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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO
Volumes X e XI
O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes
Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber
Traduzido por Yolanda Linau
Revisado por Paulo G. Juergensen
Direitos de tradução reservados
CopyrightbyYolanda Linau
Edição 2020
ÍNDICE
O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO – VOLUME X
A SUBSTÂNCIA PSÍQUICA E SUA GRADATIVA LIBERTAÇÃO DA MATÉRIA 56
ADVERTÊNCIA PARA A ÉPOCA ATUAL — CONDIÇÕES ESPIRITUAIS DA ATUALIDADE 63
DIRETRIZES COM RELAÇÃO AOS FALSOS PROFETAS E AOS MILAGRES 292
ONIPRESENÇA E ONIPOTÊNCIA DO SENHOR. O PROCESSO DA VISÃO 305
ALMAS PRÉ-AMADURECIDAS POR COAÇÃO E ALMAS INTEIRAMENTE AMADURECIDAS 352
O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO – VOLUME XI
S
eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele
sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”
Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. AoladodaBíblia omundojamaisconheceuObraSemelhante,sendona Alemanha considerada “Obra Cultural”.
ObrasdaNova Revelação
O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes
A Infância de Jesus
O Menino Jesus no Templo
O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim
Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua
A Mosca
Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo
(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)
Mensagens do Pai
As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor
(continuação)
PROPOSTASPARAARÁPIDADIVULGAÇÃODA DOUTRINA
Novamente nos dirigimos para fora, isto é, à praia onde já estivéramos pela manhã. Após algum tempo sem troca de palavras, o romano se dirige a Mim: “Senhor e Mestre, Único e Verdadei- ro, cheio de puro Amor, Sabedoria e Poder divinos, veio-me neste momento um pensamento estranho. Não pode haver coisa mais su- blime e desejável para as criaturas desta Terra do que a divulgação rápida de Tua Doutrina, o que a meu ver não seria tão difícil.
És Onipotente, e um simples pensamento de Tua parte e carregado pelo Poder de Tua Vontade seria o bastante na extinção de templos e ídolos pagãos. São eles os principais esteios da antiga superstição, e se fossem exterminados a um só tempo, em todos os cantos da Terra, as criaturas começariam a meditar sobre o significa- do deste acontecimento.
Em seguida deveriam os inúmeros informados de Ti e de Teu Reino aproximar-se dos perplexos com o fenômeno, come- çando a doutriná-los em Teu Nome, e caso encontrem enfermos, curá-los como fizeram os Teus discípulos enviados a Joppe. Se- ria tal proceder viável, ou estaria em desacordo com Tua Sabedo- ria e Ordem?”
Digo Eu: “Meu amigo, fosse Eu simples homem pensando e julgando a teu modo, poderia agir dessa maneira; acontece Eu ver e
julgar diferentemente, como Mestre Eterno de todo Ser e Vida, não podendo aceitar tua proposta.
Se destruísse todos os templos e ídolos feitos pelos homens, de modo repentino, seria preciso exterminar primeiro todos os sacer- dotes; são também humanos, dotados de livre vontade e destinados a se desenvolver e fundamentar-se na vida espiritual; entre eles há muitos que desde tempos idos se interessam pela verdade da vida no Além, e não seria viável exterminá-los por serem sacerdotes pagãos.
Se, porém, templos e ídolos desaparecessem, mas os sacerdo- tes continuassem, prontamente explicariam tal fenômeno como ira dos deuses, obrigando o povo a sacrifícios impraticáveis. Em muitos locais, os sacerdotes destroem um ou outro templo durante a noite, caso o povo se mostre pouco inclinado a sacrifícios, e transmitem ira e vingança de um deus ofendido, com que as massas se tornam ainda mais ignorantes, supersticiosas e menos acessíveis à conversão.
Além disto, são milagres e sinais recursos pouco indicados para a conversão, mormente para um povo um tanto atrasado. Se- duzem rapidamente e determinam o homem a crer naquilo que é obrigado; sempre houve e haverá no futuro toda sorte de magos entre sacerdotes, que operam magias. Onde estaria o povo de compreensão e critério claros, capaz de discernir os milagres falsos dos verdadeiros?
Se Eu te facultasse o dom de efetuar entre pagãos provas re- ais, e os sacerdotes também as produzissem como os antigos essê- nios, conquanto falsas — como convencerias o povo serem apenas as tuas verdadeiras?”
Responde o romano: “Senhor e Mestre, tens razão em tudo; apenas a Verdade luminosa faculta ao homem a conquista da verda- deira liberdade interna. Quanto às provas e milagres por Ti operados diante de pagãos ignorantes, são necessários para a confirmação de Tua Divindade. A Tua Doutrina sendo transmitida pelos Teus dis- cípulos tão pura como a receberam, certamente será aceita como Verdade pura e viva vinda dos Céus, e a maior prova se dará pelo cumprimento de suas promessas. Naturalmente, levará muito tem- po até que ela seja levada a todos os homens da Terra. Tu, Senhor,
saberás melhor qual o povo preparado para o Teu Verbo.” Respondo: “É isto, Meu amigo, agora julgaste mais acertadamente.”
FALHASDEUMADIVULGAÇÃO OBRIGATÓRIA
(O Senhor): “A semente deitada no solo também necessita de certo tempo para germinar e se tornar fruto maduro. Não deixa de ser prova de paciência para o lavrador ser obrigado a esperar meio ano para poder colher o que semeou, e certamente preferiria semear hoje, e colher amanhã. Facilmente Deus poderia realizá-lo; todavia, a formação espiritual do homem seria pior do que nunca. O egoísta estaria semeando e colhendo constantemente; o preguiçoso cairia em crescente inércia, o que é fácil compreender-se. Por isto, é a Or- dem determinada por Deus para os homens desta Terra a melhor possível e de maior utilidade para o desenvolvimento espiritual.
O que necessita surgir rapidamente, de tempos em tempos, não necessita de meio ano entre o período de sua origem até o pleno estado efetivo, como, por exemplo, o vento, o raio, a chuva e outros fenômenos, que, sendo indispensáveis, têm que aparecer imediata- mente pela Vontade de Deus. Outras coisas destinadas à ocupação do homem têm o seu tempo, portanto igualmente a Minha Doutri- na, exclusivamente trazida por Mim para as criaturas desta Terra, de hoje e do futuro.”
Diz o romano: “Compreendo-o perfeitamente. Imaginan- do que se consegue a Vida Eterna da alma pela ação de Tua Doutrina e sabendo do prejuízo de milhares que a desconhecem, desejei a divulgação rápida.”
Digo Eu: “Tal desejo honra o teu coração, e alegra o Meu! É bem verdade ser unicamente Eu a Porta para a Vida Eterna da alma de todos, e quem crer em Mim e agir segundo o Evangelho, recebê-la-á.
Ontem, porém, viste e falaste com a alma de teu pai e de vá- rios amigos, podendo observar sua maneira de viver no Além. Asse- guro-te receberem igualmente a transmissão do Meu Evangelho, por
parte de muitos anjos. Quem quiser ouvi-lo e aceitá-lo como norma de conduta chegará à bem-aventurança; todavia, não tão facilmente como nesta Terra, onde o homem trava verdadeiras batalhas com o mundo, com sua carne e muitas outras coisas, com toda paciência, renúncia, meiguice e humildade.
Por isto, não te aflijas por quem quer que seja no grande Além; Amor, Sabedoria e Misericórdia de Deus agem também lá. Quem nelas se agarrar e se modificar não se perderá; quem não o fizer em vida, tampouco no Além, não deve se queixar do mal que atraiu. Estás satisfeito com esta explicação?”
Retruca ele: “Sim, Senhor e Mestre, pois corresponde a to- das as exigências do sentimento razoável e é plena de consolo para nossas almas. Todo amor e gratidão a Ti, hoje e sempre.”
OROMANOCONVERTESEUS AMIGOS
Nisto se apresenta um empregado de Marcus, trazendo reca- do ao romano por parte de vários amigos interessados pelo sanatório, ao qual ele deveria voltar como incurável, segundo opinião deles. Ele então Me pergunta como proceder, pois não queria denunciar-Me perante os hóspedes.
Respondo: “Quanto aos teus amigos e conhecidos, podes fa- lar de Mim confidencialmente, e explicar-lhes como se deu a tua cura. Caso acreditarem, melhorarão; do contrário, continuarão com as moléstias. Exigindo falar-Me, faze-lhes uma contraproposta, no que o empregado de Marcus te ajudará. Contudo, insistindo, dei- xa que venham; mas diante de judeus, fariseus e outros sacerdotes, nada fales de Mim. Podes voltar ao sanatório, para não despertar a atenção a tua demorada ausência.”
Quando lá chega, o romano é prontamente abordado pelos amigos, que o bombardeiam com perguntas. Ele então diz: “Calma, observai-me com atenção e dizei-me o que achais.”
Todos o fitam demoradamente e um romano de Tyro diz: “Pareces estar perfeitamente são. Que aconteceu, se ontem teu es-
tado de saúde não prometia cura tão breve? Acaso descobriste em casa de Marcus um médico melhor que os três do sanatório, ou achaste outra fonte curadora? Conta-nos as minúcias, para também nos curarmos.”
O outro então relata tudo que viu e assistiu. Os amigos dão de ombros e o primeiro diz: “Amigo, isso é mais difícil de ser aceito do que as fábulas do politeísmo. Já ouvi falar dos estranhos feitos de teu Deus, que igual a todos, nascera de mulher e também morrerá como qualquer um; todavia, vi confirmada minha antiga convicção tirada de livros acerca de homens importantes e célebres.
A divinização de tais homens é fato remoto, e entre nós cir- cula o ditado não haver homem célebre sem bafejo divino. O mes- mo certamente se dará com teu Deus, que consta ser galileu.
É dotado de talentos e capacidades raríssimos, desenvolvidos em qualquer escola antiga, realizando coisas fabulosas, pelo que me- rece todo louvor; representar-se por isto como deus é algo ridículo e jamais agradará a pessoas inteligentes. Com prazer deixaria que me curasse mediante remuneração combinada; considerá-lo deus em virtude da cura não é possível, muito embora aceitável sua religião. Quem quiser aceitar como verdade o que acabas de relatar, que o faça e viva feliz nesta crença até morrer; de minha parte, dificilmente participarei de tal felicidade.”
Diz o juiz romano: “Sois homens de várias experiências e deveríeis estar mais aparelhados na aceitação da Verdade. Em toda parte as criaturas acreditam em um ou vários deuses; mas ninguém poderia afirmar ter visto tal entidade, para poder chegar a uma con- clusão própria como fiz.
Se não fordes capazes de crer que um homem a quem obede- cem todas as forças e elementos, e que é servido pelos gênios celestes, é realmente Deus — compreendo como será difícil a divulgação de Sua Doutrina pura.
Acaso já vistes um deus mais real, a fim de poderdes julgar se Este de Quem vos falei é Verdadeiro ou não? Podeis crer o que quiserdes — eu continuarei em minha fé até o fim da vida e rece-
berei a Vida Eterna, tão certo quanto a sinto neste instante, e certa- mente conseguirei acentuar essa sensação sublime.
Quem poderia ser Deus verdadeiro: um inventado, confor- me temos número elevado, todos mortos, dos quais ninguém até hoje sentiu o menor efeito — ou um homem real, diante de cuja palavra e vontade poderosa se curvam todos os elementos de Céus e Terra?
A meu ver, é tal Homem Deus, do Qual todos os sábios ju- deus e outros profetas profetizaram Sua Encarnação nesta Terra, res- tituindo-lhes o que perderam pelo ódio, amor mundano e domínio.
Ele aqui está, doutrina e age segundo as profecias. Por acaso não deveria eu crer naquilo que não conseguis, por motivos fúteis? Lastimo a todos cujos olhos da fé não se deixam abrir.”
A tais palavras do juiz, os amigos nada sabem retrucar, pois Eu havia inspirado o coração dele. Somente no terceiro dia lhe foi possível despertar-lhes a fé, levando-os junto de Mim, e assim re- ceberam a cura. Sumamente gratos, ficaram mais um dia conosco, e Raphael tinha oportunidade de fazer-se professor. No quinto dia partiram após o desjejum, cheios de fé e gratidão, voltando a Tyro, outros a Sidon, de saúde perfeita.
PERSASEHINDUSSÃOSALVOSPOR RAPHAEL
Durante os cinco dias que passei em companhia dos romanos convertidos em casa de Marcus, nada ocorreu de maior. Demos pe- quenos passeios pelos arrabaldes, onde curei alguns enfermos, e no segundo dia Marcus empreendeu grande pesca, a Meu Conselho, obtendo resultado mui farto.
No sexto dia, aproximou-se de manhã cedo um barco. Como sempre, estávamos reunidos na praia antes do desjejum, observando as cenas matutinas; Raphael explicava as causas dos fenômenos, para alegria de todos, com exceção de Judas.
O mencionado barco trazia persas e hindus, e enfrentava certa dificuldade devido às enormes vagas. Os barqueiros eram de Gadara, conhecedores da margem perigosa, razão por que manobra-
vam a uns cem metros, a fim de descobrirem ponto mais apropriado para aportar. O forte vento continuando sem cessar, eles faziam sinal pedindo socorro. Marcus então pergunta o que fazer caso, por mo- tivo qualquer, Eu não quisesse operar milagre.
Respondo: “Até tomarmos o desjejum, podem os persas e hindus suportar as ondas, inclusive seus animais e apetrechos de magia; quando voltarmos à praia, veremos como proporcionar-lhes ajuda.” Incontinenti, entramos para tomar o desjejum.
Passada uma hora, dirigimo-nos novamente à margem, onde o barco se encontrava na mesma situação. Eis que dei um aceno a Raphael, que a fim de não chamar a atenção dos recém-vindos, toma um bote e se aproxima rapidamente do navio.
Os barqueiros, admirados de sua coragem, indagam: “Que queres aqui, menino frágil? Acaso pretendes ajudar-nos? Então a situa- ção não será promissora, porquanto não tens corda nem fateixa. Como hás de enganchar nosso navio pesado em teu bote e levá-lo até a praia?”
Responde Raphael: “Será minha incumbência. Se quiserdes e confiardes em mim, poderei socorrer-vos; achando-me mui fraco para tanto, pedi socorro de algum outro.”
Diz um marujo: “Demonstra-nos tua arte e força, pois ne- cessitamos delas com urgência; do contrário, sucederá uma calami- dade.” Prontamente, Raphael agarra uma viga que se salientava do navio e o conduz velozmente à praia; esta manobra secundada pela vontade dele impele grandes massas de água à margem, de sorte que o navio não toca a maré baixa, portanto não sofre dano.
A tripulação e os passageiros ficam admiradíssimos com a força incompreensível do jovem, que manobrava com a fúria dos elementos como se fossem gotas de orvalho tocadas pela suave brisa da manhã. Quando se encontram em terra firme, começam a elogiar a destreza de Raphael, que tocava ao milagroso, e perguntam quanto lhes cabia pagar.
Diz ele: “Não preciso de vosso pagamento; encontrando algum pobre, mais necessitado que vós, aplicai-lhe amor e miseri- córdia.” Todos se admiram, e os próprios estrangeiros observam ser ele jovem curioso.
O fato havia feito grande alarde e todos os empregados de Marcus se aproximam para saber o que sucedera. Uma vez informa- dos, afirmam: “Quando Céus e Terra se unem através do Senhor, os milagres quase se tornam fatos naturais; mas tão logo Ele voltar acima de todas as estrelas, haverá grande falta de ocorrências tão extraordinárias na Terra.”
Em seguida, os passageiros trazem a bagagem à terra e se in- formam como poderiam prosseguir viagem até alcançarem o grande Mar. A Meu Mando, Raphael os encaminha para tanto, sem denun- ciar ser ele mais que simples mortal. Chegando a Tyro, chama-lhes a atenção sobre Quem os havia salvo tão milagrosamente. Natu- ralmente querem voltar para conhecer-Me em Pessoa, oferecendo grandes somas de dinheiro. Nisto, Raphael desaparece diante de seus olhos, e se encontra entre nós.
VIAGEMDOSENHORPARA GENEZARETH
Assim aproximou-se o oitavo dia de repouso em casa de Mar- cus; ele e os discípulos, então, Me perguntam por que havia passado tanto tempo em completa calma, caso nunca visto.
Explico: “Há dois anos e meio trabalhamos dia a dia, sem in- terrupção, de sorte que a Minha Doutrina já foi divulgada por toda parte; portanto, era preciso respeitarmos um verdadeiro repouso de sábado, dando-vos tempo para várias anotações.
A partir de agora terminará o repouso. Atingiremos o tempo justo das grandes tempestades e em menos de meio ano se apresen- tará o maior temporal que abaterá o Pastor, e muitas ovelhas de Seu Rebanho se dispersarão por todo o mundo, sendo perseguidas por causa de Meu Nome, de um ponto do orbe a outro. Quando isto acontecer, compreendereis perfeitamente por que agora descansei por vários dias.”
Minhas Palavras entristecem a todos, e Maria diz: “Senhor, foi-Te dado todo Poder, inclusive sobre Satanás; não permitas que as tempestades venham atingir-Te.”
Respondo: “Somente Eu entendo essas coisas; por isto, nada mais faleis a respeito. É preciso que a morte e o julgamento do mun- do e de sua matéria sejam eternamente vencidos.” Todos silenciam e Marcus, a fim de alegrar-Me, tenciona trazer mais vinho.
Entretanto, digo: “Amigo, deixa-o por ora; estamos supridos de sobra. Manda preparar um bom barco, pois dentro de uma hora tenho que partir para Genezareth, onde está o Meu amigo Ebahl. Quem quiser poderá acompanhar-Me. Meus discípulos, Kisjonah, Maria e Philopoldo devem vir Comigo.”
Todos se põem de pé e dentro de uma hora partimos. A tra- vessia do Mar Galileu durou cerca de três horas e atracamos na ense- ada conhecida como Lago Genezareth. Lá encontramos os pescado- res de Ebahl, que não obstante ocupados desde cedo, poucos peixes haviam pegado em virtude da maré alta.
Ao passarmos por perto, faço parar o nosso navio e pergun- to do resultado da pescaria. Os pescadores respondem: “Amigo, há dias que o lago está inquieto e, neste caso, a pesca nada promete. Os depósitos do patrão estão vazios e ele se vê obrigado a mandar buscar peixes de outros locais, para poder satisfazer os inúmeros hóspedes. Se fordes a Genezareth, vereis a dificuldade tremenda.”
Digo Eu: “Atirai mais uma vez as redes ao mar, que tereis motivo de satisfação.” Neste instante, vários Me reconhecem e excla- mam: “Toda gratidão e honra a Ti, Senhor! Perdoa-nos a cegueira, pois deveríamos reconhecer-Te desde o primeiro momento, por- quanto já nos abençoaste com Tua Santa Presença, há um ano atrás. À Tua Palavra poderosa, certamente faremos rica pescaria, e Ebahl saberá imediatamente Quem foi o Grande Pescador.”
Em seguida, atiram as redes ao mar e a pesca é tão abun- dante que mal pode ser guardada em navios e botes. Terminada a tarefa, seu júbilo é intenso, tomando a vanguarda de nossa frota em direção a Genezareth, onde os espera Ebahl com seu pessoal, na expectativa de boa pesca, tanto mais quanto sua filha Yarah tivera um sonho no qual Me vira com Meus discípulos e amigos chegarem por mar. Quando Ebahl avista a pesca abundante, ergue as mãos
para o Céu e diz: “Minha filha, esta alma tão pura, teve uma visão real. Eis uma Bênção do Senhor, nosso Deus! Todo louvor e honra Lhe sejam dados.”
Em seguida, pergunta aos pescadores se não Me viram em um navio ou em qualquer praia. Eles apontam os navios ainda a certa distância e dizem: “Eis que Ele vem com todos os amigos. Que grande benefício sucede ao local com Sua Chegada.”
Imediatamente, Ebahl manda os familiares e empregados tratarem da grande sala de jantar, onde Eu e os que iria determi- nar poderiam entrar. Ele mesmo toma um barco, em companhia de Yarah, para irem ao nosso encontro. Enorme é a alegria de ambos quando percebem ao Meu lado Maria, Raphael, Kisjonah, Philopol- do, João, Pedro, Jacob e o velho Marcus. Ebahl e Yarah passam para o Meu barco, entregando o outro aos marujos.
Em poucas palavras relato os fatos principais de Minha Ação durante a viagem doutrinária. Entrementes, chegamos à mar- gem, na qual os pescadores ainda se acham atarefados em guardar os peixes nos depósitos.
Ebahl, então, diz: “Senhor, perdoa eu ter esquecido de agra- decer por este enorme presente!” Acrescento: “Não é preciso; sabes o que por Mim é considerado na criatura. Continua como és, que sempre terás motivo para alegrar-te de Meu Amor, Misericórdia e Amizade. Vamos à nova sala, para abordarmos outros assuntos.”
AREFEIÇÃOEMCASADE EBAHL
Todos se admiram da suntuosidade do salão, cuja construção havia sido feita por arquiteto grego. Tomamos lugar na grande mesa, que comporta umas cem pessoas, e Ebahl faz servir pão e vinho, enquanto a refeição estava sendo preparada.
Yarah, firmemente ao Meu lado, palestra com a Mãe Maria e o arcanjo Raphael; a este pergunta certas explicações de sonhos vivos, e Maria se espanta de sua inteligência e a trata com todo ca-
rinho. Ebahl, à Minha direita, pede lhe sejam dados os nomes de alguns discípulos desconhecidos.
Entrementes, os filhos e servos trazem os pratos e Me agrade- cem pela consideração de Minha nova visita. Eu os abençoo, e eles voltam a seus afazeres. Havia grande número de hóspedes forastei- ros, pois desde Minha primeira permanência, a antiga Genezareth insalubre se havia transformado em local de cura, mormente o pra- do por Mim abençoado especialmente. Em seguida, Ebahl pergunta qual o Meu plano para a tarde.
Respondo: “Meu amigo, dentro em pouco apresentar-se-á bastante trabalho, que nos ocupará até a noite, e tu mesmo Me lou- varás sobremaneira. Por enquanto fiquemos nesta sala, que a tarefa virá a nós, dispensando irmos à sua procura.”
Durante meia hora os discípulos fazem conjecturas acerca do problema acima, julgando tratar-se de um caso farisaico, ou então teria Herodes enviado seus asseclas para a Minha captura ou dos adeptos de João.
Nisto entra um empregado de expressão confusa, razão por que Ebahl dele se aproxima e diz: “Benjamim, meu velho, que me trazes? Teus olhos não denunciam coisa agradável.”
Diz ele: “Meu patrão, realmente o fato nada de agradável tem para ti e teus hóspedes. Conheces o novo capitão romano, para aqui transferido há poucas semanas. É uma vassoura nova que pretende exceder-se, a fim de aumentar seu prestígio. Através de seus fiscais, soube da chegada do grupo ilustre, que naturalmente deveria ser-lhe declarado, isto é, sua procedência e motivo da viagem, e se cada um pode legitimar-se. Esta declaração foi esquecida por causa da grande alegria com a Chegada do Salvador, razão por que o romano está alterado e te espera lá fora.”
Irritado, Ebahl retruca: “É deveras estranho não haver nesta Terra um dia inteiramente feliz, mesmo para um homem honesto e devoto, pois logo se apresenta um demônio tratando de envenenar-
-nos a vida.”
Digo Eu: “Meu amigo, não te aborreças. Não fosse esta Terra destinada por Deus para local de provação, no qual o homem terá que se exercitar na paciência, meiguice, humildade e amor, no ca- minho da completa renúncia até alcançar o pleno renascimento es- piritual — Eu não teria vindo Pessoalmente para preceder-vos com o exemplo mais real e verdadeiro. Caso queiram as criaturas desta Terra se tornar filhas de Deus, para toda Eternidade, como foi por Raphael exemplificado, têm que suportar os recursos determinados por Deus para finalidade tão sublime. Agora vai tratar com o roma- no, para que sejas o primeiro a se convencer da grande tarefa que nos espera.”
AREFEIÇÃOÉINTERROMPIDAPELO ROMANO
Quando Ebahl procura o capitão, é prontamente recebido com expressão furiosa, acompanhada das seguintes palavras: “Que modos são esses de se considerar as minhas ordens? Talvez ignoras as consequências de seu não cumprimento? Por que deixaste de me mandar a declaração imediata da chegada dos forasteiros e se po- diam ser aceitos por determinado tempo?”
Responde Ebahl: “Senhor e soberano, desde que executas tuas ordens nesta cidade, com severidade incomum, nunca recebi reprimenda por desconsideração de tuas ordens; desta vez deixei de fazer as declarações não por má vontade, mas porque esqueci de cumprir os meus deveres, em virtude de minha enorme alegria com a chegada dos melhores amigos, e creio não pedir em vão, caso peça condescendência.”
Diz o capitão: “A lei desconhece considerações. Infringis- te a minha ordem, por esquecimento ou má vontade, o que não vem ao caso, portanto és sujeito à punição. Por seres primeiro cida- dão, transformarei a punição corpórea em multa. Se não cumprires minha exigência, farei prender os teus filhos como reféns até que resolvas pagar a importância. A multa monta a mil libras de ouro e dez mil libras de prata, e tem que ser paga dentro de três horas.
Finalizei a questão contigo. Irei concluir minha função com teus amigos. Vamos.”
Ebahl se abala com a multa inescrupulosa, cuja importân- cia ultrapassa suas finanças; mas confia em Mim. Por isto, conduz o capitão e seus subalternos à sala, que ele faz cercar com soldados. Ainda estávamos alegres à mesa quando o romano entra cheio de ódio e diz com arrogância: “É cada um responsável por si, ou há um chefe para todos, como acontece entre viajantes?”
Digo Eu: “Sou Senhor Único e Verdadeiro para todos. Que mais desejas de nós, após exigência desumana e injustificável pela lei de Roma? Pretendes cumular-nos de castigos semelhantes?”
Retruca ele: “Os que são sujeitos a ti são impunes; tu, porém, que pareces ter pouco respeito pela autoridade, pois proferiste mau critério acerca de minha sentença, terás que pagar a mesma impor- tância que Ebahl, dentro de igual tempo. Exemplificarei nos judeus as leis de Roma.”
Digo Eu: “Mas que será, se não pudermos e quisermos cum- prir tua exigência injusta? Onde está escrito que um capitão romano tem o direito de fazer extorsões em países amigos como se fossem inimigos? Apresenta-Me a procuração dada pelo próprio Imperador ou de seu Prefeito Cirenius. Caso não a tenhas, enfrentarás Alguém que abriga em Si a máxima Autoridade. Se não a tivesse, não falaria deste modo contigo. És aqui um mandão orgulhoso, duro e quase insuportável; todavia, existem outros acima de ti, com os quais os oprimidos encontrarão maior justiça do que contigo. Apresenta tuas prerrogativas a Mim ou a Cirenius, do contrário Eu apresentarei as Minhas.”
Algo perplexo com o rigor de Minhas Palavras, o capitão diz, após alguma reflexão: “Não tenho procuração por escrito, por- que meu cargo a dispensa; cada capitão está sujeito ao juramento de fidelidade para com o Imperador e o exclusivo bem de Roma. Mantendo a minha atitude dentro destes dois pontos, ninguém po- derá chamar-me à responsabilidade. Onde se encontra, pois, a tua procuração?”
Diz ele: “Pensas ser um romano um coelho medroso que prontamente fugiria diante de uma raposa judia e ladina? Nunca! Um romano é leão a fazer caça a todos os animais!” Com isto, ele dá sinal a um empregado, que abre a porta pela qual se precipitam uns trinta soldados armados até os dentes. Eles circundam a nossa mesa, enquanto o capitão diz com voz estentórica: “Vê, judeu pleni- potenciário, eis meu poder efetivo que vos prenderá até que tenhais cumprido a minha exigência. Conheces este poder?”
Respondo: “Sim, romano orgulhoso e ainda mui cego, como teus asseclas e soldados — de há muito conheço tal poder. Mas, desta vez, pouco resultado te dará. Por Me teres demonstrado a agudez de tuas armas, também farei demonstração de Minha Oni- potência, apenas do tamanho de um átomo, e perceberás não seres tu o Meu, senão Eu para sempre o teu senhor.
Esta sala é muito espaçosa e alta, e sete homens não atingem o teto, sendo seu comprimento de vinte e a largura de doze homens. Quero que flutueis, com as armas pesadas, no meio do salão, e vere- mos de que vos adianta vosso poder severo qual leão. Enquanto não desistires de tua exigência injusta, feita a Ebahl e a Mim, não pisarás em solo firme. Que se faça o que disse!”
UMMILAGREDOSENHORACALMAOS ROMANOS
Quando termino de falar, todos os romanos se acham flu- tuando no meio da sala, e como perdessem base sólida e equilíbrio, em breve se encontram de cabeça para baixo em virtude dos movi- mentos de reação; um vento forte que entra pela grande janela os impele de uma parede para outra, sem que se pudessem socorrer. Alguns tentam atirar as armas contra nós, mas que também ficam dependuradas.
Após meia hora em que o capitão e seus asseclas passam nes- sas posições incômodas, pergunto-lhe: “Que opinião tens de Minha Onipotência? Não achas ser o leão de Judá mais poderoso que tua
procuração romana, que denominaste também de leão, a fazer caça a todos os animais, e não fugia qual lebre diante de uma raposa ladina da Judeia?”
Brada ele lá de cima: “Peço-te, chefe de todos os magos ou semideuses, liberta-nos desta posição insustentável, que sustarei a referida indenização; vejo claramente que todo o poder terreno não poderia sustentar uma competição contigo. De maneira alguma vos importunarei e silenciarei deste caso qual pirâmide egípcia. Pode- reis permanecer nesta cidade o tempo que vos agradar, sem serdes molestados.”
Retruco: “Analiso o teu coração e vejo não seres inteira- mente sincero com tuas promessas; Meu Poder sendo maior que o teu, atenderei o teu pedido, e o solo será vossa base firme.” Todos recebem posição ereta e lentamente descem à terra.
O capitão despacha os soldados e ordena que os guardas vol- tem às tendas, enquanto ele se senta com seus ajudantes em uma pequena mesa para tomar algum pão e vinho. Em seguida vira-se para Ebahl: “Tu e teu amigo onipotente podeis nos proporcionar isto, em paga da desistência da multa. Se me tivesses avisado algo do poder deste homem peculiar, não teria feito minha exigência. Quem poderia supor que entre teus supostos amigos se encontre mago tão poderoso?
Senti grande pavor e mereço este conforto; além disto, tenho vontade de entrar em palestra amigável com ele.” Quando os roma- nos se reconfortam, criam coragem a ponto de o capitão querer se dirigir a Mim. Seus empregados, porém, o impedem, porquanto não é aconselhável privar com magos especiais antes que estes o desejem.
ARESSURREIÇÃODA CARNE
Como já tivéssemos passado bastante tempo à mesa entre- tendo-nos com assuntos úteis, os discípulos indagam se podiam di- rigir-se para fora. Respondo: “Para hoje, o trabalho que nos espera com a sua parte mais difícil é mais importante que o ar livre, pouco
aprazível em Genezareth. Ainda assim, querendo tomar ar fresco, podereis fazê-lo. Eu ficarei aqui.”
Respondem eles: “Senhor, ficaremos onde estiveres. Somente em Tua Companhia há bem-estar; sem Ti só há julgamento, perdi- ção e morte.”
Digo Eu: “Então ficai onde imperam o Reino de Deus e Sua Vida Eterna do Espírito; pois Eu Mesmo sou a Verdade, o Reino de Deus, a Ressurreição e a Vida Eterna. Quem crer em Mim receberá a Vida Eterna, pois o despertarei no seu dia mais recente. Quem ficar em Mim pela fé e o amor ter-Me-á consigo, e deste modo já possui a Vida Eterna e jamais verá, sentirá e provará a morte. Ficai, com vosso e por vosso amor, Comigo.”
Pergunta Ebahl: “Senhor e Mestre, a maioria dos judeus acre- dita em uma ressurreição também da carne, no Vale Josafath. Acho isto algo estranho. Primeiro, porque são poucos enterrados naquele Vale; segundo, que acontecerá com os corpos dos que nunca ouvi- ram falar dele, morrendo alhures, às vezes são queimados ou enterra- dos? Terceiro, que sucederá naquele dia com os que foram tragados pelas águas ou estraçalhados por animais ferozes? Quando virá o Dia do Juízo Final, tão funebremente descrito pelos fariseus?
Como vês, Senhor, não podem tais coisas ser aceitas pela ló- gica humana. Somente a superstição mais tenebrosa e sem capaci- dade de raciocínio de judeus atrasados e pagãos pode considerar tais absurdos. Ao pesquisador prejudicam e lhe tiram a fé em uma Reve- lação puramente divina, na imortalidade da alma e na ressurreição da carne no Dia do Juízo Final. Como compreendê-lo?”
Digo Eu: “Não considereis os ensinamentos dos fariseus. O corpo, dado à alma para instrumento de ação externa, não será despertado no Vale Josafath nem em parte alguma nesta Terra para unir-se à psique no dia do Juízo Final. Quanto à Ressurreição da Carne, representa esta as obras feitas pela alma através de seu corpo.
O Vale de Josafath refere-se ao estado da calma interna da alma, quando seu proceder foi sempre justo. Nesta calma, não per- turbada pelo amor do mundo, desejos e paixões, mas semelhante a
um espelho d’água — no qual podes ver os reflexos de zonas distan- tes ou próximas — existe o início do verdadeiro e mais recente Dia da alma, e seu despertar pelo Meu Espírito dentro dela para a Vida Eterna, através da ressurreição.
Em tal estado, a alma percebe os bons frutos de suas obras e começa a alegrar-se cada vez mais com eles; nesta percepção con- siste a verdadeira ressurreição da carne.
Aliás consta: É deitado no solo um corpo mortal e perecível que ressuscitará, imortal e imutável. Se ligares isto a teu corpo físico, cairás em grande erro; relacionando-o às boas obras da alma, como corpo real, chegarás à Verdade. Toda e qualquer boa obra feita pela alma através de seu corpo em benefício do próximo passa como tudo nesta Terra e morre após a ação; pois se nutriste um faminto, saciaste um sedento, vestiste um desnudo e libertaste um preso, tais ações somente perduram por algum tempo. Em seguida caem em esqueci- mento teu e de quem as recebeu, portanto foram levadas à sepultura e, como mortais e perecíveis, semeadas no solo do esquecimento. No dia verdadeiro e mais recente da alma, a boa ação será despertada pelo Meu Espírito dentro da alma, não na forma passageira, mas na do fruto de duração eterna.
Qual será seu aspecto? Uma zona de habitação da alma, maravilhosa e dotada de tudo, na qual ela se elevará de grau em grau no aperfeiçoamento bem-aventurado. Segundo as obras de uma alma na Terra, servirão elas no Além como zonas habitáveis. Eis a verdadeira ressurreição da carne. Crê e cumpre tais normas, pois a Verdade é esta.”
Considera Ebahl: “Isto soa deveras diferente do que falam os fariseus ignorantes diante do povo, e assim o intelecto também pode concordar, recebendo um conhecimento novo e grandioso. Da carne que serviu à alma na Terra, não haverá um átomo que com ela ressuscite no Além?”
Respondo: “Como substância da alma eternamente viva pelo Meu Espírito, não, porque ela mesma se tornou puro espíri- to. Quanto à silhueta de sua forma, mormente no que se refere à
vestimenta, as partes etéreas da alma dentro do físico serão com ela unidas em pureza espiritual. Do corpo grosseiro, nem um átomo. A ele compete o que cabe a toda matéria telúrica, que igualmente será dissolvida em elementos mais evoluídos, assim como de início ela foi concatenada de elementos da Natureza muito mais inferiores e de graduação mais ínfima.
Os elementos já desprendidos da matéria grosseira podem com o tempo se tornar almas humanas; detalhes desta esfera enten- derás somente quando tua alma se encontrar no mencionado Vale Josafath. Por isto, encerremos o assunto. O capitão e seus ajudantes assistiram a esta explicação com muita atenção, sem algo entende- rem; por isto nos importunarão com sua sapiência grega, obrigando-
-nos a bastante paciência.”
INDAGAÇÕESFILOSÓFICASDO CAPITÃO
No mesmo instante, o romano se levanta e se dirige ama- velmente a Mim: “Mestre poderoso em tua esfera oculta de artes e ciências, nas quais submeteste todos os poderes da Natureza à tua vontade! Assisti, com atenção, vossa polêmica e deduzi pertencerdes ao culto judaico, que contém seus prós e contras e no qual os sacer- dotes se emaranharam muito mais prejudicialmente que os nossos.
Seja como for, pareces estar mais entendido que o culto ami- go Ebahl. Não entendi tua afirmação segundo a qual te dizias o princípio básico de todo ser e vida, que eras a Verdade e a Vida Eter- na, e quem cresse em ti e te amasse jamais sentiria e veria a morte. Além disto, serias o indicado a despertar as almas à vida eterna no Dia do Juízo Final, e outras coisas mais. Acaso é este teu modo de falar, ou serias realmente o que afirmas? Não sou leigo na sabedoria grega e poderias falar-me para te conhecer mais de perto.”
Digo Eu: “Senta-te com teus subalternos a esta mesa, e veremos o grau de vossa assimilação.” Em seguida, prossigo: “Fala abertamente o que desejas saber. Não toques no assunto ventilado com Meu amigo Ebahl, porque o teu raciocínio não o assimilaria.”
Algo encabulado, o capitão não sabe que perguntas for- mular. Após certo tempo diz: “Mestre poderoso, em que escola con- cluíste teus estudos?”
Respondo: “Na Minha Própria, e desde Eternidades; pois antes que se encontrasse um ser no Espaço Infinito, Eu existi com meu Espírito preenchendo o Infinito eterno.”
Arregalando os olhos, ele retruca: “Acaso é teu interior maior que teu corpo? Falas sem nexo. Como entendê-lo? Que pre- tendes dizer com isto?”
Respondo: “A plena Verdade; mas como em ti ainda não há verdade, não podes compreender a Verdade primordial. Revelar-te-
-ei um detalhe. No início de todo início e antes de existir qualquer ser, era o Verbo. Este Verbo estava com Deus; pois Deus Mesmo era o Verbo, e tudo que existe e preenche o Espaço Infinito, do qual os vossos sábios já falavam, foi criado pelo Verbo e não há o que não fosse por Ele criado.
O Verbo Eterno agora aceitou a carne e veio como Ho- mem junto dos homens deste mundo, e eles não O conhecem. Tam- bém és homem e não descobres o Verbo Eterno em Mim, por seres cego de coração. Nunca leste os profetas dos judeus?”
Responde o romano: “Sim, como outras coisas mais; mas quem entende aquilo? Nem vossos sacerdotes, muito menos eu. Es- creviam tão incompreensivelmente quanto ora falaste de ti. Percebo eu não conseguir alguma clareza contigo, e caso te agrade, passemos a outro assunto. Em que país nasceste e qual é tua nacionalidade?”
Retruco: “Eis Minha Mãe; palestra com ela.” Ele se dirige a Maria, que lhe relata minuciosamente a concepção e tudo que se relaciona a Mim milagrosamente, até os doze anos.
Os três romanos estão perplexos e não sabem como enqua- drar-Me. Não têm fé nos deuses e muito menos no Deus judaico; se- guiam a filosofia de Epicuro, e uma divindade era-lhes um absurdo. Eis que descobrem em Mim Predicados divinos, mas não sabem como po- dem se relacionar a um homem mortal. Por isto, o capitão diz: “Gran- de senhor e mestre, morrerás fisicamente ou viverás para sempre?”
Respondo: “Falta pouco tempo para que Eu, como ora sou, volte de onde vim, onde os Meus estarão Comigo para sempre.” Pergunta ele: “Quem são eles e onde está o local para onde voltarás dentro em breve?”
Digo Eu: “Os Meus são os que em Mim creem, Me amam e cumprem os Meus Mandamentos; o local não é terreno, mas o Próprio Reino de Deus, por Mim fundado entre os homens e em seus corações. Este Reino da Vida verdadeira e eterna não se alcança pelas estradas cômodas do mundo, senão por uma trilha estreita que se chama humildade, paciência, renúncia a todos os prazeres mun- danos, e completa entrega à Vontade de Deus, Único e Verdadeiro.”
Diz ele: “Como saber-se a Vontade de Deus, e quais são teus mandamentos seguidos pelos teus?” Respondo: “Minha Vontade é a Vontade de Deus, e Meus Mandamentos são os de Deus. Quem executa a Minha Vontade e cumpre os Meus Mandamentos cami- nha pelo caminho justo, para o Reino de Deus.”
Nisto, o capitão se levanta e se dirige a um discípulo para ouvir sua opinião a Meu respeito. Este responde: “Todos nós O con- sideramos pelo que diz de Si. Ele é o Senhor, nós, Seus discípulos. Nele habita a Plenitude de Deus; não há outro senão Ele.” Nova- mente, o romano volta junto de Mim.
CONSIDERAÇÕES NEGATIVAS
Sentando-se ao lado dos seus ajudantes, o capitão indaga qual o parecer deles sobre Minha Pessoa, após terem ouvido as afirmações acima. Um deles responde: “É difícil formar-se critério. Do poder extraordinário de sua vontade, tivemos uma experiência real e dis- pensamos outra. Acontece termo-nos apartado da ideia e da fé em um ser poderoso, porquanto os nossos deuses apenas são nulidades para qualquer mente esclarecida. E agora nos deparamos com um deus verdadeiro em figura de homem e não sabemos o que deduzir.
Muitos comentários ouvimos em Bethlehem e Jerusalém a respeito desse homem, e pensamos ser ele um deus ou talvez mago
importante, como surgem da escola essênia. Mas o que aqui assis- timos ultrapassa tudo até hoje visto. Termina qualquer magia para apresentar-se um poder divino. Acresce a isto o fiel relato de sua mãe com relação ao nascimento e de sua vida, durante a qual nunca necessitou aprender algo, porquanto veio ao mundo dotado da má- xima sabedoria. Eis o nosso parecer, e creio não estar errado.”
Obtempera o capitão: “Não posso contestar-te, todavia te- nho as minhas objeções. Caso aquele homem me convencer de algo diferente, aceitarei a tua opinião.” Virando-se para Mim, ele pros- segue: “Grande senhor e mestre, estou quase inclinado a aceitar-te como fazem os demais; entretanto, existem alguns senões. Se conse- guires afastá-los, estarei vencido.
Se dentro de ti habita a plenitude de Deus Único, por que deixaste as criaturas abandonadas por tanto tempo? Afirmas que somente os Teus, que em Ti creem, Te amam e cumprem os Teus Mandamentos, receberão a vida eterna no Teu Reino celeste. Se as- sim é, e tudo que existe foi criado pelo Teu Poder, inclusive os ho- mens que jamais Te conheceram sem culpa própria — qual será o seu destino? Não Te conhecendo, não podiam amar-Te tampouco cumprir os Teus Mandamentos — como será a sua situação psíquica após a morte?”
OCONSTANTEZELODEDEUSPARACOMAS CRIATURAS
Digo Eu: “Amigo, adquiriste algum conhecimento através dos filósofos da Grécia, mas nunca te inteiraste dos antigos livros dos egípcios, e quanto às Escrituras dos judeus, leste apenas alguns trechos, sem entendê-los.
Quem ora por Mim Se dirige a ti falou igualmente ao primei- ro casal, dando-lhe os mesmos Mandamentos que repito, porquanto esquecestes as Leis de Deus Verdadeiro; os homens dotados do livre arbítrio deixaram-se tentar pelo mundo e suas seduções, abandona- ram Deus, entregando-se aos prazeres. Deste modo obscureceram as suas almas e obstruíram seus corações.
Em todas as épocas enviei os mensageiros dos Céus para que instruíssem os homens; apenas alguns os consideraram, pois a gran- de massa nada queria ouvir. De tempos em tempos, inspirei homens e jovens que ensinavam o povo e se esforçavam a reconduzi-lo à anti- ga Verdade. Apenas alguns prestaram ouvidos, porquanto a maioria os perseguia, os martirizava e até mesmo os matava.
Igualmente, não deixei de afligir o povo por demais perver- tido, através de grandes e pequenos castigos e julgamentos. O resul- tado foi temporário e apenas em alguns; em breve o espírito do mal tomava o Meu lugar. Quando Moysés no Monte Sinai transmitiu, sob raios, trovões e fogo, as Leis dadas por Mim, o povo no início ouviu com medo e temor as palavras ouvidas à longa distância; mas tão logo se acostumou à revelação, pouca importância lhe deu. Além disto, cansou-se dos constantes ensinamentos e Me pediu Eu revelar somente a Moysés a Minha Vontade para o povo total, que haveria de segui-lo. Entrementes, os judeus se afastariam do Monte Sinai, onde os acontecimentos os atemorizavam, para erigirem suas mora- das em um vale afastado.
Após muitas súplicas, foi-lhes concedido tal pedido; não de- morou e o povo começou a se esquecer de Mim e das maravilhosas cenas no Sinai, fundiu um bezerro do muito ouro trazido do Egito, dançando a seu redor e lhe prestando veneração divina.
Avisei disto Moysés e o enviei ao povo, completamente esquecido de Mim, e o fiz castigar como foi por Moysés descri- to. Voltou novamente para Mim; todavia, sempre havia muitos que se deixavam seduzir pelas tentações mundanas, infringindo as Minhas Leis e pecando contra a Minha Ordem. Fora preciso Moysés determinar sanções temporárias para manter o povo den- tro da ordem.
Quando posteriormente o povo foi reconduzido à Terra Pro- metida, dela tomando posse como se a tivesse recebido de Minhas Mãos, tornou-se culto através do regime de sábios juízes que se en- contravam em constante união Comigo, e deste modo cresceu e tor- nou-se poderoso, e sua abastança era a maior entre todos os povos.
Eis que ficou insolente e começou a observar a pompa de outras nações dominadas por regentes mundanos. O antigo brilho material o ofuscou, querendo também usufruir de tais vantagens; insatisfeito com Meu Regime, pediu por intermédio de Samuel, ple- no de Meu Espírito, um soberano, cometendo pecado mais pesado.
Caiu, portanto, cada vez mais profundamente, conquanto Eu nunca deixasse de adverti-lo à penitência e apontar-lhe as consequências que adviriam pela teimosia. Agi deste modo até agora e atualmente vim em Pessoa para junto deste povo. Observa os inúmeros judeus que, em vez de Me aceitarem e amarem pela fé — pois sempre Me apresentei Qual sou através de milagres inéditos — Me odeiam e Me perseguem, procurando aprisionar-Me e matar este Meu Corpo.
Se por Mim sempre houve o maior desvelo para a educação espiritual dos homens — como podes perguntar-Me pelo motivo de Eu somente agora Me aproximar das criaturas a fim de fundar o Reino de Deus, ou seja, o Reino da Vida eterna, entre os pou- cos aceitadores? Pesquisa os países por ti conhecidos, cujos habitan- tes ainda sejam capazes de aceitar a Minha Doutrina, e informa-te se até mesmo nesta época não foram instruídos acerca de Minha Vinda e Ação.
Em outros países, por ti desconhecidos, pessoas de incli- nação espiritual têm visões do que ora aqui acontece. Somente em esconderijos ocupados por homens animalescos a notícia de Minha Vinda não pode penetrar, porque estão longe de poderem aceitá-la; com o tempo também serão encaminhados à Verdade. Vês por aí ter sido tua pergunta tola. Se pretendes continuar nas indagações, aborda outros assuntos, mais úteis à tua evolução.”
O CAPITÃO PEDE ORIENTAÇÃO ACERCA DO GLOBO TERRESTRE
O romano queda pensativo, inclusive seus ajudantes, e leva tempo até que um dos presentes dirija apenas uma palavra ao pró- ximo. Eu também silencio; mas a atenção de todos está voltada para
Mim. Finalmente, um forte vento interrompe o silêncio, e o capitão pergunta a Ebahl se aquilo foi um trovão.
Responde Ebahl: “À beira-mar, mormente nesta enseada, tais fenômenos são comuns; quanto a este golpe de vento semelhante ao trovão, poderia ter outro sentido, por causa da Presença do Senhor so- bre todas as coisas em Céu e Terra. Somente Ele poderá informar-te.”
Encorajado, o capitão se volta para Mim: “Senhor e Mestre, segundo Teu discurso, deduzi que acolhes o Espírito da Divinda- de Suprema. Sem Tua Vontade, nada pode acontecer, surgir, agir, subsistir e desaparecer; e quando algo sucede, o motivo é de Teu Conhecimento. Como, portanto, surgiu esse golpe de vento e qual sua finalidade?”
Respondo: “Meu amigo, levará tempo para assimilares a ori- gem e finalidade do vento; pois enquanto tuas ideias acerca da forma e natureza do globo forem errôneas, não conceberás a origem básica dos fenômenos.”
Retruca o romano: “Quem, além de Ti, poderia revelar-me a forma verdadeira do planeta? Conheces as nossas noções a respeito; por isto, procurei orientação junto aos escribas, cuja resposta foi de- veras confusa. A explicação recebida pelos essênios acerca da Terra, Lua, Sol e estrelas não aumentou o meu conhecimento. Por isto, eu e meus colegas pedimos explicação exata, caso for de Tua Vontade.”
Digo Eu: “O Sol está prestes a desaparecer, e o tempo seria curto para satisfazer vosso desejo.” Insiste ele: “Senhor e Mestre, se não Te desagradasse, prestaríamos a maior atenção durante toda a noite.” Digo Eu: “Muito bem. Eis este adolescente, de há muito Meu servo eficaz, que poderá satisfazer vossa exigência. De sua ação e discurso percebereis o Meu Poder dentro dele.”
Prontamente, Raphael se dirige aos três romanos, dizendo: “Para os demais, o assunto não necessita ser repetido; vamos ao ar livre a fim de estudarmos o problema.”
Raphael conduz os três romanos a um grande terreno, onde os militares costumavam fazer seus exercícios, estando abandonado à noite. Lá chegando, ele lhes diz: “O caminho pelo qual alguém pretenda chegar a um conhecimento maior e importante é sempre duplo: o primeiro é longo, cansativo e difícil, através de explicações intermináveis; o segundo, curto e eficaz consiste em exemplos, e será por mim empregado.”
Obtempera o capitão: “Será algo difícil proporcionar-nos um exemplo daquilo de que carecemos toda e qualquer noção.” Respon- de Raphael: “Isso compete a mim, porque tenho o poder para tanto, dado pelo Senhor; prestai atenção a tudo. Demonstrar-vos-ei o pla- neta total, isto é, sua superfície em tamanho adequado a poderdes facilmente abranger com a vista.”
De pronto, flutua um planeta de circunferência correspon- dente ao tamanho de três homens, diante dos olhos dos romanos estupefatos. Sua própria iluminação proporciona visão favorável, po- dendo ser tudo vislumbrado. A esfera gira em torno de seu eixo, natu- ralmente muito veloz, a fim de facultar análise rápida. Todos os con- tinentes, inúmeras ilhas, mares, lagos, rios, montanhas e vales eram nitidamente visíveis e prontamente reconhecidos pelos romanos.
Após uma hora de estudo atencioso, no qual Raphael tudo explica em palavras concisas, os três romanos exclamam: “Quão ig- norantes são os homens e que noções absurdas alimentam quanto à Terra que os sustém e alimenta.”
Concorda Raphael: “Tendo alcançado a justa noção do orbe total através desse exemplo, demonstrarei sua relação com a Lua, o Sol e demais planetas. Ficará localizado mais acima e em correspon- dente distância surgirá a Lua como seu acompanhante.” Nem bem termina de falar, surge a Lua; primeiro, a parte dirigida à Terra; em seguida, o lado oposto, não faltando as explicações necessárias.
Manifesta-se o capitão: “Que mundo triste comparado à nossa Terra. Os que habitam somente a parte voltada para nós não
podem chegar a conhecimento maior, em virtude de sua moradia tão pobre, e além disto dispõem de pouco tempo pela ordem dispa- ratada da Terra para poderem estudar, comparar e deduzir as neces- sárias experiências. Devem ter semelhança com símios.”
Responde Raphael: “Enganas-te muito, conquanto dê tal im- pressão ao teu raciocínio. Não ouses chamar um habitante da Lua para uma polêmica, pois levarias a pior. Os filhos desta Terra têm muitas experiências e conhecimentos externos; todavia, lhes faltam os da vida interior, muito mais importantes.
Os habitantes da Lua se acham em forte introspecção, pela qual também conhecem os do orbe, sentindo pouco agrado con- vosco por vos terdes afastado demasiadamente da Verdade interior, em virtude de inclinação e zelo pelas coisas materiais. Afirmam que sois almas mortas. Neste caso, estão em grau superior aos símios da Terra.”
Diz o capitão: “Se assim é, retiro minha opinião e te peço mil desculpas.” Prossegue Raphael: “Voltemos ao assunto. Ficamos conhecendo a Lua; antes de entrar em explicações quanto à relação de Terra e Lua com o Sol, dir-vos-ei os nomes dos planetas. Exis- tem alguns que fazem parte deste Sol, recebendo todos luz e calor. Limitar-me-ei aos que já conheceis pelo nome, fazendo que surjam diante de vossos olhos. Eis Mercúrio, planeta mais próximo do Sol.”
Imediatamente, os romanos avistam esse planeta e se ad- miram de sua semelhança com a nossa Terra, e Raphael lhes dá as devidas explicações. Em seguida aparece Vênus, e após Marte, visto com algum receio. Percebendo tratar-se de um planeta parecido ao orbe em vez de um deus guerreiro, logo se habituam. Então aparece Júpiter com suas quatro luas, causando grande admiração aos ro- manos. Raphael lhes dá as explicações necessárias e em seguida faz surgir Saturno, que desperta maior admiração, levando o arcanjo a estender-se nas orientações.
Prossegue Raphael: “Não basta saberdes noção diversa da an- terior, é preciso compreenderdes as relações entre os planetas e o Sol. Farei surgi-lo em tamanho diminuto, e vedes uma esfera bastante grande, circundada por forte brilho leitoso; não podereis ver sua força integral de luz, portanto basta saberdes representar essa esfera o Sol.
O brilho luminoso é a própria atmosfera desse planeta, que o envolve em todas as direções. No próprio Sol, milhões de vezes maior que esta Terra, sua luminosidade é muito maior. Dissiparei por momentos essa luminosidade para verdes como realmente é o sólido corpo solar, percebendo ter sido ele criado pelo Senhor para outros múltiplos fins, que não apenas iluminar e aquecer os demais planetas.”
Os romanos se aproximam da parte revelada e observam com grande atenção o astro-rei, recebendo explicações por parte do ar- canjo. Quando, passado um quarto de hora, se integraram de sua or- ganização, habitabilidade, função, efeito e relação junto aos demais planetas, cuja organização correspondente se destaca em certos anéis solares, Raphael diz: “Agora vem o ponto principal, prestai aten- ção. Se o assimilardes, podereis libertar-vos do conceito errôneo pelo qual julgais ser a Terra o centro em cujo redor tudo se movimenta, isto é, Sol, Lua e estrelas seriam obrigados a fazerem diariamente a viagem pelo mar, de um polo do Céu a outro. Eis a esfera solar, e agora darei a devida posição aos planetas por vós conhecidos, em tamanho e distâncias relativas, em linha reta e externa à esfera.”
Assim, os romanos veem primeiro Mercúrio, Vênus, a Terra e os outros planetas em certa distância e tamanho, no que são obriga- dos a caminharem bom trajeto à beira-mar, até chegarem a Saturno. Além deste, percebem à longa distância alguns pontinhos luminosos e pedem explicação.
E Raphael diz: “Já vos disse, existem outros planetas além dos mencionados. Não vos dizem respeito, por enquanto; no futu- ro serão descobertos e descritos por homens especializados. Existe
também grande quantidade de pontinhos luminosos entre Marte e Júpiter, que tampouco vos interessam; serão igualmente descober- tos no decorrer dos tempos. Querendo orientação mais detalhada, dirigi-vos aos discípulos do Senhor, iniciados em todos os segredos do Céu estelar. Em Kis, onde mora o grande publicano Kisjonah, encontrareis um grego chamado Philopoldo, que com alguns digni- tários romanos também é orientado de tudo. Dele podeis aprender muita coisa. Voltemos à esfera solar, para vos demonstrar as movi- mentações dos planetas com relação ao Sol.”
O arcanjo, então, faz subir o Sol a tal ponto, a poderem todos os planetas girar em seu redor, em relação correspondente, se bem que em tempo restrito. Raphael divide o espaço de uma hora de tal forma que Saturno apenas necessita de uma hora para sua total rotação, e todos os demais planetas se movimentam em tempos ma- tematicamente menores, inclusive as luas, acompanhantes de seus planetas. O espetáculo é deveras excepcional para os romanos, tanto mais quanto Raphael dá explicações precisas e rápidas.
Quando Saturno volta ao ponto de partida, o arcanjo faz com que tudo desapareça, dizendo: “Não mais precisamos de exemplos, porque prestaram bons serviços. Se fostes capazes de compreender e assimilar o assunto, podemos voltar à casa do bom Ebahl.” Chegan- do à sala de refeição, eles encontram todos na ceia. Incontinenti, os romanos Me agradecem por tudo, e Eu lhes digo: “Sentai-vos e, após vos terdes refeito, palestraremos.”
CONDIÇÕESPARAACONQUISTADA SABEDORIA
Terminada a ceia, o capitão pergunta por Kisjonah e Philo- poldo, e Eu respondo: “Ei-los à Minha direita. Ainda terás oportu- nidade de sobra para palestrares com eles. Conhecendo Eu o pro- blema que desejas abordar, será melhor esperar por outra ocasião. Hoje aprendeste o bastante para o extermínio da antiga superstição; medita um pouco, para perdurar na memória e no coração, não se perdendo ao retornares aos negócios do Estado.
O que tu e teus colegas aprendestes agora era do conheci- mento dos homens da antiguidade; quando seus descendentes se inclinaram cada vez mais às coisas mundanas, tornando-se orgulho- sos e dominadores, em breve esqueceram a antiga sabedoria, consi- derando-a desnecessária à subsistência da vida. Era o bastante que certos sábios tivessem conhecimentos a respeito; o povo que tratasse de suas manadas, campos, hortas e caçadas, dispensando ocupar-
-se de assuntos astronômicos. Deste modo, o povo e seus dirigentes embruteceram e se tornaram supersticiosos, conforme ainda são, te- mendo a Verdade e fugindo de sua luz.
Pode-se cuidar das necessidades físicas ao lado dos conheci- mentos elevados; quanto à alma e ao espírito da Vida dentro dela, deveria ser o problema mor de cada criatura; pois ninguém foi posto no mundo para comer, beber e se orgulhar, mas apenas viver segun- do a Ordem revelada por Deus, finalidade única dada por Ele. Se aqui reconquistaste a Verdade perdida em assuntos dos Céus, procu- ra digeri-la pela alma; uma vez firme no assunto, poderás tratar de outros, junto a Philopoldo.”
Diz o romano: “Senhor e Mestre, tens razão em tudo, e per- cebo a imensidade daquilo que Tua Graça me concedeu por inter- médio do jovem. Tão logo tiver assimilado tudo e feito esboços de memória para ensino de outros, procurarei maiores conhecimentos.”
Digo Eu: “Está certo; o melhor de tudo é, primeiro, procurar o Reino de Deus e Sua Justiça, segundo a prática dentro de Minha Dou- trina. Quem o tiver alcançado receberá todo o resto por acréscimo. O espírito da criatura é de Deus; quando se tiver tornado soberano no seu íntimo, em uma hora ensina a alma de modo muito mais eficaz do que na Terra, em mil anos, por meio de professores mui sábios.
Meu Raphael, espírito puríssimo, demonstrou-vos o curto espaço de tempo necessário para vos ensinar assuntos que os ho- mens, com toda sua argúcia, zelo, pesquisa e meditação, nem em mil anos haveriam de atingir nesta clareza e realidade. Pode a alma aprender do próprio espírito muito mais em um momento, que os homens com seu intelecto natural. Considera isto e age de acordo.”
Diz o capitão: “Senhor e Mestre, conheço os princípios de Tua Doutrina: é preciso crer-se em Ti, reconhecer-Te como Deus Único e Verdadeiro, amando-Te acima de tudo e ao semelhante como a si mesmo, seguindo os Mandamentos de Moysés. Quanto às Tuas Normas, são fáceis de cumpri-las. Moysés, porém, transmi- tiu umas tantas leis e determinações difíceis de guardar, entender e cumprir. Será preciso que todos inclinados a receberem o Teu Espí- rito também cumpram tais leis?”
Respondo: “Se reconheces em Mim Deus Único e Verdadei- ro, Nele crês, O amas acima de tudo e o próximo como a ti mesmo, cumprirás tudo que Moysés e os demais profetas ensinaram; não di- vergiam de Minhas poucas Palavras referentes aos deveres dos homens com relação a Deus, muito embora proferissem muitas palavras.
Assim, compete a um capitão romano não exigir de própria iniciativa uma soma em ouro e prata de um tal Ebahl, em virtude de uma falta inocente, importância que, com exceção de Jerusalém e do Templo, não seria possível arrecadar na Palestina, Samaria e Galileia. Em tal exigência não transpira a menor fagulha de amor ao próximo e da Justiça do Reino de Deus no homem, tampouco a jurisprudên- cia romana, provando estares mal orientado em seus princípios.
Se quiseres adotar a Minha Doutrina, terás que modificar tuas ordens rigorosas; pois com elas estarias longe do verdadeiro amor ao próximo, portanto do Reino de Deus, ao qual o conheci- mento astronômico somente não te elevaria. Tudo que o Espaço visí- vel apresenta aos olhos físicos só tem valor para o Reino de Deus no homem quando por ele é considerado e iluminado espiritualmente. Por si só não tem, como matéria, valor para o homem perfeito, se- não apenas para o corpo perecível. Isto te sirva para elucidação.”
Diz o romano: “Agradeço-Te, Senhor e Mestre, por este conselho real e justo, que seguirei à medida do possível. Aparente- mente terei que ser severo, mas no coração haverá outro regime, o que por certo aceitarás.”
Concordo: “Claro, respeita as leis de Roma, dotadas de muitas atenuantes em pequenos delitos. Um juiz condescendente
neste mundo será no outro mundo por Mim tratado com condes- cendência, e o misericordioso haverá de encontrar Misericórdia Co- migo. Em suma, tua medida ser-te-á aplicada.”
Ele o promete, e Eu digo a todos: “Finalizamos a difícil tare- fa anunciada no almoço, podendo contar com três novos discípulos. Já é tarde e convém descansarmos.” Levanto-Me com os apóstolos e vamos a um outro recinto, igualmente Maria com Yarah. Os demais continuam palestrando a Meu respeito, Minha Doutrina e Feitos.
RAPHAELPOSITIVASEU PODER
O grupo, do qual Ebahl, Kisjonah e Philopoldo não se ha- viam apartado, continua com Raphael à mesa, e Jacob, o Maior, fazia o orador, pois Me conhecia desde o Nascimento e sempre es- teve Comigo. O arcanjo, por sua vez, dava explicações referentes aos milagres.
Pela madrugada, o capitão se vira para Raphael, dizendo: “Queira explicar-nos tua própria natureza e qual a matéria usada na formação do Cosmos que empregaste para maior elucidação nossa.”
Responde Raphael: “Sou, primeiro, homem como tu, ape- nas com a grande diferença de eu poder transformar este corpo visí- vel em meu ser espiritual; segundo, há quase quatro mil anos, antes do Dilúvio, vivi na Terra, por muitos anos fiel a Deus. Atualmente sou cidadão dos Céus de Deus e Seu servo para sempre. Meu poder é o Poder de Deus; por isto posso realizar tudo o que o espírito em mim quer. Assim informado, saberás de que matéria formei as coisas do Céu visível diante de vós.
Em todo o Infinito não existe outra substância que a Vontade de Deus. Tudo que vês, ouves, sentes e percebes são Pensamentos de Deus, e caso Ele queira, criam forma. O que a Deus é possível como Espírito Original é igualmente possível ao espírito divino no homem. Deus é em Si o puríssimo Amor, portanto também o mais puro Fogo vital, a Luz mais pura e clara, a Sabedoria mais elevada, logo, o Poder e a Força em máxima potência.
A Ordem mais sábia desse Poder e Força é a Lei eterna, pela qual todas as coisas se têm que guiar; tal lei rege igualmente o físico humano. À alma foi dada livre vontade, e a lei lhe é dada para que a aceite pela ação, atingindo a plena Semelhança divina, razão por que foi criada.
À alma foi confiada apenas uma partícula da Lei de Ordem divina, para este mundo educacional; tornando-se fiel nesta parte diminuta, receberá tarefas maiores, mas apenas quando tiver ad- quirido a maior destreza como se fosse dela própria, no respeito à lei e dentro daquilo que lhe fora confiado. Sem essa capacidade não poderia alcançar a consciência interior de uma emancipação, tampouco a percepção viva daquilo que a Vontade de Deus pode dentro dela.
Dispenso dar outras provas do Poder divino dentro do ho- mem; quando tiveres atingido grande capacidade no cumprimento da Vontade de Deus e na renúncia das coisas mundanas, perceberás a que poder chegou a tua alma.
Somente a prática faz o mestre; por um exercício menor, o homem será eterno remendão e não poderá ser aproveitado para coi- sas importantes e extraordinárias. Poderias, como capitão romano e perito em ciências bélicas, entregar a um subalterno incumbência importante antes de te convenceres de seus conhecimentos?
Deus não necessita convencer-Se por provas e sabatinas das capacidades de um homem; sabe perfeitamente o grau de evolu- ção no aperfeiçoamento de cada alma. Deve ela mesma analisar-se quanto ao seu progresso na renúncia das tentações do mundo e a que grau se unificou à Vontade de Deus. Talvez nela ainda reine a incompetência, ou então já se manifesta algo maestral, e Deus, o Senhor, não deixará de lhe revelar Sua Onipotência.
Observa a maioria dos discípulos do Senhor. Caso quises- sem operar algo através da Vontade de Deus, que já Se tornou pode- rosa dentro deles, um ou outro faria coisas que te admirariam tanto quanto aquilo que fiz. Seu justo amor para com o Senhor e sua ver- dadeira humildade ponderam: ‘Somos ainda discípulos mui fracos!’,
esperando até que Ele lhes diga: Ide aos quatro cantos do mundo, re- velai Minha Vontade às criaturas, e agi em Meu Nome! Então serão capazes, se for necessário, de efetuar as mesmas provas que o Senhor Mesmo e também eu, através da Vontade Dele em mim.
O Poder da Vontade divina não é dado ao homem como se dá o leite à criança; é preciso conquistá-la com violência e através do próprio esforço, inteiramente livre. Fácil é verificar-se tal situação, porquanto o Senhor, ao Qual todas as coisas são possíveis, constan- temente ensina e demonstra aos homens o que devem fazer para se apossarem de Sua Vontade.
O que os discípulos escolhidos por Ele devem efetuar para alcançar a plena Semelhança divina cabe também a todos os ho- mens, caso pretendam atingir o Poder da Vontade divina em sua alma. Demonstrei claramente qual a substância por mim usada na formação das coisas do Céu visível; vedes, portanto, que com o tem- po também sereis o que hoje sou. Agora repousai um pouco, pois a aurora não se fará esperar.”
Os três romanos agradecem e voltam a casa, onde acham tudo em ordem; ninguém consegue dormir, porque a mente ainda estava ocupada e eles não sabem como unir sua profissão à Minha Vontade. Nessas palestras surge a manhã, e o capitão tem que expe- dir suas ordens. Os soldados se admiram intimamente de sua ma- neira amável e dócil, e julgam ter acontecido algo especial; todavia, não dão demonstração a respeito.
AMATANÇADE ANIMAIS
Antes de surgir o Sol, estava Eu com alguns apóstolos ao ar livre, inclusive Raphael. Não demora a aparecerem os outros e os romanos. Fomos à beira da água observando o vaivém das ondas, e os discípulos lavam mãos e pés. Ansiosos, os romanos se dirigem a Mim, a fim de fazerem perguntas. Todavia, lhes digo: “O dia conta ainda dez horas inteiras, durante as quais haverá tempo para respon- der muitas perguntas; agora apreciaremos, com calma, a manhã.”
Conformados, eles também se lavam para refrescar os olhos, que pela vigília necessitavam de conforto. Após uma hora de lazer, dirigimo-nos a um pequeno planalto que facultava boa visão em direção a Oeste. Na margem, bastante coberta de junco, viam-se alguns pássaros aquáticos à procura de alimento na água.
Não contendo a curiosidade, o romano se dirige a Raphael: “Estou plenamente satisfeito quanto à organização maravilhosa de nosso planeta com relação a sua forma e flora; não concordo no que diz respeito aos irracionais em suas condições de vida e atividade. Todos os vegetais são nutridos pelo solo terrestre, pela água e o calor do Sol; somente animais e homens são obrigados e caçarem outros para o proveito de sua carne.
Tal fato embrutece coração e alma da criatura, o que ob- servei em Roma por ocasião das touradas e outras lutas com feras, dentro de jaulas especialmente construídas; tais lutas eram mantidas em Roma e muitas outras cidades para despertarem nos homens a tendência bélica cheia de coragem e intrepidez. De quem teriam os homens aprendido a selvageria da guerra, na qual não se acha um vestígio de amor a Deus e ao próximo?
Vê essa água. Que fizeram os peixinhos para serem devorados aos milhares por essas aves vorazes? Não poderiam todas as espécies de animais se alimentarem de vegetais, como fazem os animais ca- seiros? É preciso que feras procurem alimento entre as manadas pa- cíficas, incitando deste modo os homens a lutas selvagens por meio de crueldades auferidas pela Onipotência de Deus?
Foi o homem obrigado a inventar armas artísticas para poder lutar contra as bestas selvagens. Com isto aprendeu a lutar, a matar e vencer; teria por isto ganho algo para o enobrecimento de seu coração e sua alma? Muito pensei a respeito deste assunto, sem receber solução para este verdadeiro enigma. Sempre dizia: Os sábios deuses sabem por que o permitem. Tu és sábio e poderoso pelo Espírito de Deus em ti; dá-me justo esclarecimento neste problema tão importante.”
Diz Raphael: “Abordaste uma questão deveras importante e poderia dar-te boa resposta; por enquanto não penetraste bastante na esfera do puro espírito e não serias capaz de assimilar a plena Verdade. Asseguro-te estarem os discípulos do Senhor inteiramente orientados nesse assunto, assim como muitos outros, judeus e pa- gãos, e também tu serás levado a uma compreensão mais clara. Ain- da hoje terás oportunidade de louvar Amor e Sabedoria do Senhor também neste problema.
Podes crer ter Ele justamente Se dirigido a essa colina para que, durante a observação da voracidade das aves, surgissem refle- xões em teu íntimo quanto ao Amor, Bondade e Sabedoria de um Ser realmente divino. A vida por si só é luta. Quem poderia, como homem bom e beato, passar à vida sublime e livre do espírito sem ter por ela lutado com todo rigor? E como deveria o homem apren- der a lutar, senão com os perigos que o rodeiam por todos os lados? Foram dados e permitidos por Deus para esta Terra a fim de que o homem os reconheça e os enfrente até vencê-los. Após o desjejum prosseguiremos.”
Terminada a segunda refeição, voltamos ao ar livre, su- bindo uma outra colina mais elevada, da qual não só se avista a enseada de Genezareth, mas também grande parte do Mar Galileu. Neste topo, os romanos tinham uma espécie de forte que permitia avistar-se tudo nas redondezas. A guarda romana ali colocada não admitia visitas, a não ser que fossem acompanhadas pelo capitão e seus ajudantes.
Há vários acampamentos e bancos, prontamente ao nosso dispor pelo capitão. Todos nos acomodamos e observamos as cenas no mar e na enseada. Súbito, ele avista um grande condor vindo da serra em direção à praia, por isto diz: “Eis que se aproximam, como sempre nesta hora, alguns hóspedes indesejáveis em busca de farto almoço. As aves aquáticas não deixam de ser rapinas que se alimen- tam de peixes e vermes; entretanto, seu aspecto não é tão chocante
quanto o de um condor. Qual flecha se atira do alto sobre a presa, prende-a nas garras para depois estraçalhar a sua vítima.”
Quando termina de falar, o condor se precipita no junco à beira-mar, onde apanha um ganso selvagem saturado de peixes. Os gritos da ave presa são espetaculares. Não demora outros condores imitam o primeiro, fazendo com que o romano se revolte; por isto se dirige a Mim: “Senhor e Mestre, não viste ou não quiseste im- pedir que os vorazes condores se apoderassem de aves pacíficas, de maneira revoltante? Acaso deveriam tais cenas horrendas amainar o coração humano e incitá-lo à misericórdia?
Prefiro aceitar o princípio de um sábio da Grécia que ouvi há alguns anos, em Alexandria: A Terra é um ninho de abutres e um vale de sofrimentos para o homem bom; tudo que vê é agravado da eterna maldição dos deuses. Como poderia o homem constante- mente martirizado levar vida elevada e honrar os deuses maldizen- tes? Portanto, deve ele imitar as feras e se vingar no próximo. Que trate de se tornar regente para governar a vida curta, em detrimento dos deuses.
Senhor e Mestre, longe de mim querer afirmar ter o sábio expressado uma tese em benefício dos homens, pois encontrei junto de Ti outro axioma, pelo qual viverei. Mas dize-me Tu Mesmo se o homem natural poderia chegar a outros princípios através de suas experiências diárias. Vejamos os países abundantes em feras; os ho- mens, a fim de não serem devorados, são obrigados a caçá-las. Qual é a sua própria índole? Semelhante à dos animais ferozes.
Observaremos, em comparação, os armênios. Em seu país, um sábio rei havia mandado exterminar todos os animais ferozes, sem poupar gaviões e condores; o povo mantinha animais caseiros e úteis, sendo a lavoura sua ocupação principal. Que povo meigo e pacífico! A quem deve sua índole meiga e boa? Ao sábio rei, que soube limpar seus territórios dos animais ferozes. A Ti, Senhor e Mestre, seria muito mais fácil sanear o orbe todo, e os homens não precisando lutar contra feras, com algum ensino, em breve se asse- melhariam aos armênios.”
Digo Eu: “Meu amigo, dentro do raciocínio mundano, tens razão; no tocante às relações de alma e espírito, por ora inteiramente desconhecidas de ti, exigirias algo de Mim contrário à Ordem nesta Terra. Em um planeta no qual as criaturas têm a finalidade de se tor- narem filhos de Deus, pela alma e o espírito, tudo tem que ser como é. Visão e raciocínio percebem apenas julgamento, perseguição, rou- bo, assassínio, morte, decomposição e perecimento. Tal, porém, não se dá, sendo bem diverso do que pensas.
Primeiro, é o ócio inevitável acompanhante do julgamento do físico para a alma cada vez mais desperta, pelo que unicamen- te poderá alcançar a plena semelhança do Espírito de Deus dentro dela; é realmente o seu maior inimigo, e quanto mais quentes os países procurados pelos homens, tanto mais são ameaçados por este importante adversário.
Caso não existissem em tais países animais nocivos, e a sub- sistência não fosse imprescindível, o homem não se perturbaria com a educação das forças psíquicas. Dentro em pouco assemelhar-se-ia a um pólipo ou à raiz de uma árvore, nada mais fazendo do que ab- sorver os elementos nutritivos da água, da terra e do ar. Eis o motivo principal por que foram dados ao homem toda sorte de incentivos à ação diversa, primeiro do corpo e após da alma, sendo a última de importância primordial.
Quanto ao outro motivo, qualquer pensador o descobrirá. Imagina a Terra como esfera inteiramente uniforme. Em sua super- fície surgiriam apenas córregos, lagos e mares, uns parecidos com os outros, não havendo montanhas. Com exceção do carneiro não haveria outro animal, fora da galinha não haveria outra ave; por toda parte as mesmas espécies de peixes. Do solo cresceria uma só qualidade de erva para alimento do carneiro; somente uma espécie de cereal para nutrição do homem e da galinha; somente uma qua- lidade de árvore frutífera, uma qualidade de árvore para construção de cabanas rústicas; uma só qualidade de pedra, de metal para con-
fecção de instrumentos caseiros. Pergunta a ti mesmo a que ponto chegaria o desenvolvimento das ideias, noções e fantasias humanas em planeta dessa ordem.
Não preciso expor-te o quadro do raciocínio e intelecto des- tinado à evolução; chamo apenas a tua atenção ao estado de educa- ção psicoespiritual das criaturas de tal planeta, que habitam zonas desprovidas de montanhas, cobertas cá e acolá de capim e arbustos comuns, à beira de córregos monótonos e lagos pantanosos.
Conheces zonas tais. Qual é a cultura espiritual de seus habi- tantes? Na maior parte são selvagens, porque pela carência da alma não podem atingir dilatação de seus conceitos, ideias e fantasia, tão férteis para a formação de raciocínio e intelecto.
Observa os que dotaram seu território com toda sorte de va- riedades confortadoras, e verás serem inteligentes, se bem que não na esfera da vida interna da alma e do espírito; todavia, na do in- telecto externo, da razão e fantasia, indispensável caso o homem queira ingressar na formação da vida espiritual. Se quiseres galgar u’a montanha por causa do panorama, preciso é que haja uma, e em tal caso não podes te satisfazer com a metade da subida, mas deves esforçar-te por alcançar o cume mais elevado.
De igual modo, não devem as criaturas de inteligência e fan- tasia satisfazer-se neste ponto evolutivo, mas procurar as culminân- cias totais. Entendes bem o sentido das Minhas Palavras, e com elas o segundo motivo pelo qual Deus dotou esta Terra com variabili- dade tão enorme de coisas, seres e fenômenos, dos quais por ora desconheces até mesmo a primeira linha do Alpha, não obstante tua educação alexandrina.”
A SUBSTÂNCIA PSÍQUICA E SUA GRADATIVALIBERTAÇÃODA MATÉRIA
(O Senhor): “Quanto ao terceiro motivo, conhecido de to- dos os Meus discípulos, irás futuramente conhecê-lo melhor do que ora seria possível explicá-lo. Posso apenas adiantar-te que tudo
dentro do planeta, desde seu centro até sua mais elevada região at- mosférica, é substância psíquica em estado variado, em julgamento férreo ou ameno até determinada época de libertação, motivo por que se apresenta aos sentidos como matéria dura ou macia. A ela pertencem todas as qualidades de pedras, minerais, solo, água, ar e as substâncias ainda livres.
Do reino vegetal na água e da terra, tudo ingressa ao reino animal, onde o julgamento já é mais ameno. A substância psíquica se encontra no período de completa libertação, e a seleção e forma- ção isolada com referência à evolução intelectiva da anterior subs- tância caoticamente mesclada acha-se em variedade mais profusa.
A substância psíquica que no segundo reino fora sujeita a uma grande seleção, em virtude da formação especial de inteligên- cia, é levada a uma crescente fusão no terceiro reino, animal, muito mais variado, por causa da aquisição mais perfeita das inteligências isoladas, mais claras e livres. Eis por que se unem inúmeras partícu- las de inteligências psíquicas dos infusórios de espécie variada, em uma alma maior, digamos, de um verme e inseto, maiores.
Incontáveis almas de insetos de várias qualidades, quan- do libertas de seu invólucro material de ligação, juntam-se em uma alma animal maior, de espécie mais perfeita, até alcançarem ani- mais grandes, em parte selvagens, em parte de caráter ameno; desta última fusão surgem então as variadas capacidades intelectivas de almas humanas.
Quando nasce uma criatura nesta Terra, recebendo físico material para a sua plena emancipação, Deus age mui sabiamente por não facultar-lhe recordação dos estados primitivos aos transitó- rios e isolados, assim como o teu olho não pode diferenciar as gotas isoladas do mar. Se disto fosse capaz, a alma não suportaria a fusão das partículas infinitamente variadas de substância e inteligência, tratando rapidamente sua dissolução, como acontece à gota d’água em ferro incandescente.
A fim de conservar a alma da criatura, preciso é tirar-lhe toda e qualquer recordação através da organização física, até a época de
sua completa união interna com o Espírito do Amor de Deus; tal Espírito é justamente a argamassa pela qual as partículas infinita- mente variadas da alma são consolidadas a uma entidade eterna- mente indestrutível, podendo iluminar, reconhecer e compreender-
-se, e como ser perfeito e semelhante a Deus, louvará o Seu Amor, Sabedoria e Poder.”
COMPOSIÇÃODAALMA HUMANA
(O Senhor): “Qualquer pessoa inteligente e sensível poderá observar em vários fenômenos o fato de ser a conjunção da alma e, correspondente a ela, também o físico, sumamente imprecisa no iní- cio. Considera noções e ideias infinitas e variadas que uma alma de certa educação pode projetar e imaginar — certo ou errado, isto por ora não importa — pois se não fosse concatenada de um compêndio total, não seria capaz para tanto, tampouco um boi ou burro poderia desenhar um castelo e construí-lo.
Se observares os diversos animais, tanto do ar, da terra e da água, descobrirás na maioria capacidade construtiva. Abelhas e outros insetos semelhantes; pássaros, formigas, aranhas e lagartos, camundongos de várias espécies, o castor que constrói verdadeira cabana, raposas, lobos, ursos etc., todos eles efetuam suas moradias segundo suas necessidades. Estuda os animais aquáticos, mormente os crustáceos, que descobrirás capacidade construtora que às vezes desperta grande admiração do melhor arquiteto.
Cada animal, do mais ínfimo ao maior, possui apenas uma capacidade construtora peculiar à sua inteligência simples, conhe- ce o material, que usa sempre de maneira idêntica; em uma alma humana existem todas as capacidades intelectivas de animais, em grande número, das quais pode organizar inúmeras noções e ideias, criando formas novas e importantes.
Assim, pode o homem de alguma educação inventar toda sorte de habitações de várias formas e outras coisas mais, realizando-
-as com sua vontade, inteligência e dedicação. Acaso poderia fazê-lo
se não existissem em sua alma todas as variadas capacidades? Certo que não; pois o animal mais inteligente não tem fantasia, tampouco dom de composição integral.
Em teu íntimo perguntas: Por que era preciso uma alma atingir tais capacidades por caminho tão longo? Respondo: O mais sábio e perito Construtor de todas as coisas e seres sabe melhor por que organizou este caminho para a educação de uma alma perfeita, portanto podes estar satisfeito. Quando estiveres mais aperfeiçoado, assimilarás também o motivo de teu trajeto longo e insípido.
Romanos, gregos, fenícios e egípcios acreditavam na trans- migração das almas e até hoje o fazem, como persas, hindus, sihi- nitas além das montanhas no Levante distante, inclusive um outro povo que habita em ilhas enormes e muitos outros povoados na vasta Terra. Pouco a pouco a Verdade foi, em toda parte, deturpada pelos doutrinadores e posteriores sacerdotes ambiciosos e domina- dores; pois a verdadeira metempsicose não lhes trouxera lucros e juros, de sorte que diziam voltarem as almas humanas aos animais, onde sofriam, mas este sofrimento somente eles podiam aliviar por meio de grandes sacrifícios.”
QUEDADADOUTRINA PURA
(O Senhor): “Perguntas intimamente: Como podia o povo já esclarecido dentro da Verdade deixar-se cegar de tal forma pelos sacerdotes maus e mistificadores? — Nada mais fácil que isto. Os antigos sábios desapareceram do palco da vida e ainda durante a sua existência surgiram certos feiticeiros e adivinhos que positivavam seus ensinamentos com toda sorte de milagres insuflados por um mau espírito, aceitos pelos ignorantes como sendo provas divinas. Deste modo foi fácil desviar-se da Verdade os homens sempre in- clinados a coisas milagrosas, influenciando-os a crerem o que falsos sábios ensinavam em benefício deles próprios.
Muitos desses magos, dos quais em breve surgiram sacerdotes e falsos profetas, entendiam e ainda hoje entendem modificar a voz,
a ponto de se ter impressão de vir à distância, de uma árvore ou ani- mal. Imitavam o timbre de voz de desencarnados, o dialeto, como se surgisse de vegetal, pedra, poço ou animal, com tanta perfeição que qualquer assistente era obrigado a afirmar: É realmente a alma de fulano, aliás homem bom e honesto. Qual seria o seu pecado, levando a sua alma a sofrer dentro de um camelo?
O sacerdote mistificador não se deixava perturbar, pois os ouvintes percebiam uma frase saída do animal: Fui teimoso em que- rer persistir na doutrina dos patriarcas, com toda minha família, e desprezei os sábios e profetas recentemente inspirados por Deus. Com isto pequei e fui preso neste animal, durante dez anos, supor- tando grande sofrimento. Acreditai nos novos profetas de Deus e entregai-lhes uma oferenda de meus tesouros, deixados para remis- são de meu erro. Por intermédio deles, cuja oração subirá a Deus, dentro em breve serei libertado do meu grande padecimento, e vós também, após a morte.
A tal resposta do camelo compreender-se-á que os ignorantes abandonaram a antiga Verdade, começando a crer na doutrina dos falsos profetas. O mesmo se dará após Minha Passagem, se na divul- gação do Evangelho não for aplicada toda prudência.
Deste modo surgiram o politeísmo, paganismo e a crença errônea na metempsicose e outras tantas tolices horrendas. Ain- da que Deus sempre enviasse doutrinadores verdadeiros ao povo ofuscado pela mentira, de nada adiantaram, pois a vontade livre da alma desta Terra tem que ser respeitada, do contrário ela se tornaria animal. Preciso é ter muita paciência com a Humanida- de, deixando que a maior parte consiga melhor conhecimento em outro mundo.
Ai dos falsos doutrinadores, sacerdotes e profetas, que bem conhecem a Verdade antiga e pura, todavia a retêm diante do povo por causa de sua tendência de cobiça e domínio. Não escaparão de Meu futuro julgamento. Nesta Terra eles também possuem livre ar- bítrio, podendo fazer o que querem, até certo tempo. Ultrapassando os limites, Eu Mesmo espargirei Minha eterna Luz da Verdade, qual
raio sobre os homens deste planeta, como ora a ensino e demonstro Pessoalmente. Eis que os falsos doutrinadores, sacerdotes e profe- tas começarão a clamar, procurando ocultar-se diante dos por Mim inspirados e do Poder de Minha Luz. Tal empreendimento e grande esforço serão infrutíferos. Como se fossem animais selvagens, serão atiçados com açoites incandescentes, de um ponto da Terra a outro, não mais encontrando pouso certo, e seu reino e domínio trevoso terão fim para sempre. Acabas de receber, amigo, além do terceiro motivo, ainda outras explicações que todos poderão considerar.”
PROPOSTAPARADESMASCARAROSFALSOS PROFETAS
O romano Me agradece sobremaneira a paciência e o traba- lho aplicado por Mim e diz: “Se tudo que acabaste de explicar ainda não me é tão claro como a um de Teus discípulos, ao menos penetrei no espírito da Verdade, a ponto de considerar esta Terra de outro modo que anteriormente. Apenas há um ponto a considerar: Se tais homens inescrupulosos começaram a trabalhar a massa, uma prova extraordinária vinda do Céu seria o meio mais eficaz para tapar-lhes a boca. Se, por exemplo, o camelo mistificador fosse enfrentado pela alma do desencarnado, dando prova concludente da fraude, duvido que os falsos profetas conseguissem prosseguir.”
Digo Eu: “Poderei acrescentar algo, todavia sem grande im- portância, porque teu recurso sempre foi aplicado a todos os povos, com resultados variados. Enquanto um povo se mantinha fielmen- te na antiga Verdade, uma parte, porém, se inclinava aos tesouros materiais, afastando-se da mesma, teu recurso agia durante duas ou três gerações. Na quarta, ainda mais influenciada na busca dos te- souros mundanos, ingressando por livre e espontânea vontade no amor-próprio, tais meios se tornaram lendários e poucos acredi- tavam neles.
Se posteriormente eram usados de novo, pequeno efeito ti- nham e eram ridicularizados e escarnecidos pela classe prestigiada, e os mistificadores entendidos a fazerem milagres em benefício daque-
les já desfrutavam de vantagens. Durante séculos, a queda dos povos era evidente e provocada por culpa própria.
Atualmente, o recurso por ti proposto para o extermínio de todo engano entre as criaturas veio por Mim, dos Céus mais ele- vados, age há muito tempo junto aos judeus ainda entendidos na antiga Verdade e por várias vezes operou milagres apenas possíveis a Deus, em Jerusalém e muitas outras cidades e lugarejos. Procura saber quantos se converteram por este meio sublime.
Se o recurso mais elevado consegue efeito tão fraco em vir- tude do livre arbítrio, o que esperar-se de algum espírito do Além? Afora isto, é tarefa mui árdua para um espírito feliz aparecer nova- mente neste mundo. Caso o queira, ser-lhe-á por Mim permitido; mas nunca seria induzido para tanto.
Para um menos perfeito não é fácil voltar ao mundo, espe- cialmente no meio de criaturas puramente mundanas, assim como te prontificarias a voltar ao ventre materno, mundo primitivo e mais estreito de todos, para lá organizar qualquer coisa. Por aí, podes fazer uma comparação das condições de vida dos espíritos no Além e dos peregrinos nesta Terra. Um pequeno grupo se acomoda em espaço pequeno; o inverso, dificilmente. Entendeste?” Todos meditam a respeito, enquanto descanso.
Permanecemos na colina durante duas horas além de meio-
-dia; muitos assuntos são abordados e demonstrados por Raphael aos romanos, que os anotaram posteriormente. Voltando a casa, to- mamos a refeição. À tarde continuei repousando. Os discípulos se entretêm a responder várias perguntas do capitão. João e Matheus se ocupam com a escrita, inclusive Jacob, o maior, tomou apontamen- tos, somente organizados no decorrer de alguns anos.
Fiquei em Genezareth durante oito dias, onde chegavam muitos forasteiros de Damasco e outras cidades, privando Comigo e aceitando a fé em Mim. Dispensa menção de tudo que foi dou- trinado e exemplificado, porquanto já fora demonstrado no que as criaturas foram por Mim e Raphael ensinadas. Não somente em assuntos concernentes ao Reino de Deus na Terra, mas também nos
fenômenos naturais, a fim de livrá-los da superstição. Deste modo, em breve criou-se uma importante comunidade em Damasco e ou- tros lugarejos, onde Meu Nome era louvado.
ADVERTÊNCIA PARA A ÉPOCA ATUAL — CONDIÇÕESESPIRITUAISDA ATUALIDADE
No decorrer das mensagens de tudo que ensinei e demonstrei no vasto país dos judeus, a maior parte caiu em esquecimento pas- sados quinhentos anos, ou então foi mesclada novamente às antigas incoerências, de sorte que ninguém mais descobria a pura Verdade.
Foram feitas anotações quase iguais, na maioria por gregos e romanos, nas dez cidades no extenso vale do Jordão (entre as quais se incluem cerca de sessenta cidades habitadas por gregos e romanos, já antes de Minha Vinda e até mesmo após a destruição de Jerusalém e adjacências). Algumas em Esseia (onde há mil e duzentos anos não mais se encontrou vestígios, por ter sido essa seita perseguida pelos romanos cristãos) e na maior parte guardadas na grande biblioteca de Alexandria.
Considerai as guerras devastadoras e as grandes emigrações de que fora vítima metade da Ásia, o norte da África e quase toda a Europa, porque os homens, principalmente os chefes de comunida- des, começaram a deturpar e mesclar a Minha Doutrina pura, que lhes trazia pouco lucro, conforme foi predito pelo profeta Daniel e Meu Apóstolo João, na Ilha de Pathmos.
Então resolvi: Preferindo o antigo e trevoso detrito do mun- do ao Meu Ouro puro dos Céus, assemelhando-vos cada vez mais aos cães que retornam àquilo que expeliram, e também aos suínos ávidos para voltarem às poças onde se sujaram por várias vezes — o Ouro Celeste ser-vos-á tirado e Eu vos deixarei consumar em atri- bulações, aflições e misérias, e a morte será novamente o maior pa- vor na Terra!
Assim foi até a época de hoje. Quase todas as cidades e vilas onde se encontravam anotações de Minhas Ações e Ensinos foram
destruídas e desoladas; apenas os pequenos Evangelhos de João e Matheus foram conservados como documentos genuínos de Minha Passagem, como ensinos morais dos homens de boa vontade. Igual- mente as Escrituras de Lucas e Marcus, à medida que este anotou o que ouviu de Paulo, em poucas palavras, e várias cartas dos após- tolos, das quais muitas se perderam, e a Revelação de João, com alguns erros linguísticos, de pouca importância para quem é guia- do por Mim.
Dos demais ensinos referentes às coisas, fenômenos e sua origem, poucos foram conservados, secretamente; encontrando-se algo da época de romanos e gregos, os claustros imediatamente se apossaram, sem jamais transmitirem uma vírgula sequer à humani- dade sofredora, em sua treva.
Eclipses solares e lunares, cometas e outros fenômenos na- turais, pouco lucro trouxeram aos sacerdotes devido ao seu apare- cimento realístico; todavia, foram aproveitados para anunciadores e transmissores de punições mandadas por Mim para os homens, a fim de que, amedrontados, peregrinassem aos templos que surgiam quais cogumelos, depositando ricas oferendas aos pés dos sacerdotes.
Nas catacumbas de Roma e nos mosteiros da Espanha e Itália, e também na Alemanha, se encontram várias anotações de grande importância de Minha Passagem; ganância, tendência para o brilho e o domínio da prostituta de Babel não permitem sua divulgação, de medo e preocupação de se trair e ser chamada à responsabilidade perante todo o mundo. O desdenhoso motivo sendo evidente, dis- pensa ser elucidado.
Quanto tempo faz que se proibia a leitura dos quatro Evan- gelhos, a História dos apóstolos, de Lucas, as cartas dos apóstolos e a Revelação de João, e em vários países ainda são proibidos? Como se obstinam contra a Luz de Meu Raio científico, que do Levante ao Poente começou a iluminar tudo que existe na Terra — e isto há mais de trezentos anos — cuja Luz brilha cada vez mais, de sorte que nesta época os recintos mais ocultos e secretos da Babel, antigamen- te tão grande e poderosa, ora se acham desvendados.
Perguntais com justiça por quanto tempo ela ainda exercerá seu poder, e Eu respondo: Vede em toda a parte a Luz cada vez mais poderosa de Meu Raio. Como se poderia manter o antigo misti- cismo babilônio, cuja fraude é esclarecida até às menores fendas, ao lado das verdades matematicamente provadas e à disposição de todos, surgidas de todos os ramos de ciência e arte?
Exercerá o seu poder enquanto ainda viverem velhas tolas e supersticiosas e hipócritas beatos se deixando ludibriar pelos pa- dres, enquanto aqueles ainda dispuserem de meios para protegerem o trono da prostituta de Babel, o que somente perdurará por pouco tempo, pois já se tratou de tirar-lhes os recursos para tanto. Isto já aconteceu a muitos que ora, sem pátria e povo, têm de observar como seus trabalhos, esforços e obras nefastas se desmancham em fumaça.
Poderia a noite terrena exercer seu poder se o Sol se encon- tra acima do horizonte? Eis a situação. A Luz se tornou por demais poderosa, e os regentes que anteriormente bajulavam as trevas em virtude de seu fausto começam a compreender sua importância, e caso queiram subsistir, terão que agradar à Luz anteriormente tão odiosa. Se tiverem vontade de guiá-la novamente à treva anterior, o povo o observará e negará obediência, levando-os a grandes embara- ços e até mesmo os enxotará do trono, como já há vários exemplos.
À Minha Vontade não se pode opor teimosia. Isoladamen- te deixo o livre arbítrio de cada um; de um modo geral, sou Eu o Senhor e não considero os poderosos desta Terra. Veio a época da Luz e não pode ser barrada por nenhum poder humano.
OSFALSOSPROFETASDAÉPOCA ATUAL
É também chegado o tempo da pedra angular, rejeitada pelos construtores, mormente dos de Babel. Quem nela bater será dizima- do, e quem for atingido por ela será soterrado, conforme dentro em breve ocorrerá a todos que desprezarem a pedra angular, querendo bajular a prostituta de Babel. Como chorarão e se lastimarão; mas a pedra angular rejeitada não lhes trará socorro.
De há muito venho observando o jogo dos suínos, como na Minha Época faziam os pastores de Gadara com seus porcos. Mas havia dois obsedados nos antigos sepulcros de basalto, pois Gadara era antiga cidade de sepulcros. A quem se assemelhavam os dois, presos por correntes e cordas dentro dos sepulcros, que à Minha Chegada tudo arrebentaram e Me disseram: Que temos a ver Conti- go, antes do tempo? Ambos se semelham ao espírito antigo de lucro mundano, no qual se oculta uma legião de outros, maus.
Como esses espíritos conheciam a Minha Vontade rigoro- sa, pediram permissão de ingressarem nos suínos, libertando deste modo os homens, que Me louvaram, conquanto os gadarenos Me rogassem posteriormente que Eu os deixasse, pois sentiam grande pavor de Mim. De igual modo, o justo espírito do mundo e seu zelo comercial Me elogiará, porque fora liberto, pelo Poder de Minha Luz, da legião de seus espíritos egoísticos que se dirigiram aos suí- nos, todavia encontraram seu fim dentro do mar.
Ao grupo de suínos pertencem todos os servos ultramonta- nos da prostituta de Babel, em virtude de suas tendências imundas, egoísticas e dominadoras, que abertamente se externavam por con- cordatas, missões, breves e excomungações. Eis o que ocorre desde a época de domínio da prostituta de Babel sobre povos e regentes, representando a integração de legiões de maus espíritos nos mencio- nados suínos que começaram a se atirar ao mar, precisamente nesta época, razão por que é certo seu extermínio.
O mar, é a teimosia em querer permanecer na antiga igno- rância, pois procuram perseguir e condenar a Luz que permito seja espargida em todos os ramos de ciência e arte. Eis o mar no qual os suínos serão impelidos pelos espíritos, que de há muito neles se alojaram e onde encontrarão o extermínio total.
Fizeram uma cova para a Minha Luz Original, a fim de ocultá-la diante dos olhos dos homens, mantendo-os na ignorância, em benefí- cio deles. Eu libertei a Luz, e eles se atiram na própria cova destinada a abafar e exterminar a Luz. Se isto ocorre diante de todo mundo aten- dendo aos pedidos expressos, fútil é perguntar-se quando tal sucederá.
Subentende-se não se poder dar isto de um momento para outro, tampouco a noite poderá fugir perante o pleno dia. Tudo tem seu tempo neste mundo e nem o mais talentoso poderia se tornar filósofo e artista de um dia para outro, nem um fruto amadurecer subitamente. Quando as árvores na primavera se tornam suculentas e os botões começam a inchar, é prova flagrante estar próximo o verão abençoado. Algumas geadas pouco prejuízo darão.
O que por Ezequiel foi predito no capítulo 14 com referência ao castigo de Israel e Jerusalém tem relação ao atual falso profetismo que deve e será exterminado. No que consiste e quem são os fari- seus de hoje não precisa ser apontado para uma criatura inteligente. Todo mundo conhece os adversários da Luz, da Verdade e do Amor, vindos por Mim.
Se Eu Mesmo disse aos apóstolos que não devem condenar, amaldiçoar e julgar a quem quer que seja, para não lhes suceder o mesmo partindo de Mim — quem lhes teria outorgado o direito de julgar, condenar e lançar o anátema sobre os que, influenciados pelo Meu Espírito, procuraram e ainda procuram a pura Verdade? Por isto serão atirados à cova, por eles próprios cavada para milhões de inocentes, onde suas más obras serão julgadas sem dó nem piedade, recebendo eles sua paga.
Observa todos os Continentes da Terra e descobrirás o quanto é odiado o falso profetismo da prostituta de Babel entre os povos mais cultos, e qual a consideração recebida pelos seus missio- nários! Não como os jornais a serviço dela o descrevem. Somente entre povos rudes e selvagens poderão se manter por algum tempo. Basta demonstrarem suas tendências egoísticas e dominadoras, ou seja, o lobo em pele de cordeiro — e terá chegado o fim do efeito de sua missão e convém fugirem para salvar a pele.
Quantos já foram enviados para China e Japão, onde há muito ouro, prata e outras preciosidades. Enquanto não descuida- vam da pele de cordeiro, eram tolerados, conseguindo muitos pro- sélitos para a suposta doutrina de paz celeste. Tão logo aquela indu- mentária se lhes tornava por demais incômoda, julgando poderem
agir segundo sua verdadeira natureza, suas intenções eram descober- tas e eles recebiam o prêmio merecido.
Quando a notícia chegava a Babel, eram prontamente santificados com grande pompa, muito embora Eu Mesmo ensi- nara que somente Deus era Santo. A tais santos digo apenas: Não vos conheço e nunca conheci! Afastai-vos de Mim e procurai vossa salvação e paga junto àqueles em cujo nome doutrinastes e agistes. Nunca pregastes e agistes em Meu Nome. Desde vossa infância ja- mais praticastes um ato de caridade ao próximo, por Mim ensinada, abusando do Meu Nome apenas para vosso lucro material, portanto não tendes que aguardar recompensa e misericórdia. Dirigi-vos aos que servistes e pedi-lhes o prêmio.
IMPOSSIBILIDADEDEGUERRAS RELIGIOSAS
Eis o que acontece neste mundo. Na dita cidade santa proli- fera toda sorte de santos esfomeados, e não se sabe dar-lhes destino e onde arrumar-lhes um pequeno paraíso, pois não obstante todas as ameaças de maldições, suas ordens são cumpridas apenas dentro do limite de algumas milhas quadradas. Nem regentes, nem povos mais esclarecidos aceitarão ordens partindo daquela metrópole.
Que mais resta a tais santos preguiçosos e esfaimados senão virarem as costas à sua santidade e procuraram outros serviços, an- teriormente considerados profanos? Julgas que às situações atuais certamente seguirão guerras religiosas? Tal seria o caso, se o res- ponsável em Babel ainda possuísse o antigo poder sobre regentes e povos, e a maior parte da humanidade fosse tão tola e ignorante como há trezentos anos atrás. Os atuais partidários da antiga e tão poderosa Babel estão muito reduzidos, e os homens se acham bastante esclarecidos. Nem o mais simples lavrador acredita que a máquina a vapor no mar e na terra fosse movida por uma alma proscrita ao demônio, e que nos fios telegráficos o diabo saltava de ponta a ponta, a fim de transmitir aos habitantes de todos países as notícias desejadas.
Quantos haveria ainda crentes nas estampas milagrosas? Qual o país onde se queimam os prestidigitadores como sendo feiticeiros, e os leitores da Bíblia e outros livros espiritualistas chamados a jul- gamento inquisitorial, martirizando-os até morrerem? Qual seria o homem de alguma cultura que considerasse indulgências, cerimô- nias fúteis e destituídas de qualquer bom senso, o incenso, estampas abençoadas, sinos e sininhos, velas, relíquias, missas e enterros dis- pendiosos, dias de jejum etc.?
Acompanham-se tais coisas por causa das aparências e pe- las leis um tanto enfraquecidas; crer nelas, nem dez entre mil e estes, não pela verdade, como acontecia na época de superstição trevosa. Se as coisas estão neste pé, como cogitar-se de guerras religiosas de efeito comum?
São poucos os ignorantes para se poderem levantar contra os esclarecidos, conquanto o quisessem. Os esclarecidos, caso fossem atacados, teriam a certeza plena de saírem vitoriosos de qualquer contenda. Ainda assim haverá lutas e escaramuças para humilhação dos regentes que se querem opor à Minha Luz. A partir de agora não mais terei paciência e consideração com tais soberanos, e isto podes crer, porque Eu Mesmo o afirmo.
Vê o país que habitas. Tem forte tendência babilônica por motivos facilmente descobertos, com referência aos regentes. Que experimente arregimentar todo o seu poder e elevar ao trono o “san- to pai.” Se ainda vacilar em proporcionar aos súditos o que por Mim é justo, porquanto segundo Meu Verbo a pura Verdade libertará a todos — participará do destino daquele de quem esperava sua sal- vação. Para um socorro positivo, não dispõe de recursos financeiros. Se confiar na ajuda suposta de um altar e sua imagem sete vezes consagrados, em breve perderá o resto de seu poder. Basta conside- rar as consequências de sua concordata estúpida, e todo estrangeiro responderá: Se te uniste tão fielmente ao inimigo comum da Luz e do amor ao próximo, impossível encetar-se uma ligação amistosa contigo. Que te ajude quem te favoreceu, pois lhe conferiste metade de teu poder em teu próprio prejuízo.
Pensa um pouco se em teu país as consequências mui amar- gas de uma ação impensada não bradarão por toda parte? Urge repa- rar tal erro, do contrário se manifestará o incêndio mortífero e total. Se em uma casa todos os recursos começam a falhar, e os amigos e melhores companheiros lhe viram as costas, nada querendo saber de tal organização descontrolada, como se poderia manter?
Poderia fortificar-se para nova consolidação. Mas para tan- to seria preciso vontade inabalável para desfazer-se do antiquado e deitar base nova e sólida, e edificar rapidamente a casa toda com ajuda de operários bons e conscienciosos, inclusive o telhado, a fim de que todos vejam a construção, dizendo: Agora o antigo edifício completamente desvalorizado conseguiu valor real, podendo-se con- fiar às bases, recintos e tetos. Se a questão fosse empreendida desta forma, não haveria carência de bons amigos internos e muito mais estrangeiros.
OFUTURODAIGREJA CERIMONIAL
De que adianta pregar-se um retalho novo em um paletó ve- lho e roto, a fim de cobrir e proteger a pele contra o vento? Basta vir pequeno vendaval para arrebentar com facilidade o remendo, inclusive uma parte do próprio paletó. Quem protegerá a pele des- nuda contra o frio? Por isso, arruma um sobretudo novo e resistente, enquanto ainda dispões de alguns recursos, e não os desperdices para retalho novo em um paletó antigo, pois mesmo que viessem tempes- tades, não seriam capazes de te prejudicar.
Qual seria o lagareiro que pusesse vinho novo em odres velhos? Que acontecerá com eles quando o vinho começar a fermen- tar? Romper-se-ão e o lagareiro imprudente ficará desprovido dos odres e do vinho. O mesmo terá que esperar um soberano impru- dente que quisesse incluir uma nova constituição em uma antiga. Uma é infalivelmente o extermínio da outra, e o regente perderá tudo: constituição, país e povo, como há muitos exemplos na Euro- pa e ainda os haverá.
Digo-te com franqueza: Quem procurar bajular e lisonjear o dito homem que se diz beato, durante a constante projeção de Minha Luz dos Céus, dentro em breve estará abandonado e sozinho. Quero terminar com a prostituição de Babel, por demais duradou- ra. A partir de então tudo terá que surgir em força e poder novos e perdurar até o fim dos tempos desta Terra. Todos devem se banhar e aquecer na Luz de Minha Doutrina celeste, e Meus verdadeiros se- guidores e amigos entrarão em uma constante comunhão com Meus anjos, portanto Comigo, como foi em época remota.
Intimamente perguntas o que sucederá ao teu país caso os velhos odres se romperem pela pressão do vinho e este for despejado. Digo-te: a situação será mil vezes melhor que agora, em que quase todo homem, de medo do efeito da vacilação demorada e dispendio- sa, não mais confia no irmão honesto, dizendo: Não se sabe como as coisas se desenvolverão!
No momento de um possível rompimento dos odres, aca- barão os grandes consumidores e o Estado se empenhará para que nada seja suprimido aos que serviram a ele e ao povo, através de seu intelecto e cultura. Os vadios e preguiçosos sem profissão, no to- tal ultrapassando um quarto de milhão, na maior parte padres, não mais receberão seus grandes ordenados e pensões; pelo contrário, serão mantidos rigorosamente dentro da dívida do Estado, a fim de que nenhum irmão possa levantar queixa contra o outro.
Em todas as circunstâncias, estou Eu na ponta, e não pode haver desordem, em prejuízo dos que em Mim acreditam. Duran- te este ano terei pequena paciência com o país cuja jurisprudência respeitas. Passando este prazo, não mais terei condescendência, ain- da que nele habitassem muitos dos Meus antigos amigos, com seu amor e fidelidade. Os Meus e os recentemente inspirados devem ser mantidos; os outros, punidos.
Conjecturas o seguinte: Está tudo certo, pois quando o re- gente de um povo se tornou preguiçoso e inepto, preciso é que rece- ba outro, à altura das necessidades materiais e mormente espirituais. Enquanto perdurarem os antigos templos pagãos que se chamam de
Casas de Deus ou Igrejas com seus servos, podendo divulgar entre os ignorantes o formidável efeito de seu serviço eclesiástico, espe- cialmente nos locais de peregrinação e claustros, um novo regime político, de constituição boa e favorável, ou um novo soberano sem- pre correrá perigo de recair na antiga ignorância, tanto mais quanto os padres forem obrigados a viver do ordenado eclesiástico. Se for preciso deixá-los continuarem como doutrinadores do povo, que se- jam pagos quais funcionários públicos. Pelo ministério eclesiástico não deveriam exigir nem aceitar remuneração, e deste modo se teria levantado uma barreira mui eficaz entre os padres sugadores e falsá- rios do povo, terminando com as peregrinações, estampas e outras aberrações religiosas e abusos diversos.
Em parte tens razão, e a situação melhoraria por certo tem- po, porque o padre se dedicaria mais ao ensino popular pelo qual é pago, do que a cerimônias religiosas que nenhum lucro lhe dão. Mas se ele efetuasse seu ofício religioso sem remuneração, o povo ignorante começaria a lhe atribuir maior mérito que para Deus, au- mentando a velha superstição. Aquilo que daria aspecto formidável e pomposo, de nenhum valor para Mim, fortificaria a massa em sua tolice, construindo novo trono para a prostituta de Babel, cujo fim está próximo.
Por isto deixa os padres sugarem o povo, que peregrine e pa- gue as missas dispendiosas. Deixa que confesse e mande celebrar acompanhamentos caríssimos para os defuntos. Que procurem le- gados ou doações, vender dispensas e indulgências. Em suma, deixa que os babilônios se excedam, que o mais cego em breve cairá em si, dizendo: Tal religião deve ser apenas fraude, pois os que deveriam estar convictos da pura Verdade da Doutrina do Cristo demonstram desconsiderarem-na, não acreditam em Deus, sendo falsos profe- tas apenas interessados a encherem seu estômago. Açambarcam pela mistificação, e quando esta não surte efeito, usam uma espécie de coação permitida pelo Estado, e de seu roubo real não proporcio- nam nem um copo d’água a uma alma sedenta. Fora com tais falsos profetas! Fora com os lobos vorazes em pele de cordeiro e fora com
tudo que martirizava, iludia e roubava o povo pobre e ignorante! Acabemos com os templos, os altares, estampas, relíquias, sinos e todos os utensílios de nenhum valor! A partir de agora, nós mesmos analisaremos a Doutrina do Cristo, pedindo que um doutrinador inspirado por Deus a explique, para poder aplicá-la efetivamente, e o justo doutrinador não haverá de sentir necessidades quais forem.
FUTURODAEUROPAEDA AMÉRICA
Eis o que se dá na Itália, ainda há pouco tão ignorante. O mesmo aconteceu há anos na Alemanha, Inglaterra e América do Norte, atualmente empenhada na libertação das tendências contrá- rias à Minha Doutrina original. Eis que muitos exclamam: Mas, Se- nhor, como podes permitir vitórias consideráveis aos confederados com inclinações à escravatura, contra os adversários?
Respondo: Nem tudo é vício nos confederados, e nos outros nem tudo é virtude. Ambas as partes tiram argueiros e traves no olho do outro, varrendo um a soleira da porta do outro, o que, segundo a Minha Doutrina, não deveria ser. Mas quando cada um livrar seus próprios olhos de argueiros e traves e varrer os detritos de sua pró- pria porta, ambos os partidos se entenderão com facilidade.
Tais desentendimentos, grandes e pequenos, entre povos e igualmente isoladamente, são sempre consequência do não cumpri- mento de Meu Verbo. Ninguém deve dizer ao próximo: Vem cá, para eu poder tirar o argueiro de teu olho! e o vizinho responde: Que te interessa o meu argueiro se descubro no teu uma trave inteira? Limpa primeiro o teu, para poderes me ajudar a limpar o meu.
Tais contendas sempre houve e haverá, enquanto os homens não aceitarem realmente a Minha pura Doutrina. Mas o caso da América não durará por muito tempo. Na América do Sul, onde a Babel é representada de pior maneira que em qualquer parte do mundo, surgirá um grande julgamento. A Babel tem que se trans- formar em uma nova Jerusalém, e os suínos dos gadarenos pagãos encontrarão seu extermínio na tumba de sua treva.
Creio ter feito grande revelação para esta época, e quem for capaz de calcular pelos dedos reconhecerá o porquê das situações. Não deves perguntar pelo ano, dia e hora, porque já está diante de todos, sendo obrigados de provar o breve fim da noite quando no horizonte avista as nuvenzinhas iluminadas pelo Sol.
Os homens dotados de qualquer poder deveriam experimen- tar proibir e impedir o surgimento, crescimento e florescer dos vege- tais na primavera, ordenar ao vento e prescrever o caminho ao raio, para se convencerem quão enorme é sua impotência devido à sua ig- norância. O que digo e quero acontecerá, tão certo quanto o Sol terá que surgir pela manhã e se pôr à noite. Não preciso estender-Me, conquanto veja dentro de ti uma pergunta referente à França, com relação à atual irradiação de Luz geral. Digo-te apenas: Sua atitude dificilmente poderá ser contra a Minha Vontade.
AORDEMDA EVOLUÇÃO
Que a França se apresente pró-forma como protetora de Ba- bylon, enquanto no íntimo é adversária da mesma, é bem justo. Com isto detém outros estados e regentes a colaborarem com seu poderio unificado, no sentido de que a antiga treva suba ao tro- no elevado para subjugar ainda mais os povos. Pouco se nota entre os antigos regentes de uma boa e livre vontade em benefício das massas; tudo que fazem é motivado pelas circunstâncias. Se fosse possível livrarem-se por qualquer recurso favorável, não hesitariam a mudar de encenações, e as criaturas seriam obrigadas a dançarem à antiga moda da inquisição.
Destruir, de um só golpe, todas as situações atuais pendentes entre boas e más seria o mesmo que devastar países e povos. Por isto, tudo neste mundo tem que ter seu tempo. Enquanto o vinho novo ainda não estiver inteiramente fermentado, expulsando as impure- zas, não será vinho aromático.
Quem quiser construir casa nova e boa não deve arrasar a antiga enquanto a outra não estiver inteiramente pronta; pois se as-
sim fizesse, onde moraria e quem o protegeria contra as intempéries durante a construção nova? É mais prudente usar-se paletó velho e remendado até que o novo esteja pronto, para não andar desnudo. Deste modo, uma coisa tem que surgir da outra, dentro de Minha Ordem, caso deva ter durabilidade e consistência.
Quando na Terra passei a Minha Doutrina aos homens, o paganismo se estendia em todas as formas sobre o orbe, e o Verbo era apenas uma Estrela matutina na grande treva pagã. A Estrela da Manhã facilmente foi tão encoberta pelas nuvens pesadas dos pagãos que os homens só podiam localizá-la com dificuldade. Uns diziam: Ei-la!, outros: Lá está ela! E acontecia tomarem outras estrelas pela Estrela da Manhã e a honravam. Foi, portanto, fácil ao paganismo poderoso incluí-la a si, e quando inquirido pelo povo, apresentá-la como a genuína.
A Estrela da Manhã encoberta e deturpada também operava milagres em nome de Zeus como sendo Meu Nome, o povo ficava satisfeito e o antigo paganismo continuava com poucas modifica- ções. Minha Doutrina também se manteve incólume e pura entre poucos, não obstante todas as perseguições. A boa semente que caía em bom solo deitou raízes boas e fortes e produziu bom frutos, se bem que secretamente e despercebidamente da prostituta de Babel.
Da Estrela se fez um Sol que surge em todo esplendor, e as nu- vens do paganismo não o encobrirão de tal forma a levar um míope a considerar o dia, noite. A Luz de Meu Reino tornou-se poderosa e ja- mais será afastada pela noite pagã. Eis o que acabo de vos demonstrar.
Assim termino com a advertência amorosa aos Meus amigos de não só lerem esta Revelação, mas tomá-la a sério e acreditar ter sido Eu a lhes dar esta Luz, para consolo de seus corações e esclare- cimento do intelecto psíquico, nada mais pedindo que vosso puro amor e fé viva. Quem puder fazer algo especial a este servo sempre pobre e já idoso, por amor a Mim, receberá recompensa em breve. Amém. Isto digo Eu, o Senhor da Vida e da Verdade. Prossigamos na leitura do Evangelho. Em Genezareth ficaremos mais meio dia, para depois peregrinarmos pelas dez cidades.
Como fora mencionado, fiquei desde manhã até uma hora após meio-dia em Genezareth. Abençoei especialmente os amigos presentes, Marcus, Kisjonah e Maria, que se havia dirigido a Kis, em companhia deste e de Philopoldo, onde ficou algum tempo para depois voltar a Nazareth. Lá relatou aos irmãos tudo que ouviu e assistiu acerca de Minha Missão, com o que se admiraram muito, inclusive outros conhecidos e amigos de José, de Maria e dos três irmãos, carpinteiros e zeladores da casa.
Quanto à sua fé em Mim, vários davam de ombros, dizendo: “Ele faz realmente coisas grandiosas e Sua Doutrina é perfeitamente pura e boa. Caso se manifestar contrário aos templários de Jerusalém, sucumbirá, pois as intenções contra Jesus e Seus adeptos são as piores possíveis. Entre pagãos conta muitos amigos fiéis e crentes. Entre os ju- deus, poucos, que O consideram profeta, todavia não aceitam ser Ele Fi- lho de Deus, conquanto se cumpra Nele o que os profetas anunciaram.
Caso se repetir com Ele o que houve com João Baptista, os poucos judeus Lhe virarão as costas, para voltarem ao Templo e per- seguirem os Seus adeptos. Até então Ele Se manteve forte contra os perseguidores, e esperamos poder finalizar a obra iniciada com ajuda de Sua Natureza divina. Mas o mundo é falso e mau, seus filhos são maus e ignorantes, nada entendendo daquilo que os profetas revela- ram, e tudo leva a crer que a maldade dos fariseus acabe com o justo zelo de nosso Irmão.” Com este parecer muitos concordam, com exceção de Maria e alguns amigos.
Finalmente, um opina: “Se Ele o quiser e permitir, é pos- sível os maldosos porem as mãos sobre Ele, mas não em benefício deles, senão para seu extermínio, conforme se lê em todos os profe- tas. Por isto nos preocupamos inutilmente, pois Ele sabe melhor o que fazer em benefício real das criaturas. Em todas as circunstâncias havemos de crer e confiar Nele como Filho de Deus.”
Com isto, todos concordam e continuam a palestrar acerca de Minha Pessoa, levando muitos em Nazareth a crerem mais po-
sitivamente, pois os Meus próprios irmãos não Me consideravam Aquele que deveriam esperar, razão por que não visitava tão amiúde essa cidade e respondera à sua pergunta de onde o filho de José havia recebido tal sabedoria e poder: Um profeta em parte alguma vale tão pouco quanto em sua pátria. Com isto prossegui viagem e não mais voltei para Nazareth. Após a conversa tida com Maria, a fé se firmou mais e muitos começaram a Me louvar como Messias e Filho de David.
ORAÇÃODO SENHOR
Acompanhado dos discípulos, Ebahl, Yarah e os três roma- nos, dirigi-Me às dez cidades, ou melhor, sessenta cidades que se es- palhavam no Vale do Jordão e nas colinas e montanhas circunjacen- tes. Ao atingirmos considerável colina fora de Genezareth, viro-Me para os companheiros e digo: “Até então Me acompanhastes levados por puro amor, sabendo e crendo Quem vos falava. Permanecei nes- te Meu Amor, que também ficarei convosco, e tudo que pedirdes ao Pai em Mim ser-vos-á dado. Não peçais coisas do mundo, senão os tesouros eternos do Reino de Deus. Todo o resto, indispensável à subsistência, ser-vos-á dado automaticamente.”
Diz o capitão: “Senhor e Mestre, como pedirmos dentro de Teu Agrado, pois o homem pode ser atingido por necessidades várias, querendo dirigir-se unicamente a Ti. Como deve fazê-lo?”
Respondo: “Em todas as aflições e misérias, pedi com pa- lavras simples, no coração, que não tereis pedido em vão. Poucas palavras sem ritual algum, mas silenciosamente, devem ser dirigidas a Mim da seguinte forma:
Nosso querido Pai, que habitas no Céu. Teu Nome seja eter- namente louvado! Teu reino da Vida, da Luz e da Verdade venha a nós e fique conosco. Tua Vontade santa e justa se faça entre nós, na Terra e nos Teus Céus, entre Teus anjos perfeitos. Dá-nos o pão de cada dia. Perdoa os nossos pecados e fraquezas, como também os perdoaremos aos que nos prejudicaram. Não permitas venham
tentações sobre nós às quais não resistiríamos, e liberta-nos de todo mal em que a criatura poderia cair, em consequência das tentações do mundo e de seu espírito maldoso. Teu é todo Poder, toda a Força e Glória, e todos os Céus são plenos dos mesmos, de Eternidades em Eternidades!
Deste modo, todos devem pedir no coração, que tal pedido será atendido se for desejo verdadeiro do coração, e não puramen- te labial. Deus é Espírito puríssimo, portanto deve ser adorado em Espírito e Verdade rigorosa. Se o compreendeste, age de acordo que viverás, como todos que assim fizerem.”
Todos Me agradecem, Eu os abençoo novamente e despeço Raphael, que qual poderoso raio desaparece no Espaço. Os romanos se assustam e continuam a olhar para o Céu, se porventura ainda veem o anjo. Em seguida despeço os acompanhantes e prossigo com os apóstolos pela colina que dava início a uma cordilheira fértil, e dentro de algumas horas chegamos a uma cidade pequena e antiga, cujos habitantes consistem na maior parte de gregos e romanos. Al- guns judeus, completamente degenerados, ali vicejam entre pagãos em um albergue que lhes servia também de sinagoga.
OSENHOREM PELLA
Ao pararmos no albergue, o dono aparece pedindo descul- pas por não nos poder receber. O local é pequeno, e além disto ele não está em condições de nos servir alimentos. No centro da cidade acha-se uma tavolagem grega onde poderíamos ser acolhidos.
Respondo: “Isto sabia muito antes de teres nascido. Vim aqui não por causa dos pagãos, mas pelos judeus. Caso esses não Me quei- ram receber de maneira alguma, saberei o que fazer. Mostra-nos a sala.” Admirado, ele diz: “Amigo, quem és, para me falares desta forma?”
Retruco: “Se soubesses Quem sou, dirias: Senhor, tenho um filho aleijado, no qual muitos médicos experimentaram sua ciência, levando-me à pobreza, enquanto ele sofre cada vez mais. Ajuda-o, pois tudo Te é possível. Como o ignoras, acabo de dizer-te.” A essas pala-
vras, o taverneiro pensa: Como pode esse forasteiro saber de meu filho e que seu padecimento aumenta dia a dia? Virando-se para Mim, diz: “Senhor, já percebi não seres homem comum. Caso te for possível curar o meu filho, tudo farei para demonstrar a minha gratidão.”
Digo Eu: “Leva-Me junto dele, que melhorará.” Dentro do recinto se encontra o moço enfermo rodeado pelos familiares, que pediam a Deus para libertá-lo de sua moléstia. O taverneiro então diz: “Deixai de chorar. Eis um médico estrangeiro que socorrerá o nosso filho, pois creio nele.”
Dizem mãe e irmã: “Se assim é, Deus atendeu nossas pre- ces.” Acrescento: “Sim, Ele as atendeu e Eu exclamo de próprio Po- der e Força: Quero, Meu jovem, que sares e não peques mais. Tuas fraquezas secretas foram o motivo de teu sofrimento.”
No mesmo instante ele é curado e quer deixar o leito, pedin- do alimento. Assim foi, e o taverneiro e seu filho não sabem como agradecer e Me adorar. Por isto digo: “Não percais tempo à procura de palavras de gratidão. Considero apenas o coração e sei o que nele se passa. Agora mostra teu albergue e sinagoga.” Ele nos leva aos recintos da tavolagem, que finalmente serve para todos.
OSENHORNAESCOLADE PELLA
Em seguida, fomos à sinagoga na qual algumas crianças judai- cas eram ensinadas por um velho rabi. Dirijo-Me a ele, dizendo: “Des- ta forma farás desses pequeninos pagãos em vez de judeus. Se pouco entendes da Escritura, como poderiam eles aprender contigo? Deixa o ensino e faze outra coisa, para ceder teu lugar a um competente.”
Irritado, ele responde: “Fui nomeado pela Comunidade, que está satisfeita comigo, e nada tens a ver com meu ensino. Vivemos entre pagãos, e tenho de conhecer, ao lado de nossas Escrituras, seus costumes e hábitos no mundo, ao qual temos que servir ao lado de Deus, que não mais faz chover maná dos Céus.”
Aparteio: “Como os judeus, semelhantes a ti, se esqueceram cada vez mais de Deus e começaram a servir ao mundo, quando
Jehovah mandou o maná dos Céus, Ele permitiu que caíssem no servilismo, ganhando o escasso pão com o próprio suor. Eles se tor- nando mais infiéis que os pagãos, Deus lhes tirará a pouca Luz que têm, para dá-la aos gentios. Como podes ser rabi do Agrado de Deus se hoje ensinas crianças judaicas à modo dos pais, e amanhã aceitas pagãos, passando-lhes noções pagãs, deixando-te pagar por isto?”
Responde o rabi, que começa a Me tomar por pequeno pro- feta, porque lhe repreendo certas coisas que, a seu ver, um homem comum não podia saber: “Que Deus me dê o bastante para não precisar do pagamento pagão, que deixarei imediatamente aque- le serviço.”
Digo Eu: “Há dez anos atrás eras judeu bastante rico em Ephrem, nada te faltando. Por que, já naquela época, davas pre- ferência aos pagãos? Por teres feito aquilo sem necessidade, Deus permitiu tua queda e proporcionou-te o ofício de professor pagão. Além disto, há alguns anos te tornaste rabi, o que foi obra dos pa- gãos amigos e não dos judeus pobres, que demitiram o antigo rabi.
Isto não pode continuar. Torna-te judeu na íntegra, como eras, do contrário serás expulso para dar lugar a um mais indicado. Eu aqui vim para varrer essa cidade a fim de que, se em cinquenta anos a cega Jerusalém for arrasada pelos romanos, se torne para to- dos os Meus um refúgio seguro. Considera o que digo, pois tenho o Poder para tanto.”
O rabi pretende retrucar, mas o tavoleiro o chama de lado e relata o que fiz ao seu filho. Então ele dispensa os alunos, visita o moço curado, para em seguida percorrer todas as casas conhecidas e contar o fato; em breve muitos se dirigem ao albergue a fim de se convencerem da realidade.
ACEIANO ALBERGUE
Quando avistam o filho do taverneiro anteriormente tão en- fermo, os pagãos se enchem de pavor, a ponto de não se atreverem a perguntar por Mim. Um militar romano chega até mesmo a pon-
derar: “Devem ocultar-se nesse médico e seus ajudantes seres sobre- naturais, pois aos homens tal coisa não é possível.” Retornando aos lares sem Me terem visto, o hospedeiro Me diz: “Grande Senhor e Mestre, como seria bom se tivesse o necessário para vos suprir. Não tenho vinho, mas mandarei apanhar algum no albergue grego. Se vos satisfizerdes com pão e carneiro defumado, ficaria muito con- tente. Para amanhã tratarei do resto.”
Digo Eu: “Amigo, não viemos aqui para comer e beber, e nos satisfaremos com qualquer coisa. Quanto ao vinho, não te apo- quentes; podes ir à adega, onde encontrarás os odres repletos. Quem pôde curar o teu filho também saberá encher os odres de vinho. Vai com teus filhos buscar vários cântaros cheios.”
Assim fazem admiradíssimos, conquanto não duvidem do Meu Poder, após a cura do moço. Novamente lhes digo considerar Eu apenas o coração das criaturas. A mulher do hospedeiro obtem- pera: “Este homem deve ser grande profeta, talvez Elias que deveria voltar. Por isto temos que tratá-lo com muita veneração e respeito.”
O marido responde: “Cuida da mesa. Não vem ao caso se é Elias, algo maior ou talvez o Próprio Messias. Cabe-nos satisfazer os hóspedes.” Não demora a ceia ser trazida à sala, onde várias lâmpa- das enfeitam as mesas. Jantamos com alegria, e os apóstolos pales- tram sobre a História dos israelitas, desde o início de sua chegada a esses países, as guerras contra os moabitas e philisteus. O taverneiro, por sua vez, conta o surgir da antiga cidade de Pella etc. Quando ele Me oferece um leito, agradeço, pois havíamos de ficar à mesa para descansar.
OSENHOREOCAPITÃO ROMANO
De manhã cedo, todo o pessoal está de pé para o preparo do desjejum. Levantamo-nos e fomos à frente da casa para apreciarmos a bela paisagem do Vale do Jordão e a cordilheira. Ao entrarmos, a hospedaria estava bloqueada por muitos pagãos, inclusive o referido capitão e o rabi. Vêm em busca de detalhes da cura do moço, sendo
informados de tudo. O romano, finalmente, conjectura: “Um ho- mem capaz de realizar tal coisa sem recursos materiais é um deus. Já assisti a muitos milagres, mas sempre pude descobrir a maneira pela qual eram feitos. Quem seria capaz de encontrar vestígios desta cura?”
Alguns então opinam ter Eu muitos acompanhantes, fato semelhante nos magos, e não sabiam a razão disso. O romano não se deixa perturbar e diz: “Seus amigos por certo não seriam capazes de aumentar Sua Palavra e Vontade, pois nesta cura nada se conse- gue por meio de combinação e entendimento secreto. Todos nós poderíamos dirigir nossa vontade no sentido de curarmos a minha filha atacada de moléstia incurável, sem algo alcançarmos. Se ele o quisesse, ela ficaria imediatamente sã.”
Assim palestram diante da casa, enquanto Eu e os apósto- los estamos à mesa; pois voltáramos pelos fundos e os empregados e familiares receberam ordem de silêncio a Meu respeito. Quando terminamos, digo ao anfitrião: “Faze entrar o capitão com seus aju- dantes, o velho rabi e o hospedeiro grego, que falar-lhes-ei.” Uma vez no recinto, o romano pergunta por Mim e o taverneiro Me aponta, dizendo: “Sempre hei de me curvar diante deste que ocupa minha cadeira.”
Aduz o capitão: “Eu também, meu amigo.” Virando-se para Mim, prossegue: “Grande Mestre, um milagre inédito conferiste a toda essa família, dando-me a prova de seres realmente um deus. Concede-nos a Graça de dizer qual a situação de nossa crença. Es- tudei o politeísmo, os sábios do Egito, da Grécia e de Roma. Mais tarde me aprofundei na doutrina judaica e seus profetas, dificilmen- te compreendidos devido à sua linguagem mística. Palestrei com homens da Europa acerca de fatos sobrenaturais e da sobrevivência da alma. Qual foi o resultado? Tudo, menos o que procurava, isto é, a Verdade convincente e compreensível. Existe a crença em um ou vários deuses, mas dispensa mencionar a confusão concernente à sobrevivência após a morte. O essencial é saber onde está a Verdade.
Observando nossas leis de Estado, de modo geral as mais úteis para todos os povos, parece-me que o politeísmo, se bem que
bastante deturpado, merece a maior consideração. A religião judaica de um só deus dá impressão de se aproximar mais da grande Verda- de, conquanto seja ainda mais anarquizada que a nossa. Basta obser- var as traficâncias inescrupulosas dos fariseus em Jerusalém para se concluir serem eles muito mais ignorantes e maldosos que nossos sa- cerdotes. Certamente poderás esclarecer-me com algumas palavras.”
Digo Eu: “Meu amigo Pellagius, capitão de Pella, Ábila, Go- lan e Aphek, vim expressamente por tua causa, sabendo que procu- ras a Verdade há quase trinta anos, sem encontrá-la. Foi este o moti- vo por que vim, como a Eterna Verdade, de sorte que a encontraste e a Minha Luz te iluminará de tal forma, a te tornares um farol para muitos. Mas tua filha Veronika está enferma; se tiveres fé e o quise- res, ela melhorará.”
Sumamente comovido, o capitão responde: “Sim, Senhor e Mestre, creio como talvez poucos em toda a Judeia e desejo a saúde de Veronika, mais que a minha vida. Todavia, não mereço que entres em minha casa, pois minha alma me diz seres um deus ao qual tudo é possível. Acredito, portanto, na cura de minha filha, caso manifes- tes a Tua Vontade.” Digo Eu: “Fé idêntica ainda não vi no povo de Israel. Que se faça segundo a tua convicção de Minha Pessoa. Man- da trazer a tua filha para que se fortifique com este pão e vinho!”
VERONIKAAGRADECEAO SENHOR
Contentíssimo, o romano manda um empregado buscar a moça, que não obstante deitada, sente-se perfeitamente sã e sem mais delongas deseja levantar-se. Sua mãe a impede, julgando ser este fenômeno a última sensação de vida, à qual certamente se daria o desenlace.
O empregado lhe conta a cura instantânea do filho do hos- pedeiro, e que o mesmo médico sensacional teria pronunciado Sua Vontade a pedido do capitão, efetuando-se o milagre. Deveria a ge- nitora acreditar simplesmente e deixar a moça levantar-se, porque o médico a esperava na casa do hospedeiro, onde ela teria que tomar
o necessário alimento. Veronika se veste rapidamente e com especial cuidado. Queria apresentar-se a Mim como se Eu fora um rei, ao qual pretende oferecer uma taça de ouro. Nem bem entra no recin- to, pergunta: “Onde está meu Salvador, Deus e Senhor?”
Respondo: “Sou Eu! Vem fortalecer o teu coração com este pão e vinho que mandei trazer dos Céus.” Contrita, ela se ajoelha e diz: “Meu bom Salvador, como poderia eu, pagã pecaminosa, agra- decer-Te por esta Graça imerecida?”
Respondo: “Senta-te junto de Mim, come e bebe, para dar forças a teu coração e tua alma. Em seguida falaremos, com carinho celeste, da gratidão unicamente agradável a Mim.” Com expressão belíssima, Veronika posta a taça de ouro à Minha frente, dizendo: “Senhor de todos os senhores, Rei de todos os reis, Deus de todos os deuses, não rejeites esta joia. Sinto em minha alma não estar à altura de Tua Dignidade; considera ser ela ofertada por um coração amoroso e curado por Ti.”
Digo Eu: “Aceito o que Me é ofertado por tal coração e to- marei o vinho desta taça, mas também podes usar o Meu copo para beber.” Servindo-se deste modo, ela diz: “Este vale muito mais que muitos reinados e sinto não somente ter tomado o vinho para o corpo, mas também a força da Vida eterna para a minha alma. Oh, tomai todos vós deste copo, se ainda duvidais da Vida eterna de vossa alma, a fim de vos fortificardes para tanto.”
Ela enche o copo e o oferece ao pai, que o esvazia, o beija e o devolve à filha, agradecendo a Mim. Sentindo o efeito maravilhoso, ele convida a esposa, seus ajudantes e ao hospedeiro pagão a toma- rem o vinho. Imediatamente este se vira para o colega judeu, dizen- do: “Onde o compraste? Nunca tomei coisa semelhante. Para hós- pedes especiais tenho bom vinho na adega, e por várias vezes te servi em caso de necessidade. Dize-me, onde descobriste essa marca?”
Responde o taverneiro judeu: “Será difícil, amigo; pois tal vinho não nasce nesta Terra. Não ouviste o que disse o grande Sal- vador à filha de nosso capitão? Veio do Céu, de Deus, não de vosso deus de fantasia, Bachus, mas do Verdadeiro e Único Deus, cujo
Emissário deve ser este Salvador. Se quiseres maiores esclarecimen- tos, dirige-te ao Mestre, pois sou ignorante e nada disso entendo.” O hospedeiro grego se cala.
ORABIÉADVERTIDOPELO SENHOR
O velho rabi, que ainda não se atrevera a provar o vinho, pede-Me licença para tal. Respondo: “És mais pagão que todos os outros, sem considerares ser impossível servir-se a dois senhores, ad- versários entre si, que obrigam a fazer tudo que ambos exigem. Por acaso seria possível servir-se a Deus e ao dinheiro, a um só tempo? Ainda assim, fazes isto há muito tempo. Transforma o teu coração e toma o vinho da Verdade para que tua alma se ilumine.”
O rabi se serve de uma taça cheia e desata em grande louvor sobre seu especial aroma e Meu Poder. Em seguida exclama: “És re- almente Aquele que todos os judeus e pagãos esperam de há muito. Salve, Filho de David, e salve também a todos os homens desta Terra!”
Acrescento: “Teu discurso foi bom. Mas se repetires um brado aos deuses de Roma, a morte não estará longe de ti! É bom e justo ser amigo de todas as criaturas, judeus ou pagãos, pois tal é Minha Vontade, porquanto irradio o Meu Sol sobre todas as raças. Positivar quem se acha em erro e deixá-lo minguar em sua ignorância, em vez de conduzi-lo ao Caminho da Luz Original, é pior que a atitude de ladrão e assaltante. Lembra-te disto, velho professor, que costumavas ensinar aos judeus o Deus de Abraham, Isaac e Jacob, para em seguida reduzi-Lo na escola dos pagãos. Sê judeu perfeito, ou te torna pagão, caso encontres no paganismo maior conforto para tua alma vacilante.”
Diz ele: “Senhor, sê Misericordioso para com este pecador e perdoa-me os muitos pecados.” Respondo: “De Minha parte te são perdoados. Trata que também as criaturas te perdoem, pois muito prejudicaste as suas almas por causa do teu egoísmo.”
Vira-se o capitão para Mim: “Senhor, repararei o mal para ele, que compreenderá o que fazer para o futuro. Penso não ne- cessitarmos de professor pagão. Não faz diferença se nossos filhos
forem ensinados por professores pagãos ou judeus, e o rabi poderá prosseguir no ensino primário. Quanto à religião, cuidarei que o an- tigo paganismo seja transformado em monoteísmo. Agora Te peço, Mestre Divino e Senhor, nos demonstres o Caminho que os pagãos devem trilhar, pois ainda nos encontramos em plena treva.”
Comecei a doutrinar a respeito do Reino de Deus na Terra como costumava fazer, levando sete horas para tanto, e todos acredi- tavam em Mim, inclusive os que estavam fora de casa, pois ouviam as palavras pelas janelas abertas. Ao terminar, também aqueles par- ticipam do almoço.
OSHABITANTESDEPELLASÃO DOUTRINADOS
Em seguida, encetei um passeio pela cidade em companhia do capitão, curei muitos enfermos e grande massa Me acompanha- va. Entrementes, os apóstolos ensinavam os judeus no albergue. À noite voltei para lá, percebendo que os judeus ainda não compreen- diam por que vim ao mundo com tão grande simplicidade. O gran- de Rei David havia dito: Levantai, ó portas, as vossas cabeças, para que entre o Rei da Glória! Quem é Este Rei da Glória? É o Senhor, Jehovah, Zebaoth!
Eles, os judeus de Pella, nada sabiam que à Minha Chegada alguma porta tivesse sido dilatada. Meus Ensinos e Milagres combi- navam com aquilo que Isaías e Ezequiel haviam predito do Messias. Minha Apresentação entre os humanos não estava de acordo, por isto os apóstolos têm dificuldades na doutrinação. Quando entro, acompanhado dos que Me seguiram pela cidade, os judeus se calam para descobrir algo especial em Minha Pessoa.
Então lhes digo: “A Paz seja convosco! O que procurais em Mim não se apresenta com pompa externa, pois se encontra dentro da criatura. Deveriam os judeus abrir as portas de seus corações com a Minha Chegada e elevar as portas de suas almas. Mas de há muito desconsideram o convite de David. Por isto caíram na prisão babi- lônica, tornando-se escravos de pagãos, e de tal escravidão não serão
libertos, caso não mudem de índole. Eis os pagãos. Dilataram os por- tais do coração e elevaram as portas de sua alma, acima das estrelas. Por tal motivo, a Luz será tirada dos judeus e entregue aos outros.”
Essas palavras aborrecem alguns judeus, enquanto os pagãos exultam com grande alegria. Diz em seguida o capitão aos judeus: “Por que permaneceis aqui analisando os Feitos do Senhor? Vol- tai aos vossos recintos escuros e não ocupeis a sala pequena.” A tal mando, os judeus incréus vão à frente da casa, enquanto os outros desejam palestrar com os apóstolos.
Intervenho, dizendo: “Já ouvistes a plena Verdade por par- te dos Meus discípulos, e não existe outra. Crede e agi conforme ensinaram, que sereis mais intensamente iluminados, em coração e alma. Procurai saber entre pagãos quantos foram curados hoje à tarde, a fim de que fôsseis iluminados através deles, e não inversa- mente. Se bem que a Luz surgiu dos judeus, foram os pagãos que A perceberam antes. Assim, a Luz ficará com eles, caso A queiram. Deixai-vos, portanto, esclarecer pelos pagãos.”
Imediatamente vão à procura dos pagãos entusiasmados com a Doutrina, louvando o Deus de Abraham, Isaac e Jacob, e deste modo a maioria se converte e segue para os lares, onde comenta tudo, começando a compreender os salmos de David. Entrementes, tomamos a ceia, relembrando os acontecimentos da tarde.
OSENHOREOCAPITÃOOBSERVAMA AURORA
Após a refeição, o capitão, a esposa e filha Me agradecem por tudo que lhes havia proporcionado. Digo-lhes então: “Vossa fé vos ajudou, inclusive o amor a Mim e Àquele que habita em Mim, e que ireis conhecer melhor quando o Meu Espírito da Verdade Eterna e Sabedoria plena for espargido sobre vós. Agora ide para casa e des- cansai até de manhã; mais tarde teremos oportunidade de abordar vários assuntos.”
Todos seguem aos lares, comentando ainda durante horas tudo que havia ocorrido. O velho rabi e o hospedeiro grego ficaram em nos-
sa companhia até perto de meia-noite, especialmente ventilando a in- credulidade dos judeus, que deveriam estar mais próximos da Verdade.
No final, o rabi diz: “Confirma-se o dito dos profetas: Será oculto aos intelectuais e compreensivos, mas revelado às criaturas simples. Os antigos filhos da Luz sempre se achavam supridos do Pão da Luz Celeste e não precisavam passar fome. Precisamente este motivo fez com que esquecessem o seu valor sublime, interessando-
-se pelo alimento abjeto do mundo, como até mesmo eu fiz.
Os pagãos ávidos de conhecimento o perceberam e se apo- deraram do farto alimento espiritual; com muito zelo leram nossos livros, tornando-se muito mais fortes que nós, por terem aceito o Senhor. Mas Ele será também por nós reconhecido.” Ambos os ta- verneiros dão razão ao rabi e se entregam ao sono. Eu e os apóstolos ficamos à mesa até de manhã.
De madrugada Me levanto e Me dirijo sozinho ao lado oposto da cidade. Somente um empregado do capitão Me viu passeando pelas ruas e avisou prontamente o patrão. Este se veste ligeiro e Me descobre em cima de uma colina. Com respeito junta-se a Mim, perguntando qual teria sido o motivo de Minha Vinda sem acompanhamento.
Respondo: “Espera com paciência, que saberás a razão. Quan- do o Sol subir no horizonte, dar-te-ei explicação.” Acomodamo-nos num bloco de basalto do qual se podia observar as cenas matinais. Nuvenzinhas com friso dourado flutuam sobre o horizonte, que de nosso ponto de vista, não apresenta consideráveis elevações. Isso au- menta a beleza da aurora, porque o Sol surge como de um abismo de cor sanguínea e começa a colorir a Leste os cumes da cordilheira, levando o capitão ao êxtase. A seguir pergunta como podia Eu, a Quem todas as maravilhas dos Céus estavam ao dispor, encantar-Me com as belezas terrenas.
Respondo: “Amigo, se o Próprio Mestre não Se alegrar com Suas Obras, quem deveria fazê-lo? Pensas que Ele as tivesse criado caso não as tivesse visto em Espírito, proporcionando-Lhe grande alegria? Certamente compreenderás agora o motivo de Meu Agra- do.” Diz ele: “Senhor e Mestre, meditando sobre Tua Resposta, ad-
miro-me de minha própria ignorância, pois sei positivamente com Quem tenho a imensa Graça de falar.”
Concluo: “Não te preocupes. Tudo neste mundo foi por Mim organizado de tal forma que o raiar do dia, o desenvolvimento da flora, fauna e, finalmente, do homem, tudo enfim tem que sur- gir paulatinamente. Saberás, portanto, porque nem tudo te pode ser claro, o que posteriormente se fará quando o Meu Espírito Se espargir dentro de ti. Então compreenderás tudo aquilo que hoje se apresenta enigmático. Vamos analisar a aurora.”
OSAPÓSTOLOSÀPROCURADO SENHOR
Então explico as diversas manifestações da aurora, e o capitão não se contém de satisfeito, porque ainda alimentava certo misticis- mo da adolescência. Entrementes, os apóstolos deram pela Minha falta, afligindo-se junto ao hospedeiro. Pedro, finalmente, diz: “Já sabeis que Ele Se levanta cedo e costuma passar a aurora ao ar livre. Em tempo oportuno, voltará e não precisamos temer algo por Ele.”
Conjectura Jacob: “Tens razão. Ninguém melhor do que eu sabe — pois sempre estive ao lado Dele — que às vezes Ele se oculta para depois alegrar-Se quando Seus amados O encontram. Vamos procurá-Lo imediatamente.” Judas Iscariotes pretende fazer oposi- ção, mas João o interrompe com rigor: “Foste, és e serás um discípu- lo que nem uma fagulha de Verdade assimilou. Julgas-te inteligente, entretanto mentes a ti e a outros. É melhor que silencies, deixando falar os que sabem se expressar segundo o Seu Espírito.”
Ele se cala e sai de casa, encontrando alguns judeus que per- guntam se ali estou. Judas responde: “Ide à Sua procura, vós mes- mos. Não recebi ordens para falar a respeito Dele.” E assim continua Iscariotes o seu passeio pela cidade cujas casas eram feitas de basalto negro, por não haver madeira.
Os apóstolos concordam com Jacob em irem à Minha procura. Nisto chega um outro empregado do capitão, a mando de Veronika, para saber se seu pai se encontra conosco. Eis que Jacob
exclama: “Agora sei o que se passa! O capitão saiu cedo e certamente encontrou o Senhor. Qualquer outro servo saberá informar-nos.”
Todos se dirigem à casa do romano, onde falam ao empregado, que os informa da direção tomada por Mim. Ligeiros se encaminham para a direção indicada, mas como estivéssemos sentados em um bloco cuja parede nos oculta, não conseguem descobrir-nos. Por isto sobem a uma colina mais elevada e radiantes deparam Comigo e o capitão. Somente Simon Judá se aproxima, dizendo: “Mas, Senhor e Mestre, como estivemos aflitos e tristes por ignorarmos o Teu paradeiro. Se ao menos tivesses dado um aviso, ter-Te-íamos acompanhado. Pedimos não o repitas nesta zona tão estranha. Se Tua Sabedoria quiser que vás Sozinho a qualquer local, basta nos dizeres que ficaremos sem relutân- cia. Amamos-Te acima de tudo e nos afligimos com Tua Ausência.”
Respondo: “Assim teria feito, caso ignorasse que Me haveríeis de achar. Além do mais, nenhum de vós levou prejuízo por Eu ter fortificado vosso amor para Comigo. Tive que tratar a sós com este amigo, por isto aqui vim.
Esta cidade e seus arrabaldes servirão para refúgio aos que na época da grande humilhação crerem em Mim, e é preciso fundar uma comunidade em Meu Nome por intermédio desse amigo. Eis o motivo de Minha Permanência com o capitão. Se Minha Ausência de alguns minutos vos afligiu tanto, que fareis quando vos deixar fisicamente, por tempo prolongado?”
Responde Simon Judá por todos: “Senhor e Mestre, já sabemos o sentido de Tuas Palavras. Se for preciso, segundo Teus Desígnios, suportaremos Tua Ausência na esperança que se cumpri- rá tudo que nos relataste. Saberás descobrir em nosso coração que nenhum de nós o deseja para breve. Que a Tua Vontade Se faça.”
OCAPITÃOCONSOLAOS APÓSTOLOS
Expressa-se o romano, o qual Eu havia preparado para os acontecimentos futuros em Jerusalém: “Amigos, também sei o que entristece vossos corações. Sendo este o único meio para quebrar a
antiga teimosia dos descrentes e fazê-los sentir a Verdade, não posso deixar de louvar cada vez mais o nosso Senhor e Mestre, em Deus. Isto só pode suportar o Amor mais elevado e puro de Deus para com Suas criaturas, o que ao nosso sentir seria inteiramente impossível.
Além disso, Ele voltará junto de nós após três dias, para nos confortar com o Seu Espírito Poderoso, assim ficando com os Seus até o Fim dos tempos desta Terra. Julgo termos apenas motivo de nos alegrarmos. Os desvairados bem podem se apossar do Corpo do Senhor e até mesmo matá-Lo, caso o permita para a melhoria dos ignorantes. Mas quem seria capaz de matar a Divindade Eterna e Poderosa, dentro de Seu Corpo? Ela vivificará o Mesmo, e no ter- ceiro dia Ele estará novamente entre nós para alegria de todos.
Se fosse possível eu alimentar a menor dúvida a respeito, dentro de algumas semanas faria marchar contra Jerusalém mais de cem mil guerreiros destemidos, e em pouco tempo não haveria uma pedra sobre a outra. O Senhor quer operar o maior Milagre na cida- de ateísta, de sorte que ainda há tempo para o aniquilamento total. Se os homens não se converterem com a maior prova, preferindo continuarem em seu egoísmo feroz, os romanos virão para fazer-lhes uma prédica do reino do demônio e de todas as suas fúrias.
Então não mais se dirá: A Paz seja convosco! Mas: A mor- te venha sobre vós, porque não quisestes aceitar a época em que Deus, o Próprio Senhor, aproximou-Se de vós. Por isto, sejamos alegres, pois tudo que Ele quer, faz e permite é infinitamente bom. Podemos voltar a casa e tomar um bom desjejum, caso o permi- tas, Senhor.”
Respondo: “Certamente, pois os servos de nosso hospedeiro tudo fizeram para tal fim; tua esposa e tua filha participaram no preparo da refeição. Vamos dar uma pequena volta para não des- pertarmos a atenção dos moradores, que nos seguiriam em massa.” Durante o caminho, os discípulos se admiram da inteligência do romano, e Simon Judá diz: “Isto foi-lhe dado pelo Senhor, de modo muito mais profuso que a nós, desde que O acompanhamos. Ele saberá o porquê.”
Digo Eu: “Por ter ele Me ofertado mais que vós, desde nos- so convívio. Quando, após Minha Transfiguração, o Meu Espírito preencher vossos corações, sereis levados a toda Sabedoria.” Os após- tolos se satisfazem com essa assertiva. As palavras do capitão lhes de- ram boa impressão, que com o tempo foi perdendo o seu efeito. En- trementes chegamos à estalagem onde Judas palestrava com alguns judeus. Quando nos avista, entra depressa, porque sentira o aroma da comida. Os judeus querem acompanhá-lo. O dono da casa, po- rém, lhes diz: “Conheceis o espaço reduzido de meu albergue. Ficai no pátio, caso quiserdes algo. Após o desjejum haverá tempo para externardes vosso pedido.”
OALMOÇODE VERONIKA
Fomos ao refeitório, onde a filha do capitão nos recebe, agra- decendo pela Graça de poder ver-Me e servir-Me. Eu a elogio e ela Me serve vários peixes em baixela de ouro, pão branco e a taça cheia de vinho. Para os outros havia um vitelo assado. O romano, sua es- posa e filha se servem de carne cozida com molho temperado. Todos estão satisfeitos, e Veronika pergunta se os peixes são saborosos.
Respondo: “Vê se deixei algo no prato. Todo alimento Me é saboroso quando feito por amor. Preparaste esses peixes de melhor qualidade, do Mar Galileu, com o fogo de teu amor, razão por que os apreciei tanto. Aliás, não é preciso Eu tomar alimento para o Meu Corpo, junto das criaturas; mas faço-o por amor a elas. Não podem Me dar algo que não tivessem recebido de Mim; assim aceito tudo com todo amor e alegria, como se o tivessem oferecido de sua própria posse.
O mesmo valor tem aquilo que fizeres a um necessitado por amor a Mim, pois aceito-o como se fosse feito a Mim e Eu te recom- pensarei aqui e no Além. Guarda essas Minhas Palavras e aplica-as, que poderás contar sempre com o meu pleno Amor. Mas tu mesma já apreciaste tais peixes; por que não preparaste alguns para ti?”
Responde Veronika, algo embaraçada: “Tê-lo-ia feito, mas só havia quatro no depósito, que devem ter aparecido por milagre.
Nosso servente havia dito não haver peixes em casa; como se fosse certificar, a meu pedido, encontrou os quatro, portanto é milagre verdadeiro.”
Digo Eu: “Veronika, Minha filha, em parte pode ter sido como pensas, pois são Minha Dádiva, se bem que não milagrosa. O depósito de peixes é muito antigo e tem várias fendas, onde tais peixes se escondem por muito tempo. Chega o dia em que apare- cem, como aconteceu. O fato de se terem escondido até esta data foi Minha Vontade. Sendo apreciadora de tal qualidade, manda dar uma busca no depósito, e o resultado dará para todos.”
AGRANDEIMPORTÂNCIADADOUTRINACOMRELAÇÃOAOSFEITOSDO SENHOR
Veronika, seus pais e o empregado vão à fonte onde se acha o depósito alugado pelo capitão, e constatam estar ele completamente cheio. Admirados, eles voltam e dizem: “Ó Senhor e Mestre desde Eternidades! Eis um milagre perfeito e nos convencemos que ninguém Te pode dar algo que não tivesse recebido por Ti. És o Doador de to- das as Dádivas, por isto Te rendemos todo louvor, amor e gratidão.”
Digo Eu: “Está bem, está bem; não façais alarde, por causa dos outros.” Observa o capitão: “Senhor, jamais faremos algo con- tra a Tua Vontade; mas permita que mande carta secreta ao grande número de amigos em Roma, pois merecem saber tais maravilhas.”
Digo Eu: “Roma já foi considerada, e teu amigo Agrícola e vários companheiros Me conhecem melhor que tu. Podes cuidar dessa Comunidade sujeita a ti, que Minha Recompensa não se fará esperar. Não fales em demasia de Meus Milagres extraordinários, se- não de Minha Doutrina, pela qual todos se destinam à Vida Eterna no Meu Reino. Somente pelos Milagres ninguém se torna feliz, e sim crendo em Mim e vivendo segundo o Meu Verbo.
Através dos Milagres pode a criatura ser levada a uma fé coagida, de pouca utilidade para a alma. Quem Me reconhecer pelas Minhas Palavras, crer e viver pela Doutrina, de livre e espontânea
vontade, acha-se no Meu Reino, muito acima do coagido pelas pro- vas. Guardai, vós todos, este ensinamento e não façais grande alarde a respeito delas. Onde o espírito da Verdade prevalece, facilmente fará reconhecer a Verdade de Minhas Palavras sem provas externas, e a própria Verdade libertará e afastará qualquer jugo.
Minha Doutrina permanecerá eternamente. Todas as provas efetuadas e as ainda a serem operadas conservar-se-ão como qual- quer fato histórico que passa de boca em boca, e em épocas futuras pouca aceitação encontrarão. Da pura Verdade de Minha Doutrina perceberão igualmente, em tempos longínquos, Quem a deu aos ho- mens. Fazei pouca ostentação de Minhas Ações, com exceção das do Meu Amor.” O efeito de Minhas Palavras é positivo nos romanos, que apreciavam fatos espetaculares, mas mudam de opinião.
OBJEÇÕESDOAJUDANTEDE ORDENS
Um ajudante de ordens, bastante culto, diz após certa medi- tação: “Senhor e Mestre, aceito a Verdade de Teu Conselho sábio, no entanto me vejo obrigado a uma objeção. Se, na divulgação de Tua Doutrina e Ações apenas possíveis a Deus, não devemos fazer alarde, serás considerado simples professor do povo, como sempre houve em todos os povos sem que fossem deuses.
Tais professores certamente foram inspirados pelo Teu Es- pírito, mas não eram o Próprio Deus, portanto era fácil não serem seus ensinos considerados como Palavras Divinas, servindo apenas como conselhos práticos na observação da Natureza.
O mineiro chegava a conhecer e trabalhar os metais; o la- vrador preparava o campo para a semeadura; o jardineiro inoculava enxertos em hortas e vinhas. O pastor cuidava de suas manadas; iniciaram-se construções melhores e finalmente foram edificadas grandes cidades, aperfeiçoando-se também as vestes.
Sem tais vantagens, assemelhar-nos-íamos aos skythos, que habitam em árvores, não têm linguagem, nem conhecimento de Deus. Entre eles certamente nunca surgiu sábio professor, pouca
diferença fazendo dos animais ferozes. Mesmo se aparecesse um que levantasse axiomas de vida espiritual — acaso seria como Tu, Deus, capaz de curar pela vontade, encher odres do melhor vinho e tan- ques de bons peixes?
Deveriam os homens não só receber a Tua Doutrina de má- xima Sabedoria, mas saber não ser ela dita pela boca de um mortal. Deus aceitou a natureza humana, provando, por ações somente pos- síveis a Ele, Quem realmente é. Para tal fim, impossível ocultar-se Tuas Ações milagrosas, mas deve-se juntá-las à Doutrina, mormen- te as principais. Se as gerações posteriores as considerarem apenas como lendas históricas, pouco prejuízo trará à Verdade.”
AIMPORTÂNCIADA VERDADE
Digo Eu: “Não precisavas proferir tantas palavras, pois sem elas também teria percebido a tua boa vontade e teu raciocínio claro. Mas foi bom por causa dos outros, porque te expressaste bem. De modo algum Eu disse que o divulgador de Minha Doutrina não deveria fazer menção das Minhas Ações, apenas não conviria fazer ostentação, e além disto mencionar de preferência as que operei por puro Amor, como Médico e Salvador das criaturas em aflição.
As ações que — se bem que igualmente efetuadas por amor — operei para levá-las mais rapidamente à Verdade, o que é necessário somente nesta época e não em tempos futuros, nos quais o Meu Verbo fará milagres, não devem ser ostentadas. Isto faria com que os homens se tornassem mais ávidos pelos milagres do que pelo efeito real da Doutrina. São mais facilmente desviados da Verdade interna do que os que procuram tudo analisar e guardam apenas o bem e o real.
A todos que continuarem firmes e ativos dentro da Doutrina, darei o poder de efetuar várias provas do puro amor, em Meu Nome. Será o Próprio Verbo a agir milagrosamente, fator muito mais útil do que vosso relato dos milhares de milagres operados por Mim.
Caso recebais o dom do milagre, através do Espírito do Meu Verbo, preciso é que não vos excedais. Em tal hipótese traríeis pre-
juízo à boa Causa. Toda e qualquer coação não desperta o espírito na alma, e se o consegue, apenas o faz em parte. Somente a Verdade, livre e aceita sem coação, de certo modo a Luz e a Vida de Meu Espírito de Amor na alma da criatura, pode conseguir isto. Por isto, efetuai milagres o menos possível a criaturas sedentas de Verdade, se não quiserdes fazer delas bonecos de fé, semimortas.
Tendo efetuado milagre qualquer perante homens enten- didos em ciências, não esqueçais de demonstrar-lhes o motivo do sucesso, a fim de que sua fé em Mim se torne viva. O motivo sou sempre Eu, e sem Mim ninguém poderá realizar algo verdadeiro.
A maneira pela qual se deva explicar tal assunto a pessoas inteli- gentes e de vontade forte não deve preocupar-vos. Sendo preciso, tudo vos será depositado na boca. Aos que Me amam e cumprem Meus Mandamentos, virei Pessoalmente no Espírito de toda Verdade para Me revelar. Ouvirão por Mim Mesmo o que ensinei e fiz nesta época.
Se quisésseis anotar tudo, com todas as minúcias e circuns- tâncias, precisos seriam mais que mil escrivães durante cem anos. E se tudo fosse anotado em inúmeros livros, quem haveria de lê-
-los e, além disto, agir dentro da Doutrina, que não conseguiria ler apenas superficialmente em vários séculos? Por aí deduzis por que não quero que façais alarde com os Milagres por Mim operados. A Verdade agirá por si só. Se o compreendestes, vamos lá fora que vos fortificarei para os acontecimentos de hoje.” Todos se levantam e Me acompanham a uma colina próxima da cidade de Pella.
A OBSESSÃO
Após chegarmos ao referido monte, do qual se avista parte do Mar Galileu, as cidades Ábila, Golan e Aphek, aponho as Mãos em todos, conferindo-lhes o poder de curarem enfermos e expul- sar maus espíritos, em Meu Nome. Terminada essa cena, o capi- tão diz: “Senhor e Mestre, já vi por diversas vezes criaturas que se portavam completamente desvairadas. Havia épocas em que eram calmas e respondiam com bastante juízo, sem demonstrarem qual-
quer insanidade. De repente eram possuídas de uma força invisível, se contraíam enfurecidas e praguejavam contra pessoas até mesmo bondosas, contra deuses ou o Deus judaico etc., e quando se procu- rava manietá-las, desatavam em uma gargalhada horrenda, e quem se aproximasse passava mal.
Na antiga cidade Gadara, conheci dois homens com os quais uma legião de soldados romanos nada teria conseguido. Manti- nham-se nas velhas catacumbas e eram uma verdadeira praga aos viajantes e radicados. Quando presos e acorrentados, a fúria se apos- sando deles, tudo arrebentavam, e os soldados eram de tal forma tra- tados com pedras, que tinham de fugir depressa para não serem se- riamente feridos. Se lhes atirassem flechas, eles se riam, porque nem o mais perito atirador podia atingi-los. Certamente eram possessos, Senhor? Quem eram e por que foi permitido que pessoas bondosas e às vezes até mesmo crianças inocentes fossem martirizadas?”
Respondo: “Disso tudo os Meus apóstolos e vários amigos teus em Roma e alhures são informados e te poderás orientar em tempo. Por ora basta que também tenhas recebido o dom de expul- sar tais espíritos maus, através do Poder e da Força que opera em Meu Nome. O motivo de tua pergunta saberás dos que fores curar, e muita coisa te dirão os Meus discípulos, testemunhas da cura dos obsessos em Gadara.”
O capitão e os demais Me agradecem pela Graça recebida, com exceção de Judas, que perambulava pela cidade à cata de pro- pinas com aqueles que Eu havia curado, ocupação comum nesse discípulo, pois sempre fora agiota e ladrão. Ninguém perguntava por ele, provando não fazer falta.
DOISOBSESSOSSÃOTRAZIDOSJUNTODO SENHOR
Nisto se aproximam alguns cidadãos da colina, um era o hospedeiro grego, o outro, ferreiro romano que vez por outra se ocupava na cura de animais e de homens, especialmente semilou- cos e epilépticos. Precisamente nesta manhã, haviam sido levados
ao albergue do grego dois jovens entre vinte e trinta anos da cidade Ábila, e segundo o parecer do ferreiro, eram acometidos de epilepsia tríplice. Imediatamente experimentou todos os recursos. De nada valeram, pois os jovens começaram a vociferar e praguejar também contra o taverneiro, ameaçando prejudicá-lo de toda forma.
Assustado, o hospedeiro se virou para o ferreiro: “Deve ainda estar nesta zona o grande Senhor e Mestre, certamente pleno de todo Poder e Força, do contrário não teria curado tantas criaturas incuráveis. Vamos indagar na taverna judaica.” Assim, chegam junto de nós e Me relatam o ocorrido.
Digo Eu: “Não se trata de epilépticos, mas de homens tre- mendamente obsessos. No jovem se acham cinco espíritos maus, no outro, dezessete. Manda trazê-los para serem curados.” Conjectura o taverneiro: “Isto será difícil, pois são tão fortes que nem vinte homens conseguem prendê-los.” Insisto: “Devem ser trazidos pelos que os levaram junto de vós.”
O taverneiro e o ferreiro passam o recado aos homens que trouxeram os obsessos de Ábila a Pella, que prontamente procuram executar Minha Ordem. No mesmo instante, ouvem-se várias vozes da boca dos dois: “Que temos nós a ver com o Filho do Altíssimo? Por acaso temos que nos deixar martirizar pelo Poder de Sua Vonta- de e Palavra antes do tempo?”
Retruca o taverneiro: “Não querendo acompanhar-nos, sereis forçados pela Sua Onipotência, e de nada adianta reagir.” Bradam todos os espíritos a um só tempo: “Isto sabemos; todavia, impore- mos reação enquanto possível.” Responde o judeu: “Maus espíritos, que vos atreveis a desafiar a Onipotência do Senhor! Agora mesmo, o Senhor quer que nos sigais!” Amparados com a Minha Vontade, as palavras do taverneiro fazem com que os obsessos se levantem e sigam para junto de Mim.
Eis que o hospedeiro diz: “Senhor e Mestre de Eternidades! Obedeceram somente ao Poder de Tua Vontade.” Respondo: “É oportuno conheçais a diferença entre os ditos loucos, epilépticos e os realmente obsessos. Estes pertencem aos verdadeiros obsessos e só podem ser libertos pelos homens através de preces e jejuns. Mas aqui dispensamos de ambos os recursos.
O mais moço, atacado de apenas cinco espíritos, pode ser curado por qualquer um de vós, pois recebestes o dom para tanto. O mais velho, acometido de dezessete espíritos, ninguém poderia socorrer sem Minha especial Vontade, pois a fé de todos vós ainda possui pouco poder verdadeiramente divino. Ser-vos-á dado quando fordes compenetrados do Meu Espírito. Pellagius, designo para ti o mais moço. Apõe-lhe as mãos, em Meu Nome, e dize: ‘Em Nome de Jesus, o Senhor, ordeno que abandonais visivelmente para to- dos este homem, na forma peculiar de vossa maldade.’ Vai e faze o que mandei.”
O capitão obedece e no mesmo instante se libertam os cinco espíritos em forma de serpentes vaporosas e dotadas de asas de morcego, sobrevoando as nossas cabeças. Uma voz, partindo deles, se faz ouvir: “Senhor, Onipotente, quando surgirá o dia da salvação para nós, prisioneiros?”
Retruco: “Quando vossa vontade se modificar. Se conheceis a Verdade, e a Luz da Vida não vos sendo estranha — por que fi- cais presos há mais de mil anos na antiga mentira e suas obras de teimosia ferrenha? Mudai de vontade e rogai Graça e Misericórdia Àquele Que é Senhor de tudo desde Eternidades e sempre será, que a salvação virá.”
Dizem os espíritos: “Senhor, queremo-lo. Dá-nos uma von- tade diferente e melhor, e faculta-nos Tua Graça e Misericórdia. Li- berta-nos do antigo mal de mentiras e de suas obras, pois também somos descendentes de Abraham, se bem que do tronco de Esaú.”
Digo Eu: “Que se cumpra a vossa vontade. Ide para onde vos impelem amor e vontade.” Opõem eles: “Senhor, não sentimos amor, nem vontade. Emprega em nós a Tua Vontade, segundo a Tua Graça. Estamos cansados de nossa vontade e inclinação.”
Respondo: “Elevai-vos àquela região da Terra, onde espí- ritos mais puros vos conduzirão.” Nem bem termino, os cinco espí- ritos criam forma humana, como que constituída de vapores mais claros, juntam-se e flutuam em pequena nuvem cirro, cada vez mais transparente até desaparecerem inteiramente.
O moço se aproxima e diz: “Ó Senhor e Mestre, agradeço-
-Te por me teres libertado do meu grande sofrimento. Como pa- gão, confesso não mais acreditar em nossos deuses, pois Tu és Deus de todos os deuses e criaturas, e os próprios demônios se curvam diante de Teu Nome. Havendo alhures um Deus Superior, contra o qual tivesse pecado com minha confissão, que me mate com fúria de um raio.”
Os seus companheiros, ainda pagãos, se assustam com o juramento, esperando que Zeus se ofendesse e o aniquilasse. Nada disto acontecendo, o moço se vira para eles: “Por que esperais cas- tigo de onde não poderá surgir, pois não existe Zeus, muito menos raio em poder de sua mão?
Este, perante o Qual me prosterno, é o Verdadeiro e Po- deroso Zeus. Se dissesse que neste instante milhares de raios se pro- jetariam da Terra, tal aconteceria para a destruição daquilo que Ele determinou.”
Digo Eu: “Levanta-te, Meu filho, e continua em tua fé re- cente que jamais te prejudicarás. Vamos livrar o teu irmão de seus dezessete algozes.”
OSENHORCURAOUTRO OBSESSO
Todos se sentem tomados de grande pavor com Minha Or- dem, pois os cinco espíritos lhes impuseram grande respeito. Le- vanto-Me ligeiro, Me aproximo do obsesso e digo, de Mão erguida:
“Quero que deixeis visivelmente as vísceras deste homem, que não tendes direito de martirizar.”
Eles reagem algumas vezes, a ponto de atirar a vítima ao solo, que se levanta quando os maus espíritos são expulsos em forma de crocodilos pequenos e negros. Sendo mais compactos, arrastam-se no chão e finalmente abrem a boca e, de voz esganiçante, reagem: “Quem és tu? Não te conhecemos e nunca agimos contra tuas or- dens. Com que direito queres nos castigar? Por que nos expulsaste com teu poder dessa habitação dificilmente conquistada?”
Retruco: “Não fostes testemunhas quando no Monte Si- nai dei as Leis? Quem de vós incitou a Me desafiar, ridicularizar e fazer um bezerro de ouro, para adorá-lo no Meu lugar? Fostes os principais dirigentes da rebelião e desviastes grande número do povo. Como alegais ser Eu completamente estranho para vós e nun- ca vos dei leis pelas quais teria direito para vos ordenar?
Aquilo que vos sucedeu quando Moysés desceu da montanha e em ira justa quebrou as tábuas da Lei, se repita neste momento! Afastai-vos daqui, pois longe está a época de vossa salvação.” Os répteis rastejam rápidos morro abaixo em direção a uma vala pan- tanosa e coberta de erva daninha, onde se enterram, sibilando hor- rivelmente.
Eis que o comandante diz: “Essa vala será prejudicial aos habitantes da zona, caso não a purifiques desses arquidemônios. Até mesmo eu senti pavor.” Respondo: “Espera um pouco até que termine a questão com os curados, depois veremos como sanear a vala.” Nisto se ajoelha igualmente o segundo curado, agradece pelo socorro e faz o mesmo ato de fé de seu irmão. Finalmente pede Eu não desconsiderar o pedido do romano, pois também se apavora com a vala.
Repito: “Mais um pouco de paciência, pois antes disto quero ver se um dos dezessete espíritos não quer voltar sob outra forma para discutir Comigo. Elementos tais também têm livre ar- bítrio.” Pergunta o comandante: “Por que se apresentarem sob a forma de animais tão repelentes? Os primeiros se transformaram
finalmente, enquanto os outros se afastaram na mesma forma. Qual o motivo disso?”
NATUREZADOSCINCOESPÍRITOS EXPULSOS
Digo Eu: “Tal forma corresponde à sua tendência maldosa. A serpente voadora pode ser interpretada com certo grau de prudên- cia, comparável à astúcia de um marechal de campo. Analisando tal prudência, pouco amor ao próximo descobrirás, mas enorme ego- ísmo, domínio e orgulho desmedido. Essa organização psíquica se apresenta, segundo Minha Luz da suprema Verdade, naquela forma.
Basta imaginares uma serpente alada, como ainda existem na África e durante a época dos filisteus também as havia aqui, nos anos de muito calor, pois já se torna difícil enfrentar-se uma simples, devido a sua astúcia, sendo a fuga para o homem comum o melhor meio de reação.
Quanto à serpente alada, a fuga pouco adianta, mas somente uma veste dura como bronze e uma forte espada na mão de um lutador destemido. A veste ênea é, neste caso, a Minha Força de Amor dentro de vós, a espada é o Meu Verbo, e a Verdade de Minha Palavra que tudo vence é o lutador adestrado, ou seja, um verdadeiro Herói de todos os heróis.
Daí concluirás a razão por que os cinco espíritos tinham que aparecer diante de Mim em forma de serpentes aladas. Durante as guerras dos judeus, foram astutos marechais de campo e visavam apenas o próprio lucro, vantagens e honras. Cada qual procurava fundar um reino para si.
O homem por eles castigado durante anos é descendente de sua estirpe. Nele descobriram grande talento bélico em estado la- tente e infiltraram-se em suas vísceras a fim de despertar tal pendor, pelo qual pretendiam levá-lo, com o tempo, até o trono de Roma. Todavia, nada disto conseguiram, porquanto enfraqueciam, através de suas influências, as capacidades latentes na alma. Foi-lhes permi- tida a experiência de sua vontade na índole dele, para convencê-los
de ser tola sua intenção e completamente infrutífera pela astúcia te- nebrosa. Como ultimamente começaram a perturbá-lo em demasia, era chegado o momento de libertá-lo.
Tudo isto fora previsto, e de bom efeito para ele e também para os cinco espíritos. Ele encontrou por este caminho a Mim e a Vida Eterna de sua alma. Eles foram curados de sua antiga tolice e ganância desmedida, e já se encaminharam para as escolas de hu- mildade dos espíritos bem intencionados. Eis, em resumo, o que se refere a esse grupo.”
HISTÓRIADOSDEZESSETE ESPÍRITOS
(O Senhor): “Quanto à índole dos dezessete espíritos, cor- responde ela à voracidade jamais saciável dos animais que foram vistos. Quando Eu ditava no Monte Sinai a Moysés as Leis sob raios, trovões, fogo e fumaça, o profeta exigiu com Minha Ordem uma temperança justa em virtude de Minha Presença, a fim de capacitar as almas às Verdades que eram proferidas.
Por intermédio de Moysés, o povo pediu permissão para se afas- tar a um vale distante por causa do grande temor dos fenômenos natu- rais, prometendo ainda manter-se sobriamente enquanto Moysés e seu irmão estivessem combinando Comigo as ordens a serem cumpridas.
Como grande parte insistisse prolongadamente neste senti- do, foi-lhe concedida tal permissão e assim se dirigiu com todos os seus trastes para um vale bastante afastado. Durante algumas se- manas tudo correu de acordo com as exigências de Moysés. Como ele demorasse a aparecer, os israelitas começaram a se esquecer de Minha Pessoa, satisfazendo novamente a sua intemperança.
Um dos dezessete espíritos, então, tentou o povo. Com ajuda de outros fundiu um bezerro de ouro e disse às massas: Eis nos- so alimento principal, pois a ele agradecemos a subsistência neste deserto, no qual as manadas dificilmente encontram seu alimento. Adoremos esse símbolo tão valioso. Mandai preparar banquetes a granel, para nos entregarmos à alegria por causa desse símbolo. Em
seguida nomeai-nos para chefes militares, que vos conduziremos a um país fertilíssimo, com mais facilidade que o faria o profeta esque- cido. Aprendemos no Egito com os astutos crocodilos como se deve agir para conseguir boa presa; segui-nos, que não vos faltarão fartos repastos. — Deste modo, muitos se deixaram tentar, fazendo o que os amotinadores aconselharam.
Este homem não descende propriamente deles; mas desde a infância se habituou à intemperança, tornando-se verdadeiro glutão, dando entrada aos dezessete espíritos em suas vísceras. Ainda assim lucrou. Como eles no início o incentivavam à gula cada vez mais acentuada, seu estômago perdeu a capacidade digestiva, a ponto de ele quase nada mais poder comer, causando espanto aos familiares. Por este meio extinguiu-se a intemperança e sua alma se tornou mais espiritual e forte; corpo e alma entrando em justa ordem, chegara o tempo de libertá-lo de seus algozes.
Além disto, teve essa obsessão outro grande benefício, isto é, entre os abilenses quase totalmente sem fé, que na maioria se incli- navam à filosofia de Diógenes, estoicos em alto grau, e não acredita- vam na sobrevivência da alma.
Esses duplamente perturbados despertaram, portanto, boa parte da fé na imortalidade da alma e esse fenômeno psíquico, assis- tido por muitos, facilmente levará os habitantes de Ábila a se liber- tarem de seu estoicismo enferrujado. Por isto, nada acontece neste mundo, permitido por Mim, que não sirva para a salvação dos ho- mens, o que tu e os demais certamente compreendeis. Aguardemos, portanto, se um dos dezessete espíritos pretende voltar.”
O SENHOR ADMOESTA O CHEFE DOS ESPÍRITOS EXPULSOS
Quando termino de falar, surge de repente uma neblina ne- gra da mencionada vala, dirigindo-se para nós. Achando-se a dez passos distante de nosso grupo, digo em voz alta: “Até aqui e não mais além! Revela-te em tua forma real.” Eis que se destaca visivel-
mente uma forma humana, cuja cor se assemelha aos mouros, tra- zendo nos braços um bezerro de ouro, como se quisesse demonstrar ser o símbolo, seu deus e inclinação.
Faço então surgir um forte raio em forma de serpente alada, que atinge o bezerro e o destrói num instante. A figura começa a se mover, torcer e finalmente consegue pronunciar as seguintes pala- vras: “Senhor, por que não nos deixas gozar o que nosso amor alme- ja? Nunca pedimos que fôssemos criados para sofrermos milhares de anos, segundo Tua Vontade. Se nos criaste sem nossa vontade e nos insuflaste uma tendência e livre arbítrio — por que nos castigas quando agimos segundo nossa índole?”
Respondo, novamente com voz alta: “Quem, no Infinito, poderia prescrever-Me as ações, que sou Senhor de todo Poder e Força? Meu Amor eterno Me dita como agir, e Minha Sabedoria Infinita é o Servo e Organizador da Onipotência de Minha Vontade.
Libertei-vos, através de Moysés, do jugo pesado do Egito, quando fostes obrigados a matar os primogênitos. Alimentei-vos no deserto e ninguém passou fome e sede, com exceção de alguns que no país das crueldades se dedicaram em demasia à intemperança, tão prejudicial à alma. A esses aconselhei sobriedade, em benefício do corpo e especialmente da alma.
Por que exigistes Eu Me afastar de vós, aos quais pretendia transformar em Meus filhos? Pelo simples motivo de não vos atrever- des a voltar à glutonaria sob Minha Luz. Preferistes vos afastar para saciar a intemperança e adorar um bezerro de ouro, no Meu lugar.
Quem vos insuflou essa tendência? Eu, por certo que não, mas vós mesmos pelo livre arbítrio, sem o qual seríeis semelhantes aos animais, não podendo ser educados para Meus filhos. Se Me abandonastes pela livre vontade, por que não vos elevais novamente a Mim, pelo mesmo meio?
Julgais Eu vos martirizar? De modo algum. Cada demônio se martiriza de modo próprio, devido à sua teimosia e perversidade, quando reage contra a Minha Ordem sábia, pretendendo transfor- má-la em benefício de sua inclinação.
Serei eternamente Senhor, Único e Imutável, sobre o mundo material e espiritual. Através do puro amor para Comigo e ao próxi- mo, cada homem e espírito podem alcançar e possuir tudo por Meu Intermédio. Nunca pela imposição e teimosia. Sou o mais Poderoso de todos os poderosos, e Onipotente acima de todos.
Ao mesmo tempo sou o mais Meigo de todos, o Melhor e o mais Misericordioso de todos os bons e misericordiosos. Quem de Mim se aproxima com amor verdadeiro e arrependimento, pedindo misericórdia, recebê-la-á. Havendo Me reconhecido e ainda assim se revoltando, jamais alcançará a salvação, porquanto se atirará em uma infelicidade cada vez maior. Isto deve ser considerado por todo espírito mau e por todos os demônios. Eu sou o Senhor, e além de Mim não existe outro. Agora, afasta-te!”
O espírito desaparece e em seguida se vê surgirem da vala dezessete amontoados de neblina, impelidos por um vento em dire- ção ao Norte. Eis que digo ao capitão: “Com isso cumpriu-se tam- bém vosso desejo, pois trata-se dos dezessete espíritos. O primeiro transmitiu aos outros o que ouvira aqui, de sorte que resolveram procurar os desertos do Norte a fim de fixar sua atitude futura. Nes- tas regiões são eles influenciados pelas coisas materiais deste mundo, não podendo refletir e descobrir sua própria maldade pecaminosa. Um dia também eles melhorarão. Até lá o verão terá que afastar o inverno por muitas e muitas vezes.”
OPERIGODEALIMENTOS IMPUROS
Diz o comandante: “Ó Senhor e Mestre, dize-nos onde cos- tumam deter-se os espíritos, para podermos evitar tais sítios lúgu- bres. Se nos aproximarmos de tais zonas, alimentando qualquer ten- dência com um demônio, facilmente poderíamos sofrer prejuízo.”
Respondo: “Amigo, quem crer em Mim e amar-Me através das obras de Meu Amor não precisa temer algo a respeito. Os que alimentam superstições pagãs hão de temer tais espíritos em toda parte e se acham por eles rodeados ou até mesmo possessos. As bai-
xas tendências das criaturas são incentivadas por espíritos que outro- ra foram dominados pelas mesmas inclinações.
Espíritos impuros que já viveram, mas na maioria espíritos da Natureza que nunca encarnaram, existem em toda parte: no ar, sobre e dentro da terra, na água e no fogo, nas pedras, metais, plantas, animais, no sangue e na carne humanas, razão por que não devem as criaturas alimentar-se de animais impuros e sufocados. Carne de animais selvagens não presta para o homem, não obstante toda precaução, porque dela não se podem expulsar inteiramente os elementos impuros.
De igual modo, não se deve beber a água de fontes impuras e convém manter-se limpos os poços, como fora prescrito por Moysés à Minha Ordem. Quem viver segundo as instruções do profeta pre- servar-se-á da possessão de espíritos maus e impuros, à medida que crer em Mim e em Minha Proteção Paternal, iniciando e terminan- do tudo em Meu Nome. A não ser assim, será ele exposto a milhares de perigos, devido à sua preguiça, ignorância e tolice.
Se Eu não mandasse os anjos protegerem as criaturas de índole e vontade mais bondosas, poucas seriam as pessoas normais nesta Terra. Entretanto, não devem elas deixar-se levar nesta segu- rança, porque Meus anjos não impõem freios à vontade do homem. Considerai-o bem.” Todos Me agradecem e louvam a Minha Sabe- doria e Poder, e os abilenses pedem Eu visitar sua cidade, pois Me fariam anunciar.
Respondo: “Podeis fazê-lo, porém sou Eu Quem determi- na época e hora de Minha Visita. Entrementes, podeis voltar, não esquecendo de vos saciar de pão e vinho. A carne de porco deve ser evitada, caso não for preparada segundo Meu Conselho.” No- vamente Me agradecem, para em seguida se dirigirem à cidade, em companhia do hospedeiro e o ferreiro.
Ficamos mais algum tempo no monte, e o romano e seus colegas formulam várias perguntas, recebendo esclarecimento em tudo. Mais tarde se aproxima um servente para anunciar o almoço, ao qual seguimos incontinenti.
Ao chegarmos na taverna, encontramos à frente da casa uma grande multidão, desejosa de ver e falar-Me mais uma vez, por ter sido testemunha de Meus Atos e também conhecedora de Meu Ver- bo. Eu a recomendo ao comandante Pellagius, do qual receberia in- teira orientação da doutrina. Conformados, os homens se afastam, pouco a pouco, e tomamos calmamente a refeição. Quando anuncio Minha breve partida com os apóstolos a Ábila, o comandante pede acompanhar-Me até lá e também a qualquer outro lugarejo sujeito ao seu comando, levando seus subalternos e Veronika.
Permiti-o de bom grado, e assim partimos após uma hora, acompanhados pelo hospedeiro, seu filho, o taverneiro grego e o ferreiro. Ao despedi-lo fora da hospedaria, transmito ao ferreiro o poder de expulsar maus espíritos das criaturas, pelo que muito Me agradece. Em seguida, continuamos ligeiros a nossa trajetória para Ábila, que alcançamos uma hora antes do pôr-do-sol.
Também essa cidade é habitada na maioria por pagãos, ha- vendo somente dez famílias judias, que levavam vida submissa e de- pendente. Todas essas famílias moravam em uma casa velha quase em ruínas, pois não havia albergue e sinagoga especial. Aproximan- do-nos dali, digo ao comandante: “Vai à nossa frente e transmite aos judeus que pernoitarei com eles. O resto se fará automaticamente.”
Assim informados, os judeus dizem ao romano: “Tudo estaria bem, mas como proporcionarmos acolhida a todos vós? Há recintos velhos e arruinados de sobra. Quem teria vontade de habitá-los? Lá se encontram sapos, serpentes, salamandras e escorpiões, e não é possí- vel oferecer-se tal local. Quanto aos nossos quartos, mal servem para dormirmos e seria difícil utilizá-los para pessoas acostumadas a bom trato. Queira persuadir o nosso grande Mestre e Senhor, do Qual já ouvimos falar coisas grandiosas, para não querer Se acomodar conos- co, porquanto existem várias hospedarias bem aparelhadas.”
Responde o romano: “Farei relato de vossa miséria. Todavia, sei que nada O deterá de Seu Plano. De há muito terá conhecimento
de vossa situação precária e certamente quer vos ajudar e não au- mentar a mesma. Submetei-vos de bom grado à Sua Vontade, que encontrareis Graça e Misericórdia de Sua parte.”
Exclama o mais velho das famílias: “Sim, sim, que venha se- gundo Sua Vontade, porquanto poderá certificar-Se de tudo. Apenas estamos tristes por não podermos corresponder à Sua Graça.”
Entrementes Eu chego a casa, que se acha qual burgo em ruínas, aquém das muralhas da cidade. O comandante corre ao Meu lado para Me contar o que vira. Eu lhe digo: “Amigo, poupa as tuas palavras; há muito sei de tudo. Vim, como disseste certo, justamente para socorrer essas criaturas. Vamos procurar o velho da casa.”
OSENHORENTREOS JUDEUS
Acompanhado do comandante, dirijo-Me ao velho, rodeado de outros chefes de família, que Me recebe com as seguintes pala- vras: “Sê bem-vindo, Senhor e Mestre, em nossa humilde e pobre moradia, que bem fala de nossa situação miserável.”
Digo Eu: “A Paz seja convosco! Sei de tudo, entretanto sois na maior parte culpados da penúria; através do ócio e a completa ausência de confiança em Deus, único Doador e Senhor de todas as dádivas, não há quem alcance abastança nesta Terra.
Enquanto havia meio e forças, nada fizestes para reparar os danos da casa antiga e pouco ligastes a Jehovah, preferindo as filoso- fias dos sábios gregos, pelo que aumentou vossa miséria. Agora sois até mesmo escravos dos pagãos e obrigados a esmolar um pouco de pão por serviços pesados, sem poderdes dizer: Ganhamos o pão pelo suor do trabalho. É difícil servir-se a quem não acredita em Deus e na sobrevivência da alma, na recompensa no Além, tampouco sente amor ao próximo, sendo até inimigo da própria vida.
Quando a situação se tornou por demais aflitiva, começastes a vos lembrar do antigo Jehovah e a pedir-Lhe socorro, o que Me moveu a vos ajudar em vista dos pagãos ignorantes, que em virtu- de de Diógenes, perderam a crença nos deuses. Assim, perceberão
existir o antigo Deus que ajuda aos que Nele creem, cumprem Seus Mandamentos e esperam Sua Ajuda com fé indubitável e verdadei- ra. Mostrai-Me vossa casa velha e quase em ruínas, para ver se pode- mos nela pernoitar. Em seguida, analisaremos as despensas.”
Diz o ancião: “Ó grande Mestre e Senhor, esta casa certa- mente contava grande número de recintos grandes e pequenos. Descobrimos apenas sete, bastante avariados. O resto está cheio de bicharia de toda espécie e não pode ser ocupado. Das despensas só existe uma em estado útil, inteiramente vazia, descontando algu- mas cascas de pão. Vamos averiguar tudo, para veres como vivem os descendentes de Gad e Rubem.” Investigamos todos os recintos da grande mansão, confirmando as palavras do velho.
Ao chegarmos ao último, digo: “Agora hás de conhecer o Poder de Deus no Filho do homem! Penetramos até aqui por cima de ruínas, colunas despedaçadas, espinheiros e bichos, e faremos a volta por salas regiamente enfeitadas e ornamentadas, onde será um prazer de se pernoitar. Assim o quero, e assim será!”
Ao terminar esta sentença, a casa está completamente trans- formada e não havia o menor vestígio de seu antigo estrago. Os judeus então exclamam: “Isto só é possível Àquele Que criou Céus e Terra. Todo louvor a Ti, Senhor, que deste ao mortal tamanho poder!” Mais tarde visitamos as despensas, abarrotadas de tudo que pudesse suprir as necessidades humanas. A admiração aumenta e lhes tira a verbosidade.
OANCIÃOTESTEMUNHADO SENHOR
Após certo tempo, o velho diz: “Isto é inédito. Moysés e Elias realizaram coisas que ultrapassaram a compreensão do homem. Mas que representam diante desta obra milagrosa? Todos os profetas pro- feriam: O Senhor assim diz e quer! — Tu, Senhor, disseste: Eu quero e assim será! Portanto, és Maior que Moysés e Elias.
Teu Eu é o Próprio Senhor em Plenitude, e eu, como ancião, vi a salvação e sinto vontade de dizer: Ó Senhor, deixa que Teu velho
servo ingresse em paz no Além. És Aquele por Ti Mesmo Prometido. Teu Espírito Eterno falou pela boca dos profetas e anunciou a Tua Descida à Terra. Como Verdade Eterna e a Fidelidade Personificada, cumpriste a Tua Palavra vindo a nós em Carne, a fim de nos soer- guer, inclusive os pagãos. Também são filhos de Noé, que formaram um povo com os ascendentes de Abraham, sob a regência do grande Rei e Sumo Sacerdote Melchisedek de Salém. Toda honra e louvor sejam dirigidos a Ti, Senhor, Senhor, Senhor!”
Digo Eu: “Está bem e certo. É compreensível que vossa fé se erguesse através de Minha Ação, bem como Me reconhecestes sem demora. Preciso é vivificardes essa fé pelas obras de amor ao próximo, do contrário não teria valor para a vida de vossa alma. Aproximei-Me de vós em virtude de Meu Imenso Amor para com as criaturas, de sorte que também chegareis a Mim como Meus filhos através do Amor a Mim e ao próximo, o que deve ser bem lembrado.
A fé em Mim é realmente uma luz viva dos Céus, mas so- mente através das obras de amor. Assim como uma iluminação no- turna se apaga se não for constantemente alimentada pelo acréscimo de óleo, a fé mais firme se extingue sem obras de amor. Não somen- te soergui em vossa alma vossa fé completamente extinta por esse Milagre tão fácil para Mim, mas também estimulei o amor para Comigo. Da luz desta chama de vida verdadeira e eterna, facilmente percebestes Quem Se aproximou de vós. Isto se tendo dado sem grande esforço e doutrinação, fazei com que continueis, com vossos descendentes, em Meu Nome e na fé viva pelas obras de amor.”
Diz o ancião: “Ó Senhor, esse milagre fará grande alarde em todas as sessenta cidades, tanto entre judeus como pagãos. Que di- remos se aqui vierem pessoas curiosas, verificando ter sido essa ruína transformada em castelo real?”
Digo Eu: “Não vos preocupeis. Se fordes obrigados a falar de Mim e Minha Ação, as palavras serão insufladas em vossa boca. Os mais insistentes podem ser encaminhados para o comandante e seus subalternos que assistiram a obra, podendo dar a devida explicação. Conhecem-Me e sabem que tudo Me é possível.”
(O Senhor): “A fim de que compreendais por que novamente erigi esse antigo castelo no qual outrora habitavam soberanos, pres- tai atenção ao que direi. Principalmente corresponde a reedificação à renovação da antiga fé em Deus Único e Verdadeiro.
Se bem que ainda existam do velho castelo de fé alguns ves- tígios da Verdade, avariados e decompostos, não se prestam para uma habitação vital do Meu Amor e Misericórdia para as almas dos Meus filhos, como eram na época do Rei de Salém, mas apenas para criaturas cuja alma se identifica com a bicharada, há muito instalada no castelo.
O castelo é, portanto, cópia fiel da situação de fé em Deus e do cumprimento de Suas Leis, somente em Jerusalém e arrabaldes. Castigarei essa cidade e todos que nela se positivam, não querendo modificar-se e voltar a Mim, de modo mais violento do que fiz a So- doma e Gomorra em época de Lot. Eis o segundo motivo pelo qual reedifiquei esse castelo, chamando vossa especial atenção.
Quando o Meu Julgamento ocorrer sobre os incréus em Jeru- salém e seus arrabaldes, e os poucos fiéis fugirem para aqui, é preciso serem acolhidos, vivificando assim vossa fé recentemente desperta- da, pelas obras de amor em Meu Nome. O referido Julgamento não será presenciado pelos velhos dessa cidade, senão pelos jovens e pe- queninos. Lembrai-vos então daquilo que ora vos disse.”
Cheio de respeito, o ancião retruca: “Ó Senhor, grande e su- blime é Teu Nome! Há alguns meses vimos à noite um fenômeno estranho no firmamento, cujos quadros muito nos apavoraram. No começo surgiram enormes colunas de fogo, atingindo aparentemen- te as estrelas. As colunas se juntaram de modo peculiar e se levanta- ram, dando impressão ser apenas um reflexo de algum fogo natural. Súbito, o Céu se tornou todo incandescente. Vimos a cidade de Salomon e grandes exércitos que sitiavam a metrópole, tudo des- truindo, inclusive o Templo.
Mais tarde, pela manhã, viu-se novamente um fenômeno lu- minoso em direção a Oeste. Ninguém soube decifrar seu sentido. A aparição central se identificava com o que anunciaste a respeito de Jerusalém. Teria realmente relação com Tua Predição atual?” Res- pondo: “Sim, Meu amigo, mas agora não discutiremos o assunto. É preferível tratardes de uma ceia. Do resto já cuidei.”
Pede o ancião: “Senhor, seria conveniente o comandante ar- ranjar algum entendido na arte culinária. Há anos nada se cozinhou, não dispomos de fogo, tampouco de lenha. Por esses motivos é qua- se impossível fornecermos uma refeição completa, muito embora as despensas estejam abarrotadas de tudo, através de Tua Graça. De que adianta isso tudo, se ninguém de nós entende da matéria?”
Digo Eu: “Tua honestidade muito Me agrada, pois falaste a pura verdade. O comandante já emitiu ordens à sua filha e a alguns serventes a fim de prepararem uma boa ceia de peixes, que enchem os depósitos, com ajuda de teu pessoal.”
OCASTELODE MELCHISEDEK
(O Senhor): “Neste castelo se encontra uma adega espaçosa e feita de pedras de basalto. Por acaso ainda não a descobriste?”
Responde o ancião, acompanhado de seus primos: “Sim, de- veria ter existido uma adega do melhor vinho, e também deve haver vários tesouros escondidos, mas ninguém de nós se atreveu a descer nas cavernas para fazer pesquisas entre bichos e outros elementos maus. Como se poderia chegar lá? Certamente tudo estará em bom estado, através de Teu Poder?”
Digo Eu: “Se o credes, certamente. Desconhecendo a entra- da, segui-Me até lá.” O ancião e mais dez empregados Me acom- panham com uma vela que acendemos na cozinha. Daí segue uma galeria para um portal feito de um bloco de basalto. Demonstro com facilidade como se abre a porta enorme e pesada, que dá acesso a uma escada larga pela qual se desce ao vasto porão.
Lá encontramos grande quantidade de vasilhas de pedra de vários tamanhos e número maior de taças de granito, prata e ouro, causando espanto entre os judeus, pois ignoram se tais objetos fo- ram criados por Mim ou se descendem de eras remotas.
Por isto os esclareço: “Todos esses objetos se originam da épo- ca do grande Rei e Sumo Sacerdote de Salém. Este era o Seu Castelo que, como as montanhas dotadas de grotas e cavernas geralmente extraordinárias, não foi feito por mãos humanas, mas pelo mesmo Poder que ora o reconstruiu. Eu unicamente sou o verdadeiro Rei de Salém e Sumo Sacerdote Melchisedek, desde Eternidades! — Enchei vossos cântaros com vinho, que se encontra em grande quantidade nos grandes recipientes.”
Satisfeitos, os judeus apanham as vasilhas, mas não sabem como tirar o vinho das grandes talhas, hermeticamente fechadas com lages pesadas e lisas. Aponto-lhes no fundo um orifício saliente e tapado por um espiche que facilmente é tirado, fazendo jorrar vi- nho antigo e formidável, pois o aroma especial certifica a todos sua excepcional qualidade.
Quando as vasilhas se acham postas na mesa do grande refei- tório, digo ao ancião: “Este vinho foi feito de uvas deste país, mas é quase tão velho quanto o castelo. Trata-se do vinho do dízimo, o qual todos os reis sujeitos ao Rei de Salém Lhe ofereciam, e teve que ser conservado até esta época para que Eu, o Mesmo Rei, dele bebesse com todos os que crerem em Mim e Me seguem.
Enquanto o castelo existir em Meu Nome, o vinho não secará; ainda assim, serão o castelo e grande parte da cidade destruídos pela força de nossos adversários, dentro de trezentos anos, a ponto de não se saber localizá-lo. Não importa, pois edifico um novo nos corações, que da maneira que foi feito, jamais poderá ser destruído. Tais monumen- tos remotos devem desaparecer, para evitar que os homens pratiquem idolatria. Mas cerca de trezentos anos após Minha Ascensão, o castelo ainda existirá e o vinho jorrará, servindo de refúgio e conforto.”
Nisto, o ancião pergunta cheio de máximo respeito: “Senhor, pelo que consta, o Rei de Salém viveu logo após Noé ter deixado a Arca, dedicando-se à lavoura. Seus descendentes não se podiam ter procriado de modo tal, que nos tempos daquele misterioso Rei pudesse ter havido tão grande número de pequenos regentes obri- gados a Lhe trazerem o dízimo. O relato é, como muitas outras coi- sas de nossos livros, bastante místico e não pode ser compreendido pela lógica.
Além disto falaste de Tua Ascensão. Qual seu sentido? Para onde ascenderás, e quando? Dá-nos explicação maior para poder- mos passar aos descendentes o que nos transmitiste no espírito da Verdade, do Amor e da Vida, podendo acreditar teres sido Tu Mes- mo a nos revelares fatos tão extraordinários.”
Digo Eu: “Quanto à época do Rei de Salém, existia Ele desde eternidades, antes de qualquer criatura, portanto antes de Noé. Com referência à época em si, em que ensinou Pessoalmente na figura de um anjo, o que se relaciona a Ele Mesmo e à finalidade dos homens, dirigia-Se de tempos em tempos ao próprio Noé. O Governo e Sa- cerdócio de Melchisedek fundaram-se somente após alguns séculos, dos quais Noé e seus três filhos foram contemporâneos. A Terra já era bastante povoada e os representantes de um tronco familiar de pequenos povos eram classificados de reis, e levavam anualmente as oferendas a Salém, onde eram orientados pelo grande Rei.
Mas quando os povos se haviam estendido sobre o orbe, es- queceram-se do Rei dos reis, Dele se separando. Até os que habita- vam em Sua Proximidade não se dirigiam a Salém. Eis que Ele aban- donou o castelo e raras vezes visitava alguns patriarcas fiéis, como fez a Abraham, Isaac e Jacob, posteriormente a todos os profetas, e ora, Encarnado, Se encontra em vosso meio.
Quanto à Minha Ascensão, tem ela duplo sentido. O primei- ro, não se fará esperar dentro de um ano. O segundo se prende a de cada criatura que crê em Mim, através do Espírito de Meu Amor,
levando o raciocínio a toda Sabedoria dos Céus. Minha Ascensão Pessoal se dará quando o Meu Corpo, após três dias de Minha morte pelas mãos dos inimigos de Deus, ressuscitar da tumba, passando à Minha Individualidade Divina.
Como ouvistes falar ter Elias subido ao Céu visivelmente, em um carro de fogo, também Eu subirei à vista de Meus muitos amigos, do solo terráqueo ao Céu, não mais palmilhando em Pessoa entre os mortais para ensiná-los, mas apenas estarei audível e espiritualmente visível, seguidamente entre os que creem em Mim, Me amem acima de tudo e ao próximo como a si mesmos. No coração de tais criatu- ras erigirei Meu novo Castelo, onde habitarei para sempre.”
ACEIANOANTIGO REFEITÓRIO
(O Senhor): “Ouvir-Me-ão aqueles em cujos corações tomei morada. Serão por Mim Mesmo ensinados e guiados, e tais justos amantes terão igualmente a Vida Eterna. Os que de Mim se afasta- rem, como fizeram em épocas remotas os reis por mero amor mun- dano, deixando de ofertar ao Rei de Salém o que deviam, verão seus burgos de sentimento abandonados por Mim. Dar-se-á então o que sucedeu na época Dele quando deixou este burgo com todos os anjos, aparecendo em breve toda sorte de contendas, inveja, mal- querença e, em virtude disso, guerras. Um povo se levantava contra outro para dominá-lo.
Quem continuar em Minha Doutrina e Amor sentirá a Mi- nha Presença a ponto de fazer jorrar Água Viva, e todos que nela beberem jamais sentirão sede. Minha Doutrina e a Sabedoria Divina que contém é justamente a Água verdadeira e viva. Quem bebê-
-la sentirá sua alma inundada de toda Sabedoria, saciando-se para sempre, sem jamais sentir fome e sede de outros conhecimentos e axiomas.
Acabo, Meu velho judeu, de esclarecer o que te parecia in- compreensível e místico. Não creias teres sido levado a toda Verdade e Sabedoria. Isto se dará quando Eu, em Espírito de toda Verdade
e Sabedoria, tiver ressuscitado também em teu coração, ascendendo no Céu de tua vida psíquica. — Vamos sair dessa adega e tomar a ceia no refeitório.”
Este está iluminado com cem lamparinas, embora ainda há pouco representasse uma ruína que nem de longe deixava sus- peitar sua finalidade. Duas mesas de pedra enormes e colocadas em cima de colunas estão cobertas de puro linho e servidas de peixes, pão e vinho. Quantidade de cadeiras cômodas as circundam.
Durante a refeição muitos são os assuntos ventilados, e o ca- pitão pergunta-Me como deveria justificar esse milagre diante de romanos e gregos. Digo Eu: “Podes dizer-lhes a verdade, recomen- dando sigilo e que de modo algum deveriam denunciar-Me alhures. A fim de que o fato não desperte atenção, a modificação do burgo será apenas interna; portanto, não façais muito alarde do mesmo. Amanhã visitarei alguns pagãos em Golan, uma hora após o meio-
-dia, e poderás acompanhar-Me. Quando voltares, divulgarás o Meu Verbo entre esses pagãos, servindo-te do milagre aqui ocorrido para reconhecerem Quem o fez e vivendo segundo Sua Vontade.” O co- mandante promete seguir rigorosamente Minhas Diretrizes.
ALVOROÇODIANTEDACASA JUDAICA
Nisto ouve-se grande alvoroço na rua. Vários operários, vol- tando a casa, veem a moradia dos pobres judeus inteiramente ilumi- nada e insistem por saber qual o motivo. Virando-Me para o coman- dante, digo: “Vai enfrentá-los para se calarem.”
O comandante obedece, em companhia de um subalterno, e se dirige aos turbulentos: “Que tendes a ver com os pobres judeus, se aqui estou como chefe militar? Acaso não deveria permitir a ilu- minação da casa?” Pedindo desculpas, os trabalhadores se afastam. Todavia, contam aos amigos o que viram, dando motivo para várias suposições, sem contudo se atreverem a pesquisar o porquê.
Ao voltar junto de nós, o comandante observa que certamen- te seria importunado pelos gregos de manhã cedo, desejando isto
fosse impedido. Digo Eu: “Não te incomodes. Haverá meio eficaz para afastar os curiosos desta casa. Vamos descansar. Ficarei à mesa, enquanto podereis procurar um leito, caso isto for de vosso agrado.”
Todos à Minha mesa preferem fazer-Me companhia. Os judeus procuram os antigos recintos, naturalmente transformados. As lamparinas ficam acesas durante a noite toda, para evitar a apro- ximação de importunos.
AVERDADEIRACONSAGRAÇÃODO SÁBADO
De manhã cedo, o ancião se aproxima de Mim para saber se Eu e Meus discípulos mantínhamos o sábado, rigorosamente ins- tituído por Moysés. Respondo: “É bom e justo santificar-se tal dia segundo a Lei de Moysés. A partir de agora, todos os dias serão santificados quando se faz o bem, segundo Minha Doutrina. É, por- tanto, desnecessário modificardes vossa atitude num sábado.
Toda pessoa sente necessidades, igualmente num sábado, que devem ser satisfeitas sempre que possível. Apenas deve abster-se de trabalhos pesados para lucro material. Podendo ser útil ao próxi- mo, ainda que por trabalhos materiais, o homem não desonrará o sábado, mas receberá Minha Bênção. Não havendo tal motivo, é aconselhável descansar em tal dia para ocupar-se de assuntos do es- pírito. Durante trabalhos materiais, a alma não está em condições de meditar acerca de problemas espirituais e elevar-se a Deus; foi para essa finalidade que Moysés instituiu tal dia.
Absurdo é não comer e beber após o surgir e também antes do pôr-do-sol, não fazer benefício físico a um necessitado, como fazem os fariseus em Jerusalém e igualmente ensinam nas sinagogas de outros lugares. Com isto provam jamais terem entendido o ensi- namento do profeta, dando motivo para a maior controvérsia espi- ritual da Lei de Moysés e dos profetas. Fazei o mesmo que fizestes hoje, que jamais tereis vilipendiado o sábado.
Aos pagãos, não há necessidade de prestardes serviço co- mum por pagamento miserável, nem hoje nem em dia qualquer.
Tão logo tiverem aceito Minha Doutrina, considerando-vos como semelhantes, podeis prestar-lhes bons serviços com todo amor e amizade fraternal, para que reine paz e união. Eis tudo que diz res- peito à verdadeira santificação do sábado.
Existem pagãos inteligentes que afirmam ser mais aconse- lhável servir-se ao semelhante do que visitar um templo, para hon- rar um deus que dispensa préstimos humanos. Do mesmo modo, o Deus Único e Verdadeiro não necessita de serviços dos homens, mas unicamente de seu amor aplicado ao semelhante.
O amor é o verdadeiro elemento vital para a alma, a fim de alcançar a Vida Eterna; e Deus criou justamente os homens para poderem ingressar na Vida Eterna. O verdadeiro ofício religioso consiste principalmente no recíproco servir das criaturas, dentro de Meu Amor, e por ele jamais poderia ser vilipendiado o sábado.
Aliás, consta o seguinte dito de um profeta, quando os ju- deus começaram a considerar apenas o culto externo, como fazem os fariseus: Vê, esse povo Me honra com os lábios, mas seu coração está longe de Mim. — Servi-Me, portanto, apenas no coração e desisti das cerimônias mortas, que tereis santificado o sábado, em todos os dias. Compreendeste?”
O velho judeu responde: “Sim, Senhor, por isto havemos de considerá-lo segundo Tua Vontade.” Prontamente ele se dirige à fa- mília para esclarecê-la a respeito. Em seguida, trata do preparo do desjejum, no que Veronika presta seu auxílio.
ENSINAMENTOPARAPAGÃOS SUPERSTICIOSOS
Entrementes, dirigimo-nos para o monte mais alto, de onde se descortina belo panorama. Vê-se grande parte do Vale do Jor- dão a Leste, as planícies do Euphrates, vastas cordilheiras e lugarejos distantes. Não fosse a cerração, teríamos a visão de Jerusalém. O comandante então observa: “Senhor e Mestre, essa neblina parece caracterizar o povo, cujo coração e intelecto estão ainda mais anu- viados que essa paisagem.”
Respondo: “Assim é, Meu amigo. Por isso muitos encon- trarão a morte dentro da neblina densa de seus enganos e derivantes pecados de toda espécie. Deixemos tais observações para gozarmos a aurora estupenda.”
Todos se calam e se alegram com as cenas matutinas em cons- tante mudança. Nesta zona, as manhãs são sempre mais belas em virtude da extensão a Leste, em que muitos meteoros raros se desen- volvem antes do surgir do Sol, originando-se no solo vulcânico. Os supersticiosos pagãos tomavam tais fenômenos por companheiros semidivinos da deusa Aurora, sempre pronta a aplainar a estrada para Apollo.
Era chegado o momento de tirar-lhes tal superstição e expli- car o verdadeiro motivo de tais aparições, e assim, o comandante e seus subalternos começam a compreender a razão de nosso passeio neste monte elevado. Após ter agradecido pelo ensinamento, um oficial diz o seguinte: “Será difícil libertar o povo da superstição, pois pelo ensino sacerdotal se vê em cada nuvem, neblina, fumaça, queima de madeira etc. nada mais que espíritos e duendes, esperan- do de sua ação felicidade ou desgraça.
No final, há algo espiritual em todas as aparições, pois sem motivo interno jamais poderia surgir algo externamente. Tal motivo básico foi pelos antigos sábios interpretado como origem espiritual do fenômeno. É difícil convencer-se tais pessoas de que o que veem não seja o que pensam, tratando-se apenas de uma aparição neces- sária de uma causa interna e invisível. Resta saber se não é melhor libertá-las pouco a pouco da superstição, porque nada recebem para repor a sua perda, podendo cair no pior materialismo, do qual os habitantes desta cidade não carecem. Que dizes, Senhor e Mestre?”
MÉTODODE ENSINAMENTO
Digo Eu: “Só posso repetir o que disse aos Meus discípulos. Antes de tudo, ensinai o conhecimento de Deus Único e Seu Reino do Amor e Verdade Eterna, dando o exemplo da Doutrina recebida
de Mim. Assim, serão levados a toda Verdade e Sabedoria, através de Meu Espírito.
Em Pella já vos demonstrei haver motivo interno e espi- ritual em todos os fenômenos da Terra e do próprio homem. No início, não é aconselhável passar essa explicação aos alunos, mas in- teirá-los da questão principal que já conheceis. Quando ela tiver deitado raízes, todo o resto será fácil efetuar.
Aliás, não vos dediqueis no começo às explicações de fenô- menos telúricos. Ainda não estais bastante preparados e, além disto, não depende delas a verdadeira salvação da alma. Ensinai apenas a fé viva em Mim e a ação segundo a Minha Vontade. De todo o resto, Eu Mesmo cuidarei. Quem cumpre Meus Mandamentos e Me ama verdadeiramente acima de tudo será por Mim visitado, recebendo revelações à medida de sua capacidade assimiladora.
Foram os talentos dados por Mim tão diversamente para que cada um sirva ao próximo dentro de suas necessidades. Por enquan- to, nada tendes que fazer para o desenvolvimento dos talentos in- dividuais, e sim tratar da divulgação do Ensinamento principal. O resto, Eu farei.” Satisfeito, o oficial agradece.
Entrementes, o Sol havia surgido acima do horizonte. Um empregado vem convidar-nos para o desjejum, e quando chegamos a casa, esta se acha sitiada por grande número de cidadãos. Nem bem reconhecem o comandante e seus subalternos, imediatamente se afastam. Em seguida tomamos o desjejum e ninguém mais se al- terou com a casa dos judeus. Ainda assim, o prefeito achou por bem visitar o militar, que Me pede orientação no caso. Respondo-lhe: “Podes recebê-lo, pois deve se tornar bom instrumento para Mim.”
OPREFEITODE ÁBILA
Após os cumprimentos habituais no grande refeitório, o co- mandante pergunta pelo motivo da visita do outro. O prefeito, in- teligente e bastante experimentado, que bem conhecia a moradia dos judeus, diz admirado: “Ouvindo de tua passagem a negócios
por Ábila, torna-se dever sagrado fazer-te uma visita e perguntar-te se necessitas de meus préstimos. Muito admirado percebo que nada precisas. Conseguiste transformar a ruína dos judeus em verdadeiro palácio, sem ao menos dar-me conhecimento a respeito e sinto ser dispensável. Caso precises de algo, estou ao teu dispor, até mesmo com minha vida.”
Diz o comandante: “Podes ficar, pois haverá motivo para pe- dir-te auxílio. Por ora toma uma taça de vinho antiquíssimo encon- trado em uma adega soterrada.” Quando experimenta o vinho, o outro exclama: “Perdoa-me se faço uma pequena observação. Se este vinho for tua obra, és mais divino que humano. Do mesmo modo é a transformação dessa ruína em um palácio, de um momento para outro, apenas possível aos deuses. Os mais entendidos construtores levariam mais que dez anos para tanto.”
Responde o comandante: “Tua observação é justa, mas não se aplica à minha pessoa. Dentro em pouco saberás a Quem me refiro e então estarás ao meu inteiro dispor. Agora toma o vi- nho.” Após ter brindado o construtor formidável do burgo, o judeu propõe: “Caso for de teu agrado, teria vontade de me convencer se todos os recintos se acham na mesma situação que esse refeitório, anteriormente habitado por toda sorte de ofídios.”
Diz o romano: “Pois não, se for da Vontade de Alguém em nosso meio.” Digo Eu: “Certo. Os pagãos e especialmente os estoicos, como é nosso prefeito, só podem ser convertidos à Exis- tência de Deus Verdadeiro, Senhor de Céus e Terra, através de grandes provas.”
OCOMANDANTECONVERTEO PREFEITO
Todos se levantam da mesa e nos dirigimos aos recintos gran- des e pequenos, à enorme adega, e o prefeito mal consegue falar de tamanha veneração. Quando voltamos ao refeitório, passadas algumas horas, ele diz: “Agora acredito na Existência de Deus Eter- no, quer dizer, no Deus dos judeus, que mantêm uma fé um tanto
fraca, considerando-O apenas em determinado dia da semana. Oh comandante, fala-me a respeito desse Deus!”
Diz aquele: “Observa o Homem que à minha direita pa- lestra com minha filha, a qual Ele curou milagrosamente em Pella. Por ora é só que posso dizer.”
O outro começa a Me observar com muita atenção e em se- guida se vira para o romano, com voz baixa: “Externamente, parece judeu da Galileia. Deve ser homem sumamente devoto ao Grande Deus judaico, por ter recebido poder tão excepcional.” Retruca o romano: “Em parte tens razão. Com o tempo tudo te será claro.”
Eis que Me viro para o romano, dizendo: “Já podes esclare- cê-lo. Está em condições de assimilá-lo.” E o comandante começa a doutrinar o prefeito, levando os próprios discípulos à admiração, enquanto o outro não alimenta a menor dúvida a respeito de Mi- nha Pessoa.
Percebendo com Quem estava lidando, o prefeito se levanta e diz com todo respeito: “Senhor, és Tu em Quem acreditarei com todos os meus. Dize-me o que fazer para que minha fé se transmita aos corações de outros. Não me sinto feliz quando não participam de minha ventura. Todos os meios Te são conhecidos e facilmente poderias orientar-me.”
AMOREPACIÊNCIA,PRINCIPAISVIRTUDESDO HOMEM
Digo Eu: “Amor e paciência são as duas virtudes mais impor- tantes para todas as coisas deste mundo e também no Universo. Não careces de amor, razão por que Me deixei descobrir por ti. Quanto à paciência justa e uma sintonia com o amor — estás ainda fraco.
Faze hoje, em Meu Nome, apenas aquilo que te seja possível, que o dia seguinte te dirá o que fazer para a realização de finalidade nobre. Neste mundo imenso e destinado para os homens, nada se consegue à força. Se assim não fosse, não teria Eu aceito carne e san- gue, como homem físico, para ensinar-vos Pessoalmente os assuntos de Meu Reino, com toda paciência e dedicação.
Todo homem tem livre vontade, indiscutivelmente respei- tada. Portanto, não é aconselhável chamar-se a atenção aos Meus Milagres junto a pessoas que ainda não se interessaram pela dou- trina estoica. Devem ser esclarecidas acerca de Minha Existência, sem Começo e sem Fim espiritual, quer dizer, sobre Deus Único e Verdadeiro. Em seguida convém transmitir-lhes a Vontade Dele, e quem a cumprir terá alcançado a meta final.
Aceitando os ensinamentos sem coação externa — física ou moral — e vivendo segundo manda a Doutrina, podeis relatar as Minhas Provas e Minha Presença Individual, fortificando deste modo fé e ação. Os estoicos endurecidos podeis converter através de Meus Milagres. Os desprezadores da vida e desejosos da morte e do não ser suportam um golpe mais forte, sem sofrerem prejuízo na liberdade de sua vontade.
Todavia, não façais alarde desse milagre. Vivem na cidade duas criaturas curadas por Mim em Pella, cujas minúcias são do conhecimento do comandante e de seus subalternos, que Me darão justo testemunho. Fazei o que vos disse, com amor e paciência, que atingireis uma colheita farta de almas para o Reino da Vida.
Houve um proprietário de grande vinha que contratara dois operários mediante boa recompensa, e ambos dividiram o terreno para o serviço. Um deles queria demonstrar-se dedicado e ativo perante o patrão e talvez receberia uma gratificação especial pelo trabalho constante e sem trégua. Em pouco tempo terminou o serviço, que em virtude da pressa, não foi profícuo e deu colhei- ta pequena.
O segundo refletiu a respeito do tratamento individual de cada videira, para conseguir bom fruto. Naturalmente levou mais tempo. Ao fim da colheita, sua vinha estava abarrotada de uvas ma- ravilhosas. Quando veio o dono, elogiou o segundo operário e lhe deu uma gratificação extra, ao passo que o primeiro nada de espe- cial recebeu, pois havia causado antes prejuízo do que benefício. O mesmo deveis considerar durante o trabalho na vinha humana, caso quiserdes obter verdadeira utilidade na divulgação da Doutrina.
As criaturas são as videiras e devem ser tratadas segundo sua natureza e caráter. Antes de tudo, ensinai a Verdade, que as libertará dos erros aos quais suas almas se achavam algemadas, e vós mesmos sentireis as alegrias da maior liberdade em vosso coração.”
ALMOÇOEDESPEDIDADO SENHOR
Todos Me agradecem pelo ensinamento, e o prefeito se le- vanta da mesa quando percebe que o ancião manda servir o almoço. Convido-o para participar do mesmo e, ao avistar os bons peixes, ele pergunta ao comandante se eram de Genezareth ou de Gadara. Este responde: “Amigo, esses peixes são produzidos pelo Senhor, ao Qual tudo é possível, como já percebeste, de sorte representarem prova de Seu Poder e Glória. Farás bem em te saciares com eles.” O prefeito não se faz de rogado, constatando o especial paladar dos pratos.
Durante a refeição vários assuntos são ventilados, inclusive os sonhos, e Eu Mesmo explico o mundo intrínseco dos mesmos e demonstro a força psíquica ainda não desenvolvida, porém divi- namente criadora que, pela ação segundo a Minha Doutrina, pode atingir a máxima perfeição. O grego e o comandante romano muito se alegram com isto e o primeiro diz: “Quão ignorantes e tolos são os homens, perto de Ti, Senhor.”
Aparteio: “Vim a este mundo justamente para apontar o caminho pelo qual podeis atingir tal perfeição em tudo, Imutável Posse Minha, desde Eternidades. Sou Tudo em tudo, e tudo está em Mim e vem de Mim. Assim, também vós, Meus filhos, deveis estar Comigo.
Afirmo: Não há quem visse, ouvisse ou sentisse quais sejam as bem-aventuranças reservadas para os que Me amam e cumprem Meus Mandamentos. Sede comedidos, zelosos no Bem e na Verdade e ativos com todo amor e paciência, a fim de que o Meu Espírito desperte, cresça e demonstre na Luz claríssima o Mundo de Deus no coração de vossa alma. Nele se oculta o Infinito mais feliz, im- perceptível aos olhos da criatura material. Somente Eu conheço o
caminho para lá e vo-lo demonstro com clareza. Segui pelo mesmo, para atingirdes o Mundo Divino dentro de vós.”
Aduz o grego: “Eis uma sabedoria profunda; entretanto, não a compreendi inteiramente por ser ainda homem materialista. Tudo farei para despir o homem externo, a fim de compreender mais cla- ramente o interno. Ajuda-me nesta tarefa difícil, Senhor. A partir de agora estou alegre sabendo, por Teu Intermédio, não haver morte, e peço-Te me conserves essa alegria, pois um homem tristonho não pode sentir vontade para trabalhar.”
Digo Eu: “Fazendo o que vos cabe, farei o que Me com- pete. Não almejeis excesso de alegria enquanto palmilhardes na Ter- ra. Por ela, a alma se perde no mundanismo e materialismo, e difi- cilmente encontrará o caminho à vida, em sua perfeição.
Interpretai alegria e sofrimento segundo a Minha Vontade e com paciência e submissão justas, que sereis cumulados com a coroa da vida, em Meu Reino. — Chegou o momento de Minha partida para seguir a outro local, onde há muitos mortos que de- vem ser ressuscitados. Se quiseres, comandante, podes acompanhar-
-Me a Golan.”
Responde ele: “Ó Senhor e Mestre, se fosse do Teu agrado, acompanhar-Te-ia mais além, pois disponho de tempo nesta época. De qualquer forma, irei Contigo aos lugarejos sujeitos ao meu co- mando, em companhia de um subalterno e de minha filha.”
Nisto se aproximam os judeus para Me agradecerem pela cari- dade recebida, pedindo Eu não abandoná-los com Minha Graça. Pro- meto-lhes Minha Ajuda espiritual, caso permanecessem em Minha Doutrina, e o comandante lhes garante proteção, junto ao prefeito.
CHEGADAA GOLAN
Partimos para Golan, fazendo uma pequena volta fora da ci- dade para evitar desnecessário alarde. O prefeito nos acompanha, pois também queria fugir de inúteis comentários. A caminho de Golan, o romano nos deixa para visitar um velho amigo.
Chegamos à noitinha ao portão da cidade e encontramos vá- rios judeus, que somente após o pôr-do-sol se animam a dar uma saída no sábado. Quando nos avistam, um ancião se aproxima e pergunta de nossa procedência e se ignorávamos o vilipêndio por um passeio desnecessário, enquanto o Sol ainda brilhava no Céu.
O romano o enfrenta com rigor, dizendo: “Nem todos aqui são judeus, pois o grupo contém romanos de destaque. Vossas leis não nos interessam, e caso quiséssemos, os judeus teriam que fazer neste dia o que determinássemos. Não tendes direito de deter um irmão de fé em nossa companhia, para saber porque faz ou deixa de fazer isto ou aquilo. Sou plenipotenciário do Imperador e te- nho a espada da justiça em mão. Quem se atrever a agir contra ela
— seja judeu, grego ou romano — experimentará sua agudez, em qualquer dia.”
Assustados, os judeus pedem desculpas por não o terem visto no grupo. Também eles eram súditos fiéis de Roma, cujas leis respei- tam. Diz o comandante: “Desta vez sereis perdoados. No futuro evi- tai de inquirir judeus que aqui chegam num sábado. A incidência do caso será severamente punida. Podeis prosseguir em vosso passeio.”
Supondo que o romano tivesse um pelotão na retaguarda, os judeus preferem voltar aos lares. Entrementes, o comandante per- gunta em que albergue pretendo pernoitar.
Respondo: “Na outra ponta da cidade há um albergue judeu. Lá ficaremos a noite, e amanhã resolveremos o resto.” Dentro em breve chegamos ao destino, onde o taverneiro nos aborda, pergun- tando pelos nossos desejos.
Digo Eu: “Quando viajantes param diante de uma taverna é para serem acolhidos; o mesmo se dá conosco.” Diz ele: “Sois ao todo uns quarenta, que dificilmente poderiam ser acomodados em minha casa. Lá para cima existe um grande albergue grego, onde podereis ser recebidos com todo conforto. Além disto, tenho uma companheira enferma, e minhas duas filhas também se acham indispostas, de sorte que a arte culinária está mal acondicionada. Tudo que tenho é redu- zido, ao passo que o grego vos supriria do bom e do melhor.”
Retruco: “Isto sei há muito tempo. Justamente por isto quero ficar contigo, para suprir-te de tudo que necessitas. Deixa-nos en- trar.” Assim, entramos no refeitório não muito espaçoso e arrumado com mesas, bancos e cadeiras. O taverneiro manda trazer lampari- nas e se admira muito quando descobre o conhecido comandante Pellagius. Novamente se desculpa de seu albergue, ao que o roma- no responde: “Se quisesse conforto, poderia ter procurado o castelo sempre à minha disposição.
Apreciando muito mais esse grupo do que o luxo do mun- do, ficarei com meu ajudante e minha filha. Além de tudo, aqui estou por ter o Senhor e Mestre expressado o desejo de visitar este albergue. Ainda saberás Quem É e qual a felicidade ocorrida para todos os teus. Manda trazer pão e vinho.” Servimo-nos à vontade, no que o judeu, homem honesto e bondoso, nos acompanha.
CURADAESPOSAEDASFILHASDO JUDEU
Após nos termos confortado um pouco, o taverneiro se encoraja e Me diz: “A julgar pela tua vestimenta, pareces ser ga- lileu. Como podes ser senhor e mestre, segundo a opinião do comandante?”
Digo Eu: “Manda trazer tua mulher e filhas, que as curarei como fiz à filha dele. Eu não o fazendo, não haverá médico que o faça. Obedece, que verás a Força e Glória de Deus no homem.”
Retruca ele: “Sou judeu na íntegra e cumpro a lei; mas na fé propriamente dita não sou forte. Os profetas predisseram certas vantagens para o nosso povo, especialmente de um Messias que viria com grande Poder e Glória para erguer o reino destruído e corrupto, para todos os tempos. Até hoje se cumpriu apenas o lado pior, en- quanto os benefícios se fazem esperar. Com tais experiências, difícil é a fé se manter firme.
Além disto, somos obrigados a viver entre pagãos, que nos ridicularizam tão logo comecemos a falar do Deus Único. São filó- sofos, sem crença em deuses nem na imortalidade da alma, e sempre
sabem provar a nulidade das coisas espirituais. Consideram somente forças da Natureza, que criam constantemente segundo as leis nela contidas. Por aí vês que nossa fé é bastante fraca; entretanto, quero acreditar que possas curar minha mulher e filhas.”
Dentro em pouco, os empregados transportam a enferma no próprio leito, acompanhados das filhas, e o taverneiro diz: “Eis aqui o Senhor e Mestre que vos curará de modo milagroso. Tende fé e pedi-Lhe.” Elas assim fazem com grande emoção, ao que digo: “Vossa fé vos ajude, assim quero! Levantai e caminhai!” Instanta- neamente, as três moças se curam e Me agradecem com fervor, e o taverneiro se junta à sua gratidão.
OPODERMILAGROSODO SENHOR
Após algum tempo, o judeu se vira para as mulheres: “É pre- ciso demonstrardes vosso reconhecimento pela ação. Ide à cozinha e fazei a melhor refeição possível.” E elas obedecem incontinenti. Eu, porém, digo-lhe: “Podias ter poupado esse trabalho às moças, pois nos satisfazemos com pão e vinho. Já que mandaste preparar uma refeição, poderão fazê-la.”
Neste instante, a mulher chega ao refeitório e diz com alegria ao marido: “O que se passou durante a minha moléstia que durou meio ano, sem que o soubesse? As despensas estão abarrotadas de lentilhas, feijões, trigo, azeite, frutos, uvas, mel, peixes frescos e de- fumados, pão, leite, manteiga, queijo, ovos etc. Perguntei às filhas e empregadas de onde veio isso tudo, sem poderem responder. Como isso aconteceu?”
O marido, igualmente estupefato, responde: “Se assim é, co- meço a crer nos antigos milagres, como sejam, a chuva de manás e de pardais. Estou certo de que o Senhor e Mestre saberá Quem encheu as nossas despensas.” Diz a judia: “Quando ele me curou, vi uma forte luz projetar-se da fronte dele e todo seu corpo estava envolto numa irradiação luminosa. Quiçá oculta-se algo grandioso nele, talvez o profeta Elias, ou então o Próprio Messias.”
Acrescenta o marido: “Terás razão. Quem isto pode pela simples vontade deve estar em união com o Espírito de Deus. Não podemos agradecer-Lhe à altura; todavia, aprontai a ceia da melhor maneira possível.”
OREINODE DEUS
Voltando ao refeitório, o judeu Me fita dos pés à cabeça e diz: “Minha mulher deve ter razão. És o Messias Prometido em Pessoa, que não poderia fazer milagres maiores do que estes. Teu Corpo, Senhor e Mestre, é igual a qualquer um; mas Tua Alma é plena de Poder e Força divinos. Por isto sejas louvado!”
Digo Eu: “Felizes tu e os teus, por terdes percebido isto em Mim. Bem-aventurados somente aqueles que cumprem a vontade do Pai no Céu, Que Me enviou a este mundo. Eu e o Pai somos Um. Quem Me vê e ouve, vê e ouve também o Pai. Sem Mim, não há quem veja e ouça o Pai. Quem, portanto, crer em Mim e agir segundo a Minha Doutrina receberá a Vida eterna.”
Diz o judeu: “Qual é a Tua Doutrina? O que é preciso fazer para receber de Ti a Vida eterna?” Respondo: “Quem crê em Mim e não se aborrece Comigo, cumprindo os Mandamentos dados por Moysés, já possui a Vida eterna. Não vos dou outra Lei senão a que Moysés recebeu de Mim, para transmiti-la aos homens.
Reconhece e ama a Deus acima de tudo e ao próximo como a ti mesmo, que cumprirás toda a Lei e, com ela, a Vontade de Quem ora fala contigo. O efeito se demonstrará em tua alma. Compreendeste?”
Responde o judeu: “Sim, Senhor e Mestre; sempre cumpri a Lei de Moysés, não obstante a fraqueza de minha fé, e a partir de agora a cumprirei ainda mais. Consta que o Messias fundará um verdadeiro Reino de Deus nesta Terra, que jamais tem fim. Como e onde? Teu Trono ficará em Jerusalém? E quando isto será feito?”
Digo Eu: “Meu Reino não será um império mundano, mas Divino, sem qualquer pompa; nada tem de externo, mas se acha no íntimo da criatura. A Minha Cidade, Minha Morada sólida dentro
dela, é o coração puro que Me ama acima de tudo. Eis o que diz respeito à fundação do Reino nesta Terra.
Os que esperarem um novo Reino de Deus na Terra, com pompa externa, ver-se-ão traídos em suas esperanças. Jamais tal Rei- no seria fundado na plena Verdade. Haverá falsos profetas que isto afirmarão em Meu Nome. Nunca, porém, habitarei nem reinarei em tal reino. Esta é a Verdade Plena quanto à fundação do Meu Reino nesta Terra. Compreendeste?”
Responde o judeu: “Sim, Senhor e Mestre. Muitos ainda pre- sos ao mundo não o entenderão, esperando por um reino material, e deste modo continuarão no antigo julgamento e cegueira espiritual. Sê benevolente para com os ignorantes, Senhor, e não abandones os que já descobriram o Teu Reino verdadeiro e procuram seguir a Tua Vontade.” Digo Eu: “Teu pedido é justo e será atendido. Eis que vem a ceia, vamos sentar-nos.”
OTAVERNEIROEOCOMANDANTESÃO ORIENTADOS
Após tomada a refeição, em companhia da família do anfi- trião, sua mulher e filhas novamente agradecem pela Graça recebida. Alguns discípulos se aborrecem com tal repetição e afirmam já terem feito o suficiente.
Percebendo a impaciência dos apóstolos, digo: “Quantas vezes operei milagres e vos saciei à Minha mesa, sem ter recebido qualquer manifestação de reconhecimento. Deixai que esses filhos expressem sua alegria. Prefiro o balbuciar de um filho às palavras sá- bias de um intelectual, nas quais o raciocínio se alegra sem vantagem para o coração. Em verdade vos digo: Quem Me aceita diante do mundo será por Mim reconhecido perante o Pai. Deixai, portanto, que os filhos se alegrem.”
Os discípulos se contêm e Eu abençoo a família do judeu, que se retira para a cozinha. Até perto de meia-noite dou orientação ao hospedeiro em vários assuntos, que também é assistida pelos demais. O comandante, finalmente, se expressa: “Senhor, guardei na memória
o que falaste em Pella e Ábila. Confesso que acabas de ventilar certas coisas jamais sonhadas e Te agradeço muito. Facultaste-me uma noção muito mais profunda acerca dos segredos da Criação.”
Digo Eu: “Meu amigo, muita coisa teria para vos dizer e re- velar — mas ainda não estais em condições de suportá-las. Tão logo Eu vos enviar o Espírito Eterno da Verdade e Ele penetrando vossas almas, sereis levados à Sabedoria total.
O fato de Eu ter podido abordar certos temas com o judeu se prende ao conhecimento dele das Escrituras, conquanto não as tenha assimilado. Quando tiveres lido a Escritura toda com a justa atenção, descobrirás muita coisa estranha, que o intelecto não saberá interpretar no sentido espiritual. Isto se dará com a ajuda do Espíri- to enviado por Mim.
Se desejas maior elucidação sobre fenômenos da Natureza, poderás visitar o teu colega em Genezareth, bastante informado a respeito. Eu ensino as criaturas segundo sua capacidade assimiladora e em assuntos que já despertaram sua reflexão, sem terem conse- guido atingir a Verdade. Assim acontece Eu vos apresentar em toda parte algo novo e estranho; todavia, não se trata de novidade, pois já existia, sem que fosse descoberto e compreendido.”
Todos compreendem Minha Explicação, inclusive os discí- pulos, percebendo o motivo mais profundo pelo qual em diversos locais dissertava acerca de assuntos novos ao lado da Doutrina em si.
PRENÚNCIODEUM TEMPORAL
Quando termino de falar, o anfitrião se vira para Mim: “Se- nhor, peço me informes quando alguém estiver com vontade de dei- tar-se, pois já passou metade da noite.”
Digo Eu: “Amigo, deixa estar. Ficaremos como sempre senta- dos à mesa. Depende de ti, procurares o teu leito. Aliás, não aconse- lho que esta noite vos entregueis ao sono. A zona é exposta a tempes- tades e terremotos, e dentro em breve virá um temporal e convém verificar sua direção.”
Protesta o judeu: “Mas, Senhor e Mestre, és Soberano sobre o poder do mal, geralmente provindo de elementos infernais, e bas- ta o pronunciamento de Tua Palavra para evitar que se aproxime o temporal.”
Digo Eu: “Falaste certo segundo teus conhecimentos dos fe- nômenos naturais. É bem verdade que tais tempestades às vezes são assistidas pelos demônios; todavia, não podem o Amor e a Sabedoria divinos impedir o desencadear dos elementos. Na Terra repousam inúmeros elementos da Natureza que com o tempo terão de alcan- çar sua salvação. Como esta zona é especialmente rica em elementos brutos de toda espécie, enquadra-se na ordem que os elementos sa- zonados possam irromper para uma existência mais livre. Convém permitir-lhes a expansão em diversas ocasiões, do que retê-los por muito tempo. Muitos grupos explodem e provocam grandes devas- tações, que se apresentam como desertos, onde por longo tempo nada germinará. Compreendes por que tenho que deixar o tempo- ral expandir-se. Ninguém precisa temê-lo, entretanto convém ficar acordado.”
Nisto se aproxima Simon Judá e diz: “Senhor e Mestre, quando certa feita nos encontrávamos durante um temporal no Mar Galileu, dentro de uma embarcação bastante frágil, estavas ador- mecido e fomos obrigados a Te despertar para não sucumbirmos. Imediatamente ameaçaste o temporal, que serenou a ponto de to- dos afirmarem: Quem será esse homem, ao qual obedecem ventos e mares? — Compreendo ser melhor estar-se acordado durante um temporal; mas por que dormias justamente naquela ocasião?”
Respondo: “Justamente para experimentar vossa fé e for- tificá-la. Além disso, não disse ao judeu ser aconselhável também para Mim ficar acordado. Meu Conselho não serve como norma de vida para Mim, mas para vós, a fim de atingirdes a perfeição. Se quisesse, poderia entregar-Me ao descanso, haja vista não ter dado a advertência à Minha Pessoa. Velarei em virtude de vossa falta de fé.”
Atentos, todos aguardam o temporal. O hospedeiro, que não obstante Minha Presença, sente crescer o temor, diz: “Não con-
vém despertar os que já dormem?” Respondo: “Basta nós estarmos vigilantes. O próprio temporal despertará os moradores da cidade, que procurarão o ar livre. Nesta ocasião teremos bastante trabalho.”
ANOITE TEMPESTUOSA
Neste momento, um vento forte se manifesta, acompanhado de ligeiro tremor de terra. Em seguida levanta-se forte rugir, a meia hora distante, que de minuto em minuto aumenta. Dentro de pou- cos instantes, a fúria alcança a cidade, despertando muitos morado- res que, apavorados, procuram fugir para o campo, pois temiam ser soterrados nos escombros das casas.
Muitos, ao passarem pelo nosso albergue, se admiram de nossa coragem e calma, e alguns vizinhos entram no refeitório para aconselhar o dono da casa a dirigir-se para o ar livre. Deveriam estar soltos todos os demônios judeus e as fúrias pagãs, do contrário não se compreendia o surgir de noite tão tempestuosa, após dia tão sereno.
Responde o taverneiro: “Amigos, minha casa é velha e já passou por muitas provas semelhantes, e certamente suportará esta noite sem prejuízo. Entrego tudo a Deus, o Senhor, cheio de Amor e Poder, que não permitirá seja minha família atingida pelos demô- nios judeus ou pagãos.”
Dizem os dois vizinhos: “Deixa-nos em paz com os deu- ses, sejam quais forem. Que vantagem teriam por nos martirizarem? Nós, romanos, clamamos por todos eles, e alguns sacerdotes fazem gritaria, inclusive os judeus da cidade. A tempestade e o tremor de terra não cessam e convém salvar-se ao menos a pele.”
Retruca o judeu: “Naturalmente tendes de vos socorrer pes- soalmente, sendo vossa fé e confiança em Deus tão fracas. A mim, Deus verdadeiro demonstrou que essa tempestade viria por esta zona por motivos mui sábios e não precisaria temer algo.
Os romanos se vangloriam com a seguinte afirmação: Ainda que o planeta soçobrasse, as ruínas haveriam de carregar o impávi- do! — Onde está a aplicação da mesma? Eu, judeu crente no Deus
Verdadeiro e Único, vivo no justo temor, que me dá mais coragem que vossa empáfia. Se pensásseis como eu, poderíeis ficar dentro de casa, sem que algo vos acontecesse.”
Respondem os romanos: “No fundo tens razão. Mas não temos culpa de não participarmos de tua crença e oportunamente falaremos a respeito.” Percebendo haver na sala outros hóspedes, os romanos fazem tentativa de perguntarem a respeito deles. Todavia, eram chamados pelos familiares que os procuravam na rua, e assim se afastam.
Entrementes, o taverneiro pergunta-Me quanto tempo ha- veria de durar o temporal, e Eu respondo: “Mais uma hora, no en- tanto ninguém sofrerá dano algum. Falaste bem aos teus vizinhos, que amanhã aqui voltarão. Agora podemos descansar para de manhã trabalharmos bastante.”
A BONANÇA
Quando despertamos pela manhã, um tanto nebulosa, os discípulos indagam se quero ir ao ar livre. Respondo: “Por várias vezes assistimos manhãs como essa e sempre passei ao ar livre, por- tanto também o farei hoje. Quero dar aos pagãos uma prova para se converterem mais facilmente ao Deus Único e Verdadeiro. Quem quiser ficar em casa, que fique.”
Todos respondem: “Não Te deixaremos, Senhor, pois quere- mos estar sempre Contigo.” Digo Eu: “Então vamos.” Ao chegarmos à rua, encontramos grande multidão acampada na calçada, porquan- to temia passar a noite em casa. Conquanto a tempestade terminas- se, todos receavam sua volta. Num grupo estavam também os dois vizinhos do taverneiro, que felicitam o mesmo, principalmente o comandante e seus subalternos, por terem passado incólumes.
Inquiridos pelo romano se haviam ficado a noite ao ar livre, eles respondem: “Até irromper a fúria estávamos em casa. Mas quan- do a terra principiou a tremer, todos nós fugimos para a rua. Fossem nossas casas construídas de madeira, não teríamos sido enxotados.
As pedras dos edifícios são mui quebradiças, por isto é aconselhável abandoná-los em tais ocasiões.”
Diz o comandante: “E a proteção dos deuses, da qual todos os pagãos se vangloriam? De minha parte, entreguei-me à Proteção do Deus Único, e fiquei dentro do albergue sem o menor receio. Somente Ele enche a criatura de coragem para enfrentar o que quer que fosse. Quem não tem fé e confiança em Deus é exposto a toda sorte de sofrimentos e vicissitudes, principalmente na hora derradei- ra de sua vida.”
APROCURADE DEUS
Diz um dos vizinhos: “Vemos que tens razão, e feliz é todo aquele capaz de uma fé firme e confiança viva, que o farão suportar todos os embates da vida. Mas onde buscá-las? Lá em cima, na parte mais larga da rua principal, se acham nossos sacerdotes, e não longe deles, alguns rabis judeus. Ambas as castas demonstram quão pouco esperam do auxílio verdadeiro.
Quando terminar todo perigo do temporal, os nossos começa- rão a predicar a respeito da ira dos deuses em virtude de nossa fé fraca e as oferendas pequenas; e caso continuássemos nessa atitude, os deuses haveriam de exterminar o próprio país. Teriam, portanto, feito grande alarde no Templo, caso não temêssemos a repetição do temporal.
O mesmo sucede com os sacerdotes judeus. Estariam dentro da sinagoga para estimular os fiéis a oferendas maiores, se a nebu- losidade não os retivesse. Eis as traficâncias dos sacerdotes pagãos e judeus, que demonstram claramente serem eles os primeiros a fugi- rem, provando sua fé e confiança fracas. Deste modo, é difícil che- gar-se à convicção de uma crença qualquer, e compreende-se nosso lema que cada um deva socorrer a si próprio. Todavia, falaste pala- vras boas e sentidas, e talvez exista um deus como o descreveste. Mas onde está? Como chegar-se junto Dele?”
Diz o comandante: “Isto não é tão fácil para um materialista que diria: Se realmente existir um ou vários deuses, devem deixar-se
encontrar pelos homens, caso devam ser considerados; assim não sendo, certamente nem existem.
Afirmo tal não suceder. Primeiro, só houve Um Deus, desde Eternidades, que deseja ser procurado, reconhecido e amado através do cumprimento de Suas Leis. Segundo, deve o homem procurá-Lo não apenas de hoje para amanhã, mas dedicar-se-Lhe com crescente fervor e saudade, que Deus Se manifestará, como já aconteceu a vários. Então expressará a tais criaturas a Sua Vontade, segundo a qual continuarão em Seu Amor e Graça, podendo sua alma ser des- pertada para a Vida eterna.
Em tal situação, não haverá temores nem fraquezas du- rante as lutas dentro da vida, mas somente a manifestação da pa- ciência e completa entrega à Vontade Divina, que tudo conduz a bem da criatura. Sendo este o maior tesouro humano, vale a pena procurá-lo.
Como se cansam os homens à procura de tesouros e bens ma- teriais. Um perfura montanhas para descobrir ouro, prata e pedras preciosas. Outro mergulha nas profundezas do mar para encontrar algumas pérolas. Um terceiro navega pelos mares revoltos em em- barcações mui frágeis, a fim de vender sua mercadoria em países es- trangeiros, pelo lucro de algumas dracmas. Assim, cada um procura melhorar sua posição na vida. Por que ninguém se dá ao trabalho da procura do tesouro mais sublime, sabendo que em todas as épocas houve homens que realmente o encontraram?”
BONSPROPÓSITOSDOVIZINHO PAGÃO
Responde um dos vizinhos: “Tens realmente razão com teu discurso, que serve de guia para a descoberta de tal tesouro. Até hoje não foi isso possível. De um lado, os sacerdotes nos dominavam. Do outro, tínhamos oportunidade de observar o judaísmo, onde depa- ramos maior confusão e superstição que no politeísmo. Preferimos caminhar entre ambos, observamos a Natureza e vivemos segundo suas leis, muito embora cumpríssemos externamente as do Governo.
Agora acabamos de receber de ti um meio seguro, e com ele nos dedicaremos à procura do maior tesouro da vida, do qual depende a imortalidade da alma.”
Eis que Me manifesto: “Uma vontade rigorosa para um tra- balho que promete destino sublime é, em si, tanto quanto a obra. Esta segue, em sua extensão, a vontade tão mais rapidamente quanto o rigor do empreendimento. O comandante demonstrou o justo caminho e entregou os meios apropriados.”
Responde o vizinho: “Amigo, pareces ter encontrado o tal te- souro sublime, porquanto falas como o comandante. A julgar pela vestimenta, és galileu, bem como teus companheiros. Não importa serem os galileus desconsiderados como crentes. Pode haver dentre eles alguns que tenham encontrado aquilo que pretendemos possuir.”
Digo Eu: “Julgaste bem; mas neste local não podemos pros- seguir no assunto, porque o povo se aglomera ao nosso redor. A presença do comandante despertou a curiosidade e convém seguir- mos a uma praça fora da cidade, onde haverá oportunidade de pa- lestrarmos.”
EFEITOSDATEMPESTADEEDO TERREMOTO
Quando chegamos a uma colina onde se vê uma velha ruína que anteriormente servia de fortaleza aos filisteus, observamos em direção ao Oeste elevarem-se fumaça e algumas labaredas em diver- sos pontos. Após certo tempo de observação, o comandante se vira para Mim: “Senhor e Mestre, os mencionados elementos da Natu- reza não sossegaram, e segundo minhas experiências, tais labaredas e fumaças após um temporal perduram, às vezes, durante semanas e até mesmo se percebem algumas oscilações. Por que isto?”
Respondo: “Amigo, em Pella, onde resides propriamente, possuis um lago que te custou muito dinheiro. Caso pretendas criar bons peixes, terás que limpá-lo de tempos em tempos. Para tal fim é preciso esvaziá-lo. Quando aberto o cano principal do lago, a água se precipita com fragor pela abertura; pouco a pouco diminui e,
no fim, sai apenas em gotas e podes começar com a limpeza. Por que não acondicionaste um cano que facilitasse a saída da água, de momento?
Tudo no mundo se dá dentro de certa ordem; e caso algo suceda fora da mesma, a consequência é a equivalente destruição. Se vós, criaturas ignorantes, considerais certa ordem dentro das ações e trabalhos, a fim de alcançardes determinada finalidade, afirmando que um serviço rápido de nada vale — deveria Deus, o Eterno Cria- dor de Suas Obras Imensas, agir de modo menos prudente? Deixa, portanto, tudo correr como corre, que está certo.”
Satisfeito, o comandante agradece pelo ensino. Os dois vizi- nhos do taverneiro também haviam escutado as Minhas Palavras, de sorte que lhe dizem: “Segundo nos parece, é esse galileu algo mais inteligente que o romano. Não entendemos bem do que se trata- va; entretanto, dava impressão que lhe parecia muito demorada essa cena da Natureza. O judeu, então, demonstrou a Ordem respeitada por Deus, e qual o motivo. Quem seria ele, pois o comandante o tratou de senhor e mestre? Como pode expressar-se dessa forma a um judeu?”
Responde o taverneiro: “Por ora não o entendes; mas tem- po virá em que se fará vossa compreensão.” Tais palavras despertam ainda mais a curiosidade dos vizinhos, sem se atreverem a fazer per- guntas. Nisto começa a soprar um forte vento de Leste e não demora sentimos um odor desagradável de enxofre e piche. Alguns dos pre- sentes, incluindo certos apóstolos, Me pedem ordenar ao vento que leve os vapores para outra direção, ou então deveríamo-nos proteger dentro de casa.
Digo Eu: “Vede como se encaminha uma quantidade de curiosos para cá, a fim de bisbilhotarem nossas ações. Na vanguarda marcham os sacerdotes pagãos, dois rabis e alguns judeus, que nos abordaram à nossa chegada. Todos eles Me são mais desagradáveis que o odor pestilento. Justamente por este motivo fiz com que se levantasse a forte ventania. Já fazem menção de voltar, temendo que sejam prejudicados pelos venenos.”
Ao redor da colina havia alguns cidadãos que nos seguiram, e o comandante faz menção de mandá-los embora por um subalterno. Todavia, lhe digo: “São homens de boa índole e devem ficar para testemunhas.”
Entrementes, os vizinhos quedam mais perplexos e, final- mente, dizem ao taverneiro: “Que homem estranho! Parece ter dado ordens ao vento para enxotar os hóspedes indesejáveis. E agora acaba de dar ordens ao próprio militar, que prontamente obedece. Além disto, conhece de longe o caráter das criaturas, conservando junto dele as boas. Estamos realmente curiosos para ver o que mais suce- derá.” Diz o judeu: “Refleti sobre aquilo que vos disse há pouco, que dentro em breve descobrireis a situação verdadeira.”
PONDERAÇÕESACERCADOPODERDO GALILEU
Entrementes, os curiosos haviam voltado à cidade. Como a zona estivesse livre de qualquer perturbação, ordeno em voz alta, de sorte que todos Me ouçam, que o vento levasse os vapores de enxofre e piche para os desertos do Euphrates. Imediatamente ele muda de direção e nos encontramos livres dos mesmos.
Percebendo-o, os vizinhos do taverneiro dizem: “É evidente estar o galileu em estreita união com Deus Verdadeiro, servindo-se de Seu Poder. Como poderia um homem chegar a tal ponto? Final- mente têm razão os judeus por acreditarem em Um Só Deus, que pelo Poder de Sua Vontade teria criado tudo que existe. Mas qual seria o motivo que os próprios judeus pouco se interessam pelo co- nhecimento deste Deus, para amoldarem suas ações segundo Sua Vontade, como fez o galileu?
Se conheceis os caminhos para a conquista do maior tesouro, no entanto não tratais de alcançá-los em virtude da cobiça pelos dons da matéria, sois evidentemente mais tolos que os pagãos. Não te enquadramos na fileira desses judeus conhecidos na cidade, no entanto sabemos que não estavas isento de dúvidas acerca de vossa Divindade. Especialmente os sacerdotes, que pregam de forma tal a
darem impressão depender a Atitude Divina da determinação deles, sem darem provas de qualquer força. Eis um enigma, pois vimos pelo galileu estar ele em contato direto com Deus.”
Diz o taverneiro: “Amigos, tendes razão. Mas se falarmos a respeito, os mais entendidos no assunto se calarão. Vamos silenciar para ouvi-los.” Nisto, o comandante se vira para Mim: “Senhor e Mestre, os homens aos pés da colina não sabem qual medida a tomar e o que pensar de Ti. Não seria prudente eu mandar um oficial para esclarecê-los um pouco?”
Respondo: “Ainda não. Darei uma prova e em seguida volta- remos ao albergue. Eles seguirão para a cidade a fim de relatar com entusiasmo o que assistiram, dando motivo para muitas conjectu- ras. Então será chegado o momento de lhes demonstrar Quem foi Aquele Que ordenou aos elementos. Agora transformarei a manhã encoberta e acalmarei os elementos da Natureza. Já se libertaram em número justo.”
Imponho a Minha Vontade às neblinas sobre a Terra e às nuvens grossas no ar, permitindo que o sol resplandeça. E assim foi. A manhã se apresenta radiosa, facilitando a visão perfeita. Das fendas surgidas durante o terremoto noturno, vez por outra veem-se chispas de fogo a certa distância, de pouco agrado dos pagãos ad- mirados, não obstante o panorama maravilhoso. Passada meia hora, emito também Minha Ordem aos espíritos do fogo, que se apagam incontinenti. O vento igualmente se acalma, e o solo parece varrido de todos os detritos.
AVOLTAPARAO ALBERGUE
1. A estupefação é geral, e os pagãos começam a conjecturar Quem seja Eu, qual Minha Procedência, e qual a ligação entre Mim e o comandante, porquanto não Me trajo como ele. Alguns mais entendidos com a religião judaica, tomam-Me por profeta. Outros, um grande mago vestido como galileu. Outros, ainda, contestam essas hipóteses, porque não descobriam sinais de magia, nem vara.
Assim, as opiniões são as mais variadas, sem que alguém se atreva a subir a colina e perguntar diretamente.
Entrementes, levantamo-nos para voltar ao albergue. Per- cebendo nossa intenção, os pagãos são tomados de grande pavor e voltam rápidos aos lares, onde são aguardados pelas famílias. Ao passarmos pela cidade, vimos os sacerdotes pagãos em plena ativi- dade, divulgando que os homens deviam a eles ter sido poupada a metrópole do cataclismo. A manhã nublada se transformara em dia radioso por intermédio de suas preces e promessas aos deuses, ao que os moradores dessa, assim como de outras cidades, deveriam se prontificar a fazer ricas oferendas ao templo.
Não menos intensiva é a ação dos sacerdotes judeus no tra- tamento dos fiéis na sinagoga. Todavia, não há grande entusiasmo por ambos representantes das crenças no sentido do cumprimento das obrigações. Paramos por algum tempo diante do albergue ob- servando o tumulto, quando os vizinhos do taverneiro conjecturam: “Acaso estávamos errados ao predizermos a atitude dos sacerdotes? A manhã se transformou pela Vontade poderosa do galileu, e aqui encontramos a mistificação mais gritante.
Se os representantes dos deuses ou de um só deus — que no caso não faz diferença — são os primeiros a fugirem à vista de um perigo, como poderia um homem mais inteligente crer? Vemos se- rem precisamente os sacerdotes a prejudicarem a fé popular. Quem seria indicado a soerguê-la? Somente através de sinais convincentes poderia novamente surgir a fé na ajuda de uma divindade.
Compreendemos qual a razão de não fugirdes durante a noi- te; pois quem abriga em sua casa um homem ao qual obedecem todos os elementos facilmente pode crer e confiar. Deveria ele de- monstrar aos sacerdotes orgulhosos seu Poder Divino, que desper- taria nossa fé viva. Até mesmo os dois rabis mudariam de opinião e talvez retornassem à religião dos patriarcas.”
Digo Eu: “Ide com as famílias ao nosso albergue, e deixai os sacerdotes prosseguirem com suas lamúrias. Dos ricos nada recebe- rão, e os pobres que estiveram em nossa companhia saberão relatar
a Quem obedecem os elementos da Natureza. Assim haverá opor- tunidade de impedir-lhes as traficâncias.” Deste modo, todos nós tomamos o desjejum bem preparado.
ATITUDEPERANTEOS SACERDOTES
Quando o vinho solta os recalques, os vizinhos pagãos re- latam coisas que causam admiração aos próprios apóstolos. Entre- mentes, um dos rabis entra no refeitório para chamar a atenção ao hospedeiro de fazer oferendas ao Deus de Abraham, Isaac e Jacob, porquanto havia poupado os pertences dele por intermédio das pre- ces feitas pelos sacerdotes do Templo.
Tal atrevimento irrita um dos vizinhos, que se levanta e diz ao rabi: “Amigo, não teria um de vossos patriarcas e profetas profe- tizado em que ocasião não mais seria preciso aturar-se os sacerdotes mentirosos e preguiçosos? Não te envergonhas, realmente, em nos atirar tamanha mentira em rosto? Quando terias tu orado a Deus pela conservação dos pertences desse meu amigo?
Vimos a ti e a teu colega tremendo de medo na grande praça, na qual escolhestes o ponto mais seguro. Por que não ficastes na sinagoga, onde Deus haveria de atender vossas orações? Acaso teríeis feito preces na praça, em benefício do povo? Conhecemos-vos mui- to bem. Por isto, fora daqui, do contrário poderia surgir Alguém que vos impila para tanto!” Notando a presença do comandante, o rabi abandona o albergue.
Diz então o vizinho: “Graças ao Deus judaico, libertamo-nos de um dos mais ínfimos ateístas.” Aduz o comandante: “Fugiu qual ladrão, e seu colega dificilmente nos procurará, enquanto os sacer- dotes pagãos aqui virão, tão logo souberem eu estar presente. Como agirei, sendo militar romano? Devo ser protetor dos sacerdotes, em nome do Imperador. Como posso, se conheço o Deus Único e Ver- dadeiro, amando-O acima de tudo, e odeio o politeísmo?”
Digo Eu: “Não faças isto. Os sacerdotes de vossos deuses, que aliás nunca existiram, senão na fantasia dos homens dominadores, são
menos culpados no paganismo que os pregadores que em eras remotas começaram a converter os crentes em Deus Único para o politeísmo.
Se assim é, convirás serem vossos sacerdotes alvo de piedade e não de ódio. Trata de levá-los ao caminho da Verdade, e quando nele começarem a palmilhar, procura dar-lhes trabalho. Ao Imperador não faz diferença tratar-se de judeu ou pagão, basta ele dar-lhe o que interessa. Nada precisas temer por parte de Augusto pela conversão ao Deus judaico de alguns sacerdotes de Zeus e Apollo.
Além do mais, os potentados deste país há alguns anos ade- riram ao judaísmo verdadeiro por Meu intermédio, como sejam: o Prefeito Cirenius, seu irmão mais moço Cornélio, o político Agrí- cola em Roma e muitos outros. Eles todos não tendo tido aborreci- mentos por parte do Imperador, nada tens a temer, visto que Eu te garanto Minha Proteção especial, caso continues fiel. Dei-te tam- bém a capacidade de curar os enfermos, em Meu Nome, e libertar os possessos dos maus espíritos. Por ora nada mais precisas.”
Sumamente satisfeito, o comandante diz: “Senhor de mi- nha vida! Todo louvor, honra e gratidão Te sejam tributados por esta Graça imerecida. Tua Vontade se cumpra por nós, como é executada pelos anjos celestes, e Teu Nome seja louvado, hoje e sempre.”
IMPORTÂNCIADO AMOR
As palavras do militar provocam forte admiração por parte dos vizinhos do hospedeiro judeu, de sorte que dizem ao primeiro: “Agradecemos-te pela confirmação daquilo que sentíamos e não nos atrevíamos a dizer. Este homem, ao qual tomamos por galileu, é o Deus Único e Verdadeiro, não só dos judeus, mas de todas as criatu- ras. É o Espírito Original e Eterno, que Se apresenta qual Homem aos humanos, para demonstrar-lhes ser somente Ele Senhor desde Eternidades. Quão felizes somos por esta Revelação. Que venham os nossos sacerdotes para eu apontar-lhes o verdadeiro Deus.”
Os dois romanos fazem menção de se ajoelhar diante de Mim, querendo adorar-Me. Mando que se levantem e ouçam a Mi-
nha Doutrina. Assim transmito-lhes a Minha Vontade e esclareço-os acerca de vários assuntos. Deste modo, tornam-se Meus servos.
Ambos Me agradecem com efusão e um deles, bom orador, diz: “Esta explicação, Senhor e Mestre, dispensa grandes provas de Tua Personalidade Divina. Isto nos convenceu muito mais que os milagres, que não obstante inéditos, têm semelhança com os fei- tos por magos e sacerdotes comuns. Ainda assim agradecemos-Te igualmente pelas provas e pelo dia maravilhoso, surgido através de Tua Onipotência. Somos testemunhas de Tua Força e Poder e te- mos coragem de enfrentar as forças do mal, no que certamente nos ajudarás.”
Digo Eu: “Disto podeis estar certos, Meus caros ami- gos, e vos transmito o poder de curar enfermos pelo passe, em Meu Nome, e também expulsar os maus espíritos dos obsessos. Assim do- tados, podeis entrar em luta contra o poder da mentira e do engano nefasto, para conquistardes a vitória final.
Tudo que fizerdes deverá ser feito por amor, para despertá-
-lo nos corações dos que pretendeis conquistar para o Meu Reino. O amor deles se tornando forte e cheio de vida, e querendo vos retribuir algum favor, aceitai-o com gratidão; pois somente o amor recíproco produz e vivifica uma vida inteiramente nova.
No começo tereis que agir com o amor recebido de Mim, em toda plenitude. Se um homem que pretenda casar-se procurar os pais da eleita e apenas se informar de seus dotes, sem ao menos dar demonstração de amor — acaso poderia despertar algum sentimen- to na moça e nos genitores? Dificilmente realizará seu desejo. Quem não tiver amor não o encontrará. Quem procurar o amor com amor, forçosamente o encontrará. Isto se dando, não deve negá-lo quando por ele for recebido ativamente.
Tomai como Exemplo a Minha Atitude. Vim sem ser cha- mado, por puro amor, e tudo fiz sem exigir qualquer recompensa. Tendo-Me descoberto e recebido, com todo amor, Eu o aceito de Coração alegre e não Me nego a sentar-Me à vossa mesa com os Meus discípulos. Se assim não fizesse, acaso vosso coração se sentiria
feliz? Por certo que não. Por isto, aplicai amor sem recompensa. Se as criaturas vos receberem com todo amor, aceitai na justa medida o que vos ofertarem.
Agindo como Eu, dentro em breve tereis propagado o Meu Reino nesta Terra, e nada mais sofrereis. Assim como orgulho, in- veja, avareza, cobiça e demais vícios despertam o mesmo no seme- lhante, o amor puro e desinteressado incentiva tal sentimento no próximo. Fazei tudo por amor, que semeareis o amor nos corações das criaturas, que dentro em breve dará colheita farta já em vida, e muito mais na Vida Eterna da alma, através de Meu Espírito de Amor dentro dela.” Todos compreendem o sentido de Meu Ensina- mento e prometem aplicá-lo na plena verdade.
OSSACERDOTESPAGÃOSDEFENDEMSUA ATITUDE
Enquanto se entretêm a respeito de Minhas Palavras, chegam alguns sacerdotes pagãos para cumprimentar o comandante, cuja presença lhes fora transmitida por diversos pobres que pela manhã haviam rodeado a colina. O motivo principal de sua visita se pren- de ao homem vestido de galileu, ao qual se alegava obediência dos próprios elementos.
Entrando no refeitório, fazem reverência respeitosa diante do militar, dizendo: “Perdoa-nos, nobre plenipotenciário do Impera- dor, escolhido pelos deuses e seus servos mais distintos. Se tiveres qualquer lei nova vinda da cidade de Roma, tem a bondade de trans- miti-la para que possamos segui-la.”
Responde o comandante: “Nossas leis são invulneráveis e não há acréscimo de espécie alguma. Ainda assim, soube de um fato que não me agrada. Por que enganais e mentis ao povo, dele querendo extorquir sacrifícios a bem de vosso conforto? Alegais dever ele a vossa interferência junto aos deuses irados, de não terem transfor- mado toda a zona em deserto e que a manhã radiosa cabe a vossas preces! Assim pregais perante a multidão, que viu vossa fuga desa- balada durante a tempestade e o terremoto. Pretendeis deste modo
soerguer a fé popular? Como é possível que sacerdotes venham a mentir tão grosseiramente?”
Diz um dos sacerdotes: “Perdão, nobre senhor. Teu critério nessa esfera não é de todo justo. É bem verdade que um sacerdote deva demonstrar a maior coragem e confiança integral no socorro dos deuses, a fim de despertar a fé no povo. Mas em ocasiões espe- ciais deve ele não ter receio de demonstrar o temor dos deuses, caso revelem sua ira através do desencadear dos elementos.
O sacerdote é intermediário entre os deuses e os homens. Jamais um senhor imortal como os deuses. Enquanto eles demons- tram sua presença e poder através de raios, trovões, ventanias, chu- vas etc., pode o sacerdote confortar o povo e manter sua fé. O poder dos deuses se manifestando em abalos sísmicos, a fé do sacerdote tem o direito de estremecer.
Cabe-lhe o direito de aplacar a ira dos deuses por meio de orações, mas também é viável sua demonstração de fraco mortal, temeroso como qualquer um. Assim sendo, não estávamos de todo errados por termos demonstrado nosso receio dos deuses. Como se deixaram aplacar por nós, em virtude das promessas, convém o povo saber o que compete fazer junto a nós, para evitar que, em outra ocasião, os deuses não nos atendam. Somente sete vezes têm eles complacência com os mortais. Penso ter justificado a nossa ati- tude, senhor.”
INUTILIDADEDACERIMÔNIA PAGÃ
Diz, em seguida, o comandante: “Falaste bem e dentro da lógica. Todavia, não tem valor para mim, porque sentido e verdade estão em campos opostos. Não alimentas a menor fé e confiança nos deuses, o que poderia provar segundo minhas experiências. Mi- nha afirmação não é uma ameaça contra ti e teus colegas. Apenas te esclareço que vossa atitude aparentemente inteligente terá efei- to prejudicial perante o povo, que em parte conhece vossa atitude mistificadora. Mormente nesta época em que começa a se estender
entre os judeus a Existência de Deus Único e a maneira pela qual deve ser venerado.
Certamente tivestes conhecimento a respeito, e vos pergun- to por que não procurastes obter certificação, preferindo insistir na teimosia maldosa? Se vos convencestes da nulidade dos deuses, não mais podendo alimentar qualquer fé, tratai de descobrir a Verda- de. Tão logo a tenhais encontrado, não a sonegueis perante o povo sedento, tornando-vos mais úteis. Transformai os templos pagãos em abrigos para pobres e enfermos, e não desprezeis o estrangeiro. Assim, encontrareis a Graça real junto ao Deus Único e Verdadei- ro, mais útil que todos os tesouros da Terra, que procurastes extor- quir do povo.”
Responde o sacerdote: “Nobre senhor, falaste a plena verda- de. Mas para onde nos dirigiremos a fim de encontrar aquilo que nos seria mais útil que todos os tesouros do mundo? E o que res- ponderemos aos sumos sacerdotes ao nos chamarem a atenção pela conversão do povo?”
Diz o comandante: “Demonstrarei o caminho mais curto para alcançardes a Verdade viva e pura, a fim de conhecerdes Deus Único e Sua Verdade. Eis à minha direita o Homem capaz de demonstrá-La em toda plenitude. É Ele o Mesmo a Quem obedecem todos os ele- mentos e forças da Natureza. Quando tiverdes compreendido e assi- milado o que acabo de revelar, sabereis o que dizer aos vossos chefes.
Aliás, são os romanos bastante condescendentes com relação às diversas religiões e não tolhem a quem quer que seja. Foi essa a po- lítica romana nas conquistas dos povos da Ásia, África e Europa, eri- gindo um templo aos deuses estrangeiros. Acabo de vos demonstrar o caminho à Verdade pura e viva, e podeis fazer o que vos agrade.”
PONDERAÇÕESDOSCOLEGAS TEMPLÁRIOS
Quando termina de falar o comandante, os dois sacerdotes começam a Me fitar dos Pés à Cabeça, e um deles diz: “Quem és, pois o chefe militar nos deu testemunho de tua pessoa, somente
viável a um deus? Acaso és aquele de quem falaram os pobres, e que mandava aos ventos, nuvens e ao fogo no Monte Talba?”
Respondo: “Sim, sou Eu Mesmo! O testemunho do coman- dante é verdadeiro e convém mantê-lo de vossa parte. Todo o resto que vós e o povo necessitais ser-vos-á transmitido pelo taverneiro e seus vizinhos. Se agirdes dentro da fé, despertareis a Vida Eterna dentro de vossa alma, conservando-a para sempre. Eu Mesmo — embora Filho do homem — sou o Caminho, a Verdade e a Vida Eterna. Quem crer em Mim e aplicar a Minha Doutrina gozará a Vida Eterna da alma, ainda que morresse mil vezes.
O teor de Minha Doutrina — fácil e compreensível — aprendereis por estes amigos. Agora podeis voltar junto aos colegas e relatar-lhes o que ouvistes. Não devem continuar na extorsão de sacrifícios para o apaziguamento dos deuses. Caso insistissem nesse absurdo, darei novamente expansão às forças da Terra, e eles poderão ver o que acontece.”
Os dois sacerdotes nada retrucam, curvam-se com respeito e se juntam aos colegas, ainda entretidos na divulgação de fábulas dos deuses, pelo que recebiam algumas moedas. Quando avistam os outros, perguntam o que houve com o comandante e qual sua opinião a Meu respeito. Respondem eles: “O caso é muito impor- tante e só pode ser abordado entre quatro paredes. O homem do qual nos falaram os pobres parece ser mais que simples humano. Segundo seu conselho, devemos parar com a coleta de oferendas, do contrário sofreríamos coisa pior que durante a noite. Voltemos ao nosso castelo.”
Quando lá chegam, acompanhados de alguns moradores im- portantes, um dos primeiros sacerdotes diz: “Farei um resumo do que vi e ouvi no albergue judeu, mormente por parte daquele pecu- liar homem, que a meu ver devemos seguir a toda risca. Nenhum de nós assistiu que um de nossos deuses houvesse efetuado um milagre. Tudo que foi feito como milagroso sob citação de um deus qualquer era simples obra de mago sacerdotal. Sem tal recurso, nem o Ponti- fex Maximus conseguiu realizar qualquer coisa excepcional.
Se o mencionado homem ordena aos elementos pelo simples pronunciamento de Sua Vontade, deve ser Ele Deus. Eis o introi- to para o relato prometido. Antes de iniciá-lo, dizei-me qual vossa opinião acerca daquele personagem.” Respondem todos: “Prossegue naquilo que assististe. Ouviremos com a máxima atenção, aceitando como verdade o que por ti foi aceito como tal.”
DECISÃODOS SACERDOTES
O orador faz um relato minucioso, despertando grande ad- miração por parte de todos, que no fim exclamam: “Se assim é, nada mais nos resta senão acreditarmos ser Ele Deus Vivo, e não pode- mos venerar outro qualquer. Tão logo nos tivermos integrado de Sua Doutrina e Vontade, serão elas nossa norma de vida.
Nossas fábulas e estátuas pagãs serão abolidas, e as crianças receberão ensino novo. Aos sacerdotes cabe a divulgação dessa nova Doutrina, que deverá ser cumprida rigorosamente. Agora está em tempo de prestarmos nosso respeito ao Homem-deus, inclusive a gratidão por Se ter demonstrado.” Todos concordam e se encami- nham para o albergue, onde o comandante, informado de tudo por Meu intermédio, pergunta se deve recebê-los fora de casa.
Digo-lhe: “Deixai vir a Mim todos que estiverem cansados e sobrecarregados pelas trevas, que os saciarei. Deve-se abrir a porta para os que Me procuram, pois encontrarão Aquele há muito tempo desejado, todavia não podiam descobrir-Me dentro de sua sapiência mundana. Onde Eu estou, sempre há lugar para todos os que Me amam e procuram.”
A esta Minha Explicação, o comandante vai pessoalmente abrir a porta, onde os dois sacerdotes perguntam se é permitido en- trarem no albergue a fim de Me darem honra e agradecerem por tudo, inclusive Minha Visita a essa cidade, fazendo-Me reconhecer como Deus.
O militar responde: “O Senhor Se compraz com vossas pessoas, pois sabe da decisão tomada, portanto podeis entrar sem
receio.” Todos entram no refeitório e se curvam com o máximo res- peito, e os dois oradores expressam sua gratidão em nome de todos.
Eu Me levanto e os abençoo, dizendo: “Feliz aquele que vem a Mim e Me reconhece como vós. Quem Me reconhece recebe tanta Luz de Mim a poder acreditar vivamente em Mim. Esta Luz é por ora uma pequena fagulha em vossa alma. Quando tiverdes recebido a Minha Doutrina e seguindo-a estritamente, vossa luz se transfor- mará em Sol, capacitando-vos a penetrar na Verdade total de toda vida e existência, despertando a Vida Eterna dentro de vós.
O hospedeiro vos orientará a respeito, e seus vizinhos e em- pregados serão testemunhas justas e relatarão muitas coisas desco- nhecidas de vós. Deste modo informados, assimilareis claramente Quem Sou. — Agora saciai-vos àquela mesa, para em seguida re- solvermos outro assunto.” Os sacerdotes pagãos e vários cidadãos de Ábila se sentam a uma mesa à parte e se servem de pão e vinho.
GRATIDÃODOS SACERDOTES
Após o vinho lhes ter soltado as línguas, começam a conjec- turar acerca de sábios da antiguidade, até chegarem aos profetas ju- deus. O primeiro sacerdote tinha conhecimento de Moysés e Isaías, dos quais não apreciava a linguagem oculta, generalizando-a como falha dos profetas, em virtude da qual muitos enganos se infiltraram entre o povo.
Enquanto assim confabulam, dou um aceno a Jacob para que lhes dê justo esclarecimento, pois ele era entendido nas interpreta- ções espirituais. Os pagãos aceitam a explicação, louvam o apóstolo e Me agradecem por ter dado tanta compreensão aos homens.
Em seguida, o comandante também se aproxima e trans- mite suas experiências Comigo, despertando grande satisfação. Ao mesmo tempo ele explica a verdadeira formação do planeta, seu mo- vimento e tamanho, e os demais planetas etc.; finalmente, um deles se expressa: “Quantos erros não existem entre milhares de criaturas, e quando se fará a luz entre elas?”
Responde o romano: “Amigos, entreguemos esse assunto ao Senhor. Ele sabe perfeitamente em que época deverá ser dado conhecimento maior a um povo. A partir de agora a Verdade será le- vada rapidamente a todos os homens de boa vontade, e nós mesmos não descansaremos nesse empreendimento.”
Exclamam todos: “Isto mesmo, pois sabemos o que nos cabe fazer. Toda gratidão ao Senhor e Deus Único por Se ter prontificado a tomar carne, para nos salvar das algemas da ignorância e da morte. Um homem que se encontra no erro de tudo que o rodeia é, final- mente, tanto quanto um irracional.
Somente após despertado em espírito ele ressuscita e enxerga através de seu conhecimento o amor de Deus acima de todas as cria- turas. Nosso estado letárgico terminou pela Graça de Deus e vive- mos na pura realidade. Que felicidade será quando sentirmos a Vida real que jamais poderá ser extraviada, caso permanecermos com Ele no justo amor, fonte da Vida Original, sem começo nem fim. Que todos os homens possam ser despertados do sono mortal para a Vida verdadeira.” O orador se comove com as próprias palavras, a ponto que mal pode falar.
ATITUDEDOSVERDADEIROSDISCÍPULOSDO SENHOR
Nisto Me levanto e dirijo as seguintes palavras aos recém-
-vindos: “Se fordes disseminar em Meu Nome a Minha Luz e Meu Reino pelo justo amor, desinteressado, aos irmãos ainda enterrados na densa treva, recebereis maior conhecimento e perfeição, e então vos serão reveladas coisas que nem de longe sonhais. Continuai fiéis no vosso propósito, e não o deixeis apagar pelos prazeres do mundo, que ficareis em Mim e Eu em vós.
Tratai de vencer, primeiro, o mundo dentro de vós, e fácil será de vencê-lo no vosso próximo. Ninguém poderá dar o que não possui. Quem quiser despertar o amor no próximo deverá cercá-lo de amor, e quem pretender incentivar a humildade terá de aplicá-la. Assim, a mansuetude desperta mansuetude, a paciência desperta a
paciência; a bondade desperta bondade, e a misericórdia desperta a misericórdia.
Tomai a Mim como Exemplo. Sou Senhor acima de tudo, no Céu e na Terra. Em Mim está todo Poder, Onipotência e Força, en- tretanto sou, de todo coração, cheio de Amor, Humildade, Meigui- ce, Paciência, Bondade e Misericórdia. Fazei o mesmo, e facilmente se perceberá que sois realmente Meus discípulos.
Amai-vos como irmãos e fazei o Bem reciprocamente. Que nenhum se eleve acima do semelhante, querendo ser o primeiro. Eu somente sou o Senhor — vós, simples irmãos. No Meu Reino será apenas primeiro quem, como mais simples, estiver pronto a servir constantemente o seu próximo.
No inferno terreno e espiritual, quer dizer, no reino dos demô- nios e de todos os maus espíritos, o espírito mais orgulhoso, altivo, ego- ísta e dominador é o primeiro, para o sofrimento dos outros, a fim de que permaneçam numa espécie de humildade, obediência e submissão.
Observai os potentados em seus tronos que regem os povos. Quem poderia se aproximar senão pela mais profunda submissão? Se algum se atrevesse a enfrentar um soberano com atitude de man- do — qual seria o seu destino? Eis a ordem no inferno.
Os soberanos se deixam importunar até que atendam um pedinte como especial favor. Vós não deveis esperar até que vos pe- çam um favor. Somente a Deus, Senhor e Pai de Eternidades, podeis pedir por todas as coisas, que as recebereis. Os irmãos entre si não devem esperar que expressem as suas necessidades.
Um pobre e humilde abordando um rico com algum pedido, não deve deixar de ser atendido; pois uma atitude de dureza desperta outra, e o Meu Reino não está com ela. De que adianta ao homem caso confessar no íntimo: Senhor, Deus de Céus e Terra, creio indu- bitavelmente seres Tu Criador Único de todos os mundos materiais e espirituais, e que todos os seres vivem, pensam e querem através do Teu Poder.
Isso não é de utilidade à salvação de sua alma, mas somente o que for feito com toda alegria e cheio de fé. Um praticante de Minha
Vontade faz, com o pouco, dez vezes mais que aquele que se deixa implorar e finalmente se vangloria com sua obra de caridade.
Agi conforme vos expliquei, que haveis de sentir que Mi- nhas Palavras são realmente Palavras de Deus. Assim despertareis o Meu Espírito dentro de vós, que vos levará a toda Sabedoria Celes- te, purificando-vos e transformando-vos para verdadeiros filhos de Deus. Sabeis o suficiente para a conquista da Vida Eterna de vossa alma. O restante ser-vos-á transmitido por nosso hospedeiro e seus vizinhos. A perfeição surgirá através do Meu Espírito de Amor. En- tendestes?”
PARTIDAPARA APHEK
Responde o orador: “Senhor e Mestre de Eternidades, en- tendemos bem o que disseste em linguagem clara e pura. Todavia, compreendemos igualmente estarmos muito distantes da justa meta da vida e que teremos de enfrentar muitas lutas internas e externas.”
Digo Eu: “Falaste certo, pois em Meu Nome tereis de supor- tar perseguições e difamações dentro do mundo. Não percais paci- ência e coragem. Lutai com amor e mansidão contra os inimigos da Verdade e da Luz Celeste, que conquistareis a coroa da vitória.
Jamais deveis desistir do justo amor no coração. Ele suporta tudo e finalmente vence sobre tudo. Se agirdes e caminhardes no amor, Comigo, podereis passar por cima de serpentes, salamandras e escorpiões, sem que vos possam prejudicar; e caso tomardes ve- neno por obrigação de outrem, nada sofrereis fisicamente. Eu, o Senhor, digo Amém, e assim é e será com todos que persistirem em Meu Amor.
Mas quem, ao lado do Meu Amor, de tempos em tempos namorar com o mundo, não estará seguro diante dos venenos preju- diciais. Quem Me amar verdadeiramente e cumprir os Meus fáceis Mandamentos será por Mim visitado, caso o desejar de coração. Re- velar-Me-ei e darei muita força e poder para lutar contra os maus es- píritos do mundo e do inferno, sem que o possam prejudicar. Agora
sabeis de vossa situação ao Meu lado. Quem não Me deixar não será abandonado por Mim. E quem lutar Comigo contra o mundo e o inferno poderá estar certo da vitória.”
Os sacerdotes agradecem pelo Ensino e pela Promessa, e levantam-se com intenção de disseminar a Minha Doutrina entre os pagãos. Eu, porém, lhes digo: “Amigos, amanhã ainda haverá tempo para vossa tarefa. Por ora ficai e participai de nosso almoço. Mais tarde partirei com Meus discípulos, e então podereis preparar-vos com o hospedeiro e seus vizinhos a fim de iniciar amanhã vossa divulgação nesta cidade e seus arrabaldes.”
O hospedeiro manda chamar sua família e domésticos, a fim de receberem a Minha Bênção, que naturalmente se estende a to- dos os presentes. Em seguida digo ao comandante: “Partiremos para Aphek por um atalho, a fim de não despertarmos a atenção dos mo- radores na estrada principal.” E assim foi e pela noitinha atingimos a cidade de Aphek.
OHOSPEDEIROROMANODE APHEK
Ao nos aproximarmos da cidade, o comandante diz: “Senhor e Mestre, aqui não há judeus radicados e nem albergues. Tenho boa moradia e se for de Tua Vontade poderias pernoitar no meu castelo.”
Respondo: “Possuis confortável castelo, mas tuas despensas estão vazias. Todos nós estamos algo cansados e necessitamos de ali- mento. Sei o que pensas no teu íntimo e digo teres razão, que tudo Me é possível. Todavia, não vimos aqui para nos fortificarmos mi- lagrosamente, mas divulgar o Meu Reino da Vida entre pagãos. Por isto tomaremos o caminho para um albergue romano, onde haverá oportunidade para nossa intenção.”
Quando alcançamos o portal da cidade, somos abordados por uma guarda romana. O comandante se adianta e manda chamar o oficial de guarda, que o reconhece e dá livre passagem a todos. Ao escurecer, atingimos a taverna e nosso militar manda chamar o dono, que prontamente é interpelado se pode nos acomodar.
Responde ele: “Darei o que tenho. O serviço para tantas pes- soas será difícil, porque mais de dois terços dos empregados está enfermo. O grande susto que passaram durante o temporal e o ter- remoto da noite passada, e além disto o pavor de uma repetição, acamaram especialmente as mulheres.
Os sacerdotes tudo fizeram para socorrê-las, sem êxito algum, e creio que o tempo ainda será o melhor médico de meu pessoal. En- tramos somente há uma hora atrás, pois temíamos o desabamento da casa. Informo-te, senhor, estarem mais que três quartas partes dos habitantes ao ar livre. Eis nossa situação, e compreenderás não estarmos preparados para recebermos hóspedes.
A maior parte dos habitantes é pobre e não está em con- dições de satisfazer as exigências dos templários no sentido de aplacarmos a ira dos deuses, de sorte que temem uma repetição da calamidade, razão por que não quer voltar à cidade. Eis a si- tuação doméstica e geral. Se quiserdes entrar, veremos o que há para comer.”
PONDERAÇÃODOTAVERNEIROARESPEITODO SENHOR
Assim entramos no albergue e somos conduzidos a um con- fortável salão, que imediatamente é ornado com várias lamparinas. O hospedeiro então percebe sermos todos judeus, com exceção do comandante, e lhe pergunta como é possível isto, se os judeus eram um horror para os pagãos.
Ele responde: “Não te preocupes, senão com pão, sal e vinho, que tudo será esclarecido oportunamente.” O hospedeiro manda trazer o necessário e nota que a filha do comandante enche a taça de ouro que Me ofertara em Pella e Eu dela sorvo o vinho, enquanto os outros o fazem de cântaros de louça.
Após nos termos confortado, digo-lhe: “Amigo, especial Gra- ça ocorreu à tua casa. A maior parte de gregos e romanos não está informada das Escrituras dos judeus, nas quais consta dever surgir um Messias do Deus Único e Verdadeiro, Criador de Céus e Ter-
ra. Essa Promessa foi feita desde o início da Humanidade através dos profetas.
Justamente Eu Sou o Prometido e vim também junto dos pagãos, para fundar entre eles o Reino de Deus. Vim dos Céus, en- viado pelo Pai, o Amor Eterno, e Meu Coração é o Trono do Amor. Eu estou Nele e Ele está em Mim. Por conseguinte, habitam em Mim todo Poder, Força e Onipotência no Céu e na Terra. Eu Sou a Vida, a Luz, o Caminho e a própria Verdade Eterna.
Quem crer em Mim, amar-Me mais que tudo no mundo, vi- ver segundo a Minha Doutrina e amar o próximo como a si mesmo receberá de Mim a Vida Eterna, e Eu o despertarei no dia final. Há pouco Me analisaste dos pés à cabeça e pensaste: Neste homem deve ocultar-se algo grandioso, do contrário o comandante não o venera- ria tanto. — Julgaste certo. A fim de que vejas a veracidade de Mi- nhas Palavras, manda trazer os enfermos, que os curarei. Acreditas?”
Responde ele: “Senhor, Tuas Palavras penetraram profunda- mente na minha alma e despertaram uma sensação jamais sentida. Deve ser verdade tudo o que disseste, por isto creio poderes salvar os doentes.” — Assim são transportados para o salão muitos enfermos, entre os quais havia epilépticos, entrevados pela gota, cegos e mu- dos, que haviam perdido a fala devido ao susto diante do terremoto, e outros, acometidos de febre maligna.
OSENHORCURAOSENFERMOSDO ALBERGUE
O anfitrião, então, se vira para Mim, dizendo: “Eis os enfer- mos, ao todo trinta pessoas, e se quiseres curá-los, acreditaremos em Ti e Te amaremos e louvaremos.” Digo Eu: “Que assim seja!” Ins- tantaneamente, todos se curam e se sentem tão bem dispostos como se nunca tivessem padecido. Sumamente gratos, se ajoelham perante Mim, pedindo dizer-lhes se Eu era Júpiter ou outro deus qualquer, a fim de honrá-lo.
Respondo: “Não sou Júpiter, nem outro deus pagão que nunca existiu. Tratai de vestir-vos e tomai algum alimento. O resto,
quer dizer, o que se refere a Mim, ser-vos-á revelado amanhã.” Após se terem reconfortado, alguns se dirigem aos sacerdotes acomodados em outro recinto, e lhes relatam como foram socorridos por um ju- deu de poder divino, pois os curara através de sua vontade.
Não sabendo opinar acerca do milagre, os sacerdotes resol- vem mandar um colega, romano entendido em artes e ciências, para averiguar o que havia na realidade. Neste sentido, ele se dirige ao comandante, perguntando por Minha Pessoa. Este responde com rispidez: “Eis ao meu lado Aquele cujo Nome não sois dignos de pronunciar.” Um pouco mais humilde, o outro Me diz: “Perdoa se tomo a liberdade de perguntar, com modéstia, como te fora possível curar os enfermos sem qualquer remédio. Tenho algum conheci- mento e sei o que pode um homem dotado de poderes ocultos. Todavia, não houve mago capaz de qualquer feito sem recursos es- peciais. No teu caso, pareces agir pela simples vontade, dispensando qualquer meio.
Como pode um homem atingir tal força de vontade? Certo é haver diferenciações no campo mental; unindo a força de vontade ao poder da Natureza pela prática justa, deve ele atingir coisas excep- cionais. Mas como se pode adquirir tamanho poder?”
OSENHORANALISAOCURSOEDUCACIONALDO SACERDOTE
Digo Eu: “Já estudaste em Roma as Escrituras dos judeus, e posteriormente em Thebas, quando foste ordenado para sacerdote de Zeus, Marte, Minerva e Mercúrio por parte do Imperador Augusto, onde te fizeste iniciar nos mistérios antigos. Dedicaste a maior aten- ção a Moysés e aos quatro grandes profetas; como continuassem in- compreensíveis, procuraste secretamente um escriba, cinco anos mais tarde, quando foste transferido para aqui. Ele não podendo esclare- cer-te, deitaste de lado as Escrituras, como fizeste à vossa mitologia.
Pela recordação da leitura das Escrituras, devem as ações de Moysés, Aaron, Josué, Elias e os demais profetas ter demonstrado
que eles realizaram tais coisas somente com Ajuda do Deus Verda- deiro, pois não havia outro povo que agisse com tamanho poder. Se Me viste agir dessa forma, certamente o faço com Deus e por Deus. Não afirmam os romanos não haver sábio sem bafejo divino? Neste caso, Eu certamente fui bafejado por Ele.”
Diz o sacerdote: “Sim, deves ter razão. És mais profundamente orientado nos mistérios de vossas Escrituras que aquele escriba, que se dizia sábio. Como podes estar orientado de minha vida, se nunca te vi? Sempre ocultei aquilo que empreendia para o meu conhecimento.”
Respondo: “Com Ajuda de Deus, Único e Verdadeiro, Oni- potente desde Eternidade, sem começo e sem fim.”
Opina o sacerdote: “Não o contesto, mas acho estranho que teu Deus, Único, tão raramente Se deixa descobrir pelos judeus. Confesso não crer em divindade qualquer. Quanto mais se for à sua procura, mais ela se distancia, tornando-se de maior utilidade ao homem não querer levantar o véu de Ísis. Preferível é continuar-se cego e tolo como símio, do que pesquisar por uma divindade apenas existente na fantasia humana.
Tu, certamente, encontraste o teu Deus. Como e onde, isto preservarás para ti mesmo como fizeram os antigos, ocultando seu saber em treva. Por que não me foi permitido aproximar-me de Deus, que já conto setenta anos, sendo este privilégio somente teu, entre tantos judeus?”
AQUEDADA HUMANIDADE
Digo Eu: “Em teu discurso observaste que determinadas di- vindades surgiram da fantasia dos homens, inclinados ao domínio e para usufruírem os benefícios do trabalho do semelhante.
No início das criaturas desta Terra, a situação era outra. To- das conheciam Deus Único e Verdadeiro e eram por Ele orienta- das, guiadas e protegidas. Recebiam demonstração básica que não se deveriam deixar prender pelas tentações de modo próprio, porque atrairiam a alma ao julgamento da matéria e sua morte, fazendo
com que se tornasse muda, cega e insensível para as coisas divinas e puramente espirituais.
Como Deus desse a todos plena liberdade da vontade em seguir o Seu Conselho ou à tentação do mundo, muitos se deixaram ofuscar pelo mundo e perderam Deus de vista, porquanto o amor nocivo do mundo havia cegado a visão interna. Então começaram a inventar vários deuses que deveriam ajudá-los nas atribulações vindas por Deus para seu possível afastamento do mundo. Os sacerdotes exigiam ricas oferendas e dentro em breve se tornaram orgulhosos déspotas.
O socorro, porém, não se apresentava. Deus, Único e Ver- dadeiro, não os podia ajudar para não positivá-los em sua cegueira e ateísmo. Se Deus lhes tivesse dado a ajuda esperada após seus pe- didos dirigidos aos deuses falsos e inexistentes, os sacerdotes teriam tido verdadeiro triunfo, levando o socorrido a esgotar-se em oferen- das, para evitar a inimizade dos sacerdotes e deuses.
Em virtude de os judeus, como o povo escolhido — por te- rem seus antepassados travado a maior luta contra o mundo, por amor a Jehovah — com o tempo se terem afastado do Verdadeiro Deus, dirigindo-se ao mundo como os pagãos, tornaram-se surdos e cegos, piores que aqueles. Estes começaram a procurar a Verdade e muitos já a encontraram.
A maior parte dos judeus não teve a ideia de procurar a Ver- dade eterna e se sente à vontade em sua noite trevosa. Conquanto sentissem sua tendência ateísta, nada deixam transparecer por causa das oferendas e se tornam os inimigos mais ferozes dos que derem jus- to conhecimento ao povo e lhe demonstrarem o justo caminho para Deus, a fim de encontrá-Lo. A esses judeus será tirada a pouca luz que possuem, atrofiada, e dada aos gentios para que vejam vivamente.”
AJUSTAPROCURADE DEUS
(O Senhor): “Afirmaste não mais te interessares por qualquer divindade porque nunca se manifestou, não obstante tua procura incessante. Deves considerar ter sido tua pesquisa um tanto egoísta,
pois querias estar certo, como grande amigo da vida, existir um ver- dadeiro Deus e que a alma continuasse viva após a morte. O povo deveria continuar no sofrimento da antiga cegueira e tolice, e ofertar aos sacerdotes.
Para Deus Verdadeiro, o sacerdote não goza o menor pri- vilégio, pois desconsidera classes sociais. Para Ele, imperador e men- digo estão no mesmo nível. Tem privilégio somente aquele que O reconhece em Verdade, O ama acima de tudo e seu próximo como a si mesmo, cumprindo os Mandamentos de Deus. Além disto, deve ser humilde e jamais exigir algo injusto perante a Ordem e a Vontade Divina, seja pela força ou astúcia. Tudo isto é um horror para Deus.
Vós, sacerdotes, sempre mentistes ao povo e o enganastes, de sorte que compreenderás por que Deus, Único e Verdadeiro, não Se manifestou não obstante toda pesquisa. Previa que teríeis deixado o povo na mesma cegueira por causa das ponderações mundanas, como acontecia com muitos sacerdotes egípcios.
Eles bem sabiam qual sua situação perante Deus, enquanto o povo deveria acreditar o que lhe incutiam. Eles assim agindo, Deus os castigou com a cegueira, que ainda vos prende até que desistais do mundo e procureis Deus, Seu Reino dos Espíritos e Sua Justiça, dentro da justa Verdade.
Quem não O procurar com todo amor, candura, humildade, paciência e inteira renúncia de si mesmo não O encontrará, como máximo Tesouro da Vida. E quem não O procurar e achar deste modo não deve esperar especial ajuda por parte Dele.
Deus zela por todos devido ao Seu Amor Infinito, como tam- bém o faz por todos os seres no Universo, segundo Sua Ordem eter- na e imutável. De modo especial Ele o faz somente com os que O reconhecem verdadeiramente e fazem Sua Vontade revelada, aman- do-O acima de tudo pela ação.
Realmente, procuraste Deus Verdadeiro por muito tempo e com grande zelo; pergunta-te se o fizeste conforme acabo de expli- car. Afirmo-te, não encontrará Deus quem disser: Senhor, Senhor, onde estás? Se Te procuro como criatura Tua e Te chamo das pro-
fundezas de minha noite de trevas, por que não Te deixas descobrir e por que não respondes, dizendo: Aqui estou?
Leste todos os profetas e descobriste a Vontade de Deus den- tro dos Dez Mandamentos; tanto te agradaram que afirmaste: Não há leis mais úteis e ponderadas para a verdadeira felicidade das cria- turas, e pode se admitir sejam dadas por um Ser Divino.
Se assim falavas — por que não te passou pela ideia de pra- ticá-las pessoalmente? Se o tivesses feito, terias encontrado Deus. Motivos mundanos te levavam a admirá-las sem pô-las em prática. Deixa que agora se transformem em ação e indeniza o mal praticado ao semelhante, de vontade firme, que encontrarás facilmente Aquele que procuraste em vão.”
OSENHOREXEMPLIFICAAJUSTAPROCURADE DEUS
A esse Meu Discurso, o sacerdote diz: “Mestre mui sábio e entusiasta de Deus! Possuo grande fortuna e desejava saber se ajo bem em aplicar três quartas partes em benefício dos que por mim foram prejudicados como seguidores das Leis de Moysés, e o restan- te em outras obras de caridade?”
Respondo: “Amigo, é mais do que suficiente; pois Deus é, em Si, o Amor puríssimo. Dar-te-ei um exemplo para maior compreen- são. O homem que percebesse necessitar de uma companheira e a pro- curasse não com amor, mas pelo intelecto frio, achas ele chegar a en- contrar uma mulher cheia de amor para com ele? Uma tola sim, que se case com o dinheiro dele para gastá-lo com outros. Quem quiser encontrar uma criatura cheia de amor tem de procurá-la com amor.
Assim também, quem quiser achar Deus, Puro Amor, terá de fazê-lo com amor puro no próprio coração, no qual não se agarrou o menor vislumbre de amor mundano. Deste modo, encontrá-Lo-á.
Quando moço, tiveste a sorte de entusiasmar a filha de um patrício mui rico e também sentiste grande afeição por ela e com prazer terias casado com ela, caso o teu sentimento tivesse sido in- teiramente puro. Ela, naquela época chamada de pérola de Roma,
te amando muito sem que disto te apercebesses além do necessário, tratou de se informar a teu respeito e descobriu que mantinhas ou- tras ligações amorosas. A partir daí, ela se afastou e nunca mais te deu sinal de qualquer simpatia. Entristecido, procuraste nova apro- ximação e facilmente terias tido êxito. Não te podendo libertar intei- ramente das paixões, perdeste a pérola definitivamente.
Fato semelhante dá-se com Deus, puro Amor. Encontrá-Lo-
-ás somente com Amor puro e desinteressado, para poderes vê-Lo, honrá-Lo e Dele receber a Vida Eterna. É mui difícil purificar-se o coração cheio de coisas fúteis. Uma vontade firme é bom operário e facilita amanhã o que hoje ainda te pareça impossível. Uma vez iniciado o propósito, a realização se torna mais leve. Terias compre- endido intimamente o que expliquei?”
JUSTIFICATIVAPARAAVIDA MUNDANA
Diz o sacerdote: “Tudo entendi e me certifiquei ainda mais de que tens a teu favor a ajuda de um deus vivo e poderoso, por saberes tão nitidamente do meu passado. Considera, porém, as cir- cunstâncias humanas a prenderem a casta sacerdotal ao Governo.
Toda criatura vinda à Terra, sem vontade e conhecimento, e obrigada a se manter desde que nasce, é realmente um ser miserável. Uma vez crescida a ponto de diferenciar o dia da noite etc., começa-
-se a determinar a sua educação. Após esta adquirida, preciso é pro- curar-se profissão que faculte subsistência vital. Ninguém quer viver mal, portanto escolhe o homem um posto que lhe dê liberdade, não obstante a lei do Estado. Por isto me tornei sacerdote, muito embora meu posto se baseasse em mentira e mistificação.
Naturalmente apresentaram-se necessidades variadas que prontamente eram satisfeitas, dentro das normas legislativas, sem que uma divindade tivesse protestado. Nessas circunstâncias, cora- ção e alma só podiam estar plenos de amor material e impuro, pois não havia estímulo de algo espiritual. Em idade avançada, as indaga- ções referentes à verdade se manifestavam mais potentes.
Comecei a procurar e pesquisar, e nada encontrei até hoje. Como poderia procurar uma entidade elevada com puro amor, se ela nunca se revelou? Não se pode amar o que não existe, seja um deus ou outro objetivo. Não me cabe culpa se amei o que se tornara acessível dentro de minha vida. Dedicar-se aos quadros da própria fantasia é idêntico à atitude de um tolo. Seja como for. No momen- to ainda estou cheio das coisas do mundo e agora se apresenta um Deus Verdadeiro e exige eu abandonar o meu mundo anterior. Isto não será tão fácil em minha idade e aguardo tua orientação.”
ASPRIMITIVASREVELAÇÕESDO SENHOR
Digo Eu: “Tens razão apenas em parte, porque acusas a Di- vindade de desleixo e completa indiferença com relação aos homens, e isto, meu amigo, não é verdade, conquanto te pareça.
Deus sempre Se revelou aos homens, portanto também a ti, em Roma e, mais nitidamente, em Thebas. E quando certo dia te encontravas à margem do Nilo, ouviste uma voz alta: Lê Moysés e vive dentro de seus Mandamentos, que encontrarás o que procuras.
Novamente fizeste a leitura dos profetas. Mas deixaste de viver segundo as suas leis por motivos vários. Um ano mais tarde passaste pelo mesmo local do rio e ouviste a mesma voz, e muito meditaste a respeito. Tua atitude, porém, não se modificou. Eras sacerdote romano e não pretendias contrariar as Leis de Roma, por- quanto poderias acarretar com prejuízo material, conquanto sabias não ser proibido adotar os Mandamentos de Moysés, e aquela voz, no final, consideravas ilusão, e caso fosse realmente algo espiritual, ela haveria de se repetir.
Deste modo procuraste e pesquisaste sem agir, assemelhan- do-te a um construtor constantemente ocupado em planos; tão logo deva iniciar a obra, amedronta-se com o esforço e as despesas. Pensar, meditar, julgar, pesquisar e procurar não é atitude real, mas puramente o propósito para tanto. A vida não sendo propósito para
a ação, mas a própria existência ativa, preciso é que o propósito se transforme em ação, a fim de se atingir a meta.
O pouco que empreendeste vez por outra não foi o suficiente para dar outra orientação à tua alma, de sorte que continuavas no mesmo ponto. Agora tomaste, pela primeira vez, a firme vontade de te transformares segundo a Vontade de Deus Único e Verdadeiro, expressa por Mim, e hás de encontrar o que sempre procuraste. De certo modo já o encontraste. Mas és comparável a um homem den- tro de uma floresta, não se apercebendo onde está devido às árvores.”
Retruca o sacerdote: “Como devo entendê-lo, sábio Mestre?” Respondo: “Eis uma taça vazia. Quero que se encha e deves tomar o vinho. Agora prova se isto pode realizar um mago.”
Após ter provado o vinho de especial aroma, o sacerdote diz: “Isto nunca foi feito por criatura humana. Deves estar em união poderosa com o Deus judaico, pois parece estar a tua vontade com- pletamente una com a de teu Deus. Quem chegar a este ponto cer- tamente será capaz de se imortalizar.
Tivesse eu nascido judeu, teria alcançado grau elevado na união com Deus, pois não me faltam vontade e dedicação. Como pagão, não podia encontrar o justo caminho. Mas agora isto mu- dará. Permite eu me dirigir aos colegas para lhes transmitir o que recebi, pois também sentem o que lhes falta.” Digo Eu: “Podes ir para falar a Verdade.”
CONJECTURASACERCADASBELEZAS NATURAIS
Após informados de tudo, facilmente os colegas do sacerdote aceitam a Doutrina e no dia seguinte prestam sua profissão de fé. De manhã cedo, já Me encontrava com os discípulos ao ar livre e apreciamos o belo panorama de uma colina. Finalmente, o coman- dante se expressa: “Senhor e Mestre, não se pode criticar o homem por se ter tornado materialista; tudo que vê prende-o com algemas poderosas, e não há ensinos espirituais que o libertem de hoje para
amanhã. A fim de se afastar de todas as tentações do mundo, preciso é o mais alto grau de renúncia.
Penso que habitantes de zonas menos aprazíveis estejam mais acessíveis aos conceitos espirituais e transcendentais. Observo o Egito com bastante tristeza. Enquanto não era cultivado, lá exis- tiam homens mui inteligentes. Nem bem se começou a embelezar a natureza estéril daquele país, perdeu-se o sentido elevado da raça, conferindo direitos à Natureza que faziam surgir toda sorte de qua- dros e deuses. A inclinação espiritual desvaneceu-se inteiramente, e o próprio Moysés teve que manter o povo israelita durante quarenta anos no deserto mais estéril, a fim de despertar-lhe a tendência espi- ritual. Assim, opino ser a maior parte do orbe mui tentadora para a educação espiritual dos homens. Agrada-me esta manhã. Mas sinto o efeito encantador sobre uma alma nova e sadia.”
Digo Eu: “Em parte tens razão. Não tivesse Eu posto as criaturas nesta Terra em situação tal a se poderem desenvolver se- gundo o livre arbítrio e a razão, para procurarem o Meu Espírito dentro de si, poderia tê-las deixado quais pólipos no fundo do mar.
Toda a imensa Natureza é sumamente necessária para a evo- lução do homem; sem ela, pensamentos e sentimentos humanos se- riam mui precários e mal se elevariam acima do reino animal. Sendo a Terra tão fartamente organizada com seres variados, é o homem obrigado a observá-la com grande prazer, passando, de tais observa- ções e comparações através dos reinos telúricos e a constante muta- ção das estações e do mundo estelar, a meditações mais profundas que o levam a procurar a Origem de tudo. Neste estado de autoe- ducação, Eu dele Me aproximo para revelar-Me de modo constante e profundo.
Justifica-se portanto ser esta Terra, na qual os homens são destinados a se tornarem filhos de Deus, tão bela e maravilhosamen- te organizada. Naturalmente, não deve o homem apegar-se a ela em demasia e prender seus sentidos à sua Natureza. Deste modo, sua alma se tornaria materialista e se afastaria de sua meta espiritual pela cegueira e maldade em sua vida de provação.
6. A experiência de todos os tempos nos ensina o quanto é di- fícil levar-se tais criaturas ao justo caminho da Vida, e tu mesmo já colheste e ainda colherás muitas experiências. — Eis que se aproxi- mam alguns sacerdotes em companhia do orador de ontem. Que- rem sondar pessoalmente o que há Comigo, pois o colega desper- tou-lhes alguma noção espiritual. Deixemos que se aproximem para encontrar a Verdade da Vida.”
PEDIDOEPROMESSADO SACERDOTE
O grupo nos cumprimenta amavelmente e o primeiro sacer- dote diz aos colegas: “Eis o grande homem milagroso, de cuja von- tade tudo depende, contendo Sua Palavra a Verdade mais profunda. Sejam-Lhe tributados a maior honra e louvor.”
Digo Eu: “Amigos, não vim a este mundo para Me deixar honrar e louvar pelos homens, mas unicamente para encontrarem por Mim e em Mim Aquele que perderam por culpa própria. Quem quiser Me honrar e louvar aceite a Minha Doutrina e viva de acordo. Enquanto honrardes os ídolos de pedra e madeira, não chegareis à Verdadeira Luz da Vida, de Deus, tampouco O reconhecereis em Mim, não participando do Meu Reino, que Comigo veio junto dos homens desta Terra.”
Opina um sacerdote politeísta: “Facilmente poderíamos re- nunciar aos deuses. Mas que diria o povo, se fomos nós a propagar- mos o politeísmo, obrigando a massa à veneração?”
Respondo: “Tudo depende de vossa vontade. A Verdade é até mesmo compreendida por uma criança com mais