fogo muito intenso, transformará a água em vapor. Caso contrário, será apagado. Assim, se para obter a Filiação Divina for preciso tornar-se água e fogo, dar-se-á finalmente a dissolução!? E o que seria do estado eterno da vida?”
Digo Eu: “Perfeitamente bem, na relação justa, pela qual um elemento gera e mantém o outro! Se não houvesse fogo dentro e em volta da Terra, também não haveria água e vice-versa.”
Pergunta Fausto: “Mas como?”
Respondo: “Afasta todo o fogo, de onde emana o calor, da Terra, e ela se tornará uma massa de gelo duro como o diamante, na qual não haverá vida. Em seguida tira toda a água da Terra, que ela se dissolverá em pó! Pois sem fogo e água não poderá manter-se, por serem imprescindíveis a novas criações na Terra. Onde, porém, não se derem procriações ou novas criações, a morte e a decomposição terão se estabelecido.
Observa uma árvore destituída de sua seiva e verás que, em pou- co tempo, ela terá apodrecido. Compreendes isto?”
Diz Fausto: “Sim, Senhor, não só isto como também reconhe- cemos que Tu és pleno do Espírito Divino e o Criador de todas as coisas. Pois qual seria a criatura que pudesse reconhecer em si a causa e a Lei da Criação? Isto só pode ser conhecido em toda a sua profundeza por Aquele que possui o Espírito e do Qual surgiram todas as coisas, que permanecem estáveis dentro da Ordem Divina. Eu apenas pode- rei agradecer, com o coração cheio de amor para Contigo, todos os benefícios materiais e espirituais recebidos! Que outra atitude poderia adotar como homem fraco e pecador diante de Ti, Senhor de toda a Eternidade?”
Digo Eu: “Tens razão; mas, por enquanto, silencia sobre tudo que sabes, viste e conheceste; não Me denuncies antes do tempo e não esqueças, em tua felicidade terrena, dos pobres! Pois tudo que lhes fi- zeres em Meu Nome terás feito a Mim, e a recompensa te será dada no Céu! Agora, como já terminamos a nossa tarefa em Kis, preparemo-nos para a jornada a Nazareth!”
11.OSENHORESEUSDISCÍPULOSPARTEMPARA NAZARETH
Ev.Matheus—Capítulo13,versículo 53
Diz Fausto: “Devo ordenar que transportem minhas coisas para bordo?”
Digo Eu: “Já está tudo feito! Como os teus navios não eram bastante grandes, Baram e Kisjonah emprestaram os seus para este fim, e já está tudo pronto para a partida.”
Diz Fausto: “Confesso que não me admiro que assim seja, pois o que não seria possível ao Onipotente?!”
Nisto Jonael e Jairuth se achegam a Mim com Archiel e Me agradecem por tudo. Mal se tinham encaminhado para Sichar, são al- cançados pela delegação predita por Mim, que os recebe com todas as honras, implorando a Jonael reassumir o posto de sumo pontífice. Tan- to Jonael quanto Jairuth lembram-se daquilo que Eu lhes havia dito.
Neste ínterim — enquanto Eu havia terminado a explicação so- bre o Reino do Céu (Matheus 13, 53), despedido os sicharenses e, em seguida, recomendado a Kisjonah permanecer em casa, prometendo-
-lhe voltar em breve — nós outros embarcamos, duas horas antes de meio dia, num grande navio, em companhia de Fausto e sua esposa. Tomamos a direção de Capernaum, que também serve de porto para Nazareth, não muito longe dali.
No momento em que desembarcamos, diz Fausto: “Senhor, irei Contigo para Nazareth, a fim de restituir à Tua Mãe e a Teus irmãos o que lhes pertence!”
Digo Eu: “Também isso já está feito, Meu amigo, e em tua casa bem como no teu distrito, encontrarás tudo na melhor ordem, porque, até aqui, Meu Archiel resolveu todos os teus problemas. Vai a Caper- naum e, se encontrares o reitor Jairo, que certamente te contará sua grande desdita, poderás dizer-lhe que ficarei por algum tempo por aqui! Caso deseje algo, que Me procure — mas a sós!”
Diz Fausto: “Eu não poderia acompanhá-lo?”
Respondo: “Pois não, mas somente tu!” Com estas palavras nos separamos!
Acompanhado pelos inúmeros discípulos, dirijo-Me à Minha pátria terrena, enquanto Fausto providencia uma quantidade de carre- gadores e carroças, com que faz transportar os tesouros para sua casa em Capernaum. É fácil se imaginar o alarido que isto causa, sobretudo pela presença de sua jovem e bonita esposa. Também é de se esperar que Jairo procure o juiz supremo, pois já sabe do caso dos doze fariseus, que motivou a ida do romano a Kis.
Fausto o recebe com todo o respeito, dizendo: “Um homem honesto foi salvo, as penhoras que tinham sido extorquidas injusta- mente dos pobres judeus foram todas restituídas e onze desses fariseus padecem, no Templo de Jerusalém, o castigo merecido por tantas frau- des e roubos. Seria muito demorado contar-te as minúcias; se algum dia tiveres folga, vem e lê pessoalmente os autos, e ficarás com os cabelos ar- repiados! Agora, outra coisa! Como está passando tua filha? Melhorou?”
Diz Jairo, tristíssimo e choroso: “Oh, por que me fazes lembrar isto? Infelizmente ela faleceu, pois não houve médico que lhe ajudasse! O único médico, Borus de Nazareth, disse-me que teria poder para tanto, mas não o faria porque eu havia pecado demasiadamente contra o seu amigo Jesus. E, assim, faleceu minha filha querida! Dilacerou-nos
o coração ouvi-la chamar por Jesus, pedindo socorro e lançando-me, acerbamente, toda a culpa, porquanto grande era o meu pecado contra Ele. Fiz tudo para encontrá-Lo! Ele, porém, não deu ouvidos aos meus mensageiros, embora eu estivesse arrependido, mil vezes, da minha ação! Agora, tudo está terminado! Há quatro dias ela se encontra na tumba, já em decomposição! Que Jehovah seja benigno e misericordio- so para com sua boa alma!”
Diz Fausto: “Amigo, sinto imensamente tua má sorte, mas te asseguro que o Senhor Jesus Se encontra agora em Nazareth. De acordo com minhas diversas experiências, sei que nada Lhe é impossível! Que tal se O procurasses? Ele tem Poder suficiente para fazer ressuscitar tua filha da tumba!”
Diz Jairo: “Mesmo que isto não mais seja possível, procurá-
-Lo-ei para Lhe pedir perdão por tê-Lo ofendido e magoado, embora o tivesse feito sob coação!”
Diz Fausto: “Pois bem, então vem comigo; encontrá-Lo-emos em casa de Sua Mãe. Mas, cumprindo Sua Vontade, ninguém poderá nos acompanhar!” Jairo, tocado por uma esperança imensa, concorda e em pouco tempo eles cavalgam sobre mulas em direção a Nazareth. Poucas horas antes do poente, alcançam esta cidade, deixam as mulas num albergue e se dirigem a pé para a casa de Maria, onde são aguarda- dos por Mim e Borus, um dos primeiros a Me receber.
Assim que Fausto penetra no quarto em companhia de Jairo, este se joga a Meus pés e, chorando copiosamente, pede-Me que lhe perdoe a grande falta de gratidão cometida contra Mim.
Eu, porém, lhe digo: “Levanta-te! Tua falta te é perdoada, mas não o faças uma segunda vez! Agora, onde jaz tua filha?”
Responde ele: “Senhor, sabes que mandei construir, não lon- ge daqui, uma escola com uma casa de oração, onde fiz preparar um sepulcro para mim; como Sarah faleceu antes, eu a sepultei ali. Dista daqui uns dois mil passos. Se Tu, ó Senhor, quisesses ir até lá, ficar-Te-ia muito grato!”
Digo Eu: “Pois bem, leva-Me; mas, além de ti e de Fausto, ninguém mais nos deve acompanhar!” Os apóstolos, porém, pergun- tam-Me se não podem estar presentes.
Respondo: “Desta vez, ninguém mais do que os mencionados!”
Diz Borus: “Senhor, Tu me conheces e sabes que sei silenciar como um peixe; que mal haveria se vos acompanhasse como médico?”
Digo Eu: “Já disse que ninguém mais nos acompanhará!”
12.SEGUNDARESSURREIÇÃODE SARAH
Com estas Minhas Palavras, pessoa alguma ousa perguntar ou pedir algo, e nos dirigimos para a tumba. Aproximando-Me do corpo, já em adiantado estado de decomposição, pergunto a Jairo se acha que sua filha esteja apenas aparentemente morta.
Diz Jairo: “Senhor, tampouco como da primeira vez, pois sabia perfeitamente que minha querida Sarah estava morta. Apesar disso, fui obrigado a dar este falso testemunho a Teu respeito para evitar que
fosses molestado mais ainda! Tanto que chegou-se à conclusão de seres apenas um andarilho vadio, que de quando em quando curava doen- tes e tencionava fazer nome como profeta escolhido por Deus — ou, talvez, o Messias Prometido. Este Messias era por demais temido pelo sacerdócio rico, pois constava que, se o sumo pontífice dentro da or- dem de Melchisedek viesse à Terra, a casta judaica não levaria vanta- gens e Melchisedek reinaria eternamente com seus anjos sobre todas as gerações.
Afirmo-Te que não teme o sacerdócio nem o fogo, nem a tem- pestade que passou diante da gruta que ocultava Elias; mas o sussurro delicado sobre a gruta do grande profeta os apavora, porque dizem que o Messias na ordem de Melchisedek viria de mansinho, como um la- drão à noite, e lhes tiraria tudo que haviam conseguido! Eis a razão por que nenhum sacerdote quer assistir à chegada do Unigênito de Deus de Eternidade, mas deseja prorrogá-la para um futuro longínquo.
Mas como eles, mormente os velhos, reconhecem que sejas in- dubitavelmente o Anunciado, tudo fazem para aniquilar-Te! Se isto, porém, não conseguirem e fores plenamente o que presumem, farão penitência com saco e cinzas, aguardando com intenso pavor o golpe tremendo pelo qual temem tudo perder; do contrário, não teriam ape- drejado quase todos os profetas. Vê, este foi o motivo por que preferi declarar-Te um vagabundo, do que aquilo que realmente És! Pois a homem algum é possível despertar os mortos — isto só pode o Espírito de Deus, que na minha opinião reside em Ti em toda a plenitude!”
Digo Eu: “Como sabia de tudo, Eu vim de novo para socorrer-te por muito tempo. Este é o motivo pelo qual não quis que outros nos acompanhassem. Quando o tempo chegar, saberão o porquê.”
Em seguida Me debruço sobre a tumba, na qual estava Sarah envolta em linhos, e digo a Jairo: “Já é noite e a lamparina ilumina mui fracamente. Vai ao vigia desta escola-igreja e pede-lhe uma luz mais forte, pois, quando ela ressuscitar, precisará de claridade.”
Exclama Jairo: “Oh, Senhor, isto poderia se dar? Ela já está em decomposição! Todavia, creio que para Deus tudo seja possível e volta- rei em breve, com uma luz melhor!”
Ele de pronto procura o vigia para este fim, mas ali também encontra o fogo infelizmente apagado, tanto que leva tempo para con- segui-lo através de dois pedaços de madeira que esfrega com força.
Logo que Jairo nos deixa, Eu desperto Sarah e lhe ajudo a sair da tumba.
Um tanto sonolenta, ela Me pergunta: “Por Jehovah! Onde es- tou? Que aconteceu comigo? Achava-me num lindo jardim, em com- panhia de muitas outras e, de repente, sou transportada para esta câ- mara escura!”
Digo Eu: “Sê contente e calma, Sarah! Eu, teu Jesus, que há poucas semanas te despertei da morte, fi-lo neste momento, de novo, dando-te uma vida sólida! De agora em diante, não sofrerás doença alguma e, quando daqui a anos teu tempo chegar, virei Pessoalmente dos Céus para conduzir-te ao Meu Reino, que não terá fim por toda a Eternidade!”
Quando ouve Minha Voz, Sarah revive completamente e diz com a voz mais amorosa deste mundo: “Oh, Tu, único amor de minha jovem vida e coração! Eu sabia que aquele que Te ama sobre todas as coisas não precisa temer a morte! Adoeci por um amor poderoso para Contigo, meu primeiro portador de vida, pois não podia descobrir Teu Paradeiro. E quando perguntava com o coração cheio deste amor, res- pondiam-me que tinhas sido aprisionado e entregue à justiça severa, como reles criminoso! Isto fez com que meu coração fraquejasse; fiquei gravemente doente e morri pela segunda vez! Como sou feliz agora por ter-Te encontrado de novo, meu único e mais elevado amor!
Bem que dizia no meu leito de morte: ‘Se meu divino Jesus ainda for vivo, Ele não me deixará dentro da tumba fria!’ Eis que se deu aquilo que meu coração dizia! Estou novamente viva e nos braços de meu queridíssimo Jesus! Mas, de agora em diante, nada haverá que me possa afastar de Tua Companhia Divina! Seguir-Te-ei como a serva mais humilde, para onde fores!”
Enquanto Sarah assim fala Comigo, Jairo vem se aproximando da tumba com uma vela de resina. Eu, porém, digo a ela: “Aí vem teu pai! Esconde-te atrás de Fausto para que não te veja de súbito, o que
prejudicaria sua saúde! Quando Eu te chamar, apresenta-te sorridente!” Sarah segue Meu Conselho, ocultando-se no momento em que Jairo penetra na câmara. Ele, então, pede desculpas por ter demorado tanto.
Eu, no entanto, respondo: “Não tem importância! Ninguém pode pecar além do possível e, uma vez morto, não poderá tornar-se mais morto em quinze minutos; pelo contrário, tornar-se-á mais vivo, caso as condições de vida ainda se manifestem!”
Diz Jairo: “Senhor, se um pobre pecador pode arriscar a pe- dir-Te, concede esta Graça não a mim, que não sou merecedor, mas a Sarah, que Te ama sobre tudo!”
Digo Eu: “Pois bem; mas a esta Graça prende-se uma con- dição: não a despertarei para seu pai, mas unicamente para Mim! Ela Me seguirá e, caso queiras também seguir-Me de quando em quando, poderás permanecer ao lado dela!”
Diz Jairo: “Que se faça a Tua Vontade, Senhor, desde que Mi- nha filha possa ressuscitar!”
Digo Eu: “Pois bem, então ilumina a tumba aberta!”
Com um suspiro, Jairo se aproxima da beira, olha, olha — e não vê senão os linhos, panos de cabeça e fitas amontoadas. Como não descobre a morta, vira-se com tristeza para Mim e diz: “Senhor, que aconteceu? Eu nada vejo! Teria alguém roubado o corpo? Por que, en- tão, não levou o resto?”
Digo Eu: “Porque a ressuscitada não precisa mais disto!”
Jairo solta um grito de alegria, que num momento domina sua dor: “O quê! — Como?! — Onde está minha Sarah?”
Exclamo Eu: “Sarah, apresenta-te!”
No mesmo momento, ela surge por detrás de Fausto e fala com alegria: “Aqui estou, completamente viva e curada! Porém, não mais pertenço a ti, mas unicamente a Jesus! Tudo se fez para que o meu grande amor para com Ele, o Senhor de toda a Vida, fosse consi- derado pecado, ocasionando assim uma segunda morte ao meu corpo frágil! Mas agora este mesmo amor ressuscitou-me de novo! Vê, meu pai: tu me chamas de filha, embora me tenhas dado uma única vez a vida! O que é, porém, Aquele, para mim e eu para Ele, que me deu
a vida por duas vezes? Qual, entre ambos, terá maior direito de pai sobre mim?”
Responde Jairo: “Tens razão, jamais me oporei ao teu amor por Aquele que te deu por duas vezes a vida plena! Segue integralmente teu coração, e eu seguirei a ti e a teu amor de quando em quando! Estás feliz por isto, tu que foste tudo para mim nesta Terra e continuas a sê-lo ao lado de Jesus, o Senhor?” Diz Sarah: “Sim, pai, estou plenamente satisfeita!”
Concluo: “E Eu também! Agora, voltemos para Minha casa! Lá nos espera um bom jantar, e Minha filha Sarah necessita refazer-se!”
13.CENAENTREJAIROESUA MULHER
Jairo cobre de novo a tumba, fecha a porta da câmara e nos acompanha. A uns setenta passos distantes da escola, encontra-se a ca- sinha do vigia que há pouco forneceu a vela a Jairo.
Como o luar é bastante forte, o vigia logo reconhece a moça que, em seus trajes brancos e compridos, caminha a Meu lado. Cheio de pavor, ele pergunta a Jairo: “Que é isso? Que vejo? Não é Sarah, vossa falecida filha?! Então, também não morreu desta vez?”
Diz Jairo: “Seja lá como for! Nada tens a perguntar, mas calar sobre tudo que vês aqui, sob risco de perderes teu emprego! Uma coisa, entretanto, grava bem na tua alma: sabe e compreende que para Deus tudo é possível! Para isto, porém, torna-se necessário uma fé integral e uma confiança viva! Compreendeste?” Diz o vigia: “Sim, mui venerá- vel senhor!”
Diz Jairo: “Futuramente, não me importunes com tais títulos ho- noríficos e fala como se fosse teu irmão! Agora, já que não tens mais de vigiar um defunto, corre a Capernaum e não contes a ninguém o que aca- bas de ver, nem mesmo à minha mulher. Dize-lhe, porém, que se dirija imediatamente a Nazareth, a casa de José; pois tenho coisas importantes a transmitir-lhe! Apronta boas mulas, para chegares mais depressa!”
O vigia, possuidor dum burro ligeiro, executa com rapidez sua tarefa e dá o recado à mulher de Jairo. Ela se apressa em segui-lo. Dentro
de uma hora, chegam à casa de Maria, que, alegre por se encontrar de novo na casinha de José, recebe-a de braços abertos. Quando a mulher de Jairo penetra na sala (onde tomávamos um bom jantar, que desta vez fora encomendado por Borus), ela avista Sarah, satisfeitíssima, sentada a Meu lado, saboreando com grande apetite um bom peixe, preparado com sal, azeite e vinagre.
A mãe, não acreditando no que vê, diz a Jairo, batendo em seu ombro: “Meu marido, aqui estou, tristíssima, e a quem queres falar coisas importantes! Creio, porém, que já estou vendo sua importância! Dize-me, estarei sonhando ou isto é realidade? Esta moça, ao lado de Jesus, não é a imagem viva de nossa filha querida? Ó Jehovah, por que me tiraste Sarah?”
Diz Jairo, comovido: “Tem fé, minha querida! Esta moça não apenas se parece com nossa filha, mas é Sarah em pessoa! Nosso Senhor Jesus a ressuscitou pela segunda vez! Sua boa aparência lhe vem do Di- vino Poder que Ele possui! Agora, não interrompas o seu bom apetite, pois muito jejuou!”
Diz a mulher, não se contendo de admiração e alegria: “Explica-
-me, já que és sábio em Israel, qual tua opinião a respeito deste Jesus?! Estou cada vez mais convencida ser Ele, não obstante Seu Nascimento humilde, o Messias Prometido! Pois fatos idênticos jamais foram reali- zados por profetas, muito menos por um homem qualquer!”
Diz ele: “Sim, é isto mesmo! Mas devemos manter o maior sigi- lo, de acordo com a Vontade Dele; do contrário, teríamos de enfrentar em breve toda Jerusalém e Roma, obrigando-O a uma reação milagrosa! Por isto, silencia! A fim de não denunciá-Lo, Sarah ficará durante um ano sob Sua proteção, ou sob os cuidados de Maria, e nós poderemos visitá-la de quando em quando. Na realidade, também não possuímos direito sobre ela, que recebeu de nós apenas uma vida miserável e enfer- miça. Deus no-la deu de alma sadia; nós, entretanto, só lhe proporcio- namos um corpo fraco e enfermo. Já por duas vezes ela morre e estaria perdida para sempre se Ele não lhe desse duas vidas novas e perfeitas! Resta, portanto, saber quem tem mais direito de pai e mãe: Ele ou nós, pobres pecadores!”
Diz a mãe de Sarah: “Sim, és sábio, conheces a Lei e todos os profetas, por isto tens sempre razão; para mim já constitui uma fe- licidade imensa o fato dela viver e nós a podermos visitar de quando em quando!”
Aduz Jairo: “Agora, calemo-nos; o jantar terminou e talvez Ele queira dizer algo!”
Eu, porém, chamo Fausto para dizer-lhe: “Amigo, lastimo não possas pernoitar hoje aqui; mas, como te esperam grandes negócios em casa, dou-te permissão por alguns dias; em seguida, deves voltar. Caso se fale a Meu respeito, saberás o que responder!”
Diz Fausto: “Senhor, Tu me conheces melhor do que eu mes- mo! Podes confiar em mim; um romano nato não é uma cana fraca ou um joguete para os ventos! Nem a morte obrigar-me-á a um ‘não’, quando eu afirmar que ‘sim’. Assim vou indo, já que a mula está atrela- da, e em uma hora lá estarei. Em Teu Nome, meu Jesus, meus negócios terão um bom desfecho. Entrego-me inteiramente ao Teu Amor, Sabe- doria e Onipotência!” Com estas palavras Fausto se afasta rapidamente.
Em seguida, a mãe de Sarah Me agradece, toda contrita, e con- fessa não ser merecedora de tão imensa graça.
Eu a consolo e digo a Sarah: “Minha filhinha, eis tua mãe!”
Só então ela se levanta ligeira e cumprimenta delicadamente sua genitora, observando-lhe, porém, que ficará em Minha Compa- nhia, pois seu grande amor não permite separar-se de Mim! Os pais a elogiam por isto; pedem, no entanto, que não venha a esquecê-los de todo! Ela afirma que os ama mais do que nunca, o que os satisfaz plenamente.
14.ADIFERENÇAENTREOPODERHUMANOEOPODER DIVINO
Nisto se aproxima o grego Philopoldo, de Caná, e diz: “Senhor, há três dias me encontro em Tua Companhia e ainda não me foi possí- vel falar como fui capaz de efetuar tudo de acordo com a Tua Vontade e como consegui, com a minha prédica, converter a todos depois de Tua
partida. Segundo me parece, tens agora uma pequena folga e peço-Te que me ouças!”
Digo Eu: “Meu prezado amigo Philopoldo! Como podes supor que Eu não tivesse perguntado por isto ou aquilo referente a Caná, se não soubesse perfeitamente como andam as coisas? Vê todos estes Meus irmãos! O que falo com eles? Durante muitos dias, nenhuma palavra externamente, mas muitas nos seus corações. E ninguém se levanta e pergunta: ‘Senhor, por que não falas comigo?’ Eu te digo, como já disse a todos, que não aceito discípulos para com eles palestrar, mas para ouvirem Minha Doutrina e serem testemunhas de Meus Atos! O que eles sabem Eu já sei há muito tempo, e o que necessitam saber trans- mito-lhes no momento oportuno, pelo coração. Assim sendo, pergunta a ti mesmo para que fim os Meus discípulos iniciados necessitam de conversação externa! Já que também és Meu discípulo, precisas suportar a organização de Minha Escola.
Com os que não são Meus adeptos, preciso trocar palavras, pois não poderiam ouvir-Me e compreender-Me em seus corações mundanos. Quando, porém, o tempo e as circunstâncias o exigem, falo também externamente com Meus discípulos, mas isto não por sua causa, mas pelos outros que ainda não o são! Dize-Me, compre- endeste isto?”
Afirma Philopoldo: “Sim, Senhor! Agora reconheço a Tua Graça tão nitidamente como o Sol ao meio-dia e Te agradeço por esta expli- cação cheia de bondade! Mas, Senhor, quando observo esta Sarah tão linda, cuja beleza poderia concorrer com a de qualquer anjo, parece-me quase impossível tenha ela permanecido no sepulcro por um segundo. Esta frescura de vida jamais vi! Entretanto, sei que a ressuscitaste por duas vezes! Sinto um forte desejo de saber como Te foi possível isto!”
Digo Eu, em surdina: “Penso que viste o bastante em Caná, para saber Quemsou Eu! Assim, como podes perguntar de que maneira Me foi possível vivificar um defunto? Pois o Sol, a Lua e todas as estrelas, como esta Terra não surgiram de Mim e não fui Eu Quem povoou este planeta com inúmeros seres vivos? Se Me foi possível dar-lhes existência e vida independentes, por que não poderia fazer com uma só criatura o
que faço com seres incontáveis, de eternidades para eternidades? Se sa- bes isto e até foste ensinado por um anjo, como podes ainda perguntar?
Vê, toda e qualquer pedra que poderia ferir teu pé é apenas man- tida pela Minha Vontade; se Eu a libertasse por um momento desta Mi- nha Vontade criadora e conservadora, ela no mesmo instante deixaria de existir.
Se bem que possas triturá-la e, por um fogo forte, até dissolvê-
-la numa espécie de gás — como ensina a arte oculta da alquimia — tudo isto só é possível, tanto com a pedra como com qualquer outra matéria, porque Eu assim o permito para o bem da Humanidade. Se Eu não o permitisse, não poderias removê-la por menor que fosse, tampouco uma montanha. Podes também jogar uma pedra no ar, e ela alcançará uma altura considerável, de acordo com tua força e ha- bilidade; mas, depois disto, ela infalivelmente cairá por terra. Vê, eis a Minha Vontade e Permissão até certo grau, onde consta: ‘Até aqui, e não mais além!’
Uma pedra jogada ao ar demonstra, nitidamente, até onde vai a força e a vontade da criatura. Alguns momentos — e a vontade fraca do homem é alcançada pela Minha e repelida para a Minha Ordem Eterna, a qual é equilibrada até o peso de um átomo, por toda a Eternidade! Se isto tudo depende puramente da Minha Vontade e Permissão, como não Me seria possível fazer ressuscitar alguém?
Vai lá fora, traze-Me um pedaço de pau e uma pedra, e mostrar-
-te-ei como todas as coisas Me são possíveis pela Onipotência do Pai dentro de Mim!”
Prontamente Philopoldo apanha uma pedra e um pedaço de pau apodrecido, e Eu lhe digo, sempre à meia voz: “Olha, pego da pedra e deposito-a no ar — e ela não cai! Experimenta modificar sua posição!” Philopoldo o tenta — mas a pedra não se move.
Prossigo: “Agora, permitirei que possas empurrá-la à vontade; mas, se a largares, ela tomará esta mesma posição, onde continuará fixa após algumas vibrações!”
Diz Philopoldo: “Senhor, deixa esta experiência; para mim bas- ta Tua Palavra Santa!”
Digo Eu: “Pois bem; quero, no entanto, que esta pedra se dis- solva e que este pau venha a verdejar e produzir folhas, flores e frutos de acordo com sua espécie!” No mesmo momento, a pedra desaparece e o pau apodrecido torna-se verdejante, produzindo folhas, flores e fi- nalmente frutos amadurecidos, isto é, vários figos, pois era um pedaço de figueira.
Alguns começam a nos observar, pois os demais discípulos já dormitavam. Jairo e sua mulher, porém, continuam em colóquio amo- roso com sua filha. Eu e Philopoldo tínhamos realizado nossas expe- riências numa pequena mesa à parte, sob uma iluminação um tanto fraca, de sorte que não fomos observados por muitos. Mas, quando Philopoldo começa a manifestar grande admiração, logo atrai diversas pessoas. Eu, porém, lhes ordeno calma e todos sossegam.
Agora ordeno à pedra que volte a existir, e ela se acha de novo sobre a mesa; o galho com os figos deixo ficar, a fim de que Sarah os saboreasse na manhã seguinte.
Aí pergunto a Philopoldo se estava a par de tudo, e ele, curvando-se, diz: “Senhor, plenamente!” Digo Eu: “Então, va- mos dormir!”
15.PHILOPOLDODÁTESTEMUNHODADIVINDADEEM JESUS
Philopoldo também procura repousar, mas não consegue dor- mir, porquanto os acontecimentos do dia muito o tinham impressio- nado. Além disso, os leitos não eram dos melhores; os credores tudo haviam levado, assim encontramos a casa vazia. Durante a ressurreição de Sarah, tanto Borus quanto Meus irmãos e muitos outros discípulos incumbiram-se de fornecer leitos, mesas, bancos e utensílios de cozi- nha; mas, para várias centenas de pessoas, das quais muitas dormiam ao ar livre ou então em albergues, era impossível arranjar rapidamente o mais necessário.
E assim, Eu Mesmo passo esta noite em cima de um banco, com um pouco de palha sob a cabeça — e Philopoldo no chão, e sem palha. Por isto, é um dos primeiros a levantar-se de manhã. Quando Jairo, que
tinha conseguido um bom leito de palha para si, sua mulher e filha, pergunta-lhe como tinha passado a noite, Philopoldo diz:
“Como o solo o permite! Mas tudo depende de hábito; depois de um ano o corpo se prontificaria melhor a isto.”
Diz Jairo: “Por que não me falaste? Tínhamos uma quantidade de palha!”
Diz Philopoldo: “Vê o Senhor, a Quem todos os Céus e mundos obedecem e todos os anjos veem Sua Vontade! Seu Leito em nada foi melhor que o meu!”
Diz Jairo, no qual ainda havia muito de fariseu: “Amigo, por acaso não dizes demais? Não resta dúvida que este Jesus esteja repleto do Espírito Divino, muito mais do que qualquer outro profeta, pois Seus Atos sobrepujam todos os feitos de Moysés, Elias e outros, grandes e pequenos. Parece-me, porém, uma suposição audaciosa alegar que Nele habite a Plenitude Divina. Os profetas também ressuscitavam mortos pelo Espírito Divino dentro deles; nunca, porém, ousavam atri- buir a si mesmos a realização desses milagres. Se assim fizessem, teriam pecado gravemente contra Deus, e Ele lhes teria tirado o espírito. Mas Jesus faz tudo de Si, como se fora um Senhor, o que diz respeito à tua suposição e no que, de certa maneira, concordo. Mas, muita cautela! Pois isto também podia ser para nos experimentar que provássemos a nossa fé em Deus Único! Se realmente toda a Plenitude de Deus residir em Jesus, deveremos aceitar Seu Testemunho incondicionalmente! Que te parece?”
Responde Philopoldo: “Acredito que Seu Testemunho é inteira- mente verdadeiro! Ele é Deus e não há outro senão Ele!
Torna-se difícil a explicação disto numa época tão milagrosa como a nossa, porquanto sempre haverá quem diga: ‘Por diversas vezes tive oportunidade de assistir a fatos milagrosos de magos, e os profetas também ressuscitavam mortos; até houve um que cobriu um esqueleto com carne e o vivificou, de modo que milagres não provam que um mago seja um deus!’
Outra coisa acontece com Jesus, o Senhor! Todos os profetas necessitavam de preces contínuas e jejuns, a fim de que Deus os achas-
se meritosos para efetuarem um milagre. Os magos precisam de uma vara milagrosa e de outras provas e fórmulas, unguentos, óleos, águas, metais, pedras, ervas e raízes, cujas forças ocultas bem conhecem, apli- cando-as em suas produções; todavia, onde alguém viu algo parecido com Jesus, o Senhor? Nem vestígio de prece e jejum, muito menos apetrechos mágicos.
Além disso, todos os profetas falavam e escreviam por hierógli- fos, e quem não os conhecesse nada entenderia! Eu sou grego, mas não desconheço vossa linguagem e li Moysés e todos os profetas! Duvido que haja quem os entenda de ponta a ponta!
Jesus, porém, fala as coisas mais ocultas de maneira tão clara que, não raro, até uma criança as entenderia! Ele explicou a Criação do Cosmos, e eu já me vi capaz de criar um mundo! Onde estaria o profeta e onde o mestre dos mágicos que falasse como Jesus?!
Quem alguma vez entendeu uma sílaba daquilo que o mago costuma falar durante suas magias?! As palavras de Jesus, porém, con- têm a mais profunda sabedoria e são claras como o Sol do meio-dia; tudo o que Ele quer realiza-se num momento!
Se isto é a pura verdade, por que deveria hesitar em reconhecê-
-Lo como Senhor Absoluto dos Céus e da Terra, amá-Lo sobre tudo e dar-Lhe, unicamente, toda a honra?!
Este galho fresco de figueira, cheio de frutos, é uma explicação viva do que ontem Ele me ensinou, quando Lhe perguntei como era possível ressuscitar os mortos. Pediu-me um pedaço de pau qualquer, e eu apanhei no escuro um galho de figueira. Ele nem o tocou; apenas deu-lhe uma ordem e o galho começou a verdejar, florescer — e aqui tens os frutos maduros! Oferece-os à gentil Sarah, que muito apreciará!”
16.OSENHORSEDIRIGEÀ SINAGOGA
Ev.Matheus—Capítulo13,versículo 54
Jairo chama Sarah, que aliás já estava despertando, e lhe oferece o galho magnífico; ela, com imenso prazer, começa a saborear seus fru- tos. Nisto, desperto em cima do Meu banco.
Sarah é a primeira a Me dar um “Bom dia” e Eu lhe pergunto se gostou dos figos. Ela responde com satisfação: “Senhor, estavam deli- ciosos como mel. Teu amigo Philopoldo mos deu em Teu Nome, e eu os saboreei, todos! Certamente arrumaste-os para mim?!”
Digo Eu: “Minha querida Sarah, naturalmente que sim! Pois foste a causa que Me levou ontem à noite a mostrar ao amigo Philo- poldo que Me é possível ressuscitar os mortos, vivificando um galho apodrecido de figueira, a fim de que produzisse, mais uma vez, os doces frutos de sua espécie. Fizeste muito bem em tê-los comido, pois aumen- tarão tua saúde! Agora, saiamos, para que os quartos sejam limpos; de- pois, tomaremos o desjejum para, em seguida, desempenharmos nossa tarefa!” Todos Me acompanham e apreciam a manhã deliciosa.
Jairo vem a meu lado e diz: “Senhor, jamais deixarei de agrade- cer-Te! Antes que seja tentado contra Ti, renunciarei a meu cargo e tor- nar-me-ei um seguidor fervoroso de Tua Santa Doutrina. Philopoldo será meu amigo para sempre, pois devo a ele a verdadeira Luz sobre Tua Pessoa. Embora seja ele grego, é mais conhecedor de nossas Escrituras do que eu e todos os escribas da Judeia, Galileia, Samaria e Palestina! Em suma, estou completamente esclarecido, mas devo dirigir-me a Ca- pernaum, onde me esperam vários negócios. Por isto, recomendo a Ti minha mulher e filha! Se me for possível desembaraçar-me à noite, vol- tarei com Fausto e Cornélius e, talvez, também com o velho Cirenius, que é esperado hoje naquela cidade! Portanto, deixo-Te agora, pedindo Teu Amor, Paciência e Graça!” Jairo, despedindo-se também dos seus, parte, montado na mula ligeira. Enquanto isto, nós outros entramos para tomar o desjejum.
Em seguida, Borus Me chama de lado e diz: “Meu queridíssimo amigo! Estou certo de que já sabes o que desejo falar-Te; mas, entre Teus discípulos alguns há que, a meu ver, não necessitam saber o que pretendo dizer-Te. Por isto, chamei-Te de lado.”
Digo Eu: “Não era preciso, pois o que desejas contar-Me Eu já relatei e comentei com os discípulos, em Kis, externando Meu Conten- tamento. Eles de tudo sabem, portanto não precisamos fazer segredos!”
Diz Borus: “Ah, neste caso serei franco!”
Com isto, voltamos à assembleia e Eu digo a Borus: “Meu ami- go, já sabemos de tudo o que nos ias contar! O caso, portanto, está liquidado. Como grego que professa livremente o judaísmo, não de- pendendo de suas leis, tens toda liberdade para falar-lhes; mas, se fosses um verdadeiro judeu pela circuncisão e pela lei, terias de medir tuas palavras. Mas, assim, falaste bem e está tudo resolvido. Agora, porém, leva-Me à sinagoga de Nazareth! Ensinarei ao povo para que saiba a quantas anda!” (Matheus 13, 54)
Maria pergunta se estarei de volta para o almoço. Digo Eu: “Não te preocupes se venho; basta que Eu tome todas as precauções a Mim! À noite, porém, estarei aqui!” Pergunta-Me Sarah se pode acompanhar-Me.
Respondo: “Como não? Podes vir, embora pela lei a mulher não possa penetrar na sinagoga em companhia de homens. Mas isto deve mudar! A mulher, tanto quanto o homem, tem o pleno direito ao Meu Amor e Graça, que emanam de Deus, o Pai, através de Mim. Fica- rás a Meu lado e servirás como testemunha potente! Para este fim, con- serva a mortalha, que também servirá de prova. Agora, vamos!” Após estas palavras dirigimo-nos à sinagoga.
17. O SENHOR EXPLICA UM TEXTO DE ISAÍAS
Penetrando na escola, encontro um grupo de dez anciãos de Na- zareth, com vários fariseus e escribas, sentados em volta de uma grande mesa, discutindo os seguintes versos de Isaías: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus Olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o juízo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas. Vinde agora e argui-Me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a branca lã. Se quiserdes e ouvirdes, comereis o bem desta Terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à es- pada; porque a Boca do Senhor o disse. Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de juízo, que abrigava a justiça, é hoje habita-
da por homicidas. Sua prata se tornou espuma, seu vinho se misturou com água. Seus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um ama as fraudes e corre seduzido pelo ganho fácil, não fazendo jus- tiça ao órfão, não chegando até ele a causa das viúvas. Por tudo isto, diz o Senhor, Deus dos Exércitos, o Forte de Israel: Ah, consolar-Me-ei acerca dos Meus adversários e vingar-Me-ei dos Meus inimigos!” (Isaías 1, 16–24) Embora discutissem, não conseguem compreender seu ver- dadeiro sentido.
Nisto, Eu Me adianto e lhes digo: “Como podeis conjeturar so- bre o que se apresenta diante de vós numa claridade dum Sol de meio-
-dia? Olhai vossos órfãos, vossas viúvas! Que vida levam? Ao invés delas cuidardes, açambarcais o que possuem, e os órfãos ainda vendeis como escravos aos gentios, como há poucos dias queríeis fazer secretamente, mas no que fostes impedidos pelo aduaneiro Kisjonah!
Bem que fala o Senhor: ‘Vinde e argui-Me! Ainda que os vossos pecados sejam escarlates, se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a branca lã!’; mas Eu pergunto: quando e sob que condição? Qual a vossa atitude, e como se apresenta a Cidade Santa, que se chama ‘Cidade de Deus’? Quantos pe- cados horrendos já se praticaram ali e quantos são levados a efeito agora?
‘Lavai-vos, purificai-vos e tirai a maldade de vossos atos de dian- te dos Meus Olhos!’, eis que falou Jehovah pela boca do profeta. Lavais, durante o dia, sete vezes o vosso corpo, limpais vossas roupas e caiais duas vezes ao ano os sepulcros dos vossos mortos; mas vossos corações continuam endurecidos e cheios de imundícies, tanto que sois seme- lhantes aos sepulcros caiados, externamente limpos e adornados, mas internamente cheios de podridão, ossadas e odor putrefato!
O profeta falou da purificação de vossos corações e vos advertiu que tirásseis vossos pecados diante dos Olhos de Deus; vós, porém, jamais aceitastes este sentido no vosso íntimo e continuais purificando a pele, enquanto vosso coração se afunda nas imundícies do inferno! Ó raça do inferno, quem te ensinou tal coisa?
Dizeis: ‘O bode ordenado por Moysés e Aaron, até esta data, é coberto anualmente com os pecados de toda Israel; em seguida é morto
e jogado no Jordão!’ (Levítico 16) Ó cegos, que culpa tem o bode de vossos constantes pecados e de não purificardes os vossos corações?
Este ato representa somente aquilo que já devíeis ter aprendido há muito tempo, isto é, que o bode demonstra vossas perversas tendên- cias mundanas, como sejam: o orgulho, que igual ao bode dá marradas e cheira mal; a impudicícia e obscenidades em todas as coisas; avareza e inveja! Com a destruição do bode expiatório, devíeis aniquilar, para sempre, o bode de vossos corações — e assim teríeis cumprido o Man- damento de Moysés e Aaron, o que, na certa, vos teria trazido grande benefício! Matastes, porém, os bodes, o que de nada adianta, e os vossos corações continuam os mesmos; por isso, Jehovah executou Sua Amea- ça e o fará ainda mais quando vossa medida se encher.
Não deixa de ser louvável que os pagãos defendam os direitos do povo, cuidando das viúvas e órfãos! Mas também é verdade o que diz o profeta: ‘Consolar-Me-ei com os inimigos, os pagãos, e vingar-Me-
-ei por eles!’ Onde ficou vosso poder e força? Um pequeno grupo de pagãos domina o antigo povo de Deus, tão poderoso! Que vergonha e desonra! Os filhos da serpente são mais sábios e honestos do que vós, filhos da Luz!
Por isto, o mesmo acontecerá em breve; este solo santo será en- tregue aos pagãos, e vós jamais tereis nem país, nem rei! Ireis servir aos tiranos estrangeiros, como escravos; vossas filhas nobres serão ultrajadas pelos pagãos e seus servos, e seus rebentos serão odiados como ninhada de víboras, de serpentes!
Conjeturais pelas Escrituras dos profetas, que escreveram para os vossos corações, como poderíeis aumentar a pompa na cerimônia durante o ato da purificação de vossos corpos, roupas e sepulcros, para que rendessem maiores oferendas. Mas não percebeis o que apraz a Deus! Ó servos maldosos do diabo! Servis a ele com vossas cerimônias
por isto, ireis colher o prêmio no charco, como o mereceis!
Purifica-se o corpo quando for necessário, uma, duas ou três vezes ao dia e limpam-se as roupas quando sujas; isto foi ordenado por Moysés em benefício da saúde física. É preciso também cobrir os sepul- cros com um palmo de barro e caiar esta coberta, quando seca, várias
vezes, para que não rache. Pois isto poderia facilitar, nos primeiros anos, a saída de gases nocivos, portadores de doenças, tanto para as criaturas como para animais e plantas.
Vede, esta é a razão por que se devem caiar os sepulcros! Como podíeis engendrar desse fato uma cerimônia religiosa? Oh, que sois insensatos e tolos! Qual o proveito desta tolice para a alma do falecido?!”
18.ANATUREZADEDEUSESUAVERDADEIRA ADORAÇÃO
(O Senhor): “Quando morre uma criatura, sua alma é afastada do corpo e, como corpo etéreo, levada a um sítio que corresponda a sua verdadeira natureza, tendo unicamente seu livre arbítrio e seu amor como auxílio. Se vontade e amor forem bons, a zona que terá para o cultivo, de acordo com a força e o poder dados por Deus, também será boa. Vontade e sentimento sendo maus, também o serão suas obras — do mesmo modo como na terra uma árvore má não dará frutos bons e vice-versa. Ornamentai com ouro e joias um espinheiro e observai se com isto vos dará uvas! Se, porém, ornamentais ou não uma parreira, ela dará uvas doces e de maravilhoso aroma!
Assim sendo, perguntai-vos qual o benefício que poderiam ob- ter as almas no Além pelo caiar de seus sepulcros, que contêm apenas esqueletos e podridão!
Julgais, realmente, que Deus seja tão imbecil e tolo, que Se deixe servir pela ostentação fútil e vã da matéria?
Digo-vos: Deus é Espírito, e os que quiserem servi-Lo deverão fazê-lo em espírito e na verdade plena e pura de seu coração; jamais, po- rém, na matéria, pois ela nada mais é que a Vontade do Pai Onipotente e por Ele, por algum tempo, fixada!
Que diríeis a alguém que exigisse uma recompensa por ter des- truído vossa sementeira e ironicamente ainda afirmasse ter-vos prestado bom serviço?! A resposta que daríeis a este tolo atrevido também vos dará o Pai no Além — e teríeis que vos afastar Dele para as mais longín- quas trevas, onde só há clamor e ranger de dentes!
Maria, Minha Mãe, é uma prova autêntica de como defen- deis as causas das viúvas, pois lhe tirastes tudo. E isto repetis sempre que possível!
Não é do conhecimento de todos que as judias procuram defen- sores de suas causas entre os pagãos, porque os judeus não as atendem? Satanás deve regozijar-se ao ver que seus filhos ultrapassam os filhos de Deus no que diz respeito à lei e à justiça! Por isto, deverão os filhos do mundo se tornar filhos de Deus; vós, porém, sereis filhos daquele a quem servis fielmente!
Já que lestes Isaías, não achastes aquela passagem onde diz: ‘Re- gozijo-Me com a misericórdia e não com as oferendas!’ e mais além: ‘Este povo adora-Me com os lábios, mas seu coração está longe de Mim?’
Se afirmais que Deus falou isto pela boca do profeta, de que ma- neira O respeitais, se preferis sempre vossas leis desprezíveis ao invés das Leis do Pai, considerando as que engendrastes para vosso lucro munda- no, pisando os Ditames Divinos?! Ó malvados servos do diabo! Como tencionais enfrentar o julgamento de Deus?! Em verdade, os sodomitas terão melhor sorte que vós! Pois, se naquele tempo tivessem acontecido os milagres a que assististes, teriam feito penitência com saco e cinza, e Deus não os teria julgado com fogo do Céu! Ai de vós, o tempo é che- gado em que se dará aquilo que vos predisse!”
19.IGNORÂNCIAEPERTURBAÇÃODOS FARISEUS
Após Minhas Palavras, levantam-se os anciões, fariseus e escribas e dizem: “Como te atreves a querer discutir conosco? Quais os milagres que se deram aqui?”
Digo Eu, apontando-lhes a bem conhecida Sarah: “Conheceis esta menina e sabeis o que lhe aconteceu pela segunda vez?”
Todos se fitam desapontados e dizem entre si: “Céus, esta é a filha do reitor Jairo! Teria ‘ele’ a ressuscitado de novo? Como isto foi possível? Mas, se assim for — que faremos? Jairo parece estar a favor dele, do contrário não lhe teria entregue sua filha amada! Ou será que nada sabe a respeito? Talvez o filho de José a ressuscitasse secretamente e
deseje entregá-la a seu pai! Este caso é muito suspeito! É ela mesma, não resta dúvida! Assistimos, entretanto, a seu enterro, assim como também a vimos morta em Capernaum! Que será, se este homem-deus realiza coisas tão impossíveis?” Agora se calam.
Eu, porém, digo, fixando-os severamente: “Então, que diz vosso coração maldoso a isto? É este milagre suficiente ou não, para vos pro- var que falei a verdade?”
Respondem os anciãos: “Não somos médicos nem farmacêuti- cos, que investigam as forças da Natureza aplicando-as em sua arte; tampouco entendemos de magia que se pode aprender do diabo, pois isto seria o maior pecado perante Deus; não sabemos, portanto, com que meios a ressuscitaste! Por isto, não nos perturbamos com provas iguais a esta nem pode isto abalar nossa fé em Moysés e nos profetas, bem como na interpretação da Escritura, autorizada pelo Céu, em favor do Templo! Existem vários magos do oriente e do Egito que vieram nos mostrar seus milagres; todos executam obras que judeu algum pode nem deve compreender, pois isto tudo é causado pelo diabo. Afirma- mos, portanto, o seguinte: Teus milagres, pertencentes à magia, não têm valor para nós e provam apenas que és um mestre íntegro na sua execução. Nunca, porém, hás de conseguir que, em vista de teus feitos, aceitemos tua doutrina, que nos é nojenta! Para nós, um médico está longe de ser um sacerdote e muito menos um profeta — e tu, em ab- soluto, o poderás ser, uma vez que te conhecemos quase há trinta anos, como também conhecemos a teu pai! Por isto, trata de abandonar a escola com teus larápios, do contrário usaremos de força!”
Diz Sarah: “Senhor, peço-Te, deixa estes miseráveis! São mais renitentes que as pedras, mais obtusos que a noite e mais egoístas que um abismo! Por duas vezes restituíste-me a vida, e para eles isto nada representa! Julgam-Te um feiticeiro sacrílego e ousam, na sua cegueira, expulsar-Te da sinagoga! Senhor, isto é demais! Vamos, vamos! A pre- sença destes miseráveis é idêntica à de Satanás!”
Digo Eu: “Minha querida Sarah, acalma-te! Ficaremos aqui o tempo que Eu quiser, pois sou o Senhor! Os poderosos da Terra já se dizem ‘senhores’ possuindo pouco poder; Eu, porém, tenho o Poder so-
bre o Céu, o inferno e toda a Terra! Sou, portanto, um Senhor Íntegro e não permito que se Me ordene! O que Eu executo, faço-o livremente, porque sou o Senhor!”
Ouvindo isto, os anciãos rasgam suas vestes, gritando: “Afasta-
-te! Pois agora ouvimos nitidamente que és um sacrílego! Executas tuas obras com ajuda de Beelzebub, querendo, em compensação, afastar os povos de Moysés e de Deus, através de tua doutrina, tanto que só nos resta apedrejar-te!”
20.MEDODOSTEMPLÁRIOSDIANTEDOJULGAMENTO ROMANO
Em todas as escolas, bem como no Templo, guardava-se o ma- terial para um possível apedrejamento. Os anciãos, fariseus e escribas, numa terrível excitação, apressam-se em apanhá-lo. Os discípulos, por sua vez, jogam-se contra eles e os ameaçam. Os outros começam a gri- tar e reagir, procurando arremessar as pedras contra Mim. Neste mes- mo instante, Fausto, Cornélius, Jairo e o velho Cirenius penetram na sala de aula.
Quando os templários irritados avistam estes grandes senhores, os quais bem conheciam, deixam cair as pedras e começam a fazer uma série de reverências respeitosas.
Jairo dirige-se rápido para junto de Mim e de sua filha, abra- ça-Me e fala em alta voz a Cirenius: “Ei-Lo, o Grande Homem dos homens, com minha filha querida, que Ele ressuscitou por duas vezes da morte completa!”
O velho Cirenius se aproxima, com lágrimas nos olhos, e diz: “Ó meu Deus e meu Senhor! Com que palavras poderei eu, criatura pobre e fraca, agradecer-Te por todas as graças que me proporcionaste?! Oh, como sou feliz por ver-Te, meu Santo Amigo! Há mais de vinte anos não tinha notícias Tuas, embora pensasse diariamente em Ti e por muitas vezes procurasse saber do Teu paradeiro!
Ah, como andei preocupado há poucos dias quando o impera- dor começou a exigir com severidade os malogrados impostos do Pon-
tus e da Ásia Menor, e eu não sabia que fim haviam levado! Como, po- rém, fiquei contente, sim, feliz, quando há três dias me foram enviados não só os ditos impostos, mas ainda uma quantidade muito maior de preciosidades em ouro, prata, pérolas e pedras preciosas, por parte dos meus sinceros amigos Fausto e Cornélius — e isto tudo unicamente pelo Teu Santo Intermédio!
Meu Senhor, meu maior Amigo Jesus! Dize-me, que devo fazer a fim de resgatar, em parte, a imensa dívida para Contigo? Se for do Teu Desejo possuir minha coroa de vice-rei, com que imensa alegria e dignidade a depositarei a Teus Santos Pés!
Realmente Senhor, Tu, minha vida, como sabes, não dou valor algum aos tesouros desta Terra; se aquilo que já expedi para Roma fosse meu, milhares de pobres obteriam auxílio! Pertencia, porém, tudo ao imperador e me esforcei por achar os impostos! Como isto teria sido possível sem Ti, sem meu querido Fausto e o irmão Cornélius? Oh, tiraste-me um peso do meu peito! Agora trata-se de recompensar-Te dentro de minhas posses! Fala, fala, Tu, maior amigo dos homens, que devo fazer?”
Durante este comovente discurso de Cirenius a Mim dirigido, aqueles que há pouco tencionavam apedrejar-Me empalidecem qual morto e tremem como varas, porque julgam que Me vingarei denun- ciando-os a Cirenius, que temem mais do que a morte; pois Ele jamais gracejava! Os juízes romanos são conhecidos como exageradamente se- veros na execução de suas sentenças e veredictos; por isto, os judeus sentiam verdadeiro pavor em presença deles, principalmente os anciãos nazarenos, fariseus e escribas, dos quais alguns eram coniventes no rou- bo dos impostos romanos.
Eu, porém, falo com a maior amabilidade a Cirenius: “Pensas, então, que o homemesqueceu o que fizeste à criança, quando teve de fugir de Herodes, de Bethlehem para o Egito? Oh, o homem está bem lembrado de tudo! Fizeste tudo sem interesse, porque Me amavas — e deveria Eu agora exigir uma recompensa qualquer? Não! Isto, nunca! Mas, como mandas sobre toda a Ásia na qualidade de representante do imperador, ordena a estes renitentes servos de Satanás que silenciem
sobre tudo que fiz aqui, caso contrário serão severamente castigados! Pois todo aquele que levantar pedras contra o seu próximo será punido com rigor!”
Diz Cirenius: “Estes miseráveis teriam ousado levantar pedras contra Ti?”
Diz Sarah: “Sim, é verdade, nobre Cirenius! Quiseram apedre- jar o Senhor porque lhes falou a verdade! Dizem-se servos de Jehovah, entretanto são ateus; consideram exclusivamente suas leis egoísticas e dominadoras, dando aos crimes mais hediondos o cunho de divino!
Quem se não deixar ludibriar pelo seu brilho falso é contido por um poder criminoso, não tendo mais liberdade neste mundo! Num confronto entre as Leis de Moysés, dos profetas e as deles, descobre-
-se com facilidade o que eu, com meus dezesseis anos, já verifiquei há muito tempo! Em verdade, quem considera os nossos profetas é deles inimigo declarado! Igual aos samaritanos é ele considerado, diariamen- te, como amaldiçoado e odiado de tal forma pelos templários que seu nome é idêntico a uma maldição!
Eu, como moça, pergunto: É isto a palavra de Deus ou o cul- to a Deus? Jesus lhes provou, claramente, que tal palavra só poderia vir do inferno, e o culto, como o deseja Satanás! Por isto querem-No apedrejar diante do povo, que, ciente de suas traficâncias, poderá redu- zir-lhes o lucro!
Nobre senhor, já por duas vezes estive no Além e sei o que minha alma vislumbrou! Vi Moysés e todos os profetas! Possuem a paz e seu maior regozijo é a época atual, que chamam de o ‘Grande Dia do Senhor’! Mas entre estes santos de Israel não vi nenhum fariseu, nenhum escriba! Por isto perguntei onde se encontravam.
Eis que apareceu um anjo luminoso e mandou que o seguisse, o que fiz. Em pouco tempo encontrávamo-nos num lugar horrivelmen- te escuro, qual noite de tempestade. Bem no fundo havia um ponto incandescente, e o anjo falou: ‘Eis o charco onde habitam os que men- cionaste!’ Fixando o olhar, vi apenas diabos, e perguntei: ‘Mensageiro do Senhor! Só vejo demônios; onde estão, pois, aqueles que procuro?’ O anjo respondeu: ‘São eles mesmos, os que vês!’
Assustei-me muito, pensando em meu pai, que é dirigente dos fariseus; mas o anjo, percebendo o que se passava comigo, falou: ‘Não te preocupes! Teu pai achará o caminho certo e serás ainda seu guia na Terra!’
Isto tudo vi e ouvi; falo, portanto, de experiência própria e não necessito aprender algo destes tolos e maus, servos de Satanás; vi e aprendi a única verdade e dela sou testemunha, pois que Jesus a ensi- na. Estes doutrinadores tenebrosos, porém, ensinam e falam a mentira perfeita! Tenho dito!”
21.CIRENIUSEOS TEMPLÁRIOS
Diz Cirenius: “Ouvistes o testemunho de uma ressuscitada con- tra vós, que vos acusa muito mais que qualquer roubo ou assassínio? Que farei convosco após esta acusação tremenda? Crucificar-vos, seria muito pouco! Vergastar-vos um dia inteiro e, em seguida, decapitar-vos, também seria um castigo muito suave! Mas já sei o que fazer e ficareis satisfeitos comigo!” Diante destas palavras de Cirenius, todos empali- decem, gritam e imploram!
Em segredo, Cirenius Me pergunta se deve, realmente, condená-
-los além do veredicto do silêncio que lhes tinha sido imposto.
Respondo: “Considera apenas o veredicto, ameaçando-os seria- mente caso não cumpram o que exigi! Depois, manda-os embora!”
Cirenius se adianta, ordena silêncio e fala: “Ouvi-me, facínoras miseráveis! Deveis unicamente a Este, a Quem quisestes apedrejar, so- mente pela verdade de que vos falou, o fato de não vos mandar enxotar para o deserto e, uma vez expostos numa rocha que dá para o abismo
vos fazer cegar! Mas, se algum de vós ousar externar sobre os fatos uma sílaba sequer, seja verbalmente ou por escrito, por gestos ou sinais, sofrerá as mais graves consequências!
Tampouco deixarei impune o conhecimento de que talvez façais sofrer e perseguir o povo, por extorsões indébitas, em virtude desta San- ta Verdade! Ensinai o povo a conhecer Deus e Suas Leis, a agir dentro delas e sereis tão bem considerados como este Homem Divino, Jesus,
que em absoluto transmite coisa nova, mas a antiquíssima Doutrina de Deus. Isto para Ele não constitui dificuldade, porquanto é, em Espírito, Aquele Mesmo que, de acordo com vossa Doutrina, transmitiu-vos as Leis através de Moysés, no Monte Sinai. Isto não é compreendido por vós; para mim, entretanto, que declarais pagão, é evidente. Não ouseis perseguir Este Santo, pois tal perseguição custar-vos-ia a vida dupla- mente: aqui, no corpo, e no Além! Compreendestes?”
Respondem todos: “Sim, nobre Senhor, e faremos tudo que exi- giste! Sabes, porém, que nós, criaturas, não somos deuses, tendo toda sorte de fraquezas; se, portanto, alguém pecar num ou noutro ponto, pedimos-te que apliques como homem um castigo humano!”
Diz Cirenius: “Os comerciantes e mercadores costumam fazer negociatas — os romanos, porém, jamais! Considerai isto e agi assim, que não necessitareis de indulgência. As criaturas só se tornam fortes e heróis da ordem através de leis rigorosas e implacáveis!
Se o soldado não tivesse leis rigorosas a seguir, seria um covarde e, quando mandado a perseguir, lutar e vencer o inimigo, relegaria seus deveres — e a proteção da pátria seria um mito! Mas, a lei prescrevendo ao militar todo passo a dar diante do inimigo, ele também o fará! Pois, não o fazendo, a morte será seu destino; caso contrário, poderá até ser um vitorioso e herói!
Eis a regra mais rigorosa de Roma: Uma lei severa fará criaturas severas e ordeiras. Por isto, não negociamos neste ponto com quem quer que seja! Agi assim e sereis livres da lei.
A Terra toda e tudo que nela existe mantêm-se pela imutabi- lidade da Vontade Divina. Se Deus negociasse com suas criaturas, que aspecto apresentaria o orbe e todos nós? Tudo cairia em frangalhos!
O mesmo se daria com um povo: se uma das leis fosse afrouxada, as outras também perderiam sua força e estabilidade, provocando em breve a ruína do governo! Portanto, persisto na mi- nha ameaça!”
A este revide enérgico do vice-rei, os anciãos e fariseus tomam uma expressão de perplexidade e um, dentre eles, diz, num êxtase do- loroso: “Ó Roma, Ó Roma! És demasiadamente severa! Jehovah! Li-
bertaste Teus filhos da prisão babilônica depois deles se penitenciarem; acaso jamais nos libertarás deste jugo mil vezes mais pesado?”
Digo Eu: “Se não vos modificardes inteiramente, não só conti- nuareis para sempre como súditos de Roma, mas também sereis por ela devorados como o cadáver pelos abutres! Deus terá paciência convosco por tempo determinado, mas depois recairá sobre vós o castigo severo, no qual sereis perseguidos até o fim do mundo. Agora, ide, e não mais nos aborreçais!”
Todos se retiram para os diversos cômodos; nós, entretanto, permanecemos na sinagoga, onde afluem muitos nazarenos, interessa- dos em ver os dignitários romanos. A fim de não sermos imprensados pelo povo, somos obrigados a subir, finalmente, nos bancos e nas mesas.
22.CURADEUMARTRÍTICO.TESTEMUNHODO NAZARENO
Ev.Matheus—Capítulo13,versículos55e 56
Borus, neste ínterim, conduz pessoalmente um artrítico, cujas mãos e pés estão inteiramente ressequidos e contorcidos, de sorte que médico algum fora capaz de curá-lo.
Borus, fazendo transportar o doente por dois homens em uma maca, diz em alta voz, diante da multidão: “A este enfermo somente Deus poderá curar! Sou um dos primeiros médicos em toda a Galileia e muitos doentes de Jerusalém e Bethlehem já curei; mas a este não me foi possível! Peço-Te, meu Santíssimo amigo Jesus, a Quem nada é impossível, que lhe dês o poder de caminhar com saúde, se tal for de Tua Vontade!”
Digo Eu: “Amigo, aqui existem muitos descrentes, o que dificul- ta tal cura! Mas, a sós, poderei curá-lo!”
Alguns entre o povo começam a cochichar: “Oh, o filho do car- pinteiro é bem esperto! Quer experimentar a cura secretamente para ver o resultado!”
Como ouço esta observação maldosa, digo: “Que sois tolos e doidos! Conheceis esta menina ao lado de Jairo? Não é sua filha, por duas vezes falecida? Quem lhe restituiu a vida? Tolos! Se o Filho do
homem tem poder para ressuscitar os mortos, certamente poderá dizer a este doente: ‘Levanta-te e caminha?!’ A fim de que vejais que tenho este Poder, ordeno-te, tu que és artrítico, que te levantes e caminhes com saúde!”
No mesmo instante, um fogo atravessa o corpo do entrevado, que se torna completamente são, levantando-se em seguida e cami- nhando alegremente. Seu corpo havia se enrijecido de músculos, dan- do-lhe um aspecto remoçado. Cheio de admiração, ele diz, após alguns instantes: “Isto só a Deus é possível! Sem remédios, sem passes, uni- camente pela palavra, conseguir esta cura — jamais alguém assistira! Senhor Jesus, confesso e acredito plenamente que és o Filho de Deus ou Deus Mesmo Encarnado! Tenho vontade de adorar-Te.”
Digo Eu: “Deixa isto e não faças alarido por tal! Guarda apenas o que sentes em teu coração! Tempo virá em que necessitarás desta ele- vação de sentimentos — e então poderás orar ao Pai no Céu, que deu, somente a Seu Filho, tal Poder!” A estas palavras, o curado silencia.
O povo, entretanto, apavora-se e diz: “Donde lhe vem tal sabe- doria, tais atos e tal força? Não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não é Maria? E seus irmãos, Jacob, Joses, Simão e Judas? (Matheus 13, 55) E suas irmãs não estão todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isto?” (Matheus 13, 56)
Enquanto assim estão perguntando e conjeturando, muitos se escandalizam, dizendo: “Isto é para enlouquecer! Nossos filhos es- tudaram em Jerusalém, angariando conhecimentos em várias artes e ciências; além disso, cursaram a escola, ainda existente, dos profetas, aperfeiçoando-se na interpretação dos hieróglifos egípcios! E este car- pinteiro, que, como se sabe, jamais frequentou uma escola, e que vi- mos trabalhar com plaina e serrote, confunde-nos e a nossos filhos, de maneira a causar admiração às mais altas personagens governamentais, de sorte que quase o consideram um deus! Isto é realmente detestável! Ele é tudo em tudo, fala todos os idiomas, é um profeta non plus ultra , fazendo milagres que haveriam de gloriar qualquer deus; nossos filhos, porém, e nós mesmos, que também aprendemos algo, damos a impres- são de não poder contar até dez!”
Diz um outro grupo: “Onde teria aprendido algo? Descon- tando alguns meses, sempre esteve em casa, trabalhando com seu pai e seus irmãos; nunca percebemos nele algo de excepcional! Costumava ser sisudo e, quando se lhe perguntava algo, às vezes não respondia ou, então, mui parcamente, de tal forma que era considerado tolo — e ago- ra se apresenta como homem que atrai as vistas de todo o mundo! Isto é por demais aborrecido!
Que, finalmente, passou-se com ele? Sabemos que durante sua infância mostrou certas faculdades mágicas. Seus pais acreditavam que viesse a ser um dia algo de importante; entretanto, tais faculda- des promissoras se perderam no decorrer dos anos. Jamais frequentou uma escola e assim tornou-se um simples carpinteiro. Por várias vezes perguntei ao velho José sobre a atitude de Jesus em casa, e sua resposta era: ‘Ele, em casa, é mais calado do que em qualquer outra parte!’ Seus irmãos diziam o mesmo! Assim, donde lhe vem o dom da palavra?”
23.ADMOESTAÇÃOFEITAAOS NAZARENOS
Ev.Matheus—Capítulo13,versículo 57
Como, todavia, pelos Meus Atos, Eu tivesse dado provas de um profeta, um velho nazareno conta o seguinte: “Certa feita ouvi um ba- bilônio que viajava por estas zonas — fato comum entre esse povo, que se exibe como mágico e quiromante — predizer o seguinte ao meu vizinho:
‘Nazareth, entre tuas muralhas habita um homem que desco- nheces! É calado e compenetrado; mas, quando chegar o Seu Tempo, as montanhas, os ventos e o mar obedecer-Lhe-ão, e a morte diante Dele estremecerá, impossibilitada de impor-Lhe seu poder! O povo desta cidade escandalizar-se-á por isto; mas ninguém poderá enfrentar Sua Força! Quando, porém, quiser deixar este mundo para subir ao Céu, permitirá que Seus inimigos O matem por três dias; no terceiro, entre- tanto, afastará de Si o poder da morte, ressuscitando em toda pujança para, em seguida, ascender ao Céu com o Seu Corpo! Ai daqueles que O perseguirem; seu destino será um julgamento pavoroso, jamais visto
sobre esta Terra! Ai dos judeus orgulhosos! Não terão pátria até o fim dos tempos, perambulando sobre este orbe qual caça maldita no deser- to. Prepararão um alimento intragável de espinhos, cardos e abrolhos, a fim de saciar a fome, morrendo em consequência deste alimento!’
Eis as palavras de tal babilônio, ditas há três anos; é realmente es- tranho que se apresente, neste Jesus, tal homem em nossa cidade, cujas palavras e ações confirmam tudo que acabo de narrar! Mas que fazer? Se um fato já se realizou, o outro, ou seja o julgamento, também virá! Por isto, sou de opinião que O deixemos agir, pois será difícil desafiá-Lo! Quem ressuscita mortos terá poder para algo mais! Será impossível ven- cer a Quem as montanhas, os ventos e mares respeitam! Por isto, repito, deixemo-Lo, já que, como vedes, várias centenas de pessoas seguem Sua Doutrina de corpo e alma, considerando-O o Messias Prometido!”
Estas palavras do velho nazareno a muitos ainda mais aborre- cem; no entanto, ninguém se atreve a dizer palavra.
Eu, todavia, observo que nada alcançaria com este povo, sem fé e confiança, e digo que todos Me escutem: “Por que vos aborreceis? Não ouvistes que sempre se diz: Em parte alguma um profeta vale tão pouco quanto em sua pátria e sua casa?! (Matheus 13, 57) Assim sendo, por que então vos aborreceis? Quereis ser espertos: Eu, porém, vos digo que sois cegos, surdos e tolos! Se Eu sou Quem sou, provando isto por palavras e Ações, por que não Me acreditais? Acaso é preciso que um profeta seja do estrangeiro para merecer crédito? Ou seu lugar de nasci- mento deve ser desconhecido, bem como seu idioma?
Se tivesse vindo da Pérsia ou da Índia, fazendo milagres que ja- mais alguém houvesse conseguido, ajoelhar-vos-íeis, gritando: ‘Deus visitou-nos, que estamos cheios de pecados! Quem nos protegerá de Sua Ira?’ Mas, como sou o por vós conhecido filho de José, perguntais: ‘Donde lhe vem isto?’ Cegos, tolos! Acaso este solo aqui não é, tanto quanto na Pérsia ou na Índia, o solo de Deus? Não brilha aqui o mes- mo Sol e os frutos daqui como de lá não crescem e amadurecem pelo constante Poder Divino? Lua e estrelas, Sol e Terra — serão aqui, talvez, menos divinos? Se faço milagres diante de vossos olhos, impossíveis a um persa ou hindu, por que então não Me será possível angariar vosso
respeito e fé? Realmente, se Me dirigisse aos gregos e romanos, eles fa- riam templos e altares em Minha Honra!
Vós, entretanto, perguntais pelo simples motivo de ter nascido em vosso meio: ‘Donde foi buscar este carpinteiro desajeitado o dom para estes milagres?’ Esperai um pouco! Este palerma deixou de sê-Lo, fazendo-vos grandes benefícios — primeiro como palerma, e agora como Mestre e Salvador; no futuro, porém, deixará de fazê-los!” Estas palavras irritam mais ainda os fariseus, que deixam a escola.
24.DISCURSODECIRENIUSARESPEITODOS NAZARENOS
Diz Cirenius: “Senhor e Mestre, pelo que vejo, trata-se aqui mais de ignorância do que de maldade! Pois os nazarenos, com exceção de alguns, são conhecidos como tolos que custam a compreender algo. Dotados de pouco ensino, nenhuma experiência, geralmente pobres — eis os nazarenos! Normalmente vivem da lavoura e criação de animais, e a Jerusalém vão uma vez por ano, onde nada aprendem, ao contrário, perdem intelectualmente. Onde, portanto, deveriam buscar maior ca- pacidade intelectual, a fim de poderem julgar Tuas Palavras e Ações? Além disso, as criaturas tolas costumam também ser invejosas, e este é o motivo do seu aborrecimento: seus filhos, embora frequentassem todos os colégios possíveis, não podem concorrer com Tua Sabedoria, Conhecimento e Ação! Assim, vejo apenas uma imensa tolice em seu proceder; deixemo-los!
Também não temo um assalto à Tua Pessoa, pois, se tens Po- der suficiente para pôr em fuga um exército bem adestrado — quan- to mais fácil não Te será enfrentar estes tolos! Além do mais, tens a Teu favor a nossa presença como dignitários romanos sobre toda a Ásia, e não Te faltará proteção! Se, por acaso, fores perseguido, sabe- rás onde ficam as cidades de Sidon e Tyro! Vai para lá e terão fim as perseguições!
Estes moradores de Nazareth são quase destituídos de qualquer educação, e a prova é que não cumprimentaram nem a mim, nem a ne- nhum outro representante de Roma! Vieram aqui por mera curiosida-
de, portando-se qual burros e carneiros, julgando-se donos do mundo! Devido a esta estultice, não os posso acusar de pecado e penso que Tu, ó Senhor e Mestre, conhecendo-os mil vezes melhor, também não os culparás!”
Digo Eu: “Disto podes estar certo! Mas Me empenho que reco- nheçam em seus corações Quem Eu sou; pois disto depende sua Vida Eterna! Não Me conhecendo, também não o farão com Aquele que Me enviou ao mundo e muito menos, que Eu e Aquele somos Um Ser Uno! Enquanto isto não fizerem, não Me possuirão em seus corações, tam- pouco a Vida Eterna e, por conseguinte — são mortos em espírito! Eu Mesmo sou esta Vida Eterna e a Minha Doutrina é o caminho para lá!
Quem, portanto, não aceitar a Mim e a Minha Doutrina, deixa de aceitar a Vida Eterna, dando preferência à morte.
Todavia, não Me é possível forçar alguém para a fé, pois toda co- ação é um julgamento para o espírito, que lhe traria tanto a morte como o faria a incredulidade; assim é difícil, até para Deus, agir de modo tal que a criatura não seja prejudicada psiquicamente! Qual o meio para fazer despertar o seu espírito?
Não aceitando Meu Verbo Vivificado, também não aceita a Mim como única Fonte de Vida em todo o Infinito! Pergunta a ti mes- mo, donde irás buscar a Vida da qual sou Portador?”
Diz Cirenius: “Sim, compreendo tudo perfeitamente, pois já Te conheço há trinta anos; mas deixemos isto de parte; saberei como levar a fé a esta gente! Vamos, portanto, ver onde podemos almoçar, pois já é bem tarde!” Saímos da escola e da cidade, dirigindo-nos à Minha casa, onde nos aguarda um bom almoço. Passamos este dia alegres e bem dispostos.
Ev.Matheus—Capítulo13,versículo 58
Fazem-se muitos comentários a respeito dos acontecimentos em Ostracina, no Egito, onde passei Minha Infância, e até Maria toma parte, com satisfação, nas conversas do vice-rei da Ásia, título que hon- rava Cirenius.
Jacob, filho de José, que também sabe escrever, apanha um rolo bem volumoso do seu armário, entregando-o a Cirenius com as seguintes pala- vras: “Nobre senhor, anotei aqui todos os acontecimentos desde o Nasci- mento até aos quinze anos de Jesus. Suas Ações constam até aos doze anos, pois dali em diante perdeu Seu Dom Divino. Por isto, nada consta nos treze, catorze e quinze anos, pois, além de algumas Sábias Palavras, nada de maior sucedeu; com isto, o relato de Sua Adolescência está terminado.
Existe, no entanto, além destas minhas anotações, uma quan- tidade de obras falsas, certamente de velhas mulheres de pescadores; peço, portanto, a todos, considerarem exclusivamente as minhas como verdadeiras! Se, com isto, posso te proporcionar uma alegria, peço-te aceitares este pequeno trabalho como recompensa de minha parte por todos os benefícios que nos prestaste!”
Cirenius aceita os pergaminhos com muita satisfação, folheia-os e, em seguida, passa a ler vários trechos, o que é uma alegria para todos, principalmente para a gentil Sarah e sua querida mãe.
Após alguns minutos, Sarah exclama, com os olhos rasos de lá- grimas: “Que mais seria preciso para constatar o que já reconheci desde minha primeira cura?! Meu Deus! Tais Fatos, tais Milagres — e nada de fé, nem compreensão, nem conhecimento do Divino! Senhor, como pobre e fraca pecadora, peço-Te: Não mais faças um milagre sequer em Nazareth! Este povo não o merece! Confesso que, se tivesse poder para tal, faria que estas criaturas passassem pela miséria e pelo açoite, até que reconhecessem o quanto pecaram por não terem reconhecido esta Santa Época de Tua Vinda!”
Digo-lhe Eu: “Meu coração, não te aborreças por isto! Conheço-
-os e a sua incredulidade; e, como é de teu desejo, não mais darei provas
do Meu Poder (Matheus 13, 58). Tu, Meu escrivão Matheus, anotarás isto, a fim de que o mundo venha a saber da dureza dos corações dos Meus conterrâneos em vida! Contudo, ficaremos mais alguns dias, a fim de que tenham motivo para o seu aborrecimento, tornando-se as- sim maduros para o reino de Satanás!”
Diz Cirenius: “Lastimo imensamente não poder permanecer aqui além de um dia, em virtude de meus negócios; entretanto, poden- do Te ser útil em qualquer coisa, em vista deste povo miserável, espero Tuas Ordens! Se o quiseres, farei açoitar a povoação toda!”
Digo Eu: “Deixemos isto! Já estão castigados pelo fato de não Me acreditarem! Sua incredulidade será o juiz implacável! Em verdade, digo-te: é mais fácil um impudico, um adúltero e um ladrão entrarem no Céu do que estes incrédulos! Digo mais, não que lhes seja impossível acreditar; não o querem, a fim de poderem pecar mais livremente! Pois, aceitando a Minha Doutrina, sua consciência os acusaria de suas faltas; por isto, preferem não crer, procurando através de discussões sofísticas duvidar de toda possível verdade, para viver uma vida voluptuosa! Ami- go, teria muita coisa a dizer; mas é melhor calar! Deixemo-los como são; o que é do diabo, dificilmente pode se tornar divino pelo cami- nho natural!”
26.ENSINAMENTOSPARA LEGISLADORES
Diz Cirenius: “É bom saber isto! Mas, como não aceitam Tua Doutrina, tratarei de uma outra! Farei publicar, por Fausto e seus ser- vos, certas ordens imperiais permitidas há meio ano; talvez o ‘evange- lho’ de Roma lhes incuta mais respeito! Esta ordem contém cem pontos como leis, sancionadas pela cruz e pelo açoite! A poligamia é sustada, a impudicícia castigada com o açoite; o adultério, roubo e fraude, com a crucificação; o contrabando, com o açoite e mais cem libras de prata, e uma quantidade de leis menos severas, mas cujo não cumprimento tem como consequência o açoite e cem libras de prata. As viagens sem passaporte são proibidas; o passaporte é conseguido com o pagamento de cem libras! Sim, isto eu farei, manobrando estas leis com todo o
rigor para as cidades na Galileia — e quero ver se este povo não tem consciência!”
Digo Eu: “Isto compete ao teu âmbito governamental, e não te poderei dizer ‘sim’ ou ‘não’. Faze o que quiseres; mas não nos dificultes as viagens pelo país!”
Diz Cirenius: “Em absoluto! Artistas, médicos, sábios e profes- sores são excluídos destas leis! Seus testemunhos, suas obras e prédicas servem de passaporte e ninguém os poderá impedir em suas funções, sob pena de morte. Dar-Te-ei um diploma que Te auxiliará!”
Digo Eu: “Alegro-Me sempre de tua boa vontade; mesmo assim, poupa-te este trabalho! Enquanto quiser empreender Minhas viagens, não haverá poder humano que Me possa impedir. No dia em que Eu Me quiser sacrificar em benefício da Humanidade, ninguém Me pode- rá proteger; mesmo oferecendo-Me proteção, não a aceitaria! Porque, Meu amigo, Aquele, a Quem Céus e Terra obedecem, forçosamente é mais poderoso que todas as criaturas deste orbe, que mal Me serve para escabelo! Portanto, faze o que quiseres, que não adiantaria muito! Po- des elaborar uma lei da maneira mais perfeita: verás em breve com que habilidade os homens a conseguem contornar — e nada poderás fazer.
As Leis de Deus, dadas ao povo por Moysés, são perfeitas; mas os homens conseguiram modificá-las habilidosamente em seu próprio benefício, de sorte que não se perturbam em transgredi-las, uma vez que se justificam com seus próprios estatutos.
Por isto, faze o que quiseres, que não Me oporei; mas também te digo: Quanto maior o número de leis, maior o dos criminosos, para os quais, com o tempo, vossas cruzes e açoites não serão su- ficientes!”
Diz Cirenius: “Tudo que dizes é justo e verdadeiro, mas, a fim de orientar-me, pergunto: quais os meios aplicáveis à teimosia das cria- turas que, iguais a esses nazarenos, não acreditam em Deus ou numa revelação do Alto, agindo contrariamente aos Mandamentos Divinos?! Deverão viver sem as severas leis do mundo, para que possam usufruir uma vida voluptuosa, agindo entre si e com seu próximo de maneira mais brutal que os animais selvagens?! Sou de opinião que tais bestas
humanas só poderão retornar à ordem e à compreensão de Deus através de leis vigorosas!”
Digo Eu: “Não resta dúvida; pois não existe outro caminho pos- sível e imaginável que não seja o imperativo das leis mundanas! Entre- tanto, depende muito de seu caráter.
Para este fim, é necessário um conhecimento profundo da natu- reza humana, considerando a verdadeira razão que levou a Humanida- de à perversão; do contrário, o legislador assemelha-se ao médico que tenciona curar todas as doenças com apenas umremédio. Não observa ele que as diversas enfermidades têm suas diferentes causas. Tal médico talvez consiga curar um ou outro doente, para o qual seu remédio foi adequado. Centenas de outros, entretanto, cujo mal é de origem diver- sa, não somente deixam de melhorar, mas pioram ou talvez até morram!
Se, portanto, torna-se difícil curar o corpo visível e pal- pável, quanto mais o não será determinar o verdadeiro remédio para uma alma!
A lei é um remédio quando acompanhada por um ensinamen- to justo que lhe explique o motivo; mas considera que:
Ora defrontas com uma alma enraivecida; ora, com outra cheia de pavor; talvez, ainda, com uma terceira, intrigante ou invejosa, ava- renta ou simuladora. Mais além, deparas com uma criatura perspicaz, ao lado de uma ociosa. Numa casa habitam quatro almas humildes, noutra, cinco renitentes — e assim, entre milhares encontras as mais diversas tendências, fraquezas e paixões.
Agora pretendes dar a estes múltiplos caracteres uma lei em comum; mas qual o resultado? O medroso se desesperará, o enraivecido pensará em vingança, o ocioso continuará o mesmo e o pesquisador perderá toda coragem, desistindo de seu trabalho; o avarento se tornará mais mesquinho, o orgulhoso se juntará ao raivoso e o intelectual fará um pacto com ambos!
Considera estas e mais outras consequências desastrosas que surgiriam da aplicação de uma lei tola, e reconhecerás que, se bem que seja necessária tal ordem, imprescindível se torna um minucioso exame para verificar se condiz com todos os caracteres!
Assim não sendo, uma lei jamais deverá ser sancionada, por- quanto só prejudicará.
Deus, o Sábio Criador, só deu Dez Mandamentos, adequados para todos os males psíquicos e aplicáveis por todas as criaturas. Assim, como pode um imperador pagão instituir cem leis de uma só vez, para a salvação da Humanidade?”
27.PREJUÍZOPARAAALMAATRAVÉSDELEIS HUMANAS
(O Senhor): “Digo-te: Enquanto o povo judaico se manteve sob a direção dos juízes, que consideravam unicamente as Leis Divinas, a vida que levou era justa, salvo pequenas exceções. Quando, porém, teve oportunidade de observar a pompa dos reis pagãos, seus suntuosos palácios e como seus povos diante deles se curvavam no pó, também exigiu um rei dado por Deus, pois se julgava o povo mais poderoso do mundo. Deus, entretanto, não quis atendê-lo em seu desejo tolo, ad- vertindo-lhe e mostrando as consequências nocivas que deveria esperar sob o domínio dum soberano. Mas os profetas incumbidos desta tarefa pregavam a ouvidos surdos: o povo queria, a todo preço, um monarca.
E Deus lhe deu na pessoa de Saul o primeiro rei, ungido pelo Seu velho e fiel servo Samuel. Em breve decretou Saul leis mui severas, que provocaram a queda dos judeus até à atual perversão.
A quem cabe a culpa disto? Vê, às leis inapropriadas, feitas pelo homem que não conhece sua própria natureza e, muito menos, a de seu próximo, aniquilando-lhe a vida da alma.
Reflete um pouco no efeito que um palrador conseguisse em querer consertar um mecanismo artisticamente trabalhado, que fun- cionou por certo tempo, correspondendo à idealização do seu inventor, mas um belo dia viesse a parar! Qual seria a consequência de suas mãos desajeitadas? O prejuízo não seria maior do que o benefício, pois que ele nada entendia do mecanismo? Talvez até conseguisse estragá-lo por completo, de sorte que nem o próprio idealizador o pudesse reparar!
Se tal coisa pode acontecer com um simples mecanismo, cujas partes internas são visíveis e palpáveis, quanto mais não se dará com a
criatura — que em todas as suas partículas é o mecanismo vital mais artístico e sabiamente construído, de cuja função total só Deus possui o máximo conhecimento e compreensão — se um legislador ignorante e orgulhoso tenta melhorá-la através de leis contraproducentes e inúteis, sem possuir o mais leve vislumbre dum conhecimento que lhe dê, ape- nas, a noção de fazer crescer um cabelo?!
Por isto, Meu querido amigo Cirenius, desiste das cem mencio- nadas leis; pois não conseguirias melhorar uma pessoa sequer! Aplica as Leis Divinas, que conseguirás fazer, das máquinas humanas, criaturas verdadeiras.
Uma vez isto conseguido, expõe-lhes as necessidades do Estado, e elas, com a verdadeira compreensão, farão mais do que escravas de leis severas.
Digo-te: somente aquilo que o homem fizer de livre vontade, dentro de uma compreensão bem formada, é certo e terá um ou outro benefício; enquanto todo trabalho e ato forçados não valem um ceitil. Pois, neste caso, somente tomarão parte ira e vingança contra o legisla- dor, que jamais abençoarão as obras.
Se tu, caro Cirenius, refletires um pouco sobre Minhas Palavras, confessarás que falo unicamente a verdade!”
Diz Cirenius: “Divino e nobilíssimo amigo, não é preciso; compreendo tudo e farei o que disseste. Sancionarei novamente a lei mosaica e saberei levar o povo a agir dentro dela! Se fosse de Tua Von- tade, faria o mesmo na Grécia, com Teu Auxílio! Para isto, também não me faltariam motivos políticos, pois é sabido que existem constantes divergências entre judeus e gregos em virtude da crença diversa. Dão-se sérios atritos em consequência disto!
Se eu, entretanto, der aos gregos a Lei Divina como obriga- tória, sancionando-a, estes atritos terminarão. Senhor e Mestre, farei bem, agindo assim? Em caso afirmativo, peço-Te que me digas, através de Tua Imensa Sabedoria, como agir para conseguir êxito completo!”
Digo Eu: “Amigo, tua vontade é boa, mas tua carne é fraca. Tua boa intenção terá efeito no decorrer de um século e poderás fazer mui- tos benefícios para teu povo — mas resguarda-te, em assuntos espiri- tuais, do imperativo romano, que prejudica em vez de beneficiar. Todo imperativo é uma obrigação, não admitindo a liberdade, único campo fértil no qual a semente da Vida germina e frutifica!
Se alimentares um pássaro recém-nascido a fim de que em breve possa levantar voo, mas, ao mesmo tempo, lhe cortares as asas, dize-Me: qual o benefício do alimento, por melhor que seja? Ele vegetará, sem poder fazer uso de suas asas, enquanto as cortares.
O mesmo acontece com o espírito do homem, se o imperativo da lei lhe corta as asas do conhecimento livre! O espírito sem liberdade de ação já é morto, porquanto lhe falta o que constitui sua vida intrínseca.
O prejuízo será muito menor se deres centenas de leis para a vida da criatura, compelindo-a a uma obrigação, do que se sancionares uma Lei Divina.
O que é do espírito precisa se manter dentro da liberdade, deter- minando à própria criatura a sua ação e, com isto, o possível julgamen- to. Só assim o espírito alcançará a perfeição na vida.
O livre conhecimento do bem e da verdade é a luz da vida do espírito, donde este determina as leis que com ele condizem. Tais leis são livres e eternamente aplicáveis para uma vida independente. A von- tade do espírito dentro do conhecimento da verdade é a lei espontânea, e a eterna necessidade de agir dentro desta vontade representa a eterna sanção, pela qual espírito nenhum poderá agir doutra maneira.
Vê, eis também a Ordem Divina, que determina a Si Mesma, porquanto Deus não tem legislador acima de Si.
A Libérrima Vontade de Deus, portanto, determina dentro de Si a Lei, de acordo com os perfeitos Conhecimentos Eternos, sancionan- do-A pela própria necessidade. Eis a causa de todas as coisas e sua con- sistência imprescindível, enquanto esta for necessária para a formação e fixação e, finalmente, completa independência do espírito.
O espírito do homem, porém, deve se tornar tão perfeito, em si e por si, como o Espírito de Deus; do contrário, seria a morte de sua individualidade.
A fim de que o espírito do homem possa isto conseguir, é pre- ciso que tenha oportunidades dentro do tempo, assim como o Espírito de Deus Se formou, de eternidades, por Si Mesmo!
Vê, teria o Poder necessário dentro de Mim para obrigar todas as criaturas a agirem estritamente de acordo com qualquer lei, de sorte que não pudessem fugir desta coação. Mas, neste caso, o homem deixa- ria de ser homem, igualando-se a um irracional. Executaria seu trabalho numa precisão única — mas este trabalho seria idêntico ao das abelhas.
Caso tivesses o ensejo de querer educar seres irracionais para algo de mais elevado, dentro da tua compreensão, terias tão pouco êxito como aquele que quisesse ensinar as abelhas a construírem suas casas de maneira mais apropriada.
Por isto, não deves considerar a inclinação humana para o pe- cado tão vil e criminosa; pois, sem a capacidade de poder agir contra as leis, o homem seria um animal!
Digo-te: o pecado dá ao homem o testemunho de ser ele ho- mem; pois, do contrário, seria um irracional!”
29.BÊNÇÃODAEVOLUÇÃO INDEPENDENTE
(O Senhor): “É bom e justo castigar os pecadores, quando se desviaram completamente daquela ordem que Deus Mesmo estabele- ceu para a obtenção certa e rápida da bem-aventurança; mas ninguém deve ser impedido, através de uma lei férrea, da possibilidade de come- ter um pecado. Em verdade te digo: Prefiro um pecador que se peniten- cia do que noventa e nove justos na medida da lei, jamais necessitando de penitência. O pecador regenerado é um homem perfeito, enquanto os outros o são apenas em parte!
Isto não quer dizer que um pecador renitente seja mais agradável a Meus Olhos do que um justo, porquanto a permanência no vício o iguala ao animal que leva uma vida imunda dentro de seus próprios ins-
tintos. Trata-se de um viciado que reconhece em si o mal por ter agido contra a lei, começando a se modificar em uma criatura que passou por todas as vicissitudes.
Tal espírito terá capacidade para grandes realizações no Meu Reino, enquanto o outro, que nunca se desviou um palmo da lei de pa- vor da mesma, tornou-se uma máquina, reduzindo sua própria vontade tanto física como espiritualmente.
Toma duma pedra e joga-a para o ar! De acordo com a lei exis- tente tanto nela como na Terra, cairá em breve. Deve a pedra ser louvada por ter obedecido estritamente à lei? Podes conseguir muita coisa com uma pedra quando se tratar de formar uma base sólida; agora, propor- ciona-lhe uma atividade livre, que ela jamais abandonará sua inércia!
Por isto, não deves querer fazer pedras dos homens através de leis imperativas, mas educá-los dentro de sua liberdade — e terás agido plenamente dentro da Ordem Divina.
Vê, se as criaturas de destaque não fossem tão ociosas — com raras exceções — em pouco tempo verificariam que o homem, conse- guindo um certo grau de educação, jamais se conformará com a mono- tonia animal. Já não usará mais palha e barro para a construção de seu casebre, mas talhará as pedras e fará tijolos, construindo uma mansão com um muro cerrado e munido de torres, dentro das quais poderá vislumbrar ao longe os inimigos.
Assim, mil pessoas de certa cultura construirão mil casas, uma diferente da outra, tanto na forma quanto na decoração interna; em compensação, jamais verás uma diferença nos ninhos dos pássaros e nos leitos dos animais! Observa o ninho da andorinha, do pardal, analisa o tecer da aranha, a célula da abelha e outros tantos produtos e obras dos animais — e não verás uma tendência para melhor ou pior! Vê, no entanto, as construções do homem: que variabilidade quase infinita não descobrirás ali! Entretanto, são sempre as mesmas criaturas que conseguem isto com muito esforço!
Disto se deduzirá com facilidade que Deus, dando ao homem um espírito semelhante ao Seu, não o criou para que se animalizasse, mas para alcançar a Sua completa e livre semelhança!”
(O Senhor): “Se o homem, portanto, foi criado por Deus para esta tarefa máxima — sem distinção de sexo, cor e posição social — ja- mais seu espírito poderá ser sujeito a uma lei categórica. Toda lei deve ser dada como um dever, e o castigo justo só deve ser aplicado em oponentes maldosos, considerando sempre a melhoria da criatura, de tal forma que a punição não seja arbitrária, mas possa ser considera- da como consequência inevitável da lei não aplicada. Assim, o espírito do homem chegará a conjeturar independentemente, aceitando a lei e agindo dentro dela. Uma punição arbitrária sempre exaspera e revolta a alma, tornando-a diabólica; seu desejo de vingança não se apagará até que consiga este intuito, aqui ou no Além, o que lhe é permitido, por- quanto nunca poderia melhorar no inferno do próprio coração.
O legislador e punidor jamais deverá esquecer que o espírito do homem, bom ou mau, é eterno! Enquanto vivo, podes te defen- der e afugentá-lo, se te persegue; uma vez fora do corpo, capaz de se aproximar de ti de mil diversas maneiras para te prejudicar a cada passo, sem que o possas ver e perceber — dize-Me: com que armas o enfrentarás?
Agora te digo: tua grande desdita, que, sem Minha Ajuda, teria te alquebrado, deves exclusivamente àqueles espíritos que se tornaram teus inimigos imperdoáveis em virtude de manteres tão severamente as leis romanas. Aceita este Meu Ensinamento e te tornarás um bom tra- balhador na Vinha de Deus, pois não te faltam poder, meios e uma boa vontade equilibrada. Acabas de receber aquilo que te faltava; aplica-o fielmente, e a coroa de frutos benditos será o teu prêmio!”
Diz Cirenius, comovido ante a Sabedoria prática do Meu En- sinamento: “Ó Tu, meu santíssimo, primeiro e maior amigo, Mestre e Deus do meu coração! Agora estou bem a par de tudo e muitos fatos de minha vida surgem diante de meus olhos; reconheço que eu mesmo, apesar de toda a boa vontade, pequei muito mais contra a Ordem Divi- na do que aqueles que por mim foram julgados num excesso de justiça. Como livrar-me destes meus grandes pecados, ó Senhor?”
Digo Eu: “Amigo, acalma-te! Para Deus tudo é possível, e Eu já remediei tudo — do contrário, não estarias a Meu lado!”
31.JAIROFALASOBREOSEFEITOSDOS MILAGRES
Diz, em seguida, Jairo: “É verdade, ó poderoso Cirenius, tens plena razão em assegurares que estás bem informado; pois todos nós reconhecemos a verdade imutável, a razão das coisas e como o homem deveria agir. Mas que fazer? A Humanidade é completamente viciada, não mais entende uma doutrina livre e dócil, e seria — falando seria- mente — perder tempo o querer melhorá-la! Portanto, por um meio suave nada se conseguirá, pelo menos com os judeus!
Ensinar o povo através de milagres trará dois prejuízos: primei- ro, que o homem levado a crer através deles torna-se dependente e to- lhido. Acredita, não por livre convicção, e sim por medo dum possível castigo, agindo dentro deste complexo. Se, no entanto, alguém conse- guir persuadi-lo de que tal milagre não é possível, ou talvez seja uma fraude — o outro nem mais cogita do Verbo, nem da fé! Segundo: o milagre, sendo relatado a posteriores gerações, perde seu efeito e passa a ser um conto de fadas.
Se fosse possível dar ao milagre efeito permanente, ou se os dou- trinadores possuíssem este dom, em pouco a Humanidade o classifi- caria como aparição natural. Se fosse efetuado constantemente pelos doutrinadores, tornar-se-ia algo corriqueiro como os magos, os quais, contudo, não posso imitar.
Não é milagre tudo que nos rodeia? O que vemos, ouvimos, sen- timos e apreciamos — significa milagre! Mas como é fato permanente, dentro duma ordem preestabelecida, perdeu o cunho miraculoso, não prendendo a atenção da criatura. Somente os naturalistas se ocupam cientificamente com isto. Esforçam-se até em ouvir, se possível, o capim crescer. Embora nada disto consigam, dão a entender que o sabem. Mas como não conseguem, não obstante toda a sua sapiência, fazer nascer um pé de capim, procuram aprender certas magias, enganando os cegos e fazendo rir os sabidos.
Portanto, está confirmado que os milagres não melhoram a Hu- manidade: despertam na maioria a curiosidade, não conseguindo soltar as algemas do coração, não obstante todo pavor a que é submetida a alma — fator imprescindível para sua libertação — e a criatura con- tinua a mesma, perguntando ingenuamente: ‘Como é possível a este homem milagroso conseguir tal coisa?’ Os mais tolos, no entanto, só veem nisto a obra dos demônios.
Assim sendo, julgo razoável perguntar: Senhor, que fazer como doutrinador? O milagre prejudica, a lei severa também! E, para o en- sinamento livre pela Sabedoria Divina, poucos se prestam! Como nos livrarmos deste dilema? Como navegar entre a Szylla e a Charibdis, sem ser-se tragado por uma ou outra?”
32.TENDÊNCIASBÁSICASDOSER DIVINO
Digo Eu: “Meu amigo, julgaste bem; no entanto, esqueceste que para Deus muita coisa é possível, embora para as criaturas seja inacredi- tável. Observa Meus discípulos: poucos dentre eles possuem instrução. Eu os despertei primeiramente pela Palavra, atraindo-os a Mim, e em seguida os fiz sentir o mencionado poder do Verbo Divino. Um milagre efetuado após a palavra pura não mais é um julgamento, e sim uma confirmação daquela.
Não quero, no entanto, dar provas do poder do milagre, mas da luz da palavra, e afirmo: Quem viver inteiramente de acordo com o Meu Verbo sentirá a convicção viva de que Minhas Palavras não são humanas, mas Divinas!
Quem, em verdade, não receber em seu coração a prova ora pro- nunciada não obterá benefício com provas materiais! Minhas Palavras são Luz, Verdade e Vida!
A pessoa que ouve Meu Verbo, aceita-O e vive de acordo com ele, aceitou-Me dentro de seu coração. E quem Me recebe, tê-lo-á feito com Aquele que Me enviou ao mundo e, no entanto, está integrado Comigo! O que Eu quero, também Ele o quer! Ele não sendo Outro que Eu, nem Eu Outro que Ele e até mesmo o envoltório de nós Am-
bos! A criatura, porém, que igual a Mim, acolhe o Amor e a Sabedoria, é identificada Comigo e com Aquele que Me enviou a este mundo para Salvação e Bem-aventurança de todos que acreditarem no Filho do ho- mem! Compreendeis isto?”
Respondem alguns: “Sim, Senhor!” Outros, porém, dizem: “Se- nhor, eis um ensinamento difícil, que não compreendemos. Como é possível que Tu e o Teu Verbo sejais uma só coisa?”
Digo Eu: “Se não compreenderdes isto, embora vos ilumine como a luz do meio-dia, como ireis assimilar coisas mais grandiosas? Não entendendo o que seja do mundo, como percebereis aquilo que é celestial? — O que e Quem é o Pai? Ouvi-Me: O Pai é o Amor Eterno em Deus! — O que e Quem é o Filho? O Filho é aquilo que emana da chama do Amor — a Luz, como sendo a Sabedoria em Deus! Assim como o Amor e a Sabedoria estão unidos, Pai e Filho são Unos!
Acaso existe algum de vós que não possua certo grau de amor e um idêntico de inteligência? É ele, com isto, um duplo ser? Não é suficiente uma lâmpada com uma forte chama, semelhante ao fogo, para iluminar um quarto escuro? Ou seria necessário um incêndio em todo o quarto? A luz, por acaso, não emana da chama? Assim sendo, é ela outra coisa do que a chama iluminadora? Ó cegos que sois! Coisas tão terrenas não podeis compreender, que será com a assimilação de assuntos celestes?
Quem, por isto, aborrecer-se Comigo, vá para casa, fazendo e crendo o que lhe parecer justo! Pois no Além cada um viverá de acordo com sua fé, e as ações que praticou através do seu amor serão seus juízes!
E isto porque jamais alguém será julgado por Mim; o próprio amor
de cada criatura será seu juiz — de acordo com que acabo de vos falar!”
Após esta explicação, os que não Me haviam compreendido aproximam-se, perguntando se podiam ficar Comigo; já Me entendiam melhor e se esforçariam ainda mais neste intuito!
E Eu digo: “Dei-vos unicamente o conselho: seria melhor, para vossa salvação, que fôsseis embora do que vos aborrecêsseis Comigo; ja- mais tive intenção de vos afastar de Mim. Portanto, ficai, se sois de bons sentimentos!” Satisfeitos com Minhas Palavras, eles se juntam aos outros.
33.CURADAFAMÍLIADEUMVELHO JUDEU
Nisto um velho judeu da zona de Nazareth penetra no quarto, perguntando todo aflito por Mim. Os discípulos Me apontam e ele cai de joelhos, chorando:
“Querido Mestre, filho do meu velho amigo José! Ouvi do teu po- der milagroso de curar e venho, num grande desespero, pedir-te socorro.
Vê, já passei dos noventa anos e me sinto muito alquebrado; tenho filhos e netos, que sempre me trataram com todo o amor e dedi- cação. Acontece, porém, que uma moléstia desconhecida e maligna os atacou a todos e eu, como ancião, sou o único de pé, sem poder agir. Vizinho nenhum tem coragem de vir à minha casa, tanto que não sei mais o que fazer! Orei a Deus, o Senhor, que me ajudasse — mesmo pela morte, se tal for de Sua Vontade!
Enquanto me encontrava assim orando, eis que apareceu um homem na minha janela, dizendo: ‘Por que duvidas, se o socorro está tão próximo?! Vai à casa de José! Lá se encontra Jesus, Ele somente quer e pode te ajudar!’ Em seguida me animei, entregando todos os meus doentes a Deus, o Senhor, e vim até aqui. Como tive a felicidade de te encontrar, querido e bondoso Salvador, peço-te, de coração, que venhas e socorras os dezessete enfermos, que muito estão sofrendo!”
Digo Eu: “Embora não mais tivesse intenção de fazer milagres nesta zona destituída de fé, ajudar-te-ei, porque a tens! Vai, e que se faça conforme acreditaste!”
O ancião agradece muito comovido e se vai. Aproximando-se da casa, é ele recebido pelos filhos e netos, tão cheios de saúde como se nunca tivessem adoecido. Todos afirmam que recuperaram a saúde perfeita havia meia hora, achando-se mais fortes do que nunca. Já o tinham procurado, preocupados com sua ausência.
Ouvindo isto, o velho percebeu que a cura se dera no momento em que Eu lho prometera.
Perguntado onde tinha ido, diz ele: “Haviam me contado que o milagroso Jesus se achava novamente em Nazareth, e então fui a ele, pedindo que vos ajudasse — e vede, atendeu-me e disse: ‘Que se faça
conforme acreditaste!’ E recuperastes todos a saúde no mesmo instante! Dizei-me: coisa idêntica já se deu em Israel?”
Dizem os curados: “Pai, se for assim, ele deve ser mais do que um curador milagroso! Talvez seja um grande profeta, maior do que Isaías, Jeremias, Ezechiel e Daniel; quem sabe é igual a Moysés, Aaron e Elias! Só estes podiam fazer tais milagres com ajuda de Jehovah, por- quanto lhes obedeciam todos os espíritos, de cima e de dentro da terra, da água e do ar!
De que maneira, porém, teria o filho do carpinteiro consegui- do tal Graça Divina? Todos nós o conhecemos bastante; não faz bem três anos que trabalhou conosco em companhia de seus irmãos! Jamais vimos algo de excepcional em sua pessoa! Deve ter recebido esta Graça há pouco tempo! Foi muito devoto e correto. Trabalhava calado, falan- do unicamente o necessário. Nunca foi visto rindo. Talvez estes fossem os motivos de Jehovah lhe conceder esta Graça!”
Diz o velho: “Sim, podeis estar com razão. Mas, neste caso, te- mos que ir amanhã cedo e lhe apresentar nosso louvor e agradecimento! Pois, diante dum profeta ungido pelo Espírito Divino, todos deverão se ajoelhar! Não é o profeta que fala, e sim Deus Mesmo através daquele coração e daquela boca!” Dizem todos: “Amém, eis nosso maior dever!” Com isto, entram para a ceia.
34.CENAENTREOSFARISEUSEOGENRODO VELHO
Os fariseus de Nazareth, entretanto, souberam que os morado- res dessa casa se achavam tão enfermos que não haveria mais salvação. Por isto, se dirigiram para lá a fim de combinar o enterro e o dízimo da herança. Após a morte não mais lhes caberia este direito, porquanto os doentes teriam falecido sem ajuda deles e, neste caso, o Estado en- traria de posse dos bens. Chegando lá à noite, no momento em que os curados se iam recolher, os gananciosos “despachantes” de almas sofrem grande decepção quando veem todos com boa saúde.
O primeiro fariseu, retendo a respiração como medida preventi- va, entra e diz: “Mas que é isto? Sois vivos? Julgávamos que, no mínimo,
a maior parte de vossa família tivesse morrido, tanto que vimos para encomendar vossas almas e enterrar-vos, de acordo com o hábito de nossos patriarcas! Quem vos curou? Borus, certo que não! Sabemos que ele não atendeu vossa chamada, naturalmente por medo do contágio da moléstia. Quem, portanto, foi vosso médico?”
Diz o genro do velho, um homem vigoroso no trabalho e no falar: “Por que indagais? Não nos ajudastes, por isto nada vos devemos! Não viestes aqui para nos socorrer, mas sim pelo dízimo da herança! Digo-vos: afastai-vos daqui! Pois, se não quereis, não podeis e não vos esforçais por socorrer os que estão em perigo, dispensamos vossa ajuda! Sois piores que os vermes perigosos da terra, que existem exclusivamen- te para comer, destruindo todos os bons frutos. Ide, ide! Do contrário, vos ajudaremos nisto!”
Diz um velho fariseu: “Pois bem, já vamos; mesmo assim, podeis nos contar quem vos curou! Diariamente fizemos preces, durante sete horas, e desejávamos saber se isto vos auxiliou tão milagrosamente! Pois que por meios naturais nada era possível fazer!”
Diz o genro: “Afastai-vos, mentirosos! Vossas possíveis preces certamente pediram pela nossa morte; pois não viestes aqui para nos cumprimentar como restabelecidos, mas para vos assegurar do dízimo! Miseráveis, bem que vos conheço e as vossas preces! Ide embora, que não mereceis pronunciar o nome daquele que nos curou!”
Insiste o velho: “Pois bem, seja lá como for, não podemos nos modificar! Mas aqui deu-se um milagre, que poderia alterar nossa ma- neira de pensar e agir! Por isto, relatai-nos o fato!”
Diz o genro, irritado: “Nada neste mundo poderá vos modificar, nem Deus Mesmo! Vosso deus é o dinheiro, servindo-lhe de coração, usando a vestimenta de Moysés e Aaron unicamente para salvar as apa- rências, a fim de que possais mais facilmente atacar as manadas de cor- deiros, estraçalhando-as em seguida!
Jehovah, no entanto, vos conhece e vos dará a paga merecida! Deus houve por bem despertar Jesus, filho do carpinteiro José, como o fez com Moysés. E este Jesus, que nos curou somente pela palavra, também vos poderá esclarecer sobre vosso mérito perante Deus. Ele
é compenetrado do Espírito Divino — vós, porém, da influência de Beelzebub! Por isto, convido-vos pela última vez a deixardes esta casa e nunca mais voltardes — do contrário, sofrereis as consequências!”
Os fariseus se afastam, conjeturando coisas escabrosas sobre Je- sus, que os privara dum lucro esperado. Enquanto assim discutem, ou- vem de repente um forte estrondo atrás de si, que os faz voltar à cidade.
35.OSFARISEUS FAZEMALEITURADOSALMON°37.SÁBIOCONSELHODE ROBAN
Chegando à casa, procuram os salmos de David e, abrindo o livro a esmo, deparam com o 37° Salmo, e o mais velho começa a ler:
“Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja de que obrem a iniquidade. Porque cedo serão ceifados como erva e murcharão como verdura. Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na Terra e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Se- nhor, que te concederá os desejos do teu coração. Entrega teu caminho ao Senhor; confia Nele, e Ele te atenderá. Fará sobressair tua justiça como a luz; e o teu juízo, como o meio-dia.
Descansa no Senhor e espera Nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho em virtude de seus astutos inten- tos. Deixa a ira e abandona o furor; não te indignes por fazer somente o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados da Terra, enquanto aqueles que esperam no Senhor a herdarão.
Pois, dentro em pouco, o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar — e não aparecerá. Mas os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância da paz. O ímpio maquina contra o justo e contra ele range os dentes. O Senhor Se rirá dele, pois vê que vem chegando o Seu dia. Os ímpios puxaram da espada e entesaram o arco, para derribarem o pobre e necessitado, e para matarem os de reta palavra. Sua espada, porém, entrar-lhes-á no coração e seus arcos hão de se quebrar.
Vale mais o pouco que tem o justo do que as riquezas de muitos ímpios. Os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor susterá os justos. O Senhor conhece os dias dos retos, e sua herança permanecerá
para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão. Mas os ímpios perecerão e os inimigos do Senhor serão como a gordura dos cordeiros; hão de desaparecer e em fumo se desfarão. O ímpio toma emprestado e não paga; mas o justo se compa- dece e dá!”
Depois deste versículo, um fariseu se levanta e diz ao velho lei- tor: “Que tolices estás lendo? Não percebes que as maldades se referem a nós, enquanto que o filho do carpinteiro faz o bem? Eis um testemu- nho condenável contra nós mesmos — e fazes esta leitura como se fosse um louvor do Pontífice de Jerusalém a nós dirigido!”
Diz o ancião: “Amigo, que mal há nisto, se estes versículos nos esclarecem um pouco sobre o que se refere a nós próprios?! É preferível fazer isto agora do que sermos, em breve, descobertos perante o mun- do como embusteiros do povo! Depende, finalmente, de Deus quanto tempo continuaremos ilesos neste nosso modo de proceder; portanto, continuarei a leitura deste salmo extraordinário!”
Exclamam vários: “Tens razão, continua!” E o ancião prossegue: “Porque aqueles que Ele abençoa herdarão a Terra, e os que forem por Ele amaldiçoados serão dela desarraigados!”
Interrompe o fariseu, perguntando: “Quem são os abençoados, e quem os amaldiçoados?”
Responde o ancião: “É evidente não sermos nós os primeiros, em virtude da crescente perseguição dos romanos! Pois, se fôssemos os abençoados, Deus não nos teria castigado com tal praga! O resto é fácil de se deduzir! Agora, continuarei a leitura:
Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, que deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o susterá com Sua Mão. Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem sua semente a mendigar o pão. Compadece-se sempre e empresta, e a semente é abençoada.
Aparta-te do mal e faze o bem, que ficarás para sempre. Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os Seus santos; são preservados por todos os tempos; mas a semente dos ímpios será desarraigada. Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para a Eternidade.
Pela boca do justo, fala a sabedoria; sua língua, do juízo. A Lei de seu Deus está em seu coração; seus passos não resvalarão. O ímpio espreita o justo e procura matá-lo. O Senhor não o deixará em tais mãos, nem o condenará quando for julgado.
Espera no Senhor e guarda Seu Caminho, e Ele te exalta- rá para herdares a Terra; vê-lo-ás quando os ímpios dela forem de- sarraigados.
Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal. Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não o pude encontrar.
Nota o homem sincero e considera o reto, porque o fim deles é a paz. Quanto aos transgressores, serão destruídos, assim como as reli- giões dos ímpios. Mas a salvação dos justos vem do Senhor; Ele é a sua fortaleza na angústia. E o Senhor os ajudará e os livrará. Ele Mesmo os há de salvar e ajudar, porquanto confiam Nele!”
Com isto o ancião termina o salmo; o fariseu, no entanto, gri- ta-lhe, enraivecido: “Idiota, não percebes que neste salmo somos apon- tados como ímpios, e aqueles que aderem a Jesus, como justos? Não percebes que nós seremos desarraigados do solo pátrio, enquanto eles ficarão no país? Acaso não estamos conjeturando matá-lo, o justo, en- quanto Deus o protege? Que salmo apropriado para nós!”
Diz o ancião: “Não fui eu quem o escreveu! Consta no Livro! E se continuarmos como somos, deveremos suportá-lo! Compreendes isto e a Onipotência Divina?!”
Diz um outro: “Entendo-o melhor do que vós todos! Nosso amigo Roban tevede ler este salmo; foi a ação do poder incompreen- sível do filho do carpinteiro. Pois, se foi capaz de curar a família toda que acabamos de procurar, a fim de nos apoderarmos de sua herança, também lhe será fácil nos obrigar a ler somente aqueles salmos que dão testemunho contra nós mesmos, como o fizeram com os inimi- gos de David.
Além disso, consta que o velho José descende deste rei, de sorte que se cognomina Jesus, por ser também Maria, sua mãe, da mesma estirpe, um ‘Filho de David’. Isto certamente levou José, que sempre
foi esperto, a que fizesse Jesus aprender toda sorte de magias, para que se apresentasse diante dos romanos e gregos como um filho de Júpiter ou Apolo, o que, na certa, faria com que Roma o declarasse imperador! E se os dirigentes de Roma forem tão cegos como os da Ásia, que há muito são por ele fascinados, não levará tempo e ele dará novas leis aos romanos!”
Diz um outro: “Uma missiva secreta ao imperador impe- diria isto!”
Responde o primeiro: “Será difícil conseguir tal coisa, quando sabemos que ‘ele’ tem visão milagrosa, que em tudo penetra. Pois não foi ele quem nos assustou com aquele estrondo, porquanto devia ter ouvido os nossos planos?! E por que fez com que lêssemos tal salmo, que nos acusou tão seriamente? Por certo, porque soube de nossas in- tenções contra ele! Vai e experimenta fazer tal missiva secreta para o imperador — e te garanto que não serás capaz de escrever uma palavra sequer, ou talvez serás obrigado a escrever aquilo que não desejas, em virtude do seu feitiço!
Além do mais, o reitor Jairo estima-o muito, porque ressusci- tou por duas vezes sua filha, protegendo-o sempre que necessário — e será difícil agirmos contra ele. Por isto, acho melhor aderirmos como seus alunos, do contrário nada de bom nos espera.”
Diz o velho Roban: “Também sou desta opinião! Só há dois caminhos: um, mantermo-nos indiferentes; outro, acompanhá-lo!”
Concordam todos: “Será melhor seguir o primeiro, pois neste caso não nos incompatibilizamos nem com Roma nem com Jerusa- lém.” Em seguida se acomodam em seus leitos e cada um reflete sobre o melhor caminho a seguir.
36.OVELHOROBANEMCOMPANHIADE JESUS
Na manhã seguinte, Roban Me procura em casa e deseja falar-Me.
Eu, no entanto, digo-lhe: “Já sei o que tencionas dizer; ignoras, porém, o que tenho a falar-te; portanto, ouve-Me!”
Diz Roban: “Podes falar, que estou pronto para te ouvir!”
Digo Eu: “Leste ontem o salmo 37, que vos abalou um tanto e, por isto, conjeturastes qual a atitude que deveríeis tomar para Comigo. Este é o motivo que te traz aqui.
Eu, no entanto, digo nem sim, nem não! Se desejas ficar, fica; caso contrário, podes ir! Tenho adeptos de sobra! Todos os cômodos de Minha casa estão repletos! Lá fora vês várias tendas, todas elas habitadas por discípulos Meus. Ao lado deste Meu pequeno quarto, fica a sala de refeição e de trabalho; nela acomodam-se os dignitários de Roma
Meus adeptos! Pegado a esta, dormem o reitor Jairo com esposa e filha — igualmente Meus seguidores! Assim sendo, penso que também poderás te tornar um deles, se o quiseres!”
Diz Roban: “Senhor, eu fico — e é bem possível que outros colegas meus também adiram! Pois estou percebendo que existe mais dentro de ti do que as magias dum prestidigitador! És um profeta ungi- do por Deus como jamais foi visto!
Bem consta que não surgiria profeta da Galileia, mas não con- sidero isto; prefiro a ação à palavra mística da Bíblia, que ninguém entende em verdade. Além disto, não és da Galileia, nasceste em Be- thlehem; portanto, podes muito bem ser um profeta. Sinto uma gran- de atração por ti e ficarei contigo. Não possuo grande fortuna, porém a que tenho basta para nós todos vivermos durante trinta anos! Se desejas um pagamento em troca daquilo que ensinas, dar-te-ei metade de minha posse!”
Digo Eu: “Pergunta a Meus discípulos o que pagam, e terás que fazer o mesmo!”
Roban se dirige a vários e recebe a seguinte resposta: “Nosso Mestre jamais pediu algo de nós, embora fôssemos mantidos por Ele. Exige, unicamente, fé e amor!”
Indaga Roban: “Também já sois capazes de efetuar ações mila- grosas? E se assim for, como isto é possível?”
Diz Pedro: “Sendo necessário, também fazemos milagres pelo Poder Dele dentro de nós e compreendemos perfeitamente como são possíveis. Dar-se-á o mesmo contigo, caso te tornes Seu verdadeiro dis- cípulo. O amor estabelece a lei e a sabedoria a executa!”
Continua indagando Roban: “Já te foi dado observar a partici- pação de Satanás nesses fatos extraordinários?”
Diz Pedro: “Que imensa tolice é esta?! Como poderia isto ser admissível quando os Céus influenciam poderosamente? Eu e todos nós os vimos abertos e os anjos descerem à Terra; vimos como serviam a Ele e a nós! Como, pois, é possível a influência satânica?!
Se não podes acreditá-lo, vai a Sichar e informa-te com o sumo pontífice Jonael e o comerciante Jairuth, que habita o conhecido cas- telo de Esaú! Aqueles amigos te dirão fielmente Quem é Aquele cujos discípulos somos por uma Graça imerecida! Lá até mesmo encontrarás anjos em corpos aparentes.”
Ouvindo isto, Roban se acerca de Mim cheio de respeito e pergunta se tenho algo a opor a uma viagem sua a Sichar.
Digo Eu: “Em absoluto! Vai e cientifica-te! Quando voltares, informarás teus irmãos e colegas sobre aquilo que viste e ouviste! Isto feito, poderás voltar para Me seguir, pois será fácil saber para onde Me terei dirigido! Se passares por Sibarah, a primeira alfândega daqui, por Kis e Caná, na Samaria, e te perguntarem em nome de quem estás via- jando — basta dizeres Meu Nome, que terás livre passagem. Mas não vistas a indumentária dum chefe de fariseus, que não irias longe. Vai à paisana, que ninguém te impedirá!”
Roban, em seguida, põe-se a caminho, procurando no estran- geiro o que se encontra tão perto dele.
Mas sempre haverá criaturas que julgam que no estrangeiro haja mais coisas para ver, conhecer e aprender do que no próprio país; no entanto, o Sol em toda a parte é o mesmo. Sim, poder-se-á conhe- cer outras zonas, criaturas, hábitos e idiomas diferentes, mas o coração nada ganha com isto!
Aquele que vai ao estrangeiro exclusivamente para sua distração e prazer nada lucrará para a formação de sua alma. Quem, no entanto, o faz a fim de levar nova luz às criaturas terá um grande benefício! Todo profeta fará melhores negócios no estrangeiro que em sua pátria.
37.JOSA,OVELHO,AGRADECEAO SENHOR
Após a partida de Roban, o velho judeu chamado Josa vem, em companhia de seus filhos e netos, agradecer-Me a graça recebi- da, pedindo ao mesmo tempo para permanecer, com os seus, este dia Comigo.
E Eu lhe digo: “Faze o que for da tua vontade! Tivestes ontem que enfrentar uma luta árdua com os fariseus por Minha Causa e vos saístes bem. Por este motivo sereis livres, futuramente, desta praga! Agora procurai Meus discípulos, que vos orientarão sobre a fé e vossas ações futuras!”
Pedro se levanta e os conduz ao escrivão Matheus, que lhes dá a leitura da Minha Doutrina e daquilo que até então havia sucedido.
Após terem recebido o alimento espiritual, apresentam-se Cire- nius, Cornélius, Fausto e o reitor Jairo com esposa e filha, cumprimen- tando-Me mui amavelmente e agradecendo pelos sonhos maravilhosos que tiveram durante a noite. Respondendo sua atitude amável, apresen- to-lhes os recém-vindos.
Cirenius se aproxima e se informa de todas as minúcias. Quan- do, porém, ouve das artimanhas dos fariseus, ele se altera, dizendo: “Senhor, isto não poderei perdoar a esses adeptos de Satanás! Fá-los-ei castigar, sob risco de perder minha vida! Em toda a Ásia não haverá hienas e raposas iguais a estas! Qual a diferença entre estes facínoras e os piores ladrões e assaltantes? Dizem-se servos de Deus e se fazem homenagear durante o dia. De noite, porém, praticam os roubos mais criminosos! Esperai, esperai, que levareis a paga de tudo!”
Digo Eu ao exaltado Cirenius: “Amigo, não faças isto! Já os tratei durante a noite, e a consequência será que em breve aceitarão a Minha Doutrina. O mais velho, de nome Roban, já o fez hoje; por isto, man- dei-o como Meu adepto a Sichar, onde poderá ver e aprender muita coisa. Em dois dias estará de volta, fazendo com que seus colegas o sigam! Vê, isto é melhor do que o açoite e a cruz!”
Diz Cirenius, mais calmo: “Está muito bem; mas faço questão dum interrogatório minucioso!”
Digo Eu: “Pois bem, mas somente à tarde! Vamos aproveitar a manhã para coisa melhor! Agora, vamos ao repasto!”
Borus já tinha dado ordens para a arrumação, ao ar livre, de várias mesas — no que Meus irmãos, carpinteiros, lhe prestaram bons serviços — de sorte que íamos festejar um antessábado, isto é, um feria- do. Havia cinquenta mesas e bancos, grande quantidade de alimentos e vinho, e dava prazer observar as centenas de hóspedes em volta das mesas, entoando cânticos de louvor e saciando-se com os bons pratos. No centro havia uma espécie de tribuna, na qual uma grande mesa bem ornamentada nos esperava e nós — Eu, Cirenius, Cornélius, Fausto, Jairo e sua família, Minha Mãe e os doze apóstolos — sentamo-nos, a fim de participarmos do bom repasto.
Lydia, porém, a jovem esposa de Fausto, não estava presente, pois ele a deixara em Capernaum em virtude dos seus múltiplos negó- cios. Por esta razão Minha Mãe o repreende com carinho; arrependido por tê-la deixado em casa, ele resolve buscá-la.
Eu, no entanto, lhe digo: “Espera; pois Eu o querendo, ela estará aqui ao meio-dia!”
Fausto Me pede que o faça e Eu lho prometo. No mesmo ins- tante aparecem dois lindos jovens ao Meu lado em vestimenta azul clara. Curvando-se até o chão, dizem: “Senhor, Teus servos aguardam humildemente Tuas Ordens!”
E Eu lhes digo: “Ide e trazei Lydia para junto de nós!”
Os dois desaparecem, e Cirenius pergunta, admirado: “Amigo, quem são esses jovens tão lindos? Jamais vi figuras tão sublimes!”
Digo Eu: “Vê, todo senhor tem seus servos e, chamando-os, eles têm de aparecer e lhe servir. Como também sou Um Senhor, tam- bém os tenho e eles anunciam Minhas Ordens para todo o Infinito! Tu não os podes ver, mas Eu sim; onde nada supões, existem milhares aguardando Meu Aceno. Embora apresentem-se tão frágeis, têm força suficiente para destruir esta Terra, caso lhes desse esta ordem! Vede, aí já estão de volta, junto com Lydia!”
A estas palavras, os que estão sentados à Minha mesa se apavo- ram, e Cirenius diz: “Como isto é possível? Não podiam se ter afastado
mais do que quinhentos passos — até Capernaum leva-se perto de duas horas — e eis que já estão de volta! Isto é incrível!”
Lydia, após ser recebida carinhosamente por seu esposo, é in- terrogada por Cirenius: “Gentil Lydia, como chegaste tão rapidamente aqui? Acaso já te encontravas em caminho?”
Diz ela: “Não vês os dois anjos de Deus? Foram eles que me trouxeram tão rápido como uma flecha. Nada pude vislumbrar, tal a velocidade. Mas pergunta-lhes, que saberão melhor responder!”
38.ANATUREZAHUMANAEANATUREZADIVINADO SENHOR
Cirenius, dirigindo-se a eles, indaga sobre a possibilidade de tal fato. Os dois anjos, entretanto, apontam-Me respeitosamente com suas lindas mãos e falam, com voz melodiosa: “A Vontade Dele é o nosso ser, nossa força e velocidade! Por nós próprios nada podemos; Ele o queren- do, assimilamos a Sua Vontade, conseguindo tudo através da mesma. Nossa beleza, porém, que ora te ofusca, é o nosso amor para com Ele e este amor é, unicamente, Sua Vontade em nós! Se vos quiserdes tornar semelhantes a nós, aceitai Seu Verbo Vivo em vossos corações e agi de livre vontade, que tereis a força e o poder deste Verbo em vós. Ele chamando-vos para agirdes dentro de Sua Vontade, podereis conseguir todas as coisas e fareis ainda mais do que nós, pois tereis surgido pu- ramente do Seu Amor, enquanto nós, de Sua Sabedoria. Agora sabes o porquê da nossa ação. Age futuramente dentro do Seu Verbo, que farás o mesmo!”
Cirenius arregala os olhos e diz: “Então, tenho razão se conside- ro Jesus Deus Único e Criador do Cosmos?”
Dizem os anjos: “Certo; mas não faças alarde disto! E se no- tares algo de humano Nele, não te deves aborrecer, pois tudo aquilo que é humano não o seria se não fosse Divino de Eternidade! Se Ele, portanto, movimentar-Se de vez em quando em formas por ti conhe- cidas, fá-Lo-á na forma que corresponda à Sua Dignidade. Pois cada forma, cada pensamento, Nele teve origem antes que determinasse,
através de Sua Vontade, uma outra. Esta Terra e tudo que nela existe é somente Seu Eterno Pensamento fixado que, através do Seu Ver- bo, tornou-se verdade. Se Ele, portanto — o que Lhe seria facílimo
abandonasse esta Ideia Básica, não mais haveria Terra, nem coisa alguma que ora vês.
A Vontade de Deus, todavia, não é semelhante à dos homens; é eternamente uma só e nada a fará desistir de Sua Ordem Imutável. Esta Ordem, porém, contém a máxima liberdade, tanto que Deus pode fazer o que deseja, como todos os anjos e criaturas. Isto poderás observar com facilidade contigo mesmo.
Embora possuas esta livre vontade, não poderás alterar a forma intrínseca das coisas, por serem sujeitas à Ordem Divina.
A parte externa da Terra é fácil de ser modificada: nivelar as montanhas, desviar os rios, secar os lagos, fazer surgir outros; poderás construir pontes por cima dos mares e transformar o deserto num solo abençoado e fértil. Tudo isto poderás alcançar; no entanto, não con- seguirás aumentar o dia e encurtar a noite, tampouco dominarás os ventos e as tempestades.
Tens de suportar inverno e verão, jamais podendo modificar a forma e a constituição da criatura. Do cordeiro não farás um leão e vice-versa, e nisto podes constatar a Ordem Divina.
Aqui, porém, está Aquele que elaborou esta Ordem de Eterni- dades, podendo-a desmantelar quando o quiser. Do mesmo modo que, dentro desta Ordem Imutável, que determina o teu ser e tudo que te rodeia, tu és livre no pensar, querer e agir — Deus também o é, porém, de maneira íntegra.
Por isto, repito: Não te deves aborrecer em Se apresentando Ele diante de vós em Forma Humana, porquanto é Sua Própria Obra!”
39.AINFLUÊNCIADOSANJOSSOBREOS HOMENS
Este ensinamento convence Cirenius de maneira plena a respei- to do Meu Ser Divino, tanto que se Me aproxima, dizendo: “Senhor, agora compreendo tudo! Tu O és!
De há muito meu coração isto me dizia; no entanto, Tua For- ma e Manifestação Humanas novamente me incutiam dúvidas. Mas, agora, tenho minha fé convicta, que nada poderá abalar. Como sou feliz por ter visto Aquele que me criou e, certamente, conservar-me-á para sempre!”
Digo Eu: “Meu querido amigo, esta posse será eternamente tua! Guarda-a, por enquanto, para uns poucos amigos iniciados, pois, se o comentasses em público, prejudicarias Minha Causa e os descren- tes. Além disto, não te aborreças Comigo; antes que existissem anjos e criaturas, Eu fui o Primeiro Homem e possuo o direito de sê-Lo no convívio com Meus Filhos!”
Diz Cirenius: “Com tudo que farás, continuarás para mim eter- namente o Mesmo que és! Tenho, no entanto, o desejo que estes dois anjos fiquem em minha companhia até a minha morte!”
Digo Eu: “Isto não é possível, pois não suportarias sua pre- sença visível e tua alma não teria benefício com isto. Invisivelmente, porém, continuarão teus protetores, como o foram desde tua infância! Como ficam o dia de hoje em nossa presença, poderás ainda pales- trar com eles.
Ser-te-á possível fazê-lo até mesmo em sua ausência e ouvirás as respostas nitidamente em teu coração. E isto vale mais que um diálogo externo! Digo-te: a palavra depositada por um anjo em teu coração é mais benéfica para tua alma que mil palavras proferidas! Porque aquilo que ouves em teu coração já é tua posse; sendo que as palavras pronun- ciadas tens que pôr em ação, a fim de se tornarem uma conquista tua.
Se tens o Verbo no coração e te deixas induzir ao pecado, tua consciência, que não concorda com isto, obrigar-te-á à confissão e ao arrependimento, deixando de ser pecador. Se, entretanto, a palavra se acha apenas no cérebro, para lá conduzida pela audição, e pecas, o co- ração fútil nisto te acompanha e não te obrigará nem ao conhecimento nem ao arrependimento do pecado, que permanecerá latente em tua alma, tornando-te culpado diante de Deus e dos homens!
Assim, Meu amigo, é-te muito mais salutar não veres teus pro- tetores, enquanto viveres neste mundo; uma vez deixando-o, vê-los-
-ás como espírito. — E não somente estes dois, mas uma imensidade de outros!”
Diz Cirenius: “Estou plenamente satisfeito e aproveitarei a opor- tunidade de hoje para palestrar com eles!”
Digo Eu: “Mas como será isto? Avisaste aos fraudulentos fari- seus, em Meu Nome, querer aplicar-lhes uma boa corrigenda, e neste caso terás que desistir da companhia dos anjos?!”
Diz Cirenius: “É verdade, já me havia esquecido disto! Que maçada! Que farei?”
Digo Eu: “Que tal se Eu te desobrigasse de tua promessa, por- quanto já os amedrontaste tanto?”
Responde Cirenius: “Senhor, se for do Teu Agrado, desistirei com prazer de minha ameaça, entregando-os a Ti e ao velho Roban, que os endireitará em poucos dias.”
Digo Eu: “Oh, nada tenho contra isto! Pois, sabendo que mu- darias de ideia, Eu transferira o teu propósito para a parte da tarde. Como o dia hoje é tão radiante, iremos pescar algo para nossas refei- ções. Quem quiser poderá Me acompanhar!”
40.OAMORPARACOM DEUS
Pedro e Nathanael, porém, perguntam: “Senhor, estamos sem apetrechos de pesca; que fazer? Desejas que peçamos alguns empresta- dos aos pescadores?”
Digo Eu: “Não é preciso; a dificuldade consiste em falta de me- mória, pois esqueceis a cada momento que sou o Senhor, a Quem tudo é possível! Ficai, portanto, no grupo e esclarecei, durante a pesca, ao velho Josa e a sua família sobre a Força e Onipotência Divinas, também presentes no homem!” A estas palavras ambos se retiram e meditam sobre a própria cegueira, referente à pergunta tão material. O próprio Josa faz observação a respeito!
Diz Nathanael: “Amigo, somos criaturas como tu e muito habi- tuadas às condições mundanas, de sorte que, de vez em quando, apre- sentamos algo de tolo; mas, no futuro, teremos mais cuidado!”
Nisto Sarah se aproxima e pergunta se pode Me acompanhar.
Digo Eu: “Naturalmente! Este empreendimento é feito em tua consideração! Continuas sendo Minha amada! Por que motivo não te sentaste a Meu lado na hora do desjejum em conjunto?”
Diz Sarah, toda trêmula: “Senhor, não tive coragem; imagina os três grandes de Roma a Teu lado e eu, Tua pobre serva! Onde iria buscar o ânimo para tal?”
Digo Eu: “Mas, Meu amor, pude observar, nitidamente, que teu desejo era ficar Comigo! A Mim não escapa o que se passa no coração de alguém, por isto te quero muito!
Mas, dize-Me, Minha amada Sarah: agradam-te estes dois jo- vens? Não darás preferência a um deles? Vê, fisicamente não posso con- correr com os mesmos!”
Diz Sarah: “Mas, Senhor, meu amor único e eterno, como podes sugerir tal coisa? Não trocaria um Céu repleto de anjos mais sublimes do que estes por um fio Teu de cabelo; quanto menos um destes dois pela Tua Pessoa Integral? Embora sejam maravilhosos, pergunto: Quem lhes deu tal beleza? Foste Tu! Para isto era necessário que a beleza esti- vesse dentro de Ti!
Para mim, Tu és tudo em tudo e jamais Te abandonarei, mes- mo se me quisesses ofertar uma imensidade de anjos mais sublimes!”
Digo Eu: “É isto mesmo! Assim é que deve ser! Quem Me ama deverá fazê-lo sobre todas as coisas, desejando que Eu também o ame! A beleza destes anjos é incontestável; no entanto, quero-te mais do que a eles, por isto deves ficar sempre Comigo! Entre muitas és verdadeira- mente Minha noiva! Compreendes isto?”
Responde ela: “Senhor, de que modo me seria possível? Como poderia ser Tua noiva? Acaso poderei tornar-me aquilo que minha mãe é para meu pai? Tu és o Senhor de Céu e Terra, e eu — apenas Tua cria- tura; portanto, onde a possibilidade de uma união entre o mais ínfimo e o Altíssimo?”
Respondo: “Muito fácil, pelo motivo que o por ti mencio- nado ínfimo também surgiu do Altíssimo — assim, também faz parte Deste.
Eu sou a árvore da Vida e tu és o seu fruto. O fruto é aparen- temente menor e menos consistente que a árvore; mas em seu centro existe uma semente alimentada e amadurecida pelo mesmo fruto. Esta semente, por sua vez, contém árvores da mesma espécie, capazes de gerar os mesmos frutos com sementes vitais.
Daí poderás concluir, com facilidade, que a diferença entre Criador e criatura, até certo ponto, não é tão imensa como calculas; pois ela é em si e por si a vontade do Criador — fundamentalmente Bom e Digno. Se esta livre vontade emanada do Criador e idêntica à Sua Forma se reconhece no seu isolamento independente de sua origem primária e age de acordo com ela, torna-se igual a Ele e é, em sua peque- nina medida, perfeitamente aquilo que é o Criador em Sua Plenitude. Enquanto esta partícula liberta da Vontade Divina não reconhece isto em si, não deixa de ser o que é, no entanto, não poderá alcançar o má- ximo destino, até que reconheça o que é realmente.
A fim de facilitar o trabalho do conhecimento de si próprias, a estas partículas libertas, que se chamam ‘criaturas’, o Criador deu em todas as épocas revelações, leis, Doutrinas dos Céus e agora até desceu em Pessoa à Terra.
Compreenderás, portanto, a relação que existe entre Criador e criatura e também assimilarás como tu, completamente idêntica a Mim, poderás ser Minha noiva e esposa, eternamente unida a Mim pelo teu amor! Compreendes isto que acabo de te revelar?”
41.ANATUREZADOVERDADEIRO AMOR
Diz a jovem e atraente Sarah: “Sim, perfeitamente; mas neste caso todas as filhas de Eva têm o mesmo direito à Tua Pessoa?”
Digo Eu: “Naturalmente, quando iguais a ti; não o sendo, pode- rão, todavia, tornar-se Minhas servas, mas nunca Minhas esposas. Pois, se David possuía muitas e era um homem como Deus o desejava, por que não deveria Eu fazer o mesmo, porquanto sou mais do que David? Digo mais: sou capaz de manter, numa felicidade máxima, tantas espo- sas como existe areia no mar e erva sobre a Terra, e nenhuma terá um
desejo sequer que não lhe seja satisfeito integralmente. Assim sendo, não poderás te sentir diminuída quando desejo dar a muitas o que te dou em abundância!”
Diz Sarah: “És o Senhor, Único, o Amor e a Sabedoria em Pes- soa e tudo que fazes é sabiamente feito; mas não é minha culpa eu Te amar tão intensamente, desejando possuir-Te unicamente para mim! Perdoa isto ao meu coração, um tanto infantil!”
Digo Eu: “Justamente isto está certo. Quem não Me ama cheio de ciúme, não Me procurando possuir exclusivamente, não tem o ver- dadeiro e vivo amor para Comigo! Neste caso não terá a plenitude da Vida dentro de si; pois Eu Sou a Própria Vida na criatura pelo amor de sua alma para Comigo, e este amor é o Meu Espírito na criatura.
Quem, portanto, desperta o amor para Comigo, tê-lo-á feito com o espírito dado por Mim e, como este espírito sou Eu Mesmo — por- quanto não existe outro espírito vital fora de Mim — ele, o homem, terá despertado a Mim Mesmo! Com isto nasceu para a Vida Eterna e jamais morrerá, nem poderá ser destruído — ainda que pela Minha Onipotên- cia, pois tornou-se uno Comigo. De igual modo Eu também não Me posso destruir a Mim Mesmo, pois que Meu Ser Eterno jamais poderá Se tornar nulo. Não penses, por isto, que teu amor para Comigo seja tolo; ele é como deve ser! Persiste nele, que jamais verás nem sentirás a morte!”
Este esclarecimento dado a Sarah fá-la inteiramente feliz, de sor- te que começa a Me abraçar e beijar com todo carinho.
Sua mãe a repreende, dizendo: “Minha filha, isto não fica bem! Que falta de educação!”
Diz ela: “Qual o quê! Também não fica bem quando se morre; mas, quando vem o Senhor, desperta o defunto e o tira da tumba, o que não deixa de ser algo de extraordinário, qual é a opinião alheia? Minha mãe, a única coisa que fica bem perante o mundo é o nosso amor a Jesus! — Tenho razão, meu querido Jesus?”
Digo Eu: “Inteiramente! Quem no mundo se avexa de Me amar abertamente, sobre tudo, levar-Me-á a fazer o mesmo e Eu Me avexarei de amá-lo perante os Céus e despertá-lo para a Vida Eterna no Dia do Juízo Final!”
Muitos, então, indagam quando viria o Dia do Juízo Final.
E Eu digo: “O dia mais próximo só virá depois de passado o anterior. Como não posso despertar alguém no dia que passou, fá-lo-ei no seguinte. Não é, pois, todo o dia que viveis no momento, o dia pre- sente? Ou poderia alguém assistir a um que não fosse presente? Vede, todos nós vivemos hoje o dia mais recente! O de ontem não mais o po- derá ser e o de amanhã ainda não chegou. Disto se conclui que, afinal, existem tantos dias recentes como os que a criatura já passou! Eu vos digo: o Dia do Juízo Final é aquele em que morrereis; portanto, só po- dereis despertar neste mesmo dia, da morte para a vida. E como todas as criaturas terão que passar por isto, não se dará no dia anterior, e sim no presente! Este dia não é determinado nem por Mim nem por um qualquer espírito angelical, porquanto todo dia vindouro se prestará para tanto. Compreendestes isto?”
Os indagadores recuam um pouco perplexos, dizendo: “Real- mente, isto é tão claro como o ar e, no entanto, fizemos uma pergunta tão tola! Se costumamos falar dos dias passados, é certo que haverá os mais recentes! Que tolice nossa! Ela requer da parte Dele uma paciência infinita!”
Diz Sarah, sorrindo: “Sim, o Senhor tem muita paciência para conosco! Mas, a respeito do Dia do Juízo Final e de sua vinda — já sabia desde minha infância que amanhã virá o tal dia! Não sabíeis isto?”
Respondem os outros: “Fomos bem tolos em não sabê-lo e tí- nhamos verdadeiro pavor do tal Dia do Juízo Final!”
Digo Eu: “Não vos apoquenteis! Sobre esta pedra, milhares de criaturas tropeçarão no futuro e muito se profetizará e escreverá para o povo ignorante, a respeito.
Agora, porém, tratemos da pesca, pois já chegamos à beira-mar. Está tudo preparado, e os dois jovens, com os quais Cirenius está pales- trando, ajudar-nos-ão! Mãos à obra!”
Todos, porém, admiram-se, pois não sabiam como tinham feito o trajeto de Minha casa à beira do mar.
Mas Eu lhes digo: “Como vos podeis admirar? Já não assististes a coisas semelhantes? É compreensível que Josa, seus filhos e netos se sur- preendam; mas que vós o façais não se admite, pois sabeis nitidamente que nada Me é impossível!
Vede, digo ‘inadmissível’, porquanto toda admiração sobre uma Atitude Minha, extraordinária, representa uma falta de fé oculta na alma. A criatura duvida, de antemão, da possibilidade dum fato extra- ordinário; mas, se, não obstante sua dúvida, tal coisa acontece, o cético pergunta, perplexo: ‘Como isto foi possível?’ O que externa com esta pergunta? Nada mais do que o seguinte: ‘Duvidei e, no entanto, a prova é evidente! Que coisa extraordinária!’
É compreensível que o leigo assim se manifeste, mas, se os Ini- ciados assim agem, provam que fazem parte dos chamados ‘leigos’! Não mais vos admireis, por isto, em presença de estranhos, quando Eu fizer algo de excepcional; do contrário, os estranhos vos classificarão como eles mesmos!”
Dizem os discípulos: “Senhor, sabes que Te amamos sobre tudo e sabemos Quem és; mas, apesar disto, não podemos evitar a admiração de Teus Atos, sobretudo quando surgem inesperadamente. Vê, muitas vezes já vimos uma aurora e um crepúsculo; mas qual seria a criatura que se não sentisse mais ou menos extasiada na contemplação deste fenômeno habitual? O mesmo acontece conosco! No entanto, és mais do que milhares de auroras, e pedimos que nos desculpes esta falta.”
Digo Eu: “Está bem! Mas no futuro aceitai Meu Conselho dian- te dos estranhos, para que possam reconhecer em vós os Meus verda- deiros adeptos! Agora, vamos à pesca! Acontecerão também pequenos milagres; mas agi como se nada acontecesse! Os estranhos devem desco- bri-los por si próprios e julgar se são fatos comuns ou não!”
Após esta explicação necessária, os discípulos sobem rapidamen- te nos botes e começam a jogar as redes, mas a pesca é quase nula. Pedro
faz a observação de que o vento forte toca os peixes para o fundo. Um outro alega que antes do anoitecer não se conseguirá muita coisa, pois, como o Sol esteja muito forte, os peixes procuram as profundezas.
Nisto, os dois jovens sobem nos botes, a fim de jogar as redes. Diz André: “Se estes não forem assistidos por um milagre, poderão tentar a pesca em alto mar durante dez anos, sem conseguir um pei- xe sequer!”
Os dois, porém, fazem uma boa redada, trazendo trinta bons peixes à praia. Diz André: “Não é propriamente milagre, mas não deixa de ser coisa considerável pescar estes trinta peixes em alto mar.”
Finalmente, Eu tomo um bote e Sarah, outro, e estendemos uma grande rede. Logo na primeira redada, pegamos uns quinhentos peixes de bom tamanho, de sorte que os dois jovens se veem obrigados a socorrer Sarah, que não pode aguentar o peso. Em seguida, os peixes são trazidos à praia e guardados em barris, que aí se encontram em quantidade.
Os discípulos, porém, fazem mais uma tentativa, mas só conse- guem alguns pequeninos peixes. Diz Pedro: “Para hoje basta! Não vale a pena que um velho pescador igual a mim tente uma redada!” Com isto faz menção de jogar os peixinhos para dentro do mar.
Eu, porém, lhe digo: “Guarda o que pescaste, pois os pequenos são muitas vezes melhores e por Mim preferidos aos grandes, cuja carne costuma ser dura. Lembra-te desta lição!
Quando te dedicares à pesca humana, não te aborreças se, na rede do Evangelho, só caírem alguns peixinhos, pois que os prefiro! Tudo, porém, que é grande e importante diante do mundo é, de certa maneira, um horror para Mim! Deixemos agora a pesca e vamos para casa! Temos o suficiente para hoje e amanhã.”
Em seguida recolhem-se as redes, guardando uma quantidade de peixes diversos no grande reservatório construído por José ao lado de Minha casa.
Chegando à casa uma hora depois de meio-dia, espera-nos um bom almoço, que Borus havia mandado preparar e, por isto, não ti- nha tomado parte na pesca. É sua maior alegria preparar refeições para muitos, principalmente ao ar livre. Sua fortuna é tão grande como a de Kisjonah, pois com facilidade pode suprir, diariamente, seis a sete mil pessoas e satisfazê-las com o melhor vinho! Os motivos de sua abas- tança eram os seguintes: Primeiro, por ser filho dum grego muito rico de Athenas, que possuía terras e ilhas na Ásia; segundo, era o único herdeiro disto tudo; terceiro, como médico mais afamado da Judeia, fa- zia-se pagar muito bem pelos ricos, tratando gratuitamente dos pobres e sendo considerado o maior benfeitor do país.
Além disso, era solteiro — e sentia um imenso prazer em pre- sentear enxovais à mocidade pobre. Seu bom humor, no momento, era tanto mais compreensível, porque julgava no seu íntimo que Eu fosse desposar a jovem e bonita Sarah.
Assim se Me aproxima durante a refeição e pergunta, em surdi- na, quando isto iria realizar-se?!
Respondo-lhe Eu: “Querido irmão e amigo! Conheço teu no- bre e bondoso coração. Sei que só te sentes feliz quando podes levar a felicidade aos outros. Até hoje não pensaste em ti mesmo e, como observaste um grande amor entre Mim e Sarah e ouviste como falamos de noiva e esposa, já antegozavas a alegria duma possível união entre nós. Estás muito errado! Vê, todas as mulheres que vivem, já viveram e ainda viverão na Terra são, quando levarem vida pura, mais ou menos, Minhas Noivas e Esposas. Esta íntima união, porém, não as impede de serem esposas de homens justos — e este fato está se dando entre Mim e Sarah. Muito bem poderá se tornar tua esposa, sendo espiritualmente Minha por toda a Eternidade!
Penso o seguinte: Como auxiliaste a tantos bons rapazes, quan- do pobres, na união com boas moças, desejo também proporcionar-te esta felicidade! Justamente esta adorável Sarah será tua esposa! Defen- deste-Me após sua primeira ressurreição quando jazia, pela segunda
vez, no leito de morte; Eu a despertei, pois, para teu prêmio justo. Ela conservará sua atual aparência até aos setenta anos! Compara-a com os dois anjos que palestram com Cirenius; não é ela mais linda? Di- ze-Me, sinceramente, se já não a fitaste por várias vezes e o que teu coração sentiu!”
Diz Borus, um pouco encabulado: “Senhor, é inteiramente impos- sível ocultar-se algo diante de Ti! Por isto, digo: Sarah é a única criatura que desejava para mim! Já passei dos trinta anos e ela conta apenas dezes- seis — mas meu coração não parece ter alcançado sua idade primaveril! Se se tornasse minha esposa, amá-la-ia mil vezes mais que minha vida!”
Sarah tinha prestado muita atenção a esta nossa conversa. Quan- do Eu a fito e pergunto se o assunto discutido entre Mim e Borus lhe agradava, ela enrubesce e diz: “Mas é preciso que observes tudo?! Olhei a Borus uma única vez, por ser ele muito bondoso e prestativo!”
Digo Eu, gracejando: “Sim, mas em teu coração já o olhaste por várias vezes, se não Me engano!”
Diz Sarah, ocultando seu rosto: “Mas Senhor, és impossível! É preciso que saibas de tudo?!”
Digo Eu: “Sarah, se ele te pedisse para esposa, acaso o re- jeitarias?”
Diz ela, agradavelmente surpreendida com esta pergunta: “Se não o fizesse, como poderia me tornar Tua Esposa? Amar só me é possí- vel a Ti, embora deva confessar que prezo muito a Borus; parece-me o melhor homem em toda a Judeia, excluindo a Ti!”
Digo Eu: “Pois bem, haverá um jeito! Pensa um pouco e obser- va Lydia, que, espiritualmente, é Minha Esposa, enquanto fisicamente pertence a Fausto! Isto não se interpõe à nossa amizade espiritual, por- tanto também continuarias a ser Minha Noiva e Esposa!”
Diz Sarah, após uns instantes: “Mesmo que me fosse agradável uma união com Borus, não posso saber o que pensam meus pais! Já não me oponho a isto para Te ser agradável, mas preciso saber a opi- nião deles!”
Digo Eu: “Pois bem, olha para eles, que já lhes perguntei e con- cordam Comigo. Mas Eu não te obrigarei a isto. Tens a livre vontade!”
Diz ela, cada vez mais encabulada: “Senhor, sim, bem o sei, mas... eu... sim, eu... não quero!”
Digo Eu: “O que não queres?”
Diz Sarah: “Ora, estás me encabulando horrivelmente! Por que fui olhar o simpático Borus?”
Digo Eu: “Mas ainda não Me contaste o que é que não queres! Portanto, Minha Sarah, coragem, dize-Me o que é!”
Diz ela: “Mas Senhor, como podes perguntar? Sabes-lo perfeitamente! Faze as perguntas e eu responderei por sinais o que não quero!”
Digo Eu: “Pois bem, ouve: Não queres que Borus adoeça de tristeza se tu lhe recusares tua mão!”
Sarah se levanta, bate com sua mãozinha no Meu ombro e diz, aparentemente aborrecida: “Ora, fazes logo a pergunta... Quase que me traio!”
Digo Eu: “Então, dize a verdade!”
Responde ela: “Pois bem, por que dizes logo a verdade?!”
Digo Eu: “Vê, Eu sabia que aprecias muito mais a Borus do que o manifestas! Mas está tudo certo! A moça deve dar pouca demons- tração dos seus sentimentos para com o outro sexo. Só quando se trata duma afeição séria pode abrir seu coração àquele que a deseja desposar
do contrário, o atrai antes do tempo. Quando se apresentam os im- pedimentos, o coração dele entristece e sua alma se inquieta! Isto tudo deve ser evitado!”
Diz ela: “Mas, Senhor, nada disto eu fiz!”
Digo Eu: “Bem o sei, e por isto te elogiei como modelo! Agora poderás externar a Borus os teus verdadeiros sentimentos!”
Protesta ela: “Ah, agora não digo; quando for meu marido, ain- da haverá tempo!”
Digo Eu: “Mas, se ele da Minha parte já o é, o que então?”
Diz Sarah, agradavelmente surpreendida: “Bem, como? Bem... então... então... então deveria manifestar-me abertamente?”
Digo Eu a Borus: “Ela não é adorável? Toma e cuida bem dela como se fora uma planta delicada; recebe-la do Céu como prêmio me-
recido. Deixai-vos abençoar por seus pais e depois vinde a Mim, para que o possa fazer mais uma vez!”
Borus Me agradece, incapacitado de falar, de tanta emoção — e Sarah se levanta, graciosa, e diz cheia de alegria: “Senhor, faço-o uni- camente por ser a Tua Vontade; se não fosse, teria lutado contra o meu coração, mas agora agradeço-Te pelo melhor homem de toda a Judeia!”
Os dois se aproximam dos pais de Sarah, que os abençoam; em seguida voltam para junto de Mim; abençoo-os, unindo-os para o matrimônio verdadeiro e válido em todos os Céus, pelo que Me agra- decem, sensibilizados.
Deu-se, portanto, uma união inesperada, que poderia ser con- siderada uma das mais felizes deste mundo. Daí se conclui que aquilo que a pessoa Me oferece de coração, jamais o perderá, pois ser-lhe-á restituído cheio das mais sublimes bênçãos, e isto quando menos o es- pera. Borus andava apaixonado por Sarah e teria dado todos os tesouros em troca; no entanto, ofertou-Ma e desejou celebrar, com tudo que possuía, as Minhas Núpcias. O mesmo se deu com Sarah; Eu, então, dei-lhes aquilo que de todo coração Me tencionavam dar. — Quem agir assim, receberá o mesmo prêmio que eles!
Este ensinamento serve para todos que o ouvirem ou lerem, pois é o único caminho para conseguir-se tudo de Mim. Quem Me oferece muito, no entanto, guarda algo para si, só receberá aquilo a que renunciou.
45.AVERDADEIRANATUREZADOS ANJOS
Após este acontecimento notável, Cirenius se Me aproxima, di- zendo: “Senhor, abordei diversos assuntos com estes dois anjos; de tudo que disseram, nada mais aprendi do que aquilo que já ouvi pela Tua Bondade e Graça. O que me surpreendeu foi que ambos se mantinham completamente desinteressados por tudo que se passava! Falam de uma Sabedoria profunda e sua voz ultrapassa as harmonias delicadas da har- pa; seu sorriso é qual a aurora; seu hálito tem a fragrância das rosas, do jasmim e do âmbar, seus cabelos se parecem ao ouro e suas mãos, da
cor do alabastro, são tão perfeitas e delicadas, que não há iguais; em suma, poder-se-ia enlouquecer de amor diante de tanta perfeição! Mas, com todos estes predicados que emanam somente do Amor e poderiam transformar a mais dura pedra em cera — são eles tão insensíveis e in- diferentes como uma estátua de mármore! Isto me deixa tão frio como a frieza que irradiam.
Manifestam nada de repelente, nem pela palavra nem pelo ges- to; nada, porém, os faz sair de sua insensibilidade. Externam-se a Teu respeito numa profunda sabedoria, mas tenho a impressão que estejam fazendo a leitura de uma carta cujo idioma não se entende.
Explica-me, como isto é possível com dois seres puramente ce- lestiais? Este é o hábito dos espíritos em Teus Céus?”
Digo Eu: “Em absoluto! Estes aqui se manifestam tal como de- vem; no entanto, possuem uma vontade livre e um coração cheio dum amor intenso, que te destruiria num momento, caso o externassem!
A criatura humana poderá suportar a mais elevada sabedoria dos anjos; seu amor, porém, somente quando se lhes tiver tornado idêntico em seu coração.
Poderás observar isto no fogo e em sua luz. Suportarás a luz que emana do fogo, mas nunca a sua chama.
O Sol contém a luz mais intensa em relação a esta Terra, e o su- portas com facilidade! Mas, se no aumento da luz se intensifica o calor, já não mais suportarás a luz. Consegues, acaso, aguentar fisicamente, como o anjo, a atmosfera do Sol? Digo-te: ela destruiria num minuto a Terra toda, com tudo que nela existe, como uma gota d’água que caísse em cima de uma chapa de aço incandescente!
Quem quisesse permanecer em tal luz e tal fogo deveria antes se tornar idêntico a esses elementos! Eis o motivo por que os dois anjos não podem externar seu amor para contigo! Compreendeste?”
Responde Cirenius: “Mais ou menos — como outras tantas coi- sas! Pois não percebo como um amor tão intenso me poderia matar!”
Digo Eu: “Pois bem, dar-te-ei um exemplo! Tens um filho e uma filha mui queridos! É difícil analisares o grau do teu grande amor para com eles. Agora imagina que tanto ela quanto ele morressem su-
bitamente e pergunta a teu coração se suportaria a dor que tal perda te causaria! Vê, já sentes uma verdadeira aflição, apenas porque mencionei esta possibilidade! O que não seria o fato real? Conhecendo teu cora- ção, afirmo que não suportarias esta dor mais de três horas e morrerias de desgosto!
Que representa, porém, o amor de teus filhos comparado com o destes mensageiros celestes? Se te olhassem com carinho e permitis- sem que os acariciasses, teu amor se elevaria de tal forma que te não seria possível suportá-lo. E se eles te abandonassem mesmo aparente- mente, sentirias tal tristeza, que sucumbirias!
Embora sejam de beleza rara, ela nada representa diante da- quela que manifestariam compenetrados pelo Meu Amor! Tudo que o mundo apresenta de Beleza e Amor se desfaria! Penso Me teres com- preendido?!”
46.OAMORAOPRÓXIMO,DOS MÉDICOS
Diz Cirenius: “Sim, meu Senhor e meu Deus, agora compreen- do perfeitamente; sua aparente frieza não deixa de ser puro amor!
Recordo-me da lenda de uma moça que era duma beleza excep- cional. Todos os homens, tanto velhos quanto moços, desafiavam-se, a fim de decidir quem a desposaria. O número de pretendentes aumen- tava dia a dia, para perdição dos que se desafiavam. Reconhecendo que não chegavam a um resultado satisfatório, concluíram: ‘Esta criatura não pertence à Terra, senão aos Céus, portanto é uma deusa! Por isto, somente oferendas elevadíssimas poderão decidir! A quem dos muitos pretendentes ela oferecer sua mão, este a possuirá para sempre!’ Logo após começaram a lhe ofertar tesouros riquíssimos, prestando-lhe ho- menagem divina. Esta idolatria chegou ao ponto de não mais adorarem aos deuses. Estes, por vingança, proporcionaram-lhe maior atrativo, porém fizeram que seu hálito se tornasse venenoso, de sorte que todo e qualquer atingido perdesse os sentidos por várias horas. Além disto, sua língua, munida dum aguilhão venenoso, podia matar quem se lhe aproximasse em demasia.
Um dia, porém, apareceu um jovem de figura mui atraente e o coração da donzela começou a vibrar. Mas que fazer para poder amá-lo, sabendo quanto era irresistível? Contemplando-o, cairia ele por terra, desacordado; beijando-o, matá-lo-ia! Por isto, virou-lhe as costas e mos- trou-se indiferente, amando-o pela aparente frieza.
Do mesmo modo os dois jovens amam as criaturas deste ínfimo planeta, pois sabem que elas não suportariam a chama do amor de seus corações celestes!”
Digo Eu: “Sim, apenas seu hálito não é venenoso e sua língua não tem aguilhão; pelo contrário, o primeiro vivifica, enquanto sua língua abençoa a Terra.”
Nisto se aproximam Borus e Sarah e ele pergunta o que deveria fazer, a fim de se mostrar grato pela imensa graça recebida!
Digo Eu: “Meu amigo e irmão, onde estaria a criatura que, como tu, Me fosse mais afeiçoada desde Minha Infância?! Quando menino, eras o Meu constante companheiro e tudo fazias que Me pudesse agra- dar. Sempre que passavas uma temporada na Grécia, em companhia de teus pais, Eu era o primeiro a quem procuravas quando de volta, trazen- do-Me sempre lembranças dessas viagens. Até deixaste de te aborrecer quando quebrei com o martelo um templo de Diana feito de prata, proibindo de Me trazeres presentes tais.
Quando moço e quase ninguém Me dava atenção, eras o único que continuava o mesmo. Portanto, nada mais fiz do que retribuir-te um favor que te devia há muitos anos. Por isto, não exageres! Recebeste a mais linda e, espiritualmente, a mais adiantada esposa — e Sarah, o melhor e, sob todos os pontos de vista, o mais rico e conceituado esposo. Minha Bênção jamais vos faltará e tu serás o melhor médico, não só des- ta zona, mas do mundo inteiro! Acho, portanto, que podeis viver bem!
Não esqueçais, no entanto, dos verdadeiramente pobres; não aceites algo pela arte curadora, inalcançável a quem quer que seja, por parte deles, tampouco de um empregado, seja em dinheiro, trabalho, cereais ou gado!
Mas dos ricos, corretores e agiotas, comerciantes e proprietá- rios deves exigir pagamento justo; pois quem tem e deseja viver, deve
de vez em quando, fazer um sacrifício por sua vida! Haverá pobres em quantidade, aos quais poderás favorecer com o dinheiro pago pela vida do rico!
Um médico como tu vende a vida aos homens, o que para as criaturas humanas representa a maior dádiva. Devem, por isto, pagar bem e se dar por satisfeitas por existir nesta Terra alguém que lhes possa vender a vida.
Afirmo-te: É a maior e mais pura arte — que jamais o ho- mem do mundo poderá aprender — o curar, pela palavra, pela von- tade e, de vez em quando, pelo passe, todas as doenças, entre a pior obsessão, inclusive todas as pestes e o mais leve resfriado! Purificar os leprosos, fazer com que os cegos vejam, os surdos ouçam, os coxos e entrevados caminhem — e, além disto, transmitir aos pobres de espí- rito a Boa Nova do Reino de Deus! Amigo, vai e procura no mundo inteiro um que se compare contigo! Digo-te: além de ti e de Mim, não existe outro!
Em Sichar também inspirei um médico para que realizasse consideráveis curas; mas não consegue se separar inteiramente de suas ervas, portanto não pode concorrer contigo!
Meus discípulos te imitarão dentro de alguns anos; mas nem todos que ora vês aqui.
Minha querida Sarah também aprenderá uma arte: a de par- teira, pois diante de Deus consiste num grande mérito ajudar as partu- rientes, de sorte que ambos estais tão providos como jamais o estiveram um rei e uma rainha!
Dou-te, no entanto, ainda este conselho: se um doente te pro- curar, deves perguntar-lhe sempre com gravidade: ‘Acreditas que te pos- sa ajudar em Nome de Jesus, o Salvador Celeste?’ Se ele responder, convicto: ‘Sim, creio!’, podes curá-lo. Se ele duvidar, não o cures até que isto lhe seja possível! — Agora umas palavras a ti, Jairo!”
47.UMAPROPOSTAAJAIRO.CERIMÔNIAS EXTERNAS
Diz Jairo: “Senhor, estou pronto para te ouvir e aplicar Teu Conselho.”
Digo Eu: “Pois bem; se o fizeres, serás feliz para todo o sempre! És chefe dos fariseus e de suas escolas em todas as zonas de Nazareth, Capernaum e Chorazim, de Caná na Galileia e muitos outros lugarejos, vilas e aldeias. Teu conceito, portanto, na Galileia é quase idêntico ao do sumo pontífice em Jerusalém. Com tudo isto não conseguiste evitar que tua filha morresse por duas vezes!
Um cargo tão importante só serve para aumentar o orgulho de tal pessoa e a tendência para o bem-estar, enquanto sua capacidade de auxílio ao próximo se torna cada vez mais fraca. Pois quem não pode ou não quer socorrer aos necessitados é tão pobre quanto eles.
Um ofício igual ao teu não tem valor nem mérito; que tal se o restituísses às mãos do sumo pontífice em Jerusalém e mais tarde fosses morar em companhia de teu genro, com o qual passarias melhor que no convívio com os teus colegas? Poderias esclarecer Borus, pouco a pouco, sobre a Escritura, o que lhe seria muito útil; ele, por sua vez, ensinar-te-ia algo a respeito da arte de curar. Com isto não te imponho uma obrigação, depende tudo da tua vontade! Farás bem seguindo o Meu Conselho; no entanto, não pecarás por não fazê-lo!”
Diz Jairo: “Senhor, externaste meu mais sincero desejo! Já o tive há muito tempo; mas, como agora se apresenta uma oportunidade tão feliz, mandarei amanhã mesmo o pedido de minha demissão a Jeru- salém! Não faltará pretendente, pois até os há que se prontificam ao pagamento de taxas dez vezes mais elevadas ao valor de tal cargo, de sorte que os senhores do Templo se darão por satisfeitos com este meu pedido. Costumam eles até propor a desistência do cargo àqueles que o ocupam, porquanto com isto um novo aspirante teria oportunidade de enriquecer o sinédrio com mais algumas libras de prata e ouro! Tais negociatas rendem grande lucro em Jerusalém!”
Digo Eu: “Oh, isto sei melhor do que tu! Lá se dá maior valor à matéria, e não ao espírito do homem! Se te apresentasses como pro-
feta, pregando qual um Moysés ou Elias, mostrar-te-iam em breve as pedras malditas, com as quais se apedrejou a maioria dos profetas; mas, se aparecesses com dez mil libras de ouro, serias recebido com todas as honrarias! Manda levar dois bois cevados ao Templo e podes estar certo que terás mais agrado que Moysés e Elias. Mas deixemos isto de parte! O tempo não está longe que dará aos templários, bem como a Jerusa- lém, a paga merecida! Tratemos, porém, de outro assunto! Que se fala de João? Encontra-se ele ainda no cárcere?”
Responde Jairo: “Não me consta que fosse posto em liberdade! Mas, se for de Tua Vontade, mandarei indagar sobre isto pelo meu men- sageiro, que levará meu pedido de demissão!”
Digo Eu: “Deixa isto; Herodes é uma raposa ladina e poderia causar aborrecimentos a teu portador. Além disto, vejo em espírito a situação de João Baptista. Depois de amanhã receberemos más notícias, que abalarão a todos!”
Após estas Minhas Palavras, Cirenius e Cornélius perguntam se é de Minha Vontade que também desistam de seus cargos elevados.
Respondo: “Em absoluto! Vossos cargos são diferentes, mui necessários e de grande importância! Deveis preenchê-los com retidão e justiça e tratar a todos igualmente, dentro da lei! Todavia, como já ouvistes de Mim, fazei que o amor anteceda à justiça e considerai que o pecador, agindo muitas vezes por ignorância contra o poder gover- namental, não deixa de ser uma criatura, destinada, como vós, à Vida Eterna no Reino de Deus! Manipulando o vosso direito dentro desta compreensão, agireis como os anjos do Céu, que são servos de Deus, como vós o sois do imperador!”
Diz Cirenius: “Faremos isto à toda risca! Mas resta esclarecer o seguinte: Somos romanos e pagãos; devemos continuar como tais ou renunciar abertamente ao paganismo e aceitar a circuncisão?”
Digo Eu: “Nem uma nem outra! Pois quem, como vós, foi cir- cuncidado no coração pela fé e o amor a Deus nada disto necessita para a obtenção da Vida Eterna. Além disso, Meus discípulos repletos do Es- pírito Divino procurar-vos-ão daqui a alguns anos a fim de vos batizar, e assim recebereis tudo que necessitais. Agora sabeis de tudo; como já
é quase noite, vamos nos recolher mais cedo, por ser um antessábado. Após a ceia nada mais haverá para discutir.”
Eis que se Me aproximam os dois anjos, pedindo para per- manecerem estes dias em Minha Presença Física, pois isto lhes seria a máxima Bem-aventurança.
Respondo em alta voz: “Tendes plena liberdade de ação; mas não esqueçais vossa tarefa! Os sóis centrais necessitam de grande aten- ção e sabeis a imensidade existente no Espaço Infinito!”
Dizem os anjos: “Senhor, já está tudo feito e continuará a sê-lo.”
Digo Eu: “Sim, já sei; por isto, podeis ficar; pois a mais ínfima entre estas criaturas representa mais que incontáveis sóis centrais, paré- lios ou planetários! Mas todos eles foram criados por causa do homem e, por isto, necessitam de muito trato!” Os anjos se curvam contentís- simos, juntando-se aos discípulos, esclarecendo-os a respeito de muitos assuntos importantes. Borus, porém, vai tratar duma boa ceia.
48.ASSUNTOSHEREDITÁRIOSDE JAIRO
Após a ceia, que durou mais de uma hora, Cornélius se dirige a Cirenius: “Nobre irmão, que te parece? Devemos ficar aqui ou — em vista de possíveis negócios urgentes — irmos embora? Sujeito-me às tuas determinações.”
Responde Cirenius: “Já devia ter partido de manhã cedo. Mas dize-me: Quem poderia partir, sabendo o que aqui se passa? Seria difícil alguém abandonar um imperador amigo, se este dissesse: ‘Se quiseres fi- car, fica!’ Mas que representa um tal dirigente mundano perto do Cria- dor dos Céus e da Terra? Além disto, Seus anjos obtiveram permissão para aqui permanecer, e nós poderíamos aproveitar muita coisa com este convívio. De jeito algum irei embora! Disto nem o Império Roma- no me convenceria! Portanto, também poderás ficar, que te dou permis- são para tal; mesmo que aconteça algo de extraordinário em Roma, a Mão do Onipotente possuirá meios suficientes para normalizar tudo.”
Diz Cornélius: “Nobre irmão, estou contentíssimo com teu pa- recer, pois não sinto o menor desejo de abandonar este ambiente! Fiz a
pergunta apenas em virtude de ordem política. Seria, no entanto, razo- ável ordenarmos a um vigia que procurasse saber da opinião a respeito de nossa presença aqui.”
Diz Cirenius: “Se isto for da Vontade do Senhor, poderemos assim agir; acho, porém, que tanto Ele como os dois anjos farão o papel de polícia secreta. Uma vez afastados deste convívio celeste, teremos que usar de meios naturais.”
Digo Eu a Cirenius: “Está tudo bem assim; além do mais, sei desde o Alpha ao Ômega tudo que se passa na cidade. Nada há que temer! Este povo é ignorante e tolo demais para certas maldades! De Nazareth nunca surgirá uma revolta. Além disto, Meu Borus é um po- licial fiel; tão fácil não lhe escapa algo de importante. Também poderia ordenar a Meus dois anjos efetuarem a espionagem, tanto que saberíeis num momento muito mais que se investigásseis durante dez anos; mas, como já disse, nada disto é preciso, portanto iremos nos recolher. Jairo somente terá que mandar um mensageiro a Jerusalém por causa de sua demissão. Amanhã haverá outro assunto a resolver.”
Diz Jairo, tristonho por ter que nos deixar: “Senhor, não seria possível preparar este documento aqui e fazê-lo entregar em Jerusalém por um portador? Tudo que possuo é uma casa em Capernaum com tudo que ela contém, a qual deixarei para meu genro. Munido dum atestado comprobatório, poderá entrar de posse dos meus bens como se fosse meu herdeiro, e tanto eu como minha esposa somos dispensáveis nesta transação. Meus verdadeiros amigos já se encontram aqui e não necessito despedir-me naquela cidade.”
Digo Eu: “Pois bem; podes ficar, que mandarei um dos Meus Mensageiros; mas somente amanhã, sábado!”
Opõe Jairo: “Penso que este dia não seja apropriado para tal fim, porquanto os templários o consideram com rigor!”
Digo Eu: “Deixa estar, fazem isto porque uma possível transgressão lhes traria lucro. Entrega-lhes ouro e prata num feriado e verás como o transgridem. Por isto, não te preocupes; Meu servo liquidará este negócio!
Julgas que seria do agrado dos fariseus se não houvesse quem ultrajasse o Dia do Senhor? Quanto mais ultrajes, principalmente da
parte dos ricos, maior regozijo dos senhores do Templo! Meu servo será bem recebido durante o sacrifício e, além do mais, já existem dez as- pirantes para o teu posto. Irão interromper a cerimônia para iniciar o leilão e saberás pelo mensageiro o nome do sucessor. Vê, assim andam as coisas na Casa do Senhor em Jerusalém, que se tornou a cidade de Satanás. Como já organizamos tudo, vamos nos recolher!”
49.ABDICAÇÃODEJAIRO.OSENHORNA SINAGOGA
Em seguida todos vão repousar. Apenas Meus Irmãos, Maria e Borus estão ocupados na cozinha, a fim de tudo prepararem para o sábado, no que são acompanhados por Sarah e Lydia. Logo após, também se recolhem e na manhã seguinte Maria é a primeira a se le- vantar, acordando as ajudantes para a organização do necessário antes do pôr-do-sol, como é de uso entre os judeus. Borus também ajuda e, quando nos levantamos, as mesas já se encontram postas, com travessas de peixes, pão e vinho.
Cantam-se salmos de louvor e todos se entregam ao bom desje- jum. Após a refeição, mando o mensageiro a Jerusalém. Preocupado, Jairo espera sua volta. Depois de duas horas de negociações, o mensa- geiro chega, para satisfação de Jairo, trazendo-lhe a notícia da agradável surpresa que sua desistência do cargo despertara e mais o agradecimen- to e louvor por tê-lo desempenhado fielmente. Também é-lhe trans- mitido o nome de seu sucessor com o pedido de auxiliá-lo em caso de necessidade.
Jairo, todo contente, dirige-se a Mim: “Senhor, agradeço-Te do fundo do meu coração por esta boa solução do meu caso, pois neste ofício teria me tornado uma presa de Satanás!”
Digo Eu: “Pois não te disse que se pode interromper num sába- do a hora do sacrifício quando se trata dum bom negócio?! Por aí vês o quanto os templários prezam a Deus e Suas Sábias Leis!
Agora, porém, iremos, por causa do povo, visitar a sinagoga para ver o que lá fazem os fariseus; tomaremos assentos nos últimos bancos para que não sejamos logo descobertos por eles!”
Diz Jairo: “Não irei, pois sou conhecido por todos os meninos e teria que me sentar no presbitério, o que vos denunciaria!”
Respondo: “Não te apoquentes! Quando Eu te aconselho algo, podes Me seguir, que nada sofrerás! Vamos!” Em seguida saímos, al- cançando em poucos minutos a escola. Qual não é nossa surpresa ao encontrar apenas fariseus serventes na sinagoga! Pouco a pouco chegam alguns velhos judeus, que se assentam nos seus lugares de costume para se entregar à habitual soneca.
Após o sacrifício concluído e a leitura monótona dos Manda- mentos, dum Salmo e do Cântico dos Cânticos de Salomon, um orador sobe ao púlpito e começa a falar com voz rouca: “Amados de nossos pais Abraham, Isaac e Jacob! Vivemos numa época atribulada, idêntica à de Noé quando construiu a Arca, fechando-se nela com os seus a mando de Jehovah! Encontramo-nos no lugar sagrado do qual Daniel predisse o horror da devastação — como os escravos banidos pela bruxa, Mege- ra, veem os martírios de seus irmãos, esperando apavorados a sua vez de serem atirados dentro do aço incandescente — sem nos podermos me- xer para a direita ou para a esquerda! Estamos tão abandonados como um tronco seco há muito tempo, como prova de que nestas zonas se encontravam, em épocas remotas, florestas verdejantes! Que fazer? Eis a pergunta! Uma coroa de diamantes àquele que seja capaz de achar resposta razoável! Que não deixe, no entanto, de considerar a nossa posição extremamente agrilhoada pelo mundo!
De um lado os romanos nos pesam na nuca como se fora o Monte Sinai — do outro, o filho do carpinteiro, que surgiu como se caísse das nuvens, qual profeta jamais visto desde Abraham. Todos o se- guem, grandes e pequenos, jovens e velhos! Se hoje Jehovah surgisse em Pessoa, não faria atos mais grandiosos! Cura todas as doenças pela pa- lavra, desperta os defuntos e dá-lhes vida completamente nova! Assim também ordena aos ventos e às ondas do mar — e eles lhe obedecem como escravos a um senhor! Quando fala, manifesta uma sabedoria luminosa e todos são arrebatados e o seguem! Além disso, os nobres de Roma são a seu favor e o auxiliarão com legiões, em caso de necessida- de. Nós, porém, estamos à beira dum abismo, podendo ser tragados a
cada momento e não temos um ser vivo ao nosso lado, a não ser estes velhos dorminhocos na sinagoga! Repito, pois, minha pergunta: Que devemos fazer?
Que nos adiantam Moysés e todos os profetas e mesmo Jeho- vah, que com eles falou, deixando-nos, porém, há mais de um século no mais tenebroso lodo? Gritamos por socorro de tal maneira, que as estrelas mais distantes nos deveriam ouvir — mas Jehovah não Se ma- nifesta e nos abandona de pior modo que um noivo pirata poderia pro- ceder com sua noiva, por ele enganada! Além disso, possuímos o título de ‘Povo de Deus’, enquanto os falados pagãos têm reputação, riquezas mundanas e poderes idênticos aos que Jehovah prometeu a David de acordo com a Escritura — fatos que nunca se realizaram!
Lê-se verbalmente: ‘Teu Reino jamais terá fim!’ Fitemos, pois, o Reino Eterno de David! Que mentira mais flagrante dum profeta ba- julador! David teve o prazer de assistir ao efeito negativo dessa profecia
e se não fora o carvalho que prendesse seu filho Absalom pelos ca- belos, este teria subido ao trono! Deixemos, porém, o passado e consi- deremos o atual Reino Eterno de David! Bonito Reino! Talvez sua alma se dirigisse aos Césares de Roma, cujo reino se apresenta mais vistoso e durável que o do grande homem mandado por Deus! Irmãos, não vedes que nossa velha doutrina é apenas um mito com um nome fabu- loso?! E nós, tolos, ainda nos prendemos a isso, como se nos trouxesse a salvação! Qual o imbecil que vestiria farrapos se os pudesse trocar por novas vestes?!
Tanto a História quanto a nossa experiência demonstram cla- ramente que a Doutrina de Moysés e dos profetas nada mais é que uma casca oca — no entanto, a ela nos agarramos como a um cálculo certo e não arredamos pé, muito embora a água tente afogar-nos, entrando pela boca como o Jordão pelo Mar Morto!
Deixai-nos, por isto, aderir ao filho do carpinteiro, que esta- remos abrigados! Faz ele coisas que os patriarcas jamais contaram de Jehovah! Penso ter com este meu discurso respondido minha própria pergunta; segui meu conselho, que todos nós melhoraremos, tanto físi- ca como moralmente!
Roban, nosso superior, deu-nos o exemplo; sigamo-lo, que lucraremos com isto! Talvez este não considerado carpinteiro Jesus se preste para restabelecer o infeliz Reino de David, ao menos por algum tempo! Através de seu poder mágico, que desafia qualquer outro, po- derá com facilidade impor tal respeito aos romanos, que suas legiões invencíveis debandem aos milhares!”
Nisto se levantam os anciãos, escribas, fariseus e levitas, di- zendo: “Entendes mal a Escritura, falando de modo tão herético. Com relação à vida material, pareces ter razão; mas, relativamente ao espírito, cometeste um crime sacrílego contra a incontestável Majestade Divina; por isto, vemo-nos forçados a te expulsar do nosso meio, para o conví- vio dos pagãos!”
Responde o orador: “Julgais, com isto, castigar-me? Oh! Que erro tenebroso! Se desejardes continuar os mesmos tolos a morrer de inanição, fazei-o, que permanecereis nas vossas trevas! Cabeças ocas, dai-me um exemplo de qualquer orador da Palavra Divina que desper- tasse um morto da tumba, como o fez este carpinteiro!”
Dizem os anciãos: “Isto será feito por Deus no Dia do Ju- ízo Final!”
Diz o orador: “Pois sim! Esperareis em vão! Pessoa alguma sabe que Jehovah, como O conhecemos pela Escritura, alguma vez tivesse feito voltar à vida alguém! Assim sendo, e enfrentando, após uma curta vida terrena, a morte eterna, a criatura se apavora, perguntando cheia de temor: ‘Quem sou, para onde irei quando esta vida terminar?’ Como nunca faltassem os tais servos de Deus, como temos a honra duvidosa de nos chamar, eles tinham que inventar, para consolo dos indagado- res e de si mesmo, o mencionado despertar no Dia do Juízo Final! E nós, tolos pensadores, enganamo-nos a nós próprios — e esta cegueira impede que possamos considerar os fatos milagrosos que se passam em nossa frente!
Que tencionais com estes velhos trastes dos judeus que, com o esclarecimento dos povos, não durarão mais meio século? Eu, por mim, não esperarei o final deste ensinamento tolo, o qual nada de positivo tem a não ser os nomes históricos!
Se Jehovah não puder falar e ensinar com mais lógica, como qualquer filósofo grego, que frequente primeiro tal escola! Com isto não quero dizer que não suponho Jehovah mais sábio que um filósofo!
Deixai-me em paz com vossoJehovah! Realmente, como homem sincero, envergonho-me de ter seguido uma doutrina tão tola! Se a dou- trina de Moysés continha algo de bom, este algo foi tão deturpado, que nada mais existe, ou, então, possui um nome falso! Serei, portanto, ainda hoje discípulo do carpinteiro Jesus! Ele é bom e não rejeitará um companheiro honesto!”
50.PALESTRASDOSANCIÃOSSOBREASITUAÇÃO JUDAICA
Exclamam os anciãos, irritados com o orador: “Herege! Sacríle- go! Sabes que pelas tuas explanações mereces, de acordo com Moysés, ser apedrejado dentro da escola? Como te atreves a abalar a fé de outros em Deus e Moysés, só porque não a tens?
Teu raciocínio tão fraco é a não veres que a vida duma criatura não basta para alcançar a sabedoria através da experiência? Por isto Deus ensi- nou aos homens as letras, a fim de que pudessem anotar aquilo que suce- dia naquela época. Isto já nos prova a experiência de nossa vida, porquanto não há dias, semanas e anos idênticos! Investiga na Crônica e te daremos tudo que possuímos se nos provares já ter ocorrido o que ora acontece!
Que tencionas, portanto, com tuas graves suspeitas contra a Escritura, herança sagrada de nossos ancestrais, que nos ensina uma conduta impecável e as diretrizes necessárias, pelas quais os descenden- tes conseguem levar uma vida mais agradável a Deus?! Acreditas que sejamos tão tolos que nos fosse impossível julgar o que se passa na nossa frente? Enganas-te! Aproveitamos a sabedoria de nossos pais, que tudo analisaram antes de aceitá-lo!
Se tivessem tua fé tão vacilante, não teriam apedrejado os profe- tas, pois, quando verificavam que, apesar de apedrejados, continuavam convictos do que afirmavam, aceitavam suas profecias! Se isto fizeram nossos pais, achas que seja razoável supor nossa Sagrada Doutrina nada mais que um panfleto?!
Declaraste-nos tolos e bobos; mas surge a pergunta: não és o maior dentre nós? Não fica bem a um descendente da estirpe de Levi julgar rispidamente seus irmãos! Se, no entanto, tencionavas examinar se ainda somos os mesmos, não obstante os acontecimentos extraor- dinários desta época, tiveste uma atitude desprezível e mostraste teu verdadeiro sentimento!
Toda criatura demonstra pelo zelo excessivo suas paixões. O ou- vinte calmo tira suas deduções, levando a vantagem de conhecer bem seu adversário. Pensas não sabermos que, principalmente, a prática da nossa Doutrina contém muitas aberrações que, por infelicidade, obs- curecem Moysés e os profetas mais intensamente que as mais densas nuvens tempestuosas, o Sol? A pura Doutrina, porém, não pode ser prejudicada e o verdadeiro escriba sempre saberá onde achar a Verdade!
Observamos tão bem como tu que estes abusos exterminarão, no final, a verdadeira Religião, como o fazem os vermes numa árvore verdejante, naquelas criaturas semelhantes a ti. A Doutrina, entretanto, continuará sempre a mesma e terá seus fiéis. Já não viste os parasitas nas árvores, sugando-lhes o viço? Por tal motivo deixam estas de ser o que são?
Nós, criaturas, ignoramos a causa disto; uma coisa, porém, sabe- mos: essas aberrações não existiriam se não fosse da Vontade de Deus! Por que existem lobos, que só servem para destruir as manadas pacífi- cas? E o leão, o tigre, a hiena e outros animais selvagens — por que o condor ao lado da pomba? Eis os segredos insondáveis para os homens ignorantes!
Um lavrador, por exemplo, cultiva o seu campo; tudo germina maravilhosamente. Ele até aumenta seus celeiros para que comportem a grande colheita; mas, de repente, tudo é destruído por um temporal! Não poderia se perguntar: ‘Meu Deus, se fosse de Tua Vontade que este campo não desse fruto por ser o camponês um pecador, tinhas Poder de sobejo para destruir os gérmens, poupando-lhe a despesa e trabalho!’ Vê, quantas vezes isto acontece, sem que possamos saber do motivo!
Do mesmo modo, vemos os deslizes praticados na Doutrina de Moysés e observamos os viandantes em caminhos errados. Mas que nos
é dado fazer? Não é obra nossa, portanto devemos suportá-la, mesmo sendo condenável!
Ao nosso espírito não foi imposto limite; reconhecemos a ver- dadeira Doutrina na sua pureza original e esta nossa compreensão nem por Deus pode ser contestada. Seria ridículo se Deus nos falasse a cada um em particular: ‘Vai e destrói o Templo, que está cheio de detritos; Eu, Deus Onipotente, aborreço-Me com estes horrores!’ Isto justificaria ao homem a seguinte resposta: ‘Senhor, vê que absurdo exiges de mim, criatura fraca! Se minha existência Te incomoda, basta um Teu Pensa- mento para destruí-la; exigir, porém, o impossível de mim, é o mesmo que ordenar a um mosquito que carregue um elefante nas suas costas!’ Achamos que Deus é Sábio, de tal forma que reconhece ser impossível a um homem nadar contra a maré! Agora, dize-nos se concebes a plena verdade de nossa opinião, que te perdoaremos os impropérios que nos lançaste em rosto!”
51.TESTEMUNHODEUMORADORARESPEITODA ARCA
Responde o orador, que durante este discurso não perdeu a cal- ma: “Queridos amigos e irmãos! Tudo que acabastes de falar também o sei! No entanto, regozijo-me em saber, pela primeira vez em minha vida, que não sois tão ignorantes, como eu também não o sou! Falastes certo; minha pergunta, porém, não foi respondida. Consegui apenas que externásseis claramente vossa opinião pela primeira vez no nosso convívio durante vinte anos! Esta mútua compreensão não atenua o mal em que nos encontramos; resta saber qual a medida a tomar.
Como filho dum Pontífice de Jerusalém e educado no Templo, sei perfeitamente da situação da Arca. Madeira, prata e ouro ainda são os mesmos; mas a vara verdejante de Aaron secou até tornar-se pó, as tábuas com os Mandamentos se quebraram, o Maná só existe na imagi- nação! E a coluna de fogo, onde ficou?! Sabe-se pelos anais da Escritura que todo leigo perdia a vida quando tocava na Arca com mãos profa- nas; agora pode-se nela pisar e tocá-la à vontade, sem que deite fogo mortífero.
Quando estrangeiros desejam vê-la, é-lhes concedido isto por muito dinheiro e promessas de sigilo, mas somente um dia após a con- cessão! Pois neste caso produz-se artificialmente a coluna de fogo — não por cima da antiga Arca, mas acima da nova, feita de metal! Con- tém na parte superior, ao centro, uma taça preta colocada dentro da tampa, de maneira que não pode ser vista no escuro, produzindo fogo e fumaça. Nessa taça mistura-se um puríssimo óleo de nafta com ou- tros óleos aromáticos, que se acendem mais ou menos uma hora antes. Queimando numa altura de seis palmos, representa a coluna de fogo. Se os curiosos, após a terem apreciado, desejam ver o interior da Arca, tira-se com cuidado a sua tampa, sob cerimônias e preces incompreen- síveis, e aos visitantes são mostradas as novas pedras de Moysés como sendo verdadeiras. Assim também se faz com o Maná fresquinho e a vara verdejante de Aaron.
Alguns ficam inteiramente comovidos; outros, principalmente gregos, saem de lá sorrindo e dizem: ‘Eis um espetáculo interessante!’ A maioria se queixa da sujeira no interior do Templo. Aposto como atualmente já nem mais existe a velha Arca.
Se não me quereis dar crédito, podemos nos disfarçar em roma- nos, ir a Jerusalém e nos portarmos como estrangeiros dentro do Templo. De pronto seremos abordados por um servente, que examinará nossas intenções quanto à origem, o que procuramos, o tempo que permane- ceremos na ‘Cidade de Deus’, se possuímos dinheiro, se não queremos vender ouro ou prata e, finalmente, se não desejamos ver o Santíssimo por uma pequena taxa. Perguntando pelo preço, responder-nos-á algo de cem libras de prata. Alegando ser muito dispendioso e que não nos interessa tal coisa, mas que pagaríamos dez libras, imediatamente é-nos mostrado o Santíssimo, se prometermos ao vigia jamais relatar este fato, nem na Judeia nem no Estrangeiro. Isto feito, seremos conduzidos ao Santíssimo — e vos podereis certificar se menti a respeito da Arca!
Amigos e irmãos, quando uma pessoa esperta viu estas coisas no Templo, torna-se-lhe difícil, como homem honesto, fazer o papel dum impostor e mentiroso pago! Quantas vezes não pensei o seguinte: ‘Se o Santíssimo, no qual se baseia a Doutrina Sagrada e todas as Suas Leis,
é um logro infame, que esperar do sentido da Mesma?’ Externei minha opinião e estou pronto para vos ouvir!”
Diz um ancião: “Tiveste permissão para relatar estes segredos? Não foste obrigado a fazer um juramento de sigilo eterno antes de dei- xar o Templo como Iniciado?”
Diz o orador: “Certo, mas tomo a liberdade de rompê-lo por não ter valor algum e declaro ao mundo inteiro como fui enganado! Além disso, não se toma estas coisas tão a sério aqui, em Nazareth, e pode-se muito bem agir sem escrúpulos.”
52.DISCURSODEDEFESADO ANCIÃO
Dizem os velhos: “Reconhecemos que de certo modo tens razão; falta-te, porém, a experiência. Nem sempre as coisas no Templo anda- vam neste pé! Se pensas um pouco, deves aceitar o seguinte: se nunca houvesse algo verdadeiro e real, ninguém poderia ter a ideia de imitá-lo! Por que motivo a falsificação de diamantes, pérolas e prata?
Sabemos que os persas tecem os melhores e mais finos xales e outros tecidos, tingindo-os de acordo com sua arte oculta, motivo pelo qual seus produtos têm tanto valor. Se fores a Jerusalém, Sichar ou Damasco, é preciso que sejas um conhecedor apurado, a fim de não comprares as imitações feitas em nosso país!
Se nunca houvessem coisas legítimas, ninguém teria a ideia de imitá-las. E se o genuíno não tivesse valor tão elevado, a cópia seria dispensável. Por aí vês que se não teria feito uma falsa arca com coluna de fogo, se realmente não tivesse existido a verdadeira.”
Diz o orador, chamado Chiwar: “Muito bem! Isto é claro; resta saber qual o acontecimento que fez com que a velha Arca, a bem dizer, morresse! Ela existe e, de vez em quando, acha-se no lugar da falsa — coisa rara, porém, em virtude das frequentes visitas. Sabe-se perfeita- mente que, há trinta anos atrás, ninguém podia penetrar no Santíssimo além do Pontífice, possuidor do direito de sentar-se na cadeira de Aa- ron. Qual, portanto, a razão de o Santíssimo só o ser pelo nome, pois no fundo o é tão pouco como esta nossa sinagoga?”
Diz um ancião experimentado: “Qual o motivo disto nem eu nem um Iniciado em toda Israel poderá saber; certo é que a coluna de fogo se apagou após o homicídio do sacerdote Zacharias, ocorrido entre o Altar e o Santíssimo, e nunca mais apareceu, não obstante as múltiplas preces.
Compreendes não ter sido possível relatar este acontecimento ao povo, pois se teria rebelado. Com os romanos no país, uma revolta teria sido de consequências funestas! De modo que, além de nós, Ini- ciados, pessoa alguma tem conhecimento disto, e estes galileus que ora estão dormindo nos bancos não poderão ter ouvido algo. Mesmo se assim não fosse, não teria importância, porquanto, desprovidos de fé, defendem o seguinte ponto de vista: é preciso que haja religião para conter o povo.
Que interesse pode ter o galileu legítimo na genuinidade da Arca, quando esta tem o efeito desejado sobre o povo supersticioso?! Por isto, pode-se agir com sinceridade quanto a este assunto nas redon- dezas de Nazareth, Capernaum e Chorazim, sem prejudicar alguém. Com referência aos romanos e gregos, sabemos o que fazer! Foi este o motivo do aprisionamento de João Baptista, pois temia-se que ele, como filho de Zacharias, pudesse revelar a fraude feita com a Arca! Eis por que também o carpinteiro é tão perseguido, de sorte que devemos guardar este segredo para nós!”
Diz Chiwar: “O assunto é deveras muito sutil; espero que os que se acham sentados na entrada da sinagoga não tenham ouvido algo!”
Diz o ancião: “Cochichamos apenas e, mesmo que eles ouvissem algo, não o entenderiam, pois são gregos e romanos.”
Obtempera Chiwar: “Vi entre eles o filho do carpinteiro, Jesus, o vice-rei Cirenius, o reitor Jairo, o comandante Cornélius, Fausto e outros conhecidos!”
Diz o outro: “Contra estes não há proteção; portanto, não importa se nos ouviram ou não! Se quiserem transmitir isto ao povo, fá-lo-ão, pois devem estar a par da situação da Arca do Templo; não o querendo, nossa palestra não lhes terá trazido motivo para tanto — por isto, não precisamos nos preocupar! Devemos evitar a divulgação
do fato e, se algum dia isto se tornar necessário, teremos que agir com muita precaução!”
53.CHIWARTESTEMUNHADAVIDAEDASAÇÕESDE JESUS
Diz Chiwar: “Realmente, preciso elogiar vossa inteligência! Em- bora trabalhássemos juntos desde muitos anos, nunca se havia dado uma oportunidade de vos conhecer mais de perto, e folgo em ver que sois mais inteligentes que os servos do Templo. Contudo, a pessoa do carpinteiro Jesus é o que há de mais extraordinário visto até hoje. Adam, com suas experiências centenárias, nada vale! Henoch faz par- te dos mendigos espirituais! Abraham, Isaac e Jacob, Moysés, Aaron e Elias são uns pobres coitados em comparação a nós mesmos! Umdia traz maiores milagres que os que foram assistidos pelos patriarcas!
Desde ontem venho fazendo o observador secreto daquilo que se passou em casa do velho José. Repito: milagres sobre milagres! Dois anjos perfeitamente vivos lhe servem! A esposa de Fausto se encontrava em Capernaum e o carpinteiro quis que ela tomasse parte no almoço; no entanto, sua busca levaria cerca de quatro horas. O que aconteceu? O carpinteiro fez um aceno aos dois anjos, que desapareceram por al- guns minutos, trazendo Lydia, alegre, sã e salva a Nazareth! — Que dizeis? Podeis assimilar isto?”
Perguntam os anciãos: “Que mais viste?”
Responde Chiwar: “Conheceis a filha de Jairo e sabeis que mor- reu por duas vezes e que na última já estava alguns dias na sepultura; ignorais, no entanto, que esta linda Sarah se tornou esposa de Borus! Não é extraordinário que uma moça por duas vezes falecida possa até se casar, coisa nunca vista na Terra?! Quando recebia a bênção do carpin- teiro, ela viu os Céus abertos e uma imensidade de falanges de espíritos preenchiam o éter, louvando a Deus por ter manifestado esta Honra e Graça ao mundo! Após esta cena os Céus se fecharam com o aceno do carpinteiro; ficaram somente os dois anjos, como os vedes perto da porta da escola. Mirai-os e dizei se é possível que sejam de outras zonas que não dos Céus!
Se isto se deu tal como vos acabo de contar, por que então não o considerar mais elevado que um simples adepto dos essênios, aos quais nunca poderia ter visto, porquanto, a meu ver, nunca se afastou daqui, a não ser umas poucas vezes que foi a Nazareth em companhia do pai e irmãos. Consta que foi uma vez a Sidon para ajudar na construção duma casa.
Embora se saiba que era muito calado e comumente conside- rado pouco inteligente, ninguém ignora que se deram fatos estranhos desde seu nascimento até aos doze anos; até o próprio nascimento consta ter sido milagroso, de acordo com o relato do comandante Cornélius!
Por isto, pergunto se é admissível hesitarmos em considerar este Jesus, pelo menos, um Filho de Deus; pois seus atos e a forma pela qual ordena aos anjos levam a crer ser ele pleno do Espírito Divino! Não sei, portanto, por que razão devemos continuar presos à Arca morta, se a ‘viva’ caminha e age diante de nossos olhos! Podemos continuar sendo externamente o que fomos, por causa do povo; mas, no íntimo, deverí- amos professar suas ideias!”
Diz o sábio ancião: “Ou tudo, ou nada! Se for pleno do Divino, forçosamente detestará meios-termos; não o sendo, será melhor conti- nuar com a Arca sem vida, relembrando seu estado anterior, que aceitar algo cuja causa se desconhece!”
Aduz Chiwar: “Por isto, analisaremos o fato; eu, por mim, não preciso investigar coisa alguma — sei o que faço, seguindo-o!”
Opõe o outro: “Julgas que o Templo nada fará se uma comu- nidade após outra dele se afastar? Sou de opinião que não demorará em mandar seus algozes por toda parte! Coitados dos que cometeram apostasia, que serão seriamente castigados! Os discípulos dos filósofos gregos levarão vantagem sobre os adeptos de Jesus, que não são nem in- teiramente judeus nem gregos, sabendo mais ou menos que o Templo já não possui mistérios para eles! Digo-vos: nada haverá de mais perigoso para o sinédrio que a atuação profética de Jesus e seus adeptos! Tudo fará para impedir a divulgação de uma doutrina que, forçosamente, arruinará sua existência!
Não viste no ano passado a ação do Templo com um grego que divulgara ser lá aceito dinheiro romano, enquanto só era destinada a moeda de Aaron para este fim, não podendo ser recebido outro qual- quer? Foi atraído por promessas de lucro para, em seguida, ser morto de tal maneira jamais anotada na Crônica! — Por isto, muita cautela! Devemos ou nos tornarmos gregos, aderindo a Jesus de corpo e alma, ou, então, continuarmos o que somos!”
Diz Chiwar: “Tens razão no que se refere ao cuidado mun- dano; mas que dirás se este carpinteiro for o Messias Prometido, isto é — como David O chama, num profundo respeito — Jehovah em Pessoa? Devemos então usar de subterfúgios, ou, então, aderir à Sua Bandeira Celeste, não nos deixando amedrontar pelas artimanhas de Satanás, pois teremos com Ele a certeza da Vida Eterna, mesmo isto nos custando esta miserável vida terrena?!” Com esta proposta de Chiwar, todos ficam estatelados e não sabem o que decidir.
54.CONSELHODOSANJOSAOSTEMPLÁRIOS CONVERTIDOS
Nisto, os dois anjos se lhes aproximam, dizendo: “Chiwar falou certo e tu, ancião, também tens razão no que diz respeito detestar Deus meios-termos! Nós, no entanto, como testemunhas dos Céus, dize- mos: Não temais àqueles que não podem prejudicar vossas almas, e sim Aquele que é o Senhor sobre toda a Vida nos Céus e na Terra! Sem Ele, não existe Vida! Por isto, aceitai o conselho do vosso amigo Chiwar!”
Indaga o ancião: “Mas quem sois, que vos dizeis testemunhas dos Céus?”
Respondem eles: “Pergunta a Chiwar, que nos viu buscar a es- posa de Fausto!”
Diz o ancião: “Assim sendo, não há mais que refletir, pois renun- ciaremos ao Templo!”
Dizem ambos: “Não façais isto, queridos amigos; o Senhor é Condescendente em tudo! Se Lhe seguirdes no coração, acreditando que somente por Ele se cumpre a Escritura, fazeis o bastante; quanto ao resto, conservai-vos como sois, a fim de que os servos do mundo e do
diabo, dos quais o Templo está repleto, não sejam despertados antes da hora! Ensinai o povo a respeito de Moysés e os profetas e mantende o cumprimento das Leis Divinas; as instituições do Templo, porém, não precisais considerar — e com isto sereis tão bem Seus discípulos como os que ele escolheu entre os pescadores.
Passados dois dias recebereis um novo reitor de Jerusalém, que, no início, terá ideias templárias; mais tarde, entretanto, mudará, con- cedendo uma quantidade de indulgências por dinheiro. Pessoalmente, ele não acredita no Templo, tampouco vos fará dificuldades. Jairo está aposentado e morará em casa do genro. Quanto ao novo reitor, não lhe conteis algo de milagres aqui ocorridos!”
Diz Chiwar, respeitoso: “Servos Divinos do Reino da Luz e da Vida Eterna! Vossos conselhos são ótimos; eu, porém, prefiro coisa melhor! Que vos parece, se eu aderisse integralmente aos discípulos do Senhor?”
Respondem eles: “Toda criatura deste mundo é livre e pode fazer, crer e falar o que quiser; mas, se alguém, como vós, recebe um conselho dado pelos Céus, fará bem em aceitá-lo. Pois, sobre os atuais adeptos do Senhor, virão épocas de grande tentação — sendo experimentados pelo espírito, terão que fazê-lo também pelo fogo — e muitos fraquejarão, renunciando à justa causa! Vós não tereis muita dificuldade, podendo alcançar em paz aquilo que os outros só conseguirão sob grande pavor e perseguição! Podes, no entanto, fazer o que te agrada; será, porém, melhor continuar em tua atual posição!”
Diz Chiwar: “Sim, ficarei; mas, enquanto o Senhor aqui perma- necer, desejo acompanhá-Lo, a fim de aproveitar os Seus Ensinamentos! É isto possível?”
Respondem os anjos: “Como não? O Senhor, no entanto, pou- co falará e tampouco realizará milagres, pois que as criaturas daqui não têm fé e O julgam um mago. Vós, porém, tereis oportunidade de orien- tá-las, o que vos será recompensado por Ele. Hoje à noite, Roban vol- tará ao vosso meio, trazendo-vos provas importantes a favor do Mestre e tornar-se-á vosso instrutor, pois é um dos espíritos mais fortes entre vós.” — Ditas estas palavras os anjos aderem ao outro grupo.
55.RELAÇÃOENTREOSPOVOSESEUS DIRIGENTES
Nisto, Cirenius Me pergunta se não é aconselhável absolver da lei severa estes fariseus, anciãos, levitas e escribas, na opinião dele, com- pletamente convertidos.
Digo Eu: “Quando a pessoa tem o poder legislativo nunca deve se precipitar em formar novas leis! Mas, uma vez que assim aconteceu, mui- to menos deverá se apressar em querer sustá-las; neste caso, o Conselho de Justiça terá de apreciar as razões. Se formares uma nova lei, terás inimi- gos naqueles que por ela serão atingidos; no caso de a revogares, apontar-
-te-ão como fraco, dizendo: ‘Vede o tirano! Como percebe a maioria de oponentes, procura reabilitar-se com o povo pela revogação da antiga lei. Mas não terá êxito com isto, pois um tirano nunca deixa de sê-lo!’
Por isto, é melhor não revogar leis; no entanto, é possível fazê-lo em segredo e, caso surgirem reincidências, deve-se aplicar a indulgên- cia, não julgando com severidade. Numa possível mudança de governo, depende de o regente modificar o legislativo. A não ser que sejas procu- rado para amenizar a severidade de teu governo, no que poderás ceder, mas sempre sob condição de, num caso de reincidência, renovares com rigor o teu poder.
Eis a prudência que todo regente deveria ter, caso almejasse o progresso de seu povo! Um negligente em breve perceberá que um afrouxamento das rédeas governamentais a todos trará prejuízo.
A posição dos povos com referência aos dirigentes é a mesma que entre filhos e pais. Quando estes forem severos e sábios, terão filhos bons, obedientes, e prestativos; ao passo que transigentes são domina- dos e até expulsos pelos filhos. O amor em conjunto com a sabedoria estabelece uma Lei Eterna; quem agir dentro deste conceito jamais fa- lhará, obtendo bons resultados. Compreendeste-Me bem?”
Diz Cirenius: “Sim, Senhor; e sempre foi assim no mundo. Pen- so que a perfeição se encontra entre um governo transigente e um seve- ro, não é assim?”
Digo Eu: “Exatamente, no meio está a felicidade, como acabo de te mostrar! Agora, porém, vamos para casa, que já é tarde!”
Pergunta Cornélius: “Mas Senhor — estes velhos ficarão dor- mindo? Podiam ter tirado a soneca em casa, a fim de não incomodar a outros com seu ronco! É de fugir! Como se portam! Aguento muita coisa, mas o roncar de alguém me leva ao desespero!”
Digo Eu: “Ora, deixa estar; enquanto roncam, não pecam! E se não o fizessem, teriam ouvido coisas aborrecidas para eles! Agora, vamos!” Com isto, dirigimo-nos à saída, mas os fariseus e anciãos se adiantam, ligeiros, abrem a grande porta, dizendo: “Senhor, está escri- to: Abri as portas e os portais para darem passagem ao Rei da Glória! Quem é Este Rei? É Jehovah Zebaoth! Por isto, dedicamos-Lhe todo louvor e toda honra, para sempre!”
Diz Cirenius, amável: “Sim, assim é e deve ser por toda a Eter- nidade! Que o Senhor esteja convosco!”
Aduzem eles: “E com o teu espírito, a fim de que sejas mise- ricordioso conosco! Tuas leis até hoje nos oprimiram duramente, pior que a morte; mas, como nos tornamos alunos do Senhor e aceitamos livremente os teus preceitos, deixaremos de sofrer. Mesmo assim, te agradecemos pela severidade do teu governo, pois sem ela facilmente nos tornaríamos traidores desta Santa Causa! Por isto, também não te pedimos a revogação das leis, pois, pelo idêntico pensar, crer e agir con- tigo, elas deixam de existir como tais!”
Diz Cirenius: “Deste modo também não mais as considero e estou convicto não necessitar renová-las por vossa causa. Não vos dei- xeis enganar e segui severamente o conselho dos dois anjos de Deus, que seremos os melhores amigos! E se por acaso houver perseguição por parte do novo reitor por serdes adeptos de Jesus, o Senhor de Eter- nidades, sabereis como encontrar-me — e os vossos direitos físicos e espirituais serão protegidos! Agora repito: O Senhor esteja convosco!”
Eles respondem: “E contigo para todo o sempre!” Em seguida todos se curvam, respeitosos, dando-nos passagem pelas alas abertas. Chegando à casa, nos espera um bom desjejum com pão, vinho e uma grande variedade de frutos saborosos.
56.ROBANEKISJONAHRELATAMSUAS AVENTURAS
À noitinha, chega Roban acompanhado de Kisjonah e cumpri- menta de longe todos que avista; Kisjonah dirige-se a Mim de braços abertos, com lágrimas nos olhos, e só em seguida cumprimenta sua filha, que segurava e beijava a mão dele. Depois saúda seu genro e Cor- nélius e, quando sabe que o romano a Meu lado é o vice-rei Cirenius, pede-lhe perdão por não o ter reconhecido.
Comovido, Cirenius pega de sua mão e diz: “Eu é que deveria pedir desculpas por não te ter cumprimentado, pois não te conhecia! Além do Senhor Jesus, que merece todo louvor e honra, devo a ti, meu amigo, a maior gratidão! Pois, entre todas as pessoas de Kis, fizeste o máximo para me salvar duma situação que, facilmente, ter-me-ia custa- do a vida! Que imenso prazer conhecer-te pessoalmente!”
Kisjonah, todo satisfeito, relata, entre outros fatos, que visita- ra Sichar em companhia de Roban e palestrara com Jonael, Jairuth e Archiel, que ora vivia como mortal e ninguém desconfiava nele um espírito puro.
Do mesmo modo procurara o médico Joram em seu palacete, bem como sua esposa querida, ouvindo por parte deles narrativas ma- ravilhosas. Roban fazia apenas papel de ouvinte e não cessava de ex- tasiar-se; só de vez em quando dizia de si para si: “Sim, darei minha vida e meu sangue a este Divino Mestre de Nazareth! Não é possível que seja um homem; sim, é Deus Mesmo, pois do contrário não faria estas coisas!”
Enquanto Kisjonah isto menciona, Roban se aproxima de Mim e diz, somente: “Senhor, sou Teu e não haverá poder, a não ser a Tua Vontade, que de Ti me poderá afastar!”
Digo Eu: “Sabia de antemão que assim farias; mas ainda ignoras que teus irmãos e colegas também são Meus discípulos, sem deixar de ser, perante o mundo, o que são, até que o novo reitor se tiver ambien- tado. Teus irmãos te orientarão sobre o que deverás fazer e falar perante vosso novo chefe, que no começo usará uma vassoura dura. Mas não levará meio ano e tereis conseguido o que desejais, porquanto não faz
fé no Templo, e sim no dinheiro. Mais tarde, porém, modificar-se-á. Agora, vai e transmite a teus irmãos o que presenciaste em Kis!”
A estas Minhas Palavras, Roban agradece Kisjonah por tudo que lhe fizera, dizendo: “Na certa haverá poucos Kisjonah sobre a Terra; por isto, és o único que me tocou o coração! O Senhor te abençoe por tudo que fizeste a mim e a milhares de outros!” Em seguida se curva diante de nós e procura os outros na sinagoga — onde encontra todos reunidos, exceto aqueles que lá costumavam tirar uma soneca. É re- cebido com muita alegria e atenção e logo após troca suas impressões surpreendentes com os colegas.
Também nós estamos bem-humorados, porquanto Kisjonah trouxera vários animais carregados de vinho, trigo, queijo, pão, mel e uma quantidade de bons peixes defumados, de sorte que Maria mal sabe onde guardar tudo isto. Por tal motivo pede-se a um vizinho para acondicionar o resto em sua grande despensa, o que fez — não por gentileza, pois era avarento, mas sim por Kisjonah lhe ter oferecido algumas moedas de ouro. Mostrou-se ele com isto tão solícito que, no afã, esbarrou com violência contra o apóstolo João. Este lhe dirige as seguintes palavras: “Amigo, sê mais cuidadoso no teu zelo pago, do contrário prejudicarás a ti e a outros! Todavia, serias feliz se fosses tão cuidadoso a favor do Reino de Deus, que está tão próximo de ti! Ó ce- gueira, que jamais deseja ou pode reconhecer o Altíssimo!” O vizinho, porém, não liga importância a João e continua no seu trabalho pago.
Eis que João pergunta: “Senhor, é possível que uma criatura seja tão cega em sua alma?”
Respondo: “Deixa-o! Existem na Judeia milhares destes imbe- cis, mais tapados que os burros, e seu prêmio será adequado!” Os ouvin- tes se riem, e Philopoldo acrescenta que é mais fácil a criatura enxergar tudo que a rodeia, que aquilo em cima de seu nariz! Todos confirmam isto e em seguida nos recolhemos.
Todos procuram seus leitos, dormindo até a manhã seguinte; também Eu descanso por algumas horas. Os dois anjos, no entanto, executam sua tarefa cósmica durante a noite e ao pôr-do-sol se Me aproximam, dizendo: “Senhor, está tudo em ordem no Grande Ho- mem Cósmico. Os principais sóis centrais continuam em suas órbitas; a trajetória dos sóis de segunda categoria também se faz normalmente e os de terceira rodeiam os de segunda classe na máxima ordem, como os de quarta dimensão com seus milhões de sóis planetários, dentro da medida por Ti ordenada, ora mais, ora menos! Os incontáveis sóis planetários dependem, em conjunto, com seus pequenos planetas sem luz e suas luas, da ordem dos grandes sóis-guias, de sorte que neste con- glomerado solar, que temos a incumbência de vigiar, tudo se encontra numa ordem perfeita e, por isto, podemos permanecer mais um dia na Tua e na companhia de Teus caros filhos!”
Digo Eu: “Muito bem; mas aproveitai cada minuto com ensi- namentos úteis, pois que os Meus filhos muito o necessitam!” Os dois recuam contentes e cumprimentam Maria, os discípulos, Cirenius, Cornélius, Fausto, Jairo, Kisjonah e Borus. Cirenius, porém, que ouvi- ra algo dos múltiplos sóis, indaga logo a respeito, porquanto conhece somente um.
Os anjos respondem, atenciosos: “Querido amigo e irmão do Senhor, não queiras saber aquilo que não podes conceber e do que, tampouco, depende a salvação da tua alma! Pois aquilo que comen- tamos com Ele matar-te-ia, se o assimilasses de modo comum a nós. Todas as estrelas que avistas numa noite serena e muitas outras que tua visão não abrange são mundos solares duma imensidade incalculável para o teu cérebro. Aquele Sol, que costumas ver, é um dos menores e, no entanto, mais de um milhão de vezes maior que esta Terra. Imagina, agora, um Sol Central, apenas de quarta categoria, em redor do qual giram no mínimo milhões destes sóis planetários em órbitas distantes, com seus planetas semelhantes a este que habitas! Seu tamanho é tão imenso como a soma das dimensões de todos os sóis planetários com
seus planetas e luas multiplicado por mil! Dize-nos, amigo: podes fazer uma ideia desta grandiosidade?”
Diz Cirenius: “Gentis servos de Deus, peço-vos: nada mais me digais a respeito, pois já estou ficando tonto! Quem jamais teria sonha- do com tal coisa? E vós podeis observar isto tudo de um relance? Que poder e profundeza de Sabedoria Divina não deveis possuir! Como sou muito curioso, peço-vos, unicamente, que me digais o que há nestes incontáveis e imensos sóis?”
Respondem os dois: “Tudo que vês nesta Terra, mais nobre e imenso encontrarás nestes conglomerados solares. Homens, animais e plantas de toda espécie, imensas e maravilhosas construções, perto das quais o Templo de Jerusalém e o palácio do imperador de Roma são meras habitações de lesmas — e de tudo isto é Jesus o Senhor, Único e Eterno Criador!”
58.AS RELAÇÕES DAS CRIATURAS DESTA TERRA PARA COM OPAI CELESTE
Ouvindo isto, Cirenius diz, compenetrado duma imensa vene- ração: “Amigos e servos de Deus, apenas agora sei Quem é o Senhor e quem sou eu! Sou totalmente nada e Ele é Tudo em Tudo! Só não compreendo nosso atrevimento, a Ele nos dirigindo como se fora se- melhante a nós!”
Dizem os dois anjos: “Ele Mesmo assim o quer; pois os filhos têm o direito, de Eternidade, de palestrar à vontade com o Pai! Por isto, não faças perguntas tolas; não depende de ti seres um homem, mas unicamente Dele, que assim te criou de Si Próprio, prendendo-Se ape- nas ao Seu Próprio Conselho. Como também poderia Ele perguntar a alguém, a não ser a Si Mesmo, porquanto não havia um ser antes Dele, em todo Infinito?!
Fazes bem, se com Ele falares como se fosse Idêntico a ti; pois Deus não tem, além de Si, com quem falar. Mas Suas criaturas são tão livres que o podem fazer — merecem seu Criador como Ele vos merece. Cada ser é testemunha da Onipotência, Sabedoria e Amor Divinos, não
havendo espírito tão poderoso que pudesse criar algo de si! Compre- endes isto?”
Diz Cirenius: “Servos mui sábios da Onipotência Divina, quão compreensível me é vosso ensinamento! Em verdade, o homem não ne- cessita envergonhar-se do que é, sendo Obra-Prima do Criador, quando vive dentro da Vontade de Deus. Caso contrário, deturpa esta Obra e não mais corresponde àquilo que era e deveria ser, para sempre! Por isto, é o pecado uma ação contra a Ordem Primária de Deus e o homem se torna criador de sua natureza vilipendiada!”
Dizem os anjos: “Tens razão! A criatura, no entanto, continua sendo uma Obra Digna de Deus quanto à sua forma, utilidade, capaci- dade e independência, no que o espírito se pode manifestar livremente. O que, porém, diz respeito à educação moral de coração e alma pode rebaixar-se ao nível dum monstro do inferno, no que consiste o maior pecado, pois terá deturpado a Obra Divina, e Deus terá que pelejar numa paciência incalculável em modificá-lo para o que fora.
Em consequência duma infinidade de Obras assim deturpadas, o Mestre veio Pessoalmente ao mundo; mas as criaturas continuarão a fazer o mesmo e, por isto, Ele inaugurará uma Nova Instituição, pela qual elas se poderão reabilitar a si próprias. Quem não quiser dela fazer parte de livre vontade estará perdido para sempre! Compreendes o que acabamos de explanar?”
Diz Cirenius: “Compreendi bem e, por isto, sou de opinião que se deve obrigar por leis às criaturas a fazerem uso desta Instituição!”
Dizem os anjos: “Isto acontecerá, mas não trará benefícios, pois somente é útil ao homem aquilo que fizer de livre vontade. Todo o resto prejudica. Se fosse possível levá-lo à perfeição por vias obrigatórias, ex- ternas ou internas, teríamos poder de sobra para tanto, sem que jamais se pudessem livrar desta influência. Mas com isto conseguiríamos ape- nas a criação de máquinas, sem atitude própria! Daí poderás concluir que só pelo ensinamento verdadeiro e a determinação individual conse- guir-se-á viver dentro da Ordem Divina! — Assimilaste isto?”
Diz Cirenius: “Infelizmente o compreendo, pois prevejo pou- co êxito! Onde estão as criaturas que fossem capazes de assimilar um bom ensinamento? E, mesmo entre os ensinados, quantos existem que o pusessem em prática? Entre mil haverá, talvez, dez que terão vontade e coragem para aplicarem uma doutrina bem explanada! De que isto lhes adiantaria, se por este motivo serão amordaçados pelos fanáticos?!
Sois servos imensamente sábios do Senhor, mas, como estadista experimentado, afirmo: Sem coerção, jamais será aceita esta Doutrina verdadeiramente sagrada! Pelo menos torna-se necessário acabar com a superstição, do contrário será inútil divulgá-la!
Acreditamos nesta Verdade Eterna que nos foi revelada; entre- tanto, não o fazemos inteiramente livres. Porque vós, o Senhor e Seus Atos não deixam de constituir uma certa coerção, sem a qual não have- ria tantos seguidores. Se este móvel não nos transformou em meras má- quinas, penso que uma obrigação externa, que modificasse as criaturas em verdadeiros filhos de Deus, não seria tão prejudicial!”
Dizem os dois anjos: “De certo modo tens razão e não faltarão meios coercíveis externos; todavia, convencer-te-ás que são mais con- traproducentes que os internos! Pois Satanás também deles faz uso para manter a superstição; se nós, portanto, tivermos que aplicar os mesmos meios que ele para a nossa Causa — pergunto qual o benefício para as criaturas?
A superstição sempre se estabeleceu e firmou com fogo, armas e derrame de sangue; se, agora, a Palavra de Deus deverá fazer o mesmo, haverá, acaso, uma criatura inteligente que a aceite como vinda dos Céus? Não será obrigada a dizer: ‘Meu Deus, não basta que a Humani- dade seja perseguida pelo espírito do mal, de sorte que também Tu, ó Onipotente, de nós Te aproximas pelos mesmos caminhos?’ Vês, queri- do amigo e irmão, o contrassenso deste projeto? Sim, infelizmente tem- pos virão em que se divulgará a Doutrina de Jesus, deturpada, com fogo e armas; mas isto será de grande prejuízo para os povos. Compreendes?”
Diz Cirenius: “Com pesar, e continuo perguntando se estas ca- lamidades não serão evitadas pelos Céus e qual o motivo da permissão do mal no mundo!”
Dizem os dois: “Querido amigo, se possuis alguma sabedoria, julga por ti mesmo: poderá haver um ‘pró’ sem um ‘contra’? Onde teria surgido um herói sem luta? E esta, acaso, ter-se-ia manifestado, se ape- nas existissem cordeirinhos? Ser-te-ia possível experimentar tua força, se não houvesse objetivos que a ti se opusessem? Haveria uma subida sem a possibilidade de uma descida? Ou serias capaz de fazer o bem, se não te pedissem um auxílio? Vê, em um mundo em que o homem se deve formar um verdadeiro filho de Deus, é preciso que se lhe dê oportunidades boas e más!
Deve haver calor e frio, para que o rico possa prover com roupas seus pobres irmãos. Do mesmo modo, estes existem para dar oportuni- dade aos abastados a se exercitarem na caridade — e os necessitados na gratidão. Os fortes ajudarão os fracos, e estes deverão reconhecer com humildade que estão desprovidos de poder. Assim haverá os tolos e os inteligentes; pois, do contrário, o conhecimento destes seria inaplicável! Se não houvesse os maus, onde estaria a medida que o bom aplicasse para conhecer o grau de sua bondade?!
Em suma, nesta instituição de ensino próprio, de criaturas e fi- lhos livres do Pai, terá que haver uma infinidade de ‘prós’ e ‘contras’! Afirmamos que, enquanto o homem não tiver expulso a Satanás de próprio poder e vontade, através de lutas e vicissitudes — estará lon- ge da completa Filiação Divina! Como, porém, tornar-se-á vencedor deste inimigo, tirando-lhe todas as oportunidades de contato? Sim, o Verdadeiro Reino de Deus exige uma batalha infrene pela liberdade completa para a Vida Eterna e, para tanto, são necessárias as lutas entre Céu e inferno!”
(Os anjos): “Sabes que o homem é possuído de muitas paixões; um sente ânsia de possuir tudo que tem algum valor: evidentemente é a usura um pecado. E vê, a este pecado se deve a navegação; pois so- mente criaturas gananciosas poderiam ser tomadas pelo desejo ardente, mesmo com risco de vida, de achar meios para a descoberta de outros países. Após grandes lutas alcançam, além-mar, um país despovoado. As peripécias sofridas amenizam sua paixão pela posse, tirando-lhes a coragem para a volta. Estabelecem-se e povoam, deste modo, novas terras. Julga por ti mesmo se as criaturas teriam descoberto estas zonas sem a volúpia da posse?!
Tomemos a volúpia carnal: exclui tal tendência, imagina a Hu- manidade celestialmente pura — e terás prazer na vida virtuosa que levarão os castos até a idade avançada. Mas que aspecto tomará a pro- criação, de acordo com a Ordem Divina? Por aí vês que esta inclinação é necessária para povoar a Terra. Se existem criaturas que se excedem, agem elas contra as Determinações de Deus e caem no pecado. O exces- so, no entanto, é preferível à extinção dessa tendência.
Todas as forças dadas ao homem e que se manifestam como pai- xões desenfreadas devem ter capacidade evolutiva para o bem ou para o mal, do contrário ele permaneceria uma água morna, caindo no ócio detestável. Afirmo-te: nada te dará testemunho tão verídico da finalida- de divina do homem como os grandes vícios ao lado das mais elevadas virtudes; por aí se evidenciam as capacidades infinitas dadas às criaturas deste planeta. Do mais sublime Céu Divino, que até a nós é vedado, até o mais ínfimo inferno — eis a trajetória do homem! E se assim não fora, impossível seria alcançar a Filiação de Deus!
Lidamos com criaturas de incontáveis mundos; mas que dife- rença! Lá existem barreiras, tanto físicas como espirituais, dificilmente transponíveis. Aqui tendes tão poucos empecilhos como o Próprio Se- nhor e podeis fazer o que vos agrada. Podeis vos elevar à Morada mais íntima do Pai, mas em consequência disto vos precipitar no inferno, como fez Satanás, o libérrimo espírito de Deus. Sua queda foi completa
e ser-lhe-á difícil achar o caminho de volta, porquanto ao vício é dado, por Deus, a mesma perfeição infinita como à virtude.”
61.AIMPORTÂNCIADOLIVRE ARBÍTRIO
(Os anjos): “Nesta Terra tudo depende do livre arbítrio da cria- tura e do ensino sem constrangimento, dado pelo Senhor de tal maneira que toda pessoa o compreenda de uma só vez; ninguém, portanto, pode- rá se desculpar de não o ter assimilado! O Mandamento ‘Ama a Deus so- bre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!’ é tão compreensível que dispensa explicação! A pessoa que segue esta Lei, que tudo contém, recebe em seu coração a sabedoria pelo Próprio Senhor, podendo se tor- nar uma orientadora para o próximo. Desta forma um guiará o outro, até que Deus Mesmo o eduque para a Filiação. Eis a justa divulgação da Doutrina Sagrada, na Ordem Divina; o resto é prejudicial, não trazendo bênçãos para o Viveiro de Deus. Compreendeste-o bem?”
Diz Cirenius: “Não só isto como também o destino grandioso desta Terra e seus filhos; a única fatalidade é que, ao lado dos filhos de Deus, os do inferno frequentam a mesma escola, cada qual em sua esfera! Mas percebo que, do ponto de vista da mais profunda Sabedoria Divina, não há outro meio. O Senhor, no entanto, é tão Bom e Sábio que saberá dar também ao inferno uma outra direção! A Eternidade é bastante longa para tomar as medidas necessárias, a fim de que, em di- versas modalidades, tanto os filhos quanto seus tentadores se rendam!”
Dizem os dois anjos: “Tua suposição excede nosso horizonte de sabedoria! Tu, porém, como filho do Senhor, estás mais perto do Pai que nós, meros seres, e poderás sentir melhor uma necessidade divina em teu coração; sabemos, apenas, que para Deus nada é impossível. Além disto, nada mais concebemos. Se desejas mais profundos esclare- cimentos neste assunto, deves dirigir-te ao Senhor Mesmo; julgamos, porém, que Ele não revelará tais coisas a um mortal, em virtude da audição apurada de Satanás. É preciso muita cautela com este inimigo, a fim de não fazê-lo pior do que já é!”
Diz Cirenius: “Compreendo e calar-me-ei!”
62.OPENSARNO CORAÇÃO
Diz Cirenius: “Senhor, desde minha infância estou habituado a pensar no cérebro; como agir para poder fazê-lo no coração?”
Digo Eu: “Nada mais fácil! Tudo que pensas e sentes tem origem no coração; pois o pensamento mais sutil deve ter tido um motivo, a fim de que fosse criado. Uma vez criado, de acordo com uma necessi- dade qualquer, o pensamento sobe ao cérebro, para que seja contem- plado pela alma e esta, então, movimenta o corpo, a fim de executar o pensamento. Assim, é inteiramente impossível a criatura pensar apenas com o cérebro. O pensamento é uma criação meramente espiritual, portanto tem origem no espírito que habita o coração da alma e dali vivifica a criatura toda. Como poderia surgir uma criação da mais sutil matéria como é o cérebro, que, por isto, nunca será causa, mas sim dele só emanarão efeitos?! É-te possível compreendê-lo e, talvez, até sentir que pessoa alguma poderá pensar com o cérebro?”
Diz Cirenius: “Senhor, sim, sinto-o vivamente! Mas como é pos- sível? Tenho deveras a impressão que desde sempre pensei com o cora- ção! Estranho! Que se passa? Sinto reais palavras no coração, palavras pronunciadas!”
Digo Eu: “É a consequência natural pelo despertar do teu espí- rito, que é o amor para comigo e, através de Mim, para com todas as criaturas. Em pessoas cujo amor espiritual ainda não despertou, os pen- samentos surgidos no coração não podem ser vislumbrados, por ser este ainda mui material. Percebem-nos somente no cérebro, onde, já mais materializados em virtude do ímpeto para a ação, criam formas e amal- gamam-se com as impressões do mundo exterior através dos sentidos. Assim, tornam-se visíveis para a alma de acordo com a individualização material e, portanto, a base necessária para as más ações. Por isto, toda a criatura tem que renascer no coração, isto é, no espírito, do contrário não entrará no Reino do Céu!”
Diz Cirenius a Pedro, que se encontra perto dele: “Compreen- des este renascimento do espírito no coração, onde e o que é o Reino do Céu, do qual Ele fala com os anjos, prometendo-nos isto como re- compensa de nossa fé?”
Responde Pedro: “Certo que o compreendo e, se não o fizes- se, iria para casa tratar da minha vida. Investiga, nobre senhor, no teu coração, onde encontrarás mais do que se eu te orientasse duran- te cem anos!
Observa-nos, Seus primeiros discípulos, e testemunhas se fala- mos algo externamente com Ele! No entanto, fazemo-lo internamente mais que tu e outros pela palavra pronunciada; falamos com Ele ape- nas no coração, perguntamos-Lhe mil coisas e recebemos as respostas em pensamentos nítidos; portanto, ganhamos duplamente. Pois uma resposta do Senhor no coração da criatura já é sua posse, enquanto a palavra externa deve ser constantemente aplicada em vista do trei- no psíquico.
Deste modo, nobre senhor, podes fazer as perguntas em teu co- ração a respeito do anjo do mal e o Senhor te responderá secretamente, de sorte que Satanás nada ouvirá! Da mesma maneira poderás indagar do Senhor quanto ao renascimento do espírito dentro do coração e do Reino de Deus, que receberás uma resposta completa!”
Diz Cirenius: “Agora compreendo por que nunca dirigis a pala- vra a Ele, o que muito me admirou! Bem, tentá-lo-ei! Se o Senhor é tão Misericordioso convosco, também o será comigo! Pois demonstro meu imenso afeto para com Ele pelo fato de me ter afastado do meu governo pelo tempo de Sua Presença aqui, fortalecendo minha alma com todas as Palavras vindas de Sua Boca Santificada!
Creio, também, que já fiz muito mais por amor a Ele do que todos vós, pois conheço-O desde criancinha e Dele cuidei em longín- qua terra dos pagãos, assim como de Seus pais e irmãos! Enquanto sacrificastes somente vossas redes de pescador, eu estou pronto a desistir de minhas honrarias mundanas, se Ele o aceitar. Segui-Lo-ia como o mais simples entre vós, ofertando minha vida a Seu Favor — como já o fiz por várias vezes tanto por Ele quanto por vós, não considerando
uma possível perseguição de Roma! Assim sendo, julgo que mereço o mesmo que vós!”
Digo Eu: “Meu fidelíssimo amigo e irmão! Por que te alteras com aquilo que já possuis? Experimenta perguntar-Me algo em teu co- ração, que nele depositarei a resposta clara, compreensível e audível, pois que Me amas sinceramente!”
63.AVOLTADOFILHO PERDIDO
A este Meu Conselho, Cirenius indaga a respeito de Satanás, seu fim e se era possível cogitar de sua volta a Casa do Pai.
E Eu lhe dou a resposta audível no coração: “Todos os aconteci- mentos têm o seguinte objetivo: procurar aquele que se perdeu e ofere- cer remédio ao enfermo, considerando sempre a livre vontade; impedi-
-lo em seu livre arbítrio seria transformar a infinita Criação material e todos os seus elementos em pedra duríssima, incapaz de sentir a menor vibração de vida. Todo o Cosmos representa este grande espírito caído e desagregado em inúmeros mundos. Deste único ser são tiradas miríades de criaturas, na maioria iguais às deste planeta, e transformadas, pela Onipotência, Poder, Amor e Sabedoria Divinos, em seres semelhantes a Deus — o que, em síntese, não deixa de ser uma volta do grande anjo caído!
Quando, porém, todos os planetas e sóis se tiverem transforma- do em criaturas, nada mais sobrará ‘daquele’, a não ser o seu puro ‘eu’, que, no completo abandono, em épocas vindouras prontificar-se-á para a volta, caso não queira ser entregue ao eterno definhamento! Então não mais haverá Sol nem terras materiais girando no Espaço Infinito, e sim uma Nova e Maravilhosa Criação Espiritual com seres felizes e livres que preencherá o Infinito, e Eu serei Deus e Pai de todos os seres por toda a Eternidade! Haverá então umrebanho, umaprisco e umPastor!
Esta época, porém, jamais poderá ser determinada! Mesmo se Eu te desse a era precisa, não a poderias assimilar, porquanto não te seria possível somar os anos, nem se contasses os grãos de areia do mar e da Terra, as ervas em todos os campos e matas, as gotas do mar, dos
lagos e dos rios, das cascatas e fontes — a fim de determinar o tempo da salvação definitiva!
Por isto, satisfaze-te com o seguinte: Trata, antes de mais nada, da conquista do Reino de Deus e Sua Verdadeira Justiça, que serás des- pertado por Mim após tua morte para a Vida Eterna e, naquele Reino dos Espíritos Puros, mil anos passarão como se fora um dia!
E lá, Meu amigo, no Meu Reino cheio das maiores bem-aven- turanças, com facilidade aguardarás aquilo que aqui te parece eterno! Por ora, nem tu nem um dos Meus discípulos podereis ser iniciados em toda a Sabedoria dos Céus — somente depois, quando fordes batiza- dos, daqui a alguns anos, pelo Espírito Santo de Deus! Ele vos condu- zirá a toda Sabedoria Divina e verás, então, numa Luz Completa, tudo aquilo que ora te parece tão incompreensível! Guarda o que te revelei, pois deverá ser segredo ainda por muito tempo!”
Cirenius se assusta não pouco e diz, após alguma reflexão: “Sem dúvida ouvi a Tua Palavra no coração; mas é preciso que a advertência final deva ser considerada tão rigorosamente? Não seria possível trans- mitir algo a pessoas honestas e devotas?”
Digo Eu: “Meu amigo, este conhecimento não prejudica quan- do é assimilado pela voz do espírito, como tu o acabaste de fazer, mas, externamente recebido, seria de grande dano. Comoe por que— já te falaram os Meus anjos, portanto deixemos este assunto. Temos outras coisas que resolver para já, enquanto tua pergunta toca a Eternidade!”
64.ARESPEITODOSER,DAVIDAEDOTRABALHODOSESPÍRITOSDA NATUREZA
Cirenius se contenta com esta explicação; Kisjonah, porém, apresenta-se e pede para fazer uma pergunta a respeito duma determi- nação Minha que se não realizou.
Digo Eu: “Fala, amigo dos amigos e inimigos!”
Diz Kisjonah: “Senhor, quando transportávamos o tesouro de minhas cavernas, ordenaste que levássemos pão e vinho em quantidade, pois que haveríamos de encontrar muitos famintos e sedentos! Eu assim
fiz e fiquei esperando, tanto perto quanto dentro da gruta, que viesse alguém que disto necessitasse! Mas... nada! Ninguém apareceu!
Depois de termos saído da caverna, que mandaste lacrar através do Teu Poder manifestado em Archiel, pão e vinho haviam sumido e nenhum dos carregadores sabia explicá-lo. Não me foi possível observar o momento preciso que tal fato aconteceu. No dia seguinte, quando deixavas Kis, todos em minha casa só falavam de Ti e se comentava, no mínimo, o dobro de Tuas Ações, como sempre acontece em casos semelhantes. E eu condenava isto como invenções duma fantasia prodi- giosa, mas o relato do desaparecimento de pão e vinho também a mim estonteou.”
Digo Eu: “Sabia que isto iria te preocupar e, como Me pedes que te esclareça, ouve, pois: Tanto nas montanhas como no ar, den- tro da terra, na água e no fogo, existem certos espíritos da natureza que ainda não passaram por uma encarnação, por não lhes ter sido facultada oportunidade para tanto no momento da concepção. Em todos os elementos existem quantidades enormes de tais almas não encarnadas.
As que atuam nas montanhas já adquiriram mais consistência pelo ar e não sentem especial necessidade de uma encarnação. Preferem até, por serem dotados duma certa inteligência, continuar o mais possí- vel num estado livre. Possuem mesmo sentimento de justiça e temem o Espírito de Deus, e os mais velhos, às vezes, têm conhecimento claro da Divindade! Os mais jovens costumam ser atrasados e maus, aplicando sua maldade quando não são impedidos pelos outros. Sua tarefa princi- pal consiste em formar quantidade de metais e organizá-los nas fendas e galerias montanhosas.
Estes espíritos tomam alimento pela natureza, isto é, pelo reino vegetal. Trabalham arduamente na remodelação das rochas, na demoli- ção de partes montanhosas, no esvaziamento de cavernas cheias de água etc., numa atividade intensa, a fim de perderem seu amor aos montes e procurarem uma encarnação, porquanto, especialmente de agora em diante, nenhum espírito poderá alcançar a verdadeira felicidade sem ter passado pela carne.
Estes elementos, Meu querido Kisjonah, mormente os que cui- dam das tuas montanhas, incumbiram-se de uma tarefa pesada a reali- zar no fechamento de tal gruta e, por isto, tinham que se fortalecer com pão e vinho! São estes de que falei que iríamos encontrar, famintos e sedentos! Assimilaram tudo e, com ajuda do Meu anjo, o imenso traba- lho foi bem concluído. Compreendeste?”
65.CONTOSDEGNOMOS.A FEITIÇARIA
Diz Kisjonah: “Sim, Senhor, tanto mais quanto meus mineiros incumbidos da procura de metais muitas vezes me contavam que o pão e o vinho que tinham levado ao trabalho desapareciam sem descobri- rem o ladrão! Se estes mineiros famintos se aborreciam, ouvia-se uma forte gargalhada e alguns alegavam terem visto pular pequeninos seres de cores azul, vermelha, verde, amarela e até preta.
Não há muito, o mineiro mais idoso contou-me que um gnomo azul lhe aconselhara a levar, no futuro, pão e vinho na bolsa de couro, que assim os outros não poderiam deles se apossar. Pessoa alguma de- veria falar em voz alta nas galerias, muito menos assobiar ou praguejar. Os gnomos não o suportavam, prejudicando os que o fizessem! Tam- bém não toleravam as gargalhadas. Se o meu pessoal de vez em quando lhes fornecesse sua merenda, os gnomos lhes auxiliariam na procura de metais.
Embora tivesse, por várias vezes, fiscalizado os poços das minas, nunca tive provas da existência destes seres, por isto atribuía-lhes o valor de contos de fada; mas agora, após Tua Bondosa Explicação, tudo me é claro! Apenas uma coisa não percebo no momento: como estes gnomos, sendo espíritos, possam assimilar alimento natural! Como o fazem?”
Digo Eu: “Mais ou menos da maneira como o fogo destrói o que alcança! Se depositares nele uma gota de vinho ou uma migalha de pão, verás quão rápido desaparece! Os gnomos dissolvem rapidamente a matéria transformando a existente substância espiritual em matéria psíquica, integrando-a no seu ser — e isto, num momento! Agora tam- bém estás informado a respeito dos gnomos!”
Diz Kisjonah: “Senhor, agradeço-Te por esta explicação, pois alegra muito a minha alma e reconheço mais nitidamente que tudo que me rodeia é vida!”
Digo Eu: “Muito bem, Meu querido amigo! Peço-te, porém, que tu e os que Me ouviram guardeis este conhecimento para vós, pois não é útil para qualquer um. Todos os feiticeiros egípcios e persas cos- tumam trabalhar com auxílio de duendes e gnomos. Essas magias são um horror para Deus e quem as pratica dificilmente entrará no Reino do Céu! Os mencionados feiticeiros impedem que aquelas entidades possam encarnar e, quando morrem, estas pessoas tornam-se prisionei- ras de tais almas incompletas e dificilmente poderão ser libertas, por- quanto assimilam constantemente suas inferiores vibrações. Digo-vos o seguinte: Amaldiçoado seja o feiticeiro! Jamais conseguiu uma boa ação pelo seu feitiço! Sempre prevalece a ganância e o domínio desmedidos, e estes espíritos receberão no inferno seu prêmio humilhante!”
Diz Fausto: “Senhor, prevejo nada de bom para os muitos fei- ticeiros e magos no vasto Império Romano! Pois esta gente é lá consi- derada com honrarias divinas e consegue, com uma palavra, paralisar a vontade do imperador ou dum herói — e em caso contrário, animá-los de tal forma que as montanhas estremecem diante de seus atos!”
Digo Eu: “Bem, Meu amigo, estes magos de atitudes semidivinas não passarão bem; sabem que traem torpemente os incautos, pois vendem o ‘nada’ por muito dinheiro, induzindo as pessoas a perversidades horren- das. São verdadeiros criadores do mal, para a perdição do próximo!”
Perguntam vários romanos presentes: “Não poderão alcançar a bem-aventurança eterna, caso melhorem?”
Respondo: “Como não? Mas a lástima é que estas pessoas pouco se prestam para a regeneração! Facilmente podeis converter as- sassinos, ladrões, salteadores, adúlteros etc., e um imperador e um rei também desfazer-se-ão das coroas; mas um mago não se separa de sua vara! Seus asseclas invisíveis não o permitem e o dominam quando os deseja abandonar.
Por isto, repito: Amaldiçoada seja a feitiçaria! Pois por ela os pecados vieram ao mundo! Quem desejar fazer milagres terá que rece-
ber o poder de Deus; e só deverá fazê-lo onde exista necessidade pre- mente! Quem agir por mistificações através de rimas e sinais não mais necessita ser amaldiçoado, pois já o é pela sua vontade! Por isto, preser- vai-vos da magia, como da predição, da buena-dicha etc., pois muito prejudicam o espírito!”
Quase todos se assustam com Minhas Palavras e indagam se também não mais deviam guiar-se pelos prenúncios dos tempos, apro- vados pela experiência.
Digo Eu: “Oh, sim! Mas apenas quando se baseiam em cálcu- los científicos. Não o sendo, torna-se isto um pecado, pois que a criatu- ra aceita uma segunda crença, que enfraquece a fé pura na Providência Divina e, finalmente, liga mais às manifestações da Natureza do que ao Deus Único e Verdadeiro.
Quem permanecer na fé inabalável e pura poderá pedir porque receberá, ainda mesmo que as experiências atmosféricas provem o con- trário; aquele, entretanto, que se fia nos sinais terá as provas de acordo. Os fariseus também acreditam neles e se deixam pagar para explicá-los; por isto, serão amaldiçoados!
Não fez Deus tudo que servisse de prova para o homem? Será, portanto, Senhor e Guia sobre tudo! Se Ele assim fez, como poderiam as coisas e os sinais determinar algo sem Ele? Por isto, deve o homem pedir a Deus, que tudo pode, independentemente dos sinais! Não é isto mais confortador que milhares de explanações místicas?”
Dizem todos na Minha mesa: “Senhor, isto é certo e verdadei- ro! Se, porém, fosse de Tua Vontade que todo o mundo assim pensasse e agisse, em pouco tempo tudo se modificaria! Nós, que Te rodeamos, não temos dificuldade para tanto, pois que és a Base de Todo Ser e Vida! Mas isto não se dá com milhões de criaturas não possuidoras desta Imensa Graça da Tua Presença, tampouco podem ouvir de Ti as Palavras de Vida! Certo é que também almejam vislumbrar Aquele de Quem a Criação dá testemunho tão evidente! Mas esta Graça não lhes é satisfeita. É fácil, portanto, compreender-se que feitiços e magias as atraem, pois oferecem-lhes algo, embora falso, que não deixa de ter aparência divina!”
Eis que Cirenius toma de novo a palavra e diz, seriamente: “Se- nhor, ninguém pode contestar a Tua Divindade; mas confesso que, nesta explicação sobre feiticeiros e adivinhos, nada senti de Tua tão co- nhecida Misericórdia e Teu Amor! Nessas condições tudo depende de Ti — pois Tu Mesmo aplicas golpes fortes ao homem, que muito o magoam; mas ai dele, quando começa a gemer! Não sei se isto também é justo! As criaturas deste mundo são, na maioria, cegas e tolas e, como tais, pervertidas. Pergunto: onde está a culpa e como surgiu o mal? As- sim como ora pergunto, milhares de romanos o farão!
Não é admissível que o homem surgisse de Tuas Mãos com más tendências, tampouco uma criança possa nascer como demônio. Se, portanto, o primeiro homem foi bom, como podiam tornar-se maus o segundo e terceiro? Foi isto da Tua Vontade, ou daquele que o gerou? Tudo que aconteceu estava dentro da Tua Sabedoria! Por que, então, a maldição daqueles que, realmente, salvaram a Humanidade do desespe- ro, pois que Tu não Te mostravas com sua súplica?! Por isto, Te peço: sê Justo, e não Inclemente; a criatura não tem armas contra seu Criador, e só pode pedir, sofrer e se desesperar!”
Digo Eu: “Amigo Cirenius, já esqueceste de tudo aquilo que ouviste tanto de Mim quanto dos dois anjos?! Acaso disse que Eu Mes- mo julgava tais pessoas? Há poucos dias tencionavas mandar castigar os fariseus pela razão de quererem Me apedrejar, e Eu te impedi naquilo! Agora pareces querer tomar o partido deles! Talvez entendas melhor proporcionar meios adequados, pelos quais os homens consigam a Fi- liação Divina, quando o quiserem? Vê como ainda és fraco! Acaso és tão entendido na História da Humanidade que Me repreendas ter Eu, somente agora, dirigido Minha Atenção aos rogos dos homens?
Não viveram as primeiras criaturas em Minha Presença cons- tante? Quem foi o sumo pontífice Melchisedek, que viveu como um Justo Rei dos Reis em Salém, desde Noé até Moysés? Quem foi o Espírito na Arca? E como este Me penetrasse — pergunto: Quem Sou Eu? Os clamadores desejavam-Me atrair das estrelas, porquanto
Eu lhes era mui simples e pouco divino, não querendo brilhar como os astros!
Aquilo que acaba de te agitar está errado, e Satanás, percebendo que trazes o segredo dele dentro de ti, deitou-te uma armadilha — e já tencionavas discutir Comigo! Reflete se te assiste direito naquilo que falaste?!
Poderia Eu, algum dia, ser Injusto e Inclemente? Sou, por aca- so, Injusto em te oferecendo o ouro verdadeiro, ao invés do falso? Ou deveria vos deixar na velha e inútil superstição? Não teria Eu, o Senhor, maior direito para aniquilar os perversos fariseus do que tu? Acaso os julguei? Vês quão curta é tua visão? Penso, Meu amigo, que tudo aquilo que viste e ouviste deveria proporcionar-te maior lucidez!”
Cirenius, arrependido, pede que lhe perdoe, assim como todos os presentes, pois reconhecem seu erro. Eu os conforto, dizendo: “Oh, ainda passareis por muitas experiências semelhantes; mas, então, não esqueçais este acontecimento e a lição que acabais de receber. Caso con- trário, podeis cair em piores tentações e de nada vos adiantariam o Meu Convívio e Minhas Palavras; pois neste caso sereis vítimas do mundo, compartilhando com os que acabais de mencionar: Procuraram e cha- maram a Mim e Eu, a fim de os poder condenar, ofereci-lhes magos e adivinhos!” Todos Me pedem de novo perdão — e Eu os abençoo.
67.OSENHORCURAUM ENDEMONINHADO
Logo a seguir chega um grupo de cidadãos e anuncia que um homem fora acometido de um acesso de loucura. Eu lhes pergunto o que lhe deveria fazer. E os cidadãos respondem: “Sabemos que és um médico milagroso, pois os fariseus nos contaram hoje que curaste, apenas pela tua vontade, a família de Josa e que és maisque o carpin- teiro Jesus! Por isto te pedimos, como teus conterrâneos, que cures este obsedado!”
Pergunto: “Qual o motivo de sua loucura?”
Respondem eles: “Querido Mestre, ele foi mordido por um cão e estes acidentes jamais foram curados! Se morrer, sua casa será queima-
da, pois bastaria alguém tocá-lo para ser contaminado do mesmo mal! Por este motivo, prendemo-lo em sua casa e te pedimos que nos libertes desta praga!”
Digo Eu: “Ide e trazei-o, a fim de que se cure, assim como todos os que por ele se contaminaram!”
Opõem os cidadãos: “Ó Mestre, como fazê-lo? Pois quem o to- car estará condenado a morrer!”
Digo Eu: “Se não crerdes e não tiverdes fé, não poderei so- correr-vos!”
Respondem eles: “Mestre, se te foi possível curar a família de Josa sem que os enfermos fossem conduzidos à Tua Presença, também deverias ter o mesmo poder para com este obsedado!”
Digo Eu: “Josa tinha fé, vós não, e viestes apenas descobrir o que Eu faria com este pobre homem. Por isto, repito: Trazei-o aqui, que tan- to ele como vós sereis ajudados! Pois vós todos já fostes contaminados e a raiva poderá explodir a qualquer momento! Mas, se tendes fé a ponto de soltá-lo, este veneno satânico será aniquilado dentro de vós!”
Após estas Minhas Palavras, eles vão buscar o raivoso, amarrado, que, com aspecto horrendo, uivava feito cão! Os Meus hóspedes se apa- voram, tanto que as mulheres se refugiam dentro de casa. Até Minha Mãe ali se oculta e Meus Próprios discípulos se afastam um pouco. Judas se esconde atrás de uma árvore. Somente Cirenius, Fausto, Cor- nélius, Kisjonah e Borus permanecem a Meu lado. Eis que digo aos cidadãos: “Libertai-o!”
Todos se apavoram e gritam: “Senhor, então estaremos perdi- dos!” E não têm coragem para obedecer-Me, pois o povo junto com os discípulos fazem uma gritaria tremenda!
Digo Eu a Borus: “Vai e desata-o! Já está curado em Meu Nome e não mais poderá prejudicar alguém!”
Cheio de coragem, Borus se dirige ao raivoso e diz: “O Senhor Jesus esteja contigo, curando-te em Seu Nome!”
No mesmo instante o homem se acalma e sua pele quase preta volta ao normal, pedindo ele a Borus que lhe tire as cordas. Este as- sim faz — e elas estão inteiramente limpas! O curado se Me aproxima,
agradece a grande graça recebida e Me pede que, no futuro, fique isento deste mal.
Digo-lhe Eu: “Tu e todos que contaminaste sois curados; mas, no futuro, não sede amigos dos cães, e sim dos homens! Por que tendes cães em quantidade? Só deverão ser mantidos pelos que deles necessi- tam nas caçadas de animais ferozes e pelos pastores como proteção de seus rebanhos; além disto, ninguém deles precisa. Quem já tiver um deve mantê-lo acorrentado, a fim de não afugentar os pobres que, por- ventura, vos queiram pedir algo. Quem, daqui por diante, não seguir este conselho terá a mesma paga que tu. É preferível manterdes crianças pobres em vossa casa ao invés de cães perigosos e inúteis, que jamais sereis acometidos da raiva, cujo veneno deriva de Satanás!”
Todos Me prometem acabar ainda neste dia com os cães que possuem; mas alguns fracos na fé indagam se realmente estão livres deste mal, mesmo para o futuro.
Digo Eu: “Ó incrédulos! Não vistes como o raivoso ficou cura- do? Este o sendo, muito mais o sois vós, que ainda não fostes atacados por esta moléstia! Se posso chamar os mortos da tumba, tais males não poderão ser piores que a própria morte! O tempo vos dará o testemu- nho verdadeiro a respeito! Agora ide calmamente para casa! Mostrai-vos aos fariseus e escribas e ofertai no Altar o que Moysés determinou aos purificados da lepra!”
Todos Me agradecem de coração e perguntam o que deveriam fazer como reconhecimento. E Eu lhes digo: “Acreditai e fazei aquilo que os templários vos ensinarão!”
Eles se retiram satisfeitos e vão diretamente à sinagoga, onde contam tudo que lhes sucedera e fazem uma rica oferenda. Os fariseus, ignorando o caso do raivoso, muito se admiram, dizendo: “Realmente, esta cura só a Deus é possível! Jamais houve coisa idêntica em Israel! Este homem faz coisas jamais vistas pelo maior profeta! Não há doença que ele não curasse e tampouco um morto que não fosse despertado por ele! Voltai aqui amanhã que discutiremos este assunto!”
Os cidadãos se dirigem a seus lares e acompanham o curado a sua casa, onde é recebido por sua mulher, contentíssima, e seus dez fi- lhos. Todos choram de alegria e Me procuram para agradecer de joelhos esta imensa graça. Ao mesmo tempo oferecem sua moradia a Mim ou a qualquer pessoa que Eu lhes indicasse!
Digo Eu à mulher: “Tudo que fizeres em Meu Nome a um po- bre, tê-lo-ás feito a Mim! Pelo pouco tempo que aqui permanecer, Mi- nha casa está provida de tudo. Quanto à Minha volta, serás informada!”
Ela chora de alegria e gratidão e diz: “Senhor, ó Verdadeiro Mestre, dado pelo Céu! Sou possuidora de grande fortuna e farei dis- tribuir a metade entre os pobres e a outra parte administrarei em seu benefício; assim, nada lhes faltará. Penso ser isto razoável, pois sei que os necessitados não sabem como empregar grandes meios, gastando demais de uma só vez para depois ficarem desfalcados no momento de necessidade!”
Digo Eu: “Faze isto, querida! Assim todos os ricos deveriam agir e os pobres não passariam misérias. A pobreza é um grande mal e tenta a criatura a maiores vícios que a riqueza. O rico mantém sua honra diante do mundo e raramente dá tanto escândalo quanto um pobre, capaz das piores ações, pela miséria. O rico desapiedado, porém, que aproveita os pobres na prática de seus vícios é, com toda sua honra mundana, mil vezes pior que o pobre viciado. Este se torna assim em consequência de sua miséria, e o rico é o criador do vício em sua abastança desmedida.
Da maneira, porém, como irás administrar a tua fortuna, a ri- queza se torna uma Bênção dos Céus, trazendo temporária e eterna- mente o maior benefício a seu dono! Por isto, quem quiser ser virtuoso que seja sempre econômico, a fim de que possa socorrer os pobres na hora de penúria.
Digo-vos a todos: Vosso amor para com os vossos filhos deve arder como uma chama; mas o amor para com os filhos dos pobres
como uma imensa fogueira! Ninguém no mundo é mais pobre que uma criança abandonada, seja o sexo qual for. Quem a recebe em Meu
Nome, dela cuidando tanto material quanto espiritualmente como se fora seu próprio sangue, aceita a Mim e Aquele que Me enviou ao mun- do, inteiramente Uno Comigo!
Se desejais atrair a Bênção Divina para os vossos lares e aumen- tá-los como um grande campo de colheita, criai viveiros para crianças pobres, que sereis cumulados de Bênçãos, qual torrente que tudo inun- da. Mas, se enxotais os pequeninos e, por cima, ainda vos aborreceis com sua presença — a Bênção vos abandonará como o dia que morre diante dos passos largos da noite! Com isto, vai, Minha Filha, faze o que te disse e lembra-te das viúvas e dos órfãos!”
A mulher se levanta com os filhos, agradece-Me e exclama: “Ó Deus de Abraham, Isaac e Jacob, como és Bom e Santo, Poderoso e Sábio, dando a nós — que somos pecadores — um Homem de Teu Coração, capaz de curar todos os nossos males físicos e psíquicos! A Ti, Pai Santíssimo, dedicamos todo louvor, honra e gratidão! Querido Pai, como és Bom para com aqueles que somente em Ti confiam! Castigas os que não cumprem Teus Mandamentos; mas, se o pecador arrepen- dido Te chama: ‘Querido e Santíssimo Pai, perdoa-me!’, Tu o salvas do seu sofrimento!
Ó criaturas, segui o meu exemplo! Também eu fui uma peca- dora e Deus me fez sentir, poderosamente, Seu Açoite Divino; mas eu não vacilava na confiança para com Ele, arrependi-me das faltas e roguei fervorosamente ao Pai nos Céus. E vede, Ele atendeu as minhas súplicas, salvando-me da imensa miséria! Por isto, confiai apenas Nele! Pois, quando não há mais auxílio humano, Ele vem na certa e socorre o desesperado! Eis por que devemos louvá-Lo constantemente! A Ti, querido Enviado dos Céus, toda a minha gratidão, pois deves ser um Instrumento Sagrado nas Mãos do Deus Onipotente!”
Esta exclamação, que se refere a Mim, faz-Me verter muitas lágrimas de comoção, tanto que tenho de Me virar. Cirenius percebe-o e diz: “Senhor, que tens, pois estás chorando?”
E Eu respondo: “Amigo, existem poucos filhos iguais a esta! Deveria Eu, o Pai, tão sinceramente por ela elogiado, não Me comover? Digo-te: mais que qualquer outro pai! Esta é como todas deveriam ser
e Eu muito Me alegro com ela! Mas também deverá saber o que repre- senta Eu ter chorado de regozijo por sua causa!”
Enxugando Minhas Lágrimas, digo-lhe, pois que nela vibra um amor intenso para com Deus: “Minha querida filha! Teu amor e tua fé em Deus, sendo tão imensos como jamais vi, não posso deixar-te assim. Manda teu filho mais velho chamar teu marido, que tenho algo de importante a lhe dizer!” O menino corre à cidade e em pouco tempo volta com o pai curado.
Então, digo-lhe: “Amigo, chamei-te a fim de que não sejas ape- nas são de corpo, e sim também da alma, que viverá eternamente, e saibas de tudo que aqui sucedeu. Hoje à noite serás Meu hóspede com tua mulher e filhos e, além disto, assistirás a muita coisa para saberes Quem te curou. Isto será uma grande alegria para vós todos. Antes da ceia, porém, daremos um pequeno passeio à sinagoga construída por Jairo, e ele, sua esposa, sua filha e esposo, Cirenius, Cornélius, Fausto, Kisjonah e tu com tua família nos acompanhareis. Lá verás o que for- tificará tua fé!”
Diz o curado, chamado Bab: “Mestre, far-se-á de acordo com a tua vontade! Estou pronto a seguir-te até o fim do mundo!” Em seguida dirigimo-nos à sinagoga, alcançando-a em quinze minutos.
69.NATUMBADE JAIRO
Chegamos, portanto, à sinagoga e de lá nos dirigimos ao sepulcro no qual Sarah ficara mais de quatro dias e onde ainda se acham os len- çóis e as faixas com as quais fora envolvida. Mas ali também repousa um outro defunto, das relações de Jairo. Trata-se dum menino de doze anos que falecera há ano e meio duma enfermidade maligna. Encontrava-se ele num caixão de cedro e estava completamente putrefato, até aos ossos.
Ao passar perto do caixão, Jairo começa a chorar e diz: “Este mundo é algo doloroso! Faz surgir as flores mais delicadas, e qual seu destino? Morte e destruição! O perfume balsâmico da rosa se torna desagradável e o lírio mimoso e inocente emana um odor pestilento quando deteriorado.
Este menino foi, ao pé da letra, um anjo! O temor de Deus já o animava desde o berço e, com a idade de dez anos, entendia a Escritura e mantinha os Mandamentos como um adulto. Para encurtar: seu com- portamento realmente devoto e suas faculdades espirituais justificavam as maiores esperanças. Eis, então, que adoeceu — e não houve médico que o curasse; assim, tudo que se podia dele aguardar desvaneceu-se.
É justo, portanto, perguntar-se por que Deus, o Senhor, cheio de Amor e Misericórdia, age de tal forma com as criaturas que Nele confiam! Milhares de crianças pobres vagueiam sem teto e sem cultura, e Deus não as chama! Mas aquelas, cujos pais têm posses para educá-las de maneira agradável a Deus, geralmente morrem cedo! Por que isto? Se é do agrado do Pai criar apenas imbecis, incapazes de pronunciar cinco palavras, fará bem chamar para Si aquelas crianças que manifestam um espírito elevado!”
Digo Eu: “Caro amigo Jairo, falas de maneira humana; Deus, porém, age como a Sua Sabedoria Eterna Lhe orienta; do contrário, ninguém e nada teria vida! Portanto, és injusto em tua reclamação! Pois, se Deus tirasse da Terra todas as crianças que desde cedo manifestassem inteligência e talento, todos vós que Me rodeais estaríeis na tumba! Alcançastes, no entanto, a idade atual! Embora em vós se externasse um certo grau de inteligência e vossos pais também não fossem po- bres, Deus vos deixou com vida, enquanto tirou aos pagãos milhares de filhos através da disenteria e outras moléstias. Sofreram eles tanto quanto os pais deste menino, que em seu lugar adotaram três filhos de pobres. Estes três, porém, são sucessores dignos deste filho, que com o tempo teria sido extremamente mimado pelos genitores em consequên- cia de seus talentos e, no fim, não teria correspondido às suas elevadas esperanças. Teria ele se tornado orgulhoso e vaidoso, e nenhum escriba poderia lhe ensinar algo!
Prevendo isto, Deus o afastou em tempo desta Terra, entregan- do-o aos anjos para uma educação melhor, a fim de que possa alcan- çar o seu destino. Ao mesmo tempo, Deus previu que agora chegou a época em que Seu Nome deve ser glorificado, por vossa causa. Fez com que este menino morresse há ano e meio, para que se encontrasse em
completa decomposição naquele momento em que Deus, o Senhor, o ressuscitaria. Tirai o caixão e abri-o!”
70.RESSURREIÇÃODE JOSOÉ
Imediatamente Borus e Kisjonah descem à tumba e tentam le- vantar o caixão. Isto, no entanto, não lhes é possível, por ser o mesmo de cedro maciço e, além disto, ornamentado com metal, ouro e prata. Após várias tentativas diz Borus: “Senhor, não conseguimos levantar este caixão! Lembro-me que foi aqui depositado com máquinas e só poderá ser retirado do mesmo modo!”
Digo Eu: “Então saí, que os dois jovens se incumbirão!” Borus e Kisjonah obedecem e os anjos suspendem o esquife como se fora uma pluma. Bab, sua mulher e filhos arregalam os olhos e dizem: “Que força possuem estes dois jovens, que não aparentam mais de quinze anos! Isto jamais aconteceu!”
Digo Eu: “Deixai isto de parte, pois sereis testemunhas de coi- sas mais grandiosas! Mas uma coisa vos recomendo seriamente: não comenteis algo do que suceder, mesmo aos Meus discípulos! Por ora não o poderão saber. Abri o caixão, a fim de que vejamos o estado de decomposição deste menino!”
Abre-se, então, o esquife, e o que resta do corpo é, por Borus, desembaraçado dos panos e tiras. Todos contemplam com horror aque- le miserável esqueleto.
Fausto, então, diz: “Eccehomo! Que destino maravilhoso da car- ne tentadora! Um crânio horrendo no qual ainda estão colados uns poucos cabelos! A pele sobre o peito, marrom-esverdeada, perfurada por algumas costelas meio apodrecidas, a espinha dorsal enegrecida, sobre a qual se veem vestígios das vísceras cobertas de mofo! E os pés
coisa horrível! Nossas narinas percebem que não se encontram no bazar dum vendedor de perfumes, pois o cheiro é pior que eu pensava! Este quadro serve bem para apresentar à criatura a nulidade do seu ser, pois este destino a todos nós espera! Por isto, prefiro a cremação do defunto!”
Digo Eu: “Mas, se o Filho do homem tem o Poder de ressus- citar defuntos iguais a este, e todos que, desde Adam, jazem na terra
este quadro também será horrendo? Pode a morte ter algo de pavo- roso, se existe um Mestre que a domina? A fim de que todos vejais que Eu, um Filho do homem, tenho Pleno Poder para ressuscitar também tais corpos, vivificá-los e torná-los imortais — este menino disto vos dará a prova!”
Assim, pois, exclamo: “Josoé, digo-te: levanta-te e vive, e tes- temunha que Eu tenho o Poder de ressuscitar defuntos como tu!” No mesmo instante faz-se sentir uma forte rajada de vento! O mofo de- saparece, sobre os ossos se estica a pele, o corpo começa a surgir e em poucos minutos se levanta do caixão o menino completamente vivo! Reconhece logo Jairo, Fausto e Cornélius, que conhecia de Nazareth, e pergunta àquele: “Querido tio, como cheguei eu dentro deste caixão? Que aconteceu comigo? Encontrava-me em companhia tão agradável e não sei como aqui cheguei!”
Diz Jairo: “Querido Josoé, vê Este a teu lado, que é o Senhor sobre a vida e a morte! Morreste fisicamente e já te encontravas há ano e meio neste caixão, não havendo poder humano capaz de te restituir a vida! Mas Este, aparentemente um homem, fez com que ressuscitasses! Por isto, deves agradecer-Lhe do fundo de tua alma!”
Estonteado, o menino Me olha dos pés à cabeça, e diz, após uma pequena meditação: “Mas é justamente Aquele Que me chamou do meu grupo maravilhoso, dizendo: ‘Josoé, vem cá, tens de Me servir como testemunha de que Me é dado todo Poder nos Céus e na Terra!’
De boa vontade Lhe segui, pois logo observei que tinha sido mandado por Deus, sendo Pleno da Onipotência Divina! É tal qual O vi no mundo dos espíritos. Agora tudo se me torna claro e estou ciente de que já vivi nesta Terra; mas não me lembro de que maneira morri! Mal deixara este mundo — encontrei-me numa bonita casa e em com- panhia muito agradável. De quando em quando via e falava a meus pais e irmãos sobre Assuntos Divinos, que me foram ensinados pelos companheiros experimentados. Mas Este Santo dos Santos não mais vi, a não ser agora, quando me chamou!”
Dirigindo-Me aos dois jovens, digo: “Trazei roupa, pão e vi- nho, a fim de que sua carne se fortaleça e ele seja capaz de nos acom- panhar a Nazareth!” No mesmo instante, os dois apresentam o que havia pedido.
71.ESTUPEFAÇÃODEBABESUAMULHER.PROMESSADEIMORTALIDADEDADAA JOSOÉ
Este acontecimento é demasiado forte para Bab e sua mulher, que lhe diz: “Querido, não percebes que somos grandes pecadores, pois que aqui, em Jesus, manifesta-Se a Plenitude Divina? Não é Aquele de Quem predisseram todos os profetas, até Zacharias e seu filho João? Não é Aquele que David chamou seu Senhor, quando diz: ‘O Senhor falou ao meu Senhor?’ Meu marido, eis aqui Jehovah e ninguém mais! Nós, porém, somos pecadores e não merecemos a Presença Dele!”
Digo Eu aos extremamente comovidos: “Quem desperta os mortos também pode purificar sem ajuda de Moysés! Por isto, ficai! Pois Moysés não é mais que Eu e Aquele Que o despertou para aquilo que foi! Perdoados são vossos pecados e não necessitais de Moysés, que nada é sem Mim!”
Diz Bab: “Então ficaremos, pois não duvido que assim seja!”
Aduz sua mulher: “De ora em diante serei uma serva de meu Senhor e tudo que for de Sua Vontade farei! Sua Presença Santíssima, no entanto, quase me sufoca!”
Digo Eu: “Filha, ouvi tua veneração divina em Nazareth e fiz o que viste por tua causa! Assim, poderás muito bem suportar Minha Presença. Agora, porém, repito que não comenteis uma sílaba sequer a respeito, não por Minha ou vossa causa, e sim em virtude dos muitos incrédulos, a fim de que não sejam forçados a acreditar no Filho do homem, mas façam-no livremente através do Evangelho!
Por uma tal prova as criaturas de hoje seriam como que obriga- das a crer em Mim, pelo que sua vida sofreria um grande dano; seus descendentes, todavia, não a aceitariam senão como pura invenção da fantasia humana, escandalizando-se com a Doutrina e a Verdade Eter-
na. Eis por que é melhor silenciar sobre Meus Feitos Milagrosos, mor- mente no início de Minha Doutrinação.
Tu, Jairo, entregarás Josoé a seus pais numa época propícia, dan- do-lhes as necessárias diretrizes. Deverão crer, sem fazer alarde diante das pessoas! Este menino, no entanto, tendo passado pela decomposi- ção, não mais morrerá fisicamente. Quando o seu tempo chegar, será chamado por um anjo, seguindo-o livremente — e jamais um mortal o verá nesta Terra! Agora, tendo já se fortalecido com pão e vinho, vamos para casa, que a noite não está longe!” A seguir, saímos da sinagoga, cujo túmulo é fechado por Jairo e Borus depois de os anjos lá terem depositado novamente o caixão, a seu pedido.
72.OVERDADEIRO CULTOA DEUS
Lá fora Me diz Cirenius: “Senhor, se isto tivesse ocorrido em Roma, até as pedras teriam Te adorado; e nós, aqui, agimos como se fosse algo corriqueiro! Senhor, tem paciência — ou com nossa fraqueza ou com nossa estultícia!”
Digo Eu: “Se esta fosse a Minha Intenção, teria nascido em Roma, e não em Nazareth! Fazei apenas o que vos exijo! O resto faz parte do pa- ganismo e é pecado. Ainda ignoras que ‘Amar a Deus sobre tudo e ao pró- ximo como a si mesmo’ é, indizivelmente, mais que construir miseráveis templos de pedras e madeira em honra do Senhor dos Céus e da Terra?
Se, de acordo com Salomon, Céus e Terra não comportam a Majestade Divina, o que significa então uma miserável construção de pedras alcantiladas, quando tanto a Terra quanto o Infinito por Deus foram criados?!
Dize-Me: que diria um pai a seus filhos que, tolamente, constru- íssem uma casinha e uma imagem dele de sua matéria fecal, adorando-o de joelhos? Que farias tu se teus filhos fizessem tal coisa e, embora o proibindo, continuassem nesta adoração imunda, obrigando até pelo castigo seus semelhantes a seguir-lhes e, por cima, ainda lhes exigissem uma taxa beata? Acaso te alegrarias com tal adoração imunda por parte dos teus filhos?
Vê, já te sentes mal com esta expectativa; no entanto, afirmo-te que ainda seria mais admissível que a veneração humana dirigida a Deus nos templos! Pois os filhos ainda utilizariam para sua obra aquilo que ali- mentou o pai, mas os homens edificam, dos excrementos de Satanás, igre- jas nas quais adoram a Deus, o Criador! Que te parece esta veneração?”
Diz Cirenius: “Senhor, se me fosse possível, destruiria com mil raios os templos desta Terra, coisa de momentos para os Teus anjos!”
Digo Eu: “Amigo, isto já aconteceu, está acontecendo e ainda acontecerá no futuro — e os homens continuarão a construir templos! O de Jerusalém será arrasado assim como os dos pagãos! Mas no lu- gar dos poucos virão milhares — e enquanto esta Terra for habitada, os homens edificarão igrejas, grandes e pequenas, e lá procurarão sua felicidade. Poucos, porém, dedicar-se-ão ao empreendimento de cons- truir um Templo vivo no coração, onde Deus poderia ser dignamente reconhecido, venerado e adorado, porquanto é o exclusivo meio de vida para a alma!
Enquanto as criaturas habitarem em palácios e por este motivo se deixarem adorar por aqueles que nada disto possuem, também se edificarão igrejas para um suposto deus, não para adorá-lo em verdade, mas para a elevação de seu construtor. Desta forma os homens se darão a honra que a Deus pertence e seu prêmio corresponderá a este atrevi- mento! No Além, entretanto, não terão mérito, pois serão expulsos para as trevas tenebrosas, onde o clamor e o ranger de dentes determinarão seu destino! Por isto, deixemos tudo conforme está, pois cada nó será desatado no mundo dos espíritos!”
73.ACEIAEMCASADE MARIA
Enquanto isto, alcançamos a Minha casa, onde nos aguarda uma boa ceia, constituída, como sempre, de pão, vinho e uma quantidade de peixes bem preparados. Josoé os aprecia muito e se alegra da fartura.
Jairo, no entanto, diz-lhe: “Querido sobrinho, não te deves ali- mentar com tanta avidez, pois que teu ‘novo’ estômago não poderá suportar uma quantidade tão grande de matéria!”
Diz o menino: “Não te preocupes com isto, tio! Aquele Que me ressuscitou, certamente não iria implantar tal apetite no meu estômago, caso isto lhe prejudicasse! Pois não é brincadeira a pessoa passar sem comer durante ano e meio! Se isto te tivesse sucedido, compreenderias o meu apetite. Além Daquele Que me ressuscitou, sei perfeitamente se esta refeição me pode prejudicar!”
Diz Jairo: “De minha parte me alegro do teu apetite e só tive boas intenções em minha reprimenda!”
Enquanto tomamos alegremente a refeição, muitos comentários são feitos a respeito de Jerusalém. Os discípulos, entrementes, infor- mam-se acerca do menino, pois não sabem a sua origem. Tanto as per- guntas feitas ao próprio menino, quanto a Jairo e aos dois jovens, de nada adiantam, pois ninguém lhes dá uma resposta satisfatória.
Observando a impaciência dos apóstolos, Maria lhes diz: “Por que indagais coisas que não necessitais saber? Fazei o que Ele vos disser e assim agireis de acordo com a Sua Vontade, certos do prêmio eterno! Tudo, porém, que for contra a Vontade do Mestre, vosso Salvador, é pecado — físico e espiritual! Gravai bem isto!” Com esta advertência de Maria, os discípulos deixam as indagações, confabulando entre si; Pedro, porém, dirige-se a Meu Amado João e lhe pergunta o que pensa daquele menino.
João lhe diz: “Parece não teres ouvido as palavras meigas de Ma- ria, tanto que não desistes de querer saber aquilo que o Senhor, por motivos mui sábios, não nos deseja transmitir. Vê, a mim isto não pre- ocupa; basta saber o que sabemos! Se nossa curiosidade excede àquilo que devemos saber, cometemos uma tolice e merecemos tudo, menos sermos Seus discípulos!”
Diz Pedro: “Sim, tens razão; no entanto, é a curiosidade uma dádiva implantada pelo Senhor no coração do homem, sem o que se assemelharia ao animal. A tendência divina da curiosidade consiste em ser a mesma comparável à sede que uma alma venha a sentir durante o sonho. Necessita ela de grande quantidade de água e vinho, que, no entanto, mais ainda estimulam sua vontade de beber. Nossa curiosidade insaciável demonstra, nitidamente, que em Deus repousa uma Plenitu-
de de Sabedoria que jamais será sondada por algum espírito pesquisa- dor! Assim sou de opinião que esta minha curiosidade não será pecado.
Vê, dá-se comigo e com meus irmãos o mesmo que acontece com crianças gulosas que, enquanto não veem as guloseimas, não sen- tem vontade de saboreá-las. Convida-as, porém, a uma mesa de doces e proíba-lhes de provar algo — e em breve verás lágrimas em seus olhos e água em suas bocas. Contudo, tens razão, pois, do mesmo modo que um pai sábio proibirá aos filhos se servirem dos petiscos, a fim de que se exercitem na renúncia — nosso Pai Celeste parece fazer o mesmo, até que consigamos um certo grau de abnegação. E assim, dar-nos-emos por satisfeitos com aquilo que possuímos e sabemos, a fim de que se cumpra a Sua Vontade!”
Digo Eu: “Caro Simon Juda, assim está bem e certo! Nem todo conhecimento e experiência se prestam para a ressurreição do espírito e a vivificação da alma. Pois consta: ‘E Deus falou a Adam: No dia em que comeres da árvore do conhecimento, morrerás!’
No conhecimento jaz o julgamento e a lei; pois, enquanto ig- noras uma lei, não haverá condenação que a siga. Por isto, queira saber apenas aquilo que Eu te revelo, que saberás o suficiente. Quando o tempo chegar, tudo te será desvendado!”
74.DISCUSSÃOENTREJUDASE THOMAZ
Com esta orientação, todos se satisfazem, louvando a Minha Bondade, Sabedoria e Onipotência. Apenas Judas reclama em voz alta: “Aos fariseus, que fazem ver aos estrangeiros o Santíssimo por dinheiro, Ele recrimina ao ponto de chamar chuva de enxofre dos Céus, mas, quando demonstra aos romanos a Sua Santidade e disto exclui Seus fi- lhos — acha que esteja dentro da Ordem Divina! Alguém teria assistido à coisa idêntica? Quando é feita em Jerusalém, torna-se um pecado — Ele o fazendo, fá-lo-á dentro da Ordem de Melchisedek! Nada há que fazer; no entanto, isto dá para a pessoa se aborrecer!”
Diz Thomaz, como sempre mentor de Judas: “Vê só! Achaste algo que te não agrada? De há muito me admiro não discutires com o
Senhor por ter Ele localizado o Sol tão distante da Terra, de sorte que não possas secar tuas panelas com menos gastos!
Como seria bom se pudéssemos voar qual passarinhos! Confesso: muitas vezes tive ímpeto de acompanhar o voo das andorinhas, chegan- do mesmo a pular e a movimentar os braços; o peso do corpo, porém, impedia-me de me elevar do solo! De cada vez me conformava, pensan- do: Se fosse da Vontade de Deus que as criaturas voassem, Ele lhes teria dado asas. Prevendo que tal faculdade seria prejudicial ao homem, o Pai lhe deu dois pés firmes e sólidos e, além disto, duas mãos bem úteis e um intelecto capaz de alcançar as estrelas, com o qual ele, em substituição às asas, pode conseguir uma infinidade de vantagens. E duvido que os pássaros possam avaliar suas asas, como o homem seus pés e intelecto!
Vê, da mesma forma é difícil à criatura movimentar-se na água, mas seu intelecto lhe faculta os meios para a construção dum navio e, por certo, nossos descendentes farão grande progresso neste campo — e quem sabe se algum dia não conseguirão elevar-se da Terra por meio de asas artificiais, como faziam os antigos hindus?!”
Eis que Judas interrompe bruscamente Thomaz e diz: “Acaso destinei-te mestre de correção, para me cansares constantemente com tuas prédicas? Guarda tua sabedoria para teus filhos e deixa-me em paz, do contrário serei obrigado a te fazer calar! Varre a soleira de tua porta, que me incumbirei da minha. Se algo não me agrada, nada tens a ver com isto! Recorda-te de como o Senhor apaziguou a nossa disputa em Kis e satisfaze-te com isto! Compreendes?”
Diz Thomaz: “Judas, meu irmão, que te fiz eu que tanto te abor- reces comigo? Acaso não é verdade que reclamavas por Deus ter coloca- do o Sol tão longe da Terra e por te não ter dado um par de asas?”
Como Judas não responda, Thomaz continua: “Se queres zan- gar-te comigo, fá-lo-ás sem razão! Tal atitude na Presença do Senhor não me parece muito louvável, pois índole igual à tua não deveria fazer parte dos discípulos do Senhor e farias melhor voltando para junto de tua olaria, do que importunando a Companhia de Jesus por motivos fúteis. Já esqueceste do Sermão da Montanha, no qual Ele manda amar aos inimigos, abençoar aos que nos amaldiçoam e fazer o bem pelo mal?
Não querendo seguir o Verbo do Pai, humilhando-te sempre que possível — pergunto-te: por que nos molestas com tua presença?! Passas dias sem nos dirigir palavra; alguém te perguntando, não lhe respondes, ou o fazes de maneira tão bruta, que não se anima à outra tentativa. É este o comportamento dum discípulo do Senhor? Vai-te embora ou então corrige-te! Realmente, arrependo-me cada vez mais de ter-te trazido ao nosso meio! Implorarei ao Senhor, de joelhos, que te afaste daqui, caso não o queiras fazer de boa vontade!”
Diz finalmente Judas, retendo sua íntima raiva com ares de sor- riso: “Nem tu nem o Senhor podereis determinar se vou ou se fico! Sou um homem livre e posso fazer o que me agrada! Vê, se eu não soubesse que tu te aborreces tanto, de há muito teria procurado outra compa- nhia! Por isto, fico para te servir de prova na aplicação da paciência e do amor ao próximo, desejando aprender, pelo Sermão praticado, a Doutrina de Jesus! Compreendeste-me, sábio Thomaz?”
Diz este, dirigindo-se a Mim: “Senhor, todos nós Te pedimos a exclusão deste elemento! Pois a seu lado não há possibilidade de união fraternal, tampouco a prática de Teus Ensinos! Além disto, é ele um traidor e instigador! Por que deveria aqui permanecer, se não só não aplica as Tuas Leis, como zomba dos que se esforçam por fazê-lo?”
75.O SENHOR ADVERTE JUDAS
Digo Eu a Judas: “Thomaz tem uma queixa justa contra ti! Ad- virto-te: modifica teu coração e torna-te um homem! Como diabo Me és repugnante e podes ir! Pois Minha Companhia é Santa por ser bafe- jada pelo Espírito Divino — e em tal ambiente demônio algum poderá permanecer!”
Estas palavras levam Judas a cair de joelhos e pedir perdão a Thomaz. Este, porém, diz: “Amigo, não mereço isto, e sim Aquele, cuja Doutrina vilipendiaste, falando contra mim!” Judas se levanta rápido e repete a atitude a Meus Pés.
Eu, no entanto, digo-lhe: “Modifica teu coração mau, pois teu pedido de perdão apenas de lábios, sem a devida regeneração, não tem
valor perante Mim! A forma externa assemelha-se à serpente que seduz pelas curvas graciosas os pássaros do Céu, a fim de que os devore. Repi- to: Tem cuidado para não te tornares vítima de Satanás, que não larga sua presa!”
Judas se levanta e diz: “Senhor, chamas os mortos da tumba — e eles vivem! Por que deixas que meu coração se perca no pecado? Quero modificar-me, mas não o posso por ser incapaz de melhorar o meu ín- timo! Por isto, faze-o Tu, que serei outro!”
Digo Eu: “Eis o grande mistério da regeneração do homem! Tudo lhe posso fazer, e ele continuará a ser homem! O coração, entre- tanto, é seu e deverá ser transformado, caso deseje preparar-se para a Vida Eterna. Se Eu Pessoalmente fosse empregar a lima no coração da criatura, ela perderia sua independência, tornando-se maquinal. Rece- bendo o Ensinamento, o homem deve agir de própria vontade, a fim de reformar a sua índole.
Após ter purificado o coração, Eu ali penetro e habito, e a criatura com isto renasce em espírito, jamais podendo se extraviar! Torna-se una Comigo, como Eu o sou com o Pai, do Qual Eu surgi, vindo ao mundo para mostrar às criaturas o caminho espiritual que devem trilhar, a fim de alcançar a Deus na Verdadeira Plenitude! Por isto, deves — como to- dos vós — pôr mãos à obra na reforma do coração; do contrário, estarás perdido, mesmo Eu te ressuscitando mil vezes da tumba material!”
Diz Judas: “Senhor, então estarei perdido, porquanto tenho um coração indomável e não posso socorrer a mim mesmo!”
Digo Eu: “Neste caso ouve teus irmãos e não te enraiveças quando te advertem com carinho; pois ajudam-te nessa reforma! Aprende com Thomaz, que com tua malcriação não se absteve de te admoestar, quan- do davas margem à maldade dentro de ti. Por isto, ouve suas palavras de amigo, que melhorarão o teu íntimo! Se, porém, não aceitares conselhos dos irmãos, como até agora o fizeste, serás presa fácil de Satanás!
Antes de tudo, abstém-te da raiva e da ganância, senão serás filho da morte! Arrependimento e penitência no Além-túmulo não têm valor e tampouco auxiliarão uma alma impura e enegrecida. Vai e refle- te sobre Minhas Palavras!”
Judas recua pensativo e, tomando uma meia-resolução, diz a Thomaz: “Bem, irmão, verás que Judas se modificará, tornando-
-se um exemplo para todos! Consigo muito quando quero, e agora me decidi!”
Responde Thomaz: “Irmão, se te elogias com antecedência, o resultado será nulo; com isto também te tornarás um exemplo, não esti- mulador, mas detestável! Se desejas te tornar melhor que nós, conhece- dores de nossas fraquezas e misérias, da falta de mérito perante o Senhor
deves julgar-te sempre de menor valor que teus irmãos, jamais co- gitando em querer servir de exemplo. Então serás, sem o querer, aquilo que ora pretendes, tão orgulhosamente. Vive, portanto, dentro desta regra — que não é posse minha, pois é Ensinamento do Senhor, e cuja base é a verdadeira humildade e renúncia — e alcançarás aquilo que almejas! Agora, pergunta ao Mestre se minha orientação foi acertada!”
76.HUMILDADEE RENÚNCIA
Judas, chamando-Me, pergunta: “Senhor, é certo o que Thomaz acaba de falar num tom de mando?”
Digo Eu: “Sim! Quem entre vós mais se rebaixa diante dos ir- mãos é o primeiro no Reino de Deus; toda presunção leva a criatura ao último degrau. Se algum de vós sentir algo de altivez e presunção dentro de si, ainda não se terá libertado do inferno, que tudo destrói, e estará longe do Reino de Deus, pois seu espírito está algemado. Redu- zindo-se, porém, abaixo dos irmãos, prontificando-se a lhes servir com tudo que possui — será o primeiro no Reino de Deus e um exemplo para seu semelhante. Somente aquele capaz de se rebaixar perante todos possui um espírito divino!”
Diz Judas: “Neste caso depende dos outros deixar-se servir por ele, a fim de que possa conseguir a prioridade celestial! Que será se eles não aceitarem seu serviço, pois lhe fazem concorrência? Quem, então, será o primeiro?”
Digo Eu: “Todos que o fizerem de bom coração. Aqueles, po- rém, que, levados dum certo amor-próprio, não aceitarem o auxílio
do outro — a fim de não lhe dar oportunidade de ser um primeiro no Reino de Deus — serão os últimos e ele o primeiro, porquanto quis socorrê-los por amor e verdadeira humildade!
No Além tudo será medido e pesado minuciosamente — e se surgir algo de egoístico, a balança não registrará a boa ação. Por isto, tens de ter a plena verdade dentro de ti, senão será impossível o teu ingresso no Meu Reino! Somente a verdade pura vos libertará diante de Deus e de Suas criaturas! Compreendes isto?”
Diz Judas: “Sim, compreendo-o; no entanto, também reconhe- ço ser inteiramente impossível alcançá-lo, pois não existe possibilidade de o homem renunciar completamente ao amor-próprio. Há de comer, beber, tratar de casa e roupa — o que não deixa de ser uma ação egoís- tica. Ele procura uma esposa apenas para si — e ai daquele que a queira conquistar! Não é isto um certo egoísmo?
Se possuo um campo bem semeado e chegar a época da colhei- ta, deverei, acaso, procurar meus vizinhos e dizer-lhes: ‘Amigos, po- deis colher o que semeei; pois sou o mais despretensioso e vosso servo, trabalhando apenas por vós?!’ Penso haver necessidade dum limite na renúncia estipulada por Ti, pois sem isto só se demonstraria o critério desvantajoso que se faria do próximo. Julgar-se superior ao outro não deixa de ser orgulho! Mas neste caso imaginemos a Humanidade daqui a cem anos — e veremos se não comerá capim qual gado no pasto, nem haverá vestígio dum idioma, muito menos duma habitação e cidade! Qual é, pois, o limite do amor-próprio?”
77.ASTRÊSQUALIDADESDE AMOR
Digo Eu: “Pois bem, darei uma medida pela qual todos vós sabe- reis aplicar o amor-próprio, o amor ao próximo e o amor a Deus.
Toma o número seiscentos e sessenta e seis, que, em boas ou más condições, designa ou um homem ou um demônio perfeito!
Divide o amor em seiscentas e sessenta e seis partes; darás, então, seiscentas a Deus, sessenta ao próximo, ficando com seis! Se quiseres ser, porém, um demônio perfeito, inverterás os valores!
Vê, são os empregados e servos que cultivam os campos de seus patrões. Julgando por ti, deveriam guardar a colheita, pois que é fruto de seu trabalho; eles, entretanto, regozijam-se em poder dizer ao dono: ‘Patrão, teus celeiros estão repletos; no entanto, ainda há metade nos campos! Que faremos?’ E seu regozijo aumentará, o patrão responden- do: ‘Louvo vossa assiduidade e zelo desinteressados; ide em busca de construtores, a fim de que construam, rapidamente, outros celeiros que comportem o resto da colheita, para épocas que talvez não sejam tão abençoadas!’ Vê, nada pertence aos lavradores, não possuem celeiros e despensas; no entanto, trabalham por um ordenado pequeno, como se fosse em seu benefício, pois sabem que não lhes faltará algo enquanto o patrão tiver abundância.
Na justa atividade do servo consiste a relação da verdadeira cria- tura quanto a si mesma, ao próximo e a Deus. O verdadeiro empregado cuida, para si, seis vezes; para seus colegas, a fim de conquistar sua amizade, sessenta vezes, e para o patrão, seiscentas vezes, ganhando sem querer seiscentas e sessenta e seis vezes. Pois os outros lhe estimarão por ser ele destituído de amor-próprio, e o dono o elevará. Mas um empre- gado que apenas tratar do seu bolso, preferindo ser o último no traba- lho e procurando a tarefa mais leve, será logo malquisto pelos outros e o patrão perceberá que é um preguiçoso. Não o elevará a posto melhor, mas diminuirá seu ordenado, fazendo-o sentar no fim da mesa. Ele não se corrigindo, será dispensado com más referências e, por conseguinte, dificilmente achará outro emprego. Se, porém, ainda tiver um amigo, ao qual algum dia manifestou-se desinteressado, este o poderá acolher em sua casa, pelo que o Senhor não o criticará. Compreendes isto?
Toda pessoa deve ter um certo grau de amor-próprio, sem o qual não poderia viver — mas, como digo, o menor grau possível; exceden- do-se em algo, já altera a relação puramente humana, pois a Balança Divina até um cabelo pesa! Tens com isto o limite delineado e veremos como o porás em prática!”
Diz Judas: “Para tal é necessária uma sabedoria profunda, a fim de podermos julgar se conseguimos a medida justa do amor-próprio! Como será possível a um homem de curta visão?”
Digo Eu: “Deve fazer o que puder, que Deus preencherá as la- cunas. Ninguém, todavia, deverá se preocupar se possui menos de seis partes de amor-próprio, muito menos criaturas de tua índole!” Judas se cala e levanta-se pensativo, a fim de preparar um leito para si.
Eis que Josoé se manifesta, dizendo: “Quase não mais suportei a estultícia deste homem! É Teu discípulo, no entanto, tão cego como uma coruja à luz do dia. Entendi tudo que Tu, ó Senhor, lhe falaste; ele, porém, nada compreendia, porquanto sempre perguntava e fazia objeções, afastando-se, finalmente, tão ignorante como se Tu nada lhe tivesses falado! As perguntas duma criança são perdoáveis; mas um adulto que pretende ser inteligente, caindo neste erro — eviden- temente com más intenções — força a pessoa a se aborrecer! Aceitarei por três vezes a morte, caso este homem se modifique! Parece avarento e calcula o lucro que lhe seria facultado se possuidor de Teu Poder Milagroso! E eu, Josoé, tudo daria e sofreria, se fosse possível Judas modificar-se!”
Digo Eu: “Meu caro Josoé, deixa estar; precisamos de diversos servidores na edificação dum novo Céu e duma nova Terra, e nisto Ju- das nos será útil! Agora, porém, dize-Me: que dirás a teus pais quando os encontrares dentro de alguns dias?”
78.PLANOINTELIGENTEDE JOSOÉ
Diz Josoé, sorridente: “Senhor, penso ser isto bem fácil! Serei reconduzido pelo tio Jairo à casa de meus pais, pois na certa ainda las- timam a minha morte. Admirar-se-ão de ver um menino tão parecido com o Josoé. Jairo, então, dirá que sou um exposto e, casualmente, uso também o mesmo nome do falecido. Meus pais me adotarão e amarão mais do que aquele. Pouco a pouco poderão ser integrados na verdade de que sou, realmente, seu filho. Estará bem assim, Senhor?”
Digo Eu: “Teu plano é bem traçado, Meu querido Josoé; há, porém, um pormenor nocivo, pois que tencionas dizer uma mentira. Não sendo um exposto, como irás justificar esta afirmação diante de teus pais e de Deus?”
Responde o menino: “Senhor, quando sorris, as coisas não an- dam mal; portanto, já me acho justificado por Ti como o foi Jacob diante de seu cego pai, Isaac, quando meteu suas mãos em pele de car- neiro! Penso que aquilo foi muito mais uma mentira do que se eu for entregue como exposto aos meus! Se Deus, naquela ocasião, mostrou-
-Se benigno aceitando a primogenitura de Jacob, não vejo por que deva Ele repudiar o exposto Josoé, que é realmente isto, como nenhum outro sobre a Terra! Não haverá pessoa mais abandonada e perdida como al- guém que tenha morrido; portanto, também não haverá um que mais mereça este título!”
Digo Eu: “Ótimo, conseguiste uma boa defesa em teu favor! Agora, só desejo saber como irás te apresentar a teus pais como filho verdadeiro!”
Diz Josoé: “Oh, Senhor, nada mais fácil! Uma vez em casa, por- tar-me-ei como dantes; farei as mesmas perguntas, procurarei os meus brinquedos — e a maneira de usá-los certamente causará admiração a meus pais, que dirão: ‘Eis nosso Josoé, que talvez fosse despertado por Borus com seus remédios misteriosos!’ Então, deixo-os algum tempo nesta fé e, quando a época for propícia, saberão da verdade.”
Digo Eu: “Eis outra mentira! Pois deixar ficar alguém conscien- temente num engano é o mesmo que uma mentira! Que farás?”
Diz Josoé: “Senhor, aceito Teu Sorriso como bom agouro e pen- so ser tal mentira de qualidade especial. Apresentar uma mentira como verdade, com más intenções, é algo diabólico! Todavia, uma aparente, pela qual se oculte a verdade pelo tempo indispensável que o outro ne- cessite para suportá-la, não pode ser maléfica, pois surge dum coração benevolente!
Neste caso, toda parábola poderá ser considerada uma menti- ra, porquanto oculta uma verdade elevada. Entretanto, os patriarcas e profetas costumavam falar em quadros! E que Borus, como afamado médico, assuma o Teu Lugar, é o mesmo que, na época de Abraham, terem os três anjos que o procuraram tomado o lugar de Jehovah; assim, também a mentira de José no Egito, feita a seus irmãos à procura de trigo, não foi registrada por Deus como pecado. Tal mentira aparente
é, a meu ver, uma precaução divina, enquanto uma verdadeira faz parte da astúcia satânica!”
Digo Eu: “Vem cá, Meu querido Josoé, e deixa que Eu te abrace! Embora ainda garoto, és mais sábio que um velho escriba!”
Josoé dá a volta em redor da mesa, abraça-Me e beija, e diz numa alegria incontida: “Vede, velhos espíritos e elementos poderosos, e ocultai vossos semblantes! Jamais vistes o que ora se dá! O Eterno e Santo Pai, Presente no Filho Jesus, deixa-Se abraçar e beijar por uma Sua criatura! O Eterno, atraindo um ser temporário, beija-o, eterni- zando-o deste modo! Ó Tu, Verdadeiro e Único Pai das criaturas, quão doce é o Teu Amor!”
79.DOISANJOSOFERECEMSEUSPRÉSTIMOSA JOSOÉ
Em seguida, aproximam-se os dois anjos e dizem: “Sim, adorá- vel menino, falaste certo! Jamais nossos olhos, que, muito antes de um sol manifestar sua presença no Eterno Espaço Divino, contemplavam o Infinito, assistiram à cena presente! Permanece neste ânimo que te inspira de modo tão sublime, que seremos eternamente teus irmãos!”
Diz Josoé: “Quem sois, falando tão sábias palavras? Porventura não sois humanos?”
Dizem ambos: “Querido irmão, espiritualmente somos o que tu és; nunca, porém, encarnamos! Somos anjos do Senhor, aqui presentes para Lhe servir. Se Ele, futuramente, conceder-nos a Graça duma en- carnação, seremos o que ora és. Por enquanto, tens esta vantagem sobre nós; a Eternidade, porém, é longa e nivelará todas as diferenciações. Oferecemos-te nossos préstimos como fiéis servidores; externa tuas or- dens que as cumpriremos!”
Diz Josoé: “Que ajuda vos poderia pedir? Todos nós temos umDeus, umSenhor e umPai de Eternidade. A Ele compete exigir de mim e de vós; nós, por Ele criados, de ninguém devemos exigir algo, mas servir-nos mutuamente por amor, se anjo ou criatura de algo necessite!
Já não considero perfeito aquele que, embora mui prestativo, socorra um irmão necessitado; pois, neste caso, apenas receberá ajuda
quem possua oportunidade e coragem de expor sua miséria. Quem, desta forma, ajudará uma pessoa que não tenha ocasião e ânimo para pedir um auxílio? Se já não aceito um socorro implorado, muito menos um exigido!
Por isto, afirmo na Presença Daquele Que é Senhor sobre vida e morte: se perceberdes que necessito de algo, ajudai-me sem que vos peça, ou, talvez, ordene como se fosse um senhor! Faria o mesmo com relação a vós!
Todo aquele que, de qualquer maneira, desfrute posição avan- tajada deve averiguar com assiduidade a pobreza do próximo, a fim de socorrê-lo. Deste modo será, a meu ver, agradável aos olhos do Pai
Que sempre assim age — justificando a Santa Medida de Deus, pela qual foi criado! Muito longe desta Perfeição estará quem socorrer somente a quem lho pedir, e muito mais ainda quem aceitar tal ordem!
Vede, meus amigos: se vossa sabedoria não for além de oferecer às criaturas que vos ordenem quando de vós necessitarem, não trocarei minha posição de garoto com a vossa, angelical. Se, entretanto, queríeis apenas experimentar-me, penso não me ter saído mal neste exame; e se, por acaso, ouvistes algo que sensibilizasse vossos ouvidos, deveis levar-me em conta. Não vos falei a fim de vos doutrinar, mas em prol da verdade, que não foi o móvel de vossa oferta. Como espíritos perfeitos, deveríeis penetrar e conhecer o meu íntimo, de modo que saberíeis, de antemão, da minha resposta à vossa oferta, pela qual não vos posso agradecer!”
Os dois jovens recuam algo humilhados e dizem: “Realmente, esta Sabedoria Pura e Divina anjo algum teria suposto neste menino!”
Digo Eu: “Sim, Meus queridos, os Olhos de Deus até nos anjos perfeitos descobrem máculas — assim como um coração puro é seme- lhante à menina-do-olho de Deus! Permiti este fato não por vossa cau- sa, mas em consideração aos hóspedes, a fim de que ouvissem, pela boca dum menor, o quanto lhes falta para a Perfeição Divina. Além disto, possui ele de nascença um espírito extraordinariamente lúcido, por isto ninguém deve supor que Eu tenha depositado as palavras que proferiu em seu coração e, afinal, em sua boca. São propriedade sua, razão por que, em tempos, será um instrumento de grande valor!”
Diz Cirenius: “Senhor, tinha vontade de levar este menino co- migo e, ele o aceitando, não só igualá-lo a meus filhos, mas até consi- derá-lo mais ainda que os próprios. Realmente, ficaria contentíssimo se fosse meu, pois é mais anjo que criatura humana! Também encon- trará dificuldades na companhia dos pais, restando saber se o aceitarão. Ciente de tudo, poderei com o tempo facilitar as condições para que eles o reconheçam. Querendo recebê-lo, poderão se decidir, com a con- dição de que Josoé ficará comigo, isto é, acompanhando-me nas minhas viagens pela Ásia, Europa e África!”
Digo Eu: “Combina isto com Jairo e Josoé! Estou de acordo com tudo, pois ele Me será fiel onde quer que esteja!”
Diz o menino: “Pai, por certo não duvidarás de mim? A não ser que Tu Mesmo modifiques a minha índole! Se pudesse determinar sobre o meu futuro, preferiria ficar a Teu lado! Acaso haveria algo de mais elevado, sublime e bendito em toda a Eternidade, que permanecer Contigo, a Fonte Primária do Amor, da Sabedoria e da Vida? Este seria o meu mais forte desejo; além disto, porém, sei obedecer à Tua Vonta- de! Tanto irei com Cirenius, que muito prezo, quanto também voltarei para junto dos meus; mas, sem a Tua Vontade, nada farei!”
Digo Eu: “O teu caráter demonstra claramente que tens esta aspiração, a qual também se cumprirá; por ora, entretanto, necessitas de algum repouso através dum afastamento de Minha Pessoa, a fim de que se firme a relação entre corpo e alma. Daqui a um ano poderás voltar para junto de Mim, sem que Eu necessite conter tua alma dentro da matéria. Eis o motivo por que permito o teu afastamento! Resolve, porém, com quem desejas viver! Uma coisa é certa: lucrarás muito mais com Cirenius do que sendo um exposto aparente na casa paterna.”
Diz Josoé: “Muito bem, sabendo disto, acompanharei o vice-rei. Tinha, porém, vontade de rever meus pais e ver sua admiração.”
Diz Cirenius: “Será fácil fazê-lo amanhã, quando nos dirigirmos por Capernaum a Sidon e Tyro! Quando em Capernaum almoçarmos em casa de meu irmão Cornélius, que vês a meu lado, farei convidar
os teus pais com outras notabilidades — e então terás oportunidade de revê-los. Cuidado para te não traíres! Pela vestimenta não te reconhe- cerão, pois arranjar-te-ei uma toga. Mas, como já disse, cuida de tua língua, para não te denunciares!”
Diz o menino: “Não te preocupes! Com a ajuda do Senhor, tudo correrá bem.” Cirenius acaricia-o e diz: “Amo-te mais que a meus pró- prios filhos e àqueles que adotei e dos quais também sou pai amoroso, como de ti, pois ser-lhes-ás de grande proveito espiritual!”
Diz Josoé: “Alegro-me bastante com isto, pois foi sempre uma grande satisfação o poder ser útil a alguém.”
Digo Eu: “Bem, Meu Josoé, vendo que futuramente és fiel a teu propósito, dar-te-ei um Poder dos Céus, pelo qual ser-te-á mais fácil ajudar ao próximo. Em que consiste tal Poder sentirás no momento oportuno! Agora vamos nos recolher, que já passa de meia-noite. O que o dia de amanhã nos trouxer de bom será nossa parte, e do mal sabere- mos nos afastar!” A seguir todos se recolhem.
Ev. Matheus – Capítulo 14
81.RELATODEROBANREFERENTEAONOVO REITOR
A manhã seguinte é radiosa e muitos hóspedes já se acham fora de casa quando Eu, os discípulos, os romanos e Kisjonah nos levanta- mos. Daqui a pouco aparece Bab com sua família; haviam dormido em casa, a fim de não nos dar trabalho. Conta ele, rapidamente, que na cidade, mormente na sinagoga, havia tanta agitação que não teve coragem de perguntar o motivo.
Digo Eu: “É consequência da ação do novo reitor que, na certa, veio fazer uma inspeção em Nazareth! Nada há demais nisto, portanto vamos tomar nosso desjejum.” A seguir digo aos dois jovens ainda pre- sentes: “Ide à sinagoga e buscai Roban, pois preciso lhe falar! Não vos
denuncieis com atitudes sobrenaturais!” Ambos se afastam e nós nos entregamos à refeição.
Mal deixamos a mesa, chega Roban com seus companheiros, curva-se respeitosamente diante de Mim e dos nobres romanos e diz, extenuado: “Ó Senhor, eis o Céu, e lá, na sinagoga, o inferno no auge! Senhor, nada necessito dizer-Te, pois sei que és o Onisciente, mas é de desesperar o que faz o nosso atual reitor! Se não for um verdadeiro irmão de Satanás, desisto de minha integridade! Primeiramente, não só nos tira o que possuímos em dinheiro, mas também nos saqueia todos os bens, de modo a não sabermos com que viver no futuro. Tirou-nos todo o trigo, cereais e peixes defumados; marcou bois, vacas e garrotes, carneiros e burros como sendo posse do Templo! Além disto, nos decla- ra apóstatas, querendo impingir-nos toda sorte de multas! Alega que em Jerusalém se sabe tudo o que aqui acontece, tendo ele a incumbência de Te prender como revolucionário e entregar-Te às autoridades! Que me dizes a respeito?
Herodes é sabedor de todos os Teus Passos e já teria agido há muito, se não fosse de opinião — inculcada por um adivinho, discípulo de João — seres Tu João Baptista ressuscitado! Havia ordenado sua de- capitação a pedido de Herodias, apresentando-lhe a cabeça do profeta como prova de sua promessa! Por aí vês, Senhor, como andam as coisas! Se não Te opuseres a isto com todo o Teu Poder, estarás perdido com aqueles que te acompanham! É o inferno desenfreado — e Tua Cabeça representa o valor de dez mil libras!”
Eis que chamo Matheus e lhe digo: “Anota o que ouvires!” Ele, de pronto, presta-se a esta tarefa. A seguir, digo a Roban: “Relataste ligeiramente a triste história de João; repete-a tal qual vos foi contada pelo novo chefe! Faço questão que seja assim anotada.” Diz Roban: “Com a melhor boa vontade; temo, porém, que se perceba minha au- sência — e corremos perigo que este chefe satânico aqui nos venha procurar!”
Digo Eu: “Não te aflijas, que ainda temos o Poder suficiente para detê-lo!” Aduz ele: “Neste caso passarei a contar literalmente a história de João Baptista!”
82.HISTÓRIAEFIMDEJOÃO BAPTISTA
Ev.Matheus—Capítulo14,versículos1a 12
(Roban): “Os fiscais de impostos do Tetrarca Herodes há pouco falaram sobre Ti e Teus Atos, e que dispersaste seus delegados, pois não se podiam opor contra o Teu Poder. Eis que Herodes consultou seu adivinho. Este sendo, secretamente, um discípulo de João, não perdoa- va o homicídio com ele praticado e aproveitou a oportunidade para se vingar em Herodes, declarando-lhe: ‘Eis João Baptista, ressuscitado dos mortos, que ora age contra ti!’
Herodes se assustou não pouco e, tremendo, disse aos empre- gados: ‘Não se trata do carpinteiro Jesus, que bem conheço, pois há cinco anos construiu com seu pai um novo trono para mim. Embora fosse muito sisudo era habilidoso como um artista. É João Baptista, por minha ordem decapitado, que, como espírito, atua contra mim de ma- neira milagrosa (Matheus 14, 2). Nada façais contra ele, pois que isto seria a minha desgraça!’
A esta explicação os servos se afastaram perplexos, pois sabiam que Tu não és João Baptista — mas não ousavam contestar o Tetrarca. A seguir perguntamos ao reitor o que havia de verdadeiro com o homi- cídio de João, pois nada disto sabíamos. Eis que ele, então, contou-nos: Embora superficialmente, Herodes no início também foi adepto dele, considerando-o um sábio. Por isto, o levou à corte e quis dele aprender a ciência oculta. Mas, como não queria desistir de sua paixão para com Herodias, mulher de seu irmão Philippe (Matheus 14, 3), João se al- terou, dizendo ao Tetrarca: ‘Não te é lícito possuí-la! (Matheus 14, 4). Pois consta: Não cobiçarás a mulher do teu próximo!’ Herodes, enrai- vecido, mandou encarcerá-lo e também o teria matado, se não fosse o medo ao povo, que o considerava profeta (Matheus 14, 5).
Acontece, porém, que, poucos dias após, Herodes festejava seu aniversário, e a bela filha de Herodias dançou diante dele e dos nobres convivas, o que muito lhe agradou (Matheus 14, 6). Jurou dar-lhe tudo que ela exigisse (Matheus 14, 7). Salomé, porém, consultou Herodias, que havia jurado vingança a João, por este haver querido interferir em
suas relações com Herodes. E a mãe a instruiu de forma a que viesse exigir a cabeça do profeta.
Eis que a filha se dirigiu ao Tetrarca e lhe disse: ‘Dá-me, num prato de ouro, a cabeça de João Baptista!’ (Matheus 14, 8). O rei se afligiu, não por causa de João, mas pelo povo, de quem temia vingança. Entretanto, pelo juramento e pelos presentes à mesa, ordenou se desse a Salomé o que exigira (Matheus 14, 9). E os servos degolaram João no cárcere (Matheus 14, 10) após terem dali afastado seus discípulos. Levaram sua cabeça numa bandeja à sala de refeição para entregá-la à Salomé, e esta ofertou-a à sua mãe! (Matheus 14, 11).
Quando ali voltaram os adeptos, só encontraram o corpo de João Baptista. Levando-o consigo, enterraram-no (Matheus 14, 12) à vista de milhares, que, chorosos, praguejavam contra Herodes Antippas e sua família. Herodias, porém, quando viu o semblante de João, caiu mor- ta por terra contorcendo-se horrivelmente, e sua filha acompanhou-a poucos minutos após. Herodes e seus hóspedes fugiram apavorados.
Eis, Senhor, a triste história de João Baptista, que batizava no Jordão, não distante do deserto de Bethabara, onde o rio desemboca no lago, atravessando-o, a fim de dirigir-se ao Mar Morto. Que me dizes? Será possível que criaturas se tornem demônios numa época em que Tu, a Quem Céus e Terra obedecem, caminhas como Homem sobre o orbe? Acaso não tens raios e trovões à Tua Disposição?”
Manifestam-se Cirenius e Cornélius, alterados: “Senhor, o peri- go é iminente! Não podemos esperar com Tua Paciência, é preciso agir! No mais tardar em dez dias, esta raça do inferno junto com o Templo deverão ser dizimados!”
Digo Eu: “Bastariam estes dois jovens para executar, num mo- mento, o que o poderio romano não conseguiria em um século! Se isto estivesse dentro da Ordem Divina, seria coisa de minutos para Mim! Mas tudo isto tem de acontecer, em vista da formação dum novo Céu e duma nova Terra! Tratai, porém, de vos afastar daqui; este reitor é mau — e Satanás lhe mostra mil caminhos para vos prejudicar! Por isto, ide! Também Eu deixarei esta zona, por tempo indeterminado, pois convém fugir dos cães raivosos! Ele tem ouro e prata em quantidade,
do contrário não poderia ter comprado este posto. Tu, Roban, volta para lá enquanto ainda não deram pela tua ausência!” Diz ele: “Que responderei, caso me perguntarem a Teu Respeito?” Respondo: “Isto te será revelado na hora!”
83.CENACOMONOVOCHEFEDOTEMPLOEM NAZARETH
Imediatamente Roban se dirige à sua casa, onde logo é procura- do por um mensageiro que lhe transmite a ordem de comparecimento na sinagoga. O chefe, sabendo que Roban Me procurara em Sichar, deseja falar-lhe. Em lá chegando, ele o descompõe.
Roban, porém, diz: “Sou decano de Nazareth e estou perto dos oitenta anos, ao passo que tu ainda estás longe dos trinta! O fato de teres conseguido te tornar nosso chefe, devido à tua fortuna, não te dá o direito dum Moysés ou Aaron, tampouco o de ensinares-me algo que eu não soubesse antes de teres nascido! Todos nós desempenhamos nosso cargo a contento do teu predecessor e do Templo, considerando os acontecimentos ocorridos sob o critério de judeus devotos, impondo barreiras onde necessário. Se tu, porém, entenderes melhor destas coisas e quiseres, de um golpe, converter em judeus todos os gregos e romanos, garanto-te que serás o único judeu restante na Galileia, além de nós!
A vila de Jesaíra, por este motivo, tornou-se grega, obrigando to- dos os fariseus, escribas e sacerdotes a abandoná-la! Faze uma tentativa e inicia uma sindicância naquele local, que seus habitantes te esclarecerão de tal forma que farás uso de tuas pernas! Por que, então, apostata- ram aquelas pessoas? Em consequência do rigor e do domínio daquele sacerdócio, culpado deles se terem tornado adeptos de Pythagoras! O mesmo acontecerá aqui — e todos nos poderemos congratular! Não sejas tão cego e reconhece a verdade!
Os mais elevados cargos de Estado são preenchidos por gregos e romanos, que folgariam se os judeus aderissem à sua nova fé. Como evi- tarás esses incidentes, quando todos na Galileia sabem que o sacerdócio se assemelha a uma noz oca? E quem mais que os próprios templários gananciosos são culpados disto, pois apresentam o Santíssimo aos es-
trangeiros, os quais, não obstante a promessa de sigilo, comentam este fato ridicularizando-o perante o povo?! Vai e pergunta aos moradores desta cidade, que te contarão o mesmo!”
Diz o reitor: “O quê? O povo sabe disto tudo?” Responde Ro- ban: “Exatamente! Vai, porém, e tira-lhe este conhecimento!” O chefe, pensativo, caminha de lá para cá e diz, depois de algum tempo: “Na certa o profeta nazareno tem culpa nisto! Portanto, suceder-lhe-á o que foi feito a João, a mando de Herodes!”
Diz Roban: “Sim, depende duma tentativa de pôr mãos neste médico milagroso, que o povo, os judeus, romanos e gregos, conside- rando-o um deus, terão algo a te contar! Eu, ancião de Nazareth, dou-te um conselho de amigo: se caminhares nas pegadas de teu predecessor Jairo, irás bem, por algum tempo; se, porém, procurares a confusão, poderás, em breve, ir em busca de outra colocação em Jerusalém. Jairo está nas mãos dos gregos; Borus, seu genro, um segundo médico mila- groso e abastado, terá uma boa conversa contigo! Em suma, faze uma experiência e depois me conta se te dei um conselho errado!”
O reitor bate com o punho cerrado na mesa e diz: “Sois todos do demônio e pareceis fazer conchavo com os antagonistas do Templo, aderindo à doutrina daquele revolucionário! Por isto, expulsar-vos-ei da sinagoga, preenchendo vossos postos com elementos novos e vos entregando as autoridades! Por isto repito: Que foste fazer em Sichar?”
Diz Roban: “Tenho setenta e nove anos e sei o que faço! Tua ameaça não me assusta, tampouco a algum outro! Se nos quiseres entre- gar à Justiça, podes tentá-lo, e veremos quem por ela será preso — tu ou nós! Felizmente somos benquistos por parte do vice-rei, irmão do im- perador Augusto, portanto não será tão fácil aprisionar-nos! O Templo, porém, que odeia Jesus por motivo de domínio, agradece-lhe o fato de não ter sido arrasado pelos romanos! Certamente ouviste falar no gran- de roubo de impostos, praticado há cinco semanas pelos seus agentes, cujo transporte vergonhoso fora apreendido pelo ricaço Kisjonah. Vê, aí foi Jesus, o injustamente odiado pelo Templo, porém venerado pelos romanos mais que a Júpiter, quem desviou, pela palavra e ação mila- grosa, a tempestade que iria desabar sobre Jerusalém! Mas ainda não foi
de todo sustada; uma teimosia de vossa parte — e ela se desencadeará! Além disto, basta uma notificação por parte de Borus, Jairo e eu, que te aconselho procurares daqui a vinte e um dias o lugar do Templo — e dificilmente o encontrarás! Compreendeste-me bem?”
O chefe, alterado, bate com o pé e diz: “Quem poderá positivar tal afirmação, se os implicados neste caso se acham no Templo?”
Diz Roban: “Pela lei de Roma o criminoso não pode jurar, mas podem as testemunhas, as quais, quando necessário, havê-las-á aos milhares, o que bastará contra dez criminosos!”
Completamente desanimado, diz o reitor: “Quer dizer que não se pode mais confiar em Jehovah, Moysés e os profetas, e suas Leis não deverão ser consideradas, por causa dos romanos?!”
Diz Roban: “Não venhas te querer reportar a eles! Nenhum de vós os considera; pois o Templo há trinta anos foi reformado numa casa de agiotagem e negócios! O que lá existe é apenas a máscara e os lobos vorazes se revestem de pelo de carneiro, a fim de devorarem com mais facilidade os pobres rebanhos. Se considerasses as Leis de Moysés, não te terias deixado levar pela aquisição do cargo que ora ocupas! Dou-te minha vida se provares ter Moysés determinado tal coisa!”
Esta réplica de Roban quase faz estourar o outro de raiva, que grita: “Isto não importa! Acharei um meio para vos dominar!” Diz Ro- ban: “É possível! No entanto, também conhecemos tuas traficâncias, de sorte que resta saber se já não impedimos teus planos escabrosos! Faze uma tentativa e verás o resultado!”
Dizem os outros a Roban: “Mas por que impedes que este monstro seja aniquilado? Está em nossas mãos e poderá clamar pelo so- corro do Céu, se tomarmos a liberdade de lhe fazer provar as pedras de Nazareth!” — E voltando-se ao reitor: “Somos fariseus e escribas como tu e até mais que isto, pois descendemos de Levi, enquanto compraste este direito! Hoje em dia até o Céu é comprável! Portanto és um intruso e sacrílego, e deverias ser apedrejado!” Esta ameaça faz com que o chefe se torne, ao menos aparentemente, mais acessível, tanto que diz: “Não me julgueis mal; também eu conheço as deficiências do Templo, mas trata-se de encobri-las, para que ele volte a ter seu poder antigo!”
84.CHIWARTESTEMUNHADEJOÃOBAPTISTAE JESUS
Diz em seguida Chiwar: “Para que este trabalho insensato? Não fui servo do Templo dos onze aos vinte e cinco anos? Sei muito bem o que lá se passa. Se tivesse más intenções, de há muito poderia ter relata- do aqueles horrores! Mas o povo cego necessita do Templo! Por que de- veria tirar-lhe a fé, que lhe dá a esperança ilimitada e a nós, sacerdotes, um bom passadio? Se, entretanto, dedicarmo-nos em demasia ao escla- recimento do povo, teremos que, em breve, procurar outro sustento!
Que fazer contra o crescente número de inimigos? Julgas que o sinédrio nos protegerá? Em Roma vivem muitos judeus em palacetes suntuosos, que construíram com dinheiro ilicitamente ganho no Tem- plo! Serão estes tão pouco nossos defensores como os colegas daqui, que há muito já se acham prontos a encetar uma viagem para a Itália e nunca mais voltar. Por isto, deveremos continuar com dignidade em nossos postos como sacerdotes e, além disto, considerar o termo roma- no inmediovirtus(no meio está a virtude); do contrário, teremos que nos dedicar à pescaria!
Para completar, aparecem precisamente agora dois homens, cujo poder incompreensível seria capaz de conquistar o mundo inteiro com sua nova doutrina! João Baptista, o primeiro, que já não mais está entre os vivos e cujos ensinamentos quase toda a Judeia e Galileia aceitaram! Foi possível à perversidade de Herodes decepar a cabeça deste autêntico profeta. Seria também capaz de fazê-lo ao seu espírito e à sua doutrina? Não o creio; pois, justamente pela perseguição, toda boa doutrina se torna invencível!
No lugar de João surgiu Jesus, que, comparado àquele, é igual ao poderoso Ararat perto dum montículo de areia! Sua apresentação e atitudes meigas e bondosas; a profunda sabedoria de cada Palavra Sua
cuja verdade sublime não deixa, numa criatura com o mínimo grau de bom senso no coração, a menor dúvida — e, finalmente, os Seus Atos levam a dizer: Isto somente a Deus é possível! Que poderíamos nós fazer contra Ele? Poderemos nos tornar antipáticos e odiados, e isto não a nosso favor, senão para o nosso maior prejuízo! Assim, trata-se aqui
dum comportamento prudente e de contar com o futuro para poder- mos nos manter em nosso posto!”
Diz o reitor: “Achas, portanto, que se não deva prender este Je- sus, e esperar que nos aniquile?”
Diz Chiwar: “Tenta prendê-Lo, se te for possível! Que não fize- mos nós contra Ele e de que valeu? Conseguimos que aumentasse Seus discípulos com mil adeptos novos e quase tivemos a sorte duvidosa de cair nas mãos dos romanos, que O consideram Deus! Além disto, Ele é constantemente acompanhado por anjos que, embora de aparência frágil, possuem uma força inaudita! Ainda tencionas botar tuas mãos sobre Ele? Peço-te não sejas doido! Antes que possas dar um passo com más intenções, já estarás aleijado! Julgas que Ele ignore o que ora dis- cutimos? Todos aqui são testemunhas como, há poucos dias, era do Seu conhecimento o que conjeturávamos em segredo!
É muito agradável ouvir falar duma tempestade em alto-mar! Coisa diferente, porém, ter passado por ela! Desempenha o teu cargo com calma e sem escândalo, que não terás de aguardar aborrecimentos! Se agires com tirania, todos nós te garantimos que tu, Capernaum e Jerusalém caireis no abismo! Com prudência será possível manter esta última por uns cinquenta anos — mas também pode-se provocar sua queda em poucas semanas! Podes escolher livremente o que te agrada; nós estamos garantidos pelos romanos! Afirmo-te que todos os digni- tários de Roma se deixam conduzir por Jesus qual cordeiros! Sendo prudente, poderás te tornar amigo dos romanos e passarás bem como teu ex-colega Jairo!”
Esta dissertação não deixa de surtir efeito: o reitor se acalma e re- conhece ser razoável seguir o conselho de Roban e Chiwar. Deste modo a primeira tempestade dentro da sinagoga foi apaziguada.
85.OSENHORLOUVAROBANE CHIWAR
Passada uma hora, Chiwar volta para junto de Mim, queren- do contar-Me o sucedido. Eu, porém, lho impeço, dizendo: “Amigo, poupa teu esforço, pois sabes que nada Me é oculto! Tenho apenas que
elogiar a ambos, que vos saístes bem, pois o reitor teria cometido hor- rores! Mas convenceu-se ser melhor não agir contra os romanos. Não podeis, no entanto, confiar nele integralmente e convém não perdê-lo de vista. Como foste o defensor mais zeloso de Minha Pessoa, e ainda o és — dar-te-ei a faculdade de curar os doentes através de preces e pas- ses, conhecer pela intuição os planos do novo reitor e tomar a devida e rápida precaução para conseguires um resultado! Abençoo-te, portanto, para tal fim!”
Chiwar se ajoelha e Me pede com fervor esta Graça. Depositan- do Minha Destra sobre seu coração e a Esquerda em sua cabeça, ele se torna iluminado e diz: “Senhor, toda penumbra desapareceu de dentro de mim, fazendo meu corpo tão transparente qual diamante pela luz do dia! Senhor, deixa que esta Bênção perdure comigo, que procurarei dela me tornar digno!”
Digo Eu: “Permanece na Minha Doutrina, que não terás motivo de queixa sobre a perda desta Luz!” Chiwar se levanta e observa que, além de Borus, Jairo, Maria e Meus irmãos, não há mais nenhum hós- pede na sala, e pergunta a razão.
Digo Eu: “Isto tinha que ser assim! Vê, em pouco teremos outono e inverno. O tempo da colheita está próximo e tenho de ir à procura de trabalhadores para o campo e para a vinha. Se tudo for recolhido, podere- mos descansar no inverno, a fim de reiniciarmos o trabalho na primavera.
Ainda hoje deixarei esta zona; pois Herodes é uma raposa ladina, o novo reitor, seu servo — e Minha casa não deverá ser um campo de batalha. Há poucas horas enviei Meus discípulos e Kisjonah a Kis, onde aguardarão adeptos de João Baptista para lhes anunciarem a aproxima- ção do Reino de Deus. À noite, todos estarão de novo aqui, a fim de, juntos, seguirmos caminho. Saberás pela intuição o nosso destino.
Procura agir em combinação com Borus e Jairo; são os mais dig- nos em Nazareth, possuem todo Meu Amor e, por Mim, a Plena Graça de Deus! Nenhum dos Meus discípulos até hoje conseguiu amar-Me e conhecer-Me como eles! Não levará tempo e todos os Meus adeptos aborrecer-se-ão Comigo. A Borus e Jairo, porém, nada perturbará; pois sabem Quem Eu sou! Procura-os sempre, que te tornarás idêntico!”
Inteiramente satisfeito, Chiwar pergunta pelos dois anjos, que também não mais ali estavam.
Eu lhe digo: “Levanta teu olhar que verás, não só dois, mas inú- meras falanges em torno deles!” Assim fazendo, Chiwar avista os dois arcanjos rodeados por miríades de anjos prontos para Me servirem. Hu- mildemente ele baixa os olhos e diz: “Senhor, sou pecador e não posso suportar esta visão santa; mas tudo farei por merecê-la!”
Digo Eu: “Age com justiça, que teu prêmio no Céu, cuja orla acabas de ver, será grande! Volta, agora, à sinagoga; pois o reitor, que permanecerá por alguns dias em Nazareth, não deve sentir tua falta, porquanto considera tua opinião!”
86.KORAH, O NOVO REITOR, E CHIWAR NA SINAGOGA DE NAZARETH
Com estas palavras se afasta o honesto Chiwar e, chegando à escola, sabe que o reitor deu por sua falta, pois lhe pergunta onde esteve e que fizera. Diz Chiwar: “Tive um caso complicado com um viajante, ao qual dei solução, tanto que pôde seguir viagem!”
Diz o reitor: “Donde veio ele e para onde foi? Poderei ainda lhe falar?” Responde o outro: “Era um judeu que veio de cima e já partiu! Não poderás vê-lo, a não ser quando voltar! Quando? Em alguns dias!”
Diz o reitor: “Tua resposta ambígua não me satisfaz! Dá-me o nome do albergue em que se hospedou, pois quero ir até lá informar-
-me de tudo! Uma interferência importante por parte dum fariseu é algo de extraordinário e merece ter sido testemunhada por muitos!”
Diz Chiwar: “Vai, se queres saber mais que eu! Esteve hospe- dado na casa do carpinteiro José! Se fores até lá, não deves esquecer de proteger tuas costas, que haverá pancada de sobra! Pensas que o povo respeita pessoas iguais a nós? O mínimo deslize terá, como consequ- ência, uma pancadaria em regra! Mas, como já disse, basta fazer uma tentativa para se adquirir experiência!”
Diz o reitor: “Por tuas palavras deduzo que todos vós vos insur- gistes contra mim! Mas não importa! Dentro em breve espero descobrir
a trama toda e, então — ai de vós! Dize-me: como se chega à casa do carpinteiro?”
Responde Chiwar: “Chega à janela que verás, a uns dois mil passos, a morada dele. Vai e convence-te, inclusive das pancadas!” Diz ele: “Exijo que me acompanheis!” Respondem todos: “Pois sim! Só se fôssemos doidos!” Diz o reitor: “Bem, então irei em Nome de Jehovah e quero ver quem terá coragem de tocar num ungido de Deus!”
Retruca Chiwar: “Ungidos iguais a nós, esta unção nada mais é que uma fraude vulgar, sem valor diante de Deus, que não nos prote- gerá contra coisa alguma! Pois, como já disse, o povo sabe muito bem o que deduzir do Templo!” Diz o reitor: “Seja como for, irei agora! Ai de vós se encontrar as coisas de modo diverso!”
Responde Chiwar: “Dificilmente ouvirás o que desejas saber, mas receberás outra coisa que te produzirá sofrimento!” Não mais pres- tando atenção às palavras de Chiwar, o reitor se dirige à rua. Mal é visto, a garotada o persegue, gritando: “Eis o novo reitor mau! Fora com ele!” De todos os lados se juntam mais crianças e adultos munidos de pedras e porretes, que o fazem sentir no corpo esta recepção “animadora”! Rá- pido, volta à sinagoga, fechando a porta, que recebe a chuva de pedras. Juntando-se aos fariseus, diz, cheio de raiva: “Isto é obra vossa! Saberei vingar-me!”
Responde Chiwar, irritado: “Que falas, miserável? Como pode- ria ser obra nossa, quando te prevenimos ao saíres? Somente depois de teres sido recomendado por nós poderás te dirigir ao povo, que não te considera por teres comprado este teu posto! Se tencionas, como pró- logo de teu exercício, tiranizar-nos, serás odiado por todos e farás bem passando teu cargo a um que o mereça.
Terias que te modificar completamente, caso tenciones con- quistar nossa simpatia! Isto, no entanto, será difícil, pois que não adianta externares uma feição amável quando possuímos a intuição de ler teus pensamentos! Se modificares teu coração, deixando que nele penetre a sabedoria divina, então louvar-te-emos diante do povo; ao passo que de nada te valem o sumo pontífice, Pilatus e, muito me- nos, Herodes!”
Diz o reitor: “Como podes saber que eu estava pensando nesses três amigos?”
Responde o outro: “Através do meu espírito profético, diante do qual será difícil te ocultares! Será, portanto, impossível empreende- res algo sem que não tomemos as devidas precauções! Estás satisfeito conosco? Vê, ainda somos sacerdotes verdadeiros! O Espírito de Jeho- vah nos acompanha, embora tenha abandonado de há muito o Templo de Jerusalém! Se te quiseres manter em nosso meio, terás que te tornar um real sacerdote!”
Diz o reitor: “Malditos servos do sinédrio! O meu dinheiro vos agradou — no entanto, não calculastes que, ao invés dum posto ren- doso, fui buscar um ninho de marimbondos! Vereis que Korah não vos deu tal fortuna de graça!” Após alguns minutos dirige-se ele de novo a Chiwar, perguntando: “Que devo fazer para conquistar vossa amizade e a do povo?”
Diz aquele: “Tanto eu quanto Roban já te demos as devidas instruções — e aqui tens a Escritura, que te revela a Vontade de Jeho- vah. Age de acordo, que tudo correrá bem! Terás que conquistar a Graça de Deus por ti mesmo — então tudo mais ser-te-á dado por acréscimo!”
Responde Korah: “Sim, fá-lo-ei dentro de minhas posses. Na certa não vos será de todo desagradável se eu transferir para cá minha residência pelo espaço de um ano? Pois aqui terei muita oportunidade de aprendizagem, ao passo que em Capernaum e Chorazim só se veem bajuladores!”
Dizem todos: “Teremos o maior prazer em te servir como rei- tor! Aqui não há fraudes nem mistificações, não se vende estrume nem gado; nossa pequena Casa de Oração ainda é o que deve ser! Não pos- suímos uma arca com uma tal chama divina; em compensação, nossos corações ardem num amor sincero para com Deus, o que Lhe deve agradar mais! A falsidade dos templários grita aos Céus! Ornamentam, anualmente, os sepulcros dos profetas, por eles assassinados! Caso nos convidem a uma festa qualquer em Jerusalém, teremos a liberdade de recusar o convite, esperando por uma morte natural, ao invés de procu- rá-la nos recintos secretos do Templo!”
Diz Korah: “Estou bem informado de tudo, e o sinédrio po- derá se regozijar das amabilidades que lhe proporcionaremos!” Diz Chiwar: “Nada lhe faremos propositadamente; ai dele, porém, se nos desafiar, pois temos material de sobra para uma ação contra ele!” Nisto, o cozinheiro convida a todos para o almoço.
87.CHIWAREKORAHDISCUTEMARESSURREIÇÃODE SARAH
Enquanto todos saboreiam o bom ágape, entra Borus, cumpri- menta a todos e lhes apresenta sua esposa, Sarah, pedindo para que seja registrado seu matrimônio. Chiwar apanha o livro de registro e os inscreve como casados, diante de Deus e do mundo!
O reitor, então, pergunta se isto era possível, sendo Borus grego. Responde Chiwar: “Como não? Aqui tudo se admite — e seria ridículo não querer registrar um casal de há muito abençoado por Deus!”
Diz o reitor: “Donde sabes isto?” Diz Chiwar: “Sei de muita coisa que ainda ignoras, pois aqui existe um outro regime que o do Templo!” O reitor sorri e se cala. Nisto, Borus apanha em sua algibeira a taxa prescrita e a deposita na sacola. Após ter deixado a sala, o reitor, verificando a importância, diz: “Mas — eis além de cinco libras de ouro com o cunho de Augusto, mais algumas de Tibério! Isto aqui é hábito? No Templo bastaria uma libra de ouro como dádiva de honra!” Diz Chiwar: “Doações iguais a esta não são raras; Borus, depois de Je- sus, o maior médico, é muito distinto e rico e não necessita mostrar-se mesquinho!”
Pergunta o reitor: “Quem é sua esposa, tão simpática?” Diz Chiwar: “É filha de Jairo e foi ressuscitada duas vezes pelo Salvador Jesus!” Diz o outro: “Certamente ela apenas estava desacordada, fato comum às moças!”
Diz Chiwar: “Ora, penso não haver sombra de vertigem quando a pessoa permanece quatro dias na sepultura e o mau cheiro se torna insuportável! Jesus a ressuscitou apenas pela palavra; hoje é mais linda e saudável que antes — e muito jovem, pois conta apenas dezesseis anos!”
Diz o reitor: “Quanto tempo faz que foi ressuscitada?”
Responde Chiwar: “No máximo há seis ou sete dias! Não posso precisar bem, sei que foi no começo da semana passada!” Diz o outro, perplexo: “Realmente, tal jamais foi visto! A não ser que tenhas inven- tado uma história, este lugarejo parece milagroso!”
Diz Chiwar: “É verdade! Principalmente é Jesus Quem atrai toda atenção sobre Si! Seus Atos excedem tudo que foi escrito pelos profetas! Não existe doença que Ele não cure, mesmo sem ver ou tocar no enfermo!
Eis outro caso: a renúncia de Jairo, há quatro dias, cujo requeri- mento foi apresentado no Templo no mesmo instante! De modo natu- ral, esse talvez só hoje fosse lá recebido; no entanto, já chegaste há dois dias em Capernaum e hoje aqui, como seu sucessor. És, deste modo milagroso, sumo sacerdote da Galileia, enquanto o documento de Jairo se acha nas mãos do Pontífice — e isto tudo é obra de momentos! Tam- bém nos contaram que Jesus ameaçou um tufão marítimo e que mar e vento obedeceram imediatamente à Palavra do Messias — e bem se poderia supor que este homem fosse assecla de Satanás, se Suas Palavras não nos convencessem do contrário!
Digo-te sinceramente: Seus Atos são maravilhosos; no entanto, tornam-se de valor secundário em vista do Poder Estupendo de Sua Doutrina! São verdades jamais sonhadas por um profeta! Descreve a vida da criatura de modo a não deixar dúvida a respeito da imortalidade da alma! Em suma, é tão extraordinário que se pode afirmar conscien- temente: Homem igual não habitou a Terra! Os elementos Lhe obe- decem, miríades de espíritos O assistem; assim ouvi contar pelos Seus discípulos que, durante a viagem de Sichar a Caná da Galileia, fez o Sol ocultar-se por minutos!
Roban e outros nos relataram que Ele reconstruiu em Sichar dois velhos burgos — a antiga casa de José e Benjamim e o castelo de Esaú, ora pertencente a Jairuth — de tal maneira, que os atuais cons- trutores confessam serem precisos no mínimo dez anos para tal fim! Não só a construção é tão perfeita, como também seu aparelhamento é completo, nada deixando a desejar! Philopoldo, um grego de Caná da Samaria, contou-me coisas incríveis, que tinha de acreditar porque foram confirmadas por mais de mil testemunhas!
Estes fatos obrigam a criatura a tomar este homem como o maior profeta! Diz Ele, porém, que toda pessoa seria capaz de tais coi- sas, caso tivesse uma fé inabalável e convicta. Penso, entretanto, que uma fé desta ordem já seria milagre, como consequência duma capaci- dade consciente que concretiza o êxito.
Quem conhece suas forças, deve confiar nelas para a realização dum fato ou obra. Excedendo sua fé além destas forças, esta pessoa será presa, pouco a pouco, de dúvidas em relação ao seu poder, não conse- guindo o desejado. Encontrando no seu caminho uma pedra de várias libras, não duvidará em poder tirá-la. O mesmo não acontecerá com uma rocha dum peso muito maior, pois a vontade poderá ser levada ao máximo sem algo conseguir, porquanto faltará a convicção subjetiva para tal possibilidade.
A Jesus, porém, tudo é possível! Uma montanha ou um grão de poeira são idênticos para Sua Vontade! Terra, água e fogo Lhe obede- cem como carneiros a um pastor, e até ao raio Ele ordena! Que deduzir disso? Peço-te que externes tua opinião como reitor!”
88.OPINIÃODECHIWARARESPEITODO TEMPLO
Diz o reitor: “Não duvido de tuas palavras, e penso estar ele em união íntima com o Espírito Onipotente de Jehovah; talvez seja idêntico a Moysés, ou Elias, o qual também tinha o poder de chamar o fogo do Céu.
Consta até que este último vivificou, certa ocasião, uma quanti- dade de esqueletos, que se cobriram de carne, pele e cabelos! Também fez com que as fontes do Euphrates secassem por três anos — e impediu as nuvens de surgirem no céu durante o mesmo prazo. Só depois das criaturas se penitenciarem ele libertou tanto as fontes quanto as nuvens! Além disso, há uma infinidade de fatos referentes a esse profeta; dele se diz que voltará antes do Fim do Mundo, convertendo as criaturas em penitência através de grandes provas, porquanto nunca morreu, mas subiu aos Céus num carro de fogo. É, portanto, bem possível que Jesus seja a encarnação desse grande profeta, fazendo milagres que só por Deus seriam realizáveis!”
Diz Chiwar: “Poderia aderir à tua opinião se não tivesse sido testemunha visual de coisas que deixam atrás Elias, por uma eternidade! Certamente desejas saber quais sejam. Eu, no entanto, não teria pala- vras para descrevê-las; seria preciso a pessoa tê-las presenciado. Por isto, estou convicto, como milhares, de que Jesus é o Messias! Seria possível algum outro fazer coisas mais grandiosas? Além disto, descende Ele, de acordo com a Crônica, que vai até o avô de José, diretamente da linha de David (Matheus 1, 14–17). Achim foi pai de Eliud; este de Eleasar; Eleasar, pai de