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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume VIII

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2015

ÍNDICE

  1. FARISEUS DISFARÇADOS PROCURAM LÁZARO 15

  2. PEDIDO DOS FARISEUS 18

  3. OS PRINCÍPIOS RELIGIOSOS DE UM FARISEU 20

  4. UM ESCRIBA SE REFERE À ORDEM DIVINA 22

  5. FALECIMENTO DE CRIANÇAS. O MESSIAS 24

  6. LÁZARO RELATA CASOS COM O SENHOR 25

  7. LÁZARO CRITICA A INDOLÊNCIA DOS FARISEUS 28

  8. RECEIOS DOS FARISEUS QUANTO AO SENHOR 30

  9. LÁZARO TESTEMUNHA A RESPEITO DO SENHOR 31

  10. RAPHAEL SE REVELA 33

  11. LÁZARO É ELOGIADO PELO SENHOR 35

  12. A MATÉRIA E SEUS PERIGOS 36

  13. PARECER DE AGRÍCOLA QUANTO À DOUTRINA DO SENHOR 39

  14. O DESTINO DA DOUTRINA 40

  15. FUTURA POVOAÇÃO DO ORBE. O PESO DA VELHICE 43

  16. ENCARNAÇÃO DE HABITANTES ESTELARES 45

  17. O TRATAMENTO DAS CRIATURAS, AQUI E NO ALÉM 47

  18. A PORTA DO CÉU E O REINO DE DEUS 48

  19. A IMPOTÊNCIA HUMANA 50

  20. AS LEIS DO SENHOR 53

  21. AGRÍCOLA PEDE CONSELHO PARA A EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE 56

  22. A ORDEM NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 57

  23. MEIOS DE SUPRESSÃO AO SACERDÓCIO PAGÃO 58

  24. A TRINDADE EM DEUS E NO HOMEM 61

  25. A ATIVIDADE DOS TRÊS CORPOS DO HOMEM 63

  26. A NATUREZA DE DEUS 66

  27. O SENHOR COMO FILHO 68

  28. O ESPAÇO INFINITO E A ETERNIDADE 70

  29. RELAÇÃO ENTRE OS SERES E A INTELIGÊNCIA UNIVERSAL 73

  30. A PREVISÃO DO FUTURO 75

  31. AGRIPPA RELATA A AVENTURA COM UM POSSESSO 77

  32. A OBSESSÃO 79

  33. LOCALIZAÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL 80

  34. A NATUREZA DE SATANÁS 82

  35. SATANÁS COMO PERSONALIDADE 85

  36. LOCALIDADE DOS DEMÔNIOS PERSONIFICADOS 87

  37. AS BASES DA CRIAÇÃO 88

  38. A PRECE PELOS DESENCARNADOS 91

  39. RUÍNAS MAL-ASSOMBRADAS 93

  40. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DE PÃO E VINHO 95

  41. A POLIGAMIA 98

  42. A JUSTA PENITÊNCIA 100

  43. A ABSOLVIÇÃO 102

  44. OS ELEMENTOS DO AR 104

  45. AGRÍCOLA SE LEMBRA DE MARIA DE MAGDALA 107

  46. O JULGAMENTO DO PAGANISMO 108

  47. O FUTURO DE ROMA E DO ANTICRISTO 109

  48. O REINO DE MIL ANOS 111

  49. MISSÃO DOS FILHOS DE DEUS NO ALÉM. DURAÇÃO DO ORBE 112

  50. GRATIDÃO DOS ROMANOS A MARIA DE MAGDALA 114

  51. OS FUTUROS JULGAMENTOS 116

  52. MARIA DE MAGDALA E O SENHOR 117

  53. A VIAGEM PARA BETHÂNIA 118

  54. O COBIÇOSO PUBLICANO E O SENHOR. A FÉ ATIVA 120

  55. NAS PROPRIEDADES DE LÁZARO 122

  56. SITUAÇÃO ESPECIAL DA TERRA 123

  57. RELAÇÃO ENTRE MICRO E MACROCOSMO 124

  58. BOA COMPREENSÃO DO ROMANO COM RELAÇÃO AO ENSINAMENTO

DO SENHOR 127

  1. RELAÇÃO ENTRE NOSSO PLANETA E OS DEMAIS 128

  2. A IMPORTÂNCIA DE NOSSA TERRA 130

  3. DEVER PRINCIPAL DO HOMEM 132

  4. RETORNO DOS SETENTA DISCÍPULOS DO SENHOR 135

  5. UM ESCRIBA DESAFIA O SENHOR 137

  6. QUEIXA DOS ESCRIBAS 140

  7. HIPOCRISIA DOS ESCRIBAS 143

  8. A ABSOLVIÇÃO DOS PECADOS 144

  9. O SENHOR RESSUSCITA UM SERVENTE 146

  10. ACERCA DA EDUCAÇÃO 148

  11. HISTÓRICO DE NOSSO PLANETA 150

  12. CONTEÚDO CIENTÍFICO DOS 6° E 7° LIVROS DE MOYSÉS 151

  13. OS DOIS PRIMEIROS PERÍODOS DA FORMAÇÃO TELÚRICA 152

  14. A FORMAÇÃO DA TERRA ATÉ OS PRÉ-ADAMITAS 154

  15. OS DOIS ÚLTIMOS PERÍODOS EVOLUTIVOS DA TERRA 157

  16. EVOLUÇÃO PSÍQUICA DOS PRÉ-ADAMITAS 159

  17. OS ASTEROIDES 160

  18. OS HABITANTES DO PLANETA DESTRUÍDO 162

  19. A PARÁBOLA DO REINO DO CÉU 164

  20. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA 167

  21. É MELHOR FALAR E AGIR DO QUE ESCREVER. EVANGELHOS

GENUÍNOS E EVANGELHOS FALSOS 169

  1. A CONSAGRAÇÃO EM BETHÂNIA 172

  2. A MORTE DA CRIATURA 174

  3. A RAZÃO DO SOFRIMENTO ANTES DA MORTE 176

  4. FINALIDADE DA DECOMPOSIÇÃO LENTA DOS CORPOS 178

  5. CREMAÇÃO E EMBALSAMAMENTO 179

  6. O SENHOR E OS FARISEUS CONVERTIDOS 180

  7. TESTEMUNHO DO ROMANO MARCUS 183

  8. MOTIVOS DA ATIVIDADE DOS TEMPLÁRIOS 184

  9. CULTO E SACERDÓCIO 186

  10. SÁBADO E SACERDÓCIO 187

  11. A JUSTA CONSIDERAÇÃO DO SÁBADO 189

  12. UM ESCRIBA FAZ REFERÊNCIAS A MOYSÉS 190

  13. A INSTITUIÇÃO DO SÁBADO 192

  14. ALIMENTO PREFERIDO DO SENHOR 194

  15. O CÉU ESTELAR 196

  16. A FORÇA NAS COISAS MÍNIMAS 197

  17. A FORMAÇÃO DO VENTO 199

  18. A PESQUISA CIENTÍFICA 201

  19. VIGILÂNCIA DA ALMA 202

  20. PROFECIAS CUMPRIDAS E PROFECIAS NÃO CUMPRIDAS. O LIVRE

ARBÍTRIO HUMANO E A ONISCIÊNCIA DE DEUS 204

  1. HÁBITOS 206

  2. O BANDO DE GROUS 208

  3. SENTIDO ESPIRITUAL DO VOO DOS GROUS 210

  4. A CHEGADA DOS ROMANOS 213

  5. PARÁBOLA DO VIANDANTE FAMINTO 215

  6. A VIOLÊNCIA A SER APLICADA NA CONQUISTA DO CÉU 216

  7. O ALÉM 218

  8. UTILIDADE DAS MONTANHAS 220

  9. IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA DO SENHOR 222

  10. O SENHOR DEIXA BETHÂNIA 224

  11. LIBERTAÇÃO DE UM GRUPO DE JOVENS 226

  12. A CHEGADA AO ALBERGUE 228

  13. A CURA NO ALBERGUE 230

  14. O HOSPEDEIRO FALA DOS FARISEUS 230

  15. ACUSAÇÕES FEITAS A HERODES 231

  16. A CONDUTA DO POVO JUDAICO 234

  17. O CORONEL E O HOSPEDEIRO RECONHECEM O SENHOR 235

  18. O RELATO DO TAVOLEIRO 238

  19. O ALBERGUE DO JUDEU 239

  20. A CARIDADE 241

  21. O AMOR AO PRÓXIMO 242

  22. A ANTIGA CASA REAL 244

  23. O SENHOR EXPLICA O SALMO 247

  24. OBSERVAÇÕES HISTÓRICAS 249

  25. IRRITAÇÃO DOS DISCÍPULOS DE JOÃO 250

  26. PEDIDO DOS ADEPTOS DE JOÃO BAPTISTA 252

  27. O CAPITÃO DE BELÉM PROCURA O SENHOR 254

  28. PONDERAÇÕES DO CAPITÃO 256

  29. RELAÇÃO ENTRE DEUS E A CRIATURA 257

  30. A IMORTALIDADE DA ALMA 259

  31. VOLTA A BETHÂNIA 261

  32. A PERSONALIDADE DE RAPHAEL 262

  33. INVOCAÇÃO DE ALMAS DESENCARNADAS 265

  34. EXPERIÊNCIAS ESPÍRITAS DO MILITAR 266

  35. UM SONHO DO ROMANO 267

  36. NATUREZA DO SONHO 268

  37. GRAUS SUPERIORES DA VISÃO 270

  38. RAPHAEL SE CONFESSA ESPÍRITO 272

  39. A NATUREZA DO SENHOR 274

  40. O TEMPORAL E SUA FINALIDADE 276

  41. MOTIVO DA CRIAÇÃO 278

  42. EFEITOS DA TEMPESTADE 280

  43. CAUSA E EFEITO DO TEMPORAL 282

  44. A ELETRICIDADE 284

  45. CAUSA DOS FENÔMENOS METEOROLÓGICOS 286

  46. FENÔMENOS ELÉTRICOS 288

  47. ÍNDOLE DE RAPHAEL 290

  48. NEVE E GELO 291

  49. AGRÍCOLA LEMBRA A PARTIDA 293

  50. O DESTINO DO SENHOR 294

  51. O CAMINHO DA UNIÃO COM O ESPÍRITO 296

  52. AJUDA DO SENHOR NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 298

  53. A ORDEM DIVINA NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 300

  54. O SENHOR DÁ DIRETRIZES AOS ROMANOS 303

  55. O EMPREGO DA FORÇA MILAGROSA 305

  56. OS ESSÊNIOS SE QUEIXAM AO SENHOR 307

  57. CONSELHO DO SENHOR AOS ESSÊNIOS 308

  58. A CARAVANA DE DAMASCO 310

  59. A DESPEDIDA DA CASA DE LÁZARO 312

  60. NA ESTRADA DA HOSPEDARIA 314

  61. O CULTO A DEUS E A PRECE EFICAZ 317

  62. A PARÁBOLA DO JUIZ E DA VIÚVA 319

  63. A ORDEM NA DOMÉSTICA DIVINA 321

  64. A VOLTA DO SENHOR 323

  65. DIANTE DO ALBERGUE DE UM PUBLICANO 325

  66. UMA CURA NO HOSPITAL DO PUBLICANO 327

  67. O SENHOR E O RICO REITOR 329

  68. O PRÊMIO DOS DISCÍPULOS 332

  69. OS DISCÍPULOS E O CEGO A CAMINHO DE JERICÓ 333

  70. O SENHOR NO ALBERGUE EM JERICÓ 335

  71. O HOSPEDEIRO PROCURA O SENHOR 336

  72. O FILHO ESQUECIDO DO HOSPEDEIRO 337

  73. A CHEGADA DE KADO 339

  74. O REI ABGARUS DE EDESSA 341

  75. A CEIA 342

  76. FINALIDADE DAS CERIMÔNIAS 344

  77. A VERDADE 347

  78. O ESTRANHO FENÔMENO NA ILHA DE PATHMOS 349

  79. A SEGUNDA APARIÇÃO DA NUVEM 352

  80. O SONHO DO SACERDOTE DA ALDEIA 353

  81. A TERCEIRA APARIÇÃO DA NUVEM 355

  82. OPINIÕES FILOSÓFICAS 356

  83. PREVISÕES 358

  84. LIBERTAÇÃO DA MATÉRIA 360

  85. RELAÇÃO ESPIRITUAL ENTRE EPICURISTAS E CÍNICOS 361

  86. PRIMEIRO E SEGUNDO FOGO PURIFICADOR 363

  87. TERCEIRO E QUARTO FOGO DE PURIFICAÇÃO 364

  88. CONDIÇÕES PARA A VOLTA DO SENHOR 366

  89. O SENHOR E OS SEUS NO MONTE ARALOTH 367

  90. A ANTIGA JERICÓ 369

  91. FINALIDADE DA ORDEM EM A NATUREZA 372

  92. PROVA DE VOO 374

  93. NO ALBERGUE EM ESSEIA 377

  94. O RIGOR DO SENHOR 379

  95. O VERDADEIRO PERDÃO 381

  96. O PEDIDO DO ÁRABE 384

  97. AS REVELAÇÕES DE DEUS ENTRE OS POVOS 385

  98. A CONSERVAÇÃO DE FERIADOS. CONJECTURAS DOS DISCÍPULOS

COM REFERÊNCIA AOS ESSÊNIOS 387

  1. O SENHOR E OS LADRÕES 389

  2. UTILIDADE DAS VIAGENS 391

  3. ORIENTAÇÃO AOS DOUTRINADORES 394

  4. AS CURAS DO CHEFE ESSÊNIO 396

  5. A CURA DOS POBRES 399

  6. A EXPERIÊNCIA DOS RICOS 400

  7. ROKLUS E OS RICOS 403

  8. A JUSTA ADORAÇÃO A DEUS 404

  9. A EXIGÊNCIA DO SENHOR 406

  10. OS DOIS ORGULHOSOS FARISEUS EM ESSEIA 408

  11. ROKLUS E OS DOIS TEMPLÁRIOS 411

  12. ROKLUS REVELA AS INTENÇÕES DOS FARISEUS 412

  13. ROKLUS CURA OS ENFERMOS 415

  14. ROKLUS E OS SALTEADORES 417

  15. O MILAGRE DO SENHOR 419

  16. A MULHER DO HOSPEDEIRO 421

  17. O MAIOR MILAGRE DO SENHOR: SEU VERBO 424

  18. O HOSPEDEIRO SUPERSTICIOSO 425

  19. O ALBERGUE PARA POBRES 428

  20. OS MILAGRES À ENTRADA DE ESSEIA 430

  21. OS AUXILIARES ESSÊNIOS 433

  22. O INSTITUTO ESSÊNIO 435

  23. O SENHOR SE DESPEDE DOS ESSÊNIOS 438

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“ObraCultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e À Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo:ARedençãoeEpístoladePauloàComunidadeem Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo:ORessurrectoeJudasIscariotes)Prédicas do Senhor

OSENHOREOS ADVERSÁRIOS

Evangelho de João Cap. 9 (continuação)

    1. FARISEUSDISFARÇADOSPROCURAM LÁZARO

  1. Nem bem termino de falar, um empregado de Lázaro entra no refeitório e lhe transmite a chegada de vários forasteiros à procura do proprietário do albergue; Lázaro se dirige a Mim para saber qual a atitude a tomar.

  2. Respondo: “Por ora, ficas aqui; Raphael e os sete egípcios irão lá fora para encetar uma pequena controvérsia com os fariseus e escribas ladinos. Já sabem como agir!”

  3. Prontamente o arcanjo se dirige àqueles e indaga com severi- dade qual seu desejo. Um templário sumamente hipócrita diz: “Meu jovem, de aparente boa família, acaso és delegado de Lázaro, com o qual apenas desejamos falar? Que hábito estranho mandar-se um rapazola dirigir-se a visitantes! Dize-lhe ser nosso posto muito mais elevado que o dele em Jerusalém e demais países judaicos!”

  4. Diz Raphael: “Pretendendo serdes tão importantes, admiro-

-me de vosso disfarce na escuridão da noite para subirdes ao monte por vós difamado! Porventura não consta em vossa maldição: O ju- deu que pisar esse monte, de dia ou à noite, será amaldiçoado física e espiritualmente? Como, pois, quereis falar ao herege Lázaro?”

  1. Responde o fariseu: “Que entendes tu a respeito?! Se temos o po- der de Deus de excomungar um local, assiste-nos, igualmente, o mesmo para sustar a proscrição a nosso favor; estamos acima da lei, entendeste?”

  1. Responde Raphael: “Julgando-vos acima da Lei de Deus, sois evidentemente mais que Ele! Deus mesmo Se submete às Suas Leis de Ordem eterna, jamais as infringe e tampouco revoga qualquer Lei — caso quisesse agir contra a mesma.

  2. Se vos julgais suficientemente capazes para tanto, estais aci- ma de Deus; pois Ele Mesmo, a Lei Original, existe e age dentro da mesma, portanto Se submete a ela. Se Ele a considera rigorosa- mente, quem vos deu o direito de elevar-vos acima da Lei e usardes disfarce, para que ninguém vos veja quando agis contra a mesma? Pretendendo, porém, ser senhores da mesma — por que o temor do povo quando infringis a Lei?!”

  3. Irritado, o fariseu responde: “Que entendes tu, rapazola, de assuntos elevados, sobre os quais somente os sacerdotes têm direito de ajuizar?”

  4. Retruca Raphael: “Neste caso, por que Samuel, ainda meni- no, teve direito de falar a Deus e opinar acerca de assuntos divinos?”

  5. Diz o fariseu: “Como te atreves a comparar-te a Samuel?”

  6. Responde o arcanjo: “E como vos arrogais elevar-vos a Deus e Suas Leis? Quem vos deu direito para tal? Realmente, assiste-me direito mil vezes maior em comparar-me a Samuel, do que vós ele- var-vos a Deus e Suas Leis! Estou cansado de vossa tolice! Dizei-me o que vos trouxe aqui, do contrário ireis conhecer-me de perto e percebereis por que me comparo a Samuel!”

  7. Responde o fariseu: “Isto é um segredo que só podemos transmitir a Lázaro; chama-o aqui, para não sermos obrigados a for- çar a entrada em sua casa! Nosso assunto não te interessa, ainda que fosses dez vezes mais que Samuel!”

  8. Contesta o arcanjo: “O quê? Um segredo?! Como pode ser segredo o que todo mundo sabe?! Eu vo-lo direi, para verdes que vosso segredo de há muito não o é.

  9. Resolvestes no Alto Conselho averiguar se Lázaro aqui está presente para informar-vos do paradeiro do profeta tão odiado por vós e, caso Lázaro aqui não estivesse, subornar o hospedeiro ou ou- tro empregado qualquer para vos dar orientação a respeito. Uma vez

informados, enviaríeis todos os esbirros ainda fiéis para capturar e matar o dito profeta. Eis vosso segredo, do qual nós, principalmente eu, maior amigo do sublime Profeta, estamos informados! Respon- dei se assim não é!”

  1. De olhos esbugalhados, o fariseu fita Raphael; depois de al- gum tempo, diz: “Quem te dá direito de desconfiar de nós? Ignoras se somos judeus e membros do Templo e, além disto, te asseguramos nada sabermos do teu profeta! Durante a viagem ouvimos certos bo- atos de um grande mago, e não nos interessa ser amigo ou inimigo dos sacerdotes. Somos comerciantes e não nos preocupamos com ninharias!”

  2. Diz Raphael: “Prevendo o perigo, pretendeis negar vossa profissão; isto não será possível diante de mim e de meus compa- nheiros. A fim de que o possais compreender melhor, tomarei a li- berdade de tirar vossas túnicas gregas, apresentando-vos em vestes templárias!”

  3. Instintivamente, os fariseus agarram as túnicas — mas em vão; pois Raphael dá ordem pela vontade e eles se apresentam quais sacerdotes, fazendo menção de fugir. De um salto, os egípcios os enfrentam, ordenando-lhes a não darem um passo, e, se desobede- cessem, passariam mal.

  4. A fim de impressionar mais, eles apontam três grandes leões que se encontravam mais abaixo. Isso produz efeito e os dez fariseus começam a pedir perdão a Raphael, confessando os planos que os trouxeram ao Monte das Oliveiras.

  5. Estão de tal modo apavorados, que Raphael lhes diz: “Quem, entre todas as criaturas, seria pior que vós? Quereis ser ser- vos de Deus, todavia o sois do inferno! Qual foi o demônio que vos gerou?! O grande Mestre de Nazareth demonstrou e provou, por Palavras e Ações, ser Ele o Messias Prometido e, como Tal, Senhor Único de Céus e Terra — conforme predisseram os profetas — e vós não acreditais, mas O perseguis com toda fúria! Tolos! Impotentes! Como pretendeis reagir contra o Poder do Onipotente, que vos po- deria exterminar ou atirar vossas almas ao inferno merecido?!”

  1. Responde um outro: “Jovem e sábio orador, pedimos-te livre partida para a cidade e te damos plena segurança que jamais participa- remos da perseguição ao milagroso profeta da Galileia! Empenharemos todos os esforços para dissuadir os colegas, conquanto não possamos garantir o êxito. Convencemo-nos, pessoalmente, ser a perseguição ao galileu a maior das tolices, que apenas nos levaria à desgraça!”

  2. Diz Raphael: “Pois bem, podeis seguir sem impedimento; mas ai de vós, caso não cumprais vossa palavra! Guardai bem que Poder, Sabedoria, Onisciência e Rigor de Deus são infinitos, sendo impossível ao mortal cruzar os seus Caminhos! Compreendendo se- rem as Ações do Ungido de Deus apenas Obras Divinas, é lógico estar Deus Mesmo estreitamente unido a Ele, de sorte a ser suma- mente tola qualquer reação contra as Determinações Divinas!

  3. Transmiti isto aos colegas ignorantes e maus! Podem levar sua raiva contra Ele a ponto de exterminarem Sua Vida Física, pela Permissão Dele; com isto precipitariam o julgamento sobre si mes- mos e Jerusalém. Ele — a Própria Vida — não morrerá, mas viverá eternamente para julgar os povos da Terra. Feliz daquele que Nele crê, procurando apenas Seu Agrado e Amizade! Sabeis o que fazer e, querendo, podeis partir; desejando, porventura, trocar algumas palavras com Lázaro, dou-vos permissão para tal.”

  4. Diz um fariseu: “Assim desejava, mas num assunto diver- so!” Dirigindo-Me a Lázaro, no refeitório, digo: “Agora podes trocar umas boas palavras com os fariseus amedrontados; nada digas de Minha Presença!”

2.PEDIDODOS FARISEUS

  1. Lázaro se dirige aos templários e pergunta o que desejam. Um deles diz: “Aqui vimos por influência de um mau espírito, de sorte a não ser bom o assunto que desejávamos abordar contigo; todavia, fomos tocados pela palavra desse jovem sumamente inteli- gente e pelo estranho poder daqueles homens. Por isto, desistimos de nosso plano nefasto.

  1. Pedimos com sinceridade permissão para visitar-te em Be- thânia, porque desejamos falar a sós contigo. Além disto, rogamos a devida proteção para voltarmos à cidade, em virtude dos leões obedientes àqueles homens.”

  2. Diz Lázaro: “Se vossa intenção corresponde às vossas pala- vras, e prometendo reparar o dano aplicado a viúvas, órfãos e pobres, na medida do possível, podereis passar perto das feras sem que vos deem atenção; vosso íntimo não estando de acordo com as palavras, será perigoso aproximar-vos! Será igualmente difícil penetrardes em minha casa, não modificando vossa índole; pois lá existem vigias semelhantes a esses!”

  3. Responde o orador do Templo: “Podes crer em nossa hones- tidade e na resolução em reparar qualquer prejuízo, entretanto não temos coragem de passar perto dos leões. Dá-nos proteção segura!”

  4. Diz Lázaro: “Os sete egípcios vos conduzirão incólumes! Dese- java uma informação: Qual o motivo de não acreditardes em Jesus de Nazareth e ser Ele o Messias Prometido? Conheceis a Escritura, ouvis- tes Seus Ensinamentos e assististes aos Seus Milagres! Como é possível serdes tão obtusos? Milhares de judeus acreditam Nele e muitos pa- gãos vêm de todos os cantos da Terra, curvam-se diante Dele, aceitam o Seu Verbo e creem em Sua Divindade; somente vós, incumbidos de dar o melhor exemplo perante o povo, opondes resistência.

  5. O Senhor encarnou nesta Terra de acordo com o que Ele Mesmo predisse pelos profetas e realiza as obras que foram con- tadas há séculos pelos visionários, entretanto não Lhe dais crédi- to! Por quê?”

  6. Responde o fariseu: “Amigo, isto discutiremos com calma em Bethânia, aqui só posso dizer ser difícil a alguém manter-se no Tem- plo. É-se sacerdote, mas sem direitos humanitários. Um é inimigo do outro e procura prejudicá-lo em benefício próprio, a ponto de se ver obrigado a uivar com as hienas, para não ser estraçalhado. Não levará tempo e esse sistema templário será transformado! Sa- bes como pensamos a respeito; tem, pois, a bondade de nos fazer acompanhar!”

  1. Vira-se Raphael para eles: “Por que tamanha pressa em che- gar à cidade? Crendo sinceramente no Messias, aqui estais mais se- guros que na metrópole. Viestes como Seus inimigos; por que não procurais informar-vos Dele como amigos, demonstrando-Lhe vos- sa transformação?”

  2. Responde ele: “Jovem sábio, se assim fizéssemos, podería- mos dar impressão de querer descobrir o Messias. Não nos inte- ressa! Nada temos contra ele; apresentar-nos como simpatizantes, achamos indigno. Queremos voltar para determinar nossa futura conduta, a fim de aderirmos integralmente a ele. Além disto, temos que informar o Templo do insucesso da empresa, evitando o envio de outros. Eis os motivos por que desejamos voltar quanto antes!”

  3. Diz Raphael: “Asseguro-vos que o Templo espera vossas no- tícias para amanhã; portanto, não enviará outros emissários. Láza- ro tem acomodações de sobra, onde podereis palestrar à vontade e também não faltam alimento e vinho. Aconselho-vos ficardes até a meia-noite, para então descerdes protegidos. Se ainda assim qui- serdes seguir, não vos impediremos! Os leões não estão aí e naquela tenda se acham vossas túnicas gregas! Fazei o que vos agrade!”

3.OSPRINCÍPIOSRELIGIOSOSDEUM FARISEU

  1. A esse convite de Raphael, os fariseus não se decidem. Final- mente, um deles diz: “Sinto ter o jovem falado a verdade e opino ficarmos até a noite, caso Lázaro nos ofereça um canto para resolver- mos nosso problema.”

  2. Todos concordam e são levados a uma sala confortável. Láza- ro manda servir um bom jantar, do agrado de todos. Um ancião, bastante culto, diz então: “Tão bem tratados estamos, que vos con- vido a ficar até amanhã, pois desejo transmitir-vos algumas palavras, o que não é possível dentro do Templo.

  3. É estranha a existência da criatura! Cultiva a Terra qual deus mortal, dando-lhe cunho harmonioso, todavia nada mais é que mi- serável animal, pois sabe que algum dia terá que morrer, enquan-

to o irracional nada disto pressente. Por tal motivo, o homem age bem quando procura distração a fim de afugentar os pensamen- tos da morte.

  1. O poder que criou o homem não pode ser bom e sábio, porquanto projeta obras artísticas a fim de destruí-las quando tiver alcançado sua máxima perfeição, para em seguida reiniciar sua tarefa.

  2. Quem isto considerou concluirá que Deus não é perfeita- mente bom e justo, pois não cuida da subsistência de sua criação! Basta o homem atingir maior capacidade intelectual, e suas forças físicas diminuem até que dê o último suspiro.

  3. Em nossa religião afirma-se existir um corpo espiritual den- tro do físico, que continuará vivo após o desprendimento. De que adianta uma crença para a qual ninguém tem provas?!

  4. Quantos patriarcas, sábios e profetas viveram dentro das Leis, adoravam e amavam a Deus acima de tudo e também acreditavam na Vida eterna após a morte! Finalmente, tiveram que deixar a vida e nada nos resta deles, senão seus nomes e ensinos. Onde ficaram suas almas?

  5. Quem de nós teria visto ou falado a uma alma?! Talvez em sonho ou no delírio. Existem os que o afirmam; são geralmente isen- tos de conhecimentos gerais e capacidade de critério, e agrada-lhes relatar fatos sobrenaturais para causarem impressão de místicos.

  6. Devemos confessar a existência de outros que operam mila- gres para provar suas afirmações, como ora acontece com o pecu- liar profeta de Nazareth. Doutrina o povo e garante a vida eterna a quem nele crer.

  7. Isso não deixa de ser louvável, porque produz certo confor- to, tirando o pavor da morte. Todos os profetas assim agiam e milha- res selaram sua fé com o martírio. O tempo apagou suas existências, nada mais ficando que recordação.

  8. Por que não veio a alma de Elias, Daniel ou Isaías? Assim como desapareceram, nós desapareceremos, inclusive o célebre pro- feta que dizem ressuscitar mortos. Ainda que a crença perdure por

alguns séculos, com aditamentos e deturpações, a convicção real será a mesma que a nossa da sobrevivência da alma.

  1. Esta seria realmente algo maravilhoso e o homem tudo faria para garanti-la, caso conseguisse provas cabais; essas faltando, não é de se admirar o esfriamento da fé firme dos patriarcas.

  2. Quais seriam os intelectuais que hoje em dia visitam o Tem- plo com fé? Ali vão apenas para que o povo lhes siga o exemplo. Por isto, não sou adversário do célebre Galileu, porque entusiasma as criaturas pela vida após a morte, dando-lhes o consolo necessário; não me agrada ele nos declarar os maiores traidores do povo e, no entanto, faz ele o mesmo que nós. Que fale a verdade como eu, e duvido ter ele tantos prosélitos! Eis minha convicção e confissão diante de vós, colegas, que no fundo pensais como eu. Estou certo?”

4.UMESCRIBASEREFEREÀORDEM DIVINA

  1. Obsta um outro escriba: “De modo geral, concordo contigo; entretanto, não posso aceitar tua opinião como verdade íntegra. É difícil crer que Deus, Criador de Céus e Terra, tenha criado os ho- mens — obra mais perfeita de Sua Sabedoria e Onipotência — sim- plesmente para bonecos perecíveis!

  2. O motivo de ser curta sua existência deve se basear no desen- volvimento da alma para conseguir certa firmeza, a fim de subsistir num outro mundo, sem dúvida infinito.

  3. Se o homem fosse destinado a viver apenas para esta Ter- ra, imensa, porém limitada, o planeta se tornaria pequenino com o constante aumento dos habitantes, haja vista consistir na maior parte de água; seria preciso Deus fazer as criaturas se tornarem es- téreis e impedir sua decrepitude, para poderem subsistir com forças normais, cultivando o solo terráqueo.

  4. É fácil deduzir-se produzir tal vida monótona cansaço geral, pois a experiência nos ensina o desejo de mudança em situações uni- formes, e o homem mais engenhoso haveria de chegar a um ponto final após mil anos de variedades agradáveis.

  1. Dessa conclusão importante, deduzimos ter a Sabedoria Di- vina criado os seres para uma vida mais elevada e livre, e não para um mundo restrito que serve apenas para o primeiro grau de educa- ção, sem contudo proporcionar-lhe subsistência eterna.

  2. Esse e mais outros motivos me levam a acreditar na imorta- lidade da alma, porquanto seu extermínio demonstraria ser Deus inepto e tolo, quando Sua Sabedoria e Poder irradiam em todas as Suas Obras.

  3. Impossível um homem inteligente afirmar a projeção de seres humanos através de uma força cega e inconsciente. Ninguém poderá dar o que não possui. Imaginai um tolo, mal sabendo se expressar, querer ser professor de línguas. Por isto, deve existir um Deus mui Sábio e Poderoso, Autor de todas as forças intelectivas.

  4. Deus, sendo Sábio e Onipotente, é igualmente Bom e Justo, e Seus Planos para com as criaturas devem ser bons e justos; transmi- tiu pelos profetas o que deveriam fazer para gozarem na Terra uma existência feliz, a fim de se prepararem à bem-aventurança eterna!

  5. Nunca observei ter Deus imposto sofrimentos ao homem, geralmente culpado de sua desgraça; não respeita a Vontade Divina, contraindo sérias moléstias que lhe entristecem a vida.

  6. Acaso seriam disto culpadas Sabedoria e Bondade de Deus? Se assim fosse, as criaturas honradas, sempre cumpridoras das Leis Divinas, teriam que suportar moléstias graves, assim como acontece às que sempre levaram vida indigna. Até hoje me convenci da longe- vidade das que aplicavam a Ordem Divina.

  7. Existem casos excepcionais, em que os homens justos e bons deixaram o mundo por meios violentos como prova maior de paciência, a fim de atingirem firmeza mais sólida no Além. Ou en- tão, pode o homem que na idade avançada se tenha tornado beato e justo ter prejudicado a saúde quando moço através de pecados vários, fazendo que se tornem amargas as últimas horas de sua exis- tência. Certo é que quem sempre viveu dentro da Ordem Divina terá desprendimento suave. Eis minha confissão, respeitada até o túmulo; podeis crer e fazer o que vos agrade!”

5.FALECIMENTODECRIANÇAS.O MESSIAS

  1. Responde o primeiro orador: “Nada consigo contrapor, exce- to que esqueceste de nos informar o porquê da morte prematura de crianças ao lado da Sabedoria, Bondade e Justiça de Deus.

  2. Segundo teu critério, destina-se o homem à consolidação e emancipação de sua alma nesta Terra, o que declararam todos os profetas e patriarcas. Mas qual o destino de crianças que, em virtude de uma existência nem ordenada, nem desequilibrada, não podem ser chamadas à responsabilidade? Porventura morre a alma infantil com o corpo?”

  3. Diz o primeiro orador: “Na era primitiva da Humanidade, não houve morte de crianças, pois esta foi sempre causada pelos pe- cados dos pais, culpados consciente ou inconscientemente da perda dos filhos. Deus, em Sua Infinita Sabedoria, cuidará de suas almas inocentes, e no Além terão oportunidade de recuperar a perda.

  4. Seria esta Terra o único mundo habitável? Grandes sábios da era primitiva e o próprio Moysés nos dois Livros finais — ainda em nosso poder, sem que lhes déssemos crédito — demonstraram serem Sol, Lua e estrelas, mundos maiores que o nosso. Assim sendo, será fácil para a Sabedoria e o Poder de Deus determinarem outro mundo de experiência para almas infantis, onde possam atingir sua perfeição.

  5. Seria possível duvidar-se de outras escolas planetárias no Es- paço infinito, se as criaturas nesta Terra criam vários institutos de educação para os filhos? Por que não admitir-se tal hipótese ao Deus Onipotente?

  6. Os patriarcas, ainda mais unidos aos Céus do que nós, sa- biam que assim é; através da tendência materialista, perdemos tudo que vinha do espírito. Tal é minha opinião como homem material; é claro não poder me expressar dessa forma dentro do Templo!”

  7. Retruca o primeiro escriba: “Estou contente por teres mo- dificado minha compreensão. Não devemos esquecer o problema mor, isto é, o estranho profeta da Galileia. De saída, afirmei os dons especiais de certas criaturas, como ficou provado por ele.

  1. Todavia, assistimos a um milagre com o súbito desapareci- mento de nossas túnicas e o surgir dos três leões! Qualquer pessoa poderia afirmar a ação do Messias, só porque consegue operar mila- gres como os essênios! Como ajuizar a respeito?”

  2. Responde o outro: “Minha opinião, até agora não externada por motivos concludentes, é a seguinte: Conheço ensinos e ações do Galileu. É, na acepção da palavra, puro judeu dentro das Leis Mo- saicas. Sabemos como o profeta é por nós considerado no Templo, fato conhecido pelo Galileu, do contrário não teria se expressado tão severamente a respeito. Além disto, operou verdadeiro milagre em um cego de nascença, fato inédito até hoje, e aconselho deixarmos de reagir contra ele. Se finalmente for o que diz de si mesmo, nada poderemos fazer; não o sendo, sua ação contra nós será nula, não obstante todos os milagres!

  3. É melhor analisarmos secretamente todos os seus ensinos e atos; descobrindo sua origem divina, acreditaremos. Esta expectativa não se cumprindo, continuaremos o que somos, entregando o resto a Deus!”

  4. Após tal discurso, aceito por todos, Lázaro os procura com Minha Ordem, ciente do que haviam falado, pois Eu lhe havia contado tudo.

6.LÁZARORELATACASOSCOMO SENHOR

  1. Os fariseus expressam satisfação com a inesperada chegada de Lázaro, ao que ele responde: “Agrada-me vosso bom ânimo em local por vós amaldiçoado, e presumo não fazerdes uso da difamação após vossa palestra particular.”

  2. Diz o primeiro orador: “Certo que não; mas como podias ouvir o que conversamos de portas fechadas? Qual foi nosso assun- to, pois, do contrário, somos obrigados a crer em pilhérias!”

  3. Lázaro relata, palavras por palavra, o debate havido entre eles, levando o primeiro fariseu a exclamar: “Mas..., como foi possível?”

  4. Diz Lázaro: “Tu mesmo afirmaste haver criaturas dotadas de capacidades estranhas! Por que não aceitais tal hipótese em minha

pessoa? Posso acrescentar algo muito mais importante, quer dizer, estaríeis bem próximos do Reino de Deus, não fora a má esfera do Templo. Concordo em todos os pontos debatidos entre vós!”

  1. Diz o outro: “Caro amigo, explica-te melhor! Como pode- mos estar perto do Reino de Deus? Estaremos para morrer? Acaso puseste veneno no vinho?”

  2. Responde ele: “Como é possível pensardes tamanho absur- do?! Tereis que viver por muito tempo! Aproximastes-vos do Reino de Deus pelo conhecimento e a fé, jamais pela vida física!”

  3. Indaga o primeiro: “Como interpretas o Reino de Deus?”

  4. Diz Lázaro: “Nada mais é que o justo conhecimento de Deus em vossa alma! Se, além disto, aceitásseis Deus como realmente é — mas até hoje por vós foi perseguido — estaríeis inteiramente no Seu Reino! Entendestes?”

  5. Retruca o primeiro: “Foi bom tocares neste ponto! Há tempos sabemos de tua simpatia para com o estranho galileu e seria oportuno esclarecer-nos a seu respeito; não seu paradeiro, porquanto não faremos uso da informação, mas por nossa pró- pria causa!”

  6. Responde Lázaro: “Sabeis, tanto quanto eu, como e onde Ele nasceu e os milagres ocorridos naquele dia; ter Herodes man- dado assassinar grande número de crianças, de um a dois anos, em virtude de terem os magos do Oriente anunciado o nascimento de um rei dos judeus em Belém. Ignorais, todavia, não ter Ele caído nas mãos criminosas de Herodes, pois conseguiu fugir para o Egito por intermédio do Capitão Cornélius e só depois de três anos, quando Herodes faleceu devorado por vermes, voltou para a zona de Naza- reth, onde cresceu na solidão e sem ensino especial.

  7. Aos doze anos, dirigiu-Se com os pais para o exame pres- crito aos meninos em Jerusalém; ficou três dias no Templo, onde causou a maior admiração entre os doutores, em virtude de suas perguntas e respostas, fato contado por meu pai, que pagou a taxa adicional. Essa ocorrência deve ser lembrada por vós, se bem que ignorais Sua fuga para o Egito, voltando após três anos.

  1. É Ele justamente o Mesmo que ora opera obras tão gran- diosas pelo Poder Divino de Sua Vontade e Palavra; portanto, estais orientados genealogicamente sobre Quem é o especial Galileu, a fim de poderdes formar conceito mais favorável de Sua Pessoa. De modo geral sabeis de Seus Feitos, julgando ser grande parte lenda e exagero popular, no que cometeis grave erro!

  2. Sabeis não ser eu inclinado a comprar gato por lebre, razão por que me informei minuciosamente de Sua Índole. Nunca achei algo suspeito, conforme sucede com magos e feiticeiros! Seus Ensi- nos são idênticos aos dos profetas, opera milagres apenas quando necessários e sem receber remuneração. Em suma, externa a Palavra Divina, a Sabedoria de Deus e Suas Obras, impossíveis aos mortais!

  3. Quando, há mais de meio ano, fui a Belém com Ele e Seus apóstolos, encontramos, às portas da antiga cidade de David, grande número de mendigos, porquanto era dia de festa. Esses pobres de ambos os sexos pediam esmola em altos brados; mais fortemente gri- tavam os mutilados de pés e mãos, e eu me prontificara a ajudá-los.

  4. Ele me fez ver que para tal ainda havia tempo, perguntando se não prefeririam trabalhar para o seu sustento, caso adquirissem saúde plena. Todos responderam querer trabalhar dia e noite, em vez de implorar a caridade alheia. Ele, então, exclamou: Levantai-vos e caminhai! Em seguida procurai serviço! — Eu contratei todos para meu serviço e dei-lhes ajuda monetária.

  5. Quando se foi testemunha dessa e de outras ações, das quais não se pode afirmar que fossem menos grandiosas do que as precedentes, assistindo-se como à Sua Vontade obedecem animais, elementos, Sol, Lua e estrelas, e Ele afirmando: Eu e o Pai no Céu somos Um! Quem vir a Mim verá o Pai! Quem crer em Mim terá a Vida Eterna, pois Eu Mesmo sou o Caminho, a Verdade e a Vida

  1. Eu creio indubitavelmente Nele e o confesso perante o mun- do, por ter meus motivos concludentes. Em poucas palavras vos disse o mais importante e compete-vos julgar vossa própria crença e fé!”

7.LÁZAROCRITICAAINDOLÊNCIADOS FARISEUS

  1. Diz o segundo, bom orador: “Amigo, tens razão; e, se eu es- tivesse no teu lugar, faria o mesmo. Assim, só posso guardar minha própria convicção, porquanto é impossível nadar-se contra a maré. És rico e, como cidadão romano, inteiramente livre, podendo fazer o Bem quando quiseres. Conheces a situação dos templários; inti- mamente podemos ser amigos da Verdade — em público, obrigam-

-nos a mentir.

  1. Participo de tua fé, pela qual tenho provas de toda espécie; só posso abster-me no Alto Conselho de externar qualquer opinião e procurar dissuadi-lo da perseguição. E tal atitude não pode ser condenável.”

  2. Responde Lázaro: “Quem tiver a convicção de uma Verdade tão imensa e luminosa, entretanto não se atrever a expressar-se fa- voravelmente, seja qual for a profissão, pode ser comparado ao que não é quente, nem frio. Eu sendo obrigado a afirmar: ‘Eis o Próprio Senhor, por cujo Amor, Graça e Vontade eu vivo! É Ele tudo para mim, e o Templo — nada! Cumpriu Sua Promessa; Ele, que no Sinai deu as Leis a Moysés e aos patriarcas, está em Pessoa diante de nós.’ Como é possível manifestares indolência em assunto de tama- nha importância?!

  3. Em vosso lugar, não hesitaria em reaver minha fortuna e me tornaria discípulo do Senhor. Grandes lucros não podeis espe- rar do Templo, porquanto as oferendas diminuem de ano para ano. Além disto, vos encontrais no declínio da vida, e segundo me parece não tendes orientação do Além! O Senhor, atualmente Encarna- do, poderia esclarecer-vos, dando-vos a maior Graça em vida! Que vos parece?”

  4. Diz o primeiro orador: “Falaste bem e admitimos a Verdade quanto ao Galileu; entretanto, é preciso estudar um meio de romper a ligação com o sinédrio sem provocar alarde. Não fôssemos anciãos, poderíamos nos afastar sob qualquer pretexto, digamos, como mis- sionários para converter pagãos.

  1. Caso requerêssemos aposentadoria mediante depósito da dé- cima parte da fortuna, haveríamos de prejudicar, em vez de bene- ficiar a causa do Galileu; nossos postos seriam imediatamente pre- enchidos por outros interessados. Estes enfrentariam o profeta de modo mil vezes mais raivoso que nós, sabedores de Sua Identidade.

  2. Poderíamos agir em favor dele e afastar certas dificuldades em sua missão através da nossa influência e, em tempo oportuno, demonstraríamos quem é realmente o Galileu, sendo loucura querer desafiar um homem cuja vontade é capaz de destruir o mundo.

  3. Pormenorizando tal situação, o sumo sacerdote esfriará seu zelo selvagem, enquanto procuraríamos uma oportunidade para um encontro com o Galileu como amigos e adeptos. Achas meu parecer aceitável?”

  4. Responde Lázaro: “Sim; todavia, não terá grande utilidade para vós. Vossos planos em benefício Dele têm aspecto humano; considerando ser Ele — a Quem chamais de célebre Galileu — o Próprio Senhor, que dispõe de toda Sabedoria e Poder, deveis convir ser ridícula vossa intenção de ajuda a Deus. Ele não necessita de nossa ajuda, mas nós necessitamos da Dele!

  5. Se ele permite façamos algo de bom em Seu Nome, é por- que visa a nossa própria salvação; pois desse modo nos exercitamos no Amor a Deus e ao próximo. Quanto mais ele crescer em nosso coração, tanto maiores capacidades nos dará para o Amor! Se agir- mos dentro de Sua Doutrina, fazemo-lo em benefício próprio, e não pela Salvação do Senhor, que é a Própria Salvação de todos os seres.

  6. Facilmente podereis concluir ser Ele o Senhor, quer dizer, descobrindo no Galileu o Próprio Deus. Julgando-o simples homem dotado de faculdades excepcionais, entretanto necessitando da co- laboração humana, vosso plano é elogiável; pois o amor ao próximo nos ensina o auxílio mútuo.”

8.RECEIOSDOSFARISEUSQUANTOAO SENHOR

  1. Prossegue o primeiro orador: “Amigo Lázaro, julgaste certo, pois concordamos com tua explanação. Num caso de tamanha im- portância para nós — o povo eleito — preciso é um exame rigoroso, a fim de averiguar se no fundo não há algum inconveniente capaz de modificar a questão.

  2. Impressionou a mim e aos colegas a maneira pela qual o jo- vem loquaz nos tirou as túnicas pela simples vontade e de modo tão rápido, a não sabermos onde tinham sido levadas. Em seguida, houve a ação dos sete egípcios ou árabes: a um simples aceno fizeram aparecer três leões! Trata-se, portanto, de verdadeiros milagres. Se, porventura, aquele jovem afirmasse: Sou Cristo, pois minha ação o prova! — aceitá-lo-ias? Se um dos sete pronunciasse a mesma sen- tença — dar-lhe-ias crédito?! Não operavam Moysés e outros, gran- des milagres, merecendo o título de ‘Cristo’?

  3. O milagroso Galileu realiza coisas estonteantes, fala mui sa- biamente e se diz Cristo! Isto não é prova convincente, porém a aceitamos convictos de não haver impedimento para analisarmos tudo à luz do dia.

  4. Pessoalmente, vimo-lo poucas vezes no Templo e, quanto aos milagres, só nos foram relatados por outrem, pois assistimos apenas à cura de um entrevado e um cego de nascença.

  5. Referindo-nos à sua verbosidade, o jovem igualmente se ex- pressou qual profeta, e as túnicas não nos protegeram diante de seu olhar penetrante. Assim, poderíamos concluir que nem milagres, nem ensinos elevados se tornam provas insofismáveis de ser o Galileu realmente o Messias, do Qual consta ser o Próprio Senhor, Jehovah.

  6. Tu mesmo nos deste um exemplo singular de como o ho- mem pode saber dos pensamentos mais secretos através de sua sa- gacidade despertada e talvez outras coisas mais. Se te assiste tal dom como simples homem, por que não ao Galileu, enquanto ao leigo deve se apresentar qual milagre, pois desconhece os meios para tal conquista?

  1. Em tempos idos houve uma escola de profetas onde se admi- tia somente quem se tivesse destacado por qualidades excepcionais; antes de tudo se exigia moral elevada e castidade.

  2. É fácil concluir-se haver possibilidade de desenvolvimento psíquico em uma índole pura; tal criatura, porém, jamais poderia afirmar sua descendência divina.

  3. Eu mesmo vi, quando jovem, um simples pastor classificado de rei pelos companheiros. Era de índole pura e mui devoto. Não usava cajado; bastava aplicar a vontade, e o rebanho lhe obedecia. Ignoro se possuía outros dons; por que não pôde fazer com que se tornasse sua força generalizada? Por isto insisto, por ora, na afirma- ção de haver criaturas dotadas de capacidades excepcionais; é preci- so, porém, cuidado para não considerá-las divinas!”

  4. Acrescenta Lázaro, amavelmente: “Falaste bem, dentro do critério humano, e não podias expressar-te de modo diferente, por careceres de meios para reconhecer o Galileu em Sua Natureza In- trínseca. Crê-me, não me deixei encantar por êxtases produzidos através de milagres, a fim de descobrir o Messias no Sublime Gali- leu. Outros foram os motivos!

  5. Estais admirados acerca do jovem, dos sete egípcios e de mim mesmo; entretanto, vos asseguro desconhecerdes o primeiro, assim como aquele grupo ainda incorrupto, como foram os patriar- cas, e de igual modo ignorais como me era possível saber de tudo que falastes!”

  6. Diz o outro: “Explica-te melhor, para vermos se poderemos seguir a tua fé!”

9.LÁZAROTESTEMUNHAARESPEITODO SENHOR

  1. Diz Lázaro: “Acaso não leste na Escritura: Quando vier o Senhor como Filho do homem a esta Terra, os poucos justos verão os anjos descerem dos Céus para servi-Lo?

  2. Aos sete habitantes do Egito setentrional, o espírito demons- trou ter-se cumprido entre os judeus a grande promessa, e aqui vie-

ram para ver o Senhor de toda Glória qual Homem entre os ho- mens, tão ignorantes e cegos a não perceberem o que estrangeiros veem em plena Luz.

  1. Quanto à minha capacidade em saber o que discutistes, é dádiva do sublime Galileu, em virtude de minha fé e amor para com Ele e aos necessitados.

  2. Falta-me outro meio para testificá-lo, senão repetindo que assim é, e será minha firme convicção que o Galileu é o Messias Prometido, Jehovah, Zebaoth! Quem Nele crer e amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmo terá a Vida Eterna!

  3. Podeis fazer o que vos agrade, pois Ele Próprio ensina: Até mesmo o livre arbítrio do demônio tem que ser respeitado, do contrá- rio o homem não seria semelhante a Deus. Semelhar-se-ia ao irracio- nal, cuja alma não tem liberdade, obedecendo à Onipotência Divina.

  4. Tudo que vedes na Terra e no Firmamento está sob julga- mento e sujeito à Lei imutável do imperativo categórico. O homem é obrigado a suportá-la por certo tempo no corpo; quanto à sua for- ma, crescimento, constituição artística e duração normal, é ele diri- gido pela Onipotência Divina, de sorte a Deus poder curar qualquer moléstia através do Poder de Sua Vontade Divina. Ela não influi na liberdade da alma; por isto, as regras de conduta para a psique não se enquadram no imperativo, mas no dever!

  5. Recebemos as Leis de Deus sem coação e, querendo, pode- mos respeitá-las; é este o motivo pelo qual ninguém é obrigado pelo Senhor a acreditar Nele, dependendo da livre vontade de cada um. Basta, porém, considerar-se as consequências para a alma no Além, onde continua livre como aqui, apenas com a diferença de ter que suprir-se a si mesma, no que diz respeito à subsistência eterna! Qual será sua situação, caso não tenha acumulado tesouros espirituais, como manda a Lei de Deus?!

  6. Assim como Deus Se mantém afastado com Sua Onipotên- cia em virtude da liberdade vital da alma, Ele respeitará a mesma medida no Além. Aqui, cada um desfruta da vantagem provinda de várias dádivas facultadas pela Onipotência de Deus, pelas quais po-

derá angariar imensos tesouros espirituais pelo bom uso. No Além, cessa toda e qualquer fonte de dons alimentícios criados por Deus, e a alma, Semelhança Divina, terá que criar tudo de si mesma, quer dizer, suprindo-se de sua sabedoria e livre vontade. Como será seu futuro, caso não tenha tido ligação com a Vontade, Sabedoria e Amor de Deus?! Que fará uma alma completamente cega, maldosa, inepta e destituída de qualquer força espiritual?! Disse-vos tudo que um homem sincero vos poderia transmitir e repito apenas: Podeis fazer o que vos agrade; pois vossa alma é tão livre quanto a minha! Meditando a respeito, deveis concluir ser sumamente tolo não que- rer participar da época mais sublime da Graça do Senhor, que talvez jamais se repetirá de tal forma!”

  1. Diz o segundo orador: “É mais que visível não alimentar o amigo Lázaro qualquer interesse em nossa conversão devido à sua grande fortuna. É tão rico, que facilmente poderia adquirir um rei- nado! Longe de nós supormos que pretenda guardar nossa fortuna no seu banco, há vários anos fechado. Soube explanar a questão do célebre Galileu sob vários aspectos, e certamente agiríamos bem em seguir o seu conselho. Quanto a mim, estaria pronto a me afastar do Templo, caso fizésseis o mesmo! Apenas umacondição ousaria externar: Seria possível, Lázaro, falar-se ao jovem, há pouco classifi- cado de arcanjo?”

  2. Responde ele: “Nada mais fácil, basta chamá-lo!”

10.RAPHAELSE REVELA

  1. Em seguida Lázaro chama Raphael, de acordo com as Mi- nhas Instruções dadas no refeitório, e o arcanjo aparece como por encanto, despertando admiração entre os fariseus. Movido de estra- nha emoção, o segundo orador diz: “Jovem misterioso, é verdade o que Lázaro acaba de dizer?”

  2. Responde Raphael: “Por que duvidais? Não concluístes ser impossível a uma criatura de minha idade possuir minhas facul- dades? Não sou humano, mas genuíno mensageiro de Deus! Meu

nome é Henoch; ora me chamo Raphael, porque não tive morte física, qual Elias, quando em eras remotas vivi na Terra. Deus, o Senhor, transfigurou-me num momento. Tal Graça não só foi con- cedida a mim, mas a quem O amar acima de tudo.

  1. Sempre vivestes em descrença, alimentando tal tendência em extremo. Esta nunca vos serviu de benefício e, como não conseguis crer livremente, não haverá força externa ou interna que vos obri- gue. Vossa vontade será respeitada, pois sem ela seríeis irracionais, semelhantes aos macacos nas florestas da África.

  2. Afirmo-vos: Quem for capaz de apreciar a inconstância do mundo e suas profissões fúteis, egoísticas e de conceito lastimável, acima do Senhor, atualmente em Pessoa entre os homens, e nós, Seus servos celestes, com Ele — é verdadeiro tolo, não obstante sua inteligência, desmerecendo-O; portanto, não pode esperar Sua Aju- da. Quem tiver reconhecido ao Senhor, e não O procurar, não será favorecido pela Sua Graça!”

  3. Retruca o segundo orador, que se deleita com a maravilhosa figura de Raphael: “És realmente arcanjo! Creio em tudo e agora se faz sentir dentro de mim uma enorme ânsia para um encontro com o sublime Galileu; ajoelhar-me-ei e pedir-lhe-ei perdão pelos muitos pecados cometidos!” Tal desejo é igualmente expresso pelos nove fariseus.

  4. Diz Raphael: “Muito bem; podeis voltar ao Templo pela manhã. Se fordes inquiridos pelos colegas, quase todos maus, quais as informações a respeito do Galileu, respondei: Pesquisamos com grande zelo e soubemos de fatos proveitosos. Convém prosseguir- mos, a fim de inteirarmo-nos de tudo. Voltaremos, portanto, apenas quando chegado tal momento.

  5. A essa explicação, com agrado sereis dispensados. Segui para Bethânia e não vos preocupeis com o restante, pois será minha incum- bência, de acordo com a Vontade do Senhor. Antes de tudo, nada dei- xeis transparecer do que houve aqui.” Terminando, Raphael desapa- rece e Lázaro se despede dos templários, que até meia-noite palestram acerca do assunto, para depois adormecerem nas espreguiçadeiras.

11.LÁZAROÉELOGIADOPELO SENHOR

    1. Ao voltar Lázaro para junto de nós, digo-lhe: “Meu filho, amigo e irmão! Resolveste a tarefa de hoje a pleno contento; pois os últimos templários mais esclarecidos foram convertidos em be- nefício de Minha Causa. Neles se baseava o Alto Conselho; são in- teligentes, experimentados e loquazes. O grande número que ainda rege no Templo é completamente ignorante, tolo e mau.

    2. Devem os neoconvertidos continuar no Templo, como fa- zem Nicodemos e José de Arimateia. Se o abandonassem em defi- nitivo, os outros começariam a enfurecer-se de tal forma a levarem os romanos a pegar das armas antes do tempo, causando prejuízo ao povo e país. Esses anciãos lá ficando, poderão suprimir determi- nadas reações, acalmando a ira dos colegas. Todavia, será oportuno irem amanhã a Bethânia sob pretexto aceitável e providenciarem a transferência de seus bens à câmara administradora de Lázaro; deste modo não mais serão sujeitos ao Templo, dele podendo se afastar quando e como o quiserem, continuando membros do mesmo para evitar sejam seus postos ocupados por mistificadores.

    3. O motivo que justifica sua ausência por tempo indetermina- do é aceitável, pois outros acreditarão na Minha captura definitiva. Cometerão grande erro! Os dez encetarão maiores pesquisas de Mi- nha Pessoa, mas em benefício de sua alma.

    4. Deu-se hoje a última boa conquista do Templo; pois os dez eram os restantes ramos verdes na árvore velha, seca e oca do Siné- drio. Se forem inoculados num tronco ainda novo e fresco, dentro em pouco darão bons frutos. Facultar-lhes-ei, a todos, um sonho es- pecial que lhes dará assunto para meditação e conjecturas. Amanhã mesmo o relatarei em Bethânia.

    5. Tive que transmitir-vos as negociações havidas entre os fa- riseus antes de nos dirigirmos à ceia; agora, Lázaro, podes mandar servir peixes bem preparados, pão e vinho. Esta noite, memorá- vel para todos, ficaremos acordados para absorverdes maiores co- nhecimentos!”

    1. Em pouco tempo Lázaro e Raphael preparam tudo e durante a refeição tocou-se em vários assuntos úteis à Humanidade, inclusive na questão dos fariseus.

    2. Especialmente os romanos, Nicodemos e José de Arimateia se sentem felizes pela conversão dos dez fariseus, piores entre todos e que, no Alto Conselho, sempre Me atacavam com inclemência.

    3. Digo Eu: “Conseguimos grande vitória na justa causa da Vida; todavia, o inferno continua sumamente ativo e o príncipe da treva e da mentira também não descansará, a fim de deturpar a se- meadura da Minha Vida nova e, antes de passar um ano, percebereis os maus frutos de sua ação!”

12.AMATÉRIAESEUS PERIGOS

  1. Retruca Agrícola, um tanto alterado: “Senhor, Tu és infinita- mente Sábio e Onipotente; além disto, dispões de inúmeras falanges de anjos poderosos, idênticos a Raphael. Nós, romanos, queremos lutar contra o poder de todos os demônios, para não se perder uma vírgula da Verdade e Justiça em Tua Doutrina!

  2. Tu, unicamente, és Poderoso e não necessitas de ajuda dos Teus anjos e muito menos dos exércitos romanos. Assim, deve ser algo mui simples exterminar a ação do príncipe das trevas! Deste modo, haverá calma, ordem, verdade, amor e justiça entre os homens!”

  3. Digo Eu: “Falas despreocupado, por não entenderes em que consiste o inferno e o príncipe da mentira e das trevas!

  4. Com razão afirmas ter Eu Poder para exterminá-los; se assim fizesse, não mais haveria Terra, Sol, Lua e estrelas! Toda a Criação material é um julgamento constante dentro da Ordem Imutável da Minha Sabedoria e Vontade. Tal medida é necessária, a fim de que as almas possam conquistar liberdade e independência da Vida eterna e indestrutível no solo duro do julgamento.

  5. Caso dissolvesse toda a Criação material, conforme acon- selhas, teria que exterminar todo corpo humano, instrumento ne- cessário à alma, com o qual unicamente pode conquistar a Vida

eterna dentro de Minha Sabedoria mais elevada e profundo Co- nhecimento.

  1. O corpo, sendo indispensável à vitória final, é igualmente a maior desgraça para a alma; pois, se ela se deixa seduzir pelas neces- sárias tentações da carne — entregando-se-lhes pelo amor, pensar e querer — participa do julgamento do seu próprio príncipe das trevas e da mentira, do qual dificilmente será libertada.

  2. Vê, a função do corpo para a tua alma corresponde ao da Terra com relação à Humanidade! Quem se deixa ofuscar e prender pelo brilho de seus tesouros, ingressa voluntariamente no seu julga- mento e morte, dos quais igualmente será difícil libertar-se.

  3. Como as criaturas do planeta se aperfeiçoam na extração dos tesouros deslumbrantes para aumentarem conforto e prazeres físicos, traduzem estes precisamente a ação aumentada do príncipe do inferno.

  4. Quais seriam o Poder e a Sabedoria aplicáveis na sua derrota? Digo a todos: Somente pela Verdade por Mim ensinada, pelo poder da máxima abnegação de si próprio e com a humildade real e plena do coração!

  5. Aplica a Verdade dentro da tua compreensão — não apa- rentemente e por motivos mundanos, como fazem os templários e muitos pagãos — que terás vencido todo o inferno e ao seu príncipe! Nenhum dos maus espíritos existentes na matéria poderá pertur- bar-te, ainda que viessem do conjunto do Homem Cósmico, pois se desvaneceriam diante de ti como palha seca e areia do deserto atingidos pelo furacão.

  6. Se os tesouros da Terra te tentassem a ponto de negares a Verdade a fim de te apossares deles, tua alma estaria vencida pelo poder do inferno e por seu príncipe, que encerra mentira, trevas, julgamento, desgraça e morte.

  7. Vê os sete egípcios! Conhecem todos os tesouros imensos do orbe e poderiam explorá-los em grandes massas; todavia, os des- prezam, vivem mui simplesmente e procuram apenas as riquezas do espírito. Deste modo, continuam detentores das faculdades remotas

e verdadeiras, pelas quais se tornaram senhores e soberanos reais da Natureza total, o que não seria, caso se tivessem deixado tentar pelos seus atrativos.

  1. Se, porventura, um chefe de família quiser manter a boa ordem em sua casa, não pode familiarizar-se com os empregados, aceitando as suas fraquezas variadas; pois, se assim fizer, torna-se ele prisioneiro dos serviçais e, quando emitir uma ordem, eles ridicula- rizarão o patrão!

  2. O mesmo sucederia com um marechal que se submetesse aos soldados, cuja força e coragem agradecem apenas a ele. Se viesse um inimigo e o chefe comandasse um ataque, os guerreiros lhe obe- deceriam? De modo algum, pois haveriam de responder: Como pre- tendes dar ordens? Não tiveste coragem e vontade para nos ensinar o uso das armas; ao contrário, nos tratavas como companheiros de esporte. Como podemos seguir-te contra o adversário?! Nunca foste nosso mestre, e sim nós te dominamos! E agora pretendes dominar a quem te domina?!

  3. Vede, assim acontece a todos que desde cedo não foram induzidos por genitores e professores a renunciar às paixões, a fim de evitar que se tornem senhores e mestres de sua alma! Uma vez dominando-a, ela enfrenta luta tenaz para dominar as exigências da carne, responsável pela sua fraqueza, indolência e queda.

  4. À alma desde cedo conduzida e exercitada na Verdade da razão pura, tornando-se mestra de seu corpo dentro da Natureza, o mundo com seus tesouros e outras tentações se tornam indiferentes; espiritualmente fortalecida, ela se elevou a mestre não só de suas paixões, mas de toda a Natureza, portanto do próprio inferno e seus chefes da mentira e da treva.

  5. Agora sabeis o que seja o inferno e seu regente e como pode ser enfrentado e dominado. Agi assim, que em breve tereis extermi- nado o seu reino nesta terra, e vós sereis senhores de tudo!”

13.PARECERDEAGRÍCOLAQUANTOÀDOUTRINADO SENHOR

    1. Diz Agrícola: “Senhor e Mestre, acabas de revelar uma Verda- de sumamente importante e percebo que assim deve ser. Mas quan- do começar com a educação dos filhos?

    2. Nasce, por exemplo, uma criança de pais ricos, cujo amor ex- cessivo tudo lhe concede, mimando-a de modo insuportável. Não se atrevem a lhe fazer a menor reprimenda pelas má-criações e, se mais tarde o professor quiser corrigi-la, tanto os pais quanto o filho se tornam seus inimigos. Os velhos romanos diziam: Quando os deu- ses odiavam alguém, dele faziam preceptor! São os genitores cegos e tolos, e o professor terá que sê-lo, caso queira viver. Onde poderiam tais rebentos desfrutar uma boa educação?

    3. Numa vida comum nos meios da alta sociedade, a criatura, quer dizer, a Humanidade total é de tal forma sofisticada de ma- neira a se tornar impossível imaginar-se como deve ser na verdade! Confesso abertamente serem necessárias tempestades incontáveis a varrerem mares e terras, até que o Gênero Humano volte ao estado primitivo.

    4. Escolas deveriam ser feitas não só para menores mas para os próprios pais, onde aprenderiam a Verdade pela qual todos se tor- nassem aproveitáveis.

    5. Onde, porém, achar-se professores para tanta gente? Tu, Se- nhor e Mestre, criaste um equipamento doutrinário, e Teus apósto- los sabem o que se torna preciso para um homem ingressar na Tua Ordem; mas que representa o seu número diante da Humanidade?! Além disto, acresce a brutalidade e selvageria dos povos, seus hábi- tos, costumes e idiomas!

    6. Como poderia alguém vencer tamanhos empecilhos?! Tu és o Próprio Senhor e tudo obedece à Tua Vontade — entretanto defron- tas diversas dificuldades! Qual será a situação de Teus discípulos?!

    7. Ótimo seria depositar-se Tua Doutrina celeste, da noite para o dia, nos corações de todos, inclusive o zelo de aplicá-la! Tal medida

não está no Teu Plano; assim, o progresso da Humanidade será mui lento e não se pode calcular a época em que todos recebam a Tua Doutrina, permanecendo a Luz da vida posse de poucos, e talvez ainda deturpada!

    1. Pois, enquanto os homens não se compenetrarem da Verdade do Teu Verbo, continuarão presa das tendências mundanas e dela farão uma fonte de renda, dando-se a mesma situação com os judeus e pagãos de hoje. Não querendo ser profeta, é esta minha opinião adquirida de experiências, e presumo estar certo.”

14.ODESTINODA DOUTRINA

  1. Digo em seguida: “Tens razão, e bem sei que assim será na maior parte, entretanto não tem importância na totalidade. Na Mi- nha Criação existem muitas escolas para almas. Quem não aprender em Jerusalém, será ensinado em outra parte!

  2. Sei que após Mim muitos falsos doutrinadores surgirão, di- zendo: Eis o Cristo! ou: Lá está ele! Digo-vos — e vós transmiti-o ao próximo e aos filhos — que não se deve crer neles; pois facilmente serão descobertos pelas ações!

  3. Viste ontem em Emaús como se deve apresentar um discí- pulo Meu, quando expedi os setenta adeptos para divulgarem a Mi- nha Doutrina!

  4. Onde encontrares doutrinadores que de tal modo dissemi- narem a Chegada do Reino de Deus entre os homens, podes con- siderá-los genuínos e verdadeiros; quando se pretende negociar e angariar tesouros por intermédio do Meu Verbo, seus propagadores são falsos e jamais escolhidos por Mim! Meus discípulos e divulga- dores verdadeiros serão como Eu, materialmente pobres, mas ricos em dons espirituais! Não necessitam apossar-se do Verbo pelo es- tudo fastidioso dum predecessor, pois Eu depositarei a Doutrina e Vontade em seu coração e boca.

  5. Os falsos terão que assimilar ensinos, provérbios e aforis- mos por longos estudos e, quando tudo tiverem decorado, serão

consagrados para neófitos pelos mestres ostentadores e presun- çosos, como ora acontece com os fariseus, escribas e anciãos; os pagãos sustentam cerimônias semelhantes, pois o sacerdócio cria uma verdadeira casta, hereditária, na qual um homem do povo só é admitido caso o sacerdote não tiver filhos e, ainda assim, se for educado para tal.

  1. Demonstrei claramente como deveis diferenciar entre dou- trinadores e divulgadores por Mim escolhidos e os falsos, e todos se poderão precaver; quem lhes dedicar amizade e fé, homenageando e auxiliando-os, será responsável caso for por eles tragado.

  2. Acontecerá aos falsos profetas elevarem-se a tronos de ouro, perseguindo os verdadeiros por Mim escolhidos e chamados. Isto se dando, seu julgamento e morte os abaterão, enquanto a Minha Doutrina brilhará apenas como posse livre e em silêncio, iluminan- do e consolando; jamais, porém, será qual soberana de povos intei- ros em cima dum trono, munida de coroa, bastão e cetro.

  3. Onde isto se der em Meu Nome, Eu Mesmo estarei longe e, em vez do Meu Amor, reinarão ganância, avareza, inveja e perse- guição de toda espécie, e uma traição revezará outra. Descobrindo tais resultados entre os pretensos doutrinadores, sabereis que espé- cie de profetas ocupam os tronos e de quem procedem suas falsas doutrinas!

  4. Se podes desfrutar sempre do justo e verdadeiro, basta sen- tires desejo para tanto e certamente não entregarás o teu coração ao erro! E assim todos sabem que, não obstante o surgimento de falsos profetas e doutrinadores, Meu Verbo Puro subsistirá no silêncio e na simplicidade até o fim dos tempos.

  5. De igual modo expliquei por várias vezes os motivos que Me levam a divulgá-lo aos poucos entre todos os povos da Terra, pois Eu sei quando tal momento é propício.

  6. Quanto à rápida divulgação de Minha Doutrina a todos os pontos apropriados da Terra, já foram tomadas as providências necessárias, que serão aumentadas dentro em breve; assim, podemos encerrar o assunto, por haver outro, mais importante.”

  1. Diz Agrícola: “Certamente será como disseste; mas nós, im- pedidos de sondar o futuro e apenas podendo levar uma vida de pro- vação, vemo-nos obrigados a perguntar acerca do final disso tudo!

  2. Porventura será Tua Doutrina posse geral e quando? Talvez subsistirá apenas entre alguns escolhidos? A julgar por Tuas Palavras, parece ser esse o caso! Muito bem! O que Tu, Senhor e Mestre, acha- res justo, terá que ser aceito por nós; facultando-nos, além do livre arbítrio, um critério igualmente livre, foi essa a minha opinião.

  3. Além do mais, deduzi teres planos e intenções especiais com as criaturas, do contrário não permitirias o aparecimento de falsos doutrinadores; por isto, passarei a ser ouvinte.”

  4. Digo Eu: “Farás bem, pois melhor é ouvir que falar, en- quanto falta a base para tal. Acredita-Me: Criar mundos é fácil; fazer surgir criaturas livres e deixá-las atingir o aperfeiçoamento — no que a Onipotência Divina tem que silenciar e ser inativa, devido à Ordem de Seu Amor e Sabedoria — é finalmente um problema difícil até mesmo para Mim! Disponho apenas de infinita Paciência e imensa Meiguice.

  5. Por isto é preciso deixar as criaturas passarem por situações boas e más através de sua fé e ação, para aprenderem a ser prudentes e, no fim, procurarem o justo conhecimento espontaneamente.

  6. Assim como todos os seres nesta Terra progridem material- mente entre noite e dia, verão e inverno, o mesmo sucede ao homem espiritualmente.

  7. Quando as criaturas primitivas caminhavam espiritualmen- te em pleno dia, a Luz se lhes tornava, no fim, incômoda; quando, mais tarde, apareceu a noite espiritual, começaram a sentir o valor do dia de Luz e os mais inclinados procuraram com temor o Paraí- so perdido.

  8. A poucos foi dado encontrar o Dia espiritual e muitos, ofuscados pelo brilho do mundo, não compreendiam o que era um Dia espiritual, continuando em sua treva, seduzidos pela própria preguiça. Naturalmente não gozavam da felicidade de um Dia espi- ritual, encontrando-se em grande aflição. Tal aflição foi, todavia, um

bom vigia aos felizes, pois percebiam o resultado surgido da treva espiritual.

  1. Assim acontece, se se mantiverem e progredirem ignorantes ao lado de inspirados! Por isto, nunca haverá carência de criaturas verdadeiramente iluminadas, tendo oportunidade de esclarecer as ignorantes; os iluminados que assim fizerem em Meu Nome terão grande recompensa no Meu Reino!

  2. É Graça imensa e inestimável a criatura ser por Mim ilu- minada; mil vezes mais valioso, porém, ela iluminar com a Luz ver- dadeira da Vida a outros que caminhem nas trevas, caso queiram aceitá-la. Todavia, repito novamente: Não atireis as Pérolas da Mi- nha Doutrina aos impuros! Pois quem se tiver maculado qual suíno, sê-lo-á para sempre! E ainda que tal homem, numa boa oportuni- dade, ouça com agrado uma palavra verdadeira e justa, na primeira ocasião ele volta ao antigo lodaçal, nele se atirando com prazer. A tais criaturas não deveis passar o Evangelho, pois disponho de outro que lhes ensinará a própria Natureza, sob muitas dores, clamores e ranger de dentes!

  3. Abordamos este assunto importante e podemos tratar de outro. Quem tiver alguma dúvida, pode externar-se; quero que ama- nhã deixeis o Monte das Oliveiras bem esclarecidos!”

  4. Responde a maioria: “Senhor, não alimentamos dúvida al- guma e nos sentimos mui felizes!”

15.FUTURAPOVOAÇÃODOORBE.OPESODA VELHICE

  1. Um dos magos da Índia, porém, obsta: “Senhor e Mestre, poderias esclarecer-me algumas dúvidas?”

  2. Respondo: “Não és menos homem que qualquer outro, por- tanto podes externar-te!”

  3. O mago hesita um pouco, supondo ser a questão algo tola; finalmente se anima e diz: “Senhor, descubro um ponto duvidoso quanto à subsistência do Gênero Humano e, caso não haja modifi- cação de Tua parte, a situação tende a piorar.

  1. Todo ser vivo se procria, necessitando de maiores recursos alimentícios; o solo terráqueo não aumenta! Se dentro de alguns milênios não houver alteração, impossível imaginar-se a subsistência das criaturas. Qual é Teu parecer?”

  2. Digo Eu: “Caro amigo, poderias ter poupado tal preocupa- ção por diversos motivos; desde épocas eternas, foi por Mim calcu- lado o número de criaturas para as partes habitáveis da Terra. Se ela existir ainda por dez mil anos e o gênero Humano se duplicar ou triplicar, podem nela viver dez vezes mais que atualmente. E, caso surgissem tantas, a ponto da parte seca não mais as alimentar, há quantidades de recursos, fazendo surgir do mar outros continentes, para cem mil vezes mais.

  3. No momento, nela habitam tantas criaturas, cujo número co- lossal desconheces, entretanto há territórios inabitados tão vastos, que alguém nem em mil anos os teria percorrido e analisado. Ainda assim, pessoas muito ricas possuem terras enormes, mais de cem vezes exage- radas para suas necessidades de sobrevivência. Calcula igual distribui- ção do solo terráqueo, e todos — ainda que fossem cem vezes mais do que agora — achariam alimento e acomodações, mormente vivendo dentro de Minha Doutrina. Estás satisfeito com Minha Explicação?”

  4. Responde o mago: “Inteiramente, Senhor e Mestre, e meu co- ração se sente aliviado! Todavia, tenho ainda outra dúvida; encontran- do-me na Fonte Original da Luz, desejava elucidação maior. É a vida do homem realmente grandiosa! É gerado, criado e educado até que, adulto, encontre pelas experiências a razão intelectual. Conseguindo elevar suas forças espirituais a um grau superior, com grandes lutas e experiências dolorosas, a resistência física desaparece aos poucos e a criatura morre geralmente com sofrimento e pavor da morte.

  5. Explicaste que o desprendimento não seria pavoroso, mas completamente indolor, caso as criaturas se tivessem mantido den- tro de Tua Ordem, que lhes foi revelada. No entanto, é lamentável que as criaturas — que na maioria desconhecem Tua Ordem dada na era original, portanto são inculpáveis — tenham que sofrer as consequências negativas por viverem de forma totalmente oposta.

  1. Aceito a Lei capital para o assassino, a fim de instituir um exemplo aos demais. Querer castigar com a morte quem, pela que- da do telhado, matou um transeunte, seria a maior das injusti- ças. Este exemplo traduz os Desígnios de Deus referentes às mo- léstias e a morte; tal castigo jamais mereceram e poderias alterar tal desfecho!

  2. Os hindus suportam dores atrozes com a máxima paciência, porque nossa doutrina ensina ser isto do agrado de Deus. Diante de sofrimentos tão atrozes, a alma dum espectador desprevenido se re- volta, perguntando se Deus não tem recursos para iluminar a razão humana, como fez às criaturas primitivas! Por que permites o mar- tírio de milhões, antes de semear uma fagulha de luz em seu meio?”

16.ENCARNAÇÃODEHABITANTES ESTELARES

  1. Digo Eu: “Amigo, há dias vos dei explicação completa, e não tenho culpa se não a compreendeste! Vê as estrelas! São mundos imensos, habitados como o nosso orbe.

  2. Muitas criaturas de lá sabem, pelos anjos, ser apenas possí- vel nesta Terra uma alma chegar à filiação de Deus, através de uma encarnação difícil e pesada. Caso o queiram, podem encarnar em nosso planeta. Isto acontecendo, terão que se submeter à provação por certo tempo, pois assim colhem o triunfo da Semelhança Divi- na. Eu Mesmo suportando muita coisa por amor dos Meus filhos

  1. Responde o mago: “Sim, Senhor e Mestre, e também me lembro de Tuas Palavras anteriores. Quando nosso corpo for expe- rimentar dores e sofrimentos, suportá-los-emos com toda paciência e por amor a Ti; pois ignoramos quais as circunstâncias que nos trouxeram à Terra, cabendo-nos apenas procurar Deus para amá-Lo acima de tudo, não obstante a vida de provações.

  1. Segundo me parece, permites maiores sofrimentos aos mais próximos do Teu Coração. Nas minhas viagens sempre encontrei pessoas ateístas que tratavam o semelhante pior que irracionais, to- davia desfrutavam perfeita saúde e vida de fausto. Para completar, morriam subitamente!

  2. Em compensação, deparava com criaturas devotas e boas, que com toda paciência suportavam grandes atribulações, fato que me fazia duvidar da própria Existência de Deus. Tais dúvidas se dis- siparam e reconheço em tudo o Desígnio de Deus; meu sentimento não cala, afirmando ser a vida de provação difícil tarefa para os ho- mens, não obstante alcancem o maior benefício espiritual.

  3. Nunca poderíamos ter tido o desejo de viver; este desejo foi Teu, portanto somos Obra Tua, pela qual cuidas para poder se tor- nar aquilo que determinaste.

  4. Assim sendo, e Tu nos demonstrando os Caminhos a palmi- lhar, segui-los-emos com gratidão, suportando com paciência e de- dicação os espinhos a ferirem os nossos pés. Eis a decisão minha e de meus companheiros. Não nos sobrecarregues de provas mui duras por ocasião da partida da Terra e sê Misericordioso para com todos!”

  5. Digo Eu: “O que pedirdes em Meu Nome, ser-vos-á dado. Pois somente o Pai é Bom e Lhe desagrada o sofrimento das criatu- ras; todavia, não impede que sejam assoladas quando esquecem-No pelo mundanismo, atirando-se a tudo que lhes possa prejudicar.

  6. Prossegui nos Caminhos por Mim demonstrados, que pou- cos serão os sofrimentos e vossa morte será suave!

  7. Sofrimentos atrozes atacam no fim aqueles que enterraram sua alma no corpo, em virtude de suas tendências mundanas; pois, antes de se perderem totalmente na carne, têm que ser arrancados com grande violência, que fatalmente produz fortes dores físicas, em benefício da alma que, deste modo, se purifica dos gozos da carne, encontrando no Além franco progresso espiritual.

  8. Criaturas mundanas e ateístas, que desfrutam de boa saúde até a idade avançada e no final têm morte rápida e indolor, já rece- beram o prêmio da Vida neste mundo, e não devem esperar recom-

pensa no Além. Em sua companhia haverá treva mais densa, choro e ranger de dentes.”

  1. Diz o mago: “Senhor e Mestre, se criaturas como, por exem- plo, os pagãos, não têm culpa de sua ignorância do Deus Verdadeiro, recebem castigo tão inclemente, julgo tal medida injusta! Homens iguais a nós, que tivemos a ventura de conhecer Deus, mereceriam, pelo afastamento Dele, destino inclemente no Além. Mas quem não tem culpa do seu atraso semelhante ao dos animais é irresponsável, e uma punição após a morte pelas más ações aqui praticadas não me parece estar em harmonia com a Ordem e o Amor de Deus. Eis um ponto incompreensível para a minha alma, pedindo-Te mais algum esclarecimento!”

17.OTRATAMENTODASCRIATURAS,AQUIENO ALÉM

  1. Digo Eu: “Acerca desse assunto, já foi explicado o necessário, inclusive pelos Meus discípulos; vossa memória não sendo treinada, continuam obscuros certos recintos de vossa alma. Caso vivais de acordo com o Meu Verbo, recebereis o Batismo do Espírito, ou seja, o renascimento do espírito em vossa alma. Ele vos levará à Verdade plena, fazendo-se luz onde ora há escuridão.

  2. Aquilo que teu raciocínio esclarecido classifica de injusto, quer dizer, castigando-se a quem não recebeu Lei a ser respeitada, é do Conhecimento de Deus e da Sabedoria Divina.

  3. Acontece não haver um povo no orbe isento de leis; pois Deus inspirou e determinou, entre todos, homens inteligentes que transmitiam as leis, inclusive o conhecimento de Deus, que tudo cria, sustém e rege. Além disto, ensinavam recompensar Deus os cumpridores dos Mandamentos, aqui e no Além. Os infratores, po- rém, seriam punidos com rigor em vida e após a morte, porquanto a alma sobrevive no mundo dos espíritos, onde seria julgada.

  4. Essa noção foi transmitida a todos os povos e, tão logo a es- quecem, são relembrados por outros missionários e, de modo geral, pela própria consciência, não havendo desculpas quando, mesmo

dispondo de intelecto e dos cinco sentidos normais, agem contra- riamente às leis conhecidas. Se, no Além, a criatura se encontra no estado criado por seu sentimento e livre arbítrio, não pode alegar ser vítima de uma injustiça divina, pois agiu livre e conscientemente.

  1. Cada alma terá, no Além, o que deseja. Querendo o mal, são-lhe apontadas as consequências de sua vontade. Dando atenção às advertências, dentro em pouco receberá ajuda; assim não agindo, tudo lhe será facultado para satisfazer sua inclinação!

  2. Tal inclinação, boa ou má, é a vida peculiar da alma de cada criatura, anjo ou demônio; se tal pendor lhe for tirado, ela perde a vida e o ser. Isto não pode estar na Ordem Divina; pois, se fosse possível a destruição do menor átomo da Criação, perdendo sua existência para sempre, Deus Mesmo perderia um átomo de Sua Existência — coisa inteiramente impossível.

  3. Assim sendo, uma alma humana tampouco pode perder sua vida; pode se tornar muito infeliz e miserável pela própria vontade, mas igualmente alcançar sua plena felicidade.

  4. As condições de vida e os estados psíquicos sendo de tal for- ma constituídos — como poderiam ser mais sábios e justos?! Com- preendeste esse ponto, e teu recinto obscuro aclarou-se algo mais?”

  5. Responde o mago: “Senhor e Mestre de toda vida, estou ple- namente orientado! A situação é tal qual a descreveste; portanto, não há o que contrapor, e assim terminei as minhas perguntas.”

  6. Digo Eu: “Por ora ages bem! Haverá momentos em que surgirão outras. Quem de vós desejar algum esclarecimento, pode manifestar-se; pois hoje as Portas dos Céus estão abertas para todos!”

18.APORTADOCÉUEOREINODE DEUS

  1. Quando termino de falar, aproxima-se, rápido, um dos fari- seus convertidos e diz: “Senhor e Mestre, já que afirmas estarem as portas do Céu abertas, acaso não seria possível lançarmos um olhar lá para dentro, a fim de termos uma pequena ideia de sua formação?”

  1. Respondo: “Por quanto tempo terei que suportar vossa com- preensão material?! Quem é a Porta para o Verdadeiro Reino do Céu? Eu sou a Porta, o Caminho e o próprio Céu! Quem Me ouvir, crer em Mim e amar o Pai em Mim, acima de tudo, caminha pela Porta certa de todo Ser e Vida, no Caminho luminoso do Reino dos Céus, espiritualmente criado do Meu Amor puro, da maneira mais clara e viva de Minha Sabedoria.

  2. Não dirijais o olhar para cima ou para baixo, querendo des- cobrir a forma real, a natureza do Céu e o Reino de Deus, mas dirigi os olhos da alma à consciência do amor vivo em vós, onde descobrireis o Céu em toda parte, não obstante onde vos achais nas Minhas Criações — se nesta ou em outra Terra; pois a formação do Céu corresponderá à vossa base vital, resultante da aplicação do Meu Verbo e das boas ações. Somente por esse vosso Céu chegareis ao Meu, eterno e infinito.

  3. Lembrai-vos bem: O Reino de Deus não consiste num apara- to de pompa externa, tampouco vos procura com esquema e forma externos; existe dentro de vós, no espírito do puro amor a Deus e ao próximo e na Verdade da vida da alma; pois quem não tiver amor para com Deus e ao próximo não terá vida em si, tampouco ressur- reição, que é o próprio Céu na criatura. Deste modo, não há vida nela, apenas julgamento e a morte eterna, frente à vida unicamente verdadeira e perfeita no Céu.

  4. As almas dos maus também continuam vivas após a morte; no entanto, é uma vida aparente, igual a toda matéria e a de certos animais que, durante o inverno, dormem em qualquer cova, intei- ramente inertes.

  5. Refletindo algo mais, impossível Me dizerdes: Senhor, mostra-nos a Porta do Céu e algo dele mesmo, ou então, mos- tra-nos também o inferno para, advertidos pelo aspecto, po- dermos nos abster mais facilmente de todos os pecados! Seria obrigado a chamar de tolo quem assim indagasse; toda criatura tem o Céu ou o inferno perfeito dentro de si, podendo ana- lisar tudo.

  1. É surdo e cego na alma quem alimenta o inferno em si; vez por outra, a consciência lhe acusa, do contrário não poderia perce- ber o inferno dentro de si, pois uma alma infernal já se encontra na morte pelo julgamento de sua matéria.

  2. Uma alma que, pelas boas obras feitas à Minha Vontade, tem o Céu em seu coração, pode vê-lo à luz do dia e, de tempos em tempos, em visões nítidas. Essas são facultadas aos homens a fim de permanecerem em contato com o mundo dos espíritos mais ou menos elevados, de acordo com a criação do verdadeiro Céu, através das boas obras pela vontade de Deus. Palmilhai, portanto, nos Meus Mandamentos e facilmente percebereis forma e natureza do Céu! Tereis compreendido isso?”

  3. Respondem todos: “Sim, Senhor e Mestre, e Te agradecemos sinceramente pelo ensino, por sermos ainda bastante cegos e surdos, não obstante a grande Luz por Ti proporcionada! Por isso, pedimos que tenhas paciência com nossas grandes fraquezas; de nossa parte nos esforçaremos para que Tua Santa Doutrina nos ilumine cada vez mais.”

19.AIMPOTÊNCIA HUMANA

  1. Digo Eu: “Tudo que fizerdes, seja feito em Meu Nome; pois, sem Mim, nada de eficaz podereis fazer para a salvação de vossa alma! E, se no final tiverdes feito tudo que foi recomendado para a conquista da Vida eterna e verdadeira, confessai ao mundo e a vós mesmos terdes sido servos preguiçosos e inúteis! Pois somente Deus é Tudo em tudo e também faz as boas obras na criatura.

  2. Quando aplicar a Vontade revelada de Deus, ela não age pela sua vontade, mas pela divina; aquilo que a Vontade divina fizer no homem ou no anjo puro deixa de ser vontade deles, e sim a obra do Autor da Vontade.

  3. Obra humana para sua salvação consiste apenas na aceitação da Vontade de Deus, revelada, por amor e verdadeira veneração a Ele, agindo de acordo. Daí em diante, não mais age a vontade do

homem, mas a de Deus, que faz o Bem através dela, de sorte a ser o Bem apenas Obra de Deus, fato que o homem justo e verdadeiro é obrigado a reconhecer em sua humildade. Atribuindo-se o mérito de uma boa ação, demonstra ele não ter reconhecido a si mesmo e muito menos a Deus, razão por que está longe do Reino de Deus.

  1. Por isso, dai em tudo e sempre Honra a Deus e agi em Seu Nome, que tereis o Amor de Deus dentro de vós — e quem possuir o Amor divino terá tudo para todo o sempre.

  2. Além disto, lembrai-vos do seguinte: Quando o homem agir mal, não obstante sabedor da Vontade divina, tal ação não é Obra de Deus, mas do próprio homem; pois ele não submeteu sua vontade livre à de Deus, revelada, reagindo constantemente contra Ele. Por esse meio ele se condenou pelo grande abuso do livre arbítrio, pro- vocando em tal cegueira sua própria infelicidade.

  3. Em assuntos espirituais dá-se o mesmo que com um inteli- gente marechal em relação aos guerreiros: aos milhares eles são obri- gados a enfrentar lutas sangrentas e encarniçadas; todavia, nenhum pode querer senão de acordo com o plano e a vontade do chefe militar. Quem assim agir será feliz na guerra; mas quem dissesse: Eu mesmo tenho coragem, forças e conhecimentos estratégicos e luta- rei por conta própria para conquistar a coroa! — automaticamente se afastaria do plano bélico do chefe militar, do que resultaria sua queda, pois seria preso e maltratado pelo inimigo. De quem seria a culpa? Dele mesmo! Por que não adotou a vontade do chefe, sendo fácil participar da vitória?! Querendo ser general e soldado, tornou-

-se presa do inimigo.

  1. Eu sou, igualmente, Marechal Único da Vida contra tudo que lhe seja adversário. Quem lutar pelos Meus Mandamentos e dentro de Meus Planos, fácil luta e vitória plena terá contra os inú- meros inimigos da Vida; quem se comprometer, sem Mim, e pela própria vontade ou inteligência, numa luta contra os vários adver- sários da Vida, será aprisionado e maltratado por eles. Uma vez no cárcere — quem o libertará, se lhe cabe descobrir e vencer os piores inimigos dentro de si mesmo?!

  1. Se alguém consegue facilmente vencer ao Meu lado mui- tos adversários, a vitória é apenas Minha Obra, pois a conseguiu unicamente pelo fiel cumprimento de Minha Vontade, Plano e Conselho. A Vitória sendo Minha Obra — Honra e mérito tam- bém Me cabem!

  2. Espero que tenhais compreendido como e por que nada de meritório podeis fazer sem Mim para a eterna salvação de vossa alma, e por que deveis confessar perante Mim serdes ociosos e inú- teis servos ao Meu lado, ainda que tenhais feito tudo.

  3. O lavrador, ao aprontar o campo, prepara-o com estrume, sulca o solo com o arado, espalha a semente nas aberturas, cobrin- do-a com a grade, nada mais fazendo até a colheita. Porventura é a colheita obra e mérito do lavrador — ou Minha?! Quem criou a jun- ta de bois para o arado? Quem lhe deu madeira e ferro, e a semente com o gérmen vivo? Quem depositou nele inúmeros germens e se- mentes novos? De quem era a Luz do Sol, aquecedora e vivificadora? Quem proporcionou orvalho e chuva fertilizantes? Quem facultou o crescimento às hastes, o amadurecimento, e quem, finalmente, deu aos lavradores vida, sentidos, compreensão e inteligência?

  4. Refletindo sobre esse quadro, compreendereis quão peque- nos são trabalho e mérito do lavrador no preparo do campo. Obser- vados à luz clara, são eles quase nulos; entretanto, ele poderia afir- mar: Eis o resultado de meu zelo! — sem refletir quem realmente foi o principal trabalhador no campo de trigo! Não deveria ele confessar no íntimo: Senhor, Grande, Bom e Santo Pai no Céu, agradeço-Te por tanto zelo! Pois tudo isso é e será sempre Tua Obra; eu, apenas servo preguiçoso e inútil!?

  5. Isso se justificando num trabalho material — quanto mais deveria ser afirmado por parte do homem, ao qual ajudo de toda e qualquer maneira no preparo de seu campo de vida espiritual, nada mais tendo a fazer senão acreditar em Mim e, em seguida, apossar-se de Minha Vontade divina como simples Dádiva Minha, como se fosse sua! Se tal criatura, na posse plena de Minha Vontade, puder efetuar coisas e obras grandiosas — de quem é o principal mérito?!”

20. ASLEISDO SENHOR

    1. Novamente todos respondem em uníssono: “Senhor e Mes- tre, tudo é desde eternidades apenas Tua Obra e Teu Mérito! Nós, criaturas, nada somos perante Ti! Somente Teu Amor e Tua Graça nos deram a vida e, além disto, nos querem elevar para filhos seme- lhantes a Ti, de sorte a sermos simples Obra Tua e nossas qualidades excelentes nada mais são que Teu Mérito! Jamais nos abandones, Senhor! Onde buscaríamos as noções espirituais de Ti e de Tua Von- tade Onipotente?! De modo idêntico, nossos descendentes tudo de- verão a Ti, caso se encontrarem dentro de nossa compreensão e fé pura; Tu, Senhor, certamente cuidarás deles para não se afastarem da Luz que ora nos ilumina!”

    2. Digo Eu: “Isto será entregue — como foi até hoje — aos trabalhadores de Meus Campos e Vinhas; e tudo dependerá como aplicarão a Minha Vontade transmitida, justa ou erradamente. Evi- tai especialmente discussões e contendas quando Eu tiver partido, pois tornar-se-iam geradores do anticristo nesta Terra! Previno-vos, a fim de que sejam evitadas. Certamente assim fareis; quanto aos sucessores — eis uma questão duvidosa, porque a vontade deles terá que ser respeitada tanto quanto a vossa.

    3. Minha Doutrina vos faculta a máxima liberdade e não pode ser divulgada pela espada e com algemas da escravidão tenebrosa; pois o que proporciona a maior liberdade de vida, o homem terá que reconhecer e aceitar em plena liberdade. Assim como vos dei tudo gratuitamente, tereis que passá-lo aos que o desejarem!

    4. Nunca vos impus coação, mas sempre vos convidei em plena liberdade: Quem quiser — venha, ouça, veja e Me siga! E seguistes pelo livre arbítrio! Agi deste modo em Meu Nome, que caminhareis em boa trilha!

    5. Quem operar pela obrigação não será Meu discípulo, en- contrando rochas, desfiladeiros e espinhos na estrada. Meu exem- plo vos sirva de imitação, justa e real! Que Me custaria forçar, por um momento, todas as criaturas da Terra, através de Minha Oni-

potência, à aceitação de Minha Doutrina e ao cumprimento pleno de Minha Vontade, assim como posso, de momento, determinar à restante criação o caminho ao imperativo categórico, que deveria seguir rigorosamente?! Teria sensação de liberdade moral e venturo- sa? Nenhuma!

    1. Deve haver grande diferença entre uma inteligência embotada e mui reduzida, dotada de uma fagulha de Minha Vontade obriga- tória, pela qual tem que agir, e uma percepção ilimitada, ligada ao intelecto mais lúcido e uma vontade sem restrições, à qual nunca impus: Tens que agir de tal forma! — mas sempre aconselhei com a expressão: Deves fazer isto ou aquilo! Pois todos os Meus Manda- mentos não foram propriamente Leis, senão conselhos dados pelo Amor e Sabedoria eternos. Destes conselhos, as criaturas fizeram Leis rigorosas, na suposição de Me proporcionarem maior honra, cujo não cumprimento sancionavam com castigos temporais e eternos.

    2. Muito contribuiu Moysés para tal desfecho a fim de alcançar maior respeito à Vontade de Deus. Outros fizeram o mesmo, e os atuais fariseus atingiram o ponto culminante, não só da tolice mas da consequente maldade. A situação do judaísmo, tão precária, é o efeito da legislação de Meus Conselhos. Como pode uma lei com- binar com o livre arbítrio e o intelecto, igualmente livre e ilimitado?

    3. O livre arbítrio certamente aceitará com gratidão uma eluci- dação do seu intelecto, como Graça do Alto; uma Lei obrigatória, ele amaldiçoará com a vontade e a alma. Por isto é condenado e, ipsofacto, amaldiçoado quem se acha debaixo da Lei categórica.

    4. Quem, portanto, der Leis categóricas em Meu Nome, dará às criaturas, em vez de Minha Bênção, o fardo pesado e o jugo duro da maldição, fazendo-as novamente escravas do pecado e do julgamento.

    5. Por esse motivo, vosso cuidado na divulgação de Meus Mandamentos deve ser dirigido em não acumulardes peso maior, mas libertá-los do antigo jugo!

    6. Quando a criatura compreender e reconhecer, de alma li- vre, a Verdade luminosa da Doutrina e de Minha Vontade Paternal, ela espontaneamente formará uma Lei individual, aplicando-a com

liberdade, o que unicamente lhe servirá para benefício real de sua alma; isto porque, primeiro: uma Lei obrigatória é contra Minha Ordem Divina — apenas obscurece e nunca ilumina; segundo: em virtude dos legisladores se arrogarem poderes elevados e exclusivos, tornam-se altivos, orgulhosos e dominadores. Além disto, acres- centam aos princípios puramente divinos os próprios, inclusive sua vontade individual, diante da qual os crentes devem tremer mais do que perante Deus.

    1. Tal situação cria superstição tenebrosa, ódio contra fiéis de outras religiões, perseguição, assassínios e guerras exterminadoras. Para tanto, os homens se baseiam em incríveis absurdos e, no final, acreditam prestar serviço agradável a Deus quando cometem os pio- res crimes aos semelhantes de seitas diferentes. Disto são culpados somente os legisladores!

    2. Por isso, ao chegarem no inferno, de quem foram servos prestimosos, ocuparão os primeiros lugares entre os legisladores in- clementes; pois em Meus Céus só reinam a máxima liberdade e a maior união, surgidas do puro amor e da mais profunda sabedoria!

    3. Demonstrei e expliquei o assunto com toda a clareza e sabeis livremente o que considerar como divulgadores de Meu Evangelho. Algum de vós ou vossos discípulos pretendendo agir inversamente, serão advertidos, sem coação interna. Os maus resultados apontarão qual a índole de tais criaturas.

    4. Não acrediteis, contudo, Eu ter sustado a Lei de Moysés; ela é a mesma em sua pureza original. Revogo, apenas, a antiga co- ação e vos restituo a plena liberdade de antanho. Nisto se baseia principalmente a obra de salvação de vossas almas do pesado jugo do julgamento e do próprio Satanás, príncipe de noite e trevas, li- bertando-vos da Lei em Meu Nome.

    5. Assim como vos dou a plena liberdade, por Mim, deveis agir com os semelhantes! Batizai-os em Nome de Meu eterno Amor

21.AGRÍCOLAPEDECONSELHOPARAAEDUCAÇÃODA JUVENTUDE

  1. Todos respondem afirmativamente, enquanto Agrícola se adianta, dizendo: “Senhor e Mestre, compreendo a fundo a Tua Ver- dade pura e luminosa, e vejo ser a maldita coação da Lei obra da cegueira humana que, infalivelmente, terá que destituir as criaturas de um conhecimento superior, porquanto obstrui as fronteiras pelas quais a Luz celeste poderia penetrar, razão por que atrai e oprime a alma na matéria. Tal prejuízo cresceu a tamanho poder e força, a se tornar difícil bani-lo da Terra.

  2. Haja vista a máquina legislativa de Roma, para cuja manu- tenção se tornam necessários, no mínimo, oitocentos mil soldados e igual número de sacerdotes pagãos, dotados de suas prerrogativas. Furar tal dique assassino de almas e destruí-lo é inteiramente impos- sível, ainda que com a melhor boa vontade e energia.

  3. Falo de nosso Estado, que manifesta a maior civilização, por- quanto em outros países as criaturas não diferem muito dos animais. Se deparo com tantas dificuldades — qual será a situação em raças selvagens?!

  4. Haverá muitas pessoas dispostas a aceitarem a Doutrina, como eu o fiz; basta apenas formarem-se sociedades e agrupamen- tos, e os sacerdotes influenciarão o imperador, até que reaja pelo poder. A antiga Lei categórica lançará suas algemas e correntes sobre os povos, e ai de quem se atrever a divulgar Tua Doutrina!

  5. A essas considerações acresce um ponto importante: a edu- cação desde o berço! Quantas crianças são mal-educadas pelo exces- sivo mimo ou a severidade tiranizadora! Além disso, existem, para as classes privilegiadas, escolas sujeitas ao regime sacerdotal, onde aprendem a ler, escrever e contar; todavia, de assuntos espirituais somente aprendem o que diz respeito à superstição.

  6. Como iniciar, a fim de demonstrar aos genitores a educação da prole? E caso fosse possível obter-se alguns resultados — qual a iniciativa nas escolas públicas para se alcançar êxito na salvação das

almas? Muito embora Teus Conselhos sejam aproveitáveis pela prá- tica, quase impossível se me depara a conversão geral. Preciso é Tua Onipotência entrar em ação, do contrário nada se conseguirá com a Humanidade até o Fim dos Tempos.

  1. Não sou profeta, mas velho político, e conheço a máquina do Estado e os povos; portanto, posso prognosticar qual o efeito de Tua Doutrina. Por isso, Te peço demonstrares os meios certos para passá-la aos semelhantes.”

22.AORDEMNAEVOLUÇÃO ESPIRITUAL

  1. Digo Eu: “Falaste com inteligência, e a situação corresponde à tua exposição; todavia, afirmo-te não querermos modificá-la, mui- to embora fôssemos capazes.

  2. Assim como o dia não rompe de súbito, mas gradativamen- te — desde o imperceptível alvorecer até o surgir do Sol através dos crescentes graus da Luz — também ocorre o Dia espiritual nas criaturas desta Terra. Se Eu fizesse surgir o pleno Dia espiritual de momento, elas se tornariam ociosas, sem interesse em pesquisas e estudos. Cumpririam os Mandamentos e agiriam dentro da Verdade luminosa — porém de modo mecânico. Assim é melhor; percebem o surgir do Dia espiritual de grau em grau pela própria procura, pesquisa e ação, causando-lhes imensa alegria e podendo instruir aos irmãos ignorantes pelo estímulo de sua evolução.

  3. Os discípulos a divulgarem o Evangelho nesta época de obs- curecimento serão dotados de todo o Meu Poder, sendo capazes de operar grandes milagres em Meu Nome, quando tal for necessário em benefício real das criaturas; todavia, será de muito maior va- lor se as conversões à fé em Mim se derem dentro da ação de Mi- nha Doutrina.

  4. Pela palavra simples a alma não sofre constrangimento, mas continua livre no conhecimento e na ação; enquanto as provas dadas antes do ensinamento impõem certa coação de crença, nada melhor que a Lei.

  1. Quanto às Leis de Estado, devem continuar para o físico hu- mano, pois, enquanto o homem não for inteiramente renascido em espírito, necessita ele de leis externas para exercitar humildade e pa- ciência. São indispensáveis ao renascimento e impedem o ignorante e maldoso a fazer o mal ao próximo ao extremo, pois apontam em linhas pronunciadas o que cabe a cada um, castigando os infratores.

  2. Por isso também vos digo que deveis ser submissos ao poder mundano, ainda que não vos pareça equilibrado, até mesmo mau, pois sua força lhe foi dada pelo Alto. Quem for renascido em espíri- to se perturbará tanto quanto Eu com uma Lei do mundo.

  3. As crianças devem ser educadas com amor verdadeiro e con- trolado. Todo mimo e condescendência por parte dos pais são gran- de prejuízo para as almas dos filhos, cabendo àqueles a culpa. Geni- tores sábios serão abençoados por filhos compreensivos.

  4. Na educação deve existir coação até que o benefício da Lei se tenha transformado em obediência voluntária e alegre. Chegado esse ponto, a criança terá sustado o imperativo da Lei, tornando-se criatura livre. Fazei, pois, o que acabastes de ouvir, que tudo dará certo! Quem tiver mais alguma dúvida pode expressar-se, que lhe darei uma luz para poder caminhar e agir em pleno dia!”

23.MEIOSDESUPRESSÃOAOSACERDÓCIO PAGÃO

  1. Nisto se adiantam Agrippa e seu companheiro Laius, mo- radores de Emaús, e o primeiro diz: “Senhor e Mestre! Revelaste assuntos importantes e maravilhosos; todavia, esqueceste um ponto mencionado por Agrícola: o difícil extermínio do sacerdócio pagão.

  2. Já existem dificuldades com o judaísmo, ciente de um Deus Único e Verdadeiro — quanto mais com os pagãos presos a imagens de pedra, metal e madeira veneradas pelo povo. Seria proveitoso um esclarecimento de Tua parte.”

  3. Digo Eu: “Também nesse ponto não precisais preocupar-vos; pois afirmo-vos ser mais fácil converterdes cem sacerdotes pagãos a umsó fariseu. Isso porque os primeiros perderam grande prestígio

pelos filósofos gregos e seus sucessores romanos; segundo, as ações milagrosas caíram em descrédito através dos magos que, de toda parte do mundo, vinham a Roma. O povo acompanha certas apre- sentações a título de distração, sem fé especial. Assim, acontecerá que os sacerdotes pagãos acabarão, enquanto o farisaísmo judaico se manterá por muito tempo. O pior de tudo será a criação de um novo farisaísmo sob Minha Bandeira, de efeito muito mais perni- cioso do que o antigo! Na explicação dos dois capítulos de Isaías, demonstrei igualmente o novo farisaísmo e não necessito repeti-lo.

  1. No tocante aos sacerdotes pagãos, a própria ignorância co- meça a oprimi-los e muitos almejam conhecimento melhor e real, razão por que alguns vão ao Egito de quando em quando, a fim de receberem, por parte de um sábio, noção mais profunda sobre a fi- nalidade do homem, de sorte que a situação deles não é tão precária como pensais. Foi esse o motivo por que não quis fazer referência especial à mesma. Vós imaginando um abismo intransponível em tal situação, vi-Me obrigado a esclarecer-vos.

  2. Repito e peço considerardes o ponto acima: Não façais, sob pretexto algum, de Minha Doutrina uma Lei categórica, para conti- nuar em sua pureza livre — ao menos entre poucos — até o Fim dos tempos desta Terra, e Eu convosco, agindo em Espírito.

  3. Com o tempo, aparecerão em vão quantidade de profetas, falsos e semifalsos, em Meu Nome, afirmando isso e aquilo; os es- clarecidos na Doutrina pura se lhes oporão com toda paciência e meiguice e, no final, contarão com a vitória.

  4. O número dos inteiramente puros será sempre inferior; não posso evitá-lo — a não ser que fizesse, das criaturas livres, animais, através de Minha Palavra poderosa — e vós muito menos disto se- reis capazes!

  5. Se Eu quisesse evitá-lo pela Onipotência, não necessitaria encarnar nesta Terra; pois a restante criação Eu poderia ter guiado estando no Céu, conforme ora faço, sem que noteis uma diferença, por menor que seja. Não vim ao mundo como Homem por causa de pedras, flora e fauna, mas unicamente em virtude da vontade e do

conhecimento inteiramente livres do homem. Eu Mesmo não lhe posso impor uma obrigação divina, porém a liberdade plena e divi- na como Evangelho verdadeiro dos Céus, deixando que o homem escolha e aja livremente.

  1. Podeis estar certos de que a desconsideração de Minha Dou- trina dentro da Ordem terá as consequências prejudiciais, e isto é o bastante para dominar aqueles que receberam boa noção do Verbo, entretanto voltaram ao mundo.

  2. Em determinada época, quando a aflição tiver chegado ao cume, saberei limpar a Terra do antigo detrito! Já vos demonstrei os maus resultados do pecado para a alma, física e moralmente: o corpo será atingido por moléstias incuráveis, e a alma sofrerá pelas dúvidas — surgidas da incredulidade, falsa fé e ações tolas e maldo- sas — como efeito.

  3. Nisto tudo, aquele que está na Luz pura da Vida reco- nhecerá qual a situação espiritual das criaturas martirizadas fí- sica e moralmente. Encontrando tais infelizes, dizei-lhes: A paz seja convosco! Caminhais em trilhas erradas; vimos guiados pelo Espírito do Senhor para vos transmitir o Evangelho verdadeiro, os Caminhos à Luz da Vida, ou seja, a verdadeira salvação da alma por Deus!

  4. Se fordes aceitos, ensinai-lhes a Verdade e a ação dentro dos princípios de fácil compreensão! Assimilando-os com alegria e começando a praticá-los, orai por eles, aponde as mãos aos enfer- mos para se curarem de seus males; em seguida, batizai-os como vos ensinei, que tereis feito obra do Meu Agrado, aumentando vossa recompensa no Céu.

  5. Tendo deste modo convertido uma comunidade, curando e firmando-a em Meu Nome, escolhei do seu meio o mais esclare- cido e fiel para amável protetor e guardião, transmitindo-lhe espe- cialmente os dons do Espírito Santo, a fim de se tornar verdadeiro benfeitor da sociedade; não o prendais a uma Lei imperativa — me- dida igualmente observada por ele com relação aos outros — com exceção da prole, como já vos orientei acima.

  1. Muito embora seja tal guardião convocado em Meu Nome, não deve ter classificação mundana, mas ser, como vós, servo humil- de e simples dos irmãos, não aceitando honrarias ou remuneração. O que receber de graça, ele deve transmitir da mesma forma, com todo amor para com os mais incompreensivos.

  2. A sociedade lhe oferecendo algo pelo amor franco, deve ser aceito, assim como vos permito fazer; pois quem fizer o Bem a um enviado Meu, receberá prêmio de um enviado. Sabeis de tudo que necessitáveis; muita coisa vos será dada em época oportuna.”

24.ATRINDADEEMDEUSENO HOMEM

  1. Aproxima-se um fariseu, dizendo: “Senhor e Mestre! Escla- receste que Teus discípulos, incumbidos na divulgação de Tua Dou- trina, deveriam batizar em Nome do Pai — o Amor; do Verbo — o Filho ou a Sabedoria do Pai; e em Nome do Espírito Santo — a Vontade Onipotente do Pai e do Filho.

  2. Penso o seguinte: se eles batizarem somente em Teu Nome, ou apenas em Nome do Pai, poderia surgir um empecilho através de divergências. Pela terminologia da trindade, muito embora ex- pressando noções elevadíssimas, facilmente as criaturas poderiam ser levadas à crença de três divindades personificadas, assim como a antiga fé pura em um só Deus verdadeiro, com o tempo, se trans- formou, nos primitivos egípcios, em inúmeros deuses derivados dos diversos atributos de Jehovah. A fantasia humana, cega e tola, trans- formou-os em seres divinos e construiu templos de adoração, não podendo impedir a queda no materialismo, atribuindo aos persona- gens divinos fraquezas humanas e paixões viciadas.

  3. Tal calamidade poderia repetir-se após vários séculos em consequência do batismo sob diversos nomes, doando aos deuses distintos, templos apropriados. Isso sucedendo, as criaturas começa- rão a venerar os Teus apóstolos e seus seguidores, construindo-lhes templos individuais. A meu ver, tal poderia ser evitado pela divulga- ção de Um só Deus. Que me dizes?”

  1. Respondo: “Falaste bem; todavia, não posso deixar de reco- mendar-vos encarecidamente a explicação acima, pois, pela termi- nologia da Trindade, o Ser Divino é representado em sua totalidade.

  2. É bem verdade poder surgir uma espécie de tríplice individu- alidade divina para uma criatura de compreensão fraca; entretanto, não é possível modificar a Verdade profunda e intrínseca.

  3. O homem é criado à Imagem de Deus, e quem quiser co- nhecer a si mesmo terá que aprender sua tríplice individualidade. Tens um corpo, dotado de todos os sentidos, membros, órgãos e partículas, da maior à mais ínfima. Esse corpo tem vida natural para o desenvolvimento da alma, mui diversa da manifestação espiritual da psique. Ele subsiste de alimento natural, do qual se formam o sangue e demais humores alimentícios para as diversas partes.

  4. O coração possui um mecanismo especialmente vivificado, pelo qual se dilata e se contrai constantemente, impelindo o san- gue com os humores criados a todas as partes do corpo, que pela contração os assimila novamente para supri-lo de novas substâncias alimentícias. Pela nutrição das diversas partes do corpo nas quais habitam número idêntico de elementos da Natureza, assimilando do sangue a matéria supridora necessária ao órgão, fortifica-se o corpo todo. Sem a constante atividade independente do coração, a criatura não teria vida.

  5. A alma não tem relação com essa atividade, que de modo al- gum está ligada à vontade livre da psique, como também desconhe- ce a função do pulmão, fígado, baço, estômago, vísceras, rins etc., portanto não pode zelar por eles; todavia, é o corpo um indivíduo definido e age como se ele e a alma fossem idênticos! Quem, porém, poderia afirmar serem ambos uma só coisa?!

  6. Analisemos a alma e descobriremos ser ela igualmente uma criatura isolada com as mesmas partes do corpo, porém de substân- cia espiritual, dele se servindo como o corpo utiliza seus membros!

  7. Muito embora corpo e alma representem dois seres distin- tos — cada qual com sua função peculiar, nem podendo se dar conta do como e porquê — constituem realmente umindivíduo de finali-

dade vital, de sorte que ninguém pode afirmar ter duas personalida- des. O corpo serve à alma, e ela, ao corpo pelo intelecto e vontade, tornando-a responsável não só pelas ações dele mas pelos próprios pensamentos, desejos e apetites.

  1. Se analisarmos mais de perto a vida da alma, perceberemos ser ela, como criatura substancial, em nada superior à de um símio. Sua inteligência instintiva seria algo mais elevada que a de um ir- racional; nunca, porém, haveria intelecto e critério livre das coisas.

  2. Essa capacidade superior e idêntica a Deus, da alma, é pro- vocada por outra individualidade, puramente espiritual, dentro da psique. Através dela, ela pode diferenciar a Verdade da mentira, o Bem do mal, julgar e querer livremente, e tornar-se idêntica ao espí- rito — forte, poderosa, sábia e renascida — à medida da determina- ção própria, pela Verdade e o Bem.

  3. Em tal caso é um ser com o espírito, como também as par- tes mais puras do corpo de uma alma perfeita — partes estas cons- tituídas de variados elementos da Natureza — imigram no corpo etéreo que podeis chamar ‘a carne da alma’. No final, ela ingressa no essencial do espírito, no que se subentende a verdadeira ressur- reição da carne no dia mais recente e real da alma, quando a cria- tura renasce em espírito, já em vida ou no Além, porém difícil e demoradamente.

  4. Conquanto renascida em espírito, ela é uma só; todavia, sua individualidade se divide em três distintas. A maneira pela qual isso acontece será explicada por Mim! Prestai atenção!”

25.AATIVIDADEDOSTRÊSCORPOSDO HOMEM

  1. (O Senhor): “Em todas as coisas, descobrireis três fatores distintos: o primeiro é evidentemente a forma, pois sem ela nada existiria ou poderia ser imaginado. O segundo é o volume; sem ele, as coisas não existiriam, tampouco teriam forma. O que vem a ser o terceiro fator, tão imprescindível à existência do primeiro e do segundo? A força interna de coesão, que perfaz a natureza das coisas.

Essa força, constituindo conteúdo e forma, é, ipso facto, a base de tudo; sem ela não se admite um ser ou objeto.

  1. Vistes serem os três fatores distintos, porquanto a forma não é volume, e este não é a força condicionada. Todavia, os três são um só; pois, se não houvesse força, não haveria volume, nem forma.

  2. Voltemos à alma. Em virtude de sua existência definida, ela necessita de forma, isto é, do corpo, seja ele material ou de substân- cia espiritual.

  3. A alma, se apresentando como criatura, por certo terá con- teúdo correspondente. Este conteúdo, ou seja, o corpo interno, é a própria alma.

  4. Isto tudo existindo, deu-se a força, ou seja, o espírito, do qual depende a alma; o espírito é tudo em tudo, pois sem ele não há substância sólida, corpo ou forma.

  5. Muito embora os três fatores constituam umser, devem ser reconhecidos e classificados distintamente.

  6. O espírito, ou a essência eterna, é habitado pelo amor como força acionadora de tudo, pela inteligência mais elevada e pela von- tade viva e firme; isto em conjunto produz a substância da alma, dando-lhe forma ou corpo.

  7. Uma vez surgida a alma ou a criatura, de acordo com a von- tade e a inteligência do espírito, este se retrai no seu recôndito, pas- sando à alma vontade livre e inteligência independente, das quais ela se apossa pelos sentidos, externos, e pela percepção interna, aperfei- çoando-os como se fosse obra própria.

  8. Em virtude desse estado, no qual a alma se sente isolada do espírito, é ela apta a revelações externas e internas. Conclusão: Acei- tando-as pela prática, ela inicia a união com o espírito, passando paulatinamente à liberdade ilimitada do mesmo, tanto na inteligên- cia, quanto na livre vontade, bem como na força e poder de realizar tudo que quer.

  9. Daí deduzireis que a alma, como pensamento do espírito transformado em substância viva — no fundo, o próprio espírito — pode ser considerada qual emanação dele, sem deixar de ser o que ela é.

  1. A experiência diária demonstra a apresentação da alma como indivíduo, a terceira personalidade. O corpo serve à alma como revelação externa do espírito, tendo a finalidade de externar inteligência e livre arbítrio da alma, contê-los e só então procurar a inteligência ilimitada, a Vontade e a Força verdadeiras, tornando-se deste modo um ser infinitamente glorificado e independente, unido ao espírito, única realidade e ser penetrante do homem.

  2. Se, com essa explicação, compreendestes como toda cria- tura em si, bem como todo objeto em grau inferior, se constitui de três fatores distintos, passaremos à triplicidade da Natureza de Deus, a fim de assimilardes por que vos incuti — em virtude da Verdade superior e viva — a batizardes as criaturas que crerem em Mim, aceitando Minha Doutrina pela ação, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Prestai atenção ao que ouvireis de Minha Boca para complemento de tudo.

  3. As Escrituras afirmam que Eu, Jesus Cristo, o Filho do Ho- mem, sou Deus Verdadeiro, muito embora denominado Pai, Filho e Espírito Santo! Todavia, é Deus umasó Glória, personificada na forma perfeita do homem.

  4. Se alma, corpo e espírito são de tal forma unidos a consti- tuírem um ser, ou finalmente uma substância individual, entretanto são manifestações distintas — Pai, Filho e Espírito Santo igualmente estão unidos, conforme ensina a Escritura dos patriarcas e profetas.

  5. Desejou David que Deus encontrasse seu corpo, alma e es- pírito impunes. Se o antigo e sábio rei assim se expressou, acaso poderia se perguntar: O homem consiste de três pessoas? Tal per- gunta sendo impossível numa criatura cuja educação e verdadeira perfeição da vida lhe fazem sentir a divisão de sua natureza — como supor que Deus, desde eternidades perfeitamente Um Só, poderia ser dividido em três pessoas, respectivamente deuses?!”

26.A NATUREZA DE DEUS

  1. (O Senhor): “Se Deus, Criador de todos os seres — todavia diferente de todos — foi, é e será eternamente Verdadeiro, acaso tal fato O obriga a permanecer no Centro Original?! Se ao homem foi dada livre movimentação física e muito mais em espírito — como deveria Deus Se limitar neste sentido? Digo-vos: O Infinito divino tem Poder de movimentação infinita; portanto, assiste-Lhe o direito de transformar Sua Glória em carne, a fim de Se tornar visível e palpável às criaturas.

  2. O Poder de criar deuses semelhantes a Ele não Lhe assiste, nem pode ser; pois, se assim fosse, Ele teria que criar outros Espaços infinitos, absurdo este compreendido por qualquer pessoa inteligen- te. Se o Espaço é infinito — onde deveria começar um segundo?!

  3. Um segundo Deus Perfeito dotado da mesma Glória infinita é tão pouco admissível quanto um segundo Espaço, e daí podereis deduzir ser Eu, como Homem físico, o Mesmo Deus de todas as criaturas que fui e serei para toda a Eternidade.

  4. Se Eu criasse mais dois deuses, digamos, o Filho e o Espíri- to Santo, de sorte que ambos possuíssem individualidade diferente, teriam que outorgar-se os mesmos poderes, porquanto sem eles não se concebe um Deus, tampouco a existência de outro Espaço sob de- terminada divisão e restrição recíproca. Se isto fosse possível — que aspecto teria o Direito de Prerrogativas de Deus?!

  5. Só pode existir umDireito de Realeza Divina! Se existissem três — o Reino Uno e Infinito de Deus estaria esfacelado e sua sub- sistência seria tão pouco imaginável quanto a existência de três Es- paços infinitos.

  6. Somente o Reino Uno de Um só Deus pode existir eterna- mente, por ser apenas Ele Soberano e Senhor, como disseram os pro- fetas pela Inspiração de Deus. A Divindade não passará Sua Glória a outrem; Eu, Cristo, sou Deus Único! Criaturas, anjos, exércitos e poderes angelicais, todas as coisas no Céu e na Terra sempre se curvaram diante de Mim e jamais o fariam perante outro, assim

como todos os Espaços cósmicos — incompreensíveis à vossa ima- ginação — são tragados pelo único Espaço Infinito, como se nada representassem.

  1. Se, com a denominação de Pai, Filho e Espírito Santo, não se subentendesse Um Deus, Isolado em Sua Base e Natureza, e hou- vesse necessidade de aceitardes um Filho e um Espírito Santo Dele divergentes — que aspecto teria Deus como Pai?!

  2. Se, pela Escritura dos profetas — incompreendida pela inte- ligência embotada através da própria culpa humana — o Pai doa ao Filho todo Poder e Força no Céu e em todos os mundos, dando-Lhe o Espírito Santo como Assistente para a santificação e organização da Boa Nova vinda dos Céus, para cujo Chefe foi nomeado o Filho representado por Mim — pergunto: Que Deus fazeis do Pai?! Por- ventura ainda podeis fazer Dele um Deus?!

  3. Se fordes capazes de imaginar um outro, dentro de vossa ce- gueira mundana e material, só poderia ter aparência ociosa, pois deveis compreender que, em tais circunstâncias, Ele nada mais teria que operar e reger! Para tanto, bastaria imaginardes que Deus-Pai, em virtude de Sua Idade — como fez o velho faraó no Egito, passan- do a regência a José — entregasse o cetro ao Filho, devido ao cansaço e às dificuldades, para poder Se entregar ao repouso!

  4. Porventura podeis imaginar que, por ter o Pai envelhecido, Ele quisesse aposentar-Se, pois, além do Filho dotado do mesmo Poder, ainda dispõe de um Espírito Santo igualmente Poderoso e emanação de Pai e Filho, aos quais passaria o Governo, renunciando ao mesmo?! Quão tola e cega seria a mente humana capaz de ideias tão absurdas.

  5. Se existem Filho e Espírito Santo diferentes do Pai, assim como existem anjos e criaturas, só podem ser criações Dele, porquan- to possuem a natureza perfeita do Criador, e não em consequência da própria Onipotência individual.

  6. Como poderia haver parentesco perfeito e divino ou unida- de substancial entre um espírito sem corpo e forma, e um, dotado dos mesmos? Poder-se-ia dizer do Filho, como vedes, Pessoa física,

estar Ele no Pai, se o Pai não tivesse corpo e forma — ou poderia o Pai Infinito, sem corpo e forma, estar no Filho?

  1. Prossigo: Se o Espírito Santo for uma terceira individua- lidade surgida de Pai e Filho — como pode possuir as mesmas ca- pacidades e ser igualmente eterno? Aquilo que recebe existência de um outro ser poderia ser idêntico Àquele que se autocriou?! Pode a Eternidade ser idêntica ao tempo fugaz, ou um Espaço limitado, semelhante ao Infinito?!

  2. Admitindo encontrarem-se todas as épocas na Eternidade, onde se movimentam e mudam, impossível afirmar-se que a Eternida- de esteja no tempo mais longínquo, assim como se poderia afirmar que todos os espaços imensos, todavia limitados, certamente se encontram no Espaço Original e Infinito; nunca, porém, dar-se-ia o inverso.

  3. Caso o espírito Santo surgisse, qual criatura, de Pai e Filho, seria ele um deus do tempo e não da Eternidade! Tal deus poderia, como tudo que é temporal, deixar de existir com o tempo! Neste caso — quem poderia dar e conservar a existência eterna a criatu- ras e anjos?! A fim de proporcionar-vos maior elucidação, prossiga- mos no tema!”

27.OSENHORCOMO FILHO

  1. (O Senhor): “Se o Filho existiu desde Eternidades — como podia ser gerado? E se o Espírito Santo igualmente existiu desde sempre — poderia surgir e originar-Se de Pai e Filho? Se, dentro da razão e lógica, os três Personagens divinos — dos quais os homens, posteriormente, poderiam criar três deuses — são eternos, isto é, sem princípio, impossível um dar início à existência do outro!

  2. Eu, como Homem carnal, sou o Filho gerado por Mim Mes- mo, portanto Meu Próprio Pai desde Eternidades. Onde poderia estar o Pai, senão no Filho, e onde estaria o Filho, senão no Pai, portanto Deus e Pai em uma Pessoa?

  3. Este Meu Corpo é a Figura glorificada do Pai, por causa dos filhos e anjos, a fim de Me tornar um Deus compreensível e visível,

de sorte que podeis Me ver, ouvir e falar, conservando-vos vivos; pois constava: ninguém pode ver Deus e continuar com vida. Eu sou inteiramente Deus; em Mim está o Pai; e a força projetada no Meu Amor, Sabedoria e Onipotência a preencher o Espaço Infinito, agindo em toda parte — é o Espírito Santo.

  1. Eu, como Homem-deus entre vós, encontro-Me com Minha Natureza primitiva e total, perfeita e uniforme, neste refeitório do Monte das Oliveiras; como Deus e Homem ao mesmo tempo, não estou em parte alguma, nem nesta, nem em outra Terra; através da Força projetada, o Espírito Santo, conheço, sei, ordeno, crio, con- duzo e rejo tudo, do maior ao mais ínfimo.

  2. Assim orientados por Mim Mesmo, compreendereis por que deveis fortificar pelas mãos, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, as criaturas que em Mim acreditam e agem pela Doutrina.

  3. Assim sendo, é lógico não poderem ter a ideia de três deuses individuais por causa da nomenclatura de seus atributos. Peço-vos, encarecidamente, transmitirdes aos homens um esclarecimento jus- to e positivo; onde este faltar, eles em breve atrofiarão espiritual- mente, passando a toda sorte de erros, tornando-se difícil levá-los ao caminho da Verdade plena.

  4. Ainda que mantenhais toda fidelidade, surgirão doutrinadores e profetas falsos, seduzindo a muitos; não o podereis impedir, tam- pouco sereis responsáveis, assim como não se pode culpar o lavrador que semeou trigo escolhido no campo, entretanto o inimigo nele lan- çou o joio durante a noite, que vicejou e enfraqueceu o bom fruto!

  5. É Meu maior desejo que todas as criaturas desta Terra encon- trem os caminhos luminosos da Verdade, para alcançarem a Vida Eterna; como sou obrigado a Me retrair com Minha Onipotência, todo indivíduo é inteiramente livre e pode, no final, crer e fazer o que lhe aprouver.

  6. Na divulgação de Minha Doutrina, agireis bem pelo preparo da razão e do sentimento das criaturas. Onde ambos forem compe- netrados da mesma, a fé se tornará viva e ativa pela boa vontade; sem a justa elucidação de intelecto e sentimento, a fé continua apenas

aceitação cega e muda daquilo que a criatura aceitou de qualquer fonte autorizada. Tal fé é tanto quanto nenhuma; não vivifica a alma para uma ação espontânea que alegre o coração, portanto é morta, sem obras livres e criadoras de felicidade.

  1. Passai aos futuros adeptos os conselhos que vos transmito! Poderia exigir-vos a fé, sem maiores explicações, pois os sinais por Mim operados Me autorizam essa exigência; tal fé obrigatória não é luz interna da alma e não a incentiva à ação.

  2. Provam isto vossas constantes perguntas, confessando que a fé autoritária pouca luz dá à alma, cuja carência é suprida pelas Mi- nhas Explicações. Se, além de todas as provas e ensinos, pedis eluci- dações maiores e beneficiadoras — o mesmo farão vossos discípulos; não sejais econômicos com as explicações, caso queirais impedir o surgimento de falsos profetas!

  3. Também operareis milagres, e eles vos imitarão com toda sorte de mistificações; por isto, os milagres serão prova fraca da ge- nuinidade dos ensinamentos; o que inculcardes ao intelecto e sen- timento através de palavras esclarecedoras será prova viva e eterna- mente indestrutível da Verdade da Doutrina viva dos Meus Céus. Somente ela libertará a todos. Dei-vos novo esclarecimento e per- gunto se compreendestes tudo.”

  4. Respondem todos: “Perfeitamente, Senhor e Mestre, pois falaste com muita clareza!” Prossigo: “Ainda há tempo; quem desejar outra orientação poderá manifestar-se!”

28.OESPAÇOINFINITOEA ETERNIDADE

  1. A este convite, levanta-se um greco-judeu e diz: “Senhor e Mestre, ouvimos tantos ensinamentos luminosos de Tua Boca e por parte de Raphael, que se torna difícil fazer-se perguntas.”

  2. Digo Eu: “Feliz é tua alma por teres assimilado tanta Luz vital! Se não encontras um pontinho obscuro no teu íntimo, tal- vez haja outro nessas condições, e quiçá tu mesmo sentirás tal fator oportunamente!” O judeu se curva e volta ao seu lugar.

  1. Manifesta-se Lázaro: “Senhor e Mestre, deparo com mais al- guns recantos obscuros dentro de mim, e seria grande bálsamo para minha alma, caso me esclarecesses.”

  2. Digo Eu: “Sei o que desejas e poderia dar-te resposta clara em teu coração; tratando-se aqui da elucidação de todos, a fim de que saibam se realmente estão orientados, podes externar-te!”

  3. Prossegue Lázaro: “Segundo as Tuas Explicações referentes aos corpos cósmicos, dos universos-ilhas, do grande Homem cósmi- co, enfim, consegui certa noção da imensidade do Espaço Infinito; todavia, descobri em seguida um abismo enorme sobre o qual o meu pensamento mais intrépido não consegue voar!

  4. O Espaço sendo infinito, portanto sem limite em qualquer direção — é claro para todos nós! Mas qual sua subsistência eterna? Quando foi criado para tamanha grandeza? Que vem a ser a Eterni- dade, e como Deus Mesmo é Eterno dentro de Tempo e Espaço? Eis minha pergunta, por certo desajeitada; mas que culpa tem a alma sedenta de Luz, se dúvidas deste teor nela despertam?”

  5. Digo Eu: “Tua pergunta foi bem formulada e Eu darei a to- dos explicação clara! Vê: Deus, Espaço e Eternidades correspondem à noção de Pai, Filho e Espírito! O Pai é puro Amor, portanto a dedicação eterna pelo Ser Perfeito através da força da Sua Vontade eterna. O Espaço — ou o Filho — é o constante surgir emanado da eterna dedicação do Amor; e a Eternidade — ou o espírito, como Força original e eterna no Pai e no Filho — é Movimento e Execu- ção da aspiração do Amor, no Filho.

  6. Se o Espaço tivesse partido de um determinado ponto, de onde se estenderia ao Infinito, ele, até este momento, não seria infi- nito, como não o é o grande Homem cósmico. Além disto, surge a pergunta: O que circundava o ponto de partida em todas as direções até o Infinito, do qual surgiu o Espaço eterno? Acaso tratava-se do éter sem luz, o caos pagão, ou teria sido uma massa compacta, ou ar, água ou fogo?

  7. Se fosse um desses elementos — como poderia o ponto ini- cial ter a força de impulsionar massas infinitas ao Infinito, e para

onde teriam sido levadas, se o próprio Espaço surgiu do ponto ini- cial? Naturalmente, tinham que se encontrar além do Espaço Infi- nito, assim como inicialmente estavam fora do ponto original. Se fosse possível imaginar-se tal coisa, o Espaço seria limitado e jamais se tornaria infinito, não obstante a permanente extensão.

  1. Por aí vedes que o Espaço sempre foi infinito em todas as direções e nunca podia ter tido começo; e como Deus, Espaço e Eternidade são idênticos, Deus, que reúne em Si todas as noções, também é sem início. Penso ter dado explicação clara.

  2. Todavia, percebo certa dificuldade em vós: imaginais o Es- paço eterno e infinito inerte e sem qualquer inteligência de Vida, por isso não compreendeis como Deus — único Princípio de Vida

  1. Partindo de vossa noção, impossível imaginar-se que o Es- pírito infinito — Deus — poderia equilibrar-Se na morte eterna, como Vida perfeita desde Eternidades!

  2. Por isto, procurai fazer uma ideia contrária do Espa- ço infinito! Imaginai não haver nele um pontinho sequer sem vida, e apenas se acha fixado pela Onipotência divina, conforme vedes nos corpos cósmicos ou em suas partículas aparentemen- te inertes.

  3. Se todos os mundos e suas partículas variadas nada mais são que Ideias e Pensamentos de Deus fixados pela Onipotência, como podem as criaturas considerá-los isentos de vida e inteligência?

  4. Se Deus — sinônimo de Espaço e Tempo — é em Si a Vida mais elevada e perfeita, como poderia ser morto, inerte e sem inteli- gência o que Dele surgiu?

  5. O que se vos apresenta inerte e morto é apenas assim fixado por Deus e pode voltar à Vida inteiramente livre tão logo Ele liberte os grilhões de Sua Vontade.

  6. Vistes, por Mim e por Raphael, a transformação de pedras no éter original e vice-versa, e a coluna a caminho de Emaús é pro-

  1. va palpável.

  1. Assim sendo, preciso é banirdes a morte do Espaço infinito, imaginando somente vida e inteligência, para chegardes à verdadeira noção de Deus; pois, no Ser Divino de Inteligência poderosa e infi- nita, não pode haver morte!”

29. RELAÇÃO ENTRE OS SERES E A INTELIGÊNCIA UNIVERSAL

  1. (O Senhor): “O fato de ter o homem, dotado de consci- ência própria, impressão de ser o Espaço infinito e tudo que con- tém mudo, morto e sem inteligência baseia-se no sábio motivo de estar sua consciência isolada da consciência total, em virtude da conquista da emancipação idêntica à Minha, podendo des- cobri-la dentro de si para firmar-se e desenvolver-se no cami- nho revelado.

  2. Enquanto o homem estiver preocupado consigo mesmo na independência individual, não sente estar ele rodeado e penetrado de vida e inteligência elevadíssima, sem as quais não existiria. Uma vez conformado com a Vontade de Deus, e seu espírito a penetran- do inteiramente, a criatura estabelece uma livre ligação com a Vida superior e sua luminosa inteligência no Infinito geral de Deus, sem algo perder de sua personalidade. Neste estado, não cogita de um Espaço morto e mudo, nem de pedras inertes, porquanto tudo se tornou para ela Vida e Inteligência clara e consciente.

  3. Isto prova Minha Onisciência tantas vezes evidenciada. Como poderia Eu saber de tudo, se o Espaço entre Mim — isto é, Minha Pessoa física — e, digamos, o Sol ou um corpo muito mais longínquo, fosse sem vida e inteligência?! Há igualmente muitas criaturas que, não obstante permanecerem em determinado local, sabem o que se encontra a longa distância e o que lá se passa ou passará no futuro.

  4. Nos sete egípcios tivestes prova flagrante disto. Quem os avisou de Minha Existência? Perceberam-na através da grande in- teligência universal, bem como o caminho que os traria aqui. Se

  1. A alma humana dentro do corpo é separada da Inteligência universal por uma parede mui sutil, em nenhuma relação com aque- la; é o suficiente para ela geralmente não sentir o que acontece bem próximo, digamos, nas suas costas, e não entender a milionésima parte daquilo que vê e acontece. Isto é ocasionado pela parede di- visória entre a vida no espaço comum e do Espaço infinito. Se essa parede fosse de grande espessura e extensão — qual seria a noção de uma alma tão fortemente isolada, daquilo que a rodeia em todas as direções?!

  2. Às vezes acontece ser uma alma — por motivos de Meu Co- nhecimento — separada da Vida Intelectiva de Deus por uma pa- rede mais espessa e compacta, o que observareis nos mentecaptos e cretinos; tal psique é capaz de educação mui reduzida, ou mes- mo nenhuma. Eu e alguns apóstolos sabemos o porquê; vós outros oportunamente percebê-lo-eis.

  3. Almas de vegetais e de animais não se acham tão estritamente separadas da Manifestação de Vida divina; prestam-se ao que foram destinadas pela intuição da espécie sem qualquer ensino. Cada ani- mal conhece seu alimento e sabe onde encontrá-lo; possui armas que usa sem exercício.

  4. Do mesmo modo, o espírito das plantas conhece a matéria na água, no ar e no solo, útil à sua individualidade. A alma do car- valho jamais absorverá o alimento do qual o cedro cria sua espécie e existência. Quem ensina o vegetal a atrair apenas os elementos destinados a ele? A ação da Inteligência mais elevada e universal que preenche o Espaço; nela, toda alma vegetal e animal absorve a inteligência especialmente necessária, agindo de acordo com sua orientação.

  5. Assim sendo — como prova a experiência cotidiana — é cla- ro que o Espaço infinito e tudo nele é Vida e máxima inteligência, da qual as criaturas só não têm percepção visual a fim de que pos- sam criar sua independência vital dentro de sua inteligência isolada,

porém de grande projeção; nenhuma alma vegetal e animal o po- deria, razão por que não tem existência isolada, mas mesclada até à alma humana, passando por inúmeras transformações, das quais não guarda recordação, porque em cada fase ingressa em outra esfera intelectiva.

  1. Até mesmo a alma humana, conglomerado altamente po- tencializado de almas minerais, vegetais e animais, não tem recorda- ção de suas existências passadas, porque as partículas psíquicas espe- cificadas nos três reinos não possuíam inteligência própria e isolada, mas uma espécie de noção derivada da Vida vegetativa de Deus. Não deixam de estar unidas numa alma humana todas as pré-inteligên- cias especificadas — o que faz com que ela reconheça e classifique todas as coisas; entretanto, não é possível recordação especial dos graus de constituição e existência, pois de todas as almas isoladas se formou umacriatura humana.

  2. Tão logo estiver o homem plenamente penetrado do Es- pírito de toda Luz e Vida, descobrirá tal ordem dentro de si, assim como Eu Mesmo a vejo constantemente, isto é, tudo existe por Mim e Eu sou Tudo em tudo. Dize-Me, Lázaro: compreendeste o assunto?”

30.APREVISÃODO FUTURO

  1. Apresenta-se Lázaro: “Senhor e Mestre, o que acabaste de revelar ultrapassa tudo até hoje transmitido por Ti, e agora compre- endo por que encarnaste entre nós, orientando-nos acerca de Deus e de nós mesmos: fomos por Ti destinados a viver eternamente na máxima independência, o que somente alcançaremos pela ação den- tro de Tua Doutrina.

  2. Sem esta noção, a ninguém seria possível conquistar a Vida eterna; mas, assim, torna-se fácil palmilhar pela trilha iluminada. Mas quantos milhares nem pressentem algo a respeito, sendo obri- gados a prosseguir nas trevas! Quanto mais nitidamente sentimos Tua Graça, maior se apresenta a infelicidade alheia. Se Tu o permites

por motivos justos, assim deve ser. Quanto tempo levará até que todos os habitantes do orbe se tornem unos na fé, no conhecimento e na fraternidade?”

  1. Reforça Agrícola: “Eis minha constante preocupação! A no- ção cada vez mais lúcida no coração começa a me afligir quando penso no alheamento espiritual de quase toda a Humanidade. Se- nhor, o futuro Te é tão conhecido quanto nossos pensamentos e ideias; portanto, poderias nos dizer a época em que, no mínimo, a maior parte das criaturas se possa regozijar de um conhecimento superior.”

  2. Digo Eu: “Enquanto o homem viver na Terra não inteira- mente renascido, não será de grande utilidade a noção de muita coisa a respeito do futuro, porquanto haveria de oprimir sua alma ainda fraca, podendo levá-la ao desespero.

  3. Basta considerares apenas como sofreria, caso soubesse em que dia e hora haveria de morrer. Já lhe é desagradável a ideia da morte; quanto mais seria o conhecimento da data do desenlace!

  4. Outra coisa acontece com a criatura renascida no espírito da Vida total, sentindo sua existência futura dentro de si! Esta pode saber perfeitamente o fim de seus dias; pois a libertação do grande peso da matéria não lhe será pesar, mas alegria plena. Numa criatura comum, tal previsão teria efeito desolador.

  5. Por isto, não procureis saber o futuro, e satisfazei-vos com aquilo que sabeis para a salvação de vossa alma; e, além disso, de Eu ser Onisciente, permitindo se faça tudo para maior benefício dos bons e maus, e deste modo suportareis qualquer expectativa futura.

  6. Uma vez renascidos no Espírito da Vida, sereis capazes de prever o futuro, sem vos entristecer ou enfraquecer. Quanto ao fu- turo longínquo, foi-vos demonstrado pelos fenômenos noturnos e, mais claramente, através da explicação dos dois capítulos de Isaías; todavia, demonstrarei mais alguns fatores do fim da Humanidade maldosa, o que não vos satisfará. No momento, deixemos o assunto, pois é meia-noite e temos outro, mais importante, a tratar. Quem tiver algum desejo, poderá expressar-se!”

31.AGRIPPARELATAAAVENTURACOMUM POSSESSO

    1. Diz Agrippa: “Aproveitando Tua grande Benevolência, Se- nhor e Mestre, desejaria explicação de um acontecimento estranho. Sou, como Agrícola, homem de experiência e posso falar acerca de fatos incomuns. Há vários anos viajei à Illyria a negócios de Estado. O país é montanhoso e estéril, razão por que os habitantes se asse- melham à sua terra, apresentando cultura fraca. Duros de sentimen- tos e pouco inspirados, interessam-se por mitos e superstições.

    2. Em determinada aldeia, onde os romanos há tempos têm uma fortaleza, encontrei, num grupo de aldeões, alguns sacerdotes. Lidavam com um homem duns trinta anos, do qual diziam estar possesso há muito tempo e agora tentavam livrá-lo de um mau espí- rito. O moço era filho de família conceituada, que sofria, inclusive os moradores da zona, com o suplício do doente, que naturalmente era o mais prejudicado.

    3. No começo, tomei aquilo como tolice das criaturas e, além disto, especulação dos sacerdotes, que talvez tivessem escolhido um homem prestável a simular demência para impressionar o povo. Certificando-me, porém, da loucura, porquanto os excessos redun- davam em força extraordinária, comecei a acreditar na presença de um espírito mau.

    4. Os dois sacerdotes, entendidos no assunto em virtude dos sintomas anteriormente presenciados, viraram-se para o grupo de homens fortes, dizendo-lhes: ‘Não demora a aparecer o momento da fúria; amarrai-o com cordas e correntes!’ Só deste modo seria possível ao espírito deixar o moço, pois não seria capaz de romper as cordas e correntes consagradas. Em seguida, o homem foi de tal modo amordaçado a não se poder mexer. Os sacerdotes e demais assistentes se afastaram a uns cem passos, e eu aceitei o alvitre para tal precaução.

    5. Não se passaram vinte segundos, quando ele deu tremen- do salto, arrebentando cordas e correntes. Pulava a altura elevada, soltando berros horrendos e ao mesmo tempo arremessava pedras

enormes para o ar. Essa fúria durou cerca de uma hora, finda a qual ele caiu desacordado.

    1. Passados alguns momentos, os sacerdotes se dirigiram a ele, perguntando se havia sofrido muito. Ele nada sabia do ataque e con- tava ter tido a visão de uma bela paisagem. No início do relato, a voz era meiga e sofredora. Súbito, transformou-se. A boca escanca- rada, como por poder mágico, gritava qual trovão em idioma grego: ‘Miseráveis mosquitos de larvas humanas! Quereis enxotar-me de minha morada? Todo o exército romano não seria capaz disto! Antes de se ter cogitado da construção de Roma, eu fui o célebre rei Cya- xares, o primeiro deste nome, venci os skythos e combati os lydios. Minha segunda filha, Mandave, tornou-se esposa do rei dos persas e mãe do grande Cyrus, cujo pai foi Kambyses. Mais do que isto, não precisais saber!

    2. Essa morada carnal, da qual não me deixo expulsar, descende de meu sangue, portanto tenho direito sobre ela. Todo esforço para me enxotar é inútil; posso fazer aqui o que eu quero!’

    3. Nessa explosão estranha, proferiu mais algumas maldições e ameaças contra os sacerdotes e sacudiu sua vítima, que despertou mui fraca, pedindo algo para se alimentar. Uma vez fortificada, per- guntaram-lhe se sabia o que havia falado. Ele negou, com voz meiga, lembrando-se apenas de ter sonhado com um grupo de adolescentes vestidos de branco.

    4. Conversando com os sacerdotes e os pais do jovem, aconse- lhei tirar-lhe a vida de modo suave, obrigando ao demônio abando- nar sua morada. Todos me asseguraram ser isto impossível, e quem o tentasse, arriscaria a vida. Alguém já o havia tentado, sendo ter- rivelmente castigado. Pouco mais tarde deixei aquele local; anotei o caso e o relatei a várias pessoas — inclusive aos judeus daqui — sem conseguir explicação. Qual teria sido a causa do sofrimento da- quele rapaz?”

32. A OBSESSÃO

      1. Digo Eu: “Tua experiência é fato comum, e Eu Mesmo já libertei vários entre judeus e gregos. Há, realmente, criaturas posses- sas por maus espíritos, sem prejudicarem a alma.

      2. Os que se apossam da carne humana são almas desencarna- das que levaram vida condenável, e bem sabem dos seus pecados.

      3. A obsessão só se dá entre aqueles cuja fé em Deus e na imor- talidade da alma deixou de existir.

      4. Tais ocorrências tão impressionantes, em épocas de completa ausência de fé, são permitidas como forte advertência aos descrentes, provando o prejuízo da ignorância espiritual e a realidade de Deus, que pode castigar maldade e cegueira humanas além-túmulo, por- quanto a alma sobrevive após a morte.

      5. O mau espírito que se apodera de uma criatura sofre, não obstante sua relutância, as humilhações mais insuportáveis, tor- nando-o mais meigo e acessível; as testemunhas de tais estados são como que violentamente arrancadas de sua compreensão materialis- ta e tola, refletindo acerca de assuntos espirituais e modificando seu modo de agir. Assim sendo, esse caso tão triste e de aspecto desagra- dável tem seu benefício em época de maior carência de fé, conforme viste nos illyrios.

      6. Os dois sacerdotes, que anteriormente souberam atrair o povo através de magias, nada acreditavam, porém acumulavam tesouros vultosos; assim, tiraram outras conclusões por aquele obsedado, desistindo de suas mistificações; pois o mau espírito por diversas vezes os havia fulminado com a sentença de suas fraudes, e ser ele muito melhor que eles, prontos a quererem dominá-lo.

      7. Os sacerdotes acabaram por acreditar na sobrevivência da alma e em UmSó Deus, porque o mau espírito lhes havia gritado ser ele muito mais poderoso que dez mil legiões de deuses imaginários, por meio dos quais pretendiam expulsá-lo. Haveria ele de obedecer somente ao Deus Único, caso lhe exigisse abandonar aquele homem.

      1. Os assistentes também mudaram de compreensão, de sorte ser a obsessão nem sempre algo prejudicial, injustamente permitido por Deus, conforme julga o raciocínio humano.

      2. Em criaturas firmes na Fé verdadeira e luminosa, nunca se dá tal estado, porquanto alma e espírito penetraram igualmente o corpo, a ponto de impedir a influência de um mau espírito; a alma, se tornando ignorante, carnal e materialista, e com isto temerosa, enferma e fraca, não pode resistir ao intruso. Almas perversas que, após a libertação da carne, se mantêm nas regiões baixas da Terra, agindo a seu bel prazer onde homens afins habitam, podem penetrar no físico de uma criatura fraca e geralmente se localizam no baixo ventre, começando a manifestar-se no exterior.

      3. A alma propriamente nada sofre, como já falei; portanto, a obsessão não é prejuízo tão grande. Caso encontreis tais obsedados, aponde-lhes as mãos em Meu Nome, que os maus espíritos deixarão a vítima; se for obsedada por um renitente, basta ameaçá-lo, que obedecerá de pronto! Onde Minha Doutrina for divulgada, não é preciso que os demônios venham a soerguer a fé de uma criatura descrente; onde os anjos ensinam, os demônios terão de debandar!

      4. Quanto ao obsedado na Illyria, é ainda vivo e livre de sua praga, e a redondeza crê em Um Deus — embora Desconhecido

33.LOCALIZAÇÃODOMUNDO ESPIRITUAL

  1. Diz Agrippa: “Senhor e Mestre, tudo isso me é claro e Te agradeço pelo Ensino; apenas existe um ponto a ser esclarecido: onde se encontra o mundo espiritual como paralelo à Terra?”

  2. Digo Eu: “Como já disse por várias vezes, nada tem o mun- do espiritual a ver com o Espaço e Tempo referentes à Terra con- denada, portanto coagida. Todavia, é o Espaço, como invólucro externo, portador de todos os Céus e mundos espirituais, porque

não podem estar fora do mesmo. Devem, pois, existir — para falar racionalmente — certas localidades onde se encontram as esferas espirituais, muito embora o local não atinja um espírito perfeito, assim como o Monte das Oliveiras nada terá de reclamar, caso qui- seres imaginar Roma ou Atenas. Para o espírito não existem Espaço nem Tempo.

  1. Quanto ao espírito, como ser individual, ele não pode — como Eu — achar-se inteiramente fora de Espaço e Tempo; assim, as almas desencarnadas desta Terra se encontram em determinada localidade, não obstante as imperfeitas nada disso saibam; assim como tu, num sonho, ora te encontras num ou noutro local, bem disposto e até mesmo ativo, sem modificares a zona, no que diz res- peito ao próprio eu.

  2. Desejas informação da esfera das almas imperfeitas, e Eu te esclarecerei. Quando a criatura alimenta especial simpatia para certa localidade na Terra, ela lá continua, às vezes durante séculos, che- gando a compreendê-lo, embora não nitidamente, através de cer- tas relações.

  3. Onde, na Terra, encontrares um local, destina-se ele também aos espíritos; em si não é material, mas espiritual, porque se projeta da fantasia das almas através de sua vontade.

  4. Podes viajar mentalmente por tal mundo autocriado; toda- via, continuas, como indivíduo, no local terrestre.

  5. Um homem, por exemplo, sente grande desejo de conhecer o Sol, Lua e estrelas. Quando desencarna, a alma se encontra no local de seus desejos. Dentro em pouco entra em contato com almas daqueles mundos, aceitando suas sugestões e estudos.

  6. Uma alma que, em vida, for compenetrada pelo Amor a Deus, não alterará a localidade material, podendo, entretanto, viajar por todo o Infinito à medida da necessidade intelectual e crescente felicidade, assim como Eu não vos abandono, todavia estou Presente no Universo. Não Me é possível estender-Me mais profundamen- te; quando fores renascido em espírito, terás compreensão maior. Entendeste?”

  1. Dizem Agrippa e vários outros: “Senhor e Mestre, agrade- cemos por esta explicação tão necessária.” Digo Eu: “Muito bem; estando orientados acerca da obsessão e da localização dos espíritos, e faltando quatro horas para romper o dia, podemos esclarecer ainda outros assuntos. Quero vos dar um conhecimento claro e justo sobre o segredo do Reino de Deus!”

34.ANATUREZADE SATANÁS

  1. Aproxima-se um escriba, convertido em Emaús, e diz: “Se- nhor e Mestre! Sabemos a causa da obsessão e quem, no fundo, são os espíritos maus. Na Escritura fala-se de demônios reais, de seu príncipe, chamado Lúcifer, que fora atirado ao eterno fogo do infer- no com inúmeros outros anjos.

  2. Além disto, consta ter ele, como serpente, levado à queda o primeiro casal, e Deus dele usou para tentar o devoto Job. Que relação tem a Escritura com Tua Boa Nova? Quem é e onde está Satanás? Quem são os demônios?”

  3. Digo Eu: “Muita coisa foi por Mim esclarecida a respeito, e Meus apóstolos sabem do que se trata; como és novato, justifica-se a pergunta, portanto ouve! Tudo que o Espaço infinito comporta como matéria acha-se em julgamento; portanto, fixado pela Força de Vontade de Deus. Se assim não fosse, não existiriam Sol, Lua, Terra e seres, e Deus seria o Único na contemplação de Seus Pensa- mentos e Ideias, imensos.

  4. Desde eternidades Deus externou Seus Pensamentos e lhes deu corpo através de Sua Onipotência. Tais Pensamentos e Ideias não são propriamente corpos, mas elementos fixos e invólucros des- tinados à maturação para uma existência independente, criações designadas a subsistir ao Meu lado, o Criador visível, como que pos- suindo força própria.

  5. Toda criação, como elemento espiritual fixado, é ainda im- pura comparada ao elemento puro e livre, podendo ser considerada má e nociva ao lado do espiritualmente puro.

  1. Na expressão ‘Satanás’, deves entender, de modo ge- ral, a Criação em sua totalidade, e um ‘demônio’, suas tendên- cias isoladas.

  2. Quando o homem nesta Terra vive dentro da Vontade reve- lada por Deus, ele se liberta da prisão criadora, passando à liberdade original de Deus.

  3. Quem não quer acreditar em Deus, nem pretende aplicar a Sua Vontade revelada, submerge cada vez mais profundamente na Criação material, tornando-se espiritualmente impuro, mau e condenado pela maldade — um demônio. Toda criação e fixação material é, como já disse, impura, má e perversa frente ao puro espí- rito incriado, não pela suposição de que Deus tivesse projetado algo impuro, mau e nocivo, mas porque: primeiro, é necessário existir a Criação dotada de inteligência e força de ação, e, no homem, in- cluindo o livre arbítrio; segundo, por ser designada a transformar o efeito da Criação a fim de atingir a possível independência como elemento individual.

  4. Perante Deus, nada existe de impuro, mau e nocivo, pois, ao puro, tudo o que Deus criou é puro e bom; portanto, não existe, para Deus, Satanás, diabo nem inferno. Somente a Criação o é, en- quanto tiver que existir como tal, até finalmente resolver conquistar a vontade livre.

  5. Se consta na Escritura ter Satanás, em figura de serpente, seduzido o primeiro casal, quer dizer que ele, muito embora conhe- cendo Deus e Sua Vontade, deixou-se tentar pelo prazer do mundo material, de sorte que o desejo de sua carne condenada externou-se, dizendo: Veremos o resultado da infração contra a Vontade Divina! Deus Mesmo nos outorgou a ação, portanto nada perderemos no conhecimento, mas lucraremos! Deus conhece a consequência de nossa ação livre — mas nós a ignoramos! Ajamos a nosso gosto, para experimentarmos aquilo que só Deus sabe!

  6. Assim, ambos saborearam o fruto da árvore do Conheci- mento por meio da experiência, afundando um grau na matéria, que, frente à vida livre do espírito, pode ser classificada como ‘morte’.

  1. Reconheceram, em seguida, que em sua carne localizaram-

-se condenação e morte, capazes de enterrar igualmente a alma no julgamento e prisão. Assim perderam o Paraíso, que consistia na completa união da alma com o espírito, sem reencontrá-lo inteira- mente. Sua alma havia sido ferida pelo espinho da matéria e muito teve que lutar para se manter o mais afastado possível do julgamento surgido do imperativo projetado, conforme ora acontece a todas as criaturas, razão pela qual Eu vim a este mundo para demonstrar-lhes o Caminho da Vida e entregar-lhes novamente o Paraíso através de Minha Doutrina.

  1. O mesmo se deu com Job. Era materialmente muito feliz e proprietário de grandes bens, sábio e devoto a Deus, vivendo estrita- mente dentro da Lei. Sua abastança excepcional despertou cada vez mais a sensualidade, fazendo grandes exigências ao espírito.

  2. O elemento condenado da carne sugeriu à própria alma: Quero ver se consigo afastar-te de Deus por todas as minhas alegrias e dores, esgotar-te a paciência e subjugar-te à minha lei condenadora!

  3. Isto valeu grande luta para Job; dispunha de todas as ale- grias terrenas, as quais gozava sem dominarem a sua alma, que con- tinuava em união com o espírito.

  4. O elemento pernicioso da matéria nada conseguindo com a alma, foi ela experimentada por toda sorte de atribulações físicas, descritas na Bíblia. Job suportou-as com paciência, embora às vezes reclamasse de sua aflição; no final, porém, confessava Deus lhe ter dado tudo, mas lhe tirara tudo. Todavia, poderia agraciá-lo de novo, e até muito mais, em virtude da fusão de alma e espírito. Se assim foi — quem era Satanás que tanto experimentou o beato Job? O elemento condenado de sua carne, isto é, seus variados apetites!

  5. Jamais houve um Satanás individualizado, e demônios per- sonificados só existiam na matéria telúrica de espécie variada. Os antigos sábios representavam Satanás e os diabos sob quadros hor- rendos, isto porque a alma deveria ter noção, sob vários aspectos, do sofrimento de uma existência livre, quando se deixa novamente aprisionar dentro da matéria.”

35.SATANÁSCOMO PERSONALIDADE

    1. (O Senhor): “Eu Mesmo fiz com que Satanás aparecesse em figura, e Meus discípulos se apavoraram. O mesmo aconteceu várias vezes aos patriarcas; naquela época, não houve explicação do acon- tecimento, pois eles entenderam o sentido da aparição por meio da interpretação espiritual, razão por que diziam: Horrível é cair-se nas Mãos da Justiça Divina. Isto quer dizer: Para uma alma que já tenha atingido a plena consciência, horrendo é deixar-se aprisionar pela Lei categórica da Onipotência, dentro da matéria.

    2. Prova isto a experiência com um moribundo que não tenha alcançado o renascimento espiritual. Por que o temor da alma diante da morte de seu corpo? Porque julga morrer com ele através da Lei categórica que a prende à matéria. Podeis fazer tal observação nos que descreem na sobrevivência da alma, por encontrar-se ela enter- rada na matéria, em parte ou totalmente, sentindo a morte até que dela seja separada pela Minha Vontade.

    3. Espero tenhais compreendido a verdadeira situação de Satanás e seus demônios, de sorte a perceberdes a mesma relação no inferno: é, como Satanás, a eterna condenação, ou seja, o mundo e sua matéria.

    4. Por que se denomina Satanás o príncipe da treva e da men- tira? Por não ser a matéria o que parece, e quem dela se apegar pelo amor encontra-se, evidentemente, no reino da mentira e — em con- fronto com a Verdade — no reino da treva.

    5. Quem, por exemplo, aprecia os ditos tesouros do reino da matéria inerte, considerando-os pelo que parecem e não pelo que são na realidade, acha-se no reino da mentira, porque seu amor, base da vida, nela se enterrou cegamente e mui dificilmente se poderá elevar de tal escuridão à Luz da Verdade plena.

    6. Quem considerar o ouro apenas como manifestação corres- pondente ao Bem surgido do Amor em Deus, assim como a prata, a Verdade da Sabedoria em Deus — conhecerá o verdadeiro valor de ouro e prata, encontrando-se no Reino da Verdade; sua alma não será sufocada pelo brilho enganador e por sua condenação.

    1. Deste modo, somente os patriarcas e profetas davam o verda- deiro valor ao ouro, prata e pedrarias; não tinham apreciação como matéria; portanto, não se tornavam perigosos à alma. Pela justa no- ção do valor da matéria, rapidamente descobriram sua utilidade na- tural, tirando o proveito verdadeiro.

    2. Quando, posteriormente, as criaturas começaram a apre- ciar a matéria em virtude de seu brilho e apresentação, caíram no julgamento dela e se tornaram espiritualmente cegas, duras, ávidas, mesquinhas, mentirosas, rixentas, traiçoeiras, orgulhosas, más, com tendências dominadoras e bélicas, deixando-se atrair ao paganismo, portanto ao inferno, do qual não podiam ser liberta- das sem Mim.

    3. Por isto, tive que vestir a própria matéria e, com ela, o jul- gamento, e terei que rompê-la, a fim de Me tornar a Porta para a Vida Eterna para todos os prisioneiros, caso queiram passar por ela. Eis por que Sou a Porta para a Vida, e a Própria Vida. Quem não ingressar por Mim, não chegará à Vida na Luz da Verdade Eterna e à Liberdade, ficando preso no julgamento da matéria.

    4. Todavia, segue-se a seguinte pergunta: Neste caso, não existem Satanás e demônios personificados? Respondo: Claro, os há aqui encarnados e muito mais no Além, constantemente empe- nhados em exercerem sua influência sobre a Terra. Primeiro, pelos elementos brutos da Natureza que jazem na matéria em virtude da maturação determinada, e, além disto, indiretamente, por certas in- sinuações e tentações. Percebem fraquezas e tendências das criaturas, apossam-se das mesmas, incitando-as a paixões violentas.

    5. Quando uma fraqueza se tiver desenvolvido a tal ponto, a criatura se acha em estado de julgamento da matéria e de seus maus elementos, e será difícil libertar-se.

    6. Satanás é o conglomerado do julgamento da matéria total e, quanto à sua personalidade, não existe; todavia, perfaz uma socie- dade de diabos de toda a espécie, não só da Terra mas de todos os mundos do Infinito, assim como todos os inúmeros universos-ilhas representam o Grande Homem Cósmico.

    1. Em escala menor, o agrupamento de todos os demônios de um planeta é um Satanás, e, em menor proporção, cada diabo de persi.

    2. Antes que houvesse criaturas num corpo cósmico, também não existiam diabos personificados, mas apenas espíritos não sazo- nados e condenados na própria matéria telúrica; dela faz parte tudo o que percebeis pelos sentidos.

    3. Uma coisa é certa: não há, em outros mundos, diabos mais perversos e maus que nesta Terra. Se tivessem permissão, muito pre- judicariam o planeta e seus habitantes. A fim de impedi-los, são acometidos com cegueira e tolice completas, e seus núcleos asseme- lham-se aos manicômios, onde se enclausuram loucos e desvairados para não prejudicarem os outros. Por esta explicação, podeis perce- ber, pelo raciocínio e intelecto claros, qual a situação de Satanás e dos demônios. Compreendeste tudo, escriba?”

36.LOCALIDADEDOSDEMÔNIOS PERSONIFICADOS

  1. Responde o escriba: “Sim, Senhor e Mestre, à medida que meu entendimento o assimila, porquanto o simples conhecimento não faculta percepção penetrante. Tendo revelado assuntos tão com- plexos, acrescenta mais a localidade dos diabos personificados, para podermos nos precaver!”

  2. Digo Eu: “Julgas mui materialmente! Que importa certo lo- cal, onde poderiam encontrar-se demônios em pessoa?! A tua alma, tornando-se pura e forte por Mim, poder-se-á encontrar nos pio- res agrupamentos diabólicos, que nenhum dano sofrerá. Uma alma pura e forte pode, não obstante rodeada por inúmeras legiões de diabos, encontrar-se no Reino dos Céus, que não existe alhures, com pompa externa, mas no coração da alma perfeita; deste modo, ela se torna criadora de seu reino, semelhante a Mim, no qual jamais um demônio poderá penetrar.

  3. Por isto, a localidade menor ou maior de diabos personi- ficados lhe é inteiramente indiferente; ela, para onde for, leva o

Céu consigo, assim como o diabo personificado carrega inferno ou julgamento.

  1. Mas, falando a respeito, classificarei suas moradas especiais. Observai as casas de comércio e negócios, inclusive o Templo; são localidades especiais para inúmeros diabos personificados. Igual- mente o são os antros nos quais se praticam impudicícia e adultério; montanhas e cavernas perfuradas pelos homens com avidez e cobiça de ouro, prata e pedrarias; florestas e grutas onde se ocultam ladrões, assaltantes e assassinos; campos de guerra; estradas de caravanas; rios, lagos e mares nos quais se comercia.

  2. Além disto, territórios e bens de raiz, campos, pastos, vinhas e matas de pagãos inclementes; as possessões de judeus ricos e ava- rentos — são habitações apreciadas por demônios; inclusive o ar na- quelas localidades, o fogo, nuvens, chuva, todos os templos pagãos e seus oráculos. Eles também se localizam em grande número onde se apresenta luxo excessivo e orgulho subsequente.

  3. Locais não habitados e não vilipendiados pelos pecados humanos não são por eles procurados, a não ser que ali passe uma caravana gananciosa. Assim, recebeste esclarecimentos nesse ponto.”

37.ASBASESDA CRIAÇÃO

  1. Diz o escriba: “Mas como podem os demônios percebê-los? Porventura veem a Terra e os habitantes com suas atitudes?”

  2. Respondo: “Claro, mas somente o que lhes diz respeito. Di- go-vos: Juntam-se rapidamente os abutres onde se encontra um ca- dáver a seu gosto!

  3. Eu, somente, sei desde eternidades o que é preciso para apre- sentar um Pensamento Meu num ser livre, na mesma independência divina. Se, para tal realização, forem necessários morte, julgamento, criatura ou anjos — não faz diferença até alcançar a finalidade prin- cipal de Meu Amor e Sabedoria. O Eterno sempre terá o tempo à disposição. Se bem que disse David, mil anos não representarem um

dia para Deus — Eu te afirmo que milhões de anos não têm o efeito de um simples momento!

  1. Tu existes, e incontáveis criações como esta jazem perfei- tas no passado, numa sequência natural. Que reclamação poderias apresentar por Eu ter permitido tua encarnação nesta época, e qual seria o protesto dos que, em bilhões de eras, serão por Mim proje- tados na vida?!

  2. Sou Senhor de Meus Próprios Pensamentos e Ideias; posso realizá-los quando quiser! Não estou sujeito à Lei, por ser Eu Mesmo a Lei desde eternidades, e posso criar uma Lei em assuntos de Moral Divina, que somente partirá de Mim, dependendo de Minha Von- tade, como e quando o quiser, dentro de Meu Amor e Sabedoria!

  3. Quem poderia prever, quem obrigar-Me, senão Eu Mesmo, partindo de Minha Ordem eterna?!

  4. Minha Vontade eternamente livre é a Lei sobre Meus Pen- samentos e Ideias, que, todavia, levam existência contemplativa dentro de Mim. Tão logo seja do Agrado do Meu Amor fazê-los aparecer numa existência sólida e independente, Minha Sabedoria determina a Vontade para a Lei acima de Pensamentos e Ideias, que surgem fora de Meu Ser como realizações externas, enquanto Meu Amor e Sabedoria — como Lei de todas as Leis — os conserva den- tro de sua utilidade.

  5. Deste modo, é a existência dos demônios personificados uma Lei que lhes foi outorgada além do livre arbítrio. Enquanto não Me reconhecerem e o que fui desde eternidades, sou e ainda serei para sempre, Minha Lei categórica deles não se apartará, pois, se assim o fizesse, sua existência independente estaria finda.

  6. Minha Ordem eterna não será alterada, caso um ser isolado venha a regenerar-se pela livre vontade, agora ou em épocas inima- gináveis, para ingressar no Reino da Verdade; para todos existem os meios necessários para tal fim.

  7. Como vos demonstrei as localidades das almas más e per- versas, ou sejam, os demônios personificados, evitai-os, caso vos sintais algo fracos; em tais antros o perigo ameaça o fraco! Ele, ati-

rando-se ao perigo, facilmente sucumbirá ou, pelo menos, sofrerá algum dano.

  1. Por isto, não vos deixeis tentar pelas coisas impuras e não sazonadas deste mundo, porquanto, como criaturas no último grau do aperfeiçoamento interno, as deixastes para trás. Procurai progre- dir e desconsiderai o retrocesso, e dentro em breve estareis na meta final! Compreendestes?!”

  2. Diz o escriba: “Senhor e Mestre, também este ponto nos é claro. Existem, porém, outros, não compreendidos. Haja vista ca- sos de burgos e residências antigas serem palco de manifestação de fantasmas, e ai de quem se aproximar casualmente, e pior ainda o atrevido que de propósito para lá se dirigisse! Que vem a ser isto, pois não podem ter sido frequentados por pecadores?”

  3. Digo Eu: “Meu amigo, a causa é bem diversa da que pen- sas. Basta mandares circundar tais burgos e antigas fazendas por um bravo exército, e te garanto que tais aparições se retraem de forma a nem despertarem tal suposição entre os soldados.

  4. Existem algumas localidades onde se mantêm almas de há muito desencarnadas, manifestando-se de longe em longe. Geral- mente estavam muito presas aos bens materiais e, a fim de aumen- tá-los, praticaram graves injustiças. Lá ficam até se ter apagado o úl- timo vislumbre da existência do local. Só então começam a refletir, porque percebem ser fútil e vã toda posse terrena.

  5. Tais almas não degeneram em maldade real e sua existência restrita e impotente não pode provocar dano moral; ao contrário, sua manifestação passageira age beneficamente sobre a incredulida- de dos materialistas, que começam a crer e modificar sua maneira de viver, inteirando-se da sobrevivência da alma, que todavia não lhes parece boa e feliz.”

38.APRECEPELOS DESENCARNADOS

    1. (O Senhor): “Tais almas, nem boas nem más, não se podem tornar perigosas, e constitui obra de caridade pedir por elas. A prece de uma criatura plena do verdadeiro amor e piedade, convicta do Meu Amor, exerce grande alívio em almas verdadeiramente necessi- tadas. Ela forma certa camada de éter vital, na qual veem — como num espelho — seus males e defeitos, melhorando e facilmente su- bindo à Luz da vida.

    2. Eu Mesmo vos dei oportunidade para vos tornardes úteis aos desencarnados. Mas, como pedir? Por certo não julgueis levar-Me à Misericórdia através de vossa prece, porquanto sou infinitamente mais Misericordioso que todas as criaturas bondosas do mundo em conjunto; mas explicai-lhes o Evangelho, com fé e amor, e elas vos ouvirão e aproveitarão. Deste modo pregareis a Boa Nova aos verda- deiramente pobres de espírito, que lhes será muito útil.

    3. Todas as demais preces e orações de nada adiantam às al- mas, mas prejudicam pelo aborrecimento de serem comuns e, entre fariseus, até mesmo dentro da Lei, feitas apenas com pagamento vultoso. A maneira pela qual vos ensinei a pedir e cuidar da pobreza espiritual dos desencarnados reverte em bênção; orações e missas dos fariseus são-lhes maldição que desprezam e de que fogem.

    4. Guardai este Meu conselho; com sua prática, criareis amigos verdadeiros, poderosos e reconhecidos, no Além, que não vos aban- donarão, aqui ou lá, caso passeis qualquer atribulação! Tornam-se tais amigos vossos protetores, zelando pelo bem de seus benfeitores.

    5. Somente os conseguireis pelo zelo e cuidado por Mim descri- tos. Para tanto, não é preciso a descoberta de burgos e fazendas, pois podeis fazê-lo sempre e em qualquer lugar e pelo número de almas de que for capaz vossa imaginação. Vossa fé, amor e misericórdia verdadeiros, e a Verdade surgida por Mim ultrapassam as esferas do grande Homem Cósmico. Não sois apenas Minhas criaturas, mas idênticas a Mim, vosso Pai, e infinitamente mais, enquanto o Ho- mem Cósmico não é nem um ponto sensível no menor nervo do de-

dinho do pé — isto, considerado espiritualmente, ou seja, do ponto de vista da Verdade mais profunda.

    1. Em verdade vos digo: a vós é dada uma esfera de atividade infinita, cuja extensão vereis apenas quando morardes e agirdes no Meu Reino, eterno, numa só Casa do Pai! Por enquanto, tudo isto vos parece um sonho curioso, como acontece aos bons filhos de pais religiosos. O que vos digo é Verdade profunda e divina.

    2. Assim como Me é dado todo Poder e Força no Céu e neste ínfimo planeta, também vos serão dados a todos que creem em Mim e Me amam acima de tudo. Os filhos de um pai não podem ser me- nos perfeitos do que ele.

    3. Nas criaturas desta Terra, a situação é geralmente outra

    1. Dei-vos pequena prova da qual deduzireis Quem Sou, quem sois, e o que vos cabe fazer. Agi sempre dentro de Meu Verbo, e fa- cilmente atingireis a meta final. Todo Infinito não terá Testemunha mais segura e poderosa do que Eu. Mas, como já disse, guardai-o no fundo de vossa alma; do contrário, terei falado baldadamente.

    2. Pelo pequeno sacrifício feito a Mim, não procureis recom- pensas no mundo, pois, em tal caso, seríeis não Meus filhos, mas da Terra — péssimo escabelo do Meu Amor e Rigor; fazei tudo por Amor verdadeiro e vivo para Comigo, vosso Pai, e Eu saberei como vos recompensar com verdadeira alegria!

    3. Em verdade, em verdade vos digo: Jamais alguém viu, ouviu e sentiu o que Eu reservo para os filhos que Me amam como Pai, de coração singelo. Todavia, acrescento: Não permito ser considerado ao lado do mundo! Ou tudo, ou nada! O meio termo é hábito dos pagãos e lhes traz maus frutos.

    4. Que vantagem desfrutaria quem possuísse todos os tesouros do mundo, levando grave prejuízo à sua alma?! Por isto, preocupai-

-vos somente com os tesouros não destrutíveis pela traça e ferrugem, que tereis o maior dos benefícios!

    1. Considerai também este conselho e tereis vida boa na Terra, inclusive os que creem em vós; todos os outros devem consumir-se, a fim de que sua carne não se torne demasiado orgulhosa! Eu, uni- camente, sou o Senhor e faço sempre o que quero, dentro de Minha Sabedoria eterna. O mundo que grite tão alto quanto quiser ou pu- der, sobre isso ou aquilo, que jamais darei atenção à sua gritaria tola!

    2. O que Me expuserem Meus verdadeiros filhos e amigos será por Mim considerado e, brevemente, aliviarei os seus males. Tudo que é e se chama mundo deve, a partir de agora, ser castigado cem ve- zes mais do que o foi desde o início dos tempos! Eis Minhas Palavras

— e os tempos ensinarão as criaturas Eu não as ter falado em vão!

    1. Ai de todos os materialistas e renitentes de Minha Vontade! Esta Terra é um berço para Meus filhos, que não se tornarão aptos sem relho; e se golpes suaves não derem resultado, mais fortes entra- rão em ação, dos quais Eu Me incumbirei. Agora, vamos considerar a outra parte de tua pergunta.”

39.RUÍNAS MAL-ASSOMBRADAS

  1. (O Senhor): “Tu, amigo escriba, mencionaste os seres ba- rulhentos em antigos castelos e fazendas; confirmo sua existência, mormente nesta época; entretanto, não se trata de fantasmas pe- rigosos, mas de criaturas nocivas e más que, com ajuda de magos pagãos, ex-sacerdotes judeus e essênios foragidos ou demitidos, en- gendraram suas maquinações. Sustentam toda sorte de larápios e, através de roubo, assassínios e peças diabólicas, acumulam grandes tesouros. Os lugarejos com seus labirintos subterrâneos lhes servem para obras condenáveis.

  2. O incauto, tentando se aproximar de tal ninho infernal, é assustado de tal forma a se tornar seu melhor protetor e defensor; faz o relato a milhares de pessoas, todas consideram aquilo como so- brenatural e ninguém se atreve a sondar o antro. Mas, como já disse: basta um exército sitiá-lo, e os ‘espíritos’ não aparecerão, porquanto fugiram por saídas secretas.

  1. Tais castelos e fazendas não são habitados por almas desen- carnadas, e sim por grande número de criaturas criminosas, piores do que os demônios do Além! Compreendeste bem, ou alimentas outra dúvida?”

  2. Apresenta-se Agrícola: “Foi ótimo eu ouvir essa explicação, pois saberei acabar com tais maus espíritos: Conheço na Europa quantidade de ninhos mal-assombrados, e hei de exterminá-los!”

  3. Digo Eu: “Em teu país tal medida seria mais difícil do que aqui, porquanto vossos sacerdotes colaboram naquele malefício. Enquanto Minha Doutrina não tiver tomado considerável avanço, pouco se conseguirá pela violência em locais mal-assombrados. O melhor meio contra tais abusos é o esclarecimento do povo mais instruído; quando conhecer, na realidade, qual a razão daquilo, o povo também se integrará, tornando-se ele mesmo a extinção de espíritos de carne e osso.

  4. Quem quiser caçar aves, não deve atirar cacetes nos arbustos, mas armar o laço para atraí-las e, em seguida, prendê-las.

  5. Onde princípios de Governo são ligados estreitamente ao sacerdócio mistificador, pouco será alcançado pelo poder externo; posteriormente, porém, poderá ser aplicado.

  6. Na Judeia, mormente na Galileia, Eu Mesmo desmantelei alguns antros de mistificação, e Cirenius poderá relatá-lo. Ainda há outros que saberei exterminar, como fiz nos templos pagãos de Sa- mosata, no Eufrates.

  7. Na Europa só se poderá fazer o que disse. Por ora, os povos ainda estão presos ao paganismo e levarão séculos para largá-lo. Todavia, haverá muitos na plena Verdade, sofrendo perseguições pelos pagãos. Por isto, farei descer um grande julgamento sobre eles, para acabarem com seus erros. Dize-me, amigo escriba, se compreendeste tudo, pois dou a todos oportunidade de conheci- mento completo.”

  8. Responde ele: “Senhor e Mestre, estou bem informado de tudo, através de Tua Graça e Misericórdia. Fizeste menção de um jul- gamento sobre todos os pagãos e poderias indicar a época do mesmo.

  1. Daniel e Isaías disso falaram veladamente e Tu explanaste dois capítulos do último profeta, inclusive a destruição de Jerusa- lém. Certamente haverá prenúncios de tudo, pois não deixas de ad- vertir as criaturas.”

  2. Digo Eu: “Caro amigo, fizeste boa pergunta, que será res- pondida; entretanto, não deve o paganismo futuro ser por vós ima- ginado como o atual. Os templos pagãos de hoje de há muito se- rão destruídos; no seu lugar surgirão outros pelo anticristo, e seus sacerdotes se farão honrar como representantes Meus, procurando açambarcar todos os bens mundanos. Saberão passar bem, deixando o povo sofrer física e espiritualmente. Quando aquele paganismo se tiver alastrado, o grande julgamento será lançado sobre a nova prostituta de Babel! Pormenores vos direi posteriormente; tomemos primeiro algum vinho.”

40.INTERPRETAÇÃOESPIRITUALDEPÃOE VINHO

  1. Imediatamente, Lázaro manda trazer bom vinho e diz: “Os Ensinamentos grandiosos transmitidos pela Tua Boca Divina devem ser brindados!”

  2. Digo Eu: “Tens razão, irmão e amigo! O Bem e a Verdade encontram em pão e vinho sua analogia; por isso, podeis estar certos de Minha Presença até o Fim dos Tempos, quando, em recordação de Mim, tomardes pão e vinho sobriamente. Se bem que não Me vejais sempre, vosso coração dirá: Regozijai-vos, pois o Senhor, Deus e Pai, está entre vós, abençoando pão e vinho! Sede alegres e felizes em Seu Nome, lembrando-vos mormente dos necessitados e dos po- bres de espírito!

  3. Vosso coração assim falando, podeis acreditar na Minha Pre- sença e tudo que pedirdes de bom e verdadeiro para a vida da alma prontamente vos será dado!

  4. Quem Me receber com intenso amor terá a convicção ocular da Minha Presença. O que ora vos digo e garanto vale para todos os vossos seguidores verdadeiros e fiéis. Agora dá-Me o vinho, que

estou com sede!” Todos Me acompanham e louvam o vinho que, por Minha Vontade, tinha especial aroma. Em seguida, o escriba pergunta se Eu estava disposto a voltar ao assunto anterior.

  1. Digo Eu: “Amigo, ainda há outros mais importantes que o fim do paganismo. Esperemos o dia e a partida dos fariseus acomo- dados no outro recinto, que explicarei ao ar livre o assunto que te interessa. Antes disso, o que vos parece necessário para aumentar vosso conhecimento e fé?”

  2. Expressa-se Pedro: “Terei uma pergunta a fazer, caso permitires.”

  3. Digo Eu: “Fala, pois agora todos têm direito para tanto!”

  4. Prossegue ele: “Determinou Moysés certos meios para pu- rificação dos pecadores, conhecidos de todos os judeus. Convém usá-los? Possuem poder santificador, tornando-se indispensáveis à vida eterna da alma? Devem os pagãos submeter-se à circuncisão, ou basta o batismo? E os demais recursos de purificação, convém aplicá-los em pagãos convertidos?”

  5. Respondo: “O judeu circuncidado, sempre o será; esse ato em si nada representa, tampouco tem valor secreto e de efeito mági- co sobre a alma. Nada santifica o homem, senão a fé viva e o amor ativo para com Deus e o próximo.

  6. Quem tiver pecado contra Deus e o semelhante, deve reco- nhecê-lo com remorso, pedir perdão a Deus e reparar o dano prati- cado. Evitando os erros, estará purificado; pois, pelo reparo do mal e evitando o pecado, os erros lhe serão perdoados.

  7. Quem não agir assim, persistirá no pecado e seus efeitos, não obstante tiver feito matar dez mil bodes, atirando-os ao Jordão. Esse e outros meios externos de purificação não melhoram nem san- tificam o homem, mas unicamente sua ação justa e sincera dentro de Minha Doutrina, acreditando no Deus Único e Verdadeiro, isto é, em Mim!

  8. Já vos ensinei que deveis batizar todos que tiverem acei- to viva e verdadeiramente a Minha Doutrina, ou a Mim Mesmo, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; basta apordes as

mãos e, como prova externa da purificação interna e verdadeira pelo Espírito Divino, o banho com água limpa. É o suficiente para ju- deus e pagãos.

  1. Todo o resto não tem valor para Mim, incluindo preces la- biais, ainda que prolongadas. Quem desejar ser atendido por Mim deverá orar no recôndito de seu coração, com fé, e lhe darei o que desejar. Novamente repito: Procurai em tudo somente a Verdade; ela vos libertará!

  2. Convém a criatura respeitar as Leis de Moysés referentes à higiene. Por falta da mesma, toda sorte de moléstias se localizam na carne e no sangue, criando desânimo e tristeza na alma frágil; mas o que limpa o corpo da impureza não purifica a alma de seus pecados. Os judeus costumam lavar as mãos antes e após a refeição — às vezes até mesmo os pés; nós nem sempre assim agimos, entretanto somos mais puros de mãos não lavadas, que os judeus fanáticos de mãos e pés limpos. Em suma: Nenhum meio externo santifica o íntimo do homem, mas somente a fé viva, seu amor e as boas obras. Entendeste?”

  3. Diz Pedro: “Nesse caso, também não será necessário aben- çoarmos os matrimônios, como fazem os sacerdotes do Templo?”

  4. Respondo: “De modo geral — não; pois a união matrimo- nial é suficientemente estabelecida pela promessa recíproca peran- te os pais ou demais testemunhas idôneas. Se, numa comunidade criada em Meu Nome, fordes comprovar e abençoar as uniões, tal proceder ser-lhes-á útil na confirmação das mesmas. Depende de vossa boa vontade como ato amistoso.

  5. Isso vos sirva de conselho, e não como lei; tampouco deveis disto fazer uma lei. Já vos demonstrei o mau resultado das leis obri- gatórias sobre a alma, ávida de liberdade, de sorte que tudo entre vós deve ter o cunho do amor verdadeiro e puro, jamais de uma coação. Reconhecer-se-á aos Meus verdadeiros discípulos pela prática da lei livre do amor, amando-vos como Eu vos amo!

  6. Uma bênção matrimonial, paga a um sacerdote orgulhoso dentro ou fora do Templo, não tem o menor valor para Mim, mas

  1. Diz Agrícola: “Os romanos aplicarão tal medida, Senhor! Que me dizes a respeito da poligamia?”

41.A POLIGAMIA

  1. Digo Eu: “Quanto à poligamia, os Meus seguidores devem respeitar a situação existente no começo da Humanidade, onde Deus criou umhomem, a quem deu umamulher. Quem se tiver ca- sado, prometendo amor completo e fidelidade invariável, unindo-se a outras, evidentemente terá cometido adultério contra a primeira; todavia, a Lei reza: Não adulterarás!

  2. Afirmo-vos ser a poligamia um grande mal; pois atrai a alma à sensualidade carnal, que sempre será manifestação de impudicícia e adultério. Quem for acometido de tais males não entrará no Reino de Deus. A alma estará demasiadamente enterrada na carne sensual, não conseguindo compreender e sentir algo espiritual. Por isso, tais criaturas voluptuosas dificilmente ingressam no Reino de Deus.

  3. Conquanto a poligamia seja nociva à alma, não vos dou lei contrária, entregando tudo à vontade individual; demonstro a Ver- dade e dou bom conselho. O mesmo sucede com o homem que mantém concubinas: comete igualmente adultério com a esposa. Quem viver somente em companhia de concubinas, sem casar-se, é tão mau ou talvez pior que muitos adúlteros; pois prejudica igual- mente a alma das companheiras. Tais criaturas criam, já em vida, um destino amargo, e muito pior e miserável no Além; pois, pela má conduta, gastaram quase todo o elemento vital da alma.

  4. Quem quiser alcançar rápido e completo renascimento no espírito de sua alma, leve vida casta e não se deixe seduzir pelas mu- lheres; a atração sexual leva o sentido da alma ao exterior, impedindo fortemente o despertar do espírito na alma, sem o qual não se pode cogitar do renascimento.

  1. Um bom matrimônio na base da razão, sabedoria e re- núncia, não impede o renascimento espiritual, enquanto a vo- lúpia e impudicícia o impossibilitam. Por isto, fugi delas mais que da peste!

  2. Impudicos de ambos os sexos, ainda que se arrependam e comecem a levar vida casta através da renúncia, conseguindo ple- no perdão por essa penitência, alcançarão o renascimento espiritual apenas em parte. A alma de tais criaturas muito terá que fazer para se libertar da carne a ponto de, ao menos, ouvir as advertências do espírito, necessárias à salvação. Pode tornar-se boa e sábia e fazer o Bem; nunca chegará à plena ação milagrosa. Somente no Além isto será possível.

  3. Tal psique pode ser comparada a uma criatura há muitos anos enferma, que finalmente recupera a saúde por um remédio adequado. Pode alcançar idade avançada, caso leve vida ordenada; todavia, não chegará à força de uma outra, sadia desde o berço, por- que seus músculos, nervos e fibras foram impedidos no desenvolvi- mento necessário e, além disto, ponto principal, não se exercitaram nos movimentos e esforços.

  4. O mesmo acontece a uma alma enferma durante longo tem- po: falta-lhe o desenvolvimento básico do amor puro e verdadei- ro a Deus, porquanto carece igualmente de fé e vontade. Essa falta impede o exercício das virtudes, e seu poder sempre ficará atrofia- do na alma convertida, não obstante haver no Céu maior alegria pela conversão de um pecador, do que com noventa e nove justos, jamais necessitados de penitência. Para que amor, fé e vontade se tornem realmente ativos, preciso é desenvolvê-los desde a infância e exercitá-los.

  5. Mas, como tenho o Poder de curar toda moléstia grave e prolongada, a ponto de a criatura se tornar tão forte como se nunca houvesse estado enferma — a alma de um pecador remi- do pode, a partir de agora, chegar à força interior de um justo, que jamais necessitou de penitência. Custa-lhe isso muita força de renúncia.

  1. Quem tiver filhos deve exercitá-los nas três virtudes, para facilitar-lhes o domínio do mundo interior! Dou-vos este bom con- selho não como lei; pela lei obrigatória, o homem não consegue tor- nar-se livre fundador de sua salvação! Quem, pela aceitação de Meu Conselho, impuser uma obrigação à sua vontade, praticando-o, terá agido bem. Teríeis todos entendido isto?”

42.AJUSTA PENITÊNCIA

  1. Respondem todos: “Realmente, Senhor e Mestre, a penitên- cia plena e justa é o único meio de salvação. Compreendemo-lo a fundo. Que dizes, porém, dos penitentes rigorosos? Acaso é preciso andarem de veste especial e fazerem uso da cinza?”

  2. Digo Eu: “Tais atitudes são tão desnecessárias quanto o foi fazerdes tal pergunta, pois já vos demonstrei no que consiste a ver- dadeira penitência! Qual seria o benefício de saco e cinza para a sal- vação de uma alma? Foram idealizados pelos antigos como interpre- tação de uma penitência justa: o saco representa humildade externa; a cinza, a da alma. O simples uso de um saco e o salpicar de cinza na cabeça proporcionam tão pouco a santificação da criatura quanto jejum e mortificação — semelhante à atitude de um guerreiro que se oculta numa caverna, de medo do adversário, em vez de enfrentá-lo com coragem, não podendo receber a coroa da vitória.

  3. Atirai para longe saco e cinza, jejum e mortificação, sacrifício de animais e todas as demais oferendas no Templo para o perdão dos pecados; não têm o menor valor para Mim! Usai a vontade firme e inabalável para o aperfeiçoamento verdadeiro! Aplicai o amor vivo para com Deus e o próximo, a Fé viva Nele e Sua Encarnação na Minha Pessoa! Isto santifica o homem, fortalece e vivifica a alma no Meu Espírito, ativo dentro dela!

  4. Ensinai-o a todos os povos, e tereis poupado o julgamento aos pagãos de épocas vindouras; não tremais diante dos homens; revelai-lhes, de vontade boa e corajosa, o Rigor Divino da Verdade! E se não fordes capazes de vencer todo o paganismo em breve tem-

po, a Verdade pura o fará posteriormente. Pois o grande julgamento por Mim anunciado que cairá sobre o reino da mentira consistirá na vitória da Verdade sobre a hipocrisia.

  1. Naquela época, novamente inspirarei homens — e até mes- mo mulheres — que, pela Minha Boca em seu coração, transmitirão esta Verdade de forma tão clara e pura como ora vos transmito de viva voz; e tal Verdade será, para os pagãos cegos, o juiz poderoso e inclemente. Por isto — nada mais de saco e cinza, mas, em tudo, Verdade plena e vontade firme!

  2. Meus discípulos e amigos, falei abertamente e não em sím- bolos; portanto, entendei-o livremente e pela ação. O puro saber, pouco, ou mesmo nada, adianta à alma! Quem, pela ação, fizer certo sacrifício em prol da Verdade, colherá a Vida eterna.

  3. Externai-vos, caso vos oprima qualquer ignorância, e se real- mente assimilastes Minhas Palavras simples em sua realidade! Não indago como se ignorasse vosso entendimento, mas para analisardes quanto ao reflexo da Verdade dentro de vós. Somente ela vos servirá para a vida!”

  4. Exclamam todos em uníssono: “Compreendemos e assimila- mos a Verdade plena; todavia, duvidamos ser ela aceita com alegria pelos ignorantes. Havendo considerável número de criaturas cegas de espírito, apenas felizes nas cerimônias místicas, julgando pecarem contra Deus caso fossem obrigadas a despir o velho ‘eu’ como se tira uma roupa gasta — será difícil falar-lhes dessa necessidade.

  5. Quem não chegar ao raciocínio mais claro pelas experiências, não aceitará a verdade mais luminosa. Existe entre judeus o velho hábito de confessarem ao sacerdote, a fim de que ele pese pecados e boas ações, determinando as obras de penitência e oferendas purifi- cadoras. O homem que executa as ordens do Templo julga-se puro e justificado perante Deus. Observando-o mais de perto, continua ele o mesmo e, além de prosseguir nos velhos hábitos, acrescenta outros pecados, o que prova ser tal instituição prejudicial. Quem se atrevesse a criticá-la teria que fugir para não ser apedrejado. Que dizes a isto, Senhor?”

43. A ABSOLVIÇÃO

  1. Digo Eu: “Por isso deveis pregar somente a Verdade! Quem a aceitar, será livre e feliz; quem assim não fizer, permanecerá nos pecados, no seu julgamento e morte espiritual.

  2. De modo algum vos obrigo a transmitirdes as Verdades da Vida a todos, e de tal forma que venham a vivê-los inteiramente. Por enquanto, foi dado apenas a vóso entendimento do Segredo do Reino de Deus, e não a todos os ignorantes desta época; posterior- mente, encontrareis criaturas em quantidade que aderirão com todo entusiasmo, cooperando no progresso espiritual.

  3. Quanto à mencionada confissão perante o sacerdote, é, da maneira aplicada hoje em dia, prejudicial e condenável, porque não melhora a criatura, fazendo com que permaneça no pecado; toda- via, não sou contrário ao homem fraco e psiquicamente enfermo confessar de boa vontade suas fraquezas e males a um de alma forte e saudável, porquanto lhe pode dar os justos meios pelos quais re- vigore e regenere sua alma. Deste modo, torna-se salvador de um semelhante. Novamente, trata-se de um bom conselho, e não de lei; o que faço, também deveis fazer, ensinando a Verdade a todos!

  4. A simples confissão purifica a criatura tão pouco quanto o re- lato da enfermidade, pois o doente deve ouvir o conselho do médico inteligente e experimentado, segui-lo, evitando o que lhe provocara a enfermidade.

  5. É igualmente benéfico conhecer-se o ponto fraco ou forte do seu semelhante numa comunidade, para se poderem ajudar re- ciprocamente no físico e na alma. Quem se retrair porque presume aborrecer com a sua confissão, não deve ser provocado!

  6. Quem dentre vós for sábio, e seu espírito lhe revelar as fra- quezas do irmão temeroso e fraco, deve dar-lhe bom conselho, par- ticularmente, ajudando pela ação, e seu prêmio não se fará esperar!

  7. Todavia, respeitai o livre arbítrio e não imponhais qualquer obrigação, sabendo ser contra Minha Ordem Eterna toda coação moral! Não façais o que Eu não faço! Deste modo ficou esclarecido

o sentido da confissão aberta, das fraquezas e pecados; o que passa daí é contra Minha Ordem e prejudicial.

  1. O irmão fraco que se tiver confessado ao mais forte não deve ser enfrentado com expressão de juiz ameaçador, mas sim deveis ex- por-lhe a verdade com amor e amabilidade e dar-lhe os meios pelos quais se cure, que desse modo não perderá o ânimo, tornando-se discípulo grato da Verdade. Enfrentando-o com sermão condena- dor, pouco alcançará, aumentando sua infelicidade.

  2. Acontecerá, infelizmente, que, em épocas vindouras, as con- fissões perante falsos profetas serão mais comuns que em qualquer tempo, provocando queda e julgamento daqueles que usam o Meu Nome. Alegarão, como os pagãos, Deus ter dado somente a eles o direito de perdoar, ou não, os pecados; assim, também beatificarão e santificarão seus favoritos mediante grandes oferendas.

  3. Em tal época, o grande julgamento não demorará a cair sobre o novo paganismo; por isto, sede precavidos com as confissões públicas, a fim de que os falsos profetas não vos imitem de modo pior que fazem os fariseus e arquijudeus de hoje!

  4. Afirmei, mormente aos apóstolos, poderdes perdoar aos que vos prejudicarem, recebendo eles o perdão no Céu; se, po- rém, tiverdes motivo, em virtude de incorrigibilidade moral, de não lhes perdoar os pecados praticados contra vós, não serão re- midos no Céu.

  5. Já naquela ocasião estabelecemos assistir-vos direito de sus- tar o perdão após sete vezes setenta e sete perdões. Se vós, Meus discípulos diretos, apenas deste modo podeis perdoar ou não os pe- cados feitos a vós, é claro não assistir ao sacerdote a prerrogativa de Deus em perdoar ou sustar pecados de outrem.

  6. Quem, por exemplo, tiver ofendido Caifás, este poderá per- doar ou não o delito; quem tiver agido contra Herodes, nada terá

o que ver com Caifás, mas sim com o Tetrarca. Quem tiver agido contra o Templo, trate de reabilitar-se com ele!

  1. Não Me refiro ao Templo como é, mas como foi — pois até mesmo Eu seria infrator contra o mesmo, como vós todos —

portanto não necessitamos fazer confissão no sinédrio. Nós mes- mos somos o verdadeiro Templo de Deus, que lá embaixo tornou-se antro de assassínios. Dentro em breve verá a colheita de seus maus frutos semeados em seus campos, e não se colherão uvas e figos de espinhos e cardos.

  1. Do mesmo modo que atualmente o Templo está organiza- do em Nome de Jehovah, será ainda pior a situação do novo paga- nismo em Meu Nome; e a colheita de seus frutos será mil vezes pior que a desse, dentro em breve.

  2. Não vos caberá culpa no novo paganismo, assim como não têm responsabilidade os profetas pela situação do Templo; toda cul- pa recai nos homens cuja indolência não permitiu que caminhassem pelas veredas da Verdade; preferiram que outros, mormente os tais sacerdotes, caminhassem em seu lugar em troca de sacrifícios imun- dos — não pelas veredas da Verdade, mas da mentira e mistificação. Assim, um cego guia outro, até que ambos caiam na vala.

  3. Ouvindo este Meu Ensino, assimilai-o na plena Verdade e jamais vos deixeis tentar pela indolência dos ricos! Quem não quiser trabalhar não deve se alimentar na Mesa da Vida!”

  4. Diz o escriba: “A Verdade de Teu Discurso é palpável! Se Moysés e os profetas assim tivessem falado, o judaísmo total seria outro!

  5. Tua Doutrina sendo divulgada, trará outros frutos, pois nós a passaremos tão fielmente como imutável é a trajetória dos astros. Pedimos-Te, Senhor, não nos abandonares com Tua Graça e Ajuda, bem como os que guiarão Teus povos posteriormente!”

44.OSELEMENTOSDO AR

  1. Digo Eu: “Falaste bem, e a Doutrina permanecerá pura para os puros, até o Fim dos Tempos; mas enganas-te julgando que a situação do judaísmo seria outra, se os profetas tivessem usado a mesma clareza que Eu; pois o povo, somente entendido no sentido simbólico, não teria compreendido Moysés e os profetas!

  1. Naquele tempo, o homem simples possuía o conheci- mento da interpretação espiritual; sua escrita era em quadros e a linguagem de acordo com eles. Quando o povo se tornou mais abastado e conceituado, suas necessidades materiais aumentaram e era preciso recursos maiores para satisfazê-las. As necessidades e os meios recebiam simples denominação, dispensando quadros correspondentes. Assim, os nomes suplantaram a linguagem sim- bólica e sua interpretação, de sorte a não caber culpa aos pro- fetas da falta de compreensão dos judeus atuais. Eles mesmos são responsáveis em virtude do crescente egoísmo, perdendo a noção da escrita e linguagem antigas, que sempre ocultavam sen- tido profundo.

  2. Se na época de Moysés te tivesses expressado como hoje, nem ele nem outro profeta teriam te compreendido; sabes, portanto, o motivo por que não os entendeis.

  3. Eis que começa a clarear, e os fariseus na sala contígua se aprontarão para a partida. Quando tiverem se afastado, iremos ao ar livre para fazermos observações. Tu, amigo Lázaro, agirás bem fa- zendo-os acompanhar de alguns empregados até o portão do jardim; em pensamento, veem os três leões escondidos na moita, causando-

-lhes receio.” Lázaro assim fez e, dentro em pouco, os templários se afastam.

  1. Em seguida, chamo Raphael e lhe digo em voz alta, por causa dos presentes: “Cuida dos jovens e leva-os a Bethânia num caminho pouco usado. Dentro de três horas seguiremos.”

  2. Entrementes, a luz é mais clara. Saímos do albergue e su- bimos a colina. No Céu ainda brilham as estrelas maiores, a Lua crescente e o planeta Vênus, formando um quadro belíssimo. Os romanos, então, dizem: “Seria realmente agradável, não fora a tem- peratura tão fresca!”

  3. Digo Eu: “Esse frescor é algo desagradável para a pele, porém benéfico para corpo e alma, pois os elementos mais puros do ar passam por nós. Se sentirdes muito frio, farei com que internamente sejais aquecidos; todavia, ficaremos nessa temperatura!”

  1. Ninguém mais protesta. Agrícola, então, diz: “Senhor e Mes- tre, teriam os elementos do ar forma limitada, ou são informes e unidos como as gotas de água dentro do mar?”

  2. Respondo: “Meu amigo, será difícil responder-te; por isto, usarei outro meio. Abrirei a vós, romanos, a visão interna, facultan- do-vos resposta visual.”

  3. Assim, percebem eles, inclusive Agrippa e Laius, inúmeras formas flutuando perto deles, e Agrippa diz: “Há formas indescrití- veis, em meio das quais vejo ervas, plantas e sementes. Nas plantas estão toda sorte de ovos, larvas e alguns insetos. Em todos veem-se pontinhos luminosos e entre eles flutuam, igualmente, inúmeras luzinhas. Tudo isto em movimento, sem haver união.” Nisto, cerro-

-lhes novamente a visão psíquica.

  1. Diz Agrícola: “Senhor e Mestre, qual a finalidade de tais es- píritos? Surgirão na matéria de acordo com a propensão, ou seriam, de certo modo, almas de plantas e insetos mortos?”

  2. Respondo: “Ainda se destinam ao ingresso no mundo ma- terial. Sua inteligência, manifestada pela forma, os impulsiona a se unirem ao elemento afim nesta Terra. Agem nos vegetais, e a colhei- ta depende de sua quantidade e ação elevada, aplicando-se tal medi- da aos insetos e larvas. Trata-se da primeira manifestação animal de um planeta, cuja unificação psíquica é criada por animais maiores.”

  3. Diz Agrícola: “Por que não foi possível vermos igualmente almas desencarnadas?”

  4. Respondo Eu: “Por dois motivos: Primeiro, abri vossa visão a ponto de verdes os elementos em imigração na matéria, faculdade do primeiro grau da visão interna, posse de criaturas simples. Com este grau não se pode ver almas, especialmente mais perfeitas, por- que tal visão faz parte da faculdade material, e não espiritual.

  5. Segundo, quanto às almas impuras que poderíeis ter visto por momentos, não havia uma sequer neste local; percebem a Mi- nha Presença Pessoal, evitando-a com todo zelo.”

45.AGRÍCOLASELEMBRADEMARIADE MAGDALA

    1. Novamente Agrícola pede a palavra: “Que tesouros imensos colhemos durante esta semana! E a quem devemos tamanha Graça? Àquela moça que nos ensinou o caminho para cá! Muito embora não desse impressão de considerar castidade e virtudes morais, foi ela, sem dúvida, por Ti inspirada, tornando-se um fanal para a Vida.

    2. Não a conheço particularmente e ignoro se é rica ou pobre. Caso faça parte da pobreza, tinha vontade de lhe proporcionar uma ajuda por intermédio de Lázaro. Lembro-me que de Emaús andou à Tua procura, Senhor. Encontramo-nos aqui há alguns dias, e estra- nho ela não se ter apresentado.”

    3. Digo Eu: “Ela ignorava o Meu paradeiro; ontem recebeu in- formação pelas irmãs de Lázaro em Bethânia, e está a caminho para cá. Quando surgir o Sol, ela estará presente, e poderás combinar o auxílio desejado. Quanto à sua vida moral, julgaste certo. Sempre se lembrava da pobreza, porque pela beleza física tornou-se rica e já o era por parte dos pais.

    4. Lá, em direção a Leste, numa colina, há um castelo. Cha- ma-se Magdala. Lá nasceu ela, e o castelo, jardins, campos, pastos, vinhas e matas são posse dela, porquanto os pais faleceram há alguns anos. Por diversas vezes poderia ter casado; os templários a persuadi- ram do contrário, porque sempre eram bem recebidos e, além disto, apreciavam sua companhia. Desde que Me viu e ouviu, tudo mudou em sua casa, no pensar e sentir; como muito amou a pobreza, foi remida de seus pecados.

    5. Chama-se Maria de Magdala. Não necessita auxílio mate- rial. Todavia, poderás propô-lo em benefício dos pobres de que cui- da. Sua culpa foi escrita na areia! Observemos a aurora magnífica, e descobrireis diversos pontos relacionados com a época final dos neopagãos!”

46.OJULGAMENTODO PAGANISMO

  1. Externam-se os apóstolos: “Senhor e Mestre, seria oportuno entrares em detalhes!”

  2. Digo Eu: “Sei melhor do que vós quando o momento é opor- tuno e, além disso, já vos disse muita coisa que acontecerá porque não posso alterar o livre arbítrio. Desde o Meu Nascimento come- çou o julgamento dos pagãos em toda parte, e prosseguirá num cres- cendo até quase atingir dois mil anos.

  3. Assim como no momento se formam nuvens que se agrupam no horizonte, dando impressão de querer impedir o aparecimento do Sol, também se oporão enormes massas de nuvens contra o Sol espiritual e eterno, ocasionando grandes prejuízos, sem poderem impedir, no final, a grande Aurora da Verdade.

  4. Há pouco vistes muitas estrelas no Céu e, no ocaso, as que bri- lhavam na noite profunda. Precederam, como bons arautos, os mensa- geiros matutinos, ainda visíveis, e agiam durante a noite; eis vossa tarefa!

  5. Quando, no horizonte da Aurora espiritual, surgirem os mensageiros luminosos, será prova de que em breve seguirá o grande Sol da Vida e da Verdade. Sua Luz claríssima será um julgamento in- clemente de toda mentira e mistificação, que, juntamente com seus adeptos devotos e pompa mundana, serão atirados no abismo do desprezo, da justa ira e do esquecimento. E as criaturas iluminadas não mais se lembrarão da mentira e do julgamento.

  6. Percebeis que as nuvens anteriormente negras e ameaçadoras começam a receber friso dourado; também notareis que, naquela época, as criaturas anteriormente ignorantes e inimigas da Luz da Verdade são iluminadas por todos os lados, transformando-se em adversários da mentira. Tal iluminação, aproximando-se como pre- núncio do Sol da Verdade dos Céus, será o Meu Símbolo como Filho do homem para todos os representantes da Verdade na Terra e o início do grande julgamento da prostituta da nova Babel.

  7. Os amantes da Verdade começarão a rejubilar-se e Me lou- varão, por lhes ter enviado Meu Sinal no Céu do Dia espiritual.

Os inimigos da Verdade chorarão e rangerão os dentes, procurando ocultar-se em cubículos com os reduzidos afins — o que pouco lhes adiantará. Quando tiver surgido o pleno Sol da Verdade, sua Luz penetrará em todos os esconderijos, cavernas e grutas, e os inimigos da Luz não mais terão refúgio na Terra nova.

  1. Eu Mesmo serei a Verdade eterna naquele Sol e, por Sua Luz, Soberano e Guia de sua vida e de seu destino temporal, espi- ritual e eterno. Deste modo vos demonstrei o grande julgamento do judaísmo antigo e novo, na Verdade plena e facilmente com- preendida. Posteriormente, darei mais um símbolo que podereis transmitir às criaturas com a justa explicação. Prossigamos a ob- servar a Aurora!”

47. O FUTURO DE ROMA E DO ANTICRISTO

  1. Após termos observado as cenas matutinas durante um quar- to de hora, digo: “Prestai atenção ao que surgir antes do Sol; quero que vejais os acontecimentos no Final dos tempos com relação ao novo paganismo.” Todos voltam a atenção para Leste.

  2. Primeiro, vê-se no horizonte uma névoa densa e inteiramente negra. Após ter surgido sete vezes a altura da cordilheira, tornou-se incandescente; milhares de raios a rasgavam, levando a crer na fúria de uma terrível tempestade.

  3. Digo Eu: “Nada de preocupações; além de nós, ninguém mais vê este fenômeno!” E a calma volta aos presentes. Súbito, nos bordos da névoa negra e rubra, vê-se uma grande cidade! E Eu expli- co: “Eis a nova Babel!”

  4. Diz Agrícola: “Tem grande semelhança com a nossa Roma. Está circundada por muitas ruínas. No centro vejo, além dos edifí- cios conhecidos, grande número de novos, inclusive templos orna- mentados com cruzes. Que representa isso?”

  5. Digo Eu: “É a decadência do velho e o surgir do novo paga- nismo. A contar de agora, em 500 a 600 anos, tudo terá esse aspecto. Continuai observando!”

  1. As cenas se precipitam. Grandes transmigrações, lutas e guer- ras! E, no centro da metrópole, surge algo parecido a um monte! Em cima do monte aparece um trono como se fora de ouro candente. Nele está um soberano com um bastão ornamentado com trípli- ce cruz e uma tríplice coroa na cabeça. Da boca surgem inúmeras flechas, dos olhos e do peito se projetam raios de ira e orgulho. E regentes se aproximam; alguns se curvam com respeito, sendo bem acolhidos por ele, aos quais confirma o poder. Os outros são perse- guidos e maltratados por flechas e raios.

  2. Diz Agrícola: “Realmente, não é bela a perspectiva dos futu- ros soberanos da nova Babel! Seu poder parece maior e muito mais cruel. Hoje somente os piores criminosos são punidos com a cruz, simples. Esse soberano opõe uma tríplice cruz a todos os regentes!”

  3. Digo Eu: “Não se trata de um soberano de país e povos, mas da personalidade do anticristo! A tríplice cruz é Minha Doutrina, que será imposta três vezes falsificada aos reis e povos: falsa na pala- vra, falsa na Verdade e falsa na aplicação.

  4. Os regentes que não se curvam, sendo amaldiçoados por ele, permanecerão mais ou menos na Verdade da Doutrina. Embora atingi- dos pelas flechas e raios, não serão prejudicados. Prossegui na observa- ção do quadro, pois posso apenas demonstrar os momentos principais.

  5. Vede, muitos soberanos que anteriormente se haviam cur- vado diante daquele que ocupa o trono concentram seus exércitos para desafiá-lo! A luta é tremenda, e o trono se inclina à cidade e vê-se somente alguns reis reverenciarem pró-forma, enquanto outros lhes atiram flechas e raios. Agora quase nada mais se vê dele, e tal época será daqui a mil até mil setecentos anos.

  6. Então fará tentativas de elevar-se, protegido da camarilha negra, e alguns reis lhe estendem a mão. São, entretanto, ineptos, e seus povos lhes arrancam as coroas, entregando-as a regentes fortes! O trono soçobra, os regentes poderosos o dividem, selando o final de seu poder, grandeza e altivez! Ainda atira flechas e coriscos, sem poder prejudicar alguém. A maioria se volta contra ele, ferindo-o e a suas hordas cansadas e ignorantes.”

48.OREINODEMIL ANOS

    1. (O Senhor): “Observai como o Sol começa a penetrar tudo com Sua Luz, e as hordas obscuras debandam em todas as direções, fugindo do local do Sol, pois, diante do Seu Fulgor, tudo desvanece e cai no reino do esquecimento.

    2. Agora percebeis a formação de uma nova Terra criada por nuvens luminosas, representadas por núcleos de criaturas ilumina- das pela Verdade divina. Tais núcleos se fundem num enorme agru- pamento, justamente a nova Terra, sobre a qual se estende um novo Céu cheio de Luz e claridade!

    3. De modo algum deveis imaginar o desaparecimento do glo- bo terrestre para transformar-se num novo; as próprias criaturas projetarão um novo mundo espiritual através da aceitação plena da Verdade divina em seus corações, como verdadeiros irmãos, em Meu Nome. Neste novo mundo Eu Mesmo estarei regendo entre os Meus, gozando eles do Meu Convívio e jamais Me perdendo de vista.

    4. Observai a Terra antiga! Fachos cada vez mais concentrados de Luz descem sobre ela, até incendiá-la em chamas vivas. Vedes inúmeros mortos surgirem das tumbas, dirigindo-se à Luz e, dentro em breve, se cobrirão com a veste da Verdade para subirem ao Reino da Terra nova.

    5. Ao mesmo tempo, uma grande parte da treva se esforça em cobrir sua veste negra com a da Luz, querendo novamente criar um novo paganismo anticristão por egoísmo e domínio; Eu Mesmo fa- rei explodir Minha Ira sobre eles — o Fogo de Minha Verdade — e Meus anjos da Terra nova cairão sobre eles com espadas em chamas, afugentando toda tentativa de mistificação ao abismo da destrui- ção completa.

    6. Será esse o último e maior julgamento, mil anos mais tarde. Tal época será denominada o Meu Reino de Mil Anos na Terra, que, pelo último julgamento, terá uma curta interrupção bélica. A vitória será completa e para sempre. Daí em diante surgirão, dos Céus e da Terra, umpastor e umrebanho. Como sempre, serei Eu o Pastor; o

rebanho será formado pelas criaturas desta Terra, em plena união com os bem-aventurados dos Meus Céus.

    1. Estes se comunicarão com os encarnados, conforme sucedia em épocas remotas. Antes, porém, o planeta sofrerá grandes trans- formações. Enormes continentes e reinos, hoje ainda cobertos pelo mar, serão suspensos como solo fértil, e montanhas elevadíssimas se- rão niveladas; o seu entulho preencherá vales e cavernas profundas, criando zona fértil.

    2. As criaturas de tal época, não mais cobiçando os bens terre- nos e perecíveis, cem mil vezes mais do que hoje poderão subsistir, felizes. De igual modo, desaparecerão as moléstias tão martirizantes. Os homens atingirão idade avançada e serena, podendo fazer cari- dade, e ninguém alimentará receio da morte, porquanto terá a visão nítida da Vida eterna da alma.

    3. O motivo principal da caridade consistirá na justa educação da prole e no socorro à velhice desamparada. Na nova Terra haverá ma- trimônios — como no Céu, dentro de Minha Ordem — e também haverá procriação, não pela simples volúpia, mas pelo rigor verdadeiro do amor, até o final de todas as épocas desta Terra. Eis o quadro fiel e de fácil assimilação do último julgamento sobre todos os pagãos.”

49.MISSÃODOSFILHOSDEDEUSNOALÉM.DURAÇÃODO ORBE

  1. Nisto, perguntam os discípulos: “Senhor e Mestre, será pos- sível vermos e sentirmos isto tudo como habitantes do Reino dos espíritos? E quanto tempo durará a época feliz da Terra?”

  2. Respondo: “Subentende-se que não somente vereis e sentireis tudo isto, pois sereis os guias principais em todas as épocas, inclusive do grande Homem Cósmico e de incontáveis núcleos de todos os Céus, infinitos. Por isto, repito: Ninguém viu, ouviu e sentiu o que Deus reserva aos que O amam.

  3. Poder-vos-ia dizer e demonstrar muita coisa, todavia não se- ria suportável; quando fordes bafejados pelo Espírito da Verdade

total, e vós nele renascendo, ele vos conduzirá a todas as profundezas de Minha Luz. Só então compreendereis a grandiosidade de Minhas Palavras, que por vosso intermédio dirigi a todos.

  1. A segunda pergunta é um tanto pueril; nosso cálculo desco- nhece número pelo qual pudesse determinar a idade da Terra até seu final e, admitindo-se tal hipótese, não faria diferença para os que vivem eternamente.

  2. Digo-vos: Nem um anjo no Céu sabe tal dia e hora; é co- nhecimento exclusivo do Pai. A Criação total é a expressão do Seu Grande Pensamento, não temporal, mas tão eterno quanto o Sus- tentáculo e Portador, eternos. Já vos demonstrei como a matéria será transformada em elemento espiritual, como que independente, e dispensa maiores explicações.

  3. Preferível é observardes a Aurora e verdes como a Luz do Sol dispersa vapores e tristezas da Terra, concluindo vossa própria tarefa futura; assim agireis mais proficuamente do que procurando infor- mações daquilo que não vos diz respeito.

  4. Por diversas vezes expliquei qual deve ser vossa preocupação; até mesmo afirmei ser desnecessário e fútil — caso vos mantenhais na fé e no amor em Mim — a preocupação do dia vindouro referen- te às suas necessidades.

  5. Acaso não se vende no mercado cem pardais por uma moe- da?! Quão pequeno é seu valor diante dos homens, todavia o Pai no Céu cuida deles!

  6. Vede os lírios e as flores do campo! Salomão, em toda sua pompa de rei, não era tão ricamente vestido quanto elas! Quem zela pela sua veste? Compreendei a futilidade de tais preocupações, e muito maior a do final da Terra!”

  7. Todos se conformam, com exceção de Judas, alegando não estar claro quanto ao dito sobre o último julgamento pagão. Retru- co: “Procura então aqueles que o assimilaram. Um antigo apóstolo deveria entender o que entendem os próprios romanos!” Ele nada mais diz, percebendo o motivo de Minha Resposta.

50.GRATIDÃODOSROMANOSAMARIADE MAGDALA

  1. Enquanto ainda nos deleitávamos na colina, vimos Maria de Magdala dirigir-se ao albergue, informando-se do Meu paradeiro junto aos empregados de Lázaro. Não obstante lhe aconselhassem a aguardar Minha volta, preferiu subir a encosta. Agrícola vai ao seu encontro, cumprimenta-a com carinho, para depois levá-la aos amigos, igualmente cheios de atenção para com ela.

  2. Modestamente, ela diz: “Não sei o motivo de tamanha defe- rência. Sou pecadora e mereço o desprezo de todos. Além do mais, vim somente agradecer ao Senhor de minha vida, porquanto me libertou dos maus espíritos carnais.”

  3. Diz Agrícola: “Graciosa Maria de Magdala, todos os roma- nos aqui sentem profunda gratidão para contigo; pois, se não nos tivesses demonstrado, há oito dias, o caminho para cá, talvez jamais tivéssemos a incalculável felicidade de conhecer o Senhor da Vida e aprendermos a amá-Lo acima de tudo.

  4. Em nosso país se respeita uma lei pela qual se deve demons- trar gratidão por gestos, palavras e ações a quem tiver proporcionado grande felicidade a outrem, ainda que desconheça tal fato. Esse reco- nhecimento se estende aos seus descendentes.

  5. Que representam bens materiais comparados aos do espíri- to, aqui colhidos?! Encontramos o Deus Verdadeiro e a vida eterna da nossa alma, no que foste causadora. Fosse tua situação precária, serias regiamente recompensada; deste modo, podemos apenas ex- pressar o que nos vai no coração e não poderás recusar-nos!”

  6. Responde ela, igualmente amável: “Vossa gratidão não cabe a mim, que fui simples instrumento do Senhor!”

  7. Obsta Agrícola: “Sabemos perfeitamente devermos tudo a Ele; todavia, não é admissível desconsiderarmos o instrumento usa- do para a nossa purificação. Se assim não agíssemos — qual seria a situação do verdadeiro amor ao próximo, que nos ensina a amar aos próprios inimigos?! Foste escolhida para nossa estrela-guia, à qual devemos respeito e verdadeiro amor.”

  1. Diz Maria de Magdala: “Neste ponto tens razão, senhor. Da minha parte agradecerei a Jesus, meu único amor, por me ter deter- minado para instrumento inconsciente. Se soubesse Ele encontrar-

-Se aqui, não vos teria demonstrado o caminho; pois estou profun- damente convicta da Verdade de Sua Doutrina, de Sua Santidade Divina e jamais poderia Dele me aproximar como pecadora. Nova- mente vos peço render honra e gratidão apenas a Ele!”

  1. Aparteio: “Ouve, Minha Maria! Falaste certo, partindo do teu ponto de vista; os romanos, igualmente. Demonstraste estares inteiramente compenetrada do verdadeiro espírito de humildade, razão pela qual te são perdoados todos os pecados. Teus amigos tam- bém provaram o verdadeiro amor ao próximo e não cometem erro pela grata recordação à tua pessoa, embora fosses simples instrumen- to de Meu Amor e Vontade.

  2. Aproveito a oportunidade para dizer a todos: Não deveis procurar gratidão e honra com as criaturas às quais tereis feito o Bem em Meu Nome, assim como Eu Mesmo não o faço, porquanto Aquele que habita em Mim é Minha Máxima Honra. Se, porém, vos desonrarem e vos enfrentarem com ingratidão pelos benefícios espi- rituais, Eu considerarei tal desfeita como praticada a Mim! Quem não honrar o discípulo por Mim inspirado e não lhe for grato em Meu Nome, deixará de honrar a Mim, o Senhor e Mestre, tampou- co será grato à Graça recebida.

  3. Eu despertando discípulos e profetas, tal não acontece ape- nas por causa deles, mas em virtude de todas as criaturas; por isto, devem aqueles receber a consideração merecida. Quem acolher um discípulo ou profeta em Meu Nome, com amor e grato respeito, considerarei como se tivesse acolhido a Mim Mesmo; sua recom- pensa será idêntica à de um discípulo e profeta, e não será pequena!

  4. Ai dos falsos discípulos e profetas, que quais fariseus e su- mos sacerdotes se deixam honrar e até mesmo o exigem legalmente! Em verdade, serão considerados ladrões e assaltantes; futuramente serão dizimados diante de todos os anjos! Quanto mais cobiçarem a honra do mundo, tanto pior será a vergonha que terão de passar.

  1. Fácil é guardardes essa Verdade; pois, considerando bem o Meu Mandamento do amor ao próximo, verdadeiro e puro, com- preendereis que precisamente o orgulho ferino provoca a maior dor à criatura justa e verdadeira!”

51.OSFUTUROS JULGAMENTOS

  1. (O Senhor): “Por isto, sede cheios de meiguice e humildade, patenteando, deste modo, a maior e mais real honra humana. Vivei em paz e harmonia. Ambição e orgulho produzem malquerença, aborrecimento, desprezo, revolta, ira e, no final, vingança, guerra e suas consequências. O ambicioso e orgulhoso está sempre cheio de egoísmo e cobiça, querendo possuir tudo para aumentar seu prestí- gio mundano; a triste consequência disso é que milhares nada têm, vivendo em plena miséria, como aconteceu em época de Noé, e no final do novo paganismo ainda será pior.

  2. Tal situação realmente infernal será o julgamento cria- do pelos homens. O excessivo número de pobres e oprimidos se levantará contra os orgulhosos opressores, liquidando-os. Será qual segundo dilúvio pela ira do fogo da pobreza, por de- mais oprimida.

  3. Haverá, igualmente, um fogo natural que destruirá muitos locais; em virtude da exagerada cobiça, os homens perfurarão, quais maus vermes, as profundezas da Terra à procura de tesouros. Tão logo chegarem aos enormes depósitos de matas virgens soterradas, usando-as como combustível na fundição de metais etc., o último julgamento estará à porta. Passarão piores sofrimentos os habitantes das metrópoles de reis e demais chefes de Estado.

  4. Permanecei, por isto, na meiguice e humildade, isto é, no verdadeiro amor ao próximo, que nenhum julgamento será gerado entre vós; pois, onde em tal época as criaturas viverem em Minha Ordem, não surgirá julgamento final. Predigo-vos isto para o trans- mitirdes a outrem, a fim de que ninguém venha se desculpar por não ter sido avisado.”

  1. Todos concordam: “Senhor e Mestre, de nossa parte não fal- tará o verdadeiro zelo; mas a Terra é enorme, e não podemos visitar todos os países, de sorte que o mal progredirá!”

  2. Digo Eu: “Por isto não sereis chamados à responsabilidade, como qualquer outro que aja em Meu Nome. Basta que a Verdade seja divulgada; a ação depende das criaturas. Quem viver dentro dela, não será atingido pelo julgamento, colhendo a Vida eterna e sua bem-aventurança.”

52.MARIADEMAGDALAEO SENHOR

  1. Nisto, se aproxima Maria de Magdala e diz: “Senhor e Mes- tre, será que também alcançarei a bem-aventurança e a Vida eterna? Sou grande pecadora e cada vez mais me convenço não merecer a menor Graça Tua!”

  2. Digo Eu: “Continua no amor puro e não peques mais. Tal deve ser tua preocupação; do resto, Eu cuidarei. Libertei-te dos espíritos impuros e também te disse: Teus pecados foram perdo- ados pelo Bem praticado aos pobres, e agora Me amas acima de tudo. A quem Eu fizer tal afirmação, estará realmente remido. Deves não mais pecar; pois, se assim fizer, cairá num estado pior ao anterior.

  3. Quem, por amor a Mim, fizer tudo que o amor ao próximo exige, a este farei tudo que estiver no Meu Poder. No Meu Poder não só está muita coisa, mas tudo. Sabendo isto, querida Maria, podes estar alegre e fazer o Bem, que não te abandonarei!”

  4. Ela se atira a Meus Pés, umedecendo-os com suas lágrimas e, em seguida, os enxuga com os cabelos. Aos apóstolos esta cena parece estender-se demais e ser também inconveniente, razão por que resmungam entre si.

  5. Eu o percebo e lhes digo: “Por que vos aborreceis? Há mui- to tempo convivo convosco e nunca Me demonstrastes tamanho amor, tampouco o exijo. Por isto, vos digo: Onde for pregado o Meu Evangelho, deve ser mencionada esta Maria, pois demonstrou gran-

de prova de amor. Lembrai-vos também disto! Tu, Maria, levanta-te e esteja certa de Meu Amor e Graça plenos!”

  1. Ela se ergue, agradecendo mais uma vez de coração cheio de amor; os discípulos pedem desculpas a Mim e a ela pela falta de paciência. E Eu digo: “Aprendei a suportar os fracos, demonstrando maior força psíquica do que lutando e vencendo apenas heróis. — Eis que o Sol já subiu no horizonte e o desjejum deve estar pronto. Vamos tomá-lo e, em seguida, partiremos para Bethânia.”

  2. Isto feito, Lázaro fez as contas com o seu hospedeiro, acondi- cionando o lucro em dinheiro e demais tesouros, inclusive dos fari- seus convertidos, necessitando para isto de dez malas para transporte.

  3. Nicodemos, José de Arimateia e o velho rabi se recomendam à Minha Graça e Amor e, em companhia dos magos, vão à cidade. Os dois romanos se dirigem com os sete egípcios para Emaús, de onde os últimos, dentro de alguns dias, pretendem voltar à pátria. Todos os outros nos acompanham para Bethânia. Não é preciso mencionar especialmente as demais pessoas, porquanto já tinham sido apresentadas no Monte das Oliveiras. A Maria de Magdala re- comendo dar ordens em sua casa e procurar-nos em Bethânia, onde Eu descansaria por três dias.

53. A VIAGEM PARA BETHÂNIA

  1. No final, Agrícola pede permissão para levar como recorda- ção uma baixela de ouro, milagrosamente criada para os romanos, mediante pagamento do valor correspondente.

  2. Digo Eu: “O que foi criado por vossa causa vos pertence, po- dendo levá-lo sem escrúpulos. Além do mais, levarás grande número de necessitados para Roma e, cuidando deles, tuas baixelas represen- tam pequena recompensa por tudo que fazes por amor a Mim. Não deves considerá-lo como prêmio real, pois este será bem diverso já em vida, e muito mais no Além.

  3. Zela rigorosamente pelos tutelados que Eu te entreguei. Dentro de um ano farás uma viagem para a Europa, a negócios de

Estado, em companhia de um filho, e terás que trabalhar por muito tempo. Para tal época é preciso organizares tua casa, a fim de que teus protegidos nada sofram física e psiquicamente.”

  1. Comovido por esta manifestação de Meu Amor, Agrícola diz: “Senhor e Mestre, será minha maior preocupação, e espero resolver tudo com Tua ajuda. Jamais me abandones e não permitas grandes tentações para mim e os meus. Percebo tua força dentro de mim, mas conheço também minhas antigas fraquezas. Caso for induzido à queda, fortalece a minha vontade para não cair!”

  2. Digo Eu: “Realmente, o que pedires ao Pai — a Quem agora conheces — em Meu Nome, ser-te-á dado! Por isto, podes estar pleno de conforto e confiança, verdadeira e viva! Permanecendo na Fé viva e no Amor a Mim, sempre estarei contigo, guiando-te como a todos que assim fizerem!”

  3. Tanto os romanos quanto seus tutelados Me agradecem. As- sim, partimos pela estrada que segue a Bethânia. Passando pela mu- ralha da grande metrópole, o hospedeiro do Vale diz: “Senhor, que muro forte! Como poderia ser destruído por mãos humanas?”

  4. Respondi: “O que foi feito por elas, poderá ser destruído por elas. Os homens são mais hábeis na destruição do que na criação, de sorte que, em determinada época, darão cabo desta muralha re- sistente. Afirmo-vos: Nenhuma pedra ficará em cima da outra! E, dentro de alguns séculos, as criaturas procurarão o local do Templo, sem encontrá-lo.

  5. Como era a situação antes do Dilúvio? Demonstrei-vos há poucos dias. Se naquele tempo eram capazes de demolir montanhas, pelo que as águas internas do orbe romperam e afogaram os trans- gressores — muito mais fácil destruírem este muro.” Seguimos via- gem e, em pouco tempo, alcançamos uma aduana.

54.OCOBIÇOSOPUBLICANOEOSENHOR. A ATIVA

  1. O aduaneiro Me reconhece e Me cumprimenta, dizendo: “Senhor e Mestre, desde que Teus Ensinos me penetraram no Mon- te das Oliveiras, tornei-me outro e Te agradeço por tudo feito a mim e à minha família. Todos creem em Ti. Deixa que Tua Graça nos proteja!”

  2. Digo Eu: “Por assim teres feito, a salvação para todos vós não estará longe. É, porém, de Meu Conhecimento exigires taxa dos radicados, quando a afluência de estrangeiros em Jerusalém é fraca. E, quando estes chegam, reclamas muito mais do que a lei pres- creve. Tal atitude não está de acordo com o amor ao próximo, tão recomendado por Mim. Não aplicando essa virtude, estarás longe do Meu Reino. A simples fé, sem obras de amor, é morta, inclusive quem assim age. Modifica tua atitude, do contrário pouco benefício surgirá de tua fé em Mim.

  3. És publicano do qual os templários afirmam ser pecador; en- tretanto, não te considero assim; oprimindo os viandantes e exigin- do o que ultrapassa a taxa legal, és contrário ao amor ao próximo, portanto cometes grande pecado, que de modo algum traz benefício a quem quer que seja. Corrige-te, se pretendes tornar-te discípulo justo e útil de Minha Doutrina!”

  4. Perplexo, o aduaneiro respondeu: “Senhor e Mestre, vejo não haver o que se oculte diante de Teus Olhos! Modificarei o meu modo de agir e agradeço por essa advertência.”

  5. Aduzo: “Procura reparar o dano praticado aos pobres, senão terás semeado o amor ao próximo em base arenosa!”

  6. Respeitoso, ele se curva e diz: “Boa vontade não me falta, mas a possibilidade, porquanto desconheço a maioria e não posso restituir-lhe o excesso da taxa.”

  7. Digo Eu: “Faze o possível, que considerarei tua vontade como ação. Nos arrabaldes de Jerusalém há muitos necessitados de socorro; faze um sacrifício por eles, que terás pago tua injustiça.” Novamente ele se curva e promete seguir o Meu Conselho.

  1. Continuamos a nossa trajetória; a meio caminho de Bethâ- nia, deparamos com um cego sentado na estrada. Ao seu lado estava um guia, avisando a aproximação de Minha Pessoa. Imediatamente o cego começa a bradar: “Ó Jesus de Nazareth, verdadeiro Salvador dos homens, ajuda-me!”

  2. Meus discípulos o ameaçam por causa da gritaria, pois Eu o ajudaria sem tamanha algazarra. Corrijo-os, porém, dizendo: “Por que vos irritais com a súplica do cego? Seus gritos vos incomodan- do, tapai os ouvidos e deixai que Me chame! Caso enxergasse, não gritaria tanto. Nada vos pediu, portanto não é de vossa conta, nem vos cabe o aborrecimento e a ameaça contra ele!”

  3. Eles se calam, enquanto Me aproximo do cego, dizendo: “Aqui estou! Que queres que te faça?”

  4. Responde ele: “Bom Salvador, Santo e Mestre, peço que me devolvas a luz dos olhos, pois ouvi dizer que curas todos os cegos!”

  5. Digo Eu: “Crês indubitavelmente?” Responde ele: “Sim, Senhor e Mestre, somente Tu poderás ajudar-me, se for de Tua Vontade!”

  6. Exclamo: “Quero, pois, que vejas novamente! Previno-te, todavia, não repetires teus pecados, pois te fariam novamente cego! Considera bem o que te disse!” Compenetrado, ele o promete. To- co-lhe os olhos e, imediatamente, ele volta a enxergar e não se con- tém de alegria, agradecendo de mãos erguidas a Minha Ajuda.

  7. Digo-lhe, pois: “Completamente são que és, levanta-te e procura qualquer serviço, pois o ócio é a base e o início de todos os vícios e pecados!”

  8. Responde ele: “Eu e meu amigo trabalharíamos com muito prazer, caso encontrássemos trabalho.” Os dois hospedeiros se adian- tam, dizendo: “Vinde conosco, temos serviço de sobra em campos e vinhas.” Deste modo, nosso grupo recebeu mais dois viandantes.

55.NASPROPRIEDADESDE LÁZARO

  1. Ao chegarmos nas proximidades de Bethânia, de longe, as ir- mãs de Lázaro Me avistam, correndo ao Meu encontro de braços aber- tos. Não se cansam de relatar os benefícios ocorridos durante a Minha permanência em Jerusalém e a alegria com a chegada dos jovens. To- davia, lastimam eles não permanecerem em Bethânia, de acordo com o aviso de Raphael. Explico-lhes o motivo e elas se conformam.

  2. Entrementes, penetramos no grande salão, onde a juventude Me saúda como Pai, com palavras tão amorosas a comover os pre- sentes. Em seguida, fomos ao refeitório e Lázaro nos fez servir pão e vinho, abençoados por Mim. Assim refeitos, passamos uma vistoria nas propriedades e os romanos se admiram da abastança de Lázaro.

  3. Ele, então, explica: “Meus amigos, possuo trinta vezes mais do que vedes apenas superficialmente. Tamanha riqueza não me faz feliz. Hoje sou proprietário legítimo; amanhã o Senhor poderá cha- mar a minha alma, que terá de prestar contas de tudo. Em tal situ- ação, muitos enfrentarão dificuldades. Partindo do justo ponto de vista, somos apenas administradores de bens terrenos em benefício da Humanidade; nunca, porém, proprietários. O Senhor é Dono legítimo e eterno, e será para nosso bem, caso nos diga: Soubestes zelar pelos bens entregues aos vossos cuidados!”

  4. Diz Agrícola: “Tua compreensão e atitude referentes aos bens terrenos serão por mim adotadas. A Ti, Senhor, pedimos não faças uma conta muito rigorosa pelos bens emprestados. Nem sempre as circunstâncias permitem façamos o que seja justo.”

  5. Digo Eu: “O que acontece contra a vossa vontade será da responsabilidade dos que vos enfrentarem vez por outra. A única prestação de contas estará escrita em vosso coração. Sendo agora Meus amigos, sê-lo-eis na Eternidade!

  6. Em verdade vos digo: Felizes sois por ver e ouvir o que tanto desejavam patriarcas e profetas! O tempo não havia chegado para eles. Em espírito, assistem a tudo e se alegram sobremaneira; fisica- mente tal lhes ficou oculto e com as futuras gerações dar-se-á mais

ou menos o mesmo. Para vós é fácil crer e agir, pois sois testemunhas oculares de tudo que jamais um ser humano assistiu; no futuro, se- rão felizes somente os que creem sem ver, e seu mérito será maior.”

  1. Dizem os discípulos: “Se dentro de algum tempo não serás visto nem ouvido, como ficarás com os Teus até o final dos tempos?”

  2. Respondo: “Que pergunta mais tola! Quanta coisa grandiosa já vos provei, todavia entendeis tão pouco da sabedoria interna de Deus! Não poderei ficar eternamente encarnado e já vos afirmei, por diversas vezes, o que Me sucederá, a fim de encher a medida dos judeus e determinar o seu julgamento; entretanto, indagais, quais cegos, pela luz das cores e como poderei ficar para sempre com os Meus!

  3. Repito: Em Espírito, no Verbo e na Verdade ficarei entre eles, e quem sentir imenso amor para Comigo ver-Me-á por momentos. Os que viverem de acordo com o Meu Verbo e se aprofundarem na sua Verdade intrínseca, com estes ficarei pelo entendimento do coração e Minhas Palavras surgirão em suas almas. Em Meu Nome, moços e moças bem formados terão visões, explicando-lhes Minha Natureza, o Céu e a Vida eterna, bem como o destino dos renitentes e maus. Deste modo ficarei eternamente com os Meus!”

56.SITUAÇÃOESPECIALDA TERRA

  1. Durante o nosso passeio, voltamos ao local predileto de Láza- ro, uma pequena colina. Aí ficamos para descansar um pouco, quan- do um romano se dirige a Mim: “Senhor, tudo que por Ti e pelo anjo foi dito dá testemunho de Tua Onipotência. Demonstraste-nos o Céu estelar e nos facultaste a visão de outros mundos habitados por seres muito mais inteligentes, cuja ordem e beleza ultrapassam o nosso planeta. Surgiu em meu coração a pergunta: Por que justa- mente encarnaste nesta Terra, quando dispunhas de mundos solares de inexprimível beleza? Poderias dar uma explicação?”

  2. Digo Eu: “Sim, muito embora vos tivesse alertado durante a revelação da Criação material, mormente na explicação da ordem

solar dentro de um enxame globular do grande Homem Cósmico, por que encarnei aqui nesta época. Ainda que o repetisse, não o assi- milaríeis até vosso renascimento espiritual. Todavia, darei mais uma explicação, prevendo ser justamente este ponto o pomo de discórdia entre futuros filósofos e teósofos.

  1. O motivo principal reside na Minha Sabedoria e Vontade. Sabeis ter toda criatura um coração, do qual depende a vida, toda- via desconheceis sua estrutura. Eu o conheço e sei o que contém para animá-lo.

  2. Nele existem duas câmaras diminutas, correspondentes às duas coronárias. Para vossa visão, tais câmaras nem seriam perceptí- veis. Embora tão pequeninas, condicionam, pela organização, a vida do coração e, por ele, a existência do corpo.

  3. A primeira câmara, mais importante, corresponde à natureza do espírito, ou seja, à própria vida; por isto chamá-la-emos de po- sitiva e verdadeira. A segunda, de certo modo menos importante, conquanto indispensável à vida física, denominaremos de material ou negativa. Não contém vida; é simples receptáculo da vida recebi- da pela pulsação vinda da câmara positiva para transmiti-la ao corpo através do sangue.

  4. Daí poderás concluir a construção do coração, a fim de pro- porcionar vida ao físico. Subentende-se tal função organomecânica mui artística e sábia, como elemento propulsor; pois, onde se trata de acelerar algo, caminhos e meios devem estar de prontidão. Para o caso em si, necessitamos apenas das pequeninas câmaras, especial- mente da positiva.”

57.RELAÇÃOENTREMICROE MACROCOSMO

  1. (O Senhor): “A organização física do homem para a vida de provação corresponde à do Homem Cósmico, em vasta extensão. Justamente o enxame globular no qual se encontram esta Terra, Lua, estrelas etc. faz parte do coração do grande Homem Cósmico e este, tal como seus planetas, representa a câmara da vida positiva, e nesta

câmara a Terra condiciona o elemento espiritual. Não há sábio que o compreenda. Eu — o Criador do Infinito — sei e posso expli- car o porquê.

  1. Desde eternidades, sou a Razão de todo Ser e Vida, por- tanto também sou a Câmara original e positiva no Coração eterno do Infinito.

  2. Se, dentro de Meu Amor, Sabedoria e Ordem, determinei a Minha Encarnação, só podia realizá-la naquele ponto do grande Homem Cósmico que corresponde à Minha Natureza básica.

  3. Isto não quer dizer que esta Terra deveria representar o pró- prio ponto positivo. Poderia ter sido outro planeta, como realmente aconteceu. Seus habitantes se portaram muito mais indignamente do que os da Terra, de sorte que foi condenado e destruído com eles.

  4. Esta, tendo sido escolhida desde Adam, e Eu nela aceitan- do o corpo material, ela o será até o fim dos tempos dos espíritos condenados na matéria, e vós sereis portadores da Vida original de todo Infinito e Eternidade, permanecendo Comigo em espírito e, por isto, sereis Meus verdadeiros filhos.

  5. Eis, em breves traços, o motivo pelo qual Eu só pude encar- nar neste planeta e não em outro mais perfeito, por simples amor aos Meus filhos.

  6. Além deste motivo principal, existem outros igualmente de- terminados pela Minha Vontade, dentro da Ordem eterna. Trata-se de consequências indispensáveis do primeiro motivo, e não preci- sam ser enumeradas.

  7. Um deles, por exemplo, é a completa humilhação e avilta- mento, sem os quais até mesmo um espírito elevado não se pode revestir com a carne e, em seguida, voltar a vida inteiramente livre e independente.

  8. Eis o que acontece com a Terra. A câmara da vida positiva no coração é o ponto que menos ressalta no corpo, e nunca é atingido pelos raios solares; o próprio homem o desconhece e desconsidera, entretanto lhe dá a vida. Caso isto fosse dito aos sábios do mundo, dariam de ombros, dizendo: Como pode a existência humana de-

pender de um pontinho insignificante? Daí se percebe plenamente que eles, nem de longe, conhecem a causa de sua existência, quanto mais o leigo.

  1. Todavia, toda criatura terá que penetrar nessa câmara de vida positiva pela máxima humildade e submissão e devolver-lhe es- piritualmente a existência de lá colhida, caso queira conhecer Deus e a si mesma. Se assim fizer, ela dilata sua câmara vital e a ilumina in- teiramente. Isto se dando, o coração e, partindo dele, toda a criatura serão iluminados; ela descobre a si mesma e a Deus pela visão nítida do influxo da vida divina para esse recôndito, onde se concentra e desenvolve para uma existência livre e independente.

  2. Nesta câmara habita o próprio Espírito de Deus e, quando a alma nela ingressa pela plena humildade e sujeição, idênticas ao amor da criatura justa que penetra o eterno Amor incriado de Deus, ela se une ao Espírito Divino, dando-se o renascimento da alma no Espírito Supremo.

  3. A maneira pela qual isso deve ser feito pelo homem, a fim de ingressar na Glória da Vida, foi demonstrada por Mim Mesmo como Exemplo e Guia reais no Grande Homem Cósmico; por isto, vim a esta Terra porque corresponde à câmara positiva do Coração, podendo deste modo ingressar na Minha e na vossa Glória com todo Poder no Céu e na Terra.

  4. Desde Eternidades, Eu estava em Meu Próprio Poder e Gló- ria, mas não era um Deus Visível e Compreensível para qualquer criatura, nem para o anjo mais perfeito. Quando Me queria tor- nar Visível a Abraham, Isaac e Jacob, influenciava um anjo com o Espírito de Minha Vontade, de tal forma a representar ele Minha Pessoa por alguns momentos. De agora em diante, sou Deus Visível a todas as criaturas e anjos, fundei-lhes uma vida perfeita, eterna e independente, portanto real, no que consiste Minha Própria Glória e também vossa.

  5. Como podiam os anjos mais perfeitos e as criaturas mais devotas de todos os planetas glorificar Deus, jamais visto e não com- pletamente compreendido, através de um amor verdadeiro e vivo?

Sempre constou: Ninguém pode ver Deus e continuar vivo; pois a Divindade absoluta é Fogo Eterno e destruidor! Este Fogo foi por Mim coberto e abrandado pelo Corpo, e agora constará: Todo anjo e criatura poderão ver Deus e viver, e quem não vir Deus, levará vida mui miserável e condenada! Eis um dos motivos principais por que aceitei a encarnação nestaTerra.

  1. Isto assimilado, o restante será compreensível. Percebeste como a imperceptível câmara de vida positiva, sendo princípio bá- sico da existência do homem, é unicamente capaz da inteligência mais lúcida e real; portanto, é em si Luz, Verdade e Vida. O mesmo acontece com as criaturas desta Terra. Comparadas às de outros pla- netas, não são vistosas, porém pequenas, ignorantes, fracas e ineptas; os espíritos de outros mundos quase não as conhecem e elas mesmas se desconhecem. Precisamente em sua profundeza de vida oculta são por Mim o ponto central do Homem Cósmico, podendo de- senvolver capacidades tão elevadas, que, em outros planetas, surgem apenas em grau isolado e inferior.

  2. Em virtude de tais aptidões de semelhança divina, das quais fazem parte o idioma interno e externo, a escrita, a aritmética etc., prestam-se unicamente a ouvir a Palavra da Boca de Deus, primeiro pelas letras e símbolos, e depois no sentido espiritual e, no fim, o mais oculto e celeste.

  3. Tal dom é algo grandioso, assim como a capacidade intelec- tiva e vital da câmara de vida positiva perfaz a parte mais perfeita e sublime do homem. Justamente por isto, só pude vir junto de vós, e de mais ninguém. Eis os motivos principais de Minha Encarnação nesta Terra. Refleti a respeito, e dizei-Me vossas conclusões.”

58.BOACOMPREENSÃODOROMANOCOMRELAÇÃOAOENSINAMENTODO SENHOR

  1. Diz o romano: “Senhor e Mestre, segundo a Tua Explicação, cremos indubitavelmente no que acabas de revelar, conquanto não a entendamos a fundo. Agradecemos-Te por tamanha Revelação,

com a qual nos proporcionaste uma arma capaz de liquidar todos os intelectuais e filósofos. Constitui uma prova sem igual, sorvida da fonte vital de cada criatura, colocando-a em íntima relação com a grandiosidade de Tua Criação, pois o homem representa o ápice de Tuas Obras devido à sua semelhança Contigo.

  1. Ressalta de Tua Revelação ser mui estreito e íngreme o ca- minho para a Vida eterna e feliz; todavia, sente-se não haver outra possibilidade. Quem quiser encontrar a si mesmo, descobrindo ipsofactoa Tua Pessoa dentro de si, terá que passar pela porta estreita, do contrário não penetrará no recôndito de seu coração. Somente o amor para Contigo e ao próximo dilata a portinha estreita, a hu- mildade verdadeira produz a satisfação da alma, e a justa meiguice a torna submissa; assim preparada, pode a alma passar pela porta estreita e penetrar na câmara vital de seu espírito, renascendo pela união com ele. Eis a conclusão prática de Tua Revelação maravilho- sa. Descobri o motivo pelo qual nos recomendas o amor a Deus e ao semelhante, e o exercício da humildade e meiguice.

  2. Conhecedores do motivo e da meta a ser alcançada, só nos cabe agir com toda dedicação e zelo. Em nossa imensa pobreza es- piritual, sabemos onde se encontra o mais rico tesouro e temos ins- trumentos e meios para conquistá-lo. Seríamos, portanto, os piores ignorantes, caso cruzássemos os braços, lutando apenas pela maté- ria fugaz! Mais uma vez, aceita nossa gratidão por tamanho Co- nhecimento!

  3. Resta-me ainda uma pequena pergunta, que expressarei em virtude dos presentes, porquanto Tu bem sabes o que me vai na alma. Teriam os habitantes de outros mundos alguma noção de Ti? E, caso a tenham, quem a forneceu? São eles semelhantes a nós?”

59.RELAÇÃOENTRENOSSOPLANETAEOS DEMAIS

  1. Digo Eu: “Assimilaste Minhas Palavras e achaste uma apli- cação tão útil e real para a vossa vida, que nem Eu seria capaz de esclarecê-la melhor; quem, pois, passar pela estreita porta, renas-

cerá em espírito para a Vida eterna. Tendo chegado a conclusão tão perfeita, quase se torna milagre não teres encontrado resposta à tua pergunta.

  1. Se as criaturas desta Terra representam o recôndito vital do grande Homem Cósmico — que naturalmente vive e age dentro das normas da razão e vontade e, às vezes, pelo instinto — tua pergunta é facilmente respondida.”

  2. Diz o romano: “Sim, Mestre e Senhor, tenho impressão de captá-la, mas não o consigo! Tem a Bondade de demonstrar-nos o Caminho.”

  3. Prossigo: “Pois bem! O motivo principal se baseia, tanto para o corpo quanto para a alma, na câmara positiva do coração. Ela es- tando ativa, todas as demais partes de sua natureza vivem de modo tal, como se fossem elas mesmas o próprio recôndito, acionadoras e portadoras de vida. Vês que teus membros alcançam força eston- teante e agilidade artística através de um justo exercício. A quem, finalmente, devem todas as suas capacidades e agilidades? Unica- mente àquela câmara vital no coração; pois, sem ela, todos os mem- bros estariam mortos e paralisados, como os de um ídolo de me- tal! De quem aprenderam as mãos do artista e, de modo geral cada membro, sua especial capacidade? Tudo isso surgiu do mencionado recôndito do coração, e isto, em subsequentes graduações.

  4. As primeiras manifestações de vida acionam o coração todo, gradativamente. Daí passa a atividade pelo sangue ao pulmão, fíga- do e baço, em seguida cursa, pelos demais órgãos e vísceras, à cabeça e todas as suas partes.

  5. Uma vez a cabeça dentro da ordem e o cérebro desenvolvido, inicia-se no homem o pensar, julgar, concluir, entender e assimilar, e só então surge a prática justa e sábia dos membros externos, que, dentro em breve, executam os mais artísticos trabalhos, como se ti- vessem eles mesmos criado uma vida própria e independente.

  6. Digo mais: O homem renascido em espírito pode pensar e falar em todas as suas partículas físicas e psíquicas, tornando-se, igual a Mim, espírito, vida, força, pensamento — a própria mani-

festação da palavra viva. De onde ele o conseguiu? Exclusivamente de seu recôndito positivo no coração!

  1. Se o homem alcança o estudo completo e o aperfeiçoamento final apenas de seu coração, os habitantes de outros mundos conse- guem o aprimoramento determinado somente pelo recôndito do co- ração do grande Homem Cósmico, imenso, de acordo com sua pró- pria formação e capacidade. Quando fores inteiramente renascido em espírito, compreenderás e assimilarás o grande ‘como’ e o ‘porquê’. Tens uma leve ideia da maneira pela qual as criaturas de outros mun- dos chegam ao Meu Conhecimento, tornando-se sábias e felizes?”

60.AIMPORTÂNCIADENOSSA TERRA

  1. Diz o romano: “Senhor e Mestre, por essa segunda elucida- ção de assunto tão importante, todos nós recebemos conhecimento luminoso qual Sol! Nós, nesta Terra, em estreita união Contigo pelo Amor e a Sabedoria, representamos o polo positivo para o grande Homem Cósmico em relação à nossa câmara vital no coração. Os demais corpos cósmicos e seus habitantes, os enxames globulares com os sóis centrais e universos-ilhas se relacionam a nós como as restantes partes do corpo e da alma no que diz respeito ao recôn- dito vital.

  2. Tu Te encontras entre nós em Tua Personalidade intrínseca e divina; daqui dominas o Infinito, e as criaturas do orbe, mormen- te as que Te rodeiam neste ambiente, perfazem a expressão do Teu Amor e Sabedoria, vivos, pela aceitação de Tua Doutrina.

  3. Assim sendo, de nós partirá a educação espiritual dos habi- tantes de outros planetas, de igual modo como a vida básica e a edu- cação geral se dirigem da câmara positiva do nosso coração à criatura total, até o completo renascimento.

  4. Quanto a isso, não resta dúvida, e a maneira de como se processa tal fenômeno não nos deve preocupar, porquanto somos filhos ainda menores do Teu Amor e Graça. Pois Tu, desde eterni- dades Conhecedor do mesmo, Te encontras entre nós para sempre.

Tua eterna Presença nos garante a situação educacional e evolutiva, porquanto nossa relação para Contigo jamais se poderá modificar.

  1. O recôndito do coração também não poderá ser transpor- tado para os olhos, ouvidos, nariz, enfim, aos órgãos físicos, muito embora tenham uma antena receptiva, do contrário não poderíamos captar a vida básica e aplicá-la com utilidade.

  2. Cada órgão se vale da vibração positiva de modo diverso, mas, no final, as infinitas variedades completam um todo que cor- responde à vida básica no coração, onde se sentem como em sua pátria original. Isso sucedendo, dá-se o renascimento em espírito, por Ti tão bem explicado.

  3. Neste momento, um pensamento grandioso me atinge, tão luminoso como esse Sol! Junto ao renascimento espiritual de uma criatura nesta Terra, que alcançaremos indubitavelmente, esplande- ce um outro, infinito, isto é, do grande Homem Cósmico!

  4. De mim mesmo, jamais poderia ter descoberto tal grandio- sidade se Tu, Senhor, não me tivesses dado uma leve ideia; embora fosse uma pequena fagulha, transformou-se dentro de mim num Sol luminoso!

  5. Elucidaste, com imensa clareza, que numa criatura renascida sua vida básica se irradia por todo o corpo, tornando-se vida origi- nal, pela qual consegue o homem pensar, julgar, deduzir e falar, em suma, transformar-se numa palavra viva semelhante a Ti!

  6. Isto se dando com a criatura renascida, é claro que tal su- cederá com o grande Homem Cósmico. Ele será por nós, através de Ti, penetrado em todas as suas esferas, e nossa vida e luz nele agirão e iluminarão, até que ele, conosco e Contigo, nos tornemos umasó palavra viva.

  7. Tenho, pois, impressão de entender algo desse processo; dentro de Tua Ordem eterna, nós fazemos com que o grande Ho- mem Cósmico seja penetrado e vivificado por intermédio de nosso conhecimento e educação.

  8. Agora só me falta algo de Tua Boca para comprovar a vera- cidade; pois, através de Tua Graça, sou dotado, desde a infância, de

uma memória indestrutível e gravei tudo que falaste. Quando esti- vemos na montanha, contaste uma história da volta do filho perdido ao lar paterno, a fim de exemplificar a Imensidade de Tua Misericór- dia Divina. Naquela ocasião, tirei minhas conclusões, quiçá diversas dos demais ouvintes, isto porque Tu Mesmo fazias certas referências.

  1. Tal filho perdido a voltar junto do Pai parece-me, em peque- na dimensão, tratar-se do renascimento individual; mas, em sentido dilatado, do futuro renascimento do Homem Cósmico. Pois Tuas Palavras não são humanas, mas divinas, e se aplicam não apenas a nós, senão ao Universo, natural e espiritual. A Criação é, desde eter- nidades, Teu Pensamento, Tua Palavra e Tua Vontade. Terei assimi- lado mais ou menos Teu Ensino dentro de minha ignorância pagã?”

61.DEVERPRINCIPALDO HOMEM

  1. Digo Eu: “Amigo e irmão Marcus, filho de Aurélia, a patrícia mais casta e educada, não só assimilaste aproximadamente o Meu Ensinamento, mas atingiste o ponto vulnerável. Por isto, repito: O conhecimento será tirado dos judeus e entregue aos pagãos, pois sua longa noite de treva se transformará em dia, e o dia dos judeus sub- merge em noite mais densa. Trazei-os aqui de Jerusalém e de toda a Judeia, que não haverá um que se possa medir com este Meu Marcus na plena Sabedoria!

  2. Em verdade te digo, proporcionaste grande alegria ao Meu Coração pelo teu raciocínio justo; Minhas Palavras criaram vida em teu coração, razão pela qual tu e teus companheiros, em breve, tereis alcançado o pleno renascimento no Meu Espírito.

  3. Tu, Marcus, já te encontras na entrada da portinha que leva ao recôndito de tua Vida original; se assim não fora, não terias as- similado Minhas Palavras em sua profundeza luminosa. Essa não pode ser dada ao homem pelo intelecto, senão pelo Meu Espírito, despertado em sua alma.

  4. Daí todos poderão deduzir em que profundidade de Verdade e Sabedoria se encontram os que aguardam o pleno renascimento de

sua alma no Meu Espírito. Repito o que tantas vezes já falei: Jamais a criatura viu, ouviu e sentiu a bem-aventurança que Deus reserva aos que O amam realmente, isto é, na ação!

  1. Tenho dentro de Mim, desde eternidades, a máxima Bem-

-aventurança, em pleno gozo; pois Meu Amor, Minha Sabedoria e Meu infinito Poder Me oferecem o mais elevado e indizível Gozo de Minha Vida Divina e Perfeita, e como Pai vos digo: O que Eu tenho, também vós, Meus filhos mais queridos, deveis possuir! Onde have- ria na Terra um pai que não dividisse todas as alegrias com os filhos, aos quais ama ainda mais do que a si mesmo, e no final só encontra a maior satisfação quando remi-los todos?!

  1. Acaso pensais que o Pai no Céu teria satisfação menor com Seus filhos que O amem acima de tudo? Sua Alegria é infinitamente maior! Por isto, lhes proporcionará alegrias infinitamente maiores do que as que um pai terreno de bom coração pudesse facultar à prole. Pois vosso Pai no Céu tem recursos infinitos e mais variados.

  2. Fazei, portanto, com grande zelo o que não vos ordeno, mas aconselho como Pai, e, em breve, percebereis o prêmio que vos aguarda! Refleti um pouco: Não seria o maior tolo o comerciante sa- bedor do preço acessível da maior pérola de valor incalculável, caso não vendesse prontamente todos os seus bens para poder adquiri-la?!

  3. O mesmo sucede ao valor do renascimento da alma com seu espírito original, vindo de Mim! Não valeria a pena o homem justo desistir de todos os tesouros mundanos, almejando com todas as forças apenas a união da alma com o espírito?! Seria preferível tratar da Vida eterna da alma que cuidar de bens perecíveis, os quais jamais se podem integrar na existência clara e viva da psique!

  4. É bem verdade assimilar a alma, durante a vida, os elementos afins do corpo, transformando-os em sua natureza, e, após a mor- te, se apossar pouco a pouco dos elementos sutis da decomposição correspondentes à sua veste; ainda assim, não se trata de um tesouro vital da alma, mas simplesmente de uma particularidade psíquica determinada em Minha Ordem, que jamais poderá ser considerada de algum mérito.

  1. Certo e real é que, numa alma pura, cuja vida se adaptou à Minha Verdade, maiores serão os elementos a se integrarem nela do que numa impura e pecaminosa; pois, se em vida o corpo casto foi adorno da alma, muito mais o será em estado de transfiguração espiritual.

  2. Até mesmo isto não faz parte do mérito vital da alma, mas é uma Determinação Minha em seu benefício, e seria tolice dela caso se preocupasse com esse tesouro terráqueo, que lhe pertence inclusive no Além. Seria tal preocupação idêntica à de pais muito ignorantes, unicamente interessados no físico atraente e belo de seus filhos, imaginando recursos para realizarem tal desejo tolo, sem con- siderar dependerem forma e crescimento exclusivamente da Vonta- de de Deus, não havendo criatura capaz de alterá-los.

  3. Por isto, é apenas necessário que cada alma procure e des- cubra o Meu Reino de Vida no pequenino recôndito de Vida bá- sica, no próprio coração; todo o resto é espontâneo acréscimo de Minha Parte.

  4. Eis o motivo por que vos disse tantas vezes que não deveis vos preocupar pelo alimento e pela veste; procurai, antes de tudo, o Meu Reino e sua verdadeira Justiça dentro de vós! O restante vos será dado, pois o Pai no Céu sabe de vossas necessidades materiais!

  5. Se hoje trabalhardes e vos alimentardes, tereis cuidado sufi- cientemente pelo dia. Fútil seria, pois, preocupar-vos pelo seguinte. Caso amanhã estejais vivos, o dia apresentará suas preocupações. Somente o dia que viveis e trabalhais vos é debitado por Mim; o imediato ainda está em Minhas Mãos, não vos cabendo responsa- bilidade. Portanto, é inútil preocupar-se materialmente pelo dia de amanhã, pois depende unicamente de Mim se permito sua existên- cia para o homem.

  6. Houve um pai de família e proprietário de grandes terras e manadas, que, desejando aumentar e garantir sua riqueza material, mandou construir celeiros e estrebarias, depósitos seguros para ce- reais e, para maior proteção, uma resistente e alta murada em redor das novas construções. Quando terminou, disse: Ah, agora meu co-

ração aflito se sente mais leve, pois posso viver sem preocupações e desilusões! Assim falando, ele ouviu uma voz qual trovão, dizendo: Materialista tolo! Como te vanglorias e te consolas, como se foras se- nhor de tua alma e vida? Ainda esta noite tua alma será separada do teu corpo, pelo qual tanto zelaste. Que utilidade terão para tua alma todas as tuas grandes preocupações, trabalhos e fadigas?! — Apa- vorado, ele reconheceu que pouco tinha feito pela alma, morrendo em seguida.

  1. Perguntai-vos de que lhe adiantou o grande cuidado pe- las coisas mundanas? Não teria sido mais prudente se tivesse zelado pelo futuro de sua alma, descobrindo dentro de si o Reino de Deus, como fizeram muitos antigos, inclusive pagãos, conforme provaram os sete egípcios?!

  2. De maneira alguma quero afirmar ser de Minha Vontade a um homem justo não executar trabalhos materiais, pois o ócio físico é gerador e supridor de todos os pecados! Pelo contrário, todos de- vem trabalhar ativamente e comer o pão suados de cansaço!

  3. Depende unicamente da intenção com que trabalham. Quem o fizer como Meu Amigo e Irmão Lázaro, procurará inten- samente o Meu Reino e Sua Justiça dentro de si, encontrando-os como ele o fez quase totalmente — e tu também, caro Marcus. Sê alegre e feliz, pois já te apossaste da grande pérola e serás útil aos irmãos. Agora, descansemos um pouco, porque vejo pela estrada Leste alguns apóstolos por Mim enviados a Emaús. Dentro em pou- co, saberemos como se deram.”

62.RETORNODOSSETENTADISCÍPULOSDO SENHOR

  1. Pouco mais tarde chegam os discípulos enviados a Emaús, pois seu espírito lhes dera a intuição de Eu Me encontrar em Be- thânia, em companhia dos amigos. No começo, aparecem apenas quarenta; em seguida, vieram outros, incentivados pela intuição, a fim de testemunharem perante todos a realização, em poucos dias, de tudo que Eu lhes havia predito.

  1. Acompanha-os um grupo de eruditos judeus e gregos, uns para ouvir, pessoalmente, algumas Palavras de Vida; outros, queren- do experimentar-Me se realmente Sou o Anunciado pelos discípulos.

  2. Assim, sou rodeado, e um judeu Me pergunta: “Mestre, esses discípulos fizeram boa referência de ti, curaram nossos enfermos e libertaram os obsedados de seus maus espíritos. Daí concluirmos seres tu real profeta, ou efetivamente o Messias Prometido. Não in- terpretes mal nossa vinda, porque procuramos apenas confirmação de suas palavras.”

  3. Dirigindo-Me aos discípulos, digo: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos desprezar, tê-lo-á feito a Mim e assim desprezará Aquele que Me enviou. Quem Me enviou é Uno Comigo e é justa- mente Quem afirmais ser vosso Deus. Nunca O conhecestes, por- tanto não reconheceis o Enviado por Ele. Eu vos digo, Meus discí- pulos, que transmitistes o Meu Verbo fiel, verdadeira e justamente.”

  4. Cheios de alegria, os discípulos se aproximam de Mim e di- zem: “Oh, Senhor, em Teu Nome, os piores demônios se submete- ram, o que nos causou grande satisfação.”

  5. Respondo, em sentido velado: “Sim, bem vi Satanás cair do Céu qual raio (a separação do falso e do verdadeiro); tal não é su- ficiente, mas a ação dentro da Verdade, a fim de que ela se torne viva no homem!

  6. Dei-vos o poder de pisar em víboras e escorpiões, igualmente o domínio sobre os inimigos! Não vos alegreis por isto, mas pelo fato de serem escritos vossos nomes no Céu! Eis também Minha grande alegria! Como Homem, Te prezo, Pai e Senhor de Céus e Terra, por- que ocultaste tais coisas aos intelectuais e sábios do mundo, revelan- do-as aos simples. Assim, Pai, já foi do Teu Agrado desde eternidade!

  7. Aos sábios e astutos, digo: Foi-Me entregue pelo Pai todo Po- der no Céu e na Terra! Entre vós, ninguém sabe Quem e o Que é o Filho; somente Meu Pai Eterno o sabe. De igual modo, ninguém de vós sabe e reconhece Quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar! Ele já o revelou aos que queria dar conhecimento; assim não fará aos que muito consideram sua inteligência e sensatez!”

  1. Em seguida, Me viro para todos os discípulos e lhes digo especialmente: “Em verdade vos digo: Bem-aventurados os olhos que viram e veem o que vedes, e felizes os ouvidos que ouvem o que ouvis e ouvistes! Repito: Muitos profetas e reis desejaram ver e ouvir o que vos foi dado assistir!

  2. Há alguns que veem e ouvem o que vedes e ouvis; toda- via, nada percebem, entendem e assimilam, pois são e continuarão obtusos e cegos no coração. Quem for obtuso e cego no coração, sê-lo-á no cérebro e no físico; pois, se aquilo que deveria ser luz no homem é treva, quão enorme não será a treva da matéria completa do homem?!

  3. Sabeis ser o sal o primeiro e melhor tempero para alimen- tos; como temperá-los, se o próprio sal se deteriorou? Vós sois um justo sal para a vida das criaturas; cuidai de não vos corromperdes como os fariseus e escribas o fizeram, e, por isto, não podem prepa- rar os homens à Vida Eterna, levando-os à morte espiritual pelo sal deteriorado.”

63.UMESCRIBADESAFIAO SENHOR

  1. Entre o grupo dos setenta discípulos, se encontra um escri- ba aborrecido com as Minhas Palavras. Por isto, se adianta e diz: “Mestre, deduzi de tua explanação seres bem versado nas Escrituras; diz-me o que devo fazer para me tornar feliz como teus discípulos.”

  2. Digo: “O que consta na Lei de Deus, e como a interpretas, sendo escriba?”

  3. Responde Ele: “Deves amar a Deus, teu Senhor, de todo co- ração, de toda alma e com todas as tuas forças, e ao teu próximo como a ti mesmo.”

  4. Aduzo: “Respondeste certo. Age deste modo, que viverás; o simples conhecimento não proporciona a Vida eterna. É ele neces- sário, pois, sem ele, o homem seria qual cego sem guia na estrada da vida; o cego conseguindo a visão pelo conhecimento, todavia não querendo caminhar pela estrada indicada, de nada lhe adianta a

luz. Quem não souber como agir não peca pelo erro. Conhecendo o certo e não o fazendo — estará em pecado.”

  1. Admirado, o escriba procura justificar-se: “Mestre, vejo teres experiência da Verdade, e sei ser preciso viver e agir dentro da Lei de Deus, a fim de agradar-Lhe. É, porém, necessário saber-se quem é o nosso próximo, a quem se deve amar como a si mesmo.”

  2. Digo Eu: “Tu, como escriba, ignoras quem é teu próximo! Vou contar-te uma história, da qual tirarás uma noção clara. Houve um negociante que, a caminho de Jerusalém e Jericó, caiu em mãos de salteadores. Despiram-no e tanto o maltrataram, que ficou semi- morto estirado no solo, enquanto eles se evadiam.

  3. Casualmente, passou por aí um sacerdote de Jerusalém que, sem se perturbar, passou de largo. O mesmo fez um levita. Pouco mais tarde, aí chegava um samaritano, que compadeceu-se do po- bre homem. Tratou as feridas com óleo e vinho, deitou-o em cima da mula, levando-o ao próximo albergue e dele cuidou dia e noite. Vendo-o fora de perigo e seu pronto restabelecimento pendente de trato cuidadoso, chamou o tavoleiro, deu-lhe algum dinheiro e dis- se: Tenho que partir a negócios urgentes; cuida dele até a minha volta. As despesas serão por mim pagas. — Quando tornou, pas- sados alguns dias, encontrou o homem bem tratado e em situação de poder reconduzi-lo a Jerusalém. Pagou o hospedeiro e comprou roupas para o curado. Qual dos três teria sido o próximo em relação à infeliz vítima?”

  4. Responde o levita: “Evidentemente, aquele que lhe fez caridade.”

  5. Prossigo: “Então faze o mesmo! É teu próximo aquele que necessita de teu socorro; se o ajudares, és igualmente o próximo dele, e o amaste como a ti mesmo. Pois o verdadeiro amor ao próximo consiste em fazeres ao semelhante tudo aquilo que razoavelmente desejas que te faça em caso de necessidade.”

  6. O escriba não se atreve a outras perguntas, volta aos colegas e diz: “Nesse galileu se oculta um poderoso espírito da Verdade. Vale a pena ouvi-lo!”

  1. Manifesta-se um dos discípulos: “Vale mais viver e agir como Ele ensina. Ele é o Senhor e tem o Poder sobre vida e morte. Quem praticar sua Doutrina, Dele receberá a Vida!”

  2. Conjectura o escriba: “Terás razão, caso ele seja o Messias dos judeus. E, se tiver todo Poder e Força nos Céus e na Terra, deve divulgá-lo aos sumos sacerdotes; não o querendo aceitar, deve casti- gá-los com o fogo dos Céus, como fez Deus em Sodoma e Gomorra.”

  3. Diz o discípulo: “Falas como se expressam os homens; nós falamos dentro do Espírito Dele. Por Ele sabemos o que ainda fará, e conhecemos Sua Onipotência como testemunhas de tudo que fez em Jerusalém.

  4. Acaso todos os sumos sacerdotes não assistiram aos sinais do Céu, revelando o que os aguardava?! Não tiveram a menor reper- cussão além do ódio contra Ele, procurando resolver o Seu extermí- nio. Ele, todavia, caminha livremente por toda Judeia e não receia os adversários numerosos. Não fora Ele Senhor de todo Poder e Força em Céu e Terra, de há muito teria Se evadido. Quem mais senão Ele teria coragem para tanto?! Para qualquer criatura sensata, é prova cabal ser Ele o Messias, portanto o Próprio Senhor!

  5. Todos nós vimos Seus Milagres, ouvimos a Verdade eterna em Suas Palavras e acreditamos vivamente em Sua Pessoa; convosco tal não se dá. Em que se baseia vossa incredulidade? Na grande ce- gueira e teimosia de vossos corações! Sois escribas e sabeis sob quais condições o Messias viria ao mundo. Todas elas sendo evidentes — como ainda podeis duvidar e esperar algum outro?!

  6. Não haverá outro até o Fim do mundo e suas eras! Há al- guns dias ouvistes em Belém nossas explicações acerca da Escritura, conquanto fôssemos incultos, nem sabendo ler e escrever; além dis- to, operamos milagres a bem das criaturas, que vos estontearam; de quem teríamos recebido tais faculdades?

  7. Se houvesse tal escola no mundo, teria sido por vós frequen- tada! Somente Ele é Mestre desde eternidades, o Senhor Encarnado, em Espírito o Mesmo que criou todos os Céus e mundos pelo Amor, Sabedoria, Vontade e Palavra.

  1. Quem não aprender com Ele, jamais receberá o dom da Vida, ainda que curse todas as faculdades superiores. Pois consta: Em tal época, todos que quiserem serão ensinados por Deus; o Espí- rito do Pai os educará! E quem não for atraído pelo Pai, não chegará ao Filho, no Qual o Pai habita; não O conheceis, razão por que desconheceis o Filho, conforme Ele Mesmo falou.

  2. Nós conhecemos o Filho e o Pai Nele, pois Ele Mesmo Se nos revelou; assim fez porque prontamente acreditamos. Falou em público Quem é. Não O acreditastes e por isto permanecereis na noite do pecado, nela morrendo! Isto afirmamos em Belém quando nos ameaçastes; e agora o repetimos em Sua Presença, a fim de que Ele Mesmo testifique se falamos com razão.

  3. Viestes ao nosso encalço como se quisésseis ouvir a Verda- de de Sua Própria Boca; entretanto, pretendeis desafiar o Senhor da Glória Divina. Ele já vos provou a tolice desse intento. Silen- ciastes, porque nada mais vos ocorreu para tentá-Lo. Será melhor voltardes aos vossos ninhos pecaminosos, para evitar suceda algo desagradável!”

64.QUEIXADOS ESCRIBAS

  1. Esse discurso vibrante aborrece o escriba e seus colegas; por isto, se aproximam de Mim, dizendo: “Mestre, deste aos discípulos o direito de falarem de tal modo conosco? Se não acreditamos da mesma maneira que eles, procurando maiores provas como intelec- tuais, nada têm a ver com isso! Agindo como fazem, não obterão resultados!”

  2. Digo Eu: “Cada palavra pronunciada pelo discípulo foi por Mim deitada em sua boca, portanto fui Eu Mesmo a Me pronunciar. Eis a resposta, demonstrando de Quem ele tem o direito de vos falar como fez. Não vos agrada ouvir a Verdade, prezando lisonja e hipo- crisia; por isto, Meu Discurso vos parece duro, rude, e vos aborrece.

  3. Eu, todavia, vos digo: Quem, como vós, se fundamentou no erro, ensinando erradamente e, além disto, exige grandes honras por

parte dos ignorantes, pois em sua cegueira se julga importante — considera dura a Verdade luminosa, sente-se ofendido e se irrita. Afirmo-vos: tal criatura não querendo humilhar-se em seu erro pela Verdade mais esplendente, jamais nela ingressará, deixando-se ho- menagear em sua cegueira, razão por que com ela sucumbirá.

  1. Houve um homem que muito havia lido das estradas em outros países; era muito considerado pelo seu conhecimento e lhe agradava tal respeito. Todavia, não conhecia pessoalmente o que estudara dos gregos e romanos. Aconteceu um príncipe pretender longa viagem e contratou tal homem, muito embora tivesse outros guias habituados a viajar, portanto experimentados.

  2. Quando chegaram ao Egito, onde o príncipe queria alcançar a antiga cidade de Memphis, ele pediu conselho aos entendidos, que acharam conveniente seguir rumo do Nilo, conquanto fosse mais longa a viagem. O letrado contestou: O pouco que aprendestes já foi esquecido; estudei todas as rotas dos egípcios, gregos e romanos; proponho se tome a reta pelo deserto, e estaremos em Memphis três dias mais cedo que pelo curso do rio. — O príncipe concordou e lhe entregou a direção.

  3. Com dificuldades tremendas, a caravana seguia pela areia du- rante dias, e já começavam a escassear mantimentos e água. Nova- mente o príncipe chamou os guias, que responsabilizaram ao outro por ter desviado a caravana. Os antigos guias opinaram: Caso não voltarmos tomando rumo do Oriente, mas prosseguindo pelo Poen- te, todos nos perderemos! — O versado nas rotas protestou, porque lhe agradava merecer a honra de intelectual. O príncipe ordenou seguissem rumo do Oriente; em três dias, alcançaram o Nilo, e em sete, a velha cidade.

  4. De que adiantou à caravana o versado em Geografia, orgu- lhoso e vaidoso? Se o tivessem acompanhado, teriam se perdido no deserto; seguindo-o apenas alguns dias, atingiram a meta mais tarde e mais cansados.

  5. Ao chegarem a Memphis, o príncipe lhe disse: Resolveste mal a tua tarefa; por isto, serás o último e mais inferior dos meus

serventes. Com humildade terás que aprender a te tornares útil; do contrário, mereces justo castigo.

  1. O mesmo digo Eu a vós, eruditos nas Escrituras. Em vossa pretensa honra, levais as criaturas à triste perdição, em vez de à Au- rora da Vida interior; alguém vos chamando a atenção, enchei-vos de raiva e ódio, porque guardais na mente a letra morta das Escritu- ras, sem jamais terdes nela reconhecido o Espírito vivificador; vossos corações estavam cheios de orgulho e mundanismo, não podendo despertar à Vida luminosa o espírito que reside na verdadeira hu- mildade do coração.

  2. Não prestando para guias de Minha Caravana, optei pelo sistema antigo de condutores incultos, porém experimentados e en- tendidos nos caminhos da verdadeira humildade do coração e do amor ao próximo, capazes de reconduzirem ao Rio da Vida as ca- ravanas por vós desviadas pelo deserto; se continuardes em vosso orgulho, não escapareis ao seu prêmio! Digo-vos: A simples letra da Escritura mata; somente o Espírito vivifica e só o recebem os que Me seguem na humildade e no amor.

  3. Enquanto a Verdade bem intencionada do próximo conse- gue magoar-vos e ofender-vos, estais longe do Reino de Deus! Quem quiser ser Meu verdadeiro discípulo e seguidor, terá que perdoar até mesmo aos inimigos declarados, orar pelos que o amaldiçoam, aben- çoar quem o odeia e maldiz, fazer o Bem a quem lhe causa prejuízo, e terá acumulado mais brasas de arrependimento sobre as cabeças de seus adversários do que pagando o mal pelo mal.

  4. Se continuardes em vossa obstinação e pertinácia orgulho- sa, a Luz vos será tirada e entregue aos pagãos, o que de há muito foi previsto, razão por que estais sob o jugo deles, tendo que suportar suas leis duras, porquanto pisastes as suaves Leis de Deus.

  5. Eu vim para vos reunir e erguer, e quero vos libertar real- mente pelo Poder da Verdade. Querendo prosseguir na escravidão autocriada, darei Minha Luz aos pagãos; ficareis na noite dos peca- dos e eles vos dominarão. A Terra Prometida será triturada pelos ini- migos, ficando deserta e vazia. Isto vos é dito para vossa orientação!

Quando tal se cumprir, ireis reconhecer-Me, exclamando: Senhor, Senhor! — Eu não vos reconhecerei, dizendo: Nunca vos conheci; afastai-vos, inimigos da Verdade!”

65.HIPOCRISIADOS ESCRIBAS

    1. O escriba orador reflete um pouco e diz: “Mestre, reconheço seres doutrinador realmente sábio e ensinas sem considerar concei- tos humanos. Ouvimos muitos dos teus milagres, até mesmo assisti- mos a alguns, pois te conhecemos há mais de dez anos. Nunca se fez alusão que poderias ser profeta, muito menos o Messias prometido aos judeus e a todos os homens desta Terra. Isto só começou a ser propalado há dois anos, razão por que viemos para ouvir a Ti mes- mo, pois, em teu lar, eras tudo menos conversador, e o próprio José se queixava de teu mutismo. Deves convir não terem sido más as intenções que aqui nos trouxeram.

    2. Consta, na antiga sabedoria, dever o homem analisar tudo e guardar apenas o aceitável. Se assim agimos, acaso pode-se acusar-

-nos de pecadores? Por que não nos proporcionas a mesma Luz pela qual os teus discípulos prontamente te reconheceram como Messias? Somos pobres de conhecimento e necessitamos de um misericor- dioso samaritano, talvez mais que o homem mencionado em tua história.”

    1. Digo Eu: “Se as tuas palavras correspondessem ao que te vai no coração, terias encontrado mais que um simples samaritano para a cura de tua alma abatida! Enquanto sentires diversamente do que falas, não encontrarás em Mim o suposto samaritano misericordio- so. Demonstrei-vos, todavia, Misericórdia com estas Palavras. Caso queirais — tu e teus colegas — aceitá-las, no que jamais vos obriga- rei, a Luz se fará dentro de vós.

    2. Sei perfeitamente ser por vós conhecido como Filho do car- pinteiro José, e confessaste a divulgação de Minhas Ações, impossí- veis ao homem. Se tivesses procurado na Escritura, facilmente des- cobririas Quem Se ocultava no Filho do carpinteiro, como fizeram

muitos pagãos em tal época. Tua casta nunca assim fez e, se alguém vos procurava esclarecer oportunamente, não ligastes, mas ameaças- tes a todos; em parte era Eu taxado como demente e, na melhor das hipóteses, um mago talentoso que aprendera sua arte secreta a fim de se enriquecer junto dos pagãos.

    1. Quando intimamente recebestes informações de Minha Pes- soa, conjecturastes com maldade: Agora descobrimos a trama desse homem! Seu pai descendia da linha de David e, quando descobriu no filho capacidades ocultistas, fez com que aprendesse a magia que os pagãos consideravam de origem divina. Fazendo amizade com estes, certamente procurará elevar-se ao trono de David para exter- minar-nos. É preciso impedi-lo a todo transe. Se realmente for o Cristo, nada O atingirá e teremos oportunidades de acreditar Nele.

    2. Eis os vossos pensamentos mais íntimos, inclusive de todos os templários, e nenhum alimenta o desejo de ser Eu o Cristo, mas que morra para sempre! Esse sendo vosso desejo mais forte — qual poderia Eu alimentar em relação a vós?! Acaso mereceis a Minha Mi- sericórdia? Julgai vós mesmos! Minha Bondade ultrapassa o melhor coração humano! Eu vos faço Misericórdia dizendo abertamente como sois, a fim de emendar-vos, pois ainda é tempo! Qual é vossa misericórdia para Comigo? Falai honestamente se não disse a pura Verdade!” Todos arregalam os olhos, sem coragem de retrucar.

66.AABSOLVIÇÃODOS PECADOS

  1. Seriamente impressionado, Agrícola se aproxima de Mim e diz: “Senhor e Mestre, como é possível existirem entre judeus ho- mens tão miseráveis, capazes de tamanha perfídia?! Merecem ser mil vezes crucificados!”

  2. Digo Eu: “Amigo, não te admires em demasia; virá o tempo em que ouvirás coisa muito pior dessas criaturas. Não descansarão em seu ódio oculto até que Eu Mesmo permita encherem sua medi- da de atrocidades em Minha Pessoa. Então virá o grande julgamento profetizado por Daniel, quando se encontrava no local sagrado.”

  1. Diz Agrícola: “Foi bom me teres feito tal revelação; assim os romanos saberão quais as medidas a tomar.”

  2. Respondo: “Agireis como foi determinado! Deixemos esse assunto; surgirá outro problema.”

  3. Ouvindo Minha Palestra com Agrícola, o escriba reflete um pouco e diz: “Senhor e Mestre, agora reconheço seres Tu mais que o filho de José, desencarnado há três anos. Se sabes o que há no cora- ção de uma criatura, és evidentemente Deus! Começo a crer em Ti! Fortifica minha fé, Senhor!”

  4. Digo Eu: “A fé somente não te fará feliz, mas a ação dentro da fé, a fim de que se torne viva. Procura reparar a injustiça feita tão frequentemente ao teu próximo, que teus pecados te serão perdoa- dos. Enquanto o homem não tiver restituído o último níquel tirado de seu semelhante, não poderá ingressar no Reino de Deus!”

  5. Diz ele: “Então serão poucos a desfrutarem dessa felicidade, pois quantas vezes acontece não ser possível reparar-se o prejuízo, nem com a máxima boa vontade. Que fazer para ser redimido?”

  6. Digo Eu: “Deve-se, em tal caso, confessar sua injustiça com verdadeiro remorso ao Pai, pedir perdão e que Ele repare o dano praticado, porquanto tudo Lhe é possível. Deus atenderá tal pedido sincero, perdoará sua maldade, mormente o pedinte se esforçando por obras de amor em outros.

  7. Caso não possa fazer isso, Deus o ajudará em virtude de seu arrependimento e boa vontade. Enquanto houver oportunidade de reparares o prejuízo pessoalmente, de nada te adiantam boa vontade, remorso e pedido, mas unicamente a ação. Esta feita, poderás pedir perdão a Deus, que te será concedido, caso tiveres a firme intenção de não mais pecares, agindo dentro de tal princípio.

  8. Se voltares a errar, os antigos erros te serão debitados. Pois, se tiveres reparado o dano ao próximo e vos tornardes amigos, entre- tanto repetindo tua ação contra ele ou outrem, o primeiro pecado serve de prova para a última atitude e o castigo num julgamento será dobrado. Se juízes mundanos assim agem com razão, Deus não adotará medidas mais benévolas para com pecador renitente.

  1. Pode o homem conseguir o perdão real e pleno dos pecados somente reconhecendo-os e arrependendo-se, procurando reparar o mal; em seguida, terá que pedir perdão a Deus, com o firme pro- pósito de se emendar. Se todos assim fizerem, afirmo desde agora: vossos pecados são por Mim perdoados!”

  2. Diz o escriba: “Senhor e Mestre, Tua Doutrina é dura, mas verdadeira, e tudo farei para praticá-la. Garantiste o perdão, caso a se- guíssemos. Terias direito e poder de Deus para perdoar aos homens?”

  3. Digo Eu: “É realmente difícil falar-vos da maravilha das co- res, porquanto sois cegos. Não vos afirmei que Me assistem Poder e Força totais, no Céu e na Terra?”

67.O SENHOR RESSUSCITA UM SERVENTE

  1. Nisto surge, afobada, Martha, irmã de Lázaro, e Me pede socorro, pois um servente caíra de um andaime e não dava sinal de vida. Digo, pois: “Manda transportá-lo aqui, para ver o que faço!” Dentro em pouco, o morto é trazido.

  2. Virando-Me para os assistentes, indago: “Não avisei que terí- amos um assunto a resolver? E tu, escriba, examina o acidentado se está morto, pois tens conhecimento para tanto.”

  3. Faz ele o exame minucioso e diz: “Senhor e Mestre, não há poder humano capaz de reanimá-lo; somente Deus o poderia.”

  4. Digo Eu: “Que te parece mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou falar incisivamente a esse morto: Levanta-te são e caminha!?”

  5. Responde o judeu: “Evidentemente é a primeira assertiva de mais fácil efeito; pois qualquer pessoa poderá dizê-la a quem lhe prejudicou e, de acordo com Tua Doutrina, tal vale perante Deus. A segunda, só é possível a Ele e a quem receber tal poder.”

  6. Prossigo: “Para que comproves assistir-Me o direito de per- doar para sempre os pecados de um arrependido, digo a esse morto: Tem saúde, levanta-te e caminha!” No mesmo instante, o ressuscita- do se ergue e Me agradece com efusão.

  1. O escriba então se dirige a ele: “Bom homem, o Senhor não só te curou, mas restituiu-te a vida. Agradece-lhe por ela.”

  2. Interrompo: “Quem agradece pela cura, fá-lo pela vida — é quanto basta!” E, virando-Me para o ressuscitado: “Sê mais pruden- te e não subas em andaimes sem grande necessidade. Deixa tal tarefa para quem tem prática, pois a presunção se pune a si mesma, como foi o caso contigo.

  3. Além disto, considera o seguinte: Não queiras sobressair en- tre teus colegas por meio de peças arriscadas, a fim de que teu patrão te considere primeiro empregado, podendo tu dominar os outros. Sê apenas fiel e diligente em teu trabalho, que evitarás quedas peri- gosas à vida. Quem muito sobe, cai no abismo!” Novamente ele Me agradece e acompanha os amigos que o haviam transportado, com a firme intenção de seguir o Meu Conselho.

  4. Então Me dirijo ao escriba: “O milagre que operei para for- tificar a vossa fé deve ser guardado entre vós. Sei por que assim que- ro. Podeis seguir com os discípulos onde o Meu Espírito vos levar. No vale encontrareis alimento no albergue.”

  5. Também nós voltamos e fomos ao refeitório, onde chamei Raphael para trazer alguns jovens acomodados em outra casa de Láza- ro. Não demora aparecem doze rapazes e doze moças de especial bele- za e conhecedores do idioma grego, hebraico e romano, através de Mi- nha Insuflação. Sentam-se numa mesa à parte, presidida por Raphael.

  6. Após tê-los observado algum tempo com grande satisfação, Agrícola diz comovido: “Ó Senhor, com este presente me propor- cionaste imensa alegria, pois tornei-me pai de muitos filhos, que serão tratados como meus. Peço-Te apenas vida longa e saudável para poder cuidar deles, física e espiritualmente. Não me faltarão boa vontade e ação!”

  7. Digo Eu: “Também Eu estou contente e te darei o que pe- diste; todavia, não terás muito tempo para eles, pois irás para a Bri- tânia, como já te disse. Que farás com eles nesse ínterim?”

  8. Responde Agrícola: “Senhor, dirigir-me-ei, intimamente, a Ti e não me deixarás sem orientação.”

  1. Digo Eu: “Assim está certo! Poderás levar esse grupo para aquele país; prestar-te-á bom serviço. Agora jantemos!” Maria, irmã mais jovem de Lázaro, senta-se num banquinho aos Meus Pés, pres- tando, como sempre, atenção às Minhas Palavras. Havendo muitos hóspedes e Martha se preocupando com o serviço da mesa, apro- xima-se e diz: “Senhor, estou atarefada; dize à minha irmã para ajudar-me!”

  2. Digo Eu: “Martha, Martha, continuas a mesma, não obs- tante Eu ter expressado Minha Opinião por várias vezes no mesmo assunto. Muito te preocupas com o que é do mundo — Maria es- colheu a melhor parte; por isto, deve ficar Comigo. Além de tudo, temos alimento de sobra. Por que te afliges?” Ela reconhece o seu erro, deixa a irmã onde está e, com a ajuda dos serventes, resolve o problema caseiro.

68.ACERCADA EDUCAÇÃO

  1. Enquanto nos fartamos à mesa, entretidos em vários assun- tos, os enormes cães começam a latir fortemente. Lázaro, atento, Me diz: “Senhor e Mestre, certamente vêm apresentar-se hóspedes inde- sejáveis. Foi bom me teres dado esses vigias. De qualquer maneira, será conveniente averiguar o motivo da exaltação dos animais.”

  2. Digo Eu: “Já sei o que há. Não te lembras dos fariseus que pernoitaram ontem aqui? Prometeram voltar por Minha Causa e de- sejam — com mais alguns — hospedar-se neste albergue principal. Isto não é possível, tanto mais por terem estado no Conselho, de manhã, mudando sua maneira de pensar. Manda levá-los ao abrigo para forasteiros. À noite veremos o resto.”

  3. Após feito o necessário, Lázaro diz: “Estranho sua mudança de ideias; pois Tu Mesmo afirmaste serem eles os últimos do grande número de templários que se converteu.”

  4. Digo Eu: “Não te atemorizes. Serão dos nossos, mas, no mo- mento, ainda não estão convertidos inteiramente. À noite, mudarão de ideias e os procuraremos.” Todos se conformam, calados. Apenas

à mesa de Raphael se palestra, pois o anjo, amavelmente, prestava esclarecimentos aos jovens.

  1. Dirigimos a atenção para lá e os templários em nossa compa- nhia dizem: “Com tal ensino, a juventude aprende numa hora mais que durante dez anos com professor mundano. Senhor, nossas mu- lheres e filhos também se acham acomodados num abrigo de Lázaro; seria grande vantagem se pudessem assistir a essa aula.”

  2. Digo Eu: “Não resta dúvida; todavia, perderiam o ensino por estarem abarrotados coração e alma com coisas mundanas. Es- ses jovens são castos e incorruptos; desconhecem qualquer pecado, sofreram muito e tiveram que se habituar a toda sorte de priva- ções, ficando isentos de paixões comuns aos filhos de pais ricos. Suas almas são, portanto, puras e capazes de deixar-se inundar pela centelha divina. Eis o motivo por que podem ser, ainda jovens, educados por um arcanjo, diretamente; prole como a vossa, apenas indiretamente!

  3. Digo-vos: Se os pais soubessem educar os filhos de tal modo a lhes conservar a inocência e pureza d’alma, ao menos até aos 14 anos, receberiam diretamente professores e guias celestes. Tal não se dando nesta época entre os judeus conceituados, os anjos nada podem fazer diretamente.

  4. Na época dos patriarcas, era fato comum, e vez por outra acontecia neste e no século passado. Minha Mãe física, José, o ve- lho Simeon, Anna, Zacharias, sua mulher Elisabete, João etc. foram educados por anjos. Sua criação se deu na maior pureza de alma e hábitos desde o berço, o que nunca sucedeu com vossos filhos.

  5. Tal seria muito aconselhável, conquanto não seja indispensá- vel à aquisição da bem-aventurança e da vida eterna. Comigo, por- tanto no Céu, há infinitamente maior regozijo com um pecador remido, que com noventa e nove justos, jamais necessitados de pe- nitência. Fazei o que vos ensino, que vivereis; pois Eu sou mais que todos os anjos dos Céus, e Minha Doutrina igualmente!”

  6. Diz um escriba, cuja família também se acha em Bethânia: “Senhor, minha mulher e os sete filhos viveram rigorosamente den-

tro da Lei, e as almas dos jovens são, na certa, puras. Não poderia mandar chamá-los?”

  1. Respondo: “Sou de opinião ser melhor continuarem onde estão, pois não são tão puros como pensas. Haverá oportunidade de Eu entrar em contato com os teus. Não Me faças outras objeções.”

69.HISTÓRICODENOSSO PLANETA

  1. Enquanto nos entregávamos ao prazer do momento, o ro- mano Marcus, conhecido como profundo pensador, se pronuncia: “Permita, Senhor, eu fazer uma pergunta num assunto não bem es- clarecido.”

  2. Respondo: “Fala à vontade, pois tens uma alma lúcida. Apre- cio tuas indagações, porque dão oportunidade de despertar o in- telecto das criaturas, cujo maior erro consiste em desconhecerem suas falhas. Se as percebessem, poderiam tratar de aumentar seu co- nhecimento. Preguiça mental e ignorância de si mesmas impedem a procura de maiores noções. Quem procura, achará; quem pede, receberá, e a quem bate na porta, abrir-se-lhe-á.”

  3. Diz o romano: “Tu Mesmo falaste, Senhor, não ser possí- vel ao homem amar a Deus acima de tudo, caso não procure co- nhecê-Lo. Refletindo bastante, achei muitas faltas dentro de mim. Possuo, por exemplo, várias minas na Illyria e em nossas próprias terras, das quais extraio ouro, prata, chumbo e quantidade de ferro. Na perfuração das montanhas descobri coisas peculiares nas profun- didades, isto é, ossos e esqueletos de remotos animais gigantescos. Quando habitaram a Terra e como chegaram no subsolo das mon- tanhas? No Egito e na Espanha encontraram-se até mesmo ossadas mui semelhantes às do homem, apenas eram quatro ou cinco vezes maiores. Além disto, encontrei outras raridades que não precisam ser enunciadas.

  4. Fizeste, no Monte das Oliveiras, breve alusão à existência do Gênero Humano antes de Adam, criaturas com manifestação ins- tintiva. A julgar pela Escritura judaica, foi Adam o primeiro homem

dotado de livre arbítrio e inteligência individual, dando aos descen- dentes leis e obrigações.

  1. Eis minha pergunta: Teria sido a Terra habitada, na época de Adam, por criaturas pré-históricas e talvez ainda sejam encontra- das em determinados pontos do orbe? E como chegaram as ossadas de animais pré-históricos debaixo do solo de montanhas, inclusive os gigantescos pré-adamitas? Os livros de Moysés não dão esclare- cimentos. Ele começa com a história mística da Criação, que de maneira alguma corresponde ao que se encontra na Terra. Dá-nos explicação maior, para que Tua Luz esplandeça entre nós.”

70.CONTEÚDOCIENTÍFICODOS 6° E 7° LIVROSDE MOYSÉS

  1. Digo Eu: “Meu caro Marcus, demonstrar-te-ei o problema; tudo que for dito e explicado não ultrapassará vossos descendentes, porque foge da compreensão humana, portanto não merece crédito. Teu pedido foi bem motivado; entretanto, já afirmei que os aconte- cimentos na Minha criação serão transmitidos a todos os renascidos em espírito. Em tal caso, a compreensão será viva e real.

  2. Acreditareis nas Minhas Palavras por Eu as pronunciar; com- preendê-las a fundo, não será possível, e muito menos passar adiante uma justa noção aos ainda espiritualmente cegos. Assim sendo, as criaturas terão que esperar por longo tempo, até que as grandes dú- vidas possam ser esclarecidas de modo compreensível.

  3. Os próprios judeus — o povo mais culto da Terra — che- garam ao ponto de desconhecerem todos os assuntos pré-históri- cos. Tudo que encontram de restos remotos, classificam como consequência do Dilúvio mal compreendido. Procura ensinar-lhes outra coisa, que serás condenado como herege!

  4. Os pagãos sustentam no politeísmo a lenda de dois dilúvios e lhes atribuem as causas fenomenais; o povo as aceita. Dizei-lhes a Verdade, que sereis ridicularizados, ou no mínimo dirão: Isto somente os deuses sabem! Por isto, as criaturas compreenderão a

Verdade quando orientadas cientificamente e, além disto, quando o próprio espírito esclarecê-las.

  1. Darei alguns tópicos, muito embora veja não haver possibili- dade de assimilação em vosso estado intelectual. Primeiro, vos falta a noção de números excessivamente grandes; segundo, por saberdes e acreditardes apenas o que vos disse a respeito das estrelas, seu ta- manho, distância e movimentos. Será um conhecimento externo, até que se desenvolva para uma Verdade independente e autocriada, dentro de vosso espírito.

  2. No Monte das Oliveiras vos demonstrei que a Terra é tão antiga, que, embora vos facultasse sua idade exata, não a poderíeis conceber. Em suma, ela existe como corpo cósmico há um tempo quase infinito para vossa compreensão, passando por muitas trans- formações em sua superfície, até chegar à forma atual. Fogo, água, terremotos e tempestades tremendas, mormente em épocas remotas, foram os meios que dela fizeram o que hoje é, dentro da Minha Vontade. A fim de subsistir e servir ainda mais de fonte alimentado- ra para inúmeras criaturas, precisos são: fogo, inundações, terremo- tos e tempestades variadas, dentro das necessidades.”

71.OSDOISPRIMEIROSPERÍODOSDAFORMAÇÃO TELÚRICA

  1. (O Senhor): “Quando a Terra, em eras remotas, havia atin- gido a maturação, fazendo surgir algumas ilhas grandes e pequenas, cobertas de lodo marítimo, nele depositei, de acordo com Minha Sabedoria e Vontade, várias espécies de sementes. Assim, tais ilhas estavam plantadas no início com ervas e arbustos, e posteriormente surgiram árvores enormes.

  2. Em seguida, depositei ovos ou germens para formação da fauna apropriada àquele estado primitivo, que, no início, consistia em vermes pequeninos, depois maiores e, consequentemente, in- setos; quando o solo mais seco já apresentava alimento abundante, surgiram animais gigantescos. Tinham a finalidade de se alimenta-

rem de ervas rudes e galhos, para estrumarem o solo com os excre- mentos e, no final, com os próprios cadáveres colossais, cujos restos ainda são descobertos em cavernas e minas. Da decomposição de tais corpos, se desenvolveu grande quantidade de outros vermes, e destes, variados insetos.

  1. Classifiquemos tal estado como período de formação telú- rica, considerando, porém, que o orbe tinha sido submetido, inú- meras vezes, a transformações preparatórias. Esses acontecimentos não vos interessam, tampouco, por exemplo, a fase do grão de trigo depositado no solo, até surgir do gérmen um fruto maduro e aben- çoado. Em suma, demonstrei a Terra em sua primeira formação fer- tilizante, onde, na superfície, foram depositadas variadas sementes para a flora e ovos para a fauna, para cuja finalidade já existia base dentro da água; pois certas plantas e animais aquáticos são evidente- mente mais antigos que os do solo e do ar.

  2. Obtivestes uma definição compreensiva, da qual concluístes que em tal solo primitivo não podia haver subsistência para animais diferentes; muito menos para o homem. Tal fase ainda era necessária como garantia de uma outra mais perfeita, assim como não haveria fru- to maduro sem a precedente formação do botão ácido e ainda estéril.

  3. Para o amadurecimento de um fruto, após a formação do bo- tão acrimonioso e áspero, é preciso quantidade de ocorrências ape- nas visíveis à Minha Visão. Muito mais natural dar-se esse fenômeno na maturação de um corpo cósmico.

  4. Que sucede com a árvore na Primavera, quando o botão in- cha e se torna suculento? Fende-se por um impulso interno, atira seu invólucro externo no mar do perecimento e dissolução, desen- volvendo-se para perfeição maior, a fim de que surjam as folhas, companheiras indispensáveis da subsequente flor e final fruto. Con- quanto um vegetal seja paralelo deficiente ao desenvolvimento de um corpo cósmico, serve para concluirdes, em medida restrita, o que seja necessário para abrigar e alimentar um homem como vós.

  5. Esse primeiro período de fecundação telúrica, da mais rude e primitiva espécie, sucumbe após bilhões de anos, contados na época

atual; pois, naqueles tempos, não havia estações definidas e as exis- tentes duravam mais do que atualmente.

  1. Tais fenômenos desapareciam em tempestades de fogo — surgidas do centro do orbe — firmemente organizadas, e, após gran- de número de anos terráqueos, apareceram, das profundezas dos mares, zonas extensas ornamentadas de montanhas cobertas com lodo muito mais fertilizante.

  2. Em justa época, foram nele depositadas sementes mais per- feitas vindas da Minha Sabedoria e Vontade, e, dentro em pouco, o aspecto era mais exuberante no planeta ainda jovem.

  3. Havendo abundância de suprimento, tratei de consumido- res grandes e pequenos, em quantidade. A água entre os continentes era vivificada por animais maiores e as terras tinham recebido con- sumidores daquilo que o solo oferecia na flora.

  4. Algumas espécies de ervas, arbustos e árvores gigantescas produziram sementes, podendo multiplicar-se; a maior parte, po- rém, aflorava quais cogumelos do solo prenhe; e os animais surgiram da mesma maneira que os crocodilos do Nilo, muito embora os continentes ainda não fossem secos, inteiramente.

  5. Nesse período progressivo para flora e fauna, não era pos- sível a Terra ter aspecto seco, o mesmo acontecendo aos botões em desabrochamento, pois tal situação não seria favorável.”

72.AFORMAÇÃODATERRAATÉOS PRÉ-ADAMITAS

  1. (O Senhor): “O segundo período preparatório durou igual- mente um tempo incalculável em comparação aos atuais anos ter- ráqueos. O planeta, porém, ainda não estava em condições de ali- mentar animais de sangue quente, muito menos criaturas humanas, ainda que de espécie inferior. Por isto, tal período sucumbiu como o primeiro e levou tempo até surgir o terceiro.

  2. Naturalmente, sucederam, no intervalo, quantidade de pe- ríodos tempestuosos, cuja finalidade Eu apenas, como Criador, co- nheço e, finalmente, também o espírito ao qual desejo revelar.

  1. Do resultado dos muitos acontecimentos necessários, surgiu um terceiro período, durante o qual apareceram, do mar, grandes continentes impulsionados pelo fogo interno do orbe, dentro de Minha Vontade. A vegetação se tornou mais exuberante e de ta- manho gigantesco, inclusive animais. Mas também este período, igualmente prolongado e que poderia ser comparado à flor de uma árvore, não se prestava para moradia do homem. Desapareceu e en- terrou seus produtos na esfera vegetal e animal, apenas não tão pro- fundamente.

  2. Em seguida, houve grande número de períodos de intercala- ção para dar início ao quarto. Os continentes surgiram maiores, a vegetação ainda mais fértil; na água, sobre o solo e no ar, se mani- festavam animais pequenos e grandes. Entre eles já havia mamíferos não procriados por meio de ovos, mas pela fecundação natural, com exceção dos animais aquáticos, grande número de anfíbios, aves, vermes e insetos.

  3. Esse período durou tempo imenso e o solo ia recebendo, de quando em quando, os raios do Sol; algumas árvores começaram a produzir frutos, conquanto não fossem agradáveis ao paladar. Ainda assim, serviam como alimento para a fauna. Tal época também não apresentava vestígios humanos.

  4. Novamente se deram grandes convulsões terráqueas, enter- rando na maior parte tudo que teríeis chamado de criaturas. Podeis descobrir muita coisa soterrada, porém bem diversa dos três perío- dos anteriores.

  5. Após longas épocas, em cujo decorrer se manifestara maior calma e ordem, e passadas grandes tempestades, vimos surgir o quinto período. Do fundo do mar, ergueram-se continentes vastos, juntaram-se aos já existentes, formando grande área.

  6. Surgiram as maiores e mais altas montanhas. Seus picos eram destruídos por raios e, por meio de terremotos e enxurradas seguidas de chuvas fortíssimas, iam sendo levados aos vales e fendas do solo. Assim se formaram planícies extensas, vales e campos, nos quais tudo podia germinar.

  1. Com este período, a Terra entrou numa circunvolução mais ordenada em redor do Sol; dia e noite se seguiam, inclusive as esta- ções, conquanto sob muitas mudanças, em virtude da importante vacilação dos polos.

  2. Apareciam correntes marítimas de 14.000 em 14.000 anos. Por elas eram inundados os dois polos para futura formação de fru- tos sobre os extensos desertos de cascalhos. Decorrida tal época de

14.000 anos, o mar teria despejado tanto lodo frutífero sobre aque- las planícies, que as tornavam mui férteis.

  1. O quinto período levou mais de milhões de anos, até que fosse apropriado para nova fase criadora de grande quantidade de plantas variadas, animais e criaturas pré-adamitas. Havia então ár- vores frutíferas e outros vegetais para alimento de animais e homens. Aproveitavam-se estes de certas manadas, levavam vida nômade, não usavam roupa nem habitações. Construíam, imitando as aves, ni- nhos sólidos nos troncos fortes e acumulavam alimentos. Estes se esgotando, procuravam a caça em grandes agrupamentos. Na época das geadas, homens e animais — tais como: mamute, rena, boi al- miscarado, cabras e ovelhas, elefantes, rinocerontes, macacos e aves

  1. Mais para o fim desse período, apareceram o burro, o camelo, cavalo e porco, utilizados pelos homens para transpor- te, caça e no aproveitamento do leite e lã, esta para forro de seus ninhos.

  2. Idioma, propriamente, não possuíam; entendiam-se por meio de certos sons e gestos, como animais inteligentes, socorrendo-

-se mutuamente; conheciam a erva indicada para a cura de doenças geralmente causadas pela idade avançada. Alguém não mais poden- do andar, outros o faziam por ele.

  1. Somente desconheciam o modo de produzir fogo; se pu- dessem ter visto como agiam os adamitas, tê-los-iam imitado, pois a tendência para a imitação era predominante e a inteligência, dotada de certo grau de livre arbítrio, ultrapassava a do símio mais perfeito. Poderiam também aprender a falar, mas nunca usar termos eruditos.

  1. Eram de físico gigantesco e donos de dentadura tão forte, que a usavam como instrumento cortante. Olfato e instinto eram também muito desenvolvidos e percebiam de longe a aproximação do perigo. Dominavam com os olhos e a vontade os animais e, às vezes, elementos da Natureza.

  2. Conquanto o quinto período durasse muitos milhões de anos, não se percebia o menor progresso de cultura, e os homens levavam sua vida monótona de nômades, tornando-se estrume da Terra para o Gênero humano atual, semelhante a Mim.

  3. A cor de sua pele, bastante peluda, variava entre escura e cin- za-claro; somente no Sul havia tribos peladas. Sua forma tinha gran- de semelhança com os negros de hoje. Progrediram até Adam, nas planícies e florestas densas; nunca emigraram para as montanhas.”

73.OSDOISÚLTIMOSPERÍODOSEVOLUTIVOSDA TERRA

  1. (O Senhor): “Em época de Adam, na qual se inicia o sexto período, a Terra teve que passar, em parte, por grandes transfor- mações através do fogo e da água e, nessa ocasião, sucumbiu quase totalmente a raça pré-adamita e seus animais caseiros, assim como as inúmeras florestas com os animais selvagens. Sobraram apenas algumas espécies de aves, os animais das montanhas e da água.

  2. Na Ásia se conservaram alguns remanescentes dos pré-ada- mitas até a época de Noé; pouco a pouco foram se perdendo, porque não encontravam alimento apropriado. Em algumas zonas da África do Sul e em certas ilhas maiores, encontram-se poucos descendentes do quinto período. São inteiramente selvagens, com raras mostras de alguma cultura, adquirida pelos descendentes de Caim. Podem ser adestrados para diversos trabalhos; por si mesmos, nada inven- tam. Uma parte está em situação algo melhorada, por ter surgido do cruzamento dos cainitas e lamechitas; mas também não se presta para uma educação superior.

  3. Essa espécie de criaturas se conservará por muito tempo nas zonas onde estão, aceitando pouco a pouco alguma educação dos

adamitas, sem, contudo, se tornarem grande povo. Eis os pré-ada- mitas do quinto período.

  1. No seu início, a Terra havia recebido a Lua como acompa- nhante e regulador de sua trajetória em redor do Sol e do seu pró- prio eixo. Naturalmente, a Lua não tinha, de pronto, a forma atual. A fim de atingi-la, também sofreu grandes períodos tempestuosos, não obstante menos longos que a Terra.

  2. Mas não me pergunteis agora por que é preciso tempo tão longo para a formação de um corpo telúrico, pois baseia-se na Mi- nha Sabedoria e Ordem. Se o proprietário de uma vinha pudesse realizar todo o serviço num momento, que faria o resto do ano? Ele divide o trabalho, de modo a lhe dar atividade diária e uma constan- te satisfação. O mesmo sucede Comigo, pois sou o Ser mais Ativo de todo o Infinito e, por isto, o mais Feliz.

  3. Quando, na Primavera, as crianças veem florir cerejeiras, ameixeiras, pereiras e macieiras, sua alegria é grande; todavia, que- rem saborear os frutos. O pai, porém, diz aos impacientes: Tudo neste mundo tem seu tempo pela Ordem de Deus e nela tudo ama- durece. Tende, pois, paciência; dentro de alguns meses, essas árvores em flor estarão cheias de frutos, que saborearemos com o Pai no Céu. Isso acalma os pequenos.

  4. Assim, também acalmai-vos se ainda não verificais os frutos maduros de Minha Doutrina; em tempo oportuno, estarão amadure- cidos. Podeis imaginar que Eu não tenha semeado o Gérmen vivo de Meu Verbo inutilmente. Ele não pode produzir de hoje para amanhã.

  5. Uma árvore precisando de certo tempo, muito mais neces- sário se torna para um planeta. Não é suficiente que se encontre, no Espaço, um bólide de pedras, terra e água; pois seria morto e nada poderia surgir e viver nele. Um planeta destinado a produzir e alimentar seres vivos terá que ser vivo. Para tanto, necessária é uma formação orgânica qual animal gigantesco, por meio de influências externas e processos internos.

  6. Todo corpo cósmico dispõe de todos os elementos necessá- rios à forma orgânica, no início caoticamente mesclados. Pouco a

pouco se agrupam para um organismo total. A maneira pela qual se processa tal organização é Conhecimento Meu, como Organiza- dor Original. Quando fordes perfeitos em espírito, compreendereis tal fenômeno.

  1. Através da explanação clara e simples dos períodos evolu- tivos, podeis deduzir o motivo principal por que Moysés dividiu a Criação em seis dias. Nada mais são que seis períodos, aos quais todo ser — inclusive o homem — tem que passar, material, psíquica e espiritualmente, para sua maturidade e perfeição.

  2. Só então virá o sétimo período, da calma, ou seja, a Vida eterna e feliz. Possui esta denominação porque ao espírito perfeito não mais oprimem coação, julgamento e aflição, pois tem ingressa- do no pleno conhecimento e no poder ilimitado. Agora, caro Mar- cus, espero Me digas tua compreensão a respeito.”

74.EVOLUÇÃOPSÍQUICADOS PRÉ-ADAMITAS

  1. Responde Marcus, perplexo: “Senhor e Mestre, eu e todos os presentes assimilamos Tua Explanação; todavia, não podemos pene- trá-la, por nos faltar aquilo que demonstraste. Pelo menos, sabemos como enquadrar os tesouros descobertos nas escavações, a maneira por que chegaram a tais profundidades e, além disto, deduzir o sen- tido espiritual dos Seis Dias descritos por Moysés. Percebo, porém, que esse conhecimento só pode ser de poucos. Resta-me ainda uma dúvida, Senhor! Os pré-adamitas, muito embora dotados apenas de inteligência instintiva e vontade restrita, possuíam almas. Qual seu estado? A que ponto chegaram no sexto período e qual seu destino?”

  2. Respondo: “Se as almas de pedras, plantas e animais sobrevi- vem — ingressando, livres da matéria, em almas humanas, podendo no corpo físico chegar à culminância do mesmo — as almas dos pré-adamitas, forçosamente, terão vida sucessiva igual à de todas as criaturas de outros mundos no Espaço Infinito!

  3. Quando, desencarnados, chegarem ao Reino dos espíritos, serão levados a um grande corpo cósmico, isto é, ao solo espiritual

correspondente a ele, onde receberão conhecimentos maiores acerca de Deus, Seu Poder e Sabedoria, num estado de felicidade contínua. Seria inútil demonstrar-te em que enxame globular se encontra tal corpo cósmico, porquanto não poderias vislumbrá-lo; sua descrição igualmente não te convenceria enquanto não fores renascido em es- pírito. Assim, tens que te conformar com o seguinte: Na Casa de Meu Pai existem muitas moradas! Somente no Meu Reino tudo te será claro! Compreendeste?”

  1. Diz Marcus: “Como não, Senhor! Mais um ponto, como sequência do outro! Já era esta Terra o dito recôndito vital no cora- ção do grande Homem Cósmico em épocas pré-adamitas?”

  2. Digo Eu: “Se bem que não na ação efetiva, porém tal era seu destino! Existia naquelas eras um outro mundo, cujas criaturas se perderam no pior orgulho e total afastamento de Deus; as que Nele acreditavam não O respeitavam, mas ousaram desafiá-Lo e despo- já-Lo de certo modo do Trono de Sua eterna Onipotência. Procu- rando descobri-Lo, os perversos intelectuais afirmavam que Deus residia no centro do planeta; era preciso perfurá-lo com minas para aprisioná-Lo. Assim fizeram, causando o fim de muitos.

  3. Todos os emissários por Mim enviados eram estrangulados friamente. Então permiti que o planeta fosse destruído em estilha- ços, partindo de seu centro! Isto aconteceu no sexto período desta Terra, tornando-se ela o recôndito vital. O local do outro planeta, que igualmente girava em redor do Sol, abordaremos em seguida. Manda primeiro trazer algum vinho, Lázaro.”

75. OS ASTEROIDES

  1. Todos saboreiam o bom vinho, manifestando alegria especial por ter Eu projetado coisas tão boas na Terra. Digo Eu: “Realmente, tal vinho é bebida fortalecedora, mas apenas quando não tomado em excesso! Para quem se embriaga, é ele um elemento que enfra- quece o físico. Por isto, apreciai o vinho sempre com sobriedade e em Meu Nome, que ele vos fortificará para a Vida eterna da alma.

No uso excessivo se oculta o mau elemento da impudicícia e per- versão. Tal espírito não vivifica a alma, mas aniquila o verdadeiro espírito vital dos Céus, impossibilitando o renascimento da alma ainda em vida. Lembrai-vos disto!”

  1. Faço tal advertência não somente pela Verdade em si, mas porque Judas estava se excedendo, a ponto de quase embriagar-se. Ele percebe o motivo, levanta-se e se encaminha para Bethânia.

  2. Após ele se ter afastado, André diz: “Que bom ele ter ido! Ultimamente tem atitudes suspeitas, e Teus Ensinos e Milagres não o impressionam. Nada lucra, entretanto não nos deixa! Se eu tivesse

o Teu Poder, Senhor, há muito tempo ele não estaria conosco!”

  1. Digo Eu: “Também ele tem livre arbítrio, pelo qual pode ficar ou se ausentar quando quiser. Não viste Eu permitir aos pró- prios demônios se apossarem dos porcos? Portanto, concedo àquele homem — entre vós, um demônio — ficar ou não. Por Mim, todo homem e espírito são livres. Cada qual prepara o seu prêmio através da ação; tanto pode se tornar anjo como demônio.

  2. Mudemos de assunto. Inicialmente, vimos que no sexto perío- do explodiu um planeta e que a Terra se tornou, com o aparecimento de Adam, o recôndito vital do grande Homem Cósmico. Demons- trar-vos-ei como aquele planeta era no início e seu estado atual, in- clusive a relação do nosso, junto ao Homem Cósmico, em sentido espiritual. A simples explicação não vos proporcionando um quadro visual, representarei o Sol com seus planetas em pequena escala.”

  3. Assim terminando, surge no ar uma esfera de um palmo de circunferência, representando o Sol. À medida do possível, por- quanto a sala é pequena para demonstrar a proporção exata, surgem os planetas e suas luas conforme existiam no sexto período, quando

o mencionado planeta com suas quatro luas ainda não havia explo- dido. Explico as posições de todos, em grego e hebraico, e aponto o referido entre Marte e Júpiter. Seu tamanho corresponde ao último, apenas tinha maior continente, área atmosférica mais extensa, in- clinação polar mais acentuada, portanto uma rota mais elíptica em volta do Sol.

  1. Após terem assimilado isto, prossigo: “Tal era a ordem há mais ou menos quatro mil anos, quando ocorreu a explosão. De- monstrarei o planeta!”

  2. Todos veem como ele se dividiu em diversas partes. Somente as luas continuaram intactas. Como perderam o corpo central de atração, desequilibraram-se e se afastaram tanto mais, porquanto haviam recebido um forte impulso.

  3. As partes do planeta se espalharam no grande Espaço entre Marte e Júpiter. Grande número de destroços menores ultrapassou as mencionadas rotas; alguns caíram no planeta Júpiter, outros em Marte, nesta Terra, Vênus, Mercúrio e no próprio Sol.

  4. (O Senhor): “As próprias criaturas, de tamanho gigantes- co, foram projetadas no Espaço, igualmente com outros animais. Alguns corpos mirrados giram ainda no éter, sentados ou deitados em suas habitações, ainda existentes em destroços maiores. Alguns cadáveres caíram até mesmo neste planeta, onde se dissolveram após séculos, o que sucedeu igualmente nos outros planetas. Os grandes mares se espalharam com seus habitantes em gotas diversas, algumas de considerável circunferência; apresentam terra firme habitada por certos irracionais. Nas quatro luas vivem os antigos seres, em situa- ção mirrada, inclusive nos destroços maiores. Nos menores, não há vida orgânica; apenas decomposição e dissolução lenta.”

76.OSHABITANTESDOPLANETA DESTRUÍDO

  1. Manifesta-se Marcus, o romano: “Senhor e Mestre, tal cata- clismo deveria ter sido algo horrível para os habitantes daquele pla- neta! Certamente morreram de desespero! Que aconteceu às almas?”

  2. Digo Eu: “Claro ter sido a catástrofe horrenda para eles; en- tretanto, eram os próprios culpados. Haviam sido instruídos e ad- vertidos acerca daquilo que os esperava. Em sua inteligência mate- rial, tomavam os avisos como fantasias e desatinos dos videntes que, em sua simplicidade e pobreza material, prediziam certamente tais coisas apenas ao povo impressionável, a fim de conseguirem con-

ceito e sustento. Os cultos e importantes não só os desacreditavam, mas perseguiam-nos a fogo e espada. No final, se opuseram com tamanho rigor a tudo que tivesse cunho espiritual, que mandavam matar a todos que falassem ou escrevessem algo neste teor; portanto, não foi possível enfrentá-los com seu orgulho e dureza inclemente.

  1. Eram mui talentosos e inventaram, há milênios, uma espécie de grãos de pólvora que faziam explodir tudo quando incendiados. Se fordes amontoar dez mil libras desses grãos debaixo do Monte Líbano numa considerável extensão, ateando-lhes fogo, num mo- mento se incendiariam, dizimando o grande Monte; assim fizeram os hanochitas antes de Noé com muitas montanhas, abrindo as comportas internas da água, afogando a todos.

  2. Com tais invenções inspiradas por demônios, os homens daquele planeta faziam a pior das confusões. Mantinham guerras, um minava o território do outro em todas as direções, enchendo as minas com pólvora. Eram incendiadas artificialmente, destruindo o país todo. Prosseguiram em tais experiências, fazendo escavações cada vez mais profundas e maiores no planeta, quase duas mil vezes maior do que esta Terra; no final, atingiram as fontes internas cheias de matéria inflamável, que rapidamente se incendiaram. A violên- cia do fogo fez explodir o planeta total, finalizando inclusive suas criaturas!

  3. Bem o previ e destinei esta Terra para a finalidade determi- nada. Correspondia ela, desde o início, à parte mais humilde da criatura, isto é, ao nervo em baixo do dedinho do pé esquerdo — não fisicamente, mas pela importância espiritual; entretanto, é agora portadora de Meus filhos, aos quais cabe a autoeducação dentro de Minha Vontade revelada.

  4. Existe, até mesmo em relação física, uma ligação e interpreta- ção entre o nervo vital do coração e o do dedinho do pé esquerdo, de sorte a se poder afirmar, em sentido da maior humildade, que esta Terra também representava o nervo do dedinho esquerdo do grande Homem Cósmico, que agora é e será, realmente, o nervo principal do seu coração através dos filhos de Meu Amor e Sabedoria. Poderá

sê-lo fisicamente por tempos incalculáveis, ainda que se deem gran- des transformações terráqueas. Pois os vossos descendentes também inventarão matéria explosiva e outros instrumentos destruidores, provocando enormes devastações no planeta; de qualquer forma, cuidarei que não atinjam as profundidades.

  1. De igual modo, não deixarei os Meus filhos como órfãos, pois estarei com eles até o final de seus dias, razão por que jamais acontecerá tal destruição na Terra. Haverá devastações e cataclismos, lançando as criaturas em pavores e aflições; muitas sucumbirão na expectativa de coisas pavorosas. Serão culpadas de tudo que vier so- bre elas. Eis a revelação do planeta destruído e a finalidade da Terra. Tereis compreendido?”

77.APARÁBOLADOREINODO CÉU

  1. Diz Marcus: “Senhor e Mestre, compreendo-o perfeita- mente; mas também percebo que as criaturas não o assimilarão de pronto, porquanto são precisos vastos conhecimentos preparatórios. Para nós, torna-se fácil, em virtude da demonstração dada pela Tua Onipotência, Amor e Sabedoria. Não nos assistindo tais atributos, impossível convencer outros.”

  2. Digo Eu: “Não importa; fiz a revelação apenas para vosso conhecimento mais profundo do Reino de Deus. Quem necessi- tar maior noção de Minhas Obras por causa do Reino de Deus, será inspirado pelo Meu Espírito, levando-o à plena Verdade e Sa- bedoria. Aos outros, basta acreditarem em Mim, agindo dentro de Meus Mandamentos. Muitos são chamados para o Reino de Deus; escolhidos, há poucos, aos quais é dado entender os segredos do Reino de Deus.

  3. Vós os entendendo, estabelece-se uma ligação íntima entre nós e, através de vós, igualmente com outras pessoas; estou, portan- to, em vós e vós em Mim, o que por ora basta.

  4. O Reino de Deus é semelhante à semente de mostarda, uma das menores; mas, quando for deitada em bom solo, desenvolve-se

em uma árvore, atraindo os pássaros que, em seus galhos, constroem suas moradas.

  1. Meu Verbo representa tal sementinha. Depositai-a em bons corações, onde em breve se desenvolverá em árvore, em cujos ga- lhos e ramos se localizarão os conhecimentos luminosos, provin- dos do Céu!

  2. Igualmente pode o Meu Reino ser comparado a uma cria- tura que, para fazer pão, tomou três medidas de trigo e um pouco de fermento. Preparou a massa, até ficar bem fermentada. Assim, o Meu Verbo tem o efeito de um pouco de fermento, suficiente para fermentar grande quantidade de trigo! Dai, por isto, apenas o ne- cessário às criaturas, em Meu Nome; o restante será produzido pelo próprio Verbo.

  3. Quem tiver filhos, cuide de sua saúde apenas; o crescimento depende unicamente de Mim!

  4. Ao transmitirdes a Minha Doutrina como a recebestes em Verdade de Mim, explicai que se pode colher seus frutos somente após terem as criaturas se afastado inteiramente do amor do mun- do e seus tesouros, pois o amor pelas coisas mundanas é uma nu- vem cinza-escuro que sempre se antepõe entre a visão da alma e a Luz dos Céus.

  5. Eis o motivo por que a maioria só consegue um ligeiro pres- sentimento de algo superior e transcendental, pelo tênue vislumbre como efeito da Luz celeste e pura, oculta pela nuvem cinzenta. Ela não cedendo, mas se tornando cada vez mais escura, e muitas vezes negra, nada entendem da Sabedoria pura dos Céus. Estão sempre oprimidas por preocupações, temores e receios; acreditam em coisas tolas, procuram conforto e sossego junto aos ídolos e seus sacerdotes, porquanto não conseguem perceber o verdadeiro consolo celeste.

  6. Em tal caso, assemelha-se o homem a um viandante num dia sombrio, em que a cerração intensa encobre vales e montanhas. Não obstante encobrir a bela paisagem, ela não deixa de existir; seu cenário não atinge a vista do peregrino, incapaz de ter uma ideia daquilo que a neblina envolve. Observa a estrada e, pelos marcos

fracamente visíveis, sabe andar certo: apresentam-se, porém, muitos atalhos que o deixam cheio de medo e preocupação. Espera a vinda de outros viandantes; aparecem, mas na mesma situação. Um opina ser o caminho do centro a levar à vila; outro diz ser o que fica à esquerda, e o terceiro afirma o contrário; o quarto alega: Nenhum de nós pode se orientar; voltemos ao ponto de partida, à espera que a neblina passe, então poderemos iniciar a marcha! — Dessa com- paração, podeis fazer ideia de como passa a maioria das criaturas na peregrinação para o Reino de Deus!

  1. As zonas límpidas, campos, montanhas, vales, jardins e ci- dades desse Reino eternamente maravilhoso estão encobertos pela neblina do amor mundano, ocultando-se aos olhos da alma. É vossa tarefa varrerdes a mesma naqueles que ouvirão o Meu Verbo, assim como Eu agi convosco; se não agirdes deste modo, tereis construído em solo arenoso; as edificações não resistiriam às chuvas, tempesta- des e enxurradas, ruindo e sendo levadas pelas torrentes.

  2. Se, na divulgação do Meu Verbo, as neblinas forem varri- das, construireis casas em cima de rochas que, de maneira alguma, poderão ser atingidas pelas intempéries.

  3. Impossível alguém servir a dois senhores inimigos en- tre si; pois terá que ser amigo ou inimigo de um ou de outro. As- sim, ninguém poderá servir ao mundo, a seu dinheiro e ao mesmo tempo a Deus.

  4. Por isto, terá que expulsar o mundo do coração quem quiser servir ao Reino de Deus. Não só expliquei claramente como de- veis agir, mas dei exemplos vivos. Agi de tal modo, que colhereis bons frutos!

  5. A colheita será vasta e farta, pois há muito trigo maduro para o corte; os ceifadores, porém, são poucos. Pedi ao Senhor da colheita para que contrate muitos pioneiros para Seus Campos!

  6. Disso tudo podeis concluir como agir na divulgação de Mi- nha Doutrina; os fatos extraordinários não precisam ser transmitidos à massa, mas apenas aos vossos sucessores. Passai essa diretriz aos que vos seguirem como orientadores, e tudo irá bem! Compreendestes?”

78.INTERPRETAÇÃODA PARÁBOLA

    1. Diz Marcus, assistido por Agrícola: “Concordamos ser indis- pensável o afastamento da neblina do amor mundano, pois, sem o seu afastamento, o homem jamais poderá ingressar no Teu Reino. Haverá muitas dificuldades por vários motivos.

    2. Uma, porque ao jovem, cheio de saúde e suprido do maior conforto, o mundo com seus prazeres constitui atração enorme; não tem noção alguma do Reino de Deus devido à educação externa.

    3. Se fôssemos adverti-lo para que não se prenda às belezas da Terra, pois constituem forte neblina a encobrir as maravilhas do eterno Reino de Deus, ele poderá exigir a apresentação das mesmas, a fim de poder dar as costas àquelas. Como agirmos em tal caso?

    4. Em se tratando de pessoas de boa índole, ainda se pode ali- mentar alguma esperança. Existe grande número de criaturas que depende de sua posição social, haja vista o sacerdócio, a profissão go- vernamental e o militarismo. Como varrer-se neles a neblina mun- dana? Nem se fala dos serventes e escravos, igualmente humanos, mas de educação inferior. Já será trabalho árduo tal empreendimento na maioria dos judeus, sem mencionar outros povos! Por isto, pedi- mos-Te maior esclarecimento, para não trabalharmos inutilmente!”

    5. Digo Eu: “Sei muito bem que não se trata de fácil tarefa, pois exige muito esforço e grande sacrifício até surgir a solução desejada; dou-vos os meios e recursos pelos quais podereis, em ocasião propí- cia, realizar o que ora faço convosco, e certamente não poderei dar mais do que possuo! Na hora exata, o Meu Espírito vos demonstrará como agir na conquista do Reino de Deus.

    6. Deste modo, as criaturas perceberão o que lhes falta, tudo fazendo para alcançar o que veem em vós. Repito em vosso idioma: Exempla trahunt (exemplos atraem). Pois alguém vendo o que sig- nifica estar de posse do Reino de Deus, certamente indagará como vos foi possível consegui-lo. Tereis, então, motivo para falar, e a ne- blina desaparecerá diante de vossas palavras e ações, conforme ocor- reu convosco.

    1. Em absoluto exijo que niveleis, num dia ou num ano, todas as montanhas e colinas. Basta cada qual fazer o que pode com a própria boa vontade; do resto Me incumbirei. Não exigirei de vós além do que Eu Mesmo posso fazer, respeitando o livre arbítrio. Não seria tolo o pai exigir dos filhos fracos carregarem pesos maiores do que ele? Ainda ireis perceber ser suave o jugo que vos imponho, e o peso, leve.

    2. Mesmo assim, o mundo se oporá em deixar seu brilho falso e empreenderá grandes lutas contra a penetração da Luz Celeste quan- do ela tiver tido plena aceitação entre muitos, e sangue inocente será derramado no final. Então, toda luz fictícia do mundo soçobrará, perdendo seu valor como ouro e prata falsos diante do apreciador.

    3. De maneira alguma proibi a alegria com as maravilhas da Ter- ra; deviam as criaturas lembrar-se Daquele que a enfeitou de modo tão belo, recebendo estímulo para coração e alma. Considerando as Obras de Deus com justiça, a criatura sentirá grande alegria; e os amigos da Natureza são certamente criaturas boas e acessíveis ao Reino de Deus.

    4. Os amantes dos tesouros da Terra e de seu dinheiro dificil- mente poderão ser convertidos para um conhecimento maior; de- monstram isto os fariseus, judeus ricos e muitos comerciantes, agiotas e mercadores. Falar-se-lhes do Reino de Deus seria o mesmo que que- rer tornar branco um negro. Tais homens são semelhantes a porcos, aos quais nunca deveis oferecer as Pérolas do Céu como alimento.

    5. Terão que se desfazer de seus pecados mortais na Lua, estéril e fria, continuando afastados do Reino de Deus, não podendo ser admitidos na nova Jerusalém. Criaturas desprovidas do amor a Deus e ao próximo não possuem o Reino de Deus em si. Terão que con- tinuar no seu reflexo negro e a Lua será sua morada, isto é, na parte constantemente virada à matéria deste planeta.

    6. Este conhecimento é novo, porém verdadeiro; oportuna- mente, voltaremos a ele, conquanto não Me seja agradável perder tempo com pocilgas e prisões de desvairados. Compreendestes?” Todos agradecem pelo esclarecimento e voltamos à mesa, enquanto Matheus fazia apontamentos.

79.ÉMELHORFALAREAGIRDOQUE ESCREVER.

EVANGELHOSGENUÍNOSEEVANGELHOS FALSOS

      1. Aborda-Me João, perguntando se havia tempo de ele to- mar nota dos últimos ensinamentos. Respondo: “É suficiente o que Matheus anotou; além disto, nem tudo se presta para o povo e muito menos para criaturas acima descritas. Após Minha Perma- nência entre vós, ainda tereis tempo para anotar, intuitivamente, o que sucedeu.

      2. Em futuro distante, inspirarei outros servos, ditando-lhes no coração o que tem sido ensinado e ocorrido quando iniciei Minha Doutrinação, inclusive os efeitos e muitas coisas mais; se isto Me é possível em futuro longínquo, muito mais fácil inspirar vosso espíri- to naquilo que deve ser anotado.

      3. No começo, não deveis vos entregar tanto às anotações, po- rém à doutrinação, a fim de que as criaturas venham a saber do que se trata. Uma vez orientadas e havendo sido criadas comunidades em Meu Nome, podereis escrever quando ocupados em outras co- marcas. Saindo da localidade, podeis deixar ali um memorando.

      4. Adverti a comunidade, com bastante rigor, em não fazer ido- latria com tais documentos, como fizeram os judeus com os livros de Moysés e dos profetas; curvam-se diante do móvel em que se guardam os volumes, adoram as tábuas da Lei, julgando prestar jus- ta veneração a Deus. Tolos, cegos! Que vale mais: Adorar as leis ou cumpri-las? Não há templário que isto faça na Verdade; a veneração material e sem valor é feita conscienciosamente, porque não cansa.

      5. Por isto vos recomendo não escreverdes muito, usando antes da palavra, a fim de que não suceda à Minha Doutrina o mesmo que aos Livros de Moysés e outros, aos quais os judeus atribuem poder mágico que nunca possuíram!

      6. Além disto, não deve ser despertada a tendência para a escrita na fase inicial da doutrinação; é melhor as criaturas aplicarem os Ensinamentos do que fazerem cópias; pois, se tal acontecer antes do tempo, vereis surgirem, dentro em pouco, grande número de Evan-

gelhos com vosso nome e tereis muito que fazer para contestar tais fraudes. Compreendestes?”

      1. Alega Simon Judá: “Senhor, seria melhor nada mais ser escri- to ou, então, umasó anotação de tudo que falaste, da qual poderiam ser feitas cópias autorizadas para outros povos. Imagino que talvez nossa pregação seja anotada com erros e defeitos, causando igual- mente o aparecimento de falsos Evangelhos, provocando toda sorte de cismas religiosos.”

      2. Digo Eu: “Pedro, não contesto teu parecer como impraticá- vel; o que Eu vos aconselho, porém, é e será melhor, por enquanto. Podeis agir como quiserdes, mas será impossível impedir o surgi- mento de Evangelhos falsos ao lado do verdadeiro, e será difícil de- terminar futuramente qual o genuíno.

      3. Por tal motivo, deve ser o Meu Verbo divulgado por vós oral- mente; deste modo, os verdadeiros confessores receberão a Minha Palavra viva, sem precisarem analisar a genuinidade dos Evange- lhos escritos.

      4. Se fôsseis, após Minha Ida, começar a escrever sem doutri- nar, vossos documentos seriam copiados com omissões e aditamen- tos e, dentro em pouco, surgiriam dúvidas de sua autenticidade. Pregando pessoalmente e, em caso de necessidade, dando alguma prova, ninguém perguntará se sois Meus discípulos e vossas pala- vras, Minhas.

      5. Tão logo tenhais testemunhado de Minha Pessoa e batizado a muitos em Meu Nome, terão chegado ao Meu Evangelho vivo. Então, podeis escrever para que os descendentes tenham um teste- munho de Eu ter sido vosso Senhor e Mestre, e vós, Meus discípu- los. Tais Escrituras devem ser guardadas somente naquelas comuni- dades em que o Evangelho interno e vivo se tenha conservado de pai para filho etc., e vós continuareis como apóstolos vivos nos corações das criaturas.

      6. Onde tal não suceder, não deveis entregar as Escrituras à co- munidade; não teriam utilidade, porque o espírito morto nos cora- ções dos descendentes não seria capaz de analisar sua veracidade, nem

sentiria se uma escritura é falsa, o que seria feito somente pela votação em um Conselho geralmente cego, como ora acontece no Templo. Que poderia alcançar a votação de ignorantes contra a Verdade única? Se uma criatura inspirada e iluminada pronuncia a Verdade — o que mesmo as inúmeras vozes de um Conselho podem fazer contra Ela?!

      1. Existe apenas umaVerdade, que somente pode ser pronun- ciada e provada por uma criatura verdadeira e por miríades de anjos. Uma filosofia mundana a ela se opondo — porque não se enquadra nos interesses materiais — a Verdade deixará de sê-la?! A mentira pode ser representada num Conselho por inúmeros votos, sem ja- mais se tornar Verdade.

      2. Por isto, não vos preocupeis com o que seja melhor: a pala- vra pronunciada ou escrita; pois, no fruto, facilmente se reconhece a Verdade. A mentira edifica em areia fofa; a Verdade, em rochas, impossibilitando ataque do inferno; assim como a treva da noite não se transformará em luz diurna, tampouco a mentira será Verdade. Podem ser escritos dez mil Evangelhos, só haverá umverdadeiro — quer dizer, aquele que se revelar no homem pela ação real, conforme Promessa Minha — e tal Evangelho vivo será, para todos os tempos, o único marco de sua genuinidade.

      3. Tereis de reconhecê-los pelos frutos; pois de cardos não se colhem figos e de abrolhos não surgirão uvas! Eis a prova de um ver- dadeiro discípulo. Meus adeptos e seus seguidores sempre se amarão como Eu vos amo; os falsos, odiar-se-ão aberta ou ocultamente. Nis- to consiste o fruto negro e mau da mentira, porque uma falsidade não quer ser ultrapassada por outra; a Verdade só procura a sua afim, amando-a cada vez mais, assim como uma luz jamais obscurece ou- tra, mas torna-a sempre mais clara, provocando, no final, uma clari- dade intensa e conjunta.

      4. A luz, portanto, sente forte amor para maior luz; a mentira odeia a mentira, porque teme a traição. Nisto se baseia o critério principal para discernir a Verdade da mentira até de olhos vendados. Por tal motivo, será fácil diferenciar os falsos evangelistas dos genu- ínos; os primeiros se perseguirão e se odiarão — os verdadeiros se

amarão como gêmeos, procurando-se e, em breve, se encontrando. Penso, Simon Judá, ter falado claramente e espero Me tenhas com- preendido.”

      1. Responde ele: “Todos nós Te entendemos e Teu Ensino será diretriz constante!” Aduzo: “Então respeitai-a para não cairdes!”

80.ACONSAGRAÇÃOEM BETHÂNIA

  1. Em seguida, Me viro para o romano, Marcus, e pergunto se também compreendera o ensinamento. Ele responde: “Tenho ape- nas uma dúvida, a respeito da Lua como local de castigo para mate- rialistas. Peço-Te que cumpras Tua Promessa de maiores detalhes!”

  2. Digo Eu: “Assim farei, em época propícia. Ainda é dia e o Sol está a pino. Esperemos a noite e as estrelas, e será mais fácil explicar tal assunto, porquanto vossa visão ainda está turvada por quadros terrenos. Surgirá outro ponto interessante, sobre o qual podemos trocar ideias antes da noite. À tarde visitaremos os templários.”

  3. Continuamos mais meia hora à mesa, quando um empre- gado anuncia a chegada de uma jovem mui atraente com desejo de falar ao Senhor. Digo Eu: “Conheço-a bem, e podeis fazê-la entrar. É Maria de Magdala, que de manhã estivera no Monte das Oliveiras. Deu ordens em casa e se apressou em vir aqui. Ninguém se aborreça por isto!”

  4. Nem bem termino, ela entra, bem vestida. Atira-se aos Meus Pés, abre uma vasilha de ouro e começa a untá-los com precioso unguento de nardos. Trata-se da maior manifestação de honra nos judeus ricos, quando a pessoa descende de família real.

  5. Ao perceberem a intenção de Magdalena, os discípulos co- chicham: “Acaso está louca? A pomada podia ser vendida por duzen- tas moedas, que ajudariam aos pobres; além disto, o Senhor dispensa tais honras mundanas.”

  6. Virando-Me para eles, digo: “Por que isto vos aborrece? Sempre haverá pobres entre vós; Eunão estarei perpetuamente em vossa companhia. Esta criatura Me fez um Bem e, onde este Meu

Evangelho for pregado, devem mencioná-la! Há muito tempo estou convosco, e nunca Me oferecestes um simples cântaro de água para lavar os Meus Pés. Ela lavou-Os hoje cedo com suas lágrimas e agora voltou para ungi-Los. Como pode isto aborrecer-vos? Se consta ser Eu um Filho de David, justifica-se tal honra real!”

  1. Envergonhados, os discípulos louvam Magdalena, que se le- vanta para sair. Eu lhe digo: “Fica em Minha Companhia, pois, a partir de agora, também serás testemunha de Minhas Ações e Pieda- des!” Comovida, ela agradece e Lázaro a serve amavelmente. Pales- tramos até à noite, contando ela certas passagens de sua vida.

  2. Após Magdalena ter relatado suas aventuras, de modo decen- te, alguns fariseus convertidos observam que tal atitude não estava de acordo com a distinta assembleia; isto porque havia certos acon- tecimentos que se referiam a eles.

  3. Eu elogio a atitude sincera da moça e, em seguida, Me viro para os queixosos: “Não vos aborreçais ter ela mencionado certos ca- sos, nos quais sois culpados. Se as palavras dela — que não mencio- nou nome algum — vos irritam, por que não vos perturba Minha Onisciência? Afirmo: No Além, no Reino dos espíritos, se divulgará abertamente o que procurais aqui ocultar com tanto cuidado; por isto, é melhor um pequeno julgamento na Terra, suportando ligeira humilhação, do que ser exposto diante de todos os anjos.

  4. Quem, no mundo, se apresenta melhor do que é, alimenta tendência mistificadora e com ela se torna difícil entrar no Reino do Céu. Quem quiser defrontar-se Comigo no Além, terá que se dar como é, no mundo; assim não passará por outro julgamento diante de Mim e dos anjos, quando se tiver regenerado.

  5. Vede essa criatura. Cometeu realmente muitos pecados; sendo honesta no coração e tendo praticado muitas obras de cari- dade, muito lhe foi perdoado e agora a quero mais que a um justo, sem pecados. Não vim ao mundo por causa dele, mas pelo pecador arrependido, assim como o médico procura apenas os enfermos.”

  6. Os fariseus aceitam Minha Admoestação, enquanto a moça Me pede paciência, pois tudo faria para reparar seus erros. Amavel-

mente lhe digo: “Nada tens a reparar, mas outros teriam que agir deste modo contigo. Todavia, aconselho-te: Perdoa aos que te pre- judicaram, que Eu também assim farei, remindo-te de tuas faltas. Agora, procura dar o necessário ao físico!”

  1. Diz ela: “Senhor, és Tu o melhor Pão e o Vinho mais sabo- roso e vivificante dos Céus; és o mais justo e verdadeiro Fortificante de minha alma e corpo! Continua Misericordioso para comigo e não Me abandones!” Acrescento: “Minha filha, estas palavras foram inspiradas pelo espírito do amor no coração da alma! Sou realmente o justo Pão e Vinho dos Céus; quem deles se suprir, jamais sentirá fome e sede. São, pois, alimento e bebida justos; quem se alimentar de Mim, no Espírito e na Verdade, jamais verá, sentirá e saboreará a morte. Agora podes te alimentar fisicamente.”

81.AMORTEDA CRIATURA

  1. Um escriba convertido se manifesta: “Senhor e Mestre, aca- baste de confirmar que Tu Mesmo és Pão e Vinho celestes, e quem os aproveitar jamais sentirá a morte. Compreendo que interpretas o Pão como Teu Verbo e o Vinho, o Espírito vivo nele oculto. O comer do pão é a aceitação da Doutrina; o beber do vinho, a ação de acordo com ela, de origem divina, porquanto és o Senhor Único de Céu e Terra. Não compreendo que a criatura seguidora de Tuas Leis não venha a morrer. Pode-se dizer de todas, que não sentirão nem verão a morte, enquanto vivas. Uma vez mortas, igualmente nada perceberão. Esse ponto é de sentido oculto e seria aproveitável um esclarecimento maior. Todos os patriarcas que viviam segundo os Teus Mandamentos tiveram que morrer e o mesmo se dará conosco. Como posso entendê-lo?”

  2. Digo Eu: “Amigo, terás que passar por muitas provas, até que se faça Luz dentro de ti! Acaso afirmei que Meus seguidores jamais haveriam de morrer?! Claro que isso sucederá a todos, sem que o físico venha a sentir e ver a morte — muito mais, porém, a alma do pecador que não se regenere e não faça penitência! Pois a alma

ainda presa à carne e enraizada na sensualidade sentirá e verá a morte quando chegar o momento final.

  1. Observa o estado psíquico de um criminoso quando é levado à praça do suplício! A alma antevê e sente a morte de maneira cruel, e, além disto, ela perdura no Além por muito tempo, porque não consegue se vingar dos algozes devido à sua impotência e o completo abandono. Além disto, cai ela num obscurecimento cada vez pior, sem esperança de salvação, sofrendo horrivelmente até começar a reconhecer sua maldade e suportá-la com paciência. Não é isto ver, sentir e saborear a morte?!

  2. A alma completamente renascida em espírito, em virtude da aplicação da Doutrina, nada disso perceberá, porque se libertará do corpo livre de dor e em plena consciência, quando Eu a chamar para sempre. Muitos de vós, após atingirem o Renascimento espiritual, ex- clamarão: Senhor, quanto tempo nos deixarás carregar o fardo pesado da carne? E Eu responderei com todo amor: Mais um pouco de pa- ciência e Eu vos libertarei! Se algum for sacrificado pelos pagãos por causa do Meu Nome, será feliz em se ver livre da carne, como teste- munha de sangue, e o êxtase espiritual sobrepujará as próprias dores físicas. Se assim é, acaso falei em sentido dúbio, como alegaste?”

  3. Responde ele: “Compreendo e estou muito contente, pois a morte mais feliz não deixa de ser algo desagradável e indigno para o homem, senhor da Natureza. Muito embora se tenha elevado no pleno conhecimento de Deus e seu coração alimentando o amor para com o Pai, ele finalmente não faz diferença de um irracional.

  4. Este ignora sua morte, enquanto o homem perambula pela vida com essa certeza desagradável e compreende-se por que mui- tos se atiram aos prazeres mundanos. A criatura, por mais feliz que seja, é, vez por outra, perturbada por pensamentos pessimistas liga- dos à morte.

  5. Se todas soubessem o que nos transmitiste por Misericórdia, nem se perturbariam com ela. Aceito que o homem jamais se torne feliz na Terra, e ser a morte enorme vantagem; não obstante, poderia o Criador fazer com que ela não tivesse a sensação de pavor.

  1. Para que fim o padecimento às vezes prolongado? Por que as dores e, mais tarde, a decomposição lenta dentro da tumba? Não me conformo com esse processo deprimente!”

82.ARAZÃODOSOFRIMENTOANTESDA MORTE

  1. Digo Eu: “Não posso contestar-te, porque também não con- cordo com a morte comum das criaturas. Mas que culpa Me cabe, se elas mesmas provocam tal desprendimento doloroso? Se vivessem apenas dentro da Ordem revelada desde o início, não haveria umacom direito de reclamação!

  2. Na antiguidade, os anciãos tinham morte suave e leve; pois sua alma abandonava com prazer o corpo, quando o anjo a cha- mava. Não sofriam dores físicas até a idade avançada, pois o corpo continuava forte e saudável; o desprendimento não era causado por moléstias e padecimentos, mas, à esperada chamada do anjo, a alma se livrava da matéria, enquanto o corpo adormecia sem a menor dor.

  3. Mas, quando as criaturas começaram a se entregar aos senti- dos pela volúpia, impudicícia e demais prazeres inebriantes, prejudi- caram sua saúde, tornaram-se fracas e doentes e é claro que a morte tomava outro aspecto.

  4. Se tomas de uma faca e fazes um corte no braço, acaso po- des responsabilizar o Criador pela dor violenta, ou talvez venhas a perguntar por que Ele não proporcionou um físico insensível ao homem?! Eu pergunto: como poderia ele estar vivo, caso não fosse sensível? Isto só se dá quando morto.

  5. Admitamos um físico insensível como são os cabelos. Qual seria a consequência numa criatura irresponsável? Automutilações de toda espécie, a ponto que, no final, não mais teria forma humana, nem capacidade para o trabalho.

  6. Assim, é a sensibilidade um bom vigia, que impede a muti- lação. Além disto, subentende-se que a criatura insensível a dores o seria também a alegrias e felicidades; uma condiciona a outra e é impossível imaginar-se a ausência de uma dessas faculdades.

  1. Bem sei do grande sofrimento humano, mormente durante o desprendimento provocado, primeiro, pela incerteza da sobrevi- vência da alma, pois a maior parte aceita a crença dos saduceus; se- gundo, porque os homens saturaram o físico com toda sorte de ele- mentos impuros através da vida desordenada, pela qual tinham que surgir moléstias graves e dolorosas, seguidas de morte prematura. Eis o motivo por que Eu Mesmo encarnei nesta Terra, demonstrando os caminhos pelos quais perceberá vivamente que sua alma — indi- vidualidade própria — sobrevive à morte e que, vivendo a criatura com saúde e cheia de vida, seu desprendimento não será doloroso, mas realmente feliz. Eu, o Senhor da Vida, vos asseguro: Quem co- mer o Meu Pão e tomar o Meu Vinho não sentirá nem verá a morte. Em outras palavras: Vivendo dentro de Minha Doutrina, desfrutará de seu efeito abençoado. Penso, amigo escriba, tenhas conseguido maior elucidação.”

  2. Diz o judeu: “Agradeço-Te por esse esclarecimento, Senhor. Surge, entretanto, outra questão importante. Devido à fé em Ti, aceitamos Tua Doutrina e a adotaremos como princípio de vida; todavia, já vivemos muitos anos sem respeito à Tua Ordem, nos quais certamente se enraizaram no corpo diversos elementos impu- ros, o que deduzo das moléstias passadas. Será possível expulsá-los pela prática do Teu Verbo, de sorte a não me perturbarem no mo- mento final?”

  3. Digo Eu: “Se viveres de tal forma que tua alma consiga re- nascer em espírito, ele, em breve, expulsará os elementos impuros do teu corpo, facultando-te morte feliz. Alguém vivendo e agindo de modo geral dentro da Minha Doutrina, todavia ainda mantendo seus antigos hábitos, não alcançará o pleno Renascimento da alma no espírito; terá que se submeter com paciência e humildade se na hora da morte passar por vários padecimentos. Esses serão justamen- te o fogo pelo qual o ouro vital do homem será purificado de certas impurezas. Pois algo espiritualmente impuro não pode penetrar no Céu, quer dizer: o espírito puro vindo de Deus não pode unir-se à alma até que ela tenha expulsado de si toda matéria e o que faz parte

de seu julgamento. Quem quiser partir num desprendimento feliz terá que considerar essa condição.

  1. Sede comedidos no comer e beber, e não procureis gulosei- mas extravagantes. Conservando por muito tempo a saúde, a morte em idade avançada será semelhante ao doce adormecer de um ope- rário cansado na verdadeira Vinha do Senhor! A alma se desprenderá feliz e consciente do invólucro gasto; será conduzida às indizíveis alegrias do Céu por muitos amigos, sentindo-se imensamente feliz da libertação do mundo e suas misérias.

  2. Quem, pois, viver e agir dentro de Minha Doutrina será plenamente abençoado com seus efeitos sublimes; vivendo imperfeitamente, a bênção corresponderá à imperfeição. Com- preendeste?”

83.FINALIDADEDADECOMPOSIÇÃOLENTADOS CORPOS

  1. Diz o escriba: “Sobre esse assunto estou plenamente esclareci- do. Existem dois ainda não abordados! Por que o corpo se decompõe tão lentamente? Estaria no Teu Poder dissolvê-lo e transformá-lo de momento. A decomposição é desagradável, empesta o ar e se tor- na prejudicial à saúde. Se o corpo desaparecesse qual floco de neve exposto ao Sol, seria algo mais digno do homem; não haveria risco de saúde e evitaria as despesas do sepultamento. O segundo item é: poderá a alma livre do corpo observar a Terra, suas transformações e a atitude dos que ficaram?”

  2. Digo Eu: “Meu amigo, quanto ao primeiro ponto, baseia-

-se na Minha Ordem que o corpo se decomponha e se transforme lentamente. O corpo da criatura que tiver vivido dentro de Minha Ordem se transformará mais rapidamente e não exalará mau chei- ro. Somente quando, através dos pecados, se tiverem acumulado no físico muitos elementos impuros — que se desprendem durante a decomposição — desenvolve-se o odor pestilento, podendo preju- dicar a saúde das criaturas quando o defunto permanece tempo pro- longado ao ar livre. Alguns dias pouca diferença farão.

  1. Se Eu dissolvesse tal corpo impuro de súbito, grande quan- tidade de elementos perniciosos se atiraria sobre os vivos, não só prejudicando, mas matando-os.

  2. Na decomposição lenta, eles se transformam em vermes grandes e pequenos; estes consomem o corpo e, finalmente, a si mesmos; apodrecem e sobem à superfície em unidade mais pura, de onde ingressam em vegetais, e desses passam a vermes mais limpos e insetos. Eis Minha Vontade e Ordem, e te disse o que é necessário ao homem saber. Conhecimento maior ser-te-á revelado pelo próprio espírito, se for preciso.

  3. Quanto à segunda questão, subentende-se que almas perfei- tas — como demonstrei no Monte das Oliveiras — não só veem esta Terra, mas a Criação total, quando o desejarem. Ser-lhes-ão confia- dos habitantes de outros planetas para guias em suas pesquisas.

  4. Almas imperfeitas, más e obscuras não o poderão; não seria aconselhável, porque poderiam provocar grandes danos ao planeta e a todos os seres devido à sua maldade e tendência vingativa. Man- têm-se em cavernas e fendas terráqueas; todavia, não percebem seu local, e sim apenas a formação incongruente de sua fantasia. Vez por outra é permitido que uma delas veja sua localidade. Em tal estado se orienta a respeito de amigos ou parentes — mas apenas por momentos. Em seguida, ela volta ao pouso sem base onde se encontram seus afins. Pois também as almas maldosas se juntam em sociedades perversas, assim como as boas, em grupos felizes. Compreendestes?”

  5. Todos respondem em uníssono: “Sim, Senhor e Mestre, per- mita sejamos aceitos no grupo dos bem-aventurados, e tem paciên- cia com as nossas fraquezas!”

84.CREMAÇÃOE EMBALSAMAMENTO

  1. Nisto, se adianta Agrícola e diz: “Entre os romanos, mor- mente os de alta linhagem, os corpos são cremados — sendo a cinza guardada em urnas e ânforas — embalsamados ou conservados nas

catacumbas. Somente o povo e os escravos são enterrados no cemi- tério. Que dizes a esses hábitos?”

  1. Respondo: “Não podendo modificá-los, deixai-os como es- tão. A cremação é melhor do que o embalsamamento, pelo qual a decomposição é retardada. O sepultamento é o melhor. Deve-se cui- dar que o corpo seja enterrado quando completamente morto, fator que o médico facilmente poderá observar pela cor e o mau cheiro; pois, em aparentemente mortos, não se dão tais sinais.

  2. Uma criatura perfeita nunca sofrerá o estado letárgico, en- quanto isso é fácil em pessoa materialista devido à grande atração da matéria sobre a alma. Ainda que esteja fria, dura, sem respiração e pulso, a alma se encontra no corpo, aflita por reanimá-lo, o que consegue após alguns dias. Se for enterrada e voltando à vida dentro do sepulcro, podeis imaginar que estado horrível apresenta! Minha Doutrina exigindo o amor aos semelhantes, é ato de caridade o cui- dado de não enterrardes ou queimardes um vivo. Tratando-se de um letárgico, levai-o a um recinto de ar fresco, orai e aponde-lhe as mãos, que ele ficará bom.

  3. Se o estado letárgico de alguém for renitente, sede pacientes e não o considereis morto antes de se apresentarem os sinais menciona- dos. Aquilo que desejais que se vos faça num estado tão terrível, de- vereis de bom grado fazer-lhes. Lembrai-vos disto, vós romanos! Pois não se liga grande importância ao sepultamento de pobres e escravos.” Os romanos agradecem pela lição e prometem maiores cuidados.

85.OSENHOREOSFARISEUS CONVERTIDOS

  1. Após este debate e a noite já se apresentando, os fariseus que há algumas horas haviam chegado a Bethânia mandam recado a Lázaro para saberem se sua vinda fora inútil.

  2. Viro-Me para o amigo, dizendo: “Eles muito discutiram acerca de Minha Pessoa e resolveram não mais Me enfrentar como inimigo. Por isto, vamos Eu, tu e os romanos ao encontro deles. Os outros ficarão aqui e Raphael os esclarecerá sobre nossa palestra.”

  1. Na saída, encontramos Judas, que Me pergunta onde vou. E Eu lhe respondo: “Onde tu não irás! Podes colher informações dentro de casa!” Prosseguimos, e Lázaro toma a dianteira. Raphael o acompanha, enquanto Eu e os romanos ficamos na entrada. Am- bos são amistosamente cumprimentados pelos templários, que, sem mais delongas, abordam o problema, sendo que um escriba, con- vencido de sua sapiência e que nos conhecia desde o Monte das Oli- veiras, diz a Lázaro: “Amigo, certamente ainda te lembras de nossa polêmica de ontem; por isto, aqui viemos cedinho. A recepção não foi muito agradável, porquanto os cães nos teriam estraçalhado não fossem teus empregados!

  2. Todavia, não nos perturbamos por isto. Tu nos prometeste um encontro com o Messias. Nada disto aconteceu, pois esperamos há algumas horas e, além do mais, não nos recebeste com a mesma hospitalidade de sempre, fazendo-nos acomodar no albergue para forasteiros. Também isto saberemos relevar, pois aqui estás em com- panhia do milagroso adolescente.

  3. Dize-nos se o Messias aqui se encontra, pois esta é nossa opi- nião a respeito do Nazareno! Hoje à tarde tivemos uma forte discus- são no sinédrio, que, por pouco, abalou nossa convicção. Pesando bem os prós e os contras, libertamo-nos das dúvidas. Dá-nos opor- tunidade de falar-Lhe, que continuaremos os amigos de sempre!”

  4. Diz Lázaro: “Se na vossa chegada estivésseis tão firmes como agora, vosso desejo se teria cumprido. Prevaleceu a opinião de se ex- perimentar a integridade do Messias pela prisão e condenação, pois, O sendo, ninguém O poderia matar. Caso contrário, vossa dúvida se justificaria. Eis o motivo por que não vos recebi em casa, tampouco apresentei o Messias.

  5. Desistindo de vossa suposição maldosa, tereis a felicidade de vê-Lo. Não O enfrenteis de coração e olhares perscrutadores, mas com fé e amor, que Ele fará o mesmo. Se assim não agirdes, Ele vos en- frentará com Sua Sabedoria penetrante e nada poderíeis responder. Pois, se Ele sabia quais vossas intenções que ora vos revelo, conhece também todos os vossos pensamentos, por mais ocultos que sejam!”

  1. Diz o escriba: “Novamente nos disseste coisas extraordinárias e seguiremos teu bom conselho. Agora leva-nos à presença do mais Sábio de todos os sábios!” Nisto, Raphael abre a porta e diz: “Se- nhor, aproxima-Te dos que anseiam por Ti!”

  2. Acompanhado dos dez romanos, entro no salão e digo: “A Paz esteja com todos de boa vontade, portanto também convosco, cujo íntimo se modificou! Por que Me procurais e qual vosso desejo?”

  3. Diz o templário: “Senhor e Mestre, isto sabes tanto quanto soubeste de nossas intenções anteriores! De maneira alguma duvida- mos que és o Messias; mas desejávamos ouvir de Ti o que fazer para merecermos Tua Graça e Misericórdia.”

  4. Digo Eu: “Se Nicodemos e José de Arimateia se acham no Conselho, podeis fazer o mesmo que eles. Por diversas vezes falei abertamente no Templo e, pelas Minhas Ações, provei Quem sou. Se nisto credes e agirdes como ensino, vivereis felizes; assim não o fazendo, aniquilareis vossa vida espiritual e a bem-aventurança.

  5. O Templo atual não é mais uma Casa de Deus, pois tornou-

-se antro de ladrões e assassinos. Fostes vós, escribas, sumos sacerdo- tes e fariseus, a transformá-lo, razão por que ninguém dele poderá receber a salvação de sua alma. Sou Eu a Arca Viva da União, o pró- prio Templo, a Salvação, a Verdade e a Vida Eterna! Quem crer em Mim e viver dentro de Meus Ensinamentos, receberá a Vida Eterna e a bem-aventurança no Meu Reino.

  1. Meu Reino não é deste mundo, mas de um outro, jamais por vós visto. Se conhecêsseis aquele mundo, também teríeis reconhecido a Mim quando estive no Templo; e, se assim fosse, teríeis igualmen- te reconhecido Aquele que Me enviou, do Qual afirmais ser vosso Deus. O Pai, Que Me enviou, não o fez como se manda um homem na Terra! Fê-lo de forma tal, que o Emissor e o Enviado são Unos.

  2. Quem crer que o Pai está em Mim, e Eu Nele, poderá dizer que viu e falou ao Pai e ao Filho. O pleno conhecimento somente virá quando Eu em breve estiver de novo no Meu Reino, de onde espargirei Meu Espírito sobre aqueles que crerem em Mim e agirem segundo Minha Doutrina.”

  1. Diz o escriba: “Senhor e Mestre, Tuas Palavras são incisivas! Se fossem expressas por uma criatura, seriam consideradas a maior blasfêmia contra Deus, pela qual Moysés ordenou pena de morte. Jamais um judeu se arrogou Dignidade e Honra divinas, com exce- ção de Nabucodonozor; por isto, foi castigado por Deus.

  2. Tu não temes a Lei e muito menos os homens, e Tuas Ações provam estarem sujeitas à Tua Vontade todas as forças e poderes de Céu e Terra. Isto nos leva a crer em Ti como Messias e também es- tamos certos de que nos libertarás — como na época da prisão babi- lônica — do jugo ainda mais duro dos romanos, voltando a sermos um povo livre e poderoso. Não sendo assim, poucos Te acreditarão!”

  3. Digo Eu: “Felizes serão apenas os que não se aborrecerem Comigo, crendo ser Eu o Messias! Não vim à Terra para fixar um reino terreno e perecível para os judeus, mas um espiritual no amor para com Deus e ao próximo, portanto um Reino de Luz e Verdade de Deus, sem mentira e mistificações.

  4. Engana-se muito quem supuser tenha Eu vindo fundar um reino mundano. Os romanos são vossos soberanos na Terra e o serão enquanto Deus o quiser. Se reagirdes contra eles, sereis aniquilados.

  5. Quem se encontrar no Meu Reino, atualmente também proporcionado aos romanos, não necessitará temer um poder mun- dano, igual a Mim. Aqui a Meu lado se acham dez dos mais altos dignitários de Roma; poderão testificar se Eu visei um poder do mundo e o que pensam de Mim!” Encabulados, os fariseus não sa- bem o que dizer.

86.TESTEMUNHODOROMANO MARCUS

  1. Marcus, então, se aproxima dos fariseus e diz em grego, idio- ma mais comum a eles do que o romano: “Amigos, não fiqueis en- cabulados pelo desejo manifesto em vos livrar de nosso domínio, aceitando como Messias quem vos fizesse um povo poderoso sobre a Terra! Tais expressões de vossa parte nos são conhecidas e mantemos o velho ditado: Leononcapitmuscas(um leão não pega moscas).

  1. Confessastes perante o Senhor que O aceitaríeis como Mes- sias — não somente dos judeus, mas de todas as criaturas — mesmo que Ele não modificasse as condições mundanas; tal assertiva foi in- teligente, e por isso perdoamos vossa comentário não muito elogio- so. O que nos admira é que apenas agora começais a compreender o que nós, há tempos, aceitamos como Verdade.

  2. Jesus de Nazareth, nascido em Belém no ano 4.151 após o aparecimento de Adam — de acordo com vossa contagem — no mês de Janeiro, à meia-noite do dia 7, é, tanto quanto vós, judeu.

  3. De há muito estamos informados de tudo que se relaciona com o Seu Nascimento e acontecimentos posteriores, razão por que não O perdemos de vista, como Personagem excepcional. Os primeiros informes nos foram dados por Cirenius e Cornélius, e hoje, que beiramos os sessenta anos, compreende-se nosso vasto co- nhecimento.

  4. Embora pagãos, por vós considerados ignorantes, supúnha- mos ser o milagroso Nazareno o Prometido Messias, porquanto te- mos estudado as profecias. Agora não mais alimentamos dúvidas de Sua Divindade. Se assim é, indubitavelmente — não obstante ser simples judeu — o que vos impediu em aceitá-Lo?! Acaso não constitui honra para vós que os romanos, poderosos, O reconheçam e louvem como Senhor e Mestre, pelo que confessamos ter Ele ven- cido os pagãos, confissão esta da qual jamais nos envergonharemos, pois é a maior honra Ele nos ter aceito como filhos?! Vós, judeus, continuais a engendrar meios para prender e matar o Senhor de toda Glória! Explicai-nos como é possível tamanho horror?!” Os templá- rios nada podem retrucar; Marcus, porém, insiste, porque são livres e não precisam temer castigo.

87.MOTIVOSDAATIVIDADEDOS TEMPLÁRIOS

  1. Um ancião, finalmente, anima-se e diz: “Mui prezados dig- nitários de Roma, nossos soberanos! Vossa acusação se justifica, pois nos achamos na fonte mais pura e não queremos usá-la! Quem teria

culpa? O dono de um tesouro não o considera tanto quanto aquele que precisa se esforçar pela sua conquista. Se nos falam de inspira- dos e sábios estrangeiros, temos desejo de conhecer sua sabedoria, enquanto pouco ligamos às ações dos profetas conterrâneos, porque os conhecemos desde nascença. Os homens — e mais precisamente os judeus idosos — são indiferentes às inovações, por mais extraor- dinárias que sejam, e fogem do trabalho que prejudicaria a indolên- cia habitual.

  1. Os romanos, senhores de vasto Império, também se entre- gam ao ócio em época de paz. Quando informados do levante de um povo sujeito ao regime, não indagam se lhes assiste direito para tanto, mandando forte exército como medida de castigo. Por quê? Por ter perturbado o seu bem-estar. Por que não enviais emissários de paz a fim de estudarem a causa da revolta? Ao contrário, enviais um exército poderoso para subjugar aquele povo, ainda que ele fosse encabeçado por um deus.

  2. Deste modo, o homem não pergunta pela Verdade e Justiça, mas reage com ira contra quem o tenha perturbado em seus direitos imaginários, não obstante reconheça, há tempos, agir injustamente, alimentando apenas mentira e mistificação em prol de seu conforto.

  3. Eis a situação da maioria dos templários. Reconhecem seu erro contra a Lei de Moysés e o povo, e que o grande Mestre de Nazareth tem toda razão. Ele, porém, os perturba em seu sossego e conforto, por isto O odeiam e querem matá-Lo, como quem mata u’a mosca a incomodar-lhe o sono.

  4. Certamente perguntareis se os templários não têm fé em Deus e na Sua Palavra pela boca dos profetas. E eu respondo, de própria experiência, não haver no país judaico um leigo com fé mais fraca do que um templário, mormente idoso. Os mais jovens ali- mentam, às vezes, vislumbre de uma fé autoritária; quando perce- bem que os chefes não creem, eles igualmente perdem a crença e se atiram, secretamente, aos sábios da Grécia. Gozam a vida à medida do possível, e Jehovah, Moysés e os profetas nada mais são que tabu- letas de propaganda a lhes trazerem farta renda.

  1. Eis a organização do Templo, de onde seus adeptos souberam afastar todo empecilho. Assim se explica por que reagem contra o Na- zareno, o Qual nós outros reconhecemos como Messias Prometido. Enquanto permanecermos no Templo, nada poderemos fazer contra suas maquinações. Já será muito se conseguirmos abrandar sua ira!”

88.CULTOE SACERDÓCIO

  1. Responde Marcus: “Agradeço-te por essa elucidação comple- ta, e os romanos saberão como agir com sacerdócio de tal espécie. Onde os homens se entregam ao culto religioso em virtude da situ- ação rendosa, e não por causa da Verdade eterna de Deus, estará em tempo de extirpá-lo e suplantá-lo por melhor!

  2. Como romano experimentado, penso como o Senhor me en- sinou: No futuro não deve mais haver sacerdócio, Templo, feriados, dias comemorativos, jubileus e olimpíadas — mas cada um trate de se tornar justo doutrinador dos semelhantes e verdadeiro pai da prole! Os templos serão transformados em asilos, e os dias comemo- rativos devem ser usados para fazer-se a caridade; assim, em breve, todas as criaturas se abraçarão como filhos de Deus!”

  3. Diz o escriba: “Teu parecer é aceitável dentro da razão huma- na; devemos, porém, considerar o que Deus instituiu por Moysés: Seis dias deves trabalhar; no sétimo, sábado, deves descansar e te abster de todo serviço pesado, dedicando tal dia a Deus, o Senhor, e servi-Lo como foi determinado por Aaron.

  4. Se considerarmos tua opinião, Deus Se contradisse ao Naza- reno. Pessoalmente, sou contra o sacerdócio; mas deve haver anciãos e rabis em todos os povos. Nem todos têm capacidade e talento e, às vezes, lhes faltam tempo e meios para os estudos. Por isto, determi- nou Moysés o tronco Levi para o sacerdócio, impondo aos outros o dízimo do qual aquela linha se deve manter para se dedicar exclusi- vamente ao ofício.

  5. Segundo meu parecer, os doutrinadores não deveriam ser apenas do tronco Levi, pois criam uma casta. Todos dotados de in-

teligência, talento e tempo deveriam ter o direito de se formar em religião; tal professor teria que ser mantido pela comunidade, evi- tando que se canse para seu sustento.

  1. Quanto ao teu parecer acerca do Templo e dos feriados, con- cordo contigo, pois não foram instituídos por Moysés. Indispen- sável se torna um dia na semana no qual o povo se reúna em local apropriado, a fim de evitar o esquecimento de Deus ou a pior idola- tria. Eis o que penso, e seria do nosso agrado, caso o Senhor e Mestre externasse Sua Opinião.”

89.SÁBADOE SACERDÓCIO

  1. Digo Eu: “Pois bem, ouvi-Me! Ambos falastes bem; a partir de então concordo com Marcus, porque o caso se aplica à natureza e raciocínio do homem, portanto se adapta à Sabedoria e Ordem de Deus! Todavia, não rejeito teu parecer. Devem os sacerdotes não fazer do sábado um dia mágico e impor castigos aos que por necessi- dade ganham seu pão em tal dia. Uma ação, mormente em benefício do próximo, não vilipendia o sábado, mas o santifica mil vezes mais que toda gritaria fútil no Templo e em sinagogas.

  2. Quem santifica o sábado por boas obras, fá-lo real e vivamen- te, o que unicamente tem valor para Deus. Quem o fizer como vós, tê-lo-á ultrajado; honra a Deus com os lábios — como disse o profe- ta — mas seu coração está longe Dele, porque afastado do próximo.

  3. Deve haver professores livres e verdadeiros numa comunida- de, sem obrigação do próprio sustento. Concordo na manutenção do sábado, no qual as criaturas poderão ser instruídas sobre Deus e Sua Vontade, relembrando-as sempre do Pai. Seguem-se, porém, seis dias de trabalho. O professor inspirado não necessita de seis dias para preparar-se ao próximo sábado. Pois, se falar pelo Espírito de Deus, receberá no coração o que dizer.

  4. Isto se dando dentro de Minha Promessa, como acontecia em épocas dos patriarcas e profetas, julgo ser útil ao rabi ter ele qual- quer ofício e, como exemplo, ganhar o seu sustento. Deste modo,

não seria obrigado a pesar aos membros da comunidade, que o res- peitará tanto mais quanto tem prova de seu desinteresse pessoal, seu amor e justiça.

  1. Julgo isto muito melhor do que esbanjar seis dias de trabalho com licenciosidade, adultério, impudicícia e fraudes, preparando-se para o inferno e a morte eterna. Eis Minha Opinião.

  2. Outra coisa se dá com os que ora envio ao mundo para pre- garem o Evangelho a todos os povos. Esses Meus primeiros missio- nários não têm oportunidade nem tempo para cuidar do seu susten- to. Por isto, disse-lhes: Comei e bebei o que vos ofertarem! E mais: Não vos preocupeis com o dia de amanhã — pois tal atitude seria pagã e ignorante — mas procurai, antes de tudo, disseminar entre os povos o Reino de Deus e Sua Justiça, com dedicação e zelo, que todo o resto virá por si. O Pai no Céu sabe das vossas necessidades! Repito: Isto se aplica apenas aos por Mim enviados ao mundo in- teiro! Uma vez existindo comunidades efetivas e fundadas em Meu Nome, deve ser respeitada Minha Opinião anterior.

  3. De maneira alguma quero que os rabis se tornem regulares servos do ócio, pois nele se baseia a raiz de todos os vícios. Um rabi verdadeiramente ativo, em Meu Nome, terá oportunidade de dar bom exemplo durante a semana, estimulando os membros da comu- nidade à imitação ativa, no Espírito da Verdade viva, e assim cada dia é qual sábado santificado para todos.

  4. Além disto, não é imprescindível à salvação da alma que seja considerado precisamente o sábado judaico como especial dia de ensino, pois qualquer um poderá ser escolhido para tal. O sábado se prestando à realização de um serviço qualquer, a bem da comu- nidade, porquanto os demais dias eram desfavoráveis em virtude do mau tempo, trabalhai no referido dia, determinando outro para doutrinação. Será verdadeiro sábado todo o dia em que fizerdes o Bem em Meu Nome. Não há valor na denominação do dia, mas naquilo que foi feito.

  5. Igualmente não é necessário fixar, de oito em oito dias, um para doutrinação, podendo ser fixado dentro das circunstâncias. A

Palavra de Deus pode ser pregada e ouvida em qualquer dia, e certo número de dias entre uma e outra prédica nada representam para Mim e, além disto, não melhoram prédica e criaturas.

  1. O pastor da comunidade percebendo — pela intuição do Espírito Divino — que um membro se emaranhou num atalho, deve procurá-lo imediatamente para adverti-lo, não esperando para tanto o sábado. Será sábado verdadeiro o dia em que o transviado for equilibrado e ele se tiver regenerado completamente.

  2. Se o rabi tiver feito uma prédica verdadeira durante o ano e a comunidade agir fielmente dentro do seu teor, dispensa outra doutrinação. Pois quem viver de tal modo viverá diariamente num justo sábado, trazendo no coração a prédica real e viva insuflada pelo espírito.”

90.AJUSTACONSIDERAÇÃODO SÁBADO

  1. (O Senhor): “Pode a comunidade construir escolas para crianças, organizá-las com um ou vários professores experimentados e conscientes de sua responsabilidade, incumbidos do ensino primá- rio e outros conhecimentos. Se isto fizerem diariamente, terão san- tificado o sábado em cada dia. O rabi terá feito o mesmo se visitar as escolas seguidamente, estimulando professores e alunos e, vez por outra, administrando-lhes bons ensinos em Meu Nome; para tanto será por Mim insuflado.

  2. Justifica-se igualmente a comunidade edificar uma casa para reuniões, em Meu Nome. O direito de falar assiste não somente ao rabi, mas a todos os membros masculinos, quando forem ins- pirados por Mim. Não se deve apenas considerar as Escrituras, os profetas e a Minha Doutrina, mas todos os assuntos concernentes ao conhecimento mais profundo de Deus, a vivificação do amor a Ele e ao próximo. No dia em que isto for realizado, a comunidade santificou o sábado.

  3. Com isto não quero sejam desconsideradas a ordem do tem- po e a contagem de horas, dias, semanas, meses e anos. De maneira

alguma deveis atribuir efeito salutar para dias determinados, pois nada representam, senão a ação dentro da Vontade de Deus.

  1. Deixará de ser sábado para quem tiver pecado contra o pró- ximo; se tiver feito ato caritativo num dia comum, tal dia se tornou sábado perfeito. Por isto, futuramente tudo será livre para os Meus verdadeiros seguidores e nada poderá classificar um dia para sábado real, senão as ações surgidas do amor verdadeiro e vivo para com Deus e ao próximo. Vergonhosa é a instituição do vilipêndio do sábado, quando alguém tiver socorrido a um necessitado em tal dia! E ai dos sacerdotes a ensinarem o povo que Deus Se regozija com suas ladainhas e cerimônias de sacrifício, simples horror para Mim!

  2. O sábado deve ser um dia laborioso, e toda cerimônia, a pura ação dentro de Meu Verbo; tal atitude será por Mim olhada com agrado e os santificadores do sábado receberão recompensa de Meu Amor e Graça. Assim fala o Senhor!

  3. Os que o santificarem à maneira dos templários, atribuin- do-lhe efeito mágico e curador — serão aniquilados pelo fogo de Minha Justa Ira! Isto diz o Senhor, diante do Qual todos os dias, semanas, meses e anos são iguais!

  4. Tereis entendido Minha Opinião, válida para todos os tem- pos e eternidades? Em verdade vos digo: Céu e Terra desaparecerão; Minhas Palavras durarão para sempre! Eis Meu Parecer!”

  5. Novamente os fariseus nada sabem contrapor. Os romanos se alegram no íntimo por ter Eu concordado com a opinião de Marcus, enquanto aconselho importantes alterações do pensamento judaico. Muito embora aborrecidos, eles nada deixam transparecer.

91.UMESCRIBAFAZREFERÊNCIASA MOYSÉS

  1. Após meditação mais profunda, diz o escriba: “Senhor e Mestre, pesando as Tuas Palavras, cheguei à conclusão de que tens plena razão, pelo que és. O Espírito de Jehovah habitando dentro de Ti, Teu Coração sendo Trono Dele e Ele falando e agindo por Ti — não compreendo como pôde outorgar uma Lei própria para

a conservação do Sábado. Sabe-se que judeus foram por Ele evi- dentemente castigados por terem profanado tal dia com trabalhos pesados. Por que Deus não determinou a santificação como Tu? Ele não pode alterar o sentido de Suas Palavras!”

  1. Digo Eu: “Falou em ti o escriba, provando nunca ter en- tendido a Escritura e muito menos os Livros de Moysés. Naquela época, era preciso determinar um dia de descanso para os judeus no Egito a fim de poderem ouvir a Palavra de Deus, pois, sem tal Lei, jamais teriam tido folga, conforme se haviam habituado a trabalhar. O povo hebreu era sensual e nada mais cuidava senão de meios para satisfazer a gula. Por isto, Deus determinou — por motivos naturais e espirituais — um dia, quer dizer, o mesmo escolhido pelos patriar- cas para descanso e atenção à Palavra de Deus.

  2. Jamais ordenou Ele ao homem que deixasse de prestar bom serviço no sábado. Tal mandamento suplantou o de Moysés, inven- ção vossa, permitindo apenas serviço indispensável àquele que vos desse resgate e outros sacrifícios.

  3. Se achas Deus não poder alterar a forma de uma Lei, por ser Ele Imutável — como vos arrogastes o direito de modificar a Lei mo- saica de acordo com vosso parecer e benefício material, a ponto de desrespeitardes realmente tudo ensinado e ordenado pelos profetas?

  4. As Escrituras e Leis sendo para vós tão consideradas, por que reprovastes o 6° e 7° Livros de Moysés e o apêndice profético como sendo falsos, pondo outra obra, mundana, em seu lugar?

  5. Não foi a Arca da União um Santuário para todos os judeus?! Quando, há trinta anos, a coluna de fogo se dissipou diante de vos- sas atrocidades, transportastes a Arca destituída de seu poder para determinado recinto, repondo-a por outra, da qual surgia fogo e fumaça naturais. Por que fizestes isso? Haveria uma Lei de Moysés com autorização para tal?!

  6. É bem verdade terem os profetas anunciado que, nesta época, a antiga Arca da União se transformaria numa nova e viva diante de todo mundo. Nunca, porém, como foi feito por vós! Se estivésseis certos, pelas profecias, que tal fato deveria ocorrer, naturalmente

teríeis divulgado esse acontecimento, exigindo grandes sacrifícios do povo. Preferindo ocultá-lo, a massa continua ignorando vossa sonegação.

  1. Convencidos de terem os profetas mencionado a nova Arca referindo-se a Mim — por que não informastes o povo e insistis na adoração de uma obra material? Sempre vos referis aos profetas; se Eu vos aponto o sentido espiritual e unicamente verdadeiro das Es- crituras, como pode acontecer que precisamente vós sois os maiores negadores de Deus, Moysés e os profetas?!

  2. Por motivos mui sábios ocultou Moysés a Palavra transmiti- da por Deus, mormente seu sentido intrínseco e vivo, em quadros correspondentes, e aquilo que revelou abertamente foi por vós rejei- tado! Agora Eu Mesmo aqui estou e revelo os segredos. Por que não credes, mas procurais prender-Me com aquilo que nunca acreditas- tes e, muito menos, assimilastes?”

92.AINSTITUIÇÃODO SÁBADO

  1. (O Senhor): “Desde os primórdios, foi hábito dividir-se a semana em sete dias, que, pela razão natural, foi adotada pelas diver- sas fases da Lua. O sentido espiritual, revelado por Deus, referia-se aos Sete Espíritos Divinos, dos quais já ouvistes falar sem entender uma vírgula!

  2. Dos Sete Espíritos é justamente o sétimo a purificar e amai- nar os precedentes, e seu nome é Misericórdia. Este foi o motivo por que Deus determinou o sétimo dia para Sábado, no qual deveríeis vos abster do serviço dedicado ao suprimento material e, durante a reunião perante a tenda na qual se achava a Arca, conviria ocupar-

-vos dos pobres, aplicando misericórdia ativa. Toda a Lei de Moysés e dos profetas se baseia na justa prática da misericórdia ao próximo, culto religioso unicamente agradável a Mim, na Fé viva em Deus e no Amor para com Ele. Se assim é, como poderia o grande profeta imaginar ter Deus determinado o Sábado para que nele judeu algum fizesse obra de caridade ao próximo?!

  1. Refleti se consiste em veneração a Deus o homem passar o dia no completo ócio dentro do Templo, numa sinagoga ou em casa, rumorejando os Mandamentos, alguns salmos etc., sem pensar ou meditar; ou mandar que algum sacerdote o fizesse por ele mediante pagamento, porque acredita ser o murmúrio do outro mais eficaz e agradável a Deus! Desvairados! Poderia Deus sentir agrado em tais tolices e baboseiras inventadas por vós e até mesmo declaradas com poder legislativo? Poderia Ele, o Eterno, senti-lo agora ou fu- turamente?!

  2. Devem as criaturas que reconhecem e amam a Deus acima de tudo dirigir suas preces a Ele. Como? Primeiro, pelo justo cum- primento de Sua Vontade por meio de obras de amor ao próximo; segundo, devem dirigir-se a Ele pelo amor vivo e pleno, dizendo: Pai Nosso, todo Amoroso, que habitas nos Teus Céus! Teu Reino do eterno Amor e da Verdade venha, realmente, a nós! Tua Von- tade, unicamente Santa, o Ser de todas as criaturas, se torne entre nós ativa como é em todos os Teus Céus e Espaços! Dá-nos o Pão da Vida! Perdoa-nos as culpas, assim como perdoamos aos irmãos que nos ofenderam! Não permitas sejamos levados ao pecado por tentações e encantos, aos quais dificilmente poderíamos resistir em virtude de nossa fraqueza, mas livra-nos de todo mal! Teu Nome seja santificado, louvado e exaltado acima de tudo; pois Teus são Amor, Sabedoria, Força e Poder eternamente!

  3. Eis uma justa prece dirigida a Deus, quando sentida no cora- ção, viva e verdadeiramente! Todavia, não terá valor, ainda que mil vezes proferida, pois terá que ser demonstrada pela criatura, do con- trário se torna um horror para Deus. Ele, Deus eternamente vivo, como Amor, Sabedoria, Força e Poder, não Se deixa honrar por pa- lavras frias e mortas, promessas e cerimônias fúteis, mas apenas por obras feitas à Sua Vontade. Essas podem e devem ser executadas em dia qualquer, e não somente no sábado. A criatura, assim agindo, transforma todos os dias em sábados e não precisa esperar por ele, que, para Mim, não é melhor do que outro qualquer. Caso tiveres motivo para objeções, poderás te pronunciar!”

  1. Responde o escriba: “Senhor e Mestre, desistirei para sempre, pois agora reconheci seres Tu verdadeiramente o Ungido de Deus! A reprimenda aos templários é justa, mas infelizmente nada podemos fazer pela Tua Missão divina. És poderoso, Senhor! Faze o que Te agrade de acordo com Tua Graça, Amor e Sabedoria! Se quiseres nos aconselhar quanto à atitude contra os sumos sacerdotes, tudo faremos para merecer Tua Graça!”

  2. Digo Eu: “Já vos disse muita coisa e certamente tereis assimi- lado Minha Vontade! Agi dentro de Meus Princípios, que recebereis a Vida eterna! O Templo não vos impedirá de crerdes em Mim, seguirdes a Minha Vontade e, caso necessário, reconhecer-Me diante do mundo. Pois também a vós digo: Quem Me testemunhar peran- te o mundo, será por Mim testemunhado perante o Pai, no Céu! Podeis voltar a Jerusalém. Não Me denuncieis, caso os templários perguntem por Mim! Minha Bênção vos acompanhe! Amém!”