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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO
O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes
Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber
Traduzido por Yolanda Linau
Revisado por Paulo G. Juergensen
Direitos de tradução reservados
CopyrightbyYolanda Linau
ÍNDICE
S
eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele
sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”
Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.
ObrasdaNova Revelação
O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes
A Infância de Jesus
O Menino Jesus no Templo
O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim
Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua
A Mosca
Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo
(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)
Mensagens do Pai
As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor
OGRANDEEVANGELHO DEJOÃOVOL. IX
OSENHORENCONTRAUMGRUPODEPOBRES PEREGRINOS
A uma hora distante da localidade, encontramos os pere- grinos mencionados, que nos pedem esmolas. Virando-Me para os greco-judeus, digo: “Dai-lhes de vosso supérfluo; pois são tão pobres quanto Eu, que igualmente não possuo uma pedra na qual possa descansar a Cabeça. As raposas têm seus covis e os pássaros seus ni- nhos; estes pobres só possuem a si mesmos e suas reduzidas vestes!”
A Minhas Palavras, todos os greco-judeus e os adeptos de João fazem boa coleta e com alegria entregam a soma aos necessita- dos. De mãos erguidas ao alto, eles agradecem a Mim e aos doado- res, pedindo desculpas pela interrupção de nossa marcha. Pergun- tam temerosos e aflitos se alcançariam Esseia antes da aurora.
Digo Eu: “Por que vos preocupa o vilipêndio do Sábado em virtude de vossa caminhada? Nem Moysés, nem outro profeta qual- quer determinou tal proibição. Quanto às novas instituições templá- rias, não são Mandamentos de Deus e não têm valor para Ele. Ainda é cedo e dentro de uma hora estareis no local. Entrai no primeiro albergue às portas de Esseia, onde encontrareis boa acolhida, pois Eu Mesmo avisei vossa chegada. A respeito de Minha Pessoa, lá sereis informados. Ide em paz!”
Conquanto admirados de Minhas Palavras, os pobres não se atrevem a fazer perguntas e seguem caminho. Eis que os apóstolos Me perguntam por que se encaminharam aqueles peregrinos para Esseia, porquanto não davam impressão de enfermos.
Respondo: “Não vão para Esseia a fim de se curarem, mas en- contrar abrigo e trabalho; souberam, por parte de outros viajantes, terem sido os essênios ultimamente mui caridosos para com os real- mente pobres; por isto empreenderam a viagem, pois em Jericó não havia remuneração substancial, de modo algum constituindo honra para essa zona, razão por que é reduzidamente abençoada por Mim.
Quando partiram de casa, havia entre eles enfermos, que to- davia foram curados por alguns dos setenta discípulos enviados a todas as localidades. Por eles foram informados a irem para Esseia, onde seriam supridos física e espiritualmente!”
Obsta Pedro: “Certamente seguiram logo após nossa parti- da, pois não é admissível tenham se locomovido como nós, mila- grosamente?!”
Digo Eu: “Não é de vossa alçada. Dentro em breve terão al- cançado o seu destino, e é quanto basta. Hora e dia não têm impor- tância!” Assim prosseguimos ligeiros por ser essa zona muito estéril, não havendo a menor vegetação. Como não encontrássemos viva alma, nossa locomoção é rápida. Após duas horas de marcha veloz pelo deserto, geralmente percorrido a camelo num dia inteiro, che- gamos finalmente a um trecho importante onde havia um albergue e outras habitações pertencentes a gregos.
Alguns discípulos Me pedem: “Senhor, estamos com sede. Não seria de Teu Agrado se nos reconfortássemos aqui?”
Respondo: “Pois não. Acontece ser a localidade pobre em água, e o hospedeiro se fará pagar pela mesma, pois é grego mui ga- nancioso. Estando dispostos a pagar, podemos entrar para pequeno descanso.” Todos concordam até mesmo a pagarem algum vinho, ao que acrescento: “Depende de vós. Fazei o que vos compete, que farei o que Me cabe. Entremos!”
2.OMILAGRENACASADO HOSPEDEIRO
Solícito, o hospedeiro nos recebe e pergunta o que desejáva- mos. Digo Eu: “Dá-nos pão e água, que estamos com fome e sede.”
Diz ele: “Meus senhores, tenho bom vinho, que talvez fosse por vós preferido, porquanto a água nem se presta para cozinhar!”
Respondo: “Não temos recursos para pagar o teu vinho caro, por isso podes trazer o que pedimos. Apanha água da fonte de tua adega, e não da cisterna do pátio. A água sendo paga, tem que ser boa, fresca e limpa!”
Arregalando os olhos, o hospedeiro diz: “Segundo me parece, vens aqui pela primeira vez. Quem relatou a situação de minha casa?”
Respondo: “Ainda que esteja pela primeira vez aqui, com Meus amigos, nada Me é oculto. A maneira pela qual sou ciente é do Meu Conhecimento, assim como também sei que tua filha mais velha, Helena, há três anos é acometida de febre. Já gastaste muito dinheiro em médicos, sem que alguém a socorresse, muito menos teus deuses do lar, que mandaste vir de Athenas, gastando igualmente considerável fortuna. Deste modo, sei de outras tantas coisas. Agora trata de nos servir!” Admirado, ele manda trazer pão, sal e vários cântaros de água.
Os discípulos se apressam em encher os copos; Eu os impeço, dizendo: “Esperai que Eu abençoe a água, a fim de não vos prejudi- car; pois inclusive a água da fonte desta zona é nociva, em virtude de conter elementos impuros da Natureza.”
Assim emito Meu sopro sobre os cântaros e digo: “Agora está abençoada e purificada; antes, porém, comei algum pão e em segui- da bebei com parcimônia, a fim de não vos embriagardes.”
Quando os discípulos começam a beber, exclamam estonteados: “É realmente preciso usar moderação, pois poderíamos nos embria- gar.” Admirado, o hospedeiro diz aos empregados: “Acaso trouxestes vinho a esses hóspedes estranhos, que pediram expressamente água?”
Respondem eles: “Fizemos o que mandaram. Aquele que so- prou a água saberá como a transformou em vinho. Parece entender mais que todos desta zona!”
Ele se aproxima de nossa mesa, onde lhe damos de beber. Após ter esvaziado quase totalmente o cântaro, ele se vira para Mim: “Por- ventura és mago ou um deus desconhecido? Peço me responderes!”
Digo Eu: “Se te desfizeres dos deuses e não lhes deres crédi- to, dir-te-ei Quem Sou e demonstrarei o Deus Único e Verdadeiro, que poderia salvar tua filha caso acreditasses Nele e O louvasses.”
Responde o hospedeiro: “Como falas de modo tão estranho! Destruir os deuses não seria difícil; mas se disto souberem os sacer- dotes ou romanos, eu passaria mal. O simples ultraje da imagem de um semideus acarreta graves castigos. Seria preciso tornar-me, primeiro, judeu, prestando declaração perante a justiça, com assi- natura, selo e circuncisão; em tal caso, perderia o direito de cidadão romano, apenas conseguido posteriormente mediante soma vultosa. Tua exigência é, pois, quase impossível. Tenho uma ideia: Poderias desembaraçar-me dos deuses perante testemunhas e eu daria honras ao teu deus, com toda minha família!”
Digo Eu: “Pois bem! Dá uma busca em tua casa, para veres se algum ídolo enfeita teus aposentos!” Quando o grego se apronta para tal, a criadagem o aborda, chorando, porquanto de- veria ter sucedido grande desgraça pelo súbito desaparecimento das imagens.
Confiante, o hospedeiro retruca: “Tende calma! Os ídolos feitos por mão humana, que jamais socorreram alguém, foram des- truídos por um deus certamente verdadeiro; isto nos dá a segurança de sua presença entre nós, o que de modo algum é desgraça, senão uma felicidade. A fim de vos certificardes, observai esses cântaros. Um servo do Deus Único mandou enchê-los com água e, ao abenço- á-la, transformou-a em vinho. Provai se não é da melhor qualidade!”
A mulher é a primeira a provar o conteúdo e se admira mui- to, dizendo: “Isto nunca aconteceu! Tal milagre só é possível a um deus! Em Athenas vi, certa ocasião, magos milagrosos que transfor- mavam água em sangue, leite, vinho etc. Como grega bonita e rica, descobri de um sacerdote de Apollo, que procurava conquistar-me, como se faziam tais ‘milagres’. Isto me tirou a fé em todos os pres- tidigitadores. Aqui não se descobre qualquer fraude; portanto, tra- ta-se de milagre perfeito de um Deus vivo, e nesta fé permanecerei para sempre. Provai vós outros e julgai se não tenho razão.”
Diz, em seguida, o hospedeiro ao pessoal: “Convencemo-nos ter esse servo desconhecido do Deus Único e Verdadeiro operado real milagre, a fim de nos levar ao conhecimento Dele. Antes disto, me havia dado outras provas, não menos estonteantes, pois sabe de tudo que se passa em minha casa.
Assim, falou da moléstia incurável de minha filha e prome- teu sará-la, caso eu afastasse todos os ídolos para acreditar e honrar a Deus. Como receasse fazê-lo por causa dos sacerdotes e das leis, ele o fez para mim e vimos não haver perseguição de espécie algu- ma. Agora desejava apenas a coroação desses acontecimentos pela cura de Helena, e assim me dirijo a ele neste sentido, e vós, acom- panhai-me!”
Digo Eu: “Todos vós aderindo à fé — que se faça conforme acreditastes! Verificai se a moça está sã e trazei-a aqui para saborear do Vinho da Vida e conhecer Quem a salvou!”
Não leva tempo e todos voltam com Helena alegre e feliz; quando sabe ser Eu o curador, ela se atira a Meus Pés, umedecendo-
-os com lágrimas de gratidão. Um por um, os outros acompanham sua atitude.
Eu lhe digo: “Levanta-te, filha, e toma vinho do cântaro mais próximo para te fortaleceres, em corpo e alma!” Com modés- tia, ela se serve, elogiando o aroma especial. Em seguida, todos Me pedem esclarecimentos a respeito do Deus Único e, caso possível, demonstrá-Lo.
Digo, pois: “Ouvi em poucas palavras o que tenho para vos dizer. Não existe grego na Judeia que desconheça a Doutrina de Moysés e dos demais profetas. A Divindade revelada por Moysés
que no Monte Sinai lhe falou e expressou-Se sob raios e trovões através dele a seu irmão Aaron, posteriormente também pela boca dos profetas e outros sábios, e cujo Nome é Jehovah, Santíssimo — é Deus Único e Verdadeiro, Sábio, Bom e Poderoso, Criador de Céu e Terra, Lua e estrelas.
Crede Nele, respeitai Seus Mandamentos, amai-O acima de tudo pelo cumprimento de Suas Leis e ao próximo como a vós mes- mos, quer dizer: Fazei-lhe o que racionalmente desejais que vos faça, e deste modo o Deus Verdadeiro ser-vos-á Magnânimo, atendendo vossas preces.
Assim, não será Deus distante e surdo, mas qual Pai, próximo de vós, cujo Amor ouvirá vossos rogos. Eis tudo que exige o Deus Único e Verdadeiro como Pai de todas as criaturas. Quem agir deste modo receberá Bênçãos, não só na Terra, mas igualmente a Vida Eterna de sua alma após a morte, estando para sempre na Compa- nhia do Pai. Sabeis, agora, Quem é Deus Verdadeiro?”
Respondem todos: “Sim, conhecemo-Lo pelas Escrituras. Sempre nos agradou a Doutrina de Moysés. Convencendo-nos da ação contrária dos sumos sacerdotes, que não recebiam castigo pelo ultraje ao próximo, começamos a duvidar de seu valor.
Seria preciso ser-se cego para não perceber a descrença dos templários. Uma fé justa tem que se manifestar dentro da ação, mormente dos chefes. Foi este o motivo pelo qual duvidávamos da Verdade da Lei de Moysés, bem como de nosso politeísmo. Acom- panhávamos as cerimônias e acreditávamos apenas nas forças da Na- tureza, divulgadas pelos filósofos.
Agora tudo mudou, em virtude de tua ação e esclarecimen- to, e cremos indubitavelmente no Deus judaico, que te deu tama- nho poder por teres certamente cumprido Sua Vontade. Seguiremos a Doutrina de Moysés e jamais os chefes de Jerusalém. Durante a noite aqui passaram alguns, vindos de Esseia, criticando a institui- ção do sinédrio e louvando a grande sabedoria e poder dos essênios. Se eles agem deste modo, que esperar de estrangeiros como nós? Todavia, nos agradaram bastante e hoje cedo partiram. Estamos, pois, de acordo quanto à doutrina. Resta esclarecer o ponto final de tua explicação. Prometeste demonstrar Deus Verdadeiro, o que por certo te será possível. Completa, pois, nossa felicidade com a visão de Deus!”
Digo Eu: “Meus filhos, isso não é tão fácil como pensais; mas, como vos prometi, vereis o Deus Único e Verdadeiro. Antes, porém, advirto-vos de não divulgardes o fato antes de decorrido um ano! Ouvi-Me e abri olhos e corações!
Eu Mesmo, que ora vos falo, sou Aquele, Anunciado pelos profetas! Foi do Meu Agrado vir como Homem carnal entre os ho- mens perdidos e consumidos pela noite do pecado, como Luz clarís- sima e vivificadora, a fim de libertá-los do jugo duro do julgamento e da noite eterna.
Vim não somente para os judeus, desde o início o povo do Deus Único e Verdadeiro — e ainda o são, conquanto muitos se tenham transformado em povo do inferno — mas também procuro os pagãos, que não obstante se originem igualmente do primeiro homem desta Terra, no decorrer dos Tempos se deixaram seduzir pelos prazeres materiais, a ponto de negarem Deus. Não mais O conhecem e, por isto, criaram da matéria inerte e perecível ídolos de seu agrado, aos quais adoraram, como agora ainda acontece.
A fim de que também os pagãos reconhecessem a Verdade Eterna e a Vida, unicamente existentes em Deus, Eu os procuro e lhes dou a Luz da Vida Eterna, que de há muito perderam por von- tade própria.
Eu Mesmo sou a Luz, o Caminho, a Verdade Eterna e a Vida. Quem crê em Mim e vive na Minha Doutrina possui a Vida Eterna e jamais verá ou sentirá a morte, ainda que morresse mil vezes; pois quem crer e cumprir os Meus Mandamentos, amando-Me acima de tudo, estará em Mim e Eu nele, espiritualmente. Quem Me possuir terá a Vida Eterna.
Assim vos demonstrei Deus Único e Verdadeiro como pro- meti. Agora perscrutai-vos se podeis crer nisto! Sim, assim fazeis! Permanecei em tal fé como verdadeiros heróis e não vos deixeis in- fluenciar em sentido contrário; deste modo vivereis e a Força de
Minha Vontade ficará convosco! Assim seja!” Os pagãos se sentem de tal forma comovidos, que não ousam proferir palavra.
Amavelmente, prossigo: “Reanimai-vos! Porventura sou, como Pai Verdadeiro de todas as criaturas, de aspecto tão horrendo a vos perturbar a tal ponto? Nada Me é impossível — pois em Mim estão todo Poder, Força e Onipotência, no Céu e na Terra — todavia não posso deixar de ser o que Sou, nem vós o que sois! Se vos chamo de Meus caros filhos, sois iguais a Mim, e se viverdes em Minha Doutrina e Vontade, por certo não sereis menos perfeitos do que Eu Mesmo, podendo dar as mesmas provas que dou. Qual seria a satisfação que filhos imperfeitos poderiam proporcionar a um pai perfeito? Deixai, portanto, toda veneração excessiva e enchei-vos de confiança e amor para Comigo, tornando-vos muito mais agradá- veis e estimados por Mim.
Realmente, quem Me ama não necessita temer-Me! Os que temem a Deus, primeiro, não O conhecem bem e seu coração está longe do Amor Dele; segundo, filhos amedrontados se acham no perigo autocriado de errarem na fé e no conhecimento, porquanto o temor enfraquece coragem e vontade de se aproximarem de Mim o mais possível, a fim de receberem esclarecimento de todas as Verda- des da Vida. Caso tenhais compreendido isto, desfazei-vos do temor de Mim e alimentai amor e confiança filial para Comigo!”
Quando termino de falar, o medo excessivo os abandona e eles começam a Me louvar mais confiantes, e o amor desperta em seus corações; totalmente, porém, não se entregam. As noções de- rivantes da inclemência, poder eterno e o rigor de um deus não podem ser apagadas de pronto. Decorrida uma hora, tornam-se mais amigos e lhes proporciono vários conhecimentos que fortifi- cam seu amor.
Nisto, os discípulos perguntam ao hospedeiro qual sua dívi- da pelo pão e a água da fonte, e ele responde: “Como podeis fazer tal pergunta, quando eu serei eterno devedor de Deus, o Senhor, e de vós como Seus amigos mais próximos?! Cada Palavra por Ele proferida vale mais que todos os tesouros da Terra! Caso quisésseis ficar em minha casa anos afora e eu vos exigisse um níquel sequer, não mereceria ser atirado às serpentes e dragões! O meio-dia está próximo; que alegria seria para mim caso o Senhor quisesse partici- par convosco de meu almoço!”
Digo Eu: “Tua boa vontade vale tanto quanto a ação. Toda- via, temos que partir, por haver alhures crianças pobres que desejo socorrer. Dentro em breve virão peregrinos a caminho de Jericó. Vêm de Esseia, onde receberam a saúde física; entretanto, estão fa- mintos e não têm recursos. Dá-lhes acolhida e suprimentos, e Eu o aceitarei como feito a Mim!”
Diz ele: “Oh, Senhor, se quiserem ficar um ano inteiro, serão tratados com todo carinho; e caso estejam na estrada de rodagem, imediatamente mandarei animais e carros para fazê-los transportar para aqui!”
Digo Eu: “Também nesse ponto aceito tua boa vontade. Eles partiram ontem à noite e em poucas horas estarão aqui pelo caminho da cordilheira. Se, porém, amanhã daqui seguirem, poder-lhes-ás ser útil em qualquer coisa.
No futuro não te deixes pagar pela água, pois tratei de su- prir teus poços com água abundante e saudável. Sê misericordioso para com os pobres, que acharás Misericórdia Comigo! Já recebeste Minha Bênção e Graças, que serão tuas se continuares na Minha Doutrina. Assim, partiremos.”
É claro que o hospedeiro e sua família nos acompanham bom trecho, em constante manifestação de gratidão e louvor. Quando apressamos a marcha, eles voltam. Não havendo peregrinos neste trajeto, seguimos com a velocidade do vento; quando atingimos
localidade povoada, movimentamo-nos naturalmente e até à noite chegamos às proximidades de Jericó. Havia ali um belo gramado, no qual descansamos até o crepúsculo. Não queria entrar na cidade, porque os dois fariseus que havíamos alcançado, não obstante seus camelos ligeiros, estavam prestes a atingir a metrópole. Enquanto descansamos, um empregado da aduana se acerca e pergunta a nossa procedência e se tencionávamos passar a noite ao ar livre.
Respondo: “Não é de tua conta; querendo sabê-lo, digo-te que viemos hoje de Esseia e, após repousarmos, entraremos na ci- dade.” Surpreendido por termos feito o trajeto num dia e a pé, ele indaga se voamos.
Digo Eu: “É assunto nosso. Volta à cidade e dize a Kado, cujo pai é teu patrão, que venha aqui; pois Eu, o Senhor, estou à sua espera!” Diz o homem: “Será que ele vem, se eu não lhe der o teu nome?” Respondo: “Por certo. Vai, que teu prêmio é garantido, pois todo bom trabalhador merece recompensa!”
6.REENCONTROCOM KADO
Quando Kado recebe o Meu recado, não perde tempo, dá uma gratificação ao empregado e corre à praça. Quase sem fôlego, ele Me abraça e beija, dizendo em êxtase: “Ó Senhor e Mestre, que indescritível alegria me proporcionas com Tua rápida volta! Felizes nós, por termos Tua Presença santificada em nosso meio! Os três dias que Te ausentaste se tornaram quase três anos e passamos forte prova de paciência. Agora tudo está bem. Vem à nossa casa para completar nossa felicidade!”
Digo Eu: “Tua amabilidade alegra o Meu Coração e irei contigo, mais tarde, a fim de não despertarmos sensação entre o povo. Chegaram muitos forasteiros em virtude da feira marcada para amanhã, e tais pessoas não devem comentar nossa chegada. Al-
guns fariseus se acomodaram na casa de teu pai e seguiremos dentro em pouco.”
Satisfeito, Kado manda aviso ao albergue para ser providen- ciada boa ceia. Ao recebê-lo, o pai de Kado diz ao servo: “Já sinto o motivo disso; podes voltar e dizer a meu filho que tudo estará em ordem.”
Entrementes, já era noite. Por isto digo: “Podemos ir com calma que não seremos abordados, e caso sejamos vistos, tomar-
-nos-ão por comerciantes.” Diante do albergue, viro-Me para Kado: “Avisa aos teus que cheguei de Esseia. Ao entrar no refeitório, nin- guém deve chamar a atenção para Minha Pessoa. Também não Me devem tratar de Senhor e Mestre, senão de bom amigo, pois vejo apenas o coração e não a boca.”
Quando entramos, todos nos saúdam amavelmente e Me pedem para tomar lugar, porquanto devia estar cansado. Essa re- cepção deixa os estranhos indiferentes, enquanto desperta lágrimas aos familiares, mormente ao pai de Kado e ao velho servo, chamado Apollon; Eu animo suas almas, podendo eles controlar sua emoção.
Ao sentarmos à mesa bem posta, alguns discípulos, principal- mente Judas, querem servir-se. Digo Eu: “Já que aguentastes tanto tempo, podeis esperar mais um pouco. Quando vier o prato quen- te, servi-vos de pão, sal e um pouco de vinho, para que a refeição vos fortifique e faça alegres, do contrário enfraqueceria membros e vísceras. Deve o homem manter o corpo com saúde caso pretenda libertar a alma de tristeza e medo. Fazei o que faço.”
OSENHOREOCOMERCIANTEENFERMODE SIDON
Alguns forasteiros haviam percebido o Meu conselho e um deles, comerciante de Sidon, se levanta e diz: “Bom amigo, perdoa se te importuno. Segundo tuas palavras, deduzi seres médico e de- sejava pedir-te conselho para me livrar de u’a moléstia estomacal de que sofro há muitos anos.”
Digo Eu: “Se julgas Eu ser médico, segue Minha receita: não comas carne de porco mui gorda e não tomes tanto vinho forte, e isto, durante o dia todo. Seguindo Meu Conselho, obterás mais re- sultado do que com o sumo de aloés, que apenas esvazia o estômago para poderes enchê-lo de novo. O homem não vive para comer, mas come para viver, e para tanto não é preciso a saturação do estômago e a embriaguez dos nervos, através de vinho forte.”
Admirado, o estranho diz: “Nunca me viste! Como podes saber de meu modo de viver?”
Respondo: “Seria Eu péssimo médico se não fosse capaz de perceber no enfermo como contraiu a moléstia. Segue o Meu Con- selho e abstém-te da volúpia, que teu estômago se curará!” Ele Me agradece e põe três moedas de ouro em cima da mesa.
Eu as devolvo com as palavras: “Favorece aos pobres, pois não preciso de ouro e prata, tão cobiçados pelos homens!” Aceitando o dinheiro, o forasteiro diz: “Agora reconheço seres realmente médico! Caso eu melhore, os pobres receberão cem vezes mais!” Com isto retorna à sua mesa, enquanto na nossa os alimentos são servidos. Consistiam de peixes fritos bem preparados, três carneiros e vinte galinhas assadas, além de várias qualidades de frutos. Todos come- çam a se servir e louvam o bom paladar, inclusive de pão e vinho.
Percebendo nosso bom apetite e sabedor dos preços elevados nesta estalagem, o comerciante se vira para os colegas e diz: “Agora compreendo por que o facultativo não aceitou as três moedas de ouro. Quem pede refeição igual a essa tem grandes posses, pois terão de pagar, no mínimo, quinhentas moedas. Um médico famoso é mais feliz e rico do que qualquer soberano, que em caso de molés- tia lhe pagaria rios de dinheiro. Deve ser o caso deste, motivo por que pode viver bem mais folgado que nós, pobres comerciantes de Sidon e Tyro.”
Os discípulos ouviram essa observação e Jacob, o Maior, faz menção de interrompê-lo. Em surdina, digo-lhe: “Deixa que falem à vontade, pois não podem prejudicar-nos. Quando fordes pregar o Evangelho a todo mundo, não podereis fugir das críticas das cria-
turas. As opiniões sendo ignorantes e tolas, mas sem maldade, dei- xai que falem. Expressando críticas maldosas, podeis chamar-lhes a atenção perante um juiz ou deixai tal localidade, sacudindo a poeira de vossos pés, que Eu serei juiz de tal lugar e seus moradores. Assim, deixemos esses falarem à vontade, pois ninguém pode julgar acerca de um assunto além de seu entendimento; tampouco um animal poderá cantar um salmo de David, ou um cego guiar outro. Tais acontecimentos não vos devem perturbar futuramente.”
Todos agradecem o conselho, enquanto Apollon aduz: “Se- nhor e Mestre, sempre tens razão. Neste caso, porém, estamos sendo prejudicados, porque nada de importante poderás expressar, nem nós indagarmos em virtude dos forasteiros.”
Digo Eu: “Não te preocupes. Haverá muita coisa extraordi- nária até meia-noite. Pois hoje estou bem disposto, após tarefa bem concluída, e podemos voltar à refeição, sem nos deixarmos pertur- bar em nossa alegria.”
8.OCANTODEUM HARPISTA
O mercado de Jericó durando sete dias, costumavam ali che- gar não apenas negociantes, mas também palhaços, assobiadores, harpistas, cantores e tocadores de realejo, que à noite iam de estala- gem em estalagem apresentando seus números, mediante pequena remuneração. Deste modo, veio à nossa hospedaria um cantor mu- nido de harpa que sabia tocar com bastante arte, cantando salmos de David com voz agradável. Ao entrar no refeitório, pediu licença para suas produções.
Os forasteiros, na maioria gregos e romanos, obstaram: “Vai-
-te embora com tua lamúria judaica! A verdadeira música, arte di- vina, só se encontra entre gregos. Se quiseres fazer-te ouvir na mesa principal, não nos oporemos, todavia não deves aguardar recompen- sa de nossa parte.”
O pobre cantor aproximou-se de nós, externando o mesmo pedido. Amavelmente, respondo: “Podes cantar sem susto. Conhe-
ço-te bem e sei que és bom cantor, à moda de David. A remuneração não será pequena.”
Curvando-se com respeito, ele afina a harpa e diz, admira- do: “Realmente, esta sala se presta para música, pois nunca ouvi as cordas tão harmoniosas!” Deslizando com os dedos sobre o instru- mento, ele inicia um Prelúdio comovente, despertando a atenção dos estrangeiros.
Num silêncio absoluto, o artista começa a cantar com voz harmoniosa, com o acompanhamento correspondente, o seguinte salmo: “Cantai ao Senhor uma nova canção; que todos O honrem! Cantai ao Senhor e louvai o Seu Nome! Anunciai, dia a dia, Sua Salvação. Transmiti aos pagãos Sua Honra, Seus Milagres a todos os povos; pois o Senhor deve ser louvado, por ser Grande e Maravilho- so sobre todos os deuses. Os deuses dos povos são ídolos; o Senhor, porém, fez os Céus; Glória e Majestade estão ante Sua Face, Força e Magnitude em Seu Santuário.
Dai, ó povos, Glória e Força ao Senhor! Dai honra ao Seu Nome, trazei oferendas e entrai em Seus átrios. Adorai o Senhor na beleza da Santidade; treme diante Dela todo o mundo. Dizei aos pagãos ser unicamente o Senhor Soberano, tendo preparado o Seu Reino na extensão do mundo, para firmá-lo e julgar com retidão. Céu, alegra-te! Terra, sê feliz; brama o mar e o que contém. Re- gozije-se o campo e tudo que produz, e deixai as árvores louvar ao Senhor; pois Ele vem para julgar a Terra. Julgará o solo com Justiça e os povos, com a Verdade.”
O cantor finaliza o salmo de improviso e é cumulado de elo- gios e aplausos pelos estrangeiros, que confessam jamais terem ouvi- do coisa semelhante, pedindo desculpas pela sua recepção. A fim de amenizar o mau trato, pedem repetição do canto.
Eu o permito, dizendo que nem David teria cantado de modo mais sublime, e o moço confessa: “Senhor, foi a primeira vez que cantei deste modo, e tive a impressão de que Jehovah Se aproximava, ouvindo com agrado. Ao mesmo tempo senti como se falanges angelicais me acompanhassem. Se pudesse ficar com esse
aprimorado talento, seria a criatura mais feliz da Terra e converteria todos os pagãos para Jehovah!”
Digo Eu: “Esteja certo, Meu devoto samaritano, que a voz e o talento ser-te-ão conservados até o fim dos dias — e no Céu, serás amoroso cantor diante do Trono do Altíssimo. Agora, podes repetir o salmo!”
Diz ele: “Deves ser um profeta, pois criaturas comuns não se expressam dessa forma!” Em seguida, repete o canto e as cordas da harpa vibram ainda mais que dantes, e os presentes sentem bro- tar lágrimas nos olhos, mormente os que se acham à Minha mesa, sabendo a Quem se referia o salmo.
9.RECOMPENSADO CANTOR
Quando ele termina pela segunda vez, irrompe impetuoso aplauso; os visitantes lhe oferecem várias moedas de ouro e o con- vidam à sua mesa. Ele, todavia, diz: “Agradeço vossa simpatia e a farta remuneração; mas, como judeu íntegro — conquanto conte apenas trinta anos — não posso me servir de vossos pratos. Além do mais, somente este senhor permitiu eu apresentar-me como ar- tista, portanto farei apenas o que Ele mandar!” Novamente é ele elogiado e Eu o convido a participar de nossa refeição, o que aceita com grande alegria. O hospedeiro e Kado lhe entregam igualmente boa gratificação, por ele rejeitada porquanto já fora suficientemente recompensado.
Digo-lhe, porém: “Aceita o que te é dado com alegria. Tens bom coração e costumas dividir com os pobres o pouco que ganhas; aumentando tua renda, poderás dar maior expansão ao sentimento caridoso. Fazer-se o Bem aos necessitados é do Agrado de Deus. Trabalhar e pedir para eles — é maravilhoso para Deus e terá mérito aqui, e muito mais no Além.”
Diz ele: “Assim é, bom Senhor; sempre assim pensei, muito embora não tivesse provas, pois há quinze anos executo meu fra- co talento. Desta vez, a colheita foi farta e agradeço a Deus por
Se ter lembrado de mim. Senhor, se permitires, desejava fazer uma pergunta.”
Respondo: “Como não? Receberás resposta.” Prossegue ele: “Além de Deus, devo a ti minha grande felicidade, e queria saber como podes estar informado de minha situação de vida, pois não me lembro de conhecer-te.”
Digo Eu: “Não é preciso; basta Eu saber quem és. Acabas de te produzir e todos nós te fitamos bem, de sorte que facilmen- te serás reconhecido, enquanto tal não se dará contigo, por sermos um grande grupo. Eis o motivo natural de Eu te conhecer melhor que tu a Mim.
Há outras razões que não entenderias; por isto, é melhor si- lenciarmos em virtude dos estranhos. Mencionaste ser Eu profeta porque tocaste melhor em Minha Presença. Se assim é, posso sa- ber, pelo Espírito de Deus em Mim, qual a situação em que vives. Compreendes?”
Diz o harpista: “Não foi sem motivo que te chamei de sábio. Durante minhas caminhadas pelo orbe, sempre verifiquei serem as criaturas boas igualmente sábias. O fato de não gozarem da mesma felicidade que as egoístas não se prende à sua inteligência, mas à sua bondade, à paciência e ao amor pela Verdade, a Deus, inclusive aos inimigos. Daí surge a sabedoria justa e verdadeira, que jamais atribui maior valor aos bens perecíveis do que aos grandes sábios.”
Digo Eu: “Nesse caso, também és sábio por seres bom?” Res- ponde ele, humilde: “Bom Senhor, nunca hei de me ufanar disto, e os sábios poderão julgar! Uma coisa confesso: já vi pessoas que se diziam inteligentes praticarem ações impossíveis para mim. É evi- dentemente mais sábio quem crê em Deus Único, em todas as vicis- situdes da vida, cumprindo Seus Mandamentos por amor, do que fraquejar e virar-Lhe as costas, atirando-se aos prazeres mundanos. Tenho razão?” Digo Eu: “Sem dúvida. Agora serve-te à vontade.”
10.OGREGOPEDEORIENTAÇÃOACERCADA GÊNESIS
Enquanto o harpista se alimenta com modéstia, os discípulos expressam sua admiração referente à inteligência dele. Virando-Me para eles, digo: “Por que isto? Porventura nunca ouvistes dizer que Deus também dava inteligência a quem conferia um ofício em Sua Honra? A profissão deste cantor não é sem valor nesta Terra, pois amolda os corações endurecidos através do grande calor do can- to e da harpa, fazendo com que neles penetrem o Verbo e a Ver- dade eterna.
Quando Saul ouvia a harpa de David, seu coração de pedra era triturado, fazendo com que o mau espírito se afastasse. Além disto, consta na Escritura: Louvai a Deus com salmos, vozes puras e harpas harmoniosas. Aquilo que foi João Baptista, será incumbência do harpista e cantor.” Satisfeitos, os discípulos compreendem a razão das palavras sábias do cantor.
Os pagãos não entendem o sentido do salmo e dizem entre si: “Que pena! Se este artista cantasse, qual Orpheu, os versos de Homero em honra aos deuses, seria idolatrado em Athenas e Roma, ganhando rios de dinheiro!”
Após conversas de tão pouca importância, levanta-se o ho- mem ao qual Eu havia dado conselho para o estômago e vem à nossa mesa. Repetindo o elogio ao cantor, ele conclui: “Aqui nos encon- trando como hóspedes e não havendo motivo para quaisquer res- sentimentos, deveria ser permitido trocarmos algumas palavras em ocasião tão excepcional. Não importa sermos pagãos, e vós judeus
e presumo participardes de minha opinião.”
Digo Eu: “Amigo, perante Mim todos podem se externar. Se tens um assunto, fala abertamente.” Diz ele: “Os gregos de experiên- cia e educação de há muito não acreditam nas fábulas dos deuses, e os judeus cultos consideram o Templo de um só deus tanto quanto os pagãos, os templos politeístas. Este harpista cantou um salmo do segundo rei dos judeus, chamado David. Os versos estão repletos de teosofia oculta. Define-se que o grande e poderoso rei queria con-
quistar os pagãos, a fim de facilitar o regime e aumentar a considera- ção de todos os povos. Ao certo não se sabe se, intimamente, aceitava Deus Único conforme manifestava em seus versos. Seja como for, David foi homem extraordinário e rei excepcional, e só posso elogiar o cantor por tê-lo escolhido para objeto de suas produções artísticas.
O que me saltou aos olhos foi a seguinte passagem do salmo: ‘Todos os deuses dos povos são ídolos mortos; mas o Senhor criou Céus e Terra’. Peço me digas se assim foi. Pois os pagãos aceitam u’a matéria caótica antes da formação da Terra e do Céu, de onde forças desconhecidas, mais ou menos inteligentes, posteriormente elevadas a divindades, formaram paulatinamente tudo que existe. Os judeus acreditam ter tudo surgido por Deus, dentro de seis dias ou perío- dos. Se puderes provar a veracidade de vossa doutrina, aceitaremos o judaísmo; do contrário, continuaremos pagãos, não exigindo a presença do cantor em Roma ou Athenas.”
11.OSENHORCURAO GREGO
Digo Eu: “Amigo, exiges algo estranho de Mim. Teu inte- lecto é por demais abarrotado de coisas materiais; como poderias aceitar algo espiritual? Nós, judeus genuínos, saturamos nossa razão com assuntos espirituais, por isto assimilamos facilmente noções deste teor.
Existe relação entre espírito e matéria, e se fosses entendido nesta ciência, seria fácil provar-te que apenas os judeus antigos e puros se acham na Verdade plena, enquanto os pagãos estão no erro e na inverdade, não obstante todo seu intelectualismo.
David cantou o Deus Verdadeiro e Único não só porque Nele acreditava, mas porque O viu e sempre Lhe falou. Tem razão nosso cantor, como puro judeu, em ter dado honra somente Àquele Que a merece desde eternidades. Deve, portanto, cantar os salmos de David também para os pagãos que, pelo rei, foram chamados à antiga Verdade, a fim de se tornarem mais sensíveis, abrindo os seus corações para que, deste modo, possam reconhecer e adorar
Deus Verdadeiro. Não é Ele a Divindade oculta e insondável como são vossos ídolos imaginários e feitos pela mão humana, da matéria morta. Todos nós podemos dar-te a prova real, muito embora não te levar mais próximo à Verdade interna, espiritual, portanto viva.”
Diz o grego: “Amigo, dá-me demonstração prática, que eu e todos os meus companheiros acreditaremos no Deus judaico, cum- priremos Seus Mandamentos e haveremos de converter milhares!”
Digo Eu: “Pois bem, posso apresentar-vos tal prova como verdadeiro Judeu dos judeus, porquanto conheço Deus Único e Ver- dadeiro, Senhor de Céus e Terra, e também sei que existe! Tens uma enfermidade estomacal, razão por que quase não te atreves a ali- mentar-te, não obstante sintas bastante fome e sede. Quanto já não ofertaste aos ídolos, a conselho dos sacerdotes, e quantos remédios ingeriste! Por acaso teriam aliviado teu sofrimento? De modo algum. Vou te socorrer pelo simples pronunciamento do Nome do Deus Verdadeiro, de sorte a jamais sentires a menor perturbação!”
Retruca ele: “Se isto te for possível sem remédios, não so- mente acreditarei Nele, mas te farei passar metade de minha consi- derável fortuna!”
Digo Eu: “Amigo, não há necessidade, pois Deus, Verdadei- ro e Poderoso, dá a todos nós tudo que necessitamos! Deste modo dispensamos os tesouros materiais, pois os do Espírito de Deus são por nós considerados muito mais que a Terra toda e o Céu visível, do que terás prova. Vê, no Meu íntimo suplico a Deus, o Senhor, que cure e fortaleça o teu estômago, e Me dirás se sentes algum efeito!”
Sumamente admirado, o grego diz: “Sim, e creio indubita- velmente que somente vosso Deus seja Verdadeiro, pois quando ain- da não havias terminado as palavras, senti um bem-estar tão grande como nunca em minha mocidade! Toda gratidão, louvor e honra ao Teu Deus! Possa Ele iluminar os pagãos como fez convosco, para podermos conhecê-Lo sempre melhor!
Tu, exímio salmista, continua com tua arte, para dares honra ao Deus todo Poderoso. Agora reconheço ter sido tudo criado por Ele como Causa Original de todas as coisas. A ti, amigo inspirado
por Deus, agradeço de coração por me teres doutrinado fiel e ver- dadeiramente, com que me ajudaste talvez mais que pela cura do estômago. Sinto, porém, forte apetite e voltarei à nossa mesa.”
Digo Eu: “Faze-o sem susto e pede a Deus que abençoe a todas as criaturas, inclusive a ti e o alimento a ser ingerido, que ele sempre atenderá tal pedido, transmitindo benefício real ao corpo. Amém.”
Sensibilizado, o grego segue o Meu Conselho, no que é imitado pelos conterrâneos. Muitos são os comentários referentes à Existência do Deus judaico, cujo Poder assiste àqueles que Nele depositam toda confiança através do cumprimento de Suas Leis, a ponto de acreditarem, no final, que seriam também igualmente deu- ses. Em seguida os gregos se levantam, agradecem e pedem a Deus a Bênção transmitida pelo alimento.
ADVERTÊNCIAAOS GREGOS
Novamente o grego se vira para Mim: “Caro amigo, nos- sa atitude está certa?” Respondo: “Olha, tens em teu lar filhos que muito amas. Porventura não os suprirás de pão, como bênção de teu amor paternal, caso te peçam de maneira tolamente ensinada? Como simples homem e pagão deves considerar apenas o coração dos filhos, cujo balbuciar te vale mais que o discurso formidável de um orador. Quanto mais Deus considera os corações das criaturas como Pai verdadeiro, não ligando às palavras fúteis e artisticamente formuladas!
Vossa gratidão e o pedido, conquanto expressos por palavras simples, vieram do coração, despertando o Agrado do Verdadeiro Pai no Céu. Continuai desta forma, que em tempo oportuno vos será acrescentada uma luz mais sublime, do Céu. Dirigi-vos a Deus pelo amor no coração, que o Pai Celeste vos atenderá com Sua Luz da Verdade Eterna!
A fim de amá-lo com Justiça, preciso é que ameis ao próximo como a vós mesmos, jamais praticando uma injustiça. Não lhe façais
o que não desejais vos faça, dentro de uma relação lógica e sábia; do contrário, um salteador poderia exigir que não fosse preso e entregue à Justiça, porquanto não age desta forma com seu companheiro — e outras tolices mais.
Quem amar o semelhante, fiel, racional e, portanto, ver- dadeiramente, amará a Deus, sendo por Ele amado. Alguém não amando o próximo, visível, como poderá amar a Deus, a Quem não vê nem ouve fisicamente?
Sois negociantes e agiotas, e um lucro considerável vos agra- da mais do que um pequeno e razoável. Eu, porém, vos digo: Sede, no futuro, justos em tudo, considerando ser de vosso agrado que outros vos tratassem com justiça, portanto aplicai equidade em pre- ços, medidas e pesos, pois os meios usados para com o próximo ser-vos-ão aplicados por Deus, o Senhor e Pai no Céu. Mentirosos e fraudulentos, em quaisquer situações terrenas, não são por Deus considerados, nem entrarão em Seu Reino Eterno da Vida. Posso afiançar-vos isto porque conheço Deus, Seu Reino, Seu Eterno Tro- no de Glória e Sua Vontade.
Se tiverdes compreendido, agi deste modo, que a Bênção real e viva não vos será tirada. Alguém conhecendo as leis do sobera- no e seguindo-as fielmente, ele o considerará com respeito e amor, dando-lhe uma tarefa como prêmio de sua fidelidade. Se por Mim ouvistes a Vontade do Deus Verdadeiro, praticai-a para merecerdes a Graça Divina.”
Diz o grego: “Amigo, agradecemos-te pelo ensinamento, que será praticado rigorosamente. Percebendo teu conhecimento de Deus, poderias acrescentar mais algumas noções sobre a maneira pela qual Ele pôde criar esta Terra sem dispor de matéria. Se bem que, a meu ver, a matéria seja puramente expressão da Onipotência Divina, não percebo o fato em si. Como gregos, ficaríamos mui satisfeitos se nos desses um indício.”
Digo Eu: “Pedis, realmente, coisas que o intelecto humano jamais compreenderá inteiramente; ainda que assimilasse noção mais profunda dos Segredos do Reino de Deus, não se aproximaria
do Amor Divino. Ninguém poderá saber o que há em Deus, senão o Espírito Divino. Mas quem cumprir os Mandamentos e amar Deus acima de tudo receberá no coração a centelha divina, que vislumbra- rá as Profundezas de Deus.
Fazei apenas o que aconselhei; deste modo sereis levados à sa- bedoria total, tornando-se fácil e compreensível, qual jogo infantil, o que agora vos parece difícil e impossível. Todavia, dar-vos-ei um exemplo de como a Vontade de Deus é Tudo; primeiro, puro Espíri- to e em seguida, matéria. Trazei-me um cântaro vazio de vossa mesa!
Muito bem, aqui está. Prestai atenção e verificai estar o mesmo inteiramente seco. Quero, através da Vontade de Deus em Mim, que ele se encha de vinho da melhor qualidade, que podeis tomar para especial conforto!” Atônitos, os gregos observam o mi- lagre e dizem: “Realmente, vimos que a Vontade de Deus, Único e Verdadeiro, é Tudo em tudo. Por isto, merece toda honra.”
Digo Eu: “Sendo este vinho de fonte idêntica àquele que tendes em quantidade em vossos lares, dizei-me se vos agrada o aro- ma.” Os gregos provam o vinho e não se cansam de elogiar aroma e efeito do mesmo.
13.OSACROBATAS ATREVIDOS
Entrementes, chega um grupo de acrobatas gregos, dirigin- do-se ao hospedeiro para poderem apresentar sua suposta arte. Ele Me pergunta se pode permiti-lo e Eu respondo: “És dono da casa e podes fazer o que te agrada. Essa produção paga não nos interessa. Sou obrigado a suportar muitas tolices dos homens, com a máxima paciência; por que não haveria de tolerar esta? Pergunta aos gregos se desejam tal apresentação, pois assim não sendo, os acrobatas podem procurar outro ambiente.”
Interrogados, aqueles gregos respondem: “Amigos, assistimos à arte mais sublime e estamos inteiramente absorvidos pelo Deus judaico, de sorte que não se enquadram as artes tolas. Conhecemos esses acrobatas e seus números, portanto podem afastar-se.”
O tavoleiro transmite o recado, de nenhum agrado do grupo, tanto que o dirigente diz: “Viajamos por quase o mundo inteiro; sempre fomos admirados e nunca se rejeitou nossa arte. Como fa- voritos do deus Marte, Apollo e das nove musas, somos no mínimo semideuses, e como tais poderemos contar com sua vingança!”
Diz o anfitrião, bem humorado: “Desde que todos nesta casa conhecem o Verdadeiro Deus, não mais tememos os ídolos de egípcios, gregos e romanos. Se já viajastes pela metade do mundo angariando certamente grandes tesouros, fazei o resto do percurso e deixai-nos em paz. Pretendendo fazer barulho porque aqui ninguém deseja ver vossas acrobacias, passareis mal, pois na minha mesa está um Senhor mui Poderoso, ao Qual nada é impossível!”
Enraivecido, o chefe responde: “Se consideras mortos nossos deuses frente ao deus imaginário dos judeus, digo-te: eu mesmo sou o deus Marte e saberei castigar este país com guerra, fome e peste! Como deus, não temo qualquer divindade judaica!”
Digo Eu: “Pagão atrevido, vê se te afastas, do contrário expe- rimentarás o Poder do Deus Verdadeiro!” A estas Palavras, o chefe se torna ainda mais estúpido contra Mim. Novamente o concito a se afastar, mas como não o faz, prossigo: “Não querendo aceitar a Minha Advertência, transportar-vos-ei pelo Poder e Força do Deus Judaico a uma distância de cem dias. Lá poderás deixar-te adorar pelos mouros! Fora convosco!”
Instantaneamente os atrevidos acrobatas desaparecem e são levados para o meio dos africanos, conhecidos desde Cesareia Philippi, onde são posteriormente encaminhados para a Minha Doutrina, tornando-se Meus adeptos. Continuamos a palestra até meia-noite. O harpista se recolhe na tavolagem, compreendendo diante de Quem havia produzido os salmos, o que aumenta seu amor para Comigo.
14.ODESAPARECIMENTODOS ACROBATAS
Os gregos ficam acordados a noite toda, pois não se con- formam com o súbito desaparecer dos artistas, e supõem Eu os ter enxotado apenas para outra zona da cidade. O primeiro orador, po- rém, diz: “Sou de parecer que o poderoso amigo do Deus Verdadei- ro jamais expressaria algo pró-forma, e certamente os acrobatas se acham na África, para onde foram designados.”
Diz um outro: “Se foram impelidos pelo ar, com a velocidade de um raio, não devem ter passado bem!” Conclui o primeiro: “Não te preocupes, pois ele nada disse a respeito de um dano físico. Quem sabe por que assim fez? Quiçá será possível alcançar algo de bom com os artistas.” Os outros concordam e, nessas conjecturas, todos adormecem pela madrugada.
Eu Mesmo durmo desta vez com os discípulos, até o surgir do Sol, num dormitório à parte. Não quero ir à cidade muito cedo, em virtude dos feirantes, a fim de não ser reconhecido e aclamado antes do tempo. Assim, ficamos no albergue até perto de meio-dia.
Entrando no grande refeitório, encontramos os gregos no desjejum, que Me saúdam amavelmente. Nossa refeição também nos espera, e assim estamos todos reunidos. Em seguida, os gre- gos Me perguntam pelo destino dos conterrâneos expulsos e Eu os oriento de seu destino. Satisfeitos, Me pedem Proteção e se dirigem ao mercado, após terem prometido não Me denunciarem perante os colegas.
Os discípulos então Me dizem: “Senhor, ainda faltam algu- mas horas até meio-dia. Devemos fazer qualquer coisa?”
Respondo: “Há cerca de ano e meio estamos juntos e qua- se nada fizestes senão Me acompanhar, ouvir e admirar as Minhas Ações, jamais passando fome e sede, tampouco andastes despidos. Vivendo tanto tempo sem fazerdes algo de especial, certamente su- portareis essas horas na mesma situação!
Quando não mais estiver em vosso meio, passando-vos Mi- nha Missão, muito tereis que fazer. Por ora, vossa atividade se res-
tringe em serdes por toda parte Minhas Testemunhas. Não levará tempo até recebermos algo a fazer nesta casa e o tempo passará mui ligeiro!” Satisfeitos, os discípulos ficam à mesa, em palestra com os adeptos de João Baptista.
Meu apóstolo João tira os apetrechos para escrever, da pasta que sempre o acompanha, e faz anotações sobre nossa viagem e fatos ocorridos de Jericó a Esseia, e de volta para lá. Eu Mesmo pales- tro com o hospedeiro, seu filho Kado e o velho servente Apollon acerca de vários assuntos terrenos de utilidade agrária, pelo que Me agradecem.
15.UMAAÇÃO JUDICIÁRIA
Súbito, ouve-se forte vozerio na praça diante da estalagem e não demora a juntar-se grande massa de curiosos, levando al- guns discípulos a se dirigirem à janela. Eu os chamo, dizendo: “Para que essa curiosidade? Ainda saberemos o que há. Por certo, nada de confortador, e o nocivo se sabe sempre muito cedo, ainda que demore.”
Dentro de poucos minutos, alguns feirantes apresentam três ladrões atados, que no atropelo da feira haviam roubado dinheiro e outros objetos. Como o hospedeiro era nesta cidade uma espécie de burgomestre e fiscal de feira, competia-lhe interrogar os delin- quentes e entregá-los ao juiz. A questão não lhe agrada por Minha Causa. Mas, que fazer? Teve de ouvir os negociantes e outras tes- temunhas, e trancar os ladrões conhecidos por todos. Quando os primeiros recebem de volta o que lhes havia sido sonegado, voltam às suas barracas.
Então viro-Me para o tavoleiro: “Amigo, não havendo aqui estranhos, manda trazer os ladrões. Quero falar-lhes.” Uma vez diante de Mim, Eu Me dirijo a eles: “Sois judeus dos arrabaldes de Bethlehém. Não aprendestes a Lei de Deus que proíbe o furto? Quem vos deu direito de agir contra a Ordem Divina? Respondei, se não quiserdes merecer castigo maior!”
Um deles responde: “Senhor, sê bom e clemente, que te contarei a verdadeira situação. Realmente somos das adjacências da cidade de Bethlehém, onde nossos pais possuíam casa e terras. Ao todo somos sete, três irmãos e quatro irmãs, verdadeiras beldades da zona, e levávamos vida feliz e devotada a Deus. Nosso pai faleceu alguns anos antes da esposa, que sempre respeitou os sacerdotes de Jerusalém; pois o que eles lhe diziam, ela tomava como pala- vra de Deus.
Dentro em breve aproveitaram-se da credulidade de nossa mãe, descrevendo-lhe as belezas do Céu em cores vivas, e o inferno de modo assustador. A fim de se garantir o Céu, já em vida seria pre- ciso ela vender tudo e oferecer a importância ao Templo. As quatro filhas deveriam ser entregues ao sinédrio, para protegê-las em sua pureza e castidade virginal. Pois se uma delas se entregasse a alguém antes do casamento, tal pecado condenaria a alma da genitora ao mais profundo inferno. Ela fazendo o que os sacerdotes lhe aconse- lhavam, porquanto estavam em permanente intercâmbio com Deus, não somente ingressaria no Paraíso, mas seria pelo Templo garantida no asilo de viúvas, para maior purificação de sua alma; aos sábados e demais dias comemorativos, as viúvas mais beatas eram servidas pelos anjos de Deus, impedindo a aproximação de qualquer demô- nio, a fim de tentá-las. Tais condições tinham, para nossa mãe, efeito idêntico ao transmitido por Jehovah, do Monte Sinai.
Nós, rapazes, percebendo a política vergonhosa dos tem- plários, procuramos dissuadi-la. De nada adiantou, pois em curto tempo ela vendeu tudo, obrigando-nos a transportar a grande soma de dinheiro para o Templo. Desanimados, perguntamos ao chefe quem iria cuidar de nós e onde haveríamos de encontrar meios de subsistência.
Entregando a cada um três moedas de prata e uma sacolinha com relíquias, ele respondeu: “Com esse dinheiro podereis viver sete dias, e a Força Divina contida nas sacolinhas santificadas vos ajudará a realizar vossa felicidade. De posse das mesmas, podeis também roubar e assaltar, mas não matar, a não ser em caso de necessidade
e se tratando de um rico pagão ou algum samaritano. Deus não o considerará pecado, porque sois justificados pela ação da genito- ra devota, semelhante à de anjos.” Repassando-nos com uma vara, mandou-nos embora.
16.HISTÓRIADOS LADRÕES
(Os três ladrões): “Tristes e magoados, voltamos à nossa comarca para procurar acomodações. Havia emprego, porém mi- serável. De modo algum podíamos esperar remuneração, e para ga- nharmos alimento impróprio a suínos, tínhamos que trabalhar dia e noite, ouvindo reprimendas e injúrias. Procuramos em outra parte, mas com resultado cada vez pior.
Assim, sofremos durante cinco anos, e como nunca éramos pagos, percebendo a maneira pela qual o Templo nos havia solapado os bens, sob alegação da ‘Honra de Jehovah’, fomos perdendo a fé em Deus. Os ensinamentos de Moysés e dos profetas nos pareciam obras humanas, pelas quais criaturas ociosas e espertas se aproveita- vam da fraqueza dos fiéis.
Durante cinco anos não praticamos roubo, porque ainda res- peitávamos Deus Onipotente. A partir daí, começamos a nos per- guntar se Ele realmente existia, e nossas experiências respondiam que não! Tudo é mistificação e mentira, obra dos homens indolentes e dotados de fantasia prodigiosa. Somente os pobres deveriam res- peitar as Leis e crer em Deus.
Sob tais conjecturas e em virtude de não sermos atendidos em nossas preces — e além disto informados de que nossa mãe, logo após ingressar no asilo, falecera misteriosamente, nossas irmãs tendo sido violadas pelos fariseus até quase morrerem — nossa fé se apagou e decidimos nos vingar na Humanidade maldosa.
Começamos a nos apossar dos bens alheios e nossa astúcia sempre nos favoreceu. Despertou-nos certa confiança no pacotinho milagroso e assim passamos regularmente durante alguns anos. Des- ta vez, não fomos bastante cautelosos, o que resultou em prisão. Não
importa, pois estamos habituados a toda sorte de miséria; a vida nos saturou e desejamos apenas a morte. Antes de sermos pregados à cruz, proferiremos a pior maldição contra o orbe, o Céu e a Natu- reza que nos fez surgir, e demonstraremos aos homens o valor que damos a Deus, Suas Leis e profetas.
Nunca praticamos assassínios, e isto porque não queríamos livrar ninguém de sua vida miserável. Mas quem reagisse num as- salto era massacrado, pois não há vestígios de clemência em nosso coração. Sabes, portanto, de tudo e podes agir segundo tua justiça. Não esqueças, porém, quem são os culpados de nossa infelicidade.”
17.REVOLTADO HOSPEDEIRO
Assistindo a este relato, o tavoleiro, seu filho Kado e o servo Apollon demonstram forte revolta, e o primeiro diz: “Senhor e Mes- tre, não compreendo Deus, que nos ensinaste a conhecer, permitir tais coisas. Se esses homens falaram a verdade, os miseráveis templá- rios merecem ser liquidados, enquanto esses, recompensados. Será oportuno soltar um julgamento aniquilador contra tais aberrações do inferno.
Estou penalizado com esses jovens, que em minha casa rece- berão acolhida, ajudando-me como testemunhas contra o Templo. Que venha um sacerdote judeu reclamar o dízimo de alguém! Será informado do direito que me assiste! E, quando eu tiver partido, meu filho respeitará minha ordem!” Virando-se para os três ladrões, ele prossegue com amabilidade: “Aceitais a minha proposta?”
Responde o primeiro orador: “Vejo existirem, entre pagãos, criaturas justas, completamente ausentes entre judeus que, com atrevimento, se dizem filhos de Deus, enquanto o são do diabo! Com satisfação aceitamos o teu convite, que pretendemos pagar por serviços fiéis. Apenas pedimos nos libertes das algemas, pois não as merecemos. Criaturas realmente boas compreendê-lo-ão e conviria a um juiz justiceiro castigar com inclemência os que faziam do próxi- mo verdadeiros criminosos, em vez de aplicar punição aos que, pela
necessidade, foram levados a ações maldosas. Quantos não padecem em cárceres, sem a menor culpa de seus crimes, pois são vítimas da má educação ou de maus tratos.
Se existisse um Deus Bom, Sábio e Justo, deveria castigar os responsáveis pela crescente corrupção. Como os demônios em figura de gente nunca foram punidos pelas suas maldades, a fim de constituírem exemplo educativo, não podemos ser condenados pela afirmação da não existência de Deus, como foi exemplificado por Moysés e os profetas. Há uma força da Terra sob influência do Sol, Lua e planetas, dos quatro elementos que nos criaram de modo in- consciente, assim como nosso organismo cresce e se desenvolve sem nossa interferência. Por isto, é tolo quem sente o menor prazer na vida e, além disto, agradece por ela, cheio de humildade e contrição, a um Deus inexistente.
É bem verdade que o homem deve procurar a Deus, e se o tiver encontrado, tornando-se ciente da razão de sua vida e da existência de além-túmulo, deve ele agradecer-Lhe de coração. Mas onde estaria o homem que tivesse alcançado tamanha ventura? Se assim aconteceu, como diz a Escritura, por que Ele não Se apresenta para nós? Somos todos iguais. Nesse caso, Ele Mesmo é culpado da atual corrupção.”
18.CRENÇADOS LADRÕES
(Os ladrões): “Os pobres são levados à fé cega através do fogo, espada e a cruz, enquanto nossos tiranos podem fazer o que lhes apraz. Acaso isso é justo partindo de um Deus, Sábio e Bom? Meus amigos, para um pensador existem mil vezes mais motivos para duvidar, do que para crer na Existência de Deus.
De modo algum afirmamos ser a fé em Deus tolice e misti- ficação engenhosa de criaturas que sabem apresentar aos incautos. Uma vez a massa convicta, de nada adianta ao culto opor-se a tais abusos. Era preciso dançar como exigem os sacerdotes, caso não se quisesse ser martirizado. E alguém se atrevendo a perguntar pela
Existência da Divindade, a resposta era de tal estupidez a impedir repetição.
Sendo essas as nossas experiências, não há quem nos possa condenar pela descrença e expomos aquilo que realmente somos. Novamente pedimos libertação das algemas!” O tavoleiro dá ordens para tanto e manda que sejam levados a um recinto à parte, onde trocam de roupa e se alimentam.
19.ACONDUTADOS HOMENS
Após se terem afastado, o hospedeiro Me pergunta: “Que me dizes, Senhor e Mestre, a esse discurso bem fundamentado? Já li alguma coisa de nossos filósofos, mas nunca encontrei base fun- damental como na assertiva dos ladrões e estou curioso como irás desculpá-los e justificá-los.”
Respondo: “Que nenhum de vós alimente receio a res- peito, pois Eu Mesmo fiz que assim acontecesse em virtude dos arquifariseus, no quarto contíguo. Vieram durante a noite de Jeru- salém e alugaram o recinto por alguns dias. Ouviram tudo, especial- mente o que foi dito a respeito deles.
Sua intenção era recolher o dízimo atrasado, com tua ajuda. Sabes, portanto, qual tua colaboração; tão logo os ladrões se tenham refeito, manda chamá-los para solucionar o seu caso.”
Concordam o hospedeiro e Kado: “Supúnhamos que assim fosse, mas receávamos falar porque não queríamos denunciar-Te an- tes do tempo, e além disto o discurso nos obrigou a prestar a maior atenção. Do ponto de vista humano, o orador tem razão quanto à relação de Criador e criatura; pois é difícil compreender-se o motivo por que deixaste os homens esperar tanto tempo por uma Revelação Pessoal. Quantos não padecem sem terem noção de Tua Pessoa, e caso forem informados de Tua Vinda à Terra, porventura acreditarão?”
Respondo: “Dentro do critério humano, falais certo. Eu, como Criador, sou levado pelo Meu Amor, Sabedoria e Ordem a Me apresentar frente às criaturas dentro das exigências momentâneas.
Desde o surgir do primeiro homem nesta Terra até hoje, as criaturas não passaram nem sequer um ano sem Orientação Minha, todavia não lhes infringia o livre arbítrio para evitar se tornassem máquinas sujeitas à Minha Vontade.
Se Deus fosse tão facilmente encontrado como desejam mui- tos, não Lhe dariam o devido valor, recaindo no ócio, e o tesouro espiritual não seria útil devido a constante pesquisa neste mundo. Por isto, são raras as grandes Revelações, a fim de que os homens atemorizados na noite psíquica ponham mãos à obra, procurando com todo zelo a Verdade Eterna, ou seja, a Mim.
É um mal da Terra que nesta procura as criaturas sejam des- viadas por atalhos e igualmente sofram várias atribulações. A causa não reside no rigor ativo, mas na prejudicial morosidade, fruto do excessivo amor ao mundo, pelo qual tentam tomar o problema o mais cômodo possível. Outras, mais preguiçosas ainda, o perceben- do dizem: Por que vos cansais a procurar o que nós de há muito achamos com toda clareza? Dando-nos crédito, servindo-nos e, em vez de pesquisa inútil, nos dando pequenas oferendas, sereis por nós informados de tudo!
Tal proposta é do agrado dos indolentes, de sorte que aceitam e creem nas mistificações dos ociosos, em benefício de seu conforto material. Deste modo surgem várias espécies de superstições, menti- ras, fraudes e egoísmo perfeito, em suma, a desgraça total na Terra.
Perguntais por que assim permito. Respondo: Para a alma humana é melhor crer em algo e submeter-se a uma ordem, do que sucumbir no ócio e na preguiça totais. Quando fraudes e opressões ultrapassam as medidas, a necessidade obriga os de fé fraca à pro- cura individual da Verdade. Percebem as mistificações, abandonam o ócio e começam a procurar sem temer a luta — e neste estado se faz a luz. Além disto, é para tais pesquisadores ludibriados, e por isto zelosos, uma Revelação Minha muito mais aceitável e efetiva na extinção da superstição. Agora estais informados por que permito certos fatos que diante do julgamento humano não parecem bons e sábios. Fazei entrar os ladrões, pois quero falar-lhes.”
Os três homens não se fazem esperar e agradecem pela gen- tileza do hospedeiro, que permite ao orador expressar-se, contanto que fosse breve. O chefe dos ladrões, chamado Nojed, então diz: “Respeitarei tua advertência. Descobrindo em ti um pagão, amigo do saber e do Bem raramente encontrados entre os judeus, lembra- mo-nos de vossos deuses, que talvez fossem mais do que simples fábula. Desejamos, no entanto, conhecer vossa religião e cultuar igualmente vossas divindades.
Partimos do seguinte princípio: criaturas boas devem pro- fessar a melhor religião. A nossa não pode ser considerada boa, porquanto seus seguidores são os piores que se possa imaginar; os sacerdotes são, em geral, uma verdadeira praga humana, e a própria doutrina, geradora de animais ferozes. Que me dizes?”
Responde o hospedeiro: “Aconselho falardes com o meu Amigo; é muito mais sábio que eu e todos os gregos intelectuais.”
Virando-se para Mim, Nojed conjectura: “Se não fores tem- plário e tiveres encontrado a Verdade e o Bem, queira expressar-te a respeito de minhas ideias. Não estamos certos de procurarmos a Verdade onde viverem criaturas boas?”
Respondo: “Sem dúvida. Todavia, é a Doutrina de Moysés a única e verdadeira, não obstante tenha sido deturpada e destruída pelos fariseus, como foram dizimadas Babilônia, Nínive e outras ci- dades de prostituição.
Crede-Me: Jehovah é desde Eternidades o Único Deus Ver- dadeiro, Vivo e Bom; jamais desconsiderou os pedidos dos que Nele acreditavam, cumpriam Seus Mandamentos, amando-O acima de tudo e ao próximo como a si mesmos. Se às vezes hesitava em aceder no cumprimento pleno, para maior purificação das almas, não dei- xou de atendê-las inteiramente, cumprindo Sua Promessa, quando menos esperavam.
Sei perfeitamente que vezes seguidas pedistes a Deus alívio de vossa miséria. Após terdes vivido em grande abastança, Ele vos fez
passar alguns anos por uma escola dura e severa, a fim de que não só desfrutásseis os prazeres materiais, pois a amargura da vida vos levava a sentir o verdadeiro valor e finalidade da mesma.
Sorvestes o cálice da amargura até a última gota, tornando-
-vos criaturas reais e profundas, capazes de assimilar a Luz verda- deira e viva da Vida de Deus, e Ele vos atendeu no momento mais necessário de Socorro divino!
Agiu deste modo com muitas criaturas quando se diri- giam a Ele com verdadeira fé. Assim, não podeis afirmar ser a Doutrina judaica falsa e errônea. Isto se dá precisamente com o politeísmo.
Julgais que este hospedeiro, patrício da cidade, vos teria fei- to caridade como pagão? Nunca! Seu tratamento corresponderia ao rigor da lei romana. Não sendo, no íntimo, pagão, mas judeu qual Abraham, Isaac e Jacob, aceitou o Meu Conselho, pelo qual fostes bem tratados. Reconheceis isto?”
21.SITUAÇÃODOMÉSTICADEHIPONIAS,PAIDOS LADRÕES
Responde Nojed: “Sábio amigo, tuas palavras soam verídicas e certamente o são, pois consta que os Desígnios de Deus são inson- dáveis; mas por que tiveram de ficar tão desamparadas por Jehovah nossa mãe e as irmãs inocentes? Que culpa lhes cabia na deturpação da Doutrina de Moysés, integralmente respeitada por elas? A mãe morreu envenenada, logo após ingressar no Asilo, e as irmãs, violen- tadas, e sei lá mais o quê? Poderia ter Jehovah sentido algum prazer em tal situação?! Se puderes informar-nos dentro da lógica, seremos judeus crentes.”
Digo Eu: “Nada mais fácil do que isso. Vosso pai, chamado Hiponias, igual ao vosso irmão mais velho, tornou-se judeu pela crença samaritana. Não ligava às cerimônias e fraudes do Templo, mas enfrentava dificuldades com a esposa, fanática do Templo, assim como as filhas. Sumamente mortificado, pediu em seu lei- to de morte que Deus fizesse com que sua família viesse a saber,
em vida, estar caminhando nas veredas do príncipe da mentira e do poder da morte. Deus, então, atendeu aos rogos de vosso pai sempre fiel.
Qual teria sido o recurso para a melhoria das cinco mulhe- res, que aguardavam sua salvação apenas do Templo, senão fazê-las sentir a mesma? A genitora, como a maior fanática, terminou os seus dias naquela Instituição; voltou, porém, à verdadeira fé de seu esposo, ao qual muita tristeza provocou, e aprendeu a detestar as maquinações do sinédrio. Vossas irmãs também tiveram oportuni- dade de conhecer mais de perto os servos de Deus, enchendo-se de repugnância, e hoje se encontram, pela permissão de Jehovah, plenamente sãs e cheias de fé e confiança Nele, o Deus Verdadeiro, em Esseia, no grande albergue, em companhia de outras, para sua cura. Os detalhes vos serão transmitidos por elas mesmas. Se assim é, como podeis afirmar ser o Deus dos judeus simples fábula?”
Responde Nojed: “Amigo, és profeta e cremos em ti e em Deus de Abraham, Isaac e Jacob. Pois se não fosses tomado do Es- pírito de Deus, não poderias saber quem somos e quais nossos des- tinos. Por isto rendemos-Lhe toda Honra e Louvor; mas como te tornaste profeta? Acaso és samaritano?”
22.ODESTINODAS CRIATURAS
Digo Eu: “Ouvi-Me, Nojed, Hiponias e Rasan! Não sou sa- maritano dentro do vosso conceito, todavia o sou; não sou judeu, entretanto o sou. Não sou pagão, mas sou, do contrário não poderia privar com eles. Em suma: sou tudo, com tudo e em tudo. Onde Verdade, Amor e o Bem agem em conjunto, estou entre todas as criaturas da Terra e não condeno quem procura a Verdade e o Bem, dela derivante.
Quem lhes virar as costas por egoísmo e deste modo pecar contra a Verdade e seu Bem, que é puro Amor em Deus de Eterni- dade, erra contra a Ordem Divina e Sua Justiça imutável, condenan- do-se a si mesmo.
Reconhecendo o seu grande mal, voltando para a Verdade à procura do Bem pela ação — a condenação se afasta à medida do ri- gor aplicado, e Deus ajuda e ilumina mais e mais coração e intelecto, fortificando a vontade tanto em pagãos como em judeus.
Consideras-Me justo profeta e te digo que o sou — entre- tanto, não o sou; pois um profeta tem de executar o que o Espírito de Deus ordena; Eu, porém, sou Senhor e Servo, prescrevendo-Me os justos Caminhos e não há quem possa Me chamar à responsabi- lidade, pois Eu Mesmo Sou a Verdade, o Caminho e a Vida. Quem agir dentro de Minha Doutrina e crer que sou Verdade, Caminho e Vida, portanto Senhor inteiramente livre e independente, terá, como Eu, a Vida Eterna.
As criaturas desta Terra querendo se tornar filhos de Deus, têm de atingir a Perfeição do Pai Eterno e Santo no Céu — que é em Si a Verdade, o Amor e Poder eternos e o consequente Bem, a Justiça e a Glória. Por isto, consta das Escrituras: Deus fez o homem segundo Sua Perfeição, fê-lo à Sua Imagem e transmitiu-lhe o Seu Hálito, a fim de se tornar uma alma viva e livre.
Deste modo, não são os homens desta Terra simples criaturas da Onipotência de Jehovah, mas filhos de Seu Espírito, quer dizer, de Seu Amor, portanto igualmente deuses.
Tal noção lhes advindo através de sua vontade libérrima e ilimitada, são eles igualmente senhores e juízes de si mesmos. Sobe- ranos perfeitos e semelhantes a Deus só serão quando aplicarem a Vontade Divina como se fosse deles, dentro do livre arbítrio.
Eis o motivo por que Deus age mui raramente em Pessoa, pois deu-lhes, desde o início, a capacidade de se elevarem com a força individual ao mais elevado grau do aperfeiçoamento de seme- lhança divina.
Quem, portanto, ao alcançar o uso do intelecto, procurar a Verdade e o Bem, pondo em prática as noções descobertas, terá en- cetado o justo Caminho. Deus iluminará tal trilha, levando-o à Sua Glória. Quem, de própria iniciativa, se entregar ao ócio, ao mundo e seus prazeres — apenas apresentados aos sentidos externos e pere-
cíveis do homem físico para teste do seu livre arbítrio — condena-se voluntariamente, pondo-se na mesma situação daquilo que é morto e condenado.
Tal morte é o que condenaste sob a expressão de ‘inferno’, para castigo da alma pecaminosa, porquanto jamais evitarias o erro por medo de uma punição, tampouco esperarias o Céu pela conduta dentro da Verdade. Dou-te plena razão, pois não existem inferno e Céu na acepção da palavra. Todavia, existem dentro do homem, à medida da própria condenação.”
23.NECESSIDADESEFINALIDADEDAS TENTAÇÕES
(O Senhor): “Se este mundo não fosse dotado das alegrias mais variadas, e sim semelhante ao deserto para animais ferozes — a vontade livre, razão e intelecto teriam sido sem utilidade para o ho- mem; o que poderia despertar e excitar o seu amor, quais os recursos para purificar sua razão, despertar e estimular o intelecto?
As infinitas variabilidades, boas e más, só existem para o ho- mem a fim de que tudo veja, conheça, experimente, escolha e use; daí poderá deduzir ter sido Obra de um Criador poderoso, sábio e bom, que jamais deixará de Se manifestar ao homem pesquisador, conforme acontecia em todos os tempos.
Se, porém, as criaturas se emaranharem nos prazeres munda- nos, pensando que lhes foram dados apenas para própria satisfação, sem se aperceberem da finalidade — impossível surgir uma Revela- ção de Deus e de Sua Vontade Amorosa até que, pelo sofrimento, venham a perguntar pela razão de sua existência e o motivo do pa- decimento até a morte, certa.
Então é chegado o momento em que Deus novamente Se manifesta; primeiro, através de criaturas inspiradas; em seguida, por outros sinais e provações àqueles que, por fraudes, mistificações e opressões aos pobres e fracos, se tornaram ricos, poderosos, orgulho- sos e sem fé em Deus, atirando-se a toda sorte de prazeres e classifi- cando os infelizes de simples irracionais.
Quando tal situação atinge certa preponderância, aparece um grande julgamento, acompanhado de uma Revelação importan- te e direta a criaturas que conservaram a fé em Deus, o amor a Ele e ao próximo.
Os ateus e orgulhosos mistificadores e opressores serão varridos do solo, e os fiéis e pobres serão soerguidos e iluminados pelos Céus, como ora acontece e se repetirá daquiaquasedoismilanos. A épo- ca será percebida tão facilmente como se vê a proximidade da prima- vera: os botões nas árvores crescerão e se tornarão suculentos, o suco gotejará de galhos e hastes ao solo, qual lágrima, como se pedissem a salvação do sofrimento invernal no qual padecem tantos vegetais.
Se, posteriormente, os corações dos infelizes começarem a se iluminar e fartarem-se da Luz da Verdade de Deus, e também umedecerem com suas lágrimas o solo opresso de modo tão incle- mente, terá chegado a grande Primavera espiritual. Se todos vós meditardes a respeito, percebereis a época atual e que espécie de Lavrador sou Eu.”
24.CONJECTURASDE NOJED
Sumamente admirado, Nojed exclama: “Amigo incrivelmen- te sábio! Estranha é tua palavra. Percebemos seres mais que profeta, pois nem Moysés, nem Elias, falavam de sua glória, mas da Glória de Deus. Afirmaste tua própria soberania e não haver quem te chame à responsabilidade. Se isto for verdade, não haverá outra diferença entre ti e Deus, senão que és um deus temporário e Jehovah, Eter- no. Isto ultrapassa nossa compreensão, muito embora tivesse Ele dito aos judeus fiéis, através do grande profeta: Sereis deuses, caso cumprirdes Meus Mandamentos e assim vos apossardes de Minha Vontade. Houve muitos que cumpriram fielmente as Leis de Deus, mas nenhum arriscava-se em afirmar o que disseste. Como devemos compreendê-lo?”
Digo Eu: “Mui facilmente! Não afirmei que o homem se tor- na idêntico a Deus quando, pela ação, fizer da Vontade Divina posse
sua? Se Deus é Senhor pelo Amor, Sabedoria e Onipotência, sê-lo-á em espírito todo aquele que se Lhe tornar idêntico. Julgo não ser difícil aceitá-lo. De que deveria prestar ele contas diante de Deus ou do homem se apenas pensa, quer, fala e age pela Vontade e o Espírito de Deus?!
Acaso seria a Vontade de Deus no homem menos divina que em Deus Mesmo e igualmente menos poderosa que Nele, Presente pela Sua Vontade e ativo em tudo, portanto também no homem?! Por isto, deveria um homem íntegro se tornar tão perfeito como o Pai no Céu. Em tal situação, não seria igualmente um senhor cheio de sabedoria, poder e força?”
Responde Nojed: “Amigo realmente sábio! Nada posso ob- jetar. Uma coisa é certa: pode o homem, pela renúncia completa, se tornar semelhante a Deus e poderoso, como foi provado pelos profetas; ainda assim é um ser criado no tempo e, com todo aper- feiçoamento, apenas um deus limitado, enquanto Jehovah é Eterno, Infinito em Espaço e Tempo, portanto não há limitação. Essa diver- gência infinita não poderá ser superada.”
25.OHOMEMMATERIALEOHOMEMINSPIRADOPOR DEUS
Digo Eu: “Julgaste certo. Jamais o ser criado se poderá com- parar com o Ser Original de Deus; existe, porém, no homem um espírito incriado e eterno, de Deus, através de Sua Vontade Eterna, que não sofre limitação de espécie alguma.
Por acaso julgas que essa luz do Sol seja mais recente e limita- da que a de épocas remotas, quando iluminava este orbe?! Confirmo teu intelecto e oratória; no espírito da Verdade plena de Deus pensa- rás e falarás somente quando tua alma tiver alcançado a plena união com o espírito eterno, de Deus. Isto só será possível pela aceitação livre da Vontade Divina, dentro da ação. Compreendeste?”
Responde Nojed: “Ó amigo, isso levará muito tempo, por- que alimentamos muita coisa do mundo. Até que seja expulso e co- mecemos a perceber qualquer manifestação da Presença Onipotente
do Espírito Divino dentro de nós, muita água se projetará no mar do passado eterno!”
Digo Eu: “Eis um pronunciamento inteiramente terreno! Para o Espírito Divino na criatura não existem tempo perecível nem espaço limitado, sujeito ao tempo, e não há fruto que amadureça junto à flor; mas, se de hoje em diante começares a agir dentro da Vontade de Deus, em breve mudarás de opinião.
Houve muitos que se expressaram como tu; tão logo ouviram de Minha Boca qual deveria ser seu modo de agir e seguindo Meus Ensinos, prontamente progrediram.
Quando chegardes a Esseia, encontrareis no chefe Roklus o exemplo de um homem que, tomando a sério seu aperfeiçoamento espiritual, rapidamente o atingiu com o Amor e a Graça de Deus.
Após Minha partida com Meus amigos, o tavoleiro vos infor- mará de Minha Pessoa, levando-vos a aplicar o Meu Conselho com zelo e rigor, e a Bênção de Jehovah Se fará sentir. Nada mais tenho a vos dizer, porque não o suportaríeis; quando dentro de vós desper- tarem Graça e Amor de Deus, levar-vos-ão à sabedoria necessária neste mundo!”
Os três Me agradecem o que lhes fizera e transmitira, voltan- do ao recinto reservado, onde ficaram durante a feira, a fim de não serem molestados pelos comerciantes.
26.OSENHORDEIXAJERICÓ. ZACHEUNOPÉDE AMORA
Quando estamos a sós, o tavoleiro vira-se para Mim, dizendo: “Senhor e Mestre, não poderias passar o dia conosco?” Respondo: “Amigos, já vos dotei do necessário. Continuai na Minha Doutrina, dentro da ação, que ficarei em Espírito convosco; fisicamente tenho que Me ausentar em virtude de inúmeros pobres, cegos e mortos. Além disto, Minha Partida despertará grande alarido entre muitos
que Me seguirão. Se ficasse até meio-dia, quando muitos hóspe- des afluirão, aumentariam os boatos. Justamente isto quero evitar por causa dos templários aqui presentes. Seguirei, pois, agora para Naim.” Assim, recomendo aos discípulos que se aprontem para a viagem. Os empregados da estalagem haviam percebido Minha Or- dem e correm para a Praça, avisando aos transeuntes que o célebre Salvador de Nazareth seguiria para Naim.
Tomando a dianteira, o povo em breve enche o trajeto até a casa de Zacheu, chefe aduaneiro, cuja aduana está repleta. Quando percebe a multidão se dirigindo à sua casa, ele vai à rua e pergunta qual o motivo daquilo. E a resposta é a que já sabemos.
Diz ele, então: “Oh, também quero ver o afamado salvador, Jesus de Nazareth, pois ouvi coisas fantásticas por parte de meu ami- go Kado, de seu pai e do velho Apollon. Consta ter curado um cego e senti imenso não ter assistido. Tornando a passar por aqui, terei que vê-lo, custe o que custar!”
Como a multidão se aglomerasse na rua, Zacheu, de estatura mediana, resolveu trepar num pé de amora, à espera de Minha pas- sagem. Sabendo terem sido os empregados a Me denunciarem, rela- to ao tavoleiro o que se passa à nossa frente, e ele promete chamá-los à responsabilidade. Dou-lhe o conselho de desistir de seu propósito, porquanto eles haviam agido com boas intenções. Apenas quero sair pela porta dos fundos.
Sem sermos vistos, atravessamos por uma ruela estreita e pouco usada, daí por um atalho, que a cem passos diante da casa de Zacheu se unia à rua principal. Ao lá chegarmos, algumas pessoas Me reconhecem e começam a exultar: “Ele chegou, Ele chegou, o Grande Salvador de Nazareth! Salve, salve, que tivemos a alegria de vê-Lo!” Os discípulos, irritados, mandam que se calem.
Repreendo-lhes tal proceder diante do povo, dizendo: “Eu sou o Senhor! Se suporto o regozijo da multidão, certamente se- reis capazes para tanto! Amor e paciência devem conduzir vos- sos passos — nunca, porém, ameaças e domínio. É infinitamente mais sublime ser-se amado, do que temido pelas criaturas.” As-
sim seguimos até chegarmos à amoreira onde Zacheu nos espera. Paro, então, e lhe digo: “Zacheu, desce ligeiro, pois tenho que hospedar-Me em tua casa!” Rápido, ele salta da árvore e nos recebe com imenso prazer.
Observando isso, o povo começa a resmungar: “Vede só o salvador, que pretende operar suas obras pelo Poder do Espírito de Deus! Deve ser um belo Espírito divino que priva com publicanos, os maiores pecadores!” — E, pouco a pouco, o povo se dispersa.
Aborrecido com tal atitude, Zacheu se aproxima e Me diz: “Senhor, sei que sou pecador e não mereço que tu, o Justo, pises o meu lar. Tendo-me olhado com tanta benignidade, demonstrando amizade imensa, prometo dar metade dos meus bens aos necessita- dos e, se tiver algum dia prejudicado alguém, que faça sua reclama- ção e eu lhe restituirei quatro vezes mais.”
Como suas palavras fossem ditas em voz alta, os presentes deixam de criticá-lo e alguns comentam: “Quem age deste modo não é pecador. As esmolas cobrem os erros, e quem indeniza quatro vezes o que injustamente adquiriu terá apagado seus pecados diante de Deus e dos homens; portanto, não agiu em erro o salvador por- que se hospeda em casa de um publicano arrependido.”
Outros, especialmente necessitados, calculam antecipada- mente qual sua parte na distribuição dos bens de Zacheu. Ainda ou- tros, imaginam chamar falsas testemunhas, a fim de exigirem o que lhes caberia numa oportunidade fictícia. Mais tarde avisei Zacheu de tais fraudes, aconselhando-o a devida prudência e cuidado, fiel- mente aplicados por ele.
27.APARÁBOLADOS TALENTOS
Após quase toda a multidão afastada, digo ao feliz Zacheu: “Hoje sucedeu a ti e aos teus uma grande Graça, porque também és filho de Abraham! Eu, como Filho do homem e verdadeiro Salvador, vim para procurar e fazer feliz quem estava perdido; como Salvador procuro os enfermos e não os sadios, que dispensam socorro de médico.
Vim, pois, a esta Terra para trazer de volta o Reino de Deus que os homens perderam de há muito, e Sua Justiça não mais exis- tente. Sou, portanto, o Caminho, a Verdade, a Luz e a Vida; quem crer em Mim terá a Vida Eterna!”
O povo ainda presente conjectura: “Esse homem possui re- almente capacidades extraordinárias. Julgar-se aquele que trará de volta o Reino de Deus e Sua Justiça é simples pretensão e fantasia! Encontramo-nos nas proximidades de Jerusalém e ignoramos tal fato. Se é como diz, por que hesita em demonstrar sua assertiva?”
Eis que Me viro para eles e digo: “Tendes razão com vossas palavras. Aqui, ao vosso lado, Me encontro nas proximidades da cega Jerusalém, que de ouvidos abertos nada ouve, e de olhos arrega- lados, nada vê! Quantas vezes já estive em Jerusalém, ensinei e operei milagres para testemunhar a Verdade e o motivo de Minha Vinda a esta Terra, e afirmais nada saberdes da devolução do Reino de Deus e de Sua Justiça. Exigis que vos revele o Mesmo. Ouvi, pois.
Certo homem da nobreza partiu para um país remoto, a fim de tomar posse de um reino e depois voltar. Antes de partir, chamou dez servos, entregou-lhes dez talentos e disse: Negociai até que eu volte. Quem me der bom lucro receberá prêmio correspondente.
Ele seguiu, e os homens começaram a empregar o dinhei- ro, bem e mal. Os concidadãos eram inimigos de seu senhor e rei. Informados de sua viagem, e os servos assumindo seus negócios, enviaram mensageiros ao seu encalço para dizer-lhe que não mais queriam submeter-se ao seu Governo.
Quando o rei voltou após ter tomado posse do reinado, convocou os dez servos para saber o lucro alcançado pelo dinheiro. O primeiro aproximou-se e disse: ‘Senhor, teu talento rendeu dez. Aqui estão!’ E ele respondeu: ‘Servo devoto e fiel, como foste fiel no mínimo, terás poder sobre dez cidades.’
Veio o segundo, dizendo: ‘Senhor, tua moeda granjeou cin- co! Eis ao todo as seis moedas.’ E o soberano disse: ‘Terás poder sobre cinco cidades.’ E assim prosseguiu com o lucro de cada um. O último, porém, alegou: ‘Eis teu dinheiro, guardado num lenço.
Tive medo de ti, sabendo que és homem duro, pois tomas o que não deste e colhes onde não semeaste.’ E o senhor respondeu: ‘Con- denas-te com tuas próprias palavras. Se sabias Eu tomar o que não dei e colher onde não semeei — por que não depositaste o dinheiro num banco, a fim de render juros?’ Não sabendo como desculpar-se, o servo calou.
O Senhor, porém, disse aos demais: ‘Tirai o dinheiro deste servo preguiçoso e dai-o ao que me fez render dez. Saberá melhor como empregá-lo.’ Retrucaram: ‘Ele já tem a maior importância!’ Respondeu o senhor: ‘Em verdade vos digo: A quem tem será dado mais, a fim de que tenha em grande abundância; mas a quem não tiver — como vós em Jerusalém — será tirado o que tem. Trazei os meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles (os fari- seus) e estrangulai-os perante mim.’
Interpretarei a parábola para vosso maior entendimento. O Senhor que viajou à conquista de um reinado longínquo é Deus, que por Moysés Se dirigiu para vós. Entregou aos judeus, em duas pedras, os dez talentos (Leis de Vida), com os quais os primeiros judeus souberam agir, alcançando grande poder.
A época dos reis representa aquele servo que lucrou cinco talentos, por isto seu poder estava de acordo com o lucro. A maneira pela qual aquele tempo trazia pouco êxito para o Senhor se demons- tra pela ação dos outros servos, e podeis certificar-vos no Livro dos Reis e na Crônica.
O terceiro servo, totalmente preguiçoso, aponta a época atual; os fariseus ocultam a prenda conferida por Deus, diante de olhos, ouvidos e corações, no verdadeiro sudário da Humanidade pobre e traída. Não querem depositá-la no banco dos pagãos, con- forme receberam, para dar juros ao Senhor — mas transferem para lá seus próprios excrementos, que alegam ser ouro, e com ele fazem usura em benefício próprio.
Os atuais fariseus e judeus são precisamente os maus cida- dãos, oponentes do Senhor, não querendo Seu Regime. Por isto lhes sucederá o que demonstrei: Como nada conquistaram, ser-lhes-á
tirado o que tinham e dado a quem realmente possuía mais — os pagãos, que representam aquele reino distante visitado pelo Senhor! Dele Se apossou, e voltou em Minha Pessoa para ajustar contas.
Em suma, a Luz será tirada dos judeus e entregue aos pa- gãos! A época do castigo dos inimigos de Deus, o Senhor, está pró- xima e os detentores da Luz serão os novos servos do Senhor, que os estrangularão.
Esta Revelação faz parte do Reino de Deus que vos trago de volta, inclusive Sua Justiça. Quem aceitá-la e empregar fiel e cons- cientemente o talento emprestado encontrará o prêmio da Vida. Eis o que digo aos cidadãos de Jerusalém e adjacências; feliz aquele que aceitar Minhas Palavras!”
28.OSENHORCURAOFILHODE ZACHEU
Aborrecidos com Minha Advertência, alguns judeus confa- bulam: “Finalmente têm razão os fariseus em perseguirem este gali- leu; pois, pelo seu discurso, se deduz que instigará os romanos con- tra nós. Tirar-nos-ão todas as prerrogativas, fazendo-nos escravos. Se ele continuar a propagar seu reino de Deus e sua bela justiça, pode acontecer ser estrangulado antes de nós!”
Os discípulos ouvem a conversa e Me dizem: “Senhor, esta- rias disposto a deixá-los seguir, sem castigo?”
Respondo: “Nenhum levantou a mão contra Mim; por que deveria puni-los? Não lhes agrada o que disse e começam a se afastar; não posso castigar os cegos. Tão logo levantarem suas mãos contra Mim o castigo virá, como anunciei por várias vezes. Deixemo-los partir e entremos na casa de Zacheu, que nos atenderá.”
Prontamente somos servidos de pão e vinho, e o publicano Me agradece por ter dito aos hierosolimitanos o que de há muito mere- ciam. Como samaritano, conquanto descendente de Abraham, era ele odiado em Jerusalém. Por isto, pergunta se faço objeção de sua origem.
Digo Eu: “Continua o que és e sê justo em tudo, por verda- deiro amor a Deus e ao próximo, que Me alegrarás mais que os ju-
deus a beijarem o ouro do Templo, mandando enxotar pelos cães os pobres do limiar. Por isto, farei com que também sejam enxotados no mundo inteiro, entre povos estranhos, sem jamais possuírem país e reino próprios. Agora deixemo-los agir e pecar por algum tempo, até completarem sua medida!”
Novamente Zacheu Me agradece e em seguida pede conselho quanto ao filho mais velho, de dezesseis anos, que há três anos sofria diariamente de acessos de loucura. Já recorrera aos melhores médi- cos, cuja ciência e esforços não surtiram efeito — pelo contrário, o filho piorava após todos os tratamentos.
Digo Eu: “Amigo, não há médico que cure tais moléstias por meio de ervas. Traze o teu filho e verás o Poder da Glória de Deus!”
Zacheu dá ordem que se traga o filho atado, de seu recinto tran- cado a chave. Os empregados, porém, obstam: “Patrão, isso não será viável perante os hóspedes estranhos, pois ele espuma constantemente e, além disto, exala odor fétido, porque se enlameia com os excrementos!”
Intervenho: “Podeis trazê-lo sem susto, pois quero vê-lo e curá-lo!” Diz um servo antigo: “Somente Deus poderia ajudá-lo, e se o conseguires, serás evidentemente Deus!”
Digo Eu: “Não te incomodes e faze o que te mandam!” Quando o doente é trazido, os discípulos se apavoram, dizendo: “Este é pior do que os de Gadara!” Eu Me levanto, ameaço os maus espíritos no rapaz e ordeno que o abandonem para sempre. Mais uma vez procuram perturbá-lo, mas em seguida saem do corpo dele em forma de inúmeras moscas, e ele volta à saúde plena.
Virando-Me para os empregados, digo: “Levai-o para o poço a fim de lavá-lo; dai-lhe roupa limpa e trazei-o aqui para com- partilhar do almoço.”
Assim foi. Quando ele se encontra em nossa mesa, todos os presentes e hóspedes se aproximam, admirando-se sobremaneira da cura rápida do filho de Zacheu, que por sua vez Me agradece com efu- são. O empregado principal, porém, Me diz: “Senhor, não és humano como nós, mas Deus Verdadeiro, que sempre será por nós venerado!” Nesse momento, os pratos são trazidos à mesa e começamos a almoçar.
Durante a refeição, muitos perguntam ao rapaz curado se du- rante a enfermidade também sentira dores. E ele responde: “Como posso sabê-lo? Estava como que morto, nada sentia ou sabia. Recordo-
-me apenas de um sonho permanente, no qual palestrava com criatu- ras boas em zona belíssima.” Os presentes se admiram dessa explicação e Zacheu Me pergunta como Deus podia consentir com tal situação.
Digo Eu: “Amigo, não vamos perder muitas palavras neste assunto. Em tais enfermidades, a alma se retrai no coração, não se apercebendo de que, às vezes, muitos espíritos maus e impuros ha- bitam no corpo, fazendo o que querem.
As obsessões são permitidas a fim de despertarem a ideia em coisas espirituais, em pessoas cuja fé em Deus e na imortalidade da alma está quase totalmente apagada. Deu-se isso convosco, de sorte que essa lição era necessária antes de Minha Chegada à tua casa.
Se Eu tivesse vindo antes, tua fé não seria tão positiva como agora; e se teu filho, do qual te orgulhas, não caísse nessa enfermi- dade, tua arrogância e altivez teriam feito de ti um verdadeiro de- mônio; a fé em Deus seria banida e considerarias os homens como puras máquinas, apenas de algum valor caso te servissem gratuita- mente, a fim de aumentar tua fortuna.
Quando teu filho favorito, e teu maior orgulho, adoeceu, teu sentimento modificou-se. Começaste a te lembrar de Deus, acredi- tando Nele de coração humilde. Contudo, procuravas ajuda com médicos, pagãos e judeus, gastando muito dinheiro. Quando perce- beste não haver facultativo, nem essênio ou qualquer feiticeiro que trouxesse ajuda, te encheste de tristeza, refletindo por que Deus, caso existisse, te procurava com tamanha desgraça.
Entregavas-te à leitura da Bíblia e percebeste serem tuas ações para com o próximo muito injustas, e prometeste a Deus reparar o mal praticado. Tais propósitos se tornando cada vez mais rigorosos, e sentindo que somente o Pai Poderoso no Céu seria capaz de te
auxiliar, Eu vim a esta zona e em breve ouviste de Minha Ação jun- to ao cego.
Tua fé em Deus tornou-se mais poderosa e viva, em virtude do testemunho dado por Kado e seu pai, não deixando dúvida de Eu não ser simples Profeta, senão o Próprio Senhor. Assim te tornaste apto à Minha Visita e Meu Poder, que salvou o teu filho. Refletindo a respeito, compreenderás por que permito vários males em corações onde ainda não se apagou a menor fagulha da vida celeste.
Criaturas inteiramente corruptas e astutas, não mais mere- cendo a menor advertência de Minha Parte, não são atingidas por meios regeneradores; o resultado seria nulo, aumentando a maldade dos perversos. Tais pessoas desgastam sua vida material aqui; e no Além as aguarda o próprio julgamento, quer dizer, a morte espiri- tual e eterna.
Será ajudado em tempo quem padece várias enfermidades e atribulações, com Meu Consentimento; a quem permito vida folga- da e orgulhosa, leva consigo sua condenação e morte eterna. Sabes, portanto, por que certos homens ricos e importantes podem come- ter suas atrocidades até o fim da vida.”
30.AMEDIDADOBEMEDO MAL
(O Senhor): “Determinei para este mundo uma certa me- dida, tanto no Bem e na Verdade, quanto no mal e na mentira. Quando a criatura tiver atingido a medida do Bem, através do zelo, cessam as tentações, passando ela de degrau em degrau ao aperfeiço- amento da Vida, até o Infinito, dentro da Luz dos Céus.
Tendo o maldoso completado a sua medida, as advertências se esgotam; a partir daí ele se aprofunda mais e mais na noite densa e no julgamento ígneo de sua existência sem vida, não recebendo de Mim maior consideração que uma pedra, na qual não se percebe vida, senão o julgamento e o eterno imperativo de Minha Vontade, que os antigos denominavam a ‘Ira de Deus’.
Quanto tempo necessita uma pedra dura até que seja amole- cida para um solo, infrutífero, por longo prazo — eis uma pergunta que nem um anjo mais perfeito e de posse da Luz Celeste mais subli- me poderá responder; pois isso só sabe o Pai, como Eu, Nele.
Quando muitas pessoas se encontram na medida plena de sua maldade, o tempo de sua ação impune é abreviado por causa dos poucos bons e escolhidos, de sorte a serem tragadas pela própria condenação e morte, como aconteceu em tempos de Noé, Abraham, Lot, Josué e ainda se repetirá.
O início será assistido pelos judeus, e posteriormente em ou- tros reinos com seus soberanos e povos; após dois mil anos incom-pletosviráomaiorjulgamento, geral, para salvação dos bons e perdição dos grandes egoístas.
Que aspecto terá e qual seu efeito, foi por Mim revelado a todos os presentes discípulos, que o transmitirão aos povos. Fe- liz aquele que considerar tal advertência e modificar sua vida para não ser atingido pelo julgamento. Meu amigo Zacheu, sabes o que deves fazer para a salvação de tua alma, e nós nos fartamos à tua mesa, por isto partiremos para Naim. Tenho que chegar lá antes do pôr-do-sol.”
Diz Zacheu: “Senhor e Mestre, unicamente Verdadeiro, esse local é bem distante e será difícil alcançá-lo ainda hoje. Talvez a ca- melo — a pé seria milagre.”
Respondo: “Deixa isto por Minha conta. Se fizemos o tra- jeto de Esseia para aqui num dia, sem camelos, muito mais fácil chegarmos a Naim, que fica próxima. Desejas no íntimo Eu ficar até amanhã; sei melhor do Meu programa e tenho que agir não a gosto do Meu Físico, mas segundo a Vontade de Quem habita em Minha Alma. Assim, tenho que chegar naquela localidade antes do anoitecer.
Lembra-te de Minha Doutrina, aplica-a com rigor, que vive- rás na Luz de Deus. Quando souberes que os fariseus Me prende- ram, a fim de matar este Meu Corpo — o que será permitido para aniquilamento deles, mas também para a ressurreição de milhares de
mortos que padecem nas tumbas de sua falta de fé e superstição, não tendo vida espiritual — não te aborreças nem fraquejes na fé; pois no terceiro dia ressuscitarei e procurarei todos os Meus Amigos para dar-lhes a Vida Eterna.
Sobre Meus inimigos cairá a condenação para seu aniqui- lamento, o que será visto por muitos. Sabes, portanto, como por- tar-te. Acabo de te emprestar um talento; administra-o bem para quando Eu voltar Me seja devolvido com juros. Por ora recebeste pequena incumbência, e te será dada maior; pois quem é fiel com pequena dádiva, sê-lo-á também com maior.” Após essas Palavras, abençoo a família de Zacheu e sigo caminho com Meus discípulos.
31.AALDEIAPAGÃCOMOTEMPLODE MERCÚRIO
Havia muita gente na rua ansiosa para Me ver, pois ouvira o que sucedera em casa de Zacheu. Como centenas de pessoas fizessem menção de acompanhar-Me, paro e lhes recomendo voltarem ao lar.
Entre o povo estava uma mulher que há vários anos sofria de hemorragia, sem encontrar cura em parte alguma. Ela toca a Minha Túnica na convicção de ficar boa, curando-se no mesmo instante.
Para dar uma prova aos discípulos e demais presentes, per- gunto: “Quem Me tocou neste momento? Percebi que projetei uma Força poderosa.”
Respondem eles: “Foi essa criatura impertinente.” Assustada, ela se atira a Meus Pés, crente de receber castigo. Digo-lhe, pois: “Levanta-te e volta ao lar, pois tua fé te ajudou. Não peques mais, caso desejes continuar com saúde!” Louvando o Poder de Deus, ela se afasta e seguimos pela estrada que levava a uma zona deserta, completamente livre de viajores. Assim, pudemos fazer o percurso de dez horas em meia hora, e atingir uma localidade habitada por judeus, gregos e babilônios imigrados.
A aldeia era possessão grega e em seu centro estava um tem- plo numa colina, onde se venerava o deus Mercúrio. O Templo de Jerusalém tolerava tal veneração pagã mediante considerável tributo
e permitia aos moradores fazerem oferendas durante um ano, pas- sado o qual a taxa era novamente paga. Precisamente este dia era dedicado a Mercúrio e os gregos estavam em festa. Chegando ali, somos convidados a curvar os joelhos perante o ídolo, como prova de cortesia.
Digo Eu: “Pagãos cegos! Seria preferível curvardes os joelhos e corações perante o Verdadeiro Deus dos judeus! Esse ídolo morto e impotente é obra de mãos humanas, portanto menos importante do que uma simples plantinha de musgo. Deus Único e Verdadeiro criou Céus e Terra e tudo que comporta. Por isto, devem as criatu- ras crer e adorar somente a Ele e não manter ídolos venerados com cerimônias tolas e desonrosas.”
Obsta um grego: “Tão logo chegarmos a Jerusalém, não nos oporemos a curvar os joelhos diante de vosso Deus, embora saiba- mos não haver no Templo de Salomon a imagem de uma Divinda- de. Têm os judeus apenas uma arca, da qual em determinadas épocas surge uma chama de nafta, considerada tão santa que somente pode ser vista e adorada pelos maiorais da casta. Sabemos igualmente ter sido aquele móvel feito por mãos humanas, assim como esse nos- so ídolo. Como queres provar ser unicamente o Deus Judaico o verdadeiro?
Segundo me parece, não temos motivos para recriminações recíprocas! Honramos em nossos deuses os símbolos das forças di- versas da Natureza, o que é mais razoável que vossa adoração de um traste velho, inclusive a edificação do Templo. Se vos convidamos a curvar os joelhos diante da figura de Mercúrio, não era com in- tenção de influenciar-vos e induzir-vos a um pecado contra vosso Deus. Se tu e teus colegas fordes capazes de nos provar, não obstante minhas bases racionais contra o axioma proferido de vossa parte, ser apenas vosso deus o verdadeiro, estaremos dispostos a aceitá-lo!”
Digo Eu: “Amigo, tal prova vos poderá ser dada sem exigir- mos que vos curveis diante de nós. Apenas estabeleço uma condição que sereis obrigados a cumprir, tenha ela resultado ou não. Se obti- verdes êxito, curvaremos os joelhos diante de Mercúrio, prosseguin-
do como judeus. Não podendo cumprir a condição estabelecida, dar-vos-ei a prova flagrante de ser o Deus dos judeus o Único e Verdadeiro, levando-vos a renunciar aos ídolos preciosos para cur- var-vos perante Jehovah.
Eis a condição: Ontem e hoje venerastes Mercúrio com ofe- rendas no templo, de sorte a se supor esteja ele bem intencionado para atender qualquer pedido. Nos degraus do templo está sentada uma menina de doze anos, cega de nascença. É muito amada dos pais abastados, que tudo fariam para lhe dar a visão.
Dirigi-vos, todos, ao vosso deus neste sentido, pois tais ce- gos só podem ser curados por Deus Onipotente. Se o vosso a puder curar, ele será por nós venerado; não o conseguindo, Eu a curarei pelo Poder do Espírito de Deus, em Mim, e farei, deste ponto onde Me encontro, desaparecer o templo e seu ídolo, a não deixar vestí- gios! Cumpri, portanto, a condição!”
Diz o pai da menina: “Amigo, faremos a tentativa, tantas vezes empreendida sem o menor êxito. Mas, que será, caso o teu deus finalmente não atender o teu pedido?” Respondo: “Seremos vossos escravos até o fim da vida! Agora, fazei o que propus!”
32.ACURADE ACHAIA
A essas Minhas Palavras, os gregos se dirigem ao ídolo e começam a bradar suas súplicas durante meia hora, sem o menor resultado. Quando terminam, o grego se aproxima de Mim e diz: “Amigo, como vês, nosso esforço foi baldado! Chegou tua vez de cumprir tua promessa. Se fores feliz, seremos judeus para sempre!”
Digo Eu: “Vai buscar tua filha e te assegura de sua cegueira. Só então abrirei os seus olhos.” Todo contente e certo da cura de sua filha, ele a entrega a Mim com as palavras: “Eis a ceguinha, meu amigo, queira abrir-lhe os olhos com a ajuda e o poder vivo de teu deus!”
Virando-Me para a menina, pergunto: “Achaia, queres ver a luz e todas as maravilhas da Terra?” Responde ela: “Ó Senhor, seria
sumamente feliz e haveria de amar-te mais que tudo no mundo! Dá-me a visão!”
Dirijo o Meu Sopro a seus olhos e digo: “Achaia, quero que vejas e jamais voltes a ser cega!” Assim se dá. A menina e os pais tão felizes estão, a não saber como agir. Após alguns minutos, ela e toda a família se ajoelham perante Mim, e Achaia exclama: “És mais que todas as criaturas da Terra, Senhor! Tu Mesmo és Deus Único, não somente dos judeus, mas de toda a Humanidade! Serás amado e venerado toda a minha vida!”
Digo Eu: “Achaia, que ideia, Me considerares Deus? Não vês que sou humano como qualquer um?”
Responde ela: “Sim, externamente; Teu Interior é pleno da Força Divina, ou seja, o Próprio Deus! Além disto, não afirmaste: ‘O Deus judaico te dê a visão!’ Mas: ‘Quero que vejas!’ E assim foi. Ajudaste-me com Teu Poder puramente divino e por isto Te ofereço todo amor e veneração profunda!”
Enquanto ela e todos os demais Me observavam com vene- ração e respeito, faço desaparecer, pelo Poder de Minha Vontade, o templo e o ídolo, dizendo aos gregos: “Assim fiz porque acabastes de encontrar Deus Único e Verdadeiro. Procurai vosso templo.”
Todos se viram, mas não conseguem afirmar onde tinha sido o local, pois Eu também havia exterminado a colina. Ainda mais convictos do Meu Poder, os gregos indagam como deveriam agir para merecer tamanha Graça. Eu os doutrino em poucas Palavras, aceitas de boa vontade, e em pouco tempo criou-se uma Comuni- dade com Meu Nome.
33.ARESSURREIÇÃODOJOVEMDE NAIM
Incontinenti partimos, porquanto o Sol estava prestes a de- saparecer, e dentro de uma hora chegamos a Naim. Subentende-se que os gregos convertidos nos acompanhem, de sorte a formarmos uma caravana.
Nota: Dá-se uma ocorrência mui semelhante à do primeiro ano da doutrinação em Naim na Galileia, sendo esta na Judeia; por- tanto, não devem ser confundidas.
Ao entrarmos no portal da cidade, aproxima-se um féretro, em companhia dos familiares do morto, filho único de uma viúva, completamente desconsolada. Como esperava nossa passagem, Eu Me aproximo dela, digo-lhe palavras de conforto e pergunto quanto tempo o filho estava morto.
Diz ela: “Senhor, não te conheço, mas me sinto conforta- da com tua manifestação de pesar. Quem te disse ser o falecido meu filho?”
Respondo: “Isto sei de Mim Mesmo e dispensa informação.” Diz ela: “Neste caso, também sabes quando morreu.”
Digo Eu: “Exatamente. Há três dias sucumbiu de febre vio- lenta. Se tiveres confiança, poderei vivificar e devolver-te o filho!”
Diz a viúva: “Senhor, tuas palavras deram alento ao meu co- ração — mas um morto só poderá ressuscitar no Dia do Juízo! Tal- vez sejas profeta dotado do Espírito de Deus e de Seu Poder?”
Digo Eu: “Isto saberás à noite, porquanto ficarei em tua tavo- lagem. Abri o caixão, pois quero devolver o rapaz à triste genitora!”
Os familiares obedecem, Eu Me aproximo, tomo a mão do defunto e digo: “Jovem, quero que te levantes e sigas com tua mãe!”
A Minhas Palavras ele se levanta, e uma vez livre das tiras que os judeus costumavam envolver nos defuntos, sai do esquife, são e forte, e Eu o entrego à mãe sumamente admirada.
Esse milagre provoca verdadeiro pavor — até mesmo entre Meus apóstolos — a ponto de alguns fugirem, outros não conse- guem proferir palavra. Mando os carregadores levarem dali o caixão, para que mãe e filho possam agradecer alegremente a Graça recebida.
Quando a recordação da morte é afastada, os gregos come- çam a dizer: “Isto só é possível a Deus!” Os judeus, porém, obstam: “Sim, somente Deus é capaz de tais milagres; Deus, no entanto, é puro Espírito, e ninguém O poderá ver e continuar vivo. A este homem vemos sem morrer, por isto deve ser apenas profeta excep- cional, detentor do Espírito Divino, entretanto não é Deus.”
Respondem os gregos: “Se afirmais que somente Deus po- deria operar tal milagre, e tal homem, apenas quando de posse do Espírito Divino, vossas palavras confirmam que Este só pode ser Deus Mesmo. Louvando-O e honrando-O como Deus Verdadei- ro, estamos mais perto da Fonte da Verdade, da qual surgem Luz e Vida, do que vós.
Há algumas horas éramos pagãos, quando esse Homem Di- vino deu a visão à filha de nosso amigo e também dizimou o tem- plo pagão, a não deixar vestígios. Agindo desse modo pelo Poder Divino, é ipsofactoDeus Mesmo, e não necessita pedir ao Deus Onipotente, porquanto O é em Pessoa.”
34.POLÊMICAEMTORNODAPESSOADO SENHOR
A essa explicação bem fundada, retruca um rabi da comarca: “Como pagão de escassos conhecimentos das Escrituras, é impos- sível contradizer-te; outras fossem tuas noções, e teu critério seria diverso. Vê, sempre que Deus Se servia de uma criatura devota para beneficiar os semelhantes, só poderia agir dentro da Vontade Divi- na. Um dos nossos grandes profetas se dirigia ao povo como se fosse Deus Mesmo, pelo que os judeus o repreendiam.
Um exemplo te esclarecerá. Assim diz Isaías, no começo do 42º capítulo, no qual certamente fazia alusão a este homem: ‘Eis o Meu servo, a quem sustenho; é Meu Eleito e Minha Alma Nele Se
apraz. Dei-Lhe o Meu Espírito, trará Justiça entre os gentios, não clamará nem elevará sua voz, nem se ouvirá sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio fumegante. Ensinará a cumprir a Justiça na realidade. Não será aborrecido nem apavorante, a fim de estabelecer o juízo sobre a Terra.
Assim falo Eu, o Senhor, que criou e estendeu os Céus, que fez a Terra e sua flora. Que dá a respiração ao povo que nela habita e o espírito aos que o consideram. Eu, o Senhor, chamei-te com justiça, tomei-te pela mão, protegi-te para conserto do povo e para luz dos gentios. Terás de abrir os olhos dos cegos, libertar os presos dos cárceres que jazem nas trevas. Eu, o Senhor — eis o Meu Nome
não darei Minha Honra a outrem, nem Minha Glória a qualquer ídolo. Previno-vos das coisas que virão revelando-vos novidades; an- tes que venham à luz, vo-las faço ouvir.’
Vê, grego inteligente, assim falou Deus pela boca de Isaías, dando impressão de ser o Próprio Senhor. O mesmo acontece ainda hoje. Este homem milagroso nada mais é que o por Deus anunciado servo, Seu eleito para a salvação dos pagãos.
Por isso Deus o coroará com a maior glória e o fará rei de to- dos os povos pelo inédito poder conferido. Todavia, é e será apenas humano. Assim julgam judeus entendidos nas Escrituras. Vós, ha- bituados a divinizar todo fenômeno, facilmente o considerais deus pelos fatos inéditos. Estou certo de que nem ele mesmo poderia provar coisa diversa.”
Responde o grego: “Podes ter razão dentro do critério mun- dano. Acontece ter o referido profeta falado de outro modo em seus inúmeros capítulos, que provam a veracidade de meu critério.
Diz literalmente: ‘Um menino vos nasceu, um filho se vos deu, cujo domínio ele suporta nos próprios ombros. Seu nome é: Maravilhoso, Conselho, Força, Herói, Deus, Eternidade, Pai, Prín- cipe da Paz.’ Como explicas esse testemunho do profeta?!”
Não sabendo responder, o rabi procura despistar: “Esse pro- feta é muito incompreensível e oculta suas profecias, não sendo pos- sível concluir-se exatamente.”
Diz o grego: “Estranho teu critério, quando o menino e o filho cujo nome foi abertamente pronunciado aqui Se encontra em Pessoa! Como homem é servo, no qual Deus sente Sua máxima Ale- gria, porque Nele habita em plenitude. O corpo é o servo; a alma, Deus de Eternidades. Como pagão estou mais perto da Verdade que tu com toda sapiência farisaica.” Aborrecido, o judeu se afasta, en- quanto Me viro para os apóstolos: “Tivestes outro exemplo de como a Luz será tirada dos judeus e entregue aos pagãos. Há pouco esses gregos eram servos do paganismo, e agora estão muito acima dos judeus convencidos! Alegrai-vos que assim seja! O trono de David será erigido entre pagãos!”
Novamente a viúva se atira aos Meus Pés e diz: “Senhor, somente agora se me abriram os olhos, pois és o Messias Prometido! Perdoa nossa cegueira!”
Digo Eu: “Levanta-te, segue para casa com teu filho e pre- para uma ceia para nós; pois hoje ficaremos em teu albergue.”
35.MOTIVO DEPROVAÇÕES E MOLÉSTIAS
Como o Sol já tivesse desaparecido, digo aos gregos: “Depen- de de vós ficardes à noite em Naim ou voltar à casa, pois em nada sereis prejudicados.”
Responde o grego, pai da ceguinha e delegado da vila: “Se- nhor de Eternidades, as acomodações são boas. Calculo contar- mos umas cem pessoas, que com Tua ajuda poderão abrigar-se em casa da viúva. Portanto, ficaremos à noite contigo, ainda que em nossos lares se desmorone a segurança material. Uma Palavra de Tua Boca vale mais que todos os tesouros do mundo e o pró- prio Cosmos.”
Digo Eu: “Então ficai, que do resto cuidarei. Em Verdade vos digo: Quem no futuro não tiver vossa compreensão e fé dificilmente herdará o Reino de Deus! Se continuardes no coração Comigo, Eu fi- carei convosco, ajudando-vos espiritualmente; e quem Me contar em seu meio jamais passará por privações e necessidades físicas e psíquicas.
Necessidades, miséria e sofrimentos Eu apenas permito quando as criaturas se afastam completamente de Mim, tornando-se em parte servos ignorantes e tolos de ídolos, e em parte materialistas, egoístas e ateus. Aflições e necessidades obrigam as criaturas a refle- tirem acerca das causas, despertam invenções e perspicácias, fazendo surgir homens inteligentes e prudentes. Em breve abrirão os olhos aos semelhantes e lhes demonstrarão as causas da miséria geral, ins- tigando-os a abandonarem as barreiras do ócio para se prepararem na luta contra os indolentes poderosos, que tiranicamente regem os povos por eles ludibriados e propriamente fundadores da miséria mundial. Geralmente são dominados durante rebeliões sangrentas, ou então afugentados ou obrigados a darem leis, sob as quais os povos consigam subsistir. À medida que os homens retornam ao Deus Único e Verdadeiro, felicidade e abastança surgem entre eles. Se nunca virassem as costas para Deus, não cairiam em provações e sofrimentos.
Se, portanto, também vossos descendentes ficarem Comigo pela fé e ação como ensina o Meu Verbo, não haverá miséria a ser su- portada. Até as moléstias não vos farão temerosos e vacilantes, pois são apenas consequências amargas do não cumprimento de Meus Mandamentos claramente expressos.
Quem os cumprir desde sua mocidade não necessitará de médico até a idade avançada, conforme sucedia entre os povos an- tigos, fiéis a Deus. Bastava excederem-se seus apetites para surgi- rem moléstias graves, ensinando-lhes os efeitos do menosprezo das Leis Divinas.
Se o homem entende a construção de u’a máquina artística, saberá usá-la de modo a não se estragar e se tornar imprestável. Se o inventor demonstrar ao comprador as instruções que garantem uso contínuo do maquinismo, ele terá que segui-las estritamente. Leviandade e teimosia do comprador não permitindo o uso normal da máquina, será ele o único responsável se ela se tornar imprestável.
Deus é o grande Mestre do corpo humano, por Ele artisti- camente organizado para apropriado uso. A alma servindo-se dessa
máquina viva dentro do conselho recebido pelos Mandamentos de Deus, o corpo continuará em saúde perfeita; se ela com o tempo se tornar preguiçosa, sensual e desconsiderar as Leis do Grande Mes- tre, será responsável pelas perturbações físicas. Creio que todos Me compreenderam e podemos entrar no albergue.” Os gregos exultam com Meu Ensinamento claro e os apóstolos constatam o mesmo.
36.MOTIVODEOSENHORVISITARA VIÚVA
Quando a viúva vê a aproximação, inclusive dos gregos, ela se aflige por não estar prevenida. Eu a tranquilizo, dizendo que a refeição daria para todos. Ela crê, e nós nos saciamos com tudo.
Começam então a se admirar, mormente a viúva, que sabia para quantas pessoas se havia preparado; entretanto, três vezes mais se nutriam durante uma hora, sem perceber-se que as travessas se esvaziavam e os próprios cântaros pareciam encher-se de novo.
Finalmente, a viúva e seu filho se aproximam de Mim e ela diz: “Senhor, agora sei Quem Se dignou entrar em meu albergue! Tinham razão os gregos demonstrando seu conhecimento ao rabi pretensioso. Afastou-se e não voltou, conforme seu hábito de chegar aqui à noite. Desejo apenas saber de Ti, Senhor, por que me achaste com mérito de tamanha Graça!”
Digo Eu: “Conheço-te desde o berço e sei que muitos po- bres agradecem sua vida ao teu bondoso coração. Por isso, vim no momento de maior necessidade. Já és idosa e fraca, e teu filho único deveria ser teu arrimo; entretanto, adoeceu e morreu. Vendo tua grande dor e necessidade, sabendo da futura miséria dos pobres que perderiam sua subsistência em tua casa, aqui vim para socorrer a todos, milagrosamente.
Eis o motivo principal de Minha Presença! Em Verdade digo a todos: Quem com amabilidade praticar misericórdia e amor aos necessitados encontrá-los-á Comigo. O Verdadeiro Reino de Deus, que ora vos procura em Minha Pessoa, consiste no vosso amor acima de tudo para com Ele, e ao próximo como a vós mesmos. Quem isto
fizer cumprirá a Lei total e se encontrará na Graça plena de Deus, e a Mão de Jehovah o abençoará. Prosseguindo em tal amor, estará Comigo e Eu com ele, possuindo a Vida Eterna, e jamais verá e ex- perimentará a morte; pois já em vida se tornou merecedor cidadão do Reino de Deus, onde não existe morte. Considerai isto e agi de acordo. Vim expressamente a este mundo a fim de entregar às cria- turas o verdadeiro Reino de Deus e libertá-las de toda cegueira e da morte de sua alma, que até então as prendia. Caso alguém de vós deseje orientação maior, poderá fazer perguntas.”
Eis que se manifesta o ressuscitado e diz: “Senhor da Vida, encontrava-me morto e Tua Graça me fez ressuscitar. Porventura jamais morrerei, seguindo fielmente Tua Vontade? A morte é terri- velmente penosa e não quero passar pela mesma experiência. Uma vez morto, nada se sente, e todo medo e pavor se dissipam pela falta de consciência. Mas, até chegar-se a esse estado, o sofrimento é hor- rível! Por isto Te peço, Senhor da Vida, não permitires a minha, nem a morte de todas as boas criaturas!”
Digo Eu: “Meu caro filho, acabei de explicar que as que em Mim crerem, Me amarem acima de tudo e ao próximo como a si mesmas não verão, não sentirão, nem experimentarão a morte. Como poderia morrer quem possui a Vida Eterna através do Meu Verbo? Afirmaste ser, de certo modo, boa a morte pela falta dos sentidos; tal, porém, não se dá. Sabiamente ordenei que não tivesses recordação daquilo que tua alma passou durante o afastamento do corpo, pois a recordação de seu estado no Paraíso, feliz entre inú- meros anjos, e quão triste ficaste pela informação deles de que, pela Vontade de Jehovah, terias que retornar ao corpo, não te proporcio- nariam a alegria atual. Poderia fazer voltares à plena recordação, caso o quisesse; todavia, não te prestaria favor, porque serias inteiramente inepto por vários anos neste mundo, em que muito terás que fazer.
Em idade avançada chegará a hora em que chamarei tua alma; então, anteciparei a recordação dos três dias que passaste no Paraíso dos Meus anjos e tu mesmo Me implorarás, de joelhos, para libertar tua alma do corpo frágil.
Naturalmente, ele terá que morrer mais uma vez e para sempre, sem a menor sensação de vida; tu, porém, continuarás na consciência perfeita de teu ‘eu’, tornando-te cada vez mais feliz pela evolução gradativa de sabedoria e amor, junto de Meus anjos, e re- conhecerás mais profundamente o Pai que mora dentro de Mim, admirando-te de Suas Criações infinitas e maravilhosas.
Assim é e será, portanto podes crer-Me; pois Eu, Quem te chamou novamente a esta existência terrena, o Amor eterno, Sa- bedoria, Poder, Força, Luz, Verdade e a Vida Mesma, acabam de fazer-te tal revelação!”
37.CONDIÇÕESPARAAREVELAÇÃOPESSOALDE DEUS
(O Senhor): “Por ora és obrigado a acreditar em tudo; tão logo tua fé se tornar viva pelas obras, passarás à visão, ao sentir e ao conhecimento absoluto, estado muito mais favorável à alma do que ela aceitar pela realidade através de estudos e pesquisas no campo experimental.
Todavia, não deixa de ter mérito a alma pesquisadora, pois todo trabalhador faz jus ao pagamento; melhor, porém, é deste modo, ouvindo a Verdade pela Boca de Deus, tornando-se crente e ativa. Unindo-se assim, pelo amor, ao Meu Espírito, em uma hora lhe poderá facultar conhecimentos muito mais luminosos do que por intermédio do estudo individual. Ainda assim, não deve a alma crente e devota pôr de lado certos estudos e pesquisas. Cada um deve analisar tudo o que lhe é transmitido pelos homens e conservar o Bem, sempre verdadeiro; mas o que por Mim Mesmo for revelador às criaturas não necessita análise; basta crer e agir, que o efeito real em breve nelas se manifestará.
Quem crer em Mim e fizer a Minha Vontade, amar-Me aci- ma de tudo e ao próximo como a si mesmo, receberá Minha Presen- ça e Eu Me revelarei. No futuro se dará o seguinte: Quem realmente ansiar por Mim, a Verdade Eterna, será por Mim instruído; pois Eu, a Verdade no Pai, sou qual Filho; o Pai é o Amor eterno em Mim.
Quem, pois, for atraído pelo Amor ou pelo Pai, chegará ao Filho, ou seja, à Verdade.
Eis por que é melhor aproximar-se de Mim pelo Amor, do que pela pesquisa da pura Verdade; pois com o amor se apresenta infalivelmente o espírito da Verdade, assim como a Luz se manifesta com o fogo, quando se eleva à chama viva; mas, alguém percebendo uma luz longínqua e procurando alcançá-la, levará muito tempo até lá chegar para se aquecer junto à chama viva da luz.
Quem realmente quiser encontrar Deus terá que procurá-Lo no próprio coração, quer dizer, no espírito do amor, onde se ocul- tam Vida e Verdade totais, e brevemente descobrirá Deus e Seu Rei- no — enquanto por outros meios será difícil e neste mundo, de modo algum.
Diz a Escritura que a criatura deve orar a Deus. Mas como, se apenas O conhece por ouvir falar e nem acredita na Divindade, e além disso nem de longe sabe o significado da adoração de Deus? Em orações labiais onde o coração não participa, Deus, o Próprio Amor Eterno e Puro, não pode sentir agrado.
Adorar a Deus quer dizer amá-Lo acima de tudo e ao próxi- mo como a si mesmo. Amá-Lo verdadeiramente é idêntico ao cum- primento de Suas Leis, ainda que em circunstâncias aparentemente difíceis, permitidas por Ele quando Seu Amor e Sabedoria acharem necessário para fortificação e prática da vida da alma, influenciada pela matéria. Somente Ele conhece a todas, sua natureza e particu- laridades, portanto sabe como ajudá-las a atingir o verdadeiro Ca- minho da Vida.
Deus é em Si o Espírito mais Elevado e Puro, por ser o Amor Puríssimo, e terá que ser adorado em Espírito e Verdade, sem interrupção, a vida inteira, como fazem todos os anjos no Céu, eternamente.
Se fosse a prece maquinal uma adoração justa e agradável a Deus, exigida de criaturas e anjos, seria Ele tão fraco e vaidoso como um fariseu orgulhoso e ignorante, querendo ser venerado por todos, a fim de dominá-los. Se fosse o homem obrigado a orar dia e noi-
te, sem interrupção, onde acharia tempo para o serviço necessário que suprisse a família?! Infelizmente, há entre judeus quantidade de tolos tais e sempre os haverá, adorando a Deus em orações quase in- findas, julgando ser esse o culto verdadeiro de Deus e de Seu agrado, quando tais tolices são acompanhadas por várias cerimônias.
Todavia vos digo: Onde se Me adorar e venerar desse modo, Eu imediatamente virarei Minha Face, jamais considerando tal ado- ração e veneração, e isto para demonstrar praticamente serem tais manifestações um verdadeiro horror para Mim. Jamais as consi- derarei, especialmente sendo praticadas por sacerdotes a troco de recompensa financeira, porquanto o orador fará tais preces sem fé nenhuma, enquanto o outro, a procurar auxílio, é preguiçoso para curvar seus joelhos perante Deus.
Amai, portanto, Deus acima de tudo e o próximo como a vós mesmos, fazei o Bem aos que vos prejudicam, orando deste modo pelos inimigos, os que vos odeiam e amaldiçoam, e não pa- gueis o mal com o mal — a não ser em caso de perigo, para levar um verdadeiro facínora ao caminho da virtude — que Eu consi- derarei tal veneração leal e viva com Agrado Paternal e Amoroso, não deixando de atender um só pedido. Uma prece maquinal, sem sentimento e fé completa, nunca será por Mim atendida. Demons- trei-vos o justo Caminho da Vida; agi dentro desses princípios, que estareis Comigo e Eu convosco.
Quem Me tiver no coração pelo amor a Mim, portanto pelo próximo, não caminhará na noite do julgamento e da morte da alma, mas no Dia claríssimo da Vida. Agora, dize-Me, Meu filho, se Me en- tendeste bem. Se assim for, agirás com justiça, recebendo a Luz plena.”
38.PREOCUPAÇÃODO JOVEM
Diz o moço: “Santo e eterno Mestre da Vida, assimilei e compreendi tudo, e tenho a impressão de que no meu coração já se fez a Luz. Por isso estou convicto que, pela aplicação de Tua Santa Doutrina, essa Luz aumentará. Permita, também, que todas as cria-
turas recebam a Luz do Teu Amor, podendo encontrar o Paraíso já em vida.
Percebo, porém, a treva densa em Jerusalém, com a qual tere- mos que lutar até atingirmos um Dia de Vida geral; pois, neste novo conhecimento, deparo o contraste terrível entre Tua Doutrina pura e as maquinações tenebrosas como Leis do Templo. Como enfrentá-
-las? Os sacerdotes têm o poder terreno em suas mãos e perseguem com fogo e espada todos os de crença e ação diversas. Quando aqui chegarem, encontrando-nos agindo dentro do Teu Verbo, teremos que dizer a Verdade, a fim de não nos apresentarmos diante de Ti como mentirosos? Senhor de Céus e Terra, queira aconselhar-nos. Ainda sou jovem, mas percebo que dentro em breve seremos perse- guidos pelos templários.”
Respondo: “Ora, Meu filho, acaso não sou mais Poderoso que o Templo, pelo qual também Eu sou perseguido a fim de Me matarem? Quem crer em Mim e confiar, socorrerei contra o poder ineficiente do Sinédrio. Acreditas?”
Diz o rapaz: “Senhor, perdoa meu fútil temor. Creio indubi- tavelmente. Tu, o Senhor Único e Eterno sobre vida e morte, saberás proteger os Teus contra o poder de todos os infernos, por mais que se esforcem na destruição do Reino de Deus na Terra, querendo implantar o da morte eterna.”
Digo Eu: “Por certo assim é. Acrescento mais: Sede no futuro meigos quais pombas, mas no mundo, precavidos como serpentes. Não quero que atireis, abertamente, Minhas Pérolas aos materialis- tas do mundo!
Caso fordes chamados à responsabilidade, Eu vos inspirarei e não haverá argumento contra vós. Dando-vos mais essa seguran- ça, cheios de coragem podereis enfrentar qualquer luta, em Meu Nome. Nesta época, a divulgação do Meu Reino entre os homens necessitará de violência, e quem o quiser atingir terá de fazer uso da mesma. A vitória certa não será difícil, porque Eu Mesmo darei todo auxílio aos lutadores pelo Meu Reino, como Herói mais Poderoso. Compreendeste?”
Responde o moço: “Senhor, com Tua Graça, tudo é facil- mente entendido. Junto à Tua Doutrina facultas, aos de boa von- tade, o entendimento certo, e igualmente a coragem de enfrentar e vencer todo inimigo na luta pela Verdade. Estive morto, e Tua Palavra Divina vivificou meus membros, obrigou o meu coração a pulsar de novo, e Tua Vontade Poderosa não deixou se esvaziarem travessas e cântaros.
Além disto, reconhecemos-Te, Senhor, como Deus Único e assim já recebemos a confiança absoluta em Tua Proteção. Seremos meigos quais pombos — a prudência frente aos inimigos não faltará com Tua Ajuda, Senhor!”
39.SENTIDOESPIRITUALDARESSURREIÇÃODOJOVEMDE NAIM
Após essas palavras profundas, que entre os apóstolos causam admiração, Jacob, o Maior, diz: “Senhor e Mestre, sabes que pou- co falo. Mas neste momento tenho ensejo de me expressar, se me permitires.”
Digo Eu: “Caro irmão, se não quisesse tua manifestação, teu coração estaria calmo. Querendo que fales, podes dizer o que te vai no íntimo.” Levantando-se, Jacob diz: “Há mais de dois anos Te seguimos por muitos lugarejos e cidades, tornando-nos testemunhas de inúmeros milagres, e também nos deste o poder de curar e afastar maus espíritos dos obsedados; em suma, levaria anos para relatarmos tudo e o intelecto humano não assimilaria o sentido. Essa Tua Ação em Naim me tocou especialmente e confesso sentir algo espiritual e profético. Em todos os Teus Ensinos e Ações se oculta sentido pro- fundamente espiritual para o futuro, e anseio por uma explicação.”
Digo Eu: “Julgaste bem, caro irmão Jacob, que desde o Meu Nascimento nesta Terra Me rodeou, portanto foi, é e será fiel teste- munha de todos os Meus Passos, Palavras e Ações no orbe. Realmen- te se oculta algo peculiar atrás desse milagre, todavia não é acessível ao intelecto humano de hoje.
Dentro de Mim vejo a Eternidade total, revelada, inclusive essa ação como fato consumado. Vosso espírito, ainda em adolescên- cia, não pode vê-lo e assimilá-lo.
Sendo tu profundo pensador, e sentindo que nada faço sem importância correspondente no Infinito e na Eternidade, posso su- prir-te com alguns indícios. Por várias vezes demonstrei o motivo de Minha Vinda a este mundo como Filho do Homem, referindo-Me aos profetas. Também expliquei minuciosamente o destino de Mi- nha Doutrina em tempos futuros, como Igreja fundada por Mim Mesmo. Em Jerusalém exemplifiquei tal fato com grandes sinais no Firmamento. Tal época final e mais tenebrosa — em que Minha Doutrina será desvirtuada num paganismo mil vezes pior que até hoje qualquer religião pura fora deturpada, na qual se construirão templos e altares a criaturas santificadas pelos sacerdotes, prestando-
-lhes veneração divina — corresponde a esse fato.
Declarei abertamente não ser o Meu Reino deste mundo, não vos competindo preocupações pelo dia de amanhã, mas unica- mente a incumbência da divulgação do Reino de Deus e Sua Justiça, sem ser exigido qualquer pagamento, aceitando apenas o que o amor vos der em Meu Nome. Recebestes tudo gratuitamente e assim de- verá ser passado a outrem.
Também vos aconselhei, e aos demais setenta discípulos que enviei a Emaús, a divulgação do Evangelho e que nenhum tivesse dois mantos, sacola e bastão para defender-se contra um inimigo, pois o Meu Nome, Minha Palavra e Minha Graça seriam suficientes para qualquer um.
Adverti abertamente que não deveríeis julgar alguém para não serdes julgados; igualmente evitai imprecações, condenações e perseguições, a fim de não passardes o mesmo. A medida aplicada vos será retribuída.
Deveis apenas orar pelos que vos odeiam e amaldiçoam, e fa- zer o Bem a quem vos procura prejudicar, e assim podereis aguardar o Meu Prêmio, juntando brasas nas cabeças dos inimigos, transfor- mando-os em amigos.
Ordenei-vos doutrinar, viver e agir sob a bandeira do amor ao próximo, real e vivo, e também vos assegurei de que se reconhe- cerá os Meus verdadeiros adeptos pelo amor ao próximo desinteres- sado. Essa não será a situação no futuro, mas precisamente contrária à Minha Doutrina revelada.”
40.SITUAÇÃOESPIRITUALDENOSSA ÉPOCA
(O Senhor): “A verdadeira fé e o puro amor estarão inteira- mente extintos. Em seu lugar, os homens serão obrigados a aceitar uma crença errônea sob leis de punição gravíssimas, assim como uma febre maligna impõe a morte ao corpo. E caso uma Comuni- dade, fortificada pelo Meu Espírito, levantar-se contra os doutrina- dores e profetas falsos e cobertos de ouro, prata e pedrarias, que se apresentam como únicos e verdadeiros seguidores e Meus represen- tantes, a fim de demonstrar-lhes serem precisamente o contrário — porquanto obrigam os fiéis a procurarem sua salvação e a Verdade somente junto deles — haverá tanta luta, guerra e perseguição como nunca houve entre os homens desta Terra.
O estado pior e mais tenebroso não durará por muito tem- po, porquanto os doutrinadores e profetas falsos aplicarão o golpe a si próprios. O Meu Espírito, quer dizer, o Evangelho da Verdade, despertará entre os aflitos, o Sol da Vida despontará num grande fulgor e a noite da morte se afundará na antiga tumba. Por di- versas vezes predisse essa época tenebrosa e apenas a ela Me referi para facilitar a interpretação da ocorrência de hoje com a situação posterior.
Esta pequena cidade, rodeada quase por todos os lados de vilas e aldeias pagãs, é ainda habitada por pequeno grupo de judeus; semelhantes aos antigos samaritanos, encontram-se no puro judaís- mo, sendo-lhes as leis do Templo um horror. Reconhecem as trafi- câncias do sinédrio, sem poderem reagir. Os vizinhos são pagãos que pouco ligam aos ídolos, mantendo apenas as aparências e ligando somente ao lucro material.
O mesmo acontecerá na época predita, naturalmente em grandes proporções. Subsistirá uma Comunidade pura semelhante a esta cidade, rodeada por criaturas completamente ateístas e ape- nas interessadas na indústria lucrativa; pouco interesse haverá pela Minha Doutrina pura e muito menos pelo paganismo depravado de Roma. Nessas circunstâncias, a situação da Comunidade pura tomará aspecto desolado e tristonho.
A Doutrina pura se assemelha à viúva entristecida, cujo filho ressuscitei, sendo ele a fé por Mim despertada. O filho morrerá de febre maligna, comparável à tendência do lucro material no qual ingressou também esse povinho, em virtude da mistificação mais absurda de Jerusalém; além disso, também pela completa ausência de fé dos pagãos, a circundarem o local e que mais tarde receberão a classificação de ‘industriais’.
Por causa disso tudo, sucumbe pela febre material a fé an- teriormente pura, conquanto nova, pois radicou-se há dezesseis anos por samaritanos imigrados, representando justamente o ma- rido da viúva.
Eis que venho Pessoalmente, converto os pagãos, trazendo-os aqui na noite mais triste da Comunidade, e vivifico a fé que devolvo à viúva, quer dizer, à pura Doutrina de Deus. Após essa Minha Ação virão todos os pagãos, para aceitar a fé ressuscitada em Deus Único e Verdadeiro, adaptando sua vida dentro de Sua Vontade revelada.
A menina cega a quem restituí a visão representa a indústria completamente cega da época referida, tão mesquinha e pobre, que os regentes orgulhosos e inclinados ao luxo exigirão impostos eleva- dos sobre as viúvas, surgindo daí carestia, miséria, falta de fé e amor entre criaturas, que se enganarão e perseguirão.
Todavia, lembrai-vos: Quando a aflição chegar à culminân- cia, Eu virei por causa dos poucos justos, e apagarei a miséria sobre a Terra e farei espargir Minha Luz de Vida nos corações humanos.
Assim, caro irmão Jacob, dei-te a explicação desejada e, como filósofo profundo, saberás descobrir o resto. Conquanto tais previsões do futuro funesto não trazem alegria à alma, não lhe pre-
judicam o exercício na interpretação espiritual, reconhecendo que todos os acontecimentos desta Terra têm íntima relação com o mun- do interno e oculto dos espíritos, que abarca todas as épocas e es- paços numa atualidade revelada. Teríeis, vós todos, compreendido o assunto?”
41.ADETURPAÇÃODADOUTRINA PURA
Respondem todos: “Sim, Senhor e Mestre, compreende- mo-lo bem; ainda assim, não assimilamos por que permites con- secutivamente uma noite espiritual após uma Revelação vinda dos Teus Céus.
Todos nós, que recebemos a Doutrina pura de Tua Própria Boca, passaremos a mesma, como testemunhas diretas de Tua Pre- sença e dos Milagres, tão pura como nos foi dada, e nossos seguido- res farão o mesmo. Caso alguém venha modificar o Evangelho, terás Poder para tapar-lhe a boca. Assim, não compreendemos a maneira pela qual poderia ser deturpado ao paganismo mais grosseiro.”
Digo Eu: “Certas coisas não podeis entender, enquanto Eu as entendo. Deste modo, teria muito a vos dizer e explicar, que todavia não sois capazes de assimilar e suportar. Mas quando espargir o Meu Espírito de toda a Verdade sobre vós, após Minha Ascensão, sereis por Ele levados ao conhecimento total, aceitando e compreendendo o que ora não podeis.
Prestai, pois, atenção ao que digo. Não se trata de um ensi- namento novo, mas de exemplos de sentido profundo, pelos quais percebereis o motivo por que não podeis assimilar muita coisa, não obstante Eu vos ter dado tantas explicações e provas.
Observai a luz do Sol em seu efeito variado sobre o solo, cria- turas, flora e fauna. Veem-se, no mesmo campo, ervas curadoras em meio de joio venenoso; de onde absorveu ele o veneno, pois recebeu os mesmos raios solares, cria raízes no mesmo terreno e é umedecido e vivificado pela mesma chuva e orvalho?
Isto provoca o elemento interior, que reverte luz e chuva em sua particularidade. Leão, pantera, tigre, hiena, lobo e outros ani- mais selvagens se nutrem da carne de irracionais de índole dócil, são aquecidos pelo mesmo Sol e saciam a sede com a mesma água de animais caseiros. De onde deriva a selvageria? Do próprio instinto, que reveste a meiguice em selvageria.
Observai a prole de casal abençoado. Todos os filhos se ali- mentam na mesa paternal, gozam a mesma educação e trato; en- tretanto, um é fisicamente forte; outro, fraco; o terceiro, alegre e diligente; o quarto, carrancudo e preguiçoso; o quinto é cheio de talento e aprende tudo com facilidade. O seguinte tem boa vontade, mas falta-lhe aptidão e lhe custa compreender as lições. Deste modo, percebereis grandes variedades naquela prole. Por quê? Não estaríeis dispostos a perguntar: Senhor e Mestre, por que permites isso? E qual seria a finalidade?
Responsável disto tudo é o espírito livre, e se assim não fos- se, não existiria liberdade do espírito, cuja tarefa se prende ao de- senvolvimento de um ser independente. Como e por que, já vos demonstrei em outras ocasiões, dando as explicações necessárias; entretanto, não assimilais tais coisas na justa profundeza, porque o Espírito Eterno da Verdade total e da Sabedoria ainda não penetrou e preencheu a alma.
Analisando esse exemplo, percebereis com facilidade como pode uma Luz claríssima provinda de Meus Céus ser transforma- da no pior paganismo, e Eu no final serei obrigado a permiti-lo, sem poder algemar o espírito livre no homem através de Meu Po- der e Força.
Seria de vosso agrado um planeta no qual todas as coisas se assemelhassem como dois olhos? Se as criaturas fossem semelhantes como são pardais, onde nenhuma seria mais sábia e mais forte que a outra? Penso que tal mundo de semelhança matemática em breve vos aborreceria. Não seria a mesma situação nos Meus Céus, caso lá não existissem variedades muito maiores?
Qual seria vossa opinião acerca de Minha Sabedoria se Eu tivesse dado a forma de ovo a todos os seres? Vedes, portanto, ser tudo bom e justo como é. Como já disse, não assimilais a razão de muita coisa; mas tempo virá em que tudo será compreendido. Va- mo-nos contentar com o que recebemos até agora.
Ainda se acham travessas e cântaros em cima das mesas, e convém tratarmos do físico. Em seguida, nos recolheremos para partir pela manhã. O Espírito do Pai nos indicará o caminho.”
Os gregos se admiram de Minhas Palavras e Me louvam com respeito. Entrementes, prossigo na ceia, no que sou imitado. Após terminarmos, a viúva manda nos preparar bons leitos, enquan- to os gregos continuam sentados.
42.TESTEMUNHODAVIÚVAEDOFILHO RESSUSCITADO
Ciente de nossa partida de madrugada, a viúva preparou o desjejum, ao qual nos convida quando entramos no refeitório. Per- cebendo que as mesas dos gregos não estavam prontas, viro-Me para ela, dizendo: “Eles não devem partir em jejum. Arruma as mesas, para verem Eu não somente dar o Pão da Vida aos judeus.”
De boa vontade ela se dirige à cozinha para preparar o desje- jum. Qual não é sua surpresa ao encontrar tudo feito, razão por que pergunta às serventes quem teria sido o autor.
Elas respondem: “Também estamos perplexas, pois aqui não veio pessoa alguma. Certamente é ação do profeta poderoso que on- tem ressuscitou o teu filho. Deus Se aproxima visivelmente de Seu povo e tais visitas sempre são seguidas por grande julgamento, caso os homens não se penitenciem.”
Diz a viúva: “Por certo tendes razão. Levai a refeição à mesa dos gregos, pois o profeta assim o quer.” A essas palavras da patroa, a milagrosa refeição é posta na mesa. Ela percebendo a admiração dos gregos, pretende relatar como fora preparada. Eu a interrompo, dizendo: “Haverá tempo para entrar em detalhes quando Eu tiver partido. Vamos almoçar!”
Meia hora mais tarde, nos aprontávamos para seguir viagem, quando se apresenta grande número de pessoas, vindo da cidade, querendo informar-se da ressurreição do moço, se era real ou apa- rente; pois já houve grandes feiticeiros do Oriente que na Judeia tinham ressuscitado várias pessoas. A nova existência, porém, era curta e na realidade era fictícia. A tais perguntas insistentes, a viúva Me pede conselho.
Digo-lhe, pois: “Manda teu filho falar-lhes pessoalmente, que terão melhor resposta. O rabi da comarca os influencia a essa medida, porque os gregos, ontem, expuseram-lhe entenderem eles melhor que ele, o profeta Isaías. As dúvidas dessa gente se dissiparão quando virem o teu filho.
Precavei-vos do rabi e dos fariseus. A fim de sustentarem sua afirmação perante o povo, procurarão matar o moço. Nunca os convideis para a mesa, tampouco aceiteis qualquer coisa por parte deles. Observai essa advertência, que Eu vos protegerei de todos os demais perigos.”
A viúva e o filho se postam à frente da casa e ela diz aos inqui- ridores: “Eis o meu filho, vivo e são. Foi evidentemente ressuscitado da morte pelo grande profeta pleno do Espírito de Deus. Avisai dis- to vosso rabi que fez correr boato contrário!”
E o moço acrescenta: “Sim, estou vivo e cheio de saúde. Segundo a promessa de Quem me ressuscitou, continuarei vivo e, cumprindo a Sua Vontade, jamais verei e sentirei a morte! Comu- nicai o milagre ao rabi, para também ele se tornar crente e feliz!” O grupo de pessoas começa a ter fé e algumas se revoltam contra aquele que as havia enganado. Entrementes, mãe e filho voltam junto de nós, satisfeitos pelo bom conselho.
Nisto, adianta-se o orador grego e diz: “Senhor, Deus e Mes- tre desde Eternidades! Estás pronto a nos deixar, Pessoalmente; por isto, pedimos que fiques conosco através do Teu Espírito Divino, dando-nos, vez por outra, uma prova de Tua Presença espiritual.”
Digo-lhe: “Assim será até o Fim dos Tempos desta Terra! Não somente uma prova, mas várias tereis de Eu estar em Espírito sem- pre em e entre vós. As provas certas e verídicas serão: Primeiro, Me amardes mais que tudo no mundo. Pois se alguém algo amar acima de Mim, não Me merece! Mas quem Me amar realmente estará em Mim e Eu com ele.
A segunda prova de Minha Presença será amardes o próximo tanto quanto a vós mesmos, por amor a Mim, pois não amando o semelhante visível, como poderíeis amar a Deus em Mim, não podendo vê-Lo? Conquanto Me vedes e Me ouvis, no futuro não Me vereis neste mundo. E, não Me vendo, acaso vosso amor será o mesmo como agora? Sim, entre vós o amor permanecerá; tratai, pois, que assim seja entre vossos descendentes. Quem Me amar no coração acima de tudo pela aplicação de Minha Vontade será por Mim visitado em Pessoa, e Eu Me revelarei espiritualmente.
A terceira prova de Minha Presença se manifestará pelo fato de receberdes tudo o que for pedido ao Pai, em Meu Nome. Suben- tende-se não Me pedirdes coisas fúteis e tolas; em tal caso provaríeis vosso amor mais forte às tolices do que a Mim, excluindo a possibi- lidade de Minha Presença.
A quarta prova de Minha Poderosa Presença vos garantirá as melhoras dos enfermos aos quais apuserdes as mãos, em Meu Nome
caso seja útil à salvação de sua alma.
Naturalmente, tereis que dizer no coração: Senhor, Tua Von- tade Se faça, e não a minha! — Não podeis saber se a melhora do físico seja de utilidade à alma, e além disso não há vida eterna no corpo! Por isto, não pode o passe proporcionar libertação de enfer- midade para todos. Todavia, não há pecado se manifestardes o amor
a todos os enfermos. Serei Eu o Salvador, se for a bem da alma, o que somente Eu saberei.
Sendo informados da moléstia de um amigo distante, orai por ele e mentalmente ponde vossas mãos sobre ele, que melhorará. A prece para tais ocasiões é a seguinte: Jesus, o Senhor, te socorra! Que te fortaleça e cure através de Sua Graça, Amor e Misericórdia!
Assim falando, cheios de fé e confiança em Mim, pedindo por um enfermo distante e mentalmente lhe pondo as mãos, ele sentirá alívio, se for útil para sua alma.
A quinta prova da Minha Presença será o renascimento espi- ritual, caso sempre fizerdes a Minha Vontade. Far-se-á o verdadeiro Batismo da Vida, porquanto o Meu Espírito vos cumulará e levará a toda Sabedoria.
Cada um deve almejar a quinta prova! Quem a alcançar terá conquistado a Vida Eterna e poderá fazer e criar o que Eu faço e crio, pois será uno Comigo! Eis as provas de Minha Presença; agi deste modo, que vereis o Meu Espírito junto de vós!”
44.AJUSTAVENERAÇÃODE DEUS
Diz, em seguida, o grego: “Senhor e Mestre! Desfrutando da felicidade, jamais suficientemente considerada, de conhecermos Tua Pessoa Divina e ouvindo de Tua Boca Santificada as Palavras da Vida, proponho a construção de uma casa na qual nos reuníssemos semanalmente, para nos orientarmos em Tua Doutrina e também estudarmos os profetas. Nos demais dias estamos mais ou menos ocupados e seria difícil determinar uma reunião. Seria tal medida de Teu agrado?”
Respondo: “Para que uma construção à parte se todos têm sua moradia, onde poderiam reunir-se em Meu Nome para orienta- ção na Minha Doutrina e especialmente para relatar as experiências feitas na aplicação da Minha Vontade? De igual modo é desneces- sário determinar certos feriados, imitando os fariseus que cognomi- naram o Sábado como Dia do Senhor; todos os dias são do Senhor,
podendo fazer-se o Bem diariamente. Deus não considera o dia e muito menos uma edificação construída em Sua Honra, mas apenas coração e vontade da criatura. Se ambos forem bons, estimulando o homem à ação, o coração se torna a moradia verdadeira e viva do Espírito de Deus no homem, e a vontade sempre boa e disposta na execução da Vontade Divina é o Dia vivo do Senhor. Eis a Verdade que devereis considerar constantemente. Todo o resto é fútil e sem valor perante Deus.
Futuramente, os homens construirão certas casas nas quais, como os fariseus no Templo de Jerusalém e os sacerdotes pagãos nos templos de ídolos, instituir-se-á culto religioso em dia determinado, acrescentando vários feriados importantes. Quando isto se tornar coi- sa corriqueira entre os homens, as provas de Minha Presença Viva se extinguirão. Em templos feitos por mãos humanas sob o título ‘Para maior Glória de Deus’, estarei tão pouco quanto no de Jerusalém.
Querendo construir uma casa por amor a Mim, que seja uma escola para vossos filhos, na qual também podeis incluir doutrinado- res do Meu Verbo. Assim também podeis edificar construções para pobres e enfermos com tudo que seja necessário ao seu tratamento, podendo estar certos de Meu agrado! Todo o resto é nocivo e, como já disse, não tem valor perante Deus. Numa escola bem organiza- da podeis manter reuniões e palestras em Meu Nome, dispensando outra casa.
A maneira pela qual deveis orar a Deus, em Espírito e Ver- dade, sem cessar, já vos demonstrei nitidamente e nada mais tenho que acrescentar. Delineei o caminho pelo qual chegareis à Verdade e Sabedoria totais. Segui pelo mesmo e procurai, antes de tudo, o Reino de Deus dentro de vós; o resto vos será dado por acréscimo.”
Todos se curvam e agradecem contritos por este ensinamen- to. O mesmo fazem mãe e filho, aos quais abençoo, e rapidamente partimos. Ao atravessarmos a cidade, muitos que haviam assistido à cura do moço correm ao nosso encontro, exclamando: “Salve, gran- de Profeta do Senhor! Em Tua Pessoa, Deus aprouve visitar o Seu povo em seu grande abandono. Louvor e Honra a Ele, Deus de
Abraham, Isaac e Jacob para todo o sempre! Profeta pleno do Espíri- to de Deus, não poderias permitir a alguns de nós te acompanharem para ouvir a Tua Doutrina, a fim de transmiti-la a outrem? Pelo pouco que ouvimos, deduzimos que és cheio de Sabedoria Divina, e desejávamos saber mais.”
Digo Eu: “Não é preciso. Querendo agir dentro de Minha Doutrina, basta cumprirdes os Mandamentos de Deus, dados por Moysés. Eu não vim a este mundo para revogar os profetas, senão confirmá-los e cumprir tudo o que consta em seus livros. Desejando maior orientação quanto à Minha Pessoa, ide ao albergue da viúva, onde se acham os gregos, que poderão relatar o que Eu disse.” De bom grado, seguem o Meu conselho.
45.ACARAVANADE SALTEADORES
No prosseguimento de nossa jornada para Jerusalém, fizemos uma grande volta pela Samaria e parte da Galileia, províncias em que Eu já era bastante conhecido e, às vezes, era abordado por enfer- mos, que recebiam a cura. Esse trajeto era pouco usado e podíamos nos locomover com a rapidez do vento, como sempre fazíamos em tais ocasiões. Quando, por volta de meio-dia, chegamos a Samaria, encontramos uma pequena caravana que de Jericó seguia para o Egi- to. O chefe para à nossa frente e pergunta, em grego, se este era o caminho certo.
Virando-Me para ele, digo: “Como podes ser guia, desconhe- cendo os caminhos?”
Responde ele: “Moramos além de Damasco e pela primeira vez encetamos essa viagem, por isto somos obrigados a pedir in- formação sobre o trajeto mais curto, o que se torna difícil, porque poucos conhecem o nosso idioma.”
Digo Eu: “Ouvi, é justo o viajante colher informações quan- to à estrada num país estrangeiro. O que não é admissível é tu nos
abordares sob esse pretexto, quando já fizestes o trajeto umas vinte vezes! O motivo se prende à suposição de termos tesouros, dos quais queres te apossar. Não temos o que supões, mas sim tesouros para alma e espírito, em quantidade, dados gratuitamente a qualquer um desejoso da salvação de sua alma!”
Algo perplexo, o chefe da caravana diz, ainda mais atrevido: “Como podes saber isto de nós, e quem nos denunciou?”
Respondo com energia: “Conheço a ti e teus setenta camara- das desde que nascestes. Teu nome é Olgon; preferes usar em cada local outro nome, bem como teus asseclas, a fim de poderdes fugir da responsabilidade. Assim, também não é vossa intenção viajar ao Egito. Soubestes da existência de um grande mercado em Jerusa- lém, e que dentro de quatro semanas será celebrada a consagração do Templo em Jerusalém. Em ambas as oportunidades pretendeis furtar algo de artigos e riquezas de forasteiros que lá costumam apa- recer. Entretanto, vos digo: Desta vez o resultado será péssimo!”
Cheio de raiva, o chefe retruca: “Querendo safar-vos ilesos, silenciai; pois juro com todos os deuses a pior vingança, caso souber de vossa traição. Vivemos do roubo sem sermos assassinos; pois se fôssemos criminosos, passaríeis mal.”
Respondo: “Se tu Me conhecesses, dirias: Senhor, sê condes- cendente e misericordioso com este pecador e perdoa-me os pecados; quero regenerar-me, fazer penitência e reparar o mal que fiz! — Não Me conhecendo, resolveste persistir no erro e juras vingança, junto dos deuses, não obstante seres judeu e sabedor das Leis de Moysés. Se fosses realmente grego, Eu não permitiria que tu Me abordasses. Como um filho de Jacob, dei-te oportunidade para te integrares na Verdade e nela descobrires uma presa para tua vida, muito mais pro- fícua que a inicialmente esperada.”
Diz Olgon, mais calmo: “Dize-me então quem és, para poder mudar de fala!”
Respondo: “Sou Alguém dotado de todos os poderes no Céu e na Terra e todas as coisas são sujeitas à Força de Minha Vonta-
de; pois Minha Vontade é a de Deus e Minha Força é Dele, regendo sobre todas as forças. Agora sabes Quem fala contigo!”
Diz Olgon: “Ora, como é isto?! Se tivesses todo poder no Céu e na Terra, serias maior que Moysés, os patriarcas e profetas; pois tinham eles apenas força reduzida. E tu terias essa totalidade?! Nunca se ouviu semelhante coisa de um ser humano, a não ser que fosse louco; no entanto, não dás essa impressão. Se realmente és tão poderoso, dá-nos uma prova, para podermos acreditar.”
Digo Eu: “Somente se podeis silenciar perante os judeus e fariseus, estiverem onde for; tais criaturas não devem receber a Luz dos Céus.”
46.CONFISSÃODOS SALTEADORES
Diz Olgon, acompanhado de alguns camaradas: “Claro que silenciaremos, pois somos os piores inimigos dos fariseus insaciáveis. Há tempos, éramos judeus honestos a serviço dos fariseus. Como fôssemos homens fortes e destemidos, explicaram as leis do amor ao próximo da seguinte forma: Consta ser proibido o roubo, furto e a cobiça de bens alheios — mas isto só se aplica aos judeus entre si. Quem fosse inteligente, corajoso e forte poderia roubar as riquezas dos pagãos, até mesmo com violência, e não haveria pecado perante Deus; pelo contrário, Ele teria apenas agrado com tal judeu astuto e inteligente, que roubasse os bens terrenos dos adversários de Deus, oferecendo uma parte ao Templo. Sem necessidade, não se deveria matar os pagãos, a fim de que não exterminassem, com suas leis tirânicas, os judeus oprimidos.
Aceitamos a voz dos fariseus como sendo de Jehovah e nos tornamos ladrões e salteadores, sem o menor escrúpulo. Dentro de nossa compreensão, fazíamos o mesmo que o grande David, obri- gado a exterminar os filisteus e outros povos pagãos a mando de Jehovah, no que certamente teve aprovação, porquanto o chamava de ‘o homem segundo o Seu Coração’.
Deste modo, julgávamos por muito tempo corresponder ao Coração de Deus. Quando percebemos que os próprios templários açambarcavam os bens dos judeus, as heranças de viúvas e órfãos, cometiam adultério, violentavam meninas e meninos etc., desisti- mos da crença em Deus e em Moysés e fizemos negócios particula- res, aos quais não fugiam judeus ricos. Disfarçamo-nos em gregos e romanos para podermos agir mais livremente. Sempre que fazíamos um assalto rendoso, os pobres recebiam o seu quinhão.
Com tua capacidade intuitiva, saberás que falo a verda- de e também terás a devida compreensão do porquê de nossa apostasia. Se, como enviado do Eleito de Deus, puderes nos dar uma prova de tua onipotência, podes estar certo que jamais te denunciaremos.”
Digo Eu: “Muito bem; como usastes de franqueza, vossa cul- pa recai sobre os fariseus, que deste modo terão maior julgamento. Perdoarei vossos pecados se desistirdes de vossa atitude condená- vel, procurando subsistência honrosa, e isto, tanto mais fácil porque já tendes fortuna, com a qual deveis fazer o Bem aos necessitados, judeus ou pagãos. Dando-Me tal promessa, darei provas daquilo que disse.”
Respondem todos: “Faremos tudo e prometemos seguir as Leis de Deus, ensinando nossos descendentes, caso Deus nos ajude!”
47.ATRANSFORMAÇÃODO DESERTO
Digo Eu: “Muito bem! Prestai atenção e não vos assusteis, pois nada vos sucederá. Vemos aqui várias mil fangas de solo are- noso, coberto esporadicamente de cardos e abrolhos ressequidos. É este deserto apenas prestável para uma trilha de animais, de difícil travessia.
Se Eu Me propuser a transformá-lo e fazendo doação para vós e vossos descendentes, ninguém será prejudicado. Fostes vós a habitar neste deserto em suas grutas e fendas, dele fazendo vossa mo- rada, o que é do conhecimento dos samaritanos limítrofes, inclusive
dos galileus e judeus de modo geral, de sorte a poderdes considerar esse terreno como vosso.
Antes de abençoá-lo em vossa presença, quero demonstrar-
-vos que sou também dotado de todos os Poderes e Forças celestiais; por isto, abri olhos, ouvidos e corações! Revelai-vos, Forças e Pode- res de Meus Céus, ocultos aos olhos humanos!”
Quando termino as Palavras, abre-se a visão interna de todos, percebendo inúmeras falanges de anjos e ouvindo um suave canto de louvor, cujo sentido não conseguem assimilar, e muitos seres lu- minosos descem junto de Mim, para adorarem o Meu Nome. Dian- te disto, os ex-salteadores se enchem de pavor.
Entretanto, lhes digo: “Por que vos assustais diante de Meus anjos, submissos a Mim para toda Eternidade? Somente Eu sou Se- nhor, Único, acima de tudo no Céu e na Terra, e não vos apavorastes quando Eu vos orientei!” Todos os ladrões saltam dos animais, ajoe- lham-se e pedem misericórdia.
A visão perdura durante um quarto de hora, em que ordeno aos anjos em prostração ao Meu redor para chamarem raio, vento e forte chuva, a fim de Eu poder, em seguida, transformar o deserto em terra fértil. Entrementes, a visão se desvanece, e em seu lugar a atmosfera se enche de nuvens pesadas. Não leva meia hora, quando do Sul surgem ventanias fortíssimas, a ponto de os ladrões, e até mesmo os Meus discípulos, Me pedirem não deixá-los perecer.
Protesto: “Por várias vezes assististes a fatos semelhantes e nunca vos sucedeu algo nocivo. Eu estando convosco — qual seria o poder que vos prejudicasse?”
Os discípulos se acalmam. Mais adiante existe uma gruta es- paçosa. Quando a tempestade aumenta, os raios caem aos milhares e a chuva desaba em torrentes, os salteadores se refugiam com os animais, enquanto Eu permaneço com os Meus no mesmo ponto, sem sermos atingidos por uma gota sequer.
O furacão dura apenas meia hora; entretanto, conseguiram os raios destroçar as rochas do deserto em uma massa lodosa de mais de um metro de espessura, enquanto a torrente preenchia fendas e
grutas, preparando-as para a lavoura. As demais crateras e precipí- cios foram nivelados pela Minha Vontade, de sorte que em pouco tempo o grande deserto é transformado em zona apropriada ao cul- tivo de trigo e vinho. A tempestade serenou, o céu está limpo e o Sol emite raios para um solo novo.
48.OSENHORABENÇOAO TERRENO
Nisto aparecem os ladrões acabrunhados, saindo da gruta por Mim não preenchida, e Eu chamo Olgon para perto de Mim. Ele se aproxima com mais alguns amigos e Eu pergunto: “Então, Olgon, acreditas ser Eu Aquele que Se apresentou por Mim?”
Respondem todos: “Senhor, não há a menor dúvida! Não és um enviado de Jehovah, mas Ele Próprio! Sê benigno e misericor- dioso para conosco, pecadores miseráveis e fracos!”
Respondo: “Já vos perdoei os erros, pelos quais os fariseus são culpados. Vossa consciência vos acusando de outros delitos contra a Lei de Moysés, reparai-os e, tão logo fordes perdoados, os Céus também vos perdoarão.
Alguém de sentimento endurecido não vos querendo per- doar, não vos aflijais; em tal caso, aceitarei vossa boa vontade como obra, enquanto o irreconciliável encontrará um débito em sua conta espiritual, pois Eu somente sou o Juiz sábio e justo que aplica a to- dos o veredicto eficaz.
Acabastes de receber por Mim um território fértil e não ha- verá um anjo, muito menos uma criatura humana, capaz de dispu- tá-lo; mas, como vedes, está ainda mais deserto do que dantes, con- quanto o solo recebesse extraordinária transformação. Resta saber como ireis cultivá-lo.”
Diz Olgon: “Oh, Senhor, segundo o meu plano, será muito fácil. Quando criaste a Terra através de Tua Vontade Divina, certa- mente não dispunhas de um estoque de sementes. És desde Eter- nidades o Mesmo e podes semear o terreno pela Onipotência de
Tua Vontade, que a zona deserta se transformará rapidamente em verdadeiro Éden!”
Digo Eu: “Então acreditais ser Eu capaz disto?” Responde Olgon: “Senhor, somente Tu és capaz de tudo! Acontecerá o que quiseres, e nós cumpriremos a Tua Vontade revelada por Moysés e os profetas. Mais uma vez pedimos que semeies a zona.”
Digo Eu: “Muito bem, será conforme acreditastes. Acontece ter tido vosso coração, razão e vontade o mesmo aspecto do deserto, e a completa ausência de religião produziu a dureza de sentimentos. Provoquei verdadeiro vendaval em vosso íntimo e amoldei o coração pela visão interna e os raios da Verdade de Minhas Palavras, atra- vés da Força de Minha Vontade e finalmente pela torrente de Meu Amor e Misericórdia. Deste modo fostes também semeados com a Verdade pela Boca de Deus, que vos trará frutos reais da Vida, caso ela for aplicada. Assim, recebestes em pouco tempo as sementes de vários frutos, para a Vida Eterna da alma e do corpo.
Sois ao todo setenta e se fordes percorrer essa zona em di- versas direções, havereis de encontrar igual número de habitações munidas de tudo, e na própria casa estará escrito o nome do dono. Dentro em breve tudo isso verdejará e florirá! Agora, ide analisar o que fiz.
Disseminai o Meu Verbo entre os pagãos que frequente- mente vos procurarão; por ora silenciai do milagre, e posteriormente não façais grande alarde. Basta dizerdes que para Deus tudo é possí- vel.” Com essas palavras Me afasto rapidamente com os discípulos e, antes dos salteadores convertidos se darem conta, já estávamos longe.
49. A NOVA COLÔNIA
Anteriormente, os setenta ladrões haviam dito, por intermé- dio de Olgon, que eles habitavam além de Damasco. Proferiram uma mentira, porquanto viviam com as famílias em covas e gru- tas dessa zona, de difícil acesso. Faziam assaltos, inclusive em Da-
masco, voltando sempre a esse esconderijo, que lhes proporcionava maior proteção.
Quando desaparecemos de súbito, eles se dirigiram para tal gruta, vasta e de difícil acesso, que fora poupada da tempestade, pois acolhia mulheres e filhos. Regressando os setenta homens, sem presa e após curto espaço de tempo, as famílias se assustam, tanto mais quanto a tempestade havia causado grande pavor. Eles então rela- tam o que sucedera tão milagrosamente e que haviam renunciado ao roubo, recebendo em compensação uma presa para a Vida Eterna da alma, através de um homem pleno do Espírito de Deus. Havia ele transformado o antigo deserto em Éden fertilíssimo, dando-lhes o mesmo como posse indiscutível, no qual em determinados pontos se encontrariam moradas organizadas com tudo, certamente obra daquele homem extraordinário.
Prontamente as mulheres querem ir à procura das casas; os maridos, no entanto, opinam ser isto apenas possível após decorri- dos três dias, porque fendas, valas e grutas estavam cheias de lodo, constituindo grande perigo. As mulheres concordam; no terceiro dia, porém, cada casal encontra sua casa. As habitações estavam de tal modo localizadas, a impossibilitarem sua descoberta pela estrada, fator mui favorável para evitar fossem molestados com perguntas inapropriadas.
Após algumas semanas percebia-se a Minha Bênção no an- tigo deserto, de sorte que viajores samaritanos e gregos começaram a perguntar quem teria sido o agricultor, e ninguém podia prestar informações. Os que o sabiam, ocultavam-se no início. Quando os frutos começaram a amadurecer, alguns samaritanos ali chegaram para resolver a quem deveria ser entregue o terreno, caso não hou- vesse proprietário.
Por isto, aproximaram-se Olgon e vários companheiros, dizendo: “Amigos, esse vasto deserto nunca foi posse de alguém, assim como a superfície marítima jamais teve dono. Como judeus perseguidos pelos fariseus, apossamo-nos das terras, e com Ajuda do Senhor de Céu e Terra, as cultivamos, e Ele Próprio nos fez doa-
ção das mesmas. Dispensai, portanto, vossa resolução neste ponto, pois já é posse de setenta famílias equipadas com tudo que seja necessário.”
Ouvindo tais palavras, os samaritanos quedam perplexos e em seguida se dirigem a um juiz romano que os acompanhava, se não tinham direito às terras pertencentes a Samaria. Responde o juiz: “Havendo um deserto sem dono, seja em que país for, e nunca um proprietário se tendo apresentado diante do delegado, tal de- serto é livre e entregue ao primeiro que se apresentar como dono. Esses homens, aos quais o solo árido deve seu cultivo, declarando-se proprietários, tal direito lhes assiste por lei.
Têm além disto o privilégio da isenção de impostos durante vinte anos. Prontificando-se espontaneamente a um tributo honroso para o Imperador após a colheita farta, desfrutarão de especial pro- teção por parte de Roma em qualquer questão difícil. Eu, juiz em nome do Imperador, assim falo e ordeno.”
Deste modo, compreende-se não haver quem disputasse a posse das setenta famílias. Dentro de poucos anos, a zona se tornou uma das mais férteis e admirada por todos os viajantes. Decorrido um ano, os donos se apresentaram ao pagamento do imposto hon- roso para o Imperador e foram declarados cidadãos romanos, o que lhes trazia grandes vantagens.
Essa comunidade manteve-se incorrupta e pura, não obstan- te tivesse que passar por grandes provas. Infelizmente, em épocas posteriores, essa zona mais bela da Samaria sucumbiu sob guerras e imigrações, voltando a ser deserta.
50.OSENHORNUMALBERGUEEM SAMARIA
No mesmo dia chegamos à cidade de Samaria e nos alojamos numa pequena tavolagem mais afastada, onde fomos muito bem acolhidos, porquanto o dono esperava fazer bons negócios. Os dis- cípulos, que desde cedo nada tinham tomado, estavam com bastante fome e sede, conquanto não se queixassem, como era de hábito.
Sentindo-o, dirijo-Me ao tavoleiro, dizendo: “Amigo, fize- mos longa marcha, durante a qual não nos alimentamos. O que poderias aprontar, rapidamente?”
Responde ele: “Sois quarenta ao todo e julgo que número correspondente de peixes, pães e copos de vinho seria suficiente.”
Digo Eu: “Manda preparar, sem demora, o dobro em peixes, pois são pequenos. Mas que sejam bem condimentados; entremen- tes, dá-nos vinho, pão e sal.”
Algo embaraçado, ele diz: “Não haveria dúvida, caso tivesse o estoque necessário de peixes e pão, pois não posso suprir-me à vontade em virtude da localização um tanto afastada, não merecen- do grande procura. Vinho tenho de sobra, de sorte que trarei o que tenho. Nem Deus poderia exigir mais de uma criatura.”
Digo Eu: “Certo; acontece que teu estoque de peixes é maior do que afirmas! Nada receies e manda preparar a quantidade desejada!”
Solícito, o hospedeiro manda trazer pão, vinho e lâmpadas ao refeitório, pois já era noite. Ele se junta a nós com a assertiva de que dentro de meia hora tudo estaria pronto. Observa-nos com atenção, sem saber nossa procedência, pois alguns de nós andam de vestes gregas, outros de vestes judaicas, e alguns de galileias, como Eu. Não contendo sua curiosidade, ele se dirige ao discípulo mais próximo, isto é, a Thomaz, e diz: “Permita-me uma pergunta.”
Interrompe este: “Lá está o Senhor, que saberá dar melhor resposta. Todos nós somos Seus discípulos e servos de Sua Vontade.” Virando-se para Mim, o homem prossegue: “Senhor, perdoa-me o atrevimento. Desejo saber quem sois e qual vosso ramo de negó- cio. Não sois comerciantes, porque não trazeis mercadorias; artistas ou adivinhos também não sois, a julgar pela simples apresentação. Além disto — como podeis saber do meu estoque mais vantajoso de peixes que de pão? Em suma, vossa chegada em meu albergue, raramente procurado, é algo estranho!”
Respondo: “Hospedeiro curioso! Quando nos tivermos sa- ciado, Eu te direi quem somos. Trata primeiro da refeição e traze
mais vinho e pão, pois a ração foi pequena.” Ele nos supre com mais fartura e Eu lhe digo: “Parece que o pão melhorou e também au- mentou de tamanho. Como é possível?” (Eu bem sabia, e fiz a per- gunta apenas para ele dar pelo fato). Não sabendo o que responder, ele prova o pão, que lhe parece estranho, e confirma o bom paladar.
Após algum tempo, ele conjectura: “Sei de tudo que se passa em minha casa, mas ignoro onde minha mulher comprou esse pão especial, que deve ter custado bom preço.” Prontamente ele chama a dona da casa que, atônita, jura não saber de sua origem. O mesmo fazem os serviçais.
Virando-Me para o homem, digo: “Por que tantas pergun- tas?! Sê contente de estar tua despensa cheia de pão e não esqueças o nosso jantar. Talvez ainda seja possível desvendar esse mistério.”
51.SUPOSIÇÃODO HOSPEDEIRO
Novamente o hospedeiro se dirige à cozinha, acompanhado de sua mulher, e os serviçais não demoram a trazer os peixes enco- mendados e uma grande travessa com lentilhas. Servimo-nos, e ele mesmo nos acompanha, contando vários fatos ocorridos em Sama- ria. Entre outros, menciona o seguinte: “Admiro-me que nada sabeis do grande galileu que há dois anos e meio passou por aqui com vários discípulos e divulgou a Chegada do Reino de Deus, fazendo também milagres na cidade e nos arrabaldes, somente possíveis a Deus. Não faz muito vieram judeus, dizendo-se enviados por Ele para disseminar o Evangelho. Aceitamo-lo, porque reforçavam suas palavras por provas milagrosas na cura instantânea de enfermidades variadas. Entre nós, não resta dúvida ser o galileu o Messias Prome- tido e desejávamos saber se andamos certos.”
Digo Eu: “Amigo, sabemos muita coisa a respeito Dele e também O temos em alta conta. Se aqui esteve há dois anos e meio, tê-Lo-ás visto, Pessoalmente? Ou não tiveste oportunidade para tal?”
Responde ele: “Por infelicidade estive ausente a negócios, em Tyro, e meu pessoal só foi informado quando Ele já estava longe.
Quando cheguei, após alguns dias, comentava-se unicamente os fei- tos, ensinos e milagres, tão grandiosos, a ser difícil um forasteiro acreditar.
Aqui vive um médico, em companhia de uma criatura que anteriormente não gozava de boa fama. Ele conheceu o homem mi- lagroso e dele recebeu a força curadora. Por ele fui informado de tudo, inclusive de sua aparência. Mas é difícil fazer-se ideia de al- guém por simples relato.
Em Samaria perambula um tal João (o artrítico), ex-men- digo, que agora prega a Doutrina, leva vida austera e, pela prece e o passe, consegue curar e livrar as pessoas dos elementos perturba- dores, em Nome do Grande Homem. Em todos esses relatos não consigo formar uma ideia da sua Pessoa.
Há um ano atrás procurei alcançá-lo na rota doutrinária, e cheguei a certos lugarejos, nos quais Ele pouco antes havia pregado. Sempre obtive as mesmas informações: Ele aqui esteve e fez isso e aquilo. Em suma, tenho provas de Sua Existência, sem jamais tê-lo visto. Embora seja eu samaritano, desprezado pelos judeus, preten- do ir a Jerusalém, na próxima festa, porque me disseram que lá tam- bém costuma doutrinar.
Sinto-me imensamente feliz quando alguém aqui chega e traz novidades; tal pessoa pode ficar em minha casa o tempo que quiser, sem despesa alguma. O mesmo farei convosco — por isto peço me relateis algo a Seu respeito.”
Digo Eu: “Poderia contar-te muita coisa do Homem-deus, no Qual habita a Plenitude do Espírito Divino, e finalmente mos- tra-te Sua Imagem, caso fosses capaz de silenciar; pois, neste ponto, não pareces ser grande mestre?”
Responde ele: “Tens razão no que diz respeito àquele Perso- nagem, pois, quando o coração está cheio, difícil é calar-se. Mas, se for preciso, silenciarei.”
Digo Eu: “Pois bem, vou ver se sou capaz de contar-te algo razoável e verdadeiro do grande Homem. Segundo Me parece, é Ele Jehovah, que falou a Adam, Noé, Abraham, Isaac e Jacob, a Moysés e aos demais profetas. A única diferença consiste que Ele, Eterno Senhor da Criação, naquele tempo Se dirigia às criaturas espiritu- almente despertas como puro Espírito de Amor, Vida, Sabedoria, Força e Poder. Hoje, aprouve-Lhe revestir-Se da veste material, por amor aos homens desta Terra, Seus filhos, assim cognominados des- de a época de Adam, mostrando-Se como Pai, a fim de conviverem com Ele para sempre, onde Ele Pessoalmente cria e rege o Infinito.
Eis por que consta: No início era o simples Verbo, e Deus era a Palavra na boca dos patriarcas, dos realmente sábios e profetas. O Verbo Eterno, isto é, Deus Mesmo, tornou-Se Homem e, deste modo, o Pai veio junto dos filhos. Estes, porém, não O reconhe- cem. Veio para o que era Seu, e os homens não querem aceitá-Lo como Pai unicamente Verdadeiro e Eterno. Há muitos que O acei- tam como Tal, Nele se agarrando com todo amor, judeus e pagãos, sendo os últimos na maioria; por isto, a Luz será tirada dos judeus e entregue aos pagãos. Se souberes dar valor ao que te disse, deduzirás Eu conhecer muito de perto o grande Homem!”
Exclama o tavoleiro: “Oh, não resta dúvida! Já teria expres- sado minha opinião; como não sois samaritanos, tive que agir com cautela. Não havendo motivo para receios e sendo vossa a mesma ideia que a minha, considerai-vos hóspedes gratuitos. Vou mandar trazer vinho, do melhor, e matar quatro carneiros, pois os peixes eram pequenos e sobraram poucos.”
Digo Eu: “Deixa os carneiros viverem e vai olhar o grande depósito de peixes; parece haver ainda grande quantidade de espe- ciais peixes do lago Genezareth. Se assim for, manda preparar uns quarenta.”
Dando de ombros, o homem responde: “Lá já estavam há algumas semanas, mas não me atrevo a afirmá-lo, pois peixes de
qualidade são vorazes, dando grande prejuízo quando no recipiente com outros. De qualquer maneira, verificarei a situação. Se for a mesma que a dos pães, cujo aumento e melhoria ainda não com- preendo, serei levado a pensar seres tu mensageiro autorizado do grande Homem, meu Deus e Senhor!” Rápido, vai à cozinha e conta tudo à mulher.
Alterada, ela diz: “De onde — quarenta peixes de qualidade?! Há cinco dias foram vendidos ao médico que pedia uma ceia farta, e o dinheiro está na caixa. Certamente foi ele a nos encher a despensa de pão, por intermédio de pessoa de confiança.”
Diz o marido: “Tua falta de fé não me impedirá de verificar o tanque. Não me importo, caso não queiras acompanhar-me.” In- trigada, ela vai com ele, e ambos ficam perplexos ao verem o tanque repleto de peixes de qualidade especial. Severamente inquiridos, os empregados nada sabem dizer a respeito. Finalmente, ele conjectu- ra: “Deve ter sido um dos hóspedes misteriosos.” Virando-se para o pessoal, manda apanhar cinquenta peixes, pois também quer sabore- á-los. Não passa uma hora, e tudo está arrumado na mesa.
53.OTAVOLEIRODESCOBRE O SENHOR
Trazendo em sua companhia o filho mais velho, cego de uma vista, o hospedeiro entra no refeitório e Me diz: “Bom amigo, após tua explanação, tinha deduzido serdes enviados do grande Homem-
-deus. Após aquilo que acaba de suceder com os peixes, concluo ser um de vós o principal, e peço confirmação para prestar-lhe a devida honra.”
Digo Eu: “Não te incomodes. Sou o Primeiro entre Meus companheiros, mas de modo diverso do que pensas. Em tempo oportuno, sabê-lo-ás. O que há com teu filho meio cego?”
Diz ele: “Como sabes ter eu um filho?”
Respondo: “Para perceber isso, não é preciso milagre, pois é parecido contigo. Tu és espiritualmente meio cego, e ele, fisica-
mente. Finalmente, ambos podereis ser socorridos. Os discípulos do grande Homem não conseguiram curá-lo?”
Responde ele: “Fizeram uma tentativa, porém sem êxito. O referido João também já esteve aqui por várias vezes, mas não con- seguiu restituir a visão ao meu filho. É preciso que suporte com pa- ciência a sua desdita. Trouxe-o comigo, supondo que vós, discípulos mais poderosos do Senhor, pudésseis socorrê-lo. Assim não sendo, poderá voltar à cozinha.”
Digo Eu: “Espera um pouco, pois terá a visão antes que tu!” Protesta ele: “Ora, amigo, tenho a vista perfeita. Como poderia ele chegar à mesma, nessa situação?” Prossigo: “Já te disse seres tu ape- nas espiritualmente meio cego; teu filho, fisicamente meio cego, ad- quirirá a visão plena antes que tu, a psíquica. Agora basta. Aí vêm os peixes com os quais nos fartaremos, pois a primeira ração foi pe- quena, não obstante o acréscimo de lentilhas. Tu e teu filho deverão participar, enquanto a tua mulher será excluída, por causa de sua fé fraca. Amanhã poderá preparar um peixe para se fortificar.”
Todos esperam Eu Me servir e em seguida comem com ape- tite, pois essa qualidade de peixes era conhecida de todos. Alegres e satisfeitos, brindamos o grande Homem da Galileia, no que o tavoleiro participa com ênfase. Meus discípulos relatam vários acon- tecimentos de nossa peregrinação e de Minha Infância, para grande satisfação do dono da casa.
Ao terminarmos, perto de meia-noite, ele diz: “Prezado e sá- bio amigo, julgo-me o homem mais feliz da Terra, em virtude da- quilo que contaste daquele Personagem. Minha felicidade seria a de um anjo, caso pudesse ver uma estampa fiel do mesmo. A promessa me foi feita por ti e peço-te não a esqueceres.”
Digo Eu: “Tens razão, e Eu cumprirei o prometido. Repito o que disse com referência à tua e à visão de teu filho. Como homem psiquicamente meio cego, não poderás perceber e assimilar a Ima- gem real do Senhor e Mestre. Deixa que teu filho se aproxime para ver se posso lhe abrir a vista cega e enchê-la de Luz.”
Algo admirado, ele posta o filho à Minha frente e diz: “Ei-lo. Experimenta fazê-lo ver.”
Digo Eu: “Está bem. Quero que teu filho Jorab enxergue! Que assim seja!” Às Minhas Palavras, o moço vê perfeitamente e diz assustado para o pai: “Esse homem deve estar em ligação mais ínti- ma com o Homem-deus que todos aqueles que tentaram curar-me em Nome Dele. Expressavam-se da seguinte maneira: Que se faça a luz dos teus olhos em Nome do Senhor, Jesus, Jehovah! — e eu continuava cego. Ele disse apenas: Quero que teu filho Jorab en- xergue! Assim seja! — Curou-me pelo Próprio Poder, portanto é o Homem-deus em Pessoa! E tu, pai, ainda és psiquicamente cego por não percebê-lo. É Ele a fiel Imagem de Si Mesmo, cheio de Vida, de Poder e da Força de Deus.” Ao terminar de falar, o pai do moço também Me reconhece, cai de joelhos e pede perdão.
Protesto: “Que deveria perdoar-te? Quis que tu Me reco- nhecesses apenas agora. Sê contente, mas não fales aos outros, até que te dê permissão. Precisamos todos de um leito, amanhã resolve- remos o resto.”
Quando ele começa a dar vazão a seu reconhecimento, prossigo: “Não faças alarde, para não despertar a curiosidade dos serviçais. Se tua família perguntar como Jorab conseguiu a visão per- feita, dirás: Foi obra dos hóspedes, pois o grande Senhor está mais fortemente ligado a eles do que aos outros.”
Satisfeito, o anfitrião manda preparar quarenta espregui- çadeiras, onde descansamos até de manhã. Ele ainda palestra com os familiares, sem denunciar-Me, não obstante a mulher fizesse a observação que talvez fosse Eu o milagroso Mestre que tantas pro- vas dera em Samaria. Pretendia ela observar-Me mais de perto, pois tivera a grande felicidade de ver-Me naquela ocasião.
54.INTERPRETAÇÃODOFATONO ALBERGUE
Bem cedinho, a casa toda está de pé para nos preparar o me- lhor desjejum. Ao entrarmos no refeitório, a mesa se acha abarro- tada com serviços de ouro e prata, e a toalha de fina cambraia era trabalhada com ouro e pérolas. Os bancos rústicos do dia anterior tinham sido trocados por cadeiras entalhadas. Percebendo tamanho luxo, os discípulos dizem: “Vê, Senhor e Mestre, como o hospedeiro Te honra! Nunca se viu coisa semelhante!”
Digo Eu: “Julgais Eu achar prazer nisso tudo? Agrada-Me o amor do tavoleiro — mas esse luxo, jamais! Sabendo qual sua fé e amor para Comigo — embora só ouvira boatos de Minha Pessoa, motivo de sua imensa saudade — vim à sua casa para que Me en- contrasse, reconhecesse e visse realmente. A razão de tais fatos deveis ouvir de Minha própria Boca, como apóstolos e seguidores, incum- bidos do entendimento dos Segredos de Deus.
No futuro, muitas criaturas Me procurarão, inclusive o Meu Reino, no mundo inteiro e com grande zelo, quando tiverem no- tícia da Minha Pessoa; como meio cegas na alma, não Me acharão inteiramente, e ouvindo as seguintes informações: Ele aqui esteve, mas agora encontra-Se lá, basta segui-Lo que O descobrireis! — os pesquisadores correrão, sem encontrar-Me; pois, como já vos ha- via dito várias vezes, muitos dirão: Ei-Lo aqui!, ou: Está naquela casa, ou naquele recinto! — Mas não deveis acreditá-lo. Se alguém crer em Mim e amar-Me verdadeiramente no coração e ao próximo como a si mesmo, quem alimentar uma crescente saudade de Minha Pessoa, a fim de se inteirar mais profundamente de Minha Vontade, descobrir-Me-á como ocorreu aqui, inesperadamente ao seu lado, e conquanto Me julgue a longa distância, habitarei em sua casa e participarei de sua refeição.
Quem, após Minha Volta aos Céus, quiser realmente Me achar, ver e falar terá que procurar-Me em sua proximidade, isto é, no coração, e não no mundo ou em determinadas casas, tem-
plos e recintos. Quem deste modo Me procurar encontrar-Me-á sem perceber-Me, enquanto sua alma permanece meio cega.
Meio cego na alma é o homem que, muito embora cresça na fé e no amor para Comigo, mas por influência do mundo, cai de quando em quando em pequenas dúvidas e fraquezas, não Me percebendo enquanto esteja bem próximo, tratando-o como melhor amigo. Assim, pergunta-Me cheio de respeito, fé e amor, onde estou e se porventura um dia Me verá possivelmente em vida, ou somente na Vida Eterna.
O filho meio cego representa sentido e percepção do ho- mem. O sentido é o olho externo dirigido ao mundo; a percepção é o olho cego para o mundo e suas atrações, dirigido ao interior, sendo ele por isto considerado por Mim, curado e iluminado, tão logo se tornar vivo, dominar a visão material, levando-a ao interior. Isto acontecendo, o homem todo é iluminado e vidente; em breve Me reconhece e se admira de não o ter feito há mais tempo, pois Eu já estava ao seu lado facilmente reconhecível, falando através de muitos fatos.
O que vos digo podeis ensinar e demonstrar aos outros, como uma criatura é por Mim visitada, caso Me procure na ver- dadeira fé e, através dela, no amor para Comigo e ao próximo. Lembrai-vos disto!” Os discípulos Me agradecem, mormente Jacob, o maior, que igual a João e Pedro se ocupava com as in- terpretações.
55.ODESLUMBRANTELUXONO DESJEJUM
Entrementes, se aproximam o tavoleiro e o filho, avisando es- tar pronto o desjejum. Com respeito, o primeiro Me pede conselho, pois a família o importunava constantemente a Meu respeito. Ele e o filho não Me denunciavam porque lhes havia proibido.
Digo-lhes, pois: “Somente quando Eu tiver seguido caminho revela-lhes Quem sou e de onde vim; se o disseres agora, Minha Presença seria divulgada em toda a cidade e serias molestado pelo
acúmulo de curiosos. Ainda assim terás teus atropelos, quanto mais não seria durante Minha Presença.”
Em seguida, vamos à mesa e o desjejum é servido em baixelas de prata e o vinho em grandes taças do mesmo metal. Meu prato e taça são de ouro puro, e pergunto ao anfitrião do motivo, pois não aprecio o brilho terreno.
Curvando-se com respeito, ele responde: “Senhor e Mestre, bem sei que só é possível louvar-Te de coração cheio de amor. Deves ter percebido eu ter sempre agido deste modo e pensei cometer pe- cado se não Te tratasse, como Senhor de Céus e Terra, com a mesma distinção usual a uma pessoa importante.
Criaste a Terra com tudo o que contém, portanto também ouro e prata, que testemunham Teu Amor, Sabedoria, Poder, Força e Honra. Assim, pensei ser melhor honrar-Te com ouro e prata ao invés de praticar usura com eles, e fomentar guerras e misérias sobre a Humanidade.”
Digo Eu: “Sim, tens razão. Se todas as criaturas pensassem e sentissem como tu, jamais ouro, prata, pérolas e outras preciosi- dades se lhes tornariam perigosos! Os interessados em honrar Deus através da pompa externa modificando sua maneira de pensar e sen- tir, seria imprudente por parte de Deus se Ele aceitasse o culto com aquilo que desde sempre provocou a maior desgraça.
Os patriarcas desta Terra pensavam como tu, honravam Deus diante de altares de ouro e prata e faziam suas preces em templos or- namentados com pedras preciosas, como podes verificar no Templo de Jerusalém. Qual foi a consequência? A apreciação exagerada por todos os metais e pedras preciosas.
Quando as criaturas, finalmente, atingiram o ápice de tal ima- ginação, começaram a revolver o solo terráqueo à procura daqueles tesouros fictícios, esquecendo-se de Deus e supondo honrá-Lo em grau elevado, recebendo enormes Graças, caso depositassem no altar consideráveis blocos de ouro e prata, inclusive pedras raras.
Como nem todos fossem adestrados para tanto e não se po- dendo demonstrar agradáveis aos Olhos de Deus, indagaram aos
patriarcas, que igualmente eram sacerdotes, quantas cabeças de gado deveriam, em compensação, sacrificar a Deus.
Tais orientadores, em breve, perceberam a possibilidade de ligar um negócio rendoso ao culto de Deus, de utilidade para a ele- vação espiritual e consolo do homem. Assim, os sacerdotes começa- ram a pesar metais e pedras preciosas e determinaram o valor pelo número de animais de várias espécies e posteriormente incluíram a medida do trigo, de frutos, de madeira, vinho, tecidos etc.
Surgiu, então, o câmbio de mercadorias e valores de fun- do usurário, dando início à inveja, ódio, ira, perseguição, mentira, fraude, cobiça, luxo, orgulho e desprezo, pois o valor do homem não era determinado pela nobreza da alma, senão pelo peso de metais, pérolas e pedras raras, pelo tamanho do gado, campos e vinhas e pela posse maior de outras coisas mais.
É claro que os pobres invejassem os ricos, começando a roubar, assaltar e matar; pois, com o crescente materialismo, o lado espiritual sucumbiu e Deus tornou-Se uma noção antiga, gasta, tola e sem valor. Não mais eram capazes de forjarem uma ideia, e o completo ateísmo com seus múltiplos males foi coisa corriqueira, levando os homens a pegarem das armas, e a parte que se julga- va melhor procurava dominar a pior. Estipularam-se leis, cujo não cumprimento era sancionado por severos castigos. Eis como surgi- ram potentados e escravos na Terra.
Tudo isto é efeito do ouro, prata e demais riquezas, quando os homens as empregam para qualquer culto, na suposição de serem tais coisas a matéria mais pura e valiosa.
Quanto à veneração e glorificação externas de Deus, Ele Mesmo as organizou, pois criou, para tal fim, Céus e Terra, Sol, Lua, as incontáveis estrelas cheias de luz e seres maravilhosos em suas es- feras enormes; é quanto basta para a glorificação externa de Deus, o grande Mestre de tudo desde Eternidades, portanto não necessita de metais e tesouros da Terra.
Veneração e glorificação verdadeiras e unicamente agradá- veis a Deus consistem num coração puro que ame a Deus acima de
tudo e ao próximo como a si mesmo, cumprindo os Mandamen- tos transmitidos por Moysés; todo o resto é fútil e tolo, até mesmo partindo de uma criatura agradável ao Pai. Se tal culto externo é praticado por fariseus, sacerdotes e sacerdotisas, pagos por beatos e hipócritas, em forma de dinheiro e oferendas importantes, tal ação é um horror para Ele, assim como tudo que no mundo é grande e brilhante. Guarda isso, Meu amigo, pois acabas de ouvi-lo da Boca Daquele que não Se deixa honrar pela matéria, senão por um cora- ção puro e devoto à Sua Vontade.”
Encabulado, o tavoleiro diz: “Senhor e Mestre de Eterni- dades, se minha veneração à matéria não Te é agradável, mandarei tirá-la da mesa.”
Digo Eu: “Deixa como está; pois os peixes, desta vez, terão bom sabor em travessas de ouro e prata, e o vinho em cálices de ouro. Para o futuro deves evitá-lo.”
56.AESCOLA DOS PROFETAS
Durante a refeição, o tavoleiro Me pergunta em surdina se não deveria avisar o seu amigo médico, de Minha Presença. Digo Eu: “Seria inútil, porque ele e sua mulher estão viajando e voltarão so- mente dentro de alguns dias. Ao te procurarem, poderás relatar tudo o que aconteceu durante a sua ausência. Continuemos o desjejum.”
O especial sabor dos peixes leva o anfitrião à seguinte ob- servação: “Senhor e Mestre, penso que os primeiros peixes criados nas águas desta Terra deveriam ter sido melhores que os posteriores; assim se explica o extraordinário sabor destes que por Ti foram cria- dos, no momento.”
Concordo: “Tens razão. De igual modo é a Palavra, vinda de Minha Boca, mais eficaz e poderosa que a de um profeta; todavia, poderá ser elevada à força igual quando estimulada pela ação, cora- ção e vontade.
Minha Palavra é a própria Vida e vivifica a quem a aceita de bom coração, pois por meio dela se transmite à vida humana a Vida
Básica de toda Vida. A palavra do profeta é apenas um guia fiel e demonstra à criatura como alcançar a Palavra Viva de Minha Boca, e por ela a vida do espírito.
Digo a todos: No final, toda criatura tem que ser ensinada por Deus, em seu coração. Quem não for ensinado pelo Pai, ou seja, pelo Espírito Divino em Mim, pelo caminho do puro amor a Mim e ao próximo, não chegará a Mim, o Filho do Amor Eterno, a Luz Eterna, o Caminho, a Verdade, a Própria Vida, pois Eu sou a Sabedoria do Pai, em Mim. Por ora não o entendeis perfeitamente; somente quando fordes renascidos pelo Meu Espírito, após Minha Ascensão. Ele é o Espírito Vivo de toda a Verdade e vos levará à sa- bedoria total. Tens, portanto, razão que os peixes neocriados sejam mais deliciosos que os criados entre si.”
Prossegue o hospedeiro: “Ouvi muita coisa da antiga Escola dos Profetas, especialmente usual na época dos juízes, conservando-
-se até os Reis. Nunca pude descobrir quais os elementos doutriná- rios daquela escola. Uma vez alguém se tornando profeta dentro da Verdade plena, transmitia o Espírito de Jehovah, o que várias vezes fora comprovado. Em que finalmente se baseava a escola?”
Respondo: “Aquilo que naquela época se transmitia através de interpretações destinadas para hoje acha-Se diante de ti! Filhos de pais devotos, mormente rapazes de educação pura e físico sadio e forte, eram aceitos pelos juízes sacerdotes, a exemplo de Aaron, naquela escola onde aprendiam, primeiro, os conhecimentos primá- rios; em seguida, eram introduzidos nas Escrituras, quer dizer, nos Livros de Moysés e acerca da etnografia e etnologia.
Além disto, eram orientados rigorosamente não apenas no conhecimento dos Mandamentos de Deus, mas que deveriam cum- pri-los à medida do possível pela livre vontade, e eram submetidos a provas e sabatinas a fim de chegarem à convicção real do aumento de forças na resistência às tentações.
Antes de mais nada, tinham de ser preservados contra o ócio, causador de todos os demais pecados e males, motivo por que eram submetidos a trabalhos físicos.
Uma vez fortes e perfeitos na renúncia e autodomínio, con- duziam os adolescentes à ciência das interpretações através da me- ditação, pela qual alcançavam a fé viva e a vontade indomável, em virtude da integração na Vontade Divina, respeitada desde a infân- cia; deste modo, eram capazes de dar certas provas, pois a vontade individual se havia unificado à Divina, e a fé, como Luz real e viva dos Céus, não admitia dúvidas em seus corações iluminados.
Isso tudo estabelecido, dentro da Ordem real e viva, eram penetrados pelo Espírito Dele, à medida da capacidade individu- al dentro da fé viva e a vontade ligada à de Deus, pelo que a alma era dilatada, facultando-lhe a visão de coisas e acontecimentos futuros, em quadros correspondentes, que eram anotados para a posteridade.
Quem atingisse tal estado alcançava igualmente o Verbo in- terno e vivo, ouvindo a Voz de Jehovah dentro de si, o que na reali- dade era a Palavra de Deus, que o profeta transmitia e até mesmo era obrigado para tanto, porque o Espírito de Deus ativo dentro dele o incentivava. Assim se fez a Escola dos profetas, na qual os homens se desenvolviam numa Escola da Vida, real e verdadeira.”
57.OSPROFETAS VERDADEIROS
(O Senhor): “Às vezes acontecia que homens devotos, crentes em Deus e cheios de amor para com Ele, eram também despertados para profetas efetivos sem a Escola preparatória. Moysés e Aaron foram grandes profetas sem terem passado por aquele curso, pois sua fé, o coração dedicado a Deus e o Próprio Jehovah educaram-nos para tal. Do mesmo modo aconteceu a Elias, Jonas, Josué e Samuel, porquanto Deus Mesmo era seu Mestre e Escola.
Os patriarcas eram igualmente videntes e profetas sem curso; Deus unicamente era sua Escola, na qual Ele revelava a Sua Vontade; até hoje existem videntes e profetas sem terem recebido educação especial. Deus vê apenas o coração das criaturas, sem considerar a Universidade na qual tenham atingido determinada habilidade.
Vê os Meus apóstolos. Nenhum deles jamais viu uma Escola de profetas, entretanto muitos farão coisas maiores que todos os an- tigos videntes e profetas. Eu unicamente sou seu Mestre e Escola, e assim será até o Fim dos tempos desta Terra.
No futuro, se criarão muitas escolas das quais surgirá quanti- dade de doutrinadores e profetas, falsos, mas poucos de acordo com a Vontade verdadeira de Deus.
Em verdade te digo: No futuro, só se tornará vidente e profeta quem crer em Mim, amar-Me acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, e praticar a Minha Doutrina. Por isto, nem todos que com fé clamarem: Senhor, Senhor! — ingressarão em Meu Reino, senão aqueles que praticarem Minha Vontade expressa no Evangelho.
Não sejais apenas simples ouvintes, mas praticantes do Meu Verbo, que realizareis o verdadeiro Reino de Deus em vós. Não aguardeis o Reino de Deus, como Reino de Vida interna, por sinais externos e brilho pomposo, pois acha-se dentro de vós! Quem o pro- curar pela maneira demonstrada e não o encontrando deste modo, inutilmente procurará no mundo inteiro e em todas as estrelas. É, pois, o Caminho para o Reino de Deus, real e vivo, muito estreito e às vezes coberto de espinhos. Para a criatura mundana, é inteira- mente inadmissível.
Quem crer em Mim e cumprir os Meus Mandamentos não ficará com os pés feridos pelos espinhos na trilha que leva ao Reino de Deus. O começo somente, é difícil. Perdurando o rigor e não deixando enfraquecê-lo por considerações mundanas, a plena con- quista do Reino de Deus é facílima. Pois, aos realmente empenhados na conquista do Reino de Deus dentro de si, Meu jugo é suave e leve o Meu peso incutido, e Eu lhes direi, no íntimo de seu coração: Vinde a Mim que sois cansados e oprimidos! Eu Mesmo vos recebo no meio do caminho, para fortificar-vos e aliviar-vos.
Aos que apenas exclamarem: Senhor, Senhor!, no entanto dirigirem a preocupação principal às coisas terrenas, ligando às do Reino de Deus somente de passagem, direi: Por que Me chamais, egoístas? Para que essas exclamações?! Meu Coração nunca vos
reconheceu. Aquilo que vos preocupa traga-vos a ajuda desejada!
Realmente vos digo: Tais criaturas dificilmente descobrirão, em vida, o verdadeiro e vivo Reino de Deus, e representarão péssimos doutrinadores, videntes e profetas; no Além, será indescritivelmente mais penoso para tais almas semimortas. Por isto, deve cada uma trabalhar enquanto for dia; pois seguirá a noite, onde o trabalho será difícil. Terias compreendido?”
Responde o hospedeiro: “Sim, Senhor e Mestre sobre tudo, e Te agradeço do fundo de minha alma. Ao mesmo tempo peço Me ajudares no primeiro passo, pelo caminho estreito e espinhoso que doravante palmilharei com maior rigor!”
58.AIMITAÇÃODO SENHOR
Digo Eu: “Acabo de fazer aquilo que Me pedes, portanto te- rás fácil prosseguimento. Quem receber a Luz de Minha Vida não se magoará nas pedras do caminho e poderá evitar os espinheiros. Quem caminha Comigo andará sempre pela estrada bem preparada; quem se dirigir sem Mim ao Reino de Deus, ao Reino interno da Vida e de toda Verdade terá que percorrer um caminho longo, es- treito e mui espinhoso, conforme acontecia a muitos sábios de todos os povos e ainda continuará a ser.
Para ti e muitos que Me viram e ouviram, é fácil crer em Mim totalmente; os descendentes apenas ingressarão no Reino de Deus através da fé pura. Quem Me vê e ouve pode facilmente viver e agir segundo Minha Doutrina. Quem não Me vir fisicamente terá maior dificuldade para atingir o Reino de Deus, real e vivo, pois terá que acreditar simplesmente o que os Meus mensageiros lhe contarem.
Tão logo tiver aceito o relato no coração crente, sentindo grande alegria pela Verdade assimilada, receberá o Batismo do Es- pírito, vindo de Mim, podendo vislumbrar a porta aberta do Reino de Deus. A partir daí, o Caminho será fácil, inclusive para os que testemunharam Minha Presença.
Sabendo disso tudo, alegrai-vos por ter Deus assim organiza- do, desde o início. Quando falardes de Mim e de Meu Reino, não esqueçais de repetir o que disse; antes de tudo, esclarecei não ser o Meu Reino deste mundo, senão o Reino interno de toda Verdade e Vida, no íntimo da criatura. Quem o tiver encontrado, ingressando pela fé viva e o amor ativo, terá vencido o mundo, julgamento e morte, gozando a Vida Eterna.
Para o intelecto materialista, Minhas Palavras soam qual to- lice; ainda assim, trata-se da máxima Sabedoria de toda Vida em Deus. Feliz daquele que não se escandalizar.
Criatura alguma pode saber o que se oculta no seu íntimo, indispensável à vida, senão o espírito que nela habita; assim, tam- bém não há intelectual que saiba o que seja Deus e o que Nele existe, a não ser o Espírito de Deus, que penetra todas as Suas profundezas.
Enquanto o espírito no homem não for desperto como ver- dadeira luz de Vida, a criatura estará em trevas, não conhecendo a si mesma; no momento em que, pela fé e o amor a Mim e ao próximo, o espírito desperta e se inflama à Luz clara, ele penetra o homem inteiramente, chegando a ver e descobrir o que nele existe. E quem descobre a si mesmo fá-lo também com Deus; pois o espírito vital na criatura, verdadeiro e eterno, não é humano e sim divino, do contrá- rio o homem não seria a eurritmia de Deus. Se tiverdes compreen- dido bem, podemo-nos levantar, física e espiritualmente nutridos, e encetar a viagem para Galileia.” Todos confirmam e agradecem pelo ensino; mas o hospedeiro sugere ficarmos até o almoço.
Por isto lhe digo: “Tudo neste mundo tem seu tempo, assim como a chegada e a partida. Sei que Me espera grande tarefa para o dia de hoje, de sorte que tenho de prosseguir viagem. Além disso virá, dentro de uma hora, uma grande caravana de Jericó, dando-vos muito trabalho. Os comerciantes pedirão informações a Meu respei- to. Podes dizer-lhes que aqui estive, sem mencionar Meu paradeiro.” Assim partimos, acompanhados durante alguns trechos pelo hospe- deiro e seu filho.
59.OMILAGRECOMASÁRVORES FRUTÍFERAS
Quando o tavoleiro volta ao lar, a mulher o repreende, dizen- do: “Por que não nos chamaste, para que eu e os filhos nos pudésse- mos despedir do milagroso benfeitor?”
Responde ele: “Se fosse preciso, Ele Mesmo te teria chamado; não o fez certamente em virtude de tua fé fraca, e além disto terias feito correr a novidade da Presença Dele, o que de modo algum era de Sua Vontade. Quando vier o médico, saberás — aliás em tempo
Quem era o milagroso Salvador!
Agora prepara-te, pois dentro de meia hora chegará uma for- te caravana, conforme ele havia anunciado, e teremos trabalho a va- ler.” Pressurosa, ela vai à cozinha e põe as serventes em movimento. Quando os comerciantes deparam com a refeição variada e quase toda pronta, muito se admiram que o tavoleiro soubesse antecipa- damente da chegada deles.
Muitos eram os comentários, e os recém-vindos logo com- preenderam e creram em Mim. Entrementes chegamos, por volta de meio-dia, a uma aldeia situada em Samaria. Era ela rodeada de muitas árvores frutíferas, especialmente figueiras, oliveiras, maciei- ras e pereiras, e os discípulos sentiam vontade de saborear os frutos. Ao entrarmos na vila, indagam dos moradores se era possível apa- nhar alguns.
Respondem estes: “Que é isto?! Judeus querendo comer fru- tos de samaritanos?”
Dizem os discípulos: “Não somos fariseus que vos odeiam, portanto podemos saborear vossos frutos, naturalmente pagos!” Os aldeões protestam: “Comei à vontade. Dinheiro não podemos acei- tar, porque também não pedimos que Deus abençoasse nosso pomar por dinheiro.” Satisfeitos, os discípulos colhem os frutos, que au- mentavam à medida que iam sendo tirados.
Observando o fenômeno, os moradores novamente se diri- gem aos Meus: “Será possível não perceberdes o que se passa?! Os
frutos de tal forma aumentam a quase se tornarem insuportáveis para os galhos. É evidente milagre!”
Responde Andreas: “Notamos o mesmo, mas não é ação nos- sa, e sim vosso desinteressado amor ao próximo. Embora fôssemos estranhos, permitistes que saboreássemos gratuitamente o produto do pomar mantido com tanto sacrifício. Isto foi de muito agrado de Deus, o Senhor, de sorte que abençoou visivelmente vossa ami- zade e amor.
O acontecimento raro se prende à vossa atitude também rara. Seja onde for que se espere um favor de alguém, é-se apenas atendi- do por remuneração especial; por simples amor ao próximo tal se dá tão raras vezes, como o milagre da Bênção Divina.
Continuai na fiel observação do amor ao semelhante, amai a Deus pelo cumprimento de Seus Mandamentos, que jamais tereis motivo de vos queixardes da Bênção Divina. Deus é eternamente o Mesmo, mas as criaturas são inconstantes, esquecem-No em sua loucura mundana e consideram Seus Ditames como obra da inte- ligência humana, a fim de poderem agir a bel prazer. Em tal crença e atitude materialista, Deus não dirige Seu Olhar de Graça e Amor, senão o de Sua Ira, às criaturas.
Em tais circunstâncias, os milagres divinos se tornam rarís- simos entre os homens; onde se encontram criaturas com fé segura em Deus, conservando Seus Mandamentos sem terem vilipendiado sua alma pela cobiça do dinheiro, Deus Se apresenta como Pai Amo- roso, segundo acontecia em tempos patriarcais. Considerando o que disse, compreendereis por que Ele abençoou vossa boa vontade.”
Diz um ancião da vila: “Amigo, provaste não seres adepto dos fariseus e tens razão em tudo. Sou um dos mais antigos da aldeia e sei que seus moradores sempre cumpriram as Leis de Moysés. A nossa atitude para com estranhos, famintos e sedentos foi sempre a mesma; nunca, porém, assistimos bênção tão milagrosa, conquanto seja obrigado a confessar jamais nos ter faltado a Proteção de Deus.
Segundo me parece, houve aqui um fato especial, que cer- tamente não podeis revelar. O que chama a atenção é que um de
vós nada provou dos frutos. Seria um arquijudeu que nada aceita de samaritanos, ou talvez não aprecie frutos?”
Diz Andreas: “Nada disto! Quem O reconhece terá desco- berto mais que todo o mundo pudesse conceber. Por isto, é nosso Senhor e Mestre.”
Algo perplexo, o velho diz: “Não tive razão quando afir- mei que este milagre se prendia a um fato especial?! Relaciona-se indubitavelmente àquele homem que chamais de Senhor e Mestre, não é assim?”
Responde Andreas: “Se tens essa impressão, dirige-te a Ele. Nós sabemos o que fazer e falar — Ele é o Senhor e faz o que quer!”
60.MOTIVODAPROSPERIDADEDOS ALDEÕES
Ouvindo tais palavras, o velho se dirige a Mim e diz: “Senhor e Mestre desses homens! Por que não quiseste saborear os nossos frutos, como fizeram os teus adeptos?”
Respondo: “Minha Ânsia não se dirige tanto ao sabor de vos- sos frutos deliciosos, senão ao de vosso coração e boa vontade; pois se alguém prestar favor real e verdadeiro a um dos Meus discípulos e servos, Eu o aceito como prestado a Mim, Pessoalmente.
Eu estou em Deus, e Deus está em Mim; e os que estão Co- migo estão igualmente com Ele, e Deus com eles. Deus está com todos os que Nele creem vivamente, cumprem Seus Mandamen- tos, amam-No acima de tudo e ao próximo como a si mesmos. Al- guém não amando seu semelhante, seja conterrâneo ou estrangeiro, sem interesse próprio e não procure socorrê-lo em suas dificuldades como criatura à Semelhança Divina — como poderia amar Deus, a Quem não vê?
Por isto se identificam o amor real e verdadeiro ao próximo e o amor a Deus, e Ele recompensa tal amor já em vida e muito mais no Além, no Seu Reino Eterno, com a própria Vida Eterna. Realmente, nem um gole de água oferecido a um sedento, de bom coração, ficará sem recompensa.”
Diz o velho: “Senhor e Mestre, deduzo de tuas palavras seres deveras Senhor e Mestre! Por muitas vezes saciamos os viajantes com água, pois um poço comum contém água saborosa e fresca. Com prazer ofereceríamos um copo de vinho, caso o tivéssemos. Essa ter- ra é estéril e não produz vinha. Comprá-lo não é possível, de sorte que só podemos oferecer o que parcamente existe aqui. O bom Pai Celeste certamente aceitará a ação como boa obra.”
Digo Eu: “Isto Ele fez de há muito, razão por que nunca passastes miséria pronunciada. No entanto, no futuro cuidará mais visivelmente de vossa salvação temporal e psíquica, o que vos asse- guro plenamente. Quem Nele confia como vós, nunca é abandona- do. Não obstante não socorrer de momento e a olhos vistos, não o deixa sucumbir.
Deus experimenta a todos antes de socorrê-los; tão logo a criatura se mantiver ao lado Dele em todas as provações, surgirá o auxílio de Deus e Sua Bênção permanecerá sobre o fiel. Lem- brai-vos do seguinte: Deus vos experimentou a bem de vossa alma; saístes-vos bem e Ele Se aproximou com a Plenitude de Sua Bênção permanente. Não sabeis Quem sou. Mas tempo virá e já chegou em que exclamareis: Salve o Filho de David que veio a nós em Nome do Senhor! — Porventura não fostes informados do que sucedeu há dois anos, em Samaria?”
Retruca o velho: “Senhor e Mestre, e descendente do grande Rei dos judeus! Raras vezes vamos a Samaria, a meio dia de distân- cia; por isto, pouco ou quase nada sabemos das ocorrências. Alguns viajantes contavam coisas extraordinárias através do aparecimento de um grande profeta. Teria dado aos samaritanos ensinamentos consoladores, com o que alguns sacerdotes e outros materialistas se aborreceram. Não podemos julgar se havia motivo para tanto.
Deu-se outro fato por nós presenciado. Por volta do meio-dia aqui chegaram dois homens, pedindo pão e frutos; após se terem refeito, tomei a liberdade de perguntar sua procedência. E eles res- ponderam: ‘Há pouco tempo éramos servos comuns e mal pagos em Jerusalém. Um dia apareceu um homem cheio de força, poder
e sabedoria, ensinou o povo, fez milagres inauditos, e a multidão começou a acreditar Nele, para aborrecimento de fariseus e escribas; pois Ele denunciou as fraudes incríveis, fazendo sérias advertências.
Esse homem, enviado por Deus e acompanhado de um arcanjo, aceitou-nos como discípulos, facultando-nos saber e força para curar os males físicos e expulsar maus elementos. Nem veneno, nem animais ferozes nos prejudicariam, ainda que fôssemos obriga- dos a caminhar descalços sobre escorpiões e víboras.
Nossa ocupação especial consiste na revelação da Chegada do Reino de Deus na Terra, entre judeus e pagãos, e ser Ele o Mes- mo anunciado pelos profetas, a fim de libertar o mundo do jugo da mentira, do pecado, da mistificação, ou seja, do julgamento e da morte.’ Perguntei acerca da nova Doutrina, que se assemelha àquilo que tu e teu discípulo falastes, e nós aceitamos tudo.”
61.ACURADO POSSESSO
(O velho): “Nessa aldeia vivia um homem, louco há trinta anos, que às vezes se perdia nas florestas, onde era de tal forma mar- tirizado pelos maus espíritos, que os próprios animais ferozes dele fugiam. Quando voltava, estava inteiramente calmo, sem todavia lembrar-se do que lhe havia acontecido.
Precisamente ele se encontrava na vila por ocasião da visita daqueles homens. A pedido deles, deram-lhe passes e tentaram ex- pulsar os maus elementos, em nome de Jesus. Reagindo em altos brados, diziam: Conhecemos a Jesus-Jehovah-Zebaoth, nascido de uma delicada virgem, num estábulo de Bethlehém e ora vivendo qual homem em Nazareth. Estamos sujeitos à Sua Onipotência, por ser impossível reagir contra ela. Mas a vós desconhecemos, portanto não prestaremos obediência!
Os dois, então, pediram socorro a Jesus e ouviu-se do alto um forte trovão; os espíritos maldosos abandonaram o pobre infeliz, em forma de moscas, e a partir daí ele ficou completamente curado. Foi um fato extraordinário em nossa aldeia tão isolada, e desejava
saber se também sois enviados do grande Jesus de Nazareth, em vir- tude da semelhança das ideias expressas.”
Digo Eu: “Manda vir aquele homem, e veremos Quem so- mos, Eu e os Meus discípulos.” Quando ele se encontra perto de Mim, pergunta o que desejo e Eu lhe digo: “De modo algum quero algum serviço teu; ao passo que Eu poderei prestar-te um grande favor, razão por que mandei chamar-te. Faz pouco tempo que foste liberto de maus espíritos, não é assim?”
Responde ele: “Sim, graças a Deus! Persiste uma certa fraque- za e, em virtude de minha idade, o crescente pavor da morte não me larga, conquanto ore e confie em Deus. Não consigo sentir verda- deira alegria. Se te fosse possível libertar-me desse peso, ter-me-ias prestado grande benefício.”
Digo Eu: “Claro que isto posso através de Minha Onipotên- cia, e assim quero que te tornes forte e alegre como nunca, e também te vejas livre do fútil temor da morte física, que não é morte, senão Luz clara para a Vida Eterna e Verdadeira!”
Nem bem termino de falar, ele se sente rejuvenescido, e o medo da morte o abandona, a ponto de começar a cantar e agrade- cer a Deus por ter dado tal Poder a um homem. Em seguida, o velho se dirige a Mim, admirado e cheio de respeito: “Ó Senhor e Mestre, tenho a impressão de saber Quem és!”
Digo Eu: “Então fala!” Prossegue ele: “Perdoa o atrevi- mento de falar Contigo! Por tudo que ouvi, concluo seres Tu Jesus-Jehovah-Zebaoth, pois não haveria mortal capaz de dizer: Faço isto de minha própria força! Não te dirigiste a Deus por socorro, mas apenas disseste: Eu o quero, através de Minha Própria Onipotên- cia! És, portanto, Jesus-Jehovah-Zebaoth, Único e Verdadeiro, e não deves ocultar a Face do Messias Prometido, a fim de que possamos honrar-Te e amar-Te como Criador e Pai!”
Digo Eu: “Toda veneração e honra devem ser feitas no cora- ção, pois o louvor externo nada vale perante Mim. Somente junto de vossos irmãos deveis confessar-Me abertamente e divulgar Minha Doutrina e Minhas Ações. Agi como ensina o Meu Verbo dissemi-
nado pelos dois mensageiros, que Eu vos testemunharei perante o Meu Pai, e quem por Mim for testemunhado terá a Vida Eterna.
Agora prosseguiremos nosso caminho, pois tenho que Me apre- sentar a muitos que, como vós, creem em Mim, sentindo grande saudade de Minha Pessoa.”
62.PROMESSADOSENHORAOS ALDEÕES
(O Senhor): “Se continuardes em Minha Doutrina, ficarei espiritualmente convosco, assim como com todos que crerem em Mim, adotando Meus Ensinamentos e recebendo amistosamente os que enviei para todo mundo, a fim de divulgarem o Evangelho da Chegada do Reino de Deus na Terra, no que consiste e qual sua natureza.
Os que Eu enviar são quais profetas, e quem prestar benefício a um profeta colherá o mesmo mérito que ele; este mérito se baseia na Minha Permanência, em Espírito, com ele, que jamais sentirá carência de bênçãos.
Até então cultivastes vosso terreno pedregoso com muita di- ficuldade, e os campos, hortas e pastos trouxeram colheita pequena; ainda assim, nunca reclamastes, mas agradecestes a Deus pelo pouco e Ele abençoou o pouco, de sorte a vos suprir, inclusive vários foras- teiros que aqui batiam, sedentos, famintos e até mesmo desprovidos de roupas.
Como fostes fiéis com as posses escassas, vossas terras bastan- te extensas perderão seu aspecto árido, de sorte que fareis colheitas fartas, necessitando maior número de serviçais. Em suma, o espírito desperto por Mim, em vós, ensinar-vos-á como organizar a lavoura.
Quando tudo estiver abençoado, não vos orgulheis, mas continuai como sois, que Minha Bênção ficará natural e espiritual- mente em vosso meio. Assim será, à medida que aplicardes Minha Doutrina!”
A essas palavras, todos os moradores da aldeia se ajoelham, agradecendo a Graça recebida. O velho e o curado nem podem falar
de emoção. Mando que todos se levantem e tratem de seus afaze- res, enquanto o curado Me observa com amor e diz: “Quão felizes devem ser os Teus discípulos que sempre Te rodeiam, tornando-se testemunhas de tudo que dizes e fazes!”
Digo Eu: “Por este motivo, passarão provações maiores e per- seguições por parte do mundo, quando Eu não mais estiver com eles e sim lá, de onde parti; o mundo é cego e surdo, e há de odiá-los por causa de Meu Nome, da mesma forma que a Mim odeia, pois não Me reconhece e não o fará, sucumbindo em seus pecados e crimes.
Assim sendo, vossa vida será mais suave, não obstante tam- bém vos perscrutarão a respeito de vossa fé em Mim e da aplica- ção do Meu Verbo! Quando vos inquirirem, não temais, tampouco mediteis acerca da resposta a ser dada. Na hora própria, a resposta surgirá de vossa boca, sem que os outros consigam fazer objeções. Disto vos asseguro.”
Os dois se acalmam, e Eu aviso aos discípulos que devería- mos partir. Ligeiros, deixamos a vila, e antes que os moradores se apercebessem tínhamos desaparecido, levando alguns à ideia de que fôssemos espíritos. O velho e o curado explicam Quem sou, razão por que Me é possível.
Um ano mais tarde, quando as terras áridas começaram a se transformar em campos férteis, sua fé fortificou-se, e Eu surgia, de longe em longe, em seu meio, para incentivá-los na fé, no amor, na paciência e meiguice. Ao ouvirem Eu ter sido crucificado em Jerusa- lém, alguns se amedrontaram e a fé começou a se abalar; assim, foi preciso Eu procurá-los Pessoalmente, mostrando-Me como Senhor e Vencedor da morte, trazendo-lhes consolo e explicando-lhes pela Escritura que tudo aquilo tinha de acontecer, a fim de que todas as almas crentes em Mim passassem pela porta obscura da morte à Glória eterna, na qual Eu ingressei e onde Me achava desde eterni- dades. Tudo aconteceu por amor às criaturas, para que se tornassem Meus verdadeiros filhos, semelhantes a Mim em tudo pela fé em Mim e na Minha Encarnação para a salvação do mundo, mas tam- bém para o julgamento dos maus. Justamente esses aldeões, cuja
vila em poucos anos se tornou exuberante, transformaram-se em verdadeiros lutadores da fé ativa.
63.NAMATAVIRGEMDE SAMARIA
Dentro de uma hora chegamos a uma floresta densa, pela qual passava uma trilha para Galileia. O percurso durou três horas e não havia sinal de habitação; por isto, os discípulos perguntam por que ninguém utilizava aquela mata.
Respondo: “Estai satisfeitos com a existência de mata virgem na Terra Prometida, que ainda não se tornou vítima da cobiça hu- mana. Aqui se encontram árvores das quais o mel jorra qual regato, em virtude de enormes enxames de abelhas.
Criei várias espécies de animais tão necessários à conserva- ção da Terra quanto o homem necessita dos olhos para ver, e além disto à educação progressiva e independente das almas, confor- me já expliquei minuciosamente pela visão interna. Assim com- preendereis serem indispensáveis florestas vastas e densas, para acomodação de animais dentro da Minha Ordem e final educa- ção humana.
Antes de tudo se prestam como primitivos receptáculos para inúmeros espíritos da Natureza, que no reino vegetal recebem a primeira incorporação com um elemento de inteligência ordenada, onde alcançarão maturação, podendo emigrar no reino animal, mais inteligente e livre. Também isto vos demonstrei, porque quero que conheçais todos os segredos do Reino de Deus na Terra.
Enquanto existirem tais florestas com abundância, dando acolhida e abrigo ordenado aos espíritos da Natureza, que de todas as estrelas se dirigem à Terra e aqui se desenvolvem e ascendem, não haverá tempestades violentas, nem moléstias pestilentas. Tão logo a ganância dos homens se apossar, em demasia, das florestas da Ter- ra, será difícil sua existência, mormente onde superabundarem as derrubadas. Esse conhecimento pode ser divulgado para advertir os homens de indústria tão prejudicial.
Na era primitiva deste planeta, nada se sabia da construção de casas e muito menos de burgos de alvenaria. As florestas serviam de moradia também para os homens, que desta forma atingiam ida- de avançada e sadia. No norte da Ásia, da Europa e outros Conti- nentes, igualmente na parte sul da Terra, ainda hoje habitam cria- turas sadias e fortes, em florestas, portanto nada têm de apavorante ou inútil, como pensa o raciocínio curto. Sede, pois, satisfeitos por termos encontrado floresta tão sadia!”
Enquanto Me estendo no assunto, chegamos a um local des- campado, circundado por velhos cedros, e havia um, inteiramente oco, que abrigava grande enxame de abelhas. A produção de mel era tão grande que jorrava de todas as fendas, quando não era ingerido pelos próprios insetos, a ponto de se formar uma espécie de pequeno poço, e os discípulos logo descobrem um escoamento, à direita, que leva ao interior da mata.
Pedro, então, diz: “Eis um pedacinho da antiga Canaan, onde jorravam mel e leite! É realmente milagre que a cobiça dos homens não tenha descoberto esse verdadeiro lago de mel! Que pena não termos pão para nos saciar!”
Obsta Philippus: “Aqui tenho um pão. Mas nós somos qua- renta e a partilha dará pouco para cada um.”
Os discípulos de João se adiantam: “Compramos alguns em Jericó e talvez deem para todos.” Digo Eu: “Se estais com fome, dividi os três pães.” Assim fazem, oferecendo-Me o melhor pedaço. Então abençoo o pão, que aumenta abundantemente. Sentamo-nos ao redor do lago, metemos o pão no mel e os discípulos, mormente Judas Iscariotes, custam a se saciar.
Passada meia hora, digo: “Agora basta e está em tempo de procu- rarmos a Galileia antes do pôr-do-sol; pois ainda estamos em Samaria.”
Diz Pedro: “Senhor, seria tão bom descansarmos alguns dias. Aqui estaríamos seguros da frequente importunação dos homens; este local ainda não foi descoberto, a julgar pelo lago transbordante.”
Digo Eu: “Não pelos homens, mas pelos ursos, que não se farão esperar. Quem quiser travar conhecimento com eles pode-
rá pernoitar aqui. Eu não ficarei na companhia deles e não quero dominá-los pelo Poder de Minha Vontade, a fim de sonegar-lhes o manjar!”
Com tal informação, os discípulos se aprontam. Cada um mete o resto do pão no mel e se levanta para prosseguirmos no ca- minho que era preciso ser feito, pois o lago de mel estava afastado da trilha. Após algum tempo, lá chegamos e dentro de meia hora havíamos atingido a Galileia.
64.NOALBERGUE CAMPESTRE
Em virtude da grande quantidade de mel que haviam toma- do, os discípulos sentem forte sede, de sorte que pedem água num albergue campestre. O dono se desculpa por haver apenas água da cisterna e leite de cabra, com o qual saciam a sede. Isto feito, os greco-judeus e os discípulos de João desejam pagar a despesa.
O hospedeiro então resolve: “Os judeus nada pagam, porque tomei por hábito servi-los gratuitamente quando pela primeira vez aqui se apresentam. Quanto aos gregos, exijo apenas uma moeda de cobre.”
Os gregos convertidos respondem: “Somos judeus, não obs- tante a vestimenta grega. Mas não importa. Fizeste uma conta tão razoável, que resolvemos pagá-la três vezes!” Com isto, eles lhe en- tregam uma moeda de prata no valor de cem centavos. Ele nova- mente pede escusas por não ter troco e propõe: “Já que sois judeus, nada aceito.”
Intervenho: “Quem calcula tão modestamente não comete pecado aceitando o que se lhe dá com espontaneidade.” Recebendo de bom grado a importância, ele diz: “Está bem, um paga pelo ou- tro! Essa estrada, que consta ter sido feita pelos filisteus, não é muito procurada pelas caravanas, em virtude da floresta densa onde vivem animais ferozes importunando os viajores, especialmente no inver-
no. Na primavera e no verão o movimento é maior e certamente aparecerão alguns merecedores de tratamento gratuito.
Se ao menos tivesse uma boa fonte, não faltariam hóspedes, pois as cisternas mal fornecem a água necessária para uso caseiro. O dia de hoje está se findando e com prazer vos acolheria à noite, mas não tenho vinho, pouco pão e sal nenhum!”
Digo Eu: “Amigo, não pernoitaremos aqui, e sim na vila pró- xima. Como sou Mestre na descoberta de fontes limpas, darei uma busca em redor de tua casa para ver se descubro alguma.”
Protesta ele: “Será inútil, como foi baldado o empreendi- mento de muitos equipados do aparelhamento necessário. Seria pre- ciso Deus criar uma fonte para ser descoberta, muito menos perto de casa, onde já revolvemos o terreno todo.”
Digo Eu: “Basta fazer uma experiência. Quem sabe Eu te- rei maior êxito que tu e teus hidrólogos.” Acrescenta ele: “Podes tentá-lo, mas minha fé é fraca.” Respondo: “Não importa; mais tar- de será maior. Mostra-Me onde desejas o local da fonte.”
Diz ele: “Amigo, ainda mais essa? Se tivesses a vara de Moysés, aquela rocha seria apropriada. Não há mais profeta igual a Ele, e as- sim, a rocha não fornecerá água!”
Digo Eu: “Amigo, aqui está diante de ti mais que Moysés e todos os profetas, e Minha Vontade é mais poderosa que a vara milagrosa de Moysés. Nem ao menos tocarei a rocha, entretanto produzirá tanta água pura e límpida, que tu e teus descendentes jamais sentireis falta.”
Virando-Me para o rochedo, digo: “Quero que surja de ti um verdadeiro córrego de água pura, prosseguindo durante mil anos e secando somente quando pagãos maldosos destruírem este local!” A Minhas Palavras se desprende um pedaço do rochedo e com for- midável estrondo se precipita uma torrente de água, localizando mais em baixo um potente ribeiro que rápido forma seu leito.
65.OSENHORSEREVELAAO TAVOLEIRO
Assustado, o tavoleiro nada sabe dizer. Por isto lhe pergunto: “Como é, amigo, a tua fé ainda é fraca?”
Responde ele: “Quanto a ela, poderias me apresentar o que quiseres, que acreditaria. Certamente já operaste grandes milagres, a fim de soerguer a amortecida fé no Deus Verdadeiro, e despertar novamente o temor no coração das criaturas. Mas, como vivo isola- do do mundo, nada sei dos acontecimentos desse teor. Qual é a tua profissão à testa de teus companheiros? Sem dúvida não perambulas pelo mundo para suprir de água zonas estéreis?!”
Digo Eu: “Tens razão. Ainda assim Me admira que, como galileu, nada tenhas ouvido de Minha Pessoa. Há alguns anos foste várias vezes a Nazareth, onde trabalhei como carpinteiro ao lado do velho José. Lá te cientificaste de muita coisa. Não te lembras?”
Arregalando os olhos, ele diz: “Tu serias aquele filho do car- pinteiro do qual os nazarenos contavam lendas e fábulas? Sim, sim, ouvi muitos fatos vários anos atrás, mas a maior parte era acerca de sua infância, pois como adolescente e homem não manifestava as capacidades primitivas, e então ninguém mais lhe dava atenção.
Então és o filho mais moço do velho José, do qual ele muito esperava, mas finalmente começou a duvidar por causa do teu mu- tismo. Agora compreendo certos avisos que nunca pude acreditar, e desejava saber de ti qual a finalidade de tuas viagens e insisto que fiques durante a noite!”
Digo Eu: “Quando em breve voltar de onde vim, Meus discípulos serão enviados ao mundo inteiro pregando em Meu Nome o que aprenderam, e então saberás a finalidade de Minha Peregrinação.
Quem crer em Mim e em Meu Verbo, agindo de acordo, fará jorrar rios de água viva e jamais sentirá sede, porque terá em si a Vida Eterna, na Verdade e no Espírito de todo Amor de Deus.
Fácil é mandar-se numa rocha para jorrar água fresca; almas e corações dos homens se tendo endurecido muito mais que essa ro-
cha, muito mais difícil fazer-se com que produzam a Água da Vida, ou seja, a Verdade eterna em Deus que Se dirige a eles pelo Verbo.
Quando te for transmitida, é preciso que creias e ajas, tor- nando-te um poço no Reino de Deus, no qual muitos se saciarão para a Vida Eterna de suas almas sedentas de Verdade. Eis a finalida- de de Minha Peregrinação.
Desejas que Eu passe esta noite em tua casa. Infelizmente não é possível, pois resta-Me uma hora do dia para trabalhar e antes do pôr-do-sol aguarda-Me importante tarefa. Guarda o que te falei, pois tempo virá em que o considerarás mais que todos os tesouros do mundo, inclusive teus parentes.”
De pronto partimos, e o anfitrião nos acompanha uns cem passos, agradece pelo milagroso benefício e Me pede voltar para uma visita mais demorada.
Digo Eu: “Meu amigo, não mais Me verás como agora; mas, quando fores instruído pelos Meus discípulos a respeito de Mi- nha Pessoa e Vontade, acreditando em Meu Nome, virei para ficar contigo, em Espírito. Só o entenderás quando tal suceder.”
Despedindo-se, o tavoleiro volta pensativo para casa, onde encontra os empregados, em número de quarenta, diante da rocha que produz água tão abundante. O patrão lhes fala de Mim como Autor do milagre, sem que eles algo entendessem.
Somente um simples pastor que conduzia um rebanho e sem delongas o levara à fonte diz: “Todos vós conjecturais e questio- nais — entretanto a Verdade é evidente! O homem que pela simples palavra faz o que é impossível ao mortal deve estar pleno do Espírito Divino. Como Deus prestasse Graça tão imensa a esta casa, deve- ríamos agradecer-Lhe e louvá-Lo; e amanhã conviria meter mãos à obra para fazer um lago na baixada, a fim de servir de bebedouro para os animais.”
Todos concordam e vários empregados pegam de enxada e pá, e dentro de uma hora conseguem juntar a água; em poucos dias, toda a baixada constituída de terreno pedregoso transfor- mara-se em grande lago. Causa isto grande admiração por par-
te dos viajantes, que anteriormente evitavam a zona pela falta de água no verão.
A frequência ia aumentando, a ponto de o hospedeiro cons- truir albergue maior devido aos bons negócios. Muitos até mesmo vinham para verificar o milagre, e o hospedeiro mais tarde se tornou grande divulgador do Meu Evangelho.
66.CURADEDEZLEPROSOS(LUCAS17, 11-19)
Passada uma hora, chegamos nas proximidades de uma vila onde nos abordam dez leprosos de Nazareth, que há um ano viviam ao relento porque ninguém os queria acolher, nem médico algum poderia curá-los.
Chegando perto de Mim, logo Me reconhecem, inclusive vários discípulos, e começam a pedir: “Ó Jesus, querido Mestre, conhecemos-Te e Teu Poder divino; apieda-Te de nós. Não somente sentimos dores horríveis, mas além disto todo mundo foge de nós!”
Digo-lhes, pois: “Vossa fé vos socorra! Voltai à vila e apresen- tai-vos a um sacerdote que seja médico, a fim de dar testemunho de vossa saúde. Em seguida, tornai-vos úteis pelo trabalho e não mais pequeis para não piorardes. Tais males físicos são provocados pela impudicícia. Fazei o que vos disse!”
Rápido, os curados voltam à vila e se apresentam a um sacer- dote, pedindo que lhes desse um certificado. Ele os examina e forne- ce, como de praxe, um pedaço de pele de burro marcado com uma estrelinha. Mediante o mesmo, eles são recebidos num albergue. Então, um deles observa: “O bom Mestre Jesus de Nazareth nos sal- vou de nossa praga, através de Seu Poder milagroso; considero nosso dever procurá-Lo para expressarmos novamente nossa gratidão.”
Objetam os outros: “Tens razão. Mas já começa a anoitecer, e Ele certamente não estará à nossa espera. Agradeçamos-Lhe no coração, e garantimos não ficar aborrecido com a nossa atitude.”
Diz o primeiro: “Se o bom Mestre Jesus lê pensamentos, sa- berá que eu agora volto ao local onde nos curou — esteja Ele lá ou
não!” Concluem os companheiros: “Faze o que quiseres; achamos não errar com nossa atitude.”
Os nove voltam ao albergue, e o primeiro chega ao ponto onde Eu estou com os discípulos gozando a noite serena. Sumamente ale- gre, ele cai de joelhos e diz: “Ó Jesus, Filho de Deus Vivo e Eterno, sendo Tua Natureza idêntica à do Pai e por isto tudo podes, agradeço-
-Te e Te louvo pela imensa Graça conferida a mim e aos companheiros de dor. Permanece conosco com Teu Amor, Graça e Misericórdia e faze com que os cegos de espírito também o percebam!”
Digo Eu: “Levanta-te; pois tua grande fé te socorreu! És sama- ritano, Me reconheceste e vieste dar Honras a Deus; por isto ficarás no Meu Amor. Mas, o que há com os nove? Não ficaram limpos? Por que não vieram para testemunhar a Honra de Deus? Então um estra- nho sabe melhor o que Deus merece, do que aqueles que se deixam homenagear como filhos de Deus?! Eis a razão pela qual lhes será tirada a honra e entregue aos estranhos!” O samaritano continua de joelhos e Eu repito: “Levanta-te e volta ao albergue; tua fé te salvou. Transmite aos companheiros, judeus, o que acabo de dizer-te!”
Ele segue Minhas Ordens e relata abertamente as Minhas Palavras. Os outros se sentem apavorados com a possível recaída no antigo mal. Não se alimentam, de arrependimento. Entrementes, Eu e os discípulos aí chegamos. O dono da casa nos indica um re- cinto espaçoso e pergunta o que desejamos.
Digo Eu: “Manda servir o que tens!” Ele chama os empre- gados para trazerem pão, vinho e peixes bem preparados. Enquanto ceamos, a curiosidade leva o pessoal a nos observar, e logo percebe tratar-se dos curadores pelos quais os leprosos haviam sido socorri- dos. O próprio anfitrião senta-se à nossa mesa, perguntando se em nosso grupo se encontrava Jesus.
Jacob, o Menor, responde: “Lá está o Senhor, dirige-te a Ele que receberás resposta certa.” Aproximando-se de Mim, o tavoleiro repete: “És tu o afamado Jesus, cujo poder e força da palavra conse- guiram limpar os leprosos?”
Digo Eu: “Manda chamar os que assim falaram; dir-te-ão se sou Aquele!” Ele vai buscar os purificados, que exclamam em unís- sono: “Sim, sim, é ele quem nos prestou a grande Graça!” E todos caem à Minha frente, dando-Me a honra.
Digo-lhes: “O pavor da recaída vos fez agir desse modo! Por esta vez sereis perdoados, permanecendo limpos. Daqui por diante, Minha Bênção não ficará com os que, por comodismo, não rendem honra a Quem lhes deu a Graça. Ide em paz e evitai o pecado!” Eles voltam ao seu recinto, enquanto o hospedeiro, sabendo com Quem lidava, trata-Me com toda veneração e manda preparar os melhores peixes para nós.
67.FARISEUSEESCRIBASDESAFIAMO SENHOR
Acontece encontrarem-se neste albergue alguns fariseus, um rabi e um escriba com funções na dita vila, e o tavoleiro os avisa que Eu Me encontrava com os companheiros no grande refeitório, jul- gando prestar-Me um favor. Trata-se do personagem que havia cura- do os leprosos e certamente estariam interessados em Minha Pessoa.
Informados deste modo, eles se levantam, dizendo: “Muito bem, vamos examiná-lo para verificar o que há de verdade quanto aos boatos de ser o prometido Messias dos judeus!”
Entram em nosso refeitório e pedem um bom jantar, mani- festando pela atitude arrogante serem eles senhores da localidade. A nossa é de completa indiferença, a conversa gira em torno de assun- tos sem importância e, quando os peixes são trazidos para nós, sem demora começamos a jantar. Percebendo serem os peixes e o vinho de especial qualidade, um fariseu se dirige ao dono da casa e pergun- ta: “Por que não mandaste servir o mesmo para nós? Acaso somos inferiores a esses galileus, alguns dos quais conhecemos bem?”
Responde ele: “Isto não me interessa; cada um recebe o que encomendou. Querendo também peixes especiais, ainda é tempo para mandar prepará-los.”
Os fariseus sabem que tais pratos são dispendiosos e que o tavoleiro pedia preços elevados, razão por que não os encomendam. A fim de contornar a avareza, um outro contesta: “Não os quere- mos, porquanto não fomos os primeiros a ser servidos.”
Responde o tavoleiro: “Não me perturbo com vossa aren- ga! Quem poderia obrigar-me a servir outra coisa, senão aquilo que fora pedido? Para mim vale o provérbio: Cada qual recebe o que de direito.”
Confirma o fariseu: “Tens razão, e nada podemos contrapor. Não deixa de ser estranho a tua boa vontade para com esses galileus, dos quais não se sabe se estão em condições de pagar e tu gozando da fama de não seres mui generoso!”
Protesta ele novamente: “Não é de vossa conta! Criaturas como vós nada têm de raro, enquanto a Pessoa de Jesus de Nazareth, que pelo Poder milagroso de Palavra e Vontade curou os leprosos aos quais vós mesmos fornecestes atestado, é algo jamais visto e compre- ende-se eu prestar-Lhe a atenção merecida.”
Como não tivessem argumentos, os fariseus se entregam à refeição, embora aborrecidos. Nós também jantamos sem lhes dar a menor atenção. Quando o vinho lhes esquenta a cabeça, um deles se posta à Minha frente e diz: “Mestre, dize-nos qual é o poder que te assiste nas ações milagrosas?”
Digo Eu: “Antes de vos informar, tereis que responder uma pergunta. Foram prédica e batismo de João ordenados por Deus, ou simples ação humana?”
O escriba não sabe como retrucar. Se disser que fora Ordem de Deus, Eu perguntaria por que não acreditaram. Afirmando ter sido obra do homem, o tavoleiro e toda vila estariam contra eles, pois consideram João Baptista profeta inspirado por Deus. Após cer- to tempo, ele diz: “Mestre, realmente não o sabemos!”
Digo Eu: “Neste caso, também não posso explicar qual o Poder que Me assiste nos milagres, portanto estamos no mesmo ponto de partida.”
Nisto se apresenta um fariseu, dizendo: “Mestre, vários boa- tos de tua pessoa chegaram a nós; entre eles, que por ti seria fundado o Reino de Deus na Terra. Tuas ações demonstram seres Tu o Espe- rado. Também queremos crer. Dize-nos, portanto, como e quando o Reino de Deus virá à Terra.”
Respondo: “O Reino de Deus não virá com pompa externa que permitisse a afirmação: Ei-lo aqui, ou acolá!, pois não se trata de um Reino material, mas espiritual, por ser Deus Mesmo o Espírito Puro e Eterno. Por isto não dará e erigirá o Seu Reino para o corpo, senão para a alma e espírito. Alma e espírito se acham dentro do homem. Deste modo, o Reino de Deus só existe no íntimo dele, e quando se aproximar, percebê-lo-á apenas dentro de si, e não ex- ternamente.”
À Minha resposta, os fariseus nada sabem dizer e voltam à sua mesa. O tavoleiro, contente por ter Eu lhes tapado a boca, manda trazer novo vinho e Me diz: “Bebei à vontade; desta vez sou eu quem paga!”
Irritados, os fariseus protestam: “Este — o Messias enviado por Deus?! É comilão e beberrão, inclusive seus discípulos! Além disto, priva com publicanos, pagãos e outros pecadores, come o pão de mãos não lavadas e ainda que fizesse milagres a granel, não haverá verdadeiro escriba e fariseu que nele acreditasse!”
Diz o tavoleiro: “Isto pouco O perturbará. Sendo Ele o Se- nhor, não necessita considerar as leis do mundo, mas convém nós aceitarmos as que Ele nos der!”
Retrucam os templários: “Tuas conjecturas não nos aborre- cem por seres mais samaritano que judeu; irritamo-nos de ele sedu- zir muitos judeus e dizer de si o que não é, e por não considerar a Lei de Moysés!”
Nisto Me levanto de feição severa e digo: “Com quem po- deria comparar essas criaturas? João se alimentava apenas de gafa- nhotos e mel silvestre, levando vida penitente, e eles alegavam ser ele hipócrita e beato! Isto porque ele os acusava de seu ateísmo e de-
monstrava seus inúmeros pecados, motivo pelo qual influenciaram Herodes para prendê-lo e decapitá-lo.
Eu Me alimento com todos, não aparento hipocrisia nem beatitude, trato a todos com amabilidade, ajudo a quem Me procura com fé — e eles afirmam: Como este homem é glutão e beberrão, amigo de pecadores, publicanos e pagãos, desconsiderando as Leis de Moysés!
Diante disto, o que vem a ser o ensino deles: Caso fizeres oferendas, ser-te-á mais útil do que honrares pai e mãe?! Acaso não revogam as Lei de Deus e martirizam as criaturas com determina- ções criadas em benefício deles? Por isto os aguardará condenação maior! Sobrecarregam os homens com pesos insuportáveis — en- quanto eles não mexem um dedo sequer! Para os sacrifícios pres- tados, prometem orações prolongadas, que mandam balbuciar por servos de modo insensível e repugnante. Não se parecem aos que peneiram moscas, engolindo camelos?!
Comem o pão de mãos lavadas, enquanto seus corações es- tão cheios de imundícies. Podem ser comparados aos sepulcros artis- ticamente caiados, mas cheios de podridão e mofo. Comer-se o pão de mãos não lavadas não vilipendia o homem, especialmente onde muitas vezes não há oportunidade para tanto; mas mentira, mistifi- cação, adultério e negação de Deus maculam a criatura, fazendo dela filha do inferno!”
Ouvindo isto, os fariseus se enraivecem e abandonam a sala, a nosso contento, enquanto o tavoleiro agradece por Eu lhes ter dito a Verdade, e todos os discípulos Me louvam. Finalmente, ele con- jectura: “Senhor e Mestre, Teu Discurso certamente levará um ou outro a uma opinião mais favorável de Tua Pessoa.”
Respondo: “É mais fácil fazeres um preto se tornar branco, do que um desses hipócritas se converter e penitenciar! Quando ava- reza, inveja e domínio tiverem deitado raízes profundas dentro do homem, não se pode cogitar de verdadeira melhoria. Deixemo-los conjecturar. Amanhã haverá tempo para fazermos algo de útil.”
(O Senhor): “Tens um servo muito estimado porque sempre serviu fiel e devotadamente; mas há um ano está acamado, sofrendo de artritismo. Se o desejas e acreditas, poderei socorrê-lo!”
Responde ele: “Senhor, caso me concederes essa Graça, farei tudo o que exigires!”
Digo Eu: “Que se faça o que crês! Vai ver se ele ainda pade- ce!” Incontinenti, ele procura o empregado, encontrando-o perfeita- mente são. Conta-lhe que tivera a impressão de ter relampejado em redor dele, e no mesmo instante as dores desapareceram, a ponto de se poder levantar. Deus, certamente, fez um milagre.
O tavoleiro lhe diz: “Vem à sala, onde verás Quem te curou!” Não demora e o empregado, acompanhado de todos os serviçais, en- tra no refeitório perguntando pelo médico. Apontando para Mim, o patrão responde: “Eis o Homem-deus, do qual tenho de confessar não estarmos em condições de receber a Sua Visita! Agradecei-Lhe pela Graça e demonstrai-Lhe a Honra!”
A essas palavras, o empregado se atira aos Meus Pés, sendo imitado pelos demais, externando de viva voz sua gratidão, com que se fez grande alarde. Os fariseus, conquanto estivessem em recinto mais afastado, percebem-no e um deles vem saber o motivo.
Quando lhe contam o ocorrido, ele se aborrece e diz ao tavoleiro: “Tem cuidado desse rebelde; se opera tais milagres com ajuda do chefe dos diabos ou por outras magias, talvez estudadas com os essênios, em breve os romanos saberão da simpatia do povo e no final hão de querer declará-lo Rei de todos os judeus, e nossa situação será aflitiva.”
Responde o tavoleiro: “Por parte dos romanos, que o conhe- cem certamente melhor do que nós, nada receio; de vossa parte te- ria que temer tudo, caso não fosse cidadão romano. Quanto a vós, tendes motivo de temer este Homem cheio do Espírito de Deus, do contrário não seria capaz de fazer tais milagres. E quem é dotado do
Espírito Divino é Soberano sobre tudo no Céu e na Terra. Por isto, tua advertência não me toca!”
Muito embora irritado, o rabi começa a meditar, e quando volta junto dos outros, dá uma explicação qualquer a respeito do que sucedera na sala. Satisfeitos, eles continuam a beber, conjecturando: “Deixemos o tavoleiro alegrar-se com o famoso médico curador; em algumas semanas terá esquecido o fato.” Essa conclusão era a nosso favor, porque nos dá oportunidade para palestras importantes. O curado ficou em nossa companhia para se fortificar com a refeição, enquanto os outros empregados voltam aos seus afazeres.
69.OVALORDOSESTATUTOS TEMPLÁRIOS
O tavoleiro, em seguida, dirige-se a Mim: “Senhor e Mes- tre, não havendo perigo de sermos importunados, peço-Te me digas mais detalhadamente o que seja necessário para a salvação da alma.”
Digo Eu: “É preciso acreditares indubitavelmente em Deus, cumprir Seus Mandamentos, amá-Lo acima de tudo e teu próximo como a ti mesmo; crer ser Eu o Messias Prometido que veio em carne a este mundo como a Verdade Eterna, a Luz e a Vida Mesma, a fim de que todos alcancem a Vida Eterna pela fé em Mim e a prá- tica de Minha Doutrina. Se assim creres e agires, conquistarás para sempre a salvação verdadeira e viva de tua alma, pois é o suficiente à aquisição do Reino de Deus em ti; todo o resto não tem valor para a alma, diante de Deus. Podes crê-lo, por ser Eu — o Senhor de toda vida — a te dizer isto.”
Retruca ele: “Senhor e Mestre, creio firmemente. Acontece ter Moysés dado quantidade de regras e ordens, como por exemplo: alimentos somente ingeridos pelos judeus, a constante higiene do corpo, o jejum, a penitência em saco e cinza, o porte de roupas de crina, e outras tantas coisas dificilmente lembradas, razão por que sempre há o temor do pecado inconsciente. Como agir em tal caso? Seria o fiel cumprimento de Moysés e os demais profetas condição indispensável para se atingir a Benevolência de Deus?”
Respondo: “Se considerares o que acabo de falar, terás cum- prido tudo que fora determinado por todos os profetas. O homem é obrigado a se alimentar para a conservação de seu físico, mas os alimentos têm que ser limpos e frescos. É indispensável à saúde que o corpo seja limpo e puro sob todos os aspectos, e a mente, come- dida e sóbria. Assim, tais determinações são boas e salutares, não somente aos judeus, mas a todos. Num físico enfermo, a alma não se pode elevar tão facilmente àquilo que lhe proporcione a salvação e a Vida Eterna.
Por isto, Deus determinou por Moysés o que se presta à vida terrena, e o homem faz bem quando o considera. Mas quem fizer o que te disse será guiado pelo espírito do Reino de Deus no próprio coração, demonstrando-lhe as regras salutares em benefício do cor- po. Compreendestes?”
Responde o tavoleiro, acompanhado do servo: “Ó Senhor e Mestre, agradecemos-Te de todo coração e com todas as forças físicas por ensinamento tão sábio. Deste-nos um esclarecimento bem diverso das longas prédicas farisaicas, que apenas exigem cum- primento das coisas externas, sem cogitarem dos Mandamentos de Deus, pelos quais a alma se purifica e fortalece para a Vida Eterna.
Muitas vezes se vêm os homens depositar tributos pesados nas portas dos fariseus; nunca, porém, uma criatura que cumprisse as Leis de Moysés. Eles afirmam: Se pelas oferendas se consegue a mesma coisa de Deus e ainda se purifica mais do que pelo cum- primento difícil dos Mandamentos, este caminho é mais cômodo, aliviando a consciência.
Comparando-se tal afirmativa com o que acabas de aconse- lhar, descubro enorme diferença, Senhor! Tudo que dizes é Verdade perfeita e viva, e as palavras dos fariseus, mentira grosseira pela qual nenhuma alma atingirá a Vida Eterna. Qual nossa atitude com re- lação a eles?”
Respondo: “Agi segundo suas prédicas baseadas em Moysés e demais profetas, e não considereis os estatutos do Templo, que são verdadeiro horror perante Deus!
Além disto, consta: Esse povo Me honra com os lábios; mas seu coração está longe de Mim! E Eu acrescento: Aproxima-se o fim desses doutrinadores! Por isto, Eu vim junto de vós como o Cami- nho, a Verdade e a Vida para varrer da Terra a mentira e suas obras maldosas. Se bem que em breve deixarei este mundo, e a mentira, sua perversidade e falsidade proliferarem entre os homens durante a Minha ausência, Eu voltarei em tempo com Poder e Força, pondo término ao domínio da mentira e mistificação.
Desde já preparo a base no coração dos homens, erigin- do um novo Templo e uma nova Cidade de Deus. Vamos, quanto antes, terminar a construção, a fim de que sejam destruídos para sempre o velho Templo e a Cidade da mentira, da fraude e maldade totais! Ainda não vos é possível compreendê-lo em sua pureza; mas, quando fordes penetrados pelo Meu Espírito, tudo vos será claro, relembrando-vos de Minha Predição.”
Minhas Palavras não são compreendidas, inclusive pelos discípulos, motivo por que conjecturam entre si: “Por diversas vezes Ele ventilou uma segunda Volta a esta Terra, porém de modo místi- co, como fazem os profetas. Vamos perguntar-Lhe a respeito, talvez nos dê informes mais precisos!”
70.AVOLTADO SENHOR
Com essa intenção, os apóstolos se dirigem a Mim, dizendo: “Senhor e Mestre, por diversas vezes afirmaste que deveríamos en- tender os Segredos do Reino de Deus, dando-nos orientações tais a nos facultarem visão clara de Tua Infinita Criação e outras coisas mais, que o intelectual mundano jamais poderia sonhar. Falta-nos, porém, a compreensão de Tua Volta, pois presumimos fazer ela parte dos Segredos Divinos.”
Respondo: “Várias vezes vos demonstrei minuciosamente; não vos encontrando compenetrados do Meu Espírito, impossível compreenderdes o assunto em sua profundeza. Não posso precisar ano, dia e hora de Minha Volta, porquanto nesta Terra tudo depen-
de do livre arbítrio do homem. Nenhum anjo no Céu o sabe, mas unicamente o Pai e quem for orientado por Ele. Além disto, não é indispensável tal conhecimento para a salvação das almas.
Porventura seria benefício para o homem se soubesse dia e hora de sua morte? Para muito poucos renascidos em espírito, sim; para outros, seria grande prejuízo. A aproximação da hora da partida os encheria de tanto pavor e desespero, a ponto de se tornarem ini- migos da própria existência, suicidando-se para fugir do medo mor- tal; ou cairiam em ociosidade tamanha a pôr em perigo a salvação da alma. Assim, é melhor para o homem ele ignorar como e quando terá que aguardar determinados fatos.
Digo mais: Tempo virá em que vossos descendentes de fé também perguntarão pelo Dia do Filho do Homem, desejando vê-Lo, entretanto não se cumprirá tal desejo. Em tal época muitos se levantarão para pronunciar com ares de importância: Em tal dia, Ele virá! — Não presteis ouvidos a esses profetas!
O Dia de Minha Segunda Volta será qual um raio, que de um polo a outro passará no Alto do Céu, iluminando tudo que fica embaixo do mesmo. Antes que isso aconteça, o Filho do Homem terá muito que sofrer e será condenado por essa geração, quer dizer, dos judeus e fariseus, e em épocas posteriores, pelos chamados ‘no- vos’ judeus e fariseus.
O que se deu em tempos de Noé repetir-se-á na segunda Chegada do Filho do Homem. As criaturas se banqueteavam e se casavam até o dia em que Noé subiu na arca, e o Dilúvio afogou a todas. Situação idêntica deu-se na era de Lot: Comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. No dia — confor- me expliquei no Monte das Oliveiras — em que Lot deixou Sodo- ma, já caíam fogo e enxofre do Céu, matando a todos.
Assim será quando o Filho do Homem novamente for reve- lado! Quem estiver no telhado, não desça para buscar algum objeto. Quer dizer, quem tiver entendimento verdadeiro deve continuar no mesmo, e não descer para uma noção inferior com medo de algum prejuízo material, pois vantagens terrenas serão eliminadas.
Eis outra comparação: Quem se achar no campo (da liber- dade do conhecimento) não volte para trás (por exemplo, às antigas doutrinas mistificadoras e seus estatutos), mas lembre-se da mulher de Lot e procure evoluir na Verdade!
Digo mais: Em tal época haverá dois homens a trabalharem num moinho. Um será aceito, o outro, abandonado; isto é, o traba- lhador justo será aceito, enquanto o injusto e egoísta será deixado de lado. Pois quem procurar manter sua alma em virtude do mundo perdê-la-á; quem a perder por causa do mundo conservará a sobre- vivência dela, ajudando-a à Vida Eterna e Verdadeira.
Prossigo: Na mesma noite psíquica haverá dois no mesmo leito; um será aceito, e o outro deixado; quer dizer, ambos se en- contrarão externamente na esfera da mesma convicção de fé; en- tretanto, um será aceito, em virtude de sua fé ativa no Reino de Deus, vivo e luminoso. O outro manterá apenas o culto externo sem valor vital para alma e espírito, e sua fé estando morta, sem obras do amor ao próximo, ele não será acolhido no Reino de Deus, vivo e cheio de luz.
Haverá igualmente dois lavradores no campo. Um será aceito no verdadeiro Reino de Deus, porque trabalhou na fé viva por amor a Deus e ao próximo, sem egoísmo. Quem trabalhar no mesmo campo qual fariseu, sem fé interna e por egoísmo puro, cer- tamente será abandonado e não aceito no Reino de Deus!
Eis a situação referente à Volta do Filho do Homem à Terra. Quando estiverdes mais iluminados pelo Meu Espírito, recebereis entendimento claro dessas parábolas; por ora, não vos posso trans- miti-lo mais explicitamente.”
Dizem os discípulos: “Está tudo certo, Senhor e Mestre, e cremos em Tuas Palavras. Mas como e quando isso acontecerá?”
71.AÉPOCAFINALANTESDAVOLTADO SENHOR
Digo Eu: “É realmente de admirar vossa incompreensão. Já por diversas vezes apontei por que não posso prefixar a época de tal fato, conquanto poderia determinar quando este ou aquele monte será destruído por um raio, inclusive seus picos rochosos. Pois neste caso lidamos com a matéria condenada, que em tudo depende de Minha Vontade. Isso não se dá com as criaturas possuidoras de livre arbítrio. Ainda assim, adiantarei: Onde houver um cadáver, juntar-
-se-ão as águias.”
Conjecturam os discípulos: “Ó Senhor e Mestre, acabas de di- zer o que não entendemos! Quem é o cadáver e quem são as águias?”
Respondo: “Observai o farisaísmo preguiçoso e descrente, e tereis o cadáver. Eu e todos que creem em Mim, judeus e pagãos, são as águias que em breve terão comido o cadáver. De igual modo, é a noite do pecado da alma um cadáver, em redor do qual a Luz da Vida começa a se estender, destruindo-o com todas as suas neblinas e fantasmagorias, como faz a manhã dispersando a noite.
O que ora acontece diante de nossos olhos com o farisaísmo preguiçoso, sem fé e verdade, tornando-se um enorme cadáver que dentro de cinquenta anos chegará ao término, corresponderá à si- tuação em épocas futuras, da Doutrina e Igreja por Mim criadas. A Igreja se transformará num cadáver pior que o judaísmo, e as águias de Luz e Vida o atacarão, como corpo fétido a querer empestar o mundo inteiro, com o fogo do verdadeiro amor e o poder de sua Luz de Verdade. Isto pode acontecer ainda antes de se passarem dois mil anos — o que já ventilei noutra ocasião.
Naquela época e também hoje opinais por que Deus o per- mite. E Eu demonstro novamente não poder reter as criaturas, às quais fora dado o livre arbítrio para sua determinação própria, atra- vés de Minha Onipotência, como faço aos demais seres em todo o Universo; pois, se assim fizesse, o homem não seria humano, senão um irracional, planta ou pedra, sujeito à Minha Onipotência. Espe-
ro vossa compreensão, deixando de perguntar por coisas tão claras para o pensador algo esclarecido.
Se, nesta época em que Eu ainda convivo convosco e doutri- no, alguns resolveram divulgar a Minha Doutrina em Meu Nome, mas para vantagens materiais, nela mesclando sua própria semente impura — da qual surgirá em breve muito joio prejudicial entre o trigo escasso no Campo da Vida e sua Verdade — porventura seria de se admirar se posteriormente se erguerão vários doutrinadores e profetas falsos e não convocados, bradando de arma em riste: Eis o Cristo!, ou, lá está Ele?!
Se vós e vossos seguidores justos e puros assistirem a tais en- cenações, não deis crédito! Facilmente se reconhecerá sua autenti- cidade pelas suas obras, assim como se conhecem as árvores pelos frutos. Uma árvore boa dará bom fruto. Cardos não produzem uvas, e abrolhos não dão figos.
No que consiste o Reino de Deus e como se desenvolve no íntimo da criatura, expliquei aos fariseus em vossa presença. Com- preendereis, portanto, não ser possível crer-se naqueles que excla- mam: Vede aqui, vede acolá! Assim como o espírito se encontra no íntimo do homem — dele partindo toda vida, pensamento, senti- mento, conhecimento e vontade, penetrando todas as fibras — o Reino de Deus também está no íntimo da criatura como verdadeiro reino vital do espírito, e não externamente.
Quem isto compreender e assimilar na Verdade plena e viva, não poderá ser confundido por um profeta falso; mas quem se asse- melhar psiquicamente a uma ventarola ou uma cana de junco den- tro d’água, dificilmente encontrará o Porto da Vida, seguro e cheio de Luz! Não sejais, portanto, ventarolas nem cana de junco, mas verdadeiras rochas de Vida, às quais tempestades e vagas colossais em nada prejudicam. Compreendestes?”
Respondem os discípulos: “Sim, Senhor e Mestre, agora Te compreendemos bem, porque elucidaste as Tuas Palavras por meio de parábolas, e pedimos que tenhas sempre a mesma paciên- cia conosco.”
Retruco: “Se Eu fosse semelhante aos homens, teria per- dido muitas vezes a paciência; sendo Aquele que conheceis e cheio de máxima paciência, amor e meiguice, jamais tereis motivo para vos queixardes de Minha Paciência. Se o Pai não tivesse paciên- cia com os Seus filhos, quem seria indicado para tanto? É preciso que também vós sejais tão pacientes, meigos e humildes como sou Eu de todo coração, amando-vos como irmãos verdadeiros, assim como Eu vos amo e sempre amei, e deste modo demonstrareis a todo mundo serdes Meus verdadeiros discípulos. Nenhum se julgue melhor do que o próximo, pois sois todos irmãos; somente Eu sou vosso Senhor e Mestre, e o serei para toda Eternidade e em todas as épocas deste mundo.
Há algum tempo estamos trabalhando para o Reino de Deus e durante esse percurso cometestes vários erros sem que algum de vós fosse por Mim expulso, nem ao menos aquele, muitas vezes apontado por mim, até hoje sendo um demônio incorrigível. Meu Amor e Minha Paciência ainda não o julgaram; muito menos o farão com os que Me seguem cheios de amor e fé; por isto podeis estar certos de Meu máximo Amor e Paciência; pois, quem fica em Mim, estará Comigo!”
72.OREINODE DEUS
Manifesta-se o tavoleiro, cheio de respeito e veneração: “Ó Senhor e Mestre, Tuas Obras são milagrosas, mas Tuas Palavras são pura Verdade e Vida. Quando ages, até mesmo um cego percebe governar em Tua Vontade mais que força e poder humanos; mas, quando falas, a criatura reconhece seres o Próprio Senhor! A Sabedo- ria de Tuas Palavras é mais luminosa que a luz do Sol a pino. Mas, se permitires, tomarei a liberdade de formular uma pergunta referente ao Reino de Deus.
Muito falaste a respeito de Tua segunda Volta e da Chegada do Reino de Deus, e esta, em épocas distantes. Ao mesmo tempo explicaste que o Reino de Deus não viria com pompa externa, pois
encontra-se no coração do homem, a quem cabe procurá-lo para fazê-lo evoluir.
Segundo me parece, Tua Presença atual não se dá dentro de nós, mas externamente, de sorte a podermos afirmar com toda cer- teza: Eis o Cristo, o Senhor de toda Glória, Ungido desde Eterni- dade; Ele é Tudo em tudo, portanto o Reino de Deus, a Vida e a Verdade! E Tu Te encontrando conosco, Teu Reino não está dentro, mas em nosso meio! Será essa situação idêntica aos tempos vindou- ros, ou seria Tua segunda Vinda diferente?”
Digo Eu: “Caro amigo, falaste bem, e Eu te asseguro não ter sido tua mente o móvel, senão a voz de teu espírito; ainda as- sim, a questão da futura Volta do Filho do homem será tal qual Eu demonstrei!
Tens razão de afirmar que o Reino de Deus veio por Mim e Se encontra em vosso meio; isto não é o bastante para o alcance e a plena conservação da Vida Eterna da alma, o que apenas sucederá quando tiverdes aceito Minha Doutrina com a vontade e pela ação, e sem consideração ao mundo. Isto se dando, não mais direis: Cris- to, e com Ele o Reino de Deus, vieram junto de nós e habitam em nosso meio!, e sim: Agora não mais vivo eu, senão o Cristo dentro de mim! Quando esse for o vosso caso, compreendereis em plenitu- de que o Reino de Deus não se aproxima com pompa externa, mas desabrocha no íntimo da criatura, atraindo, fortificando e conser- vando a alma em sua Vida Eterna.
Naturalmente, é preciso apontar ao homem o caminho ex- terno, pela Palavra de Deus que dos Céus desceu junto dele, poden- do-se afirmar: A Paz seja contigo; pois o Reino de Deus aproximou-
-se de ti! — Mas, com isto, o homem não se encontra no Reino de Deus, nem este está no homem.
Tão logo ele começar a crer e, pela ação, acionar sua fé na Doutrina, o Reino de Deus se desenvolve no seu íntimo, assim como na primavera a vida no vegetal desabrocha visivelmente quan- do ele é banhado e aquecido pela luz do Sol, obrigando-o à ativida- de interna.
Toda manifestação de vida é como que incentivada e des- perta por fora — mas o surgir, desenvolver, desabrochar, formar e positivar se projetam no interior.
Animais e homens são obrigados a tomar o alimento externa- mente; pelo ingerir do alimento ainda não se deu a verdadeira nutri- ção do corpo, pois essa se dá partindo do estômago a todas as partes físicas. Assim como o estômago é, de certo modo, o coração alimen- tador da vida corpórea, o coração se torna o estômago da alma para o despertar do espírito de Deus, e Minha Doutrina é o verdadeiro alimento da Vida e a verdadeira bebida para o estômago psíquico.
Assim, sou Eu, através de Minha Doutrina, o verdadeiro Pão de nutrição vital, dos Céus, e a ação segundo ela manda é o néctar real, o melhor e mais forte vinho, que pelo seu espírito vivi- fica o homem todo, iluminando-o pela chama flamejante do fogo do amor. Quem comer este Pão e tomar este Vinho, não verá nem sentirá e saboreará a morte. Se isto foi bem assimilado, agi de acor- do, e Minhas Palavras se transformarão em Verdade plena e viva dentro de vós!”
73.ENSINAMENTODOSENHORACERCADOCOMERDESUACARNEEOBEBERDESEU SANGUE
Expressam-se os discípulos: “Senhor e Mestre, essa explica- ção é compreensível. Mas, quando em Capernaum, por ocasião de o povo seguir-Te de todas as regiões de Jerusalém, deste-nos elucidação semelhante do comer de Tua Carne e do beber de Teu Sangue, ne- nhum Te compreendeu, mormente os que não estavam habituados à interpretação de Tuas Palavras, razão por que muitos discípulos Te abandonaram. Nós mesmos não as entendemos no começo; apenas um hospedeiro, que nunca tinha sido Teu discípulo, interpretou a questão, e comparando-a com essa, é idêntica. Temos razão?”
Digo Eu: “Sim, pois pão e carne são uma coisa só, assim como vinho e sangue. Quem, com o Meu Verbo, come o Pão dos Céus e pela ação, quer dizer, pelas obras do amor verdadeiro e de-
sinteressado a Deus e ao próximo, bebe o Vinho da Vida, come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue. Assim como o pão natural se transforma em carne no corpo humano, e o vinho em sangue, o Meu Pão do Verbo se torna carne, e o vinho, pela ação amorosa, em sangue da alma.
Se afirmo: Quem comer a Minha Carne, quero dizer que a Minha Palavra não só deve ser assimilada pela memória cerebral, mas igualmente pelo coração, o estômago da alma, sucedendo o mesmo com o vinho do amor, que se transforma em sangue da Vida. Raciocínio e memória do homem com relação ao coração são com- paráveis à boca referente ao estômago. Enquanto o pão se acha entre os dentes, ainda é pão e não carne; tão logo for mastigado e levado ao estômago, onde é mesclado com o suco gástrico, será carne em virtude de suas substâncias etéreas, semelhantes à carne. O mesmo se dá com o vinho ou a água, que certamente contém a matéria do vinho, pois sem a água que o solo abriga para alimento de flora e fauna, a videira morreria. Enquanto conservares o vinho na boca, ele não passa para o sangue; uma vez dentro do estômago, não leva tempo para se transformar.
Quem, portanto, ouvir o Meu Verbo e conservá-lo na me- mória reterá o Pão dentro da boca da alma. Quando começar a re- fletir no cérebro, ele mastiga o Pão com os dentes da alma; pois o intelecto é para a alma o mesmo que os dentes para a boca.
No momento em que o Meu Pão, quer dizer, Minha Dou- trina, for mastigado ou aceito e compreendido como Verdade per- feita, terá que ser assimilado no coração pelo amor à Verdade, pas- sando à ação pela vontade firme. Isso acontecendo, transforma-se a Palavra em carne pela vontade ativa e em sangue da alma, ou seja, o Meu Espírito dentro dela, sem o qual ela seria morta qual corpo sem sangue.
A vontade firme para a ação assemelha-se à boa força digesti- va do estômago, pela qual o corpo se mantém forte e sadio; a força digestiva do estômago sendo fraca, o físico todo se torna enfermo, fraco e definhado, não obstante os melhores e mais puros alimentos.
O mesmo acontece à alma em cujo coração a vontade para a ação segundo a Doutrina é fraca. Não se desenvolve à potência completa, sadia e espiritual, vacilando qual folha ao vento e caindo facilmente em dúvidas e ponderações, vez por outra experimentan- do outro tipo de alimento para ver se talvez possui efeito melhor e mais forte. De nada adianta isto a uma alma fraca. Perguntais no íntimo se ela não pode ser ajudada, e Eu respondo: Sim; mas como?”
74.AIMPORTÂNCIADAAÇÃOSEGUNDOA DOUTRINA
(O Senhor): “Ouvi. O homem de estômago fraco vez por outra toma um chá de ervas, com o qual os alimentos mal digeridos são levados para o intestino. Os alimentos mal digeridos são com- paráveis às ponderações da alma, se deve crer nisto ou naquilo e agir em seguida.
Uma vez o estômago limpo, o que se deve fazer para ficar forte? Preciso é bastante exercício ao ar livre, medida primordial para ele readquirir sua força plena e sadia. O mesmo deve fazer a alma, purificando seu coração de todas as doutrinas, concepções e ideias errôneas, aceitando a Verdade por Mim ensinada, com amor e fé, e em seguida pondo-se em ação, que em breve se fortificará para sempre.
Por isto, nenhum de vós seja simples ouvinte, senão prati- cante firme e ativo, que todos os escrúpulos e dúvidas desaparecerão de sua alma.
Assim como o estômago em situação saudável pode ingerir toda sorte de alimentos, inclusive impuros em caso de necessidade, sem prejudicar-se, porque pela atividade expele as impurezas ou as transforma — o mesmo é feito pelo estômago forte e perfeitamente sadio da alma. Eis por que ao puro tudo é puro, e o bafo mais pesti- lento do inferno não pode provocar prejuízo.
Tão logo estiverdes de posse plena do Meu Reino, sereis ca- pazes de caminhar sobre serpentes e escorpiões, e tomar venenos infernais sem vos poderem causar dano. Tendo compreendido e as-
similado tudo isto, deduzireis na Verdade plena e viva qual o senti- do de Minhas Palavras em Capernaum, quando falei do comer de Minha Carne e do beber de Meu Sangue, e não haverá motivo para considerardes esse ensinamento de duro.
Já se torna difícil esclarecer-se ao puro intelecto coisas e apa- rições do mundo da Natureza, a fim de poder caminhar pela estrada da Verdade livre de todos os enganos alimentadores da superstição; quanto mais dificilmente são assimilados pelo raciocínio puro os fenômenos, forças, efeitos e aparições espírito-celestiais, invisíveis à visão do homem, para torná-los manifestos para a alma.
Por isto, repito sempre: Sereis iniciados em toda sabedoria das condições espirituais e celestes, em sua força e poder, somente quando completamente renascidos em espírito, como vos expliquei minuciosamente. Pesquisai vosso íntimo, se tudo foi compreendido na profundeza real e plena da Verdade.”
Respondem os discípulos: “Sim, Senhor e Mestre, quando revelas os Segredos do Reino de Deus; mas expressando-Te por meio de parábolas, o sentido é difícil deduzir e, às vezes, até incompre- ensível. Não resta dúvida que tais quadros só poderiam ser trans- mitidos pela Sabedoria Divina. Agradecemos de coração e pedimos o Teu Amparo, caso fraquejarmos no Caminho do Renascimento espiritual. E se nossa alma se atemorizar e entristecer quando não mais palmilhares em nosso meio, acode-nos com Tua Graça e Mise- ricórdia e vivifica nosso amor, fé e esperança!” Aduzem o tavoleiro e o empregado: “Juntamo-nos ao pedido de Teus discípulos!”
Digo Eu: “Realmente vos digo: Tudo que pedirdes ao Pai em Meu Nome ser-vos-á dado! Qual seria o pai entre os homens, geral- mente maus, que desse uma pedra à criança a lhe pedir pão, ou uma serpente em vez de um peixe?
Se as criaturas de índole maldosa distribuem bons bocados aos filhos, quanto mais o Pai no Céu, unicamente Bondoso, benefi- ciará aqueles que Lhe pedem com amor e fé!
Sede, portanto, de coração e ânimo alegres; pois o Pai, San- to e Bondoso, sempre vela sobre vós e cuida pelo vosso Bem e a
salvação de vossa alma. O Pai, porém, está em Mim, como Eu sem- pre e eternamente estou Nele, e dou-vos a certeza plena de jamais deixar-vos como órfãos, até o fim dos tempos desta Terra.
Realmente vos digo: Quem Me amar em Verdade e cumprir os Meus Mandamentos, a este procurarei e Me revelarei diretamen- te, e cada qual poderá se convencer não estar qual órfão no mundo. A quem Eu Me revelar, deve transmitir aos irmãos tamanho consolo, para se sentirem confortados.
Quem sente prazer em amparar os fracos, consolar os tristes e socorrer os sofredores poderá aguardar o prêmio da Vida, decupli- cado. Estai sempre certos disto!” Minhas Palavras alegram a todos, e o hospedeiro manda encher de novo nossas taças, e assim ficamos ainda por mais uma hora.
75.AGRANDE TEMPESTADE
Passada uma hora, ouve-se grande movimento na rua, pois surge forte ventania sacudindo portas e janelas da casa. Os próprios fariseus se apavoram, a ponto de perguntarem ao hospedeiro o que poderia acontecer. Ele mesmo, algo assustado, responde: “Por que me perguntais, como servos de Deus?! Alegais conhecerdes tudo e que Deus nada faria sem vós, Seus únicos representantes e servos no mundo. Certamente é de vosso conhecimento o motivo pelo qual Deus mandou essa tempestade. Que sei eu, desprezado samaritano, se vós estais apavorados?”
Diz um deles: “Ora, não te alteres como cidadão de Roma! Talvez o célebre nazareno poderia dar informações, como detentor dos segredos da Natureza. Isto nunca se viu! Geralmente uma tem- pestade começa com vento fraco até desandar em tufão. Este veio qual fúria, e justifica-se uma pergunta a respeito.”
Enquanto o fariseu se expressa, vê-se forte raio, acompanha- do de tremendo trovão. Tomados de pavor, os dois fariseus correm para junto de nós procurando proteção. Mas não demora a cair ou- tro raio com violência maior, atraindo os outros templários. Todos
os moradores estão amedrontados, aglomeram-se em nossa sala, e os fariseus se escondem debaixo da mesa.
Diz o hospedeiro: “Senhor e Mestre, é difícil determinar-se a hora quando não há estrelas; talvez já seja quase meia-noite e fico penalizado com os que precisam descansar depois de um dia traba- lhoso, pois essa tempestade poderia despertar um semimorto! Por que é preciso que milhares de pessoas sejam assustadas de tal forma? Não poderias fazer serenar essa fúria?”
Digo Eu: “Porventura estou Eu com medo? Deixa a tem- pestade desabar, nenhum justo será importunado. Muito pior é a tempestade psíquica de um grande pecador, quando vê aproximar-se o fim da vida, com a expectativa da morte eterna e a Ira Divina so- bre si. Poderia aguardar Graça e Misericórdia de Deus quem nunca praticou a menor caridade, mas atirou a muitos na pior desgraça? Meu amigo, tal tempestade da alma é indizivelmente mais horrenda que essa, pela qual a Terra recebe grande benefício, ao lado de pe- quenos prejuízos. Deixemo-la projetar sua fúria, que estaremos de bom humor!”
Quando acabo de acalmar o hospedeiro, novamente dá-se uma descarga de vários raios finalizados por um trovão que faz estre- mecer a casa sólida. Imediatamente os fariseus debaixo da mesa co- meçam a clamar com vozes trêmulas: “Jehovah, Deus de Abraham, Isaac e Jacob, tem piedade e não nos deixes sucumbir, talvez por culpa dos essênios, feiticeiros e atrevidos, que se dizem judeus, mas privam com samaritanos, pagãos, publicanos e outros pecadores! Deste modo se levantam contra nós, difamando-nos, usando o Teu Nome inutilmente e também vilipendiando o sábado!”
Nem bem terminam de falar, ouve-se novo trovão, e um forte raio cai na sinagoga defronte à tavolagem, incendiando madeira- mento e todos os utensílios. Percebendo o incêndio pela janela, o hospedeiro diz aos fariseus: “O raio acaba de cair na sinagoga, que se tornou presa das chamas. Ide, depressa, salvar vossos tesouros e objetos santificados!” Rápido, eles aparecem com grande alarido, querendo obrigar a Mim e aos discípulos na extinção do fogo.
Com rigor, respondo: “Que tenho Eu a ver com o fogo e vossa sinagoga?! Já clamastes pelo vosso Deus. Por que não vos atende? Em verdade, se Eu, por vós taxado de essênio, pedisse ao Deus de Abraham, Isaac e Jacob que sustasse a tempestade, ime- diatamente assim seria. Todavia, não o faço, pois Me considerais herege e pecador contra vosso Deus, no Qual nunca acreditastes no coração!”
Eles se tornam mais insistentes e pedem socorro, caso ainda haja possibilidade de sustar o incêndio. Até mesmo o hospedeiro Me pede: “Ó Senhor e Mestre, não querendo ouvir os fariseus ignoran- tes, atende ao menos o meu pedido. Minha casa dista uns setenta passos da sinagoga; caso o vento virasse, ela correria perigo, tanto mais quanto não há vestígio de chuva!”
Digo Eu: “Já te assegurei que ao justo nada acontecerá, ain- da que o vento virasse dez vezes! Essas ventanias não mudam tão facilmente a direção, portanto nada temas.
Naquela sinagoga estão tesouros injustamente guardados, pelos quais choram e reclamam pobres viúvas e órfãos perambu- lando no estrangeiro, enquanto esses fariseus maldosos, dizendo-se servos de Deus, aqui engordam despreocupados pelo verdadeiro conforto dos homens. Por isto, não há motivo para queixas diante de tesouros, nos quais Deus nunca poderia sentir agrado. Os que agora sofrem justo prejuízo terão o bastante para viver tão bem quanto agora!”
76.OJOVEMFARISEUCOMEÇAASENTIRO SENHOR
Quando os fariseus ouvem Minhas Palavras, um deles, de índole melhor, diz ao escriba: “O galileu não está errado. Suas pa- lavras ferem, mas traduzem a Verdade. Por que o raio caiu precisa- mente em nossa sinagoga? O galileu conhece a situação templária e sabe muito bem que Deus não atenderá nosso pedido. Devíamo-nos aproximar dele, que talvez nos salvasse. Quem de nós seria capaz de afirmar não ser ele o Prometido?”
Reage o escriba: “Também já começas a testemunhar contra nós?! Porventura não consta que da Galileia não viria profeta?”
Responde o outro: “Sim, porém em parte algum se lê que de lá não surgiria o Messias! Se for Ele, não é profeta, mas o Próprio Senhor, de sorte que a afirmativa da Escritura não se refere a ele!”
Indaga o escriba: “Mas quem se atreveria a prová-lo?” Res- ponde o fariseu: “Ele Mesmo e milhares de testemunhas. Ele não é responsável pela nossa incredulidade. Chegou o momento de pro- var-nos ser ele mais que profeta e nós acreditaremos!” O outro nada diz e vai verificar o prejuízo do incêndio. A ventania é tão forte a impossibilitar alguém ficar de pé; os raios cruzam constantemente as nuvens pesadas, de sorte que o escriba e seus colegas voltam à sala anunciando ser impossível salvar-se algo da sinagoga, pois a falta de água é evidente, e além disto ninguém teria coragem para extin- guir o fogo.
O fariseu de boa índole se aproxima de Mim, dizendo: “Mestre, ouviste o meu parecer a Teu respeito, que abafou qualquer comentário por parte do escriba. Silenciou e foi verificar se ainda era possível salvar algum objeto da sinagoga. Com isto provou sua disposição para acreditar em Ti, caso extinguisses o incêndio. Perce- bendo que dentro em pouco tudo estará destruído, preferirá perma- necer em sua descrença.
De minha parte, julgo diferente, pois a cura dos dez leprosos e a do servo me levam a crer seres Tu o Ungido de Deus, ao Qual tudo é possível. Assim, creio que também poderias acalmar a tem- pestade, salvar a sinagoga e o necessário para a nossa subsistência. Senhor e Mestre, perdoa se anteriormente pequei contra Ti, e deixa ver, ao menos a mim, que és Senhor dos elementos e da própria Natureza!”
Digo Eu: “Feliz és tu por causa de tua fé, e Eu farei como crês. Vamos lá fora para vermos o que consegue uma fé justa!” As- sim, ambos observamos o grande incêndio que invadira o edifício todo. Em seguida, Me viro para ele, que sem receio estava ao Meu
lado: “Crês ainda que Eu possa com uma só palavra fazer parar a tempestade, apagar o incêndio e salvar ao menos teus pertences?”
Responde ele, confiante: “Sim, Senhor, creio indubitavel- mente! Fala, e se dará o que for de Tua Vontade!” Digo Eu: “Assim seja!” No mesmo momento, tudo serena e o incêndio se apaga de forma tal, a não se descobrir uma fagulha na grande sinagoga. O fariseu cai de joelhos e louva Meu Poder e Força.
Faço-o levantar, pois os outros haviam chegado à janela. Quando o escriba percebe o Céu inteiramente límpido, diz: “Isto ja- mais alguém poderia sonhar! Mas, que fazer? Se acreditarmos no ga- lileu, o Templo nos perseguirá. Não acreditando, o povo será contra nós. Será difícil descobrir-se um meio-termo. Amanhã resolveremos o caso. Vamos primeiro nos certificar do prejuízo!”
O hospedeiro arranja velas e todos atravessam a rua. Não demora os fariseus percebem que o fogo havia provocado grande dano em suas moradias, e começam a queixar-se. Quando chegam à do fariseu crente, onde Eu Me encontrava em companhia do mes- mo, admiram-se de encontrar tudo em perfeita ordem.
77.ASINAGOGA AVARIADA
Nisto o escriba se dirige a Mim, dizendo: “Mestre, por que não protegeste igualmente as nossas moradias?” Respondo: “Por que não crestes como ele?” Retruca o escriba: “Não é possível forçar-
-se alguém à fé. Para uma fé integral é preciso mais que a nossa, a teu respeito. Nessa época saturada de magos e taumaturgos, difícil é descobrir-se — mormente para um velho escriba — a Verdade em todas as aparições tão semelhantes, a fim de aceitá-las.”
Digo Eu: “Quem forçou vosso colega à fé e como achou ele a Verdade em todas as aparições fictícias? Vede, isso não se baseia no intelecto, senão no seu coração honesto e sincero.
De há muito não titubeais em enganar e trair as criaturas, em vosso próprio benefício. Ele foi o único que ainda considerava um pouco os Mandamentos de Deus, sem deturpá-los como vós.
Vosso coração não mais alimentava fé nem Verdade bá- sica, e nisso se fundamenta o motivo pelo qual não conseguistes descobrir-Me, tampouco acreditar em Mim. Onde não há Verdade e Vida, impossível uma Verdade, por mais clara que seja, ser aceita para receber acolhida definitiva.
Quando, porém, habita num coração uma Verdade com sua vida, facilmente se estabelece uma mais elevada, que produz a fé viva e sua força. Eis o caso de vosso colega, ao qual permiti acontecesse o que acreditava, e também vos dei o motivo de vossa incredulidade e dureza de sentimento, cegando-vos como a todos os afins na Judeia. Tenho dito e voltarei ao albergue.” Volto, assim, em companhia do fariseu convertido, à sala onde os discípulos palestram acerca de Mi- nha Doutrina.
Os outros templários procuram à luz da vela, os escombros do incêndio. Podiam ter feito isso no dia seguinte; possuindo muito ouro, prata etc., escondidos em vários cantos da sinagoga, ansia- vam para ver se ainda existiam. Após longa procura, encontram algo intacto, ficando um tanto aliviados. Pagando aos empregados do hospedeiro, estes montam guarda para não se tornarem mais despre- venidos do que já eram.
Entrementes, ventilam vários assuntos sem necessidade de repetição, porquanto já tinham sido explicados nos próprios locais. Especialmente é relatada a nossa viagem para Jericó, por parte dos apóstolos, levando o dito fariseu a exclamar: “Isso seria suficiente para amolecer até pedras! Todavia, meus colegas continuam cegos e procuram guardar tesouros materiais, enquanto aqui se transmitem os imorredouros do espírito! Vivo infelizmente entre lobos, e sou obrigado a uivar com eles, para não ser estraçalhado. De qualquer maneira, não mais me obrigarão a uivar, pois sei o que fazer!”
Nesse instante, chega o escriba com intenção de relatar que o fogo havia deixado incólume alguns tesouros. É interrompido pelo fariseu, que diz: “Peço que te cales neste ambiente sagrado. O ouro fez dos homens demônios, e atirou suas almas ao inferno. Entre nós se encontra o Senhor; o Senhor da Vida, no qual habita todo Poder
de Céus e Terra, veio para nos libertar do jugo infernal e da morte eterna — e tu procuras guardar os detritos do inferno, a fim de te tornares ainda mais cego do que és! Pergunta a ti mesmo quem po- deria ser Aquele ao Qual obedecem todos os elementos da Natureza. Eu O conheço e sou muito feliz. Isto não te é possível porque te prendes aos detritos do inferno, cegando a tua alma!”
78.CEGUEIRAESPIRITUALDO ESCRIBA
Ouvindo tais palavras por parte do fariseu convertido, o es- criba aparenta certo aborrecimento, mas no íntimo começa a medi- tar e diz: “Feliz de quem é dono de um coração aberto, que até hoje não me foi dado! Estudei as Escrituras e fui à procura da Verdade
que culpa tenho de não tê-la encontrado? Deus falou e Se revelou a Abraham, Isaac, Jacob e muitos outros. Por que não o fez a mim? Sou, por acaso, menos humano que eles?
Somente agora surgiu entre nós um homem a nos apontar novamente que a Escritura não é simples invencionice das criaturas, pois existe um Deus, ao Qual todos os Céus e as forças da Natureza obedecem. É, portanto, preciso pesquisar-se qual o motivo dessa Ação Divina.
Eu vim ao mundo não pela minha vontade e força, senão pelos Desígnios insondáveis de um Poder Supremo. Teria eu culpa se este Poder não me guiou de forma tal que jamais eu caísse em dú- vidas? Deixa-me meditar, para descobrir dentro de mim o caminho pelo qual surgiria a antiga Verdade.”
Diz o fariseu: “Quão imensa deve ser a cegueira de sentimen- to e intelecto de uma criatura que pretenda medir e pesar ao lado de tais aparições quais os motivos que teriam levado Deus a transmitir aos homens desta Terra uma grande prova de Sua Existência. Ó Se- nhor e Mestre, cheio de Poder Divino, tem Misericórdia para com os cegos e obtusos!”
Digo Eu: “Amigo, deixa estar, tudo neste mundo tem seu tempo. A alma de teu colega conserva forte tendência para os te-
souros materiais, e não é tão fácil estender-se nela o Reino de Deus como sucede às que não se endureceram pelo ouro. Esse homem atira a responsabilidade para cima de Deus por tê-lo negligenciado. Esquece-se, porém, ter ele recebido importantes advertências, que poderiam ter sido um grande fanal para sua alma caso não estivesse abarrotada de cobiça, desde a infância.
Já fazia parte do Templo quando ocorreu o milagre com Zacharias, ao qual estrangularam porque começava a criticar e sus- tar os enormes abusos e mistificações dos templários orgulhosos e seus fiéis seguidores. Também se encontrava no Templo e ouviu o que disseram Simeon e a velha Anna. Lá também esteve quando Eu, Menino de doze anos, dei provas irrefutáveis do Espírito que habita em Mim, e ele igualmente conheceu João, pregador no deserto, filho de Zacharias e da devota Elizabeth.
Tamanha foi a sua avidez pelo ouro e prata, que não percebeu a Luz dos Céus, não obstante milhares a palpassem. Fez muitas lucu- brações. Mas de que adiantam à alma cujo coração está endurecido e cego, pois assemelha-se a um fogo fátuo, que qual raio ilumina a noite por momentos, mas em consequência disto provoca escuridão pior que anteriormente?!
Em verdade vos digo: Se a luz intelectual é pura treva, quão enorme deve ser a noite do coração e da alma! Por isso, deixa que o escriba procure o Reino de Deus com sua luz fictícia; quanto mais se esforçar, tanto menos descobrirá! Enquanto não libertar seu coração e, por ele, sua alma do dinheiro, não ingressará no Reino de Deus.
Sua queixa é igual à de um cego que em parte responsabili- za a Deus pela cegueira, sem compreender que outros vejam. Um fisicamente cego ainda é desculpável, caso não se tenha cegado por culpa própria. Num cego de alma, tal assertiva não tem perdão, pois poderia há tempos tornar-se vidente como muitos outros, se tivesse aproveitado os meios para tal. Deixemos este assunto, e vamos des- cansar as quatro horas que restam da noite. Amanhã haverá tempo para ventilarmos os recursos para a conquista da luz interna.”
Solícito, o hospedeiro pergunta se desejo um recinto para Mim. Respondo: “Ficaremos à mesa. A maior parte dos discípulos já está adormecida e as lâmpadas começam a se apagar.”
O fariseu pretende ficar conosco. O escriba, porém, lhe diz: “Vamos à tua morada intacta; tinha vontade de conversar contigo.” Diz o outro: “Está bem, mas não aguento falar de tão cansado.” Obsta o colega: “Não importa. Talvez nos espera um bom sonho a nos dizer mais do que ambos poderíamos abordar. Em ocasiões excitantes sempre tive sonhos peculiares.”
79.OSONHODO ESCRIBA
De manhã, quando o Sol já havia subido além das monta- nhas, e Eu Me encontrando com os discípulos ao ar livre, o fariseu e o escriba despertam, lavam-se a rigor dentro do hábito judaico, e o primeiro indaga do colega se teve algum sonho durante a noite.
Este então responde: “Sim, mas apenas coisas tolas e sem nexo. Encontrava-me entre montanhas elevadas, cheias de minas de ouro e prata, e via uma quantidade de mineiros a extraírem os me- tais, em grandes blocos. Quando vi aquela massa tão enorme diante de mim, começou a perder o valor, e vendo os mineiros trazendo cada vez mais à luz do dia, fiquei amedrontado e tentei uma saí- da. Por onde eu ia, o caminho estava abarrotado, impossibilitando-
-me a fuga.
Desesperado, dirigi-me a um operário e pedi me mostrasse um meio para sair daquela garganta de ouro e prata. Com voz es- tentórica, ele disse: não há saída. Quem se perde nesse desfiladeiro, jamais consegue sair. Percebemos imediatamente quando alguém aqui penetra e lhe barramos a saída quando começa a se extasiar com nossos tesouros. Nessa garganta muitos homens importantes encontraram seu extermínio, e não serás o último!
As palavras daquele homem rude, que prontamente me abandonou, aumentaram o meu pavor de forma tal que tombei des- falecido, e nesse estado tive outro sonho.
Aproximava-se novamente um homem e perguntou com se- veridade o que fazia eu neste sítio. Respondi-lhe: como perguntas, se ignoro como e donde vim? Não o quis, mas aqui estou! — Ele desapareceu e logo a seguir apresentou-se um animal horrível. Meu pavor crescia. Súbito, vi um raio vindo do alto que atingiu o animal, cuja figura não posso descrever. Ele começou a se torcer e empinar, e finalmente atirou-se a um abismo, trazendo-me grande alívio.
Ergui-me do solo e corri a um outro local, mais distante e de aspecto agradável e convidativo. Havia belos jardins, nos quais se encontravam árvores frutíferas, cheias de frutos des- conhecidos.
Num daqueles jardins descobri moças de rara beleza e tive vontade de falar-lhes. Minha intenção não se realizou, porque come- çaram a gritar e fugir quando me viram. Indignado, pensei: Por que isto? — E uma voz oculta dizia: Eis nosso inimigo! Fugi dele, a fim de não nos roubar também aqui, nossa posse, castidade e inocência! Companheiros! Prendei-o e atirai-o no cárcere, onde rastejam sapos e serpentes!
Louco de pavor, corri por cima de pedras e arbustos; final- mente, caí de exaustão e em seguida despertei! Ainda estou banhado de suor! Que dizes a esse sonho absurdo e impressionante?”
80.OFARISEUEXPLICAO SONHO
Responde o fariseu: “Amigo, teu sonho não me parece tão tolo como presumes; pelo contrário, tem a meu ver um sentido mui pro- fundo, que procurarei demonstrar. O desfiladeiro de ouro e prata que tanto te apavorou e do qual não achaste saída demonstra o estado de tua alma completamente presa à volúpia do ouro, que não obstante procure através de vários esforços, não consegue a liberdade pela Ver- dade pura e viva de Deus. Os mineiros que viste carregarem os blocos de metal são os insaciáveis desejos por tais tesouros terráqueos. Aque- le que te disse não haver saída e com voz enérgica revelou-te o exter- mínio certo é tua própria consciência a advertir-te pela última vez.
Ficaste tão apavorado a ponto de perderes os sentidos. Inter- preto tal fato da seguinte maneira: Começando a desprezar e fugir da cobiça, soltando as algemas de tua alma, te libertaste de tua an- tiga tendência, portanto da vibração material, caindo por terra qual morto. Assim despertou outra vida, mais liberta.
O homem que em seguida te procurou e fez aquela pergunta importante foi igualmente a tua consciência, o espírito no Além. Quando ele se afastou, percebeste um animal horroroso, que não era senão tua cobiça antiga a te perseguir, não obstante o teu estado psíquico mais liberto. Como alimentas repugnância de teu pecado anterior, a própria recordação se torna repulsiva, e te esforças por fugir do animal. Tal justo temor é percebido pelo Céu, que envia um raio de Verdade luminosa, de Deus. Atinge o animal, que por certo tempo se debate e levanta, mas finalmente se atira no abismo, não mais surgindo em tua alma.
Em seguida foi-te demonstrado, à distância, uma zona agra- dável, que te causou sensação de conforto. Corres até lá e em sua proximidade deparas com árvores e frutos raros. Representa ela a paz que retornou ao teu coração, e os jardins são as Verdades novas de Deus com as quais te regozijas. Como ainda não são tua posse através da ação praticada, acham-se fora de ti e não te atreves a te apossar dos frutos.
Em um dos jardins viste moças e mulheres, belíssimas, e de- sejavas travar relações com elas. Representando, porém, Verdades in- ternas e vivas, e vendo em ti o homem intelectual, fogem, enquanto pensas: Por que não me querem? — Eis que desperta tua consciência e demonstra quão pobre és em obras de amor a Deus e ao próximo, e quantas injustiças aplicaste a pobres viúvas e órfãos que te cabe reparar, mas tua mente se apavora.
Novamente a tua consciência diz: Prendei e amarrai-a — a mente — para ser atirada ao cárcere escuro onde vivem sapos e ser- pentes! Em outras palavras: Prende, tu mesmo, a tua mente munda- na através da fé viva em Deus e Seus Ungidos, que em seguida deve ser banida e devolvida ao mundo trevoso e suas venenosas preocu-
pações; pois através do Verbo de Deus tem que surgir um raciocínio novo e puramente espiritual, do contrário não poderás ingressar na esfera da paz verdadeira e consoladora da alma.
Novamente te assustas por julgares que toda tua vida se baseia no intelecto externo, razão pela qual foges sobre pedras de escândalo e arbustos duros e estéreis. Representam eles as tolices da sapiência mundana, que te cansam e te levarão à queda. Feliz serás caso, pela última queda, venhas a despertar para as Verdades de Deus, da mes- ma forma que despertaste do sonho à vida física.
É deste modo que interpreto o teu sonho, mas percebo não ter sido minha a compreensão, pois tive a impressão de um espíri- to elevado insuflar-me o coração. Também creio que o Espírito de Quem ordena as forças de Céu e Terra tenha provocado o teu sonho. Podes crer o que quiseres. Falei e imediatamente procurarei o grande Mestre!” Estupefato, o escriba diz: “Irei contigo!”
81.OSTEMPLÁRIOSÀPROCURADO SENHOR
Quando ambos se dirigem à rua, deparam com os escombros provocados pelo incêndio, e os colegas ocupados a colher os bens não avariados. Um deles chama o escriba e diz: “Então não te inte- ressas pelo que é teu?”
Diz ele: “Ainda chegarei a tomar posse do que me pertence; mas caso nada se encontre, não chorarei por isso. Continuai traba- lhando pela morte, eu tratarei de um serviço para a vida.” Com essas palavras, ambos se afastam.
Os outros comentam: “Teria o galileu enlouquecido nosso único escriba?” Entrementes, os dois se dirigem ao albergue para falar-Me. Não Me encontrando, pedem ao hospedeiro informação se Eu já havia deixado a aldeia.
Ele responde: “O Senhor da Vida ainda não partiu e deve estar lá fora, em companhia de Seus discípulos. Vale a pena procurá-Lo. Farei o mesmo, assim que estiver pronto com a ar- rumação da mesa.”
Indagam os templários: “Onde estão os dez curados?” Res- ponde ele: “Partiram de madrugada — não sei para onde!” Sem mais delongas, os fariseus vão à vila e perguntam aqui e acolá se não viram o galileu. Mas ninguém pode informá-los. Finalmente, encontram uma pequena órfã, à qual dirigem a mesma pergunta.
E ela diz: “Oh, sim! Esta lá no monte com os outros homens, deve ser muito bom, porque me curou da cegueira. Deveis estar lembrados de ter nascido cega, e minha mãe me sentava no portão para pedir esmolas!”
Os dois dão uma soma elevada à pequena que, alegre, corre junto à genitora contando-lhe tudo. Os fariseus nos alcan- çam precisamente quando nos dispúnhamos a voltar ao albergue. Cumprimentam-Me com respeito e perguntam se podem ficar perto de Mim.
Digo-lhes: “Pois não. Acontece voltarmos ao albergue por outro caminho, pois a ex-ceguinha contará o milagre a todos, e se passássemos pela aldeia, todo mundo haveria de querer honrar-Me. Quero evitá-lo. Vamos!” Dito e feito. Descemos o monte e por um atalho voltamos ao albergue. O tavoleiro se desculpa por não ter tido tempo de juntar-se a nós. Eu o acalmo e mando servir o desje- jum, durante o qual se comenta a cura da menina, e o hospedeiro quer mandar buscá-la com sua mãe. Dou-lhe o conselho de fazê-lo somente após Minha partida, pois teria tempo de sobra para pensar nos pobres.
82.OMILAGREDOVINHOESUAS CONSEQUÊNCIAS
Quando o anfitrião é informado de Minha breve partida, ele se entristece e diz: “Senhor e Mestre, por certo não partirás ain- da hoje?” Respondo: “Meu amigo, existem muitos cegos e surdos de coração e alma, aos quais tenho que socorrer! Assim como vos sentistes bem com a Minha Presença, outros o farão. Todavia, fica- rei mais algumas horas, dando oportunidade para vários problemas. Manda trazer vinho, puro e fresco.”
Diz ele: “Oh, Senhor, não tenho vinho melhor que este. Que fazer?”
Respondo: “Vai à adega debaixo dessa sala, lá o encontrarás.” Opõe ele: “Lá está realmente uma adega antiga, apenas abarrotada de utensílios imprestáveis, como sejam, odres, cântaros etc... De vi- nho — nem sombra.”
Insisto: “Justamente por isto deves trazer o vinho de lá, a fim de que tu e todos nessa casa percebam que tais coisas jamais poderão ser realizadas por essênios, como julga o escriba.”
Diz o hospedeiro: “Senhor e Mestre, com exceção dele, nin- guém mais pensa dessa forma. Creio que em Ti esteja a Plenitude do Espírito de Deus. Tua Vontade é a Dele, Tua Palavra é Seu Verbo, portanto tudo que dizes é Verdade, Luz, Amor, Vida e Obra realizada. Assim, acredito encontrar-se no antigo porão vinho dos melhores!”
Ele e o empregado apanham quatro cântaros, dirigem-se à adega e encontram todos os velhos odres, cerca de cento e cinquen- ta, os cântaros e demais utensílios em bom estado, cheios do melhor vinho. Enchem, pois, os quatro e prontamente o vinho é servido à nossa mesa.
O fariseu é o primeiro a esvaziar a sua taça e em seguida diz ao amigo temeroso de tomar o milagroso vinho: “Prova, para veres ser justa a confissão do hospedeiro!”
Com receio, o escriba prova o vinho, mas à medida que bebe, o sabor lhe parece maravilhoso. Finalmente, exclama: “Eis uma prova inexplicável de modo natural. Curar-se enfermos por meio da fé ina- balável, já houve em todas as épocas. Quando pessoas incorruptas e cheias de força vital querem influenciar um enfermo, este é como que envolvido por uma chama viva que o cura instantaneamente. Sabe-se de criaturas que, em pleno dia, podiam operar fenômenos extraordi- nários. Tornar prestáveis velhos odres e outros utensílios e enchê-los do melhor vinho pela simples vontade é algo inédito em qualquer crônica. Essa prova é para mim sobre-humana, irrealizável sem a Força Divina — e assim, creio seres realmente o Ungido de Deus.”
Digo Eu: “Fazes bem acreditando; todavia, não ingressam no Meu Reino da Vida os que pela fé disserem: Senhor, Senhor — mas apenas os que viverem segundo Minha Doutrina. Minhas Palavras, quando cumpridas realmente, são Vida e Força de Deus. Para cria- turas que ouvem e guardam na memória as Palavras que digo, sem praticá-las, continuam sem efeito para a vida eterna da alma — mas lhes servem para julgamento, ou seja, a morte da alma no além-tú- mulo. Digo-vos isto para que ninguém se venha a desculpar pela falta de conhecimento!”
Diz o escriba: “Estamos plenamente convictos da Verdade de Tuas Palavras, através do milagre. De que modo serão convenci- dos os que não desfrutarem de provas tais?”
83.AÁRVOREDAVIDAEADO CONHECIMENTO
Digo Eu: “A Verdade será sempre Verdade, mesmo sem prova, e quem viver dentro dela perceberá ser Minha Doutrina a Palavra de Deus e não humana. Além disto, os que transmitirem a Doutrina do Reino de Deus não serão apenas simples professores, mas igualmen- te praticantes de Minha Vontade expressa no Meu Verbo, e como tais, capazes de operar provas maiores do que Eu, em Meu Nome.
Como simples doutrinadores não serão aptos a dar provas; pois a força para tanto não surge do intelecto, mas da fé viva e da vontade firme. O cérebro humano é luz morta do mundo, que ja- mais poderá penetrar nas regiões internas da vida do espírito e sua força; mas a fé viva no coração é a verdadeira Luz da vida da alma, despertando o espírito que inunda a criatura toda. O homem estan- do penetrado do espírito, sê-lo-á de sua força onipotente; e aquilo que o espírito vivo quer, unificado à alma, acontece, pois a vontade já é obra realizada.
Por isto, consta na Escritura: Deus colocou duas árvores no Jardim da Vida; uma da Vida, e outra do Conhecimento, e disse ao homem: Se comeres somente os frutos da árvore da Vida, viverás;
alimentando-te igualmente dos frutos do Conhecimento, antes de serem abençoados por Mim, morrerás.
A criatura, dotada de livre arbítrio, deixou-se seduzir pela serpente do desejo e comeu do fruto do conhecimento, antes que tivesse sido abençoado pelo amadurecimento da fé no seu coração, quer dizer, ela começou a analisar pelo intelecto o Espírito de Deus, o Espírito da Vida, e a consequência foi o afastamento de Deus, cada vez maior, em vez de se aproximar Dele. Eis a morte espiritual que tornou o homem sem forças, perdendo o domínio sobre todas as coisas da Natureza, de sorte a se ver obrigado a trabalhar com auxílio do fraco vislumbre intelectual e com o próprio suor, pelo sustento físico, e muito mais ainda pelo espiritual.
Assim, os homens até hoje se afastaram de Deus, portanto da Vida verdadeira e interna, a ponto de quase não mais acreditarem Nele, tampouco na sobrevivência da alma. Os que mecanicamente creem em Deus ou, em sua cega superstição, nos deuses quais pa- gãos, imaginam-No tão afastado a ser impossível uma criatura Dele se aproximar.
E Ele hoje vindo em toda Plenitude de Sua Força e Poder, com todo Amor e Sabedoria — eles não aceitam tal possibilidade, enquanto para Deus tudo é realizável. E como Ele Se manifesta ver- balmente e não por meio de raios e trovões, julgam-No blasfemador de Deus e revolucionário popular contra Jehovah, e os regentes se dizem deuses e como tais se deixam venerar. Eis a consequência de terem os homens preferido os frutos mortos da árvore do Conheci- mento, aos da árvore viva e animadora da Vida!”
84.“ADAM,ONDEESTÁS?”—UMAQUESTÃO IMPORTANTE
(O Senhor): “A pergunta que Deus fez a Adam, após ele ter saboreado o fruto proibido e que constava: Adam (ou homem), onde estás? — perdura e perdurará até o Fim do mundo, enquanto houver criaturas que deem preferência à árvore do Conhecimento.
O homem que se nutre desse fruto em breve perde Deus, a si mesmo e sua vida interior, ignorando quem ele é, por que existe e qual sua finalidade. Sua alma então se atemoriza e procura na mente a resposta acalmadora e consoladora à pergunta: Onde estás? A res- posta, porém, é sempre a mesma: Estás no julgamento, a morte certa da alma. Por isto, obterás o pão somente com o suor do teu rosto!
Que poderia a alma encontrar no cérebro? Nada mais que quadros impregnados deste mundo, muito mais distantes das coisas do espírito e da vida do que ela mesma. A alma não reconhecendo o espírito mais próximo da Vida de Deus, como poderia encontrá-lo nas imagens do mundo, refletidas no cérebro?!
Dessa desordem só pode surgir maior confusão, na qual a alma imagina a Natureza de Deus cada vez mais afastada e inatingí- vel, até perdê-La inteiramente, passando ao epicurismo ou cinismo.
Neste estado, no qual se acha a maior parte dos sacerdotes de todas as seitas e religiões, mormente fariseus, anciãos, escribas e regentes com seu grande séquito — a alma não mais percebe a Ver- dade. A mentira lhe representa tanto ou mais ainda que a Verdade puríssima, quando pode conseguir alguma vantagem material. Uma Verdade qualquer a impedindo nisto, torna-se sua adversária e foge, ou a persegue com fogo e espada.
Chegado esse ponto, não mais existe pecado para a alma, e o homem que desfrutasse de algum poder faria o que quisesse e agra- dasse aos seus apetites. Ai de quem lhe dissesse: Por que és inimigo da Verdade, e qual o motivo de praticares as maiores injustiças entre criaturas, que nesta Terra não são inferiores a ti? Observai o mundo, se não é assim em toda parte. Quem é culpado disso? Digo-vos: Apenas a crescente absorção da árvore do Conhecimento.
Eu Mesmo vim ao mundo junto aos homens que se afas- taram da verdadeira meta da Vida e pergunto novamente: Adam, onde estás? — e não há quem Me diga onde está e quem é; por isto, mostro-lhes novamente a árvore da Vida e os incito a comerem seus frutos até se saciarem.
Em Verdade vos digo: Quem comer da árvore da Vida chegará à Vida verdadeira do Meu Espírito e jamais terá ensejo de procurar a árvore do Conhecimento. Pois, encontrando-se na vida do Meu Es- pírito, estará ipso facto em toda Sabedoria. Somente por ela a árvore do Conhecimento é abençoada, e a alma saberá em um momento muito mais que pela pesquisa externa e fútil, durante milênios.
Quando vos encontrardes no estado da verdadeira Vida, se- reis capazes de operar milagres em Meu Nome, dando a cada um o testemunho da Verdade de Minha Doutrina, caso for necessário. Terás compreendido, amigo escriba?”
85.IMPORTÂNCIADAENCARNAÇÃODO SENHOR
Diz o escriba: “Sim, Senhor e Mestre! Mas sinto-me com- pletamente aniquilado diante de Ti! Que é o homem compara- do a Deus?”
Respondo: “Vê os Meus discípulos. Há dois anos Me acom- panham e certamente Me conhecem melhor que tu; todavia, ne- nhum deles se sente aniquilado.
É bem verdade que fora dito a Moysés quando desejou ver a Face de Jehovah: Ninguém pode ver Deus e permanecer vivo! Na- quele tempo só se falava do Espírito Eterno de Deus, que ainda não havia tomado carne porque a época não era propícia dentro da Ordem Eterna.
Agora, porém, Jehovah aceitou a carne dos homens desta Terra, levantando uma muralha de proteção entre Si, o Espírito Ori- ginal, e os homens, a fim de que pudessem vê-Lo, tocá-Lo, ouvi-Lo e falar-Lhe, e ninguém precisa temer seu aniquilamento em virtude de Minha Presença.
Havia entre Mim e vós um abismo infindo, a ponto de nem o espírito mais perfeito se poder aproximar de Mim; agora, foi cons- truída uma ponte sobre o abismo e esta ponte se chama vosso amor a Mim, assim como Eu, pelo Amor eterno e poderoso para convos- co, Me tornei carne e sangue, aceitando também vossas fraquezas.
Assim, não sou um Deus eternamente afastado, mas um Pai, Amigo e Irmão, muito próximo e facilmente atingível, à medida de vosso amor para Comigo.
Se a situação entre Mim e vós é como descrevo, portanto diversa da época de Moysés, ninguém poderá afirmar seu extermínio em virtude de Minha Nobreza e Majestade divinas que habitam em Mim, por ser Eu Mesmo de todo coração humilde, meigo, cheio da máxima paciência, indulgência, amor e misericórdia. Sê, pois, alegre e não alimentes pavor fútil diante de Mim, que te amei muito antes do que nasceste!”
Diz o escriba, mais corajoso e confiante: “Mas, Senhor, como me podias ter amado antes de eu existir?”
Digo Eu: “Sem Meu Amor, jamais teria surgido um planeta, nem uma criatura. Tudo que abarca o Universo é Meu Amor cor- porificado, portanto também tu! Meu Amor é eterno e, portanto, a Base de tudo que surgiu e ainda surgirá.
O espírito vivo na criatura é justamente o Meu Amor eter- no e a Sabedoria que tudo cria, ordena e mantém; este espírito é o próprio homem verdadeiro e eterno, que dentro de Minha Ordem eterna se veste de alma e corpo para a própria emancipação, apresen- tando-se em uma forma visível.
Se assim é, compreenderás Eu ter te amado muito antes que fosses o que és. És uma fagulha de vida do Meu Amor que se desprendeu de Mim, e poderás te tornar uma chama grande e independente, semelhante a Mim, amando-Me acima de tudo e ao próximo como a ti mesmo. Fazendo isto, perceberás em breve como Eu — o Amor Eterno — sou Tudo em tudo, e tudo está em Mim. Compreendeste?”
Diz o escriba: “No coração, parece eu entendê-lo; mas no cérebro há grande confusão e admito que tais assuntos só podem ser entendidos pelo sentimento da alma. Moysés, todavia, ordenou o temor de Deus e a constante veneração Dele. Não devo assim agir?”
Respondo: “Ele o ordenou e fez bem. Mas, hoje em dia, não há um que saiba o sentido do temor de Deus e vós, sacerdotes, ensinastes noções completamente errôneas a respeito, em virtude de vossa própria ignorância e, na maior parte, pela cobiça desme- dida. Deste modo, os que ainda alimentam alguma fé em Deus consideram-No um tirano isento de amor e misericórdia, e recuam apavorados diante da Expressão ‘Deus’, porque só veem Nele ira e vingança eternas.
Todavia, também consta que o homem deve amar e adorar a Deus acima de tudo. Como se poderia amar uma entidade divina e adorá-la em verdade quando o seu nome desperta maior pavor que a própria morte?! Por certo perceberás a noção errônea que vós todos alimentais a respeito do temor de Deus.
Que quer dizer ‘temer a Deus’? Nada mais que amá-Lo aci- ma de tudo como Amor eterno, mais elevado e puro, e como é a Verdade máxima, nela permanecer e não homenagear a mentira do mundo por causa do egoísmo material.
Quem for verdadeiro em tudo, terá o verdadeiro temor de Deus no coração; e quem tiver o justo temor adora a Deus constante e perfeitamente. Assim como a mentira é a maior desonra para Deus
a Verdade Pura e viva é a veneração máxima e a adoração mais real. Compreendeste?”
Retruca o escriba: “Sim, Senhor e Mestre, compreendo que assim deva ser; mas não será tão fácil transmitir essa Verdade às cria- turas por demais fundamentadas em falsas concepções, que conside- ram a mentira como verdade. A isto acresce o Templo com suas de- terminações, o que e como se deve falar ao povo. Assim, será difícil chegar-se a um doutrinador popular. Mas toda vitória é precedida
de uma luta. Tu Mesmo nos fazendo essa revelação, certamente nos ajudarás na tarefa contra os adversários da Verdade. Resta apenas sabermos como pedir-Te para nos atenderes. Em Tua Presença é fácil fazê-lo; mas como agir quando não estiveres conosco?”
Digo Eu: “Tua pergunta é bem farisaica. Se creres vivamente em Mim, receberás a toda hora o que pedires ao Pai em Meu Nome, e para tanto não é preciso a Minha Presença, pois em Espírito sou Onipresente, vejo e ouço tudo. Se tu Me pedires algo em Espírito e Verdade, Eu certamente te atenderei; um pedido labial e em palavras místicas, de vosso uso, não atenderei.
Como escriba deves saber o que Deus disse pela boca de um profeta que intercedia em favor do povo, pois respondeu: Conheço a ti e o povo que Me honra e pede com a boca, mas seu coração está longe de Mim! — Assim jamais atenderei uma prece labial, espe- cialmente quando paga! Quem Me pedir algo justo, cheio de fé no coração, será atendido.
Mas quem vive e age em Meu Nome, segundo a Minha Dou- trina, ora constantemente e receberá sempre o que necessita.” Diz o escriba: “Ó Senhor e Mestre, agradeço-Te de coração por revelação tão confortadora, e creio que realmente assim seja.”
87.EXERCÍCIODEFÉE CONFIANÇA
Conjecturam alguns discípulos: “Senhor, estaria tudo certo, caso não houvessem tentações a induzir o homem ao pecado. Se em uma hora de fraqueza comete pecado qualquer, sua fé e confiança são abaladas; ainda que se arrependa do erro e procure indenizar o dano praticado, perdura na alma certo receio que a impede de dirigir-se confiantemente a Ti, como se nunca tivesse pecado. Que fazer neste caso?”
Digo Eu: “Primeiro, deves saber Eu não ser um Deus ranco- roso e vingativo, mas paciente e meigo como disseram os profetas, e hoje repito: Vinde a Mim, que sois atribulados e sobrecarregados de erros, pois quero aliviar a todos!
Segundo, devem as criaturas exercitar-se sempre na prece ver- dadeira e não esmorecer; pois a confiança justa e firme é alcançada por certo treino, que sempre ajudou o discípulo a atingir a maestria em assunto qualquer.
Um homem suprido de bens materiais facilmente esquece a oração verdadeira e confiante. Quando, um dia, sentir uma afli- ção, começa a procurar socorro pela prece a Deus; sua confiança, porém, é fraca em ser atendido, e o motivo se baseia na falta de fé viva em Deus.
Como poderia fortificá-la, senão pelo exercício constante na oração?! De que maneira se deva pedir constantemente, já vos demonstrei.”
Os discípulos se olham e Andreas diz: “Senhor, lembro-me de um quadro que apresentaste em ocasião semelhante, no qual se falava de um mendigo impertinente que durante a noite conseguiu um pedaço de pão porque o dono da casa queria sossego.
Muitas vezes meditei a respeito, sem conseguir ligação deste quadro com Tua Misericórdia e Amor. Agora começo a percebê-
-lo quando falaste da prece constante e do exercício na fé e con- fiança em Ti.
Pelo pedido de pão à meia-noite, certamente apontaste a prá- tica na fé e confiança, pois representas o anfitrião algo rude, e o mendigo somos nós que não devemos desistir das preces, mesmo se não formos atendidos prontamente.
Tu Mesmo queres ser importunado pela nossa insistência, antes de nos atender; deste modo nos manténs na constante prática, pela qual finalmente atingiremos aquela força pela qual em nossos próprios dias de Vida, ou seja, Teu Reino em nós, teremos todo so- corro e força; pois com Teu Espírito e Vontade no coração de nossa alma seremos Teus filhos, que dispensam importunar-Te constante- mente com pedidos na noite de nossa vida. Preciso é o homem pedir socorro na fraqueza trevosa de sua vida; uma vez forte e poderoso pela Tua Graça, poderá socorrer a si mesmo! Senhor, teria eu enten- dido o Teu quadro simbólico?”
88.EFEITODAPRECECONSTANTE.PARÁBOLADAVIÚVAEDOJUIZ INCLEMENTE
Digo Eu: “Entendeste o quadro perfeitamente e foi oportuno repeti-lo em poucas palavras. A fim de que cada um entenda mais ni- tidamente o sentido dentro da própria lógica, darei outra explicação, pela qual percebereis melhor por que o homem não deve esmorecer na prece, caso queira atingir a verdadeira força do Meu Reino. Ouvi.
Houve um juiz que não temia a Deus nem aos homens. Uma viúva daquela cidade foi procurá-lo e disse: Juiz justiceiro, salva-me dos adversários, pois a minha situação é justa.
Ele o percebeu de relance; mas não estava disposto a aceitar a causa da viúva. Ela, porém, não desistiu, voltou por diversas vezes e implorou de joelhos a defender o seu caso.
O juiz então pensou: Que vou fazer? Muito embora não tema a Deus e não receie os homens, salvarei essa criatura tão atribulada, para que não venha abafar-me com seus rogos!
Percebestes o que falou e fez o juiz? Se um magistrado cons- ciente e justo atende os repetidos rogos de uma viúva aflita — acaso não deveria Deus salvar os Seus eleitos que clamam dia e noite, e aplicar mais paciência e amor que ele?
Em verdade vos digo: Atendê-los-á, salvando-os em breve, e isto agora como também em épocas posteriores, quando Ele voltar a este mundo como Filho do homem. Mas se o Filho do homem voltar em tal época, porventura encontrará fé em Sua Pessoa?”
Diz Andreas: “Senhor e Mestre, se permites, poderei pros- seguir na explicação.” Digo Eu: “Pois não; pois tens raciocínio, co- ragem e boca.” Prossegue ele: “Quanto ao quadro, representa ele o mesmo sentido do anfitrião e o mendigo; apenas é apontada mais decisivamente a posição de Deus frente às pessoas mundanas, à pro- cura do Seu Auxílio em questões aflitivas, do que no quadro men- cionado por mim. Pois aí, Deus é apenas Juiz justiceiro capaz de socorrer quando quer; Ele assim faz, mas somente após se Lhe terem tornado importunas pelo constante pedido.
Trata-se também neste caso da constante prática na fé e con- fiança; uma vez atingida uma força invencível, o socorro já chegou.
Em Tua assertiva que Deus atenderá Seus eleitos, de posse da força na fé e confiança, como Pai amoroso, caso em seu Dia de Vida interna tanto quanto em uma possível recaída Lhe peçam ajuda, não Te apresentas como Juiz inclemente, senão como Pai de todos. Eis minha compreensão, que julgo acertada.
Nenhum de nós se acha inteiramente no Dia interno da Vida, mas estamos em parte ainda imersos na antiga noite de treva, e temos muito que pedir para exercitar e fortalecer-nos na fé e con- fiança. Prometeste-nos salvação breve e certa, e cremos indubitavel- mente que todas as Tuas Promessas se cumpram.
Repetiste Tua Segunda Vinda à Terra, perguntando se irias encontrar fé entre os homens. Responder a isso foge ao nosso co- nhecimento. Tu Mesmo saberás melhor a situação de fé em épocas futuras e, se quiseres, poderás explicá-la.”
Digo Eu: “Acabaste de expor otimamente bem o quadro de hoje, proporcionando-Me uma grande alegria. Se todos assim agi- rem, a plena salvação de vossa alma, do jugo da matéria desta Terra e de suas tentações não se fará esperar!”
89.OFUTUROESTADODE FÉ
(O Senhor): “A respeito da fé das criaturas em futuro longín- quo, quando o Filho do homem voltar pela maneira tantas vezes de- monstrada, digo-vos que a encontrará mais reduzida do que agora. Em tais épocas, elas terão se adiantado por pesquisas e cálculos in- cessantes nos vastos ramos da árvore do Conhecimento, realizando coisas extraordinárias pelo uso das forças ocultas da Natureza, afir- mando: Vede, aqui está Deus — não há outro! A fé de tais pessoas será tanto quanto nenhuma, de sorte que Eu, na próxima Vinda, não encontrarei fé.
Outra parte, bastante grande, encontrar-se-á na pior supers- tição, muito mais absurda que atualmente todas as doutrinas do pa-
ganismo. Terão por certo tempo seus doutrinadores, representantes e protetores nos poderosos do orbe; mas os filhos do mundo, bem equipados com todas as ciências e artes, oprimirão a superstição à força, levando os poderosos a grandes embaraços. Pelos cientistas e artistas de todos os matizes, o povo, por tanto tempo oprimido pela ignorância, perceberá ter sido ludibriado pela ganância, sede de fama e conforto por parte dos dirigentes. E quando Eu vier, também não encontrarei fé entre eles.
Na época de maior obscurecimento, Eu não poderia encon- trar fé entre eles, porque foram servos mais tolos e ignorantes de seus soberanos, que bem sabiam para que fim usá-los, pois os inteligentes jamais se submeteriam. Uma vez os ignorantes se tornando cientes pelos cientistas e artistas, tornam-se adeptos, e caso Eu viesse e cla- masse: Ouvi, povos da Terra, voltei para demonstrar-vos novamente o justo Caminho à Vida Eterna de vossa alma! — que dirão as cria- turas isentas de qualquer crença?
Responderão: Amigo, seja quem fores, desiste da tolice an- tiga e felizmente extinta, para a qual desde seu início torrentes de sangue inocente foram derramados. Se o afamado bom Pai no Céu
que desconhecemos e também não temos ensejo para tal — é tão grande amigo do sangue, facilmente poderá transformar o Oceano em sangue e alegrar-se com ele; nós não precisamos de uma Dou- trina de vida que, em vez do prometido Reino de Deus, só trouxe o verdadeiro inferno entre as criaturas deste planeta tão estéril. Prefe- rimos ciências e artes, vivendo em paz e sossego temporal. Agrada-
-nos mais uma existência material, pacífica e calma do que um Céu conquistado por sofrimentos indizíveis, rios de sangue e, contudo, duvidoso com todas as suas bem-aventuranças.
Para tais expressões, Minha Pergunta quanto à fé do futuro se justifica! No vosso íntimo perguntais: Mas quem foi culpado? O inferno? Dá-lhe o extermínio, Senhor! Ou foram responsáveis os profetas falsos e egoístas, sob cujo manto de falsidade surgiram em breve os potentados quais cogumelos da terra úmida, despejando sobre o orbe a guerra terrível e martirizando os homens? Senhor,
não permitas os falsos profetas em Teu Nome! Se assim o queres, deves Te conformar com a falta de fé por ocasião de Tua segunda volta ao planeta!
Digo apenas o seguinte: A razão humana julga acertadamen- te e nada se pode opor; mas Deus, Criador e Conservador eterno de todos os seres e coisas, sustenta outras opiniões e planos com tudo que criou, portanto sabe melhor por que permite certos fa- tos na Terra.
Somente no Fim toda superstição será varrida da Terra com as armas da ciência e da arte, sem que alguém seja abalado no seu livre arbítrio. Com isto surgirá uma época de completa ausência de fé, porém de curta duração.
Só então abençoarei a antiga árvore do Conhecimento, pela qual a árvore da Vida voltará à força anterior, havendo apenas UmPastore umrebanho.
Quem o entender saberá por que fiz aquela pergunta. Fé como a atual, por certo não encontrarei — mas outra! Em que con- siste, não podeis imaginar; todavia, será como predisse!”
90.ANOVA ERA
Diz um dos greco-judeus: “Senhor e Mestre, será dada uma nova Doutrina aos homens quando tornares a esta Terra? Pois se lhes fores apresentar a mesma, dirão: Deixa-nos em paz com essa religião que tanta desgraça nos trouxe!”
Digo Eu: “Amigo, esta Doutrina é o Verbo do Pai e o será para sempre; por isto, receberão a mesma que recebestes de Mim. Em tal época não lhes será dada oculta, mas inteiramente revela- da no sentido espiritual e celeste, no que consiste a nova Jerusalém que descerá dos Céus à Terra. Em sua Luz, os homens perceberão o quanto seus predecessores foram enganados e traídos pelos falsos profetas, como hoje acontece aos judeus por parte dos fariseus.
A culpa de toda desgraça na Terra não será lançada a Mim e à Minha Doutrina, mas aos excessivamente egoístas e dominadores
professores e profetas falsos, que pelos conhecimentos adquiridos na ciência e técnica facilmente serão descobertos.
Quando a Luz puríssima da nova Jerusalém se espargir sobre a Terra toda, os mistificadores e traidores serão inteiramente des- mascarados e receberão o prêmio de seu trabalho. Quanto mais im- portantes se julgarem, pior será sua queda. Precavei-vos, portanto, desde já, dos falsos profetas. Entendestes?”
Respondem todos, inclusive os outros discípulos: “Senhor e Mestre, por que não nos dás a Tua Doutrina revelada, como preten- des fazer aos mencionados cientistas e artistas? Bem precisávamos de uma nova Jerusalém!”
Digo Eu: “Muita coisa teria para vos dizer e revelar — mas que nenhum suportaria; quando vier o Espírito da Verdade, levar-
-vos-á a toda Verdade e Sabedoria, e prontamente estareis na Luz plena da nova Jerusalém.
Se em tal situação estareis aptos a transmitir a Luz a vossos se- guidores — eis uma pergunta que dificilmente podereis responder, na hipótese de saberdes que, primeiro, todo ensino deve ser dado a crianças de modo franco e não obrigatório; segundo, não se pode exigir a leitura de quem ignora as letras.
Impossível imaginardes a que ponto chegarão os homens através de ciências vastíssimas e habilidades várias, acabando com a superstição. Onde, na época atual, poder-se-ia falar de uma ciência pura baseada em princípios matemáticos, e onde encontrar-se o cál- culo preciso por tal ciência?
Ainda que exista alguma ciência e uma destreza dela deriva- da, três quartas partes se fundamentam na superstição. Em tal fruto apodrecido da árvore do Conhecimento, ainda não abençoado, im- possível formar-se uma Verdade celeste; se assim fizésseis, surgiria um resultado que mereceria ser atirado como alimento aos dragões, mas não poderia suprir o homem.
Lembrai-vos bem! De tais frutos surgirão os falsos profe- tas com suas doutrinas e milagres, falsos, pervertendo mais que três quartas partes da Terra. Pois, procurando-se unificar Minha Dou-
trina da Verdade com as ciências mescladas pela superstição e ar- tes, sem expressão e efeito, julgando ser de mais fácil aceitação, é compreensível ser ela deturpada cada vez mais; e as ciências e artes cheias de superstição cairão mais do que nunca na treva antiga. No final, servirão apenas para uso dos falsos profetas, a fim de poderem conquistar a opinião do povo.
Todavia, tal situação não subsistirá; em tempo oportuno, designarei criaturas para as ciências e artes puras que falarão aber- tamente da maneira pela qual os servos de Balaam praticaram seus milagres. Ambos os ramos serão precursores e campeões invencíveis para Mim contra a superstição; quando tiverem limpado o estábulo de Augias, Minha Volta à Terra será mais fácil e eficaz. Minha Dou- trina pura facilmente se unirá à ciência pura, dando aos homens a completa Luz da Vida, pois uma pureza não pode ultrajar outra, tampouco poderia isto fazer uma Verdade luminosa, com outra.”
91.PURIFICAÇÃOGRADATIVADEARTESE CIÊNCIAS
(O Senhor): “Em vosso íntimo conjecturais poder Eu puri- ficar também hoje a ciência, de sorte que a Doutrina, em união à ciência e suas criações artísticas, passariam às mãos humanas, no que os falsos profetas não teriam oportunidade de fazer negócios para satisfação de seu egoísmo.
A tal objeção respondo: Seria ótimo, caso fosse possível; nesta hipótese teria que tirar o livre arbítrio do homem e transformá-lo em simples máquina, pelo Poder de Minha Vontade. Qual seria o lucro para a salvação eterna e a vida de sua alma?
Porventura ignorais que tudo sujeito à lei imperativa, que consiste na Onipotência de Minha Vontade, é em si condenado e morto? Por tantas vezes vo-lo demonstrei nitidamente, entretanto voltais ao antigo raciocínio mundano!
Se Eu nesta época despertasse milhares de homens nas ciên- cias mais puras, inclusive os artistas equipados naqueles conheci- mentos, seriam muito mais perseguidos pelos atuais conterrâneos do
que vós, adeptos de Meu Evangelho e em Meu Nome, o sereis! Pois o conhecimento dos homens — como já disse, mais que três quartas partes mesclado à superstição, da qual tiram seu proveito material
é dificilmente purificado.
Por diversas ocasiões expliquei a vós e outros de boa von- tade e coração acessível os assuntos, fenômenos e acontecimentos mais variados; revelei diante de vossos ouvidos e olhos o completo Céu estelar, a ponto de saberdes o que sejam nosso Sol, Lua, pla- netas e estrelas, sua consistência — e vários puderam até mesmo visitá-los pela visão interna. Assim, já possuís a ciência pura em muitos pontos.
Procurai ensinar os ignorantes como fiz convosco e em breve percebereis como é difícil desviar os homens de seus conceitos errô- neos e preconceitos místicos.
Além disto, muitos há que pelos sacerdotes e regentes do- minadores estão de tal modo estupidificados, que tomariam tal es- clarecimento na ciência ultraje jamais perdoável contra os deuses, castigando quem os quisesse tentar.
A fim de atingir uma perfeita purificação nas ciências e de- rivantes artes e ofícios, preciso é ministrar-lhes, primeiro, a Minha Doutrina, e os múltiplos ídolos com seus sacerdotes e templos terão que ser destruídos.
Isto feito, e Meu Evangelho pregado ainda que por muitos falsos profetas, serão pouco a pouco capacitados a se purificarem dentro das artes e ofícios; qual raio iluminarão tudo, do Levante ao Poente. Levante quer dizer o que deriva do espírito; Poente, tudo que vem da Natureza. Se tiverdes entendido, não pergunteis se isto ou aquilo seria possível desde já.”
92.ASABEDORIADEMOYSÉSE JOSUÉ
Diz, em seguida, o escriba: “De Teu discurso deduzi, Senhor e Mestre, teres não somente revelado aos Teus discípulos o grande Segredo do Reino de Deus entre os homens da Terra, mas também
o conhecimento da astronomia, dando-me outra prova de seres Tu o Criador de tudo. Acaso não poderias esclarecer-me em breves traços um assunto que me iguala aos pagãos?”
Digo Eu: “Por que revogastes o sexto e o sétimo Livro de Moysés, declarando-os falsos e impondo sérios castigos a quem se atrevesse fazer sua leitura? Nesses dois Livros, o profeta descreveu a Criação da Natureza, em palavras simples!”
Diz o escriba: “Senhor e Mestre, ouvi falar a respeito, mas nunca vi uma sílaba dos mesmos. Dizem que esses Livros não mais existem no Templo de Jerusalém. Por isto, peço-Te uma explica- ção sucinta!”
Atendo, pois, esse pedido e durante uma hora faço uma ex- posição clara do assunto, e no final o escriba pergunta se os patriar- cas tinham conhecimento a respeito.
Digo Eu: “Por certo, e principalmente os primeiros habitan- tes do Egito. Quando, no decorrer dos tempos, os homens em virtu- de dos pecados se afastaram de Deus Único e Verdadeiro, passando ao paganismo total, esse conhecimento se perdeu, dando lugar a fábulas e fantasias tolas e cheias de poesias enganosas.
Deste modo, perderam-se geografia e astronomia. Somen- te em alguns poucos sábios, num cantinho oculto da Terra, foram mantidas; no entanto, não se atreviam a apresentá-las diante das criaturas completamente obtusas, e assim foram quase destruídas. Mas, em épocas futuras, tudo será descoberto e calculado com maior perfeição que nos primórdios, e fará parte do raio que iluminará do Levante ao Poente.”
Pergunta o escriba: “De quem Moysés e Aaron receberam o conhecimento?”
Respondo: “Do Espírito Divino! Muito embora o profeta es- tivesse iniciado nos mistérios egípcios como filho adotivo do faraó e recebesse noções da antiga astronomia e geografia, isto não represen- tava nem uma gota d’água perto do mar imenso do conhecimento posterior dado por Deus ao guia escolhido do povo israelita, pelo que se tornou verdadeiro cientista de Jehovah.”
Prossegue o escriba: “Senhor e Mestre! Josué também deveria ter tido conhecimento como guia igualmente escolhido dos israeli- tas; pois como poderia dizer ao Sol, diante de Jericó: Sol, para até que eu tenha dizimado todos os adversários! — e o astro-rei teria obedecido? Se isto tivesse ordenado à Terra, faria sentido pelo que acabaste de nos explicar; segundo Tua Orientação, a ordem de Josué ao Sol não parece corresponder à Verdade.”
Digo Eu: “Ele falou daquele modo, mas não ao Sol natural, e sim ao do espírito, que consistia na Doutrina de Moysés, vinda de Deus. Esta começou a desaparecer na fé e confiança do povo, à vista da enorme supremacia do inimigo. Josué quis apenas dizer ao povo desanimado e revoltado: Crê e confia, ao menos até veres den- tro em pouco o inimigo, aparentemente poderoso, completamente vencido! Então poderás apossar-te do país onde fluem leite e mel, ou voltar para o deserto!
Com isto, o povo se encorajou na fé e confiança em Deus, que foi, é e será o Verdadeiro Sol da alma e de seu espírito, no Céu e na Terra. Este Sol, sugerido por Josué, continuou na fé e na confian- ça do povo, iluminou-o e lhe deu coragem, prudência e força, e o inimigo foi dizimado, com exceção da prostituta Rahab, que prestou caridade ao emissário de Josué.”
93.OCONHECIMENTODAINTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL
Diz o escriba: “Entendi, Senhor e Mestre; mas por que não entendíamos qual o sentido da exclamação de Josué?”
Digo Eu: “Porque já antes da prisão babilônica havíeis perdi- do a antiga ciência da interpretação espiritual das coisas; esta ciência só é dada às pessoas que jamais vacilaram na verdadeira fé e con- fiança em Deus Único e Verdadeiro, amando-O acima de tudo e ao próximo como a si mesmas.
A referida ciência é a escrita e fala da alma, e do espírito dentro da alma. Quem tiver perdido essa linguagem não entende a Escritura, e sua linguagem lhe parece tolice em seu conhecimento
mundano; pois as relações de vida de espírito e alma são mui diver- sas do corpo.
Deste modo são ouvir, sentir, pensar, falar e escrever do es- pírito de outra espécie que entre as criaturas do mundo material, de sorte que ação e fala do espírito só podem ser entendidas por inter- médio da antiga ciência da interpretação.
Quem tiver perdido essa ciência por culpa própria ter-se-á excluído do convívio dos espíritos de todas as regiões e Céus, não mais compreendendo o sentido espiritual da Escritura. Lê as pala- vras pela pronúncia da letra morta, sem perceber que a simples letra é morta e não pode vivificar; pois somente o sentido oculto tudo vivifica, sendo a própria vida.
Se isto compreendestes, tratai antes de tudo de vivificar e acionar o Reino de Deus em vós, e deste modo chegareis à mencio- nada ciência da interpretação entre matéria e espírito, sem a qual não entendereis Moysés nem os outros profetas na profundeza da Verdade viva, caindo na descrença, dúvida e erros. Se um cego andar por uma rua cheia de pedras, poderia evitar as contusões e quedas repetidas?! E caso chegasse à beira do abismo, como se protegeria contra a morte certa?!
Por isso, tratai antes de tudo de renascerdes em espírito, tor- nando-vos videntes, do contrário não escapareis de milhares de pe- rigos que vos ameaçam tragar!”
Diz o escriba: “Ó Senhor e Mestre, Tua Sabedoria é imensa, e nós somos cegos quais pedras! Agora percebo o motivo da queda total na fé e confiança em Deus e sinto que no futuro se dará com Tua Doutrina de Luz e Vida o mesmo que aconteceu à de Moysés e dos profetas, e que serás levado pelo Amor e a Misericórdia a voltar a esta Terra. Resta saber de que maneira isto farás.”
Digo Eu: “Já vos demonstrei claramente como voltarei. Como podes perguntar-Me?”
Responde ele: “Fosse eu detentor da ciência interpretativa, teria entendido o sentido de Tuas Palavras. Na síntese, minha per- gunta se refere à Tua Reencarnação, ou se voltarás como Espírito,
porém visível, e em que país. Diante de Tua Sabedoria insondável, minha pergunta não se justifica; não Te aborreças, porém, de minha ignorância.”
94.AVOLTADO SENHOR
Digo Eu: “Tuas perguntas não são propriamente tolas, e tens pleno direito de indagar — e Eu de responder de maneira útil a ti e a outros. Ouve, pois! Quando Eu voltar pela segunda vez, não nas- cerei qual criança; pois Este Corpo continuará transfigurado como Eu, em Espírito, para toda Eternidade; portanto, não necessito de um outro, como pensas.
Virei, primeiro, invisivelmente, nas nuvens do Céu; quer dizer, aproximar-Me-ei das criaturas por meio de verdadeiros videntes, sábios e profetas neoinspirados, e em tal época mo- ças profetizarão e jovens terão sonhos nítidos, segundo os quais transmitirão Minha Chegada, levando muitos à regeneração. O mundo os chamará de doidos, sem lhes dar crédito, como aconte- cia aos profetas.
Assim também inspirarei criaturas, de tempos em tempos, às quais ditarei no coração o que ora acontece e é dito, e tudo será publicado por meio de máquinas, em milhares de exemplares e den- tro de poucas semanas. Como, em tal época, a maioria saberá ler e escrever, será fácil a divulgação de tais livros.
Essa maneira de disseminação de Minha Doutrina dos Céus, nova e transmitida sem deturpação, será levada muito mais facil- mente a todos os povos do que hoje pelos mensageiros em Meu Nome, de boca em boca.
Quando deste modo Minha Doutrina tiver sido levada às criaturas de boa vontade e no mínimo uma terça parte a tiver acei- to, surgirei cá e lá, em Pessoa, aos que mais Me amarem, tiverem a maior saudade e a fé plena e viva.
Eu Mesmo criarei núcleos entre elas, aos quais o poder do mundo não poderá opor resistência. Eu serei o Chefe do Estado
Maior e o Herói eternamente invencível, julgando os materialistas ignorantes e cegos. Assim, purificarei a Terra de seu antigo detrito.
Por ocasião dos novos videntes e profetas haverá miséria e aflição tão grandes como nunca houve nesta Terra; durarão pouco tempo em virtude dos escolhidos, para não sofrerem prejuízo em sua salvação.
No país no qual sou perseguido qual criminoso de um lugar para outro, pelos judeus do Templo, e que naquela época será dizi- mado pelos pagãos, não Me apresentarei para doutrinar e consolar os fracos. Voltarei nos países de outro Continente, ora habitado por pagãos, fundarei um novo Reino, um Reino da Paz, da concórdia, do amor e da permanente fé viva. O temor da morte não mais exis- tirá entre criaturas que caminham em Minha Luz e no constante intercâmbio com os anjos celestes. Eis a resposta à tua pergunta.”
Diz o escriba: “Então a Ásia, antigo berço da Humanidade e das inúmeras bênçãos de Deus, não mais terá a ventura de Te ouvir e ver quando voltares? Realmente, isto não é notícia agradável para essa parte do orbe!”
Digo Eu: “A Terra é Minha, e Eu sei onde Minha Volta terá maior efeito. Em uma época em que os homens se comunicarão de um polo a outro na velocidade de um raio, percorrerão as maiores distâncias em trilhos de aço por meio de elementos presos em fogo e água, as naves sulcarão o grande Oceano mais rapidamente que atualmente os romanos, de Roma ao Egito, com ajuda das mesmas forças — a notícia de Minha Volta Pessoal será rapidamente divul- gada sobre todo o planeta, inclusive até a Ásia.
Resta saber se ela encontrará fé entre os pagãos cegos e sur- dos desse Continente. Respondo: Dificilmente, antes de ser purifi- cado por um grande julgamento mundial.
Existe um grande e distante país no Ocidente, banhado por todos os lados pelo grande Oceano, não havendo ligação com o velho Mundo. Partindo dali, as criaturas ouvirão, primeiro, coisas extraordinárias, que surgirão também a Leste da Europa, dando-se
uma forte irradiação recíproca. As Luzes do Céu se encontrarão, reconhecerão e se auxiliarão.
Dessas luzes se formará o Sol da Vida, a nova Jerusalém, perfeita, e neste Sol Eu voltarei à Terra. Agora basta daquilo que virá no futuro.”
De olhos arregalados, Meus apóstolos comentam: “Nunca Ele falou tão detalhadamente de Sua futura Volta! Felizes as criaturas que em tal época lá viverão onde Se apresentar com toda plenitude de Sua Graça; mas infelizes as que não acreditarem Nele e talvez se rebelarem, tentando contra a Vida Dele para proteger o seu paganis- mo. Enfrentá-Lo-ão qual Juiz inclemente, para receberem o prêmio no inferno.”
Aduzo: “Falastes a Verdade! Em Verdade vos digo: Céus e Terra desaparecerão dentro do tempo; Minhas Palavras, jamais!”
95. O ALMOÇO
Com essas palestras já estávamos perto do meio-dia, e Eu digo aos discípulos: “Aprontai-vos, pois nos espera caminhada longa.”
Obsta o tavoleiro: “Ó Senhor, certamente almoçarás comigo, pois dentro em pouco tudo estará pronto.” O fariseu e o escriba se juntam a esse pedido. Virando-Me para o último, digo: “Vê como lá fora teus colegas se entretêm com ajuda de operários na busca dos escombros, para recolherem seus bens. Não participarás?”
Responde ele: “Senhor e Mestre, aqui encontrei um tesouro muito valioso e terei cuidado para não me aproximar dos bens terre- nos. Se eles quiserem, poderão guardar o que era meu. Tua Presença me vale mais que tudo na Terra! Por isto, peço ficares para o almoço.”
Digo Eu: “Ficarei por amor a vós que Me tratais com tanta dedicação. Lembra-te bem de teu sonho, sê firme no teu propósito, que caminharás em breve em maior claridade. O que encontrares de teus bens, convém guardar para distribuição entre os pobres; en- tão Eu te proporcionarei outro tesouro, no Céu! Quem muito der
em Meu Nome, muito receberá por Mim; quem tudo der em Meu Nome, receberá tudo para a Eternidade!”
A essas palavras, retrucam o hospedeiro e o fariseu: “Senhor e Mestre, por que não nos disseste isto?”
Respondo: “Já sabeis o que vos cabe fazer. Quem tem boa vontade garante a obra. Se fordes hospitaleiros para com os pobres, tereis feito o mesmo que dando tudo, e Minha Benção estará con- vosco. Socorrei, antes de tudo, viúvas e órfãos, pobres, e Eu Me lem- brarei de vós; não vos deixarei como órfãos desta Terra, mas ficarei convosco, em Espírito. Agora, tavoleiro, vai verificar o almoço!”
Contente, ele corre à cozinha, vê tudo pronto e se apressa para arrumar a mesa. Então lhe digo: “Deixa as travessas que ainda ocupam a mesa do desjejum, estão em condições de servirem para o almoço. O que é limpo para Mim, o seja também para vós!”
Todavia, o hospedeiro apanha toalhas novas para limpar as travessas desocupadas, pois Meus discípulos entendem esvaziar a louça. Em seguida, o anfitrião e os empregados levam as travessas à cozinha, e dentro em pouco a mesa está sortida com quantidade de peixes bem preparados, pão e vários cântaros do vinho milagroso.
As conversas são animadas durante a refeição, mas não pre- cisam ser repetidas porquanto giravam em torno de assuntos já ven- tilados. Quando terminamos, entram alguns fariseus que durante a manhã haviam procurado seus pertences nas cinzas. Ao depararem com os colegas almoçando, obstam: “Realmente, sois comodistas! Trabalhamos a manhã toda para guardar qualquer coisa aproveitá- vel, enquanto aqui passais bem! Que atitude é essa?”
Reage o escriba: “Primeiro, já guardamos o que era nosso e não temos a obrigação de procurar vossos pertences, porque nunca tivestes a ideia de nos ajudar no que fosse. Segundo, descobrimos, ca- sualmente, outro tesouro muito preferível a todo vosso ouro e prata. Terceiro, aqui provamos um verdadeiro vinho da Vida, como nunca tivestes oportunidade de tomar. Assim supridos de tudo, não tendes direito de nos chamar à atenção e podeis voltar de onde viestes!”
Como os fariseus pretendam responder, o tavoleiro se le- vanta e diz: “Aqui sou eu o dono da casa, que preza qualquer hós- pede pacífico, seja judeu ou pagão. Mas, quando se apresentam ho- mens impertinentes, não preciso muito para que faça uso de meus direitos. Se desejais algo para comer, dirigi-vos ao refeitório comum e fazei vosso pedido!”
96.PARTIDA PARA CANÁ
A esse convite, os fariseus resolvem voltar ao refeitório onde são aguardados por alguns colegas, aos quais relatam a maneira pela qual foram tratados pelo dono da casa. Os companheiros então co- mentam: “De há muito conhecemos esse tavoleiro como teimoso e orgulhoso, por isto não ligamos à sua rudeza. Estamos satisfeitos por termos guardado a maior parte de nossos pertences.
Estranho que os dois mais achegados ao nazareno receberam seus tesouros incólumes, e Joram até mesmo sua residência. A casa do escriba sofreu apenas avarias no teto.”
Diz um outro: “Seja como for, dentro de alguns meses nossa sinagoga estará em ordem, e para vivermos ainda temos de sobra!” Em seguida, eles pedem um prato de peixes e carne de carneiro, pão não fermentado e vinho permitido ao judeu.
Entrementes, o tavoleiro Me pergunta se por acaso se exce- deu com os dois templários. Eu lhe explico: “Não te preocupes; eles têm bom estômago e suportam muita coisa, basta a expectativa de não serem prejudicados. Se esses dois, que conto como Meus adep- tos, forem prudentes, poderão convencer os colegas.
Agora chegou o momento de partida, pois vejo onde tenho de Me encontrar dentro em pouco. Não fiqueis tristes, pois vos deixo apenas fisicamente. Meu Espírito Onipresente fica convosco, como com todos que creem em Mim, Me amam e vivem segundo a Dou- trina. Sentindo qualquer dúvida, dirigi-vos intimamente a Mim, que a resposta se fará ouvir. Ficai em Mim, que ficarei em vós!”
Eles prometem solenemente continuar ativos até o fim da vida, pelo amor a Mim e na defesa contra qualquer perseguição e tentação. Levanto-Me com os discípulos e partimos pela estrada secreta para Caná; não quis passar pela vila porque a judia ainda esperava ver Aquele que curara sua filha e por isto se postou com a menina na praça. O dono da estalagem as descobre e convida para a sua casa, onde são bem tratadas. A garota lhe serve como prova de Minha Ação na localidade; pois os dez ex-leprosos já estavam longe, e o empregado são não representava prova especial de Meu Poder milagroso para os materialistas. Já houve casos em que entrevados se curaram por bons remédios, que em tal época eram mais fáceis que hoje em dia.
A menina cega de nascença, conhecida por todos, exercia influ- ência maior. Deste modo, ela e sua genitora se prestavam muito mais como exemplo do Meu Poder divino ao tavoleiro, ao fariseu e ao escri- ba do que a Doutrina, da qual não podiam dar provas concludentes.
Essa menina, de físico mui atraente, foi muito favorecida pela sorte, dez anos mais tarde. A esposa de Kado em Jericó falecera; quando ele passou casualmente por essa vila, conheceu a moça e desposou-a por amor a Mim. Minha Bênção tem, portanto, bom resultado também na Terra.
Joram, o fariseu, e Boz, o escriba, em pouco tempo conver- teram os colegas, no que contribuíram a menina e, posteriormente, o amigo Kado. Com isto terminamos o pequeno relato dessa vila e voltemos à caminhada para Caná.
97.NOALBERGUEEM CANÁ
O caminho para Caná é mui longo e um bom caminhador não o fazia em um dia. Nós levamos apenas três horas devido à ma- neira um tanto milagrosa. À tardinha chegamos à estalagem na qual, por ocasião de um casamento, transformei água em vinho, a pedido
de Maria. Completamente fora de si de tão alegre, o tavoleiro Me repreende pela longa ausência.
Por isto lhe digo: “Todos vós não passando aflições, não havia necessidade de Minha Presença. Mas agora vim para socorrer-vos.”
Queixa-se ele: “Caro Senhor e Mestre, há mais de um ano que perdura minha situação aflitiva e por várias vezes Te pedi no coração, e também recorri aos Teus irmãos e à Tua mãe, em Kis. Parecias não ouvir os meus pedidos e, além disto, ninguém sabia de Teu paradeiro, de sorte que suportei a grande preocupação, em Nome de Deus Poderoso.
Minha mulher é martirizada pela gota, as crianças estão aco- metidas de febre maligna, dois dos melhores empregados estão aca- mados há mais de meio ano, com lepra, de sorte que me vejo obri- gado a recorrer a lavradores estranhos por preço elevado. Eu mesmo não gozo de boa saúde. Bom e querido Mestre e Senhor, desde que aqui operaste o primeiro milagre, muita coisa mudou em minha casa. Se não me ajudares, sucumbirei!”
Digo Eu: “Bem o sabia, e como senti teu pedido constante, vim socorrer-te. Poderia ter vindo antes; faltava-te, porém, a fé viva e a confiança. Aqui estou para te ajudar. Quero, portanto, que todos os enfermos de tua casa estejam sãos como se nunca tivessem adoe- cido! Vai e dize-lhes isto!”
Aflito, ele corre para vê-los e os encontra perfeitamente bons, a ponto de se vestirem para agradecer-Me. Como estivesse escure- cendo, digo ao tavoleiro, que chora de alegria: “Tudo está em paz, Eu ficarei a noite aqui. Trata de preparar-nos alguns peixes e manda trazer pão e vinho!”
A esse Meu pedido, todos se põem em movimento e não leva meia hora para o jantar estar servido. Em seguida digo ao dono da casa: “Manda os curados se sentarem àquela mesa; devem comer de tudo para se fortalecerem!”
Comovidos, eles se ajoelham, dizendo: “Não merecemos tal Graça, Senhor, e preferimos cear na velha mesa dos serventes. Mas Tua Vontade Se faça!”
Respondo: “Vossa humildade e modéstia Me alegram, pois beneficiam a alma. Ainda assim, ficai. Sofrestes muito, com paciên- cia e conformação à Vontade de Deus, provando vosso heroísmo na fé e confiança no Pai. Mereceis, portanto, fortificar-vos como agra- ciados do Senhor! Servi-vos de tudo naquela mesa!” Assim, todos nós jantamos e os discípulos relatam vários fatos de nossa peregrina- ção, havendo motivo de emoção e alegria. Objeções feitas por Judas tiveram certa importância.
98.OTAVOLEIROEJUDAS ISCARIOTES
O tavoleiro vira-se para Judas e diz: “Amigo, és discípulo do Senhor e, como profissional, simples oleiro. Como te foi possível participar da Companhia Dele — o próprio arcanjo Miguel não saberia responder!”
Diz Judas: “Tens razão. Sou apenas oleiro, mas conhecedor da Escritura. Sei de cor Moysés e os profetas, e conheço a assembleia de que participo. Não a acompanho visando lucro material, senão para ver se o profeta Isaías disse ou escreveu uma inverdade. Segun- do minha observação silenciosa, tudo que disseram os profetas está confirmado neste verdadeiro Homem-deus.
Além disto, tenho boa memória e sei de cada palavra que o Senhor proferiu contra mim. Em suma, sou um demônio no grupo dos discípulos do Senhor, ao Qual reconheço em virtude de Seus milagres. Se isto creio, pergunto: Por que sou um demônio?
Muito bem, se o sou, é porque devo ser! O homem sendo obrigado a ser o que jamais quis — seria ele culpado? Não! Imagina, há mais de dois anos sou Seu discípulo, obrigado a me tornar infer- nal! Porém, sei o que devo fazer para evitá-lo.
Na época em que Ele afirmou tal coisa, eu certamente o fui; pois Ele pesquisa o íntimo da criatura. Se eu não sirvo para Sua Companhia, Ele dispõe de Poder bastante para me afastar. Ele, so- mente, é o Senhor e pode fazer o que quer, e ninguém Lhe poderá perguntar: Senhor, por que fazes isso? Mas, por um homem seme-
lhante a mim, não me deixo admoestar! Todos têm suas fraquezas que devem abandonar e não se justifica ridicularizar-se as do vizinho.
Já disse conhecer eu Moysés e os profetas e a Doutrina do Senhor, na qual se confirma tudo que predisseram, inclusive Sehel e Henoch; portanto, sei de minha obrigação. Queria apenas saber por que sou considerado o último discípulo do Senhor, como se realmente estivesse um demônio entre eles!”
Responde o tavoleiro: “Amigo, não tive a intenção de re- criminar-te e ignorava ter o Senhor te classificado com um nome que não quero repetir. Expressei minha admiração, pois conhecia tua inclinação comercial e que não tomavas a sério os Mandamen- tos de Deus.
Tudo sabias melhor; mas, se a pessoa te indagasse os motivos dos atos não louváveis, respondias: Jamais alguém viu Deus, nem ouviu a Sua Voz, mas sempre houve homens de capacidades e ta- lentos variados. Moysés e os profetas também eram homens, e nós nunca privamos com eles. Seus escritos eram bons para sua época. Mas os tempos mudaram e nossas necessidades também. Quem não tiver feito tais experiências, engana-se quando rejeita sua felicidade terrena para conquistar o Céu. — Vês, amigo, também eu tenho boa memória.
Se te consideras o último entre os discípulos, é questão tua; não percebo ocupares um posto diferente dos outros. Creio que tais pensamentos só podem surgir na alma do homem que, movido pelo orgulho, deseja sobressair-se. Quem se sentir feliz em ser o último dos últimos e um servo dos servos do Senhor, jamais se queixará.
Segundo minha compreensão da Doutrina, o sentido dela se baseia na humildade, meiguice e renúncia, sem as quais não pode surgir o amor puro e verdadeiro para com Deus e o próximo.
O homem capaz de ser ofendido e magoado pelas fraquezas do próximo ainda não chegou àquele ponto vital em que o Senhor lhe dissesse: Eis o homem segundo o Meu Coração! Externei-te mi- nha opinião porque me obrigaste a tal; podes responder, caso tenhas argumentos!”
Sensivelmente tocado, Judas diz, após certo tempo: “Tens razão, pois penetraste profundamente no espírito da Doutrina. Mas se o Senhor te dissesse: És um demônio! — qual seria tua reação?”
Diz o tavoleiro: “Ele me dando tal certificado, dir-Lhe-ia no coração: Ó Senhor e Mestre da Vida, agradeço-Te contrito diante de Tua Glória, por me teres demonstrado que sou grande pecador; por isto Te peço me ajudares em expurgar de mim o demônio do orgulho, da mentira, da traição e do egoísmo, e me preenche com o espírito da verdadeira humildade, meiguice e amor para Contigo e ao próximo. Estou certo que o Senhor não me negaria tal Graça, caso o meu pedido surgisse do pleno rigor da vida! — Agora me dirijo a Ti, Senhor e Mestre, pedindo me corrijas se porventura falei algo injusto!”
99.OSENHORFALADEJUDAS ISCARIOTES
Digo Eu com amabilidade: “Como poderias ter dito algo injusto ou errado, se Eu te inspirei? Disseste a plena Verdade ao discípulo, dentro do Meu Sentir e em Meu Nome; feliz dele, se a considerar!
Bem sei ser ele escriba, tendo colhido conhecimentos e ex- periências nos quais supera os outros. De que lhe adianta isto se há quase dois anos e meio Me acompanha para Me fiscalizar em tudo que falo e faço, a fim de descobrir algo que não combine com a Escritura? Nesse afã, seu orgulho, egoísmo e tendência para o lucro acham constante alimento, razão por que continua como é, sem ad- mitir crítica por quem quer que seja, em seu próprio benefício. No íntimo pensa: Que quereis vós, pescadores incultos e pobres, ensinar a mim, escriba?
Digo, porém: É bom e justo o homem ser escriba; prefiro, no entanto, alguém de poucas noções da Escritura, mas que as aplique, a um crítico sem fé, que vive apenas dentro da razão.
Quem se blasonar com a pretensão de seu saber é tão cego, espiritualmente falando, quanto todos os sapientes judeus, fari-
seus e escribas em Jerusalém, a ponto de não enxergar um palmo adiante de seu nariz. Não é esta a situação espiritual de quem, em plena vida, começa a perguntar se realmente existe, e em que se baseia sua vida?
Tolo, nem a pele, nem a carne e todo o mundo externo te poderão explicar o que seja a vida, porque tudo isto não é vida, mas apenas seu efeito. Penetra o teu íntimo pela fé, o amor, a humilda- de, meiguice e desistência pessoal, tornando-te uma vida própria em união com Deus em ti, que saberás se realmente vives e o que seja a vida!
Por que não procuram os homens o ouro na pedra super- ficial, mas penetram em determinado ponto das montanhas onde descobrem vestígios desse metal, colhendo imensos tesouros? Se isso fazem sem receio e medo na conquista de bens terrenos, em si mor- tos e até mesmo trazendo o extermínio a muitos — por que não o fazem dentro de si para angariar o ouro da Vida, oculto dentro deles? Pois muitos há que externamente traduzem qual sua índole interna, sem procurar modificá-la.
Quem existe, mas desconhece a razão de sua vida como fru- to ainda não amadurecido, exponha-se à Luz de Deus para deixar iluminar e aquecer o coração, que deste modo atingirá a libertação interna e o amadurecimento verdadeiro da Vida. Em tal situação começará a perceber por que vive e quem seja a Vida dentro dele!”
100.OJUSTOCAMINHOÀMETAFINAL.AEDUCAÇÃODO INTELECTO
(O Senhor): “O homem que se movimenta na vida, espiritu- almente cego e não amadurecido, semelha-se à haste do trigo quan- do começa a se desenvolver no gérmen. Enquanto tiver atingido apenas um palmo sobre o solo sob a influência do Sol, nada se perce- be da espiga; pela crescente irradiação do Sol, a espiga surge, cresce, se desenvolve e apresenta o grão que amadurece na haste do folhelho até se desprender completamente, achando-se, portanto, livre.
Uma vez o trigo maduro, morrem haste e espiga. Por quê? Porque toda sua manifestação de existência externa se voltou à vida verdadeira e interna do fruto no grão, onde se encontram igual- mente as raízes e a haste em crescimento progressivo, até o pleno amadurecimento — não só uma vez, mas infinitamente multiplica- dos; do contrário, um grão semeado não poderia produzir inúmeros outros, o que se torna necessário ao crescimento e amadurecimen- to do mesmo.
Já assististes alguma vez uma haste de trigo surgir e crescer até o amadurecimento do grão em pleno inverno, sob a fraca luz do Sol, da Lua e das estrelas? Isto não sendo possível, tampouco o homem poderia chegar à verdadeira e interna perfeição e liberdade da Vida debaixo das inúmeras luzinhas da sapiência mundana tão elogiada. Preciso é que seja bafejado pelo verão da Vida com a precedente primavera, que consiste na fé cada vez mais ativa e no amor mais crescente a Deus e ao próximo.
Deus — em Si o Amor, a Luz e a Vida — é o verdadeiro Sol de todo ser. Quem amá-Lo com intensidade crescente pela ação, segundo a Sua Vontade, penetrará no seu íntimo, ingressando no verdadeiro verão do Espírito Divino, no qual chegará ao verdadeiro amadurecimento da vida sob a Luz do Amor e seu Calor vital. Ou- vindo esse ensinamento de Minha própria Boca, considerai-o bem e agi deste modo, que chegareis ao verdadeiro amadurecimento da vida. Terás entendido, Judas Iscariotes?”
Responde ele: “Senhor e Mestre, eu e todos nós entendemos Tua comparação, sabendo o que fazer para chegarmos ao Reino de Deus; entretanto, não é fácil levar-se à força vital o que no homem se acha adormecido tão profundamente como a semente do grão. Primeiro, é preciso deitá-la em bom solo e morrer para fazer desper- tar o espírito ativo, a fim de poder iniciar sua própria atividade junto à sua inteligência; do contrário, não surgirão haste, espiga nem grão, não obstante a mais bela primavera e o verão mais quente!”
Digo Eu: “Ainda bem que o sabes na plena Verdade, por- tanto podes despir o antigo Adam materialista, para vestires o novo
homem que se tornará tão ativo quanto o elemento do trigo, ao apodrecer o folhelho para ingressar como alimento e fortalecimento no próprio gérmen.”
Pergunta Judas: “Senhor e Mestre, como se pode despir o velho Adam para revestir-se de um novo? Será preciso matar-se o corpo para atingir o espírito?”
Digo Eu: “Como pode um dos Meus antigos e mais inteli- gentes discípulos chegar a conclusão tão absurda? Quem teria falado em suicídio para o homem se tornar espiritual? Domina teus desejos e vontades mundanas que pululam em tua carne, e cuida do Reino de Deus em ti, pela maneira bem esclarecida a todos, que terás des- pido o velho homem e te revestido