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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume VI

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2020

ÍNDICE

  1. CURA DE UM ENFERMO NO LAGO BETHESDA (EV. JOÃO 5, 1–13) 17

  2. O SENHOR DÁ TESTEMUNHO DE SI E DE SUA MISSÃO (EV. JOÃO 5, 14–27) .19

  3. O SENHOR FALA DO TESTEMUNHO DE SUAS OBRAS (EV. JOÃO 5, 28–39) 20

  4. TEIMOSIA DOS TEMPLÁRIOS (EV. JOÃO 5, 40–47) 22

  5. OS FARISEUS EM BETHÂNIA 24

  6. A CONFISSÃO DOS FARISEUS 26

  7. O SENHOR EM COMPANHIA DOS SEUS 29

  8. MOYSÉS E ELIAS APARECEM À CHAMADA DO SENHOR 31

  9. ACUSAÇÃO DE ELIAS 33

  10. AUTOACUSAÇÃO DOS TEMPLÁRIOS 35

  11. BONS PROPÓSITOS DOS SACERDOTES CONVERTIDOS 37

  12. TEMPESTADE NOTURNA 38

  13. A ESTRELA NOVA COM A NOVA JERUSALÉM. CONDIÇÕES PARA A VIDA ETERNA 40

  14. CONFISSÃO DE UM SACERDOTE JUDAICO 42

  15. OS SACERDOTES SE TORNAM ADEPTOS DO SENHOR 44

  16. OS SACERDOTES CONVERTIDOS RENUNCIAM AO TEMPLO 46

  17. ATITUDE EGOÍSTA DOS SACERDOTES NO TEMPLO 48

  18. O EVANGELHO DA ALEGRIA 49

  19. A PURIFICAÇÃO DO PECADO 52

  20. A INSTABILIDADE DA MATÉRIA 53

  21. O VINHO MILAGROSO. O TRABALHO NA VINHA DO SENHOR 55

  22. OS FALSOS DOUTRINADORES DO EVANGELHO 58

  23. O SENHOR EM BETHLEHEM, EM COMPANHIA DE SEUS ADEPTOS. CURA

DE MUITOS ENFERMOS 60

  1. AS CURAS DO SENHOR NAS PROXIMIDADES DE BETHLEHEM 62

  2. O SENHOR VIAJA PARA KIS 64

  3. INDAGAÇÕES FILOSÓFICAS DE PHILOPOLDO 66

  4. A MATURAÇÃO DA CRIATURA 68

  5. TEMPO E ESPAÇO 70

  6. A MEDIDA DA FORÇA 71

  7. A FORÇA DA LUZ 72

  8. A NATUREZA DIVINA E HUMANA DO SENHOR 74

  9. O ESPÍRITO DENTRO DA NATUREZA 75

  10. CÉU E INFERNO 77

  11. A GRANDE PESCA 80

  12. JUDAS ISCARIOTES EM CASA DE KISJONAH 82

  13. PARTIDA DE KIS E CHEGADA NA HOSPEDARIA DE LÁZARO 84

  14. OS SÁBIOS DA PÉRSIA 86

  15. SABER E AÇÃO DOS TRÊS MAGOS 89

  16. UMA BOA FINALIDADE NÃO JUSTIFICA OS MEIOS NOCIVOS 91

  17. INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS DE LUZ 93

  18. O SUPRIMENTO DAS CINCO MIL PESSOAS NO MAR GALILEU

(EV. JOÃO 6, 1–15) 96

  1. OS DISCÍPULOS NAVEGAM PARA CAPERNAUM (EV. JOÃO 6, 16–21) 99

  2. O PÃO DA VIDA (EV. JOÃO 6, 22–35) 101

  3. A MISSÃO DO SENHOR NA TERRA. CARNE E SANGUE DO SENHOR (EV.

JOÃO 6, 36–58) 104

  1. OPINIÕES DO POVO QUANTO AO DISCURSO DO SENHOR (EV. JOÃO 6, 59–64) 106

  2. UMA PROVA PARA OS APÓSTOLOS (EV. JOÃO 6, 65–70) 108

  3. JUDAS ISCARIOTES (EV. JOÃO 6, 71) 110

  4. NO ALBERGUE DO HOSPEDEIRO DE CAPERNAUM 112

  5. PACIÊNCIA DO SENHOR PARA COM JUDAS 114

  6. A ABUNDANTE PESCA 115

  7. JEJUM E PENITÊNCIA. A PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO (EV. LUCAS 18, 9–14) 118

  8. TENTAÇÕES E FRAQUEZAS. O PENSAMENTO 120

  9. DESTINO DAS CRIATURAS 122

  10. A RESSURREIÇÃO DA CARNE 124

  11. MOLÉSTIAS E MORTES PREMATURAS 126

  12. PRINCIPAIS CAUSAS DAS MOLÉSTIAS 128

  13. A RESSACA 130

  14. PEDRO E O RICO NEGOCIANTE DE CAPERNAUM 133

  15. ÍNDOLE DAS CRIATURAS MUNDANAS 137

  16. INDIFERENÇA DOS NEGOCIANTES QUANTO À ESFERA ESPIRITUAL 142

  17. A REENCARNAÇÃO. A TERRA, UMA ESCOLA PARA OS FILHOS DE DEUS 144

  18. A SERPENTE MARINHA 145

  19. O MOTIVO DA ENCARNAÇÃO DE DEUS 147

  20. A DESCRENÇA COMO PROVA DE MATURIDADE PARA UMA NOVA REVELAÇÃO. COMPARAÇÃO ENTRE AS CRIATURAS DA ÉPOCA DE NOÉ

E AS DE JESUS 150

  1. EVOLUÇÃO DE ALMAS DO ALÉM ENCARNADAS ANTES DE JESUS 153

  2. O GANANCIOSO REITOR DE CAPERNAUM 156

  3. A IMORTALIDADE DA ALMA 158

  4. RAZÃO DO PAVOR DA MORTE 160

  5. AMOR E SABEDORIA DE DEUS 163

  6. O TERRENO SUBMERSO 164

  7. AÇÃO DOS MAUS ESPÍRITOS 166

  8. INFLUÊNCIA ESPIRITUAL COM PERMISSÃO DA DIVINA PROVIDÊNCIA 168

  9. A FILHA DO HOSPEDEIRO, AFOGADA, E SUA RESSURREIÇÃO 169

  10. O NAVIO FARISEU EM ALTO MAR 171

  11. A JUSTA OBSERVAÇÃO DA NATUREZA 172

  12. MOTIVO DA DECADÊNCIA HUMANA. TEOCRACIA E IMPERIALISMO 175

  13. NAS REDONDEZAS DE CAPERNAUM 177

  14. PALESTRA ENTRE O HOSPEDEIRO E O REITOR 179

  15. O SENHOR AO NORTE DA GALILEIA. A VOZ INTERNA COMO SEGREDO

DE DEUS NO CORAÇÃO DA CRIATURA (EV. JOÃO 7, 1) 181

  1. VISITA AO HOSPEDEIRO EM CANÁ. CURA DE UMA CRIANÇA. UM EVANGELHO PARA MÃES 183

  2. O SENHOR NO NORTE DA GALILEIA 184

  3. OS APÓSTOLOS E O ZELOSO PUBLICANO 186

  4. O SENHOR RESSUSCITA O FILHO DO PUBLICANO 188

  5. AFASTAMENTO DOS TRÊS MÉDICOS 189

  6. A ARTE DA VIDA 191

  7. JESUS, PROFESSOR DA ARTE DA VIDA 193

  8. DESENVOLVIMENTO INTERNO DA CRIATURA ESPIRITUAL 195

  9. BASE PARA O APERFEIÇOAMENTO ESPIRITUAL. A ENTIDADE DE DEUS 197

  10. PALESTRA ENTRE O MÉDICO E O TAVERNEIRO 198

  11. NATUREZA DO SENHOR, DIVINA E HUMANA 199

  12. O MÉDICO RECEBE O DOM DE CURAR 202

  13. O NEGOCIANTE CRISTÃO. IMPOSTOS E ESCRAVATURA. OS SACERDOTES PAGÃOS 204

  14. VISITA AO BOSQUE SAGRADO E DESTRUIÇÃO DOS ÍDOLOS 206

  15. O LAGO SAGRADO 209

  16. A DOUTRINA DA VIDA 212

  17. O VALOR DA ASTROLOGIA 213

  18. O SENHOR CURA ENFERMOS EM UMA ALDEIA DE PESCADORES 215

  19. DEFESA DO SACERDOTE PAGÃO 218

  20. A ALDEIA É ABENÇOADA POR JESUS 220

  21. RETORNO A CHOTINODORA 221

  22. O SENHOR EXPLICA AS VISÕES DE DANIEL 222

  23. AS ASTUCIOSAS MULHERES DOS SACERDOTES PAGÃOS 225

  24. BOM TESTEMUNHO DAS SACERDOTISAS 227

  25. DÚVIDAS QUANTO AO ALÉM 229

  26. O ORGULHO FEMININO DESAGRADA AO SENHOR 231

  27. UM ESCRIBA APOIA AS SACERDOTISAS 233

  28. INTERCÂMBIO COM O ALÉM. PROVAS DA SOBREVIVÊNCIA 235

  29. DISCURSO ATEÍSTA DA SACERDOTISA 237

  30. POLÊMICA ENTRE O ESCRIBA E A SACERDOTISA 239

  31. O ESCRIBA FALA DO SER DIVINO 241

  32. CAMINHO PARA O CONHECIMENTO E O AMOR DE DEUS 243

  33. O SUPERSTICIOSO PESCADOR DO EUPHRATES 246

  34. O JUSTO ENSINAMENTO RELIGIOSO 249

  35. A SERPENTE COMO EXEMPLO DE CONDUTA 250

  36. OS LADRÕES 252

  37. OS DONOS DAS BALSAS E O SENHOR 253

  38. HISTÓRIA DO HOMEM RICO 255

  39. A CULPA DOS JANGADEIROS 257

  40. VENERAÇÃO DAS SACERDOTISAS PARA COM O SENHOR 259

  41. O SENHOR EXPLICA O MUNDO DA LUA 261

  42. PECULIARIDADES DAS ALMAS DA LUA ENCARNADAS NA TERRA 263

  43. O SENHOR ADVERTE DO PERIGO DA RECAÍDA NA MATÉRIA 264

  44. PRECE E OFÍCIO RELIGIOSO 266

  45. A EVOLUÇÃO DO HOMEM 269

  46. APARIÇÃO DO MENTOR DAS SACERDOTISAS 270

  47. A IMPORTÂNCIA DO POVO JUDEU 272

  48. O SENHOR SUBJUGA OS PIRATAS 274

  49. O SENHOR EM SAMOSATA 276

  50. CURA DO FILHO DO CAPITÃO 278

  51. CONVERSÃO DOS SACERDOTES PAGÃOS 280

  52. O COMANDANTE E SEUS IRMÃOS 282

  53. QUEIXA DO COMANDANTE A RESPEITO DA LUTA ENTRE IRRACIONAIS 285

  54. NATUREZA E FINALIDADE DA MATÉRIA.

DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL DOS FILHOS DE DEUS 286

  1. O COMANDANTE FALA DO SÁBIO ILÍRIO 289

  2. A PERSONALIDADE DIVINA. A FORÇA DA VONTADE 290

  3. A INCLINAÇÃO À BELEZA, UMA MANIFESTAÇÃO DA VERDADE 292

  4. VISITA AO TEMPLO DA SABEDORIA 294

  5. REFEIÇÃO MILAGROSA EM CASA DO GENERAL. NATUREZA E AÇÃO DO AMOR 297

  6. OS JUDEUS VELHACOS 300

  7. RETORNO A CAPERNAUM 302

  8. ATAQUE FRUSTRADO DO CHEFE TEMPLÁRIO 303

  9. O COMANDANTE CONTRATA O GIGANTE E SEUS IRMÃOS 307

  10. PROFISSÃO E HONRA. TUDO É GRAÇA, SOMENTE A BOA VONTADE É MERITÓRIA 309

  11. A AÇÃO HUMANA DEPENDE DA GRAÇA DIVINA 312

  12. DÚVIDAS DOS APÓSTOLOS 315

  13. OS APÓSTOLOS, INSATISFEITOS, ENCAMINHAM-SE PARA JERUSALÉM.

O SENHOR OS SEGUE SECRETAMENTE (EV. JOÃO 7, 2–13) 317

  1. O SENHOR NO TEMPLO. TRAMA FRUSTRADA DOS TEMPLÁRIOS (EV.

JOÃO 7, 14–36) 320

  1. JESUS SE HOSPEDA EM CASA DE LÁZARO 324

  2. O SENHOR PREDIZ A ÉPOCA ATUAL 327

  3. REVELAÇÕES E PROFETAS, GENUÍNOS E FALSOS 330

  4. AS PROVAS DO ANTICRISTO 334

  5. VARIABILIDADE DAS CRIATURAS E SUA FINALIDADE 336

  6. O SENHOR PREDIZ O JULGAMENTO SOBRE O POVO JUDAICO. A INSTABILIDADE DA MATÉRIA 339

  7. O PORQUÊ DA INSTABILIDADE DA MATÉRIA 341

  8. INFELICIDADE E DESDITAS, CULPÁVEIS E INCULPÁVEIS 344

  9. O ECLIPSE LUNAR 345

  10. ANÁLISE DA LUA PELA VISÃO INTERNA 347

  11. CONSEQUÊNCIA DO ECLIPSE. RENASCIMENTO E DONS ESPIRITUAIS 350

  12. AS EXPERIÊNCIAS DOS DISCÍPULOS DURANTE A FESTA EM JERUSALÉM 351

  13. OS SETE CÃES DE LÁZARO. OS MUNDOS CÓSMICOS COMO ESCOLAS ESPIRITUAIS 353

  14. O EXEMPLO COMO MELHOR ENSINO E ADVERTÊNCIA 355

  15. MOTIVO E FINALIDADE DAS MOLÉSTIAS 356

  16. O DESTINO DOS SUICIDAS. A DOUTRINA SEM EXEMPLO DE NADA

VALE. A FÉ SEM OBRAS NÃO TEM VALOR 358

  1. POSIÇÃO DE LÁZARO QUANTO AO TEMPLO.

O ABORRECIMENTO E SEUS EFEITOS PREJUDICIAIS 360

  1. INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS E O LIVRE ARBÍTRIO. DESTINO DAS ALMAS

DE IRRACIONAIS 363

  1. NATUREZA DOS METEOROS E COMETAS 365

  2. LÁZARO SE TORNA PROPRIETÁRIO DE UM POÇO DE PETRÓLEO 369

  3. LÁZARO E OS ESPIÕES DO TEMPLO 370

  4. REFERÊNCIA DO SENHOR QUANTO À SUA CRUCIFIXÃO 372

  5. O SENHOR DOUTRINA NO TEMPLO (EV. JOÃO 7, 37–49) 373

  6. NICODEMUS E OS FARISEUS (EV. JOÃO 7, 50–53) 375

  7. O SENHOR NO MONTE DAS OLIVEIRAS (EV. JOÃO 8, 1) 377

  8. REFLEXÕES DO SENHOR À VISTA DE JERUSALÉM 378

  9. PREDIÇÃO DO ATUAL JULGAMENTO 380

  10. DÚVIDAS DE LÁZARO 382

  11. OS LAVRADORES NA VINHA. NATUREZA, DESTINO E EFEITO DAS REVELAÇÕES 384

  12. OS PROFETAS COMO PORTADORES DE REVELAÇÕES 386

  13. EXISTEM DUAS ESPÉCIES DE CRIATURAS NA TERRA. ENSINOS E

MILAGRES E SEUS EFEITOS DIVERSOS 388

  1. O ANTICRISTO 391

  2. BÊNÇÃO E PRECE JUSTAS 393

  3. CHEGADA DE NOVOS HÓSPEDES 395

  4. PALESTRA ENTRE A JUDIA E OS ROMANOS 396

  5. O ROMANO E LÁZARO 397

  6. LÁZARO PALESTRA COM O ROMANO ACERCA DO SENHOR 399

  7. CURA DE MARIA MADALENA 400

  8. OS ROMANOS E A JUDIA DÃO HONRAS AO SENHOR 402

  9. EFEITO DO VINHO 404

  10. VALOR DO RACIOCÍNIO E DA FÉ VERDADEIRA 406

  11. VISÃO DO MUNDO ANGELICAL. DIFERENÇA ENTRE ANJOS E CRIATURAS .408

  12. VARIABILIDADE DE TAREFAS DOS ANJOS E DOS HOMENS 410

  13. OS DIVERSOS GRAUS DE VIDÊNCIA 413

  14. UMA VISITA AO UNIVERSO 414

  15. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DAS DIVERSAS FASES DO DIA 416

  16. O SENHOR CLASSIFICA OS TRINTA ROMANOS 418

  17. OS TRINTA ROMANOS À PROCURA DO SENHOR 419

  18. O SENHOR DOUTRINA NO TEMPLO (EV. JOÃO 8, 2) 420

  19. A ADÚLTERA (EV. JOÃO 8, 3–11) 422

  20. CONFISSÃO DO SENHOR NO TEMPLO (EV. JOÃO 8, 12–29) 424

  21. O SENHOR E SEUS ADVERSÁRIOS (EV. JOÃO 8, 30–49) 426

  22. A NATUREZA DO SENHOR (EV. JOÃO 8, 50–59) 429

  23. O SEDUTOR DA ADÚLTERA 431

  24. O SENHOR É PROCURADO POR LAVRADORES 432

  25. MOTIVO DA INCREDULIDADE DOS TEMPLÁRIOS 433

  26. EDUCAÇÃO DA HUMANIDADE NO CONHECIMENTO DE DEUS 434

  27. LIVRE ARBÍTRIO E MISSÃO ESPIRITUAL DAS CRIATURAS DA TERRA 437

  28. PECADO E PENITÊNCIA 438

  29. FASE FINAL DA TERRA. O REINO DE MIL ANOS E O JULGAMENTO DO

FOGO 441

  1. RELATO DE LÁZARO QUANTO AOS FARISEUS INCRÉDULOS 444

  2. O MILAGRE NO ALBERGUE 445

  3. DÚVIDAS DOS FARISEUS 447

  4. UMA APOSTA ENTRE AGRÍCOLA E O FARISEU 449

  5. AGRÍCOLA INTERPRETA PROFECIAS DE ISAÍAS 451

  6. IGNORÂNCIA DO FARISEU QUANTO AO CONHECIMENTO DO SOL E DO DILÚVIO 454

  7. O LIVRO DE JOB E O TEMPLO DE JABUSIMBIL 457

  8. O ORÁCULO DE DELFOS. A VIDA APÓS A MORTE 459

  9. OS SETE LIVROS DE MOYSÉS 462

  10. O CÂNTICO DE SALOMON 464

  11. AGRÍCOLA FALA ACERCA DA ALMA 466

  12. ALMA E CORPO 467

  13. A RENÚNCIA E O REINO DE DEUS 469

  14. REGIME DIVINO APLICADO ÀS CRIATURAS 472

  15. ALIMENTOS PUROS E IMPUROS 474

  16. JUSTA CONSIDERAÇÃO DO SÁBADO 477

  17. RÉPLICA DO FARISEU 478

  18. O INTERCÂMBIO COM O ALÉM. O LIVRE ARBÍTRIO 481

  19. A NATUREZA DE DEUS E SUA ETERNA SATISFAÇÃO CRIADORA 485

  20. NÃO O SABER, MAS A AÇÃO CARIDOSA TRAZ A FELICIDADE. A JUSTA ABASTANÇA 488

  21. AMOR AO PRÓXIMO. CONHECIMENTO E AMOR DIVINOS 491

  22. DEUS-PAI, DEUS-FILHO E ESPÍRITO SANTO 494

  23. A TRINDADE EM DEUS E NO HOMEM 496

  24. A NATUREZA INTRÍNSECA DE DEUS EM JESUS 497

  25. A NATUREZA DOS COMETAS 500

  26. IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO 501

  27. FINALIDADE DAS INVENÇÕES 504

  28. OS FALSOS PROFETAS 505

  29. ONIPRESENÇA DO SENHOR. OS PRIMEIROS SERÃO OS ÚLTIMOS 507

  30. CÉU E INFERNO 509

  31. AS LUTAS NO INFERNO 511

  32. A SEGUNDA CRIAÇÃO DE DEUS 512

  33. RELAÇÃO ENTRE O INFERNO E O MUNDO 514

  34. LÁZARO PRETENDE SOCORRER OS PECADORES 516

  35. TRÊS PARÁBOLAS QUANTO À MISERICÓRDIA DE DEUS. O SEGREDO DO AMOR 516

  36. EFEITOS DA FALSA COMPREENSÃO DO ALÉM 519

  37. CONDENAÇÃO E CASTIGO 521

  38. O GRANDE HOMEM CÓSMICO 522

  39. LIBERTAÇÃO DO HOMEM CÓSMICO 525

  40. JESUS, SALVADOR DO HOMEM CÓSMICO.

GRANDEZA ESPIRITUAL DO HOMEM 526

  1. A MOVIMENTAÇÃO DO HOMEM CÓSMICO. OS SÓIS DUPLOS 528

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor

Cenas Admiráveis da Vida de Jesus – 2 volumes

OGRANDEEVANGELHODEJOÃOVOL. VI

    1. CURADEUMENFERMONOLAGOBETHESDA(EV.JOÃO5, 1–13)

  1. Naquele dia caminhei com Meus discípulos até aos arrabal- des de Jerusalém, pernoitando em uma hospedaria conhecida. Satis- feito com nossa chegada, o hospedeiro manda preparar uma boa ceia e relata vários acontecimentos chocantes naquela cidade.

  2. Então lhe digo: “Vai amanhã ao Templo e verás Minha Ati- tude para com os fariseus, que saberão, sem restrições, com Quem estarão lidando!” Ele se alegra com tal perspectiva e nos serve mais pão e vinho. Não obstante ter ouvido muitos comentários de Minha Pessoa, ignorava Minha Verdadeira Identidade, motivo por que os discípulos o orientam. Em seguida nos recolhemos.

  3. Na manhã de sábado subimos a Jerusalém, situada numa en- costa rochosa, assim como o próprio Templo com seus vastos átrios, os muros cerrados e terraços. Subentende-se sermos acompanhados pelo hospedeiro.

  4. Nas proximidades do Templo passamos pelo Lago Bethesda (Vedes da — transmite o despertar ou cura), ao lado do estábulo de carneiros, que possuía cinco dependências. Nesses recintos sempre havia grande número de enfermos, como sejam: cegos, coxos, entre- vados etc., esperando que a água se movimentasse, pois de acordo com um velho mito da época de Melchisedek, e segundo a crença firme, mormente dos pobres, um anjo vez por outra descia do Céu para movimentá-la. Ninguém havia visto o anjo; mas supunha-se sua presença pela movimentação estranha do Lago.

  5. Os próprios fariseus eruditos não acreditavam no fenôme- no do Lago, considerando-o dotado apenas de faculdade curadora,

sendo esta também a opinião de romanos e gregos; no entanto, os templários sabiam manter o povo nessa antiga crença, em benefício do Templo. Tão logo a água se movia — o que se dava uma a duas vezes por semana — transmitia um poder de cura tão formidável, a ponto de curar quem tivesse a sorte de ser o primeiro a nela entrar, não obstante sua enfermidade. É natural terem os ricos e abastados o privilégio, enquanto os pobres, impossibilitados de pagar, espe- ravam anos afora até que um guarda mais bondoso os mergulhasse primeiro, e eles saravam no mesmo momento.

  1. O hospedeiro critica acerbamente tal organização, classi- ficando-a de injusta e imoral. Aponta-Me em seguida um velho, coitado, à espera da cura desde trinta e oito anos, sem que um dos guardas tivesse a ideia de facultar-lhe esse privilégio. Tão alterado fiquei que disse ao hospedeiro: “Embora seja sábado, deve ele ser so- corrido!” Em seguida dirijo-Me ao doente e digo: “Queres curar-te?”

  2. Com tristeza ele diz: “Bom senhor, não tenho quem me faça entrar na água quando ela se mexe; ao me aproximar, um ou- tro, mais considerado, toma a dianteira. Como poderia curar-me deste modo?”

  3. Eis que lhe digo: “Então levanta-te, apanha o teu leito e vai de onde vieste!” No mesmo instante ele recupera a saúde, toma da esteira e, de acordo com o hábito, se aproxima dum sacerdote para apresentar-se como curado; sua cura causa espanto, porque a água nunca se movimentara num sábado. Os judeus não teriam se expres- sado; mas o fato de ele carregar a sua esteira num feriado é pronta- mente criticado!

  4. Ele, porém, diz: “Aquele que me curou mandou que eu o fizesse e caminhasse! Possuindo tamanho poder e me tendo feito tão grande benefício, também lhe obedeço. Durante trinta e oito anos ninguém me fez um favor tão grande quanto ele!”

  5. Perguntam os templários: “Quem te disse tal coisa?” Igno- rando o Meu Nome, não pôde responder, e tampouco apontar-Me, porque Me afastei rapidamente do local, em virtude da aglomera- ção do povo.

2.OSENHORTESTEMUNHODESIEDESUAMISSÃO(EV.JOÃO5, 14–27)

    1. Decorrida uma hora, fui com os apóstolos ao Templo, após termos palestrado a respeito de Minha Doutrinação com a família de Lázaro de Bethânia, que conhecia desde Meus doze anos e costu- mava visitar anualmente durante as peregrinações a Jerusalém.

    2. Todos nos acompanham e quando penetramos no átrio, en- contramos o curado, que forçando a passagem, se aproxima para louvar-Me e agradecer-Me!

    3. Eu, então, lhe digo: “Como adquiriste a saúde, trata de não pecares no futuro, para não te suceder coisa pior!”

    4. Ele o promete e descobre o Meu Nome, porque muitos Me conhecem de épocas passadas. Assim informado, ele procura os ju- deus enraizados e lhes conta ter sido Eu, Jesus, quem o curou. En- raivecidos, por Eu ter feito isto num sábado tão importante, eles se viram para Mim, a fim de Me prender e matar! Percebendo o mo- mento de perigo, o hospedeiro Me aconselha a fugir quanto antes desses judeus odiosos.

    5. Eu o acalmo, dizendo: “Nada receies, pois não Me poderão atacar, se Eu não o quiser! Dir-lhes-ei indubitavelmente Quem sou e poderás ver seu verdadeiro ódio, que ninguém precisa temer!”

    6. Enquanto assim falo a sós com o hospedeiro, os outros Me perguntam bruscamente: “Por que fizeste tal coisa num feriado tão importante, ultrajando-o diante do povo? Não podias ter esperado até amanhã?”

    7. Fitando-os com rigor, digo simplesmente: “Até então o Meu Pai no Céu agiu, e Eu também o faço!”

    8. Ainda mais irritados, os judeus procuram cercar-Me nesse momento, gritando em altos brados: “Não basta ter vilipendiado o sábado, ele também ultraja Deus, porquanto O chama de Pai, igualando-se a Ele! Manietai-o para que seja imediatamente es- trangulado!” O tumulto no Templo é enorme e muitos tentam agredir-Me.

    1. Levantando Minha Voz, ordeno silêncio e Me dirijo aos ju- deus enraivecidos: “Em verdade vos digo: Eu, como Filho, nada pos- so fazer — a não ser aquilo que vejo ser feito pelo Pai! Faço, pois, o mesmo que Ele! O Pai ama o Seu Filho e Lhe demonstra tudo que faz e ainda apontará obras mais importantes, provocando grande ad- miração entre vós! Assim como o Pai desperta os mortos, dando-lhes vida, também o Filho ressuscita a quem quer. Cegos, vos digo: o Pai no Céu não julga, pois entregou o julgamento a Mim, Seu Filho, a fim de que todas as criaturas, judeus e pagãos, honrem o Filho como veneram o Pai. Quem, entretanto, não honra o Filho deixa de honrar o Pai, que O enviou!” Enquanto assim falo, o silêncio é completo, pois Eu queria que os judeus calassem.

    2. Por isso prossigo: “Realmente, quem ouve o Meu Verbo e crê convictamente Naquele que Me enviou a esta Terra já possui a Vida Eterna e sua alma jamais cairá em julgamento, ou seja, na morte da matéria, pois passou da morte à vida, em virtude de sua fé viva e vigorosa!

    3. E digo mais: virá a hora e já chegou, onde os mortos de cor- po e alma ouvirão a Voz do Filho de Deus, e quem Lhe der crédito receberá a Vida Eterna! Pois assim como o Pai possui a Própria Vida, Ele faculta ao Filho a mesma Posse. Além disto, legou-Lhe o Poder de fazer o julgamento sobre todos os homens, e isto porque o Eterno Filho de Deus é nesta época também Filho do homem!”

3.OSENHORFALADOTESTEMUNHODESUASOBRAS(EV.JOÃO5, 28–39)

  1. Alguns arregalam os olhos de estupefação, enquanto outros opinam ser ultraje jamais visto o que acabo de dizer. Ainda outros afirmam ser certamente Verdade, pois homem algum havia dito coi- sas semelhantes.

  2. Eu, porém, lhes digo: “Hora virá em que todos, até mesmo os que estão nos túmulos (refiro-Me aos pagãos, mas os judeus não compreenderam), ouvirão a Minha Voz; os que fizeram o bem sur-

girão à verdadeira ressurreição da vida, mas os que praticarem o mal despertarão à ressurreição do julgamento, ou seja, a morte verdadei- ra da alma!”

  1. Então alguns começam a resmungar, dizendo: “Este homem se excede e começa a delirar, pois fala como se ele e Deus fossem idênticos! Quem teria ouvido coisa tal?!”

  2. Eu, porém, lhes digo: “Enganai-vos com este critério de Mi- nha Pessoa, pois como simples homem nada consigo fazer. Ouço, entretanto, constantemente a Voz do Pai em Mim e ajo, falo e julgo de acordo; deste modo, Meu Julgamento é certo, porque cumpro não Minha Vontade humana, e sim a do Pai que Me enviou a este mundo. Se como homem fosse testemunhar de Mim, tal testemu- nho seria falso; existe um Outro, que desconheceis e jamais conhe- cestes, que atesta Minha Pessoa através das Ações conhecidas por todos, razão pela qual sei positivamente ser Seu Testemunho verda- deiro, que Me deu desde sempre.

  3. Enviastes mensageiros para João Baptista, certificando-vos atestar ele a Verdade. Como vedes, não aceito testemunho dos ho- mens: pois atesto de Mim Mesmo através do Pai, e isto, para que vos torneis realmente felizes. Por que não vos agrada?”

  4. Alguns respondem: “Se João, a julgar por tuas palavras, pro- vou a Verdade, seu testemunho era suficiente; para que fim nos ser- viria teu testemunho especial?! Pois de acordo com as palavras dele, já conseguimos a bem-aventurança.”

  5. Digo Eu: “Não resta dúvida ter sido João uma luz flamejante e iluminadora, no entanto apenas o procurastes para vossa distração. Eu, porém, tenho uma prova mais poderosa a Meu favor do que ele; pois as Obras que o Pai permitiu fossem unicamente por Mim efe- tuadas diante de todos provam evidentemente ter o Pai Me enviado como Seu Filho.

  6. Este Mesmo Pai, que Me enviou junto de vós, de há muito testemunhou de Mim pela boca dos profetas, não obstante nenhum de vós ter ouvido Sua Voz e visto Sua Pessoa. Bem que ouvistes o Seu Verbo pelas Escrituras dos profetas; não o tendes, porém, dentro

de vós, porque não credes Naquele que vos foi enviado. Pesquisai na Escritura, que a julgar pela vossa opinião, contém vossa vida eterna, e justamente ela prova de Mim, centenas e milhares de vezes!

  1. Que tendes contra Mim? Acaso não é justo Eu ter vindo sem pompa externa para não vos deixar receosos e apavorados?! Acaso Elias viu Jehovah passar na tempestade ou no fogo, quando recebeu em espírito a profecia de Minha Vinda Espiritual, ou quando se achava oculto na gruta? Não, Jehovah passou num sussurro delica- do! Por que não credes?

  2. Minhas Ações praticadas diante de milhares não dão prova autêntica? Teria alguém no mundo feito coisa semelhante?”

4.TEIMOSIADOSTEMPLÁRIOS(EV.JOÃO5, 40–47)

  1. Dizem alguns judeus: “Tuas Ações são realmente extraordi- nárias, mas te falta a personalidade para tanto; além disto, os essê- nios fazem o mesmo, muito embora sejam nossos inimigos, insinu- ando aos judeus que o Messias surgiria de seu meio.”

  2. Digo Eu: “Conheço-vos bem! Não é de hoje que sabeis da maneira pela qual os essênios produzem seus milagres, o que vos levou à reação, demonstrando ao povo a mistificação, com bom efei- to. Sois tão entendidos em tais artes e truques como eles, e a consi- deração à Minha Pessoa não é das piores em vosso meio. Não é, pois, este o motivo que vos impede Me conhecerdes em verdade — mas, falando simplesmente, não quereis receber de Mim a vida eterna.

  3. Não aceito honra dos homens, em virtude duma conside- ração externa e elevada, porque não Me podem, jamais, dar uma mais sublime que Aquela que habita em Mim! Conheço-vos dum lado bem diferente! O amor de Deus de há muito não mais existe em vós por causa de vosso orgulho, do amor-próprio e da tendência mundana — motivo por que não Me aceitais!”

  4. Respondem alguns judeus: “Proferiste palavras finas e inteli- gentes, mas que não provam seres o Messias Prometido! Na melhor das hipóteses poderás ser um profeta em Nome Dele, embora conste

não surgir algum da Galileia; pois de um Messias Verdadeiro não tens vestígios! Temos razão?”

  1. Digo Eu: “De modo algum! Vou esclarecer-vos a verdadeira situação! Não sou um profeta em Nome do Messias, mas Pessoal- mente Ele Mesmo, em Nome de Meu Pai, com Quem estou plena- mente Uno, sendo Minhas Ações e Obras o Testemunho verídico

  1. Respondem os judeus: “Muito bem — dizes abertamente ser Deus teu pai! Se praticamos injustiça por não te darmos crédito, faze queixa junto Dele e veremos o que sucede!”

  2. Digo Eu: “Não espereis Eu vos denunciar perante o Meu Pai! Um outro o fará, isto é, Moysés, cuja vinda com Elias constitui vossa esperança! Ele já veio, sendo tampouco reconhecido por vós como Eu. (Nota: o espírito de Moysés estava em Zacharias e o de Elias, em João).

  3. Se tivésseis crido em Moysés também daríeis crédito em Mim; pois ele testemunhou de Mim. Tendo jamais acreditado em suas profecias, como poderíeis crer em Minhas Palavras?!”

  4. Retrucam eles: “Que te dá direito de afirmares tal coisa, quando ocupamos seu assento?”

  5. Digo Eu: “É preciso que o homem saiba primeiro para de- pois crer. Afirmo que vos tornastes sacerdotes por causa do dinheiro, e desde a infância não achastes necessário fazer a leitura dos Livros de Moysés. Também para quê? Sempre passastes bem sem tal es- forço! Sabeis quem sempre foram Moysés e os profetas para vós? Vossa barriga!”

  6. Os sacerdotes expressam perplexidade e um deles diz: “Aca- so não nos é feita semanalmente a leitura da Escritura, em determi- nada hora? Possuímos somente cinco exemplares e o original que, como Santuário, ninguém pode tocar, sob risco de morte, a não

ser o sumo sacerdote. Como podes alegar não sabermos o que os profetas escreveram?! Pessoalmente não podemos fazer a leitura, mas ouvimo-la quando é feita!”

  1. Digo Eu: “Sim, externamente, caso não adormeçais em vir- tude de vossas barrigas cheias; nunca ouvistes com o coração, por- que está disperso pelo mundo por causa dos desejos. Os Manda- mentos são apenas respeitados pela aparência, por andardes de vestes religiosas; vós mesmos não os considerais! Digo-vos isto porque vos conheço melhor que qualquer um.”

  2. Nesta altura muitos entre o povo começam a resmungar e criticar os templários, que se veem obrigados a se retirar a seus apo- sentos. Deixei o Templo com os Meus discípulos e o hospedeiro, e a convite de Lázaro fomos a Bethânia, vilarejo distante de Jerusalém sete quartos de hora, no cálculo atual. É claro sermos lá otimamente recebidos.

5.OSFARISEUSEM BETHÂNIA

  1. Desta vez não Me é possível demorar-Me, porque sempre vêm de Jerusalém muitos judeus conceituados e entre eles alguns que não Me acreditam. Por isto aceito a hospitalidade apenas por três dias, sem doutrinar e dar provas por causa dos descrentes. Quando Me abordam para formular perguntas, Eu apenas lhes digo: “Aqui não é o local apropriado e além disto não há tempo! Já disse a todos no Templo o que necessitais saber — e é quanto basta!”

  2. Em seguida viro-lhes as costas e saio para o terreiro, com Lázaro e o hospedeiro, onde palestramos muito a respeito dos de- satinos e das atitudes dos templários para com o povo. O hospedei- ro, já crente, não para de Me elogiar por Eu ter dito as verdades a esses mistificadores! Igualmente Lázaro se alegra, pois de há muito sabe Quem Sou.

  3. Enquanto passeamos ao ar livre, aproxima-se João, Meu amado, e diz: “Senhor, que faremos? Os judeus que há pouco tra- taste com indiferença, virando-lhes as costas, estão deveras irritados

e pensam em vingar-se, dizendo: Esperai, que expulsaremos o vos- so Messias orgulhoso! — Procuramos apaziguá-los, mas a situação tornou-se pior e eles ameaçam pedir reforço de Jerusalém!”

  1. Digo Eu: “Vai dizer-lhes que Meu Tempo, que vos predisse tantas vezes na Galileia, ainda não chegou; podem, portanto, cha- mar a guarda e nessa ocasião conhecer ainda mais o Poder e a Honra do Filho de Deus! Transmite-lhes isto!”

  2. Cheio de alegria João repete verbalmente o Meu recado aos judeus orgulhosos e atrevidos, que entretanto se incendeiam de raiva, gritando: “Veremos até onde vai o poder desse nazareno!” Em segui- da, uns vinte correm porta afora para buscar a guarda de Jerusalém.

  3. Não quis, todavia, que tal coisa sucedesse à amável família de Lázaro; por isto, deixo que percorram apenas cem passos distantes da casa, onde se veem subitamente paralisados. Fazem tudo para sair do ponto em que estão, o que lhes é inteiramente impossível, porque é contra Minha Vontade! Eis que começam a gritar e pedir socorro. Percebendo isto, aqueles que no Templo já haviam aderido a Mim aproximam-se deles e perguntam por que aí estão parados, gritando daquele modo.

  4. Rangendo os dentes, os paralisados bradam: “Não podemos nos mexer, pois nossas pernas estão duras como aço! Qual seria o mau espírito que nos fez isto? Ajudai-nos nesta aflição horrorosa!”

  5. Ponderam os outros: “Caluniastes de vilipendiador e ultra- jador de Deus aquele que hoje, no sábado, curou um enfermo — o que não merece! Acaso não vos tornastes mil vezes piores ultra- jadores por terdes chamado pessoalmente a guarda para prender um inocente, provocando má fama à família honrada de Lázaro?! Como cidadãos, e não sacerdotes de Jerusalém, afirmamos: o cas- tigo de Deus vos atingiu de modo visível! Agora acreditamos con- victamente ser o galileu bondoso Aquele que disse de si! Só Ele vos poderá socorrer como Filho Daquele que vos castigou, e ninguém mais no mundo!

  6. Dirigi-vos a Ele e convertei-vos para o Bem e a Verdade, do contrário ficareis paralisados aqui até o Dia do Juízo Final, como a

mulher de Lot!” Essa sugestão não deixa de produzir efeito, pois eles gritam: “Trazei-o aqui e faremos o que exigir!” Os cidadãos voltam à casa de Lázaro, onde Me contam rapidamente o fato ocorrido.

  1. Digo-lhes, então: “Aqueles que por Minha Causa quiseram buscar a guarda da cidade devem por algum tempo fazer papel de guardas para perderem futuramente a vontade de ceder deste modo ao orgulho! Tomaremos ainda uma refeição antes do pôr-do-sol, e depois veremos o que poderá ser feito com os atingidos por Deus. O homem também deve comer num sábado quando tiver fome e não só depois do crepúsculo; que teria o Sol a ver com o feriado, e o tolo sábado dos judeus com o Sol?! Seria este astro melhor e mais honrado num sábado, quando todos os dias são do Senhor?! Vamos à mesa para passarmos bem!”

  2. Lázaro e suas irmãs estão cheios de contentamento, man- dando servir um bom jantar, do qual compartilhamos com alegria. Só depois de terminarmos, algumas horas após, digo a Lázaro: “Ir- mão, vamos aos condenados para ver o que se consegue com eles! Realmente, na menor teimosia ficarão lá até a aurora, a fim de reco- nhecerem que o Filho de Deus não necessita aceitar testemunho e honra humanos!” De pronto nos levantamos e saímos.

6.ACONFISSÃODOS FARISEUS

  1. Quando Me veem chegando, começam a gritar: “Senhor, acode-nos nessa aflição estranha, que acreditaremos em teu nome e tua missão divina! Pecamos contra Deus, quando pretendíamos pôr mãos em Seu Abençoado! Livra-nos deste mal, Senhor!”

  2. Digo Eu: “Vossas palavras soam bem, mas não estão de acor- do com o vosso coração!”

  3. Perguntam eles: “Qual é então a linguagem de nosso coração?”

  4. Respondo Eu: “Se confessardes dentro da verdade, sereis so- corridos, e isto imediatamente após a confissão plena; se negardes, tereis que esperar até amanhã!”

  1. Diz um dentre eles: “Como podemos saber dos pensamentos de cada um?”

  2. Replico Eu: “Nesse ponto não existe divergência entre vós! Falai, se quiserdes!”

  3. Um deles, então, diz: “Sabes, senhor, ser a pessoa muitas ve- zes obrigada a falar de modo diferente do que pensa. Pode ela se expressar de qualquer maneira — e os pensamentos ficam ocultos; mas se consegues ler o que pensamos, nada mais nos resta senão manifestar-nos de acordo.

  4. Perdoar-nos-ás o critério de tua pessoa, porquanto te julgá- vamos um formidável feiticeiro, rogando contra ti as piores pragas, pois observamos há dez anos atrás um hindu que até mesmo chum- bava animais ao solo. Com as muitas experiências feitas é realmente difícil discernir-se um milagre verdadeiro de um fictício, por isto deves compreender a razão de não te considerarmos aquele que re- presentaste no Templo.

  5. Além disto consta nas Escrituras dever a criatura acreditar apenas em Um só Deus, não considerando outros tantos deuses a Seu Lado. Tu te apresentaste como o Próprio Deus, dizendo aber- tamente seres Seu Filho, com o Mesmo Poder que Ele, assistindo-te ainda o direito de julgamento. Quem poderia acreditar em tal coisa sabendo que és da Galileia, onde existem mais pagãos do que ju- deus?! Não conseguimos crer, não obstante a prova que facultaste num sábado comemorativo, fato que lançou maior dúvida à tua su- posta divindade. Agora fez-se-nos a luz, que aumentará quando nos libertares dessa prisão — o que te pedimos com sinceridade!”

  6. Eis que digo: “Sede, pois, libertos!” No mesmo instante rea- dquirem os movimentos e Me agradecem. Eu, então, prossigo: “Sois livres, porém aviso-vos a todos: ninguém deve deixar transparecer uma palavra sequer daquilo que sucedeu aqui! Pois, às vezes, faço milagres que todos podem assistir; em outras ocasiões, somente per- mitidos a poucas pessoas e convém não serem relatados em comum. O motivo importante dessa medida é apenas de Meu Conhecimen-

to. Além disto, não voltareis hoje a Jerusalém, porque tenho vários assuntos a tratar convosco.

  1. Está diante de vós, em Pessoa Singela, Aquele que outrora transmitiu Suas Leis a Moysés no Monte Sinai, sob raios e trovões, e cujo Espírito pairava sobre as águas, antes de Adam. O futuro demonstrará se sereis capazes do crê-lo integralmente! Voltemos a casa para que vós, ainda em jejum, possais tomar alimento!” Todos se calam, sem coragem de trocar palavra.

  2. Ao lá chegarmos, Pedro Me diz: “Senhor, nunca nos disseste isto e somos Teus discípulos permanentes!”

  3. Respondo: “Muitas vezes fi-lo até de modo palpável, mas vossa memória até hoje foi sempre muito curta, e ainda o será por certo tempo! Agora ocupai-vos com outra coisa; tenho a tratar cer- tos problemas com os judeus!” Os discípulos se contentam e saem de casa. A refeição para os vinte templários já se acha arrumada na mesa, sem que se atrevam tocá-la, porque o Sol ainda é visível.

  4. Por isto lhes digo: “Ouvi-Me! Quem é mais: o Sol, o sá- bado ou Eu, que em Espírito sou Senhor de ambos e o fui desde Eternidades?”

  5. Respondem eles: “Se fores realmente o que afirmas, és evi- dentemente mais do que o Sol e o sábado!”

  6. Prossigo: “Sentai-vos e comei! Em épocas atrás constava: ‘Ninguém pode ver Deus e continuar vivo; pois Deus é um fogo destruidor!’ Agora podeis vê-Lo, comer e beber — e além disso re- ceber a vida eterna!”

  7. Alegam eles: “Seria muito bom, se não existisse a Lei de Moysés!”

  8. Afirmo-lhes então: “Onde estou Eu, também se acham Moysés e todos os profetas; fazei, pois, o que é da Vontade do Senhor!” Eis que tomam lugares à mesa e se alimentam antes do pôr-do-sol. Em seguida levo-os a uma pequena colina atrás da casa de Lázaro, onde prosseguimos a palestra.

7.OSENHOREMCOMPANHIADOS SEUS

    1. Ao chegarmos todos à colina, apresentando um belo planalto provido de muitos bancos, assentamo-nos em número de cinquenta e cinco. É lua cheia. Muito embora todos se tivessem acomodado, alguns judeus começam a discutir quanto à ordem dos assentos. Lázaro faz então a seguinte observação: “Meus amigos, depois da- quilo que assistimos, a primazia compete somente a Um, que pre- cisamente escolheu o pior lugar! Como admitirmos nossa pretensão se, como criaturas mortais, nada somos perante Ele?”

    2. Tais palavras do anfitrião respeitado por todos terminam a fútil discussão. Após se estabelecerem calma e ordem, digo: “Antes de mais nada vos ordeno manterdes silêncio sobre tudo que ireis ver e ouvir, a fim de que ninguém seja obrigado, por uma questão de consciência, a crer em Mim e Minha Missão, a não ser unicamente pela Boa Nova destinada a tal fim e as provas escolhidas pela Minha Sabedoria.

    3. Toda coação moral já é um julgamento; pois aquilo que o ho- mem não aceitar e fizer de livre e espontânea vontade, de convicção e conhecimento próprios — não lhe faculta a vida, mas o julgamen- to. Se tiver que se compenetrar da vida verdadeira e espiritual, não poderá ser induzido por outro meio que pelo próprio livre arbítrio.

    4. Nem lei, nem prêmio ou castigo deverão determiná-lo para tanto — mas unicamente sua fé livre, sua convicção interna, o co- nhecimento puro; em seguida, a obediência externa e sua vontade independente, surgidas do puro amor a Deus, e ao Bem e à Verdade.

    5. Afirmo-vos a Verdade mais luminosa: teria sido tão fácil, ou aliás, mais fácil ainda, Eu descer à Terra em Forma Humana, Colossal, acompanhado de inúmeras falanges de anjos e sob fogo, raio, trovão e tempestade, transmitindo-vos, com voz trovejante que destruiria montanhas, o Novo Verbo da Graça — e não haveria umdentre vós que admitisse a menor dúvida. Pois o susto e o pavor fortíssimo o teriam algemado de tal modo, impossibilitando-o ao pensamento mais tolhido. Teria isto adiantado na sua emancipação

interna e real? Em absoluto, e sim seria um julgamento para todas as almas humanas e um aprisionamento de sua índole, a ponto de torná-las duras quais pedras!

    1. Por isto vim nesta Simplicidade e de modo imperceptível, a este mundo, como Me fiz anunciar pela boca dos profetas, para im- pedir que fosse o coração humano algemado, podendo, unicamente pelo poder abençoado da Verdade de Minhas Palavras, o Ensina- mento, reconhecer-Me com Amor e organizar sua vida de modo independente!

    2. Meus Milagres devem apenas positivar ser Eu realmente Aquele Que represento. Por isto advirto-vos mais uma vez nada re- latardes daquilo que se passa nesta noite, para não tolherdes a alma de quem quer que seja! Vós mesmos também não deveis fazê-lo, mas deixar-vos guiar apenas pelo Meu Verbo e Sua Verdade.

    3. Se contestardes abertamente Meus Sinais, submetendo-vos livremente à Verdade de Minhas Palavras, tereis ganho a vida eterna e sua plena liberdade; deixando-vos convencer somente pelas provas, sem considerardes a Verdade que profiro — estareis aprisionados ao julgamento, criaturas maquinais, sem vida interior e verdadeiramen- te espiritual, portanto mortas como pedras.

    4. Predigo-vos isto como Senhor e Mestre Único de todo ser e vida, a fim de agirdes dentro desta compreensão. Aceitai-a, que vi- vereis!” Minhas Palavras abalam a todos e muitos começam a temer os acontecimentos.

    5. Eis que lhes digo: “Meus filhinhos, se começardes desde já a ter medo, não poderei realizar muita coisa diante de vós!”

    6. Diz Lázaro: “Ó Senhor, nem eu nem Teus apóstolos temos medo; mas quem o tiver não levará prejuízo!”

    7. Digo Eu: “Muito bem, prestai atenção!”

8.MOYSÉSEELIASAPARECEMÀCHAMADADO SENHOR

      1. Em seguida dirijo-Me aos judeus e digo: “Não quereis dar crédito de terem vindo Moysés e Elias antes de Minha Chegada; por isto deverão se apresentar e vos dizer quem realmente sois!” No mesmo instante os dois profetas se apresentam, curvando-se com respeito diante de Mim. E Elias diz em alta voz: “Diante de Ti e de Teu Nome têm de se curvar todos os joelhos e corações no Céu, sobre e dentro da Terra!”

      2. A seguir, Moysés se vira para os judeus: “Vilipendiadores do Templo de Salomão, filhos da serpente! Qual o demônio que vos gerou, autorizando-vos a afirmardes ser Abraham vosso pai, por isto vos arrogais o direito de meu assento e de Aaron?! Se tivestes tal ou- sadia, a fim de transmitir aos povos as Leis dadas por Deus a mim

      1. Alegais ser necessário eu e Elias antecedermos o Senhor — e vede, já aqui estivemos! Quem de vós nos reconheceu e acreditou? Não nos fizestes o mesmo que aplicastes a quase todos os profetas do Senhor? Que vem a ser isto? Vós vos curvando diante de meu nome, entretanto me perseguindo e finalmente me assassinando entre o Altar e o Santíssimo? Respondei-me!”

      2. Diz um com voz trêmula: “Ó grande profeta, aquele que foi amordaçado chamava-se Zacharias!”

      3. Retruca Moysés: “Velho malvado, foste testemunha daquilo que eu disse na reunião sacerdotal, no momento em que voltava do Santíssimo! Foram as seguintes palavras: Ouvi, irmãos! Deus, o Senhor, tocou minha alma, de acordo com Sua Grande Graça e Misericórdia, assim que o espírito de Moysés se apossou de mim. De agora em diante é minha alma e o espírito de Moysés um só in- divíduo, que ora está frente a vós, do mesmo modo como se achava diante do faraó e no Sinai, diante de Deus! Fui o primeiro a organi- zar este assento, ocupando-o a Mando de Deus, e agora sou o último a tomar posse dele, pois no futuro somente o Senhor, que aceitou

neste mundo a carne dos homens, dele fará o que for determinado por Sua Vontade! — Estas minhas profecias tanto vos irritaram, que me jogastes da cadeira, enforcando-me em seguida. Não foi assim?”

      1. Diz um outro judeu, também velho: “Sim — realmente, mas quem podia crer tamanha coisa?”

      2. Opõe Moysés: “Por que a acreditaram alguns devotos que por isto foram por vós enxotados entre pagãos, em países longín- quos, dentre os quais ainda existem alguns com vida, podendo tes- temunhar contra vós?”

      3. Diz outro ancião: “É possível — todavia deveriam ter tido uma visão como prova; nós, nada disto vimos!” Contesta o profeta: “Estás mentindo! Pois tal fato foi demonstrado por sete vezes a to- dos, incluindo o mais ínfimo varredor do Templo, em sonhos níti- dos, sendo por vós interpretados na época de minha mudez. Como podes alegar não terdes tido prova?”

      4. Responde o mesmo judeu: “Ah — então o sonho foi uma visão? Imagina — quem poderia supô-lo?”

      5. Prossegue Moysés: “Raposas ladinas, bem sabíeis de muitos exemplos da Escritura a interpretação de sonhos claros! Haja vista o de Jacob, os sonhos de José, do Faraó e muitos outros que vos explicavam a significação das sete visões; mas vossa tendência para o mundo, o orgulho sacerdotal, a volúpia para o bem-estar, para o ócio pestilento e o adultério de toda espécie vos cegaram e perturba- ram. Por isto temestes perder os prazeres da vida em virtude de mi- nhas profecias, ao invés de vos submeter à Vontade de Deus, fazendo até o momento tudo que vos possa classificar de amotinadores do Senhor. Vermes do pó, agrada-vos esta história verídica?!

      6. Vede, o Supremo e Magno, cuja Face eu, Moysés, jamais teria mérito de olhar, vos disse no Templo: Não Eu, e sim Moysés, a quem esperais, condenar-vos-á junto ao Pai! — Ainda não se pas- sou um dia que isto falou, e Sua Advertência se cumpre; pois eu, Moysés, principal profeta em Nome do Senhor, vos acuso diante de Sua Face Santa de tudo aquilo que praticastes de modo horrendo! Qual será vossa justificativa?!”

      1. Deste modo admoestados, os judeus, tomados de pavor, só conseguem balbuciar desconexamente. Apenas um, mais moço, diz estarrecido: “Meu Deus e Senhor, será o início do Dia do Ju- ízo Final?”

      2. Diz Moysés: “Tenho em mãos minha acusação constante; Ira e Vingança estão com o Senhor! Vosso dia final chegou bem próximo; tudo, porém, depende da Vontade do Supremo. Dizei-me, como interpretais isto?”

      3. Diz um velho judeu, batendo com o queixo de pavor: “Ó grande profeta, dize-nos se iremos ao inferno, irredutivelmente per- didos, e se porventura cada um tem seu próprio dia final!”

      4. Responde Moysés: “No que diz respeito ao inferno, não ne- cessitais perguntar no atual sistema de vida que levais, por ser ele vosso prêmio; toda vossa maneira de pensar e agir foi de forma tal, que vivestes no inferno, fazendo o que lhe serve. Não podeis, por- tanto, lá ingressar por já vos encontrardes nele.

      5. Quanto ao dia final, tereis após a morte um dia recente no Além; contudo, podeis ainda em vida encontrar saída do in- ferno, caso o queirais. Pois aqui está o Grande Guia e Salvador. Ouvi-Lhe e obedecei! Falei diante de Ti, Senhor, podendo Elias to- mar da palavra.”

9.ACUSAÇÃODE ELIAS

  1. Digo Eu: “Elias, predecessor e aplainador de Meus Cami- nhos! Que tens a expor contra esses servos do Templo?”

  2. Responde Elias: “Senhor, Moysés disse tudo! Com ele o Tem- plo deixou de ser uma Casa de Deus, pois tornou-se um antro de as- sassinos e ladrões. Demonstrei-lhes isto minuciosamente no Jordão, provando-lhes até mesmo minha afirmativa. Quando notaram não ter algo de sustentável a contrapor, sendo por isto denunciados de modo incisivo diante do povo, mormente nas acusações feitas contra Tua Pessoa — riram abertamente, declarando-me um tolo beato, a quem se poderia ouvir por algumas horas como simples distração;

todavia, ameaçaram o povo secretamente a não tomar minha dou- trina por algo mais que delírio ridículo.

  1. Despercebidamente se encheram de raiva pelo fato da mul- tidão me considerar e honrar como profeta, fazendo penitência e se deixando batizar. Esses vilipendiadores malvados do Santíssimo de Deus em breve perceberam que por mim o machado tinha sido dei- tado em suas raízes, trazendo-lhes o término de seu domínio vergo- nhoso. Por isto rodearam a Herodes, provando-lhe com falsas provas e tramas inauditas ser seu reino ameaçado por mim. O Tetrarca não podia compreendê-lo por ter firmado contratos sólidos com Roma, sempre respeitados por ele, podendo em qualquer emergência con- tar com a proteção incondicional do Império. Tudo isto de nada adiantou, pois tanto instigaram Herodes, até que este me prendeu.

  2. Embora preso, meus adeptos tinham livre acesso ao meu cárcere e os fariseus não mais podiam importunar seu chefe; nota- ram, porém, que minha doutrina progredia impetuosamente. Isto aumentou sua revolta de hora em hora, e se meteram a intrigar com a perversa genitora de Salomé, a ponto que, na hipótese do Tetrar- ca lhe dar a palavra de honra no consentimento de uma graça, ela apenas deveria exigir minha cabeça. Em compensação, a mãe iria receber secretamente dez mil libras de ouro do tesouro templário. A bela moça achou tal exigência por demais forte, sabendo que Hero- des me estimava; mas um mau espírito apossou-se da genitora, e lhe revelou não estar eu de acordo com sua ligação ilícita com ela, pre- tendendo influir sobre o Tetrarca. Isto causou por parte de Salomé grande revolta, a ponto de — levada novamente pela perversidade materna — exigir o prêmio infame; se bem que entristecido, Hero- des teve que cumprir sua palavra, e eu fui decapitado na prisão.

  3. Cientes do ocorrido, os templários exultaram de alegria, co- meçando a perseguir o povo, que acreditava em mim. Eis, Senhor, a simples ocorrência de sua corrupção, sem contar as minúcias por Ti conhecidas! Acuso-os diante de Ti! És, entretanto, o Senhor desde Eternidades! Julga-os dentro de Teu Poder, Sabedoria e Justiça Infi- nitas! Tua Santa Vontade se faça!”

  1. Digo em seguida: “Foi tal qual falaste; existem algumas cir- cunstâncias por Mim mencionadas em outra ocasião e repetidas por testemunhas oculares! Em síntese, aponta a maldade infernal dessa casta! Agora vos pergunto, Meus fiéis profetas e ora anjos celestes

  1. Respondem ambos: “Sim, Senhor; pois és a Reconciliação de todos. Queira iluminá-los de acordo com Tua Imensa Misericórdia para compreenderem sua grande perversão!” A um aceno Meu am- bos desaparecem, deixando-nos sós.

10.AUTOACUSAÇÃODOS TEMPLÁRIOS

  1. Passa-se certo tempo sem que alguém se atreva a dizer pala- vra; pois a aparição dos dois profetas havia comovido a todos, mor- mente os judeus, que se sentem abalados. Apenas o hospedeiro a Meu lado diz em surdina: “Senhor, este fato demonstra mais que tudo seres, em verdade, Aquele Que representaste no Templo! É evidente ter chegado o Tempo dos tempos com todas as Graças, in- cluindo, porém, o julgamento dos Céus. Se tivesse eu algum mérito para compartilhar um pouco das Graças!”

  2. Digo Eu: “Não só um pouco, mas sim podes usufruir da maior parte! Depende somente de tua vontade caminhares com ale- gria e prazer pela Minha Doutrina, que em breve conhecerás. Vamos perguntar aos judeus a impressão causada pelos profetas!” Em segui- da Me viro para os ouvintes sacerdotes pedindo que se expressem.

  3. Um deles se levanta e diz: “Estamos plenamente convictos não ter sido fraude o que vimos; pois aparições fictícias, que tive ocasião de apreciar em Damasco, não falavam e ignoravam datas recentes e passadas. Por este motivo esta nos impressionou horrivel- mente, porque vimos com nitidez não podermos aguardar perdão dos grandes pecados cometidos contra Deus.

  4. É realmente difícil a vida no mundo! A pessoa é exposta a toda sorte de tentações do mundo e do diabo, dois inimigos da vida,

dos quais se percebe apenas o menos prejudicial; o segundo, que atrai o homem à matéria não é visível, tornando-se difícil alguém se defender.

  1. Confessamos termo-nos tornado grandes pecadores; não compreendemos como chegamos a tal ponto, e podemos apenas di- zer: Senhor, se ainda tiveres Misericórdia, apiada-Te de nós e não nos condenes! Se tivéssemos naquela ocasião a compreensão de hoje, não teríamos agido de tal modo com Zacharias e João! Éramos cega- dos pelo mundo e o diabo, agindo dentro de nossa cegueira e vonta- de diabólicas. Assim como Moysés e Elias nos acusaram diante de Ti com Justiça, fazemos o mesmo contra o demônio, o maior inimigo da Humanidade, pedindo que o chames ao Teu Trono Justiceiro!”

  2. Digo Eu: “Aquilo que em vós faz parte do diabo, de há muito foi-lhe creditado; afirmo-vos, porém, haver no Templo muitos a su- perarem o príncipe das trevas, tal sua atitude com o próximo.

  3. Além disto não cabe tanta responsabilidade às tentações do demônio, conforme pensais em vossa crendice tola! O Diabo, pro- priamente, é o homem com suas tendências mundanas! Daí surgem: amor-próprio — eis um demônio —, a inclinação ao conforto — outro diabo —, orgulho, vaidade, domínio, ira, vingança, inveja, cobiça, altivez, impudicícia e menosprezo ao próximo, tudo isto, demônios criados na base do indivíduo. Não deveis, por isto, ter tanto medo do diabo, tampouco acusá-lo; acusai a vós mesmos, conscientemente, e arrependei-vos, tomando a firme resolução de vos tornardes outras criaturas, começando a vossa regeneração!

  4. Amai a Deus acima de tudo e ao próximo como a vós mes- mos, para que sejais remidos de vossos pecados, grandes e múltiplos! Enquanto a criatura não deixar o pecado, ele não lhe será perdoado; pois é obra do homem surgida de sua carne e da vontade de sua alma.

  5. As boas ações, dentro do Verbo e da Vontade de Deus, são uma Graça do Alto, ainda mesmo a criatura as fazendo de livre von- tade — um mérito do Espírito Divino no coração humano, dado ao homem pela Graça de Deus. Agora conheceis vossa situação; sois livres, podendo fazer o que vos aprouver!”

11.BONSPROPÓSITOSDOSSACERDOTES CONVERTIDOS

    1. Diz o judeu: “Ó Senhor, nunca mais nos abandones, que estaremos todos abrigados! Se bem que o Templo conte cerca de setecentos sacerdotes semelhantes a nós, são eles ainda mais per- niciosos e poderão cuidar deles mesmos, como o fizeram até hoje! Nós, entretanto, apanharemos amanhã nossos trastes e distribuire- mos o supérfluo entre os pobres. Em seguida, mudaremos de vesti- menta para seguir-Te, ainda mesmo Tu nos enxotando com raios e trovões! Uma vez integrados em Tua Vontade provaremos, embora anciãos, ser bem possível envergar-se árvores envelhecidas. Vimos nitidamente não haver vida e salvação, a não ser Contigo; por isto, ninguém mais nos deterá!

    2. Senhor, no começo não éramos maus, pois procurávamos apenas a Verdade Original dentro do Templo! Mas qual não foi nossa descoberta entre suas paredes? Segredos e mais segredos! Caso per- guntássemos a alguém a respeito, diziam-nos: Precisais apenas de fé! Acreditai naquilo que vos é dito, ainda que vos pareça absurdo e con- traditório! Somente o Sumo Sacerdote possui a chave de todos os se- gredos divinos! É ele quem faz os sacrifícios para vós e o povo! — Tais palavras eram bem sedutoras, mas foram fortemente abaladas pelo homicídio de Zacharias; pois ficou provado não terem base real nem em Moysés, nem nos profetas, tampouco nas Escrituras. Pois se assim fosse, nossos chefes não poderiam agir de modo tão inescrupuloso!

    3. Essa decepção fez com que déssemos vazão às nossas paixões, tornando-nos piores que uma legião de demônios. Eles ainda res- peitam o Nome do Altíssimo, enquanto nós não o fizemos, aumen- tando nossa maldade. Mestre cheio de Amor, Sabedoria e Justiça, tendo sido levados pelo mau exemplo dos superiores ao estado pre- sente, esperamos a remissão das nossas culpas, por termos o firme propósito de viver dentro de Tuas Leis, mesmo que isto nos custe a própria vida!”

    4. Digo Eu: “Pois bem; ser-vos-á tudo perdoado — mas so- mente com o tempo e que nenhum de vós volte a pecar! Preten-

dendo seguir-Me em verdade, sede precavidos no Templo para não denunciardes vossas intenções! Meu Tempo ainda não chegou, quando permitirei às raposas ladinas Me perseguirem, em virtude dos pecados do mundo, pois é preciso encher sua medida. Agora atenção ao acontecimento que se aproxima, para que o aceiteis de corações abertos.”

12.TEMPESTADE NOTURNA

  1. Nesse momento se ergue forte ventania e no Oeste surgem nuvens pesadas, de aspecto incandescente. Tal aparição causa admi- ração a todos, por ser fato raro nesta zona. Já se percebe quantidade de raios cruzando as nuvens em todas as direções, e o forte fragor dos trovões. O receio se transmite a todos e Lázaro diz: “Senhor, vê que temporal! Parece dirigir-se para nós! Não será recomendável entrarmos?”

  2. Digo Eu: “Calma, Lázaro; o temporal não viria sem Minha Vontade e ainda saberás o porquê!” Ele se acalma; os judeus, po- rém, desanimam com a aproximação da tempestade e perguntam secretamente aos discípulos se o desencadear dos elementos não Me alteraria.

  3. Eles respondem: “Ele é também Senhor dos elementos; por isto não necessitamos nos preocupar em Sua Presença.” A maioria dos judeus se aquieta; enquanto que os vinte sacerdotes se enchem de medo, pois um raio é seguido por outro, com grande estrondo. Aproximam-se de Mim, dizendo: “Senhor, a Quem todas as coisas são possíveis, ordena a este temporal, senão sucumbiremos todos! Já passamos por três tempestades idênticas, que também à noite pro- vocaram a morte de homens e animais. Choviam raios e trovões, e quem fosse atingido morria instantaneamente. Sobreviveram apenas os que se refugiaram nas casas. Especialmente forte foi a grande tem- pestade ocorrida em Damasco, há vinte anos. Morreram todos que não estavam abrigados. O mesmo poderá suceder aqui, por isto será

melhor entrarmos. Pois a ventania é tão forte que mal nos aguenta- mos de pé!”

  1. Digo Eu: “Deixai isto, pois também ireis conhecer o Poder e a Força de Deus nesta tempestade!” Nem bem acabo de proferir tais palavras, ela se acha acima de nós, estendida para todos os lados, projetando milhares de raios a cada instante. Vários raios caem com forte estrondo na colina. Eis que os judeus começam a gritar: “Ó Senhor, socorre-nos, do contrário pereceremos!”

  2. Respondo Eu: “Acaso algum já foi atingido pelos raios!? Nin- guém corre perigo a Meu lado! Conhecei, pois, o Poder do Pai no Filho; esta tempestade é um julgamento e está sob Meu Poder! Fiz com que surgisse e posso fazê-la desaparecer quando e como qui- ser. Para vós, vinte sacerdotes, é o símbolo de vossas almas; tal foi seu aspecto há três horas atrás, e ainda pior do que se apresenta lá em cima.

  3. Acreditai ser coisa mais fácil para Mim mandar que se acalme inclusive o tufão, do que influir em vossos corações, cheios de pai- xões maldosas! Foram precisas muitas palavras e grandes provas para dominar a tempestade de vossa alma. Para essa tempestade simples, mas forte, basta uma palavra, para que desapareça!

  4. Assim como surgiu Minha Graça após a expulsão de vos- sa tempestade maldosa, apresentar-se-á no Firmamento o mesmo símbolo, tão logo desapareça o desencadear desses elementos. Vede, já se desprenderam inúmeros raios das nuvens negras, de grande extensão, todavia não traduzem o número de vossos pecados! Daí podereis concluir qual vossa índole. Teria que deixar permanecer a tempestade por uma hora, para completar o acervo de vossas faltas! Não tendo isto utilidade para o vosso íntimo, farei com que sere- ne esta tempestade ameaçadora! Ordeno-te, pois, elemento do mal, que te desfaças em nada! Amém!” Instantaneamente tudo silencia, as nuvens se desfazem, as estrelas irradiam sua anterior beleza e ma- jestade, e precisamente acima de nós vê-se uma, enorme e desconhe- cida de todos.

13.AESTRELANOVA COMANOVA JERUSALÉM.CONDIÇÕESPARAAVIDA ETERNA

  1. Indaga Lázaro: “Senhor, eis uma estrela nova, jamais vista! Qual sua origem?” Respondo: “Silêncio, que todos vós ireis conhe- cê-la!” Em seguida abro, por alguns momentos, a visão de todos e a estrela se apresenta qual mundo cheio de luz; em seu centro está a Nova Jerusalém munida de doze torres, e as muralhas no quadrado se compõem de número de pedras preciosas idênticas aos portais da cidade. Por todos eles entravam e saíam anjos, bem como se viam Moysés, Elias e os demais profetas. Admirados sobremaneira, os ju- deus começam a louvar-Me por lhes ter concedido a Graça desta visão. Faço-os voltarem ao estado normal e eles apenas veem a estre- la luminosa, que pouco a pouco diminuindo, perde-se no Espaço. Nem bem termina esta cena, e quase todos Me indagam o que teria sido aquilo.

  2. Digo Eu: “Vistes a Minha Nova Doutrina, trazida dos Céus! É ela a Verdadeira e Nova Jerusalém Celeste, porquanto a antiga de nada mais vale. As doze torres representam as doze tribos de Israel; as doze qualidades de pedras preciosas das muralhas apontam as dez Leis de Moysés, sendo que as primeiras fileiras, em diamante e rubi, apontam as duas Leis de Amor, a Deus e ao próximo. Os anjos a passarem pelas torres significam as inúmeras verdades que serão re- veladas aos homens pelo fiel cumprimento da Minha Doutrina. Os que saem da cidade traduzem a grande Sabedoria da Boa Nova, e os que entram demonstram a maneira pela qual devem as criaturas deixar penetrar o Meu Verbo de puro Amor em seus corações e agir de acordo, para deste modo alcançarem o verdadeiro renascimento em espírito, conduzindo-as a toda sabedoria e verdade.

  3. Eis a significação da visão obtida, de certo modo um verda- deiro Sol de Graças para todos que ouvirem o Meu Verbo; será ele a morada de todos que creem em Mim, ajudando ao Meu lado a cuidarem e guiarem tudo que foi criado no Espaço eterno.

  1. Por ora não o podeis compreender; se permanecerdes na fé em Mim e vivendo dentro de Meus Ensinamentos, sereis batizados pelo Espírito Santo à medida de vossa maturação na fé e no amor. Enviá-Lo-ei a todos que acreditarem em Mim e Naquele Que Me enviou a este mundo, como Filho do homem! Pois a Vida Eterna e Real consiste na vossa aceitação do Filho Verdadeiro do Pai Celeste, praticando Sua Doutrina.

  2. Quando vier o Espírito Santo de que vos falei há pouco, pe- netrando-vos inteiramente, sereis capazes de compreender tudo que ora assistis, sem assimilá-lo dentro de vossa capacidade natural. A carne não pode conceber o espírito, pois não possui vida a não ser em uma manifestação passageira, surgida da força vital da alma, afim com o espírito; pode se tornar semelhante a ele pela união, tão logo se afaste inteiramente do mundo, dirigindo seus sentidos apenas à introspecção espiritual, dentro da ordem e do exemplo demonstra- dos em Minha Doutrina e pela Minha Própria Vida. Por isto deve cada um de vós tratar de salvar sua alma pelo próprio esforço; pois se no Além cair em julgamento, acaso poderia salvar-se sem recursos, quando em vida, com tantos meios a seu dispor, não se salvou, não refletindo no que lhe cabe fazer com seu próprio tesouro, que uma vez perdido, jamais poderá ser conquistado?!

  3. Repito: cada um deve antes de mais nada salvar sua alma! Pois no Além a situação será a seguinte: quem possuir amor, verdade e a justa ordem de Deus em si receberá imediato acréscimo; quem isto tudo não possuir ou sendo pouca sua posse tirar-se-á o dom escasso para que fique isento, desnudo, sem meios e recursos. Quem dele teria pena e procuraria ajudá-lo?! Em verdade vos digo: uma hora aqui vale mais que lá mil anos! Gravai essas palavras em vosso coração; mas por enquanto deve cada um guardá-las para si!”

14.CONFISSÃODEUMSACERDOTE JUDAICO

  1. Diz um sacerdote: “Ó Senhor, Pleno do Amor, Misericórdia, Justiça e Sabedoria, tudo que dizes e até mesmo pensas torna-se ação irredutível para sempre, e difícil é uma criatura se dirigir a Ti! Ainda assim, fá-lo-ei por causa dos companheiros! Senhor, quem conhecer o caminho que leva a determinada meta, que lhe promete o maior benefício na vida, tudo fará para encetá-lo; pois somente um tolo e cego se arriscaria a enveredar por atalhos.

  2. Nós, a partir de agora, conhecemos caminho e destino e podemos com facilidade virar as costas ao mundo e seus prazeres, seguindo como heróis por cima de cardos e serpentes; diante de um exército de demônios apenas lutaríamos para vencer a etapa! Existem, porém, muitos que não tiveram tal Graça indescritível do Teu Convívio!

  3. Que será daqueles que antes de Adam viveram na maior ce- gueira espiritual e os que ainda virão após nossa passagem na Terra? Quem lhes abrirá os olhos e libertará suas almas, no Além? Nós, como sacerdotes e guias do povo, possuímos os Livros proféticos; mas de que nos adiantaram? Onde as provas da existência daqueles iluminados? Morreram não raro diante de nossos olhos, de morte infamante, e jamais voltou alma alguma de profeta para elucidar-nos quanto à vida do Além. Conhecíamos apenas uma fábula incompre- ensível e oposta aos princípios da razão, com a qual se podia conter a plebe inculta.

  4. Por isto travamos conhecimento com sábios da Grécia, con- tinuando a sermos judeus que professavam as leis de Epicuro! Toda criatura tem uma tendência inapagável para a felicidade; de uma vida eterna além-túmulo, não nos foi possível colher provas de espé- cie alguma. De compleição forte procurávamos somente apreciar o lado bom da vida terrena. Para que fim deveríamos incutir no povo uma crença em Deus e na imortalidade, cujas provas não estavam no nosso alcance?!

  1. Foi esta, Senhor, nossa doutrina secreta, semelhante à dos essênios, se bem que não mantivéssemos relações com eles por mo- tivos conhecidos. Perseguimos também os saduceus em virtude de seu cinismo e pelos seus adeptos; pois se a massa aderisse àquela seita, nossa felicidade terrena teria chegado ao término. Agora, após termos recebido provas mais convincentes acerca do Além, através de Tua Graça, toda matéria se nos tornou repelente! Qual a sorte, porém, dos destituídos deste conhecimento?”

  2. Digo Eu: “Isto não é de vossa alçada! Tratai primeiro de vossa salvação, que os outros não serão esquecidos! Quem quiser como vós será salvo da mesma forma; quem não tiver vontade será culpado da própria perdição.

  3. Cada alma continuará vivendo no Além dentro de seu amor e sua fé, portanto de acordo com o seu livre arbítrio. O amor sendo puro e bom, sua vida no Além será pura, boa e feliz; se a inclinação for maldosa e impura, não cogitando da felicidade alheia, seu futuro será mau, impuro e infeliz.

  4. Tirar o amor de uma alma e suplantá-lo por outro seria o mesmo que destruí-la para criar uma inteiramente nova. Tal seria contra a Ordem Eterna, pois aquilo que Deus criou não mais poderá perecer, e sim terá que passar por estados mais nobres e sublimes! No Além, portanto, haverá cuidados para toda alma perdida; mas, como já vos disse: aqui vale mais uma hora do que lá, mil anos!

  5. Ainda assim a nenhuma alma será feita injustiça; pois dei- xando-lhe inclinação e livre arbítrio, isolando-a somente para não prejudicar as boas, podendo fazer em sua esfera afim aquilo que seu amor e inteligência lhe induzem — de modo algum sofre injustiça, ainda que aparente.

  6. Assim como vivestes até hoje, vivem todas as almas diabó- licas no inferno, cujo fogo horrendo é precisamente seu egoísmo e domínio insaciáveis — entretanto alegais terdes passado bem. Dia a dia, entretanto, o verme da morte roía dentro de vós, envenenando-

-vos a existência! Que resultado teria vossa vida confortável?!

  1. O mesmo passarão ainda muitos, no Além, cabendo culpa somente a eles mesmos. Não passarão apenas uma vez pelo terror da morte, e sim inúmeras vezes; este fato é indispensável, pois sem ele todas as almas estariam eternamente perdidas. Para hoje sabeis o suficiente; já passou de meia-noite, portanto vamos nos recolher! Cedo veremos o que o dia de amanhã nos trará. Vamos!” Voltamos a casa, onde nos esperam os leitos. Os judeus têm seu quarto reserva- do onde, sentados à mesa, conjecturam quase a noite toda da manei- ra pela qual poderiam livrar-se do Templo. Finalmente combinam o resgate e em seguida silenciam.

15.OSSACERDOTESSETORNAMADEPTOSDO SENHOR

  1. Ainda antes do pôr-do-sol, Eu, os discípulos, Barnabé e Láza- ro com a família estamos de pé. Martha já está em plena atividade com suas ajudantes no preparo dum desjejum farto e bom; Maria, porém, acompanha-nos, como sempre, ao ar livre, toda atenta para receber de Mim algo para coração e alma. Passada uma hora, os judeus despertam, lavam-se de acordo com seu costume e indagam, aflitos, se Eu ainda estava dormindo.

  2. Diz Martha: “Oh — o Senhor está lá fora com todos os ami- gos há mais de uma hora, e certamente voltará dentro em pouco, pois o desjejum está quase pronto!”

  3. Indaga um sacerdote: “Que direção tomou, para Lhe avisar- mos?” Responde Martha: “Não há necessidade disto, Ele saberá o momento exato!” Vira-se um outro para a irmã de Lázaro: “Deves conhecê-Lo há muito tempo, por saberes de Sua Faculdade Divina!” Diz ela: “É isto mesmo; todavia, não posso louvar vossa ignorância a respeito!”

  4. Respondem os judeus: “Tua reprimenda é justa, e lastima- mos não termos colhido informações de Sua Pessoa, não obstante tivéssemos ouvido falar de Suas Ações na Galileia. Consta ter Ele passado a Páscoa em Jerusalém, onde enxotou os vendedores e agio- tas, derrubando e entornando suas barracas!”

  1. Confirma Martha: “Foi Ele Mesmo; naquela ocasião vossos olhos estavam cegos, corações e ouvidos, tapados! Por isto não O reconhecestes!”

  2. Dizem eles: “Tens razão; mas agora não mais sairemos de perto Dele, pois tomamos a firme resolução de acompanhá-Lo em outras vestes, a fim de que os templários não nos acusem de termos sido seduzidos por Ele, como amotinador. Ainda hoje partiremos para Jerusalém, a fim de nos prepararmos para uma viagem pretensa à Pérsia e à Índia, o que nos será concedido com prazer. Tão logo ti- vermos liquidado este assunto, voltaremos para segui-Lo como Seus discípulos, à nossa própria expensa!”

  3. Diz Martha: “Tal solução é louvável e vos trará Suas Bênçãos! Mas ei-Lo chegando no momento em que terminei o desjejum! Recebamos-Lo com todo respeito e amor e agradeçamos-Lhe no- vamente pelo conforto de ontem, pedindo que abençoe a refeição, compartilhando da mesma.”

  4. Enquanto Martha assim fala aos judeus, Eu Me aproximo, dizendo: “Minha filha, não é preciso fazê-lo de boca quem o faz de coração. A saudação oral é dispensável, porquanto só vejo o coração e seus pensamentos ocultos. Tuas palavras, porém, têm justo valor para Mim, porque surgiram do teu coração!” Com isto, Martha se sente toda feliz.

  5. Então viro-Me para os judeus: “Quereis realmente vos tornar Meus discípulos?”

  6. Respondem todos, inclusive os moradores de Jerusalém: “Sim, Mestre; caso nos aches com mérito para tal, faremos tudo para seguir-Te em todos os Teus Caminhos!”

  7. Digo Eu: “Agis bem, deste modo! Acrescento, todavia: os pássaros têm seus ninhos e as raposas seus covis; Eu, como Filho do homem, não possuo nem uma pedra para repousar Minha Cabeça!”

  8. Dizem os judeus: “Em compensação, Céus e Terra são Posse Tua! Materialmente temos o bastante para suprir-Te e Teus discípu- los, além de dez anos! Deixa-nos seguir-Te e ouvir Tuas Palavras de Vida — e o resto ficará por nossa conta!”

  1. Aduzo: “Muito bem; ide para casa após a refeição e or- ganizai vossos trastes! Em seguida, voltai aqui para Eu deter- minar o vosso futuro!” Sentamo-nos à mesa, fizemos a prece e desjejuamos.

16.OSSACERDOTESCONVERTIDOSRENUNCIAMAO TEMPLO

  1. Quando terminamos, todos agradecem de novo e os judeus se encaminham para Jerusalém. Lá os companheiros e o Sumo Sa- cerdote se admiram da viagem projetada dos vinte templários, já idosos; como, porém, iriam compensar sua ausência com grande soma em ouro e prata, acabam por concordar, desejando-lhes feliz viagem. Rápidos, eles se despedem e mergulham na metrópole, a fim de despistarem a direção tomada. Conhecem no subúrbio um grego, negociante de roupas de sua pátria, onde compram outras vestes, deixando as antigas em poder dele; desconfiado desta atitude, ele começa a indagar do motivo do disfarce.

  2. Os judeus respondem: “Amigo, é mais fácil empreendermos negociatas vestidos à grega; como o Templo tem sido sonegado nas anteriores arrecadações, é preciso suplantá-las através dum comércio prudente com povos pagãos!”

  3. Satisfeito com tal explicação, o grego não faz objeções, por- quanto ia ficar, ainda, com a indumentária sacerdotal, bem con- servada. Os outros lhe recomendam silêncio absoluto para evitar futuros aborrecimentos, e o grego nunca disse palavra a respeito. As- sim, os judeus voltam, por caminhos indiretos, ao nosso grupo, duas horas após meio-dia. Admirados da rapidez deste desfecho, Meus amigos e discípulos indagam como fora possível liquidar assunto assaz complicado.

  4. Um dos judeus então diz: “Caros amigos, com dinheiro tudo é rapidamente resolvido; a importância sendo pouca ou nenhuma, é preciso se esperar tempo imenso e o resultado é mínimo! O Templo não tem mais a renda antiga quando os samaritanos, saduceus e grande número de essênios ainda não tinham apostatado, de sor-

te que os chefes ficam satisfeitos pela redução temporária de seus pensionistas.

  1. Assim nossa fuga foi fácil; além disto estamos convictos da ajuda do Senhor, a Quem rendemos toda gratidão! Onde porém ficaram os demais habitantes de Jerusalém? Contamos uns doze a treze?! Acaso sua despedida dos familiares foi mais difícil que a nos- sa, do Templo?”

  2. Digo Eu: “Exato, pois são pais de família, homens honestos e honrados na metrópole! Dentro em breve aqui estarão! Sentai-vos e servi-vos com alegria, como gregos ‘autênticos’!” Satisfeitos eles o fazem e contam vários fatos do Templo, da falsa Arca da União, por- quanto a genuína perdera seu poder miraculoso desde o homicídio de Zacharias. A nova já conta trinta anos, sem ter operado milagres, entretanto o povo ignorante a adora como legítima.

  3. São feitos comentários acerca da renovação das Leis Mosai- cas, suplantadas por outras, absurdas, castigos e penitências, do fato de se difundirem os falsos milagres hindus, persas e egípcios ao invés das Provas Divinas. Os essênios, por sua vez, explicavam tais magias de modo natural, a ponto do mais ignorante descobrir a fraude. Tudo isto contribuíra para o descrédito do Templo; pois se hoje um sumo sacerdote cura um cego, previamente pago para tal mistifica- ção, cuja visão é perfeita, daqui a pouco os cegos imitam tal cena às dúzias.

  4. Por isto fez-se uma petição ao sinédrio no sentido de impe- dir tais encenações, até segunda ordem, baseando-se em um motivo qualquer. A proposta não foi aceita, pois era preciso efetuar-se mila- gres por causa da plebe — ainda que levando o escárnio do ridículo! De que adiantam aparência sacerdotal, expressão de rigor e a falsa vara de Aaron, se o milagre é tão estúpido a levar os leigos mistifica- dores a boas gargalhadas?!

  5. E assim os pseudo-gregos relatam muitas coisas, causando pasmo entre Lázaro, suas irmãs e o próprio hospedeiro, tanto que aquele diz: “Nunca teria suposto tal situação, pois confesso ter vi- sitado o Templo como judeu íntegro, e quando procurado pelos

chefes, nada podia opor às suas palestras, desejando que todas as criaturas vivessem dentro de tais princípios.

  1. Agora tudo muda de feição! De que servem suas palestras doutrinárias quando apresentam apenas mistificação e o autor, ho- mem inescrupuloso?! Assemelha-se ao lobo voraz em pele de cordei- ro à caça de ovelhas inocentes. Isto será bem anotado por mim! Que dizes Tu, Senhor, a isto?”

17. ATITUDE EGOÍSTA DOS SACERDOTES NO TEMPLO

  1. Digo Eu: “Julgas terem esses judeus relatado algo de novo para Mim? Sei de tudo, até mesmo como Filho do homem! Lem- bras-te quando Eu, aos doze anos, discuti com os doutores no Tem- plo durante três dias?! Já naquela época a situação era idêntica à de hoje — antes disto também; havia, entretanto, alguns sucessores dignos e sinceros de Moysés e Aaron do tronco de Levi, ocupando seus lugares. Zacharias foi o último. Atualmente todas as tribos são representadas no Templo, porque qualquer pessoa pode comprar um posto templário.

  2. Em suma, transformaram a Minha Casa num antro de assas- sinos, onde não mais há salvação! Contudo vos afirmo: podeis ouvir os conhecimentos dos que ocupam as cadeiras de Moysés e Aaron quando pregam o Verbo de Deus; não olhai suas obras nefastas e muito menos imitai-as, por serem fraude infamante!

  3. O fato de serem como são deriva do julgamento de Deus, porque Dele se afastaram, entronizando o dinheiro como divindade. Todos sabem que antigamente os primogênitos de todas as famílias eram educados às expensas do sinédrio, dentro do Templo, até aos quatorze anos, em holocausto a Deus; tais jovens não raro eram ser- vidos e ensinados por anjos visíveis!”

  4. Todos confirmam: “Isto é plena verdade!” Prossigo: “E onde se considera hoje tal hábito?”

  5. Responde um judeu: “Ainda é feito, mas de modo diverso! Ao invés dos primogênitos como sacrifício ao Senhor, o Templo

prefere dinheiro; quem tiver meios pode ficar com o primogênito, enquanto balbucia umas preces na caixa de esmolas, por algumas moedas, em benefício do menino. Caso os pais insistam nos antigos princípios como verdadeiros fiéis, o filho é aceito com cerimônia prescrita e, em seguida, entregue a uma ama qualquer, por pou- co dinheiro. O pequeno subsistindo, é vendido como empregado a um lavrador, onde cresce sem educação e ensino; quando os pais o exigem após os quatorze anos, admiram-se muito de atenção tão re- duzida, recebida no Templo, começando então um convívio difícil. Por tal razão, os pais não entregam mais os seus filhos ao Templo, preferindo a nova instituição. Com os ricos a situação é diferente: são bem tratados contra pagamento e vez por outra até mesmo vi- sitados por pseudo-anjos, que lhes servem e ensinam alguns textos decorados, mas que nem um, nem outro entende o sentido.”

  1. Digo Eu: “Agora basta desses relatos verídicos, pois aí vêm os moradores de Jerusalém e não adianta aborrecê-los. São conhe- cedores de muitos atos do Templo, todavia não necessitam saber a fundo seus segredos maldosos. Não façais comentários a respeito, porquanto vos poderiam causar aborrecimentos terrenos e prejuízos psíquicos! É preferível pensardes o seguinte: Nossos corações são li- vres e encontraram a Luz e o Caminho justo da Vida! — Enquanto Eu os tolerar para que se complete sua medida, fazei o mesmo, acei- tando seus bons ensinos; dos maus convém afastar ouvidos e olhos! Basta deste assunto; os cidadãos já chegaram sem terem desjejuado; devem, pois, saciar-se!”

18.OEVANGELHODA ALEGRIA

  1. Solícitas, Martha e Maria vão à despensa, onde apanham pão, vinho e carne de carneiro assada, arrumando tudo numa mesa ao lado, por não haver espaço na que ocupamos. Como os cidadãos se aproximem com atitude de grande veneração, digo-lhes amavel- mente: “Deixai isto de lado! Sois famintos, portanto saciai-vos com alegria! Se os filhos das trevas, do julgamento e da morte se portam

alegres nos banquetes — por que não o deveriam ser os da Luz e da Vida, em Presença do Pai Celeste?! Pois afirmo-vos: onde Eu estiver, estará o Pai! Servi-vos, pois, e sede alegres!”

  1. Agradecendo, o referido grupo de moradores de Jerusalém serve-se à vontade e começa a relatar a maneira pela qual conseguiu ausentar-se das famílias por alguns meses. Eu os elogio e recomen- do coragem e persistência, pois sem isto teriam pouco êxito como discípulos Meus. Eles o prometem e também cumprem, conforme posteriormente verificar-se-á.

  2. Durante este entendimento, Martha observa em surdina a Lázaro: “Imagina, irmão, deu-se outro milagre! Ontem e hoje nos- sos gastos foram enormes com tantas pessoas; acontece que na gran- de despensa não só o estoque deixou de diminuir, como aumentou dez vezes mais, e nas adegas pequenas e grandes todos os odres estão repletos! Só pode ser Obra de Amor e Bondade do Senhor, de sorte que nos saciamos à Sua Mesa e não Ele à nossa!” As palavras da irmã encabulam Lázaro, não sabendo o que responder.

  3. Observando seu embaraço, digo-lhe também à meia-voz: “Não te incomodes! Pretendemos passar aqui metade do inverno, em pleno sossego, quando seremos ora teus, ora os hóspedes de Bar- nabé. Em tal época haverá muitos enfermos por esses arrabaldes de Jerusalém, que então serão por Mim curados para saberem da Ajuda do Messias, fato que os levará a crerem Nele.

  4. Em seguida visitarei por algum tempo o honesto Kisjonah, irei alguns dias à Galileia para voltar aqui antes da Páscoa. Então ficaremos por longo tempo em tua companhia, precisando muito de ti; por isto abençoei tuas despensas e adegas de modo tão farto! Calai-vos, porém, a respeito!”

  5. Lázaro Me agradece em silêncio e orienta as irmãs, que co- movidas de tanta alegria, se veem obrigadas a se dirigir por alguns momentos ao jardim, para não despertarem a atenção. Entrementes, os hierosolimitanos terminam a refeição e agradecem, fazendo men- ção de saírem.

  1. Digo-lhes, então: “Se nada tiverdes que fazer, ficai conosco para nos alegrarmos; o tempo para tristezas não demorará! Meus discípulos não devem ser sisudos e caminhar com feições beatas e devotas, na expectativa de levarem aos outros a ideia de estarem eles apenas com os pés sobre o solo, enquanto o corpo já se acha no Céu, em consequência de sua evolução espiritual, e sim têm de se apresen- tar de coração e atitude sinceras e simples, despertando confiança no próximo e espalhando muitas bênçãos celestes.

  2. Vede, em Mim habita a plenitude do Espírito verdadeiro de Deus e jamais Me vistes caminhar cabisbaixo e de olhar beato; pelo contrário, Minha Expressão é natural e sincera, Meu Caminho é reto e Minha Atitude é Amável e Alegre com os honestos e felizes, enquanto alegro e encorajo os tristes e aflitos, cabendo-vos o mesmo dentro de vosso livre arbítrio!

  3. Por isto repito: deveis andar pelo mundo de alma aberta, ale- gres e felizes, sem nele vos apegardes. Do mesmo modo que Eu vim ao mundo para trazer a todos a Revelação de regozijo e felicidade sublimes, dos Céus mais elevados, capaz de proporcionar o maior consolo a cada um, a ponto de a morte mais cruel não conseguir entristecê-lo — por saber e ver que não existe morte e que no Meu Reino Eterno não se perde nem esta Terra, tampouco o Céu visí- vel, sendo-lhe acrescentado domínio poderoso sobre muita coisa — também enviar-vos-ei em Meu Nome para transmitirdes a todos os povos esta Boa Nova dos Céus, caso vos torneis aptos em espírito na posse de Minha Doutrina.

  4. Quem poderia ou quereria transmitir Revelação tão feliz de feição triste, tímida, medrosa e cabisbaixa?! Afastai, pois, tudo isto de vós e até mesmo a veneração exagerada para Comigo, do contrá- rio jamais sereis capazes duma convocação e chamada para algo mais grandioso e muito menos para a realização de qualquer coisa subli- me! Satisfaço-Me se Me amardes do fundo de vossos corações; tudo que passar daí é tolo, inútil, fazendo do homem, Meu Semelhante, uma criatura covarde e inapta às coisas grandiosas!”

19.APURIFICAÇÃODO PECADO

  1. Obtempera um cidadão: “Ó Senhor, seria tudo ótimo, caso nunca tivéssemos pecado em vida! Nossos pecados ardem em nossos corações diante de Ti, que nos conhece o íntimo e És Santo — e nós precisamente o contrário! Por tal motivo é difícil sermos alegres e felizes!”

  2. Digo Eu: “Pensas não ter Eu noção disto antes de vos aceitar para discípulos?! Perdoei vossas faltas por vos terdes afastado do mal e não mais pretenderdes pecar — e por certo não o fareis! Assim sendo, sois inteiramente livres do pecado, tendo motivo de sobejo para uma alegria sincera!”

  3. Indaga um outro: “Senhor, que vêm a ser as máculas pecami- nosas da alma? Consta persistir uma mancha negra na alma, ainda que alguém seja absolvido do pecado por obras de penitência, de sorte que uma outra, inteiramente pura, dela se desvia no Além, evitando todo convívio; além disto, não poderá ver o Semblante de Deus, até que tenha apagado a mácula no fogo do inferno.”

  4. Digo Eu: “Sim, a mancha perdura na alma até que a criatura desista plenamente do pecado! Quem isto fizer por ser ele nocivo — pervertendo o seu íntimo e afastando-o de Deus, do Reino da Verdade

  1. Afirmo-vos: caso pretendeis tornar-vos Meus discípulos, pre- ciso é despirdes vosso antigo eu, como quem tira uma roupa velha, vestindo uma nova; pois Eu e os princípios rotos e enferrujados do Templo desta época não combinamos. Observai isto, sede razoáveis na fé, alegres e cheios de coragem.” Este ensinamento confortador produz efeito benéfico nos cidadãos de Jerusalém, que logo se servem de vi- nho, tornando-se alegres e começando a relatar quantidade de histórias humorísticas, no que os gregos os acompanham até o crepúsculo.

  2. Nessa ocasião Lázaro ouve certos fatos que lhe provocam for- te abalo, perdendo todo respeito ao Templo; por isto Me diz em

surdina: “Senhor, estou curado até às fibras do meu íntimo e irei reduzir, cada vez mais, minhas visitas ao sinédrio!”

  1. Aduzo: “Farás bem agindo desse modo; deves, porém, fazê-lo mais no íntimo que externamente, a fim de não despertares descon- fiança nas raposas ardilosas, por ainda mereceres grande conceito no Templo! Um brusco retraimento não seria de proveito para Minha Causa, nem para tua pessoa; além disto, considero apenas o senti- mento do indivíduo, pois o homem externo não tem valor.”

20.AINSTABILIDADEDA MATÉRIA

  1. (O Senhor): “Agora traze-Me uma pedra dura e tão grande que suportes o seu peso, pois pretendo fazer uma demonstração!” Lázaro, ligeiro, apanha no terreiro uma pedra de quartzo pesando dez libras, que deita sobre a mesa, dizendo: “Senhor, eis uma pedra duríssima!”

  2. Digo Eu: “Serve muito bem para a experiência, por ser tão dura quanto os corações dos templários e as velhas muralhas do Tem- plo.” Todos estão atentos à Minha Atitude, enquanto digo: “Ouvi! Estamos reunidos num domingo, cheios de alegria e satisfação! E por que não o deveríamos estar? Pois acabastes de Me reconhecer e compreender, se bem que após grande trabalho e sacrifício, de sorte a Eu vos ter aceito! Libertaste-vos de todo julgamento, pelo simples fato de vos dirigirdes à Verdade e ao Bem pela livre e espontânea vontade. Assim sendo, posso vos dar uma prova de Minha Divinda- de, sem prejuízo de vosso conhecimento e vontade livres! Que seria mais fácil: destruir, num momento, esta pedra através de Minha Vontade — ou dizimar de modo idêntico o Templo com tudo que contém em objetos e criaturas? Antes de responderdes analisai a pe- dra, para que ninguém afirme ter sido ela preparada para tal fim!”

  3. Respondem todos: “Não é preciso, Senhor, conhecemo-la de há muito! Foi trazida do Jordão por um pescador, em virtude de sua bela forma redonda!”

  4. Prossigo: “Pois bem, dizei-Me o que seria mais fácil: Eu des- truir esta pedra — ou o Templo!”

  1. Responde um dos neogregos: “Julgamos ser-Te tal coisa in- diferente; pois tanto uma quanto outra seria humanamente impos- sível! Já vimos por diversas vezes o desaparecimento de pedras por magos egípcios; em breve percebemos o truque e não levou tempo para adquirirmos a mesma destreza, perguntando a nós mesmos como podíamos inicialmente acreditar em um milagre.

  2. Aqui a coisa é bem diversa, pois trata-se de uma pedra real e a mais dura que conhecemos. Os gregos sabem fazê-la derreter no fogo para o preparo de vidro, arte que os fenícios em épocas dos faraós entenderam — onde apenas alteravam a matéria do quartzo. Transformá-lo pela simples vontade é preciso que se tenha poder di- vino, fator do qual nós, fracas criaturas, jamais conseguiremos uma noção verdadeira e clara!”

  3. Digo Eu: “Pois bem! Notai que não tocarei a pedra, dizendo-lhe apenas: desaparece, velha condenação!” No mesmo ins- tante nada mais se vê sobre a mesa.

  4. Extasiados, todos exclamam: “Isto só é possível ao poder pu- ramente divino! Jamais foi vista coisa semelhante!”

  5. Eu, porém, acrescento: “Do mesmo modo que esta pedra foi dissolvida em seus elementos originais através de Minha Vontade, poderia agir com o Templo, com todas as montanhas, com a própria Terra, Sol, Lua e estrelas, e desintegrá-los em seu primitivo nada, isto é, em Pensamentos Divinos, que deixam de ter realidade até que recebam forma e consistência reais pelo Amor e Vontade Onipoten- tes de Deus. Neles, porém, não domina o princípio da destruição e dissolução, mas a conservação de todas as coisas criadas, dentro de Sua Ordem; todavia, não traduz isto o julgamento constante da matéria, senão a existência livre em espírito, motivo por que matéria alguma poderá ter consistência neste mundo em julgamento, e sim tudo perdura por certo tempo, apenas dissolvendo-se paulatinamen- te, transitando dentro da Ordem ao elemento espiritual, constante e imperecível.

  6. A matéria é o túmulo do julgamento e da morte tempo- rária, e os espíritos mortos nesses túmulos também têm que ouvir

a Minha Voz e obedecer à Minha Vontade, conforme acabastes de assistir. Da mesma forma que essa pedra foi desintegrada subitamen- te, a Terra toda passará pela mesma dissolução, dela surgindo uma nova, espiritual e imperecível, cheia de vida e felicidade para seus habitantes espirituais, e não haverá mais julgamento nem morte do- minando as paragens celestes; pois ela brotará da vida de todos que dela e sobre ela cresceram.

  1. Acabastes de ver o Poder da Vontade Divina em Mim, e Jerusalém e o Templo de há muito mereciam Eu lhes fazer o mes- mo que à pedra. Mas não — devem existir e agir até seu final. Pelo próprio proceder destruir-se-ão, não da maneira pela qual agi com o quartzo, que pela destruição passou do antigo julgamento a uma existência mais livre, de potência psicoespiritual, e sim como se ani- quila um suicida, cuja alma ingressa em um julgamento mais duro e em numerosas mortes. Por isto deixemo-los até sua época de medida completa, para que não venham a dizer: ‘Nada disto nos disseste, entretanto destruíste-nos!’ Compreendestes a prova que operei aos vossos olhos?”

  2. Respondem os gregos: “Senhor, trata-se de uma prova pro- funda, que apenas assimilamos em parte — pois no todo, somente Tu a penetrarás; talvez o consigamos no Além, pela Tua Graça! Seu sentido é mui sábio e de grande importância, embora de início tives- se aspecto simples! Vendo Tua boa Disposição, Senhor, pedimos-Te dizer-nos como ages para criar algo do nada!”

21.OVINHOMILAGROSO.OTRABALHONAVINHADO SENHOR

  1. Digo Eu: “Pretendeis distrair-vos com Meus Milagres?! Acontece não ser Eu mago qualquer, que efetua suas magias levan- do as pessoas mundanas, ignorantes e tolas, a grande estupefação. Opero Meus Feitos somente dentro da Vontade Daquele Que Me enviou como homem de carne e sangue a este mundo, e também habita dentro de Mim; se, pois, fizer um milagre, terá que servir de

orientação profunda e espiritual da alma, e além disto ter utilidade variada para as criaturas! A prova por vós desejada, conquanto não fosse de má intenção, não tem finalidade e benefício, portanto é me- lhor não efetuá-la. Contudo já sabeis que para Deus todas as coisas são possíveis.”

  1. Defende-se o grego: “Senhor, deves perdoar-nos a imensa ignorância que nos levou ao atrevimento de pedir-Te um milagre!”

  2. Obtempero: “Não, Meus amigos! Vosso pedido foi justo, pois quem pode reduzir algo ao nada, forçosamente saberá fazer o contrário! Tal foi o pensamento que externastes e que foi justo e bom! Teria sido injusto caso tivésseis pensado e falado de modo diverso. O fato de a prova desejada não poder ser feita a seguir, isto é, após a primeira, por não estar dentro da Ordem, não era de vosso conhecimento, e sim apenas Meu. Assim sendo, não errastes, tampouco Eu, por não ter cedido ao vosso desejo. Tendo agora de- sistido em vossos corações, e crendo sem indício de dúvida poder Eu operar uma prova em contrário, fá-lo-ei neste instante! Verificai se ainda existe vinho nos cântaros!” Eles constatam estarem todos vazios. Digo em seguida: “Que estejam todos repletos!”, e o mesmo se dá instantaneamente!

  3. Admirados, os gregos afirmam: “Vede o Poder Milagroso do Senhor! Nem bem pronunciou as palavras e os jarros estão cheios do melhor vinho! Senhor, se fosse possível nos tornarmos plenos de Tua Luz e Graça através de Tuas Palavras de Vida, conforme se deu com os cântaros! Tem paciência com nossa grande fraqueza, Senhor!”

  4. Prossigo: “Isto não posso e não devo fazer com as criaturas, como agi com esses cântaros; pois tudo depende de vosso zelo e livre vontade. Não faltará Minha Ajuda! Tereis que fazer o que vos cabe à medida de vossas forças; o resto será Minha Incumbência. Em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai, em Meu Nome, e dentro de Minha Ordem por vós conhecida, ser-vos-á dado na proporção utilitária para vossa alma. Agora bebei, pois já é noite!”

  5. Os gregos levantam os cântaros e agradecem, dizendo: “Ao progresso geral da imensa felicidade que ontem encontramos, para

todos os povos da Terra! Possam Tua Doutrina e Graça penetrar a todos como este vinho neocriado e saboroso que ora nos vivifica! Tua Vontade se faça, Senhor!”

  1. Todos acrescentam: “Amém”, enquanto Me ponho de pé di- zendo: “Eis um desejo justo e bom; por isto tomemos desta Dádiva Divina, brindando o seu sucesso seguro, no que também acrescento: que assim seja! — Haverá muito trabalho e sacrifício; pois a Vinha do Senhor é grande e ainda possui poucas videiras. Urge cavar a terra e plantar sem tréguas videiras novas, para que a Vinha se torne repleta de plantas nobres e abundantes e que a colheita enorme nos dê o prêmio extraordinário, compensando o esforço!

  2. Teremos que suportar toda sorte de aborrecimentos, sendo perseguidos, difamados e desacatados; mas sabendo o que temos a dar, suportaremos a maldade ignorante do mundo com toda pa- ciência, humildade e meiguice. Pois o Pai quer que os Seus filhos sejam humilhados ao extremo neste mundo, antes de serem elevados à honra imorredoura, que jamais lhes poderá ser tirada.

  3. O Meu Próprio Corpo disto não fará exceção, como já disse e demonstrei aos Meus discípulos. Ainda assim alcançaremos a Grande Meta, vencendo sobre todo julgamento, morte e inferno. Uma vez alcançada a vitória, as Portas Celestes, há tanto tempo cerradas, abrir-

-se-ão para sempre aos filhos recentes de Deus, eternizando a vitória!

  1. Se bem que os oponentes vicejem em forma e caráter diver- sos, o joio progredindo entre o trigo, e na Vinha surgirem e progre- direm as plantas silvestres — fá-lo-ão apenas até determinada época. Em seguida serão arrancados e atirados ao fogo do julgamento, ha- vendo muito clamor e ranger de dentes!”

  2. Como alguns não entendessem Minhas Palavras, finali- zo: “Assim como a Doutrina Pura de Moysés foi deturpada com o tempo pela ganância e a tendência mundana das criaturas, tam- bém sucederá com a Minha Boa Nova. Elas construirão novamente templos, usando-os para a arrecadação de dinheiro e outros bens terrenos, sem consideração pela conquista do Meu Reino. Apresen- tar-se-ão mais orgulhosas que os príncipes mais nobres, e os próprios

reis da Terra, cobertos de ouro e pedras preciosas. Eis o joio entre o trigo e as plantas agrestes na Vinha do Senhor!”

22.OSFALSOSDOUTRINADORESDO EVANGELHO

  1. Perguntam os discípulos: “Senhor, como poderá ser possível? Pois nós o transmitiremos como o ouvimos e os que o recebem não o deturparão. Para tanto Tua Ajuda dos Céus muito contribuirá!”

  2. Respondo: “Por ora não o entendeis! Existem na Terra e no ar espíritos maus e ainda não fermentados, ávidos por se apoderarem da carne humana. São indispensáveis produtos do antigo julgamen- to da Terra, à procura de semelhantes entre os filhos deste mundo e se infiltram em seus sentidos. Isto agrada àqueles, seguindo as tenta- ções ocultas de tais elementos.

  3. Os referidos filhos do mundo se apegam a tudo que chame atenção. Não possuindo o verdadeiro espírito por serem do mundo, organizam tudo que lhes parece conferir posses terrenas, dentro de sua ignorância espiritual e inteligência mundanas, com pompa ex- terna, atraindo muitos espíritos de boa índole.

  4. Tal fato é uma deturpação vasta e rude de uma doutrina por mais pura que seja! Oferecendo tal doutrina privilégios escassos, e apenas espirituais, enquanto uma religião deturpada promete, ao lado dos pretensos bens espirituais, principalmente grandes vanta- gens terrenas — já podeis compreender a maneira pela qual seja vilipendiada a doutrina mais pura.

  5. Sede, pois, precavidos! Com o tempo surgirão, ainda em nossos dias, muitos falsos profetas e doutrinadores, propagando com grande atrevimento: Vede, aqui está o Cristo! Lá está Ele!, fazendo importan- tes milagres à moda essênia, às vezes de modo tal que poderiam ofuscar os primeiros discípulos convocados, caso o permitisse. Não lhes deis ouvidos, mas castigai-os em Meu Nome, por causa de sua mentira, e indicai-lhes a humildade e a aceitação da Vontade de Deus, que vós e vossos adeptos verdadeiros caminhareis por uma trilha limpa!

  1. São facilmente reconhecidos pela fanfarronice, pretensão desmedida de poderes divinos, que jamais tiveram e nunca possui- rão; além disto manifestam grande brilho e ostentação, pompa mís- tica usual nos pagãos e a excessiva tendência do domínio, secundada pela cobiça insaciável de tesouros e riquezas deste mundo. Nestes sinais palpáveis, por certo não será difícil reconhecê-los!”

  2. Exclamam todos, inclusive os apóstolos: “Não resta dúvida, Senhor; nossos adeptos poderão classificá-los do mesmo modo, e Tu não abandonarás Teus verdadeiros seguidores!”

  3. Acrescento: “Ficarei com eles até o fim dos tempos deste mundo! Para hoje chega de provas e ensinos. A partir de agora não operarei, com exceção de curas, outros milagres durante o inverno, tampouco darei novos Ensinamentos; pois já recebestes o bastante e caso algo não entenderdes, estou aqui. Vós, Meus apóstolos, doutri- nai entrementes os novos discípulos.

  4. Até o fim da semana descansaremos neste lar; no sábado ire- mos a Bethlehem para curar enfermos. Isto feito, passaremos alguns dias aqui com Barnabé e também com Lázaro, alternadamente, até metade do inverno. Em seguida, visitaremos Kisjonah, voltando aqui antes da Páscoa. Mais tarde, caminharemos com muitos segui- dores e novos discípulos para Galileia, onde começarei a doutrinar e agir de novo. Agora, trazei lamparinas, pois queremos ser alegres e nestas mesas também pernoitaremos!”

  5. Todos aceitam esta proposta sem sentirem sono, a ponto de palestrarmos além da meia-noite assuntos de somenos impor- tância para a Humanidade; pois Eu Mesmo combinava muita coisa com pessoas amigas e dava-lhes conselhos caseiros, que não fazem parte do Evangelho. Meus discípulos faziam o mesmo, tornando-se amáveis e merecedores de conceito. Também é amor ao próximo auxiliar-se pessoas aflitas e inexperientes em coisas úteis.

  6. Levantamo-nos meia hora antes do surgir do Sol. Tomamos um pequeno desjejum e, em seguida, fomos ao ar livre, em pales- tra amistosa.

  1. Assim passamos até o sábado. Também visitamos vários vi- zinhos de Lázaro, contentíssimos por Me ver e falar e não havia um, amigo do Templo. Os vinte neogregos não são descobertos, embora comentassem as traficâncias templárias, fazendo vários amigos entre os vizinhos.

23.OSENHOREMBETHLEHEM,EMCOMPANHIADESEUSADEPTOS.CURADEMUITOS ENFERMOS

  1. Sábado de manhã partimos para Bethlehem, precisamente num dia de festa, onde grande quantidade de pessoas atacadas de várias moléstias se havia acampado diante das torres da cidade, pe- dindo esmolas. Lázaro, que nos havia acompanhado, então diz: “Se- nhor, vê estas pobres criaturas, que aspecto comiserador!”

  2. Eis que esclareço: “Há muitos entre eles atirados a essa misé- ria por culpa dos fariseus; em compensação podem mendigar. Cas- tigos, tristezas, aborrecimentos, ira e revolta ocultas finalmente deles fizeram criaturas aleijadas — razão por que aqui vim para socorrê-las fisicamente, dando-lhes oportunidade de ganharem seu sustento.” Nesse instante alguns nos pedem esmola.

  3. Virando-Me para eles, indago: “Não seria melhor trabalhar, ao invés de mendigar tão miseravelmente?”

  4. E todos respondem: “Oh, Senhor — mil vezes, caso tivésse- mos a saúde de antanho! Basta olhares nossos pés e mãos para julgar se somos capazes de qualquer trabalho!”

  5. Concordo: “Bem o vejo; queria apenas saber se desejais re- cuperar vossa saúde e trabalhar, em vez de viverdes da misericór- dia alheia!”

  6. Exclamam todos: “Oh, amigo, se isto fosse possível iríamos incontinenti à procura de serviço.”

  7. Eis que oponho: “Sabeis ser hoje sábado e não seria apropria- do curar-vos de vossos males crônicos!”

  8. Respondem eles: “Senhor, somos judeus bem orientados, ainda assim ignoramos ter Moysés ou outro profeta qualquer proi-

bido de fazer-se boa ação neste dia! Sendo possível socorrer a um animal doente, por que não fazê-lo a uma pessoa, caso ainda existam recursos?! Por que motivo os fariseus, quando são médicos, visitam num sábado enfermos abastados? Deveriam saber se com isto vili- pendiam tal dia!”

  1. Digo Eu: “Boa é vossa resposta; agora quero e afirmo: tor- nai-vos todos plenos de saúde!” Eis que percebem endireitarem-se seus membros atrofiados, e um dentre eles, privado do braço direito, adquire-o no mesmo instante. Isto é algo forte demais, razão por que um deles pergunta Quem Sou, pois que Minha Palavra consegue o que é impossível à medicina.

  2. Então lhe adianto: “Ainda o sabereis oportunamente; para hoje levantai-vos e procurai trabalho e sustento!”

  3. Lázaro acrescenta: “Surgindo qualquer dificuldade, ide à Bethânia; o proprietário daquelas terras tem serviço para centenas!” Todos agradecem e se encaminham para lá.

  4. O mesmo milagre curador foi ainda efetuado diante de seis torres da metrópole; pois a velha cidade de David possui sete, três grandes e quatro pequenas. Na última somos abordados por três fariseus, orientando-nos não ser nossa atitude conveniente em tal dia. Os curados, porém, levantam-se rápidos e dizem com gestos de ameaça: “Durante dez anos ocupamos a entrada da cidade e jamais algum de vós se informou de nossos padecimentos, muito menos nos deu uma esmola — e agora quereis obstar este verdadeiro salva- dor pelo simples motivo de nos ter restituído os membros, em parte ausentes?!

  5. Acaso não foi instituído por Moysés socorrer-se a um po- bre animal, mesmo num sábado?! Quanto mais não será obrigação fazê-lo à criatura enferma?! Tratai de afastar-vos — do contrário vos ensinaremos a compreensão das Leis mosaicas.”

  6. Percebendo não ser aconselhável discutir com os curados, os fariseus desaparecem entre a multidão. Os outros, agradecidos pela cura, também se dirigem a Bethânia. Deste modo consegue Lázaro cento e vinte operários de que há muito precisava, que não

constituiriam perigo de serem catequizados pelos templários, como já ocorrera por diversas vezes.

  1. Em seguida, nos afastamos rápidos, tomando direção de uma outra vila que dista duas horas de Bethânia, habitada por gre- gos e romanos. Lá procuramos um bom albergue.

24.ASCURASDOSENHORNASPROXIMIDADESDE BETHLEHEM

  1. O hospedeiro, romano honesto, mas que também falava he- braico, diz: “Muito me alegra vossa preferência — mas deu-se em meu albergue, espaçoso e bem provido, uma grande desdita. Acon- tece que minha mulher e as duas filhas mais velhas, entendidas em assuntos domésticos, há oito dias estão acamadas, com febre vio- lenta! Não há médico, grego ou judeu, que as socorra — e assim, a cozinha está em apuros! Tenho apenas pão e vinho!”

  2. Diz Lázaro, que conhece o romano de há muito: “Não te pre- ocupes com o embaraço caseiro; pois a tua casa é alvo de grande Gra- ça! O famoso Salvador, de quem ouviste falar por viajantes da Gali- leia, está conosco! Pede-Lhe socorro que as enfermas melhorarão!”

  3. Indaga ele: “Onde está? Contaram-me coisas fantásticas de sua pessoa!” Lázaro Me aponta e o hospedeiro se joga aos Meus Pés, pedindo que ajude as doentes, pois acredita nas palavras de Lázaro.

  4. Eu então lhe afirmo: “Levanta-te e verifica o estado das en- fermas, já melhoradas — portanto podem preparar-nos uma boa refeição!”

  5. Ele assim faz e as encontra satisfeitas pela cura, perguntando se devem ir à cozinha! Desejam ainda saber quem foi o causador disto para lhe demonstrarem sua gratidão. O hospedeiro as informa que tal pessoa chegara com uns cinquenta hóspedes, ansiosos de uma boa refeição. Já se passaram cinco horas de meio-dia, portanto convém apresentar seus agradecimentos através de um bom jantar. Tais palavras produzem efeito, pois as moças se apressam com as aju- dantes, enquanto o romano se junta a nós e Me agradece, comovido

pela grande Graça recebida. Eu disto o impeço, dizendo: “Não faças alarde, foste apenas ajudado e nada mais é preciso!”

  1. Opõe ele: “Ó Mestre e amigo — como não?! Sou Teu evi- dente devedor, e além disto confesso considerar-Te eu mais que sim- ples homem; portanto, seria oportuno fazer-se uma oferenda a um homem-deus!”

  2. Acrescento: “Deixa estar! Sou agora homem de carne e san- gue como qualquer um; o resto saberás em tempo! Sê alegre e feliz como nós todos!”

  3. Satisfeito, o romano traz do melhor vinho, que oferecia ape- nas aos patrícios quando de passagem pelo seu albergue, porque mora na estrada principal. Judas, sem titubear, pega do cântaro e o esvazia até a última gota. Os outros discípulos lhe indagam a quem dentre eles cabe o direito da primazia, e ele responde: “Estava com sede; se agi mal, haverá Quem me recrimine e nada tendes a ver com o caso!”

  4. Virando-Me para os outros, digo: “Deixai-o; querer melho- rá-lo seria o mesmo que lavar um negro para que se torne branco!”

  5. Ouvindo isto, Judas se envergonha a ponto de se ocultar du- rante três dias. Nesse ínterim hospedou-se em outro albergue, pois sabia ganhar secretamente algum dinheiro durante as viagens. Todos se sentem aliviados com sua ausência e assim passamos oito dias na casa do romano, tendo Eu curado vários enfermos nesse local.

  6. Quando a afluência se torna por demais forte, partimos ce- dinho para outra zona, onde também somos bem recebidos e igual- mente curamos os enfermos. Nessa ocasião também os discípulos, com exceção de Judas, apõem as mãos nos doentes, que assim se curam. Eu Mesmo poucas demonstrações dei de Meu Poder, pales- trando com Lázaro e o romano, que nos acompanham. Entremen- tes, voltamos aos lares de ambos, onde tudo permaneceu em ordem durante a ausência de quatro semanas. Ficamos outros oito dias com o hospedeiro e em seguida fomos a Bethânia, onde Lázaro sente grande satisfação com os lavradores de Bethlehem. Quando estes Me avistam, caem de joelhos para adorar-Me; pois Martha e Maria os haviam esclarecido quanto à Minha Pessoa.

  1. Eu, porém, lhes digo: “Por enquanto calai-vos! Em breve também tereis oportunidade para falar!” Prometem assim silenciar e voltar à sua tarefa.

25.OSENHORVIAJAPARA KIS

  1. Entrementes Martha relata a chegada de vários sacerdotes durante Minha ausência, informando-se minuciosamente do para- deiro de Lázaro e de onde ele havia conseguido tantos trabalhadores. Ela então respondera ter o irmão feito uma viagem a negócios, talvez para o Egito, e a caminho possivelmente contratara aqueles homens, mandando-os para Bethânia. Eis que um fariseu indagou: “Não nos poderás ceder uns vinte trabalhadores?” Martha lhe disse: “Dirigi-

-vos a eles — pois desconheço sua nacionalidade, por falarem vários idiomas!” Quando o fariseu conversou com alguns homens, estes pareciam conhecê-lo, porquanto lhe afirmaram não serem mais ju- deus e caso ainda o fossem podia ele estar certo de eles não servirem mais a templários. Com isto se afastaram; certamente para voltarem com a chegada do irmão.

  1. Eis que Lázaro Me pergunta o que deveria fazer em tal caso. E Eu o esclareço: “Faze o mesmo que a tua irmã! Nada conseguirão com os lavradores e não te poderão culpar por isto.” Deste modo, Lázaro teve mais calma em sua organização doméstica.

  2. O inverno já se tendo manifestado e sendo poucos os doentes a necessitarem de cura, ficamos alternadamente ora com Lázaro, ora com o hospedeiro, até metade da estação, e nesse tempo os novos adeptos aceitavam a Boa Nova com muito amor e fé segura, exigin- do até mesmo o batismo.

  3. Oriento-os do seguinte: “Por enquanto é suficiente terdes aceito o batismo da Verdade; se, porém, ficardes dentro da Doutrina e agindo como ensina, no que recebereis o batismo verdadeiro e vivo, também podeis receber o de João. Em breve virá uma época em que muitos receberão o batismo verdadeiro do fogo da vida, que

emana do Espírito Santo, ao invés do batismo da água.” Os novos discípulos assim se satisfazem.

  1. Numa segunda-feira partimos de Bethânia a caminho do Mar Galileu, onde contratamos um bom navio. Como já é tarde, os remadores não se atrevem a fazer a travessia, alegando que à meia-

-noite o mar era revolto nessa época.

  1. Eis que os discípulos indagam: “Sois de Genezareth, como então ignorais o Poder do Senhor, Jesus de Nazareth?” Dizem eles: “O quê? Ele está aqui?” Eu respondo: “Sim, sou Eu!” Concluem eles: “Ah, neste caso as ondas poderão subir às nuvens! Embarcai, pois o navio comporta umas cem pessoas!” Assim partimos com bom ven- to, e embora o Mar fosse agitado, os marujos não se preocupam e alcançamos a baía serena de Kis, à luz do luar.

  2. Nem bem atracamos, apresentam-se aduaneiros com as per- guntas de praxe sobre o motivo de nossa chegada e se éramos sujei- tos à taxa. Eu apenas digo: “Chamai Kisjonah, e sabereis de nossa intenção!” Ele não demora a chegar à praia iluminada por tochas, e quando Me avista grita de alegria: “Ó Senhor, que mérito tenho eu, pecador, por me visitares a estas horas da noite? Oh, sede todos bem-vindos! Vamos à minha casa, onde vos servirei de tudo e do melhor! Que alegria inesperada!”

  3. Rápido, descemos de bordo e fomos à residência de Kisjonah, cujo salão é bem aquecido por grande lareira. Todos os domésticos se põem em pleno movimento, e dentro em pouco se acha um grande nú- mero de peixes de especial qualidade na mesa, inclusive pão e vinho. Isto é do agrado de todos, pois que desde cedo nada mais havíamos tomado.

  4. Eu Mesmo sinto necessidade de conforto material após via- gem tão longa, e muito mais os discípulos. Vários fatos são relatados de nossas viagens e acontecimentos, interessando muito a Kisjonah e sua família, levando-o a expressar sua admiração e louvor. Lastima somente a ausência de Maria, que permanecera quase todo verão com ele, mas partira por alguns dias para Nazareth. Tinha sido in- formada de Minha Peregrinação e Ações, sem compreender como

Deus lhe concedera tamanha Graça. Era ciente das ocorrências mi- lagrosas, jamais, porém, teria imaginado tal desfecho.

  1. Deste modo Kisjonah conta acerca do procedimento de Maria durante Minha Ausência, dos dois filhos de José, Joel e Joses, que ficaram em casa à testa da oficina do pai. É inútil relatar tais minúcias, portanto prossigamos.

  2. Também nessa noite não nos deitamos, descansando nos divãs cômodos, e isto, tanto mais quanto estamos habituados a re- pousar pela manhã. Por este motivo não tomamos desjejum; em compensação, o almoço é mais farto, para o qual Philopoldo de Caná, de Samaria, e mais alguns amigos Meus e de Kisjonah são convidados.

  3. Bem, isto tudo é secundário; mas como Philopoldo aborda e Eu explico o problema da Origem do Espírito de Deus em con- fronto com as criaturas, sobre Tempo e Espaço, Infinito e Eterni- dade, a Existência de Deus e dos seres criados dentro de Espaço e Tempo, explicação que se estende até altas horas da noite, unindo almoço ao jantar — pode ser incluído por facultar a qualquer pen- sador elucidação completa acerca da vida material e espiritual do homem, e a Existência Primária e puramente espiritual de Deus.

26.INDAGAÇÕESFILOSÓFICASDE PHILOPOLDO

  1. Philopoldo havia ouvido várias dissertações a respeito do as- sunto quando de sua visita à casa do velho Marcus, em companhia de Kisjonah, acreditando que assim fosse; era, entretanto, um in- telectual, embora de boa índole, e não se satisfazia com a simples fé, desejando provas obtidas por princípios matemáticos. Externan- do suas falhas no conhecimento, diz ele, após o almoço: “Senhor, acredito em tudo que assisti; compreendo e assimilo, porém, muito pouco de tais assuntos, não obstante meu esforço intelectivo, fato que muitas vezes oprime minh’alma! Por isto decidi abordar-Te na primeira oportunidade, e caso fosse de Teu Agrado, desejava maiores explicações de Tua parte.”

  1. Digo Eu: “Se bem que vos prometi enviar e espargir o Meu Espírito sobre vós em futuro próximo, conduzindo-vos à Verdade e Sabedoria totais, sendo, pois, necessário terdes paciência — aju- dar-te-ei em teu zelo honesto, de Própria Boca, tanto mais quanto passarei o inverno aqui até a Páscoa; podes apresentar tuas dúvidas e caso não sejam abordados todos os problemas, haverá tempo em outra ocasião. Tão logo tivermos terminado a refeição, poderás te fazer ouvir, porque ficaremos sentados à mesa. Caso for do desejo de Meus discípulos, poderão amanhã visitar por alguns dias suas famílias; quem não tiver familiares poderá ficar, especialmente João e Matheus, que terão de copiar vários ensinamentos.” Nesta altura Judas pergunta o que deve fazer.

  2. Dou-lhe, pois, o seguinte conselho: “Tens a maior posse en- tre todos, além disto, mulher, filhos e empregados; portanto, tua necessidade de ires a casa é premente e poderás voltar pela Páscoa!”

  3. Minha sugestão não é do agrado de Judas; como ninguém o convide a ficar, parte no dia seguinte. Os outros também o fazem; voltam, no entanto, após alguns dias, permanecendo Comigo, com poucos intervalos. Em seguida Kisjonah serve um vinho especial, por ele cognominado “Amado de Noé”; isto entusiasma Philopoldo de tal modo, começando a externar seus escrúpulos com modéstia.

  4. “Senhor”, diz ele, “meditando acerca de Teus Ensinamentos em casa de Marcus, chego à conclusão de existirem limite e cálculo para Tempo e Espaço, idênticos na Terra através de certos períodos e fatos; em si, porém, são eternos e infinitos, o que em síntese é o mesmo. Sendo isto uma realidade, não entendo os escritos dos anti- gos sábios e teósofos que afirmavam achar-Se Deus, como Origem de toda vida, fora de Tempo e Espaço. Como admitir-se tal axioma num período eterno, sem começo e sem fim, e na existência dum Espaço Infinito nas mesmas condições?!

  5. Se, portanto, Deus existe fora de Espaço e Tempo, a razão humana mais apurada só pode ter a seguinte noção de Deus: ou Ele não existe pelo motivo de não haver possibilidade de vida fora da Eternidade e do Espaço Infinito, ou Deus vive como nós todos

dentro de ambas as definições, sendo a maior loucura aquilo que os antigos sábios afirmavam.

  1. Tu Mesmo me dás tal prova; pois ninguém poderá negar, após ter ouvido Tuas Palavras e assistido a Tuas Ações, abrigares a Plenitude da Divindade. Qual seria o teósofo capaz de afirmar não Te encontrares conosco dentro de Espaço e Tempo? E caso o fizer, terás perdido Tua Entidade Divina: deixarás de ser Deus, mas apenas homem excepcional que conseguiu, pelo nascimento, gênio, talento extraordinário, prática na formação da vontade e finalmente, pela aprendizagem de artes e ciências ocultas, dar-se o cunho de um deus para os homens de boa índole. Teus Atributos, porém, mormente Teu Modo de agir, são tais que impossibilitam alcançar-se sua con- quista pelas condições acima. Assim sendo, desejava ouvir de Ti o que é realmente verdade.”

27.AMATURAÇÃODA CRIATURA

  1. Respondo: “Tua pergunta foi bem formulada dentro da capa- cidade intelectual; entretanto, afirmo estarem os sábios remotos tão certos, ou ainda mais certos que tu! Acaso duvidas poder-se existir perfeitamente em Tempo e Espaço e, ao mesmo tempo, fora deles?”

  2. Diz Philopoldo: “Sim, posso acreditá-lo, mormente Tu o afir- mando! Já esclareci anteriormente não haver objeções a fazer contra tudo que dizes e demonstras; trata-se apenas da compreensão. Uma fé religiosa e pura é para mim qual ultraje contra toda razão, lógica e reflexão humanas, que por certo nos foram dadas por Deus como luz espiritual, única faculdade pela qual o homem consegue reco- nhecer-se a si mesmo, o mundo exterior e finalmente Deus. Assim sendo, sou de firme convicção não dever ele satisfazer-se com a fé cega naquilo que afirma um sábio ou outra qualquer pessoa, dotada de conhecimento em todas as esferas e coisas, e sim deve procurar uma compreensão justa daquilo que aceitou pela crença.”

  3. Concordo: “Tens plena razão; existem apenas alguns senões a serem considerados. Vê, para tudo que existe nesta Terra e até mes-

mo no mundo dos espíritos é preciso uma certa maturação, e esta necessita de determinado tempo! Observa no inverno uma macieira ou videira! Onde está o fruto maduro e saboroso?! Só na primave- ra, quando luz e calor solares se tornam mais intensos, os brotos começam a ficar cheios de viço e mais suculentos, e em breve per- ceberás folhas e flores. Não demora fenecerem, porque são desne- cessárias na obtenção da finalidade mais elevada, apresentando o princípio do fruto.

  1. Indagas: Mas que comparação é esta?, e Eu te digo: este qua- dro corresponde à fé infantil e religiosa da criatura, onde ainda não se pode falar do amadurecimento. Pois Deus é a Máxima Ordem, e tudo que ocorre no mundo tem seu tempo correspondente a Ela.

  2. No início a criança balbucia; pouco a pouco surge a fala e quando se torna mais desenvolvida, os adultos lhe ensinam certas palavras, que ela repete. Acredita em tudo que se lhe diz; ainda não pergunta pelo porquê. Na base da fé religiosa aprende uma quanti- dade de coisas até a adolescência, quando começa a raciocinar, pro- curando a razão daquilo que aprendeu; por enquanto é pouco o calor da vida psíquica, assemelhando-se ao princípio de fruto.

  3. Quando em pleno verão surge a força integral da luz e do calor solares, penetram a base do fruto, que o dilatam mais e mais, fermen- tando os humores projetados. Ele cresce e se enche de líquidos refina- dos, o que facilita a penetração da luz, realizando o amadurecimento.

  4. O mesmo se dá no homem: antes que o calor de seu amor interno não tiver alcançado o mais elevado grau e sua luz o penetre inteiramente, ele dificilmente compreenderá as verdades espirituais, não obstante as melhores explicações externas; quando for penetra- do pelo crescente calor e luz internos da vida, qual uva madura, estará apto e terá dentro de si a explicação mais extensa de todas as suas dúvidas anteriores.

  5. Já te aproximando do amadurecimento, pode-se facultar-te maior luz e calor, do imenso Sol da Graça, de onde surgem e respi- ram todos os Céus e seus habitantes, bem como os mundos mate- riais e aquilo que comportam. Presta, pois, atenção!”

28. TEMPOE ESPAÇO

  1. (O Senhor): “Há um ano atrás foste psiquicamente por Mim levado a um Sol muito longínquo, ocorrência que mais tarde foi re- petida em outras ocasiões e locais, de que todos os Meus discípulos são fiéis testemunhas, e também estiveste presente quando o anjo foi buscar a preciosa e luminosa bola de fogo da África Central.

  2. Projetando uma flecha na maior velocidade desta Terra, não terás como exímio matemático a cifra correspondente aos anos ter- ráqueos necessários para ela alcançar aquele mundo solar, entretanto deu-se teu transporte daqui para lá num átimo! Assim sendo, nada tiveste a ver com o espaço terreno, encontrando-se tua alma fora de Espaço e Tempo.

  3. Levarias mais de dois anos, por um caminho bem traçado, a distância da casa de Marcus até a África; para o anjo, ida e volta eram idênticas, portanto Tempo e Espaço nada lhe representaram! Pros- sigamos: imagina a maior velocidade de um objeto que, por exem- plo, fizesse o percurso da distância desta Terra até o mencionado Sol num instante — um espírito poderia transpor num momento uma distância mil vezes maior, por inúmeras vezes; menciono este cálcu- lo por não conheceres número correspondente aos movimentos de ida e volta.

  4. Daí se deduz claramente não poder, jamais, haver relação en- tre a maior velocidade terráquea com a espiritual; por isto tanto uma quanto outra são fatores completamente peculiares. Ambas só têm relações correspondentes entre si, enquanto divergem pela proprie- dade de modo substancial, que se estende até o Infinito. Aperceben- do-te de tal divergência entre tudo que seja terráqueo e espiritual, aceitarás a mesma diferenciação existente entre tudo que se te apre- senta pelos sentidos.

  5. Em relação ao movimento, que desconsidera o Espaço, a rapidez de teu pensamento faculta ótimo exemplo. Imaginando a cidade de Roma, onde já estiveste, conhecendo seu tamanho e dis- tância, lá estás em pensamento, observando suas praças, jardins e

arrabaldes. Teu pensamento, no entanto, não necessita de tempo para te projetares até lá, por não existir Espaço para ele.

  1. Isto te faculta outra confirmação de encontrar-se tua alma em atividade, como ser espiritual, além de Espaço e Tempo, e tu bem podes projetar-te em pensamento ao Sol mencionado, voltan- do na mesma velocidade, sem necessitares de maior tempo na proje- ção pelo Espaço Infinito. Convirás, portanto, não poder existir nem tempo nem Espaço para o Espírito puro.

  2. O Espírito de Deus e de todos os anjos também Se acham no Espaço Infinito e perdurarão por todas as épocas eternas; pois sem o Espírito Divino não haveria criatura, nem espaço e tempo terre- nos. Entretanto, tais poderes puramente espirituais e as inteligências mais elevadas ultrapassam ambos, de modo inconcebível.”

29.AMEDIDADA FORÇA

  1. (O Senhor): “Observemos, além disto, a medida de uma for- ça puramente espiritual em confronto com a maior potência terre- na. Qual será o resultado? Vê, existem no Espaço Infinito mundos solares tão colossais, que em relação à nossa Terra esta poderia ser comparada qual grãozinho de areia perto do planeta! Quando nas estepes arenosas sopra o vento, a areia é compelida com facilidade

  1. Certamente já viste estrelas cadentes, das quais algumas, não raro, são tão grandes que poderiam ser chamadas de peque- nos planetas. Trata-se geralmente de poeira cósmica, expelida por erupções subterrâneas através de tremendos tufões provindos de corpos solares; esta poeira cósmica pouco a pouco volta para lá pelo forte poder de atração, a não ser que se aproxime em demasia

de outro corpo cósmico, onde também pode ser atraída, fato, po- rém, incomum.

  1. Tens aí a demonstração da potência colossal das forças da Natureza em ação no Espaço Infinito. Poderás potenciar estas e mais outros elementos da Natureza ininterruptamente, durante milhões de anos: o resultado final da máxima potência de energia, compara- da à Onipotência Divina, será um nada perto de algo real, ou seja, uma mentira em confronto à verdade. De modo idêntico, não há relação admissível entre a máxima potência da Natureza comparada a qualquer espírito puro.

  2. Não havendo, pois, em Espaço e Tempo, força que se meça com a dum anjo, esta força espiritual encontra-se acima de ambas as definições, muito embora esteja individual e independentemente dentro de Espaço e Tempo, apenas em contato com eles por uma correspondência interna e viva, que tudo guia.

  3. A fim de demonstrar mais claramente a infinita supremacia da força divino-espiritual acima de todas as demais energias da Na- tureza, basta Eu te dizer: se todas as forças poderosas da Terra se pro- jetassem impetuosamente pelo Espaço Infinito, durante miríades de milhões de anos terráqueos, não seriam capazes de destruir um átomo da Força do Poder Divino; entretanto, isto poderia suceder pela Permissão de Deus, a ponto que bastaria um espírito angelical querê-lo — e todo Espaço Infinito estaria isento de criaturas mate- riais, incluindo toda constelação cósmica.

  4. Agora dize-Me, Philopoldo, se percebes a maneira pela qual Deus e tudo que seja celeste e puramente espiritual possam estar fora de Espaço e Tempo, entretanto existem efetivamente, porque sem eles não poderia ter surgido criação material!”

30.AFORÇADA LUZ

  1. Diz Philopoldo: “Senhor, está se fazendo, em mim, pequena luz, mas diante de Tua Imensa Sabedoria começo a ficar tonto! Ain- da assim, peço-Te prosseguires!”

  1. Continuo: “Como não; mas presta atenção, para que o pos- sas compreender e assimilar em tua alma! Passemos agora à luz! Ob- serva a iluminação desta lamparina de nafta: sua luz clareia o grande quarto de tal modo que nos vemos perfeitamente. Acaso cem lampa- rinas não facultariam iluminação cem vezes mais forte? Concordas, em virtude de experiência feita por ocasiões festivas! Agora imagina milhões de tais luzes em cima de uma montanha! Não iluminariam uma zona extensa? Ainda assim, não poderiam ser comparadas com a luz da lua cheia, que embora não impressione pelo tamanho, con- segue iluminar metade do planeta de uma só vez. Mas que seria tal luz comparada à do Sol?!

  2. Calcula todo Firmamento coberto pela luz solar! Haveria mortal capaz de suportá-la, por um só momento, sem ser dissolvido qual gota d’água em cima de aço incandescente? Afirmo-te que seu efeito e o calor indescritíveis seriam tais a finalizar a existência, não só de nosso planeta, como a de muitos milhares! Percebes a colossal diferença entre a luz desta lamparina e a de um Sol?

  3. Existem, porém, no Espaço Imenso, sóis centrais miríades de vezes maiores que o nosso, cujo tamanho excede a Terra por um milhão de vezes. Esses sóis centrais irradiam proporcionalmente luz muito mais extensa e forte, a ponto que, em sua proximidade, sóis idênticos ao nosso seriam dissolvidos como gota d’água em aço in- candescente.

  4. Se fosses potenciar a força da luz de nosso Sol até o infinito, encontrarias a mesma relação que achaste na comparação do mo- vimento e da força energética. Se, portanto, a Luz Divina jamais poderá ser alcançada em Espaço e Tempo, deduz-se claramente que tanto Ela quanto Seu Calor de Amor Vital, jamais calculáveis, surgi- dos da Luz, só podem Se achar fora de ambos.

  5. Que, entretanto, existe uma correspondência cheia de vida e constantemente ativa entre a Luz Original de Deus e a luz do Sol, parcialmente criada, podes concluir pelo fato de conter a luz solar a força vital para as criaturas nos corpos cósmicos e planetas, o que nos prova a primavera de todos os anos. Compreendes melhor como

e de que maneira tudo que é puramente espiritual só pode estar fora de Espaço e Tempo?”

31.ANATUREZADIVINAEHUMANADO SENHOR

  1. Diz Philopoldo: “O exemplo da luz elucidou-me bastante; no fundo, porém, perdura muita coisa oculta, disto fazendo parte Tua atual Presença Divina, da qual só posso dizer: se Tu antes da en- carnação habitaste como Jehovah num Céu fora de tempo e espaço com Teus anjos, este Céu deve atualmente estar desprovido de Tua Presença Pessoal, porquanto Te encontras em nosso meio dentro de Espaço e Tempo! Como podes existir como Homem dentro destas definições, e como Deusfora das mesmas, a um só tempo? Senhor, eis um abismo intransponível para minha razão; por isto Te peço certo esclarecimento a respeito!”

  2. Respondo: “Sendo tu sábio do mundo dentro da filosofia de Platon, Sócrates e Aristóteles, tenho de usar sua terminologia, para que Me compreendas melhor.

  3. No que diz respeito ao Meu Eu Divino, não existe diferença entre ‘desde eternidade’ e ‘agora’, referindo-Me ao Meu Ser Intrín- seco! E se assim não fosse, não teria Poder e Força sobre a Criação material em a Natureza; pois todas as criaturas, inclusive seu tempo e espaço, têm relação subjetiva para Comigo, Seu Objeto, porque tudo surgiu de Mim e não vice-versa.

  4. Por isto Eu Sou sempre o Único Ser Precedente e Original, isto é, Objeto Eterno, e jamais, e em hipótese alguma, poderei entrar numa relação subjetiva com a criatura.

  5. Entretanto, por ter tudo surgido de Mim e Eu, através de Mi- nha Vontade, ser em tudo a razão intrínseca na qualidade de Prin- cípio que tudo conserva, guia, orienta, equilibra e vivifica — Sou, dentro do Poder de Minha Vontade e Sabedoria, também Subjeto, portanto o Alpha e Ômega, ou seja o Princípio e o Fim, igualmente o Começo e o Final de toda criatura; em consequência desta Minha Faculdade objetiva e, ao mesmo tempo, subjetiva, posso muito bem

existir como Homem entre vós, pelo Poder de Minha Vontade e Sabedoria, sendo contudo o Objeto Eterno, Único, Vivo e Criador, frente à Criação!

  1. Como Subjeto atualmente Humano (homem), Sou Pesso- almente Inferior e Submisso ao Próprio Objeto Eterno dentro de Mim, muito embora completamente Uno com Ele através de Mi- nha Rigorosa Sujeição, pois sem tal Subjetividade Rigorosa de Mi- nha Pessoa Individual, jamais seria possível União tão estreita.

  2. Eis o efeito de Meu Amor desmedido para com o Objeto e igualmente Seu Amor Imensurável a Mim, de sorte que Eu e o Pai somos Umsó Amor, UmaSabedoria, Uma Vontade, Umavida e UmPoder, pois sem Ele não existe outro Poder em todo o Infinito. Deste modo, estou atualmente dentro de Espaço e Tempo, e igualmente Presente fora de Espaço e Tempo.

  3. Vedes, portanto, existir Eu convosco dentro de Espaço e Tempo; o fato de Minha Existência Intrínseca fora de ambos pro- vam Minhas Obras, que Eu não seria capaz de efetuar caso Me en- contrasse com o Meu Espírito Divino apenas em Espaço e Tempo. Pois esses são limitados por todo sempre, portanto imperfeitos e in- completos; somente aquilo que existe fora de Espaço e Tempo é em tudo ilimitado, perfeito e completo. Elucidar-te-ei esta teoria com vários exemplos para provar-te não ser possível de forma diversa! Presta, pois, atenção!”

32.OESPÍRITODENTRODA NATUREZA

  1. (O Senhor): “Tomemos um grão de trigo em sua unidade e simplicidade: seu destino é evidentemente duplicado; primeiro, serve de alimento às criaturas, e segundo é destinado como semente à produção e multiplicação próprias. Como alimento, transmite ao físico e, através deste, ao corpo substancial da alma suas múltiplas qualidades específicas, passando deste modo como vegetal a uma existência mais elevada e livre. Como se dá tal passagem sabereis na íntegra apenas quando renascidos em espírito, se bem que também

aqui, mas não de modo completo — porquanto sob a influência deste Sol nada perfeito pode existir, sendo todo saber e conhecimen- to mais ou menos imperfeitos — tanto mais, porém, no mundo dos espíritos, onde vos encontrareis espiritualmente fora da encar- nação, de espaço e tempo, e vossa visão, conhecimento e saber serão completos.

  1. Analisemos este grão de trigo apenas como semente, para veri- ficarmos como a emanação espírito-divina, se bem que aparentemente subjetiva, no fundo se encontra objetivamente fora de espaço e tempo.

  2. Eis uma haste de trigo, produzindo geralmente três espigas, cada qual com trinta grãos. Depositando este grão num bom solo, recompensar-te-á no ano seguinte o trabalho havido, com cem grãos da mesma espécie. Se tomares esta colheita, plantando-a num solo fértil, lucrarás dez mil grãos idênticos. No terceiro ano obterás cem vezes dez mil, considerável quantidade de trigo.

  3. A fim de plantá-la necessitarás de campo vasto e a colheita te dará cem vezes mais que a última. No ano subsequente precisarás de um campo cem vezes maior, colhendo dez trilhões de grãos; se assim continuares durante dez anos, lucrarás quantidade tão colossal, que seria indispensável um campo que atingisse metade do orbe.

  4. A multiplicação infinita, repetindo-se na mesma relação, po- derá ser estendida a cem, mil e mais anos, e pelo cálculo verificarás que, após alguns séculos, milhões de planetas não seriam bastantes a fim de servirem de campo à quantidade tão colossal de trigo; pois tal multiplicação pode ser levada a efeito por todo Infinito! Acaso isto seria possível se nesse e em todos os demais grãos não existisse o número infinito através do elemento espírito-divino, fora de espaço e tempo?! Por certo que não!

  5. O que existe neste grão também se encontra em todas as se- mentes e vegetais, nos animais e mormente no homem de semelhan- ça divina, razão por que pode se tornar inteligente e compreensivo; possui o dom da fala e no início sente seu Criador e mais tarde consegue assimilá-Lo cada vez com maior pureza, podendo amá-Lo, sujeitando sua vontade à Divina.

  1. Eis a emanação puramente espiritual e de semelhança divina dentro do homem, igualmente fora de espaço e tempo; pois se fosse algo sujeito a ambos, a criatura não seria capaz de ter noção de si e de Deus, portanto completamente inapta a qualquer educação. Jamais chegaria à razão, a raciocinar nem pressentir o menor vislumbre de Deus, não poderia muito menos ainda conhecê-Lo, amá-Lo e se submeter à Sua Vontade, e seria apenas a casca externa e morta do ovo, não tendo vida em si e muito menos vida espiritual e eterna, fora de espaço e tempo.

  2. Julgo ter esclarecido suficientemente este assunto que tanto te preocupou dentro de um esclarecimento racional. Depende de teu critério se realmente crês ter assimilado tudo na justa compreen- são, ou se ainda perdura alguma dúvida. Na última hipótese poderás te externar; do contrário, deixaremos de lado as explicações a respei- to, tomando algum vinho com pão!”

33.CÉUE INFERNO

  1. Obtempera Philopoldo: “Senhor, eu e por certo todos os outros agradecemos-Te do fundo do coração por esta explicação tão estupenda e maravilhosa, acerca de ensinamentos dos sábios da antiguidade. Naturalmente poderei compreendê-lo melhor quando estiver livre de todos os elementos materiais.

  2. Basta aceitar a maneira pela qual se consegue viver realmente fora de espaço e tempo e igualmente dentro de tais conceitos. Dese- java apenas ouvir de Ti, em poucas palavras, onde se encontram Céu e inferno. Pois consta: Estessubirão ao Céu, aqueles serão atirados ao inferno!”

  3. Respondo: “Vê, nesta cadeira que ocupas podem encontrar-se Céu e inferno, bem juntinhos; no Reino dos espíritos são eles afas- tados por um abismo imenso! Digo mais: aqui onde Me encontro convosco está o Céu mais elevado, isto quer dizer que estamos ‘em cima’, e ao mesmo tempo também se acha presente o inferno mais profundo e maldoso, representando o que é ‘embaixo’.

  1. O espaço material não produz diferença, e sim unicamente o estado espiritual, que nada tem de comum com aquele; pois no Reino dos espíritos existe apenas afastamento real o que se relaciona ao estado psíquico. O local ali nunca poderá exercer importância. Exemplificarei o assunto para facilitar-vos a compreensão.

  2. Suponhamos estarem sentados neste banco dois homens: um sábio religioso, cujo espírito lúcido é conhecedor de muitos segre- dos acerca dos efeitos das Forças Divinas no mundo da Natureza; o outro, perverso malandro, apenas se espreguiça, deixando-se servir como honesto, com pão e vinho, para positivar suas forças a fim de poder mais facilmente praticar suas maldades. Referindo-se ao local, estão eles bem juntos, mas infinitamente afastados um do outro, pelo espírito!

  3. Admitindo haver outro sábio distante deste a umas mil jor- nadas, seriam eles materialmente afastados, porém no Reino espi- ritual completamente unidos, conforme acontece literalmente no Meu Reino.

  4. Disto se deduzirá claramente que, para todo homem bom, existe o Céu onde se encontra, e todos os bons e puros estarão bem próximos dele. Portanto não se poderá dizer: Aqui ou acolá, talvez acima de todas as estrelas está o Céu, e alhures, no fundo da Terra, o inferno!

  5. Tudo isto não depende deste tempo e espaço e tampouco se prende à cerimônia externa, usual no Templo, porquanto só existe dentro da criatura. De acordo com sua vida íntima será seu mundo no Além, criado por ela mesma e onde viverá, bem ou mal.

  6. Todos aqueles que estão dentro da Verdade — portanto na Luz verdadeira provinda do Meu Verbo através de sua fé viva e sua ação complementar — terão no Meu Reino um mundo idêntico na medida perfeita e num aumento eterno daquele que construíram aqui; os que de vontade própria se acham no erro e no mal terão o mundo correspondente numa crescente relação. Pois assim como um homem bom se torna sempre melhor, um mau piora constante- mente, afastando-se do bem, fato comum no mundo.

  1. Observai aqueles cujo orgulho os satura com a inclinação para o domínio! Tão logo tiverem subjugado milhões de criaturas a escravos miseráveis através de seu poder tirânico, reúnem ainda maiores hordas guerreiras invadindo outros reinados, dominando-os e tirando-lhes suas terras, povos e tesouros. Se deste modo consegui- ram conquistar e infelicitar metade do orbe, julgam-se semelhantes a Deus, elevando-se acima Dele; deixam-se adorar e ameaçam com castigos horrendos àqueles que se atreverem a venerar outro deus que não o Czar, a quem unicamente fazem oferendas e sacrifícios. Temos disto exemplo concreto no Rei da Babilônia Ne bouch kaduc czar (Não existe outro deus além de mim, o Rei), e ora se demons- tra nos sumos sacerdotes, fariseus e escribas, que também se julgam deuses, procurando matar-Me, fato que lhes será concedido — mas só por três dias; em seguida ressuscitarei de Meu Próprio Poder, en- quanto eles cairão no julgamento e fim.

  2. Daí podereis perceber que o maldoso sempre se torna pior, assim como o bom melhora constantemente, com a única diferença em ser imposto um limite ao primeiro, onde consta: Até aqui, e não mais além! — Em seguida, haverá sempre um grande julgamento final, facilitando aos maldosos a refletirem, podendo assim ingressar em outra direção.

  3. Esta demonstração referente ao mundo ocorre também no inferno, com a diferença que lá — ou seja, no Reino espiritual — os bondosos, humildes, pacientes e confiantes em Deus são separados para sempre, e apenas os maus têm sua manifestação hipócrita e per- versa, conquanto fútil, por ser sua luz, mentira, engano e aparência completamente fictícia qual sonho dum glutão rico e bêbedo. Pre- sumo estardes todos orientados neste ponto, de sorte que podemos passar o resto da noite alegres e felizes! Caso alguém tenha um pedi- do a fazer, teremos tempo até a Páscoa, pois até lá desejo ficar com Meu amigo Kisjonah. Estás ciente de tudo, Philopoldo?”

  4. Responde este: “Por enquanto; pois fizeste o incompreen- sível de tal forma acessível, que não me resta pergunta a fazer, e presumo dar-se o mesmo com os outros. Isto só é possível partindo

de Ti; pois todos os sábios teriam levado considerável prejuízo em tal tentativa! Por certo podes ler nosso agradecimento no coração.”

  1. Expressa-se um dos neogregos: “Realmente, só podia dar tal explicação Aquele que tudo penetra com o Seu Espírito e é Tudo em tudo! Eis a prova maior e mais convincente para Tua Missão puramente divina. Os milagres produzem muito efeito quando efe- tuados a Teu Modo; entretanto, são certo impedimento à evolução. A palavra vivifica e liberta a alma e vale mais que mil provas que a preenchem de pavor. Por isto, aceita também minha gratidão pelo ensinamento elevado!”

  2. Acrescento: “Julgaste bem, amanhã haverá outro assunto; agora sejamos alegres, até ao amanhecer. Ninguém necessitará dor- mir nesta noite.”

34.AGRANDE PESCA

  1. Fazem-se muitos comentários entre os discípulos, os gregos e Philopoldo, enquanto palestro com Kisjonah acerca do antigo sacer- dócio, os sábios patriarcas, os melhores governadores, em compara- ção com os de Minha Época, aproximando-se destarte a manhã sem que alguém tivesse impressão de ter dormido pouco. Alegremente vamos todos à praia, observando os pescadores atarefados, no entan- to obtendo pouco êxito na pesca. Alguns dentre eles manifestam seu descontentamento, porque desde meia noite estão se cansando, mas o vento que sopra do Oeste impele os peixes para o fundo do mar. Kisjonah pergunta-lhes o quanto pescaram.

  2. Respondem eles: “Enchemos alguns pequenos depósitos; mas que representa isto para quarenta barcos?”

  3. Intervenho: “Remai para alto mar e atirai novamente as re- des; pois é melhor pescar-se quando surge o Sol!”

  4. Concluem os homens, que Me desconhecem: “Amigo, sabe- mos disto; esta ventania é prejudicial, principalmente no inverno, embora todos os ventos sejam nocivos!”

  1. Aconselho: “Fazei o que vos disse, que fareis boa pesca!” Obedecendo, eles avisam aos outros, que entretanto dão de ombros. Ouvindo ser esta a ordem de Kisjonah, eles fazem a redada, conse- guindo resultado formidável, e os melhores peixes quase rasgam as redes, necessitando de muito cuidado para guardar tudo nos depósi- tos. É natural a admiração dos pescadores, pois nunca lhes sucedera isto. Mais tarde Kisjonah os informa Quem dera motivo para tal. Todos acabam por acreditar em Meu Nome, embora alguns Me re- conheçam como Filho do carpinteiro José.

  2. E assim se passa metade do inverno com vários ensinamentos e pequenas ações úteis, não merecendo serem mencionadas porque geralmente se referiam ao bem comum. A chegada de Maria, Minha Mãe, também não trouxe ocorrências importantes, a não ser que estava feliz por rever-Me, deixando que os discípulos lhe contassem tudo que Eu havia feito e falado. Gravou tudo em seu coração, me- ditando e agindo de acordo. Também os dois filhos mais velhos de José vieram a Kis a fim de construírem uma casa, onde Eu Mesmo os ajudei em tudo. Na proximidade das festas da Páscoa muitos come- çam a entregar-se aos preparativos para a ida a Jerusalém, e Kisjonah indaga se pretendo fazer o mesmo.

  3. Respondo-lhe: “Irei conforme prometi, sem comparecer às festividades, muito menos no Templo; em breve voltarei à Galileia para reiniciar Minha Missão!”

  4. Propõem os neogregos: “Se Tu, Senhor, fosses ao Templo para fazer discurso idêntico ao do ano passado, talvez muitos tem- plários fossem alertados e acreditassem em Ti, como nós?”

  5. Esclareço-os com bondade: “Não vos preocupeis, pois ain- da doutrinarei várias vezes no Templo; porém, dos atuais fariseus, anciãos e escribas nenhum será alertado, tratando de sua bem-aven- turança, e sim tudo farão para prender-Me e matar-Me! Para tanto ainda não chegou o tempo; pois sei muito bem o que fazer.” Confor- mados por tal explicação todos se calam. Apenas um episódio antes da partida merece ser mencionado e trata-se da volta de Judas.

35.JUDASISCARIOTESEMCASADE KISJONAH

  1. Todos já estavam convictos de que aquele discípulo não mais voltaria, porquanto não se apresentara aos conhecidos durante o percurso da estação. Súbito ele aparece de surpresa, quando nos en- contrávamos almoçando. Cumprimenta a todos e Kisjonah o con- vida à mesa e Judas aceita sem cerimônia. Kisjonah, homem mui amável e sincero com todos, dirige-se a ele perguntando pela família e o que tinha feito em casa. E o discípulo começa a se estender acerca das vantagens obtidas para os familiares, através de seus trabalhos artísticos, mormente por ter realizado várias encomendas de utensí- lios caseiros por parte dos ricos, de sorte que o lucro proporcionara equilíbrio financeiro durante vários anos. Assim, relata estas e outras mais vantagens inacreditáveis.

  2. Os demais discípulos perdem a paciência e o próprio Pedro, geralmente calado, lhe diz no final: “Escuta, se do teu relato apenas a metade for verídica — o que duvido — deves ser quase tão abastado como nosso amigo Kisjonah, e não vejo por que te decidiste voltar e talvez pretendas acompanhar-nos! Não seria mais prudente ficares em casa para te tornares mais rico?”

  3. Responde Judas: “Isto não compreendes! Gosto de trabalhar, uma vez que esteja na olaria; entretanto, não posso impedir que a recordação dos fatos aqui ocorridos me afastem da oficina. Não sou tão ignorante como julgais, do contrário não estaria aqui! Sinto grande atração pelo vosso meio, mormente do Senhor; mas caso me torne importuno, basta dizer-me, que voltarei donde vim e continu- aremos os mesmos bons amigos!”

  4. Protesta Pedro: “De modo algum; podes ficar à vontade. Criti- co tua falta de consideração quanto à Onisciência patenteada de Deus, pregando-nos uma grossa mentira referente aos teus grandes lucros ha- vidos, sabendo pelo Senhor que jamais uma inverdade deveria passar por nossos lábios. Como procedes desta forma, pois és tanto quanto nós convocado por Jesus?” Diz Judas: “Como provarás que menti?”

  1. Diz Pedro: “Muito facilmente! Primeiro, minh’alma foi ilu- minada pela Graça do Senhor, a ponto de saber se alguém fala a verdade ou não; além disto percebo, neste momento, que dentro em breve surgirá uma prova evidente de tua mentira! Tua bazófia não nos beneficia, nem prejudica; convém, no entanto, refletires se tal atitude se justifica na Presença do Senhor, no Qual alegavas acredi- tar como nós!” Confundido, Judas se cala, pois sente-se descoberto.

  2. Não demora chegarem alguns jovens à casa de Kisjonah pe- dindo esmolas — e ele os faz entrar. Quando Judas os avista, vira o rosto para não ser reconhecido, pois trata-se de seus filhos mais ve- lhos: uma menina e três rapazes. Inquiridos pelo anfitrião, eles pres- tam informações, que não honram o seu genitor. Kisjonah, então, lhes diz ter ouvido falar que precisamente nesta temporada Judas teria ganho muito dinheiro pelo zelo em seu ofício.

  3. Os jovens, porém, contestam dizendo: “Nosso pai havia pre- parado algumas coisas para o mercado; mas quando lá chegou, foi envolvido numa grande briga entre comerciantes gregos e judeus, quebrando-lhe toda louça. Deste modo, voltamos a casa numa po- breza completa e nosso pai nos aconselhou procurarmos a misericór- dia alheia, porquanto ele nada podia fazer por nós; entrementes iria juntar-se ao Mestre milagroso, conseguindo talvez ajuda para nós e nossa mãe. Por isto te pedimos que te compadeças de nós.”

  4. Kisjonah prossegue perguntando: “Há quanto tempo o pai vos deixou?” E eles respondem que deveriam ter passado uns oito dias que não viam o genitor. Em seguida, Kisjonah os leva a um ou- tro quarto, onde lhes faz dar roupas e comida, enquanto eles davam a entender sua aflição e de sua mãe, porque ignoravam o paradeiro de Judas. Kisjonah os acalma, afirmando encontrar-se aquele em sua casa, e que dentro em breve haveriam de vê-lo.

  5. Em seguida Kisjonah se aproxima de Judas e lhe diz: “Amigo, longe de mim eu te querer fazer reprimendas, mas tu na certa tens de mim o mesmo conceito de todo o mundo da redondeza — por que não me confessaste tua situação aflitiva? Teus filhos são mais sinceros

e muito preocupados contigo, ao passo que tu lhes viraste as costas! Acho isto muito estranho e desejava saber tuas razões a respeito!”

  1. Judas, suspirando profundamente, diz: “Amigo, queria ape- nas abafar o meu coração oprimido com fanfarronices! O resultado, no entanto, foi prejudicial, pois o castigo acompanhou minha mal- dade qual serpente veloz, a ponto de me achar coberto de vergonha diante de todos. Deixa juntar-me aos meus filhos para confortá-los e com eles chorar as minhas mágoas!”

  2. Digo Eu: “Ainda não! Alimenta-te primeiro, e no futuro não pronuncies mais mentiras, senão te sucederá coisa ainda pior!” Judas segue o Meu Conselho, todos começam a palestrar com ele e Kisjonah lhe promete cuidar dos filhos, sem culpa de sua desdita, que cabia apenas a Judas. Assim este episódio é resolvido e apenas mencionado a fim de demonstrar a verdadeira índole de Judas.

36.PARTIDADEKISECHEGADANAHOSPEDARIADE LÁZARO

  1. Minha Própria Mãe se vira em seguida para Judas, dizen- do: “Se continuares deste modo, sem jamais modificares teu caráter, teu fim será um horror para muitos, perdurando na recordação até a época final desta Terra. Trata, pois, de poder viver ao Lado do Senhor! Nunca tive bons sonhos com tua pessoa e também sei o motivo! Por isto repito: tem cuidado!” Tais palavras calam profun- damente nos corações de todos.

  2. Após a refeição visitamos o lar de Maria e sua vivenda, que lhe fora dada por Kisjonah. Tudo se acha na melhor ordem. Existe ali uma pequena escola onde Maria ensinava coisas úteis às crian- ças pobres, motivo por que era mui estimada em toda redondeza. Também curava muitos doentes através de passes e preces em Meu Nome. Tal atitude abençoada se estendia para todos e Kisjonah a considerava uma verdadeira joia.

  3. No dia seguinte, isto é, quinta-feira, três semanas antes da Páscoa, despedimo-nos de Kisjonah com a promessa de visitá-lo em

breve. Ele manda preparar um de seus melhores navios, no qual partimos com bom vento. Kisjonah, Philopoldo e Maria nos acom- panham além-mar até a beira do Mar Galileu, no ponto em que o Jordão desemboca para, do lado esquerdo, dirigir-se ao Mar Morto através dum longo vale em direção do Este. Dali segue-se por uma estrada boa para Jerusalém, da qual hoje em dia nada mais se des- cobre, o que também ocorre com todos os lugarejos daquela zona, porquanto o Mar Galileu hoje está reduzido para um terço.

  1. No desembarcadouro havia uma alfândega onde se deveria pagar uma pequena taxa, e isto caso a pessoa trouxesse algo para vender. Desembarcamos, abençoamos os que nos acompanhavam e prosseguimos ligeiros, sem parar, até altas horas da noite. Alcança- mos por fim a casa do conhecido hospedeiro, ainda acordado por- que tinha alguns hóspedes.

  2. Nem bem nos avista, movimenta alegremente a casa toda para servir-nos, pois nada tínhamos tomado desde cedo. Como tam- bém estivéssemos bastante cansados, ele sem mais delongas manda preparar uma ceia, e enquanto esperávamos relata ter tido, o bom Lázaro, um forte atrito com os templários, em virtude dos lavrado- res que Eu lhe havia encaminhado de Bethlehem.

  3. Diz ele: “Os fariseus tudo fizeram para conquistá-los a seu favor, mas os homens os enfrentaram com ameaças caso não fos- sem deixados em paz. Surpreendidos com tal atitude, os do Templo acusaram Lázaro de os ter instigado àquilo, fazendo queixa formal junto ao Governador romano. Este mandara chamar Lázaro para se informar do fato real, e em seguida abriu inquérito com os trabalha- dores. Então Lázaro e eles foram absolvidos da culpa, e os templários informados de não incomodarem mais àquele por ser cidadão de Roma. Caso essas ordens não fossem respeitadas, ele receberia um pelotão de soldados para sua proteção. Isto surtiu efeito; duvido, porém, que se tenham tornado amigos dele, não obstante lhe asse- gurarem terem feito queixa dos trabalhadores, e não de sua pessoa. Deste modo, Lázaro está num pé amistoso com o Templo, ao menos aparentemente.”

  1. Digo Eu: “Sabia de antemão que tal sucederia; poderia ter sido diferente, caso a situação tivesse perdurado por algumas sema- nas. Em tal hipótese, teriam surgido sérios atritos entre templários e trabalhadores, por Mim previstos, mas que desviei através de Mi- nha Vontade. Os servos do Templo alimentam rancor oculto con- tra Lázaro; mas isto não importa, porquanto sentem o mesmo para com todos os romanos, gregos, essênios, samaritanos e saduceus. Tal sentimento de revolta é semelhante a um tolo que se exaspera frente a um grande rio, isento de ponte pela qual pudesse alcançar a outra margem. O rio continua o mesmo, não obstante a raiva do ignorante. A mesma situação se dá com ira e rancor dos templários; assemelham-se ao encolhimento e à reação fútil dum verme no pó contra os passos dos camelos que o pisam. Deixemos tal assunto e tu, caro amigo, vê se consegues algo para comer!”

37.OSSÁBIOSDA PÉRSIA

  1. De bom grado o hospedeiro manda trazer a ceia, e nos farta- mos com grande satisfação. Os demais viajantes vindos da Galileia, Grécia, Samaria e outros países, acostumados a pernoitar neste al- bergue por ser seu dono consciencioso, em breve são informados de Minha Presença. Por isto se dirigem a um empregado, perguntando se é possível falarem Comigo; ele transmite tal pedido ao patrão, que diz: “Não posso responder; pois o Senhor é Único e deve-se respeitar a Sua Vontade!”

  2. Ouvindo isto, digo: “Entre os viajantes se acham quatro ma- gos do Egito nascidos na Pérsia, perto da fronteira da Índia. Três dentre eles são idosos e mestres na magia; o quarto apenas discípu- lo. Seu grande séquito está em outros albergues, pois só trouxeram alguns serviçais. Estes magos, há vários anos em função no Egito, podes fazer entrar para descobrirmos suas intenções.”

  3. O hospedeiro transmite tal recado aos outros, que se mos- tram satisfeitíssimos com este convite, porque já haviam ouvido falar a Meu respeito além das fronteiras de Canaan. Assim, diri-

gem-se com o anfitrião para junto de Mim, curvam-se com muito respeito, embora anciãos, saudando-Me de acordo com seu hábito. Conhecedores do hebraico, entram em pronta conversação com os discípulos.

  1. Então lhes digo: “Sou Aquele a Quem desejais conhecer de perto; sentai-vos para palestrarmos!” Uma vez acomodados junto de Mim, indago-lhes: “Dizei-Me abertamente quais são vossas magias e feitiços, que também vos direi o que faço; talvez possamos nos ser úteis reciprocamente!”

  2. Curvando-se, um mago diz: “Mestre, eis aqui nosso sábio mais idoso, cujo nome é Hahasvar (Protetor dos astros), falará por nós! Conta três vezes trinta anos. Eu conto oitenta e este ao meu lado, setenta e nos astros consta que a partir de agora, cada um terá de vida ainda trinta anos. Chamo-me Meilezechiori (Tenho o poder ou visão de medir o tempo), e o nome de meu vizinho é Ou li tesar (Tem o poder de impor sua vontade). O quarto é ainda muito jovem e não possui nome especial. Passo a palavra ao mais idoso!”

  3. Este então começa: “Aqui já estivemos há trinta anos, vindo do Oriente longínquo; fomos despertados por uma estrela peculiar, pois nos astros estava escrito: No Este distante nasceu um Novo Rei num povo pervertido. Sua Mãe carnal é virgem e jamais foi tocada por homem; Seu Filho foi gerado pelo Poder do Grande Deus e Seu Nome será Imenso entre todos os povos da Terra, onde fundará um Reino por Ele eternamente dirigido como Poderoso Soberano. Felizes os que nele viverem, pois a morte não mais terá poder sobre suas almas!

  4. Assim informados, partimos, seguindo a trajetória da estrela; em Bethlehem encontramos realmente, num velho estábulo de car- neiros, uma criança recém-nascida, à qual ofertamos nossas dádivas. De acordo com nossa combinação, tencionávamos regressar à pátria via Jerusalém. Um espírito luminoso nos advertiu, no entanto, de seguirmos por outro caminho e que também deixássemos de denun- ciar ao maldoso soberano a presença do Novo Rei. Obedecemos;

ignoramos, todavia, até hoje, o que sucedeu à criança milagrosa, não obstante nossas indagações.

  1. Pessoas idosas nos informaram ter sido organizado por parte do cruel Herodes um enorme infanticídio em Bethlehem por causa daquela criança, onde todos os meninos entre um e dois anos foram assassinados pela espada; os pais teriam fugido, em tempo, com o menino prodígio para o Egito, escapando da fúria sanguinária do Tetrarca louco. Durante vários anos procuramos o seu paradeiro, sem algo descobrirmos.

  2. Há bem pouco soubemos em Memphis ter surgido um gran- de taumaturgo na Galileia, operando milagres inéditos nesta Terra, e proferindo ensinamentos tão extraordinários, que obrigam aos mais sábios se ocultarem no pó. Muitas pessoas o acompanham, crentes ser ele evidentemente Deus Mesmo, pois do contrário Suas Ações seriam inexplicáveis. A esta informação aqui voltamos à procura de um possível contato com homem tão excepcional, e isto por dois motivos: primeiro, para nos certificarmos pessoalmente de tudo; segundo, descobrirmos se existe relação entre tal homem e aquela criança de Bethlehem.

  3. Muito embora não seja ele ainda rei, pouca importância representa; pois somos apenas sábios, astrônomos e especiais magos pelo conhecimento das forças da Natureza, tornando-nos regentes de terras e povos nos confins da Pérsia. Não necessitamos temer inimigos por sermos respeitados pelos soberanos vizinhos, que nos tratam com grande deferência, visto nosso poder oculto. Ainda as- sim é este apenas um poder natural, que qualquer pessoa poderá aprender; quanto mais não poderá ser Rei da Judeia aquele homem famoso, que pela simples vontade pode dizimar montanhas e rochas, ressuscitar os mortos e mandar nos elementos!

  4. Aqui chegamos hoje cedo, e constava que ele há pouco tem- po estivera nesta zona, onde é esperado em breve. Agora, à noite, correu boato de sua chegada com os discípulos. Podes imaginar, bom Mestre, o forte desejo que de nós se apossou ao vermos tal

personagem em ti, perguntando-te com máxima modéstia se és real- mente aquele menino prodígio!”

38.SABEREAÇÃODOSTRÊS MAGOS

    1. Digo Eu: “Está tudo muito bem e posso apenas louvar-vos; consta, porém, terem os mencionados magos que visitaram aquela criança milagrosa em Bethlehem morrido há cerca de quinze anos. Como podeis ainda viver e agir neste mundo?!”

    2. Responde o mais velho: “Nobre amigo, em nosso país po- de-se morrer cinco e até mesmo sete vezes, e em seguida continuar vivendo. Isto é possível em virtude do ar, da terra e seus elemen- tos, as ervas milagrosas em conjunto com nosso poder, absorvido das forças ocultas da Natureza. Quando naquela época estivemos em Bethlehem abrigávamos três espíritos da era primitiva desta Terra; agora não estão mais em contato conosco e somos inteira- mente livres.

    3. No momento em que nos abandonaram, dávamos impres- são de termos falecido; entretanto, fomos vivificados pelos nossos próprios espíritos, com os quais ainda viveremos por algum tempo. Quando nosso corpo estiver completamente gasto, não morreremos como as pobres criaturas daqui, e sim deixaremos nosso físico de livre vontade e em plena consciência, para agirmos entre os nossos como espíritos. Eis a nossa situação, nobre e grande Mestre, por sermos ainda um povo primitivo e incorrupto.”

    4. Digo Eu: “Isto Eu sei; como também não ignoro existirem nesta Terra alguns desses povos, no que nada tenho a contrapor. Admito igualmente serdes aqueles três sábios do Oriente, que visi- taram em Bethlehem a criança recém-nascida, voltando agora para visitardes o Rei Milagroso e demonstrar-Lhe vosso respeito, ato que merece louvor.

    5. Pergunto-vos o que costumais fazer em vossas longas viagens e qual seu benefício para vós. É preciso relatá-lo para que ao menos

estes Meus discípulos venham a lucrar convosco. Em seguida vos transmitirei algo de Minha Pessoa.”

    1. Diz o mais velho: “Grande Mestre, se operas tudo aquilo que de ti ouvimos, teus alunos não tirarão grande proveito de nossa par- te; mas já que o desejas, posso te comunicar a questão principal, que consiste em predizermos das estrelas coisa útil às criaturas, e que na maioria também sucede. Para falar com sinceridade, a questão de- pende mais da construção artística das palavras, do que da posição das estrelas, que com exceção de alguns planetas, é sempre a mesma.

    2. Somente por ocasião do nascimento da criança milagrosa, quando ainda nos achávamos sob influência dos mencionados espí- ritos, descobrimos em direção do Este uma estrela de especial gran- deza, munida de grande cauda, dentro duma constelação peculiar. Percebendo sua movimentação mais rápida que as demais, em deter- minada direção, presumimos ter sucedido algo de inédito no Orien- te. Em breve destacou-se-nos algo como escrita astrológica, dizendo: Nasceu um Novo Rei para os judeus, que fundará um Reino Eterno, regendo sobre todos os povos da Terra!

    3. Imediatamente encetamos nossa viagem acompanhando a dita estrela, que nos parecia estacionar em determinado ponto, onde encontramos realmente um nascimento destacado por vários milagres, de sorte não podermos ter a menor dúvida quanto à vera- cidade da predição. Entretanto, não somos capazes de afirmar se as demais profecias referentes ao Rei se cumpriram. Eis nossa ciência dos astros.

    4. No que diz respeito à magia, é dividida em três partes: a primeira surge do conhecimento obtido por múltiplas experiências através da Natureza, que nos capacita efetuarmos milhares de coi- sas, despertando a máxima admiração entre as criaturas ignorantes, proporcionando-nos grande conceito e lucro. Atualmente possuí- mos um segredo para produzir uma espécie de grãos facilmente in- cendiáveis, mas que, em um recinto fechado, através de um pavio, desenvolvem tamanha força que, uma vez colocados no orifício de uma rocha potente, a faz estourar em mil frangalhos com enorme

estrondo. Diante do povo damos a entender que ordenamos a rocha a dizimar-se; na realidade isto foi produzido pela explosão dos grãos mencionados que dias antes lá depositamos, às escondidas. Neste gênero temos quantidade de coisas que despertam estupefação entre os incautos. Disto fazem parte os fogos de artifício, onde sabemos imitar os raios e seus efeitos.

    1. A segunda parte é simplesmente mecânica, mas leva à ad- miração os leigos pelos efeitos do mecanismo ainda estranho, por ser desconhecida a causa, não havendo quem a explicasse, exce- tuando nós.

    2. A terceira parte de nossa magia é realmente fútil, porquanto é apenas realizada por combinações previamente estabelecidas; tem, no entanto, o maior efeito entre o povo, não obstante ocultar somen- te certa agilidade. Eis nossas magias, desmembradas em três partes.

    3. Finalmente, somos também médicos e podemos curar muitas moléstias por meio de remédios ocultos, exterminar toda es- pécie de insetos nocivos, e todos os animais ferozes têm que fugir diante de nós ou então se deixar amestrar, o que já proporcionou grande benefício aos homens. Eis o resumo de nossas artes, Grande Mestre; pedimos-te que igualmente nos dês informações quanto à tua pessoa.”

39.UMABOAFINALIDADENÃOJUSTIFICAOSMEIOS NOCIVOS

  1. Digo Eu: “No tocante às experiências das forças da Natureza, da mecânica e da sua arte, são aceitáveis, podendo daí surgir, com o tempo, grandes vantagens para os homens. Tudo, porém, que se apresenta qual ilusão lucrativa para as criaturas, todas de igual va- lor perante Deus, é nocivo e não do Seu agrado, o Senhor Único de Céus e seres, como já falei e demonstrei aos essênios em certas ocasiões. Muito embora a finalidade fosse boa, conseguida, porém, através de meio mistificador, portanto nocivo, jamais poderá ser abençoada e benéfica.

  1. Existe, por exemplo, um homem gravemente enfermo e os melhores médicos não são capazes de aliviá-lo de suas dores. Um dentre eles sugere aos demais dar-lhe uma dose de veneno, de ação rápida, para ele se libertar de seu sofrimento. Dito e feito — o enfer- mo morre instantaneamente. Bem, os médicos conseguiram aliviá-

-lo, sem, contudo, refletirem por que Deus lhe havia mandado tal moléstia, e qual a situação de sua alma no Além. Assim sendo, o meio foi nocivo, jamais podendo surtir daí um efeito inteiramente bom.

  1. O mesmo acontece com todos os milagres fictícios! Ainda que acompanhados de ensinamentos morais e bons, em benefício do próximo e interpretados como efeitos divinos, no fundo não visam algo de bom; despertam na alma do povo a crendice forçada, daí toda sorte de superstição e no final o ódio fanático aos de crença diversa. E caso cheguem a descobrir a fraude através de um mais inteligente, provando-lhe ter sido o suposto milagre divino uma obra natural, descreem de todos os ensinamentos, em si benéficos, tornando-se quais tigres e hienas contra seus mestres e supostos taumaturgos.

  2. Daí se pode facilmente deduzir não ser possível se alcançar bom efeito através de meio nocivo; se a base é prejudicial e frágil, como nela poderá resistir um edifício perfeitamente sólido?! Num solo arenoso e fofo não é possível se construir um castelo possante, de modo idêntico não se é capaz de alcançar uma educação verda- deira, melhor e animadora com meios falsos.

  3. Até mesmo os Estados mais vastos desta Terra, diante dos quais estremecia metade do orbe, desfizeram-se qual palha fraca, porquanto seu fundamento nada mais era que ilusão fútil e frágil. Por isto desci do Alto a esta Terra, a fim de demonstrar aos homens a Verdade plena em tudo. Quem permanecer nesta Verdade, aceitan- do-a como norma de vida, será realmente livre e possuidor da Vida Eterna, jamais conquistada por qualquer ilusão, mas unicamente pela Verdade plena e edificante.

  4. Nisto se concretiza o Reino que ora estou fundando. Trata-se do Reino do Amor, da Luz e, como efeito de ambos, da Verdade Pura e Sólida. Seu Soberano jamais ocupará um trono terreno, nem terá

em mão um cetro de ouro, sendo sua arma apenas a Verdade; en- tretanto, ela lhe proporcionará a vitória mais gloriosa e eterna sobre todos os povos e criaturas da Terra, e feliz aquele que se deixar vencer por esta arma pura e celeste! Acrescento ainda que Sou Aquele que procurastes, tendo-Lhe rendido honra como criança recém-nascida. Além do mais afirmo que a partir de agora não mais aceitarei ho- menagens por parte dos homens, pois existe Alguém Uno Comigo que me dá toda Honra e Seu Nome é: Amor, Luz, Verdade e Vida. É a base de todas as coisas, o Ser Eterno e a Própria Vida, e tudo que existe partiu Dele. Sabeis agora a quantas andais?”

40.INFLUÊNCIADOSESPÍRITOSDE LUZ

    1. Exclama o ancião, compenetrado da Verdade de Minhas Palavras: “Grande Mestre! Através de tua elucidação estupenda de- duzimos nitidamente seres mais que simples homem, pois nunca ouvimos alguém falar deste modo, e tais palavras têm ação mais poderosa que inúmeros milagres que seduzem por certo tempo, mas em seguida endurecem os corações. Eis por que não te pedimos ou- tra prova. Tua palavra nos é suficiente e saberemos o que nos cabe fazer no futuro e nosso povo será devidamente esclarecido!”

    2. Digo Eu: “Deste modo tereis agido com prudência; no en- tanto, o Bem e a Verdade necessitam de tempo. Por tal razão deveis agir com a devida precaução em vossas atitudes honestas. Pois um povo ignorante não suporta uma luz que ofusque de súbito sem pre- juízo para sua alma, e torna-se qual desvairado, à procura de sombra e treva. Por isto deve a luz ser, no início, transmitida parcamente, a fim de que as criaturas se acostumem pouco a pouco à mesma. No decorrer do tempo suportarão até mesmo a luz mais intensa diante de seus olhos. Se sois reais sábios do Oriente tereis que respeitar fiel- mente este ensinamento, caso pretendais tornar-vos uma verdadeira bênção para o vosso povo!”

    3. Diz o ancião: “Será considerado com rigor por nós e nossos discípulos, pois vemos que tens razão em tudo e és inteiramente

verdadeiro. Desejaríamos ainda saber de ti o que houve com aqueles espíritos que nos guiaram por ocasião de teu nascimento, pois per- cebemos nitidamente que não éramos identificados de modo com- pleto com eles. Enquanto nos dominavam, não era possível agirmos dentro de nossa vontade e podíamos apenas fazer aquilo que eles queriam, e nos davam a impressão de serem o nosso ‘eu’ superior. Em tais momentos também éramos mui sábios, podendo conhecer as forças ocultas da Natureza e sua aplicação; tão logo nos abando- navam, apresentávamos os antigos tolos, sem compreender como chegáramos a tais conhecimentos. Todo conhecimento mais pro- fundo nos foi transmitido por aquelas entidades, as quais também víamos em sonhos nítidos. Qual teu parecer a respeito?”

    1. Digo Eu: “Tal fato nada de especial representa para criaturas como vós; pois todas as pessoas de índole boa são, às vezes, ins- truídas em diversas ciências espirituais e naturais de maneira não tão perceptível, mas convosco deu-se tal fenômeno de modo mais preponderante. Quanto mais simples e concentradas viverem as pes- soas, tanto mais se acham em contato direto com bons espíritos do Além. Eis o que sucedeu convosco.

    2. Quando mais tarde vos tornastes mais mundanos pelas mui- tas viagens empreendidas, os espíritos luminosos vos abandonaram, entregando-vos ao vosso próprio conhecimento, razão, intelecto e livre vontade. Despertaram, entretanto, o desejo ora manifestado de Me procurardes; tal fato se deu em benefício vosso e de vossos povos.

    3. Aqueles espíritos viveram outrora nesta Terra, representando a máxima importância para as criaturas; no Além, todavia, cessam todas as diferenciações do ‘grande’ e ‘pequeno’, e o último homem desta Terra não será inferior ao primeiro, na hipótese de ter reco- nhecido a Vontade de Deus, agindo dentro de Seus Mandamen- tos e Ordem.

    4. A Vontade Divina para todos é a seguinte: Reconhece Deus, ama-o acima de tudo e a teu próximo como a ti mesmo. Sê verdadei- ro e fiel para com todos, e faze ao teu semelhante o que desejas ser feito em teu benefício, que a paz e a união se estabelecerão entre vós

e a Bênção Divina se espargirá sobre vossas cabeças, qual Luz justa da Vida! — Por hoje é só, como base da Verdade, de onde prosse- guireis em toda sabedoria. Podeis vos recolher, pois já é meia-noite.”

    1. Os magos Me agradecem e pedem permanecer o dia seguinte em Minha companhia, o que lhes concedo de bom grado. Em se- guida nos recolhemos. Ao despertarmos de manhã cedo, um bom desjejum já está preparado, enquanto os sábios alimentam o maior dos desejos para Me ver e falar, pois lhes calara profundamente o que Eu havia dito. Por isto escutam na porta durante Minha palestra com o hospedeiro, em companhia dos discípulos. Percebendo que o assunto girava em torno de coisas terrenas de somenos importância, conjecturam: “Hoje ele não dá mostras de sabedoria divina, muito embora tivesse provado ser possuidor de profundas noções!”

    2. Nisto entra na antessala um homem gravemente enfermo; trata-se dum vizinho do hospedeiro, cujos empregados lhe informa- ram de Minha Chegada. Quando depara Comigo, grita: “Ó Jesus de Nazareth, Verdadeiro Salvador, apiada-te de mim e cura-me, pois que assim fizeste a muitos!”

    3. Então Me levanto e digo: “Desde quando sofres de artritismo?”

    4. Responde ele: “Senhor, há sete anos! Suportei as dores, por- quanto não eram tão atrozes; agora se tornam insuportáveis, razão por que pedi que me trouxessem até aqui.”

    5. Virando-Me para os sábios, digo: “Também sois médicos! Acaso não sereis capazes de socorrê-lo com vossa ciência?”

    6. Responde o mais velho: “Mestre, tais enfermos são para nós incuráveis e não existe remédio que os alivie. O Sol não conseguindo curar a um artrítico, não mais haverá recurso.”

    7. Digo Eu: “Quero ver se realmente é incurável!” Em segui- da viro-Me para o enfermo: “Esteja curado e caminha; porém, não mais peques para que não te suceda coisa pior!” No mesmo instan- te o enfermo se cura, endireita os membros torcidos, agradece e se afasta cheio de alegria. Os sábios levam um choque e fazem menção de adorar-Me, no que Eu os impeço. Em seguida Me encaminho

com os discípulos para Bethânia, e os sábios por sua vez voltam no mesmo dia para sua pátria distante.

41.OSUPRIMENTODASCINCOMILPESSOASNOMARGALILEU(EV.JOÃO6, 1–15)

  1. Não é preciso fazer menção da alegria imensa de Lázaro com a Minha Chegada. Nem bem se passam três dias, toda redondeza é informada de Minha permanência pelos lavradores, de sorte que dia a dia se aglomera mais povo trazendo enfermos, prontamente curados. Isto provoca intenso alarido nos arrabaldes de Jerusalém, chegando até aos ouvidos dos fariseus, que não demoram a elaborar planos para Minha captura e morte.

  2. Ciente disto, digo no décimo dia a Lázaro e aos discípulos: “Partiremos para Galileia, pois os templários tramam contra Mim. Não desejo provocar escândalo, para que tua família tenha a necessá- ria tranquilidade por ocasião das festas. Hoje mesmo partirei daqui.”

  3. Decepcionado, Lázaro diz: “Senhor, és Onipotente e capaz de dizimar esta corja nefasta com um só pensamento, trazendo as- sim grande benefício para os judeus de boa índole.”

  4. Concordo: “Bem o poderia; mas tal não é da Vontade do Pai, porquanto devem agir até que se complete sua medida maldosa. Só então cairá o julgamento sobre eles, pois através de seu domínio ilimitado meter-se-ão a espada no próprio corpo. Em seu orgulho se revoltarão contra os romanos, que lhes darão cabo. Afirmo-te: não ficará uma pedra sobre a outra, e seus descendentes não acharão o local onde se encontrava Jerusalém, e ainda que algo descubram, não se poderão guiar com certeza. Isto sucederá pelo mundo, por causa do mundo. Por enquanto, ainda não chegou o momento e Eu não vim para algo destruir, mas a fim de procurar o que está disper- so e perdido. É, portanto, melhor que Me afaste por algum tempo, para que tu e Eu tenhamos paz; pois em breve Me procurarão, sem Me achar.”

  1. Em seguida desjejuamos e partimos; Lázaro nos acompanha até perto do Mar Galileu, junto com grande multidão. Paro à bei- ra-mar, aonde chegamos altas horas da noite e pernoitamos num albergue; no dia seguinte Lázaro se despede, voltando ao lar com seu pessoal.

  2. Parto com Meus discípulos, cujo número ultrapassa setenta, num grande navio, fazendo a travessia perto da cidade de Tibería- des. Quando o povo percebe Minha Partida, aluga de pronto vários navios, seguindo-Me constantemente para ver os milagres que efe- tuava em numerosos doentes. Atracamos, pois, com todos os navios, uma hora distante daquela cidade, num local despovoado, e onde se eleva uma grande montanha.

  3. Digo então aos discípulos: “Subamos! À meia altura quero descansar sem ser percebido pela multidão da cidade. Aquelas pes- soas não têm boa índole e fé, por serem negociantes que apenas cuidam de dinheiro e vantagens.” Imediatamente subimos, alcan- çando o ponto mencionado, muito pitoresco e coberto de grama, ótimo para repouso. Eu e os discípulos acampamos, bem como as inúmeras pessoas que nos seguem, carregando seus cestos de pão. A Páscoa, festa principal dos judeus, já está próxima e é hábito levar-se pão fresco, não fermentado, peixes fritos, ovos e carne de carneiro.

  4. Permaneço uns cinco dias e todos se saciam com provimen- tos e água, pois neste local há uma fonte límpida e fresca. Quando, no quinto dia, a ração é consumida, Pedro Me chama a atenção da constante aglomeração de pessoas.

  5. Passo Meu Olhar por sobre a multidão e digo a Philippe, geralmente nosso mordomo, grego convertido para o judaísmo e vez por outra ainda fraco na fé: “Onde compraremos pão para tanta gente?” Falo deste modo apenas para experimentar este discípulo incrédulo, porquanto já sei o que pretendo fazer. E ele de pronto re- age, dizendo: “Nossa fortuna consiste em duzentas moedas de cobre, e o pão correspondente a essa importância será pouco para que cada um consiga um pedaço.”

  1. Diz um outro igualmente pouco firme na fé, muito embora irmão de Simon Pedro: “Senhor, acha-se aqui um garoto dono de cinco pães e de dois peixes; mas que representa isto para tantos?”

  2. Digo Eu: “Trazei-Me o menino e tratai que o povo se agru- pe em boa ordem!” Como houvesse muita grama, dentro em bre- ve se acomodam cerca de cinco mil homens, excluindo mulheres e crianças.

  3. Tomo, pois, os pães, agradeço ao Pai e os abençoo. Em se- guida entrego pães e peixes aos que se haviam acampado, observan- do a todos os discípulos deverem distribuir individualmente tanto quanto fosse necessário para satisfazer a fome, e todos comeram e se saciaram.

  4. Não havendo possibilidade de comerem tudo, digo no- vamente aos discípulos: “Ide recolher as sobras para que nada se perca!” Eles apanham os maiores cestos, recolhendo 12 com o que sobrara, isto é, do resto de cinco pequenos pães e dois peixes. Admi- rados, exclamam: “Realmente, este provimento geral ultrapassa os dois precedentes! Que deverá ser feito com as sobras?”

  5. Respondo: “Pertencem ao povo, que saberá o que fazer. Não as necessitamos, porque já nos suprimos, e além disto parti- remos, ainda hoje, para Capernaum.” Os discípulos entregam os cestos à multidão e cada um tira uma parte, não havendo quem se queixasse da partilha.

  6. Integrando-se do milagre por Mim operado, dizem: “Eis o profeta que deveria chegar ao mundo, sendo mais poderoso que qualquer poder do mundo e mais sábio que Salomon; é chegado o tempo de fazermos dele rei, ainda que à força!”

  7. Como percebo sua intenção violenta, digo em surdina a João: “Ouve o que o povo pretende; por isto fugirei rápido e despercebida- mente morro acima, enquanto ficareis até a noite. A multidão se disper- sando, voltarei junto de vós; do contrário, dirigi-vos ao mar. Lá vos espe- rará um navio, conduzindo-vos para Capernaum, onde vos alcançarei!”

42.OSDISCÍPULOSNAVEGAMPARACAPERNAUM(EV.JOÃO6, 16–21)

    1. Bem que João disto toma conhecimento; sendo, porém, quem mais se dedica às interpretações espirituais, desejoso por ver em tudo motivo, efeito e finalidade, pergunta pelo porquê desse milagre. E Eu lhe digo: “Cabendo-te assimilares profundamente o segredo do Reino de Deus, toma nota: essas pessoas representam o mundo, que havia absorvido todo seu estoque de nutrição espiritual. Somente um garoto simples tinha ainda alma pura e incorrupta e algo de fé infantil, razão por que possuía cinco pães de centeio e dois peixes.

    2. Os cinco pães apontam estarem seus cinco sentidos puros e intactos, isto é, sua alma se encontra limpa, o que foi demonstrado pela sua grande alegria por satisfazer-Me. Os dois peixes, idênticos ao bem derivante do amor e da verdade provindos da fé, ou o calor de sua vida amorosa e o fogo de sua luz do saber, demonstram sua fé infantil, confiança e dedicação. Ao mesmo tempo, sua pequena individualidade indica a fragilidade e como estão reduzidos, atual- mente, bem e verdade celestes entre as criaturas do mundo.

    3. Além disto, significam os cinco pães a Minha Doutrina. Pa- rece muito pequena para todas as criaturas da Terra; multiplicar-se-

-á, porém, como esses pães; entretanto, sobrarão para os mais sábios, por Mim doutrinados e saciados em espírito, conhecimentos sempre mais profundos e novos, por toda Eternidade. Os doze cestos cor- respondem às doze tribos de Israel, em sua totalidade, à Perfeição Divina jamais alcançada.

    1. Eis, Meu caro João, a interpretação desse milagre. A vontade daquelas pessoas em querer fazer-Me rei do mundo demonstra sua tendência verdadeira, maldosa e pervertida, porque desejam se tor- nar um povo poderoso e temido para abater todos os seus pretensos inimigos, contrariando a Minha Doutrina. Por isto afastar-Me-ei às pressas. E vós, fazei o que vos disse!”

    2. Em seguida, oculto-Me num arvoredo, pelo qual subi até o cume da montanha; pois para Mim, em breve, se apresenta um cami-

nho, ignorado para os que pretendem perseguir-Me. Entrementes o povo se vira para os discípulos, querendo responsabilizá-los de Meu afastamento. Eis que João se adianta e diz: “Por que não impedistes ao Senhor, pois sois em número maior que nós? Sustai tempestade e raio! Ordenai as ondas do mar quando começarem a tragar-vos! Eu, simples discípulo, transmito-vos: mais fácil seria impordes calma aos elementos em fúria, do que dobrar a Vontade do Homem-Deus! Deixai-vos orientar e não sejais tolos! Como pretendeis fazê-Lo rei do mundo para os judeus — Ele, cujo Espírito é Senhor Eterno de Céus e Terra?! Essa conclusão podíeis ter tirado dos muitos milagres que operou diante de vós! Basta Ele querer, para realizar o que é de Sua Vontade. Sua Onipresença e Onipotência não só chegam até aqui, mas abrangem o Infinito; por isto não sejais desvairados e re- colhei-vos, a fim de que não vos suceda coisa desagradável!”

    1. Com estas palavras de João muitos se entregam ao repou- so; alguns, porém, reclamam e querem por força procurar-Me na montanha. Em breve deparam com tantos empecilhos intranspo- níveis, de sorte que voltam extenuados, não compreendendo como Eu poderia ter galgado aquelas rochas escarpadas. Morro abaixo Eu não poderia ter-Me evadido, porquanto todas as saídas estão por eles ocupadas. Percebendo nada poderem conseguir, conjecturam as medidas a tomar e alguns perguntam aos discípulos o que fariam sem o Mestre.

    2. E eles respondem: “Que mais faremos a não ser voltarmos a Capernaum? Lá certamente nos encontrará quando quiser!” Então os mais revoltados se retiram, enquanto outros ficam para observar a atitude dos discípulos; à noitinha, estes se dirigem rápidos para o mar, onde os espera um grande navio. Embarcam ainda antes que a multidão consiga segui-los, pois a descida é difícil e só pode ser feita com muito cuidado e precaução por pessoas não treinadas. Alguns embarcam para Capernaum, enquanto outros aguardam Minha descida. Como não apareço, seguem apenas na manhã seguinte.

    3. Os discípulos navegam com bom vento além mar, crentes que Eu os alcançaria com outra embarcação. O trajeto é considerá-

vel, de sorte que é noite fechada, quando ainda lutam contra forte vento. Vez por outra viram-se para ver se Eu Me aproximo. Perce- bendo não ser satisfeita sua grande saudade de Mim, entristecem-se e presumem Eu chegar na certa pela manhã.

    1. Neste momento, surge forte vento e o mar começa a levan- tar ondas enormes. Por isto os marujos resolvem recolher as velas e usam somente os remos, a fim de evitar acidentes. Tendo remado uns vinte e cinco a trinta estádios, Me veem caminhar sobre o mar revolto, aproximando-Me do barco. Muito embora já ter ocorrido fato idêntico em outra ocasião, são tomados de grande pavor.

    2. Notando isto, digo a todos: “Por que temeis? Não vedes ser Eu?” Eis que fazem menção de Me acolher no navio, porquanto ain- da se via uma grande distância até a praia; no mesmo momento, po- rém, a embarcação havia atracado. Naturalmente isto produz grande alarde entre os novos adeptos; inclusive os marujos se exasperam, presumindo ter Eu morrido e agora Me apresentava como espírito, quiçá, a mando de um feiticeiro — ou então Eu Mesmo fosse tal ho- mem e teria ordenado aos elementos da água a Me carregarem sobre o mar. Esses marujos são gregos, portanto pagãos, e seu critério não podia ser outro; pouco ou mesmo nada sabem do verdadeiro judaís- mo, razão pela qual os deixo nesta ideia. Entrementes nos dirigimos a um albergue conhecido, onde já havia curado um artrítico, que para este fim se fizera descer através de um alçapão em seu leito.

43.OPÃODAVIDA(EV.JOÃO6, 22–35)

  1. Quando na manhã seguinte, após o desjejum, saímos de casa, encontramos na praia grande multidão que nos havia seguido du- rante a noite. São as mesmas pessoas que na véspera ficaram além mar e viram a partida dos discípulos sem Mim. Percebem, portanto, não haver outra embarcação, senão a usada somente pelos adeptos.

  2. Enquanto caminhamos pela margem, chegam ainda outros navios que haviam deixado Tiberíades pela madrugada. Seus passa- geiros desembarcam e vão ao local onde Eu havia abençoado o pão

para verificarem se Eu aí estou. Não nos encontrando, voltam às pressas junto dos navios e embarcam para Capernaum, fazendo tudo para encontrar-nos.

  1. Quando, após grande procura, Me acham em uma escola, que será mencionada posteriormente, e se convencem ter Eu tam- bém feito a travessia marítima, porquanto a pé teria levado alguns dias para tal distância, perguntam: “Mestre, como atravessaste o mar?” Rapidamente faço um aceno aos discípulos para não Me tra- írem, pois pretendo dar uma lição a essa gente, a fim de separar o joio do trigo.

  2. Por isto respondo: “Em verdade vos digo: andais à Minha procura não por causa dos milagres, mas simplesmente por vos ter- des fartado com os pães. Por gratidão Me cognominastes um grande profeta e pretendíeis finalmente declarar-Me rei, porque pensastes: Vede, este tem poder suficiente contra nossos inimigos, que muito trabalho nos dão; de sorte que ele nos poderá arranjar o pão, dispen- sando-nos do trabalho!

  3. Eu, porém, vos digo: o alimento não age sobre a vida espi- ritual da alma, e sim apenas sobre o corpo perecível; Eu, porém, como atual Filho do homem, vos darei outro alimento que agirá eternamente dentro da alma. Para tal fim o Pai no Céu Me selou e determinou. Este alimento consiste em fazerdes realmente a Vonta- de Divina, portanto Obras de Deus.”

  4. Indagam eles: “Esclarece-nos o que nos cabe fazer para efetuar- mos obras divinas, de acordo com tuas palavras. Somos homens sim- ples e não profetas, e só entendemos viver dentro das Leis de Moysés.”

  5. Digo Eu: “Se isto fizésseis, de há muito Me teríeis reconheci- do. Com pavor e rancor ocultos dos castigos terrenos, considerais as leis do mundo, não podendo reconhecer-Me, muito embora tivesse feito milagres que até hoje ninguém conseguiu. Dir-vos-ei o que, a partir de agora, representa a Obra de Deus: crede em Mim, Prome- tido por Deus aos profetas e Enviado a este mundo!”

  6. Admirados, eles dizem: “Quais são os milagres que operas além dos que já vimos? Demonstre-nos, para que possamos crer na-

quilo que dizes. Até então sabemos teres curado vários enfermos, e nos saciaste milagrosamente com quantidade reduzida de pães. Estes e ainda outros milagres maiores foram produzidos por vários profetas a partir de Moysés. Acaso nossos pais não comeram o maná no deserto, conforme consta: Ele lhes deu de comer pão do Céu!”

  1. Replico: “Realmente, Moysés não vos deu o Pão verdadeiro, e sim o do Céu terreno e visível, contido no éter; somente Meu Pai, no Céu verdadeiro e espiritual, ora vos dá por Mim o real Pão Celes- te que dá vida ao mundo!”

  2. Eles não entendem referir-Me Eu, quanto ao Alimento Ver- dadeiro que faculta a vida eterna à alma, apenas à Minha Doutrina, que emana do Amor e da Sabedoria vivos do Pai, portanto é a pró- pria Vida e Sabedoria, dando real existência à alma.

  3. Compreendendo, pois, somente o pão tomado na monta- nha, pedem: “Senhor e Mestre, dá-nos sempre desse pão e nada mais pediremos!”

  4. Retruco: “Não entendestes o que disse?! Eu Mesmo Sou o Verdadeiro Pão da Vida! Quem vier a Mim não sentirá fome, e quem crer em Mim jamais terá sede!”

  5. Opõem eles: “Senhor, estamos evidentemente contigo! Como nada comemos desde cedo, sentimos fome e sede, muito em- bora creiamos seres grande profeta, talvez maior que Moysés, do qual nem se poderá afirmar positivamente ter ele existido, pois nun- ca o vimos. Ainda te encontrando conosco, és para nós, sem dúvida, mais que Moysés e todos os profetas. Ainda assim, estamos famintos e sedentos. Como, pois, deve-se interpretar tuas palavras?”

  6. Digo Eu em surdina a João, “Não é verdade o que te disse ontem, na montanha? Essas criaturas se acham no nível animal; por isto, falo de modo oculto para confundi-las. Devem afastar-se, por- que seu tempo ainda está longe.”

44.AMISSÃODOSENHORNATERRA.CARNEESANGUEDOSENHOR(EV.JOÃO6, 36–58)

  1. Em seguida viro-Me para aqueles homens e digo: “Que fa- lais?! Acaso afirmei não Me terdes visto?! Eu Mesmo sei, afirmei e ainda digo que vistes a Mim e Meus Milagres, entretanto não acre- ditais que tudo o que o Pai no Céu Me dá vem a Mim e Eu jamais expulsarei quem Me procurar.

  2. Guardai o que vos digo: não sou, como vós, deste mundo, mas descido do Céu, não para fazer a Minha, e sim somente a Von- tade Daquele Que Me enviou a este mundo.”

  3. Então indagam: “Qual é, pois, a vontade de quem te en- viou do Céu?”

  4. Respondo: “Difícil é pregar-se para os surdos e escrever para os cegos. Eis a Vontade do Pai que Me enviou: que Eu nada perca de tudo que Me tem dado, mas que o devolva e ressuscite no Dia Final!”

  5. Eis que alguns conjecturam: “Este homem fala de modo es- tranho; parece doido.” Outros Me dizem: “Expressa-te claramente o que há com o Dia Final!”

  6. Digo Eu: “Quando Me tiverdes reconhecido e acreditando em Mim, far-se-á o Dia Final de vossa mente, surgindo um verda- deiro Dia em vossa alma, no qual Eu vos despertarei pelo Poder da Verdade de Minha Doutrina; se, porém, não acreditardes em Mim e não Me reconhecerdes, dificilmente se dará um Dia Final para vossa razão.”

  7. Pedem eles: “Dize-nos com clareza o que seja a Vontade do Pai!”

  8. Prossigo: “Eis a Vontade do Pai que Me enviou: todo aquele que vir o Filho, Nele acreditando e reconhecendo ser Ele o Verda- deiro Messias do mundo, receberá a Vida Eterna e será por Mim ressuscitado no Dia Final! Já vos demonstrei o sentido deste Dia!”

  9. Os judeus, porém, começam a protestar, principalmente por Eu ter dito: Eu sou o Pão da Vida, vindo do Céu. Por isto dizem: “Não é ele o carpinteiro Jesus, filho de José?! Conhecemos muito bem os seus pais — como pode afirmar ter vindo do Céu?! Seu

intelecto e demais faculdades peculiares podem ter origem celeste, porquanto jamais existiu homem importante sem bafejo divino; pessoalmente não poderá positivar ter vindo do Céu qual Pão que alimente para a Vida Eterna!”

  1. Digo Eu: “Não reclameis! Repito: ninguém poderá vir a Mim (reconhecer-Me) a não ser que seja atraído pelo Pai (o Amor de Deus e a Deus) que Me enviou; pois somente Eu (Minha Palavra e Doutrina) o despertará no Dia Final!

  2. Lê-se até mesmo nos profetas: Naquele tempo vindouro

  1. Não digo isto na suposição de que tenhais visto o Pai — pois somente Eu, que Nele tenho Minha Origem, vi o Pai desde sempre. Afirmo, não obstante vossa reclamação: em verdade, quem crê em Mim já possui a Vida Eterna (quer dizer, Minha plena ressur- reição no Dia Final) — EU SOU O PÃO DA VIDA!

  2. Se bem que vossos pais comeram maná no deserto (levaram vida carnal), morreram, muitos até mesmo psiquicamente. O Pai, que Eu represento em Espírito e que realmente vem do Céu de todo Ser e Vida, faz com que jamais morra quem se nutrir com Ele (acei- tando e vivendo a Doutrina). E vede, justamente este Pão é Minha Carne, que Eu darei para as vidas humanas desta Terra!” (Nisto se deve compreender o invólucro material do Meu Verbo, onde se acha o sentido vivo e espiritual como gérmen vivo em sua casca morta).

  3. Isto é demais para os judeus completamente destituídos de interpretação espiritual, razão por que começam a discutir. Um gru- po, então, diz: “Deixemo-lo falar e veremos o resultado final!” Os menos ponderados, porém, questionam: “Qual nada! Logo se vê que ele está delirando! Anteriormente se dizia o pão do Céu, que deverí- amos comer a fim de alcançarmos a Vida Eterna; agora exige que se coma sua carne! Que loucura! Como nos poderá dar de comer sua carne?! E quantos poderiam nela saciar-se?! Se isto for condição para a conquista da Vida Eterna da alma, poucos a alcançarão!”

  1. Digo Eu: “Podeis discutir à vontade, entretanto será tal qual Eu disse! Acrescento mais: se não comerdes da Carne do Filho do homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a Vida dentro de vós!” (Já foi mencionada a significação da Carne; o Sangue, propria- mente o fluido vital do corpo a lhe proporcionar, conservar e ali- mentar a vida e transmitindo-lhe o gérmen procriador, é o elemento interno e espiritual na acepção da palavra).

  2. Agora os judeus não mais se contêm! Alguns começam até a rir, enquanto os mais conscienciosos dizem: “Deixem-no falar! Quem sabe o que ainda virá a proferir, pois sabemos ter ele, às ve- zes, falado com inteligência.” E, virando-se para Mim, prosseguem: “Querido Mestre, pedimos-te falares razoavelmente.”

  3. Respondo: “Como poderei?! Falo como Aquele que conhe- cestes na montanha, isto é, qual grande profeta! Apontai-Me algum que tivesse falado ao povo de modo diverso! Por isto, torno a repetir: quem comer de Minha Carne e beber do Meu Sangue terá a Vida Eterna e Eu o ressuscitarei no Dia Final. Pois Minha Carne é o justo Alimento, e Meu Sangue a bebida verdadeiramente viva.

  4. Digo mais: quem comer de Minha Carne e beber do Meu Sangue ficará em Mim e Eu nele. Como fui realmente enviado pelo Pai eternamente Vivo, e Eu nesta época aqui estou por Causa do Pai, todo aquele que de Mim se alimentar viverá por Minha Causa. Eis o Pão vindo do Céu, não idêntico ao maná no deserto do qual comeram vossos pais, morrendo como já demonstrei — e sim, quem comer destePão viverá eternamente.”

45.OPINIÕESDOPOVOQUANTOAODISCURSODOSENHOR(EV.JOÃO6, 59–64)

  1. Após ter falado deste modo em uma escola em Capernaum, onde, além dos Meus inúmeros discípulos e do povo que Me acom- panhara desde Jerusalém, assistiram muitos judeus, senti que Meu Ensinamento fora pouco assimilado pelos apóstolos, produzindo

grande escândalo e motivo para polêmicas. Alguns opinam: “Não é possível ele se ter referido ao seu corpo e sangue físicos.”

  1. Outros, porém, protestam: “Mas, como então interpretá-lo? Sendo sábio e pretendendo ensinar o povo — mormente em uma si- nagoga — que se faça entender. Somos humanos e não espíritos, e um sábio deve conhecer as pessoas com que lida. Mas este ensinamento foi deveras duro e não há quem o possa assimilar. Se tivesse falado no idioma hindu, nosso proveito teria sido o mesmo. É de se estranhar como tantas pessoas aguentaram essa repetição monótona!”

  2. Obtemperam os mais cordatos: “É realmente verdade; pensa- mos, no entanto, conter aquilo um sentido oculto e que ele talvez assim falasse para obrigar as nossas almas a uma meditação mais profunda. Talvez nos desse uma explicação mais minuciosa caso lhe pedíssemos?”

  3. Respondem os outros: “Então não o fizemos?! Foi precisa- mente quando falou ser necessário se comer sua carne e beber o seu sangue para conquistar a Vida Eterna! Tanto uma quanto outra hipótese não têm valor para nós! Por isto, quem for inteligente, que siga seu caminho como também nós pretendemos fazer.”

  4. Prontamente todos deixam a escola, exceto os inúmeros discípulos e apóstolos, pois esperam receber explicação a respeito. Entrementes conjecturam: “É de fato estranho! Hoje teria feito milhares de seguidores através de um ensinamento racional; assim, prejudicou-Se muito. Quem mais Lhe prestará atenção?!”

  5. Os gregos convertidos também concluem: “Eis um abismo entre a doutrinação em Bethânia e a daqui. Os que se afastaram não deixam de ter razão; entretanto, o perigo de declará-Lo Rei já passou. Agora não haverá impedimento de Ele falar abertamente.”

  6. Percebendo que muitos discípulos se aborrecem por isto, Eu lhes digo: “Como pode isto escandalizar-vos?! Acaso não disse a um apóstolo estarem aquelas pessoas ainda longe da compreensão in- terna do Reino de Deus?! Apliquei a todas uma boa sacudidela, que muito as preocupará e as fará amadurecer para o futuro. Tenho que preparar os homens a fim de que possam mais facilmente assimilar

os segredos do Reino de Deus. Pergunto-vos o que seria caso vísseis o Filho do homem subir onde esteve desde Eternidades?”

  1. Respondem os discípulos: “Isto é bem possível, porquanto Teus Milagres provam tal hipótese. De modo algum é admissível que a pessoa se alimente do Teu Corpo, Senhor e Mestre, para alcan- çar a Vida Eterna. Tudo faremos para evitar a morte, mesmo em se tratando da imediata vida da alma, porquanto o corpo é apenas pó que dificilmente poderá ressuscitar; se, entretanto, isto se consegue somente à custa de Teu Corpo Físico, que além disto só satisfaria alguns poucos, desistimos da Vida Eterna da alma e preferimos fina- lizar a vida nesta Terra. Se Tu Te referes a algo diferente, farás bem dando-nos explicação acertada. Se pretendes subir de onde vieste

  1. Digo Eu: “Não avisei ser difícil se pregar aos surdos e escrever para os cegos?! Porventura não é somente o Espírito que vivifica, en- quanto a carne de nada vale?! As Palavras que vos disse são Espírito e Vida, e não carne e sangue físicos.

  2. Digo-vos abertamente haver entre vós vários de fé nenhuma ou muito fraca e, entre os apóstolos que conheço desde o princí- pio, alguns de fé reduzida — e um é até mesmo avarento, ladrão e traidor!”

46.UMAPROVAPARAOSAPÓSTOLOS(EV.JOÃO6, 65–70)

  1. Minhas Palavras têm o efeito de um raio, de sorte a muitos ficarem horrorizados e alguns Me dizem: “Senhor, por que não nos disseste isto há mais tempo?! Teríamos descoberto tal infame, afas- tando-o de nós caso Tu Mesmo não quisesses tomar medidas, em virtude de Tua Grande Paciência!”

  2. Explico-lhes: “Já vos disse por muitas vezes necessitar tudo de tempo e medida neste mundo. Em época de colheita um lavrador prudente não recolherá o joio com o trigo, mas separá-los-á, fazen-

do juntar em molhos todo joio nascido entre o trigo bom, para em seguida queimá-lo, servindo para adubo.

  1. Por isto vos disse anteriormente que, em verdade, ninguém poderia vir a Mim caso não lhe fosse concedido pelo Pai, em Si o Amor, a Vida e a Verdade, assim como Eu o sou pelo Pai e dimanan- do de Mim, porquanto Eu estou no Pai e o Pai, em Mim.

  2. Ninguém de vós suponha estar realmente Comigo apenas por acompanhar-Me, ouvindo Minhas Palavras e assistindo Meus Milagres, pois somente estará Comigo quem se sentir atraído por Mim através de um amor puro, acreditando sem escrúpulos em tudo que Eu ensino. Além disto, aceita ser Eu Filho do homem sur- gido do Pai, estando Meu Espírito unido com Ele.”

  3. Eis que dizem os adeptos, excluindo os apóstolos e os gregos convertidos para judeus: “Neste caso de nada nos adianta perambu- larmos com Ele! Os temas difíceis e inaceitáveis não é possível acre- ditar-se; amá-Lo acima de tudo é algo impraticável, porquanto Se porta conosco de modo a nos inspirar pouco afeto. Por isto, volta- remos às Leis de Moysés, muito mais claras e compreensíveis. Amar a Deus requer o cumprimento de Seus Mandamentos, de sorte que esperamos nos tornar felizes sem acreditarmos em ensinamentos tão esdrúxulos.”

  4. Com isto muitos se afastam e não mais Me acompanham, muito embora, posteriormente, viessem a refletir acerca de Minhas Palavras. Como Eu a ninguém animasse a ficar e ter paciência, os outros começam a se entristecer, pois não sabem qual medida a to- mar. Eis que lhes digo com amabilidade: “Acaso também preten- deis retirar-vos? Sois perante Mim tão livres como qualquer pessoa desta Terra.”

  5. Vira-se Pedro para Mim: “Senhor, para onde iremos? Ape- nas Tu proferes Palavras de Vida, se bem que não compreendamos prontamente sua profundeza. Em tempo oportuno Tu as elucida- rás, quando nos tivermos tornado mais dignos de Tua Luz Elevada. Além disto, acreditamos desde o princípio seres Tu o Cristo e o Filho

Vivo de Deus, de sorte que jamais Te abandonaremos! Senhor, não nos repudies e tem paciência com nossa grande fraqueza!”

  1. Digo Eu: “Assim está bem e justo. Encontrando-nos ainda nessa sinagoga de Capernaum, não posso deixar de vos esclarecer mais um ponto. Estais lembrados ter Eu no ano passado escolhido nesta zona vós, doze, entre os muitos discípulos, entretanto um de vós é um demônio!”

47.JUDASISCARIOTES(EV.JOÃO6, 71)

  1. Refiro-Me, é claro, a Judas Iscariotes, cuja índole desde o princípio conheço. Era ele, no entanto, muito ativo, bom orador e sabia expor a Doutrina, a ponto de ser escolhido por Mim como apóstolo na justa causa. Como conseguisse através destas quali- dades maior êxito que os onze em conjunto, começou a se tornar convencido.

  2. Seu orgulho sendo posto em cheque em várias ocasiões, ali- mentava ele uma revolta cada vez maior, fazendo-o dia a dia mais retraído e fiscalizando os demais apóstolos, a fim de descobrir algo que os desabonasse perante Mim. Nada surgindo com que pudesse desabafar sua raiva, aumenta sua revolta, levando-o a procurar um meio adequado para prejudicar aos outros. Egoísta e avarento, sabia expor a necessidade do dinheiro, uma vez que os potentados o ha- viam instituído para facilitar o cansativo troco de mercadorias.

  3. Certo dia se externou ao sábio Nathanael, com quem ainda costumava palestrar, da seguinte forma: era claro Eu não necessitar de dinheiro, pois dotado de Onipotência Divina, era fácil viver sem ele. Mas pessoas isentas deste dom e da felicidade de serem Meus adeptos precisavam de dinheiro tanto quanto o próprio Imperador, a fim de que pagasse seus soldados e ministros.

  4. Nathanael sempre procurava provar-lhe ser o dinheiro um gran- de mal entre os homens, muito embora pudesse ser motivo de muitos benefícios nas mãos de um justo. Ainda assim teria o efeito de despertar a ganância, tornando-se geralmente a causa de muitos vícios e crimes.

  1. Conquanto Judas aceitasse tal sugestão, teimava por afirmar ser o dinheiro um mal necessário, igual o corpo para a alma. Ela aproveitando o corpo com temperança, ele seria o templo da saúde, pela qual apenas poderia chegar à Vida Eterna e alcançar a verdadei- ra Filiação de Deus.

  2. Deste modo ele sabia em toda parte lançar seus argumentos, tornando-se difícil uma discussão. Na exposição de seus sofismas, chegava até a declarar — como fazem os espartanos e cretenses — ser o roubo justificado em caso de necessidade, acusando Moysés de tolo, porque classificara tal atitude de grande pecado. Judas não con- siderava que o roubo mais justo levaria as criaturas com o tempo ao ócio; ninguém mais trabalharia e economizaria, sabendo ser possível lhe ser tirado o seu estoque. Se tal hábito fosse permitido — qual o aspecto do amor-próprio e o Conhecimento de Deus?!

  3. Naturalmente Nathanael lhe provara que suas justificativas de roubo não se coadunavam com suas tendências econômicas, por- quanto as destruiria; Judas, porém, lançava sua filosofia subversiva e nada se conseguia com ele. Somente quando Eu lhe dava um cor- retivo ele desistia por certo tempo de suas ideias, entregando-se a reflexões mais ponderadas. Eis por que Eu lhe aplico esta advertên- cia dentro da escola, bem compreendida por ele; os outros apenas supõem ser ele o referido, e não arriscam apontá-lo como ladrão. Eu nada disto queria, embora soubesse o que ele ainda chegaria a fazer. Sua medida tinha que se completar até à queda, e ele mesmo tinha que se convencer serem más todas as suas tendências terrenas, tornando-se um exemplo horripilante para as criaturas, do contrário não haveria salvação para sua alma, nem no Reino dos espíritos.

  4. Eis os traços característicos deste apóstolo, revelados a fim de se compreender por que Eu o classificara desta vez de demô- nio; pois foi um dos que mais se revoltou com Meu Discurso na escola, pelo qual muitos se aborreceram e afastaram, em virtude de ele já ter-se envolvido em várias especulações com aquelas pessoas. Entrementes ele faz observar a Nathanael ter Eu falado em casa de Pedro acerca do prejuízo dos escândalos, entretanto dava motivo a

milhares a se aborrecerem Comigo; como isto se coadunava com Minha Doutrina?

  1. Nathanael lhe lembra ter Eu mencionado os escândalos pro- vocados com crianças. Judas tinha uma resposta pronta, e quando cerca de quatro horas da tarde deixo a escola em companhia dos discípulos, em direção ao albergue, ele não nos segue, procurando alguns amigos na cidade, onde muito se comenta Meu Discurso não compreendido. Eis que ele se demonstra como Meu apóstolo e ora- dor, fazendo, através de sofismas astuciosos, a explicação de Minhas Palavras, conquanto não bem explicadas. Durante sete dias não o vimos em Capernaum. Mais tarde voltou junto de nós.

48.NOALBERGUEDOHOSPEDEIRODE CAPERNAUM

  1. Ao chegarmos ao albergue, encontramos a mesa posta com vinho, pão e peixes, e o hospedeiro muito se alegra com a nossa pre- sença. Após termos acabado a refeição, ele diz: “Senhor, desta vez Tua Doutrina misteriosa não parece ter sido do agrado dos ouvintes na- cionais e estrangeiros, pois se retiraram com revolta. Alguns proferi- ram insultos e os estranhos alegaram teres falado de propósito daquele modo, a fim de Te livrares deles; tal atitude não fora mui delicada de Tua parte, porquanto eles haviam arcado com sua própria despesa.

  2. Aqui vieram muitos fazendo críticas e afirmando teres sido para eles a maior das esperanças, no entanto ficaram decepcionados, não obstante Teus Milagres extraordinários, Tua Doutrina pouco êxito traria entre as criaturas. Deixei-os falar sem responder; em se- guida pagaram suas despesas e partiram.

  3. Pessoalmente agradou-me não teres considerado a inteli- gência orgulhosa desses ‘sábios’; desde ontem à noite, após Te teres recolhido, muitos prós e contras foram externados quanto à mul- tiplicação dos pães e Tua travessia marítima. Cada qual procurava expressar-se com inteligência. Intimamente pensei: Esperai, judeus pretensiosos! O Senhor em tempo oportuno erguerá uma barreira diante de vossa sapiência! E eis que meu desejo se realizou.

  1. Também estive na sinagoga e ouvi a maior parte de Teu Ensi- namento e nada achei de estranho. De há muito sei seres Tu Senhor sobre Céus e Terra e de todas as esferas espirituais, conquanto Te encontres em Figura Humana. Quem, além de Ti, poderia criar o alimento para todos os seres; quem daria aos espíritos e às almas a Vida Eterna, seu amor e sabedoria, no que entendo o Pão vivo e ver- dadeiro, vindo do Céu?! Procurei esclarecer este ponto a alguns mais sensatos; seu raciocínio orgulhoso e teimoso não o compreendeu.

  2. Quando me perguntaram acerca da interpretação de Tua Carne e Sangue, eu lhes disse: Eis um ponto ainda mais fácil de se compreender, positivando minha opinião anterior! Para falar dentro da compreensão terrena: não é a Terra de certo modo um verdadeiro Corpo Divino e todas as águas germinadoras, Seu Sangue?! Onde a origem do alimento material?! Acaso não é o Amor de Deus a nós, criaturas indignas, espiritualmente um solo verdadeiro que nos suporta e alimenta, física e psiquicamente?! E o dom da razão e do intelecto, e atualmente Sua Doutrina — não representam o Sangue de Deus, verdadeiro e vivo, que conforta, alegra e vivifica nossas almas sedentas?!

  3. Muitos então responderam: ‘Está tudo certo; mas por que ele não acrescentou tal explanação?’ E eu respondi: ‘Teria Seus mo- tivos. Por certo pensará o seguinte: Quem deveras crer em Mim compreender-Me-á. Quem, não obstante os muitos Milagres e a Sabedoria de Minha Doutrina, não crer ser Eu o Senhor, Jehovah, Zebaoth, poderá voltar ao mundo e acompanhar os suínos dentro do charco!’ Isto os revoltou de tal forma, que se afastaram. Senhor, acaso agi mal?”

  4. Respondo: “De modo algum. Primeiro, por teres compre- endido a fundo as Minhas Palavras, explicando-as aos ignorantes de acordo; segundo, tua observação final foi bem empregada. Tais pessoas são comparáveis aos porcos, que quanto mais claro e quente o Sol se manifeste no Céu, tanto mais ávidos correm às poças lama- centas do mundo, sentindo-se felizes por poderem revolver os detri- tos. Não lhes dissera claramente que sangue e carne, como eles os

compreendiam, de nada valem, e que Minhas Palavras são espírito e vida?! Aqueles animais não o compreenderam; razão por que tua observação foi justa, levando-Me a ficar alguns dias contigo.

  1. Traze-nos mais algum vinho, porque desejamos passar uns dias felizes. Sinto verdadeira satisfação com tua pessoa; pois Me compreendeste melhor que qualquer apóstolo. À noite iremos pes- car, a fim de abastecer-nos de provimentos. Não Me denuncies na cidade, porquanto isto perturbaria nossa paz.”

49.PACIÊNCIADOSENHORPARACOM JUDAS

  1. Assim, tomamos vinho e comemos algum pão; éramos umas trinta pessoas necessitando de conforto físico. Neste alegre convívio, diz um dos gregos convertidos: “Senhor e Mestre, este hospedeiro deveras amável seria mais indicado a tomar o lugar daquele discípu- lo que sempre dá motivo para Te aborreceres, facultando-lhe o posto de conselheiro, caso Judas voltar. Pelo que deduzimos é ele mais ávido pelo dinheiro que qualquer templário e toda sua atenção é vol- tada ao conforto. Além disto, tem ele o péssimo hábito da mentira e arrogância, e com apóstolo nesses moldes não terás êxito; enquanto o hospedeiro é dotado de espírito lúcido, entendendo melhor que Teus apóstolos os Teus Ensinamentos mais velados.”

  2. Digo Eu: “Ficarei até à Festa dos Tabernáculos na Galileia e chegada tal época ainda resolverei Minha ida para Jerusalém, tendo pois oportunidade de sobra para fazer-nos acompanhar pelo hos- pedeiro Mathias (Mai ou Moi diaz — meu trabalhador, servo ou empregado), e ele poderá se inteirar de muitos assuntos externos e psíquicos. A seguir, tornar-se-á um bom disseminador de Minha Doutrina para esta zona, cujos habitantes Me foram entregues para renascerem e não para a morte.

  3. Quanto a Judas, poderá vir quando quiser — ou deixar de comparecer; pois cada criatura, boa ou má, porta-se espiritualmente para Comigo como o corpo em relação ao Sol. Querendo deixar-se iluminar e aquecer pelos raios solares, o homem poderá assim agir

independentemente de ser bom ou mau; não o querendo, Deus não o obrigará para tanto. Por isto também consta: Deus deixa irradiar o Seu Sol sobre bons e maus! — O mesmo acontece em sentido espi- ritual: quem quiser seguir-Me poderá fazê-lo sem que Eu o repudie, ainda que fosse o maior pecador. Vim apenas ao mundo em virtude dos perdidos e psiquicamente enfermos; os sadios não necessitam de médico.

  1. Deste modo, Judas poderá acompanhar-Me de acordo com sua vontade, assim como não repudiei os judeus; afastando-se eles de modo próprio, não os impedi e tampouco os convidei para ficarem. Também não falei tão enigmaticamente a fim de afastá-los, e sim o Pai assim Me obrigou a falar. Eles se aborreceram e se afastaram, e nisto nem Eu nem eles são culpados, e foi bom que tal acontecesse. Poderão voltar e ficar, se quiserem; assim não sendo, Minha Missão e Doutrina não deixarão de ser menos verdadeiras, como a luz e o calor do Sol não enfraquecem pelo simples motivo de muitos ignorantes não se deixarem iluminar e aquecer por ele. Compreendestes?”

  2. Respondem os judeus: “Muito bem, Senhor! Tudo que falas contém verdade, força e vida! Como seria bom se isto fosse compre- endido por todas as criaturas!”

  3. Respondo: “Isto será difícil neste mundo, de modo comple- to; entretanto, muitas haverá que o assimilarão e viverão de acordo, colhendo a Vida Eterna.”

50.AABUNDANTE PESCA

  1. (O Senhor): “Agora está na hora de nos aprontarmos para a pesca, pois o momento é propício!”

  2. Obtempera o hospedeiro: “Deve ser assim por Tu o afirma- res, Senhor; pelo critério dos pescadores seria precisamente o con- trário, porquanto os peixes descem ao fundo do mar quando o Sol desaparece.”

  3. Insisto: “Justamente por isto iremos pescar, para provar en- tendermos mais deste ofício que os pescadores. Qualquer um pode

pescar de dia em mar sereno; à noite e com mar revolto, só Eu sei fazê-lo. Vamos à obra!” Em seguida tomamos várias redes e soltamos os botes, navegando uns três estádios para dentro do mar.

  1. Eis que digo: “Atirai as redes bem estendidas e os marujos poderão remar calmamente em direção à praia, onde veremos se o desaparecimento do Sol se nos tornou um impedimento!” Tudo é feito conforme mando; quando chegamos à margem, as redes se acham tão repletas de peixes especiais, a quase romperem os apetre- chos. Os depósitos não comportam tudo, de sorte que um terço é guardado na rede, dentro da água.

  2. Exclama o taverneiro: “Eis um fato inédito, Mestre! Se Tu, durante dez anos, morasses com outros tantos discípulos em minha casa — não poderia recompensar-Te o lucro facultado com esta re- dada. Toda a minha posse, incluindo a sólida casa, as dependências agrícolas, os campos, pastos, hortas e vinhas, nem de longe repre- sentam o valor desses inúmeros peixes grandes e de especial qua- lidade, que raramente são pescados no inverno. Se em uma feliz oportunidade se consegue pegar dez, já a pessoa se torna rica; pois essa qualidade é comprada por cem moedas de prata cada um, por gregos e romanos, que os salgam e revendem nas cortes por umas trezentas pratas. Se o permitires, Senhor, poderia mandar meus ser- vos com alguns exemplares à cidade e nos certificaríamos da grande importância que trariam.”

  3. Digo Eu: “Pois não; apenas orienta teu pessoal para não Me denunciar! Em tal caso teríamos aqui, em breve, romanos e gregos importantes. Além disto, manda preparar alguns desses peixes para o jantar e tu mesmo irás saboreá-los, pois até hoje só ouviste comentar seu paladar especial. Então saberás por que se paga preço tão elevado por eles. Tira alguns das redes tanto para nós quanto para a venda, sem tocares nos guardados em depósitos.”

  4. O hospedeiro manda cada um dos cinquenta empregados levar dois peixes, porquanto não são capazes de carregar um ter- ceiro. Quando são demonstrados aos gregos e romanos, faz-se um leilão, de sorte que cada exemplar dá quarenta a cem quilos, dan-

do um lucro de cerca de duzentas libras de prata. Os compradores, incluindo alguns judeus, indagam de sua procedência excepcional para tal época.

  1. Os empregados respondem terem sido informados dum segre- do por um pescador estranho, no sentido de conseguirem tais exem- plares nesta temporada. O bom resultado prova a eficácia da informa- ção. Ninguém mais faz perguntas, e os servos dentro em pouco trazem tanto dinheiro aos cofres de Mathias, que mal sabe como guardá-lo. Entrementes o jantar está pronto e nos sentamos à grande mesa.

  2. Ao depararem com o farto ágape, os neojudeus dizem: “Durante nossa vida saboreamos somente uma vez peixes tão for- midáveis — e agora se acha uma grande quantidade deles à nossa frente! Mestre, eis também uma prova de Tua Carne e Teu Sangue, conforme explicou Mathias, pois sem Tua Palavra e Vontade jamais teríamos desfrutado deste luxo! Por aí se vê o que podem Amor, Sabedoria e Onipotência Divinos! Quão ínfimo é o homem perto de Ti, Senhor!”

  3. Digo Eu: “Não é bem isto; pois a Vontade de Deus quer que cada um se torne tão perfeito como o Pai no Céu! E os tempos demonstrarão que os Meus verdadeiros discípulos farão coisas mais grandiosas que Eu atualmente. Por ora ainda não é possível, mas dentro em breve sê-lo-á! Deixemos este assunto para entregarmo-

-nos ao jantar.

  1. Enquanto os convivas estiverem em companhia do noivo, não deverão passar privações; pois quando Ele subir de onde veio, ainda passarão por atribulações diversas. Eu sou o Verdadeiro Noi- vo, e os que em Mim creem, as noivas e convivas ao mesmo tempo! Por isto, sejamos alegres e felizes!” Todos se servem à vontade, de- monstrando verdadeiro bem-estar.

  2. Nisto um neojudeu Me diz: “Em casa de Kisjonah sabo- reamos peixes especiais de bom paladar; não podem, todavia, ser comparados com os daqui, conquanto a água seja a mesma.”

  3. Digo Eu: “Sim, mas não o mesmo solo. Estes só aparecem nesta zona, nas profundezas marítimas, onde encontram seu alimen-

to em determinadas plantas aquáticas. Tais plantas só se dão aqui em uma extensão de mil acres.”

51.JEJUMEPENITÊNCIA.APARÁBOLADOFARISEUEDOPUBLICANO(EV.LUCAS18, 9–14)

  1. Peixes e vinho são mui saborosos e Eu Mesmo como com muito apetite, de sorte que alguns convertidos estranham Minha Atitude, porquanto sabem ser Eu compenetrado do Espírito Divino. Percebendo tais observações, digo: “Tanto o corpo quanto o espírito necessitam de nutrição; no momento, nos compete alimentarmos o físico, sem desconsiderar mais tarde o espírito.

  2. É erro pensar-se ser útil a Deus através do jejum e a penitên- cia externa pelos pecados cometidos, pois aquele somente é agradá- vel a Deus quando a pessoa se alimenta com gratidão daquilo que o Pai lhe faculta, a fim de fortificar suas forças físicas para o trabalho em benefício do próximo; e caso haja cometido algum pecado, o reconheça, se arrependendo, enojado, e não mais caindo em tal erro.

  3. Infelizmente muitos há que se entregam a vida toda à gula e ao conforto. Desconhecem o amor ao próximo, e sentem asco dos pobres, não os deixando entrar pela porta; pois sua intemperança impede que sintam a dor de fome e sede. Tais pessoas são verda- deiros comilões, beberrões e devassos, que deste modo prontificam seu corpo a toda sorte de impudicícia, perversidade, lascividade e adultério, jamais podendo ingressar no Reino de Deus.

  4. Na mesma situação se acham os fingidos que jejuam, se pe- nitenciam em vestes de crina e fazem consideráveis oferendas no Templo como resgate de suas falhas, a fim de que sejam justificados e considerados pelo povo; eles mesmos, porém, desconsideram o próximo, desprezando-o como possível pecador, e desviando-se-lhe de longe por não terem visto ele jejuar em vestes de penitência, tam- pouco ter feito sacrifícios.

  5. Eu, porém, vos afirmo: tais pessoas são igualmente um hor- ror para Deus, pois seu coração, sentimento e intelecto estão en-

durecidos. Criticam o semelhante sem dó nem piedade; varrem a soleira do vizinho sem se aperceberem do montão de lixo na sua pró- pria porta. Em verdade vos digo: a medida aplicada por tais santos e justos do Templo ser-lhes-á retribuída no Além! Quem julgar aqui será condenado no Além; quem apenas fizer crítica de si mesmo lá não será julgado, e sim imediatamente aceito no Meu Reino!

  1. Dar-vos-ei, através duma parábola, um exemplo de como deve ser considerada a justificação humana em sua pureza e dentro da aceitação de Deus. Dois homens subiram ao Templo a fim de orar: um era judeu rico que vivia dentro do rigor da Lei; o outro, um publicano. Quando lá chegaram, o primeiro se dirigiu ao Altar e disse: Ó Deus, rendo-Te graças por não ser igual a muitos outros! Pois Tu, ó Senhor, deste-me uma vontade boa e firme, e além disto os bens terrenos, pelos quais unicamente me foi possível cumprir integralmente os Teus Mandamentos; quão feliz se sente minha alma por se encontrar totalmente justificada diante de Ti, no fim da vida! — Após ter dado expressão a quantidade de ações justas, ele depositou uma rica oferenda no Altar para em seguida voltar a casa, satisfeito consigo mesmo e de consciência tranquila; encontra o seu pessoal, porém, não muito alegre com sua chegada, em virtude de sua organização severa e justiça equilibrada, descobrindo somente pecados e erros nos serviçais.

  2. O publicano pecador arrependeu-se dentro do Templo, per- manecendo na retaguarda, sem se atrever a erguer os olhos ao Altar e dizendo, intimamente: Ó Senhor, Deus de Justiça, Santo e Po- deroso, sou demasiado pecador e não mereço levantar os olhos ao Santíssimo; sê, porém, Misericordioso para comigo! — Qual dos dois teria seguido ao lar plenamente justificado?”

  3. Os greco-judeus se entreolham sem saber que resposta dar; pois aos seus olhos apenas seria justificado quem cumprisse a Lei até a última vírgula, e o publicano jamais poderia ser considera- do como tal.

  4. Digo-lhes, entretanto: “Errado é o vosso critério! De modo algum o judeu teve mérito de justiça, porquanto exaltou sua pes-

soa diante do povo, atraindo atenção, admiração e elogio, com que já recebeu o seu prêmio. Acaso tal convicção não é a pior espécie de orgulho?! Seu efeito é, no final, altivez, desprezo e constante perseguição de todos que não lhe rendam consideração adequada. Seria tal homem justificado perante Deus? Absolutamente! Longe estará disto!

  1. O publicano, porém, é justificado diante do Pai; pois é cheio de humildade e se considera pior que os outros. Não despreza nem odeia quem quer que seja, e se dá por satisfeito em não ser persegui- do e evitado ainda mais. — Que Me dizeis, Meu Critério é justo?”

  2. Respondem todos: “Ó Senhor, apenas Tu tens razão em to- das as coisas, enquanto somos criaturas ignorantes e pecadoras, e nosso parecer só pode traduzir nossa índole. Tua parábola é real e verdadeira; muitas vezes tivemos oportunidade de observar tais jus- tos, que sabiam apresentar-se tão puros quanto o Sol, e não era pos- sível afirmar-se terem eles simulado dentro do Templo, pois consi- deravam conscientemente todas as Leis. Precisamente por isto eram intragáveis; seu cumprimento não tinha por base o reconhecimento da Vontade e Ordem Divinas, e sim aplicavam-no como se fosse a Lei obra sua, a fim de que pudessem influenciar seus domésticos, condenando seus defeitos e pecados. Nossa observação feita nesse sentido nos facilita a compreensão de Tuas Palavras, pelo que Te agradecemos com sinceridade.”

  3. Acrescento: “Muito bem; sede, pois, alegres e servi-vos caso tiverdes vontade! Eu Mesmo ainda fá-lo-ei!” Todos seguem o Meu exemplo.

52.TENTAÇÕESEFRAQUEZAS.O PENSAMENTO

  1. Em seguida o hospedeiro Me pergunta se queremos repousar, porquanto já é alta noite. Respondo: “Quem quiser dormir, que o faça; Eu para tanto não tenho vontade. Além disto, não é salu- tar deitar-se imediatamente após a refeição; assim, continuaremos

acordados por mais algum tempo. Quem, todavia, estiver cansado poderá recolher-se!”

  1. Protestam todos: “Não, não, ó Senhor, ficaremos Contigo até amanhã, se o quiseres! Estamos convictos ter tudo que dizes uma importância interna e impenetrável!”

  2. Digo Eu: “Tendes razão, vigiai e orai para que nenhum de vós venha a cair em tentação!”

  3. Obtemperam Meus discípulos antigos: “Senhor, qual tenta- ção poderíamos sofrer ao Teu lado?! Já assistimos a muitos fatos em Tua Companhia, e poucos foram os momentos de tentação!”

  4. Digo Eu: “Não vos vanglorieis por isto; pois o espírito da tentação é qual leão esfaimado, procurando tragar os homens! Pre- ciso é uma constante vigilância a todos os sinais de tentação, por mais fracos que sejam! Se ela conseguir atrair a alma por um átimo, necessário é a criatura aplicar uma grande força de vontade para vol- tar ao estado anterior. Considerai bem isto; pois enquanto o homem viver, pensar, querer e agir neste mundo, sua carne pesará mais que sua alma.”

  5. Diz Philippe: “Isto é verdade e já o percebi pessoalmente; mas em minha idade avançada não haverá tentação que me pertur- be! Tenho apenas umdefeito, que consiste numa temporária falta de fé; isto é, creio em tudo que proferes, Senhor. Se meu intelecto vez por outra não consegue assimilar tudo, minha fé enfraquece. Pron- tamente sou levado a consideráveis indagações, que não recebem respostas, começando eu a cair em pequenas dúvidas. Eis a única tentação que às vezes me aflige. Com facilidade Tu me poderias li- vrar disto, Senhor, fazendo-me o homem mais feliz!”

  6. Digo Eu: “Se assim fizesse através de Minha Onipotência, não mais serias criatura livre, caindo numa preguiça acentuada, e em breve estarias no término, quanto ao exercício pela conquista da verdadeira força vital de tua alma.

  7. Por isto deve cada qual carregar o seu fardo e exercitar-se constantemente em todas as boas inclinações psíquicas! Em tempo

oportuno sua medida vital se completará, e só então sentir-se-á feliz pelo pão ganho com o suor do rosto.

  1. Imagina um homem fraco e negativo que jamais fora incenti- vado ao trabalho; alimentava-se do bom e do melhor, mal aprenden- do a falar, e além do peso da roupa nunca suportou outro. Quando for obrigado a carregar um fardo de algumas libras durante pouco tempo, quase não poderá fazê-lo, porquanto nunca exercitou as for- ças físicas. Se, entretanto, iniciar o exercício, em alguns anos conse- guirá suspender e carregar pesos maiores. Acaso teria alcançado tal força se tivesse deixado que outros trabalhassem por ele?!

  2. O mesmo acontece com tua força intelectual: desde infân- cia a aplicaste de modo reduzido, começando a fazê-lo em idade mais avançada, e não deves admirar-te de não seres capaz de com- preender e assimilar certas coisas tão rápido como fazem os outros.

  3. Eu sou um bom Professor e Guia, e não carrego os Meus discípulos por cima de trilhas e caminhos pedregosos e escarpados, mas deixo-os caminharem sozinhos para que se tornem aptos e for- tes em todas as estradas penosas.

  4. Caso se apresente um empecilho demasiado difícil a ser su- perado, dar-lhes-ei conhecimento e força para vencê-lo. Antes de tudo, porém, cada um terá que aplicar suas energias; o que além disto necessitar ser-lhe-á dado em tempo. Compreendeste?”

  5. Responde Philippe: “Sim, Senhor, e me esforçarei por au- mentar minha inteligência e fé!”

53.DESTINODAS CRIATURAS

  1. Diz a seguir o hospedeiro: “Tenho a mesma fraqueza que este discípulo e sei, portanto, o que fazer. Não quero referir-me a todos os profetas e ao Cântico de Salomon, porque pouco deles assimilei; ainda assim cheguei à conclusão, durante aquela leitura, terem eles obrigado, através de sua linguagem mística, os homens a meditar e aplicar a introspecção; o que aceito de grande benefício. Só des- te modo se consegue um conhecimento após outro, esclarecendo

aquilo que anteriormente parecia enigma. Mas, como já disse, não quero mencionar a incompreensão da Escritura, e sim refiro-me às coisas naturais.

  1. Haja vista a verdadeira finalidade de qualquer ser nesta Terra, por exemplo, esses peixes excepcionais. Inventou o homem de pe- gá-los, levado pela fome. Seria esse seu verdadeiro destino? E nesse caso, qual foi sua finalidade antes do homem ter tido a ideia de pescá-los?!

  2. Semelhantes perguntas poderia fazer aos milhares e quanto mais penso a respeito, tanto mais me embaraço, distanciando-me da luz ao invés dela me aproximar, sem jamais chegar a uma conclusão satisfatória acerca das sábias intenções do Criador com Sua Cria- ção. Talvez nem fosse útil ao homem tal conhecimento. Possuindo a inclinação para a pesquisa, ele não descansa até que consiga uma elucidação maior. O mesmo acontece comigo: embora ciente de que todas as lucubrações de nada adiantam, continuo a fazê-las e deseja- va de Tua parte um meio para delas me livrar.”

  3. Digo Eu: “Meu caro amigo, será difícil ajudar-te; pois seria preciso estender-Me por muito tempo, a fim de te esclarecer a ver- dadeira finalidade de todos os espécimens. De modo geral, posso dizer-te que toda Criação visível e palpável contém elementos espi- rituais em julgamento e se destina a passar para uma existência livre e independente através de séries de formas variadas.

  4. As formações se iniciam na pedra, passando por todos os mi- nerais até o reino vegetal, de lá ingressando ao animal e, finalmente, ao homem; todas essas formas são receptáculos da Vida provinda de Deus. Cada forma corresponde a certa inteligência; quanto mais simples, tanto mais reduzida a capacidade intelectiva. Ao deparares com uma forma mais desenvolvida e condensada por diversos ele- mentos, tanto maior será a inteligência nela encerrada.

  5. Observa uma simples minhoca: através de sua ação saberás corresponder sua ínfima inteligência à sua forma; fazendo estudos com a forma complicada duma abelha, por certo descobrirás uma bem maior! Deste modo chega-se até ao homem!

  1. Sendo todas as formas apenas acumuladoras e portadoras temporárias duma existência mais condensada e de inteligência pro- gressiva, e esta existência em sua evolução abandonando as ante- riores formações à medida e condição duma concatenação recente

  1. É conhecimento geral encontrarem-se partes nutritivas den- tro dos invólucros desvitalizados, e através da absorção recíproca da- quelas formas a parte mais nobre passa a outra existência; assim ob- servarás nesta Terra uma constante luta e intercâmbio de vida dentro do grande ciclo dos seres, até chegares ao homem.

  2. A forma humana, ou seja, o corpo, também só é importante enquanto habitada pela alma, possuidora da vida; tão logo estiver amadurecida, ela abandonará o físico que então será absorvido, e não interessa saber por que meio. O que nele for elemento substan- cial e parte integrante da alma será devolvido a ela; o restante passa como nutrição a milhares de outras formas. Eis em poucas palavras uma definição básica daquilo que te provocou tanto desgaste men- tal. Assimilaste tudo?”

54.ARESSURREIÇÃODA CARNE

  1. Responde o hospedeiro: “Mais ou menos, e tenho que con- fessar ser tal assunto completamente novo e inédito; pois em tal caso, não haverá ressurreição da carne, crença de todos os judeus, razão por que enterram os defuntos em determinado cemitério, na expectativa de serem ressuscitados pelos anjos no Dia Final, unin- do-se às suas almas. Dificilmente os judeus dar-Te-ão crédito! Eu o aceito por Tu nos teres esclarecido; nunca o faria se algum outro o tivesse dito. Qual o parecer dos Teus adeptos?”

  1. Manifesta-se um greco-judeu: “Quanto a nós, concordamos contigo reconhecendo a veracidade do ensino, mas também a difi- culdade enorme de sua aceitação.”

  2. Intervenho: “Este ensinamento não vos foi dado a fim de que o passásseis aos judeus! Querendo podereis fazê-lo, e sua aceitação não virá ao caso. Com o tempo Meus genuínos confessores serão le- vados a toda Sabedoria e Verdade através de Meu Espírito espargido sobre eles.

  3. É lógico que o corpo físico, após o afastamento da alma, não pode ressuscitar; pois em tal hipótese, deveriam ressurgir e ser vivi- ficadas todas as partes que durante o transcurso prolongado da vida foram despidas, como sejam: cabelos, unhas, dentes, epiderme mais grosseira gasta pelos banhos, sangue perdido através de ferimentos, suor e tantas outras coisas. Imaginai tal figura humana vivificada no Dia Final — que aspecto ridículo não teria!

  4. A criatura tem um corpo correspondente à sua idade; o de uma criança é diferente dum garoto, dum adolescente, dum adul- to e dum ancião. Numa completa revivificação dos defuntos no Dia Final, seria interessante saber se as formas diversas da infância até a velhice deveriam passar por tal estado de uma só vez ou su- cessivamente.

  5. Além disto, surge a seguinte questão de grande importância: romanos, gregos, egípcios e outros povos desta Terra costumam in- cinerar os corpos. Noutra parte atiram-se eles ao mar, onde são in- geridos pelos monstros marinhos, tornando-se parte deles; quando tal monstro morre, é tragado por outros animais aquáticos. O que, pois, poderia ressurgir de corpos tais no Dia Final? Durante a cre- mação é a maior parte vital do corpo dissolvida em vapor e fumaça, unindo-se ao ar; nos que foram atirados à água, a carne ingressou na substância física dos peixes, aceitando uma individualidade com- pletamente diversa. A quem caberia selecionar e reunir as anteriores partes físicas de inúmeros animais da terra, da água, do ar, dos mi- nerais, das plantas e vermes?!

  1. Ainda que não fosse impossível para Deus, resta saber que utilidade teria isto para a alma livre; pois uma vez liberta do corpo pesado, teria que sentir-se muito infeliz caso obrigada a voltar a ele para toda Eternidade!

  2. Além disto, seria algo jamais admissível dentro da eterna Or- dem de Deus, por ser Ele Mesmo Espírito Puríssimo, e no final as criaturas têm a exclusiva finalidade de se tornarem espíritos livres de semelhança divina. Para que então lhes seriam úteis os corpos?!

  3. Serão revestidos, no Além, de corpos, não pesados e terrenos, e sim de novos, espirituais, que surgirão das boas obras praticadas dentro de Minha Doutrina. Assim sendo, como admitir-se na res- surreição da carne a futura revivificação do corpo físico?! A ressur- reição da carne representa as boas obras praticadas ao próximo, que unicamente facultam a Vida Eterna e Verdadeira à alma.

  4. Quem, portanto, ouvir a Minha Doutrina, crer em Mim e agir de acordo será despertado por Mim no Dia Final, isto é, no imediato desprendimento da alma da matéria, de sorte que ninguém observará a rapidez da transformação. Julgo estardes todos bem in- formados; caso houver alguma dúvida, podereis externar-vos!”

55.MOLÉSTIASEMORTES PREMATURAS

  1. Diz um greco-judeu: “Senhor e Mestre, tudo isto nos é claro; existe apenas um ponto que não consigo explicar. Por que é preci- so morrerem tantas crianças na idade mais tenra, e qual o motivo preceder à morte quase sempre uma moléstia grave, que enfraquece e extermina o corpo? Uma vez a criatura alcançando a maturidade, sua alma poderia deixar o físico sem sofrimento, e as crianças jamais deveriam morrer antes dum certo discernimento. Entretanto, elas morrem em todas as idades, e as moléstias graves continuam sendo uma constante praga para o homem. Por que isto?”

  2. Respondo: “Não seria preciso e também não o foi na antigui- dade; acaso encontraste na Crônica menção de enfermidades perni- ciosas entre as criaturas devotas a Deus e cumpridoras de Suas Leis?!

Alcançavam idade avançada e sua morte era apenas um adormecer suave e sem dor! Não havia criança que morresse; pois era gerada por pais sadios, alimentada e criada de acordo com a Natureza simples.

  1. Quando mais tarde manifestou-se toda sorte de orgulho, e com ele um exército dos piores pecados contra os Mandamentos de Deus e as Leis da Natureza, surgiram por culpa própria moléstias va- riadas entre os homens. Deste modo enfraquecidos, não podiam ge- rar filhos sadios; pois tais rebentos, já atrofiados no ventre materno, forçosamente tinham que passar por várias enfermidades, morrendo em todas as épocas.

  2. Não deveis pensar ser isto determinado por Deus, em virtude de Seu Desígnio impenetrável; Ele o permitiu, a fim de que as cria- turas fossem impedidas a pecar através das moléstias, afastando-se do mundo pelo sofrimento e refletindo até reconhecerem seus peca- dos e desprezá-los; pela paciência e conformação na Vontade Divina alcançariam sua felicidade.

  3. O mesmo acontece às crianças! Que esperar duma criança completamente atrofiada, mormente os pais tendo sido gerados dentro do pecado? Quem as educaria e curaria de seus males?! Não seria melhor afastá-las deste mundo, a fim de que fossem criadas pelos anjos, num reino expressamente instituído para elas?!

  4. Afirmo-vos: Deus sabe de tudo e cuida de todos! Como nesta época, porém, a maioria desconhece a Deus e nada quer saber do Pai, como poderá estar orientada daquilo que Ele faz e determina para sua possível salvação?!

  5. Caso Ele não tivesse permitido as moléstias corresponden- tes aos pecados, mais que metade do Gênero Humano sucumbi- ria e a Terra se transformaria em inferno; seria preciso destruí-la, e seus destroços sem vida vagueariam pelo Espaço Infinito, onde já se acham exemplos semelhantes, dos quais Meus discípulos vos pode- rão informar. Compreendestes isto?”

  6. Respondem os greco-judeus: “Sim, Senhor e Mestre, e não mais nos lastimaremos das enfermidades havidas, e talvez seremos transportados ao Além em consequência de moléstia grave, pois

muito pecamos em vida! Desejava apenas ouvir de Ti quais os peca- dos a proporcionarem as piores enfermidades, porquanto deve haver diferenciações!”

56.PRINCIPAISCAUSASDAS MOLÉSTIAS

  1. Digo Eu: “Entre todos os vícios os piores são: prostituição, impudicícia e lascividade de todos os matizes. As criaturas são tenta- das para tanto através do ócio, orgulho e altivez; pois ao orgulhoso nada é santificado, procurando satisfazer suas tendências sensuais com todos os meios disponíveis. Se tais pessoas geram filhos — só podem vir ao mundo rebentos miseráveis, assolados por várias mo- léstias; portanto, é este pecado uma fonte principal das piores en- fermidades.

  2. Além deste, existem intemperança, raiva e irascibilidade como provocadores de vários males, que muito martirizam as criatu- ras. Não disse Eu ao enfermo em Jerusalém que durante trinta e oito anos esperava se curar no Lago Bethesda: Vai e não peques mais, a fim de que não te suceda coisa pior!? Seu reumatismo infeccioso era apenas consequência de seus pecados. Fato idêntico sucedeu com quase todos os curados por Mim, e caso não tivessem adoecido em virtude de múltiplos pecados, suas almas estariam perdidas, pois so- mente uma enfermidade grave conseguiu que ficassem mais sóbrios, demonstrando-lhes a maneira pela qual o mundo recompensa seus aduladores. Perderam através das moléstias seu amor à matéria e al- mejavam sua breve libertação; isto fez com que sua alma se tornasse mais liberta, e em tempo oportuno seu corpo se curou.

  3. Ao lado dessas causas principais que provocam a maioria das enfermidades em pessoas fracas de nascença, existem outras pelas quais os fracos podem adoecer gravemente — mas repito: isto só sucede aos debilitados desde o nascimento! Em resumo, os motivos são em primeira linha: alimentos nocivos, impuros, mal preparados e estragados e bebidas prejudiciais; além disto, o hábito de comer frutas verdes e o péssimo costume de refrescar-se com bebidas frias.

Há os que desconhecem sua fraqueza inata, expondo-se a muitos perigos, onde perecem ou se prejudicam para o resto da vida. Nisto não cabe culpa a Deus, porquanto deu ao homem o raciocínio, o livre arbítrio e as melhores Leis para a vida.

  1. Contra a preguiça não existe recurso mais eficiente do que males variados, que imprescindivelmente seguem ao não cumpri- mento da Vontade Divina; eles despertam a alma profundamente adormecida na sua carne, e lhe demonstram as consequências in- cômodas do ócio. Assim ela se torna mais prudente, alerta, ativa e submissa à Vontade de Deus, tornando-se as moléstias um bene- fício real.

  2. De modo idêntico, não deixam de ser uma espécie de julga- mento que obriga a alma ao bem; ainda assim, a livre vontade não é inteiramente tolhida, podendo ela purificar-se durante e após a en- fermidade, muito embora só consiga seu aperfeiçoamento no Além.

  3. Existem pessoas que nascem enfermas em virtude das molés- tias de pais e avós; suas almas são geralmente do Alto e só passam por uma encarnação temporária. Além disto, têm elas seu cuidado garantido no Além e todos os que lhes dedicam amor e paciência serão por elas recebidas com a mesma dedicação em sua morada ce- leste. Deste modo dei um esclarecimento total neste assunto; quan- do vosso espírito despertar inteiramente, ele vos conduzirá à plena sabedoria. Tereis compreendido também isto?”

  4. Respondem todos: “Senhor e Mestre, compreendemo-lo in- teiramente e Te agradecemos por tudo. Pois como futuros doutrina- dores por certo teremos que lidar com muitos enfermos, portanto é necessário inspirarmos fé, coragem e paciência totais para produ- zirmos, se necessário, alívio dos seus sofrimentos, porquanto sofrerá menos quem tiver paciência. Por isto achamos essa Tua Orientação formidável, pois ninguém merece maior consolo que um enfermo e consideramos obra realmente caridosa quem socorra física e espiri- tualmente. Não é isto, Senhor?”

  5. Aduzo: “Sem dúvida; pois o amor ao próximo só deve ser aplicado a quem necessita, para ter valor diante de Deus. Por isto

acrescento: caso algum dê um jantar convidando vizinhos e amigos ricos, não terá pecado; todavia, não deve esperar paga no Céu, por- quanto aquelas pessoas lhe poderão retribuí-lo. Razão por que deveis convidar aos pobres, garantindo-vos pagamento no Céu, pois eles não vos podem retribuir!

  1. O mesmo acontece com aqueles que emprestam dinheiro a juros, recebendo-o de volta após certo tempo. Não pecaram, caso não tenham praticado usura; no Céu não poderão aguardar juros, a não ser que o tenham feito aos pobres sem considerar juros, e a própria devolução do capital. A verdadeira obra de caridade se faz aos pobres, de qualquer forma. — Para hoje fizemos o bastante, po- dendo recolher-nos; o dia de amanhã trará seus problemas.” A estas Minhas Palavras todos agradecem e se retiram.

57.A RESSACA

  1. Levantamo-nos cedo, e Eu vou — como sempre — acom- panhado de alguns discípulos, ao ar livre. A manhã primaveril é fresca e radiosa, e causa estranheza a agitação do mar, embora não houvesse ventania. Em breve junta-se a nós o hospedeiro, pergun- tando pela causa desse fenômeno. Então lhe digo: “Crê-me, todo Poder no Céu e na Terra Me foi dado, de sorte a se tratar aqui duma ressaca motivada pela Minha Vontade! Mais tarde certificar-te-ás de seus motivos!”

  2. Ainda mais surpreendido, ele diz: “Senhor, sei que todas as forças da Natureza estão sob Teu Poder; ignorava ter a agitação do mar uma razão oculta, mormente numa manhã tão serena. As ondas crescem constantemente! Talvez fosse preciso proteção para os na- vios e depósitos de peixes!”

  3. Digo Eu: “Deixa estar; não haverá prejuízo para coisa algu- ma, enquanto não passarão bem aqueles que se acham em alto mar, com intenção maldosa. Não serão tragados; mas sua coragem per- versa estará abrandada após a difícil chegada à margem!”

  4. Indaga o hospedeiro: “Quem serão e quais suas intenções?”

  1. Respondo: “Recordas-te ter Eu, há vários meses, passado a Festa dos Tabernáculos em Jerusalém, onde doutrinei o povo dentro do Templo, após curar um homem enfermo há trinta e oito anos, e além disto socorri grande número de pessoas nos arrabaldes de Jeru- salém e Bethlehem. Muitas se tornaram crentes e Me seguiram, fato conhecido dos templários. Por isto resolveram novamente Minha captura e morte. Meu Tempo ainda não chegou, de sorte Eu lhes preparar um empecilho para suas intenções tenebrosas. Eis o motivo da ressaca, compreendeste?”

  2. Diz ele: “Oh, sim! Neste caso o mar deveria agitar-se ainda mais através duma forte ventania, a fim de sentirem como Deus lhes paga sua maldade!”

  3. Esclareço: “Um furacão seria de grande utilidade para eles, por terem navio resistente, que em breve chegaria ao porto; enquan- to que essa ressaca os faz desesperar: não conseguem mudar de posi- ção, não obstante os fortes remos, porquanto cada onda atira o navio ao ponto anterior, sucedendo-lhes o mesmo que a um excursionista que pretenda subir o morro por cima de entulho. A cada passo, as pedras cedem e ele volta de onde partiu. Assim é essa ressaca o maior empecilho para os Meus perseguidores! Deixemo-los e vejamos se o desjejum está preparado!” Diz o hospedeiro: “Aí vem o empregado, a fim de nos chamar!”

  4. Digo Eu: “Enganas-te, ele vem trazer o recado terem os discípulos perguntado por Mim. Deu-se entre eles uma pequena controvérsia e Me esperam como Juiz. Deixá-los-emos questionar mais um pouco, e em seguida haverá tempo de conduzi-los ao jus- to caminho.”

  5. Diz Mathias: “Qual seria o motivo de sua discussão?”

  6. Respondo: “Oh, uma bagatela! Alguns dos discípulos an- tigos foram inquiridos pelos vinte novatos da causa da agitação marítima, e aqueles informaram ter sido isto causado por Mim por motivo oculto. Os outros, porém, não aceitaram tal sugestão, dizendo: Sabemos ter tudo que existe origem no Senhor; ainda as- sim, Ele determinou forças ocultas dentro da Natureza, acionadas

através de Sua Vontade. Em tal caso elas agem diretamente e Deus, por elas, indiretamente. Ele ordenou desde início que todo peso caísse no abismo e tal força age independentemente sobre a maté- ria. Assim, fez com que a água fosse pesada e líquida; tal faculdade é a força oculta da água que a impele às profundezas, sem que Deus viesse pôr Mãos à obra, sendo obrigado a conduzir o líquido aos riachos e rios. O mesmo deve suceder aqui com o mar agitado, sem haver ventania; este fato é apenas mais surpreendente do que ocasionado por tufão.

  1. Os discípulos antigos continuavam afirmando que tal mo- vimentação da água não é indireta, mas diretamente provocada pelo Poder de Minha Vontade. Acontece que ambos os partidos têm ra- zão, por isto Me esperam como Juiz. Vamos até lá para unificá-los na Justiça e Verdade!” Incontinenti voltamos a casa onde todos Me abordam no mesmo assunto.

  2. Eu os fito com amabilidade e digo: “Disputais por coisa de somenos importância! De modo geral vós, novatos, tendes razão; no caso em si, os antigos estão certos. Pois esta agitação marítima, estranha, não deriva duma força indireta, mas diretamente de Mi- nha Vontade.

  3. A fim de vos certificardes, observai o mar numa constante agitação! Darei ordem a uma pequena parte, próxima à praia, para aquietar-se e vereis que a Minha Vontade pode efetuar algo direta- mente.” Acalmo — apenas pela Vontade — uns duzentos acres do mar, de sorte que se apresentam qual espelho, enquanto fora deste limite o mar se agita mais fortemente. Quando os novatos o perce- bem, caem de joelhos para adorar-Me.

  4. Digo-lhes, porém: “Não façais isto! Não vim a este mundo para deixar-Me honrar e adorar, mas simplesmente para demonstrar às criaturas os Caminhos da Verdade e da Vida e socorrer a todos que sofrem e se acham cansados e sobrecarregados por provações.

  5. Pretendendo adorar a Deus — em Si Espírito Puríssimo — tereis que fazê-lo pelo amor no coração, em espírito e verdade, pelas boas obras. Tudo que fizerdes aos pobres por amor a Deus tereis

feito a Ele, e além disto acreditardes em Mim, Enviado pelo Pai para junto de vós — eis no que consiste a verdadeira adoração a Deus. Toda prece de boca é um horror para Ele e sem valor algum. Quem adorar a Deus com os lábios, deixando o seu coração frio e inativo, fará de Deus um ídolo, praticando uma verdadeira prostituição es- piritual. Isto se lê no profeta, que diz: Este povo Me honra com os lábios, enquanto seu coração está longe de Mim!

  1. Em verdade vos digo: onde o coração não adorar a Deus pelo amor verdadeiro, puro e desinteressado, toda prece terá o efeito dum eco vazio, que se perde e aniquila no éter. Sou vosso Mestre, e vós, Meus discípulos. Crede o que vos digo e fazei o que vos exijo, seguindo-Me! Entre nós, é quanto basta!” Com isto os novatos de- sistem da adoração e nos dirigimos ao desjejum.

58.PEDROEORICONEGOCIANTEDE CAPERNAUM

  1. Durante a refeição falamos pouco; tanto mais, porém, termi- nada, em virtude da chegada de muitos hóspedes da cidade ansiosos por ver a ressaca e, em parte, para almoçarem, pois Mathias goza de boa reputação em toda parte. Como alguns deparam com vários discípulos conhecidos, presumem estar Eu presente.

  2. Um distinto capernauense, que conhece Simon Pedro, cha- ma-o de lado e diz: “Caro amigo, sabes ter eu sempre comprado os teus peixes, ajudando a tua família no que possível; acontece que tu e vários outros homens honestos perambulais há mais de um ano em companhia do nazareno, conseguindo deste modo fazer grande número de inimigos entre os judeus. Além disto desleixais vosso lar e famílias, o que não pode estar de acordo com as Leis de Moysés! O nazareno tem feito milagres extraordinários, levando a crer ser ele profeta ungido por Deus! Quando se ouve suas prédicas, duvida-se até mesmo de suas faculdades mentais, ou talvez pretenda dizer to- lices que pessoa alguma suporte ouvir, como por exemplo ontem, na sinagoga. Todo mundo estava ansioso por ouvi-lo por causa de sua fama; o discurso, tão absurdo foi a ponto de provocar abor-

recimentos! Se nada de melhor aprendeis, sois dignos de piedade. Tenho razão?”

  1. Responde Pedro, algo irritado: “Amigo, pretendendo for- mar juízo válido acerca de nosso Mestre, terás de conhecê-Lo mais de perto! Há mais de um ano privo com Ele e sei algo mais que tu. Não sou mentecapto, conheço a Escritura e posso julgar acertada- mente; jamais ouvi de Sua Boca algo que não traduzisse a Sabedo- ria mais profunda e divina, incluindo o discurso de ontem, pleno do Espírito de Deus! Ele Se revelando abertamente, entretanto ninguém Lhe acreditando — como poderiam Suas Palavras serem assimiladas?!

  2. Observa o mar em sua fúria! Vê o trecho considerável que se estende à margem, cujo espelho é tão liso que não se altera com as ondas a se projetarem sobre ele! Há meia hora atrás a ressaca era total; Ele ordenou silêncio sobre a margem — e ela obedeceu! Quem seria Aquele a Quem os elementos obedecem instantaneamente?!

  3. Ontem Ele vos disse sem restrição Quem é! Por que não Lhe destes crédito, diante Dele curvando joelhos e coração?! Acaso foi mais inteligente declará-Lo tolo do que dizer-Lhe: Ó Senhor, que nos transmitiste Palavras de Vida, sendo Tu a Própria Vida de Deus, sê Misericordioso para conosco, pecadores ignorantes e pobres!? — Conheço-O e vejo Quem Ele é; por isto fico em Sua Companhia e Dele receberei a Vida Eterna, da qual tenho maior certeza do que desta, atual! E se assim não fosse, de há muito não mais seria Seu apóstolo; pois também sou inteligente como qualquer cidadão!

  4. Verifiquei pela concordância entre todos os profetas que so- mente Ele pode ser o Messias Prometido, o Ungido de Deus desde toda Eternidade, de sorte que permaneço com Ele chamado como apóstolo. Pergunta à minha família se durante minha ausência pas- sou necessidades! Quem, além Dele, teria zelado pelos meus?! Têm pão e vinho de sobra! Ele não cultiva os seus campos e pesca os seus peixes; isto tudo é feito pela Sua Onipotência, pela qual todo solo terráqueo é cultivado! E tu ainda alegas não ser justo abandonar-se lar e família por causa do Nazareno?! Cego que és! Dispenso de es-

clarecimentos de ti e de qualquer pessoa; pois estou suprido pelo Ensinamento Dele! Se não fosses tão obtuso, indagarias acerca de Sua Doutrina e Ações, tornando-te mais inteligente! Sei que os de- mais apóstolos, e também todos nós, somos testemunhas do grande Amor e da Verdade de Deus, o Pai, que veio a nós em Jesus, o Ungi- do, para a salvação de todos que Nele creem, e para julgamento dos que não O querem aceitar, aconselhando e agindo contra Ele.

  1. Não nos arrogamos o direito de declarar-vos de tolos, igno- rantes e volúveis, enquanto isto fazeis de nós, classificando-nos de vadios e aventureiros, sem que para tanto tivéssemos dado motivo. Dize-nos sinceramente, tal é justo perante Deus e o homem?!”

  2. Responde o negociante: “Ora, ora, Simon Pedro, não foi mi- nha intenção aborrecer-te! Não sou culpado de tu conheceres me- lhor o nazareno milagroso que eu, pois não tive oportunidade de privar com ele. Julgo-o apenas por aquilo que vi e o que me conta- ram. Como simples homem só posso julgar humanamente; assim fazendo como teu velho amigo, teria sido mais razoável se tu me tivesses apontado o meu engano com palavras cordatas, uma vez que és mais experimentado e inteligente! Não estou zangado, porque sempre gostei de ti.

  3. Até mesmo a Sabedoria Divina deve convir não ser possível exigir-se de alguém além de suas capacidades; portanto, te pergunto se agiste sabiamente com tua exigência acima de minhas forças espi- rituais, enquanto me asseguras o julgamento em virtude de minha fé e conhecimento frágeis.

  4. A força espiritual está evidentemente acima da natural. Quem não a possuir não poderá compreender conhecimentos mais profundos e ocultos. Entretanto julgo conseguir-se muito mais com amor e paciência do que com rigor, conforme o aplicaste sem neces- sidade. Tenho razão?”

  5. Responde Pedro, algo encabulado: “Sim, não tenho argu- mentos para contradizer-te; deves, no entanto, compreender não ter sido justo me considerares homem volúvel porque abandonei lar, família e profissão para seguir ao Santo de Nazareth!

  1. Bem sei careceres — como muitos outros — da força es- piritual para assimilares de relance os profundos Segredos de Deus; existe, porém, um meio termo! Caso ouça ou veja fatos extraordi- nários, retenho minha opinião com modéstia, até que consiga co- nhecimento maior; se porventura ainda não compreender bem o as- sunto, prossigo no estudo. Se no final nenhuma luz se me faz, estou justificado a dizer: Nada disto entendo, e deixo a critério de outrem formar juízo! Condenar uma situação incompreendida é mais tolo que meu zelo contra ti!

  2. Por certo leste o Cântico de Salomon, compreendendo tan- to quanto eu! Acaso seria prudente condená-lo por isto?! Dedica- mos-lhe grande respeito, muito embora nada entendermos e jamais conseguirmos tal evolução. Caso tivéssemos vivido na época daquele Rei, dotado de tão elevada sabedoria, certamente teríamos a mesma opinião acerca do Cântico, que vós do Discurso feito ontem pelo Se- nhor e Mestre; a obra de Salomon sendo mui antiga, é considerada, não obstante ninguém a entender.

  3. Nosso Senhor e Mestre opera Milagres jamais sonhados por Salomon. Sua Sabedoria e Onisciência são, comparadas às de Salomon, como o Infinito perto dum pontinho no Universo. Não contando mil anos, e sim agindo diante de vossos olhos, são por vós consideradas mera tolice. Reflete um pouco se isto é prudente por parte de homens criteriosos!

  4. Sei ter-me exaltado contigo; mas tal irritação foi justa, por- quanto tinha que demonstrar não sermos, eu e os demais, tolos pre- guiçosos, por termos abandonado tudo para segui-Lo; enquanto isto se dá convosco por não compreenderdes e aceitardes nosso proceder. Pois chegou a época em que todos que o quiserem poderão ser en- sinados por Deus! Afirmo-te como teu velho amigo: Neste, por vós cognominado Profeta de Nazareth, não só habita um espírito pro- fético, mas a Plenitude da Divindade! Vós, porém, sois cegos, não podendo percebê-lo, muito menos acreditá-lo, para o vosso maior prejuízo.”

  1. Diz o rico negociante de Capernaum: “Mas, caro amigo, falas sempre o mesmo! Considera, de mente calma, que jamais um sábio desceu do Céu à Terra — muito menos poderia suceder com pessoas semelhantes a nós! De onde deveríamos saber ocultar-Se a Plenitude Divina no filho do carpinteiro, que por várias vezes traba- lhou conosco, em companhia de seu pai e irmãos?!

  2. Se tivesse vindo do Egito ou da Pérsia, sua pessoa teria tido maior influência e atração; conhecemo-lo desde infância, sem ter dado demonstração excepcional além de ser homem de bons costu- mes! De repente surgiu como doutrinador e salvador extraordinário para enfermos e letárgicos. Qual a conclusão de nosso raciocínio? Foi certamente inspirado pelo Espírito Divino, que o dotou de faculda- des proféticas, e nós não erramos em declará-lo como tal. Somente agora ouço de ti coisa diversa e estranha aos meus ouvidos; mas não importa, porque é preciso ouvir-se algo a respeito dum assunto antes de poder julgá-lo e aceitá-lo como plena verdade. Tudo que disseste é a meu ver merecedor duma reflexão, e caso as condições forem aceitáveis, poder-se-á aquilatar tuas explicações. O fato de ele jamais ter frequentado escola de ocultismo é a favor de sua pessoa; pela afirmação de seu pai nem aprendeu a escrever e ler. Assim sendo, sua faculdade repentina merece maior admiração, inclusive a sua vontade, diante da qual até as pedras se desfazem. De tudo isto fui testemunha ocular; e tu não deves aborrecer-te por eu ter falado de modo humano contigo!”

  3. Diz Pedro: “Não cogito de suscetibilidades; jamais, porém, deixarei de falar a verdade a um amigo. Até aqui passa bem, em Nome do Senhor e Divino Mestre! Tenho que procurá-Lo no recin- to contíguo, pois ouvi Sua Chamada dentro de mim!”

59.ÍNDOLEDASCRIATURAS MUNDANAS

  1. Aproximando-se de Mim, Pedro diz: “Senhor, ouvi Tua Cha- mada! Transmite-me Tua Santa Vontade!”

  1. Digo Eu: “Nada mais do que já disseste bastante àquele ve- lho ricaço! Se tuas palavras não lhe trouxerem melhor compreensão, nada mais poderá consegui-lo; já falaste o suficiente e difícil é levar-

-se os conterrâneos à verdade. Sempre se ouve a mesma indagação: Como chegou esse homem a tal noção, pois conhecemo-lo desde in- fância. — Nesse caso nada mais se conseguirá. Se a Doutrina já cau- sa estranheza, muito mais fá-lo-á sua explicação. Levar tais criaturas, que no fundo não são maldosas, à fé através de milagres e provas extraordinárias seria idêntico a roubar de um só golpe a liberdade e vontade de suas almas; por isto é melhor deixá-las até que venham a pedir maior elucidação.

  1. Caso vierem durante a nossa permanência aqui alguns de- sejosos de informações sobre Minha Pessoa, fazei-lhes apenas ligei- ras alusões aos Meus Milagres, mormente sobre os que devem ficar ocultos; antes de mais nada transmiti-lhes o que devem fazer para alcançar a Vida Eterna. Se isto não os satisfizer, deixai-os seguir ca- minho; pois não convém atirar-se pérolas como alimento de porcos. Quem não considerar uma pequena dádiva não merece maior!

  2. Existem aqui pessoas que apreciam, em certas épocas, pales- trar horas a fio acerca de assuntos espirituais, enchendo-se de bons propósitos; tão logo voltem aos seus afazeres tudo está como que interceptado! E se algo lhes acontece, afligem-se, não obstante todo consolo espiritual, não querendo recordar-se dos momentos de ele- vação. Que utilidade tiveram?!

  3. De modo idêntico foram tuas explicações dadas ao teu velho amigo! Nem sequer pensa nelas, porquanto um negociante de Caná dele se aproximou para combinar uma compra de artigos diversos. Ele bem sabe de Minha Presença e poderia ter entrado a fim de se orientar acerca de Minhas Faculdades excepcionais, e Eu de modo algum tê-lo-ia expulsado! Mas não — o negociante de Caná me- rece mais consideração, e não precisas temer que ele te aborde a Meu respeito!

  4. Tais pessoas longe estão das aptidões necessárias ao Reino do Céu. Assemelham-se aos lavradores que, ao ararem o campo, não

olham para frente, e sim para trás, portanto não veem se o animal traça os sulcos retos. É melhor deixar-se de lado tais criaturas, por não ser possível afastá-las de suas preocupações mundanas, não obs- tante as maiores provas e ensinamentos profundos.

  1. Digo-vos o seguinte: se no futuro fordes transmitir Minha Doutrina como apóstolos aperfeiçoados, considerai o seguinte: caso sejais bem recebidos, ficai, ensinai às criaturas e batizai-as em Meu Nome com água como fez João — e Eu os batizarei com o Meu Espírito, do Alto!

  2. Não sendo, porém, acolhidos, ou apenas como fez o teu ami- go, sacudi de vossos pés até mesmo a poeira existente no local ou na casa, a fim de que nada se vos agarre de mundanismo! Sabeis não ser o Meu Reino deste mundo, porquanto terá que ser criado no íntimo da criatura, pelo conhecimento e o cumprimento de Meu Verbo. A obtenção dessa esfera interna e espiritual da vida celeste será difícil enquanto existir qualquer coisa de mundano no homem.

  3. Falando da poeira que deveis sacudir de vossos pés, não Me refiro ao pó material de aposentos e ruas, pois ele representa as con- trovérsias inteligentes de pessoas idênticas ao teu amigo. São gentis, amáveis e adequadas ao intelecto do mundo; entretanto, nada mais são que simples pó, porque são apenas a favor das coisas materiais, não havendo nem vestígio de uma verdade rigorosa. Do mesmo modo que a poeira das estradas não tem utilidade ao viandante, as palestras mundanas e fúteis de cidadãos inteligentes e ricos de nada valem.

  4. Muito embora não tenha serventia tal poeira, pode tornar-

-se prejudicial; caso se levante um vento impelindo-a, é preciso ta- par-se olhos e boca para não ficar cego e sufocado. Além disto, con- vém ficar parado ou talvez deitado de bruços até que o vento tenha carregado o pó. Com isto o viandante perdeu tempo, atrasando-se em chegar ao seu destino.

  1. A poeira prejudicial ao viajante é idêntica à de conversas fúteis e interessantes, no conceito do mundo, com referência aos peregrinos que caminham pela Estrada da Vida. Com facilidade

ela turva a visão interna, podendo até mesmo provocar a sufocação da Vida Verdadeira, psicoespiritual. No mínimo retarda o progres- so espiritual, não obstante o maior cuidado! Por isto vos disse que deveríeis sacudir o pó agarrado aos vossos pés, para que nada de mundanismo se apresente em vossa pessoa. Em verdade vos digo: enquanto houver umátomo mundano agarrado à alma, ela não po- derá ingressar no Meu Reino; pois todo mundanismo é para a alma idêntico ao veneno para o corpo. A menor gota dum forte veneno pode provocar a morte física; igualmente a menor partícula de mun- danismo consegue aniquilar ou, no mínimo, prejudicar a alma de tal forma, que levará tempo para ressurgir à Vida Eterna, completa- mente curada. A própria experiência vos dará a confirmação plena!”

  1. Diz Pedro: “Senhor, então não será fácil transmitirmos Tua Doutrina, pois como saberemos se alguém está apto para aceitá-la? Meu velho amigo se teria prestado para tanto por ter boa índole e apreciar palestras espiritualistas, e pelo que me consta, também faz caridade. Se pessoas tais são consideradas duvidosas para nosso pro- gresso, não sei a quem deva achar prestável.”

  2. Digo Eu: “Acaso também ainda sois cegos, não compreen- dendo o que digo?! Não te recordas do jovem rico que Me per- guntou o que fazer para alcançar a Vida Eterna? Quando lhe disse dever ele considerar os Mandamentos, amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo — afirmou tê-lo feito desde criança. Em seguida aconselhei vender os bens terrenos, dividir a fortuna entre os pobres e acompanhar-Me, e deste modo conseguiria pre- parar um grande tesouro no Céu. Com isto, o jovem se entristeceu, voltou-nos as costas e seguiu caminho. Nessa altura, fiz a observação ser mais fácil um cordame passar pelo fundo de uma agulha, que um rico entrar no Reino do Céu. Naquela ocasião vos admirastes, achando que somente poucos teriam tal êxito. Ao que acrescentei que para o homem muita coisa parecia impossível, mas para Deus tudo é realizável.

  3. Não fostes capazes de compreendê-lo inteiramente; agora presumo estardes em tal situação. Que teríamos lucrado caso tivés-

semos procurado convencer aquele jovem, a fim de que pudesse pôr em prática as Minhas Palavras? Nada! Durante vários dias nos teria exposto seus motivos mundanos, pelos quais nem com a melhor boa vontade seria capaz de seguir o Meu Conselho, e nós estaríamos no mesmo ponto de partida. Assim, prosseguimos nossa peregrinação, achando, em breve, oportunidade de fazermos o bem. Deste modo sacudimos a poeira produzida por ele, sem contaminar-nos!

  1. Os que se acham na antessala são em si homens justos e inteligentes, qualidades que lhes proporcionaram riqueza material; longe estão, porém, da necessária maturação para o Evangelho, e neste mundo dificilmente chegarão a esse estado. Por isto não de- veis, no futuro, pregar a Minha Doutrina a pessoas de tal índole; ela jamais deitará raízes, e muito menos frutos.

  2. Tu, Pedro, disseste umas boas verdades ao rico negociante, como se Eu as tivesse proferido! Qual foi o efeito? Nulo! Palestra com seu colega, dando impressão de jamais ter ouvido falar a Meu respeito. Está ciente de Minha Presença, e ao menos a curiosidade deveria trazê-lo junto de Mim, para certificar-se daquilo que disses- te! Entretanto, tudo isto é tão indiferente ao rico, qual inseto atingi- do pelo seu pé. Não cogita de nosso socorro tão desnecessário, a seu ver, por ser rico e inteligente — e assim há muitos.

  3. Vede, trata-se de verdadeiros suínos a fuçarem o mundo e aos quais não deveis atirar as Minhas Pérolas; pois lhes interessa ape- nas a possibilidade dum lucro material. Por isto aquele negociante te repreendeu por teres abandonado teu ofício rendoso, seguindo-Me por coisa alguma.

  4. Tais pessoas são bem educadas e finas; tudo isto, porém, é semelhante ao reboco artístico dum sepulcro, apresentando aspecto agradável — no interior, todavia, está cheio de mofo mortal e odor pestilento. Enquanto tal homem puder embolsar seus lucros e não havendo prejuízo em seus negócios, estará sempre de bom humor e até mesmo generoso; basta uma especulação lhe trazer um desas- tre financeiro, experimenta falar-lhe acerca de verdades espirituais e garanto que te despedirá antes mesmo de teres aberto a boca! Eis

a razão por que te afastei de teu zelo bem intencionado, pois toda palavra espiritual é quase que inútil!

  1. Revelaste-lhe ter sido a ressaca motivada unicamente atra- vés de Minha Vontade, e bastava Eu querer, para todos os elementos Me obedecerem. Isto, por certo, não é pouco! Observa-o, porém, e te certificarás da impressão nula que tuas palavras produziram! Ele nem ao menos foi verificar o fato real!

  2. Além disto, informaste-o do julgamento que atingiria aos descrentes! Ele somente esboçou um sorriso, pensando: Pobre coi- tado, vê lá se não serás atingido pelo julgamento da fome e do frio!

  1. Diz Pedro, aborrecido: “Ah, preferiria ser tratador de suínos dum grego! Só agora compreendo a Tua Reação no Templo, no ano passado! É preciso pregar-lhes um Evangelho com açoites e paula- das! Essa gente ainda é pior de que o mais invejoso fariseu no Tem- plo, pois tem ao menos aparência espiritual — se bem que de nada vale — mas essa gentalha só considera o mundo essencialmente ma- terialista! Foi ótimo Tu nos chamares a atenção desse fato, Senhor! Jamais tal poeira se agarrará a nós! Que faremos agora?!”

  2. Respondo: “Vamos lá fora, a fim de vos certificardes da in- diferença desses homens; em seguida voltaremos. Mais tarde farei cair forte chuva que nos libertará deles.”

60.INDIFERENÇADOSNEGOCIANTESQUANTOÀESFERA ESPIRITUAL

  1. Faltam ainda três horas para meio dia quando, a Meu con- vite, passamos por grande número de hóspedes para nos dirigirmos à praia, e o hospedeiro pede desculpas por não ter tempo para se dedicar a nós. Eu lhe asseguro: “Não importa! Quem estiver com o coração junto a Mim poderá exercer sua profissão como ela o exige, e ao mesmo tempo Me dedica a maior atenção. Toda e qualquer outra não tem valor para Mim. Ficaremos até meio dia ao ar livre, para analisar a agitação do mar. Antes de voltarmos, virá uma forte

chuva encomendada por Mim, enxotando os negociantes incômo- dos, como já disse há pouco; pois tais pessoas mundanas têm grande pavor duma trovoada. Tão logo deparem sua aproximação, voltarão à cidade. Tem cuidado que nenhum te venha a lograr!”

  1. Diz o hospedeiro: “Ó Senhor, agradeço-Te pelo conse- lho e principalmente pelo temporal; pois aqueles homens já estão me importunando!” Seguimos nosso passeio, enquanto ele atende os hóspedes.

  2. Virando-Me para Pedro, digo: “Observaste o teu ve- lho amigo?”

  3. Responde ele, irritado: “Ah, isto é demais! Se aquela gente ao menos nos tivesse achado merecedores dum olhar! Mas..., nada disto fizeram, muito embora Te conhecendo! Jamais deparei com pessoas tão indiferentes. Caso nos aproximássemos duma vara de porcos, olhar-nos-iam começando a grunhir; enquanto para aqueles materialistas nada representamos! Senhor, faze cair um forte tempo- ral, para acabar com essa indiferença!”

  4. Digo Eu: “Já te preveni que tais comerciantes só cogitam de sua mercadoria e fortuna, não lhes interessando quem não estiver à altura. Quanto a nós, merecemos apenas calcularem o nosso valor como escravos! E nesse caso representamos somente refugo humano. Entre eles há muitos que secretamente exercem tal profissão, e teu velho amigo é um dos mais fortes nesse negócio, realizado anual- mente no Egito, Roma, Grécia e Pérsia. Qual é teu parecer de um judeu chegar a tal ponto?”

  5. Responde Pedro: “Deveria ser apedrejado! Eu, aliás todos nós, não compreendemos como podes, Senhor, ter tanta paciência e indulgência com homens tais; isto ultrapassa o que foi feito em So- doma e Gomorra. Os pagãos assim agindo, são desculpáveis — um judeu, jamais!”

61.A REENCARNAÇÃO. A TERRA, UMA ESCOLA PARA OSFILHOSDE DEUS

  1. Digo Eu: “Não te irrites, pois longe estás de saber dos va- riados hóspedes nesta Terra, e o que é preciso para levá-los pouco a pouco à esfera dos filhos de Deus! Quando estiverdes completamen- te fortificados através de Meu Espírito que enviarei após Minha As- censão — compreendereis também isto, dando-Me a devida Honra por ser tão Paciente e Magnânimo.

  2. Quem de vós for capaz de assimilar algo mais, saiba que aqui também encarnam almas de outros mundos, inclusive filhos da ser- pente desta Terra. Muitos já morreram e alguns já por várias vezes reencarnaram para o seu aperfeiçoamento.

  3. Já ouvistes falar da transmigração das almas (metempsicose), na qual o Oriente acredita até hoje. Tal crença se acha mui deturpa- da naquela raça, porquanto afirma voltar a alma à encarnação ani- mal. Nem de longe isto é verdade.

  4. Já vos foi explicada e demonstrada a maneira pela qual a alma humana deste mundo se agrega aos reinos mineral, vegetal e animal até evoluir à psique humana. Jamais pode retrogradar a alma mais imperfeita, a não ser na esfera espiritual e intermediária na aparência exterior, para sua humilhação e possível melhoria. Alcançado des- te modo certo grau de adiantamento, onde não há mais progresso devido à carência de capacidades mais elevadas, ela pode imigrar no plano espiritual dum outro planeta para desfrutar duma simples felicidade; ou então, encarnar de novo neste orbe, caso for de sua vontade, podendo adquirir faculdades maiores e com auxílio destas, alcançar a Filiação Divina.

  5. De modo idêntico transmigram nesta Terra almas de outros mundos, a fim de conquistarem os inúmeros dons espirituais neces- sários para a Filiação de Deus. Precisamente por ser este mundo uma escola, é ele por Mim tratado com tanta paciência e indulgência. Compreenda quem puder, guardando-o para si, pois não é dado a todos a assimilação dos Segredos do Reino de Deus. Encontrando

algum de espírito justo, podereis individualmente revelar-lhe pou- co a pouco algum mistério, porquanto é de Minha Vontade que a criatura merecedora faça tal conquista pelo próprio zelo, dentro de Minha Doutrina.

  1. Tão logo souber o necessário a ser feito para alcançar a Vida Eterna e seus tesouros, deverá agir dentro dos princípios conhecidos

  1. Transmitir importantes fatores dos Segredos de Deus tem pouco ou nenhum valor; primeiro, por não poder a criatura assimi- lá-los; segundo, um assunto inacreditável lhe perturba sua fé por- ventura já conquistada. Pois, a fim de aproveitá-los em sua profun- deza verdadeiramente espiritual, é preciso mais que a letra morta da Lei e dos profetas.”

62.A SERPENTE MARINHA

  1. (O Senhor): “Agora já nos afastamos de tal forma da cidade, que nada mais dela se percebe, e as ondas do mar se atiram com fragor contra a margem pedregosa. Eis uma cabana de pescador; en- tremos para aguardar a tempestade. Olhai em direção a Leste! De lá surgirá com violência e não haverá falta de coriscos. Que se levante e se encaminhe rápido para Capernaum!”

  2. Nem bem assim falo, levantam-se pesadas nuvens do mar e acima da serra, fato prontamente descoberto pelos hóspedes na casa de Mathias. Quando o temporal se aproxima com forte trovoada, eles pagam sua despesa, correndo desabaladamente para seus lares. Todas as combinações comerciais estavam terminadas, e o hospedei- ro livre das pessoas indesejáveis. No momento em que a fúria dos elementos passa sobre a cabana, os judeus também se amedrontam, em virtude dum pavor inato de tais fenômenos.

  3. Eu os encorajo, dizendo: “Não percebeis que os elementos deste temporal também são sujeitos à Minha Vontade?! Nada te- mais, pois coisa alguma vos sucederá! Não o determinei somente por causa dos capernauenses, e sim para os enviados de Jerusalém, a

fim de saberem como Deus recompensa e protege os servos fiéis ao dinheiro.” Enquanto ainda falo, um forte raio cai com estrondo no solo diante de nós. Os greco-judeus recuam apavorados, e um den- tre eles diz: “Senhor, afasta este monstro, do contrário pereceremos!”

  1. Então ameaço a tempestade que se afasta, deixando-nos sob um Céu azulado. Os judeus muito se alegram por isto, começando a louvar-Me. Ao nos aproximarmos do mar, um deles percebe ha- ver, a uma distância duns duzentos pés, um monstro marinho a se movimentar violentamente, enquanto grande número de pássaros aquáticos o ataca. Ele Me pergunta a respeito de tal bicho.

  2. Eu lhe digo: “Trata-se de uma enorme serpente marinha em busca de alimento durante a tempestade, porquanto costuma viver no fundo do mar. Assim que tiver saciado sua fome, voltará para lá, onde fica durante semanas, subindo apenas para tal fim. A água não lhe proporcionando o suficiente, o ofídio invade as margens roubando carneiros, cabras, porcos, bezerros e mulas. Pode até mes- mo tornar-se um perigo para os navios, pois não vacila em tragar homens. Vistes portanto um espécimen raro.”

  3. Diz Pedro: “Senhor, como pescador tive oportunidades de ver tais monstros, pensando tratar-se de enorme enguia, possível de pescar-se com anzol. Nunca obtive êxito, porque o ofídio se desviava e desaparecia. Como poderia capturá-lo?”

  4. Digo Eu: “Na época de hoje tal não é possível! Primeiro, por ser tal serpente mui astuta e sabe desviar-se de todos os perigos ame- açadores; segundo, é mui ligeira, de sorte não poder ser alcançada pelo melhor veleiro, e além disto é inacreditavelmente forte. Caso fosse encurralada, atirar-se-ia sobre o inimigo, sufocando-o instanta- neamente, razão por que não é aconselhável persegui-la. Neste mar só existem dois exemplares, pertencentes à era pré-histórica, muito embora tenham apenas a idade de Noé, quer dizer, contando do nascimento deste até hoje.

  5. Tais ofídios pertencem ao grande mar; na época do Dilúvio foram atirados para esta enseada e ainda terão alguns séculos pela frente. Nesses gigantes se acumula a matéria mais grosseira dos ele-

mentos psíquicos do planeta, onde é abrandada e de certo modo preparada para uma transformação. Quando morrem, seus elemen- tos concatenados passam a muitos milhões de formas mais elevadas, alcançando em curto espaço maior maturação na água, no ar ou so- bre a terra, ingressando por todas as formas de vida, até ao homem. As almas humanas surgidas por este meio acham-se num grau muito inferior e foram cognominadas pelos sábios da antiguidade de ‘filhos de serpentes e dragões’; pois os sábios daquela época entendiam em sua simplicidade mais de psicogenia que os de hoje! São pois filhos deste mundo, muito inteligentes, ricos e importantes — longe, po- rém, da capacidade assimiladora da Vida espiritual.

  1. De semelhante origem psíquica derivam os negociantes de Capernaum. Continuam no assalto às mercadorias e sua maior satis- fação consiste em terem alcançado lucro gigantesco, manifestando pelo ajuntamento de tesouros a inclinação voraz de tal serpente ma- rinha, que também procura acumular substâncias de vida.

  2. Do mesmo modo que ao ofídio, tudo é tirado pela morte e distribuído em formas superiores — os ricos e egoístas quando morrem perdem tudo, e no Além serão purificados de sua natureza ofídica através de grande miséria, fome e sede. Tal fato é deprimente e penoso, todavia não pode haver outro recurso evolutivo para tais formas de vida primitiva.”

63.OMOTIVODAENCARNAÇÃODE DEUS

  1. (O Senhor): “Fácil é criar-se; levar os seres projetados a uma existência livre, inculpável e independente — não é coisa simples até mesmo à Onipotência Divina. Com paciência e indulgência, fi- nalmente, tudo é alcançável, e quando a finalidade útil for atingida, não importa o tempo que necessitou para sua realização.

  2. Dá-se o mesmo com a mulher que passa por medo e dores durante a gravidez; tão logo a criança tiver nascido, temor e sofri- mentos terminaram, e ela deles nem mais se lembra quando depara com o fruto vivo que surgiu num ser livre e independente.

  1. Caso a emancipação duma criatura fosse ocorrência simples, Eu, Criador de todas as coisas e seres, não teria necessitado de vir Pessoalmente como Homem a esta Terra, para conseguir a indepen- dência da criatura através de Doutrina e Ação.

  2. Porventura algum outro vos dissesse tal coisa, teríeis respon- dido: Que absurdo acabas de proferir?! — Eu Mesmo o fazendo po- dereis aceitá-lo, pois por simples bagatela não teria aceito corpo desta Terra e até mesmo a sua morte, tratando Minhas criaturas como Pai.

  3. Afirmo-vos a veracidade e a razão deste fato justamente nesta época; o que sucedeu durante as eras passadas, nas quais Deus exis- tiu tão infinitamente Perfeito quanto agora; o que ocorreu àqueles seres que não alcançaram a atual perfeição individual, uma vez que jamais tinha Eu aceito anteriormente o corpo físico do homem — eis uma questão muito importante! Em parte já vos expliquei o fato na cabana do velho Marcus, em Cesareia Philippi; entretanto, igno- rais por que precisamente este período foi escolhido entre as épocas infinitas, a fim de proporcionar às criaturas, para sempre, a plena Semelhança de Deus.

  4. Vede, em toda Criação Infinita Deus considera a Ordem mais Sábia quanto ao Espaço e Tempo. Talvez Lhe fosse impossível criar um homem munido de toda Sabedoria e Força sem gerá-lo pelo ato fecundante, assim como consegue produzir o raio instan- taneamente?! Por certo que não, e para tanto vos dei provas cabais!

  5. Se tal, pois, é possível à Divindade — por que Ela permite que o homem seja gerado num corpo feminino, lá crescendo e se formando de período em período? Após ter alcançado sua matura- ção dentro de determinado tempo, chega ao difícil nascimento, fal- tando-lhe ainda muita coisa para sua perfeição física; pouco a pouco esta vai-se completando, a língua se adapta a balbuciar palavras, os órgãos alcançam maior ordem e a alma, mais forte e positiva, deles se serve; assim continua o progresso até que o homem após trinta a quarenta anos se apresente forte, rico em experiências e compre- ensão. Foi obrigado a assenhorear-se de todos os conhecimentos e experiências de próprio esforço e ação, para se tornar cidadão útil

para o próximo. Por que isto tudo, sendo Deus Onipotente e poden- do fazer surgir criaturas inteligentes e fortes do ar ou do nada, sem nascimento e educação?

  1. Bem que o poderia; mas que criaturas seriam essas? Digo-vos: simples máquinas que jamais teriam vontade própria, livre cons- ciência individual e ação independente no pensar, sentir e agir. A Vontade Poderosa de Deus teria que vivificá-las a cada momento, pensando e querendo por elas, acionando seus membros para qual- quer atividade. Se Deus assim não fizesse, tal homem seria comple- tamente morto e teria que desaparecer do palco da vida.

  2. A fim de que o ser criado exista individualmente, se forme e positive, tornando-se de modo próprio livre no pensar, querer e agir, Deus desde eternidades instituiu uma Ordem pela qual as Ideias por Ele projetadas, pouco a pouco, Dele se isolam; finalmente, têm que se dar conta de sua existência individual, sentindo e agindo li- vremente para serem, quais futuros deuses, conduzidas por Deus, inteiramente firmes dentro da vida, através duma Doutrina externa e guiadas à perfeição vital, como se esta fora obra e base própria.

  3. Para tanto é preciso longo tempo, bem calculado por Deus e dividido em muitos períodos, cada qual destinado ao progresso. Sendo imprescindível para cada indivíduo em evolução surgir o momento em que possa assimilar saber mais elevado — tal ocasião apresenta-se para a Criação total calculada por Deus, dando oportu- nidade a todas as criaturas amadurecidas a se transportarem de seus antigos túmulos do julgamento, à plena Semelhança Divina; por isto se lê nas Escrituras que todos que se acharem no sepulcro ouvi- rão a Voz do Filho do Homem, e caso estiverem preparados poderão surgir pelo próprio esforço à Vida Eterna, Verdadeira e Perfeita.

  4. Tendo, pois, chegado o momento por Deus previsto e cal- culado de todo sempre, em que todos os seres alcançarão a matura- ção individual, manifestada principalmente pela completa ignorân- cia de Deus e pelo isolamento — Eu, como Deus, estou Presente para conduzir as criaturas não pela Onipotência, mas unicamente através da Doutrina, que Eu lhes dou como se fora seu Semelhante.

Posso Pessoalmente tratá-las qual estranho, dando término ao con- ceito de ninguém poder ver Deus e continuar vivo; podeis, portan- to, ver-Me, permanecendo com vida!”

64.ADESCRENÇACOMOPROVADEMATURIDADEPARAUMANOVAREVELAÇÃO. COMPARAÇÃOENTRE AS

CRIATURASDAÉPOCADENOÉEASDE JESUS

  1. (O Senhor): “Neste momento constato a seguinte indagação, singular, nos adeptos: ‘Sendo a carência quase total de fé em Deus Verdadeiro a base de maturidade dos homens quanto a Deus, não compreendemos por que Ele em época de Noé, em que a fé também era nula — não Se aproximou dos homens, a fim de trazer-lhes uma Doutrina para a conquista da Vida Eterna?! Por que preferiu o Di- lúvio, matando a Humanidade ateia?’ Digo-vos ser esta indagação muito inteligente, e sua resposta trará grande elucidação quanto à relação entre Deus e Suas criaturas. Prestai atenção!

  2. A Humanidade em tempos de Noé não era tão ateísta como julgais; era apenas orgulhosa e altiva contra Deus, a Quem bem co- nhecia, querendo elevar-se e reduzir Sua Majestade. Fazia o que lhe agradava, e ainda que lhe fossem dadas pelo Céu as Leis mais sábias, não as considerava, fazendo o contrário. Odiava a Deus e desafiava tudo que se originava na Onipotência e Sabedoria Divina, impre- cando a Própria Criação, inclusive a Terra, e finalmente resolveu destruí-la com pólvora. Por muitas vezes foi advertida pelos habitan- tes das montanhas, e castigada pelo ultraje.

  3. Certos povos foram conduzidos a países distantes, cujos des- cendentes ainda hoje vivem e possuem a velha Doutrina, infelizmen- te deturpada. Tudo isto de nada adiantou. Novamente se tornaram poderosos, mormente os habitantes de Hanoch, cidade esta mais vasta que toda Terra Prometida. Conseguiram dominar os filhos das alturas, com exceção da família de Noé, fiel a Deus.

  4. Naquela era começaram por insolência a destruir monta- nhas, muito embora fossem advertidos, pelos sábios das alturas, da

existência de enormes comportas de água no solo; bastaria demo- lir apenas um grande monte até a raiz e enterrar suas massas nas profundezas do mar, para se abrirem várias represas pelas quais em breve seria levada tanta água à superfície, que subiria acima da serra, afogando a todos. Esses avisos todos nada frutificaram, e sim esti- mularam ainda mais no prosseguimento da destruição com energia inacreditável.

  1. Noé, percebendo terem sido baldadas todas as advertências e instruções, pediu a Deus um meio de salvação pelo menos para algumas pessoas de boa índole, animais e víveres; pois previu as consequências fatais da obra maldosa daquelas criaturas mundanas. Eis que foi instruído pelo Espírito de Deus no sentido de construir uma arca, dentro do plano e medidas vindos do Alto.

  2. Nem bem os tolos teimosos haviam demolido a maior parte de um considerável monte, apresentou-se o resultado de seu tra- balho: o enorme peso da serra, destituída de seu apoio, começou a afundar, impelindo as tremendas massas d’água em torrentes po- derosas por cima do solo. Isto naturalmente encheu o ar, principal- mente os muitos rios de água quente, de vapor e nuvens, e as chuvas principiaram a cair torrencialmente, provocando a inundação até às montanhas. Mais que um terço da Ásia se achava dentro do Dilúvio e todos os habitantes de Hanoch, que se consideravam a Humani- dade total do orbe, sucumbiram, inclusive sua cidade.

  3. Deste breve relato se destaca que as criaturas antes de Noé não ignoravam a Deus, e sim pretendiam elevar-se acima Dele, e este fato prova seu conhecimento. O ódio derivava apenas de sua morte prematura, pois não passavam dos trinta a quarenta anos, enquanto julgavam os habitantes das alturas imortais, por atingirem idade avançada. Este foi o motivo de quererem aniquilar tudo como vingança contra Deus.

  4. Assim sendo, acaso podeis afirmar terem aquelas criaturas a mesma maturação das de hoje?! Quantas existem entre os judeus realmente crentes em Deus, confiando Nele em verdade? Na maio- ria só possuem fé habitual, enquanto nos corações são ateus e nem

cogitam da Existência Divina, e caso houvesse, Deus nem sequer Se preocupa com os mortais, suas preces e sacrifícios. Ele as criou so- mente para cultivarem a terra — eis a crença dos judeus intelectuais

  1. Os judeus enraizados — como os há na Samaria — alegam: As Leis de Moysés são boas; é preciso respeitá-las e não vem ao caso sua origem, divina ou mosaica. Quem as cumpre não erra, indepen- dentemente da Existência de Deus. Deve-se fazer o bem pelo bem, e evitar o mal porque prejudica.

  2. De tal conceito se conclui ser a fé verdadeira em Deus problemática. Quanto à crença no Templo, estais informados; pois onde não se vacila em riscar as Leis de Deus e suplantá-las por dita- mes mundanos, que devem ser considerados de santos e vindos por Ele — a fé verdadeira chegou ao término. Nisto consiste a crença judaica! Indagai de vós mesmos de vossa crença anterior em Deus! Antes de Minha Vinda procurastes algo divino dentro do Templo, cumprindo possivelmente suas leis, enquanto duvidastes da Ver- dadeira Existência de Deus, pois vossa fé era um hábito contraído desde berço, que se tornara parte de vossa natureza e teria sido difícil dela desistirdes, por não haver equivalente. Portanto vossa fé de nada valeu.

  3. Igualmente não existe fé entre os judeus, como povo esco- lhido por Jehovah; assim sendo, como esperar-se fé entre pagãos? Em épocas passadas acreditavam em ídolos e oráculos; hoje nada mais creem, não obstante acompanharem os rituais.

  4. Somente no Egito existem alguns discípulos de Platon, Só- crates e Aristóteles que admitem a existência de um Ser Supremo, desconhecido de todos; opinam poder o homem sentir o Espírito Divino e prever o futuro, caso leve vida abstêmia. Não existe mor- tal capaz de maior evolução. O que sucede após a morte é enigma jamais decifrável. Há quantidade de contos e opiniões a respeito, despertando no homem uma leve esperança — nunca, porém, have- rá certeza! Tal é a opinião dos pagãos instruídos. Assim sendo, claro é ter agora chegado a maturação entre Criador e criatura, pela qual

ela pode ser ensinada por Deus, independentemente de seu livre arbítrio, para atingir no final a Perfeição Divina. Compreendestes?”

65.EVOLUÇÃODEALMASDOALÉMENCARNADASANTESDE JESUS

    1. Diz Pedro: “Senhor, isto tudo compreendemos bem; resta saber o destino daqueles que viveram antes de Ti, contando desde Adam. Poderão igualmente atingir a perfeição da Vida Eterna?”

    2. Digo Eu: “Por certo. Abri as portas da vida não somente para os encarnados desta época, e sim para todos que já viveram. Muitos dos antigos pecadores terão que passar por certa provação, conforme vos demonstrei.

    3. No Além existe quantidade de escolas onde as almas poderão ser orientadas praticamente. Lá, todavia, tal fato não se dá tão fa- cilmente como aqui, porque cada alma só tem vida e ambiente sur- gidos de seus pensamentos, sentimentos e vontade, oferecendo-lhe tudo o que ela ama e deseja.

    4. É, pois, em tal circunstância mais difícil influenciar bene- ficamente uma alma cheia de falsas concepções do que aqui, onde se encontra em solo firme e estranho, contando com grandes opor- tunidades. Ainda assim, lá haverá meios suficientes pelos quais se poderá influir sobre ela. Em outra ocasião ser-vos-ão dadas maiores explicações.

    5. Tal fato não deve constituir especial consolo; pois se no Além uma alma no seu íntimo, portanto, em seu mundo, ao invés de me- lhorar se tornar pior e mais maldosa, claro é piorar na mesma pro- porção seu aparente mundo e companhia. À medida que se torne menos verdadeira e inspirada, seu ambiente se obscurece provocan- do grande aflição. Com o aumento desta, cresce sua ira e tendência vingativa; eis o início do inferno, a segunda morte psíquica, de onde dificilmente a alma se salvará.

    6. Muito embora sejam apenas recursos pelos quais ela poderá ser salva no decorrer de épocas prolongadas — são eles realmente pe-

nosos! Poderá levar bilhões de anos terráqueos, até que uma psique maldosa consiga pequena melhoria por meios dolorosos. Eis por que um dia aqui vale mais do que no Além cem anos! Compreendestes?”

    1. Respondem todos: “Sim, Senhor e Mestre; no íntimo surge, porém, a seguinte indagação: Se uma alma desencarna imperfeita e habita em um mundo apenas aparente correspondente ao seu pen- samento, sentimento e vontade, o que também se poderia chamar de mundo de fantasia — no que consiste o mundo das almas per- feitas? Que aspecto tem o Reino do Céu e com que poderia ser comparado?”

    2. Digo Eu: “Como esteja na hora de voltarmos, darei a cami- nho a explicação, por ser de grande importância. Vamos andando. Vede, com o Reino do Céu, ou seja, o Reino da Verdade, da Luz e do Amor, conforme vos demonstrei em outra ocasião, dá-se o seguinte: este Reino não se constitui em aparato externo e não penetra no homem com sinais e atributos superficiais, pois se desenvolve no vosso íntimo, onde cresce e vos penetra, tornando-se vosso mundo pleno de felicidade.

    3. Aqui, o Reino do Céu se assemelha a um lavrador que se- meou o bom trigo. Alguns grãos caíram pelo caminho, sendo uma parte comida pelos pássaros, e outra pisada pelos viandantes. Deste modo, a semente não germinou nem produziu frutos. Outra par- te caiu em solo pedregoso; enquanto as pedras continham alguma umidade, conseguiu germinar; não pôde criar raízes, pois a umidade não foi suficiente para alimentar a haste, que em breve secou e nada produziu. Ainda outra caiu em espinhos e arbustos; no começo ger- minou bem, mas quando deveria desenvolver-se, foi sufocada pelos cardos e abrolhos, pereceu e não deu frutos. Apenas uma parte caiu em bom solo, germinou e deu frutos abundantes.

    4. Eis a situação do Reino do Céu nesta Terra. Eu Mesmo sou o Semeador e Meu Verbo é a Boa Semente, da qual deverá surgir o Reino Celeste como resultado. Caindo em bom terreno, trará fruto centuplicado; se cair nos caminhos mundanos, sobre pedras ou en- tre cardos e abrolhos, nada produzirá.

    1. Os caminhos do mundo são comparáveis às criaturas mun- danas, conforme observamos várias com nosso hospedeiro. Os vian- dantes na estrada, a pisarem a semente, são os interesses de negócios e lucros; e os pensamentos comerciais dirigidos em todas as direções apontam os pássaros, que absorvem a semente não pisada a fim de evitar o surgimento de um fruto. Tais criaturas são, como já dis- se, verdadeiros suínos, aos quais não se deve atirar Minhas Pérolas como alimento.

    2. Nas pedras se entende os intelectuais, que tudo aceitam com certa ansiedade, positivando-se, porém, em seu íntimo em várias con- cepções errôneas, tornando-os de certo modo de sentimento endure- cido; nesse caso, a semente nova não encontra a necessária umidade vivificante, tampouco o solo macio e arável para receber as raízes ali- mentadoras. Surgindo ventania e seca, a pequena haste fenece em bre- ve e como ainda não possui raízes, o vento a carrega. Sobrevindo uma tentação para tal criatura, ela diz: Sabia de antemão ser este assunto duvidoso. Fala-se em promessa que deveria se realizar — e eis que sofro! Por isto, longe de mim tais ensinamentos novos! Eis a pedra!

    3. E que vêm a ser cardos e abrolhos? São os cidadãos benevo- lentes que muito prazerosamente recebem o Meu Verbo, cultivan- do-o por certo tempo. Surgem, porém, toda sorte de preocupações, tristezas e receios fúteis que abafam a Palavra Viva em seus corações, impedindo sua germinação.

    4. Deste modo só contamos com poucas pessoas comparáveis ao solo realmente bom; elas aceitam a Palavra e põem-na imedia- tamente em ação. E a semente produz abundante fruto, que é o Próprio Reino do Céu dentro da criatura, sem aparato externo. Este Reino se estenderá acima daquele que o criou, através de Minhas Palavras, dando-lhe toda felicidade, luz, verdade, sabedoria e poder sobre todos os seres.

    5. Daí podereis igualmente deduzir aonde tereis de semear o Meu Verbo, porquanto deve produzir fruto! Antes de mais nada deve cair em bom solo. Tão logo der juros abundantes, os comer- ciantes, intelectuais e cidadãos preocupados virão por si, a fim de

comprarem convosco a semente para as suas terras. Tereis bem com- preendido isto?”

    1. Respondem todos: “Perfeitamente, Senhor, e seguiremos o Teu Conselho, pois jamais semearemos esta Semente da Vida em ca- minhos, pedras e entre abrolhos. Eis que nosso hospedeiro se apro- xima correndo! Que teria acontecido?”

66.OGANANCIOSOREITORDE CAPERNAUM

  1. Digo Eu: “Nada de grande importância. Mas que venha pes- soalmente contar-vos.” E o hospedeiro relata: “O reitor da sinagoga de Capernaum mandou fazer o recolhimento do dízimo de peixes, pois ouvira ter eu feito pesca excepcional, sem informá-lo a respeito; por isto condenou-me à multa três vezes maior. Sorte ele ignorar ter sido a pesca efetuada na noite de sábado, pois seria capaz de açam- barcar todos os peixes. É de se lastimar ter sido afastado o antigo reitor! O atual é uma verdadeira praga e trata o semelhante como se fosse escravo. Senhor, não seria possível modificá-lo?”

  2. Respondo: “Como não? E de modo peculiar! Manda-lhe um mensageiro com o recado de dever o reitor contar primeiro os peixes em teu depósito, a fim de evitar que lhe venhas pagar em excesso ou a menos da multa prescrita. Ele aparecerá prontamente com seus empregados para começar a contagem dos peixes — sem encon- trar um sequer! Foram por Mim criados, e posso fazê-los desapa- recer e surgir à Minha Vontade! Caso te acuse de haveres desviado os peixes sabendo de sua exigência, pede-lhe testemunha ou então entregar-te-ás à proteção romana. Ciente disto, ele se afastará e nun- ca mais exigirá um dízimo! Age deste modo que tudo correrá bem!”

  3. Opõe o hospedeiro: “Acontece já estar pronto o almoço. Não conviria tomá-lo primeiro, para não sermos interrompidos pelo reitor?”

  4. Digo Eu: “Almoçaremos imperturbáveis, ainda que estivessem lá fora, ocupados, cem reitores com a contagem! Ele poderá entrar se quiser, e com prazer procurará voltar a casa.” Satisfeito, o hospedeiro

envia o mensageiro enquanto nos dirigimos ao refeitório, entregan- do-nos contentes à refeição, mormente pela fuga dos hóspedes. Após terminarmos, digo ao hospedeiro: “Aí vem ele; vai primeiro ao depó- sito e verás que peixe o reitor irá encontrar!” Mathias dirige-se rápido até lá — e se assusta, não pouco, quando depara com o monstro marinho, ao invés dos peixes de qualidade excepcional.

  1. Quando depara com ele, o reitor nada quer saber da conta- gem e compreende-se haver solução breve quanto ao dízimo, por- quanto não exige nem simples, nem triplicado, reclamando: “Esse monstro adiantou-se naquilo que me assistia de direito. Com prazer teria provado alguns de teus peixes formidáveis; mas onde nada exis- te, não há lei nem direito, e continuamos bons amigos. Caso faças outra pesca semelhante, manda-me alguns à venda e se apanhares menos de dez, estarás isento do tributo. Agora tratemos de nos afas- tar para longe do mar, pois essa serpente poderia subir até aqui e tragar-nos!” Assim ele volta rápido ao lar e por muito tempo deixa de aparecer nessa zona. Quando a boa distância, o monstro também se afasta nadando para alto mar, onde desaparece.

  2. Em seguida, Mathias analisa o depósito — novamente cheio de bons peixes. Satisfeito, ele retorna à nossa mesa e relata o ocorri- do. Ao mesmo tempo indaga onde costumam viver tais serpentes do mar, querendo desviar-se delas.

  3. Digo Eu: “Não te preocupes! Tais espécimens habitam as pro- fundezas do mar e sobem de século em século, por ocasião de ressa- cas violentas que se originam no subsolo, fato mui raro em enseadas. Levadas pela fome sobem à tona, à cata de pequenos animais, não costumam atacar homens. A partir de agora não mais surgirão, pois sua existência findou. Daqui a alguns dias mandarás destes peixes ao reitor, que se dará por satisfeito. Agora poderá cada um de vós formu- lar perguntas, caso deseje esclarecimento, pois de amanhã em diante repousaremos por poucos dias sem tocar em assuntos espirituais.”

  4. Respondem todos: “Senhor, não há o que indagarmos, pois já recebemos ensinamentos profundos acerca de tudo!” Digo Eu: “Pois bem, repousai e meditai sobre o que vos disse!”

67.AIMORTALIDADEDA ALMA

  1. Diz o hospedeiro: “Muito embora tivesse recebido muitos Ensinamentos de Tua Boca Divina, teria importantes indagações a fazer, e caso fosse de Teu Agrado, pedir-Te-ia resposta a respeito.”

  2. Digo Eu: “Qual é tua dúvida?” Diz ele: “Através de Tua Doutrina sabe o homem ser sua alma imortal, não obstante não se ter noção precisa de sua individualidade; ainda que dotado de fé segura, vez por outra é ela mesclada com a sensação da morte e o completo desaparecimento entre as criaturas conscientes. Não é possível a pessoa familiarizar-se com a ideia da sobrevivência da alma, de tal forma a proporcionar satisfação íntima, pois o coração novamente sente temor, porque não se lhe faz a luz neste assunto importante.

  3. Sendo, pois, morte e sepulcro os pensamentos mais tristes do homem e não podendo orientar-se de modo seguro, não se pode repreendê-lo caso se atire aos prazeres do mundo. Seria por isto de grande valia uma orientação mais precisa, Senhor! Pois de que adian- tam todas as filosofias, se o homem não possui a convicção plena da vida da alma após a morte?! Além disto, segue às Leis e religiões, mas apenas em virtude de uma ordem externa e não pela conquista certa da Vida Eterna além-túmulo.

  4. Sou um dos mais fiéis seguidores das Leis de Moysés e sem- pre procurei contato com sábios de todas as nacionalidades — que neste ponto sabiam tanto quanto eu. Romanos e gregos afirmam ser tal problema o véu de Ísis, que até então não foi desvendado por mortal. Isto soa bem e não deixa de ser verdade; mas qual seu benefício? O morto nada sente, ouve e vê, e nós, ainda presos à vida, qual verme num pau apodrecido, nada mais vemos, sentimos e ou- vimos dele senão sua matéria putrefata, reduzida, em poucos anos, a pó e cinza. Por isto Senhor, peço-Te — porquanto representas a Própria Vida — uma orientação certa neste ponto, pois não me agrada continuar com pensamentos na morte, na tumba e completa desintegração do meu físico!”

  1. Digo Eu: “Caro amigo, tua dúvida foi bem exposta e apre- senta necessidade premente dum homem; fornecer-te um ensina- mento que te proporcione consciência plena da Vida Eterna de tua alma — é coisa dificílima! Vim justamente a esta Terra para facultar aos homens tal noção completa, através de Minha Doutrina. Não a conhecendo ou não a aplicando, impossível chegar-se a tal cons- ciência interna, porquanto somente Eu sou o Caminho e a Porta para esse fim.

  2. Observas, por exemplo, a flor de uma árvore; pouco ou nada, porém, do fruto em formação. Somente após a queda da flor apre- senta-se um pequeno início do fruto. Nele, porém, tem que surgir a semente dentro do gérmen; acaso poderá ser observado no simples início?! Tudo tem aparência de uma só coisa: a capacidade já existe; tu, porém, não consegues discerni-la entre as demais partes desvita- lizadas, onde não amadurece o gérmen. Tão logo o fruto tiver alcan- çado a completa maturação, com facilidade descobrirás a semente.

  3. Fato quase idêntico se dá com a completa consciência psíqui- ca do homem: enquanto ele não a possuir dentro de si, a alma não amadurece, independentemente, no corpo. Ainda se acha demasia- damente vinculada à matéria e não pode perceber e sentir coisa di- versa do que o destino de seu corpo — e os melhores ensinamentos não poderão proporcionar à alma não evoluída a consciência íntima, plenamente amadurecida.

  4. Se, através da atividade própria dentro de Minha Doutrina, uma alma conseguiu a mencionada maturação da Vida, dispensável se torna qualquer prova subsequente. Acaso necessitas de prova de tua existência corpórea? Certo que não, e terias motivo de gargalha- das se alguém o pretendesse fazer. Se te encontras profundamente adormecido, porventura seria de utilidade uma prova concludente de estares vivo, uma vez que nada consegues ouvir?!

  5. Vê, até mesmo todo animal possui alma, cuja existência tem que ser psicossubstancial, portanto indestrutível, do contrário não poderia movimentar-se. Experimenta explicar a um irracional o que seja sua alma, vivendo apenas por ela. Entenderia tua explicação?

Tão pouco se tivesses falado a uma pedra! Por que não entende e não tem palavras para transmitir suas sensações aos demais seres? Uma alma animal acha-se profundamente enterrada em sua carne e nada sente além de suas necessidades físicas. Alguém pretendendo adestrar um irracional para um serviço mui simples, tem que se dar ao trabalho de despertar a psique em sua carne a ponto de entender o que o homem quer.

  1. Sabes existirem pessoas cujas almas não se acham muito aci- ma de irracionais, e às vezes até mesmo as ultrapassam? Levar tais psiques pela palavra a uma consciência interna da vida seria trabalho baldado. Para elas basta uma fé cega e muda da existência de suas al- mas após a morte, onde as espera prêmio ou castigo, a fim de que se submetam a uma ordem legislativa, qual boi aceita sua canga. Todo resto terá de ser guardado para outra oportunidade de vida.

  2. A um animal só se consegue obrigar a uma atividade inte- ligente através de educação dolorosa — e o mesmo acontece a um simples homem do mundo, cuja alma somente almeja satisfazer suas necessidades da vida, sem apresentar fator mais sublimado diante da psique irracional, com exceção da fala.”

68. RAZÃO DO PAVOR DA MORTE

  1. (O Senhor): “Terás com isto assimilado o motivo pelo qual criaturas como tu até hoje não conseguiram consciência plena da sobrevivência da alma; o pavor da morte não se baseia propria- mente neste fator, e sim no amor ao mundo e no amor-próprio. Por essas duas manifestações de amor, a alma é cada vez mais inte- grada ao corpo e a consequência disto é que a sensação da morte e desintegração se torna sua propriedade, trazendo-lhe toda sorte de medo e pavor.

  2. Os habitantes primitivos desta Terra não temiam a morte fí- sica, e sim a desejavam para se libertar do corpo alquebrado. Através de uma vida dentro da Ordem de Deus obtinham visões do Além, e estavam portanto orientados da sobrevivência da alma após a morte.

  1. Na época atual quase que não existe fé em Deus. De onde deveriam os homens receber tal noção de sua alma?! Afirmo-te: onde se põe em dúvida a base de toda Vida, não é de se estranhar a incre- dulidade quanto à vida psíquica.

  2. Ao palestrares com saduceus, verás serem pessoas materia- listas que amam o mundo e a si mesmas; não creem em Deus e negam por isto a imortalidade da alma, classificando de tolo a quem pretenda prová-la, porquanto aquilo é simples fantasmagoria de um cérebro fraco.

  3. Analisa os verdadeiros cínicos, discípulos do filósofo Dióge- nes. São verdadeiros inimigos da Vida, e imprecam contra uma força que os fez surgir sem consentimento próprio. Vivem dentro de mo- ral elevada, sobriamente, desprezando todo luxo, inclusive o menor conforto. O maior benefício lhes é a morte, pois dela esperam o completo extermínio de sua existência.

  4. Em compensação encontrarás na Índia criaturas a lidarem com almas desencarnadas tais quais estivessem vivas, recebendo orientação de coisas ocultas. Tais pessoas não têm o menor receio da morte — pelo contrário, tal dia lhes é motivo de festa e o nascimen- to, de profunda tristeza.

  5. Vês, portanto, quão diversas são as criaturas no assunto ex- posto. Aquilo que para certo povo constitui motivo de pavor, um outro isto desconhece, não obstante ensinamentos mais diversos. Os judeus são os que mais temem a morte, em virtude de seu grande amor ao mundo e de sua sensualidade. Quem como eles se dedicar a tais tendências perderá com o tempo toda inspiração do Alto; pois nada prejudica tanto a luz viva e justa da fé quanto a impudicícia, lascividade e depravação carnal, que de há muito grassam entre ju- deus, piores que os pagãos. A sensualidade sufoca a alma no lodo da carne e aniquila até mesmo o corpo. Assim sendo, de onde deveria ela buscar a consciência lúcida da vida?!

  6. És uma criatura simpática e com o justo tempo depositarei novamente a consciência da Vida Eterna em tua alma; mas quando ainda eras mais moço também te entregaste à volúpia carnal, no

que consiste o motivo preponderante de não teres chegado a uma noção verdadeira e lúcida, não obstante todas as tuas pesquisas. Em teu estado atual mais casto, em breve alcançarás maior luz interna, não necessitando fazeres perguntas idênticas. Ter-Me-ás compre- endido bem?”

  1. Responde o taverneiro: “De modo completo, Senhor! Con- fesso terem meus pecados na mocidade gasto grande quantidade de minhas forças psíquicas e agora, mais idoso, sua carência se torna sensível. Resta saber como recuperá-las.”

  2. Digo Eu: “Enquanto o homem viver nesta Terra e possuir vontade firme e rigorosa, a recuperação é bem possível, e David nos deu exemplo vivo e insofismável, pois também ele muito pecou na esfera da volúpia carnal. Mas conteve-se em tempo, deixou de pe- car por amor a Deus, tornando-se assim um homem justo perante Jehovah. Em verdade te digo: No Céu existe maior alegria por um pecador que reconhece seus pecados, os despreza e se arrepende, pratica penitência justa e razoável, modificando-se totalmente — do que com noventa e nove justos que jamais necessitaram de penitên- cia! Acaso não se dá o mesmo entre as criaturas, que sentem maior satisfação ao encontrarem um objeto perdido, ainda que de pouca valia, do que ao depararem seus grandes tesouros, jamais extravia- dos?! Fato idêntico ocorre com Deus, e se assim não fosse não Me contarias entre os teus hóspedes!

  3. É bem verdade terem teus pecados produzido alguns danos, tanto para o corpo como para tua alma; reconhecendo e te desvian- do do pecado, levou-Me a vir à tua casa para te curar completamente de todos os teus males. Onde Eu entrar, terá ingressado também o pleno perdão de todos os erros, a Luz e a Vida Eterna! Posso, por- tanto, afirmar-te ter sucedido uma grande Graça ao teu lar e a ti mesmo, e o futuro elucidar-te-á melhor a respeito que Eu; pois Eu te dei apenas o Ensinamento e a Promessa. No seu cumprimento depararás em ti a plenitude da Verdade.”

69.AMORESABEDORIADE DEUS

    1. (O Senhor): “Em verdade te digo: Quem ouvir o Meu Verbo, aceitá-Lo como Verdade e aplicá-Lo, fielmente, não sentirá a morte! Mas quem Me aceitar apenas qual boa conquista, ao lado do mun- do, pouco efeito ou consolo espiritual sentirá até o fim da vida, e no Além se demonstrará sua tendência preponderante. Pois se apre- sentar maior inclinação para o mundo do que para Mim, muito terá que lutar para o seu equilíbrio, e Minha Visita a sua casa, a fim de lá repousar, será protelada à longa distância.

    2. Assim orientado, sê alegre e saiba não ser possível abater-se uma árvore frondosa de um só golpe — e tua alma terá sossego! Precisas, de agora em diante, apenas viver e agir pelo Meu Verbo, e o resto que procurares ser-te-á dado em tempo.

    3. Não te preocupes tanto pelo teu lar e a manutenção de tua família; pois tal hábito é das criaturas mundanas e dos pagãos, que nada sabem de Deus, isto é, de Mim! Procura somente o Reino de Deus e Sua Justiça Luminosa, que consiste antes de mais nada no amor a Deus e ao próximo — e todo resto ser-te-á dado livremente!

    4. Observa as flores do campo; não trabalham e nada colhem, entretanto o Pai no Céu cuida de seu sustento e finalmente se trajam de modo mais régio que Salomon, em suas vestes reais!

    5. Se Deus zela pela erva que hoje nasce e amanhã é cortada e, de acordo com hábito antigo, secada em molhos e no fogão reduzida a cinzas — muito mais Ele cuidará daqueles que O amem e cum- pram Seus Mandamentos!

    6. As criaturas, geralmente maldosas, amam aos seus filhos e procuram lhes proporcionar todos os benefícios — muito mais fá-

-lo-á o Pai Celeste aos que Ele achou dignos de serem Seus filhos! Já ouviste falar de um homem dotado de grande sabedoria, cruel e inclemente contra seu semelhante ou sua prole?!

    1. É conhecimento comum que um homem sábio também é bom e procura fazer o bem a todos. Somente a Sabedoria podia formular as Leis aos homens e seu cumprimento lhes traria plena

felicidade; ela sancionou as Leis apenas por causa das criaturas mal- dosas e desobedientes, a fim de dar um meio aos bons de obrigarem aos tolos a fazerem o bem, caso as advertências nada frutificassem. Assim também é a sanção das leis da ordem um ato de amor e mise- ricórdia, provindos da Sabedoria.

    1. É fácil compreender-se não poder ela agir contra sua própria ordem, porque em tal hipótese estariam em perigo existência e fe- licidade de todos os seres bons e felizes. É da vontade da máxima Sabedoria levar igualmente renitentes espíritos e seres ao Bem e à Verdade, e para tal fim instituiu os meios adequados, que natural- mente não têm sabor agradável aos maldosos — todavia depende de sua vontade transformá-los.

    2. Tudo resulta da firme vontade do homem; caso se modifique e peça a Deus, cheio de confiança, algo justo e bom em Meu Nome, recebê-lo-á à medida de sua verdadeira regeneração, sua fé e confian- ça. Com tal promessa real poderás estar satisfeito.

    3. Quem meditar acerca disto e assim agir será feliz em tudo, não mais necessitando ter pavor da morte física, muito embora ti- vesse sido grande pecador. Deus, o Pai no Céu, enviou-Me a este mundo em virtude dos pecadores e não dos justos; de igual modo enviar-vos-ei aos pecadores, pois somente os enfermos necessitam de médico. Estás orientado?”

    4. Responde o taverneiro: “Oh, como não? Mas já está se fa- zendo noite, que faremos agora?” Acrescento: “Depende de ti, pois nada determinei até depois de amanhã. Se tiveres um pedido a fazer, externa-o e verei se te posso ajudar.”

70.O TERRENO SUBMERSO

  1. Diz Mathias: “Teria algo a Te pedir; mas talvez não merecesse importunar-Te.” Digo Eu: “Podes falar, pois nada no mundo é por Mim considerado sem importância.” Prossegue o hospedeiro: “Eis a questão: além desta propriedade, tenho outras, não longe daqui, onde pasta o meu melhor gado sob os cuidados de camponeses. Nes-

se enorme pasto bem cultivado há alguns meses afundou um vasto terreno formando uma cratera, cuja profundidade não é possível calcular-se, e talvez ainda venha a aumentar de circunferência.

  1. Um velho entendido em tais coisas perguntou se os animais se aproximavam da cratera. Para tal experiência mandei trazer alguns bem próximos dali; quanto mais perto, mais excitados ficavam e, a dez passos de distância, debandaram. Até as cabras não se consegue levar até ali, muito embora costumem trepar em rochas escarpadas. Em seguida, o velho afirmou ser isto prova certa de que afundaria ainda mais. Nessa situação angustiosa, como proprietário, pergunto-Te qual a razão desse fenômeno e se não existe possibilidade de saná-lo.”

  2. Digo Eu: “Vamos até lá para analisar a valentia dos espíritos brutos da terra que isto fizeram, estimulados pelas almas desencar- nadas de teus inimigos, porquanto adquiriste aquelas terras pela pe- nhora jurídica para saldar a dívida enorme que os prendia a ti.”

  3. Rápido nos encaminhamos ao malogrado sítio, lá chegando após meia hora. A cratera era realmente medonha, e além de Mim e do hospedeiro, ninguém se aproxima e ele confessa ser esta a primei- ra vez que a vê de perto.

  4. Digo-lhe então: “Traze-Me uma pedra enorme para saber se é possível tapar a cratera!” Em poucos instantes ele volta com uma pe- dra de dez libras, que Eu atiro com violência para dentro do buraco

  1. Eis que se ouvem vozes, exclamando: “Jesus de Nazareth, Filho de Deus Vivo, conhecemos-Te! Por que nos afliges antes do tempo? Achávamo-nos aqui oprimidos e procuramos nos libertar. Por que não nos permites tal liberdade? Fizeram-nos grande injus- tiça que nos trouxe a morte. Perdemos tudo. Por que o comprador não deveria igualmente algo perder? Por que não podemos guardar para nós este terreno nas profundezas?”

  2. Retruco: “Fazei o que disse, do contrário vos sucederá coisa pior!” No mesmo instante a fumaça desaparece no fundo, onde se

ouve um forte rugir, e em seguida percebe-se subir o terreno afun- dado; dentro em pouco está plano como se nunca houvesse havido depressão. Chamo então todos os discípulos e lhes digo: “Como sois fracos! Observai o solo que surgiu e reconhecei não ser possível algo opor-se à Força da Vontade Divina!”

71.AÇÃODOSMAUS ESPÍRITOS

  1. O taverneiro, então, pergunta qual era o sentido das palavras dos espíritos contidos na fumaça, dizendo que Eu não os afligisse antes do tempo. Digo-lhe, pois: “Todos os espíritos rebeldes consi- deram penoso quando advertidos à obediência para com Deus; pois o orgulho desconhece obediência, porque quer dominar e ordenar. E eles achavam encontrar-se pouco tempo no mundo espiritual, para se submeterem à Minha Vontade Divina. Teriam preferido per- manecer uma eternidade em suas inclinações maldosas e vingativas, sendo que qualquer espírito que os advertisse à ordem e submissão, ou até mesmo os compelisse a tanto, seria seu inimigo e algoz!

  2. Por isto, os ameacei imediatamente e eles cederam, não obs- tante contrariados. Tal não importa para semelhantes espíritos pre- sos ao julgamento e à morte, porquanto sua liberdade obstinada não é liberdade, mas simples prisão e julgamento tenebroso, de onde só poderão ser libertos paulatinamente, caso uma vontade mais forte se aposse da sua, obrigando-os a uma boa ação.

  3. Assemelham-se aos que no sono se entregam a sonhos fantás- ticos como se fossem monarcas, falando coisas desconexas, e muito se cansam. Todo mundo sabe serem tais sonhos prejudiciais à saúde e convém despertar a pessoa assim envolvida em suas fantasias. Nem bem acorda, aborrece-se cheia de raiva e só com completo despertar fica satisfeita de ter sido chamada à realidade da vida presente. Viu-

-se lograda em sua posse principesca e de rainha voltou a ser criatura comum; como tal, porém, chegou à convicção clara ter sido seu reinado nada mais que um pesadelo.

  1. O mesmo acontece com tais espíritos, apenas com a diferen- ça de passarem, às vezes, longo tempo em tais fantasias, sendo tam- bém mais difícil para acordar. Em semelhante sonho se encontram todos os aventureiros de vários matizes nesta Terra; são felizes e ai daquele que se atreva a despertá-los para o rigor da vida, através de palavras e ações! Conseguindo-o com um ou outro, o despertado alegra-se muito, porque somente no estado de consciência consegue reconhecer mais e mais o perigo de seu sono desconexo.

  2. Por tal razão também podereis tentar levar uma criatura de- sorientada à consciência; pois tal atitude será de grande benefício para os seus afins, e poderá influenciar melhor do que Eu. Não que- rendo despertar, deixai dormir tal burro preguiçoso! Serão precisos outros meios para despertá-lo, tais como: moléstias de toda espécie, guerra, fome e peste! Entendeste?”

  3. Responde o hospedeiro: “Deve ser assim, Senhor e Mestre; mas não deixa de ser penoso, pois quando Deus inflige grandes ma- les sobre os homens, são atingidos muitos inocentes.”

  4. Digo Eu: “Esses já sofrem como despertados entre tantos dorminhocos, portanto pouco ou nada perdem. Acaso é agradável encontrar-se em um quarto entre adormecidos, e ser obrigado ao silêncio?”

  5. Concorda Mathias: “É verdade, deve causar aflição a um sá- bio achar-se entre tolos, surdos e mudos, não podendo trocar uma palavra razoável. Nesse caso é preferível uma doença que leva ao des- pertar. Ah, Senhor, nem sei expressar minha felicidade em Tua Pre- sença Divina! Acompanhar-Te-ei quando partires, pois sem Ti tudo me seria estranho e desagradável. Agora desejava saber a profundi- dade daquela cratera.” Respondo: “Bastante profunda, porquanto atingia cerca de mil varas.”

72.INFLUÊNCIAESPIRITUALCOMPERMISSÃODADIVINA PROVIDÊNCIA

  1. Prossegue o hospedeiro: “Então os espíritos atrasados pos- suem força suficiente para fazer submergir, em tal profundidade, terreno tão vasto?”

  2. Digo Eu: “Têm propriamente tão pouco poder qual herói adormecido; vez por outra é permitido realizarem algo pela vontade de um poder mais elevado e consciente, a fim de despertá-los e no que empreendiam esforços inúteis. Tão logo tal acontece, acordam de súbito e reconhecem sua miséria. Deste modo alguns são trans- portados de sua vida fantástica a outra, mais real, pela própria von- tade, prevenindo-se não cair em tais fantasmagorias maldosas, para evitarem suceder-lhes algo prejudicial à sua suposta liberdade.

  3. Aqui deu-se apenas um encontro há muito tempo marcado, cujas circunstâncias visavam uma boa finalidade. No subsolo desse terreno existia, desde os primórdios desta Terra, uma enorme gruta completando uma continuação subterrânea do mar. Com o tempo, o lodo entupiu a entrada um tanto estreita, que ligava o Oceano à essa bacia. A infiltração da água salgada secando no decorrer das épocas, formou-se uma grande cratera e pelos repetidos terremo- tos se deslocaram partes soltas do terreno, caindo no abismo. Deste modo o solo se tornou cada vez mais fino e fraco.

  4. Quando nesta época foi provocado um leve tremor de ter- ra pelos espíritos brutos, em consequência de uma reação de almas maldosas que, devido à sua inclinação materialista se encontram ge- ralmente nas furnas do subsolo — o terreno todo despencou-se para lá. Eis a explicação natural, em si, não somente natural, porquanto prevista e permitida por Deus desde tempos incalculáveis, a fim de despertar os maus espíritos do sono.

  5. Assim, nada nesta Terra acontece puramente natural, mas sempre em plena ligação com finalidade elevada; pois em todo pla- neta o elemento espiritual está rigorosamente ligado à Natureza, em constante ação recíproca, fato que ireis assimilar completamente

quando fordes renascidos em espírito pela ação praticada dentro do Evangelho. Agora podemos voltar, pois em casa haverá novidades.”

  1. Indaga o hospedeiro: “Senhor, não conviria chamar os cam- poneses para orientá-los do grande milagre ocorrido?”

  2. Digo Eu: “Deixa isto por enquanto; amanhã ainda haverá tempo de sobra. É claro admitir-se a estupefação de teu pessoal; entretanto, pouco lucrará com isto para suas almas sensuais, por serem na maior parte gregos, portanto ignorantes e supersticiosos, e atribuirão o efeito a um tal semideus. Mais fácil é eles quererem orientar-te acerca do motivo de tal fenômeno, do que tu consegui- res fazê-lo; e caso digas ter Eu, o filho do carpinteiro de Nazareth, operado o milagre, ridicularizar-te-ão ou dirão estar Eu em contato com semideus.

  3. Tais pessoas ainda não se acham aptas para a aceitação do Rei- no do Céu; têm que ser preparadas com cuidado e capacitadas a julgar todos os fenômenos da Natureza de modo mais razoável, pois fazem depender tudo da vontade dos deuses, cuja presença alegam sentir até mesmo pelo olfato — e em tal caso, nada feito com a plena Verdade dos Céus de Deus. Por isto deixemo-los e voltemos para casa.”

73.AFILHADOHOSPEDEIRO,AFOGADA,ESUA RESSURREIÇÃO

  1. Quando lá chegamos, ao pôr-do-sol, o hospedeiro observa a ressaca no auge e, à distância de cem varas, um navio sujeito a soço- brar, e que talvez fosse conveniente socorrê-lo.

  2. Respondo: “A outro qualquer, sim — mas este, não! A ven- tania matutina o impeliu muito próximo; mas outra o fará recuar. Trata-se da embarcação com os esbirros de Jerusalém, incumbidos de Me prender e matar. Agora estão em Meu Poder, onde ficarão mais alguns dias e noites — para em seguida serem levados à costa de Tiberíades, livrando-os da aflição. Só então voltarão a casa mais cordatos, e jamais tentarão perseguir-Me. Vê, o vento já afasta a em- barcação. Vamos, pois em casa nos espera outro assunto!”

  1. Todos estão ansiosos por ver o que há e levam forte susto ao depararem com a filha mais velha de Mathias morta, em cima do leito. Tinha ido sozinha ao grande depósito de peixes a fim de su- prir-nos para o jantar; não conseguiu dominar um exemplar enorme que a atirara para dentro do tanque. Aos seus gritos se aproximaram várias pessoas para socorrê-la, mas quando conseguiram retirá-la, já estava sem vida. Não é preciso mencionar o grande alvoroço dentro de casa, enviando-se rápido um mensageiro à cidade para trazer o médico, que tudo fez a fim de salvá-la. Não obstante o desespero da família e os esforços do esculápio, ela não dava sinal de vida. O hospedeiro, de coração oprimido, dirige-se a Mim com as palavras: “Senhor, sei que tudo Te é possível!”

  2. Interrompendo-o, advirto: “Nada digas a respeito; não quero fazer alarde! O médico, fariseu, dirá em breve: Não consigo socorrer a moça, pois está morta! — Então lhe pagarás depressa para que se afaste, e Eu farei o que Me cabe. Quando puser Minhas Mãos na afogada, ninguém deverá estar presente!”

  3. Nessa altura o médico declara ter a moça falecido; convi- ria, porém, envolvê-la em toalhas aquecidas, pois talvez despertasse em algumas horas. Esta afirmação deveria constituir consolo para os pais. O hospedeiro indeniza o médico, que promete mandar as carpideiras; ao que Mathias aduz haver tempo para isso até o dia seguinte, e ele mesmo se incumbiria do caso.

  4. Quando o quarto está vazio das pessoas desnecessárias, aproximo-Me da afogada, ponho-lhe Minha Mão e digo: “Filha, desperta de teu sono!” No mesmo instante ela se ergue e pergunta o que havia sucedido. Lembra-se de ter caído no tanque, mas não sabe explicar como chegara ao leito.

  5. Digo Eu: “Estavas morta, Minha filha, mas Eu, a Própria Vida, restituo-te a existência. No futuro, sê mais prudente e exe- cuta somente aqueles trabalhos para os quais te assistem forças su- ficientes, do contrário sofrerás outro desastre. A atitude laboriosa é sempre louvável; mas quando excede as forças, torna-se tolice. Não

esqueças disto e transmite-o à tua mãe e irmãos! Mostra-te a eles, todos aflitos, e tratai do jantar!”

  1. Ela Me agradece pela grande Graça e procura os familiares, que não se contêm de alegria. Ela, então, testemunha de viva voz: “Isto foi obra do Grande Mestre de Nazareth, que nos recomenda uma farta refeição!” Alegres, todos começam a ajudar e o hospedeiro não tem palavras para agradecer-Me. Os discípulos novos não param de admirar-se e dizem: “Este milagre convenceria o Templo todo!”

  2. Eu, porém, respondo: “Uma prova maior e idêntica revoltará os templários contra Mim, a ponto de empreenderem tudo para o Meu extermínio! Nada mais necessito dizer. Basta deste assunto, e estejamos alegres.” Em seguida ceamos e os apóstolos se entretêm com relatos de sua vida.

74.ONAVIOFARISEUEMALTO MAR

  1. A família de Mathias, inclusive a filha ressuscitada, se aproxi- ma para ouvir histórias de maus espíritos e demônios por parte dos discípulos, que também afirmam não ser possível a algumas pessoas se protegerem contra as perseguições desses seres invisíveis. Tal per- missão partindo de Deus é um enigma, e os obsedados deveriam ser considerados particularmente, tanto mais quanto se dava o fenôme- no em crianças pequenas.

  2. Manifesta-se também Mathias: “Eis um assunto estranho e incompreensível! Eu mesmo já observei tais ocorrências em crianças de cinco anos, muito castigadas pelos espíritos obsessores, e nin- guém conseguia aliviá-las.”

  3. Digo Eu: “Meus apóstolos já estão orientados e te poderão elucidar, mormente Pedro, Jacob e João, e também sabem tanto quanto Eu afastar esse mal. Nada mais direi a respeito, pois havia avisado que descansaria durante esses dias, em Doutrina e ação. Po- deis fazer e falar à vontade; apenas não Me denuncieis aqui e muito menos na cidade!”

  1. Os discípulos prosseguem nos relatos e João explica aos outros o fenômeno da obsessão; quando termina, por volta de meia-noite, recolhemo-nos. De manhã cedo Me dirijo com os três apóstolos mencionados ao ar livre, acompanhados pelo hospedeiro, enquan- to os outros se entretêm com anotações. Palestramos, entretanto, a respeito do navio farisaico em luta com as ondas furiosas; e Mathias opina que o vento o tenha impelido para Tiberíades.

  2. Ao que respondo: “Ainda não; isto acontecerá em alguns dias, isto é, caso mudem sua intenção — do contrário, deixá-los-ei por muito tempo em meio do mar, remando baldadamente!”

  3. Mathias então percebe não ser possível brincar-se Comigo; também é inimigo dos templários e está satisfeito com a Minha rea- ção. Assim ficamos observando grande quantidade de aves aquáticas que procuram seu alimento durante a maré; Mathias pergunta onde ficam na calmaria.

  4. Pedro, exímio pescador, explica: “Trata-se de uma espécie de aves de rapina do mar, que apenas é vista quando há possibilidade de caça; do contrário, acha-se à beira-mar, inalcançável por parte da terra e da água, onde se encontra grande número de insetos e ver- mes. Durante as ressacas tais bichinhos se escondem, obrigando-as à caça de pequenos peixes. Eis a explicação, em si não mui importan- te, mas convém saber de tudo.” Satisfeito, o hospedeiro pergunta se queremos voltar para o desjejum.

75.AJUSTAOBSERVAÇÃODA NATUREZA

  1. Digo, pois: “Ainda temos uma hora para tanto; aqui estamos bem e podemos observar como se realizam os Pensamentos de Deus.”

  2. Indaga nosso anfitrião: “Senhor, como se poderá ver isto?”

  3. Respondo: “Tudo que vês, ouves e percebes através dos senti- dos é apenas realização de Pensamentos Divinos. Vês as ondas agita- das. Quem faz a água elevar-se a semelhante altura e não deixa que descanse? Eis o Pensamento de Deus, vivificado pela Sua Vontade. Observa as aves a brincarem com as ondas. Que mais seriam, se-

não simples Pensamentos fixados de Deus? O mar, as montanhas, os animais, ervas, arbustos e árvores, as criaturas, o Sol, a Lua e as incontáveis estrelas traduzem Seus Pensamentos. Sua existência depende unicamente da Imutabilidade da Vontade Divina, ainda incompreensível para o teu entendimento.

  1. Admitamos a possibilidade, pois a liberdade da Vontade Di- vina é Infinita, de que Deus sustasse Sua Vontade de um dos Pen- samentos realizados à nossa frente — e sua existência seria nula. O Pensamento continuaria em Deus, mas a matéria se dissolveria em nada. Aqui temos diante de nós o surgir, a formação e transformação dos Pensamentos de Deus, tão importantes para o verdadeiro amigo do Pai! Não consiste em verdadeira felicidade observá-los e neles conhecer dia a dia o Amor, Sabedoria e Onipotência de Jehovah?!

  2. Vede em direção a Leste as pequenas nuvens, ora aumen- tando, ora diminuindo e de repente — desfazendo-se! Também são Pensamentos de Deus, que apenas levemente concentrados no ar, passam para uma materialização sutil, apresentando-se em formas constantemente mutáveis. Tais formas estão evidentemente mais próximas do elemento de origem espiritual do que as montanhas concretas e todas as demais formações que nos circundam por todos os lados; entretanto, sua existência é mais imperfeita, pois necessi- tam passar por outras formas, por exemplo, gotas de chuva. De lá ingressam ao alimento de algumas plantas, onde aceitam forma algo definida e consistente até chegarem ao homem, podendo transfor- mar-se, como seres completamente livres e independentes na vonta- de e ação, em elementos espirituais imutáveis e semelhantes a Deus. Quem observar as criações de Deus deste modo sentirá muita satis- fação e alegria, pois proporciona ao homem maior energia do que um desjejum tomado fora de hora. Concordas?”

  3. Responde o hospedeiro: “Oh, sim, Mestre e Senhor, mas para tal observação cheia de vida é preciso se possuir Tua Sabedoria; poderia fazê-lo durante um século, sem encontrar o que revelaste. De agora em diante isto modificará, pois sou amigo da Natureza e sinto prazer em suas manifestações. Apenas deparando aberrações,

procuro afastar-me; por exemplo, por ocasião de tempestades, quan- do nuvens nos tentam aniquilar com raios e trovões — minha sim- patia chega a um fim. Essa ressaca não é propriamente uma ação de calma em a Natureza, todavia é inofensiva, podendo ser observada com serenidade; mas se viesse um furação, não seria a observação oportuna para descobrir o Pensamento imponente de Deus, vivifi- cado pela Sua Vontade.”

  1. Digo Eu: “É isto mesmo; o que te disse não é ordem, mas apenas conselho; do contrário, as criaturas teriam que descer às profundidades marítimas para poder estudar as materializações dos grandes Pensamentos de Deus. Sempre que o homem puder fazê-lo sem perigo e dano para sua vida, haverá grande benefício para alma e corpo, despertando cada vez mais o espírito do verdadeiro amor a Deus e ao próximo.

  2. A fim de poder amar a Deus em verdade, preciso é procu- rar conhecê-Lo melhor. Quem não se esforçar neste sentido será responsável, continuando sua noção e consciência da sobrevivên- cia eterna da alma excessivamente fracas; pois tal real sensação é justamente a consequência do amor verdadeiro e ativo a Deus e ao semelhante.

  3. Deus, o Pai, é, em Sua Natureza Intrínseca, o Amor e em Si a Própria Vida, porquanto Amor e Vida são uma só coisa. Quem tiver o Amor a Deus, único elemento da existência, possuirá a Vida Real, Eterna e Divina. Quem não o possuir estará espiritualmente morto; sua vida é apenas aparente, portanto um julgamento, até que tenha despertado, de modo próprio, o Amor a Deus através da ação. Por isto é benefício para o homem verdadeiro quando, vez por outra, medita acerca daquilo que se apresenta aos seus sentidos. Compre- endes o que te disse?”

  4. Responde ele: “Sim, Senhor e Mestre, apenas é de lastimar que a maioria das criaturas ignore tais ensinamentos importantís- simos. Não deixarei de passar adiante o pouco que sei às de boa assimilação. Qual será o motivo principal de se terem tornado, nesta época, tão ignorantes?”

76.MOTIVODADECADÊNCIAHUMANA.TEOCRACIAE IMPERIALISMO

    1. Digo Eu: “Reflete acerca daquilo que já te falei; antes de tudo são orgulho, ócio, amor-próprio e o domínio consequente moti- vos da decadência humana. Já em épocas de Samuel os homens se tornaram mais preguiçosos, pois começaram a se envergonhar de certos trabalhos, mandando executá-los por empregados. Os pro- prietários descansavam e mandavam outros trabalharem por eles, e quem mais trabalhasse recebia maior pagamento, o que não deixava de ser justo; mas desse modo se formou, aos poucos, uma espécie de pequenos soberanos, que de modo algum queria executar o menor trabalho manual.

    2. Os filhos, naturalmente, imitavam os pais, tornando-se pre- guiçosos, egoístas e dominadores. Aprendiam a mandar, sem que- rerem sujar as delicadas mãos com serviços vulgares. Tal vício au- mentou de ano para ano, e em breve alcançou aquele grau, onde o excessivo orgulho não mais encontrava satisfação. Ele, o judeu, fitava com melancolia o brilho dos grandes potentados pagãos, con- siderando um rei a figura de maior elevação e dignidade. Em suma, também quis um regente mundano, pois o Regime puro de Deus através de Seus Visionários e Juízes não o satisfazia.

    3. Quando o povo, contrário a todas as advertências, continua- va exigindo de Samuel um rei, este fiel servo de Jehovah expôs-Lhe tal incoerência, porquanto não sabia o que fazer. E Jehovah lhe disse: A todos os pecados que este povo cometeu diante de Mim, acrescen- ta o maior, exigindo um rei! Vai ungir o homem mais importante do povo! Ele o castigará pelo ultraje a Mim feito!

    4. Eis em poucas palavras a resposta de Deus. As consequências do orgulho cada vez mais alimentado poderás ler no Livro dos Reis e da Crônica, onde encontrarás a História do povo judaico, e na maior parte tens tal situação diante de ti.

    5. Amigo, somente na verdadeira humildade se acha o caminho para a vida interna da alma! Mas quem a possui? Nem um simples

servo, pois calcula seu valor pela honra e o conceito do patrão. Caso forem mais elevados de que de um colega, este será menosprezado, não havendo motivo para troca de palavras.

    1. Afirmo-te: enquanto o amor verdadeiro e puro e a correspon- dente humildade não organizarem o regímen dos povos existirá, de modo geral, a treva sobre a Terra. É certo que sempre haverá alguns bafejados pela luz; mas serão poucos. Enquanto houver soberanos excessivamente orgulhosos e dominadores, a semente do orgulho se alastrará em todas as camadas da Humanidade e o obscurecimento, treva, egoísmo, inveja, cobiça, perseguição e traição como elementos do inferno não desaparecerão do solo terráqueo, até a época do gran- de julgamento, em que novamente purificarei o planeta pelo fogo. Em seguida, não haverá mais rei regendo os povos, mas somente a Luz Divina. Não assistireis tal época na carne, mas clara e nitida- mente em espírito, no Meu Reino.”

    2. Pergunta o hospedeiro: “Em que ano virá tal era feliz?”

    3. Respondo: “Isto somente o Pai sabe, e além Dele apenas aquele a quem Ele quiser revelar. A Mim o Pai ainda não o revelou, a não ser que venha a suceder. Uma coisa podeis aceitar como plena verdade, que sempre ocorre uma grande transformação na Terra de dois em dois mil anos. Assim será, a contar de agora. Nada mais se falará a respeito!”

    4. Diz Mathias: “Senhor, se for de Teu Agrado, o desjejum está nos esperando!” Digo Eu: “Pois bem, vamos a casa!” Ao lá chegar- mos, os discípulos perguntam onde andávamos, porquanto não conseguiram nos achar.

    5. Eu lhes digo: “Não nos procurastes onde estávamos, razão por que não nos encontrastes.” Durante a refeição, um judeu obser- va ter sido Minha resposta estranha e não sabia como interpretá-la. Respondo: “Tal qual vos foi dada. Se quiserdes meditar um pouco, nela encontrareis uma grande Verdade espiritual.”

    6. Opõem os discípulos: “Será um tanto difícil, pois parece nada mais que reação merecida para nossa indiscrição!”

    1. Digo Eu: “De modo algum! Dir-vos-ei o sentido de Minhas Palavras: em verdade, quem não Me procurar onde Eu estiver jamais Me encontrará. No decorrer dos tempos, muitos Me procurarão sem Me acharem. E épocas virão em que se levantarão muitos falsos profetas e Messias, dizendo: Eis aqui o Ungido!, ou: Lá está Ele!

    1. Procurastes-Me um tanto aborrecidos, porque não vos avi- sei para onde iria. Isto não foi o justo local para Me procurardes es- piritualmente em vosso íntimo, razão por que não Me encontrastes externamente! Não se relaciona à vossa posição quanto a Mim, mas vos demonstrou a situação futura. Por isto deve todo doutrinador formar suas palavras em todas as ocasiões, ainda mesmo em coisas de somenos importância, de modo tal a servirem de base a um en- sinamento novo e importante. No Reino dos espíritos puros diante de Deus, tereis que prestar contas palavra por palavra futilmente pronunciada, sendo desclassificados na luz da Verdade Divina!” Esta advertência não é do agrado dos discípulos, entretanto grava-se pro- fundamente em suas almas.

77.NASREDONDEZASDE CAPERNAUM

  1. Após o desjejum dirigimo-nos a um monte bastante alto, perto de Capernaum. O taverneiro e sua filha ressuscitada também nos acompanham, e ele ordena ao empregado para levar algum pro- vimento, porquanto Eu lhe dissera que ficaríamos lá em cima até à noite. Por outro empregado manda ele entregar dois peixes como regalo ao reitor. Subimos, pois, o monte em poucas horas, de cuja altura se avista parte do Mar Galileu, inclusive o navio ainda a se debater contra as ondas.

  1. Diz o hospedeiro: “Aqueles desvairados por certo não terão mais provimento e passam fome!”

  2. Replico: “Têm algum pão úmido — e é quanto basta para sua maldade! Todavia, já desistiram de seu plano medonho e ten- tarão a volta, no que serão auxiliados por bom vento. Ainda assim, passarão por grande aflição até alcançarem a praia, pois tão facil- mente não devem se salvar!”

  3. Obtempera Mathias: “Não sinto piedade para com os tem- plários tenebrosos; lastimo os marinheiros, que ao invés de paga- mento, receberão castigo, porque os fariseus lhes atribuirão a culpa por não terem podido conduzir a embarcação!”

  4. Digo Eu: “Não te preocupes; são gregos fortes da zona de Tiberíades. Ainda se acham supridos de peixes defumados, carne de porco, também defumada, e pão, duas vezes assado. Na popa guardaram alguns odres de vinho, e como os templários não con- seguem comer seu pão molhado, compram, por muito dinheiro, o provimento dos marujos, de modo que esses nada sofrem, além da situação difícil do barco. Por isto não nos preocupemos com eles; só à noite alcançarão, com dificuldade, a margem. Que assim seja!”

  5. Novamente o hospedeiro faz uma pergunta, dizendo: “Se- nhor, como és Onisciente, por certo saberás onde anda Judas, que nos deixou anteontem.”

  6. Digo Eu: “Também ele não nos interessa! Depois de ama- nhã voltará e não o impedirei nisto. Vamos apreciar o panorama e podeis entrementes meditar sobre os ensinamentos dados pela ma- nhã. Procurai instruir quem os desconhece, que sentireis verdadeira alegria.” Todos assim fazem, palestrando até ao anoitecer, de sorte a esquecerem-se do provimento. A filha de Mathias, sentindo fome, lembra-lhes.

78.PALESTRAENTREOHOSPEDEIROEO REITOR

    1. À noite voltamos para casa onde nos aguarda a ceia, e um mensageiro do reitor entrega a Mathias um cesto de ovos frescos como agradecimento pela dádiva. O hospedeiro agradece e promete lembrar-se do reitor na próxima pesca.

    2. Diz o mensageiro: “Será motivo de regozijo para meu patrão. Ele foi informado da presença do profeta de Nazareth e gostaria de palestrar contigo a seu respeito. Quando poderias visitá-lo?”

    3. Responde Mathias: “Espera um momento. Tenho que falar a um amigo com o qual pretendo combinar um negócio por esses dias, em seguida darei ao reitor os esclarecimentos que deseja acerca do homem milagroso, que bem conheço.” Após ter assim falado, ele entra no refeitório para saber de Mim o que fazer. E Eu aconselho: “Embora já esteja anoitecendo, dize-lhe estar Eu aqui e que ficarei o tempo que Me aprouver. Quem tiver algo contra Mim, que venha pessoalmente para resolver o assunto; pois responsabilizo-Me por Minha Pessoa, e ninguém mais no mundo. Transmite-lhe isto, que ele ficará satisfeito. É só o que deves falar!”

    4. Rápido, o hospedeiro vai, em companhia do empregado, à casa do reitor, ansioso por saber algo acerca de Minha Pessoa. Quan- do recebe o Meu recado, ele se irrita, dizendo: “Como podes acolher um homem perseguido por todos?”

    5. Responde Mathias: “Tal é meu dever de hospedeiro, pois não posso fechar minha porta seja a quem for. Nem tenho direito de expulsar ladrões e assaltantes, ou perguntar-lhes o que desejam, por- quanto também respeitam a taverna. A minha é inteiramente livre, e um criminoso lá não poderia ser preso e levado à justiça durante sete dias, pelas leis de Roma. Se assim é, por que não deveria hospedar o homem mais célebre do mundo, que nunca ficou devendo algo, e além disto é a criatura mais amável que já vi?!

    6. Além do mais fez ele um discurso na sinagoga; se tinhas algo contra ele, perdeste a oportunidade de chamá-lo à razão. Eu, como hospedeiro, não tenho direito a tanto. Ainda se acha em minha casa,

e se quiseres poderás, como qualquer um, procurar entendimento com ele. Sei de experiência própria não temer quem quer que seja, pois me disse expressamente não haver no mundo quem por ele se responsabilize. Ao passo que as criaturas têm motivos para tal, pois o poder de sua vontade é ilimitado.”

    1. Diz o reitor: “Sei estares no teu direito e ninguém poderá obstar-te. Não deixes, porém, levar-te a crer ser ele o Messias Pro- metido aos judeus! Ele divulga essa heresia entre o povo, que lhe dá crédito porque positiva sua doutrina através de milagres, na maior parte realizados com ajuda de Beelzebub. Era apenas isto que queria dizer-te, e me agradou tua chegada até aqui ainda hoje.”

    2. Diz Mathias: “Por isto não me precisavas chamar; sou ho- mem de vastas experiências e sei diferenciar entre o falso e o ge- nuíno. Todos nós conhecemos esse homem quase desde infância, inclusive seus pais, devotos e obedientes a Deus e Seus Ditames. Como poderia seu filho estar de conivência com Satanás e realizar Suas Obras Divinas com ajuda do mesmo?!

    3. Quem quiser formar juízo acertado terá que se dar ao tra- balho de conhecê-lo em todos os aspectos. Condenar alguém sem saber quem é, não acho adequado à prudência sacerdotal. Vai pesso- almente falar-lhe — e depois poderás julgá-lo!”

    4. Após certo tempo, o reitor se expressa: “Tens razão, e se não fosse meu posto, certamente pensaria como tu. Sou reitor e tenho que agir como manda o dever; entretanto, também sou humano, do contrário teria, a mando do Templo, feito prender aquele homem para enviá-lo a Jerusalém. Por isto não assisti à prédica na escola, para dar impressão de ignorá-lo. Pois bem, se me for possível, irei procurá-lo amanhã ou depois; ao menos quero vê-lo!”

    5. Aduz o hospedeiro: “Não te arrependerás!” Em seguida, ele volta junto de Mim e relata o encontro. Eu lhe digo: “Falaste muito bem, porque Eu Mesmo te inspirei; não obstante, o reitor é templário e caso recebesse nova ordem para Minha captura, fá-

-lo-ia, com presteza. Não é impulsivo, mas grande amigo da co- modidade, e assim deixa-nos agir a gosto. Será difícil positivar-se

sua vinda aqui; pois ao despertar amanhã, nem se lembrará do que disseste. Agora vamos repousar, que a montanha nos deixou cansa- dos!” Todos seguem o Meu conselho. Demorei ainda dois dias em casa do hospedeiro sem que algo de maior sucedesse. No terceiro, dirijo-Me com os discípulos e Mathias à praia, e mando que o mar serene. Imediatamente as ondas se acalmam e os pescadores se en- tregam à sua tarefa, que há cinco dias descansavam sem, contudo, causar-lhes prejuízo.

79. O SENHOR AO NORTE DA GALILEIA. A VOZ INTERNACOMOSEGREDODEDEUSNOCORAÇÃODACRIATURA(EV.JOÃO7, 1)

      1. Nessa manhã, Judas se une a nós e faz menção de contar seus atos feitos em Meu Nome. Eu, porém, lhe digo: “Deixa disto; pois nada Me é desconhecido. É melhor calares para evitar mentiras; pois a metade de tuas palavras é mentira!” Ele se contém e procura algo para comer. Dirijo-Me ao taverneiro, dizendo: “Amigo, aqui nada mais há que fazer e partirei depois do almoço. Hoje à noite virão aqui muitos estranhos, entre eles alguns de Jerusalém, com os quais quero evitar contato. Manda preparar o almoço; poderás nos apre- sentar a conta, se bem que não para Mim e Meus apóstolos, e sim para os vinte novatos, providos de dinheiro!”

      2. Opõe Mathias: “Não, Senhor e Mestre, ainda que Teus dis- cípulos fossem meus hóspedes durante dez anos, nenhum teria que pagar-me. Sou Teu grande devedor a tal ponto de não poder resgatar minha dívida com montes de ouro maciço! Imagine a pesca, a mila- grosa supressão da cratera e finalmente a ressurreição de minha filha! Como poderei recompensar-Te à altura?!”

      3. Digo Eu: “Está bem; manda então aprontar um bom almo- ço.” Entrementes os discípulos se aproximam, dizendo: “Senhor, para onde irás? Galileia já foi minuciosamente percorrida; ao passo que Judeia, Samaria, Mesopotâmia e o trajeto que leva a Damasco ainda não procuramos. Que tal se fôssemos até lá?”

      1. Digo Eu: “Sei que aqueles países necessitam de luz, mormen- te a Judeia pervertida; entretanto, não a procurarei, porque lá sou muito visado. Se bem que ninguém Me possa prender antes do tem- po, de que já vos dei provas de sobejo — não quero fazer com que o povo se torne pior com Minha Presença. Os demais países ainda não têm a devida maturação, razão pela qual ficaremos na Galileia para aumentar a luz.”

      2. Minha Determinação é do agrado dos discípulos, sem grande inclinação para com os judeus, que desprezavam quase tudo que se originava da Galileia. Os novatos opinam serem Mesopotâmia e Syria os países mais adequados para se difundir a luz do Céu.

      3. Retruco: “Acaso julgais não conhecer Eu aqueles países? Lá se pode contar, por um péssimo judeu, no mínimo dez romanos e gre- gos, genuínos pagãos e cheios de superstições. Como receberiam a Luz verdadeira e celeste?! Na Samaria ela já foi divulgada e aumenta consideravelmente. Damasco, porém, é metrópole comercial e seus moradores só se preocupam na venda de seus produtos a bom preço, portanto nada se conseguiria com a Doutrina. Mais tarde ela será implantada até mesmo lá. E assim ficaremos na Galileia para visitar e soerguer os nossos amigos da Luz!

      4. Quando um soberano pretende reger um povo, preciso é primeiro construir um castelo sólido, invencível aos seus inimigos. Os súditos observando sua invulnerabilidade, submetem-se às suas ordens. Deste modo a Galileia será para nós uma fortaleza sólida, cuja queda não será coisa fácil para o inimigo da Luz. Eu, como galileu, sou a Pedra Fundamental, e vossa fé é a rocha sobre a qual edifico a fortaleza de Deus. — Eis o hospedeiro para nos convidar à refeição. Vamos!”

      5. Após o almoço, Mathias pergunta se nos pode acompanhar até ao próximo lugarejo. Eu lhe digo: “Também te tornaste Meu dis- cípulo por Me teres reconhecido. Permanece aqui, onde poder-Me-ás ser mais útil do que Me acompanhando. Hoje ainda virão muitas pessoas ao teu albergue e terás oportunidade de representar-Me. Tal fato repetir-se-á. Em poucas semanas voltarei para ficar aqui por

alguns dias, quando poderás te inteirar melhor de Minha Doutrina. Ao falares em Meu Nome não precisas refletir, pois Eu Mesmo te inspirarei!”

      1. Diz ele: “Senhor, como perceberei tal fenômeno?!”

      2. Respondo: “Sentirás no coração pensamentos tão nítidos quais palavras pronunciadas, e basta proferi-las. Nisto consiste o Se- gredo de Deus no coração humano. Acrescento mais: ao encontrares um enfermo, apõe-lhe tuas mãos em Meu Nome que ele melhorará! Não te deixes pagar pela cura e dize-lhe apenas: Dá Graças a Deus, ao Onipotente, em Seu Filho Jesus! Vai e não peques mais! Cumpre os Mandamentos e faze o bem! — Deste modo conseguirás mui- tos crentes em Meu Nome!” Em seguida, ponho-lhe Minhas Mãos, transmitindo-lhe as forças para agir em Meu Nome.

80.VISITAAOHOSPEDEIROEMCANÁ.CURADEUMACRIANÇA.UMEVANGELHOPARA MÃES

  1. Em seguida partimos rápidos e à tardinha chegamos a Caná, na Galileia, onde havia Eu transformado água em vinho. Pernoita- mos na mesma casa, pois também é albergue e não é preciso men- cionar que fomos bem acolhidos. O jovem casal já tem um filho de poucas semanas que sofria de convulsões, em virtude de um susto que a mãe passara durante o resguardo. O motivo fora um incêndio na vizinhança, rapidamente debelado. Tanto os pais quanto os avós tudo fizeram para curar o menino — mas em vão.

  2. Quando entro em sua casa, o jovem casal se atira a Meus Pés, dizendo: “Ó Mestre, foi Deus que Te mandou aqui para curares nosso garotinho!”

  3. Digo Eu: “Levantai-vos, pois não se deve ajoelhar diante de um homem!”

  4. Contestam eles: “Mestre, sabemos seres mais que simples mortal, portanto justifica-se nossa atitude! Socorre nosso filho!”

  5. Respondo: “Está bem, trazei-Me a criancinha!” Eles obede- cem e Eu aponho-lhe as Mãos, abençoando-a — e no mesmo ins-

tante ela se cura e sorri como se nunca estivesse doente. Em seguida digo à jovem mãe: “Sê mais prudente no futuro! Quando estiveres irritada, não dês de mamar à criança até que tua alma se tenha acal- mado! Através do leite materno podem surgir muitas moléstias fí- sicas e até psíquicas nos filhos. Lembrai-vos todos deste fato! Agora tratai de uma ceia!” Os pais Me agradecem contentíssimos e vão satisfazer o Meu pedido. Dentro de uma hora tudo está preparado e nos conduzem a um refeitório novo; quando terminamos, indago do anfitrião quando e por quem havia sido feito o grande salão de jantar. Ele responde: “Senhor, esse trabalho não se deu de modo na- tural. Joses e Joel, Teus irmãos, foram os construtores. Dispunham apenas de dois ajudantes, e quando começaram a preparar os cedros, o trabalho levou um dia, ao passo que necessitariam, no mínimo, de uma semana para tanto. O ajuste das pilastras, do assoalho, o levan- tamento do telhado e tudo que se acha no interior da sala — durou o mesmo tempo que Deus empregou para a Criação do Universo. Em suma, pelo critério de qualquer entendido, a construção de sala idêntica levaria meio ano, com ajudantes laboriosos — e esta foi realizada por quatro homens, em seis dias, portanto é milagre evi- dente! Joses e Joel estavam certos de Tua Ajuda e a própria Maria, Tua Mãe dedicada, dizia o mesmo! Não é isto, Senhor e Mestre de todo Ser e Vida?”

  1. Respondo: “Está bem, foi tal qual. Agora vamos dormir e amanhã falaremos a respeito!”

81.OSENHORNONORTEDA GALILEIA

  1. Durante sete dias fiquei em Caná, e Meus apóstolos prega- vam o Evangelho ao povo. De lá seguimos para o Norte após termos feito muita caridade; inúmeras pessoas nos acompanham por certo trajeto e voltam aos lares confortados. Nessas zonas encontramos quantidade de pagãos, muito supersticiosos, dando grande valor a amuletos. Por isto nos fitam admirados, não compreendendo como podíamos viajar sem tais meios de proteção. Quando começamos a

lhes dar provas de nosso poder interno, jogam-se de bruços contra a terra temerosos de nos fitar, porquanto nos consideram deuses do Olimpo. Somente após prolongadas explicações e provas voltaram a nos tomar por criaturas humanas, dando oportunidade de nos externarmos.

  1. Demoramos cerca de três semanas e convertemos grande número de pagãos ao puro judaísmo. No fundo eram pessoas bon- dosas que tudo faziam para bem servir-nos. Muito se chorou ao dei- xarmos a zona; confortei-os, porém, de sorte a nos deixarem partir com calma.

  2. A fim de que o leitor se oriente com mais facilidade quanto à zona dessa raça pagã presa aos talismãs, pode procurar em um mapa antigo que encontrará na Ásia Menor uma região chamada “Capadócio” (Cai pa dou ceio: Que querem esses aqui). Na fronteira Sul havia uma cidade com o nome de Melita (Mei liete: é preciso ter idade). Tal denominação resultou de um jovem rei inteligente e destemido, que quis subir ao trono quando da morte do velho sobe- rano. O conselho de patriarcas descobriu que o filho ainda não tinha alcançado a idade necessária, por isto lhe disse: Mei liete! — Preci- sas ter idade! Enraivecido, o jovem dirigiu-se com alguns guerreiros para Este, conquistou a mencionada região da Capadócia, anexan- do-a à Cilicea (Ci lei cia — Tão logo ela queira), onde construiu uma cidade e deu-lhe o nome triunfante de Mei liete nei (em grego, Militene — Não tenho idade), com que pretendia provar aos an- ciãos sua capacidade. Tal fato não faz parte de nosso Evangelho, entretanto não prejudica, a fim de se poder orientar melhor.

  3. Dessa cidade, em direção a Leste, existia uma importante cordilheira na fronteira da Syria, onde precisamente viviam aqueles pagãos. De lá caminhamos para Sudoeste e alcançamos uma cida- de chamada Chotinodora — (No canto não se pode arar). Habita- vam aí muitos judeus de Bethlehem, negociantes de vários artigos e igualmente entregues a negócios de câmbio. Mas também havia gregos da Armênia que se dedicavam ao comércio de madeira do Euphrates como a metrópole vizinha denominada Samosata.

  1. Ao depararmos a azáfama dessa gente, os apóstolos opinam ser tal ambiente não muito propício para nossa causa e um discípulo novato diz: “Senhor, essa região não faz parte da Galileia, que unica- mente pretendias percorrer. Como entendermos isto?”

  2. Digo Eu: “Muito natural, porque pela divisa romana tudo isto até a fronteira da Ásia Menor faz parte da Galileia, portanto não liguemos à demarcação antiga. Esse país, que em épocas de Jacob e mais tarde sob o regímen dos juízes era o da tristeza e dos proscritos, tornou-se uma região de alegria e muito embora fosse anteriormente pequena, é agora maior que todos os países da Terra Prometida em conjunto. Se bem que estejamos na antiga Syria, encontramo-nos na nova Galileia (G — pronunciado como ch, soa Schalileia — zona da tristeza), não mais país de tristeza, e sim da alegria e ressurreição espiritual. Compreendestes?”

  3. Dizem todos: “Como não, Senhor, pois é a Verdade! Agora resta saber o que faremos aqui; o dia está findando e estamos sem abrigo e provimento. Pedimos-Te que soluciones nossas dificulda- des. Talvez devêssemos pernoitar ao ar livre, ou queres que procure- mos comprar algum pão na cidade?”

  4. Digo Eu: “Oh, temerosos! Ide, pois, à procura de provimen- to. Entretanto não necessitais preocupar-vos com o abrigo, que se apresentará quando quiser. Caso não venha, ficaremos aqui e nin- guém será prejudicado. Amanhã trataremos do indispensável.”

82.OSAPÓSTOLOSEOZELOSO PUBLICANO

  1. Em seguida levantam-se alguns dos apóstolos a fim de procu- rarem provimento na cidade e encontram uma padaria, onde com- pram pão por dez moedas e peixes fritos por quatro moedas. Ao saírem da cidade com as compras, são abordados por um publicano que indaga quem necessitava de provimento tão grande. Os apósto- los dizem: “Fazemos o que é da Vontade de nosso Senhor e Mestre!” Continua o outro: “Quem é ele e qual sua profissão?” Respondem os discípulos: “Vai e informa-te com Ele pessoalmente; dir-te-á caso

queira. Acontece não responder a qualquer um! Está descansando à margem do rio; dirige-te, pois, a Ele!”

  1. Prossegue o publicano: “Por que não ides a um albergue? Existem vários nesta cidade importante!” Repetem os apóstolos: “Procura sabê-lo com Ele, pois ignoramos Suas intenções.” Diz ele: “Está bem, vou fazê-lo. Aqui se respeita uma ordem severa e temos que estar orientados acerca de todo forasteiro que se aproxime.”

  2. Em seguida o publicano se dirige a Mim, dizendo rispidamente: “Quem dentre vós é Mestre e Senhor?” Respondo: “Sou Eu! Que que- res de Mim e Meus discípulos?” Diz ele: “Sois estrangeiros, não admi- tidos nas proximidades de nossa rica cidade caso não se identifiquem.”

  3. Digo Eu: “Conheço vossas leis e penalidades melhor do que tu, que como simples publicano, não tens direito de indagar de nos- sa procedência! Vê, ainda nos encontramos a setecentos passos dis- tantes da entrada da cidade e o local que ora pisamos se destina des- de eras remotas aos estrangeiros, de sorte que pelas vossas próprias leis estamos livres de qualquer inquérito. É preferível correres à tua casa, do contrário morrerá, antes de chegares, teu filho mais velho, enfermo há sete anos!”

  4. Sumamente confundido, o publicano pergunta de onde Eu tenho tal conhecimento, e se talvez sabia de um meio para curá-lo.

  5. Respondo: “Oh, como não?! Poderia socorrê-lo ainda que morto; mas para tal fim seria preciso fé mais forte no Deus Único e Verdadeiro, de ti e dos teus!”

  6. Diz ele, amável: “Mestre e Senhor — conforme te chamam os teus acompanhantes! Vinde todos ao meu albergue, que nada vos faltará, mesmo querendo ficar durante um ano. E caso cures o meu filho, dar-vos-ei tanto ouro e prata quanto pedirdes; pois sou muito rico em bens terrenos e cederia mais da metade em benefício de meu filho. Não queres aceitar o meu convite?”

  7. Digo Eu: “Se tivesses fé, poderias também vislumbrar algo do Poder e da Glória de Deus! Vai tu na frente, que seguirei com os Meus; faremos um ligeiro repasto, porquanto nada comemos duran- te o dia em nossa marcha cansativa.”

  1. Insiste o publicano: “Mas, Senhor e Mestre, em casa sereis servidos muito melhor do que com essa refeição simples; além disto, recompensar-vos-ei mil vezes o custo da mesma!”

  2. Acrescento: “Vai como te disse, porque assim o quero e teu filho viverá! Dentro de uma hora seguiremos!”

83.OSENHORRESSUSCITAOFILHODO PUBLICANO

  1. Rápido, o publicano se dirige ao lar onde indaga do estado do seu amado filho. Os três médicos que o assistem dizem: “Senhor, o teu filho está passando mal e não há recurso! Empregamos todos os meios da ciência e prática — mas em vão. Se conseguirmos pro- longar sua vida por mais uma hora, teremos alcançado um milagre!”

  2. Eis que o pai se aproxima do leito do moribundo, dirigindo-

-lhe as seguintes palavras: “Meu filho, esses médicos nada farão por ti; dentro em breve, todavia, virá outro para socorrer-te, porquanto deposito nele confiança plena e fé integral.”

  1. O enfermo ergue um pouco a cabeça e diz com voz fraca: “Sim, a morte me socorrerá, ninguém mais!”

  2. Com os olhos cheios de lágrimas, o pai responde: “Não, não, não a morte, e sim a vida! O médico estranho a quem falei sabia te encontrares doente há sete anos, afirmando poder ajudar-te ainda que tivesses morrido, razão por que creio em suas palavras.” O filho se cala, enquanto os médicos opinam: “Deixemo-lo em paz, pois a menor alteração matá-lo-ia! Sua expressão já apresenta os sinais da morte!” Assim se passa meia hora; em seguida o enfermo exala o último suspiro. Então os facultativos perguntam: “Onde está o ho- mem capaz de socorrer o teu filho, mesmo morto?” Nesse instante penetro no quarto e digo em alta voz: “Aqui estou! Não sou palrador como vós, pois o que digo é a Verdade plena, jamais enganadora, dos Céus de Deus!”

  3. Irritados, os três reagem: “Olha aqui o corpo, palrador! Aju- da-lhe se te é possível, que nos curvaremos até o solo, confessando sermos apenas tagarelas!”

  1. Digo Eu: “Dispenso vossas reverências e confissões, pois tudo que faço está dentro de Meu Poder e Vontade, portanto não cometo atrevimento; ao passo que vós declarais diante de todo mundo ser- des os primeiros mestres em vossa ciência — mas qual é o resultado de vossa fanfarronice?

  2. Eis o morto! Foi acometido de ligeira febre, e uma colher de sal queimado adicionada a sete colheradas de vinho tê-lo-iam sal- vo para sempre! Não obstante tivésseis conhecimento do remédio, conjecturastes o seguinte: Esse moço é filho de pai rico e pode su- portar a febre durante anos, trazendo-nos muito dinheiro. Quando for adulto, ela o deixará automaticamente. — Malvados, afirmo-vos que a moléstia de há muito teria terminado, mas vós a alimentastes em virtude de vosso ganho, transformando-a em febre tísica, impos- sível de curardes. Deste modo, sois os assassinos deste jovem!

  3. Classificastes-Me de palrador, sem jamais Me terdes visto e conhecido! Eu conheço-vos de há muito e disse, como ‘palrador’, a plena verdade a vosso respeito, poupando-vos a confissão! Esta ressur- reição dará testemunho pleno serem Minhas Palavras verdadeiras!”

  4. Respondem eles com escárnio: “Em tal caso estaremos livres de quaisquer acusações!”

  5. Digo Eu: “Veremos!” Em seguida Me aproximo do leito e digo: “Jorabe, desperta de teu sono e dá testemunho da grande men- tira desses três que Me chamaram de palrador!” No mesmo instante, ele se ergue do leito, tão cheio de saúde como se nunca tivesse ado- ecido. O pai, contentíssimo, não sabe se deve atirar-se primeiro ao Meu Peito, ou aos braços do filho. Por isto lhe digo: “Não faças isto, mas trata de alimentá-lo e em seguida dá-lhe um pouco de vinho!” Assim se faz, enquanto prepara-se uma refeição suculenta para nós.

84.AFASTAMENTODOSTRÊS MÉDICOS

  1. Os três médicos, estarrecidos, não conseguem dizer palavra. Eis que o publicano se vira para o filho, perguntando qual o atestado que daria a eles, e o moço responde: “O mesmo dado pelo salvador

milagroso! Eles não cogitam da cura dos enfermos, mas apenas que tomem bastante dos seus remedinhos, trazendo-lhes dinheiro. Toda redondeza é ciente terem eles jamais socorrido alguém. Seu auxílio redunda naquilo que fizeram a mim, isto é — despacharam-me para o outro mundo.

  1. Há um ponto a considerar: conforme alegam, são judeus de Jerusalém e se gabam de Jehovah. Além disto, só poderiam ajudar a quem cresse em seu deus, fazendo grandes oferendas em ouro, prata e pedras preciosas, que deveriam ser depositadas em suas mãos, pois tudo isso seria enviado àquela cidade, onde o sumo sacerdote faria preces no Santíssimo, conseguindo a cura do enfermo. Qual seria nossa situação como gregos, politeístas? Porventura deveríamos acrescentar mais um deus aos outros, que igualmente não nos ajudaria, pois todos trazem apenas benefício aos sacerdotes, esbanjadores das ricas oferendas?!

  2. Testemunho aqui de viva voz ser este Salvador milagroso um Deus verdadeiro para mim! É Jehovah para os judeus, e Zeus para os gregos, romanos e egípcios. Deve unir todos os deuses em si. Já nos contaram muitas histórias de ter alguma divindade, em épocas remotas, realizado milagres pela simples vontade; nunca, porém, conseguimos certificar-nos de tais ocorrências. Aqui, todavia, está um homem capaz disto, razão por que é Deus para mim e esta fé conservarei por toda vida. Que dizeis?”

  3. Responde o publicano: “Meu filho, toda nossa família com- partilhará de tua crença, pois somente um deus poderia fazer voltar à vida um morto. Agora, estranho Mestre e — Deus, dize-me o que fazer aos três médicos! Sua maneira de socorrer enfermos é eviden- temente a pior possível!”

  4. Digo Eu: “Deixa-os seguir, pois ainda encontrarão justo cas- tigo de sobra! Primeiro, ninguém os quererá como facultativos, tão logo for do conhecimento o que aqui sucedeu; segundo, afastar-

-se-ão o quanto antes. Terão apenas que devolver-te a importância integral que lhes pagaste para a cura negativa!”

  1. Os três médicos expressam mau humor à vista dessa exigên- cia. O publicano, porém, nela insiste, dizendo: “De modo algum

preciso desse dinheiro; pretendo entregá-lo aos pobres, mais neces- sitados que vós! Devolvei-me a importância dentro de uma hora; do contrário far-vos-ei entregar à justiça!” Eles fazem menção de se afastar.

  1. Impedindo-os nisto, digo: “É bastante que um de vós o faça, os outros ficarão como reféns; se fossem todos, jamais voltariam! Irá o mais jovem e honesto; pois os outros não vacilariam em fu- gir, deixando o colega à espera. Que assim seja!” E tal aconteceu. Ao receber a importância, o publicano diz ao portador: “Sendo tu honesto pelo testemunho do Mestre divino, poderás aqui ficar; os outros terão que se afastar imediatamente.”

  2. Diz o jovem médico: “Ficarei com prazer e sei o que faço. Não continuarei em companhia dos colegas; sempre foram senho- res e eu, apenas empregado, obrigado a agir como queriam, contra minha própria vontade. Muito sofri por isto. Mas que fazer? In- compatibilizar-me com eles seria o mesmo que me tornar inimigo do Templo de Jerusalém, e tal animosidade é a pior do mundo. En- contrando-me independente e convidado por ti, como prefeito da cidade, não ligarei ao sinédrio.”

  3. Diz o publicano: “Está bem, podes ficar; enquanto eles te- rão de partir!” Isto já havia acontecido, porquanto ambos compre- enderam não haver possibilidade para sua permanência, caso Eu aqui ficasse.

85.AARTEDA VIDA

  1. A seguir somos convidados para o almoço e penetramos no salão de refeição, não havendo idêntico em toda Jerusalém. No cen- tro está uma grande mesa de cedro, coberta de saborosos pratos e vinhos escolhidos. Com satisfação sentamo-nos, pois pães e peixes há pouco adquiridos não foram de especial qualidade nem tamanho! Quase não falamos durante a refeição; mas quando o vinho começa a soltar as línguas, as palestras são animadas. Eu Mesmo silencio, sentado entre pai e filho, ambos respeitando Minha Atitude. So-

mente após ter finalizado o publicano pergunta como Me fora pos- sível ressuscitar o filho, porquanto jamais tal coisa se dera na Terra.

  1. Respondo: “Amigo, quando o espírito começa a despertar, descobre muitos segredos e tão logo estiver na Luz plena, concebe também o grande segredo da Vida, reconhecendo ser ele seu causa- dor. A maior arte da vida consiste em a criatura fazer tal descoberta!

  2. Tu vives, pensas e ages de acordo com tua vontade; no en- tanto, ignoras o que seja a vida da alma, seu modo de pensar e agir, pondo todos os seus membros em ação correspondente. Quem isto tudo tiver descoberto dentro de si será verdadeiro mestre de sua exis- tência e de seu semelhante, podendo fazer aquilo que fiz ao teu filho. Poderá ainda mais, quer dizer, tornar-se plenamente imortal!

  3. Se devido à atual cegueira, egoísmo, cobiça, inveja, ciúme e orgulho humanos Eu for preso e até morto — de nada adiantará; pois antes de se passarem três dias Eu Me ressuscitarei, continuando eternamente vivo e fazendo coisa mais sublime que agora. Isto que acabo de dizer-te é tão certo e verdadeiro como o fato de ter ressus- citado teu filho. Acreditas?”

  4. Responde o publicano: “Estou plenamente convicto de me transmitires a Verdade; primeiro, porque meu filho é vivo pelo po- der de tua arte oculta da vida, consequência de teu saber; segundo, tais axiomas já foram criados pelos gregos da antiguidade. Desco- nheço se como tu conseguiram penetrar com seu espírito no grande segredo da Vida, pois jamais tal fato chegou aos meus ouvidos.

  5. As fábulas de nossos deuses e semideuses relatam diversos milagres; quem poderia dar-lhes crédito, sendo dotado de alguma inteligência? Nas Escrituras místicas fala-se muito de um Deus Onipotente, rodeado de inúmeras falanges de espíritos poderosos, a executarem constantemente suas ordens em todo Universo. Tanto eles quanto a Divindade seriam invisíveis; mas há muitos séculos passados se apresentaram a pessoas beatas, tais quais os deuses o fizeram aos gregos primitivos. Refletindo acerca de tais fatos, chega-

-se à conclusão de serem idênticos às doutrinas de gregos e judeus. Tudo é encoberto por mística impenetrável e muito embora os mais

sábios de todos os tempos tivessem se esforçado, jamais conseguiram levantar o véu de Ísis, e os mortais se encontram no mesmo ponto de partida que os primitivos habitantes do orbe.

  1. Serias, portanto, o único que desatasse esse nó górdio, razão por que te peço, como Mestre da Vida, nos demonstrares a elevada arte de se penetrar em seu segredo, a fim de chegarmos à perfeição. Deves conhecer os meios, e sua demonstração seria grande caridade de tua parte. Meu pedido é bastante ousado, pois todo real artista considera sua arte propriedade mais valiosa, e não ignoro que sua di- vulgação traria diminuição considerável. Sendo tua perícia questão vital, ao menos para as criaturas bem intencionadas, podendo facul- tar-lhes a maior felicidade, estou disposto a te entregar três quartas partes de meus tesouros, em troca de tua orientação. Que me dizes, grande mestre, à minha proposta?”

86.JESUS,PROFESSOR DAARTE DA VIDA

  1. Digo Eu: “Apenas o seguinte: vim expressamente a este mun- do, como Homem, a fim de ensinar às criaturas, sem retribuição, essa arte mais elevada e importante. Meus discípulos provam ter fei- to Eu tal ensino em muitos países, pois já são iniciados neste segredo e poderão demonstrar-te caminho e meios.

  2. Quem aceitá-los, acreditar e viver com rigor dentro de tais normas infalivelmente penetrará no segredo da vida, e após o for- mal renascimento de seu próprio espírito, tornar-se-á mestre de sua existência e igualmente da vida do próximo, porquanto lhe poderá demonstrar os caminhos e, através de sua maestria da vida, propor- cionar os maiores benefícios.

  3. Afirmo-te, porém, não ser possível alguém se tornar mestre da noite para o dia, tampouco terão utilidade os conhecimentos mais profundos à conquista dessa arte vital caso não sejam aplicados. A teoria por si só nada adianta, mas unicamente a prática.

  4. Fato semelhante ocorre na aprendizagem das demais artes. Caso pretendas aprender a tocar magistralmente qualquer instru-

mento, digamos, a lira dos gregos ou a harpa melodiosa dos judeus, preciso seria tomares um professor à altura. Ensinar-te-ia as regras indispensáveis para tal fim, a ponto de saberes ao certo como estu- dar para chegares a exímio mestre. Acaso ser-te-ia possível te torna- res harpista apenas pelo conhecimento preciso de todas as regras e exercícios? Certo que não! Terias pela constante prática dos dedos e ouvido alcançado a capacidade para atingires a meta desejada. O mesmo sucede na aquisição da maestria da vida.

  1. Somente pela prática alguém se torna mestre, e o grau mais ou menos elevado da proficiência depende do exercício das regras correspondentes. Quanto maior aplicação, maior proficiência! Por isto não deves supor que pelo simples conhecimento das regras da vida já estejas apto a operar algo, ou levantar com isto o véu de Ísis! Apenas através da prática, sem esmorecimento, chegarás à convicção maior de serem as regras determinadas certas e reais, levando à meta. Tão logo tiveres atingido a perfeição, o segredo de Ísis estará des- vendado. Eis o preâmbulo às regras subsequentes, cujo exercício e prática levarão o homem à verdadeira maestria. Qual é tua opinião?”

  2. Responde o publicano: “Acho tudo isto muito certo. A expe- riência nos ensina o que acabas de explicar; entretanto, já é de gran- de valia saber-se os meios e caminhos para finalidade tão elevada. O que não concebo é o fato de seres tu o primeiro a descobri-los, pois nem egípcios, gregos, romanos, persas e hindus poderiam apontar um sábio que tivesse alcançado tal grau. Não o aprendeste, mas é tua própria criação! Como te foi possível?

  3. Em minha mocidade muito viajei e procurei. Conheço as maquinações essênias, todas as feitiçarias e adivinhações, cujas esco- las também frequentei. Aqui, não há combinação prévia, nem ma- gias nem filtros encantados, mas a verdade simples e despretensiosa! Falas e queres — e o efeito se apresenta! Mestre, quem te deu as diretrizes para tal?”

87.DESENVOLVIMENTOINTERNODACRIATURA ESPIRITUAL

    1. Digo Eu: “Amigo, por enquanto isto não vem ao caso. Basta termos encontrado as regras, cuja genuinidade e verdade plena não podes contestar. Quem as conhecer e aplicar despertará dentro de si a força da vida e por ela poderá viver e agir, enquanto Eu o desperta- rei pela Força do Espírito da Minha Palavra no primeiro dia de seu renascimento espiritual. Em verdade te digo: Eu sou — aqui e em toda parte — a Verdade e a Vida. Quem crer em Mim e agir dentro de Minha Doutrina jamais verá e sentirá a morte!”

    2. Opõe o publicano: “Mestre, tuas palavras soam estranhas! Tenho impressão de seres uma entidade de origem divina; se bem que caminhando na carne, és espírito puro, capaz de se encobrir na matéria tão logo queira. Estarei certo?”

    3. Respondo: “Mais ou menos. Não assimilas aquilo que supões e ao mesmo tempo não é bem o que assimilas. Eu não posso, tão pouco quanto tu, deixar o Meu Corpo, e quando quiser fazê-lo ele terá que passar pela morte. O Meu Espírito, porém, em plena ação dentro de Mim, jamais poderá ser aniquilado, porquanto viverá eternamente ativo.

    4. Por certo já observaste existência e efeito da Criação, perce- bendo haver determinada ordem, pela qual as formas mantêm con- sistência equilibrada que te faculta saberes sua classificação. De igual modo observas seus efeitos e utilidades.

    5. Admitamos a Criação total apenas obra do acaso; porventura as coisas em a Natureza teriam a atual apresentação, em todas as direções? Em absoluto. Vê, o vento é uma força inconsciente — ao menos em parte. Acaso já observaste ter ele produzido forma qual- quer, constante? Revolve ele a poeira e carrega pelo ar em formações soltas de nuvens, que se transformam a cada momento, e jamais se apresentam no que foram. Porventura poderias guardar a forma de uma nuvem, a ponto de dizeres: Eis a mesma nuvem vista há dias? E no mar, poderias positivar o mesmo de uma onda?

    1. Daí concluirás ter jamais uma força inconsciente produzido simples plantinha de musgo, que em sua forma se repetirá por milê- nios. Assim sendo, qualquer inteligência observará que todo surgir, existência e permanência pelas quais se definem formas imutáveis, constituição, capacidade, atributos, efeito e destino têm como ori- gem um poder de compreensão e saber ilimitados e imutáveis, se bem que totais, cuja ausência nunca te proporcionaria um objeto de forma determinada, como seja, uma pedra, metal, planta ou animal. Tal força terá que ser centralizada e consciente, do contrário não poderia aceitar forma determinada e equilibrada.

    2. Além disto, sendo levado a aceitar essa força que se baseia em tudo como origem, ela automaticamente terá que possuir um nome correspondente, pelo qual se conserva na memória dos homens, in- cumbidos de reconhecê-la.

    3. Quem, todavia, indagará do conhecimento de uma coisa da qual jamais ouviu o nome?! Denominaremos tal força original de ‘Deus’. Partindo desse ponto indagaremos: Onde está esse Deus e qual sua aparência? Como produz as coisas e de que forma faz surgir, como espírito puro, a matéria grosseira?

    4. Fazendo tais investigações já o homem se encontra em bom caminho. Dedicará maior atenção a todos os seres, neles pesquisan- do o grau da Sabedoria de Origem Divina. Quanto mais se entregar a essa busca, tanto maior Sabedoria e Ordem Divinas encontrará.

    5. Ao se aprofundar nelas, começará a perceber no seu coração um incentivo de amor a Deus que facultará a compreensão de estar o Pai Pleno do Amor Poderoso, por ter tanto prazer e alegria em criar inúmeras coisas e seres, não somente provando Sua Existência, e sim testemunhas de Sua Sabedoria, Onipotência e Amor.

    6. No crescimento de tais observações, o homem enriquece no amor a Deus, Dele se aproximando mais e mais; quanto mais estreito e sólido for o aconchego de uma criatura para com Deus, tanto maior será o acúmulo do Espírito Divino em sua alma, pelo que alimenta a centelha divina, despertando-a para o verdadeiro conhecimento de sua própria vida e força, em ligação com a Onipotência de Deus.

    1. Isto alcançado, o homem já domina sua existência, faltan- do-lhe apenas a plena união com o Espírito de Deus, cheio de Amor e Poder. Realizada tal integração, torna-se ele mestre perfeito da vida e poderá fazer o que faço — e ainda mais.”

88.BASE PARA O APERFEIÇOAMENTO ESPIRITUAL.AENTIDADEDE DEUS

  1. (O Senhor): “Daí deduzirás não ser possível chegar-se à ma- estria da vida sem fé verdadeira e positiva em Deus Único e Verda- deiro. Portanto, é preciso antes de mais nada a crença em Deus, pois sem ela também não poderás despertar o amor a Ele em teu coração. Isento de tal afeto, impossível te aproximares Dele e no final tornar-

-te uno com Ele.

  1. Sem tais realizações não se poderá cogitar da verdadeira maes- tria, assim como ninguém será exímio harpista sem jamais ter visto tal instrumento. Se persistires nas inquirições, dizendo: Onde está Deus e qual Sua Aparência?, afirmo-te não ser possível veres o Ser Supremo e continuares vivo, por ser Ele Infinito, Onipotente, portanto é, como Base Original, o Intrínseco de cada ser e coisa, isto é, em Sua Proje- ção de Luz Onipotente. Individualmente falando, é Deus Homem como Eu e tu, e habita na Luz Impérvia, denominada ‘Sol da Graça’ no mundo dos espíritos. Tal Sol da Graça não é propriamente Deus Mesmo, e sim apenas a emanação de Seu Amor e Sabedoria.

  2. Do mesmo modo que observas o efeito do Sol terráqueo pela projeção de sua luz em todas as direções, também age a força ativa do Sol da Graça, qual luz criadora e onipresente em todos os seres.

  3. Quem for capaz de captar, no coração de sua alma, bastante luz do Sol da Graça do Céu e conservá-la pelo Poder do Amor a Deus — criará em si mesmo um Sol de Graça, completamente idên- tico ao Original, o que representa a conquista da maestria da vida, unicamente verdadeira.

  4. A clareza e plenitude luminosa desta Doutrina real com- preenderás apenas quando tiveres alcançado tal maestria; por en-

quanto não o podes assimilar, muito embora tenhas compreen- dido tudo.”

  1. Responde o publicano: “É verdade, caro Mestre. Não sei o que fazer com aquilo que compreendi. Certo é não ser coisa fácil tal conquista, pois é preciso muita observação, experiência, meditação e vontade. Apenas mais uma pergunta, Mestre.”

  2. Digo Eu: “Fala, não obstante saber qual tua dúvida.” Diz ele: “Oh — fala tu, pois não duvido!” Respondo: “Não duvidas, entretanto desejas certificar-te da verdade de Minha Afirmação. Não importa, pois formularei tua pergunta; ei-la: Mestre, também alcan- çaste a maestria desse modo, e quem te forneceu as normas?

  3. Vê, não posso dar-te resposta satisfatória como anteriormen- te sucedeu. Como simples homem tive que fazer o mesmo que tu; sendo, porém, através de Minha Natureza Intrínseca, mais que hu- mano — o que observarás pela manhã — torna-se-Me mais difícil, porque nunca pude deixar surgir dentro de Mim Minha própria Vontade, e sim apenas a Vontade Daquele Que por Mim quis vir a este mundo, para trazer aos homens a Vida Eterna. Amanhã saberás algo mais a respeito através de Meus discípulos. Por hoje terminare- mos nossa sessão para descansarmos.”

  4. Diz o publicano: “Se for de teu agrado, poderemos repousar aqui; ao redor das paredes se acham os melhores divãs.” Concordo: “Pois bem, fiquemos; tais encostos são por Mim preferidos às camas, úteis somente a enfermos.”

89.PALESTRAENTREOMÉDICOEO TAVERNEIRO

  1. Nem bem havíamos ocupado as espreguiçadeiras, o publica- no se retira com seus filhos e mulheres, em número de sete segundo o hábito oriental, e nos entregamos ao merecido descanso. Eles, po- rém, ficam acordados por muito tempo, conversando a nosso res- peito. O jovem médico que ficara em companhia do publicano lhe diz no fim: “Amigo, se fosse possível se alcançar tal maestria da vida, em breve teríamos juntado o dinheiro do mundo; pois qualquer

soberano presentearia metade de seu reinado a quem lhe garantisse a existência.

  1. Acontece cada coisa neste mundo! Quanto tempo faz que alguns magos do Egito nos surpreenderam com seus feitiços por ocasião de sua passagem aqui, a caminho de Melite! Suas realiza- ções eram evidentes fraudes e traziam benefício somente para eles mesmos. Estavam munidos de grande aparato, serpentes, macacos, cães, camelos e mulas, unguentos e óleos. Esses, vêm a pé, nada tra- zem consigo — entretanto seus feitos poderiam invejar aos próprios deuses! Sua doutrina é boa e adequada às suas ações; apenas trans- pareceu fortemente o antigo judaísmo e os axiomas dos profetas. Contudo, é duvidoso se realmente o homem chega à mencionada perfeição pelo fiel cumprimento de suas regras.

  2. Amar-se rigorosamente uma divindade isolada é mui difícil, porquanto um homem inteligente nem consegue acreditar em tal deus. A prova que nos foi dada do deus uno é lógica e soa bem; sua aceitação exige exercício esforçado desde berço, com orientação cons- tante de um teósofo. Seja como for, a figura do homem milagroso é excepcional. Primeiro, jamais foi visto alguém fazer voltar um morto à vida; segundo, saber-se nitidamente os pensamentos alheios, inclusive o nome de um desconhecido — amigo, tais coisas são inadmissíveis ao intelecto! Realmente, muito embora não dê grande importância aos deuses, estaria inclinado a considerar tal homem um ser divino!”

  3. Responde o aduaneiro: “Concordo, e opino estarmos, com tal aceitação, mais próximos do destino do que pela observação rigo- rosa de suas regras. Além disto, deixou transparecer por várias vezes ocultar ele mais que um ser humano.” Em seguida todos se calam e entregam ao sono.

90.NATUREZADOSENHOR,DIVINAE HUMANA

  1. Antes do surgir do Sol já me encontro com vários discípu- los ao ar livre, isto é, à margem do Euphrates. Nisto vimos grande balsa descendo em meio do rio. Não havia quem a dirigisse, pois

se soltara da estaca. Entrementes, o publicano, seu filho Jorabe e o médico se haviam aproximado e o primeiro diz: “É de se lastimar a perda da boa madeira, solta devido ao desleixo de seu dono! Se fosse possível alcançá-la poderia ser devolvida dentro de alguns dias, mediante pequena indenização. Bem, talvez os samosatas consigam pegá-la!”

  1. Digo Eu, enquanto a balsa estaciona à nossa frente: “Desejas possuir a madeira?” Responde ele: “Naturalmente — mas como ti- rá-la?” Digo Eu: “Muito facilmente. Quando se é Mestre da Vida, os elementos também têm que obedecer — e assim ordeno à água que empurre a balsa para nós. Assim o quero!” Nem bem termino, atira-

-se ela em nossa direção, sobe uns sete palmos na margem, deitando a madeira toda à terra, para em seguida voltar à anterior direção.

  1. Os três homens se assustam e o médico diz: “Amigo, não és humano, e sim divino! Jamais foste gerado por homem e afirmo ainda seres incriado, portanto evidentemente um deus!”

  2. Digo Eu: “Deixa disto; quem suporta a carne a recebeu do corpo materno! Somente o primeiro casal recebeu o físico da Mão de Deus! Todas as demais criaturas, do ventre materno. Assim, o Meu Corpo veio igualmente de uma mãe terrena, se bem que não gerado de modo comum, por genitor da Terra, e sim apenas pelo Espírito Onipotente de Deus, fato possível em pessoas puras e devotas. Em eras passadas não era incomum em criaturas incorruptas, simples e dedicadas a Deus — e ainda hoje sucede vez por outra.

  3. Claro é serem tais filhos, espiritualmente gerados, com incli- nações mais elevadas que outros; pois eles sempre correspondem ao estado de saúde dos progenitores. Eu, como Homem, não sou Deus, mas um Filho de Deus, o que todos deveriam ser; pois as criaturas desta Terra são destinadas a se tornarem filhos do Pai, quando vive- rem de acordo com a Vontade Divina.

  4. Um deles é determinado por Deus desde eternidades a ser o Primeiro a possuir a Vida dentro de Si, podendo transmiti-La a quem Nele acreditar e viver de acordo com sua Doutrina. Este pri- meiro sou Eu.

  1. Tal Vida de Deus não Me foi dada pelo ventre materno! O gérmen se achava dentro de Mim; teve que ser desenvolvido, o que Me custou quase trinta anos de esforços. Agora estou Perfeito diante de vós, podendo afirmar ter-Me sido entregue toda força e poder nos Céus e na Terra; o Meu Espírito é completamente Uno com o Espírito de Deus, razão por que opero milagres jamais realizados por alguém. No futuro, tal não será Meu exclusivo privilégio, mas igualmente possível a quem acreditar em Mim e viver segundo a Mi- nha Doutrina que demonstra um conhecimento nítido da Vontade do Espírito Divino, em plenitude dentro de Mim, Enviado a este mundo a fim de trazer aos homens, atualmente todos nas trevas, a Luz da Vida.

  2. Tal Espírito é Deus; Eu, como simples Homem, não o sou. Como já disse, tive que conquistar — semelhante a qualquer um de vós — a Dignidade Divina, com grande esforço e exercício, po- dendo só então unir-Me ao Espírito de Deus. Estou, portanto, Uno com Ele pelo Espírito — mas ainda não pelo Físico; isto será alcan- çado somente após grande sofrimento e total abnegação de Minha Alma, pela máxima humildade.

  3. Deste modo, Meu amigo cientista de boa vontade — sabes Quem Sou e que deduzir de Mim! Crê e vive pelos ensinamentos, em breve transmitidos pelos Meus discípulos, que viverás e cami- nharás em todos os teus atos na Luz e não na treva do pecado de tua carne e sangue. Compreendeste?”

  4. Responde o médico: “Sim, grande Mestre, não obstante Tuas palavras serem diversas dos sacerdotes de Jerusalém, de cujo Templo aprendi meus escassos conhecimentos. Abrigas o divino em Teu seio, entretanto não queres ser mais que humano; ao passo que os fariseus se comportam como se tivessem ajudado a Jehovah criar o mundo e os seres, dependendo o bem da Humanidade uni- camente de suas pessoas. Tuas Palavras soam divinas; contêm pe- culiar força e poder benéficos à alma, que a iluminam, vivificam e elevam, enquanto as dos templários magoam, entristecem e até mesmo matam!”

  1. Digo Eu: “Sim, terás razão; mas agora basta. A balsa está salva e tu, amigo Jored, poderás levar a madeira, cujo dono não virá aqui por isto, pois mora muito distante e, além do mais, é rico. Dá uma esmola aos pobres e usa a madeira a teu critério!” Diz o publi- cano Jored: “Mestre, agradeço-Te e prometo considerar os necessita- dos! Vamos agora ao desjejum, à nossa espera!”

91.OMÉDICORECEBEODOMDE CURAR

  1. Em seguida voltamos ao lar de Jored onde ficamos por duas horas à mesa, bem provida de peixes, carne de carneiro, pão de mel, vinhos de Roma e do Chipre, e as palestras giram em torno de as- suntos agrícolas. Só após terminado o almoço João explana a Dou- trina de Amor a Deus e ao próximo aos moradores dessa casa. Todos prometem segui-la e Eu acrescento: “Crede e agi com fé, e em bre- ve chegareis à perfeição da Vida!” Em seguida lhes aponho Minhas Mãos, fortalecendo-os em seu bom propósito. O médico, então, diz: “Mestre, sou atualmente o único profissional da zona, cheia de en- fermos. Como tudo Te é possível, poderias conferir-me um pouco de Tua Força Milagrosa, que aplicaria especialmente aos pobres.”

  2. Digo Eu: “Meu Nome é Jesus; em tal Nome apõe tuas mãos aos enfermos, que melhorarão em benefício de suas almas. Aos ricos continua a dar os remédios, pois te faculto esse poder apenas aos necessitados!”

  3. Ele Me agradece e se afasta, a fim de pôr em prática a Graça recebida. No momento em que dá o passe em Meu Nome, os pobres melhoram. Após uma hora ele está de volta e repete seu agradeci- mento, contando da admiração dos curados, anteriormente acome- tidos de várias moléstias. “Não compreendiam”, diz ele, “que todos os remédios de nada adiantassem, curando-se apenas pelo passe! Per- guntaram como eu havia chegado a esse dom jamais visto e por que não o havia empregado há mais tempo. Respondi-lhes: Esse meio de cura foi-me demonstrado por um salvador estranho; basta apenas apelar para o Seu Nome e Ele Mesmo Se polariza comigo, para que

o enfermo seja socorrido. — Então todos queriam conhecer-Te Pes- soalmente, pois presumem seres dotado de poderes divinos, sem os quais tal seria impossível. Deixei-os com essa convicção.

  1. Terei, entretanto, grande dificuldade com os enfermos abas- tados; pois essa nova arte de cura se espalhará rapidamente na cidade e eles também hão de querer ser curados desse modo. Que lhes res- ponderei, Senhor, porquanto me proibiste de assim agir?”

  2. Digo Eu: “Bem, podes estabelecer condições que terão de ser respeitadas perante ti e os pobres. Caso aceitem-nas de bom grado, poderás aplicar-lhes passes. Não o querendo, deixa-os como são e dá-lhes remédios, se desejarem tomá-los. Estás satisfeito?”

  3. Responde o médico: “Plenamente, caro Mestre! Tenho, po- rém, outra dúvida. Como poderei agradecer-Te? Não sou rico, princi- palmente agora, pois os colegas de ontem por certo não me deixaram muita coisa de sobra; quero, ainda assim, fazer o máximo de minhas forças. Senhor e Mestre, pede qualquer recompensa ou oferenda!”

  4. Digo Eu: “Deixa disto; ninguém no mundo Me poderia en- tregar algo que não tivesse recebido de Deus — nem tu. Considera

o ensinamento dado a todos: Ama a Deus acima de tudo e a teu próximo como a ti mesmo! Respeita as Leis de Moysés, ensinando-as aos gregos, que Me farás a mais valiosa oferenda. Isto deve ser feito por todos a fim de que possam viver na Verdade e Graça de Deus, Criador e Pai de toda Humanidade!

  1. Se quisesse aceitar dinheiro dos que por Mim recebem a cari- dade, testemunharia contra Mim e não seria Quem Sou. Se recebo e transmito tesouros celestes por ter o Poder para tanto — impossível Me fazer pagar pela matéria. Vós, podeis fazê-lo na justa medida; pois também Moysés ordenou que sacerdotes e juízes tivessem sua subsistência garantida pelo povo, recebendo o dízimo de todas as colheitas feitas nos campos, vinhas e de animais caseiros. Eu e Meus discípulos nada disto precisamos; quem se tornou mestre da vida como Eu não necessitará de tais meios de manutenção. Por onde for, receberá do Alto aquilo que carece. Todo benefício que pedirdes ao Pai no Céu, em Meu Nome, ser-vos-á dado por Ele, sem restrição.”

92.ONEGOCIANTECRISTÃO.IMPOSTOSEESCRAVATURA.OSSACERDOTES PAGÃOS

  1. (O Senhor): “Quando em épocas futuras Meus seguidores se fizerem pagar quais fariseus pelos ensinos, preces etc., o Pai Celeste não mais atenderá aos seus pedidos, deixando-os cair em pecados e grandes sofrimentos. De graça vos passo várias dádivas, e de modo idêntico tereis que passá-las adiante. Como médico poderás receber dos ricos, mas não dos pobres.

  2. Se oportunamente transmitires Minha Doutrina a alguém, sua aceitação e prática será teu pagamento. Pois uma vez que a tiver aceito, também será teu amigo a ponto de dizer-te: Tudo que possuo também é teu, e não deves passar necessidades!

  3. Afirmo-vos: aceitai e fazei uso, em vosso benefício e do pró- ximo, daquilo que as criaturas vos derem e fizerem em virtude de Minha Doutrina, que a Graça de Deus não vos será tirada, seja ela qual for! Isto somente acontecerá caso exigirdes recompensa, assim como a Graça foi tirada dos fariseus e judeus egoístas e entregue aos pagãos. Lembrai-vos disto e agi deste modo, que acumulareis tesou- ros enormes de Graças celestes, de maior utilidade que os da Terra. Compreendestes?”

  4. Responde Jored: “Muito bem, Mestre; mas que aspecto terão meus negócios alfandegários, por mar e terra? Não apresentam mui- to amor ao próximo. Não é possível sustá-los totalmente por serem do Governo; se assim fizer, um outro tomará a direção, aplicando maior pressão aos negociantes, mormente aos estrangeiros, aos quais eu muitas vezes deixei passar, por não terem recursos. Que estaria de acordo com Tua Vontade?”

  5. Digo Eu: “Continua o que és, mas sê consciencioso para com os pobres, enquanto os ricos poderão pagar importância maior. As alfândegas são necessárias, pois sem elas em breve invadiriam o país grandes caravanas ricas em mercadorias, prejudicando vossa pro- dução. Por tal motivo, deveis aumentar as tarifas estrangeiras para impedir sua invasão comercial, ao passo que em relação aos radi-

cados deverão ser mais módicas. Agora sabes o que considerar nes- te assunto.

  1. Também teu albergue é bom; considera as mesmas diretrizes com ele. Sê razoável com os conterrâneos e justo com os estrangei- ros. Aos primeiros pede o real valor, aos outros, lucro equilibrado.

  2. Caso venha um forasteiro sem posses, supre-o gratuitamente e se porventura aceitar Minha Doutrina, acrescenta mais a impor- tância para sua viagem — e o Pai Celeste te recompensará em dobro! O mesmo deve ser considerado por todo comerciante, competindo-

-lhe ser justo na medida e peso; pois a medida aplicada será restitu- ída no Além!”

  1. Diz o publicano: “Mais uma pergunta, Senhor e Mestre. Sa- bes viverem aqui na maior parte gregos fazendo vários negócios, in- felizmente até mesmo vendendo criaturas, hábito dos pagãos desde eras remotas. Eu mesmo tive que comprar as minhas mulheres. No começo eram apenas escravas; como se demonstraram diligentes e interessadas nas minhas vantagens, dei-lhes a liberdade e, em segui- da, adotei-as como esposas. Metade de meus servos e trabalhadores ainda são escravos. Devo continuar assim?”

  2. Respondo: “A Constituição governamental não pode ser alte- rada, até que o Estado elabore novas leis. Sê justo, bom e compreen- sivo para com teus cativos, filhos do mesmo Pai no Céu. Ao visitares um mercado de escravos podes adquiri-los à vontade e mantê-los, para deles fazeres criaturas livres e devotas, preparando-te desse modo grande tesouro no Céu. Jamais deves vender algum, pois a venda de criaturas é um horror para Deus. Tão logo Minha Doutri- na se estabeleça, o tráfico humano terminará automaticamente. Eis outro ponto que deves considerar.

  3. Ainda alimentas outra dúvida em tua alma, referindo-se aos sacerdotes pagãos, teus frequentes hóspedes. Aconselho-te deixá-los o que são! Eles mesmos acreditam ainda menos em seus ídolos do que tu o fazias anteriormente; como tais ganham seu sustento e não desistirão tão facilmente de seu emprego. Com o tempo poderás fazer transparecer alguns tópicos da Minha Doutrina, e o efeito será

desistirem paulatinamente do paganismo. Não vos ordeno destruir- des seus templos; basta terem sido destruídos em vossos corações.

  1. Se porventura um sacerdote pagão quiser forçar alguém a crer em seus ídolos e prestar-lhes oferendas — dizei-lhe a plena ver- dade! Não querendo conformar-se, chamai por Mim em espírito e operai um milagre, em Meu Nome! Vendo isto, certamente acre- ditará, caso possua alguma inclinação para a Verdade em sua alma; não dando crédito, deixa-o seguir caminho, ficando vós na Verdade de Minha Doutrina! De acordo com as normas dos governadores de Roma, os homens são livres no pensar, conhecimento e crença.

  2. Se um sacerdote pagão aceitar vossa fé luminosa, ajudai-lhe como membro da Nova Comunidade de Deus na Terra; caso neces- site de auxílio, tratai de seu futuro sustento; dispensando ele ajuda

93.VISITAAOBOSQUESAGRADOEDESTRUIÇÃODOS ÍDOLOS

  1. Enquanto caminhamos pelas ruas da cidade, juntam-se a nós os moradores, curiosos por saber quem somos. O aduaneiro e seus filhos, mormente o ressuscitado, são alvo de perguntas insistentes, pois ninguém compreende como pôde ele estar de pé, tendo falecido após sete anos de enfermidade. Com amabilidade são os moradores informados de que receberiam orientação nos próximos dias. Ao fim de uma rua comprida, vêm ao nosso encontro cinco sacerdotes: três de Apollo, um de Zeus e um de Minerva, em seus trajes fantásticos. Param à nossa frente e o sacerdote de Apollo pergunta se nós, es- trangeiros, pretendíamos visitar o bosque sagrado, onde existe um templo comum aos três deuses mais importantes. Poderiam levar-

-nos até lá, a fim de demonstrarem tudo de interessante e milagroso, mediante pequeno óbolo para apaziguar os ídolos.

  1. Jored, o aduaneiro, que conhece os sacerdotes, diz: “Esses homens são meus hóspedes, pelos quais pagarei a taxa. Podeis, por- tanto, fazer a demonstração do templo e de suas raridades.”

  2. Satisfeitos, os sacerdotes nos conduzem ao bosque, em cujo centro se acha um grande templo, redondo, em uma pequena eleva- ção. Metade está aberta e seu teto pousa sobre dez colunas; a outra parte é circundada por muralha sólida. Em suas paredes estão colo- cadas as estátuas de mármore dos mencionados deuses: no centro, Zeus no trono; à sua direita Minerva, de pé, munida de suas armas; e à esquerda Apollo, com a lira. Pois um Apollo com carro de fogo e cavalos ultrapassa o orçamento da cidade. Quando lá chegamos, o sacerdote de Zeus diz: “Caso os senhores desejem ouvir falar um dos ídolos, peço confiar-me sua pergunta!”

  3. Digo Eu: “Amigo, não necessitamos disto, pois como ho- mens de experiência, conhecemos todos esses engenhos e sabemos a maneira pela qual falam tais estátuas. Poupa-te o trabalho! Como hoje ninguém mais aqui virá pedir conselho aos deuses, manda os três oradores saírem de trás das figuras, pois são homens honestos!”

  4. Perplexo, o sacerdote responde: “Amigo, és estrangeiro; por isto te recomendo não ofenderes os ídolos, porquanto poderias ser prejudicado. Além disto, afirmo-te não haver alguém oculto atrás dos deuses para responder as questões!”

  5. Digo Eu: “Perdoo-te a mentira por não Me conheceres; en- tretanto, tenho que convencer-te ter somente Eu o direito pleno à Verdade, e não tu! Quero que neste instante sejam destruídos os teus deuses, fazendo aparecer os oradores!”

  6. Interrompe o sacerdote: “Se disto fores capaz, prosternar-

-nos-emos diante de ti, para adorar-te como deus de todos os deu- ses e seres!”

  1. Respondo: “Tal não é preciso; no entanto, devereis presen- ciar a Glória do Poder de Deus Verdadeiro, em união com a força do espírito humano, por isto repito: Assim o quero — Amém!”

  2. Quando termino de falar, nada mais se vê das figuras e os três homens de cócoras dentro dos nichos aparecem assustados à luz do

dia. Os cinco sacerdotes se entristecem, e o mais corajoso diz aos ou- tros: “Irmãos, não é possível guerrear-se contra a força da verdade de um homem-deus e convém entregarmo-nos a seu mando. Com isto estamos sem profissão e sustento; mas que fazer? Desempenhamos nosso ofício com dignidade e jamais prejudicamos alguém com a pequena mistificação deífica; nunca pedimos sacrifícios exagerados, mas ensinávamos coisas úteis e dávamos bom exemplo. Assim espe- ro que esse homem-deus não nos rejeite, caso lhe peçamos.”

  1. Concordam os outros: “Sim, mas que dirá o povo, crente nos deuses, quando aqui chegar sem encontrá-los?” Diz o primeiro: “Entregaremos o assunto a esses homens poderosos e certamente se encontrará uma desculpa, trazendo solução mais fácil que no caso presente. No momento depende sabermos o que fazer.”

  2. Digo Eu: “Antes de mais nada despi vossas vestes ridículas e apresentai-vos com outras, simples. Em seguida voltai para decidir- mos a questão.” Rápido eles vão à morada, perto do templo, mudar a roupa e em seguida se apresentam com mulheres e filhos, que se desesperam ao ver o templo vazio. Por isto perguntam por Mim, causador de tamanha desgraça.

  3. Eis que Me adianto, dizendo: “Sou Eu Quem procurais! Não seria melhor alimentar-vos com a Obra da Verdade, ao invés dessas, fraudulentas e mentirosas?”

  4. Respondem as mulheres: “Sim, como não? Mas quem nos dará as obras verdadeiras? De há muito sabemos não haver valor em nossos deuses. Mas que nos adianta? Ao menos nos deram o susten- to; acaso os outros também o farão?”

  5. Digo Eu: “Isto não vos deve preocupar; será incumbência dos maridos quando deixarem de ser sacerdotes pagãos, para se tor- narem servos do Verbo Vivo de Deus!”

  6. Insistem elas: “Quem lhes transmitirá isto?”

  7. Respondo: “Não é tampouco de vossa conta. Criaturas tolas, voltai ao lar com as crianças, do contrário serei obrigado a vos forçar para tanto! Ainda tendes provimento; tão logo se esgotar, serão tomadas as medidas para não morrerdes de fome. Trabalhai

um pouco em hortas e campos, que será melhor do que lavardes os deuses de barro!” A estas Minhas Palavras, os sacerdotes impelem mulheres e filhos para dentro de casa, voltando em seguida para junto de nós.

94.OLAGO SAGRADO

    1. O sacerdote de Minerva, mais corajoso e culto, aproxima-

-se de Mim, dizendo: “Senhor e homem-deus — ou quem sejas — pelas poucas palavras dirigidas às nossas mulheres tagarelas, deduzi seres homem bom, sábio e cordato, por isto te peço que me ouças. Sei que aquilo que nos darás em troca dessas fraudes pagãs será mil vezes melhor do que poderíamos apresentar de mais valioso em nos- sa esfera de conhecimento. A questão, porém, é outra.

    1. Trata-se da manutenção das leis governamentais com a ajuda de bons ensinos acerca da existência de forças ocultas em a Natureza, que denominamos ‘deuses’. A fim de apresentá-las ao povo criamos formas artísticas. O povo nisto se habituou desde berço e faz sua me- ditação diante de suas figuras. Nós, sacerdotes, facilmente podemos aplicar-lhe bons ensinamentos, coisa difícil não fossem as imagens.

    2. Se em determinado dia as pessoas aqui vierem se reunir e não encontrarem os ídolos, não sei imaginar o desfecho. Poderíamos nos desculpar com palavras retumbantes quanto à tua ação; mas onde estarás a tal hora? As próprias testemunhas, idôneas, pouco in- fluenciariam um povo selvagem como o nosso; por isto te peço pela restauração das figuras, por certo tempo. Entrementes aceitaremos tua doutrina com gratidão, passando-a ao povo, que pouco a pouco desistirá dos deuses. Agir de modo abrupto traria pouco resultado.

    3. Por isto repito que cedas ao nosso pedido, pois sua realização seria para teu poder tão fácil quanto a primeira. Bem sei termos te ofendido quando negamos a presença dos homens ocultos; nossa intenção, porém, não foi má.”

    4. Digo Eu: “Que farei convosco, cegos? Se dais preferência à noite ao invés do Dia da Vida, tereis vossos ídolos! Mas também pre-

senciareis, em breve, a época em que o próprio povo porá mãos nas estátuas — e em vós! Se tivésseis crido aquilo que vos disse, aceitan- do a ajuda dessas testemunhas valiosas e o Meu Poder, estaríeis sal- vos; dando maior valor aos ídolos, eles voltarão aos antigos postos!”

    1. Diz o orador: “Senhor, dá-nos um pequeno prazo para resol- vermos definitivamente!”

    2. Intervém o aduaneiro: “Então decidi o que quiserdes e de- pois vinde à minha casa, pois este local é tão desagradável qual cata- cumba!” Todos concordam e nos dirigimos adiante, onde havia um pequeno lago de grande profundidade, fato comum na Ásia.

    3. Jored então diz: “Senhor, eis uma verdadeira esquisitice dessa zona: em noite de verão sempre se observa uma quantidade de pe- quenas luzes nadarem sobre a superfície, em movimentos ora lentos, ora rápidos. Não é possível analisar-se o fato de perto, por causa do brejo que circunda o lago. Como se ache no terreno do bosque sagrado, os sacerdotes aproveitam o fenômeno; pois em tal época — da qual nos estamos aproximando — fazem-se discursos vibrantes quanto à chegada dos gênios do Elísio, querendo espargir graças aos homens. Teriam escolhido este lago por ser o mais puro.

    4. Isto não é milagre, pois nada poderá turvá-lo e a meu ver o fenômeno é natural; mas os sacerdotes conseguem provocar certa admiração até mesmo em pessoas céticas. A forte proteção de estacas evita acidentes, pois não convém ultrapassar o limite pantanoso.

    5. Senhor e Mestre, seria oportuno dares uma explicação, pri- meiro, por que motivo existe lago tão perigoso e inútil? Não é na- vegável e jamais produziu peixes; não tem afluente nem vazante, portanto não serve para irrigação da zona. Segundo, presta-se apenas para a idolatria, de prejuízo moral, pela aparição mágica da luz, pois não obstante teres dizimado as estátuas, a idolatria perdurará. Não Te seria possível dar o mesmo destino ao lago?”

    6. Digo Eu: “Certo, e também o farei por ter o teu pedido jus- ta razão. Todavia, não é este lago tão inútil como pensas, porquanto está em ligação direta com os órgãos internos do planeta, medindo sua profundidade mais que trezentas horas de marcha. Desempenha

o papel de resfriador em cima de uma artéria quentíssima do coração telúrico, razão por que sua água é mui fria.

    1. O lago tem afluente subterrâneo; mas carece de vazante por ser o supérfluo da água gasto pela constante evaporação, tão necessá- ria à vivificação interna e mecânica, quanto os líquidos alimentícios no estômago humano. Assim, o lago não tem utilidade extratelúrica, muito mais porém, intratelúrica.

    2. Poderias perguntar: Mas por que existe em uma zona tão fértil e linda? Poderia estar em um deserto! Não estás de todo erra- do. Acontece ter sido essa região, há dois mil anos atrás, um grande deserto, e foi cultivada pelas mãos diligentes de pessoas proscritas.

    3. Tal fato pode acontecer com muitos desertos desta Terra, onde se veem vinte a trinta desses lagos. Quando forem cultivados, os habitantes dessas zonas certamente também dirão: Por que existe lago tão perigoso aqui ou acolá? — Eu apenas posso dizer-te: sendo indispensáveis no apoio da vida mecânica do orbe, ele tem que exis- tir, de sorte que este se acha aqui pela Ordem da Sabedoria Divina e milhares de outros, alhures, e a maior parte embaixo do mar e das cordilheiras.

    4. Quanto ao fenômeno que surge, geralmente, no mês de Julius César, nada mais é senão insetos luminosos a sorverem os vapores da água, saciando-se desse modo. Se fores à Índia, verás fe- nômenos ainda mais extasiantes. Tudo isto não tem importância, pois a proteção do lago susta o perigo e o fenômeno poderá ser explicado de modo razoável. A fim de afastar todas as possibilidades em favor dos sacerdotes, com as quais poderiam enganar as criaturas e levá-las a muitos embustes — cobrirei este lago com terra firme, até a profundidade de mil homens, unindo sua abertura necessária com outro lago imenso, trazendo-vos benefício e não prejudicando a vida mecânica da Terra. Assim seja!” No mesmo instante nada mais se vê do lago, pois tudo é solo firme. Podia-se apenas notar sua circunferência pelas estacas ainda existentes.

    5. É fácil imaginar-se a sensação dessa ocorrência. Ao voltar- mos, muitos experimentam a solidez do terreno; nisto os cinco sa-

cerdotes se aproximam, pois observaram nosso passeio até o lago. Em lá chegando, eles gritam desesperados: “Por Zeus! Que acon- teceu aqui?! Primeiro, desapareceram os ídolos — agora, o lago sa- grado! Ai de nós, pois estamos perdidos. Os grandes deuses foram insultados e por isto permitiram que um especial mago isto fizesse, com o poder que eles lhe conferiram. Quem nos ajudará e susten- tará?” Digo Eu: “Vamos à casa de Jored, onde combinaremos tudo, aqui não é local apropriado!”

95.ADOUTRINADA VIDA

  1. O aduaneiro convida igualmente os sacerdotes para o almo- ço, que de bom grado se sentam à nossa mesa. Eles pouco falam, pois querem pelas palestras dos discípulos e demais hóspedes dedu- zir Minha Identidade, entretanto nada é dito nesse sentido. Perden- do a paciência, perguntam se é permitido se externarem na questão de sua futura atitude para com o povo.

  2. Respondo-lhes: “Dizei somente a Verdade, relatai o fato tal qual se deu, referindo-vos às testemunhas, aqui em grande número

  1. Meus discípulos integrar-vos-ão na Doutrina, explicando-vos como deveis agir na divulgação. Antes de mais nada, tereis que fazer o que ela manda; só então alcançareis a Perfeição da Vida, poden- do fazer o que faço, e pelo completo renascimento — ainda coisas mais sublimes.

  2. Deus Verdadeiro não criou o homem a fim de que agisse apenas para a satisfação de suas necessidades, e sim em virtude da

evolução espiritual. Quem trabalhar espiritualmente, exercitando as forças do espírito através do conhecimento, da fé e da ação — tor- nar-se-á forte e poderoso em espírito. Quem dedicar-se unicamente ao desenvolvimento das forças do espírito construirá dentro de si o Reino de Deus, ou seja, a Vida verdadeira e eterna, semelhante a Deus, o Criador, em todos os Seus Atributos.

  1. Em tal estado de bem-aventurança, pela unificação do livre arbítrio à Vontade de Deus, a criatura tudo poderá realizar, tornan- do-se soberana da Vida e de todas as forças da Natureza. Vejo não vos ser possível assimilá-lo inteiramente; tal se dará quando doutri- nados pelos Meus discípulos.”

96. O VALOR DA ASTROLOGIA

  1. Manifesta-se o sacerdote de Minerva: “Ouve, homem-deus, nossa tarefa principal se prende à determinação das horas, à conta- gem dos dias, semanas, meses e anos; temos que localizar e deter- minar os planetas que regem o ano e o zodíaco. Para tanto é preciso vasto conhecimento, experiência e trabalho, pois é de grande utili- dade à Humanidade, que sem nossa vigilância e desempenho cairia na maior desordem para os seus trabalhos.

  2. Por este motivo fazemos as ampulhetas e os relógios de sol, de acordo com o zodíaco. Caso aceitemos tua doutrina de Deus e da Vida, poderemos continuar a nossa tarefa?”

  3. Respondo: “Claro que sim, salvo se quiserdes ler e determi- nar nas estrelas o destino dos homens, e além disto pretender adorar os deuses nas constelações. Excluí isto tudo, que o resto é justo e está em ordem! Não vos desaconselho a função acima, muito embora Me veja obrigado a dizer ser coisa tola a determinação do planeta a reger o ano, pelo seguinte: considerais também o Sol e a Lua como planetas. Não Me refiro tanto à Lua, companheira da Terra, portan- to é planeta. O Sol não o é, mas sim uma estrela fixa, como existem inúmeras no Espaço Infinito. É ele, no mínimo, um milhão de vezes maior que a Terra, e para seus planetas a girarem a seu redor, um

mundo luminoso e imutável. Tudo isto ser-vos-á explicado pelos discípulos.

  1. Se assim é, como pretendeis declarar os planetas para regen- tes de um ano qualquer? Nisto se baseia uma idolatria bem calculada dos antigos sacerdotes pagãos. Se, por exemplo, neste ano, Júpiter

  1. Existe apenas um Deus, Criador de tudo. Nele tereis que acreditar, considerar Seus Mandamentos e amá-Lo acima de tudo neste mundo! Se isto fizerdes, a fim de receber o que prometi — não mais haveria planeta regente; Deus é o Único Regente de todas as coisas, elementos e épocas. Quem assim crer, aceitar com fé e viver dentro da Vontade de Deus em breve perceberá que Minhas Palavras vêm de Deus, levando-vos tão certo à conquista de Minha Promessa, como Eu tudo posso fazer através de Minha Vontade. Compreendestes?”

  2. Respondem os cinco sacerdotes: “Senhor e Mestre, compre- endemo-lo perfeitamente e confessamos teres falado a pura verdade! Quanto à astrologia, opinamos poder manter-se os nomes dos pla- netas, informando ao povo sua classificação do zodíaco de sete em sete anos, organizado pelo antigo sistema egípcio. Isto talvez não prejudique o desenvolvimento de tua doutrina.”

  3. Digo Eu: “Não prejudica mas também não adianta, pois que utilidade teria o ciclo de sete anos? Se o de sete semanas e meses não tem importância — muito menos o de sete anos! O número sete foi por vós determinado de influência mágica e importante, atribuindo-

-lhe toda sorte de efeitos; o povo assim fascinado crê em tolices. Se julgais ser preciso manter isto, ao menos ensinai às criaturas serem

os nomes dos antigos deuses apenas denominações fúteis de deter- minadas constelações.

  1. Além do mais, são todos os vossos cálculos do Céu estelar somente engano e mentira. Meus discípulos disto vos darão provas concludentes, pois sabem por Mim o que são Sol, Lua e estrelas. Informai-vos a respeito, e vereis quão errôneos e ridículos são vossos estudos. De tudo aquilo apenas é certo: os quartos da Lua a muda- rem de sete em sete dias, a semana subsequente, a duração do mês e do ano. Depende de vós fazerdes o que vos agrade.”

  2. Ouvindo tais palavras, os sacerdotes arregalam os olhos e conjecturam: “A ciência e força oculta ele não as buscou no Egito, do contrário teria outra opinião acerca daquela astrologia. Rejeita tudo, com exceção daquilo que qualquer pessoa possa contar pelos dedos. Terá seus motivos; iremos pedir informações aos adeptos!”

  3. Manifesta-se o primeiro sacerdote de Apollo, exímio astrô- nomo: “Estudei em Diathira, debaixo do enorme zodíaco no Tem- plo de Cronos, a cronologia, astronomia e a astrologia milagrosa, pelo sistema de Ptolomeu (não se trata do astrônomo nem do rei, mas de Ptolomeu completamente esquecido na História, que viveu quatrocentos anos após Moysés) — e agora isto de nada vale? Que faremos na contemplação do Céu estelar? Teriam as constelações maravilhosas somente a incumbência de fornecer fraca luz? Por que seus diversos agrupamentos, tamanhos e cores? Eis uma prova dura para nós! Seja como for, ouviremos os discípulos!”

97.OSENHORCURAENFERMOSEMUMAALDEIADE PESCADORES

  1. Levantamo-nos da mesa, pois já eram quatro horas da tarde, e Eu incumbo André e Nathanael a transmitirem o ensino neces- sário aos sacerdotes, e em seguida dirijo-Me, com os outros, ao ar livre. Um deles nos segue, pois queria averiguar Minha Atitude. Ca- minhamos à margem direita do Euphrates, onde se encontra quan- tidade de ervas raras e curadoras. Após uma hora chegamos a uma

aldeia de pescadores, pois o solo estéril não se presta para lavoura. Prontamente somos abordados por muitas pessoas conhecidas de Jored, a quem pedem paciência pela dívida de arrendamento.

  1. Ele lhes perdoa, dizendo: “Sois isentos igualmente de impos- tos futuros. Somente a taxa imperial tereis que pagar diretamente, como proprietários da aldeia, e que podereis ganhar pela venda de peixes. Estais satisfeitos?”

  2. Imensamente gratos, eles caem de bruços, elogiando a grande bondade de Jored, que impede tal manifestação exagera- da e também lhes apresenta o filho ressuscitado. Interessados no sucedido, eles se aproximam de Mim, perguntando singelamen- te Quem sou.

  3. Acalmo-os, dizendo: “Sabereis em tempo a Minha Identi- dade. Por enquanto, sabei de Minha Própria Boca ser Eu o Único Salvador do mundo para todas as criaturas; tenho Poder não somen- te para curar o físico através de Minha Vontade e Meu Verbo, mas também libertar as almas de seus enganos. Se tiverdes alguns doentes na aldeia, trazei-os, que Eu os curarei!”

  4. Eles agradecem de antemão, dizendo: “Temos enfermos de sobra e nós mesmos não somos tão saudáveis como parece; os ou- tros, são quase incuráveis!”

  5. Digo Eu: “Ainda assim ide buscá-los, que vereis pela primeira vez em vossa vida a Força e Glória de Deus dadas ao Homem!”

  6. Rápidos eles se dirigem aos catres e voltam com vinte enfer- mos, entre esses aleijados, coxos, entrevados, cegos, surdos, leprosos e um, sem braços. Este homem goza de boa saúde; tendo, quando pequeno, perdido os braços devido ao descuido da ama, é incapaz de qualquer trabalho, a não ser o que executava com os pés. Quando todos se acham acomodados na escassa grama, Eu Me aproximo, dizendo: “Quereis ser curados de vossas enfermidades, e além disto

  1. Diz um ancião, artrítico: “Bom homem, se foste capaz de ressuscitar o filho de Jored, não resta dúvida poderes curar-nos! Su- bentende-se desejarmos ficar livres do sofrimento. Nada temos para

recompensar-te! Os deuses não nos atenderam, porque não tínha- mos oferendas a dar-lhes. Se tu o fizeres, serás melhor que eles!”

  1. Nesta altura, o sacerdote pagão se espanta e diz ao jovem médico: “Neste caso, ele não é homem, mas um deus! Estou curioso para ver se consegue restituir os braços àquele jovem!”

  2. Levanto os Olhos para o alto e digo: “Pai, agradeço-Te por Me teres atendido novamente! Sei que o fazes; mas falo assim a fim de que esses pagãos Te reconheçam, creiam em Ti e em Mim, louvando apenas o Teu Santo Nome!” Em seguida Me viro para os enfermos e digo: “Levantai-vos e caminhai!”, e todos se curam ins- tantaneamente.

  3. Apenas o sem braços se aproxima e diz: “Bom salvador, se te foi possível curar a todos esses pela tua vontade poderosa, certa- mente és capaz de me dar duas mãos para que possa ganhar o meu sustento. Não me deixes seguir sem dádiva, porque também quero compartilhar do júbilo dos outros!”

  4. Digo Eu: “Por que duvidaste no momento em que curei teus amigos?! Todos que acreditaram foram salvos; não fosse tua dú- vida, estarias de posse de tuas mãos!”

  5. Diz ele: “Não me tomes a mal eu agora acreditar em teu poder!” Neste momento o sacerdote pagão observa ao médico: “Vi logo que haveria dificuldade para este; pois é coisa diversa curar-se os membros retorcidos, do que restituir os que faltam!” Obtempera o médico: “Não sou dessa opinião; quem pode reduzir a nada três figuras de pedra, colossais, soterrar um lago até considerável profun- didade — basta querer para devolver os braços a alguém!” O sacer- dote não responde e Jored Me diz: “Senhor, se for de Tua Vontade ajuda a este homem, que eu lhe darei trabalho e manutenção!”

  6. Digo Eu: “Não te alteres, pois Eu o farei; como o sacerdote duvidou, tenho que trocar algumas palavras com ele.” Dirijo-Me, pois, ao pagão, dizendo: “Que opinião tens da Sabedoria, Força e Poder Divinos? Quem criou o primeiro casal e deu, aos que não exis- tiam, os membros na maior perfeição? Foi Aquele Que age dentro de Mim, conforme te certificaste nos milagres que operei. Não com-

preendes que o simples humano nada pode daquilo que faço, mas somente o Espírito de Deus, Uno à Minha Vontade?! Não constitui recomendação a um sacerdote não perceber de relance a maneira pela qual isto é possível, pois como adepto de Zeus frequentaste to- das as escolas herméticas e estudaste Platon, Sócrates etc.! Dize-Me sinceramente, duvidas Eu poder operar tal milagre?”

  1. Responde ele: “Não foi bem isto; muito embora me pa- reça poderes curar apenas o que é enfermo, mas não restaurar os membros perdidos por acidente! Como iniciado poderás agir sobre as forças da Natureza em ação no ar e na água; os braços, porém, constituem dificuldade, porquanto seus elementos básicos distam muito da origem, não havendo meios de recompô-los através do éter e da água. Todavia, posso estar errado. Minha opinião duvidosa foi modificada pelo médico, por isto creio que o possas!”

  2. Digo Eu: “Bem, esta linguagem é diferente, e não há mo- tivo que Me impeça de agir; por isto quero que ele os receba neste instante!” E assim foi. O homem, louco de alegria, movimenta os braços como se nunca houvessem faltado! A sensação é enorme e todos manifestam desejo em construir para Mim um Templo de adoração. Eu os acalmo e explico, como fizera na véspera a Jored, as forças psíquicas em união com o espírito pela fé e o máximo amor a Deus Eterno, o que as pessoas singelas acreditam e compreendem com facilidade.

98.DEFESADOSACERDOTE PAGÃO

  1. Em seguida, mando que os discípulos transmitam as princi- pais normas da Doutrina aos aldeões, recebendo Eu efusivos agrade- cimentos por tamanha caridade; ao passo que os sacerdotes são in- formados de que conviria desistirem de seu deus morto e tampouco haveriam de frequentar o templo. O representante de Zeus, porém, esclarece o seguinte: “Já tomei a vossa dianteira, e no futuro have- remos de nos encontrar e estimular reciprocamente na Doutrina de Deus Vivo. Nossos deuses não mais existem, por terem sido des-

truídos pela vontade onipotente desse homem poderoso. Também somos seus adeptos e divulgaremos a verdade, ao invés da mentira, tornando-nos úteis e amigos.”

  1. Obtempera o delegado da vila: “Estaria tudo muito certo, não fora vossa afirmação não terdes de há muito dado crédito aos deuses; entretanto, fazíeis vos passar como seus representantes, exi- gindo oferendas em vosso próprio benefício. Falo em nome de to- dos, e tu, chefe dos demais sacerdotes, responderás por essa fraude e por que razão castigastes quem se vos opunha. Não sendo capazes de prestar declaração concisa, nossa amizade será duvidosa!”

  2. Responde o sacerdote: “Caro amigo, primeiro, não fomos os autores do politeísmo; segundo — que teríeis feito caso tivésse- mos declarado a nulidade dos deuses?! Fomos por isto obrigados a fomentar essa crença neles e ao mesmo tempo levados a vos servir como tolos, merecendo duas vezes pagamento. Além do mais, agi- mos em consideração política do Estado. Se contrária fosse nossa atitude, o Governo romano teria pedido explicação, destituindo-nos de nosso cargo, enquanto escolheria outros sacerdotes não tão com- preensivos quanto nós. Quem vos garantirá não suceder tal situação com nossa desistência do cargo?!

  3. Naturalmente nos assistem muitas testemunhas daquilo que um deus verdadeiro chegou a realizar, e se acreditarmos fielmente nos ensinos dessa nova doutrina, capacitando-nos através de nossa vontade sublimada a produzirmos milagres, ser-nos-á mais fácil jus- tificarmo-nos perante a lei.

  4. Por isto digo como sacerdote: Se continuarmos como amigos e tendo oportunidade para nos exercitar até que alcancemos certa firmeza na orientação da doutrina, tudo será encaminhado a bom desfecho.”

  5. Diz o delegado: “Falaste bem — entretanto fomos nós os en- ganados; deixemos o assunto, porquanto recebemos Graça tão ines- perada através deste Salvador universal, cujos discípulos se dão ao trabalho de nos encaminhar; por isto, juntar-me-ei aos outros para aproveitar os ensinamentos.” Entrementes, Eu palestro com Jored,

seu filho, o médico e o moço anteriormente sem braços, explicando-

-lhes vários pontos não compreendidos.

99.AALDEIAÉABENÇOADAPOR JESUS

  1. Após os discípulos terem finalizado a doutrinação, os mora- dores voltam junto de Mim para agradecer-Me, de mãos erguidas ao alto, a cura e a Doutrina que os fizeram compreender o que é o homem e qual a sua finalidade. Digo-lhes pois: “Meus caros, agi dentro dos ensinamentos que sentireis não ser a Doutrina de um ser humano, mas vinda realmente da Boca de Deus, contendo a Verda- de mais elevada e pura, portanto a própria Vida!”

  2. Todos o prometem fielmente; pedem ainda que Eu abençoe sua aldeia, a fim de que seu sustento se torne mais fácil; pois obriga- dos a procurá-lo com o maior esforço, não disporiam de tempo para tarefa tão séria como a Doutrina.

  3. Pergunto-lhes: “Qual é vosso desejo? Quereis viçosas pasta- gens para cabras e carneiros, quintais e hortas, abundante pescaria, e além disto habitações mais confortáveis e depósitos de cereais?”

  4. Responde o delegado: “Senhor e Mestre da Vida e de todas as coisas, tua oferta é realmente tentadora; todavia, não a merecemos! Por isto já ficaríamos satisfeitos com alguns pastos mais férteis para os animais, e a pescaria mais abundante.”

  5. Digo Eu: “Considerando vossa modéstia recebereis tudo que mencionei!” Nesse instante veem-se pequenas moradias e respectivas instalações; a zona arenosa se transformou em pastos verdejantes, entrecortados por ricos trigais. Em volta das casas se acham árvores frutíferas de toda espécie, inclusive a videira, e quanto à pescaria, a água está cheia de peixes; além disto, grande quantidade de aves, de uso dos gregos.

  6. Ao depararem com essa transformação, os habitantes custam a se convencer da realidade; em seguida, desatam numa ovação de agradecimento. Após terem se acalmado, Eu os advirto para que jamais se excedessem com a fartura, porquanto uma enchente lhes

poderia tirar tudo; de mais a mais não deveriam fazer menção desse fato, pois o mundo haveria de ridicularizá-los e procurar prejudi- cá-los. Deveriam apenas dizer ser isto prêmio de seu zelo especial. Deveriam, ainda, tratar-se com amor e boa vontade, sem jamais in- vejarem a posse de outrem, levando vida casta e agradável a Deus, para não perderem a Graça recebida.

  1. Novamente Me prometem assim agir, chorando de emoção e alegria. Então convido-os a tomarem posse de tudo; entretanto, eles Me pedem que faça tal demonstração, pois não sabiam como classificar os bens. Incumbidos disso, os discípulos em pouco orga- nizam tudo. Encontrando nos lares igualmente fartos provimentos, fazem menção de externar seu reconhecimento. Meus discípulos, porém, dizem convir fazê-lo calados, pois Eu entendo a linguagem do coração e o mais sutil pensamento de uma pessoa, ainda que dis- tante. Por isto também deveriam controlar seus pensamentos e não permitir que Eu fosse deste modo ultrajado.

100.RETORNOA CHOTINODORA

  1. Em seguida os apóstolos voltam ao nosso grupo, com exce- ção de Judas, que ensinava por conta própria o uso de certos instru- mentos, passando de casa em casa, comendo e bebendo; pois não é de seu feitio fazer algo gratuitamente. Deixamo-lo entregue ao seu prazer, enquanto caminhamos para Chotinodora. Chegamos ao pôr-do-sol e nos dirigimos à moradia de Jored. Lá encontramos os dois discípulos com os quatro sacerdotes, e dentro em pouco se aglo- mera uma quantidade de pessoas, curiosas pelos acontecimentos na vila de pescadores. Muitos são os fatos a serem contados e somente a ceia traz algum silêncio, pois os cidadãos pouco a pouco voltam aos lares.

  2. Nem bem terminamos, entra Judas para ver se ainda há qual- quer coisa para ele; encontrando a mesa limpa, ele se conforma, não permitindo que Jored mande preparar-lhe um prato e se satisfaz com pão e vinho. Thomás não lhe perdoa, pois recebe por Mim

a intuição ter Judas se fartado com o vinho milagroso na vila. Ele se faz de desentendido à reprimenda do discípulo, toma um bom trago para depois sair. Encontra um cidadão que lhe conta os fatos havidos e também o convida para sua casa, onde Judas tira desforra numa boa ceia.

  1. Entrementes chegam mulheres, filhos e empregados dos cin- co sacerdotes, para saber onde estavam aqueles e o que seria no fu- turo, porquanto estava destruído o que fazia parte de seu ofício. Os maridos proíbem tais atitudes, dizendo: “Somos nós os sacerdotes

  1. Intervenho: “Não vos altereis! Vosso critério é justo, mas não é o local para se discutir a respeito. Falemos de outro assunto.”

101.OSENHOREXPLICAASVISÕESDE DANIEL

  1. Diz um dos vinte, escriba do Templo: “Senhor, Onisciente que és, poderias nos esclarecer algumas passagens do profeta Daniel, mormente o sétimo capítulo, em que dá explicação singular da visão dos quatro animais, todavia tão obscura a provocar arrepios. Não estarias disposto a tal?”

  2. Digo Eu: “Como não; somente aqui não é o local apropriado por terem essas pessoas pouco ou nenhum conhecimento da Escri- tura. Além disto, vós mesmos ainda fraca ligação tendes com vos- so espírito, a fim de compreenderdes e assimilardes a visão daquele

profeta. Ainda que a muito custo entenderíeis os dois primeiros, tal não se daria com os últimos, porquanto se relacionam a épocas vin- douras. Como esclarecer racionalmente um fato que ocorrerá após muitos séculos?!

  1. Posso apenas adiantar não representarem os quatro animais número idêntico de reinados, surgindo do último dez reinos corres- pondentes aos dez chifres, de cujo centro aparece o décimo primei- ro, motivando a extirpação de três — e sim, apontam quatro exten- sos períodos sucessivos de povos nesta Terra, a partir dos primórdios, necessitando vasto conhecimento cronológico da História e, além disto, visão espiritual para penetrar o futuro, ultrapassando espaço e tempo na Luz da Luz e na Vida da Vida.

  2. Consta ter o último animal dentes de ferro, devorando tudo a seu redor e o décimo primeiro corno tem olhos e boca humanos, falando coisas importantes.

  3. Afirmo-vos ser isto irremediavelmente certo; se desse expli- cação a respeito, entenderíeis tanto quanto o próprio profeta, que recebeu a visão pelo espírito. Sua alma beata bem se prestava para ter visões dessa ordem, como em sonho nítido; todavia, não podia com- preendê-las por não se encontrar em união com a centelha divina, uma vez que Eu não havia encarnado, a fim de possibilitar a com- pleta fusão. Esta só será possível quando Eu tiver ascendido à Minha antiga e, em seguida, nova Pátria. Daí podeis concluir não haver utilidade qualquer explicação acerca do sétimo capítulo de Daniel.”

  4. Diz Pedro: “Senhor, se oportunamente estivermos a sós, po- derias dar alguns esclarecimentos. Não resta dúvida terem os profe- tas, especialmente os quatro grandes, escrito muita coisa, bem como Moysés, Elias, David e Salomon — mas para quem? Até hoje nin- guém os entendeu e nós mesmos quase nada assimilamos, e os nos- sos descendentes não terão melhor sorte. Entretanto foram aqueles livros escritos para a Humanidade; que finalidade terão se jamais forem compreendidos?”

  5. Digo Eu: “Estás muito enganado! Se aqueles livros de Sabe- doria espiritual tivessem sido escritos de modo a serem assimilados

de relance, pelo raciocínio natural, o homem os poria de lado, nem mais lhes dando importância. Qual seria seu benefício?!

  1. Assim sendo, contêm eles somente fundo espiritual, a partir da simples criatura até o profundo sentido divino e celeste, portanto não podem ser assimilados pelo intelecto, e sim unicamente pelo espírito puro e perfeito.

  2. Justamente a dificuldade de compreensão de tais Escrituras desperta o espírito no homem e lhe demonstra o quanto lhe falta no aperfeiçoamento da Vida. Será motivo de ele apanhá-las seguida- mente, a fim de meditar a respeito e com o tempo receberá elucida- ção do próprio espírito. Tão logo tiver alcançado uma pequena luz, tornar-se-á mais dedicado na pesquisa da verdade espiritual, aumen- tando seu conhecimento pela aproximação da centelha divina que o capacita a transmitir suas noções ao próximo.

  3. Tal fato nunca sucederia com as Escrituras caso fossem dadas em teor natural, que automaticamente excluiria sua base divino-celestial, conforme já vos demonstrei por diversas vezes.

  4. Que diríeis se vos transmitisse que, a contar de agora a dois mil anos, Minha Doutrina em geral terá aspecto pior que o paga- nismo mais atrasado e o farisaísmo mais obtuso de Jerusalém, cuja existência não atingirá cinquenta anos?! Qual seria vossa opinião Eu vos declarando que em tal época as criaturas inventarão olhos artificiais para pesquisarem as profundezas do Cosmos, chegando a outros cálculos que os egípcios?! Farão até mesmo estradas de ferro e com auxílio do fogo e vapor correrão em carros de aço tão rapi- damente qual flecha?! Guerrear-se-ão com armas de fogo e enviarão suas missivas através do raio para o mundo inteiro e seus navios se movimentarão pela força do fogo, sem vela e remo, tão fácil e veloz- mente como o condor atravessa o éter. Assim, realizarão milhares de coisas que escapam ao vosso entendimento.

  5. Tudo isto faz parte do quarto animal e não pode ser por vós compreendido, porque não tendes ideia do que acabo de falar. Em espírito dentro em breve o entendereis, sem contudo poderdes ex- plicá-lo de modo diverso que Eu. Em ocasião oportuna acrescentarei

mais alguns pontos. Por hoje fizemos o bastante e podemos tratar do descanso.” Assim finalizamos o dia, continuando os sacerdotes e Jored acordados em outro recinto, palestrando acerca dos acon- tecimentos.

102.ASASTUCIOSASMULHERESDOSSACERDOTES PAGÃOS

  1. De manhã cedo já se acha grande multidão à frente da casa a fim de Me ver, todavia não saio, ficando com os discípulos dentro da sala. Nesse ínterim, Jored entra e Me diz: “Senhor e Mestre, o desje- jum está preparado e se for de Teu agrado posso mandar servi-lo. Lá fora um mundo de gente deseja cumprimentar-Te, inclusive os sacerdotes e o médico.”

  2. Digo Eu: “Manda servir e faze entrar os nossos amigos e, naturalmente, também a tua família. O povo que espere; nada perde nem ganha pelo fato de Me ver. Mais tarde resolveremos o programa.”

  3. Assim é feito; os sacerdotes e o médico se juntam à mesa provida, pois as sete mulheres de Jored são ótimas cozinheiras. De- corrida meia hora, um sacerdote pede licença para falar. Digo-lhe, então: “Podes falar à vontade; sabendo Eu palavra por palavra o que pretendes perguntar, podes poupar teu esforço de abrir a boca em ocasião tão imprópria. Quando, pela madrugada, voltastes a casa, ouvistes no bosque clamores e choros. Muito embora amedronta- dos, penetrastes pelo arvoredo adentro, onde percebestes palavras ameaçadoras no sentido dos deuses ultrajados se vingarem de vós. Aterrorizados relatastes o fato às mulheres, deitando assim água em seus moinhos.

  4. Sabeis por que elas, os filhos e servos ontem vieram buscar-

-vos? Precisamente por quererem assustar-vos com vozes de espíritos do outro mundo, e se aborreceram pela vossa demora. Conquanto sabedor dessa intenção, deixei que assim agissem; não para vos dei- xar amedrontar por algumas horas, mas dar-vos oportunidade para conduzir as vossas famílias ao bom caminho.

  1. Por tal motivo aprisionei os instrumentos de mistificação usados por elas, até o momento de lá chegardes, para provar-vos os milagres produzidos à noite com gatos, cujos rabos estão amarra- dos nos arbustos e com a cooperação de alguns empregados ocultos nas árvores.

  2. Quando de manhã aqui viestes, elas correram ao bosque e neste momento se esforçam por libertar seus instrumentos de fan- tasmas, o que não lhes será possível, antes de lhes dizermos algumas verdades! Dize-Me, amigo, não foi isto que pretendias relatar-Me?”

  3. Responde o sacerdote: “Sim, grande Mestre! Agradeço-Te a explicação, pois já receávamos uma guerra entre os deuses, fato em que jamais acreditamos; entretanto consta que, em eras remotas, se tenham sucedido grandes revoluções telúricas e elementares, que os primitivos habitantes relembravam em contos e quadros. Ontem, quase estávamos dispostos a dar-lhes crédito, tanto mais quanto pre- senciamos o Poder Divino no homem. Em nossa imaginação vimos que Tu e Teus discípulos atiravam montanhas ardentes e carvalhos gigantescos contra o Céu. Reconhecemos nossa tolice e aguardamos que possas endireitar as cabeças tolas de nossas mulheres.”

  4. Digo Eu: “Com razão afirmais ser tolice delas, entretanto sois vós os culpados e vos compete recompor o estrago, com amor e pa- ciência; só deste modo alcançareis muito e Eu ajudar-vos-ei — mas com vossa habitual severidade, não tereis êxito.”

  5. Defende-se o sacerdote: “Senhor e Mestre, não provocamos grande estrago com as mulheres, desde infância coagidas à cren- ça nos deuses, de sorte a fazerem-se de nossos mestres de correção quando deixávamos de considerar um simples fato cerimonioso.”

  6. Digo Eu: “Não deixa de ser verdade; no entanto, deveis es- tar lembrados da época em que casastes! Verificastes que elas, filhas de um sacerdote em Sidon, liam as Escrituras dos judeus, muito consideradas por elas e seus pais, se bem que secretamente. Expres- sastes vossa admiração, a fim de conquistá-las; depois de casados, começastes a lançar suspeitas contra a doutrina dos judeus, apre- sentando-lhes milagres falsos, afirmando ser obra dos deuses. Em

seguida, procurastes por todos os meios excitar a fantasia delas, até o ponto culminante onde, no final, recebiam sonhos e visões, que sabíeis interpretar em vosso proveito. Considerai tudo isto e depois Me dizei quem é culpado do atraso de vossas companheiras.

  1. Todavia, tal não importa; pois no futuro sereis sobrepujados por elas, pelos filhos e servos no que diz respeito à verdade. Vamos agora ao bosque, onde as libertarei de sua aflição e quase desespe- ro, pois até mesmo acreditam no castigo dos deuses, porquanto os ultrajaram no bosque sagrado!” Seguimos, assim, para lá por um atalho, a fim de impedirmos que o povo nos acompanhe. Em meio à multidão está Judas, pronto a querer mostrar-Me mediante algumas moedas. Nossa retirada estratégica nisto o impede.

103.BOMTESTEMUNHODAS SACERDOTISAS

  1. Em lá chegando, encontramos todas aflitas por libertar os gatos e os empregados trepados nas árvores. Os últimos parecem como que pregados nos galhos, e dos animais não é possível aproxi- mar-se, tão enraivecidos estão pela dor sofrida. Nisto os sacerdotes perguntam às mulheres qual o motivo de tal confusão. A sacerdoti- sa de Minerva diz ao marido: “Engendramos ontem um ardil para trazer-vos de volta ao antigo paganismo, porquanto abandonastes os deuses devido às feitiçarias praticadas pelo mago. Ao que parece, ofendemos ou aos deuses ou ao taumaturgo, pois não conseguimos livrar os empregados e gatos! Quiçá o grande feiticeiro nos poderia ajudar, porquanto é o único responsável, uma vez que destruiu as imagens e aterrou o lago. Vai e pede-lhe isto, em nome de todos!”

  2. Responde o sacerdote: “Tereis que fazê-lo vós mesmas, e Ele não Se negará. Já soube do caso, razão por que aqui vimos. Vos- sa atitude não ofendeu aos deuses, jamais existentes, e sim apenas àquele Homem-Deus, que por amor a todas as criaturas também aqui veio para nos libertar do grande engano, demonstrando-nos a verdadeira Luz da Vida. Por Ele age Deus, Único e Verdadeiro. Tal fato real jamais pode ser negado por aqueles que assistiram Seus

Atos. Ainda que apenas tivessem ouvido Sua Doutrina verdadeira, em breve verificarão ser ela Obra de Deus. Somente a Boca Divina pode pronunciar palavras que penetram quais chamas flamejantes no coração humano, criando uma consciência jamais sonhada por alguém. Aproximai-vos Dele com amor e humildade, que não sereis rejeitadas.”

  1. Solícita, a sacerdotisa transmite este ensinamento às outras, e todas se aproximam de Mim, pedem perdão de joelhos e ao mesmo tempo que Eu liberte os infelizes homens e animais.

  2. Então lhes digo: “Quem não sabe o que faz não comete peca- do — nem vós! Sabendo Quem sou, cometeríeis faltas graves contra a Ordem Divina, visando apenas o vosso bem e querendo vossa fe- licidade não terrena, mas eterna. A maneira pela qual isto pode ser realizado em vida ser-vos-á explicada pelos maridos. Agora verificai se os presos já foram libertados!” Realmente, elas encontram todos saltando de alegria e Me agradecem com efusão.

  3. Fazendo com que se levantem, digo: “Tudo que vistes e ainda chegareis a saber é preciso ser ensinado com paciência e meiguice aos filhos e servos. Mais tarde deveis fundar uma verdadeira escola da Vida em Meu Nome, também transmitido pelos maridos, recebendo deste modo a Bênção Celeste, assim como uma ilha é banhada pelas águas circunjacentes para alimentar sua flora, não mais precisando da chuva do mundo, vinda de uma nuvem tenebrosa, que oculta a luz solar. Lembrai-vos disto e agi deste modo, que passareis da morte deste mundo à vida dos espíritos, assim como Eu, fisicamente, sou penetrado do Espírito Divino! E caso acrediteis realmente em Meu Nome, Deus vos ajudará em tudo; pois Eu sou o Laço Vivo entre Deus e as criaturas!”

  4. Quando ouvem essas palavras de Salvação, todas exclamam: “Não existe ser humano capaz de falar como Tu, Senhor e Mestre! Ouvindo-Te, as provas se tornam dispensáveis. Pareces Homem, mas apenas externamente; Teu íntimo é de Deus, e os ouvidos des- tinados a perscrutarem a voz interna, como sejam: pensamentos, desejos e decisões, ouvem de Ti somente o puro amor divino, e para

nós, Senhor — és Deus Único! Nossos descendentes relatarão com maior entusiasmo que nós, acerca da visão obtida de nossos ascen- dentes que se comunicavam diretamente com Jehovah, que lhes fa- lava e ensinava.”

  1. Aconselho: “Está bem! Continuai assim que ficarei em Es- pírito sempre convosco, neste mundo e no Além, no Meu Reino, por Mim construído para Meus amigos terrenos, no íntimo de cada criatura de boa vontade — e vosso convívio espiritual e feliz jamais terá fim!”

104.DÚVIDASQUANTOAO ALÉM

  1. Obtemperam as mulheres e seus filhos, maiores: “Mestre Di- vino, se ao menos existisse uma vida eterna após a morte! Todas as pessoas a desejam; mas onde estão as provas irrefutáveis? Os sábios de todos os povos muito escreveram a respeito; suas obras, no en- tanto, foram deturpadas, de sorte a representarem somente enigmas.

  2. Diógenes, o grande filósofo da Grécia, foi quem profun- damente penetrou na verdade de nossa existência, antes e após a morte, exemplificando suas teses. E nós todos compartilhávamos da sua filosofia, muito embora lembrássemo-nos de Platon, Sócra- tes e de Moysés, cujas Escrituras lemos, em parte, quando vivíamos em Sidon. Aprofundamo-nos até mesmo nos livros dos hindus, bir- manenses e persas; mas tudo em vão. Nosso professor em Sidon, conhecedor de todas as filosofias, provava-nos através de palavras e exemplos de outros povos a imortalidade da alma em um mundo melhor ou pior, de acordo com a existência terrena; além disto, pro- meteu-nos apresentar-se como espírito caso morresse antes de nós.

  3. Ele morreu — a prova, porém, ficou devendo até hoje. Em sonho vinha comunicar-se conosco e nós lhe perguntávamos quan- do cumpriria sua promessa, ao que respondia poder somente desse modo comunicar-se conosco. Ao acordarmos, verificávamos ter sido tudo apenas obra de nossa fantasia surgida através de nosso pensa- mento; pois os sonhos nada mais são que pensamentos refletidos

pelo cérebro, de duração passageira, enquanto a pessoa está adorme- cida. Tão logo morra, pensamentos e sonhos acabarão para sempre. Talvez seja possível; no entanto, só obtivemos explicação dos vivos! Nenhum voltou, a fim de provar o fato real da sobrevivência. En- quanto isto não for provado, a crença na imortalidade será proble- mática. Aliás, até hoje não houve um semelhante a ti, Mestre; e caso nos transmitas algum ensinamento dessa ordem, teremos motivo para crer.

  1. Se realmente existir tal possibilidade — única base para uma vida terrena dentro da moral — por que nada é feito por parte do mundo dos espíritos?! Ninguém é culpado de sua existência neste planeta; uma vez aqui vivendo como indivíduo racional, o Poder Supremo que o projetou contra a sua vontade deveria cuidar de sua educação, no sentido de ele saber o porquê da sua existência e o que o espera.

  2. Somos simples mulheres, todavia inteligentes, porque muito estudamos e qualquer sábio teria dificuldade em discutir conosco. Respeitamos o próximo e dele nos compadecemos por ter o mes- mo destino que nós, isto é, não merece consideração por parte da Divindade Onipotente! Ela apenas Se interessa pelo Universo, sem preocupar-Se com os vermes sofredores da Terra. Por isto as pobres criaturas têm que se consolar reciprocamente, até que a morte as venha apagar; em seguida, apresenta-se o descanso eterno, maior felicidade para o Gênero Humano.

  3. Tu és realmente dotado de poderes divinos; entretanto, o mundo pouco saberá de tua existência daqui a alguns séculos. Sem- pre houve grandes espíritos entre os homens; todos morreram sem darem provas da eternidade de sua existência, conforme procura- vam incutir nos outros. Não duvidamos ser-te possível exemplificar tal tese de modo convincente — todavia, somente e durante nossa vida! Uma vez mortas, não necessitamos de provas. Talvez obtenhas melhores resultados que teus predecessores, por isto pedimos-te que nos esclareças este ponto.”

105.OORGULHOFEMININODESAGRADAAO SENHOR

  1. Digo Eu: “Minhas amigas inteligentes, neste local não Me expressarei, e sim na casa de Jored, onde também podereis apare- cer, caso o quiserdes. Predigo desde já ser-vos difícil reconhecer que apenas a carne é mortal, e não vossa alma, porquanto desde infância vos positivastes na matéria, razão por que nada mais vislumbrastes e sentistes, a não ser aquilo que ela projeta diante de vossos olhos. Por ora nada mais direi!”

  2. Novamente elas Me agradecem com seus filhos e servos, vol- tando aos confortáveis lares. Jored Me pergunta se deve convidá-las para o almoço. Respondo: “Isto é que não! Não há ocasião menos propícia para se conviver com mulheres super intelectuais que pre- cisamente à refeição! Quando a língua começa a se movimentar, es- quecem-se de comer e beber, e nós outros não chegaríamos a falar sem lhes amarrar a boca. Essas cinco mulheres têm realmente capa- cidade para fazer silenciar qualquer um. Primeiro, são filhas de um sumo sacerdote grego, erudito, do Templo de Apollo e Minerva. Segundo, tiveram um mentor especializado em todas as ciências, que lhes perturbou a cabeça. Pretendeu ele ensinar-lhes a fundo os antigos sábios, sem considerar estarem eles em absoluto confronto entre si; pois pelo conhecimento e simpatia com tais sábios, não se consegue atingir um sistema de vida uniforme e seu resultado só produz uma espécie de sabichões orgulhosos que no final apenas sentem necessidade em demonstrar sua superioridade intelectual e experimental. O mesmo acontece com essas mulheres e até mesmo com os filhos e servos. Experimenta falar com um dos seus empre- gados, e verás sua loquacidade.

  3. Terceiro, também são sacerdotisas e têm obrigação de ser tão inteligentes a evitar uma derrota intelectual; seus familiares fazem de certo modo propaganda de sua sabedoria, a ponto de levarem ao mundo a seguinte conclusão: Se prole e serviçais desenvolvem tama- nho saber — que poço de conhecimento não serão os responsáveis!

Caro amigo, em tal situação individual, o espírito de seu mentor não pode aproximar-se a fim de cumprir sua promessa!

  1. Não percebeste a maneira orgulhosa de Me apresentarem seus agradecimentos e quando lhes prometi constante ajuda, caso permanecessem dentro de Minha Doutrina e se porventura pronun- ciassem o Meu Nome, transmitido pelos maridos, Eu as consolaria e traria conforto? No mesmo instante começaram a desenvolver suas dúvidas quanto à imortalidade da alma! Presumes terem tido real interesse em receber de Minha Parte uma prova contrária nesse sen- tido? De modo algum; sua intenção apenas visava demonstrarem perante Mim seu profundo saber e competência na fundação de uma nova escola de filosofia da vida! Disto tudo deduzirás não ter Eu vontade de sua presença durante a refeição. Mais tarde poderão vir aqui, informadas pelos maridos!”

  2. Responde Jored: “Precisamente tal qual imaginei a índole dessas criaturas, por isto não simpatizava muito com elas. Quando se afirmava uma opinião qualquer, sempre respondiam com ama- bilidade: Convém calares-te, do contrário seremos obrigadas a nos afastar; pois tal assunto por ti jamais será compreendido! — Os pró- prios maridos tinham que se controlar para não serem corrigidos em uma controvérsia com elas. Vejo, portanto, não ter errado e avisá-

-las-ei para virem dentro de três horas.”

  1. Digo Eu: “Muito bem; todavia, podes avisar aos homens que desejo falar-lhes.” O primeiro a se apresentar é o sacerdote de Minerva. Digo-lhe, pois: “Amigo, almoçai em casa; do contrário, vossas mulhe- res Me abafariam com sua sapiência, enquanto prezo o silêncio durante a refeição. Às três horas podereis voltar com elas. Antes disto, dai-lhes alguns esclarecimentos de Minha Pessoa, para impedir suas objeções quando Eu falar. São apreciadoras da filosofia de Diógenes, portanto dificilmente abordáveis; além disto, são céticas — o que é pior!”

  2. O sacerdote promete seguir o Meu Conselho e garante o bom comportamento do grupo feminino. Em seguida, transmite o recado aos colegas; deste modo, a parte mais aferrada no paganismo dessa zona recebe um início para sua evolução.

106.UMESCRIBAAPOIAAS SACERDOTISAS

  1. Este lugarejo é importante por ser o templo um segundo orá- culo de Delfos, proporcionando grandes lucros aos sacerdotes. Po- deria, portanto, surgir um ensinamento mais adiantado para gregos e romanos, razão pela qual aqui permaneço por mais tempo que em outra parte da Galileia. Voltamos à casa de Jored pelo mesmo cami- nho, a fim de impedir o desejado lucro de Judas; porém, a multidão não esperara até meio-dia, e reclamou com palavras acerbas ter ele prendido a todos sem que conseguissem Me ver. Judas se esconde dentro de casa, receoso ser ele alvo de pagamento, porém diverso do que esperava receber. Entramos na sala onde a mesa se acha arru- mada e Eu Me viro para todos, dizendo: “Se ele vier, fazei de conta como se não tivesse estado ausente!”

  2. No mesmo instante Judas se apresenta e cumprimenta a todos, não dando demonstração de se ter afastado. Fizemos o mesmo e nos entregamos ao ágape. Pouco se fala; somente os vinte novatos palestram acerca das sacerdotisas. Um escriba, ca- balista e conhecedor do Livro das “Guerras de Jehovah” (poste- riormente perdido e atualmente posse de antigos hindus sob o nome Sen scrit — Estou oculto), diz: “É preciso se ter respeito diante daquelas mulheres; são mais cultas que os judeus eruditos, e partindo de nosso ponto de vista natural, não se lhes pode cri- ticar as opiniões sólidas.

  3. A morte é nos olhos de um estudioso algo que tira ao Criador muito de Sua Glória e Majestade! Podendo conservar, pela Onipo- tência, Terra, Lua, Sol e estrelas — por que não faz o mesmo ao homem como é, de corpo e alma?! Sendo obrigado a deixar o físico e ingressar num ser mais espiritualizado, a Onipotência Divina po- deria efetuá-lo de modo tal a sublimar o corpo até que penetrasse no espírito sem a menor perturbação da consciência; ou então deveria o homem, ao menos em idade avançada, entrar em intercâmbio vi- sível com almas desencarnadas, para garantia de sua sobrevivência. Todavia, não há vestígios disto nesta Terra.

  1. Primeiro, a criatura nasce mais tola e desajeitada que qual- quer irracional e tem que ser cuidada e nutrida pelos pais até se po- der manter sozinha; segundo, uma vez adulta é tolhida por grande número de leis, quase lhe tirando a respiração. Qual sua compre- ensão em tudo isto? Nada mais que a crença de passar melhor após a morte, uma vez cumpridos os Mandamentos — na hipótese de existir tal vida postmortem!

  2. Consta terem tido os primitivos tal certeza, no que só podem congratular-se! Nós, tão humanos quanto eles, não gozamos desse privilégio. Afirma-se basear-se tal fato em nossa inclinação materia- lista; opino ser neste caso de máxima necessidade testemunhos de um mundo espiritual.

  3. A grande felicidade de Tua Presença, Senhor e Mestre, a nos demonstrares pela Doutrina e Milagres a maneira pela qual o ho- mem se destina a uma vida eterna e espiritualizada — não é geral e para nós, somente no que diz respeito à nossa crença, em virtude das provas por Ti realizadas. As de Moysés também foram extraor- dinárias e forçaram os homens à fé; à medida que os milagres escas- searam, a crença enfraquecia a ponto de ser o eterno nada a maior felicidade. O desaparecimento das coisas é diariamente provado; enquanto para a sobrevivência da alma não existe uma prova sequer!

  4. Ninguém poderá contestá-lo; por isto não se pode condenar os pareceres das sacerdotisas, fruto de prolongados estudos. Por que o espírito de seu mentor não voltou conforme prometera? E qual a razão de obedecer o espírito de Samuel ao pronunciamento da bruxa de Endor, predizendo a morte de Saul? Tais coisas são segredos ja- mais desvendados de modo natural. Pode-se, através de ensinamen- tos, trazer luz e paz ao homem; mas não é possível se cogitar de uma certeza absoluta. Que dizes à minha opinião, Senhor?”

107.INTERCÂMBIOCOMOALÉM.PROVASDA SOBREVIVÊNCIA

  1. Digo Eu: “Por enquanto pouco ou nada; pois ainda estás longe de assimilar uma compreensão verdadeira e clara do que seja espiritual! Julgas estarem as criaturas tão abandonadas por Deus a ponto de não mais receberem notícias do mundo dos espíritos?! En- ganas-te muito; elas afastam-se voluntariamente de Deus, começan- do a procurar sua felicidade dentro da matéria, tudo fazendo para tal finalidade. Portanto não é de se admirar nada perceberem das testemunhas espirituais enviadas, a fim de orientá-las da vida após a morte — e até mesmo não querem vislumbrá-la.

  2. Quantas vezes foram apedrejadas por judeus e fariseus pes- soas que haviam palestrado com espíritos e com anjos de Deus, porquanto nada queriam saber e ouvir de suas advertências! Se isto ocorreu milhões de vezes — acaso pode-se admirar se tal vidente guardasse suas visões e convicções?!

  3. Não foram o velho Simeon e Anna, no Templo, uma grande luz do mundo dos espíritos, pois podiam durante horas palestrar com anjos celestes?! Quem lhes deu crédito? Os templários também queriam conversar e ver os anjos celestes em determinados dias; tal desejo foi-lhes concedido. Entretanto, como foi interpretada a gran- diosa aparição no Templo? Alegou-se terem Simeon e Anna engen- drado a aparição, em ligação secreta com essênios e feiticeiros egíp- cios! No entanto, havia centenas de testemunhas oculares. Quem acreditou?

  4. O sumo sacerdote Zacharias teve visões! Por que não lhe acreditaram? Quando se percebeu terem sido elas plenas de verda- de — que lhe fizeram?! Quando seu filho João, compenetrado do Espírito Divino, pregou no deserto, e os judeus se convenceram da genuinidade de suas prédicas através de provas, por que não fizeram o que ele ensinou? Encheram-se de ódio e ira venenosa, atiraram-no ao cárcere e — o resto sabeis!

  5. Agora Eu Me apresento como Espírito Supremo e vos de- monstro por Palavras e Ações que assim é — entretanto duvidais!

Dizei, quais as provas mais convincentes acerca da vida no Além que Eu vos poderia dar?!

  1. Acaso não deviam as criaturas, que pelo Amor Ilimitado do Pai se destinam a se tornar plenamente Seus filhos, nascer sem julga- mento psíquico e destituídas de qualquer capacidade de vida elevada?! Não têm que conquistar conhecimentos e habilidades pelo ensino e prática dentro do livre arbítrio, trabalhando no seu aperfeiçoamento à semelhança divina, como futuros criadores espirituais, no que o Pai Celeste lhes proporciona constantemente todos os recursos?!

  2. Por que motivo vos digo: agi dentro de Minha Doutrina que a Vida Eterna se revelará em vós!? Se assim é, como podeis afirmar estarem certas as mulheres estoicas dos sacerdotes por falarem desse modo?! Tolos cegos! Caso quisesse e fosse de vosso proveito, poderia de momento abrir vossa visão interna para verdes como sois rodea- dos por falanges de espíritos. Qual seria vossa atitude? A mesma que das sacerdotisas! Haveríeis de afirmar: ‘Fácil é pregar-nos um logro enquanto vivos; convém procurar-se os cemitérios e fazer aos mortos tal encenação — que nada perceberão!’ Eu vos afirmo terdes razão, porquanto aqueles não são destinados a viver, não obstante também contenham elementos específicos em julgamento que, após completo amadurecimento, serão despertos para nova vida em outro indivíduo.

  3. Somente a alma se destina à vida eterna; isto jamais poderá suceder à matéria por ser apenas elemento espiritual em julgamento, isto é, a Vontade de Deus fixada por determinado tempo, mas que não pode perdurar assim; pois em Deus, além de tudo, mormente a Vontade, é livre, fixando um pensamento apenas o tempo necessário para alcançar um fim elevado.

  4. Sem Deus e fora de Deus, jamais existe algo. Tudo que pulsa no Universo provém Dele e é, no fundo, inteiramente espiritual. O fato de se apresentar no mundo como matéria sólida baseia-se na imutabilidade da Vontade Divina; tão logo deixasse de manter um pensamento, não mais haveria vestígio para a visão material, muito embora tal Pensamento deste modo dissolvido continuasse eterna- mente em Deus.

  1. Dizei-Me: onde fui buscar a terra para cobrir o lago; o ma- terial usado para melhorar os bens terrenos dos pobres pescadores e onde ficou a matéria dos três deuses?! No lago e nas propriedades, Meu Pensamento foi fixado através de Minha Vontade, e nas estátu- as ele foi liberto, voltando à sua origem. Nisto se positiva a explica- ção de Meus Milagres operados diante de vós. Jorab, filho de Jored, testemunha através de sua ressurreição ser Eu igualmente Senhor dos espíritos e de toda vida. Poder-vos-ia transmitir outras provas da sobrevivência da alma após a morte?”

  2. Responde o escriba: “Não, meu Deus, Senhor e Mestre! Agora estou informado de tudo. Permite eu me dirigir às sacerdoti- sas para expulsar-lhes seu filósofo Diógenes.”

  3. Concordo: “Está bem, pois já não mais suporto o conví- vio de estoicos de vários matizes! Tem cuidado para não levares a pior, pois elas sabem se defender!” No mesmo instante chegam elas, acompanhadas dos maridos.

108.DISCURSOATEÍSTADA SACERDOTISA

  1. Elas nos cumprimentam com profundas reverências perante Mim, e Jored pede para assentar-se, mandando trazer pão e vinho. Após se servirem de um pouco, elas começam a tagarelar, princi- palmente a sacerdotisa de Minerva. Do lado oposto está o escriba ansioso por entrar em uma disputa, porquanto ela fala de assuntos de somenos importância. Após uma hora fala-se finalmente de coi- sas mais interessantes, quer dizer, do oráculo de Delfos e do antigo oráculo mundial em Dodona. Só então o escriba encontra um mo- mento para se externar, cansado por ter perdido tanto tempo.

  2. Eis que a discussão se torna acalorada. Ela afirma serem tais instituições o maior benefício para a Humanidade, como recurso eficaz de se manter as criaturas na fé cega da imortalidade da alma. Mediante pequeno óbolo, as pessoas ignorantes podiam entrar em palestra com amigos desencarnados, oportunidade autorizada e mui útil por não haver coisa melhor.

  1. Com a verdade nua e crua, por elas reconhecida através da experiência, não se traria benefício ao povo; por isto é recomendável continuar a verdade sob orientação dos sacerdotes, incumbidos da invenção de logros espirituais, trazendo felicidade temporária. Os próprios sacerdotes não podem gozar tais alegrias; em compensação precisam de oferendas para suportar sua vida triste e isolada, conso- lando-se com o futuro aniquilamento indolor e sem preocupação.

  2. “Não quero afirmar,” prossegue a sacerdotisa, “não haver coi- sa melhor; por enquanto, porém, é mais aceitável. A justa sabedoria nos ensina levar e conservar a Humanidade em estado de felicida- de relativa por meios úteis, porém secretos. Deste modo a criatura adquire valor moral e se torna membro prestável da sociedade. Por este motivo deve o sacerdócio mui triste, que se encontra dentro da verdade desanimadora, ser respeitado pelos leigos.

  3. Suponhamos ele transmitir a verdade plena ao povo e desco- brir-lhe o logro beato. Tal atitude produziria a maior confusão entre os homens. Não haveria respeito e o mais forte aniquilaria o fraco.

  4. Não cremos em Deus, a não ser naquele que se baseia em nossa fantasia. Aceitamos a existência de forças ocultas da Natureza, às quais o homem deve sua triste vida. Tais forças são tão pouco deuses inteligentes e conscientes, quanto a água que pela força do peso procura os vales. Por isto, mil deuses envolvidos na mais densa superstição tornam-se mais úteis que a verdade pura. Que impor- tância tem a crença desde berço, se ela proporciona a certeza bem apresentada da continuação da vida após a morte?!

  5. Qual seria a resposta de um defensor da verdade caso dissés- semos: Toda doutrina baseada em qualquer entidade superior é boa, quando oferece certeza plena da vida eterna?! Todas as religiões são mentira e invenção; somente as leis morais delas derivadas são boas. Por isto, jamais alguém voltou para nos chamar à responsabilidade devido aos logros praticados!

  6. Se realmente existisse a vida além-túmulo, tais almas ludi- briadas de há muito se teriam vingado, ou então trariam esclareci- mento acerca de Deus e da vida eterna. As criaturas deste planeta

têm talentos e aptidões de acordo com o clima. Além disto, algumas são dotadas da capacidade perceptiva e assimiladora, e facilmente penetram nas profundezas dos elementos da Natureza, conseguindo imitá-los em maior ou menor escala, dando motivo de estupefa- ção aos leigos. Outras há, não obstante observarem a Natureza, que nada descobrem e inventam.

  1. Todos os atributos excepcionais não impediram, no final, a morte e jamais um desencarnado foi visto pelos vivos. O mesmo acontecerá conosco, conquanto admiremos vossas capacidades iné- ditas, incluindo vossos ensinos. Eis nossas experiências e opiniões acerca da existência e finalidade humanas. Não ignoramos haver em todos os povos quantidade de fantasias referentes à eterna finalidade da alma; quem responderá pela sua veracidade? Acaso os sonhos ou os fantasmas de uma fantasia febril? Tudo isto é apenas efeito dos diversos estados da vida do homem enquanto vivo. Tenho dito; che- gou vossa vez de falar!”

  2. A este discurso extenso e ateísta, o escriba se enerva por não poder interrompê-lo. Quando consegue tomar uma respiração profunda, ele diz com feição grave: “Ouve, sacerdotisa ateia! Desco- nheces o ditado romano: Quod licet Jovi, non licet bovi? (O que se presta para Zeus, não serve a um boi!)”

  3. Interrompe ela: “Amigo, pretendes empregá-lo a mim ou a ti? Na situação atual se aplica mais a ti que a mim; jamais tenciono ofender alguém de modo pensado ou impensado — o que se dá contigo. Se Júpiter existe, terá cuidado para não ser imitado pelo animal; ele não existindo, o boi está acima de um deus inexistente. Se tua sapiência consiste em provérbios inapropriados, teria desejo de conhecer teus instrutores! Talvez saibas mais outros?!”

109.POLÊMICAENTREOESCRIBAEA SACERDOTISA

  1. Tal observação ferina por parte da sacerdotisa faz com que o escriba reconheça sua atitude inapropriada, dizendo: “Minha in- tenção não foi esta; achava apenas não justificável tu falares como

se fosses a mais inteligente de todos, porquanto ignoras a sobre- vivência da alma e a realidade de Deus Único. É preciso prestares atenção aos nossos esclarecimentos, pois conhecemos vosso ponto de vista a respeito da filosofia de Diógenes, que nos cabe apagar em vossa mente.”

  1. Responde ela: “Seja como for, não demonstraste as virtudes de um grego, e sim de reles judeu. Menciono tal pormenor para veres nossa educação mais fina que a de Jerusalém. Seria interessante se conhecer a divindade responsável por tal adepto! Pretendendo apagar em nós o estoicismo, terás que aplicar outros meios, do con- trário teu sucesso será duvidoso!”

  2. Diz o escriba: “Vamos ao que interessa! Não percebes que nós outros acreditamos em Deus Verdadeiro e na imortalidade da alma? Como é possível não terdes tal convicção, quando é fato real para pessoas habituadas a estudos desta ordem?!

  3. Afirmo ser isto castigo por terdes sonegado à multidão os co- nhecimentos mais elevados, oferecendo-lhe fraudes e mentiras por causa de vossa preguiça e bem-estar! Insinuando-vos como represen- tantes e amigas dos deuses, exigistes oferendas enormes e às vezes cruéis; por isto Deus vos tirou a convicção íntima da vida psíquica, suplantando-a pela certeza da morte eterna. Eis o motivo por que não vos é possível realizar o intercâmbio com almas desencarnadas. Além disto, digo-vos ter sido varrido de vós o paganismo ridículo, e espero não pretenderdes reconstruí-lo; aceitai a Doutrina que vos- sos maridos vos transmitirão, ponde-a em prática, que a convicção da imortalidade da alma se manifestará de novo, facultando-vos o conhecimento de Deus, Único e Verdadeiro. Ele vos criou para a Vida Eterna, caso quiserdes dela vos tornar dignas no caminho da salvação. Compreendeste?”

  4. Responde ela: “Muito bem; entretanto, pronunciaste pala- vras idênticas às do nosso falecido mentor — sem força convincen- te. Se em épocas passadas nossos descendentes desistiram de uma crença qualquer, não nos cabe culpa, mormente aquele Deus Único querendo vingar-se em nós, martirizando nossa mente com a morte

eterna! Não resta dúvida ser a filosofia de Diógenes mais conforta- dora do que um ser supremo levado à constante manifestação de ira!

  1. Pessoalmente só consigo imaginar Deus Verdadeiro na con- cepção do puro amor, por ser Ele o elemento criador e vivificador, e de modo algum aceito sua pessoa irada. Nós, pagãos, consideramos deuses de ira, mas que se encontram apenas como símbolos no in- ferno, de onde raramente surge algo de bom; lá habitam, em caver- nas subterrâneas, serpentes, dragões e feras selvagens, envolvidas em fogo destruidor, enxofre e piche. Por este motivo, localizamos as más tendências entre os quadros tenebrosos do inferno. Nossa concepção dos deuses bons é extraída do amor ligado ao rigor equilibrado, e sua personalidade suprema reside acima das estrelas! Que me dizes a respeito?”

110.OESCRIBAFALADOSER DIVINO

  1. Responde o adepto: “Tua concepção de Deus não é propria- mente condenável, todavia desconheces Sua Verdadeira Natureza; pois se assim fosse exclamarias como os sábios da antiguidade: Tre- mendo é para os pecadores caírem nas Mãos de Deus Onipotente! Ele é pleno de Amor Sublime para os que O reconhecem, amam e cumprem Seus Mandamentos; mas ai daqueles que não O querem conhecer, ou então Dele se desviam e desconsideram Suas Leis!

  2. A própria História apresenta exemplos flagrantes de tremen- dos julgamentos sobre povos que não mais queriam reconhecer Deus, respeitando apenas os seus sentidos! Como a Divindade sem- pre castigou tais pecadores empedernidos e oponentes à Sua Santa Vontade, estendendo tais flagelos aos descendentes, não podemos deixar de admitir Ele alimentar igualmente ira e vingança, tendên- cias também preponderantes em todas as Suas criaturas.

  3. Para nós depende de nossa inclinação mais acentuada, pois esta será a mesma apresentada por Deus contra nós. Se formos bons, sábios e amorosos para com Deus e o próximo, e além disto aplicarmos misericórdia, humildade e paciência — Deus fará o

mesmo conosco. Despertará em nós a consciência da Vida Eterna, cumulando-nos de bênçãos. Se nossa atitude for contrária, Ele sur- girá com punições constantes, até que tenhamo-nos regenerado. Nisto se baseia a máxima Justiça Divina, e sem ela Deus não seria Verdadeiro.

  1. Deus, Onisciente e Onipotente, deve ser capaz de julgar o bem e o mal, quer dizer, aquilo que se acha dentro ou fora de Sua Ordem Eterna; e a criatura por Ele dotada de raciocínio e livre von- tade, destinando-se a uma finalidade superior, deve por Ele ser en- sinada ou castigada. Deus é para nós Tudo em tudo; o Amor mais sublime e puro, mas igualmente a própria Justiça implacável. Se tu, minha cara amiga, vivesses durante milênios, agindo contra a Von- tade de Deus, Ele não te atenderia ainda que pedisses constantemen- te libertação de teu sofrimento. Tão logo resolvesses subjugar a tua vontade à de Deus, serias considerada à medida de tua obediência. Qual teu parecer?”

  2. Responde a sacerdotisa: “Tudo isto soa bem e apresenta fun- damento em a Natureza; todavia, sou inteligente e procuro Deus

  1. Isto tudo não existe; pois a criatura vem ao mundo sem sa- ber e querer, tendo que se submeter à orientação paterna para não sucumbir. Com o tempo, a criança se torna adulta e a sujeição aos genitores é mais suave. Eis que se apresenta a obediência à Vontade de Deus, tolhendo-a até a morte. Isto se justificaria caso houvesse combinação prévia entre a criatura e o Criador; quanto a isto, nada se sabe ou se recorda.

  2. Fomos evidentemente gerados por uma força poderosa, o que nos prova a consciência, porquanto todo efeito tem sua causa. Ela mesma, porém, é enigma total. Tudo que até hoje se sabe é trans- missão fantástica de pessoas beatas, familiarizadas com as forças da Natureza, delas se servindo não raro de modo extraordinário. Tais indivíduos, por nós denominados semideuses, aproveitavam seus

dons para elaborar leis e ensinos, levando os ignorantes e impres- sionáveis a aguçar tais ordens com punições extensivas até depois da morte. Se tais legisladores pretendiam pôr término às tolices enrai- zadas, tornavam-se vítimas daquele maquinismo. Essas ocorrências se repetirão em nosso planeta, onde o verdadeiro bem não perdura, porquanto o mal progride.

  1. Ao lançares a melhor semente em solo adubado, sempre ela será acompanhada pela erva daninha. E ao plantares cardos e abro- lhos, não aparecerá uma haste de trigo sequer! Assim o homem tem que cuidar do bem com muito zelo para impedir sua obstrução. Confesso me teres dado uma definição aceitável da Divindade; no entanto, falta-lhe a prova flagrante da existência de Deus. Se disto fores capaz, terás feito uma boa obra merecedora de nosso louvor.”

  2. Responde o escriba: “Tal prova só poderá ser dada por ti mes- ma, pois Deus tem que surgir em ti pela ação dentro da Vontade Divina! Nisto se baseia a característica da conquista da Vida Eterna, como confirmação de ser a Vontade Divina o próprio Verbo do Pai, em Si a Vida, Amor, Força e Sabedoria. É só o que te posso dizer, porquanto é suficiente a quem quiser amoldar sua vida em tais nor- mas; com toda polêmica e discussão nada se consegue para a vida da alma. Quanto ao desejo de te orientares melhor, basta te dirigires ao nosso Senhor e Mestre!”

  3. Diz ela: “Amigo, isto sei, sem tu me aconselhares. Come- çaste a falar e agora terminou o teu latim. Teria preferido me dirigir desde início a teu mestre.”

111.CAMINHO PARAO CONHECIMENTO EO AMOR DE DEUS

  1. O escriba silencia, enquanto Me viro para a sacerdotisa: “Ouve, criatura excessivamente intelectual, não vem ao caso se Eu ou este adepto fala contigo, pois todos eles, ao falarem em Meu Nome, recebem de Mim as palavras! Pronunciou ele estritamente aquilo que Eu teria dito. Sois os únicos culpados por sentirdes apenas morte e aniquilamento totais de vossa existência, como simples estoicos.

  1. Por que existem tantos pagãos não só acreditando, quais ju- deus na íntegra, na imortalidade da alma, e sim disto têm plena consciência?! Dir-vos-ei o motivo dessa carência. Baseia-se no orgu- lho, amor-próprio e na tendência em querer brilhar como eruditos e arrasar qualquer um com sofismas cansativos.

  2. Quem poderia retrucar ou aconselhar algo, se apenas preten- deis que todos sejam por vós instruídos, enquanto isto não poderá suceder convosco? Nisto se fundamenta o mais perigoso orgulho, fazendo jus ao provérbio: Quem não aceita conselho não pode ser socorrido!

  3. Enquanto permanecerdes neste orgulho, sentireis apenas a morte eterna, ao invés da vida; pois o orgulho impele a alma com toda violência ao corpo, que cada vez mais se enfatua, amalgaman- do-se à matéria, onde nada mais pode sentir que a morte material.

  4. Quando a alma desiste do orgulho e se humilha, isola-se gra- dativamente da matéria física, estando com ela em união apenas pelo fluido nervoso e afim. Isto sucedendo, ela sente a vida dentro de si e se decide ao amor ao próximo, e assim ao amor puro de Deus; este, ela só encontrará através da humildade, despertando a própria centelha divina em si, começando a unir-se a ela. Nesse estado ela ingressa na vida perfeita e eterna, e se torna semelhante a Deus em tudo, recebendo certeza absoluta da imortalidade.

  5. Se a alma persiste no orgulho mundano e exige constantes hon- rarias e homenagens por parte do próximo, ela se aprofunda na carne física e, como resultante, na morte desta. Quais seriam as palavras e provas capazes de testemunhar à alma completamente morta sua vida além-túmulo e do fato de existir um Deus, Único e Verdadeiro?!

  6. Opinas poder a Divindade, Sábia, Onisciente e Poderosa transmitir a tal pessoa um conhecimento, de qualquer maneira, que lhe desse percepção exata de seu estado. Deus sempre o fez; o orgu- lho do homem, porém, não admite ele disto se aperceber.

  7. Digo-vos: quem em sua vida começar a refletir acerca da Existência de Deus que tudo criou, conserva e dirige, em breve reco- nhecerá ser tudo bom e útil, e o próprio Criador, sumamente Bon-

doso. Repetindo seguidamente tal meditação, começará a amá-Lo, amor este que aumenta e se firma no coração da criatura, justamente sendo a emanação do espírito individual, cuja luz penetra a alma, recebendo vida pelo seu calor. Neste estado não mais é possível ao homem imaginar a morte.

  1. O fato de ser isto mui fácil podes deduzir pelos cinco senti- dos, intelecto, raciocínio e livre vontade, pelos quais pode ele agir e organizar seus sentimentos. Assim constituído ele vê o mundo, Sol, Lua e estrelas, e neste estudo pode reconhecer a Deus, o Senhor. Cada montanha, cada vale com os frutos abundantes, rios, ervas vicejantes, enfim, flora e fauna lhe fornecem material de sobra para meditação. Então se manifestará uma voz interna, dizendo nada po- der surgir por si, e sim deve existir um Criador, Sábio, Amoroso e Onipotente, dando origem a tudo e ainda o conserva. Esta manu- tenção será eterna, cada vez mais nobre e perfeita, porque Deus a mantém desde épocas inimagináveis para o intelecto humano.

  2. Quem tiver tal compreensão de Deus, o Criador, forçosa- mente despertará em si grande respeito e amor para com Ele, como início do surgimento da alma no espírito, que aumenta pelo amor ao Pai, fato mui fácil, porquanto o espírito do amor ilumina a alma, levando-lhe mais conhecimentos referentes à Natureza de Deus.

  3. Se deste modo o homem tiver encontrado o caminho para Deus e para a Vida Eterna e Real, poderá demonstrá-lo no amor ao seu semelhante, fazendo-se de guia seguro, e Deus o recompensará com maior Luz e Sabedoria, e seus discípulos amá-lo-ão e proverão com o necessário.

  4. Se isto tivésseis feito desde sempre — uma vez levadas ao bom caminho pelo vosso mentor, adepto de Platon — não tenciona- ríeis nos abalar com a filosofia de Diógenes, pois teríeis a plenitude da vida psíquica. Aqueles princípios filosóficos e vosso grande orgu- lho, oculto, transformaram-vos completamente, de sorte que tereis de iniciar vossa vida interior de acordo com Minha Doutrina. Com amor e dedicação em breve fareis progresso; ao passo que, perduran- do na teimosia, continuareis na morte. Tereis compreendido isto?”

  1. Responde a sacerdotisa: “Sim, Senhor e Mestre; entretanto, teria sido facílimo por parte de um deus onipotente permitir a apari- ção do espírito de nosso mentor, porquanto jurou fornecer tal prova de sua doutrina da imortalidade. Sua aparição teria positivado nos- so propósito de seguirmos seus ensinamentos, adaptando-os à vida cotidiana; como nos ficou devendo sua promessa, é compreensível nossa dúvida. Por que motivo nunca se apresentou?”

  2. Digo Eu: “Por sete vezes ele surgiu em vossos sonhos, dan- do sempre a mesma explicação por que não lhe era possível fazê-lo de outra forma. Por que não acreditastes? Pelo fato de que, como filhas lindas de um sumo sacerdote, vos tornastes vaidosas e cheias de orgulho, ridicularizando vosso bom mentor, ao invés de lhe pres- tar ouvidos atentos. Vossas almas se recolheram na carne; com isto perdestes a aura externa da alma, indispensável à visão do espírito, impossibilitando ao mentor de se apresentar.

  3. Quem através da plenitude da vida psíquica recebe uma aura vital pode ver almas desencarnadas e com elas palestrar sobre assuntos importantes da vida, tão logo o queira. Para tanto é neces- sário um aperfeiçoamento interno quase total. Meditai a respeito e combinai o resto com os maridos, informados de Minha Doutrina, que chegareis a um critério acertado. Isto feito, à noite acrescentare- mos mais alguns pontos elucidativos. As criaturas deste planeta têm a grande missão de se tornar poderosos filhos de Deus; para tanto, têm que ser doutrinadas para se desenvolverem independentemen- te.” As mulheres silenciam, enquanto Me dirijo para fora com os discípulos e a família de Jored.

112.OSUPERSTICIOSOPESCADORDO EUPHRATES

  1. Dirigimo-nos ao rio, precisamente ao ponto onde se acha a balsa recolhida, e encontramos os pescadores de Jored entretidos na pescaria. Observamos que todas as redadas não traziam resultado. Jored então vira-se para o chefe dos pescadores, dizendo: “Que é isto hoje? Não há peixes no rio?”

  1. Responde o velho: “Eu mesmo não o entendo! O tempo é propício e uma quantidade de bolhas de ar sobe à tona, geralmente bom sinal para a pesca. Além disto não há vento, o Sol se acha no justo declínio e a Lua entrou na constelação dos peixes, tudo isto favorável para a pescaria. Em outra ocasião sempre tivemos bom sucesso; mas hoje — nada!

  2. Ouvi dizer que os pescadores de Malaves foram bem suce- didos ontem. Certamente existe um feiticeiro entre eles. Quiçá os deuses se aborreceram, em virtude do mago estrangeiro lhes ter des- truído suas estátuas. Se assim for, patrão, nossa situação será séria e custar-nos-á grandes sacrifícios para apaziguá-los. Farei mais uma tentativa; caso não obtenha resultado, desistirei por hoje.” Em segui- da ele atira de novo a rede; mas quando ela volta à praia, está vazia como anteriormente. Aborrecido, o pescador exclama: “Já disse, o dia é azarento e não adianta teimar! Se necessitares de peixes, Jored, podes mandar buscá-los em Malaves, pois consta que os pescadores de lá obtiveram ontem grande quantidade. Além disto teria o tau- maturgo transformado suas cabanas com um golpe mágico, de for- ma tal a poderem ridicularizar os moradores da cidade. Que dizes, senhor — devemos insistir no propósito?”

  3. Digo, finalmente: “Meu velho e supersticioso pescador, as bolhas de ar a subirem à tona não demonstram bom agouro, pois provam estarem os peixes no fundo do mar. Para lá ficarem têm, levados pelo instinto, que soltar o ar contido nos saquinhos, o que se percebe pelas bolhas. Quando estas desaparecem, será o momento aprazado para lançares as redes; pois basta o peixe ficar sem ar, para subir à superfície. Vê, neste instante as bolhas pararam de subir, e as gaivotas e garças começam a querer golpeá-los! Joga tua rede que farás boa pesca, sem mágica!”

  4. Conquanto não o acredite, o pescador obedece, porque seu patrão também ordena fazê-lo; mal joga a rede, ela se enche de tal forma a não poder suportar o peso. O trabalho de guardar tudo nos depósitos é grande; após uma hora de intenso labor, o velho diz: “Isto não deve ser feitiçaria? Eu afirmo ser isto magia da boa! O

homem que me deu o conselho parece entender mais que os pes- cadores! Talvez seja o mesmo que fez desaparecer as estátuas e criou novas habitações aos malavenses. Desejava saber se devo fazer ou- tra redada.”

  1. Digo Eu: “Podeis fazê-lo, suprindo-vos por semanas!” Os pescadores se aproximam neste intento, obtendo o mesmo resulta- do. Quando tudo é guardado no depósito grande, o velho manda arrumar botes e apetrechos e em seguida Me diz: “Ouve, desconhe- cido! Deves ter aprendido a magia dos confins da Índia, pois entre gregos, romanos e judeus, isto é incomum. Sou pescador há longos anos, mas nunca fiz tal pesca, e de tão boa qualidade! Os deuses te devem ter bafejado, por ter tua vontade tamanho poder!”

  2. Intervém Jored: “Muito bem, meu velho, oportunamente fa- laremos a respeito. Agora trata de mandar alguns bons exemplares à cozinha, não esquecendo também vossa refeição!” Pouco mais tarde ele se junta a nós, ao redor da balsa, de onde observávamos um grupo de gaivotas e garças a rodearem os depósitos, a fim de roubar alguns peixes.

  3. O velho pescador vira-se para Mim, perguntando: “Bom ho- mem, que se poderia fazer contra esses ladrões? Mesmo não conse- guindo suspender um grande exemplar, eles ferem os peixes com seus bicos aguçados, que deste modo adoecem e não mais prestam para serem preparados; ou então morrem e empestam a água, preju- dicando os outros. Por certo haverá um meio para impedir tal dano!”

  4. Respondo: “Continuas imaginando ser Eu feiticeiro; no entanto, afirmo-te com sinceridade tal não se justificar. Por isto, dar-te-ei um conselho como Homem entendido em coisas da Natu- reza, isto é: cobre os depósitos com redes velhas, que tendes de so- bra, e as aves de rapina nada poderão fazer contra os peixes. Eis um meio natural e realizável sem mágica, de bom efeito quando aplica- do com zelo!” O velho aceita Minha sugestão, chama os empregados e se alegra por conseguir impedir a voracidade das aves.

113.OJUSTOENSINAMENTO RELIGIOSO

  1. Nisso os Meus apóstolos perguntam por que Eu não Me ha- via revelado ao pescador. Digo-lhes, então: “Tenho Minhas razões justificáveis. É melhor que venha a saber posteriormente, pelos dou- trinadores desta zona, Quem por Mim lidou com ele; está demasia- do turvado pela ideia de ser Eu feiticeiro, e com pessoas tais nada de profícuo se consegue em curto prazo; mais tarde será orientado pelos empregados de Jored a nosso respeito e principalmente de Meu Per- sonagem. Será também o médico mais indicado para tal fim, por ter melhor compreensão, e além disto recebeu de Mim o dom de curar através de passes. Isto lhe proporcionará noção acertada de Minha Pessoa e acabará desistindo de sua ideia errônea.

  2. Afirmo-vos o seguinte: na doutrinação de pagãos jamais con- virá tocar na Doutrina, e sim é preciso analisar primeiro a criatura para saber como abordá-la; pois atingindo um ponto inacessível, tereis dificultado o trabalho para levá-la ao bom caminho. Por isto, repito sempre o mesmo: sede precavidos como as serpentes e meigos como as pombas!

  3. Desconheceis o poder exercido em uma alma através de fal- so conceito. Ao descobrirdes em que se baseia tal ideia fixa, jamais deveis abordar alguém nesse assunto, mas sim em seu ponto mais fraco, facilmente descoberto. Uma vez vencida essa etapa, não have- rá dificuldade em vos apoderardes de seu conceito positivado. Tereis sempre que agir qual general hábil e experimentado, que envia seus espiões de confiança para descobrir os pontos fracos do adversário. Assim orientado, ele provocará atritos nas posições fortes, a fim de atraí-lo, enquanto o atacará pelo flanco mais fraco, vencendo-o com facilidade.

  4. Do mesmo modo podeis seguir a conduta de um bom mé- dico que conseguiu localizar a moléstia do paciente. Qual será sua atitude? Precisamente nada fará, nem pode, onde se manifesta o de- sequilíbrio. Dá-lhe, porém, remédios tais que conduzam a enfermi- dade aos órgãos sadios, para de lá expulsá-la através de um suador, e

em parte pela limpeza do estômago e do intestino, trazendo a cura do doente. Onde a moléstia se localiza como inimigo tenaz, nada se consegue diretamente; preciso é seccioná-la por meios adequados, podendo então vencê-la em sua fraqueza.

  1. Ouvi mais: esse pescador — que se retirou, dando-Me opor- tunidade de vos falar — se positiva na magia. Crê em certos provér- bios, amuletos, em mil e tantas outras coisas, de sorte que se aborre- ceria com quem o contradissesse. Evitaria o futuro contato com tal pessoa, julgando-a imerecedora de seu saber.

  2. No fundo, é bom e honesto, e se alegra em ouvir novidades — e eis seu ponto fraco onde deve ser abordado; convém explicar-lhe as coisas de modo natural e ele automaticamente começará a desistir de sua inclinação mística, porquanto verá nada disto ter base real.

  3. É, portanto, aconselhável deixar que as criaturas externem seus pontos de vista, caso se pretenda conquistá-las para a verdade. Se o tiverem feito — conforme acontece às sacerdotisas — ficam isentas de sua força principal, dando atenção ao adversário, e acei- tam suas concepções mais elevadas, condenando seus falsos concei- tos. Assim serão conquistados.

  4. Ninguém deve estranhar Eu Me dirigindo a tais pessoas como simples homem, pois analiso-as a fundo e vejo, nitidamente, seus pontos fracos e fortes, portanto sei o que dizer e como agir. E caso a alma não for demasiado aprisionada pelo orgulho e avareza, todos poderão encaminhar-se para a verdade; orgulho e mesquinhez são as tendências mais difíceis de vencer. Lembrai-vos também disto; agi dentro de tais conselhos, que obtereis os melhores resultados.”

114.ASERPENTECOMOEXEMPLODE CONDUTA

  1. Diz Pedro: “Como sermos precavidos semelhantes à serpen- te, símbolo de todo mal de Satanás, que por sua astúcia em forma de serpente, conseguiu tentar o primeiro casal?! Quem poderá querer imitá-la no tratamento com o próximo? Não sou capaz de compre- ender o sentido!”

  1. Respondo: “Quanto tempo terei de suportar-vos? Ainda não assimilais o que tão claro se acha diante de vossos olhos? Não vos afirmei ser preciso apossar-vos da astúcia da serpente, jamais, porém de seus fins diabólicos, razão por que deveríeis permanecer bons e meigos quais pombas, não obstante de posse de tal precaução?!

  2. Observai uma simples serpente e vereis ser mais inteligente que qualquer outro animal da Terra. Afirmam os naturalistas ser o leão o rei dos animais — Eu repito fazer a serpente jus a esse título. Ainda mesmo o leão conseguindo vencer pela força todos os irracio- nais, ele foge da serpente e caso ela o tenha envolvido de emboscada, ele estará perdido e vítima de sua voracidade. Em suma, ela possui a maior reflexão, procura o local da caça com a máxima precaução e cálculo, jamais podendo lhe fugir a presa. Somente o homem é seu mestre, mormente quando ela atinge seu pleno desenvolvimen- to e força máxima. Refiro-me às serpentes reais e não aos pequenos ofídios, todavia também mais inteligentes que muitos animais de grande porte.

  3. Na Índia e na África, onde existem vários espécimes selva- gens, como leões, panteras, tigres, hienas etc., são as serpentes ades- tradas como vigias mais seguros dos homens. Seja a habitação qual for, a vigilância cabendo às serpentes, nunca é invadida por animais ferozes; o próprio elefante e o poderoso rinoceronte rendem grande respeito a esses guardas. Não prejudicam os animais caseiros quando supridas de alimento. Quando os homens deixam-nas passar fome, elas abandonam a habitação e vão à caça.

  4. Além disto, consegue-se adestrá-las, com algum esforço, de modo tal a fazerem tudo que se exige, a um sinal dado dentro de sua capacidade. Prova isto a especial inteligência dos ofídios. Quanto maior a inteligência, tanto mais fácil o adestramento e precaução de um irracional. Acabo de fazer papel de Professor Naturalista; medi- tai a respeito, a fim de evitardes futuras explicações caso Eu chame atenção a tal parábola; tereis compreendido?” Diz Pedro: “Sim, Se- nhor! Teu Nome seja louvado, pois todas as coisas Te são claras. No futuro agiremos de acordo.”

115. OS LADRÕES

  1. Nesse momento veem-se várias balsas seguirem rápidas rio abaixo, com ajuda de remos, e Pedro pergunta a Jored o motivo disso, porquanto a água por si já tem bastante queda. O outro res- ponde: “Trata-se de jangadeiros que certamente pretendem chegar hoje a Samosata. É hábito antigo poderem eles passar sem pagarem imposto durante o dia, quer dizer, até o pôr-do-sol. Por isto se apres- sam em chegar àquela cidade, alcançada em duas horas caso conti- nuem nessa velocidade. Do contrário, pagarão multa.”

  2. Diz Pedro: “Mas, por quê? No Mar Galileu o navio pode chegar quando quiser, sem pagar multa; pois ninguém é culpado de imprevistos a dificultarem a viagem.”

  3. Diz Jored: “Tens razão, todavia justifica-se aqui. Todos os jan- gadeiros conhecem a hora certa da partida para chegar em tempo. Não respeitando essa ordem, podem à noite sofrer acidentes por ter o rio vá- rios pontos perigosos, facilmente evitáveis à luz do dia. Por isso, a multa foi sancionada, com permissão do Imperador, e aplicada na manuten- ção dos portos e saneamento do rio. Eis por que a multa se justifica.”

  4. Interrompo: “Amigo Jored, que seria se porventura ladrões tivessem soltado as jangadas durante a noite, apressando sua fuga?”

  5. Exclama ele: “O quê? Então temos que retê-los, pois estão se aproximando!”

  6. Digo Eu: “Não é preciso; já teriam passado há muito tempo se Eu não os retivesse, muito embora se esforcem bastante. Pouco a pouco chegarão até aqui e serão retidos!” Diz Jored: “Malvados! Senhor, acaso assassinaram os vigias das balsas?”

  7. Respondo: “Exato, consistiam de cães, que defenderam-nas com insistência, mordendo dois ladrões. No final, os animais foram abatidos e atirados à água, e os homens soltaram as jangadas antes de serem impedidos pelos moradores, acordados pelo barulho. Resolve- ram persegui-los por terra e pelo rio, sem conseguirem alcançá-los.

  8. Os primeiros aqui chegarão extenuados por volta de meia-

-noite; os outros, em breve se apresentarão. Atracaremos as balsas

e tu, Jored, exigirás a multa, pois o Sol não demora a desaparecer. Entrementes os donos virão, dando início a um caso singular. Man- da teus aduaneiros se dirigirem à praia, pois quero que as balsas deem aqui!”

  1. Jored orienta os empregados, que ignorando a índole dos jangadeiros, exigem a importância devida. Eles, todavia, respondem: “Nada pagaremos porque aqui atracamos contra a vontade, e além disto não temos dinheiro, que será pago na volta.”

  2. Retruca um empregado: “Isto não é possível! Não querendo pagar, as jangadas ficarão aqui como penhora!” Os homens se pron- tificam a tal, pois tinham de seguir viagem, afirmando serem bons jangadeiros, portanto nada haveria de acontecer. O empregado con- testa, dizendo: “Pagai, e amanhã podereis partir à hora permitida! Não pagando agora, a multa será triplicada!”

  3. Assim informados, os ladrões amarram as cinco jangadas nas estacas e em seguida pagam taxa. Enquanto isso, vê-se uma bal- sa com oito homens que rapidamente desce o rio, dirigindo-se ao mesmo local, isto é, atracam junto das outras. Reconhecendo sua propriedade, eles se encaminham para os ladrões, dizendo irritados: “Ah! Conseguimos pegar-vos sempre, patifes! Jamais repetireis ta- manha audácia! Essa madeira era destinada a uma importante cons- trução em Serrhe e foi por nós encomendada com muito custo, em Arasaxa, Tonosa, Zaona, e Lacotena, na Mesopotâmia. Julgastes fu- gir, sem considerar termos os meios para vos perseguir até a Índia. Desta vez não escapareis ao castigo!” Em seguida se dirigem a Jored, apresentando queixa.

116.OSDONOSDASBALSASEO SENHOR

  1. Jored, porém, lhes diz: “Antes de tudo contentai-vos com a reconquista das balsas; o que agora me relatastes eu já sabia há uma hora por intermédio de um estrangeiro que desde alguns dias aqui Se encontra com Seus adeptos. Unicamente a Ele deveis o fato de terdes achado a lenha das jangadas; pois sem Sua Ajuda, os ladrões

teriam seguido até a Pérsia ou Índia, e ainda mesmo os alcançando, de nada adiantaria, porquanto contam com vinte e quatro homens e vós, apenas oito!”

  1. Afirmam os jangadeiros: “Realmente estamos satisfeitos; to- davia, será preciso entregá-los à justiça!”

  2. Obtempera Jored: “Ora, observai-os nas balsas: nenhum pode se afastar para fugir. Quem os retém? Aquele homem de Quem falei; se assim não fora, teriam se atirado n’água e, como exímios nadadores, chegariam à outra margem, sem que pudessem ser perseguidos. Di- go-vos isto para deixardes a solução entregue ao mencionado Amigo!”

  3. Dizem eles: “Neste caso, desejamos falar-lhe!”

  4. Retruca Jored: “É Este, a meu lado!” Os ladrões, que ouviram essa troca de palavras, fazem menção de maldizer-Me. Eu, porém, havia-lhes tolhido a língua, de modo que nada conseguem falar; ao passo que os jangadeiros se viram para Mim, dizendo: “Amigo, ve- mos seres dono de poderes ocultos; não nos compete indagar a ma- neira pela qual chegaste a tal ponto. Informados seres tu o causador dessa situação favorável para nós, pedimos declarares como pode- ríamos recompensar-te, e se não queres assumir a direção do caso.”

  5. Digo Eu: “Acalmai-vos — tudo que faço é gratuito! Em com- pensação considerai os pobres de vossa cidade, pois também são vos- sos irmãos. Não sejais mesquinhos e dai-lhes com alegria o vosso supérfluo, que deste modo saneareis a zona de ladrões e salteadores. Sabei serem esses aqui pobres coitados, levados pela miséria a esse roubo e outros pequenos furtos.

  6. Se pudessem conseguir emprego com patrão justo e hones- to, de bom grado desistiriam de sua vida irregular. Não lhes sendo facultado tal meio, resta-lhes somente aplicar o roubo. Como não possuam terras, não podem tratar da lavoura, pois todas essas pro- priedades são vossas, que as deixais sem cultivo. Por que não lhes entregais alguns acres para tal fim? Poderiam igualmente se tornar lavradores, e além disto pagariam tributo moderado uma vez o cam- po dando produção. Tal não seria mais favorável do que serdes os únicos proprietários, sem utilidade alguma?!

  1. A esses vinte e quatro ladrões nada direi, porquanto já se entregaram definitivamente ao roubo. Existem outras pessoas em vossas terras extensas às quais podereis fazer o que aconselhei, e em breve não mais tereis queixas sobre assaltos e roubos!

  2. Podeis organizar vasto policiamento sem grande resultado, porquanto instigaríeis a pobreza a uma reação maior, que não des- cansaria dia e noite para prejudicar-vos. Seguindo o Meu Conselho os pobres serão os melhores vigias!”

117.HISTÓRIADOHOMEM RICO

  1. (O Senhor): “Houve há tempos um homem que emigrou com sua família para uma zona desabitada, tornando-se por este motivo posse sua. Em breve, construiu boa morada e se alimentava do leite de cabras selvagens. No decorrer dos anos, sua família foi crescendo e ele se viu obrigado a transformar a casa em forte castelo. Isto porque havia encontrado minas de ouro e pedras preciosas, fa- zendo jus a local apropriado.

  2. O acúmulo desses tesouros fez com que enviasse mensageiros a outros países, a fim de trocá-los por objetos caseiros. Assim fez bons negócios, permitindo a entrada de estranhos, destinados ao trabalho. O pagamento estipulado, porém, sendo pequeno e o tra- balho se estendendo até noite adentro, eles exigiram melhoria. Ele, todavia, respondeu: Esperai até que tenha organizado minha casa mais confortavelmente, e depois sereis satisfeitos. — Os trabalhado- res se conformaram, voltando aos campos.

  3. Entrementes, o rico refletiu: Tenho receio desses homens; por isto, enviarei meus emissários para o estrangeiro, a fim de busca- rem vigias e soldados. Estes receberão ordenado maior, contendo as exigências dos lavradores!

  4. Observando a atitude desonesta do patrão, eles se revoltaram e juraram vingança. Secretamente mandaram chamar ajudantes em sua terra natal e, dentro em breve, o reforço se apresentou na expec- tativa de grandes lucros. Assim amparados, os trabalhadores nova-

mente lembraram ao patrão o aumento de ordenado e tratamento justificável.

  1. O proprietário de vastas terras chamou a guarda a fim de cas- tigar os outros pelo seu atrevimento, e ainda reduziu o que estavam habituados a receber. Perdendo a paciência, os lavradores reclama- ram: ‘Com nosso esforço te tornaste rico, chefe! Nossas mãos cons- truíram esse burgo e oficinas, cultivaram tuas matas e vinhas. Fomos nós que juntamos ouro e pedrarias, levando-os aos mercados — e agora pretendes maltratar-nos?!

  2. Todo habitante desta Terra tem direito de se apossar de ter- reno baldio; servindo ao próximo, será este obrigado a mantê-lo, porquanto lhe cedeu o direito acima. Todos nós assim agimos em teu favor, pelo que tencionas reduzir-nos a nada?! Além do ordenado miserável, teu abuso chegou ao ponto de mandares vasculhar nossos casebres para ver se tínhamos guardado algo?! E caso teus guardas encontrassem algumas ninharias, não só as tiravam, mas fazias, ain- da, aplicar castigo cruel, e além disto deste ordem de punição de morte em caso de reincidência.

  3. Não duvidando de tua maldade, pois não consideras sermos humanos com os mesmos direitos dados por Deus — exigimos a devolução de tudo que por nós foi acumulado em teu benefício! É propriedade nossa dada por Deus, e não existe quem possa contestar. Serias tu ladrão caso não a devolvesses! Tirar-te-emos apenas aquilo que juntamos e nada exigiremos pela construção de teu palácio, que nos custou sete anos de grande esforço. Dá-nos o que nos compete, do contrário usaremos de força, tirando-te tudo e arrasando a construção!’

  4. Percebendo nada arranjar com número tão grande de traba- lhadores, o rico refletiu e disse: ‘Reconheço minha injustiça e vos tratarei como meus próprios filhos: dou-vos o direito integral de colherdes. Sendo eu proprietário, tereis que me pagar a décima parte de tudo que colherdes e eu vos garanto toda proteção.’

  5. Os empregados responderam: ‘Acreditaríamos se fosses ho- mem de palavra; mas tua avareza não admite cumprires tua pro- messa. Além disto, sabemos que em um entendimento pacífico nos

mandarias prender; por isto, dá-nos nossos bens, que partiremos para sempre!’ O rico ainda se opunha a ceder-lhes; eis que eles mes- mos tomaram as medidas estipuladas e partiram.”

118.ACULPADOS JANGADEIROS

  1. (O Senhor): “Agora vos pergunto, Meus amigos: Acaso os trabalhadores agiram bem com seu patrão?”

  2. Respondem os jangadeiros: “Sim, em tais circunstâncias lhes assistia direito para tanto. É evidente que qualquer criatura dotada de bom senso e raciocínio tem o direito de colher para seu sustento, e além disso também necessita de moradia. Entretanto, não poderia haver justificativa a quem procurasse tirar-lhes seus bens, adquiridos dessa forma.”

  3. Interrompo: “Acaso o rico ajuntou com suas próprias mãos? Não! Isto foi feito pelos seus trabalhadores, humanos quanto ele. Se ajuntaram e trabalharam para ele, passando a ter direito de colher em troca de pagamento prometido, ele não cumprindo sua promes- sa e além disto os tiranizando, justifica-se sua exigência nesse senti- do, quer dizer, apossarem-se daquilo que colheram.

  4. Aliás, caso alguém tivesse ajuntado certo estoque através de sua dedicação, nenhum outro, preguiçoso, teria direito de fazer uso do mesmo. Em Minha Parábola é justamente o rico representado pelo preguiçoso, e os lavradores, pelos diligentes. Assim sendo, os últimos têm direito de exigir sua posse ao dono ilegítimo, caso não lhes seja proporcionada outra indenização.”

  5. Concordam os ricos jangadeiros: “Neste caso, sem dúvida alguma; em tal situação, nenhum monarca teria direito de nos exigir impostos e arrecadações. Não trabalha nem ajunta, e se os súditos fossem mais fortes que a guarda, poderiam tirar-lhe os bens que lhes assistem de direito!”

  6. Digo Eu: “Estais equivocados. A situação de um monarca é bem diversa; é simplesmente representante máximo da Comunida- de e tem obrigação régia de cuidar da ordem e segurança internas,

com o privilégio do cetro e da espada da lei e da justiça comum. Tem que organizar muitos guardas, não só para si, mas para todas as comarcas, não podendo ajuntar com as próprias mãos para a conser- vação indispensável dos mesmos.

  1. Como se faz mister manter leis, juízes e guardas a bem das comunidades, essas têm que cooperar para o estado financeiro do reinado, a fim de que possa sustentar sua organização. Para tanto se justificam impostos e arrecadações.

  2. Somente no caso de um regente tirano impor extorsões in- débitas ao povo terá chegado o momento de tirá-lo do trono; pois as comunidades tiveram, desde o princípio, o direito de eleger um rei e equipá-lo com força e poder necessários. Tal direito lhes assiste ainda hoje.

  3. É, todavia, preferível suportar por certo tempo um tirano, do que desafiá-lo a uma reação; pois os déspotas são geralmente flagelos permitidos por Deus durante curto prazo, incumbidos de relembrar ao povo, descrente da Existência de Deus, Sábio e Poderoso, que finalmente pode socorrer as criaturas aflitas, tão logo se Lhe dirijam pedindo ajuda, cheias de fé e confiança. Eis a realidade dos fatos. Assim por Mim orientados, julgai vós mesmos o caso desses vinte e quatro ladrões.”

  4. Dizem os oito jangadeiros: “Devem ser punidos dentro da lei!”

  5. Concordo: “Está bem; mas que deverá suceder após a pu- nição?” Respondem eles: “Poderão ser exilados ou vendidos como escravos na África ou Europa!”

  6. Digo Eu: “Hum…! Vosso parecer Me leva a fazer a seguinte consideração: precisamente esses ladrões, há muito tempo entregues a esse ofício desprezível, foram há cinco anos atrás vossos servidores e trabalharam de acordo com suas forças e capacidades! De que maneira cumpristes vossa promessa? Com grande desvelo procurastes descobrir defeitos no trabalho, e ainda que nada encontrastes, tais faltas foram por vós engendradas, o pagamento reduzido e até mesmo sustado.

  7. Quem vos deu direito de obrigá-los a juntar e trabalhar por vós, deste modo privando-os de seus direitos individuais?! Perceben-

do eles ser vossa atitude sumamente injusta, eram forçados a desco- brir outro meio de compensar seus direitos por vós açambarcados! Não puderam agir pela força por serdes mais fortes; assim tiveram que se entregar à astúcia do roubo. Até hoje fizeram-no com perfei- ção e teriam tido sucesso desta vez se não fosse a Minha Pessoa.

  1. Digo mais: esses ladrões tiveram direito incontestável de procurar sua recompensa; todavia, erraram por esta atitude, porque vos poderiam ter obrigado para tanto apelando pela justiça, isto por- que a jurisprudência romana é rigorosamente justa e um juiz não se deixa subornar por coisa alguma. Vós, porém, não tendes direito de julgá-los por continuardes seus grandes devedores. Vosso débito ul- trapassa o valor de centenas de jangadas vendidas em Serrhe; por isto pagai-lhes primeiro seu ordenado — só então podereis condená-los, caso venham a roubar-vos futuramente!

  2. Por ora, Minha punição para eles se reduz às seguintes palavras: Abstende-vos do furto e sede homens livres, honestos e trabalhadores. Desisti de vossa ida a Lacotena; ficai aqui, onde en- contrareis trabalho de sobra, inclusive para vossos familiares. Vós, jangadeiros, tereis de pagar-lhes o ordenado atrasado e, além disto, providenciar o transporte de suas famílias para aqui. Assim podeis entrar de posse de vossas jangadas. Meu veredito tem que ser cum- prido rigorosamente, do contrário tereis que aguardar maiores pre- juízos de Minha parte!”

  3. Perplexos, os jangadeiros prometem obedecer-Me. Em se- guida, mando que Jored sirva um bom repasto aos ladrões, enquan- to os outros devem pagar sua própria despesa. Voltamos após a casa, onde os peixes já se acham preparados.

119.VENERAÇÃODASSACERDOTISASPARACOMO SENHOR

  1. Ao entrarmos na sala, as cinco sacerdotisas Me recebem cheias de veneração e Me pedem perdão por Me terem contestado tão tenazmente, pois não podiam supor a Minha Identidade. Os maridos haviam declarado abertamente ser Eu, em Espírito, Deus

Único, revestido de um corpo físico apenas para Me tornar visí- vel e acessível aos homens. Se bem que Meu Corpo seja limitado como de qualquer criatura — Meu Espírito penetra em tudo, per- to e distante; bastava Eu querer para realizar Minha Vontade, e tal realização perduraria o tempo que Eu quisesse. Tão logo sustasse Minha Vontade, tudo desapareceria, como se nunca tivesse existido. Igualmente o Meu Espírito sabia de tudo ainda que oculto, inclusi- ve os pensamentos mais secretos de todas as criaturas sobre a Terra. Tais afirmações eram provadas com exemplos reais, de sorte que as mulheres tinham que acreditar, razão por que Me tratam com tama- nho respeito.

  1. Calmamente lhes digo: “Se acreditardes realmente na Minha Divindade, vosso tratamento para Comigo não se justifica. Uma ve- neração exagerada e ilimitada que entristeça a alma é tão prejudicial quanto uma diminuta; perguntai ao vosso coração se podeis amar alguém, respeitando-o com tremores de medo. Se, todavia, não ti- verdes respeito algum, também não vos será possível amá-lo. Cientes das inúmeras e ótimas qualidades de um amigo, será ele alvo de encanto para o vosso coração, começando a amá-lo acima de tudo; esse sentimento é precisamente a justa veneração que deveis ao Ser Supremo, assim como a todos os semelhantes.

  2. Desisti, portanto, de veneração exagerada. Sentai-vos à mesa e Me fazei companhia com alegria e satisfação. Se durante vossos banquetes apresentastes regozijo, enquanto a morte habitava em vosso coração, muito mais fácil podeis manifestá-lo agora, que a morte se afastou e a vida penetrou em vosso âmago! Que Me dizeis?”

  3. Respondem elas: “Está bem; estamos, porém, muito como- vidas da Imensidade de Teu Espírito! Esforçar-nos-emos o mais possível por não tremer diante de Ti, mas respeitar-Te em verdade, amando-Te acima de tudo, dedicamos-Te toda honra e amor!”

  4. Digo Eu: “Ótimo, agora sentemo-nos à mesa. Em seguida poderemos palestrar acerca de diversos assuntos de regozijo e edi- ficação!” Assim foi; ao terminar a refeição, as sacerdotisas relatam

fatos peculiares e o tema aborda a Lua e sua influência prejudicial sobre a Terra e muitas pessoas.

  1. Uma delas conta ter conhecido um sonâmbulo que, mor- mente na lua cheia, deixava o quarto de olhos fechados, erguia as mãos para a Lua e em seguida trepava nas paredes mais íngremes. Os assistentes deveriam abster-se de qualquer ruído, sob risco de vida do sonâmbulo. Ela, a sacerdotisa, desejava saber qual o motivo de tal influência.

120.OSENHOREXPLICAOMUNDODA LUA

  1. Digo Eu: “Não resta dúvida exercer a Lua, planeta mais pró- ximo da Terra, certa influência sobre a mesma; de modo geral ela não influi sobre criaturas e irracionais, plantas e minerais, e sim sobre aquilo que dela se origina. Prestai atenção, fazedores de folhinhas!

  2. Vede, a Lua é semelhante à Terra e sua companheira em sua trajetória ao redor do Sol, percurso também empreendido pelos demais planetas, em épocas diversas; é claro necessitarem os mais próximos duração menor que os outros. Júpiter e Saturno também possuem luas em seu redor; como são muito maiores que esta Terra, seus satélites são vários, enquanto os pequenos planetas não têm luas. A rotação da Terra produz dia e noite e a trajetória ao redor do Sol, um ano.”

  3. Nessa altura da explicação, os pagãos se entreolham, por- quanto ultrapassa seu horizonte de conhecimentos, e um sacerdote diz: “Senhor, agradecemos-Te por tudo; nada mais precisas elucidar, pois não o compreendemos, por faltar o exemplo.”

  4. Digo Eu: “Tratando-se de uma explicação visual, esta vos será dada igualmente!” No mesmo instante todos veem por cima da mesa, no espaço entre esta e o teto, o Sol, a Lua, inclusive a Terra, os demais planetas com suas luas, tudo em correspondente movimen- tação. O assombro é geral e indizível, e Eu lhes explico tudo, minu- ciosamente, durante duas horas. Todos o compreendem com grande

alegria. Além da parte matemática, demonstro-lhes também a popu- lação do Sol, dos planetas e luas, e referindo-Me à nossa, digo:

  1. “Uma vez compreendido o que acabo de explicar, posso di- zer-vos algo acerca do sonambulismo. Os habitantes da Lua têm, como criaturas simples e concentradas, o dom especial da visão, mormente na época da noite lunar, que dura quatorze dias terrá- queos, os quais passam quase sempre dormindo em suas habitações subterrâneas. Durante o sono, suas almas continuam plenamente acordadas e com ampla visão, podendo também ver esta Terra, à qual pertencem mais ou menos; entretanto, não podem vê-la acor- dadas, durante o dia prolongado, devido à posição da Lua; pois os habitantes da Lua vivem somente na parte oposta à Terra, porquan- to na outra face virada para a Terra não há ar nem água, e se nas crateras inúmeras se encontra certa espécie de ar, não se presta para a respiração de seres encarnados, em virtude da ausência de oxigênio.

  2. Os habitantes da Lua também não o desejam, uma vez que durante o sono — estado preferido — tudo veem e descobrem de útil à salvação de suas almas. Seu desejo primordial é se tornarem habitantes da Terra, de certo modo sua finalidade. Quando morrem, suas almas ingressam prontamente na Terra, caso tiverem conquista- do tal dignidade, e encarnam em ocasião oportuna como filhos da- qui; crescem e desfrutam da educação do planeta Terra, conseguin- do ao menos a capacidade para serem encaminhados como filhos de Deus, aqui ou no Além.

  3. Tais almas são constituídas de substâncias da Lua e portanto têm, mormente no sono, preponderante atração para seu local de origem, fato que se demonstra mais forte no plenilúnio, pois através da sua luz desce quantidade maior de elementos específicos da alma, excitando e atraindo-as. Essa influência pode facilmente ser afastada através de passes, de pessoas de fé segura, e pelo uso de banhos frios.”

121. PECULIARIDADES DAS ALMAS DA LUA ENCARNADAS NA TERRA

  1. (O Senhor): “Aliás tal faculdade não prejudica o homem, es- pecialmente a sua alma; pois tais pessoas são em geral de índole boa e meiga, e seu convívio, agradável. Pode acontecer ser o seu corpo possuído por uma alma que vagueie no Espaço, localizando-se nos intestinos — e até mesmo por várias, já vividas nesta Terra, mas que, devido à sua grande sensualidade e amor-próprio, nada lucraram para sua salvação no Além, e sim muito perderam.

  2. Essas almas são geralmente admitidas para nova encarnação, em época apropriada e justa, devido a uma qualidade promissora. Muitas, todavia, existem impacientes a se integrarem em um corpo feminino, dizendo: Carne é carne; tomaremos posse de um corpo qualquer, que será flagelado o mais possível! E quando a carne esti- ver completamente macerada, poderemos abandoná-la como almas purificadas e ingressar na bem-aventurança!

  3. Tal compreensão redunda em tremendo engano, porque a possessão da carne não adianta, mas prejudica; tais almas têm que esperar por longo tempo até que sejam admitidas a uma real encar- nação em um ventre materno. Entretanto, são tais possessões per- mitidas porque toda alma destinada à conquista de seu livre arbítrio só pode melhorar e fortificar-se através dele; a livre vontade, porém, apenas alcança a temperança modesta através de experiências amar- gas, que a levam a aceitar a vontade esclarecida de um espírito evo- luído, ingressando no caminho da redenção.

  4. Desse modo, as almas da Lua, encarnadas, são prejudicadas, porque podem facilmente ser possuídas de almas vagueantes e mal- dosas — que bem merecem o nome de demônio (Ouvraci: aptos para conversão) — no que a própria alma encarnada não sofre dano, pois tal estado lhe traz o benefício de ser muito humilhada; pouco ou nenhum prazer sente na vida física, fator lucrativo para almas da Lua. Geralmente são, não obstante sua capacidade de vidência, muito teimosas e fortemente enterradas no amor sexual; além disto,

arengueiras e briguentas, taciturnas e maliciosas, se bem que não totalmente maldosas.

  1. A possessão pode igualmente ser curada pela prece em Meu Nome, pelo jejum e o passe. Assim estais informados de tudo que necessitais saber. Maior elucidação ser-vos-á dada pelo próprio espí- rito, que em tempo justo será por Mim penetrado.”

122.OSENHORADVERTEDOPERIGODARECAÍDANA MATÉRIA

  1. (O Senhor): “Acabo de vos demonstrar o que é o homem e sua incumbência para alcançar a Vida Eterna. Depende de vós agir- des de acordo. Cuidai, porém, em não recairdes nas antigas tolices por causa do mundo, atirando-vos à morte anterior; em tal estado seria muito mais difícil encaminhar-vos do que agora! Não posso prolongar Minha Presença entre vós; mas se continuardes na Minha Doutrina, agirei convosco e tudo que pedirdes ao Meu Espírito Di- vino em Meu Nome ser-vos-á dado.

  2. Não externeis desejos mundanos; tal veneno mortífero para a alma jamais vos seria conferido, ainda que pedísseis anos afora! Minha Missão se concretiza em libertar totalmente as vossas almas do mundo, e não prendê-las a ele. Sabeis, portanto, o que fazer e acreditar, e é quanto basta. Agora outro assunto. Amigo Jored, há três dias encontramo-nos em tua casa e grande foi tua despesa. Em quanto, a teu ver, monta nossa dívida?”

  3. Diz ele, comovido: “Senhor, tudo que tenho é Teu, e caberia a mim perguntar-Te como e quando poderei saldar meu grande débito para Contigo, que sou Teu enorme devedor?! Ainda que aqui ficasses durante mil anos, acompanhado de inúmeros discípulos, comendo e bebendo, seria eu o mesmo devedor de agora. Por isto Te peço seres Misericordioso para comigo — é só! Teria apenas um pedido a fazer!”

  4. Interrompo-o: “Poupa tuas palavras; já sei que desejas con- servar por algum tempo esses astros! Poderás ficar com eles durante um ano; enquanto isto podem ser copiados para vossa elucidação.

Em seguida, desaparecerá essa amostra milagrosa, assim como fu- turamente desvanecer-se-ão Céu e Terra, quando tiverem libertado todos os elementos neles aprisionados.

  1. Tudo que contém o Espaço Infinito de material é elemento espiritual em julgamento. São espíritos sob julgamento da força e do poder da Vontade Divina até determinada época, em que tiverem alcançado aquele grau de emancipação dentro da Onisciência de Deus, podendo iniciar sua futura evolução espiritual. Por ora não o entendeis, oportunamente isso será possível.

  2. Menciono tal fato apenas para poderdes reconhecer ser Mi- nha Pessoa o Eterno Eu, e no fundo, tudo sou Eu no Universo. Fazei disto reserva até que o Espírito Eterno da Verdade vos esclareça a respeito. Dou-vos ainda um pequeno prazo nessa noite para fazerdes perguntas. Antes da aurora seguirei caminho. Tenho ainda muitos filhinhos que pretendo visitar como Verdadeiro Pai da Vida e tam- bém transmitir-lhes a Boa Nova da Vida Eterna!”

  3. Levanta-se um sacerdote e diz: “Senhor, amanhã ainda não nos podes deixar; pois acabas de nos incendiar a chama da vida e haverá muito assunto que necessita o Teu Conselho!”

  4. Respondo: “Acaso sou Euo Eu, ou trata-Se do Meu Espírito? Já vos afirmei permanecer Ele convosco e caso necessitardes de algo, recebê-lo-eis sem restrição. Minha Pessoa não é de vosso proveito, mas unicamente o Meu Espírito que jamais vos abandonará, se vós não o fizerdes!”

  5. Prossegue o sacerdote: “Senhor, cremo-lo sem a menor dú- vida; todos nós, porém, sentimos uma grande afeição por Ti, por- quanto Te reconhecemos em Plenitude. Precisamente agora queres deixar-nos?! Fica ao menos mais um dia, para a felicidade de todos!”

  6. Acrescentam Jored e seu filho: “É isso, Senhor! Apenas mais meio dia, e Te acompanharemos para onde fores!” Concordo: “Pois bem, tomarei o desjejum convosco, mas em seguida partirei sem mais delongas!”

  7. Diz Jorabe, o ressuscitado: “Ouvi, meus caros! Este Deus, Único e Verdadeiro, só pode ser retido pelo amor! É o único poder

a que Ele Mesmo rende obediência! Incentivemos nosso justo amor para com Ele, que ficará até meio-dia!”

  1. Digo Eu: “Falaste certo, pela intuição do teu espírito; en- tretanto, não posso alterar Minha Determinação. A fim de satisfazer a todos, partirei somente após o pôr-do-sol, continuando convosco em espírito. Agora resta saber se compreendestes tudo, e se não há algum sequioso de um ensinamento.”

123.PRECEEOFÍCIO RELIGIOSO

  1. Diz a sacerdotisa de Minerva: “Senhor, haveria perguntas a fazer durante uma Eternidade; de nada adiantariam, porque nosso estado atual não admite compreensão na íntegra. Envia-nos, pois, o Teu Espírito prometido, que nos levará à verdade completa e ficare- mos satisfeitos com o que recebemos.

  2. Apenas um ponto merece ser abordado: em todas as religiões se exige adoração da Divindade, e para nossos falsos deuses institu- ímos uma legião de preces. As declaradas boas, portanto de efeito seguro, eram efetuadas pelos sacerdotes de elevado grau, em deter- minada cerimônia e hora, fazendo parte de um ritual místico. Um leigo e profano jamais podia proferir tais orações sob risco de castigo impiedoso; tinha que procurar um sacerdote e levar-lhe importância fixa, com a qual este se prontificava a murmurar, com monotonia, a oração benfazeja dentro do templo. As preces ineficazes podiam ser feitas pelo profano, a fim de que meditasse acerca dos deuses e conhecesse os efeitos das orações benditas dos sacerdotes. Não é preciso explicar-me ser tal cerimônia um horror aos Teus Olhos; entretanto, deveria o homem adorar e clamar pelo Deus Verdadeiro com palavras selecionadas e dignas, diferentes das que usa no trata- mento com o semelhante.”

  3. Digo Eu: “Meus discípulos já vos deram a Minha Prece, que poderá ser feita por todos no coração; toda e qualquer outra labial é-Me um horror. Sou em Espírito desde Eternidades sempre o Mes- mo, nunca modifiquei e jamais alterarei o Meu Ser, Minha Atitude

e Vontade. Há três dias Me encontro em vosso meio. Ensinei-vos o que vos compete saber, crer e fazer individualmente para alcançardes a Vida Eterna da alma. Acaso Me referi a determinadas preces ou a cerimônias místicas, unicamente do Meu Agrado? A certos feriados, por exemplo ao Sábado judeu, por eles classificado o Dia do Se- nhor, Jehovah, em que os sacerdotes proíbem aos homens todos os serviços, enquanto eles mesmos praticam, em tal dia, as traficâncias piores e mais vergonhosas, alimentando a opinião terem com isto prestado bom serviço a Deus? Nada disto ouvistes de Minha Boca, e Eu vos afirmo em Verdade:

  1. Excluí todas as orações e o sacerdócio, os dias santos, pois cada um é um Verdadeiro Dia do Senhor! Toda criatura que re- conhecer Deus, amá-Lo acima de tudo e fizer Sua Vontade — é um sacerdote verdadeiro e justo, igualmente doutrinador segu- ro, caso transmita ao próximo esta Doutrina recebida por Mim. Quem deste modo fizer a Minha Vontade pelo bem ao próxi- mo, em Meu Nome, considera um dia justo e de singular agrado ao Senhor.

  2. Fazendo a caridade ao semelhante, deve fazê-la no silêncio e não relatá-lo, nem elogiar-se por tão pouco. Quem assim agisse já se garantiu do prêmio espiritual, por ter recebido consideração mun- dana pela nobre atitude; a honra do mundo jamais fortifica a alma, mas a perverte por torná-la vaidosa e orgulhosa.

  3. O mesmo acontece com os pedidos referentes a uma Graça de Minha parte. Quem desejar receber algo de Mim deve pedir em silêncio, no coração pleno de amor a Mim, que ele será satisfeito caso se coadune com a salvação de sua alma.

  4. De igual modo podem, em silêncio, dois, três ou vários jun- tarem-se para pedir por si e por toda Comunidade, sem que esta ve- nha a ter conhecimento disto — e Eu atenderei tais pedidos. Mas se comunicassem que em determinado dia ou hora fariam preces, a fim de receber elogios e talvez até mesmo se fizessem pagar para tanto, tal prece jamais seria atendida, portanto inútil à Comunidade e aos pedintes! Tudo isto foi e ainda será feito pelos pagãos a peregrinarem

em época de grande perigo de um templo a outro, carregando escul- turas, bandeiras, vasilhas e outras tolices e fazendo grande gritaria e barulhada com cornetas, címbalos e escudos. Empreendiam e ainda empreenderão peregrinações a imagens de ídolos especiais, onde se praticam penitências absurdas, ofertando dádivas consideráveis; isto naturalmente foi e será de grande proveito aos sacerdotes, nunca porém aos peregrinadores. Tais preces e pedidos jamais serão consi- derados por Mim.

  1. Quem quiser ser lembrado em sua prece deve peregrinar ao próprio coração e expor-Me em silêncio seu pedido com palavras simples e modestas, que Eu o atenderei! Acrescento, porém, que ninguém Me procure com gestos e feições de beatice, porquanto também não será considerado. Quem não vier a Mim conforme é e não pedir no justo espírito da Verdade plena não será atendido, mas sim apenas aquele que Me ama verdadeiramente, faz a Minha Vontade e se dirige a Mim sem pompa e coação.

  2. É habito antigo, até mesmo entre judeus, que as pessoas igno- rantes e tolas ponham roupas mais finas por ocasião de suas preces, julgando ser preciso fazerem tudo para a maior Glória de Deus; en- tretanto, não se lembram haver muitos pobres mal podendo cobrir sua nudez. Qual não será a impressão destes ao verem o rico bem vestido dentro da Igreja, deste modo dando honras ao Pai, enquanto eles mesmos não têm posses para tal e certamente ofendem a Deus em seus andrajos?!

  3. Em verdade vos digo: quem Me pedir algo especialmente vestido jamais será ouvido, muito menos ainda um padre qualquer em imponente paramento ritual! Também existe o mau costume du- rante as preces usar-se qualquer idioma estrangeiro, julgando-o mais digno à veneração divina. Onde no futuro se fizer tamanha tolice, não ouvirei as preces.

  4. Deve a criatura enfeitar apenas o seu coração e usar seu pró- prio idioma, expressando o que lhe vai na alma — que tal pedido será considerado. É do Meu Desejo serem abolidas as antigas to- lices, a fim de que as criaturas se tornem renovadas, verdadeiras e

puras. E onde se encontrarem, Eu sempre estarei em seu meio; os tolos e cegos do mundo serão punidos pelo fato de Eu não atender suas preces.

  1. Deus criou o homem sem vestes e de acordo com Sua Ima- gem, alegrando-Se com o físico humano por ser idêntico à Sua Fi- gura. Demonstrou também ao homem como fazer uma veste para proteção contra o frio; portanto, não ensinou às primeiras criaturas a confecção de roupas para que fossem usadas como indumentária orgulhosa. Muito menos Ele mandou fazer vestes engalanadas para com elas orar a Deus condignamente. Por isto, vesti-vos de acordo com vossa posição, com simplicidade, não dando à roupa outro va- lor senão o de cobrir vosso corpo; o que passa daí é prejudicial e não traz bons frutos. Sabeis, portanto, também neste ponto que fazer e julgo podermo-nos recolher, pois é meia-noite.”

124.AEVOLUÇÃODO HOMEM

  1. Manifesta-se o sacerdote de Minerva: “Tens plena razão em tudo, Senhor; como infelizmente passas hoje a última noite em nos- sa companhia, peço-Te em nome de todos permissão para anotar Tua Doutrina, a fim de que não se perca, como maior dádiva dos homens, pois pela transmissão oral seria deturpada. Com facilidade as pessoas aduzem qualquer coisa e omitem pontos essenciais. Sendo anotada e assinada por todas as testemunhas aqui presentes, tal de- turpação seria mais difícil. Para evitar quaisquer erros, pedimos-Te nos guies com Teu Espírito Onisciente e Onipotente!”

  2. Digo Eu: “Está bem; fazei-o em diversos exemplares para que o assunto se torne popular, evitando ser o primeiro livro conside- rado de poder mágico — mormente entre os pagãos supersticiosos

  1. Não quero com isto dizer não devam ser honrados tais li- vros; não devem os homens superestimá-los, mas usá-los apenas para leitura e meditação. Acrescento mais: Empregai vossos esfor- ços na alfabetização de todos — não só dos ricos — do contrário os livros não terão utilidade. Procurai facultar antes de tudo o jus- to desenvolvimento do conhecimento e do sentimento, obtendo ação simples com o semelhante, que vos garantireis grande prêmio no Meu Reino. É mais fácil lidar-se com pessoas preparadas atra- vés de uma educação justa e integral, por ser uma incompleta pior que nenhuma.

  2. Não deveis privar vossos adeptos de qualquer verdade, assim como Eu nada vos soneguei; somente a Verdade educa o homem para um cidadão real. Onde faltar a Verdade, implanta-se a mentira, causadora de todo mal na Terra. Considerai isto como norma de vida. Assim fazendo, em breve percebereis as bênçãos do Céu. — Tendes algo mais a perguntar?”

125.APARIÇÃODOMENTORDAS SACERDOTISAS

  1. Responde a sacerdotisa de Minerva: “Senhor, quanto à nossa atual compreensão, parece não haver assunto necessário ao nosso sa- ber; todavia, poderias nos conceder a visão da alma de nosso mentor, para nos convencermos mais profundamente da vida além-túmulo.”

  2. Digo Eu: “Vosso pedido é algo tolo; primeiro, por não terdes a capacidade de ver um espírito, apenas visível aos olhos do espírito e não aos da carne; segundo, a alma de vosso mentor longe está de vos proporcionar algum benefício com sua presença. Considerando vossa insistência e achando que tal fato fortifique vossa fé, posso conceder-vos mais esse pedido. Isma Kore, vem e fala!”

  3. Ouve-se um grande ruído no recinto; no solo surge fumaça como provinda de um incêndio e de lá aparece o espírito de feição irada, dirigindo-se às mulheres: “Por que perturbais o meu descanso, onde me acho ocupado com o meu aperfeiçoamento em doce com- panhia de espíritos afins, não havendo contenda e altercação?

  1. De há muito cumpri a minha promessa e vos disse clara- mente a inocuidade dos ensinos de Diógenes, servindo de máximo vexame aos aceitadores, porquanto consistem em mentiras miserá- veis, desafiando a máxima Sabedoria de Deus, Único e Verdadeiro! Tomastes aquilo por simples sonho e manifestação da fantasia.

  2. Acaso vosso intelecto não vos disse ser o homem obra mara- vilhosa de um Criador Onipotente, nada podendo existir sem mo- tivo e finalidade mui sábia?! Muitas vezes afirmei isto em vida; não ligastes às minhas palavras, pois tudo fizestes para serdes admiradas, em virtude de vosso estoicismo. Entretanto, a dúvida roía vosso co- ração, que deveria ser apagada com meu aparecimento.

  3. Agora apresentou-Se o Espírito mais Elevado e ensinou-vos! Por que não Lhe destes crédito? Por que me chamastes para teste- munho Daquele cujo Nome não mereço pronunciar? Mulheres tolas e ignorantes! Realmente, se não fosse a Presença Dele, seríeis mal- tratadas por mim! Lembrai-vos que, em outra perturbação de meu sossego, passareis mal!” No mesmo instante o espírito desaparece, sem que as sacerdotisas lhe tivessem dirigido a palavra.

  4. Eu, então, pergunto: “Estais satisfeitas com vosso mentor?”

  5. Respondem elas: “Senhor, poderia ter continuado no seu re- pouso tolo! Se no Além seus companheiros lhe forem afins, terão muito que trabalhar no aperfeiçoamento de suas almas. Que rispi- dez e brutalidade! Foi em vida modesto e meigo, e agora, em espíri- to, cheio de ira! Como é possível? Criou outra alma?”

  6. Respondo: “Por certo que não! No mundo, porém, ela ocul- tou sua verdadeira índole por precaução externa, e se apresentava, com a ajuda de seu físico, de modo bem diverso. Agora, em sua nu- dez, isto não é mais possível. Pois no Além, nenhuma alma se pode apresentar de modo diferente do que é. Assim sendo, vosso mentor se apresentou tal qual é e como sempre pensou de vós. Sua modéstia e meiguice eram apenas máscara!

  7. Por isto não espereis, no futuro, ensinamentos por parte de um espírito qualquer, mas aprendei através de Minha Doutrina, para vos capacitardes de entrar em plena união vital com Meu Espírito!”

Satisfeitas, as sacerdotisas perdem a vontade de futuro intercâmbio com o espírito do mentor. Em seguida nos recolhemos. A noite pas- sa rápida e, em poucas horas, Eu e os discípulos estamos de pé. Ao deixarmos a sala encontramos Jored a anunciar-nos o desjejum.

  1. Eu, porém, lhe digo: “Dá-nos apenas algum pão e vinho; seguiremos dentro em pouco para não sermos encontrados pelos sacerdotes e suas mulheres!” Assim foi; partimos após ter Eu aben- çoado família e empregados de Jored.

126.AIMPORTÂNCIADOPOVO JUDEU

  1. Jored e seu filho Jorabe Me acompanham até Malaves, cujos habitantes nos recebem com alegria, pretendendo servir-nos. Nada aceitamos, porém recomendamos continuarem dentro da Doutrina. Prometem-no com ênfase, entretanto indagam de Minha futura es- tada. Respondo-lhes: “Vou a Samosata; caso tenhais uma embarca- ção disponível, aceito-a de bom grado.”

  2. Dizem os malavenses: “Grande Senhor e Mestre, possuímos dois botes que em poucas horas levariam a Ti e Teus companhei- ros até lá; a dificuldade consiste na volta. Têm que ser puxados rio acima com bois e mulas, e isto somente quando de Serrhe subirem navios mercadores para Melitene, com favorável profundidade de água. Tais embarcações engatam pequenos botes e os levam de volta. Se quiseres, Senhor, podereis embarcar!”

  3. Digo Eu: “Está bem; mas em vez de dois barqueiros, ajeita quatro, e Eu te garanto estarem de volta antes do pôr-do-sol.”

  4. Dizem os malavenses: “De modo natural isto não seria pos- sível. Mas sabemos que Tua Palavra e Vontade são obra realizada!” Assim nos acompanham cinco barqueiros; três assumem a direção do bote maior, e dois ficam no menor, onde Eu embarco com os apóstolos. Essas embarcações são antes jangadas, munidas de ban- cos, encostos e coberta de lona.

  5. Jored e seu filho se despedem e rogam-Me para visitá-los em ocasião oportuna, estendendo Minha Permanência. Abraço-os

e digo: “Continuai ativos em Minha Doutrina, que Eu erigirei, no final, Minha Morada em vosso meio. Saudações e bênçãos a todos de boa vontade!” As jangadas são soltas e a pequena segue na frente, acompanhada pela maior.

  1. Quando a sós, Pedro diz: “Senhor, seria preferível continu- armos entre pagãos, deixando os judeus de lado, pois torna-se uma real satisfação ver-se a ânsia com que essas pessoas aceitaram a Pa- lavra da Vida. A destruição dos ídolos foi prontamente aceita, e as próprias mulheres não deram grande trabalho na conversão. Anali- sando bem, um pagão como Jored tem mais tirocínio que um ancião e escriba judeu. Que não teria sucedido em Jerusalém se Tu tivesses limpado o Templo como fizeste ao de Chotinodora?! Cada vez me convenço mais: os judeus são os que menos merecem Tua grande Misericórdia, Paciência e Indulgência. Qual Teu parecer?”

  2. Digo Eu: “Falas dentro de tua compreensão. Ao deparares com um campo abafado pela mata, teu raciocínio dirá: ‘Esse solo deve ser bom e viçoso. Vale a pena limpá-lo do joio e semear tri- go, pois produzirá centuplicado.’ Ao defrontares um terreno limpo, com algumas hastes de capim — acaso conviria transformá-lo em campo frutífero? Certo que não; pois onde o solo não tiver alimento para o joio, muito menos o terá para o trigo. É preciso cobri-lo com adubo forte, a fim de torná-lo produtivo.

  3. Vê, quais não foram as provas necessárias à crença desses pa- gãos?! Tais provas foram o adubo forte para que a Doutrina ger- minasse como Trigo da Vida em seu campo psíquico, crescendo para um fruto posterior. Quando há ano e meio atrás Me aproximei de vós, judeus, foi bastante a simples palavra para Me seguirdes, sem que estivésseis bem orientados a Quemseguíeis. Muito embo- ra vosso solo psíquico estivesse coberto de joio, e muitos cardos e espinhos circundassem vosso coração — havia ainda campo aberto para o trigo.

  4. A esses pagãos poderíamos falar durante dez anos, entretanto não os teríamos convertido à Luz da Vida provinda de Deus, pois te- riam feito oposição ferrenha, não obstante as provas inúmeras e im-

portantes. Agora são dos nossos, mais que muitos judeus, aos quais a Luz será tirada por causa de sua teimosia e entregue aos pagãos. Com tudo isto não deveis desconsiderar que a salvação da Huma- nidade provém de Jerusalém, e todas as promessas feitas aos judeus lá terão seu cumprimento para todos. Ainda assim visitaremos os judeus para prepará-los àquilo que os espera após Minha Ascensão, isto é — o espargir do Espírito Santo de Deus.

  1. Agora prestai atenção; passaremos num ponto do rio em que a água estaciona! É preciso usardes mais fortemente os remos, do con- trário facilmente poderíamos ser alcançados e massacrados por pira- tas. Aliás devem os dois barqueiros soltar a jangada; quero dirigir-Me a determinados piratas e fazer com que desistam de sua profissão!”

127.OSENHORSUBJUGAOS PIRATAS

  1. Quando termino de falar, nossa jangada atinge a água pa- rada, onde o rio é muito largo e profundo. Nem bem havíamos remado duas braças, Eu recomendo aos barqueiros deixarem de usar os remos. Eles, porém, respondem: “Senhor, este ponto é perigoso e poderíamos ser abordados pelos salteadores, que exigem tributo elevado de todos os barcos. Se nos apressarmos, não conseguirão nos alcançar até a próxima queda e estaríamos salvos por não se arrisca- rem além daqui.”

  2. Digo Eu: “Tendes razão; pretendo, porém, um encontro com os piratas para impedir-lhes sua futura ação nesta zona. Largai, por isso, os remos!” A essas palavras eles param de remar e não leva tem- po para sermos alcançados por homens de aspecto duvidoso, num poderoso barco, exigindo pronta entrega de todas as mercadorias.

  3. Eu Me levanto e digo com voz tonitruante: “Com que direito fazeis isto conosco e com todos que conseguis alcançar?”

  4. Responde o corsário de figura gigantesca: “Somos piratas e só conhecemos o direito do mais forte.”

  5. Digo Eu: “Como reagiríeis se fôssemos nós os mais fortes, exigindo-vos posse ou vida?”

  1. Responde o corsário: “Teríamo-nos que submeter! Tal não sendo o caso, não percais tempo em obedecer, do contrário seríamos obrigados a demonstrar nossa força!”

  2. Respondo: “Nada possuímos, portanto nada daremos; não Me acreditando, podeis fazer uso de vossa força gigantesca!” Os pi- ratas então apanham suas enormes clavas para nos abater. Eu, po- rém, paraliso-os no mesmo instante, de sorte a ficarem quais está- tuas, entoando tremenda gritaria. Em seguida digo ao mais forte: “Onde, então, está a justiça?”

  3. Grita ele: “Oh — deves ser uma entidade divina! Ajuda-

-nos, que desistiremos para sempre desse ofício e faremos tudo que exigires!”

  1. Digo Eu: “Está bem, sois livres; entregai o ouro roubado aos Meus barqueiros, do contrário vos vereis mal!” Responde o ladrão: “Senhor, não só o ouro e sim toda prata; permite te acompanhar- mos, pois pressinto seres dono de outros tesouros, mais elevados, que desejamos adquirir!”

  2. Retruco: “Então ide apanhar as vossas posses!” Ligeiros, eles se dirigem à margem esquerda e rochosa, onde habitavam em ca- vernas. Num quarto de hora estão de volta, e Me entregam cerca de cem libras de ouro e trezentas de prata legítima, pérolas e pedras preciosas.

  3. Entrementes, chega a jangada maior com os vinte adeptos, encosta à nossa, porque seus barqueiros haviam dito termos sido importunados pelos piratas. Perplexos, perguntam qual a origem de nossos tesouros.

  4. Respondo: “Prossegui viagem; o resto sabereis em tempo. Essas riquezas são posse dos cinco barqueiros, e os dez homens que as entregaram querem acompanhar-Me!”

  5. Eles obedecem, entretanto conjecturam: “Há algo estranho com nosso Senhor. Agora já aceita pagãos, publicanos, ladrões e corsários, enquanto deixou partir em Capernaum os inúmeros dis- cípulos de Jerusalém. Certamente ainda presenciaremos Ele admi- tir prostitutas e adúlteras! É realmente esquisito. Mas que faremos?

É profeta munido de todo Poder Divino, ninguém podendo a Ele resistir!”

  1. Enquanto assim confabulam, nós os alcançamos, inclusive os dez piratas e Eu digo: “Estranhais Minha Atitude — Eu, po- rém, acho dez vezes mais estranha vossa crítica à Minha Pessoa! As criaturas são Minha Obra, portanto as conheço melhor, sei das ap- tidões de cada uma e estou Ciente de Meu Proceder. Por isto nada vos deve parecer singular de Minha Parte; do contrário, deveríeis estranhar o fato de Eu vos ter aceito, pois sois mil vezes piores que esses corsários; jamais assassinaram alguém e apenas descarregaram as jangadas pesadas.”

  2. Os vinte discípulos se envergonham e Me pedem perdão. Novamente tomo a dianteira, demonstrando o caminho certo pe- las quedas d’água. Quando passamos por elas, deparamos ao longe Samosata, onde chegamos após uma hora.

128.OSENHOREM SAMOSATA

  1. Ao atracarmos, imediatamente se apresentam os aduaneiros, exigindo a tarifa. Digo, por isto, a Pedro: “Toma uma libra de prata e paga por todos nós!” Quando ele assim age, o aduaneiro protesta: “Isto é dez vezes demais e o troco te será devolvido!”

  2. Digo Eu: “Podes empregá-lo com os pobres e aponta-nos um bom albergue, pois ficaremos dois dias aqui.” Responde o aduanei- ro: “Sou dono do melhor e maior albergue; ficai, pois, comigo.” Eu aceito a proposta, e ao desembarcarmos as jangadas navegam de volta, quais flechas, rio acima e com os tesouros, despertando curiosidade, isto porque a jangada sem passageiro e barqueiro corre automaticamente atrás das outras.

  3. Não dando importância ao fato, mando que o aduaneiro nos leve à hospedaria, muito parecida com a casa de Jored e com idêntica arrumação. Apenas o refeitório não é tão espaçoso e bem mobiliado, sendo o teto constituído de lona malhada, à moda oriental. Todavia é o melhor salão de Samosata, onde nos acomodamos, muito embo-

ra um dos piratas Me advertisse ser a hospedaria mais cara da zona, por ser o dono ganancioso.

  1. Respondo: “Deixemos isto; amanhã veremos a nossa conta.” Após sentarmo-nos à mesa comprida, o hospedeiro pergunta o que desejamos para o almoço. Digo pois: “Tens pão e vinho, é quanto basta; à noite nos supriremos.”

  2. Obtempera ele: “Prezado amigo, tenho bom estoque de pei- xes, carne, leite, manteiga, queijo, ovos, mel e frutos. Espero tuas or- dens, que imediatamente serão executadas.” Respondo: “Está mui- to bem; prefiro, no entanto, o melhor vinho que tens.” Ele manda servir em quantidade pão e vinho que abençoo, animando a todos a saciarem-se.

  3. Os ex-piratas, porém, dizem: “Senhor, não somos dignos de sentar à vossa mesa; além disto, nossa roupa está rasgada e suja.”

  4. Protesto: “Tal não vem ao caso; obedecei, e em breve ela será outra. O homem é e será homem em vestes mais rotas, caso seu ínti- mo estiver em ordem.” Quando terminamos, indago do hospedeiro quanto lhe devo. Ao que ele responde já ter sido pago pelo troco da prata, e que poderíamos ficar mais três dias.

  5. “Bem”, digo Eu, “então vamos dar uma volta pela redon- deza.” Diz ele: “Pois não, entretanto acompanhar-vos-ei por maior precaução. Temos jurisprudência e policiamento romanos, não mui amáveis em contato com estrangeiros. Acompanhados pelo princi- pal aduaneiro e igualmente delegado, não sereis importunados. Para melhor proteção, seria aconselhável me informardes vossa procedên- cia e quais os motivos de vossa vinda.”

  6. Digo Eu: “Por seres honesto e de boas intenções, respondo por todos, como Senhor e Mestre: Sou o Salvador dos salvadores desta Terra — e esses, Meus discípulos. A maioria é de Galileia. É só o que precisas saber.”

  7. Diz o hospedeiro: “Ah — és, portanto, um filho de Esculá- pio e os outros teus adeptos?! Está bem, está bem; já imaginava coi- sa semelhante. Dize-me, que embarcações estranhas vos trouxeram aqui? Como podiam voltar tão rápidas rio acima? Nunca vi tamanha

coisa. E a quem pertencia a quantidade de ouro e prata dentro do navio que as acompanhava — e as pérolas e pedras preciosas?”

  1. Respondo: “Pertencem a Mim; entreguei-as aos pobres bar- queiros por nos terem trazido, sãos e salvos. O fato de as jangadas subirem o rio é um segredo impossível de explicar, porquanto não o compreenderias. Vamos andando.”

  2. O taverneiro vai na frente para nos levar aos pontos aprazí- veis da pequena cidade. Passamos pelo edifício vistoso do capitão ro- mano, que nesse instante transmite ordens aos soldados, pois havia recebido notícia da chegada de uma grande caravana persa. Conviria detê-la e fiscalizar as mercadorias para pagar o devido imposto.

129.CURADOFILHODO CAPITÃO

  1. Quando o capitão nos avista, aproxima-se e se informa com o aduaneiro a nosso respeito. Ao saber ser Eu o Maior Salvador do mundo, ele Me diz: “Se isto fores — cura o meu filho! Acometido de febre maligna, ele está acamado há quatro anos e tem aspecto cadavérico. Já fiz vir os melhores médicos de todas as zonas; nenhum pôde ajudá-lo. Se disto fores capaz, dar-te-ei prêmio régio!”

  2. Digo Eu: “Leva-Me até lá para ver seu estado.” Imediatamen- te somos conduzidos à casa do militar. No quarto do enfermo, a cama se acha rodeada de várias estátuas de deuses pagãos, a conselho dos sacerdotes para ajudar a cura.

  3. Viro-Me para o pai e digo: “És homem inteligente e experi- mentado, e deves convir que tais estátuas feitas por mãos humanas não podiam socorrer o enfermo; entretanto, as compraste dos padres embusteiros por muito dinheiro, ou melhor, alugaste-as. Manda vir os sacerdotes. À sua frente destruirei essas figuras e em seguida aju- darei ao teu filho!”

  4. O comandante, que aliás não ligava para os sacerdotes e mui- to menos aos ídolos, manda chamar aqueles, em número de sete. Quando penetram no quarto, o romano Me apresenta como Médi- co de especiais faculdades.

  1. Dizem eles: “Amigo, tens uma imaginação muito viva, pre- sumindo poder ajudar a um enfermo a quem os próprios deuses poderosos não mais conseguem socorrer, por verem que todos têm sua morte determinada.”

  2. Digo Eu: “Estoicos de nascença, como pretendeis fazer crer a alguém o que jamais acreditastes?” Retrucam eles: “Quem poderia afirmar tal coisa?” Respondo: “Eu, porque em Mim habita Poder para tanto!” Dizem eles: “Que poder vem a ser este?! Aqui ninguém tem poder além do comandante e nós — muito menos um estra- nho, que pode se considerar feliz se deixarem-no viver aqui!”

  3. Prossigo: “Convencer-vos-eis ter Eu aqui também Poder! Es- ses ídolos de metal e pedra, isentos de força, serão destruídos por uma só Palavra, pois do contrário não poderia nem quereria ajudar ao enfermo. Por isto digo: para longe com esses deuses mortos!” No mesmo instante não há mais vestígio deles dentro do quarto. Pro- cura-se pela casa toda, e não há nem sombra de uma estampa pagã.

  4. Então os sacerdotes batem no peito e gritam: “Malvado tau- maturgo! Reconhecemos tua força mágica; mas vê como te sairás com os deuses verdadeiros!”

  5. Respondo: “Sou Judeu da Galileia e como Tal nunca tive medo, nem o terei de vossos ídolos mortos. Onde chego, ajudo aos homens, real, física e espiritualmente. Os ídolos têm que desapare- cer e o Único, Verdadeiro, Vivo e Eterno Deus tomará o seu lugar; pois sem Ele não haverá salvação para as criaturas deste planeta. Uma vez destruídos vossos deuses, ajudarei ao doente. Por isto lhe ordeno: Levanta-te e caminha!” Nesse momento a febre desaparece e o moço se levanta, completamente são, pedindo comida.

  6. Por isto digo ao pai: “Dá-lhe pão e vinho, porém não em demasia, e ele estará tão forte como nunca!”

  7. O comandante se aproxima alegre e diz: “Salvador misterio- so! Qual é minha dívida para contigo? Como poderei indenizar-te à altura?”

  8. Respondo: “Não podes pagar-Me materialmente, pois de ninguém aceito dinheiro. Em compensação dar-te-ei, pelos discípu-

los, uma Nova Doutrina de Deus e da vida da alma após a morte; faze dela norma segura para todos os teus. Se quiseres saber mais sobre Minha Pessoa, vai a Chotinodora, onde ficarei até amanhã, havendo pois oportunidade para maior entendimento.”

  1. Radiante, o romano diz: “Senhor e Mestre! Tudo será feito como exigires; peço-te aceitares por hoje minha hospitalidade com todos os teus adeptos. Minha casa é grande e confortável. Seria in- gratidão de minha parte deixar-te na casa do aduaneiro, que hoje será invadida pela caravana persa.”

  2. Intervém o hospedeiro: “Nada posso opor ao teu convite, do contrário também empenharia tudo para servir, sem pagamento, hóspede tão ilustre; permite ao menos eu ficar em vossa companhia.”

  3. Responde o comandante: “Com isto far-me-ás uma grande alegria. Sinto apenas estar minha família em Serrhe; espero-a daqui a alguns dias.” Diz um dos sacerdotes: “Podemos ficar igualmente?” Responde o romano: “Isto será determinado pelo Salvador, pois não o recebestes como merecia.”

130.CONVERSÃODOSSACERDOTES PAGÃOS

  1. Digo Eu: “Esses sacerdotes devem se dirigir ao chefe tem- plário em Chotinodora; lá receberão orientação para o futuro. A época do paganismo fútil, da superstição e da descrença total, pas- sou. A partir de agora, as criaturas começarão a crer no Deus Úni- co, Verdadeiro e Vivo, que por todas pode ser encontrado. Nessa fé reconhecerão a imortalidade da alma e sua finalidade eterna e feliz. Com tal conhecimento da vida interior, o politeísmo chegou ao término.

  2. Agora surge aquele Deus a Quem os atenienses construí- ram um templo (ao deus desconhecido), onde não havia ídolo, pois no altar estavam os Livros dos antigos sábios do Egito; e quando anualmente as pessoas lá se reuniam, era feita a leitura de trechos profundos, trazendo elevação espiritual. Com o aparecimento deste Deus, Único e Verdadeiro, todos os deuses de embuste e mentira

têm que ser destruídos. Verificai se vossos templos ainda se encon- tram com imagens.”

  1. Desesperados, os sacerdotes põem as mãos na cabeça e ex- clamam: “Senhor, em tal caso estamos perdidos! Qual será a atitu- de do povo?”

  2. Manifesta-se o capitão: “Está sob meu poder, portanto sei o que fazer em caso de rebelião. A multidão será instruída com toda calma e certamente ficará satisfeita, pois com vosso regímen só havia descontentamento. Havendo alguns renitentes por vós instigados, terei meios de sobra para acalmá-los. Tende cuidado com vossos pla- nos, sabendo de minha severidade!

  3. Uma vez o templo vazio dos falsos deuses, consagrai-o ao Deus desconhecido, com minha ordem, e instruí o povo, que ficará mil vezes mais satisfeito do que agora, quando é três vezes por se- mana convocado por vossos címbalos, transmitindo-lhe um desejo de um deus qualquer por vós inventado, e para cuja finalidade exi- gis um óbolo.

  4. Havendo um mais inteligente que se insurja a pagá-lo, é ele ameaçado com castigos divinos, tanto aqui como no Além, e excluí- do do convívio dos fiéis. Para tal farsa ainda temos que proteger-vos para continuardes no devido respeito, e se assim não fizéssemos, o povo começaria a entoar outras cantigas! Se isto foi possível para uma ação fraudulenta, podeis contar muito mais conosco, como pronunciadores da verdade. Não é isto?”

  5. Responde um sacerdote mais cordato: “Não resta dúvida ser bom propagar-se a verdade. Mas, onde buscá-la? Eis a questão.”

  6. Diz o romano: “Já recebestes o conselho do próprio salvador. Dirigi-vos a Chotinodora, onde o sumo sacerdote vos orientará; em seguida, voltai para ensinardes a verdade ao povo.”

  7. Intervenho: “Deixa-os ficar ainda hoje para assistirem a fatos propícios a lhes abrir os olhos. Amanhã poderão partir.” Em seguida digo em surdina ao comandante: “Tua atitude humana é muito do Meu Agrado, e te peço arrumares as necessárias roupas para os dez ex-piratas que Me acompanharão como discípulos.”

  1. Diz ele: “Senhor, tua vontade será feita; pois ela vale mais para mim que a do Imperador, porque vejo que esta deve estar sujei- ta à tua. Fácil é agir com grandes exércitos, obedientes ao marechal na conquista de povos e países; entretanto, todos eles não conse- guem dizimar, através da vontade, estátuas de cobre e curar uma febre maligna, em um momento. Eu mesmo tenho grande poderio sobre muitos soldados; todavia, fui obrigado a ver sofrer meu filho durante quatro anos.” Em seguida, ele chama os empregados para ajeitarem as melhores vestes para aqueles homens e, além disto, se- rem presenteados com dinheiro de Roma.

  2. Especialmente o gigante faz boa figura como romano, le- vando o militar a exclamar: “Tens um físico estupendo! Se tua alma for tão bem formada e gigantesca, poderás ainda fazer grandes coisas na Terra!”

  3. Digo Eu: “Como não? Depende apenas do verdadeiro rigor na vida! Criaturas que nunca tiveram de saudar um dia feliz forja- ram sua têmpera na luta das trevas e por certo não desconsiderarão o rigor da vida em momentos felizes.”

131.OCOMANDANTEESEUS IRMÃOS

  1. Diz o gigante, comovido: “Ó amigo divino! Todos nós éra- mos filhos de um rico príncipe no Mar Cáspio. Vivíamos contentes e nosso povo foi talvez um dos mais felizes da Terra. De repente, apareceram hordas selvagens do Norte, assaltando, incendiando e matando tudo que deparavam. E nosso pai nos disse: Meus filhos, não é possível pensarmos em defesa; temos que fugir, do contrário estaremos perdidos. — Obedientes, evadimo-nos para as monta- nhas e atravessamos as cordilheiras. Nosso pai faleceu há cinco anos e o Euphrates é seu túmulo, porquanto não lhe podíamos propor- cionar outro.

  2. Habitamos durante dez anos em cavernas, alimentando-nos de ervas e praticando pequenos furtos. Ouro e prata, pérolas e pe- dras preciosas representavam nosso tesouro real, apanhado às pres-

sas, se bem que ultimamente não hesitássemos em tirar o supérfluo dos ricos. Aquilo que guardávamos nas cavernas foi-te entregue, Se- nhor e Mestre, quando soubemos do poder de tua palavra e vontade.

  1. Apenas te pedimos acompanhar-te como adeptos, para aprendermos algo que suplante nosso grande prejuízo. Deste modo, podemos afirmar: Já passamos pelas provas mais amargas da vida e conhecemos seu lado severo; venha o que vier, nada nos abalará, muito menos aquilo que nos promete pela primeira vez, uma luz verdadeira nos caminhos futuros da passagem terrestre.

  2. Terás em nós, senhor, discípulos de vontade e rigor inabalá- veis. Orienta-nos acerca de nossa atitude, que poremos em ação com coragem intrépida, apenas vista em pessoas habituadas a defronta- rem a morte com a maior serenidade.”

  3. Digo Eu: “Continuai fiéis a esse princípio, que lucrareis infi- nitamente mais do que perdestes.”

  4. Enquanto ouvia o relato do gigante, os olhos do militar se encheram de lágrimas e ele diz: “Irmãos, isto tudo é obra do deus des- conhecido! Não estais lembrados de ter perdido um irmão com dez anos? Fui roubado quando colhia flores em um bosque; os raptores me carregaram acima das cordilheiras e me venderam como escravo a um navio romano, em Sidon. Em Roma passei a ser revendido a um nobre. Como não tivesse filhos, ele adotou-me e fez de mim um guerreiro. Pouco a pouco me tornei o que sou hoje, mais pelo dinheiro do que por mérito, e há alguns anos fui destacado para aqui.

  5. Agora tenho ensejo de afirmar ter sido tudo isto do conheci- mento deste salvador milagroso e arranjada a situação de forma tal, que nós aqui nos encontrássemos. Pois se meus soldados vos tivessem prendido, apresentando-vos ao meu julgamento, por certo não nos haveríamos reconhecido como acontece agora. Tudo isto devemos ao Deus desconhecido, que nos enviou um seu apóstolo para nos libertar dos deuses mortos e ensinar-nos o verdadeiro. Não é isto?”

  6. Diz o outro: “Exatamente, irmão! Quanto choramos e te procuramos em nosso vasto país e por todos os litorais — em vão! Apenas nossa irmã sonhou certa vez ter-te visto e falado em uma

grande e linda casa e que tu lhe havias recomendado que não chorás- semos, porquanto estavas vivo e eras bem tratado. Como não seria feliz, caso estivesse entre os vivos! Por ocasião de nossa fuga, ela e nossa mãe se perderam e certamente caíram nas mãos dos bárbaros. Unicamente o grande deus desconhecido saberá de seu destino.”

  1. Digo Eu: “Meus amigos, Ele também zelou por elas. Ile- sas fizeram a travessia pela cordilheira na zona do Euphrates e, por intermédio de uma caravana a caminho de volta, chegaram a Chotinodora. Vossa irmã é atualmente esposa de Jored, que naquela época já assumira compromisso com outras; devido à sua beleza, ela se tornou sua predileta, embora não lhe tenha dado filhos. Ele os tem com as primeiras, e os pequeninos são por ela amados como se fossem seus próprios filhos. Passei três dias em casa de Jored e toda família aceitou a Minha Doutrina. Nada lhe contei deste aconteci- mento e sua alegria será enorme quando informado por ti, coman- dante. Ignora quem seja sua esposa e qual sua origem; pois nem ela nem vossa genitora idosa, que vive calmamente em sua companhia, revelaram isto, com receio de perseguições.

  2. Se lá fordes, comunicai o fato primeiro a Jored e de ter sido por Mim organizado. A alegria será imensa, e tu mesmo terás moti- vo de deslumbramento acerca daquilo que lá sucedeu durante Mi- nha Permanência.

  3. Agora vamos novamente ao ar livre, onde haverá oportuni- dade de Eu vos colocar em contato com o Deus desconhecido, e isto vale mais que milhares de histórias românticas, tão comuns nesta Terra. Tudo aquilo foi por Mim previsto; conhecia-vos e vossas con- dições de vida. Mas sabia igualmente encontrar o Meu Verbo bom solo em vossos corações, motivo por que vim trazer-vos consolo. O maior, porém, será que por Mim o Reino do Deus desconhecido, e com ele a Vida Eterna de vossa alma, aproximaram-se de vós!

  4. Vede, de que adiantam ao homem todos os tesouros dessa Terra, se em breve terá que os deixar para sempre? Não é muito mais prudente angariar aqueles de duração eterna, garantindo à alma hu- mana a vida mais feliz, a ponto de ela conseguir já nesta existência

a convicção clara de que a vida verdadeira e perfeita apenas começa após a morte física?”

  1. Respondem todos, inclusive os sacerdotes: “Realmente, se- ria o melhor e maior tesouro conquistável para o habitante da Terra. Todavia existe uma muralha até hoje intransponível, e o véu fatídico de Ísis jamais foi desvendado por mortal. Houve pessoas inspiradas que chegaram à conclusão de existir algo além da morte; mas acerca do fato em si, jamais houve resposta. Se fores tão feliz em poder explicá-lo de modo razoável, mereces a maior glória e gratidão de todas as criaturas.”

  2. Digo Eu: “Se Eu não fosse capaz para tanto, não haveria outro ser dotado de tais capacidades, e excluindo-se as Minhas, impossível imaginar-se manifestação de vida no Espaço Infinito. Cabendo-Me este dom, tudo existe e permanece no Universo, sublimando-se através de várias transformações desde o inseto até ao homem, e do átomo até ao sol. Vamos, pois, lá fora.” Todos se levantam e me acompanham.

132.QUEIXA DO COMANDANTE A RESPEITO DA LUTAENTRE IRRACIONAIS

  1. O comandante nos leva pela margem do rio até uma colina com algumas palmeiras, de onde se descortina um panorama des- lumbrante pelas curvas do Euphrates, bem perto de Serrhe. Aco- modamo-nos na grama apreciando a vista, enquanto o comandante relata fatos diversos; é bom orador, falando em grego, idioma mais comum na Ásia. Assim entretidos, súbito vimos um condor voar bem próximo de nossas cabeças, que segurava uma lebre em suas garras.

  2. Eis que o comandante se vira para Mim, dizendo: “Acabamos de apreciar um trecho da História Natural, onde se depara somente adversidade. Um irracional é inimigo do outro, e neste percurso a luta chega até o homem, finalmente o maior adversário de todos, inclusive de seu semelhante. Animais da mesma espécie parecem simpatizar entre si, conquanto os demais se perseguem constante- mente e isso dá testemunho desfavorável de um Deus Sábio e Bom.

  1. Não poderia Ele ter dado outro alimento senão o da carne dos animais mortos? Que mal fez a lebre ao condor levando-o a agarrá-

-la, a fim de devorá-la ainda viva? E assim existe uma infinidade de animais selvagens que se alimentam unicamente de carne e sangue de outros, mais fracos. Não poderiam saciar-se como o gado, de capim?

  1. É a Terra deveras maravilhosa e enfeitada de tudo que possa alegrar os sentidos humanos; nem bem a pessoa achou um lugarzi- nho aprazível para meditar, um destino invejoso lhe apresenta uma cena, tirando-lhe a satisfação por vários dias.

  2. Sou militar e não fica bem o meu sentimentalismo; todavia, não compreendo o prazer da Divindade com a constante atrocidade animal. Talvez tenha a mesma índole dos romanos, cujo maior pra- zer consiste nas touradas e outras carnificinas.

  3. Caso for teu deus dessa ordem, impede-nos o seu convívio e mais do que isto, uma vida eterna sob tais auspícios. Serias tu mes- mo muito mais simpático como deus! Presumo que tais observações foram motivo para Diógenes fugir de tudo que se assemelhasse com tal deus. Consta haver ele, em uma Universidade onde se propalava grandeza e dignidade do homem dentro da filosofia platônica, solta- do um ganso depenado, porém vivo, com as seguintes palavras: Eis a divindade humana! Diante do irracional, o homem só leva vanta- gem pela razão, que serve apenas para sentir mais profundamente a dor, quando se lhe arrancam de todos os lados as penas da vida! Senhor e grande mestre de tua arte oculta, se nos puderes fornecer explicação a respeito, far-nos-ás grande caridade. Por mim preferiria voltar a casa, pois aqui poderia suceder outro fato cruel!”

133. NATUREZA E FINALIDADE DA MATÉRIA.DESENVOLVIMENTOINDIVIDUALDOSFILHOSDE DEUS

  1. Digo Eu: “Meu amigo, se não houver outro motivo para deixares este pouso agradável, poderei em poucas palavras elucidar aquilo que aflige tua alma. Sabendo de tua sensibilidade, permiti o enorme condor arrebatar sua presa diante de teu nariz!

  1. É bem verdade estar a existência nesta Terra constantemente exposta a vários inimigos, obrigando-a a lutar pela subsistência. Tal luta se dirige apenas à matéria fixada pela Onipotência Divina, que geralmente vem a sofrer quando seu elemento psíquico, chamado alma, se desprenda da matéria, ingressando em um grau de vida mais aperfeiçoado.

  2. Toda matéria telúrica — desde a pedra mais dura até o éter acima das nuvens — é substância psíquica em estado de condena- ção, ou seja, condensado. Sua finalidade é voltar à existência livre e espiritual quando tiver alcançado a independência através do isola- mento. Para atingir uma emancipação mais elevada, a alma liberta da matéria tem que passar por todos os graus da vida, encapsulando-

-se em cada um em corpo material, pelo qual atrai novas substâncias de vida e atividade, apossando-se delas.

  1. Tão logo uma alma vegetal ou animal estiver apta a ingres- sar em um grau mais elevado após necessário amadurecimento, seu espírito, no Além, incumbido de sua educação, faz com que lhe seja tirado o corpo imprestável, a fim de que possa, dotada de maior inteligência, formar um outro, no qual por certo tem- po consiga mais um degrau até alcançar o físico humano. Lá, já inteiramente livre, na última forma, chega à consciência integral, ao conhecimento de Deus, ao amor Dele e assim à plena união ao espírito no Além, cuja união denominamos de ‘renascimento espiritual’.

  2. Alcançado este grau da existência, a alma é perfeita e não pode mais ser destruída ou tragada, como indivíduo dependente da totalidade divina.

  3. A maior prova da emancipação psíquica consiste em poder a alma reconhecer Deus e amá-Lo acima de tudo; pois enquanto ela não reconhecer Deus como Ser Superior, externo, é ela qual muda e cega, exposta à Onipotência Divina, e muito terá que lutar para se libertar de tais algemas. Tão logo comece a reconhecer Deus fora de si, percebendo-O individualmente pelo amor para com Ele, a alma se liberta das algemas da Onipotência Divina, chegando a pertencer

a si mesma, tornando-se autocriadora de sua existência e, como tal, amiga emancipada de Deus para toda Eternidade.

  1. Assim sendo, o próprio indivíduo nada perde quando lhe é tirado o corpo futuramente imprestável, a fim de que possa alcançar mais rápido sua finalidade.

  2. Qual o valor desse coelhinho com que o condor saciou sua fome, no entanto libertou a psique animal, de sorte a estar plena- mente apta para ingressar em um grau de vida mais elevado?! A ave também possui alma destinada ao mesmo fim. Na carne e no sangue do coelho, ainda se encontram substâncias psíquicas mais grosseiras. São elas unidas às do condor, para fazer a alma deste mais meiga e inteligente, podendo, após a perda do corpo, tornar-se alma huma- na, dotada de bastante inteligência, coragem e força.

  3. Tal é a organização dos filhos de Deus nesta Terra. A exis- tência é e será luta contra vários adversários, até que se tenha eleva- do vitoriosa acima de toda matéria, com as próprias forças. Deste modo, não te deves alterar com os inimigos materiais da vida; não o são propriamente da vida em si, mas apenas da existência aparente, simples instrumento da vida verdadeira, interior e espiritual; com auxílio daquela, a alma pode progredir mais e mais na liberdade real, coisa impossível sem esta existência simultânea.

  4. Deus poderia, em virtude de Sua Onipotência, projetar ou criar um espírito dotado de sabedoria e poder perfeitos e isto, inúmeros a um só momento; nenhum, porém, teria independência; pois seu querer e agir seria Emanação Divina, constantemente fluin- do sobre eles, a fim de existirem, moverem-se e agirem pela Vontade de Deus. Individualmente nada seriam, e sim apenas Pensamentos e Ideias momentâneas de Deus.

  5. Se, porém, devem em tempo oportuno se tornar inde- pendentes, têm que passar pelo caminho da matéria, ou seja, da Vontade fixada por Deus, conforme observais nesta Terra. Só en- tão serão filhos de vontade, pensamentos e ações independentes, de certo modo cumprindo a Vontade Divina, mas não imposta pela Onipotência, e sim porque a reconhecem mui sábia, determinando

sua ação de acordo, no que consiste o mérito de sua vida, proporcio- nando-lhes a maior felicidade.

  1. Vê, Meu amigo, assim andam as coisas; portanto, podes ad- mirar e reconhecer cada vez mais a Sabedoria de Deus, Único e Ver- dadeiro, a projetar, de Seu Amor e Sabedoria, Pensamentos e Ideias a fim de se tornarem filhos livres e idênticos a Ele! Se o compreendeste ao menos superficialmente, dá-Me tua opinião acerca da vida em a Natureza.”

134.OCOMANDANTEFALADOSÁBIO ILÍRIO

  1. Diz o militar: “Mestre e Salvador, não sei o que devo admirar mais em ti: o poder de tua vontade ou tua sabedoria teosófica! Co- nheci em Roma um homem todo especial de origem ilírica. Sabia coisas interessantes e ocultas, e previa o destino da pessoa. Certa fei- ta, contou-me de minha nomeação na fronteira romana e que muita coisa extraordinária me haveria de suceder.

  2. Um dia perguntei-lhe qual sua opinião dos deuses, e ele res- pondeu: ‘A maneira pela qual vós os considerais e venerais, a meu ver, não tem valor; pois eles não existem em parte alguma, nem na Natureza e muito menos no mundo espiritual. Suas imagens são apenas obras humanas, e a fantasia lhes deu forma. Na antiguidade, representavam simples interpretações das qualidades constatadas do Deus Único e Verdadeiro, manifestadas pelas forças da Natureza.

  3. Tais faculdades não eram propriamente a Divindade, e sim demonstravam como, através de Sua Sabedoria e Onipotência, Deus subtraiu da matéria telúrica o homem, Seu Semelhante, por inter- médio de inúmeros graus evolutivos da vida natural. A Terra consis- te de infinitas almas, e a alma humana representa o conglomerado de muitas debaixo de uma só forma, de acordo com suas partículas inteligenciadas e percepções, internas e externas. Esse fato ninguém mais vislumbra e nem o pode, porquanto o homem se distanciou em demasia de sua alma, através dos apetites carnais. Amor-próprio e impudicícia atiraram-no em tal treva, que somente Deus Mesmo

o poderá salvar — e talvez em breve o faça. Sua obra de salvação não terá início em Roma, entretanto não ultrapassará os limites do Império.’

  1. Assim falava aquele ilírio; se além de seu conhecimento pro- fundo tivesse o dom de fazer milagres, poder-se-ia considerá-lo um deus. Por meu intermédio fez muitos ouvintes e protetores; passado um ano ele se despediu e disse: ‘Encontrei aqui muitos amigos, mas igualmente inúmeros adversários no meio sacerdotal, que procuram meu extermínio; por isto me afastarei secretamente.’

  2. Dei-lhe muitos presentes e acompanhei-o até a Costa do Mar Adriático, onde embarcou a caminho da pátria. Reporto-me àquele homem para demonstrar já ter tido algumas noções do assunto que acabas de explicar tão sabiamente. Meditando acerca de teus mila- gres, a onisciência e o profundo saber, lembro-me da profecia do ilí- rio pela qual o grande Deus, Único, salvará as criaturas de suas trevas. No final, és tu mesmo um Seu enviado — ou talvez, Ele Próprio?!”

135.APERSONALIDADEDIVINA.AFORÇADA VONTADE

  1. Digo Eu: “O não ou o sim ser-vos-á transmitido pelo co- ração! Mesmo afirmando ser Eu isto ou aquilo, vossas almas não teriam lucro espiritual. É visível e palpável ser Eu simples Homem; do mesmo modo podeis imaginar ser Deus Homem Perfeito, do contrário as criaturas não seriam Sua Imagem.

  2. Todas podem tornar-se inteiramente semelhantes a Deus quando adotarem a Vontade Divina. Tal fato não era do vosso co- nhecimento; entretanto, vos dou prova cabal, não somente por pa- lavras, e sim pelos atos realizados. Conjecturas Eu falar como se um outro também isto conseguisse; não posso, porém, fornecer-te outra prova em contrário, a não ser que convide um discípulo para dar um exemplo.”

  3. Diz o comandante: “Não duvido dessa possibilidade; no en- tanto, ele fará o pronunciamento ao qual ligarás tua vontade, surgin- do com isto o que ele desejara.”

  1. Protesto: “Oh, não! Enganas-te muito. Ele somente ligará sua vontade à de Deus, de modo semelhante feito por Mim, e atra- vés desta vontade unificada, surgirá a ação. Digo-te: se reconheceres inteiramente Deus Verdadeiro, amando-O acima de tudo e aceitan- do Sua Vontade declarada, além disto tendo fé inabalável, poderás dizer àquelas montanhas: Atirai-vos ao mar!, e imediatamente se fará aquilo que quiseste, em união com Deus!”

  2. Obtempera o romano: “Sim, pode ser; resta saber se Deus naquele momento permite e quer o que eu quero, muito embora me submeta à Sua Vontade. O desaparecimento daquelas monta- nhas seria em tal caso algo mui tolo, e Deus não haveria de ligar Sua Vontade à minha. Tenho razão?”

  3. Respondo: “Nem tanto; dei-te apenas um exemplo e suben- tende-se que quem tiver ligado sua vontade à divina ter-se-á apossa- do igualmente de Sua Sabedoria — ao menos em parte. Tal pessoa compreenderá se aquilo que deseja é bom e justo. Deste modo só há de querer algo razoável e sua vontade se realizará, caso não duvide; pois a dúvida é consequência da incompleta união de sua vontade com a de Deus. Podes, portanto, exigir qualquer prova de um Meu discípulo; apenas deve ser lógica e razoável.”

  4. Diz o comandante: “Determina tu algum; pois conheces me- lhor a capacidade individual.”

  5. Digo Eu: “Pedro, vem cá; ouve e executa o pedido desse ami- go — caso tiveres fé suficiente!” Rápido, o apóstolo se dirige ao romano e diz: “Qual é teu desejo?”

  6. Responde ele: “Observa na margem oposta do rio o matagal em redor de uma rocha. Está repleto de serpentes venenosas, a per- turbarem toda redondeza. Afasta-as e destrói inclusive a ninhada, através do poder de tua vontade ligada à de Deus!” Pedro levanta suas mãos em direção ao matagal — que desaparece instantaneamente.

  7. Extasiado, o comandante diz: “Senhor e Mestre, se isto aprendem teus discípulos, quero tornar-me um deles; isto vale mais que legiões de exércitos romanos! Dotado de tal capacidade, o mun- do me pertence e será por mim melhorado por sábias leis.”

  1. Digo Eu: “Isto poderia ser feito por Mim, caso fosse neste momento propício. A Sabedoria Divina, porém, diz: Nem todos es- tão aptos para tal! — Eis a razão por que só procuro aqueles locais onde sei encontrar habitantes amadurecidos para receberem uma Re- velação mais elevada. O Sol já está em declínio; voltemos pois a casa.”

  2. Diz o taverneiro: “Senhor e Mestre, lastimo não poder re- cebê-los todos em meu albergue. Todavia, peço do mesmo fazerem uso alguns dos teus discípulos.”

  3. Opõe o comandante: “Hoje não, amigo, pois também és meu hóspede; amanhã seremos os teus e depois de amanhã, se esses homens excepcionais não quiserem permanecer aqui, acompanhá-

-los-emos a Serrhe.” Em seguida voltamos à residência do romano, onde a ceia já nos espera. O hospedeiro, porém, vai à sua casa, jun- tando-se pouco mais tarde a nós. Tratando-se de ágape romano, os discípulos não se animam a servir-se. Eu o percebo e lhes digo: “O que Eu como, podeis comer sem susto!” Satisfeitos, seguem o Meu Exemplo e também bebem do bom vinho. Passamos a noite em cla- ro, contentes e felizes, e todos os demais são informados das linhas gerais da Minha Doutrina.

136.AINCLINAÇÃOÀBELEZA,UMAMANIFESTAÇÃODA VERDADE

  1. Levantamo-nos uma hora antes da aurora e nos dirigimos aos jardins artisticamente organizados. Havia alamedas e céspedes pitorescas, quantidade de flores de toda espécie, um roseiral, jasmi- neiros, nardos e nigelas. Além disto, árvores frutíferas do mundo inteiro, despertando admiração de todos.

  2. Eis que digo: “Deste modo deveria ser organizada a criatu- ra pela Vontade de Deus! Deve unir em si o real e o bem ao belo e elevado, e nesta atitude demonstrará ser idêntica a Deus, seu Criador e Pai.

  3. Vede a gracilidade de todas essas flores, uma sobrepujando outra. Por quê? No fim é a rosa mais linda acompanhada de uma

semente simples, de pouca beleza e cujo surgimento não necessita de flor excepcional. Deus desenvolveu justamente a estética em alto grau para todas as Suas Obras, a fim de que despertem no homem a inclinação para o belo, necessário à bem-aventurança. Inteiramente desenvolvida a estética, o homem também é acessível à Verdade e ao Bem, este se baseando nela.

  1. Nosso amigo Comandante tem muito senso para o belo, útil e bom. Se assim não fosse, Minhas Verdades, que levam o homem ao conhecimento de Deus Único e Verdadeiro e de si mesmo, ser-

-lhe-iam indiferentes, portanto não as teria aceito. Dotado dessa in- clinação — o que prova este lindo jardim — foi ele um dos primei- ros a se preocupar com a transmissão de Minha Doutrina de Vida, aceitando-a rigorosamente. Cada um procure imitá-lo que lhe será creditado por Deus.

  1. Visitai os lares. Encontrando-os muito limpos e arrumados com bom gosto, podeis contar, na certa, ser o íntimo dos moradores quase idêntico. A casa estando suja e desarrumada, podeis virar as costas, incontinenti, e considerar a frase dada aos apóstolos, onde disse jamais atirardes as pérolas de Meu Evangelho aos suínos! Tal ato seria inteiramente inútil, pois quem não possui senso de beleza

  1. Não quero com isto dizer que o homem deverá somente tra- tar de elevar casa, jardins, campos e matas com recursos materiais a uma opulência tal que desperte o maior deslumbramento. Isto em breve desvirtuaria no pior convencimento, amor-próprio, orgulho e altivez, e para as pessoas menos abastadas, seria uma prova de ser o dono nababo. Seria ele alvo de honrarias a fim de se conseguir algum favor, e deste modo seria obrigado a exceder-se para que os outros se tornassem mais prestativos, e finalmente acabaria por dominá-los.

  2. É, portanto, o exagerado senso de beleza e pompa pior que a imundície, resultante da preguiça. Tal inclinação é idêntica à os- tentação, pecado da natureza humana, jamais ajudando a alma na conquista da Vida Eterna. O senso da beleza e da ordem apenas

construindo algo através do zelo e verdadeira dedicação ao belo, ver- dadeiro e bom, semelhante a esse jardim — é virtude recomendável. Mudemos de assunto, pois aí vem o Comandante com o aduaneiro, em cuja presença não pretendo elogiar o jardim. Posteriormente o primeiro saberá do assunto.”

137.VISITAAOTEMPLODA SABEDORIA

  1. Eis que ambos se aproximam e o militar pede desculpas por sua curta ausência, motivada pelo exercício de sua profissão. O mes- mo se repete com o aduaneiro; em seguida, ele nos convida ao desje- jum e como o romano também aceite o convite, nisto consinto e todos nós dirigimo-nos à espaçosa hospedaria, de onde a caravana havia partido há uma hora. Os discípulos orientam os sacerdotes acerca de Minha Doutrina e demonstram o motivo da Minha Vin- da à Terra.

  2. Entrementes, esclareço ao comandante e a seu filho, que tudo aceitam com grande alegria e fé segura. Assim se passa o dia com bons ensinos e ações, e Eu recomendo aos sacerdotes voltarem a Chotinodora, o que prometem fazer. Em seguida, nos recolhemos e de manhã cedo partimos de navio, acompanhados pelo romano e seu filho, rumo à importante e antiga cidade de Serrhe.

  3. Lá chegando, o comandante nos leva rápido à sua família, hospedada em casa do general, seu cunhado. Não necessita espe- cial menção a alegria da esposa do primeiro, ao rever seu filho que supunha morto. Tendo chegado à noite, nosso considerável grupo não desperta atenção. Aceitamos acolhida em casa do general, onde somos muito bem tratados e ficamos durante cinco dias.

  4. Não longe do centro se acha um templo em cima de um monte elevado, unicamente dedicado ao saber. Não tinha imagens, mas somente vários livros e escritos antigos em cima do altar, con- tendo provérbios sábios e profecias remotas.

  5. No quarto dia visitamos esse templo e seus três sacerdotes idosos. Somos ao todo cerca de quatrocentas pessoas, porquanto

muitos nos acompanham da cidade, onde havíamos curado inúme- ros enfermos, inclusive cegos e surdos, entre os quais muitos aceita- ram a Doutrina, aplicando suas normas.

  1. Quando os três sacerdotes avistam o general, saem de dentro do templo, geralmente fechado, e perguntam com respeito qual o motivo de visita tão inesperada.

  2. O chefe militar aponta para Mim e diz: “Este homem mais ilustre sobre a Terra deseja visitar vosso templo e analisar os escritos. Abri a porta e deixai-nos entrar!”

  3. Respondem os sacerdotes: “Tua ordem vem fora de tempo e será cumprida por tratar-se de tua pessoa; tens, no entanto, que assumir a responsabilidade diante dos deuses severos e implacáveis!”

  4. Diz o militar: “Sim, não resta dúvida; pois quero convencer-me pessoalmente se o relato deste homem sábio e dotado de todo poder divino consta em vosso livro de sabedoria.” Prontamente os sacerdo- tes abrem a porta do templo e demonstram um livro antigo, escrito em idioma hindu; somente um deles sabia fazer a leitura, pois enten- dia mais ou menos do assunto. Eu Mesmo lhe aponto a passagem a ser lida e traduzida.

  5. Então, ele traduz: “Nas montanhas onde nidificam as gralhas em grande quantidade, nasce um poderoso rio. Em suas margens vi cidades, grandes e pequenas, e ele transportava pesos enormes em suas costas largas. Quando vi uma carga em seu dorso

acorreram e lavaram sua fronte e vede — todos que desciam ao rio e se banhavam em suas ondas translúcidas tornavam-se luminosos!

  1. Quando mais tarde tornei a ver o rio, a luz havia desapareci- do e a treva densa se estendia em seu dorso, sem jamais voltar a luz, muito embora ficasse à espera. E ouvi uma voz qual sussurro de ven- tos a passarem pelo bosque, dizendo: Ai de ti quando Eu voltar, pro- vocador das trevas! Serás duas vezes atingido pelo Meu Julgamento; eras luz e te tornaste treva! Afirmo-te isto e deves transmiti-lo aos teus vermes. Tal é a Vontade do Primeiro e do Último, do Alpha e do Ômega!” — Terminada a leitura, o sacerdote se curva diante do livro, envolve-o em fino linho e o deposita no altar.

  2. Vira-se o general para ele: “Entendeste o sentido?” Respon- de ele: “Em tal caso estaria em Delfos, no tripé de Pythia!” Prossegue o militar: “Embora soldado, posso elucidar-te. Eis aqui o Homem, vindo dos Céus e espargindo a Luz, de Melitene até aqui! Prestai-Lhe ouvidos, que ressuscitareis da morte psíquica, podendo vislumbrar a salvação na Luz claríssima. Os outros que O acompanham são justamente aqueles cuja fronte ilumina qual lua cheia. Suas palavras são como estrela d’alva verdadeira, e os que as aceitam irradiam psi- quicamente tal qual as palavras apontadas sob aquele signo. Sabeis, pois, a quantas andais!” Admirados pelo conhecimento do chefe mi- litar, os sacerdotes perguntam com respeito a Minha Procedência.

  3. Diz ele: “Já vos informei a origem deste Homem-Deus; portanto, sabeis o que fazer. Tratai de serdes por Ele vivificados, a fim de que possais iluminar diante de todos que vos procurarem, para convosco buscar o justo saber da vida da alma!”

  4. Aproxima-se de Mim um sacerdote e diz: “Espírito elevado das alturas celestes, dá-nos o justo conhecimento!”

  5. Digo Eu: “Aí estão Meus apóstolos; pedi-lhes, que demons- trar-vos-ão o caminho pelo qual chegareis à sabedoria justa e verdadei- ra pela ação — mas não aqui, e sim na casa do chefe militar na cidade.”

  6. Diz o sacerdote: “Será coisa mui difícil, porquanto jamais podemos descer dessas alturas do saber ao vale. Simbolicamente, o conhecimento reside sempre nas alturas e nunca se contamina com

as profundezas lodosas, assim como o nosso intelecto se localiza no cérebro.”

  1. Digo Eu: “Se isto se justificasse, Eu jamais deveria ter dei- xado as Alturas luminosas e sublimes da Sabedoria Celeste. Se assim fiz por amor às criaturas, podereis muito bem deixar vossa sapiência tola, em virtude de uma Sabedoria mais elevada; pois, a fim de se alcançar o máximo, vale a pena abandonar tal monte. A partir de agora, terá cada um que descer à própria profundeza da humildade, caso pretenda atingir a Verdadeira Sabedoria da Vida!”

  2. O sacerdote transmite Minhas Palavras aos dois colegas, que inicialmente expressam receio; após certa reflexão, acabam por concordar e pedem licença ao general para poder acompanhar-Me à casa dele.

  3. Ele responde: “Com muito prazer; vinde conosco e sede meus hóspedes por hoje e amanhã, enquanto Ele também perma- nece em meu lar.” Satisfeitos, eles Me seguem, após terem dado orientação aos familiares no caso de um interessado ali chegar para orientar-se no conhecimento.

138.REFEIÇÃOMILAGROSAEMCASADOGENERAL.NATUREZAEAÇÃODO AMOR

  1. Nem bem chegamos aos arrabaldes da cidade, somos recebidos por uma grande multidão a nos saudar: “Salve, grande Benfeitor! Gra- tidão eterna por nos teres libertado de enorme aflição, através de teu poder milagroso!” Isto causa perplexidade entre os três sacerdotes da sabedoria, porque deparam com outros colegas entre o povo.

  2. Dentro em pouco chegamos à residência do general, onde a multidão se despede para voltar aos lares; Eu e todos os adeptos en- tramos com o general e com o comandante, seu cunhado, a fim de almoçar. A situação caseira é realmente aflitiva: as esposas de ambos haviam, na pressa, se esquecido de mandar preparar algo para tal fim. O general se aborrece, entretanto controla-se e diz: “Movimen- tai-vos agora para não sermos obrigados a almoçar de noite!”

  1. Nisto, viro-Me para ele e digo: “Deixa estar. Abre a porta do grande refeitório, onde haverá de tudo que precisarmos.” Ele assim faz e se admira ao ver todas as mesas arrumadas com pratos finos e saborosos; então pergunta às moças por que não haviam mencio- nado o fato. Elas se desculpam, porquanto se acham tão perplexas quanto ele. Certamente houve milagre.

  2. Analisando de perto a arrumação, o general vê serem todas as travessas, talheres e taças de puro ouro. Rápido, ele se aproxima de Mim, dizendo: “Senhor — eis Tua Obra! Como me conferiste tamanha Graça, eu que sou pecador e pagão?! Não mereço Teus Pés Santificados pisarem meu lar impuro, muito menos preferência tal a se tornar nobre demais, até mesmo ao Imperador!”

  3. Digo Eu: “Querendo vos tornar filhos de Deus, não há pre- juízo saberdes, em vida, como se passa na Casa do Pai! Sentemo-nos, pois.” Alegremente, todos se entregam à refeição, extasiados com o sabor de tudo, e as mulheres Me rodeiam para saber como se prepa- ram pratos tão especiais.

  4. Digo-lhes: “Minhas queridas, tal não existe sobre a Terra; mas quando as criaturas mantêm o justo fogo do amor a Deus e ao próximo, através do Verbo do Pai, farão pratos idênticos e ainda mais saborosos. Afirmo-vos: o Amor Verdadeiro e Puro é o fogo mais abençoado que tudo pode. É o melhor cozinheiro, hospedeiro e tempero de todas as refeições e a própria refeição, especial. Re- almente, quem é nutrido pelo puro amor está bem alimentado, e quem por ele for saciado não mais sentirá fome por toda Eternidade! Vivificados por tal amor, jamais sentireis ou percebereis a morte. Por isto, dedicai-vos a tal amor puro a Deus e ao próximo; ele vos proporcionará tudo para vossa felicidade. Ouvistes durante esses três dias como é constituído esse amor, portanto nada mais necessito acrescentar.” Todos Me agradecem pelo ensinamento e prometem crescer em tal dedicação.

  5. Em seguida, externa-se um dos sacerdotes da sabedoria: “Como poderia um mortal amar um Deus Imortal e Eterno?! Não seria tal atrevimento vingado pela Divindade? Que diria um sobera-

no se um dos súditos lhe fizesse declarações de amor?! Todavia, que vem a ser um rei comparado a Deus?”

  1. Digo Eu: “Um tolo e orgulhoso, muito embora não tivesse criado seus súditos, não seria mui amável caso um pobre miserável lhe dissesse: Grande rei, sinto enorme afeto por ti! Desce de teu trono e deixa abraçar-te e beijar-te! — O soberano por certo consi- derá-lo-ia demente, fazendo-o expulsar pelos lacaios; e se não fosse por bem, teria que suportar punição. Se os súditos provassem um amor ativo, o rei saberia compensá-los.

  2. Deus, Eterno e Verdadeiro, não é qual tolo pagão da Terra. É puro Amor e a máxima Sabedoria, e como Tal criou todos os mun- dos e seres. Ele sendo puro Amor, quer ser amado acima de tudo e que todos — Sua Obra — se amem reciprocamente, à medida de seu amor-próprio. Se Deus ama a todos, mais que o melhor pai na Terra poderia amar os seus filhos, por que não deveriam amá-Lo acima de tudo quando O tiverem reconhecido a fundo?!

  3. Em verdade vos digo: sem o justo amor não encontrareis Deus, jamais podendo reconhecê-Lo e aproximar-vos Dele! So- mente o amor vos demonstra o caminho certo para Ele — jamais, porém, o intelecto! Quem não encontrar o caminho de Deus não achará o da própria Vida, caminhando por isto nas trevas, na trilha do julgamento e da morte eterna. Lembrai-vos deste Meu Ensina- mento; o resto ouvireis dos Meus discípulos.” Os três sábios se calam e prosseguem na refeição.

  4. Um deles, mais inteligente, diz mais tarde aos outros: “Esse homem excepcional diz a plena verdade. Convém ouvi-lo, porquan- to nos sobrepuja no saber.”

  5. Durante a refeição silencio; esta terminada, os sábios se aproximam dos Meus discípulos, recebendo elucidação dos pontos principais de Minha Doutrina, de grande agrado para eles. Deixo-os agir a gosto, enquanto Me dirijo ao jardim com a família do general e do comandante. Subentende-se que os novatos sempre estavam a postos quando os mais antigos doutrinavam, anotando os pontos principais. Só à noite nos juntamos.

139.OSJUDEUS VELHACOS

  1. Nessa tarde visito com as duas famílias alguns pobres ju- deus que viviam do comércio variado e de baldroca, mas sem con- seguirem lucros, pois os gregos tomavam a dianteira. O general e o comandante lhes dão presentes, e Eu os aconselho voltarem a casa e procurar o sustento com trabalhos manuais, pois convinha a pessoa ficar no país onde nasceu com algumas aptidões. Somente criaturas dotadas de grandes capacidades pertencem, qual Sol, ao mundo inteiro, porquanto sua luz espiritual deve iluminar os ca- minhos de todos.

  2. Manifesta-se um judeu: “Mestre, por que fomos agraciados com tão poucas dádivas por parte de Jehovah? Não poderia nos ter provido melhor?”

  3. Respondo: “Por certo; no entanto, Ele sabe o que se presta para cada um, razão por que vos facultou os meios necessários. Nin- guém se torna feliz em virtude de muitas aptidões, por não serem mérito do homem, e sim Obra e Merecimento de Deus. Quem mui- to recebeu terá que prestar contas de tudo; quem pouco foi aqui- nhoado responderá à proporção de suas dádivas. O mesmo pecado terá peso maior no Além para os talentosos, na balança da Justiça Divina, do que se for praticado pelos desprovidos de aptidões. O legislador agindo contra suas leis, será pior do que tal atitude por parte de quem as recebe. Por isto, ninguém deve invejar quem por Deus foi acumulado de dons, pois terá que suportar muito mais na vida. Sede, portanto, satisfeitos por terdes sido agraciados com poucos dons.”

  4. Diz o judeu: “Mestre, falaste mui sabiamente; presumo, po- rém, ser mais fácil alguém cair no abismo quando caminha à noite, com pouca iluminação. Uma vez espatifado e morto no precipício, não vem ao caso se isto foi motivado pela carência de luz. O ho- mem dotado de inteligência leva vantagem, porque pode se desviar do abismo, enquanto um outro somente o percebe quando à beira do mesmo.”

  1. Digo Eu: “Sim; precisamente por isto deve o segundo ficar em casa onde conhece o solo, ainda que à noite, pois pode andar com segurança. Dentro de sua casa cada um saberá andar para não dar um passo em falso; em uma residência grande e estranha, cujas dependências desconheça, mal se orientará com sua fraca luz de lamparina. Aqueles a quem Deus facultou menor conhecimento são por Ele muito amados, pois que lhes dá a menor provação possível; enquanto semeia o caminho dos grandes espíritos com muitos espi- nhos, onde dificilmente caminharão. Por isto aprontai-vos, peque- nos espíritos judeus, e voltai à pátria! Lá encontrareis ocupação de sobra, de acordo com vossas aptidões; aqui não nasce trigo para vós!”

  2. Acrescenta o general: “Realmente, o Senhor tem razão! Sei ser vossa existência aqui mui precária, e não posso melhorá-la. A fim de vos facilitar a viagem, dar-vos-ei a importância necessária, por amor ao Mestre, igualmente judeu.”

  3. Cientes disto, os judeus vão a casa para mais tarde voltarem com seus filhos, com os quais o regresso a Bethlehem seria difícil, porque não dispunham de animais de carga. Diz o militar: “Arranja- rei o necessário; em seguida, parti! Do contrário, sereis compelidos à força.” Dentro de uma hora estão prontos para a viagem. Eram cerca de setenta pessoas e já se haviam tornado pesadas à cidade, povoada de pobres radicados. Esses judeus tinham na maioria terras e habita- ções que deixavam aos cuidados de péssimos empregados, julgando conseguir maior lucro através de barganha. Caíram, no entanto, em completa miséria, de onde Eu os salvo em tempo.

  4. Eis igualmente boa obra. Por isso deve todo seguidor de Mi- nha Doutrina libertar tais presos de sua aflição, caso tenha meios; será por Mim recompensado aqui e muito mais no Além, conforme fiz nesta ocasião, indenizando ao general com mil libras de puro ouro adiantadamente, pois sabia de sua ação nesse momento.

  5. Nada mais de importante ocorreu nesse lugarejo. Os discí- pulos acabam por converter os três sacerdotes, e Eu abençoei um médico crente, de modo a poder curar muitos enfermos pelo passe em Meu Nome. Assim o dia seguinte também passou depressa.

140.RETORNOA CAPERNAUM

  1. Passamos a noite em Serrhe e de manhã partimos a pé, rio acima, para Zeugma, igualmente pequena cidade antiga no Euphrates. Não podíamos seguir de Samosata para lá, porque o trajeto do comandante nos leva a Serrhe, onde se acha sua família. De Samosata a Serrhe, o caminho é duas vezes tão longe quanto para Zeugma.

  2. Nessa cidade fizemos o mesmo que nos demais lugarejos. Os pagãos do Euphrates eram seguidamente visitados por judeus, intei- rando-se do conhecimento de Deus Verdadeiro, o que facilitava o entendimento.

  3. Para maior compreensão pode ser acrescentado que os lo- cais por Mim percorridos fazem parte da Capadócia, enquanto oi- tocentos anos antes eram anexados à Syria, cuja fronteira, na Minha época, dava para a Galileia e de certo modo perfazia o Norte desse país. Em Deba não demoramos, porquanto pouco se realizava com seus habitantes, criadores de suínos. De lá seguimos para Cyrrhus, importante porto grego onde ficamos sete dias, fazendo grande nú- mero de adeptos.

  4. Em seguida, partimos para Antiochia, detendo-nos quase um mês. A cidade é antiga e mantém vasto comércio na Ásia Menor e na Europa. De lá, a notícia de Minha Pessoa chegou até às comarcas a Leste do país, e um pequeno rei da Lydia chamado Abgarus enca- minhou-se para Antiochia, a fim de Me conhecer. Aceitou integral- mente Minha Doutrina, deixou-se batizar, converteu o seu povo e Me escreveu várias cartas por Mim respondidas; seu amável convite de visitá-lo não pude aceitar por motivos mui sábios.

  5. Daí voltamos a Galileia, visitando grande número de vilas e aldeias na conquista de almas para a Doutrina. Nessa viagem passa- mos todo o verão e quando chegamos a Capernaum já é outono, e perto da festa dos Tabernáculos.

  6. O taverneiro se admira dos dez novatos, mormente do mais alto, verdadeiro gigante, medindo nove pés atuais (nessa época). Sua

figura descomunal corresponde à maneira de falar, pois sua voz for- tíssima tem efeito de trovão. Além disto, a indumentária romana lhe dá nota especial. Não tolera contestação; primeiro, por estar convic- to e bem orientado na Doutrina; segundo, havia adquirido conhe- cimento dos velhos profetas em contato com os discípulos, de sorte que arrasava com sua verbosidade qualquer objeção à Divindade de Minha Pessoa, e ninguém se atrevia em desafiá-lo. Durante os dias de descanso em casa de Mathias, muitos cidadãos e comerciantes vêm para se informar a respeito desse homem e qual sua intenção em Capernaum.

  1. Ele os fita de cenho cerrado e diz: “Como pagão e romano, farei julgamento sobre vós, judeus miseráveis e incrédulos! Fostes ge- rados por Beelzebub, por serdes tão ignorantes em não perceber ser ‘Este’ o Único Portador Daquele Espírito, que em eras insondáveis criou Céus e Terra, pela simples Vontade.

  2. Nós, pagãos, reconhecemos tal fato com a primeira prova, embora desconhecêssemos ter sido profetizada Sua Descida a este planeta há séculos atrás e por muitos profetas. Inclusive a época, lo- cal e outras circunstâncias. Eis entre nós o Ser Supremo! Por que não credes? Por serdes filhos de Beelzebub e jamais de Deus! Afastai-vos, do contrário minha raiva vos dizimará!” Falando deste modo, todos fogem com receio de irritá-lo.

141.ATAQUE FRUSTRADO DO CHEFE TEMPLÁRIO

  1. Certo dia, o conhecido chefe da sinagoga vem à casa de Ma- thias, acompanhado dos fariseus e escribas, desejando falar-Me, pois havia tido notícias de Minha Chegada. O Templo de Jerusalém lhe dera ordens rigorosas no sentido de colher informações de Minha Pessoa, e se possível capturar-Me vivo ou morto.

  2. Responde Mathias: “Ele mora comigo; não te aconselho prendê-Lo, pois seria tua perdição!” Diz o chefe templário: “Não de- ves esquecer que seu sortilégio não consegue reagir contra os sacer- dotes ungidos!” Concorda Mathias: “Está bem — entra e fala-Lhe

pessoalmente; pois está almoçando com Seus discípulos.” O reitor se dirige à porta fechada e bate com força.

  1. Virando-Me para o gigante, digo: “Faze-o entrar e dirige-te a ele, não merece uma só palavra de Minha Boca!”

  2. Ele abre a porta e troveja: “Então, patifes miseráveis! Já sabe- mos de vossa intenção e vimos para ouvi-la de vós mesmos! Rápido, falai, para que o vosso julgamento não seja protelado!”

  3. Esse tratamento tem efeito tão enérgico sobre o reitor e seus comparsas, que começam a tremer e nem conseguem balbuciar. Jul- gam ser o gigante vice-ditador romano que, munido das prerroga- tivas imperiais, faça passar todos os judeus pela espada. Seu temor é tão grande que fazem menção de fugir.

  4. Esbraveja o gigante a Mathias: “Fecha todas as portas, para que nenhuma dessas feras humanas consiga escapar!” O taverneiro não consegue obedecer essa ordem, porque toda a camarilha deban- da aos pulos. De um salto, o gigante segura o chefe pelo cangote, suspende-o qual pluma e pergunta qual o seu desejo.

  5. Tremendo qual vara ao vento, o chefe gagueja: “Senhor — eu

  1. Retruca o gigante: “Infeliz, não mereces te aproximar desse Homem-Deus — muito menos dirigir-Lhe palavra! Sei dos planos escabrosos dos teus superiores em Jerusalém, incumbindo-te junto de teus asseclas na Sua captura! Ai de vós se ousardes tocá-Lo!” Em seguida, ele solta o judeu e prossegue: “Acaso não deu provas que vos levem a acreditar ser Ele o Messias predito pelos profetas, com a missão de salvar as criaturas da morte eterna? Fala, desgraçado!”

  2. Diz o chefe fariseu: “Claro que sim, razão por que o povo O segue, virando-nos as costas, que fomos instituídos por Deus! De- pendemos de Jerusalém e temos que obedecer!”

  3. Indaga o gigante: “Como é possível terem aderido todos os pagãos das cidades à beira do Euphrates, recebendo prontamente força sobrenatural?! Um médico de Serrhe obteve o dom de curar, de momento, seus enfermos, em Nome desse Homem-Deus. Mor-

tos ressuscitaram e voltaram à saúde plena! Se tais fatos ocorrem aos pagãos — por que não sucede aos judeus como povo escolhido?! Afirmo em Nome Dele: tal não se dá convosco por serdes filhos de Beelzebub, portanto inimigos de Deus. Se isto negais, só mereceis vossa extinção do planeta!”

  1. Amedrontado, o chefe templário faz toda sorte de promes- sas. O gigante o ameaça e, em seguida, manda que se afaste. Mathias está receoso em virtude de uma possível vingança. O gigante, po- rém, lhe diz: “Não te preocupes e tem confiança no Poder Daquele que ressuscita mortos, remove montanhas e destrói imagens pagãs, feitas de metal! Asseguro-te não temer eu uma legião de tais patifes

  1. Concorda o taverneiro: “Sim, não resta dúvida! Pessoalmen- te nada receio, pois tenho a maior confiança no Senhor, a Quem conheço desde criança, quando já fez coisas unicamente possíveis a Deus. Minha preocupação se prende a vós, meus hóspedes queridos, porquanto enfrentareis dissabores por parte desses!”

  2. Diz o outro: “Deixa que venham, darei cabo deles sozinho! Não são dignos que o Senhor, o Santo, os ameace e castigue!” Em seguida, ele se junta a nós e relata sua reação contra os representan- tes de Babel.

  3. Digo Eu: “Permiti tua ação; o hospedeiro, porém, está igualmente bem orientado. Não levará tempo e o chefe estará de volta com grande número de esbirros, a fim de nos encarcerar. Que faremos, então?!”

  4. Responde o gigante em uníssono com seus nove irmãos, também fortes: “Senhor, faculta-nos um pouco de Tua Graça Oni- potente, que daremos cabo de sua força maldosa!”

  5. Digo Eu: “Está bem; mas não atentai contra a vida!” Sa- tisfeitos, eles esvaziam o copo e em seguida postam-se na estra- da, munidos de uma poderosa clava. Dentro em pouco aparecem quarenta esbirros, em cuja retaguarda marcham o comandante de Capernaum e o chefe da sinagoga. O gigante, revoltado, diz aos irmãos: “Deixemos que se aproximem a uns dez passos! Então man-

darei que estacionem; caso obedeçam, falaremos — do contrário, as clavas entrarão em função!”

  1. Quando os soldados ouvem aquela voz trovejante, eles pa- ram; inquiridos qual sua intenção e quem os havia mandado, eles, jul- gando-os romanos, dizem: “O chefe da sinagoga comunicou ao quar- tel haver aqui rebeldes perigosos, que nos cabe prender e aniquilar!”

  2. Explode o gigante: “Malvado chefe! Irás conhecer o prínci- pe do Cáucaso, atualmente romano! Recuem imediatamente, solda- dos, e larguem suas lanças, ou então sereis feridos!” Respondem eles: “Isto não é possível, pois lá atrás está o comandante a quem obede- cemos!” O gigante dá ordem a cinco irmãos para dominarem aquele e ao templário, pois ele mesmo se incumbiria dos soldados. Tudo se passa rapidamente, e os soldados são como que varridos para dentro do mar e lutam para salvar-se a nado.

  3. Entrementes, o gigante suspende o chefe fariseu e diz: “Pa- tife hipócrita, deste modo cumpres tua palavra?! Não me escaparás como da primeira vez! Onde estão os rebeldes? Há alguns dias re- pousamos calmamente nesta taverna — e esta fera negra nos denun- cia como revolucionários! Comandante! Onde é que o mar é mais profundo, a fim de eu atirar este miserável?!”

  4. Responde o militar: “Amigo, deixa-o em paz; já sei do que se trata. Queria que eu o ajudasse na captura do meu estimado Sal- vador de Nazareth! Nunca poderia supô-lo! Será por mim tratado e lhe demonstrarei o resultado de uma falsa denúncia, com o intuito de levar um romano ao mau uso de suas obrigações. Leva-me junto do Senhor da Vida!”

  5. Mais uma vez o gigante atira o fariseu para o ar, de sorte a quase fazê-lo perder os sentidos, e em seguida o põe de pé, sem muito cuidado. Ele corre ao grupo de seus asseclas e jura jamais pro- curar contato Comigo. Os dez e o comandante voltam a Mim, após o último ter dado ordem aos soldados para retornarem ao quartel.

142.OCOMANDANTECONTRATAOGIGANTEESEUS IRMÃOS

  1. Quando o militar Me avista, seus olhos se enchem de lágri- mas, mal podendo falar. Finalmente Me pede perdão pela sua atitu- de. Eu o consolo, dizendo: “Quem ignora o seu pecado está isento de culpa — portanto também tu! O chefe dos fariseus é realmente desprezível; a partir de agora não será mais chamado para incum- bência tal. Por isto, podes deixá-lo em paz.”

  2. Ele o promete e compartilha de nossa refeição. Eu Mesmo o esclareço da origem dos dez personagens, no que ele sente grande satisfação. Em seguida, os orienta no sentido de chegarem a Roma, onde poderiam ocupar postos de realce com ajuda dele, Cornélius e Cirenius.

  3. Os dez, porém, opinam: “Amigo e colega de nosso irmão em Samosata! Tua proposta é realmente tentadora. Todavia, somos adeptos do Senhor e Mestre, motivo cabal para não aceitarmos teu convite. Talvez quando tivermos terminado nosso curso espiritual, possamos voltar ao assunto.”

  4. Satisfeito com essa sinceridade, o comandante diz: “É evi- dente terdes razão; estando orientados na Doutrina e cientes de vos- sos atos, estaria em tempo de procurardes disseminar o Verbo entre os pagãos. Que dizeis?!”

  5. Responde o gigante: “Pessoalmente não temos opinião; fare- mos somente o que for da Vontade do Senhor e Mestre. É claro ter- mos o ensejo de propalar a Doutrina da Luz, do Amor, do Espírito e da Vida à nossa cidade natal, tão atrasada.”

  6. Intervenho: “Podeis de bom grado aceitar a proposta do co- mandante, pois não lucrareis mais em Luz, Amor, Espírito, Força e Vida pelo fato de estardes mais ou menos tempo ao Meu lado; isto será efeito do fiel cumprimento de força superior, como testemunho da Verdade provinda de Minha Sabedoria; pedi em vossos corações, que a recebereis!

  7. Quando em futuro próximo Eu tiver deixado Pessoalmente esta Terra, espargirei o Espírito de plena Verdade sobre todos os Meus

adeptos e irmãos fiéis. Ele conduzirá e elevará todos à Verdade, Sa- bedoria, Poder e Força, unirá vossa alma ao espírito do Amor do Pai, realizando desse modo o Renascimento espiritual. Sem ele não pode haver vida livre, verdadeira e eterna, mas sim somente uma existência tolhida e condenada, morte real comparada à vida do espírito.

  1. Se a criatura não vive independentemente, e sim qual máqui- na através da Onipotência da Vontade Divina, ela está morta e nada melhor que uma pedra, planta ou irracional. Quem viver e agir ri- gorosamente dentro de Minha Doutrina poderá aguardar com plena certeza aquilo que falei, não só agora, mas em toda parte. Não vem ao caso alguém caminhar pessoalmente Comigo; pelo contrário, será por Deus considerado mais benevolentemente quem agir ape- nas em espírito Comigo. Quanto a Cornélius e Cirenius, sereis por eles acolhidos, porquanto Me conhecem desde Meu Nascimento.” Satisfeitos, os dez aceitam a proposta do militar; pedem apenas ficar em Minha Companhia durante a permanência em Capernaum.

  2. Digo Eu: “Pois não, embora não vos seja considerado como mérito. Este só cabe a quem age por amor, em Meu Nome e dentro de Minha Doutrina. Impossível fazerdes algo de bom para Mim, porquanto dispenso os préstimos humanos; e quem isto fizer será recompensado mil vezes e ninguém poderá dar-Me o que não tivesse recebido de Mim.

  3. Quem fizer o Bem ao próximo por amor a Mim, em Meu Nome, terá o justo mérito de um trabalhador na Minha Vinha, re- cebendo seu pagamento; pois considerarei feito a Mim. Por isto po- deis partir hoje ou amanhã, que não estareis mais perto nem mais afastados do que agora; fazendo o Bem, em Meu Nome, às criatu- ras desta Terra, estareis mais próximos de Mim em espírito, do que no momento.

  4. Meu Físico não é Meu Eu; somente o Meu Espírito é Meu Eu Verdadeiro; através do Meu Espírito, estou Presente em toda par- te, agindo constantemente e por todo Infinito.

  5. Não se realiza o que é da Vontade de Minha Carne, mas eternamente a do Espírito. Estarei em vosso meio onde estiverdes,

e caso agirdes em Meu Nome, Eu agirei convosco e dentro de vós; falando em Meu Nome, serei Eu a criar os pensamentos em vosso coração, projetando as palavras pela vossa boca.

  1. Jamais, portanto, vos podereis afastar de Mim, caso conti- nuardes ativos em Minha Doutrina; tal afastamento sucederia pelo abandono de Meu Verbo, tornando-vos idênticos a puros servos do mundo. Isto, porém, não sucederá convosco; assim podeis, a qual- quer hora, deixar Minha Presença Física, sem prejuízo para vossas almas.” Satisfeitos, os homens se prontificam a partir imediatamente com o comandante. Este manifesta-se contentíssimo, por ter anga- riado elementos tão valiosos como guerreiros para o Imperador, e além disto fiéis confessores de Minha Doutrina, capazes de dissemi- ná-la aos pagãos. O militar Me agradece especialmente e promete sua influência no sentido de ser o gigante enviado a Roma com função de comandante.

143.PROFISSÃO E HONRA. TUDO É GRAÇA, SOMENTE ABOAVONTADEÉ MERITÓRIA

  1. Digo Eu: “O que faz parte do mundo não Me interessa, pois é questão do raciocínio humano. É bem possível eles se tornarem mundanos, embora honestos, no que não merecem consideração, mas unicamente naquilo que fizerem pela Minha Doutrina, portan- to pela Vontade de Deus.

  2. A posição social não tem o menor valor aos Meus Olhos, e sim apenas a situação de sua alma iluminada pelo Verbo Divino, cheia de vida pelo amor a Deus e ao próximo. Alguém exercendo função mais elevada, está apto a fazer maior caridade; agindo desse modo, sua profissão terá valor perante Mim — do contrário, nenhum.

  3. Imperador e mendigo são para Mim iguais, sem considera- ção alguma; valor só tem a maneira pela qual o são, em Meu Nome! Grifai bem essa explicação!

  4. Miserável é quem menospreza o semelhante, só porque ele mesmo ocupa posição elevada. A profissão deve ser respeitada

e quem a exercer, à medida que a pratica; entretanto, não merece especial consideração, por ser apenas empregado e não a própria profissão.

  1. Refiro-me a isto apenas para que ninguém se exceda em vir- tude de seu cargo; quem isto fizer afastar-se-á do Meu Amor e sua profissão não lhe servirá para a vida, mas à perdição!”

  2. Dizem os apóstolos: “Senhor, neste caso não é favorável as- sumir-se um posto. Recebemos igualmente uma distinção de Ti, e não teremos culpa se, com o tempo, formos honrados e classificados como algo melhor que os outros.”

  3. Digo Eu: “Ainda não vos dei Mandamento pelo qual as criaturas vos devessem honra por isto; se, entretanto, vos tornais presunçosos como se fôsseis melhores que os outros — já teríeis recebido vosso prêmio e o trabalho seria para Mim nulo, portanto sem mérito.

  4. Pretendendo ser merecedores de Minha Consideração, dizei em vossos corações, após terdes fielmente cumprido tudo em Meu Nome: ‘Senhor, fomos servos preguiçosos e inúteis.’ Sentindo since- ramente terdes sido servos voluntários de Meu Espírito, unicamente ativo, considerarei vosso desempenho como feito por Mim Mesmo, dando-vos o justo prêmio.”

  5. Obtemperam alguns discípulos: “Assim sendo, Senhor, so- mos inteiramente desnecessários; pois tens Poder de sobra para fazer tudo sem nossa cooperação. Se por nós nada fazemos e devemos considerar que tudo feito em Teu Nome, com o próprio sacrifício da vida, foi Obra Tua, portanto somos apenas Teus instrumentos igno- rantes — impossível exigirmos algum prêmio. Qual seria o mérito de um tear usado pelo tecelão, para facilitar sua tecelagem?”

  6. Respondo: “O tear não possui livre vontade; vós a tendes e podeis fazer o que quiserdes. Submetendo-vos à Minha Vontade declarada e agindo como manda, não sois vós, e sim Minha Von- tade em ação, dentro de vós. Como, pois, terdes mérito por isto? Nenhum, mas sim por terdes submetido vossa vontade maldosa à Minha Vontade, tornando-vos unos Comigo, pelo auxílio da fé.

  1. Em verdade vos digo: Sem Mim, nada de bom fareis para a Vida Eterna! Reconhecendo isto em vossos corações, sereis Meus verdadeiros discípulos — e mais ainda: Meus verdadeiros irmãos, no Espírito de Deus!”

  2. Novamente obtemperam alguns: “Isto está muito bem fala- do; confessamos ser algo duro e não mui compreensível. A própria situação do livre arbítrio não é favorável, e caso se tenha feito algo de bom, não é da conta da pessoa. Não deve aguardar recompensa pelo ato, e sim somente por se ter prestado como instrumento da Vonta- de Divina. Estranho! O homem é e será nada mais que instrumen- to da Onipotência e ele mesmo, nada. Realmente, com tal ensino, poderíamos — que tanto ouvimos e assistimos — fraquejar na fé!”

  3. Manifesta-se o gigante: “Meus amigos, não concordo, em- bora seja o mais novato. Que acontece a uma criança cuja má vonta- de, às vezes, cedo se apresenta? Não é obrigada a obedecer aos pais e aplicar sua vontade no que eles querem?! Quando após certo tempo se torna equilibrada nessa orientação, sabe pessoalmente o que seja bom e justo, despreza o mal, a falsidade e injustiça. Só então chega à verdadeira consciência e emancipação racional. Acaso a criança teria chegado a tal ponto se não tivesse adotado a vontade paternal?!

  4. Assim também nós, adultos, só chegaremos à verdadeira consciência e emancipação se tivermos aceito, pela obediência, a Vontade Divina, revelada; pois Nela deve agir a máxima liberdade por ser Deus o Ser mais Sábio, portanto independente. Se quiser- mos reclamar direitos de uma vida verdadeiramente livre, isto só será possível se pensarmos, sentirmos e agirmos em uníssono com Ele. Tenho razão?”

  5. “Sim”, dizem os discípulos, “e só podemos elogiar-te. Mas finalmente cada qual tem que se dar por satisfeito com a fisionomia que tem, pois não adianta se revoltar. Em suma, honra seja feita à Sabedoria, Poder e Bondade de nosso Senhor e Mestre — ainda assim jamais um homem se tornará um deus livre, e Deus, uma criatura limitada. Tudo foi dito. Mas o fato de alguém ser obrigado a confessar sua preguiça e inutilidade, após ter feito tudo — é algo jamais visto.

  1. Um pai justo só elogiará os filhos quando tiverem trabalha- do com afinco; em nosso caso, exige-se o maior desprezo individual. Isto não é possível. Deve o homem detestar-se em virtude de um pecado — jamais por causa de uma boa ação. Senhor, pedimos-Te explicação, do contrário acompanharemos os que já partiram. Vieste junto de nós e Te seguimos, acreditando em tudo; neste ponto não podemos acreditar como o temos assimilado, por não haver outra modalidade.”

144.AAÇÃOHUMANADEPENDEDAGRAÇA DIVINA

  1. Digo Eu, numa repreensão bondosa: “Vossa atitude é nada louvável. Acaso existe Vida, Força e Poder fora de Deus?! Quer Ele vos tornar livres e independentes o mais possível, demonstrando como agirdes para vos apossar de uma existência livre e inteiramente idêntica à divina. Por que vos aborrece tal manifestação do Amor Divino?! Porventura é a própria existência natural outra coisa senão apenas o braço pelo qual podeis atrair a verdadeira Vida Divina?!

  2. Se agirdes somente como criaturas dentro da Natureza e nes- sa ação procurais vossa própria honra, dando-vos um bom testemu- nho, sois idênticos ao fariseu que se justificava no Templo perante Deus, dizendo: Senhor, agradeço-Te por não ser como muitos ou- tros, pois cumpri a Lei da primeira à última letra, inclusive aquilo prescrito por Moysés e os profetas.

  3. Por duas vezes mencionei essa parábola, entretanto a esque- cestes. Se a tivésseis guardado, saberíeis não ter sido justificado o fariseu, mas apenas o publicano que se humilhara perante Deus.

  4. Se disserdes: Fizemos isso ou aquilo de bom!, mentis; primei- ro, a vós mesmos, em seguida a Deus e ao próximo, pois ninguém pode fazer algo bom e isto porque sua vida física lhe foi dada por Deus. Além disto, Ele também deu a Doutrina pela qual o homem terá de viver e agir. Se a criatura isto não aceita e compreende, ela por si nada é e não pode cogitar de uma independência, porquanto ainda não distingue entre sua própria ação e a de Deus, consideran-

do-as como uma só. O homem só entra no âmbito da independên- cia vital quando percebe ser sua própria ação na vida completamente nula, e somente a divina dentro dele, boa.

  1. Tendo a compreensão disso, ele se esforçará por unir sua ati- tude individual à de Deus, integrando-se, pouco a pouco, à Força Vital Divina. Somente através dessa união chega o homem à verda- deira independência, por compreender nitidamente que a Ação Di- vina, anteriormente estranha, tornou-se sua própria pela humildade perante Deus, e o justo amor para com Ele. Nisto se baseia o motivo de Eu vos haver dito: Caso tiverdes feito tudo, confessai: Senhor, Tu apenas realizaste tudo; nós fomos simples servos, preguiçosos e inúteis, pelo nosso egoísmo.

  2. Assim falando, contritamente, a Força Divina vos ajudará no aperfeiçoamento. Não o fazendo e ainda vos postando no altar de honra, em virtude de vossa própria força, o Braço de Deus não vos auxiliará, entregando a perfeição difícil a vós mesmos e brevemente se verá até onde chegará a vossa força. Por isto vos disse não poder- des fazer coisa de valor e utilidade sem Minha Ajuda. Eu em nada vos privando na conquista da vida verdadeira, livre e independente de vossa alma — por que vos irritais contra o Meu Esforço dedica- do e sábio?”

  3. Diz André: “Este, realmente não nos aborrece; não é inte- ressante quando oportunamente apresentas algo novo em aparente contradição com assunto já debatido, no que não nos dás espontânea explicação, mas esperas nosso pedido. Através de Tua Onisciência deves saber até que ponto chega a nossa compreensão. Não é coisa mui agradável pedir-Te elucidação maior, porque sempre nos apli- cas uma corrigenda não mui benéfica. Se futuramente pretenderes ensinar algo de novo, junta logo o entendimento para evitar nossas indagações importunas. És a Bondade em Pessoa; mas na Doutrina Te tornas vez por outra intransigente.

  4. Todos nós sabemos e cremos seres Filho de Deus Vivo, que habita o Teu Corpo em toda Sua Plenitude; isto não impede dizer-Te o que nos oprime quando pretendes não percebê-lo. Somos huma-

nos e sentimos toda sorte de pressão, e devemos ter a liberdade de expressá-la perante Deus. Ele nos ajudando terá agido bem; não o fazendo, terá que suportar nossos queixumes.”

  1. Digo Eu: “Irmãos, sei o motivo de Minhas Ações e quanto estais longe de compreenderdes o móvel de vossas atitudes e pala- vras. Entretanto, virá o tempo em que entendereis a razão de todos os Meus Ensinamentos e Atos.

  2. Deixemos isto; pois a hora da partida dos dez novatos está se aproximando, e é necessário provê-los de especial reforço para capaci- tá-los à divulgação em outro continente. Para tal finalidade, já adqui- riram conhecimentos bastantes em Minha Nova Doutrina da Vida.”

  3. Viro-Me, pois, àqueles: “A fim de que possais, como pa- gãos, dar testemunho pleno de Mim, que vos envio a propagar o Meu Verbo — faculto-vos o dom de curar todos os enfermos, como fiz aos médicos de Chotinodora e Serrhe.

  4. Aponde as mãos aos doentes, em Meu Nome, que melhora- rão de pronto, acreditando em vossas palavras. Por enquanto é só o que necessitais; quando Eu tiver subido de onde vim, Meu Espírito espargido sobre vós guiar-vos-á a toda Verdade e Sabedoria. Que as- sim seja!” Eles Me agradecem com efusão, e o comandante pergunta o tempo que Eu demoraria nesse local.

  5. Respondo: “Isto depende das circunstâncias e da Vonta- de Daquele que Me enviou a este mundo; como simples Homem, Eu tenho que Me guiar rigorosamente naquilo imposto pelo Pai no Céu. Não deixa de ser tudo Meu o que é do Pai, pois Eu e o Pai somos em realidade Unos — entretanto considero o Amor den- tro de Mim mais elevado que Sua Luz, a Sabedoria. Eis por que Minha Sabedoria não pode estabelecer Leis ao Meu Amor, e sim inversamente. Ainda sabereis o tempo que Eu aqui permanecerei.” O comandante Me agradece e em seguida vai para casa, com os dez novatos, onde tem negócios a resolver. Lá ficam durante a tarde; no dia seguinte, ele os encaminha para Sidon, munidos de bons guias e especiais recomendações para Cirenius, que mal se contém de ale- gria ao saber terem eles privado Comigo e aceito Minha Doutrina.

Só passado um mês são por ele enviados, em ocasião propícia, para Roma, onde o Imperador os recebe com atenção. Dentro em pouco lhes dá postos militares avançados e o próprio gigante se torna guar- da-costas do soberano, bastante útil, porquanto lhe dá seguidamen- te conselhos secretos.

145.DÚVIDASDOS APÓSTOLOS

  1. Durante o dia todo fico em casa de Mathias e lhe relato mui- tos fatos ocorridos durante Minha viagem de várias semanas, o que desperta o seu maior interesse. Todos os discípulos e apóstolos, ex- cluindo João e Matheus, se entretêm ao ar livre; uns na contempla- ção do mar movimentado, outros na organização e compilação das anotações evangélicas. Somente à noite voltam a casa, onde ceamos para em seguida nos recolhermos. Assim passamos alguns dias ocu- pando-nos de vários assuntos úteis.

  2. O comandante Me procura diariamente e Eu curo vários de seus enfermos, pela simples palavra. Com isto se aborrecem alguns dos apóstolos, pois acham que haveria maior testemunho de Minha Doutrina caso Eu os tivesse incumbido da tarefa e o povo facilmen- te poderia chegar à conclusão de terem eles aprendido pouco, pela incapacidade de cura.

  3. Eu, porém, lhes digo: “Meus amigos e irmãos! Ainda virá a época em que ireis operar milagres em Meu Nome. A maioria de vós recebeu de Mim o mesmo poder curador que já foi por vós eviden- ciado, e esta força ainda é vossa, excluindo um que se fez pagar por isto. Em Minha Companhia não é preciso que o façais; o momento sendo oportuno, permito agirdes especialmente. Que mais quereis?! Ainda não subi de onde vim, junto de Meu Deus e também vosso Pai, tampouco espargi o Espírito Santo sobre vós, que vos guiará a toda Verdade e Sabedoria. Por isto tende paciência até lá — que então fareis o mesmo que Eu. Estais satisfeitos?”

  4. Responde Thomás: “Sim, Senhor; entretanto, existe algo in- compreensível de Tua parte. Junto dos pagãos quase Te superaste

nos Milagres. Seus templos e ídolos foram dizimados a um aceno, e os sacerdotes mais fanáticos se submeteram a Ti quais cordeiros. Por que não fazes o mesmo na Judeia? Os templários de há muito seriam Teus adeptos se tivesses empregado a mesma atitude.”

  1. Digo Eu: “Falais dentro de vosso entendimento; Eu, daquilo que sei do Pai e igualmente bem compreendo. Desconheceis o mo- tivo dos acontecimentos para atingirem determinada finalidade; Eu, porém, sei do porquê de tudo. Por isto não é possível pretenderdes determinar Meus Atos. Já vos elucidei por várias vezes o móvel de Minhas Ações e qual o motivo das condições dos homens para com Deus, em solo tão péssimo e obscuro, e por que até mesmo o Meu Corpo será assassinado em Jerusalém.

  2. Acontece nada guardardes em vossa memória e tampouco aplicais a meditação, de sorte que Minha Palavra não consegue dei- tar raízes dentro de vós; eis por que vossa fé em Mim não é viva e por sua vez não vos capacita realizar milagres, provando vosso real discipulado. Por que relembrais e refletis tão pouco?”

  3. Diz novamente Thomás: “Senhor, fortifica nossa memória, e este lapso não se repetirá.”

  4. Digo Eu: “Isto já fiz à medida do possível; não Me posso ex- ceder naquilo que vossa natureza suporta. Quando o Espírito Divi- no vier sobre vós, conduzir-vos-á a todo saber, dispensando memória terrena. Em virtude da educação da alma foi dada a memória ao ho- mem, que através de uma vontade sólida consegue gravar inúmeras palavras, verdades e ações; somente quando ele se mostra indiferente a tais coisas e fatos não conseguem impregnar-se no cérebro, e tal motivo Eu vos demonstrei claramente em Cesareia Philippi. Refleti a respeito, que o achareis.”

  5. A essas Minhas Palavras ninguém mais responde e Eu passo a palestrar com o comandante sobre vários pontos esclarecedores das situações desta época. Entrementes, os apóstolos se entregam a conjecturas. Alguns afirmam ser Deus, não obstante Sua Onipo- tência, limitado, porquanto tinha que se prender a certas condições de tempo e oportunidade, em todas as realizações. Outros dizem

Deus fazer isto não por Sua Causa, mas em benefício das criaturas, a fim de proporcionar-lhes a consistência indispensável à Eternidade. Além do mais, deve constituir especial felicidade Deus vendo Suas Obras em determinada ordem, pela qual evoluem paulatinamente. O fato de poder a Divindade projetar algo, de momento, já tinha sido provado por diversas vezes. Em suma, tais observações fazem vacilar a fé na maior parte de Meus apóstolos, chegando a se alegar não ser Eu mais que grande profeta, semelhante a Moysés e Elias, re- alizadores de feitos extraordinários. Com tais considerações se apro- xima a noite, e após a ceia recolhemo-nos.

146.OSAPÓSTOLOS, INSATISFEITOS, ENCAMINHAM-SEPARAJERUSALÉM.OSENHOROS SEGUE

SECRETAMENTE(EV.JOÃO7, 2–13)

  1. De manhã, chegam muitos judeus de todas as zonas em re- dor de Capernaum, a fim de embarcarem para Jerusalém à Festa dos Tabernáculos. Por tal motivo, havia grande número de embarcações incumbidas do transporte. Após o desjejum, dirijo-Me com todos para o mar, observando o movimento intenso.

  2. Nisto aproxima-se o comandante e diz: “Senhor, que me di- zes desse mundo de ignorantes?! Lá vão eles a muito custo procurar Aquele que Se acha tão perto.”

  3. Digo Eu: “Deixemos isto, a época do conhecimento também virá para eles. Além do mais, muitos vão a Jerusalém por Minha Causa, crentes de Eu lá estar.”

  4. Ouvindo isto e tocados pelo hábito de viajar, os discípulos Me dizem: “Apronta-Te, vai para Jerusalém e faze outra peregrinação pela Judeia, a fim de que Teus muitos adeptos de lá também vejam Tuas Obras. Ninguém faz coisa alguma oculto, quando procura ser conhecido; portanto, revela-Te perante o mundo!” Eles assim falam por terem perdido completamente sua fé em Mim.

  5. Muitos poderiam perguntar como isso era possível, após tantos ensinamentos e milagres. Oh, tal é mui fácil, com qualquer

pessoa; basta a menor presunção e a vaidade de suas aptidões — e a alma imediatamente se encontra em dúvida trevosa, da qual somen- te a humilhação a libertará.

  1. O mesmo sucede aos apóstolos, motivo por que não Me zan- go e apenas digo: “Podeis facilmente falar. Meu Tempo ainda não chegou — o vosso é sempre presente! O mundo não vos odeia, por- quanto ainda não declarastes abertamente serem más as suas obras; eis por que tendes por ora tempo irrestrito e caminho sem perigo. A Mim, o mundo odeia por toda parte, porque provo serem más as suas obras. Estando tão ansiosos pela festa, ide sozinhos. Eu não irei, pois o Meu Tempo ainda não se cumpriu.”

  2. Os apóstolos se entreolham sem saber que atitude tomar. Fi- nalmente, um dentre eles diz: “Vamos até lá. Nossa ausência duran- te quatro a cinco dias não fará grande diferença.” Alguns receiam Eu Me ofender com tal procedimento. Até mesmo Eu poderia Me afastar, e que dificilmente seria encontrado, pois não pretendiam abandonar-Me. Outros opinam ser aconselhável compartilharem da festa, havendo oportunidade de se informarem da opinião pública acerca de Minha Pessoa. Esse parecer convence a todos seguirem para Jerusalém.

  3. Nesse momento chega o navio de Pedro, o qual se dirige a Mim com as palavras: “Senhor, permite seguirmos; no mais tardar em cinco dias estaremos de volta.”

  4. Digo Eu: “Já vos disse o que deveis fazer; ide, pois!” A essas Minhas Palavras eles embarcam, enquanto fico ainda na Galileia. Após terem feito metade do percurso, todos são acometidos de gran- de tristeza e arrependimento, a ponto de quererem voltar para Me pedirem perdão pela atitude manifestada contra Mim.

  5. Pedro chega até a dizer em voz alta: “Senhor, qual foi o demônio que nos levou a abandonar-Te? Permite nós Te encontrar- mos, Filho e Pai, Eternos, em Uma só Pessoa — que jamais Te aban- donaremos!”

  6. João e Matheus desatam a chorar, insistindo na volta; entre- tanto, levanta-se um forte vento pela retaguarda impelindo o navio

com grande velocidade à margem setentrional, atrás de Tiberíades, onde o Jordão alcança o mar. Ao desembarcarem, sentem-se tão abandonados que mal têm coragem para seguir até Jerusalém.

  1. Jacob, porém, opina: “Não resta dúvida termos errado, pois o vento forte, precisamente quando queríamos voltar para junto Dele, foi prova flagrante de termos sido expulsos para sempre. Idio- tas que fomos, querendo prescrever-Lhe as ações — ao Onipotente e Sábio! Onde está o miserável demônio que nos aplicou tal sortilégio? Que se apresente para saber o que sucede aos tentadores dos amigos de Jesus!”

  2. Nesse instante surge uma entidade luminosa e diz com en- tonação severa: “Vossa acusação ao filho perdido é injusta; pois foi ação de vossa própria astúcia. Acusai-vos a vós mesmos, que sois excessivamente agraciados, e deixai em paz quem não cabe culpa de vossa tolice!” A figura desaparece e os apóstolos exclamam: “Senhor, tem piedade e misericórdia para com Teus pobres pecadores!” Em seguida se encaminham em silêncio para a metrópole, onde chegam noite fechada à hospedaria já conhecida. Quando o proprietário per- cebe a Minha ausência, ele se entristece e pergunta qual o motivo.

  3. Pedro responde: “Amigo, pretendíamos ir à festa, a fim de que nenhum judeu nos acusasse de samaritanos. O Senhor não quis vir desta vez, porque nosso tempo é sempre presente, enquanto o Dele ainda não chegou. Assim viemos sós e Ele ficou na Galileia, não longe de Capernaum, onde por certo nos esperará.”

  4. Diz o hospedeiro: “Não o creio; pois Ele é realmente in- sondável em Seus Desígnios ocultos. Depois de amanhã é o grande sábado, talvez já esteja no Templo quando lá chegarmos.”

  5. Diz Pedro: “Tudo é fácil para Deus, entretanto não acho isto possível. Antes de tudo — podemos pernoitar?” Responde o outro: “Claro que sim. Tenho espaço de sobra, e pelo grande amor e respeito para com vosso Mestre e Senhor podereis ficar, gratuita- mente, o tempo que quiserdes.” A seguir serve-se uma boa ceia. Os apóstolos não têm apetite, em virtude de seu proceder para Comigo. Mais tarde relatam, noite adentro, Minhas viagens ao hospedeiro,

sentindo alívio por falarem em Mim. Parte do dia seguinte eles pas- sam em Bethânia na casa de Lázaro, também muito saudoso.

  1. Um dia após a partida dos discípulos, Eu Me encaminho para Jerusalém, sem informar disto o comandante e o hospedeiro, pois não queria ver divulgada Minha ida. Para tal fim, não uso a rota comum, chegando, é fácil de se deduzir, dentro em pouco.

  2. No dia da comemoração, ainda cedo, todos os discípulos se haviam reunido no pátio do Templo; os judeus aí presentes logo conjecturam: “Eis os adeptos do Nazareno! Certamente Ele Mes- mo estará por perto!”, de sorte a Me procurarem por toda parte, indagando dos discípulos onde Me encontrava. E eles respondem: “Desta vez não o sabemos; vimos sem Ele, que ficou alhures na Ga- lileia.” Súbito, ouve-se um grande vozerio e se pronunciam diversas opiniões e conjecturas sobre Minha Pessoa.

  3. Muitos afirmam: “Ele é mui devoto, e Deus lhe conferiu todas as prerrogativas dos profetas como foi Moysés, unicamente apto a nos libertar do jugo pagão.”

  4. Outros opinam: “Se assim fosse, não precisava temer os fa- riseus e escribas, e teria vindo para nos demonstrar claramente qual sua intenção. Todo mundo sabe ser ele amigo de romanos e gregos, portanto não pode esperar grande simpatia entre nós.”

  5. Manifesta-se outro grupo, à meia-voz: “Qual nada, é apenas essênio disfarçado, conhece todos os feitiços, seduzindo o povo.” Ninguém se atreve a externar abertamente parecer contra Mim, de medo dos inúmeros judeus, firmes na fé e esperança em Mim. En- trementes, subo ao Templo, por entre o alvoroço da festa e do povo, inebriado e desvairado.

147.OSENHORNOTEMPLO.TRAMAFRUSTRADADOSTEMPLÁRIOS(EV.JOÃO7, 14–36)

  1. Chegando ao Templo, Me posto num banco de proclama- ção e ordeno silêncio; os judeus Me reconhecem e perguntam entre si como chegara Eu à Festa, quando Meus discípulos ignoravam o

Meu paradeiro. Nisto, começo a declamar o quarto e quinto capí- tulos de Isaías, de fácil compreensão, porém de profundo sentido, dando em seguida uma explicação marcante e aplicável à situação atual, aos judeus teimosos e altivos.

  1. Admirados, eles indagam: “Como pode ele entender as letras se nunca as aprendeu? Sua Doutrina, portanto, não é falsa, por cor- responder à Escritura.”

  2. Eu lhes respondo: “Este ensino que dizeis ser Meu é Daquele que Me enviou! Quem o considerar e agir de acordo com a Vontade expressa de Deus nele contida saberá se este ensino é de Deus ou se falo por Mim Mesmo! Quem fala por si mesmo procura sua própria honra; mas quem, igual a Mim, apenas procura a honra Daquele que o enviou é verdadeiro, não havendo nele injustiça!”

  3. Eis que alguns fariseus começam a murmurar entre si: “Seria oportuno prender este homem e matá-lo, evitando-se grandes des- pesas com a sua captura, pois é evidentemente contra nós, tornando-

-nos suspeitos diante do povo. Portanto, coragem! Vamos abatê-lo!”

  1. Percebendo sua decisão, digo: “Não vos deu Moysés a Lei? Dizeis que sim! Por que então não viveis de acordo?”

  2. Retrucam eles: “Como podes alegar tal coisa?”

  3. Só então pergunto-lhes: “Se realmente cumpris a Lei Mosai- ca — por que procurais matar-Me?”

  4. Responde o povo: “Acaso estás louco? Quem estaria queren- do matar-Te?” Respondo com severidade: “Não vós! Mas aqueles que ocupam os cargos elevados. Fiz aqui apenas um milagre, há meses atrás, em um homem enfermo há trinta e oito anos! Aquilo vos abor- receu a ponto de Me condenardes como vilipendiador do Sábado!

  5. Moysés vos ordenou a circuncisão, instituída pelos patriarcas, e até hoje circuncidais no Sábado. Fazendo-o sem receio de terdes violado a Lei — por que vos revoltais por Eu ter dado a saúde plena a um indivíduo em tal dia?! Digo-vos: querendo fazer julgamento, não o façais pelas aparências, mas segundo a Verdade Plena!”

  6. Conjecturam alguns hierosolimitanos distintos: “Não é este a quem os fariseus procuravam matar na Páscoa? Eis que fala aberta-

mente, e eles nada lhe dizem! Porventura as autoridades reconhecem ser ele realmente o Cristo? Entretanto não é possível, pois sabemos de sua procedência, enquanto ninguém saberá a origem do Cristo!”

  1. Nisto, levanto a Minha Voz e prossigo: “Não só Me conhe- ceis, mas também a Minha Procedência; entretanto, ignorais não ter vindo Eu por Mim Mesmo, pois é Verdadeiro Aquele que Me en- viou, a Quem desconheceis. Eu bem O conheço, porque Me enviou; não O conhecendo, também ignorais Quem Sou, entendestes?”

  2. Estas Minhas Palavras enchem os orgulhosos habitantes de Jerusalém de revolta, de sorte a quererem Me prender e castigar. Meu Tempo, porém, ainda não tendo chegado, ninguém consegue pôr as mãos em Mim.

  3. Muitos entre o povo acreditam em Mim, dizendo: “Acaso o Cristo fará maiores milagres do que este homem?” Não demora os fariseus ouvirem tais observações, por isto exclamam: “Vede como ele seduz a multidão!”, e incontinenti mandam os oficiais de justiça Me prenderem e amarrarem.

  4. Eu, no entanto, dirijo-Me a eles dizendo: “Deixai disto! Por pouco tempo estarei convosco, para em seguida voltar Àquele que Me enviou a este mundo. Então procurar-Me-eis sem Me achar- des, e não Me podereis seguir para onde irei!” Assim, os esbirros não Me tocam.

  5. Os judeus, porém, opinam: “Para onde irá ele que não o acharemos? Porventura se imiscuirá entre gregos, dispersos, a fim de ensiná-los? Que palavras estranhas são essas: Procurar-Me-eis sem Me encontrardes; e onde eu estiver não podereis ir! Ah, ele fala sem nexo e certamente teme os sumos sacerdotes, procurando assim im- pedir sua prisão.”

  6. Eis que digo: “Enquanto o Meu Tempo não chegar, nin- guém poderá Me prender!”

  7. Eis que gritam alguns judeus, fariseus e escribas: “Veremos se realmente não te prendemos neste instante!” E todos se lançam contra Mim. No momento de Me pegarem, desapareço do Templo,

deixando os outros a exclamarem, perplexos: “Para onde foi? Pare- ce milagre!”

  1. Respondem os escribas: “Qual nada! Não percebestes como Beelbezub o arrancou do tumulto?! Claro podermos procurá-lo à vontade sem encontrá-lo, caso estiver escondido em algum canto do inferno!” O alvoroço cresce entre os muitos crentes, e ouvem-se vozes destemidas a dizerem: “Esses miseráveis fariseus não enxergam um palmo diante do nariz! Eles mesmos são os piores demônios e se acham em pleno inferno; a fim de encobrirem sua enorme perversi- dade, afirmam ser este homem, dotado de todo Poder Divino, servo de Beelzebub. Esperai! Expulsaremos vossa hipocrisia! Vossa máscara ser-vos-á arrancada para demonstrardes o que realmente sois!”

  2. Expressando o povo deste modo seu pensamento, dentro em pouco não mais se veem fariseus e esbirros no Templo, e os últi- mos passam dificuldades para justificar o não cumprimento da or- dem de prisão. Finalmente protestam: “Por que não o fizestes vós mesmos ou ao menos nos impelistes, quando ficamos como que tolhidos nos movimentos?”

  3. Retruca um fariseu graduado: “Acaso tal atitude se justifica- ria para nós, num Sábado?”

  4. Respondem os outros: “Somos igualmente judeus e obriga- dos a respeitá-lo!”

  5. Diz um fariseu: “Pois bem! Caso o encontreis amanhã ou depois, apenas feriados, agarrai-o e conduzi-o aqui!”

  6. Obtemperam os esbirros: “Poderemos assim agir se o povo não se opuser!”

  7. Diz o templário: “Quem poderia considerá-lo, de há muito amaldiçoado?”

  8. Responde um esbirro: “Não vem ao caso se é ou não amal- diçoado — a questão é que seremos apedrejados por causa dele! Hoje a situação já chegou quase a tal ponto! Se não tivéssemos fugido a toda pressa, a multidão nos teria pago a maldição, com juros! O que hoje não se deu pode acontecer amanhã! Seria conveniente deixá-lo

em paz; pois se é um profeta enviado por Deus, nada arranjaremos contra ele. Não o sendo, o assunto se resolverá por si mesmo.”

  1. Diz o fariseu: “Falais de acordo com a vossa ignorância! Acaso não está escrito jamais surgir um profeta na Galileia, para onde apenas são deportados malfeitores?!”

  2. Acrescenta um esbirro: “É bem verdade; entretanto, fomos informados — fato que consta igualmente dos livros de circuncisão

  1. Exclama o fariseu: “Quem vos disse tamanha coisa?”

  2. Respondem todos os esbirros: “Vós mesmos, ao explanardes quem foram os profetas, seu local de nascimento e onde viveram! Acaso não convém guardarmos vossos ensinos?!” Confundidos, os fariseus se retiram, enquanto os outros se regozijam por terem con- seguido vencê-los.

148.JESUSSEHOSPEDAEMCASADE LÁZARO

  1. Entrementes, encontro Meus irmãos e discípulos em um al- bergue afastado, onde costumava ficar com José e Maria por ocasião dos festejos. A alegria é tanto maior pelo fato de todos se terem en- tregue à tristeza, na suposição de Eu jamais deles Me apiedar.

  2. Dirijo-Me a eles, perguntando: “Filhos, amigos e irmãos — tendes algo para comer e beber?” Todos se atiram ao solo e Me pe- dem perdão. Mando que se levantem e se expressem abertamente, sabendo Eu jamais Me aborrecer com a sinceridade. Os discípulos se erguem, gratos por Eu não os ter abandonado.

  3. Nisto se aproximam os vinte greco-judeus, dizendo: “Senhor, vieste à nossa frente! Assistimos aos Teus Ensinos no Templo; quan- do, porém, em virtude do atrevimento dos templários e judeus Te tornaste invisível, saímos às pressas atravessando a grande multidão, para informarmos os amigos da Tua Presença — e eis que estás aqui!

Que enorme alegria por termos a Tua Pessoa em nosso meio! A par- tir de agora não mais haverá separação!”

  1. Digo Eu: “Oh, virão tempos e ocasiões em que todos vós vos escandalizareis Comigo e quando o Pastor for abatido, as ovelhas fugirão e se dispersarão! Mas quando Ele voltar, reunirá as boas ove- lhas, para sempre. — Os fariseus teriam passado mal caso Eu não Me tivesse afastado tão rápido do Templo; pois o número de crentes em Mim era maior, e se porventura alguém Me tivesse agarrado, teria surgido enorme tumulto. A fim de evitá-lo, deixei o Templo e aqui estou.

  2. Hoje e amanhã nada faremos; depois de amanhã, quando os festejos atingirem a maior pompa, iremos igualmente ao Templo para ensinar ao povo. Agora deixaremos este albergue, por demais rigoroso e totalmente organizado dentro dos hábitos judaicos, pois nada obteremos para beber antes do pôr-do-sol — muito menos nos darão alimento. Vamos a Bethânia, onde seremos supridos de tudo!”

  3. Com isto todos estão satisfeitos; neste meio tempo se apre- senta o tavoleiro e diz: “Mas que é isto?! Minha hospedaria não vos serve? Por que quereis partir, mormente tu, filho de José de Nazareth, de quem sou até mesmo parente?”

  4. Respondo: “Primeiro por seres judeu enraizado, e além dis- to dás muito valor às coisas externas — enquanto te é estranho o interior, verdadeiro e vivo; acresce a isto ser a pessoa tratada muito melhor por toda parte, menos em casa de parentes, razão por que mui raramente Me apresento em Nazareth, visto o profeta em parte alguma valer tão pouco quanto em sua pátria!”

  5. Retruca o hospedeiro: “Teu pai, porém, sempre tinha por hábito palestrar longamente comigo acerca de Moysés e dos demais profetas, relatando-me fatos curiosos de tua pessoa! Por que então te negas a ficar, quando já passaram quase três anos desde tua última estada em Jerusalém?”

  6. Respondo: “Se te tivesses informado, saberias ter Eu passado quase todos os festejos na cidade! És arquijudeu e hospedeiro até a fibra d’alma, e como tal não te interessam os fatos que lá se passam!

Por isto continua o que és, e nós faremos o mesmo! Nada te de- vemos, porque não nos serviste! Vamos!” Levantamo-nos e ligeiros seguimos para Bethânia.

  1. O tavoleiro, no entanto, diz ao pessoal: “Estou bem satis- feito com sua partida, pois com relação a parentes, um hospedeiro não pode aguardar lucro!” Eu transmito esse parecer aos discípulos, aborrecidos com tal atitude do homem.

  2. Nas proximidades de Bethânia digo aos apóstolos: “Ide na frente e pedi a Lázaro um bom almoço, mas não lhe digais o Meu Nome; quando Eu chegar sua alegria será enorme.” Todos se apressam em cumprir o Meu desejo. Incontinenti Lázaro promete atendê-los, dizendo: “Estaria muito satisfeito caso o Mestre Querido estivesse convosco. Há meia hora atrás passaram aqui alguns gregos, aos quais perguntei acerca das novidades dos festejos. Eu mesmo lá fiquei apenas uma hora por causa daquele movimento desvairado. E os gregos responderam: Ouvimos dizer estar agindo no Templo o célebre mago da Galileia; não conseguimos vê-lo em virtude da multidão. — A tal informação, enviei vários empregados para averi- guarem a veracidade, dando-me ocasião de procurá-Lo e convidá-Lo como Hóspede mais Querido. Até agora eles não voltaram. Dizei-

-me o que sabeis a respeito!”

  1. Essa pergunta deixa os apóstolos bastante embaraçados, de sorte a não saberem o que dizer. Entrando no quarto, termino com a situação difícil e abraço Lázaro como irmão. Ele mal se contém de alegria e suas irmãs choram de emoção — em suma, a casa toda se enche de regozijo inédito pela Minha Presença.

  2. Tudo é feito para o preparo do melhor ágape. Nenhum ju- deu ou fariseu podia ter conhecimento disto, porquanto tal alegria antes do pôr-do-sol seria vilipêndio do feriado. Neste sábado todos eles estavam atarefados no Templo, inclusive os servos, de sorte que em Bethânia podia ocorrer algo jamais conhecido dos templários. Durante o preparo da refeição, subimos ao conhecido monte, acam- pamo-nos no gramado sob a sombra das palmeiras e Eu relato a Lázaro as ocorrências em Bethlehem. Nesse ínterim, João e Matheus

fazem apontamentos do Evangelho, mas apenas dos itens principais, omitindo os pormenores.

  1. Quando Lázaro recebe de Mim explicação do quarto e quinto capítulos de Isaías, ele aparteia: “Senhor, tudo isto se aplica à época atual e suas criaturas, e é compreensível a perseguição dos templários à Tua Pessoa! Tal lição foi proveitosa, pois aqueles sujeitos se dão ares de deuses e anjos!”

149.O SENHOR PREDIZ A ÉPOCA ATUAL

  1. Digo Eu: “Amigo, a situação atual é idêntica à que ocorrerá daqui a cerca de dois mil anos, tendo início ainda muito antes! Aqui é o judaísmo muito pior do que o paganismo, pois entre os gentios a razão é considerada, enquanto é pisada pelos judeus. Em tal época futura, Minha Doutrina, ou seja, o cristianismo, terá aspecto mais desolador que o judaísmo e paganismo em conjunto. Haverá, pois, enorme atribulação entre os homens.

  2. A Luz da Fé verdadeira e viva se apagará, e o amor estará extinto. O orgulho dos abastados ultrapassará todos os limites, e os soberanos e sacerdotes terão maior consideração consigo mesmos do que os judeus com Jehovah e os pagãos com Zeus.

  3. De tempos em tempos inspirarei, então, adolescentes de am- bos os sexos, dando-lhes o justo conhecimento, cuja luz se tornará sempre maior e mais poderosa, tragando no final todas as obras da grande prostituta de Babel. Não vos admireis, portanto, da situação atual; já foi idêntica por várias vezes e ainda pior; e no futuro será ainda mais desoladora.

  4. O mundo continuará a ser sempre o mundo; Eu, porém, conduzirei os Meus e farei irromper o Meu julgamento sobre o mundo, quando se tiver pervertido a ponto de impedir um vislum- bre de Luz vital da Vida Divina.

  5. Atualmente, chegou a tal ponto em toda a Judeia, que te- ria sido sufocada qualquer fagulha do verdadeiro conhecimento de Deus, não fossem Eu e João; foi por isto necessária a Minha Vinda

a esta Terra como Homem, para entregar novamente às criaturas de boa vontade toda a Luz da Vida, perdida, e demonstrar-lhes o cami- nho da Luz Divina. Haverá muita luta entre os Meus filhos e os do mundo, em virtude da supremacia dos últimos; no final, os Meus dominarão o mundo, a ponto de não mais prejudicá-los; pois ainda que a matéria vos pareça tão dura e indissolúvel — finalmente terá que se entregar ao poder do espírito.

  1. Deus é Senhor Único de tudo e sabe o motivo por que per- mite e organiza isso ou aquilo, espargindo ao mesmo tempo a justa Luz entre as criaturas, conservando-a com rigor entre Seus filhos, de sorte que ninguém poderá afirmar: Caso houvesse um Deus Sábio que tudo criasse no Espaço Infinito, deveria ter tanta compreensão, unida ao amor, a ponto de Se revelar e apresentar às criaturas inte- ligentes, para tirarem a conclusão de ser Ele a Base real de todas as coisas e o que lhes cabe aprender Dele, e como deveriam viver a fim de se realizar tal esperança!

  2. Se Deus jamais Se revelasse, os homens teriam pleno direito de não acreditar Nele e de abater todos os que afirmassem Sua Exis- tência ou a de vários deuses invisíveis, dizendo: Que nos interessa teu deus de fantasia?! Caso exista, que se apresente e nos diga sua vontade! Não o fazendo, ele apenas vive na ociosa fantasia de um preguiçoso lunático!

  3. Uma divindade consciente como ponto central de todo saber e poder teria considerado os seres pensantes, suas obras mais perfei- tas, de sorte a se lhes revelar de qualquer forma e demonstrar-lhes por que existem e qual o plano divino. Isto não se dando e podendo ser provado por várias vezes a inexistência de Deus, merece punição quem afirme o contrário.

  4. Já basta que o homem dotado de raciocínio, compreensão e consciência suporte o peso revoltante de sua vida inculpável, para além disto aceitar, de um deus inexistente, quaisquer leis duras e contrárias à Natureza; pois uma entidade suprema que somente se consegue expressar pela boca de um desvairado e preguiçoso é nada mais que fantasia ou uma força bruta, tola e cega, apenas dotada

de consciência própria e intelecto, capazes de se revelar aos tolos secretamente.

  1. Vede: tais conjecturas acerca da Divindade seriam justifica- das se Ela somente Se revelasse por meio do sacerdócio preguiçoso e indigno!

  2. Voltemos à era de Adão e encontraremos muitas épocas consecutivas em que Deus Se revelou diante de milhares, de modo especial, transmitindo-lhes Sua Vontade e sábia Intenção para com eles; o homem, não sendo humano sem uso do livre arbí- trio, ele agia com o Verbo Divino de modo idêntico à palavra do semelhante.

  3. Um pequeno grupo manteve respeito por algum tempo; a maioria em breve esqueceu tudo aquilo e no final o classificou de mera invenção e desatino dos homens. Gozava os prazeres mun- danos em longos haustos e tomava os sábios por tolos e fanáticos a pisarem o paraíso do mundo, em virtude de um Reino Celeste incerto e problemático.

  4. Com tais opiniões perdeu-se a fé em Deus Verdadeiro, e isto porque o sacerdócio, preguiçoso, pela deturpação egoística da Palavra Revelada de Deus, tinha que chamar a atenção das pessoas mais inteligentes serem elas, pela consideração do Verbo, mais tolas que as ignorantes. Os ensinos eram simples segredos insondáveis, entretanto considerados de santificados pelos tolos, que se achavam indignos de compreendê-los.

  5. Acaso é outra a situação de hoje?! Pouco ou mesmo nada compreende de seu conteúdo e também não sente necessidade para tal, dando-se por satisfeito entendê-la o sacerdote ungido por Deus. A criatura comum só precisa saber e fazer aquilo expresso pelo tem- plário, que se responsabilizará do porquê.

  6. Se isto sempre foi feito pela Humanidade quanto à Reve- lação e Vontade de Deus, não é de admirar que, após cem anos de uma Revelação, por mais extraordinária que seja, as criaturas nada mais saibam e creiam do que crianças adormecidas se recordam de suas traquinagens?! Deus, entretanto, não desiste em Se lhes revelar

de modo variado, a ponto de levar o homem à convicção não ser isto ocorrência natural.”

150.REVELAÇÕESEPROFETAS,GENUÍNOSE FALSOS

  1. (Senhor): “De modo mais amplo Deus Se revela pela boca dos profetas inteiramente inspirados e facilmente cognoscíveis, primeiro pela palavra falada ou escrita; segundo, por vários dons milagrosos, como sejam: predizer em caso de necessidade, de sorte que as criaturas se possam guiar, melhorar e pedir a Deus que afaste a desgraça anun- ciada, conforme sucedeu em Nínive. Além disto, podem tais profetas inspirados pela Vontade Divina curar pela prece e pelo passe, quando isto for benéfico à salvação da alma. Além disso, é-lhes permitido de- terminar, em união com a Vontade de Deus, um julgamento sobre a Humanidade incorrigível e, em caso contrário, abençoar o povo.

  2. Dotados dessas e mais outras faculdades, fácil é se distinguir entre os falsos e genuínos, mormente pelo fato de serem os últimos sempre plenos de humildade e amor ao próximo, enquanto os falsos se exibem em indumentária relevante etc.; estão cheios de orgulho e amor-próprio chocante, apresentam-se somente em locais santifica- dos, pouco falam, e isto tolamente e sem nexo; e em determinadas épocas, operam aparentes milagres por meios naturais, secretos — e ai de quem os imite! Ao passo que o justo profeta não oculta suas re- alizações reais, mas incentiva aos outros nesse intuito, para poderem executar as mesmas coisas, de modo justo e verdadeiro.

  3. Podendo, pois, toda pessoa razoável discernir entre os genu- ínos e falsos profetas, o que positiva sua existência — porquanto os últimos jamais teriam surgido não fossem os outros — podem as criaturas deduzir a realidade de um Deus Verdadeiro, jamais aban- donando os habitantes da Terra, e sim transmitindo-lhes Sua Vonta- de e Seu Plano maravilhoso e sábio.

  4. Tal espécie de revelação é a mais salutar para os que desejam viver de acordo, porque não passam atribulações. Com as grandes e

raras revelações lucram muito menos para as suas almas, por serem antes um julgamento que benefício qualquer.

  1. Quando Adão pecou no Paraíso perante Deus, não se sub- metendo de livre vontade à Vontade Divina, declarada, ele em breve recebeu uma grande revelação e arrependeu-se de seu pecado; foi, porém, um julgamento para ele.

  2. Mais tarde, Deus mandou várias vezes importantes revela- ções aos homens, em virtude dos filhos pervertidos do mundo, ha- bitantes das planícies; foi, no entanto, igualmente um julgamento (vide A Criação de Deus).

  3. Em tempos de Noé novamente surgiu uma grande revelação, como julgamento tenebroso.

  4. Assim também sucedeu durante a existência de Abraham, por causa dos habitantes de Sodoma, Gomorra e as dez cidades ad- jacentes, cuja perversão era horrível. Deu-se deste modo outro julga- mento, e o Mar Morto é prova flagrante daquele fato.

  5. O patriarca Jacob também recebeu uma grande revelação de Deus que foi expiada pelos seus filhos, no Egito.

  6. Em época de Moysés veio outra nova e enorme; e as Pala- vras trovejantes de Deus foram gravadas em quadros de pedra. Jul- gamento tremendo, mormente para os egípcios, cegos, orgulhosos e desumanos, arrasando deste modo sua glória. Aos israelitas também nada foi poupado.

  7. Quando eles deixaram o deserto sob mando de Josué, veio outra grande revelação, fazendo desaparecer a importante cidade de Jericó.

  8. Assim foi também em tempos de Samuel, Elias e os quatro grandes profetas; podeis verificar nas Escrituras as consequências fa- tais! Até mesmo os pequenos profetas não foram enviados à Terra sem julgamento.

  9. No momento está se dando diante de vossos olhos a reve- lação maior e mais direta; o julgamento consequente para os judeus não se fará esperar.

  1. Daqui a quase dois mil anos serão inspirados inúmeros vi- dentes e profetas, porque aparecerá igualmente número maior de falsos profetas, inclusive falsos ‘Cristos’, orgulhosos, dominadores e isentos de amor. Então os julgamentos serão subsequentes e raramen- te haverá soberano que não passe provação tremenda, com seu povo.

  2. No final dessa fase, iluminarei profetas cada vez maiores, e com eles os julgamentos aumentarão e se estenderão. Grandes ter- remotos, tempestades devastadoras e enchentes, carestias, guerras, fome, moléstias virulentas e outros males surgirão, e a fé — com exceção de poucos — se extinguirá no aço do orgulho humano, e um povo desafiará outro.

  3. As criaturas serão advertidas por videntes e sinais impor- tantes no Firmamento; somente os Meus fiéis, esparsos, com isto se alterarão; enquanto os filhos do mundo classificarão isso tudo como raros sinais da Natureza, cuspindo diante dos que ainda creem em Mim.

  4. Eis então que virá a maior Revelação; Minha Descida à Ter- ra será prenunciada pelo julgamento maior e mais duro e terá como efeito uma seleção total dos filhos do mundo, pelo fogo e sua arma, a fim de que Eu Mesmo possa erigir outro viveiro para as criaturas verdadeiras desta Terra, perdurando até o final da mesma.

  5. Predigo-vos isto para não pensardes que após Minha Pre- sença tudo estará tão perfeito como nos Céus. Haverá alguns seme- lhantes aos Meus anjos — muitos, porém, piores que as criaturas de nossa época.

  6. Não vos aborreçais com isto; já vos expliquei por várias ve- zes o homem não ser homem sem a livre vontade, mas apenas ani- mal de semelhança humana.

  7. Tais criaturas poderiam, na melhor das hipóteses, ser ades- tradas como irracionais; nunca, porém, levadas à compreensão de ser tal trabalho útil e bom para o homem verdadeiro e ao animal, a fim de que resolvam de modo próprio a efetuá-lo em tempo oportu- no. O homem que age contra a lei demonstra ser livre, tanto quanto aquele que a cumpre. Por isto não deveis criticar e condenar quem

quer que seja, mas ensinar com toda paciência e meiguice e demons- trar ao perdido o justo caminho. Querendo palmilhá-lo será em seu próprio benefício; caso contrário, não deveis coagi-lo, e sim, como medida extrema, expulsá-lo de uma sociedade de princípios bons e puros, pois um crente por coação é dez vezes pior do que um incréu e apóstata.

  1. Vede os fariseus: são crentes coagidos em manter as aparên- cias; no íntimo nada acreditam e fazem tudo o que lhes apraz.

  2. Por isto tende cuidado quando elegerdes sucessores em Meu Nome; primeiro, ninguém deve ser forçado para tanto; segundo, não aceiteis quem de longe demonstrar querer o posto por interes- ses terrenos.

  3. Não obstante vosso cuidado, inúmeros tomarão vosso lu- gar, em parte por obrigação externa e em parte na expectativa do sustento bom e garantido. Serão por Mim incluídos no regimento do anticristo, e suas obras serão repugnantes perante Deus, tendo aspecto de cadáver putrefato.

  4. Em verdade vos digo: todos os vossos sucessores não pre- parados por Mim, mas pelos homens em determinadas instituições para suprirem vosso posto, não serão por Mim considerados; pois somente o anticristo qualificará deste modo seus adeptos.

  5. A quem vós apuserdes as mãos e batizardes em Meu Nome serão repletos do Meu Espírito; serão igualmente os que Eu Mesmo selecionarei como vossos sucessores em todas as épocas, confirman- do a verdadeira transmissão do Meu Espírito.

  6. Em tempos futuros haverá poucos, pela extensão do regi- mento do anticristo; quando, porém, ele se considerar a autoridade mais elevada no mundo — sua queda será definitiva! Tereis compre- endido isto?!”

151.ASPROVASDO ANTICRISTO

  1. Diz em seguida João: “Meu amado Senhor, nem vale a pena fazer tantos esforços pelas criaturas tolas; pois se Tua Luz Maravi- lhosa em breve será obscurecida pelo empenho de Satanás — que fiquem como são, maduras para seu reino infernal. Para que agraciá-

-las primeiro com o Teu Verbo?! Realmente, se estes forem os frutos de Tua Doutrina, seria o mesmo que atirar-se aos porcos do mundo Tuas Pérolas da Vida! Preferível é não fazê-lo, para não serem vili- pendiadas e deturpadas!”

  1. Digo Eu: “Meu amigo, Minha Doutrina não será dada àque- les que não lhe derem crédito e deturparão o que dela ouvirem pelo lucro terreno; pois, para a evolução de tais almas, tenho no Infinito inúmeras escolas.

  2. Transmito o Meu Verbo somente aos Meus verdadeiros fi- lhos desta Terra, incluindo-os na final salvação da morte eterna. Considerá-lo-ão com toda pureza e jamais se submeterão ao poderio da fraude mundana, mas sim positivar-se-ão qual diamante na Ver- dade Eterna.

  3. Que temos a ver com todas as criaturas mundanas?! Damos-

-lhes apenas oportunidade de entrarem nas fileiras dos filhos de Deus. Querendo-o com seriedade, não serão impedidas; assim não sendo — que façam o que quiserem e não vos compete disto tomar conhecimento!

  1. Eis a situação real! Pois Eu não vim para libertar o mundo de suas remotas algemas do julgamento, mas a fim de livrar os Meus filhos do mundo e de seu jugo. O que ora faço e a manei- ra pela qual ajo terá de ser considerado e feito por vós e vossos sucessores.

  2. O que nesta Terra puder ser desligado dentro de Minha Or- dem podereis desatar, sendo imediatamente desatado por Mim no Céu; o que não for dissolúvel deixai atado ou, no caso acima, al- guém não considerando vossa atitude doutrinária, algemai-o, a fim de que tenhais sossego diante dele. Em verdade vos digo: tal pessoa

será igualmente algemada no Céu, continuando escrava de sua von- tade negativa e trevosa por muito tempo! Eis a situação!”

  1. Prossegue João: “Como reconhecermos tais anticristos te- nebrosos? Prevejo ser Tua Doutrina aproveitada por muitos, mor- mente pelos inúmeros magos, querendo assim encobrir seus feitiços. Aponta-nos os sinais certos para podermos reconhecê-los e enfren- tá-los com bravura!”

  2. Digo Eu: “Pelas suas obras serão facilmente reconhecidos! Pois cardos não produzem uvas e em abrolhos não nascem figos. Quem algo dá e pretende retribuição maior não é Meu discípulo! Pois vede, Eu tudo dou aos Meus, no final até mesmo a vida deste Meu Corpo; entretanto, não quero sacrifício deste mundo, mas ape- nas que a criatura Me ame acima de tudo, a fim de que lhe possa dar coisas infinitamente mais grandiosas.

  3. Julgais ser esta a atitude do anticristo? Em absoluto! Dará muito pouco aos seus prosélitos — ou sejam: promessas vãs no Além

  1. Que fazem atualmente os fariseus com os pecadores de vá- rios matizes? Tiram-lhes resgate do pecado, em dinheiro ou outras vultosas oferendas, e lhes dão carta de isenção dos pecados cometi- dos, inclusive para aqueles que — como acontece no mundo abas- tado — venham a cometer, dizendo: ‘Ser-vos-á mais útil pagardes, já que não sois capazes de seguir a lei pesada!’ Deste modo os tem- plários sustam a Lei de Deus, suplantando-a pelos seus princípios egoísticos, porquanto sua índole apenas almeja o conforto material à custa da Humanidade, pobre e ignorante.

  2. O anticristo e seus adeptos agirão tal qual, facilitando se- rem descobertos! E quando seus afins bradarem, por todo o mundo: Vede, aqui está o verdadeiro Cristo! ou, Lá está ele!, nenhum dos Meus filhos deve crê-lo! Não chameis aos genuínos filhos do mun-

do, a fim de que tenhais paz diante do dragão e seus asseclas; pois ele conquistará por certo tempo grande poderio, maltratando seus inimigos! Precisamente com isto selará seu julgamento e perdição.

  1. Em tal época permitirei grandes invenções por parte dos homens, penetrando quais setas incandescentes nas catacumbas tenebrosas do dragão, destruindo seus artifícios miseráveis e falsos milagres; ficará, assim, desmascarado para vexame de seus asseclas fervorosos, que em breve debandarão em massa.

  2. Por isto não vos preocupeis com o destino de Minha Dou- trina; somente Eu sei o que terá de suceder nesta Terra e quais as permissões para que um dia se faça Luz no mundo das trevas!

  3. Não será tão rápido como julgais; pois apenas Eu conheço os elementos de Vida deste orbe e sei o que é preciso para conduzi-

-los no decorrer dos tempos a um conhecimento mais elevado. Nada mais pergunteis e tende ânimo.

  1. Vede, ainda Me esperam acontecimentos de grande atri- bulação, e não levará tempo para se realizarem! Todavia, não tereis percebido qualquer tristeza em Minha Pessoa! Venha o que vier — Eu Sou o Senhor! Não haverá o que ultrapasse Minha Sabedoria e Vontade. O que acontece e ainda acontecerá está calculado e de- terminado pelo Alto e tem seu motivo de profunda santificação. Quem estiver no coração, no amor e na vontade Comigo jamais será atingido pelo mundo mais tenebroso. Quem apenas se unir a Mim pela Sabedoria terá de enfrentar muitas lutas penosas; pois o mundo com seu raciocínio material jamais reconhecerá ser sua apresentação aparente nada diante do espírito. Satisfazei-vos com isto e sede ale- gres Comigo!”

152.VARIABILIDADEDASCRIATURASESUA FINALIDADE

  1. Todos se regozijam com Minhas Palavras e aceitam o convi- te de Martha para o almoço. Nesse ínterim, Lázaro relata os abor- recimentos havidos com os templários durante a Minha Ausência, que não obstante a maior paciência, fizeram com que ele adoecesse.

Concluindo, ele diz: “Senhor, não existe na Terra inseto tão incômo- do quanto eles e não há meios de alguém deles se livrar. Ameaçan- do-os com as leis de Roma, eles procuram dias afora provar, quais serpentes rastejantes, estarem eles somente no pleno direito e, além disso, serem legisladores únicos. Toda pessoa, indistintamente, terá de aguardar por parte deles o bem e o mal.

  1. Enraiveci-me com tais explicações, quase me atracando com eles, e finalmente lhes proibi voltarem à minha casa. Isto, porém, não surtirá efeito. Hoje acabei por enxotar dez — amanhã virão doze, começando com a mesma insistência e lábia, expondo o mes- mo assunto como se nada tivesse ocorrido.

  2. Neste mês vi-me obrigado a fazer ocupar, com grandes gas- tos, todos os acessos a minha casa por guardas romanos, com a rigo- rosa ordem de impedir a entrada aos templários. Isto me deu algum sossego externo, mas não no íntimo; pois esses atrevidos enviaram diversas cartas de ameaça, importunando-me desse modo por não haver outro. Se Tu, Senhor, pudesses livrar-me de tal praga, seria feliz já neste mundo!

  3. Durante esses três dias certamente ninguém aparecerá a mando do Templo, motivo por que suspendi a guarda; passado esse período, farei novamente uso dela. Bem sei que Tua cura milagrosa e minha gratidão patenteada são o motivo principal dessa persegui- ção; eles, entretanto, não aceitam minha afirmativa, justificando sua insistência por eu não lhes haver cedido oito a dez empregados. En- tão lhes propus combinação com os próprios lavradores e até mesmo permiti ficarem com todos, caso aqueles quisessem trabalhar para o Templo. Eis que responderam: ‘Alegas isto à nossa frente, enquanto desaconselhas que venham conosco — por isto, ver-te-ás com a Jus- tiça Divina!’ Só Tu, Senhor, saberás o fim dessa contenda!”

  4. Digo Eu: “Deixa estar, não mais precisarás da guarda no futu- ro, pois dar-te-ei um vigia com poder maior do que todas as legiões romanas e gregas! Deixemos que amanhã a celebração e as loucuras prossigam sem nossa presença; depois de amanhã, quando a festa estiver no auge, irei ao Templo e apresentarei aos judeus um espelho

de seus pecados mortais, levando-os ao vexame a ponto de precisa- rem ocultar-se do povo para fugir do apedrejamento. Por ora este- jamos alegres e serenos, enquanto seguros de sua visita importuna!”

  1. Manifesta-se Pedro: “Senhor, se aplicasses a mesma atitude feita no Euphrates, esses ignorantes tenebrosos chegariam a ter outra opinião de Ti!”

  2. Respondo: “Falas dentro de tua compreensão; em alguns anos te expressarás de modo diverso! Observa a enorme variabilida- de da flora e fauna, na água, terra e ar, os vários minerais e as estrelas na abóbada celeste! Ser-te-á possível positivar o motivo de tal varia- bilidade?! Não te diz o simples raciocínio que Deus Mesmo não teve motivo especialmente sábio para tanto, pois realizou tudo isto por um capricho divino, motivado pelo prazer de enfeitar o planeta com tonalidades e criaturas as mais diversas? Por que se apresenta uma figueira de modo diferente da macieira e pereira?! Qual o motivo não terem as duas espécies a mesma forma e sabor?!

  3. Se Deus não tivesse tido o grande Plano de educar as criatu- ras dessa Terra para Seus filhos, poderia nela ter implantado somente algumas espécies de árvores frutíferas e uns poucos animais caseiros, conforme fez com inúmeros outros corpos cósmicos não escolhidos para finalidade tão sublime! A fim de proporcionar ao homem ter- ráqueo a oportunidade grandiosa de se exercitar nos estudos e deste modo conhecer a plena independência de sua vontade, Deus organi- zou o orbe, como Escola de Vida tão extraordinariamente variável, a ponto de as criaturas, desde o berço até a sepultura, terem material para meditação, observação e comparação, podendo escolher entre o bem e o mal. Assim sendo, os inúmeros espécimens de animais agem e se fazem ouvir de diversas maneiras, dando ao homem enor- me oportunidade de pesquisas úteis, sublimando e aplicando suas ocupações no campo relativo ao Todo. Os pássaros, algumas moscas, escaravelhos, grilos e os próprios sapos foram os primeiros profes- sores de canto dos primitivos, enquanto os caramujos marítimos ensinaram aos homens a construção de navios.

  1. De modo idêntico Deus criou os seres humanos em uma variabilidade extraordinária e ilimitada, tanto na forma quanto no caráter, de sorte a se tornar difícil encontrar dois iguais entre mi- lhões; isto, para se poderem distinguir entre si e tratar-se recipro- camente com maior carinho. Para tanto, foram dotadas das mais diversas capacidades.

  2. A conclusão de um ser isolado se aplica a comunidades e povos. Tal fato sendo experiência cotidiana, deve-se igualmente considerar não ser possível ensinar a todos de uma só maneira e despertá-los à Luz e Vida. Isto se aplicando a um indivíduo, é viá- vel a todos.”

153.OSENHORPREDIZOJULGAMENTOSOBREOPOVOJUDAICO.AINSTABILIDADEDA MATÉRIA

  1. (O Senhor): “Os judeus de Jerusalém necessitam de trata- mento diferente dos galileus, samaritanos e pagãos, e estes, de acor- do com suas comarcas e países. Em toda parte deve-se considerar antes de tudo qual a base natural e moral das criaturas. Uma vez isto conseguido, pode-se determinar os caminhos pelos quais é pos- sível uma aproximação frutífera, para conquistá-las à Verdade e à Luz da Vida. Por isto produziríamos efeitos negativos aqui em Je- rusalém caso pretendêssemos a conversão com os meios usados em Chotinodora, Malaves, Samosata, Serrhe etc.

  2. Além disso, os pagãos estão enterrados no pior atraso. Eu lá operando um grande milagre a fim de romper sua superstição e julgamento remotos através de um novo, tal não os prejudicaria por terem sido libertados por meios suaves, podendo movimentar-se li- vremente dentro de uma nova concepção, pela fé em Deus e o amor para com Ele. Se Eu fizesse aqui — mormente nesta época — o mesmo que no Euphrates, não seriam poucos os judeus a perecerem de susto e pavor, reduzindo o número dos ouvintes do Evangelho. Os sobreviventes fugiriam diante de nós e os sacerdotes haveriam de

gritar e praguejar: Beelzebub destruiu a Obra de Jehovah! Ai de nós, abandonados por Deus e entregues aos demônios!

  1. Eu apenas operei coisa simples diante de seus olhos — e eles esbravejaram ter sido Eu vilipendiador do sábado e apóstata, agindo com auxílio de Beelzebub! Que não diriam e fariam caso destruísse, rapidamente, o Templo com tudo que contém?! Em tal hipótese, assistiríeis horrores sobre horrores, e no final debandaríeis! Cons- tando partir a salvação de Jerusalém, temos que agir apenas pela palavra e preferir a própria morte do que aplicar a esse povo uma força sobrenatural, que indubitavelmente provocaria sua extinção, física e espiritual.

  2. Afirmo-vos: no mais tardar em cinquenta anos essa cidade e o Templo serão destruídos de forma tal, a ser impossível localizá-los. Isto será obra do poder externo dos romanos e um castigo impie- doso de Deus. Os judeus serão dispersos no mundo inteiro, jamais conseguindo tornar-se um povo e ganhando seu sustento entre os pagãos com desprezo de todos. Este país lhes será tirado para sempre e transformado em deserto pelos gentios!

  3. Essa atribulação enorme e certa não aniquilará a psique ju- daica como se Eu tirasse ao povo o seu Templo; pois atribuí-lo-ão à crueldade dos romanos e muitos se converterão de novo. Um jul- gamento de Minha parte barrar-lhes-ia o Caminho para Deus; pois chegariam à conclusão de ser isto um Julgamento de Jehovah, evi- dente e imperdoável, manifestado pela Sua Ira, por ter autorizado a Beelzebub — em Festa Comemorativa — o arrasamento do Tem- plo, inclusive o Santíssimo, entregando-os às mãos daquele.

  4. Não estivesse em jogo o povo sofredor, não nos perturbaría- mos com os sacerdotes para livrar ao menos o Templo de seu conte- údo fútil; à multidão, porém, presa a ele — pois acredita na Presença do Espírito de Deus dentro de suas muralhas — não aplicaremos destruição qualquer.

  5. Este Meu Corpo, todavia, Templo do Verdadeiro Espírito Divino, será arrasado, mas por Mim Mesmo reconstruído em três dias. Tal fato será um testemunho e julgamento piores contra eles,

atualmente agindo a bel-prazer dentro do Templo material, do que Eu destruindo milhares de tais edifícios. Pois aquilo que suceder a Este Meu Templo será uma arma do povo crente contra seus mal- feitores. Desligar-se-ão do judaísmo e encontrarão acolhida com os romanos. O sacerdócio, riquíssimo, encher-se-á de raiva incontida contra os pagãos. Por isto, convocará secretamente soldados de todas as zonas, no intuito de expulsar os romanos. E vede — precisamen- te isto provocará seu fim! Não mais vos preocupeis com isto; tudo acontecerá conforme vos predisse!

  1. Digo mais: esta Terra e todo o Universo desaparecerão um dia — Minhas Palavras e aquele que as alimenta com vida, jamais! Pois ninguém usa um instrumento além de sua utilidade. Uma vez gasto é atirado fora e utilizado um novo. E vede, o mesmo faço Eu!

  2. Acaso alguém guardaria um odre velho e poroso que durante muitos anos conservou o vinho puro? Certo que não! Desfazer-se-á dele, ajeitando um novo. O mesmo é feito por Mim; ação idêntica com uma árvore velha será feita com planeta antigo e gasto. Tão logo todos os Meus Pensamentos e Ideias depositados em um planeta tiverem passado a uma vida livre, independente e puramente espi- ritual, tal corpo nada mais é que invólucro vazio, em que não pode mais surgir vida nova e pujante. Então será dissolvido o receptáculo e, em seu lugar, surgirá outro, cheio de novos germes de vida. Tudo em Espaço e Tempo envelhece, enfraquece, morre e desaparece, so- mente o Espírito pensador e criador perdura eternamente.”

154.OPORQUÊDAINSTABILIDADEDA MATÉRIA

  1. Diz um dos greco-judeus: “Estando disposto a nos revelar coi- sas tão grandiosas, poderias dizer-nos por que nada de material pode perdurar em sua espécie! As rochas se desagregam, árvores gigantes- cas, que muitas vezes enfrentavam todas as tempestades durante mi- lênios — como os cedros primitivos do Monte Líbanon — morrem e apodrecem, nada mais restando. Lagos e mares se extinguem e na Terra toda apenas se vê um constante vaivém! Somente no Céu estelar

tudo continua no mesmo, pois as estrelas vistas por Adam ainda são as mesmas, imutáveis. Entretanto, afirmas serem igualmente sujeitas à instabilidade, de sorte que se poderia dizer: Se tais corpos cósmicos enormes já existem há tantas eras, poderiam permanecer eternamen- te. Em que época surgiram, quem os pode medir ou contar?! Para o nosso raciocínio existem desde eternidades e bem poderiam continu- ar sua existência sem fim. Por que têm que desaparecer?”

  1. Respondo: “Meu amigo, por não serem propriamente maté- ria, e sim apenas elemento espiritual em julgamento. Já vos esclareci em outra ocasião ser toda a Criação nada mais que um Pensamento de Deus fixado através de Sua Onipotência.

  2. Em tal estado ele se apresenta como algo consistente e de cer- to modo isolado dos demais Pensamentos, inúmeros, a fim de que se consolide e se torne uma individualidade independente. Tão logo o Pensamento de Deus tenha solucionado esse problema, realizan- do sua independência e libertação em todos os âmbitos — por que deveria ser mantido por mais tempo através do Poder da Vontade Divina e isolado dos demais Pensamentos Grandiosos de Deus?!

  3. No momento em que um homem tiver alcançado a matu- ração interna e espiritual — no que necessita de um físico — para que suportar o contínuo peso de um corpo cada vez mais cansado?! Se alguém concluir a construção de uma casa, aprontando-a para ser habitada, porventura deixará os andaimes a seu redor?! Se tu cozi- nhares carne até amaciá-la, acaso não a tirarás da panela, inclusive o molho?! Assim, tudo no mundo tem seu tempo!

  4. Ao observares uma árvore na primavera, cheia de brotos, po- derias perguntar qual o motivo de sua aparição; entretanto, eles se de- senvolvem fazendo surgir folhas e flores, graciosas e perfumadas. Ex- tasiam-te, porque muito te agradam. Em breve, porém, começam a fenecer e cair! Aborrecido, indagas: Por que a destruição desse aparato magnífico de beleza retumbante? — Tens razão, pois uma árvore em flor seria sempre agradável aos olhos, no entanto ninguém consegue satisfazer sua fome pela simples visão, de sorte a ser preciso tirar-lhe a flor, útil para a vivificação do gérmen, após seu serviço prestado, a

fim de que o fruto real possa se desenvolver livremente. Dentro em pouco perceberás quantidade de frutos doces nos galhos que muito te satisfarão. Acaso deveriam igualmente ficar unidos à árvore?”

  1. Diz o greco-judeu, habitante de Jerusalém: “Tudo isto, Se- nhor, compreendo muito bem: um surge do outro e isto até deter- minada finalidade. Mas por que é preciso morrer a própria árvore, produtora de excelentes frutos, durante tantos anos? Prestou bons serviços, entretanto teve que ceder lugar a outra!”

  2. Digo Eu: “Toda matéria é receptáculo temporário de medida determinada pelo elemento espiritual da vida! Deste se desenvolve- rá anualmente certa parte, libertando-se, e passa a uma esfera mais elevada. Após número maior ou menor de anos terráqueos, a última fagulha de vida desapareceu da árvore endurecida e imprestável, in- gressando em potência superior, deixando-a isenta de vida.

  3. Acaso se deveriam soprar elementos novos à árvore velha, que estragariam pela matéria embrutecida, assim como o melhor vinho é deteriorado quando colocado em vasilha velha e suja?! Não é mais razoável depositá-lo em cântaros novos e limpos, mormente possuindo grande quantidade deles, e atirar no monturo os velhos?! Que te parece?!”

  4. Responde o greco-judeu: “Senhor, não poderá haver outra opinião! Somente Tu és dotado da máxima Sabedoria e conheces todas as relações na Criação Total, portanto tens razão em tudo. Nós apenas podemos perguntar e aceitar confiantes o que Tu nos transmites. Nisto se baseia a prova maior e viva: teres em Espírito organizado tudo, desde Eternidades, que existe no Universo.

  5. Teu apóstolo João forneceu, na introdução do Evangelho, o maior testemunho quando disse: No princípio era o Verbo. O Verbo estava com Deus e Deus Mesmo era o Verbo. O Verbo se tornou car- ne e habitou entre nós. Veio junto dos Seus e não O reconheceram.

  1. Digo Eu: “É isto mesmo; entretanto, nada podes fazer em contrário. Não podemos impedir o livre arbítrio, pois deixariam de ser homens. Facultar-lhes outras provas seria inútil; conseguiríamos apenas aquilo que expliquei há pouco. Para esses, só se presta a pa- lavra; esta não lhes abrindo a visão, não há milagre que o consiga. Não faltarão milagres diante de seus olhos — mas não para o ressur- gimento, e sim para o evidente aniquilamento.

  2. Afirmo-vos o seguinte: a última prova efetuada em Jeru- salém será quase idêntica à do profeta Jonas em Nínive, quando passou três dias no ventre de um grande peixe. E justamente por esse milagre será lançado o grande julgamento sobre eles, tragando os praticantes de todo mal, assim como um dragão de fogo devora sua presa abjeta. Deixemos isto de parte e vamos para o ar livre, antes do pôr-do-sol!” Todos se levantam satisfeitos e subimos ao monte, de onde se avista uma parte de Jerusalém!

155.INFELICIDADEEDESDITAS,CULPÁVEISE INCULPÁVEIS

  1. Após comodamente acampados, Lázaro diz: “É realmente lastimável ser essa cidade grande e vistosa destruída em futuro breve! Mas que fazer se os habitantes maldosos assim o querem?”

  2. Digo Eu: “Falaste certo; pois quem quer algo de prejudicial para si não sofre injustiça. Por diversas vezes lá estive e queria reu- ni-los sob Minha Proteção, assim como os pintinhos sob as asas da galinha; até agora todo esforço foi inútil, tornando-se eles próprios culpados de sua desdita.

  3. Por tal motivo não faltarei em transmitir muitos ensinos e advertências rigorosas, a fim de salvar alguns poucos. O que ora faço fareis mais tarde com maior facilidade, em virtude de Meu Milagre final e maior de todos.

  4. Quem vos escutar ouvirá também a Mim, por falardes ape- nas aquilo transmitido pelo Meu Espírito — e a ajuda será certa; os que permanecerem em sua anterior teimosia colherão seus frutos.

  1. Acaso não deveria Eu permitir a existência de água e fogo, só porque ambos se poderão tornar perigosos ao homem?! De modo algum! Para tanto tem ele raciocínio, força e livre arbítrio. Conhe- ce as propriedades boas e más da água e do fogo; aproveitando-os com inteligência, ambos os elementos lhe serão úteis. Se, de modo próprio ou devido ao descuido, cair num rio profundo ou numa cal- deira, é ele evidentemente culpado quando perde a vida. As pessoas prudentes e cuidadosas não passarão por acidente — muito menos as que palmilham a estrada do Evangelho!”

  2. Diz um greco-judeu: “Senhor, entretanto nem sempre a inteligência humana é suficiente, ainda que agindo com todo cuidado! Admitamos necessitar ir a Roma, via marítima, e du- rante a viagem o navio soçobre num grande temporal, não con- seguindo escapar viva alma. Quem é culpado de minha infelici- dade? Nem eu nem o comandante, pois ninguém podia esperar tal tempestade!”

  3. Respondo: “Meu amigo, tais ocorrências são permissão do Alto por motivos mui justificáveis e comparáveis às moléstias mor- tais. Não há no mundo quem viva eternamente e a morte se dá tanto na água, quanto no fogo. Julgo não necessitarmos estender o assunto; passemos a outro, mais importante!”

156.OECLIPSE LUNAR

  1. (O Senhor): “Vede, o Sol desapareceu, o Firmamento está claro e já se percebem algumas estrelas; a Leste surge neste momento a Lua, no horizonte um tanto nublado. Dentro de duas horas, dar-

-se-á um eclipse lunar pela sombra da Terra que se interporá entre Sol e Lua. Tal fenômeno provocará grande alarde entre os habitan- tes de Jerusalém, mormente no meio dos fariseus ignorantes, pelo desaparecimento do satélite durante meia hora. Os clamores serão intensos e grandes oferendas serão feitas; entretanto, daqui assistire- mos com calma ao maior espetáculo da Natureza.

  1. Aliás, vem ele a propósito de nosso atual procedimento, pois os sacerdotes e o povo consideram tal fato prova da Ira Divina e a multidão, a Meu favor, recriminará os templários por Me terem hoje atacado. Eles culparão os essênios odientos, lançando maldições contra os mesmos. Nesse ínterim surgirá novamente a Lua, levando os sacerdotes a dizerem com ênfase: Povo ignorante e tolo! Após termos condenado os piores inimigos de Deus pelo poder por Ele conferido, Sua Ira se aplacou, permitindo nosso desafogo por meio de grandes oferendas!

  2. Prontamente se ordenará ainda à noite uma procissão em holocausto e a plebe fará sacrifícios a valer. Meus inúmeros adep- tos não compartilharão da procissão, e muitos essênios desafiarão os fariseus, iniciando uma prédica em contrário a respeito do eclipse, pois sabem qual o motivo desse fenômeno, previamente calculado

  1. Esta atacará os sacerdotes, exigindo a devolução das oferen- das, sem recebê-las; pois alegarão seu emprego em obras de caridade. Alguns se conformarão; outros ficarão revoltados, dando motivo a verdadeiro tumulto dentro e fora do Templo, e a guarda romana intervirá com energia para estabelecer a calma. Tudo isto será pro- vocado pelo simples eclipse; entretanto, não nos perturbaremos. Al- guns fugirão até aqui, devido à violência romana; não necessitamos temê-los. Que Me dizeis a isso?”

  2. Respondem todos: “Ó Senhor, muito nos agrada, no entanto os maldosos fariseus pouco sofrerão! Um apedrejamento por parte dos essênios seria de bom proveito!”

  3. Contesto: “Enganai-vos! Sua reação verbal é muito mais pro- veitosa; pois explicarão ao povo a ocorrência natural, fazendo com que ele se revolte, jurando aos sacerdotes jamais voltar ao Templo! Isto será pior do que o apedrejamento!”

  4. Diz Lázaro: “Senhor, se der tempo, poderíamos cear antes do eclipse!”

  5. Respondo Eu: “Caro irmão, há uma hora, apenas, levanta- mo-nos da mesa e seria abuso pensar em ceia. Deixemos passar o

fenômeno, que durará ao todo três horas, e em seguida tomaremos qualquer coisa!”

  1. Assim Lázaro recomenda às irmãs o preparo de uma ceia após tudo terminado. Em seguida Me pede explicação quanto à Lua.

  2. Digo Eu: “Meu irmão, Meus discípulos sabem-no perfeita- mente e Eu Mesmo já te dei alguns esclarecimentos durante uma con- versação secreta; todavia, não pareces ter assimilado o assunto. Não importa! Abrir-vos-ei a visão interna, de sorte a poderdes analisar a Lua da mesma forma que vedes esta zona, sendo-vos mais útil do que Minha Explicação extensa.” Todos Me agradecem antecipadamente.

157.ANÁLISEDALUAPELAVISÃO INTERNA

  1. Nisto, a sombra da Terra se torna visível e todos observam seu crescimento. Dentro em pouco o eclipse é total, aparecendo nú- mero maior de estrelas que dantes. Lázaro, então, pergunta qual o motivo e Eu respondo: “Caro irmão, isto ocorre por não ser tua visão perturbada pela forte luz da Lua cheia. Tua retina está muito dilatada, capacitando-te à percepção do fraco cintilar das estrelinhas longínquas. Durante o dia não vês os astros, em virtude da luz solar contrair tuas pupilas. Deus construiu o olho humano tão artistica- mente, a ponto de poder perceber todos os graus de luz e até mesmo os pode calcular. Contudo, não pode ser comparado à maravilha da visão espiritual, que tudo penetra na justa medida.

  2. Presta atenção ao sucessivo desaparecer das estrelas menores, tão logo a Lua surgir da sombra da Terra, e te convencerás ser isto efeito da luz crescente da Lua.

  3. Outra coisa sucede com a visão da alma evoluída, imper- turbável pela luz terrena. Por tal motivo, só existe para ela um dia constante e jamais uma noite, isto é, para aquela que vive e palmilha em Minha Luz; para uma alma habituada a viver dentro do mundo e seus conceitos, só existem noite e trevas além-túmulo.

  4. Agora, atenção! Despertarei por instantes vossa visão interna, dando-vos impressão de estardes no solo da Lua!” No mesmo mo-

mento, todos soltam um grito de pavor, e Lázaro Me pede tirar-lhe essa faculdade, pois o satélite é por demais impressionante e desolador.

  1. Aconselho, porém, prosseguirem na observação, pois iriam descobrir seres idênticos aos da Terra. Todos se esforçam nesse sentido e deparam, na parte virada à Terra, umas criaturas pequeninas, atro- fiadas e quase transparentes. A outra face lhes é menos desagradável; entretanto, a veem durante a noite lunar, que dura quatorze dias, en- contrando-se seus habitantes e os poucos animais em profundo sono.

  2. Após todos se terem satisfeito com a análise total da Lua, expressam desejo de voltar ao estado anterior; Eu assim faço, pois sentem receio de permanecer nesse mundo desolador.

  3. Contentes, ao depararem a Lua com os olhos da carne, o mais velho dos greco-judeus diz: “Senhor, se na Tua Infinita Criação houver um local de sofrimento apropriado para as almas, a Lua deve corresponder a tal finalidade, mormente na parte voltada para nós! Os seres esquisitos, feios e transparentes por certo são tais sofredo- res. Ao viajar-se sobre a nossa Terra, as zonas aprazíveis se revezam; lá, dá-se precisamente o contrário. O primeiro ponto que se avista é tão tenebroso e assustador qual espectro. Os demais aumentam nesse sentido, entretanto são habitados por indivíduos tão tristes e definhados, de sorte que os nossos habitantes — mesmo os que estão em catres e sarjetas — se podem considerar verdadeiros reis. Quem são eles?”

  4. Respondo: “Não são felizes e alimentam muita coisa diabóli- ca; com o tempo, ingressarão em uma vida melhor — porém a pas- sos lentos. Os que perambulam na superfície, tendo alcançado certa transparência, já estão melhorados. Os moradores em profundas cavernas, buracos e crateras sofrem muito e necessitarão de longo tempo para passarem a uma esfera mais benéfica.

  5. São almas desta Terra que, durante a vida, se entregaram ao excessivo amor-próprio e mundanismo desvairado. Tais almas ma- terialistas se vestem de modo próprio, com corpo semimaterializado que as capacita à percepção das impressões desagradáveis, tais como: frio, calor, luz solar, reflexo da Terra e de outros astros. Entretanto,

não podem saciar sua cobiça com algo telúrico. Veem o orbe e sa- bem terem lá vivido, donas de grandes fortunas, conceito mundano e considerável número de serviçais; agora se acham entregues a si mesmas, desnudas e, além do ar mui precário, sem alimento nem água. O solo é arenoso qual pedra pomes e não produz uma simples plantinha de musgo.

  1. Deste modo é a Lua apropriada para almas tais, onde são devidamente isoladas, podendo chegar à compreensão serem todos os bens terrenos perecíveis e sem valor real; assim são finalmente tomadas do desejo de definitiva extinção.

  2. Muitas tentam o suicídio, outras privam-se da visão cons- tante através do sono — inútil, porém. Em seguida, procuram qual- quer saída das cavernas de seu sofrimento que as leve a outra zona, onde poderiam entrar em contato com criaturas mais inteligentes, a fim de palestrarem acerca de sua infelicidade. Assim, acontece des- cobrirem uma saída, após grandes esforços, chegando a planícies extensas; lá começam a galgar as cordilheiras e privam com espíri- tos mais esclarecidos, que as orientam sobre a Existência de Deus, Poderoso e Sábio, no Qual devem crer e Lhe dedicar todo amor, que tal atitude as beneficiaria.

  3. Geralmente aceitam-no de bom grado, desfazendo-se de parte de sua matéria; recebem veste etérea e em seguida são trans- portadas para Vênus ou Mercúrio, mais tarde a Júpiter, Saturno e outros. Daí resulta ingressarem no Sol, onde podem conquistar grande sabedoria e amor. Só então se tornam espíritos puros, pas- sando ao Sol espiritual, rico em inúmeros institutos de ensinos mais profundos.

  4. Deste modo, tais criaturas materialistas se purificam após eras prolongadas, podendo desfrutar de grande felicidade; todavia, não po- dem chegar ao ponto onde penetra um dos Meus filhos mais simples. A esses infelizes habitantes da Lua será concedida a salvação quando Eu tiver regressado de onde vim. — Sabeis, afinal, o que é a Lua?”

  5. Responde Lázaro: “Sim, Senhor, sabemo-lo perfeitamente, isto é, no que diz respeito à face voltada para nós. A outra parece

ter semelhança com a nossa Terra. Observamos lá vegetação, água e nuvens no firmamento. O que há na realidade?”

  1. Digo Eu: “São criaturas como existem no Norte da Terra, en- tretanto algo diferentes em seu organismo, devido às condições diver- sas de dia e noite lunares. O resto vos ensinará o espírito. Tendo termi- nado essa explicação, entremos para a ceia, e nada relateis dessa visão.”

158.CONSEQUÊNCIADOECLIPSE.RENASCIMENTOEDONS ESPIRITUAIS

  1. Como de costume, sentamo-nos à mesa redonda e Lázaro manda servir pão e vinho. Martha faz menção de querer preparar algo melhor para Mim. Eu a impeço, dizendo: “Deixa disto, Minha irmã; pão e vinho são o melhor alimento! Se fizesses fogo, chamarias a atenção de alguns fugitivos de Jerusalém — não do Meu nem do vosso agrado. Amanhã farás outra coisa.”

  2. Mais tarde entram alguns empregados de Lázaro e relatam haver, além das muralhas a circundarem Bethânia, grande acúmulo de pessoas. Comentam um enorme tumulto surgido em Jerusalém por ocasião do eclipse, obrigando os romanos ao uso de armas para evitar graves consequências.

  3. “Muitos dos peregrinos fugiram; os que aqui chegavam pro- curavam entrar. Não foi isto possível, porque havíamos trancado todas as entradas ao pôr-do-sol. Alguns indagavam se o profeta da Galileia ali se encontrava, ao que outros conjecturavam: Oh, é mui- to esperto; previu a situação crítica e se afastou em tempo! — Que faremos com essa gente? Poderá entrar?”

  4. Digo Eu, em vez de Lázaro: “Deixai-os lá fora, não mais serão perseguidos! Amanhã o assunto será esquecido e a festa prosseguirá sem outras perturbações!” Em seguida relembro aquilo que havia predito acerca do efeito do eclipse e todos se admiram desse fato.

  5. Contesto, porém: “Como isto vos pode alterar? Qualquer pessoa inteligente poderia predizê-lo, sabendo da atitude dos ga- nanciosos fariseus em tais ocasiões, e como sabem se aproveitar dos

fenômenos. Coisa importante, porém, é determinar sem cálculo o momento preciso do acontecimento, muito embora os essênios

o consigam através da astronomia e igualmente tiram proveito da sua arte oculta. Futuramente se obterão tais soluções de modo mais preciso, sem contudo ser-se onisciente, portanto não é de grande importância.

  1. Muito mais valioso é analisar-se o pensamento no coração do indivíduo! Quem o souber é, como Deus, onisciente, vendo e sentindo tudo. Poderão fazê-lo os que viverem dentro de Minha Doutrina e por ela conseguirem o renascimento do espírito em sua alma; os outros jamais alcançarão algo realmente espiritual.

  2. O homem nunca saberá o que se oculta no seu íntimo, pois carece da visão interna. O espírito, porém, no íntimo das criatu- ras, tudo vê e sabe a seu respeito. Por isto deve cada qual tratar do renascimento do espírito, pois sem ele jamais alguém entrará no Reino de Deus.

  3. Antes de Eu ascender à Casa do Pai, ninguém será capaz de alcançar o completo renascimento do espírito em sua alma; mas após a Minha Ascensão, todo aquele que acreditar em Mim e viver dentro de Minha Doutrina poderá fazê-lo.”

  4. Dizem os apóstolos: “Senhor, quando e onde dar-se-á isto?”

  5. Respondo: “Assisti-lo-eis dentro em breve! Nada mais ne- cessitais saber antes do tempo. Preferível é meditardes haver muita coisa a resolver até lá e Eu ter de padecer, a fim de tirar o espinho da morte de todo julgamento em que se encontram as criaturas. Agora vamos dormir, para amanhã reiniciarmos nossa tarefa; pois um ho- mem cansado não se presta para o serviço do espírito.”

159.ASEXPERIÊNCIASDOSDISCÍPULOSDURANTEAFESTAEM JERUSALÉM

  1. Ao despertarmos, uma hora mais tarde que de costume, o desjejum já se acha na mesa. Após terminado, os discípulos Me per- guntam quais os Meus Planos para esse dia. E Eu respondo: “Farei

feriado, portanto não pretendo trabalhar especialmente. Podeis ir aos festejos para ver o que lá se passa; ao voltardes para o almoço, relatar-Me-eis o que se fala a Meu respeito. Eu lá estarei somente em Espírito por se tratar de uma festa pagã. Quem quiser ficar, que fique e não perca pensamentos naquela futilidade!”

  1. A isto, alguns discípulos se levantam e caminham para Jeru- salém. Jacob, André, Simon e Matheus, inclusive os greco-judeus receosos de serem reconhecidos, não obstante a indumentária grega, permanecem Comigo.

  2. Quando os outros lá chegam, são reconhecidos por alguns judeus que os rodeiam e perguntam audaciosamente: “Não sois ga- lileus e adeptos do carpinteiro de Nazareth? Onde está ele, pois que- remos lhe falar!” Como Meus discípulos não respondem, os judeus se tornam impertinentes.

  3. Irritado, Nathanael retruca: “Por que perguntais? Ide procurá-lo! Somos peregrinos como vós e não vos assiste direito de importunar-nos.” Com isto os judeus se afastam, enquanto os dis- cípulos passeiam nos átrios. Muitos são os comentários feitos à Mi- nha Pessoa e vários judeus, crentes em Mim, procuram se informar do Meu Paradeiro. Ninguém sabe responder. Alguns conjecturam: “Disse ontem a verdade quando afirmou: Procurar-Me-eis sem Me achardes; tampouco podereis chegar onde Eu estiver!”

  4. Muitos há alegando ser Eu simples impostor e mago de ro- tina. Outros, ser Eu evidentemente profeta, porquanto operava mi- lagres impossíveis a um taumaturgo. Outro grupo afirma Minha devoção, enquanto seus oponentes alegam Minha conivência com espíritos das trevas, seduzindo através de seus atos as criaturas. Ne- nhum, porém, crê e afirma ser Eu o Cristo.

  5. Como o ambiente fosse insuportável, os discípulos em bre- ve voltam a Bethânia, onde relatam tudo, provocando revolta geral. Lázaro então diz: “É inadmissível a incompreensão e teimosia desse povo. Todas as provas e ensinamentos de nada valem! Um homem como Tu, Senhor, somente fazendo a caridade e jamais tendo exigido pagamento — pelo contrário, levaste a felicidade plena a muitos po-

bres, recompensando mil vezes o menor favor — é considerado im- postor por esses abutres! Raça do inferno! Não necessita de cinquenta anos para amadurecer ao julgamento, já está mais que madura!”

  1. Digo Eu: “Meu caro irmão, não te alteres por isto e considera Eu saber quais os motivos por que permito tais abusos! Não seremos nós seus juízes, e sim a palavra compreensível que muitas vezes lhes dirigi sem êxito. Ainda assim, foi bom terdes ouvido as diversas opi- niões populares. Amanhã, o maior Dia das Festas, doutrinarei no Templo e demonstrarei claramente sua índole e o que devem esperar em consequência dela. Deixemos esse assunto e ocupemo-nos com algo melhor!”

  2. Diz Lázaro: “É, Senhor, será melhor! Que faremos, pois ain- da falta uma hora para o almoço?” Respondo: “Oh, não é de tua alçada, será incumbência Minha!”

160.OSSETECÃESDELÁZARO.OSMUNDOSCÓSMICOSCOMOESCOLAS ESPIRITUAIS

  1. (O Senhor): “Quando Noé construiu a arca a mando de Deus, os vizinhos materialistas ridicularizaram-no dizendo: Vede só, esse velho sonhador! Aqui, em cima das montanhas, longe de qual- quer mar, ele faz uma arca, supondo que Deus venha mandar tama- nha chuva, inundando essas alturas, enquanto ele pretende salvar-se com sua família nesta embarcação!

  2. Tais observações e ainda piores foi Noé obrigado a ouvir; seu próprio irmão Mahal dele zombou e se dirigiu com suas filhas para a cidade Hanoch, nas planícies. Os vizinhos, entretanto, queriam cansá-lo em sua tarefa, destruindo durante a noite o que havia reali- zado de dia. Noé então pediu a Deus libertação de tal praga; e Deus lhe mandou uma quantidade de cães, enormes e maus, de sorte que era por eles estraçalhado quem se aproximasse da arca. Deste modo ele conseguiu concluí-la.

  3. Contrataste soldados romanos para proteção de tuas depen- dências, pagando importância considerável. Posso fornecer-te vigias

bem diferentes; pouco te custarão e não se deixarão subornar! Ins- tintivamente, descobrirão os teus inimigos, enxotando-os com terrí- vel latido para além de tuas fronteiras; igualmente reconhecerão os verdadeiros amigos da casa, permitindo sua entrada.”

  1. Exclama Lázaro: “Ó Senhor, dá-me oportunamente tais vi- gias, que nada lhes faltará!”

  2. Digo Eu: “Bem, vamos lá fora, que eles aparecerão!” Nem bem nos dirigimos ao vasto pátio, de pronto sete cães, enormes, vêm ao nosso encontro, roçando-se aos nossos pés. Têm o tama- nho de bezerro com dois anos de idade, uma dentadura colossal e pelo comprido.

  3. Satisfeito com tal aquisição, Lázaro pergunta como deve acomodá-los, e Eu lhe proporciono um canil em local apropriado, apenas pela Minha Vontade, provocando sua grande admiração. Os apóstolos lhe dão o devido esclarecimento e que Eu até mesmo já havia construído moradias completas para amigos.

  4. Diz ele: “Tudo isto é feito pelo Senhor; entretanto, o povo miserável não acredita Nele, afirmando ser Ele traidor! Onde e quando terminará a maldade dos homens?!”

  5. Digo Eu: “Não te incomodes! O tempo é eterno e o Espaço, infinito; e muita coisa poderá acontecer. Durante o eclipse lunar viste inúmeras estrelas, entretanto não era a milionésima parte ao alcance da visão humana. Todos os astros visíveis não perfazem a menor partícula da imensidade daqueles jamais vistos por habitan- tes da Birmânia, criaturas dotadas de tamanha capacidade visual, a poderem perceber montanhas e crateras da Lua. Vê, essa imensidade de mundos cósmicos são escolas para espíritos diversos, e bem podes concluir por que consta na Escritura serem os Desígnios de Deus im- penetráveis e Seus Caminhos, insondáveis! Não te preocupes, pois, com aquilo aparentemente sem nexo; Deus sabe de tudo, conhece os espíritos e os meios pelos quais poderão alcançar seu destino!”

161.OEXEMPLOCOMOMELHORENSINOE ADVERTÊNCIA

  1. (O Senhor): “Cada um que por Mim conhece os caminhos da Luz e da Vida trate principalmente de estar puro perante Deus, e não julgue o próximo! Quem isto fizer fará tudo e dá pelo exemplo o melhor ensinamento ao irmão.

  2. Se ele vir tua ação boa e nobre, perguntar-te-á: Qual o moti- vo de assim agires? Dar-lhe-ás a razão verdadeira e precisa, incitan- do-o a fazer o mesmo, e ele procurará imitar-te! Se, porém, lançares em rosto os seus defeitos e em seguida lhe aplicares o ensinamento, irritar-se-á, dizendo: Quem te deu ordem de te tornares o meu juiz?! Varre a tua própria soleira, que me incumbirei da minha!

  3. Por isto digo a todos: ao ensino, antecedei boas ações, levan- do assim o semelhante a reconhecer serdes realmente Meus discípu- los! Fazei o bem inclusive aos inimigos, juntando brasas ardentes em suas cabeças!

  4. Vede o Meu Exemplo! Sou de todo coração humilde, meigo, e não julgo nem condeno quem quer que seja; mas todo aquele que estiver atribulado e acometido de males físicos deve procurar-Me, pois Eu o aliviarei!

  5. A maneira pela qual ajo para com todos deve ser também a vossa! Porventura poderíeis, Meus apóstolos, afirmar ter sido Eu cruel e áspero com as criaturas que, inculpáveis, porém pervertidas completamente, foram trazidas perante Mim?!

  6. Somente as que tentaram arruinar, antes do tempo determi- nado pelo Alto, a Mim e a vós, com a pior vontade do mundo intei- ro, sentiram a agudez de Minha Ira justa. Também neste ponto vos dei um exemplo pelo qual podereis agir em casos semelhantes, pois não vos faltará poder para tanto. Antes, porém, de aplicardes rigor, não deveis deixar de experimentar todos os meios suaves. A energia só deve ser empregada quando enfrentardes a maldade astuciosa, perseguindo-vos e rejeitando qualquer palavra de conciliação.

  7. Chamai a atenção de quem, a fim de receber dinheiro dos sumos sacerdotes e seus colegas, vos perseguir por causa de Meu

Nome. Aceitando vossa advertência, deixai-o seguir em paz; caso não o faça após três avisos, levantai sérias ameaças! Ele não se modi- ficando, transformai a ameaça em ação, para exemplo de todos que pretendam importunar-vos por causa de um lucro material! Somen- te neste caso, único, tendes direito de usar energia.”

  1. Diz Pedro: “Senhor, que faremos alguém nos tentando com mentiras e palavras sedutoras? Naturalmente descobriremos de pronto tal trama; se, não obstante nossos conselhos, ele continuar a nos seduzir — qual nossa atitude?”

  2. Digo Eu: “Ainda não sois capazes de meditar, para chegar a um paralelo, não depender tanto do meio e sim da finalidade a ser alcançada com determinada pessoa?! É indiferente se alguém pre- tende atingir seu propósito através de armas e algemas, ou por meio de palavras enganadoras; não se modificando por repetidas adver- tências, tampouco dando ouvidos à ameaça — esta deve entrar em função! Presumo terdes compreendido como e quando é aplicável uma atitude enérgica.

  3. Há ainda um ponto a considerar! Quando chegar o tempo de cada um, assim como em breve o Meu estará presente, nada se consegue com o próprio rigor; mister se torna suportar o ‘Rigor de Deus’, caso se pretenda chegar a Ele em espírito.”

162.MOTIVOEFINALIDADEDAS MOLÉSTIAS

  1. Manifesta-se um greco-judeu: “Por que o homem só conse- gue chegar a Deus por meio de dores e sofrimentos? Não poderia isto suceder dentro de uma vida salutar e isenta de atribulações?”

  2. Digo Eu: “Tal depende unicamente dele mesmo. A maioria das moléstias são consequências de pecados, praticados desde jovem até a velhice, tornando-se finalmente hábito. Existem enfermidades herdadas pelos antepassados, e não é viável culpar-se a Deus por tal sofrimento. Poderia se obstar que, caso a criatura tivesse aprendido diretamente por Deus como viver dentro da justa ordem do mundo e ela não o fazendo, é evidentemente responsável quando contrai

sofrimentos variados; tendo, porém, como mestre a Natureza e as experiências negativas e más, é ela sem culpa de seus sofrimentos e merece toda piedade!

  1. Concordaria plenamente se assim fosse. A criação do primei- ro casal no Paraíso provou o contrário, pois foi ininterruptamente ensinado por Deus durante mais de cem anos. Além disto, foram naquela época inspirados por Ele videntes e profetas encarregados de ensinar as criaturas, já com inclinações mundanas, revelando-lhes a Vontade Divina.

  2. Em tais circunstâncias, ninguém podia afirmar não ter tido ciência como aplicar a Vontade do Pai. Os homens, porém, entrega- ram-se ao conforto material, construíram cidades e obras monumen- tais, apaixonando-se de tal forma pelo mundo, que se esqueceram de Deus e até mesmo O negaram. Ainda que aparecesse um vidente, inspirado por Deus, era simplesmente escarnecido e ninguém dava ouvidos às suas palavras.

  3. Tais pessoas só podiam enriquecer o seu raciocínio e pru- dência através de experiências dolorosas, determinando deste modo uma regra de vida cansativa. Essas regras constituíam, por exemplo entre o grande número de pagãos, na maior parte pecados contra a Ordem Verdadeira e Divina, tendo como resultado toda sorte de males físicos e psíquicos.

  4. Deus querendo conservar para a vida eterna uma alma dessa índole, tem que ajudá-la por moléstias físicas, fazendo com que se desprenda do mundo pelas dores, sem as quais seria atraída e tragada pela matéria, sua morte e condenação. Eis por que as criaturas tanto padecem na Terra.

  5. Nós também teremos muito que sofrer pelos homens perver- tidos por própria culpa. De tais sofrimentos não nos cabe responsa- bilidade, como se não tivéssemos noção da Ordem Divina dentro da vida, agindo de modo contrário, e sim nosso padecimento despertará os ignorantes, no sentido de perceberem quão pouco valor ligamos à existência terrena, ao passo que a vida da alma deve ser importan- tíssima quando, por amor a ela, se renuncia às vantagens materiais.

Vede, nisto consiste a própria salvação das criaturas, da morte à vida!

  1. Os greco-judeus não se querem conformar que eles, como posteriores divulgadores de Meu Verbo, tivessem que sofrer e até mesmo arriscar a sua vida. E Eu lhes repito a sentença já conhecida: “De agora em diante perderá a vida quem a amar; quem a desprezar e dela fugir conservá-la-á para sempre!”

  2. Dizem eles: “Mas como? Quem pode entender tal coisa?”

  3. Digo Eu: “É o seguinte: de que adiantaria ao homem ga- nhar o mundo inteiro nesta vida, se sua alma levasse prejuízo?! Quais seriam os meios de libertação para ela?! Por isto deve a criatura apro- veitar sua existência somente para conquistar a vida eterna da alma. Assim não fazendo, é ela própria culpada se aniquila ou no mínimo enfraquece sua força psíquica, a ponto de necessitar um tempo enor- me, no Além, para concatenar-se a fim de poder ingressar em uma consciência mais lúcida. Pois enquanto a alma ainda se prender com certa inclinação à vida física e suas vantagens, não poderá renascer inteiramente; não tendo alcançado o renascimento, não poderá in- gressar no verdadeiro Reino de Deus, porquanto nele não consegue subsistir um átomo de matéria. — Agora sabeis o bastante, vamos entrar!” Em seguida almoçamos e poucos foram os comentários.

163.ODESTINODOSSUICIDAS.ADOUTRINASEMEXEMPLODENADAVALE.ASEMOBRASNÃOTEM VALOR

  1. Após a refeição, levanta-se um ancião dos greco-judeus e diz: “Senhor, enquanto almoçamos, meditei acerca do desprezo da vida física na conquista pela existência eterna da alma. Tudo isto me é claro; entretanto, existe um ponto que não compreendo. Há pes- soas inimigas de sua própria vida, que por motivo qualquer dela se enfadam e praticam suicídio. Seriam elas aptas à conquista da vida da alma?”

  2. Digo Eu: “Porventura Deus lhes deu a vida para destruí-la?! O corpo físico é o meio dado por Deus pelo qual o homem pode e

deve alcançar a vida da alma, para toda a Eternidade. Se ele aniquila esse meio, como poderia conquistar e conservar a vida psíquica?! Se o tecelão destrói o tear — como irá tecer?! Afirmo-te: os suici- das, caso não sejam loucos, dificilmente entrarão na posse do Reino Eterno da Vida! Pois quem for a tal ponto inimigo de sua existência não possuirá amor para a vida; uma vida sem amor não é vida, e sim a morte. — Sabes agora como andam as coisas?”

  1. Responde ele: “Sim, Senhor e Mestre, e será para mim um ponto principal de Tua Doutrina, necessitando ser pregado aos ho- mens o quanto possível!”

  2. Digo Eu: “Está certo; antes de tudo, porém, deve o prega- dor estar inteiramente dentro da Ordem antes de doutrinar alguém; do contrário, seu ensino será oco e não despertará ressonância no semelhante. Alguém praticando o que ensina, seus ouvintes procu- rarão com todo zelo chegar à perfeição do professor. Se eles desco- brirem vez por outra lacunas e defeitos em seu mestre, afrouxarão seu entusiasmo, dizendo finalmente: ‘Ele sendo remendão — que será de nós?!’ Eu vos afirmo: os ouvintes em breve virarão as costas ao mestre; pois o remendão faz parte do simples operariado e jamais da esfera das artes e, muito menos, da sabedoria. Por isto, deveis vós mesmos ser perfeitos em tudo, isto é, na Doutrina e em sua aplicação, do contrário não sereis capazes de vos tornar verdadeiros divulgadores de Meu Evangelho.

  3. Suponhamos uma antiga escola de heróis onde se eduquem homens fortes para exemplo de bravura. O professor lhes recomen- da, antes de tudo, o desprezo à morte, afirmando não ser possível a um covarde se tornar verdadeiro herói. Quando, porém, chegasse a prova real em que o mestre tivesse que demonstrar como deveriam enfrentar a morte, ele entretanto hesitasse e no final debandasse — poderia insuflar em seus alunos a coragem? Por certo que não; pois eles haveriam de pensar: Ah, ele apenas nos quis sugestionar o des- prezo da morte por palavras selecionadas; na realidade, seu medo é cem vezes maior que do mais medroso entre nós. Conviria instituir ele uma escola para covardes.

  1. Outra coisa seria caso aceitasse a luta contra um leão diante de seus alunos, vencendo-o pela força e agilidade. Seria alvo de ad- miração, despertando a ânsia para enfrentarem luta idêntica. Positi- va-se deste modo que somente o espírito vivifica; a letra oca, porém, mata. O que já é morto não pode vivificar; apenas o espírito mani- festo pela ação eficiente transmite vida.

  2. Afirmo-vos não entrar no Reino de Deus quem Me disser: Senhor, Senhor!, e sim somente aqueles que fizerem a Vontade de Deus no Céu! Não basta acreditar-se ser Eu Cristo, o Ungido de Deus; ele terá que aplicar o que Eu ensinei, do contrário a fé não tem valor; pois sem ações, a fé mais convicta é morta e não dá a vida eterna à alma. — Lembrai-vos disto e agi de acordo, que vivereis!” Ninguém mais faz perguntas, pois todos têm muito que meditar.

164.POSIÇÃODELÁZAROQUANTOAO TEMPLO.

OABORRECIMENTOESEUSEFEITOS PREJUDICIAIS

  1. Entrementes, dirijo-Me para fora em companhia de Láza- ro e suas irmãs. Ao chegarmos no pátio, os cães correm com forte latido para o portão, sentindo a aproximação de estranhos. Lázaro Me pergunta qual o motivo da agitação dos animais. E Eu lhe digo: “Alguns judeus e fariseus, idosos, estão chegando sob o pretexto de te visitar; o motivo verdadeiro se prende a Mim, pois querem saber se aqui estou ou se já Me dirigi alhures. Os cães percebem instinti- vamente não serem esses homens nossos amigos, por isto se atiram contra a entrada.”

  2. Assim, seguimos os animais e já de longe percebemos um grupo de pessoas que prontamente é recebido pelos cães. Os homens dão meia volta e debandam quais loucos, perseguidos pelos vigias de Lázaro.

  3. Quando, mais distantes, notam a desistência dos mesmos, eles caminham devagar, recriminando a atitude de Lázaro de se fa- zer vigiar por animais tão ferozes, a fim de livrar-se de visitas de templários; conviria ele não levar ao extremo a paciência deles, pois

do contrário passaria mal. Essas e outras conjecturas fazem a cami- nho de Jerusalém; nada relatam do caso, envergonhados pela fuga. Assim informado, Lázaro pergunta o que poderia temer em caso de excessos.

  1. Digo Eu: “Nada; tens a teu favor a legislação romana, su- ficiente, em virtude de essas tuas propriedades se encontrarem há mais de cinquenta anos no poder exclusivo de Roma. Não fosse isso, teus inimigos teriam tomado outras medidas. Tentam apenas explo- rar-te como judeu e te fazem ameaças infundadas; na realidade nada podem fazer. Sempre cumpriste tuas obrigações, não lhes dando motivo para queixa. Eis a razão de seu ódio tremendo.

  2. Sabem perfeitamente seres o mais rico cidadão de toda Ju- deia, pois tuas terras alcançam o tamanho de um pequeno estado, todas elas sob a proteção romana. Assim, eles não têm direito de exigir-te impostos — outro motivo de ódio. Querem convencer-te da separação de Roma, para então te confessares súdito do Templo. Como não o fazes, não obstante sua grande insistência, importu- nam-te por toda parte, instigam teus empregados e te prejudicam ora aqui, ora acolá. A partir de agora estarás seguro; portanto, po- dem intimamente sentir o pior ódio contra ti, que nada adianta!”

  3. Diz Lázaro: “Senhor, agradeço-Te por esse esclarecimento! Sinto grande conforto e respiro com maior liberdade; entretanto, não é agradável eu chegar à conclusão de ter feito tudo que se me exige, ainda que sob o manto da justiça; além disto, fiz de espon- tânea vontade atos caritativos — e em compensação, recebo o ódio dos templários! Isto é demais, Senhor!

  4. Esses miseráveis tudo querem para si e não consideram que eu cuido anualmente de, no mínimo, mil pobres, a fim de poupar as despesas do Templo pela manutenção obrigatória dos necessitados, e além disto contribuo com importante soma em dinheiro. Muitos donativos vultosos fiz ao sinédrio — e isto nada representa! Pelo contrário, procuram arruinar-me, o que fariam, ainda que num sá- bado! Sei, Senhor, que nada poderão me infligir; porém, aborreço-

-me de seu ódio quando lhes fiz tantos favores!”

  1. Respondo: “E Eu?! Não fiz a Terra, Sol, Lua e todas as es- trelas?! Não estou cuidando para que o orbe produza alimento para todos os seres?! Não conservo a vida de cada um?! Determinei este planeta para aprendizagem de Meus filhos, vim Pessoalmente, em virtude de todas as profecias, para revelar-Me pela Palavra e Ação como Senhor de Céus e Terra, a fim de demonstrar-lhes serem re- almente Minha Imagem. E que fazem esses tipos do Templo? Eles Me odeiam e perseguem, inclusive aquele que crê em Mim, somente porque lhes demonstro serem más suas ações. Constantemente pro- curam matar-Me e breve virá o tempo em que Eu Mesmo permitirei a realização deste crime. Vê, não sinto a menor vibração de raiva contra eles! No Além, continuarei a ser eternamente o Senhor, e não lhes será perdoado o que aqui fazem!

  2. Eu, o Primeiro e Maior Benfeitor das criaturas, não Me abor- recendo, também não o deves fazer, que em comparação a Mim, mui pouco fizeste! Vê esta pedra no caminho! Quem a conserva como é? Se neste momento sustar Minha Vontade que a mantém, ela deixa de existir como matéria; retrai-se ao seu estado específico para a esfera de Minhas Ideias básicas, e o mesmo poderia fazer com a Terra toda, caso as atitudes de seus habitantes Me aborrecessem. Isto não sendo possível, tudo continua existindo e Eu deixo irradiar o Meu Sol sobre bons e maus, justos e injustos. Só no Além se apresentarão as grandes diferenciações, levando cada um seu próprio juiz dentro de si.

  3. Se pretendes estar eternamente Comigo no Além, deves igual a Mim jamais aborrecer-te com quem quer que seja. Quem Me seguir terá que fazê-lo na íntegra; do contrário, não será Meu discípulo perfeito.

  4. Além do mais, acrescento ser o aborrecimento prejudicial à saúde; provoca excesso de bile que intoxica o sangue, pondo em risco a vida humana a cada instante. Preserva-te, principalmente, de grandes aborrecimentos, posto que arriscarias tua vida! Lembra-te disto — e não necessitarás temer moléstia alguma!”

165.INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS E O LIVRE ARBÍTRIO.DESTINODASALMASDE IRRACIONAIS

  1. Diz Lázaro: “Compreendo-o perfeitamente, Senhor; entre- tanto, não posso garantir eu não me aborrecer em semelhantes oca- siões, ainda que movido da melhor boa vontade. Tal tendência já se me tornou segunda natureza; não suporto injustiça.

  2. É realmente estranho: todo homem sabe ser preciso morrer e deixar os bens terrenos; conhece as Leis da Ordem e Vontade Divi- nas; é dotado de inteligência e raciocínio, a fim de discernir entre o falso e o verdadeiro, o bem e o mal, a justiça e a injustiça, a noite e o dia; sabe — através de revelações e às vezes por experiência própria

  1. Agindo dessa forma dentro do livre arbítrio, é o homem pior do que Satanás e seus companheiros; se é movido dum espírito mau a assim agir, como aconteceu a Saul, impedindo-o de fazer o bem, muito embora o reconhecesse, é ele inocente, cabendo a culpa ao sedutor e em parte — para falar sinceramente — Àquele que per- mite tal influência. Pois fácil é defender-se contra um inimigo de- clarado; quem poderia proteger-se de um adversário invisível, que sem dificuldade pudesse penetrar na criatura e algemar sua vonta- de?! Senhor, tais ocorrências são tão estranhas que impossibilitam compreensão, até mesmo de pessoa bem intencionada e inteligente!

  2. Alguém praticando o mal sem coação estranha, considero-o pecador detestável e merece ser expulso de todo convívio; mas quem poderia condenar uma criatura tentada pelo demônio?! Seria o mes- mo querer castigar quem tivesse contraído moléstia.”

  1. Digo Eu: “Caro irmão, teu critério nesse assunto tem muitos pontos a teu favor; todavia, a situação é bem diversa, de sorte que não poderás sustentar tua opinião.

  2. Num planeta destinado a educar os homens para filhos per- feitos de Deus, devem eles, além do livre arbítrio e a inteligência mais lúcida, respeitar e praticar as Leis de Deus, as quais expressam a Vontade Divina. Como seria isto possível caso não existisse dentro deles a grande tentação ao não cumprimento das Leis?!

  3. Justamente tal tentação contrária cria para a vontade do ho- mem a independência perfeita e lhe dá igualmente a força plena para resistir à fraqueza, suplantando-a pela Vontade Divina.

  4. Afirmo-te: uma criatura que não possuir a capacidade ple- na de se tornar demônio perfeito jamais evoluirá como filho, idên- tico a Deus.

  5. Porventura perduraria o Espaço Infinito caso existisse a me- nor limitação, ou seria Deus Onipotente se Lhe fosse impossível criar algo diminutíssimo?! Acaso perde Ele alguma coisa de Divino pelo fato de ter criado as ervas curadoras ao lado das plantas ve- nenosas, e por ter deixado a semente nas ervas daninhas para que pudessem progredir como as outras?!

  6. Assim como em Deus Mesmo não pode haver restrição de espécie alguma — tanto para cima quanto para baixo — não pode existir limite de ação para o homem destinado a se tornar verdadeiro filho de Deus; com a menor restrição — para a evolução ou involução

  1. De uma só alma animal jamais poderá surgir alma humana; por isto se diz que aquela morre junto com o corpo. Isto deve-se entender da seguinte forma: após a morte de um boi, por exemplo, sua alma deixa de ser boi, porque se reúne com muitas outras para completar uma nova, mais perfeita, e após certo tempo se qualifica para uma psique humana, podendo encarnar em um físico humano.

Tal conhecimento é antigo; foi comum entre os patriarcas e hoje em dia ainda o é nos habitantes da Índia setentrional.

  1. Inútil é prosseguir nesse assunto, pois basta ao homem se reconhecer como tal, aceitando Deus como Criador, Benfeitor e fi- nalmente seu Pai, unicamente Verdadeiro, ao Qual deve se tornar idêntico em espírito, e também o pode tão logo o queira. Compre- endeste isto tudo?”

  2. Responde Lázaro: “Sim, Senhor e Mestre de Eternidades!

  1. Digo Eu: “Pois não! Não precisas transmitir aos discípulos o que ora discutimos, pois já têm bastante conhecimento a respeito. Durante a noite surgirá pequeno acontecimento, mas não te assustes por ser inofensivo.”

166.NATUREZA DOS METEOROS E COMETAS

  1. A poucos passos distantes da casa, um enorme meteoro, vin- do do Norte, passa por cima de nós numa velocidade tamanha que necessita apenas de alguns momentos para correr de um ponto a outro do horizonte. Lázaro, um tanto supersticioso, diz agitado: “Senhor, isto é mau sinal!”

  2. Respondo Eu: “Como?”

  3. Diz ele: “Uma lenda antiga explica tais fenômenos do seguin- te modo: Se em qualquer ponto da Terra morre um malfeitor, sua alma é agarrada por sete demônios, impelindo-a pelo Espaço. Seu pavor e sofrimento são tamanhos que suporta tudo, e como perten- ce ao inferno mais tenebroso, o rompimento de suas inclinações se apresenta qual fogo. Tal detrito demoníaco e infernal torna pestilen- to o ar, e quando cai por terra, as desgraças se revezam e são precisas muitas oferendas e preces para purificar tal mancha no solo. — As- sim soa a lenda. Não a considero verdade; entretanto, não é fácil a pessoa se desfazer de certas coisas assimiladas pelo leite materno, como se diz! Senhor, o que há de real neste fenômeno?”

  1. Respondo: “Não há o menor vestígio de verdade nessa lenda; o fato em si é real, do contrário não surgiria. Presta atenção, que darei uma explicação prática.

  2. Eis uma pedra! Se alguém fosse capaz de atirá-la com tama- nha violência que em um minuto ela voasse cem horas, o forte atrito atmosférico faria com que ela se tornasse incandescente qual aço líquido. O próprio ar cortado pela pedra inflamar-se-ia, formando uma cauda luminosa, mas que em breve esfriaria, desaparecendo conforme viste nesse meteoro. Tal cauda não é o detrito de uma alma nas garras dum demônio, e sim o ar aquecido pela velocidade da pedra. A fim de que o possas compreender melhor, tomo esta pedra e através do Poder de Minha Vontade a farei girar numa velo- cidade enorme e, em seguida, a conduzirei para cá; assim poderás te livrar da superstição infantil.”

  3. Tomo, pois, a pedra de dez libras, faço-a girar rapidamente pelo ar, dando-lhe maior brilho do que o produzido pelo meteoro verdadeiro, e quando cai aos nossos pés está tão incandescente qual aço derretido, emanando calor quase insuportável. Um pedaço de pau atirado em cima queima imediatamente.

  4. Em seguida, viro-Me para Lázaro, estonteado: “Eis, Meu ir- mão, a alma perversa e presa de sete demônios! Em poucas horas estará fria. Acaso teu intelecto jamais te disse ter o sacerdócio, em to- das as épocas, aproveitado em seu benefício os fenômenos extraordi- nários da Natureza?! Eclipses lunares e solares, cometas, tempestades devastadoras, aparições luminosas no ar etc., ele procurava explicar como maus sinais do Céu, organizando prontamente oferendas e preces. Isto já se ensinava às crianças, e quando surgia qualquer caso excepcional, o povo amedrontado consultava os sacerdotes, que in- ventavam o que lhes agradava. Percebes a trama?”

  5. Responde Lázaro: “Agora, sim; anteriormente não me passou pela cabeça. Agradeço-Te, Senhor, pois sei o que esperar desses mistifi- cadores. E os cometas — não são realmente anunciadores das guerras?”

  6. Digo Eu: “Sim e não! Sim, porque o povo nisto acredita, e os anjos escolhem sinal tão inocente para demonstrar aos homens

abusados a permissão de um julgamento. Se eles renovarem sua fé e fizerem penitência, o cometa não será seguido de guerra; não se regenerando, ele virá como precursor de males maiores. Os cometas em si nada mais são que planetas futuros, no que evoluem suces- sivamente dentro do Plano Divino — e não como anunciadores de guerra.

  1. Admites Deus também poder criar um mundo momenta- neamente. Em tal caso, porém, não haveria ordem em Deus, tam- pouco em uma criação projetada de tal forma. Ele só cria mundos dentro de Sua Ordem, surgindo tudo sucessivamente, formando-se uma unidade da multiplicidade dos Pensamentos e Ideias Divinas.

  2. Tal cometa representa um grande julgamento para certos espíritos, que pouco a pouco são obrigados a se consolidar, até final- mente formarem uma massa multicor, dentro de Espaço e Tempo. A formação da matéria, visível e concreta, se chama o envoltório de potências espirituais, de certo modo o julgamento do qual, em épo- cas extensas, os espíritos presos na matéria podem alcançar sua inde- pendência vital. Por serem os cometas julgamentos em formação, sua influência é de acordo, durante sua aproximação de um planeta de há muito criado; ou é pelos anjos de Deus aproveitado para tal fim, despertando um julgamento, mormente pela instigação das criaturas entre si — isto é, quando se esquecem de Deus, julgando-se elas mes- mas divinas. Já sabes, pois, o que pensar dos cometas e podemo-nos afastar daqui. Terias, talvez, mais uma pergunta a fazer?”

  3. Responde ele: “Senhor, apenas mais duas explicações para completar meu conhecimento: Primeiro, onde se originam os me- teoros e quem os atira com tamanha violência no ar; segundo, para onde vão ao se tornarem invisíveis?”

  4. Digo Eu: “Os meteoros têm duas causas: podem ser efeito de explosão solar, pois o Sol é milhão de vezes maior do que a Terra e em sua superfície sucedem, às vezes, erupções mais violentas do que no orbe. Em tal ocasião é atirada ao Espaço grande quantidade de massas soltas e concretas, grandes e pequenas, numa violência inimaginável para ti, e algumas também se aproximam da Terra. Tão

logo entrem na região atmosférica, tornam-se luminosas e visíveis como estrelas cadentes. Chocando-se com a camada mais compacta do ar, sua velocidade é barrada e atraída à Terra pelo peso de sua matéria, caindo automaticamente no solo, seco ou úmido — este em muito maior extensão neste planeta.

  1. Eis a espécie mais frequente dos meteoros surgidos no pla- neta Terra. Outra, mais rara, conforme acabamos de assistir, forma-

-se na própria Terra. Nas extensas cordilheiras existem montanhas em ligação com o interior do planeta, através de certos órgãos, enor- mes, dos quais recebem alimento que, paulatinamente, alcança uma fermentação violenta. Ela preenche os vácuos colossais com gases in- cendiáveis, quando imprensados. Tão logo se inflamam, destroem as partes menos sólidas das montanhas e, quais massas incandescentes, rompem-nas, atirando bólides soltos com a correspondente violên- cia, em qualquer direção, às vezes a centenas de horas de distância. Lá caem por terra, sem o menor dano para ela.

  1. Nas proximidades de um vulcão é comum a observação de tais fenômenos. Aqui só chegam meteoros do Cáucaso, casualmente expelidos nessa direção. Além disto, tinham que se encontrar em estado incandescente no momento da explosão, pela qual venceram o ar obstrutivo através do voo rápido, imediatamente se tornando mais leve.

  2. Expliquei o assunto de modo racional; não te posso fornecer orientação espiritual, porquanto não a entenderias; quando espargir sobre vós o Espírito Santo, Ele vos levará à Sabedoria total. Agora está em tempo de entrarmos, pois tuas irmãs estão nos chamando!”

  1. Respondo: “Aquilo que vós não fizestes; foi de maior im- portância do que a discussão acerca da personalidade, efetiva ou não, de Beelzebub.”

167.LÁZAROSETORNAPROPRIETÁRIODEUMPOÇODE PETRÓLEO

  1. Após terminado o jantar, os discípulos, um a um, começam a ser dominados pelo sono; por isto lhes digo: “Então não sois capazes de vos privar do sono por algum tempo?”

  2. Diz Pedro: “Também não sei explicar por que precisamente após a refeição o sono nos domina, quando durante o dia quase nada fizemos!”

  3. Respondo Eu: “Sede constantemente ativos em Meu Nome, que a sonolência desaparecerá!” Enquanto assim falo, ouve-se um forte estrondo como se um raio tivesse caído por perto. As pare- des estremecem e a porta se abre fazendo movimento oscilante. De pronto, o sono dos discípulos desaparece e todos querem ver o que houve.

  4. Eu os retenho, dizendo: “Não é aconselhável sair! Existe pró- ximo daqui uma fonte de nafta, bem profunda. Em cima da fonte há um grande vácuo, fechado por todos os lados. Na parte inferior é quase incandescente, devido a um veio de fogo que se encontra perto, razão por que no vácuo o calor é fortíssimo. Este faz com que evapore o líquido infiltrado, preenchendo tudo com cheiro de nafta. Quando a evaporação não ocorre com muita violência, o va- por é absorvido pelas pedras. As paredes vez por outra se tornando mais quentes, produzem maior evaporação do óleo, sucedendo pro- vocar grande vibração que facilmente se incendeia pela pressão e pelo atrito.

  5. E vede, tal ato incendiável provocado pelos elementos da Na- tureza acaba de ocorrer e teve seu benefício; pois estourou a camada de espessura de vinte homens e tu, Lázaro, te tornaste proprietário de um grande estoque de nafta. A explosão da grota foi tão feliz, que facilmente poderás chegar à própria mina e, com pouco esforço, colherás diariamente cem libras de óleo.

  6. Já sabes a grande procura e utilidade deste produto, e assim obtiveste uma nova fonte de renda de milhares de libras de ouro e

prata. Pessoas tão caridosas como tu devem ser ricas o mais possí- vel para se tornarem verdadeiros sustentáculos dos fracos e pobres. Amanhã demonstrar-te-ei tudo; hoje não seria aconselhável chegar às proximidades, pois o forte vapor é prejudicial à saúde.”

  1. Diz Lázaro: “Senhor, eis outra Obra de Tua Onipotência! Pois meus ascendentes nunca souberam acerca de nafta nessas terras. Em noites mui quentes sentia-se um ligeiro odor de óleo, presumindo-se sua origem de Jerusalém; lá se queima óleo em grande quantidade, provindo geralmente da Pérsia e Arábia, por preços elevados. Jamais teria suposto encontrar-se em meu terreno fonte tão rara! Só posso, Senhor, agradecer em nome dos pobres, que serão aqui acolhidos!”

  2. Digo Eu: “Sei usares teus tesouros materiais de acordo com a Vontade de Deus; como tu e tuas irmãs não tendes prole, teus primos serão os futuros herdeiros. Trata de ensiná-los a palmilhar as tuas pe- gadas; pois caminhando pelas veredas do seu ‘eu’, os bens lhes serão ti- rados e entregues aos gentios, enquanto eles mesmos cairão na mendi- cância. — Chegou a hora de repouso; vamos dar descanso ao corpo!”

168.LÁZAROEOSESPIÕESDO TEMPLO

  1. De manhã cedo, todos são despertados pelo forte latir dos sete cães, e Lázaro se dirige para fora com seus empregados para ver o motivo. Eis que depara com grande número de pessoas, de am- bos os sexos, cercado na entrada pelos animais, de tal forma a não poderem dar um passo. Ao avistarem Lázaro, pedem-lhe ajuda e ele chama os cães e pergunta à multidão qual seu desejo àquela hora.

  2. Um jovem levita fala em nome de todos, dizendo: “Amigo, ouvimos durante a noite uma forte explosão e vimos para saber de ti a causa. E quando aqui chegamos, essas bestas furiosas nos rece- bem como se quisessem nos estraçalhar! Para que tantos cães? Deste modo, ninguém se atreverá a se aproximar de tua casa hospitaleira!”

  3. Diz Lázaro: “Em a Natureza os acontecimentos excepcionais são constantes — por que não havia de se dar uma explosão? Ide à Sicília, lá são comuns! Também ouvimos o estrondo e nos assustamos;

entretanto, não fomos averiguar a causa! Sou de opinião que aqui vies- tes por outra razão, por isto os vigias vos receberam de tal modo!”

  1. Todos quedam perplexos e um dentre eles diz à meia voz: “Nada mais se consegue neste mundo, pois os homens leem até mes- mo os pensamentos alheios!”

  2. Lázaro, que havia ouvido tais palavras, diz: “Tens razão, os homens chegaram a ponto de predizer com quase certeza o que su- cederá contigo em dez anos; por isto pergunto-vos mais uma vez, por que viestes aqui tão cedo? Queríeis apenas espionar quem se acha em minha casa! E isto, hoje, num feriado importante, a fim de que advogásseis uma questão contra mim! Sabendo há muito de vossas intenções inescrupulosas, eu, cidadão romano, apliquei um forte trinco na minha porta. Como judeu, cumprirei todas as mi- nhas obrigações, somente, porém, as prescritas por Moysés! O resto não me interessa, compreendestes?

  3. Voltai ao Templo e transmiti isto aos chefes! E dizei mais: ai do templário que se atrever a visitar-me com intenções inamistosas. Deixo todos em paz e dou a todos o que lhes compete. O ladrão e salteador reclama o que pertence ao próximo. E tal pessoa — ain- da que sacerdote — é meu adversário e não pode vir à minha casa enquanto eu viver! Agora afastai-vos, do contrário soltarei meus vi- gias!” Todos se calam e encetam o caminho de volta. Ao chegarem no Templo são inquiridos sobre o resultado da investigação.

  4. Respondem os levitas: “Nada mais se consegue, não obstante toda perspicácia! Se vós não quereis acreditá-lo, ide lá pessoalmente e deixai-vos estraçalhar pelas feras! São de tal forma ensinadas, que sentem os pensamentos mais escondidos!”

  5. Os chefes se enchem de raiva e dizem entre si: “Eis a ação do galileu! Se não conseguirmos liquidá-lo, seduzirá o povo e podemos procurar outra profissão! Caso hoje vier à festa, tudo deverá ser feito para seu extermínio!”

  6. Diz o levita: “Desisti dessa intenção! Não está a seu favor mais do que a metade da plebe? Acaso conheceis seu poder ilimi- tado?! Perscruta vossos pensamentos antes de os terdes projetado!”

  1. Diz um chefe: “Que poderá fazer? Sua força é de Beelzebub!”

  2. Diz o levita: “Levai a Arca, munidos da vara de Aaron — e as feras vos esclarecerão acerca de Beelzebub! Ele virá e doutrinará à vossa frente e nada conseguireis. Por várias vezes o galileu aqui dou- trinou abertamente; que alcançastes com todo ódio?!”

  3. Diz um superior: “Porventura também sois seduzidos por ele como o povo, que por isto está amaldiçoado?”

  4. Responde o outro: “Por certo que não; entretanto, tenho bom senso de sobra para ver o que é possível ou não! Quantas vezes suas testemunhas nos relataram a respeito do poder do galileu! Pre- tendendo desafiá-lo, ver-se-á no final quem levará a pior, conforme aconteceu hoje em Bethânia.”

  5. Diz o chefe: “O futuro demonstrá-lo-á!” Com isso os maiorais do Templo se acalmam, e Eu posso Me movimentar mais livremente.

169.REFERÊNCIADOSENHORQUANTOÀSUA CRUCIFIXÃO

  1. Ao voltar a casa, onde o desjejum já está na mesa, Lázaro nos quer relatar o acontecimento havido. Eu o impeço, dizendo: “Sei de tudo e transmiti aos discípulos tua arenga com os espiões, inclusive a palestra entre o levita e o chefe do Templo, cujo efeito vem a pro- pósito, portanto foi ótimo ter acontecido pela manhã. Agora vamos a Jerusalém, pois hoje, último dia das comemorações, geralmente efetuado com a maior pompa e atração popular, apresentar-Me-ei no Templo para doutrinar!”

  2. Manifesta-se Nathanael: “Senhor, isto provocará grande rea- ção e desejava voltarmos ilesos de lá!”

  3. Digo Eu: “Preocupa-te com outra coisa; passareis ilesos até mesmo quando Eu estiver na cruz, entre dois malfeitores!”

  4. Exclama Lázaro: “O quê...? Serás pregado à cruz, Senhor?! Antes que tal suceda, mandarei atear fogo no Templo e todos aque- les malfeitores serão reduzidos a cinzas!”

  1. Digo Eu: “Não te alteres, Meu irmão! Pois se o homem deve chegar à plena semelhança divina, seu livre arbítrio tem que ser res- peitado até o Infinito, a ponto de ele poder vilipendiar Deus, seu Criador, através de sua obstinação. Como já disse: a criatura não tendo capacidade de se tornar demônio perfeito, também não terá meios para a semelhança divina.

  2. Tem, portanto, a livre vontade advinda pelo conhecimento das Leis. Qual seria a utilidade do livre arbítrio e mandamentos caso o homem não sentisse a tentação de infringi-los tão logo o queira?! Isento de tal fraqueza, seria ele nada mais que animal, obrigado a agir de acordo com seu instinto, ou seja, a lei de coação.

  3. À alma do homem não foi dado imperativo categórico, e sim um mandamento espiritual sob a expressão do dever. Deste modo é o homem independente no desejo e atitude e pode até mesmo aten- tar contra o Meu Corpo, Portador do Meu Espírito, agora e sempre.

  4. Digo-te isto apenas para não te surpreenderes quando tal su- ceder a Mim — ainda assim, inteiramente inútil à má intenção dos homens; pois no terceiro dia estarei entre vós, tão Perfeito como ago- ra. Em seguida, porém, virá o grande julgamento para a corja tem- plária e seus afins. Assim informados, sede alegres e acompanhai-Me a Jerusalém!”

170.OSENHORDOUTRINANOTEMPLO(EV.JOÃO7, 37–49)

  1. Ao entrarmos no Templo, os discípulos se mantêm na re- taguarda e se misturam entre o povo para saber da opinião quanto à Minha Pessoa. Entrementes, subo a um ponto mais elevado, no centro, e Me dirijo à multidão com as seguintes palavras: “Quem ti- ver sede, que venha a Mim!” Apresentam-se alguns judeus, dizendo: “Onde está tua bebida?”

  2. Respondo: “Quem crê em Mim, como diz a Escritura, ver- terá rios de água viva!” Eles se entreolham e conjecturam acerca do sentido, pois ignoram Eu falar apenas do Espírito recebido por

aqueles que acreditam em Mim. Como já havia afirmado, o Espírito Santo existia somente em Mim, antes de Minha Glorificação.

  1. Muitos entre a multidão, que tinham ouvido Minhas Pala- vras, dizem: “Este galileu fala como verdadeiro profeta, portanto o é!” Outros, conhecedores de Meus Atos, interrompem: “Qual nada! Ele é Cristo, o Messias Prometido! Pois nem Deus poderia fazer coi- sa mais deslumbrante que Ele!” Outros, ainda, perguntam: “Acaso o Cristo viria da Galileia?! Não diz a Escritura: Cristo será descenden- te de David e nascerá em Bethlehem onde viveu aquele?!”

  2. Respondem alguns, orientados de Minha Descendência: “Se tal for vossa exigência, ficai plenamente satisfeitos! Primeiro, é Ele filho de José, conhecido carpinteiro em Nazareth, e de Maria, filha de Joaquim e Anna, da estirpe de David. Além do mais, é do conhecimento geral ter Ele nascido em uma manjedoura em Be- thlehem, por ocasião do recenseamento motivado pelo Imperador Augustus, e circuncidado por Simeon oito dias depois, receben- do o Nome de Jesus. Assim sendo — por que duvidar ser Ele o Cristo?” Deste modo surgem divergências entre o povo quanto à Minha Pessoa.

  3. Vários amigos dos fariseus são por eles instigados a Me pren- derem, pois não suportam a veneração feita a Mim. Eis que se apro- ximam para pôr mãos em Mim; quando perto, perdem a coragem de Me tocar. Os templários ordenam aos subalternos de Me alge- marem; mas também estes param diante de Mim e assistem à ex- plicação dos Mandamentos de Deus e do Amor, conforme já dera anteriormente. Percebendo a atenção do povo crente em Mim, os empregados do Templo não se arriscam a Me tocar.

  4. Quando faço uma pequena pausa, eles voltam para perto dos fariseus, que esbravejam: “Por que não o trouxestes? Não vedes estar ele interrompendo o ápice dos festejos, e além disto afasta de nós a plebe?!”

  5. Respondem eles: “Nunca homem algum falou tão sabiamen- te quanto este galileu! Deve ser inspirado por Deus!”

  1. Respondem eles: “Acaso também já fostes seduzidos por ele? Teria algum fariseu ou chefe crido nele?! Não! Somente o povo igno- rante, que nada sabe da Lei, portanto é amaldiçoado!”

  2. Respondem os empregados: “Já vos informamos da situa- ção do povo, por vós amaldiçoado! Não estando satisfeitos por isto, transmiti-lhe pessoalmente sua situação perante o Templo — e ve- reis sua resposta! Pretendeis excomungar aqueles de fé diversa, sem analisar se a crença alheia não é melhor que a nossa! Como simples servos, achamo-lo injusto; pois enquanto Deus não julga nem con- dena um homem, os mortais não deveriam anteceder-Lhe, como se fossem mais sábios que o Onipotente. Experimentai amaldiçoar a crença dos romanos, abertamente, que vos dirão seu parecer a vosso respeito!”

  3. Dizem os fariseus: “Afastai-vos; sois todos iludidos!”

  4. Respondem eles: “Sois culpados por não saberdes ensinar melhor a multidão! Por certo não exigireis nosso respeito perante vossos ‘milagres’, realizados por nós mesmos?! Entretanto, foram eles o único meio de impor obediência à plebe, pois vossas prédi- cas antimosaicas nem se prestam para os mais tolos! Não procureis reagir contra nós, do contrário denunciaremos vossas fraudes!” Os fariseus modificam sua atitude, enquanto os servos se afastam.

171.NICODEMUSEOSFARISEUS(EV.JOÃO7, 50–53)

  1. Em seguida, os fariseus se dirigem a Nicodemus — homem de vasta cultura que, por ocasião da Minha primeira apresentação em Jerusalém, em companhia dos doze apóstolos, procurou-Me à noite, compenetrado de Minha Doutrina — a fim de pedir orien- tação no caso. E o reitor lhes responde: “Alteraste-vos com a reação dos subalternos; entretanto, sou obrigado a confessar terem eles ra- zão. Analisai vós mesmos se existe lei que mande condenar alguém antes de ouvi-lo e saber se algo de reprovável foi feito?! Desconheço tal lei, embora seja escriba!”

  1. Dizem eles: “Não resta dúvida seres um dos primeiros, portan- to reitor; todavia, és galileu e amigo do carpinteiro. Podes igualmente analisar as Escrituras, onde consta não surgir profeta da Galileia!”

  2. Retruca Nicodemus, sorrindo: “Não é preciso dar-me tal conselho, pois conheço a Bíblia do Alpha ao Ômega. Chamo vossa atenção para o protocolo da circuncisão do ano em que foi feito o primeiro recenseamento de César Augusto; lá descobrireis ter aquele galileu nascido em Bethlehem, antiga cidade de David, descenden- do seus pais diretamente daquele rei.

  3. Não se aplica, pois, vossa objeção a ele; além do mais, lê-se na Escritura: todo judeu pertence ao local de nascimento e circuncisão, e compete à Comunidade cuidar dele quando idoso e incapacitado para o trabalho. Um pagão recebe sua cidadania onde foi circunci- dado e registrado para o judaísmo, e deve ser considerado membro efetivo da Comunidade.

  4. Vede, amigos, não nos sendo possível sustar essa lei e estando patenteado pelo protocolo que esse Doutrinador não é galileu, o povo não está errado em considerá-lo profeta!”

  5. Opinam os templários: “Em tal caso, deveríamos dar sumiço aos protocolos, como medida de precaução!”

  6. Responde Nicodemus: “Sim, com os que se acham em nos- sos arquivos — entretanto, não seria possível fazê-lo aos que estão arquivados em Roma! Lá são revalidados anualmente com muito rigor, e ai de nós se encontram alguma alteração ou falta!”

  7. Não tendo argumentos, os fariseus se dirigem aos lares; en- quanto essa cena ocorre, fielmente relatada, doutrino o povo e lhe demonstro, sem rodeios, a incrível mistificação dos templários. E não há um que tome a defesa deles e todos Me pedem voltar no dia seguinte para confortá-los com palavras sinceras. Alguns se expres- sam da seguinte forma: “Mestre, agradecemos-Te por essa Dádiva Divina; de há muito ansiávamos por ela e agora acabas de saciar a nossa sede, de modo tal a jamais podermos sentir carência! És em verdade Descendente de David e o Ungido de Deus!” Olhan- do a todos com muito carinho, prometo voltar ao Templo no dia

seguinte e transmitir maiores conhecimentos, pelo que Me agrade- cem antecipadamente. Em seguida, Me afasto com os Meus discí- pulos e Lázaro.

172.OSENHORNOMONTEDASOLIVEIRAS(EV.JOÃO8, 1)

  1. Quando afastados do Templo, Meus acompanhantes inda- gam: “Que faremos agora?!” E Lázaro se dirige pessoalmente a Mim nesse sentido. Respondo-lhe: “Podes fazer o que quiseres; Eu não poderia seguir para Bethânia, pois os templários postaram espiões no caminho, para saber se Me encontro contigo. Para evitar maiores aborrecimentos, pretendo passar o dia e a noite no Monte das Oli- veiras, em um albergue bastante pobre.”

  2. Diz Lázaro: “Isto é ótimo, pois metade do Monte, inclusi- ve o albergue, me pertencem. Há três anos atrás o último era bem frequentado; após uns conflitos com o Templo, os frequentadores diminuíram, porque os fariseus alegam ser pecado visitar minha hospedaria. Parece motivar-se no fato de ter eu entregue também essa propriedade à jurisprudência romana, quando os templários se esforçavam em consegui-la de mim. A hospedaria é procurada apenas pelos romanos e gregos; entretanto, é munida de tudo, e além disto descortina-se um panorama magnífico sobre Jerusalém e adjacências!”

  3. Digo Eu: “Caro irmão, sei disto; razão por que planejei pas- sar lá, onde estaremos seguros contra os judeus.” Plenamente sa- tisfeitos, todos Me seguem ao Monte. Lázaro vai à frente, a fim de mandar preparar algo, e tudo é posto em movimento para um al- moço festivo.

  4. Entrementes, subimos com vagar o Monte das Oliveiras, as- sim chamado devido ao cultivo desse gênero de oleáceas. A maior parte pertence a Lázaro; a outra parte, voltada para a cidade e mais rochosa, é posse de um grego que pouca importância lhe dá, deixan- do a Lázaro a colheita de óleos, mediante algumas moedas de prata, tornando-se este igualmente proprietário da metade desses bens.

  1. O Monte não é muito elevado; tem apenas alguns pontos íngremes e é preciso dispender meia hora para se chegar ao cume. O templo é situado numa elevação e apresenta uma construção bas- tante alta; em suma, nas proximidades de Jerusalém o Monte das Oliveiras é o mais elevado.

  2. Dentro em pouco, seguimos Lázaro e nos acampamos ao re- dor do albergue, fazendo observações sobre a zona até que Lázaro nos chama. Entramos no refeitório, bem espaçoso, onde cem pes- soas facilmente se acomodariam. A mesa está repleta de pão, vinho, frutas especiais e nas travessas oito peixes, aromaticamente prepara- dos e pescados no Jordão e Cidron, aguçando o apetite.

  3. Ninguém se faz de rogado e Lázaro se alegra sobremaneira com Minha boa disposição. Eis que lhe digo: “Amigo, estás con- tente com Meu apetite; entretanto, acredita-Me ter tido o desje- jum no Templo sabor melhor, pois fiz uma grande colheita para o Céu. A de amanhã não será tão grande. Será Meu o que hoje con- quistei; amanhã não haverá grande acréscimo. A corja negra Me tentará — em compensação será exposta ao povo sua depravação! Terminemos a refeição para irmos lá fora. Muita coisa ainda vos será demonstrada.”

173.REFLEXÕESDOSENHORÀVISTADE JERUSALÉM

  1. Ao observarmos a cidade com seus palácios suntuosos inun- dados da luz do Sol, Lázaro diz: “Que suntuosidade apresenta essa metrópole! E quanta perversidade precisamente naqueles que deveriam dar bom exemplo! Eis lá embaixo o Templo, para cuja construção o próprio David juntou o material. Seu filho Salomon o construiu a fim de que o povo judaico lá se reunisse em determi- nadas épocas para dar Honras a Deus. Quem, hoje em dia, exige honrarias? Os miseráveis fariseus, escribas e sacerdotes! A antiga e milagrosa Arca da União há vinte e quatro anos se acha no arquivo das relíquias ineficazes, e a nova também não faz efeito! Entretanto, recebe esta maiores oferendas que a antiga.

  1. Por aí se vê como a multidão é trabalhada pelos templários; não acreditam em Deus Único e Verdadeiro, pelo ultraje de Suas Leis dadas a Moysés e aos demais profetas, impondo seus próprios princípios, impossíveis de merecer crédito para criaturas sensatas. Todo mundo geme sob o peso insuportável por parte dos fariseus, entretanto nenhum tem coragem para denunciá-los.

  2. Somente Tu, Senhor, abriste os olhos dos homens para sabe- rem a quantas andam com o sinédrio. De nada adianta, pois fazem atrevidamente o que querem e não há raio que os atinja em cheio! Em vez de aceitar Tua Boa Nova com toda alegria, amaldiçoam aqueles que a aceitam!”

  3. Digo Eu: “Caro irmão, não te alteres demais; já sabes ne- cessitar tudo de tempo determinado nesta Terra, e não ser possível se partir um velho cedro como se faz a uma vara frágil! Vê, ficarei aqui por alguns dias e doutrinarei diariamente no Templo, durante sete dias. Levará benefício quem se converter; os que persistirem em sua teimosia e subsequente maldade perecerão no dia do juízo, que irromperá sobre Jerusalém e todas as criaturas.

  4. Antes desse acontecimento abater todos os ateus, surgirão grandes sinais, no Céu e na Terra. Ainda não será isto o fim e apenas a esperança de que alguém venha a se salvar. E caso os sinais não forem considerados, virá grande atribulação para que as criaturas se convertam a Deus. Se isto também não frutificar, enviarei profetas que tentarão, com voz poderosa qual trombeta, despertar todos os mortos. Os que se deixarem despertar à Luz da Vida ressuscitarão para a Vida Eterna; aqueles que, com tal chamada de Meus men- sageiros, despertarem sua ira e revolta contra Mim e Meu Verbo, ressuscitarão — não para a vida, mas para a morte pelo julgamento, e serão atirados à treva eterna no julgamento, onde existe choro e ranger de dentes.

  5. Todo homem justo deve fugir quando vier o julgamento! Quem se encontrar no cume do conhecimento das Verdades puras e divinas não deve descer para apanhar seu velho paletó (ensino dos fariseus), e sim convém ficar nas alturas luminosas! E quem estiver

no campo do novo desempenho dentro de Minha Doutrina não deve voltar à antiga pátria das cerimônias, fúteis e sem valor, mas permanecer na nova pista, conservando a vida!

  1. Dar-se-á estarem dois homens em uma casa quando vier o julgamento; um será salvo, o outro perecerá. Quem agir pela Minha Doutrina escapará; quem a possuir e agir pelo antigo fermento dos fariseus será aniquilado.

  2. De igual modo haverá dois no campo e dois no moinho; e sempre um será aceito para a vida eterna e o outro deixado no julga- mento. Por isto, precavei-vos do antigo fermento dos fariseus; pois com ele ninguém escapará do julgamento!”

174.PREDIÇÃODOATUAL JULGAMENTO

  1. (O Senhor): “O julgamento de Jerusalém se repetirá quan- do eu exterminar a grande prostituta de Babel e será idêntico ao da época de Noé, de Sodoma e Gomorra. Dar-se-ão grandes sinais sobre a terra, no mar e no Céu, e despertarei servos que por Mim profetizarão a proximidade do grande julgamento. O orgulho dos homens, porém, não lhes prestará ouvidos, nenhum acreditará, ri- dicularizando-os como tolos! Precisamente isto será prova certa do julgamento, cujo fogo dizimará os malfeitores.

  2. Muitos jovens terão visões e muitas moças vaticinarão coisas futuras. Felizes aqueles que se regenerarem com isto! Tal época será facilmente reconhecida, como na primavera irrompem os brotos da figueira.

  3. Haverá guerras isoladas e um povo desafiará outro; a carestia será enorme e aparecerão muitas moléstias pestilentas, como nun- ca as houve. Isto tudo será precedido de grandes terremotos, para despertarem as criaturas à penitência e à caridade. Felizes os que se modificarem por isto!

  4. Muitos, porém, não se perturbarão, atribuindo tais fatos às forças da Natureza. Por causa do Meu Nome vários serão atirados ao cárcere, sendo-lhes proibido, com ameaças, de falar em futuro

julgamento; pois quem não agir a mando da grande prostituta de Babel será perseguido.

  1. Tudo isto se dará perto de setecentos anos antes, a fim de que ninguém venha a dizer não ter sido avisado. A contar de agora, não passarão dois mil anos para se apresentar o grande julgamento e será o último nesta Terra. Só então se estabelecerá o Paraíso sobre a mesma e o lobo habitará com a ovelha comendo numa só vasilha.

  2. Nas proximidades do julgamento se apresentará o sinal do Filho do Homem no Céu, isto é: o Céu na criatura Me reconhecerá como Senhor Único de Céus e Terra, e sua alma Me louvará. Mas ainda não será o aperfeiçoamento do homem. Quando, porém, vier com toda clareza nas nuvens celestes com todas as glórias do Céu, na palavra viva cujo som será idêntico às trombetas de guerra e jul- gamento e no verdadeiro Céu no coração humano — terá chegado o julgamento.

  3. O homem justo entrará em Minha Glória e os malfeitores serão liquidados pelo fogo de Minha Ira Justa, ingressando no in- ferno de suas ações maldosas, preparado para todos os demônios incorrigíveis. Pois quem escolhe o inferno, de livre vontade, será amaldiçoado por ele mesmo! O bem será eternamente o bem, e o mal perdurará sempre o mal, servindo de base condenadora e esca- belo para os Meus Pés.

  4. Eu Mesmo a ninguém condenarei como Deus Eterno; isto será feito pelo Meu Verbo que vos dirigi. Pois quando tiver subido ao Meu Reino, jamais voltarei à Terra em carne, e sim somente em Espírito, e será como foi no início, quer dizer: No Princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e Deus Mesmo era o Verbo. O Ver- bo encarnou e viveu entre as criaturas. Ele, quer dizer, Eu, vim junto dos Meus e eles não Me reconheceram; pois o mundo e a carne deles os havia cegado e emudecido.

  5. Estou entre vós como homem, por isto não vos posso trans- mitir todo poder e força do Meu Espírito. Mas quando estiver entre vós em Espírito, transmitirei todo Poder e Força do Meu Espírito,

que sou Eu Mesmo desde Eternidades. Em Espírito e em Seu Poder, ficarei entre vós até o fim dos tempos desta Terra até que o último espírito condenado dela se tenha libertado. Com este planeta se apa- gará para sempre o berço dos filhos de Deus. A partir daí tudo será julgado espiritualmente.

  1. Já vos falei e demonstrei por diversas vezes o futuro desta Terra. Aguardai com paciência a libertação segura e não desejeis um julgamento mundial antes do tempo. Quando chegar, será cedo para vós e muito mais para aqueles que serão julgados; pois no julga- mento, Amor e Misericórdia se acham afastados, e cada alma será entregue à sua própria ajuda, para que venha a sentir quão inútil foi o socorro temporal das criaturas mundanas. Agora, dizei-Me se compreendestes tudo isto!”

175.DÚVIDASDE LÁZARO

  1. Diz Lázaro: “Sim, entendi-o bem! Mas para falar com sin- ceridade, a História do Gênero Humano tem aspecto tristonho! No fundo, a maioria dos homens não é culpada de sua malda- de, mas sim as circunstâncias de nascimento e educação. O julga- mento se apresenta como ato autoritário e tirânico por parte do Juiz Supremo.

  2. Sei bem que Deus proporciona conhecimento apropriado do bem e do mal — mas quando ocorre isto? A julgar pela minha expe- riência, muitas vezes só depois que a criatura se tiver fundamentado no erro e na maldade, tornando-se inaproveitável qualquer ensino. Se a Humanidade durante séculos fica sem nenhum bafejo direto de Deus, começa a esquecê-Lo, instituindo suas próprias leis imprestá- veis à salvação. Uma vez completamente animalizada, aparecem fra- cas revelações através de pessoas inspiradas. Não tendo efeito, vêm as mais fortes; ninguém se modificando, apresenta-se o julgamento. Senhor, não entendo a razão disto!

  3. Entre Adam e Noé, mormente na época dos descendentes de Caim, não houve revelação. Em tempos de Noé deram-se alguns

sinais e avisos, porém tarde demais, porquanto o povo — especial- mente das planícies — já era diabólico; não considerou as advertên- cias, viveu em constante aturdimento e foi atingido pelo julgamento mais atroz.

  1. Houve então um intervalo. Durante a existência de Abraham veio a Revelação Divina, em cujos calcanhares andava o arrasamento de Sodoma, Gomorra e as dez cidades.

  2. Até Moysés, nada aconteceu. A aparição deste profeta trou- xe algo grandioso dos Céus: as criaturas receberam pela primeira vez leis seguras para organizarem sua vida. O julgamento estava na altura da revelação: centenas de milhares de egípcios morreram, e os israelitas, libertos, também não passaram melhor no deserto, du- rante quarenta anos. Tanto uns quanto outros não receberam avisos, tornando-se mornos. A anterior fé viva passou a uma crença tradi- cional, em nada melhor do que nenhuma.

  3. O silêncio do Céu perdurando, as criaturas perdem a fé total em Deus, inventam deuses, caindo no pleno politeísmo. Poder-se-ia falar, em tal caso, de culpa própria?

  4. Por época dos juízes e alguns reis, foram inspirados os profe- tas — mas somente depois que os homens tinham pecado tremen- damente; em compensação, foram liquidados pelo julgamento.

  5. Agora, Tu Mesmo Te encontras aqui e dá-se a maior das Re- velações — entretanto, o julgamento não demorará! Daqui a alguns séculos os homens serão os mesmos que os templários de hoje, caso não venha outra revelação! Os pagãos convertidos voltarão a ser o que foram e os judeus ficarão piores do que são. Por isto opino que não deve haver interrupção na transmissão de Tua Divindade, do contrário a Humanidade cairá novamente na ignorância.

  6. Os filisteus foram dizimados devido ao seu ateísmo, e que eu saiba, nunca receberam orientação do Alto, inclusive os fenícios, troianos, babilônios, ninivitas e outros povos. Por que essas desvan- tagens? Ninguém tem culpa da sua existência; uma vez nascida, a criatura é infeliz do berço até a sepultura, vendo-se obrigada a su- portar os julgamentos. Por quê...?”

176.OS LAVRADORES NA VINHA. NATUREZA, DESTINO EEFEITODAS REVELAÇÕES

  1. Digo Eu a Lázaro e a todos, pois os demais discípulos com- partilham da opinião reacionária desse: “Dar-vos-ei uma parábola como resposta às dúvidas de nosso amigo! Houve um senhor que contratou empregados para sua vinha. Apresentaram-se de manhã e ele combinou pagar-lhes um dinheiro por dia. Ao chegar no campo algumas horas mais tarde, encontrou outros, ociosos, e lhes disse: ‘Que fazeis aqui, parados? Ide ao meu campo e dar-vos-ei o que é justo.’ À tardinha viu ainda outros, desocupados, e lhes perguntou: ‘Por que estais ociosos?’ Responderam: ‘Ninguém nos contratou!’ Disse ele: ‘Ide igualmente à vinha e trabalhai esta última hora do dia, que recebereis o que vos couber.’

  2. À noite, o proprietário chamou os que trabalharam desde cedo e deu-lhes a importância combinada. Assim pagou o mesmo valor aos que trabalharam a metade do dia, e aos que somente se esforçaram durante uma hora.

  3. Eis que os primeiros reclamaram por terem recebido a mesma importância dos que trabalharam apenas meio dia. E ele respondeu: Que vos importa eu ser bom e misericordioso? Acaso sou injusto por ter pago aos últimos tanto quanto a vós? Não combinamos uma mo- eda? Vós mesmos não exigistes mais! Acaso não sou dono de minha fortuna para aplicá-la como quero?! — Sem mais argumentos, eles se deram por satisfeitos com seu pagamento.

  4. Afirmo-vos fazer o mesmo Meu Pai que está em Mim; os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.

  5. A vinha são as criaturas desta Terra que, quais videiras, de- vem ser trabalhadas. Não têm contrato firmado Comigo e existem apenas para produzir bons frutos para Deus, o Senhor.

  6. As almas de todos os profetas — assim como as vossas — não se originam desta Terra, e sim são trabalhadores contratados no Alto, tendo firmado contrato Comigo para a conquista da Filiação Divina, apenas possível nesta Terra.

  1. Todos os grandes profetas desde o início até agora — incluin- do-vos — que receberam uma grande Revelação, representam os primeiros trabalhadores na Vinha do Senhor.

  2. Os pequenos profetas, incumbidos de metade da tarefa — a manutenção da Revelação dada — são os que vos seguirão em Meu Nome; trarão igualmente pequenas revelações de onde profetizarão; porém, não possuindo aquela força e poder que Eu vos transmito. Receberão o mesmo prêmio, porque sua fé tem que ser mais forte; não recebendo o que ora vedes e ouvis, sua fé espontânea tem que lhes ser levada em conta a um mérito maior. Quando receberem o mesmo que vós, considerai terem tido maior dificuldade para crer, o que ora ocorre para salvação de todas as criaturas, pois não foram testemunhas como vós.

  3. Finalmente serão em épocas futuras inspirados e admitidos outros videntes, bem próximo de um grande julgamento, com a tarefa cansativa e pesada de purificar a deturpada Doutrina, a fim de que seja conservada e não repelida pela Humanidade mais inteligen- te, como se fora antiga mistificação sacerdotal. Esse terceiro grupo de trabalhadores na Minha Seara não agirá com grandes milagres, mas apenas pela palavra e a escrita verdadeira, sem receberem outra especial revelação, a não ser pelo Verbo interno e vivo no sentimento e pensamento. Serão plenos de fé lúcida e racional, erguendo deste modo, sem provas, as videiras humanas ressequidas da Vinha do Senhor e receberão de Mim o mesmo prêmio que vós, trabalhadores do dia inteiro; pois terão muito mais dificuldade de crer firmemente naquilo que há mais de mil anos aqui sucedeu.

  4. Se, portanto, as grandes Revelações distam muito entre si, Deus sempre cuida em despertar novos videntes, tão logo os Ensina- mentos comecem a ser vilipendiados, e isto de modo tal a impedir qualquer coação do livre arbítrio.

  5. Quando posteriormente o mundo tiver desviado as criatu- ras da rota espiritual, só resta tomar providências para uma grande Revelação, que naturalmente é seguida de julgamento. Enquanto não puseres a madeira seca ao fogo, não se incendiará; isto será feito

pelo fogo. E vê, aquilo que o fogo representa para a madeira é a re- velação para o homem. Compreendeste?”

177.OSPROFETASCOMOPORTADORESDE REVELAÇÕES

  1. Diz Lázaro: “Sim, entendo-o bem; tenho, todavia, uma dú- vida, difícil de dissipar. Acaso todas as criaturas que recebem di- retamente uma Grande Revelação devem ser consideradas vítimas do julgamento, e somente as que compartilham pela fé recebem as bênçãos da mesma?

  2. Os transmissores de uma revelação já se encontram em gran- de desvantagem, pois que desde sua origem são de índole mais pura, para se capacitarem como receptores e interpretadores de um Ensino do Alto; pois as criaturas materialistas jamais compreenderiam tal Graça, por faltar-lhes a receptividade.”

  3. Respondo: “Quem disse que se devem considerar atingidos pelo julgamento os transmissores da Grande Revelação? Não du- vidarás Eu saber a quem escolher para tal fim, para que não seja prejudicado?!

  4. Moysés foi portador da Grande Revelação; entretanto, mui- tos havia que dela somente participavam de modo indireto, e no final estavam mais firmes na fé do que ele, receoso da Minha Pro- messa de dar aos israelitas a Terra Prometida, onde fluía leite e mel. Justamente devido à sua dúvida o profeta só pôde vê-la de longe, mas não chegou até lá.

  5. Isto é prova mais que evidente de que profeta algum era coa- gido, e a partir de agora o será ainda menos, e sim sua liberdade de crença e ação será completa, proporcionando plena felicidade; o fato de alguém transmitir uma revelação não o torna feliz, mas somente sua convicção e maneira de viver.

  6. O mesmo acontece convosco. Através de Minhas Ações sois muito mais levados a crer ser Eu o Cristo e Minhas Palavras, Divi- nas, do que aqueles a quem ireis passar o Evangelho, verbalmente; em compensação, sereis acometidos de grandes dúvidas, recebendo

oportunidade para fortificar a vossa fé. Pois quando o Pastor for abatido, as ovelhas fugirão e se dispersarão. No tempo oportuno, porém, Eu as reunirei e fortificarei sua fé. Deste modo, nenhum transmissor de Revelação é atingido pelo julgamento. Primeiro, é tal pessoa do Alto e não há missão constrangedora, porque sua alma já passou uma encarnação em outro planeta, tornando-a mais firme e sólida do que uma psique concatenada dos elementos terráqueos. Segundo, enfrenta uma psique missionária provas de fé muito mais difíceis que uma alma da Terra, de fé simples. Esta se satisfaz com o Verbo e dispensa as provas. As almas do Alto necessitam mais, por serem dificilmente convencidas e precisam de provas fortes, até que sua fé se complete e aja.

  1. Se Me dirigisse à Pérsia, Índia, Grécia ou Roma e desse lá provas como as dadas perante vós, ninguém se atreveria a agir contra Minha Determinação. Tais almas materialistas ficariam completa- mente tolhidas, anulando a oportunidade de seu livre arbítrio. Vós não sois prejudicados por tais meios, por não serdes de fé fácil; é preciso efetuar muitos milagres para vos levar à convicção, e ainda assim sois tomados de dúvidas e insistentes inquirições. Quem age deste modo é livre em sua fé; pois exige compreender e assimilar o que acredita, e enquanto isto não se der, não crê.

  2. Prova disto é Eu ter que explicar e exemplificar Meus En- sinamentos. Sabeis Quem sou e poderíeis acreditar em Mim sem maiores elucidações; entretanto, não o fazeis e já Me demonstrastes, por diversas vezes, não terdes crido em virtude de um ensino oculto, dizendo-Me abertamente ser dura a Minha Doutrina. Não faz sete dias que Me abandonastes pelo motivo acima.

  3. Isto prova serem vossas almas mais fortes que as dos filhos deste mundo. Sempre haverá pessoas como vós, e Eu as inspirarei dando-lhes — como a vós — a voz interna do espírito. Ensinarão os filhos do mundo, deixando sua vontade inteiramente livre.

  4. Os doutrinadores, porém, não devem julgar-se mais impor- tantes que os outros; pois para Mim prevalecerá sempre: Deixai vir a Mim os pequeninos e não os impeçais disto! Quem não se tornar

semelhante a eles, não entrará no Meu Reino; pertence a eles e foi feito por sua causa. Quem for sábio e, por isto, doutrinador de todo coração, humilde e meigo estará lá onde Eu estarei como Verdadeiro Pai entre Meus filhos, de eternidades em eternidades!” — A esta explanação os discípulos silenciam, sem saber o que pensar.

178.EXISTEMDUAS ESPÉCIESDE CRIATURASNA TERRA.ENSINOSEMILAGRESESEUSEFEITOS DIVERSOS

  1. Somente Lázaro se faz ouvir: “Senhor e Mestre, acaso tam- bém sou do Alto?”

  2. Digo Eu: “Certo, do contrário não terias assistido com tanta calma os milagres que por várias vezes operei, como se fossem natu- rais. Surpreendia-te apenas no momento do fato — pouco mais tar- de, já te era indiferente. Conjecturavas ser impossível a um homem voar qual pássaro. Como sou Deus, é natural Eu poder realizar tais coisas, não havendo portanto milagre. Todo o Cosmos, inclusive a Terra com tudo que comporta, são permanentes provas de Minha Sabedoria e Poder, e os milagres atuais apenas testemunhas momen- tâneas ser Eu o Mesmo que desde Eternidades preencheu o Infinito com milagres inúmeros e constantes. Não havia, pois, milagre Eu como Deus operando tais fatos; o próprio milagre consistia em Meu Amor incompreensível para convosco, Minha grande Dedicação, Bondade desinteressada, Meiguice, Paciência e Humildade verda- deira perante os homens, que Eu poderia apagar com um simples hálito. — Concluías que, se fosse possível a um ser humano conse- guir isto, seria tão milagroso como o voo de uma criatura.

  3. Vê, se não fosses do Alto, não serias capaz de pensamentos desta ordem, e Eu não teria agido aos teus olhos como fiz, para pou- par teu livre arbítrio! Os que moram lá embaixo não são do Alto, e sim desta Terra, motivo por que não posso agir como fiz diante de ti e dos demais. Podem ouvir somente os comentários; pois os milagres os aniquilariam. Assim, devem mastigar apenas o Meu Discurso.

  1. Receberão, entretanto, uma prova idêntica à do profeta Jo- nas; assim como ele ficou somente três dias no ventre da baleia e em seguida foi posto à margem com vida, também ficarei durante três dias na sepultura, a fim de ressuscitar para o pavor e o julgamento dos templários.

  2. Lembrai-vos bem: os filhos desta Terra só podem ser con- quistados para o Meu Reino através de palavras de vida! Pois a maio- ria — quando não for viciada por provas falsas — é de fé fácil, inteligente e pode ser convencida à verdade por uma doutrinação equilibrada. Milagres importantes tolheriam sua razão e vontade. Sabes agora de onde és?”

  3. Responde Lázaro: “Sim, compreendo ser eu do Alto; como, porém, sabermos se as criaturas que nos abordam são do Alto ou da Terra?”

  4. Digo Eu: “Sendo necessário, o próprio espírito vos transmi- tirá. Existe, todavia, um fato externo dificilmente enganador, pelo que se reconhece a origem da pessoa.

  5. Vê, a alma conserva, ainda que envolta pela carne obscure- cedora, um sentimento certo de sua origem, dirigindo a audição e mormente a visão ao seu berço espiritual. Criaturas inclinadas a dirigir o olhar para o alto, galgar montanhas, prestar ouvidos aos sons das alturas, originam-se de lá. Outras, geralmente de olhares pregados ao solo, onde procuram desenterrar tesouros e mui raro erguendo olhos e ouvidos para o Alto, são de baixo. Eis uma orien- tação que vos servirá para saberdes com quem estais lidando.

  6. Almas do Alto são geralmente engenhosas e produzem obras de arte e ciência; não se deixam convencer com facilidade, pois que- rem ter prova de tudo. O grego Philopoldo, em Kis, só acreditou depois que Eu lhe demonstrei o Sol onde encarnou pela primeira vez. O mesmo se dá com todos os cínicos. Podereis criar mundos à sua frente, que não terá outro efeito do que transmitirdes uma ordem vulgar a um habitante da Terra, que dificilmente perguntará pelo porquê, executando-a por ter sido dada por pessoa inteligente.

Espera saber oportunamente o motivo. Uma criatura do Alto per- guntará qual a razão e exigirá explicação acertada.

  1. Digo-vos haver vários fatores para se analisar a índole das pessoas e quais as videiras da Minha Vinha abordáveis pelos doutri- nadores; a mesma explicação pode ter os melhores ou piores efeitos, caso não for transmitida de acordo com o caráter do ouvinte.

  2. Os filhos pequeninos e fracos desta Terra creem com faci- lidade o que se lhes apresenta como prova de fé e só necessitam de explicação posterior quando tiverem adquirido grande cabedal de princípios doutrinários. Deve-se, portanto, tratar de lhes pregar a pura verdade, e ai de quem procurar aborrecê-los com dogmas e exemplos falsos, como vos demonstrei em outra ocasião, na Galileia! Aos filhos do Alto a explicação deve ser dada antecipadamente, do contrário não aceitarão algo de genuíno.

  3. Por várias vezes fostes testemunhas de Minha Atitude para com gregos e romanos; fazei o mesmo, que será mais fácil conquis- tá-los, porquanto podeis vos referir a Mim e a Minhas Obras! Em caso de necessidade, também podereis operar milagres; sede, porém, parcimoniosos nesse sentido, fazendo-o tão somente quando o espí- rito vos der a intuição. Uma prova não deixa de ser benefício; uma palavra verdadeira e sincera é muito mais vantajosa, porque não im- põe coação ao coração humano.

  4. A palavra esclarece primeiro o intelecto; este desperta a von- tade e o amor no coração. O amor se torna uma chama poderosa que ilumina e vivifica a vontade; esta age, então, às determinações da razão e aquilo que o homem fizer, livre deste modo, é ação própria e meritosa, encontrando ele sua fonte de vida.

  5. Ao passo que o milagre abate por certo tempo a razão da criatura e incita apenas amor e vontade à ação. Tal ação é idêntica a uma pedra atirada ao ar, movimentando-se somente pelo tempo que a força arremessadora estiver em contato com o peso; tão logo cesse, a pedra cai, imóvel, e fica no solo dentro de seu julgamento.

  6. A alma de uma criatura convertida pelo milagre se asseme- lha à pedra arremessada ao ar, agindo cegamente de medo; a prova

com o tempo perdendo sua força, esmorece o amor e a vontade psí- quica, mormente nos descendentes que não assistiram ao milagre; entregam-se ao ócio, considerando aquilo como feitiçaria, ou mera fraude e invenção dos antepassados. Pois se a alma inquirir a razão, esta não lhe poderá dar explicação, pois também não a recebeu e concluirá: Acaso não merecemos o mesmo que nossos ancestrais?! Devemos acreditar no que não entendemos, e as provas relatadas de- veriam servir de móvel para a fé? Isto não é possível! Se Deus existe, não poderá exigi-lo! Por isto, também queremos provas ou ao menos explicação razoável sobre o que devemos crer e fazer.

  1. Deste modo opina o intelecto humano — e com razão! Pois se o ensino não foi elucidado pelo exemplo, soçobra com todas as provas, e as criaturas perdem toda fé, recaindo na vida anterior, de- sequilibrada e ociosa até que apareça um mago esperto, converten- do-as com falsos milagres.

  2. Por isto, repito com insistência: ensinai com clareza e sede parcimoniosos com as provas, que criareis discípulos efetivos e fir- mes. Pois a prova passa; a verdade pura e lúcida perdura eternamente e dispensa provas para a confirmação, pois ela mesma é a maior pro- va dada dos Céus, em todos os tempos e aos homens de boa vontade.

  3. Haverá provas permitidas aos pobres e enfermos, sem dis- tinção de raça e crença, um benefício justo e não prova especial para a Origem Divina de Minha Doutrina.

  4. A Doutrina tem que se provar a si mesma como puramente de Deus, dando a prova interna e viva em sua genuinidade plena àquele que a emprega. Se considerardes isto, tereis bons adeptos; não o fazendo estritamente, tereis aberto as portas ao anticristo, resultan- do vossa própria fuga espiritual.”

179.O ANTICRISTO

  1. Diz Lázaro: “Senhor, como devemos interpretar o anticristo?”

  2. Digo Eu: “O anticristo surgirá pela aceitação de Minha Dou- trina por parte de homens espertos e ociosos, ao perceberem que a

mesma proporciona grandes benefícios aos Meus adeptos. Quando souberem de Meus Milagres e dos que vós operastes, começarão a empregar seu feitiço como fazem os essênios. Será isto uma grande tentação para os de fé vacilante, a ponto que muitos perseguirão vossos sucessores como sendo doutrinadores e profetas falsos.

  1. Por isto tende cuidado em aceitardes, daqueles que recebem o Evangelho, somente o necessário para vosso sustento! Pois se os ociosos virem que milagres e prédicas proporcionam grandes lucros, tudo farão para vos arruinar.

  2. Eis por que se reconhecerão os falsos profetas através de sua obras; porquanto os verdadeiros se apresentarão com a Minha Sim- plicidade, aceitando da Comunidade apenas o indispensável para sua manutenção. Os outros agirão como os fariseus — e até mesmo pior — deixando-se pagar por tudo que pretendem fazer em Meu Nome, e as criaturas os considerarão servos abençoados por Deus; serão obrigadas a crer que Ele somente ouve a prece por eles proferi- da, olhando com agrado seus sacrifícios. Se atualmente existe apenas este Templo para todos os judeus, os anticristos construirão grande quantidade de igrejas, com pompa fabulosa, onde apresentarão suas magias, sacrifícios e prédicas tolas e incompreensíveis. As orações serão feitas em idiomas estrangeiros, para fazerem crer ao povo ser o mesmo o mais puro e do agrado de Deus.

  3. Esta prova é suficiente para todos poderem distinguir entre um profeta falso e um verdadeiro. Aqueles clamarão: ‘Vinde aqui onde está o Cristo, e onde estivermos Ele estará!’ Não lhes deis cré- dito, muito embora façam grandes milagres; jamais foram Meus adeptos, e sim discípulos tentados por Beelzebub, do qual colherão o prêmio no charco, com clamores e ranger de dentes! Lembrai-vos disto e empregai milagres o menos possível; considerai o Verbo Di- vino e Sua Verdade Eterna, que a Doutrina pura permanecerá entre os homens até o fim do mundo! — Agora voltemos; e tu, Lázaro, manda servir vinho e pão, pois estou com sede!”

180.BÊNÇÃOEPRECE JUSTAS

  1. Pouco falo durante a refeição; quando, porém, o vinho co- meça a soltar as línguas, o albergue se enche de vozes alegres e o próprio tavoleiro, zelador da hospedaria de Lázaro, anima-se a Me apresentar sua família, pedindo uma bênção contra a maldição dos templários.

  2. Digo-lhe, pois: “Amigo, a Minha Presença garante automa- ticamente a bênção! Procura aplicar o Evangelho transmitido aos discípulos, que receberás a bênção viva e verdadeira, não só para esta vida, de pouca duração, mas igualmente para tua alma, eterna! A bênção que esperas nada vale. Os fariseus aplicam bênçãos e se deixam pagar; quem teria lucrado com isto?! O doador teve sua re- compensa, enquanto ao outro a fé tinha que consolar e proporcionar alguma paz.

  3. Minha Bênção consiste na verdadeira Luz da Vida, ou seja, a Vida Eterna, recebida por todos que aplicam Minha Doutrina. To- das as bênçãos mágicas de nada valem, aumentando mais a supers- tição. Quem caminha e age dentro do Evangelho, crendo ser Eu o Cristo Verdadeiro, pode em Meu Nome apor suas mãos no enfermo, que se sentirá aliviado. Ainda que esteja a longa distância, tu, porém, orando por ele e mentalmente lhe aplicando o passe, ele se curará, caso for em benefício de sua alma. Tal bênção é muito mais valiosa do que aquela que esperavas de Mim! Estás satisfeito?”

  4. Responde o hospedeiro: “Senhor, agradeço-Te muito; pois vejo ser a verdade a maior bênção para o homem, enquanto mentira e embuste representam uma maldição. Desejava apenas ouvir de Ti se Deus não considera as orações dos sacerdotes e se são igualmente inúteis quando porventura alguém achar não merecer pedir ao Pai, procurando por isto um sacerdote mediante pagamento.”

  5. Respondo: “Acaso não consta: ‘Este povo Me honra com os lábios, enquanto seu coração está longe de Mim?!’ Como poderia beneficiar uma prece paga?! O necessitado não se atreve a orar a Deus, e o próprio sacerdote não pode fazê-lo, porquanto não acre-

dita Nele; pois se assim fizesse, não se deixaria pagar, e sim diria ao pedinte: Todo homem — ainda que o número de seus pecados seja idêntico às ervas da Terra e a areia do mar — pode orar a Deus com humildade e contrição, que sua prece será ouvida pelo Pai. O amor do próximo já me impõe o dever de pedir por todas as criaturas; portanto, ora tu mesmo a Deus, para receberes alívio. Toda prece paga é um horror para Deus!

  1. Deste modo deveria falar um sacerdote crente, caso alguém lhe pedisse orações remuneradas! Ele mesmo não acreditando em Deus, fazendo-se pagar pela prece lida, com expressão beatífica, sem meditar ou elevar o pensamento ao Alto — é portanto mentiroso e impostor. Como poderia Deus considerar tal prece?!

  2. Afirmo-te: se Deus pretendesse socorrer a alguém que, pela suposta indignidade, não se atreve a Lhe pedir em virtude de sua humildade, Ele não o fará para libertá-lo de sua superstição.

  3. Se vires um necessitado orando a Deus, ajuda em sua penúria e presta-lhe socorro, caso estejas em condições; se nada tiveres para dar, junta tua prece à dele, e te garanto Deus atender tal pedido! Pois onde dois ou três orarem a Mim, em verdade, sempre serão conside- rados. Ninguém deve se dirigir a Deus por coisas fúteis e mundanas, que não será atendido; pedindo o necessário para o sustento mate- rial, pelo fortalecimento de sua fé e de sua alma, a prece será ouvida. Eis a situação real da prece verdadeira, uma bênção justa de Deus no coração humano! Compreendeste?”

  4. Responde o tavoleiro: “Sim, Senhor, pois é a verdade simples e clara; entretanto, nunca compreendi as orações mágicas do sacer- dote, pelo fato de não serem compreensíveis como real embuste! Como se esforçam em classificar gradativamente as suas fúteis ora- ções, quando feitas por profissionais graduados e em locais santifica- dos, cujo valor acresce mediante pagamento, mais ou menos eleva- do! Tal absurdo é, aliás, aceito pelos fiéis! Ai de quem os informasse não ser tal coisa do agrado do Deus de Abraham, Isaac e Jacob, e seria injusto por parte Dele se fosse considerar as orações pagas, ex- pulsando os pobres impossibilitados de pagamento. Tais orientado-

res populares seriam tomados como ultrajantes do Templo, e quem os denunciasse teria seu futuro garantido por toda a Eternidade!

  1. Divino Mestre, em tais situações, não há possibilidade de viver! Este albergue é muito mais um templo para Deus do que os átrios de Salomon! Há dez anos não piso no Templo — e não pre- tendo fazê-lo no futuro! Mormente em época de festas comemorati- vas, onde as fraudes são incríveis e não consigo defrontá-las sem me aborrecer! Ajo bem assim?”

  2. Digo Eu: “Perfeitamente, pois não podes modificar a situ- ação. É, portanto, preferível ficares afastado do local onde nada de bom e verdadeiro poderias ouvir, e acima de tudo te irritarias como judeu íntegro. Eu vim precisamente para endireitar tudo que estiver torto e abrir os olhos e ouvidos dos cegos e surdos. Deixemos, pois, o Templo, cuja completa inutilidade é do conhecimento de todos.

  3. Dentro em pouco teremos aumento de hóspedes, romanos e gregos. Certamente se hospedarão aqui e terás que te preparar; pois na cidade não existem mais acomodações!” Solícito, o tavoleiro se entrega à tarefa e não leva tempo para vermos a chegada de trinta pessoas, aproximadamente. A sala onde estamos é suficiente para abrigar cem hóspedes; além disso, há outros recintos, de sorte a não dar motivo para receio quanto à acomodação de estranhos, em cujo grupo vem uma senhora de Jerusalém. Posteriormente travaremos conhecimento com ela.

181.CHEGADADENOVOS HÓSPEDES

  1. Em poucos momentos se apresentam os estranhos, recebidos polidamente por Lázaro e o tavoleiro. Seu cumprimento tendo sido correspondido por nós, sentam-se à mesa e pedem algo para comer. E o hospedeiro responde: “Pão e vinho poderão ser servidos agora; uma refeição completa levará mais tempo!”

  2. Satisfeitos, eles se servem e elogiam a boa qualidade do vi- nho, e a moça, alegre, relata fatos humorísticos. Entrementes, fi- camos calados e os discípulos conhecedores dos idiomas romano e

grego ouvem atentos. Entre o grupo se acha um romano conceitu- ado, que pela primeira vez estivera em Jerusalém, e virando-se para os outros, diz: “Já chega de chistes; do contrário, as pessoas aqui pre- sentes hão de pensar sermos palhaços. Vimos diretamente de Roma para Jerusalém, classificada pelos judeus de ‘santa’. Agradecemos a esta judia que aqui nos trouxe, com a afirmação de ser o albergue o melhor e mais moderado nos preços, conquanto fosse desclassifica- do pelo sacerdócio. Ontem, à procura de acomodações, não tivemos tempo de averiguar o motivo que nos trouxe aqui. Agora é chegada a oportunidade de sondarmos, por intermédio de nossa amiga, se há algo verídico nos boatos a respeito de um profeta judeu, que opera milagres. Acaso tiveste oportunidade de vê-lo? Sê, pois, tão gentil em nos informar, pois saberemos ser gratos.”

182.PALESTRAENTREA JUDIAE OS ROMANOS

  1. Responde a moça: “Prezados amigos! Temo em não vos po- der prestar serviço eficaz! Tudo que ouvi do mencionado profeta era muito mais fabuloso que as histórias de vossos deuses! Consta ter ele inteligência fora do comum e é de boa índole; a par disto, fatos milagrosos lhe são atribuídos, inaceitáveis caso não se os tenha visto pessoalmente.

  2. Teria vindo à cidade, operado milagres e doutrinado o povo; houve, porém, um atrito entre ele e os fariseus, que lhe proibiram tais manifestações, de sorte a eu duvidar de sua presença nesta época.

  3. Eu mesma não o vi e também não tenho especial vontade para tanto. Pouco haveria de entender de sua cultura, e quanto aos mila- gres já assisti a vários, inclusive ressurreições por parte dos essênios.

  4. Além do mais, confesso não ter consideração por um profe- ta; são muito cansativos, sisudos e incompreensíveis. Quem poderia gostar de tal criatura? Eis minha opinião particular, que não pre- tendo impor!”

  5. Diz o romano: “Tua lógica nos agrada; o fato de não te inte- ressares a fundo se depreende de tua mocidade e vaidade. Nós, ro-

manos de idade avançada, interessamo-nos muito pelo personagem peculiar, do contrário não teríamos vindo aqui. Certamente pode- rás ao menos orientar-nos se é possível nos dirigirmos ao tavoleiro, pois alega-se terem os sacerdotes e asseclas de Herodes ouvidos mui aguçados!”

  1. Diz a moça: “Oh! Não precisas te preocupar por isto! Ele é honesto e, que eu saiba, nunca traiu alguém. Os demais hóspe- des parecem ser amigos do proprietário, chamado Lázaro, inimigo do Templo, razão pela qual os fariseus o molestam sempre que possível.”

  2. Entrementes, os discípulos cochicham entre si, criticando a atitude da moça; Eu, porém, advirto-os a silenciarem. Nisto, entram o hospedeiro e Lázaro anunciando o jantar. Satisfeitos, os forasteiros observam as travessas bem postas e, quando começam a saborear os alimentos, não se contêm em elogiá-los. Nós, igualmente, nos en- tregamos ao ágape, entretanto não expressamos referência alguma à qualidade, levando os outros a perguntar se nossos pratos são menos saborosos.

  3. Lázaro, então, diz: “Amigos, na minha casa todos recebem o melhor com a maior satisfação de minha parte!” Assim orientados, os visitantes nada mais dizem.

183.OROMANOE LÁZARO

  1. Após a refeição, o assunto do profeta volta à baila e o romano se dirige ao hospedeiro, dizendo: “Os comentários referentes a um homem especial, uma espécie de profeta, chegaram até Roma. Le- vamos muito tempo sem dar crédito; ultimamente, porém, vieram notícias de pessoas merecedoras de fé a meus ouvidos, que sou um dos primeiros patrícios, de sorte que eu e meus amigos resolvemos encetar a viagem para a Ásia, a fim de averiguarmos os fatos de perto!

  2. Zarpamos há quatorze dias e fizemos boa viagem! Estranho, porém, é que em Roma as notícias sejam mais detalhadas do que aqui, onde se encontra o dito homem! Jerusalém, capital, deveria

ser a mais informada! Por isto aqui vimos e me dirijo a ti para ouvir teu parecer!”

  1. O hospedeiro lança um olhar indagador para Mim e Eu faço com que ele ouça a resposta nítida: “Ainda não; eles mesmos reconhecer-Me-ão!” Por isto ele se vira para o romano e diz: “O mencionado personagem existe em realidade; o sacerdócio ambicio- so e dominador reage contra todos que o conhecem, de sorte a não ser possível se falar abertamente a seu respeito. Eu não vos conhe- cendo, tampouco as intenções que vos trouxeram aqui, havereis de me desculpar não vos relatar o seu paradeiro.

  2. O proprietário deste monte, inclusive de Bethânia, poderá provar-vos a existência do homem milagroso; entretanto, não O denunciará. Sabemos não ser possível ao sacerdócio prejudicá-Lo; ainda assim, queremos evitar todo conflito, em virtude da paz de todos. Mais do que isto não posso adiantar.”

  3. Responde o romano: “Estou satisfeito, mas desejava confir- mação por parte do dono do monte!”

  4. Diz Lázaro: “É verdade tudo o que proferiu o tavoleiro. Como não pretendeis partir dentro de alguns dias, é bem possí- vel conhecê-Lo pessoalmente, caso forem boas as vossas intenções. Convive com os de boa índole; aos traidores, ele despreza em virtude de sua maldade. Sua Vontade é tão poderosa, que basta querer para realizar tudo. Eis por que não teme inimigos, pois ama a todos com sinceridade. Em suma: Ele é Homem-Deus, sábio, bom e poderoso.”

  5. Diz o romano: “Podes estar certo de que aqui vimos movi- dos pela melhor boa vontade! Deixaríamos nossos tesouros como garantia, caso não os tivéssemos largado a bordo. Podes confiar em nós; pois um romano genuíno marcha caminho reto e despreza ata- lhos. Se porventura entrarmos em contato com ele, nosso respeito não será patenteado apenas por palavras e reverências, mas pela ação completa!”

  6. Responde Lázaro: “Não é possível Dele nos aproximarmos com ouro, prata e pedras preciosas; pois se quisesse, poderia trans- formar as montanhas em metal! Para Ele só vale um coração bom

e puro. Quem lhe apresentar este maior tesouro será Seu amigo e poderá contar com Sua Ajuda. Tudo que é grande e importante no mundo é, a Seus Olhos, um horror.”

184.LÁZAROPALESTRACOMOROMANOACERCADO SENHOR

  1. Diz o romano: “Sinto falardes a verdade, aumentando nosso desejo de conhecer pessoalmente o grande homem. Segundo vos- sa descrição de suas habilidades, facilmente poderia se declarar Rei dos judeus, pois bastaria o poder de sua vontade para expulsar-nos do país, tomando de igual modo providências para impedir que se estabeleça na Judeia um romano sequer! De há muito sabemos es- perarem todos os judeus um rei, de acordo com as profecias. No final, suas esperanças seriam coroadas por esse personagem e nós nos veríamos despojados, sem mais nem menos!”

  2. Protesta Lázaro: “De modo algum os romanos precisam temer tal fato. Primeiro, por ser Ele seu grande Amigo; segundo, devem as profecias ser interpretadas no sentido de que Ele, o Mes- sias Verdadeiro, não pretende fundar um império terreno, e sim um Reino espiritual do Amor e da Justa Sabedoria Divinos, do Reino Celeste e da vida eterna da alma, após a morte, a todas as criaturas que aceitarem Sua Doutrina de Deus e aplicarem Sua Vontade trans- mitida. Eis Sua intenção pura e real; jamais cogitaria da expulsão dos romanos!

  3. Não se pode negar ser esta a convicção de muitos judeus ig- norantes, entretanto não O consideram como Messias. Ainda Ele Se declarando o Prometido, duvidam, não obstante todas as provas milagrosas; pelo contrário, acusam-No de blasfemo e vilipendiador do Sábado, e caso possível, seriam os primeiros a matá-Lo. Eis a pura verdade, portanto nada precisais temer; pelo contrário, é provável Ele libertar os romanos da influência judaica!”

  4. Diz o romano: “Então seria melhor ele ir a Roma, onde re- ceberia a veneração adequada! Para que fim mantém-se ele entre

os judeus tolos que se julgam filhos de Deus, no entanto são mais ignorantes que os povos nórdicos?”

  1. Explica Lázaro: “Se Ele quisesse isto, de há muito estaria na- quela metrópole! Ele bem sabe do motivo de sua permanência entre nós! Mas, quem somos para querer aconselhá-Lo?”

  2. Conjectura o romano: “Seja como for, ficaríamos muitíssimo gratos caso nos achasse dignos de sua atenção e nos prontificamos a vos recompensar nesse sentido!”

  3. Diz Lázaro: “Estais equivocados! Pois se eu e o tavoleiro fôssemos gananciosos, facilmente poderíamos combinar com alguém para se apresentar como o homem milagroso, e se por- ventura lhe perguntásseis sua identidade, poderia responder com palavras convincentes! Tal atitude seria condenável e imprudente! Tereis que descobri-Lo, sem necessitardes orientação de nossa par- te!” Essas palavras convencem o romano da honestidade e precau- ção de Lázaro.

185.CURADEMARIA MADALENA

  1. Pouco mais tarde, acontece ser a judia, que se fizera de guia dos romanos e que além disso é libertina, acometida de fortes con- vulsões devido ao excesso de bebida. Muito apavorados, pois tomam o fato como mau agouro, os romanos presumem ter atraído a ira dos deuses, pois tinham procurado uma divindade estranha. Aflitos, indagam de Lázaro o que fazer.

  2. Responde ele: “Ficai calmos! Esta pessoa sofre há muito tem- po de tais acessos, principalmente após o abuso de vinho. Nós cha- mamos a isto de possessão de espíritos maus. Quando ainda havia pessoas devotas, tais espíritos podiam ser expulsos pela prece; hoje em dia é mui difícil. Para o personagem em discussão, seria coisa de minutos, caso quisesse! Eis a razão dos estertores dessa moça. Como poderiam estar irados vossos deuses, apenas existentes na fantasia dos homens, que ignoram o Deus Verdadeiro, pois nunca Dele ou- viram falar?! Por quê? A resposta se encontra no grande Plano de

Sabedoria do Criador.” Assim orientados, os romanos se atrevem a fitar com piedade a moça em estado deplorável.

  1. O primeiro dentre eles se aproxima de nossa mesa e, por coincidência, se dirige a Mim, dizendo: “Amigo, não haveria algum dentre vós capaz de socorrer essa infeliz? Assistis à cena com tama- nha indiferença, enquanto ela se debate contra a morte! Meu desejo de socorrê-la é grande; nossos conhecimentos na medicina, porém, são escassos.”

  2. Digo Eu: “Tu te encaminhaste para Mim sem saberes Quem sou; tua esperança é que em nossa mesa houvesse alguém indicado para a cura, e te trouxe junto a Mim. Teu espírito indicou-te a pessoa certa, que socorrerá a moça física e espiritualmente. Prestai todos atenção quais os meios empregados na cura!”

  3. Em seguida, dirijo-Me à moça estirada no solo, completa- mente enrijecida, estendo Minhas Mãos sobre ela e ordeno que se afastem os sete espíritos nela presos. Eles então gritam: “Ó Jesus, Filho de David, deixa-nos ficar por mais algum tempo nessa habi- tação!” Repito, porém, Minha Ordem, o que os leva a abandonar o corpo instantaneamente.

  4. A moça se levanta tão feliz e sadia como se nunca tivesse tido enfermidade alguma. Quando Me vê a seu lado e é informada Eu a ter socorrido, ela Me fixa e diz: “Ah, eis aquele homem maravilhoso pelo qual meu coração vibra há um ano! Justamente ele, a quem amo com tanto ardor desde que o vi de passagem, veio em meu au- xílio! Querido, por que não me deixaste morrer, em vez de reencon- trar-te sem a menor esperança de ser correspondida em meu afeto?! És puro — eu, desprezível libertina!” Com isto se atira aos Meus Pés, abraça-os e os umedece com lágrimas de amor e arrependimento. Alguns discípulos se aproximam para erguê-la, dizendo-lhe ser tal atitude imprópria.

  5. Virando-Me para eles, digo: “Que vos importa? Acaso não sou Senhor de Mim e dela?! Tornando-se importuna, saberei dizer-lhe como se portar! Afirmo-vos: esta moça muito pecou — entretanto, Me ama muito mais do que todos vós; razão por que

muito lhe será perdoado. E digo mais, sempre que se pregar o Meu Evangelho, será lembrada a ação dessa mulher!” Com tal explicação, os discípulos se retiram.

  1. Em seguida lhe digo: “Levanta-te; foste curada e remida de todos os pecados! Segue teu caminho e não peques mais, a fim de que não te suceda coisa pior! Quando o mau espírito deixa a cria- tura, percorre estepes e desertos à procura de habitação e caso não a encontre, ele torna a voltar. Eis que depara com sua antiga mora- da, tão limpa e purificada, a ponto de lá querer entrar novamente. Percebendo ser ele sozinho mui fraco, convoca outros sete espíritos piores que ele, e todos invadem com violência a habitação limpa. Tal estado psíquico da criatura é muito pior que o anterior. Por isto, tem cuidado para que não te suceda coisa idêntica! Vai, pois, e não peques mais!”

  2. Ela se levanta e não sabe que fazer de amor e gratidão. Após algum tempo, Me pede licença para ficar no albergue, pois já é noite.

  3. Digo-lhe então: “Não Me dirigi ao teu físico e sim à tua alma com suas múltiplas tendências materiais; fisicamente podes fi- car onde quiseres!” Satisfeita, ela volta à mesa — sem tirar seus olhos de Minha Pessoa.

186.OSROMANOSEAJUDIADÃOHONRASAO SENHOR

  1. Essa cena leva o romano a Me observar com mais atenção, dizendo: “Amigo, perdoa eu te molestar com uma pergunta impor- tante! Por certo não te passaram despercebidas minhas investigações acerca do grande homem deste país. Acabas de operar uma cura milagrosa, jamais vista por mim! Fizeste-a apenas pelo poder da von- tade! Acaso és tu o dito personagem, o verdadeiro homem-deus, cuja fama chegou até Roma?! E se não o fores, por certo terás conheci- mento dele e tudo te darei para me informares!”

  2. Respondo: “Em virtude de tua longa viagem com teus com- panheiros, digo-te ser Eu a Quem procuras. Qual é, pois, teu desejo? Por que Me procuraste com tanto sacrifício?”

  1. Diz o romano, feliz com Minha afirmação: “Ó Amigo, já encontrei minha salvação; pois desejo ouvir Tua Doutrina e assistir o Teu Poder e Glória. Mas somente amanhã pretendo importunar-Te nesse sentido e esta noite ficaremos juntos, como bons amigos. Antes de tudo, minha gratidão pela cura dessa amável moça. — Tavoleiro, manda trazer vinho! Encontramos nossa maior felicidade, e amanhã todos os pobres da zona serão providos às nossas expensas!”

  2. Lázaro e o tavoleiro enchem as taças. O romano faz então o seguinte brinde: “Salve! Honra, amor e gratidão a Ti, grande Mes- tre! Se não fores reconhecido pelos judeus obtusos e ignorantes, os romanos saberão dar-Te o devido valor!” Ele esvazia a taça e elogia o vinho; os companheiros imitam sua atitude. Somente a moça se retrai, com receio de uma perturbação.

  3. O romano, porém, lhe diz: “Ouve, querida! Os romanos consideram o seguinte provérbio: Nada prejudica em presença do médico! Temos aqui o maior dos médicos, portanto podes saudá-Lo com uma taça de vinho!”

  4. Obtempera a jovem: “Se soubesse prestar-Lhe com isto justa honra, tinha vontade de tomar todo o vinho da Palestina — e de- pois morrer! Sei, todavia, não poder aumentar sua Honra por este meio. Todas as forças dos Céus e da Natureza Lhe prestam a máxima Honra e a minha seria nula. Por amor a Ele e a vós tomarei, porém, o vinho!” Após ter feito isto, aproxima-se de Mim e diz: “Ó grande Mestre, permite a essa serva mais indigna tocar e beijar a orla de Tua Veste para lenitivo de seu coração!” Ajoelha-se e beija inúmeras vezes a Minha túnica, umedecendo-a com lágrimas. Alguns discípulos se irritam, dizendo: “Mas, Senhor, manda-a embora, está manchando a Tua roupa!”

  5. Digo Eu: “Não é de vossa conta! Se isto Me agrada — por que não se dá o mesmo convosco?! Foi pecadora e tornou-se justa penitente, por isto tem minha preferência a muitos justos, a quem dispensais penitência.

  6. Vede, havia um homem dono de cem ovelhas; aconteceu que uma se perdeu no matagal. Quando à noite ele colheu o rebanho,

notou a sua ausência. Imediatamente deixou as noventa e nove e correu à procura daquela. Após prolongada busca, ele a encontrou e, com grande alegria, deitou-a nos ombros para levá-la a casa. Ao vê-la no meio das outras, sua alegria foi maior com ela do que com as noventa e nove, jamais extraviadas.

  1. Assim haverá igualmente maior regozijo com um pecador, verdadeiro penitente, do que com noventa e nove justos que nunca necessitaram de penitência.

  2. Houve igualmente uma criatura que havia perdido uma moeda. Aflita, ela acendeu uma candeia e tanto procurou até que achou o dinheiro. Sua alegria foi tão grande, que convidou os vizi- nhos para a ceia, dando-lhes oportunidade de compartilharem de sua felicidade.

  3. O mesmo se dará no Céu com pecador remido! Pois os an- jos de Deus sempre veem o Semblante Dele, observam as ações dos homens e se regozijam quando um desiste livremente do pecado, dirigindo todo seu sentir e agir a Deus.

  4. Assim também Eu Me alegro com esta pecadora que se afas- tou do caminho errado; ela, por sua vez, está feliz por ter encontrado sua salvação, justa e verdadeira. Não impeçais sua expressão!” A tais palavras, os discípulos, um tanto enciumados, nada mais dizem e sorvem o bom vinho.

187.EFEITODO VINHO

  1. Prossigo: “Caros amigos e irmãos, o vinho tomado na justa medida é estimulante, fortifica e dá saúde ao corpo; quando inge- rido em excesso, desperta os maus espíritos da carne e atordoa os sentidos. Os maus espíritos incitam à volúpia, impudicícia e lasci- vidade, tornando a alma impura por muito tempo e igualmente de- sanimada, ranheta, preguiçosa e quase insensível. Considerai a justa medida no beber, que tereis sossego das tentações!”

  2. Diz Pedro: “Senhor, acaso também somos obsedados, por- quanto falaste dos maus elementos de nossa carne?”

  1. Respondo: “Por certo, pois carne e sangue de todas as criatu- ras estão repletos de espíritos maus, que merecem tal denominação por estarem em julgamento; se assim não fora, não se encontrariam no corpo. Quando este vos for tirado, dar-se-á sua dissolução e seus espíritos serão levados a um destino mais livre.

  2. Não somente em vossa carne, e sim em todos os elementos existem tais espíritos, longe de poderem ser chamados ‘bons’. Mas, para quem se tornou puro por Mim, tudo é puro e bom, pela finali- dade que recebeu de Deus.

  3. Vede, uma pedra morta no solo é, de certo modo, apenas aparentemente morta! Violentai-a por fricções e pancadas e ela de- monstrará, pelas faíscas, constituir-se apenas de espíritos condena- dos! E se a puserdes no fogo, amolecerá, começando a derreter. Se assim não fosse, como poderiam as criaturas preparar o vidro?!

  4. Existem, portanto, espíritos da Natureza maus e imperfeitos em toda parte, e o fogo nada mais é que a libertação dos elementos mais amadurecidos, levando-os a um destino mais elevado.

  5. Há, todavia, grande diferença entre os maus espíritos, pelos quais muitas vezes os homens são obsedados, e os da Natureza não fermen- tados, que perfazem o orbe em todas as partes e elementos. Entretanto, têm afinidade e intercâmbio nos sentidos; um homem cuidadoso, po- rém, não despertará em demasia os espíritos impuros do corpo, não po- dendo tão facilmente ser obsedado pelos maus espíritos desencarnados.

  6. Por este motivo vos advirto de toda paixão, em si uma consequência do despertar dos múltiplos espíritos em carne e san- gue. Uma vez excitados, juntam-se-lhes as almas desencarnadas e impuras, geralmente localizadas nas regiões baixas do orbe; isto acontecendo, tal criatura é realmente possessa. Compreendestes?”

  7. Respondem os discípulos: “Sim, Senhor, pois já nos esclare- ceste o assunto várias vezes; nunca, porém, de modo tão explícito. Agradecemos-Te e por hoje não mais beberemos.”

  8. Digo Eu: “Muito bem, tereis disto o benefício de manhã; um físico temperado conserva alma sadia, e esta é o melhor médico para o corpo enfermo.”

188.VALORDORACIOCÍNIOEDA VERDADEIRA

  1. Diz o romano: “Grande Mestre, ainda que não assistisse obras milagrosas e apenas ouvindo Teus Ensinos, saberia abrigares o Espírito Divino. A par de sabedoria tão extraordinária é compre- ensível o poder da vontade, pois sabe o que quer e qual o meio para a realização.

  2. O intelecto sempre se demonstrará pelas obras; e quem não tiver facilidade de expressão jamais despertará admiração de seus fei- tos. Os construtores das pirâmides certamente elaboraram primeiro o projeto, e até hoje merecem consideração e respeito por parte da Humanidade.

  3. Assim, sou de opinião ser somente possível à sabedoria in- comum de uma criatura inspirada por Deus realizar milagres, por ser mestra e propulsora de sua vontade e descobridora única dos recursos apropriados na execução de sua obra.

  4. Para mim, Grande Mestre, não necessitas provar-me que a pro- jeção de Tua Vontade é a criação completa; Teu grande Saber e a firme decisão de Tua Palavra são testemunhos evidentes. Tenho razão?”

  5. Digo Eu aos outros: “Vede este pagão frente aos judeus que afirmam ser Deus seu Pai! Para eles não bastam os grandes Milagres tão frequentemente efetuados — enquanto este pagão Me reconhe- ce pela Palavra! Por isto digo, com referência aos judeus em Jerusa- lém: a Luz dos Céus vos será tirada e entregue aos pagãos.

  6. A ti, caro Agrícola, darei uma prova por teres crido sem ela; pois a cura dessa moça, que já se tornou mui querida para Mim, é simples para intelectuais de tua espécie, porquanto alguns de teu grupo pensaram o seguinte: ‘Esse homem é bem esperto. Protelou a cura até perceber que a jovem melhorava por si mesma. Ciente do momento oportuno, ele a chamou; ela de qualquer modo teria des- pertado.’ Vê, tais foram os pensamentos de teus colegas inteligentes

  1. Contudo, não vos recrimino por isto, porque prefiro um intelectual independente a milhares de almas de crença simplória,

não ligando se trata-se da apresentação do Alpha ou do Ômega. Quem não reflete não aprende, e ouro e chumbo lhe são semelhan- tes; o pensador, jamais compra gato em saco. Por isto pensaste: Ele conseguiu a cura; preciso, todavia, ouvir falar. Então saberei se na realidade possui poder para tanto, somente pelo emprego da Vonta- de. — Quando Me ouviste falar, a dúvida dissipou-se, pois Minhas Palavras foram testemunho da Verdade plena da prova, e da finali- dade de Minha Existência. Eis por que farei uma grande prova pra ti e teus companheiros.

  1. Vede, onde Eu estou não Me acho só, mas inúmeras falanges de espíritos angelicais, cheios de poder e luz, Me servem! Quando um regente viaja a negócios governamentais, ele não o faz sozinho, e sim é acompanhado por grande séquito. O mesmo sucede Comigo por ter encetado, como Senhor Único do Universo, uma viagem in- finitamente importante, em virtude de um assunto de Governo ter- ráqueo e espiritual, nesta época e neste planeta, cobrindo-Me com a veste humana. Sem tal empreendimento, nenhum homem da Terra atingiria uma existência verdadeira e eterna.

  2. Tendo, pois, como Maior Monarca, encetado esta Viagem à Terra, por motivos de suma importância, podeis calcular haver legiões de anjos a Meu redor, atentos aos Meus acenos, efetuando Minhas Ordens em todos os astros.

  3. Não vos sendo possível percebê-los com os olhos físicos, quando vos abrir a visão interna não só os vereis, como podereis dirigir-lhes a palavra e fazer alguns pedidos. Antes, porém, tenho que respeitar vosso livre arbítrio se quereis realmente ver e falar com Meus Companheiros; nunca imponho coação!” Perplexos, os roma- nos se calam, pois não esperavam explicação deste teor.

  4. Em seguida, Agrícola se vira para os outros: “Quereis sa- ber de alguma coisa? Aceitemos Sua proposta e veremos o que há na realidade. Quem Lhe disse o meu nome? Pois tive a precaução de não me apresentar. Além disto: quem Lhe denunciou os nossos pensamentos?! Sabe de tudo! Alega não estar só, mas rodeado por fa- langes de espíritos poderosos. Amigos, em tal caso é evidentemente

Deus, e tivemos a felicidade inédita de ter visto Júpiter verdadeiro! Vamos, portanto, pedir-Lhe a demonstração de Seus Companheiros de viagem!” Dirigindo-se a Mim, ele prossegue: “Grande Mestre! Pedimos-Te demonstrares aquilo que prometeste!”

  1. Respondo: “Pois não. Controlai-vos, porém, pois a visão, muito embora amenizada pela Minha Vontade, comover-vos-á!”

  2. Diz Agrícola: “Quem não teme a morte não receia os bons espíritos e muito menos os maus, cujo poder não pode ser grande. Estamos preparados e ansiosos pelos milagres.”

  3. Digo Eu: “Então vamos ao ar livre; lá veremos durante uma hora a Glória de Deus, o Pai, que Me enviou neste Corpo para a salvação das criaturas!”

189.VISÃODOMUNDOANGELICAL.DIFERENÇAENTREANJOSE CRIATURAS

  1. Após nos encontrarmos em número de setenta, bem orga- nizados ao ar livre, Eu pronuncio por cima de todos: “Efatá!” Quer dizer: “Abre-te!” Imediatamente é-lhes facultada a visão interna pela aparição de incalculáveis falanges de anjos luminosos, dentre os quais alguns descem junto dos romanos, dirigindo-lhes a palavra.

  2. Estupefatos, eles se calam; somente Agrícola Me diz: “Senhor e Mestre, parece idêntico ao Olimpo! Que quantidade enorme de espíritos! Quem poderia imaginar tal coisa? Dize-me se isto é reali- dade ou apenas fantasia nossa, provocada pela tua força de vontade?! Esses seres parecem materiais, mormente os que se acham na super- fície do solo!”

  3. Digo Eu: “Eis um anjo perto de ti, pergunta-lhe que responderá!”

  4. Agrícola se dirige nesse sentido à entidade que diz: “Somos muito mais reais que vós; pois vossos físicos de modo algum são rea- lidade. Não são o que parecem ser. Têm forma humana que se movi- menta pela vontade da alma; quando essa forma desaparece, passa de pronto a inúmeras formas. Somente a Verdade absoluta é realidade, todo resto é em vós aparência e ilusão. Enquanto o homem trabalhar

em benefício do corpo para angariar tesouros terráqueos, sua alma se acha na maior ilusão pelo engano físico; pois quem considerar a existência corpórea de vida mantém sua alma morta, até que perceba ser a vida física a própria morte.

  1. Nós somos realidade total, a própria força da vida, por não termos corpo mutável e destrutível. Tudo que vês no mundo pode matar e transformar vosso físico. A pedra que caísse em tua cabeça matar-te-ia. Se não conseguires sair de dentro de um rio ou caíres no fogo, morrerás. Em suma, podes encontrar a morte certa em todos os elementos. Isto jamais sucederá conosco; somos a própria Energia Divina, ultrapassamos tudo e não existe elemento material que nos prejudique. Temos força e poder invencíveis para destruir em um instante todos os elementos e, ao mesmo tempo, criar um mundo material. Dominamos tudo; jamais algo poderá dominar-

-nos, salvo nós mesmos, porquanto somos a expressão perfeita da Vontade Divina.

  1. A fim de que, romano inteligente, possas compreendê-lo melhor, apanha essa pedra e atira-a, com toda violência, à minha cabeça — que nada me fará. Eu fazendo o mesmo a ti, morrerias instantaneamente! Faze uma experiência!”

  2. O romano obedece — e a pedra atravessa o anjo, incólume. Este, então, passa a pedra às mãos de Agrícola, dizendo: “Tenta des- truí-la!” Agrícola emprega todo esforço contra a dureza da pedra. Arre- messa-a contra o solo rochoso, conseguindo apenas alguns arranhões.

  3. O anjo apanha-a e diz ao pagão: “Experimenta tirá-la de mi- nha mão e te poderás certificar de minha força!” Inútil! Pois o roma- no não consegue demovê-la, muito menos tirá-la da mão do anjo. Então este pergunta: “Teria sido isto projeção de tua fantasia?”

  4. Responde Agrícola: “Estranho, vejo as coisas naturais e so- brenaturais, por isto vos considero realidade efetiva e não fantasia ou sonho. Que farás com a pedra?”

  5. Diz o anjo: “Demonstrar-te-ei sua dissolução completa em minha mão. Ei-la ainda inteira; agora, centenas de fragmentos e fi- nalmente — onde estão?! Dissolvidos em suas substâncias originais!

  1. Eu conseguindo isto com a maior facilidade, minha nature- za espiritual é infinitamente mais perfeita que a existência de todas as criaturas terrestres. Por isto é somente a nossa verdadeira, e a vossa apenas quando submetida à Vontade de Deus, atualmente em vosso meio ensinando-vos a viver, e que desde sempre foi Tudo em tudo e cujas Palavras deveis ouvir e aplicar.”

190.VARIABILIDADEDETAREFASDOSANJOSEDOS HOMENS

  1. Diz o romano: “Compreendo-o perfeitamente. Entretanto, por que não apareceis às criaturas para ensiná-las e confortá-las? Ti- vemos a ventura de ver-vos e caso relatemos o fato aos amigos, al- guns acreditarão, outros nos chamarão de tolos e doidos. Não seria melhor vós mesmos prestardes testemunho de nosso relato?”

  2. Responde o anjo: “Executamos estritamente a Vontade do Senhor; somente o que Ele quer é bom. Se fosse necessário à salva- ção das almas encarnadas, estaríamos em visível contato com elas; isto não sendo o caso, podemos guiá-las apenas invisivelmente, a fim de que seu livre arbítrio não seja violado. Ninguém poderá de- frontar Deus caso não tenha passado por determinado tempo uma experiência independente em sua carne, completamente isolado de nós. Eis Amor, Sabedoria e Vontade de Deus que são respeitados. O que não existir dentro desses moldes tem existência nula. Se vós viverdes e agirdes como deseja o Senhor, sereis após a morte idên- ticos a nós; pois também fomos outrora, num planeta qualquer, o que sois hoje.

  3. O mais simples habitante desta Terra, porém, é desde berço muito mais importante que nós em nossa grandiosidade, sabedoria e poder, pois as criaturas verdadeiras desta Terra são filhos do Amor Divino, puro e eterno, e a máxima sabedoria e poder têm que ser desenvolvidos livremente pelo amor a Deus, o Pai. Nós surgimos como criações de Sua Sabedoria; por isto temos que criar o amor a Deus através do saber, coisa muito mais difícil do que desenvolver a sabedoria por meio do amor.

  1. Vós, habitantes desta Terra, surgistes do puro Amor de Deus, portanto sois o Seu Amor; nós, criaturas do saber, de modo algum podemos perturbar-vos no desenvolvimento livre de vossas almas, e tu, irmão terreno, compreenderás por que os anjos celestes não vos rodeiam visivelmente. Podemos despertar apenas suavemente sabe- doria e poder latentes em vosso amor divino — nunca insuflar-vos uma só fagulha de nosso saber, pois deste modo não conseguiríamos despertar vossa sabedoria, e sim abafá-la-íamos.

  2. O mesmo acontece entre vós; pois qual seria o futuro de uma criança entregue à Universidade, onde professores especializados discorressem ciências ocultas perante alunos preparados para tanto?! No final, talvez ela conseguisse repetir as palavras, sem jamais enten- dê-las em seu sentido profundo. Por este motivo deixais que a ama eduque os recém-nascidos, levando-os a pensar através de brinque- dos apropriados e sucessivamente a criança chegará ao ensino esco- lar. O que fazeis com vossa prole é feito por nós em vosso benefício, por serdes filhos de Deus.

  3. Se tivésseis nascido no planeta onde encarnamos outrora, te- ríeis levado àquele mundo toda sabedoria necessária, dispensando outro ensino, salvo o da descoberta do Amor de Deus, na luz de vosso grande saber.

  4. Observai os irracionais de vossa Terra. São igualmente seres emanados da Sabedoria Divina, por isto não necessitam de outro ensino, que muito lhes dificultaria o que devem executar dentro de sua faculdade e instinto, pois trazem tudo com o nascimento como artistas perfeitos.

  5. Quem teria ensinado à abelha a botânica, demonstrando onde se acha o mel dentro da flor, e onde a cera? Quem lhe ensinou a construir a sua cela e produzir em si o aromático mel provindo do doce orvalho da flor?! Quem teria demonstrado à aranha a trama de sua teia, usando-a para sua utilidade?! Tudo isto é Obra da Sabedoria Divina, cujo produto são os irracionais! Sendo no início apenas isto, suas habilidades são perfeitas, entretanto nada mais conseguem apren- der por faltar-lhes, quase totalmente, amor e livre vontade do mesmo.

  1. Existem, porém, animais com mesclados sintomas de senti- mento mais elevado, tornando-os capazes de se sujeitarem ao ensino do homem para desempenhos mecânicos. Quanto maior for este amor, por exemplo, nos cães e em certas aves, tanto maior a capaci- dade no aperfeiçoamento dos mesmos.

  2. Tais faculdades atingem o máximo grau nas criaturas de outros planetas, porquanto encarnam dotadas de capacidades mais variadas e não necessitam de aprendizagem. Como o amor nelas se desenvolve paulatinamente qual produto da sabedoria, possuem escolas onde lhes é demonstrado como se chega do saber ao amor e ao livre arbítrio. Alcançado tal estado após prolongado treino, está a criatura apta a se aproximar de Deus e de Seus filhos.

  3. Daí poderás deduzir por que as criaturas verdadeiras de vos- so orbe não podem permanecer em constante contato, visível e pal- pável, conosco durante o período de evolução intelectual. Em suma, vossa tarefa se concretiza em descobrir e desenvolver o saber dentro do amor — e a nossa, vice-versa.

  4. A diferença enorme consiste em poderdes vos tornar idênti- cos a Deus; nós, porém, jamais — salvo se aceitarmos a encarnação nesta Terra, no que nos falta vontade, pois todos nós estamos mais que satisfeitos com a nossa sorte e com prazer desistimos de coisa melhor. Não deixa de ser venturosa a expectativa de alguém se tor- nar filho perfeito de Deus; entretanto, não pretendemos alterar o nosso estado feliz.

  5. Entre essas inúmeras falanges, temporariamente visíveis aos teus olhos, existem alguns filhos verdadeiros de Deus — vós, to- davia, tendes maior vantagem por serdes ensinados e guiados pelo Altíssimo! De modo algum a situação é idêntica entre filho e servo da casa. Ao primeiro tudo pertence que é do Pai; ao servo somente o que Este lhe quiser dar. Entendes isto, caro Agrícola?”

  6. Perplexo, o romano não sabe o que dizer, pois o anjo se expressa de modo incisivo, sem dar oportunidade de argumentação. Além do mais, falta a Agrícola todo conhecimento espiritual, com o qual poderia prosseguir na controvérsia. Por isto ele se dirige a Mim,

dizendo: “Senhor e Mestre sem par, isto deixa de ser sonho, e o es- pírito — ou seja o que for — desenvolve ideias jamais concebidas. O melhor de tudo é sua afirmação de ter vivido em outro planeta. Nunca ouvi tal possibilidade. Que vem a ser isto?”

  1. Digo Eu: “Calma, Meu amigo. Esse anjo não proferiu uma só palavra errada. Convém procurá-lo para que te demonstre outros corpos cósmicos e te transmita orientação prática.”

191.OSDIVERSOSGRAUSDE VIDÊNCIA

  1. O romano agradece pelo conselho e se dirige novamente ao espírito, dizendo: “Amigo querido, sou sumamente grato pelo ensi- namento excepcional; acontece nós, habitantes desta Terra e futuros filhos de Deus, não nos podermos polarizar com a vossa sabedoria transcendental. Que sabemos de outros mundos no Espaço Infinito, quando ainda desconhecemos nosso próprio planeta?! Tem, pois, a bondade de me dar provas palpáveis para tua afirmação, do contrá- rio tua sabedoria não terá lucro para nós.”

  2. Diz o espírito angelical: “Exiges muito de mim, todavia tenho de satisfazer-te, porque o Senhor assim quer. Tua atual visão te capa- cita veres com os olhos da alma os espíritos puros; isto porque muni- mo-nos de um corpo substancial, tirado de vossa irradiação psíquica.

  3. Se nos apresentássemos quais espíritos puros, não vos seria possível nos ver, não obstante vossa visão dilatada. Quando no fu- turo vos encontrardes na visão intrínseca do espírito, sereis capazes de ver os anjos puros. Justamente tal percepção interna é necessária para poderes ver todos os corpos cósmicos, que também existem em ti relativamente e em proporção diminuta, não podendo ser vistos por tua alma até que se tenha unido ao Espírito de Deus. Com a permissão do Senhor podemos despertar em vós a visão espiritual, ou seja, o sublime arrebatamento do espírito.

  4. Colocar-vos-ei de início entre a Terra e a Lua, a fim de que vejais ser a primeira igualmente esférica. Em seguida, vos levarei à Lua, ao Sol e a outros corpos. Agrada-vos tal perspectiva?”

  1. Diz o romano: “Muito; mas tal excursão será prolongada, pois se aqueles astros são maiores que o orbe, sua distância deve ser enorme, porque se apresentam tão pequeninos e compreende-se não ser rápida tal viagem.”

  2. Retruca o anjo: “Para o espírito puro não existe tempo nem espaço. Tanto aqui como distâncias infinitas para ele nada repre- sentam, agora e há milênios lhe são idênticos. Por isto podeis ver e saber, em estado de visão plena, muito mais em um momento do que encarnados em milhões de anos, através do ensino. Isto é de grande vantagem, porque a alma percebe e aprende conosco muito mais em um instante do que na Terra, em anos afora. Pois se ela se tiver emancipado no corpo, torna-se enorme benefício quando lhe for tirada a carne pesada e alquebrada, para então aproximar-se de nós e receber o verdadeiro ensino da vida.

  3. Atenção! Libertar-vos-ei em espírito, de certo modo a ema- nação de Amor provindo de Deus, razão por que sois filhos Dele ou algum dia ainda o sereis, caso viverdes pela Vontade do Pai!” A essa exclamação dentro de Minha Vontade, todos caem em sono natural, tolhidos dos sentidos físicos, mas capazes de falar.

192.UMA VISITA AO UNIVERSO

  1. Todos estão deitados no solo; somente Agrícola, sentado em um banco, principia a falar: “Eis lá embaixo a Terra, uma grande esfera; lá em cima a Lua, pequenina, e abaixo da Terra, indubita- velmente, o Sol! Que aspecto extasiante! O Espaço aparentemente vazio está cheio de seres iguais a mim! Alguns flutuam em direção à Terra; outros, de lá se afastam. Eis o planeta Lua, mui parecido com a Terra, porém de aspecto tristonho e lúgubre. Seus habitantes não parecem mui felizes a julgar pela expressão.”

  2. Interrompe o anjo: “São certas almas da Terra a se desfazerem de seu grande materialismo, a fim de se capacitarem de uma edu- cação espiritual mais elevada. Observa o lado oposto da Lua, mais

alegre e animado, onde se acham os seus verdadeiros habitantes.” Extasiado, o romano faz suas observações.

  1. Em seguida, dirigem-se para o Sol. Quando na sua proximi- dade, Agrícola diz ao anjo: “Amigo, este mundo é colossal! Sinto-me reduzido a nada e peço-te me levares a um outro, menor!”

  2. Diz o anjo: “Tal não está em meu poder, pois tenho de agir pela Vontade do Senhor. Tão logo pisares o terreno solar, sentir-te-ás mais a gosto. Vamos.”

  3. No mesmo instante se acham no ponto mais lindo da esfera central do Sol, e o romano quase desfalece diante de sua magnitude. E ao deparar as criaturas solares, de beleza excepcional, já não quer ver outros astros e pede ao anjo permissão para levar uma filha do Sol à Terra, a fim de provar aos conterrâneos existirem seres maravi- lhosos nesse astro.

  4. Obtempera o anjo: “Amigo, não me é possível. Ainda que a pudesse levar, ela não poderia subsistir por ser a atmosfera terráquea para ela o mesmo que a água para vós. Por aí vês que os habitantes de outros mundos são de constituição diversa, podendo somente viver onde foram determinados. Sigamos.”

  5. Assim, são visitados os planetas e mais alguns sóis próximos, onde o romano se sente muito bem, a ponto de lastimar não ter sido habitante de mundo luminoso, tão belo.

  6. O anjo, porém, afirma: “Amigo, precisamente neste Sol tua alma viveu encarnada durante quatro mil anos! Eis aí teu palácio ma- ravilhoso de outrora; e as criaturas a frequentá-lo foram teus parentes.

  7. Quando foste orientado por um sábio viandante de haver no Espaço Infinito um planeta onde os homens, cedo ou tarde, pode- riam se tornar filhos do Grande Deus, tão logo se decidissem livrar-

-se psiquicamente desse mundo para passarem uma prova de vida e amor independentes — contudo sem recordação desse Sol, por não ter a existência lá o conhecimento total, e sim, no início, o amor inteiramente egoísta como base — aceitaste as condições. De pronto foste transportado, tua alma liberta implantada em um físico femi-

nino, e isto, na capital mais deslumbrante da Terra, para impedir que teus sonhos despertassem saudades de querer voltar aqui.

  1. Já estiveste, pois, em um desses mundos maravilhosos, fato que reconheces intimamente, recordando-te em sonhos de tudo que fizeste a uns cinquenta anos atrás. A fim de que tua saudade não se torne demasiado forte, regressaremos incontinenti à Terra.” No mesmo instante os romanos voltam da visão espiritual à psíquica, despertando em seguida com a lembrança integral de tudo. E cada um relata suas visões.

  2. Diz Agrícola: “Acredito naquilo que vi porque é idêntico às experiências de todos. Quer dizer que o espírito desse judeu extraor- dinário criou todos aqueles sóis e planetas?!”

  3. Confirma o anjo: “Exato, e ainda coisas mais deslum- brantes! Seu Espírito Sublime e Eterno operou tal milagre diante de vós, como Habitante terrestre, a fim de que O reconheçais e apliqueis Seus Ensinos, tornando-vos felizes como Seus filhos. Ide agradecer-Lhe, Senhor Único de toda Vida!”

  4. Assim fazendo, os romanos voltam por Mim à visão natural e todas as falanges angelicais desaparecem. Inquiridos se apreciaram o fenômeno, eles o confirmam, mas pedem descansar para, no dia seguinte, comentarem o fato com mais calma.

193.INTERPRETAÇÃOESPIRITUALDASDIVERSASFASESDO DIA

  1. Ao surgir a alvorada, já Me encontro ao ar livre. O dia é magnífico e o Sol, deslumbrante. Enquanto nos entregamos a essa contemplação, João diz: “Senhor, não sei por que uma aurora igual a esta alegra o meu coração, enquanto o Sol nado me deixa indife- rente, e o crepúsculo me entristece.”

  2. Digo Eu: “Isto prova o sentimento da criatura bem encami- nhada. A manhã corresponde à adolescência feliz e inocente, motivo por que alegra o sentimento puro e equilibrado.

  1. O meio-dia é semelhante ao homem forte; obrigado a trabalhar pelo sustento material; por isto essa fase não desperta sensações sutis. Na idade varonil termina a poesia da juventude e não desperta brandura, mas certo rigor, no que o coração não pode se alegrar, muito embora seja necessário à conquista da vida verdadeira.

  2. A noite, símbolo da morte terrena e do desaparecimento de todas as coisas, só pode exercer na alma de sentimentos equilibrados uma sensação sombria, conquanto seja indispensável como a manhã e o dia. Não houvesse noite da vida, o homem não poderia aguardar a Alvorada e Verdade eternas.

  3. Nisto se baseia o teu sentir justo, entretanto não é idêntico para todos. Existem criaturas que preferem a noite à manhã; ou- tras, para as quais ela causa impressão desagradável, enquanto ao meio-dia tal sensação melhora, e o crepúsculo, mormente a noite, lhes são de maior agrado. Tais pessoas são de modo geral erradas, e difícil é ensinar-lhes coisa melhor e levá-las ao caminho certo da fé e do sentir; pois juntaram com afinco tesouros destrutíveis, pela ferrugem e traças. Quem se encontra nesse ponto dificilmente se modificará.

  4. Por isto vos digo: não acumuleis neste mundo os bens pere- cíveis! Não vos preocupeis com o dia de amanhã e com vossa sub- sistência! Basta cada dia trazer sua preocupação. O Pai no Céu sabe perfeitamente de vossas necessidades. Observai as andorinhas no telhado e as flores nos campos! Não semeiam nem colhem — entre- tanto o Pai Celeste as provê de tudo. Acaso os pássaros não têm veste e alimento, e as flores do campo não se trajam mais ricamente que Salomon em toda sua pompa? Porventura não sois muito melho- res que as andorinhas, compráveis às dúzias e por pouco dinheiro, sendo vosso valor mais elevado que a erva do campo, hoje em flor, amanhã ceifada, secada e atirada ao fogo para alimento dos animais?! Assim orientados, agi de acordo para subsistirdes em vossa incum- bência como discípulos escolhidos.

  1. Ao fixar o dízimo para o tronco Levi, Moysés acrescentou: Quem servir ao altar, deve se manter à sua custa. — Repito o mes- mo, embora com outras palavras. Transmito-o apenas a vós e não formulo com isto um Mandamento pelo qual ninguém deveria trabalhar em campos e vinhas, pois vale somente para os trabalha- dores escolhidos para a Minha Vinha Espiritual. Aos outros digo: Quem não trabalhar não comerá! E quem procurar o Meu Reino e Sua Justiça receberá, como vós, todo o resto por acréscimo.” João Me agradece com especial carinho e pergunta se deve anotar esse ensinamento.

  2. Respondo: “Por certo; mas somente para vós e vossos suces- sores; pois se fosse dado a todos, o mundo em breve estaria deserto.”

194.OSENHORCLASSIFICAOSTRINTA ROMANOS

  1. (O Senhor): “Os romanos já despertaram e dentro em pouco nos procurarão. Não façais muita cerimônia, pois Me incumbirei deles. No fundo, são pagãos bondosos; como tais, têm bom senso. Podereis vos convencer da pouca importância que ligarão aos fatos de ontem, após passado o efeito do vinho. Se bem que se lembrem, têm a impressão de um sonho muito real. Por isto, peço-vos em não avivardes sua recordação.

  2. A moça já partiu cedo, após recomendar ao hospedeiro um abraço efusivo para Mim, com a promessa de não mais pecar. Ela cumprirá sua palavra. Repito: considerai Minha advertência quanto aos romanos e vereis ter Eu razão — como sempre!”

  3. Os discípulos expressam sua admiração, pois o grupo havia demonstrado real interesse. Esclareço, pois: “Beberam na cidade além da medida e aqui ultrapassaram vossas doses; este fato provo- cou um estado de aturdimento, pois um embriagado sonha de olhos abertos. Por isto têm impressão de terem sonhado. O melhor de tudo é que cada um relata o mesmo sonho. Não podendo explicar o fenômeno, alegam ter um mago enfeitiçado o vinho. Nem percebe- ram a ausência da judia.

  1. Aproveitei a embriaguez deles para operar o milagre, pois em estado normal, ter-Me-iam tomado por um dos seus deuses; é sem- pre melhor para a liberdade da alma receber a prova em sonho!”

  2. Entrementes, nos abordam Lázaro e seu hospedeiro, que Me transmite as despedidas de Maria Magdalena. E o primeiro prosse- gue: “Senhor, coisa estranha se dá com os romanos, mormente com o loquaz Agrícola, completamente taciturno e calado; ao passo que os outros consideram os fatos de ontem simples sonhos. Eles afir- mam ter-se baseado o sonho na preocupação da pessoa do nazareno. O mais interessante é não saberem explicar como chegaram a essa hospedaria, tampouco se recordam da moça que os trouxe.”

  3. Digo Eu: “Deixa estar; seu estado de embriaguez permitiu manifestar-Me. Tem cuidado em não Me traíres. Se perguntarem pelo célebre judeu, dize-lhes que irá doutrinar hoje no Templo. Após Me terem visto e ouvido, estarão preparados para elucidar-lhes o suposto sonho. Manda preparar o desjejum em quarto reservado e após iremos à cidade. Não quero entrar em contato com eles, pois virão para pedir informações.”

195.OSTRINTAROMANOSÀPROCURADO SENHOR

  1. Nisto aproximam-se os romanos, extasiados com a bela pai- sagem, e um dentre eles pergunta a um discípulo se igualmente pas- sou a noite na taverna. Apontando para Mim, este diz: “Dirige-te a Ele, que também fala o teu idioma.”

  2. Após ter ele repetido a pergunta, Eu lhe digo: “Para que isto? Porventura indagamos se passastes a noite aqui?! Qual o motivo de tua curiosidade?”

  3. Responde o romano: “Ora, há dois dias estamos à procura do célebre judeu e casualmente aqui viemos. Um tanto embriagados, todos nós sonhamos de tê-lo encontrado. Trouxe-nos a este local e nos demonstrou seu poder divino, de sorte a considerarmos tratar-se de um deus temporariamente encarnado. O que mais nos surpre- ende é o fato de termos, todos, sonhado o mesmo. Presumimos ter

sido efeito do vinho, e perguntamos sobre vossa permanência aqui para saber se sonhastes a mesma coisa.”

  1. Digo Eu: “Não sois capazes de vos recordar de sua pessoa?”

  2. Responde ele: “Tenho a fraca lembrança de ter ele mais ou menos tua apresentação.” Digo Eu: “Bem — quem sabe se não sou Eu?!” Responde ele, sorrindo: “Hum, estás brincando?! Todavia, digo não ter sido o sonho brincadeira!”

  3. Acrescento: “Ora, não podes saber se Eu não vi o mesmo que vós. Seja como for, oportunamente voltaremos ao assunto. Tome- mos o desjejum para depois tratar de nossa tarefa. O proprietário da hospedaria saberá informar onde o tal judeu se apresentará. Não vos excedais no beber, do contrário perdê-Lo-eis, como muitos fizeram e ainda farão!” Ligeiros, tomamos a refeição e nos dirigimos à cidade. Como ainda é cedo, pois antes das nove horas nada se faz no Tem- plo, damos algumas voltas pela metrópole.

196.OSENHORDOUTRINANOTEMPLO(EV.JOÃO8, 2)

  1. Nem bem se abre o Templo, sou Um dos primeiros a entrar, e o povo aflui em grandes massas; sento-Me e começo a doutrinar por parábolas e exemplos, tão comuns no Evangelho. Demonstro-lhes o grande Amor, Bondade e Justiça de Deus, o Pai, mormente no que consiste o Reino de Deus, tão próximo.

  2. Muitos creem em Mim e comentam: “É realmente um gran- de profeta e não se compreende os fariseus não o quererem acatar. É deveras desinteressado, pois muito embora tenha prestado enormes benefícios, jamais se fez pagar, e é fato conhecido que sempre usou de caridade milagrosa para com o hospedeiro que o recebia como Salvador e Seus discípulos. Além disto, não é casmurro, trata todos de igual modo e se neste momento diz: Vinde todos a Mim que sois cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei, dando-vos o justo con- solo da Vida e a paz verdadeira! — Temos de acreditar.

  3. O homem que fala tão sábia e bondosamente e age de modo tão milagroso é grande profeta, venha de onde vier! O próprio Mes-

sias não poderia fazer coisas mais grandiosas, e caso não venha com raios e chuva de enxofre, não Lhe acreditarão!”

  1. Outros, ainda mais crentes, dizem: “Não necessitamos aguar- dar outro Messias, pois Este é o Verdadeiro! Suas Palavras transmi- tem força e vida; Suas Ações são Divinas, portanto é o Esperado!”

  2. Outro grupo conjectura: “Encontramo-nos sob o poder dos fariseus e não podemos agir à vontade. De que nos adiantam Ver- dade e Fé?”

  3. Interrompo: “Deus Mesmo é Amor e Verdade eternos! Nada no mundo vos poderá libertar, senão a Verdade. Quem comete pe- cado, ou seja, a mentira, é servo do pecado e escravo de pecado- res empedernidos, sem consciência e amor, considerando apenas o miserável ‘ego’. Quem possuir a Verdade é inimigo declarado da mentira e do pecado, portanto está livre; pois ninguém o poderá acusar de erro. Por isto, aceitai a Verdade e não temais os que podem matar-vos, sem prejuízo para vossa alma; temei a Deus, que pode aniquilar-vos, alma e corpo!

  4. O dano físico imposto por outrem ser-vos-á recompensado mil vezes por Deus; o prejuízo na alma, jamais. Deus deu à alma razão, inteligência, consciência, livre arbítrio e a Lei, a fim de que saiba o que seja o Bem e o mal, podendo determinar sua situação pela vontade. Será julgada de acordo com sua escolha: para a morte ou para vida.

  5. O Pai no Céu deseja que todos recebam a Vida Eterna, e por isto Me enviou à Terra. Repito: quem crer em Mim receberá a Vida Eterna; quem não der crédito ter sido Eu enviado pelo Pai para junto de vós perderá a vida, que tão facilmente poderia ter conquistado. O Pai no Céu Me ama e todos aqueles que creem em Mim; e Eu Mesmo lhes proporcionarei a Vida Eterna, pela Verdade do Meu Verbo!”

  6. Nisto, alguns judeus comentam: “É estranho como fala de si, igualando-se a Deus! É incrível os fariseus o aturarem!” Dizem ou- tros: “Fala abertamente e nada que desabone a Verdade, e os fariseus não acharão como condená-lo!” Afirma outro grupo: “Oh, não vos

preocupeis, pois não custa a eles atacá-lo!” Finaliza um publicano: “De nada adianta, pois esses preguiçosos de há muito nada conse- guem contra ele!”

  1. Em seguida faz-se silêncio; os fariseus, revoltados, refletem sobre os meios para Me acusar de uma inverdade, a fim de que pos- sam dizer à multidão: “Vede, vosso profeta e suposto Messias! É nada mais que um impostor!”

197.AADÚLTERA(EV.JOÃO8, 3–11)

  1. Entrementes, os esbirros do Templo trazem uma adúltera pega em flagrante, que pela Lei de Moysés, deveria ser apedrejada, mas em se tratando de pessoa de recursos, a infração redundava em multa vultosa. Sendo pobre, porém jovem e bonita, era geralmente fustigada e em seguida tinha que servir ao Templo. Uma criatura ve- lha e feia já se achava garantida contra o adultério. A moça em apre- ço ainda é muito jovem, mas pobre e pretendia ganhar, durante as comemorações, um pecúlio por parte de um estrangeiro rico. Teria ela caído nas malhas do Templo, não fora Minha Presença, levando os fariseus a usá-la como causa para Minha queda.

  2. Essa pobre pecadora é trazida pelos fariseus mais cultos à Minha Presença, portanto em meio da multidão que Me rodeia. Tremendo de pavor, é ela apontada por um templário com as se- guintes palavras: “Essa criatura foi apanhada em adultério e pela Lei de Moysés deve ser apedrejada! Que dizes a respeito?”

  3. Subentende-se agirem deste modo para confundir-Me, por- quanto Minha afirmação acerca da grande Misericórdia de Deus, o Pai, e de Minha Própria Bondade para com os pecadores servir-lhes-

-ia como pretexto para Me exporem em público, acusando-Me de traidor e revolucionário, que deveria ser preso e entregue à Justiça!

  1. Eu, todavia, não lhes respondo de imediato; abaixo-Me e es- crevo a culpa da pecadora na areia, espalhada em grande quantidade pelo Templo por ocasião dos festejos e que após era vendida a judeus supersticiosos.

  1. Persistindo eles na questão, Eu Me levanto e digo: “Real- mente tal Lei foi dada por Moysés; entretanto, deveriam os com direito ao apedrejamento estar fora de pecado, ao menos aquele a atirar a primeira pedra! Quem entre vós estiver isento de pecado

  1. Não contando com tais palavras e sua consciência os acusan- do como pecadores e adúlteros, todos, começando pelo mais velho até o último, se afastam do Templo. Dentro em pouco não há mais fariseu, levita e esbirros templários, mas somente Eu, a pecadora, os discípulos e o povo — este, admirado de Eu os ter afugentado com poucas palavras.

  2. Alguns dentro da multidão se externam: “Teriam sido estra- çalhados caso tivessem apanhado uma só pedra! Um pecador não pode e não deve condenar um inferior!”

  3. Neste ínterim Me levanto e dirijo-Me à mulher: “Onde estão teus acusadores? Ninguém te condenou?” Ela responde: “Ninguém, Senhor, pois todos se afastaram ligeiros!”

  4. Digo Eu: “Nem Eu, tampouco, te condeno! Volta ao teu lar e não peques mais, pois se assim fizeres, sofrerás muito!”

  5. Ela Me agradece pela Graça recebida, entretanto pede con- selho como chegar a casa, pois teme vingança por parte dos carrascos templários.

  6. Digo Eu: “Nada receies; pois ficarão satisfeitos em não te encontrar. Fica entre o povo que te protegerá, acompanhando-te a casa. Basta observares o reposteiro do Templo e vê-los-ás escondidos todos! O povo inquiriu o que havia sucedido, motivando sua saída precipitada! Envergonhados em dizer a verdade, deram uma des- culpa qualquer e voltaram ao pórtico do Sul, em atitude ostensiva. Continua entre a multidão, crente em Mim, que serás protegida. Prosseguirei a doutrinação, fazendo com que se apresentem nova- mente. Sua raiva aumentou devido à Minha Atitude e por te salvar

de suas garras. Sê boa e não peques mais!” Acanhada, ela procura se esconder entre a multidão que a encoraja, fazendo ameaças contra os fariseus.

198.CONFISSÃODOSENHORNOTEMPLO(EV.JOÃO8, 12–29)

  1. Assim que o ambiente serena, alguns do povo Me dizem: “Senhor e Mestre, não Te deixes perturbar pelos templários, dá-nos a conhecer Tua missão e o Reino de Deus; todos nós apreciamos Tuas Palavras e nossos corações palpitam por Ti.”

  2. Digo Eu: “Pois bem, prestai atenção. Direi abertamente Quem sou! Eu Mesmo sou a Luz do mundo! Quem Me seguir não caminhará em trevas, mas terá a verdadeira Luz da Vida!”

  3. Cheio de júbilo, o povo exclama: “Sim, é verdade! Vieste qual Luz radiosa a nos beneficiar, após larga erraticidade na cegueira de nossas almas!”

  4. Tal exclamação rompe a paciência dos templários raivosos, de sorte a atravessarem a multidão e Me dizerem: “Testemunhando de ti mesmo, teu testemunho não é verdadeiro!”

  5. Respondo: “Ainda que assim fizesse, testificaria a Verda- de; sei de onde vim e para onde vou. Só vós não sabeis, devido ao orgulho, de onde Eu vim e para onde vou. Julgais tudo pela carne por desconhecerdes o espírito; enquanto Eu por tal motivo a ninguém condeno. Quando Eu julgo, Meu julgamento é justo; pois não sou Eu só, como pensais, e sim estou com o Pai que Me enviou. Não consta em vossa Lei ser válido o testemunho de duas pessoas?! Sou, primeiro, Eu a testemunhar de Mim Mesmo e, segundo, o Pai que Me enviou a este mundo. Quantas teste- munhas exigis?”

  6. Irritados, os fariseus reagem: “Toma-nos por loucos? Onde está o teu pai para te servir de testemunho?”

  7. Eis que Me levanto, dirijo-Me à coluna que serve de caixa para esmolas e digo em voz alta: “Cegos, desconheceis a Mim e ao

Pai, pois se Me conhecêsseis, saberíeis Quem é o Meu Pai!” Após assim ter feito, perguntam-Me por que Eu havia falado ao cepo.

  1. Respondo: “Por ser o mesmo Eu falar-vos ou Me dirigir à cai- xa de esmolas! Ela, ao menos, ouviu com paciência, fato não ocor- rido convosco.” Tal observação é do agrado do povo que incita os fariseus a Me deixarem falar, e eles se retraem um pouco.

  2. Continuo a elucidar as traficâncias dos fariseus e quanto mais os exponho e lhes asseguro as condenações a serem colhidas, tanto maior é sua revolta; todavia, não Me prendem por não ter chegado o Meu tempo.

  3. Nesse instante, adiantam-se alguns judeus, amigos dos tem- plários mas, ao mesmo tempo, inclinados a Me darem razão, dizen- do: “Qual o fito de Tuas Palavras?”

  4. Respondo: “Sabei Eu Me retirar de modo desconhecido de vós; procurar-me-eis sem Me achardes, morrendo com vossos peca- dos. Pois onde vou, não podereis ir.”

  5. Eis que os judeus confabulam: “Porventura suicidar-se-á de desespero por ter irritado os fariseus e dificilmente poderá fugir de sua vingança? Do contrário não poderia afirmar: para onde vou não podeis ir.”

  6. Eu então retruco, com ar alegre: “Não vale a pena quebrar a cabeça. Demonstrarei Pessoalmente o motivo, e vereis de pronto por que não vos será possível chegardes lá para onde irei, da manei- ra que sois.

  7. Vede, sois de baixo e para lá voltareis; Eu sou do Alto, e para lá tornarei sem que Me possais seguir.”

  8. Com isto também esses judeus se alteram, dizendo: “Que vem a ser isto? Acaso nos poderás garantir o inferno?”

  9. Respondo: “Oh, não! A questão é a seguinte: sois deste mun- do, de acordo com as vossas almas; Eu — não sou deste mundo!” Dizem eles: “Onde existe outro mundo? Nada a respeito sabemos.”

  10. Respondo: “Claro. Por isto fiz tal afirmação, porquanto morrereis em pecado em virtude de vossa incredulidade. Não cren- do ser Eu o Prometido Messias, ora em vosso meio, morrereis em

pecado e jamais chegareis lá onde Eu estarei com Meus Eleitos. Se assim não fosse, jamais teria coragem para vos afirmar tal coisa como simples homem.”

  1. Insistem eles: “Que afirmação é esta? Fala claramente quem és, em verdade?”

  2. Prossigo: “Difícil é pregar-se a ouvidos surdos! Não me ten- do compreendido, prestai atenção. Primeiro, sou Aquele que ora vos fala!” Aduzem os judeus: “E mais?”

  3. Respondo: “Paciência. O resto ireis descobrir em Minhas Palavras, pois muita coisa tenho que dizer e julgar de vós. É Verda- deiro Quem Me enviou, e Eu transmito diante do mundo, que sois vós, apenas o que Dele ouvi desde sempre.”

  4. Não compreendendo os ignorantes falar Eu do Pai, ou seja, do Eterno Amor dentro de Mim, novamente indagam quem Me teria enviado. Respondo com muito rigor: “Quando tiverdes argui- do o Filho do Homem, reconhecereis, embora tarde, fazer Eu nada por Mim, mas apenas falo e ajo como fui ensinado pelo Meu Pai. E mais: O Pai que Me enviou não está longe daqui, e sim Comigo. Jamais Me deixa só; pois faço tudo que Lhe agrade e não temo quem quer que seja. Se assim não fosse, não o afirmaria.”

199.OSENHORESEUSADVERSÁRIOS(EV.JOÃO8, 30–49)

  1. Quando assim termino de falar, alguns judeus comentam: “Realmente, esse homem fala como se estivesse dotado de poder, e ninguém se atreve a tocá-lo ou proibir-lhe o discurso. É algo sobre- natural e estamos dispostos a crer!”

  2. Digo Eu aos que começam a acreditar em Mim: “Insistindo no que vos disse, tornar-vos-eis Meus discípulos verdadeiros. Des- cobrireis a Verdade contida em Minhas Palavras, e ela vos libertará como afirmei.”

  3. Obtempera um grupo, incrédulo: “Somos descendentes de Abraham e jamais fomos servos ou escravos. Como tornarmo-nos livres quando somos senhores e cidadãos?”

  1. Replico: “Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete pecado é servo do pecado. O servo não é livre, pois deve obe- decer aos desejos carnais; e o servo nem sempre fica em casa, e sim somente o Filho. Todo pecador é servo, e a casa é o Reino de Deus e sua Justiça, e o Filho é a Verdade. Se, portanto, Eu, como verdadeiro Filho do Reino de Deus, vos liberto, sereis realmente livres.”

  2. Novamente repetem os incrédulos: “Não te esqueças sermos descendentes de Abraham, como insistes em nos libertar?”

  3. Respondo: “Disto estou ciente, e Eu tenho a mesma descen- dência. Embora afirmeis não terdes sido escravos, foram-no vossos pais no Egito e mais tarde na Babilônia; atualmente sois servos de Roma — já que pretendeis falar de circunstâncias externas. Eu Me refiro às internas, pelas quais sempre fostes servos de vossa paixão, deixando-vos dominar quais possessos. Prova isto o fato de procu- rardes matar-Me como pretendem os fariseus, e isto porque Minha Doutrina não cabe em vós, não a compreendeis, odiando-Me por Eu falar a pura Verdade. Digo-vos apenas o que vejo e ouço cons- tantemente de Meu Pai, enquanto considerais apenas o que sabeis também de vossos pais, inútil, porém.”

  4. Novamente eles opõem: “Não te esqueças ser Abraham nosso pai, portanto tuas acusações são infundadas. Compreendeste?”

  5. Respondo: “Compreendo-vos muito bem. Se fôsseis filhos de Abraham faríeis as suas obras. Agora procurais matar-Me qual reles criminoso, apenas porque vos digo a Verdade que de Deus sem- pre ouvi. Realmente, Abraham jamais quis fazer isto aos três jovens que lhe disseram a Verdade. Fazeis simplesmente as obras de vossos pais e não as dele. Compreendei-o!”

  6. Retrucam os judeus, irritados: “Amigo, não somos filhos ile- gítimos! Temos todos um Pai que é Deus Mesmo!”

  7. Digo Eu: “Se Deus fosse vosso Pai, amar-Me-íeis como Me amam os que Me reconhecem. Meu Espírito vem de Deus, e não, qual Homem, de Mim Mesmo, pois Deus Me enviou, quer dizer, este Corpo pelo Qual Ele Pessoalmente Se revela, entretanto procurais matá-Lo. Por que motivo não conseguis ouvir a Minha Voz, se sois filhos de Deus?”

  1. Perguntam eles: “Acaso não te ouvimos?”

  2. Respondo: “Sim, com os ouvidos físicos; todavia, vos per- gunto por que não vos agrada o sentido de Minhas Palavras, e qual a razão ser ele do agrado de muitos, inclusive daqueles romanos que se postaram em redor da caixa de esmolas?”

  3. Eis que não sabem o que responder, pois temem o povo e não se atrevem a externar uma resposta, que naturalmente seria grosseira e agressiva. A multidão, porém, Me diz: “Senhor e Mestre, vê se consegues descartar-Te desses ricos tenebrosos; queremos ouvir Tuas Palavras de Luz e não as constantes objeções desses ignorantes. Dize-lhes abertamente quem são, a fim de que se afastem!”

  4. Digo Eu: “Paciência! Já lhes disse não serem filhos de Deus

  1. Retrucam os judeus, enraivecidos: “Quem te dá direito de expressares tal coisa frente ao povo? Por que somos filhos de Sata- nás?” Respondo: “Porque falo a Verdade e não Me dais crédito!” Dizem eles: “Por que deveríamos acreditar-te?”

  2. Digo Eu: “Para não morrerdes em pecado, podendo vos tor- nar felizes!” Perguntam eles: “És homem como nós; por que justamen- te tuapalavra nos deveria fazer felizes?” Digo Eu: “Sim, também sou simples homem, entretanto posso dizer: Quem entre vós Me pode acu- sar de pecado?! Se, portanto, falo a Verdade como homem sem pecado perante Deus e os homens — por que não Me acreditais?! Quem vem de Deus com prazer ouve Seu Verbo. E vós não quereis ouvir a Minha Palavra, que é a Palavra de Deus, por não vos originardes Nele!”

  3. Completamente cegos de ódio, os judeus insistem: “Não dizemos a verdade afirmando seres samaritano e abrigares o demô- nio em vez do Espírito de Deus?”

  1. Finalizo: “Não sou samaritano e muito menos tenho um demônio dentro de Mim, fato que pode ser testemunhado por mi- lhares. Sempre dou Honras a Deus, Meu Pai. Por que Me deson- rais? E por que não o fizeram tantos outros que reconhecem a Mim e ao Pai?”

200.ANATUREZADOSENHOR(EV.JOÃO8, 50–59)

  1. Nessa altura, o povo, crente, se impacienta e diz: “Senhor, pedimos-Te afastares esses cegos tolos; perturbam a Ti e a nós. Se não sossegarem, agiremos pela força, pois ficamos por Tua causa e queremos ouvir-Te.

  2. Todos nós, cerca de duas mil pessoas, estamos informados de Ti e de Tua Missão Divina, e compreendemos perfeitamente o que querias dizer com as palavras: Não estou só, pois o Pai está sempre Co- migo! — Esses ignorantes não o percebem, e jamais o farão, ser o Pai e Tu Uma só Pessoa e ao afirmares: ‘O Pai Me enviou’, apenas querias apontar às criaturas de fraca percepção que Tu, o Eterno, criaste um Corpo para o Teu uso, a fim de Te tornares um Deus Visível, Doutri- nador e Consolador dos vermes da Terra. Teu Corpo Santificado é Teu Filho, e Tu, Pai, estás Nele diante de nós, pobres pecadores!

  3. Esses tolos não o compreendem, entretanto alegam conhe- cer todos os profetas, que indubitavelmente determinaram a época da Chegada do Messias. Eis o momento preciso; por que motivo deveria demorar o Esperado? Ele Se acha entre nós e foi por nós prontamente descoberto.

  4. Os descendentes daqueles que no deserto adoravam o bezer- ro de ouro, enquanto Jehovah transmitia a Moysés as Leis Sagradas sob raios e trovões, continuam os mesmos adoradores da matéria, e além disto tão atrevidos a ponto de atacar-Te. Senhor, deixa-os seguir e ensina-nos a compreender-Te melhor — inclusive nossos pecados tantas vezes repetidos!”

  5. Respondo: “Ficai calmos; tenho que dizer-lhes Quem sou, a fim de não se poderem desculpar da falta de explicação. Já lhes

transmiti não procurar Eu Minha Honra — e de modo algum entre eles — pois existe Quem a busque e julgue. Essa geração ignorante e maldosa jamais o entenderá, até que o machado atinja suas raízes. Por isto repito: em verdade, em verdade vos digo, quem cumprir Minha Palavra jamais verá a morte!”

  1. Retrucam os judeus irados: “Agora percebemos teres o demô- nio dentro de ti, pois se tua palavra vale tanto quanto a de Deus, o pronunciamento de Abraham, Isaac e Jacob igualmente foi divino

  1. Respondo: “Se honrasse a Mim Mesmo, Minha Honra de nada valeria; todavia, é Meu Pai a Me honrar, e do Qual afirmais ser vosso Deus. Não O conheceis; Eu conheço-O. E se Eu afirmasse desconhecê-Lo, seria mentiroso como vós, alegando ser Ele vosso Pai. Eu O conheço em Verdade e cumpro Sua Palavra!

  2. Digo-vos algo mais, para saberdes não Me ser desconhecido vosso pai Abraham. Ele se alegrou por ter visto Minha Passagem neste planeta! Alegais ter ele morrido! Todavia afirmo ter ele visto Minha Época desde o primeiro dia, sentindo regozijo imenso por isto. Até mesmo agora vê Meu Tempo e se alegra por tal motivo.”

  3. Boquiabertos, os judeus ignorantes exclamam: “O quê?! Ain- da não contas cinquenta anos e viste Abraham?” Retruco: “Em ver- dade, em verdade vos digo: muito antes que Abraham fosse, fui Eu!”

  4. Nessa altura estoura a ira dos judeus! Não têm palavras para expressar sua irritação tremenda; abaixam-se, a fim de apanharem as pedras sempre à mão no Templo e querem arremessá-las con- tra Mim. Oculto-Me ligeiro e saio do Templo, passando por entre eles. Os discípulos, Lázaro e os romanos Me seguem ao Monte das Oliveiras.

  5. Entrementes, dá-se um fato inédito no Santuário: o povo se atira contra os judeus e começa a massacrá-los de modo tal, a ser preciso socorro da milícia. A multidão não se acalma e exige prisão dos fariseus, o que é feito ao menos pró-forma. Em seguida, posta-se

um escriba no centro e tenta elucidar o povo a Meu respeito; não chega a pronunciar dez palavras — e se vê obrigado a fugir.

201.OSEDUTORDA ADÚLTERA

  1. Já passa de meio-dia quando a multidão deixa o Templo, in- clusive a adúltera, que ao chegar em casa relata ao marido o que lhe sucedera. Acabrunhado e triste, ele diz “Sou eu o único responsável pelo fato!”

  2. Diz um dos que acompanharam a mulher: “Como podes ser culpado do adultério dela?”

  3. Responde ele: “Amigos, somente a enorme miséria nos obri- gou a ceder à proposta vantajosa de um estranho. Certamente foi o disfarce de um esbirro ou talvez um fariseu perverso, de há muito cobiçando a minha mulher. Pois quando apanhei a importância esti- pulada e me dirigi a outro recinto, apareceram esbirros, arrancaram-

-na dos braços do conquistador e eu tive de me confessar culpado da grande desdita que a atingiu. Deve ter acontecido algo excepcional em virtude de ter ela voltado, pois tais presas dificilmente retornam ao lar. Não podeis me dizer o que se passou?”

  1. Respondem os homens: “Ela te relatará. Agradece sua liber- dade ao grande profeta da Galileia. Ele aconselhou-a não mais pecar, pois sofreria muito mais.” O marido pergunta se não há possibilida- de de ele agradecer, pessoalmente, ao profeta.

  2. Informam eles: “Não podemos precisar sua atual localiza- ção; sabe-se que para em casa de Lázaro sempre que vem a Jerusa- lém. Nós mesmos pretendemos lá procurá-lo. Por que não fazeis o mesmo?” Satisfeito, o casal fecha a porta e acompanha os outros. Em caminho reconhece num grupo de fariseus o personagem que pela manhã se apresentara em vestes romanas, a fim de levá-la ao adultério.

  3. Informados disto, os acompanhantes do casal se dirigem ao mencionado fariseu, dizendo com rispidez: “Ei, conheces essa cria- tura que procuraste seduzir disfarçado em romano? Tua cabeça ras-

pada o prova, e o casal te conheceu de longe! Somos ao todo setenta e duas pessoas e te levaremos ao juiz! O que alegas em tua defesa?”

  1. Eis que ele tenta fugir. Os outros disto o impedem e o acu- sado começa a jurar sua inocência. O casal então diz: “De nada adianta teu juramento; sabes muito bem valer o testemunho de duas pessoas. Vem conosco ao juiz, a fim de receberes o castigo que pre- tendias aplicar.”

  2. Os três fariseus começam a implorar e oferecem grande im- portância para resgate. O marido não a aceita, mas exige paz por parte do Templo. Eles o prometem e em seguida seguem caminho, certos de que seriam denunciados caso o sinédrio se externasse con- tra o casal. Tal ocorrência foi motivada por Mim, para proteção fu- tura do mesmo.

202.OSENHORÉPROCURADOPOR LAVRADORES

  1. Em seguida, todos se dirigem ao Monte das Oliveiras, onde estou fazendo a refeição em companhia dos discípulos, de Lázaro e dos romanos. Ao serem os setenta informados de Minha Presença, pedem permissão para se dirigir a Mim. Um empregado Me trans- mite tal pedido, ao que respondo: “Dize-lhes: quem tiver fome que venha saciar-se, e quem estiver com sede venha mitigá-la! Jamais sentirá fome quem for saciado por Mim; e quem tomar do Meu Vinho nunca mais sentirá sede, pois transbordará de água viva!”

  2. Ao receberem tal recado, os homens não sabem como inter- pretá-lo, achando-se sem mérito para uma refeição gratuita. Por isto dizem: “Tem a bondade de transmitir ao bom Mestre e Senhor não termos vindo para comer e beber, mas apenas por causa dele, a fim de ouvirmos algumas palavras de Luz e Vida!”

  3. Ao voltar o empregado, Eu Me adianto e digo: “Já sei o que irás dizer. Podes voltar aos teus afazeres, pois falarei Pessoalmente com eles.” Dirigindo-Me ao grupo, prossigo: “Quem tiver ouvidos, que ouça e compreenda; e quem tiver olhos, que veja e entenda. Pretendo dar-vos alimento e bebida, justos! A alimentação do corpo

não beneficia a vida eterna da alma, mas unicamente o Meu Verbo, e a vossa fé e ação dentro dele. Meu Verbo é o justo alimento; vossa fé e ação — a justa bebida. Por isto vinde todos que estais cansados e oprimidos, pois quero aliviar-vos!”

  1. Respondem eles: “Oh, Senhor, como és Bom e Sábio! Se per- mitires, esperaremos na sala até que seja do Teu Agrado suprir-nos com o alimento espiritual. Em nosso meio encontra-se a criatura que pela Tua Ajuda foi arrancada dos fariseus do Templo, em com- panhia do marido, para agradecer-Te pelo grande benefício.”

  2. Digo Eu: “Vim justamente ao mundo para ser procurado pelos aflitos; pois sou o Verdadeiro Médico a socorrer os enfer- mos e não procuro os sadios. Acompanhai-Me!” Volto à sala e eles Me seguem.

  3. Após todos acomodados numa grande mesa, o taverneiro pergunta se desejam tomar qualquer coisa. Responde um do grupo: “Somos pobres e não temos com que pagar vinho; por isto podes servir alguns pães e água. A época de festas é a pior, porque não podemos trabalhar. Graças a Jehovah somos solteiros, pois não sabe- ríamos como sustentar família.”

  4. Manifesta-se Lázaro: “Por que não viestes a Bethânia? Aqui há trabalho de sobra e ninguém passa mal.” Em seguida, ele man- da servir pão e vinho, em quantidade, prosseguindo: “Saciai-vos à vontade, pois já está tudo pago.” Alegres, eles brindam o doador e se entregam à alimentação.

203.MOTIVODAINCREDULIDADEDOS TEMPLÁRIOS

  1. Entrementes, palestro com os romanos que não compreen- dem como podia Me esquivar dos judeus do Templo, munido que sou do Poder Divino. Virando-Me para Agrícola, digo: “Enganas-

-te supondo temor da Minha parte. Sei por que o faço e o motivo principal foi levar ao povo o conhecimento de Minha Pessoa e a noção sobre os judeus maldosos, incrédulos e egoístas. Por isso ele atracou-se com eles, a ponto de se recordarem até o fim da vida. Por

que deveria Eu entrar em ação, ciente do que os aguardava? Aqui se acham setenta testemunhas da ocorrência.”

  1. Diz o romano: “Mestre Divino, somos romanos e pouco sa- bemos da Doutrina dos judeus, entretanto cremos seres o Messias Prometido! Qual o impedimento de sua crença?”

  2. Respondo: “É motivado pelo egoísmo, orgulho ilimitado e domínio desmedido. Pela sua compreensão deveria o Messias descer dos Céus com pompa indescritível e, sob raios e trovões, penetrar no Templo e dotar os sumos sacerdotes, fariseus e escribas com todo po- der e glória; expulsar os romanos e entregar o regime aos templários.

  3. Como vim de modo diverso — aliás determinado antes da Criação deste mundo — em completa pobreza, não creem ser Eu o Prometido e Me odeiam por ver em Mim o motivo da perda de sua honra e poder.

  4. O povo começa a conhecê-los e não mais os considera, razão por que tentam a Minha morte. Refletindo a respeito, compreende- rás o porquê da incredulidade dos sacerdotes.

  5. Existem, todavia, muitos que aderiram a Mim pelo fato de reconhecerem ser Eu o Messias; acham-se nesta mesa em trajes gre- gos e há mais de meio ano Me seguem, testemunhas de Meus En- sinamentos e Ações. Perguntai-lhes, que tudo vos será transmitido.

  6. Os doze mais próximos estão Comigo desde início da Minha Missão, sabem de tudo que falei e fiz em benefício dos homens. Podeis igualmente falar-lhes que nada vos ocultarão.”

  7. Diz Agrícola: “Quer dizer que o sacerdócio é diabólico em toda parte! Deveria ser deposto, a fim de divulgar-se apenas Tua Doutrina Celeste.”

204. EDUCAÇÃO DA HUMANIDADE NO CONHECIMENTO DE DEUS

  1. Digo Eu: “Meu amigo, teu desejo se realizará; mas não tão fa- cilmente como pensas, pois o sacerdócio já deitou raízes profundas. Séculos serão precisos para arrancá-las; ainda assim não surtirá efeito

e nem em milênios esta Terra estará livre do sacerdócio, e muito menos do paganismo.

  1. As criaturas intelectuais apreciam o mundo; por isto deve uma religião apresentar aspecto mundano para despertar interesse. A Verdade ser-lhes-á transmitida veladamente, pois do contrário, a suportariam tampouco quanto a luz do Sol, de olhos abertos. Ne- cessário é as criaturas aprenderem a pensar, para depois procurar e achar a Verdade. Se porventura o homem não encontrar a Luz inter- na da Vida de modo próprio, de nada lhe adiantam mil professores, e no fim será o mesmo, tomando a Luz pela treva, ou vice-versa.

  2. Por tal motivo é preciso que receba um impulso na procura da Verdade — a plenitude da mesma, jamais de modo súbito; inte- grando-se dela de modo abrupto, ninguém a suportaria sem risco de morte. Eis a razão por que por muito tempo não podemos projetar a Verdade plena. Tu, por exemplo, és romano de cultura racional e não posso falar-te senão intelectualmente. Julga tu mesmo se te- nho razão.”

  3. Responde ele: “Sem dúvida; todavia, não compreendo a Sa- bedoria Divina e muito menos Sua Onipotência. Não criou Deus a Terra, inclusive a Humanidade, e todos os seres não dependem Dele?”

  4. Digo Eu: “Exato; antes de tudo, porém, Dele dependem a educação verdadeira e interna, a plena independência e força de toda criatura. Isto tudo, Deus só pode realizar através de Seu Retraimento e suave Insuflação na alma humana.

  5. Para tanto é o homem, no princípio, levado a refletir acerca dos fenômenos e impressões materiais, e em seguida por meio de sonhos e outros pequenos sinais — e isto não se dá com todos, mas apenas com os destinados por Deus. Os demais são informa- dos pelos primeiros, fazem igualmente suas pesquisas e começam a meditar.

  6. Quando pessoas mais inteligentes se entregam a repetidas reflexões, Deus permite descobrirem a Existência Divina que tudo projeta, organiza e conduz. Assim se desenvolve, de modo natural, a descoberta de um Ser Divino, Onipotente, boníssimo e sábio.

  1. Uma vez a Humanidade alcançando tal conhecimento, serão permitidas revelações maiores e determinações mais precisas, pelas quais as criaturas começarão a penetrar mais confiantes no Âmago Divino; contudo, terão vasto campo de ação para aceitar, ou não, a revelação da Verdade.

  2. Quem a puser em prática progredirá no conhecimento mais profundo e chegará à vida verdadeira, independente e livre. Quem não aceitá-la, positivando-se unicamente na sua razão e experiência, não comete propriamente pecado; estacionará, levando muito mais tempo para chegar ao conhecimento puro de Deus e ao aperfeiçoa- mento de sua vida interna e real.

  3. Quem concebe a plena Verdade de uma revelação e a as- simila com o intelecto, todavia age contrariamente, com teimosia, peca e danifica sua vida também no além-túmulo, por épocas in- concebíveis; pois está isento de qualquer luz interior, por não ter seguido a razão absoluta, tampouco a revelação bem compreendida.

  4. Quando uma alma tiver chegado à mais densa treva psí- quica, Deus não a pode socorrer com toda Sua Onipotência, mas deixá-la-á em seu estado individual até que chegue a alguma noção. Isto se dando, o Amor e a Sabedoria de Deus têm meios apropriados e caminhos infinitos para reajustá-la de modo imperceptível. Eis a relação entre Deus e todas as criaturas desta Terra, destinada a abri- gar os filhos de Deus.

  5. Quanto às relações dos seres de outros planetas frente a Deus, não dizem respeito aos habitantes do orbe; quando eles es- tiverem perfeitos como filhos do Pai, terão pleno direito dado por Deus a dedicar-se àquilo.

  6. Atualmente dá-se a maior das revelações, pois não é possível vir à Terra alguém mais importante que Eu. Feliz daquele que crê em Mim e não se aborrece Comigo, vivendo como ensino de viva Voz! Quem assim fizer em breve perceberá que as Palavras por Mim proferidas não são humanas, mas divinas.

  7. Por isto deixaremos os lá de baixo se não quiserem crer em Mim; há muitos que o fazem, abrigando desde já a Vida Eterna den-

tro de si. Realmente, existem alguns que não sentirão a morte. Sou um verdadeiro Noivo, e quem crê em Mim e Me ama é realmente Minha noiva! E a noiva terá em si a Vida Eterna que Eu possuo, podendo dar a quem quiser. Compreendes?”

205.LIVRE ARBÍTRIO E MISSÃO ESPIRITUAL DASCRIATURASDA TERRA

  1. Diz o romano: “És realmente Deus, pois como simples ho- mem não poderias falar tão sabiamente e Tuas Ações milagrosas são testemunho justo de Tuas Palavras. Muito ouvimos em Roma a Teu respeito, entretanto aqueles comentários não traduzem a realidade. É preciso guardá-las no cérebro, para então nos capacitarmos de ou- tros conhecimentos.”

  2. Os discípulos se admiram da inteligência do romano, dizen- do: “Quão rápido esse pagão integrou-se da Verdade, enquanto os judeus em Jerusalém não enxergam um palmo diante do nariz! É de- veras estranho não quererem ou poderem perceber a Luz claríssima da Vida em seu próprio benefício.”

  3. Diz um dos greco-judeus: “Não o querem compreender, crentes perderem com isto seu conceito, fortuna e bem-estar. Ainda que descessem os anjos celestes para transmitir-lhes ser nosso Se- nhor e Mestre o Cristo, não o aceitariam pelo motivo acima, pois sei como se portaram por ocasião do sumo sacerdote Zacharias. Eu e muitos outros vimos o anjo falar-lhe e estamos convictos da re- alidade da aparição; o orgulho ilimitado e o egoísmo dos demais fariseus desconsideraram a Verdade e estrangularam-no entre o altar e o Santíssimo. Pensam hoje de modo idêntico e teriam aceito uma luta com Jehovah em época de Moysés, caso tivessem vivido naquela ocasião. Eis os sacerdotes por Ti tolerados, Senhor, e chamados ser- vos de Deus.”

  4. Digo Eu: “Deixemos isto; acabo de expor aos romanos como a Humanidade toda é educada para a vida, inclusive os sacerdotes. Muito embora seja maldosa, sua teimosia voluntária em permanecer

no pecado prova a que ponto Deus respeita o livre arbítrio como único gérmen na conquista da Vida Eterna da alma. Nisto está a maior prova ter Deus criado os seres, não somente para esta Terra e sua curta duração, mas para uma existência eterna e espiritual que só pode ser alcançada pela plena liberdade da alma — todavia pode igualmente perder-se, caso o homem persista na teimosia até o fim. Quer dizer: a alma jamais deixará de ser alma; entretanto, resta saber quealma, pois no Além o aperfeiçoamento não pode ser alcançado como aqui. O porquê já vos foi demonstrado por várias vezes. Pos- teriormente faremos outras observações sobre o assunto e quanto à grande Misericórdia de Deus.

  1. Ainda aparecerão alguns pecadores, publicanos e fariseus disfarçados, informados da Minha Presença. Acabemos a refeição e durante a mesma não Me façais outras indagações.”

206.PECADOE PENITÊNCIA

  1. Três horas antes do crepúsculo damos uma volta no monte e, em seguida, acampamos debaixo das oliveiras. Nisto aproxima-se grande número de pessoas perguntando por Mim; quando infor- madas de Minha Presença, não têm coragem para achegar-se. Eis que digo a Lázaro: “Faça com que venham aqui, pois trata-se das pessoas há pouco mencionadas por Mim. Estavam à Minha procura e devem encontrar-Me.”

  2. Achegando-se com tibieza, levanto-Me e pergunto o motivo de sua vinda. Um publicano se anima, dizendo: “Senhor e Mestre, somos grandes pecadores, de sorte há muitos anos não podermos frequentar festejos, missas e prédicas no Templo. Hoje lá fomos para ouvir-Te. Tuas Palavras nos convenceram seres Tu o Messias Prome- tido, não obstante os fariseus não concordarem.

  3. Além disto concluímos não simpatizares com o sinédrio; e desejamos perguntar-Te a maneira pela qual poderíamos conseguir de Deus o perdão dos pecados. Disseste no Templo que os oprimidos deveriam procurar-Te para receber alívio e aqui vimos para tal fim.”

  1. Digo Eu: “Minhas Palavras proferidas no Templo também vos servem aqui no monte. Quem comete pecado é servo do mesmo e a Verdade não se acha nele; a Verdade não estando na criatura, ela não possui liberdade.

  2. O fato de não frequentardes o Templo em virtude de vossa profissão não constitui o maior pecado; acontece terdes muitas vezes afligido os pobres, obrigados a passarem pela aduana e igualmente deixastes de pagar o ordenado aos empregados. Eis evidente pecado e quem o pratica não vai para o Céu, e sim será atingido pelo julga- mento e a morte espiritual.

  3. Quem não tem amor ao próximo muito menos o terá para com Deus, ao Qual deveria amar acima de tudo. Não amando a quem vê, como poderia amar o Pai, Invisível?! O amor a Deus e o subsequente amor ao semelhante é justamente a vida da alma; quem não tiver manifestação psíquica não tem vida, mas sim o julgamento e a morte.

  4. Contudo vos digo serem perdoados vossos pecados, porque os reconhecestes, arrependendo-vos e detestando-os; a fim de alcan- çardes a plena remissão, preciso é reparardes o prejuízo aplicado a outrem, não mais incorrendo em tal erro. Quem não tiver pago o último ceitil de suas dívidas não ingressará no Céu até que tenha pago tudo. Fazei isto, que lucrareis a Vida Eterna, remindo-vos in- teiramente de vossos pecados.

  5. Ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro, pois quem pro- cura e preza o dinheiro não pode amar a Deus. Quem não amar a Deus não possui Vida verdadeira e divina, e sim apenas manifesta- ção aparente, provinda do príncipe da matéria; em si é ele morto e só pode transmitir a morte como sua eterna natureza. Sabeis o que fazer; agi de acordo que vivereis eternamente.”

  6. Diz o publicano: “Ó Senhor e Mestre, agradecemos-Te por consolo tão grande. Empenhar-nos-emos em cumprir tudo fielmen- te; no entanto, temos necessidade de um conselho. Como judeus causamos grande prejuízo ao Templo; acaso não somos obrigados a repor aquilo que redundou em dano através de nossa apostasia?”

  1. Respondo: “Podeis fazê-lo — mas Deus não o considera, e sim apenas um coração puro, meigo, humilde e amoroso. Podeis livrar-vos dessa dívida favorecendo os pobres, mormente viúvas e órfãos. Isto sim é do Agrado de Deus. Enriquecer o Templo, riquís- simo, não tem valor para Ele.

  2. Sabeis o que consta no Livro dos profetas quanto à venera- ção de Deus no Templo? Lê-se o seguinte: Esse povo Me honra com os lábios; seu coração, no entanto, está longe de Mim. — Todos os grandes sacrifícios, inclusive os holocaustos, são um horror para Deus, pois nada disto Ele necessita. Por que haveríeis de dar a Deus coisas terrenas, antes recebidas Dele?! Ele não aprecia o odor de ani- mais sacrificados no fogo, mas sim necessita, como Pai, da chama de amor de vossos corações filiais. Compreendestes?”

  3. Responde um fariseu disfarçado, a fim de experimentar-Me: “Mestre, se os sacrifícios nada valem para Deus, por que Jehovah mandou instituí-los por Moysés e Aaron?”

  4. Digo Eu: “Simplesmente para dar-vos um exemplo do sa- crifício Daquele que nesta época Se sacrificaria por amor a todas as criaturas. Além disto, foi o holocausto criado como testemunho contra vós, para vos recordardes sempre que sois pecadores e apósta- tas de Deus, portanto necessitáveis de penitência e de um Mediador que vos unisse novamente a Jehovah.

  5. Deste modo, o sacrifício só tem o valor do ensinamento. Feito por vós, não tem importância alguma para Deus, e sim para vós mesmos como interpretação do Verbo Divino, compreensivo aos sábios. Pretendendo dar ao sacrifício algum valor, deve o homem agir de acordo com seu sentido.

  6. O sentido espiritual do holocausto, por vós efetuado sem noção e conhecimento, consiste no dever de vosso amor acima de tudo para com Deus, e ao próximo como a vós mesmos, evitando impudicícias e adultérios. Compreendestes?”

  7. Arregalando os olhos, o fariseu vira-se para o vizinho: “Que me dizes a isto?” Responde esse: “Não resta dúvida ser inteligente; formularei uma pergunta e quero ver como se sairá dela.” Virando-se

para Mim, ele prossegue: “Mestre, falaste certo; entretanto, resta sa- ber quem é meu próximo.”

  1. Digo Eu: “Primeiro, todo aquele que necessita de tua ajuda; segundo, qualquer estrangeiro ainda que pagão. Todavia darei um exemplo para julgardes quem seja vosso semelhante.” Em seguida relato a parábola do samaritano misericordioso e digo: “Quem foi o próximo do ferido?”

  2. Responde ele: “Quem lhe fez caridade!” Digo Eu: “Então vai e faze o mesmo, que teu sacrifício será verdadeiro e do Agrado de Deus, e muito melhor que o holocausto no Templo.”

207. FASE FINAL DA TERRA. O REINO DE MIL ANOS E OJULGAMENTODO FOGO

  1. Em seguida levanto-Me e passeio com os discípulos. Há vá- rios bancos onde nos sentamos para apreciar o panorama, vendo-se ao longe a cidade de Jerusalém. Eis que João Me diz com melanco- lia: “Senhor, meu amor, é uma lástima ser destruída esta cidade, em futuro breve!”

  2. Respondo: “Meu amado João, tua observação é justa, tanto que vês lágrimas em Meus Olhos! Mas que fazer? Exterminar os mo- radores por um anjo estrangulador, somente para conservar as mu- ralhas, seria tolo e deplorável; pois acolhem milhares que em tempo Me acreditarão. Vede aí os setenta homens, os publicanos, inclusive os fariseus e escribas disfarçados — todos aderirão ainda hoje. Por isto, este local deve ser poupado de um julgamento pesado. Quando tirados todos os peixinhos desse lago, nele perdurando apenas víbo- ras e rãs, será chegado o momento de soterrar o brejo miserável com fogo e terremoto.

  3. Observai essa zona toda! Que aspecto apresentava há bilhões de anos?! Havia pouco terreno sólido e nem vestígio de montanhas e vales exuberantes. Somente por sucessivos incêndios que duravam milênios e de violência colossal, estendendo-se por quase todo orbe, a Terra tomou esta forma.

  1. Aquilo que sucedeu à formação natural do planeta corres- ponde à educação espiritual do homem. Atualmente acha-se tudo convulsionado e cheio de violentas tempestades nas almas humanas. Paixões indômitas se expandem, exterminando tudo a seu redor. Deixemos este assunto; tempo virá em que tais expansões se trans- formarão em solo sereno e fértil, proporcionando claridade e alegria entre as criaturas. Todavia, o número de boas e puras será sempre menor do que as dominadas pela fraqueza mundana.

  2. Tal época melhorada durará mil e poucos anos, e a Terra será idêntica à formação atual em que, castigada por poucas tempesta- des, se acha em certa calma e ordem, cheia de campos vicejantes e férteis; entretanto, conta com desertos enormes, com exceção do Grande Oceano.

  3. Após tal época de mil anos, a Terra terá que passar por grande poder de fogo; as montanhas se transformarão em planícies provei- tosas, o mar terá que expelir o território enterrado nas profundezas e será mudado para um paraíso, pelas mãos do homem. Então reinará a verdadeira paz, e a morte perderá sua razão de ser até a final disso- lução terráquea.

  4. Assim como as montanhas serão niveladas, os homens terão que se despojar do orgulho por provações duríssimas; do contrário, impossível será a paz interna. A guerra suscita orgulho; este extermi- nado, apagar-se-ão inveja, cobiça, ódio, discussão, contendas e lutas.

  5. Deste modo, essa cidade célebre e antiga, para a qual o gran- de Rei de Salém deitara a pedra fundamental, será humilhada moral e materialmente e nivelada, ocorrendo-lhe o mesmo que a um cedro velho e muito alto, porém morto e oco, quando atingido pela tem- pestade na raiz deteriorada. Em seguida, é partido pelo serrote e o machado, e queimado na lareira.

  6. Na árvore, isto acontece pela Natureza; no homem, é provo- cado pela má vontade, não querendo sujeitar-se a lei qualquer, assim como os hanochitas foram responsáveis pelo Dilúvio devido à deso- bediência, naufragando todos. Quantas vezes foram advertidos por Mim através de visionários para deixarem as montanhas! Ninguém

prestava ouvidos. Entregaram-se à gula, pecavam de todas as manei- ras, casavam com pompa, até que as águas os afogassem. O mesmo se dará aqui. Essa raça orgulhosa de víboras se erguerá acima dos romanos, na ignorância do suposto poder, querendo expulsá-los. Tal cegueira selará seu fim. O militar e posterior imperador que dará extermínio à cidade e seu povo já nasceu.

  1. No final da Humanidade dar-se-á o seguinte: os homens não demolirão montanhas como fizeram os hanochitas à procura de ouro e pedras preciosas, tampouco instigarão romanos; todavia, começa- rão por meio de máquinas a perfurar o solo terráqueo, por cujos canais gases incendiáveis subirão em grandes massas à superfície. Tão logo a atmosfera estiver saturada, eles incendiarão quase todo o orbe. Serão poucos os sobreviventes, todavia de têmpera justa e fiel. Habi- tarão uma Terra renovada, e vós, inclusive muitos outros, posterior- mente inspirados em Meu Nome, sereis seus doutrinadores e guias.

  2. Só então o Meu Reino estará fixo nesta Terra e as criaturas do Sol entrarão em união equivalente com Meus filhos, progredindo no amor de Minha Prole real. Guardai em segredo o que acabo de vos dizer; não adiantaria alguém ter noção disto nesta época. No justo tempo transmitirei tais fatos aos homens, capazes de suportar noções mais profundas. Compreendestes?”

  3. Diz João: “Senhor, compreendi-o perfeitamente. Não sei se os demais irmãos fizeram o mesmo.” Todos o confirmam, com exce- ção de Judas, que diz: “Senhor, nem tudo me é claro.”

  4. Digo Eu: “Se assim é, muito embora sempre te vanglorian- do de teu intelecto, consulta os teus irmãos! A humildade compre- ende mais facilmente que o orgulho obstinado; se nele continuares, será teu demônio, juiz e morte. Qual teu mérito por te julgares su- perior aos outros? Humilha-te para fugires das garras de Satanás!”

  5. Judas dá meia volta e procura Nathanael, com quem ainda mais simpatiza, recebendo dele as explicações necessárias. Um dos greco-judeus opina não ser desvantagem transmitir-se algo aos outros judeus. Respondo: “Saberão em tempo o que precisarem. Eis Lázaro, até então entretido em controvérsia com os templários disfarçados.”

208.RELATO DE LÁZARO QUANTO AOS FARISEUS INCRÉDULOS

  1. Nisto, Lázaro se aproxima, dizendo: “Senhor e Mestre, las- timo imenso não poder ter ficado em Tua Companhia; percebi que desejavas repousar e procurei entreter o povo, cujos comentários são a Teu favor. Os romanos trataram os templários disfarçados de modo tal, a dificultar-lhes qualquer objeção. Dois estão prontos para acreditar-Te; os demais persistem na afirmativa de não poder surgir profeta da Galileia. A mulher salva das garras do Templo, então, ar- gumentou: ‘É justo o que dizeis; entretanto não é Ele profeta e sim o Messias, quer dizer, o Próprio Senhor que Se fez anunciar. Além disto, ouvi ter Ele nascido em Bethlehem, na Judeia, recebendo no Templo o Nome de Jesus após a circuncisão.’

  2. Nessa altura, os romanos e demais assistentes manifestaram seu apoio a ela e convidaram os templários a refutar aquela afirma- ção. Como ninguém fosse capaz disto, ela triunfou perante todos e para minha grande alegria. Por isto prometi-lhe e ao marido garantia para sua subsistência, provocando atitude de crítica por parte dos antagonistas.

  3. Em seguida, Agrícola se lhes dirigiu, dizendo: ‘É realmente estranha vossa negativa quanto ao Messias, sabendo como sacerdo- tes e doutrinadores do povo combinarem as circunstâncias com o personagem de nosso Senhor!

  4. Todos vós tendes considerável fortuna e bastante astúcia; en- tretanto, nenhum teria coragem de se apresentar em ricos trajes e afirmar perante a multidão ser o Messias dos judeus, sabendo ante- cipadamente como seria recebida tal declaração. Quem dá coragem a esse homem simples e modesto, para declarar perante o mundo ser Ele justamente o Messias?! E além disto prova Suas Palavras com milagres! Por que não acreditais? Devido ao vosso orgulho e amor-próprio!

  5. Nós, romanos, nunca fomos assim; seguimos o princípio ju- rídico: ‘Dá a cada um o que de direito, não ofendas nem enganes

e vive honestamente! Analisa tudo, alimenta o Bem e a Verdade, e em todas as ações sê prudente e aguarda as consequências.’ Todo romano vive dentro dessas normas e se interessa por tudo que seja grandioso e excepcional. Vós afirmais em tudo vossa semelhança di- vina; basta aparecer algo desse gênero — vosso ódio é mortal! Que espécie de criaturas sois?’

  1. Respondeu um fariseu disfarçado: ‘Como senhores do povo judeu vos agrada um Messias negativo e a vosso favor; mas quan- do vier o verdadeiro e poderoso Messias, expulsar-vos-á do país, elegendo-Se Ele Próprio Soberano do mundo inteiro!’

  2. O romano se controlou e disse calmamente: ‘Por muitas ve- zes foi essa ideia expressa pelo Messias, não aceito por vós! Além disto, sois mentirosos alegando Sua fraqueza; pois tem maior poder e força em Sua Vontade que todos os soberanos do orbe. Um pouco de paciência, porque quando voltar ao nosso meio, pediremos que dê pequena prova de Sua Onipotência e veremos se combina com Sua suposta fraqueza.’

  3. Percebendo a reação de alguns romanos quanto ao atrevimen- to dos dois fariseus disfarçados, eu, Lázaro, lhes disse: ‘Caros cida- dãos de Roma! Não considereis o falatório sem nexo dos ignorantes! Se tivessem uma fagulha de inteligência, não teriam se externado des- se modo. Todos nós somos judeus, inclusive nosso Mestre e Senhor, e consideramos vosso povo e o Governo de Roma; justamente ele é nossa proteção contra o excessivo domínio por parte do Templo e do Tetrarca Herodes. Irei pessoalmente implorar ao Senhor que dê uma prova de Seu Poder, a fim de que não possais afirmar Sua fraqueza!’ Aqui estou, Senhor, para pedir o que disse aos romanos!”

209.OMILAGRENO ALBERGUE

  1. Digo Eu: “Caro amigo e irmão! Esses cegos pela má vontade sabem muito bem que sou Poderoso e não necessitam de provas maiores de Minha Sabedoria, Poder e Força; seu ódio deriva de seu pavor. Ainda assim farei algo inesperadamente e em benefício dos

romanos, para dar-lhes um meio de defesa. Voltemos a casa, pois o Sol já está desaparecendo.”

  1. Objeta Lázaro: “Senhor, não sei se minhas acomodações comportam tantas pessoas.” Respondo: “Não te preocupes, pois muitas ovelhas pacíficas cabem num estábulo, e os dois fariseus ra- bugentos em nada perturbarão.”

  2. Nem bem sentamos à mesa, todos invadem a enorme sala, que os comporta comodamente. O tavoleiro então observa: “Ou as criaturas diminuíram, ou a sala aumentou! Nunca vi tanta gente aqui dentro! E de onde vieram tantos bancos e mesas, quantidade de pães e vinho? Deste ordem aos empregados?”

  3. Responde Lázaro: “Tão pouco quanto tu! É obra do Senhor! Observa a mesa dos romanos. As ânforas de prata e as taças de ouro! Acaso tens tais objetos para servir a mesa?”

  4. Estonteado por tamanha consideração, Agrícola vira-se para Lázaro, dizendo: “Por que somente hoje apresentas deferência dessa ordem, justificável apenas na presença de um soberano?”

  5. Responde Lázaro: “Amigo, se essas baixelas fossem minhas, teriam sido usadas para vós; assim não sei como aqui foram trazidas e presumo tratar-se de uma pequena prova do Poder do Senhor! Tudo se passa de modo milagroso. Vede o grande número de mesas, vinho e pão em quantidade, sem que alguém tivesse tratado disso. Além do mais, sei quantas pessoas poderiam ser acomodadas nesta sala; entretanto, acham-se nela cinco vezes mais e existe espaço para outras tantas — todavia o salão não se modificou!”

  6. Diz o romano, admiradíssimo: “É realmente milagre! E quem o operou é Deus, e não humano!” Entrementes, já se fez noite e urge tratar da iluminação, coisa difícil na época. Quando se apagava a chamada “lâmpada eterna”, existente em todos os lares, era preciso pedir-se ao vizinho ou então incendiar dois paus por meio de fric- ção. Eis a situação aflitiva em casa de Lázaro, onde os empregados se cansam em fazer fogo.

  7. Nisto, o anfitrião se aproxima de Mim e diz: “Senhor, tudo Te é possível e basta quereres para haver luz!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, colocai nas mesas lamparinas e castiçais, e verei o que faço!” Após tudo arrumado prossigo: “Empregarei as mesmas palavras pronunciadas por Deus quando Se dirigiu às tre- vas, fazendo-se Luz nas profundezas da Criação, pois tenho o Poder de dizer: Que se faça luz em toda casa!”

  2. Nem bem termino, as lamparinas da sala, aliás em todos os recintos, são acesas e a lenha no fogão se incendeia milagrosamen- te, de modo que as cozinheiras se entregam ao preparo dos pratos. Tanto os fariseus quanto os romanos não têm palavras diante do fenômeno, passando quase meia hora antes de conseguirem movi- mentar as línguas.

  3. Então Agrícola levanta-se e diz aos disfarçados fariseus: “Qual vosso parecer nessa manifestação de ‘fraqueza’ do Messias?! Acaso seríeis capazes de repeti-la pela simples vontade?”

210.DÚVIDASDOS FARISEUS

  1. Manifesta-se um fariseu, confundido: “Tudo isto é extraor- dinário e inédito; todavia, já presenciamos fatos semelhantes por magos, sem podermos precisar quais os recursos: naturais ou com a ajuda de espíritos. Assim, pode esse homem ser dono de segredos al- cançados por talento especial. Antes de aceitá-lo como Deus, preciso é analisar-se tudo, pois não contesto a possibilidade de ser o Messias.

  2. Nós, judeus, respeitamos um Mandamento que obriga a fé em Deus Único, proibindo deuses estranhos. Qual o caminho a se- guirmos? Teríamos que acreditar em dois deuses: um visível e outro invisível e do Qual consta nenhum mortal poder vê-Lo e continu- ar com vida.

  3. A situação dos romanos é mais fácil devido ao politeísmo, e não faz diferença acrescentardes mais um deus aos outros. Para nós, o Messias Prometido só pode ser semelhante a Moysés ou Elias, do- tado de poder espiritual de um sumo sacerdote e rei, qual David; a ideia de ser ele o Próprio Jehovah, quiçá Seu Filho Verdadeiro — di- ficilmente será aceita pelos fiéis, não obstante todos os milagres. En-

quanto Deus Mesmo não Se manifestar em tal questão, nada mais nos resta senão continuarmos nas antigas Leis.”

  1. Responde o romano: “Falaste com tirocínio, entretanto sabe- mos de que modo considerais os Mandamentos. Vosso interesse se concretiza no lucro, e em vossas negociatas vendeis Jehovah e todos os profetas! Se assim não fosse, não seríeis perseguidos pelos samari- tanos. O fato de não quererdes aceitar esse homem excepcional em sua integridade se baseia no receio de serdes reduzidos em conceito e vantagens. Em vossa falta de consciência estais satisfeitos de vos ter livrado de toda fagulha de fé em Deus! E subitamente deveríeis vos inteirar de uma crença verdadeira?! Isto, nunca! Existe apenas um ponto a vos perturbar: o povo nele acredita, torna-se conhecedor da Verdade, virando-vos as costas. Disse-vos tudo, e podeis fazer o que vos agrade!”

  2. A esse discurso enérgico do romano, que evidentemente por Mim fora inspirado, o fariseu queda aparvalhado sem saber como retrucar. Nisto se manifesta um outro, intimamente inclinado a crer em Mim: “Caro amigo, tua crítica foi algo forte. Não quero com isto dizer não haver, entre nós, tipos conforme exemplificaste; eu e alguns outros não concordamos! Nossa fé em Jehovah e os profetas é firme; as inovações do Templo não foram por nós criadas, entretanto somos obrigados a segui-las. Deste modo presumo estar Deus de acordo com as alterações, pois nunca Se manifestou em contrário e tampouco nos enviou profeta aceitável.

  3. O mencionado galileu estaria realmente dotado de todos os sinais proféticos, e seria por mim aceito não fora sua terra na- tal a Galileia. O mesmo sucedeu com João Baptista, conterrâneo do carpinteiro, não podendo por tal motivo ser aceito qual profeta genuíno. Não deixa de ser verdade serem ambos judeus natos; na Escritura prevalece, porém, o local do nascimento de tais homens: constando não aparecer um da Galileia, não é tão fácil aceitar sua idoneidade. Por isto temos de analisar muita coisa antes de nos con- vencermos; aliás, foi este teu próprio conselho e julgo não estarmos errados se assim fizermos!”

  1. Diz o romano: “Concordo; todavia, nada mais há para ser submetido à análise, pois rege aqui a Verdade plena e inconfundível, apenas não perceptível aos cegos. Romanos e gregos não fazem parte dos que tudo aceitam e têm bastante perspicácia para discernir as atitudes incomuns de um indivíduo. Além disto, somos conhecedo- res da magia persa e egípcia. Os feitos desse judeu, mormente Seus Ensinos, ultrapassam tudo visto até esta data. Tais provas são sufi- cientes para se dizer: Não é ele um ser humano, e sim Deus, Merece- dor de toda honra! Não vem ao caso acreditar-se, mas render-se-Lhe adoração e amor!

  2. A Verdade só pode ser percebida por aquele que nela se en- contra; a criatura isenta dessa luz da alma não pode, como vós, per- cebê-la. Pretendeis analisar obras e ensinos desse Homem-Deus? Nós, romanos, desejaríamos saber como ireis agir para tanto, pois quem quer se entregar à pesquisa tem de ter conhecimento e apti- dões. Onde teríeis alcançado tais fatores? No Templo enferrujado? Fora dele nada conheceis e nunca pudestes angariar outras noções. Confessai se não é este vosso estado real?!”

211.UMAAPOSTAENTREAGRÍCOLAEO FARISEU

  1. Diz um dos mais crentes: “Não estás de todo errado. Entre os judeus, todavia, existem homens cultos, inclusive na casta sacerdotal.”

  2. Retruca o romano: “Sim, entretanto vossa cultura não dá para julgar o intelecto de um romano, muito menos a Sabedoria desse Homem-Deus, ilimitada e merecedora da máxima veneração. Farei uma aposta de mil libras de ouro como não sois capazes de dar-me uma resposta precisa a qualquer pergunta. Se assim é, como quereis provar-nos não ser Ele o justo Messias?!

  3. Apresentai-me o mais culto dentre vós para um desafio in- telectual! Em seguida, formularei as perguntas mais difíceis perante Ele e aposto a soma mencionada como garantia de Seu Saber. Ele me submetendo a exame nada saberei responder, não obstante ser mais inteligente que todos vós.”

  1. Adverte um fariseu: “Amigo, arriscas teu dinheiro, pois te- mos noção de muitas coisas.”

  2. Diz o romano: “Não tem a menor importância, pois sou rico. Minha palavra como romano será mantida com risco de morte! Por- tanto, se souberdes responder, tereis ganho mil libras de ouro; caso contrário, pagareis cem libras como multa pelo vosso atrevimento perante Roma!”

  3. Eis que os sete fariseus conjecturam se devem aceitar a apos- ta; e um deles responde: “Havendo juiz entendido e incorrupto, aceito o desafio!” Diz o romano: “Apresentai o vosso árbitro. Aliás deve existir um nessa multidão capaz de julgar tuas respostas. De minha parte, já tenho o meu.”

  4. Diz o judeu, convencido: “Podes perguntar!” Levanta-se o romano e adverte novamente: “Amigo, não sejas leviano, pois te ga- ranto não te ser possível responder e não ficarás livre da multa!” Res- ponde o outro, orgulhoso: “Aceito! Acrescento apenas a condição de responderes em igual número de perguntas. Só depois de todas elas respondidas, receberás as cem libras.”

  5. Aduz o romano: “Está combinado. Comecemos. Entendidos que somos nas profecias, desejava saber o sentido do 10º Capítulo de Isaías, quando diz: Ai dos que criam leis injustas e formulam jul- gamentos injustos, a fim de desviarem os direitos dos pobres, apli- cando violência às prerrogativas dos aflitos entre Meu povo, a ponto de se tornarem vítimas e presas as viúvas e órfãos. Que fareis no dia da grande provação e da infelicidade tremenda que de longe virá sobre vós? Com quem implorareis socorro? Onde deixareis vossa honra para evitar seu aviltamento entre prisioneiros e sua queda em meio dos mortos? Nisto tudo a Ira do Senhor não desiste, pois Sua Mão Se estende sobre vós. — Eis, meu amigo, a primeira pergunta dentro de vossa alçada, a fim de que não venhas a afirmar ser estra- nho o assunto. Dá-me resposta concisa.”

  6. O texto de tal modo confunde o orgulhoso fariseu, de sor- te a não saber retrucar, pois aponta as traficâncias dos templários. Por isto o romano prossegue: “Se as nove perguntas restantes forem

desse modo respondidas, os árbitros terão facilidade no julgamento. Acaso não és entendido na Escritura?”

  1. Responde, finalmente, o fariseu: “Oh, como não! Não é, todavia, aconselhável explicá-lo aqui, e sim somente no sinédrio, onde o povo não se integra de tudo!”

  2. Diz o romano: “Não tenho a menor dúvida a respeito; pois se tivésseis explanado em público assunto desse teor, o povo vos teria feito consumir pelo fogo! Acaso errei como pagão quando vos disse em rosto não acreditardes em Deus?! Se assim não fosse, o mais céle- bre profeta não teria dado testemunho tão deprimente. Afirmo-vos ter chegado a época de vossa grande provação e desgraça! Para onde debandareis para pedir socorro?! Deixemos isto de parte e tratemos da segunda questão.”

  3. Opina o fariseu, perplexo: “Escolhe algo melhor!” Enquan- to isto o povo intimamente se regozija e com prazer teria abraça- do o romano.

212.AGRÍCOLAINTERPRETAPROFECIASDE ISAÍAS

  1. Prossegue o romano: “Eis a segunda questão: O povo a andar em trevas vê uma grande luz, iluminando os que habitam na Terra da sombra. — Onde está o povo que anda em trevas? Onde o país sombrio, e quem é a dita luz? Responde pergunta tão fácil!”

  2. O fariseu perspicaz bem percebe a intenção do romano, por isto silencia. Novamente convidado a responder, ele diz: “Essa ques- tão só pode ser elucidada no Templo, e isto, entre nós dois e a portas fechadas.”

  3. Contesta o romano: “Vejo claramente proferires uma inver- dade. Assisti em Roma a explicação de textos proféticos por parte de um apóstolo de vossa religião. Fazia suas conferências durante um ano, e quem quisesse aprofundar-se recebia orientação particular, mediante pagamento voluntário. Eu mesmo me submeti às suas au- las durante três anos. Por que lhe fora permitido explicar os profetas aos romanos, enquanto alegas a impossibilidade disto? Sabes por

quê? Por temeres o povo, muito embora não receies Deus, a quem alegas crer! O povo sabe tratar-se dele mesmo, condenado por vós a caminhar em trevas e ser este o país obscurecido pelo vosso regime.

  1. Naquela mesa Se acha a Grande Luz, vista pela multidão, pois irradia nessas plagas. Se o povo percebe tal Luz e dela se rego- zija — por que não fazeis o mesmo? Não quereisvê-La por serdes cheios de orgulho, egoísmo e domínio, exigindo que todo o Cosmos gire em torno de vosso cetro. Por isto vos sucederá aquilo que Isaías de vós profetizou no 10º Capítulo, versículo 16: Por isto o Senhor, Zebaoth, enviará a secura (vossa teimosia) entre Seus gordos (que sois vós), e incendiará diante de vós Sua Glória (Poder e Sabedoria), conforme ora acontece.

  2. A Luz que aí está sentada é o Fogo de Israel, e aquele Santo é a chama que incendiar-vos-á como espinheiros e sarças, consu- mindo-vos num dia. A antiga Glória de sua brenha e campo será consumida. Não necessito esclarecer-vos que vem a ser a brenha e o campo. Sereis exterminados alma e corpo, vosso atual deus, e sumi- reis qual manteiga ao Sol e a neblina matutina aos seus raios. Como restantes árvores de Sua brenha, facilmente sereis enumerados por um menino.

  3. Eu, romano, entendo melhor vossa Escritura que vós, pri- meiros judeus em vosso país e em meio da Cidade de Deus! Mas não importa. A aposta foi feita e um romano não desiste de sua palavra. Perdeste a segunda questão; vamos à terceira.”

  4. Obsta o fariseu: “Acaso já perdemos por não respondermos as duas primeiras?”

  5. Responde o romano: “Oh, não estás lidando com indivíduo ganancioso! Basta responderes uma só, e a aposta será ganha. For- mularei as perguntas a meu gosto e vos assiste a mesma condição. Bem, lê o 12º capítulo de Isaías onde consta: Naquela época (atual), tu (Israel) dirás: Graças Te dou, ó Senhor, por teres tido ira contra mim, pois ela se desviou e Tu me consolas. Deus é a minha salvação; estou seguro e nada temo; pois Deus, o Senhor, é meu cântico e sal- vação. Com alegria tirarei água (sabedoria e vida) da fonte salvadora

(o amor do Senhor), e os povos dirão: Rendei Graças ao Senhor, invocai o Seu Nome (a Palavra de Vida) e transmiti Sua Ação aos povos, revelando quão grandioso é o Seu Nome (o Verbo Divino). Canta e vangloria-te, moradora de Zion (o conhecimento abando- nado dos judeus); pois o Santo de Israel está contigo!

  1. Então, meu amigo, que dizes a essas exclamações do profeta? A quem se teria dirigido? Não Se acha evidentemente o Santo de Israel entre nós?”

  2. Perplexo, o fariseu fita o romano e diz após algum tempo: “Dize-me — onde e quando estudaste tão bem a Escritura Sagra- da? Pareces escriba templário. Conheço muito bem esse trecho; tem apenas sentido espiritual e não se refere, a meu ver, a nossa época. São exultações de um profeta dirigidas ao Senhor.”

  3. Responde o romano: “Enganas-te muito. Como pagão, di- go-te o que milhares haveriam de confirmar: O Santo de Israel está sentado àquela mesa, entre os que ainda melhor sabem o que eu te disse. Ficou provado não teres, jamais, crido em Deus. Que te impede acreditar nesse Santo de Israel, do qual unicamente poderás receber a Vida Eterna?”

  4. Diz o fariseu: “Não sou chefe do Templo e é o meu dever cumprir as determinações do sumo sacerdote; pois dele depende mi- nha subsistência. Caso o meu posto não fosse do agrado de Deus, poderia ter evitado eu chegar ao ponto atual. Como não impediu, sou o que sou e ajo às ordens do sinédrio. Se erro, Deus é culpado.

  5. Sei que Moysés e todos os demais profetas apenas são fan- tasias de sacerdotes antigos e não haver verdade em deus, pagão ou judaico; os homens místicos acabaram por achar uma divindade, deixando uma herança à plebe de crença fácil — e nós, tolos, man- temos essa questão enquanto for possível. Uma vez aplicado o golpe mortal, soçobraremos evidentemente.

  6. Em seguida, certamente proliferará a doutrina desse ho- mem milagroso; no final, seu destino será o mesmo que das leis mosaicas. Toda criação humana desaparece; somente o que foi cria- do por Deus, eternamente desconhecido, perdurará para sempre.

Acabas de saber de mim mesmo, que nada creio, entretanto sustento as coisas remotas por causa do povo; do contrário, estabelecer-se-ia a pior confusão exterminando tudo, pois ainda que com o maior cuidado, acontecem fatos que desprestigiam a Humanidade.

  1. Não creio em um deus que tivesse dado leis aos homens. O verdadeiro Criador teria depositado leis de vulto em a Natureza, através da Força de Sua Vontade. Leis morais só podiam ter sido dadas a uma só pessoa e isso não se justifica, pois todas são iguais. Podes poupar-me com tuas perguntas, pois não creio na genuinida- de das Escrituras.”

213.IGNORÂNCIADOFARISEUQUANTOAOCONHECIMENTODOSOLEDO DILÚVIO

  1. Diz o romano: “Sabia que tu e certamente muitos semelhan- tes a ti não acreditais em Deus, entretanto obrigais o povo a dar-vos crédito, prescrevendo-lhe leis vantajosas ao vosso bem-estar. Não vem ao caso; as condições da aposta têm que ser cumpridas. Não desejando perguntas extraídas da Bíblia, passemos a outra espécie. Dize-me o que vem a ser o Sol.”

  2. Responde o fariseu: “Ora, que pergunta ridícula! Podias fazê-

-la a um deus, e não a um mortal. Sabemos apenas o que dele vemos. É um disco enorme, fortemente iluminador e na luz intensa produz tanto calor, que no deserto do Egito consta derreter pedras. Além dis- to, ele sobe e desce, ocasionando dia e noite. No inverno surge mais para o Sul, no verão em direção do Norte, fazendo-se assim a mu- dança das estações. Sua luz e calor favorecem o crescimento da flora e a produção de inúmeros insetos. Às vezes se dá um eclipse; ninguém pode precisar sua causa, tampouco o paradeiro do Sol à noite.

  1. Eis tudo que o homem sabe do Sol. Supõe-se ser ele em si um fogo intenso por irradiar calor tão forte; estranho é serem as alturas das montanhas mais frias que os vales. Esta resposta te satisfaz?”

  2. Diz o romano: “De modo algum! Tua explicação não cor- responde ao saber de um escriba que se deixa adorar pelo público.

Como se explica que os romanos e os discípulos do nosso grande Mestre e Senhor disto estejam informados, e vós não? Por não crer- des em Deus! E porventura alguém aparecendo capaz de vos levar ao conhecimento das coisas, é por vós perseguido, com temor de reduzir vosso conceito.

  1. É ateu quem não acredita em Deus, e uma alma sem Deus está em trevas, a bem dizer morta, e nada ouve e percebe daquilo que Deus depositou em seu espírito. A criatura iluminada e inspirada pelo Pai tudo vê e compreende, e pode observar dentro de si todo Cosmos como se lá estivesse.

  2. Eu e muitos outros aqui presentes recebemos tal Graça, por isto estamos informados de tudo. Escapando-te até mesmo o conhe- cimento dos essênios, tua resposta foi imprecisa. Se quiseres conven- cer-te desse fato, temos meios de sobra para tanto.”

  3. Responde o fariseu: “Oh, não interessa! Criaturas entendidas na magia como vós poderiam aplicar-me um sortilégio! Já me con- formo ter perdido a quarta questão. Podes prosseguir.”

  4. Diz o romano: “Dar-se-á o mesmo fato com as restantes! Vi não teres conhecimento astronômico; talvez te saias bem com o terráqueo. Qual teu parecer a respeito do Dilúvio? Foi geral ou parcial? Teria Noé levado realmente um casal de cada espécie? Como pôde alimentá-los, principalmente os animais ferozes e os consumi- dores de peixe? De que se supriram os animais selvagens, após ter Noé abandonado a Arca? Pois a Terra ainda estava deserta e vazia, e não havia manadas que servissem de alimento. A água estava acima das montanhas mais elevadas. Para onde se teria escoado, se a Terra toda se achava inundada? Dá-me resposta razoável, pois não consigo orientar-me.”

  5. Confundido, o fariseu diz: “Amigo, indagas de um assunto que não pareces entender. Que dirás eu te fazendo tal pergunta?”

  6. Diz o romano: “Nada perderás. Resta saber se realmente tenho melhor noção que tu. Chegou a tua vez de falar.”

  7. Prossegue o fariseu: “Amigo, não haverá muita coisa para se dizer acerca desse assunto místico da Escritura Sagrada. Sob o

  1. Receberão, entretanto, uma prova idêntica à do profeta Jo- nas; assim como ele ficou somente três dias no ventre da baleia e em seguida foi posto à margem com vida, também ficarei durante três dias na sepultura, a fim de ressuscitar para o pavor e o julgamento dos templários.

  2. Lembrai-vos bem: os filhos desta Terra só podem ser con- quistados para o Meu Reino através de palavras de vida! Pois a maio- ria — quando não for viciada por provas falsas — é de fé fácil, inteligente e pode ser convencida à verdade por uma doutrinação equilibrada. Milagres importantes tolheriam sua razão e vontade. Sabes agora de onde és?”

  3. Responde Lázaro: “Sim, compreendo ser eu do Alto; como, porém, sabermos se as criaturas que nos abordam são do Alto ou da Terra?”

  4. Digo Eu: “Sendo necessário, o próprio espírito vos transmi- tirá. Existe, todavia, um fato externo dificilmente enganador, pelo que se reconhece a origem da pessoa.

  5. Vê, a alma conserva, ainda que envolta pela carne obscure- cedora, um sentimento certo de sua origem, dirigindo a audição e mormente a visão ao seu berço espiritual. Criaturas inclinadas a dirigir o olhar para o alto, galgar montanhas, prestar ouvidos aos sons das alturas, originam-se de lá. Outras, geralmente de olhares pregados ao solo, onde procuram desenterrar tesouros e mui raro erguendo olhos e ouvidos para o Alto, são de baixo. Eis uma orien- tação que vos servirá para saberdes com quem estais lidando.

  6. Almas do Alto são geralmente engenhosas e produzem obras de arte e ciência; não se deixam convencer com facilidade, pois que- rem ter prova de tudo. O grego Philopoldo, em Kis, só acreditou depois que Eu lhe demonstrei o Sol onde encarnou pela primeira vez. O mesmo se dá com todos os cínicos. Podereis criar mundos à sua frente, que não terá outro efeito do que transmitirdes uma ordem vulgar a um habitante da Terra, que dificilmente perguntará pelo porquê, executando-a por ter sido dada por pessoa inteligente.

Espera saber oportunamente o motivo. Uma criatura do Alto per- guntará qual a razão e exigirá explicação acertada.

  1. Digo-vos haver vários fatores para se analisar a índole das pessoas e quais as videiras da Minha Vinha abordáveis pelos doutri- nadores; a mesma explicação pode ter os melhores ou piores efeitos, caso não for transmitida de acordo com o caráter do ouvinte.

  2. Os filhos pequeninos e fracos desta Terra creem com faci- lidade o que se lhes apresenta como prova de fé e só necessitam de explicação posterior quando tiverem adquirido grande cabedal de princípios doutrinários. Deve-se, portanto, tratar de lhes pregar a pura verdade, e ai de quem procurar aborrecê-los com dogmas e exemplos falsos, como vos demonstrei em outra ocasião, na Galileia! Aos filhos do Alto a explicação deve ser dada antecipadamente, do contrário não aceitarão algo de genuíno.

  3. Por várias vezes fostes testemunhas de Minha Atitude para com gregos e romanos; fazei o mesmo, que será mais fácil conquis- tá-los, porquanto podeis vos referir a Mim e a Minhas Obras! Em caso de necessidade, também podereis operar milagres; sede, porém, parcimoniosos nesse sentido, fazendo-o tão somente quando o espí- rito vos der a intuição. Uma prova não deixa de ser benefício; uma palavra verdadeira e sincera é muito mais vantajosa, porque não im- põe coação ao coração humano.

  4. A palavra esclarece primeiro o intelecto; este desperta a von- tade e o amor no coração. O amor se torna uma chama poderosa que ilumina e vivifica a vontade; esta age, então, às determinações da razão e aquilo que o homem fizer, livre deste modo, é ação própria e meritosa, encontrando ele sua fonte de vida.

  5. Ao passo que o milagre abate por certo tempo a razão da criatura e incita apenas amor e vontade à ação. Tal ação é idêntica a uma pedra atirada ao ar, movimentando-se somente pelo tempo que a força arremessadora estiver em contato com o peso; tão logo cesse, a pedra cai, imóvel, e fica no solo dentro de seu julgamento.

  6. A alma de uma criatura convertida pelo milagre se asseme- lha à pedra arremessada ao ar, agindo cegamente de medo; a prova

com o tempo perdendo sua força, esmorece o amor e a vontade psí- quica, mormente nos descendentes que não assistiram ao milagre; entregam-se ao ócio, considerando aquilo como feitiçaria, ou mera fraude e invenção dos antepassados. Pois se a alma inquirir a razão, esta não lhe poderá dar explicação, pois também não a recebeu e concluirá: Acaso não merecemos o mesmo que nossos ancestrais?! Devemos acreditar no que não entendemos, e as provas relatadas de- veriam servir de móvel para a fé? Isto não é possível! Se Deus existe, não poderá exigi-lo! Por isto, também queremos provas ou ao menos explicação razoável sobre o que devemos crer e fazer.

  1. Deste modo opina o intelecto humano — e com razão! Pois se o ensino não foi elucidado pelo exemplo, soçobra com todas as provas, e as criaturas perdem toda fé, recaindo na vida anterior, de- sequilibrada e ociosa até que apareça um mago esperto, converten- do-as com falsos milagres.

  2. Por isto, repito com insistência: ensinai com clareza e sede parcimoniosos com as provas, que criareis discípulos efetivos e fir- mes. Pois a prova passa; a verdade pura e lúcida perdura eternamente e dispensa provas para a confirmação, pois ela mesma é a maior pro- va dada dos Céus, em todos os tempos e aos homens de boa vontade.

  3. Haverá provas permitidas aos pobres e enfermos, sem dis- tinção de raça e crença, um benefício justo e não prova especial para a Origem Divina de Minha Doutrina.

  4. A Doutrina tem que se provar a si mesma como puramente de Deus, dando a prova interna e viva em sua genuinidade plena àquele que a emprega. Se considerardes isto, tereis bons adeptos; não o fazendo estritamente, tereis aberto as portas ao anticristo, resultan- do vossa própria fuga espiritual.”

179.O ANTICRISTO

  1. Diz Lázaro: “Senhor, como devemos interpretar o anticristo?”

  2. Digo Eu: “O anticristo surgirá pela aceitação de Minha Dou- trina por parte de homens espertos e ociosos, ao perceberem que a

mesma proporciona grandes benefícios aos Meus adeptos. Quando souberem de Meus Milagres e dos que vós operastes, começarão a empregar seu feitiço como fazem os essênios. Será isto uma grande tentação para os de fé vacilante, a ponto que muitos perseguirão vossos sucessores como sendo doutrinadores e profetas falsos.

  1. Por isto tende cuidado em aceitardes, daqueles que recebem o Evangelho, somente o necessário para vosso sustento! Pois se os ociosos virem que milagres e prédicas proporcionam grandes lucros, tudo farão para vos arruinar.

  2. Eis por que se reconhecerão os falsos profetas através de sua obras; porquanto os verdadeiros se apresentarão com a Minha Sim- plicidade, aceitando da Comunidade apenas o indispensável para sua manutenção. Os outros agirão como os fariseus — e até mesmo pior — deixando-se pagar por tudo que pretendem fazer em Meu Nome, e as criaturas os considerarão servos abençoados por Deus; serão obrigadas a crer que Ele somente ouve a prece por eles proferi- da, olhando com agrado seus sacrifícios. Se atualmente existe apenas este Templo para todos os judeus, os anticristos construirão grande quantidade de igrejas, com pompa fabulosa, onde apresentarão suas magias, sacrifícios e prédicas tolas e incompreensíveis. As orações serão feitas em idiomas estrangeiros, para fazerem crer ao povo ser o mesmo o mais puro e do agrado de Deus.

  3. Esta prova é suficiente para todos poderem distinguir entre um profeta falso e um verdadeiro. Aqueles clamarão: ‘Vinde aqui onde está o Cristo, e onde estivermos Ele estará!’ Não lhes deis cré- dito, muito embora façam grandes milagres; jamais foram Meus adeptos, e sim discípulos tentados por Beelzebub, do qual colherão o prêmio no charco, com clamores e ranger de dentes! Lembrai-vos disto e empregai milagres o menos possível; considerai o Verbo Di- vino e Sua Verdade Eterna, que a Doutrina pura permanecerá entre os homens até o fim do mundo! — Agora voltemos; e tu, Lázaro, manda servir vinho e pão, pois estou com sede!”

180.BÊNÇÃOEPRECE JUSTAS

  1. Pouco falo durante a refeição; quando, porém, o vinho co- meça a soltar as línguas, o albergue se enche de vozes alegres e o próprio tavoleiro, zelador da hospedaria de Lázaro, anima-se a Me apresentar sua família, pedindo uma bênção contra a maldição dos templários.

  2. Digo-lhe, pois: “Amigo, a Minha Presença garante automa- ticamente a bênção! Procura aplicar o Evangelho transmitido aos discípulos, que receberás a bênção viva e verdadeira, não só para esta vida, de pouca duração, mas igualmente para tua alma, eterna! A bênção que esperas nada vale. Os fariseus aplicam bênçãos e se deixam pagar; quem teria lucrado com isto?! O doador teve sua re- compensa, enquanto ao outro a fé tinha que consolar e proporcionar alguma paz.

  3. Minha Bênção consiste na verdadeira Luz da Vida, ou seja, a Vida Eterna, recebida por todos que aplicam Minha Doutrina. To- das as bênçãos mágicas de nada valem, aumentando mais a supers- tição. Quem caminha e age dentro do Evangelho, crendo ser Eu o Cristo Verdadeiro, pode em Meu Nome apor suas mãos no enfermo, que se sentirá aliviado. Ainda que esteja a longa distância, tu, porém, orando por ele e mentalmente lhe aplicando o passe, ele se curará, caso for em benefício de sua alma. Tal bênção é muito mais valiosa do que aquela que esperavas de Mim! Estás satisfeito?”

  4. Responde o hospedeiro: “Senhor, agradeço-Te muito; pois vejo ser a verdade a maior bênção para o homem, enquanto mentira e embuste representam uma maldição. Desejava apenas ouvir de Ti se Deus não considera as orações dos sacerdotes e se são igualmente inúteis quando porventura alguém achar não merecer pedir ao Pai, procurando por isto um sacerdote mediante pagamento.”

  5. Respondo: “Acaso não consta: ‘Este povo Me honra com os lábios, enquanto seu coração está longe de Mim?!’ Como poderia beneficiar uma prece paga?! O necessitado não se atreve a orar a Deus, e o próprio sacerdote não pode fazê-lo, porquanto não acre-

dita Nele; pois se assim fizesse, não se deixaria pagar, e sim diria ao pedinte: Todo homem — ainda que o número de seus pecados seja idêntico às ervas da Terra e a areia do mar — pode orar a Deus com humildade e contrição, que sua prece será ouvida pelo Pai. O amor do próximo já me impõe o dever de pedir por todas as criaturas; portanto, ora tu mesmo a Deus, para receberes alívio. Toda prece paga é um horror para Deus!

  1. Deste modo deveria falar um sacerdote crente, caso alguém lhe pedisse orações remuneradas! Ele mesmo não acreditando em Deus, fazendo-se pagar pela prece lida, com expressão beatífica, sem meditar ou elevar o pensamento ao Alto — é portanto mentiroso e impostor. Como poderia Deus considerar tal prece?!

  2. Afirmo-te: se Deus pretendesse socorrer a alguém que, pela suposta indignidade, não se atreve a Lhe pedir em virtude de sua humildade, Ele não o fará para libertá-lo de sua superstição.

  3. Se vires um necessitado orando a Deus, ajuda em sua penúria e presta-lhe socorro, caso estejas em condições; se nada tiveres para dar, junta tua prece à dele, e te garanto Deus atender tal pedido! Pois onde dois ou três orarem a Mim, em verdade, sempre serão conside- rados. Ninguém deve se dirigir a Deus por coisas fúteis e mundanas, que não será atendido; pedindo o necessário para o sustento mate- rial, pelo fortalecimento de sua fé e de sua alma, a prece será ouvida. Eis a situação real da prece verdadeira, uma bênção justa de Deus no coração humano! Compreendeste?”

  4. Responde o tavoleiro: “Sim, Senhor, pois é a verdade simples e clara; entretanto, nunca compreendi as orações mágicas do sacer- dote, pelo fato de não serem compreensíveis como real embuste! Como se esforçam em classificar gradativamente as suas fúteis ora- ções, quando feitas por profissionais graduados e em locais santifica- dos, cujo valor acresce mediante pagamento, mais ou menos eleva- do! Tal absurdo é, aliás, aceito pelos fiéis! Ai de quem os informasse não ser tal coisa do agrado do Deus de Abraham, Isaac e Jacob, e seria injusto por parte Dele se fosse considerar as orações pagas, ex- pulsando os pobres impossibilitados de pagamento. Tais orientado-

res populares seriam tomados como ultrajantes do Templo, e quem os denunciasse teria seu futuro garantido por toda a Eternidade!

  1. Divino Mestre, em tais situações, não há possibilidade de viver! Este albergue é muito mais um templo para Deus do que os átrios de Salomon! Há dez anos não piso no Templo — e não pre- tendo fazê-lo no futuro! Mormente em época de festas comemorati- vas, onde as fraudes são incríveis e não consigo defrontá-las sem me aborrecer! Ajo bem assim?”

  2. Digo Eu: “Perfeitamente, pois não podes modificar a situ- ação. É, portanto, preferível ficares afastado do local onde nada de bom e verdadeiro poderias ouvir, e acima de tudo te irritarias como judeu íntegro. Eu vim precisamente para endireitar tudo que estiver torto e abrir os olhos e ouvidos dos cegos e surdos. Deixemos, pois, o Templo, cuja completa inutilidade é do conhecimento de todos.

  3. Dentro em pouco teremos aumento de hóspedes, romanos e gregos. Certamente se hospedarão aqui e terás que te preparar; pois na cidade não existem mais acomodações!” Solícito, o tavoleiro se entrega à tarefa e não leva tempo para vermos a chegada de trinta pessoas, aproximadamente. A sala onde estamos é suficiente para abrigar cem hóspedes; além disso, há outros recintos, de sorte a não dar motivo para receio quanto à acomodação de estranhos, em cujo grupo vem uma senhora de Jerusalém. Posteriormente travaremos conhecimento com ela.

181.CHEGADADENOVOS HÓSPEDES

  1. Em poucos momentos se apresentam os estranhos, recebidos polidamente por Lázaro e o tavoleiro. Seu cumprimento tendo sido correspondido por nós, sentam-se à mesa e pedem algo para comer. E o hospedeiro responde: “Pão e vinho poderão ser servidos agora; uma refeição completa levará mais tempo!”

  2. Satisfeitos, eles se servem e elogiam a boa qualidade do vi- nho, e a moça, alegre, relata fatos humorísticos. Entrementes, fi- camos calados e os discípulos conhecedores dos idiomas romano e

grego ouvem atentos. Entre o grupo se acha um romano conceitu- ado, que pela primeira vez estivera em Jerusalém, e virando-se para os outros, diz: “Já chega de chistes; do contrário, as pessoas aqui pre- sentes hão de pensar sermos palhaços. Vimos diretamente de Roma para Jerusalém, classificada pelos judeus de ‘santa’. Agradecemos a esta judia que aqui nos trouxe, com a afirmação de ser o albergue o melhor e mais moderado nos preços, conquanto fosse desclassifica- do pelo sacerdócio. Ontem, à procura de acomodações, não tivemos tempo de averiguar o motivo que nos trouxe aqui. Agora é chegada a oportunidade de sondarmos, por intermédio de nossa amiga, se há algo verídico nos boatos a respeito de um profeta judeu, que opera milagres. Acaso tiveste oportunidade de vê-lo? Sê, pois, tão gentil em nos informar, pois saberemos ser gratos.”

182.PALESTRAENTREA JUDIAE OS ROMANOS

  1. Responde a moça: “Prezados amigos! Temo em não vos po- der prestar serviço eficaz! Tudo que ouvi do mencionado profeta era muito mais fabuloso que as histórias de vossos deuses! Consta ter ele inteligência fora do comum e é de boa índole; a par disto, fatos milagrosos lhe são atribuídos, inaceitáveis caso não se os tenha visto pessoalmente.

  2. Teria vindo à cidade, operado milagres e doutrinado o povo; houve, porém, um atrito entre ele e os fariseus, que lhe proibiram tais manifestações, de sorte a eu duvidar de sua presença nesta época.

  3. Eu mesma não o vi e também não tenho especial vontade para tanto. Pouco haveria de entender de sua cultura, e quanto aos mila- gres já assisti a vários, inclusive ressurreições por parte dos essênios.

  4. Além do mais, confesso não ter consideração por um profe- ta; são muito cansativos, sisudos e incompreensíveis. Quem poderia gostar de tal criatura? Eis minha opinião particular, que não pre- tendo impor!”

  5. Diz o romano: “Tua lógica nos agrada; o fato de não te inte- ressares a fundo se depreende de tua mocidade e vaidade. Nós, ro-

manos de idade avançada, interessamo-nos muito pelo personagem peculiar, do contrário não teríamos vindo aqui. Certamente pode- rás ao menos orientar-nos se é possível nos dirigirmos ao tavoleiro, pois alega-se terem os sacerdotes e asseclas de Herodes ouvidos mui aguçados!”

  1. Diz a moça: “Oh! Não precisas te preocupar por isto! Ele é honesto e, que eu saiba, nunca traiu alguém. Os demais hóspe- des parecem ser amigos do proprietário, chamado Lázaro, inimigo do Templo, razão pela qual os fariseus o molestam sempre que possível.”

  2. Entrementes, os discípulos cochicham entre si, criticando a atitude da moça; Eu, porém, advirto-os a silenciarem. Nisto, entram o hospedeiro e Lázaro anunciando o jantar. Satisfeitos, os forasteiros observam as travessas bem postas e, quando começam a saborear os alimentos, não se contêm em elogiá-los. Nós, igualmente, nos en- tregamos ao ágape, entretanto não expressamos referência alguma à qualidade, levando os outros a perguntar se nossos pratos são menos saborosos.

  3. Lázaro, então, diz: “Amigos, na minha casa todos recebem o melhor com a maior satisfação de minha parte!” Assim orientados, os visitantes nada mais dizem.

183.OROMANOE LÁZARO

  1. Após a refeição, o assunto do profeta volta à baila e o romano se dirige ao hospedeiro, dizendo: “Os comentários referentes a um homem especial, uma espécie de profeta, chegaram até Roma. Le- vamos muito tempo sem dar crédito; ultimamente, porém, vieram notícias de pessoas merecedoras de fé a meus ouvidos, que sou um dos primeiros patrícios, de sorte que eu e meus amigos resolvemos encetar a viagem para a Ásia, a fim de averiguarmos os fatos de perto!

  2. Zarpamos há quatorze dias e fizemos boa viagem! Estranho, porém, é que em Roma as notícias sejam mais detalhadas do que aqui, onde se encontra o dito homem! Jerusalém, capital, deveria

ser a mais informada! Por isto aqui vimos e me dirijo a ti para ouvir teu parecer!”

  1. O hospedeiro lança um olhar indagador para Mim e Eu faço com que ele ouça a resposta nítida: “Ainda não; eles mesmos reconhecer-Me-ão!” Por isto ele se vira para o romano e diz: “O mencionado personagem existe em realidade; o sacerdócio ambicio- so e dominador reage contra todos que o conhecem, de sorte a não ser possível se falar abertamente a seu respeito. Eu não vos conhe- cendo, tampouco as intenções que vos trouxeram aqui, havereis de me desculpar não vos relatar o seu paradeiro.

  2. O proprietário deste monte, inclusive de Bethânia, poderá provar-vos a existência do homem milagroso; entretanto, não O denunciará. Sabemos não ser possível ao sacerdócio prejudicá-Lo; ainda assim, queremos evitar todo conflito, em virtude da paz de todos. Mais do que isto não posso adiantar.”

  3. Responde o romano: “Estou satisfeito, mas desejava confir- mação por parte do dono do monte!”

  4. Diz Lázaro: “É verdade tudo o que proferiu o tavoleiro. Como não pretendeis partir dentro de alguns dias, é bem possí- vel conhecê-Lo pessoalmente, caso forem boas as vossas intenções. Convive com os de boa índole; aos traidores, ele despreza em virtude de sua maldade. Sua Vontade é tão poderosa, que basta querer para realizar tudo. Eis por que não teme inimigos, pois ama a todos com sinceridade. Em suma: Ele é Homem-Deus, sábio, bom e poderoso.”

  5. Diz o romano: “Podes estar certo de que aqui vimos movi- dos pela melhor boa vontade! Deixaríamos nossos tesouros como garantia, caso não os tivéssemos largado a bordo. Podes confiar em nós; pois um romano genuíno marcha caminho reto e despreza ata- lhos. Se porventura entrarmos em contato com ele, nosso respeito não será patenteado apenas por palavras e reverências, mas pela ação completa!”

  6. Responde Lázaro: “Não é possível Dele nos aproximarmos com ouro, prata e pedras preciosas; pois se quisesse, poderia trans- formar as montanhas em metal! Para Ele só vale um coração bom

e puro. Quem lhe apresentar este maior tesouro será Seu amigo e poderá contar com Sua Ajuda. Tudo que é grande e importante no mundo é, a Seus Olhos, um horror.”

184.LÁZAROPALESTRACOMOROMANOACERCADO SENHOR

  1. Diz o romano: “Sinto falardes a verdade, aumentando nosso desejo de conhecer pessoalmente o grande homem. Segundo vos- sa descrição de suas habilidades, facilmente poderia se declarar Rei dos judeus, pois bastaria o poder de sua vontade para expulsar-nos do país, tomando de igual modo providências para impedir que se estabeleça na Judeia um romano sequer! De há muito sabemos es- perarem todos os judeus um rei, de acordo com as profecias. No final, suas esperanças seriam coroadas por esse personagem e nós nos veríamos despojados, sem mais nem menos!”

  2. Protesta Lázaro: “De modo algum os romanos precisam temer tal fato. Primeiro, por ser Ele seu grande Amigo; segundo, devem as profecias ser interpretadas no sentido de que Ele, o Mes- sias Verdadeiro, não pretende fundar um império terreno, e sim um Reino espiritual do Amor e da Justa Sabedoria Divinos, do Reino Celeste e da vida eterna da alma, após a morte, a todas as criaturas que aceitarem Sua Doutrina de Deus e aplicarem Sua Vontade trans- mitida. Eis Sua intenção pura e real; jamais cogitaria da expulsão dos romanos!

  3. Não se pode negar ser esta a convicção de muitos judeus ig- norantes, entretanto não O consideram como Messias. Ainda Ele Se declarando o Prometido, duvidam, não obstante todas as provas milagrosas; pelo contrário, acusam-No de blasfemo e vilipendiador do Sábado, e caso possível, seriam os primeiros a matá-Lo. Eis a pura verdade, portanto nada precisais temer; pelo contrário, é provável Ele libertar os romanos da influência judaica!”

  4. Diz o romano: “Então seria melhor ele ir a Roma, onde re- ceberia a veneração adequada! Para que fim mantém-se ele entre

os judeus tolos que se julgam filhos de Deus, no entanto são mais ignorantes que os povos nórdicos?”

  1. Explica Lázaro: “Se Ele quisesse isto, de há muito estaria na- quela metrópole! Ele bem sabe do motivo de sua permanência entre nós! Mas, quem somos para querer aconselhá-Lo?”

  2. Conjectura o romano: “Seja como for, ficaríamos muitíssimo gratos caso nos achasse dignos de sua atenção e nos prontificamos a vos recompensar nesse sentido!”

  3. Diz Lázaro: “Estais equivocados! Pois se eu e o tavoleiro fôssemos gananciosos, facilmente poderíamos combinar com alguém para se apresentar como o homem milagroso, e se por- ventura lhe perguntásseis sua identidade, poderia responder com palavras convincentes! Tal atitude seria condenável e imprudente! Tereis que descobri-Lo, sem necessitardes orientação de nossa par- te!” Essas palavras convencem o romano da honestidade e precau- ção de Lázaro.

185.CURADEMARIA MADALENA

  1. Pouco mais tarde, acontece ser a judia, que se fizera de guia dos romanos e que além disso é libertina, acometida de fortes con- vulsões devido ao excesso de bebida. Muito apavorados, pois tomam o fato como mau agouro, os romanos presumem ter atraído a ira dos deuses, pois tinham procurado uma divindade estranha. Aflitos, indagam de Lázaro o que fazer.

  2. Responde ele: “Ficai calmos! Esta pessoa sofre há muito tem- po de tais acessos, principalmente após o abuso de vinho. Nós cha- mamos a isto de possessão de espíritos maus. Quando ainda havia pessoas devotas, tais espíritos podiam ser expulsos pela prece; hoje em dia é mui difícil. Para o personagem em discussão, seria coisa de minutos, caso quisesse! Eis a razão dos estertores dessa moça. Como poderiam estar irados vossos deuses, apenas existentes na fantasia dos homens, que ignoram o Deus Verdadeiro, pois nunca Dele ou- viram falar?! Por quê? A resposta se encontra no grande Plano de

Sabedoria do Criador.” Assim orientados, os romanos se atrevem a fitar com piedade a moça em estado deplorável.

  1. O primeiro dentre eles se aproxima de nossa mesa e, por coincidência, se dirige a Mim, dizendo: “Amigo, não haveria algum dentre vós capaz de socorrer essa infeliz? Assistis à cena com tama- nha indiferença, enquanto ela se debate contra a morte! Meu desejo de socorrê-la é grande; nossos conhecimentos na medicina, porém, são escassos.”

  2. Digo Eu: “Tu te encaminhaste para Mim sem saberes Quem sou; tua esperança é que em nossa mesa houvesse alguém indicado para a cura, e te trouxe junto a Mim. Teu espírito indicou-te a pessoa certa, que socorrerá a moça física e espiritualmente. Prestai todos atenção quais os meios empregados na cura!”

  3. Em seguida, dirijo-Me à moça estirada no solo, completa- mente enrijecida, estendo Minhas Mãos sobre ela e ordeno que se afastem os sete espíritos nela presos. Eles então gritam: “Ó Jesus, Filho de David, deixa-nos ficar por mais algum tempo nessa habi- tação!” Repito, porém, Minha Ordem, o que os leva a abandonar o corpo instantaneamente.

  4. A moça se levanta tão feliz e sadia como se nunca tivesse tido enfermidade alguma. Quando Me vê a seu lado e é informada Eu a ter socorrido, ela Me fixa e diz: “Ah, eis aquele homem maravilhoso pelo qual meu coração vibra há um ano! Justamente ele, a quem amo com tanto ardor desde que o vi de passagem, veio em meu au- xílio! Querido, por que não me deixaste morrer, em vez de reencon- trar-te sem a menor esperança de ser correspondida em meu afeto?! És puro — eu, desprezível libertina!” Com isto se atira aos Meus Pés, abraça-os e os umedece com lágrimas de amor e arrependimento. Alguns discípulos se aproximam para erguê-la, dizendo-lhe ser tal atitude imprópria.

  5. Virando-Me para eles, digo: “Que vos importa? Acaso não sou Senhor de Mim e dela?! Tornando-se importuna, saberei dizer-lhe como se portar! Afirmo-vos: esta moça muito pecou — entretanto, Me ama muito mais do que todos vós; razão por que

muito lhe será perdoado. E digo mais, sempre que se pregar o Meu Evangelho, será lembrada a ação dessa mulher!” Com tal explicação, os discípulos se retiram.

  1. Em seguida lhe digo: “Levanta-te; foste curada e remida de todos os pecados! Segue teu caminho e não peques mais, a fim de que não te suceda coisa pior! Quando o mau espírito deixa a cria- tura, percorre estepes e desertos à procura de habitação e caso não a encontre, ele torna a voltar. Eis que depara com sua antiga mora- da, tão limpa e purificada, a ponto de lá querer entrar novamente. Percebendo ser ele sozinho mui fraco, convoca outros sete espíritos piores que ele, e todos invadem com violência a habitação limpa. Tal estado psíquico da criatura é muito pior que o anterior. Por isto, tem cuidado para que não te suceda coisa idêntica! Vai, pois, e não peques mais!”

  2. Ela se levanta e não sabe que fazer de amor e gratidão. Após algum tempo, Me pede licença para ficar no albergue, pois já é noite.

  3. Digo-lhe então: “Não Me dirigi ao teu físico e sim à tua alma com suas múltiplas tendências materiais; fisicamente podes fi- car onde quiseres!” Satisfeita, ela volta à mesa — sem tirar seus olhos de Minha Pessoa.

186.OSROMANOSEAJUDIADÃOHONRASAO SENHOR

  1. Essa cena leva o romano a Me observar com mais atenção, dizendo: “Amigo, perdoa eu te molestar com uma pergunta impor- tante! Por certo não te passaram despercebidas minhas investigações acerca do grande homem deste país. Acabas de operar uma cura milagrosa, jamais vista por mim! Fizeste-a apenas pelo poder da von- tade! Acaso és tu o dito personagem, o verdadeiro homem-deus, cuja fama chegou até Roma?! E se não o fores, por certo terás conheci- mento dele e tudo te darei para me informares!”

  2. Respondo: “Em virtude de tua longa viagem com teus com- panheiros, digo-te ser Eu a Quem procuras. Qual é, pois, teu desejo? Por que Me procuraste com tanto sacrifício?”

  1. Diz o romano, feliz com Minha afirmação: “Ó Amigo, já encontrei minha salvação; pois desejo ouvir Tua Doutrina e assistir o Teu Poder e Glória. Mas somente amanhã pretendo importunar-Te nesse sentido e esta noite ficaremos juntos, como bons amigos. Antes de tudo, minha gratidão pela cura dessa amável moça. — Tavoleiro, manda trazer vinho! Encontramos nossa maior felicidade, e amanhã todos os pobres da zona serão providos às nossas expensas!”

  2. Lázaro e o tavoleiro enchem as taças. O romano faz então o seguinte brinde: “Salve! Honra, amor e gratidão a Ti, grande Mes- tre! Se não fores reconhecido pelos judeus obtusos e ignorantes, os romanos saberão dar-Te o devido valor!” Ele esvazia a taça e elogia o vinho; os companheiros imitam sua atitude. Somente a moça se retrai, com receio de uma perturbação.

  3. O romano, porém, lhe diz: “Ouve, querida! Os romanos consideram o seguinte provérbio: Nada prejudica em presença do médico! Temos aqui o maior dos médicos, portanto podes saudá-Lo com uma taça de vinho!”

  4. Obtempera a jovem: “Se soubesse prestar-Lhe com isto justa honra, tinha vontade de tomar todo o vinho da Palestina — e de- pois morrer! Sei, todavia, não poder aumentar sua Honra por este meio. Todas as forças dos Céus e da Natureza Lhe prestam a máxima Honra e a minha seria nula. Por amor a Ele e a vós tomarei, porém, o vinho!” Após ter feito isto, aproxima-se de Mim e diz: “Ó grande Mestre, permite a essa serva mais indigna tocar e beijar a orla de Tua Veste para lenitivo de seu coração!” Ajoelha-se e beija inúmeras vezes a Minha túnica, umedecendo-a com lágrimas. Alguns discípulos se irritam, dizendo: “Mas, Senhor, manda-a embora, está manchando a Tua roupa!”

  5. Digo Eu: “Não é de vossa conta! Se isto Me agrada — por que não se dá o mesmo convosco?! Foi pecadora e tornou-se justa penitente, por isto tem minha preferência a muitos justos, a quem dispensais penitência.

  6. Vede, havia um homem dono de cem ovelhas; aconteceu que uma se perdeu no matagal. Quando à noite ele colheu o rebanho,

notou a sua ausência. Imediatamente deixou as noventa e nove e correu à procura daquela. Após prolongada busca, ele a encontrou e, com grande alegria, deitou-a nos ombros para levá-la a casa. Ao vê-la no meio das outras, sua alegria foi maior com ela do que com as noventa e nove, jamais extraviadas.

  1. Assim haverá igualmente maior regozijo com um pecador, verdadeiro penitente, do que com noventa e nove justos que nunca necessitaram de penitência.

  2. Houve igualmente uma criatura que havia perdido uma moeda. Aflita, ela acendeu uma candeia e tanto procurou até que achou o dinheiro. Sua alegria foi tão grande, que convidou os vizi- nhos para a ceia, dando-lhes oportunidade de compartilharem de sua felicidade.

  3. O mesmo se dará no Céu com pecador remido! Pois os an- jos de Deus sempre veem o Semblante Dele, observam as ações dos homens e se regozijam quando um desiste livremente do pecado, dirigindo todo seu sentir e agir a Deus.

  4. Assim também Eu Me alegro com esta pecadora que se afas- tou do caminho errado; ela, por sua vez, está feliz por ter encontrado sua salvação, justa e verdadeira. Não impeçais sua expressão!” A tais palavras, os discípulos, um tanto enciumados, nada mais dizem e sorvem o bom vinho.

187.EFEITODO VINHO

  1. Prossigo: “Caros amigos e irmãos, o vinho tomado na justa medida é estimulante, fortifica e dá saúde ao corpo; quando inge- rido em excesso, desperta os maus espíritos da carne e atordoa os sentidos. Os maus espíritos incitam à volúpia, impudicícia e lasci- vidade, tornando a alma impura por muito tempo e igualmente de- sanimada, ranheta, preguiçosa e quase insensível. Considerai a justa medida no beber, que tereis sossego das tentações!”

  2. Diz Pedro: “Senhor, acaso também somos obsedados, por- quanto falaste dos maus elementos de nossa carne?”

  1. Respondo: “Por certo, pois carne e sangue de todas as criatu- ras estão repletos de espíritos maus, que merecem tal denominação por estarem em julgamento; se assim não fora, não se encontrariam no corpo. Quando este vos for tirado, dar-se-á sua dissolução e seus espíritos serão levados a um destino mais livre.

  2. Não somente em vossa carne, e sim em todos os elementos existem tais espíritos, longe de poderem ser chamados ‘bons’. Mas, para quem se tornou puro por Mim, tudo é puro e bom, pela finali- dade que recebeu de Deus.

  3. Vede, uma pedra morta no solo é, de certo modo, apenas aparentemente morta! Violentai-a por fricções e pancadas e ela de- monstrará, pelas faíscas, constituir-se apenas de espíritos condena- dos! E se a puserdes no fogo, amolecerá, começando a derreter. Se assim não fosse, como poderiam as criaturas preparar o vidro?!

  4. Existem, portanto, espíritos da Natureza maus e imperfeitos em toda parte, e o fogo nada mais é que a libertação dos elementos mais amadurecidos, levando-os a um destino mais elevado.

  5. Há, todavia, grande diferença entre os maus espíritos, pelos quais muitas vezes os homens são obsedados, e os da Natureza não fermen- tados, que perfazem o orbe em todas as partes e elementos. Entretanto, têm afinidade e intercâmbio nos sentidos; um homem cuidadoso, po- rém, não despertará em demasia os espíritos impuros do corpo, não po- dendo tão facilmente ser obsedado pelos maus espíritos desencarnados.

  6. Por este motivo vos advirto de toda paixão, em si uma consequência do despertar dos múltiplos espíritos em carne e san- gue. Uma vez excitados, juntam-se-lhes as almas desencarnadas e impuras, geralmente localizadas nas regiões baixas do orbe; isto acontecendo, tal criatura é realmente possessa. Compreendestes?”

  7. Respondem os discípulos: “Sim, Senhor, pois já nos esclare- ceste o assunto várias vezes; nunca, porém, de modo tão explícito. Agradecemos-Te e por hoje não mais beberemos.”

  8. Digo Eu: “Muito bem, tereis disto o benefício de manhã; um físico temperado conserva alma sadia, e esta é o melhor médico para o corpo enfermo.”

188.VALORDORACIOCÍNIOEDA VERDADEIRA

  1. Diz o romano: “Grande Mestre, ainda que não assistisse obras milagrosas e apenas ouvindo Teus Ensinos, saberia abrigares o Espírito Divino. A par de sabedoria tão extraordinária é compre- ensível o poder da vontade, pois sabe o que quer e qual o meio para a realização.

  2. O intelecto sempre se demonstrará pelas obras; e quem não tiver facilidade de expressão jamais despertará admiração de seus fei- tos. Os construtores das pirâmides certamente elaboraram primeiro o projeto, e até hoje merecem consideração e respeito por parte da Humanidade.

  3. Assim, sou de opinião ser somente possível à sabedoria in- comum de uma criatura inspirada por Deus realizar milagres, por ser mestra e propulsora de sua vontade e descobridora única dos recursos apropriados na execução de sua obra.

  4. Para mim, Grande Mestre, não necessitas provar-me que a pro- jeção de Tua Vontade é a criação completa; Teu grande Saber e a firme decisão de Tua Palavra são testemunhos evidentes. Tenho razão?”

  5. Digo Eu aos outros: “Vede este pagão frente aos judeus que afirmam ser Deus seu Pai! Para eles não bastam os grandes Milagres tão frequentemente efetuados — enquanto este pagão Me reconhe- ce pela Palavra! Por isto digo, com referência aos judeus em Jerusa- lém: a Luz dos Céus vos será tirada e entregue aos pagãos.

  6. A ti, caro Agrícola, darei uma prova por teres crido sem ela; pois a cura dessa moça, que já se tornou mui querida para Mim, é simples para intelectuais de tua espécie, porquanto alguns de teu grupo pensaram o seguinte: ‘Esse homem é bem esperto. Protelou a cura até perceber que a jovem melhorava por si mesma. Ciente do momento oportuno, ele a chamou; ela de qualquer modo teria des- pertado.’ Vê, tais foram os pensamentos de teus colegas inteligentes

  1. Contudo, não vos recrimino por isto, porque prefiro um intelectual independente a milhares de almas de crença simplória,

não ligando se trata-se da apresentação do Alpha ou do Ômega. Quem não reflete não aprende, e ouro e chumbo lhe são semelhan- tes; o pensador, jamais compra gato em saco. Por isto pensaste: Ele conseguiu a cura; preciso, todavia, ouvir falar. Então saberei se na realidade possui poder para tanto, somente pelo emprego da Vonta- de. — Quando Me ouviste falar, a dúvida dissipou-se, pois Minhas Palavras foram testemunho da Verdade plena da prova, e da finali- dade de Minha Existência. Eis por que farei uma grande prova pra ti e teus companheiros.

  1. Vede, onde Eu estou não Me acho só, mas inúmeras falanges de espíritos angelicais, cheios de poder e luz, Me servem! Quando um regente viaja a negócios governamentais, ele não o faz sozinho, e sim é acompanhado por grande séquito. O mesmo sucede Comigo por ter encetado, como Senhor Único do Universo, uma viagem in- finitamente importante, em virtude de um assunto de Governo ter- ráqueo e espiritual, nesta época e neste planeta, cobrindo-Me com a veste humana. Sem tal empreendimento, nenhum homem da Terra atingiria uma existência verdadeira e eterna.

  2. Tendo, pois, como Maior Monarca, encetado esta Viagem à Terra, por motivos de suma importância, podeis calcular haver legiões de anjos a Meu redor, atentos aos Meus acenos, efetuando Minhas Ordens em todos os astros.

  3. Não vos sendo possível percebê-los com os olhos físicos, quando vos abrir a visão interna não só os vereis, como podereis dirigir-lhes a palavra e fazer alguns pedidos. Antes, porém, tenho que respeitar vosso livre arbítrio se quereis realmente ver e falar com Meus Companheiros; nunca imponho coação!” Perplexos, os roma- nos se calam, pois não esperavam explicação deste teor.

  4. Em seguida, Agrícola se vira para os outros: “Quereis sa- ber de alguma coisa? Aceitemos Sua proposta e veremos o que há na realidade. Quem Lhe disse o meu nome? Pois tive a precaução de não me apresentar. Além disto: quem Lhe denunciou os nossos pensamentos?! Sabe de tudo! Alega não estar só, mas rodeado por fa- langes de espíritos poderosos. Amigos, em tal caso é evidentemente

Deus, e tivemos a felicidade inédita de ter visto Júpiter verdadeiro! Vamos, portanto, pedir-Lhe a demonstração de Seus Companheiros de viagem!” Dirigindo-se a Mim, ele prossegue: “Grande Mestre! Pedimos-Te demonstrares aquilo que prometeste!”

  1. Respondo: “Pois não. Controlai-vos, porém, pois a visão, muito embora amenizada pela Minha Vontade, comover-vos-á!”

  2. Diz Agrícola: “Quem não teme a morte não receia os bons espíritos e muito menos os maus, cujo poder não pode ser grande. Estamos preparados e ansiosos pelos milagres.”

  3. Digo Eu: “Então vamos ao ar livre; lá veremos durante uma hora a Glória de Deus, o Pai, que Me enviou neste Corpo para a salvação das criaturas!”

189.VISÃODOMUNDOANGELICAL.DIFERENÇAENTREANJOSE CRIATURAS

  1. Após nos encontrarmos em número de setenta, bem orga- nizados ao ar livre, Eu pronuncio por cima de todos: “Efatá!” Quer dizer: “Abre-te!” Imediatamente é-lhes facultada a visão interna pela aparição de incalculáveis falanges de anjos luminosos, dentre os quais alguns descem junto dos romanos, dirigindo-lhes a palavra.

  2. Estupefatos, eles se calam; somente Agrícola Me diz: “Senhor e Mestre, parece idêntico ao Olimpo! Que quantidade enorme de espíritos! Quem poderia imaginar tal coisa? Dize-me se isto é reali- dade ou apenas fantasia nossa, provocada pela tua força de vontade?! Esses seres parecem materiais, mormente os que se acham na super- fície do solo!”

  3. Digo Eu: “Eis um anjo perto de ti, pergunta-lhe que responderá!”

  4. Agrícola se dirige nesse sentido à entidade que diz: “Somos muito mais reais que vós; pois vossos físicos de modo algum são rea- lidade. Não são o que parecem ser. Têm forma humana que se movi- menta pela vontade da alma; quando essa forma desaparece, passa de pronto a inúmeras formas. Somente a Verdade absoluta é realidade, todo resto é em vós aparência e ilusão. Enquanto o homem trabalhar

em benefício do corpo para angariar tesouros terráqueos, sua alma se acha na maior ilusão pelo engano físico; pois quem considerar a existência corpórea de vida mantém sua alma morta, até que perceba ser a vida física a própria morte.

  1. Nós somos realidade total, a própria força da vida, por não termos corpo mutável e destrutível. Tudo que vês no mundo pode matar e transformar vosso físico. A pedra que caísse em tua cabeça matar-te-ia. Se não conseguires sair de dentro de um rio ou caíres no fogo, morrerás. Em suma, podes encontrar a morte certa em todos os elementos. Isto jamais sucederá conosco; somos a própria Energia Divina, ultrapassamos tudo e não existe elemento material que nos prejudique. Temos força e poder invencíveis para destruir em um instante todos os elementos e, ao mesmo tempo, criar um mundo material. Dominamos tudo; jamais algo poderá dominar-

-nos, salvo nós mesmos, porquanto somos a expressão perfeita da Vontade Divina.

  1. A fim de que, romano inteligente, possas compreendê-lo melhor, apanha essa pedra e atira-a, com toda violência, à minha cabeça — que nada me fará. Eu fazendo o mesmo a ti, morrerias instantaneamente! Faze uma experiência!”

  2. O romano obedece — e a pedra atravessa o anjo, incólume. Este, então, passa a pedra às mãos de Agrícola, dizendo: “Tenta des- truí-la!” Agrícola emprega todo esforço contra a dureza da pedra. Arre- messa-a contra o solo rochoso, conseguindo apenas alguns arranhões.

  3. O anjo apanha-a e diz ao pagão: “Experimenta tirá-la de mi- nha mão e te poderás certificar de minha força!” Inútil! Pois o roma- no não consegue demovê-la, muito menos tirá-la da mão do anjo. Então este pergunta: “Teria sido isto projeção de tua fantasia?”

  4. Responde Agrícola: “Estranho, vejo as coisas naturais e so- brenaturais, por isto vos considero realidade efetiva e não fantasia ou sonho. Que farás com a pedra?”

  5. Diz o anjo: “Demonstrar-te-ei sua dissolução completa em minha mão. Ei-la ainda inteira; agora, centenas de fragmentos e fi- nalmente — onde estão?! Dissolvidos em suas substâncias originais!

  1. Eu conseguindo isto com a maior facilidade, minha nature- za espiritual é infinitamente mais perfeita que a existência de todas as criaturas terrestres. Por isto é somente a nossa verdadeira, e a vossa apenas quando submetida à Vontade de Deus, atualmente em vosso meio ensinando-vos a viver, e que desde sempre foi Tudo em tudo e cujas Palavras deveis ouvir e aplicar.”

190.VARIABILIDADEDETAREFASDOSANJOSEDOS HOMENS

  1. Diz o romano: “Compreendo-o perfeitamente. Entretanto, por que não apareceis às criaturas para ensiná-las e confortá-las? Ti- vemos a ventura de ver-vos e caso relatemos o fato aos amigos, al- guns acreditarão, outros nos chamarão de tolos e doidos. Não seria melhor vós mesmos prestardes testemunho de nosso relato?”

  2. Responde o anjo: “Executamos estritamente a Vontade do Senhor; somente o que Ele quer é bom. Se fosse necessário à salva- ção das almas encarnadas, estaríamos em visível contato com elas; isto não sendo o caso, podemos guiá-las apenas invisivelmente, a fim de que seu livre arbítrio não seja violado. Ninguém poderá de- frontar Deus caso não tenha passado por determinado tempo uma experiência independente em sua carne, completamente isolado de nós. Eis Amor, Sabedoria e Vontade de Deus que são respeitados. O que não existir dentro desses moldes tem existência nula. Se vós viverdes e agirdes como deseja o Senhor, sereis após a morte idên- ticos a nós; pois também fomos outrora, num planeta qualquer, o que sois hoje.

  3. O mais simples habitante desta Terra, porém, é desde berço muito mais importante que nós em nossa grandiosidade, sabedoria e poder, pois as criaturas verdadeiras desta Terra são filhos do Amor Divino, puro e eterno, e a máxima sabedoria e poder têm que ser desenvolvidos livremente pelo amor a Deus, o Pai. Nós surgimos como criações de Sua Sabedoria; por isto temos que criar o amor a Deus através do saber, coisa muito mais difícil do que desenvolver a sabedoria por meio do amor.

  1. Vós, habitantes desta Terra, surgistes do puro Amor de Deus, portanto sois o Seu Amor; nós, criaturas do saber, de modo algum podemos perturbar-vos no desenvolvimento livre de vossas almas, e tu, irmão terreno, compreenderás por que os anjos celestes não vos rodeiam visivelmente. Podemos despertar apenas suavemente sabe- doria e poder latentes em vosso amor divino — nunca insuflar-vos uma só fagulha de nosso saber, pois deste modo não conseguiríamos despertar vossa sabedoria, e sim abafá-la-íamos.

  2. O mesmo acontece entre vós; pois qual seria o futuro de uma criança entregue à Universidade, onde professores especializados discorressem ciências ocultas perante alunos preparados para tanto?! No final, talvez ela conseguisse repetir as palavras, sem jamais enten- dê-las em seu sentido profundo. Por este motivo deixais que a ama eduque os recém-nascidos, levando-os a pensar através de brinque- dos apropriados e sucessivamente a criança chegará ao ensino esco- lar. O que fazeis com vossa prole é feito por nós em vosso benefício, por serdes filhos de Deus.

  3. Se tivésseis nascido no planeta onde encarnamos outrora, te- ríeis levado àquele mundo toda sabedoria necessária, dispensando outro ensino, salvo o da descoberta do Amor de Deus, na luz de vosso grande saber.

  4. Observai os irracionais de vossa Terra. São igualmente seres emanados da Sabedoria Divina, por isto não necessitam de outro ensino, que muito lhes dificultaria o que devem executar dentro de sua faculdade e instinto, pois trazem tudo com o nascimento como artistas perfeitos.

  5. Quem teria ensinado à abelha a botânica, demonstrando onde se acha o mel dentro da flor, e onde a cera? Quem lhe ensinou a construir a sua cela e produzir em si o aromático mel provindo do doce orvalho da flor?! Quem teria demonstrado à aranha a trama de sua teia, usando-a para sua utilidade?! Tudo isto é Obra da Sabedoria Divina, cujo produto são os irracionais! Sendo no início apenas isto, suas habilidades são perfeitas, entretanto nada mais conseguem apren- der por faltar-lhes, quase totalmente, amor e livre vontade do mesmo.

  1. Existem, porém, animais com mesclados sintomas de senti- mento mais elevado, tornando-os capazes de se sujeitarem ao ensino do homem para desempenhos mecânicos. Quanto maior for este amor, por exemplo, nos cães e em certas aves, tanto maior a capaci- dade no aperfeiçoamento dos mesmos.

  2. Tais faculdades atingem o máximo grau nas criaturas de outros planetas, porquanto encarnam dotadas de capacidades mais variadas e não necessitam de aprendizagem. Como o amor nelas se desenvolve paulatinamente qual produto da sabedoria, possuem escolas onde lhes é demonstrado como se chega do saber ao amor e ao livre arbítrio. Alcançado tal estado após prolongado treino, está a criatura apta a se aproximar de Deus e de Seus filhos.

  3. Daí poderás deduzir por que as criaturas verdadeiras de vos- so orbe não podem permanecer em constante contato, visível e pal- pável, conosco durante o período de evolução intelectual. Em suma, vossa tarefa se concretiza em descobrir e desenvolver o saber dentro do amor — e a nossa, vice-versa.

  4. A diferença enorme consiste em poderdes vos tornar idênti- cos a Deus; nós, porém, jamais — salvo se aceitarmos a encarnação nesta Terra, no que nos falta vontade, pois todos nós estamos mais que satisfeitos com a nossa sorte e com prazer desistimos de coisa melhor. Não deixa de ser venturosa a expectativa de alguém se tor- nar filho perfeito de Deus; entretanto, não pretendemos alterar o nosso estado feliz.

  5. Entre essas inúmeras falanges, temporariamente visíveis aos teus olhos, existem alguns filhos verdadeiros de Deus — vós, to- davia, tendes maior vantagem por serdes ensinados e guiados pelo Altíssimo! De modo algum a situação é idêntica entre filho e servo da casa. Ao primeiro tudo pertence que é do Pai; ao servo somente o que Este lhe quiser dar. Entendes isto, caro Agrícola?”

  6. Perplexo, o romano não sabe o que dizer, pois o anjo se expressa de modo incisivo, sem dar oportunidade de argumentação. Além do mais, falta a Agrícola todo conhecimento espiritual, com o qual poderia prosseguir na controvérsia. Por isto ele se dirige a Mim,

dizendo: “Senhor e Mestre sem par, isto deixa de ser sonho, e o es- pírito — ou seja o que for — desenvolve ideias jamais concebidas. O melhor de tudo é sua afirmação de ter vivido em outro planeta. Nunca ouvi tal possibilidade. Que vem a ser isto?”

  1. Digo Eu: “Calma, Meu amigo. Esse anjo não proferiu uma só palavra errada. Convém procurá-lo para que te demonstre outros corpos cósmicos e te transmita orientação prática.”

191.OSDIVERSOSGRAUSDE VIDÊNCIA

  1. O romano agradece pelo conselho e se dirige novamente ao espírito, dizendo: “Amigo querido, sou sumamente grato pelo ensi- namento excepcional; acontece nós, habitantes desta Terra e futuros filhos de Deus, não nos podermos polarizar com a vossa sabedoria transcendental. Que sabemos de outros mundos no Espaço Infinito, quando ainda desconhecemos nosso próprio planeta?! Tem, pois, a bondade de me dar provas palpáveis para tua afirmação, do contrá- rio tua sabedoria não terá lucro para nós.”

  2. Diz o espírito angelical: “Exiges muito de mim, todavia tenho de satisfazer-te, porque o Senhor assim quer. Tua atual visão te capa- cita veres com os olhos da alma os espíritos puros; isto porque muni- mo-nos de um corpo substancial, tirado de vossa irradiação psíquica.

  3. Se nos apresentássemos quais espíritos puros, não vos seria possível nos ver, não obstante vossa visão dilatada. Quando no fu- turo vos encontrardes na visão intrínseca do espírito, sereis capazes de ver os anjos puros. Justamente tal percepção interna é necessária para poderes ver todos os corpos cósmicos, que também existem em ti relativamente e em proporção diminuta, não podendo ser vistos por tua alma até que se tenha unido ao Espírito de Deus. Com a permissão do Senhor podemos despertar em vós a visão espiritual, ou seja, o sublime arrebatamento do espírito.

  4. Colocar-vos-ei de início entre a Terra e a Lua, a fim de que vejais ser a primeira igualmente esférica. Em seguida, vos levarei à Lua, ao Sol e a outros corpos. Agrada-vos tal perspectiva?”

  1. Diz o romano: “Muito; mas tal excursão será prolongada, pois se aqueles astros são maiores que o orbe, sua distância deve ser enorme, porque se apresentam tão pequeninos e compreende-se não ser rápida tal viagem.”

  2. Retruca o anjo: “Para o espírito puro não existe tempo nem espaço. Tanto aqui como distâncias infinitas para ele nada repre- sentam, agora e há milênios lhe são idênticos. Por isto podeis ver e saber, em estado de visão plena, muito mais em um momento do que encarnados em milhões de anos, através do ensino. Isto é de grande vantagem, porque a alma percebe e aprende conosco muito mais em um instante do que na Terra, em anos afora. Pois se ela se tiver emancipado no corpo, torna-se enorme benefício quando lhe for tirada a carne pesada e alquebrada, para então aproximar-se de nós e receber o verdadeiro ensino da vida.

  3. Atenção! Libertar-vos-ei em espírito, de certo modo a ema- nação de Amor provindo de Deus, razão por que sois filhos Dele ou algum dia ainda o sereis, caso viverdes pela Vontade do Pai!” A essa exclamação dentro de Minha Vontade, todos caem em sono natural, tolhidos dos sentidos físicos, mas capazes de falar.

192.UMA VISITA AO UNIVERSO

  1. Todos estão deitados no solo; somente Agrícola, sentado em um banco, principia a falar: “Eis lá embaixo a Terra, uma grande esfera; lá em cima a Lua, pequenina, e abaixo da Terra, indubita- velmente, o Sol! Que aspecto extasiante! O Espaço aparentemente vazio está cheio de seres iguais a mim! Alguns flutuam em direção à Terra; outros, de lá se afastam. Eis o planeta Lua, mui parecido com a Terra, porém de aspecto tristonho e lúgubre. Seus habitantes não parecem mui felizes a julgar pela expressão.”

  2. Interrompe o anjo: “São certas almas da Terra a se desfazerem de seu grande materialismo, a fim de se capacitarem de uma edu- cação espiritual mais elevada. Observa o lado oposto da Lua, mais

alegre e animado, onde se acham os seus verdadeiros habitantes.” Extasiado, o romano faz suas observações.

  1. Em seguida, dirigem-se para o Sol. Quando na sua proximi- dade, Agrícola diz ao anjo: “Amigo, este mundo é colossal! Sinto-me reduzido a nada e peço-te me levares a um outro, menor!”

  2. Diz o anjo: “Tal não está em meu poder, pois tenho de agir pela Vontade do Senhor. Tão logo pisares o terreno solar, sentir-te-ás mais a gosto. Vamos.”

  3. No mesmo instante se acham no ponto mais lindo da esfera central do Sol, e o romano quase desfalece diante de sua magnitude. E ao deparar as criaturas solares, de beleza excepcional, já não quer ver outros astros e pede ao anjo permissão para levar uma filha do Sol à Terra, a fim de provar aos conterrâneos existirem seres maravi- lhosos nesse astro.

  4. Obtempera o anjo: “Amigo, não me é possível. Ainda que a pudesse levar, ela não poderia subsistir por ser a atmosfera terráquea para ela o mesmo que a água para vós. Por aí vês que os habitantes de outros mundos são de constituição diversa, podendo somente viver onde foram determinados. Sigamos.”

  5. Assim, são visitados os planetas e mais alguns sóis próximos, onde o romano se sente muito bem, a ponto de lastimar não ter sido habitante de mundo luminoso, tão belo.

  6. O anjo, porém, afirma: “Amigo, precisamente neste Sol tua alma viveu encarnada durante quatro mil anos! Eis aí teu palácio ma- ravilhoso de outrora; e as criaturas a frequentá-lo foram teus parentes.

  7. Quando foste orientado por um sábio viandante de haver no Espaço Infinito um planeta onde os homens, cedo ou tarde, pode- riam se tornar filhos do Grande Deus, tão logo se decidissem livrar-

-se psiquicamente desse mundo para passarem uma prova de vida e amor independentes — contudo sem recordação desse Sol, por não ter a existência lá o conhecimento total, e sim, no início, o amor inteiramente egoísta como base — aceitaste as condições. De pronto foste transportado, tua alma liberta implantada em um físico femi-

nino, e isto, na capital mais deslumbrante da Terra, para impedir que teus sonhos despertassem saudades de querer voltar aqui.

  1. Já estiveste, pois, em um desses mundos maravilhosos, fato que reconheces intimamente, recordando-te em sonhos de tudo que fizeste a uns cinquenta anos atrás. A fim de que tua saudade não se torne demasiado forte, regressaremos incontinenti à Terra.” No mesmo instante os romanos voltam da visão espiritual à psíquica, despertando em seguida com a lembrança integral de tudo. E cada um relata suas visões.

  2. Diz Agrícola: “Acredito naquilo que vi porque é idêntico às experiências de todos. Quer dizer que o espírito desse judeu extraor- dinário criou todos aqueles sóis e planetas?!”

  3. Confirma o anjo: “Exato, e ainda coisas mais deslum- brantes! Seu Espírito Sublime e Eterno operou tal milagre diante de vós, como Habitante terrestre, a fim de que O reconheçais e apliqueis Seus Ensinos, tornando-vos felizes como Seus filhos. Ide agradecer-Lhe, Senhor Único de toda Vida!”

  4. Assim fazendo, os romanos voltam por Mim à visão natural e todas as falanges angelicais desaparecem. Inquiridos se apreciaram o fenômeno, eles o confirmam, mas pedem descansar para, no dia seguinte, comentarem o fato com mais calma.

193.INTERPRETAÇÃOESPIRITUALDASDIVERSASFASESDO DIA

  1. Ao surgir a alvorada, já Me encontro ao ar livre. O dia é magnífico e o Sol, deslumbrante. Enquanto nos entregamos a essa contemplação, João diz: “Senhor, não sei por que uma aurora igual a esta alegra o meu coração, enquanto o Sol nado me deixa indife- rente, e o crepúsculo me entristece.”

  2. Digo Eu: “Isto prova o sentimento da criatura bem encami- nhada. A manhã corresponde à adolescência feliz e inocente, motivo por que alegra o sentimento puro e equilibrado.

  1. O meio-dia é semelhante ao homem forte; obrigado a trabalhar pelo sustento material; por isto essa fase não desperta sensações sutis. Na idade varonil termina a poesia da juventude e não desperta brandura, mas certo rigor, no que o coração não pode se alegrar, muito embora seja necessário à conquista da vida verdadeira.

  2. A noite, símbolo da morte terrena e do desaparecimento de todas as coisas, só pode exercer na alma de sentimentos equilibrados uma sensação sombria, conquanto seja indispensável como a manhã e o dia. Não houvesse noite da vida, o homem não poderia aguardar a Alvorada e Verdade eternas.

  3. Nisto se baseia o teu sentir justo, entretanto não é idêntico para todos. Existem criaturas que preferem a noite à manhã; ou- tras, para as quais ela causa impressão desagradável, enquanto ao meio-dia tal sensação melhora, e o crepúsculo, mormente a noite, lhes são de maior agrado. Tais pessoas são de modo geral erradas, e difícil é ensinar-lhes coisa melhor e levá-las ao caminho certo da fé e do sentir; pois juntaram com afinco tesouros destrutíveis, pela ferrugem e traças. Quem se encontra nesse ponto dificilmente se modificará.

  4. Por isto vos digo: não acumuleis neste mundo os bens pere- cíveis! Não vos preocupeis com o dia de amanhã e com vossa sub- sistência! Basta cada dia trazer sua preocupação. O Pai no Céu sabe perfeitamente de vossas necessidades. Observai as andorinhas no telhado e as flores nos campos! Não semeiam nem colhem — entre- tanto o Pai Celeste as provê de tudo. Acaso os pássaros não têm veste e alimento, e as flores do campo não se trajam mais ricamente que Salomon em toda sua pompa? Porventura não sois muito melho- res que as andorinhas, compráveis às dúzias e por pouco dinheiro, sendo vosso valor mais elevado que a erva do campo, hoje em flor, amanhã ceifada, secada e atirada ao fogo para alimento dos animais?! Assim orientados, agi de acordo para subsistirdes em vossa incum- bência como discípulos escolhidos.

  1. Ao fixar o dízimo para o tronco Levi, Moysés acrescentou: Quem servir ao altar, deve se manter à sua custa. — Repito o mes- mo, embora com outras palavras. Transmito-o apenas a vós e não formulo com isto um Mandamento pelo qual ninguém deveria trabalhar em campos e vinhas, pois vale somente para os trabalha- dores escolhidos para a Minha Vinha Espiritual. Aos outros digo: Quem não trabalhar não comerá! E quem procurar o Meu Reino e Sua Justiça receberá, como vós, todo o resto por acréscimo.” João Me agradece com especial carinho e pergunta se deve anotar esse ensinamento.

  2. Respondo: “Por certo; mas somente para vós e vossos suces- sores; pois se fosse dado a todos, o mundo em breve estaria deserto.”

194.OSENHORCLASSIFICAOSTRINTA ROMANOS

  1. (O Senhor): “Os romanos já despertaram e dentro em pouco nos procurarão. Não façais muita cerimônia, pois Me incumbirei deles. No fundo, são pagãos bondosos; como tais, têm bom senso. Podereis vos convencer da pouca importância que ligarão aos fatos de ontem, após passado o efeito do vinho. Se bem que se lembrem, têm a impressão de um sonho muito real. Por isto, peço-vos em não avivardes sua recordação.

  2. A moça já partiu cedo, após recomendar ao hospedeiro um abraço efusivo para Mim, com a promessa de não mais pecar. Ela cumprirá sua palavra. Repito: considerai Minha advertência quanto aos romanos e vereis ter Eu razão — como sempre!”

  3. Os discípulos expressam sua admiração, pois o grupo havia demonstrado real interesse. Esclareço, pois: “Beberam na cidade além da medida e aqui ultrapassaram vossas doses; este fato provo- cou um estado de aturdimento, pois um embriagado sonha de olhos abertos. Por isto têm impressão de terem sonhado. O melhor de tudo é que cada um relata o mesmo sonho. Não podendo explicar o fenômeno, alegam ter um mago enfeitiçado o vinho. Nem percebe- ram a ausência da judia.

  1. Aproveitei a embriaguez deles para operar o milagre, pois em estado normal, ter-Me-iam tomado por um dos seus deuses; é sem- pre melhor para a liberdade da alma receber a prova em sonho!”

  2. Entrementes, nos abordam Lázaro e seu hospedeiro, que Me transmite as despedidas de Maria Magdalena. E o primeiro prosse- gue: “Senhor, coisa estranha se dá com os romanos, mormente com o loquaz Agrícola, completamente taciturno e calado; ao passo que os outros consideram os fatos de ontem simples sonhos. Eles afir- mam ter-se baseado o sonho na preocupação da pessoa do nazareno. O mais interessante é não saberem explicar como chegaram a essa hospedaria, tampouco se recordam da moça que os trouxe.”

  3. Digo Eu: “Deixa estar; seu estado de embriaguez permitiu manifestar-Me. Tem cuidado em não Me traíres. Se perguntarem pelo célebre judeu, dize-lhes que irá doutrinar hoje no Templo. Após Me terem visto e ouvido, estarão preparados para elucidar-lhes o suposto sonho. Manda preparar o desjejum em quarto reservado e após iremos à cidade. Não quero entrar em contato com eles, pois virão para pedir informações.”

195.OSTRINTAROMANOSÀPROCURADO SENHOR

  1. Nisto aproximam-se os romanos, extasiados com a bela pai- sagem, e um dentre eles pergunta a um discípulo se igualmente pas- sou a noite na taverna. Apontando para Mim, este diz: “Dirige-te a Ele, que também fala o teu idioma.”

  2. Após ter ele repetido a pergunta, Eu lhe digo: “Para que isto? Porventura indagamos se passastes a noite aqui?! Qual o motivo de tua curiosidade?”

  3. Responde o romano: “Ora, há dois dias estamos à procura do célebre judeu e casualmente aqui viemos. Um tanto embriagados, todos nós sonhamos de tê-lo encontrado. Trouxe-nos a este local e nos demonstrou seu poder divino, de sorte a considerarmos tratar-se de um deus temporariamente encarnado. O que mais nos surpre- ende é o fato de termos, todos, sonhado o mesmo. Presumimos ter

sido efeito do vinho, e perguntamos sobre vossa permanência aqui para saber se sonhastes a mesma coisa.”

  1. Digo Eu: “Não sois capazes de vos recordar de sua pessoa?”

  2. Responde ele: “Tenho a fraca lembrança de ter ele mais ou menos tua apresentação.” Digo Eu: “Bem — quem sabe se não sou Eu?!” Responde ele, sorrindo: “Hum, estás brincando?! Todavia, digo não ter sido o sonho brincadeira!”

  3. Acrescento: “Ora, não podes saber se Eu não vi o mesmo que vós. Seja como for, oportunamente voltaremos ao assunto. Tome- mos o desjejum para depois tratar de nossa tarefa. O proprietário da hospedaria saberá informar onde o tal judeu se apresentará. Não vos excedais no beber, do contrário perdê-Lo-eis, como muitos fizeram e ainda farão!” Ligeiros, tomamos a refeição e nos dirigimos à cidade. Como ainda é cedo, pois antes das nove horas nada se faz no Tem- plo, damos algumas voltas pela metrópole.

196.OSENHORDOUTRINANOTEMPLO(EV.JOÃO8, 2)

  1. Nem bem se abre o Templo, sou Um dos primeiros a entrar, e o povo aflui em grandes massas; sento-Me e começo a doutrinar por parábolas e exemplos, tão comuns no Evangelho. Demonstro-lhes o grande Amor, Bondade e Justiça de Deus, o Pai, mormente no que consiste o Reino de Deus, tão próximo.

  2. Muitos creem em Mim e comentam: “É realmente um gran- de profeta e não se compreende os fariseus não o quererem acatar. É deveras desinteressado, pois muito embora tenha prestado enormes benefícios, jamais se fez pagar, e é fato conhecido que sempre usou de caridade milagrosa para com o hospedeiro que o recebia como Salvador e Seus discípulos. Além disto, não é casmurro, trata todos de igual modo e se neste momento diz: Vinde todos a Mim que sois cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei, dando-vos o justo con- solo da Vida e a paz verdadeira! — Temos de acreditar.

  3. O homem que fala tão sábia e bondosamente e age de modo tão milagroso é grande profeta, venha de onde vier! O próprio Mes-

sias não poderia fazer coisas mais grandiosas, e caso não venha com raios e chuva de enxofre, não Lhe acreditarão!”

  1. Outros, ainda mais crentes, dizem: “Não necessitamos aguar- dar outro Messias, pois Este é o Verdadeiro! Suas Palavras transmi- tem força e vida; Suas Ações são Divinas, portanto é o Esperado!”

  2. Outro grupo conjectura: “Encontramo-nos sob o poder dos fariseus e não podemos agir à vontade. De que nos adiantam Ver- dade e Fé?”

  3. Interrompo: “Deus Mesmo é Amor e Verdade eternos! Nada no mundo vos poderá libertar, senão a Verdade. Quem comete pe- cado, ou seja, a mentira, é servo do pecado e escravo de pecado- res empedernidos, sem consciência e amor, considerando apenas o miserável ‘ego’. Quem possuir a Verdade é inimigo declarado da mentira e do pecado, portanto está livre; pois ninguém o poderá acusar de erro. Por isto, aceitai a Verdade e não temais os que podem matar-vos, sem prejuízo para vossa alma; temei a Deus, que pode aniquilar-vos, alma e corpo!

  4. O dano físico imposto por outrem ser-vos-á recompensado mil vezes por Deus; o prejuízo na alma, jamais. Deus deu à alma razão, inteligência, consciência, livre arbítrio e a Lei, a fim de que saiba o que seja o Bem e o mal, podendo determinar sua situação pela vontade. Será julgada de acordo com sua escolha: para a morte ou para vida.

  5. O Pai no Céu deseja que todos recebam a Vida Eterna, e por isto Me enviou à Terra. Repito: quem crer em Mim receberá a Vida Eterna; quem não der crédito ter sido Eu enviado pelo Pai para junto de vós perderá a vida, que tão facilmente poderia ter conquistado. O Pai no Céu Me ama e todos aqueles que creem em Mim; e Eu Mesmo lhes proporcionarei a Vida Eterna, pela Verdade do Meu Verbo!”

  6. Nisto, alguns judeus comentam: “É estranho como fala de si, igualando-se a Deus! É incrível os fariseus o aturarem!” Dizem ou- tros: “Fala abertamente e nada que desabone a Verdade, e os fariseus não acharão como condená-lo!” Afirma outro grupo: “Oh, não vos

preocupeis, pois não custa a eles atacá-lo!” Finaliza um publicano: “De nada adianta, pois esses preguiçosos de há muito nada conse- guem contra ele!”

  1. Em seguida faz-se silêncio; os fariseus, revoltados, refletem sobre os meios para Me acusar de uma inverdade, a fim de que pos- sam dizer à multidão: “Vede, vosso profeta e suposto Messias! É nada mais que um impostor!”

197.AADÚLTERA(EV.JOÃO8, 3–11)

  1. Entrementes, os esbirros do Templo trazem uma adúltera pega em flagrante, que pela Lei de Moysés, deveria ser apedrejada, mas em se tratando de pessoa de recursos, a infração redundava em multa vultosa. Sendo pobre, porém jovem e bonita, era geralmente fustigada e em seguida tinha que servir ao Templo. Uma criatura ve- lha e feia já se achava garantida contra o adultério. A moça em apre- ço ainda é muito jovem, mas pobre e pretendia ganhar, durante as comemorações, um pecúlio por parte de um estrangeiro rico. Teria ela caído nas malhas do Templo, não fora Minha Presença, levando os fariseus a usá-la como causa para Minha queda.

  2. Essa pobre pecadora é trazida pelos fariseus mais cultos à Minha Presença, portanto em meio da multidão que Me rodeia. Tremendo de pavor, é ela apontada por um templário com as se- guintes palavras: “Essa criatura foi apanhada em adultério e pela Lei de Moysés deve ser apedrejada! Que dizes a respeito?”

  3. Subentende-se agirem deste modo para confundir-Me, por- quanto Minha afirmação acerca da grande Misericórdia de Deus, o Pai, e de Minha Própria Bondade para com os pecadores servir-lhes-

-ia como pretexto para Me exporem em público, acusando-Me de traidor e revolucionário, que deveria ser preso e entregue à Justiça!

  1. Eu, todavia, não lhes respondo de imediato; abaixo-Me e es- crevo a culpa da pecadora na areia, espalhada em grande quantidade pelo Templo por ocasião dos festejos e que após era vendida a judeus supersticiosos.

  1. Persistindo eles na questão, Eu Me levanto e digo: “Real- mente tal Lei foi dada por Moysés; entretanto, deveriam os com direito ao apedrejamento estar fora de pecado, ao menos aquele a atirar a primeira pedra! Quem entre vós estiver isento de pecado

  1. Não contando com tais palavras e sua consciência os acusan- do como pecadores e adúlteros, todos, começando pelo mais velho até o último, se afastam do Templo. Dentro em pouco não há mais fariseu, levita e esbirros templários, mas somente Eu, a pecadora, os discípulos e o povo — este, admirado de Eu os ter afugentado com poucas palavras.

  2. Alguns dentro da multidão se externam: “Teriam sido estra- çalhados caso tivessem apanhado uma só pedra! Um pecador não pode e não deve condenar um inferior!”

  3. Neste ínterim Me levanto e dirijo-Me à mulher: “Onde estão teus acusadores? Ninguém te condenou?” Ela responde: “Ninguém, Senhor, pois todos se afastaram ligeiros!”

  4. Digo Eu: “Nem Eu, tampouco, te condeno! Volta ao teu lar e não peques mais, pois se assim fizeres, sofrerás muito!”

  5. Ela Me agradece pela Graça recebida, entretanto pede con- selho como chegar a casa, pois teme vingança por parte dos carrascos templários.

  6. Digo Eu: “Nada receies; pois ficarão satisfeitos em não te encontrar. Fica entre o povo que te protegerá, acompanhando-te a casa. Basta observares o reposteiro do Templo e vê-los-ás escondidos todos! O povo inquiriu o que havia sucedido, motivando sua saída precipitada! Envergonhados em dizer a verdade, deram uma des- culpa qualquer e voltaram ao pórtico do Sul, em atitude ostensiva. Continua entre a multidão, crente em Mim, que serás protegida. Prosseguirei a doutrinação, fazendo com que se apresentem nova- mente. Sua raiva aumentou devido à Minha Atitude e por te salvar

de suas garras. Sê boa e não peques mais!” Acanhada, ela procura se esconder entre a multidão que a encoraja, fazendo ameaças contra os fariseus.

198.CONFISSÃODOSENHORNOTEMPLO(EV.JOÃO8, 12–29)

  1. Assim que o ambiente serena, alguns do povo Me dizem: “Senhor e Mestre, não Te deixes perturbar pelos templários, dá-nos a conhecer Tua missão e o Reino de Deus; todos nós apreciamos Tuas Palavras e nossos corações palpitam por Ti.”

  2. Digo Eu: “Pois bem, prestai atenção. Direi abertamente Quem sou! Eu Mesmo sou a Luz do mundo! Quem Me seguir não caminhará em trevas, mas terá a verdadeira Luz da Vida!”

  3. Cheio de júbilo, o povo exclama: “Sim, é verdade! Vieste qual Luz radiosa a nos beneficiar, após larga erraticidade na cegueira de nossas almas!”

  4. Tal exclamação rompe a paciência dos templários raivosos, de sorte a atravessarem a multidão e Me dizerem: “Testemunhando de ti mesmo, teu testemunho não é verdadeiro!”

  5. Respondo: “Ainda que assim fizesse, testificaria a Verda- de; sei de onde vim e para onde vou. Só vós não sabeis, devido ao orgulho, de onde Eu vim e para onde vou. Julgais tudo pela carne por desconhecerdes o espírito; enquanto Eu por tal motivo a ninguém condeno. Quando Eu julgo, Meu julgamento é justo; pois não sou Eu só, como pensais, e sim estou com o Pai que Me enviou. Não consta em vossa Lei ser válido o testemunho de duas pessoas?! Sou, primeiro, Eu a testemunhar de Mim Mesmo e, segundo, o Pai que Me enviou a este mundo. Quantas teste- munhas exigis?”

  6. Irritados, os fariseus reagem: “Toma-nos por loucos? Onde está o teu pai para te servir de testemunho?”

  7. Eis que Me levanto, dirijo-Me à coluna que serve de caixa para esmolas e digo em voz alta: “Cegos, desconheceis a Mim e ao

Pai, pois se Me conhecêsseis, saberíeis Quem é o Meu Pai!” Após assim ter feito, perguntam-Me por que Eu havia falado ao cepo.

  1. Respondo: “Por ser o mesmo Eu falar-vos ou Me dirigir à cai- xa de esmolas! Ela, ao menos, ouviu com paciência, fato não ocor- rido convosco.” Tal observação é do agrado do povo que incita os fariseus a Me deixarem falar, e eles se retraem um pouco.

  2. Continuo a elucidar as traficâncias dos fariseus e quanto mais os exponho e lhes asseguro as condenações a serem colhidas, tanto maior é sua revolta; todavia, não Me prendem por não ter chegado o Meu tempo.

  3. Nesse instante, adiantam-se alguns judeus, amigos dos tem- plários mas, ao mesmo tempo, inclinados a Me darem razão, dizen- do: “Qual o fito de Tuas Palavras?”

  4. Respondo: “Sabei Eu Me retirar de modo desconhecido de vós; procurar-me-eis sem Me achardes, morrendo com vossos peca- dos. Pois onde vou, não podereis ir.”

  5. Eis que os judeus confabulam: “Porventura suicidar-se-á de desespero por ter irritado os fariseus e dificilmente poderá fugir de sua vingança? Do contrário não poderia afirmar: para onde vou não podeis ir.”

  6. Eu então retruco, com ar alegre: “Não vale a pena quebrar a cabeça. Demonstrarei Pessoalmente o motivo, e vereis de pronto por que não vos será possível chegardes lá para onde irei, da manei- ra que sois.

  7. Vede, sois de baixo e para lá voltareis; Eu sou do Alto, e para lá tornarei sem que Me possais seguir.”

  8. Com isto também esses judeus se alteram, dizendo: “Que vem a ser isto? Acaso nos poderás garantir o inferno?”

  9. Respondo: “Oh, não! A questão é a seguinte: sois deste mun- do, de acordo com as vossas almas; Eu — não sou deste mundo!” Dizem eles: “Onde existe outro mundo? Nada a respeito sabemos.”

  10. Respondo: “Claro. Por isto fiz tal afirmação, porquanto morrereis em pecado em virtude de vossa incredulidade. Não cren- do ser Eu o Prometido Messias, ora em vosso meio, morrereis em

pecado e jamais chegareis lá onde Eu estarei com Meus Eleitos. Se assim não fosse, jamais teria coragem para vos afirmar tal coisa como simples homem.”

  1. Insistem eles: “Que afirmação é esta? Fala claramente quem és, em verdade?”

  2. Prossigo: “Difícil é pregar-se a ouvidos surdos! Não me ten- do compreendido, prestai atenção. Primeiro, sou Aquele que ora vos fala!” Aduzem os judeus: “E mais?”

  3. Respondo: “Paciência. O resto ireis descobrir em Minhas Palavras, pois muita coisa tenho que dizer e julgar de vós. É Verda- deiro Quem Me enviou, e Eu transmito diante do mundo, que sois vós, apenas o que Dele ouvi desde sempre.”

  4. Não compreendendo os ignorantes falar Eu do Pai, ou seja, do Eterno Amor dentro de Mim, novamente indagam quem Me teria enviado. Respondo com muito rigor: “Quando tiverdes argui- do o Filho do Homem, reconhecereis, embora tarde, fazer Eu nada por Mim, mas apenas falo e ajo como fui ensinado pelo Meu Pai. E mais: O Pai que Me enviou não está longe daqui, e sim Comigo. Jamais Me deixa só; pois faço tudo que Lhe agrade e não temo quem quer que seja. Se assim não fosse, não o afirmaria.”

199.OSENHORESEUSADVERSÁRIOS(EV.JOÃO8, 30–49)

  1. Quando assim termino de falar, alguns judeus comentam: “Realmente, esse homem fala como se estivesse dotado de poder, e ninguém se atreve a tocá-lo ou proibir-lhe o discurso. É algo sobre- natural e estamos dispostos a crer!”

  2. Digo Eu aos que começam a acreditar em Mim: “Insistindo no que vos disse, tornar-vos-eis Meus discípulos verdadeiros. Des- cobrireis a Verdade contida em Minhas Palavras, e ela vos libertará como afirmei.”

  3. Obtempera um grupo, incrédulo: “Somos descendentes de Abraham e jamais fomos servos ou escravos. Como tornarmo-nos livres quando somos senhores e cidadãos?”

  1. Replico: “Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete pecado é servo do pecado. O servo não é livre, pois deve obe- decer aos desejos carnais; e o servo nem sempre fica em casa, e sim somente o Filho. Todo pecador é servo, e a casa é o Reino de Deus e sua Justiça, e o Filho é a Verdade. Se, portanto, Eu, como verdadeiro Filho do Reino de Deus, vos liberto, sereis realmente livres.”

  2. Novamente repetem os incrédulos: “Não te esqueças sermos descendentes de Abraham, como insistes em nos libertar?”

  3. Respondo: “Disto estou ciente, e Eu tenho a mesma descen- dência. Embora afirmeis não terdes sido escravos, foram-no vossos pais no Egito e mais tarde na Babilônia; atualmente sois servos de Roma — já que pretendeis falar de circunstâncias externas. Eu Me refiro às internas, pelas quais sempre fostes servos de vossa paixão, deixando-vos dominar quais possessos. Prova isto o fato de procu- rardes matar-Me como pretendem os fariseus, e isto porque Minha Doutrina não cabe em vós, não a compreendeis, odiando-Me por Eu falar a pura Verdade. Digo-vos apenas o que vejo e ouço cons- tantemente de Meu Pai, enquanto considerais apenas o que sabeis também de vossos pais, inútil, porém.”

  4. Novamente eles opõem: “Não te esqueças ser Abraham nosso pai, portanto tuas acusações são infundadas. Compreendeste?”

  5. Respondo: “Compreendo-vos muito bem. Se fôsseis filhos de Abraham faríeis as suas obras. Agora procurais matar-Me qual reles criminoso, apenas porque vos digo a Verdade que de Deus sem- pre ouvi. Realmente, Abraham jamais quis fazer isto aos três jovens que lhe disseram a Verdade. Fazeis simplesmente as obras de vossos pais e não as dele. Compreendei-o!”

  6. Retrucam os judeus, irritados: “Amigo, não somos filhos ile- gítimos! Temos todos um Pai que é Deus Mesmo!”

  7. Digo Eu: “Se Deus fosse vosso Pai, amar-Me-íeis como Me amam os que Me reconhecem. Meu Espírito vem de Deus, e não, qual Homem, de Mim Mesmo, pois Deus Me enviou, quer dizer, este Corpo pelo Qual Ele Pessoalmente Se revela, entretanto procurais matá-Lo. Por que motivo não conseguis ouvir a Minha Voz, se sois filhos de Deus?”

  1. Perguntam eles: “Acaso não te ouvimos?”

  2. Respondo: “Sim, com os ouvidos físicos; todavia, vos per- gunto por que não vos agrada o sentido de Minhas Palavras, e qual a razão ser ele do agrado de muitos, inclusive daqueles romanos que se postaram em redor da caixa de esmolas?”

  3. Eis que não sabem o que responder, pois temem o povo e não se atrevem a externar uma resposta, que naturalmente seria grosseira e agressiva. A multidão, porém, Me diz: “Senhor e Mestre, vê se consegues descartar-Te desses ricos tenebrosos; queremos ouvir Tuas Palavras de Luz e não as constantes objeções desses ignorantes. Dize-lhes abertamente quem são, a fim de que se afastem!”

  4. Digo Eu: “Paciência! Já lhes disse não serem filhos de Deus

  1. Retrucam os judeus, enraivecidos: “Quem te dá direito de expressares tal coisa frente ao povo? Por que somos filhos de Sata- nás?” Respondo: “Porque falo a Verdade e não Me dais crédito!” Dizem eles: “Por que deveríamos acreditar-te?”

  2. Digo Eu: “Para não morrerdes em pecado, podendo vos tor- nar felizes!” Perguntam eles: “És homem como nós; por que justamen- te tuapalavra nos deveria fazer felizes?” Digo Eu: “Sim, também sou simples homem, entretanto posso dizer: Quem entre vós Me pode acu- sar de pecado?! Se, portanto, falo a Verdade como homem sem pecado perante Deus e os homens — por que não Me acreditais?! Quem vem de Deus com prazer ouve Seu Verbo. E vós não quereis ouvir a Minha Palavra, que é a Palavra de Deus, por não vos originardes Nele!”

  3. Completamente cegos de ódio, os judeus insistem: “Não dizemos a verdade afirmando seres samaritano e abrigares o demô- nio em vez do Espírito de Deus?”

  1. Finalizo: “Não sou samaritano e muito menos tenho um demônio dentro de Mim, fato que pode ser testemunhado por mi- lhares. Sempre dou Honras a Deus, Meu Pai. Por que Me deson- rais? E por que não o fizeram tantos outros que reconhecem a Mim e ao Pai?”

200.ANATUREZADOSENHOR(EV.JOÃO8, 50–59)

  1. Nessa altura, o povo, crente, se impacienta e diz: “Senhor, pedimos-Te afastares esses cegos tolos; perturbam a Ti e a nós. Se não sossegarem, agiremos pela força, pois ficamos por Tua causa e queremos ouvir-Te.

  2. Todos nós, cerca de duas mil pessoas, estamos informados de Ti e de Tua Missão Divina, e compreendemos perfeitamente o que querias dizer com as palavras: Não estou só, pois o Pai está sempre Co- migo! — Esses ignorantes não o percebem, e jamais o farão, ser o Pai e Tu Uma só Pessoa e ao afirmares: ‘O Pai Me enviou’, apenas querias apontar às criaturas de fraca percepção que Tu, o Eterno, criaste um Corpo para o Teu uso, a fim de Te tornares um Deus Visível, Doutri- nador e Consolador dos vermes da Terra. Teu Corpo Santificado é Teu Filho, e Tu, Pai, estás Nele diante de nós, pobres pecadores!

  3. Esses tolos não o compreendem, entretanto alegam conhe- cer todos os profetas, que indubitavelmente determinaram a época da Chegada do Messias. Eis o momento preciso; por que motivo deveria demorar o Esperado? Ele Se acha entre nós e foi por nós prontamente descoberto.

  4. Os descendentes daqueles que no deserto adoravam o bezer- ro de ouro, enquanto Jehovah transmitia a Moysés as Leis Sagradas sob raios e trovões, continuam os mesmos adoradores da matéria, e além disto tão atrevidos a ponto de atacar-Te. Senhor, deixa-os seguir e ensina-nos a compreender-Te melhor — inclusive nossos pecados tantas vezes repetidos!”

  5. Respondo: “Ficai calmos; tenho que dizer-lhes Quem sou, a fim de não se poderem desculpar da falta de explicação. Já lhes

transmiti não procurar Eu Minha Honra — e de modo algum entre eles — pois existe Quem a busque e julgue. Essa geração ignorante e maldosa jamais o entenderá, até que o machado atinja suas raízes. Por isto repito: em verdade, em verdade vos digo, quem cumprir Minha Palavra jamais verá a morte!”

  1. Retrucam os judeus irados: “Agora percebemos teres o demô- nio dentro de ti, pois se tua palavra vale tanto quanto a de Deus, o pronunciamento de Abraham, Isaac e Jacob igualmente foi divino

  1. Respondo: “Se honrasse a Mim Mesmo, Minha Honra de nada valeria; todavia, é Meu Pai a Me honrar, e do Qual afirmais ser vosso Deus. Não O conheceis; Eu conheço-O. E se Eu afirmasse desconhecê-Lo, seria mentiroso como vós, alegando ser Ele vosso Pai. Eu O conheço em Verdade e cumpro Sua Palavra!

  2. Digo-vos algo mais, para saberdes não Me ser desconhecido vosso pai Abraham. Ele se alegrou por ter visto Minha Passagem neste planeta! Alegais ter ele morrido! Todavia afirmo ter ele visto Minha Época desde o primeiro dia, sentindo regozijo imenso por isto. Até mesmo agora vê Meu Tempo e se alegra por tal motivo.”

  3. Boquiabertos, os judeus ignorantes exclamam: “O quê?! Ain- da não contas cinquenta anos e viste Abraham?” Retruco: “Em ver- dade, em verdade vos digo: muito antes que Abraham fosse, fui Eu!”

  4. Nessa altura estoura a ira dos judeus! Não têm palavras para expressar sua irritação tremenda; abaixam-se, a fim de apanharem as pedras sempre à mão no Templo e querem arremessá-las con- tra Mim. Oculto-Me ligeiro e saio do Templo, passando por entre eles. Os discípulos, Lázaro e os romanos Me seguem ao Monte das Oliveiras.

  5. Entrementes, dá-se um fato inédito no Santuário: o povo se atira contra os judeus e começa a massacrá-los de modo tal, a ser preciso socorro da milícia. A multidão não se acalma e exige prisão dos fariseus, o que é feito ao menos pró-forma. Em seguida, posta-se

um escriba no centro e tenta elucidar o povo a Meu respeito; não chega a pronunciar dez palavras — e se vê obrigado a fugir.

201.OSEDUTORDA ADÚLTERA

  1. Já passa de meio-dia quando a multidão deixa o Templo, in- clusive a adúltera, que ao chegar em casa relata ao marido o que lhe sucedera. Acabrunhado e triste, ele diz “Sou eu o único responsável pelo fato!”

  2. Diz um dos que acompanharam a mulher: “Como podes ser culpado do adultério dela?”

  3. Responde ele: “Amigos, somente a enorme miséria nos obri- gou a ceder à proposta vantajosa de um estranho. Certamente foi o disfarce de um esbirro ou talvez um fariseu perverso, de há muito cobiçando a minha mulher. Pois quando apanhei a importância esti- pulada e me dirigi a outro recinto, apareceram esbirros, arrancaram-

-na dos braços do conquistador e eu tive de me confessar culpado da grande desdita que a atingiu. Deve ter acontecido algo excepcional em virtude de ter ela voltado, pois tais presas dificilmente retornam ao lar. Não podeis me dizer o que se passou?”

  1. Respondem os homens: “Ela te relatará. Agradece sua liber- dade ao grande profeta da Galileia. Ele aconselhou-a não mais pecar, pois sofreria muito mais.” O marido pergunta se não há possibilida- de de ele agradecer, pessoalmente, ao profeta.

  2. Informam eles: “Não podemos precisar sua atual localiza- ção; sabe-se que para em casa de Lázaro sempre que vem a Jerusa- lém. Nós mesmos pretendemos lá procurá-lo. Por que não fazeis o mesmo?” Satisfeito, o casal fecha a porta e acompanha os outros. Em caminho reconhece num grupo de fariseus o personagem que pela manhã se apresentara em vestes romanas, a fim de levá-la ao adultério.

  3. Informados disto, os acompanhantes do casal se dirigem ao mencionado fariseu, dizendo com rispidez: “Ei, conheces essa cria- tura que procuraste seduzir disfarçado em romano? Tua cabeça ras-

pada o prova, e o casal te conheceu de longe! Somos ao todo setenta e duas pessoas e te levaremos ao juiz! O que alegas em tua defesa?”

  1. Eis que ele tenta fugir. Os outros disto o impedem e o acu- sado começa a jurar sua inocência. O casal então diz: “De nada adianta teu juramento; sabes muito bem valer o testemunho de duas pessoas. Vem conosco ao juiz, a fim de receberes o castigo que pre- tendias aplicar.”

  2. Os três fariseus começam a implorar e oferecem grande im- portância para resgate. O marido não a aceita, mas exige paz por parte do Templo. Eles o prometem e em seguida seguem caminho, certos de que seriam denunciados caso o sinédrio se externasse con- tra o casal. Tal ocorrência foi motivada por Mim, para proteção fu- tura do mesmo.

202.OSENHORÉPROCURADOPOR LAVRADORES

  1. Em seguida, todos se dirigem ao Monte das Oliveiras, onde estou fazendo a refeição em companhia dos discípulos, de Lázaro e dos romanos. Ao serem os setenta informados de Minha Presença, pedem permissão para se dirigir a Mim. Um empregado Me trans- mite tal pedido, ao que respondo: “Dize-lhes: quem tiver fome que venha saciar-se, e quem estiver com sede venha mitigá-la! Jamais sentirá fome quem for saciado por Mim; e quem tomar do Meu Vinho nunca mais sentirá sede, pois transbordará de água viva!”

  2. Ao receberem tal recado, os homens não sabem como inter- pretá-lo, achando-se sem mérito para uma refeição gratuita. Por isto dizem: “Tem a bondade de transmitir ao bom Mestre e Senhor não termos vindo para comer e beber, mas apenas por causa dele, a fim de ouvirmos algumas palavras de Luz e Vida!”

  3. Ao voltar o empregado, Eu Me adianto e digo: “Já sei o que irás dizer. Podes voltar aos teus afazeres, pois falarei Pessoalmente com eles.” Dirigindo-Me ao grupo, prossigo: “Quem tiver ouvidos, que ouça e compreenda; e quem tiver olhos, que veja e entenda. Pretendo dar-vos alimento e bebida, justos! A alimentação do corpo

não beneficia a vida eterna da alma, mas unicamente o Meu Verbo, e a vossa fé e ação dentro dele. Meu Verbo é o justo alimento; vossa fé e ação — a justa bebida. Por isto vinde todos que estais cansados e oprimidos, pois quero aliviar-vos!”

  1. Respondem eles: “Oh, Senhor, como és Bom e Sábio! Se per- mitires, esperaremos na sala até que seja do Teu Agrado suprir-nos com o alimento espiritual. Em nosso meio encontra-se a criatura que pela Tua Ajuda foi arrancada dos fariseus do Templo, em com- panhia do marido, para agradecer-Te pelo grande benefício.”

  2. Digo Eu: “Vim justamente ao mundo para ser procurado pelos aflitos; pois sou o Verdadeiro Médico a socorrer os enfer- mos e não procuro os sadios. Acompanhai-Me!” Volto à sala e eles Me seguem.

  3. Após todos acomodados numa grande mesa, o taverneiro pergunta se desejam tomar qualquer coisa. Responde um do grupo: “Somos pobres e não temos com que pagar vinho; por isto podes servir alguns pães e água. A época de festas é a pior, porque não podemos trabalhar. Graças a Jehovah somos solteiros, pois não sabe- ríamos como sustentar família.”

  4. Manifesta-se Lázaro: “Por que não viestes a Bethânia? Aqui há trabalho de sobra e ninguém passa mal.” Em seguida, ele man- da servir pão e vinho, em quantidade, prosseguindo: “Saciai-vos à vontade, pois já está tudo pago.” Alegres, eles brindam o doador e se entregam à alimentação.

203.MOTIVODAINCREDULIDADEDOS TEMPLÁRIOS

  1. Entrementes, palestro com os romanos que não compreen- dem como podia Me esquivar dos judeus do Templo, munido que sou do Poder Divino. Virando-Me para Agrícola, digo: “Enganas-

-te supondo temor da Minha parte. Sei por que o faço e o motivo principal foi levar ao povo o conhecimento de Minha Pessoa e a noção sobre os judeus maldosos, incrédulos e egoístas. Por isso ele atracou-se com eles, a ponto de se recordarem até o fim da vida. Por

que deveria Eu entrar em ação, ciente do que os aguardava? Aqui se acham setenta testemunhas da ocorrência.”

  1. Diz o romano: “Mestre Divino, somos romanos e pouco sa- bemos da Doutrina dos judeus, entretanto cremos seres o Messias Prometido! Qual o impedimento de sua crença?”

  2. Respondo: “É motivado pelo egoísmo, orgulho ilimitado e domínio desmedido. Pela sua compreensão deveria o Messias descer dos Céus com pompa indescritível e, sob raios e trovões, penetrar no Templo e dotar os sumos sacerdotes, fariseus e escribas com todo po- der e glória; expulsar os romanos e entregar o regime aos templários.

  3. Como vim de modo diverso — aliás determinado antes da Criação deste mundo — em completa pobreza, não creem ser Eu o Prometido e Me odeiam por ver em Mim o motivo da perda de sua honra e poder.

  4. O povo começa a conhecê-los e não mais os considera, razão por que tentam a Minha morte. Refletindo a respeito, compreende- rás o porquê da incredulidade dos sacerdotes.

  5. Existem, todavia, muitos que aderiram a Mim pelo fato de reconhecerem ser Eu o Messias; acham-se nesta mesa em trajes gre- gos e há mais de meio ano Me seguem, testemunhas de Meus En- sinamentos e Ações. Perguntai-lhes, que tudo vos será transmitido.

  6. Os doze mais próximos estão Comigo desde início da Minha Missão, sabem de tudo que falei e fiz em benefício dos homens. Podeis igualmente falar-lhes que nada vos ocultarão.”

  7. Diz Agrícola: “Quer dizer que o sacerdócio é diabólico em toda parte! Deveria ser deposto, a fim de divulgar-se apenas Tua Doutrina Celeste.”

204. EDUCAÇÃO DA HUMANIDADE NO CONHECIMENTO DE DEUS

  1. Digo Eu: “Meu amigo, teu desejo se realizará; mas não tão fa- cilmente como pensas, pois o sacerdócio já deitou raízes profundas. Séculos serão precisos para arrancá-las; ainda assim não surtirá efeito

e nem em milênios esta Terra estará livre do sacerdócio, e muito menos do paganismo.

  1. As criaturas intelectuais apreciam o mundo; por isto deve uma religião apresentar aspecto mundano para despertar interesse. A Verdade ser-lhes-á transmitida veladamente, pois do contrário, a suportariam tampouco quanto a luz do Sol, de olhos abertos. Ne- cessário é as criaturas aprenderem a pensar, para depois procurar e achar a Verdade. Se porventura o homem não encontrar a Luz inter- na da Vida de modo próprio, de nada lhe adiantam mil professores, e no fim será o mesmo, tomando a Luz pela treva, ou vice-versa.

  2. Por tal motivo é preciso que receba um impulso na procura da Verdade — a plenitude da mesma, jamais de modo súbito; inte- grando-se dela de modo abrupto, ninguém a suportaria sem risco de morte. Eis a razão por que por muito tempo não podemos projetar a Verdade plena. Tu, por exemplo, és romano de cultura racional e não posso falar-te senão intelectualmente. Julga tu mesmo se te- nho razão.”

  3. Responde ele: “Sem dúvida; todavia, não compreendo a Sa- bedoria Divina e muito menos Sua Onipotência. Não criou Deus a Terra, inclusive a Humanidade, e todos os seres não dependem Dele?”

  4. Digo Eu: “Exato; antes de tudo, porém, Dele dependem a educação verdadeira e interna, a plena independência e força de toda criatura. Isto tudo, Deus só pode realizar através de Seu Retraimento e suave Insuflação na alma humana.

  5. Para tanto é o homem, no princípio, levado a refletir acerca dos fenômenos e impressões materiais, e em seguida por meio de sonhos e outros pequenos sinais — e isto não se dá com todos, mas apenas com os destinados por Deus. Os demais são informa- dos pelos primeiros, fazem igualmente suas pesquisas e começam a meditar.

  6. Quando pessoas mais inteligentes se entregam a repetidas reflexões, Deus permite descobrirem a Existência Divina que tudo projeta, organiza e conduz. Assim se desenvolve, de modo natural, a descoberta de um Ser Divino, Onipotente, boníssimo e sábio.

  1. Uma vez a Humanidade alcançando tal conhecimento, serão permitidas revelações maiores e determinações mais precisas, pelas quais as criaturas começarão a penetrar mais confiantes no Âmago Divino; contudo, terão vasto campo de ação para aceitar, ou não, a revelação da Verdade.

  2. Quem a puser em prática progredirá no conhecimento mais profundo e chegará à vida verdadeira, independente e livre. Quem não aceitá-la, positivando-se unicamente na sua razão e experiência, não comete propriamente pecado; estacionará, levando muito mais tempo para chegar ao conhecimento puro de Deus e ao aperfeiçoa- mento de sua vida interna e real.

  3. Quem concebe a plena Verdade de uma revelação e a as- simila com o intelecto, todavia age contrariamente, com teimosia, peca e danifica sua vida também no além-túmulo, por épocas in- concebíveis; pois está isento de qualquer luz interior, por não ter seguido a razão absoluta, tampouco a revelação bem compreendida.

  4. Quando uma alma tiver chegado à mais densa treva psí- quica, Deus não a pode socorrer com toda Sua Onipotência, mas deixá-la-á em seu estado individual até que chegue a alguma noção. Isto se dando, o Amor e a Sabedoria de Deus têm meios apropriados e caminhos infinitos para reajustá-la de modo imperceptível. Eis a relação entre Deus e todas as criaturas desta Terra, destinada a abri- gar os filhos de Deus.

  5. Quanto às relações dos seres de outros planetas frente a Deus, não dizem respeito aos habitantes do orbe; quando eles es- tiverem perfeitos como filhos do Pai, terão pleno direito dado por Deus a dedicar-se àquilo.

  6. Atualmente dá-se a maior das revelações, pois não é possível vir à Terra alguém mais importante que Eu. Feliz daquele que crê em Mim e não se aborrece Comigo, vivendo como ensino de viva Voz! Quem assim fizer em breve perceberá que as Palavras por Mim proferidas não são humanas, mas divinas.

  7. Por isto deixaremos os lá de baixo se não quiserem crer em Mim; há muitos que o fazem, abrigando desde já a Vida Eterna den-

tro de si. Realmente, existem alguns que não sentirão a morte. Sou um verdadeiro Noivo, e quem crê em Mim e Me ama é realmente Minha noiva! E a noiva terá em si a Vida Eterna que Eu possuo, podendo dar a quem quiser. Compreendes?”

205.LIVRE ARBÍTRIO E MISSÃO ESPIRITUAL DASCRIATURASDA TERRA

  1. Diz o romano: “És realmente Deus, pois como simples ho- mem não poderias falar tão sabiamente e Tuas Ações milagrosas são testemunho justo de Tuas Palavras. Muito ouvimos em Roma a Teu respeito, entretanto aqueles comentários não traduzem a realidade. É preciso guardá-las no cérebro, para então nos capacitarmos de ou- tros conhecimentos.”

  2. Os discípulos se admiram da inteligência do romano, dizen- do: “Quão rápido esse pagão integrou-se da Verdade, enquanto os judeus em Jerusalém não enxergam um palmo diante do nariz! É de- veras estranho não quererem ou poderem perceber a Luz claríssima da Vida em seu próprio benefício.”

  3. Diz um dos greco-judeus: “Não o querem compreender, crentes perderem com isto seu conceito, fortuna e bem-estar. Ainda que descessem os anjos celestes para transmitir-lhes ser nosso Se- nhor e Mestre o Cristo, não o aceitariam pelo motivo acima, pois sei como se portaram por ocasião do sumo sacerdote Zacharias. Eu e muitos outros vimos o anjo falar-lhe e estamos convictos da re- alidade da aparição; o orgulho ilimitado e o egoísmo dos demais fariseus desconsideraram a Verdade e estrangularam-no entre o altar e o Santíssimo. Pensam hoje de modo idêntico e teriam aceito uma luta com Jehovah em época de Moysés, caso tivessem vivido naquela ocasião. Eis os sacerdotes por Ti tolerados, Senhor, e chamados ser- vos de Deus.”

  4. Digo Eu: “Deixemos isto; acabo de expor aos romanos como a Humanidade toda é educada para a vida, inclusive os sacerdotes. Muito embora seja maldosa, sua teimosia voluntária em permanecer

no pecado prova a que ponto Deus respeita o livre arbítrio como único gérmen na conquista da Vida Eterna da alma. Nisto está a maior prova ter Deus criado os seres, não somente para esta Terra e sua curta duração, mas para uma existência eterna e espiritual que só pode ser alcançada pela plena liberdade da alma — todavia pode igualmente perder-se, caso o homem persista na teimosia até o fim. Quer dizer: a alma jamais deixará de ser alma; entretanto, resta saber quealma, pois no Além o aperfeiçoamento não pode ser alcançado como aqui. O porquê já vos foi demonstrado por várias vezes. Pos- teriormente faremos outras observações sobre o assunto e quanto à grande Misericórdia de Deus.

  1. Ainda aparecerão alguns pecadores, publicanos e fariseus disfarçados, informados da Minha Presença. Acabemos a refeição e durante a mesma não Me façais outras indagações.”

206.PECADOE PENITÊNCIA

  1. Três horas antes do crepúsculo damos uma volta no monte e, em seguida, acampamos debaixo das oliveiras. Nisto aproxima-se grande número de pessoas perguntando por Mim; quando infor- madas de Minha Presença, não têm coragem para achegar-se. Eis que digo a Lázaro: “Faça com que venham aqui, pois trata-se das pessoas há pouco mencionadas por Mim. Estavam à Minha procura e devem encontrar-Me.”

  2. Achegando-se com tibieza, levanto-Me e pergunto o motivo de sua vinda. Um publicano se anima, dizendo: “Senhor e Mestre, somos grandes pecadores, de sorte há muitos anos não podermos frequentar festejos, missas e prédicas no Templo. Hoje lá fomos para ouvir-Te. Tuas Palavras nos convenceram seres Tu o Messias Prome- tido, não obstante os fariseus não concordarem.

  3. Além disto concluímos não simpatizares com o sinédrio; e desejamos perguntar-Te a maneira pela qual poderíamos conseguir de Deus o perdão dos pecados. Disseste no Templo que os oprimidos deveriam procurar-Te para receber alívio e aqui vimos para tal fim.”

  1. Digo Eu: “Minhas Palavras proferidas no Templo também vos servem aqui no monte. Quem comete pecado é servo do mesmo e a Verdade não se acha nele; a Verdade não estando na criatura, ela não possui liberdade.

  2. O fato de não frequentardes o Templo em virtude de vossa profissão não constitui o maior pecado; acontece terdes muitas vezes afligido os pobres, obrigados a passarem pela aduana e igualmente deixastes de pagar o ordenado aos empregados. Eis evidente pecado e quem o pratica não vai para o Céu, e sim será atingido pelo julga- mento e a morte espiritual.

  3. Quem não tem amor ao próximo muito menos o terá para com Deus, ao Qual deveria amar acima de tudo. Não amando a quem vê, como poderia amar o Pai, Invisível?! O amor a Deus e o subsequente amor ao semelhante é justamente a vida da alma; quem não tiver manifestação psíquica não tem vida, mas sim o julgamento e a morte.

  4. Contudo vos digo serem perdoados vossos pecados, porque os reconhecestes, arrependendo-vos e detestando-os; a fim de alcan- çardes a plena remissão, preciso é reparardes o prejuízo aplicado a outrem, não mais incorrendo em tal erro. Quem não tiver pago o último ceitil de suas dívidas não ingressará no Céu até que tenha pago tudo. Fazei isto, que lucrareis a Vida Eterna, remindo-vos in- teiramente de vossos pecados.

  5. Ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro, pois quem pro- cura e preza o dinheiro não pode amar a Deus. Quem não amar a Deus não possui Vida verdadeira e divina, e sim apenas manifesta- ção aparente, provinda do príncipe da matéria; em si é ele morto e só pode transmitir a morte como sua eterna natureza. Sabeis o que fazer; agi de acordo que vivereis eternamente.”

  6. Diz o publicano: “Ó Senhor e Mestre, agradecemos-Te por consolo tão grande. Empenhar-nos-emos em cumprir tudo fielmen- te; no entanto, temos necessidade de um conselho. Como judeus causamos grande prejuízo ao Templo; acaso não somos obrigados a repor aquilo que redundou em dano através de nossa apostasia?”

  1. Respondo: “Podeis fazê-lo — mas Deus não o considera, e sim apenas um coração puro, meigo, humilde e amoroso. Podeis livrar-vos dessa dívida favorecendo os pobres, mormente viúvas e órfãos. Isto sim é do Agrado de Deus. Enriquecer o Templo, riquís- simo, não tem valor para Ele.

  2. Sabeis o que consta no Livro dos profetas quanto à venera- ção de Deus no Templo? Lê-se o seguinte: Esse povo Me honra com os lábios; seu coração, no entanto, está longe de Mim. — Todos os grandes sacrifícios, inclusive os holocaustos, são um horror para Deus, pois nada disto Ele necessita. Por que haveríeis de dar a Deus coisas terrenas, antes recebidas Dele?! Ele não aprecia o odor de ani- mais sacrificados no fogo, mas sim necessita, como Pai, da chama de amor de vossos corações filiais. Compreendestes?”

  3. Responde um fariseu disfarçado, a fim de experimentar-Me: “Mestre, se os sacrifícios nada valem para Deus, por que Jehovah mandou instituí-los por Moysés e Aaron?”

  4. Digo Eu: “Simplesmente para dar-vos um exemplo do sa- crifício Daquele que nesta época Se sacrificaria por amor a todas as criaturas. Além disto, foi o holocausto criado como testemunho contra vós, para vos recordardes sempre que sois pecadores e apósta- tas de Deus, portanto necessitáveis de penitência e de um Mediador que vos unisse novamente a Jehovah.

  5. Deste modo, o sacrifício só tem o valor do ensinamento. Feito por vós, não tem importância alguma para Deus, e sim para vós mesmos como interpretação do Verbo Divino, compreensivo aos sábios. Pretendendo dar ao sacrifício algum valor, deve o homem agir de acordo com seu sentido.

  6. O sentido espiritual do holocausto, por vós efetuado sem noção e conhecimento, consiste no dever de vosso amor acima de tudo para com Deus, e ao próximo como a vós mesmos, evitando impudicícias e adultérios. Compreendestes?”

  7. Arregalando os olhos, o fariseu vira-se para o vizinho: “Que me dizes a isto?” Responde esse: “Não resta dúvida ser inteligente; formularei uma pergunta e quero ver como se sairá dela.” Virando-se

para Mim, ele prossegue: “Mestre, falaste certo; entretanto, resta sa- ber quem é meu próximo.”

  1. Digo Eu: “Primeiro, todo aquele que necessita de tua ajuda; segundo, qualquer estrangeiro ainda que pagão. Todavia darei um exemplo para julgardes quem seja vosso semelhante.” Em seguida relato a parábola do samaritano misericordioso e digo: “Quem foi o próximo do ferido?”

  2. Responde ele: “Quem lhe fez caridade!” Digo Eu: “Então vai e faze o mesmo, que teu sacrifício será verdadeiro e do Agrado de Deus, e muito melhor que o holocausto no Templo.”

207. FASE FINAL DA TERRA. O REINO DE MIL ANOS E OJULGAMENTODO FOGO

  1. Em seguida levanto-Me e passeio com os discípulos. Há vá- rios bancos onde nos sentamos para apreciar o panorama, vendo-se ao longe a cidade de Jerusalém. Eis que João Me diz com melanco- lia: “Senhor, meu amor, é uma lástima ser destruída esta cidade, em futuro breve!”

  2. Respondo: “Meu amado João, tua observação é justa, tanto que vês lágrimas em Meus Olhos! Mas que fazer? Exterminar os mo- radores por um anjo estrangulador, somente para conservar as mu- ralhas, seria tolo e deplorável; pois acolhem milhares que em tempo Me acreditarão. Vede aí os setenta homens, os publicanos, inclusive os fariseus e escribas disfarçados — todos aderirão ainda hoje. Por isto, este local deve ser poupado de um julgamento pesado. Quando tirados todos os peixinhos desse lago, nele perdurando apenas víbo- ras e rãs, será chegado o momento de soterrar o brejo miserável com fogo e terremoto.

  3. Observai essa zona toda! Que aspecto apresentava há bilhões de anos?! Havia pouco terreno sólido e nem vestígio de montanhas e vales exuberantes. Somente por sucessivos incêndios que duravam milênios e de violência colossal, estendendo-se por quase todo orbe, a Terra tomou esta forma.

  1. Aquilo que sucedeu à formação natural do planeta corres- ponde à educação espiritual do homem. Atualmente acha-se tudo convulsionado e cheio de violentas tempestades nas almas humanas. Paixões indômitas se expandem, exterminando tudo a seu redor. Deixemos este assunto; tempo virá em que tais expansões se trans- formarão em solo sereno e fértil, proporcionando claridade e alegria entre as criaturas. Todavia, o número de boas e puras será sempre menor do que as dominadas pela fraqueza mundana.

  2. Tal época melhorada durará mil e poucos anos, e a Terra será idêntica à formação atual em que, castigada por poucas tempesta- des, se acha em certa calma e ordem, cheia de campos vicejantes e férteis; entretanto, conta com desertos enormes, com exceção do Grande Oceano.

  3. Após tal época de mil anos, a Terra terá que passar por grande poder de fogo; as montanhas se transformarão em planícies provei- tosas, o mar terá que expelir o território enterrado nas profundezas e será mudado para um paraíso, pelas mãos do homem. Então reinará a verdadeira paz, e a morte perderá sua razão de ser até a final disso- lução terráquea.

  4. Assim como as montanhas serão niveladas, os homens terão que se despojar do orgulho por provações duríssimas; do contrário, impossível será a paz interna. A guerra suscita orgulho; este extermi- nado, apagar-se-ão inveja, cobiça, ódio, discussão, contendas e lutas.

  5. Deste modo, essa cidade célebre e antiga, para a qual o gran- de Rei de Salém deitara a pedra fundamental, será humilhada moral e materialmente e nivelada, ocorrendo-lhe o mesmo que a um cedro velho e muito alto, porém morto e oco, quando atingido pela tem- pestade na raiz deteriorada. Em seguida, é partido pelo serrote e o machado, e queimado na lareira.

  6. Na árvore, isto acontece pela Natureza; no homem, é provo- cado pela má vontade, não querendo sujeitar-se a lei qualquer, assim como os hanochitas foram responsáveis pelo Dilúvio devido à deso- bediência, naufragando todos. Quantas vezes foram advertidos por Mim através de visionários para deixarem as montanhas! Ninguém

prestava ouvidos. Entregaram-se à gula, pecavam de todas as manei- ras, casavam com pompa, até que as águas os afogassem. O mesmo se dará aqui. Essa raça orgulhosa de víboras se erguerá acima dos romanos, na ignorância do suposto poder, querendo expulsá-los. Tal cegueira selará seu fim. O militar e posterior imperador que dará extermínio à cidade e seu povo já nasceu.

  1. No final da Humanidade dar-se-á o seguinte: os homens não demolirão montanhas como fizeram os hanochitas à procura de ouro e pedras preciosas, tampouco instigarão romanos; todavia, começa- rão por meio de máquinas a perfurar o solo terráqueo, por cujos canais gases incendiáveis subirão em grandes massas à superfície. Tão logo a atmosfera estiver saturada, eles incendiarão quase todo o orbe. Serão poucos os sobreviventes, todavia de têmpera justa e fiel. Habi- tarão uma Terra renovada, e vós, inclusive muitos outros, posterior- mente inspirados em Meu Nome, sereis seus doutrinadores e guias.

  2. Só então o Meu Reino estará fixo nesta Terra e as criaturas do Sol entrarão em união equivalente com Meus filhos, progredindo no amor de Minha Prole real. Guardai em segredo o que acabo de vos dizer; não adiantaria alguém ter noção disto nesta época. No justo tempo transmitirei tais fatos aos homens, capazes de suportar noções mais profundas. Compreendestes?”

  3. Diz João: “Senhor, compreendi-o perfeitamente. Não sei se os demais irmãos fizeram o mesmo.” Todos o confirmam, com exce- ção de Judas, que diz: “Senhor, nem tudo me é claro.”

  4. Digo Eu: “Se assim é, muito embora sempre te vanglorian- do de teu intelecto, consulta os teus irmãos! A humildade compre- ende mais facilmente que o orgulho obstinado; se nele continuares, será teu demônio, juiz e morte. Qual teu mérito por te julgares su- perior aos outros? Humilha-te para fugires das garras de Satanás!”

  5. Judas dá meia volta e procura Nathanael, com quem ainda mais simpatiza, recebendo dele as explicações necessárias. Um dos greco-judeus opina não ser desvantagem transmitir-se algo aos outros judeus. Respondo: “Saberão em tempo o que precisarem. Eis Lázaro, até então entretido em controvérsia com os templários disfarçados.”

208.RELATO DE LÁZARO QUANTO AOS FARISEUS INCRÉDULOS

  1. Nisto, Lázaro se aproxima, dizendo: “Senhor e Mestre, las- timo imenso não poder ter ficado em Tua Companhia; percebi que desejavas repousar e procurei entreter o povo, cujos comentários são a Teu favor. Os romanos trataram os templários disfarçados de modo tal, a dificultar-lhes qualquer objeção. Dois estão prontos para acreditar-Te; os demais persistem na afirmativa de não poder surgir profeta da Galileia. A mulher salva das garras do Templo, então, ar- gumentou: ‘É justo o que dizeis; entretanto não é Ele profeta e sim o Messias, quer dizer, o Próprio Senhor que Se fez anunciar. Além disto, ouvi ter Ele nascido em Bethlehem, na Judeia, recebendo no Templo o Nome de Jesus após a circuncisão.’

  2. Nessa altura, os romanos e demais assistentes manifestaram seu apoio a ela e convidaram os templários a refutar aquela afirma- ção. Como ninguém fosse capaz disto, ela triunfou perante todos e para minha grande alegria. Por isto prometi-lhe e ao marido garantia para sua subsistência, provocando atitude de crítica por parte dos antagonistas.

  3. Em seguida, Agrícola se lhes dirigiu, dizendo: ‘É realmente estranha vossa negativa quanto ao Messias, sabendo como sacerdo- tes e doutrinadores do povo combinarem as circunstâncias com o personagem de nosso Senhor!

  4. Todos vós tendes considerável fortuna e bastante astúcia; en- tretanto, nenhum teria coragem de se apresentar em ricos trajes e afirmar perante a multidão ser o Messias dos judeus, sabendo ante- cipadamente como seria recebida tal declaração. Quem dá coragem a esse homem simples e modesto, para declarar perante o mundo ser Ele justamente o Messias?! E além disto prova Suas Palavras com milagres! Por que não acreditais? Devido ao vosso orgulho e amor-próprio!

  5. Nós, romanos, nunca fomos assim; seguimos o princípio ju- rídico: ‘Dá a cada um o que de direito, não ofendas nem enganes

e vive honestamente! Analisa tudo, alimenta o Bem e a Verdade, e em todas as ações sê prudente e aguarda as consequências.’ Todo romano vive dentro dessas normas e se interessa por tudo que seja grandioso e excepcional. Vós afirmais em tudo vossa semelhança di- vina; basta aparecer algo desse gênero — vosso ódio é mortal! Que espécie de criaturas sois?’

  1. Respondeu um fariseu disfarçado: ‘Como senhores do povo judeu vos agrada um Messias negativo e a vosso favor; mas quan- do vier o verdadeiro e poderoso Messias, expulsar-vos-á do país, elegendo-Se Ele Próprio Soberano do mundo inteiro!’

  2. O romano se controlou e disse calmamente: ‘Por muitas ve- zes foi essa ideia expressa pelo Messias, não aceito por vós! Além disto, sois mentirosos alegando Sua fraqueza; pois tem maior poder e força em Sua Vontade que todos os soberanos do orbe. Um pouco de paciência, porque quando voltar ao nosso meio, pediremos que dê pequena prova de Sua Onipotência e veremos se combina com Sua suposta fraqueza.’

  3. Percebendo a reação de alguns romanos quanto ao atrevimen- to dos dois fariseus disfarçados, eu, Lázaro, lhes disse: ‘Caros cida- dãos de Roma! Não considereis o falatório sem nexo dos ignorantes! Se tivessem uma fagulha de inteligência, não teriam se externado des- se modo. Todos nós somos judeus, inclusive nosso Mestre e Senhor, e consideramos vosso povo e o Governo de Roma; justamente ele é nossa proteção contra o excessivo domínio por parte do Templo e do Tetrarca Herodes. Irei pessoalmente implorar ao Senhor que dê uma prova de Seu Poder, a fim de que não possais afirmar Sua fraqueza!’ Aqui estou, Senhor, para pedir o que disse aos romanos!”

209.OMILAGRENO ALBERGUE

  1. Digo Eu: “Caro amigo e irmão! Esses cegos pela má vontade sabem muito bem que sou Poderoso e não necessitam de provas maiores de Minha Sabedoria, Poder e Força; seu ódio deriva de seu pavor. Ainda assim farei algo inesperadamente e em benefício dos

romanos, para dar-lhes um meio de defesa. Voltemos a casa, pois o Sol já está desaparecendo.”

  1. Objeta Lázaro: “Senhor, não sei se minhas acomodações comportam tantas pessoas.” Respondo: “Não te preocupes, pois muitas ovelhas pacíficas cabem num estábulo, e os dois fariseus ra- bugentos em nada perturbarão.”

  2. Nem bem sentamos à mesa, todos invadem a enorme sala, que os comporta comodamente. O tavoleiro então observa: “Ou as criaturas diminuíram, ou a sala aumentou! Nunca vi tanta gente aqui dentro! E de onde vieram tantos bancos e mesas, quantidade de pães e vinho? Deste ordem aos empregados?”

  3. Responde Lázaro: “Tão pouco quanto tu! É obra do Senhor! Observa a mesa dos romanos. As ânforas de prata e as taças de ouro! Acaso tens tais objetos para servir a mesa?”

  4. Estonteado por tamanha consideração, Agrícola vira-se para Lázaro, dizendo: “Por que somente hoje apresentas deferência dessa ordem, justificável apenas na presença de um soberano?”

  5. Responde Lázaro: “Amigo, se essas baixelas fossem minhas, teriam sido usadas para vós; assim não sei como aqui foram trazidas e presumo tratar-se de uma pequena prova do Poder do Senhor! Tudo se passa de modo milagroso. Vede o grande número de mesas, vinho e pão em quantidade, sem que alguém tivesse tratado disso. Além do mais, sei quantas pessoas poderiam ser acomodadas nesta sala; entretanto, acham-se nela cinco vezes mais e existe espaço para outras tantas — todavia o salão não se modificou!”

  6. Diz o romano, admiradíssimo: “É realmente milagre! E quem o operou é Deus, e não humano!” Entrementes, já se fez noite e urge tratar da iluminação, coisa difícil na época. Quando se apagava a chamada “lâmpada eterna”, existente em todos os lares, era preciso pedir-se ao vizinho ou então incendiar dois paus por meio de fric- ção. Eis a situação aflitiva em casa de Lázaro, onde os empregados se cansam em fazer fogo.

  7. Nisto, o anfitrião se aproxima de Mim e diz: “Senhor, tudo Te é possível e basta quereres para haver luz!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, colocai nas mesas lamparinas e castiçais, e verei o que faço!” Após tudo arrumado prossigo: “Empregarei as mesmas palavras pronunciadas por Deus quando Se dirigiu às tre- vas, fazendo-se Luz nas profundezas da Criação, pois tenho o Poder de dizer: Que se faça luz em toda casa!”

  2. Nem bem termino, as lamparinas da sala, aliás em todos os recintos, são acesas e a lenha no fogão se incendeia milagrosamen- te, de modo que as cozinheiras se entregam ao preparo dos pratos. Tanto os fariseus quanto os romanos não têm palavras diante do fenômeno, passando quase meia hora antes de conseguirem movi- mentar as línguas.

  3. Então Agrícola levanta-se e diz aos disfarçados fariseus: “Qual vosso parecer nessa manifestação de ‘fraqueza’ do Messias?! Acaso seríeis capazes de repeti-la pela simples vontade?”

210.DÚVIDASDOS FARISEUS

  1. Manifesta-se um fariseu, confundido: “Tudo isto é extraor- dinário e inédito; todavia, já presenciamos fatos semelhantes por magos, sem podermos precisar quais os recursos: naturais ou com a ajuda de espíritos. Assim, pode esse homem ser dono de segredos al- cançados por talento especial. Antes de aceitá-lo como Deus, preciso é analisar-se tudo, pois não contesto a possibilidade de ser o Messias.

  2. Nós, judeus, respeitamos um Mandamento que obriga a fé em Deus Único, proibindo deuses estranhos. Qual o caminho a se- guirmos? Teríamos que acreditar em dois deuses: um visível e outro invisível e do Qual consta nenhum mortal poder vê-Lo e continu- ar com vida.

  3. A situação dos romanos é mais fácil devido ao politeísmo, e não faz diferença acrescentardes mais um deus aos outros. Para nós, o Messias Prometido só pode ser semelhante a Moysés ou Elias, do- tado de poder espiritual de um sumo sacerdote e rei, qual David; a ideia de ser ele o Próprio Jehovah, quiçá Seu Filho Verdadeiro — di- ficilmente será aceita pelos fiéis, não obstante todos os milagres. En-

quanto Deus Mesmo não Se manifestar em tal questão, nada mais nos resta senão continuarmos nas antigas Leis.”

  1. Responde o romano: “Falaste com tirocínio, entretanto sabe- mos de que modo considerais os Mandamentos. Vosso interesse se concretiza no lucro, e em vossas negociatas vendeis Jehovah e todos os profetas! Se assim não fosse, não seríeis perseguidos pelos samari- tanos. O fato de não quererdes aceitar esse homem excepcional em sua integridade se baseia no receio de serdes reduzidos em conceito e vantagens. Em vossa falta de consciência estais satisfeitos de vos ter livrado de toda fagulha de fé em Deus! E subitamente deveríeis vos inteirar de uma crença verdadeira?! Isto, nunca! Existe apenas um ponto a vos perturbar: o povo nele acredita, torna-se conhecedor da Verdade, virando-vos as costas. Disse-vos tudo, e podeis fazer o que vos agrade!”

  2. A esse discurso enérgico do romano, que evidentemente por Mim fora inspirado, o fariseu queda aparvalhado sem saber como retrucar. Nisto se manifesta um outro, intimamente inclinado a crer em Mim: “Caro amigo, tua crítica foi algo forte. Não quero com isto dizer não haver, entre nós, tipos conforme exemplificaste; eu e alguns outros não concordamos! Nossa fé em Jehovah e os profetas é firme; as inovações do Templo não foram por nós criadas, entretanto somos obrigados a segui-las. Deste modo presumo estar Deus de acordo com as alterações, pois nunca Se manifestou em contrário e tampouco nos enviou profeta aceitável.

  3. O mencionado galileu estaria realmente dotado de todos os sinais proféticos, e seria por mim aceito não fora sua terra na- tal a Galileia. O mesmo sucedeu com João Baptista, conterrâneo do carpinteiro, não podendo por tal motivo ser aceito qual profeta genuíno. Não deixa de ser verdade serem ambos judeus natos; na Escritura prevalece, porém, o local do nascimento de tais homens: constando não aparecer um da Galileia, não é tão fácil aceitar sua idoneidade. Por isto temos de analisar muita coisa antes de nos con- vencermos; aliás, foi este teu próprio conselho e julgo não estarmos errados se assim fizermos!”

  1. Diz o romano: “Concordo; todavia, nada mais há para ser submetido à análise, pois rege aqui a Verdade plena e inconfundível, apenas não perceptível aos cegos. Romanos e gregos não fazem parte dos que tudo aceitam e têm bastante perspicácia para discernir as atitudes incomuns de um indivíduo. Além disto, somos conhecedo- res da magia persa e egípcia. Os feitos desse judeu, mormente Seus Ensinos, ultrapassam tudo visto até esta data. Tais provas são sufi- cientes para se dizer: Não é ele um ser humano, e sim Deus, Merece- dor de toda honra! Não vem ao caso acreditar-se, mas render-se-Lhe adoração e amor!

  2. A Verdade só pode ser percebida por aquele que nela se en- contra; a criatura isenta dessa luz da alma não pode, como vós, per- cebê-la. Pretendeis analisar obras e ensinos desse Homem-Deus? Nós, romanos, desejaríamos saber como ireis agir para tanto, pois quem quer se entregar à pesquisa tem de ter conhecimento e apti- dões. Onde teríeis alcançado tais fatores? No Templo enferrujado? Fora dele nada conheceis e nunca pudestes angariar outras noções. Confessai se não é este vosso estado real?!”

211.UMAAPOSTAENTREAGRÍCOLAEO FARISEU

  1. Diz um dos mais crentes: “Não estás de todo errado. Entre os judeus, todavia, existem homens cultos, inclusive na casta sacerdotal.”

  2. Retruca o romano: “Sim, entretanto vossa cultura não dá para julgar o intelecto de um romano, muito menos a Sabedoria desse Homem-Deus, ilimitada e merecedora da máxima veneração. Farei uma aposta de mil libras de ouro como não sois capazes de dar-me uma resposta precisa a qualquer pergunta. Se assim é, como quereis provar-nos não ser Ele o justo Messias?!

  3. Apresentai-me o mais culto dentre vós para um desafio in- telectual! Em seguida, formularei as perguntas mais difíceis perante Ele e aposto a soma mencionada como garantia de Seu Saber. Ele me submetendo a exame nada saberei responder, não obstante ser mais inteligente que todos vós.”

  1. Adverte um fariseu: “Amigo, arriscas teu dinheiro, pois te- mos noção de muitas coisas.”

  2. Diz o romano: “Não tem a menor importância, pois sou rico. Minha palavra como romano será mantida com risco de morte! Por- tanto, se souberdes responder, tereis ganho mil libras de ouro; caso contrário, pagareis cem libras como multa pelo vosso atrevimento perante Roma!”

  3. Eis que os sete fariseus conjecturam se devem aceitar a apos- ta; e um deles responde: “Havendo juiz entendido e incorrupto, aceito o desafio!” Diz o romano: “Apresentai o vosso árbitro. Aliás deve existir um nessa multidão capaz de julgar tuas respostas. De minha parte, já tenho o meu.”

  4. Diz o judeu, convencido: “Podes perguntar!” Levanta-se o romano e adverte novamente: “Amigo, não sejas leviano, pois te ga- ranto não te ser possível responder e não ficarás livre da multa!” Res- ponde o outro, orgulhoso: “Aceito! Acrescento apenas a condição de responderes em igual número de perguntas. Só depois de todas elas respondidas, receberás as cem libras.”

  5. Aduz o romano: “Está combinado. Comecemos. Entendidos que somos nas profecias, desejava saber o sentido do 10º Capítulo de Isaías, quando diz: Ai dos que criam leis injustas e formulam jul- gamentos injustos, a fim de desviarem os direitos dos pobres, apli- cando violência às prerrogativas dos aflitos entre Meu povo, a ponto de se tornarem vítimas e presas as viúvas e órfãos. Que fareis no dia da grande provação e da infelicidade tremenda que de longe virá sobre vós? Com quem implorareis socorro? Onde deixareis vossa honra para evitar seu aviltamento entre prisioneiros e sua queda em meio dos mortos? Nisto tudo a Ira do Senhor não desiste, pois Sua Mão Se estende sobre vós. — Eis, meu amigo, a primeira pergunta dentro de vossa alçada, a fim de que não venhas a afirmar ser estra- nho o assunto. Dá-me resposta concisa.”

  6. O texto de tal modo confunde o orgulhoso fariseu, de sor- te a não saber retrucar, pois aponta as traficâncias dos templários. Por isto o romano prossegue: “Se as nove perguntas restantes forem

desse modo respondidas, os árbitros terão facilidade no julgamento. Acaso não és entendido na Escritura?”

  1. Responde, finalmente, o fariseu: “Oh, como não! Não é, todavia, aconselhável explicá-lo aqui, e sim somente no sinédrio, onde o povo não se integra de tudo!”

  2. Diz o romano: “Não tenho a menor dúvida a respeito; pois se tivésseis explanado em público assunto desse teor, o povo vos teria feito consumir pelo fogo! Acaso errei como pagão quando vos disse em rosto não acreditardes em Deus?! Se assim não fosse, o mais céle- bre profeta não teria dado testemunho tão deprimente. Afirmo-vos ter chegado a época de vossa grande provação e desgraça! Para onde debandareis para pedir socorro?! Deixemos isto de parte e tratemos da segunda questão.”

  3. Opina o fariseu, perplexo: “Escolhe algo melhor!” Enquan- to isto o povo intimamente se regozija e com prazer teria abraça- do o romano.

212.AGRÍCOLAINTERPRETAPROFECIASDE ISAÍAS

  1. Prossegue o romano: “Eis a segunda questão: O povo a andar em trevas vê uma grande luz, iluminando os que habitam na Terra da sombra. — Onde está o povo que anda em trevas? Onde o país sombrio, e quem é a dita luz? Responde pergunta tão fácil!”

  2. O fariseu perspicaz bem percebe a intenção do romano, por isto silencia. Novamente convidado a responder, ele diz: “Essa ques- tão só pode ser elucidada no Templo, e isto, entre nós dois e a portas fechadas.”

  3. Contesta o romano: “Vejo claramente proferires uma inver- dade. Assisti em Roma a explicação de textos proféticos por parte de um apóstolo de vossa religião. Fazia suas conferências durante um ano, e quem quisesse aprofundar-se recebia orientação particular, mediante pagamento voluntário. Eu mesmo me submeti às suas au- las durante três anos. Por que lhe fora permitido explicar os profetas aos romanos, enquanto alegas a impossibilidade disto? Sabes por

quê? Por temeres o povo, muito embora não receies Deus, a quem alegas crer! O povo sabe tratar-se dele mesmo, condenado por vós a caminhar em trevas e ser este o país obscurecido pelo vosso regime.

  1. Naquela mesa Se acha a Grande Luz, vista pela multidão, pois irradia nessas plagas. Se o povo percebe tal Luz e dela se rego- zija — por que não fazeis o mesmo? Não quereisvê-La por serdes cheios de orgulho, egoísmo e domínio, exigindo que todo o Cosmos gire em torno de vosso cetro. Por isto vos sucederá aquilo que Isaías de vós profetizou no 10º Capítulo, versículo 16: Por isto o Senhor, Zebaoth, enviará a secura (vossa teimosia) entre Seus gordos (que sois vós), e incendiará diante de vós Sua Glória (Poder e Sabedoria), conforme ora acontece.

  2. A Luz que aí está sentada é o Fogo de Israel, e aquele Santo é a chama que incendiar-vos-á como espinheiros e sarças, consu- mindo-vos num dia. A antiga Glória de sua brenha e campo será consumida. Não necessito esclarecer-vos que vem a ser a brenha e o campo. Sereis exterminados alma e corpo, vosso atual deus, e sumi- reis qual manteiga ao Sol e a neblina matutina aos seus raios. Como restantes árvores de Sua brenha, facilmente sereis enumerados por um menino.

  3. Eu, romano, entendo melhor vossa Escritura que vós, pri- meiros judeus em vosso país e em meio da Cidade de Deus! Mas não importa. A aposta foi feita e um romano não desiste de sua palavra. Perdeste a segunda questão; vamos à terceira.”

  4. Obsta o fariseu: “Acaso já perdemos por não respondermos as duas primeiras?”

  5. Responde o romano: “Oh, não estás lidando com indivíduo ganancioso! Basta responderes uma só, e a aposta será ganha. For- mularei as perguntas a meu gosto e vos assiste a mesma condição. Bem, lê o 12º capítulo de Isaías onde consta: Naquela época (atual), tu (Israel) dirás: Graças Te dou, ó Senhor, por teres tido ira contra mim, pois ela se desviou e Tu me consolas. Deus é a minha salvação; estou seguro e nada temo; pois Deus, o Senhor, é meu cântico e sal- vação. Com alegria tirarei água (sabedoria e vida) da fonte salvadora

(o amor do Senhor), e os povos dirão: Rendei Graças ao Senhor, invocai o Seu Nome (a Palavra de Vida) e transmiti Sua Ação aos povos, revelando quão grandioso é o Seu Nome (o Verbo Divino). Canta e vangloria-te, moradora de Zion (o conhecimento abando- nado dos judeus); pois o Santo de Israel está contigo!

  1. Então, meu amigo, que dizes a essas exclamações do profeta? A quem se teria dirigido? Não Se acha evidentemente o Santo de Israel entre nós?”

  2. Perplexo, o fariseu fita o romano e diz após algum tempo: “Dize-me — onde e quando estudaste tão bem a Escritura Sagra- da? Pareces escriba templário. Conheço muito bem esse trecho; tem apenas sentido espiritual e não se refere, a meu ver, a nossa época. São exultações de um profeta dirigidas ao Senhor.”

  3. Responde o romano: “Enganas-te muito. Como pagão, di- go-te o que milhares haveriam de confirmar: O Santo de Israel está sentado àquela mesa, entre os que ainda melhor sabem o que eu te disse. Ficou provado não teres, jamais, crido em Deus. Que te impede acreditar nesse Santo de Israel, do qual unicamente poderás receber a Vida Eterna?”

  4. Diz o fariseu: “Não sou chefe do Templo e é o meu dever cumprir as determinações do sumo sacerdote; pois dele depende mi- nha subsistência. Caso o meu posto não fosse do agrado de Deus, poderia ter evitado eu chegar ao ponto atual. Como não impediu, sou o que sou e ajo às ordens do sinédrio. Se erro, Deus é culpado.

  5. Sei que Moysés e todos os demais profetas apenas são fan- tasias de sacerdotes antigos e não haver verdade em deus, pagão ou judaico; os homens místicos acabaram por achar uma divindade, deixando uma herança à plebe de crença fácil — e nós, tolos, man- temos essa questão enquanto for possível. Uma vez aplicado o golpe mortal, soçobraremos evidentemente.

  6. Em seguida, certamente proliferará a doutrina desse ho- mem milagroso; no final, seu destino será o mesmo que das leis mosaicas. Toda criação humana desaparece; somente o que foi cria- do por Deus, eternamente desconhecido, perdurará para sempre.

Acabas de saber de mim mesmo, que nada creio, entretanto sustento as coisas remotas por causa do povo; do contrário, estabelecer-se-ia a pior confusão exterminando tudo, pois ainda que com o maior cuidado, acontecem fatos que desprestigiam a Humanidade.

  1. Não creio em um deus que tivesse dado leis aos homens. O verdadeiro Criador teria depositado leis de vulto em a Natureza, através da Força de Sua Vontade. Leis morais só podiam ter sido dadas a uma só pessoa e isso não se justifica, pois todas são iguais. Podes poupar-me com tuas perguntas, pois não creio na genuinida- de das Escrituras.”

213.IGNORÂNCIADOFARISEUQUANTOAOCONHECIMENTODOSOLEDO DILÚVIO

  1. Diz o romano: “Sabia que tu e certamente muitos semelhan- tes a ti não acreditais em Deus, entretanto obrigais o povo a dar-vos crédito, prescrevendo-lhe leis vantajosas ao vosso bem-estar. Não vem ao caso; as condições da aposta têm que ser cumpridas. Não desejando perguntas extraídas da Bíblia, passemos a outra espécie. Dize-me o que vem a ser o Sol.”

  2. Responde o fariseu: “Ora, que pergunta ridícula! Podias fazê-

-la a um deus, e não a um mortal. Sabemos apenas o que dele vemos. É um disco enorme, fortemente iluminador e na luz intensa produz tanto calor, que no deserto do Egito consta derreter pedras. Além dis- to, ele sobe e desce, ocasionando dia e noite. No inverno surge mais para o Sul, no verão em direção do Norte, fazendo-se assim a mu- dança das estações. Sua luz e calor favorecem o crescimento da flora e a produção de inúmeros insetos. Às vezes se dá um eclipse; ninguém pode precisar sua causa, tampouco o paradeiro do Sol à noite.

  1. Eis tudo que o homem sabe do Sol. Supõe-se ser ele em si um fogo intenso por irradiar calor tão forte; estranho é serem as alturas das montanhas mais frias que os vales. Esta resposta te satisfaz?”

  2. Diz o romano: “De modo algum! Tua explicação não cor- responde ao saber de um escriba que se deixa adorar pelo público.

Como se explica que os romanos e os discípulos do nosso grande Mestre e Senhor disto estejam informados, e vós não? Por não crer- des em Deus! E porventura alguém aparecendo capaz de vos levar ao conhecimento das coisas, é por vós perseguido, com temor de reduzir vosso conceito.

  1. É ateu quem não acredita em Deus, e uma alma sem Deus está em trevas, a bem dizer morta, e nada ouve e percebe daquilo que Deus depositou em seu espírito. A criatura iluminada e inspirada pelo Pai tudo vê e compreende, e pode observar dentro de si todo Cosmos como se lá estivesse.

  2. Eu e muitos outros aqui presentes recebemos tal Graça, por isto estamos informados de tudo. Escapando-te até mesmo o conhe- cimento dos essênios, tua resposta foi imprecisa. Se quiseres conven- cer-te desse fato, temos meios de sobra para tanto.”

  3. Responde o fariseu: “Oh, não interessa! Criaturas entendidas na magia como vós poderiam aplicar-me um sortilégio! Já me con- formo ter perdido a quarta questão. Podes prosseguir.”

  4. Diz o romano: “Dar-se-á o mesmo fato com as restantes! Vi não teres conhecimento astronômico; talvez te saias bem com o terráqueo. Qual teu parecer a respeito do Dilúvio? Foi geral ou parcial? Teria Noé levado realmente um casal de cada espécie? Como pôde alimentá-los, principalmente os animais ferozes e os consumi- dores de peixe? De que se supriram os animais selvagens, após ter Noé abandonado a Arca? Pois a Terra ainda estava deserta e vazia, e não havia manadas que servissem de alimento. A água estava acima das montanhas mais elevadas. Para onde se teria escoado, se a Terra toda se achava inundada? Dá-me resposta razoável, pois não consigo orientar-me.”

  5. Confundido, o fariseu diz: “Amigo, indagas de um assunto que não pareces entender. Que dirás eu te fazendo tal pergunta?”

  6. Diz o romano: “Nada perderás. Resta saber se realmente tenho melhor noção que tu. Chegou a tua vez de falar.”

  7. Prossegue o fariseu: “Amigo, não haverá muita coisa para se dizer acerca desse assunto místico da Escritura Sagrada. Sob o

critério da razão, trata-se de um absurdo. Como nos faltam dados históricos, preciso é aceitá-lo como tal, admitindo-se a caprichosa Onipotência Divina como auxiliadora — ou então, não lhe dando importância.

  1. A Bíblia fala de uma enchente geral, impossível dentro das Leis da Natureza. Inquirindo-se antigos hindus, donos de livros mais remotos — nada sabem do Dilúvio. Referem-se a um grande cometa que há milênios se teria aproximado da Terra. Era ele de água e fora atraído pelo planeta, ocasionando a inundação da parte baixa da Índia que, pouco a pouco, se ligou ao Mar Índico. Naquela ocasião tudo pereceu nas profundezas. Os habitantes das montanhas anotaram o fenômeno para a posteridade. Eis uma lenda hindu e persa.

  2. Os antigos egípcios desconhecem enchente, descontando as comuns ao Nilo. Alguns núbios afirmam ter havido um lago imenso onde atualmente se acha o deserto do Sahara.

  3. Nossos missionários que voltavam ao Templo falavam de um imenso reino na Ásia, acima de uma grande muralha, onde pa- lestravam com os guardas no idioma hindu. Procuraram informes da grande enchente, presumindo ter sido a muralha construída para tal fim. Os outros só sabiam de enormes incêndios nas montanhas. Eis os fatos, de sorte a ser difícil acreditar-se em dilúvio geral.

  4. Os romanos alegam na mitologia duas enchentes: a ogigica e a deukaliana. Se há algo de verdadeiro ou não, aos judeus e roma- nos não cabe descobrir. Se o dilúvio de Noé não foi geral, a arca e o restante se tornam óbvios. Deve conter um outro sentido. Mas quem teria a chave? Por aí vês não me ser possível responder logica- mente; tua pergunta fica em branco, porém desculpável.”

  5. Acrescenta o romano: “Indubitavelmente; entretanto, não me satisfaço e vejo em ti, como sacerdote, a falha de exigires fé in- condicional por algo que consideras absurdo. Ainda assim, afirmo que o Senhor e Mestre te poderia esclarecer perfeitamente a reali- dade do Dilúvio; não acreditando na Divindade e muito menos na Missão Divina deste Homem-Deus, continuarás na treva do julga- mento de tua alma. Vamos à sexta pergunta. Talvez te saias melhor.”

214.O LIVRO DE JOB E O TEMPLO DE JABUSIMBIL

  1. Diz o romano: “Qual tua opinião sobre o Livro de Job? Que dizes da palestra entre Deus e Job, e da controvérsia entre Jehovah e Satanás?”

  2. Responde o fariseu: “Eis outra questão jamais solucionada por criatura inteligente. Qual teu parecer a respeito de Ikarion, Baccho e Orfeu? Job jamais existiu; trata-se de uma lenda religio- sa, inventada por vidente da antiguidade e escrita com sombreado moral. Vemos naquilo apenas a atitude de um homem sumamente justo e considerado por Deus. Deus aceita, porém, a sugestão de Satanás no sentido de Job tombar, caso fosse tentado. Jehovah dá direito ao anjo do mal de levar a paciência de Job ao extremo, até que este comece a reagir contra Deus. Resolve a Divindade man- dar-lhe um amigo que lhe aplica séria advertência, e quando Job se entrega novamente à dura Vontade de Deus, Jehovah Se torna Misericordioso.

  3. Quem, a meu ver, nisto descobrir algo de elevado por parte de Deus que Se diz sábio deve originar-se daquela época. Os judeus leem essa história com enfado e de há muito declararam-na apócrifa; contém tão pouco saber e verdade, quanto à vossa de Atlas, obrigado a carregar o Universo nas costas — portanto não é possível resposta razoável.”

  4. Diz o romano: “Essa é boa! Só porque sois muito preguiço- sos para procurar, pensar e estudar, preferis abolir tudo que não vos agrada! Encontrei no Livro de Job a evolução espiritual do homem, de relance — e vós o declarais de apócrifo! Não é nitidamente de- monstrado como a alma se deve desprender, pouco a pouco, de tudo que vem do mundo e da carne?!

  5. Uma criatura amparada pela opulência com facilidade pode louvar Deus; contudo, sua alma não progride. O homem é experi- mentado para demonstrar sua atitude para com Deus na aflição e miséria — quadro apresentado na história de Job. E tens a coragem de classificá-la de irrisória? Achas-te no mais inferior lodo do julga-

mento e da morte! Assim, perdeste a sexta questão e eu tornarei a formular outra, de efeito natural.

  1. No Norte do Egito existe, em bom estado de conservação, um templo esculpido em rocha de granito. Chama-se ‘Ja-bu-sim-

-bil’. Foi construído pelos primitivos habitantes do país mais impor- tante da Terra, quer dizer, de conhecedores de Deus, daquela época. À sua entrada se acham sentados os quatro elementos. Sua estatura colossal deve traduzir a Força Imensa de Deus nas Leis da Natureza, e sua posição de descanso, a Ordem Imutável do Espírito Divino. O interior do Templo é dividido em três: na primeira parte estão figuras humanas, gigantescas; na segunda, outras semelhantes a nós, e na terceira, vê-se no fundo — embora meio apagado — as letras Ja-bu-sim-bil. Qual seria a explicação daquilo, pois presumo não te ser desconhecido.”

  1. Responde o fariseu: “Já ouvi falar a respeito, e a situação cer- tamente é tal qual descreveste; acontece ser o templo mui remoto e quem saberia positivar os povos construtores?! Os sinais são ilegíveis e além disto não têm a menor semelhança com a nossa escrita. Os romanos escrevem da esquerda para a direita; nós, vice-versa, por- tanto tendes mais facilidade para ler a escrita original dos egípcios, idêntica à vossa. Por isto ignoramos o sentido dos três átrios, suas esculturas e dizeres.”

  2. Exclama o romano: “Pretensos filhos de Deus! Andais in- chados quais sapos do brejo, como se tivésseis criado a Terra! Não entendeis o que se acha tão próximo de vós, todavia pretendeis ser educadores e guias do povo escolhido por Deus! Ninguém é capaz de dar o que não possui! Estais cheios de tolices e ignorância de todas as coisas. Que poderia o povo aprender convosco? Em Roma ouvi o velho provérbio: Tal homem é mais tolo que judeu! — E agora me convenço da realidade!

  3. Os romanos jamais acharam indigno analisar revelações di- vinas, ainda assim chamam-nos de pagãos; vós, povo escolhido, não credes em vosso Deus Único e, além disto, desprezais qualquer outra orientação. Sois piores que os epicuristas!

  1. Como gentio te darei explicação a respeito do Templo Ja-bu-sim-bil, que também me levou a outros conhecimentos de Deus. Quando há dez anos fiz uma viagem a mando do Estado para o Egito, cheguei a ver o referido Templo, que me causou enorme impressão. Observei tudo com a máxima atenção e me fiz dar as explicações por parte de um paupérrimo sacerdote. Cheio de amor e humildade, o velho foi tão solícito, que cheguei à conclusão de que falava a verdade.

  2. Disse-me o seguinte: as figuras colossais à direita represen- tam os sete espíritos de Deus, pelos quais o homem chega a vários conhecimentos, enchendo-se de presunção. As imagens à esquerda são as paixões indômitas, razão por que vês, aos seus pés, alguns si- nais de destruição e julgamento. O segundo átrio é algo mais baixo e lá se chega por uma porta estreita. Demonstra a humildade, sem a qual impossível é chegar-se ao verdadeiro conhecimento de Deus. Eis por que as figuras modestas estão em posição curvada. No ter- ceiro, vês apenas a manifestação espiritual, representada por sinais correspondentes. E no cimo, lês dentro de um círculo: Ja-bu-sim-

-bil, quer dizer: o Verbo Divino no coração de todos que procuram Deus. A tradução literal é: Eu fui, sou e serei. Sou o Único e não existe outro Deus!

  1. Meu amigo, quem procura acha; eu procurei desde moço e muito achei. O mais sublime que a criatura pudesse encontrar desco- bri aqui — e não em vosso Templo mistificador! E lá está em figura humana o Que consta no antigo templo: Ja-bu-sim-bil! Mas não im- porta se tu ou outros nisto creem; assim é, conforme eu e milhares acreditamos. A sétima pergunta ficou sem solução e passarei à oitava!”

215.OORÁCULODEDELFOS. AVIDAAPÓSA MORTE

  1. (O romano): “Ouve. Que me dizes do oráculo de Delfos, ainda existente?”

  2. Diz o fariseu: “Como poderei responder a uma questão que apenas ouvi comentar?! Sei existir em Delfos uma pitonisa, chamada

Pítia, que se acha sentada em um tripé dando respostas ambíguas, mediante pagamento. O ‘como’ e a veracidade fogem do meu co- nhecimento.”

  1. Protesta o romano: “Supunha-te um pouco mais culto. Ain- da assim pretendeis examinar este Sábio?! Isto é forte demais! Soube em Roma da maneira pela qual advertis o povo contra tudo que se relaciona ao paganismo, ameaçando com a eterna condenação quem se atrever a visitar tal templo, a fim de se orientar sobre os prós e contras de outros povos.

  2. Repito pois: Como podeis fazer tal coisa, se não tendes uma leve ideia de que seja o paganismo? Não entendeis a Escritura, não acreditais em Deus — entretanto quereis ser juízes daqueles ávi- dos de um estímulo, através de conhecimentos em outros assuntos. Dize-me qual o motivo de vossa atitude!”

  3. Diz o fariseu, embaraçado: “Cumprimos ordens rigorosas do chefe do Templo. O porquê não é de nossa alçada e cabe somente aos responsáveis. Somos seus instrumentos que assim passam bem, ironizando todo mundo; pois quanto mais ignorante ele, tanto me- lhor nossa situação. Houve, entre nós, homens que procuraram o Reino de Deus, com toda sorte de sacrifícios e renúncias — no final encontraram somente a morte, que em breve enfrentaremos. Acaso não é mais inteligente quem procura gozar a vida, do que um beato esdrúxulo que se faz castrar em virtude de um Reino celeste, des- conhecido e problemático, e no fim só passa a comer gafanhotos e mel silvestre? Meu lema é: Tratar-se de bem viver, todo resto não vale um piparote! Quem pouco aprendeu terá pouco que esquecer. No fim da vida é indiferente se os vermes nos roem inteligentes ou ignorantes. A questão da ressurreição ou da vida além-túmulo, até hoje, só foi respondida pela fé dos ignorantes. Essa resposta deve satisfazer-te.”

  4. Diz o romano: “À tua afirmativa — mormente diante do povo — é difícil responder-se. Já falei com muitas pessoas sobre as- suntos espirituais; nunca, mesmo entre gentios fanáticos, privei com homem tão atrasado! Eu, como pagão, poderia dar-te centenas de

provas quanto à vida da alma após a morte — e tu, como sacerdote, apresentas tanta ignorância!

  1. Sendo amigo da Luz e da Verdade, contar-te-ei um fato ve- rídico, em presença de todos, e estou curioso por ouvir tua opinião. Há uns sete anos atrás fui mandado para Espanha, à cidade de Sa- guntus, e me hospedei em um dos maiores albergues. No terceiro dia, de manhã, apareceu-me, estando acordado e em companhia dos serviçais, o meu pai, morto há vinte anos. Chamou-me com tanta insistência que foi ouvido, até mesmo visto pelos outros. Perguntei ao espírito qual seu desejo.

  2. E ele disse: Aquilo que os mortais nem de longe pressentem, prevemos com a maior clareza. Deixai essa tavolagem, no mais tar- dar dentro de uma hora, e ficai ao ar livre durante três horas; nesse tempo virá um terremoto fazendo ruir essa casa e outras, mal cons- truídas, causando a morte a homens e animais. Adverti a população na grande praça para que muitos se possam salvar. Quando passado o perigo, virá um garoto para vos conduzir a um local seguro!

  3. Em seguida, o espírito desapareceu e nos sentimos tomados de pavor. Apanhamos ligeiros nossa bagagem e acordamos os mora- dores, para depois despertar a população.

  4. Na hora predita, deu-se um forte tremor de terra, ruindo umas vinte construções, inclusive a hospedaria. Seguiram-se ainda algumas oscilações, sem produzirem grande dano. Após três horas de grande apreensão, apareceu um menino e nos levou a um alber- gue mais distante. Meus colegas aqui presentes podem atestar a ve- racidade do fato. Dize-me, que achas desse acontecimento? A alma continua a viver, ou morre junto do corpo?”

  5. Responde o fariseu, perplexo: “Se isto é verdade, é de se supor sua sobrevivência; ainda assim, ignoramos o que seja a alma e como se processa sua vida além da morte.”

  6. Diz o romano: “Se o espírito de meu pai sabia o que iria acontecer e o meu paradeiro, sua existência é evidentemente mais perfeita e lúcida, portanto melhor que a vida física. Se nós, pagãos, disto temos conhecimento e tudo fazemos para alcançar maiores es-

clarecimentos, por que não fazeis o mesmo e perseguis Aquele capaz de vos fornecer noção mais elevada? Por que até mesmo procurais matá-Lo em vossa cegueira — conforme de manhã demonstrastes nitidamente no Templo?”

  1. Respondem os fariseus, em conjunto: “Isso foi intenção dos judeus e não a nossa. Nós aqui vimos não por causa do Templo, mas para verificarmos o que há na realidade. Até então, não nos foi possível chegar a uma convicção. Caso consigamos provas maio- res, podemos nos tornar discípulos desse mestre. Acabaste de nos vencer com tuas perguntas e te devemos cem libras de ouro; agora assiste-nos o mesmo direito. Se fores capaz de responder as nossas, receberás incontinenti o dinheiro. Está bem assim?” Diz o romano: “Perfeitamente. Podeis começar, pois as respostas estarão prontas.”

216.OSSETELIVROSDE MOYSÉS

  1. Nisto, o fariseu pergunta se qualquer um dos de seu grupo poderia formular os problemas, no que o romano aquiesce. Por isto se adianta um outro, escriba de primeiro grau e diz: “Se tua resposta não for satisfatória a todos, perderás mil libras de ouro.”

  2. Confirma o romano: “Isto já sabemos. É preferível pensares mais na pergunta que no ouro! Começa, para que possa meditar.”

  3. Interessado em formular uma questão difícil, o fariseu lem- brou-se de que o romano, por certo, ignorava quantos livros Moysés havia escrito. Admitia-se o número de cinco, entretanto foram sete, inclusive um complemento profético; o escriba disso tem ciência como iniciado do Templo e assim faz tal pergunta.

  4. O romano sorri — fato incomum — e diz: “Não poderias ter feito questão mais propícia, pois a resposta provará vossa con- sideração quanto a Deus e Moysés. Segundo meu conhecimento, fostes inimigos de Deus e do povo desde a época de Samuel e por isto sonegastes, sem o menor escrúpulo, os dois livros de grande importância e o apêndice profético, no qual se lê minuciosamen- te vossa atitude condenável. Com a vitória dos romanos, todos os

livros tinham que ser entregues para estudos e cópias, de sorte que conhecemos todos os vossos segredos.

  1. No sexto Livro, dá Moysés explicação nítida acerca da for- mação natural da Terra, descrevendo seus estados evolutivos, desde o início até a final dissolução. Além disto, fez um esboço do Cosmos com todas as minúcias da movimentação e constituição geológica. Descreveu os cometas, eclipses solares e lunares, e como era possível calculá-los pela matemática. No final, exemplificou as estrelas fixas, seu tamanho e distâncias colossais, e que tudo isto deveria ser ensi- nado ao povo de Deus, evitando, assim, sua queda no paganismo.

  2. Os sacerdotes pensaram de modo diferente, resolvendo guar- dar os segredos cósmicos para si, a fim de obrigar os incultos a ofe- rendas maiores. O sétimo Livro contém a criação do homem e sua evolução espiritual, pela constante insuflação do Espírito Divino. Dava explicação, ao alcance de todos, acerca do primeiro Livro de Moysés e dos patriarcas Kenan, Henoch e Lamech. No prossegui- mento se refere às Guerras de Jehovah, ou seja, à fiel História dos povos das planícies, e no final lê-se uma séria advertência aos doutri- nadores populares, no sentido de passarem todo conhecimento aos povos e que ninguém deveria se casar ou receber uma profissão antes de se inteirar de todo conteúdo desse Livro.

  3. Tal advertência foi prontamente por vós rejeitada, alegando ser melhor o povo continuar na ignorância de tudo aquilo, pois com orientação mais profunda, em breve não mais precisaria de sacerdo- tes, obrigados a ganhar seu sustento pelas próprias mãos. Essa supo- sição foi bem tola, porquanto Moysés havia estritamente ordenado que o tronco Levi deveria viver do dízimo.

  4. Acresce ao sétimo Livro uma leitura à parte, inteiramente profética, demonstrando com clareza que os sacerdotes, juízes e reis tudo fariam contra Deus, recebendo por Ele a justa paga.

  5. Além disto, consta nesse Livro a descrição do grande Messias, Sua Vinda à Terra, Sua maneira de viver, doutrinar e como seria odiado e perseguido pelos sacerdotes. Em seguida, viria o extermí- nio dos judeus, surgiria a Igreja do Messias, sua longa perseguição

pelo anticristo e, no final, o término deste, e em seguida a Glória da Igreja de Deus na Terra. Na última parte lê-se outra advertência severíssima no sentido de que o povo deveria ter livre conhecimento dessas passagens. Acaso isto aconteceu?

  1. Já em tempos dos profetas nenhuma referência foi feita, razão por que Isaías, mencionando a profecia de Moysés, repisa o ponto que se prende à minha primitiva pergunta. Assim, todos os profetas, mormente os quatro grandes, tiveram que reproduzir o que consta no apêndice, mas foi por vós sonegado por motivos de co- nhecimento geral; nos últimos tempos fostes demasiado preguiçosos para vos orientar e agora tendes que tolerar a astúcia dos essênios a vos tirarem o lucro material. Conhecem o Cosmos, calculam os fenômenos e os aproveitam para uso próprio. Eis o castigo justo do Alto! Estou convicto de ter respondido a primeira questão, dentro da Verdade e ciência!”

  2. Confundido, o escriba diz: “Sim, infelizmente! Tenho en- sejo de não mais formular outras perguntas, pois é difícil abordar-se homem de tão vasta cultura. Preferimos pagar as cem libras de ouro, porquanto nos traímos em cada problema, aumentando nosso em- baraço perante o povo, que certamente não guardará segredo disto!”

  3. Diz o romano: “Pouco me importa! A aposta tem que ser mantida, ainda que o mundo caísse em frangalhos. Pergunta, que responderei! Vanglorio-me de ser romano!” Os sete templários se juntam e cochicham qual a seguinte questão.

217.OCÂNTICODE SALOMON

  1. Após prolongadas conjecturas, eles têm a ideia de pergunta- rem ao romano o número de grãos de areia no mar e de ervas sobre a terra. Ele, então, responde: “Somente criaturas tolas e sem juízo poderiam formular perguntas desse teor, cujo resultado numérico lhes teria que ser eternamente enigmático, porquanto impossível a um mortal; segundo, ainda que se possibilitasse a contagem de er- vas, não existe até agora número que a traduzisse; terceiro, caso eu

vos determinasse a quantidade de grãos de areia através de cálculos mais elevados — quem poderia afirmar ser ele exato? E se porven- tura algum assim fizesse, eu, como romano dotado de prerrogativas governamentais por parte do Imperador, poderia exigir prova, que jamais poderia ser dada, a não ser por Deus. Um mortal teria que contar com várias testemunhas grãos e ervas, impossível, porém, pelo tempo que tal empreendimento haveria de durar.

  1. Para que, pois, pergunta tão ridícula? Podeis apenas apresen- tar questões de vosso conhecimento, supondo eu desconhecê-las. Perguntas que poderia responder a bel prazer e cujo caráter vos im- possibilita me acusardes de erro — são evidentemente contra vós. Formulai a terceira, porém razoável.”

  2. Nessa altura, o povo se alegra com a tolice dos fariseus e elogia o romano, em virtude de seu raciocínio lógico. Ele aconselha calma, porquanto o teste ainda não está terminado. Após pequena pausa, o fariseu se vira para o romano: “Estando tão entendido na Escritura, pergunto-te se conheces o sentido do Cântico de Salomon.”

  3. Responde este: “Oh, sim. Sempre foi do meu agrado, em vir- tude de sua poesia e mística. Até então não lhe compreendia o pro- fundo valor. Tendo encontrado Aquele a Quem se refere o Cântico, asseguro-te não haver um verso que não me seja claro como a luz solar. Se quiseres, poderei dar provas disto na presença da multidão.”

  4. Percebendo estar o romano inclinado a aplicar tudo a Mim e à Minha Doutrina, quer dizer, à Nova Igreja, tendo encontrado na Minha Pessoa o amigo procurado ao qual convidou para hóspede de amor e vida — o escriba responde: “Já percebemos nosso erro e pas- saremos à quarta questão. Que vem a ser a alma e onde está localiza- da no corpo? Presumo não teres objeções a fazer contra tal assunto.”

  5. Diz o romano: “De modo algum! Responderei de acordo com a psicologia e dentro de minhas próprias experiências, muito embora saiba não haver um dentre vós que o entenda.”

218.AGRÍCOLAFALAACERCADA ALMA

  1. (O romano): “A alma, como substância espiritual, correspon- de ao físico com todos os órgãos, e se assim não fosse não poderia fazer uso do mesmo. As mãos da alma estão nas mãos do corpo, os pés nos pés físicos etc. Quando o corpo adoece, a alma presente no órgão afetado tudo faz para curá-lo. Não o conseguindo, ela deixa de agir e a consequência disto é a paralisação do referido órgão, quase inerte e insensível. Este conhecimento é antigo e igualmente dos psi- cólogos atuais. Resta saber como chegaram a tal segredo. Primeiro, é a razão a levar o equilibrado pensador a tal problema; pois se a alma é o princípio vital dentro da criatura, deve ela estar presente em to- das as partes, do contrário uma ou outra estaria sem vida, portanto mortas, conforme acontece com a morte do corpo, abandonado pela alma. O corpo todo estando ativo, a alma como base da vitalidade deve estar estendida por ele todo. Assim, é a alma unicamente a criatura em substância espiritual dentro do corpo. Alguém poderia perguntar pelas provas palpáveis, como base de tais afirmações.

  2. Existem-nas através de experiências de todos os povos e pa- íses; naturalmente, servem as feitas por pessoa sadia e amante da verdade, em primeiro lugar; em seguida, podem ser acrescentadas as de outras.

  3. Já conheceis o fato peculiar de Saguntus na Espanha. O es- pírito de meu pai era tão humano como foi em vida. Isto prova ter sido ele, como alma, tal qual seu físico. Não é esta a única experiência nesse setor. Quando há anos tive que viajar ao Egito, encontrava-me na Sicília, com a maioria desses meus companheiros. Subimos a bordo de um navio sólido e grande que já enfrentara várias tempestades, e entregamo-nos à proteção dos deuses. Eu, secretamente, pedi a bên- ção a Jehovah, que conhecia da Bíblia dos judeus. Quando queríamos zarpar, não houve jeito para tanto. Mandei examinar tudo e não en- contramos qual o motivo do impedimento. Fez-se todo esforço para empurrar o navio pelo cais — em vão. Eu e alguns outros nos pos- tamos no tombadilho para descobrir qualquer indício do fenômeno.

  1. De repente, deparei com um personagem vestido de branco, caminhando de um lado para outro, fixando o nosso navio. Chamei a atenção dos demais, crentes tratar-se de feiticeiro ao qual devería- mos fazer uma oferenda, a fim de soltar a embarcação. De pronto di- rigimo-nos àquela figura que nos esperava de olhar fixo, e eu lhe dis- se: Estás prendendo o meu navio com teu feitiço. Por que ages deste modo? Desejas alguma oferenda? Fala, pois minha viagem é urgente.

  2. A figura me olhou com severidade e disse pausadamente: Não sou feiticeiro, tampouco exijo sacrifícios. Como te entregaste à proteção de Jehovah, fui enviado para te proteger contra o naufrá- gio; pois se hoje partires, serás às três horas da madrugada presa do mar! A vinte horas daqui desencadear-se-á tremendo temporal, e ai de quem for atingido! Amanhã poderás partir e tua viagem será feliz!

  3. Então perguntei ao espírito: Quem és e como te chamas? — E ele respondeu: ‘Sou teu bisavô; fui patrício honesto e sempre usei de bondade e justiça para com todos. Por isto sou feliz, conquanto ainda não esteja perfeito. Assistirás coisas grandiosas na Terra. Quando tal época chegar, lembra-te de mim que te revelei tal fato pela permissão de Deus Único e Verdadeiro!’ Em seguida desapareceu.

  4. Aquele espírito ou alma imortal, visto por todos, tinha forma perfeita e pronunciou palavras audíveis em meu benefício, provando uma força de vontade frente à qual, nossa força física é simples nada. Aquela aparição verdadeira pode ser atestada pelos demais. Passemos à outra, surgida no Egito.”

219.ALMAE CORPO

  1. (O romano): “Ao chegarmos a Memphis, paramos no palácio do prefeito romano da cidade e nos três primeiros dias visitamos seus templos antigos etc., de nosso grande interesse. Na manhã do terceiro dia percebi que algo se movimentava no meu espaçoso dor- mitório. Os empregados também fizeram tal observação, razão por que indaguei o que vinha a ser aquilo. Aflitos, afirmaram jamais ter visto coisa semelhante. Parecia ora uma sombra na parede, ora uma

neblina surgida do solo, e se movimentava como impelida pela cor- rente. Observamos calados aquele fenômeno aparentemente natural e cada um estava ansioso pelo fim.

  1. Não levou muito tempo e a neblina desapareceu. Em segui- da, ouvimos forte ruído e apareceu uma forma feminina, jovem, porém tristonha, e pelo traje lembrava os antigos egípcios. Enchi-me de coragem e perguntei com simpatia quem era. No mesmo instante ela se ergueu e disse: Sou Isia, filha de Sesostris. Tu és do mesmo tronco e podes me libertar desse castelo de miséria e desespero, onde me encontro há séculos. Revela-me o Deus Verdadeiro, Único, de maneira a poder livrar-me desse sofrimento prolongado; pois nossos deuses nada mais são que imaginações humanas.

  2. Recomendei-lhe dirigir-se ao Deus judaico, e nem bem ter- minara de falar, a figura ficou toda luminosa e sumiu. O restante não precisa ser mencionado. A aparição foi feminina e aparentava uns vinte e três anos, e não resta dúvida ter sido filha de Sesostris. Eis mais uma prova indiscutível da existência da alma imortal, cuja figura é idêntica ao físico.

  3. Quanto ao fato de ela se achar no corpo todo, posso provar por outro fato verídico. Conheci em Roma um soldado que perdera uma perna durante a batalha. Indagado se ainda tinha sensação da mesma, afirmou ele ter impressão de jamais haver perdido a perna, a ponto de levar sérias quedas na tentativa de caminhar. Conclui-se daí penetrar a alma no físico todo, sem perder um membro, ainda que completamente inutilizado o corpo, e além disto ser ela imortal, podendo desenvolver-se no Além. Julgo com isto ter respondido na íntegra. Poderia vos relatar quantidade de fatos semelhantes, que todavia não aumentariam a verdade. Que me dizeis?!”

  4. Responde o escriba: “Confessamos teres respondido muito bem; desistimos de outras perguntas, pois és profundo conhecedor de todos os assuntos e rico em experiências. Pagar-te-emos as cem libras de ouro e damos o caso por encerrado!”

  5. Conclui o romano: “Muito bem. Sabeis não serem tolos os romanos; analisamos tudo e guardamos o Bem e a Verdade. Assim

vos pergunto: não tenho razão acusando-vos de tolos em não que- rerdes aceitar aquele Homem-Deus?”

  1. Respondem os fariseus: “Até isto faremos e no íntimo esta- mos convencidos ser aquele galileu o Messias Prometido; entretanto, não o podemos aceitar, devido à nossa posição. Se nos confessarmos seus discípulos, o Templo nos amaldiçoará e excomungará.

  2. Se fosse possível viver-se qual pássaro, fácil seria a aceitação de uma doutrina cheia de verdades absolutas, mas contrárias ao ju- daísmo. Intimamente podemos aderir. Para o mundo temos que ser contra a mesma, por não termos outro meio de subsistência.”

  3. Diz o romano: “Essas desculpas são fúteis e infundadas, pois se realmente reconhecerdes quem é aquele galileu, impossível per- guntardes pela subsistência. Se Nele habita o Espírito Divino, Cria- dor de Céus e Terra, e cada respiração nossa dependendo de Sua Vontade — Ele por certo proverá de tudo os que Nele crerem.

  4. Vede esse mundo de gente. Come e se veste. E vós mesmos bebeis do vinho que jamais se encontrava num odre e comeis o pão nunca assado em forno. Como podeis apresentar dúvidas tais?!

  5. De que vos adiantam posição e subsistência materiais?! Por- ventura vos garantem a Vida Eterna?! Quem suprirá vossas almas se virais as costas Àquele que isto vos poderia fazer e garantiu jamais sentir a morte quem Nele acreditasse?! Se reconhecerdes ser Ele o Prometido, não há motivo em não aceitá-Lo com Sua Doutrina. Tenho razão?”

  6. Dizem todos: “Tens razão em tudo! Feliz daquele que tem a ventura de ver o Senhor e ouvir Sua Doutrina, conforme ora acon- tece conosco.”

220.ARENÚNCIAEOREINODE DEUS

  1. Eis que digo: “Igualmente feliz aquele que não se aborrece Comigo! Vós, fariseus ignorantes, afirmais: O crepúsculo estando vermelho, o dia seguinte será lindo; ao passo que à aurora rubra, o dia será nublado. — Tais fenômenos sabeis interpretar; como é pos-

sível não perceberdes os grandes sinais desta época, dados por Mim?! Muito embora vendo e percebendo-os, não os quereis aceitar por causa do mundanismo e impedis disto o próprio povo. Assim, não almejais o Reino Celeste, obstruindo o seu ingresso; por isto vossa condenação será tanto maior!

  1. Não se pode criticar a um cego ao se ferir em uma pedra. Tal sucedendo a alguém de boa visão, comete grave erro; pois viu o obstáculo no seu caminho. Quem não puder compreender Minhas Provas e Palavras em virtude de sua cegueira espiritual não terá pe- cado; muito mais quem as percebe, entretanto é inimigo da Verdade!

  2. Eis a situação entre vós, fariseus e escribas. Bem que sentis ser Eu o Prometido; ao mesmo tempo percebeis não ser possível man- terdes o judaísmo corrupto ao lado de Minha Doutrina, porquanto revogastes quase totalmente Moysés e os profetas, e no seu lugar implantastes vossa constituição, em detrimento de viúvas e órfãos, e não para soerguer o povo. Assim agindo e não vos convertendo para Mim, o pecado continua em vós, e com ele julgamento e morte. Re- almente, a medida por vós usada ser-vos-á imposta pelo Meu Pai.”

  3. Obsta um fariseu anteriormente sem crença: “Teu discurso, Mestre, soa estranho. Porventura não poderíamos nos tornar teus discípulos?!”

  4. Respondo: “Sim, mas não tão facilmente como sois. Quem quiser se tornar Meu discípulo terá que romper inteiramente com o mundo e desconsiderar suas tentações, pois o mundo é constan- te julgamento e morte perene. Quem ama o mundo não se presta para discípulo justo; pois no amor às coisas materiais não subsiste vida, e sim julgamento e morte. Não necessito de discípulos mortos, mas unicamente de livres e vivos. Este sendo o vosso caso, podeis ficar Comigo.

  5. Não vim a este planeta para julgar os de curta visão e aos cegos; vim procurar os desviados, curar os enfermos, erguer os aca- brunhados e salvar os algemados. Quem recebe Meu Auxílio tê-lo-á feito para sempre; quem não quiser aceitá-lo não poderá ser socorri- do por quem quer que seja, nem no Céu nem na Terra.

  1. Não Me refiro à Minha Pessoa, mas à Minha Doutrina; ela repre- senta o Reino de Deus que veio junto de vós e garantirá a Vida Eterna a quem aplicá-la. Pessoalmente, a ninguém condeno; o Meu Verbo, que vos dirijo, julgar-vos-á assim como a Verdade julga e mata a mentira.”

  2. Diz em seguida o escriba: “Mestre, falaste a plena verdade; existe, porém, um ponto que não compreendo. Alegaste não dever o homem amar o mundo, por ser julgamento e morte. Está certo. Considera, todavia, o grande número de criaturas que, involuntaria- mente, habitam o orbe. Quem procura levar-lhes consolo pelo Evan- gelho celeste? Surgem qual erva daninha e nada conhecem e sabem. Acaso não devem se prender ao mundo que as alimenta e abriga?

  3. O próprio judaísmo já se tornou quase paganismo; que as- pecto terão outros povos?! Dentro de minha compreensão e conhe- cimento, ninguém é culpado por ter nascido neste mundo realmen- te mau e miserável. Uma vez nascido, o homem sofre até à beira da sepultura. Meditando sobre isto, surge a importante pergunta: Por que nasci? Quem me fez encarnar aqui?

  4. Sentindo sua grande miséria, não se pode criticar o homem que procure amenizar sua situação dentro do mundo. Se após longos esforços alcançou um estado que lhe proporcione algum lenitivo e paz — aparecem profetas e outros mensageiros compenetrados do Espírito Divino e lhe transmitem a Ira de Deus, julgamento, morte e outras tantas coisas desagradáveis.

  5. Outra seria a situação caso a criatura tivesse firmado con- trato com Deus, aceitando as condições imprescindíveis nesta Terra. Mas não. Ela nasce desnuda, cega e inconsciente e é martirizada com tudo possível. Se, após vários sofrimentos, o homem chega à idade madura dotado de boa saúde, que lhe proporcionaria alguns prazeres, surge uma quantidade de leis acabando com tal sonho. Pois se aproveitar os dias no gozo, terei pecado contra as leis a castigarem a minha consciência. Se considerei as leis — não houve prazer em minha vida. Por quê? Acredito seres capaz de nos ajudar; mas que será com os outros habitantes do orbe? E por que não receberam socorro há mais tempo?”

221.REGIMEDIVINOAPLICADOÀS CRIATURAS

  1. Digo Eu: “Aquele que criou a Humanidade desta Terra sabe melhor dos meios que necessita para evoluir. Ele não deixa passar um dia sem espargir insuflações dos mais elevados Céus, para de- monstrar aos homens os justos caminhos pelos quais facilmente poderão alcançar o destino imposto por Deus. Se eles se deixarem tentar pelas doçuras do mundo, suas tentações fictícias e perecíveis, renunciando a Deus e adorando o bezerro de ouro e o dinheiro do mundo, por ele erigido como de grande valor — acaso Deus é cul- pado quando Suas Leis e Advertências são relegadas e os homens as substituem por outras, a fim de conseguirem aumentar seu capital?!

  2. Não demonstrou isto tudo Jehovah através de Moysés, den- tro da Criação surgida unicamente por causa do homem? Não ex- plicou Ele o que é o homem desta Terra, e qual sua finalidade?! O profeta demonstrou minuciosamente o motivo da Criação material e por que cada alma tem de passar pelo caminho da carne, para após o desprendimento da mesma, poder-se aproximar de Deus como espírito semelhante ao Pai.

  3. Isto foi por Deus demonstrado em épocas remotas a Adam, Kenan, Henoch, Lamech, Noé, Abraham, Isaac e Jacob, e Jehovah habitou Pessoalmente entre eles, ensinando o justo caminho da sal- vação. Por que revogastes isto tudo e implantastes vossa sabedoria mundana no lugar da Revelação Divina?!

  4. Quem foi Melchisedek, único Sumo Sacerdote, Rei de Sa- lém? Onde estão Seus Ensinos, Suas Leis sábias e amorosas, dadas a todos? Vossos pais as destruíram.

  5. No sexto e sétimo Livros, Moysés devolveu o que se ha- via perdido — e vós os escondestes diante do povo, oferecendo-

-lhe detritos.

  1. Se a Humanidade está em miséria por causa dos sacerdotes egoístas e outros homens dominadores — Deus tem culpa disto?! Ele deu ao homem o livre arbítrio para que fosse livre e ativo; além disto, deu-lhe razão e intelecto, a fim de que pudesse compreender

e assimilar os Conselhos e as Leis de Deus, e igualmente propor- cionou-lhe a força para assim agir. Se, contudo, o homem se deixa dominar pelo mundo e desconsidera o Conselho de Deus, não é ele mesmo culpado se cai de miséria em miséria, como desconhecedor da Ordem Divina?!

  1. Como a situação se tornasse por demais aflitiva e difícil entre as criaturas, vim Pessoalmente — o antigo Melchisedek, em carne

  1. O romano vos demonstrou o verdadeiro motivo por que não quereis crer ser Eu o Messias Prometido. Eu repito: Quem crer em Mim receberá a Vida Eterna e transbordará de água viva; quem as- sim não fizer não terá a Vida Eterna, mas a morte do mundo e todo julgamento. Com isto não Me imponho, pois deixo cada um agir pelo livre arbítrio.

  2. Já que vim a este mundo para salvação de todos, sou obriga- do a Me revelar, para não dizerdes que ninguém vos informou, e que Deus fez nascer os homens pelo ventre materno, nunca, porém, com eles se preocupou e deixa que pereçam.

  3. Aqui estou para ajudar a todos e envio os Meus anjos a todos os povos da Terra para orientarem os sábios. Quem aceitá-los não se perderá, ainda que esteja longe daqui. Todavia, ninguém será forçado para tanto. Digo-vos isto para saberdes que estou Presente e qual o motivo. Podeis fazer o que vos agrade.”

  4. Vira-se o fariseu para os demais: “Que faremos? Esse ho- mem fala com ênfase e muitos lhe dão crédito. Não podemos afir- mar nem negar ser ele o Messias. A meu ver, convém orientarmo-

-nos nas Escrituras. Se tudo coincide, não podemos deixar de crer; caso contrário, continuaremos o que somos. Qual vossa opinião?”

  1. Responde o escriba: “A Escritura é enorme e difícil de se compreender. Julgo mais aconselhável ficarmos, a fim de colher in- formações mais positivas. Sou mais a favor da fé.” Acrescenta outro: “Sem dúvida; como, porém, libertarmo-nos do Templo? Eis uma questão mais difícil que todas as outras.”

  2. Diz o romano: “Se apenas isto vos aflige, haverá solução. Sei que o Templo costuma enviar sacerdotes experimentados para todos os cantos do mundo e deste modo faz prosélitos. Caso disserdes aos vossos superiores que para tanto fostes por mim, Agrícola, convida- dos, ninguém fará objeções.”

  3. Diz o escriba: “Faremos uma tentativa. Se o sumo sacerdo- te não aceitar a proposta, que será?” Responde o romano: “Neste caso farei tal exigência com prerrogativas imperiais, e ele nada mais poderá obstar.” Todos se acalmam; apenas um fariseu menciona as cem libras de ouro, e o romano explica: “Estareis livres de pagamen- to, caso me seguirdes.” Satisfeitos, eles palestram com os discípulos, tornando-se mais crentes.

222.ALIMENTOSPUROSE IMPUROS

  1. Entrementes, confabulo com Lázaro e seu hospedeiro sobre assuntos banais. Os publicanos e seus amigos a tudo prestam aten- ção, chegando a conclusões úteis para criação e lavoura. Chamo a atenção para muitas qualidades de batatas, posteriormente por eles cultivadas. Além disto, ensino o preparo de carne de porco, veado, corças, antílopes, gazelas, coelhos selvagens e amestrados, e quanti- dade de aves, a fim de que seu uso não prejudique. Demonstro-lhes como e em que época se pode pegá-los, matá-los e guardar, por lon- go tempo, sua carne, salgada e defumada.

  2. Os romanos assistem à explicação e Agrícola vem à Minha mesa, dizendo: “Senhor e Mestre, tive grande alegria pelo Teu En- sino em tais assuntos. Costumamos alimentar os presos com caran- guejos de rio e mar. São cozidos em água salgada e tomilho e quando atingem a cor vermelha, entregues na prisão. No começo, somente

a fome os animava a comê-los; com o tempo se habituaram e com prazer saboreavam os crustáceos, adquirindo saúde boa. Mesmo após terem deixado o cárcere, muitos lhes davam preferência. Que dizes a isto? São recomendáveis?”

  1. Respondo: “Como não! Mas apenas durante determinadas fases da Lua e devem estar vivos. O preparo foi acertado; os caran- guejos de rio são melhores que os marítimos.”

  2. Nisto, alguns discípulos começam a fazer a seguinte obser- vação: “Vede só, nosso Mestre e Senhor! De há muito não fala de tais assuntos. Seria do Seu agrado?” Os fariseus igualmente conjec- turam: “Como pode se expressar contra os princípios de Moysés?! Acaso ignora que a carne de animais impuros vilipendia a criatura, apenas tocando-a?! É realmente estranho!”

  3. Eis que Jacob Me diz em surdina: “Senhor, não ouves o pare- cer dos fariseus? Responde-lhes algo!”

  4. Retruco: “Que Me importam suas palavras?! São cegos guias de cegos. Quando um conduz outro, ambos caem na vala sem pode- rem se ajudar. Por isto não ligueis a seus comentários.”

  5. Ouvindo os fariseus Minha observação, cochicham entre si se a Minha referência também os toca, pois já se julgam crentes. Por isto Me levanto e digo: “Sim, referi-Me também a vós. Cegos tolos! O que entra pela boca e é expelido por via natural não vilipendia o homem. Mas o que sai pela boca, com origem no coração, como sejam: maus pensamentos, conversas obscenas, menosprezo, falso julgamento, mentiras, fraudes, inveja, avareza, impudicícia, adulté- rio, gula até mesmo com alimentos puros — prejudicam a criatura!

  6. Analisai nas Escrituras por queMoysés aconselhou apenas o uso de alimentos puros. Fê-lo em virtude de vossa grande inclinação em comer carne, e por causa de vossa sensualidade e impudicícia. Digo-vos, entretanto, ser tudo puro para quem possui coração puro

  1. O que comeres e beberes para necessária manutenção física não te fará feliz nem infeliz, mas apenas o que crês e fazes. Acre- ditando coisas erradas, não podes fazer algo de bom e útil; pois a

Verdade não está em ti. Contudo, tua alma não permanecerá no julgamento; neste caso, todos os pagãos estariam perdidos. Jamais! Mas se ouves e compreendes a Verdade, no entanto vives no erro, a Verdade te condenará à morte psíquica. Assim como a luz é a morte da noite — a Verdade é o fim da mentira e do erro. Se agora chegou o Dia de tua alma, como podes querer voltar à noite do julgamento e da morte?!”

  1. Diz o escriba: “Mestre, já sei que falas a verdade, todavia nos acusaste termos sustado as Leis de Moysés suplantando-as por ou- tras. Não o negamos por ser realidade; mas se permitires a todos os judeus comerem a carne de animais declaradamente impuros, com determinado preparo, revogas igualmente as Leis do profeta, incor- rendo no mesmo erro praticado ao curares os enfermos num sábado. Pois está escrito: Seis dias deves trabalhar; no sétimo, descansar e oferecê-lo a Deus, o Senhor! — Com que direito ages deste modo?”

  2. Respondo: “Se sou Aquele que veio ao mundo, faço-o com igual justificativa que o Pai — em Mim — vos deu as Leis no deser- to. Ainda assim não revogo as Leis Mosaicas, mas cumpro-as Pessoal- mente em todos os pontos. Demonstro apenas vossa incompreensão no critério daquelas Leis. Firmai-vos na letra que mata, desconhe- cendo o espírito vivificador. Atualmente vos revelo o espírito que tudo vivifica; como podeis alegar sustar Eu a Lei do profeta?!

  3. Nesta tentativa peneirais mosquitos e engolis camelos; pois se mantendes tão rigorosamente a constituição de Moysés, como é possível dardes indulgência aos ricos, por dinheiro e outras oferendas?!

  4. Vós mesmos comeis pão fermentado aos sábados, inclusi- ve aves selvagens, e permitis aos sacerdotes de comerem tudo que houver num país. Isto fazeis pelas vantagens terrenas, quebrando as Leis; Eu o aconselho por Amor e Misericórdia, não exijo pagamento por tal dispensa, tampouco susto a legislação de Moysés; pois se o homem se sacia com alimentos quaisquer não peca contra a Lei. Se um judeu, por gula e intemperança, come a carne de animais impuros ou sufocados, para escândalo do próximo, muito embora

tenha a de animais puros, peca pelo aborrecimento causado contra o semelhante.

  1. Com outras palavras: o homem pode, em caso de necessida- de, aproveitar a carne dos animais que mencionei, sem com isto cair em escrúpulos; deve prepará-la como disse, para não sofrer dano. O sangue, mormente de animais sufocados, não deve ser ingerido por conter muitos elementos maus. Estais muito bem informados disto; entretanto, comeis a carne de galinhas, carneiros e vitelos, sufocados, por agradarem ao vosso paladar e assim vos embriagais, tornando-vos lascivos e, no final, insensíveis. Refleti, primeiro, so- bre vós mesmos e vossas atitudes — em seguida Me dizei se revogo as Leis de Moysés.

  2. Como podes afirmar ao vizinho: Vem cá, deixa que tire o argueiro de teu olho! — se no teu se encontra uma trave?! Afasta primeiro a trave de teu olho, em seguida verás se achas solução para o caso de teu vizinho. Cada um deve varrer a própria soleira; só depois pode dizer ao próximo: O limiar de minha casa está limpo; se quiseres, varrerei também o teu, para evitar que os transeuntes se aborreçam com nossos detritos!”

223.JUSTACONSIDERAÇÃODO SÁBADO

  1. (O Senhor): “Dá-se situação idêntica com o Sábado. Pri- meiro, todos os dias são do Senhor, e o homem deve fazer o Bem diariamente, e não apenas no Sábado. Além disto, consta dever-se respeitá-lo e não executar trabalhos pesados sem necessidade; quan- to às obras de caridade, proibidas, não há uma sílaba em Moysés.

  2. Ele afirmando: Sem necessidade e permissão não deves efetu- ar obras pesadas no Sábado!, como podeis alegar ter Eu vilipendiado tal dia se curei um enfermo sem remuneração?! Não levais forragem ao gado e todos os animais ao bebedouro? Acaso deixaríeis afogar-se algum dentro da cisterna se porventura lá caísse num Sábado?! Se agis deste modo com animais caseiros — por que não se deveria aju- dar uma criatura?! Não vale mais do que um animal?! Cegos! Quão

longe estais da Verdade! Bem se aplica a vós: Esse povo Me honra com os lábios; seu coração está longe de Mim!

  1. Se alguém vos procurasse dizendo: Tenho muito serviço com a colheita e o tempo é propício. Se puder aproveitar o Sábado, ofer- tarei três vezes o dízimo, um boi e três vitelas gordas — incontinenti lhe daríeis carta de isenção, para que o fazendeiro pudesse contratar lavradores para tal dia. Acaso não é isto maior vilipêndio do que socorrer-se a um doente?!

  2. É proibido partir e comer pão antes do crepúsculo no Sába- do; se em tal dia vos entregais secretamente à gula e intemperança, dando permissão também aos ricos, porquanto os pobres nada po- dem pagar — que vem a ser isto senão vilipêndio?!

  3. Prossigo: por que declarastes o sexto e sétimo Livros de Moysés de enxerto, recusando-os, inclusive o apêndice profético? Aquilo teria sido um fanal para todos, demonstrando qual atitude a tomar em todos os casos. Em compensação, vos foi dada a Cabala que se origina de Horus. Não a entendeis, e Moysés e os profetas, aos quais erigistes monumentos, não quereis compreender; foram aqueles homens, inspirados por Deus, apedrejados pelos vossos pais e ensinais ao povo ser suficiente adorar-se tais Escrituras. Não é isto pior vilipêndio do que Eu abençoar um doente?!

  4. Eu sou Senhor, inclusive do Sábado! Por isto digo: não sinto alegria no Sábado considerado por vós! Faço neste dia o que quiser! Deixo vir e ir o Sol, correr os rios, soprar os ventos e grandes tem- pestades, girar Lua e estrelas em órbitas prescritas, crescer a erva e produzir o doce néctar das uvas! Se tudo isto depende de Meu Poder Absoluto — porventura deveria perguntar-vos qual a Minha Incumbência num Sábado?! Dai-Me resposta razoável!”

224.RÉPLICADO FARISEU

  1. A essas Minhas Palavras, o escriba não sabe o que responder; de um lado se sente atingido e do outro, o povo rejubila em voz alta. Assim, os sete templários estão como que petrificados e intimamen-

te revoltados contra Mim, por lhes ter dito a verdade plena, sem dó nem piedade. Após algum tempo, o fariseu se anima e diz: “Se- nhor e Mestre, de há muito estamos cientes daquilo que explanaste, e compreenderás não ter sido possível agirmos de modo diverso. Apresentas a questão como se nós tivéssemos rejeitado os últimos Livros de Moysés e apedrejado os profetas! Se tivesses estado Pesso- almente conosco, a situação não teria chegado a tal ponto. Agora se vê o grave erro. Não podemos modificá-lo, pois o que representam sete, perto de cinco mil?!

  1. Não somos os únicos culpados pela situação interna do Tem- plo. Só podemos voltar-lhe as costas, pois se propagássemos Tua Doutrina, seríamos apedrejados, sem utilidade para Tua Causa. Se aceitarmos a proposta do romano, julgo termos feito tudo possível. Dá-nos a Tua Onipotência — e o Templo em breve estaria em or- dem! De maneira alguma me conformo Tu nos declarares de maus e falsos!”

  2. Digo Eu: “Meu caro, difícil é escrever aos cegos e pregar aos surdos! Se exponho a questão, à qual ainda vos achais presos, a fim de melhorardes, acaso refiro-Me às vossas pessoas?! Minha explana- ção se prende ao espírito existente no Templo, não só da vossa, e sim da alçada de todos os judeus.

  3. A Verdade é o Sol do espírito e tem que irradiar para todos, pura e sem nuvens gentis. Uma nuvem iluminada não é Sol, e uma tola cortesia é semelhante a uma mentira polida que jamais servirá à salvação da alma. Por isto deve cada um falar a Verdade abertamen- te, caso deseje ser útil; com uma meia verdade a ninguém se agra- da. Comigo não há reserva nem cuidado; mas unicamente Amor e Compreensão! Não fora Eu tão Verdadeiro como sou — onde estariam Céus e Terra, onde e o que seríeis vós?! Não vim para fazer lisonjas, senão ensinar a Verdade, e através dela proporcionar a Vida Eterna. Para tanto não se pode usar de reservas e cuidados. Refleti a respeito e depois dizei se fui injusto!”

  4. Diz o fariseu: “Sim, tens razão; as criaturas não merecem o Teu Amor e não poderão agradecer condignamente por teres vindo

em carne, para dar-lhes a justa compreensão e demonstrar-lhes o verdadeiro caminho para a Vida Eterna. Existe, entretanto, um pon- to para nossa defesa: até hoje nunca vieste para doutrinar e transmi- tir a Tua Vontade e a finalidade dos homens. Eram sempre pessoas experimentadas e entusiastas que alegavam estar compenetradas de Teu Espírito. Operavam sinais extraordinários para positivar suas declarações, todavia morreram, muito embora propalassem a Vida Eterna. O próprio Moysés disto não foi excluído. Somente de Elias diz a Escritura ter subido ao Céu num carro de fogo, deixando seu manto para o discípulo Eliseu. Tal lenda não pode servir de norma, por ser inédita.

  1. Diante do fato de jamais um profeta ter dado notícias após a morte, os homens começaram a duvidar da sobrevivência da alma, criando situações mais agradáveis às determinadas pelos profetas. Quando posteriormente surgia um entre o povo, todo mundo se aborrecia dizendo: Chama teus ancestrais para provarem haver vida além-túmulo e seres tu verdadeiro profeta! Não te sendo possível, não mereces crédito, tão pouco quanto os antigos, já falecidos. Por que, Senhor, nunca foi permitida tal prova? E por que se condena as criaturas descrentes?

  2. Deste modo não são os templários responsáveis pela situação do sinédrio, e sim a falta de provas da vida da alma. Esta redunda na descrença em Deus e ainda que assim não fosse, respeito e amor não são tão intensos, atribuindo-se Suas Leis à invenção humana, aplicáveis naquela época, inapropriadas, porém, para nossos dias. Não quero com isto criar atenuante para nós e o Templo, todavia é verdade.

  3. Tu, Senhor e Mestre, munido da plenitude do Espírito Divi- no, és prova e testemunha à Vida Eterna da alma; existem, porém, inúmeras pessoas excluídas deste conhecimento. Acaso são culpadas pela falta de fé, adorando o Sol, o fogo etc.? Não seria possível aos nossos pais aparecerem para dizer-nos o que nos espera com a morte e o que vem a ser a alma?

  1. Nada disto acontece, e tudo que se diz do Além é lenda que se presta para os tolos, mas o filósofo jamais poderá aceitá-la. Os sacerdotes ainda fazem caridade ao deixarem o povo na completa cegueira, apresentando-lhe cerimônias pomposas. Se transmitísse- mos nossa cultura, em breve o judaísmo teria fim e as criaturas se encontrariam em estado lastimável. Acaso não externei a Verdade tal qual é? Serei grato por todo ensinamento real; pois não é brincadeira pensar-se constantemente na morte e no aniquilamento eterno!”

225.OINTERCÂMBIOCOMOALÉM.OLIVRE ARBÍTRIO

  1. Digo Eu: “Falaste bem e terias feito sucesso numa escola de saduceus, estoicos e epicuristas; aqui, teu critério foi o de um cego referente à luz e às cores, e de um surdo quanto à harmonia de uma harpa.

  2. A vida da alma não te pode ser provada, por criatura encar- nada ou desencarnada. Tens que descobri-la dentro de ti, e isto só é possível pelo verdadeiro amor a Deus e ao próximo.

  3. Julgas que a volta de uma alma fortificaria a fé na sua imorta- lidade e em Deus; mas Eu te afirmo tua opinião ser errônea! Primei- ro, tem ela muito que fazer por si e seus semelhantes e não dispõe de tempo para aparecer seguidamente num corpo criado pela atmosfera terrestre, a fim de informar as criaturas encarnadas como se apre- senta o Além. Segundo, pode todo espírito perfeito influenciar da melhor maneira possível sem restrição do livre arbítrio, fator muito mais proveitoso que a visão e audição psíquicas. Se um espírito bom e iluminado insufla bons pensamentos e sentimentos em teu cora- ção, tem o mesmo efeito como se fossem de tua autoria: unificam-se com tua vida e determinam tua ação.

  4. Caso o espírito de Moysés se apresentasse, dizendo: Terás que fazer isto ou aquilo, desejando ingressar na Vida Eterna, pois do contrário cairás no Julgamento do Onipotente, de onde não haverá ressurreição! — estremecerias e não terias mais coragem para agir de

modo diverso. Qual seria o teu mérito? Nenhum. Não foi o conhe- cimento que determinou tua ação, mas o poder daquele espírito!

  1. É o mesmo que se alguém amestrar um animal; apenas o conseguirá por meio de chicote e cacete; uma vez educado, o mérito é de quem o ensinou e não do irracional.

  2. Se Eu quisesse que ninguém cometesse pecado algum, jamais haveria quem incorresse em erro; pois não lhe seria possível pas- sar uma linha além da Minha Vontade. Assim como ninguém pode modificar o seu físico, tampouco prolongar sua vida, dependente da Vontade de Deus. Se Ele impedisse o erro humano, que mérito teria a vida virtuosa do homem guiado somente pela Onipotência, conforme prevê o crescimento da flora e os trâmites dos corpos cós- micos? Ninguém mais senão Deus, pois a criatura foi simples bone- co em Suas Mãos. Tal método seria muito mais cômodo, segundo acontece com a criação dos irracionais, dotados de particularidades variadas e estranhas para guiá-los e deixar que se movimentem de acordo com suas aptidões.

  3. As criaturas deste planeta são destinadas a se tornarem filhos de Deus, livres e independentes, de sorte a não serem coagidas em seu livre arbítrio por parte de um espírito poderoso, mas unicamen- te conduzidas pela Revelação, Doutrina e leis externas, a fim de se positivarem no Bem e na Verdade, dentro da ação.

  4. O respeito ao livre arbítrio partindo de Deus chega a pon- to de Ele não considerar o que pensam, querem e fazem. Somente quando se tiverem desviado em demasia Deus lhes vira Sua Face e desperta videntes, doutrinadores e profetas para revelarem no- vamente a Vontade Divina e Suas Intenções. Caso as considerem, melhoram de pronto; não o fazendo, mas ironizando e perseguin- do tais homens, Deus forçosamente terá que mandar um castigo. Tal julgamento não parte diretamente da Vontade Divina, e sim é consequência do transvio ignorante e maldoso.

  5. Os poderosos hanochitas foram advertidos por mais de cem anos para não destruírem as montanhas à procura de ouro e pe- dras preciosas e, como medida estratégica, não fizessem o desmonte

total, pois com isto abririam as comportas subterrâneas. De nada valeu. Continuaram no mesmo, provocando o afogamento de to- dos. Tal fato não ocorreu como emanação da Onipotência, mas foi a Permissão de Deus, uma vez que as criaturas não queriam prestar-Lhe ouvidos.

  1. Deus poderia ter evitado que assim agissem, através de Sua Onipotência; neste caso, os homens teriam deixado de ser livres e no mundo espiritual igualmente não teriam alcançado sua eman- cipação. Assim, Ele preferiu que o Gênero humano sucumbisse a interferir, de leve, na liberdade psíquica, isto é, no livre arbítrio e independência.

  2. Igualmente foi advertida, várias vezes, uma raça, pelo Rei de Salém, a não habitar as redondezas de Sodoma e Gomorra, por- que continha o subsolo depósitos de enxofre e piche. Além disto, foi demonstrado explicitamente que de tais depósitos se despren- diam constantemente elementos impuros da Natureza, instigando as criaturas à impudicícia, pois são idênticos aos que se encontram no vinho, perturbando quem tome em excesso. Foram prevenidas ocorrerem em zonas tais frequentes terremotos, incêndios, tempes- tades furiosas, podendo causar grandes devastações e, como efeito, fome e peste. Tudo isto de nada adiantou. Como o território fosse fértil e viçoso, as criaturas ali se estabeleceram e antes que passassem duzentos anos, já havia dez cidades, além de Sodoma e Gomorra. Os habitantes se tornaram completamente materialistas, praticando a pior perversão, inclusive com animais.

  3. Em época de Nahor e Tharah novamente foram avisados a deixarem a zona; ninguém se alterou. Os filhos de Tharah eram Abraham, Nahor — cujo nome é idêntico ao do avó — e Haran, pai de Lot. O próprio Haran para lá se dirigiu e pregou a Mando de Deus, sem resultado. Lot, seu filho, fez o mesmo durante vários anos, permanecendo alternadamente numa e noutra cidade, e quase tornou-se igualmente vítima do elemento impudico.

  4. Eis que vieram anjos visíveis — Jehovah entre eles — e falaram primeiro a Abraham; e os dois anjos foram, em figura de

adolescentes fortes, enviados àquela cidade a fim de salvarem a Lot. O povo não lhes deu ouvido e quis praticar com eles suas perversi- dades. Lot então conseguiu fugir pela aceitação da advertência dos anjos. Sua mulher foi vítima da curiosidade: tornou-se coluna de sal, conforme haviam avisado os dois mensageiros, pois haviam dito: Temos que fugir e nem perder tempo em olhar para trás; o fogo sub- terrâneo se alastra com rapidez e seus gases sufocam toda natureza, transformando-a em sal de pedra!

  1. Aí não foi, tampouco, a Onipotência Divina provocadora do aniquilamento total da zona perversa, pois ter-lhe-ia de qualquer maneira ocorrido o que sucedera em tempos de Abraham. O fato de terem morrido tantas pessoas cabe à responsabilidade do homem desobediente.

  2. Deus as poderia ter afastado dali e conduzido a um país salubre; tal coisa teria sido evidente violação do livre arbítrio. Isto sendo por Ele considerado acima de tudo, preferiu-lhes a morte fí- sica, em vez de aniquilar um átomo da livre vontade de suas almas. Para a Própria Divindade constitui a maior Obra de Mestre do Seu Amor, Sabedoria e Onipotência criar seres capazes de se Lhe torna- rem idênticos.

  3. Para chegar a tal ponto é preciso o homem nascer quase que sem forças, no maior abandono terráqueo, e buscar seu conhe- cimento nas coisas externas. Uma vez que tenha colhido algumas noções e aptidões, dá-se a imperceptível influência de espíritos, bons e maus; os bons se dirigindo à alma e os nocivos à matéria física, a fim de que a primeira seja conservada inteiramente livre.

  4. Se porventura o homem tiver prestado ouvido aos bons ensinos e advertências contra as tentações, amoldando sua vida de acordo — a influência dos bons espíritos aumentará de tal forma a ele julgar ser obra sua. Tão logo a influência do Bem, provinda do Céu, se tiver positivado pela vontade do indivíduo, a ponto de a alma nela se integrar, despertará o Espírito Divino do Amor e penetrá-la-á inteiramente. Só então a alma terá ingressado no pri- meiro grau de seu aperfeiçoamento e estará indestrutivelmente livre,

podendo, ainda que na carne, receber visões e revelações de espíri- tos, inclusive de arcanjos.

  1. Deste modo acontece comumente que tais pessoas falem com almas do Além e por elas são individualmente orientadas, transmitin- do os ensinos a outras, ainda no campo da Natureza. Quem lhes der crédito agirá bem; não deve, todavia, exigir a mesma faculdade, pois tal só pode acontecer quando tiver alcançado a maturação psíquica.

  2. Deve cada um aplicar as orientações e observar sua alma, as paixões adormecidas na carne que se manifestam pela preguiça, vo- lúpia, amor-próprio, teimosia, orgulho, inveja, avareza e domínio. Terá que enfrentá-las pelo Amor a Deus e ao próximo, pela paciên- cia, humildade e meiguice, e não demorará em receber a presença de bons espíritos.

  3. Aliás é rara a pessoa que não tenha recebido avisos e visões do Além; mas se as desconsidera e classifica como simples pertur- bações dos sentidos, não pode ser ajudada. Julgo com isto ter escla- recido a tua objeção, não deixando dúvidas quanto à situação do habitante terrestre.”

226. A NATUREZA DE DEUS E SUA ETERNA SATISFAÇÃO CRIADORA

  1. Responde o fariseu: “Senhor e Mestre, quanto a isto nada mais há que objetar. Se, todavia, as almas deste planeta no final se tornam deuses, onde terão espaço para se movimentar e agir li- vremente? Um espírito também precisa de lugar e tempo, muito embora se ache acima de ambos devido às suas qualidades divinas.”

  2. Digo Eu: “Ó mesquinheza humana! Acaso nunca viste um Céu estelar?! Ignoras o que sejam as estrelas incontáveis?! Se cada átomo telúrico se transformasse em doze mil almas — número tão colossal jamais calculável — não daria para distribuí-las uma em cada mundo solar no enorme Espaço, muito menos para povoar os planetas em número ainda maior, que não raro giram aos milhares em redor do mesmo mundo.

  1. Calcula o Espaço infinitamente maior dos Céus Divinos, seu imutável número de agrupamentos, que comparados aos planetas, equivalem a um trilhão a contar do aparecimento do orbe até esta data. Só Deus sabe quantas raças humanas ainda se formarão desta Terra, pois tem diante de Si os números infinitos como unidade. Se assim é, quanto mais não surgirão de todos os mundos incontáveis, dos quais muitos são tão grandes que a Terra lhes pode ser compara- da a um grão de areia?!

  2. Refletindo a respeito, chegarás à dedução se realmente um número colossal de filhos verdadeiros de Deus poderá se avolumar em demasia nos Céus eternos. Julgas ser um número limitado pelo teu intelecto suficiente para Deus Eterno?! Conta as criaturas deste planeta, calcula a fertilidade e capacidade reprodutora de flora e fau- na — e deduzirás que para Deus tudo abrange o Infinito, e ninguém poderá dizer ser algo inútil.

  3. Se Ele não tivesse deitado tal capacidade em plantas e ani- mais, em breve não teríeis pão, carne, leite, vinho e frutos; como o grão de trigo deitado no solo produz fruto centuplicado, tendes pão de sobra etc. Se Deus age constantemente do Infinito, dentro de Sua Sabedoria e Onipotência Infinitas — acaso alguém poderia afirmar ser tal Criação Eterna algo inútil?! Vossas próprias necessidades di- árias provam o contrário, pois não podeis subsistir sem alimento. Compreendeste?”

  4. Responde o fariseu, surpreso: “Sim, Senhor e Mestre, e admi- ro Tua profunda Sabedoria; apenas tenho que confessar certo pavor da Grandiosidade e Poder do Criador e desejava saber se Deus criará eternamente.”

  5. Digo Eu: “Poderias ter chegado a tal conclusão. Se Deus é Eterno, por certo terá criado desde eternidades; pois o que deveria ter feito antes da Criação deste mundo, do Sol, da Lua e de todas estrelas, se sempre foi Perfeito?

  6. Deus é, em Espírito, Eterno e Infinito. Tudo surge Dele e se mantém por Ele; tudo está Nele como a Plenitude Infinita de Seus Pensamentos e Ideias, das mais diminutas até as mais gran-

diosas. Se Ele os projetar na Luz claríssima de Sua Consciência e quiser que se tornem realidade — Sua Projeção se evidencia. Em seguida, deposita a Semente germinadora de Seu Amor nos Pensa- mentos e Ideias surgidos de Sua Personalidade, vivifica-os a fim de que existam como seres individuais, conduzindo-os, através de Sua constante Insuflação elevada, até ao mais alto grau de indestrutível independência.

  1. Tais seres são, em virtude do Amor Divino os guiar e con- servar, cheios de força criadora, reproduzem-se até o Infinito e cada produto é — como os filhos idênticos aos pais — não só semelhante ao Autor, mas também dotado com as mesmas capacidades, destina- das ao ingresso da matéria ao espírito, do Criador e da Criação, pelo fácil aumento do Amor Divino, podendo se positivar na Semelhan- ça de Deus, entretanto de independência individual.

  2. Deste modo, as Projeções de Deus voltam a Ele, mas não como foram emitidas, e sim como seres inteiramente vivos, cons- cientes e emancipados, podendo existir, agir e criar independentes do Criador, razão pela qual eu falei: Sede tão perfeitos como é Per- feito o Pai do Céu!

  3. Atualmente opero coisas grandiosas diante de vós; entre- tanto, fareis maiores em Meu Nome, ou seja, pelo Amor Divino em vossos corações, sem o qual ninguém poderá realizar algo para a Vida Eterna, por ser o Amor de Deus a própria Vida indestrutível na Divindade e no próprio ser.

  4. Toda Criação material terá um fim quando houver passado ao espírito pelo aperfeiçoamento do Amor Divino na criatura, de sorte que esta Terra não existirá eternamente, mas passará gradati- vamente ao estado espiritual. Dentro do cálculo terráqueo, a época dista muito para o vosso intelecto, até que o fogo do Amor Divino haja dissolvido toda matéria em elemento de origem espiritual.

  5. A dissolução de um planeta se fará de modo semelhante a qualquer outro ser, onde a morte externa se evidencia pouco a pou- co. Uma árvore velha se torna oca, apenas alguns galhos apresentam vida, outros estão porosos e caem do tronco. Esse processo continua

até que todo vegetal esteja morto; entretanto, tem ele elementos de vida. Por certo já observaste a quantidade de plantinhas de musgo e outras que surgem num tronco apodrecido; além disto, seu inte- rior é carcomido por vermes, insetos corroem a matéria da árvore enquanto ela existir, até que em alguns séculos nada mais dela se vê.

  1. O mesmo, em escala maior, sucederá com um planeta moribundo e morto. A árvore é substituída por outra. O mundo é substituído por vários, recebendo os elementos de vida para seu tra- tamento e educação futuros. Deste modo, a Criação propriamente dita não tem fim, porque Deus jamais para de pensar, querer e amar, em virtude de Seu Amor e Sabedoria Ilimitados.

  2. A quem tiver dificuldade de compreensão, acrescento: ima- gina-te vivendo eternamente com força juvenil. Acaso poderás deixar de pensar e querer? Porventura pretendes ficar inativo e nada mais gozar? Certo que não! Tua atividade aumentará e tudo farás, a fim de proporcionar-te maior conforto na vida; pois é indispensável ao amor e à vida constante atividade, por ser a vida nada mais que ação.

  3. Por isto, nenhum de vós deverá imaginar encontrar-se no Além doce repouso, pois seria a morte da alma. Quanto mais se espiritualizar a matéria, tanto mais ativa se tornará. Se isto é com- provado na Terra, quanto mais no Além, onde não há físico para perturbar a alma.”

227.NÃOOSABER,MASAAÇÃOCARIDOSATRAZAFELICIDADE.AJUSTA ABASTANÇA

  1. Retruca o fariseu, sobremaneira admirado: “Somente agora re- conheço seres Tu Pleno do Espírito Divino, pois só Deus pode trans- mitir tais conhecimentos. Onde fica o intelecto humano mais pre- parado, adquirido por experiências na observação de fatos externos?! Que vem a ser o homem, pequeno e limitado, perto de Deus? Jamais pode ele abarcar por si mesmo o Ser Divino e Sua Natureza Intrínseca!

  2. Desejava apenas que o Templo todo fosse penetrado por tal Luz; entretanto, não é possível, devido ao atraso geral. Nós, sete,

às vezes meditamos acerca de tais problemas — e quão difícil era assimilá-los. Qual não seria a situação de nossos colegas, que nunca procuraram se aprofundar, e sim tratavam apenas de passar bem.

  1. Quão certas são as palavras de David: Nada somos perto de Ti, Senhor! Não devemos confiar no socorro humano, sem efeito real. Percebemos agora o aproveitamento nulo das leis templárias. Senhor e Mestre, não nos abandones com Teu Espírito!”

  2. Respondo: “Quem permanecer na Doutrina estará Comi- go e Eu com ele. Quem abandonar a Minha Doutrina pela atitude ter-Me-á abandonado e a Vida não estará com ele. Eu sou o Verda- deiro Dia da Vida! Quem prosseguir neste Dia não se ferirá, e quem trabalhar em tal Dia colherá o justo Prêmio da Vida. Por ora sabeis o mais necessário, o restante virá oportunamente. Todavia, não é só

o Saber a trazer felicidade, e sim a ação.

  1. Existe uma ação dupla: uma egoísta dirigida ao mundo; ou- tra justificada dentro do mundo, por verdadeiro amor a Deus e ao próximo. Na primeira, o homem busca o julgamento e a morte eter- nos; na segunda, Amor e Graça de Deus e a Vida Eterna da alma.

  2. Não quero dizer com isto não dever o homem entregar-se ao trabalho e à economia, pois Eu Mesmo recomendo muito zelo e economia justa. Isto tudo deve ser feito para alcançar uma reserva, que a cada momento possa socorrer a pobreza. Tudo que for feito aos pobres em Meu Nome considero feito a Mim, dando Minha Bênção aqui e no Além. Quem apenas trabalhar para si e seus filhos, sem hesitar em açambarcar bens alheios, não deve aguardar Minha Proteção, e no Além não poderá enfrentar o Meu Trono de Graça, pois será levado ao cárcere da pior treva. Lá haverá choro e ranger de dentes, e tal alma dificilmente alcançará plena visão de Deus.

  3. Quem passar da economia egoística à avareza completa é de- mônio em figura humana, reagindo constantemente contra o Es- pírito de Deus, puro Amor, e por isto é excluído para sempre da bem-aventurança. Tão certo existe Céu, tão certo há o inferno, cujo verme jamais morre e cujo fogo nunca se apagará. Quem lá ingres- sar de modo próprio jamais sairá pelo livre arbítrio, redundando

na morte certa e eterna da alma. Lembrai-vos disto e evitai cairdes no egoísmo, amor-próprio, avareza e orgulho. De todos os demais pecados, o homem consegue libertar-se mais facilmente.

  1. Observai Lázaro, um dos mais ricos de toda Judeia. Não o é para si, mas para milhares de pobres, que dele recebem trabalho e subsistência; por isto é abençoado e caso morra, ressuscitá-lo-ei para viver em benefício dos necessitados. Não verá nem sentirá a morte, pois poderá determinar o dia de sua partida para ingressar no Meu Reino, sempre aberto para ele poder habitar Comigo na Minha Mo- rada Eterna.

  2. Por aí vês não ser Eu somente Amigo dos pobres, e sim igual- mente dos ricos, quando aplicam sua fortuna na Intenção de Deus, Verdadeiro e Justo. Quem for rico faça o mesmo, que viverá.”

  3. Sumamente comovido, Lázaro diz: “Senhor, Pai Bondoso, que faço eu de bom para merecer tanta Graça?”

  4. Respondo: “Sei de tuas ações e qual seu móvel; por isto não te admires de Meu Elogio perante todos. Disse certa vez a um rico que pretendia seguir-Me, mas que estava preso aos bens terrenos: Vende primeiro teus imóveis e distribui tua fortuna entre a pobreza, depois Me segue! — Como não conseguisse desprender-se, ficou triste e se afastou.

  5. No teu caso digo: compra ainda outras propriedades; pois teus bens já pertencem aos necessitados, que gastam a maior par- te dos lucros. A um rico preso aos bens, afirmo ser mais fácil um cordame passar pelo fundo de uma agulha, do que ele entrar no Reino do Céu.

  6. Existem pobres que, ao receberem dinheiro por parte de um rico bondoso, esbanjam-no e se mostram ingratos. Ninguém deve por isto se alterar. Quanto menor a gratidão na Terra, tanto maior o prêmio no Além; pois só deste modo demonstram sua semelhança com Deus, que igualmente faz irradiar o Sol sobre bons e maus.

  7. Digo mais: fazei o Bem aos inimigos, orai pelos que vos amaldiçoam e abençoai os que vos odeiam e perseguem — e tereis

acumulado brasas em suas cabeças, transformando sua índole mal- dosa para o Bem e para a atitude nobre. Emprestai vosso dinheiro supérfluo a quem não pode restituí-lo com juros e convidai à mesa os que não podem oferecer-vos o mesmo, que juntareis no Céu grandes tesouros para vossa alma.

  1. Se fores rico e alguém te procurar, muito embora tenha abusado de tua generosidade, adverte-o com carinho; mas não o pri- ves do teu amor. Ele se modificando, terás feito dupla caridade; não melhorando, não deves te aborrecer com ele, pois ao lado da pobreza material, existe a espiritual, maior e mais lastimável.”

228.AMORAOPRÓXIMO.CONHECIMENTOEAMOR DIVINOS

  1. (O Senhor): “Consta dever o homem perdoar sete vezes a quem o tiver magoado; entretanto afirmo: Deveis perdoar setenta vezes sete ao ofensor, antes de fazerdes queixa perante juiz. Se ele ainda assim não se corrigir, expulsai-o da sociedade. Quem, todavia, não conta as ofensas de alguém não será contado, no Céu, quantas vezes pecou perante Deus.

  2. Caso alguém vos peça favor, excedei-vos além do pedido. Se, por exemplo, uma criatura te pedir um agasalho no inverno, junta-

-lhe mais um sobretudo, porquanto possuís vários; alguém te pedin- do companhia por uma hora, pois desconhece o caminho, duplica o tempo para lhe demonstrares afeto maior do que pedira. Todo acréscimo de amor ao próximo ser-te-á recompensado no Céu dez, trinta e cem vezes.

  1. Guardai-o bem e agi deste modo, que tereis a Vida Eterna, como verdadeiros filhos de Deus, colhendo Seus Tesouros para todo sempre. Digo-vos: merece um Sol quem tiver dividido com o próxi- mo — pobre irmão — o pouquinho que tem.”

  2. Diz o fariseu, cheio de fé: “Senhor — que fazer com um Sol!”

  3. Respondo: “Acaso não é ele a Luz do dia que esquenta todo o orbe, fazendo com que tudo progrida na Terra?! Se disse merecer um Sol quem seguir a Minha Doutrina em tudo — não Me referi

ao astro-rei, e sim ao Sol Espiritual no coração, ou seja, à plena se- melhança divina de sua alma.

  1. E digo mais: tais almas idênticas a Deus receberão os sóis naturais para dirigi-los — o que não representa pouco; pois assim recebe igualmente a direção sobre todos os planetas em redor de um Sol. Os filhos ainda mais perfeitos de Deus terão a responsabi- lidade sobre os sóis centrais, onde os guias de pequenos sóis plane- tários buscarão orientação em movimentos especiais. A fim de se chegar a este ponto, preciso é a criatura abrigar um Sol espiritual no coração.

  2. Tudo que atinge a tua visão está sob a proteção de espíritos que para tanto recebem capacidade de Deus. A maior felicidade de cada um se concretiza em poder servir a Deus pela Força e o Po- der Divinos.

  3. Todos vós aqui na Terra tendes pequena incumbência; quem cumpri-la fielmente receberá, no Além, algo maior. Acrescento mais: ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro a um só tempo; com meio serviço prestado nenhum se satisfaz. Compreendeste?”

  4. Responde o fariseu: “Perfeitamente, Senhor. Acontece ter eu e os demais fariseus angariado grande fortuna. Que fazer com ela?”

  5. Digo Eu: “Deves dividi-la entre os necessitados da maneira que a adquiriste. Quem quiser se tornar verdadeiramente Meu dis- cípulo e seguidor não terá que se preocupar de seu sustento e roupa, mas trate da conquista do Reino do Céu e de Sua Justiça! Ser-lhe-á dado tudo que necessita para a vida; pois o Pai no Céu conhece as necessidades de cada um dos Seus. Ele, que alimenta a erva no cam- po, trata da forragem e veste dos animais, por certo terá maior zelo para com aqueles que caminham no Seu Amor e Sua Graça; pois tal criatura vale mais que toda flora e fauna. Compreendes?”

  6. Responde o fariseu, acompanhado pelos demais: “Também isto nos é claro e tudo faremos que nos aconselhaste. Em Jerusalém será difícil; levaremos nossas fortunas e certamente haverá oportu- nidade para agirmos de acordo, pois a Terra é toda de Deus e as criaturas não menos. Está bem, Senhor?”

  1. Digo Eu: “Não vem ao caso considerardes a pobreza aqui ou acolá. No grupo em cujo meio se acha a mulher que hoje salvei das garras do Templo, uma caridade seria bem aplicada. Entregai as cem libras, perdidas na aposta, a Lázaro, e ele, como justo irmão Meu, saberá como proporcionar uma garantia àqueles pobres.”

  2. Dizem os fariseus: “Senhor, não somente isto, queremos dar-lhe mil libras para que aja segundo a Tua Vontade! O conheci- mento recebido por Ti vale muito mais e Tua Paciência para conos- co é impagável. Ainda bem não morarmos no Templo, e podemos dispor de nossas posses. O grande depósito feito ao sinédrio está naturalmente perdido; pois muito embora viajemos como sacerdo- tes honoríficos, não podemos contar com ajuda do Templo. Ele, por sua vez, nada tem a reclamar; assim, queremos entregar ainda hoje a importância a Lázaro. Está bem assim?”

  3. Respondo: “É inteiramente desnecessário perguntar-Me a respeito; subentende-se haver maior mérito para quem aplica sacrifí- cio com verdadeiro amor a Deus e ao próximo. Agi de boa vontade, que sereis agraciados.”

  4. Nisto, os sete fariseus pedem ajuda do outro grupo para car- regarem o ouro. Todos se levantam e dentro de uma hora depositam mil libras nos cem sacos, aos pés de Lázaro, que Me agradece pela contribuição em benefício dos necessitados.

  5. Um dentre eles diz: “Preferimos, Senhor, tornarmo-nos Teus discípulos do que possuir ajuda tão generosa. Pois Teu Zelo se estende por toda a Eternidade!”

  6. Digo Eu: “Por ora o momento não é propício; entretan- to, haverá oportunidade, porque deixarei Jerusalém dentro de sete dias. Enquanto isto, aconselhai-vos com Meus apóstolos acerca das principais normas de Minha Doutrina; o que vos faltar recebereis oportunamente pela intuição.

  7. Por ora vos digo: como hoje fiz uma colheita tão abundan- te, Minha Alegria é grande; por isto ficaremos acordados e cada um estará, de manhã cedo, tão disposto como se tivesse descansado a noite toda. Recebereis conhecimento mais elevado da Divindade;

pois é de grande valia o homem se aprofundar o mais possível acer- ca de Deus.

  1. Quem não reconhecê-Lo perfeitamente jamais poderá Nele crer, muito menos amá-Lo acima de tudo, tampouco inteirar-se do Espírito Divino. Através de um falso conhecimento de Deus, sur- gem com o tempo toda sorte de enganos, devido ao livre arbítrio, que se alastram qual hidra, fazendo dos homens servos de ídolos, barrando-lhes o portal à Vida verdadeira e eterna, a ponto de se tor- nar difícil lá ingressarem como almas desencarnadas. Aquilo que a alma aqui pode alcançar em um dia para sua perfeição, às vezes não o consegue em milênios no Além. Meus antigos discípulos já pos- suem vastos conhecimentos de Deus; vós, mais novatos, os careceis, por isto dar-vos-ei uma ajuda.”

  2. Dizem todos: “De nada nos prives, Senhor; estamos ávi- dos qual erva seca pela chuva vivificante.” Acrescentam os romanos: “Nós igualmente, pois também somos principiantes na matéria.” Diz Pedro: “Lucraremos de igual forma, porquanto ainda não esta- mos bem firmes.” Digo Eu: “Quais seriam as vossas dúvidas?”

229.DEUS-PAI,DEUS-FILHOEESPÍRITO SANTO

  1. Diz Pedro: “Quando Te deixaste batizar por João Baptista no Jordão, os Céus se abriram e o Espírito Santo pairava em forma de pomba luminosa sobre Tua Cabeça e ouviu-se nitidamente as seguintes palavras: Eis Meu Filho Amado em Quem Me comprazo, deveis ouvi-Lo! Em outra ocasião, inclusive, ouvi as mesmas pala- vras, e até hoje não me animei a pedir-Te explicação. Como agora pretendes levar-nos a um conhecimento mais profundo acerca de Deus, julgo oportuno — caso seja de Teu Agrado.

  2. Até então foste para nós o Verdadeiro Filho do Altíssimo, pois Tua Própria Mãe relatou que o arcanjo Gabriel lhe dissera: Lou- vada sejas, pois foste escolhida por Deus! O Espírito Santo te cobrirá com Sua Sombra e terás um filho a Quem chamarás de Filho do Altíssimo!

  1. Tudo isto é de nosso conhecimento, Senhor, e não podemos fugir do conceito da Existência de Deus-Pai no Céu. És indubitavel- mente o Seu Filho, e uma terceira Entidade, idêntica a Deus e a Ti, é o Espírito Santo. Agimos mal estabelecendo tal princípio de fé?”

  2. Respondo: “A hora para tal revelação ainda não chegou, en- tretanto não dista muito. Por diversas vezes vos disse quando desejá- veis ver o Pai: Quem vir a Mim verá o Pai, pois Eu e o Pai somos Um. O Pai está em Mim, e Eu estou Nele. Como interpretastes isto?”

  3. Diz Pedro: “Da seguinte maneira: és penetrado do pleno Po- der do Pai, à medida que tal Poder se torna necessário durante Tua Passagem terrestre, de sorte que o Pai Eterno e Infinito está Contigo. És Sua Perfeita Semelhança, e Ele, como Deus Eterno e Onipotente, Te rodeando constantemente, estás ipso facto com Ele.”

  4. Digo Eu: “Bem — mas que vem a ser o Espírito Santo?”

  5. Responde Pedro: “Senhor, não sabemos interpretá-lo, não obstante afirmares serem perdoados todos os pecados, menos os contra o Espírito Santo! Tu não O és, evidentemente, porque disses- te poderem ser remidos os pecados contra o Filho. Situação idêntica ocorre com o Pai; Quem é e o Que é o Espírito Santo? Vimo-Lo em figura de pomba luminosa. Acaso trata-se de uma terceira Entidade, oculta desde Adam, ou se acha una com o Pai ou Contigo? Não é possível ser mais Santo que o Pai e Tu? Todavia afirmas ser o mais sublime em todos os Céus! Por aí vês que nós, velhos apóstolos, mui- to carecemos do puro conhecimento de Deus e temos motivo para nos alegrarmos com Tuas Explicações. Moysés diz com rigor: Eu, Jehovah, sou vosso Deus Único! Não deveis projetar outros deuses! E agora aparecem três!”

  6. Digo Eu: “Deveis crer em Deus Único porque nunca houve nem haverá outros! Boa memória não é vossa força, pelo fato de Me perguntardes por assunto tão debatido em outras ocasiões; se disse anteriormente ser o ponto principal da vida o conhecimento completo de Deus, pois sem ele não há vida verdadeira, e sim apenas maquinal — demonstrei o Que e Quem é Deus; vossa memória, porém, é fraca e curta.”

  1. Dizem os discípulos: “Senhor, fortifica nossa memória.”

  2. Acrescento: “Preferível é pedirdes: Senhor, fortalece nossa carne e vontade!, pois a força da memória depende sempre daquela. Vossa alma tem vontade, mas a carne é fraca, portanto igualmente a memória, que se fortificará quando Eu espargir o Espírito Divino sobre vós. Agora prestai a máxima atenção!”

230.ATRINDADEEMDEUSENO HOMEM

  1. (O Senhor): “Guardai silêncio acerca do assunto que irei re- velar-vos e não Me denuncieis antes do justo tempo; Meu Espírito, ou seja, o Espírito Santo, transmitir-vos-á o momento oportuno.

  2. O Pai, Eu, como Filho, e o Espírito Santo somos inconfun- divelmente Um Só, desde eternidade.

  3. O Pai em Mim é o Eterno Amor, isto é, a Base e a Substância principal de todas as coisas que preenchem o Infinito.

  4. Eu, como Filho, sou a Luz e a Sabedoria, surgidas do fogo do Amor Eterno. Esta poderosa Luz é a Eterna e perfeita Consciência, o mais claro Conhecimento Próprio de Deus, o Verbo Eterno pelo qual tudo surgiu.

  5. Para tal fim, é preciso participar a Vontade Poderosa de Deus, ou seja, o Espírito Santo, pelo qual obras e seres recebem existên- cia. O Espírito Santo é a Palavra Pronunciada: Que assim seja! — e imediatamente se evidencia aquilo que Amor e Sabedoria Divinos determinaram.

  6. Tudo isto se acha em Mim: o Amor, a Sabedoria e a Onipo- tência. Deste modo só existe Um Deus, que sou Eu; por isto tomei carne, a fim de Me revelar às criaturas desta Terra por Mim criadas, de acordo com a Minha Semelhança, através de Meu Amor.

  7. Demonstrar-vos-ei haver a mesma trindade dentro de vós: toda criatura tem amor e, em consequência deste, uma vontade; pois o amor em si é desejo e anelo, e neles se fundamenta a vontade. Esta peculiaridade existe em todas as plantas e animais, e de certo modo igualmente na matéria em si.

  1. O homem rude e inculto possui amor e vontade. Mas como os emprega? Cogita somente da satisfação das necessidades mais ín- fimas e materiais, que transmite, instintivamente, a inclinação rude à vontade, de onde a razão apenas recebe uma noção turvada. Ob- servai as ações de tais pessoas, se não são piores do que as dos irracio- nais, cuja inclinação e desejo são conduzidos por insuflação do Alto.

  2. Outra coisa sucede com amor e vontade dos que transfor- maram seu intelecto em conhecimento puro: ilumina o amor, sua vontade e, deste modo, o homem total. O amor fornece os meios puros, a luz ou o conhecimento os organiza, e a vontade executa. Pelo fato de o homem, como semelhança divina, possuir igualmente tal capacidade — acaso é ele três indivíduos, ou um só?”

  3. Respondem todos: “Agradecemos-Te, Senhor, pela explica- ção clara e compreensiva; pois nem sempre Te expressas desse modo. Agora estamos inteirados da Unidade de Deus, e Tu és Deus Perfei- to, noção que por várias vezes imaginamos.”

231.ANATUREZAINTRÍNSECADEDEUSEM JESUS

  1. (Os discípulos): “Resta mais uma questão para estarmos bem equilibrados, Senhor. Deus é, além de Seus Atributos, Infinito e Onipotente! Como se aplica isto à Tua Pessoa, atualmente limitada ao físico?”

  2. Digo Eu: “Eis outra falta de memória de vossa parte. Não estais lembrados de pergunta idêntica quando seguíamos de Samaria à Galileia? Não provei pelo Sol estar Eu Presente tanto lá quanto na Terra?! Ainda assim Me perguntais a mesma coisa. Fato idêntico vos demonstrei em Cesareia Philippi, em Capernaum quando fiz com que a cova profunda se enchesse de momento; e em Chotinodora, cujo lago era usado para rituais pagãos. Contudo, ainda não com- preendeis o Segredo do Reino de Deus e muito menos o Segre- do Divino?!

  3. Porventura não é Minha Vontade iluminada e inflamada pelo eterno Amor, cuja Luz é a Sabedoria, o Espírito Santo que preenche

o Infinito constantemente?! Através de Meu Eu, portanto pelo Meu Ser e Vida, estou Presente em toda parte, como atualmente aqui estou sem intermediário. Tudo isto Eu demonstrei por diversas vezes — en- tretanto, foi por vós esquecido. Desta vez, presumo, ireis guardá-lo?!

  1. Não ficarei para sempre em vosso meio com toda Minha Na- tureza Intrínseca; todavia, permanecerei entre vós até o fim dos tem- pos desta Terra, isto é, no convívio daqueles que viverem fielmente pelo Verbo!

  2. Minha Natureza Humana será por Mim transformada em Elemento Divino através de grandes sofrimentos e humilhações. Em seguida, ascenderá para Deus dentro de Mim — e para o vosso Deus que ora vos transmite tal Verdade pela Sua Boca.”

  3. Exclamam alguns: “Preferíamos continuares eternamente en- tre nós; pois onde estás, Senhor, existe o mais elevado Céu — e nada mais queremos.”

  4. Digo Eu: “Deste modo não se expressa vosso espírito, mas a carne, onde a alma se acha fortemente enterrada. Pelo motivo de desconhecerdes a vida pura da alma no Meu Reino, desejais viver aqui para sempre; se soubésseis passardes em um momento, no Meu Reino, felicidade indescritivelmente maior que em mil anos num físico sadio nesta Terra — não vos externaríeis de tal modo. Dei-vos, Meus antigos discípulos, algumas noções antecipadas; vossa memó- ria sendo fraca, também o é neste assunto. Não pretendo dar-vos outras provas a respeito; quando vier o Meu Espírito, levar-vos-á à Sabedoria total!”

  5. Manifesta-se Thomaz, o mais descrente: “Senhor, por que vimos o Espírito Santo em forma de pomba luminosa, e qual o mo- tivo de termos ouvido a Voz do Pai pelo Céu aberto?”

  6. Digo Eu: “Já sabia que irias formular a pergunta e não a re- cebo desfavoravelmente, pois fazes parte dos que mui raro se ma- nifestam. A pomba representa, para vossa reduzida compreensão, a grande brandura e a enorme projeção da Minha Vontade, isto é, o Espírito Santo; pois seja onde for que a Minha Vontade queira Se manifestar, Eu estarei Presente em plena ação.

  1. A Voz vinda do Céu foi igualmente projeção de Meu Es- pírito, ou Meu Amor que O preenche, estando tão unido à Minha Vontade quanto a Mim Mesmo. O fato de ela Se fazer ouvir do Alto prova terem lá origem o Bem e a Verdade Divinos, assim como o ho- mem só consegue purificar seu coração à medida que for iluminado e enobrecido por Deus.

  2. Nesta inspiração e incendiado pelo verdadeiro amor, tudo se torna luminoso e cheio de vida na criatura. Eis que o amor se manifestará, dizendo: A Luz dentro de mim é meu filho querido, no qual me alegro; e vós, todos os meus desejos e paixões, deveis prestar-Lhe atenção! Que te parece, Thomaz — não é assim?!”

  3. Responde este: “Senhor, como poderia ser de modo diver- so?! Em Ti Se encontram Amor e Sabedoria mais elevados e facil- mente podes esclarecer todos os assuntos. Não seria aconselhável levar tal ensinamento aos demais crentes?”

  4. Digo Eu: “Já transmiti tais segredos aos que necessitavam sabê-los. Quanto aos demais — como iriam entendê-los se ainda estão longe do entendimento de assuntos terráqueos?! Crianças ne- cessitam de outro alimento que adultos.

  5. De que forma poderias passar um conhecimento mais pro- fundo a quem desconhece o planeta e muito mais o Céu estelar e tudo que comporta?! Fostes orientados a respeito a fim de que pudésseis ter ideia nítida da Grandiosidade e da Sabedoria de Deus, facilitando-vos compreensão de coisas mais elevadas e espirituais.

  6. Os outros já fizeram algumas experiências dentro do mundo e têm base para assimilarem algo maior, onde o seu grande amor para Comigo os capacitou. Deste modo cada qual recebeu o que pôde abar- car; os demais terão que esperar até que o recebam de Meu Espírito.”

232.ANATUREZADOS COMETAS

  1. Manifesta-se Lázaro: “Senhor, ultimamente explicaste mui- tos pontos acerca do Universo. Havia feito uma pergunta a respeito dos cometas tão temidos pelo povo e a resposta não foi dada, certa- mente por motivos mui sábios. Poderias fazê-lo agora?”

  2. Digo Eu: “Com muito prazer. Dentro de Minha Ordem Eterna não existe fruto que amadureça de uma só vez; assim tam- bém não há Sol central e Sol planetário, tampouco planetas que surgissem de pronto, completamente habitados e cobertos de flora. Tudo se dá pouco a pouco, pois Deus não necessita apressar-Se, tendo Eternidades de sobra para tanto — muito embora não fosse impossível Ele projetar tanto sóis quanto planetas, de momento.

  3. Um cometa é um sol em evolução a se formar no Espaço Infinito através da substância luminosa, que se cruza e condensa, começando a passar do elemento inicialmente espiritual ao material, e após eras inconcebíveis se forma um sol; quando ele tiver alcan- çado a plena maturação, surgem planetas idênticos ao nosso, quais pintinhos a saírem dos ovos, no início porém qual massa mui leve e de reduzidos elementos concretos. São expelidos pela força interior do sol para dentro do Espaço; tão logo tiverem alcançado distância suficiente, que corresponda ao seu tamanho e peso, começam a ser novamente atraídos pelo Sol.

  4. Tal atração dura, às vezes, milênios. Neste período, o peque- no sol já se condensou através das substâncias luminosas a circunda- rem-no por todos os lados. Quando o cometa se aproxima do Sol, é visto pelos habitantes terráqueos e de outros mundos, qual estrela munida de cauda luminosa e comprida. Devido à força de repulsão do Sol, consistente em forte irradiação de luz, o cometa não pode ser atraído, mormente sendo seu corpo ainda mui leve e se movi- mentando com a mesma velocidade da luz; assim recebe outro forte impulso, perdendo-se nas profundezas do Espaço, e quando chegar ao limite extremo, começa a ser novamente atraído.

  1. Tendes na Terra pequeno exemplo disto em uma faísca. Quando tiver alcançado a altura não mais influenciável pela expul- são do fogo, torna a cair. Na sua proximidade é novamente repelida com violência. Isto se baseia na Ordem Eterna de Deus e tudo que faz parte da Natureza tem que se submeter a essas leis. Agora sabes o que sejam os cometas e podes passar tal conhecimento a pessoas inteligentes.

  2. Quanto aos cometas a se tornarem sóis, nunca se aproxi- mam de outro sol planetário; flutuam em distâncias inconcebí- veis e serão posteriormente descobertos por instrumentos óticos. Compreendes?”

  3. Responde Lázaro: “Compreendi de modo geral; descubro, entretanto, consideráveis lacunas. Que vem a ser a cauda? E quais os instrumentos óticos? Tais novidades me interessam muito e poderias entrar em pormenores.” Digo Eu: “Como não? Sempre é bom au- mentar seus conhecimentos.”

233.IMPORTÂNCIADO CONHECIMENTO

  1. (O Senhor): “O próprio Moysés foi o mais profundo conhe- cedor de todas as matérias da ciência humana. Não havia no Egi- to mistério que não lhe tivesse sido revelado e os antigos egípcios possuíam tais instrumentos óticos, muito embora não de igual per- feição aos dos mencionados cientistas futuros; deste modo lhes era fácil descobrirem os planetas e calcular seus trâmites, o que prova o zodíaco em Diathira. A ciência pura e absoluta estava em mãos da casta sacerdotal; o povo tinha que se satisfazer com o conhecimento transmitido pelos sacerdotes.

  2. Moysés, considerado príncipe da corte, era iniciado em tudo, sem com isto vacilar na fé de Israel, adquirida pela genitora, ama no palácio. Assim sendo, Moysés alcançou rapidamente o conheci- mento puro de Deus, em virtude de ter seu intelecto usufruído uma educação preparatória pura e equilibrada.

  1. Por tal motivo, afirmo levar o conhecimento puro e bem fun- damentado do orbe — em todas as suas partes, sua movimentação, tamanho exato, além disto a constelação cósmica com todos os fe- nômenos — uma alma pura ao conhecimento verdadeiro e total de Deus, sem o qual impossível se aguardar a verdadeira salvação dos homens. Somente os que conhecem verdadeiramente Deus chegam a Ele e de certo modo já estão com Ele; os que O desconhecem não podem estar com Ele. Chegar-se a Deus quer dizer encontrar-se a criatura com o Pai pelo conhecimento e o amor puros, pois sem a noção real, ninguém poderá amá-Lo em verdade.

  2. De que adianta à tua alma acreditar em Deus existente acima das estrelas, onde de Seu Centro Eterno tudo ouve, vê, cria, conserva e rege e através de Sua Onipotência tudo penetra e Se acha Presente em toda parte — mas de modo algum O conheces e te achas muito mais distante Dele do que presumes?! Com tal noção confusa, estás por certo longe do Pai, não podendo amá-Lo, pois tens apenas um pressentimento indefinido a respeito Dele. Em tal situação psíquica, ninguém pode estar junto de Deus, muito menos cogitar de um amor verdadeiro para com Ele.

  3. Que diria um adolescente apaixonado por uma jovem da vi- zinhança, caso lhe dissessem: Esta jovem não serve para teu caso. Num país longínquo existe uma noiva a quem deves desposar! — Acaso ele não perguntaria o local certo, sem que o soubessem infor- mar?! Como apaixonar-se por ela distante, ou procurá-la nos quatro cantos do mundo? O mesmo sucede com o amor a um Deus intei- ramente desconhecido e distante.

  4. Qual é o resultado? Em virtude de não poderem travar co- nhecimento e muito menos amar um Deus desconhecido e distante, as criaturas inventam deuses mais próximos, dedicando-lhes respei- to, amor e veneração, inclusive toda sorte de oferendas. Ainda assim constroem um templo vazio ao Deus Verdadeiro, no qual só pode penetrar pouca luz. Os romanos ali criaram o deus do destino, que domina todos os demais. É, pois, compreensível a que ponto leva um conhecimento falho de Deus.

  1. Como atualmente Me acho tão perto de vós — como Jehovah por vós imaginado tão distante — com prazer explico aqui- lo que levará, inclusive vossos descendentes, ao conhecimento ver- dadeiro e ao amor mais fiel a Deus. Assim, também responderei às tuas perguntas.

  2. O mencionado cometa não tem cauda quando à grande dis- tância do Sol, e sim somente uma neblina em redor do seu centro. Tão logo se aproxime do Sol, forma-se a cauda em consequência da grande velocidade. Através dela — às vezes tão extraordinária que, na proximidade do Sol, em poucos instantes percorre oitenta, no- venta até cem mil horas de distância — a nuvem etérea muitíssimo leve não pode atravessar o Espaço com a mesma velocidade que o cometa mais pesado, dando-se o mesmo fenômeno ao atirares pelo ar um pedaço de pau em brasa: a fumaça, mais leve que a madeira, representaria a cauda do cometa.

  3. O ar atmosférico não deixa de ser mais condensado que o puro éter, entretanto este influi na enorme velocidade. Pois ele tam- bém se acha dentro de Espaço e Tempo, portanto é algo material, muito embora seus elementos básicos, comparados aos condensados de um planeta, são quase sem peso; assim como o ar terráqueo, em si um corpo importante — do contrário não poderia arrancar do solo as árvores mais pesadas — todavia não tem peso embaixo da água. Compreendereis, portanto, que pelo fato do éter ser material, pode transformar o vapor de um cometa em uma cauda, através da velocidade deste. Compreendestes?”

  4. Respondem todos: “Sim, Senhor, nosso amor único, isto é claro como o Sol! Os assuntos quando explicados desse modo po- dem ser compreendidos até por uma criança. Por certo também nos- so planeta foi cometa?”

  5. Digo Eu: “Como não, conquanto não fosse expelido por este Sol, e sim por um muito maior; mas não faz diferença, pois pelos próprios sóis centrais originais são expelidos tais cometas em evolução, com força tanto maior quando se aproximam dos peque- nos sóis planetários, pelos quais são atraídos, conservados, tratados

como filhos e criados para reais corpos cósmicos. Assim orientados, vamos tratar dos instrumentos óticos; tal explicação será um tanto difícil — veremos o que seja possível.”

234.FINALIDADEDAS INVENÇÕES

  1. (O Senhor): “Os antigos egípcios sabiam produzir uma espé- cie de espelhos pelos quais captavam os raios solares. Todos os raios projetados em determinada superfície, matematicamente calculada, eram condensados num ponto luminoso, do tamanho de uma cabe- ça humana, impossível de ser fitado, e numa distância de cinquen- ta a cem tamanhos de um homem, onde desenvolviam tal grau de calor, perto do qual aço incandescente seria apenas água fresca. Por esse efeito, o objeto atingido pelo ponto acima inflamava-se, confor- me já ouvistes falar, mormente gregos e romanos.

  2. Tal espelho côncavo recebe maior quantidade de raios e os re- flete numa concentração; enquanto um espelho plano o faz à medi- da por ele recebida. Quem se postar na sua frente projeta o tamanho real; diante de um espelho côncavo, apresentar-se-á qual gigante.”

  3. Diz um romano: “Já vi tal espelho em Memphis; era feito de mármore preto e tinha a circunferência igual a dois homens. A superfície em parte era algo fosca; no seu todo produzia bom reflexo e projetava tudo em tamanho colossal.

  4. Em Roma existem pessoas que fabricam vidros em diversos formatos, inclusive os lentiformes, com os quais se pode acender uma esponja que cresce na Illyria, ou palha seca. As vestais também usam acender suas lâmpadas com tal fogo solar. Quando se observa um objeto através de tal lente, seu tamanho é bem aumentado.”

  5. Digo Eu: “Eis o problema do instrumento ótico, representa- do por tal espelho ou vidro, polido com muito capricho. Quando posteriormente os homens souberem fabricar tais vidros, pela insu- flação de Meu Espírito, terão instrumentos com os quais poderão analisar o Céu estelar, descobrindo muita coisa até então desconhe- cida, mormente dos judeus.

  1. Permitirei muitas invenções para suprimir e aniquilar total- mente os falsos profetas a exclamarem: Vede, aqui está o Cristo! — Não lhes deis crédito e fugi deles como se fossem a peste! Tudo que inspirarão e pregarão em escolas e templos será pura mentira, provo- cando a maior desdita entre as criaturas. Grande será o número de seus seguidores, em virtude dos falsos sinais e milagres efetuados à moda dos essênios e magos hindus.

  2. Por isto despertarei, primeiro, a noção da ciência pura e artes diversas, e em seguida o espírito puríssimo das Verdades celestes; en- tão todos os falsos profetas e seus chefes começarão a gemer e chorar, afligindo e condenando ao inferno todos aqueles que lhes virarem as costas. De nada isto lhes adiantará; pois a mentira terá sua eterna ruína pela força da Verdade, assim como o gelo, que representa a dureza de uma pedra, derrete-se à luz do Sol.

  3. Nos confins do Norte do planeta, onde o frio é mui intenso, os skythos constroem habitações de gelo no inverno. Que acontece à chegada do verão, quentíssimo, conquanto de curta duração? Em poucos dias as casas degelam. O mesmo acontecerá em tal época aos grandes palácios dos falsos profetas: nem bem se deem conta, tudo chegará ao fim! Entendestes?”

235.OSFALSOS PROFETAS

  1. Diz Lázaro: “Mas Senhor — não é admissível a deturpação de Tua Doutrina! Será transmitida por nós conforme a recebemos; poderíamos igualmente anotá-la fielmente como testemunho de tudo que vimos e ouvimos.”

  2. Digo Eu: “Os principais adeptos de Moysés falavam como tu quando Eu transmiti as Leis no Monte Sinai. A época da transmis- são durou sete anos e alguns meses e foi mantida em segredo durante trinta e três anos — todavia foi fundido o bezerro de ouro durante os primeiros sete anos. Assim são os homens!

  3. Concordo com a conservação pura de Meu Verbo por muito tempo entre vós e vossos descendentes; de modo geral será

bem diverso! Sempre onde se dá algo de grandioso e excepcional, é prontamente explorado e transformado em fonte de lucro pelas criaturas ociosas e egoístas — e isto é tão verdade como a pró- pria Verdade.

  1. A fim de evitar tais abusos, Eu teria que enviar ao mundo so- mente anjos estranguladores que antecipadamente aniquilassem tais criaturas; tal hipótese não é admissível em virtude do livre arbítrio, tampouco se destruiria, de uma só vez, o joio no trigal, pois preju- dicá-lo-ia, porque aquele representa estrume para o cereal. Assim como se deixa o joio no campo, também se admitem os abusos, sem entretanto desconsiderar o castigo posterior.

  2. Digo-vos o seguinte: todos aqueles que ora recebem a Dou- trina de Mim e posteriormente de vós devem andar precavidos para não caírem em tentação; pois o espírito do mal fareja pelo mundo qual leão esfaimado que procura tragar todas as almas nobres e pu- ras. Por isto tende cuidado com os falsos profetas. Eis tudo que vos posso dizer e fazer a respeito.”

  3. Diz Pedro: “Senhor, caso surgirem em nossos dias, como re- conhecê-los?”

  4. Respondo: “Pelas suas obras. Os espinheiros não produzem figos e as sarças não dão uvas. Na Minha Doutrina, unicamente Eu sou a Porta do redil; quem de outra forma invadi-lo será ladrão e assaltante. Somente Eu sou a justa Porta, o Caminho, a Luz, a Verdade e a Vida. Quem quiser vir a Mim terá que ingressar por Mim no Meu Caminho, em Minha Luz que é a Verdade eterna e imutável em Deus.

  5. Todo justo trabalhador merece o seu prêmio; quem aceita contrato de trabalho em lugar de quem compete fazê-lo, raras vezes faz jus ao ordenado. Trabalhará apenas aparentemente, por causa do dinheiro, e o patrão será mal servido. Assim e ainda piores serão os falsos doutrinadores e profetas. Seu principal móvel — como ora acontece com os fariseus — é o dinheiro; por sua causa ensinarão e profetizarão coisas tolas e falsas: enganarão as criaturas física e espiri- tualmente, açambarcarão os bens de órfãos e viúvas, garantindo-lhes

o Céu, perseguindo finalmente com fogo e espada os que respeita- rem a pura Verdade, e dirão com ênfase: Nós somos os verdadeiros seguidores do Cristo, Filho de Deus! Aviso-vos isto a fim de saber- des, inclusive vossos justos seguidores, qual atitude a ser tomada quando tal suceda e em parte já aconteceu.”

  1. Diz Pedro: “Senhor, como poderia ter acontecido?”

  2. Respondo: “Mui facilmente; quantas vezes doutrinei diante de grande multidão, onde nem sempre havia criaturas que ouviam não para salvação de suas almas, e sim em proveito da algibeira! Alguns fatos foram por elas presenciados, outros lhes foram conta- dos e a maior parte inventavam, juntando mentiras a mentiras; em seguida, encetavam viagens a todas as zonas, faziam-se passar como enviados por mim, ganhando muito dinheiro. Que Me dizeis?”

  3. Dizem Pedro e João: “Senhor, não tens raios e trovões para tais vilipendiadores?”

  4. Digo Eu: “Ora, sois filhos do trovão ou filhos de Deus? O raio destrói onde cai; mas os filhos de Deus têm outras armas, tais como: paciência, meiguice e amor.

  5. Aquelas criaturas julgam ter prestado bons serviços a Deus; tereis oportunidade de privar com elas e muitas se converterão. Caso fôssemos liquidá-las com ajuda de raios, porventura poderiam ser salvas?! Por isto convém não usar de tais recursos.

  6. A Verdade é o melhor raio contra tais doutrinadores e pro- fetas falsos. Ser-vos-á mais fácil secar todos os mares da Terra do que levantar barreiras contra a avalanche da Verdade. Com Minha Ajuda podereis fazer tudo; sem Mim, jamais. Eu sou a Verdade, a Luz e aVida!Entendestes?”

236.ONIPRESENÇADOSENHOR.OSPRIMEIROSSERÃOOS ÚLTIMOS

  1. Diz Philippe: “Senhor, se ficasses sempre conosco, seria fácil tudo fazermos; mas com a expectativa do Teu breve afastamento, duvidamos dos nossos feitos.”

  1. Digo Eu: “Fisicamente vos deixarei, a fim de vos preparar

  1. Responde Philippe: “A Ti Mesmo, porque Te amamos aci- ma de tudo.”

  2. Afirmo: “Também isto vos será concedido inteiramente; pois onde dois ou três estiverem reunidos em Meu Nome, estarei Presen- te, visível ou perceptivelmente em Espírito, o que não deixa de ser Minha Individualidade!

  3. Em tempos futuros, quando as criaturas estiverem mais capa- citadas em ciências e artes, mui raramente estarei visivelmente entre elas; muito mais, porém, em Espírito, entretanto acreditam indu- bitavelmente e vivem de acordo. Vós Me amais porque Me vedes; posteriormente, serei amado sem ser visto. Como não será o seu amor quando Me virem no Meu Reino! Por isto já vos expliquei certa feita: Deste modo, os primeiros serão os últimos e os últimos, os primeiros. É preciso muito mais crer e viver pela fé sem algo ver, do que ver tudo para acreditar. Não sois desta opinião?”

  4. Diz Lázaro: “Com certeza, pois haverá muito maior mérito; compreendo que o de fé mais fraca em Tua Pessoa, entretanto agin- do como ensinas, alcançará mais facilmente o Céu do que nós, de fé positiva. Eu o compreendo muito bem.”

  5. Protesta André: “Eu não. Acaso somos culpados de estar no mundo nesta época? Teremos que suportar muitas atribulações — ainda assim seremos os últimos? Coisa estranha.”

  6. Digo Eu: “Isto só é estranho para quem ainda não entende as Minhas Palavras. Que importância tem se aquelas criaturas são consideradas como vós, as primeiras, e vós, em nada mais que elas, as últimas?! Se porventura estiveres feliz nos Meus Céus, tua bem-a- venturança poderia ser reduzida por ser o último tão feliz quanto tu?

Como és ignorante! Infelizmente existe ciúme na Terra — no Céu nada disto haverá, pois um ciumento lá não poderá ingressar.

  1. No Céu será primeiro e maior quem se julgar menor e mais simples; vossa glória deve consistir no fato de vos tornardes quais criancinhas em vossas almas. O Caminho para o Céu é estreito e co- berto de espinhos. O maior empecilho espinhoso é e será o orgulho e toda sua legião de variedades.

  2. Por isto deve cada um precaver-se da ambição, por ser pai da inveja, do amor-próprio e, no final, encontrando sua saturação, torna-se cheio de orgulho que reside no inferno. Terás compreen- dido isto?”

  3. Responde André: “Sim, Senhor, e agradeço-Te pelo ensina- mento benéfico.” Digo Eu: “Está bem; herdará a Vida Eterna quem viver de acordo.”

237.CÉUE INFERNO

  1. Nisto, aproxima-se o romano e diz: “Senhor e Mestre, estou plenamente convencido conheceres tudo no Universo, desde o Ma- crocosmo ao Microcosmo, e não há quem me possa tirar esta certeza feliz. Todavia já foi abordado por diversas vezes o tema ‘inferno’, e confesso não compreendê-lo. Acaso trata-se de um local tenebroso e obscuro, onde os criminosos são martirizados constantemente, ou são os martírios — a julgar pelo Teu Amor e Bondade infinitos — apenas meios externos para reconduzir os espíritos mais perversos ao conhecimento necessário?”

  2. Respondo: “Caro amigo, podes colher informações precisas com os apóstolos, aos quais tudo demonstrei; todavia, existem ou- tros fatores no Amor e Sabedoria de Deus, incompreensíveis ao teu conhecimento. De mais a mais, o inferno como o Céu não represen- tam locais determinados, pois ambos dependem do estado psíquico das criaturas.

  3. Deste modo, podem estar bem juntinhos um anjo perfeito ao lado do pior diabo, entretanto estão espiritualmente distantes um

do outro e o primeiro se encontra no Céu, sem prejuízo por parte do demônio, e este, no inferno, sem noção da presença do anjo. Não te será fácil compreendê-lo, por serem as condições espirituais outras das circunstâncias do mundo material.

  1. Para um observador atento, existem situações de correspon- dência idênticas às do Além. Podes, por exemplo, estar fisicamente perto do teu maior inimigo, incansável em querer te prejudicar — todavia, estás longe dele em espírito. Não tolera ver tua posição rele- vante por desejar ocupá-la ele mesmo; inteligente que é, sabe ocultar sua intenção, de sorte a nem imaginares tal coisa. Quando dele te aproximas, és recebido com muita solicitude e atenção; na realidade, sente vontade de aniquilar-te, não fossem as malhas da lei. Conjec- tura, porém o seguinte: Encontras-te no alto e eu em posição oposta! Terás que me ajudar na subida e isto conseguido, saberei como ati- rar-te ao abismo. — Eis um demônio perfeito, enterrado no inferno de corpo e alma, enquanto te achas no Céu como homem honesto e bondoso.

  2. Quando vos encontrais no mesmo local, Céu e inferno se acham fisicamente juntos; ele, porém, não te poderá prejudicar, por estabelecer a lei uma barreira intransponível. Quão diverso e distan- te é vosso estado moral! Tal é o quadro de Céu e inferno, distante um do outro.

  3. Dar-te-ei um exemplo da maneira como é constituído o in- ferno. Imagina dois soberanos vizinhos, orgulhosos e dominadores. Externamente são amigos. Quando se visitam, desdobram-se em amabilidades e se beijam e abraçam. No íntimo, cada qual pensa: Ah, se pudesse pisar-te qual verme!, e espera uma oportunidade propícia para aniquilar seu vizinho odiento. Em suma, não demo- ra em se desafiarem e o mais forte vence o antagonista, ao qual só resta fugir.

  4. Tão logo se tiver posto a salvo, ele procura outro rei, mais poderoso, trai o ex-amigo e se oferece para encabeçar um ataque contra o outro. Rápido, os dois criam um exército e, antes que o vencedor se dê conta, é atacado e destituído de suas terras. Se lhe for

possível a fuga, facilmente encontrará um quarto soberano disposto a guerrear o terceiro. Então parece vir a calma. Os vencidos, toda- via, não descansam em conjecturas e tentativas para se vingarem da pior maneira. Vê, assim é uma alma infernal constantemente impe- lida pelo verme do mal, que não morre! Este exemplo se aplica ao inferno todo. Como pretendes efetuar uma melhora nessas almas tenebrosas?”

238.ASLUTASNO INFERNO

  1. Diz o romano: “Tal sendo o aspecto do inferno, Senhor, não se pode cogitar de um fim dos recíprocos ataques, e tais espíritos por certo não conseguirão se tornar verdadeiros habitantes do Céu.”

  2. Digo Eu: “Naturalmente, caso fossem deixados por eternida- des em tal situação; em vez de melhorarem, piorariam cada vez mais. Calcula inúmeros espíritos desse teor, compenetrados somente de egoísmo e orgulho ilimitado, que além disto são inteiramente livres no Além: não há lei que os ate e cada qual pode fazer o que quiser. Tamanha anarquia não teve exemplo na Terra!

  3. Cada um quer ser chefe; juntam-se apenas aqueles cuja mal- dade é idêntica, contra os de perversidades diferentes; e sucedem-se discussões, conflitos, guerras e mutilações recíprocas da pior espé- cie. Tão logo os aleijões se tenham refeito, enchem-se de vingança e tentam passar por feiticeiros e artistas através de apresentações mís- ticas. Se conseguirem grande número de prosélitos — ai dos que os mutilaram!

  4. Assim existem enormes agrupamentos para cada espécie de maldade e erro, em aparente e temporária harmonia. Quando tive- rem assaltado qualquer grupo e feito sua presa, cada um quer ser chefe com direito à maior partilha. Dá-se assim a contenda entre os vencedores. Primeiro, procuram solução pelo sorteio; em seguida, o felizardo é submetido a várias provas infernais para ver se tem cora- gem de enfrentá-las, com grandes promessas, inclusive de coroação para rei e deus de todas as comunidades. Caso não queira se subme-

ter, recebe a parte menor, fato que desperta a sua raiva; aceitando as provas, é ele terrivelmente supliciado e tem que suportar as piores dores e toda sorte de impropérios.

  1. Entra, então, em jogo o ditado romano: AutCaesar,autnihil!1Aceita o desafio e no fim se torna rei aparente. Tal deferência não dura muito. Em breve surgem revoltas e o chefe martirizado é depos- to e seu lugar é ocupado por ditador, criando novas constituições, fase em que todos tratam de encher as algibeiras. Não se conformam com isto os prejudicados nos negócios, surgindo outra conspiração da pior espécie. Assim, jamais poderá se estabelecer ordem.

  2. De tempos em tempos, são enviados alguns doutrinadores a tais agrupamentos dilacerados; não passam melhor que os anjos em Sodoma e Gomorra, pois os maus espíritos querem usá-los para o aniquilamento dos inimigos. Por aí vês a situação de melhoria para tais elementos.”

239.ASEGUNDACRIAÇÃODE DEUS

  1. (O Senhor): “Todos os espíritos do inferno são entendidos na simulação: externamente, apresentam-se às vezes como anjos, enquanto seu íntimo é semelhante ao de animais ferozes. Sua arte simuladora é tão perfeita que poderia seduzir os próprios anjos; por isto, vim ao planeta para pôr uma barreira eterna e invencível ao inferno.

  2. Eu, como Deus de Eternidades, poderia aniquilar o inferno com a Minha Vontade; mas com isto destruiria a Criação total. E depois? Deveria iniciar outra? Pois não; todavia, não é admissível conceber uma nova Criação de mundos materiais, numa ordem di- versa que a natural; pois a matéria é o médium fixado dentro do julgamento indispensável, pelo qual um ser destinado a se tornar a Mim idêntico em tudo, inteiramente isolado de Mim, tem de passar a prova do livre arbítrio, a fim de alcançar a verdadeira emancipação.

  1. Ou César, ou nada!

    1. É, portanto, melhor deixar tudo conforme está, porém numa ordem segura! Esta só pode ser realizada por Mim, através de Minha Humanização, traspassando toda matéria e capacitando seu conteú- do espiritual, remoto e condensado, à bem-aventurança.

    2. Eis a segunda Criação, prevista por Mim desde Eternidades, sem a qual nenhuma criatura deste ou de outros mundos poderia se tornar completamente feliz; pois antes de Minha Descida dos Céus, fui Deus Invisível, conforme consta em Moysés, ninguém poder ver Deus e continuar vivo. A partir de agora sou Deus Visível para to- dos, e quem Me vir vive e viverá eternamente.

    3. A salvação consiste primeiro na Minha Doutrina; segundo, na Minha Encarnação, pela qual o poder preponderante do antigo inferno é quebrado e vencido. Isto já foi apontado pelo profeta Isaías quando diz no capítulo 63, versículo 1–9: Quem é Este, vindo de Edom, com vestido tinto de Bozra, honrado em sua veste e mar- chando na grandiosidade de Seu Poder? Eu, que falo com Justiça, Poderoso para salvar!

    4. Por que estás vermelho em Tua veste; e esta, como quem pisa o lagar? — O lagar foi pisado por Mim somente, e não havia ho- mem do povo Comigo! Por isto pisei aquele (o inferno) na Minha Ira (Justiça) e os triturei no Meu Furor (a máxima Ordem da Sabe- doria Divina). Eis por que a vitória se espargiu sobre Minha veste (da Doutrina e da Verdade da Fé); pois o dia da vingança é Meu no Coração, e é chegado o ano dos salvos; descendo à Terra, realizei a vitória (sobre o inferno). Meu povo são aqueles filhos seduzidos pelo inferno; por isto sou o Salvador, salvando-os em virtude de Meu Amor e Mansidão.

    5. No capítulo 59, versículo 16, consta: E vendo não haver al- guém (nem amor nem verdade), admirou-se de não encontrar re- presentante; por isto Seu Braço (a Humanização do Senhor) trouxe a salvação e a Justiça o susteve (a Ordem Divina no Senhor). Vestiu a Justiça qual couraça e pôs o elmo da salvação na Cabeça; vestiu a túnica da vingança (a Verdade), e Se cobriu de zelo, como se fora um manto. Assim veio o Salvador de Zion!

    1. Em Jeremias lê-se no capítulo 46: Estão deprimidos; pois seus heróis (do inferno) estão dizimados. Fugiram e não olharam para trás. Tal dia, em Honra e Louvor ao Senhor Jehovah, Zebaoth, será um dia de vingança para Se vingar nos inimigos e Sua espada se fartar.

    2. E no salmo 45, versículos 4–8: Cinge a tua espada à coxa, Poderoso! (do Ser Humano do Senhor). Tuas flechas são agudas (a Verdade). Os povos do inferno sucumbirão, que no íntimo são ad- versários do Rei (do Bem e da Verdade). Teu Trono (a Igreja do Senhor) é para o futuro e a Eternidade! Amaste a Justiça, por isto Deus Te ungiu.

    3. Existem muitas passagens idênticas, onde é explanado ter Eu vindo à Terra em Carne, principalmente para levantar uma bar- reira eterna aos abusos do inferno!”

240.RELAÇÃOENTREOINFERNOEO MUNDO

  1. (O Senhor): “Nenhum de vós deve pensar ter sido o inferno criação Minha, tampouco ser ele local destinado ao eterno castigo dos malfeitores desta Terra. Formou-se por si mesmo do grande nú- mero de almas que durante a vida ultrajaram qualquer Revelação Divina, negavam a Deus e faziam apenas aquilo que agradasse aos sentidos; no final, determinavam veneração de suas pessoas, pois seus palacianos tinham ordem de convencer o povo serem os regen- tes divinos e mereciam veneração, conforme exigiu Nabucodonosor em Babylon. Quem se negasse a adorar tal ídolo era cruelmente supliciado.

  2. Por aí podeis deduzir qual o poder do inferno sobre o orbe e estar em tempo de Eu Mesmo descer à matéria, a fim de ultrapassar o julgamento necessário com todo o Meu Poder, e levantar assim uma barreira intransponível ao inferno.

  3. Eu, o Santíssimo, tive que Me vestir com a fraqueza humana e ímpia para Me poder aproximar, qual Herói, do inferno, a fim de vencê-lo. Estou em seu meio e todos os demônios e diabos fogem

de Mim, qual palha seca é levada de roldão pela ventania. Com este exemplo demonstrei o que é o inferno, qual sua atitude e como se dá a salvação. Tereis compreendido tudo?”

  1. Diz Agrícola, admirado: “Senhor, jamais ouvi descrição idên- tica do inferno! Os romanos supunham-no debaixo do solo, mor- mente em zonas vulcânicas, a projetarem constantemente fumaça e às vezes cuspindo enormes lavas destruidoras. Agora o aspecto é outro: todo planeta, inclusive a Humanidade, perfazem o inferno, segundo Tua descrição.”

  2. Digo Eu: “Sim, Meu amigo, o mundo e o inferno estão de tal modo unidos como corpo e alma. A alma total do inferno se serve do mundo externo do mesmo modo que a psique age com o físico. Se ela é semelhante a um anjo pelo amor a Deus e ao próximo, o corpo somente fará o Bem, porque a alma que o vivifica nada de mal pode e quer; sendo, todavia, um demônio, o físico também o é.

  3. Vim a este mundo a fim de expulsar dele as incontáveis legiões de demônios. No exemplo de ontem aplicado à moça de- monstrei o que faço em grande escala. Sanearei a casa dos antigos demônios; se as criaturas não se modificarem, projetarão em breve um novo inferno com seus habitantes que entrarão na casa limpa, criando um estado pior que antes de Mim.

  4. Assim como em outros tempos, cada alma terá que passar agora e no futuro por uma encarnação, a título de prova do livre ar- bítrio e experiência, impossível de ser realizada sem a tentação para o Bem e o mal. Acontece terem os homens Minha ajuda, podendo vencer sempre o inferno que tenta se alastrar em seu íntimo, e assim se dá a Salvação. Os que não agirem de tal modo tornar-se-ão servos, piores do que foram os antigos até esta data.”

  5. Propõe Agrícola: “Seria melhor, Senhor, exterminar-se tais almas após a morte física!”

  6. Digo Eu: “Meu amigo, tal não é possível; todas as almas, boas ou más, surgiram por Mim. Eu não podendo jamais destruir algo, cada alma, por pior que for, viverá dentro de sua inclinação. Podes assimilá-lo?”

  1. Respondem todos: “Senhor e Mestre! Este ponto está explíci- to; contudo, sentimos uma sensação de tristeza na alma, por dois mo- tivos. Primeiro, pelo fato de vivermos de corpo e alma no completo inferno. Segundo, a certeza de que nesta Terra só aparecerão espíritos infernais. Porventura não há solução, inclusive de Tua Parte, Senhor?”

241.LÁZAROPRETENDESOCORREROS PECADORES

  1. Interrompem alguns fariseus e escribas não mui satisfeitos com a explicação do inferno: “Ora, isto não nos preocupa e deixamo-lo en- tregue à Sua Bondade e Sabedoria; pois se aceitou pecadores e publi- canos que de modo algum podem ser considerados espíritos celestes, também achará solução para os demônios! Revelou-nos o que necessi- távamos saber; o resto não é de nossa alçada. Se um diabo é ignorante e mau porque assim quer — que continue como tal para sempre!”

  2. Diz Lázaro: “Sim, vossa opinião está certa! Entretanto, afirmo expressardes simples raciocínio mundano. Se vejo um desesperado querer suicidar-se ou uma criatura inexperiente colher frutos veneno- sos, é meu dever impedi-la disto e esclarecer as consequências prejudi- ciais. Assim, não me pode ser indiferente o perigo de um semelhante e acho mui natural a nobre compreensão desses homens. Do Senhor só podemos esperar que nos esclareça também este ponto.”

  3. Digo Eu: “Meu caro irmão, teu critério é certo. Deixa que todos os fariseus e escribas resmunguem; somente Eu sou o Senhor! Faço o que quero e ninguém pode Me chamar à responsabilidade. Dar-vos-ei alguns exemplos da Misericórdia Verdadeira de Deus, a fim de formardes vosso critério.”

242.TRÊSPARÁBOLASQUANTOÀMISERICÓRDIADEDEUS.OSEGREDODO AMOR

  1. (O Senhor): “Onde estaria o homem, dono de cem carnei- ros, que ao sentir falta de um, não deixasse os noventa e nove no deserto e o procurasse até encontrá-lo, para em seguida carregá-lo no

ombro, cheio de alegria?! E quando chegasse a casa, convidaria todos os vizinhos, dizendo: Alegrai-vos comigo! Encontrei o meu carneiro, por isto dou uma ceia!

  1. De igual modo haverá maior alegria com a regeneração de um pecador do que com noventa e nove justos, jamais necessitando de penitência.

  2. Qual seria a criatura que ao perder uma moeda não acendesse uma lamparina e varresse a casa toda, até encontrá-la?! Não convi- daria amigos e vizinhos, dizendo: Regozijai-vos comigo, pois achei a moeda perdida?!

  3. Digo-vos: no Céu também haverá júbilo entre os anjos de Deus com um pecador transviado, mas que, devido à penitência verdadeira e rigorosa, dirigiu-se novamente ao Pai!

  4. Ouvi mais uma comparação de grande valor: Houve um ri- caço, conceituado, pai de dois filhos. O mais jovem a ele se dirigiu e disse: ‘Dá-me a parte que me cabe ou o valor correspondente à minha herança; quero tentar minha sorte no estrangeiro.’ O pai fez a partilha e o moço viajou por mar e terra. Quando aportou numa bela cidade, muito do seu agrado, gastou toda a sua fortuna por meio de prazeres. Naquele tempo o país enfrentava fase de enorme carestia e o moço começou a passar necessidades. Procurou empre- gar-se, e um cidadão mandou que cuidasse das pocilgas de sua pro- priedade. Passados alguns dias, a fome foi aumentando cruelmente e ele quis saciá-la com o bagaço destinado aos porcos — ninguém o permitiu.

  5. Conseguindo alimentar-se apenas com raízes e capim, caiu em si, pensando: Quantos lavradores são alimentados pelo meu pai, e eu morro de fome! Voltarei a casa e lhe direi: Pai, pequei no Céu e diante de ti! Não mereço ser chamado de filho; faze de mim um dos mais simples operários.

  6. E assim fez; quando o pai o viu chegando, de longe, seu co- ração condoeu-se. Correu ao encontro dele, de braços abertos e o beijou. E o filho exclamou: Pai, errei no Céu e perante ti e não te- nho mérito para me chamar de teu filho! — O pai, porém, disse aos

empregados: Trazei-lhe a melhor roupa; dai-lhe um anel e calçai-lhe sapatos! Aprontai uma vitela cevada e vamos comer e nos alegrar! Este meu filho morto, ressuscitou; estava perdido e foi encontrado! Vamos cantar!

  1. O filho mais velho estava no campo. Ao ouvir aquela expan- são de alegria, perguntou a um campônio qual o motivo, e o homem respondeu: ‘Teu pai mandou matar uma vitela em comemoração à volta do filho perdido.’ Com raiva, o irmão negou-se a entrar; o pai pessoalmente o convidou para tanto; ele, porém, respondeu: ‘Eu tantos anos te sirvo e nunca desconsiderei uma ordem tua; todavia, não me ofereceste um simples bode para convidar os meus amigos! Com a chegada de meu irmão que esbanjou a fortuna com mulhe- res — mandaste organizar uma festa!’ Disse o genitor: ‘Meu filho, sempre estiveste em minha companhia, e tudo que tenho é teu. Por isto, deves estar satisfeito; pois teu irmão estava morto e ressuscitou, estava perdido e foi encontrado!’ A tais palavras, o mais velho entrou na sala, satisfeito e alegre com a regeneração do outro.

  2. Esses quadros demonstram o que precisam aqueles cujo amor é idêntico ao Pai Celeste; e os que se movimentam apenas pelo intelecto não sentem a grande necessidade do Amor Paternal.

  3. David, o homem criado pelo Amor de Deus, também tinha dois filhos. Muito embora Absalon o perseguisse e o pai o enfrentas- se com toda energia para dominá-lo — qual seria o prêmio recebido de David a quem lhe trouxesse vivo o filho amado?! Salomon era a própria sabedoria e rodeava o pai; o amor e a inclinação deste esta- vam com Absalon.

  4. Meus queridos, este quadro diz tudo! Que imensa alegria inundará o coração de David quando algum dia seu filho Absalon, perdido, a ele voltar cheio de vida!

  5. Meus amados, no amor se oculta muito mais do que a sabe- doria possa penetrar; eis por que o Pai, como Eterno Amor, é Maior que o Filho, que qual Luz ora Se acha diante de vós! Por isto digo: muita coisa se torna impossível às criaturas mais cultas, entretanto tudo é realizável para Deus por Seu Amor! Acreditais-Me nisto?!”

  1. Responde Lázaro, cheio de alegria: “Senhor, agradecemos-Te do fundo do coração por tal ensinamento; quem não estiver comple- tamente cego na alma deve perceber a que Te referiste!” Quase todos concordam em ter compreendido o assunto.

243.EFEITOSDAFALSACOMPREENSÃODO ALÉM

  1. Somente os fariseus não estão de acordo e o escriba diz: “Tal explicação enche de esperanças, entretanto não se coaduna com a ideia da eterna recompensa. Se o homem bom é premiado no Além pelas boas ações e a paciência durante sofrimentos e dores, o maldo- so que vive no conforto permanente também merece castigo eterno.

  2. Se as criaturas soubessem haver salvação do próprio inferno, o número de perversos aumentaria. Por enquanto, o medo dos casti- gos eternos os retêm de ações más, e a esperança da eterna felicidade os induz ao Bem. Suponhamos alimentarem os condenados ao in- ferno expectativa de bem-aventurança futura — e os bons, pouco a pouco seguirão o caminho dos outros. Eis meu parecer.”

  3. Digo Eu: “Se acreditas serem Céu ou inferno motivo de im- pedir os homens do mal e levá-los ao Bem, tua crença está comple- tamente errada; o perverso ri-se do teu inferno e Céu, e o bom o é sem eles. Céu e inferno conforme os imaginas se prestam à perversão de qualquer um.

  4. Quem fizer o Bem em virtude do prêmio empresta seu ca- pital a juros elevados e não tem amor ao próximo, muito menos a Deus. Pois quem não ama ao semelhante, a quem vê, como poderia amar a Deus, Invisível?!

  5. Excluamos Céu e inferno e vejamos como se apresentam as pessoas por ti consideradas beatas. Começarão a esbravejar piores que um agiota, cujo credor fugiu com o empréstimo; não necessi- tando temer castigos infernais, tais homens só poderão ser domina- dos por leis sancionadas.

  6. Desde princípio os pais erraram quando pintaram o inferno com todos os atributos demoníacos, e o Céu com todos os coloridos

da Luz e os maiores prazeres dos sentidos. Conseguiram despertar certo temor a Deus, que em virtude do fácil ingresso no inferno e da conquista difícil do Céu, jamais se transformou num verdadeiro amor a Deus e ao próximo; em criaturas de almas fracas, desvirtuou-

-se num terror cada vez pior, e nas mais fortes, de noção adiantada, personificava-se na plena indiferença contra a Divindade e o seu semelhante. Os últimos em nada acreditavam, todavia imitavam os outros, a fim de manterem o povo preso à crença, impedindo de se revoltar contra os sacerdotes que, deste modo, preparavam um Céu especial pela fé perdida em Deus, Céu e inferno.

  1. A consequência disto é o presente ateísmo quase total entre os homens, que se teriam rebelado contra os responsáveis, pergun- tando-lhes por que são obrigados à obediência e submissão, não fos- sem as Leis de Roma.

  2. Eis o efeito do sentimento de justiça das almas que, iguais a ti, divulgam com palavras severas indenizar Deus os bons, no Céu, mas também punir os maus com martírios indizíveis, em virtude de Sua Justiça Implacável!

  3. Tolos! Acaso existe um pai, dotado de uma fagulha de amor, que atirasse o filho num cárcere perpétuo fazendo-o castigar diaria- mente, só porque incorreu em erro?! Isto sendo impossível a um pai terreno que no fundo é mau — quanto menos o faria o Pai Celeste, que é Puro Amor e Bondade personificados?!

  4. Suponhamos um homem compreensivo e inteligente: por- ventura poderia aprovar eterno castigo de um pecador ou colaborar em sua aplicação? Certo que não; Deus, Sábio, muito menos!

  5. Afirmo-vos: no futuro, não devem existir nem punições temporárias entre Meus verdadeiros seguidores, muito embora cons- te: Vida por vida, olho por olho e dente por dente! — Se alguém te aplicar uma bofetada, não deves retribuí-la; vira-lhe a outra face para que repita sua ação e assim possa haver paz e união entre vós. E se alguém te furar um olho, não reajas, mas perdoa que terás, como sofredor, ganho o seu coração. Jamais pagueis o mal com o mal e

assim tereis paz no mundo, demonstrando serdes em verdade Meus discípulos!”

244.CONDENAÇÃOE CASTIGO

  1. Diz então o escriba: “Senhor e Mestre, percebo seres Tu so- mente Bom e Sábio e agirmos bem em seguir Teus Conselhos. Ape- nas não me conformo com a abolição da pena de morte, pois se o assassino não pagar seu crime com a própria vida, ninguém anda- rá seguro!”

  2. Digo Eu: “Tal é tua opinião. A Minha é diversa. Um tigre gera outro, assim sucede com o leão, a pantera etc. Se um homem animalizado abate seu semelhante, este teria direito de fazer o mes- mo; enquanto um terceiro, jamais ofendido pelo criminoso, não tem justificativa de vingar a morte. Podendo tornar-se perigoso à sociedade, deve ser encarcerado para receber educação apropriada que modifique sua índole. Isto conseguido, tereis transformado um demônio em homem, podendo aguardar maior prêmio do que pela pena de morte. Eis o que de melhor se pode fazer a um assassino.

  3. Num outro caso, ele sendo demônio afamado, deve igual- mente ser preso e, em seguida, inquirido pelo motivo de sua ação cruel e se porventura não está arrependido. Se confessar a verdade, agi conforme indiquei acima. Negando seu crime, conquanto te- nhais provas do mesmo, impedi-lhe outras tentativas prejudiciais à sociedade, mas não pela morte, e sim através de uma prisão mais se- vera, ou cegando-lhe a vista, ou pelo banimento à zona onde jamais poderia voltar.

  4. Eis o Meu Conselho para os Meus verdadeiros discípulos. Podeis melhorar e sanear a comunidade dos malfeitores; nunca, po- rém, condená-los. Quem não condenar não será por Mim julgado. Se fordes amaldiçoar e condenar os que vos prejudicarem, tereis que aguardar o mesmo de Mim; caminhando dentro da Doutrina, não sereis julgados nem amaldiçoados.

  1. Nem deveis classificar vosso irmão de ‘velhaco’; pois assim fa- zendo, vos tornais culpados de um julgamento pelo juízo temerário. Muito menos deveis dizer a um desvairado ser ele louco; pois sendo mais inteligentes, o sois pela Graça Divina. Orgulhando-vos com isto e vos envergonhando do mentecapto, não lhe querendo dirigir palavra — tal atitude deriva da semente infernal, tornando-vos réus do fogo do inferno. Não é justo incendiar-se uma fagulha infernal em Meus discípulos, através de zelo tão errado; pois de uma simples fagulha pode surgir um incêndio.

  2. No inferno arde com a maior violência o fogo do orgulho; no Céu ilumina somente a Luz da maior humildade e modéstia. O suave fogo do Amor aquece e vivifica tudo. Compreendes?”

245.OGRANDEHOMEM CÓSMICO

  1. Diz o escriba: “Sim, Senhor e Mestre, tudo me é claro; en- tretanto, todos nós nada conseguiremos contra o poder dos poten- tados. Não modificarão o código penal, continuando a proferir sen- tenças de morte.”

  2. Digo Eu: “Sei tanto quanto vós da situação dos regentes. Não Me dirigi a eles, e sim a vós. Ainda assim tereis oportunidade para lhes transmitir Minha Vontade. Aceitando-a, serão beneficiados; os que não o fizerem, prosseguindo nas condenações, receberão a paga de onde tiraram o julgamento. Não o tendo recebido por Mim, só poderão tê-lo extraído do inferno.”

  3. Opõe o escriba intelectual: “Senhor, ao ouvirem e entenderem a parábola do ‘filho perdido’, pouca importância darão ao inferno.”

  4. Digo Eu: “Preocupa-te de outros assuntos. A época na qual foi dada ao ‘filho perdido’ a esperança de libertação não é tão curta como imaginas. Demonstrar-te-ei a duração dos mundos cósmicos.

  5. A Terra é um planeta de considerável proporção, e o Sol é um milhão de vezes maior que ela. O próximo Sol central é um milhão de vezes maior que o nosso Sol e contém maior volume que bilhões de sóis planetários, inclusive todos os seus planetas, luas e cometas,

a se movimentarem em órbitas inimagináveis numa grande veloci- dade. Entretanto, mormente os mais distantes, necessitam de um milhão de anos terráqueos para percorrerem seus trâmites.

  1. Existe, porém, uma segunda espécie de sóis centrais, em cujo redor giram, em órbitas mais dilatadas, verdadeiros territórios solares com seus sóis centrais, dos quais as zonas mais afastadas necessitam de um eão de anos terráqueos para fazer o percurso em volta deste segundo Sol central. Tal enorme Sol, em cujo redor giram territórios solares com suas respectivas zonas, denominaremos — incluindo seus milhões de territórios — de enxames globulares.

  2. Imaginai igual número de enxames. Possui, numa profunde- za inconcebível ao intelecto, um Sol Central comum, dez bilhões de vezes maior que os ditos enxames a girarem em seu redor.

  3. Tal agrupamento de enxames solares com seu Sol central cognominaremos de super-enxame. São incontáveis e todos têm, numa profundeza infinita, um colosso de Sol central primário, ao redor do qual giram, sem alteração de seus movimentos individu- ais, como se fossem um corpo, numa órbita somente calculável aos anjos. Tal sistema cósmico em redor de um Sol central primário chamaremos, a fim de estabelecer uma ideia, de globo solar, porque todos os super-enxames, girando em todas as direções numa velo- cidade semelhante ao pensamento em consequência de sua violenta rotação, formam no Espaço Infinito uma espécie de membrana, cuja consistência é idêntica à atmosfera telúrica e cujo diâmetro, compa- rado à distância da Terra, ultrapassa milhões de eões.”

  4. Exclamam o escriba, Agrícola e Lázaro: “Senhor, sentimo-

-nos atordoados diante da Grandiosidade fenomenal de Tua Cria- ção! Acaso um anjo poderia supervisioná-la e compreendê-la em sua totalidade?”

  1. Respondo: “Claro, do contrário não seria anjo. Controlai, porém, o aturdimento, porque as explicações se desdobrarão. De- monstrei apenas um ponto da Grandiosidade da Criação.

  2. Paramos na membrana colossal, como invólucro total de todos os enxames. Já expliquei a maneira pela qual se forma. Mas

por que ela se cria? Vede, toda unidade, do elemento maior ao mais ínfimo, possui membrana como coberta e proteção de seu artístico interior. Além disto tem a finalidade importante de expelir as impu- rezas e assimilar a essência do mecanismo interno de um corpo vivo, para seu fortalecimento. Daí podereis deduzir por que denomino de membrana globular todo compêndio de corpos cósmicos; não indagueis as dimensões de tal membrana globular. O homem desta Terra dificilmente poderia calcular um número pelo qual pudesse determinar a distância do orbe ao Sol, que conta 44.000.000 de ho- ras; pois eões vezes eões de tais distâncias não seriam suficientes para calcular apenas um território solar, que numa membrana globular atinge a um número infinito. Ainda assim, tereis uma ideia de seu tamanho quase infinito, e nesta base poderemos prosseguir.

  1. Tal enxame globular é apenas um ponto no grande Espaço do Universo. Como imaginar e compreendê-lo ser-vos-á demons- trado. Imaginai tal enxame globular envolto num Espaço colossal, inteiramente vazio, de sorte que a visão mais aguçada dele nada mais visse do que um pontinho minúsculo de luz fraquíssima, e ao lado oposto outro pontinho, correspondente a semelhante enxame glo- bular. Esta seria a medida do espaço entre dois enxames idênticos; entretanto, se reduzem pela enorme distância a um pontinho quase imperceptível.

  2. Que direis Eu vos afirmando existirem, no imensurável Uni- verso, um sem número deles, que na sua totalidade representa um homem perfeito? Qual será seu tamanho, sabendo-se da expansão de um enxame globular e a distância infinita entre um e outro enxame?!

  3. Este homem cósmico é igualmente envolto numa espécie de membrana, naturalmente muito mais consistente — para falar compreensivelmente; entretanto, tem de modo geral a mesma finali- dade, inatingível à vossa razão. Podeis, pois, imaginar o que há além do homem cósmico, em que se firma e o que faz.

  4. Ao redor dele prossegue o Espaço em todas as direções, per- corrido por ele num círculo infinito e impelido por Mim numa ve- locidade incompreensível, em virtude da matéria alimentícia contida

no Mar etéreo, onde navega qual peixe. Não havendo no Espaço In- finito ‘em cima’ nem ‘embaixo’, e nem um ser podendo sair para um ou outro lado, o grande Homem Cósmico está tão firme no Espaço como a Terra, o Sol e todos os inúmeros sóis de um enxame. A fina- lidade dele consiste em amadurecer todos os Pensamentos e Ideias de Deus nele contidos, para seu destino futuro, livre e independente.”

246.LIBERTAÇÃODOHOMEM CÓSMICO

  1. (O Senhor): “Assim como vós, ainda inúmeros outros dele surgirão, até que toda matéria julgada e presa tenha ingressado na vida espiritual; enquanto o Homem Cósmico não for dissolvido em espírito, julgamento e inferno perdurarão. Deste modo, nenhum de vós se deve preocupar com sofrimento e suplício criados pelos próprios espíritos infernais.

  2. O percurso deste Sol em redor de seu Sol central dura apro- ximadamente 28.000 anos terráqueos, ou seja, um ano solar. Antes do surgimento desta Terra, o Sol havia percorrido tal trajetória por inúmeras vezes; igualmente com o orbe, o fez tão repetidas vezes, a ponto de se vos tornar impossível estabelecer o número de tais anos solares, muito menos o cálculo que levará sua total dissolução, a co- meçar pelo início. Afirmo-vos: eões de eras solares nada representam comparadas a tal número.

  3. Que vem a ser a idade de um Sol planetário comparada à de um Sol central de um território solar, que existia infinitamente antes do primeiro iluminar seus satélites?! Que representa tal época contra um Sol central de um super-Sol, esta comparada a de um super-super-Sol central? E quase nada a época deste ao lado de um Sol primário num enxame globular, que no fundo é tetravô de todos os sóis e mundos num enxame?!

  4. Onde estaria o matemático capaz de determinar a idade de tal Sol primário e quanto tempo durará sua existência? Quantos sóis centrais e territórios solares dele surgiram e já foram inteiramente dissolvidos para darem lugar a novos?!

  1. Tal Sol central primário, quando todos os demais dentro dele tiverem alcançado sua dissolução, passará pela mesma fase, entretan- to ainda não ter-se-á dado o mesmo com o Homem Cósmico total; assim como a desintegração de uma criatura é paulatina — o mesmo sucede com ele.

  2. Por que o físico de um homem idoso se torna cada vez mais fraco? Porque certas fibras e nervos morrem e ficam inativos, pro- vocando fraquezas e o envelhecimento. Ainda assim pode ele viver muitos anos sem perder algo de sua força espiritual, mormente se tiver vivido de acordo com a Vontade de Deus. O mesmo acontece com o Homem Cósmico. Se bem que se dissolvam eões de enxames globulares, poderá ele subsistir por tempos incontáveis para vós; pois os enxames globulares correspondem às vossas fibras e nervos.

  3. Tal Homem Cósmico é de modo geral o ‘filho perdido’, atu- almente a caminho de volta; e o Pai que vai ao seu encontro sou Eu, como Homem entre vós, acolhendo-o em Minha Casa Paternal, em cada criatura que vive pelo Meu Verbo.

  4. Feliz do pecador penitente e arrependido que volta a Mim! Ninguém deve julgar que o retorno total se dê num espaço mui curto e ser reduzido o sofrimento dos habitantes do inferno, em virtude dos crimes e a desordem por eles praticados. Os mais tei- mosos sofrerão em dobro e os mais acessíveis, menos tempo. Terás compreendido isto?”

247.JESUS,SALVADORDOHOMEMCÓSMICO.GRANDEZA ESPIRITUAL DO HOMEM

  1. Responde o fariseu, perplexo: “Santo, Senhor, Deus Eterno e Onipotente! Segundo Tua Explicação há mui pouca esperança de felicidade para os condenados ao inferno; pois períodos tão exten- sos, sem número e limites, são tanto quanto a própria Eternidade! Senhor, por que és tão Grandioso, Poderoso e Sábio — e nós, tão tolos e fracos? O que menos compreendo é Tua Descida num corpo limitado, muito embora pleno de Deus!”

  1. Digo Eu: “Acalma-te, nada faço sem motivo mui sábio. Su- bentende-se que um médico experimentado e inteligente procure descobrir o ponto principal da moléstia do enfermo. Isto alcança- do, tentará curar e vivificar o menor nervo e o mais atingido. Tão logo tal nervo estiver dentro da ordem salutar, o homem sentir-se-

-á disposto.

  1. Assim sendo, Eu conheço muito bem o nervo afetado do grande Homem Cósmico e por isto dele Me aproximo para curá-lo, a fim de que ele todo volte a ter saúde. Entendeste?”

  2. Responde o escriba: “Sim, meu Deus e meu Senhor, tudo isto está claro; entretanto, sinto-me cada vez mais reduzido a nada!”

  3. Digo Eu: “Porventura não sou fisicamente um fator mínimo frente à Grandiosidade da Criação total?! Todavia, o Meu Espírito a ultrapassa infinitamente.”

  4. Obsta o escriba: “Sim, o Teu. Mas onde está o meu espírito?”

  5. Respondo: “Ora, acaso o teu espírito não se elevou com o Meu acima de todos os enxames globulares e no final ultrapassou o grande Homem Cósmico?! Não viste tudo aquilo, inclusive o ‘filho perdido’, em sua totalidade qual pontinho de luz fraquíssima?! E não Me acompanhaste além da membrana do Homem Cósmico, ao Espaço Infinito, de sorte que ele — na projeção espiritual de teus pensamentos — não apresentara mais que uma formiga luminosa?! Se és capaz de Me seguir a tais profundezas da Criação, a ponto de se apresentarem qual nada, como podes afirmar, bem como qualquer outro, nada serdes comparados à Criação do Universo?

  6. Lança um olhar pela janela e verás o Régulus na grande cons- telação do Leão! Eis o Sol Central desse enxame globular. Sua dis- tância incalculável o comprime a um simples ponto. Quantos Ré- gulus semelhantes poderias imaginar, um junto do outro? Digo-te: inúmeros — assim como teu espírito começou a imaginar muitos outros homens Cósmicos ao lado daquele. Dotado de capacidades puramente divinas, afirmas nada seres como homem?! Teu corpo como matéria é realmente nada; por isto não deve o homem imortal cuidar de sua nulidade temporária e material, e sim de sua totalidade

espiritual, e assim não terá motivo de ser um nada no nada, pois é, em Mim e Comigo, o todo no Todo.

  1. Mesmo que a visão revelada da Grandiosidade natural de Minha Criação te comprima ao nada, afirmo-te ser, no Meu Reino, o menor incalculavelmente maior que tudo que ora te parece tão grandioso. Compreendeste?”

  2. Todos respiram mais livremente, satisfeitos por Eu os ter ajudado a saírem do nada, que os comprimia, à evidência do ser.

248.AMOVIMENTAÇÃODOHOMEMCÓSMICO.OSSÓIS DUPLOS

  1. Eis que Lázaro se aproxima e diz: “Senhor, acaso não tem um enxame globular outro movimento que o geral do grande Ho- mem Cósmico?”

  2. Digo Eu: “Oh sim, a rotação em redor de seu eixo, e isto para que sua membrana venha friccionar constantemente no éter que o envolve, produzindo determinada quantidade de fogo elétrico qual raio, servindo de alimento principal para todos os corpos contidos num enxame; pois a massa colossal dessa substância produzida pre- enche o Espaço etéreo do enxame. Pela movimentação dos inúmeros corpos dentro de um globo, essa substância se irrita, através do atri- to com as atmosferas, delas refletindo aos próprios corpos. Quanto maior um corpo cósmico — por exemplo um Sol ou Sol central — e quanto mais violenta sua movimentação, tanto maior quantidade de luz ou eletricidade é produzida. Dos sóis o supérfluo é levado aos planetas.

  3. Concluirás, portanto, ser preciso ter um enxame globular movimentação própria e sua rotação é incrivelmente veloz, suprin- do suas grandes necessidades de subsistência; muito mais potente é a velocidade do Grande Homem Cósmico no Espaço Infinito.

  4. É tão extraordinária num círculo imenso, que num instante percorre distâncias de mil enxames globulares — todavia necessita de cem milhões de anos solares para voltar ao ponto de partida.

  1. Deste modo, podeis fazer uma ideia da imensidade do circui- to que percorre constantemente, recebendo nutrição suficiente para fibras e nervos; além disto, podeis formar critério mais lúcido do Poder, Sabedoria e Ordem em Deus. Compreendeste?”

  2. Responde o escriba: “Senhor, tudo me é claro. Disseste certa vez não ser possível ao homem amar Deus em Verdade caso não O tivesse reconhecido — e aprovo Teu axioma. Reconheço-O e O amo acima de tudo, em Ti, Senhor; tal conquista se torna fácil pela extraordinária Revelação recebida e não tenho mérito algum por ser tudo apenas Graça. Qual seria o homem de toda Humanidade capaz de revelar Tuas Profundezas cósmicas? Só é possível Àquele que as criou tão artisticamente.

  3. Cabe-nos agradecer-Te do fundo do coração, acrescentando o pedido de nos sustentares nesta Graça. Teus apóstolos certamente já terão tido várias explicações a respeito; seria permitido colhermos maiores esclarecimentos junto deles?”

  4. Respondo: “Oh, sim; têm bastante orientação e de manhã haverá oportunidade de sobra. Agora convém cada um guardar o que ouviu para transmiti-lo a todos que ouvirão o Meu Verbo. Va- mos ao ar livre e presenciar a aurora, alegrando as almas de todos. Entrementes, poder-se-á cuidar do desjejum.”

  5. Levantamo-nos e fomos à frente da casa. Ao Oeste ainda se percebem várias estrelas fixas, e Lázaro indaga se entre elas se en- contra um Sol central. E Eu lhe digo: “Nessas não há nenhum; mas abaixo delas existem muitos, dos quais somente em noite escura se notam alguns pontinhos luminosos.

  6. Há espécie peculiar de sóis, comum em todos os territórios solares. Trata-se de sóis duplos, todavia não são Sóis centrais, e sim raros Sóis planetários, um muito maior que seu acompanhante. O menor gira em torno do maior qual grande planeta; todavia, gira em volta de ambos determinado número de planetas de diversos tamanhos, cujos habitantes levam vida feliz. Primeiro, quase nunca têm noite completa; segundo, não há frio especial, mormente nos menores planetas em época de passagem entre os dois Sóis.

  1. Existem planetas maiores a descreverem grande trajetória elíptica ao redor de ambos. Seus habitantes não passam tão bem quanto os outros.

  2. Tais Sóis duplos têm finalidade mui importante em cada território solar; são os organizadores naturais das rotações dos sim- ples Sóis planetários e distribuidores do mencionado alimento para todo território, de forma tal que um Sol duplo equilibra 700 a 1.000 Sóis simples. No Meu Reino ireis aprender tudo isto; pois aqui todo saber é problemático.

  3. Voltemos nosso olhar ao poente, pois dentro em breve sur- girá nosso Sol em todo esplendor e majestade e a aurora de hoje deve ser assistida com grande atenção!”

FinaldoSextoVolume Amém

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