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O MENINO JESUS NO TEMPLO

O MENINO JESUS NO TEMPLO

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2015

ÍNDICE

  1. OexamenoTemplodeJerusalém13

  2. O sensacional Menino Jesus no Templo. A oferenda do velho Simon.Palavrasdojovemescriba15

  3. Pergunta do Menino Jesus aos escribas: “Quem é a Virgem e QuemoseuFilho?”Boarespostadosábioescriba18

  4. O Menino Jesus repetesua exigência. Objeção do sacerdote mordazerespostaseveradoMenino22

  5. DiscursodochefedasinagogadeBethlehemerespostado MeninoJesus.Umfariseuorgulhosotentainterrompê-Lo,

noquefracassa24

  1. Bom critério do jovem levita. Discurso condenável do Sumo Pontíficea respeito do filhodo carpinteiro de Nazareth27

  2. Resposta do Menino Jesus. A Missão do filho de Zacharias. O Podermilagrosodofilhodocarpinteiro29

  3. AmeaçadoPontíficeereprimendaseveradojuiz31

  4. PromessadoMeninoJesusfeitaaojuiz.Comoacriaturase tornadivinaatravésdoVerbo.OMeninoJesuscontestao

Pontíficecomauxíliodocatecismopopular33

  1. Tentativa frustrada dum escriba e dum ancião para justificar o Pontífice.A sessão é prorrogada para o dia seguinte. O Menino JesuseSimon,hóspedesdoromano,noalbergue35

  2. Conselhonoturnodostemplários37

  3. Reunião do grêmio examinatório no segundo dia. Tentativa frustradadostempláriosdequereremsustarasessão45

  4. Prosseguimentodasessão.Jesuspergunta:“QuefaríeisseEu

fosseoMessias?”RespostacautelosadotalmudistaJoram48

  1. TestemunhodeJesus deSiPróprio.OpiniãodeJoram:“Esperai queotempodecida!”JesusdemonstraoPoderDivinodentro

deSi.RespostanegativadeJoram50

  1. VáriasobjeçõesporpartedeJoramedosumosacerdote

quantoàideiamessiânicadoMeninoJesus52

  1. PerguntachistosadeBarnabé.RespostaseveradoSenhor.

EmbaraçoeescusadeBarnabé.Omilagredasorelhasde

burroedoasnovivo53

  1. O desaparecimento milagroso do burro. O milagre feito com a pedra. Admiração do juiz romano. Explicação do Menino Jesus sobreaVindadoSeuReinoDivino58

  2. Relato do Menino Jesus referente aos milagres dos vinte e sete magos em Damasco. Embaraço e admiração de Barnabé. O segredodaOnisciênciadoMenino59

  3. A explicação das palavras “Jerusalém” e “Melchisedek”. A Santa Escritura é o Verbo Divino. Joram aponta a incompreensão quantoàsprofecias61

  4. Asegundanoitepassadanoalbergue.JorameBarnabé

procuramtrechosadequadosnasprofecias63

  1. Iníciodasessãonoterceirodia.TentativabaldadadeJoramde quererinterceptarotema.Osumosacerdotesetorna

importuno.ContestaçãodoMeninoJesus64

  1. Palavrasdereconhecimentodojuizromano.OMeninoJesus

falasobreasleisdeEstadoeaLeiDivinadoAmoraopróximo67

  1. LeituraeexplicaçãodeIsaías,cap.9,vers.5–6,feitaspelo romano69

  2. DiscursodeJoramacercadoSerDivino72

  3. DiscursoseverodoMeninoJesus.AsfraudesnoTemplo74

  4. Respostairritadadosumosacerdote.OMeninoJesusprediza destruiçãodoTemploedeJerusalém.Averdadesobreamorte

de Zacharias.Amedidadosjudeusestárepleta76

  1. JoramreconheceoMeninoJesuscomooPrometidoepede-Lhe explicaçãosobreotextodeIsaías,52:14e53:3.Resposta

precisaDele79

  1. O Menino Jesus prova que o Templo e todo o país não mais poderãosersalvos.AnovaArcaea“águamaldita”81

  2. Perguntaambíguadosumosacerdote.Respostaseverado MeninoJesus.BarnabépedeesclarecimentosobreIsaías

cap.54:4–9.OmotivodaseveridadedoSenhor83

  1. Nicodemus pergunta pelos Polos da terra. Resposta do Menino Jesus.Pactodeamizadeentreambos86

  2. Ojuizromanoencerraasessão.Suaperguntapelospaisde

Jesus 87

  1. ChegadadeJoséeMarianoTemplo.PerguntadosPaise resposta do Menino Jesus. Palestracordial do romano, NicodemuseosPaisdeJesus.Nopaláciodoromano.

AvoltaaNazareth89

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim” dizia o profeta. Hoje o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“ObraCultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e À Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo:ARedençãoeEpístoladePauloàComunidadeem Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo:ORessurrectoeJudasIscariotes)Prédicas do Senhor

Eaconteceuque,passadostrêsdias,OacharamnoTem-plo,assentadonomeiodosdoutores,ouvindo-oseinterrogan- do-os.

E todos os que O ouviam admiravam a sua inteligência e respostas.

E eles, vendo-O, maravilharam-se, e disse-Lhe sua mãe:“Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e euansiososTe buscávamos”.

EElelhesdisse:“PorqueéqueMebuscáveis?NãosabeisqueMeconvémtratardosnegóciosdeMeu Pai?”

Eelesnãocompreenderamaspalavrasquelhes dizia.

Lucas 2, 46-50

OMENINOJESUSNO TEMPLO

CAPÍTULO

OexamenoTemplode Jerusalém

    1. Era hábito e uso prescrito no país dos judeus levar os filhos que tivessem passado os doze anos a Jerusalém, a fim de que fossem examinados no Templo pelos anciãos, fariseus e escribas sobre tudo que tinham estudado até então com relação a Deus e aos profetas.

    2. Entende-se que era preciso pagar uma pequena taxa para ser admitido em tal exame e mais outra, caso o examinado desejasse um comprovante. As crianças que tivessem conseguido um atestado com distinção podiam ser admitidas nas escolas do Templo, com a perspectiva de serem aceitas como servos do mesmo.

    3. No caso que os pais pudessem provar sua descendência da linha de David, a admissão em tais escolas era coisa fácil. Caso con- trário, era possível, todavia, comprar este direito com uma oferenda importante.

    4. As filhas eram excluídas, geralmente, de tal exame, a não ser que o desejassem, estimuladas pelos pais, a fim de agradarem a Deus. Neste caso, eram examinadas pelas anciãs num recinto à parte, po- dendo deste modo conseguir também um atestado. Estas meninas tinham a vantagem de se tornar esposas dos sacerdotes e levitas.

    5. Tais exames eram de curta duração e as principais perguntas eram predeterminadas e já conhecidas por todos os judeus.

    1. As respostas eram decoradas, tanto que o examinador mal havia formulado a sua pergunta, quando o menino já lhe dava a resposta.

    2. Nunca o exame passava de um minuto, porquanto as per- guntas não excediam o número de dez e, quando o examinado res- pondia com desembaraço as primeiras, as restantes eram sustadas.

    3. Depois de terminado o exame, o menino recebia um talãozi- nho, com o qual procurava, em companhia de seus pais, a pessoa à qual tinha pago a primeira taxa, conseguindo assim o atestado. Fi- lhos de pais pobres tinham que apresentar um Signum Paupertates*.

    4. A época dos exames caía ou na Páscoa ou na festa dos Taber- náculos e durava geralmente de cinco a seis dias. Alguns dias antes, o Templo enviava servos aos albergues para averiguar o possível nú- mero de candidatos.

    5. Quem quisesse ser notificado podia fazê-lo e ser admiti- do mais rápido; os que não o fizessem eram, por conseguinte, os últimos no exame e não deviam esperar muita atenção, tampou- co o dito atestado. Prometia-se-lhes a posterior entrega, que jamais se efetuava.

    6. Às vezes acontecia que rapazes com talento e inteligência pedissem esclarecimentos sobre os profetas. Nesta ocasião, sempre havia caras aborrecidas entre os examinadores, porquanto pouco mais sabiam do assunto que, hoje em dia, os professores do curso primário: sabiam apenas o indispensável ao teste.

    7. Durante esse exame, sempre havia alguns anciãos e escri- bas como inspetores de ensino, mas que não examinavam, apenas assistiam à prova. Só no caso mencionado acima se manifestavam, condenando a ousadia de tal menino inteligente por ter levado os examinadores a uma situação embaraçosa.

    8. Esse rapaz era deixado de lado e tinha que esperar pelas respostas até à noite, quando era atendido.

* Atestado de pobreza

    1. Na hora marcada, tais meninos eram chamados de má von- tade, tinham que repetir as perguntas e um dos escribas respondia de maneira tão mística que o indagador nada lucrava — e o povo batia no peito e admirava profundamente, numa cegueira com- pleta, a profundeza imensurável do Espírito de Deus, que Se ma- nifestava pela boca de tal escriba, proibindo ainda o atrevimento desse menino!

CAPÍTULO

OsensacionalMeninoJesusnoTemplo.AoferendadovelhoSimon.Palavrasdojovem escriba

  1. Eis que, num desses exames realizados pela Páscoa, um me- nino “espirituoso”, não se deixando perturbar, diz: “Toda ação em a natureza é iluminada durante o dia pela radiante luz do sol, e a noite nunca é tão escura que não dê um vislumbre de sua claridade; por que motivo, então, ensina-se de maneira tão confusa a Dou- trina importante, que deveria mostrar claramente o caminho da salvação?”

  2. Eu Mesmo era o menino que ocasionou, com estas palavras, um grande embaraço aos anciãos, porquanto o povo Me dava razão e dizia: “Pelo Deus de Abraham, lsaac e Jacob — este menino é admiravelmente inteligente e devia continuar a discutir com os es- cribas! Vamos, pois, depositar uma importância para este fim!”

  3. Um rico israelita de Bethânia — pai de Lázaro, Martha e Maria, ainda vivo naquela época — levantou-se e pagou, por Mim, uma oferenda de trinta talentos e mais algum ouro, para Me facilitar uma polêmica com os escribas. Assim procedeu por ser um dos pou- cos que não esperavam o Rei da Glória na tempestade ou no fogo, mas sim no sussurro delicado.

  4. Os templários, de bom grado, aceitaram a grande importân- cia, dando-Me oportunidade de entrar numa discussão extraordi- nária com eles, o que até então jamais tinha sido possível por cer- tas razões.

  1. A pergunta preliminar, cuja resposta mística tinha dado mo- tivo a esta querela, referia-se ao profeta Isaías. Quem quiser se apro- fundar de coração puro nesse versículo levará um grande benefício para sua alma e seu espírito.

  2. Antes, porém, de iniciar a discussão, e tendo bem paga a li- berdade para poder falar, reportei-Me àquela pergunta, pedindo aos anciãos explicação sobre vários pontos.

  3. Referia-se ela ao 7º capítulo de Isaías, vers. 14, 15 e 16, onde consta: “Portanto, o Mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá e parirá um filho e O chamará Emanuel. Mantei- ga e mel comerá, até que Ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem. Na verdade, antes que Este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra de que te enfadas será desamparada de seus dois reis!”

  4. A primeira parte destes versículos era compreensível por si só: Quem era a virgem, Quem seu filho Emanuel e a época do nasci- mento deste filho — que já devia se ter realizado, porquanto o país de Jacob há vários anos tinha sido destituído dos seus dois reis, ten- do os pagãos como senhores. Talvez fosse possível considerar aquele menino nascido há doze anos em Bethlehem pela Virgem Maria, que tinha sido entregue ao carpinteiro José — ainda não como espo- sa, e sim como pupila, de acordo com os velhos costumes do Templo

  1. Bem, a essa pergunta preliminar, não sem importância, um ancião verdadeiramente avarento começou a tagarelar coisas sem nexo, que não quero repetir, pois chamava-Me de menino mal-edu- cado, que queria entender algo sobre um parto.

  2. Um escriba mais jovem e mais humano, porém, opôs-se-lhe, dizendo: “Isto em absoluto dá provas de uma educação deficiente, porquanto, justamente na Galileia, os meninos são muito mais esper- tos que em Jerusalém, onde prevalecem a luxúria e a má educação. Além do mais, acho que merece uma resposta mais apropriada, pois

sinto que já é ciente de todas as contingências da vida. Por isto, acon- selho afastar os outros meninos, para lhe poder falar abertamente.”

  1. O ancião resmungou algo nas suas barbas e Eu então Me virei para o mais jovem escriba, perguntando-lhe a respeito do nascimento em Bethlehem. Mas também esse estendeu-se em demasia, dizendo:

  2. (O jovem escriba): “Meu querido e amável menino, aquela história, que, felizmente, evaporou-se por completo, embora tivesse provocado muito alarde, nada tem a ver com a profecia mística do profeta Isaías, que sempre falou em quadros ocultos. Acredito que os pais, conforme consta, tenham fugido da Judeia por ocasião do infanticídio ordenado por Herodes, no qual certamente o esperado Rei dos judeus tenha perecido e os velhos talvez também não exis- tam mais, pois nunca alguém ouviu algo a seu respeito.

  3. É possível que houvesse algo de verídico naquele fato, que

chamou a atenção de muitos. Estranho, porém, é que, poucos anos mais tarde, tudo caiu no esquecimento, tanto que não vale a pena perder uma palavra com isto. Sabemos que Simeon e Anna eram dois velhos fanáticos e entusiastas, que por várias ocasiões tinham feito alusões messiânicas a uma série de meninos, perturbando bas- tante os respectivos pais.

  1. Quando Deus deu Suas Leis a Moysés, toda a terra estreme- ceu; os fatos ocorridos no deserto perduraram por quarenta anos e a humanidade toda teve de reconhecer a Onipotência de Jehovah. Quanto mais não o fará o Esperado Messias, do Qual David disse no Salmo 24: ‘Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó en- tradas eternas, e entrará o Rei da Glória! Quem é este Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos exércitos, ele é o Rei da Glória!’

  2. Portanto, meu querido menino, poderás reconhecer que,

entre o nascimento em Bethlehem e o Messias Esperado, não há relação! Considera como Ele foi anunciado por David e o que era preciso fazer, quando o grande Rei da Glória viesse dos Céus para

perto dos judeus. Além disso, todo este povo deverá ser incentivado, durante anos, pelos profetas — entre estes, Elias, que devia preceder o Senhor da Glória e efetuar aquilo que foi exigido por David, a fim de se preparar para esta Chegada Gloriosa do Altíssimo!

  1. Se refletires um instante, chegarás à conclusão que Jehovah não virá por tão pouco! Por isto, vai e deixa de perguntas!”

CAPÍTULO

Pergunta do Menino Jesus aos escribas: “Quem é aVirgemeQuemoseuFilho?”Boarespostadosábio escriba

  1. Eu, porém, dirigi-Me novamente aos anciãos e escribas e falei: “Vossas palavras, aparentemente seguras, não poderão apazi- guar o mar, tampouco acalmar os ventos fragosos! Somente um cego não percebe algo dos sinais deste tempo e, sendo surdo, também não ouve o trovão retumbante da História desta época importante. Enquanto Karmel e Zion já curvaram suas frontes perante o Rei da Glória, e Horeb fez jorrar leite e mel de suas cornetas, vós, que devíeis saber em primeiro lugar destas coisas e informar o povo a respeito, sois completamente ignorantes!”

  2. Todos arregalam os olhos e se entreolham, sem saber o

que dizer.

  1. Depois de alguns instantes, um diz: “Bem, podes continuar a falar sobre o que sabes!”

  2. Digo Eu: “Certamente sei o que sei; mas não faço estas per- guntas para que Me expliqueis o que já sei, e sim apenas para que Me demonstreis Quem é a virgem pela qual deverá nascer o Filho do Altíssimo?! Por que Lhe dará o nome de ‘Emanuel’ (Deus está conosco)? Por que irá Ele comer mel e manteiga, para rejeitar o mal e escolher o bem? Como escribas, deveis saber o que o profeta queria dizer com a virgem que deveria dar à luz o Filho?!

  3. Sou de opinião que haja algo mais de importante na História de Bethlehem do que julgais, e que tanto José como sua posterior esposa e o filho nascido naquela cidade ainda estejam vivos, pois

conseguiram escapar das crueldades do velho Herodes através duma sábia interferência do Capitão Cornélius, tanto que moram calma- mente em Nazareth.

  1. Eu, um menino de doze anos, estou ciente disto, e vós, infor- mados de tudo, não o sabeis — mormente se José, como carpinteiro mais procurado, recebia todos os anos encomendas em Jerusalém, sendo sua esposa Maria, que bem conheceis, nascida nesta cidade e educada no Templo até os seus catorze anos! Não é ela uma filha de Anna e Joaquim, que, de acordo com as vossas crônicas, nasceu de maneira tão milagrosa?! Anna já era idosa e, sem um milagre, não era possível pensar numa concepção!

  2. Bem, tanto os pais como o menino viveram durante três anos

  1. Isto tudo, porém, não tem importância, e apenas o mencio- nei para provar-vos o paradeiro deste casal naquela época. De lá voltaram, a mando do Alto, a Nazareth, onde vivem completamente retraídos, embora se fale muita coisa extraordinária deste menino, que tenho a honra de conhecer. Pois os próprios elementos Lhe obe- decem — e os animais mais selvagens das florestas e desertos fogem com mais pavor de Seu Olhar que de mil caçadores; é um verdadeiro Nimrod! E isto tudo realmente não sabeis? Dizei-Me com sincerida- de se não tendes conhecimento destes fatos!”

  2. Diz um outro ancião, de melhor índole: “Sim, falaram-nos

isto e aquilo, bem como que o conhecido carpinteiro mora em Na- zareth com Maria, sua esposa. Entretanto, não sabemos — e até mesmo duvidamos — se o seu filho prodígio seja aquele que nasceu, há doze anos, num estábulo em Nazareth. E como poderia esse me- nino ser o ‘Emanuel’ do profeta?”

  1. Digo Eu: “Muito bem, se Ele não o for, donde Lhe vem o Poder sobre os elementos? E quem é a virgem e Quem o Emanuel?”

  2. Diz o rico judeu de Bethânia: “Ouvi-me, este menino é su- mamente inteligente! Parece-me que seja um jovem Elias, mandado pelo tal menino prodígio a fim de preparar-nos para o Emanuel do profeta! Pois quando alguém de nós já assistiu que, além de Samuel, um rapazinho de doze anos pudesse falar com tanta sabedoria?!

  3. Por isto, deveis falar de modo mais conciso, se dele vos qui- serdes livrar! Deveis explicar-lhe bem claramente os profetas e anali- sar o que houve com a Virgem Maria, a milagrosa filha de Joaquim e Anna, que legaram todos os seus bens ao Templo — ou talvez este os tenha açambarcado como prêmio pela educação de sua filha.

  4. Qual a vossa verdadeira opinião quanto àquela virgem? Se quisermos considerar os profetas, chegaremos à conclusão de que a época mencionada já chegou, e o milagroso acontecimento da dita virgem não mais poderá ser negado! Neste caso, seria um ultraje de nossa parte se não nos interessássemos mais de perto!”

  5. Diz o ancião, aborrecido: “Isto não entendes, e falas como um cego perfeito da grande maravilha das cores!”

  6. Digo Eu, entretanto: “Coisa estranha, um faminto julgar que todos que o rodeiam tenham fome! Uma criatura tola sempre julga as outras mais tolas que ela. Para o cego, todo aquele com visão mais apurada também é cego, e, para o surdo, todos são surdos!

  7. Velho rabugento, julgas que além de ti ninguém mais po- derá saber algo? Estás redondamente enganado! Vê, sou apenas um menino, e poderia contar-te e revelar-te coisas verídicas que nunca, jamais ousaste sonhar!

  8. Por que não deveria o Meu rico amigo de Bethânia — que viajou pela Índia, Pérsia, Arábia, Egito, Espanha, Roma e Athenas

  1. Se um servo for admitido para um certo serviço, forçosa- mente há de executar esta incumbência. Não o querendo ou não

podendo fazê-lo, seu senhor terá o direito de exigir a devolução da importância estipulada. Deixastes-vos pagar muito bem! — e não quereis nem podeis fazer algo em compensação! Neste caso, Simon não terá o direito de pedir a restituição do dinheiro?”

  1. Diz um comissário e juiz romano: “Vede este menino! É um jurista perfeito e poderia ser um árbitro em todas as questões con- cernentes à jurisprudência! Seu julgamento é perfeitamente baseado nas nossas leis e, caso Simon de Bethânia o exija, vejo-me obrigado a pronunciar a execução!”

  2. Depois destas palavras, ele me acaricia com sinceridade e diz: “Ouve-me, querido menino! Estou encantado por ti e tinha vontade de cuidar-te e educar-te para algo de importância!”

  3. Digo Eu: “Sei bem que Me amas, pois em ti pulsa um coração sincero e bom; mas podes estar certo que também Eu te amo! Não pre- cisas, porém, cuidar do Meu Futuro, pois já existe Alguém que o faz!”

  4. Nisto se aproxima Simon de Bethânia e pergunta com ad- miração: “Dize-me, querido menino: donde sabes o meu nome e por onde viajei?”

  5. Digo Eu: “Ora, não te deves admirar com isto, pois, quan- do Eu desejo saber algo, sei-o! O porquê não poderás alcançar agora!

  1. Diz um dos mais espertos do considerável grupo de anciãos: “Pois bem, não haverá mais saída, a não ser que lhe digamos a ver- dade pela interpretação da Cabala, e ele não terá motivo para mais perguntas.”

  2. Em seguida, adianta-se um suposto sábio escriba e diz: “Bem, menino curioso, concentra-te, ouve e compreende: De acor- do com o profeta, a ‘virgem’ não é uma criatura de carne e osso, e sim a Doutrina que Deus deu aos filhos deste mundo através de Moysés. No sentido mais restrito, nós, sacerdotes, representamos vi- vamente esta Doutrina e a Lei.

  3. Como estamos repletos, ou seja, prenhes da Palavra de Deus, esta Doutrina será gerada por nós para o mundo e confortará

os pagãos. E esta esperança verdadeira e viva é a grandeza da vir- gem mencionada pelo profeta; o Filho, porém, que deverá gerar, são justamente todos os pagãos que aceitarem a nossa Doutrina, sendo intitulados por ‘Emanuel’, isto é, ‘Deus está conosco’! Isto já se deu diante de nossos olhos e ainda se dará mais acentuadamente!

  1. Mas este Filho comerá mel e manteiga e rejeitará o mal, es- colhendo o Bem. O mel representa o amor puro e o verdadeiro Bem que ele encerra; a manteiga, por sua vez, é a Sabedoria de Deus, que é transmitida aos homens pelo cumprimento da Doutrina e da Lei; e uma vez compenetrada do Amor e da Sabedoria, a criatura rejeitará o mal e escolherá o Bem!

  2. Vê, querido menino: esta é a explicação das palavras, versos e discursos dos profetas! Possuem apenas um sentido espiritual, cuja interpretação somente é dada aos verdadeiros escribas. Um leigo ja- mais o poderá fazer — pois, se o fizesse, as escolas superiores seriam desnecessárias e Moysés não teria tido dificuldade em criar sacerdo- tes e levitas para a manutenção dos Ensinamentos e Leis de Deus! Assimilaste esta única e verdadeira interpretação de teu profeta não compreendido?”

CAPÍTULO

OMeninoJesusrepetesuaexigência.Objeçãodosacerdotemordazerespostaseverado Menino

  1. Digo Eu: “Como não? Isto que Me explanaste há muito já sabia e podias ter evitado este trabalho. Entretanto, persisto no que se refere à Virgem Maria!

  2. Qual o motivo que levou o profeta a dizer: ‘Porque um me- nino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e o seu nome se chama Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Herói, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz. Da grandeza deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de David e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora para sempre! O zelo de Zebaoth fará isto!’ (Isaías 9:6–7).

  1. Qual criança e qual filho nos foram dados? Não seria ele o mencionado menino nascido numa estribaria em Bethlehem? Pois também consta: Em Bethlehem nascerá numa estrebaria um Rei dos judeus; Este erigirá um novo Reino, que jamais terá fim! — Como interpretas isto, tu que és cabalista?”

  2. Completamente confundidos, todos se entreolham e di- zem: “Mas onde conseguiu este menino apossar-se da Escritura? Ao todo existem apenas algumas cópias esparsas, e, perfeitas, so- mente dez; sabemos onde estão e que nenhum leigo lhes poderá chegar perto. Os samaritanos também possuem uma, completa- mente errada e com uma série de aditamentos, como mera poesia do Oriente.”

  3. Diz um sacerdote mordaz: “Bem, então responde-me tu: donde e desde quando adquiriste este conhecimento completo da Escritura e, principalmente, dos profetas?”

  4. Digo: “Tens tão pouco o direito de perguntar-Me isto, como Eu o teria de indagar-te o motivo por que tu, como sacerdote, ainda não assimilaste a Escritura, nem pela palavra e, ainda menos, pela ação! Responde à Minha Pergunta, pois que foste pago! O resto não é de tua conta, pois não te custou coisa alguma, nem trabalho, nem tempo, nem a mínima preocupação ou sacrifício qualquer!

  5. Além do mais, não consiste numa honra para a vossa cátedra em Jerusalém que a cultura acentuada dum menino da Galileia vos leve a tamanhos elogios; com isto provais que a educação aqui não vai muito além do reino animal!”

  6. Esta Minha Observação, bastante exagerada, faz com que o comissário romano desate a rir e também Simon não se pode conter, o que obriga o sacerdote a recuar para um dos últimos bancos.

  7. Em seguida, diz um chefe da sinagoga de Bethlehem: “Já vejo que tenho que intervir, do contrário não nos livraremos deste menino. Ele possui direito adquirido para arguir-nos durante esta semana e temos que responder-lhe, queiramos ou não queiramos! Se já nos dá preocupações com a pergunta preliminar, o que não esperar do resto!?

  1. Possui inteligência e humor inatos em quantidade e não haverá saída para nós, se não fizermos o que ele quiser. Exige o ver- dadeiro relato sobre o nascimento havido há doze anos dum meni- nozinho em Bethlehem e isto poderei fazer, porquanto, já naquela época como hoje, fui e sou o chefe daquela sinagoga!”

CAPÍTULO

DiscursodochefedasinagogadeBethlehemerespostadoMeninoJesus.Umfariseuorgulhosotenta interrompê-

Lo,noque fracassa

  1. Em seguida, o chefe se dirige a Mim e diz: “Não é isso? Queres todos os dados e aparições daquele extraordinário nascimento?”

  2. Digo Eu: “Oh, não! Com isto não te precisas cansar, pois es- tou ciente de todos os fatos como nenhum entre vós! Quero apenas saber de vossa parte qual a relação daqueles acontecimentos com o testemunho dos profetas, principalmente com o de Isaías. Trata-se apenas disto e nada mais!”

  3. Responde ele: “Bem, meu querido menino, exiges coisas que dificilmente ou, talvez, em absoluto, te poderemos fornecer!

  4. É evidente que, entre as profecias de Isaías e o tal nascimen- to ocorrido há doze anos numa manjedoura — o que também foi mencionado na profecia — haja uma certa relação; mas, querido, quantos fatos semelhantes já se deram desde os tempos dos profetas, e até hoje não há vestígio de um Emanuel!

  5. Por diversas vezes a Judeia ficou sem rei, muitas virgens deram à luz em qualquer estábulo de Bethlehem e, às vezes, com grande cerimônia — embora casualmente — mas que só podia ser considerado como simples fenômeno da natureza.

  6. Criaturas de índole fraca e supersticiosa souberam aprovei- tar isto sob influência de magos gananciosos da Índia e da Pérsia. Crentes dos contos dos profetas, utilizavam estes momentos para anunciar, aos judeus cegos, que o Messias Esperado havia nascido.

  1. Mas o tempo, este implacável destruidor de todas as obras, contos e poesias, ensinou aos sobreviventes algo melhor. Tudo caiu no esquecimento e nós só obtivemos um conto vão, inteiramente sem nexo! As expressões dos profetas são quadros místicos, os quais os homens hão de roer por muitos séculos, mas dificilmente um povo poderá chegar a uma conclusão exata.

  2. Vê, querido, o mesmo acontece com o referido nascimento em Bethlehem, que, justamente por ter sido apontado pelos profe- tas, sempre foi o ponto de grande atração de toda sorte de magos, visionários e astrólogos, para verificarem se não houvera acontecido algo que pudesse ser explorado por eles. E este nascimento lhes deu uma boa oportunidade.

  3. Os três magos da Pérsia receberam, pelos presentes oferecidos à virgem, uma quantidade enorme de gado por parte dos pastores, tanto que sua viagem não foi em vão. Isto, porém, ocorreu há doze anos e ninguém mais se lembra deste caso!

  4. Não me admiro em absoluto que tu nos apresentasses esta história fantástica, pois a Galileia sempre representou o país dos fan- tasistas; eis por que sempre foi apontada pelos anciãos como aquela de onde jamais surgiria um verdadeiro profeta.

  5. Penso agora, meu querido menino, ter respondido integral- mente à tua pergunta preliminar! É bem possível que algum dia Jehovah desperte um herói para os judeus oprimidos, que os elevará a um povo liberto, mas, para isto, a época de hoje não apresenta o mínimo vestígio.

  6. Que aparência deveria ter este herói e donde haveria de surgir, a fim de enfrentar o tremendo poderio romano? Talvez em mil anos, quando todos os potentados se encontrarem casualmente afrouxados, fracos e sem tronos, inclusive em Roma — mas atual- mente não há possibilidade para isto e tua pergunta preliminar se desfaz em nada, porquanto de nada trata. És ciente disto?”

  7. Digo Eu: “Sim, sim, podes ter razão se tomares os fatos pela justiça terrena; mas, aqui, trata-se duma medida espiritual, da qual não pareces ter um vislumbre, tanto que, com toda tua dissertação experimental, disseste-Me tanto como nada!

  1. Porque, se o Messias vier, fundará um Reino Espiritual e não material sobre a terra e este Reino não terá fim por toda a Eter- nidade, conforme foi dito pelo profeta.

  2. O que vem a ser um Reino Espiritual sobre a terra? — Este Reino não terá pompa externa, mas sim deverá revelar-se dentro da criatura, que, uma vez de posse deste Reino, não verá e não sentirá a morte por toda a Eternidade.

  3. Se isto tudo se refere ao Messias Prometido, como, pois, não atribuir importância àquele nascimento extraordinário em Bethlehem?

  4. Deus protegeu aquela criança de maneira milagrosa das mãos assassinas de Herodes, tanto que ainda vive hoje, embora completamente retraída, tendo, entretanto, o Poder imperioso de mandar nos elementos, como só Deus o poderia fazer. Ninguém se poderá ocultar diante de Seus Olhos; mas, caso queira ocultar-

-Se diante do mundo, jamais será encontrada, se isto não for de Sua Vontade.

  1. Nunca aprendeu a ler e a escrever, entretanto não há idioma que desconheça e é Perfeita em todas as artes existentes, possuindo um Poder que faz estremecer as montanhas e curvar os mais elevados cedros; sol, lua e estrelas obedecem à Sua Vontade! O que ora digo é pura verdade!

  2. Assim sendo, penso merecer vossa atenção, a fim de que averigueis nos profetas se não estão em concordância com os pais daquele menino, Seu Nascimento, o lugar, a época e as provas que até então tem demonstrado!

  3. Este fato, por certo muito importante, não deveria continu- ar sem atenção de vossa parte, pois que sois aqueles representantes dos quais o povo poderia aguardar a Anunciação do Messias. Falo com direito bem pago e ninguém Me poderá fazer calar! Aí está o juiz romano que poderia obrigar-Mo!”

  4. Não teria feito referência ao juiz se não fosse intimado ao silêncio por um velho e orgulhoso fariseu, alegando que um atrevido pastor de suínos da Galileia não poderia ter opinião a respeito!

  1. O juiz, porém, inteiramente a Meu favor, proibiu-lhe esta má-criação, intimando-o a não se apresentar diante dele com termos desta ordem. Minha menção acerca do menino prodígio de Nazare- th era mais importante, até para os romanos, que todo judaísmo sem fundo. Tanto que lhe diz:

  2. (O juiz): “Vossa doutrina necessita, mais que qualquer ou- tra, duma reforma completa, do contrário não durará nem cinquen- ta anos! Nossas bacanais com veneração a um ser divino, sendo uma aberração do intelecto humano, ainda se apresentam como a luz do sol, comparadas à vossa doutrina e cerimônias religiosas!

  3. Tu, querido menino, continua com coragem! Nada te poderão fazer, pois pareces ter mais inteligência que todo este Templo!”

CAPÍTULO

Bomcritériodojovemlevita.DiscursocondenáveldoSumoPontíficearespeitodofilhodocarpinteiro de

Nazareth

  1. Agora se manifesta um jovem fariseu, que, aliás, ainda era levita, e pede licença para dizer algumas palavras. O juiz lho permite com a condição que o faça com calma e bom senso.

  2. O levita, então, diz: “Sou da Galileia, isto é, de perto de Na- zareth e me lembro de ter ouvido certas coisas sobre este menino prodígio; porém, não o conheço pessoalmente.

  3. Cheguei a saber que seu pai era um carpinteiro de nome José, cuja segunda esposa se chama Maria, descendendo ambos direta- mente de David. Portanto, esta informação está de acordo com o que diz o profeta.

  4. Por isso, sou de opinião que vale a pena analisar mais de per- to este assunto, que muito toca a nós, judeus. Não quero sugerir algo e falo apenas o que sei. O resto depende do sinédrio.”

  5. Levanta-se um sacerdote e diz: “Que tem o Templo a ver com as informações dum garoto doido?! É preciso apresentar provas

concludentes! Tais suposições já as houve entre o povo e até se deram alguns milagres — e nem vestígio do Messias!

  1. Quanto tempo faz que Zacharias presidiu o Templo como Sumo Pontífice?! Elizabeth, sua mulher, teve um filho em idade avançada, fato que lhe tinha sido anunciado por um anjo. Como Zacharias não o acreditasse, foi castigado com a mudez até o nas- cimento da criança. Quando informado no Templo do ocorrido e qual o nome que deveria ser dado ao filho, sua língua conseguiu mover-se de novo, dizendo ele: ‘João!’ E foi justamente o nome dado pelo anjo dez meses atrás!

  2. Zacharias, porém, perguntara-lhe: ‘Que será do menino? Re-

vela-me a Vontade do Senhor!’

  1. O anjo respondera: ‘É aquele de quem Isaías fala: Será a voz dum pregador no deserto: Preparai o caminho para o Senhor; endi- reitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo o vale será exaltado; todo o monte e todo o outeiro serão abatidos; o torcido se endireitará e o áspero se aplainará. E toda a carne verá a Glória do Senhor!’

  2. Naquela época ainda indagou-se a respeito e, em pouco, che- gou-se à conclusão de que o ganancioso Zacharias queria apenas fun- dar uma dinastia espiritual, com ajuda secreta dos essênios. Por isto, foi ele preso pela justiça, recebendo o castigo da morte por tal heresia.

  3. Onde ficou aquela esperança messiânica? Ninguém mais pensa naquilo! Tudo se evaporou diante do Templo, abençoado por Jehovah por todo o sempre, como uma poça d’água exposta aos raios do sol! No entanto, este fato surgiu do Pontífice; mas, como era fraude e ameaçava a Santidade de Deus, Ele não hesitou em castigá-

-lo em tempo!

  1. Se aquela história, não sem importância, teve tal fim, que resultado não traria esta, do suposto Messias, na qual apenas se ocul- ta uma fraude praticada por magos hindus?! Que o menino faça diante de nós os seus milagres — e nós saberemos explicá-los ao povo ignorante!

  2. A Vinda do Messias será precedida por grandes sinais no firmamento! Só então chegará Ele com todo o Poder dos Céus, será

um Senhor e Rei sobre todos os países, e os filhos de Abraham serão Seu povo para sempre!

  1. Cientes disto pelos Livros Proféticos, não podemos acre- ditar que Deus, Que Se apresentava sempre de maneira grandiosa diante das criaturas, viesse ao mundo como filho ilegítimo e sujeito à morte como nós!

  2. Pois sabemos que Maria, filha de Joaquim, já não mais era virgem quando casou com José. Tinha-lhe sido entregue como pupi- la e, a fim de que ele não fosse julgado, recomendou-se-lhe desposar a moça, antes que o caso fosse divulgado.

  3. Aquele menino é e será sempre ilegítimo, o que o impossi- bilita ser, um dia, o Messias, mesmo sendo capaz de remover todas as montanhas através das magias estudadas!

  4. Espero que mesmo o homem mais imbecil venha a reco- nhecer se tal fato seja possível ou não!”

CAPÍTULO

RespostadoMeninoJesus.AMissãodofilhodeZacharias.OPodermilagrosodofilhodo carpinteiro

  1. Dirige-se o juiz a Mim: “Então, pequeno adorável, que dizes a este discurso bem apresentado pelo Pontífice?”

  2. Digo Eu: “Que mais poderia dizer? Ou ele tem razão e o profeta é um mentiroso — ou a injustiça recai sobre o Pontífice, dando razão ao profeta! Ambos jamais poderão ter razão!

  3. Se o profeta diz: Vê, uma virgem — portanto não é casada

  1. Afirmo que tal Chegada do Messias até seria inoportuna para os senhores do Templo, os quais deveriam preferi-Lo tal e qual o profeta O descreveu!

  1. O Pontífice acaba de afirmar que aquela história do filho de Zacharias — este, justamente, estrangulado pelas mãos dos sacer- dotes entre o Altar e o Santíssimo — teve um fim e ninguém mais pensa nela.

  2. Eu, porém, digo que não terminou e virá o tempo em que aquele João estourará entre eles como um raio, julgando-os severamente!

  3. Do mesmo modo, e ainda mais rigoroso, será o julgamento daquele menino prodígio, mostrando-vos Sua Glória Divina, não para vossa ressurreição, mas para vossa queda!”

  4. O Pontífice, cheio de ódio, Me diz: “De onde sabes isto, menino doido? Quem transtornou-te a cabeça de tal forma e, final- mente, quem és, que te atreves a nos dizer tais coisas?”

  5. Digo Eu: “Sou quem sou e anotaste Minha Procedência! Além disto, já vos falei que nasci na Galileia e vim de Nazareth, portanto conheço bem o referido menino. Também não sou tão ig- norante que não pudesse distinguir os atos dum mago — mesmo sendo da Índia — dos daquele rapazinho.

  6. Tente um de vós modelar de barro doze pardais, vivifican- do-os apenas pela palavra, de sorte que levantem voo e procurem alimento como os outros!

  7. Quem de vosso meio seria capaz de fazer ressuscitar, apenas pela palavra, um garoto que, em consequência duma queda, espati- fara-se completamente?

  8. Qual poderia ordenar a um raio que perseguisse e matasse uma hiena, que roubara o filho único de u’a mulher, fugindo com sua presa em direção à floresta?

  9. Quem de vós seria capaz de mandar num temporal, numa noite de grande calmaria, justamente quando uma horda de saltea- dores armados ameaçasse invadir por mar a cidade de Capernaum?!

  10. O mencionado menino, que lá Se encontrava com Seus pais, a todos salvou! Pois a Seu mando surgiu um violento mare- moto, que num momento levou o navio para alto-mar, onde foi destroçado pelas ondas, inclusive os duzentos criminosos.

  1. Esta e outras ações Ele já praticou em benefício da humani- dade, sem jamais ter aceitado uma recompensa. Podeis certificar-vos de sua veracidade em toda Nazareth e Capernaum!

  2. Neste caso: é Ele apenas mago ou fá-Lo pelo Poder Divino dentro de Si?! Explicai-me que meios Ele usa, de acordo com a vos- sa opinião?!

  3. Minha primeira pergunta foi por vós mal respondida; ve- remos, pois, que dizeis a esta, principal, que retornaremos àquela! Falai ligeiro, que o dia está passando e teremos que procurar algo para comer!”

CAPÍTULO

AmeaçadoPontíficeereprimendaseverado juiz

  1. Diz o Pontífice: “Se tal menino realiza, sem nosso conheci- mento e consentimento, tais coisas, é evidente que seja obsedado por Beelzebub, o chefe dos diabos! Pelo Poder Divino isto jamais se- ria possível fora do Templo! É preciso muita pureza de sentimentos para se compartilhar deste Poder, e isto — apenas no Santíssimo do Templo, de acordo com a Lei de Moysés e dos profetas!

  2. Quem conhece a Escritura sabe da origem de tais milagres fora dele! Torna-se, portanto, até um dever o aniquilamento de tais pessoas, ou crianças! E se nossas futuras investigações confirmarem o que acabas de contar deste menino, será ele também exterminado, como servo de Satanás!”

  3. Diz o juiz: “Este foi sempre vosso hábito — mas, desde que nós, romanos, somos vossos senhores, tal coisa será difícil. A espada da justiça acha-se em nossas mãos e quem a levantar contra o nosso saber e querer será tratado como amotinador e salteador, não obs- tante sua posição!

  4. Ouvi há pouco como assassinastes um Pontífice dentro do Templo por ter tido uma visão. Com isto, certamente, despertou vossa inveja, o que vos levou a matá-lo! Isto se deu há doze anos, portanto debaixo do nosso regímen.

  1. Este fato será investigado — e quem sabe se não ireis provar a justiça romana! Digo-vos, como representante da lei, que farei cas- tigar todo aquele que se atrever a perseguir aquele menino!”

  2. Replica o Pontífice: “Temos a palavra do Imperador que nos assegura a justiça templária, indene à mundana!”

  3. Diz o juiz: “Conheço perfeitamente a extensão desta palavra! Podeis exercer uma sábia disciplina; mas dali até à execução há um grande abismo, e ai de vós se o transpuserdes!”

  4. Diz o Pontífice: “E o poder do Tetrarca Herodes — não pos- sui ele o mesmo direito?”

  5. Responde o juiz: “Tanto Herodes como os outros dirigentes feudalistas têm seus poderes restritos sobre seus servos e escravos. Tratando-os com maldade — direito que lhes assiste e se renova de dez em dez anos — em pouco estarão sem servos, porquanto ninguém é por nós obrigado a trabalhar para eles. Portanto, esta prerrogativa não pode ser aplicada, pois todo servo pode, quando quer, deixar o seu emprego — e com isto se encontra sob nossa jurisprudência.

  6. Além disto, podem cobrar os impostos — se preciso,

com violência — mas a execução só é feita por nós, pelo que têm que pagar!

  1. Eis os direitos que assistem vossos potentados; todo excesso é crime e será punido pela cassação do privilégio feudal.

  2. Se julgas poder cativar o menino com ajuda de Herodes, enganas-te; pois ele não se atreveria a exceder-se no poder.

  3. Este menino também se acha sob minha proteção, pelo que lhe dou direito pleno para vos atormentar com toda sorte de perguntas e não sairei de perto dele; possui mais sabedoria que vós todos no Santuário. — Fala, pois, querido menino, que limpei o ambiente para este fim!”

CAPÍTULO

Promessa do Menino Jesus feita ao juiz. Como acriaturasetornadivinaatravésdoVerbo.OMenino Jesus

contestaoPontíficecomauxíliodocatecismo popular

    1. Eu Me viro amavelmente para o juiz e digo: “És pagão, mas és justo e tens bom coração; afirmo-te, portanto, que, se o Verda- deiro Reino de Deus vier para perto dos homens, não serás o último admitido com tua família! E todo aquele que lá ingressar será feliz, jamais sentindo a morte!”

    2. Fala o juiz: “Como podes me fazer tal promessa?”

    3. Digo Eu: “Nada mais fácil! Pois sou muito amigo daquele menino prodígio; voltando para junto Dele, não te esquecerei; Ele te abençoará e esta Bênção não deixará de ter efeito!”

    4. Nisto se levanta o Pontífice, furioso, e diz: “Então aquele menino é Deus, que tem, unicamente, o direito de abençoar, assim como o Seu Pontífice, pela Ordem Divina, três vezes ao ano?! Como falas que ele abençoará um homem e sua família? Que professores tendes, se falais tanta estultice?!”

    5. Digo Eu: “Primeiro, fostes vós que nos destes tais professo- res; se, portanto, os alunos falam bobagens, a responsabilidade recai sobre vós! Se Eu disse que aquele menino prodígio abençoa seus verdadeiros amigos, por que, então, ensinais que os genitores devem abençoar os filhos, e vice-versa?

    6. Noé não era Deus, no entanto abençoou seus dois filhos por terem-no coberto! Do mesmo modo o velho e cego Isaac não era Deus quando abençoou a Jacob, chamando-o de ‘Israel’, o que signi- fica: ‘Que de ti surja o povo de Deus!’ Esta Bênção não foi benéfica?

    7. Se, no teu orgulho desmedido, perguntas se aquele menino é Deus, que Me dirás, se Eu afirmo: Sim, Ele O é, e com maior direito que consta de vós: ‘o Senhor Jehovah Zebaoth falou a Seus deuses!’ Se em vossa presunção sois deuses, por que não deveria ser Deus aquele menino dotado de tantas Virtudes Divinas, se, além disto, ainda descende de David?!

    1. Quem ouve a Palavra do Senhor e assim age, tê-la-á den- tro de si, torna-se uma Palavra Viva e é, espiritualmente, de Deus! Não é ele, pois, de Deus?! A criatura que, deste modo, torna-se o Verbo Vivo, pleno do Espírito Divino, também é Deus, porquanto o Verdadeiro Divino está em toda parte, por conseguinte também no homem!”

    2. Diz o Pontífice: “Que tolice condenável estás proferindo? Assim só fala um doido, levando um pensador mais lúcido a boas gargalhadas!” Com isto ele desata a rir.

    3. Eu, porém, digo: “Por que dizes ser isto uma tolice con- denável? Pois neste caso vós, sacerdotes, anciãos e escribas, sois os próprios criadores e divulgadores da mesma, o que vos provarei nes- te momento!”

    4. Diz o Pontífice: “Como irás provar isto, pastor atrevido de suínos?”

    5. Digo Eu: “Trazei-Me o catecismo popular!”

    6. Pergunta ele: “Para que fim?”

    7. Digo Eu: “Verás! Dá-Me o livro!”

    8. O livro é trazido e o Pontífice diz: “Toma! Que farás agora?”

    9. Digo Eu: “Espera um pouco!” Abrindo o livro, peço ao juiz que leia o texto por Mim apontado, em voz alta. Ele o faz com visí- vel satisfação e começa:

    10. (O juiz): “Quem ouve a Palavra do Senhor e assim age, tê-

-la-á dentro de si, torna-se uma Palavra Viva e é, espiritualmente, de Deus. Não é ele, pois, de Deus?! A criatura que, deste modo, torna-se o Verbo Vivo, pleno do Espírito Divino, também é Deus, porquanto o Verdadeiro Divino está em toda parte, por conseguinte também no homem!”

    1. O juiz a seguir: “Ora, eis as mesmas palavras classificadas pelo Pontífice como tolice dum pastor de suínos! Pelo que vejo, o caso está se tornando interessante e estou curioso por ver o resultado!”

10º CAPÍTULO

Tentativafrustradadumescribaedumanciãoparajustificar o Pontífice. A sessão é prorrogada para o diaseguinte.OMeninoJesuseSimon,hóspedesdo romano,

no albergue

      1. O Pontífice se aborrece com esta leitura.

      2. Eu, porém, digo: “Então, tu, chefe do Templo, não provaste que, se as Minhas Palavras são uma tolice — o que em verdade não se dá — vós mesmos sois seus criadores e divulgadores? Se Eu, no entanto, proferi u’a mentira, podes bater-Me por este atrevimento! Isto, porém, não te seria possível, porquanto reconheceste que o que consta no Catecismo não pode ser tolice! Desejo, todavia, saber o motivo que te levou a esta atitude!”

      3. O Pontífice, todo atrapalhado, não sabe o que responder.

      4. Por isto, levanta-se um outro escriba e diz: “Sua Eminência apenas queria examinar o teu grau de conhecimento a respeito do catecismo! Portanto, deixemos isto de lado e conversemos sobre ou- tro assunto; esta discussão de nada adianta!”

      5. Digo Eu: “Vê, tu, que queres ser mais inteligente do que podes! Queres tirar o Pontífice de seu embaraço, mas isto não te será possível!

      6. Sei muito bem a razão por que se externou de tal maneira; como, no entanto, não podia suportá-la, ele, Pontífice, escriba e an- cião, opinou contra si mesmo!

      7. O mais interessante é que alguém se possa tornar pontífi- ce e julgar-se pleno do Espírito Divino, sem conhecer a Palavra de Deus! Não constitui um mandamento e lei que todo pontífice seja completamente conhecedor da Escritura, orientando os que tenham alguma dúvida?!

      8. Que orientação poderá dar aquele que nem o texto reduzido conhece, portanto se torna ridículo, aborrecendo o verdadeiro ju- deu, alegando ser ignorância aquilo que todo menino deve saber, a fim de que possa ser admitido como aprendiz de qualquer ofício?!”

      1. Nisto, sou advertido por um outro ancião de que deveria considerar e respeitar o cargo de um pontífice.

      2. Eu respondo: “Poderia Eu aborrecer um verdadeiro ho- mem, falando apenas a verdade?! Dizei-Me se as palavras que proferi não constam tais e quais Moysés as escreveu!

      3. Infelizmente as criaturas não são consideradas pelos dotes do espírito, mas pela fortuna material, que lhes facilita a aquisição de postos elevados! Será isto justo diante de Deus?

      4. É fácil de se compreender a dificuldade que se prende a uma orientação segura quanto à Vinda do Messias, pois aqueles que o deveriam saber e ocupam os assentos dos profetas têm tão pou- ca noção como os que não possuem conhecimento duma Escritura transmitida pelo Espírito de Deus a Moysés!

      5. De Deus e de Suas Palavras nada sabem, muito menos da Palavra Viva de Jehovah dentro da criatura, pela qual deverão se tornar um deus de acordo com seus próprios princípios do ensino público! — Que dizes tu, juiz romano, sendo pagão?”

      6. Responde este: “Só posso te dar razão! Pois aqui, neste re- cinto fechado, podes falar à vontade; em público isto seria perigoso

      1. Próximo ao Templo existe um albergue, onde jantamos e pernoitamos.

      2. Este albergue era posse do Templo e cuidado pelos seus servos; quem dos viajantes nele permanecesse era considerado hós- pede do mesmo; os que ficavam no próprio Templo deviam pagar o dobro, recebendo somente pão e água. Portanto, se consta que Eu fiquei durante três dias no Templo, deve-se considerar também este albergue.

      3. Nós três lá passamos muito bem e dormimos otimamente.

11º CAPÍTULO

Conselhonoturnodos templários

        1. Os senhores do Templo, porém, não tinham tido noite cal- ma, pois foi da Minha Vontade que estes egoístas fossem vítimas de seus próprios pensamentos. Mormente o sumo sacerdote não podia conciliar o sono, porquanto Eu tinha sido convidado pelo juiz como hóspede de honra. Por isto, manda constantemente seus espiões ao albergue, para que o orientem das nossas palestras. Entretanto, nada conversamos.

        2. Em compensação, os fariseus debatem o assunto, conjec- turando como poderiam Me confundir no dia seguinte. Apenas o jovem levita, que estava prestes a se tornar fariseu e reitor de uma sinagoga, dirige-se ao grêmio com as seguintes palavras:

        3. “Nada conseguireis com este menino! Ouvi maravilhas em Nazareth no terreno da verbosidade — e não haverá cientista que o possa enfrentar! Digo-vos sinceramente que a língua deste e o poder de seu amigo serão capazes de subjugar o mundo inteiro! E para nós será difícil nos livrarmos dele!

        4. Assim, opino que não se lhe contradiga ser aquele menino prodígio o Messias Prometido, ou, pelo menos, que o possa ser no futuro, porquanto as profecias apontam bem esta nossa época!

        5. Não adianta contestá-lo — e aborrecê-lo com ameaças seria até perigoso, pois sabe de tudo e até dos nossos segredos templários!

        6. Seria bonito se começasse a relatar os importantes mistérios à vista de Simon e do juiz romano, que muito o prezam! Desta forma, é mais conveniente positivá-lo em seu tema que querer despistá-lo!

        7. Que vantagem nos traria a Vinda do Messias, se já nos desfi- zemos dos dogmas das Escrituras?! Devemos ser prudentes e domi- nar o povo cego, vivendo à sua custa!

        8. Já ontem nos insinuamos mal perante o juiz com o nosso orgulho desmedido, e o caso de Zacharias ainda nos poderá trazer grandes embaraços! Com os pagãos não se pode gracejar! Basta que

amanhã nos portemos de modo indelicado quanto ao menino — e teremos que enfrentar o poder romano!

        1. Por isto, procuremos emendar as faltas de ontem e aposto como o juiz não mais tocará na morte de Zacharias! Que me dizeis?”

        2. Diz o sumo sacerdote, acordado: “Sim, sim, estou de acor- do, assim será melhor! Temos que enfrentar as perguntas do meni- no, pois que possui um direito pago! Apenas acho que deveríamos escolher outro grupo de colegas, que melhor poderão respon- der! Que tal?”

        3. Diz o jovem orador: “Não concordo! Pois seria necessário informá-los bem a respeito, enquanto que para nós tudo já se torna mais fácil.

        4. Além disto, resta saber se ele não faria questão da nossa pre- sença! Neste caso, chamar-nos-iam, com que daríamos prova diante do romano que perdemos a partida!

        5. Não vos quero impingir a minha opinião; julgo, porém, que o resultado não nos será favorável!”

        6. Diz o sumo sacerdote: “Concordo contigo; mas qual é tua opinião pessoal a respeito deste menino esperto?

        7. É de desesperar que nós, os mais elevados dignitários de todo o país, tenhamos que nos deixar amedrontar por este pastor de suínos! Isto jamais aconteceu!

        8. Mas dize-me a tua opinião, como e quando um menino de doze anos adquiriu tamanha sabedoria?”

        9. Diz o jovem orador: “Querido e estimado dirigente e ben- feitor! Tal não é novidade na Galileia! Lá o comércio é muito in- tenso, há o convívio com todas as nações do mundo, que facultam a experiência e o conhecimento de vários idiomas. Por isto, com- preende-se que não raro se encontrem crianças duma inteligência excepcional.

        10. Eu próprio nasci em Nazareth e com a mesma idade era mais conhecedor de toda a Escritura que hoje, pois muita coisa já esqueci. Por que não deveria ser este o caso deste menino louro? Não me admiro de sua perspicácia, embora seja mui penetrante!”

        1. Diz o outro: “Bem, isto não é coisa extraordinária quan- do houve uma educação primorosa; como, porém, conseguem estas pessoas entrar de posse da Escritura, que é guardada no Santíssimo do Templo e ninguém pode ler, além do Pontífice, o sumo sacerdote e o escriba?”

        2. Diz o jovem orador: “Isto já não mais é de praxe desde que os romanos conquistaram o nosso país! Como tudo lhes tinha que ser entregue, os conquistadores, durante três anos, mandaram que tudo fosse copiado.

        3. De sorte que, entre os romanos e gregos, existem muitas cópias autênticas; até mesmo em todos os idiomas, compráveis por pouco dinheiro. Assim, não é de se estranhar a presença dum verda- deiro escriba non plusultranum menino da Galileia.”

        4. O sumo sacerdote: “Vens me aborrecer com expressões ro- manas, sabendo que sou inimigo de tudo que tenha essa procedên- cia?! Que quer dizer nonplusultra?”

        5. Diz o orador: “Vossa Excelência sabe que tanto falo o he- braico como o grego e o romano; além disto, entendo sírio, caldeu, armênio, persa e árabe — tudo que se necessita como mensageiro do Templo — de maneira que acontece, às vezes, fazer uso duma expressão estrangeira.

        6. O termo acima é por nós, judeus, seguidamente usado por ser mui curto e quer dizer: o menino é um erudito ‘como não há outro’!”

        7. Diz o sumo sacerdote: “Bem, não vem ao caso; não sou, por motivo bem compreensível, amigo dos romanos, tampouco de seu idioma. Deixemos isto de parte e conta-me o que sabes daquele menino em Nazareth, cujos pais também conheço!”

        8. Diz o jovem orador: “Eis um caso difícil! Penso tê-lo visto há alguns anos em companhia de outros semelhantes a ele. Como todos corressem e brincassem, não me era fácil fixá-lo, embora me fosse apontado.

        9. Este nosso menino aqui também se devia encontrar naquele meio, aliás acompanhado de um outro muito parecido, entretanto

tão sério que não tomava parte na brincadeira. Parecia que ambos eram os senhores, pois os outros seguiam suas ordens.

        1. Quanto ao jogo ao qual se entregavam, nunca vi coisa se- melhante. Não deixava de apresentar uma certa organização; nin- guém, no entanto, sabia explicar-mo. Sempre brincavam daque- la maneira.

        2. Eis minhas experiências pessoais; a história, porém, contada a seu respeito, é quase incrível! Em linhas gerais, consta que:

        3. Os elementos obedecem àquele menino, até o sol, a lua e as estrelas; basta ele querer e tanto o sol como a lua não mais iluminam a terra, voltando a fazê-lo com sua ordem!

        4. Aos cegos de nascença ele restitui a luz dos olhos, apenas pela palavra.

        5. Ressuscitou um amiguinho que, destemido, havia subido num telhado, de lá caindo completamente em pedaços. Fê-lo so- mente pela palavra, pronunciada à vista de todos. Entretanto, acon- selhou o curado a não mais fazer esta traquinagem, do contrário não o socorreria.

        6. Também se fala de força dialética; apenas um fator é de estranhar: ele, o menino prodígio, jamais pede alguma coisa a al- guém e, se algo lhe dão, tampouco agradece! Era muito sério, sendo observado em suas frequentes orações; jamais, porém, o viram rir!

        7. Eis em poucas linhas o que sei daquele menino. Como e quais os meios que usa para realizar tais milagres — este critério não me cabe, e sim a vós, que sois os mais sábios dirigentes do Templo!”

        8. Diz o sumo sacerdote: “Unicamente pelo poder de Beelze- bub! Deus nunca age através de crianças travessas, mas por homens devotos e idosos, como nós! Eis minha opinião; quem tiver outra, melhor, que se levante e fale!”

        9. Apresenta-se outro ancião e diz: “A meu ver, atribuis um demasiado poder a Beelzebub! Cá entre nós, é ele apenas uma per- sonalidade alegórica pela qual se imagina, num sentido total, a maldade que reside, unicamente, dentro da vontade mal conduzi- da do homem!

        1. Não é de estranhar que duma ação em conjunto, numa so- ciedade que despreza as leis, crie-se um tal ‘Beelzebub’! Este espírito mau é comparável ao ar pestilento, que envenena constantemente os corações das criaturas, de sorte a não mais conseguirem melhorar por si mesmas!

        2. Disto não tem culpa um tal espírito personificado, mas a educação nociva das crianças desde o berço. Os pais não alcançam o conhecimento dum Deus Poderoso e Sábio; igualmente, não po- dem concorrer em ciências com os povos civilizados, pelo que com facilidade são vencidos.

        3. Considerando a educação extraordinária do menino em questão, cujos pais devotos e instruídos nos são conhecidos, levando em conta também seu espírito de caridade — nem num pesadelo poderia afirmar que esteja este menino em contato com Beelzebub!

        4. Teria o mal absoluto, de acordo com vossa compreensão, alcançado um bom propósito? Nunca tive conhecimento disto! Ou algum entre vós, acaso, já assistiu a uma boa ação de criaturas más? Seria possível conseguir algo de bom por meios desprezíveis?!

        5. Se aquele menino prodígio pratica ações nobres através de sua força incompreensível para nós — como poderia usar de meios nefastos?! Peço-vos que me esclareçais a respeito!”

        6. Vários anciãos e escribas concordam com o orador; apenas o sumo sacerdote e seus companheiros não o fazem, e o primeiro, levantando-se, responde ao defensor do menino prodígio:

        7. “Percebo que desmentes a personalidade de Beelzebub, bem como a de seus servos! Neste caso, peço que me expliques quem, no Monte Horeb, lutou durante três dias com o arcanjo Miguel pelo corpo de Moysés, saindo vencedor!

        8. Quem foi aquela figura luminosa que obteve permissão, diante do Trono de Deus, de experimentar Job? Quem foi a serpen- te de Eva? Quem, o mau espírito de Saul afugentado pelo menino David com os toques de sua harpa? Além disso, existe uma quanti- dade de fatos na Escritura, mormente em Daniel, que muito fala do grande dragão! Como irás interpretar isto?”

        1. Diz o velho e sábio escriba e fariseu: “Ser-me-ia coisa fácil se tu possuísses o necessário grau de inteligência; mas as trevas do teu intelecto não assimilam coisas luminosas e eu faria uma prédica a um cego e surdo, que não teria efeito — portanto, deixo de fazê-la!

        2. Os que queriam e podiam já me compreenderam; dirigir um sermão a uma vontade endurecida seria o mesmo que deitar uma pedra n’água, a fim de que amolecesse. Nunca leste a Cabala, que apresenta uma explicação dilatada das interpretações entre os quadros e a realidade?!”

        3. Diz o sumo sacerdote: “Conheço apenas a pequena!”

        4. Diz o orador: “Então não te posso falar; a pequena Cabala é de outro autor e não merece ser classificada como um péssimo extrato da grande!

        5. Diante de Deus não existe um Satanás ou demônio; por- tanto, nada que seja a maldade absoluta; todas as forças e elementos têm que Lhe obedecer, não podendo ultrapassar seu raio de ação.

        6. Não é o fogo um elemento que contém o mal e a destruição em conjunto? É ele por esse motivo um produto de Satanás se des- trói cidades inteiras, reduzindo-as a cinzas, quando é provocado pela maldade ou pelo descuido do homem?

        7. Ou estará Satanás dentro d’água, por matar esta homens e irracionais que porventura nela caiam? Encontra-se dentro da pedra, ou no cume das montanhas, nas plantas e nos animais venenosos, em suma, em tudo que nos traz a morte quando mal empregado? — Vê, tudo na terra pode ser cheio de bênçãos, mas também pleno de maldição, de acordo com o uso que se lhe dá!

        8. Que significa a célebre luta de Satanás com o arcanjo Mi- guel pelo corpo de Moysés?

        9. Um grupo de judeus beatos, que adorava Moysés como a um deus, pensava que ele não morreria fisicamente, porquanto constava: ‘Os que consideram rigorosamente as Leis Divinas não morrerão, mas viverão eternamente, sendo sua carne jamais destru- ída pelos vermes!’ Moysés, porém, ficou fraco e acabou por morrer como outro qualquer!

        1. Havia entre os judeus um sábio e um médico.

        2. O sábio disse: ‘Levem o corpo ao cume duma montanha, onde sopra a mais pura brisa vital, que Moysés ressuscitará, levando seu povo à Terra Prometida!’

        3. O médico, mais cordato, porém, disse: ‘Não há corpo, cuja alma rompeu o laço, que possa voltar à vida!’

        4. O sábio replicou: ‘Se Moysés não ressuscitar no cume dentro de três dias, terás vencido a minha fé e serei teu escravo para sempre!’

        5. O médico respondeu: ‘Sei de antemão que vencerei esta dis- puta e não necessitas te tornar meu escravo. Serei o que sou e tu o que és, mas terás a prova de que o príncipe ou o poder da morte não mais liberta suas vítimas.’

        6. No entanto, foi Moysés levado ao cume com grande pom- pa. Milhares dos mais nobres israelitas acompanharam o cortejo fúnebre, sendo o corpo exposto à brisa fresca e aplicados todos os meios espirituais e materiais para a ressurreição do profeta. — Inútil! Seus olhos não mais se abriram à luz deste mundo.

        7. No quarto dia, pois, o sábio se dirigiu irritado à multidão, dizendo: ‘Vê, povo de Deus, o poder de Satanás! Durante três dias lutou Miguel (o Poder do Céu) com Satanás (o poder da morte) pelo corpo do profeta, e este conseguiu vencer aquele. Por isto, Mi- guel falou: Deus te julgará por tal motivo!’

        8. Este discurso, embora num sentido figurado, não deixava de ser verídico.

        9. Falando o médico a sós com o sábio, lembrando-lhe que tinha razão, respondeu-lhe este:

        10. ‘Infelizmente estás certo; no entanto, não deixa de ser lasti- moso para nós, criaturas, que Jehovah nem com Seu maior profeta faça exceção, estrangulando-o qual animal! Bem que podia conser- var Moysés e demonstrar ao povo que Satanás não tem poder sobre Ele e Seus Abençoados!’

        11. O médico, porém, diz: ‘És injusto contra Deus! Vê, Ele de- signou o caminho para a carne como para o espírito e, a fim de que o espírito seja eternamente livre, é preciso que o da carne seja julgado!’

        1. Enquanto ambos assim palestram, surge, de repente, o espí- rito de Moysés entre eles e diz: ‘Que a paz esteja convosco! A Ordem de Deus é Imutável e tudo que faz é bom! Ainda que o corpo morra, tal não acontece ao espírito! Considerai as leis e não discutais pelo meu corpo, pois eu, Moysés, viverei eternamente, mesmo se o corpo que mantive morresse mil vezes!’

        2. Em seguida o espírito desaparece e os dois ficam quites.

        3. Assim, meu querido irmão em Abraham, Isaac e Jacob, que me dizes? Onde está a personalidade de Satanás? Pois o que te acabo de revelar é a pura verdade e o que consta no Livro apenas um qua- dro dado em versos, apenas interpretáveis no sentido espiritual. Que me dizes como escriba?”

        4. Diz o sumo sacerdote: “Bem, a história é agradável; no en- tanto, baseia-se na fé, sem dar provas. Todavia, é possível que assim tenha sido; finalmente dá na mesma se acredito nisto ou naquilo, mas sempre é mais fácil se crer em algo natural! Deixemos, pois, este assunto; a noite já se passou e no auditório estão à nossa espera!”

        5. Diz o jovem fariseu: “Estou curioso de ver o resultado de nossa causa! Desejava apenas que, pela nossa salvação, meu conselho fosse tomado a sério; pois não vem ao caso o que opinamos entre nós a respeito do menino, e sim evitarmos aumentar a tensão roma- na contra nós!”

        6. Diz o sumo sacerdote: “Não te preocupes, meu filho! Fare- mos o possível, pois hoje nos encontramos mais bem aparelhados que ontem!”

        7. Neste momento aparece um servo do Templo e anuncia, respeitosamente, que o comissário romano, o menino, Simon de Bethânia e outros já se acham na sala.

12º CAPÍTULO

Reuniãodogrêmioexaminatórionosegundo dia.

Tentativafrustradadostempláriosdequereremsustara sessão

          1. A esta informação todo o colégio se reúne no auditório e é cumprimentado com respeito pelos presentes, algo que os fariseus muito prezam, tanto que comentam não manifestar o menino atitu- de que se assemelhe a um cumprimento.

          2. Por este motivo um velho se acerca de Mim, perguntando por que Eu, um menino teimoso, a ninguém saúdo.

          3. Eu lhe respondo secamente: “Isto fica bem entre vós, mas que tem um menino de doze anos a ver com isto?! Além do mais, ninguém o fez para Comigo; por que deveria Eu devolver algo que jamais de vós recebi?!

          4. Este hábito não existe na Galileia, e muito menos para Mim; sempre vos deixais saudar e honrar a toda hora, porquanto o mundo vos tornou senhores. Eu, porém, sou a Meu Modo um Senhor todo Especial; por que, então, não Me cumprimentastes?!

          5. Crede-Me: sei muito bem, embora menino, a quem devo cumprimentar e não vos devo saudação qualquer! Se quiserdes saber o motivo, o Meu amigo romano vos poderá esclarecer. Hoje é do- mingo, no qual, como no sábado, de acordo com os vossos estatu- tos, é proibida toda manifestação de respeito e honra, pois que isto o vilipendia, tornando impuro o homem. Por que, então, desejais algo de Mim que está em desacordo com vossos estatutos?”

          6. Calados, os templários se entreolham e o jovem levita diz: “No- bres senhores, este garoto, embora adorável, está se tornando incômo- do! O melhor da história é que sabe de tudo, portanto tem razão!”

          7. Diz o sumo sacerdote ao comissário romano: “Nobre juiz pela lei e honra! Este menino alega saberes o motivo por que não nos saudou. Queres ter a bondade de nos revelar o mesmo?!”

          8. Fala o juiz: “Com muito prazer; duvido, porém, que isto vos seja agradável!”

          1. Dizem os outros: “Podes falar, pois hoje estamos de bom hu- mor e capazes de suportar algo!”

          2. Diz o comissário: “Pois bem, ouvi-me! Este é justamente o tal menino prodígio de Nazareth, em pessoa! — Como vos soa isto? Ai daquele que o quisesse molestar, pois teria que enfrentar a minha ira!”

          3. Ouvindo isto, a assembleia começa a tremer!

          4. Depois de alguns minutos Me diz o sumo sacerdote: “Por que não nos disseste ontem? Pois te teríamos respondido de maneira diferente!”

          5. Digo Eu: “Oh, isto não ignoro! Mas, como Me empenho pela verdade e não pela simulação, agi como viste! E se hoje Me ma- nifestasse como ontem, não ouviria uma palavra sincera, porquanto conjecturastes durante a noite, por medo do juiz romano, como tencionáveis aderir à Minha Opinião quanto ao Messias já Presente na terra, a fim de que Eu fosse acalmado e, através de Mim, também o juiz, com relação à história de Zacharias.

          6. Como, porém, não sou o Defensor, e sim o Próprio Menino Prodígio, estais confundidos por verdes os vossos planos frustrados e não sabeis o que fazer! — Dizei-me como vos agrada esta história!”

          7. Todos ficam perplexos e o sumo sacerdote diz, com atitude aparentemente benévola: “Bem, querido menino prodígio, como pareces saber de tudo, dize-me quem de nós forjou tal plano?!”

          8. Digo Eu: “Justamente aquele a quem Eu Mesmo sugeri tal ideia! É entre vós o mais jovem, nascido na Galileia e se cha- ma Barnabé!”

          9. Esta resposta tem o efeito dum raio no meio dos fariseus, que são tomados dum grande pavor; suas consciências lhes acusa- vam de vícios ocultos, e temiam que fossem delatados perante o juiz.

          10. Por isto, o sumo sacerdote cochicha aos ouvidos dum fa- riseu: “É melhor devolver o dinheiro a Simon, terminando assim a conferência com este garoto insuportável! Ou, então, evitaremos as perguntas! Ele, porém, arguindo-nos, receberá uma resposta que diabo algum poderá decifrar! Por ora sua vitória está longe! Vê só, que tipo: ontem foi alguém — hoje já é outro!”

          1. Nisto, um fariseu, com pretensão de sabido, diz ao sumo sa- cerdote, à parte: “Queres saber de algo? Já não mais somos obrigados a responder a este garoto mal educado, pois não é aquele para quem ontem foi pago o direito de fala; portanto, não lhe devemos resposta alguma! Que me dizes?”

          2. Responde o sumo sacerdote: “Amigo, este pensamento só um deus te poderia insuflar! Quando o perigo é iminente, o socorro não fica longe! Suspendamos a conferência e concessão, porquanto o menino de hoje não é o mesmo de ontem, pelo qual foi paga a taxa!”

          3. Com isto se adianta o arauto e diz, com grande ênfase: “Com autorização por parte do supremo sacerdócio do Templo de Jehovah, e por declarar que, em virtude de o menino que hoje se apresenta não ser o mesmo pelo qual foi depositada a taxa para a controvérsia — fica sustada a sessão! Dixi*!”

          4. O juiz, porém, levanta-se e diz, em tom de mando: “A ses- são terá prosseguimento e vós falareis! O menino é o mesmo por quem foi paga a taxa; sua personalidade moral e característica apenas tornou-se outra, de modo inesperado por vós! Pelo nosso código, em nada altera seus direitos, tanto que repito: A sessão continuará por hoje e amanhã! Podeis ou perguntar ou responder!”

* Tenho dito

13º CAPÍTULO

Prosseguimentodasessão.Jesuspergunta:“QuefaríeisseEufosseoMessias?”Respostacautelosado talmudista

Joram

  1. A esta determinação enérgica do juiz romano, todos voltam a seus lugares, embora contrafeitos, e se mantêm calados.

  2. Por tal razão Me posto no meio deles e digo: “Como não Me quereis honrar com uma pergunta, tomarei a liberdade de fazê-la: Dizei-Me, sinceramente, o que faríeis se Eu fosse o Messias Prome- tido, de Quem ontem falamos?!”

  3. Diz um velho templário, rabugento e zelote: “Menino, meni- no, tem cuidado com tuas palavras neste Templo Sagrado de Jehovah!”

  4. Digo-lhe Eu: “É preferível que tu e todos vós eviteis que a Casa de Deus se torne completamente um antro de assassinos, por culpa vossa! Minha Pergunta, porém, não ultraja o Templo, pois po- derá ser feita por qualquer um, sem por isto ter pecado! Portanto, po- deis Me responder, pois fiz apenas uma pergunta condicionalmente!”

  5. Levanta-se o idoso talmudista e cabalista Joram e diz: “Para Deus tudo é possível; nós, criaturas, porém, devemos ser bem pre- cavidas, e aceitar uma Promessa tão importante apenas depois de conseguidas as necessárias provas.

  6. Tu, garoto adorável, tens a teu favor alguns versículos do profeta Isaías! Além disto, muita coisa ainda predisse do Messias que tem tão pouca relação contigo como comigo, embora seja, ou- trossim, um descendente de David. Sou um parente distante de teu pai, José, e muito contribuí para que Maria, uma aluna do Templo, conseguisse casar com ele.

  7. Há mais de onze anos que não vejo este casal respeitoso, e a ti, o primogênito deste segundo matrimônio, jamais vira. Conheço-

-te apenas pelo relato de Barnabé, que também é nazareno.

  1. Pois bem, tuas faculdades extraordinárias — que, de acordo com testemunhas credenciadas, ultrapassam tudo que até hoje foi conseguido pelo poder da fé e da vontade — arrastam a criatura a

dedicar uma especial atenção ao seu dono; no entanto, não são tão positivas que impedissem uma dúvida.

  1. De qualquer maneira, o Messias será um homem igual a nós; somente suas tendências e faculdades terão o Cunho Divino. O que diz respeito às tuas particularidades, embora ainda sejas criança, são elas de modo tal que prometem algo de grandioso para quando fo- res adulto. Vê, sou velho, tendo um grande cabedal de experiências; muitas vezes ocorreu-me que fizesse descobertas extraordinárias em adolescentes que me levaram a crer ter Jehovah despertado um pro- feta em tal criança! Com o tempo, todavia, todos aqueles fenôme- nos se perderam e a criatura se apresentava tal e qual uma pessoa comum, sabendo apenas aquilo que aprendeu com muito esforço!

  2. Sempre justificou-se o dito da Escritura: ‘Comerás o teu

pão com o suor do teu rosto!’ Talvez, um dia, faças também esta experiência, querido primo; no entanto, o homem pensa, Deus age!

  1. Digo Eu: “De todos vós, és-Me o mais simpático e já diri- giste uma boa palavra ao sumo sacerdote a respeito da personalidade de Satanás; de sorte que, pela primeira vez em sua vida, teve um vislumbre do que seja uma interpretação espiritual, reconhecendo que ações iguais às Minhas de modo algum poderiam ser realizadas com o auxílio satânico!

  2. Com isto tens a prova de que nada Me é oculto, que confa- bulaste em segredo com o sumo sacerdote — e podes imaginar que também sei o que ele, neste momento, pensa; pois tem medo que Eu venha a denunciá-lo de algo que lhe seria mui desagradável. Este receio, porém, é inútil.

  3. Sim, se Eu agisse com o auxílio de Beelzebub, de há muito esta- ria ele denunciado e julgado. Agindo, porém, apenas pelo Poder de Deus

  1. Entretanto, estamos tagarelando, deixando de parte o as- sunto principal!”

  2. Indaga Joram: “De que se trata? Fala com desembaraço, que seremos benignos no nosso critério, como tu também o foste!”

14º CAPÍTULO

TestemunhodeJesusdeSiPróprio.OpiniãodeJoram: “Esperai que o tempo decida!” Jesus demonstra o Poder

DivinodentrodeSi.Respostanegativade Joram

  1. Digo Eu: “Eis aqui Quem usa o nome do filho duma profe- tiza (Isaías 8:3). Ontem falamos do Messias Prometido, sendo que Eu vos fui apresentado como tal, de acordo com o texto de Isaías. O fato, porém, foi por vós negado.

  2. Ontem falei a meu Respeito como se fosse outro; hoje, então, Pessoalmente diante de vós, sem o menor receio de quem quer que seja, pois que sou ciente da Força e do Poder dentro de Mim, rei- nicio o mesmo tema e desejo saber a tua opinião a respeito, Joram! Fala o que pensas, que nada te acontecerá!”

  3. Diz Joram: “Bem, meu queridíssimo primo (permite cha- mar-te desta forma, como parente de teu pai), eis um caso arriscado, dizer-se: ‘És tu o Prometido!’, considerando-se que já houve vários exemplos iguais a ti, os quais não cumpriram suas promessas tão sedutoras.

  4. Esta possibilidade deve ser por nós, adultos, tomada em con- sideração, de sorte que tal afirmativa seria uma precipitação de nos- sa parte, o que tu, dotado duma inteligência surpreendente, não poderás negar! Da mesma forma, seria insensato duvidar que sejas o Prometido, considerando teu nascimento, descendência e faculda- des jamais vistas! Tanto podes sê-lo, como não! Por isto, penso ser a melhor maneira de resolvermos este assunto aguardar o que o futuro trará! — Tenho razão?”

  5. Digo Eu: “Dentro da lógica mundana, evidentemente a tens!

Mas no coração humano jaz um critério mais profundo e luminoso, que te dirá se sou igual àqueles que mais tarde perderam suas facul- dades excepcionais. Se tenho o Poder de criar e destruir, como, pois, haveria de querer destruir a Mim mesmo?!

  1. Digo-te: Depende do Meu Espírito a existência de tudo que existe! Assim, tudo acontece como Eu o desejo, conforme te afirma-

ram outras testemunhas. Como, então, supor que Eu possa perder as faculdades mencionadas e, neste caso, Quem seria Eu?”

  1. Diz Joram: “Bem — isto é apenas uma suposição, e não uma prova! O mesmo que afirmas de ti eu poderia dizer de mim; mas tal atrevimento não condiz com minha índole, pois que despertaria hilaridade ou minha prisão como doido! Tu és um menino esperto de nascença, numa idade irresponsável, e pareces ter dom poético, de sorte que apenas podemos sorrir com tuas ideias!

  2. Vê, meu adorável menino, quando uma pessoa poderá dizer de si mesma: Tudo que existe foi criado pelo meu espírito!? Isto só é possível a Deus, que está Presente em tudo que vemos! Excedeste-

-te, portanto, um pouco! Fiquemos, pois, sobre o solo, cultivando-o com esmero, a fim de que nos dê o devido sustento; deste modo agiremos melhor do que se quisermos ser algo impossível!

  1. O Prometido, se vier, apresentar-se-á unicamente como ho- mem perfeito, jamais como Deus! Mas é uso entre vós, semigregos

  1. No futuro, deixa dessas imaginações e continua fiel, com to- dos os teus predicados, ao velho e único Deus, que passarás bem na terra! Que representa a força descomunal dum gigante à vista do pode- rio de milhares e — que dizer do poder dum garoto?! Se David já afir- mou: ‘Quão pouco significam todas as criaturas contra Ti, ó Senhor!’ Como poderia um menino alegar ser Deus em Espírito, pelo Qual to- das a coisas foram criadas?! Reconheces que ultrapassaste os limites?!”

  2. Diz agora o sumo sacerdote: “Que ensinamento salutar, se- cundado por uma grande capacidade mediadora! Como consta que na Galileia não poderá surgir um profeta, estes semipagãos resolvem classificar-se deuses! E este parece ter o maior talento para tal! Vê, querido menino messiânico, não é tão fácil nos enganar! Talvez o seja em Nazareth, mas aqui, em Jerusalém, nunca!”

15º CAPÍTULO

Várias objeções por parte de Joram e do sumosacerdotequantoàideiamessiânicadoMenino Jesus

  1. Digo Eu: “Falastes bem, dentro de vossa compreensão, por- quanto não ultrapassa vosso hálito. Se fôsseis capazes de elevar vossos pensamentos, veríeis e julgaríeis a Minha Pessoa de modo diferente. Já que vos escandaliza o que vos disse do Meu Espírito, esclarecei-

-Me quem falou pela boca dos profetas!”

  1. Diz Joram: “Foi o Espírito de Deus, pelo Qual tudo que exis- te foi feito!”

  2. “Bem”, digo Eu, “se assim foi, por que então o Meu Espírito não deverá ser Divino, se sou capaz de coisas mais grandiosas que, desde Henoch, foram realizadas pelos profetas?! Seu raio de ação era restrito; Eu, porém, não tenho limites para agir, faço o que quero e tudo se realiza! Como, pois, o Meu Espírito é outro que não Aquele, Que por eles falava?”

  3. Diz Joram: “Sim, sim, muito bem; estaria certo se não fosses galileu! Consta, no entanto, que não viria algum da Galileia — de sorte que tens que suportar a impossibilidade de concorrer com os outros!”

  4. Digo Eu: “Acaso nasci na Galileia?! Não é Bethlehem, a velha cidade de David, o lugar do Meu Nascimento?! Examinai vossos registros e vede se assim não consta! Ou talvez não tenha sido Isaías um verdadeiro profeta apenas porque também foi à Galileia, profe- tizando perto da velha cidade Cesareia Philippe?! — Observai como sois cegos no vosso julgamento!

  5. Bem consta que jamais alguém, nascido na Galileia, poderá ser profeta. Considerando, no entanto, que nem José, meu tutor, nem Maria, Minha Mãe, tampouco Eu somos galileus de nascença, mas vivemos como imigrantes durante nove anos em Nazareth — como, pois, não devo também possuir o Verdadeiro e Divino Espí- rito, igual a qualquer outro profeta?!”

  6. Responde o sumo sacerdote: “Então, não consta: ‘Vê, envia- rei o Meu anjo diante de Ti, a fim de que prepare os caminhos para

o Senhor!’ e que Elias viria antes, a fim de preparar as criaturas para a Chegada Gloriosa do Messias?! Isto, acaso, dá-se contigo? Onde está o anjo do Senhor e onde, Elias?”

  1. Digo Eu: “Para pessoas de vossa índole, que não veem o que se passa na frente de seu nariz, nem o anjo do Senhor, tampouco Seu profeta Elias já chegaram; para os de boa visão, porém, tudo isto aconteceu há doze anos! Vós, entretanto, não vistes nem o anjo que a Zacharias falou nem seu filho, tão milagrosamente concebido. Só percebeis aquilo que surge com fogo, raio e trovão!

  2. Quando Elias, oculto na gruta, foi intimado a observar o Se- nhor, que iria por ali passar, viu primeiro um fogo, mas que não era Jehovah. A seguir passou uma forte tempestade, que também não era Deus. Por fim, manifestou-se um sussurro delicado — e, vê, neste Ele Se achava!

  3. É justamente deste modo que o grande profeta anunciou a atual Chegada do Messias!

  4. Esperais por fogo e tempestade, o que por várias vezes pas- sou por perto de vós. Agora se manifesta o sussurro delicado — e vossa cegueira e mudez não o percebem, a não ser no fim da vida, quando esta percepção não mais vos trará grande benefício!

  5. Penso ter sido explícito nestas Minhas Palavras! Respondei-

-Me, pois, dentro de vossa sapiência templária!”

16º CAPÍTULO

PerguntachistosadeBarnabé.RespostaseveradoSenhor.EmbaraçoeescusadeBarnabé.Omilagre das

orelhasdeburroedoasno vivo

  1. Barnabé, pedindo permissão aos ilustres fariseus para apre- sentar um argumento contra Mim, diz:

  2. “Ouve, meu querido, pequeno e divino Messias de Nazareth na Galileia — o que não diz muito! Apresentaste-nos uns... peque- nos comprovantes, pelos quais começamos a ouvir de ouvidos tapa- dos e ver de olhos atados que és, no entanto, o Messias Prometido!

Justamente em consequência desta compreensão nos encontramos num dilema! Que faremos ou, antes, que devemos fazer?

  1. O dia está se passando e tens apenas o direito comprado para falar até amanhã — embora sendo o Messias! Acho justo que determines o que deva acontecer conosco e o Templo! Ficará tudo conforme está? Não podemos negar que és o Messias Prometido e ‘sussurrante’ — mas que fazer? Fala e age, jovem Messias divinamen- te humano — no entanto certamente do Alto!”

  2. Digo Eu: “Não seria preciso te esforçares tanto para fazer uma piada de mau gosto, a fim de mostrar que desejas algo, para que te faltam os meios materiais e espirituais! Compreendeste-Me, carregador de Bileam1?! Mas, já que Me perguntaste sobre o destino vosso e do Templo, dar-te-ei uma justa resposta!

  3. Vê, consta: ‘Quando vier o Messias, não revogará a Lei, mas sim cumpri-La-á Pessoalmente!’ Não destruirá o Templo e seus ser- vos, mas castigará sua fraude, estigmatizando levitas presunçosos iguais a ti, a fim de que reconheçam suas piadas mal empregadas!

  4. Acaso consiste numa tolice a Minha Dissertação sobre os tex- tos que se referem a Mim? Dá-Me provas de que Eu não seja Aquele, do Qual os profetas testemunharam! Se isto, porém, não te é pos- sível, por que te atreves a Me ridicularizar?! — Espera, que te farei uma pergunta; se não a responderes a Meu Contento, tornar-te-ás um verdadeiro Midas2dos pagãos!

  5. Dize-Me, reles zombeteiro: qual a significação da palavra Je- rusalém? Como levita e recente fariseu, deves sabê-lo pelos Livros de Moysés e pelo de Henoch, salvo por Noé por ocasião do Dilúvio, sob o título ‘As Guerras de Jehovah’! Tenho o direito de exigir-te esta explicação de importância! Fala!”

  6. O jovem levita vê-se confundido com Minha Exigência, pois ignora completamente a origem do idioma hebraico. Pedindo-Me

1Profeta cuja jumenta o preveniu do anjo de Deus com a espada.

2Midas foi um rei da Phrygia que transformava tudo que tocava em ouro. Preferindo Marsyas a Apolon, foram-lhe dadas orelhas de burro.

tempo e paciência, procura ele se informar com um velho escriba. Este, porém, não lhe podendo esclarecer, indica-lhe o cabalista Jo- ram. Pensativo, este dá de ombros e lhe diz em surdina:

  1. “Sim, existe nos velhos Livros uma explicação etimológica, e na Cabala faz-se uma espécie de menção a respeito, mas em teses místicas, muito mais que o Cântico de Salomon! Não entendi nem um nem outro e não te posso socorrer no teu embaraço!

  2. Além disto, devo te chamar a atenção de que deverias ter falado mais moderadamente com este menino em virtude de sua inteligência incomum e a consideração que desfruta de seu protetor romano; além do mais, foste tu quem nos deu uma explicação mais concisa referente à sua natureza excepcional!

  3. Não percebeste como sabia, palavra por palavra, acerca do que conjecturamos sobre sua pessoa?! Não me externei a respeito; encontrei, porém, uma prova poderosa da presença dum espírito neste menino, para o qual não existe dificuldade de examinar o ín- timo das criaturas.

  4. Por isto, aconselho-te que lhe peças perdão pelo insulto; do contrário, não garanto que não te venha pregar uma peça! Vai e segue o meu conselho!”

  5. Diz Barnabé: “Bem, ele tem o direito de falar e parece não apreciar piadas — por isto, vou lhe pedir desculpas! Estranho, po- rém, que entre nós, templários, ninguém possa desmembrar o nome desta cidade!”

  6. A seguir Barnabé se Me aproxima e diz cordialmente: “Que- rido e amável menino! Reconheço minha grave falta cometida pela piada de mau gosto e te peço, sinceramente, perdão! Acrescento, no entanto, o pedido de elucidares o nome ‘Jerusalém’, pois nós todos não o sabemos! É traduzido, em geral, por ‘Cidade Santa’ ou ‘Cida- de de Deus’, mas também é só!

  7. Fala-se que aqui havia um lugar chamado Salém, morada de grande e poderoso rei, ao qual todos os regentes da terra tinham que pagar o dízimo — pois o Rei Melchisedek era para todas as criatu- ras do mundo, igualmente, o único e verdadeiro Sumo Pontífice de

Jehovah. Entretanto, pouco ou mesmo nada se sabe de seus ensinos, atos e pessoa! Não resta dúvida que és melhor informado que nós; portanto, dá-nos uma explicação!”

  1. Digo Eu: “Sorte tua, teres vindo a Mim, senão terias sido marcado de maneira não muito agradável! As provas que iriam or- namentar tua cabeça estão a teus pés; apanha-as e aprende que Eu castigo toda e qualquer ironia, mormente no lugar onde se trata de assuntos da maior importância para as criaturas! Analisa, primeiro, o divertimento que fiz em troca de tua piada; a seguir, atenderei ao teu segundo pedido!”

  2. Curvando-se ao chão, Barnabé apanha duas orelhas de burro perfeitas, apavorando-se mais ainda pelo fato que lhes faltava o mínimo vestígio de terem sido cortadas dum verda- deiro animal!

  3. Alguns dos presentes — entre eles Simon e o juiz — caem de gargalhadas; os templários, entretanto, sentem-se mal e buscam entre si a origem deste milagre, sem obter resultado.

  4. Diz Barnabé: “De que adianta isto tudo? Eis um milagre e nada mais! Pois, se o menino se tivesse prevenido com algo seme- lhante, deveria ter sabido de antemão da minha piada, o que seria um milagre ainda maior!

  5. Este menino já nos forneceu uma prova importante de suas faculdades excepcionais quando relatou a conversa havida durante a noite! Portanto, também terá capacidade para outras coisas!

  6. Nele se oculta algo de extraordinário, e sou de opinião que, com o tempo, tornar-se-á um Perfeito Messias!”

  7. Diz o sumo sacerdote: “Falas como um cego das maravi- lhas das cores! Quantas vezes fomos surpreendidos pelas magias, e a leitura mental nada de novo tem representado para nós!? Quem não conhece os oráculos gregos? Tanta prática tinham nisto que nin- guém mais se arriscava a lhes chegar perto!

  8. Meu amigo, este fato tão importante requer maior crité- rio! Somente depois de tudo bem analisado poder-se-á — com a devida cautela — aceitar uma outra opinião! Duma fé integral não

é possível se cogitar, até que todas as circunstâncias e provas sejam devidamente constatadas.

  1. Digo isto, meu prezado Barnabé, para tua orientação; é um velho defeito teu aceitares levianamente uma opinião alheia, não obstante todo o teu conhecimento!”

  2. Responde o outro: “Não concordo! Pois, se fosse de crença fácil, não teria alcançado as noções básicas que possuo! Sei analisar e distinguir o Alpha do Ômega; aqui, porém, meu intelecto não me acompanha e minhas experiências variadas caíram no Jordão!

  3. Conheço as magias dos persas como as de muitos outros; mas não houve um capaz de criar dos elementos um par de orelhas de burro, e os ditos de Dodona e Delfos bem os conheço. Jamais, porém, vi coisa idêntica a este menino!

  4. Persisto, portanto, na opinião dada e repito: Nele se oculta muito mais do que todos nós poderemos compreender! Não quero afirmar que seja, infalivelmente, o Messias Esperado, mas tem maio- res probabilidades que nós todos!

  5. Agora, no entanto, meu querido conterrâneo, desejava a explicação dos significados de ‘Jerusalém’ e ‘Melchisedek’, antes da noite!”

  6. Digo Eu: “Fá-lo-ei por teres falado tão bem a Meu Respeito. Antes, porém, pega as duas orelhas pelas pontas e suspende-as um pouco para vermos se isto também é possível aos magos persas!”

  7. A seguir, digo: “Que se faça um corpo de asno, sadio, para completar estas orelhas!”

  8. No mesmo momento vê-se um, perfeito, em meio à nossa assembleia!

  9. Todos se apavoram e tratam de fugir.

  10. O juiz romano e Simon, porém, os impedem nisto, dizen- do: “É preciso respeitar o prazo, e o menino prodígio ainda esclare- cerá as duas palavras!”

  11. De novo sentam-se os fariseus, admirando, perplexos, o burro incriado, sem que alguém tivesse ânimo para externar uma palavra.

17º CAPÍTULO

Odesaparecimentomilagrosodoburro.Omilagrefeitocomapedra.Admiraçãodojuizromano.Explicação do

MeninoJesussobreaVindadoSeuReino Divino

  1. Eu, entretanto, digo: “A fim de vos mostrar o Meu Poder e tirar-

-vos o medo deste quadrúpede inatural, ordeno que deixe de existir!”

  1. Imediatamente ele desaparece, não deixando um vestígio sequer. Isto causa maior estupefação em nossa assembleia, inca- paz de falar.

  2. Apenas o juiz, mais corajoso, diz: “Meu querido menino, em ti deve habitar ou Zeus ou outra entidade semelhante! Se fosse da tua vontade, poderias destruir um animal natural ou a vida de al- gum homem?”

  3. Digo Eu: “Oh, sim! Não só isto, como a terra toda! Minha índole, porém, jamais por alguém reconhecida, inclina-se, justa- mente, a conservar tudo que existe. A fim de que vejas que não sou blasonador, tendo capacidade de fazer o que digo, trazei-Me uma pedra do tamanho e peso que quiserdes!”

  4. Logo traz-se uma pedra de consistência sólida, pesando mais de cem libras, e que é posta com dificuldade sobre a mesa.

  5. Eis, então, que Eu digo: “Dissolve-te em éter, teu elemento original!”

  6. A pedra desaparece sem deixar vestígio.

  7. Diz o romano: “Isto, meus conceituados amigos, só é possível a Deus e nunca a um homem, por mais talentoso que seja! Sou, por- tanto, de opinião que seja preferível viver em plena amizade contigo!

  8. De que nos adiantariam nossas numerosas legiões numa de- fesa contra ti?! Pois, se tu o quiseres, elas sofrerão o mesmo destino desta pedra! Por isto, declaro que és um Messias Justo do teu povo, não havendo poder que possa te enfrentar!”

  9. Digo Eu: “Por tal motivo não precisas ficar de cabelo bran- co! Não vim para Me tornar um rei do mundo, inaugurando um reino material para os judeus; a razão de Minha Vinda é trazer às

criaturas de boa vontade o Reino Divino de toda Vida, destruindo o poderio de Satanás, que é a morte sobre a terra! Deste modo, todo reino material poderá se manter, quando também procurar o Rei- no de Deus!

  1. Portanto, não há motivo para temerdes o Meu Poder Di- vino; pois sujeitar-Me-ei às vossas leis até a transformação do Meu Corpo, quando voltar de onde vim. — Agora, para finalizar o dia, voltemos à explicação das duas palavras!”

  2. Diz Barnabé, satisfeito: “Graças ao Senhor! Prefiro as pala- vras aos milagres, que deixam a pessoa cheia de pavor!”

  3. Digo Eu: “Mas por quê? Já admiraste tantos milagres persas, hindus e egípcios, sem que te apavorassem! Por que isto agora?”

  4. Diz ele: “Porque todos aqueles foram feitos de modo com- preensível, enquanto os teus se baseiam no poder de tua vontade! Eis uma grande diferença!”

  5. Digo Eu: “Neste caso tenho que fazer mais uma observação a respeito!”

18º CAPÍTULO

RelatodoMeninoJesusreferenteaosmilagresdosvinteesetemagosemDamasco.Embaraçoe admiração

deBarnabé.OsegredodaOnisciênciado Menino

  1. (O Menino Jesus): “Faz mais ou menos dois anos que te en- contravas em Damasco, quando apareceram perto de vinte e sete magos da Índia. Anunciavam grandes milagres para o terceiro dia após a lua nova, que iriam realizar no grande bosque, fora da cidade.

  2. Entre outros reclames, havia os seguintes: Cinco dos prin- cipais magos iriam suspender com os pequenos dedos um poste de mais de mil libras, enterrado além da metade — e fazê-lo flutuar! O mesmo repetiriam com uma rocha, cujo peso de dez mil libras nem trezentos homens fariam arredar dali. A seguir, fariam ressuscitar, por alguns minutos, um camelo morto e, por fim, vivificariam, por instantes, uma estátua.

  1. Com este reclame, quase toda Damasco se achava no tal bos- que no dia marcado, e tu eras um dos mais próximos aos magos, admirando-te muito com seus feitos.

  2. Estes eram, justamente, os que acabo de mencionar — pois os outros já te eram conhecidos — e te extasiaram tanto que excla- maste: ‘Isto é incrível! Jamais visto! Devem ser deuses e merecem ser adorados!’

  3. Soltaste esta exclamação em vista dos muitos pagãos concei- tuados que assistiam às magias; no teu íntimo, no entanto, lembras- te-te de Beelzebub e te sentiste apavorado!

  4. Agora dizes que também o mesmo experimentaste com os Meus Milagres! Que diferença observas entre eles?”

  5. Barnabé, encabulado, diz após uns minutos: “Mas dize-me, menino milagroso: donde sabes isto?! Nessa época não te achavas naquela cidade e, que eu saiba, ninguém de tua zona! Além de a uns poucos colegas no Templo, nada comentei daquele fato; como sabes desta minha experiência?”

  6. Digo Eu: “Acalma-te — nada Me é oculto; mas com isto ninguém perde sua liberdade, podendo agir dentro ou fora da lei. As consequências não dependem de Minha Vontade, mas da ordem e do respeito às leis da natureza em conjunto com a esfera moral da criatura.

  7. A razão de Eu saber tais coisas é um segredo, do qual o mun- do receberá uma luz daqui a duas décadas, bem como dos Meus outros Atos Milagrosos. Se credes que em Mim habita o Espírito do Messias em plena Pujança, compreendereis o porquê. Não o fazen- do, tereis que aguardar o tempo acima estipulado! Então percebê-lo-

-eis, sem jamais poderdes imitar-Me!”

19º CAPÍTULO

Aexplicaçãodaspalavras“Jerusalém”e “Melchisedek”.

ASantaEscrituraéoVerboDivino.Joramapontaaincompreensãoquantoàs profecias

    1. Diz Barnabé: “Mas queridíssimo menino! As duas palavras

    1. Digo Eu: “Agora mesmo! Presta atenção à raiz do idioma he- braico: Je (isto é), Ruh ou Ruha (a morada), sa (para o), Lem ou Lehem (grande Rei); Me ou Mei (do meu), l’chi ou lichi — leia-se litzi — (semblante ou luz), sedek (lugar).

    2. Sabes que os antigos pronunciavam as vogais entre a con- soantes, mas por motivo de devoção não as escreviam*; portanto, é preciso saber-se colocar nestas palavras milenárias as vogais en- tre as outras letras e com isto explica-se o sentido, pela raiz. Estás satisfeito?”

    3. Diz Barnabé: “Plenamente! Como, porém, podes saber des- tes segredos?”

    4. Digo Eu: “Isto baseia-se na Onisciência do Espírito Divino, glorificado dentro de Mim! Tu, porém, ainda estás longe de com- preendê-Lo!

    5. Vê, fazes a leitura da Bíblia, não encontrando nela algo de divino, porquanto a tomas por obra humana para maior compre- ensão das criaturas. Alegas que os egípcios assim agiram através de suas pirâmides místicas e colossais, e os hebreus pelas Escri- turas; entretanto, tudo isto não servia para a verdadeira cultura do homem atual, o que já foi reconhecido e provado pelos sá- bios do mundo!

    6. Eis tua própria confissão religiosa! Eu, porém, afirmo-te: quem lê a Escritura com teus olhos nunca achará nela algo de divi- no, continuando um materialista que, talvez, tenha inclinação para

* O Nome Jehovah é formado das cinco vogais: I E O U A

fatos e aparições extraordinários quando se dão às suas vistas. Seu espírito, no entanto, nada lucra com isto!

    1. Em verdade, tais pessoas assemelham-se aos porcos, que tudo devoram, permanecendo sempre os mesmos.

    2. Por este motivo, as criaturas destituídas duma fé mais elevada não deveriam ler a Bíblia — que foi dada pelo Espíri- to de Deus, representando assim o Verbo Divino — pois que a vilipendiariam. Porque consta: ‘Não chamarás o Nome de Jeho- vah em vão!’

    3. Eu, porém, acrescento: Toda Palavra de Deus é idêntica ao Nome de Jehovah! Quem a ler como obra humana torna-se um profanador Deste Nome! Quem, no entanto, fizer a leitura com grande veneração de sua alma, crendo que seja de Origem Sagra- da, em breve achará nela o Divino para a ressurreição e vivificação de sua alma!

    4. Se tu — e todos vós — interpretásseis a Escritura desta for- ma, de há muito Me teríeis reconhecido no que sou e como Me é possível fazer os milagres! Como, porém, considerais a Bíblia obra humana, oca e inteiramente imprestável para esta época, é-vos im- possível reconhecer-Me no Meu Ser, de sorte que Meus Atos, igual- mente, são incompreensíveis!”

    5. Diz Joram: “Meu amável menino, parece-me que te estás excedendo um pouco! Vê, se bem que alguns entre nós há que não acreditam no Espírito Divino contido na Escritura, outros, porém, o fazem e esperam a Vinda do Messias e do Seu Reino. Estes, tam- bém, não se oporão a que sejas o Prometido pelo profeta.

    6. As palavras de Isaías são bastante místicas, e difícil se tor- na reconhecer com clareza a Personalidade do Messias; no entanto, muita coisa contêm que está de acordo contigo! Mas noutra parte se encontra o que não combina, nem contigo nem com um verdadeiro Messias, mesmo vindo dos Céus! Por aí vês que se torna difícil, até para os crentes mais fervorosos, uma orientação segura!

    7. O assunto não passa dum mito do povo, surgido do seu desejo, tanto que os romanos não andam errados quando dizem:

Ubinam vanis invectis superlativum tradit gens, nihil quam aquam haurire!* E, em parte, isto se dá com o Messias! Que me dizes, que- rido menino?”

    1. Digo Eu: “Como constam os versículos que não combinam com o Messias, muito menos Comigo?”

    2. Diz Joram: “Ah, não os sei de cor e necessitava do Livro! Es- tas coisas pouco se leem e, além disto, muito é esquecido, mormente dos profetas!”

    3. Digo Eu: “Sabes de algo? Deixemos isto para amanhã, por- que já é noite. Ninguém tomou alimento desde cedo e acho conve- niente adiar a sessão!”

    4. Todos concordam com Minha Proposta. Deixamos o audi- tório, recolhendo-nos ao albergue.

20º CAPÍTULO

A segunda noite passada no albergue. Joram eBarnabéprocuramtrechosadequadosnas profecias

  1. Eu, o juiz e o velho Simon dirigimo-nos ao albergue no qual os nazarenos costumam pernoitar.

  2. Era uso em Jerusalém que cada cidade da Judeia ali tivesse um albergue com seu nome; isto porque, se alguém, por acaso, hou- vesse marcado encontro com um seu conterrâneo, bastava procurá-

-lo no albergue do mesmo nome.

  1. Com o tempo este hábito se implantou na Europa, e as res- pectivas tabuletas visavam este fim. Hoje em dia, porém, quase não mais há vestígio.

  2. Mencionei este fator para que se compreenda a razão por que Meus Pais Me acharam com tanta facilidade no terceiro dia, isto é, à noite, porquanto Me procuraram no albergue chamado Nazareth.

* Enquanto o povo transmite exageros de contos vãos, apenas água colhe

  1. Os templários haviam se recolhido logo após a ceia. Somente Joram e Barnabé tomam o Livro de Isaías à procura de textos que não concordem com Minha Pessoa ou com o Prometido. Pouco a pouco eles também adormecem.

  2. Para os cansados a noite passa voando e, quando os fariseus julgam cochilar mais um pouco, o dia os convida a se levantarem. Dirigem-se ao auditório, já sem vontade, inclusive Joram e Barna- bé, porquanto não acharam um comprovante que Me pudesse obri- gar a calar.

  3. Enquanto Joram procurava debalde nas profecias, disse ao outro: “Parece incrível! De outras vezes via esses textos às dúzias — e agora já procuro durante uma hora e nada encontro!”

  4. Diz Barnabé: “Não tem importância! O menino querendo se tornar o Messias, uma vez que não perderá sua capacidade excepcio- nal — que o seja! Que importa?! Se mais tarde perder seus dons, lar- gará desta ideia! Em todo caso, traze o Livro, que talvez precisemos dele! Agora, vamos; certamente já estão à nossa espera!”

  5. Ambos vão rápidos ao Templo.

21º CAPÍTULO

Iníciodasessãonoterceirodia.TentativabaldadadeJoramdequererinterceptarotema.Osumosacerdote se

tornaimportuno.ContestaçãodoMenino Jesus

  1. Assim que ambos penetram na sala, inicia-se a sessão.

  2. Adianto-Me, após ter recebido o aceno do juiz, e Me dirijo a Joram: “Encontramo-nos reunidos, hoje, no terceiro dia de nossa disputa! Depende agora que Me apontes aqueles textos em desacor- do com a Minha Pessoa e o Messias!”

  3. Diz Joram: “Bem, meu querido menino, estou de acordo — mas de há muito que os esqueci e seria um verdadeiro embaraço para mim procurá-los justamente em tua presença, pois pareces sa- ber de cor a Escritura completa, em virtude de possuíres uma tão gigantesca memória! Por isto, desistimos do caso, e eu afirmo que,

em consequência do que de ti vimos e ouvimos, consideramos-te o Prometido e já Chegado Messias! Destarte, seria perder tempo se fôssemos procurar os múltiplos textos!”

  1. Digo Eu: “Não, Meu amigo, isto não é possível! Desejais vos descartar de Mim de boas maneiras; é-vos indiferente se existe um Messias ou não, basta que possais viver bem e juntar grande quan- tidade de ouro, prata e pedrarias! Trata-se, no entanto, disto: Sou o Messias ou deveis esperar por um outro?

  2. Eu o sendo, logo o Reino de Deus chegou perto de vós e sa- beis o que devem fazer os de boa vontade! Se, porém, de acordo com a vossa opinião e pelo que consta no profeta, Eu não o sou, podeis continuar com vossos velhos pecados, até que a morte vos arrebate! Já que a procura dos textos tanto tempo vos rouba, dai-Me o Livro!”

  3. Diz o sumo sacerdote: “Na certa apontarás aqueles que te favorecerão?!”

  4. Digo Eu: “Pois bem, indica-Me os contra Mim!”

  5. Diz ele: “Pois não, agora mesmo!”

  6. O Livro lhe é entregue e ele começa a procurar com ares de importância, sem achar o que lhe agradasse. Finalmente triunfa! Sua fisionomia externa uma satisfação mesclada de orgulho sacerdotal. Depositando o Livro, com gestos de senhor, sobre a mesa, quase fura com o indicador o texto que descobriu e diz:

  7. “Pronto! Vem cá, pequeno Messias da Galileia, lê isto e di- ze-me se também se aplica a ti!”

  8. Digo Eu: “Por que Me chamas a ler este versículo? O Espírito dentro de Mim o conhecia muito antes que fosse escri- to por Isaías! E tu descobriste justamente aquele que Me trará a vitória!”

  9. Enraivecido, o sumo sacerdote se levanta e diz, cheio de cólera: “O quê? Pretendes ter conhecido este texto antes do profeta recebê-lo?! Advirto-te do excesso de tua ousadia! Contas apenas doze anos e dizes tal disparate! Acaso és doido?!

  10. Embora fales de tua alma ou de teu espírito — que são uma só coisa — não é possível serem mais antigos que seu corpo, o qual,

pelo testemunho de Moysés, deve existir primeiro, para que a alma possa nele penetrar!

  1. Diz Moysés: ‘Deus modelou o primeiro homem de barro, soprando-lhe uma alma viva pelas narinas!’ Não se deduz daí que o corpo de toda criatura deve existir antes da alma, sendo sua mo- rada?! Pois que seria esta sem o corpo?! Por isto, reflete, pequeno galileu, onde te achas e diante de quem!”

  2. Digo Eu: “Embora sejas sumo sacerdote — se bem que de- vido à proteção mundana, e não por possuíres tendências de eleva- ção espiritual — e nos encontrarmos no velho auditório do Templo, digo-te de face a face que tua opinião referente às coisas espirituais é pior que a dum cego quanto às cores!

  3. Se Deus soprou uma alma viva no corpo modelado de Adam, esta alma evidentemente se achava antes em Deus, e não noutra parte, porquanto Ele em Seu Ser é Infinito, não havendo algo fora Dele.

  4. Deus, sendo Eterno, não pode conter em Si algo temporá- rio ou em formação, pois o que está Nele é Eterno como Ele Mes- mo. Suas Ideias e Pensamentos Eternos só podem ser manifestados fora de Si, a fim de conquistarem uma independência individual. E, assim fazendo, dá-se um momento Criador, e para os seres por Ele externados através de Sua Onipotência e Sabedoria inicia-se a época, ou melhor, o estado do permitido livre-arbítrio, para a ob- tenção duma vida independente fora de Deus — embora continue dentro Dele.

  5. Assim sendo, por que não deveria Eu existir em Espírito,

em Deus, antes que Isaías recebesse os textos dados por Ele?!

  1. Além disto, estás muito errado em julgar que espírito e alma sejam uma só coisa! A alma é um produto espiritual da matéria à es- pera de libertação, mas o espírito nunca esteve sob julgamento! Toda criatura possui um espírito dado por Deus, que tudo rege e ordena no homem em formação; no entanto, apenas se une à alma quando esta, de livre vontade, penetra na Ordem Divina, tornando-se pura- mente espiritual.

  1. Acabas de provar quão longe estás desta penetração, por- quanto jamais fizeste uma ideia do teu espírito, sem o qual não te seria possível viver um só instante!

  2. Eu, porém, conheço o Meu e de há muito a Ele Me uni, eis por que mando nos elementos; Ele é o Espírito de Deus e jamais poderá ser outro, pois além de Deus não existe Espírito. Refleti, tu e todos vós, sobre o que acabo de falar — e só então passaremos ao texto mencionado!

  3. A ti, sumo sacerdote, dou o conselho de te manteres nos limites da justa moderação, do contrário terás desafiado o Poder do Meu Espírito Divino! Já ontem percebeste o que Me é possível — tanto que sabes o que te espera, caso te excedas! Possuo um direito bem pago para falar dos assuntos concernentes a Jehovah! Já é um escândalo que a pessoa se veja obrigada a isto, pagando a vós, que vos alegais servos de Deus, um direito contado por horas. Pior seria se não fosse possível usá-lo!”

22º CAPÍTULO

Palavrasdereconhecimentodojuizromano.OMeninoJesusfalasobreasleisdeEstadoeaLeiDivinadoAmor ao

próximo

  1. Diz o romano: “Menino adorável, caído diretamente dos Céus! És mais sábio que todos os sábios que já viveram nesta terra! Que será de ti?! Sim, és, sem dúvida, um verdadeiro Messias (media- dor entre Deus e o homem); jamais um sábio descreveu de maneira tão clara e em tão poucas palavras a diferença entre corpo, alma e espírito como tu! Realmente, este ensinamento merece um prêmio especial!”

  2. Digo Eu: “Deixa estar, nobre amigo! Qual prêmio Me pode- rias dar que Eu não te restituísse mil vezes?! Digo-te: quem fizer algo de bem a um necessitado por amor verdadeiro e puro a Deus, tê-lo-á feito a Mim e receberá mil vezes mais! De modo idêntico, porém, o mal que praticar!”

  1. Diz o juiz: “De que mal falas?! Desejava sabê-lo, pois como magistrado sou muitas vezes levado a fazer mal às criaturas, embora contra a minha vontade. Nossa lei, porém, é implacável e desconhece considerações, até com os próprios filhos! Aponta-me algo de conciso!”

  2. Digo Eu: “Se fosses o autor das leis, poderias modificá-las. En- tretanto, representam a vontade deliberada do povo, e tens a incum- bência de levar os pecadores ao justo castigo. Fazendo conscientemente e com justiça o que a lei prescreve, nada de nocivo farás, e sim o Bem!

  3. Pois todo membro da sociedade tem que se submeter às leis da ordem e torná-las suas próprias máximas de vida; não o que- rendo, terá que suportar como o mais fraco — pois estará só — as consequências amargas da infração.

  4. O juiz, nomeado pelo povo ou seu representante, rei ou im- perador, que executa a lei com rigor e justiça só fará o Bem, pois limpa o campo humano da erva daninha. Com isto, cumpre o teu dever, sendo um benfeitor das criaturas ordeiras.

  5. Representa uma virtude celestial do teu coração, pois visas mormente à melhora da pessoa errada, do que castigando-a pela justiça; segues o princípio eterno do amor ao próximo, que é: ‘Não faças aquilo que não desejas que te façam!’ Com isto já te encontras na ordem diante de Deus como do teu semelhante, e não necessitas te preocupar com o que seja bom ou mau!

  6. Se estes que ora se sentam nos lugares de Moysés e Aaron tivessem assim agido, não teriam sido subjugados por vós, romanos. Como deixaram de ser fiéis à velha Lei que foi dada a todos, fazendo seus próprios estatutos de acordo com suas tendências, Deus deles desviou o Seu Semblante, entregando-os ao açoite pagão, onde fica- rão em virtude de sua teimosia.

  7. És pagão, no entanto Me reconheces; eles são judeus, devem ser filhos de Jehovah, e tal não se dá com eles! Como, isto? Pare- ce-Me o mesmo do profeta que, já naquela época, dizia: ‘Ele veio para junto dos Seus e eles não O reconheceram e não aceitaram!’ Seja como for, mostrei-te a verdadeira situação, e está em tempo de analisares os textos apontados contra Mim!”

23º CAPÍTULO

LeituraeexplicaçãodeIsaías,cap.9,vers.5–6, feitas

pelo romano

    1. Assim falando, o sumo sacerdote Me passa o Livro e diz: “Lê e dá-te por vencido!”

    2. Pegando-o, passo-o ao juiz, mostrando-lhe os versículos a se- rem lidos e pedindo-lhe que o faça por Mim, para que ninguém Me acuse de algo. Nada mais fácil para ele, que tinha noções de quase todos os idiomas orientais, mormente do arqui-hebraico, e lia me- lhor que todos os templários juntos.

    3. Com satisfação, ele toma do Livro e lê: “Um menino nos nas- ceu, um filho se nos deu, cujo domínio está sobre os seus ombros; seu nome se chama Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Herói, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz. Da grandeza deste principado e da paz, não haverá fim sobre o trono de David e no seu reino, para o firmar com juízo e justiça, desde agora para sempre! Isto fará o zelo de Zebaoth!” A seguir o juiz indaga ao sumo sacerdote se a leitura tinha sido bem feita.

    4. Este afirma com uma grande reverência.

    5. O juiz, então, continua a falar em meu Nome, dizendo: “A meu ver, escolheste um trecho como não poderia haver melhor, com relação a este menino amável e sábio!

    6. De que maneira uma virgem daria à luz um filho que chama- ria de Emanuel já foi bem discutido, e não mais há a menor dúvida que este menino seja o mencionado pelo profeta, filho da por vós conhecida Maria.

    7. E se não me engano, o comandante Cornélius, há bem pou- co tempo, contou-me algo do nascimento milagroso dum menino numa manjedoura em Bethlehem; fê-lo com grande entusiasmo e interesse no destino daquela família importante, e muitas vezes so- bre a mesma se informara, sem êxito, desde que ela embarcara para o Egito! Infelizmente teve que se dirigir a Tyro a negócios, senão estaria, na certa, aqui presente!

    1. De sorte que, quanto ao nascimento deste menino, já estamos orientados — e não mais haverá um ‘contra’ diante deste foro!

    2. Que ele comerá manteiga e mel, a fim de compreender e escolher o Bem e rejeitar o mal, só posso interpretar de acordo com a ciência egípcia, da seguinte maneira: Ele será repleto do amor e da sabedoria, reconhecendo o verdadeiro Bem e o mal!

    3. Que isto lhe é possível como a nenhum outro sábio e cien- tista do mundo, provou há pouco, tendo, deste modo, mel e man- teiga espirituais em quantidade, de sorte que todos vós tendes muito que aprender com ele!

    4. Isto prova claramente que é o Emanuel anunciado pelo pro- feta, não havendo mais necessidade duma virgem gerar tal filho!

    5. Em todo Império Romano jamais vi um menino de doze anos que — descontando seu Poder Milagroso — se lhe pudesse tor- nar idêntico; assim creio que o segundo trecho do profeta combina perfeitamente com o primeiro.

    6. Sim, nele nos nasceu uma criança única e um filho do seio dos deuses — falando como romano — cujo reino carrega sobre seus ombros e não necessita de ajuda!

    7. Evidentemente, o profeta designa com os nomes apenas suas qualidades; e confessai se lhe falta uma sequer?!

    8. Não é ele maravilhoso em seu intelecto, palavras e atos?

    9. Qual seria o sábio que me poderia dar um conselho mais lógico que este verdadeiro e mais puro Filho de Deus?!

    10. Que possui a verdadeira força em todo sentido — seja no espírito ou na matéria — ninguém que o ouça falar e agir duvidará!

    11. Pela sua coragem destemida contra vós, sacerdotes orgulho- sos que sois, deixando-vos louvar e honrar como se fôsseis deuses

    1. Seu Espírito, sendo Eterno e uno com o Espírito de Deus, foi-nos por ele provado de maneira tão explícita e em poucas pala- vras, que seria preciso a cegueira de todas as noites havidas na terra para não se sentir de onde sopra a brisa!

    1. Que, além disto, unicamente ele pode dar às criaturas a ver- dadeira e viva paz interior, sendo, portanto, um justo príncipe da paz sobre a terra — eu, pessoalmente, já o senti!

    2. Somente ele poderá reconstruir o velho Reino de Luz e Co- nhecimento de David, que por vós foi destruído, firmando um Do- mínio ao qual todos os principados terrenos, embora munidos de cetro e coroa, terão que se sujeitar! Pois o Reino do Conhecimento puro é e será sempre o mais poderoso sobre todos, não podendo ser subjugado por um poderio qualquer! E onde existe Luz e sua ação penetrante, também há um juízo e uma justiça lúcida.

    3. No final ainda consta: ‘E isto fará o zelo de Zebaoth!’ Quem mais que o Espírito de Deus, portanto o Senhor Zebaoth Mesmo, está Presente neste menino — algo que vi desde o primeiro momen- to! Por que isto não se dá convosco, pois vos deveria despertar maior interesse que a mim, pagão?!

    4. Ó deuses e todos os oráculos do mundo inteiro! Que ce- gueira, estultice e maldade deve haver dentro de vós, por não que- rerdes compreender e sentir a origem desta brisa! Eu, pagão, sou obrigado a vos dizer isto!

    5. Que diria aquele profeta, autor destas verdades, em vista de vossa obstinação nefasta?

    6. Não vos sentis envergonhados diante Daquele, de cuja Von- tade depende vossa vida preguiçosa e má, por vossa culpa?!

    7. É incrível que ainda percais tempo em conjecturas diante de um deus que desconheceis e no qual nunca acreditastes, ou diante do mundo, com auxílio do qual engordastes e tencionais fazê-lo ain- da mais — quando o Verdadeiro Deus Se acha perante vós, munido de todos os predicados que uma fantasia humana poderia imaginar!

    8. Agora, interessa-me saber de vós mesmos que ideia fazeis de Deus?! Falai — pois agora sou eu quem manda!”

24º CAPÍTULO

DiscursodeJoramacercadoSer Divino

  1. Estas palavras severas do juiz transtornam os fariseus, que se assustam tanto que só podem gaguejar. O mais sereno é Joram; levanta-se e, curvando-se diante do romano, diz:

  2. “Ilustre, justo senhor e juiz de Jerusalém e seus arrabaldes! A concepção do Ser Divino é algo bem difícil, porquanto Moy- sés proibiu à criatura fazer uma ideia de Deus! Por este motivo não encontras em nosso Templo uma imagem que permita uma ideia visual!

  3. Todavia, os patriarcas — Abraham, lsaac e Jacob — por várias vezes tiveram visões que lhes permitiam vislumbrar e falar a Deus na forma perfeita do homem, embora conste em Moysés: ‘Ninguém poderá ver a Deus e continuar com vida, pois Deus é um fogo destruidor e habita na Luz impenetrável!’

  4. Moysés, porém, pediu que o Senhor Se lhe mostrasse, mesmo se para tal perdesse a vida. Eis que Deus lhe falou no Monte Sinai: ‘Oculta-te nesta gruta, que por aí Eu passarei! Quando te chamar, sai da gruta, que verás as Minhas Costas!’

  5. Agora, em se tratando de uma forma de Deus e a seguir de nenhuma, de acordo com a lei que pune — uma ideia ou concepção de um Deus se torna quase impossível, embora a alma da criatura anseie por um Deus como homem perfeito! Nós temos apenas o nome ‘Jehovah’ — e nada mais!

  6. Quanto a mim, este menino me satisfaz plenamente como Deus; considera, porém, o povo, preso à Lei de Moysés e dos profe- tas! O Templo é o ponto central de sua felicidade; deposita ali seus desejos, suas esperanças, crendo que lá se acha mais perto de Deus, Que sabe de suas necessidades através dos sacerdotes! Tira isso ao povo, colocando este menino no lugar da Arca — e terás uma revo- lução em todo país!

  7. Somos tolos por obrigação; se não fosse isto, se a nossa vida e felicidade e a paz do povo não dependessem deste fato, desde há

muito não mais seríamos tolos! Acaso julgas ser coisa fácil apresentar algo que não exista e de que não se possa fazer uma ideia?!

  1. Quanto a este menino, defendo o teu ponto de vista; mas, diante da plebe, é preciso continuar como dantes e não deixar trans- parecer que, intimamente, creio em coisa mui diversa!

  2. Se este menino conseguir, através do seu poder, atrair a aten- ção das massas sobre si, de sorte que o reconheçam e aceitem — terá jogo fácil com o Templo. Mas pôr de lado uma crença antiga, na qual se cruzam muitos interesses, é algo difícil!

  3. Eis minha opinião, que por certo é a mesma do Templo, e duvido possa ser contestada!”

  4. Diz o juiz: “Bem, contra este ponto de vista pouco ou nada há que dizer. Apenas observo que vós, acreditando na missão deste menino, podeis, de qualquer maneira, chamar a atenção do povo sobre o que se está passando!”

  5. Diz Joram: “Esta exigência não deixa de ser justa; no entan- to, será um empreendimento arriscado, que nos trará muito emba- raço, e a ele próprio também!

  6. Primeiro, porque ele, certamente, não ficará no Templo, pois seus pais o levarão hoje ou amanhã à Nazareth, bem distante, a fim de que os indagadores lá o procurem!

  7. Segundo, centenas de milhares nos perguntariam o moti- vo de sua ausência no Templo, se ele realmente é o que o profe- ta predisse!

  8. Que resposta daríamos, preferindo ele a Galileia e Naza- reth?! Em breve, o povo haveria de dizer: ‘A cidade e o Templo co- meteram grandes faltas e é preciso averiguar e punir os delitos!’ Em suma, fosse qual fosse nossa atitude, o povo se agitaria, dando-nos muito trabalho. Por isto, penso ser mais razoável não mencionar o que sabemos, deixando o assunto entregue ao menino e ao tempo!

  9. De qualquer maneira estaremos prevenidos através destes acontecimentos, podendo nos preparar ainda melhor! Além disto, o menino mesmo poderá determinar a sua vontade, que dificilmente será possível se opor a ela!”

25º CAPÍTULO

DiscursoseverodoMeninoJesus.Asfraudesno Templo

  1. Digo Eu: “Estou aqui para vos anunciar a Minha Presença e realizar as Obras Daquele Que Me enviou. Não O conheceis, mas Eu O conheço, pois habita em Mim em Sua Plenitude!

  2. Moysés, quando pediu para vê-Lo, só pôde vislumbrar Suas Costas — mas durante três dias seu rosto ficou tão iluminado que era preciso ocultá-lo ao se dirigir ao povo, cujos olhos não suporta- vam o brilho.

  3. A Mim podeis fitar sem que isto vos ofusque. E por quê? Porque esta carne oculta Aquele Que está dentro de Mim! Não obs- tante, aqui existe mais do que lá! Vós não o percebeis, porquanto a tríplice coberta de Moysés cobre a vossa vista e ainda o fará por muito tempo, impedindo que reconheçais Aquele Que, dos Céus, Se aproximou de vós!

  4. Não tendes dificuldades em falar ao juiz, porquanto ouve apenas vossas palavras bem escolhidas. Comigo isto será difícil, porque também ouço os pensamentos secretos do vosso coração, que contradizem vossas palavras! Por isto, me sois demasiado repug- nantes, pois vos lavais externamente, enquanto vossas almas estão cheias de lodo!

  5. Se o juiz, em cujo coração não há dolo, vos convida para despertardes o povo à Minha Pessoa e o confortardes com o cumpri- mento da Promessa — por que procurais toda sorte de subterfúgios, criando impossibilidades?

  6. Digo-vos abertamente: vós — e não o povo — não o quereis. Sois vós os Meus piores inimigos! Mas não importa! Primeiro, o Meu Tempo ainda não chegou; segundo, este Templo foi por vós tão profanado que jamais poderia Eu ali morar! Realmente, vosso conceito não será aumentado por Mim!

  7. Estais revoltados por Moysés proibir que fizésseis uma ima- gem de Deus; mas não vos perturbais em vos fazer de deuses dian- te do povo, ensinando-lhe que Deus nada faz sem vosso auxílio,

tampouco ouve um pedido que não o vosso. Dizei-Me: é isto uma Lei Mosaica?

  1. Sim, deveríeis conduzir os crentes aos caminhos que levam ao Céu — pois esta é a Vontade de Deus, transmitida a Moysés e Aa- ron; entretanto, fazeis o contrário: considerais vossa posição, Deus, o povo e o Templo nada mais que uma fonte inesgotável, sobre a qual somente vós possuís direito!

  2. Eu, porém, vos digo que Deus, a Quem negais em cada res- piração, nunca vos deu este direito, tampouco ouviu vossas preces maquinais e mortas, nem as ouvirá no futuro!

  3. Pois se Ele atendesse vossa gritaria e vosso grasnar de corvos

  1. No entanto, afirmais: ‘Se tu, criatura, pedires algo a Deus, de nada te adiantará; somente se trouxeres uma oferenda e nós por ti pedirmos; apenas nós, sacerdotes, alcançamos algo com nossas orações; o povo só deve oferecer sacrifícios e, com isto, terá feito o pedido!’

  2. Deste modo sugais duplamente o povo! Primeiro, tirais-lhe o dízimo de todos os frutos e a primeira criação dos animais caseiros; pela primogenitura exigis uma boa prenda; segundo, convenceis os incautos a novos sacrifícios, prometendo-lhes preces contínuas, que não fazeis!

  3. Pois no vosso íntimo dizeis: ‘Orar ou não orar não traz be- nefício ao portador da prenda; somente esta tem valor, pois que a trouxe na boa fé!’ Tanto que nada fazeis pelo que fostes pagos!

  4. Com que vos irei comparar? Sois constantemente contra Deus e semelhantes aos lobos vorazes, cobertos de pelo de carneiro, para que estes não fujam e sejam estraçalhados sem grande esfor- ço! Vosso prêmio no Além será de acordo com o vosso trabalho!

26º CAPÍTULO

Respostairritadadosumosacerdote.OMeninoJesusprediz a destruição do Templo e de Jerusalém. A verdadesobreamortedeZacharias.Amedidadosjudeus está

repleta

  1. Minhas Palavras irritam sobremaneira o sumo sacerdote, que diz: “Menino, quem te deu o direito de ameaçar-nos e ao Templo?! Acaso os estatutos foram feitos por nós?! Se há pouco falaste sabia- mente, agora fazes o contrário! Ignoras que árvore alguma cai de uma só machadada e que é inútil corrigir o que não seja possível?! Modifica o povo, se puderes! E o povo judaico é uma árvore mui antiga, que se não deixa vergar qual vara!

  2. Não duvidamos que tenhas de cumprir u’a missão elevada, por parte de Deus. Mas, em consequência disto, não deves pisar as velhas instituições recebidas por Moysés — embora com alguns aditamentos que o tempo exigia — e por cima nos chamar de lobos! Nunca estraçalhamos alguém; se castigamos um blasfemo do Tem- plo e os adúlteros, fizemos unicamente o que este profeta exigiu. Podes, com isto, afirmar que agimos contra as Leis de Deus?!

  3. Se falas conosco, deves pesar tuas palavras; pois, se achas algo de ruim em nós e no Templo, dize-nos com palavras meigas e edu- cadas, e veremos o que se pode fazer! Com ameaças teosóficas nada conseguirás!”

  4. Digo Eu: “Convosco nunca se conseguiu algo, nem com boas nem com más palavras; por isto, sereis como sois até o fim do mundo! Este é o motivo por que a Graça vos será tirada e entregue aos pagãos!

  5. Vede, além-mar, o Continente Europeu! É habitado por aqueles e raro um judeu vai até lá. A Graça dos Céus, porém, ali será implantada!

  6. Em setenta anos, porém, procurar-se-á Jerusalém e o Tem- plo, sem serem encontrados. Então se dirá: ‘Que importa o local?! Tomemos um qualquer e construamos o Templo de Salomon, orga- nizando-o tal e qual era!’

  1. Dito e feito! Mal iniciarão a obra, quando surgirá um fogo da terra, castigando a todos.

  2. Depois de uma série de tentativas frustradas, povos pagãos in- vadirão, do Levante e Meio-Dia, este país, devastando tudo, e vós sereis espalhados sobre toda a terra e perseguidos de um ponto para outro!

  3. Isto vos acontecerá porque vos afastastes voluntariamente das velhas Leis de Deus, repondo as vossas, cheias de egoísmo, enchen- do-vos com o grande lucro que esta fraude vos proporcionou.

  4. Lede a Crônica do Templo e os acontecimentos secretos, que encontrareis fatos, desde o início da era dos profetas, que farão arrepiar os cabelos dum homem justo até o pico do Líbano!

  5. Pois todo sacerdote e profeta que tencionasse excluir os vos- sos estatutos e repô-los pelos de Jehovah — era apedrejado!

  6. Quanto tempo faz que o sumo sacerdote Zacharias foi por vós estrangulado, no momento em que se dedicava ao sacrifício no Templo?!

  7. O povo, que o respeitava e venerava, exigia notícia do seu paradeiro, quando um novo sumo sacerdote foi posto em seu lugar.

  8. Aí mentistes de maneira escandalosa, alegando, com ares de respeito simulado, que Zacharias estava absorto em preces para o povo no Santíssimo, quando lhe apareceu o anjo do Senhor, cuja face iluminava mais que o sol.

  9. E disse para o admirado filho de Deus: ‘Ó fiel servo do Senhor! Completaste tua tarefa terrena e foste julgado com justiça diante do Pai! Por isto, deixarás a terra, seguindo-me, como ora és, com corpo e alma iguais a Henoch e Elias, ao trono do Deus Pode- roso no Céu, onde te aguarda um grande prêmio!’

  10. Que Zacharias em seguida levantou o olhar transfigurado para o Alto, caindo nos braços do anjo e desaparecendo do Templo e da terra!

  11. Naquele lugar depositastes uma laje branca com os seguin- tes dizeres: ‘Transfiguração de Zacharias, o homem de Deus!’ Deste modo vos isentastes diante do povo, venerando-o com ele, com toda sorte de salmos, enquanto, como seus piores inimigos, o subjugastes

quais salteadores entre o grande Altar e o Santíssimo, onde orava — degolando-o finalmente!

  1. Este foi o destino de muitos profetas e verdadeiros sumos sacerdotes na ordem de Aaron! A seguir erigíeis suntuosos monu- mentos por causa do povo, dedicando-lhes toda a veneração!

  2. Dizei-Me se não foi assim! — Agora silenciais apavorados por Eu ter revelado este fato! Considerai-vos seguros diante da justiça terrena, que pouco poderá conseguir contra vós, porquanto não exis- te outra testemunha além da Minha Pessoa! Todavia, não necessito daquela justiça, tampouco vos darei castigo; se, porém, continuardes em vossa obstinação, acontecerá o que vos anunciei! Tenho dito!”

  3. O juiz, todo contrafeito, diz-Me: “Se for de Tua Vontade, darei ordem de execução! Teu testemunho me satisfaz plenamente!”

  4. Digo Eu: “Deixa estar; pois tenho Poder de sobra para ex- terminá-los num momento! Mas, com isto, nem tu, nem Eu, nem o povo lucraríamos algo! Basta que consigamos levar à noite destas almas uma luz crepuscular; um dia radiante poderia cegá-las, fato se- melhante a um castigo. Ficarão emaranhados em suas próprias teias, que as sufocarão!

  5. Em tudo na vida é dada u’a medida ao homem, tanto para o Bem como para o mal; do mesmo modo, existe uma para os povos e suas instituições. Se preponderar o divino Bem, povo e terra trans- bordarão de graças, e vice-versa. Neste caso o povo terá terminado seu papel odiento e o país se transformará num deserto, fato que podeis aguardar para um futuro próximo!

  6. Quem pode e quer compreender, que o faça! É chegado o tempo em que se clamará dos telhados a maldade das criaturas, e suas ações poderão ser decifradas em seus semblantes! Pois, seme- lhantes a Mim, Meus discípulos sorverão o Amor da mesma Escola que Eu, sabendo o que sei e fazendo o que faço! Por ora este tempo ainda não chegou; sentireis, porém, sua aproximação!

  7. Acabei de falar! Quem tiver algo para dizer, que o faça; pou- co tempo Me resta em vossa companhia, pois aqueles, crentes de me haverem perdido, em breve estarão aqui!”

27º CAPÍTULO

JoramreconheceoMeninoJesuscomooPrometidoepede-LheexplicaçãosobreotextodeIsaías,52:14e 53:3.

Respostaprecisa Dele

    1. Diz Joram: “Querido menino, sentimos imensamente se, por acaso, Te ofendemos e Tua intenção de deixar-nos! Desejamos, po- rém, dizer-Te com sinceridade algumas palavras — e julgo que isto não Te vá aborrecer!”

    2. Digo Eu: “Podes falar, embora saiba o que desejas; os outros, porém, necessitam sabê-lo!”

    3. A isto Joram se Me aproxima e diz: “Todas as dúvidas a Teu Respeito se dissiparam, pois sei que és o Prometido, esperado pelos judeus e todos os povos, mormente por saberes das traficâncias do Templo desde há séculos!

    4. Este também foi o motivo da Samaria se separar de nós e a Galileia não ficar atrás. Mantemos o Templo através duma política obrigatória, e de espírito — nem sombra!

    5. Fui, pessoalmente, participante da disciplina negra das pare- des de Salomon, nada podendo fazer, isolado, porquanto toda de- terminação final depende do sinédrio. Sempre procurei reagir em ocasiões como acabas de nos enunciar, sem conseguir um benefício para os julgados.

    6. Reconheço, perfeitamente, que o Templo não durará setenta anos, e mesmo assim é uma lástima para essa velha e respeitável instituição, mormente quando observo a supremacia dos essênios e saduceus.

    7. Tanto que carecemos dum conselho, a fim de conservar o Templo pelos séculos vindouros! Em Ti, Menino do Céu, jaz esta Sabedoria em toda Plenitude, que, a meu ver, seria a única autoriza- da para nos aconselhar!

    8. Além disto, peço-Te uma orientação sobre o profeta Isaías!

    9. O Capítulo 53, no qual o Messias — idêntico a Jehovah — apresenta-Se de maneira estranha! A respeito de Sua Apresentação

Humana, consta que muitos se aborrecerão com Ele, por serem Sua Figura e Aparência mais feias que a de outros filhos dos homens. (Isaías 52:14)

    1. E um pouco adiante: ‘Era o mais desprezado e indigno, cheio de dores e doenças. Era tão desprezado que se ocultavam dian- te Dele; por isso, não O respeitamos!’ (Isaías 53:3)

    2. Vendo Tua Aparência saudável e de grande atração, e consi- derando como és respeitado — não sei como interpretar as palavras do profeta!”

    3. Digo Eu: “Isto tudo prova que sou realmente o Prometi- do! Pois tudo que lá consta acontecerá; quanto àquilo que diz de Meu Físico, não se relaciona a Mim, mas à índole pervertida das criaturas de hoje, perante as quais Meu Modo de pensar e agir se apresenta como figura desprezível, atrofiada por toda sorte de mo- léstias e dores.

    4. Eis por que serei desprezado pelas pessoas de posse e concei- to, que fugirão de Mim como dum cadáver e, sendo permitido pelo Alto, perseguir-Me-ão como criminoso — como vós, evidentemen- te, já o fizestes. Pois, se Eu, como criatura, não tivesse a proteção romana e a Minha Época de Sofrimento já tivesse chegado — jamais poderia Me salvar de vossas mãos!

    5. Continuareis, na maioria, como agora sois, até que virá o grande julgamento predito por Daniel!

    6. Tudo isto, no entanto, poderia ser diferente, se reconhecêsseis vosso grande erro, fazendo penitência e vos regenerando! Tal, porém, será difícil no vosso caso, de sorte que Meu conselho é infrutífero! Estais presos à posição mundana e aos bens materiais, que vos levarão à desdita! Não serei Eu que o fará, mas sim vosso mundanismo!

    7. Julgais que Eu vos deveria dar uma orientação segura, e que então conjecturaríeis como levar o povo a uma compreensão me- lhor? Como não? Vossos bens e postos elevados, no entanto, apre- sentar-se-iam diante de vós, dizendo: ‘Continuaremos o que somos e aguardaremos que tal julgamento em verdade se apresente. Pois um Instituto tão antigo e nobre não necessita deixar-se amedrontar

por um garoto galileu!’ Com isto o Meu Conselho seria posto de lado e vós continuaríeis os mesmos que agora, ou talvez ainda piores!

    1. Desfazei-vos de vosso ouro, prata, pedras preciosas e da grande quantidade de pérolas. Dividi uma grande parte entre os po- bres e o resto dai ao Imperador, o qual, unicamente, tem o direito de juntar os tesouros da terra e aproveitá-los em época de penúria. Vivei apenas daquilo que Moysés vos determinou, arrependei-vos de vossos numerosos pecados e penitenciai-vos através de obras de verdadeira caridade. Não tenhais segredos diante do povo. Sede verdadeiros, justos e fiéis em todas as palavras e ações, permane- cendo neste alvo, evitando a teimosia contra criaturas iluminadas por Deus — que o julgamento não virá e o Templo durará até o fim do mundo!

    2. Deus, o Senhor, não quer criaturas maquinais; deseja-as

como Filhos livres e independentes! Não necessita de vossas ofe- rendas e preces, quer apenas que O reconheçais em vossos corações, amando-O sobre tudo e vossos irmãos como a vós mesmos! Fazei-

-lhes aquilo que desejais que vos façam, assim tereis novamente a Graça Divina, sendo-Lhe agradáveis! Ele vos protegerá como uma leoa a seus filhotes, cuidando-vos como Seus Filhos!

    1. Podeis consegui-lo? — Oh, sim! Se tivésseis boa vontade; desta, porém, careceis, de sorte que falei, como todos os profetas e visionários, a corações e ouvidos surdos!”

28º CAPÍTULO

OMeninoJesusprovaqueoTemploetodoopaísnãomaispoderãosersalvos.AnovaArcaea“água maldita”

  1. Diz Joram: “Julgo este juízo um pouco precipitado! Pois, se Salomon estava certo quando afirmou que tudo no mundo é oco, talvez esta profecia Tua tivesse o mesmo efeito, dando-nos a possibi- lidade de pormos em prática o Teu Conselho! Vê, a maioria de nosso grêmio está a Teu favor, não obstante representarmos uma pequena minoria! Que Te parece?”

  1. Digo Eu: “Este fato já se deu por diversas vezes, mas a maio- ria sempre prevaleceu! No entanto, digo-te e a todos que pensam e agem como tu: mesmo que haja apenas um justo, ele não passará despercebido diante da Face de Deus!

  2. A maioria dentre vós encomendou uma nova Arca e um novo recipiente para a ‘água maldita’, jamais aconselhada pelos profetas, sendo a pior invenção desta época! Por que não renovastes vossos corações por uma justa penitência e não transformastes vosso mun- danismo em obras de verdadeiro amor ao próximo?!

  3. Realmente vos digo: A velha Arca, repleta do Espírito Divi- no, acha-Se diante de vós e vos diz, face a face, que a vossa nem um átomo Daquele Espírito contém, mas sim o exagero da mais nociva imaginação, nascido no vosso íntimo! A água maldita representa as lágrimas amargas que vertestes pelos prejuízos havidos em altos ne- gócios — e aqueles que vos denunciaram aos romanos foram captu- rados e obrigados a bebê-la.

  4. De ora em diante, porém, ela não terá mais efeito! Aliás foi determinado, em épocas passadas, que os traidores dos inimigos de Jehovah — como sendo os filisteus e outros pagãos maldosos — de- veriam beber a água pestilenta do Mar Morto. Caso a suportassem, seriam considerados inocentes; do contrário, entregues a seu destino horroroso, morrendo em consequência!

  5. Quantos milhares foram aniquilados por vossa água envene- nada, sem terem denunciado algo de divino aos pagãos?! Por que não a bebestes vós, porquanto destes secretamente oportunidade aos pa- gãos — naturalmente por dinheiro — a contemplar o Santíssimo?!

  6. Vede, isto e mais outras coisas se passam no Templo; sim, esta Casa de Deus sobre a terra tornou-se um antro de ladrões; não há crime que não tivesse sido praticado entre estas paredes! Julgais, aca- so, que ainda sirva de Morada para o Senhor? Realmente, não deveis lutar com a espada manchada com o sangue de vosso próximo; pois nela pousa uma maldição!

  7. Se quiserdes, podereis purificar vossos corações; este edifício

campo, um animal e um homem poderão se tornar impuros devido ao pecado mortal contra o Espírito Divino — por que isto não deve- ria acontecer com este Templo, onde já se praticaram piores crimes?!

  1. Digo-vos: Não só ele, mas sim o país todo, de há muito estão perdidamente impuros; por isto, serão em breve dominados pelos pagãos e passarão a ser moradia de salteadores e animais ferozes.

  2. Esclareci-vos acerca de Minha Opinião e podeis fazer o que vos agradar! Logo vos deixarei, nada mais falando a respeito, porque de nada adiantaria! Podeis, se quiserdes, modificar-vos; este Templo

29º CAPÍTULO

Perguntaambíguadosumosacerdote.Respostaseverado Menino Jesus.Barnabé pede esclarecimento sobreIsaíascap.54:4–9.Omotivodaseveridadedo Senhor

  1. Apresenta-se de novo o sumo sacerdote: “Dize-me, tu, semi- deus da Galileia: para onde irás que não mais te veremos? Penso que não será difícil eu tornar a ver-te em Nazareth para falar-te a respeito duma reorganização do Templo, uma vez que conheço bem teus pais e sendo possível que eu ou um colega visitemos aquela cidade de vez em quando!”

  2. Digo Eu: “Se teu coração tivesse tomado parte em tua per- gunta irônica, ter-te-ia dado uma resposta; como tal não se dá, não és digno de ouvi-la!

  3. Poderás ir à Nazareth uma ou mil vezes que não hás de Me ver e, muito menos, falar-Me. Pois saberei da tua chegada, de sorte que nem tu nem os servos do Templo poderão Me encontrar!

  4. Digo-te ser difícil procurar e achar Aquele Que é Onisciente! Achar-Me-eis quando o Espírito dentro de Mim o permitir! A não ser que sigais o Meu Conselho — então não vos farei esperar!”

  5. A isto, o sumo sacerdote nada mais diz, pois se aborrece por Eu não lhe dar atenção. Os outros, no entanto, regozijam-se com isto por ser ele um verdadeiro tirano!

  1. Diz-Me Barnabé: “Querido menino! Como interpretas os textos do 54º capítulo de Isaías? Referem-se ao consolo de Zion e constam:

  2. ‘Não temas, porque não serás envergonhada; não te enver- gonhes, porque não serás confundida; antes te esquecerás da tua mocidade e não te lembrarás do opróbio da tua viuvez.

  3. Porque o teu Criador é o teu marido, o Senhor Zebaoth é Seu Nome; e teu Salvador, o Santo de Israel, que será chamado Deus de toda a terra.

  4. Pois o Senhor te deixou desamparada e triste de coração, diz teu Deus.

  5. Por um pequeno momento te deixei; porém, com grande misericórdia te recolherei.

  6. Ocultei o Meu Semblante num momento de ira; com be- nignidade eterna, porém, compadecer-Me-ei de ti, diz o Senhor, teu Salvador.

  7. Porque isto será para Mim como as águas de Noé, quando jurei que não mais passariam sobre a terra. Assim também jurei que não mais Me enraivecerei, nem te repreenderei!’

  8. Vê, estes versículos me parecem mui favoráveis e consola- dores, não obstante Tuas Ameaças contra Jerusalém e o Templo! Se puderes aplicá-los à Tua Pessoa, acreditaremos que sejas o Messias Prometido, arrasando o Templo e construindo um novo no Mon- te Líbano!”

  9. Digo Eu: “Aquilo que se refere a Mim até à presente data era fácil de vos fazer compreender; o que, porém, diz respeito a Minha Ação futura, dificilmente por vós será assimilado!

  10. Pois a ‘virgem’ que não deve temer a sua vergonha porque não será confundida, devendo esquecer o opróbio de sua viuvez — não representa em absoluto Jerusalém e seu Templo.

  11. A ‘virgem’ ainda será por Mim feita, isto é, Minha nova Doutrina dos Céus para os homens; é virgem porquanto ainda não deturpada para fins mundanos por um sacerdócio egoísta e atrevido.

  1. Esta Minha futura Doutrina também será chamada, por al- gum tempo, viúva, pois Eu lhe serei tirado pela vossa ira e vingança, contudo pela Permissão Daquele, Que está dentro de Mim. Serei Eu o marido desta virgem e desta viúva, pois é Criação Minha, o que podereis ler na profecia bem como na Promessa.

  2. Virão épocas como Daniel as descreveu — nas quais se pra- ticarão abusos contra esta Doutrina Pura, suas filhas e netas. Não tomarão parte nas Minhas Promessas, e sim a dita ‘virgem’ emanada de Minha Boca.

  3. Vê, tudo acontecerá como vos acabo de dizer! Convosco e vosso Templo, jamais terei ligação. Vim para vos salvar, não sen- do, entretanto, por vós reconhecido. Procurar-Me-eis quando se vos apertar o sapato — Eu, porém, não vos reconhecerei, tampouco aceitarei! Compreendestes-Me?”

  4. Diz Barnabé: “Realmente, é preciso muita paciência para suportar-te; pois te tornas cada vez mais incompreensível e severo! Seja lá como for, daremos tempo ao tempo! Este caso é semelhante a um raio, que surge com grande estrondo, fazendo estremecer a terra! Em seguida, porém, tudo continua nas trevas!

  5. És, a teu modo, um fenômeno! Teus talentos poderiam ser aproveitados! Falta-te, entretanto, uma educação liberal, que, em conjunto com algo de humanismo, far-te-iam um homem como não haveria outro! Com tua aspereza, não farás grandes amizades! Se tuas forças aumentarem, serás temido por todos, sem conheceres o amor e o respeito! Eu, porém, prefiro ser amado por todos! — Qual tua opinião?”

  6. Digo Eu: “Terias razão se todas as criaturas fossem iguais! Como, no entanto, as há de tão diversas inclinações, sendo boas e perjuras, seria difícil para o justo e verdadeiro conseguir que todos o amassem! Seria necessário ser mau com os perversos, bom com os meigos, e isto é tão impossível como a pessoa ser uma espécie de luz que ao mesmo tempo produz as trevas!

  7. Digo-te: Os verdadeiros amigos da Verdade Imutável vinda de Deus amar-Me-ão sobre tudo; aqueles, porém, que pisam as Leis

Divinas, vivendo como se não houvesse Deus, terão motivo para Me temer! Sentirão que não gracejo, dando a cada um o que merece, pois somente Eu tenho o Poder Eterno para tal!”

  1. Diz Barnabé, sorrindo: “Mas, menino, que entendes por ‘eterno’, se contas apenas doze anos?! Exageras-te no teu zelo messiâni- co! Continua como simples menino, que teremos prazer em te ouvir!”

  2. Digo Eu: “Vai, que já te tornas repugnante! Acaso falo deste Meu Corpo, que aliás tem tão pouca idade?! Já não vos dei ontem um esclarecimento conciso da Eternidade do Meu Espírito?! Como te atreves a acusar-Me dum exagero messiânico?! Procura compre- ender algo antes de Me dirigir palavra sobre coisa que desconheces tanto quanto aos Polos da terra!”

30º CAPÍTULO

NicodemusperguntapelosPolosdaterra.RespostadoMeninoJesus.Pactodeamizadeentre ambos

  1. Levanta-se um outro ancião e diz: “Que sabes do tão distante Polo do Globo?! Relata-me alguma coisa a respeito, pois que ouvi algo dum grego muito viajado.”

  2. Digo Eu: “Sei não somente dos Polos da terra, mas dos Eter- nos Polos dos Céus de Deus! A fim de dar-te uma noção a respeito, necessitaria fazer-Me teu professor por mil anos! Isto, portanto, não é possível! Em compensação, digo-te outra coisa:

  3. Transmitirei o Meu Espírito àqueles que no futuro perma- necerem na Minha Doutrina, fazendo-os Meus Verdadeiros Filhos, conduzindo-os em toda a Verdade e Sabedoria, e nada lhes será ocul- to, tanto material como espiritualmente!

  4. Tornando-te um adepto, sorverás algo desta Dádiva do Espí- rito Divino e conhecerás melhor os Polos da terra!”

  5. O indagador se admira com Minhas Palavras e guarda-as em seu coração; não era muito idoso, porém um dos sábios entre os an- ciãos. Este título era dado, às vezes, a um jovem, quando possuidor de ouro e inteligência, sendo duas qualidades afins do ancião em

apreço. Chamava-se Nicodemus e foi, posteriormente, Meu adepto, como já é sabido por todos.

  1. Aproximando-se de Mim, dá-Me um caloroso aperto de mão e diz em surdina: “Querido menino milagroso! Se por acaso voltares algum dia a esta cidade, procura-me a sós, que com facilidade nos entenderemos! Teus pais, necessitando de algo, poderão procurar-

-me! Meu nome é Nicodemus!”

  1. Retribuindo-lhe a manifestação de amizade, digo: “Se fores a Nazareth, serás o único de todo o colégio que Me encontrará; e algo que careças — procura-Me, que te auxiliarei! Além disto, aceito tua boa vontade como ação!

  2. Sendo igualmente prefeito de Jerusalém, cuida que não sejam praticadas opressões dentro e fora do Templo por parte do sumo sacerdote, o qual não Me quis dar a devida honra! Pois tais injustiças obrigar-Me-iam a determinar o julgamento antes da época!

  3. Não Me esqueças! Meu Nome é JESUS EMANUEL e Meu Espírito Se chama JEHOVAH ZEBAOTH! Portanto, sabes a quan- tas andas! Confia em Mim, que não verás a morte!”

  4. Ouvindo estas palavras, o coração de Nicodemus se alegra; não deixa, porém, que seus colegas o percebam!

31º CAPÍTULO

Ojuizromanoencerraasessão.Suapergunta pelos

paisde Jesus

  1. Esfregando a testa, diz o romano em voz alta: “Ouvi-me mais uma vez: Após ter observado há três dias este menino milagroso, deduzo com facilidade ser Ele um Ser diferente de nós, pobres cria- turas desta terra!

  2. Pelo nascimento pertence Ele à raça judaica, sujeito tanto às leis do Templo como às nossas! Percebi, perfeitamente, que o Es- pírito Dele é a Base de todas as Leis, de todos os Estados, de todas as Instituições, bem como as da matéria e do espírito! É Ele a um só tempo um Juiz profundamente sábio e justo, não havendo um

átomo de maldade em Seu Ser! Que poderiam conseguir nossas leis com Ele, sendo Senhor sobre todas?!

  1. Por isto, elevo-O acima de tudo e declaro solenemente que este Templo é indigno de acolher Sua Santa Pessoa; sempre que de- sejar visitar a péssima Jerusalém, será recebido em meu palácio com as maiores honras que os mortais possam render ao Deus Único!

  2. O dia que tal bem-aventurança ocorrer em minha casa, ex- clamarei: ‘Ouvi, povos: sucedeu a Maior Graça a mim e ao Impera- dor de Roma!’

  3. Ele tirará a Graça de vós, judeus, entregando-a a nós, pa- gãos; sereis pisados por nossos calcanhares, e sobre esta zona serão espalhados pó e cinzas, porquanto vos deixais prezar e adorar quais deuses pelo povo seduzido!

  4. Falei-vos da minha convicção íntima e sou de opinião que suspendamos a sessão, uma vez que não é possível levar-vos a uma compreensão melhor! Para que fim dispersar palavras tão santifica- das a ouvidos surdos e corações endurecidos?!”

  5. Digo Eu: “Esperai mais alguns momentos até que cheguem os que estão há três dias à Minha Procura! Virão até aqui, pois sou- beram no albergue ‘Nazareth’ onde Me encontro. Voltarei com eles para casa, pois fisicamente devo permanecer com aqueles que esco- lhi dentro do Meu Coração!”

  6. Indaga o juiz: “Como, pois, seria possível que teus Pais Te perdessem? A meu ver, deveriam eles ter-Te seguido até aqui, e agora me lembro ter visto na entrada do auditório um homem idoso e res- peitável em companhia duma criatura jovem, com aparência beata. Afastaram-se com muitos outros após terem pago a pequena taxa, e não mais os vi; eles deviam saber que aqui Te encontravas!”

  7. Digo Eu: “Querido amigo, vê, isto é muito fácil: Eu assim o quis, porquanto estava na Minha Vontade e Ordem Eterna! Pois te digo: Esta cena foi por Mim prevista desde todo o sempre!

  8. Meus Pais esperariam por Mim no mencionado albergue, sabendo que Eu não os desencontraria. José, Meu pai de criação, ha- via encomendado algumas ferramentas com um ferreiro em Damas-

co; sabendo que iria demorar e acompanhado por Minha Mãe, que lhe ajudaria a carregar a encomenda, dera a vários parentes e alguns conhecidos nazarenos a incumbência de Me levarem até a próxima estação, evitando deste modo a caminhada de volta a Jerusalém.

  1. Dito e feito. Depois de uma certa demora, ambos encon- traram vários amigos e parentes em tal albergue — Eu, porém, não estava com eles. Supondo que Eu houvesse seguido caminho com outro grupo, procuraram-Me mais além, chegando à meia-noite em outra hospedaria. Lá, no entanto, também Eu não estava!

  2. Na manhã seguinte fizeram outra tentativa numa estação mais distante — nada! Então resolveram voltar aqui e, tendo ali che- gado, souberam do Meu Paradeiro; dentro em pouco, estarão aqui!”

  3. Diz o romano: “Oh, não permitirei que Te façam uma censura!”

  4. Digo Eu: “Ora, deixa que tudo aconteça conforme o profe- ta o predisse; entretanto, dar-lhes-ei Minha Opinião, que lhes será muito útil!”

  5. O sumo sacerdote fez menção de falar; o romano e Simon, no entanto, não o permitiram, declarando encerrada a sessão.

32º CAPÍTULO

ChegadadeJoséeMarianoTemplo.PerguntadosPaiserespostadoMeninoJesus.Palestracordialdo romano,

NicodemuseosPaisdeJesus.Nopaláciodoromano.Avoltaa Nazareth

  1. Neste momento Meus Pais entram no auditório, conduzidos por um servo do Templo, e se admiram intimamente de Me encon- trarem numa assembleia de tanta nobreza e sabedoria.

  2. O juiz logo lhes pergunta se sou filho deles.

  3. Eles o afirmam com visível satisfação. Maria — a fim de fazer valer um pouco sua dignidade materna — diz com uma voz cheia de meiguice: “Filho querido, por que nos fizeste isto? Há três dias estamos à Tua Procura!”

  1. Digo Eu: “Como é possível? Já vos havia falado em casa que faria aqui o que é da Vontade do Meu Pai Celestial!”

  2. Ambos se calam, gravando estas palavras no coração.

  3. A seguir o juiz lhes relata, com todas as minúcias, tudo que se passara Comigo nos últimos dias, Minhas Palavras e Ações e que to- dos se admiraram com Minha Sabedoria e Poder de Vontade, tanto que ele, um dos mais altos dignitários de Roma em Jerusalém, muito se afeiçoara a Mim, oferecendo-se para qualquer privilégio.

  4. José lhe agradece com sinceridade, recomendando seus prés- timos como carpinteiro e arquiteto, recebendo a incumbência de várias construções, inclusive a dum novo assento para sua função de juiz, o que lhe deu muito dinheiro.

  5. Do mesmo modo, o riquíssimo Simon de Bethânia assegura José de sua amizade incondicional e logo após nos aprontamos para a partida.

  6. Os templários se curvam diante do romano e se afastam, com exceção de Nicodemus. Este nos acompanha até ao palácio do juiz, que fez questão de hospedar-nos por esta noite, tratando-nos com toda atenção. A seu pedido, abençoo sua esposa e seus filhos e ele, então, diz:

  7. “Só agora sucedeu uma grande Graça e Honra à minha casa, pois o Senhor de todos os senhores, o Rei e Imperador de todos os potentados visitou e abençoou todos os meus!”

  8. Compreende-se que Meus Pais se comovessem com isto, jamais se esquecendo deste momento!

  9. Após isto fomos conduzidos à sala de refeição, onde nos espera um ótimo jantar, que muito beneficiou Meus Pais, cansados e famintos.

  10. Durante o banquete, Maria teve que relatar todos os fatos referentes à Minha Concepção e Nascimento e outras passagens de Minha Infância, que entusiasmam constantemente o romano, excla- mando sempre:

  11. “E isto tudo é conhecido pelos fariseus — entretanto não lhe dão crédito!?”

  1. Em seguida nos recolhemos; no dia seguinte, o romano nos aprontou uma condução cômoda para Nazareth e muniu José de uma boa importância para a viagem. Simon nos acompanhou até à Galileia, onde tinha negócios a resolver. Deste modo chegamos bem à casa, e com isto termina a polêmica no Templo.

  2. É sabido que até a idade de trinta anos pouco demonstrei de Minha Divindade e termino esta única e verdadeira Comunica- ção acerca dos três dias no Templo. Feliz aquele que lhe dá crédito e não se aborrece! Pois, assimilando-a com o coração, receberá grandes Bênçãos! Isto digo Eu, o Senhor!

  3. Amém, Amém, Amém!

Fim!

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