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A CRIAÇÃO DE DEUS

Volume II

A CRIAÇÃO DE DEUS — 3 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2023

ÍNDICE

  1. AMOR E BÊNÇÃO DO PAI COMO PROVA DE SUA PRESENÇA ESPIRITUAL 17

  2. A MÁXIMA PREOCUPAÇÃO SE PRENDE À CONQUISTA DO AMOR E DA GRAÇA DO PAI 17

  3. UNIÃO DE GEMELA E LAMECH 19

  4. LAMECH E GEMELA, O CASAL MAIS PURO DOS PRIMÓRDIOS 21

  5. UNIÃO DE MAIS QUATRO CASAIS 22

  6. ZURIEL, PROTETOR DOS RECÉM-CASADOS 24

  7. O PREPARO DE FERRO E AÇO 27

  8. O ENVIO DE DEZ MENSAGEIROS PARA HANOCH 29

  9. PRÊMIO DA HUMILDADE 31

  10. JEHOVAH COMO HOMEM 32

  11. A VERDADEIRA HUMILDADE 34

  12. LIMITES DO GUIA 36

  13. PRESTÍGIO DE UM GUIA 38

  14. O PESO DE UM GUIA E AS FRAQUEZAS DOS HOMENS 39

  15. DESOBEDIÊNCIA POR AMOR 41

  16. URANION, SEUS SEIS IRMÃOS E OS FILHOS DO SUL 42

  17. URANION E PURISTA, JUNTOS DE ADÃO E EVA 43

  18. URANION PERGUNTA PELO NOME DO HOMEM MILAGROSO. PURISTA RESPONDE COM INTELIGÊNCIA ÀS SUAS INDAGAÇÕES 44

  19. IMPORTANTE PERGUNTA DE ABEDAM 46

  20. PURISTA E SUA FAMÍLIA RECONHECEM O SANTO PAI EM ABEDAM 48

  21. SOMENTE A CONTRIÇÃO SILENCIOSA É DO AGRADO DE DEUS 49

  22. PURISTA, A PRIMEIRA PREPARADORA DE ALIMENTOS DO SENHOR 50

  23. A BELEZA SOBRENATURAL DE GEMELA E PURISTA 52

  24. HENOCH RECALCA SUA ELOQUÊNCIA POR FALSA HUMILDADE. DEUS

SÓ PODE SER AMADO COMO HOMEM 54

  1. A ONIPOTÊNCIA DE DEUS E O PODER DE SATANÁS 55

  2. HENOCH, O PRIMEIRO PREGADOR. HORED E NOÊMIA 61

  3. SALVAÇÃO DE HORED E NOÊMIA 63

  4. O INCÊNDIO DA FLORESTA 65

  5. PRESUNÇÃO DE SATANÁS 66

  6. PERGUNTA DIRIGIDA POR ABEDAM A HORED E NOÊMIA 67

  7. PUNIÇÃO DE HORED PELO SEU CIÚME DE ABEDAM 69

  8. ABEDAM, HOMEM E DEUS AO MESMO TEMPO 71

  9. CONFISSÃO E NOVO ENGANO DE HORED 73

  10. A MISSÃO DA MULHER 74

  11. RECOLHIMENTO DE HORED 76

  12. O MILAGRE SONORO DA GRUTA 77

  13. CONJECTURAS E REMORSO DE HORED 79

  14. ABEDAM E HORED 80

  15. A CEIA DE SÁBADO NA COLINA 81

  16. A INFINIDADE DE GRAUS EVOLUTIVOS NA CRIAÇÃO 82

  17. O SENHOR REPROVA O AMOR PRÓPRIO DE ADÃO 84

  18. ADVERTÊNCIA FEITA POR PARIOL A ADÃO 85

  19. CONFISSÃO, REMORSO E REGENERAÇÃO DE ADÃO 86

  20. O PAI E O JUIZ NA NATUREZA DE ABEDAM 88

  21. A PERMISSÃO DE AMAR O SENHOR CONSTITUI O MAIOR PRÊMIO DA CRIATURA 89

  22. A NATUREZA DE DEUS E DA VIDA 90

  23. HUMILHAÇÃO DOS MENSAGEIROS INDISCRETOS 92

  24. O GRANDE AMOR DE GARBIEL POR ABEDAM 94

  25. ABEDAM REVELA A VERDADEIRA INTENÇÃO DOS MENSAGEIROS 95

  26. ONISCIÊNCIA E SABEDORIA DO FORASTEIRO 96

  27. ABEDAM FALA SOBRE A LUZ 98

  28. CRITÉRIO DE GARBIEL SOBRE O SENTIDO PATERNAL DO DISCURSO DE ABEDAM 99

  29. PALESTRA ENTRE BESEDIEL E GARBIEL 101

  30. DEFEITO DE FALA DE SETH É CURADO POR ABEDAM 102

  31. ABEDAM FALA SOBRE O EXAGERO DA GRATIDÃO 103

  32. DIFERENÇA ENTRE A LUZ DO INTELECTO E A LUZ DO CORAÇÃO 104

  33. INTROSPECÇÃO DE GARBIEL 106

  34. VISÃO DE VRATAH SOBRE A NATUREZA DA ESCRITA 108

  35. VISÃO DE SEHEL COM RELAÇÃO AO DILÚVIO 109

  36. JUSTIFICATIVA DA CURIOSIDADE. VERDADE, ALIMENTO DO ESPÍRITO. AMOR, BASE DE TODAS AS VERDADES 111

  37. TROPEÇÃO DE SEHEL. ABEDAM TESTEMUNHA A RESPEITO DE SEHEL 113

  38. TRANSFIGURAÇÃO DE SEHEL 115

  39. A HUMILDADE É A MAIOR GLORIFICAÇÃO DO HOMEM 117

  40. A VOZ INTERNA DA CRIATURA 118

  41. HORIDAEL, NOMEADO PARA LIVRE INTERPRETADOR DOS SINAIS 120

  42. A VERDADEIRA ADORAÇÃO DE DEUS E A JUSTA CARIDADE 121

  43. A VISÃO DE PURAL 123

  44. ADVERTÊNCIA DE ABEDAM FEITA A PURAL 124

  45. EFEITO DA REPRIMENDA DIRIGIDA A PURAL 126

  46. A VISÃO DE JURIBAEL 127

  47. EXPLICAÇÃO DA VISÃO DE JURIBAEL 129

  48. A VISÃO DE OALIM 130

  49. A INFINITA VARIEDADE DA INDIVIDUALIDADE ESPIRITUAL 131

  50. A IMPORTÂNCIA DA CONFIRMAÇÃO DA DOUTRINA ATRAVÉS DO TESTEMUNHO DO ESPÍRITO 133

  51. A VISÃO DE TUARIM: SUA PROVA DE AMOR 135

  52. A GRANDE LUTA ENTRE INTELECTO E SENTIMENTO 137

  53. DIRETRIZES PARA A CONQUISTA DA PALAVRA VIVA 139

  54. A VISÃO DO GIGANTE RUDOMIN 140

  55. PREPARAÇÃO DE RUDOMIN PARA PROFETA 142

  56. FILHOS DE DEUS COMO DEUSES 144

  57. CHAMADA DE HOREDON 145

  58. DIGNIDADE E GRANDIOSIDADE DA FILIAÇÃO DIVINA 146

  59. A FILIAÇÃO DIVINA É MAIS ELEVADA QUE A FRATERNIDADE E A SERVILIDADE PARA COM DEUS 148

  60. JORIAS, O DÉCIMO VISIONÁRIO 149

  61. NOVA UNIÃO ENTRE O PAI E OS FILHOS 151

  62. O UNIVERSO DENTRO DA CRIATURA 153

  63. JORIAS FALA SOBRE O AMOR 154

  64. O SENHOR UNE JORIAS E BESELA, FILHA DE PARIOL 155

  65. DIRETRIZES PARA OS RECÉM-CASADOS 157

  66. HUMILHAÇÃO DE GARBIEL 159

  67. O SOL FICTÍCIO. ABORRECIMENTO E MALDIÇÃO DE ADÃO 160

  68. TEMPESTADE NO CUME. A BÊNÇÃO DO SENHOR 162

  69. PROMESSA DE ENCARNAÇÃO DO SENHOR 163

  70. GRATIDÃO DE SETH 165

  71. ADÃO É ADMOESTADO PELO SENHOR 166

  72. AS PAVOROSAS APARIÇÕES DURANTE O DESJEJUM 167

  73. GARBIEL E BESEDIEL SÃO CONVOCADOS PARA ESCREVEREM DOIS LIVROS: “AS GUERRAS DE JEHOVAH” E “O AMOR E A SABEDORIA DE

JEHOVAH” 169

  1. CRUELDADES PRATICADAS NO SUL PELOS FILHOS DAS PLANÍCIES 170

  2. O EXÉRCITO DAS PLANÍCIES 172

  3. AMOR E GRAÇA DIVINOS DIRIGIDOS A HORADAL, CHEFE DAS PLANÍCIES 173 101. HENOCH ORIENTA HORADAL E SEU EXÉRCITO 175

  1. OS HABITANTES DAS PLANÍCIES, PRISIONEIROS DA GRAÇA E

MISERICÓRDIA DIVINAS 176

  1. DUPLA PERSONALIDADE DE SETH 178

  2. AMAR QUER DIZER: VIVER EM ESPÍRITO 179

  3. ADÃO FALA A RESPEITO DA NATUREZA DE SATANÁS E DO AMOR AO

SEXO 180

  1. EXCEÇÃO PARA A POLIGAMIA 182

  2. SEGREDO E RELATO DE HORADAL 183

  3. PREJUÍZO DA MALDIÇÃO E DA IRA 185

  4. HORADAL RECEBE TRÊS GRAÇAS DIVINAS 186

  5. DESPEDIDA DE HORADAL E SEU POVO 187

  6. AS CRUELDADES EM HANOCH 188

  7. EFEITO DE MALDIÇÃO E BÊNÇÃO 190

  8. TOLICE DO DESESPERO DE ADÃO 191

  9. VISÃO DE ADÃO: A MULHER NO SOL PISOTEANDO A CABEÇA DA

SERPENTE 192

  1. ADÃO LOUVA A MISERICÓRDIA DE DEUS 194

  2. A CURIOSIDADE DE PURA COM RELAÇÃO À PESSOA DE ABEDAM 195

  3. PURA, NOS BRAÇOS DE ABEDAM, PROCURA O ALTÍSSIMO 196

  4. A BÊNÇÃO DA GRATIDÃO 197

  5. OS CELEIROS REPLETOS COMO FRUTO DA CONFIANÇA DE SETH 197

  6. O SENHOR COMO DEUS E PAI 198

  7. EMPECILHOS E LIMITAÇÕES DA VIDA 199

  8. O SENHOR FAZ UMA PROMESSA A PURA 201

  9. O MILAGRE DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR. O ESPÍRITO DE PURA, ENCARNADO EM MARIA 202

  10. O MISTÉRIO DA CONSTANTE DESTRUIÇÃO NO REINO DA NATUREZA 203

  11. ALEGRIA DE VIVER COMO A MELHOR EXPRESSÃO DE GRATIDÃO AO CRIADOR 205

  12. FINALIDADE DA VIDA TERRENA 205

  13. O PREGUIÇOSO ENOS LOUVA O NÃO-SER 207

  14. EFEITO DA NEGAÇÃO DE ENOS 208

  15. CANÇÃO DA VIDA, DE KENAN 209

  16. NATUREZA DA VIDA E DA MORTE 210

  17. MEDO DA MORTE DOS QUE NEGAM A VIDA 211

  18. O ENGANO DA EFEMERIDADE DAS COISAS 212

  19. A NATUREZA DA TRÍPLICE GERAÇÃO 213

  20. UM EVANGELHO PARA O PALRADOR E O RETÓRICO 215

  21. FECUNDAÇÃO ORDENADA E FECUNDAÇÃO DESORDENADA 216

  22. LÁGRIMAS DE ALEGRIA SÃO MAIS AGRADÁVEIS AO SENHOR DO QUE

AS DO REMORSO 218

  1. O AMOR, SALVADOR DO JUGO CARNAL E DA MORTE 219

  2. DISCORDÂNCIA ENTRE O INFINITO DIVINO E A FORMA FINITA DE

ABEDAM 220

  1. ABEDAM ESCLARECE DÚVIDAS SOBRE A INDIVIDUALIDADE INFINITA E FINITA DE DEUS 222

  2. PROVA DE AMOR DE PURA 224

  3. SUBMISSÃO E HUMILDADE DE PURA 225

  4. VÁRIAS DIRETRIZES DE ABEDAM E SUA DESPEDIDA 226

  5. TERÇA-FEIRA, DIA DE CONTENDA 227

  6. HENOCH JUSTIFICA O OFÍCIO DE PROFETA 228

  7. CHEGADA DE DOIS MENSAGEIROS 230

  8. FINALIDADE ELEVADA DO FORASTEIRO 230

  9. NATUREZA DO HOMEM EM JULGAMENTO E DO HOMEM LIVRE 231

  10. PROSSEGUIMENTO DA DISCUSSÃO 232

  11. O OFÍCIO COMO HUMILHAÇÃO PERANTE DEUS E O MUNDO 233

  12. HUMILHAÇÃO POR PARTE DO FORASTEIRO 234

  13. FÉ CEGA E FÉ AUTORITÁRIA — UM JULGAMENTO 236

  14. PARÁBOLA DOS SACIADOS E DOS FAMINTOS 238

  15. PRESSENTIMENTO DE ABEDAM 239

  16. PALESTRA DE HENOCH COM O OUTRO ESTRANHO 240

  17. ADÃO EXPULSA O FORASTEIRO QUE SE REVELA COMO O PRÓPRIO

SENHOR 242

  1. O PAI FALA SOBRE PATERNIDADE E FILIAÇÃO 243

  2. TENTATIVA FRUSTADA DE SATANÁS DE DISCUTIR COM O SENHOR 245

  3. ASTÚCIA E MALDADE DE SATANÁS 246

  4. INCUMBÊNCIA DE ABEL. PERIGO DA SENSUALIDADE 248

  5. HENOCH, APARENTE NEGADOR DE DEUS 250

  6. HENOCH ACONSELHA PESQUISA CONSTANTE DA VERDADE E DO CONHECIMENTO DE DEUS 251

  7. CONJECTURAS DOS CÉTICOS 252

  8. DISCUSSÃO ENTRE HENOCH E OS CONTENDORES 253

  9. A SABEDORIA COMO FRUTO DE UM CORAÇÃO VIVO 254

  10. A TRÍPLICE NATUREZA DE ABEDAM, O SUBLIME, E DE HENOCH, INSTRUMENTO DO SENHOR 256

  11. DIFERENÇA ENTRE PRUDÊNCIA RACIONAL E SABEDORIA PROVINDA

DO CORAÇÃO 257

  1. A PALAVRA DIVINA, COMO ÁGUA VIVA 259

  2. SABEDORIA E AMOR, CAMINHO LONGO E CURTO PARA QUEM

PROCURA DEUS 260

  1. O AMOR, COMO VERDADEIRO SACRIFÍCIO A DEUS. O SENHOR SE

AUSENTA DE NOVO 261

  1. TOLO DESEJO DE ADÃO E RESPOSTA DE HENOCH 262

  2. MILAGROSO SUPRIMENTO DAS DESPENSAS DE SETH 264

  3. A PRIMEIRA IGREJA NA TERRA 265

  4. A TERCEIRA ESCADA NO PALÁCIO DE LAMECH 266

  5. MILAGROSA SALVAÇÃO DAS MOÇAS DA PRIMEIRA E SEGUNDA

ESCADAS 268

  1. OS TRÊS MENSAGEIROS PENETRAM NOS APOSENTOS DE LAMECH 269

  2. LAMECH SE SUBMETE À OBEDIÊNCIA 271

  3. LAMECH E SUA GUARDA SÃO LEVADOS À PRAÇA DE JULGAMENTO 272

  4. JULGAMENTO DE FOGO SOBRE AS CONCUBINAS DE LAMECH 273

  5. LAMECH É SUBMETIDO À EXAME E HUMILHAÇÃO 274

  6. TEIMOSIA DE LAMECH 276

  7. INVOLUNTÁRIO ISOLAMENTO DE LAMECH 277

  8. A IMPORTÂNCIA DA PACIÊNCIA 278

  9. O PODER DA PRECE 279

  10. LAMECH DESEJA LIMPAR A PEDRA 281

  11. REMORSO E AMOR TRANSFORMAM O DETRITO EM OURO PURO 282

  12. CONSTRUÇÃO DE UM TEMPLO PARA GUARDAR A PEDRA SAGRADA 283

  13. OS FILHOS DESOBEDIENTES DE LAMECH 285

  14. LAMECH APRENDE O PREPARO DO OURO. CONVOCAÇÃO DE TUBALKAIN 285

  15. O DESTINO DA MULHER 286

  16. POLÊMICA ENTRE KISEHEL E TUBALKAIN 288

  17. TUBALKAIN É EDUCADO POR KISEHEL 289

  18. KISEHEL REVELA A ASTÚCIA DE TUBALKAIN 290

  19. ARREPENDIMENTO E LIBERTAÇÃO DE TUBALKAIN 291

  20. PRECE DE TUBALKAIN E KISEHEL. A VOZ PATERNAL, DO ALTO 292

  21. ENTRADA À RESIDÊNCIA DE LAMECH 293

  22. A VERDADE COMO SALVADORA 294

  23. O FOGO PURIFICADOR DO AMOR 295

  24. CONFISSÃO HUMILDE DE LAMECH 297

  25. TENTAÇÃO E DÚVIDA DE LAMECH E TUBALKAIN 298

  26. NOÊMIA É DESMASCARADA 300

  27. FRATERNIDADE E IGUALDADE ENTRE OS HOMENS 301

  28. NÚPCIAS DE TUBALKAIN 302

  29. TUMULTO NA CIDADE 303

  30. A LUTA CONTRA OS REBELDES 304

  31. AS TENTAÇÕES DA CRIATURA 305

  32. O LIVRE ARBÍTRIO DO HOMEM 306

  33. A HUMILDADE COMO INÍCIO DO PURO AMOR 308

  34. KISEHEL PROVA A EXISTÊNCIA DE SATANÁS 309

  35. A ATIVIDADE COMO MEIO DE CONSERVAÇÃO E FORTALECIMENTO DA VIDA 310

  36. VISÃO DE MURA, O CONSTRUTOR 311

  37. MURA ANSEIA PELA VERDADE 312

  38. CINCO EMISSÁRIOS SÃO ENVIADOS A OUTRAS CIDADES 313

  39. LIMPEZA DO MONTE DAS SERPENTES 313

  40. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DA LIMPEZA DO MONTE 315

  41. RELAÇÃO ENTRE FÉ E AMOR, E ENTRE O AMOR E O CONHECIMENTO. PARÁBOLA DA JOVEM E DOS DOIS PRETENDENTES 316

  42. O AMOR, JUSTO CAMINHO PARA DEUS 318

  43. DISCURSO MARAVILHOSO DO ANCIÃO 320

  44. AMOR INFLAMADO DE LAMECH 321

  45. HENOCH FALA SOBRE O AMOR 322

  46. FINALIDADE DO HOMEM 323

  47. CONCLUSÃO DO TEMPLO DO SENHOR 324

  48. HENOCH FALA ACERCA DO CASAMENTO ENTRE PARENTES 326

  49. A VOZ DO SENHOR E O NOVO HÓSPEDE 327

  50. A CONVERSÃO DE LAMECH COMO PROVA DO PODER DO AMOR DE

DEUS 329

  1. DISCURSO DO JOVEM PARA O POVO 330

  2. O SENHOR É A PORTA E A CHAVE 331

  3. LAMECH É NOMEADO PARA SACERDOTE DE SEU POVO 333

  4. A VERDADEIRA VENERAÇÃO DE DEUS 334

  5. AS AÇÕES DO AMOR PURO SE JUSTIFICAM PERANTE O SENHOR 335

  6. O JULGAMENTO DENTRO DA LEI E A LIBERDADE NO AMOR 336

  7. LAMECH TEME A IRA DIVINA 338

  8. O JUSTO AMOR PARA COM DEUS 339

  9. LAMECH PERGUNTA PELOS FILHOS JUBAL E JABAL 340

  10. LAMECH NÃO CONSEGUE CARREGAR A PESADA PEDRA 341

  11. RAZÃO PELA QUAL O HOMEM NÃO CONSEGUE CUMPRIR UMA LEI EM

SUA TOTALIDADE 342

  1. AMOR E PACIÊNCIA, ÚNICAS CHAVES PARA RESOLVER OS EMPECILHOS 343

  2. ALEGRIA E BEM-AVENTURANÇA, COMO FINALIDADE DA CRIATURA 344

  3. SUNTUOSIDADE INTERNA DO TEMPLO 345

  4. FINALIDADE DA ORDEM DO TEMPLO 347

  5. O SENHOR EXPLICA A ORDEM DO ALTAR E DESAPARECE DE NOVO 348

  6. A NATUREZA DO AMOR 350

  7. INSTRUÇÕES PARA O EXAME DOS VISITANTES DO TEMPLO 351

  8. A INTERPRETAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DO TEMPLO 352

  9. LAMECH SEGUE O BOM CONSELHO DE HENOCH 353

  10. ADVERTÊNCIA PARA A MODERAÇÃO 354

  11. LAMECH ORDENA UM BANQUETE FRATERNAL 355

  12. DISCUSSÃO PELO ATRASO DO BANQUETE. INTERPRETAÇÃO

ESPIRITUAL DO TEMPLO 356

  1. CAUSA DO MAL NO CORAÇÃO HUMANO 357

  2. O SENHOR SE APRESENTA COMO POBRE 358

  3. A ONIPOTÊNCIA DIVINA E A POBREZA DO PAI 360

  4. ENCARNAÇÃO E SACRIFÍCIO DO SENHOR 362

  5. JESUS, O VERBO ENCARNADO 363

  6. OPINIÕES DIVERSAS ACERCA DO MISTERIOSO POBRE 365

  7. CONSELHO DO SENHOR E DISCURSO DE LAMECH 365

  8. PALAVRAS DE RIGOR DO SENHOR 367

  9. OPINIÃO ERRADA DOS REBELDES ACERCA DE DEUS 368

  10. AMOR HUMILDE PARA COM DEUS, ÚNICO CAMINHO PARA A LUZ 369

  11. UM CÉTICO RECONHECE NO POBRE O PAI 371

  12. AS CAUSAS DAS NOÇÕES DIFERENTES ACERCA DE DEUS 372

  13. CEGUEIRA DO INTELECTUAL 374

  14. INUTILIDADE DO CAMINHO RACIONAL PARA SE CHEGAR À LUZ 376

  15. O CÉTICO EM PALESTRA COM OS AMIGOS 377

  16. O CÉTICO A CAMINHO DO CONHECIMENTO DO SENHOR 378

  17. TEMOR DO CONVERTIDO TERAD 380

  18. MISSÃO ESPIRITUAL DA TERRA 381

  19. TERAD NOMEADO CHEFE DA GUARDA DO ÁTRIO DO TEMPLO 382

  20. RESPOSTA DO SENHOR DIRIGIDA AOS INVEJOSOS 383

  21. O TEMPLO NO MONTE DAS SERPENTES. O SENHOR DESAPARECE DE

NOVO 385

  1. A VISÃO ESPIRITUAL. A VOZ DO SENHOR NO CORAÇÃO HUMANO. ADVERTÊNCIA DIANTE DOS FALSOS PROFETAS 386

  2. A PRECE SILENCIOSA 387

  3. ORAÇÃO MATINAL E OFERENDA NO MONTE DAS SERPENTES 388

  4. PALAVRAS DE DESPEDIDA DE HENOCH E SEU DESAPARECIMENTO 389

  5. AVENTURA COM O DRAGÃO 391

  6. CONTROVÉRSIA ENTRE HENOCH E O DRAGÃO 393

  7. MOTIVOS DA TENTAÇÃO 396

  8. KISEHEL TEME O SENHOR 398

  9. ENCONTRO DE PURA E NOÊMIA COM O FORASTEIRO DO SUL 399

  10. O FORASTEIRO EM PALESTRA COM PURA, NOÊMIA E GEMELA NO

MONTE DA GERAÇÃO 400

  1. CENA DE AMOR ENTRE O SENHOR E GEMELA 402

  2. TRANSFIGURAÇÃO DE SEHEL 404

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor

Cenas Admiráveis da Vida de Jesus – 2 volumes

Sol Natural

A CRIAÇÃO DE DEUS

Volume II

    1. AMOREBÊNÇÃODOPAICOMOPROVADESUAPRESENÇA ESPIRITUAL

  1. Em seguida Abedam pergunta: “Quem surgirá quando necessitar- des de Forças e Poderes superiores? Quem poderia se apresentar em Meu Nome a fim de vos proteger contra todo o mal e afastar de vosso coração as perseguições do mundo, se ninguém possui poder e força como Minha herança e proteção contra todas as investidas da serpente?”

  2. Todos respondem em uníssono: “Ó Abba, Tuas Palavras tradu- zem puro amor e ainda que nossos olhos físicos não tenham mais a imensa Graça de ver Tua Pessoa, por certo não hás de levar Contigo o Amor Paternal que nos suprirá de novo. Por isto Te pedimos que não retires Tua Mão abençoada, dando-nos poder e força suficientes para vencermos o mundo.”

  3. Emocionado, Abedam retruca: “Realmente, se ficardes em Meu Amor tereis ganho o maior tesouro que nada e ninguém vos poderá tirar. Assim, continuarei convosco no Amor, hoje e sempre.”

2.AMÁXIMAPREOCUPAÇÃOSEPRENDEÀCONQUISTADOAMOREDAGRAÇADO PAI

  1. Cientes de que esta promessa lhes traria a verdadeira Vida, Força e Poder para vencerem todos os obstáculos, os patriarcas aspiravam este dom acima de tudo e o exemplo dentro de tais normas representava a

única escola e dever. Assim, até mesmo os filhos entre seis e dez anos eram muito mais compreensíveis e sábios que hoje em dia os maiores intelec- tuais, mais ignorantes que as criancinhas alimentadas com leite materno.

  1. Que diferença existia entre a mulher daqueles tempos e a de hoje! Entre sete mil não há uma que não pratique cem pecados mor- tais em apenas um segundo por meio de sua vaidade e presunção. Não pretendo analisar suas roupas; digo apenas que nos tempos mais per- vertidos de Hanoch as prostitutas se vestiam mais discretamente, pro- curando ocultar o que pudesse despertar a volúpia.

  2. Hoje em dia, uma menina de dez anos já conhece seus atrativos que estuda diante do espelho, e quando cresce e nota suas formas ten- tadoras, deseja até mesmo reduzir ao máximo as suas vestes caso isto se enquadre dentro da moda e o policiamento o permita. Mas, aquilo que não ousa fazer, ela o faz intimamente, procurando seduzir os homens.

  3. A mulher de hoje é pior que cem mil dos piores demônios no inferno que fogem diante de Meu Nome. Mas ela se ri de Mim e não se curva diante de Mim, muito menos diante de Meu Nome, perante o Qual todos os Céus, mundos e infernos se curvam. Para ela seria me- lhor se fosse obsedada por milhares de demônios dos quais poderia ser liberta através do Poder de Meu Nome.

  4. Procurai pronunciá-Lo frente a tal criatura durante dez anos, que não desistirá de seu impudor, orgulho, vaidade e sedução. Julgais que tal criatura irá para o pior dos infernos? De maneira alguma, pois seria ainda bom demais. Todos os demônios fogem de Meu Nome e têm que se prosternar diante de um anjo punidor. Porventura ela o faria?

  5. Quando terminar sua existência pecaminosa sem se regenerar e apresentar frutos da mais sincera penitência, há de sentir a infinita plenitude de Minha Ira.

  6. Gemela querida, vê que diferença existe entre ti e as mulheres deste tempo; é um abismo que separa dois Infinitos! Tu repousas em Meu Coração. Elas tanto se distanciaram de Mim que Minha Mão tão Poderosa não as poderá alcançar. Distanciaram-se para um segundo In- finito que comporta a mais amarga Ira. Basta deste assunto, pois pode- ria irar-Me antes do tempo. Voltemos para a era original.

  1. Jamais abandonarei Meus filhos escolhidos. Enquanto vossos corações estiverem voltados para Mim, estarei Presente com Meu Amor à medida de vosso amor para Comigo e vossos irmãos. Os de corações em chama hão de Me ver, mormente se os tiverem mantido puros des- de o início de sua existência, sem se deixarem seduzir pelo mundo. Guardai no coração esta promessa. Deveis continuar com todo poder e força, razão porque o mundo da Natureza vos será submisso. Tão logo vos afastardes desta promessa, a força diminuirá, e Eu me tornarei cada vez mais estranho e não ouvirei vossas súplicas. Considerai bem Quem ora Se dirige para vós.

3.UNIÃODEGEMELAE LAMECH

  1. Em seguida, o sublime Abedam apresenta Lamech a Gemela e diz: “Minha querida, este homem se chama Lamech e é como tu cheio de amor para Comigo. Desejo entregá-lo a ti, pois sei que não te tocará antes que isto seja de Minha Vontade. Não precisas temer algo, porque é tão casto e puro no coração como tu. Não alimenta desejos referentes à tua pessoa e também procura fugir de ti, pois ambos só consideram o amor para Comigo. Ele se assemelha em tudo a ti e também chorou no Meu Peito as lágrimas do amor mais profundo. Muito embora ainda jovem, é detentor da máxima sabedoria que uma criatura livre poderia usufruir, e também possui grande poder e força como efeito do seu sen- timento profundo para Mim. Se quiseres convencer-te disto, faze-lhe qualquer pergunta para tal fim.”

  2. Com grande receio de Lamech, Gemela não se atreve a fitá-lo e diz para Abedam: “Meu adorável Jehovah, não consigo formular algo, pois sinto tremendo pavor diante dele. Se devo obedecer-Te, é preciso que me libertes deste pavor, caso for de Tua Vontade.”

  3. Com delicadeza Abedam a toca e diz: “Gemela, alma pura, que- ro que suceda segundo o teu amor para Comigo.” Livre de seu temor, Gemela se dirige para Lamech: “Poderias, ao lado de teu amor para com Jehovah, amar uma pobre moça que não chega aos teus pés devido à tua grandeza original? De minha parte, só posso amar o meu Jehovah e,

partindo Dele, todo o resto à medida que se enquadra em Seu Amor e Misericórdia, servindo-me para guia junto Dele. Que Me dizes?”

  1. Atirando-se ao Peito de Abedam, Lamech exclama: “Perdoa-me, Senhor, meu coração é tão repleto de amor para Ti a ser incapaz de qual- quer outro sentimento. Porventura cometi um pecado porque preten- des punir-me? Seja quem for esta moça Gemela, nunca a desejei nem a outra qualquer. Sê misericordioso caso tenha errado e absolve-me desta punição; além disto, permite que eu silencie sobre a pergunta, embora de desejo puríssimo, manifestado por uma boca desconhecida.”

  2. Retruca Abedam: “Lamech, és um homem estranho; teu amor supera tua confiança, pois esta não está de acordo com teu sentimento tão profundo. Como pode ocorrer-te que Eu pudesse aplicar-te um castigo através de um prêmio celeste? Serias capaz disto com relação a um estranho? Como então te lembras de tal possibilidade em virtude de simples fraqueza de tua confiança? Como poderia se tornar um castigo para ti aquela filha pura de Zuriel que foi carregada por Minhas Mãos, portanto é merecedora de Meu Amor? Digo-te isto para que consideres o valor de uma dádiva que recebes de Minha Mão.

  3. Gemela nunca dedicou seu afeto a outro homem a não ser ao genitor, razão por que foi tomada de grande pavor ao ouvir o teu nome e ver tua figura. Quando a convidei a fazer-te uma pergunta, ela estre- meceu dos pés à cabeça, pois sabia que Me devia obediência e por isto pediu forças para tanto. Não o percebeste? Como podes considerar a Minha Vontade um castigo? Se Eu não te conhecesse na pureza e no grande amor para Comigo, terias perdido este prêmio. A chama pura de teu amor é uma justificativa para tua atitude, por isto não tens culpa perante Mim, mas perante Gemela, ainda que pequena. Dá-lhe o que pediu, através de Minha Vontade, para apagares tua culpa.”

  4. Reconhecendo o seu erro, Lamech pede perdão a Gemela decla- rando o seu amor puro para com ela, emocionando os presentes. Com isto, ela tornou-se sua esposa única, mas ambos continuaram castos até bem mais tarde quando Lamech, com cento e oitenta e dois anos, gerou Noé, com Minha Ordem. Este matrimônio foi celebrado no Céu e deveria ser imitado para sempre.

4.LAMECHEGEMELA,OCASALMAISPURODOS PRIMÓRDIOS

  1. Lamech insiste em expressar sua imensa gratidão a Abedam, di- zendo: “Ó Abba Abedam! Sempre observaste o meu coração que desde a infância já se ocupava somente Contigo e Tuas Obras maravilhosas, e foi este o motivo de meu receio com relação a Gemela. Ignorava que também o amor dela se prendia exclusivamente a Ti, portanto nosso sentimento só pode se fortificar e aumentar pela união. Mas o que devo fazer para agradecer-Te condignamente por esta Graça?”

  2. Retruca Abedam: “O fato de reconheceres a imensidade de Mi- nha Graça a ponto de não encontrares palavras para tua gratidão, já é o agradecimento que Me compraz. Quem ainda encontra palavras de gra- tidão e louvor não concebe a imensidade de Minha Bênção, tampouco possui a verdadeira humildade, pois se expressa à maneira mundana. De modo algum isto Me agrada, ainda que as palavras fossem expressas pelos anjos mais sublimes.

  3. O mesmo acontece com a gratidão ativa, pois também erra quem julga demonstrar sua gratidão através de suas ações, ainda que correspondam à Minha Vontade. Que poderia ser feito como trabalho que Eu não conseguisse realizar sozinho? Qual seria a origem da reali- zação de Minha Vontade? Porventura não é a Minha Força dentro da criatura que providencia tal realização, pela qual ainda se torna grande devedora perante Mim? Como poderia alguém Me agradecer por algo que o torna devedor da própria gratidão?

  4. Quem quiser me agradecer de modo valioso e agradável, que o faça pelo amor, em silêncio, na mais profunda humildade de seu cora- ção, que Eu hei de considerar sua gratidão. Deste modo, caro Lamech, tua gratidão é justa por ignorares como começar e onde terminar, e foste aniquilado pela percepção da grandiosidade de Meu Amor e Mise- ricórdia, e nada mais podes senão amar-Me. Para te certificares inteira- mente do Meu Agrado, dirige-te a Gemela e dá-lhe a resposta desejada.”

  5. Lamech então diz: “Gemela, amada puríssima de Jehovah, por certo perdoarás minha atitude descortês, pois nunca olhei uma cria-

tura como tu e todos os meus sentidos estavam voltados para o nosso Jehovah. Por isto temia ser obrigado a dividir o meu amor entre ti e Ele, ideia absurda que, aliás, me veio através de tua pergunta. Uma vez esclarecido de que nosso amor só pode aumentar o amor para com Ele, julgo que perdoes o meu erro.”

  1. Neste instante, Gemela afasta um pouco sua cabeleira dourada do rosto e seu olhar amoroso se dirige para Lamech que, diante desta face celeste, quase perde o fôlego, dizendo para Abedam: “Não, não, ó Santo Pai, não mereço tamanho prêmio! De fato, diante deste anjo celeste sou apenas um verme pecador. Seria mais fácil fitar o sol a pino do que o rosto indizivelmente belo deste anjo do Teu Amor. Se Zuriel é pai dela, se re- almente é possível um ser humano ser genitor de tal anjo, devolve-a para que continue a protegê-la como até então. Mas Tua Vontade Se faça!”

  2. Zuriel desata a chorar e diz para Lamech: “Por que recusas mi- nha filha, se foi o Próprio Jehovah a entregá-la a ti? Vê só como ela chora!” Abedam Se dirige para Zuriel e diz: “Não te preocupes com as lágrimas de Gemela e considera não existir poder mundano que pudes- se separar o que foi unido por Mim. Lamech não é duro de coração, mas muito sensível, razão por que o fortifico para tornar-se marido de tua filha, muito mais, porém, Minha. Lamech, curva-te diante de Ge- mela, entrega-lhe tua mão direita erguendo-a para tua esposa e postai-

-vos diante de Mim para poder abençoar-vos para todos os tempos dos tempos. Amém.” Ambos obedecem e Abedam abençoa-os e lhes ordena a pureza de coração e a castidade para toda a vida. Eles o prometem e se tornam o mais puro casal da época original.

5.UNIÃODEMAISQUATRO CASAIS

  1. Passada esta cerimônia, Abedam chama Jared, Henoch e Matu- salém e lhes diz: “Vossa cabana é bastante espaçosa para poder abrigar Lamech e sua esposa. Enquanto viverdes em paz e concórdia, amando exclusivamente a Mim, Eu também morarei convosco, visível ou invi- sivelmente. Hei de Me apresentar por várias vezes e abençoar vosso lar. Aceitai o jovem casal, em Meu Nome.”

  1. Após terem recebido a bênção dos patriarcas, estes conduzem o jovem casal junto de Adão e Eva que, todavia, estão de tal forma co- movidos que mal conseguem pronunciar palavra, e ela diz para Adão: “Este casal me diz em silêncio como nos deveríamos ter portado diante do Senhor. Não teria surgido um abismo lodoso debaixo de nossos pés e eu ficaria feliz se a maldição pudesse ser retirada da Terra.”

  2. Diz Abedam: “Tua dor se justifica, mas tens diante de teus olhos a base para a fonte, da qual no futuro jorrará uma Água Viva sobre toda a Terra, lavando-a da antiga maldição. Por intermédio de Gemela se iniciará uma linha pura e quando a Terra for batizada com a Água Viva, será igualmente purificada pelo fogo de Lamech, dos Céus. Isto a purificará totalmente de sua maldição, tornando-se novamente uma es- trela do Meu Agrado, pois sua luz projetará raios possantes por todos os espaços do Infinito. Não haverá outra estrela que pudesse contar, como a Terra, os mais sublimes milagres de Minha Misericórdia.

  3. Mas ai da serpente, cujo castigo em parte alguma será tão tene- broso como neste palco de Minha Misericórdia. Digo-te, Eva: Onde Eu espargir Minhas maiores Misericórdias, também será espargida a Mi- nha maior Ira. Todas as inúmeras estrelas serão julgadas pelos anjos, se- gundo sua espécie. Mas a raça de víboras da Terra será julgada por Mim Mesmo, dando-lhe o prêmio merecido no eterno fogo de Minha Ira.

  4. Em verdade, o dragão de Caim e todos os seus prisioneiros terão que pagar sua perversidade no fogo mais intenso de Minha Ira, suas dores horríveis não terão fim e seus clamores de pavor e sofrimento não serão ouvidos por ninguém. Passarão para o esquecimento total, onde ninguém deles se lembrará.

  5. Hei de tapar os Meus Ouvidos e afastar os Meus Olhos, exter- minando-os inteiramente de Meu Coração. Para que Eu Mesmo possa esquecê-los, seus nomes serão apagados da recordação do Meu Amor, tendo apenas uma existência por Meu fogo da Ira viva, sem fim, assim como o do Meu Amor e de todos os Meus filhos são eternos na máxima ventura e felicidade.

  6. Por isto, Eva, deves viver por Mim e não te preocupes. Não está ao teu alcance purificar a Terra com toda a tua preocupação, e

foi o motivo por que te revelei isto, para que fiques calma por cau- sa da Terra.

  1. Não demorará que a enxurrada do pecado inundará até mesmo as montanhas, chegando às nuvens. Mas os frutos deste casal serão car- regados em Minhas Mãos por cima das vagas mortíferas, e lhes prepa- rarei um país novo e fértil. Alegra-te com Minha Promessa na calma e no amor de teu coração, pois Eu te renovei e purifiquei nesta Gemela. Entende-o bem em teu coração.”

  2. Virando-Se para Matusalém e Zuriel com suas restantes quatro filhas, Abedam prossegue: “Matusalém, tens ainda quatro filhos que muito Me agradam. Eis aqui as suas esposas. E Tu, Zuriel, eis os qua- tro irmãos que darei às tuas filhas.” Chorando de alegria, Zuriel diz: “Ó Jehovah, como posso merecer tamanha Graça?” Responde Abedam: “Lutaste com valentia contra o mundo todo e Me devolveste tuas cinco filhas tão puras como foram entregues a ti.

  3. Os quatro casais habitarão em moradas novas, em torno da cabana de Jared, supridas de tudo. Lá deverão viver em toda pureza do coração e na castidade de suas almas, e em tempo oportuno também terão filhos da luz. Vinde a Mim para que vos possa abençoar e aceitar como filhos.”

  4. Os quatro casais se prosternam aos Pés de Abedam e Lhe agra- decem do fundo do coração. Ele os ergue e abençoa. Em seguida, são entregues à bênção dos genitores e Abedam diz a Zuriel, em prantos: “Vem também tu receber o maior prêmio por tua fidelidade. Faço de ti um grande anjo, e serás um protetor fiel de todos os Meus filhos e, a partir de agora, verás o Meu Semblante, alegrando-te de Minha Luz.” Com isto, Abedam toca Zuriel, que se torna luminoso qual Sol — e desaparece.

6.ZURIEL,PROTETORDOS RECÉM-CASADOS

  1. Todos estão assustados diante do acontecimento e não se atre- vem a fazer indagações. Somente Gemela consegue criar coragem e, prosternando-se diante de Abedam, pede em silêncio para fazer uma

pergunta. Ele Se antecede, dizendo: “Minha amada Gemela, por acaso temes por Zuriel, teu pai?” Ela o confirma e expressa seu pedido. Abe- dam então a consola: “Porventura julgas que Zuriel tenha desaparecido porquanto não consegues vê-lo? Não te preocupes, hás de vê-lo segui- damente, podendo falar-lhe de coisas muito mais belas que até então.

  1. Ele recebeu Graça tão imensa diante de todos por tua causa, quer dizer, a fim de se tornar um fiel guia e protetor de ti e de teu es- poso contra todas as tentações do mundo, e sempre que Eu pretender visitar-vos, ele Me anunciará.

  2. Além disto, também será um guia secreto de todos os filhos do Sul e penetrará seus corações, podendo sacudi-los sempre que descobrir qualquer infidelidade. Deste modo, poderão voltar-se mais facilmente para Mim, ouvindo no coração a chamada do Pai, e também entender o trovão de Deus.

  3. Finalmente, ainda hoje vários filhos do Sul serão preparados para descerem às planícies da grande cidade Hanoch, onde uma parte é cheia da pior abominação, outra está sangrando sob o domínio e escravidão mais vil. Lá deverão anunciar-lhes o Meu nome e pregar-lhes rigorosa penitência e verdadeira regeneração a fim de se voltarem incontinenti para Aquele que de há muito aguarda seu regresso, com Paciência e Mi- sericórdia. Mas esta Misericórdia será a última para os filhos da serpen- te. — Tal incumbência, amada Gemela, requererá a grande fidelidade de Zuriel, razão por que necessito dele para que o dragão perceba que uma criatura despretensiosa é, perante Mim, maior e mais forte que ele com todas as suas corjas do mal.”

  4. Sumamente feliz e grata, Gemela se atira aos Pés de Abedam, que a toma novamente nos Braços perguntando se ainda tem outros desejos. Comovida, ela não consegue falar, pois percebe que Jehovah continuava a amá-la tanto quanto antes de ser casada.

  5. Abedam a aperta ao coração, chama Lamech e diz: “Estás satis- feito com Gemela que te esquece nas Minhas Mãos? Que te diz o teu coração?” Responde ele: “Pai, Santo e Amantíssimo Pai, se não conti- veres o meu coração, ele se desintegrará por um sentimento jamais sen- tido por Ti. Quando me entregaste esta Gemela pura e celeste, pensei:

Poderei amar-Te como antes se for obrigado a dividir o meu amor com ela? E no momento em que a ergui do solo, temia que ela tivesse ma- culado a minha mão e por isto não mais seria tão querida de ti. Agora, vendo que ela de novo se encontra nos Teus Braços, meu coração não se contém de alegria e, se Tu não o amparares, morrerei de imenso amor para Contigo.”

  1. Inclinando-Se para Lamech, Abedam diz: “Querido, esta Mão ainda está livre, apoia-Te Nela e sente o quanto sou Pai de todos.” Como Lamech se achasse indigno para tamanha Graça, Abedam o comprime ao Peito Santificado e diz para ambos: “Continuai como sois agora, que jamais haveis de perder este pouso sublime. Sois o primeiro casal que desde eternidades foi carregado visivelmente por Minhas Mãos. Deve este fato constituir uma recordação eterna para todos os descendentes, que apenas serão Meus verdadeiros filhos quando se deixarem prender, atrair e carregar por Minhas Mãos. Os que não seguirem o vosso exem- plo receberão pouco amor e vida de Mim. Agora, Lamech, fita a alma de nossa Gemela.”

  2. Nisto, Abedam sopra nos olhos de Lamech que vê Gemela numa forma tão luminosa, cujo brilho é mais forte que a luz central de todos os sóis. Perante esta visão, ele leva um verdadeiro impacto e quando aos poucos consegue se refazer, desata a chorar, pois não sabe o que fazer de imenso amor para Comigo.

  3. Virando-Se para Gemela, Abedam diz: “Vê, Lamech chora de amor por Mim. Enxuga estas lágrimas maravilhosas com teus cabelos, que tal ação se tornará uma bênção para ti e todas as tuas descendentes.”

  4. Pela primeira vez, Gemela abraça com seus braços delicados o seu companheiro, e com sua fronte e as faces delicadíssimas ela enxuga as lágrimas de Lamech, enquanto ambos ainda se encontram nos Braços de Abedam. Ele os carrega para junto dos genitores, dá-lhes um beijo e diz: “Todas as crianças que nascerão Me devem ser entregues tão puras como estas. Sou sua Origem, para onde deverão retornar para sempre.”

7.OPREPARODEFERROE AÇO

  1. Em seguida, Abedam diz para os outros quatro casais: “Nos pró- ximos dias de trabalho, executareis o que explicarei agora. Dentro da Terra existe uma espécie de metal de aspecto avermelhado, menos duro que qualquer outro. Seu peso é maior que o de uma pedra de igual ta- manho. Este metal se forma dos raios solares absorvidos pela Terra e é encontrado em quase todas as montanhas, pois somente elas possuem grandes galerias onde se aglomera em sua umidade a força dos raios absorvidos pela Terra com auxílio da influência da Lua, recebendo uma polarização que o torna mais sólido. À medida que as águas telúricas trocam sua polarização magnética de projeção e retenção, de 13.555 a

13.555 anos, após meio percurso percorrido do Sol, e após cerca de sete mil anos, salga suficientemente o conglomerado metálico. Este metal é, por ocasião do recuo das águas, tão abundante a não ser gasto nos subsequentes 13.555 anos. O resíduo, conquanto tenha suportado mi- lhares de mutações aquáticas, torna-se precisamente mais sólido; não pior, mas ao contrário, mais puro.

  1. Este metal ainda não foi usado por ninguém, com exceção de um príncipe de Hanoch. No entanto, foi-lhe demonstrado apenas o refugo do mesmo. Todavia, a Terra já passou, desde sua formação, mais de mil transmutações de marés. Nas montanhas se encontram grandes benefícios para os sábios, por amor, e Eu vos revelo os mesmos porque deveis usá-los com sabedoria.

  2. É preciso colher o metal e purificá-lo no fogo, e no momento oportuno Eu inspirarei vosso espírito para que possais usá-lo. Uma vez mestres nesta arte, deveis ensiná-la aos irmãos, inclusive seu uso sábio e desinteressado.

  3. Para tal fim, organizei vossas moradias com o necessário para a aplicação certa, e o uso dos instrumentos já existentes ser-vos-á ensina- do espiritualmente. Muito embora alguns dentre vós, desde os primór- dios, tentaram imitar os instrumentos dados por Mim, a tentativa não surgiu efeito por não terdes descoberto o necessário metal. Como acabo de demonstrar-vos o genuíno, será fácil imitar os modelos.

  1. Eu vos proporcionando tudo gratuitamente, deveis usar a mes- ma norma e, se trabalhardes em benefício dos irmãos, eles vos poderão suprir de alimento. Jamais deveis exigi-lo, mas aceitai de bom grado tudo que vos ofertarem. Que ninguém vos exija algo por vos ter favo- recido, pois o amor deve ser vosso verdadeiro intercâmbio. Sede per- feitos em tudo e fortes no vivo amor, que estarei constantemente entre vós com Minha Mão abençoada, atraindo, ensinando e preparando-vos para todos os acontecimentos.”

  2. Nisto, Adão se aproxima e diz: “Santíssimo Pai, há pouco men- cionaste a mudança na altura das águas e desejava saber o que será de nós, caso o mar venha a inundar nossas regiões atualmente habitadas. Poderias dar-nos uma orientação a respeito?”

  3. Com leve sorriso, Abedam responde: “Adão, é preferível te pre- ocupares com algo melhor, já que pretendes preocupar-te de qualquer modo. Imagina uma era de 13.000 anos a partir de agora. Por certo a Terra não te preocupará quando não mais fores seu habitante, e as cria- turas que em tal época habitarão o orbe terão tempo suficiente para fu- gir da maré, porquanto ela corre tão vagarosamente que apenas de mil em mil anos se sentirá uma diferença e se, além disto, as águas tiverem iniciado o retorno partindo do Norte.

  4. Digo a todos, preocupai-vos somente com a pureza do coração e com o verdadeiro amor para Comigo. Quanto à organização dos corpos cósmicos, somente Eu entendo de sua conservação, e Meu Poder, Força e Sabedoria bastam para toda a eternidade.

  5. Sois capazes de vislumbrar apagados grupos de estrelas no Espa- ço infinito e os últimos habitantes da Terra também os verão; no entan- to, a Terra ainda não tinha sido criada quando elas foram desintegradas em sua existência quase eterna.

  6. O mesmo sucederá com esta Terra e este Céu. Minhas Palavras e Meus filhos jamais se desintegrarão. Por acaso também pretendes te preocupar por este motivo? Se pretendeis vos preocupar, tratai de vossa despreocupação e que vossos corações se encham cada vez mais do ver- dadeiro amor para Comigo. A verdadeira Vida, eterna e indestrutível, consiste no vosso conhecimento de Mim e no amor para Comigo.”

8.OENVIODEDEZMENSAGEIROSPARA HANOCH

  1. Em seguida, Abedam convoca Sethlahem, Kisehel, seis irmãos e dois filhos deste, todos compenetrados do zelo e conhecimento em vá- rios assuntos úteis, e lhes diz: “Executai sem delongas o que Meu Amor e Misericórdia exigem de vosso livre arbítrio. Segui para as planícies da cidade de Hanoch, onde existem criaturas que nada mais sabem de Mim, vivendo pior que cães, gatos, lobos, ursos, leões, tigres, hienas e serpentes.

  2. Seu odor pestilento sobe aos Céus em virtude da impudicícia e pavorosa lascividade, matam-se reciprocamente, derramam o sangue inocente de seus irmãos e não poupam os velhos. Seu ultraje chegou ao ponto que o rei, que também se chama Lamech, declarou-Me guerra há algum tempo porque fiz dizimar por feras seu exército cruel sob direção de Tatahar, o maldoso, querendo até mesmo destruir a Terra com fogo.

  3. Mas esta não é a pior de suas maldades contra Mim. Como eu permitisse que todas as suas concubinas lhe fossem infiéis por medo da morte, fugindo até aqui, inclusive suas duas mulheres e sua filha No- êmia, seu ódio cresceu de tal modo a não fazer outra coisa senão ima- ginar como ultrajar-Me. Organizou por todos os lados vigias e espiões para observarem as atitudes e conversas dos seus súditos. Mandou cavar uma grande cova, encheu-a de detritos e gravou o Meu Nome com excrementos numa pedra. Em seguida a amaldiçoou e, na presença de muitos, a atirou na cova, obrigando os escravos mais desclassificados a defecarem por cima e finalmente mandou tapar a mesma.

  4. Isto feito, ele mesmo se declarou Deus Supremo e obrigou a todos à adoração de sua pessoa, sob pena de morte cruel. Os vigias e espiões têm que cuidar que ninguém venha a proferir o Meu Nome sob risco de pena de morte.

  5. Os escravos estão proibidos de falar e, caso desobedeçam, te- rão a língua arrancada e, se quiserem fazer-se entender, devem fazê-lo com urros animalescos. Além disto, não devem usar os pés, mas andar de quatro e somente durante o trabalho podem ficar eretos. Nenhum escravo pode se casar e, se tentar desobedecer, terá que enfrentar as

piores mutilações. Foi este o motivo por que mandou executar milhares de mulheres e filhas de escravos. Eis a situação nas planícies. Além de Hanoch, existem ainda dez cidades grandes, todas sujeitas a este Meu maior inimigo, onde a situação é igual à de lá.

  1. O sangue desses infelizes clama por Mim para vingar-se. Por isto terei piedade e vos enviarei como libertadores deste povo. Não de- veis matar ninguém, nem o próprio Lamech. Transmiti a todos o Meu Nome, Minha Ira e o breve julgamento, caso não se voltem para Mim com remorso e penitência.

  2. Cabe a Lamech abrir aquela cova com as próprias mãos, tirar a placa gravada com Meu Nome, limpá-la com água e depois lavá-la com lágrimas de remorso. Se ele se opuser, fazei uso de vosso poder e que seja castigado com pragas até que aceite vossa ordem. Sustai não somente a sua pompa, mas a de todos, para que se tornem irmãos; e apenas os mais sábios do povo devem ser designados para guias populares. Não devem habitar os palácios reais, mas as habitações mais simples e rústicas.

  3. Quando forem por vós reconhecidos como aptos para guias e vigias, aponde-lhes as mãos na fronte e no ombro transmitindo-lhes a força necessária para sua tarefa. Não temais ninguém, nem vos deixeis ofuscar pela pompa e opulência daquelas cidades, pois serão sempre pontos de concentração da serpente. Não vos deixeis seduzir pelo bri- lho externo, mas, como Meus profetas, sede externamente rigorosos e implacáveis, e intimamente cheios de amor ao próximo.

  4. Tão logo tiverdes organizado tudo, voltai à pátria, e sem motivo importante não volteis às planícies. Antes de sairdes de lá, é preciso fa- zer a purificação física para não trazerdes a morte para aqui, pois aque- las planícies estão cheias de peste e morte.

  5. Recebei a Minha Bênção e sede firmes, fortes e enérgicos em tudo, enquanto agirdes em Meu Nome. Toda a Natureza vos será sub- missa, fogo, ar e água, inclusive todos os animais e as forças do mal. Não façais mal a ninguém e tratai de ajudar a todos. O renitente pode ser castigado, não para que sofra, mas para regenerar-se. Considerai tudo isto em Meu Nome e segui com Minha Bênção.”

9. PRÊMIODA HUMILDADE

  1. Os dez escolhidos agradecem fervorosamente a Abedam por tê-

-los agraciado com Sua Infinita Misericórdia, Amor, Paciência e Mei- guice, escolhendo-os para Seus instrumentos, e Sethlahem finalmente diz aos demais: “Por várias vezes contestei vossa opinião de que Jehovah sentisse apenas agrado com as coisas grandiosas, pois quanto mais po- bre, mais humilde, mais temerosa e retraída do mundo for a criatura, quanto mais simples em suas palavras e ações, e mais prestimosa para com seus irmãos, tanto maior será o Agrado de Deus.

  1. Daí concluí: Se Ele sentisse prazer nas coisas grandes e brilhan- tes, por certo lhes teria dado o dom da fala de modo muito mais elevado do que poderíamos entender, enquanto nos deixaria mudos. Todavia, pergunto: quem já teria ouvido falar uma árvore, uma montanha, um rio, o mar, a própria Terra, a Lua e as estrelas? E o simples trigo, se bem que não fale, é mil vezes mais abençoado que uma árvore orgulhosa; basta para tanto observar-se sua indiscutível utilidade. Ele nos fornece o pão, alimenta o gado, cabras e ovelhas. Quantos animaizinhos que des- conhecemos vivem da bênção do humilde vegetal, enquanto nenhum urso esfaimado conseguiria saciar sua fome com um pedaço de cedro orgulhoso e majestoso.

  2. Vede as árvores. Quanto mais simples, tanto mais abençoados são os seus doces frutos, obrigando-nos a agradecer ao Santo Doador. Quem teria ânimo de triturar o fruto duro do carvalho monumental e partilhar sua bênção com os suínos?

  3. Olhai as águas, rios e córregos. Enquanto permanecem mo- destos e pequenos em seus leitos, continuam puros e transparentes. À medida que crescem e se tornam mais volumosos, também se turvam. Aquilo que anteriormente fora abençoado pelo humilde córrego será destruído pelas águas tempestuosas.

  4. A chuva abençoada cai apenas em gotinhas. Uma vez desenvol- vendo-se em grandes pingos, ela desencadeia uma tempestade e abate o que deveria ter erguido e vivificado.

  1. Teria ainda muita coisa para vos dizer a respeito da constante pobreza e humildade. Mas, naquele tempo, outro espírito vibrava em vosso coração e todos os vossos conceitos do Agrado de Deus brilhavam nos cumes das montanhas ou talvez acima de todas as estrelas. Este con- ceito maravilhoso, que naquele tempo eu mal conseguia formular para mim, agora está sendo demonstrado com enorme clareza pelo grande Abedam, Jehovah, Emanuel, pois Ele não considera a aparência e o bri- lho do mundo, preferindo um mosquito a um elefante. Ao mosquito Ele deu até mesmo um par de asas para voar, enquanto um mastodonte se vê obrigado a se movimentar com dificuldade sobre o solo terráqueo à procura de alimento.

  2. O Senhor, nosso Poderoso Criador, o Santo Pai, Jehovah, o Eter- no, o Infinito em Seu Amor e Sabedoria, a Luz de toda luz, a Força de todas as forças, o Poder de todos os poderes, acaba de nos demonstrar que para Ele somente tem valor a simplicidade da verdadeira humilda- de em união com o puro amor, enquanto o resto de nada vale.

  3. Ele poderia ter estipulado o brilho e a pompa como condição para a conquista de Seu Amor Paternal e a Vida Eterna. Considerando apenas externamente, quão terrivelmente difícil teria sido para nós en- contrar Sua Graça, sem considerar sua Ordem eterna? Agora sabemos que a Vida Eterna é facilmente conquistada, pois em minha simpli- cidade, eu e qualquer outro podemos recebê-la como dádiva do Pai. Aceitai, Pai, nossa eterna gratidão. Somente Tu mereces toda Honra e Glória, pois nos consideraste em nossa simplicidade e nos escolheste para abafar e apagar o orgulho do mundo em Teu Nome. Conserva-nos na constante humildade e amor para Contigo. Amém.”

10.JEHOVAHCOMO HOMEM

  1. Nesta altura, Kisehel se dirige para Sethlahem, dizendo: “Deves estar lembrado no que consistia nosso ensino, ou melhor, nosso conhe- cimento, pois Jehovah nos era revelado de uma maneira que anulava até mesmo nossos pensamentos mais profundos a respeito Dele. Sabíamos de Sua infinita Majestade, Poder e Força, e vez por outra comentáva-

mos sobre Sua possível Identidade; mas quem teria tido a ideia de ima- giná-Lo qual Homem semelhante a nós, se bem que o mais Perfeito?

  1. Nossos corações se ocupavam constantemente com Deus, mas somente tu tiveste a Graça de concebê-Lo do modo mais acertado; no entanto, não havia quem fizesse o papel de juiz. Que prova palpável terias à disposição para nos elucidar e nos convencer de tua fé? Deste modo, vivias no conhecimento, todavia era cego, apenas pressupondo a luz porque seu raio aquecedor te dava a impressão de sua proximidade. De minha parte, andava de olhos abertos, no entanto me encontrava na mais densa treva, nada vendo nem podendo pressupor uma luz.

  2. Assim sendo, julgo não devermos nos vangloriar do passado, pesquisando se era mais ou menos afastado da verdade, pois, ainda que fôssemos detentores da mesma, como poderíamos prová-la?

  3. Estava completamente fora de nosso alcance a ideia que nosso Santo Pai fosse um Homem e Deus Único. O engano não se baseava em nossa vontade, mas na ideia que formáramos a Seu respeito. Mas, agora, nos orientou Aquele que se encontra entre nós, Santo e Bom, e nos ajudou em nossa grande miséria, cegueira e pobreza. Visivelmente diante de nós, reconhecemos Nele o Pai Eterno e Santo, o Criador po- deroso e eterno de todas as coisas.

  4. Se um de nós alimentava tal ideia, este alguém era Zuriel com suas filhas, calado e retraído. Mas era difícil fazê-lo falar. Quanto a nós, convém não nos vangloriarmos de forma alguma, mas darmos Honra e Glória a Quem as merece.

  5. O teu bem continuará como tal enquanto partir Dele. Ele em si, e partindo apenas de ti, em nada é melhor do que o meu erro fun- damental. Ainda assim, agradeço ao Senhor por minha anterior igno- rância, pois ela foi o motivo de minha atual humildade, portanto, uma Graça oculta Dele. Reconheço que foi uma Graça pelo fato de jamais poder vangloriar-me desse bem.

  6. Tu possuías conhecimento e teu coração vibra em virtude da fama desta Graça. És tanto quanto eu um escolhido, mas se quisesses dar-me teu conhecimento anterior em troca da minha ignorância, não aceitaria. Pelo teu próprio bem te recomendo não mencionares tua in-

clinação, preferindo ser meu irmão querido e humilde. Diante Daquele que ora Se aproxima de nós, ambos somos desnudos e sem mérito. Continua sendo meu querido irmão, agora e sempre.”

  1. Neste instante, Abedam põe suas Mãos nos ombros de ambos e diz: “Amém. De fato, Kisehel, te tornaste o mais forte de todos e compete a ti conduzi-los futuramente. Tu, Sethlahem, ficarás com o dom da predição. Embora teu discurso tivesse sido verdadeiro e tão acertada tua comparação, prefiro as palavras de Kisehel porque reco- mendavam a humildade. Tuas palavras te engrandeceram, enquanto as dele o diminuíram. Qual dos dois está mais próximo de Mim? É muito recomendável falar-se como tu, mas não convém falar de si mesmo. Ainda que alguém fale algo de verdadeiro, de onde se supriu? Não deves alegrar-te externamente por Eu te ter dado algo mais que a teu irmão, do contrário ele poderia elogiar-te em Meu lugar, enquanto foste ape- nas frágil instrumento de Quem te escolheu. Tua maior conquista seja a humildade e o amor verdadeiro e sincero para Mim. Procura viver se- gundo tuas palavras que provinham de Mim, que viverás eternamente. Eis Minha Vontade. Tua palavra é verdadeira e boa porque provém de Mim. Procura viver segundo ela, que viverás eternamente.”

11.AVERDADEIRA HUMILDADE

  1. Comovido com esta promoção, Kisehel faz menção de falar, mas Abedam o antecede dizendo: “Já li em teu coração o que pretendes pe- dir, quer dizer, desejas continuar o mais simples e não um guia. Preferes ser mandado do que mandar, obedecer em vez de prescrever ordens. Al- mejas ser o último de Meus servos e também o mais forte para servi-los, e ao mesmo tempo queres ser o mais fraco a fim de não levar vantagens perante os outros.

  2. Não posso deixar de louvar-te como homem perfeito e de má- ximo valor moral. Quem realmente quer ser o último e mais simples, é para Mim o maior de todos, pois somente a verdadeira humildade vos torna realmente grandes perante Mim.

  1. Por seres profundamente humilde e diante de teus irmãos e fi- lhos desejas ser o mais ínfimo por amor a Mim, e porque não rejeitaste as palavras de Sethlahem, vivificando-as pela ação, és realmente o pri- meiro de todos os escolhidos. Eles não necessitam de guia na sabedoria, pois a possuem suficientemente. Não necessitam de guia no amor, pois Me conhecem e Me amam acima de tudo. Dispensam guia de força, pois a têm como tu. Também não necessitam de guia de Poder e Graça, pois fostes todos escolhidos para a mesma finalidade.

  2. Precisam, todavia, de um guia na constante humildade. A cria- tura pode receber tudo de Mim e suprir-se de Minha infinita provisão espiritual tanto quanto deseja. Pode amar o quanto quiser, pode forta- lecer-se através da fé a ponto de remover montanhas. Pode tornar sua vontade tão poderosa que milhares de criaturas a sigam. Seu discurso pode ser tão poderoso que todos lhe obedeçam.

  3. Mas isto não acontece com a humildade que é posse de cada um, pois não posso proporcioná-la a ninguém, e sim, somente ensiná-la como acabo de fazer contigo. Eis o campo onde quero colher sem ter semeado. A humildade é a única coisa que Me podeis dar sem tê-la re- cebido de Mim. Na verdadeira humildade reside a verdadeira e máxima liberdade da vida, portanto, também a maior perfeição. Através da hu- mildade podeis até mesmo vos proporcionar da inatingível Santidade de Minha Divindade, pois a humildade é a suprema sabedoria, o má- ximo amor, a maior força de toda a vida e o máximo poder, diante do qual todo o Universo estremece com respeito. A humildade é a máxima Força, Poder e Soberania dentro de Mim. Tudo que preenche o Infinito surgiu da humildade.

  4. Compreendes agora, caro Kisehel, por que te escolhi para guia dos outros? Por seres inteiramente humilde no coração e é aquilo que falta mais ou menos aos teus companheiros. Tudo que recebestes de Mim Mesmo pode ser transformado em prejuízo, caso este poder for- midável não predomine sobre as demais tendências.

  5. Em ti, a humildade é o traço dominante em tua vida; por isto, deves e tens que te tornar um exemplo e uma regra viva pela qual se te-

rão que conduzir, caso pretendam levar a bênção à Terra, onde a antiga maldição da serpente orgulhosa e mentirosa tanto os oprime.

  1. Quanto a vós outros, recomendo que sigais imediatamente as pegadas de Kisehel, do contrário tereis maior perdição do que bênção. Considerai as Minhas Palavras e agi segundo seu sentido, para não cair- des em pecado, arrastando convosco os que devem ser abençoados.”

12.LIMITES DO GUIA

  1. Todos agradecem por esta magnífica determinação, pois Kisehel certamente faria jus à confiança de Abedam. Este então acrescenta: “Não esqueçais que sou Eu o Primeiro e Me encontro mais próximo de todos do que o guia escolhido por Mim. Sempre que necessitardes de conselho, dirigi-vos primeiro a Mim no coração, que farei com que se torne acessível ao conselho proferido pelo guia e vos completarei com aquilo que posteriormente ele vos confirmará. Por isto, compreendereis que a palavra dele não é posse dele, senão Minha. O guia não vos trans- mitirá leis e ordens, mas confirmará Minha Vontade dentro de vós.

  2. Quem não se dirigir primeiro a Mim, receberá do guia fortes golpes pela obrigação de deveres, cuja execução será mais difícil do que carregar uma montanha. Portanto, Eu sou o Primeiro, e só depois vem aquele que confirmará Minha Palavra dentro de vós.” Com estas Pala- vras, Abedam despede o grupo, recomendando que O acompanhassem enquanto estivesse visivelmente entre os filhos.

  3. Em seguida, Ele chama Jura, Busin e Orion e lhes diz: “Cer- tamente ouvistes o que acabo de falar, de sorte que se torna fácil agir- des segundo Minha Vontade. Todavia, não vos determinei para uma missão nas planícies, mas também para a prática da humildade, caso queirais vos tornar verdadeiramente Meus filhos e possuir uma vida livre e eterna.

  4. Não necessito prolongar a explicação sobre a humildade; apenas recomendo que a pratiqueis no coração, pois sem ela não há quem Me possa amar verdadeiramente e ter uma vida de amor, perfeita e eterna.

  1. Sempre que quiserdes amar-Me, mas vosso coração não estiver bastante forte para Me abraçar com todo amor, satisfazendo-se com pensamentos estéreis a Meu respeito, sabei que vos falta a verdadeira humildade como base fundamental de toda vida.

  2. Desprovidos desta base, que significa vosso amor? Apenas um sonho. E Minha Misericórdia em vós é somente o tocar de uma pedra com uma vara. Minha Graça? Uma luz num tronco apodrecido. Minha Palavra? Um eco não assimilado por um monte de terra. Meu Amor para convosco? O sopro suave por cima de um entulho insensível. Fi- nalmente, que serei Eu Mesmo? Nada mais que um quadro imaginativo sem vida, ou aquilo que um raio do Sol representa a um animal que dorme na profundeza do mar e da terra.

  3. Por isto, esforçai-vos antes de mais nada na prática da humil- dade. Quando tiverdes encontrado sua raiz interior, tereis encontrado também a Mim em todo Poder, Força e Onipotência, ao lado do Meu Amor, Graça Misericórdia e a Vida eterna com toda sua Glória.

  4. Recebei Minha Bênção e sede guias e instrutores sábios de vos- sos filhos. Ensinai-lhes primeiro a MinhaProcura, e isto acontecendo, devem ir em vossa busca e demonstrar sua conquista. Transmito-vos a necessária força e poder que deveis empregar sempre sabiamente quan- do encontrardes uma teimosia em alguém.

  5. Assim como Eu vos escolhi para guias de vossos filhos, também vós deveis escolher os que são de coração verdadeiramente humilde. Nunca, porém, determinai quem o queira ser, sobrepondo-se aos seus irmãos, em vez de ser o mais modesto. Tampouco quem simulasse a modéstia para ser escolhido, pois um bajulador deve ser excluído de vosso meio até que volte com Meu Testemunho dentro do coração, pedindo ser admitido como o mais humilde servo. Considerai tudo isto e sede amáveis com todos os forasteiros que dentro em breve encami- nharei para aqui. Assim estarei convosco para todos os tempos.”

13.PRESTÍGIODEUM GUIA

  1. Em seguida, Abedam, o Sublime, Se dirige para Abedam, o co- nhecido, e diz: “Que farei contigo? Os filhos do Norte ainda não pos- suem guia; que tal se Eu te incumbisse desta tarefa?”

  2. Responde ele: “De saída só posso dizer que Tua Santa Vontade Se faça, pois sabes que estou sempre pronto para passar pelo fogo e deixar-me transformar em tudo que desejares. Mas, como este cargo se prende a certo grau de prestígio que, estou certo, nem Tu Mesmo podes separar totalmente enquanto o guia deve ser aquilo que determinaste, peço isentar-me deste cargo, em virtude de minha humildade que me trouxe diante de Ti. Existem tantos filhos aqui presentes em cujo meio certamente se encontrarão outros do quilate de Kisehel. Se fosse do Teu Agrado, preferia revelar o Teu Santo Nome no sigilo, sem consideração qualquer de minha parte. Sei perfeitamente que a humildade deixa de ser virtude quando é considerada em benefício próprio. Mas Tu conhe- ces o meu coração e sabes não ser este o meu caso; pelo contrário, sou humilde somente por amor e respeito por Ti, por isto constitui minha maior alegria o poder ser útil para com todos. Poupa-me desta incum- bência, todavia, respeito, como sempre, a Tua Vontade.”

  3. Diz Abedam, o Sublime: “Então, pretendes não ser um guia por causa de um certo prestígio, sem considerar que Eu possa separá-lo do cargo?”

  4. Responde Abedam, o conhecido: “Sim, Senhor e Pai, se isto for possível, poderás escolher-me para guia das piores feras, que Te seguirei até o fim do mundo. Apenas não posso fazer uso do poder e da força, mas somente do Teu Amor dentro de mim, pois como detentor da força e poder, quem nos protegeria do prestígio de um cargo? Se tiver ao meu dispor apenas o Teu Amor em minha mais simples humildade, poderei ser útil pela força do amor.”

  5. Protesta o grande Abedam: “Teu sentimento é justo e merece o Meu grande agrado; no entanto, o conhecimento de Minha Ordem das coisas te falta totalmente, segundo a qual não pode haver cargo sem certo prestígio. Sem ele, o cargo não seria cargo, mas um simples moti-

vo de discórdia, onde cada um prefere discutir a respeito de sua própria tolice em vez de seguir a orientação do próximo.

  1. Se o cargo for dotado com o necessário grau de prestígio que consiste na força e poder, o vilipendiador será retido de zombar do cargo e de Minha Ordem, e finalmente será forçado a aceitar as re- gras do mesmo. Terá de considerá-las forçosamente até que as aceite na sua totalidade, tornando-se norma de sua vida como se fosse sua própria criação.

  2. Isto, Meu amigo, nunca será conseguido pelo cargo sem certo prestígio. Se quiseres te tornar Meu servo, terás que assimilar a Minha Vontade e aplicá-la fielmente, sem qualquer consideração de tua von- tade, apenas pela obediência submissa, ou seja, a semente da verdadeira humildade interna.

  3. O prestígio não se prende à pessoa incumbida do cargo, mas somente ao próprio cargo que representa nada mais que a Mim Mesmo em Meu Amor, Graça e Misericórdia, quando por Mim determinado. Porventura pretendes discutir o prestígio de Minha Santidade?

  4. No decorrer dos tempos haverá vários cargos e os homens se cansarão para conseguir tal vantagem. Tais cargos dificilmente terão Minha Autorização, e todo o seu poder e força virão de um poderio mundano por ora ainda desconhecido de vós.

  5. Isto não ocorre com o cargo que acabo de incumbir-te, pois o recebes somente como consequência de tua grande humildade; portan- to, deves aceitá-lo como fizeram os outros; age como deves, que viverás uma vida perfeita de Mim e por Mim. Recebe a Minha Bênção e sê um guia fiel e justo de todos os filhos do Norte. A quem apuseres as tuas mãos em Meu Nome, tornar-se-á igualmente um guia de seus irmãos segundo a sabedoria de Meu Amor.”

14.OPESODEUMGUIAEASFRAQUEZASDOS HOMENS

  1. O conhecido Abedam se sente de tal forma comovido a ponto de não saber falar, nem agir. Ao percebê-lo, Abedam, o Grande, Se aproxima e diz: “Reage, Abedam, pois não convém que um homem

como tu venha a cair em tamanho embaraço. Isto não se deu nem com as moças quando lhes demonstrei coisas grandiosas, recebendo Graças idênticas à que recebeste. Tampouco deves querer fugir, mas deves per- manecer ao Meu lado como antes.

  1. Quando fores iniciar tua tarefa, perceberás que Meus cargos nes- te mundo não são cobertos de mel, mas de toda sorte de amarguras. Então Me agradecerás pelo dom da força e do poder, porque sentirás quão pobre eras sem esta dádiva. Levanta-te e agradece somente quan- do tiveres saboreado todas as doçuras da tua profissão.”

  2. Eis que Abedam, o conhecido, diz com sentimento puro: “Só agora, Pai, poderei agradecer-Te. Não o farei com gestos ou palavras retumbantes, mas pelo crescente amor, humildade e paciência, mei- guice, piedade e persistência. Ainda que fizesses chover fogo e pedras incandescentes sobre mim, não hei de vacilar, continuando até o fim de meus dias, mesmo que contassem o número de grãos de areia do mar.

  3. Podes fazer uma experiência comigo: coloca-me no fogo, man- da-me para dentro do mar, ou que eu seja perseguido pelos raios, que tudo suportarei com paciência por amor de Ti. Não o exijo para pro- var-Te minha persistência, pois desde eternidades deves saber o quanto suportarei. Apenas peço uma prova para descobrir a minha própria fra- queza e se serei capaz de suportar as amarguras de Teu ofício.”

  4. Fitando-o com seriedade, Abedam, o Grande, retruca: “Teus projetos são deveras grandes, mas considera a Quem fazes tais promes- sas. Por acaso conheces os infinitos meios de tentação sujeitos à Minha Vontade? Julgas depender de ti, se continuas de pé ou morres?

  5. É preferível continuares fiel naquilo que te confiei e não exijas de Mim um peso que na realidade não terias coragem de olhar de sos- laio. Se pretendes pedir-Me algo, que seja Eu afastar todas as tentações do teu caminho, em vez de tentar-te. Assim vencerás mais facilmente, alegrando-Me na fidelidade de teu cargo, do que, subjugado por novos encargos exclamando em desespero: Senhor, salva-me, que sucumbo! Para te convenceres da tolice de teu pedido, colocarei por um minuto uma mosca varejeira no teu rosto, e este minuto se tornará insuportável. Teu desejo se cumpra!”

  1. No mesmo instante, uma mosca enorme começa a meter-lhe o ferrão no rosto, sem que Abedam, o conhecido, se pudesse esquivar, levando-o quase ao desespero se não fosse salvo por Abedam, o Grande. Caindo aos pés Dele, ele agradece pela ajuda, ao que o Sublime pergun- ta: “Desejas ainda passar por uma pequena prova de fogo?”

  2. Tremendo qual vara ao vento, Abedam responde: “Ó Senhor, poupa-me não somente desta, como da prova da mosca; Tuas Tentações são terríveis, Senhor!”

15.DESOBEDIÊNCIAPOR AMOR

  1. Em seguida, Abedam Se dirige para Henoch, dizendo: “Ain- da falta meia hora para meio-dia, isto é, antes de acendermos o altar. Como aproveitá-la utilmente?”

  2. Inflamado de puro amor, Henoch responde: “Tu já o determi- naste falando ao meu espírito: Os filhos do Sul ainda não tiveram a oportunidade de ver o Seu Pai, por isto deves chamá-los para que Me vejam e sejam abençoados.”

  3. Prossegue Abedam: “Se ouviste tal ordem em teu coração, por que não executaste a mesma?” Responde Henoch: “Sumamente santifi- cada é cada palavra Tua, porém muito mais és Tu Mesmo.

  4. O motivo de minha desobediência reside em Ti e meu amor para Contigo que me prendeu irremediavelmente a Ti. Já não vivo mais uma vida natural, pois já morri de há muito através de Tua Imensa Mi- sericórdia, mas Tu Mesmo és toda Vida e Amor em mim; portanto, não sou mais eu, e sim, Tu és Tudo em mim.

  5. Deste modo, também foi de Tua Vontade que eu ficasse até que me chamasses para executá-la. Acabaste de fazê-lo e meus pés aguardam Tua Ordem, conquanto saiba que não necessitas de meus insignifican- tes serviços. Teu Amor Paternal me dá uma tarefa que consideras como se fosse algo perante Ti, ao passo que Te dignas agir através de um ins- trumento fraco. Por isto Te dedico meu amor sem fim.”

  6. Diz Abedam: “Henoch, não há o que opor à tua resposta e nem um querubim teria se expressado melhor que tu. Entretanto, existe um

ponto a esclarecer por causa dos outros, quer dizer, declaraste-Me como motivo de tua desobediência. A fim de impedir que a verdade não se torne um engano e escândalo para os demais, deves esclarecê-la melhor.”

  1. Cheio de respeito, Henoch diz: “Entendo-o da seguinte maneira e espero que os irmãos também o façam: Se alguém tivesse uma noiva que se certificara de seu amor puro através de explicações acerca do amor puramente celestial, e ele lhe pedisse uma flor que nasce do ou- tro lado do jardim, ela não consegue separar-se dele até que é de novo relembrada. Em tal caso, o noivo fora responsável por ter ela quase esquecido o seu pedido.”

  2. Diz Abedam: “Henoch, sabes Quem te inspirou esta parábola, ou foi de tua autoria?” Diz ele: “Sim, Pai, é criação minha porque Tu és minha própria vida, portanto o motivo de tudo.”

  3. Exclama Abedam: “Ouvi, todos vós. Deste modo falam os vivos em espírito inspirados pela Causa verdadeira, pois Eu Mesmo sou a Causa eterna de todas as suas palavras. Segui o exemplo de Henoch que haveis de encontrar também a base sólida de vosso irmão. Agora, Heno- ch, traze-Me sete flores do Sul e que sejam acompanhadas pelos outros.”

16.URANION,SEUSSEISIRMÃOSEOSFILHOSDO SUL

  1. Imediatamente, Henoch se põe a caminho dos filhos do Sul que se haviam acampado perto da gruta de Adão. Um ancião, chamado Uranion, se aproxima e diz com respeito: “Pai Henoch, sábio doutrina- dor do grande Deus, qual é o motivo de tua visita? Não hesite em trans- mitir-nos a Vontade Daquele cujo Nome não ousamos pronunciar.”

  2. Diz Henoch: “Qual seria a tua opinião a respeito de um homem cuja palavra é tão poderosa que anularia uma tempestade igual à de on- tem? Que erigisse a imensa gruta de Adão que hoje cedo fora dizimada a pó, de tal forma como se fosse uma construção existente desde eterni- dades? Um homem cujo hálito faz recuar o mar, cuja voz faz estremecer o Universo, e quando Se dirige ao coração da criatura a preenche de todo poder e força sobre todas as coisas do mundo. Que dirias?”

  1. Refletindo alguns momentos, Uranion responde: “Tuas palavras são misteriosas. Se existisse realmente tal homem, qual seria a diferença entre ele e Deus? Tudo que acabas de explanar é aquilo que imaginamos de Deus; portanto, esse personagem devia ser tomado do Espírito Divi- no, ou Deus Mesmo. Peço-te, portanto, te expressares mais claramente para definir o que realmente se oculta naquele homem.”

  2. Diz Henoch: “Chama teus seis irmãos, avisa os mil habitantes do Sul e segui-me à colina de Adão, onde haveis de conhecer melhor aquele Personagem.”

  3. Quando o grupo de aproxima do referido local, todos sentem tomados de grande pavor a ponto de não quererem prosseguir. Henoch procura encorajá-los, sem contudo poder convencê-los, o que o enca- bula bastante. Mas, quando ele se vira para trás — Abedam Se encontra ao seu lado e diz: “Não te aflijas, teu poder agiu até o momento previs- to. Como vim ajudar-te, não precisas te preocupar.” E, virando-Se para os sete homens, Ele prossegue: “Por que temeis continuar? Talvez Eu conheça um meio para tirar-vos o medo.”

  4. Responde Uranion: “Bom amigo, nesta colina deve existir um homem tão poderoso como se fora Deus Mesmo, e este pensamento nos inibe de andar.” Diz Abedam: “Se este é o motivo, ele não se justi- fica, pois Eu Mesmo sou tal Homem, ao Qual a eternidade e o infinito, o Universo e todos os anjos e criaturas estão sujeitos. Mas isto não vos deve apavorar. Segui-Me, pois haveis de conhecer-Me melhor.”

17.URANIONEPURISTA,JUNTOSDEADÃOE EVA

  1. Percorrida a curta distância, todos os filhos se curvam diante de Adão, Eva e os demais patriarcas, demonstrando seu amor e respeito. Em seguida, Uranion apresenta uma bisneta de nome Purista, incum- bida de oferecer a Adão vários frutos especiais, num cestinho feito por ela com ervas.

  2. Como Adão nunca tivesse visto frutos tão maravilhosos, de aro- ma excepcional, ele diz: “Purista, filhinha adorável de Gabiel, onde co-

lheste estes frutos, que diria celestes, e que nunca foram vistos por mim desde o início de minha existência?”

  1. Assustada, ela não sabe responder, pois também lhe parecem completamente estranhos. Virando-se para Gabiel, ela diz: “Pai, por acaso trocaste os frutos, porquanto nosso pomar não produz estas qua- lidades?” Diz Gabiel: “Filhinha, deu-se um milagre que deves relatar para Adão.”

  2. Uma vez informado, Adão responde: “Já havia pensado algo se- melhante e todos nós enriquecemos com esta graça. Vira o teu rosto e vê Aquele que encheu teu cestinho com frutos celestes sem que o tivesses percebido.”

  3. Diz ela: “Se ele assim fez, agiu mal, pois devia saber que amo somente o Pai no Céu, meu pai terreno e minha mãe Aora. Até hoje fugi dos homens e minha saudade se volta sempre para o Supremo. Como pôde este homem agir deste modo? Dize-lhe tu, que não o re- pita, do contrário atrairia um castigo do alto. Desta vez, pedirei ao Pai que lhe perdoe.”

  4. Exclama Adão: “Adorável flor das planícies, asseguro-te que se o Pai nunca tivesse atendido um pedido teu, esteEle não te negaria. Por ora não posso explicá-lo, mas tu o saberás em tempo.”

  5. Eis que Abedam, o Sublime, chama Henoch dizendo: “Deita no altar a ovelha sacrificada e assiste como eu farei cair um fogo dos Céus que a extinguirá.” Diante do fato realizado, todos, inclusive Purista, estremecem diante da Grandiosidade e Poder do homem anunciado por Henoch.

18.URANIONPERGUNTAPELONOMEDO HOMEM

MILAGROSO.PURISTARESPONDECOMINTELIGÊNCIAÀSSUAS INDAGAÇÕES

  1. Tremendo no corpo todo, Uranion pergunta a Henoch pelo nome daquele personagem extraordinário, e ele responde: “De que adiantaria saberes o Nome Dele? Ele usa o mesmo nome que um outro; portanto vês não haver utilidade do nome para O conheceres melhor.

Dirige-te pessoalmente a Ele e em poucos instantes te dirá muito mais do que eu em eternidades. Embora seja Poderoso, Ele é sumamente Bom, Amoroso, Misericordioso, Meigo e a mais incompreensível Hu- mildade em Pessoa.”

  1. Mais animado, Uranion se dirige para Abedam, o Sublime, di- zendo: “Irmão, nobre e poderoso — se assim te posso chamar — não podes dizer-me quem és e de onde vens? Acabo de ver que Céus e Terra te são submissos em grau tão elevado que, se eu não dedicasse o maior amor ao Santo Pai no Céu, facilmente acreditaria sejas tu mesmo o Pai, ou no mínimo o espírito mais poderoso dos anjos perfeitos. Se for de tua vontade, podias esclarecer-me.”

  2. Tomando a mão de Uranion, Abedam diz: “Considera-te su- mamente feliz, pois a Vida eterna acaba de te tocar! Traze-Me Gabiel, sua esposa e sua filha, que junto deles hás de encontrar a satisfação de teu coração.” Quando a família se encontra junto de Abedam, Uranion diz: “Homem poderoso, que desejas de mim? Eis minha companheira e minha filha dada pelo Santo Pai. Tens poder bastante para tirá-las de mim e não há quem te possa impedir. Mas existe algo muito mais pre- cioso oculto no meu coração: meu amor e confiança no Pai e Criador de Céus e Terra. Porventura poderias tirar-me tal força?”

  3. Agarrando-se ao genitor, Purista diz para Abedam: “Não hás de querer separar-nos, pois Henoch nos assegurou que és bom e misericor- dioso. Certamente também conheces o Pai Celeste e O amas como nós O amamos.”

  4. Diz Abedam: “Dize-Me, Purista, por acaso já viste o Pai Ce- lestial?” Responde ela: “Não deves dizer apenas Pai Celestial, mas o Pai sumamente Bom e Amoroso, do contrário não poderei responder.” Corrigindo-Se conforme ela pediu, Abedam repete Sua pergunta e ela diz: “Onde estaria a criatura digna de se vangloriar de ter visto o Santo, Amoroso e Bondoso Pai? Talvez os anjos O vissem, mas as criaturas humanas, jamais.”

  5. Insiste Abedam: “Filhinha, Adão é também apenas um homem e viu e falou diretamente com o Pai Celestial; no entanto, não é mais que um homem indigno e pecador.”

  1. Retruca ela: “Ignoras que Adão, o primeiro homem desta Terra, surgiu diretamente da Mão do Pai Amantíssimo, cheio de Amor, Graça e Misericórdia? Eis a razão por que pode tê-Lo visto e falado com Ele.”

  2. Diz Abedam: “Se este foi o caso, deves ter razão. Mas não sen- tirias saudade de ver o Pai, cheio de Amor?” “Mas claro,” diz ela, “que pergunta! Quem não haveria de querer vê-Lo, mormente amando-O acima de tudo como eu! Mas seria preciso ser mais devota que eu. Já me dou por satisfeita que Ele Se deixa amar por uma mísera criatura como eu, permitindo que O reconheçamos através de Suas Obras milagrosas e pelo pronunciamento de homens devotos. Não achas que recebemos tanto que nem em eternidades possamos agradecer-Lhe?”

  3. Diz Abedam: “De novo concordo contigo e agradeço pelo ensi- namento. Nunca imaginaste a Figura Dele?” Responde ela: “Mas quem ousaria tamanha coisa? Certa vez tive a ideia de que Ele podia seme- lhar-Se com Adão — naturalmente, infinitamente maior. Depois me apavorei diante deste pecado. Chorei noites e noites até que um homem muito devoto me trouxe a informação que meu pecado tinha sido per- doado. Serviu de lição para mim e agora conto vinte e sete anos, não me deixo mais iludir.”

  4. Diz Abedam: “Tua resposta foi inteligente. Mas presta atenção que ainda hei de te apanhar, e então sentirás uma alegria imensa.”

19.IMPORTANTEPERGUNTADE ABEDAM

  1. Prossegue Abedam com Seu questionário: “Afirmaste há pouco ter Adão surgido do máximo Amor e Misericórdia do Santo Pai. Que dirias Eu afirmando que ele surgiu em carne e osso de Minha Mão, e ele te confirmasse Minha Assertiva?”

  2. Diz Purista: “És extraordinariamente poderoso, no entanto du- vido que tenhas criado nosso pai Adão, a menos que o Próprio Pai e Criador assim o quisesse. Se assim foi, não foste tu, mas Ele o Autor e tu apenas o Seu instrumento. Por que então te vanglorias como se fosses o Criador?”

  1. Retruca Abedam: “Minha doce Purista, Eu amo o Santo e Amo- roso Pai muito mais que todas as criaturas em conjunto o fazem. Se assim não fosse e Eu não fosse a máxima humildade, poderias acreditar que Me seja dado tamanho Poder a ponto que todo o Universo Me obedece ao menor aceno? E se Eu, pela necessária humildade, jamais Me pudesse vangloriar?”

  2. Nesta altura, Purista, seus pais e Uranion quedam perplexos; finalmente, ela, ainda agarrada ao genitor, pergunta acanhada: “És de fato tão poderoso que nada se oporia ao teu poder?”

  3. Diz Abedam: “Desejas ter uma prova de Minha Força, Poder e Onipotência?” Responde a moça: “O forte raio acompanhado daquele terrível trovão me basta como sinal. Qual seria a prova pela qual pu- desses convencer-me, verme fraco da Terra, se jamais poderei abarcar o Infinito como Deus o faz? De que me serviria um testemunho que desses num cantinho qualquer do Universo? Por acaso poderia vê-lo e me convencer do mesmo? É preferível que apliques teu poder para algo melhor do que a satisfação da curiosidade humana.”

  4. Concorda Abedam: “Falaste bem, Minha filha, e o Sol não é tão puro quanto tu. Vejo ser difícil convencer-te; não desejas uma prova e Minha pergunta é respondida como se o mais sábio espírito angelical se pronunciasse. Mas já sei do motivo, temes que Eu possa separar-te de teus pais. Não há razão para tanto; prefiro dar-lhes milhares de fi- lhas como tu em vez de tirar-lhes um só fio de cabelo. É preciso deixar o temor e dirigir-vos a Mim com toda confiança, e dentro em pouco recebereis mais que em muitos anos.

  5. Em verdade, amais e estais presos ao Santo e Amantíssimo Pai; no entanto, não O conheceis e esta é a razão por que vim junto de vós. Como foi possível, doce Purista, não perceberes esta Minha Intenção através das perguntas? Não agiste sabiamente, pois devias compreender que Deus, o Santo Pai, não permite a descida de mensageiros poderosos como Eu, sem uma motivação muito amorosa. Reflete bem e depois pede um sinal para que todos possam reconhecer o Pai Celestial como Ele é, pois esta é Sua Vontade.”

20.PURISTA E SUA FAMÍLIA RECONHECEM O SANTO PAI EM ABEDAM

  1. Perplexa, Purista se vira para Gabiel e diz: “Pai, ele é certamente um poderoso mensageiro do Céu. Que sucederá conosco se tivermos pecado com relação a ele?” Responde Gabiel: “Se erramos, foi em vir- tude de nossa ignorância. Pede-lhe perdão em nome de todos, pois sua expressão é sumamente bondosa e magnânima. Vai depressa antes que seja tarde.”

  2. Purista se atira aos Pés de Abedam e começa a chorar e soluçar. Ele a faz levantar-se e diz: “Purista, que tens para chorares tanto?” Res- ponde ela: “Meu bom amigo, deduzi de tuas últimas palavras que não és um simples mortal, mas um poderoso mensageiro celeste do Próprio Pai Santíssimo, cheio de Amor e Misericórdia. Certamente te ofendi e te peço perdão, em nome de todos. Concedeste-me o pedido de uma prova e agora permite que a externe.”

  3. Tomando Purista nos braços, Abedam diz com máxima meigui- ce: “Pérola mais pura do Levante, que prova desejas de Mim?” Com imensa emoção, ela diz de voz trêmula: “Agora já não mais poderei pedir uma prova de ti, pois tu te antecedeste e a realizaste em mim e certamente em todos.”

  4. De novo Abedam a estreita contra o peito e em seguida a devol- ve aos genitores, igualmente comovidos. Gabiel então diz: “Esta atitude não é de um anjo; aqui Se encontra Alguém muito superior que o anjo mais sublime poderia imaginar.”

  5. E Abedam Se vira para Purista, dizendo: “Minha filha, ainda não percebes que Eu Mesmo sou o Teu Pai Celeste?” A estas palavras, todos reconhecem o Pai, enquanto Purista solta um grito e se atira aos Pés Dele, balbuciando: “Pai! Meu Pai!”

21.SOMENTEACONTRIÇÃOSILENCIOSAÉDOAGRADODE DEUS

  1. Uranion, não se contendo de emoção, também se prosterna aos Pés de Abedam e exclama: “Quem ousaria pensar em semelhan- te Graça? O Senhor, Deus, Jehovah, Zebaoth, que tudo criou, Ele, o Santo e Amoroso Pai, aproximou-Se de nós como homem simples e despretensioso.

  2. Sol, como ainda te atreves a irradiar teus raios para a Terra, se Teu Criador a pisa? Recua com teu brilho tão indigno quanto nós, pois aqui o menor grão de areia brilha mais por ter sido tocado por Seus Santificados Pés.

  3. E tu, Terra inóspita, criadora da morte, como ousas existir? Desintegra-te em loas e produz as flores mais belas e os perfumes mais suaves.

  4. Vós, montanhas, transformai-vos em altares luminosos, e vós, árvores e arbustos, ajudai-me a louvar o Santo Pai, pois somente Ele é Digno de receber todo louvor, honra e glória, amor e adoração. Estrelas, e tu, Lua, caí todos vós, para adorá-Lo, pois Deus, o Pai, está entre nós e nos ensina a caminhar.

  5. E tu, meu coração, pretendes louvá-Lo; no entanto, não tens lu- gar para assimilar a menor fagulha de Seu Infinito Amor Paternal. Pai, Santíssimo Pai, sê Misericordioso para com este verme no pó.”

  6. Erguendo Uranion do solo, Abedam diz: “Meu filho, acabas de Me oferecer o maior elogio. Criticaste o Sol, pretendeste atirar as estre- las ao solo e não poupaste a Terra, montanhas e flora. Falaste com jus- tiça, no entanto, havia maior mérito na silenciosa contrição de Purista e de seus pais.

  7. Quem ainda consegue falar em Minha Presença é dono de seu coração. Mas quem não pode se expressar na Presença de Meu Amor, já Me entregou o coração, que será preenchido de Amor e Vida eterna.

  8. Tu também vives porque te desfizeste de tudo que era inútil perante Mim, quer dizer, teu próprio sol mundano, ou seja, teu antigo conhecimento do amor; tuas estrelas, que representam teus conheci-

mentos; tua Lua, ou seja, o amor próprio da humanidade que ora cres- ce, ora diminui.

  1. Dominaste tuas montanhas, dissolveste tua Terra e me ofereceste todas as árvores de teus desejos e os arbustos de tuas paixões. Chamaste os ventos de tuas intenções reais, e todos os raios de teus conhecimen- tos mundanos e o trovão do rigor Me foram ofertados como louvor. Também não poupaste teu espírito e alma, receptáculo vivo para uma existência livre, e deste modo libertaste teu coração a fim de que Eu Me tornasse Senhor dele.

  2. Só depois de silenciares no coração Eu pude apossar-Me dele, e assim recebeste a Vida eterna e indestrutível. Não mais serei um Pai estranho e desconhecido, mas estarei sempre Presente, Poderoso, Forte e Audível, e através de ti conduzirei todos os teus filhos. O mesmo sucederá com teus seis irmãos e com todos que posteriormente se desfi- zerem do mundo como foi feito por ti.

  3. Construirei uma nova cabana junto de Gabiel onde seguida- mente Me apresentarei, pois não há na Terra um local mais puro e mais sólido para Mim. Gabiel, abençoo a ti e a tua filha, que futuramente receberá o companheiro certo que lhe dará uma filha que será mãe de um novo povo desta Terra. E Lamech lhe dará um marido que habi- tará sempre Comigo, em Minha grande Casa. Sede todos abençoados e felizes.”

22.PURISTA,APRIMEIRAPREPARADORADEALIMENTOSDO SENHOR

  1. Todos se prosternam, em contrição silenciosa aos Pés de Abe- dam, ao que Ele os conforta e encoraja, dizendo: “Se continuardes Co- migo como Eu em vós, a paz e a serenidade jamais terão fim em vossas vidas. Há pouco afirmei que tu, Gabiel, devias erigir uma nova cabana ao lado da tua — e esta cabana já foi construída em vosso coração, onde de fato Me apraz tomar morada.

  2. Ainda assim, haveis de encontrar em vossa pátria uma cabana por Mim construída, na qual os homens não devem penetrar de cabe-

ça coberta, enquanto às mulheres convêm cobrir o rosto, pois aquela edificação é pura, santa e sólida. No centro encontrareis um altar, no qual há de arder um constante fogo desprendendo nuvens claras em direção ao Céu.

  1. Cabe a ti, Purista, o preparo de repasto excepcionalmente aro- mático e somente a ti é permitida esta tarefa de puro amor para Mim. Por isto, é preciso apanhar lenha fresca e limpa, pois chegarei geralmen- te sem aviso. Na chama tereis uma prova da situação de vosso coração.

  2. A lenha virgem e limpa demonstrará o amor sempre renovado e crescente de vosso coração, e a refeição, a total entrega e submissão à Minha Vontade. Se isto for considerado fielmente, virei seguidamente participar de vosso ágape. Se fosse possível que o fogo no coração se apagasse, a chama no altar diminuiria lentamente e Eu não mais seria vosso Hóspede.

  3. Felizes sois vós por comerdes o pão de Minha Mão. Indizivel- mente mais feliz será aquele que for visitado por Mim, razão por que terá sempre a mesa arrumada e uma refeição bem preparada. Mesmo que Eu demorasse a aparecer, ele continuaria a estimular o fogo na cabana de toda Vida. E se Eu aparecer subitamente e encontrar o Meu anfitrião em plena atividade, seu prêmio e alegria não terão fim.

  4. Acabo de vos incumbir da tarefa de hospedeiros e vos forneço a cabana feita em vosso coração e um fogão sempre ardente como pro- va da fidelidade irremovível. Sede mordomos fiéis deste santuário no Levante, que em breve vos certificareis da bênção enorme que surgirá sobre toda região e seus vizinhos.

  5. Tu, minha querida Purista, continuarás sendo a preparadora da cozinha do amor e no fogão da Vida eterna, sendo Eu teu Hóspede. A quem fordes oferecer alimento e bebida em Meu Nome, tê-lo-eis feito a Mim Mesmo. Quem quiser receber um alimento daqui, terá que trazer lenha fresca; ao passo que quem vier vazio por dentro e por fora terá que voltar da mesma maneira.

  6. Dentro da cabana encontrarás toda espécie de vasilhas, Purista, nas quais cozinharás os frutos existentes no pomar, três de cada. Acres- centarás um grande vasilhame para Mim, desde manhã até a noite, e

outro para quem desejar alimentar-se com dignidade. Para ti e teus pais usarás a vasilha e os frutos menores.

  1. Quando os frutos estiverem bem cozidos, retira do fogo primei- ro a vasilha para os forasteiros, fazendo o mesmo com a vossa. A Minha retirarás do fogo somente quando Eu vier ou mandar alguém em Meu Nome, que tomará o alimento ou o distribuirá entre vós.

  2. Recebei a Minha Bênção para esta nova tarefa, desempenhan- do-a fielmente, que continuarei sendo vosso Hóspede abençoador, aqui, como também no Além em Minha grande Casa Paternal.”

23.ABELEZASOBRENATURALDE GEMELAE PURISTA

  1. Alguns dos patriarcas estão curiosos por saber qual das duas mo- ças é mais bela, razão por que Kenan pretende perguntar a Abedam a respeito. Este o antecede e diz: “Kenan, ficarás satisfeito se Eu te infor- mar apenas?”

  2. Diz ele: “Senhor e Pai, que resposta Te darei? Conheces o meu coração. Sei que o desejo de alguns tem dois aspectos: queremos ver a face de Purista como vimos a de Gemela e ouvir também uma palavra do Teu Agrado. Só assim saberemos qual das duas é maior perante Ti. Naturalmente, não depende disto a salvação da humanidade; mas saber o que mais Te agrada não deixa de ter uma razão nesta vida.”

  3. Diz Abedam: “Pois bem, chama os curiosos e veremos qual seu critério.” Enquanto Kenan chama os que também participavam de seu desejo, Abedam toma Gemela no Seu Braço esquerdo e Purista no direito e lhes ordena com meiguice de afastarem os cabelos que co- briam o rosto.

  4. Quando os patriarcas veem as duas beldades divinas, eles são atirados ao solo, como que tocados por um raio, e não se atrevem a erguer os olhos. Eis que Abedam diz para Kenan: “Então, primeiro cantor de Minha Honra, qual das duas te parece mais bela e mais pró- xima de Mim? Acabas de vê-las e certamente serás capaz de formar um julgamento.”

  1. Todo trêmulo, Kenan responde: “Ó Santo Pai, deixa-me entrar numa pele de burro; — que foi que eu fiz? Como cego, pretendia ser juiz de dois sóis luminosos e celestes, dos quais tanto um quanto outro são carregados pelas Mãos do Pai Santíssimo. Se à direita ou à esquerda, o Sol do Levante ou o Sol do Poente, qual seria mais belo? Meu Pai, perdoa-me e não queira transmitir-nos Tua Palavra, pois somos por de- mais indignos para ouvirmos um julgamento sobre os anjos de todos os anjos, dos mais puros Céus.”

  2. Abedam pede às jovens cobrirem de novo o seu rosto e lhes diz: “Ambas Me sois muito queridas e nenhuma sobrepuja a outra. Con- tinuai como sois, que estareis tão juntas de Mim como agora.” Com muito cuidado, Abedam as põe no solo e ambas exclamam em seus corações: “Santo e Amoroso Pai, como merecemos tamanha Graça? Os patriarcas foram por nossa causa confundidos perante todos. A nós ape- nas cabe a culpa por ter Tua Graça infinita nos criado mais belas que qualquer outra mulher. Condoem-nos os patriarcas ainda prosternados e chorosos. Perdoa-os e fortifica-os, como também a nós mesmas.”

  3. Abedam lhes responde: “Não vos preocupeis, pois ninguém se encontra mais próximo de Mim senão aquele que se humilha peran- te Mim. Isto acontece com os patriarcas, por vós lastimados, e além disto vos culpastes sem o menor motivo. Porventura julgais que seja capaz de pecar aquele que Eu carrego em Meus Braços, não obstante seu livre-arbítrio? Sede alegres e felizes, pois esta cena foi prevista desde eternidades. Aproximai-vos deles e transmiti-lhes que se levantem pe- rante Mim.”

  4. Virando-Se para Kenan, Abedam ainda diz: “Então, qual das duas merece o prêmio?” Ele apenas põe a mão sobre a boca e Abedam prossegue: “Se estás quite com teu julgamento, Eu também estou, pois entre as duas não pode haver uma preferida. Todavia, existe uma dife- rença entre elas, mas a Terra não possui visão para isto. Voltai para vosso pouso anterior.”

24.HENOCHRECALCASUAELOQUÊNCIAPOR FALSA

HUMILDADE.DEUSPODESERAMADOCOMO HOMEM

  1. Em seguida, Abedam chama Henoch e lhe diz: “Vejo um temor em teu coração e uma sombra que te apavora e envolve há bastante tem- po, como uma mosca procura meter seu ferrão numa maçã sadia a fim de nela deitar um germe maldito para possivelmente destruí-la. Que finali- dade poderia ter tal fruto? Para que fim serviria um receio para o coração?

  2. Deves proferir um discurso perante o povo, como verdadeiro sumo sacerdote do Meu Amor, Graça e Misericórdia. Isto já foi o desejo de Adão antes que Eu Mesmo tivesse vindo junto de vós. Ontem e hoje te falei a respeito do reforço vivo que recebeste, razão por que não te deves preocupar com aquilo que deves ou queres dizer. Eu Mesmo te inspirarei palavra por palavra. Ainda assim te atemorizas.

  3. Não compreendes quão tolo é este temor? A mim não podes temer, pois sabes e sempre soubeste ser Eu o Máximo Amor em Pessoa. Além disto não ignoras que sou Humilde, Manso, Meigo e sumamen- te Paciente.

  4. O que temes? Teus pais, teus irmãos ou teus filhos? Que tolice! Intimamente confabulas: como poderei sair-me bem caso for preciso proferir o discurso combinado do sábado, e isto, na Presença do Senhor da Eternidade e Criador do Universo — e na frente do Pai, cheio da máxima Sabedoria? Que efeito terão as minhas palavras após termos ouvido os Pronunciamentos da Boca Santificada como torrente de Luz que se dirigia para nós, vermes insignificantes no pó?

  5. Não são estas as tuas divagações? Para que servem? Para a vida? Compreende: Não há motivo de te preocupares com a vida. Julgas que seja do Meu Agrado se calas e Eu falo em teu lugar? Esta humildade não Me agrada, quando te desencorajas e temes os Meus Ouvidos e Meus Olhos.

  6. Sinto o maior Agrado com o comportamento semelhante aos pequeninos que não têm receio dos pais, pois são sempre desinibidos, falam e gritam como se fossem os senhores da casa. Quando estão com fome e sede, correm cheios de amor e submissão para junto dos pais

e agradecem mais pelo alegre saborear do que com um agradecimen- to efusivo.

  1. Eis uma regra para o Amor e sua Sabedoria: Para o limitado, tudo deve ser mantido no justo controle, pois o ilimitado é para ele a morte. Não podes amar-Me como Deus, senão como Homem. Qual seria o peito que suportasse Deus Infinito, o eterno fogo do Amor Di- vino? Qual seria o espírito criado que suportasse a Plenitude sem fim da Sabedoria Divina?

  2. Qual seria a criança que amasse sua genitora como ela a ama? Ainda que o pudesse com sua força reduzida, que seria em breve da criança? No entanto, seria apenas o jogo de uma limitação contra a outra. Qual seria o resultado, se a limitação pretendesse assimilar o In- finito, sob qualquer ponto de vista?

  3. Portanto, vês, Henoch, que são infundados teu medo e teu pa- vor. Quem Me ama com todas as suas forças, terá feito o bastante, pois cumpriu sua medida, e para tanto não é preciso medo nem pavor.

  4. Uma árvore cumpre sua missão quando enche seus galhos com frutos saborosos. Seria tolice exigir-se que suprisse o mundo inteiro com seus produtos. Sê confiante e cumpre Minha Vontade, que estarei plenamente satisfeito. Não procures satisfazer-Me infinitamente — im- possível ao mais elevado espírito criado — mas aplica as tuas forças para que encha tua medida. Quanto ao Infinito, deixa que Eu, teu Pai, dele Me incumba. O discurso faz parte de tua medida; ergue-te com cora- gem e fala, em Meu Nome.”

25.AONIPOTÊNCIADEDEUSEOPODERDE SATANÁS

  1. Meditando sobre as Palavras de Abedam, Henoch reconhece que o Pai acertara na sua fraqueza. No entanto, não se conforma com a ação da mosca e diz: “Santo Pai, podia Satanás aproximar-se de Tua Santi- dade como fez a mosca com o fruto? Acho estranho essa possibilidade no Reino da Vida e da Luz; o que tem o espírito das trevas a ver ali?”

  2. Responde Abedam: “Que te importa isto, se Meu Amor e Mi- sericórdia são maiores do que poderias imaginar por toda a eternidade?

Se Meu Amor e Misericórdia se estendem até o mais tenebroso espírito, por que Me perguntas como se em Minha Presença fosses prejudicado?

  1. O Sol do mundo é uma grande luz e projeta seus raios aos mais distantes espaços. Deveriam a Terra e seus vizinhos se preocupar por ser sua luminosa genitora tão esbanjadora com seus raios? Se assim fizes- sem, ela diria: Por que vos preocupais com isto? Porventura eu vos privo de algo, enquanto cada um de vós recebe luz e calor em quantidade justa e supérflua?

  2. O mesmo ocorre Comigo. Por isto, não te preocupes com Meus caminhos insondáveis e continua agindo na simplicidade de Meu Amor, deixando sem comentários os grandes reinos das trevas, que poderás es- tar certo que o príncipe das trevas, ainda bastante forte, nada terá que ver contigo e com todos os teus irmãos de teu amor.

  3. Ainda que eternidades não fossem suficientes para que pesqui- sasses a imensidade de seu poder e força, não deixa de ser ele um espíri- to criado, e onde o seu poder termina para sempre aí somente começa a Minha Onipotência eterna. Por isto, não te preocupes, pois se te en- contras em Minhas Mãos, o teu mais leve hálito é mais poderoso que todo o poder e força de Satanás.

  4. É semelhante a um leão esfaimado que urra de fome, e ai do ani- mal percebido pelo seu faro! Até mesmo o mamute passaria mal nesta luta. Embora o leão esteja rugindo de fome, muitas vezes não percebe as moscas que zumbem em redor de suas orelhas.

  5. Nisto se baseia o grande poder da humildade do ser mais ínfimo. Uma mosca pode se tornar um tormento para muitos leões, enquanto eles nada representam para ela. De há muito te tornaste uma mosca da humildade. Deixa de lado o leão inofensivo e dedica-te à tua tarefa abençoada.”

  6. Henoch agradece por esta libertação e fortalecimento de seu co- ração, dizendo: “Amém. Tua Santa Vontade Se faça! E vós, patriarcas, irmãos e filhos, ouvi-me. Encontramo-nos no meio-dia do Senhor, na Presença Sublime do Pai, nosso Deus Onipotente e Criador de Céus e Terra. Que faremos para merecer esta infinita Graça, dentro de nossa limitação?

  1. Se prestamos um serviço ao próximo, ele nos pode favorecer com algo maior. Se alguém me guiou cem passos, eu o acompanharei durante duzentos passos; cem por me ter acompanhado e cem por ter sido guia; portanto, estamos quites e ninguém é devedor de seu irmão, a menos que aceite a tríplice recompensa. Se quiser ir além, poderá fazê-lo, com que o outro se tornará seu devedor.

  2. Se alguém me dá um pedaço de pão, eu lhe devolvo três. Um, pelo pedaço dado, outro pela sua boa vontade e o terceiro pelo trabalho que teve. Poderia ele exigir mais de mim?

  3. É fácil restituir mil vezes um favor ou um benefício prestado por outrem, mesmo que ele tenha salvo a minha vida num acidente, pois poderei morrer por ele e carregá-lo na palma da mão por toda a minha vida.

  4. Mas — que podemos fazer aqui? Que daremos ao nosso Pai, ao Doador de todos os benefícios? Àquele Que nos deu a Terra, o Sol, as estrelas; enfim, quem poderia enumerar os tesouros dados por Ele? Além disto, Ele veio em Pessoa para nos enriquecer com tesouros mais precio- sos da Vida eterna, do Seu Amor, Graça e Misericórdia e Seu Verbo Vivo.

  5. Meus queridos, que poderemos dar-Lhe em troca? Esta per- gunta contém um sentido tão profundo que nem a eternidade pode- ria responder. Se alguém perguntasse quantos grãos de areia contém a Terra, quantas gotas o mar e quantas estrelas o Universo, talvez um querubim nos desse uma resposta satisfatória.

  6. Mas, qual seria o arcanjo original capaz de responder minha pergunta capital, pois ele só pode silenciar em contrição diante Daque- le que o criou. Nada mais poderá fazer senão amar e adorar o Santo Pai que o amou desde eternidades, antes que aparecesse como ser. E todos aqueles sóis que ainda não foram contados por nenhum espírito criado, com todos os seus enormes habitantes de fogo — que poderão fazer? Somente aquilo que o maior arcanjo faz: cumprir em silêncio a Vontade do Pai. E cada Sol nas criações mais distantes transmite, atra- vés de seus raios, que existe apenas um Deus, o Pai, que os criou para o Amor e também para amar os espaços sem luz e vivificá-los com o Amor Paternal.

  1. E nós, Seus filhos, em meio dos milagres do Amor, pergunta- mos: Que devemos fazer? Nada, nada mais senão amá-Lo com todas as forças por Ele conferidas e apreciar com gratidão toda a dádiva do Amor eterno. Devemo-nos humilhar, não pela demonstração de sacri- fícios, do sangue dos animais, não pela fumaça das hastes de trigo, mas exclusivamente em espírito e na verdade de nossos sentimentos.

  2. Construiremos verdadeiros altares, cada qual segundo suas forças e poderes. Assim como na flora e fauna existem infinitas espé- cies, cada criatura possui inimagináveis graus de forças, espirituais e psíquicas.

  3. Quem possuir um coraçãoforte, que seja forte no amor, para que ele fortaleça todas as demais forças. Quem tiver boa visão, deve dirigi-la pra o coração para que seu sacrifício de gratidão se aposse da chama viva e assim fortifique o espírito no verdadeiro amor para com Deus. Quem tiver boa audição, pode dirigi-la para os ouvidos do co- ração, para que tudo que foi ouvido se una no coração fazendo um cântico de louvor diante do altar vivo do amor. Quem for forte nos pensamentossobre todas as coisas, que os leve de volta para o coração, incendiando-os com as possíveis chamas mais fracas do amor para o Agrado do Pai. Quem for forte no sentir , conduza esta fonte podero- sa para o altar do puro amor, para que a chama tenha uma constante nutrição pela Glória do Santo Nome de Jehovah em nós. Quanto às percepções, representam elas a lenha fresca que todo sedento e famin- to deve levar para a cabana de Purista, como contribuição e oferen- da. Quem for forte no amoraopróximodeve levar seus irmãos para esta cabana pura do Senhor, suprindo-os com o alimento da vida. Não existe maior agrado para o Pai senão pelo acolhimento de irmãos mais pobres, ainda que venham das planícies, oferecendo-lhes uma vasilha bem maior que a nossa. Do contrário, o Santo e Sublime Hóspede difi- cilmente participará do alimento do Amor para nos abençoar.

  4. Toda e qualquer força em nós é uma dádiva do Pai e seria ir- risório usá-la como propriedade particular. Se alguém se apossasse da obra de seu irmão, estaria praticando um ato de egoísmo. Contudo,

seria apenas ladrão do próximo. Apossando-se de uma Dádiva de Jeho- vah, seria ladrão de Deus, o máximo grau do egoísmo.

  1. Neste caso, deixaria de ser um filho do Santo Pai, entregando-

-se ao julgamento como criatura. Caso não se modificar, será filho da serpente, da morte, da ira, do inferno cheio de maldição e condenação.

  1. Que representa nosso amor verdadeiro e puro para com Deus? A mais estreita união de nossa vida com a Vida de Deus, do Qual todo ser e vida surgiram. Amar a Deus nada mais é senão iniciar uma vida nova, eternamente imortal, quando deitarmos nossas forças, como Dá- divas divinas, no altar do espírito, alimentando a chama santificada com a lenha fresca da humildade, para que surja um fogo total que se aposse de nossas forças sacrificadas, destruindo-nos mundanamente.

  2. Desta destruição surgirá justamente uma nova vida em Deus, nosso Pai. Isto se refere à vasilha maior na santa cabana de Purista. Tão logo os frutos estiverem cozidos, apresentar-Se-á o Espírito Santo, para participar do manjar com Seus filhos, um manjar de Amor, Graça e Misericórdia.

  3. Se assim agirmos, teremos prestado a Deus o mais justo louvor e honra, adorando-O no pó da nossa mais completa nulidade, no novo altar do coração e estaremos sempre com Ele. Quem não se sacrificar neste altar transformando-se em pó, fumaça e cinza, quem não passar por esta prova de fogo, não conseguirá afastar de si a morte certa, tam- pouco receberá uma ‘Gemela’ como prêmio.

  4. Quem vive e respira livremente, sentindo o imenso benefício da vida e sua doçura, considere que esta vida terrena é apenas uma vida de provação e em tudo uma Dádiva do Santo Pai.

  5. Quem tolamente pretender apossar-se dela, perdê-la-á para sempre. Mas quem a devolver ao Santo Doador como fora demons- trado tão amplamente através do sacrifício próprio, conservá-la-á para toda a eternidade, junto de Deus, nosso Pai Eterno.

  6. Deste modo orientados, convém não sermos apenas ouvintes, mas transferirmos o conhecimento audivelmente no coração, para que se projete no sangue e dali para toda a nossa natureza, para uma ação

verdadeira. É o maior tolo quem conhece o caminho mais curto para Deus, no entanto não se dispõe a segui-lo.

  1. Conservando as palavras no coração, a criatura se tornará ver- dadeiramente sábia na Ordem de Jehovah, que prefere uma construção de cedros vivos a uma feita por árvores preparadas para tanto; mas, como estão mortas, apodrecem e tombam com a tempestade, matando seus moradores.

  2. Se deitarmos uma semente no solo para em tempo certo con- seguirmos uma casa viva, no âmbito da semeadura, porventura não se- remos obrigados a aguardar com paciência e morarmos na construção sem vida até que a outra esteja pronta? E uma vez instalados, imensa será a alegria pela morada sólida e viva que nos protegerá de qualquer tempestade.

  3. Durante anos o homem fica regando as plantinhas, uma por uma, para que cresçam depressa, podendo ele oportunamente aprovei- tar os troncos para neles entrelaçar os galhos aromáticos da mirra e do louro. Tal atitude é deveras sábia e pode ser transferida para nós mesmos.

  4. A semente mais sadia foi sobejamente semeada. Temos água viva em grande quantidade. O Sublime, Santo e Onipotente Constru- tor está visivelmente entre nós, todos devidamente conscientes, e nos encontramos no meio sagrado do dia mais claro. As montanhas nos fornecem ricos aromas das ervas mais perfumadas. A palha dourada existe em toda parte em grande abundância. Quão pouco nos falta para a posse das habitações vivas em espírito!

  5. Ajamos aplicando a Palavra Viva, cheia de força e poder, e o prêmio de Lamech, a divina Gemela, ou seja, o Amor do Pai, suave e meigo, não nos faltará. Já se encontra conosco, mas é preciso apossar- mo-nos dela a fim de atingir a meta imposta pela infinita Bondade e Amor de Deus.

  6. Farei um juramento, dando-vos uma prova flagrante da Pre- sença de Jehovah, que foi, é e sempre será minha Testemunha, dizendo: A criação total está imprensada por uma queda duplamente dura. O mundo está maculado pelo antigo pecado e herdamos a morte, primei- ro em espírito e depois na carne.

  1. Ainda que Deus não nos possa devolver a vida física em virtude de Sua Santidade, Ele Se compadece de nosso espírito, fazendo-nos de novo filhos de Sua Graça, Misericórdia e Amor para podermos partici- par novamente da Vida Eterna.

  2. Encontra-se em nossa frente a Vida e o Caminho para junto Dele: o Amor representa a Vida; a Humildade é o Caminho. Aposse- mo-nos dela com coragem e ajamos como fomos ensinados, que certa- mente não ingressaremos na morte, na grande Presença do Causador e da Fonte de toda a Vida.”

26.HENOCH,OPRIMEIROPREGADOR.HOREDE NOÊMIA

  1. Depois de ter concluído seu sermão, Henoch se aproxima de Abedam e Lhe agradece pela ajuda. Abedam então diz: “Acabas de te convencer quão fútil era teu temor anterior. Daqui por diante hás de falar tão puramente como fizeste, em Meu Nome, sendo esta tua tarefa principal de cada sábado. E Caso Eu te demonstrar alguém que se te- nha desviado de Mim em virtude da atração mundana, tu o procurarás diariamente, em Meu Nome, e colocá-lo-ás no justo caminho do arre- pendimento, da humildade e do amor para Comigo.

  2. Se tais casos se repetirem e não dispuseres de tempo, poderás escolher alguém que se preste para tal função a fim de enviá-lo como ajudante, e não te preocupes com ele, pois Eu estarei com ambos.

  3. Se apuseres tuas mãos em alguém, em Meu Nome, Eu o influen- ciarei com o Meu Espírito, de sorte que vaticinará como tu. Incendiar-

-se-á por amor a Mim a ponto que toda a natureza, flora e fauna se submeterão diante de ti, como sumo sacerdote, e diante dele.

  1. Quem se regenerar será recebido com Minha Graça, Amor e Mi- sericórdia. Mas quem tapar coração e ouvidos e cerrar os olhos diante de vós deve sentir por sete vezes o Meu Açoite em tua mão. Se ainda assim não se modificar, tu o expulsarás da comunidade.

  2. Se quiser voltar arrependido no coração, manda aprontar um banquete para o qual convidarás muitos amigos a fim de que haja uma alegria especial quando um perdido volte para o seu Pai no coração. Em

verdade te digo, deveis sentir muito mais satisfação com a regeneração de um perdido, do que com noventa e nove justos que dispensam tal conduta. Quem estiver na luz, dificilmente poderá errar.

  1. O destino dos fracos é o porte do jugo suave em caminhos bem iluminados. Se Eu der a um forte um peso maior para carregar durante a noite, mas ele erra o caminho e não vos atende, não che- gará a um destino, a não ser que pressinta a queda e a morte. Então poderá retornar pelo caminho difícil até vos alcançar, e com isso tereis encontrado um irmão que julgáveis perdido para sempre, como Eu terei encontrado um filho perdido. Isso vale mais que noventa e nove justos que nunca puseram os pés fora de casa. Por isso, deve ser grande a vossa alegria com alguém que estava perdido; sim, que estava morto e ressuscitou.

  2. O justo não tem motivo para se queixar, porquanto carrega um peso leve. Mas quem tem nos ombros um fardo pesado e se lastima quando o mesmo o atira ao solo, não se compadeceria dele e não faria tudo para soerguê-lo? E se isso não lhe for possível, sendo forçado a deixar sucumbir o irmão debaixo do peso das vicissitudes, que sentiria o seu coração?

  3. Se, no entanto, o irmão inopinadamente se consegue erguer, o outro não acorrerá com alegria, levando-o para casa a fim de lhe pre- parar uma boa refeição? Por isso repito que deveis advertir com ênfase os desviados e procurar os que se afastaram de vós, com todo o vosso amor a Mim.

  4. Ninguém deve castigar o irmão, a não ser que Eu lhe ordene: Pune-o com o fogo do teu amor! Deixa que se afaste da comunidade a fim de que ninguém se aborreça com ele, mas teu coração deve acompa- nhá-lo até o fim do mundo. Teu olhar de despedida deve transmitir-lhe que o consideras teu irmão, pobre e sofredor, e que ele, conquanto tenha sucumbido, não deixa de ser filho do Meu Amor.

  5. Longe de vós seja a ira, e nunca pronuncieis qualquer maldição e muito menos a alimenteis no coração. A medida aplicada entre vós será adotada por Mim, e quem pecar contra vós tê-lo-á feito a Mim. Se o próximo for julgado por vós, Eu também o farei, mas somente Eu sei

como. Não escapareis ao vosso julgamento, também conhecido somen- te por Mim. Agora, Henoch, envia um mensageiro para a região que fica entre Ocidente e Oriente, onde Hored e Noêmia vivem na maior devassidão. Ele desconhece o que ocorre aqui. Por isso, dize-lhes que Eu o mandei chamar e que deve atender-te imediatamente.”

27.SALVAÇÃODEHOREDE NOÊMIA

  1. Sem mais delongas, Henoch chama o irmão de Gabiel de nome Lamel, e lhe diz: “Conheço a tua boa vontade em querer trabalhar em Nome de Jehovah; por isso, deves ir à procura de Hored e Noêmia, filha do rei Lamech de Hanoch, que não fora abençoada por Adão e os demais patriarcas.

  2. Transmite-lhe a ordem do Senhor de se encaminhar imediata- mente para cá. Caso se oponha, mostra-lhe os inimigos armados que de Hanoch o descobriram e apenas aguardam um momento propício para entregá-lo com sua mulher à vingança cruel de Lamech.

  3. Até então ele foi protegido pela Mão do Senhor. Mas, se não te acompanhar, o Senhor retirará Seu Braço Protetor e Hored terá que se defender contra eles como puder e quiser. Se ele concordar conti- go, socorre a ambos que o Poder do Senhor, que neste momento em que coloquei minhas mãos sobre ti te insufla, vos trará com a maior rapidez para cá. Que a Graça, o Amor e a Misericórdia do Senhor vos acompanhem.”

  4. Dentro em pouco, Lamel descobre uma cabana, da qual surge enraivecido Hored que o recebe com impropérios, dizendo: “Infeliz, o que te traz aqui? É preciso que minha maldade venha te atingir? Jurei para minha companheira que havia de estrangular o primeiro que viesse perturbar nossa feliz solidão, ainda que fosse o próprio Adão. Escondi-

-me neste recanto e queria viver feliz com aquela que encontrei. Quem te mostrou este esconderijo? Fala!”

  1. Fitando com rigor o exaltado Hored, Lamel responde: “É assim que recebes o teu salvador mandado por Deus Mesmo, Que caminha entre nós, na colina abençoada? Antes que comeces a me estrangular,

demonstrar-te-ei que os dotados do Poder Divino não se deixam massa- crar, ainda que tivesses feito mil juramentos à tua companheira.

  1. Para que vejas não ser simples palrador como tu, arranca do solo este cedro velho e atira-o para cima desta montanha contra os teus adversários de Hanoch. Se disto fores capaz, poderás estrangular-me. Além disto, observa no vale quem precisamente se aproxima de tua cabana, no sábado, para apanhar a ti e a ela, e em seguida entregar-te a vingança de Lamech pelo rapto de Noêmia.”

  2. Com imenso esforço, Hored procura vergar o cedro, sem con- seguir ao menos que se mova. Irritado, esbraveja: “Prova que tu podes arrancá-lo!” Lamel apenas toca a possante árvore que se desfaz em lascas como se nunca tivesse estado de pé. Em seguida, Lamel aponta para a superfície, onde um exército de Hanoch está de prontidão e diz para Hored: “Por que hesitas com tua ameaça, pois quiseste estraçalhar-me?”

  3. Apavorado, Hored exclama: “Estou perdido, e sempre pensei que isto acontecesse um dia!” Diz Lamel: “Se pressentiste este momen- to, por que não voltaste à pátria de teus pais para que te abençoassem como fizeram com os demais, tanto mais quando foste um verdadeiro embaixador e não tiveste culpa que Lamech te entregara Noêmia? Tal presente era apenas teu e ninguém o teria disputado, ainda que a extra- ordinária beleza dela nos fosse mostrada cem vezes. Não havia motivo para fuga; todavia, assim fizeste, e sabes por quê?

  4. Quando te dirigiste para Hanoch, os patriarcas de dotaram de grande poder e força, de sorte que o esperto Lamech percebeu que nada podia fazer contra ti, e com astúcia escolheu o meio mais seguro de se livrar de ti e também atar-te à serpente com o presente de Noêmia.

  5. Conjecturava o seguinte: Se for Hored enviado por uma enti- dade superior, quiçá pelo antigo Deus, cuja Voz potente eu mesmo já ouvi certa vez logo após eu ter matado os meus dois irmãos, ele nunca há de aceitar algo de mim, muito menos a mulher ligada a um homem.

  6. Precisamente quando Lamech menos esperava, te deixaste le- var por sua astúcia, aceitando o pior veneno das mãos do pior traidor contra Deus. Qual foi a consequência deste veneno? Tua fuga para cá,

perseguido por vários espiões de Hanoch, sem considerares se o poder conferido pelos patriarcas ainda estava contigo.

  1. Lamech e seus perseguidores assim julgavam. Mas, depois de ter prestado um grande serviço à serpente com o ultraje e maldição do Nome de Deus, ela lhe demonstrou tua total impotência. Por isso Lamech enviou um exército de mil homens fortes e bem armados para prender-te e entregar-te à sua tremenda vingança, enquanto Noêmia deve se tornar o que já fora anteriormente: uma prostituta geral de todos os homens importantes do reino, que sem ela teriam abando- nado Lamech.

  2. Julgaste ser preciso ocultar-te no mais afastado esconderijo a fim de poder gozar uma felicidade imperturbável; também acreditáva- mos que nada te faltaria e te abençoamos sempre. Mas, nosso Pai, Santo e Amoroso, que ora Se encontra em nosso meio, abriu-nos os olhos a respeito de tua situação, enviando-nos para salvarmos a ti e a tua com- panheira. Reconhece a Vontade do Senhor, chama Noêmia e vinde co- migo para que vos salve antes de os esbirros de Lamech vos prenderem.”

  3. Diz Hored: “Agora acabo de reconhecer-te, irmão Lamel. Mas, eis Noêmia chegando da cabana; portanto, nada nos impede de obede- cer-te.” No momento em que Lamel se apronta para conduzi-los com mão forte, eis que de todos os lados se atiram as hordas inimigas em direção à cabana. O casal se julga perdido, mas Lamel lhes diz: “Olhai bem onde estamos e depois gritai, caso for preciso.” Ambos se admiram muito ao perceberem que já se encontram perto da gruta de Adão, à cuja saída Henoch e mais Alguém os esperam de braços abertos.

28.OINCÊNDIO DA FLORESTA

  1. Quando Lamel avista Henoch e Abedam, corre junto deles e agradece a Deus pela grande Misericórdia e Amor prestados a Hored e Noêmia. Abedam então lhe diz: “Lamel, como teu irmão conhece apenas Henoch e nada sabe de Mim, vamos tomar outro caminho para chegarmos à colina.”

  1. A caminho para lá, deparam com imensa fumaça em direção ao Sul e Henoch se dirige a Abedam, dizendo: “Santo Pai, o que representa aquela fumaça?” E Abedam responde: “Tem um pouco de paciência e te certificarás da maldosa astúcia de Lamech. Como a tempestade de ontem tivesse provocado grandes estragos nos jardins de Lamech e prejuízos enormes em suas ricas manadas, ele mandou incendiar todas as florestas para exterminar os habitantes das montanhas. Vamos até aquela rocha branca para pegarmos em flagrante os incendiários.”

  2. Quando Henoch avista os esbirros de Lamech, exclama: “Se- nhor, terias gasto ontem todos os raios? Aqui poderiam ser bem em- pregados. O verme pretende erguer-se contra Deus. Como gostaria de fazer uso de Teu Poder e Força que me conferiste! Que o Sol envie milhares de raios e trovões até que o orbe estremeça em seus alicerces!”

  3. Tomando a mão de Henoch, Abedam diz: “Alto lá, querido He- noch! Por ora deixemos os raios em paz, pois estamos comemorando o sábado que não pode ser dia de julgamento, mas de calma, de paz e de amor do Senhor, Criador e Pai de todas as criaturas. Ai delas, se o sábado se transformar em dia de maldição!

  4. Em vez do julgamento do fogo, enviaremos uma forte chuva sobre a obra da tolice e maldade dos homens, e poderás estar certo que cada gota será mais útil às árvores em chamas do que mil raios. Vamos amainar o fogo com água, pois a época do fogo ainda está distante. Mas, quando ela chegar, ai das montanhas e das florestas!

  5. Estende tuas mãos, em Meu Nome, e ordena que as nuvens se aglomerem para uma forte chuva sobre este incêndio florestal. As altu- ras ficarão livres por hoje, amanhã e depois de amanhã, tempo determi- nado para Minha visível Presença entre vós.”

29.PRESUNÇÃODE SATANÁS

  1. Imediatamente Henoch estende as mãos e diz: “Brisa suave, manda que teus espíritos aglomerem aqui nuvens carregadas de chuva, para que se abrande o incêndio. Tua ação não terminará em Nome de Jehovah até que não seja apagada a última chama.”

  1. No mesmo instante se apresentam nuvens pesadas, que de pron- to desabam em chuva fortíssima sobre toda a região do incêndio. Por cima das nuvens há claridade que permite uma visão além, e dentro em pouco se nota na superfície das nuvens um redemoinho semelhante aos movimentos de uma serpente.

  2. O torvelinho se aproxima cada vez mais e finalmente toma a forma de uma figura luminosa que se posta diante de Abedam, dizendo: “Que fazes em meu domínio? Esqueceste o prazo dado por Ti? Afasta-

-Te daqui e me deixa em paz no que é meu. Eu, e não Tu, sou senhor e mestre desta criação.”

  1. Retruca Abedam: “Satanás, até aqui e não mais além! Se ultra- passares esta divisa sagrada entre Mim e ti, serás julgado e reconhecerás Quem é o Senhor e Deus desde Eternidades. Reconhece para que fim foi dada esta época e te afasta! Que assim seja!”

  2. Soltando um terrível uivo, Satanás se atira, totalmente incendia- do, ao abismo. Em seguida, Abedam diz: “O fogo apagou e os crimi- nosos foram rechaçados. Partamos em paz. Por ora, Adão não deve ter conhecimento deste fato.”

30.PERGUNTADIRIGIDAPORABEDAMAHOREDE NOÊMIA

  1. Em seguida, o pequeno grupo segue por um caminho estreito, comumente usado pelos filhos do Sul, para chegar junto dos patriarcas. Evitam a passagem pela gruta com respeito a Adão e para não ultrajá-la pelo uso diário.

  2. Este atalho é portanto um caminho da humildade, escolhido por Abedam como interpretação simbólica para o casal a fim de che- gar às alturas da Vida, onde exclusivamente poderão reconhecer Deus. Assim caminham, e Noêmia várias vezes tem dificuldade de soltar seus trajes reais dos espinhos ali existentes. Na subida, o caminho se apre- senta cada vez mais espinhoso e ela finalmente não consegue prosseguir e desata a chorar pedindo socorro.

  3. Como ficasse para trás devido ao constante enroscar dos espi- nhos na roupa, e os quatro homens já estando bastante longe, não se

ouve aparentemente seus gritos. Quando eles chegam ao planalto, Abe- dam Se vira como se quisesse averiguar se todos alcançaram o pico e diz: “Então, filhos de Deus, estamos todos juntos?”

  1. Hored, que somente agora se refaz do susto com a aparição na rocha branca, percebe a ausência de sua querida companheira. Abedam nota seu embaraço e lhe diz: “Por que te preocupas em vão, se há pouco viste que ela havia ficado presa nos espinhos do atalho, chamando por ti, mas não a escutaste? É preferível que voltes e a ajudes, pois não se encontra longe daqui, emaranhada num grande espinheiro. Vai, que esperamos por ti.”

  2. Entristecido, Hored começa a clamar: “Ouvi-me irmãos em Deus ou, se existe um pai para mim, que me atenda! Consta que Deus, nosso Pai, Se encontra entre os patriarcas. Se isto é verdade, tudo me é claro. Sua Santidade Infinita não permite que minha esposa, impura, se aproxime desta colina. De que adianta minha volta, caso um de vós não me acompanhe para soltá-la dos espinhos?

  3. Henoch, Lamel e tu, amigo forasteiro, não me abandoneis e não permitais que minha esposa sucumba. Tenho que voltar, porque cometi uma grande falta. Que alguém de vós mostre um ponto certo na rocha branca, onde hei de fazer penitência até o fim de minha vida.”

  4. Enquanto Hored assim se lastima, Abedam envia Lamel para trazer Noêmia incólume. Antes de Hored terminar seu desespero, Noê- mia já se encontra entre eles, e Abedam então diz: “Hored, se continuas nessas lamúrias, Noêmia pode até mesmo perecer; e se consideras que ambos não merecem se aproximar da Presença de Jehovah, quem au- torizou Lamel a salvar-vos do extermínio de vossa própria volúpia? Se isto foi feito por Jehovah, quem O impediria de vos mandar trazer aqui e vos abençoar tão logo fordes dignos? Levanta-te e procura conhecer melhor o Santo Jehovah.”

  5. Diz Hored: “Se nem ao menos um de vós me garante ajuda para minha companheira, eu não me levanto mesmo sendo castigado com serpentes. Se ela pereceu por minha culpa, quero expiar minha tolice diante de Deus e dos patriarcas.”

  1. Nisto, Abedam acena para Noêmia a fim de erguer Hored do solo e ela o faz, dizendo: “Hored, por que te queixas por minha causa? Já me encontro aqui há algum tempo, salva pela palavra maravilhosa deste desconhecido. Levanta-te, segundo conselho dele.” Sumamente feliz, Hored agradece pela salvação da esposa e Abedam diz: “Hored, és ainda bastante tolo. Como imaginas Jehovah? Como vento forte, ou uma chama flamejante, um sol, ou um raio?”

  2. Responde Hored: “Não me perguntes tal coisa, pois quem se atreveria a enquadrar Deus numa forma desajeitada? Deus é Eterno e não há forma que se preste para Ele.”

  3. Diz Abedam: “Claro que para a tua forma bastante tola Ele não presta. Mas, Noêmia, filha do mundo, hás de Me dizer como imaginas Jehovah.” Sorrindo, ela diz: “Amigo, bondoso e excepcional, perdoa se também não consigo criar uma figura que fosse digna Dele. No entan- to, não posso negar que O apreciaria em Tua Figura. Certamente disse uma tolice muito grande.” Abedam retruca: “Sê confiante, pois nesta Figura hás de reconhecer em breve Jehovah, Deus Eterno e Poderoso, como Pai cheio de Amor.”

31.PUNIÇÃODEHOREDPELOSEUCIÚMEDE ABEDAM

  1. Após estas palavras, o grupo segue caminho para o lugar onde se encontram os patriarcas. Quando Abedam Se aproxima deles, todos se prosternam, alguns com exclamações efusivas de louvor, outros pela contrição silenciosa do coração. Essa cerimônia se estende em vasto âm- bito do planalto e tão generalizado que além das cinco pessoas recém-

-vindas ninguém se encontra de pé. Henoch e Lamel teriam seguido o exemplo dos outros, caso Abedam não os tivesse impedido por causa de Hored e Noêmia.

  1. Estranhando este fato, ela se aproxima de Abedam e diz: “Bom amigo, podes dizer-me a quem se dirige essa prosternação geral? Talvez Se aproxima o Santo Jehovah? É isto, esse ato de contrição se dirige a Ele. Desde criança alimentei o desejo de poder ver somente uma vez o

Sublime e Santo Jehovah, pois minha mãe me orientou a respeito Dele, seguindo ensinamento de Farak, irmão de Hanoch.

  1. Tive a desgraça de ser a mais bela filha das planícies e por isso meu pai me vendeu por várias vezes a homens lascivos. Mas, em virtu- de de minha excessiva voluptuosidade conferida por Jehovah, ninguém suportava, felizmente, o contato comigo além de três momentos. Meu próprio irmão Tubalkain não fez exceção neste caso, razão por que não conseguiu gerar um filho comigo. Em suma, todas as sevícias impostas pelo meu infeliz pai não conseguiram afastar-me de Jehovah.

  2. Hored, meu verdadeiro salvador, pode testemunhar que du- rante o nosso convívio eu só queria palestrar a respeito de Jehovah e também não permiti o contato com ele porque não tínhamos sido abençoados.

  3. Convirás, bom amigo, que eu, filha do mundo e da serpente, consegui muito em conservar no coração o pouco que sabia de Jehovah e, não obstante todas as lutas mundanas que procuravam me soterrar, tive a força suficiente de conservar puro o meu coração. Podes acreditar que, conquanto seja filha infeliz do pai mais infeliz do mundo, cuja loucura é muito maior do que alguém possa imaginar, eu nunca amei outra pessoa senão Jehovah, Criador de Céus e criaturas. E agora que neste local chego a gozar a extensa adoração das Obras milagrosas de Deus, tenho vontade até mesmo de morrer de amor por Ele. Se Ele aqui aparecer, permite que O veja ao menos por um instante.”

  4. Nesta altura, Noêmia não consegue mais falar e lágrimas de amor e saudade inundam seu belo rosto. Alegria e medo lutam em seu coração, a ponto de tremer no corpo todo. Abedam, então, chama Hored e diz: “Filho do Levante, eis aqui uma representante abando- nada das planícies. Ela treme de amor e saudade, temor e alegria por Jehovah, enquanto não tiveste a menor reação e apenas dirigia olhares de ciúmes para Mim.

  5. Por isso te digo que sou o Senhor e tirarei de ti esta nobre cria- tura e a plantarei num outro jardim, sem que tornes a vê-la, porque Me esqueceste por ciúme, desconsiderando que te fiz salvar da perdição por tua volúpia tola.

  1. Tens conhecimento da antiga lei dos patriarcas que te nomea- ram para professor. É este o fruto de teu ofício? Que inseto venenoso te feriu a ponto que teu coração se transformou em coração de tigre? Conheces a Mim, conheces a Deus? Noêmia pressente Quem sou; mas tu estás diante de teu Deus e Criador, mudo qual tronco. Vai até a gruta e procura saber se teu coração é capaz de um remorso; pois Eu, que Ora te falo, sou Jehovah, Deus de Eternidades!”

  2. Hored cai como que fulminado ao solo, enquanto Noêmia, ajoelhada, balbucia: “Ó Jehovah, sê Misericordioso para com esta pecadora!”

32.ABEDAM,HOMEMEDEUSAOMESMO TEMPO

  1. Virando-Se para Noêmia, Abedam, diz: “Estás satisfeita por Eu ter te demonstrado Jehovah em Minha Pessoa, e acreditas que Eu, como Homem, também sou Deus?”

  2. Essa pergunta causa certa estranheza em Noêmia, mas responde com voz tão suave e apenas dom das criaturas mais delicadas em mo- mentos de veneração: “Deus Sublime e Santo! Teria acreditado se me dissesses: Nesta brisa que ora passa por ti e é apenas sentida por alguns patriarcas, Jehovah Se apresenta. Creio que te mostras na forma huma- na, mais agradável e compreensiva, de modo tão suave e meigo.

  3. Sei, por intermédio de minha mãe, Zilá, que ages em cada forma e não necessitas de ninguém, pois és em tudo Autossuficiente. Quanto à Tua Individualidade, só podes ser considerado como Homem per- feitíssimo. Se nós, criaturas, não concebemos figura mais perfeita que a humana, impossível eu ter outra concepção. Podia externar outras ideias pelas quais Te reconheço e creio firmemente seres Tu, exclusiva- mente, o Santo Jehovah. Não quero me tornar tagarela e aborrecer-Te, tampouco seria conveniente diante de Ti e dos patriarcas se eu fosse testemunhar o que sente o meu coração.

  4. Atende somente este pedido: Não castigues por demais o hones- to Hored por ter falhado diante de Tua Santidade. Sê Misericordioso conosco e não nos expulses de Ti. Se ele errou, fui eu a causa de sua falta

e podes punir-me no lugar dele. Sou um fruto triste das trevas e do pe- cado, e carrego a morte eterna como punição certa. Como podia Hored manter-se conforme Teu Agrado, em minha companhia, enquanto para os patriarcas era fácil porque nunca caíram na tentação? Não sou eu a única responsável pela falta dele?”

  1. Retruca Abedam: “Noêmia, teu pedido já foi atendido muito antes que o tivesses externado, portanto pode o teu coração estar cal- mo. Disseste há pouco que podias revelar certos aspectos pelos quais Me reconheces e por isso crês firmemente não haver outro Jehovah além de Mim.

  2. Ainda que tagarelasses um dia inteiro, um ano ou durante toda a tua vida, jamais havias de Me aborrecer. Tudo que falares movida pelo amor é conveniente diante de Mim e de todos os patriarcas. Ninguém duvidará Eu penetrar em teu coração, e justamente por isso desejo que externes o que sentes, sem receio. Se Me amas verdadeiramente, despeja diante de Mim o teu coração, diante de teu Amado e Santo Jehovah.”

  3. Toda iluminada de amor e brandura, Noêmia diz com voz trê- mula e sutil: “Posso eu, pobre pecadora, amar-Te como Te amam Tuas filhas? Eu — filha do mundo, do Teu — não posso externa-me! — Quer dizer que também — Te posso amar? Ó meu Jehovah!” Chorando copiosamente por achar-se por demais indigna, Noêmia cai de joelhos.

  4. Abedam a toma pelo braço, a levanta e abraça por alguns mo- mentos. Em seguida a solta e diz: “Então, querida Noêmia, repetirás a pergunta se podes amar-Me?” Noêmia cai aos Pés Dele e umedece-Os com lágrimas de amor. Sumamente comovido, Abedam diz: “Meus fi- lhos, aqui a Meus Pés se encontra muito mais do que podem oferecer o Sol, a Lua e as estrelas. Eis uma nova filha da penitência, do remorso e do máximo amor.

  5. É mais fácil encontrar-Me e amar-Me no Reino da Vida do que no da morte. Ela Me procurou e encontrou na morte. Por isso será re- compensada por Mim com um sentimento que jamais um ser humano sentiu. Noêmia, conservo tua mão para Mim por Me teres dedicado há muito tempo o teu coração. Pertences exclusivamente a Mim, e desta forma Eu Me vingo nos Meus adversários, isto é, com Amor Paternal.”

33.CONFISSÃOENOVOENGANODE HORED

  1. Reconhecendo o Senhor após a cena acima, Hored começa a conjecturar: “Que farei agora? Eu, um verme fraco no pó, incapaz de experimentar minha força numa simples árvore. Ele — Deus Eterno, a Onipotência, Força e Poder em Pessoa. A mais elevada Santidade!

  2. Sou um compêndio de amor-próprio, egoísmo e autossuficiência. Sou cheio de ciúme, raiva, inveja e sede de vingança. Ele é pleno de mei- guice, candura, indulgência, paciência e generosidade. Em suma, sou o pior contraste de Jehovah. Que me resta fazer? Recomendou que eu fosse para a gruta verificar se meu coração é capaz de qualquer remorso.

  3. De que me adianta isso? Porventura não conheço o meu cora- ção, que se presta para o remorso como a pedra aceita uma pressão? Ó Noêmia, culpada sem culpa de meu coração egoísta, agora percebo que somente o Senhor, Deus e Criador, Se pode aproximar de ti. Foste dada para mim como castigo porque me vangloriava com a força e o poder conferidos.

  4. Em virtude do meu físico forte e sensual, o Senhor Se viu força- do a me punir com justiça, pois Noêmia nunca me atendeu conquanto visse meu sofrimento em virtude de sua indizível beleza. Nem ao menos pude abraçá-la, e diante de minha excitação, me dava apenas bons con- selhos e advertências, que fariam jus a Kenan ou a Henoch. Por isso não pude abandoná-la e me vi forçado a amá-la cada vez mais.

  5. Ó Adão, agora vejo claramente que por causa do teu afastamen- to de Deus, Ele te dividiu, tirou a metade do teu eu formando Eva. Ela se tornou para ti uma ajudante punidora que transformou a tua antiga força em fraqueza e finalmente te conduziu para fora do Paraíso, sem reação de tua parte.

  6. Deus, meu Deus, quem pode escapar de Tua chibata? Puniste-

-me duramente, sem que eu o percebesse. Foste Misericordioso e me tiraste o grande jugo do castigo — e eu, tolo, me lastimei por isso. Agora reconheço minha enorme tolice e Te agradeço como nunca um mortal Te agradeceu. Somente Tu me libertaste e agora pertenço a Ti e a mim, inteiramente.

  1. Acrescento mais um pedido: Se for preciso castigar-me, se o ho- mem necessita de punição segundo a Tua Ordem, faze-o com fogo, veneno e escorpiões. Jamais castigues alguém com criaturas iguais a No- êmia, do contrário, o mundo perecerá sob nossos pés.”

34.AMISSÃODA MULHER

  1. Terminando assim sua introspecção, Hored se encaminha para Abedam a fim de externar sua gratidão. Este, porém, o antecede dizen- do: “Hored, julgas Eu não ter entendido as palavras do teu coração? Não penses isto. Quando percebeste que Noêmia estava perdida para ti, fizeste uma autoanálise e te voltaste para Mim. Ainda assim, tua conversão foi sem vida, porque Me pediste de coração alterado que Eu devia punir os pecadores com fogo, veneno e escorpiões, e até mesmo convinha Eu me cansar das punições. Neste pedido nota-se pouco amor para Mim e o próximo.

  2. Muito embora conjecturaste a plena verdade, ela não se presta para a vida, pois o amor não estava ligado a ela. Teria preferido que cho- rasses por causa de Noêmia, pois terias demonstrado que teu coração está pleno de amor, embora numa direção falsa que facilmente podia ser corrigida.

  3. Apresentaste olhos abertos, mas um coração fechado. Os olhos não se prestam para a assimilação da vida, e sim unicamente o coração, que se encontra insensível dentro de ti. Teu pensamento é verdadeiro somente em parte porque não contém amor, pois se o tivesse, teria en- contrado outra saída que não aquela: que Eu, como Pai, sinto agrado nas punições. Classificas Minha Ordem eterna e o mais puro Amor de castigo e pedes que desista definitivamente do mesmo.

  4. Se fosse Eu atender teu pedido tolo, qual seria o destino das criaturas? Para que compreendas tua tolice, empregarei teu pedido na- quele cedro velho e forte. Então, onde está? Não existe nem o menor vestígio dele. Percebes agora onde o atendimento de teu pedido levaria as criaturas e quão pouca vida contém tua imensa tolice? Segundo teu

parecer, Eu devo punir antes com fogo, veneno e escorpiões do que com uma companheira semelhante a Noêmia.

  1. De fato, dei ao homem a mulher para humilhação dele, pois desde eternidades sabia da sua natureza. Sob este ponto de vista, apenas, pode a mulher ser considerada um pequeno castigo dirigido ao orgu- lhoso coração do homem. Mas, se alguém refletir um pouco, convirá que este aparente meio de punição é precisamente o recurso mais im- portante para a conquista da Vida verdadeira, perfeita e mais sublime.

  2. Repito pela milionésima vez que somente o amor para Mim e teu próximo condiciona a vida, porque em Mim, a Vida Original de toda Vida em sua infinita extensão, nada mais há que puro Amor. Se, portanto, não possuis amor, onde buscarias a vida? Quem não Me aceita no coração, que Sou exclusivamente a Própria Vida — como poderá viver? Se o coração está vazio de amor, está portanto sem vida perante Mim.

  3. Medita um pouco e pensa quem primeiro ensina à criança o amor através do amor e quem desperta o coração para o amor e a vida? Quem alimenta o recém-nato de seu próprio peito? Quem te deu o primeiro alimento e te trouxe da morte para a vida, em mãos suaves?

  4. Quando moço, pretendias erguer-te orgulhosamente com tua força viril, como se fosses designado a dizimar o Sol, a Lua e as estrelas. Quem conteve teu coração para o amor e a vida, te reconduziu à tua própria morada vital e te ensinou o amor que recebeste de tua genitora, porém o esqueceste?

  5. Quem foi o anjo a te advertir: Ama e vive, Hored, mas vive com pureza, em Deus, e não batas na porta da morte! Aqui, a teus pés, está esse anjo que querias trocar por fogo, veneno e escorpiões. Foi Noêmia esse anjo. Vai e te arrepende de tua tolice, e quando sentires amor no coração, um amor forte para Mim, teu Pai, Santo e Amoroso, volta a fim de que te abençoe com a Vida eterna.”

35.RECOLHIMENTODE HORED

  1. A esse discurso de Abedam, Hored se atira ao solo e pede-Lhe que modifique o seu coração, pois se acha inteiramente incapaz de re- alizar algo por si só. Abedam insiste: “Faze o que te aconselhei, que serás ajudado. Vai até a gruta onde preparei um meio de cura e convém apanhá-lo incontinenti, caso consigas dar valor à vida, à Minha Graça, Amor e Misericórdia.”

  2. Sem demora, Hored se encaminha para lá e por certo tempo fita o formidável colorido das pedras, sem atinar com o motivo de tamanha maravilha. Finalmente, conclui: “Se o forte raio solar se quebra nas su- perfícies lisas e de colorido totalmente diverso, elas se incendeiam como se fossem vivas. Seria tal fenômeno propriedade delas? De modo algum, pois quando o Sol se põe, toda essa maravilha some nas trevas.

  3. Que diferença existe então entre mim e a mais simples pedra so- bre a qual a formiga caminha rapidamente para não ser absorvida pela sua esterilidade! Tudo é, portanto, enobrecido pela luz; no entanto, é o brilho ofuscador das coisas apenas mentira.

  4. Há pouco, Abedam me falou de uma meia verdade, e agora co- meço a entender algo a respeito. Quem poderia negar a maravilha das formas das pedras preciosas, das flores, frutos, animais e até mesmo dos homens? Ainda assim, é sua formosura apenas parcial sem a luz.

  5. Mas, que vem a ser a luz se seus raios se dispersam pelo infinito sem encontrar uma forma que fosse iluminada? Seria a forma da luz em si algo verdadeiramente belo? Quem poderia classificar o Sol, a Lua e todas as estrelas de belas? Ninguém, pois a mais simples flor possui muito mais que a esfera monótona do Sol, Lua e os insignificantes pon- tinhos das estrelas. Isto representa em toda parte uma meia verdade. A forma só tem metade do valor sem luz, e a luz, a metade do valor sem a forma.

  6. O mesmo se daria com o homem caso seu coração se dirigisse sem amor ou forma, ora para lá, ora para cá. Bem que o intelecto emite seus raios como o Sol; mas de que adianta, se nada existe que o alimen- te, se cair na superfície do nada?

  1. De fato, nada há em meu coração, nem amor nem remorso, nem tristeza, nem alegria — nem desejo algum. Porventura sinto sa- tisfação na vida? Não, ela vale tanto quanto o fulgor vale para a pedra. Nem sinto fome ou sede.

  2. Devo arrepender-me de minha tolice. Qual delas? Por ser meu coração vazio e não haver utilidade no intelecto porque não é assimi- lado pela forma? O arrependimento é uma filha atrofiada do amor. Se a mãe se encontra alhures em vasto campo, onde encontrarei a filha? Disse-me Abedam Jehovah que sou um tolo. Acredito também que o seja, pois foi Ele, a Verdade Eterna, Quem o provou.

  3. Mas por que sou um tolo? Por estar vazio de formas e de amor o meu coração. Como poderei enchê-lo? Com a luz? Certo que não, pois ela nada encontrando, projeta-se pelo infinito afora sem jamais voltar.

  4. De onde suprir e alimentar o nada? — Mas, que é isto? De onde surgem esses sons tão maravilhosos? Não são palavras, não os en- tendo; no entanto, são mais sublimes que a palavra mais concisa. Agora me é claro que sou um grande tolo. Por acaso não é a palavra a forma do som? Todavia, é o som por si só mais maravilhoso que sua forma. Acabou minha sabedoria; essa aparição desfez todos os meus princípios. Senhor, eis no pó o grande pecador que só pode dizer: Querido Pai, sê Misericordioso para comigo e Tua Vontade Se faça. Amém.”

36.OMILAGRESONORODA GRUTA

  1. Essa gruta tinha a particularidade, mormente pelas três horas da tarde quando se dava completa ausência de vento, de projetar uma sonoridade semelhante aos sons da harpa eólica, apenas mais possante no crescendo e diminuendo, ou seja, na modulação sonora. Ninguém tinha descoberto esse milagre, bastante remoto, que por isso não perdia sua utilidade. Não há quem duvide que o Sol e toda a criação são um milagre muito antigo, todavia não perdem sua utilidade ordenada. O Sol ainda alumia hoje como o fez na época de Adão.

  2. O mesmo se dava com esse milagre sonoro, previsto desde eter- nidades para a finalidade que ora se apresenta a Hored. Esse fato é espe-

cialmente mencionado para que ninguém venha a dizer que era apenas um fenômeno natural. No caso de Hored, foi ele tão beneficamente tocado a ponto de refletir e se tornar outra criatura, cheia de remorso, amor e vida.

  1. Hored foi desde nascença cheio de amor e inspiração, de sorte que, como menino, apanhava pedras e as apertava com violência contra o peito, quando não havia outra possibilidade de externar o seu amor. Daí desenvolveu-se com o tempo um amor à natureza que finalmente se tornou mais forte que o amor para Comigo, para com os patriarcas e familiares. Qual foi a consequência natural da aberração deste amor?

  2. Começou a estudar com argúcia as coisas naturais. Analisava as ervas, que assim perdia sua vida, não mais podendo aquecê-lo. Des- membrava as árvores, sem nelas encontrar qualquer calor vital. Entrou para dentro da água e constatou que era fria. Ao manipular o barro, notou sua maleabilidade, podendo criar formas. No entanto, percebeu que enquanto elas permaneciam moles devido à sua umidade, apre- sentavam um frio assustador. Aquecendo-as ao Sol, tornavam-se mais consistentes, porém duras.

  3. Admirou-se que pelo atrito de duas pedras surgissem as mais belas faíscas coloridas. Então, triturou quase todas as pedras que encon- trava e nelas procurava o fogo. Com o resultado negativo concluiu: O mundo inteiro é um tigre voraz que não pretende deixar algo de comer para o próximo.

  4. Com tais princípios, que muito lhe agradaram, conseguiu ex- trair da natureza grande quantidade de resultados, sendo considerado um sábio do Levante. Esse conceito muito o lisonjeou e o levou a fazer brilhar seus conhecimentos a ponto que os patriarcas não se atreviam a falar em sua presença, limitando-se a abençoá-lo e fortificá-lo para a missão de apóstolo, com missão nas planícies.

  5. Em Hanoch soube impor respeito, com palavras e ações, em Meu Nome, sendo agraciado com o melhor. Nesta recompensa ele encontrava conforto total pelo amor esbanjado com a natureza muda. Como tivesse encontrado o amor, nele se excedeu e se desfez da sabedoria, razão por que passou à sensualidade total; e agora considerava Noêmia um castigo

Meu, precisamente quando seu amor começava a se perder na sabedoria. Tornou-se diante de Mim um antigo sábio cheio de frieza.

  1. Que fazer? Um milagre possante o teria matado. Por isso, foi depositado na pedra esse bálsamo harmonioso para compreender que Meu Amor não preenche somente o coração do homem, mas também a pedra mais dura. A fim de sabermos o resultado desse medicamento, o procuraremos para ouvir e aprender algo mais.

37.CONJECTURASEREMORSODE HORED

  1. Cerca de uma hora Hored fica num recanto da gruta dificilmen- te atingível, quando subitamente um vento Sul termina com a sonori- dade milagrosa. Ele se levanta e diz de si para si: “Ó sublime Criação de Deus, quão santa e elevada és tu quando observada e sentida por um coração mais puro. Noto uma grande diferença dentro de mim. Ante- riormente, tudo estava frio e morto ao meu redor; meu próprio coração era frio e meus olhos incapazes de verter uma lágrima sequer. Agora, tudo vive: a pedra fala e a erva envia cânticos de louvor cheios de aroma para as alturas de Deus.

  2. Os próprios galhos transmitem uma linguagem santa e pura que soa: Deus é puro Amor. Tudo que se projeta Dele e O envolve é apenas Amor. Meu coração! Dilata-te pelas Criações infinitas agora e concebe o que Se encontra naquele monte sagrado. É nosso Pai que Se acha em meio de Seus filhos e os ensina a conhecê-Lo.

  3. Sua Santa Voz também chegou aos meus ouvidos, mas eu não A entendi. Meus olhos O viram e eu não O reconheci. Sua Palavra abençoada me trouxe até aqui, onde meu coração se sublimou. Que é o homem, fraco habitante da Terra, para que Deus dele se compadeça e o aceite como filho!

  4. Porventura é o homem bom? — De modo algum. Será tão belo a ponto de Deus o procurar? — Não, pois onde há falta da verdadeira bondade também não existe beleza. Que tem o homem que não tivesse recebido? Repito, qual o seu mérito que justifique que Deus o procure, ensine, conduza e console?

  1. Eis um mistério insondável. O fato de podermo-nos chamar de filhos de Deus é puramente graça, sem a qual seríamos apenas criaturas cheias de desobediência, enquanto uma pedra não se move durante mi- lênios onde foi colocada pela Mão Poderosa do Pai. Ó Amor indizível, Misericórdia infinita do Pai, como deve Te agradecer o coração e quais seriam as palavras que condignamente louvariam Tua Meiguice para com Teus filhos? Meus olhos não merecem se dirigir onde ainda Te encontras entre os filhos. Que tudo silencie a meu redor, pois o Pai está Presente.”

38.ABEDAME HORED

  1. Com isto, Hored silencia; seu coração, porém, continua procu- rando palavras de gratidão ao Pai. Quanto mais penetra no seu âmago tanto mais difícil se torna sua tentativa de reconhecimento. Entremen- tes, Abedam chama Henoch, Lamel, Gabiel com Purista e Lamech com Gemela.

  2. Quando Noêmia ouve o nome de seu pai, assusta-se muito, pois acredita que tenha sido conduzido a este local sagrado através da figura atrevida de Satanás. Abedam a acalma, dizendo: “Como podes temer algo ao Meu lado? Não sou Senhor de todas as coisas, seres e eternida- des? Além disto, o Lamech chamado por Mim nada tem em comum com teu pai, com exceção do nome, que significa: Este serve para Mim e contém o Meu tesouro em si.

  3. Quanto ao nome de teu pai, ele o recebeu de Satanás com o mesmo significado. Não te preocupes com ele; sou também Senhor Poderoso de quem teu pai é servo infeliz e lhe abrirei os olhos em tempo oportuno. Acompanha-Me com os demais ao local onde Hored perdeu sua verbosidade, por humildade e amor.

  4. Seth, Enos, Kenan, Mahalalel, Jared e Matusalém, ide para casa tratar de um bom repasto. Hoje, amanhã e depois todos os filhos devem se alimentar à mesa do Pai.”

  5. Quando o grupo se aproxima de Hored, ele descobre entre todos o Sublime Abedam. Sumamente comovido, exclama: “Como poderei

resistir na Presença Dele? Eu, o mais abjeto ser, de coração e de espírito; e Ele, a Suprema Santidade. Vale lutar a última batalha, para a vida ou para a morte. Só tenho um coração cheio de amor; não sei se é puro. Se me aceitares ou não, Tua Vontade Se faça, Pai.”

  1. Nisto Abedam toma a mão de Hored, e diz: “Descansa no Peito de Teu Santo Pai e sente pela primeira vez o repouso verdadeiro na ple- na consciência da Vida eterna. Só venho para intensificar a vida, e não a morte. Eis tua Noêmia. Só agora sois abençoados por Mim. Vinde Comigo participar da Ceia do Sábado.”

39.ACEIADESÁBADONA COLINA

  1. Só depois de terem feito metade do caminho, Hored consegue se refazer de seu êxtase e se prontifica para falar. Abedam o antecede, dizendo: “Hored, não te canses. Ainda que consigas harmonizar boca e coração, podes estar certo que unicamente a linguagem do coração é do Meu Agrado, enquanto perde sua sutileza pela aspereza da fala. Tudo que vês enuncia a Verdade eterna, mas somente o Amor é a vida intrínseca e invisível dos seres. Não disperses o que teu coração acumu- lou, pois tempo virá em que terás de arar os Meus campos. Por isso, economiza as maravilhosas sementes da Vida para a época em que te chamarei. Vamos seguir caminho para nossa pátria.”

  2. Chegando ao planalto, deparam com centenas de cestos de fru- tos saborosos, mel e pão, e nos cântaros, o melhor suco de frutas. Abe- dam abençoa tudo e diz para os patriarcas: “Que isso seja distribuído pelos vossos filhos ao povo, que deve ter conhecimento de estar Eu, Pai de todos, visivelmente Presente. Três cestos devem ficar aqui.

  3. Lamel, lá adiante, onde se encontram três cedros numa coli- na, se acha um casal com sete filhos, três meninos e quatro meninas. Todos estão de tal forma confusos pela antiga veneração servil, que não conseguem arredar pé, muito embora, vejam a cabana de Adão. Traze-os aqui.

  4. Tu, Lamech, leva o cesto para tua casa, e o terceiro fica para Mim, Henoch, Jared, Lamech e sua esposa, para Meu homônimo, Ki-

sehel, Sethlahem e seus irmãos, para a esposa de Zuriel, Hored, Noê- mia, Jura, Busin, Orion e a família que chegará dentro em pouco. Os demais devem se agrupar em redor do cesto de Adão, e os do Levante, em volta de Gabiel.”

  1. Adão se entristece pelo fato de Abedam não querer participar de seu cesto. Este então lhe diz: “Adão, porventura existe uma diferen- ça entre os cestos? Não deves te sentir menosprezado por Eu atrair os fracos para perto de Mim. Além disto, estão os cestos lado a lado, com pouco espaço entre si. Não sou Eu o Pai em vosso meio? É preferível pensares no Meu Amor Paternal e não haverá diferença nos cestos usa- dos por Mim e ti.”

  2. Adão se sente aliviado e pede perdão a Abedam, ao que Este responde: “Como devia Eu perdoar o teu amor como se fosse pecado? Teu ressentimento foi causado pelo teu amor para Comigo. Serve-te com alegria.”

  3. Nisto, se apresenta Lamel com a família acima e Abedam a rece- be, dizendo: “Não temais vosso Pai, Eterno e Santo.” Eles O reconhe- cem e O adoram.

40.AINFINIDADEDEGRAUSEVOLUTIVOSNA CRIAÇÃO

  1. Abedam deixa que se aproximem mais e aconselha terminarem com o louvor tão efusivo. Mas eles aumentam suas vozes e gritam: “Se- jas louvado, Pai Santíssimo! Somente a Ti compete todo amor, adora- ção, honra, gratidão, louvor e nossa máxima humildade!” Assim pros- seguem, sem que fosse possível fazê-los calar.

  2. Como estavam cansados, Abedam e os patriarcas também se sentiam tolhidos para qualquer atitude. Abedam então ergue Sua Mão e traça com o indicador esquerdo uma linha do Poente ao Levante. No mesmo instante todo o firmamento é rasgado por forte raio seguido por tremendo trovão a ponto de fazer tremer o orbe.

  3. Este fenômeno faz com que os clamadores se calem e os pa- triarcas se batam no peito, julgando que Abedam esteja irado. Por isso, Adão condena a desobediência contra a Palavra do Senhor. Abedam,

porém, o interrompe, dizendo: “Adão, por que te alterar enquanto es- tou em vosso meio? Deixa a questão Comigo, que sei da razão de tudo. É preferível que saboreie os frutos com os filhos.

  1. Não houve quem Me louvasse como esse grupo; por que então deveria aborrecer-te, se Eu marquei sobre todo o Infinito seu grande louvor para demonstrar-vos do que são capazes?

  2. Digo-te, que Me julgas irado: Feliz quem for atingido por ira semelhante que o salvará para a Vida eterna. Entendes agora tal ira de Meu Amor Paternal dirigida aos filhos que não sabem controlar sua alegria, tornando-se surdos porque o amor os prende?

  3. Em verdade digo a todos: Quem não se tornar desmedido e des- controlado no amor para Comigo, não terá seu nome escrito debaixo, nem por cima das estrelas, como os nomes desses pobres da Terra, mas ricos de amor. Compreendes agora essa prova e essa Minha Ira? Então volta para junto de teus filhos.”

  4. Profundamente emocionado, Adão exclama: “Pai, se assim é, quem alcançará a Vida eterna?” Retruca Abedam: “Por que te lastimas em vão, se não entendes os Meus Caminhos? Porventura são as estrelas do Céu e as plantas da Terra todas iguais? Se uma estrela brilha — seja grande ou pequena — não estimula a luz de teus olhos para refletir-se em ti? E onde viste nascer morta uma planta da Terra?

  5. Eis o motivo por que também viverá aquele cujo coração sentir menos amor. Mas sua vida será idêntica ao seu amor, havendo grande diferença entre uma e outra. Um bichinho da areia também vive, to- davia, existe enorme diferença entre a vida dele e a tua. Por isso, não te preocupes com o fruto do amor, e sim apenas com o amor em si, pois o fruto corresponderá ao sentimento.”

  6. Deste modo acalmado, Adão chama os filhos para a refeição e diz a Gabiel para fazer o mesmo. Isto feito, ele ergue as mãos e diz: “Louvemos o Santo Doador deste manjar e peçamos Sua Bênção Pater- nal. Ó Jehovah, nós Te agradecemos! A Ti rendemos toda glória, honra, amor, humildade e adoração em espírito e verdade.” Abedam abençoa os cestos de Adão e Gabiel; em seguida chama os pobres escolhidos e com eles Se posta junto ao cesto, dizendo: “Este não será abençoa-

do, pois onde estou já existe a maior Bênção. Alimentai-vos Comigo, vosso Pai.”

41.OSENHORREPROVAOAMORPRÓPRIODE ADÃO

  1. Depois de Abedam Se ter servido primeiro, a pedido dos filhos, todos O acompanham durante uma hora, sem que os alimentos e os sucos diminuíssem; ao contrário, os frutos se tornam cada vez mais saborosos. E como Abedam continua a Se servir, ninguém pensa em acabar. Somente Adão percebe que o Sol está prestes a se pôr e pergunta o que deve ser feito, pois chegou o momento de tratar dos preparati- vos do fogo.

  2. Eis que Abedam lhe diz: “Adão, dize-Me claramente a quem se destina essa medida: a Mim, ao céu azul, ao Sol, ao povo ou ex- clusivamente a ti? Realmente, ignoro qual tua intenção, pois essa fútil preocupação não pode se prender a Mim. Se Eu algo quisesse, o teria ordenado. Explica-Me a quem pretendes honrar com isso.”

  3. Como Adão nada diz, Abedam prossegue: “Porventura não sen- tes a maior satisfação nesse preparativo, razão por que o referes à tua pessoa e querias demonstrar que somente por ti se estabelece o caminho para a porta da Vida? Isso implicaria no incendiar diante de Mim, o que querias fazer com maior pontualidade do que o fogo final que se destina a Mim.

  4. Este foi o motivo por que fiz queimar o fogo no altar ainda na parte da manhã, para livrar-te de tua ignorância. No entanto, não de- monstras muita vontade de deixar tua antiga tolice. Não vale a refeição na Minha Presença muito mais que o preparativo do fogo que se refere a ti? Se, todavia, este te agrada mais que essa refeição cheia de vida, podes pô-la em ação, mas convém usar bastante cuidado para que o fogo não se torne demasiado forte e te consuma. Procura entender essas palavras e considera que a Terra é oca e cheia de fogo feroz; portanto, faze o que te agrada, ou para a morte ou para a vida.”

  5. Sumamente assustado, Adão responde: “Ó Abedam, Tu és San- to, Bom e cheio de Amor, Graça e Misericórdia. Mas ai de quem ul-

trapassar por um fio de cabelo os limites de Tua Vontade, pois teria marcado sua morte temporal. Não admites um caminho mediano, e sim somente dois polos extremos, o da vida e o da morte.

  1. Deste modo, se constitui Tua Palavra Viva que desconhece uma reprimenda suave, mas constrói mundos através da meiguice sem par, ou, no caso contrário, também os destrói. Por isso Te peço, sê Miseri- cordioso para comigo, pois o que foi feito não pode ser desfeito. Sê cal- mo comigo e não me condenes mais profundamente do que já estou.”

  2. Retruca Abedam: “Adão, falas muito por ti, enquanto Me es- queceste inteiramente. Consegues assimilar o que seja a Minha Pre- sença aqui, no pior lugar de Minha Criação infinita? Que sabes Tu da Eterna Santidade de Deus? Volta sem demora e não te aprofundes ainda mais no reino da morte, e sim, no Meu Amor, Graça e Miseri- córdia. Se até agora descobriste apenas dois polos em Mim, a culpa é tua. Deves inquirir os recém-vindos, que contarão grandes milagres do terceiro polo.”

42.ADVERTÊNCIAFEITAPORPARIOLA ADÃO

  1. Em seguida, Abedam Se dirige ao chefe da família, Pariol Garti- li, cujo nome quer dizer: os pobrezinhos que nada têm e nada querem, vivendo confiantes como os pássaros da brisa de Deus, e diz: “Meu bom Pariol, terias ânimo para dizer a Adão, com palavras suaves, que justamente o caminho do meio que ele ainda não descobriu em Mim é o mais plano dentro de Minha Vontade eterna cheia de amor?”

  2. Responde o pobre: “Ó Senhor e Criador, por acaso o verme no pó podia alimentar outra vontade senão a tua? Farei tudo que for do Teu desejo e considero uma incrível condescendência e um caminho de meio termo Tu me perguntares, enquanto podes ordenar pela Onipo- tência. Ainda assim — meritosos ou não — Te fizeste Visível para nos ensinar o verdadeiro caminho do meio de toda vida que conduz ao Teu Coração. Por isso, peço que não me perguntes se quero ou não executar a Tua Vontade, pois sou um nada perante Ti, e dá-me apenas um man- damento que hei de me curvar imediatamente para cumpri-lo.”

  1. Diz Abedam: “Como o reconheces plenamente, és de fato um mensageiro do Meu Amor e Vida. Dirige-te a Adão, e se ele perguntar qual o motivo de tua presença, transmite-lhe o que sabes. Entrementes, despertarei tua família para a Vida eterna, e quando voltares, teus filhos te receberão de braços abertos.”

  2. Sem perda de tempo, Pariol se encaminha para junto de Adão e se posta na frente dele em virtude de seu grande respeito, e por não ser bom orador. Quando finalmente Adão lhe faz a referida pergun- ta, a coluna existente se transforma numa vara atingida pelo vento. Só depois de ser rispidamente inquirido por Adão, Pariol perde o medo e diz:

  3. “Pai Adão, primeiro homem da Terra, que nos ensinaste que Jehovah, o Santo, é Deus e nosso Amoroso Pai, ao Qual compete todo louvor, honra, amor e adoração — como foi possível que te modificaste e nos mostraste outra face, e não aquela a que fazíamos jus? Agora que Ele — a própria Misericórdia — caminha Visivelmente entre nós, con- vém que te regeneres. Viraste tua face diante Dele, que veio justamente para nos salvar da noite eterna da morte. Deste-nos o apoio quando éramos fracos; por isso, não rejeites nossas mãos no momento de tuafraqueza, pois queremos ajudar-te segundo a Vontade do Pai.”

43.CONFISSÃO,REMORSOEREGENERAÇÃODE ADÃO

  1. Só depois de ter ouvido as palavras de Pariol, Adão começa a refletir sobre si mesmo e descobre a imensidade do pecado oculto que alimentava contra Deus, razão por que Abedam não quis participar do cesto dele, e também percebeu a desgraça a que se atirou quando pre- tendia ser honrado como primeiro homem, ao lado de Deus.

  2. Ao mesmo tempo, seu coração pergunta: “Como apagarei essa mácula de minha vida diante dos Olhos do Senhor? Quem me salvará e protegerá do sufocamento do maior vexame, na Presença Dele e de todos os meus filhos?”

  3. Virando-se para Pariol, ele diz: “Aconselhaste-me uma rápida regeneração. Mas, se eu te perguntar como fazê-lo para quem se afastou

tanto de Deus, que resposta me darás? Considera o abismo intranspo- nível desta minha queda miserável. Quem me incutiu o pensamento do preparativo do fogo, levando-me à atual desgraça? Ó Sol, apressa os teus trâmites, para que teus raios não iluminem minha desgraça por muito tempo. Pariol, que me dirás, a fim de que possa me erguer de novo diante de Deus? Fala e cobre com tua voz a minha face, para não ser exposta diante Daquele Que ora Se encontra entre nós.”

  1. Responde Pariol: “Como podes ainda perguntar pela possibili- dade de uma rápida transformação, se foste a primeira testemunha de Suas Infinitas Misericórdias e conheces por tempo muito mais longo do que eu o Infinito Amor de Jehovah?

  2. O preparativo do fogo, determinado há três séculos a fim de se- res honrado por nós, era precisamente uma tolice oculta de teu coração. Deus te viu padecer sob o peso deste jugo, razão por que apiedou-Se de ti, tirando-te o mesmo do teu coração. Como é possível que tu, nosso professor original, ainda perguntes por uma rápida regeneração, se Ele já te regenerou muito antes que pensasses a respeito daquilo que se ocultava naquela cerimônia?

  3. Por que te revoltas no íntimo, se o Pai arranca violentamente um mal violento do teu coração? Porventura julgas que Ele queira prejudi- car-te quando te ajuda?

  4. Observa Sua Face amorosa, Seus Braços Paternais que se esten- dem com todo o Amor. A expressão do sentimento mais sublime se ir- radia de Seu Olhar — e ainda perguntas se existe possibilidade de rápi- da regeneração? Adão, não consigo dizer outra coisa na Presença Dele, Que te transmite o seguinte: Adão, por que vacilas tanto e não acorres aos Braços abertos do Santo Pai, cujo Amor Se preocupa contigo desde eternidades? Por acaso ainda não entendes essas palavras?”

  5. Tomado de imensa felicidade, Adão abraça Pariol e diz: “Quem te inspirou tais palavras? Certamente não foi a treva que fez amadurecer esse fruto celeste dentro de ti. Vamos abraçá-Lo com as chamas santi- ficadas de nosso amor, pois agora Ele acaba de incendiar o verdadeiro fogo no meu coração. Nunca em minha vida senti tamanho impulso de amor. Vamos junto Dele.”

44.O PAIEO JUIZNANATUREZA DE ABEDAM

  1. Pariol conduz Adão à Presença de Abedam, que recebe amavel- mente o arrependido e diz: “Adão, quando virá o tempo em que Me reconhecerás mais como Pai e não como Juiz? Ontem Me viste mani- festando a maior humildade, e Eu Me dei a conhecer a ti e a teus filhos, paulatinamente, para impedir que alguém ficasse perturbado com Mi- nha Presença Visível.

  2. Reconheceste-Me e Me deste testemunho, mas teu coração não deu margem total a este Pai, pois o Juiz também O acompanhou e obri- gou o teu coração a Me amar, mas também a temer-Me três vezes mais. Esta relação dupla foi alimentada por ti até este minuto, de sorte que não Me podias assimilar com amor em virtude do temor perante o Juiz.

  3. Agora acabo de te despertar violentamente e vens junto de Mim como filho amoroso; todavia, não é posse tua o amor que ora arde em teu coração. Eu o despertei a fim de te acordar, pois o Pai e o Juiz ain- da não estão separados dentro de ti. Procura apossar-te do Pai com a força de tua própria vida, e afasta Dele o Juiz que sempre impediu que visses o Infinito Amor de Deus na maior luminosidade, diante de ti e de teus filhos.

  4. É preciso que sintas Eu não ter vindo como Juiz, mas como Pai, a fim de facultar a todos os filhos a semente mais maravilhosa e santa para a Vida eterna. Então perceberás finalmente, no coração em chamas, que Juiz e Pai não Se podem unir num coração cheio de amor. Somente o Pai, ou o Juiz, devem equilibrar a vida; o Pai, para a Vida eterna, e o Juiz, para a morte eterna do Espírito do Amor.

  5. Convém separares definitivamente o Pai, Santo e Amoroso, do Juiz, irado e severo, dentro de ti, e jamais hás de tremer perante Mim, mas saltar de alegria e de amor filial para Comigo, teu Pai. Todos aque- les que Me chamarem como Pai nunca verão em Mim o Juiz. Ao passo que os que sempre e com mais facilidade confessam o Juiz no coração, infelizmente hão de encontrar o inclemente Juiz. Guarda bem: Hás de encontrar o que procuras: ou o Pai, Bondoso e Santo, e o Amor e a Vida eterna; ou o contrário, o inclemente Juiz destruidor dos mortos que

nunca se dirigiram a Mim nesta vida de provação, para que Eu os aceite e vivifique no coração, Adão, para sempre.”

  1. Adão se atira nos Braços de Abedam e chora de êxtase de puro amor, pois só agora reconhece o Santo Pai, a ponto de não poder falar. Abedam o comprime contra o Peito, demonstrando a todos que Jeho- vah é Verdadeiro Pai de todas as criaturas. Aos poucos, todos começam a se aproximar Dele, confiantes, e toda a colina está envolta em chamas suavemente aquecedoras do Amor Paternal.

  2. Virando-Se para Adão, Abedam diz: “Eis o preparativo do fogo nesta Terra, como início do fogo principal que se efetuará após esta vida, no Meu Reino Eterno da vida espiritual.”

45.APERMISSÃODEAMAROSENHORCONSTITUIOMAIORPRÊMIODA CRIATURA

  1. Em seguida, Abedam se vira para Pariol e diz: “Cada trabalhador honesto e inteligente merece o seu prêmio. Embora tivesse vivificado a tua família, que te recebeu de braços imortais quando aqui voltaste, como pai podias conjecturar: Onde está minha vantagem se minha fa- mília se tornou imortal, quando apenas me cabe a alegria deste fato, no entanto sinto minha própria vida mortal?

  2. Esta pergunta formulada por ti, mas de que Eu sou Autor, é muito justa, de sorte que também receberás o prêmio deles, o que aliás já se deu através do abraço, e por Eu ter te escolhido para onde o Meu Amor te conduziu. Ainda assim, mereces uma recompensa como fiel transmissor de Minha Vontade para Adão. Entrego esta Vontade ao teu livre arbítrio. Pergunta ao teu coração, que receberás o que desejas.

  3. Se desejares o Sol a teus pés, ele terá que se submeter à Minha Vontade. Talvez queiras a Lua? Ela se submeteria ao mais leve aceno de Minha Parte. As estrelas também cairiam quais flocos de neve a teus pés. Pretendes possuir as vísceras da Terra? Podes crer que haveriam de subir junto de ti, como imenso novelo de serpentes. Portanto, é só pedir, que receberás.”

  1. Caindo aos Pés de Abedam, Pariol implora: “Senhor, Deus e Pai, se já me deste a imortalidade, qual seria a tolice que meu coração poderia pedir? Jamais poderei agradecer condignamente pela parte mais ínfima que me concedeste, pois em cada respiração se encontra uma bênção tão infinita que nem todos os anjos poderiam avaliar.

  2. Eu, verme do pó, deveria me atrever a pedir coisas desmerecidas? Não, meu Pai, prefiro ser estraçalhado por cobras e serpentes antes que meu coração alimentasse o mais leve pensamento em relação a um prê- mio. Tudo que posso desejar é a permissão de poder amar-Te.”

  3. Diante dessas palavras, Abedam cobre Seus Olhos para ocultar as lágrimas diante dos patriarcas. Em seguida, vibra fortemente e ergue Pariol do chão, dizendo: “Aparentemente, pediste uma coisa sem valor; porém, é a mais sublime. Por isto, usufruirás com tua família de Meu Amor total, para sempre. Tuas filhas serão tão belas como as estrelas da aurora, e teus filhos serão dotados com uma força visual que lhes facili- tará verem os trâmites das estrelas. Tua companheira terá parte do Meu Coração, assim como tu, do Meu Amor. Jamais hei de abandonar-te. Vinde todos para junto de Mim.”

46.ANATUREZADEDEUSEDA VIDA

  1. Sem demora, todos se dirigem para junto de Abedam, que os abençoa, dizendo: “Assim como respirais, em companhia desse grupo, a Vida eterna em espírito e verdade, todos devem respirar consciente- mente no Amor para Comigo e na Verdade surgida da Vida eterna. Não existe um que não fosse chamado por Mim; no entanto, não alcançará o Meu Peito caso não se dispuser por livre e espontânea vontade, com amor e humildade, confessando no coração que sou Eu o Pai. Repito: Quem não Me reconhecer no coração como Pai Único e Verdadeiro, não chegará perto de Mim. Chamando-Me de ‘Abba’, no coração, com humildade, amor e verdade será atendido.

  2. Mas quem implorar constantemente: Senhor, Deus de Justiça, Deus da Graça, do Amor e de toda Misericórdia! — não será rejeitado

por Mim, nem perderá a vida, mas será difícil atingir o âmago da Vida libérrima.

  1. Deus não Se deixa abraçar e o Senhor de toda Justiça não pode permitir tal aproximação, devido à Sua Infinita Santidade; pois isto é possível apenas ao Pai que abarca tudo para Seus filhos em Seu infinito Amor, para poderem se aproximar Dele mais estreitamente, gozando de tudo que Lhe pertence. Guardai para todos os tempos que somente o Pai possui a Vida como Manifestação da Vida eterna em Deus.

  2. Deus Mesmo não é a Vida; Ele é apenas a Luz do Pai, assim como o Pai é a Vida em Sua Luz. O Senhor também não tem Vida, pois esta pertence exclusivamente ao Pai, enquanto o Senhor é o Poder Infinito do Pai para sempre.

  3. Quem não se dirigir diretamente ao Pai, não O alcançará; por- tanto, sentirá manifestação fraca da vida. Existe uma diferença eterna entre vida e Vida.

  4. A pedra também vive porque existe, porque vida e existência são uma só coisa, razão por que toda vida é luta constante entre duas forças. Uma procura a destruição, outra o polo contrário, no que nenhuma atingirá o desejado estado de paz, senão em Mim, o Pai.

  5. A pedra existe, mas que diferença intraduzível há entre a vida de uma pedra e a de um verme — sem mencionar estacom a vida de um espírito perfeito no amor e na liberdade.

  6. Todos terão, portanto, uma vida também em Deus e no Senhor. Mas a Vida unicamente verdadeira e conscientemente livre só existe no Pai, frente ao Qual toda e qualquer outra vida é apenas morte. Guardai-

-o bem e dirigi-vos ao Pai caso pretendais viver verdadeiramente. Todos vós fostes chamados para esta Minha Vida. Vinde recebê-la de Mim e deixai-vos selecionar por Mim, para que não se venha a dizer: Poucos dos chamados foram escolhidos.”

47.HUMILHAÇÃODOSMENSAGEIROS INDISCRETOS

  1. Entrementes, o Sol se havia escondido atrás das montanhas, portanto já tinha passado o sábado. Como todos soubessem que à noite não se prestariam sacrifícios de fogo no altar e indecisos se deviam ficar ou voltar para suas moradas, enviaram mensageiros incumbidos de pe- dir orientação. Todavia, Adão continuava abraçado com Abedam e Este então pergunta: “Filhos, qual é vossa intenção? Por que viestes?”

  2. Os mensageiros ainda desconheciam Abedam, e as grandes provas já tinham sido feitas anteriormente por Henoch, Jared, Kenan, Enos e Seth, como recurso preparatório. Deste modo, a resposta é bas- tante atrevida, pois dizem: “Por que nos perguntas? Não és nenhum dos patriarcas, nem dirigimos a ti nossa questão. Onde nasceste e onde foste criado a ponto de ignorares que é inconveniente antecipar-se ao pro- nunciamento de Adão? Além do mais, nos chamas de filhos, enquanto a julgar pela aparência podíamos ser seus bisavós. É comum aos jovens apresentarem-se indiscretos, sem se aperceberem que só proferem toli- ces. Para o futuro, convém seres mais controlado com tua língua.”

  3. Isto dito, eles seguem à procura de Adão, sem encontrá-lo. To- dos que se achavam na colina receberam ordem silenciosa por parte de Abedam de não denunciá-Lo, porém relatar-lhes o paradeiro de Adão. Assim, Seth aponta Adão, causando grande admiração pelo fato de te- rem passado sem notarem o patriarca.

  4. Seth então diz laconicamente: “É preciso muita cegueira para não descobrirdes o Pai de todos os patriarcas, e grande surdez para não ouvirdes a fabulosa maravilha deste dia. Ide em direção a Adão.”

  5. Essa orientação atemoriza de tal forma aquele grupo que não consegue se mover. Irritado, Seth, prossegue: “Por que não vos mexeis? Não vos apontei a figura de Adão? Porventura aguardais que o próprio solo vos carregue? Sumi de minha frente!”

  6. Apavorados, os mensageiros correm para longe e não se atrevem a procurar Adão, em vista da aspereza do habitualmente suave Seth. Finalmente, um deles comenta: “De que adianta ficarmos aqui, a uns cem passos distantes dos patriarcas? Ou nos afastamos definitivamente

da presença deles, ou um de nós inquire o homem de cabelos louros e compridos qual a medida que devemos tomar. Sinto ser ele todo espe- cial, pois o próprio Adão continua abraçado a ele. Quem de nós tomará a si essa tarefa difícil?”

  1. Um do grupo concorda com o plano, mas comenta: “É realmen- te uma coisa bastante desagradável. Prefiro levar uma surra de todos do que procurar de novo os patriarcas. Tenho a impressão de ter recebido um castigo por um pecado sumamente tolo. Nem quero pensar em aproximar-me dos veneráveis patriarcas. De minha parte, aguardarei a escuridão para afastar-me despercebidamente.”

  2. Diz um outro: “Tua ideia me agrada; todavia, considero aqueles que nos mandaram aqui e aguardam uma resposta. Como nenhum de nós se encoraja a procurar Adão, acho de bom alvitre voltarmos para junto dos nossos e contar-lhes a verdade, e ninguém se admirará do insucesso em virtude da sublimidade da consagração do sábado.”

  3. Alega um terceiro: “Que nos podia suceder se chegarmos com humildade para junto de Adão? Se ele não responder, prosseguiremos caminho. E com relação ao louro abraçado por ele, não dá a impressão de um tigre, muito embora tenha grande semelhança com aquele que vi ontem montado no lombo de tal fera.

  4. Estou pronto a tentar a sorte, e quem concordar não será impe- dido de acompanhar-me. Defendemos o salutar conceito de que todo bem tem seu mal, e todo mal sua vantagem; assim como o dia não seria dia sem a noite, e vice-versa. Quem quiser, que me acompanhe.”

  5. O resto do grupo começa a se coçar atrás da orelha e conjec- tura: “Tens toda razão. Mas suponhamos que venhamos a ouvir uma maldição por parte de Adão, e sabendo ser a voz dele tanto quanto a Voz de Jehovah — que será então?”

  6. Retruca o primeiro orador: “Não havia pensado nisso e a ques- tão muda de aspecto. Mas vede, dois homens vêm descendo a colina em nossa direção. Veremos se existe possibilidade de um acordo. Farei papel de intermediário de todos.”

48.OGRANDEAMORDEGARBIELPOR ABEDAM

  1. Após certo tempo, o orador diz acanhado para os amigos: “Se não me engano, trata-se de Adão e do forasteiro. Ajude-nos quem pu- der! Convém prosternarmo-nos diante deles; vamos!” Todos se atiram por terra e começam a clamar: “Venerado pai Adão, poupa-nos com tua ira e tem condescendência para com nossa imensa tolice.”

  2. Assim prosseguem, conquanto Abedam e Adão já se encontrem há bastante tempo na frente deles. Eis que Abedam pergunta intima- mente: “Adão, que Me dizes desta gritaria?” Responde Adão: “Meu Pai, é uma gritaria de desespero que euprovoquei neles. Ontem pela manhã ainda teria sentido agrado; agora, tenho vontade de chorar. Coitados, sentem medo de mim, e eu não sei o que fazer por amor a eles. Pai aman- tíssimo, sê Misericordioso e apaga mais uma tolice do meu coração.”

  3. Diz Abedam: “Não será a última tolice que terei de reparar. Já Me deste tanto trabalho com tua cegueira, que terei muito que fazer até o fim dos tempos para repor tudo em sua Ordem original. Existem ainda muitos que iguais a estes padecem ao nosso redor. A família Gar- tili é um forte exemplo. De que maneira chegaram aqui Uranion e seus descendentes? No entanto, é sua casa a mais luminosa do Levante. Não será lançado em tua conta o que fizeste, pois Eu o creditei em Minha Conta e sei perfeitamente o que farei por isto, para todos os tempos. Por enquanto, ainda tens um pequeno débito. Chama este que está mais próximo de nós e veremos o que pode ser feito.”

  4. Adão se abaixa para o orador, pega de sua mão e diz em seu ou- vido: “Garbiel, levanta-te e acaba com essa gritaria.” Continuando de bruços, este diz aos companheiros: “Não adianta continuardes a clamar; levantai-vos e cada um se prepare para um julgamento severo. Sabeis que se Adão toma a mão esquerda de um pedinte mandando que se levante, ele quer dizer o seguinte: Afasta-te de mim por vinte anos! — Ai de nós, que nem podemos levar mulher e filhos conosco! Estamos perdidos!”

  5. Adão o interrompe, dizendo: “Garbiel, como és tolo! Isto termi- nou para todos os tempos. Nada temas, pois ninguém será banido da-

qui. O forasteiro e eu aqui viemos não para vos oprimir, mas vos erguer e se possível vos vivificar completamente. Erguei-vos!”

  1. Não se contendo de felicidade, Garbiel dá um salto e beija o peito de Adão por sete vezes; depois se dirige para Abedam e diz: “Seja quem fores, mereces meu amor transbordante. Jehovah ama até mesmo as mos- cas; por que deverias ser excluído de meu amor, como desconhecido?”

  2. Beijando o Peito de Abedam com sete beijos, ele se vira para os demais e diz: “Vinde aqui, irmãos! Não podeis imaginar o que acabo de sentir. Não há palavras para exprimi-lo. E imaginar que fomos capazes de dar uma resposta tão imperdoável a este homem celeste!”

49.ABEDAMREVELAAVERDADEIRAINTENÇÃODOS MENSAGEIROS

  1. Os onze companheiros seguem o exemplo de Garbiel e consta- tam a veracidade do êxtase. Intimamente admirados, não conseguem dar explicação ao fenômeno e Abedam inquire por isto Garbiel, dizen- do: “Consegues te lembrar da pergunta que fiz na colina?”

  2. Perplexo, Garbiel responde: “Sim, fizeste uma pergunta estranha à qual demos uma resposta bastante tola. Tratava-se da intenção e do sentido; só não me lembro se a intenção se encontrava no sentido ou vice-versa.

  3. Recordo-me perfeitamente da segunda parte, quer dizer: por que aqui viestes? Mas a primeira parte não consigo formular. Nunca fui tão tolo em toda a minha vida; embora não fosse tão ignorante, o pavor quase me fez esquecer meu próprio nome. Certamente ainda te lembras do assunto e talvez pudesses repeti-lo, e conseguiríamos agora uma resposta mais modesta.”

  4. Satisfazendo o pedido de Garbiel, Abedam repete a pergunta completa e aquele diz: “É isto mesmo: Qual é vossa intenção? Por que aqui viestes? E agora?” Diz Abedam: “Dá-Me resposta; quero saber se a pergunta ainda se encontra em vosso meio.”

  5. Refletindo mais, Garbiel diz: “Quanto à segunda parte, fomos enviados à colina a fim de nos informarmos se devemos permanecer à

noite aqui, pois a essa hora não é hábito fazer-se um sacrifício de fogo. Eis o motivo de nossa chegada e talvez também seja o sentido de nossa intenção. Se porventura ainda existe outra motivação, não posso infor- mar. Talvez possas revelar-nos o sentido de tua intenção.”

  1. Responde Abedam: “Respondeste certo quanto ao motivo de vossa subida. Mas nele não estava o sentido de vossa intenção, e sim que vosso coração estava repleto de aborrecimento oculto e quiseste pesquisar sob o manto da segunda pergunta por que a cerimônia do sábado fora modificada.

  2. Como Eu o descobrisse e antecipadamente perguntasse pela ra- zão, traístes vossa intenção pelas palavras rispidamente dirigidas a Mim. Pretendíeis apenas perguntar se era preciso ficar ou seguir caminho. No íntimo tencionáveis bisbilhotar secretamente e satisfazer o mau humor, e em ocasião oportuna despejá-lo perante os patriarcas, na próxima ter- ça-feira (dia de contenda) em que sempre vos dão a devida atenção. Não foi assim?”

  3. Inteiramente perplexos, todos se calam. Mas Abedam prossegue: “Acompanhai-Me com Adão à colina, onde deveis fortalecer-vos pri- meiro, pois não vos alimentastes hoje, e em seguida trocaremos algumas boas palavras a respeito de Minha Intenção.”

50.ONISCIÊNCIAESABEDORIADO FORASTEIRO

  1. Muito admirado, Garbiel se vira para o forasteiro e diz: “És de fato um homem curioso. Como podes ler em nossos corações e des- cobrir o que lá se passa? Tenho certeza que não és criatura comum. Primeiro, pela sensação extraordinária que senti quanto te abracei; e, fora isto, teu penetrante olhar, diante do qual nada está seguro den- tro de nós.

  2. Não posso negar que existem pessoas com certo dom conferido pelo alto, como Henoch, Kenan, Jared, Enos e Seth, que realizaram coisas milagrosas; a menos que tivesses tido uma ação indireta naquela ocasião. No entanto, meu coração sempre ficou intocável e nem o mais importante patriarca conseguiu pesquisar o meu íntimo.

  1. Se isto te é possível, não temos autoridade de permanecer ao teu lado. Sinto verdadeiro pavor diante de ti e peço que nos isentes do convite de acompanhar-te para a colina e saborearmos o alimento ime- recido na cabana de Adão.

  2. Estamos cientes do motivo dúbio de nossa intenção; mas, quan- to à tua motivação, demonstraste claramente que éramos verdadeiros velhacos. Podes estar certo que isto não se repetirá. Sendo tu o mais importante na colina e até mesmo Adão te rendendo o máximo res- peito, peço nos informes a razão de nossa vinda aqui, para podermos retransmitir aos familiares a informação antes do anoitecer. Expresso apenas um pedido, pois se meu desejo te for desagradável, preferimos seguir-te até o fim do mundo do que reagirmos em qualquer sentido. Respeitamos exclusivamente tua vontade poderosa.”

  3. Retruca Abedam: “Garbiel, tua oratória representa uma verda- deira obra de arte, pois consegues com ela cegar-te e não ouves as impe- tuosas exigências de teu coração, cuja base não é má. Tudo que acabas de falar não tem pé nem cabeça, e nada mais é que uma fútil brisa com a qual pretendes abafar o teu medo. Afirmaste que não há quem pos- sa subsistir ao Meu lado, que sei ler os pensamentos humanos, razão por que te sentias tomado de pavor. Somente isto se originou no teu coração. Aconselho-te segurares a tua língua entres os dentes para que ela não engane o coração, fazendo crer que tivesses descoberto Minha Intenção para convosco.

  4. Isto foi muita presunção de tua parte, pois hás de perceber com teus companheiros que o verdadeiro sentido de Minha Intenção para com todos, nem o mais elevado e perfeito espírito angelical do Céu mais sublime poderá entender e compreender.

  5. Quanto à tua preocupação como mensageiro, todos já estão cientes que devem permanecer aqui até depois de amanhã, o dia da contenda. Assim sendo, não há mais motivo de não aceitares o Meu Convite. Então, poderás seguir-Me?”

  6. Vertendo lágrimas de alegria, Garbiel exclama: “Sim, agora Te seguirei para onde quiseres, pois pressinto algo importante porque afir- maste a insondabilidade de Tua Intenção. Não me atrevo a pronunciá-

-lo, mas meu coração expressa, através de um amor jamais sentido, que és um Pai; por isso Te acompanharei eternamente.”

51.ABEDAMFALA SOBRE A LUZ

  1. Abedam Se apronta para seguir caminho e diz: “Quem Me acompanhar, andará em vereda certa e não se enganará na trilha da vida que dá para a Vida. Quem poderia caminhar sem luz numa picada da floresta em noite escura? A floresta representa o mundo, e a vida da criatura é o caminho, e o tempo físico é a noite densa.

  2. Não possuindo luz, poderia a criatura acertar o caminho estreito e justo que conduz à meta sagrada do amor, ou seja, à Vida eterna? Eu Mesmo sou uma Luz verdadeira e segura, sou o Caminho e a Própria Vida Eterna.

  3. Se Me seguirdes, tereis Luz em profusão e nunca haveis de errar o justo caminho, por ser a Luz o Próprio Caminho. Do mesmo modo, não podeis errar a meta sagrada do Amor, a Vida Eterna, por serem Caminho e Luz a própria meta, ou seja, a verdadeira Vida eterna. Se- gui-Me, e não pergunteis para onde vou. Onde Eu estou existe o lugar certo e em toda parte a Vida eterna.

  4. Se alguém tomasse uma lâmpada à noite e a colocasse numa montanha, num vale ou em outros locais, por acaso a luz daria a im- pressão de não se encontrar em ponto certo?

  5. Digo-vos: A luz cabe em toda parte, pois não há quem diga: Este ou aquele ponto não se presta para a luz do dia, onde o Sol projeta seus raios. O mesmo acontece com a luz do espírito, razão por que ninguém deve perguntar se a luz se presta para ele ou não, ou se a pessoa é digna da luz ou não.

  6. Quando chegar a Luz, preciso é que cada um dela se aposse e a use, pois Ela virá para servir a todos. Mas, uma vez que aí foi colocada e desapareceu, tanto o meritoso quanto o indigno hão de sentir a carência da mesma. Chamarão pela aurora que será retardada e tal demora se tor- nará uma grande pedra de escândalo para todos e em todos os tempos.

  1. Ai dos que caem durante o dia e não se querem deixar erguer pela Luz enquanto Ela palmilha entre eles. Em verdade vos digo, terão dificuldades para se levantar quando a noite os atingir.

  2. Por acaso não deve ser perdoado quem tomba durante a noite? Sim, os que tombam à noite se erguerão mais facilmente quando chegar a Luz, do que os que caem durante a luz do dia e são preguiçosos para se levantarem imediatamente a fim de que a Luz os conduza à meta abençoada do Amor.

  3. Por isso, repito: Apossai-vos da Luz com vosso coração enquanto Ela Se acha em vosso meio. O tempo da Luz é curto, porém longo o da noite. Quem Dela se apossar agora, jamais sentirá falta da luz. Final- mente, entendei que Eu Mesmo sou a Luz de toda Vida e a Própria Vida original. Aceitando isso no coração, tereis aceito a Luz e a Vida totais.

  4. Que vem a ser a Luz e a Vida, Santa e Eterna? Deus Mesmo é a Luz. E o Amor eterno desta Luz é a Vida Eterna e o Pai, que há pouco foi por ti reconhecido, Garbiel. Eu sou o Pai Único e Verdadeiro e vós sois Meus filhos, caso Me aceitardes como Pai.

  5. Quem não Me aceitar no coração como Pai, para este serei o que sou para a pedra, quer dizer, um Deus e Criador eternamente julga- dor. Minha Força, Poder e Onipotência não têm fim — assim fala Deus por Si; quem poderá ou há de querer opor-se a Mim?

  6. O Pai Se sujeita a Seus filhos e oculta a Divindade Onipotente diante de seus olhos temerosos, para que todos possam Dele se apossar no coração e seguir à Sua Chamada. Eu Mesmo sou o Pai e vos chamo para seguir-Me. Não hesiteis, e acompanhai-Me.”

52.CRITÉRIO DE GARBIEL SOBRE O SENTIDO PATERNAL DODISCURSODE ABEDAM

  1. Todos se prosternam aos Pés de Abedam, e Garbiel dirige al- gumas palavras aos irmãos que merecem o seguinte elogio por parte de Adão: “Garbiel, já tive oportunidade de ouvir muitos discursos de pessoas não inspiradas, mas nunca iguais ao teu. Sê alegre, pois Abedam

realizou muitas coisas em ti; o que não te aguardará se teu coração se unir a Ele no puro amor?

  1. Repito o conteúdo de tuas palavras: Irmãos, entendestes o que acabamos de ouvir? Quem teria sido capaz de proferir verdades tão pro- fundas? Não foram humanas, nem provindas de um espírito angelical, todavia, é uma entidade criada.

  2. Meditai um pouco: quem pode, quem deve ser Aquele que diz de Si Mesmo: Eu sou a Luz, o Caminho e a Meta abençoada!? Só pode ser a Própria Vida original e eterna. Porventura não percebeis quem é o Foras- teiro? Se um de nós fizesse tal afirmação de si mesmo, sua língua não che- garia a pronunciar a segunda palavra, pois tal pessoa estaria pulverizada.

  3. Se a Terra tivesse poderes para falar, o próprio pensamento de tal ultraje haveria de dizimá-la. O Sol teria o mesmo destino. Se não sois capazes de assimilar tal axioma, imaginai o Caminho de todos os cami- nhos e a meta final de todas as coisas. Imaginai-vos como sendo a Força mais potencializada, o Poder de todos os poderes — e procurai subsistir.

  4. Nunca fui profeta, no entanto afirmo com toda a certeza e con- vicção de que se alguém dissesse: Sou a máxima Força de todas as forças!

  1. Se dissesse: Sou a máxima potência de todas as potências! — um mosquito haveria de triturar seus membros e músculos. Se dissesse: Sou a meta final de todas as coisas! — um abismo sem fim haveria de tragá-

-lo no fogo da eterna perdição. Se dissesse: Sou o Caminho de todos os caminhos! — a Terra haveria de dizimá-lo no fogo de sua ira. Se disses- se: Sou a Luz de toda luz! — a treva mais densa haveria de envolvê-lo. E se finalmente afirmasse: Sou a Vida mais santa, eterna de toda vida!

  1. Se isto entendemos, e vemos o Forasteiro que tudo isso afirma de Si, ouvindo como nos chama qual pai a seus filhos, e nosso coração nos diz: Sim, Tu és um Verdadeiro Pai, e ai dos que vilipendiam esse Nome sagrado intitulando-se de pai! Quem finalmente é esse Forastei-

ro e de onde vem? — Os Céus infinitos cheios de milagres luminosos, a Terra, nosso coração, a maior das maravilhas, exclamam: Jehovah, Deus, o Eterno Criador de todas as coisas, o Santo Pai Se encontra em meio de Seus filhos na Terra!”

  1. Terminado o discurso de Garbiel, Abedam manda que todos se levantem e diz: “Está na hora de Me seguirdes ao monte para que vos possa mostrar um outro sentido de Minha Intenção, em presença de todos os patriarcas.

  2. A Terra é um vasto campo onde cresce grande variedade de er- vas, arbustos e árvores. Sobre o solo rastejam inúmeros vermes e as flo- restas, as águas e o ar estão cheios de bichos e animais. Quem considera isto tudo? Onde está o coração que sustenta uma ordem naquilo? No entanto, é o coração obra desta ordem. Vamos, para que vos seja trans- mitido um outro sentido de Minha Intenção.”

53.PALESTRAENTREBESEDIELE GARBIEL

  1. Todos seguem Abedam com profundo respeito, temor e amor, e um irmão de Garbiel diz: “Ao observar este Céu cravejado de incon- táveis estrelas, que são imensos corpos cósmicos, quando lá na frente caminha o Criador destes milagres sem fim, e que bastaria um pensa- mento Dele e o Espaço infinito estaria enterrado na noite mais densa, podendo Ele ao mesmo tempo criar novas criações — um sentimento indescritível se apodera do meu coração.

  2. Porventura já viste olhos semelhantes ou uma boca igual à Dele? Que dignidade, santidade, força e poder se expressam através deles! Quem não cairia em êxtase quando Ele nos olha de perto? E quão con- vidativo é Seu Semblante! Mas, à medida que a pessoa Dele se afasta, Ele se torna cada vez mais sério, adquirindo algo indescritível. Não consigo definir se desperta em meu coração uma veneração sublime, ou o mais profundo remorso e a mais forte saudade de aproximar-me Dele mais e mais e, se fosse possível, integrar-me Nele.

  3. Na Sua aproximação, toda sensação de distância se desvanece, dando margem a um amor jamais sentido, onde a Vida e a destruição

se expressam de modo idêntico, num êxtase infinito. Já passaste por isto? Talvez me possas dizer se devo confiar no meu sentimento ainda mesclado com enganos?”

  1. Responde Garbiel ao seu irmão Besediel: “Tem fé no teu senti- mento, mas sabe que ele não vem de ti, e sim se irradia Daquele que nos conduz para as alturas, não apenas terráqueas, mas às alturas da Vida interna e eterna provinda Dele.

  2. Tu, meu irmão, e vós outros, abri vossos corações e despojai deles toda matéria inútil, tornando-se mais espaçosos e livres a fim de poderem assimilar os grandes tesouros derramados sobre nós e os que ainda serão espargidos.

  3. Besediel, por ora desiste de teus pensamentos profundos; tenho a impressão de que o Infinito é demasiado santo para nosso coração ain- da impuro. Se algum de nós estiver ocupado com algo em seu coração, deve antes purificá-lo pelo justo remorso e o amor para com Aquele que nos guia. Já estamos próximos do destino e os patriarcas se prosternam diante Dele. Todos eles e o próprio monte se acham envoltos de uma santa claridade. Chorai e orai, irmãos, pois este local é santo, santo, santo. Meu pobre coração, cheio de pecados, suportarás a Revelação, a Luz de Deus Eterno, do Santo Pai?”

54.DEFEITODEFALADESETHÉCURADOPOR ABEDAM

  1. Quando todos alcançam o cume, Abedam os convida a recebe- rem o grupo dos doze personagens trazidos por Ele e Adão. Eles assim fazem, estendendo os braços, com exceção de Seth, temeroso dos que ele havia tratado com rispidez. Adão o chama e pergunta: “Abel-Seth, por que ficas afastado quando todos seguem a Voz do Pai? Talvez não ouviste a chamada?”

  2. Caindo de joelhos, Seth suplica: “Perdão pelo que fiz, que sou um tolo.” — Abedam o interrompe, dizendo: “Já foi feito por Mim e está tudo bem. Teu receio é fútil, pois temes em aceitar o que Eu Mesmo aqui trouxe e vos orientei como recebê-los. Despoja-te do medo, segue

o exemplo dos outros, que isentarás teu coração de qualquer reprimen- da consciencial, tanto mais que és um homem livre de todo pecado.”

  1. Seth abraça os doze componentes, que por sua vez lhe pedem perdão por terem dado motivos de aborrecimento. Seth não consegue pronunciar palavra de emoção; todavia, seus gestos demonstram ca- rinho tanto maior, provando que nunca esteve aborrecido. Tudo que fez foi certamente motivado por um impulso superior em benefício da vida deles. Percebendo que o grupo não entendia sua gesticulação, ele se vira para Abedam, apontando-Lhe a boca e o peito. Seth tinha um defeito de nascença que lhe impedia de falar quando sua alma se sentia emocionada.

  2. Abedam então toca boca e peito de Seth e lhe diz: “Abre tua boa, que tua língua jamais há de negar seu uso. Dá vazão ao teu coração.” No mesmo instante, Seth começa a falar o seguinte: “Filhos do Amor do Santo Pai, se anteriormente não tivesse sido obrigado a vos reter diante de meu coração vibrante, ele vos teria tragado a todos.

  3. Quando fugistes do cume após eu vos ter indicado o pai Adão, senti pena por não quererdes receber orientação precisa a respeito de vossa subida. Enquanto o Santo Pai, acompanhado de Adão, não vos tinha alcançado, andei tomado de grande aflição por vossa causa. Agora esqueçamos tudo isso, pois o Pai assim o quis. Devotai-Lhe eterna grati- dão e o amor mais puro de vosso coração. Aceitai o alimento abençoado por Ele, para a Vida eterna.”

55.ABEDAMFALASOBREOEXAGERODA GRATIDÃO

  1. Quando os doze personagens se haviam saciado, dirigem-se para Abedam, Adão e Seth e agradecem com efusão pelo manjar saboreado no cesto de Adão. Finalmente, Garbiel aduz: “Creio que temos todos o mesmo paladar e só podemos constatar a qualidade especial e o aroma que, a meu ver, não pode ser comparado com qualquer fruto da Terra.

  2. Daí concluo que eles têm uma origem muito mais elevada do que conhecemos. Qual então seria nosso dever? Vede, meu coração pal-

pitante será incendiado para o Doador Máximo e hei de louvá-Lo dia por dia, hora por hora. Louvado seja o Nome Santo de nosso Criador.”

  1. Todos se atiram ao solo e acompanham Garbiel em sua mani- festação de louvor. Abedam os faz se levantarem e diz: “Não deixa de ser recomendável e de grande satisfação para um pai quando os filhos enchem seu coração com verdadeiro amor para com ele.

  2. Mas, que diríeis se um pai entregasse uma maçã madura a um filho, que de tal modo se comovesse com o presente que não cessaria de lhe agradecer? Mesmo que ele quisesse acalmar o filho, este continu- asse em sua manifestação de gratidão até que a voz lhe sumisse? Como seria difícil àquele pai repetir sua atitude, prevendo o martírio ao qual exporia o filho; muito mais ainda isto se daria se quisesse oferecer-lhe um presente maior.

  3. Se quisésseis agradecer-Me eternamente por uma asa de mosqui- to e por um fio de cabelo, desejava saber por quanto tempo haveríeis de Me agradecer se Eu vos ofertasse a Dádiva Máxima, ou seja, a Vida eterna e mais sublime.

  4. Se por uma noz quisésseis retribuir-Me a Terra, a Lua, o Sol e as estrelas, qual seria vossa retribuição pelo presente de um planeta? Deveis reconhecer que também a gratidão deve ser medida por ser uma constatação amorosa daquilo que a pessoa recebeu.

  5. Se alguém agradecer por uma palha como se fosse um cedro, dá testemunho de tolo ou expressa uma inverdade sobre algo que nunca recebeu. Terminai portanto com o louvor e preparai vosso coração para receberdes de Minha Mão aquilo que está infinitamente acima desses frutos. Antes disto, pesquisai em vosso íntimo e transmiti vossa desco- berta em uníssono.”

56.DIFERENÇAENTREALUZDOINTELECTOEALUZDO CORAÇÃO

  1. Depois destas palavras de Abedam, Henoch convida os doze a recuarem alguns passos e diz: “Como o Santo Pai visse que não compre- endestes o sentido de Sua recomendação, Ele me ordenou no coração

que eu vos acompanhe nesta tentativa. Isto talvez vos cause espanto; mas, dentro em pouco, percebereis não ser fácil se dirigir os olhos para dentro do coração a fim de analisá-lo totalmente.

  1. Até então foi o intelecto a luz de vossa alma. Mas o espírito vivo que habita no coração dela, como luz verdadeira e viva da Vida, nunca fora desperto por vós. Neste caso, é inútil pesquisardes o coração, pois onde não há luz, nada pode ser visto.

  2. O mesmo sucede com a visão espiritual no próprio coração, onde nada pode ser visto caso a criatura não tiver antes vivificado o seu espírito. Perguntais: como pode o espírito ser despertado? Esta é a razão pela qual recebi ordem de vos conduzir até aqui, e com ajuda Dele chegaremos lá onde Ele nos quer levar.

  3. O caminho, ou seja, o único meio para despertar o espírito, é di- rigir vosso coração no mais puro amor ao Santo Pai, cheios de confiança e fidelidade desinteressada. Quando perceberdes um grande calor no coração, sabei que chegou o momento do despertar da luz, e então con- vém analisardes o vosso íntimo, onde vereis os milagres da Vida eterna.

  4. Uma coisa deve ser observada: Que não seja este o motivo de começardes a amar o Pai, pois Ele quer ser amado por Sua Causa. Além disto, não deve vosso amor ter apenas duração até o próximo dia, pois com um amor temporal nem a mulher se satisfaz, muito menos Deus Eterno.

  5. A vida terá a mesma constituição do amor. Se o amor for tempo- ral, a vida será passageira, e em tal amor não haverá luz. Mas se o amor tiver formação eterna, a vida também a terá. Tal amor eterno é justamen- te o despertar do espírito, que é apenas puro amor. Agora sabeis de tudo. Agi deste modo, que facilmente podereis auscultar o vosso íntimo.”

  6. Tomando a mão de Henoch, Besediel exclama: “Caro irmão, como poderei agradecer-te por esta ajuda tão maravilhosa para nos- sos corações necessitados? Encontrava-me precisamente no ponto que abordaste, pois até então procurei aprimorar o intelecto e analisar tudo que se passava em meu redor.

  7. Julgava o seguinte: A Perfeição de Deus Se diferencia da nossa imperfeição somente no mais perfeito intelecto, de sorte que podemos

nos aproximar de Deus apenas pelo desenvolvimento do mesmo. É des- necessário frisar que dentro deste conceito nunca considerei o coração, porquanto já percebeste a situação do mesmo.

  1. Agora noto quão tolo e inútil foi tal esforço, pois que utilidade teria a ciência para o morto? O espiritualmente vivo dispensa a ciência. Como acabas de bater no meu coração, ele me diz: O Amor é a Causa de todo ser. Se o tiveres para sempre em Deus, terás também toda a Vida de Deus e em Deus, e tudo que Lhe pertence. Não possuindo amor, tens apenas a morte dentro de ti. Já sei a Quem compete toda a gratidão; portanto, O procurarei.”

  2. Obtempera Henoch: “Espera mais um pouco até que os outros também iluminem seus corações.”

57.INTROSPECÇÃODE GARBIEL

  1. Nisto, Garbiel se adianta e pretende trocar algumas palavras com Henoch, não por necessidade interior, mas querendo satisfazer sua eloquência. Henoch o antecede, dizendo: “O Senhor e nosso Pai Ama- do te diz que deves calar caso queiras também ser despertado. Teria eu anteriormente recomendado por Ordem Dele que a tagarelice seria útil como meio de introspecção?

  2. Considera o que foi dito a fim de encontrares o caminho para o teu coração, mas nunca através da tagarelice que te obstruiria o cami- nho para a Vida eterna. Até então foste o primeiro, ou julgavas ser um chefe entre os irmãos. Mas isto não tem valor diante do Senhor de toda a Santidade, Amor, Meiguice e Paciência, e sim somente um coração amoroso, arrependido e contrito.

  3. Tudo aquilo que no mundo se enaltece é por Deus considerado sem valor. Mas, se aqui se apresentar o último habitante da Terra, in- teiramente despretensioso, será para Deus o mais importante. No en- tanto, deve toda pessoa precaver-se em querer ser a última de todas. O motivo deve ser o seguinte: Podes amar mais profundamente o Pai em tal isolamento, despertando no coração a saudade da pátria eterna onde Ele habita como Deus de todo Poder, Força e Onipotência. Se isto ig-

noravas, não o esqueças a fim de poderes também participar o quanto antes do despertar interior. Não te poderás aproximar do Pai antes de teres feito a introspecção.

  1. Sabes tanto quanto eu a diferença que existe entre um fruto normalmente amadurecido e um amadurecido por coação. Todos vós, cuidai de não serdes contados entre os últimos. Não deixa de ser verda- de que o Divino Criador Se encontra entre nós, ensinando-nos e nos guiando. Mas quem Dele se aproximar de coração imaturo será deixado de lado até que o consiga de coração puro que também garante a pre- sença do próprio espírito.

  2. Não basta que alguém seja despertado para o tempo de um ano, dia e hora. Quem for despertado, sê-lo-á para toda a eternidade. O espíri- to não habita na língua, mas unicamente no coração. E quem tiver gran- de eloquência, não quer dizer que tenha despertado o espírito no coração.

  3. Quando o espírito for despertado, a língua prefere calar, pois só então poderá o intelecto, como luz da alma, penetrar no seu recôndito, o que não deixa de ser uma grande diferença entre a língua do espírito e a da matéria. Por isto, caro Garbiel, cala e procura falar no coração a fim de despertares o teu espírito para a conquista segura da Vida Eterna.”

  4. Ouvindo tais palavras, Garbiel se atemorizou, não sabendo o que fazer e começou a pensar sobre si mesmo. À medida que prosseguia com mais intensidade, seu coração se iluminava mais e mais. Assim, percebeu que surgia uma luz após outra da profundeza de seu íntimo, que se dilatava a um tamanho cósmico. Nele vislumbrou no centro um grande altar, no qual se encontrava um adolescente forte, de trajes brancos. A entidade olhou para o Céu, do qual se projetou uma forte luz sobre ele.

  5. E desta luz soou o seguinte: “Garbiel, olha os sinais de tua mão esquerda e escreve-os em uma pedra para ensiná-los aos teus irmãos.” Nisto, o adolescente se transformou num homem, olhou sua mão, onde encontrou vinte e cinco sinais — o alfabeto — e também encontrou seus nomes, origem e interpretação.

  6. Todos os outros notaram sinais idênticos em si. Henoch en- tão recebeu ordem para despertá-los após terem permanecido duas

horas nessa introspecção. Henoch assim fez e os conduziu para junto de Abedam.

58.VISÃODEVRATAHSOBREANATUREZADA ESCRITA

  1. Abedam então pergunta a um dos doze companheiros: “Vra- tah, dize-Me em poucas palavras o que viste em teu coração e quais as tuas deduções.” Com profunda humildade, este responde: “Pai de todo Amor e Criador de todas as coisas, seria preciso dizer-Te o que desde eternidades está mais claro e evidente para Ti do que para mim o Sol num dia mais radioso?”

  2. Responde Abedam: “Como podes perguntar-Me tal coisa, se Eute fiz tal pergunta? Se sabes que previ tal acontecimento desde sempre, também devias saber que havia de fazer-te tal pergunta. Assim sendo, responde como se Eu não estivesse Ciente de Tua resposta. Todos vós, considerai que tendes de responder a qualquer pergunta. Não quero fa- lar-vos como se fôsseis pedras, mas como Pai a Se dirigir aos Seus filhos capacitados de responder.”

  3. Diz então Vratah: “Vi nascer no centro do meu coração uma forte luz que brilhava mais que o Sol ao meio-dia, enquanto fora de mim, na Terra, tudo escurecia a ponto de não poder vislumbrar nada. Esta luz crescia mais e mais e se tornou tão poderosa que chegou a me fazer transparente, como se minha pele desse oportunidade de a luz iluminar grande parte da Terra.

  4. Mas, quando a luz caía no solo, as coisas tomavam outro aspecto que o comum. Vi, por exemplo, uma folhinha trazida para minha mão direita por uma brisa suave e de sonoridade maravilhosa, gravada com os caracteres mais estranhos. Deitei a folhinha na mão esquerda para poder analisá-la por mais tempo.

  5. Então descobri que a folhinha apresentava os mesmos sinais que eu havia descoberto em minha mão. Nela se encontravam vinte e cinco sinais isolados, enquanto na folhinha se repetiam em grupos. A folhi- nha começou a crescer mais e mais e me dava a impressão de se estender sobre a Terra toda, e os grupos de caracteres aumentavam a ponto de

ser inteiramente impossível analisar apenas a parte mais ínfima. — Su- bitamente, apagou-se a luz celeste dentro de mim, a folhinha sumiu junto com as harmonias do éter, e a voz de Henoch nos convidou a Te procurar, Senhor.”

  1. Diz Abedam: “Caro Vratah, acabaste de ver o Reino de Minha Graça sobre a Terra. Não poderei ficar convosco assim como ora Me vedes, e também não seria de utilidade para a Vida eterna de ninguém se Eu ficasse. Deixarei sinais para todos, como tu e teus irmãos acaba- ram de ver, e com o auxílio do Meu Espírito podereis anotar todas as Palavras que vos dirigi, em benefício de vossos descendentes. Em tais Palavras estarei Presente, Santo, Misericordioso, Forte e Poderoso. Atra- vés do Meu Espírito, Garbiel vos ensinará o uso dos sinais.”

59.VISÃODESEHELCOMRELAÇÃOAO DILÚVIO

  1. Em seguida, Abedam Se vira para outro membro do grupo e diz: “Sehel, dize-Me também tu o que viste e ouviste no coração.” A este con- vite, Sehel se sente fulminado e não consegue proferir palavra. Tinha difi- culdade de expressão para que sua língua pudesse transmitir uma grande glorificação ao Meu Nome. Como de fato nada pudesse dizer, Abedam Se aproxima e pergunta: “Sehel, como é possível falares sem susto e medo aos teus irmãos que não te amam em comparação a Mim?

  2. Meu Amor para contigo e para todos é tão grande que de Seu fogo se incendeiam os infinitos espaços da Criação, repletos de inúme- ros sóis e regiões solares. No entanto, são tais sóis apenas as mais ínfimas centelhas do Meu Amor para convosco e tu não te atreves, por excessivo medo e pavor, a dar-Me a devida resposta? Como é isto possível?

  3. Responde-Me no coração se algum irmão já te deu um tapa na boca quando lhe davas uma resposta. Respondes que não. Se isto não fez um teu irmão, fraco e igual a ti, muito menos Eu o faria, que sou Deus Eterno e teu Pai cheio de Amor. Domina teu fútil receio e fala de coração livre diante de Mim e dos patriarcas. Mas não percas tempo na procura de palavras adequadas, no que Eu não teria agrado, mas fala o que te vai no coração.”

  1. Com este incentivo, Sehel se encoraja, dizendo: “Perdoa-me, Pai, o meu temor e medo tolos, não motivados pela Tua Santa Presen- ça, e sim em virtude da extraordinária maravilha que deparei no meu íntimo. No começo, meu coração incandesceu-se qual rosa primaveril quando tocada pelos primeiros raios da aurora. Aos poucos, a tonali- dade foi se intensificando e, por incrível que pareça, um Sol despontou em meu coração, emanando forte brilho.

  2. Ele tornou-se tão imenso que vi um novo Céu cravejado de inú- meras estrelas, em formidáveis agrupamentos, e em seguida nascia uma nova Terra, como se emergisse de enormes vagas, e trazia uma geração pacífica dentro de uma casa enorme.

  3. Tal geração conseguiu sair por terra, onde Te ofertou um sacri- fício aromático. A fumaça que se desprendia do altar subia às alturas e formava um arco enorme e maravilhoso sobre todo o orbe brilhante.

  4. Do próprio arco soava uma voz idêntica à Tua e se dirigia ao che- fe daquela geração, prometendo-lhe paz e lhe demonstrando que o arco era prova visível que a Terra jamais haveria de ser castigada por tamanha enchente. A Voz ainda falou muitas coisas para aquele homem, mas o sentido era incompreensível.

  5. Em cima da casa viam-se sinais estranhos e o chefe os copiou em uma pedra vermelha. Quando terminou, aproximou-se dos filhos e disse: Ouvi o que Deus gravou nesta casa protetora: De agora em dian- te não farei mais guerras com as criaturas. Esta foi a última. Quem de vós se Me tornar infiel receberá um julgamento até a grande Época das épocas. Por isto, deve haver paz na Terra e para os seus habitantes que tiverem bom coração, pleno de fidelidade. — Eis tudo que vi, meu Pai.”

  6. Diz Abedam: “Sehel, transmitiste bem o que te mostrou tua vi- são. O sentido mais profundo da mesma será revelado somente dentro do tempo mau. Desejava que esta guerra fosse evitada, mas acontecerá aquilo que as criaturas querem e não como Eu o quero. Dentro em breve hás de conhecer os sinais vistos por ti.”

60.JUSTIFICATIVADACURIOSIDADE.VERDADE,ALIMENTODOESPÍRITO.AMOR,BASE DE TODAS AS VERDADES

  1. Embora satisfeito com a assertiva de se tornar detentor dos si- nais, Sehel não compreendia que não lhe fosse dada a revelação a respei- to da guerra e do tempo mau. Isso o preocupava de tal modo, que até mesmo se esqueceu de agradecer a Abedam, que lhe disse: “Que coisas confusas admites em teu coração? Para que te serviriam? Julgas ficares mais vivo se tua curiosidade insaciável fosse satisfeita?

  2. Se já te preocupas com o pouco que viste como provação da Terra, que farias se tivesses tido a visão de Kenan com as dez colunas? Pede-lhe que te conte a respeito delas, mas considera bem a última, que te trará muito conhecimento que todavia te entristecerá. O Pai, que ora te diz isto, Se transformará em Juiz inclemente e teu olhar correrá inu- tilmente pelas trevas. Procurarás o Meu Semblante sem resultado. Por onde fores dirigir tua atenção visual e auditiva nada encontrarás senão a Minha grande Ira. Se quiseres maiores detalhes, procura Kenan e pede que te fale, mas somente se o quiseres.”

  3. Desesperado diante de tais revelações, Sehel se atira ao solo pe- dindo que Eu o poupasse com as mesmas. Preferia ser aniquilado para sempre a ser obrigado a aceitar Minha Ausência Paternal. Abedam o conforta, dizendo: “Está bem, se preferes a Mim em vez da terrível re- velação, fica Comigo. Te garanto que não necessitarás procurar-Me, teu querido e Santo Pai. Quanto à tua curiosidade, não quero considerá-la imprópria e injusta, pois através dela se anuncia em todos uma vida superior e espiritual.

  4. Uma pessoa sem desejo de saber assemelha-se a um tronco de ár- vore, no qual só existe uma manifestação de podridão que tudo absorve e aniquila qual pólipo marítimo no fundo lodoso do mar, onde tudo é tragado pelos seus tentáculos, cada um dotado de uma boca de sucção que se alimenta até morrer. Então volta a ser lodo que servirá de base a semelhante glutão animalesco.

  5. Digo a todos: Uma criatura sem curiosidade espiritual ainda não é um ser humano na acepção da palavra, e sim um animal em

forma humana, sem outro sentido senão o da voracidade. Quando se tiver saciado e tendo saúde, se interessará somente com o dormir e se juntar ao polo oposto, e que todas as suas funções biológicas se façam normalmente.

  1. A convivência com tal pessoa é sumamente desagradável, pois nela habita ainda uma alma animal que não se dispõe a desistir de seus estados primitivos, razão por que sempre se sente mais satisfeita como glutão do que em um trabalho que desperte o espírito imortal. Tal cria- tura materialista considera exclusivamente seus apetites.

  2. Se tudo isto justifica a curiosidade, não posso deixar de conde- ná-la sob certos aspectos. Quem sente curiosidade já despertou o es- pírito, assim como um lactante desperta nos seios maternos. Qual é o desejo dele? Que significa seu choro? Ele quer ser alimentado.

  3. O mesmo sucede com o espírito que fora desperto de seu de- morado sono e sua fome se manifesta pela curiosidade. Agora Me res- ponde: A criança se satisfará se a mãe lhe meter um dedo na boca, ou coisas semelhantes, sem nutrição? Digo-te, o lactante sucumbirá ainda que lhe fossem dados mil dedos que não o satisfarão, pois estão vazios de alimento da vida. Creio que nenhum de vós duvida que o leite é o alimento verdadeiro, quer dizer, uma verdade total para o estômago infantil, faminto e desejoso de nutrição.

  4. Por acaso a mãe não comprime o filhinho contra o peito onde arde seu ilimitado amor em chamas vivas e em cujo fogo tal nutrição doce é realmente preparada? Agora chegamos ao ponto nevrálgico: o es- pírito também quer ser nutrido com a Verdade mais segura e completa.

  5. Se pretendes saciar o teu espírito através de ciências vazias, nas quais não há uma gota de verdadeiro orvalho, qual será a evolução do mesmo? Assim como na genitora o amor é a base do verdadeiro ali- mento para a criança, o amor também é para o espírito a base de todas as infinitas Verdades, único alimento bom e real. Quem é ou onde se encontra este Amor? Olha para Mim, para Este Peito, onde há alimento em quantidade infinita. Por isto, deves ficar, pois é melhor te alimenta- res aqui do que correr atrás de interpretações e visões, e neste afã morrer à míngua espiritualmente e no final sucumbir sob o peso das mesmas.

Entendes agora a diferença entre alimento verdadeiro e falso, e o que é a curiosidade? Se o entendeste, age de acordo, que viverás eternamente.”

61.TROPEÇÃO DE SEHEL. ABEDAM TESTEMUNHA ARESPEITODE SEHEL

  1. Compenetrado das Palavras de Força, Poder e Vida divinos, Sehel continua firme ao lado de Abedam, sem dar lugar a um outro que tam- bém fora chamado. O motivo não se baseava numa certa ambição ou orgulho, mas unicamente no amor filial que o prendia a Mim. Por isto, Eu disse, como Abedam, somente por causa do lugar externo: “Sehel, os outros também devem se aproximar de Mim como tu o fizeste. Podes, portanto, chegar mais para o lado sem te preocupares com Minha perda.

  2. Aqui chegaste por própria iniciativa e vontade, e andaste sozi- nho enquanto te fora possível. Mas, quando vieste perto de Mim, Eu corri junto de ti e de todos. Como te encontras bem junto de Mim, po- des dispensar qualquer passo, continuando Comigo com toda a calma ou acompanhar-Me para onde Eu for.

  3. Isto se refere exclusivamente ao coração, ao espírito e suas rela- ções, mas nunca se prende ao físico. Podes estar onde for, se teu coração estiver com todo o amor de teu espírito Comigo, estarás em toda parte perto de Mim.

  4. Se estivesses sentado nas Minhas Costas, mas teu coração se ocu- passe com as profundezas do mar, ou teu espírito remexesse em meio das estrelas ou em regiões distantes da Terra, estarias tão distante de Mim quanto o teu espírito e seu amor.

  5. Por isto, Meu querido Sehel, podes te afastar um pouco de Mim, para dar oportunidade a teus irmãos de se aproximarem pelo mesmo motivo com que tu o fizeste. Compreendes?”

  6. Louvando Deus no coração, Sehel dá um passo para trás, sem desprender o olhar de Abedam. Não olhando onde anda, pisa com o calcanhar o pé de Garbiel. Este se altera, dizendo: “Por que não cami- nhas como te foram dados os teus pés? Por que andas para trás descon- siderando os pés de teus irmãos, se teus joelhos se curvam para frente?

  1. Além disto, nunca te moves do lugar, seja onde for que te mo- vimentas. Julgas que se possa permanecer diante do Senhor do mesmo modo que ficas diante de nós? Como és tolo, Sehel. De longe percebi que te tornaste incômodo para Abedam, o que Ele te deu a entender com as últimas Palavras.

  2. Mas não percebes e ainda agora te portas como se teus senti- dos estivessem desordenados, andando para trás sem considerar Quem Se acha à nossa frente e onde pisas. Peço que te controles finalmente e te tornes outro homem, ao menos perante Deus, já que não achas necessário fazê-lo diante de nós. Realmente, estou envergonhado em teu lugar.”

  3. O pobre Sehel se vê sumamente embaraçado, pois no momento não sabe a quem pedir desculpas primeiro. Além disto, a língua não se solta, de sorte que só depois de algum tempo consegue se atirar aos Pés de Abedam e Lhe pede perdão por não tê-Lo considerado, chegando até mesmo a aborrecê-Lo. Ao mesmo tempo, suplica-Lhe que cure o pé de Garbiel que ele havia magoado.

  4. Erguendo Sehel do solo, Abedam o comprime contra o Peito e diz: “Sehel, não és humano, mas um anjo puro e grande do Céu mais sublime. Digo mais: O que és agora, já o foste no ventre materno, isto é, um descendente original e imortal do mais elevado Céu, onde habi- tam os anjos mais simples, em seu amor inocente, mas que por isto são os mais poderosos e mais sábios, porque vivem nos recônditos santifi- cados do Meu Coração.

  5. Sehel, Meu grande favorito, reconheces-Me como teu Pai Ama- do e Santo, assim como o fazias há eternidades? Recordas-te que a Meu lado flutuavas pelo Espaço infinito e inteiramente vazio, e Eu te dizia: Irmão fiel do Meu Amor, um nosso irmão acaba de cair no abismo sem fim e eternamente repleto do fogo de Minha Divindade eterna.

  6. Criemos o primeiro Sol desta Minha Lágrima! — e respondias: Santo Pai! Tua Santa Vontade Se faça! — Assim falando, também os teus olhos verteram uma lágrima que foi abençoada por Mim, e Eu disse: Por esta lágrima deve este Sol, o primeiro e maior, ser frutifica- do, a fim de que futuramente possa preencher todo o Espaço infinito

com incontáveis filhos até que lá mesmo se inicie o fogo eterno de Minha Glória.

  1. Não te preocupes, portanto, pois nosso conhecimento e amor são bem antigos. Certamente compreenderás o motivo pelo qual an- daste para trás, sem conseguir desviar os olhos de Mim. Esta foi tua penúltima prova, pois passarás ainda por outra, por pouco tempo, e mais uma, quando te enviarei diante de Mim. A partir de agora, podes conservar o teu corpo até quando quiseres e jamais há de ser privado do Meu Semblante.

  2. Assim, também deves entender tua visão e todo o resto, mas guarda-o para ti. Em virtude de teres pisado o pé de Garbiel, deve ele se tornar professor de sinais, e tu, seu mestre. Isto lhe sirva de humilhação, como para todos, pois acaba de saber que aquele a quem tomava por grosseiro, é um antigo irmão do Meu eterno Amor e existiu antes que existissem todas as estrelas, Sol, Lua e Terra. Agora vamos ouvir o que viram os demais irmãos.”

62.TRANSFIGURAÇÃODE SEHEL

  1. Durante essa explicação, Sehel ficou como que transfigurado e todos os patriarcas cumprimentam hóspede tão elevado junto de Abe- dam. Seth, pai de Sehel, toma a sua mão e diz: “Meu filho, que até este momento continuas solteiro e nunca te uniste a ninguém, não deixan- do descendente direto, razão por que te bani para o Sul — como me perdoarás tal ultraje?

  2. Que representam Enos e toda a estirpe comparados a ti? Ó Jeho- vah, por que meus olhos se abriram tão tarde? Perdoa-me, Sehel, e volta junto de mim e deixa-me tratar-te como filho. Todavia, Se faça a Von- tade de Abedam.”

  3. Ouvindo os queixumes de Seth, Sehel volta de seu êxtase de suas grandes recordações e diz: “Meu pai, não te preocupes. Jamais hei de deitar por terra a Ordem de nosso Santo Pai, pois permitiu que este meu corpo, que já carrego há vários séculos, fosse gerado por ti. Por que então não deverias ser mais o pai do mesmo? Continua sendo o que

foste, em Nome Daquele que nos gerou há eternidades e de Quem éra- mos filhos antes que fossem criadas todas as coisas visíveis. Todos nós começamos aqui uma nova vida por causa daquele que caiu de modo próprio, de sorte não haver relação entre o que fomos em espírito. As- sim, és tu o meu pai, e eu teu filho.

  1. Se o Pai Eterno e Santo Se mostra como homem e irmão, nos fala qual semelhante e nos ensina a arte secreta de aceitarmos Dele a Vida eterna, que nada somos, inclusive toda a Criação — por que ha- veríamos de fazer distinção entre nós que surgimos todos de modo se- melhante? Que diferença há para Deus eu sendo um espírito original ou um posteriormente surgido do mesmo Amor?

  2. Se Deus, segundo Sua Ordem eterna e infinita Sabedoria, deter- minou que tu fosses o meu pai e não eu o teu, por acaso deveria eu me elevar acima de ti por ter Ele demonstrado meu estado espiritualmente elevado? Só Ele é Santo. Nós somos Seus filhos amados por Ele quando somos como devemos ser.

  3. Se nos desviamos de Seus Caminhos santos, Ele vai ao nosso en- contro com Sua Misericórdia infinita e ilimitada. Aos renitentes espera Seu Julgamento, para a vida ou para a morte. Só Ele sabe que espécie de morte será.

  4. Como filhos Dele, devemos ficar fiéis, em Seu Santo Nome, nas relações em que nos colocou, por três momentos, nesta Terra. Mas, quando esta vida terrena terminar, Ele já terá providenciado, há tem- pos, as novas relações a nos esperarem. Quanto à volta à tua casa, deixe- mos entregue, como tudo, nas Mãos Dele.

  5. Tenho a liberdade de exigir de todos, com todo o rigor, que nun- ca me demonstreis a menor veneração pelo fato de o Santo Pai me ter chamado de irmão. Não há quem desconheça a Quem compete toda Honra, Louvor, Glória e Veneração. Veneremo-Lo através do fiel cum- primento de Sua Santa Vontade. Portanto, exijo que me considereis apenas como o velho Sehel.

  6. A ti, caro irmão Garbiel, digo em Nome de Quem está ao meu lado: Levanta-te do chão, pois sou apenas um homem como tu. Ambos temos Seth como pai; por que então me prestas aquilo que somente

cabe a Deus? Nunca uma criatura se deve arrastar no pó diante de ou- tra, e terá cometido o maior ultraje diante de Deus quem admitir, por um só momento, que um irmão rasteje diante de si. Nunca me ofendes- te; portanto, nada tenho a perdoar, mas ofertar somente meu coração fraternal. Se algo comprime o teu coração, dirige-te a Ele, que tirará o teu peso e libertará tua alma.”

63.AHUMILDADEÉAMAIORGLORIFICAÇÃODO HOMEM

  1. Abedam acrescenta: “Meu caro Sehel acaba de falar com justiça e verdade. Entre todos os ultrajes, o egoísmo é o maior. Ao passo que a maior e mais sublime glorificação do homem está na humildade e, como resultado, a Glorificação do Meu Nome perante o mundo.

  2. Quem sentir um peso no coração, que Me procure, pois repito o que disse Sehel: não encontrará alívio senão Comigo. Tu, Garbiel, não erraste ao pedires perdão ao teu grande irmão, e Seth também não errou confessando seu antigo engano, pelo qual se aborreceu com Sehel porque não queria seguir as pegadas de Adão, preferindo manter sua pureza original, por imenso amor a Mim.

  3. Não deve um irmão rastejar no pó diante do seu próximo, pois nem Eu faço esta exigência. Muito menos deveis honrar-vos como deu- ses. Honrai-vos exclusivamente pelo Amor, sem sobrepor-vos acima do semelhante. Tal consideração, que cada um deve a seu próximo, é justa. O que passa daí é contra Minha Ordem e deve ser evitado. Em tudo basta o puro amor, porquanto Eu Mesmo nada vos peço senão vosso amor em espírito e verdade.

  4. Podeis orar dia e noite e vos rastejar no pó, que Eu não vos aten- derei antes que vos tenhais dirigido a Mim, vosso Santo e Amoroso Pai. Se Eu, que sou Santo, aceito vosso amor filial, honesto e sincero, como a melhor e verdadeira veneração, por que deveria haver diferenças entre vós que vos levassem a rastejar no pó diante do próximo?

  5. Tu, meu caro Sehel, gravarás em pedras o único mandamento de amor, para que todos vejam do que se trata e qual o ponto central de todas as coisas. E tu, ciumento Garbiel, não te preocupes por Eu não te

ter chamado como primeiro a relatar sua visão. Julgas Eu o ter feito de propósito para sentires tua nulidade, enquanto também querias ser algo que não deves? Que tolice!

  1. Declaro-te que Minha Ordem eterna, Meu Amor e Minha in- finita Sabedoria seguem outros caminhos que os por ti aceitos como justos. Teu coração deve ser humilde e não ambicioso. Se fores humilde, não prestarás atenção em quem seja o primeiro, o segundo, o terceiro; pois, quando fores chamado, estarás plenamente satisfeito. Devido à tua ambição, o tropeção de Sehel te magoou. Purifica o teu coração e vem a Mim quando fores chamado. Procura Henoch e pede para indi- car-te o caminho certo que leva para Mim. — Agora, vem tu, Horidael, e conta-nos o que viste no teu âmago.”

64.AVOZINTERNADA CRIATURA

  1. Horidael se adianta e começa a falar, imbuído de alegria e cora- gem: “Sei perfeitamente que tudo que vi se origina de Ti. Porventura deveria transmitir-Te aquilo que desde eternidades Te é mais claro que o Sol a pino? Isto seria o mesmo que levar uma gota d’água para o mar a fim de aumentá-lo, ou acender uma tocha de cera para auxiliar a luz do Sol. Seria a maior tolice se a criatura despejasse seu coração diante de Ti, como se ignorasses o que nele se oculta.

  2. Quem se encontra diante de Ti como eu, precisa de uma só coi- sa: bater no peito e afirmar: Deus Onipotente, Santo e Amoroso Pai, sê misericordioso para com este pecador. Todos os meus pecados, todas as máculas do meu coração se revelam diante de Ti tão claros como o dia mais radioso, e todos os meus desejos foram contados por Ti. No entan- to, sei que é de Tua Vontade que todos se externem como se ignorasses tudo. Assim sendo, peço atenção àquilo que ouvi durante minha visão.

  3. No começo, senti pancadas fortes no meu peito e, se não me engano, foram sete. Não doeram; no entanto, fui abalado até o âmago de minha alma e me apavorei. Quando na última pancada o pavor me dominou e todos os meus sentidos deixaram de corresponder à minha vontade, algo começou a vibrar em meu coração.

  1. Pareceu-me que inúmeras estrelas se cruzavam com muita in- tensidade a ponto de, no final, meu próprio coração se transferir para a matéria radiosa e iluminava de tal forma como se a pessoa pudesse obrigar um raio a não se apagar.

  2. Tal luz começou a dilatar o meu coração, que quase ultrapassava os limites do Céu. Nessa constante dilatação, o imenso nódulo de es- trelas se dissolveu em estrelas fixas e isoladas, e cada uma brilhava mais fortemente que a estrela da manhã na primavera. Como tudo se acal- mou, e eu não conseguia perceber se meu coração se dilatava, parava ou contraía, eis que encontrei a mim mesmo, sem saber onde estava.

  3. Nesse instante, três maravilhosas estrelas se desprenderam do Céu do meu coração e se pareciam com três bolas de luz solar. Então pensei: Que vem a ser isto? Onde estou e quem sou? — Imediatamente, cada uma das três bolas se dilatou e retraiu numa profundeza inconce- bível. A do meio abriu-se, absorveu as outras e aproximou-se de mim. Então ouvi um forte trovão que transmitia o seguinte: ‘Te encontras unido ao espírito. Tudo que vês está dentro de ti, e nada existe que esteja fora de ti. Isto quer dizer que deves futuramente pesquisar os fenômenos internos da criatura sem te preocupares com os detritos do mundo exterior.

  4. Toda forma inerte no mundo exterior se encontra dentro de ti, cheia de vida, sem número e sem fim. Procura a vida interior, que en- contrarás revelado tudo o que externamente te tocou ou na maior parte não te atingiu. Este é o Mundo Interno de Deus, do Pai Eterno e Santo. Nele podes, deves e viverás eternamente.’

  5. Isto dito, a grande bola de luz diminuiu e finalmente desapa- receu com tudo e eu me encontrava de novo na Terra. Só me restou a recordação viva. Aceita este relato e sê misericordioso para comigo, pois não sou um puro Sehel, mas um impuro Horidael.”

65.HORIDAEL,NOMEADOPARALIVREINTERPRETADORDOS SINAIS

  1. Abedam estende Sua Mão para Horidael, que a aperta contra o peito. Abedam então diz: “Meu filho, acabas de transmitir fielmente o que descobriste em teu coração; por isso te designarei para pesquisador dos tesouros ocultos da vida interna. Receberás o dom da interpretação, pelo qual testemunharás o sentido vivo e real de cada coisa.

  2. A tua visão prova que o amor para Comigo deve preencher e dilatar o coração através do calor espiritual, conforme viste uma quan- tidade de estrelas palpitantes, que pouco a pouco se uniram para uma só luz que dilatava o teu coração.

  3. Uma vez realizada tarefa tão importante, te acalmaste e tornaste a ver as estrelas iluminarem teu mundo interior, onde te encontraste como homem perfeito. Nesta altura, não sabias onde estavas. Três estre- las do teu céu interior se desprenderam e flutuavam diante de ti. Como não entendias a razão daquilo, perguntaste de novo.

  4. Elas recuaram para longe e a do meio abriu-se e absorveu as duas laterais. Em seguida, ouviste uma voz possante dentro de ti que te transmitiu o primeiro ensinamento básico sobre ti mesmo e daquilo que devias ser e fazer.

  5. De novo começaste a perguntar: Mas, as estrelas, que represen- tam elas dentro de mim? Por que palpitavam no começo tão fortemen- te? Por que se uniram e depois se isolaram e se acalmaram? — Vê, as estrelas são no começo nada mais que os conhecimentos absorvidos pela alma, ou seja, o intelecto no sentido mais restrito. Sua projeção em diversas direções demonstra a procura da alma pelos caminhos da verdade e da vida, e a unificação da sua luz prova que a alma se apossou de Mim com todas as suas forças.

  6. A posterior separação e calmaria das estrelas traduzem que uni- camente pelo amor a Mim a vida encontrou sua base original, tão infi- nita quanto a Vida reencontrada em Deus e por Deus. Este foi o motivo de te teres descoberto e perguntaste, baseado na razão de teu ser: Onde me encontro? — E as três estrelas separadas te responderam; mas tu não

as entendeste. A resposta, dada pela estrela central, dizia que te tornaste amor e vida em meio de teu próprio amor, capaz de aceitar toda Luz de Mim. Isto prova que à tua segunda pergunta as estrelas se afastaram de ti e pudeste verificar sua grandiosidade infinita; e em seguida a estrela central, o mais puro amor, assimilou as laterais, correspondentes à tua fé e à tua antiga sabedoria.

  1. Uma vez feita a fusão, ouviste a primeira palavra viva dentro de ti, que te ensinou e explicou a visão de tua própria vida interior. Aquela pala- vra era Minha Palavra em ti, ou seja, a Palavra Personificada, pela qual tu e todas as coisas foram feitas. E Ela te explicou que devias entender as inter- pretações internas do mundo exterior em relação ao interior, vivo e eterno.

  2. Por isso te tornarás um escrivão dos sinais interpretadores da vida humana de todas as coisas visíveis e invisíveis que preenchem todo o Universo, do mais ínfimo ao máximo. Dar-te-ei também outros sinais que esclarecerão nos sinais primários o que neles se oculta em espírito, ou seja, na vida eterna e intrínseca. Com outras palavras: aquilo que os outros anotarão para os olhos físicos e psíquicos, será testificado por ti pelo espírito da verdade interna. Acabas, portanto, de receber os sinais das interpretações. Por ora, ainda desconheces o seu uso e nem mesmo tens noção dos próprios sinais. Mas não te preocupes; na escola do teu próprio coração, que viste hoje pela primeira vez, encontrarás tudo. O espírito do amor dentro de ti te conduzirá a todos os segredos, revelan- do-te o que até então era oculto para todos.”

66.AVERDADEIRAADORAÇÃODEDEUSEAJUSTA CARIDADE

  1. Após esta promessa, Horidael, tomado de imensa gratidão, se atira aos Pés de Abedam, vertendo lágrimas de alegria, e não houve um que não se comovesse. Abedam manda que se levante e diz: “Se teu coração for pleno de amor e humildade, terás feito jus à verdadeira gratidão, podendo poupar-te da prosternação.

  2. Toda manifestação física é um horror para Mim, mormente al- guém supondo Eu me satisfazer com lágrimas movidas por um mo-

mento doloroso, enquanto o coração pouco se preocupou Comigo. De- claro para todos: Sou o Espírito mais Perfeito, e quem não Me procurar no espírito do seu amor, pedindo e agradecendo neste sentido, não será considerado até que se tenha mortificado e, através da introspecção, praticado um sacrifício novo e vivo do puro amor no coração de sua alma, onde habita o espírito vivo, descendente de Meu Amor eterno.

  1. Não sendo o teu espírito alheio a tudo que ocorreu e ainda ocorrerá, mas justamente o contrário — pois como espírito és senhor perfeito de tua casa (o corpo), portanto também sentes amor em todo o teu ser — que significação teria tua prosternação? Desiste de tais hábitos antigos e sem nexo que fazem parte das baixezas, e torna-te homem livre.

  2. Quem quiser dobrar seus joelhos diante de Mim, que o faça em espírito e verdade; quer dizer, na justa humildade do coração. Se, através do dobrar dos joelhos, houvesse um serviço útil a Mim, seria su- ficiente a pessoa andar de cá para lá, pretendendo assim orar para Mim. De que serve isto para os Meus filhos, aos quais dei um espírito vivo?

  3. Os animais também podem dobrar as juntas dos pés e deitar-se no solo. Se isto é feito por vós, que diferença existiria entre vós e eles? É fútil e tola tal manifestação externa para Mim, Deus Eterno e Vivo, vosso Santo e Amoroso Pai, Que vos deu uma alma viva e um espírito eterno de amor e verdade.

  4. Usai vosso corpo somente para vossas necessidades, e quando se trata de Minha Pessoa, fazei de conta que não tendes físico. Não Me podeis fazer um agrado através dele, pois Eu sou um Espírito. Se quiser- des elevar corpo e alma para Mim, usai vossos membros para o bem ao próximo, que hei de considerar as obras do corpo como se fossem obras do amor do vosso espírito e vos recompensarei de acordo.

  5. Quem der ao irmão um pedaço de pão, ou uma maçã, uma pera, qualquer fruto ou animal, uma veste ou uma casa, e não o fizer de cora- ção, mas movido por um dever, nada terá dado ao próximo e Eu não o considerarei, nem sua dádiva, ainda que fosse maior que uma montanha.

  6. Alguém tendo pouco, mesmo que fosse a metade de uma noz, e por amor não se esquece do irmão, Eu considerarei a dádiva como se

fosse um corpo cósmico. Agora estais orientados no que diz respeito à veneração para Mim. Respeitai-o à risca e não tereis queixa de Eu não atender ao pedido de vosso coração. Agora, chamemos Pural a fim de sabermos o que viu e ouviu.”

67.AVISÃODE PURAL

  1. Quando Pural se encontra diante de Abedam, Este lhe diz: “Chegou tua vez de relatares tuas impressões. Faze-o sem susto, pois não estamos reunidos para nos temermos, e sim, nos amarmos.”

  2. Cônscio de sua força interior, Pural começou: “Senhor, Deus e Pai! Até agora todos se desculpavam em não poder falar daquilo que sa- bes melhor que nós próprios. Farei uma exceção, pois tudo que vi e ouvi é Obra Tua, portanto, do Teu Conhecimento. Pois bem, inicialmente divaguei de um pensamento para outro e confabulei: Deves vislumbrar o que se encontra dentro de teu coração; mas, como? Convém ter pa- ciência, pois Quem o exige de ti há de mostrar o caminho, se for da Vontade Dele.

  3. Durante tais conjecturas fúteis, deu-se um forte estrondo, a terra sumiu debaixo de meus pés e eu flutuava no centro de uma noite sem fim. Nada via, nem ao menos o mais leve pensamento, e mal tive for- ças para dizer de mim mesmo: É este o aspecto de teu coração? Santo Pai, tem Misericórdia de mim e me chama de volta. Nesta treva, hei de morrer.

  4. Nem bem terminara de formular tal pedido, deu-se um segundo estrondo e no mesmo instante vi labaredas imensas surgindo de todos os lados do abismo. Na claridade daquelas chamas percebi que a treva anterior era treva do meu coração, e as labaredas despertadas com o segundo estrondo nada mais eram que meu amor até então fortemente adormecido.

  5. Eis que ouvi um terceiro estrondo, mais forte que os outros. As chamas se apagaram diante do nascer de um Sol inigualável em todo o Universo. Na luz deste Sol tudo criou vida. As labaredas de meu amor se transformaram em seres iguais a mim e seu número parecia não ter

fim. Eles se movimentavam em minha direção unindo-se a mim, o que me proporcionou um estado de êxtase tão sublime que não consigo compará-lo com qualquer outro.

  1. Tal unificação não demorou, e dentro em pouco eu me encon- trava sozinho. Em compensação, ouvia muitas vozes dentro de mim, tão maravilhosas como cânticos alegres de pastores. Elas diziam: Eu Sou Tudo em tudo, e tudo está em Mim e surgiu de Mim. Tu és Mi- nha Semelhança, por isso reconhece quem és, e Quem é teu Pai, Deus e Criador.

  2. Em seguida, tudo escureceu e voltei para aqui. Eis o que vi, senti e ouvi, Santo Pai, e To ofereço como sacrifício que peço aceitares.”

68.ADVERTÊNCIADEABEDAMFEITAA PURAL

  1. A este relato de Pural, Abedam diz: “De fato nos apresentaste todos os teus frutos, não deixando nem uma maçã na árvore de teu co- nhecimento interno e, de acordo com teu hábito, não desconsideraste tua sapiência, pois ofereceste primeiro os frutos imaturos e só no final os mais saborosos.

  2. Em suma, foste fiel no teu relato. Todavia, tenho que chamar tua atenção ao seguinte: não houve propriamente pecado de tua parte pelo pronunciamento de teu palavreado, no qual não havia nem coisa boa, nem má, semelhante à podridão de uma maçã. Mas, quem haveria de querer saborear uma maçã estragada, embora não fosse algo de ruim? Eis o que houve com o relato de tua grande coragem. Entendes onde quero chegar?

  3. Como não o entendas, presta atenção. Referindo-te às desculpas humildes de teus companheiros, querias ser uma exceção. Está certo, deve haver até mesmo uma exceção, pois nunca exigi de vós além da- quilo que se enquadra dentro de Minha Vontade. Contudo, alguns não conseguiram abrir a boca, por amor e respeito, e esta atitude foi por ti considerada algo de tolo e no teu íntimo resolveste fazer menção, caso Eu te chamasse.

  1. Foste de fato chamado, e tua primeira manifestação foi de que- rer ser uma exceção a fim de envergonhar os outros. Desta forma, te apresentaste mais corajoso do que realmente és. De um lado afirmaste saber tanto quanto os irmãos, que todas as coisas Me são conhecidas e não haver motivo para ter medo de falar. Do outro lado, ignoras que Eu desconheça algo oculto dentro de teu coração. Como foi isto possível?

  2. Como já disse no início, teu engano não será considerado peca- do. No futuro, sê precavido que teu coração não venha a ser confundi- do por um sentimento dúbio, do contrário a grande treva não será tão facilmente iluminada pelas chamas do amor, e o maravilhoso Sol que viste despontar dentro de ti demorará a se manifestar.

  3. Como vês, nada é oculto para Mim, e não convém querer en- ganar-Me. Aceita isto como norma de vida, que teu caminho sobre a Terra será mais fácil. Isto foi provado pela tua visão e devia se tornar do começo até o fim um sinal muito forte e um aviso que teu amor para Comigo, como também para teus irmãos, ainda não é puro, portanto, imperfeito.

  4. As chamas que irrompiam de todos os lados das trevas de teu coração diziam pelo estrondo: Olha quão dilacerado é teu amor e tua vida. Quando fiz surgir o Sol, isto é, Meu Sol da Graça, percebeste que tais chamas sem luz nada mais eram que teu eudilacerado por ti mes- mo através de vários desejos, preocupações e paixões. Como pode uma criatura tão dilacerada consolidar-se? Este processo te foi demonstrado quando todas as entidades semelhantes a ti te procuravam e através da fusão te tornaste homem perfeito, capaz de ouvir onde Estou e onde se encontram todas as coisas, e o que finalmente tu mesmo és ou deves ser. Desta forma orientado vivamente, concentra-te no verdadeiro amor, puro e desinteressado para Comigo, que viverás e corresponderás ao próprio sinal maravilhoso dentro de ti, e assim te tornarás um pesquisa- dor e interpretador de sinais, por amor dos teus irmãos.”

69.EFEITODAREPRIMENDADIRIGIDAA PURAL

  1. Diante de tais palavras, todos, com exceção de Henoch e Adão, quedam perplexos e não se atrevem a falar, muito embora Abedam os fitasse como Pai, Verdadeiro e Bom. Cada um pensava: Ele tem uma expressão muito bondosa, mas não se pode confiar Nele; pois, antes de a pessoa se dar conta, Ele já a pegou desprevenida. Ele tem a melhor das intenções para com todos e, se não fosse tão exigente, seria fácil supor- tá-Lo. Mas, quando se refere à pureza, a questão se torna difícil. Quem não a possuir na acepção da palavra, não se pode aproximar Dele, pois não perdoa o menor erro no coração. Que fazer? Não há quem O possa modificar; será eternamente tão Puro e Santo como agora. Portanto, convém conformar-se.

  2. Como Abedam percebesse tais pensamentos, vira-Se para Pural e diz: “Conta-Me se arranquei tua cabeça por te ter purificado com as palavras mais suaves, para que tu e os demais pudésseis vos capacitar para a aceitação mais livre do Amor?

  3. Teria teu pai carnal usado de tamanha indulgência? Aponta-Me um que não tivesse usado o relho, vez por outra. Não tens conhecimento de um apenas, pois de há muito és pai e bem sabes como educaste tua prole.

  4. Agora Me conta qual foi o açoite por Mim usado e quem por ele sucumbiu. Emprego somente Meu Amor Paternal a fim de vos educar, ensinar e libertar, e ainda assim alegais ser impossível confiar em Mim. Cegos que sois! Se não for possível confiar em Mim, vosso Pai Verda- deiro, Fiel e Paciente, em quem pretendeis depositar vossa confiança?

  5. Se perto de Mim vos sentis amedrontados e inseguros, qual não será vossa sensação recíproca, que sois todos cheios de maldade e trai- ção? Cegos, diante de Mim, vosso Pai Eterno e Amoroso, tremeis igual vara ao vento quando vos elevo para junto de Mim, portanto vos arran- co da morte para a vida. Mas, perante o mundo não sentis pavor, muito embora nada mais seja que a própria morte.

  6. Por quem fostes gerados, levando-vos a temer Aquele a quem deveríeis amar acima de tudo? Mas aquilo que deveríeis temer e evitar por todos os meios é por vós guardado no coração com agrado.

  1. Pural, dize-Me que mal Eu te fiz por te ter purificado pelo gran- de Amor que sinto por ti. Porventura sabes o que vem a ser a vida e como deve ser constituída a fim de se prestar para duração eterna? Isto ignora qualquer espírito criado e somente Eu, Mestre Eterno de toda Vida, o sei. Se Eu vos preparo e completo Pessoalmente para esta Vida eterna e insondável, afastando de vós tudo que pertença à morte, como é possível que tu e os teus irmãos chegueis a conjecturar que é impossí- vel confiar em Mim? Se Eu não for capaz de vos ajudar, quem teria tal capacidade? Para que isto Me seja possível, não se justifica que todos os vossos pensamentos e desejos ocultos sejam de Meu Conhecimento mais perfeito e, em virtude disto, devem ser revelados a fim de que vos possa ajudar sempre que se apresente um perigo mortal? Dize-Me, Pu- ral, se por este motivo não se pode confiar em Mim?”

  2. A esta pergunta, todos começam a soluçar, e o próprio Adão chora qual criança e finalmente exclama: “Santo e Bom Pai, agora vejo nitidamente como és Bom! Onde estaria a pessoa capaz de Te amar acima de tudo? Perdoa-nos o ultraje cometido por todos.”

  3. Responde Abedam: “Sede calmos e não vos preocupeis, pois ne- nhum dos que ora se encontram em Meu Seio se perderá, porque Eu, a própria Vida Eterna, estou convosco e afasto todo perigo da morte. Se porventura for de novo recolher alguém como fiz a Pural, não percais vossa confiança em Mim, lembrando-vos que sou Eu, vosso Pai, Bom e Justo a fazê-lo. Compreendei-o para toda a eternidade.”

70.AVISÃODE JURIBAEL

  1. Em seguida, Abedam chama Juribael e diz: “Conta-nos, como o fizeram teus irmãos, o que se passou contigo.” Tomado de profundo amor, este se adianta e diz: “Santo e Querido Pai, despertaste-me do sono para a vida verdadeira e livre de Teu Infinito Amor Paternal. Do verme fraco e cego fizeste uma criatura livre que conseguiu pesquisar eternidades longínquas como se fossem círculos incontáveis, plenos de imortalidade, e em cada um eu me via mais semelhante e mais perto de Ti, ó Pai.

  1. Quem seria capaz de conceber a imensidade de Teu Amor Pa- ternal? Pois o verme poeirento, a criatura fraca e pecaminosa pode chamar-Te de querido Pai, Tu Que és Deus de Eternidade. Enquanto permanecias apenas Criador, Deus Eterno e Infinito, não havia relação entre nós, senão a completa nulidade de minha parte frente à Tua Oni- presença em todo Poder de Teu Ser Divino.

  2. Chamando-Te de Pai, termina essa relação sem ligação. Meu coração é inundado de grande êxtase, meu espírito vibra tomado de um profundo pressentimento, e só me resta o amor, Teu Amor Puro e Santo. Perdoa se não consigo agradecer-Te condignamente, pois meu coração transborda de um forte amor e meu relato certamente não será bem apresentado; por isto, Te peço perdão antecipadamente.

  3. Quando meditei acerca de Tua Paternidade e que nos fizeste os Teus filhos, subitamente tudo se aclarou dentro de mim como se vê o fundo de um lago sereno. Tal introspecção não demorou, pois vi em meu coração um anel ou círculo fortemente luminoso que girava cons- tantemente.

  4. Então pensei: Que vem a ser este anel? — e ele começou a se dilatar como fazem os círculos dentro d’água, de forma tal que ultra- passou o meu ser que se encontrava completamente só. Este quadro também não durou muito, pois o círculo se desfez em inúmeros outros que cresciam e iluminavam com grande intensidade. Vi-me em cada um daqueles círculos, mais forte e brilhante e, numa distância incon- cebível, percebi uma luz imensamente potente e enorme. De repente percebi que Tu, Santo Pai, eras a Luz da luz.

  5. Partindo desses inúmeros círculos, senti um sussurro delicado que partia de Ti e dizia: ‘Eis o caminho do Amor para a Vida Eterna, e através dele chegarás a Mim, teu Deus Eterno, Santo e Amantíssimo Pai.’ Com isto, tudo se apagou e peço que não me rejeites, mas aceites meu coração imperfeito, dando-me forças para Te amar cada vez mais forte e perfeitamente.”

71.EXPLICAÇÃODAVISÃODE JURIBAEL

  1. Dando vazão ao impulso amoroso de seu coração, Juribael se atira aos Pés de Abedam, expressando sua completa humildade e pro- funda gratidão. O Pai Se abaixa para comprimi-lo contra o Peito a fim de ele respirar a Vida verdadeira e eterna, de sorte que o próprio físico de Juribael se tornou pleno de amor para com Abedam, Que lhe diz: “Só agora vives verdadeiramente, e esta vida jamais te será tirada, pois acabaste de recebê-la diretamente de Mim.

  2. O eterno círculo luminoso em teu coração prova que vives do Meu Amor em ti. Meu Amor no coração de Meus filhos é um círcu- lo que se multiplica e aumenta ao Infinito. Os círculos que nasceram através da multiplicidade do primeiro, estão unidos como os anéis de uma corrente; ou igual à espiral de um caramujo em que cada charneira cresce e se torna mais espaçosa e livre. Assim se aproximam mais e mais da imensa fonte no espaço eterno e infinito que, espiritualmente falan- do, é o gozo mais sublime de Meu Amor Paternal, Graça e Sabedoria.

  3. Tal gozo completo é a Vida Original em si em toda liberdade do uso da Graça, segundo Minha Sabedoria Eterna que será posse daquele que, através de seu sentimento, se tornou um justo filho de Meu Amor. Eis a explicação de tua visão, caro Juribael, e te demonstrou o justo caminho para o teu e vosso Pai. Todos deveriam segui-lo, e o sentido profundo de Minha Intenção para convosco seria revelado diante de todos, não havendo necessidade de perguntares: Onde, de onde e para onde? Cada qual descobriria o Amor, tanto quanto o espírito portador do mesmo; como também o sentido profundo de Minha Intenção, ou seja, a liberdade eterna e mais perfeita, segundo Minha Sabedoria infi- nita, a eterna Ordem original de todas as coisas e seres.

  4. Quem não andar por este caminho, há de procurar até morrer, sem encontrar a meta mais curta e justa, por ser tal caminho o do amor e de toda a vida, e nunca um caminho da teimosia onde não existe a menor fagulha de Meu Amor. Mesmo que haja qualquer sentimento, tal amor é roubado e este ladrão vive do puro egoísmo.

  1. Mas a existência de tal afeto não dura para sempre e se consome dentro em breve, por ter sido separado do Meu Amor Paternal, não recebendo mais suprimento. Com tal amor-próprio sucede o mesmo que a uma lamparina de óleo que fora suprida de vários pontos das montanhas e surge de pequenas fontes de pedras oleosas para adubar o solo terráqueo. Uma vez acesa, a lamparina começa a queimar; mas quando o óleo estiver gasto, por acaso ela continuará a arder se não for acrescido de novo suprimento?

  2. Mas, se tu acenderes o óleo na fontee protegeres o local dos ventos e das águas, a chama nunca se apagará, mas queimará cada vez mais fortemente, porque aquecerá o lugar, desprendendo mais óleo da fonte interior.

  3. Quem, meu caro Juribael, dirigir o seu amor para Mim, apos- sando-se de Mim, terá aceso o óleo de sua vida na própria fonte e tal chama nunca se apagará, por ser uma luz eternamente viva. Acabas de acender o óleo de tua vida na Fonte; portanto, sê feliz, pois nesta Luz encontraste o Pai como a Luz Eterna. — Agora, perguntemos também a Oalim a respeito de sua visão.”

72.AVISÃO DE OALIM

  1. Prontamente Oalim se apresenta, agradece pela chamada e co- meça o seu relato: “Santo Pai e todos vós, ouvi-me. No começo achei estranho eu dirigir os olhos para dentro de meu coração; mas, quando calculei tal possibilidade, apagou-se minha visão exterior e no mesmo instante tudo se tornou claro dentro de mim. Estranhando tal fenôme- no, constatei que meu coração se tornava transparente e vi três cora- ções, um dentro do outro, como acontece com a castanha, que contém três elementos: primeiro a casca; nela, a massa do fruto; e dentro dele, a pequena semente onde se acha enclausurada a vida, e nesta, infinita multiplicidade.

  2. Logo, o coração externo fendeu-se e caiu no abismo, onde foi dissolvido. Isto representa o coração físico da criatura. O coração in- terno, substancial, dilatou-se constantemente, instigado pelo coração

intrínseco, fortemente luminoso, que crescia sem parar como acontece ao germe deitado no solo até se transformar para uma forte árvore.

  1. O mesmo sucedeu com o coração germinativo. No início pare- cia apenas um coração. À medida que crescia, tomou a forma humana; isto é, vi a mim mesmo neste indivíduo novo que nasceu do meu ín- timo. Então pensei: Terá este homem um novo coração à parte? — E assim foi. Mas tal coração parecia um Sol, mais forte que a luz solar.

  2. Quando observei mais e mais tal coração solar, descobri no seu centro uma pequena imagem, inteiramente igual a Ti, Ó Pai, sem atinar como isto era possível. Enquanto meditava a respeito, senti-me tomado de profundo êxtase e Tua Imagem Viva me disse: Ergue os teus olhos, que perceberás onde habito e ora estou vivamente dentro de ti.

  3. Eu assim fiz e imediatamente vi numa profundeza incomensurá- vel, um Sol imenso, em cujo centro Tu Te encontravas, meu Pai. De Tua Imagem partiam inúmeros raios luminosos e um deles caiu no coração solar do meu novo ser e se formou a Ti Mesmo dentro de mim. Súbito, este novo ser estendeu o braço querendo prender o homem físico. Levei forte susto que me atirou para dentro de minha antiga habitação. O coração anteriormente afastado, subiu das profundezas e enfeixou de pronto os dois corações internos. Isto feito, apresentou-se o mundo exterior, e o interior sumiu. Eis tudo que vi e senti. Aceita meu relato e queira completar as falhas segundo Tua Vontade.”

73.AINFINITAVARIEDADEDAINDIVIDUALIDADE ESPIRITUAL

  1. Com o término do relato de Oalim, os patriarcas confabulam: “Que coisa formidável! O milagre espiritual ultrapassa todas as nossas imaginações. Deveria se supor que todos descobrissem o mesmo; no entanto, existe uma imensa variedade nas aparições.”

  2. O outro Abedam se aproxima de Henoch e diz: “Com toda a minha inspiração, começo a duvidar de minha lucidez. Porventura entendes algo? Seis descendentes de Seth acabam de transmitir suas visões, mas cada um apresentou algo diferente. Que ocorre finalmente

no mundo espiritual; por acaso não viverão os espíritos em comunhão, como acontece na Terra?

  1. Se cada um traz dentro de si seu mundo particular, é de se per- guntar se em tal mundo também os irmãos terão lugar, ou se poderão se aproximar dos outros com seu mundo colossal! Talvez seja preciso que ocultem seu mundo, como o caramujo com suas antenas? Confesso que fico confuso à medida que medito a respeito. Se tiveres algum conhe- cimento, peço que me orientes, pois não me atrevo a procurar Aquele Que Se oculta com o grupo das doze pessoas. Sinto-me fortemente atraído por Ele, mas é arriscado receber-se uma reprimenda.”

  2. Quando o conhecido Abedam termina de falar, o Sublime Abe- dam se apresenta e diz: “Caro Henoch, que resposta darás a esta confu- são por parte de Meu homônimo?”

  3. Responde Henoch: “Santo Pai, creio que onde não existe árvore, o vento terá pouca coisa para arrancar. As perguntas de Abedam são, a meu ver, tão aéreas que além de Ti dificilmente alguém encontraria uma resposta.”

  4. Nesta altura, o homônimo do grande Abedam cai de joelhos e implora: “Perdoa-me, Santo Pai, pois certamente cometi uma imensa tolice com minhas perguntas fora de tempo. Que posso fazer diante de aparições tão milagrosas?”

  5. Diz o grande Abedam: “Levanta-te e sê calmo. Tuas perguntas são um verdadeiro joio do mundo material; mas cardos e abrolhos tam- bém foram criados por Mim, para que seus espinhos vos despertassem, caso andásseis quais cegos, sem destino e motivação.

  6. Tuas perguntas foram deste teor; mas, não penses que brotaram no teu solo, pois Eu Mesmo fiz com que surgissem dentro de ti. Devias ser despertado de teu sono antigo e repetido, e sentir ao menos uma necessidade para que teu íntimo acordasse e finalmente se apossasse de ti com sua luz original.

  7. A fim de que percebas nitidamente a grande tolice de tua per- gunta, responde: Que vêm a ser todas as coisas criadas?”

  8. Algo perplexo, o outro Abedam diz: “Segundo meu conheci- mento dado por Ti são elas apenas Pensamentos contidos em Ti.”

  1. “Muito bem”, diz o Sublime Abedam, “agora Me explica se Eu sou obrigado a ocultá-los como faz o caramujo com suas antenas, quando pretendo Me aproximar de Meus filhos, como ora acontece.” Totalmente confuso, o outro Abedam nada diz. Prossegue o grande Abedam: “Se tens vários pensamentos e desejos que deles nasceram, quando teriam sido um impedimento para que te aproximasses de alguém? Ainda assim, estes teus pensamentos são teu mundo interior e espiritual, e quando pensas em alguém, este alguém já se encontra contigo, em espírito.”

  2. Exclama o outro Abedam: “Santo Pai, perdoa este pobre tolo; ago- ra tudo se me tornou claro.” Acrescenta o grande Abedam: “Então volta para o teu lugar e presta atenção a tudo, que não haverá joio capaz de nascer dentro de ti através de perguntas tolas. Permito que estes doze transmitam suas visões, para que fiqueis poupados de qualquer dúvida posterior.”

74.AIMPORTÂNCIADACONFIRMAÇÃODADOUTRINAATRAVÉSDOTESTEMUNHODO ESPÍRITO

  1. Em seguida, o grande Abedam dirige Seu Olhar para Oalim e diz para ele, portanto para todos: “É muito importante o que pretendo vos dizer, e é preciso compreendê-lo no coração. Muito embora vós, que Me vedes e ouvis, não o necessitais, haverá muitos que o necessitam quando Me tiverem aceito no coração e lá querem Me conservar.

  2. Os que negligenciarem este ensinamento hão de Me perder em todos os seus sentidos internos e farão deuses da matéria que serão ado- rados em Meu lugar. Alguns farão o que já está sendo feito por Lamech nas planícies.

  3. A criatura que não Me viu e ouviu como vós, nada pode saber de Mim, a menos que receba orientação de seus ancestrais. O mesmo sucedeu convosco, porquanto ninguém Me havia visto, com exceção de Adão e Eva, a não ser através do relato deles e de alguns conterrâneos de Abel, que ouviram Minha Voz através do Meu anjo.

  4. O que aconteceu convosco, acontecerá com vossos descendentes que Me conhecerão através do vosso relato, e principalmente por meio de vosso coração ativo.

  1. Quais seriam as provas de Minha existência que pudésseis dar aos filhos, se não posso e não devo Me manifestar? Só podeis repetir que estou em toda parte invisivelmente, mas habito acima das estrelas numa profundeza infinita, e que Me vistes Pessoalmente.

  2. Porventura vossos filhos serão capazes de transmitir tal conhe- cimento à sua prole, porquanto não foram testemunhas de Minha Pre- sença? Se ensinassem como tendo sido testemunhas, haveriam de corar de vergonha, pois os filhos logo perceberiam que houve mentira por parte dos pais.

  3. Por isso, devem indicar-vos como testemunhas de Minha Exis- tência, prosseguindo assim com os filhos, netos e bisnetos. Se, pos- teriormente, as próprias testemunhas tiverem desaparecido e os des- cendentes até mesmo duvidarem de sua existência — que aspecto terá Minha Doutrina? Digo-vos que toda pessoa com um poder qualquer erigirá um deus natural, honrando-o com suas próprias paixões e final- mente obrigando seus irmãos a venerar tal deus.

  4. Quando isto acontecer, tudo sucumbirá por tal idolatria na pior treva da perdição e da morte eterna, e Eu serei forçado a castigar o mun- do que soçobrou na morte, através de armas e açoites de fogo a fim de vivificá-lo, a ponto de se tornar apto para outro julgamento. Entre mil, não haverá um que poderá atingir a liberdade, o que vale dizer que sua morada será a própria matéria.

  5. Creio que compreendestes que todo ensinamento oral ou de co- ração para coração não terá utilidade, se não for testemunhado pela transformaçãointerior. Digo-vos: a Doutrina pode ser boa, verdadeira e bela; mas, se ela dependerexclusivamenteda, que em si é apenas a tradição oca e a cegueira do coração como prova de sua veracidade, ela de nada serve.

  6. Todos vós já estais bastante enfraquecidos espiritualmente, não obstante ainda estejam vivos os doutrinadores originais. Que acontece- rá com os que se atirarão à luta mais cega para provarem vossa existên- cia? Por isso, repito que não existe ensinamento útil se seus princípios não forem confirmados através de Meu Testemunho Vivo no coração de cada um.

  1. Em vosso irmão Oalim acabastes de notar tal testemunho per- feitamente vivo. É preciso que também ensineis os filhos a respeito de Meu Nome, Minha Graça Eterna, Santidade e Identidade sumamente Amorosa, conforme vos demonstrei. Todavia, não deveis ficar somen- te na doutrinação, mas tratar que ela se torne uma ação real e viva, e estejais certos de que os aceitadores positivos dentro em breve desco- brirão dentro de si o grande testemunho de Oalim, vivo e santo, que testemunhará com forte brilho da genuinidade desta Minha Palavra dirigida para vós.

  2. Oalim encontrou no terceiro coração germinativo, após ele se ter transformado para uma criatura, um coração solar onde Eu Mesmo Me encontrava, assim como descobris o Sol em cada gota de orvalho. Aquela Imagem lhe falava e Sua Palavra lhe mostrava a Mim como Pai Eterno e Santo, nas alturas de Minha Divindade Infinita.

  3. Aquela criatura interior de Oalim queria se fundir com o seu eu substancial ou material. Mas, para tanto, Oalim ainda não estava preparado. Tudo isto sabereis quando fordes renascidos, e então o co- nhecimento ficará para sempre.

  4. Agi e ensinais vossos descendentes desta forma, que transmiti- reis um testemunho duradouro da genuinidade desta Minha Doutrina, e ser-lhes-á um prêmio para sempre, porque praticaram estas palavras. Quem descobrir tal testemunho dentro de si, terá recebido a Vida eter- na de Mim, que jamais lhe será tirada. Eis a interpretação da visão de Oalim. Aquilo que ainda deve ser compreendido e considerado será revelado pelos outros, e para tanto ouviremos Tuarim.”

75.AVISÃODETUARIM:SUAPROVADE AMOR

  1. Agradecendo pela chamada de Abedam, Tuarim se adianta e diz: “Santo e Querido Pai, passei por uma prova dura e Tu sabes o que acon- teceu em poucos instantes, que me pareciam eternidades de sofrimento. No princípio, pensei, algo aborrecido: Como posso olhar para dentro de mim mesmo? Parece pura tolice e Tu, como Criador, deves saber para que finalidade nos deste os olhos, que sempre foram dirigidos para

o exterior. Como devo agora virá-los e olhar o que se passa dentro do meu corpo?

  1. De fato tentei dirigi-los para o interior, mas o efeito foi assustador, porquanto comecei a ver chamas de fogo em círculos que me apavora- ram. Esta tentativa foi inútil, pois quando descansava os olhos, via apenas

o que me rodeava; nem os irmãos apresentavam algo fora do comum.

  1. Meu aborrecimento duplicou e pensei: Isto é nada mais que uma prova para o meu intelecto. Mas não sou tão tolo como pensam e deixarei os outros praticarem suas tolices enquanto prefiro continuar na antiga ordem, usando meus olhos para a finalidade determinada pelo Criador.

  2. Deste modo, deixei de me aborrecer e fiquei mais calmo. Mas a calma não durou, pois o solo debaixo de meus pés tornou-se fofo qual areia fina e, antes que me desse conta, já estava enterrado num abismo. A escuridão era tremenda e só pude afastar um pouco a areia diante da boca para poder respirar.

  3. Nesta aflição, lembrei-me de Ti, Senhor, e pedi socorro e salva- ção. Minha súplica se perdia na areia na qual ia me afundando cada vez mais. À medida que afundava, um odor pestilento ia penetrando em minhas narinas e era indizivelmente pior que tudo o que eu já havia sentido em vida.

  4. Então a areia desapareceu e pensei que tivesse chegado o mo- mento da salvação. Minhas esperanças foram em vão, pois agora co- meçava um sofrimento tão horrível que mal sei como descrevê-lo. Só sei que no lugar da areia eu caía num lodo quente que esquentava e aumentava de mau cheiro à medida em que me afundava.

  5. Meu Santo Pai, que horrores passei quando percebi que não pa- rava de me enterrar, e o próprio lodo se transformava em lava incandes- cente, provocando-me dores indizíveis, muito embora não fosse cha- muscado um fio de cabelo sequer. Foi inteiramente impossível suplicar e orar, pois todo o meu ser era apenas uma maldição para aquilo que me obrigava a viver tal suplício.

  6. Quanto mais eu praguejava, mais me afundava, e finalmente gritei: ‘Deus, fantasma pavoroso! Se é que existes, pulveriza-me, pois

por tal existência nem Te posso amaldiçoar, muito menos agradecer. Que prazer podes sentir, criando-me para esse sofrimento?’

  1. Enquanto assim praguejava, ouvi um tremendo trovão que di- zia: ‘Miserável, por que amaldiçoas a Mim, teu Pai? Acabo de te criar no fogo do Meu Amor infinito para um ser imortal, que deve ser intei- ramente igual a Mim; te conduzo pela Mão paternal a fim de que nem um fio de cabelo te seja chamuscado; determinei a duração desta prova de amor para apenas três instantes — e proferiste a pior maldição con- tra Mim. Que devo fazer, então?’

  2. Respondi: ‘Santo Pai, aniquila-me, pois não mereço esta exis- tência porque Te amaldiçoei.’ Neste instante, o mar de fogo se trans- formou numa luz suave, da qual se projetavam as seguintes palavras: ‘Eu, Teu Pai, não te amaldiçoarei e hei de esquecer o que Me fizeste, pois o que acabas de ver foi tua relação para Comigo, na Terra. Precisas reconhecer que sou teu Pai e te conduzo para um ser eterno; através de teu estado de vida arenoso, pelo lodo de tua sapiência e pela tua própria lava te conduzo ao fogo purificador do Meu Amor Paternal; e finalmen- te por esta luz, à Luz puríssima da Vida de Amor em Mim. Com esta consciência podes voltar à Terra, onde te aguardarei.’

  3. Eis-me aqui, meu Pai; mas como? Se fosse possível Tu me per- doares minha infâmia, estaria disposto a suportar mil anos o pior fogo aterrador. Perdoa a este pecador que não Te merece.”

76.AGRANDELUTAENTREINTELECTOE SENTIMENTO

  1. Vendo Tuarim vertendo lágrimas de arrependimento, Abedam toma-lhe a mão e diz: “Tua atitude durante a visão é considerada tão pecaminosa quanto a queda de uma pedra que provocasse algum dano. As palavras que ouviste não tocam apenas a tua pessoa, mas, em sentido geral, a qualquer uma.

  2. Foste por Mim escolhido para teres esta visão espiritual e não como se tivesses praticado um ultraje contra Mim. Para que todos possam compreender o sentido, de grande utilidade para a posterida- de, prestai atenção. A tentativa de olhar para dentro de ti representa

o empreendimento tolo e cansativo do intelecto mundano em querer penetrar nas relações espirituais, enquanto ele é apenas constituído de noções materiais, isto é, ele é simples órgão receptivo da alma pelo qual ela consegue a percepção do mundo exterior. Se assim é, como poderias vislumbrar fatores espirituais?

  1. Os círculos de fogo produzidos através de tua ginástica ocular representam os ditos rasgos chistosos do intelecto, tão inúteis para a visão espiritual quanto os próprios círculos o foram para teus olhos; quer dizer, ele se torna tão pouco mais aguçado e salutar como o es- forço ocular.

  2. Este foi o início de tua visão e que não só toca teu estado interior, mas o mundo total, razão por que te classifico profeta neste sentido. Por duas vezes te aborreceste; uma vez porque Eu havia or- denado a visão introspectiva, e em seguida porque teus esforços de nada serviram.

  3. Tal aborrecimento não era natural, pois ele te assaltou como prova do orgulho do intelecto mundano, que nunca aceita ser prisio- neiro da verdade, mas quer ser livre e soberano, não obstante toda ca- rência de luz. Ele só se sente feliz quando homenageado de todos os lados em virtude de sua estultice, e se acalma apenas quando pode tratar seus semelhantes com ironia e sarcasmo. Isto não te diz respeito, pois te nomeei para profeta por não teres culpa no coração.

  4. Esta foi a situação até o momento em que começavas a afundar na areia. Mas, que significa o estado em que a noite arenosa te soterrou cada vez mais profundamente, causando a falta de respiração, e pediste socorro que, todavia, não te foi dado? Nesta altura, tua explicação in- terna começava a agir e iluminar.

  5. A areia significa o conglomerado de conhecimentos quando co- meçam a aprisionar o coração da alma, que se sente apavorada e per- turbada em virtude da pressão e da escuridão motivadas pelo intelecto.

  6. O coração reage por todos os meios e afasta a areia da boca, consegue um pouco de ar e implora pela salvação. Mas o intelecto farto não permite que se lhe tirem os seus direitos e afunda cada vez mais o coração. Como este se impacienta e desespera, e o intelecto percebe a

impossibilidade de vencer, ele no final deixa que o coração sucumba no lodo dos desejos que há tempos ele mesmo lá depositou.

  1. Então o coração começa a sentir a insuficiência e a infâmia da- quilo que o intelecto lhe tinha insuflado. Sua revolta se faz sentir contra aquela traição e se incendeia qual lava. Este momento sendo de grande amargura, tanto para o sentimento quanto para a razão, o coração se atira à pior loucura em virtude da ausência de luz. Nesta altura te atiras- te contra Mim no coração e Me amaldiçoaste pela razão.

  2. Afirmo-te que não considero as obras do intelecto quando foi despedido pelo coração, pois esparjo sobre ele Minha Luz de Amor que cura para a Vida eterna, como ouviste claramente pela voz interna. Tudo isto não te diz respeito. Foste designado para profeta para testemunha- res contra o mundo e sua sapiência. Acalma-te e não te atemorizes.”

77.DIRETRIZES PARAACONQUISTADAPALAVRA VIVA

  1. Com estas palavras de Abedam, Tuarim fica tão feliz que não solta a Mão Dele, ao que Abedam observa: “Te apossaste de Mim com o coração e a mão; por isto foste elevado para um novo profeta. Digo a todos: quem não fizer o mesmo que tu, dificilmente ouvirá o Som de Minha Voz no coração. E quem não O ouvir ao menos uma vez nesta vida terrena, vacila ainda entre a vida e morte.

  2. Deste modo, teu amor para Mim representa o amor verdadeiro, ativo e vivo. Quem não se apossar de Mim com o sentimento e boas obras ao próximo, terá um amor imaturo qual fruto que facilmente pode ser atirado da árvore da vida por qualquer brisa mais forte.

  3. Mas, quem possuir o amor ativo já se tornou maduro e pronto para a vida eterna, pois terá descoberto dentro de si o sentido vivo de Minha Intenção, ou seja, Meu Verbo eternamente vivo. Este Verbo é a semente da Vida eterna.

  4. Se alguém tiver encontrado uma moça a qual deseja desposar, pois lhe tem amor no coração, mas não se atreve a estender-lhe a mão, por acaso ela acreditará em suas intenções? Pelo contrário. Há de pensar o seguinte: Se realmente gostasses de mim, não virias com as mãos para

trás, e sim me procurarias de braços abertos. Conheço tua tibieza e astú- cia ocultas, pois lisonjeias a várias e queres escolher uma de teu agrado e indolência. Deixa-me em paz, pois meu coração nunca te aceitou.

  1. Esta pessoa tem um critério perfeitamente justo contra o tíbio pretendente. Quanto a Mim, não formularei outro julgamento a res- peito de vós e vosso amor para Comigo, após o retorno ao grande reino do espírito quando tiverdes deixado este corpo.

  2. Se aquela moça for procurada por outro pretendente, sem que nele tivesse pensado, mas ele a abraça com paixão e lhe beija a testa, di- zendo: Querida, que prova desejas para eu te demonstrar quão possante é meu sentimento? — porventura ela o dispensará como fez ao outro? De modo algum! Ela o conservará com todo o calor do coração.

  3. O mesmo farei Eu. Quem Me conquistar com sentimento e obras de amor, também será por Mim acolhido com todo Poder de Meu Amor, que jamais o soltarei. — És, portanto, caro Tuarim, um novo profeta no amor e provaste como deve ser constituído o verdadei- ro sentimento, caso alguém pretenda chegar a Mim através dele. Quem agir como tu, em espírito e verdade, dentro em breve se encontrará na tua situação profética. Eis Minha Intenção que deve ser descoberta den- tro da criatura que, ipso facto, terá a Vida eterna em Mim. Passemos agora a ouvir Rudomin e considerar sua visão.”

78.AVISÃODOGIGANTE RUDOMIN

  1. Após ter recebido a chamada de Abedam, Rudomin se apresenta qual estátua celeste, de tanta humildade, amor e respeito para com Abe- dam. Não obstante seu acanhamento, expressava ele uma serenidade e postura que o faziam sobressair, pois seu tamanho ultrapassava inclusive o de Adão. Como Abedam o animasse a falar sem receio, ele se faz ouvir com sua voz formidável que fazia eco nas montanhas.

  2. Eis o que diz este gigante: “Deus, Pai, eterno Amor, que és San- to, Santo, Santo. Que é o homem em sua nulidade para que dele Te lembres e lhe transmitas os eflúvios de Tua infinita Graça, Amor e Mi-

sericórdia? Agora reconheço claramente que és um Verdadeiro Pai para Teus filhos.

  1. Entregues a nós mesmos, nada somos. Mas, no Teu Coração Paternal somos indizivelmente grandes, fortes e poderosos, a ponto de mundos, sóis e lua debandarem diante de nosso hálito como se fossem poeira. Não o afirmaria se não o tivesse visto e sentido em minha visão.

  2. Logo após Tua Ordem que devíamos fazer a introspecção, de- sapareceram a Terra e o Céu, e eu me encontrava no centro do espaço infinito. Meus olhos fitaram prolongadamente os abismos das eterni- dades. Tudo em vão, pois até mesmo a poeirinha mais ínfima tinha su- cumbido naqueles abismos. Eu, sozinho, flutuava sem base de qualquer corpo celeste.

  3. Subitamente, surgiu de meu íntimo um pensamento profundo, que era uma palavra santa e dizia: Limpa com o mindinho, o dedo mínimo de um dos teus pés, onde se agarra uma poeirinha. Observa-a.

  1. Estremeci até o âmago de meu ser diante de minha própria gran- deza e pensei: Isto tudo se encontrava agarrado ao mindinho, sem que o sentisse?! — Eis que outra frase subiu à minha consciência, dizendo: Julgas que os filhos de Deus sejam apenas mosquitos a passarem por sobre o pó? Observa teu crescimento e compara-te com tudo que surgiu da poeirinha, e perceberás o que és e o que são as coisas que grudavam no teu mindinho.

  2. Nesta altura fui elevado. Todas as coisas flutuavam qual areia cintilante diante de meus olhos, e de mim se projetava uma possan- te luz que enchia o espaço infinito. Somente nesta luz compreendi a grandiosidade dos filhos de Deus, a nulidade das coisas comparadas a eles, e porque o Santo Pai veio junto de nós e nos ensina os caminhos do Infinito. Foi isto que vi. Toda honra e louvor sejam ofertados a Ti, Deus, nosso Pai.”

79.PREPARAÇÃODERUDOMINPARA PROFETA

  1. Terminado o relato de Rudomin, Henoch se dirige para Abe- dam e diz em surdina: “Querido e Santo Pai, Rudomin relatou com voz fortíssima a grandiosidade do homem; no entanto, parece ter exagerado um pouco seu antigo hábito, não respeitando a fidelidade do aconte- cimento. De um grão de areia ele faz um mundo, de uma mosca um elefante, razão porque seus irmãos o evitavam. Sempre os obrigava ao silêncio por causa de sua gritaria, o que também motivou que eu, seu pai, pedisse para apanhar sua herança e se dirigir para o Sul

  2. Ele obedeceu, pois viu que eu me empenhava muito por uma situação de paz e ordem. Se bem que se casasse, gerou apenas três filhos em oitenta anos. É uma pessoa um tanto estranha, e por isso espantou-

-me sua história fantástica que me obriga a Te pedir perdão, caso ele tenha se deixado levar pelo exagero.”

  1. Responde Abedam: “Meu caro Henoch, esta foi tua única preo- cupação no mundo, tendo como base teu amor para Mim. Mas, desta vez, tua preocupação foi em vão, pois Eu Mesmo fui Seu mentor desde nascença e fiz dele o que ora representa.

  2. Conquanto também o tivesses educado para Mim, tua educação não foi tão boa quanto a Minha, que ele recebeu secretamente, sem que tu e ele algo soubésseis. Em virtude dessa educação, ele aqui está e deu a todos uma prova fiel de não ter passado sem aproveitamento. Não te preocupes, pois nunca faço dos mentirosos pregadores da Verdade, mas sim, os que como tu são puros de coração. Sua pretensa má conduta foi apenas Minha Obra.

  3. Fiz com que Rudomin se tornasse até fisicamente grande e, se- gundo Minha Escola, sempre vos ensinou que o homem é mais que um verme no pó. Sua forte voz, dada pela mesma escolha, demonstrou que existe mais força e poder no peito que na cabeça. Além disto, ela tam- bém deu a medida certa da superioridade do amor sobre o intelecto. Como seus irmãos lhe tinham que obedecer silenciosamente, provaram que a razão, com todos os seus senões e cálculos, deve ceder quando o coração se apresenta como melhor professor.

  1. Além do mais, fez ele de um grão de areia um mundo inteiro, como aconteceu em sua visão. Assim ensinou a origem das criaturas e que a Semelhança Divina repousa no coração, com a qual é capaz de realizarcoisas grandiosas, em vez de se extasiarsomente com elas.

  2. Recomendo a todos que deveis fazer de uma mosca um elefante no coração; sim, deveis transformar vossos corações psíquicos de tama- nho insignificante, em verdadeiros elefantes. Ao passo que o intelecto do tamanho de montanhas, em mosquitos, e facilmente poderíeis com- preender no relato de Rudomin coisas de Minha Escola.

  3. Como para muitos ainda se dá o contrário, não entendeis o por- quê da nomeação de Rudomin. No íntimo perguntais: Mas, que escola secreta vem a ser esta? Como entendê-la? Respondo: Diante de sinais nos Céus, pesquisais durante anos afora e finalmente chegais à seguinte conclusão: Este fato foi consequência daquele; portanto, esta deve ser a explicação.

  4. Observastes o cintilar das estrelas, a direção dos ventos, o chil- rear dos pássaros, o grito dos animais, o rugir do mar, e sempre desco- bristes prenúncios fabulosos. Por que então não submetestes os sinais imortais no homem à vossa astrologia? O cricrilar de um grilo era para vós mais maravilhoso que a fala de um irmão imortal, semelhança de Meu Amor Paternal.

  5. Que vale mais: o gesto de uma criança, ou o desmoronar de uma montanha provocado por milhões de raios? Eis a Escola da Vida eterna que vale mais que uma poeira no mindinho de Rudomin, infini- tamente maior que a Criação total.

  6. Conhecei no homem o próprio homem em seus sinais, que de- vem ser interpretados no espírito do amor e da verdade, e assim enten- dereis o que venha a ser o máximo e o que é ensinado em Minha Escola. Em verdade vos digo, uma lágrima de um recém-nascido contém coisa mais grandiosa que um Sol central. Eis o sentido da visão de Rudomin.”

80.FILHOSDEDEUSCOMO DEUSES

  1. Em seguida, Abedam se dirige a todos, dizendo: “Estais bem in- formados que Sou Deus Único e Eterno, enquanto, como Pai, vos falo e ensino. Subentende-se que os filhos devem corresponder a esta filiação e terão que agir onde Ele Se encontra e age.

  2. Minha Ordem exige que em todos os seres e criaturas, os filhos devem ser tão perfeitos quanto o pai. Por esta razão, já se encontra um germe em cada fruto, no qual reside toda a Perfeição do Gerador. Deste modo, toda semente colocada na terra terá que se tornar a mesma plan- ta, arbusto ou árvore de sua origem.

  3. O mesmo sucede com a fauna até atingir o gênero humano, onde o filho será dotado das mesmas capacidades que o pai; e a filha, semelhante a pai e mãe, será um campo santo para semeadura da minha Vida eterna.

  4. Se isto ocorre no mundo da natureza, quanto mais se justifica em espírito. Por que motivo Me chamais de Pai, e Eu vos chamo de filhos? Que mais sou além de vosso Pai? Sou também Deus, Único, Eterno e Verdadeiro. Se, portanto, sou Pai, vosso Único Pai, Deus de Eternidades, que sois vós como Meus filhos? — Sois também deusescomo Eu sou Deus, apenas com a diferença que o Pai sempre será Pai, e o filho nunca poderá inverter esta situação. Eis a enorme diferença entre nós: Eu, unicamente, sou o Pai; e vós somente os filhos, aos quais aguarda uma grande herança na Casa Paterna.

  5. Eis a interpretação da visão de Rudomin, testemunhando a ver- dadeira índole de Meus filhos, que diz: Criatura, considera bem, no fundo do coração, a Quem chamas de ‘Santo Pai’, e porquê. Torna-te merecedora de Sua Graça e daquilo que Ele exige de ti na Terra, para que sejas um filho verdadeiro e perfeito como Ele Mesmo. Todos vós deveis vos tornar tão perfeitos como Eu, para atingirdes para sempre a filiação divina, que representa o máximo na evolução. A fim de que possais penetrar mais profundamente nesta maior e mais santa verdade, chamaremos Horedon, para ouvir seu testemunho.”

81.CHAMADADE HOREDON

  1. Entrementes, já estava anoitecendo e, além disto, as nuvens co- briam o Céu, de sorte que havia apenas luz natural projetada por reflexo fraco de montanhas ardentes a longa distância. Ainda assim, Abedam chama Horedon, dizendo: “Se teus olhos não te ajudam, segue apenas a Minha Voz para te fazeres ouvir. No futuro hás de seguir exclusiva- mente a Voz dentro de ti, enquanto não Me verás mais, após decorrido o tempo de Minha atual Presença.”

  2. Horedon se dirige para Abedam, mas como a Voz Dele não era constantemente ouvida, ele anda de lá para cá entre os patriarcas, sem alcançar o ponto onde Se encontrava Abedam. Daí a pouco, Abe- dam tornava a chamá-lo e Horedon, assustado, se virava por ter errado o caminho.

  3. Imediatamente caminha em direção da Voz, mas como esbarra ora em um ora em outro, sendo obrigado a desviar-se, acontece que perde a direção, chegando num ponto onde não Se encontrava Abe- dam. Este o chama de novo e Horedon se faz ouvir, chorando, do ponto oposto, dizendo: “Meu Pai, se não vieres a Mim, nesta treva, estarei realmente perdido. Constantemente perco a direção, por ser obrigado a me desviar dos outros.”

  4. Diz Abedam: “Aqui, Horedon, onde avistas atrás de mim uma montanha ardente, a longa distância.” Horedon segue a Voz. Mas, como não podia andar em linha reta, pois é obrigado a desviar-se deste ou da- quele grupo, de nada lhe adianta fitar a montanha e não chega à meta.

  5. Quando Abedam lhe diz: “Horedon, quanto tempo terei de es- perar por ti?” — ele se entristece, dizendo: “Amaldiçoada seja esta treva que me impede no caminho à meta abençoada, ocultando Aquele a Quem meu coração procura com amor. Pai, faze com que a treva desa- pareça e a luz se faça, podendo eu correr para junto de Ti. Tua Vontade Se faça. Amém.”

  6. Diz Abedam: “Não te sendo possível encontrar-Me, dize, em Meu Nome: Montanha na fronteira onde residem os filhos do Sul, ilu-

mina este local! — Se tiveres fé e confiança nas tuas palavras, isto há de acontecer tão logo as proferires.”

  1. Nem bem Horedon pronuncia o que o Pai lhe dissera, o solo estremece fortemente e com enorme estouro irrompem as labaredas do cume da montanha, projetando uma claridade formidável sobre a região.

  2. Imediatamente, Horedon descobre Abedam ao lado dele e Lhe agradece, dizendo: “Meu Santo Pai, agora percebo quão Bondoso és Tu e que através de minha caminhada de lá para cá querias poupar o trabalho de falar. Pois o que aconteceu comigo sucedeu dentro de mim, até o momento de eu encontrar-Te. Todo amor e louvor Te sejam tributados.”

82.DIGNIDADEEGRANDIOSIDADEDAFILIAÇÃO DIVINA

  1. Em seguida, Abedam Se dirige para Horedon, dizendo: “Após ter sido revelada a tua visão perfeitamente, pergunto a ti e a todos qual o seu sentido. Uma grande parte foi abordada pela revelação de Rudo- min e não deve ser difícil concluirdes o final. Quem tiver coragem e conhecimento, que se adiante.”

  2. Então todos começam a pedir que o Próprio Abedam faça o que deles se espera. Conquanto soubessem que ninguém, em Seu Nome, seria capaz de pronunciar uma inverdade, tal pronunciamento não seria tão potente e vivo como a Palavra do Pai.

  3. Retruca Abedam: “Quanta tolice se oculta em vossos corações! Que acabou de fazer Horedon através de Minha Palavra dentro dele, quando em virtude da treva não Me conseguiu encontrar? Pronunciou confiantemente o que Eu lhe falava, e os picos da montanha se rasga- ram, incendiando, de momento, a brasa em chamas vivas através das fendas existentes.

  4. Se, com isto, tivestes a prova imediata da Força e do Poder de Minha Palavra, ainda que pronunciada por um filho, por que afirmais ser ela menos poderosa se for proferida por vós? Quando o Pai é mais Pai: ao Se pronunciar como Tal, ou ao ser chamado pelos filhos? Al- guém que dissesse ser pai, sem ter filhos; ou aquele que, ao chegar à

casa, fosse recebido com exclamações de amor por parte da prole? — Qual dos dois é mais pai? — Respondeis: Aquele que assim fora cha- mado pelos filhos. Se aquele que foi chamado de Pai é mais pai do que aquele que isto diz de si, a Palavra de Pai pronunciada por um filho é poderosa e tem maior valor do que a proferida por ele.

  1. O que vos dá mais alegria: vos chamardes de pai perante os fi- lhos, ou se estes alegremente e cheios de confiança assim vos chamam? Se vós mesmos descobris diferença tão grande, porventura sou Eu me- nos Pai do que vós? Por acaso ainda não percebeis que almejo somente o melhor e mais poderoso em virtude do livre arbítrio dado para toda a eternidade? Não sendo possível discordardes de Mim, de que vos serve vossa desculpa? Explica, Horedon, em poucas palavras, para que fina- lidade Eu vos chamei. Vós outros, gravai no coração o que se segue.”

  2. Sem hesitar, Horedon começa seu discurso: “Devo explicar a grandiosidade que se oculta na Filiação Divina, o que foi revelado atra- vés das visões obtidas por mim e por Rudomin. Acredito que o proble- ma já foi resolvido e só me cabe chamar a atenção que o genitor é mais pai através do pronunciamento dos filhos, do que por ele mesmo.

  3. Nesta verdade reside a máxima dignidade e grandiosidade de nossa filiação, pois Deus Mesmo Se declara Pai somente em nós, e o será verdadeiramente, no máximo amor, se nós assim o reconhecemos e chamamos. Haveria coisa mais elevada? Que importância tem, se com um hálito podemos pulverizar a Criação total? Isto nada representa, comparado ao nosso pronunciamento, com todo amor e verdade: Que- rido, Santo Pai! Ele, que é Deus, o Eterno, é Pai em virtude de Seu infinito Amor em nós, que somos Seus filhos. Ele é o que é por Si Mesmo; — nós nada somos por nós, mas somos tudo por Ele e através Dele. Eis nossa infinita grandiosidade de sermos Seus filhos e Ele nosso Pai. Acabo de definir completamente o sentido de minha visão, em Nome Dele.”

83.AFILIAÇÃODIVINAÉMAISELEVADAQUE A

FRATERNIDADEEASERVILIDADEPARACOM DEUS

  1. Após terminado o relato, Abedam Se dirige para Horedon e diz: “Tu te tornaste um bom instrumento para Mim. Aquilo que muitos já procuraram sem encontrar foi fielmente transmitido por ti, tal qual Eu, a Fonte de toda fidelidade e verdade, te inspirei. Por isto, te louvo e digo que conquistaste para ti e para todos a verdadeira filiação e não há poder terre- no que possa arrancá-la de ti. O poder que reside nos verdadeiros filhos é maior que todos os poderes dos mundos e de todos os corpos e seres.

  2. Assim como Horedon acaba de receber a filiação, Eu a transmito a todos, pois nada existe no Céu e na Terra tão grandioso, poderoso e sublime que Meus filhos. Quem conquistou a filiação tem dentro de si a Mim, Deus Eterno e Infinito, com toda Sua Majestade e Glória como Pai, unicamente Verdadeiro e Amoroso, e se encontra inteira- mente dentro de Mim, isto é, em toda a Minha Perfeição, ou seja, o Meu Infinito Amor, Graça, Sabedoria e Força.

  3. Se fôsseis Meus irmãos, seríeis inferiores a Meus queridos filhos; pois qual seria o pai que preferisse seu irmão ao seu filho? Porventura alguém participa da herança do irmão quando se casa com alguém? Se vós mesmos considerais os filhos acima dos irmãos, quanto mais Eu, o Pai mais Verdadeiro e Perfeito, saberei considerar o seu valor.

  4. Costumais dar aos filhos o resultado de vossos trabalhos manu- ais como enxoval. Eu vos dou tudo, ou seja, o Meu Amor, ou Minha Própria Vida eterna.

  5. É de suma importância saberdes quem recebe a filiação de Mim e por Mim, pois nem todos são filhos que dizem: Querido Pai, atende-

-nos, Teus filhos! — enquanto seus corações continuam duros e frios como se tivessem classificado um objeto qualquer. Deste modo, sua confiança é idêntica ao coração.

  1. Tal categoria de pretensos filhos quer apenas usufruir do Meu Poder e Força a fim de verificar se seus atos tolos trazem vantagem ou prejuízo. Tais criaturas se encontram tão longe da verdadeira filiação quanto um polo do Céu dista do outro.

  1. Outros há que estendem o conceito da filiação de tal modo a considerarem a si mesmos e todos os seres como Meus filhos. É desne- cessário analisar que cometem um engano ainda maior, pois todos vós sabeis quem sejam Meus filhos em espírito e verdade.

  2. Preciso é perceberdes a grande diferença entre os que aceitam um Deus e Criador, e aqueles cujo coração se apossou de Deus, e com nada mais se preocupam senão em amá-Lo cada vez mais. Os primei- ros confirmarão: Deus, Criador Onipotente, Santo e Sublime, quão maravilhosas são Tuas Obras; por isto Te louvamos e exaltamos aci- ma de tudo.

  3. Os outros dirão: Meu Deus, quão Bondoso és Tu, pois com toda a Tua Sublimidade e Santidade não podemos deixar de Te amar acima de tudo. — O primeiro grupo se extasia diante do conhecimento de Deus. O segundo se desfaz em lágrimas sempre que algo os faz lembra- rem-se de Mim, pois pressentem em Deus um Pai cheio de Amor.

  4. Percebestes a enorme diferença? Os primeiros são apenas servi- çais a trabalharem por pagamento. Os outros são filhos que nada mais querem senão o Pai. Para que isto fique bem claro, ouviremos Jorias e só então será dada, neste assunto importante, uma luz mais clara em vosso coração.”

84.JORIAS,ODÉCIMO VISIONÁRIO

  1. Imediatamente Jorias se apresenta e diz: “Querido e Santo Pai, se me fosse possível virar o íntimo para fora a fim de que todos pudessem assistir o quadro de minha visão, talvez atingiria um coração crente. As- sim não sendo, porventura os ouvintes acreditarão no relato? Havendo coisas inacreditáveis naquilo que vi, os patriarcas quiçá se aborreceriam e, além disso, sou péssimo narrador.”

  2. Nesta altura, Abedam o interrompe bastante sério e diz: “Justa- mente por tal motivo hás de transmitir teu relato, ou então morrerás espiritualmente. Não queres considerar as Palavras do Pai, mas devias respeitar as de teu Senhor. Se Ele também nada representa para ti, Deus estenderá Seu Braço sobre ti. Por ora, dispões da Palavra do Pai. Mas,

quando sobrevier a Palavra do Senhor para julgar os servos indolentes, enfrentarão o trovão do julgamento. É preferível obedeceres à Palavra do Pai para não recairdes na servidão e no julgamento. Conta tudo que viste, porquanto esta é Minha Vontade.”

  1. Somente agora Jorias dá conta de si e pede perdão por ter esque- cido Quem o havia chamado. Uma vez assegurado por Abedam que o Pai nada tinha a perdoar, pois sempre ajudava a soerguer o caído e procurava o perdido até encontrá-lo, Jorias começa a falar.

  2. “Estava de pé em cima de uma nuvem luminosa assim que a visão externa se havia desvanecido. Não via coisa alguma em cima ou embaixo de mim; tampouco posso afirmar se a nuvem me levava por distâncias sem fim ou se ela estacionava. Tive a impressão de encontrar-

-me neste estado durante uma eternidade, e a insuportável monotonia me obrigou a falar comigo mesmo:

  1. Que vem a ser isto? Por que me encontro nesta base etérea? Sin- to forte sede e fome, e não quero morrer por falta de alimento. Farei uma tentativa de saltar, ainda que tal empreendimento me leve a uma queda sem fim. — Arrastando-me até a beira da nuvem, fechei os olhos e saltei. Depois de longo tempo, abri vagarosamente os olhos e vi-me na situação anterior. Era impossível afastar-me da nuvem, assim como ninguém poderia ausentar-se do nosso planeta, de modo próprio.

  2. Nesta prisão, veio-me um pensamento grandioso, e Deus Mes- mo era este pensamento. E confabulei: Quem poderia pensar em Ti, meu Deus, onde não estivesses? Como penso em Ti, estás Presente, pois este pensamento é Tua Palavra dentro de mim. E onde está Tua Palavra, também Tu estás. Anteriormente não pensava em Ti. Onde Te encontravas? Aqui, por certo. Mas não querias Te pronunciar. Uma vez que assim fizeste através do meu pensamento em Ti, estás comigo e dentro de mim.

  3. Durante essas conjecturas profundas, senti-me envolvido pelo sono e sonhei que traguei a Terra, a Lua, o Sol, enfim todo o Universo com suas águas. No entanto, não fiquei saciado. Então pensei: Como posso sentir fome? Não tenho Deus dentro de mim e todo o Universo dentro do meu estômago?

  1. Neste instante, ouvi as seguintes palavras surgidas da nuvem: Mesmo que tragasses o Infinito e a Eternidade, além daquilo que já sorveste, mas não possuísses o Amor, haverias de sentir fome e sede para sempre. O Amor é o Pão verdadeiro que satisfaz, a água viva e refrescante para toda a eternidade.

  2. De que te adianta Deus, sem amor; e de que te serve o Céu inteiro sem amor? Por isto, é uma criança no berço maior que tu, não obstante tivesses tragado todo o Céu. Pois a criança tem amor. Leva o teu coração para o amor, que encontrarás em apenas um átomo muito mais que tua antiga sapiência conseguiu te dar.

  3. Nesta altura, acordei e me encontrei em meio dos patriarcas, irmãos e filhos — e também diante de Ti, meu Pai. Eis tudo que vi. Por ora, pouco entendo daquilo, mas Quem me proporcionou a visão, certamente acrescentará a explicação. Por isto, Te agradeço de coração.”

85.NOVAUNIÃOENTREOPAIEOS FILHOS

  1. Eis que Abedam toma da palavra e diz: “Antes de Minha Desci- da para junto de vós, tivestes o hábito de vos chamardes de Meus filhos, e Eu, vosso Pai. Foi justamente este fator que Me atraiu paravosgerardenovonoespíritodoAmor, fato raríssimo em todo o Universo.

  2. Pelo fato de usardes essa denominação de modo próprio, fostes apenas filhos na expressão, assim como Eu também era denominado somente pela boca.

  3. Muito embora tivésseis pecado, atendi vosso chamado e vos crio para verdadeiros filhos, no espírito e no coração. A partir de agora não deveis chamar-Me de Pai, mentalmente, e sim com todo o direito vivo e santo: nosso querido e único Pai.

  4. Anteriormente vos classificastes de Meus filhos e deuses, sem sê-lo. Era o orgulho, habitante das montanhas, que vos levava a cha- mar-Me assim, para estabelecerdes uma enorme diferença entre vós e os descendentes de Caim.

  5. Como alguns descobrissem o caminho da humildade e do único amor para Comigo, cheguei junto de vós como um descendente de

Caim. Como o amor não se negou a acolher o cainita e conservá-lo em vosso meio, ele ainda se encontra convosco e, se quiserdes, ele jamais se afastará do vosso local, que é um local vivo em vosso coração.

  1. Sou Eu tal ‘descendente’ de Caim; sou Aquele a Quem cha- mastes anteriormente de Pai e agora vos dou o direito de serdes Meus verdadeiros filhos. Esta é uma união que estabeleço convosco para toda a eternidade.

  2. Quem dela se separar ter-se-á separado de Mim, perdendo, por- tanto, a filiação, até que retorne depois de ter empregado muito esforço. O ingresso será mais fácil do que a separação, pois quem for apossado por Mim através desta união, não se soltará tão facilmente.

  3. Esta é a explicação de Jorias quando pretendia afastar-se da nuvem, ou seja, da humildade do seu amor, e fazendo-se de cego saltou da mes- ma. Onde se encontrava quando despertou? Deste modo, o amor prende mais fortemente do que pensais e é o laço desta união agora estabelecida entre nós. Julgais ser possível romper tão facilmente este laço? Pode ser es- ticado à vontade, mas não rompido quando tiver algemado alguém pelo amor, ou seja, pela verdadeira filiação. Quem tiver recebido o amor, terá recebido a filiação, porquanto amore filiação são uma só coisa.

  4. Anteriormente vos esforçastes na conquista da sabedoria, pisan- do o amor. Nesta sabedoria vos sentistes esfaimados e sedentos. A ânsia de saber tragou a Criação total, e Deus era apenas Deus, e não podia ser outra coisa senão o que vosso intelecto suportava. Assim, também Lhe prestastes sacrifícios segundo vosso agrado, e Ele teve que Se satisfazer com aquilo que vos era mais cômodo e agradável.

  5. Na concepção deste Deus, que não era vosso Pai, andáveis cheios de fome e vossos filhos padeciam sob o peso implacável de vosso Deus de Sabedoria. O que então acabastes de fazer nesta superioridade de conhecimento na qual tivestes que passar fome e sede? Dirigistes vossa atenção e coração à boca amorosa de Henoch. Foi justamente a voz do Amor que vos dizia da nuvem, que vosso Deus sem amor de nada vale. Unicamente o amor é a própria vida.

  6. Percebeis a finalidade da visão de Jorias? Só agora conheceis a Mim, através de vosso amor, o Deus verdadeiramente Pai que vos gerou

para Seus filhos. Só agora recebestes a luz real pela qual vedes que entre Mim e vosso antigo Deus de Sabedoria existe uma diferença infinita, na qual Eu, exclusivamente, sou Deus, masElenadaésemMim. Nisto se concretiza o máximo pela filiação divina. Permanecei dentro dela como filhos, assim como Eu, vosso Pai.”

86.OUNIVERSODENTRODA CRIATURA

  1. Após este discurso, Jorias se atira aos Pés de Abedam, agradecen- do pelas palavras, e seu amor crescia a tal ponto que o próprio corpo se tornava incandescente. Como Abedam percebesse a estupefação dos patriarcas, Ele diz: “Quem amar como Jorias, terá a mesma sensação que ele. Quando o amor se torna cada vez mais poderoso, ele inflama o próprio ser, porque é o fogo verdadeiro, e nãoexisteoutraluzsenãoadofogo; razão pela qual o verdadeiro amor é uma luz real, ou seja, um fogo vivo.

  2. Assim sendo, a luz e a sabedoria correspondem ao amor da cria- tura para Comigo. Todos vós surgistes de Mim bem equipados, pois cada um traz dentro de si o que existe em Mim. Por isto, sou vosso Pai perfeito, assim como vós deveis ser Meus filhos perfeitos.

  3. Quem isto ouve de Mim, no entanto, não erige um grande fogo de amor em seu coração a fim de que ilumine toda sua natureza, per- cebendo os tesouros infinitos, é realmente um grande tolo. Vede Jorias, totalmente iluminado e translúcido. Vislumbra e saboreia os Meus inú- meros tesouros eternos que se multiplicam até o infinito, assim como o faz o grão de trigo na Terra, com apenas uma diferença: os tesouros absorvidos do amor se glorificam constantemente, enquanto o grão de trigo reproduz no máximo cem grãos.

  4. Em verdade vos digo: esta Terra, o Sol, todas as estrelas com seus inúmeros satélites, com tudo que comportam e ainda comportarão até épocas infindas, todos os exércitos de anjos com sua glória, até Eu Mes- mo, existimos dentro de vós.

  5. Tolo é, portanto, quem aqui disputa um pedaço de terra, como já aconteceu por diversas vezes, quando possui dentro de si um mundo

inteiro e vivo que jamais lhe poderá ser tirado, pois se dilatará, glorifi- cará e multiplicará segundo a sua vontade.

  1. Se assim não fosse, ninguém seria capaz de projetar um pen- samento. Tudo que alguém queira pensar, sejam quais forem forma e qualidade, tem que existir dentro da pessoa, assim como no grão de trigo já se encontra a multiplicidade de seu produto, inclusive sua flora produtora.

  2. Se isto vos ensinam vossos pensamentos e Eu, como Criador e Verdadeiro Pai vo-lo transmito, e vós necessitando apenas do verdadei- ro amor a fim de apossar-vos desses tesouros infinitos, não seria tolo quem se preocupasse com um punhado de pó desta Terra, que é apenas uma fantasia experimental ou um mundo aparente? Fugi do mundo e procurai a vós mesmos e a Mim dentro de vosso âmago.

  3. Se com vossa luz de amor tiverdes encontrado tudo, havereis de convir o quanto vale o mundo em comparação ao menor tesouro inte- rior da Vida provinda de Mim. Quem se inflama no amor igual a Jorias, há de encontrar o mesmo que ele. Caro Jorias, demonstra aos outros o que encontraste, ao menos a menor parte daquilo que descobriste atra- vés de tua chama de amor.”

87.JORIASFALASOBREO AMOR

  1. Manifesta-se Jorias: “Meus queridos, realmente não existe senti- do psíquico, nem palavras humanas capazes de transmitir o que nosso Deus e Pai prepara para os que O amam acima de tudo e nunca des- viam seu coração Dele.

  2. Por isso, só pode ser revelada uma partícula ínfima para a nossa fraca compreensão, pois uma palavra terrena é, comparada ao sentido verdadeiro, nem mesmo a casca externa de uma árvore secular. Quem poderia, através da casca, perceber a vida maravilhosa, a semente, sua multiplicidade e aquilo que só com o tempo poderá ser visível dentro da árvore?

  3. Quem poderia supor os milagres espirituais ocultos numa pe- quenina fibra, assim como a folhagem, a flor e o fruto, preparados

por milhares de mãos de espíritos que levam os humores através dos inúmeros canais aos galhos, numa perfeição estupenda cuja qualidade nos encanta!

  1. Se isto não é possível deduzirmos somente pela casca do vegetal, muito menos alguém poderia transmitir pela palavra o que nosso Pai preparou nos corações que O amam acima de tudo. Ó amor, quanta plenitude, quanta profundeza de vida e luz se concentram em ti!

  2. Deus Mesmo é o Amor puríssimo, e ora Se encontra diante de nós. É nosso Pai, amado e querido, em nosso meio, em nosso cora- ção. Isto se oculta diante dos olhos físicos e psíquicos, mas não perante os do espírito onde reside o amor, que é o Próprio Amor no Infinito Amor Paternal.

  3. Para o espírito vale mais um grão de areia, do que para a visão externa a Terra e todo o Universo. Ó grãozinho de areia, obra milagro- sa, como és lindo! Quem poderia supor a indizível majestade daquilo que se agarra à sola do pé? Meus queridos, não é uma simples poeirinha, é um mundo incrivelmente grande, onde existem luz e vida.

  4. Rios caudalosos atravessam seus vales de cristal. Nos seus picos iluminam milhares de sóis cheios de luzes cintilantes e seres incontáveis habitam em formas inimagináveis este mundo espetacular. Alimentam-

-se de luz e calor, e seus movimentos são de um viandante a quem fora imposta uma meta sublime. Meus queridos, não posso prosseguir, pois a poeirinha aumenta e se torna cada vez mais maravilhosa.

  1. Qual seria o conteúdo de um mundo e sua maravilhosa multi- plicidade? E o que seria um Sol, o Universo todo, o Céu dos espíritos e anjos, e nós e o Amor de Deus em nós? Por isto, amai-O; no amor havereis de compreender o que seja o amor e como é Bom nosso Pai. Devemos-Lhe todo o nosso amor eternamente.”

88.O SENHORUNE JORIASEBESELA,FILHA DE PARIOL

  1. Diz em seguida Abedam, apertando Jorias contra o peito: “Aca- baste de transmitir segundo Minha Vontade o que exigi de ti, razão pela qual te incendiaste por amor a Mim e a todos os teus irmãos.

Todavia, ainda não estás bastante preparado para poderes permanecer nesta chama. O fato de Eu caminhar entre vós vos torna frutos prema- turamente amadurecidos na árvore da vida e tereis que passar por um forte amadurecimento , do contrário cada um se desintegraria neste amor espiritual.

  1. A fim de que tua chama venha a ser um pouco abrandada, dar-

-te-ei uma esposa, porquanto ainda és solteiro, e contas cento e poucos anos de vida. Junto à tua companheira terás uma experiência pela qual se solidificará aos poucos esta chama de amor poderoso para Mim. Por ora ainda não chegou o tempo em que as criaturas poderão ingressar no matrimônio perfeito, sem companheira. Por isto, ainda é necessário que cada um tome uma esposa, pela qual ele se separa de si mesmo como também de Mim, e possa depois se tornar inteiramente uno Comigo.

  1. Assim como Eva surgiu de Adão, toda mulher terá que se uni- ficar com o homem, e ele voltará a ser uno pela união com ela. Uma vez que tiver realizado esta união interior, poderá se unir inteiramente a Mim. Enquanto continuar separado de Mim, será incapaz de perma- necer no máximo Amor para Comigo.

  2. Vossa inteligência vos ensinou não existir coisa alguma sem con- traste ou oposição, e a mulher foi dada ao homem como contraste. Ele não se unindo ao seu contraste, ipso facto não poderá se tornar um contraste com relação a Mim. Enquanto isto não ocorrer, é ele perfei- tamente homogêneo a Mim e não receptivo, mas igual a Mim, sempre transmissivo.

  3. Eis a grande diferença entre Pai e filho: o Pai distribui, os filhos recebem e se tornam idênticos a Ele por serem contrastes Dele. Se os filhos não quiserem aceitar algo e se colocarem sempre numa linha com o Pai, quem formará o contraste receptivo? Este faltando, qual será o futuro dos filhos? Se desgastariam até a última gota de sua existência, e o Pai teria que suspender Sua Transmissão e assim Se tornar o próprio contraste de Si Mesmo para continuar o que foi desdeeternidades, isto é, um DeusAutossuficiente,EternoePoderoso.

  4. Neste momento, te encontras na mesma linha que Eu e ainda não és um contraste, mas um indivíduo homogêneo Comigo. Portanto,

necessitas de uma companheira para te tornares um contraste para Mim e Eu, com isto, um Pai para ti.

  1. No teu íntimo indagas: Onde estará a mulher que terei de des- posar? — Ei-la. Seu nome é Besela, e Pariol é seu pai. Vem cá, Besela, não temas o homem que destinei para ti. Ele há de carregar-te na palma da mão e tua morada será o coração dele, e tua união com ele estabele- cerá também tua união Comigo. Amém.”

  2. Tomando Besela em Seus Braços, Abedam prossegue: “Filha excessivamente bela de espírito e corpo, apresenta-te diante daquele a quem, a partir de agora, pertencerás, para que veja que criatura Eu lhe reservei por causa de seu grande amor para Comigo.”

  3. A este mando, Besela, que contava trinta e poucos anos, afasta seus cabelos louro-escuros, levando Jorias a exclamar: “Ó Céus e Terra, como sois pobres diante de mim, pois algo semelhante não haveis de presenciar! Pobre Sol, o que se passará contigo se amanhã este Sol se desvendar diante de ti? Meu Pai, não mereço tamanha dádiva!”

  4. Diz Abedam: “Se Eu te julgo meritoso, tu assim o és. Leva-a para junto de Adão e Eva, de Jared e Pariol, pais de ambos, para que sejais abençoados. Em seguida, serás consagrado profeta de todas as estrelas.”

89.DIRETRIZESPARAOS RECÉM-CASADOS

  1. Mais tarde, Abedam deposita Suas Mãos na cabeça e no peito de Jorias e Besela, e diz: “Recebei Minha Bênção para a vida eterna e gerai frutos vivos do puro amor. Afastai de vosso corpo a satisfação do desejo carnal, no qual está o pecado, e assim caminhareis fielmente diante de Mim. Quem satisfizer sua carne, e não a alimentar na medida justa, procurando alegrá-la por meio da volúpia, terá alimentado o seu corpo e tê-lo-á entregue ao poder da morte.

  2. Controlai vossos desejos quando não for propícia a geração de um fruto vivo. Quando o tempo chegar, chamai por Mim para que Eu vos ampare no momento em que fizerdes um sacrifício ao pecado e assim permaneçais na Minha Graça.

  1. Quem tomba neste sentido, dificilmente se ergue, e em cada queda o espírito é cercado por uma nova prisão mortal. Quando pre- tender erguer-se da prisão carnal, o antigo pecado e morte do espírito

  1. Cuidai somente do que diz respeito ao espírito e entregai a carne a Mim. Agi segundo a Minha Vontade para que ela se torne fraca, e assim crescereis em espírito, à medida que a morte desapareça como pecado, ou seja, a carne.

  2. Repito: Não alimenteis, nem fortifiqueis e alegreis vosso físico, pois seria alimentada vossa própria morte que prende o espírito como último cárcere, antes de sua libertação ou ressurreição para a perfeita Vida eterna.

  3. Tu, meu caro Jorias, viste a grandiosidade e sublimidade do que seja um filho do Meu Amor. Sentiste a plenitude da chama de Meu Amor Paternal. Permanece portanto fiel à Minha Vontade, a Mim, teu Deus e Pai.

  4. Sempre que tua carne fizer exigências desmedidas ao teu cora- ção, observas as estrelas celestes, que Eu te direi o que deves fazer. Mas, se te desviares deste caminho, também o Céu se ocultará em nuvens densas até que retornes cheio de remorso.

  5. Permanecendo fielmente segundo a Minha Vontade, dentro em breve hás de sentir o grande poder dentro de ti, pois pela aceitação da Mesma, Ela será tua. Minha Onipotência Se tornando tua ordem, como também é a Minha, qual seria o poder mortal capaz de te subjugar?

  6. Por isto dou a ti e a todos este mandamento, para que possais, através da obediência, vos apossar do Poder de Minha Vontade, pela qual todas as coisas foram criadas e diante da qual elas estremecem. Quem não se tiver apossado de Minha Vontade, será prisioneiro da morte e escravo do pecado.

  7. Quem se tiver apossado de Minha Vontade, ter-se-á tornado tão perfeito quanto Eu, seu Pai, e fará as obras da Vida como Eu, e assim terá recebido a verdadeira filiação divina.

  8. Quem terá portanto aceito a Minha Vontade? Aquele que Me ama e a cumpre. A verdadeira filiação implica na permanência em Mi-

nha Vontade, e isto representa o fruto verdadeiro e vivo do puro amor e da Vida eterna. Tal fruto deves gerar com tua companheira, e tais filhos serão idênticos a quem os criou. Minha Bênção se prende à tua obedi- ência e que Minha Vontade Se torne tua. Junta-te a Jared, e manda que Garbiel e Besediel venham aqui.”

90.HUMILHAÇÃODE GARBIEL

  1. Garbiel e Besediel se encaminham incontinenti para junto de Abedam, e o primeiro toma imediatamente a dianteira e, curvando-se como se tivesse um peso de várias toneladas na nuca, de humildade, diz: “Querido e Santo Pai, qual de nós dois deve iniciar o relato da visão obtida? De minha parte, opino que Besediel seja o primeiro e eu, no final, contaria o que vi.”

  2. Ele assim fala porque não fora chamado como primeiro e no- tara certa consideração dos que se tinham manifestado. Deste modo, esperava encontrar-se acima de todos, ainda que fosse o último a ser convocado.

  3. Abedam, porém, diz: “De Minha parte, discordo totalmente, e acho que nem tu, nem Besediel devem relatar a visão obtida, porque não contêm valor geral e sim mais pessoal, cuja aplicação será por Mim dada somente amanhã.

  4. Eis Meu Parecer inabalável. Entretanto, sou de opinião que a pes- soa convocada deve esperar Meu Pronunciamento e falar somente quando convidada, e não se adiantar querendo instruir-Me sobre Minha Atitude.

  5. Não aprecio privilégios sedentos de primazia e prefiro alguém que se humilhe a ponto de pretender ser o último, antes servo que senhor, menor do que maior, e ser considerado em vez de ser demasia- damente elevado. Eis o Meu Parecer.

  6. Além disto, aprovo que cada um seja irmão do próximo, pois, enquanto não o for, também não lhe posso ser um Pai. Como sou o Único Pai Verdadeiro, não concebo, sendo a mais elevada Sabedoria, quediferença poderia existir entre Meus filhos. Porventura o amor ali- menta diferenças quando surgido totalmente de Mim?

  1. Em verdade, existe diferença entre amor e amor em sua cres- cente proporção. Essas variedades são constituídas de tal forma que os irmãos se respeitam em virtude delas, e quanto maior for o amor, tanto mais humilde será a criatura, querendo ser serva de todos.

  2. Por isso, opino que deves te humilhar, reconhecer teu erro, arre- pender-te e preencher o teu coração com o verdadeiro amor para com os semelhantes; do contrário, não receberás grandes vantagens da vida eterna. Tu também, Besediel, poderás agir desta forma, enquanto Meu caro Sehel vos demonstrará o justo caminho. Amanhã todos receberão orientação individual.”

  3. Em seguida, Abedam Se dirige para Adão, dizendo: “Acabamos de finalizar o Sábado com propriedade, pois já é meia-noite. Recomen- da a todos que se proponham ao descanso a fim de despertarem bem dispostos.” Assim orientados, milhares de assistentes iniciam um cânti- co de louvor e, quando terminam, Abedam os abençoa e convida Adão a seguir o exemplo deles.

  4. Adão então pergunta: “Santo Pai, onde desejas descansar, aqui ou em minha cabana?” Responde Ele: “Já passei muitas eternidades debaixo de Meus Céus, portanto permaneceremos ao ar livre, pois o firmamento está claro e não apresenta ameaça de tempestade.” Deste modo, uma paz solene e santa desce sobre todos os picos sagrados dos filhos de Deus.

91.OSOLFICTÍCIO.ABORRECIMENTOEMALDIÇÃODE ADÃO

  1. Uma hora antes da aurora não havia ninguém de pé, com exce- ção de Adão, inconformado com o sono de todos. Mas, como o grande Abedam Se encontrava entre o outro Abedam e Henoch, ele não se atreve a reclamar, entregando-se à paciência e conformação.

  2. Entrementes, já se ouviam cânticos matinais de todos os lados, mas no próprio cume tudo estava em silêncio. Isto era outro motivo de aborrecimento para Adão, que com prazer teria se alterado, caso o sublime Abedam lhe tivesse dado consentimento. Abedam continuava deitado entre os dois prediletos e não fazia menção de Se levantar.

  1. Conquanto nada dissesse, Adão confabula: “É de fato uma vergonha para nós, eleitos, que os filhos mais distantes se adiantem com aquilo que compete a nós. Mas, que fazer? O Próprio Abedam ainda dorme.

  2. Espero que o Sol não surja antes do nosso cântico matinal. Em outras ocasiões já tínhamos tomado o desjejum antes da aurora. Mas hoje o Sol talvez nos apanhe deitados. É impossível despertá-Lo, mas não deixa de ser aborrecido que além de mim e Eva ninguém se anime a levantar-se. Só espero que o Sol ainda demore a surgir.”

  3. Enquanto Adão se entrega a tais pensamentos, eis que surge o Sol no horizonte. Então rompe-se a paciência de Adão a ponto de dar um empurrão em Seth ao seu lado e lhe diz: “Vê que vergonha! O Sol está subindo, de todos os lados se ouvem as vozes matutinas, enquanto aqui mais que a metade está dormindo.”

  4. Seth fita o Sol bastante alto e observa seu fraco brilho que, além disto, apresenta uma bola informe em vez de uma esfera normal. Por isto diz: “Se não me engano, não demora a nascer o Sol verdadeiro. Quanto a este, te convencerás de teu engano e qual a origem do cântico matutino.”

  5. Prestando atenção, Adão ouve a seguinte estrofe: Louvado sejas, ó Grande Deus, nessas profundezas. Louvamos-Te, grande Lamech, as- sim como tua astúcia. Despertaste o justo Sol através de tua força sendo todas essas grandes obras tuas e dele. Ó Lamech, grande deus, preen- ches todos os céus após teres levado o antigo Deus à queda. Encontra-

-Se Ele cansado e esgotado, no solo, igual aos homens, deixando-Se iluminar pelo teu Sol.

  1. A estas palavras, Adão exclama assustado: “Pelo Deus Onipoten- te, que vem a ser este dia, este Sol e este cântico amaldiçoados?” Neste instante, ergue-Se o grande Abedam e diz: “Que se passa, por que es- tás praguejando?” Tremendo, Adão responde: “Ó Abedam, vê este dia, uma obra de Satanás!”

  2. Retruca Abedam: “Por que o julgaste? Ele não será o último nesta Terra e há de se repetir como um joio que não será exterminado até o fim de todos os tempos.” Diz Adão: “Ó Santo Pai, extermina-o

para sempre!” Responde Abedam: “O autor deste dia é também livre como tu e vive do Meu Poder. Deixemo-lo entregue ao seu tempo, que ele poderá estender o quanto quiser.

  1. Mas, quando sobrevier a Minha Eternidade, sua grande tolice será evidenciada à luz do verdadeiro dia. Sê calmo até a época em que Eu vos despertarei na aurora do verdadeiro dia de Sol. Deita-te outra vez e, quando Eu levantar, todos poderão se erguer, pois Me levantarei no justo Domingo e vos despertarei pelo Meu Espírito. Até lá deixemos que Satanás brinque no verdadeiro lamaçal de Lamech.” Estas palavras acalmaram Adão. Abedam deitou-Se de novo ao solo e todos seguiram o Seu Exemplo.

92.TEMPESTADENOCUME.ABÊNÇÃODO SENHOR

  1. Durante meia hora os patriarcas continuam repousando e Adão aperta os olhos o quanto pode a fim de não assimilar o menor raio do dia falso. Súbito se desencadeia uma tempestade fortíssima. A venta- nia arranca as árvores mais fortes e os raios rasgam o ar, enquanto nas montanhas vizinhas se desprendem rochas imensas que são dizimadas qual poeira.

  2. Diante de tal furação, Adão é tomado de excessivo temor, pen- sando: “Meu Deus e Pai, teria conseguido Leviatão, Teu grande inimigo e serpente do mal, elevar-se ao Teu trono enquanto aqui Te encontravas nos abençoando? A fúria dos elementos prova ter ele alcançado seu in- tento. Que será de nós?”

  3. Como Eu continuasse entregue ao descanso, Adão julga que Eu e todos os filhos fôssemos prisioneiros de Satanás, razão por que lança um olhar furtivo em Minha direção. Seu susto é enorme, pois lhe parecia que montanhas ardentes voassem pelos ares e grandes partes caíam ao solo com pavoroso estrondo. Por isto ele grita: “Grande Abedam, se ainda dispões de algum poder, eleva-Te acima deste nosso inimigo comum e faze com que seja obrigado à desistência e compreensão de sua fraqueza.”

  4. A esta gritaria todos se levantam e caem em desespero, com ex- ceção de Henoch, Jared, Lamech e sua esposa Gemela, Hored e Noê-

mia, Uranion, Gabiel, e Aora e sua filha Purista, Lamel, Pariol e sua família, Sehel, Jorias e Besela. Percebendo que os demais se deixavam atingir pelo pavor de Adão, Hored reage dizendo: “Que pavor mais tolo prende vossos corações, levando-vos a imitar as palavras sem nexo? Nunca alguém passou por perigo tão tenebroso de ser tragado por Satã como eu. E Quem me arrancou das garras do monstro? Não foi Aquele Que ora Se encontra entre nós visivelmente nos abençoando? Ele, Deus Eterno e Santo, poderia deixar-Se vencer como uma criatura miserável? Sou homem fraco igual a vós; mas, tendo recebido como vós a bênção poderosa Dele Mesmo, afirmo que desafio milhares de demônios com esta força que, comparada ao Seu Hálito mais suave, nada representa. A fim de que vejais quão tolo é vosso temor, ordeno a este inimigo das trevas que se oculte em qualquer lamaçal do inferno! Como vedes, já se manifesta a maior calma em toda parte e o Sol verdadeiro se aproxima de nós em esplêndida aurora.”

  1. A estas palavras, Abedam Se ergue do solo e Hored se atira a Seus Pés para agradecer pela ajuda recebida. Todos os patriarcas, porém, olham estarrecidos ora para Hored, ora para Abedam, e não sabem o que dizer. Louvando Hored, Abedam Se dirige a todos: “A paz esteja convosco e Meu Amor seja a Bênção para todos. Levantai-vos, pois Seth se incumbirá de um farto desjejum, enquanto podeis meditar so- bre Quem Se encontra em vosso meio. Após a refeição, demonstrarei a futilidade de vosso pavor.”

93.PROMESSADEENCARNAÇÃODO SENHOR

  1. Sem demora, Seth organiza o transporte de vários cestos com frutos, pão, mel e leite e seus servos avisam todos os povos presentes a fim de se saciarem. Quando ele mesmo sobe o monte com um grande vasilhame cheio de mel, o grande Abedam lhe vem ao encontro e diz: “Seth, predileto do Meu Coração Paternal, sê tu e teus descendentes abençoados por teres te lembrado dos necessitados de todas as tribos.

  2. O máximo que alguém pode fazer é o cuidado dos pobres, a aju- da à velhice e o acolhimento dos pequeninos. Se isto for feito por puro

amor, ainda que a pessoa tivesse pecados em número idêntico à erva da terra e à areia do mar, eles lhe seriam relevados. No momento em que alguém abrir seu coração para o próximo, Eu estarei ao seu lado e tudo que é Meu será dele.

  1. Quem cumprir o que Eu lhe ordeno é servo fiel. Mas, quem di- rigir seu coração constantemente para Mim, é um verdadeiro filho Meu. Quem pratica ações movido pelo espírito, sente repugnância do mundo e dirige todos os seus sentidos para Mim, é um anjo e um irmão em espí- rito de toda verdade, semelhante a teu filho Sehel. Mas, quem agir como tu, é mais que todos, pois é irmão no Meu Amor e atinge o máximo.

  2. Seth, Meu irmão, dou-te a vida eterna, pois executaste a maior ação, fazendo além do que Eu te ordenei. É a ação mais perfeita posta em prática até hoje neste monte. Este lugar existirá até o fim dos tem- pos e jamais será pisado pelos pés de um povo indigno. E onde pisares deve haver abundância. Teu hálito será o maná dos Céus e cada palavra tua se transformará em mel da vida eterna.

  3. Aqui a mulher de Lamech será futuramente abençoada por um salvador que conservará sua tribo até o fim dos tempos. Minha satisfa- ção contigo é tão grande que cumprirei Minha Promessa, aceitando do teu tronco carne e sangue, tornando-Me homem igual a ti, se bem que um Homem Onipotente. Não te sendo possível suportar a Onipotên- cia total, terás partes iguais do poder do amor, Comigo, teu verdadeiro Irmão. Deixa-te abraçar com todo o Poder e Força de Minha Vida! Há quanto tempo desejava ter um irmão, e não houve um que o quisesse ser de livre e espontânea vontade. Acabas de te tornar aquilo que Meu Coração desejou em vão. Já não mais estou só no Universo sem fim e não foi em vão que preenchi o Espaço com inúmeros seres e exércitos de espíritos. Tu Me devolveste o irmão que, Me desprezando, perdeu-se como espírito de todos os espíritos. Ó Terra, como enriqueceste por Me teres dado um irmão! Por isto saberás aquilo que todo o Univer- so jamais saberá. Hei de aceitar teus filhos como filhos Meus, e teus patriarcas serão Meus irmãos. Subamos no planalto para tomarmos o desjejum com nossos filhos, que ouvirão Eu ter encontrado um irmão verdadeiro, e Céus e Terra se rejubilarão com isto.”

94. GRATIDÃODE SETH

  1. Ouvindo tais palavras de Abedam, Seth se atira aos Pés Dele e diz: “Pai, sumamente Bondoso e Santo, não mereço que entres em minha cabana, no entanto me fizeste um irmão de Teu Amor! Peço-Te que me tires este pensamento do peito, pois é demasiado sublime. Retira o irmão e deixa que eu continue sendo o mais simples dentre Teus filhos!”

  2. Curvando-Se para Seth, Abedam o abraça, beija sua fronte e diz: “Agora és realmente Meu irmão, por tê-lo devolvido. Se bem que tivesse encontrado em ti um irmão muito caro, em virtude de teu amor altruísta, só agora, que teu amor se uniu à máxima humildade, és em verdade um justo irmão de Meu Amor. Vê, o Amor é Minha Natureza Intrínseca, da qual a Divindade, ou seja, a Força eternamente ativa se projeta como Meu Espírito Infinito de toda Santidade.

  3. Eu Mesmo sou tal Ser Original, ora diante de ti, e este Peito preenche todo o Universo com Meu Espírito, Meu Braço Poderoso que age constantemente segundo Minha Vontade. Eis porque sou Presente, através do Meu Espírito, e crio, formo e ordeno em toda parte. Meus Pensamentos preenchem o Espaço infinito que surgiu de Mim desde eternidades, mas se apresentamsomentequandoeondeEudelesMeapossocomMinhaVontade. Este Meu Ser Original também criou a ti, não apenas como pensamento projetado, mas como emanação livredeMeuAmor.

  4. Se, portanto, completas um só amor Comigo, como então po- dias deixar de ser Meu irmão? Nada temas e continua sendo um justo irmão Meu, que agirás em espírito como Eu ajo livremente preenchen- do o Universo. Ao atirares uma pedra ao ar, tens a prova que tua força física é mais extensa que teu braço. Quanto mais não será o braço de teu espírito!

  5. Se és, portanto, Meu irmão no amor, também o serás no espírito e poder, e o futuro te demonstrará que Meu Amor dentro de ti merece ser Meu irmão, pois Eu Mesmo sou tal amor liberto em ti. Agora Me acompanha ao cume, pois és e serás eternamente Meu irmão.”

95.ADÃOÉADMOESTADOPELO SENHOR

  1. Com estas Palavras consoladoras, Seth se encaminha ao lado de Abedam para o cume, onde o Sol projeta seus primeiros raios para toda a região. Imediatamente Adão se vira para Abedam e diz: “Querido Pai, não conviria cantarmos a habitual saudação do Sol, a qual sempre me confortou?”

  2. Retruca Abedam: “Adão, porventura ainda Me desconheces? A quem pretendes honrar com tua saudação? A Mim por certo que não, pois que utilidade teria se Me encontro em vosso meio e não exijo que alguém viesse cantarolar tal canção?

  3. Se quiseres, em Minha Presença, praticar um ato de idolatria com o Sol, poderás fazê-lo caso julgares ser ele mais importante que Eu. Pergunto apenas: que espírito será levado por ti para todos os descen- dentes? Não basta terem eles recebido por ti a morte física para sempre? Pretendes acrescentar a esta a morte eterna do espírito?

  4. Tolo, por acaso não sou Eu mais que o Sol que Eu poderia des- truir com o mais leve hálito e criar em seu lugar milhares de outros? A fim de que vejas, não obstante tua tolice endurecida, até onde vai tua incoerência, olha para o alto e escolhe, dos milhares de sóis, aquele que pretendias venerar.”

  5. Adão e os demais se apavoram, pois o Céu está semeado de mi- lhões de sóis, todos iguais. Totalmente ofuscado pela luz fortíssima, eles imploram a Abedam o afastamento de tão grande número de astros, e Adão se atira ao solo e Me pede perdão pela sua grande tolice.

  6. Abedam manda que se levantem e diz para Adão: “Ergue-te e paga tua tolice com uma constante visão enfraquecida que te acompa- nhará até o fim de teus dias. — Tu, Meu querido irmão Seth, ordena o afastamento dos sóis, com exceção de um que ficará em sua ordem anterior.”

  7. Seth ergue suas mãos para o alto e diz diante de todos: “Em Nome Daquele Que caminha entre nós e é Senhor de todas as coisas e criaturas, Deus, Zebaoth, digo-vos: Ele quer que vos desfaçais, com exceção de um que sempre iluminou a Terra.” E assim se dá. Quando

Adão percebe que sua visão não permite ver ao longe, começa a chorar porque não seria mais capaz de supervisionar todos os filhos.

  1. Abedam então lhe diz: “Não te prendas à luz da matéria e do mundo que cega o espírito. É preferível ter olhos cegos do que um espírito cego, e convém cuidares que teu espírito se torne vidente pelo verdadeiro amor e humildade, e então poderás dispensar a vi- são física.

  2. Fiz isto como grande prova de amor, para te exercitares na pa- ciência, evitando te tornares uma presa daquele que hoje te despertou através de seu Sol malvado. Além do mais, também é melhor se ver os filhos de perto do que de longe, e para tanto tua visão ainda é suficien- te. — Agora, saciai-vos com o que foi abençoado por Mim, e tu, Meu caro irmão Seth, serve teu velho genitor. A ordem da ceia de ontem será também respeitada pelo desjejum de hoje.”

96.ASPAVOROSASAPARIÇÕESDURANTEO DESJEJUM

  1. Durante o repasto, do qual o grande Abedam também partici- pa, ouve-se grande gritaria partindo do Sul e várias colunas de fumaça sobem nas planícies. Todos ficam estarrecidos, sem saberem o que de- duzir daí, inclusive Seth e Henoch. Adão, apavorado, corre junto de Abedam e pergunta: “Santo Pai, que vem a ser isto? Nem bem minha alma se acalmou e eis que surge outro espetáculo, pior que tudo até en- tão ocorrido. Orienta-nos a respeito do causador desta gritaria e quais suas consequências.”

  2. Continuando ao lado do cesto de provimentos, Abedam retruca: “Que farás se Eu te disser claramente a origem, a causa e seu efeito? Nada mais do que o que estás fazendo. Se tivesses um pouco de com- preensão, farias o mesmo que Eu, quer dizer, continuarias te alimentan- do e Me amando em teu coração.

  3. Quem a Meu lado se preocupa e se aflige é responsável pelas tempestades que em seu íntimo começam a rugir, e uma montanha após outra cheia de confiança em Minha Onipotência e Amor começa a ser dizimada em seu coração. Portanto, é bem feito que tua alma se

inquiete, porque ainda não acreditas inteiramente que todas as coisas estão sujeitas exclusivamente a Mim.

  1. Qual foi o prejuízo que tu ou algum outro teve em virtude de todas as grandes ocorrências que se deram durante a Minha Presença neste cume, desde sábado? Se todos passaram ilesos, por que te apavoras agora? Volta para o teu lugar e continua o desjejum. Quando vires Eu Me levantar, poderás fazer o mesmo.”

  2. Adão obedece sem hesitar, mas a refeição não lhe agrada e ele pensa no íntimo: “Meu Deus e Senhor, tens razão em tudo e a culpa de minha preocupação cabe somente a mim, pois venha o que vier, Tu nos salvarás. Ainda assim, eu e muitos outros passamos sempre por grandes pavores. Por que me apavoro sem motivo e de que adianta o medo? No entanto, sinto medo neste momento, embora saiba que nenhum cabelo nos será tirado.

  3. Talvez me apavore por sentir medo diante do medo de meu co- ração? Como é possível se sentir medo do medo? Mas, se sinto medo de algo, este medo é um mal simples e não duplo. Se o Senhor sempre nos salva diante daquilo que nos apavora, por que então permite que caiamos no pavor? Seria o mal subsequente, sem o medo anterior, talvez melhor que o próprio medo? Em suma, não consigo descobrir a finalidade do medo de qualquer mal. Por isso, o grande Salvador de todos os males nos poderia libertar do medo e ao menos demonstrar o que seja e de que serve.”

  4. Enquanto Adão assim confabula, Abedam se levanta, chama Seth e Henoch, falando-lhes em segredo. Isto irrita Adão, mas quando os dois se encaminham em direção ao Sul, ele não se contém de protes- to íntimo. Naturalmente, não se atreve a falar, mas no seu coração as cores se tornam mais vivas de medo e curiosidade. Abedam faz como se não o percebesse e manda chamar Garbiel e Besediel.

97.GARBIELEBESEDIELSÃOCONVOCADOS PARA

ESCREVEREMDOISLIVROS:“ASGUERRASDEJEHOVAH” E“OAMOREASABEDORIADE JEHOVAH”

  1. Conquanto ambos também receassem a crescente gritaria das criaturas do Sul, todo temor desaparece diante de Abedam, de sorte a estarem preparados a ouvir e falar. Por isto, Ele lhes dirige as seguintes palavras: “A folha de que vos falei há tempos, traçada com os desenhos e a arca também escrita que navega sobre as águas, significam que vós e mais alguns designados para tanto deveis desenhar aqueles sinais que correspondem a palavras, coisas e ações, em quadros de pedra ou em grandes folhas de papiro. Usareis um instrumento pontudo feito de metal pelos irmãos de Lamech, e explicareis tais sinais aos filhos, irmãos e pais, de sorte que em breve todos os entenderão, tendo a maior paci- ência com os menos compreensivos.

  2. Vosso espírito vos ensinará como formar uma palavra, pois cada palavra é formada de vários sinais, escritos da direita para a esquerda, segundo a ordem da palavra. Uma vez formada, a palavra não deverá ser alterada a fim de que os descendentes também as possam ler. Além disto, dou-vos um Mandamento, segundo o qual os sinais de uma pala- vra devem ser considerados como santos. Quem pretender modificar os sinais e a maneira de formar as palavras será olhado por Mim com ira.

  3. Agora vem a questão mais importante, e deve ser obedecida com o máximo rigor: O que deveis anotar e quando deveis fazê-lo. Quanto ao primeiro ponto, deve tu, Garbiel, anotar toda a história da criação original dos espíritos, das coisas visíveis e as Minhas organizações de Amor e Misericórdia até o ponto final de Minha Presença entre vós.

  4. Escreverás sempre que Eu te convocar em espírito, mas não de- ves te preocupar com o assunto, pois Eu, que ora te transmito esta tarefa, falar-te-ei e guiarei tua mão para que não faças um traço ou um ponto a mais ou a menos. Sempre que Eu te chamar audivelmente den- tro de ti, deves incontinenti estar preparado para obedecer.

  5. Mas, quando não fores chamado por Mim no coração, nada deves anotar, mas ensinar a todos, inclusive as mulheres; todavia, ensi-

narás mais a ler que a escrever, e naturalmente fiscalizarás os copiadores. Eles hão de copiar as Minhas Mensagens, milhares de vezes, para que toda tribo venha a possuir as mesmas anotações para seus descendentes.

  1. O que acabo de revelar a Garbiel, também tu, Besediel, hás de considerar até o ponto final. Garbiel fará o relato do formidávelpassa-doe tu farás a descrição do grandefuturo, sob a orientação de Henoch.

  2. Garbiel receberá a revelação diretamente de Mim, pois o passa- do deve ser aberto a todos. Tu a receberás indiretamente de Henoch, como prova de que ofuturodevepermanecersempremaisocultoque o passado. Será elaborado um Livro do Passado sob o título ‘Con- tenda, Ira e Guerra de Jehovah’, e um Livro do Futuro chamado ‘AmoreSabedoriadeJehovah,oGrandeDeus’. Recebei Minha Bênção para vos capacitardes para a missão dada por Mim.”

  3. Depois que ambos haviam agradecido por esta Graça, eis que se aproximam Seth e Henoch a fim de cientificar o curioso Adão do que entrementes ocorreu nas planícies. Foi este o motivo pelo qual Abedam os havia mandado para lá, pois Adão devia receber nova orientação para a vida, bem como seus filhos.

98.CRUELDADESPRATICADASNOSULPELOSFILHOSDAS PLANÍCIES

  1. Não demora, os dois se postam diante de Adão, temeroso e curioso, perguntando a respeito dos acontecimentos. Henoch diz: “Como eu e Seth assistimos o mesmo, só podemos fazer relato igual. Sendo impossível que falemos ao mesmo tempo, pergunto quem de nós deve contar as pavorosas cenas e horríveis maldições proferidas contra ti e Deus?”

  2. Profundamente assustado, Adão não consegue proferir palavra, levando Henoch a repetir sua pergunta. Com impetuosidade, Adão se decide por Henoch, que começa a contar: “Estás a par que Lamech tentou ontem efetuar um ataque furioso para nos assaltar em nossas alturas. No entanto, foi rechaçado por nosso Santo Pai.

  1. A serpente não encontrando paz e sossego, aproveitou a noi- te espetacularmente iluminada, incendiando vários pontos nas matas. Com isto, todas as feras, nossos vigias, foram enxotadas e incontáveiscriaturas pequenas, de cabelos negros, e quase totalmente desnu-das, subiram as encostas. Lá se acamparam e se apoderam de tudo: fru- tos, animais e utensílios, fazendo-se passar por donos das moradas dos filhos do Sul. Existe também grande número de mulheres e crianças.

  2. Enquanto nós dois estávamos observando o quadro, o chefe ex- pediu alguns mensageiros após a seguinte ordem: ‘Procurai por todos os cantos para descobrir a corja nefasta do monstro chamado Adão e seu paradeiro. Deveis assassinar a todos e cortar-lhes as orelhas como prova de vossa fidelidade.

  3. Mas, se encontrardes o próprio monstro, trazei-o aqui para que eu possa saciar minha vingança em suas vísceras pela maldição sobre Caim, nosso ancestral.

  4. Além disto, consta que o antigo Deus Jehovah Se encontra em meio deles completamente vencido pelo espírito de Lamech. Quem trouxer este personagem à minha presença será vice-rei de Farak e rece- berá como dote mil mulheres formidáveis. Eu mesmo quero amordaçar esse Jehovah e entregá-lo ao grande Lamech para que lhe seja feita jus- tiça conforme costuma fazer em nome dele.

  5. Se porventura descobrirdes Noêmia, filha de nosso grande deus Lamech, e suas duas mulheres, deveis trazê-las incólumes. Seus maridos devem ser estrangulados com a máxima crueldade, suas cabeças corta- das e aqui apresentadas para prova de seu extermínio.

  6. Encontrando ainda as trinta concubinas raptadas, do grande deus Lamech, também devem ser transportadas aqui e vossa recompen- sa não será pequena. Ai de vós se voltardes de mãos vazias! Vistes hoje como Lamech, num momento, encheu o céu de sóis e em seguida os fez desaparecer. Considerai de quem sois servos e em seu nome as próprias montanhas recuarão.’ — Vê, Adão, tais coisas vimos e assistimos, mas entre nós Se encontra o Santo e Amoroso Pai em Abedam. Por isto deve ser afastado todo o medo e pavor de nosso coração.”

  1. Tomado de ira incontida, Adão se propõe a pronunciar a pior maldição contra seus inimigos. Abedam o contém, dizendo: “Por que fazes isto? Eu sou o Senhor; Se Eu nada disto faço, por que devias tu fazê-lo? Se as vagas subirem até aqui, seremos pescadores para vermos se conseguimos pescar esses infelizes nas redes da vida. Isto será pior para Lamech que mil maldições diante das quais nem um pardal se assustará. Em verdade te digo: Ainda hoje hás de abençoar todos os que pretendia amaldiçoar. Volta ao teu lugar. Kisehel e Sethlahem, ide incontinenti, providos de poder e força, ao chefe de Lamech e transmi- ti-lhe Minha Vontade.”

99. O EXÉRCITO DAS PLANÍCIES

  1. Os dois escolhidos atravessam a gruta de Adão a fim de alcan- çarem mais depressa seu destino. Quando já estavam longe da mesma descobrem os espiões dos chefes de Lamech que gritam para as senti- nelas mais próximas: “Transmiti rapidamente ao chefe de nosso grande deus Lamech, que neste momento se aproximam de nosso posto dois homens de tamanho excepcional. Não sabemos como agir. Devemos enfrentá-los ou convém deixá-los avançar? Parecem sumamente fortes, pois a cada passo o solo estremece.”

  2. Após alguma reflexão, o chefe ordena que deixassem passar os dois homens e em seguida deviam prendê-los. Como estes não reagis- sem diante de uma multidão armada de lanças, pois não tinham arma alguma, são levados como prisioneiros e, além disto, tratados com os seguintes ataques: “Como estão passando os monstros Adão e Jehovah? Por que tremeis tanto diante de nós que somos pequenos, todavia vosso medo faz tremer o solo?

  3. Não há motivo para tanto. Nenhum mal vos sucederá, a não ser o decepamento sucessivo de vossos dedos, mãos e pés. Em seguida, serão arrancados o nariz, os olhos, a língua, as orelhas e finalmente a ca- beça toda. Isto será feito com grande lentidão para poderdes recuperar o ânimo entre um e outro sofrimento. Sabendo que durará apenas três dias, o pavor não se justifica.”

  1. A estas palavras, um deles tenta um ataque contra Kisehel, mas a lança ainda não tinha tocado o braço deste, quando um fogo súbito se desprende do braço e reduz a cinzas a lança e o próprio atacante. Este fenômeno provoca tamanho susto a ponto que todos debandam em fuga e teriam tomado a direção da planície se não fossem impedidos por alguns tigres enormes.

  2. Três dos guias correm depressa para junto do chefe, contam apa- vorados o acontecimento e aconselham não tocar-se naqueles persona- gens produtores de fogo. Este relato impõe grande respeito ao chefe das tropas, de sorte que se atira ao solo com a aproximação dos emissários do Sul e diz: “Sede bem-vindos, mensageiros de um deus certamente maior que nosso miserável deus Lamech. Seria possível cientificar-me a quem obedeceis, caminhando com vossos pés santificados diante de minha monstruosidade?”

  3. Em vez de responder a tão ridícula pergunta, Kisehel diz: “Hora- dal, é da Vontade do Senhor que te levantes e nos acompanhes com teu exército ao monte bendito, para confessares teu delito diante do Deus Vivo e Visível, e diante de Adão, primeiro homem criado por Deus.”

  4. O convite atira Horadal ao desespero, não podendo responder. Sethlahem se aproxima, pega de sua mão e diz com calma: “Horadal, por que temes ressuscitar, se há tanto tempo caminhaste, sem medo, na morte? Em Nome Daquele Que nos enviou, afirmo que Seu Amor é maior que a ira de Lamech. Faze o que meu irmão exigiu.” A estas pala- vras, Horadal se encoraja para seguir, com todo seu exército, a Kisehel e Sethlahem.

100.AMOREGRAÇADIVINOSDIRIGIDOSAHORADAL,CHEFEDAS PLANÍCIES

  1. Quando os três se encontram no cume da montanha, Abedam chama Adão, Seth e Henoch dizendo: “Kisehel e Sethlahem acabam de encher suas redes com vários peixes, incluindo aqueles para quem o chefe havia dado ordem tão infame. Assim sendo, vamos recebê-los com vida.”

  1. Como Horadal notasse que quatro homens fortes deles se apro- ximam, dirige-se para Sethlahem perguntando: “Quem são estes, cujo aspecto traduz algo excepcional?” — O outro lhe aconselha paciência, pois tão logo estivessem presentes, um novo Sol haveria de revelar sua identidade.

  2. Assim foi. Dentro em poucos instantes, Abedam ergue Sua Mão poderosa, demonstrando não poderem avançar mais. Kisehel e Sethlahem se ajoelham diante Dele e agradecem pela ajuda com relação ao cumprimento da Sua Vontade. Abedam lhes diz: “Deste modo de- veis sempre vencer em Meu Nome, ao Qual todas as coisas em Céus e Terra são submissas. Quem caminha em Meu Nome tem todo o Poder e Força, pois não existem outros que se comparem com Ele. Permanecei neste Nome, que tereis Poder e Força para sempre.”

  3. A estas Palavras, também Horadal se atira ao solo tomado de máximo respeito, a ponto de pensar: “Assisti ao poder dos dois mensa- geiros, enquanto se prosternam diante deste homem agradecendo-lhe por tal Poder. Quão poderoso não será Ele, se apenas em Seu Nome tudo é submisso em Céus e Terra! Portanto, não convém ao fraco ficar de pé e hei de me humilhar até o dedo mindinho.”

  4. Neste instante, Abedam Se aproxima Dele e diz: “Horadal, le- vanta-te e olha diante de ti o antigo monstro, primeiro homem desta Terra e pai de Caim e Abel. Em seguida, olha para Mim, teu Deus completamente vencido, conforme afirmaste.”

  5. Apavorado, Horadal grita para seu exército: “Atirai-vos ao solo, pois estamos diante do Único Deus Verdadeiro ao Qual pedía- mos quando crianças. A Ele somente compete todo o respeito, vene- ração e honra.

  6. Ó miserável Lamech! Eu, seu assecla e chefe supremo que o divi- nizava por simples política, lhe aconselhava todas as crueldades e agora estava prestes a tirá-lo do trono e tomar a mim todo o Poder — eu, monstro de todos os monstros — me encontro diante de Deus Verda- deiro. Deus, todo Poderoso, extermina este monstro da Terra, pois ela, que ora Te carrega, é por demais santa para suportar-me.”

101.HENOCHORIENTAHORADALESEU EXÉRCITO

  1. Abedam chama Henoch de lado e lhe diz: “Essas criaturas per- turbadas não estão em condições de ouvir e assimilar Palavras Minhas, porque seus espíritos pertencem à serpente, e Elas teriam efeito mortal. Fala tu em Meu Nome e transmite-lhes Minha Vontade à medida que Esta se fará ouvir em ti. Só depois Eu lhes direi três Palavras, para a vida ou para morte.”

  2. Imediatamente Henoch se dirige para Horadal, dizendo: “Presta atenção e guarda em teu coração aquilo que ouvirás de mim. Não são palavras minhas, mas exclusivamente Daquele Que Se encontra entre nós e me ordenou falar-te.

  3. Tua vida atual é uma vida de mentira e maldade, ou seja, a ma- nifestação do espírito orgulhoso, renitente, que jamais se dispõe a voltar para seu Criador. Prefere mentir a si próprio como sendo ele mesmo o mais poderoso espírito de todos, enquanto é mais fraco que uma mosca e não possui força além da mentira na qual é verdadeiro mestre.

  4. Tal vida não é vida, mas a morte total. Esta não pode subsistir quando atingida pela Voz de Deus, pois perece tanto quanto a mentira na luz da verdade. Enquanto a mentira não for trazida à luz, ela existe como se fosse algo em sua ilusão. Mas, na luz da verdade, deixa de exis- tir como se nunca tivesse sido.

  5. A Palavra de Deus partindo de Sua Boca é a luz mais elevada. Se fosse dirigida a ti em sua potência, que és pura mentira, que seria de ti? A fim de que percebas a grandeza do Amor de Jehovah, Ele me escolheu para que falasse contigo.

  6. Seu imenso Amor chega ao ponto de poupar a mentira retraindo Sua poderosa Luz, fazendo com que Ela volte muito fraca para que a mentira, caso aceite os raios de Sua Luz, possa ingressar numa vida ver- dadeira. Ela então se torna cada vez mais capacitada de aceitar esta Luz e finalmente consegue resistir em sua plenitude para penetrar em Seu infinito Amor. Eis que se torna uma criatura nova de amor, podendo assim receber a filiação dos Céus e, no final, de Deus.

  1. Estas Palavras são justamente tais faíscas em retorno, e se tu as quiseres aceitar dar-se-á contigo o que acabo de explicar. Se insistires na mentira, digo-te em Nome Daquele Que agora é nosso Pai: Ele, Senhor de Céus e Terra, Deus de Eternidade, veio e virá com muitos de Seus anjos a fim de estabelecer um julgamento com Sua Luz sobre a mentira, e para punir todos os ímpios por causa de suas obras profanas, sua dure- za e as blasfêmias que tais criaturas proferiram contra Ele.

  2. Que vem a ser um ímpio? Todo aquele que leva uma vida de mentiras. A Verdade é a Luz divina que não existe na mentira. Mas, quem vive de mentiras, para este toda verdade se torna um julgamento mortal, portanto é ímpio como tu e todos os teus asseclas. Estes foram ameaçados por Deus com um julgamento irremediável, pois nem sem- pre Ele conterá Sua Luz para poupar os pecadores.

  3. Se Ele vier com Sua Luz — em que situação se encontrará o pecador cuja natureza é mentira total?

  4. Ergue-te, convoca teu povo de mentiras e procura juntar em todos vós faíscas de Luz. Atirai para longe as armas da mentira, cobri-

-vos com a veste do remorso e verdadeira humildade para perceberdes o que é feito pelo imenso Amor de Deus, antes que Ele projete a Luz infinita na qual todos os pensamentos se tornam visíveis.

  1. Parti para o Norte, e que nenhum de vós procure rever a cida- de de Hanoch. O Senhor já providenciou uma terra para vós na qual haveis de passar uma vida do verdadeiro retorno para Ele. Cumpre pela primeira vez a Vontade de Deus Verdadeiro, que depois Adão vos aben- çoará para poderdes partir.”

102.OSHABITANTESDASPLANÍCIES,PRISIONEIROSDAGRAÇAEMISERICÓRDIA DIVINAS

  1. Sem perda de tempo, Horadal transmite às suas tropas o que lhe fora dito, e todos, inclusive suas famílias, se regozijam com a trans- formação de seu chefe, louvando o Criador Que amainara seu cora- ção. Apenas alguns que haviam deixado os familiares nas planícies não sabem como agir, mas Horadal lhes responde: “Encontramo-nos nas

Mãos do Todo Poderoso, portanto, nada temos que temer senão o cum- primento de Sua Vontade Divina.

  1. Se a ordem de Lamech conseguiu fazer com que abandonásseis tudo para encetar uma luta perigosa contra os habitantes das monta- nhas, não resta dúvida que tereis de vos submeter à Vontade de Quem tudo criou. Havendo alguém que insista na descida, que o faça e veja como salva sua pele.

  2. Mesmo que os guardas o deixassem passar, pode estar certo que o raivoso Lamech o tratará pior que um tigre. Podeis escolher à vonta- de. Quem quiser seguir-me para junto dos quatro grandes personagens será atraído pela força deles.”

  3. Entrementes, Abedam Se vira para Henoch e diz: “O povo da Meia-noite assimilou tuas palavras e um servo da serpente transmite Minha Vontade a seus filhos. Este milagre é maior que todos por nós conseguidos aqui. Por isto, aceitarei a ninhada da serpente como se fossem Meus filhos; e os que haviam deixado suas famílias nas planícies hão de encontrá-las na terra destinada. Lamel já o sabe e está realizando sua tarefa.

  4. Teu discurso, a começar do futuro julgamento até tua pergunta quem é ímpio, será transmitido, palavra por palavra, a todos os povos até o fim de todos os tempos, e teu nome será pronunciado tal qual como hoje pelos últimos filhos da Terra. A grande alegria que Me pro- porcionaste será restituída inúmeras vezes por todo o sempre.”

  5. Em seguida, Abedam Se vira para Adão e diz: “Os filhos de Caim estão prontos para tua bênção. Vamos!” Adão toma a dianteira e conclui: “Agora agiste com justiça, pois digo a todos: Abençoai aqueles que pretendeis amaldiçoar, tornando-vos vencedores sobre vossos ini- migos. Nunca deveis pagar o mal com o mal, como Meus verdadeiros filhos, pois Eu deixo Meu Sol irradiar sua luz sobre justos e injustos. Horadal, ficarás aqui durante o dia e só depois de todos refeitos segui- reis caminho. Mas, antes, levarás três palavras para ti e teu povo, para a vida ou para a morte.”

103.DUPLAPERSONALIDADEDE SETH

  1. Em seguida, Abedam Se vira para Seth, dizendo: “Irmão, man- da trazer alimento para esses triplamente necessitados, para poderem seguir caminho totalmente fortalecidos. Com exceção dos asseclas do chefe e suas famílias, nenhuma das milhares de pessoas comeram algo, a não ser capim azedo e algumas raízes amargas. Tenho pena deles, por isto serão saciados. Trata do suprimento dividindo-o em dez cestos, que cuidarei da bênção necessária.”

  2. Seth se apronta para obedecer, mas se admira muito ao ser rece- bido pelos próprios filhos, carregando dez cestos pesados. Parando no meio do caminho, ele cruza as mãos sobre o peito e diz: “Sou muito feliz porque vos adiantastes na tarefa que o Pai mandou que eu execu- tasse. Quem foi o anjo a vos informar a respeito?”

  3. Eles respondem: “Como podes perguntar, pai, se foste tu a nos dar tal ordem, e em seguida subiste até aqui?!” Profundamente comovido, Seth exclama: “Ó Santo Pai Jehovah, que coisas maravilhosas executas com a maior facilidade! Podes dividir a criatura sem que uma parte saiba da outra; no entanto, ambas agem sob orientação de um só espírito. Eis outro mila- gre de nosso Pai Santo e Amantíssimo. Céus e Terra transbordam de Sua Bênção e Graça. Por isso, seja louvado Seu Nome para sempre!”

  4. Neste momento, Abedam já Se encontra ao lado de Seth, dizen- do: “Irmão, os pobres aguardam nossa dádiva. És um homem como o deseja Meu Coração; vamos, portanto, realizar nossa obra de amor. Isto feito, faremos uma declaração de amor, mutuamente.”

  5. Após ter abençoado os cestos, Abedam chama Horadal e lhe diz: “Comei, tu e todos os outros, deste alimento, e o que sobrar pode ser levado para que sejais supridos por hoje. Para o futuro, a Terra vos su- prirá de Meu imenso estoque enquanto permanecerdes sob Meu Man- damento, que levareis para a terra nova.”

  6. Horadal se ajoelha e exclama: “Como meu conhecimento de Ti, meu Deus, foi assimilado por ensinamentos duros e horríveis! Cada fibra se revoltava contra o pior tirano e me vi forçado a amaldiçoar tal deus, tornando-me também um déspota.

  1. Quão diferente és Tu! Em vez de me aniquilar com meu exérci- to, Tu nos ofereces alimento abençoado. Teu Julgamento é suave peran- te nossa infâmia.” Abedam acrescenta: “Alimenta-te primeiro, depois passaremos a palestrar.”

104.AMARQUERDIZER:VIVEREM ESPÍRITO

  1. Horadal agradece ao Senhor pela grande Graça e em seguida se vira para seu povo dizendo: “Irmãos, aceitai de coração reconhecido o alimento dado pelo Pai depois de terdes dividido tudo entre todos. Hei de me satisfazer com qualquer sobra dos cestos.”

  2. A esta ordem, os dez subchefes tomam dos cestos e, após o povo se ter acampado em dez fileiras, distribuem os alimentos de tal modo que o primeiro passava também um vasilhame de água e outro de mel para o vizinho. Isto feito, os distribuidores verificam que os cestos não tinham sido esvaziados nem pela metade. Por isto, pretendem voltar pelas fileiras, todavia observam que todos ainda estavam supridos.

  3. Quando os cestos são levados para junto de Horadal, ele os re- crimina, dizendo: “Se bem que os cestos sejam muito grandes, a mul- tidão conta mais de dez mil pessoas. Quanto recebeu cada um? Podia estar satisfeito segundo a Vontade do Senhor?”

  4. Um dos subchefes retruca com respeito: “Se quiseres te cienti- ficar do milagre, basta observares que todas as fileiras estão fartamente supridas e poderás exclamar: Tais coisas são apenas possíveis a Deus; por isto, Lhe rendemos todo louvor, honra e respeito.”

  5. Diz Horadal: “Senhor, a única coisa consciente que possuo é esta minha vida inteiramente sem valor perante Ti; se fosse de Teu Agrado, desejaria oferecê-la a Ti, como gratidão para este pobre povo.” Com estas palavras, se atira chorando ao solo.

  6. Ouvindo isto, Abedam cobre Seus Olhos para ocultar uma lá- grima de Misericórdia e só passado algum tempo Ele toca o ombro de Horadal e diz: “Levanta-te, pois acabo de te relevar toda culpa.”

  7. Suspirando profundamente, Horadal se enche de coragem e diz: “Senhor, não Te aborreças comigo, pobre pecador, se Te peço permis-

são para amar-Te com meu povo. Minha razão me diz que somente os corações puros podem amar Deus; no entanto, meu coração protesta contra esta objeção.”

  1. Responde Abedam: “Já o fazes, por isto sê abençoado por Mim. Em troca, te digo as três palavras prometidas: Ama, amae ama , que vive- rás eternamente em espírito, morrendo para o mundo. Já morreste para o mundo; portanto, ama, amae amaa Mim, teu Santo Pai, para sempre.”

105.ADÃO FALA A RESPEITO DA NATUREZA DE SATANÁS E DOAMORAO SEXO

  1. Obedecendo a uma ordem silenciosa de Abedam, Adão se di- rige para Horadal: “Levanta-te segundo a Vontade de Jehovah e presta atenção. Nas tuas veias, bem como nas de teu povo, nas de meus filhos nas montanhas corre só meu sangue, porque fui criado por Deus como primeiro homem da Terra, assim como minha mulher, surgida de mim para ser a primeira genitora de toda a humanidade.

  2. Devem as criaturas ter um só pai e uma só mãe, físicos, bem como Um Só Deus, Um Criador e Um Pai Eterno e Santo. Se isto con- sideras, podes calcular quão brutal foi tua blasfêmia ao me classificares de monstro, e a Deus — nosso Pai e Criador Onipotente — de um Deus velho, fraco e decrépito.

  3. Como foi possível que os descendentes de Caim caíssem em tal cegueira e maldade? Assimila o que te direi. Quando Caim, meu pri- meiro filho, matou seu irmão Abel, por inveja, ação esta inspirada pela serpente ou Satanás, que habita na carne de todas as criaturas e em toda a matéria — ele foi julgado por Deus e não teve mais paz, nem de dia, nem à noite. A Terra lhe parecia pequena e o firmamento muito baixo, a ponto de não poder nem mais respirar.

  4. Chorou desesperadamente e tanto se enraiveceu contra a serpen- te que lhe jurou eterna inimizade. Ela então o procurou e fez todas as tentativas para reconquistá-lo. Caim, porém, percebeu que ele se tor- nara mestre da serpente, porquanto ela nada conseguia nem ao menos na figura de Abel.

  1. Ciente de que Caim era possuído pelas fraquezas carnais, a ser- pente de pronto tomou a figura de uma linda mulher e se aproximou dele com castidade virginal e ele ficou incapaz de desviar os olhos da- quelas formas voluptuosas. Tarde demais reconheceu a armadilha, pois ele mesmo testificou para todos os descendentes que ela haveria de ven- cer, com o tempo, inclusive os filhos de Deus.

  2. Percebes agora onde te encontras espiritualmente? Todos vós sois servos da carne, e como a carne de Caim tentou-o, também fostes tentados. A serpente dotou vossas filhas com os mais belos físicos e não há quem lhes resista. Por isto instituístes a poligamia, contra a Ordem Divina, segundo a qual eu sou homem e Eva a mulher, através do infi- nito Amor Daquele Que ainda Se encontra em nosso meio e acabou de te ordenar o amor, por três vezes. Todoamorcarnaldevepassarparaa vida da alma; e esta vida deve ingressar no espírito; e finalmente,todamanifestaçãodoamorfísico,psíquicoeespiritualdevevol-tara Deus.

  3. Como seria isto possível se alimentais a poligamia? Persistindo neste poder carnal, permanecereis também nas blasfêmias, como ficou provado. Se a Ordem Divina concede ao homem apenas umamulher, para que sua luta seja mais simples e ele possa vencer seu inimigo a sol- do da volúpia de Caim — como pretendeis vencê-lo quando vos atirais em seus braços fortes?

  4. Renunciai à poligamia e voltai para a antiga Ordem Divina, que haveis de vencer a morte que reside em vossa carne como serpente, e Satanás que não queria voltar voltará para mim, pois separou-se de minha carne e agora vive sua própria vida, como antigo príncipe de toda mentira. Deves considerar isto, Horadal, caso pretendas chegar à vida verdadeira como vitorioso. Leva esta revelação contigo, para o país destinado pelo Senhor, e deste modo as três palavras santas te servirão para a vida.”

106.EXCEÇÃOPARAA POLIGAMIA

  1. A uma ordem interna, eis que Henoch se dirige para Horadal dizendo: “É da Vontade do Senhor que tu e teus companheiros vos alimenteis, para em seguida partirdes sob orientação daqueles dois ho- mens fortes. Haveis de reconhecer o ponto final da marcha quando en- contrardes vossas companheiras que deixastes em Hanoch e que foram designadas como prova de fidelidade para Lamech.”

  2. Enquanto este grupo se entrega à refeição, Abedam diz para Adão: “Teu ensinamento paternal para esses pobres não deixa de ser bom; no entanto, há algo a ser retificado com relação à poligamia. Estás plenamente certo apresentando a poligamia contrária à Minha Ordem e ser ela o conceito sempre válido para a serpente e a morte.

  3. É preciso considerares o que seja melhor para os praticantes se cada um — especialmente os chefes — tomou a si no mínimo dez mulheres: convém separá-los, deixando-lhes somente uma, ou deixá-los como são? Se um deles abandona nove ficando só com uma, que farão as mesmas com seus filhos, e que hão de sentir seus corações?

  4. Se em caso contrário ele ficar com todas e zelar pelo coração também da prole, e as mulheres chegarem a nos conhecer e que, não obstante a verdadeira ordem, deixamos que continuem em sua atual situação, hão de reconhecer nossa grande misericórdia e amor.

  5. Afirmo-te, para filhos do mundo muito sensuais, é preferível praticarem a poligamia em vez de caírem na prostituição, violação ou pederastia. Digo mais: a poligamia é melhor que o concubinato em que se desconsidera a fecundação, mas simplesmente a satisfação carnal, mormente quando ela já se encontra em visível estado de gestação.

  6. Quem possui dez ou mais mulheres quase sempre gera um filho quando procura contato com o sexo o oposto. Fazendo-o sem este fito, não só deixa de gerar um fruto, como também as vezes prejudica o feto e finalmente provoca a esterilidade dela.

  7. Se este fato, como sabes, já ocorreu aos filhos das montanhas que surgiram de Mim e de Minha Graça, quanto mais não é o caso com os surgidos de Meu Julgamento. Opina tu mesmo o que seria

preferível, no momento, para os filhos das planícies. Conquanto não pretenda instituir a poligamia, principalmente entre vós, quero que transmitas isto aos habitantes das planícies. Podes acrescentar que não devem educar sua prole para a poligamia, mas como o exige Minha verdadeira Ordem.”

107.SEGREDOERELATODE HORADAL

  1. Após Adão ter orientado Horadal a respeito da Vontade do Senhor com relação à poligamia, este pede permissão para fazer uma confissão. Uma vez obtida, ele diz: “Revelarei um grande segredo de meu coração, tão oculto que nem a serpente conseguiu até hoje nem ao menos supor. Eis que chegou o momento oportuno para falar.

  2. Em tempos de Hanoch, Deus aprouve inspirar um irmão dele a fim de que desse conhecimento ao povo da existência de Deus Ver- dadeiro. Sua doutrina se manteve pura até Lamech, e eu e mais alguns outros fomos bem instruídos.

  3. Quando Lamech resolveu estabelecer uma união com a serpente e por meio de Tatahar mandou executar os inspirados irmãos daquele, também a doutrina fora abatida. Como desde menino sempre fui ami- go de Lamech, é claro que ele me fizesse nomear conselheiro sem que ninguém algo soubesse.

  4. No começo procurei despertar nele a doutrina de Farak que fora inspirada pelo Senhor. Mas era inútil alcançar algo neste sentido, pois a serpente o havia prendido de tal forma que nem as importantes Palavras de Deus, que ele logo em seguida ouvira quando matou seus irmãos, produziram a menor impressão.

  5. Ao participar-me isto, não deixei passar a oportunidade para ad- moestá-lo seriamente no sentido de voltar-se para Deus que lhe fora tão magnânimo. Revoltado, ele me declarou: ‘Horadal, até então foste meu amigo. Como deus e rei, advirto-te pela última vez que silencies para sempre a respeito de teu deus. Se quebrares esta promessa, sofrerás o mesmo que meus irmãos que pretendiam divulgar o teu deus descon- siderando ser eu mesmo o único deus poderoso.

  1. Renuncia diante do povo ao teu deus velho e ridículo, para mi- nha e a tua justificativa, e reconhece em mim o deus unicamente verda- deiro, justo, inclemente e poderoso. Se isto não fizeres, serás estraçalha- do diante de todos. Vai e executa a minha vontade.’

  2. Ocultando no meu íntimo a doutrina de Farak, aceitei a figura mistificadora da máxima crueldade e ensinei ao povo a vontade de La- mech. Percebendo que em mim contava um servo fiel, ele em breve pas- sou-me todo o poder de rei, enquanto ele continuava deus para todos.

  3. Quando a serpente descobriu minha servilidade para com La- mech, e não podendo perceber o que eu ocultava no coração, uniu-se a mim na figura de uma encantadora mulher e eu jurei pró-forma fa- zer tudo que agradasse a ela e a Lamech. Satisfeita, ela me fez grandes promessas.

  4. Quando ela me deixou, jurei no íntimo: ‘Serpente, Satã astu- ciosa, conquanto sempre ages com grande sagacidade, hás de sentir em breve o Poder Daquele Que ora tenho que manter oculto. Isto juro por Deus, Único e Verdadeiro.’

  5. Em seguida, pedi ao Senhor que não revelasse minha intenção secreta nem ao mais puro anjo, e Ele me atendeu e sempre me inspirou as atitudes a tomar em cada situação de meu ofício na corte. Deste modo me tornei um instrumento cruel nas Mãos de Deus e pratiquei todas as crueldades possíveis, pelo suposto poder de Lamech. Fui eu quem aconselhou uma verdadeira guerra contra Deus quando meu ir- mão Meduhed conduzia um grande povo. Sabia perfeitamente o desti- no que aguardava o maldoso Tatahar.

  6. Fui eu quem mandou praticar a segunda vingança em Deus aos poucos homens que voltavam, porquanto estava ciente dos Planos de Deus. Aconselhei Lamech que proibisse a fala ao povo, sob pena de morte, e que ninguém se atrevesse a pronunciar, nem mesmo pensasse o nome santo do deus Lamech. Por que fiz isto? Para evitar que os co- rações ainda puros fossem ultrajados pelo maior vilipêndio de Lamech, pois ao mundo nada se pode pregar.

  7. Muitos foram executados com minha ordem, pois meu Orien- tador secreto me dizia: A serpente já abriu sua boca sobre estes e Eu os

tornei insensíveis. Extermina-os a fim de que ela não venha a suspeitar de ti. Praguejei contra Deus dez vezes mais que Lamech e lhe aconselhei de enterrar o nome de Jehovah sob os excrementos do povo.

  1. E por que? Para salvar este Nome. É preferível enterrá-Lo sob o excremento da pobreza, que ainda é o mais puro na planície, do que vê-Lo exposto às piores blasfêmias. Este foi o motivo de minhas ações. E quando chegou o tempo, tomei a mim o poder e trouxe a pobre- za quase total, como dirigente sem clemência de Lamech, e até este momento ninguém sabia qual a intenção que me levava para todos os pontos e até aqui.

  2. Agora aprouve a Deus que me desfaça de minha máscara dura e me revelo com toda a fidelidade que sempre existiu oculta dentro de mim. Também praguejei contra ti e contra Deus perante o povo. Como estás ciente do motivo, certamente me perdoarás. Quanto à poligamia, podes ficar descansado, pois saberemos cumprir perfeitamente a Von- tade de Deus.”

108.PREJUÍZODAMALDIÇÃOEDA IRA

  1. Diante das palavras de Horadal, Adão se comove a tal ponto que não pode pronunciar uma só sílaba. Por isto, Abedam Se aproxima e diz: “Adão, porventura ainda pretendes amaldiçoar esses blasfemadores? Deve o homem evitar ao máximo qualquer julgamento, especialmente quando se trata da maldição paternal, pois quem poderia sondar os Meus Caminhos e Desígnios?

  2. Se alguém amaldiçoa algo cuja base desconhece, quão facilmente poderá amaldiçoar Meu grande Amor, Misericórdia, Paciência, Bonda- de, Graça, Meiguice, enfim, todas as manifestações surgidas da Ordem divina! Se, portanto, alguém praguejou contra esta Ordem, qual seria a bênção futura para seu espírito?

  3. Quais seriam os dotes do homem que não tivesse recebido de Mim, e onde se supriria de algo senão de Meu Amor, Misericórdia e Graça? Como se abasteceria de água, se encheu o poço com terra, pe- dras, areia e cascalho?

  1. Ninguém deve jamais julgar seu irmão, a menos que Eu lhe dê uma ordem especial. Mas, quem o fizer de própria iniciativa, terá pro- nunciado sua sentença mortal por que baniu de si a Vida de toda a vida.

  2. Caso um homem se tenha enraivecido com seu irmão a ponto de querer incendiar a sua casa, mas uma fagulha tocasse fogo em sua própria casa antes de atingir a do outro, a quem caberia a culpa da perda total de seus pertences?

  3. Este quadro ocorre espiritualmente com toda pessoa irada, pois antes que chegue a pronunciar a maldição contra o próximo, já deu motivos de consumir tudo aquilo que Eu lhe havia proporcionado para a vida eterna.

  4. Se alguém pretende amaldiçoar o irmão, deve sempre abenço- á-lo, e assim ambos estarão destinados para a Vida eterna. Se Eu ti- vesse criado tudo para a destruição final, teria agido segundo a Minha Sabedoria? Sou de opinião que nem o maior tolo seria capaz de agir desse modo, muito menos Eu, Deus, Pai Eterno e Sábio de todos os Meus filhos.

  5. Como criei tudo para a eternidade de modo tal que nem um pensamento mais sutil que a criatura mais simples tenha pensado de leve se possa perder, qual seria o motivo de quererdes julgar-vos recipro- camente? Guarda bem, Adão, somente Eu sou verdadeiro Juiz. Tu deves ser um filho verdadeiro, que há de julgar como Eu julgo todas as coisas

109.HORADALRECEBETRÊSGRAÇAS DIVINAS

  1. Em seguida, Abedam Se vira para Horadal, dizendo: “Como guardaste a pequena chama de Farak em teu coração, atravessando to- das as tempestades da tentação da serpente e do mundo, agora vês dian- te de ti um Sol Infinito, Eu, Pai Verdadeiro de todos, que te confere uma grande missão. Serás guia e professor de teu povo, onde ainda se encontram muitos ignorantes, e Minha Palavra Viva em ti fará com que se tornem esclarecidos para sempre.

  1. A partir de agora, não ouvirás de modo sutil a Minha Von- tade em teu coração, mas sim, como neste momento Me dirijo a ti, e saberás Minha Vontade, conquanto não mais Me vejas em Pessoa. Tua fé é grande, Horadal, pois sem prova direta acreditaste que era Eu a te falar.

  2. Para tua pessoa seria dispensável a segunda prova da bênção dos alimentos, pois em teu coração já estavas seguro de Mim, antes que teus olhos vissem Minha Figura e teus ouvidos ouvissem a Voz Paternal. Receberás, como prêmio, três grandes provas, por teres crido ser Eu o Criador e Deus Onipotente, Conservador de todas as coisas e Pai de homens e anjos.

  3. A primeira prova consistirá na realidade de tudo que te garanti e a teu povo no país prometido. A segunda será a transmissão de Minha Palavra, segundo sua força de vontade, Daquele Que ora te revela, pro- mete e dá. Como terceira prova terás Meu Verbo Vivo e a Vida eterna. Recebe Minha Bênção e segue sem demora para teu destino. Os dois mensageiros hão de vos conduzir. Tuas armas ficarão com Adão, pois Meu Amor é mais forte que todo o poder da serpente. Amém.”

110.DESPEDIDADEHORADALESEU POVO

  1. Todos se levantam e Horadal agradece em nome do povo pelas Graças recebidas, pedindo orientação no sentido de fornecer à mul- tidão uma prova especial por esse dia, a fim de se lembrar da grande Bondade de Deus. Abedam então diz: “Horadal, louvo tua intenção de que Meu Nome seja considerado para sempre. No entanto, deves saber que se o povo for bem instruído, encontrará em Minha Criação grande quantidade de recordações de Minha Bondade.

  2. Se o povo for ignorante a ponto de não perceber os sinais que efetuo dia a dia, jamais há de dar importância para qualquer prova fei- ta pela mão humana. Se considera os sinais vivos, para que finalidade serviriam os outros?

  3. Aliás, já te provi de uma grande prova de recordação para ti e a teu povo através de Minha Palavra Viva e de todo Poder e Força de

Meu Nome. Quem quiser participar dela manifestando rigor total no despertar de seu espírito, poderá ser atendido.

  1. Que mais poderia Eu te dar senão aquelas três palavras, e qual seria o lembrete mais sublime e melhor do que o sinal vivo no coração de cada criatura? Continua, portanto, com este, que estarei sempre For- te e Poderoso entre vós como prova de recordação de Mim Mesmo e de todas as ações de Amor praticadas.

  2. Se, no entanto, deixardes apagar a única prova válida para Mim, a recordação também desaparecerá, e os demais sinais sem importância teriam o mesmo efeito que os ventos terrestres que sopram em outros planetas, todavia a Terra nada haveria de sentir.

  3. Ficai todos vós exclusivamente no amor para Comigo, a maior e mais segura recordação do que se ama verdadeiramente. Se ele esfriar, o objeto anteriormente amado, porém esquecido pela frieza de coração, nem milhares de sóis expressamente criados para tal fim conseguirão derreter aquele gelo.

  4. Mas, quem tiver guardado o grande sinal do amor em seu co- ração, para todos os tempos, também continuará no fogo da vida tão indestrutível quanto o próprio fogo. Considera isto e desperta o teu povo, que viverás com todos em Mim, e Eu em vós. Não penses ser preciso considerar um dia especial ou talvez qualquer sacrifício material para que a pessoa se aproxime de Mim. Deste modo, o sábado deve ser apenas um dia de orientação geral e não de exclusivo amor para Mim, pois este dia é igual a todos os demais.”

111.ASCRUELDADESEM HANOCH

  1. Enquanto todos se apressam para a partida e Abedam chama Kisehel e Sethlahem a fim de tomarem a dianteira, eis que Lamel vem trazendo uma menina em seus braços fortes. Postando-a diante de Abe- dam, ele diz: “Santo e Amoroso Pai, com Tua Poderosa Ajuda consegui levar a bom termo a tarefa exigida. Nenhuma pessoa das que Tu me apontaste no coração ficou para trás na salvação em Teu Nome.

  1. Essa menina não a encontrei no coração, mas à beira de um forte riacho, chorando. À minha pergunta sobre a razão de suas lágrimas, res- pondeu: ‘Bom homem, peço-te em Nome do Grande Deus, que ouças a minha desdita e em seguida tira-me desta vida miserável. Eis minha história: Meus pais eram fiéis ao grande Farak e acreditavam em Deus Onipotente, não obstante proibição do maior tirano.

  2. Um mau espírito deve ter delatado este fato a Lamech, que mandou apanhar meus genitores, deixando-me sozinha em casa. Não demorou, e eles voltaram e obrigaram que ambos se despissem. Em seguida, os esbirros deitaram primeiro minha mãe no chão, esticaram seus braços e perfuraram suas delicadas mãos com pregos pontudos. O mesmo foi feito com os pés, e os gritos estridentes não tiveram o menor efeito. Repetiram isto com meu pai e em seguida cada um dos soldados satisfez sua volúpia satânica com a pobre citada. Depois fenderam seus ventres, postaram-me no meio e me obrigaram a perfurar os olhos sob constante louvor ao deus Lamech.

  3. Perdi os sentidos e fui trazida para aqui, onde me amarraram nesta árvore para morrer de fome. Desconheço o que ainda fizeram aos meus pais; mas certo é que foram martirizados até o fim e queimados com a casa. Agora sabes de tudo e podes fazer comigo o que quiseres; só não me deixa continuar com vida.’

  4. Este relato foi o motivo por que trouxe mais uma criança além das que foram contadas. Nunca em minha vida senti tamanha piedade de alguém. Certamente perdoarás minha atitude, pois a que foi salva aqui está como oferenda ao Teu Amor.”

  5. Abedam responde: “Lamel, ultrapassaste tudo aquilo que fizes- te em tua vida. Deixemos partir o povo para depois poder dedicar a esta menina, que necessita de descanso. Será feito o melhor para ela e para ti.”

112.EFEITODEMALDIÇÃOE BÊNÇÃO

  1. Após tal orientação, Abedam Se dirige para Kisehel e Sethlahem e diz: “Chegou o momento de conduzirdes este povo ao país destinado, pois sabia desde eternidades o que farei, sem que alguém viesse a saber de Minhas Ideias. Meu Espírito vos indicará o ponto exato da jornada, e deveis abençoar a todos e suas moradas, iguais às daqui. Isto feito, voltai imediatamente, para não perderdes a ceia.”

  2. A partida fez com que Adão vertesse lágrimas abundantes, e Abedam o elogia, dizendo: “Adão, se em vez de tantas maldições contra as planícies tivesses agido como agora, no espírito de Meu Amor e Mi- sericórdia, a Terra não se teria transformado em inferno.

  3. Como encontravas maior justificativa na maldição que no amor, chegou o ponto de as criaturas agirem como acabas de ouvir do relato de Lamel, e a prova disto está aqui diante de Meus Pés. Ó Adão, o que podias ter evitado para Mim e para toda a Criação! As consequências de tua índole hão de ficar na Terra até o fim de tudo.

  4. Muito embora tenha sido enorme e duro teu erro primordial, es- quecendo-te de Meu Mandamento e te deixando seduzir e ludibriar por tua própria serpente, a ponto que Céus e Terra foram desequilibrados

  1. Digo mais: A ação de Caim foi deveras maldosa, mas, compa- rada àquilo que fizeste contra Mim, logo de início quando pretendias erguer-te acima de Mim como Senhor, não se compara a uma gota de orvalho frente ao Oceano. Porventura podes afirmar que Eu por isso te tivesse amaldiçoado?

  2. Minha Santidade inatingível amaldiçoou o solo da Terra, razão por que devia fornecer-te cardos e abrolhos. Mas Meu grande Amor apagou em seguida a maldição, de sorte que de novo resplandeceu num belo jardim. Enquanto Eu assim agia, tu te esforçavas por amaldiçoar todas as planícies e seus habitantes, e conseguiste em vida fazer surgir do solo amaldiçoado frutos dos quais tens uma nova prova a Meus Pés.

  1. Através de Farak, enviei um anjo abençoado para guia das planí- cies. Não teria sido possível fazeres o mesmo, em Meu Nome? Ó Adão, Adão, vê esta menina, cujo coração é mais puro que o Sol a pino. O que sucedeu a seus pais, em virtude de tua maldição, há de acontecer ao Filho de uma virgem que será por Mim vivificada com o espírito destaa Meus Pés. Revoga todas as tuas maldições e esparge bênção, pois toda obra má é tua, desde o início.”

113.TOLICEDODESESPERODE ADÃO

  1. Ouvindo esse sermão, Adão se entristece e não sabe o que pensar ou fazer, procurando o porquê que tudo equilibra. Seu esforço é inútil e ele já se apronta para amaldiçoar a si mesmo, porquanto reconhece ser o único motivo de todo mal e erro.

  2. Abedam toma a mão dele, fita-o com energia e diz: “Adão, que criatura és tu! Por acaso queres te tornar uma pedra? É a vida realmente tão desprezível a ponto de quereres amaldiçoá-la e assim matar-te de corpo e alma, fazendo o mesmo com todos os filhos que permiti sur- gissem de ti?

  3. Há muito tempo vens enchendo tua vida com maldições se- gundo tua justiça, satisfeito com a ideia de Meu Agrado com tua incle- mência contra aqueles filhos que em sua fraqueza haviam agido contra tua vontade. Agora que quero te purificar demonstrando-te todos os teus defeitos, pondo-os em evidência diante de ti e de teus filhos a fim de capacitar-te para a aceitação total da vida provinda de Mim, e te cientificas que não sinto agrado no julgamento e na maldição — mas exclusivamente no amor — te aborreces em teu coração e te entregas ao desgosto da vida.

  4. Depois de teres julgado quase toda a poeira da Terra, pretendes cair numa autocondenação para te vingares de certo modo de Mim que contrário à tua antiga ordem julgadora, sou apenas Amor, Misericórdia e Paciência. Adão, Adão, expões Meu Amor e Minha Paciência a provas muito duras.

  1. Considera há quanto tempo emprego toda Paciência contigo. Quando no Infinito ainda não existia um Sol e a Terra nem ao menos tinha sido cogitada por Mim, teu espírito, criado para o amor mais puro e que Eu queria libertar para uma entidade independente de Mim, causou-Me fortes preocupações e levava Minha Paciência ao limite.

  2. Quantos eões se passaram desde que Eu te criei, e durante to- dos esses períodos Minha Paciência foi posta a provas extensas. Procura contar as inúmeras estrelas, os enormes corpos cósmicos que quase pre- enchem o Infinito externo. Sabes o que são? Cada grãozinho de areia de que é formado qualquer corpo cósmico é uma prova dura para Minha Paciência, se calcularmos para cada um, mil anos de existência. É o suficiente que contes os inúmeros astros e planetas em todas as regiões estelares, e incluas também os grãos de areia de que são formados, e calcula para cada átomo mil anos de Minha Paciência.

  3. Depois deste cálculo, dize-Me quanto tempo devo esperar até que te tenhas tornado uma criatura segundo Meu Amor eterno para contigo, e em seguida dispensarei todo prazo. Mas, ai de ti, caso co- meteres suicídio! Num átimo serias entregue com toda a Criação, com exceção de alguns seres fiéis, ao Meu fogo de ira!

  4. Terei paciência eterna com qualquer pecador, mas a paciência de um momento apenas comumsuicida. Reconsidera tudo isto e o que fiz em teu benefício. Faze o que Eu farei com todos os teus filhos, e Eu hei de Me voltar para ti e te erguer do lodo de tua longa cegueira para te dar a vida verdadeira. Jamais voltes a amaldiçoar, pois a Terra está suprida com teu julgamento pelo prazo de cemmilanos.”

114.VISÃODEADÃO:AMULHERNOSOLPISOTEANDOACABEÇADA SERPENTE

  1. A estas palavras, Adão começa a sentir grande remorso e só agora percebe a diferença entre a ordem dele e a de Jehovah; por isto se atira aos Pés de Abedam, dizendo: “Ó Santo Pai, visivelmente diante de mim em Abedam, eis aqui dois Adãos em sua total nulidade. Um é universal,

o outro apenas individual. Por Misericórdia, tira-me o universal e dei- xa-me o tempo suficiente para viver segundo Teu Agrado.

  1. Vejo com clareza ser simplesmente impossível eu reconduzir o Adão universal para o caminho de Tua Ordem Santa, conquanto eu o tenha desviado apenas pela trilha da destruição e do aniquilamento. Aceita-me como simples pessoa, no pó da nulidade, e eleva-a para a luz, portanto à unidade Contigo. Quanto à minha totalidade anterior, peço que me tires este peso sem fim e lhe dês o destino que Te agradar.”

  2. Neste momento, o Sol se põe e Abedam permite que Adão veja dentro de si um outro Sol, em cima do qual estava uma mulher radiosa que pisava a cabeça de uma serpente que envolvia totalmente o astro. Inquirido por Abedam, Adão responde: “Ó Jehovah, acabo de ver surgir dentro de mim um novo Sol que, não obstante sua beleza, estava enros- cado por uma forte serpente. De repente apareceu uma mulher lumi- nosa em direção ao Sol; sem receio da serpente, ela pisou-lhe a cabeça.

  3. Como a serpente tentava dominar a bela criatura e mordê-la no calcanhar, esta lhe atirou uma maçã na cabeça e a víbora a mordeu com fúria.” Batendo três vezes no peito, Adão exclama: “Ó Jehovah, esta foi minha grande culpa diante de Ti!”

  4. Abedam retruca: “Adão, aquilo que pediste já foi feito conforme acabas de ver. Agora te foi tirado o Adão universal e és igual a qualquer filho teu. Cuida do resto de tua existência e passa uma vida dentro de Minha Ordem e Amor Paternal.

  5. Quanto ao Adão universal, foi ele tomado por Mim, como Sol de todos os sóis dos Céus e mundos, conforme viste quando a serpente enroscou-se em Meu Sol. Esta menina das planícies é a mulher vista de pé no Sol pisotear a cabeça da serpente. Deves considerar sua alma e seu espírito, e não o físico. Ela sofreu mais que qualquer criatura na Terra. Por isto receberá uma recompensa cuja grandiosidade fará estremecer todo o Cosmos. Isto sucederá de fato.”

115.ADÃOLOUVAAMISERICÓRDIADE DEUS

  1. Após estas Palavras de Abedam, os presentes se comovem a pon- to de caírem em prantos e Adão finalmente exclama: “Ó criatura, o que poderias ser para o Amor do Santo Pai se tua livre vontade não te tivesse vilipendiado perante Ele! Quão infinitamente Bom és Tu, Pai, e quão desastrosa foi nossa queda, porquanto Teu Amor conseguiu somente salvar-nos através de uma Misericórdia sem precedentes!

  2. Ouvi, Céus e todos os astros: Deus, Criador Santo e Onipoten- te, diante do Qual todos os espaços infinitos estremecem e as eternida- des se desvanecem por imensa veneração, Ele esqueceu Sua Santidade para nos olhar com Misericórdia, preenchendo o Infinito com inúme- ros degraus, para que pudéssemos de novo chegar até Ele.

  3. No entanto, tal caminho era por demais penoso, segundo Seu Amor e Misericórdia; por isto, desconsiderou mais ainda Sua Santi- dade, desceu pelas Asas imensas de Sua Onipotência até nós e agora Se encontra conosco em forma humana. Quer poupar-nos o caminho jamais atingível e, a fim de Se tornar um Pai Extremoso e Misericordio- so, vestiu-Se com a matéria pecaminosa atraindo-nos como Salvador, Guia e Irmão. Abedam, isto é por demais para nós, pecadores, pois Tua Misericórdia é incompreensível!”

  4. Nesta altura, Abedam o interrompe, dizendo: “Adão, finalmen- te reconheces Quem Sou e o que faço. Continua como és que terás a Vida eterna dentro de ti. Conquanto foste designado a te tornar um ir- mão predileto, cooperador e companheiro de Minhas Perfeições eternas devido à tua grandeza, tua individualidade espiritualnão o quis, na grande simplicidade de tua natureza surgida de Mim. Ainda assim tu o serás em todos os teus filhos, razão por que Meu Coração te fez surgir tão maravilhosamente. Eis o motivo pelo qual faço tudo isto, e inclinei Meu Coração ao mais simples, assim como em épocas remotas o fiz com o maior de todos os espíritos, a fim de elevá-lo acima de tudo. — Voltemos para casa, e tu, Lamel, carrega a menina diante de Mim como grande prova de vitória.”

116.ACURIOSIDADEDEPURACOMRELAÇÃOÀPESSOADE ABEDAM

  1. Imediatamente Lamel toma a menina nos braços e se posta diante de Abedam. É claro que ela sente grande curiosidade, porque percebe que todos exclamam louvores de gratidão perante a Bonda- de de Abedam. Encostando seus lábios aos ouvidos de Lamel, ela diz: “Bom amigo, não podes adiantar-me quem é este homem que se chama Abedam? Pergunto porque, não obstante ser semelhante a vós outros, suas palavras são diferentes e dão impressão de penetrarem em todos os Céus e Terras. O mais estranho é que todo medo e tristeza desapare- ceram quando o vi e seria inteiramente impossível eu chorar por meus pais, tão horrivelmente sacrificados.”

  2. Como Lamel não soubesse responder e ela perdesse a paciência, insiste: “Por que simulas me responder, no entanto tua língua virou pedra em tua boca? Talvez eu cometesse um erro externando uma per- gunta que não convém a uma criatura das planícies?”

  3. Nisto, Abedam Se vira para Lamel dizendo: “Porventura te obri- guei ao silêncio? Como não tens coragem, dá-Me a menina para que nos Meus Braços venha a saber o que almeja. Poderás caminhar na retaguarda.”

  4. A menina fica sumamente feliz nos Braços de Abedam, de sorte que repete sua pergunta feita a Lamel. Apertando-a contra o Peito, Abe- dam responde: “Querida Pura, hás de saber tudo que desejas. Estás admi- rada por Eu saber o teu nome. Mas, quando Me conheceres melhor, tal fato não te impressionará, e sim te admirarás com coisas muito diferentes.

  5. Tu mesma afirmaste que Minhas Palavras são muito mais eleva- das que as de qualquer pessoa, e parecem penetrar Céus e Terra. Além disto, medo e tristeza desapareceram quando Me viste. Com esta con- clusão, que mais te falta para Me conheceres melhor? Podia dizer e provar Quem Sou, mas não o suportarias, causando-te a morte. Por isto te dou um conselho em vez de uma resposta definitiva: Ama-Me em teu coração acima de tudo e lá descobrirás Quem realmente Sou.”

117.PURA,NOSBRAÇOSDEABEDAM,PROCURAO ALTÍSSIMO

  1. A estas palavras, Pura se sente tão feliz a ponto de atirar seus delicados braços em volta do pescoço de Abedam, deitando sua ca- beça no Peito abençoado. Nesta situação, Pura permanece até que todos alcancem o cume, onde são recebidos por grande quantidade de pessoas que se prosternam diante de Abedam, louvando o Seu Santo Nome.

  2. Diante deste fato, ela pergunta em surdina: “Podes orientar-me a quem dirigem tamanha veneração? És tu a pessoa designada, ou existe outra acima de ti?”

  3. Responde Abedam: “Olha em redor de ti. Aquele Que está de pé é o mais importante, não somente entre as criaturas, mas também em todos os Céus.”

  4. Pura começa a dirigir seus olhos negros em todas as direções sem encontrar alguém que estivesse de pé. Por isto pergunta admirada a Abedam como deve interpretar as palavras Dele. Ele a coloca no solo e diz: “Minha amada, deves procurar melhor e encontrarás em breve um homem de pé.”

  5. Percebendo o embaraço dela, Abedam a toma de novo em Seus Braços e diz: “Quem dirige seu olhar para longe, não vê o que se encon- tra bem perto, tampouco aquilo que quer e devia descobrir. Olha para Mim e dize-Me se estou de pé ou sentado, e assim saberás Quem é o mais Sublime, merecendo tal veneração.”

  6. Muito assustada, Pura exclama: “Por certo és rei deste povo, mas não hás de me castigar pelo engano incompreensível. Tenho vontade de arrancar meus olhos por não terem visto a ti, único de pé.”

  7. Ele a consola, dizendo: “Não te aflijas, pois já Me encontraste pela metade. A outra parte já é sentida por teu coração, de sorte que não levará tempo até que Me conheças totalmente. Por enquanto, si- lenciemos a respeito, pois o povo está se levantando. Se nas planícies tivesses percebido o quanto fiz para aquele povo, já saberias Quem sou. Tua fraqueza não o permitiu, razão por que estavas a Meus Pés quase que surda. Eis que se aproxima Seth; vamos, portanto, dar-lhe atenção.”

118.ABÊNÇÃODA GRATIDÃO

  1. Quando Seth se encontra diante de Abedam, ele diz: “Ó Abba, Emanuel, Jehovah, posso pedir-Te tratar do alimento como fiz ontem? Sei que digo tolices, pois quem sentiria fome em Tua Presença? Mas, como Tu Mesmo ontem pediste o suprimento, pensei que talvez deva se tornar uma regra.”

  2. Responde Abedam: “Meu irmão Seth, justifica-se tua preocupação, mas como convidaste todos os necessitados, o estoque se esgotou e resta saber de onde te suprirás.” Algo perplexo diante do problema, Seth não demora a encontrar uma solução, dizendo: “Meu Pai, quem teria o Teu grande Amor? Minhas despensas estavam repletas daquilo que me deste para nós todos, portanto, foi Teu Amor e não o meu a abrir os celeiros. Mas, como preenches o Sol com luz interminável, a Terra com novas forças produtoras de Tua Misericórdia, e não deixas que o mar perca uma gota de água sequer, certamente supriste meus depósitos de tudo que necessitamos.

  3. Por isto, dez carregadores devem encher os cestos para saciarmos os que desejam alimento. Mas, que todos se lembrem Daquele Que aqui está Presente, Doador de todas as boas dádivas.”

  4. Abedam o abraça e diz: “Agora agiste com perfeição. Anterior- mente também abriste os celeiros para o povo, mas esqueceste de lem- brá-lo da gratidão ao Único Doador. Agora, diante de tua atitude justa, teus celeiros jamais hão de ficar vazios.”

119.OSCELEIROSREPLETOSCOMOFRUTODACONFIANÇADE SETH

  1. Os carregadores se dirigem à casa de Seth, onde enchem os ces- tos com frutos maravilhosos que quase transbordam no local. Como se aproximam os porteiros, os carregadores indagam se muitos já haviam feito uso da ordem de Seth.

  2. Os outros respondem: “Inúmeras pessoas se saciaram hoje, sem que o estoque diminuísse. Sois capazes de nos orientar a respeito?” Di- zem os carregadores: “Também vistes ontem o forasteiro que aqui veio

com Adão e praticou os maiores milagres. Sabemos que tal homem não nasceu na Terra. Mas, precisar sua verdadeira origem não podemos, e diante dos patriarcas não temos coragem para indagações.”

  1. Quando os carregadores chegam à porta, são abordados por Abedam com a menina nos Braços: “Por que demorastes tanto? Por acaso não encontrastes frutos em quantidade? Dizei-Me por que desta vez não respeitastes a hora?”

  2. Só agora um deles consegue balbuciar: “Não fizemos nada de errado. Nosso atraso se deu porque os porteiros nos perguntaram quem está constantemente enchendo os celeiros de Seth. Suspeitamos de ti, porque fomos testemunhas de vários milagres que parecem divinos. Es- peramos que nos perdoes a falta.”

  3. Responde Abedam: “Não só vos perdoarei, mas vos tornarei portadores de frutos superiores e vivos, para sempre. A fim de que sai- bais Eu ter Direito e Poder para tanto, vos digo que Sou Jehovah, Deus, o Altíssimo. Segui-Me.”

120.OSENHORCOMODEUSE PAI

  1. Quando os carregadores ouvem tal testemunho da Boca de Jeho- vah, ficam tão apavorados como se a morte eterna e um julgamento os tivesse atingido. Cônscios de vários erros e instruídos de que o Poderoso Jehovah havia de Se aproximar para constituir um julgamento severo, seu susto é compreensível. Não demora e eles começam a chorar e a se lastimar, e só o primeiro orador consegue gaguejar: “Seria... preferível... que nunca tivéssemos nascido.”

  2. Tal comportamento confunde a confiante menina, Pura, por isto exclama: “Se és o que disseste, no que não alimento a menor dúvi- da, peço-Te que me soltes por causa de Tua Santidade. Acredito que és Aquele que ninguém deve pronunciar, muito embora minhas noções a Teu respeito, adquiridas pela doutrina de Farak, me diziam que és um Fogo infinito e invisível. Tua Santa Vontade Se cumpra.”

  3. Eis que Abedam responde: “Minha Eleita, porventura pretendes amar-Me menos do que antes, quando não Me conhecias? Teria Eu Me

modificado porque Me dei a conhecer? Nunca percebeste que muitas nuvens de tempestade se apresentam à distância com ameaças? Quando se aproximam, trazem apenas a benéfica chuva que alimenta e refresca o solo torrificado pelos raios da sabedoria solar.

  1. O mesmo ocorre aqui. Em tua imaginação Me vias à distância e no fogo de um terrível julgamento — mas nunca supunhas ou pensavas num bondoso Pai. Se Eu fosse conforme Me conheceste através da dou- trina vilipendiada de Farak, Eu te carregaria em Meus Braços?

  2. Precisas saber que sou não somente Jehovah, Deus Poderoso e Criador de todas as coisas, mas também Pai Único e Amoroso Que não deseja julgar ninguém, mas soerguer a todos para a Vida eterna. Se Eu ten- cionasse efetuar o julgamento, não precisava pisar o solo terráqueo, pois bastaria o mais leve pensamento para destruir todas as obras do Universo.

  3. Como vim Visivelmente junto de vós, o fiz somente para pro- curar os perdidos e vivificar os mortos. Por isto, deves amar-Me mais ainda por Me teres reconhecido e sabes que sou o Único Pai Verdadeiro. Assim não haverá distinção entre nós, pois o Amor nos unirá para sem- pre.” O grupo se levanta e segue Abedam até o cume; envergonha-se de sua tolice, pedindo perdão a Ele, enquanto Pura o abraça com efusão.

121.EMPECILHOSELIMITAÇÕESDA VIDA

  1. Chegando ao topo, Abedam abençoa os cestos repletos. Sete são imediatamente distribuídos entre o povo. Três Ele manda reservar para o cume, isto é, o primeiro para Si, os amigos, Pura e Seth. O segundo para Adão, seus filhos e os doze mensageiros; e o terceiro para os filhos do Levante.

  2. Depois que todos se haviam saciado e agradecido, Abedam diz: “Quem estiver cansado poderá repousar. Quem quiser vigiar Comigo e fazer perguntas, será atendido.” A este convite, todos respondem em uníssono: “Ó Pai, quem poderia dormir enquanto proferes Palavras da Vida eterna? Permite que fiquemos acordados e não nos tentes com o sono.” Nesta altura, Pura se dirige para Abedam, dizendo: “Ó Jehovah, poderia eu fazer uma pergunta cuja resposta servisse para todos?”

  1. Responde Ele: “Minha Eleita, existe uma regra antiga, ainda em uso até mesmo nas planícies, que diz: Rei e forasteiro merecem o pri- vilégio, e como ainda és estranha em nosso meio, serás atendida em poucas palavras.”

  2. Diz ela: “Como Criador Onipotente de todas as coisas visíveis e invisíveis, deves estar ciente da situação lá embaixo. Não seria possível modificares e transformares tudo segundo Teus Desejos? Lá se desco- nhece Tua Pessoa e também não existe vontade para tanto.”

  3. Diz Abedam: “Minha Eleita, esta pergunta não foi elaborada por ti, pois é parte integrante de todo o Infinito consciente. Afirmo que direi algo mais definitivo somente para os presentes, mas não ao Cosmo, ainda que Me perguntasse por eternidades afora.

  4. Ouvi-Me: Os empecilhos são a base de todo ser e continuidade. Se algo existe, isto ocorre somente devido à sua limitação peculiar, ou seja, um empecilho existente.

  5. Olha o Sol: se não fosse limitado por Minha Vontade que se lhe apresenta como eterno empecilho, não haveria umSol ou umplaneta no Universo total. Vê uma pedra como é limitada por todos os lados, e quantos empecilhos contém. Quanto mais limitada e abundante em empecilhos, tanto mais sólida, compacta e pura ela é.

  6. Deste modo, toda a flora cresce segundo a lei da limitação de- vido a vários empecilhos internos que redundam em constante luta de suas partículas. As limitações e os empecilhos são a própria natureza das coisas, pois sem eles deixariam de existir e aprópriaCriaçãoinfinita é constituída de empecilhos e limitações.

  7. Somente Eu sou perfeitamente livre de qualquer limitação, a fim de que por Mim tudo receba seu justo empecilho e a total limitação para a existência.

  8. O que ocorre com as coisas materiais também se repete com o que vem do espírito. Seoespíritovivonadaencontrasseparasechocar,nãoteriaconsciêncianemvida.

  9. Como permito a existência de quantidade de contrastes, bons e maus — os maus para os bons, e os bons para os maus — os espíritos

se tornam cada vez mais vivos, e os maus são finalmente despertos pelos bons e aceitam outra direção, ingressando na verdadeira vida.

  1. Minha Eleita, assim é constituída Minha Ordem, e nunca terá fim. Não te preocupes com as planícies e esteja certa que Eu já havia previsto esta situação desde eternidades, e tudo que acontece se dá se- gundo Meus Desígnios eternos. As planícies se transformarão à medida que as alturas se modificarem, e no final haverá Um Pastor e um reba- nho. Toda esta organização vem do Amor; por isto, não te aflijas, pois sei porque os fatos de dão. O puro olhará tudo com pureza.”

122.OSENHORFAZUMAPROMESSAA PURA

  1. Ouvindo tal explicação de Abedam, Pura se extasia, exclaman- do: “Ó Amor e Sabedoria eternos, quão profundo é o sentido de cada palavra. Como poderei eu, mísera criatura, agradecer-Te por tamanha Graça e Misericórdia? Espargiste um consolo tão grande em meu co- ração que não consigo me conter de êxtase. Deixa-me amar-Te, deixa-

-me morrer de amor por Ti. Até então procurei controlar meu coração diante de Ti, mas agora não o consigo mais. Não sinto mais receio nem medo, e só desejo morrer de amor por Ti.”

  1. Neste êxtase, Pura se torna totalmente iluminada como o Sol a penetrar numa pétala de rosa. Os patriarcas começam a bater no peito e Henoch diz: “Somos filhos das alturas, enquanto esta menina é criação do lodo. Mas, que diferença entre nós! Que gracilidade celeste e beleza ímpar resplandecem de seu físico, e que amor poderoso vibra em seu delicado peito! Ó Jehovah, acabas de nos dar uma mestra no amor, pelo qual podemos medir a nossa fraqueza de coração. Louvado sejas por nos teres dado uma criança das planícies para medida santa de Teu Amor.”

  2. Diz Abedam: “Assim será: Uma criatura do mundo e do pecado deve sobrepujar noventa e nove justos de nascença tão logo se apegar a Mim como esta menina. Tu, doce Amada, jamais te apartarás de Meu Coração, pois somente tu hás de Me ver durante tua vida toda. Não se- rás companheira de um homem até atingir o Tempo dos tempos, quan-

do será cumulada com toda a plenitude do Poder do Amor de Meu Espírito infinito.”

123.OMILAGREDAENCARNAÇÃODOSENHOR.OESPÍRITODEPURA,ENCARNADOEM MARIA

  1. Em seguida, Abedam Se dirige para Seth, dizendo: “Meu irmão, sabes o quanto te prezo, por isto não temas em externar a questão que oprime teu coração.”

  2. Sumamente feliz com tal permissão, Seth diz: “Senhor, acabaste de fazer uma promessa a essa menina, segundo a qual pretendes Te gerar no físico dela. Tu, Que carregas todo o Universo com Teu Espírito infi- nito, deves Te acomodar no corpo infantil de uma jovem? Não consigo imaginá-lo, pois seria mais fácil que um átomo comportasse a Terra toda. Por isto, peço-Te com humildade para explicá-lo melhor.”

  3. Eis a resposta de Abedam: “Seth, se fosse conforme pensas, como Meu Espírito infinito poderia ter criado algo finito, ocultando no Infinito o finito? Recorda-te das visões dos doze mensageiros e con- sidera o que viram.

  4. Na semente de cada cedro não só se oculta a árvore diante de ti, mas uma infinidade de cedros; e numa avelã se encontram tantas outras que, se não fossem dissolvidas, em dois mil anos necessitariam espaço maior que a própria Terra.

  5. Se isto Me é possível e muitas coisas mais, que havias de achar mais incompreensíveis, aceitarás a possibilidade acima. Tu, aliás todos vós, deveis compreender que esta menina não voltará dos Céus a fim de Me conceber em carne e sangue, pois haverá outra virgem paratanto, que porém possuirá o mesmo espírito do Amor e da fé comoesta. Acredita em Minhas Palavras, pois assim será.”

124.OMISTÉRIODACONSTANTEDESTRUIÇÃONOREINODA NATUREZA

  1. Com esta explicação, Seth agradece de viva voz, levando Abe- dam a interrompê-lo: “Meu irmão, olho apenas teu coração, mas no que diz respeito ao teu louvor efusivo, podes poupar-Me. Quando o coração agradece, a boca não se deve intrometer para não turvar a fonte pura. O louvor oral ressoa diante do mundo; mas o do coração chega até Meus Ouvidos.”

  2. Virando-Se para Henoch, Abedam prossegue: “Porventura já sa- bes de tudo e nada encontras dentro de ti que necessitasse orientação de Minha parte? Por que não te atreves a expressar-te perante os irmãos? Nada guardes dentro de ti, mas devolve o que ainda não é maduro para suprimento do espírito, que Eu hei de prepará-lo para alimento fortifi- cante para o teu e o espírito dos outros.”

  3. Comovido, Henoch diz: “Bom Pai, meu espírito procura luz a respeito dos empecilhos com relação ao monstro destruidor da natu- reza. Conquanto perceba com nitidez que toda vida se alimenta dos empecilhos e limitações, não concebo porque tudo se enfrenta quase que mortalmente. Para que finalidade existem atritos,destruiçõeseaniquilamentos? Mesmo que surja algo diferente, também deve ser aniquilado para a imitação de sua espécie. — Eis a lacuna em meu co- ração, que Te peço iluminares com Tua Graça, Amor e Misericórdia.”

  4. Responde Abedam: “Bem falaste que tudo passa com a veloci- dade de um tufão e raras vezes dura o tempo necessário para atingir a força total de sua existência, pois de modo geral é tragado pelo turbi- lhão e desaparece no abismo da destruição. Conjecturas que não há um momento que não te trague constantemente, e tu mesmo te tornas um destruidor.

  5. O mais leve passo custa a vida de milhares de vermes, e quantas vezes meu pé destruiu a construção das formigas, levando um pequeno mundo à tumba. Quantas vezes os frutos mais belos nas majestosas ár- vores foram triturados por meus dentes! Quantas florezinhas não foram pisadas por meus pés, mas elas voltam outra vez! Também as formigas

constroem outra moradia, mas não aquelas que foram pisadas por mim. Para onde foram elas?

  1. Uma brisa suave passa pelas folhagens da árvore que se movi- mentam como se estivessem alegres e felizes. Mas, em meio desta ale- gria, cem caem dos galhos. Para onde foram? Não recebo resposta, pois a enxurrada da destruição as tragou.

  2. Continuas a conjecturar: Não é esta grande miséria das coisas que me toca, nem as enxurradas, os terremotos; meu próprio coração me soterra com força aniquiladora, oculta em todas as coisas, e nada cria sem outra destruição.

  3. Realmente, não te posso dizer: Henoch, sou injustiçado por teus pensamentos, pois tal é a realidade para os olhos e a razão. Mas, o co- ração o considera de forma diferente. Que vêm a ser as coisas? — São elas pontos de repouso dos Meus grandes Pensamentos. Minha Própria Vontade viva Lhes barra o caminho e por este empecilho Eles se apre- sentam na vida.

  4. Quando Meu Amor se une à Minha Vontade, o lema soa: Não imponhas barreiras ao grande voo de Teus Pensamentos livres, mas dei- xa que flutuem livremente nos enormes âmbitos de Tua Vida eterna, na consciência plena de Tua Força vital.

  5. Então deixo-lhes voo livre depois de ter suavizado o empecilho de Minha Vontade, e vês o perecimento das coisas — não seu desapa- recimento — apenas sua volta à existência básica, livre e indestrutível.

  6. De muitos pensamentos pequenos faço surgir um grande, vivo,queterádeserigualaMimporquevoltouaseroqueforaori-ginalmente. Por isto, não te preocupes com a destruição externa, pois tudo que parte da vida, volta sempre numa existência mais perfeita, até atingir o homem, e partindo dele chega a Mim. Deste modo, nada se perde, nemteuspensamentosmaisleves.”

125.ALEGRIADEVIVERCOMOAMELHOREXPRESSÃODEGRATIDÃOAO CRIADOR

  1. Erguendo-se com impetuosidade, Henoch exclama: “Ó Abe- dam, Santo Deus e Pai! Agora acabas de dar uma vida eterna inclusive ao ponto central da Terra, às montanhas, ao mar e a tudo que existia inerte. Quem, ou o quê, poderia permanecer na morte quando a Vida Eterna e Santa de toda vida profere tais Palavras? O êxtase da vida é enorme se o Santo vive dentro de nós uma vida livre. Mas, para quem quiser viver uma vida independente, tenebrosa em todas as fibras, ela se torna um peso insuportável.

  2. Que cada um procure viver uma vida perfeitamente justa no amor, para poder saborear a infinita plenitude da Vida Verdadeira do Pai. Não existe coisa mais grandiosa que a vida, tão maravilhosa e divina.

  3. Por isto, alegremo-nos com gratidão desta vida, nós, que não existíamos; no entanto, agora estamos diante da Face Daquele Que sempre foi, é e será. Ele nos deu a verdadeira vida que Ele Próprio viveu desde eternidades, em Sua Santidade e Perfeição.

  4. Alegra-te, Universo total da Vida, assim como eu me alegro da mesma. Nós a recebemos Dele, não como peso mas como bem-aventu- rança sublime. Por este motivo vamos agradecer-Lhe pela vida por meio da alegria de viver, hoje e sempre.”

126.FINALIDADEDAVIDA TERRENA

  1. Após esta expansão de sentimentos puros de Henoch, Abedam chama Enos e diz: “Se ouviste as palavras de Henoch, que eram justas e verdadeiras, por acaso não despertaram em ti uma necessidade superior de viver, porquanto te calas o tempo todo?

  2. És o único que vive despreocupado, nada encontrando em Mi- nha Presença atual que pedisse orientação maior. Advirto-te para o se- guinte: Construirei uma morada para Mim, nesta Terra. Será feita de pedras e argamassa, em cima do cume, para todos os tempos. Quem agora receber uma incumbência, a terá recebido aqui e lá. Mas, quem

caminha desinteressadamente onde sopra a vida, não será tocado por ela, e os espíritos vitais serão bastante fracos.

  1. Por isto, pergunta e levanta-te desta tua situação inerte, para receberes a resposta necessária nesta Terra. Não julgues ser esta adver- tência uma coação para a vida. Terás que encontrá-la em teu coração e em seguida relatá-la. Preferindo continuar calado, podes passar o tempo dormindo, sem fazeres perguntas a Mim.”

  2. A este convite, Enos queda algo perplexo, sem saber o que dizer. Chega-se mais para perto de Abedam, mas à medida que se aproxima, maior é seu embaraço e não descobre um assunto para fazer perguntas.

  3. Diante de seu silêncio, Abedam prossegue: “Enos, esperas Eu depositar uma pergunta em teu coração e boca? Pois bem, fá-lo-ei: Per- gunta-Me por que existes, que te responderei com exatidão.”

  4. Enchendo-se de coragem, Enos diz: “Ó Altíssimo, não haveria pergunta melhor para mim, por isto a repito neste instante.” Diz Abe- dam: “Realmente não podias encontrar uma questão mais importante, pois no futuro milhões de criaturas farão a mesma pergunta. Todas di- rão: Por que existimos? Que será de nós? Para onde iremos e que fare- mos, e por quê? Finalmente, quem somos?

  5. Todavia, não receberão resposta como tu, agora, e a resposta que ouvirás de Mim se perderá por longo tempo. Só no fim do mau regime do mundo Eu a retransmitirei aos necessitados e pobres, aos simples e pequenos.

  6. Eis a resposta: O homem existe por causa da vida, e não a vida em função dele. Da mesma forma, foi o homem criado por Mim para aceitar a vida — mas não que ela o aceitasse.

  7. Ele não foi criado na plenitude da vida, mas é apenas capaz de assimilar a mesma paulatinamente. Este é o motivo pelo qual não existe criatura que soubesseperfeitamenteoqueéavida,antesqueatenhaabsorvidototalmente.

  8. Ninguém pode proporcionar a vida ao próximo por toda sorte de polêmicas. Mas, quem possui a vida, neste ela se evidencia por si só, em toda a pujança, razão porque não necessita de outra prova. Quem não possuir a vida, como a poderá captar?

  1. Por isto, só o vivo pode assimilar a vida, mas não o morto. Bem que pode passar por ela através de sua alma fracamente vivificada, caso o queira. Assimilar a vida em totum, ele só conseguirá quando a tiver aceito em plenitude.

  2. Este é o motivo de tua existência. Absorve a vida, razão de tua presença na Terra, que a entenderás como Henoch, totalmente feliz por esta compreensão.”

127.OPREGUIÇOSOENOSLOUVAO NÃO-SER

  1. Estas palavras penetram profundamente no coração de Enos e de muitos outros, e todos começam a fazer sérias introspecções. No seu íntimo, milhares de pensamentos cruzam a alma quais meteoros, pro- vocando o mesmo efeito de relâmpago a iluminar a Terra, mas tão logo se apague, a treva se torna pior.

  2. Não obstante tais luzes, não há uma que se fixe, razão por que Enos descobre apenas contradições, pois seu coração é iluminado cons- tantemente por outras ideias. Passada uma hora, ele se expressa da se- guinte forma: “Como eu era feliz nos braços do descanso! Qual não teria sido minha felicidade quando ainda não existia, e muito mais feliz serei caso conseguir passar para o completo não-ser!

  3. Sou obrigado a pensar, ou ao menos sonhar. Sinto fome, sede, frio, calor, dor e sofrimento. Basta eu me afastar um pouco da ordem prescrita, que prontamente sou admoestado com palavras mais ou me- nos ameaçadoras, que despertam o remorso no coração.

  4. Feliz é esta pedra, sem vida nem sensibilidade, dispensando ali- mento. Não a perturbam pensamentos e ideias, nem leis e sentidos. Se me fosse possível ser igual a ela, eu daria mil vidas por um átomo desta vida inerte.

  5. Criador Onipotente de todas as coisas, agora eu teria outra pergunta a fazer, cuja resposta te custaria mais que a anterior. Desejas dar-me a plenitude da vida para me fazer feliz? Prefiro que me dês o perfeito não-ser, e eu serei inteiramente feliz. Por isto, não hei de pedir a vida, mas a morte total. Senhor, guarda Tua Plenitude de Vida, a maior

infelicidade para qualquer criatura; dá-me a morte perfeita, que me farás inteiramente feliz.”

128.EFEITO DA NEGAÇÃO DE ENOS

  1. Muitos que haviam ouvido as lamentações de Enos não sabem como interpretá-las, e o próprio Adão começa a se admirar de seu neto. O outro Abedam, que ainda se encontra na proximidade do Senhor, se adianta e diz: “Santíssimo Pai, que vem a ser isto? Como pode uma criatura condenar a vida e desejar a morte, em Tua Presença? Enos não é ignorante, nem tolo ou mau, pois não pragueja contra ninguém, mas quer se livrar da vida.

  2. Perdoa-me, Pai, mas se estivesse em Teu Lugar, não saberia o que fazer com Enos. Se cedesse ao desejo dele, de nada me adiantariam Gra- ça e Misericórdia. Caso o mantenha como é, só pode ser por meio do julgamento. Que vem a ser um espírito em julgamento? E sua vida? Uma máquina apenas, em constante conflito consigo mesma, um ser sem ser, uma vida sem vida. Nunca algo me perturbou tanto como esta confissão irrisória de Enos. Ajuda-me a sair deste dilema.”

  3. Diz o grande Abedam para o outro Abedam: “Deixa estar, tudo será solucionado e tu, junto de teus irmãos, haveis de receber em tempo um ensinamento certo. Adianto apenas que, se estivesses em Meu lugar, a situação de tal niilista seria bastante perigosa. Minha Sabedoria é mui- to mais equilibrada e não toma a questão tão tragicamente quanto tu.

  4. Por isto, descobrirei muito mais facilmente um meio adequado que equilibrará em breve nosso irmão. Não vem ao caso se o dorminho- co prefere dormir a vigiar. Uma vez despertado, pergunta o que prefere: dormir ou o despertar mais alegre. Sê calmo, e se por acaso Minha Sabedoria falhar, procurar-te-ei para um conselho.”

129.CANÇÃODAVIDA,DE KENAN

  1. Depois de ter dado tal orientação, o Sublime Abedam Se vira para Kenan e diz: “Kenan, justo cantor de Meus dias, há tempos per- cebo uma canção em tua alma e o quanto desejas externá-la para Mim. Chegou o momento e podes começar.”

  2. Sem perda de tempo, ele exclama: “Santo Pai, Amor eterno, Deus Infinito, Senhor de todo Poder e Força — que Plenitude de Vida és Tu! Quão doce e maravilhosa é a vida para quem a goza com digni- dade e gratidão, conforme Tu a deste!

  3. Que liberdade infinita e plenitude inteiramente livre de qual- quer coação e pressão existem em cada pensamento, sensação e modi- ficação do espírito!

  4. Onde existiria um ponto no Espaço infinito que devesse conti- nuar estranho para o meu espírito, que não deveria ser visto, compre- endido em todas as suas partes?

  5. Onde iluminaria o Sol, onde cintila o menor raio de sua exis- tência luminosa que meu espírito somente após eões pudesse alcançar? Meus irmãos e patriarcas, fixai no fim do firmamento uma estrelinha que brilha fracamente. Procurai atingi-la com vosso espírito e depois controlai o tempo para tal esforço espiritual, pois vos afirmo que num átimo haveis de ver os milagres mais maravilhosos daquela doce luz. Este pontinho diminuto para a vista física, quão grandioso é ele para o espírito, para a Vida de Deus! É um sol cheio de milagres da Vida do Amor de nosso Santo Pai!

  6. Vede quão facilmente o espírito eterno de nosso coração venceu todos os espaços infindos. Ó Vida Divina, vês, pensas e sentes o Mila- gre da Mansidão de Deus e és aqui o maior de todos os milagres; vês, sentes e amas o Pai, o eterno Criador Poderoso. Meus amados, aqui está Ele, o Pai, o Santo Doador da Vida. Prosternemo-nos diante Dele para agradecer-Lhe por esta vida do Amor Dele. E Tu, Santo Pai, aceita esta canção simples e modesta como se fosse algo para Ti, e deixa-me louvar-Te e prezar a vida maravilhosa do Teu Amor.”

130.NATUREZADA VIDA E DA MORTE

  1. Quando Kenan termina, Abedam lhe estende a Mão e diz: “Ke- nan, eis o prêmio de Minha Fidelidade. Esta Mão é uma haste forte e eterna do Meu Amor, ou seja, do Próprio Amor ativo. Com ela te ofe- reço a Vida da vida. Só agora de tornaste soberano de teu físico e podes usá-lo segundo teu agrado.

  2. Depende de tua vontade de quereres habitá-lo por mais tempo, por amor a Mim e aos teus. Mas, se preferes deixar o corpo para sempre ou temporariamente, também podes agir à vontade. Pois, a partir de agora, não mais verás, nem sentirás ou saborearás a morte. A Vida é soberana da morte, e não vice-versa.

  3. Como poderia a morte ser mestra da vida se lhe falta toda liber- dade, e ela mesma é simples existência livre, porém presa em todas as partículas? A vida física é a morte ou a vida aprisionada e destituída de qualquer liberdade.

  4. Quem, como tu, venceu na carne, submetendo-a em todas as suas partes, não é soberano total de toda morte? Assim sendo, como pode haver sensação, visão e sabor da morte? Digo a todos: A criatura cujos olhos se fortificaram de tal maneira a poder ver reveladas todas as coisas que se acham longe da morte, já vê tudo de sua própria vida, ou dentro de si mesma.

  5. Sê, portanto, Meu caro Kenan, inteiramente certo da vida rea- lizada por teu amor para Comigo, isto é, para com a vida unicamente verdadeira em si, e não há eternidade que te possa tirá-la. Eu sendo um Senhor de toda vida e morte, também tu e todos iguais a ti são perfeitos soberanos de sua vida, e muito mais da morte. Esta vida caminha livre- mente e exerce em tudo o domínio sobre a morte. Pode forçar a morte a participar da vida. Mas, querendo deixá-la cair, tem para tanto os mesmos poderes acima. Como soberano do teu corpo, podes transmi- tir-lhe a vida. Não o querendo, temporariamente ou para sempre, tens a mesma liberdade ao teu dispor.”

131.MEDODAMORTEDOSQUENEGAMA VIDA

  1. Com estas palavras elucidativas, Kenan e muitos se alegram e agradecem, pois constataram a grande diferença entre a vida física e a espiritual. Também Enos se comove e se dirige a passos lentos para Abedam, Que lhe estende a Mão, dizendo: “Então, Enos, para que lado tende tua decisão, para a morte ou para a vida? Fica certo que não existe coisa impossível para Mim e, por tua causa, ordeno àquela montanha no Levante ainda em erupção, que desapareça! — e não vês mais um vestígio sequer. Amanhã verás naquela enorme área um fértil capinzal e quantidade de árvores frutíferas. Por aí vês não haver o que Eu não consiga, e podes responder-Me sem susto.”

  2. Enos e todos os demais estão de tal forma estarrecidos que não conseguem proferir palavra, e ele se atira aos Pés de Abedam e em silên- cio Lhe pede que o conserve vivo e lhe perdoe sua tolice.

  3. Diz Abedam: “Enos, levanta-te e fica ciente que todo morto é constituído como tu. Ainda que não fale como tu, age de tal modo como se preferisse a morte à vida. Quando percebe a chegada da morte, começa a tremer e a se desesperar. Então pergunto: por que tal tolo não continua fiel a si mesmo? Por que teme o aniquilamento pelo qual ele tanto se esforçou em vida?

  4. Digo-te: Enquanto ainda percebia a força da vida dentro de si, era qual soberano sobre a morte e não lhe tinha medo porquanto não podia saber, na livre percepção das coisas, que na morte e no aniquila- mento não teria mais sentidos sensoriais.

  5. Tão logo percebe que a força da vida fictícia desaparece, seus sentidos se tornam mais fracos e as coisas externas também começam a desaparecer — portanto, sente o poder da morte e o terror do não ser

  1. Eis que fará tudo para reaver a vida. Todavia, será tarde para muitos. A vida verdadeira, indestrutível, soberana e livre semelha-se a um fruto maduro, enquanto a existência física é imatura. No fruto maduro a semente se solidificou; portanto, pode a parte material que o alimentava ser separada sem prejuízo para a mesma. A semente já assi-

milou toda a vida e perdeu a sensação de morte, mas sente apenas uma vida sólida e plena, em nenhuma relação com a matéria.

  1. Quão diversa é a situação de um fruto imaturo em que a massa externa ainda vive uma vida fraca e a semente morre quando a matéria é por demais ferida. Por isto, deve cada um tratar do amadurecimento desuaalma,quesucederáquandoelesetiverlibertodetodososlaçosefibrascarnais.

  2. Quem tiver alcançado isto, será soberano da vida. Como todos os frutos só conseguem amadurecer com o calor solar, também vós vos tornareis perfeitos através do calor de Meu Amor em vós. Assim, Enos, também deves te tornar totalmente amadurecido neste Peito, tão abun- dante da Vida verdadeira, eterna, livre e feliz.”

132.OENGANODAEFEMERIDADEDAS COISAS

  1. Esta explicação acalma Enos de certo modo, pois quando olha para o Sul, onde não mais existe a montanha tão conhecida, ele estre- mece e não consegue equilibrar-se na região modificada. Não é apenas a transformação externa que o perturba, mas o antigo pensamento da efemeridade de todas as coisas.

  2. Como tal conflito não passa desapercebido por Abedam, Ele diz: “Enos, que verme está roendo a tua alma? Ainda ignoras que somente Eu posso dar resposta a todas as perguntas e o faço a quem Me pede?

  3. Conheço tua índole. Por isto desisto da pergunta e darei uma boa resposta para um problema que sempre te preocupou e agora ain- da aumenta tua aflição, por teres recebido reforço através da apari- ção ocorrida.

  4. Preocupas-te com o perecimento das coisas e indagas: Que ocor- rerá com o corpo, caso eu tiver que deixá-lo como espírito e alma? Por que não pode o corpo continuar unido ao espírito, mais belo, glorifica- do e totalmente vivo?

  5. Como o súbito desaparecimento da montanha, representando ainda mais fortemente a efemeridade visível, positivou teu problema, es- tremeces à medida que olhas o local do qual anteontem Adão profetizava

que, diante da montanha onde ele como primeiro homem chorava e se lastimava, também no futuro o último havia de chorar e desaparecer.

  1. Como sou um profeta melhor do que Adão que chora sem moti- vação, declaro que a profecia dele é totalmente sem nexo, razão por que dei um fim à montanha fatídica. Quanto às tuas perguntas acima, digo serem ainda mais sem nexo que a profecia de Adão.

  2. Como podes imaginar uma efemeridade das coisas? Crês que uma coisa pereça quando some de tua visão? Porventura não são todas as coisas nada mais que Meus Pensamentos fixados por Meu Amor? E os espíritos, ideias livres de Meu Amor, razão por que têm livre arbítrio e uma vida livre e isolada?

  3. Se Eu liberto de Mim um Pensamento fixado, terá realmente perecido pela libertação dos laços do Amor, podendo subir de novo ao âmbito enorme de Meus Espíritos que preenchem o Infinito como chamas de fogo?

  4. Afirmo-te, até mesmo a primeira plantinha de musgo que nas- ceu na primeira rocha marítima desta Terra, existe e vive dentro deste Meu Âmbito Vital — e a última plantinha há de encontrar esta te- tra-avozinha.

  5. Assim, também esta montanha foi apenas liberta, mas não dis- solvida — e tampouco o será este teu corpo do espírito. Da maneira como o corpo é, não pode continuar para sempre. Será devolvido pu- rificado, ao espírito, se bem que não nesta forma; todavia, como veste eternamente indestrutível.

  6. Por isto, ninguém deve praticar ultrajes e pecados com seu cor- po, pois quem assim fizer terá que caminhar de vestes rotas, em espírito. Não há, portanto, perecimento das coisas, mas a libertação das mesmas.”

133.ANATUREZADATRÍPLICE GERAÇÃO

  1. Em seguida, Abedam Se vira para Mahalalel e diz: “Porventura já estás orientado de tudo, não necessitando de esclarecimentos? Se ain- da alimentas qualquer dúvida, deves externá-la, pois não deve perma- necer uma lacuna em vosso coração.”

  1. Mahalalel reflete um pouco, pois tinha algo importante para per- guntar, mas não se atreve para tanto. Como Abedam percebe sua since- ridade, segundo a qual ele, Mahalalel, não se queria tornar importuno perante a suave Pura, Abedam prossegue: “Conheço teu coração honesto; por isto te pouparei a pergunta, respondendo a tua dúvida silenciosa.

  2. Com relação à procriação, comum ao homem e ao animal, não pode ela ser modificada de modo geral, porém em casos especiais e espirituais. Através da geração carnal, não é criado um espírito nem uma alma, mas exclusivamente um corpo físico que deve se desenvolver totalmente no corpo materno, antes de se capacitar para a assimilação da alma, e esta, para a do espírito. Assim, tudo tem seu motivo bom de acordo com a boa ordem.

  3. A carne gera a carne; a alma gera a alma; e o espírito gera o es- pírito. Vou explicar: Sabeis que tudo que provém da esfera do espírito, em si a força única e substancial, só pode entrar em evidência por meio do contraste correspondente. Tal contraste é um empenho da força pri- mordial de se conter e forçar a sua manifestação.

  4. De que maneira se manifesta o teu espírito? Através da autopos- sessão, o amor em sentido puro ou o amor para Comigo. Sem esta pos- se, o espírito jamais conseguirá se tornar independente, continuando apenas uma parte inconsciente de Meu Espírito Total.

  5. O mesmo ocorre com a alma, que em sentido geral representa a vida vegetativa da Natureza. Em sua generalidade, ela pode se conden- sar ou fazê-lo em inúmeros pontos, onde as coisas então se tornam visí- veis dentro da ordem por Mim depositada na alma universal. Todavia, trata-se de uma coação muda e inconsciente, ou seja, a geração da alma através da ordem existente dentro dela, mas provinda de Mim.

  6. A criação se torna consciente somente quando todas as partes da alma universal se condensam pela atração recíproca e finalmente se in- cendeiam. Neste instante, se faz luz em seu centro; elas se reconhecem como tais e se atraem para um todo totalmente isolado.

  7. Esta criação psíquica ocorre através do amor ao próximo. O ho- mem reconhece seu semelhante através do amor. Quem o desconhece, também desconhece seu irmão.

  1. Depois destas duas pré-criações internas, também o físico pode apossar-se de si mesmo em seu polo oposto, estimulá-lo e forçá-lo à sua vontade. Por meio desta coação, um contraste passa para o outro, onde se consolida. Assim se forma, entre dois contrastes externos, um terceiro fator que, à medida que durante o ato se aproximou de um ou outro contraste, corresponde àquela constituição segundo Minha Ordem existente também na carne, que se denomina um justo amor próprio, ou amor carnal.

  2. Deste modo, são o amor carnal e sua procriação corresponden- te tão justas quanto a da alma e do espírito, quando se dão dentro de Minha Ordem eternamente estabelecida. Quando é contrária à Mesma, ela é uma criação da morte em vez da vida, portanto grande pecado, porque por ela é destruída a vida da alma e do espírito. Entendei-o bem e agi de acordo, que todas as gerações serão justas e de Meu Agrado.”

134.UMEVANGELHOPARAOPALRADOREO RETÓRICO

  1. Eis que Mahalalel começa a dar vazão à sua retórica, dizendo: “Ó Sabedoria santa e imensa, Luz da luz, se ao menos pudesse assimilar tudo isto. O espírito gera o espírito; a alma gera a alma; e o físico gera o físico, e de tal forma que um existe para o outro. Ó Pai, Tu nunca falas algo sem razão; tudo isto eu sei e aceito muita coisa.

  2. Todavia, sou obrigado a dar o testemunho de que certos assuntos continuam obscuros. Entendi as palavras, mas não as compreendi. Sei per- feitamente ser eu o único responsável por isto. Mas, esta constatação não me ajuda, porquanto não consigo penetrar no âmbito da palavra. Por isto, Te peço, Pai, que me dês uma luzinha das profundezas de Tuas Palavras.”

  3. Diz Abedam: “Mahalalel, por que precisas de tantas palavras para dizer algo tão simples, ou seja: Pai, sou cego, faze com que eu veja! Seria o suficiente. Mas, tua retórica é precisamente culpada que não consegues vislumbrar luz no âmago de Minhas Palavras.

  4. Desfaze-te dela, sê um homem reto e sem subterfúgios, que des- cobrirás imensos exércitos solares dentro de Meu Verbo, que ilumina- rão todos os recintos de Meu Âmago.

  1. Teu fraseado é apenas fumaça aromática para o próprio coração. Quando ele é de tal forma coberto de neblina, a quem cabe a culpa se os raios mais luminosos atingem o coração apenas fracamente? Fala com alguns presentes, e não acharás um que não tivesse entendido o sentido de Minhas Palavras. Podes até mesmo inquirir esta menina das planícies, e ela te demonstrará com poucas palavras não ter encontrado obscuridade nas Minhas.

  2. Quando te desfizeres de tua retórica, hás de constatar todos os que descobriram muita luz no âmago de Minhas Palavras. Se entendes- te que uma criação é condicionada por outra e que tudo se cria suces- sivamente, e que finalmente o homem é o final vivo de todas as coisas, basta acrescentares uma justa porção de amor que descobrirás facilmen- te o que se oculta no âmbito de Minhas Palavras. O amor é a chave com a qual todos podem abrir os recintos trancados de Minhas Palavras.”

135.FECUNDAÇÃOORDENADAEFECUNDAÇÃO DESORDENADA

  1. Ouvindo esta lição do Sublime Abedam, Mahalalel agradece e faz menção de se afastar de coração comovido. O Senhor, porém, o chama dizendo: “Deves ficar, pois teu coração ainda não está inteira- mente iluminado a respeito do assunto ventilado, e poderias cair em muitos enganos.

  2. Concordas com tudo que disse. Mas, dentro de ti mesmo não des- cobres o justo motivo pelo qual declarei a criação desordenada como pe- caminosa; portanto, ouve: Tudo que se chama alma e preenche em estado livre o Espaço infinito e no reino dos espíritos é uma base habitacional para todos os inúmeros exércitos de anjos e espíritos de toda espécie — são Meus Pensamentos livres e ainda não solidificados. Tais Pensamentos livres não somente preenchem o que acabo de dizer, mas também são re- ceptáculos vivos ou portadores da vida de todos os seres surgidos de Mim.

  3. Presta atenção: Se Eu quero captar um Pensamento Meu e fixá-

-Lo, Eu o faço com amor. Isto feito, ele não pode mais elevar-se como os outros, para os infinitos círculos de Meu Ser e Ação divinos, e per-

manece como forma constante e viva diante de Mim. Tão logo tal for- ma se deva tornar consciente diante de Mim, ela é não apenas envolta pelo amor, mas penetrada totalmente.

  1. Com isto ocorre uma vibração entre a forma e o amor, e a consequência natural é que a forma começa a fazer resistência por ser tão fortemente imprensada pelo amor. Como através de toda coação e pressão principalmente o ponto central é o mais atingido, em cada forma perfeita, ele opõe a maior resistência possível em toda ela. A ati- vidade é logicamente maior onde se estabelece a maior resistência.

  2. Pela própria experiência sabeis que por forte atrito se formam chamas, haja visto que pela fricção de duas pedras aparecem faíscas. Se um de vós é tocado pela obstinação de alguém, ou por um fator muito agradável ou chocante, certamente sentirá certa vibração no coração.

  3. Eis o ponto onde queria chegar. Tal vibração é sempre ligada a uma chama luminosa, ou seja, à Vida de Meu Amor eterno, de sorte que a forma presa pelo amor e pressionada por ele é logicamente ilu- minada e finalmente acompanha os movimentos da chama central em todas as suas partes, tornando-se viva e consciente em sua própria luz.

  4. Se neste momento Minha Vontade Se fixa na continuidade de tal Pensamento, ele se torna sólido e sempre existirá como se estivesse na Minha Presença. Não sendo esta Minha Vontade, retiro Meu Amor daquela forma que se liberta e sobe, naturalmente consciente apenas para Mim, como o teu pensamento o é para ti, para os infinitos Círcu- los de Minha Divindade.

  5. Eis a Ordem da qual surgiram todas as coisas. Se tu criares se- gundo esta Ordem, da qual tu mesmo foste criado por Mim, tua cria- ção é justa. Se criares sem consciência e noção, destruirás aquilo que Eu Mesmo criei, sendo contra Minha Vontade, que é exclusivamente a vida determinada de todo ser criado por Mim. Agir contra a Mesma é pecado ou a morte daquele ser.”

136.LÁGRIMASDEALEGRIASÃOMAISAGRADÁVEISAOSENHORDOQUEASDO REMORSO

  1. A esta elucidação, Mahalalel fica tão feliz que começa a dar sal- tos de alegria, levando alguns a se admirarem, fazendo comentários a respeito. Abedam faz com que o rosto de Mahalalel se ilumine todo, como acontece às nuvenzinhas matutinas. Diante disto, os críticos se assustam muito e caem em grande conflito, julgando terem pecado com suas observações.

  2. Abedam Se levanta e diz: “Filhos do Sul, por que tremeis diante de um homem feliz porque compreendeu e aceitou Minha Graça? Não teria vossa crítica trazido benefícios para vossa alma, porquanto ela tre- me como se estivesse enterrada na noite e no lodo de todos os pecados?

  3. Que é preferível: Sentir medo ou alegria diante de Mim? Quem ainda se posta à Minha frente com respeito temeroso, ainda não é puro. Um coração vacilante, impuro, portanto fraco, que ainda não se pren- deu à Minha Vontade, sente medo diante de Mim, Deus Onipotente.

  4. Mas, um coração que descobriu em Deus Poderoso e Eterno um Pai extremamente Amoroso e Sua grande Graça, perde todo o medo diante de Quem deve amar acima de tudo, e faz o que acaba de fazer Mahalalel.

  5. Digo mais: Muito embora as lágrimas do remorso sejam justas e do Meu Agrado, as da alegria em Meu Nome Paternal sobrepujam as primeiras e delas estão tão distantes quanto o Sol está da Terra.

  6. As lágrimas do remorso provam que a pessoa certificou-se da grande distância de Mim em seu amor e fidelidade, e de novo é estimu- lada pela saudade a retornar junto de Mim, o Pai.

  7. As lágrimas da alegria por certo testificam o completo reencontro, em que tanto o Pai quanto o filho se alegram. Por isto, abri também vosso coração e alegrai-vos que o Pai vos procurou, e no futuro não vos admireis caso encontrardes um filho feliz e alegre em Meu Nome. O alegre é mais agradável que o triste, conquanto este tenha bom motivo para tanto. Por isto, deveis consolar os tristes e ser alegres com os alegres.”

137.OAMOR,SALVADORDOJUGOCARNALEDA MORTE

  1. O grupo agradece com efusão e louva a grande Bondade e Graça do Pai. Abedam acrescenta: “Meu Amor sê convosco e em vós. Amai-

-vos neste amor, sede alegres e felizes, obsequiosos e prestativos, que provareis vossa filiação; pois o Pai Se alegra com tais filhos e o Dia da grande libertação está bem próximo.

  1. SeAdãovivessesetevezesotempoqueviveueaindavive-rá, haveria de assisti-lo pessoalmente. Por isto, agi segundo Minha Vontade a fim de que tal dia não vos encontre errados.

  2. Antes disto, virá a grande época de todas as épocas. Quem nela for aceito, participará do grande Dia de Salvação, a seu tempo. Quem não for aceito, para este o Dia de Salvação será dia do julgamento, efe- tuado com fogo e no fogo de Minha Ira.

  3. Isto será compreendido, na profundeza de sua vida, pelos que forem totalmente inclinados ao espírito de Meu Amor e de Sua Sabe- doria. Sede portanto alegres, sabendo que futuramente todos os laços duros serão soltos.

  4. Que não daria o homem para se tornar senhor de sua vida? Aca- bo de vos demonstrar como atingirdes este estado em sua medida total. Por isto, sede também alegres, pois Eu vos assinalei o Caminho do puro Amor que leva todos a esta glória da vida.

  5. Se porventura alguém perguntasse: Como posso ser senhor de minha vida, se devo viver sempre qual servo obediente? Respondo: En- quanto fores servos do mundo e da carne serás atrelado ao jugo da obediência servil. Mas, quando fores participante de Meu Amor, serás livre de qualquer jugo e, justamente por isto, senhor de tua vida, pois só o amor te poderá libertar totalmente.

  6. Qual seria o obstáculo para o amor, sendo ele um estímulo vivo e saboroso da própria vontade? Para que finalidade serviria um manda- mento exigindo obediência para quem possui o amor que contém todos os mandamentos e é mestre de todas as leis? Seria necessário forçar alguémparaumaaçãoqueelefazdetodocoração?Deste modo, é

  1. Sede alegres, pois Eu, vosso Santo Pai, acabo de vos dar o amor, Meu Próprio Amor e toda sua Glória da Vida. Não deveis estar presos ao mundo e à carne, querendo escolher tal meio servil e vassalo como finalidade egoística.

  2. Isto tudo não surgiu de Meu Amor, mas nasceu de Minha Sa- bedoria que existe nos infinitos círculos de luz de Minha Divindade e agora serve de base experimental de vosso amor para Comigo.

  3. Não deveis afirmar: Este terreno pertence a mim, aquela árvore é minha e posso agir com meu corpo segundo meu agrado!; pois tal mentalidade vos afastará cada vez mais de Meu Amor. Sereis servos do mundo e da morte e será difícil e moroso vos libertardes da matéria, e futuramente necessitareis de grande fogo para fazer derreter os laços da morte, duros como bronze.

  4. Que vossa alegria seja total por terdes reconhecido a Existência de Um Só Deus, Um Senhor, Um Proprietário de todas as coisas e Um Santo Pai de todos os Seus filhos, com direitos iguais para todos. Agora sabeis que não pertenceis ao mundo, mas a Mim, ao Pai, em toda ple- nitude de Meu Amor e Graça. Sede cheios de Amor para Comigo e ao próximo, que a Glória da Vida será vossa parte, com alegrias infindas. Agora chamai Jared, que tenho algo importante a tratar com ele.”

138.DISCORDÂNCIAENTREOINFINITODIVINOEAFORMAFINITADE ABEDAM

  1. Ao ouvir a chamada de Abedam, Jared se apresenta rápido, isto é, espiritualmente, porque fisicamente estava perto Dele. Com relaçãoao espírito, existe a possibilidade de uma crescente aproximaçãoparajuntodeMim,desortequeatémesmooespíritomaisperfeitose acha tão distante de Mim, que pode aproximar-se eternamentesemcontudo consegui-lo.

  2. Fisicamente falando, esta afirmação seria errada. Mas, quan- to ao espírito, pode suceder do mesmo modo que alguém pretenden-

doaproximar-sedoInfinitodemodonatural.Aindaqueofizessecom a velocidade do pensamento, o quanto se teria aproximado doEspaço sem fim? Muito embora todo espírito possa se aperfeiçoarconstantemente,semalcançarMinhaPerfeição,quempoderáapro-ximar-se Dela na verdade e realidade?Eu posso aproximar-Me de todos de tal modo que de fato se encontrem perto de Mim. Eis a razão por que Jared se aproxima rápido quando ouve Minha Chamada. Dou-

-vos esta explicação para começardes a penetrar na realidade das coisas.

  1. Por que foi Jared chamado e em que consiste a importância de sua chamada? Quando Jared Se encontra junto de Abedam, Este lhe diz: “Meu amigo Jared, sei que ensinaste todos os teus filhos segundo Minha Vontade. Mas, quando afirmaste que Deus é Infinito em Sua Natureza, em Seu Amor, Santidade, Graça, Misericórdia, Poder, Força, Bondade, Justiça e Sabedoria, desejava saber de que forma pretendes conciliar Minha atual Presença visível com teu conceito de Minha Na- tureza infinita.

  2. Sou da seguinte opinião: Assim como o finito e limitado jamais poderá preencher o Espaço infinito, ainda que se estenda eternamente por todos os lados, o mesmo se dá no caso contrário. Onde e como o Espaço infinito se poderia concentrar para um ser finito? Onde devia começar, se não tem limites?

  3. Se tu, no entanto, assim pensas, dize-Me como foi possível Eu, Deus infinito, tornar-Me visível e físico? Segundo teu conceito, isto não Me é possível. Mas, dentro de teu amor e tua fé, Eu o sou. Procura esclarecer este ponto de máxima importância, porquanto uma Entidade Divina infinita é fora de qualquer imaginação para todos os seres fini- tos; por isto, é tanto quanto nenhum Deus. Um Deus finito já exclui pelo conceito ‘finito’ toda e qualquer Divindade. Esclarece este contras- senso, como também se sou Deus ou não.”

  4. A estas Palavras, todos começam a sentir dúvidas em seu coração e Jared responde, após alguma reflexão: “Senhor e Pai, em todo Teu Amor e Santidade! Nem o querubim mais sábio poderá responder, e se não fosses Deus, o Verdadeiro, jamais poderias formular tal pergunta, porquanto é infinita em todos os pontos quanto em sua totalidade.

  1. Minha medida de aceitação de Tua Divindade é meu próprio coração, assim como o de todos os demais, razão por que não consegui- mos amar alguém tanto quanto Te amamos. Todo o resto é para mim sem importância. Nem eu, nem todos os Céus, sóis, mundos e criatu- ras compreendemos como Tu, Deus Infinito, podes apresentar-Te na figura humana a nós, vermes no pó. Declaro abertamente que somente nesta figura sou capaz de amar-Te realmente. Onde um coração finito buscaria o amor para amar Deus sem limites? Se temo e amo a Deus, o faço somente sob esta Tua Forma, pois para um Deus infinito eu nem existo, e Ele não pode ser Deus para o inexistente. Eis tudo que posso dizer. Que seja de Teu Agrado.”

  2. Abraçando Jared, Abedam diz: “Deste uma resposta perfeita, pois é como falaste. Só o Amor é a medida para Minha Divindade, e só por ele Eu posso ser concebido, pois sou um Deus Infinito. Quanto à Minha infinidade no espaço, é ela apenas uma aparência condicionada ao tempo — mas em espírito é a Onipotência de Minha Vontade, Meu Amor e Sabedoria. A Entidade formal é Uma Só, segundo a qual todos vós fostes criados segundo Minha Semelhança. Continua como és, Ja- red, e acredita que jamais alguém Me verá em outra forma senão Nesta, em que Me vedes em espírito.”

139.ABEDAMESCLARECEDÚVIDASSOBRE A

INDIVIDUALIDADEINFINITAEFINITADE DEUS

  1. Muitos se alegram com esta explicação, enquanto outros não conseguem assimilar as duas Individualidades de Deus, isto é, a Infinita e a física diante deles. Um do grupo chega a confabular: “Neste caso devemos aceitar dois deuses, um Infinito e outro corpóreo. Sendo obri- gados a imaginar Deus infinitamente Perfeito, é Ele ipso facto Infinito, pois uma entidade limitada forçosamente atrai outras limitações. Mas, como se pode conciliar a limitação com a perfeição ilimitada?”

  2. Um outro opina: “Posso analisar meus pensamentos quando quiser, mas não consigo deixar de pensar no Espaço Infinito e Eterno. Mesmo que estabeleça um limite no Espaço, numa distância imensu-

rável, através de uma parede circular, meu espírito transpõe a mesma e nada mais vê que a continuação do Espaço, em profundezas infinitas. Nesta observação surge a pergunta: É este Espaço Infinito e Eterno a Entidade de Deus, ou é ele preenchido por Deus? Se esteé o caso, con- vém perguntarmos o que é Ele em Sua Forma visível.

  1. Entre o finito e o Infinito jamais pode haver outra relação senão a do perecimento total do finito no Infinito. Neste caso, não temos Deus, pois nada somos perante Ele. Se Deus é corpóreo como nós, todavia de duração eterna, e age no Espaço Infinito através de Sua Oni- potência, pode surgir a seguinte indagação: Teria Ele através de Sua Vontade preenchido o Infinito total do Espaço Eterno, ainda que pro- jetada desde eternidades?

  2. Não consigo imaginá-lo, porque o Infinito jamais poderá ser preenchido. Se, contudo, Deus é dotado de físico, pode-se levantar a seguinte questão: Não será possível que em qualquer profundeza do Espaço Infinito não exista uma segunda Divindade, com os mesmos atributos formais, ou uma terceira etc., até o infinito, Divindades estas que não nos dizem respeito?”

  3. Nesta altura, muitos exclamam desesperados: “Tribial, que aca- bas de dizer? Se assim é, que luta terrível aguarda tais divindades quan- do se enfrentarem com suas potências enormes, se bem que nas profun- dezas infinitas do Espaço sem fim?”

  4. Eis que Abedam Se levanta e diz: “Como sois tolos! Que absurdo conseguistes projetar! Não quero nem ouvi-los, nem repeti-los. A fim de que possais sair de vossos sonhos tolos, dar-vos-ei uma orientação certa para vosso coração em trevas. Ouvi: O que classificais de Infinito do Espaço é o Espírito de Minha Vontade projetado desde eternidades e o preencheu de toda sorte de seres. Este Espírito tem um ponto cen- tral, ou seja, uma forma individual, no qual todo Poder deste Espírito Infinito é condensado para uma só Projeção. Tal Centro potencial da Natureza Infinita do Espírito Divino é o Amor como Vidadeste Es- pírito. E este Amorsou Eu desde Eternidades.

  5. Muito embora o Espírito de Deus Se possa projetar em toda parte, Ele não Se pode manifestar individualmente semoAmor. Mas

quando Deus então Se externa formalmente, Ele o faz possivelmen- te para seres finitos como vós, através de Seu Amor que é a Natureza básica de Deus e o ponto central de todo Poder, Força e Santidade de Deus Infinito. Eis a Natureza de Deus em toda Verdade e só pode ser assimilada com o coração — jamais pela mente.”

140.PROVADEAMORDE PURA

  1. Só agora todos começam a compreender que Deus é Infinito e ao mesmo tempo Visível, como Pai. Jared faz menção de se atirar aos Pés de Abedam, para adorá-Lo segundo a força de seu espírito. Abedam intervém dizendo: “Aquilo que pretendes pôr em prática, é dispensável entre nós. Sabes que para Mim a prece oral e com gestos teatrais de nada vale, mas exclusivamente a do amor no coração.

  2. Quem Me ama no coração acima de tudo, e a seu irmão mais do que a si mesmo, como prova deste amor, já Me ama constantemente em espírito e verdade. Isto de dá contigo desde muito tempo; portanto, é dispensável fazê-lo verbalmente.

  3. Seria o mesmo que tu desses mil cestos de frutos selecionados a alguém e, a fim de completar teu presente — segundo tua opinião

  1. Agora trata-se de outro assunto. Esta menina é órfã, e não possui parentes mais próximos, além de Mim. Por isto a adotei como filha e quero acolhê-la em Minha Casa. Acontece que tua casa é igualmente Minha, onde ela será recebida. Seu coração deve ser enfeitado de tal maneira que venha a corresponder à cópia perfeita do mais puro e ele- vado Céu, onde Eu costumo habitar com Meus anjos mais perfeitos e puros. Com isto a entrego a ti. Deves aceitá-la como filha do coração e de Minha parte cumprirei Minha Promessa de habitar em teu lar.”

  2. Tomando a mão de Pura, Abedam prossegue: “Minha filhinha, este homem é perfeito conforme pede Meu Coração, pois toda sua na- tureza corresponde ao Meu Amor. Será ele na Terra teu pai verdadeiro,

assim como Eu sou teu Pai querido e justo. Segue-o, que cuidará de toda a tua vida terrena, e Eu de tua eterna.” Com isto, Abedam abençoa a menina e a entrega a Jared que chora de alegria.

  1. Virando-se para ela, Jared diz: “Vem, filha pura do Santo e Amo- roso Pai. Hás de encontrar comigo tudo aquilo que perdeste na Terra. Acabas de ouvir que Ele Se encontra sempre em Seu Lar com tudo que criou tão maravilhosamente. Sê alegre e grata, pois não haverá criatura que fosse suprida de tudo como tu.”

  2. A estas palavras, Pura se volta rápido para Abedam dizendo: “Meu Pai, teria eu cometido pecado porque pretendes afastar-me de Ti? Jared bem pode ser um homem segundo Teu Coração, mas nunca será ele Tua Pessoa. Por isto, não me afastarei de Ti, pois meu coração me diz seres Tu o Único e Verdadeiro Pai.” — Diante disto, Jared queda totalmente embaraçado e Abedam lhe diz: “Meu Jared, assim deve ser o justo amor. Só agora deve esta Minha verdadeira filha ficar entre nós, e amanhã passará a morar em nossa casa. Isto ocorreu como prova para todos e a palavra de Pura sobre o justo Pai sirva de boa lição para que a criatura venha a saber Quem realmente merece este Nome.”

141.SUBMISSÃOEHUMILDADEDE PURA

  1. Em seguida, Abedam Se vira para Pura e diz: “Filhinha queri- da, estás satisfeita?” Sumamente feliz, ela responde: “Como não devia estar, pois posso continuar ao lado do mais amoroso e melhor Pai do mundo. Ó Jared, quão feliz não deves ser por ter ouvido do Pai, Deus Onipotente, seres tu um homem segundo Seu Coração. Amo-te muito, porque o Santo Pai te quer bem; senta ao meu lado e alegra-te comigo. Certamente não houve criaturas humanas mais felizes que nós, que te- mos nosso Pai junto de nós, podendo amá-Lo à vontade.”

  2. Diante da efusão de Pura, Jared não consegue nem se mover; por isto ela se volta para Abedam e diz: “O bom Jared não quer aceitar meu convite. Teria ele às vezes um coração duro?”

  3. Responde Abedam: “Não, querida, ele está por demais comovido e não pode nem se mover. Vai junto dele e traze-o para onde quiseres.”

Algo perplexa, ela responde: “Santo Pai, de novo Te agrada expor-me a uma pequena prova, pois sei que não ficaria bem uma menina fraca pretendesse guiar um Jared. Deve a mulher reconhecer sempre aquele como senhor, do fundo de seu coração, a quem Tu destinaste como tal. Ele pode conduzir-me, mas não eu a ele. Se quisesses dar um pequeno aceno, ele certamente viria até aqui.”

  1. Retruca Abedam: “Agora és uma menina perfeita, porque uniste ao teu grande amor a verdadeira submissão e humildade. Repete mais uma vez tua chamada, que Jared te atenderá.” E assim foi. Jared obe- dece feliz e senta-se ao lado de Pura, enquanto Abedam diz para todos: “Ficastes cansados e convém repousar, também tu, Minha filha, porém de alma desperta. Amanhã cedo vos chamarei.”

142.VÁRIASDIRETRIZESDEABEDAMESUA DESPEDIDA

  1. Após o desjejum, Abedam chama os doze mensageiros e ensina-

-lhes a gravar palavras através de símbolos, com lápis de metal em pe- dras apropriadas. Tinham que ser lidas imediatamente e passar o ensino para outros, isto é, a leitura. Além disto, deviam anotar tudo que Ele lhes havia transmitido pela intuição, bem como aquilo que eles haviam falado na Presença de Abedam, pois devia ser guardado para os povos principais. Esta compilação devia chamar-se o “O Santo Livro ou as Guerras de Jehovah”.

  1. Depois disto, Abedam chama Jared, Pura e os demais patriarcas para acompanhá-Lo à casa do primeiro, onde Ele diz: “Minha filhinha, eis Minha Casa, por ser um Lar do Amor mais puro, que habita em Jared, Henoch, Matusalém e Lamech. Este recebeu uma companheira de Minha Mão, como também os irmãos dele são casados com criatu- ras castas. Ficarás aqui até o completo amadurecimento de tua alma , ocasião em que te chamarei para ingressares no Reino da Vida verda- deiraeeterna.”

  2. Virando-Se para Jared, Ele prossegue: “Sê um genitor sábio para com esta menina, como o és para Henoch, Matusalém e Lamech. O

que fizeres em Meu Nome será sempre perfeito. Todavia, não deve ela pertencer a um homem antes de Eu te avisar.”

  1. Em seguida, chama os irmãos de Lamech e os conduz às oficinas milagrosamente criadas por Ele e lhes demonstra o verdadeiro metal das montanhas, como limpá-lo no fogo de carvão e prepará-lo para vários utensílios. Finalmente abençoa as montanhas e a obra de suas mãos.

  2. Ao voltar à casa de Jared, Abedam recebe Sethlahem e Kisehel que haviam acompanhado Horadal e seu povo ao país de seu desti- no; chamou também seus irmãos, conferiu-lhes Seu Poder de Amor e enviou-os diretamente para a cidade de Hanoch. Em seguida, con- vocou os chefes dos patriarcas das quatro regiões e recomendou-lhes encarecidamente de conservarem fielmente os ensinamentos e passá-

-los ativamente aos filhos. Henoch foi nomeado para sumo sacerdote de Seu Amor, Graça e Misericórdia, e também orientou os irmãos a pedir-lhe conselho, caso não se achassem amparados suficientemente pelo espírito. Advertiu todos contra novas ligações com filhas das planí- cies, não instituindo propriamente um mandamento, respeitando seu livre arbítrio.

  1. À noitinha, Ele conduziu todos ao cume, recomendou-lhes de novo a lei do Amor, abençoou-os e no fim despediu todo o povo, in- clusive lembrou Purista da fidelidade em seu serviço. Virando-Se para o outro Abedam, disse: “Volta Comigo ao local onde te encontrei no antessábado. Vós outros voltai para os lares.” Todos começam a chorar, mas Abedam desaparece também para o outro Abedam no lugar mar- cado anteriormente. Relatando o fato aos patriarcas, Adão o convidou para ficar em sua morada e posteriormente ele seguiu para sua pátria muito pensativo.

143.TERÇA-FEIRA,DIADE CONTENDA

  1. Já de manhã cedo, todos, inclusive Adão e Eva, também o co- nhecido Abedam, se encontram no cume. Feita a prece matutina, Adão diz para os filhos: “Hoje é dia de contenda e presumo não haver quem

se apresente para arengas. O que seria verdadeiro milagre como prova da Presença Visível de Jehovah.”

  1. Retruca o antigo Abedam: “Não te regozijes cedo demais, pois o dia mal começou. Nossos pensamentos e ações não passam desaper- cebidos e o grande Abedam pode estar invisivelmente entre nós para desfazer nossa alegria mundana. Opino que não devemos nos entregar ao regozijo, pois facilmente Ele nos pode mandar alguns arengueiros que nada compreendem e exigem seus direitos de discussão.

  2. Além disto, advirto-vos do seguinte: Que ninguém se regozije de seu ofício, porque o Senhor o fez doutrinador e profeta. Estes jamais são amados, porém temidos e respeitados. De minha parte, agradeço por tal deferência quando sou obrigado a desistir do amor. Ainda que eu soubesse pela intuição que o Senhor pretende repetir o que fez à mon- tanha, havia de implorá-Lo de me destituir da tarefa de transmitir tal fenômeno aos homens, pois havia de despertar o medo e jamais o amor.

  3. Tu, Henoch, recebeste a incumbência mais pesada, e se eu fosse tu, a teria depositado aos Pés de Abedam, por sete vezes, antes de aceitá-la. Tua natureza é amor e hás de pregá-lo sempre; no entanto, hás de colher uma partícula mínima em tua vida. Não existe diferença entre o ensino da sabe- doria e do amor, porque no amor reside a máxima sabedoria. Usufruirás o maior respeito, no entanto serão poucos a te amar. De minha parte, prefiro o abraço de um irmão ao máximo respeito de todo mundo.”

  4. Todos se admiram da sabedoria de Abedam, e Henoch lhe agra- dece dizendo: “Sinto realmente tudo aquilo que disseste. Mas, como devo agir para corrigi-lo?” Diz Abedam: “Esteja certo que o Senhor está entre nós e facilmente tudo pode ser equilibrado. Devemos abrir-Lhe nosso coração e Ele há de suavizar nossas atribulações.”

144.HENOCHJUSTIFICAO OFÍCIODE PROFETA

  1. Refletindo um pouco, Henoch diz: “Creio que neste mundo não vale tanto nosso bem-estar produzido com uma tarefa, mas exclusiva- mente a Vontade do Senhor e a verdadeira humildade de nosso coração. Se bem que um doutrinador e profeta é mais respeitado que amado,

não deixa de ser verdade que justamente por isto é mantido nos limites da humildade. Uma coisa é certa: no fundo, é o amor o máximo grau de respeito àquele a quem se ama, enquanto o respeito ao ofício é apenas uma fagulha do amor. Por aquilo que se ama enfrenta-se até o fogo; enquanto o respeito do ofício é um escudo diante de qualquer perigo.

  1. Se nosso Pai pretendesse nos colocar no bem-estar, bastaria que nos tivesse transformado em animais, atingindo de um golpe tal in- tenção. O Plano Dele para conosco é bem mais elevado. Por isto, nos transmitiu Sua Vontade, passando para todos o ofício do amor, acres- centando para os mais simples a tarefa da sabedoria.

  2. Se em virtude disto não devemos aguardar tanto amor dos irmãos, isto não representa nenhuma desgraça, pois temos a melhor oportunida- de de amá-los e respeitá-los mais que eles a nós. O que é melhor: fazer alguém feliz, ou receber felicidade por parte de alguém? Dar ou receber?

  3. Tudo depende de nossa aceitação, seja por verdadeiro amor ao próximo perante Deus, ou por uma coação do ofício, e podemos estar certos que o Pai não nos sobrecarregou com um peso desmedido. Con- tinuemos, portanto, de coração grato e humilde, no posto que Ele nos deu. Ele, o mais puro Amor e a máxima Sabedoria não o fez para nosso prejuízo, mas em benefício de todos. Hoje sendo dia de contenda e não se apresentando nenhum arengueiro, podes discutir comigo. Não tenho a pretensão de ser sumo sacerdote infalível e quero considerar o pronunciamento de um irmão, a não ser que o Espírito de Deus venha Se manifestar por mim. Neste caso, nossa discussão seria apenas tolice.”

  4. Totalmente perplexo, o outro Abedam diz: “Somente tu tens razão em tudo, pois o Senhor é contigo, ao passo que sou tolo. Será que nunca se fará luz em meu coração? É incrível a calma com que expus minha tolice. Imagina, eu, querendo passar um ensinamento para He- noch. Perdoa-me.”

  5. Responde Henoch: “Tuas palavras também tiveram boa base, dando oportunidade de eu me externar. Por isto, também subsistirá tanto quanto a minha, até o Fim dos Tempos. Sê calmo, pois também doutrinadores e profetas são amados quando agem segundo a Vontade de Deus, o Pai.”

145.CHEGADADEDOIS MENSAGEIROS

  1. Responde o outro Abedam: “Quanto ao efeito de minhas pala- vras anteriores até o Fim dos Tempos, aceito tua ideia no sentido de que em Deus todos os nossos pensamentos são guardados. Mas, gravar tudo o que disse — seria exigir demais. Não o compreendo bem, e podes elucidar-me.”

  2. Diz Henoch: “Em Nome do Senhor, digo: Não somente teu discurso anterior, mas cada palavra que acabas de proferir será gravada em pedras. Compreendes?” Responde Abedam: “Sim. Mas procurarei ficar calado, pois vejo dois homens se aproximando a passos rápidos, dando um descanso à minha língua. De qualquer maneira, sou feliz com minha observação de que não se deve elogiar a manhã pelo não aparecimento de contendores.”

  3. Neste instante, Adão se adianta e diz como de hábito para os forasteiros: “Qual foi a querela que vos trouxe aqui?” Um deles diz: “Pai Adão, desta vez receberás dificilmente uma resposta, pois não viemos aqui em virtude de uma contenda.”

  4. Como Adão não está preparado para tal desfecho, ele se vira para Henoch e pergunta o que fazer. Diz este: “Nada, senão esperar. Cedo ou tarde hão de nos revelar o motivo de sua chegada, e caso vieram apenas para nos ver, hão de voltar quando se tiverem cansado com isto. Nunca devemos nos preocupar com isto ou aquilo, e nossa preocupação se deve prender Àquele Que ainda ontem caminhava entre nós. Deixa as antigas normas de ofício, pois o Pai nos deu a mais bela norma de convívio, o amor.”

146.FINALIDADEELEVADADO FORASTEIRO

  1. As palavras de Henoch acalmam Adão. Entrementes, o primeiro orador forasteiro se dirige para Henoch, dizendo: “És um verdadeiro professor e profeta pregando o amor. O amor é também o motivo que trouxe a mim e este irmão até aqui. Não pretendemos discutir convosco que fostes dotados do espírito do amor, mas queremos, através dele,

examinar-vos. Feito o exame, não vos tiraremos o espírito do amor, mas o deixaremos totalmente.

  1. O Sol também nasce e desaparece produzindo noite e dia na Terra. Mas, no próprio Sol, que é um mundo muito maior que a Terra, não existe noite por ser ele todo luz.

  2. O mesmo acontece com o homem quando não é totalmente examinado em seu amor; semelha-se a um planeta no qual ora é dia, ora é noite. Tão logo for examinado em seu coração, este se transforma em Sol, não mais havendo noite em sua alma.

  3. O noivo também analisa a noiva, e vice-versa. Com isto, o amor de ambos se torna mais luminoso, eles se conhecem sempre melhor e seu sentimento cresce mais intensamente. Uma vez o amor se tendo incendiado, dá-se a posse eternamente iluminada, pois nesta descoberta sentem agrado recíproco total.”

  4. Nesta altura, o outro Abedam se vira para Henoch, dizendo: “Qual será meu papel de professor em minha pátria, se lá existem ho- mens tão sábios? Não compreendo de onde conseguiram tamanha sa- bedoria.” Retruca Henoch: “Sê calmo, pois surgirá coisa ainda mais incompreensível. Estes homens me agradam muito.”

147.NATUREZADOHOMEMEMJULGAMENTOEDOHOMEM LIVRE

  1. Quando Henoch termina de falar, o orador lhe diz: “Como foste nomeado para sumo sacerdote do Senhor, desejava algum conhecimen- to em determinado assunto. Eis o que separa nossas ideias: Sei dentro de mim que o homem em julgamento também vive, mas é uma vida forçada, enquanto o homem livre passa uma existência absoluta e sem coação. Deste modo, é uma vida em julgamento uma vida de pecado, enquanto que a existência livre é a do amor, não havendo morte, mas apenas uma diferença de vida.

  2. Eis minha opinião, mas meu irmão afirma: Uma vida em jul- gamento não é vida nenhuma, mas a morte total. Uma vida em julga- mento semelha-se a uma pedra atirada ao ar que voa enquanto perdura

o impulso. Este terminado, a pedra cai por terra. Suponhamos que ela fora atirada com tamanha força a se movimentar eternamente pelo Es- paço; resta saber se a pedra é viva em virtude do voo contínuo. Este é nosso ponto de discórdia e pedimos que nos dê bom esclarecimento.”

  1. Henoch consulta seu coração, sem encontrar resposta, e mesmo depois de se dirigir intimamente a Jehovah percebe que tanto uma as- sertiva quanto a outra estão certas. Seu embaraço é grande, enquanto o forasteiro aguarda com paciência a resposta. Abedam, o outro, vira-se em surdina para Henoch, dizendo: “Suponhamos que esses irmãos esti- vessem se dirigido a mim; não sei o que seria de meu futuro como pro- fessor. O grande Abedam sempre nos disse: Tudo depende do amor, do qual podemos colher tudo. Sempre amei a Deus com todas as minhas forças, no entanto sou tão tolo como qualquer um. Tenho a impressão que Jehovah nos deu em Abedam um novo meio para testificar nossa evolução. Que me dizes a respeito?”

  2. Ainda mais confuso, Henoch só consegue dizer: “Tu és mais feliz em tua tolice que eu em minha suposta sabedoria. Por isto, divul- garei apenas o amor e deixarei de lado os problemas intelectuais. Nestas duas frases cada qual tem razão; no entanto, existe entre elas uma enor- me diferença. Que vem a ser uma vida coagida, e que seria a morte? Deixemos a solução para época melhor, pois não posso falar daquilo que não entendo.”

148.PROSSEGUIMENTODA DISCUSSÃO

  1. Como o forasteiro já tivesse esperado bastante tempo, sem obter resposta, ele se vira para Henoch e diz: “Porventura me consideras des- merecedor de uma resposta, ou talvez não tenhas encontrado solução para o problema? Peço me responderes ou me indicares outra pessoa, pois insisto que entre nós haja clareza total.”

  2. Eis que Henoch deixa de refletir e diz: “Meu caro irmão, o pe- dido de ambos é tão estranho que nada se pode afirmar. Tanto tua afir- mativa quanto a dele são certas e dizem a mesma coisa. Descobres uma diferença importante; eu, de minha parte, não penso assim. Uma força

coagida é apenas aparente, e esta, nada mais é que uma movimentação aparente. Se insistes em querer uma explicação mais concisa, deves te dirigir para outra pessoa ou aguardar uma ocasião melhor.

  1. Além do mais, vejo-me obrigado a dizer que é muito melhor se amar a Deus acima de tudo, a entregar-se a tais sofismas. Agi deste modo, que a diferença entre uma vida coagida ou a morte pouco vos pre- ocupará. Quem possui a vida é tolo quando se preocupa com a morte.”

  2. Retruca o forasteiro: “Não estás de todo errado. Mas, afirmando que o vivo não se deve preocupar com a morte, desejava saber qual o sentido. Deus é por certo totalmente Vivo, mas as criaturas em con- fronto com Ele são mortas. Se Ele não Se preocupasse com as criaturas, em si mortas, qual seria o aspecto da ressurreição das mesmas?

  3. Se somos criados à Semelhança de Deus, não percebo a maneira pela qual eu me devo considerar como tal Semelhança. A vida não ne- cessita de Salvador, e sim, a morte. Eis o ponto a esclarecer. Dá-me esta prova e eu me darei por satisfeito.”

  4. Bastante perplexo, Henoch nada diz, enquanto Abedam obser- va: “De novo fracassamos, pois a tal objeção até mesmo um arcanjo ficaria inseguro. É melhor renunciarmos ao nosso ofício, pois objeções semelhantes nos custarão a vida.”

149.OOFÍCIOCOMOHUMILHAÇÃOPERANTEDEUSEO MUNDO

  1. Diz Henoch: “Isto não é tão fácil como pensas, pois se tivéssemos sido convocados pelos patriarcas, podíamos renunciar sem problemas. Enquanto formos obrigados a reconhecer que o Próprio Abedam nos convocou, seremos forçados a carregar o cargo com paciência. Ele assim fez, não para nos proporcionar glórias terrenas, mas para a humilhação diante Dele e do mundo. Se pudermos provar que o Sublime Abedam não foi Aquele de Quem testificou, serei o primeiro a seguir teu conselho. Uma coisa é certa: Ele não nos conferiu um ofício para nossa perdição.”

  2. Responde Abedam: “Confesso estares certo e de minha parte estou convicto que Ele não negará a inteligência para quem exerce um

cargo. Os forasteiros ainda esperam uma resposta de ti. Fala o que vem à mente e, uma vez satisfeitos, que nos deixem em paz.”

  1. Henoch então se vira para os outros, dizendo: “De fato, nada posso contrapor à tua afirmação que existe grande diferença entre a Vida de Deus e a da criatura. No estado mais perfeito nossa vida será sempre condicionada, enquanto a de Deus é a mais livre e independen- te. Para Deus não existe morte, pois tudo é condicionado à Sua Vonta- de: vida, julgamento ou morte.

  2. Diante de Deus tudo é vivo e não pode subsistir julgamento, e sim, Sua Ordem eterna, ou seja, Ele Mesmo. Todas as criaturas existem em virtude de Sua Ordem livre e suas condições. Assim sendo, nós, Suas criaturas, não podemos transferir para Ele nossas condições relati- vas e assim nos colocar na mesma situação de igualdade.

  3. O Criador pode Se preocupar das situações de Suas criaturas. De nossa parte, fazemos o bastante quando cumprimos Sua Vontade. Peço aceitardes minha opinião e não levantardes outras conjecturas.”

  4. O forasteiro responde: “Aceito tua afirmação; apenas quero co- nhecer a diferença entre criaturas e filhos de Deus. Se esta não existe, estás totalmente certo. Havendo diferença, serás obrigado a retirar tuas pala- vras ou entrar num acordo. Fala, do contrário não te deixarei em paz.”

  5. Ainda mais perplexo, Henoch se vira para Abedam, que diz: “Ó santa paciência, não me abandones. Se ele apresentar outra objeção, será enfrentado por mim. Convém te preparares, mas depois deixa o caso comigo.”

150.HUMILHAÇÃOPORPARTEDO FORASTEIRO

  1. Nesta altura, o forasteiro Se dirige para Abedam e diz: “Se Mi- nhas objeções importantes tanto te confundiram a ponto de quereres terminar com as mesmas de modo total, impediste todas as futuras ob- jeções da Vida e do Amor, para ti e Henoch. Presumo que, se a Vida não é uma brincadeira, e sim algo sério, tais objeções devem ser mais importantes que agradáveis. Além disto, ainda não te importunei com qualquer pergunta. Por que então desejas soprar onde nada te queima?

  1. Se no entanto tens vontade de Me combater com sofismas, po- des começar e veremos quem dominará a arena como vencedor. De Minha parte, sei positivamente que levarias a pior.

  2. Minha Sabedoria te confunde porque ultrapassa a tua, mormen- te agora porque presumes ter, na Presença de Jehovah, tomado a sabe- doria às colheradas, e que todos os teus irmãos são menos aquinhoados. Ignoras que somente o Amor, a Paciência, a Humildade e a Meiguice são os alicerces de toda Sabedoria? Porventura podes afirmar serem pos- se tua, se te aborreces Comigo porque Me julgas mais sábio e profundo?

  3. Abedam, em que situação se encontra teu coração que hoje nega Aquele de Quem ontem recebeu os maiores benefícios? Quando teria Ele recomendado a inveja da sabedoria? Como pretendes fazer jus à verdadeira sabedoria se teu coração está cheio de aborrecimentos? Puri- fica-o primeiro e então veremos o quanto possui de sabedoria. Enten- de-o bem ou discute Comigo, pois estou em condições de enfrentar tua força. Conheço-te e Abedam, o Sublime, melhor que tu.”

  4. Essas palavras tocam o coração de Abedam, que começa a cho- rar de remorso e finalmente pede perdão, dizendo: “Irmão, que me ultrapassaste em toda Sabedoria e também te originas do Norte, sê meu salvador e substituto, pois, que farei de minha grande tolice? O grande Abedam me conferiu tal ofício para prova de humildade, o que percebo claramente. Por isto, acho justo que sejas meu substituto.”

  5. Retruca o forasteiro: “Julgas que o grande Abedam pretendia fazer uma brincadeira contigo? Compreendeste-O muito mal, pois sabe perfeitamente porque dirige a chamada a alguém. Com isto, Ele não atira a sabedoria nos ombros de um chamado, pois esta deve ser conquistada nos caminhos que Ele demonstrou através de milhares de palavras. Continua na tarefa para a qual foste designado e cami- nha pelas trilhas demonstradas, que hás de te apoderar totalmente de teu ofício.”

  6. Este ensinamento tem o efeito de um trovão na alma de Abe- dam, e Adão diz: “De fato, confesso ser imensa a sabedoria deste fo- rasteiro. Se tivesse vindo do Sul, diria que fora tocado pela chama de Purista. Mas, do Norte não se pode aguardar tal fato.”

  1. Interrompe o forasteiro: “Que é isto? Porventura o próprio As- mael não veio para vosso meio da planície, num antessábado? Por que então não haveria de existir um sábio irmão no Norte? Esta é tuaopi- nião.” Em seguida, Ele Se vira para Henoch pedindo solução do pro- blema. Henoch então pede que o forasteiro dê primeiro sua opinião.

151.CEGAEAUTORITÁRIAUM JULGAMENTO

  1. A este desejo de Henoch, o forasteiro Se admira, dizendo: “És bastante inteligente, pois uma vez de posse de Minha opinião, facil- mente concluirá a tua, especialmente se no final se trata apenas de um sim ou um não. Resta saber se alguém terá benefício com isto. Em assunto algum pode a criatura ser mais facilmente convencida do que naquilo que não entende.

  2. Em tal caso aceita a opinião por falta de conhecimento ou acre- dita na autoridade do oponente firmando-se nele e jamais chegará a uma opinião própria. Isto nada mais é que a obstrução da emancipação do próprio espírito, tornando-se uma máquina intelectual de um outro ou trocando sua vida por outra.

  3. De Própria Experiência afirmo-te que deves aceitar apenas aqui- lo que te parece convincente, e jamais aceites uma sílaba que serias obrigado a acreditar sem tê-la aceito primeiro em espírito.

  4. Não existe situação pior que a da fé cega que provoca a morte do espírito. Quem for crente cego de um irmão ambicioso de honras será igualmente um espírito em julgamento. Se um julgamento de Deus Vivo já é mortal, quanto mais não o será o de um homem ignorante que possui apenas vida aparente.

  5. Por este motivo é a própria opinião muito melhor — ainda que falha — do que uma opinião aceita pela fé cega, para cuja autenticidade o espírito não possui outra autoridade que a do pregador e a satisfação de sua própria tolice.

  6. Tudo isto é um horror diante de Deus Que criou o homem para uma vida livre e não para cego aceitador de qualquer pregador ambicio- so e, com isto, um juiz egoísta de corações livres.

  1. Se Eu satisfaço teu pedido porque quero prestar-te um favor, aceita apenas aquilo que, após profundo exame, tiveres descoberto como sendo tua própria opinião.

  2. Se alguém te disser: Faze isto! — e tu obedeceres sem te preocu- pares para que finalidade, já te tornaste máquina da vontade alheia, dei- xando-te levar ao julgamento. Mas, se antes de agir examinas o pedido de teu irmão e tiveres encontrado dentro de ti ser ele justo por ter como base o amor, terás agido como homem livre e verdadeiro filho de Deus.

  3. Segundo Minha Opinião, é esta a grande diferença entre os ver- dadeiros filhos de Deus e as criaturas em si, pois os filhos devem ser de ação tão livre como Deus, seu Pai, atingindo a perfeição, razão por que são criados à Sua Semelhança.

  4. Os animais têm que se submeter sempre à Vontade do Criador, pois a natureza deles já é portadora da Vontade de Deus. Isto não su- cede com os homens, destinados a serem verdadeiros filhos de Deus. A Vontade Divina lhes é revelada a fim de que possam ajuizar e aceitar de espírito livre, e só então agir pela própria determinação.

  5. Quem aceita a revelação e age segundo manda, achando que seja obrigadoa tanto, já está sob julgamento. Não age em concordân- cia com a Vontade Divina, e sim qual máquina; portanto, continua sem vida independente. Não se preocupa com o conhecimento total da Vontade e da Ordem de Deus, pois o faz apenas sem ajuizar a finalida- de de sua ação. Isto é em si uma verdadeira idolatria, pois a criatura se condena, ou se deixa condenar, portanto matar.

  6. Eis a diferença entre uma existência livre e uma coagida. Esta ainda não é a morte do pecado, pois pecar é reconhecer a Ordem Divi- na e, não obstante o bom conceito, agir contrariamente. Esta é a morte verdadeira, pois o pecado é a completa alteração da Ordem Divina, onde não perturba qualquer julgamento, e sim existe impedimento da liberdade do espírito. Eis Minha Opinião. Agora externa a tua, Heno- ch, para podermos chegar a um conceito comum pelo qual seremos vivificados para uma ação justa.”

152.PARÁBOLADOSSACIADOSEDOS FAMINTOS

  1. Diz Henoch: “Tua Sabedoria faz emudecer o meu espírito. Como posso fazer objeções para chegarmos a um conceito comum, se tuas palavras me penetraram de tal forma que seria mais fácil eu provar que não sou Henoch, em vez de fazer-te a menor oposição? Só posso afirmar que teu julgamento é também o meu. Não encontro um ponto sequer que me levasse a uma simples pergunta. De minha parte, tenho vontade de mudarmos de assunto, pois seria uma lástima se teu discur- so fosse alterado por qualquer interjeição.”

  2. Diz o forasteiro: “Sabes que assim é porque tua opinião condiz com a Minha, em espírito e verdade, mas a certeza benéfica só se dará quando for de opinião geral. É preciso que haja uma opinião de todos, caso deva ser o que dela se espera.

  3. Suponhamos que numa região exista um grande número de fa- mintos, havendo apenas dois homens com pão suficiente para uso pró- prio e que já se acham saciados. Inquiridos pelos outros como podem estar tão satisfeitos, quando eles próprios morriam de fome, os dois respondem: Comemos pão e estamos supridos.

  4. Caro Henoch, esta resposta, embora contenha a plena verdade, pode saciar os famintos? Todos compreenderão que dois saciados não conseguem satisfazer quem quer que seja. De que lhes serve isto, se o pão não se tornar posse comum? É preciso que os outros também se alimentem, para saber se o pão também os saciará.

  5. Henoch, este problema pode ser solucionado da seguinte ma- neira: Já existem vários famintos que também devem comer de nosso pão para opinarem se ele alimenta ou não. Se for suficiente para todos, é desnecessário um acréscimo. Não o sendo, nada mais nos resta senão buscarmos mais pão ou demonstrar-lhes a grande despensa geral de alimento. Que achas?”

  6. Profundamente admirado da sabedoria do forasteiro, Henoch exclama: “Irmão, antes de deixarmos os outros se alimentarem de nos- so pão, peço-te que me reveles a origem de tal sabedoria, porquanto

és para mim totalmente estranho e nunca estiveste presente quando o Altíssimo caminhava entre nós.”

  1. Diz o estranho: “Deixemos de lado este problema, tratando pri- meiro do alimento dos irmãos. Ainda chegarão muitos habitantes do Norte e Sul e julgarão os filhos da Luz dotados da pior ignorância, de sorte que haverá muitos clamores. Vosso conhecimento se justificará em vossos filhos. Tratemos primeiro dos genitores, para evitarmos que os filhos pereçam. Compreendeste? Então passa o pão para os patriarcas e irmãos.”

153.PRESSENTIMENTODE ABEDAM

  1. Diante deste conselho do forasteiro, Henoch confabula: “É real- mente estranho, não posso imaginar coisa mais pura que estas palavras; no entanto, Abedam nunca nos falou a respeito. Seu Ensinamento se prendia exclusivamente ao amor e à humildade. Meditando a respeito do que afirmou este homem, é algo esquisito que uma orientação de um professor deva ser exposta ao critério de cada um e só possa ser acei- ta quando corresponde à opinião de todos.

  2. Em suma, a regra exata diz: ‘Aquilo que tiveres aceito como bom e verdadeiro — seja quem for o autor — não deves guardar para ti, pois teus irmãos também possuem um espírito imortal.’ Esta regra nem o Próprio Jehovah contestará; por isto, agirei segundo as palavras deste forasteiro.

  3. Tu, querido irmão Abedam, também ouviste o conceito do es- tranho. Olha, um grande pedaço de pão é oferecido para ti. Dá uma mordida e em seguida dize-nos se satisfaz as exigências de teu coração.”

  4. O outro leva forte susto, pois, durante o discurso do estranho andou sempre ocupado consigo mesmo e ignora do que se trata. Por isto, vira-se para Henoch e pergunta em surdina qual era o assunto: Responde Henoch: “Se te falta a devida atenção do espírito, estás ainda dormindo, e quem dorme não pode opinar. Como foi possível que te escapou a mais importante revelação da vida?”

  1. A esta sacudidela, Abedam descobre dentro de si todo o discurso do forasteiro e diz: “Não te aborreças de minha sonolência, pois já en- contrei em mim que a revelação dele é tão pura e certa como o Sol num dia radioso. Faço apenas a seguinte objeção: Lembra-te do grande Amor de Jehovah, nosso Pai. Ele caminha sempre em trilhas que nem o anjo mais sagaz pode vislumbrar e pesquisar. Sou de fato um dorminhoco; mas, desta vez, percebo mais no sono que tu desperto. Não te direi o que vejo até que também tenhas a mesma visão.”

  2. Nesta altura, o forasteiro Se dirige para Abedam e diz: “Os olhos de teu espírito não te enganam. Mas, às vezes é melhor para alguns espíritos que não vejam o que existe diante deles. Portanto, tens razão em não relatar aquilo que vês, até que um outro também o perceba.”

  3. Henoch se vira para o forasteiro, dizendo: “Que vem a ser isto? Pela primeira vez não entendo o irmão Abedam. Que é que eu não vejo? Deves saber que a incerteza doespíritoéopiorsofrimentoemaiscruelqueamorte.”

  4. Responde o forasteiro: “Inquire o teu coração. De nada adian- taria se Eu te falasse, pois também neste caso depende de teu conceito. Conheces as árvores segundo seus frutos. Se uma árvore produz frutos vivos, em que estado se encontra a própria árvore? Já viste um pau seco dar frutos vivos? Se descobres os frutos vivos num irmão, é fato estra- nho que não o conheças mais de perto.”

  5. Perplexo, Henoch começa a analisar Abedam, que lhe diz: “Ir- mão, é preferível que analises outra Pessoa, na Qual hás de descobrir mais que em mim. Não Se acha distante de nós. Compreendes?”

154.PALESTRADEHENOCHCOMOOUTRO ESTRANHO

  1. Essas palavras penetram profundamente no coração de Henoch, que procura meditar a respeito; no entanto, seu esforço é em vão, pois uma vez designado para sumo sacerdote também tinha que passar porumaprovamaiorquequalqueroutro.

  2. Enquanto o forasteiro palestra em surdina com o outro Abe- dam, Henoch aproveita a oportunidade para colher informações junto

ao companheiro daquele, mormente no que diz respeito à sua origem e como chegara a tamanha sabedoria.

  1. O outro responde: “Como podes formular tal pergunta, pois sou apenas oponente Dele e, como deves saber, o oponente tem que si- lenciar enquanto o outro conduz a polêmica. Caso for o outro vencido, ficando provado que suas afirmações são falsas, já perdeu o direito de pronunciamento.

  2. Isto ocorreu por parte de Meu Oponente, por isto não tenho mais direito de me expressar sem o Consentimento Dele a respeito de Sua Pessoa, mormente diante de ti, sumo sacerdote do senhor. Além disto, não é dever dos oponentes declinarem seu nome, a fim de evitar qualquer partidarismo. Havia mesmo o hábito de ocultarem o rosto e mudarem a voz, e ultimamente era dado apenas a um o direito de pronunciamento, inclusive do assunto do adversário, para manterem o anonimato e facilitarem um veredicto.

  3. Como, pois, será mantida esta ordem se me convidas a falar, embora eu seja obrigado ao silêncio, sendo tu forçado a me castigar caso te pedisse permissão para tanto? Eis o motivo que me impede de te responder. Conquanto meu Adversário seja muito mais sábio que eu, sou tão prudente a não cair numa armadilha. Fui obrigado a me expressar deste modo, segundo o velho hábito que todos possuem o direito de pedir desculpas. Se te cabe instituir uma nova ordem, deves fazê-lo perante o povo para ele conhecer sua conduta num futuro dia de contenda.”

  4. Sem saber o que dizer a este discurso, Henoch se dirige para Adão pedindo conselho. Este lhe responde: “Por que és tão indiscreto, atitude esta que não se aplica a um verdadeiro juiz? Procura apaziguar os ânimos e não te preocupes mais. É de se estranhar a sabedoria de um e o rigor do outro, mas isto não deve te incomodar. O Próprio Senhor te nomeou para professor e sacerdote; portanto, continua em teu ofício e deixa o resto de lado.”

  5. As palavras de Adão conseguem acalmar Henoch em parte, pois o discurso do forasteiro e de Abedam não lhe saem do coração, de sorte que diz: “Tens razão de certo modo. Mas, o estrangeiro me convidou

expressamente a passar seu alimento a todos os famintos. Se fosse ele um contendor comum, como podia exigir-me tal coisa?”

  1. Algo perplexo, Adão diz: “De fato tens razão; no entanto, acho que a calma há de consertar tudo. Se ele quiser dar-se a conhecer, que o faça. Assim não sendo, louvemos a Deus e tudo voltará à Or- dem Divina.”

155.ADÃOEXPULSAOFORASTEIROQUESEREVELACOMOOPRÓPRIO SENHOR

  1. Entrementes, o forasteiro Se aproxima de Henoch e Adão, di- zendo: “Estais combinando algo em segredo; porventura isto também faz parte do dia de contenda? Anteriormente o juiz devia ficar silencioso e nem podia se aproximar de alguém, a fim de que seu veredicto fosse imparcial. Agora, Henoch, por Deus designado para juiz de amor, tor- nou-se verdadeiro palrador. Como devemos interpretá-lo?

  2. Tu, Henoch, devias ter notado a ordem preestabelecida; qual é então o motivo de não a respeitares? Teria Abedam instituído uma ordem diferente? Sei apenas que Ele transformou o ofício estéril de juiz para um exercício de amor. Como Eu ignoro quaisquer outras novida- des, desejo saber o motivo pelo qual não respeitas a antiga lei de Adão.”

  3. Como Henoch quedasse algo encabulado, Adão se levanta e responde com ares de juiz: “Meu filho, pareces ter esquecido onde te encontras. Se tu, sabedor de antigas regras, consegues criticar toda e qualquer alteração de um novo juiz, dize-me se ignoras que aquele que levantar protesto contra o mesmo deve ser banido por trinta anos.

  4. Segundo me consta, o Sublime Abedam não suspendeu esta ou outra determinação qualquer. Sou eu o antigo legislador desta Terra e posso fazê-lo quando quiser. Assim sendo, suspendo todas as leis que possam prender o juiz em qualquer alternativa, enquanto elas perdu- ram para os contendores. Apresenta uma desculpa válida, e caso não o consigas, te aguarda o banimento por trinta anos.”

  5. O forasteiro fita Adão com grande admiração e, depois de al- gum silêncio, responde: “Adão, que Me dirias se Eu te afirmasse que

Me assiste Poder e Direito de suspender também a segunda parte de tuas leis?”

  1. Retruca Adão: “Se repetires tal pergunta, terás perdido o direito de escusa.” Diz o forasteiro: “Adão, durante três dias o Grande Abedam pregou apenas o Amor, como Jehovah, o Eterno. Serão estes os frutos de Sua Magnanimidade? Porventura Eu atentei contra Henoch só por- que perguntei qual o motivo de ele não respeitar tua antiga lei em todos os pontos? Interpretas mal o Ensinamento de Abedam.

  2. Por acaso Ele não baniu todo julgamento, suplantando-o pelo amor? Ele não te livrou do Adão total, tirando-te toda a responsabilida- de para teus descendentes? Por que desejas depositar o antigo peso em teus ombros?

  3. Criatura ingrata! Que devia ter feito Abedam além daquilo que fez por ti? Tua índole é cheia de ira e, se fosse possível, havias de Me destruir. Quão erradamente assimilaste os incontáveis ensinamentos de Abedam! Tua atual condenação há de Me atingir — hei de supor- tarostrintaanosdebanimentomasaindanãochegouotem-poparatal.

  4. Por este motivo sustarei também esta lei, a fim de que ninguém mais seja banido nestas alturas. Os irmãos não se devem condenar se- não pelo amor , a paciência, a meiguice e a misericórdia.

  5. Mas, quando os irmãos começarem a se condenar reciproca- mente, Eu Me levantarei como Juiz para condená-los à morte eterna. Entendeste?” Então, todos reconhecem o forasteiro.

156.OPAIFALASOBREPATERNIDADEE FILIAÇÃO

  1. Todos se atiram aos Pés Dele, louvando Sua Graça e Misericór- dia por ter permanecido entre eles no dia de contenda. Ele os convida a se levantar e diz: “Meu Nome é Abba e assim deveis chamar-Me sempre em vosso coração, e Eu vos atenderei. Usando outro nome qualquer, desviarei Meu Ouvido e não olharei vossas obras.

  2. O escravo tem um senhor. A natureza tem um Deus inclemente para Criador e Juiz. Diante de Jehovah tudo tem que perecer, pois o

Eterno e Infinito nada admite além de Si, porquanto Sua Santidade é inviolável.

  1. Mas o Pai conhece Seus filhos que O devem chamar de ‘Abba, querido Abba!’ — e Ele lhes concederá tudo, isto é, a vida perfeita e eterna e todos os seus tesouros.

  2. Intimamente conjecturais: Como fazer isto, se o Pai também é Deus Único, Infinito e Santo? Se chamarmos o Pai, teremos chamado a Quem não devemos chamar. Como clamar pelo Pai sem nos lembrar- mos Quem é Ele?

  3. Eu afirmo e até ordeno que deveis sempre considerar Quem é o Pai Que vos criou, inclusive o Universo total. No entanto, Ele dei- xou as criaturas conforme foram criadas. Vós fostes transformados para Seus filhos em virtude de Seu Amor Eterno. Por isto, deveis chamá-Losempre de Pai, mas também considerar Quem Ele é, e assim sereis sempre atendidos.

  4. Como Divindade, sou um eterno Juiz, segundo Minha Sabe- doria e Santidade Infinitas, pois ninguém pode se aproximar de Deus e viver. Mas, no Meu Amor Infinito sou o Pai e quero reunir todos os filhos junto a Mim.

  5. Não indagueis quem é mais Poderoso, Deus ou o Pai, pois só existe um Deus e Um só Pai, ou seja, Eu em Pessoa diante de vós. Prendei-vos ao Pai, que jamais haveis de ser julgados ou perecer. O Pai jamais condena alguém, muito menos Seus filhos que sempre o reco- nhecem verdadeiramente como Pai e O chamam como Tal.

  6. Assim como não condenais vossos filhos, mas apenas os ensinais e conduzis, o mesmo faço Eu, o que acabo de provar pela Minha Visita, vos ensinando a palmilhar os Caminhos da Vida. Hoje aqui cheguei outra vez como Forasteiro e não fui reconhecido porque Me chamastes de Jehovah e não de Pai. Permanecei junto ao Pai, que jamais serei um estranho para vós. Já que Me encontro aqui, alegrai-vos e vinde todos junto de Mim.”

157. TENTATIVA FRUSTADA DE SATANÁS DE DISCUTIR COM O SENHOR

  1. Todos acorrem junto de Abba, sendo louvados por Ele pelo zelo de seu coração. Como Adão já não está tão lépido, se vê impedido deste aconchego, o que muito o aborrece percebendo a falta de consideração por parte dos filhos. Diante de seu resmungo, Abba lhe diz: “Por que reclamas agora? Se aqui não tens lugar, lá está Meu companheiro. Pro- cura acercar-te dele; mas antes, reconhece quem é e depois pergunta ao teu coração qual de nós está mais firme nele. Teu próprio coração te dirá por que desta vez te atrasaste para chegar ao Meu lado.

  2. Também te afirmo que aquele estrangeiro que conhecerás em breve se acha em situação melhor que tu, pois já é imortal. Tu terás que morrerprimeiroantesdeatingiraimortalidade.”

  3. Algo admirado, Adão começa a analisar o outro personagem, dos pés à cabeça. Não conseguindo descobrir quem é, vira-se outra vez para Abba e diz: “Abba, dize-me quem és para, não ser martirizado. Sei desde os tempos de Abel que eu e meus descendentes temos que morrer, para que nosso espírito volte à sua pátria, pois Abel se tornou um exem- plo bastante triste para todos nós. Mesmo assim, não tenho medo, pois sei que morrerei em Teus Braços, assim como por Eles vim à Terra.”

  4. Diz Abba: “Aproxima-te mais e verás se o reconheces ou não.” Quando Adão dá mais alguns passos em direção do estrangeiro, ele sol- ta um grito, pois reconhece Abel. Como fizesse menção de se atirar nos braços de seu filho, Abel intervém: “Teus filhos abraçaram o Verdadeiro Pai. Por que queres manter-te longe Dele e procuras abraçar-me em Seu lugar, eu, que nada sou perante Ele? Volta depressa, para chegares junto Daquele Que é a Causa Original de todos os Seres; do contrário, morrerás ainda hoje.

  5. Precisamente hoje foi dada uma especial oportunidade à grande serpente, podendo até rastejar neste cume. Corre, para que não te al- cance antes que entres no círculo da vida. Olha em direção de tua gruta; lá está ele, o grande inimigo da Vida. É veloz como um raio e furioso como um leão enraivecido!”

  1. Adão dá um salto para perto de Abba, Que o recebe. No mesmo instante, o príncipe do mundo se encontra em figura humana entre Abel e o grupo abraçado a Abba, e grita: “Ó Todo Poderoso, por que me persegues em minha propriedade? Que tens a ver com minhas cria- turas? Por que queres arrancar de mim as que não surgiram de Ti, mas de mim, pretendendo fazer-me um pai sem filhos? Não possuis incon- táveis legiões de espíritos puros?

  2. Afasta-Te da Terra e de meu domínio imenso; é minha posse, porque surgiu de mim e não de Ti. Pisas minha propriedade e és um ladrão em meu reino. Some daqui!”

  3. Retruca Abba: “Petulante, como tua boca transborda de men- tiras! Se isto é tua propriedade, de Quem és tu mesmo propriedade? Quem te fez surgir junto com inúmeras legiões? Demonstra-Me a plan- ta que criaste no solo terráqueo e Eu te darei a Terra toda e o Céu total. Mentiroso! Agora tremes porque apontei tua infâmia. Por que não tre- mes diante de ti mesmo, pois em cada segundo te condenas por mais uma eternidade, em virtude de tua imensa maldade? Eu Sou o Senhor de Céus e Terra! Afasta-te, pois este local é por demais santo para teus pés!” — Uivando e praguejando, o príncipe do mal desaparece.

158.ASTÚCIAEMALDADEDE SATANÁS

  1. Eis que Abba Se dirige para os filhos, dizendo: “Ouvistes o que acaba de proferir diante de Mim o maior mentiroso. Precavei-vos dian- te dele para evitar que vos convença e vos leve à queda, pois sua malda- de é enorme. Ela corresponde à astúcia e à artimanha; portanto, vosso cuidado deve ser considerado por três vezes.

  2. É ele um espírito infame, não querendo se redimir, tampouco se prontifica a Me reconhecer como Deus Único, pleno de Santidade, Po- der e Força. Almeja exclusivamente o domínio, razão por que procura Me enfraquecer e finalmente exterminar, para apossar-se de todo Poder sobre Céus e mundos.

  3. Se isto fosse conseguido, tentaria destruir tudo por imenso ódio a Mim e para projetar uma nova criação segundo seu agrado. Nesta cria-

ção não poderia haver algo de duração eterna, pois tudo teria uma exis- tência dependente de seu despotismo e enquanto lhe agradar tal prazer.

  1. Uma vez saturado de sua criação, devia ela se desvanecer para dar oportunidade a uma nova. Jamais criaria seres semelhantes a ele, como por exemplo o homem, mas sim, a mulher, para a satisfação de seus sentidos. A sensualidade dela devia ser excessiva a fim de se tornar instrumento receptivo de sua volúpia martirizante.

  2. Em suma, suas ideias são tão horrendas que nem um anjo mais elevado as poderia conceber. Por isto, precavei-vos diante dele. No vos- so íntimo conjecturais: Por que não é destruída uma criatura tão abje- ta? — Respondo: Quem de vós se encaminharia para as profundezas para matar Lamech, em nada melhor que este inimigo da vida? Se Eu porventura repetisse a presença dele de tal modo a vos possibilitar seu extermínio, teríeis coragem para tanto?

  3. Diante de vosso recuo, pois vosso amor é diminuto compara- do ao Meu, muito menos vontade Eu teria, que sou o Amor Eterno e Infinito em Pessoa; e além disto sou Criador, Deus e Senhor dele e de vós, sendo que para ele sou Juiz paternal, enquanto sou vosso Pai todo Bondoso.

  4. O poder de sua vontade lhe foi tirado à medida do possível; por isto, não precisais temê-lo, mas precavei-vos de sua astúcia. A astúcia não exerce poder, de sorte que podeis afastá-la com vosso hálito tão logo o queirais.

  5. Ele pode existir por eternidades fazendo suas tentativas para nos aniquilar, pois isto lhe será tão impossível quanto a uma mosca a vitória sobre um mamute. Em vosso íntimo perguntais: Em que consiste a as- túcia do inimigo da vida, a fim de nos precavermos? Ninguém se pode proteger contra algo que desconhece.

  6. Meus filhos, tendes razão de perguntar; mas a pergunta é fútil, pois ele não se pode aproximar de ninguém, portanto também não lhe é possível tentar quem quer que seja. Mas, tão logo uma criatura se deixa tentar pelo próprio coração tornando-se orgulhosa, altiva, dominadora, sensual, mundana e egoísta, ela mesma se aproxima dele, torna-se igual- mente inimiga da vida e muitas vezes pior que ele.

  1. Quando ele percebe tal indivíduo semelhante a ele, fará tudo para prendê-lo a si e aí começa a argúcia a agir. Quem, portanto, quiser fugir da astúcia do inimigo, que cuide de seu próprio coração, diri- gindo-o sempre para Mim. Não deveis alimentar qualquer receio, pois sem Minha Permissão nada acontece. Mas, quando algo permito, tenho Meus bons motivos para tanto. Precavei-vos de vós mesmos, pois nada existe mais livre que vosso próprio coração. Dirigindo-o para Mim, sereis protegidos contra a argúcia dele.”

159.INCUMBÊNCIADEABEL.PERIGODA SENSUALIDADE

  1. Depois deste sermão de Abba, todos recuam sete passos a Seu mando, formando um círculo e cantando loas diante do imenso Amor, Graça e Misericórdia Paternal. Chamando Abel para junto de Si, Abba diz: “Meu fiel mensageiro, envio-te para a cidade de Hanoch, onde encontrarás sete pregadores que partiram daqui. Três estão firmes, mas quatro vacilam, pois foram tentados pelas mulheres de lá. Cabe a ti trazê-los de volta.

  2. Seu poder não será diminuído. Mas, como nunca chegaram a sentir uma dor física, tomarás uma vara simples dando-lhes sete ver- gastadas nas costas, naturalmente somente quando perceberes subir em seus corações uma chama impura, da qual se formará finalmente uma figura feminina.

  3. Se isto acontecer, levanta teu braço e aplica uma chibatada. Se a chama se apagar, prossegue com mais suavidade, considerando porém as sete vezes. Caso a chama não for apagada com a primeira vergastada, a seguinte deve ser mais forte, e assim por diante. Não havendo trans- formação, duplica tua força que deve crescer até o fim. Após o castigo, dá uma forte chamada ao coração da criatura, esclarecendo-a a respeito de Minha Vontade e Rigor.

  4. Observa seus corações e se durante sete dias não descobrires uma recaída, podes soltá-los por sete dias. Em seguida, lhes farás uma visita e caso os encontrares libertos, dá-lhes isenção de sete meses. Se perceberes que seus corações sofreram durante o estágio de recuperação, fortifica-

-os com óleo de Minha Graça. Mas, notando que a inclinação no antigo pecado começa a surgir de novo, castiga-os outra vez.

  1. Se os primeiros golpes dados com toda força não conseguirem abafar a chama, toma de uma vara com espinhos, usando-a da mesma maneira. Esses golpes não devem diminuir, ainda que a tentação se apague no primeiro ou segundo, pois trata-se da dureza de um cora- ção corrupto.

  2. Se não apresentarem melhora alguma, toma de uma vara em fogo e aplica-lhes setenta e sete golpes sobre o corpo todo, de sorte a ficar cheio de tumores. Se com isto seus corações se modificarem, cura-lhes as feridas e fortalece-os com Minha Misericórdia. Não haven- do transformação da parte deles, cobre seus corpos com vermes a fim de que os devorem com a alma viva, pois é melhor ser aniquilado por vermes do que pela Ira de Deus. — Os três primeiros pregadores deves fortalecer com Meu Amor, apresentando-te em pessoa. Estarei sempre contigo e com todos os Meus filhos.”

  3. Abel se curva até o solo e desaparece qual raio. Os patriarcas por sua vez se admiram de terem quatro mensageiros se esquecido em tão curto tempo Daquele Que os havia equipado no dia anterior com Seu Amor, Graça e Misericórdia.

  4. Abba então lhes diz: “Isto não vos deve causar admiração, pois há pouco expliquei não existir em todo o Universo algo mais livre que o coração humano, que facilmente pode ser tentado tão logo se desviar de Mim por um minuto.

  5. O poder da carne é grande, e entre todos vós não há quem a tenha vencido; por isto não vos escandalizeis com o fato de quatro men- sageiros terem sido tentados pela volúpia das mulheres nas planícies. Caim, por ocasião de sua fuga, predisse diante da serpente encarnada quão perigosa ela haveria de se tornar para todos os irmãos. Vossa situ- ação e a de vossos filhos não será em nada melhor, caso se der o menor afastamento de Mim. Ficai em Mim, assim como Eu estou em vós, que não sereis escravos da carne.”

160.HENOCH,APARENTENEGADORDE DEUS

  1. Em seguida, Abba chama Henoch para o Seu lado e diz que ele e os demais devem prestar atenção às Suas Palavras: “Que ninguém venha a se escandalizar com o que digo. Dentro em pouco aqui virão quatro homens do Sul, em discórdia em relação a Abedam. Dois O tomam por Jehovah, e os companheiros o contestam dizendo ser Ele o espírito de Abel.

  2. A intenção deles é buscar orientação contigo. Deves tomar par- tido dos negadores e dissuadi-los da concepção de Abedam e Jehovah, tornando-os ateístas, permitindo assim que se construa outra edifica- ção. Na base em que se encontram é impossível construir-se uma habi- tação para Mim.

  3. Sê conciso, mas considera tratar-se de pobres irmãos que deseja- mos socorrer. Em verdade vos digo, quemMenegaemsuaignorânciaMe agrada mais que alguém a Me aceitar de coração tíbio, sem ao me- nos se dar ao trabalho de procurar orientação com seu irmão. Eis que aqui estão; prepara-te, mas que ninguém Me denuncie.”

  4. Os contendores se apresentam e Henoch pergunta qual o mo- tivo de sua visita. Um deles inicia a polêmica: “Aqui estamos por causa de Abedam, pois não conseguimos entrar num acordo: é Ele Jehovah, ou apenas o espírito de Abel? Dá-nos orientação exata, pois a conside- ramos muito importante.”

  5. Eis que Henoch responde: “Por que discutis pela lã de um car- neiro? Que vem a ser Abedam, Jehovah, caso não O pronunciemos com alma e sentimento? Por que discutis algo que não existe? Perguntai primeiro se realmente existe um Jehovah e dizei-me o que fareis se eu afirmar que Ele não existe, mas somente um Espaço infinito e uma Eternidade sem fim.

  6. A própria natureza nos ensina que neste Espaço as forças latentes se juntaram e finalmente produziram uma matéria informe como base de outros produtos. Onde ela se teria pronunciado em Jehovah? Porventura não é mais inteligente analisar-se a base diante de nós, em vez de se ocu- par com aquilo que se desenvolveu com o tempo, qual sono fútil?

  1. Se realmente existe uma Força concêntrica e consciente na con- cepção de Deus, ela só pode surgir de nós como primeiros seres nos ex- tensos âmbitos das forças da Natureza. Por acaso já vistes uma pedra se transformar em gota d’água? O inverso acontece, e uma pequena pedra consiste de incontáveis gotas d’água.

  2. Desta forma, Deus só pode surgir de nós como força central da consciência. Por aí, vedes a inocuidade de vossa contenda e convém vos tornardes discípulos da verdadeira sabedoria; em seguida, podeis ir à procura daquilo que almejais.”

  3. Os quatro homens começam a tremer e o primeiro diz para He- noch: “Por que nos fizeste isso? Que nos espera além da eterna extinção? Antes nos tivesses deixado em nosso devaneio que nos dava felicidade. Que faremos então? Ó Jehovah, Ó Abedam, se ainda estivesses aqui! Teria sido melhor que Tu nos traísses, do que sermos esclarecidos tão horrivelmente por Henoch.”

161.HENOCHACONSELHAPESQUISACONSTANTEDAVERDADEEDOCONHECIMENTODE DEUS

  1. Percebendo a grande confusão dos quatro personagens, Henoch diz: “Muito bem, pouco vos interessa a Verdade, preferindo uma vida sossegada e tranquila. Tolos, o que conseguistes até hoje com vossa in- dolência? A época da revelação virá para todos, com seus pavores da morte, e quem estiver preparado não sofrerá surpresas, nem será atirado ao pior desespero.

  2. Quem pretende enganar-se, seja qual for o meio, a fim de poder dormir em tal ilusão, passará por tremendo susto ao ouvir o chama- mento transmitido pelas próprias forças decrescentes que tentam ainda despertá-lo.

  3. Se realmente houvesse interesse de vossa parte no que diz respei- to a Jehovah, de há muito havíeis de perguntar: Quem é Jehovah e onde está? A fim de vos poupar tal trabalho, preferistes acreditar cegamente o que vos era transmitido. Meditar a respeito seria penoso, de sorte que um Abedam vos despertou do sono profundo.

  1. Que fizestes durante dois séculos em que nenhum conhecimen- to de Jehovah vos enriqueceu? Em épocas passadas nada era de vos- so conhecimento e também receastes saber algo mais. Por que então viestes aqui hoje? Porque Abedam vos sacudiu e assim terminou vosso sono antigo. Desejais apenas luz no assunto e eu vos satisfiz através da Verdade. Por que quereis voltar à antiga ilusão em vez de aceitar a Verdade? Durante vosso sono estávamos despertos e em constante luta com a morte. Ajudai-nos a carregar o insuportável peso da morte, pois sois bastante fortes.

  2. De fato, de nada vos servirá o antigo Jehovah, caso não se desen- volver dentro de vós um novo Jehovah! Por isto vos disse que Ele tem que surgir de nós mesmo, caso deva existir em Verdade. Ele terá queatingirdentrodevósamaisperfeitaconsciência,antesdeSetornarumDeusemprojeção.

  3. Isto só pode ocorrer através de vossas obras. Assim não aconte- cendo, jamais haverá um Jehovah para vós. Por isto, não peçais maiores ilusões e mentiras e firmai-vos na Verdade, que podeis aprender através do Grande Livro e pelos sinais da natureza, e então se demonstrará se sois acessíveis à semente de Jehovah. Afastai-vos por algum tempo para meditardes um pouco. Depois voltai para podermos testar vosso cora- ção a fim de averiguarmos o que o domina.”

162.CONJECTURASDOS CÉTICOS

  1. Os quatro companheiros se dirigem para uma parte saliente do terreno e começam a confabular, e o primeiro diz: “Irmãos, Henoch é igual a nós e sujeito a muitos enganos. Ainda que o Todo Poderoso lhe facultasse grandes perfeições, também está sujeito a erros e isto ficou comprovado. Não compreendo como eu me deixei enganar tanto em sua presença. Eu podia ter feito a seguinte objeção: Se for conforme afirmas, seria desnecessária a futura construção de nossas casas, pois ga- ranto que jamais serias capaz de ver nascer uma casa bem organizada.”

  2. Diz um outro: “Gostaria de ouvir de Henoch o seguinte: Se as coisas são como afirma, desejava saber como se explica o amor para

Deus. Se Jehovah é apenas ilusão e de certo modo um estímulo para a preguiça de nossa alma, nosso amor também deve ser ilusão. Se assim é, também somos ilusão inclusive Henoch.

  1. Duvido que ele não acredite em Deus; apenas fez uma brinca- deira conosco. Que resposta me dará se eu disser: Mentiste duplamente como efeito de tua ignorância, pois se nunca houve Jehovah, falaste para os ventos. Com relação a Abedam, devíamos nos unir e provar a este sumo sacerdote que Abedam é Jehovah em Pessoa, o que ficou pro- vado por Suas Palavras e Ações. Se Abedam não representa valor algum, convém renunciar ao sacerdócio, pois tal ofício não compete a um ne- gador de Deus. Estou de fato curioso para ver o final desta contenda.”

163.DISCUSSÃOENTREHENOCHEOS CONTENDORES

  1. Deste modo, os quatro homens sobem a colina, onde começam a ventilar quem devia enfrentar Henoch, e resolvem esperar que ele ou algum outro os aborde. Quando Henoch os avista, pergunta sem mais delongas: “Irmãos, qual é a solução encontrada em vosso coração?”

  2. Procurando controlar seu embaraço, o primeiro diz: “Só podemos dizer que, se realmente insistes em suas afirmações, lastimamos tua pes- soa, já que não podemos ajudar-te. Se, no entanto, tua opinião for outra que não a que externaste, então alimentas maldade e orgulho, ou talvez pretendias fazer uma brincadeira de mau gosto, sem considerar o quanto isto entristece teus irmãos. Neste caso, não mereces nem a pior resposta.

  3. Percebemos ocorrer um ou outro caso pela incoerência de tuas afirmativas, razão por que nos chamaste de tolos que, como tu, sabem negar inteligentemente a Pessoa de Jehovah. Eis a solução encontrada. Dentro do conceito de tua tolice, podes concluir nosso pesar e também o total desagrado como resultado. Esperamos, contudo, que nos enten- deste melhor.”

  4. Retruca Henoch: “Meus irmãos, encontrastes a solução expres- samente desejada por mim; apenas não se justifica o motivo, pois se fos- se conforme vossa opinião, eu jamais vos teria dirigido a palavra. Sendo o caso bem diverso, falei justamente para despertar vosso espírito.

  1. Eu não sou mentiroso, mas vosso verdadeiro irmão segundo a Ordem Divina, de onde podeis concluir: Deus certamente não é men- tiroso; muito embora esteja Presente em toda parte, não pode ser visto por ninguém, a não ser que Ele queira Se mostrar, segundo Sua Or- dem eterna, como Pai de Seus filhos, ensinando-os e guiando-os para a Vida eterna.

  2. Ocultei Jehovah diante de vós porque em nada O considerastes e apenas pronunciastes o Seu Nome, sem senti-Lo no coração. De que serve o simples Nome, caso não corresponda ao Nome Vivo no cora- ção? Isto é o verdadeiro ateísmo, e vale tanto quanto a total negação de Deus. Assim andam as coisas. Encontrastes Jehovah até mesmo em Abe- dam, entrando num acordo comum. Vosso coração acaba portanto de conquistar a vitória. Segui-me para uma sagração mais elevada a fim de perceberdes se sou realmente um sumo sacerdote digno. Existe Alguém entre nós que dará a todos a verdadeira sagração sobre Deus e mim.”

164.ASABEDORIACOMOFRUTODEUMCORAÇÃO VIVO

  1. Em seguida, Henoch conduz os quatro personagens para junto de Abba e diz: “Irmãos, eis o forasteiro do Qual vos falei, que vos trans- mitiria a sagração sobre Jehovah e sobre mim.”

  2. Imediatamente Abba Se adianta e diz: “Como a perda de Jeho- vah provocada pelas palavras de Henoch tanto vos perturbam a ponto de o enfrentardes com animosidade, dizei-me qual a ideia que fazeis de Jehovah.”

  3. O primeiro então responde: “Queira ouvir nosso conceito geral a respeito de Deus, que para nós é o Poder Original que preenche o Universo total em Sua Consciência perfeitíssima. Esta força pode ma- nifestar-se em toda parte, porquanto é em Si a Vontade mais perfeita e livre, agindo segundo Suas Ideias que Se desenvolvem numa Luz e Clareza como produto de Sua constante Atividade.

  4. Eis nosso conceito comum sobre Deus. Quanto à Individuali- dade substancial desta Força Original e Eterna, encontra-Se Ela muito

acima de nossa capacidade de assimilação. Suposições não poderão ser levantadas como conclusões definitivas.

  1. Além disto, temos a impressão que tal Força de Vontade infi- nita Se pronuncia como nosso amor, porquanto tudo que observamos apresenta em si este testemunho inegável. Até mesmo a pedra morta não silencia neste caso, pois fala através de sua natureza: Agradando-me minhas partículas, eu as atraio ao meu centro poderoso.

  2. Se isto é demonstrado por uma pedra, e todas as demais coisas testemunham o mesmo, muito mais as criaturas conscientes o fazem, pois fomos geradas pelo amor recíproco. Dentro deste conceito afirma- mos que Deus em Si é o Amor mais Puro e Santo e Se pode manifestar como Jehovah, ou o Criador Bom e Sábio, inclusive numa Forma hu- mana, à Qual Ele todavia não está preso. Eis tudo que sabemos a respei- to da Natureza de Deus e cabe a ti aceitar ou condenar nossa opinião.”

  3. Retruca Abba: “Tua resposta é perfeita, pois o problema é tal qual expuseste. Mas, toda essa sabedoria de nada vale caso for obra de meditaçãoou de ensino comum. Para se tornar de utilidade vital, pre- ciso é que se transforme num sentimentovivo e claro no coração ou, o que seria preferível, ela deve surgir da vivacidade do coração.

  4. Em ambos os casos se apresentará a própria força vital como testemunha constante, revelando a todos que Deus é o Amor mais Puro e Santo, no qual nenhum ser — e muito menos os verdadeiros filhos deste Amor — poderão sucumbir.

  5. Quem, portanto, não tiver encontrado Deus deste modo, para este, Deus não é Deus, por não ser Deus da Vida, mas de uma especu-laçãoracionalque existe enquanto não for derrubada por outra.

  6. Quem tiver encontrado Deus em e atravésde sua base vital, tê-Lo-á encontrado em Sua Natureza e não haverá poder que O possa desalojar. Eis como andam as coisas. Agora dai-Me vossa opinião a res- peito de Abedam e o sumo sacerdote Henoch, para que Eu vos possa orientar também neste ponto.”

165.ATRÍPLICE NATUREZADEABEDAM,O SUBLIME,E DEHENOCH,INSTRUMENTODO SENHOR

  1. O primeiro orador responde em nome dos demais: “Bom amigo e irmão, percebendo que alimentas elevado grau de sabedoria, abrirei a boca no mesmo sentido a fim de patentear-te meu grande respeito e aprovação. Com referência a Abedam, opino ser Ele uma Entidade dú- plice, ou até tríplice. Dúplice, porque manifestou uma natureza huma- na e divina. Humana pela forma semelhante à nossa, e divina em Suas Palavras e Ações, pois cada Palavra era tanto quanto uma ação.

  2. O homem também pode pensar e querer muita coisa, mas tudo isto é apenas criação fútil que todavia nunca poderá aparecer, mas so- mente como reprodução cansativa com auxílio de forças mecânicas.

  3. Coisa diversa ocorre com Abedam, que nada mais é que Jeho- vah, com Poder de Se externar em todas as formas. Através da forma humana em Abedam, Deus agia partindo de sua eternidade, e aquilo que Sua Boca proferia tinha que se apresentar como obra realizada. Tudo que vemos nada mais é que Pensamentos e Palavras existentes na Divindade Infinita e tão logo pronunciadas, tornam-se evidentes.

  4. Naturalmente, alguém podia alegar o seguinte: Se assim é, como se explica a força milagrosa do homem comum, quando os Pensamen- tos de Deus lhe obedecem? — Então diria: Em tal caso, o próprio ho- mem se transformou em expressão da Divindade que age por ele, se bem que em proporção menor. Assim, a Ação Divina não depende da natureza humana, mas exclusivamente de Deus, que Se quer expressar desta ou daquela forma.

  5. Eis o que sucede com Henoch, que nada mais é que simples ho- mem como nós. Uma vez que Deus, através de Abedam, o destinou para sumo sacerdote ou para um instrumento pelo qual Ele deseja Se expressar constantemente em forma humana, é ele quaseomesmoqueoPróprioAbedam, isto é, um recurso santificado e capaz de servir para que a Di- vindade Se possa manifestar. Como homem, Henoch pode tanto quanto eu. Mas, quando algo realiza, fá-lo somente através de Deus.

  1. Afirmei anteriormente que Abedam é uma tríplice Entidade, isto porque Ele abarca a plenitude da Força Divina, pois Se manifesta como o puro Amor, com tamanha liberdade dando impressão de que a DivindadeLheésubmissa, e não vice-versa.

  2. Sendo esta a realidade, é Abedam uma tríplice Entidade: A Pró- pria Divindade através do Amor, da Onipotência e segundo Sua Infi- nita Plenitude. Eis nossa opinião acerca de Abedam e Henoch, e cabe a ti aceitá-la ou não, pois a Sabedoria só pode ser analisada pela própria Sabedoria.”

166.DIFERENÇAENTREPRUDÊNCIARACIONALESABEDORIAPROVINDADO CORAÇÃO

  1. Retruca em seguida Abba: “Deste uma resposta perfeitamente acertada; todavia, é ela resultado de teu intelecto e prudência mundana que fazem de ti um homem íntegro. Pelo caminho do pensamento e da sutileza conseguiste animar os sentidos de tua alma, por certo tem- po. Teu espírito, porém, continuou totalmente adormecido, quase que morto. Exemplificarei esta situação para provar a veracidade da mesma.

  2. A alma e seus sentidos representam a flor do espírito. Se apa- nhares um lírio ainda não totalmente desabrochado e o colocares num vaso com água, ele se abrirá e sua forma e perfume se assemelharão aos outros ligados ao pé na terra. Quando chegar o momento do amadure- cimento da semente viva, ela sucumbirá junto à flor murcha e parcial- mente apodrecida. A vida da semente não se origina na flor — que tem apenas a função de desenvolver a forma, ou seja, o corpo da semente

  1. O mesmo acontece com o homem quando vai em busca da inte- ligência pura, que nada mais é senão o simples desenvolvimento da flor de qualquer vegetal, e que fora separada do mesmo. Não pode produzir vida porque não tem raiz nem terra, mas apenas água limpa. Esta não tem vida, mas apenas a capacidade de libertar a vida terrestre e preparar a raiz para esta vida.

  1. O amor é a raiz da árvore da vida, e o coração, ou seja, a índole que se expressa pelo sentimento, é o solo. Quem quiser colher frutos da vida terá que adubar o solo e proporcionar alimento para a raiz. Então germinará no vegetal com raiz sadia a flor e a semente viva.

  2. Assimilaste dentro da verdade Abedam e Henoch tão perfeita- mente quanto a flor separada do caule se desenvolveu dentro da água. Mas, quando fores procurar a semente, não a encontrarás porque não há raiz, nem terra.

  3. No verão, por exemplo, se ostentam muitos vegetais sobre a ter- ra; mas, quando se aproxima o inverno como forte inspetor da vida, ele destrói todos os produtos da luz, sem conseguir matar a raiz e a semente totalmente amadurecida.

  4. O mesmo ocorre com o conhecimento acerca de Abedam e He- noch. O intelecto os considerará enquanto ambos estiverem de fato presentes, e se lhes dedicará seus pensamentos enquanto não tiver che- gado a um resultado final. Quando este for encontrado, o Sol se terá apagado, dando início ao inverno.

  5. Os conhecimentos começarão a fenecer para ingressar na morte, em si puramente falsa e nociva, e eles se assemelharão aos vegetais fun- gosos, sem semente e raízes.

  6. Uma vez que Abedam e Henoch forem aceitos pelo amor no coração, Abedam se desenvolverá para uma árvore em cujos galhos os próprios espíritos dos Céus se abrigarão.

  7. Abedam será a raiz, e Sua Palavra o solo terráqueo, de onde surgirá por toda parte um Henoch pleno de semente viva. A flor deste caule será justa e dará a forma certa e uma veste sólida à semente, na qual a vida se conservará eternamente.

  8. Tu o entendes, dentro da semelhança entre a flor aquática e uma flor perfeita. Mas, se continuares na água de teu intelecto, não surgirá uma semente viva, assim como a flor aquática também não a pode produzir.

  9. Aconselho-te o seguinte: Envolve a haste florida, mas separada da raiz, com solo bom e vivo de teu coração, rega-a constantemente com a Água Viva que flui de Minha Boca, que poderás ao menos levar a semente ao amadurecimento. Em seguida a deitarás em teu solo para

receber uma nova raiz da vida, que jamais poderá ser atingida pelo in- verno. Sem raiz não existe vida.

  1. Admiras-te de Minha Sabedoria. Trata que dentro em breve o Meu Amorte cause espanto, e assim sentirás a Vida Eterna, ou seja, o Amor e a Causa Original de toda Sabedoria.

  2. Alguém te oferecendo uma bela flor, jamais vista, sentes uma grande alegria; Eu dou-te a planta toda! Deita-a no solo, que colherás a raiz, as flores e finalmente a semente da Vida. Compreende-o bem. Todavia, aqui estou para responder qualquer dúvida.”

167.APALAVRADIVINA, COMOÁGUA VIVA

  1. Diz o primeiro orador: “Compreendi perfeitamente a compa- ração que fizeste com a flor referente à natureza humana. Somente no final afirmaste que tuas palavras são a água viva com a qual eu devo regar constantemente o caule e assim receberei uma semente que me garante a vida eterna. A transformação de tuas palavras em água viva é uma afirmação bastante ousada. Não podendo compreendê-la, peço-te que te declares mais concisamente, e todos nós procuraremos elevá-la para uma semente viva em nosso coração.”

  2. O Santo Abba então esclarece: “Formulaste a melhor pergunta, pois dela depende vossa compreensão. Quem não entender que Minhas Palavras são uma água viva, também não entende o Que é Deus, Abe- dam e Henoch.

  3. Assim sendo, pergunto: Como é possível que Minha Palavra seja uma água viva? Explicarei através de um símbolo. Possuis um belo jar- dim, no qual plantaste vários vegetais, e durante o verão, quando vez por outra tudo seca, tu os regas com água limpa a fim de que não fene- çam no solo estéril. Não obstante teu grande zelo, as plantas progridem parcamente e a colheita corresponde ao solo fraco em alimento vivo, que consiste exclusivamente numa boa chuva das nuvens do Céu.

  4. Tu mesmo costumas afirmar: Um ano seco é um castigo para as plantas, nosso estômago e a pele. Por que então consideras a água da chuva superior à da fonte, por ti usada para regar tua plantação?”

  1. Responde o orador: “É muito simples. A água da fonte já trans- mitiu sua força vital à terra, antes de chegar à superfície. A água da chuva cai no solo, com toda força vital, onde apenas uma gota é mais preciosa que uma vasilha cheia de água da fonte.”

  2. Diz Abba; “Muito bem. Considera portanto também Minha Pa- lavra como chuva provinda dos Céus de toda Vida, e assim a vitalidade de Meu Pronunciamento deixará de ser enigma, e Abedam e Henoch estarão diante de ti com toda sua clareza.”

168.SABEDORIAEAMOR,CAMINHOLONGOECURTOPARAQUEMPROCURA DEUS

  1. Após esta dissertação, os quatro personagens conjecturam: “Que homem estranho! Fala como se fosse o Próprio Jehovah. Mas, quem será?”

  2. Diz o outro: “Segundo o quadro simbólico da água da fonte, a comparação de nossas palavras com esta água fraca, enfim, toda a explicação dada não deixa dúvida de que Ele é Abedam Jehovah. Esta verdade me preenche com felicidade tamanha como jamais a senti. Na- turalmente, não pretendo obrigar ninguém a aceitar minha opinião.”

  3. Observa o terceiro: “Por ora não darei meu testemunho defi- nitivo, pois resta decidirmos se é Ele o Próprio Abedam Jehovah ou se Seu espírito Se manifesta através deste forasteiro.” O último então diz: “Creio não cometer engano se acompanho tua observação; todavia, es- pero o pronunciamento de nosso dirigente, e então saberemos para que lado pende nossa decisão.”

  4. Retruca o primeiro: “Estamos de comum acordo e me alegra muito a união de pensamento e sentimento entre nós. Mas, como agi- remos para nos aproximarmos Dele novamente? Que podemos alegar perante Ele Que conhece nossos pensamentos muito antes de termos surgido através de Seu Verbo Poderoso?”

  5. Neste instante, Abba Se aproxima e diz: “Filhos, amigos e ir- mãos, Meu Coração vibra de alegria convosco, pois acabastes de con- ceber como deve acontecer com um homem livre. Vosso caminho para

junto de Mim, vosso Pai, Eterno e Santo, foi deveras cansativo. A Sa- bedoria dá passos pequenos e difíceis, enquanto o Amor se projeta com facilidade. Alegrai-vos, pois Eu, Deus todo Poderoso, Me encontro vi- sivelmente entre vós.”

169.OAMOR,COMOVERDADEIROSACRIFÍCIOADEUS.OSENHORSEAUSENTADE NOVO

  1. Todos, não somente os quatro amigos, abraçam Abba, debu- lhando-se em lágrimas de alegria e assim Lhe dão o devido respeito do coração. Ele os abençoa e diz: “Vistes o verdadeiro Pai e Deus em Mim. Me abraçastes com amor porque vos procurei com Amor. Crede firme- mente que Eu sou o Pai, Verdadeiro, Bom e Santo, Senhor de Céus e Terra, Criador e Conservador de todas as coisas, a Própria Vida perfeita, o Amor eterno e a Sabedoria.

  2. É preciso sentirdes em vosso coração que a Vida eterna Se encon- tra em vós, através de Meu Amor, e assim sereis felizes aqui e no Além, na Morada eterna de Meu Amor e Sabedoria. Aqui sereis felizes porque não haveis de ver e sofrer a morte, e no Além, devido ao crescente desenvolvi- mento interno, da Plenitude dos milagres de Minha Vida em vós.

  3. Acabo de vos abençoar como verdadeiro Pai. Abençoai também a Mim, em vosso coração, através do amor fiel, que demonstrareis por vossas obras vossa fé em Mim, Que já vos amei muito antes que um Sol brilhasse no firmamento.

  4. Quem Me honrar com a mão, terá sua mão abençoada em toda a obra. Quem Me honrar com os pés, não há de encontrar pedras no cami- nho. Quem Me honrar com o físico, não sentirá dor em nenhuma fibra de seu corpo. Quem Me honrar pela boca, será louvado por todos os povos. Quem Me honrar com os olhos, jamais verá a morte. Quem Me honrar com os ouvidos, será beneficiado com sons harmoniosos. Quem Me hon- rar com o cérebro, será dotado de grande sabedoria. Quem Me honrar em seu coração como Único Pai Bondoso, o fará com toda sua vida, porque o faz com seu amor. Mas, quem Me honrar com toda sua vida, será abenço- ado com a Vida eterna de Mim, o Pai, Santo, Bom e Amoroso.

  1. Por isto, honrai-Me sempre com o coração, que a vida eterna estará em vós por estar ele pleno de Meu Amor Santo e Poderoso. Nin- guém Me pode honrar com a mão, com os pés, boca, olhos e ouvidos, mas simplesmente com um coraçãoplenodeMeuSantoAmor. Quem assim agir ter-Me-á abençoado com mãos, pés, boca, olhos e ouvidos, enfim, com todo o corpo, com todas as suas forças e Eu o abençoarei totalmente para a Vida eterna. Quem pretende abençoar-Me em parte, será também por Mim parcialmente abençoado.

  2. Prossegui no amor que sereis detentores da plenitude de Minhas Bênçãos, que corresponderão portanto ao vosso sentimento. Eu, vosso Pai, não necessito de sacrifícios e serviços religiosos, pois sou suficiente- mente Poderoso para oficiar qualquer serviço, que desde eternidades foi por Mim prestado sem vosso sacrifício e atos cerimoniosos.

  3. Agora sabeis de tudo vivamente em vós. Agi de acordo que a plenitude da Vida Eterna há de desabrochar em vós e destruirá a mo- rada da morte, para sempre. Henoch representa Minha Boca entre vós. Deveis ouvi-lo, que sua palavra vos abençoará ou julgará segundo a formação de vosso coração.”

  4. Neste instante, Abba desaparece diante dos filhos chorosos, pela última vez, quer dizer, durante a vivência de Adão, e não foi mais vis- to de modo geral até a grande época das épocas, encarnado como Fi- lho do homem.

170.TOLODESEJODEADÃOERESPOSTADE HENOCH

  1. Decorrido algum tempo, os patriarcas começam a se refazer do imprevisto e procuram descobrir a Presença de Jehovah. Tal esforço é baldado, pois Ele Se oculta em Sua Santidade e só pode ser visto com os olhos do puro amor no coração.

  2. Adão se aproxima de Henoch e diz: “Fala algo Dele, que não merecíamos olhar, pois nada é mais desalentador do que a ausência dos amados. Tanto mais dolorosa é a Dele, única Vida em nosso coração, portanto exclusiva motivação de nosso amor.

  1. Fala Dele, Henoch, somente Dele, e não daquilo que tem qual- quer relação com Ele. Também não adianta referir-te ao Amor, Miseri- córdia e Benignidade Dele, que nos ensinou com a maior Meiguice os caminhos que levam para junto Dele, o Santo Pai.”

  2. Diz Henoch: “Adão, teu desejo é puro como a água da fonte que jorra debaixo da pedra branca. Mas, reflete um pouco, o que quer dizer falar-se Dele exclusivamente. Observa Suas grandes Palavras que nos rodeiam; e nós mesmos, nada mais somos que a Palavra de Deus.

  3. Desejas que eu fale Dele, sem tocar em algo que tenha relação direta com Ele. Como seria isto possível? Seria preciso pronunciarmos constantemente o Seu Nome, sem parar. Que impressão daria isto? Po- dia ser comparado com um relato? Vês portanto ser necessário modifi- cares teu desejo, não obstante seja puro.”

  4. Como Adão concorda com as palavras de Henoch e lhe pede para falar qualquer coisa relacionada com Jehovah, Henoch prossegue: “Meus irmãos, porventura nunca observastes a diferença de luz entre a do Sol e a da Lua? Darei a explicação que vos esclarecerá minha intenção.

  5. Quando o Sol se encontra no zênite, a Lua se encontra ao lado dele, envergonhada, e uma pequena nuvem brilha muito mais sob seus raios que a Lua em seu brilho noturno. Só depois do pôr-do-sol, a luz fria começa a surgir, possibilitando também às pequenas estrelas pro- duzirem seu brilho.

  6. O mesmo sucede comigo. Qualquer manifestação sobre o Pai seria de minha parte semelhante à luz da Lua ao lado do Sol. Mas, quando se apresentar o anoitecer e a noite, minha lua há de brilhar como se tivesse luz própria e também permitirá que outras estrelas apre- sentem seu brilho.

  7. Enquanto perdurar a Grande Luz da Palavra de Deus em nós, minha luz lunar seria mera tolice. Deixemos portanto o desejado dis- curso e regozijai-vos com os raios da Grande Luz dentro de vós. Só quando terminar este dia podeis procurar a luz da Lua. Agora vamos para casa, pois o Sol está prestes a se pôr.”

171.MILAGROSOSUPRIMENTODASDESPENSASDE SETH

  1. Adão convida então Henoch, o conhecido Abedam e os quatro personagens do Sul para tomarem a refeição na sua cabana. Incumbido desta tarefa, Seth se dirige para casa e ordena seus filhos para providen- ciarem três cestos com frutos, leite, suco e frutas, água, pão e mel.

  2. Eles, porém, encontram tudo vazio e Seth, uma vez informado, constata a afirmação dos jovens. Intimamente pergunta a seu coração o que deve fazer, mas não recebe resposta. Voltando à casa de Adão, ele conta sua aflição. Adão se entristece e pergunta a Henoch se as despen- sas dele talvez se encontrem em situação mais favorável.

  3. Este responde: “Tenho a impressão que Seth não procurou com cuidado os alimentos em sua casa. Por isto, afirmo que as despensas dele estão repletas. Abba-Jehovah não é cheio de Amor e Misericórdia apenas quando palmilha Visivelmente entre nós, pois é o Mesmo quan- do longe de nossos olhos. Todo nosso amor, louvor e honra Lhe sejam dirigidos.”

  4. Concorda Seth: “Henoch, falaste certo; devemos devotar ao Pai, Bom, e Amoroso, todo nosso amor e veneração. Acaba de Se demons- trar sumamente Misericordioso, pois minhas despensas estavam vazias e agora as vejo totalmente repletas, em meu coração.”

  5. Quando ele chega à casa, seus familiares correm ao seu encontro, positivando o que sentira dentro de si. Imediatamente ele se prosterna, querendo agradecer por uma prece. Mas, uma voz vinda do alto diz: “Meu querido irmão Seth, Eu te conheço e também tu Me conheces. Le- vanta-te e cuida de Adão e de seus hóspedes, queridos também de Mim.”

  6. Ele dá um salto e se vira para descobrir o Santo Pai. A voz, po- rém, prossegue: “Por que procuras com os olhos, se teu coração é Mi- nha Morada em ti? Serve os hóspedes à tua espera.” Seth obedece e conta para todos o que lhe sucedera.

  7. Henoch então acrescenta: “Assim é e sempre será: a audição está mais próxima da vida que a visão, enquanto unicamente o coraçãoé a morada eterna da vida. Consagremos portanto ao Pai da Vida nosso coração eternamente.”

172.APRIMEIRAIGREJANA TERRA

  1. Depois de termos passado sete dias na montanha com os filhos de Deus, e tendo assistido à primeira fundação da Igreja na Terra através da Presença Visível de Jehovah, com todas as minúcias, ações e palavras, recebemos a explicação integral dos seis dias da Criação mencionados por Moysés, ou seja, a fundação da primeira Igreja no orbe. Podemos, portanto, nos dirigir para Hanoch a fim de nos integrarmos das modi- ficações dadas durante uma semana.

  2. Eis o que ocorre neste instante: Kisehel, Sethlahem e mais um irmão que passará a se chamar Joram, entram no palácio de Lamech. Os sete mensageiros já se tinham dirigido à sua presença, depois de sua rápida chegada em Hanoch. Era-lhes mostrado tudo e também não fal- tavam jovens atraentes que, por meio de insinuações e gestos, procura- vam tentá-los a ponto de Eu enviar para lá o anjo Abel. Este é também o motivo da ausência dos quatro personagens. Até então não lhes fora aberta porta alguma para a presença de Lamech.

  3. Tendo tomado a firme decisão de penetrar nos aposentos do rei, custasse o que custasse, eles invadem o palácio. Que pretendem eles com Lamech que não os recebe, mas procura tentá-los por meio de suas concubinas?

  4. Estamos lembrados do que ele fizera com o Nome de Jehovah, e este é o motivo: terá que abrir a cova com suas próprias mãos e limpar a pedra. Sereis testemunhas das ocorrências deste momento. Quando alcançaram a primeira escada, encontram-na tomada dos dois lados por belas mulheres despidas que, com voz lamuriosa, pedem salvação aos três mensageiros. Devem morrer porque no dia anterior não conseguiram prender os piores inimigos de Lamech a fim de entregá-los à sua terrível vingança.

  5. Os três amigos percebem o ardil e Kisehel diz para elas: “Não será Lamech a vos exterminar e sim o açoite de Jehovah fará isto. Se- reis carcomidas por tumores e feridas purulentas, nas poças, pântanos e charcos diante da cidade. Que Se faça a Vontade Poderosa de Jehovah!”

  6. No mesmo instante, cerca de sessenta mulheres despidas ficam cobertas de lepra e correm furiosas e enraivecidas pelas ruas da cidade

e se atiram aos atoleiros. Seus corpos se enchem de pus e tumores, e a carne se solta dos ossos pestilentos.

  1. Deste modo, a primeira escada foi purificada. Quando chegam à segunda, são recebidos por gritos mais estridentes, pois também esta- va abarrotada de criaturas nuas, dilaceradas pelos soldados de Lamech, com açoites horríveis. Ao perceberem a presença de três homens, come- çam a implorar por socorro das mãos dos esbirros de Lamech.

  2. Kisehel então lhes ordena: “Parai com vossos açoites e conduzi as heroínas de Lamech para os atoleiros, onde poderão se juntar e parti- cipar do prêmio de suas companheiras viciadas. Que jamais vossas mãos venham a tocar um açoite, a menos que pretendeis morrer como elas. A Vontade de Jehovah Se faça hoje e sempre.”

  3. Os esbirros soltam os açoites, amarram as mãos das mulheres e as conduzem para os charcos, onde elas começam a gritar ainda mais desesperadamente ao verem o sofrimento das outras. Os esbirros lhes desamarram as mãos e se afastam. Desatinadas, elas também se atiram no atoleiro, onde perecem.

  4. Quando os soldados chegam ao palácio, os três mensagei- ros aconselham que se voltem para Jehovah, abandonando Lamech a fim de seguirem com suas companheiras para junto de Farak, onde os aguarda outro destino. Os cem esbirros se afastam e os mensageiros se dirigem para a terceira escada.

173.ATERCEIRAESCADANOPALÁCIODE LAMECH

  1. Grande é sua admiração ao chegarem à terceira escada, pois não estão preparados para tanto. Eu Mesmo não lhes inspirei coisa alguma neste sentido a fim de poderem positivar a força da sabedoria conferi- da por Mim.

  2. Lamech mandara barrar todos os degraus com criancinhas e en- tre elas se encontram as mães despidas, de peitos estraçalhados e cabelos desgrenhados. As crianças estão atadas aos degraus por meio de cordas, e as mães com correntes presas ao cinto de metal.

  1. Quando elas avistam os três mensageiros, começam a amaldiço- á-los, dizendo: “De que inferno tenebroso subistes, dando motivo para nosso sofrimento atroz que deve impedir vosso ingresso aos aposentos de Lamech?

  2. Afirmais serdes mensageiros de Jehovah. Por acaso é Jehovah como vós, enquanto nosso terrível Lamech é apenas uma brisa suave comparada à vossa crueldade?

  3. Que mal vos fizeram aquelas pobres criaturas, tentadas e apro- veitadas por ele para os fins mais baixos, pois foram enxotadas para os lodaçais e charcos onde morreram de corpo e alma?

  4. Lamech assassinou seus dois irmãos e merecia morte dupla. Jehovah, porém, disse: Quem matar Lamech será vingado setenta e sete vezes.

  5. Aquelas pobres moças, e nós também, jamais matamos uma mosca, e vós, pretensos mensageiros de Jehovah, as matastes miseravel- mente, porque as infelizes foram arrastadas pelos cabelos para servirem aos instintos de Lamech através dos esbirros por vós libertos.

  6. Se de fato pretendeis converter o terrível Lamech e reconduzi-lo a Jehovah, por que não tentastes primeiro a conversão das moças, antes de mandá-las matar? Não é tanto Jehovah vosso interesse, mas exclusi- vamente o domínio dos povos das planícies do lodo.

  7. Vede nosso sofrimento atroz sob o terrível açoite de Lamech. Por acaso quereis chamar-nos de mentirosas e em seguida fazer com que se- jamos atiradas ao lodaçal? Se esta for vossa intenção, soltai nossas amar- ras, pois não existe morte mais terrível para amorosas mães como nós.

  8. Se esta não for vossa intenção, deixai-nos morrer aqui, passai por cima de nós e nossos filhos inocentes, para chegardes à presença de Lamech e fazei dele um demônio ainda mais cruel.

  9. Amaldiçoado seja o dia em que nascemos. Maldição aos que nos geraram e maldição ao Criador que nos fez surgir para uma vida tão miserável, e maldição a vós que viestes para aumentar nossa miséria. Exterminai-nos para sempre, se isto for possível. Mas, não nos martiri- zeis ainda mais.”

  1. Nesta altura, os três mensageiros quedam perplexos, pois as palavras das mulheres algemadas e o choro das crianças começam a tocar-lhes o coração.

174.MILAGROSASALVAÇÃODASMOÇASDAPRIMEIRAESEGUNDA ESCADAS

  1. No começo, os três companheiros se admiram da astúcia de La- mech, pela qual lhes fora barrada a subida da terceira escada. Tal sur- presa se baseia no quadro pavoroso que defrontam. Diante das lamúrias das moças, o coração deles se torna cada vez mais pesado por terem condenado as outras de modo tão cruel, de sorte que resolvem procurá-

-las nos pântanos. De posse da plenitude do espírito, erguem as moças, limpas e animadas. Em seguida as trazem para perto das mulheres da terceira escada, e Sethlahem começa a falar, inspirado por Mim:

  1. “Criatura maldosas, eis aqui as vossas companheiras de infortú- nio, totalmente refeitas. Estavam mortas nos lodaçais. Quem teria salvo e vivificado as mesmas? — E vós, que fostes trazidas aqui, contai para elas quem vos tirou do abismo da morte, levando-vos para a vida.”

  2. Cerca de cento e sessenta mulheres respondem em uníssono: “Infelizes concubinas de Lamech e de seus esbirros, cujo chefe pode- roso há três dias (de nome Horadal) com seu exército poderoso foram dizimados pelos filhos de Jehovah nas alturas, ou apostataram ao seu dirigente, nós todas estávamos mortas nos pântanos e somente nossas almas vagueavam por cima deles.

  3. Subitamente vimos três figuras luminosas se aproximando de nosso local de sofrimento e percebemos tratar-se de mensageiros de Jehovah. Com voz estentórica exclamaram: ‘Despertai para testemu- nhar de nossa missão divina!’ No mesmo instante subimos, purificadas, do abismo e aqui viemos, já feita a fusão de corpo e alma, para testemu- nhar que estes três homens são de fato mensageiros de Jehovah.”

  4. Sethlahem então se vira para elas, dizendo: “Filhas do dragão, como interpretareis vossas queixas anteriores? Quem aconselhou Lame- ch a barrar a escada desta forma? Não fostes vós? As crianças não foram

alugadas por vós e algumas até arrancadas das pobres mães para este fim miserável? Não foram por vós amarradas e vós mesmas vos atastes com correntes e, sem autorização de Lamech, dilacerastes o peito e o untastes com tinta vermelha?

  1. Jehovah evitou por certo tempo que víssemos vossa figura hor- renda, mas agora no-la demonstrou em sua realidade e podemos ver nitidamente vossa imensa perfídia. Qual seria então vossa queixa? No início perguntastes de que inferno viemos. Agora eu vos pergunto: de que inferno viestes vós, tendo praguejado contra Deus e Lamech? De quem sois filhas, que amaldiçoam Jehovah e Satanás a um só tempo? Julgai vós mesmas qual o vosso destino, uma vez que a morada do dra- gão ainda é muito boa para vós!”

  2. Eis que elas começam a gritar: “Amigos Daquele Cujo Nome não deve ser ultrajado por nossas línguas ferinas, pulverizai-nos, pois até a pedra mais simples seria ainda uma morada imerecida para nós.”

  3. Diz Sethlahem: “Devolvei primeiro as crianças, em seguida vos di- rigi para as cloacas, lavai-vos com os excrementos e depois fazei penitência até chegarmos para vos dar o justo prêmio para as obras de vossa malda- de. Sois por demais perversas para qualquer punição e inferno. Vós ou- tras, procurai vossas roupas e depois conduzi-nos para junto de Lamech.”

175.OSTRÊSMENSAGEIROSPENETRAMNOSAPOSENTOSDE LAMECH

  1. Isto feito, Sethlahem prossegue: “Durante cinco dias servistes a Lamech, isto é, a seus empregados, porquanto ele desde a perda de seu harém vivia em abstinência, pois toda mulher se transformava em maldição em sua boca.

  2. Sois puras, livres e recebestes a Bênção de Jehovah por nosso intermédio, de sorte que vos foi tirada a filiação do inferno e recebestes a do Céu. Agora é preciso vos comportardes de modo tal a prolongar esta graça.

  3. A obediência é o primeiro degrau para a morada da Vida eterna, e se quereis atingi-la, é necessário obedecer a tudo que proferimos e

cumprir as tarefas por crescente amor a Jehovah. Agindo deste modo, vossa força psíquica aumentará, transformando-vos em verdadeiras he- roínas da Vida Divina e do Agrado de Deus.

  1. Nossa primeira ordem é que sejamos levados à presença de La- mech. Em seguida, levai gravetos secos para os charcos, porém, num lugar seco. Tratai disto até nossa chegada. Se as mulheres que no mo- mento se lavam com excrementos, ou outra pessoa qualquer, pergunta- rem qual a finalidade de vossa atitude, respondei que os mensageiros de Jehovah assim o exigiram. E ai de quem se atrever a querer impedir-vos. Eis tudo; vamos!”

  2. Elas obedecem de pronto e mostram a porta da sala de Lamech, dizendo: “Aqui estamos; todavia, ignoramos se ele realmente se encon- tra lá dentro. Que Jehovah seja Misericordioso conosco.”

  3. Sethlahem as despede e recomenda procurar a lenha seca, en- quanto Kisehel toca a porta, trancada e atravessada com barras de ferro, que no mesmo instante se abre. No fundo da sala se encontra Lamech, sentado num imenso trono e rodeado de mil esbirros e empregados munidos de lanças.

  4. Furioso, ele grita: “Prendei essas feras das montanhas para que eu possa estraçalhar sua carne, pois seu sangue deve pagar o sangue de mi- nhas companheiras Ada e Zilá, e o de minha filha mais bela, Noêmia.”

  5. Nesta altura, Kisehel ergue sua mão e diz com voz estentórica: “Alto lá, até aqui e não mais além! Quem apenas movimentar mão ou pé morrerá instantaneamente.”

  6. Como ninguém se mexe, Lamech salta do trono, apanha a lança de um esbirro, querendo atacar os três. A lança se torna incandescente e ele a atira para longe, e quando apanha uma outra, sua mão fica quei- mada. Percebendo que está perdido, ele grita: “Que quereis aqui, feras das montanhas? Falai, para que vos possa pagar o tributo merecido.”

176.LAMECHSESUBMETEÀ OBEDIÊNCIA

  1. Erguendo de novo sua mão, Kisehel reage com ímpeto: “Lame- ch, rei de todos os vícios, crueldades e perfídias! Em Nome do Todo Poderoso afirmo que nenhuma pedrinha na rua mais imunda de tua ci- dade será por nós exigida como tributo, e quando deixarmos este local, até mesmo o pó será tirado de nossos pés.

  2. Além do ar e da água, nada tomamos desde que aqui viemos, pois estamos supridos de tudo. Daí concluirás não estarmos exigindo qualquer tributo. Ainda assim, impomos um muito grande, não mate- rial, e sim, o tributo da obediência.

  3. Como rei, exiges de todos a maior obediência, com risco de morte; no entanto, jamais praticaste a menor obediência a quem quer que seja. Agora hás de curvar tua nuca pela primeira vez, e farás o que foi exigido em Nome de Jehovah.

  4. Serás feliz, se te submeteres. Caso contrário, hás de sentir o açoi- te aguçado de Deus até te submeteres ao jugo de nossa vontade, em Nome Dele. Tomaste conhecimento de teu tributo?”

  5. Cheio de ira, Lamech se atira contra Kisehel, que o levanta pelos cabelos e sacudindo-o diz: “Verme infeliz do pó e da completa inca- pacidade de reação, quanto tempo pretendes reagir? Queres te opor à Vontade de Deus, que em nós tem o Poder de te dizimar pelo sim- ples hálito?

  6. Que farás se eu te soltar, pois teus pés não hão de tocar o solo antes de expores teus planos. Já vês que por parte de teus esbirros nin- guém te auxiliará.”

  7. Rangendo os dentes, Lamech responde: “Dai-me ao menos três dias de prazo para que possa me concentrar e resolver minha situação. Vejo não possuir armas contra inimigos como vós. Solta-me e dá-me a conhecer minha atitude.”

  8. Nem bem se encontra de pé, Lamech volta para o trono, senta-

-se em posição orgulhosa e diz com seriedade: “Que deve fazer o gran- de rei e soberano de Céus e Terra?” Responde Kisehel: “Antes de mais

nada, deves descer imediatamente do trono, a menos que queiras ser queimado a cinzas, junto com ele.”

  1. Como o trono começa a esquentar, Lamech o amaldiçoa pela primeira vez e salta para o chão. Prossegue Kisehel: “Como rei destro- nado, deves te dirigir conosco para os charcos e lodaçais. Tua guarda te acompanhará. Lá saberás o que te cabe fazer, em Nome de Jehovah!”

177.LAMECHESUAGUARDASÃOLEVADOSÀPRAÇADE JULGAMENTO

  1. Diz Lamech: “Por que me mandas acompanhar-te com meus empregados, se te pedi três dias para reflexão?” Responde Kisehel: “Por- que Deus assim o quer. Cumprimos apenas a Sua Vontade, cujo Nome ultrajaste tão infamemente. Ele já concedeu um prazo muito longo que aproveitaste para ações criminosas e infames.

  2. Prontifica-te a nos seguir e não tentes a Paciência de Jehovah, pois pode acontecer que sejamos obrigados a te tratar com violência. Qual foi o resultado de tua teimosia contra Deus? Quanto tempo pas- sou desde que Meduhed te abandonou com milhares de pessoas e Ta- tahar foi aniquilado na perseguição daquele?

  3. Quanto tempo passou desde que o corajoso Sihin te deixou com seu povo pequeno, porém bastante astuto? Quando perdeste o teu harém? Que alcançaste com Hored, a quem entregaste tua filha? Há poucos dias querias incendiar a Terra. Qual foi o resultado? Que aconteceu com Horadal, a quem enviaste com armas para aniquilar os filhos de Deus? Reflete sobre o que já fizeste contra Deus e quais os frutos obtidos.

  4. Caíste cada vez mais na dura escravidão de Satanás, da qual difi- cilmente te salvarás. Tolo, por que nunca tentaste criar um homem, ou pelo menos vivificar os que mataste, para te convenceres de tua mise- rável divinização? Não te recuses a nos seguir, pois somos o último raio da Graça de Jehovah. Se o aceitares de bom grado, poderás escapar do Julgamento Divino; do contrário, ele se transformará num juiz incle- mente para a morte eterna.”

  1. Braveja Lamech: “Que devo fazer junto dos charcos?” Responde Kisehel: “Deves reconhecer o Poder de Deus e perceber que Ele não costuma fazer pilhérias com criaturas semelhantes a ti.”

  2. Estas palavras convencem Lamech a seguir os três, junto com seus esbirros. O povo julga que ele esteja conduzindo-os para a condenação, por isto gritam: “Ai de nós, Lamech sobrepujou-se acima dos poderosos das montanhas. Hoje eles caem sob seu gládio; amanhã será nossa vez.”

  3. Com voz alta Kisehel protesta: “Acompanhai-nos para verdes os acontecimentos; em seguida podeis vos queixar de quem o merece. Quem nos tivesse aniquilado, teria feito o mesmo com Deus e não mais existiria terra sob nossos pés. Mas a Terra e o Céu ainda existem, e am- bos são de Deus, e nós também.” Assim, grande número de pessoas os seguem para os charcos.

178.JULGAMENTODEFOGOSOBREASCONCUBINASDE LAMECH

  1. Quando chegam às poças de lodo e Lamech avista suas concubi- nas que carregam gravetos, outras ainda se enlameiam, ele se vira enrai- vecido para Kisehel, perguntando qual sua intenção. Este responde: “A própria ação te dará resposta. Cala-te e não faças perguntas; mas eu te perguntando algo, responde com boca de gente e não de dragão.”

  2. Percebendo ser mais aconselhável silenciar, Lamech fica aguar- dando os acontecimentos, enquanto Kisehel se dirige para as moças que haviam carregado a lenha: “Cumpristes nossas ordens apanhando gra- vetos em quantidade; agora falta arranjardes depressa o fogo necessário, caso quiserdes vossa libertação total.”

  3. Quando elas voltam, munidas de tochas feitas de piche e resi- na, Kisehel se volta para as outras que ainda se entretêm com a lama: “Tanto vosso corpo quanto a alma se prestam para o inferno. Subi nesse montão de lenha a fim de que a ira do fogo termine com vossa existên- cia miserável, no que consiste o prêmio merecido de há muito.”

  4. Nesta altura, elas começam a gritar e implorar por clemência, pois estão prontas a fazer qualquer penitência até o fim da vida. Se

devem realmente morrer, que não seja desta maneira tão horrenda, por Misericórdia de Deus, Poderoso e Vivo.

  1. Kisehel retruca: “Não cabe a nós julgar ou salvar-vos, e ficai cer- tas que somos apenas executores da Vontade de Deus. É preferível vos prosternardes diante Dele e pedir-Lhe a salvação, e faremos indubita- velmente o que nos for inspirado no coração.”

  2. Eis que elas começam a esbravejar para que Deus as salve de sofrimento tão atroz. Mas uma Voz tonitruante Se faz ouvir por todos: “Haveis de receber a salvação somente depois do fogo!” — Elas se le- vantam devagar e começam a subir na pilha de lenha e, quanto todas se encontram em cima, Kisehel ordena às outras para atear o fogo. Rapi- damente as chamas consomem a todas que, loucas de dor, se retorcem até que a morte finaliza tudo.

  3. Diante disto, Lamech se atira contra Kisehel, gritando: “Que lu- crastes, vós e vosso Deus, com a morte horrenda daquelas criaturas?”

  4. Diz Kisehel: “Recebeste ordem de não falar antes de seres inqui- rido. Como não cumpriste a ordem, só receberás resposta pelos fatos.” E, virando-se para o local da fogueira, ele grita: “Erguei-vos, purificadas pelo fogo, da cinza de vosso corpo anteriormente pecaminoso e teste- munhai a Lamech a nossa mensagem.”

  5. No mesmo instante, as almas glorificadas se desprendem das cinzas, louvam a Deus e dão testemunho de serem os três mensageiros enviados por Ele e, além disto, afirmam que o sofrimento passado fora pequeno diante daquilo que sentem nesta nova vida. Lamech se admira muitíssimo e começa a meditar sobre o milagre.

179.LAMECHÉSUBMETIDOÀEXAMEE HUMILHAÇÃO

  1. Em seguida, Kisehel se vira para Lamech, dizendo: “Imaginando seres um grande rei e até mesmo um deus, mandando matar milhares de pessoas, dize-me se em virtude de tua divinização já conseguiste res- suscitar ao menos uma?

  2. Sabemos de teu arrependimento de certas ações e gostarias de fazer voltar à vida teus próprios irmãos e outros, no tempo em que

ainda não te julgavas um deus. Por que não o fizeste agora em que te consideras efetivamente um deus poderoso?”

  1. Responde o orgulhoso Lamech: “Não o fiz porque achei indigno de minha parte.” Opina Kisehel: “Dize-me quais seriam as ações dig- nas da Divindade?” Retruca ele: “Por acaso sou obrigado a responder a todas as tuas perguntas?” “Sim”, diz Kisehel, “do contrário podes ser atingido por um açoite do Alto.”

  2. Percebendo que não pode gracejar com Kisehel, Lamech respon- de: “Segundo minha opinião, considero a criação e destruição de mun- dos dignas de Deus. Todo o resto não merece consideração e pode ser tomado como obra de espíritos simples e serviçais. Do mesmo modo, também a vingança e o julgamento são dignos de Deus, enquanto a misericórdia, amor, paciência e preservação, são apenas qualidades de criaturas comuns.”

  3. Diz Kisehel: “Está bem, mas deves ainda provar que és realmen- te um deus onipotente, pois não se trata de não o quereres; portanto, não o podes realizar. A Onipotência desconhece algo impossível. Neste caso, podes ressuscitar mortos; basta que o queiras.

  4. Terás que fazê-lo agora para provar tua divindade, pois não acei- tamos a mesma pelo simples fato de teres matado e destruído várias pessoas. Aqui estão tuas mulheres, concubinas e empregados. Mata um deles e em seguida faze com que ressuscite, que podes estar certo que te aceitaremos como único Deus de Céus e Terra.”

  5. Sumamente perturbado, Lamech não sabe o que falar ou fa- zer. Por isto, Kisehel prossegue: “Se não nos deres uma prova de tua divindade, eu te obrigarei com archotes a desenterrar a pedra, na qual escreveste o Nome de Jehovah, enlameaste e amaldiçoaste Seu Nome, e depois deve limpá-la, honrando-a como penitente até o fim de tua vida.”

  6. Lamech quase explode de raiva, sabendo a situação de sua su- posta onipotência, de sorte que finalmente confessa que sua divindade é simples título honroso. Diz Kisehel: “Se assim é, por que ultrajaste o Nome de Deus Único? Fala ou executa minha ordem anterior.” Furio- so, Lamech se cala.

180.TEIMOSIADE LAMECH

  1. Como Lamech custa a responder e nem faz menção de justifi- car-se, mas, pelo contrário, se aprofunda em pensamentos de vingança, Kisehel se vira para ele e diz: “Servo de Satanás, emudeceste porque mi- nhas palavras te envolveram numa rede e agora enches teu coração com pensamentos tais que toda tua natureza se volta contra nós, portanto, contra Deus.

  2. Ficou provada tua impotência contra nós, pois demonstramos o invencível Poder de Deus; todavia, reages ao Espírito do Amor eterno. Vê as moças que a teu mando foram levadas aos dois primeiros degraus para impedirem nossa aproximação. Todas elas estavam mortas, pois nossa força de vontade provinda de Deus as impeliu para os charcos, onde morreram. Mas acabaram de ressuscitar.

  3. Viste tuas próprias mulheres serem queimadas a cinzas, e em seguida ressurgiram de físico transfigurado. Isto não basta para provar nossa missão divina? Que pretendes alcançar com tua teimosia e vin- gança? Queres lutar contra Deus, enquanto tua vida depende exclusiva- mente de Sua grande Misericórdia?

  4. Vê quão fútil é teu poder contra o meu simples hálito. Por que apresentas teimosia em vez da obediência combinada, pela qual somen- te poderás chegar à Graça de Deus, tornando-te nosso irmão muito querido? Em Nome Daquele Que nos enviou junto de ti, que fales sem mais delongas!”

  5. Cheio de empáfia, Lamech responde: “Não entendo o que dizes nem quero entendê-lo. Não são estes os moldes usados no tratamento com um rei que, como tu, falou com Deus, Dele recebendo a promes- sa de que haveria de ser castigado setenta e sete vezes quem atentasse contra mim. Não hei de me vingar de Deus nem de ti, pois conheço minha fraqueza.

  6. Tu, porém, atentaste contra mim, o rei Lamech, e hás de te en- tender com Deus, Cuja Ordem e Sabedoria chegam mais longe que tua visão. Se sou como sou e ajo como tu, em Deus, por que me classificas de monstro sem igual?

  1. Se sou um rei das planícies e tu sendo enviado a mim, fala comi- go como embaixador e não como juiz. Podes quebrar minha força, mas nunca quebrarás minha vontade desta maneira.”

181.INVOLUNTÁRIOISOLAMENTODE LAMECH

  1. Retruca Kisehel: “Tens razão com tua exigência como rei. Resta saber o que nos cabe exigir de ti, como verdadeiros mensageiros de Deus, conforme provamos por ações e palavras. Se puderes justificar tua expressão de ‘feras das montanhas’, e o tratamento na subida das escadas, hei de reparar tudo que disse de ti.

  2. Mas, ai de ti se não fores capaz de justificativa. Te reportaste a Deus, a Quem amaldiçoaste, e te colocaste, como maior caluniador, sob a Ordem de Sua Santidade eterna e intangível a fim de poder nos condenar por motivo qualquer. Justifica-te, do contrário sentirás a pri- meira chibata divina.”

  3. Com atrevimento, Lamech reage: “Julgas que Lamech se curvará diante de tua ameaça? Lamech não teme a morte nem Deus, muito menos a ti, ainda que fosses dotado de poder maior do que já desfrutas como emissário de Jehovah.

  4. Se quiseres me bater com açoites de fogo, podes fazê-lo até ma- tar-me. Podes tirar-me a vida, mas minha índole e vontade, jamais. Querendo castigar-me com as piores dores, alimentarás apenas minha revolta; mas nunca a enfraquecerás e terás convicção de que a Vontade de Deus pode ser dobrada, a de Lamech, jamais.

  5. Finalmente, devo esclarecer-te que Lamech dispõe ainda de outros poderes que até o momento não achou necessário demonstrar. Aproximando-vos dele além do permitido, sabereis como funciona a divindade dele. Por isto, aconselho que tu e teus companheiros deixeis minha capital dentro de três dias. A partir deste instante, não vos farei perguntas nem darei respostas, e em caso de vossa desobediência toma- rei as medidas certas para punir ultrajes semelhantes.”

  6. Retruca Kisehel: “Muito bem, será como disseste. Vinde todos, inclusive esbirros e o próprio povo, e acompanhai-nos, pois Lamech fica-

rá sozinho para saborear o açoite divino, durante três dias. Talvez seremos mais bem vistos passado esse tempo.” Todos se afastam e Lamech conti- nua preso ao local, sem poder se mexer, nem ser procurado por alguém.

182.AIMPORTÂNCIADA PACIÊNCIA

  1. Durante os três dias, os três emissários foram visitar os quatro irmãos enfermos numa estalagem, pois o espírito de Abel os havia pu- nido em virtude de sua queda aos encantos das concubinas de Lamech.

  2. Os três amigos bem sabiam que Eu mandara esta punição para os outros, mas ignoravam quem seria o executor. Como Kisehel se di- rige a Mim neste sentido, Eu lhe faculto a visão interna e prontamente ele percebe o espírito de Abel à sua frente. Curvando-se diante dele, Ki- sehel diz: “Irmão celeste, por quanto tempo manterás os pobres irmãos nesta situação?”

  3. Responde Abel: “Até que desapareça de sua mente o quadro da tentação carnal. Observa seus corações, onde uma quantidade de mu- lheres tentadoras habita os recintos que se destinavam exclusivamente à veneração e ao amor de Deus, e suas almas se satisfazem com tal quadro. Isto deve ser expelido, e meu açoite não descansará até se dar esta purificação. Podes adverti-los e demonstrar-lhes sua situação; no entanto, nada dirás a meu respeito.”

  4. Diz Kisehel: “Está bem. Mas, qual é tua opinião a respeito de Lamech? Segundo me parece, não se converterá de todo, pois será uma conversão aparente.” Diz Abel: “Não te preocupes neste sentido, mas age pacientemente dentro da Vontade de Deus, que no final tudo che- gará a uma meta justa. Necessitas antes de tudo de muita paciência, e tudo se tornará fácil.

  5. Que não te preocupe se o teimoso Lamech se converta hoje, amanhã ou daqui a alguns anos, pois isto é problema do Senhor, cujos Caminhos e Desígnios são insondáveis. De nossa parte, faremos tudo, uma vez que cumprimos Sua Vontade e O amamos acima de tudo.

  6. Julgas eu me preocupar com a cura de teus irmãos? De modo algum, pois meu amor para com eles está por demais convicto de que

  1. A paciência é portanto nossa causa principal. Quem a possuir no coração há de vislumbrar os resultados de seu esforço, enquanto o im- paciente não raro destrói num instante aquilo que edificou em dez anos.

  2. Se observares uma criatura cujos filhos apresentam disposi- ção para aprenderem algo útil e belo, mas ela não se armou da devida paciência no coração, porquanto os pequeninos custam a assimilar o problema, que aspecto terá a futura educação dos mesmos? E o pró- prio espírito?

  3. As crianças ficarão aborrecidas e começarão a desprezar a mãe impaciente, considerando-a uma pedra de escândalo da qual se desvia- rão sempre que possível. Se uma mãe na educação interna dos filhos precisa antes de tudo de muita paciência, quanto maior não deve ser a nossa, dada pelo Pai, se como professores não queremos barrar o cami- nho de nossos discípulos. Aplica a máxima paciência na tua missão, que hás de ver tua tarefa coroada de êxito. Aceita minha bênção em Nome de nosso Pai.”

  4. Abel desaparece, e Kisehel transmite o ensinamento para os irmãos, apenas ocultando quem fora o autor. Todos se alegram com

o mesmo, louvam o Meu Nome e dentro em breve os outros come- çam a sentir melhoras. Ouvindo as palavras de Kisehel, renunciam aos quadros pecaminosos e purificam o coração, e deste modo voltam a saborear a Minha Graça e Misericórdia. Em seguida, o pequeno grupo se afasta daquela estalagem indigna.

183.OPODERDA PRECE

  1. No terceiro dia, Kisehel chama as moças e lhes diz: “Chegou o momento de procurarmos Lamech. Avisai disto os empregados e reco- mendai-lhes de levarem pás e enxadas. Vós outras, ponde roupas festi- vas e levai bastante alimento.” Elas obedecem felizes e pedem a Deus que tenha piedade com o teimoso Lamech e amolde seu coração à Von- tade Divina.

  1. Satisfeito, Kisehel diz: “Se soubésseis da alegria que vossa prece despertou em nós, o fogo de nosso coração vos dissolveria pela segunda vez. Continuai pedindo por Lamech, que haveremos de assistir a ver- dadeiros milagres.”

  2. Quando chegam aos charcos, encontram Lamech desesperado de fome e sede. Erguendo suas mãos, ele diz para Kisehel: “Podero- so emissário Daquele cujo Nome não mereço pronunciar. Não receies minha vontade dominada por ti, mas dá-me algo para saciar minha fome e sede.”

  3. Diante da generosidade dos alimentos, Lamech reconhece suas ações criminosas e diz chorando: “Jamais hei de encontrar perdão pelo que fiz. Vejo meu coração repleto de serpentes e outros bichos vene- nosos, e em meu redor se encontram inúmeras falanges a gritarem por vingança e amaldiçoando o seu rei.

  4. Embora esteja morrendo de fome e sede, não consigo tomar coisa alguma, pois este quadro me aniquila diante de vós e Daquele que vos enviou. Prefiro morrer de inanição porque amaldiçoei a vós e a Deus. Não mereço nada de melhor.” Passados alguns instantes, ele se vira para as falanges invisíveis: “Pobres infelizes, clamai a Deus para que eu receba castigo, pois mereço o maior de todos.”

  5. Nesta altura, ele tomba chorando copiosamente e todos os pre- sentes se emocionam diante do grande remorso de Lamech. Kisehel toca o ombro dele e diz: “Levanta-te e lança um olhar em nosso meio, para que sintas a maneira pela qual o Amor Eterno de Deus Se vinga nos pecadores que reconhecem, como tu, a imensidade de suas culpas e com remorso se humilham diante de todos os seres.”

  6. Lamech se levanta e vê no meio dos sete emissários uma nuvem clara. Estupefato, ele diz para Kisehel: “Que vem a ser isto?” E uma voz se faz ouvir: “Lamech, por muito tempo pisaste Minha Ordem. Como te humilhaste diante de Mim e de teus irmãos, acabo de anular os teus crimes e te perdoo toda culpa.

  7. Ergue-te de vez e repara aquilo que fizeste a Mim e aos outros por meio de teu amor a Mim e ao próximo. Podes te alimentar, pois Eu, teu Deus, Criador e Senhor, abençoei tudo. Meus mensageiros te dirão

o que fazer daqui por diante. Sou Aquele que falou contigo quando mataste teus irmãos.”

  1. Neste instante a nuvem desaparece e Lamech se vê solto e se encaminha para junto de Kisehel, dizendo: “Como fui perdoado por Deus, peço-te que também me perdoes e te garanto que serei apenas servo, enquanto serás rei em Nome do Altíssimo.” Retruca Kisehel: “Alimenta-te primeiro e depois trataremos de teu futuro, segundo a Vontade Divina.”

184.LAMECHDESEJALIMPARA PEDRA

  1. Depois de se ter refeito, Lamech se vira para Kisehel, dizen- do: “Acabo de me satisfazer com o alimento abençoado pelo Pai, que relevou minha grande culpa diante Dele e de todo mundo. Mas, não encontro palavras para expressar minha gratidão e te peço me ensinares a usar de expressões dignas para com Ele.”

  2. Responde Kisehel: “Preocupas-te com algo sem valor perante Deus, que considera apenas o coração da criatura. Agrada-Lhe muito mais a gratidão que sentes, qual chama devoradora do coração, e deves permanecer nesta manifestação grata. Qualquer atitude externa alivia a chama do amor de um pecador remido; todavia, o coração se torna me- nos amoroso e sereno, e portanto menos grato pelas Graças recebidas.

  3. Tive sempre a prova com meus filhos que justamente aqueles que me agradeciam por palavras, se tornaram menos gratos. Os outros, quase mudos, se teriam atirado ao fogo, caso eu fizesse tal exigência. Raras vezes ouvi palavras de gratidão, mas descobri lágrimas de reco- nhecimento, alegria e louvor em seus olhos, e tais lágrimas pesavam mais que palavras belas de um filho maneiroso.

  4. Agradece também ao Pai, em silêncio, que Ele Se alegrará com isto. Uma vez orientado e tendo te voltado para o Senhor, podes deter- minar o que deve ser feito, pois aqui estamos para te ajudar com todas as nossas forças para qualquer obra de bem.”

  5. Dando um salto de alegria, Lamech exclama comovido: “Antes de mais nada, recebe minha gratidão pelo ensinamento tão sábio; conti-

nuarei na manifestação de gratidão única e verdadeira. Quanto ao meu desejo, só alimento um, isto é, desenterrar a pedra e limpá-la para poder venerá-la, caso for digno desta ação.” Diz Kisehel: “Teus empregados já se acham munidos de pás e enxadas. Basta que o fizeste no coração, que o restante será feito por eles.”

185.REMORSOEAMORTRANSFORMAMODETRITOEMOURO PURO

  1. Ajoelhando-se diante de Kisehel, Lamech exclama: “Meu Deus, quão enorme deve ser Teu Amor, por seres tão Misericordioso para com um pecador. Filhos poderosos de Deus Onipotente, que manifestação sentis no coração quando exclamais: Deus é nosso Pai!

  2. Que abismo infinito existe entre mim e vós, nascidos da Luz eterna de Deus e vivificados eternamente pelo Seu infinito Amor Pater- nal — sendo eu filho da serpente como fora Caim. Agora compreendo porque as serpentes gostam de se banhar nos raios do Sol. O calor so- lar as beneficia tanto quanto me agrada estar diante dos filhos da Luz eterna em Deus, o Santo Pai. Ó filhos de Deus, aqui onde me ajoelho, coroei minhas crueldades com a maior de todas. Aqui se acha enterrado em uma pedra o Nome mais Santo.”

  3. Chorando copiosamente, Lamech se cala, enquanto Kisehel o abraça, dizendo: “Meu irmão, como podes falar de um grande abismo entre nós? Porventura sentes um amor grande e poderoso para com Deus, no coração?”

  4. Comovido, Lamech responde: “Amigo das alturas, se meu co- ração não fosse compenetrado de tal amor, imerecido, como poderia pressentir vossa sensação como verdadeiros filhos de Deus, o Pai?”

  5. Sumamente feliz, Kisehel retruca: “Nosso Santo Pai seja louvado por me ter permitido encontrar um irmão perdido. Lamech, alegra-te comigo, pois somos filhos de Um Só Pai, não havendo abismo entre nós. Estavas perdido e foste encontrado de novo. Sempre houve alegria maior por algo reencontrado do que com aquilo que sempre represen- tou uma posse.

  1. Por isto, nos alegramos muito mais contigo do que com todos os moradores das alturas que sempre caminharam em verdade. A pedra já foi por ti desenterrada e limpa com lágrimas de amor e remorso, e deste modo transformaste os detritos nos quais escondeste a pedra, em ouro e pedras preciosas. Manda abrir a cova e te convencerás de minhas palavras.”

  2. Todos se admiram quando veem surgir ouro e pedras preciosas e quando após uma hora de escavação surge um luminoso diamante com as insígnias luminosas de Jehovah, todos caem por terra e adoram o Santíssimo Nome. Lamech bate no peito e exclama: “Meu Deus, sê Misericordioso para comigo!”

186.CONSTRUÇÃODEUMTEMPLOPARAGUARDARAPEDRA SAGRADA

  1. Depois da pedra desenterrada, o Nome limpo e ovacionado por todos, Kisehel a comprime contra o peito e diz: “Ó Nome Sagrado, pri- meira Palavra pronunciada pela Boca de Deus, que existiu antes de exis- tir um ser consciente além Dele, Expressão Original, Base de todos os seres e coisas a preencherem o Universo — quão suave é Tua Irradiação!

  2. Simples são os Teus traços, no entanto não têm começo nem fim, assim como Deus também não tem começo nem fim. Por isto é este desenho para nós a imagem justa do Santíssimo Nome que deverá ser mantido na maior veneração e glorificação Daquele que o representa.

  3. Lamech, vê esta preciosidade; deves fazer tudo para considerá-la um escudo sagrado de teu coração, teu povo e país. Construirás uma casa neste local, dotada de cinco, sete e dez janelas e três portas, uma para Oeste, outra para o Sul e a terceira para o Norte.

  4. O lado dirigido para o Sul deve ter as janelas em três filas. Em cima, as cinco, no meio, as sete e embaixo as dez. A construção será redonda e sua altura e circunferência corresponderão a doze altu- ras humanas.

  5. As paredes internas devem ser cobertas de ouro e pedras precio- sas. O telhado terá a forma de hemisfério e deve ser coberto de ouro

polido, interna e externamente. Acima do telhado devem se encontrar três bolas de ouro superpostas, cada qual de três alturas de homem.

  1. No centro desta construção, que não deve ter andares, edificarás um altar de rubis e diamantes, no qual será colocada a pedra. Isto feito, deves limpar o terreno em redor da casa, e não pode ser construída outra nas proximidades.

  2. As portas douradas devem ficar abertas aos sábados, enquanto ficarão fechadas em dias de trabalho. Ninguém deve ali penetrar de ca- beça coberta e nenhuma mulher entrará sem ter o rosto velado. Quem, pois, entrar de coração puro e der honra a Deus, há de receber um grande conforto.

  3. O blasfemo há de encontrar neste local sagrado sempre seu jul- gamento irremediável; por isto deve a zona ser cercada com uma mu- ralha com três alturas de homem, na qual se penetra somente por uma porta de aço.

  4. A parede externa deve ser pintada, na altura de quatro homens, na base com tinta vermelha, no centro com verde, e em cima com tinta branca. Essas três cores devem lembrar a pessoa desejosa de penetrar que só se pode aproximar de Deus através do amor do coração. Assim agindo, a confiança e a fidelidade, ou seja, o prêmio vivo do puro amor, serão parte dela. De posse desses dons, receberá também a cor superior que representa a vitalidade da fé, uma luz do espírito, emanação da chama viva do amor a Deus.

  5. Agora, Lamech, sabes o que fazer. Há ainda algo a considerar nesta construção: ninguém deve ser coagido para tanto, e só os que trabalharem com amor serão admitidos, encontrando a bênção de seu esforço; enquanto os forçados serão atingidos pela morte.

  6. Ainda hoje enviarás mensageiros para todas as regiões a fim de procurarem trabalhadores que iniciarão a tarefa amanhã. Durante a noite, devem ser transformados os charcos, pântanos e lodaçais em solo seco. Esta é a Vontade de Deus.”

187.OSFILHOSDESOBEDIENTESDE LAMECH

  1. Profundamente reconhecido pela grande Graça imerecida, La- mech se dirige a seus empregados e lacaios, dizendo: “Ouvistes a Or- dem recebida do Alto; portanto, tratai de convocar voluntários para o início da tarefa, amanhã. Informai-os do que sucedeu comigo e que ninguém precisa mais temer o rei Lamech, pois a hiena em forma hu- mana se transformou em cordeiro, arrependido por cada gota de sangue e cada lágrima por ele provocada, e que farei tudo para reparar o mal feito a todos que, daqui por diante, considerarei meus irmãos.”

  2. Os empregados hesitam em executar as ordens de Lamech, que se entristece com isto, mas não demora para reagir, dizendo: “Preguiço- sos, enquanto eu vos forçava com açoites, obedecestes ao menor aceno de Lamech. Agora que ele vos pede como irmão, não dais atenção ao seu mando. Vossa desobediência não se dirige a mim, mas a Deus Todo Poderoso; aguardai, portanto, vosso destino.”

  3. Virando-se para Kisehel, Lamech prossegue: “Por acaso agi mal em transmitir a esses irmãos o teu recado?” Responde Kisehel: “Falaste acertadamente, mas acontece que teus irmãos se sentem fracos e fa- mintos. Não precisas mandar buscar suprimento de teu palácio, pois as moças ainda têm alguns restos dos cestos. Vamos abençoá-los e hás de ver que todos ficarão saciados.”

  4. Kisehel manda trazer os cestos, ergue o olhar para o alto e aben- çoa as sobras. Quando os cestos se apresentam repletos, ele convida os empregados para se servirem, após o que todos reconhecem o milagre provindo de Mim e, depois de agradecerem, executam as ordens de Kisehel, convocando grande número de trabalhadores.

188.LAMECHAPRENDEOPREPARODOOURO.CONVOCAÇÃODE TUBALKAIN

  1. Em seguida, Kisehel se vira para Lamech, dizendo: “No solo deste local se acham enterradas milhares de libras de ouro puro, o mais nobre metal da Terra. Mesclado com areia, não pode ser aproveitado. É

preciso ser purificado por um metalurgista por meio de fogo. Uma vez derretido, será preparado em grandes bigornas por meio de macetas, de sorte que um pedaço do tamanho de um punho cerrado transformado em lâmina dá para acomodar cem pessoas em pé. Antes de tudo, é pre- ciso arranjar um bom metalurgista.”

  1. Opina Lamech: “Meu filho Tubalkain, que se unira por certo tempo à sua irmã Noêmia, é mestre metalúrgico e entende tirar da Terra este metal através do fogo e prepará-lo para vários instrumentos, por meio de pesadas macetas. Se quiseres, mandarei chamá-lo.”

  2. Concorda Kisehel: “Antes de purificar o metal com seus ajudan- tes, ele mesmo terá que ser purificado. No seu íntimo existem resíduos maiores que simples areia; portanto, necessita passar pelo fogo e o sal antes de poder trabalhar o ouro puro. Orienta o mensageiro de que nada diga a Tubalkain daquilo que ocorreu aqui.”

  3. Como não há outros homens presentes, Lamech se vê em difi- culdades para mandar chamar o seu filho. Kisehel então lhe diz: “Esco- lhe três moças, pois não seria justo apenas uma fazer o papel de mensa- geiro do rei.” Assim, elas se encaminham para procurarem Tubalkain, enquanto Kisehel convida Lamech a se saciar dos alimentos de suas despensas. Responde ele: “Se mereço tal graça, mandarei apanhar os alimentos que mencionaste. Se ainda não estiver em condições, prefiro jejuar até ser digno do vosso conceito.”

  4. Protesta Kisehel: “Ainda não se passaram três dias que Jehovah caminhava em Pessoa em nosso meio, participando de nossas refeições; no entanto, somos mais indignos perante Ele do que tu em relação a nós. Se Jehovah Se alimentou conosco, por que não deveríamos parti- cipar de tua refeição, que somos todos descendentes do mesmo Adão? Manda trazer alimentos, que partilharemos com todas as mulheres.”

189.ODESTINODA MULHER

  1. Após terem colocado os cestos diante dos sete mensageiros, Ki- sehel diz para Lamech: “Acabamos de abençoar os alimentos; senta ao meu lado que nos supriremos, oito ao todo, de um cesto. Os outros

cestos ficarão à disposição das moças que há vários dias não se alimen- taram e foram mantidas pela Graça e Misericórdia divinas, que também permitiram nossa descida nestas valas.

  1. Agora devem se alimentar naturalmente para voltarem a ser hu- manas. A mulher tem a finalidade de se tornar para o homem aquilo que ele mesmo é para o Criador. Se assim é, ela é una com o homem justo, do mesmo modo que ele é espiritualmente uno com Deus.

  2. Essas criaturas foram por demais ultrajadas, não podendo servir a homem qualquer; por isto, foram purificadas para torná-las aptas para sua finalidade. É preciso então que seu físico se alimente dos frutos da Terra e seu solo reprodutor se torne apto para sua missão.”

  3. As moças se alegram muito com as palavras de Kisehel; no en- tanto, receiam sua falta de mérito. Por isto, ele chama Sethlahem e diz: “Chegou tua vez de transmitir o justo conforto a estas pobres criatu- ras, cujo coração está repleto de humildade.” Erguendo seus braços por cima das mulheres, Sethlahem diz: “A purificação por que passastes se referia não ao físico, mas exclusivamente à vossa alma; portanto, são os corpos os mesmos de antes. Tudo que se passou convosco foi apenas uma boa transmissão para a alma, pois quando nos barrastes as escadas para Lamech, nosso poder divino permitiu transportar-vos para o ele- mento mais impuro dentro de vós. Uma parte vos acompanhou para os pântanos, elemento mais apropriado de vossa vida interior, e lá se atirou, sucumbindo aparentemente. Só depois de algum tempo, em virtude de seu remorso e obediência, foi de novo conduzida aos físicos que não sofreram dano.

  4. Outra parte foi também aparentemente queimada. As próprias moças colheram os gravetos, extasiadas em espírito, e todos os presen- tes, inclusive Lamech, foram transportados ao seu âmago, não podendo ver senão o que ocorria espiritualmente.

  5. Estivestes presentes em corpo; mas como estes, feridos por vossa insensatez, foram untados com óleo que prontamente curou as feridas, encontravam-se em sono profundo deitados na grama. Só depois da necessária purificação da alma, fostes com ela despertas e postas diante da visão material dos outros.

  1. As cicatrizes aplicadas pela insensatez provam que possuís ainda o mesmo corpo. Por isto, podeis vos unir a um homem e vos tornar aptas à procriação, como antes da milagrosa purificação da alma. Não pergunteis se há mérito, mas alimentai-vos conosco para vosso forta- lecimento. Jamais uma mulher passará por aquilo que passastes, pois isto fora preciso agora por causa de Lamech. No futuro, o julgamento atingirá as que viverem como vós. Não façais comentários às três moças enviadas para Tubalkain.”

190.POLÊMICAENTREKISEHELE TUBALKAIN

  1. Depois de todos se terem saciado, Sethlahem manda colher os restos para as moças, que deviam voltar dentro em breve. Também de- vem se dirigir para a cidade e preparar todos os salões do palácio para a recepção do novo rei que se tornara um irmão de todos. Na entrada da cidade elas são abordadas pelas outras, em companhia do rude Tubalkain, com grande número de mineiros munidos de instrumentos apropriados.

  2. Quando se acham junto de Lamech, Sethlahem encaminha as três moças para se refazerem com as sobras dos cestos. Feito isto, elas voltam para a cidade à casa de Lamech. Entrementes, Tubalkain para diante de Lamech e de seus mensageiros, levanta um macete pesadíssimo e o atira com tamanha força ao solo que o mesmo estremece a grande distância.

  3. Em seguida, diz com voz rouca: “Lamech, meu pai, que queres que eu faça? Porventura devo esmagar esses sete larápios? Precisas de armas novas? Devo cortar os picos das montanhas?”

  4. Com olhar perscrutador, Lamech aponta Kisehel e diz: “Será ele a te dizer o que deves fazer. Não te fies demais no teu macete, que se tornaria muito pesado para ti.” Virando-se para Kisehel, Tubalkain interpela: “Por que não te apresentas? Tens medo de mim, ou desco- nheces minha língua? As mulheres me falaram algo a respeito de um metal especial.”

  5. Retruca Kisehel: “Por que atiraste teu macete com tamanha vio- lência ao solo, e por que nos chamaste de larápios das montanhas? Res- ponde primeiro, depois transmitirei a minha vontade.”

  1. Fazendo as piores caretas, Tubalkain grita furioso: “O quê? Que disseste, criatura miserável? Ave de rapina das bonitas mulheres da me- trópole de meu pai! Devo esmagar teu crânio agora, ou depois? Seria deveras uma lástima meu macete fosse esmagar uma cabeça tão tola.” E virando-se para seus mineiros ele diz: “Voltaremos, pois para tais lará- pios nossa metalurgia não se presta. Se queres saber por que te chamo de larápio, é porque és um. E isto é tua sorte, pois se fosses menos tolo do que pareces, já terias experimentado este macete, sabendo que sabor tem.” Nesta altura, Tubalkain levanta o macete e pretende se afastar. Erguendo a mão, Kisehel troveja: “Ordeno-te que fiques, Tubalkain.”

191.TUBALKAINÉEDUCADOPOR KISEHEL

  1. Ao ouvir esta ordem enérgica de Kisehel, Tubalkain sente certo receio, mas finalmente retruca com ironia: “Pretendes modificar minha vontade através de teus urros? Isto me faz rir, pois se valesse a pena, te faria sentir o peso de nossos macetes. Todavia, não cogito cansar-me com gente de tua espécie.” Terminando de falar, Tubalkain faz menção de se afastar. Mas, em vão, pois a vontade de Kisehel fixou seus pés a ponto de não poder mexer um dedo sequer.

  2. Chamando seu pai, ele pede socorro para não fazer papel ridícu- lo perante esses tolos e brutos. Lamech então lhe diz: “Não te recomen- dei cuidado para que teu macete não se tornasse por demais pesado? Agora trata de te safar deste emissário de Deus. Não posso me estender neste assunto, mas não convém lutar contra os que dispõem da força dos elementos.”

  3. Tubalkain começa a refletir e chega à conclusão de que Lamech também nada consegue contra esses homens, pois é igualmente um vencido por eles. Diante disto, convém passar para a política até que as coisas mudem. Virando-se para Kisehel, ele diz: “Homem das monta- nhas, porventura não se pode falar contigo racionalmente para chegar- mos a um acordo?”

  4. Retruca Kisehel: “Como não? Comigo só se dá o pleno rigor e a vontade total, pois minhas palavras e ações nascem da Ordem Divina.

Se quiseres falar comigo num sentido positivo, terás que fazê-lo com rigor e não com política — do contrário falarás em vão.

  1. Pessoas semelhantes a ti poderão ser seduzidas pela política, en- quanto para nós ela é estranha, pois vemos o coração do próximo e sabemos de tudo que lá se passa, através da Graça Divina. Entende-o bem, porque não abandonarás este ponto antes de teres banido toda a política de teu coração.”

192.KISEHELREVELAAASTÚCIADE TUBALKAIN

  1. Diante das palavras de Kisehel, Tubalkain conclui o seguinte: “De minha parte estou seriamente empenhado em deixar este local e voltar para as minhas minas. Nesta intenção não há a menor ideia de política, de sorte que vou tomá-lo pela palavra. Se ainda assim não me soltar, de- monstrarei sua mentira e qualidade de blasfemo de seu Deus, porquanto afirmou que para ele tudo é pleno rigor e verdade total, segundo a Ordem Eterna de Deus. Uma vez liberto, ele poderá mandar seis mil mulheres ao meu encalço que eu não mais me afastarei de minhas minas.”

  2. Nesta altura, Kisehel interrompe as conjecturas internas de Tu- balkain, dizendo: “O que, a teu ver, é pior: a política dos homens, ou a astúcia das serpentes? Percebendo que por meio da política nada con- seguirias comigo e meus irmãos, te atiraste nos braços da astúcia das serpentes.

  3. Não resta dúvida que te empenhas com rigor na libertação de teus pés. Mas, se pretendes me prender com esta única verdade egoísta, estás totalmente errado. Se, por meio do primeiro grau de maldade, nada consegues contra mim, de que adiantaria o segundo, mais pro- fundo? Julgas eu me tornar um blasfemo de Deus caso não solte teus pés em virtude de tua astúcia? Conheço Deus e faço apenas o que Seu Espírito Santo me ordena.

  4. Tu és um ultrajador de Deus porque tentas seduzir não a mim e sim ao Espírito Divino, caso houvesse a menor possibilidade para tanto. Se não fosses pagão e servo do dragão, tal plano havia de te pre- judicar muito.

  1. Desconheces o Verdadeiro Deus, por isto pode tal pensamento ser perdoado, caso te arrependas realmente. Querendo ser solto, dirige-

-te ao Deus Único, Verdadeiro e Eterno, conforme tua mãe te ensinou. Não eu, mas a Graça de Deus imobilizou teus pés. Sou simples homem como tu, mas respeito a Vontade de Deus e reconheço minha total nu- lidade diante Dele. Faze o mesmo que eu. Reconhece tua imensa tolice, tua culpa e aceita Deus, que serás livre.”

193.ARREPENDIMENTOELIBERTAÇÃODE TUBALKAIN

  1. Sumamente perplexo, Tubalkain se dirige para Kisehel após al- gum tempo de reflexão: “Faze com que eu seja libertado para poder fa- lar-te abertamente, pois essa imobilização me impede nisto. Se te devo ser útil com meus conhecimentos metalúrgicos, devo estar livre. Se fui rude contigo, deves compreender que o motivo era de fato forte, pois não é fácil perder a companheira amada e mais linda do mundo. Sabes tanto quanto eu por quem isto se deu. Mas, esquecerei tudo se me sol- tares para poder falar livremente contigo.”

  2. Kisehel toma da mão de Tubalkain e diz: “Que sejas livre, em Nome de Jehovah, Deus Único e Verdadeiro!” No mesmo instante, ele é solto e diz: “Desejo que louves e prezes, em meu lugar, teu Deus Onipotente, por me ter libertado por teu intermédio. Em seguida, ex- plica-me o motivo de me teres chamado, e tão logo tiver cumprido minha tarefa, não hás de me negar uma pequena recompensa. Eis tudo que quero.”

  3. Retruca Kisehel: “Em que consiste essa recompensa? Fala, pois sabemos que todo trabalhador merece pagamento.” Diz Tubalkain: “Podes ler no meu coração, pois estou só desde a perda da Noêmia. Não a exijo, porque sei que a perdi. Mas, dá-me outra companheira, que serei pago segundo o desejo de meu coração.”

  4. Diz Kisehel: “Assim será ainda hoje na casa de teu pai. Uma vez que recebas este prêmio, estarás plenamente satisfeito?” Tubalkain queda perplexo e finalmente diz: “Existe mais uma coisa, mas que não serve para nós, habitantes das planícies.”

  1. Aduz Kisehel: “Se cumprires tua tarefa por amor a Deus, hás de pisar também as montanhas, onde falarás com Adão, Eva e todos os patriar- cas, inclusive o sumo sacerdote Henoch, para no final te saciares na cozinha de Purista. — Eis aos teus pés o metal que deves fundir e preparar em lâmi- nas, para podermos cobrir o Templo de Jehovah. Eis tudo que exijo de ti.”

194.PRECEDETUBALKAINEKISEHEL.AVOZPATERNAL,DO ALTO

  1. Nesta altura, Tubalkain se atira ao solo e começa a louvar a Deus: “Grande, Poderoso e desconhecido Deus! Meu coração vibra, cheio de gratidão e louvor; mas sou cego e surdo e desconheço onde Te encontras, e, além das palavras sussurradas de minha mãe amedrontada, nunca ouvi algo de Ti.

  2. Sê Misericordioso comigo, e todas as criaturas da Terra permi- tindo que Te conheçamos, ouçamos, e vejamos onde estás. Teus filhos testemunharam de Ti e executaram Tua Vontade. Mas, onde estás, Pai de tais filhos? Vem junto de nós, pobres pecadores. Se surgimos de Caim, pai do pecado e do julgamento, ele também nasceu de Adão. Se ele não mereceu Tua Misericórdia, por seres por demais Santo, nós não temos culpa de sermos seus descendentes.

  3. A noite continua noite, e o brilho de milhares de estrelas nada representa contra um raio do Sol. Permite que apenas umraio de Teu Amor chegue até nós, e nossa noite deixará de ser noite, e Te louvare- mos no Dia de Tua Imensa Glória. Eu, Tubalkain, um filho da treva, Te imploro Graça e Misericórdia. Desejo louvar-Te, mas Te desconheço! Faze com que venha a Te conhecer!”

  4. Terminando de falar, Tubalkain cai por terra chorando, enquan- to Kisehel o abraça dizendo: “Acabas de te tornar nosso irmão!” — e erguendo os olhos para o alto, prossegue: “Pai, eu Te louvo e rendo graças neste irmão. Foste Tu, exclusivamente, a nos presentear este ir- mão maravilhoso. Não foi sem motivo que o preparaste para mestre metalúrgico e desde eternidades o escolheste para purificar o ouro da Terra e torná-lo maleável.

  1. Mas, ele continua sendo ignorante, e se fosse de Tua Vontade poderias atender este meu pedido de dirigires um raio de Tua Graça ao seu coração que se voltou para Ti com amor e saudade. Teu Nome seja louvado hoje e sempre.”

  2. Essas palavras tocam profundamente o coração de Tubalkain e de Lamech, que começam a chorar. Passado algum tempo, uma nu- vem luminosa desce diante do grupo e uma Voz Paternal se faz ouvir: “Tubalkain, Aquele a Quem desconheces está diante de Ti, o Pai dos homens e Criador Onipotente de todas as coisas.

  3. Acabo de analisar teu coração e vejo que está purificado; por isto serás despertado para sempre de tua treva e deitarei um espírito Meu no teu coração, que te conduzirá à sabedoria total. Atende os Meus emis- sários que despertarão o espírito dentro de ti. Glorifica o Meu Nome, que serei Misericordioso a ti e a teu povo, pois Eu Sou Santo, Santo, Santo, Eterno e Infinito! Amém.” Nisto, a nuvem desaparece e todos se prosternam dando honras a Deus, com humildade e contrição.

195.ENTRADAÀRESIDÊNCIADE LAMECH

  1. Em seguida, Kisehel manda que todos se levantem e depois se dirige para Tubalkain: “É da Vontade de Deus que chames os mineiros e lhes ordenes trabalharem a noite toda. No preparo do ouro devem usar dos mesmos recursos aplicados na fundição dos outros metais. Quando tiverem conseguido mil e setecentas pepitas de ouro puro, devem dar por terminado o trabalho.”

  2. Dirigindo-se para o mestre das minas, Tubalkain diz: “A lenha, o salitre e a assistência alimentar do pessoal correm por minha conta. Transportai tudo para aqui e cuidai que no decorrer de uma hora possa ser iniciada a tarefa. Quando o Sol descer atrás das montanhas, o fogo deve estar aceso.

  3. Preparai no mínimo cem covas de três toesas de profundidade com auxílio de dois mil operários, que sob a nova Bênção de Deus tudo correrá bem. Se tiverdes trabalhado em seções bem organizadas, teremos até amanhã o metal suficiente. Então mandaremos trazer os

pesados martelos com alavancas manuais, e antes que o Sol desapareça as pepitas devem estar preparadas em lâminas. Podes organizar tudo.”

  1. O chefe das minas se põe em movimento e Kisehel louva a orienta- ção de Tubalkain, pois amanhã ele havia de assistir verdadeiro milagre com a obtenção do metal. E, virando-se para Lamech, diz: “Apanha a pedra e segue em frente, que te acompanharemos à tua casa. Lá guardaremos esta relíquia até a conclusão do templo. Seremos hóspedes de tua mesa e lou- varemos o Nome Santíssimo do Pai mais Amoroso de todas as criaturas.

  2. Tu, irmão Tubalkain, caminharás ao meu lado e ainda hoje rece- berás o prêmio combinado em casa de teu pai, pois sabes que ele possui grande número de moças, já purificadas, e uma será tua esposa.” Quan- do o grupo se aproxima da cidade, uma grande multidão o recebe, ex- clamando: “Honra a Deus nas alturas, por ter transformado Lamech para verdadeiro rei.” Diante dessa ovação, que se prolonga durante a noite, Lamech chora de emoção.

196.AVERDADECOMO SALVADORA

  1. Ao chegarem à residência de Lamech, todas as mulheres e mo- ças recebem e louvam, de rosto velado, o Nome gravado na pedra car- regada por Lamech. Kisehel se vira para Sethlahem e diz: “Transmite tuas ordens segundo tua inspiração.” Sethlahem manda preparar um cordeiro e um bezerro para o banquete dos noivos. Deviam também trazer pão, frutos e refrescos e tudo devia ser devidamente arrumado pelo mordomo.

  2. Quando todos se dirigem ao grande salão do trono, Lamech diz para Kisehel: “Me apavoro diante de meu trono criminoso e todos os meus crimes surgem em minha alma quais nuvens tempestuosas numa noite sufocante. Deste trono, construído das lágrimas sangrentas das po- bres criaturas, eu ainda emiti as ordens mais escabrosas. Se fosse de teu agrado, pediria com todas as minhas forças a procura de outro recinto.”

  3. Kisehel, porém, protesta: “Justamente este é o mais adequado de todo o teu imenso palácio, pois se quiseres sarar no coração e na alma, hás de purificá-los totalmente de todo antigo detrito. Isto só é possível

através da projeção de teu espírito, cujo fogo consumirá toda a maldade de teu coração.

  1. Como poderia o espírito ser levado a inflamar-se senão pela pressão geral provocada pelo peso de sentimentos despertos de tuas ações pecaminosas?

  2. Neste salão percebes tal pressão incômoda, sendo o que deves desejar de fato. As horríveis recordações te pressionam e esta pressão te libertará. Que farás? Por acaso podes desfazer o que foi feito? Con- seguirás te libertar de tuas ações? Isto jamais te será possível enquanto fugires das recordações sentidas. Só existe uma coisa que pode libertar teu coração e igualmente tua alma — a Verdade!

  3. Terás que procurá-la em tudo, de sorte que o fogo da Verdade consumirá o detrito em ti, e então poderás caminhar de espírito livre e reconhecer de fato o que vem a ser o pecado, e como é fácil ao Senhor salvar-te de todos os teus pecados, ainda que seu número fosse maior que a erva na terra e a areia do mar.

  4. Assim sendo, temos que permanecer neste salão e, por ora, co- locar a pedra em cima do trono ornamentado, como prova de Quemno futuro será o trono imperial. Leva a pedra até lá, onde ficará até ser concluído o Templo.”

197.OFOGOPURIFICADORDO AMOR

  1. Satisfeito, Lamech obedece e louva o Nome Santo gravado na pedra; no entanto, não consegue se refazer desta veneração, pois à me- dida que se aprofunda no Nome do Senhor, coração e alma se empol- gam impedindo que ele se afaste dali. Kisehel o deixa à vontade a fim de se firmar no amor vivo para com Deus.

  2. Tubalkain, por sua vez, se admira da atitude de seu pai e diz: “Kisehel, se alguém me tivesse dito que amanhã havia de nascer uma árvore cujos galhos atingiriam o firmamento, tal fato seria mais aceitá- vel que a súbita conversão de meu pai. Não se passaram oito dias que Lamech jurou destruir Céus e Terra; — e agora está totalmente contrito diante daquilo que amaldiçoou.

  1. Eis o maior milagre da Terra desde o seu surgimento com tudo que apresenta. Agora acredito realmente que fostes enviados por Deus, e isto desperta minha livre vontade. Não sou mais confessor coagido de tudo que nos ensinastes e ainda nos ensinareis, pois agora quero de livre vontade o que determinareis segundo a Vontade Onipotente do Cria- dor. Permiti que também me dirija para o trono, a fim de acompanhar o meu pai em sua adoração.”

  2. Concorda Kisehel: “Vai e te fortalece para a futura tentação, pois quem é socorrido pelo Santo Pai através de um milagre é por Ele experi- mentado mais fortemente do que um convertido pelo Verbo.

  3. É preciso que tudo passe primeiro pelo fogo, antes de se poder aproximar de Deus no coração e na alma. Tu e Lamech fostes conver- tidos milagrosamente, mas neste estado sois semelhantes ao metal en- contrado na terra em estado cru, podendo ser considerado um detrito da mesma. Caso o metal deva se tornar sólido e útil, é preciso passar pelo fogo.

  4. Tu e Lamech tereis que passar igualmente pelo fogo e serem di- luídos pelo mesmo antes de alcançardes a verdadeira firmeza na fé, no amor e na fidelidade para com Deus. Necessitas, bem como o teu pai, uma energia maior para cada provação vindoura do alto.”

  5. Apavorado com as palavras de Kisehel, Tubalkain só consegue balbuciar: “Então, eu e o pai Lamech... seremos queimados no fogo?” Retruca Kisehel: “Que tolice! Nenhuma faísca tocará vosso corpo. Mas, o fogo de vosso amor para com Deus terá que vos consumir em todo mundanismo ainda oculto em vossa alma. Só então vos podereis apro- ximar de Deus e todos os pecados vos serão tirados, assim como foram tirados de mim, pois também fui pecador perante Deus. Também fui convertido por um milagre e passei pela prova de fogo e ainda me en- contro nela. Procura teu pai, segue a ação dele, que receberás uma Gra- ça fortificadora para enfrentares as provações com ânimo e coragem.”

198.CONFISSÃOHUMILDEDE LAMECH

  1. Cheio de ânimo, Tubalkain se dirige junto ao seu pai, se ajoelha e faz uma meditação acerca de suas ações anteriores, pedindo, arre- pendido, perdão ao Deus Verdadeiro. Finalmente, Lamech se levanta e diante do trono exclama: “A vitória é minha! Ouvi-me, meus povos! O Senhor e Criador de Céus e Terra, contra o Qual agimos tão crimi- nosamente, voltou Sua Face para nós e, em virtude de nossa grande ignorância, sustou o julgamento que nos teria tragado para sempre.

  2. Minha maldade foi imensa e eu quis com ela penetrar nos Céus da Vida; mas o Senhor descobriu minha grande pobreza de alma e Se apiedou de mim. Senhor, quão imensos devem ser Tua Bondade e Teu Amor por teres suportado o ultraje de Teu Nome diante deste trono!

  3. Que devo fazer para não aparecer tão infame diante de Ti? Transmite Tua Vontade por intermédio de Teus servos fiéis; de minha parte nada mais farei sem consultar-Te e sinto asco de minha vontade ultrajante. Teu Nome seja louvado para sempre.”

  4. Nesta altura, Kisehel abraça Lamech, dizendo: “Se soubesses que alegria nos proporcionas com tuas palavras! Se prosseguires como então, as barreiras entre as planícies desaparecerão e pode suceder que o Pai envie o sumo sacerdote Henoch para vos ensinar o caminho do amor.

  5. Em Nome Dele te asseguro que tão logo o templo estiver pron- to, tu e Tubalkain haveis de subir conosco as montanhas sagradas, onde descobrirás em plenitude a verdadeira vida, podendo apossar-te dela, em benefício de todos os teus súditos. Sê persistente na aceitação da Vontade do Senhor, que à tua pergunta te diz: Age deste modo, que te abençoarei nas montanhas de Meus filhos.”

  6. Diante dessa promessa, Lamech e Tubalkain quedam atônitos, e só depois de algum tempo o primeiro balbucia: “Que acabaste de proferir? Os pés do maior pecador terão permissão de pisar aquelas alturas? Meus olhos quase cegos devido aos crimes praticados poderão ver a grande sublimidade dos filhos de Deus Poderoso? E as mãos que ainda estão gotejando o sangue de meus irmãos e súditos poderão tocar

as fibras dos que foram criados por Deus? Jamais terei o menor mérito para tanto e peço me dês outra resposta.”

  1. Protesta Kisehel: “Também fui grande pecador diante de Deus, e na minha esfera de origem luminosa certamente não fui menos igno- rante que tu em tua cegueira espiritual. Mas, quando confessei minha imensa culpa, após Ele ter tomado a dianteira, Suas Mãos me ergueram e fui perdoado e dotado da força vital da Vida eterna. Assim age o Pai Amoroso com o pecador que se dirige a Ele com remorso. Aceita a resposta dada e sê cheio de consolo, pois nem um til daquilo que Deus falou será modificado. Todo louvor e honra são Dele, pois só Ele tem mérito de aceitar nossa adoração e amor.”

199.TENTAÇÃOEDÚVIDADELAMECH E TUBALKAIN

  1. Dispensa comentários a grande felicidade produzida pelas pala- vras de Kisehel; por isto, faremos menção de uma aparição sensacional. Estamos lembrados de ter Kisehel feito uma advertência a Tubalkain de certas tentações, provações e de um fogo purificador.

  2. É do conhecimento de todos qual a índole de Lamech e de quem era servo fiel. Enquanto o inimigo da Vida percebe não haver perigo verdadeiro para sua vítima conquistada, pouca importância dá às várias conversões. Só quando nota a existência de grande perigo para sua presa, ele começa a se pôr em campo para lutar por sua posse.

  3. Precisamente isto ocorre neste momento, e ainda hoje se dá para muitas criaturas que de qualquer forma se deixaram envolver pelo gran- de inimigo da Vida. Tais pessoas são às vezes quase que a virtude per- sonificada. Alimentam geralmente umafraqueza apenas, mas ignoram que tal fraqueza é uma tendência forte, de sorte que basta ser simples- mente tocada, e ela domina todas as outras tendências boas, arrastan- do-as com a maior facilidade do mundo.

  4. Quem achar isto exagerado, procure atacar tal herói de virtudes em sua parte fraca, e prontamente perceberá quão forte ela é. Admita- mos um homem que já venceu várias tendências, todavia possui ainda

uma que desconsidera por ser insignificante, pois sente prazer de fazer e receber visitas. A coisa parece de fato muito inocente.

  1. Se analisamos tal fraqueza mais de perto, ela nada mais é que uma forte artimanha de Satanás. Quando está ligado a alguém, ele fica à espreita do momento em que algo radicalmente benéfico se aproxima da alma humana. Ocorrendo este fato, ele provoca sua influência, e a parte fraca se torna forte, atraindo a criatura cheia de virtudes para o seu lado, que perde deste modo uma boa oportunidade de receber uma Visita Minha em seu benefício. Tal fraqueza acompanha às vezes a cria- tura até a sepultura, fato bastante triste.

  2. Lamech também alimenta uma quantidade de tais fraquezas que ele desconsiderou no momento de sua conversão. Como seu amor para Comigo se havia inflamado, tais tendências maldosas começam a ser queimadas, e o inimigo da vida nada mais tem para acorrentar sua pre- sa. Que devia fazer? Nada mais que astúcia, e caso esta fracasse, usar de violência.

  3. Eis o que ocorre. Quando Kisehel, em companhia dos dois, se aproxima dos seis amigos, Noêmia se atira pela porta e, torcendo as mãos, grita desesperada: “Pai Lamech, foste vítima de traição! Ouvi no cume a armadilha que prepararam. Corri, com risco de vida e perse- guida por leões, tigres e habitantes das matas, para alertar-te a respeito do plano infame. Pelo que vejo, vim tarde demais, pois já és vítima dos terríveis feiticeiros das montanhas. Tua inteligência não te esclareceu que sempre fomos atingidos do mal provindo de lá? Como foi possível caíres na sedução e na armadilha terrível?”

  4. Virando-se para Tubalkain, ela prossegue: “Meu irmão, meu es- poso, também és presa da traição? Agora tudo está perdido. Peço que me matem, pois não quero ser testemunha de vossa perdição.”

  5. Neste instante, transforma-se a visão de Lamech, e Tubalkain, de punhos cerrados, troveja: “É esta vossa missão de Jehovah? Preten- deis nos levar às montanhas, pois aqui não estais devidamente ames- trados. Agradeço-te, Noêmia, pela notícia, pois saberei reagir contra tal maldade.”

  1. Lamech, porém, intervém: “Meu filho, antes de agirmos, ouvi- remos a outra parte. Talvez isto seja uma tentação. Por isto, pergunto: Emissários, que vem a ser isto? Desvendai-me este enigma, do contrá- rio, voltarei a ser o que fui, um regente inflexível que sabe evitar que uma vitória infame sobrevenha a meu povo.”

200.NOÊMIAÉ DESMASCARADA

  1. Kisehel, sabedor de se tratar da primeira tentação de Lamech e Tubalkain, diz firmemente: “Acreditais que a situação seja tal qual estaNoêmia vos anunciou?”

  2. Lamech o interrompe com violência, dizendo: “Julgas eu desco- nhecer minha filha? Qual seria a vantagem com uma mentira? É minha filha maravilhosa e sempre proferiu a verdade.”

  3. Diz Kisehel: “Se a considerais verdadeira, ficai nesta crença. Mas, as montanhas serão barradas de novo e nenhum de vós há de rever a verdadeira Noêmia. A construção do templo será sustada e a pedra santa será por mim mesmo levada ao cume. Acreditai em nós, ou nesta Noêmia. Sucederá segundo vossa fé. Por ora, as portas da vida e da morte estarão abertas. Se permanecermos convosco, a vida ficará aqui. Se esta Noêmia permanecer aqui, a morte eterna será vosso prêmio ine- vitável. Escolhei entre os dois extremos.”

  4. Nesta altura, Lamech diz para Tubalkain: “De fato, esta Noêmia me parece algo estranha, pois não olhou para mim nem para ti. Sou de opinião que antes de rompermos com os sete amigos, analisemos me- lhor esta criatura. Para tanto, nada melhor do que eu ordenar que tire a pedra sagrada do trono, para tomarmos, ela e eu, o lugar que nos cabe. Se isto fizer, aceitaremos suas palavras. Assim não sendo, saberemos tratar-se apenas de uma figura fictícia que procura nos tentar.”

  5. Quando ambos chegam perto de Noêmia, Lamech a toca de leve e diz: “Se fores realmente minha filha, levanta-te e mostra teu rosto. Depois apanha a pedra do trono, entrega-a a mim e todo o poder do feitiço ficará sem efeito. Serei de novo o rei, poderoso e invencível, e tu, minha mão direita.”

  1. Eis que Noêmia começa a se torcer e se lastimar, como se não conseguisse erguer-se. Lamech se irrita e diz: “Conheces bem teu pai, por que hesitas em fazer o que mando? Se te sentes fraca e cansada, dize-o ao teu pai, que ainda possui meios suficientes para te fortalecer. Quem ainda dispõe de forças para se torcer como tu, também poderá explicar o que lhe falta. Levanta-te, do contrário te atingirá minha pior maldição.”

  2. Ela se levanta, e quando os dois veem sua face, levam forte susto, pois não tem a menor semelhança com a verdadeira Noêmia. Ainda assim, Lamech lhe diz: “Pelo rosto não te conheço, mas dirige-te para o trono e executa minha ordem, que hei de te reconhecer através de tua vontade.”

  3. Noêmia começa a tremer e se encolhe toda e desaparece. Eis que Kisehel diz para Lamech: “Então, meu irmão, agradou-te esta No- êmia?” Lamech e Tubalkain se ajoelham perante ele, chorando por sua ignorância, pois percebem qual a finalidade daquela ocorrência.

201.FRATERNIDADEEIGUALDADEENTREOS HOMENS

  1. Fazendo com que se levantem, Kisehel diz: “Por que vos pros- ternais diante de nós? Porventura somos mais que vós? Só Deus merece nossa gratidão, honra, humildade e amor. Se quisermos ser verdadei- ros filhos de Um Só Pai, devemos nos considerar em pé de igualdade e não exigir reverências do próximo, pois tudo que podemos praticar em benefício dele só pode ser manifestação fraternal devido ao amor para com Deus.

  2. Qual seria o resultado de uma veneração excessiva para com um homem semelhante a todos? Havia de se julgar melhor que os outros, tornando-se orgulhoso e dominador. Não se satisfará com o respeito dos que o rodeiam, e invadirá com o povo outros domínios, forçando aqueles habitantes a se submeterem diante dele, maltratando e até ma- tando os que não lhe renderem respeito.

  3. Chegará ao ponto de exigir tributos de suas colheitas e não de- morará a surgirem reis e dirigentes mundanos que sufocarão os irmãos

que, devido à sua ignorância, o tomavam por algo superior por causa de um talento qualquer, ultrapassando a Ordem Divina.

  1. Devemos dar a Deus o que Lhe compete, e ao irmão o que de direito. Honra, respeito, humildade, louvor, gratidão, amor e adoração devem ser por nós tributados a Deus. Quanto a nós, somos apenas ir- mãos que não se devem amar mais ou menos do que cada um ama a si próprio. Eis o fiel da balança que tudo ordena e nivela através da atitude recíproca que também corresponde à atitude que cada um exige para si.

  2. Seja onde for que houver um desvio deste conceito, a Ordem divina será deturpada e partida, porquanto o homem prestará ao se- melhante o que deve exclusivamente a Deus. Neste caso, será deitada a semente da qual surgirá toda a desgraça sobre a Terra. Não haverá outro pecado punido com tanto sangue na Terra como já ocorreu entre vossa regência.

  3. Por isto, organizaremos outro governo, no qual o rei será guia e protetor dos irmãos, e jamais um senhor e tirano. Será ele rei pela Or- dem de Deus, não necessitando do poder mundano, mas exclusivamen- te do poder e força do amor divino, sabedoria e ordem, e, guiado pelo espírito, facilmente conduzirá os irmãos para o bem e a verdade. Vamos agora para o refeitório, onde tudo está preparado. Esquecei a tentação, pois o vencedor se deve alegrar de sua vitória.”

202.NÚPCIASDE TUBALKAIN

  1. Todos se dirigem para a sala de refeições, onde tudo está de- vidamente ornamentado. No centro há duas mesas ovais com carnes variadas; em redor, nove mesas redondas com cestos de vime cheios de frutos. Depois de todos terem agradecido e se saciado, Kisehel diz: “Tubalkain, chegou a tua vez de escolher uma noiva entre estas moças bem formadas, na hipótese que não tenhas mudado de opinião. Como vês, está tudo preparado, uma ovelha para teu pai e um vitelo para ti e tua noiva.”

  2. Tal convite é do agrado de Tubalkain, que diz: “Percebo niti- damente que a tentação foi apenas engano, pois a verdadeira Noêmia

vive certamente uma vida melhor do que aquela contrária à Ordem de Deus, no Qual muito confiava.

  1. Se fosse ela um contraste diante de Deus, seus pés jamais teriam pisado as habitações dos filhos do Pai, tampouco Hored a teria tocado. Confio em vós, verdadeiros amigos e poderosos emissários de Jehovah. Que Se faça a Vontade Dele em meu benefício.”

  2. Em seguida Tubalkain se levanta e escolhe uma moça entre as muitas e quer levá-la junto de Kisehel. Ela, porém, se nega a procurá-lo. Tubalkain lhe pergunta: “Aceitaste minha escolha; por que então não queres ir até a presença de Kisehel, emissário de Deus Poderoso, a fim de nos abençoar?”

  3. Com rispidez, ela responde: “Para que serviria tal bênção? Mi- lhares de criaturas desde sempre conceberam sem tal bênção. Por que deveríamos fazer uma exceção? Se desejas tal bênção como escravo eter- no de Jehovah, podes ir sozinho. Ficarei livre e te demonstrarei que sou capaz de gerar filhos sem esta tolice.”

  4. Admirado com esta insolência, Tubalkain se dirige para Kisehel, que lhe diz: “Irmão, acabaste de fazer uma péssima escolha, e te aconse- lho a fazê-la com Deus, pois esta moça tem a mesma relação que a falsa Noêmia. Cospe-lhe no rosto e faze outra escolha.”

  5. No mesmo instante em que Tubalkain obedece ao conselho de Kisehel, a criatura desaparece e ele escolhe outra que o acompanha jun- to de Kisehel, onde ambos são abençoados. Em seguida, todos se diri- gem para as mesas e saboreiam os bons pratos.

203.TUMULTONA CIDADE

  1. Enquanto se entregam ao ágape e Kisehel e seus companhei- ros relatam várias ocorrências maravilhosas do Próprio Senhor, que caminhara entre eles para ensinar-lhes os caminhos da Vida eterna, subitamente dá-se um grande tumulto nas ruas da cidade e ouvem-se vozes a gritarem: “Amaldiçoado seja Lamech e seus capangas, pois deixou-se seduzir, traindo-nos junto às feras das montanhas. Há de morrer antes de nós, pois lutadores gigantes descem das montanhas

para nos aniquilar. Lamech, teus guardas pouco te protegerão, pois chegou o teu fim.”

  1. O tumulto vai crescendo e grande número de rebeldes invade o palácio. Pai e filho tão apavorados estão que sentem verdadeira verti- gem e as mulheres começam a gritar. Kisehel protesta com veemência: “Irmão Lamech, que se passa contigo, que pareces um covarde que já tem a faca no pescoço? Não percebeste o quanto teu poder te serviu contra mim? Não viste como centenas de pessoas atiravam suas armas diante de nosso olhar e se submeteram à nossa vontade? Se sentiste a Força Divina em nós, como podes te apavorar diante deste tumulto? Deixa que os rebeldes se aproximem e só depois de nos terem domina- do podes te apavorar. Antes disto, confia em Deus, cujo Poder é maior que o de todos os rebeldes do mundo.”

  2. A tais palavras, Lamech começa a respirar mais livremente e diz: “Amigos, perdoai-me ter manifestado tamanho temor em vossa presen- ça. Mas, daqui por diante, nada mais assustará a Lamech, nem a própria morte. Hei de lutar contra ela nos dias que ainda me sobram, para a glorificação do Santo Nome.”

  3. Assegura Kisehel: “Agora és meu verdadeiro irmão. Mas, vê, os rebeldes já se aproximam; enfrenta-os sozinho que serás seu vencedor. Hão de ser dizimados qual pó e palha diante de ti.”

204.ALUTACONTRAOS REBELDES

  1. No mesmo instante, a horda enfurecida se atira para dentro do salão e Lamech, ouvindo aquela gritaria ensurdecedora, exclama: “Ai de mim, pois estou perdido!” — e perde os sentidos. Tubalkain os enfrenta e por várias vezes consegue rechaçá-los. Como não consegue retê-los to- talmente, ele troveja: “Que quereis de nós? Por que invadis o palácio?” Gritam eles: “Queremos apenas vossas vidas miseráveis!”

  2. Erguendo suas mãos para o alto, Tubalkain retruca: “Deus, todo Poderoso, Justo, Santo, Pai e Criador de todas as coisas! Dá-me o poder e a força necessária para levar estes invasores à justa ordem!” Kisehel se aproxima dele e diz: “Tubalkain, Deus, o Santo Pai, ouviu tua súplica

e teu pedido. Confia e tem ânimo, pois dentro em pouco hás de sentir a Força de Deus em nós e em ti. Enfrenta os amotinadores e vence-os com tua palavra.”

  1. Sentindo a Força divina consigo, Tubalkain se dirige para os invasores, dizendo: “Dirigistes vosso coração maldoso contra Deus, querendo enfrentá-Lo com vossas armas. Porventura já sentistes o Po- der de Deus todo Poderoso? Quereis nossas vidas, mas vos digo: Agora enfrentais a Força e o Poder de Deus, e caso não estiverdes dispostos a desistir do ataque, sereis transformados em pó e cinzas. Fazei o que vos agrade, pois tendes o livre arbítrio. O prêmio da luta corresponderá à vossa ação.”

  2. Com este sermão, os amotinadores gritam ainda mais furiosa- mente a ponto de acordarem Lamech, que reage dizendo: “Poderosos irmãos e amigos, aniquilai tais furiosos contra Deus.” Com calma, Ki- sehel o interrompe: “Não te alteres em vão. Deus não é qual homem disposto a destruir Suas Obras, pois a Lei de Sua Ordem soa: Conser- vação eterna de todas as coisas criadas. Estes homens receberam de Tu- balkain uma lei santificada pelo Alto. Quem agir contra ela, encontrará seu julgamento. Podes ficar calmo.”

  3. Neste instante, um rebelde atira sua clava sobre Kisehel, mas um fogo o consome diante de todos. Os amotinadores se assustam e pouco a pouco se afastam, alguns praguejando, outros instigando-os ao remorso, e assim tudo termina em paz.

205.ASTENTAÇÕESDA CRIATURA

  1. Em seguida, Lamech e seu filho agradecem a Deus pela Força recebida e pedem que faculte também aos descendentes poder tão ma- ravilhoso. Kisehel se aproxima deles, dizendo: “Amigos e irmãos, podeis estar certos que o Pai Se apraz convosco, pois acabastes de dar três pro- vas de vossa fidelidade.

  2. Mas, enquanto vivemos na matéria, carregamos as tentações constantemente renovadas e jamais poderemos afirmar: Agora termi- naram nossas tentações. À medida que nos aproximamos da perfeição,

percebemos que nossa matéria, o mundo e a ambição do coração depo- sitam novos empecilhos ao espírito disposto a despertar, a fim de que tombe outra vez no seu sono de morte original.

  1. Por acaso isto nos deve atemorizar e desanimar? De modo al- gum, pois nisto se baseia o imenso Amor Misericordioso do Pai. Por meio de tais provações somos despertados espiritualmente e conser- vados até o momento justo em que se dará um dia novo e eterno para o espírito, no qual ele não mais sentirá o agravo de um sono, nem de qualquer tentação.

  2. Tal estado feliz se dará com certeza após a libertação da maté- ria, mas também pode ser posse justa daquele que em tudo aceitou a Vontade Divina como norma de vida. Isto pode ocorrer da maneira mais simples. Basta considerar Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo — e todo problema aparentemente difícil será totalmente solucionado.

  3. A quem objetar: Isto é mais fácil dizer do que fazer! — respon- derei: O que te fornece o mundo de bom, a ponto de o considerares, amares e temeres pisá-lo com teus pés, que devem se tornar espirituais? Nada mais que a satisfação de teus apetites, o conforto e um serviço amaldiçoado por parte de teus irmãos — e finalmente a morte tempo- ral e eterna. Eis as vantagens fornecidas pelo mundo fútil. Merecem, porventura, que o homem as considere? Quem de fato analisa o mun- do, facilmente lhe poderá virar as costas para seguir de coração leve e alegre a Chamada do Pai dos Céus da Vida Eterna.”

206.OLIVREARBÍTRIODO HOMEM

  1. Todos se sentem confortados com as palavras de Kisehel, com exceção de Lamech, cheio de pensamentos negativos. Como Kisehel o percebe, volta-se para o amigo e diz: “Que é que te perturba ainda? Fala abertamente o que preocupa tanto a tua alma.”

  2. Procurando coordenar suas ideias, Lamech diz: “Tens razão, pois fortes dúvidas invadem meu íntimo e não sei o que fazer com rela- ção às constantes tentações. Durante minha vida pratiquei muitas ações

criminosas, e por quê? Porque minha natureza me levava a agir daquela maneira por um desejo violento que não podia ser dominado.

  1. Quem despertou dentro de mim tal tendência maldosa? Fui eu o causador? Como, se nem ao menos sei o que vem a ser tal desejo vio- lento e de onde vem? Neste desejo já repousa a tentação. Se o homem é tentado por tal força invencível e segundo sua fraqueza não consegue dominá-la — quem é culpado se ele sucumbe à tentação? Para que fina- lidade ela existe? Eis meus pensamentos e peço me dês uma explicação, e nunca mais hei de perder um pensamento nestas dúvidas.”

  2. Responde Kisehel: “Nada mais fácil para o espírito do que esta compreensão. Suponhamos que fosses capaz de criar um homem sem vontade. Ele seria dotado de vários talentos e capacidades, e lhes darias a liberdade total para agir. Porventura estaria ele realmente livre? De modo algum, pois ainda desconhece a liberdade; tampouco começará a agir segundo seus talentos e capacidades, permanecendo qual vasilha- me cheio de água, embora pura. Que farás para dar-lhe ação livre? Será preciso insuflar-lhe o desejo para a ação.

  3. Assim dotado, fará tudo aquilo que o desejo lhe despertar. Tal atitude seria livre e ordenada? Não. Muito bem, a fim de se tornar uma ação livre e ordenada, será preciso demonstrar-lhe o que deve e o que não deve fazer. Se depositares estas leis com rigor em seu coração, ele agirá como animal. Se não forem sancionadas, ele não será atingido por elas. Portanto, é preciso que sejam sancionadas e o homem en- tão começará a discernir entre o verdadeiro e o falso, o ordenado do desordenado.

  4. A fim de que se torne ativo e livre o teu espírito, deves dar-lhe oportunidades em que poderá experimentar sua atividade independen- te. E tais oportunidades nada mais são que as tentações tão fortemente analisadas por ti. Por isto, Deus deve nos facultar as tentações, do con- trário seríamos semelhantes às pedras, à flora e à fauna.

  5. Mas, Deus quer que sejamos criaturas livres; portanto tem que nos dar sempre novas oportunidades pelas quais conseguimos nos li- bertar verdadeiramente. Sê calmo e não te entristeças mais, pois em teu espírito hás de descobrir esse enigma.”

207.AHUMILDADECOMOINÍCIODOPURO AMOR

  1. Após este discurso de Kisehel, Lamech dá a impressão de alguém dotado da melhor boa vontade, sem conseguir esconder que seu sapato o aperta. Diante disto, Kisehel opina: “Lamech, vejo que ainda não estás livre em tua alma, pois mastigas algo sem chegar a bom término. O que te perturba? Quero orientar-te em tudo e ajudar-te com a Graça do Senhor.”

  2. Responde Lamech: “Amigo, louvo e rendo graças Àquele que vive eternamente e cujo Reinado não tem começo nem fim. Não há quem Lhe pergunte: Senhor, que fazes? Ele faz o que quer e pune a quem quer. Humilhação, tentação, perdão dos pecados, tudo isto de- pende da Vontade Dele, e ninguém pode inquiri-Lo por isto. Em suma: Deus é Tudo em tudo, e todos nós nada somos perante Ele. Nossa vene- ração, respeito, louvor e amor representam algo somente para nós. Mas, considerando que nada somos, de que Lhe servem nossas manifestações pessoais? Tudo isto é feito em nosso próprio benefício, pois não existe quem pudesse elevar Deus, o Altíssimo.

  3. Mesmo assim, desejo fazer isto somente por causa de Deus, e não coagido em meu próprio benefício. Compreendo que todas as ten- tações dependem da imensa Graça de Deus, e só podemos Lhe ser gra- tos por Ele pensar em nós. Oprime a minha alma o fato de não poder fazer algo para Ele. Não podes avaliar este estado como eu, grande de- vedor. Teu débito não pode ser comparado ao meu, portanto não sentes o que seja não se poder ofertar um ressarcimento. Agora sabes o motivo do meu estado e peço que me ajudes.”

  4. Kisehel queda perplexo e não sabe o que responder. Como o Meu Espírito dele Se aproxima, ele consola o amigo, dizendo: “O que sentes nós já sentimos de há muito, e muito mais agora porque partici- pas conosco; além disto, sabemos pelo Próprio Senhor que justamen- te nossa gratidão é de Seu Agrado quando aceitamos nossa nulidade perante Ele.

  5. Quando não encontrares mais palavras para Lhe agradecer e ne- nhum sacrifício para ofertar, és realmente um devoto grato de Deus, o

Santo Pai. Eis a verdadeira humildade, a semente para a Vida Eterna em Deus, e é o início do puro Amor. Sê alegre e confiante, pois acabas por este meio de receber o Espírito eterno da Vida.”

208.KISEHELPROVAAEXISTÊNCIADE SATANÁS

  1. Retruca Lamech: “Agora sei realmente como andam as coisas e farei tudo para reparar o mal praticado aos homens. Prometo isto dian- te de todos, em Nome do Altíssimo.”

  2. Obtempera Kisehel: “Meu irmão, o Senhor não te convidou para fazeres uma promessa; mas, como de livre e espontânea vontade testemunhaste tua fidelidade a Deus, estabeleceste uma união de amor com Ele. Ele te aceitou, por isto te fortalecerá, sem com isto deixar de te experimentar na medida justa, para te dar oportunidade de firmar cada vez mais tua fé. O Senhor te demonstrará todos os caminhos que deverás palmilhar em Seu Nome.

  3. Ainda que se apresentem várias dificuldades, não deves conside- rá-las como tais, e sim, agir segundo a Vontade do Senhor, e Ele aben- çoará todos os teus empreendimentos para o sucesso total.

  4. De fato, não foi tarefa fácil salvar-te da perdição. Mas, o Senhor esteve conosco e és o prêmio maravilhoso por todo temor, cansaço e trabalho. Lutamos não somente contigo, porém muito mais com o ini- migo tenebroso, o antigo príncipe da mentira, do egoísmo, da astúcia e mistificação, o inimigo de Deus que pretendia ser maior que Jehovah.

  5. Como foi derribado pelo Poder divino, encheu-se de ódio e não descansa em procurar meios para prejudicar a Deus. Ainda é bastante poderoso e seu reino é imenso, e está perfeitamente ciente do grande Amor e Paciência do Pai, pecando constantemente em virtude do livre arbítrio conferido por Deus.

  6. Nossa luta inicial com ele foi para dominá-lo totalmente antes de nos aproximarmos de ti para te salvar. Deste modo, hás de enfrentar uma grande batalha. Lembra-te sempre da união sagrada com Deus, sê fiel a Ele, que dominarás todos os perigos e finalmente entrarás na Vida eterna, bem-aventurada e livre, com a coroa de vencedor. Aceita a nossa

bênção, e que o Amor, a Graça e a Misericórdia de Deus estejam conti- go e teu povo. Agradeçamos a Ele e depois nos recolheremos.”

209.AATIVIDADECOMOMEIODECONSERVAÇÃOEFORTALECIMENTODA VIDA

  1. No dia seguinte, após terem rendido graças a Deus, Kisehel se dirige para todos: “Meus irmãos, vamos ver o que os operários já rea- lizaram até agora, e as moças devem levar alguns cestos com alimentos para eles.”

  2. Enorme é a surpresa de todos quando deparam com um grande monte de ouro, vários martelos para estender o metal e, além disto, grande número de lâminas brilhantes. Os pântanos e lodaçais, por sua vez, tinham desaparecido. Virando-se para Kisehel, Lamech diz: “Isto não pode ser feito com simples forças humanas, se bem que aceito a tarefa do metal. Mas, o desaparecimento dos lodaçais que se estendiam a longa distância é impossível. Como foi isto possível?”

  3. Responde Kisehel: “Por acaso sabes como se deu o surgir deste dia? Representa muito mais do que o dessecamento dos pântanos; no entanto, ninguém pergunta por isto. Ignoras que para Deus todas as coisas são possíveis? No cume a tempestade noturna dizimou uma mon- tanha inteira de cristal e todos viram vários estilhaços espalhados pelo terreno. Bastou um Pensamento do Senhor, um Hálito, uma Palavra, e um palácio suntuoso se apresentou como se sempre tivesse existido ali.

  4. Se o Senhor pode umacoisa, certamente não terá dificuldade para outras. Ele apenas quis que os pântanos ficassem secos, e eis que isto aconteceu. Estás satisfeito com a explicação?”

  5. “Perfeitamente”, diz Lamech, “todavia desejo saber como Deus permite a atividade de Suas criaturas, quando delas não necessita abso- lutamente?” Diz Kisehel: “Isto ocorre pelo sábio motivo de que a vida emanada por Ele encontre a necessária manifestação de suas forças.

  6. A atividade é a conservação e o constante fortalecimento da Vida, razão por que todas as coisas são ativas e o homem também deve sê-lo, porque está em mais estreita união com a Vida de Deus. Tendo o

homem uma existência espiritual por excelência, deve pô-la em prática no amor a Deus, a fim de não perdê-la. Por isto, o Onipotente permite que trabalhemos. — Eis que se aproximam os operários para a constru- ção do templo; mas, antes de começarem, devem se alimentar.”

210.VISÃO DE MURA, O CONSTRUTOR

  1. Uma vez que os três mil operários se acham diante de Lamech, ele os convida a participar da refeição, abençoada por Kisehel. Eles se saciam à vontade, mas se admiram que os cestos continuam cheios. Lamech lhes diz: “Isto vos causa espanto; todavia, ainda vereis outras coisas, muito mais belas”.

  2. Um construtor da cidade de Farak curva-se diante de Lame- ch e diz: “Grande rei e senhor, esta noite tive um sonho no qual sete homens, enormes, de roupas luminosas, me procuravam. Um deles se adiantou e disse: ‘Mura, necessito de ti em Hanoch, que és construtor, a fim de levantar uma construção fabulosa. Lamech deseja isto em honra ao Deus de Farak e cabe a ti dirigir a construção. Quando acordares amanhã de manhã, hás de encontrar os planos prontos em cima de tua mesa. Apresenta-os ao rei, que te nomeará para mestre. Chamo-me Ki- sehel e te demonstro isto em sonho, em Nome do Senhor.’ E hoje cedo encontrei de fato os planos em cima de minha mesa.”

  3. Surpreendido, Lamech reconhece a autenticidade dos planos e diz: “Através desta impressão manual reconheço para que finalidade o emissário do Senhor te destinou em espírito. Esta corrente de ouro te assinalará para mestre construtor autorizado. Guardaste os traços de Kisehel? Vê aquele homem gigantesco que fala com Tubalkain; não se parece com ele?”

  4. Responde Mura: “De fato, é ele mesmo.” Nisto, Kisehel se apro- xima e pergunta: “Lamech, simpatizas com Mura, mestre de construção? Preparai-vos para o trabalho, que a Bênção do Senhor estará convosco.”

211.MURAANSEIAPELA VERDADE

  1. Diante das palavras de Kisehel, Mura se vira para Lamech e diz: “Sábio rei e soberano, permite que teu servo pronuncie algumas pa- lavras. Tenho que receber conhecimentos neste assunto, pois prefiro morrer do que permanecer nesta ignorância. Não consigo perceber a possibilidade do acontecimento que se operou tão milagrosamen- te em mim.”

  2. Responde Lamech: “Teu zelo merece elogios; todavia, não pos- so te revelar os Caminhos de Deus, pois o fato também é um enigma para mim. Submeter-me-ei à Vontade de Deus e caso for um benefício para mim, eu o saberei em tempo. Sei positivamente que tudo se passa segundo a Vontade do Senhor, que nos revelou a mesma. Vamos cum- pri-la primeiro, que Ele em seguida há de nos transmitir o futuro.

  3. Tudo que vemos nada mais é que milagre. Quem os entende? Havias de querer morrer porque não os compreendes? É preferível que nos encaminhemos para o local de construção, para em seguida distri- buirmos o serviço.”

  4. Em seguida, Mura convoca seus operários, entre os quais escolhe trinta para acompanhá-los ao terreno, que todavia está totalmente abar- rotado de metal, covas, trabalhadores, martelos e bigornas, e Lamech não sabe quais as medidas a serem tomadas. Virando-se neste sentido para Kisehel, este responde: “Pouca importância tem o local do templo, mas sim o estado de teu coração. Se tiveres construído na terra viva de teu coração um justo templo para o Santo Nome do Senhor, já deitaste a medida certa para o mesmo. Quanto à construção material, escolhe o ponto mais prático, que o Senhor estará satisfeito.

  5. O fato de eu ter dito que devias construí-lo no local em que fora desenterrada a pedra sagrada apenas se refere ao teu coração. Po- des, portanto, medir o terreno para tua obra, uma vez que tua medida interna está em ordem.”

212.CINCOEMISSÁRIOSSÃOENVIADOSAOUTRAS CIDADES

  1. Em seguida, Mura chama os trinta auxiliares e lhes demonstra o plano da construção. As pedras se encontram a uns sete mil passos distantes dali e uma pedreira se presta para a base; mármore cinzento será usado para a confecção de blocos uniformes, e o branco servirá para as paredes. A argamassa será feita como de costume e Tubalkain tratará dos ganchos e das presilhas. Os marceneiros cuidarão do teto e do solo. Caso iniciarem o trabalho com ajuda do Deus Único e Verdadeiro, ele será terminado sob a Proteção Divina. Todos devem considerar que a construção é feita em Honra do Altíssimo, proporcionando grande Graça para os executores.

  2. Um deles pergunta pela muralha cerrada, ao que Mura respon- de: “Porventura já te preocupaste com a camisa de uma criança que ainda não fora gerada? Aguardemos o nascimento desta criança, e em seguida cuidaremos de sua camisa.”

  3. Diante da boa organização, Kisehel lhe diz: “Deus há de aben- çoar a obra, e dentro de sete dias estará tudo pronto. Vamos à cidade para tratarmos do alojamento dos operários. Sethlahem, chama as mo- ças para sua tarefa e Lamech convocará seus empregados que devem cuidar de suas empresas costumeiras e também da boa ordem em todos os setores. Tu, Joram acompanharás os quatro irmãos às outras cidades para divulgares, com segurança e fé, o que foi feito por Deus ao irmão Lamech, e assim serão conquistados para Jehovah. Voltai no sétimo dia e convidai todos os funcionários de Lamech a fim de participarem da inauguração do templo.”

213.LIMPEZADOMONTEDAS SERPENTES

  1. De bom grado Lamech teria visitado a obra para ver seu progres- so, mas Kisehel o desaconselha de fazê-lo por motivo sério, preferindo um passeio com ele pela cidade a fim de mostrar que Lamech se tornou um rei ungido por Deus.

  1. Os moradores louvam o fato de Deus ter tido piedade com o rei e com eles mesmos. No sexto dia, Kisehel o leva até uma montanha alta que não podia ser pisada em virtude do grande acúmulo de serpentes. Lamech adverte Kisehel que lhe diz: “Foi justamente o motivo pelo qual te trouxe até aqui, pois deves assistir o que seja a grandiosidade da Força divina no homem.

  2. De toda a fauna terrestre os ofídios, produto do inferno, são os piores, porque são teimosos e cheios de astúcia. Ainda assim, terão que deixar o monte e fugir para aquela montanha que neste instante projeta lava incandescente. Lá serão consumados aos milhões.”

  3. Dito isto, Kisehel toma de uma vara de avelã, corta-lhe as pon- tas, abençoa-a e com ela bate por sete vezes no monte. Na última pan- cada levanta-se um sibilar tão forte como se uma tempestade invernal passasse pela floresta e subitamente vê-se uma quantidade enorme de serpentes de todas as espécies e tamanhos surgir do monte e se dirigir por cima da estepe arenosa em direção à montanha em erupção.

  4. Diante deste fenômeno, Lamech se alegra muito e agradece a Deus por ter conferido ao homem tamanho poder. De há muito era motivo de pavor de todos e ele havia pensado na possibilidade de lim- par a montanha, por encontrar-se isolada. Mas, ninguém podia se apro- ximar a uns mil pés sem ser atacado pelos horríveis ofídios.

  5. Concorda Kisehel: “De fato, só Deus merece louvor e gratidão. Os ofídios fugiram, mas deixaram número sete vezes maior de filhotes que também devem ser exterminados, em Nome do Senhor.” Kisehel bate com sua vara no monte e imediatamente rasteja pela mesma dire- ção uma massa compacta, a ponto de não se ver o solo.

  6. Algo amedrontado, Lamech pergunta: “Será que o monte está totalmente sanado?” Responde Kisehel: “Sim, com exceção dos bilhões de ovos dentro dos ninhos. A fim de que também sejam exterminados, o monte se incendiará no centro e queimará todos os arbustos e, por eles, também os ovos das serpentes.” De novo Kisehel bate com a vara no monte, por sete vezes, e ele começa a fumegar, os arbustos se in- cendeiam e todos os ovos ofídicos são queimados. Só então os amigos sobem, após certa dificuldade, ao cume, onde louvam a Deus.

214.INTERPRETAÇÃOESPIRITUALDALIMPEZADO MONTE

  1. Lamech então começa a chorar, pois o panorama das cordilhei- ras com seus picos brancos, uma parte da região dos filhos das alturas, ao Sul, um lago imenso ao longe, a cujas beiras se encontra a cidade Uvrak, e finalmente a visão das demais nove cidades, a cidade de Ha- noch, o templo novo quase terminado — tudo isto o comove muito. Empolgado, ele exclama: “Como gostaria de viver nesta altura! Pobres cidades lá embaixo, meu palácio miserável, são apenas um montão de formigas diante desta visão.

  2. Vê lá, entre Sul e Leste, os cinco picos brancos dão a impressão de que a terra, ou um poderoso espírito protetor, está erguendo sua mão para o Céu, prometendo fidelidade eterna ao Senhor. Em direção do Norte vejo chamas ardentes brincando no topo dos montes. Quanto movimento percebo em todos os pontos! Kisehel, olha lá para cima, nas alturas sagradas, onde vejo algo com tamanho brilho como se o Sol estivesse prestes a surgir. Que vem a ser aquilo?”

  3. Retruca Kisehel: “É justamente aquela grota de que te falei e que em breve hás de conhecer. Vê, Lamech, deve o homem se purificar como fizemos a este monte, e assim poderá galgar o ponto mais elevado se sua vida, com a maior facilidade do mundo. O que foi feito por nós para saneamento deste monte que ora tanto nos alegra?

  4. Com uma simples vara de avelã tocamos as grandes serpentes para o fogo destruidor. Esta vara é justamente nossa e confiançatotal na Graça e Misericórdia do Senhor. Por sete vezes batemos com ela no monte e toda a bicharada fugiu. As sete pancadas demonstram a confiança total na Graça e Misericórdia do Senhor, através da fé firme e inabalável.

  5. O monte, porém, ainda não estava totalmente saneado, pois continha uma enorme ninhada. De novo batemos nele e viste inúme- ros ofídios aparecerem. Isto prova o seguinte: Quando a criatura se libertou de seus pecados mais pesados que residiam em sua matéria, terá que invadir os domínios da almae pesquisar todos os seus desejos e apetites. Caso os tiver reconhecido através de seu grande rigor, terá

que bater de novo no monte de sua vida, com fé e confiança, entre- gar-se totalmente ao Senhor e abandonar todas as suas tendências psíquicas.

  1. Existe, porém, grande número de ovos no monte da vida, ou seja, vários pensamentos mundanos e egoísticos. Assim como dos ovos nasce a ninhada que cresce para uma bicharada tremendamente per- niciosa, também os pensamentos são gerados para novas tendências e paixões, das quais em breve surgem ações reais.

  2. Como podem tais ovos do pecado serem exterminados no mon- te da vida? — Através do despertar do fogo interno, ou seja, o amor para com Deus por meio da fé e da confiança vivas. Isto feito, o monte já foi propriamente galgado e este quadro representa a tua pessoa, e podes aqui mandar construir uma morada, para nela meditar acerca de Deus e de Sua Graça e Misericórdia. Assim orientados, alcançamos a finalidade desta subida e podemos descer para a cidade, em Nome do Senhor a Quem cabe todo louvor e honra.”

215.RELAÇÃOENTREEAMOR,EENTREOAMOREOCONHECIMENTO.PARÁBOLADAJOVEMEDOSDOIS PRETENDENTES

  1. Depois de lançarem mais um olhar em redor do panorama, os dois amigos descem o monte e Lamech pede a Kisehel abençoar para sempre este local a fim de impedir que lá se infiltrem outros ofídios. Kisehel assim faz e diz: “A limpeza deste monte dependerá sempre da pureza de teu coração. Se tu e teus descendentes permanecerdes na pu- reza do coração, único Agrado para Deus, o mesmo sucederá com o monte. Mas, se vilipendiares teu coração através de um pecado diante de Deus, o monte receberá de novo um antigo habitante. Fato idêntico ocorrerá com os que te seguirem.

  2. Tão logo vires uma serpente rastejar sobre o monte, lembra-te o que te revelei, pelo Senhor da Glória, faze penitência em saco e cinzas e jejua até que teu coração se tenha purificado. Se isto acontecer, o monte expulsará seus habitantes.

  1. O amor para com o Senhor é o mais sublime, e enquanto o teu coração estiver pleno de amor para com Ele, tu e teus descendentes sereis incapazes de cometer qualquer pecado. Se afrouxardes no amor, a fé, somente, será uma proteção fraca contra o poder do pecado.

  2. Para viver, não basta que a criatura saiba, creia e diga: Deus existe! — Isto não é difícil. Muito mais, porém, e mais importante, é amar-se Deus acima de tudo, muito embora Ele não seja visto. Quem, portanto, quiser amar a Deus, não deve apenas saber e crer que Ele existe, pois terá que reconhecê-Lo verdadeiramente dentro de si. Reco- nhecendo Deus cada vez mais através da análise Dele e de Suas Obras, terá que amá-Lo sempre mais, pois descobrirá que Deus é o mais puro Amor e a máxima Sabedoria em Pessoa.

  3. O verdadeiro conhecimento de Deus é a base do amor para com Ele; por isto, deve constituir o mais importante para a criatura conhecer o Criador a fim de poder amá-Lo. Nisto consiste a Vida eterna, pois surgimos do Amor do Pai Amoroso e Santo e só poderemos voltar a Ele por amor.

  4. Guarda mais isto em teu coração: existem dois caminhos que levam ao Pai; um se chama o conhecimento verdadeiro e zeloso de Deus; o outro se chama amor. Conjecturas agora: Por esta explicação parece ser isto o mesmo, porquanto o conhecimento de Deus deve pre- ceder ao amor.

  5. Sim, assim parece à primeira vista; mas, analisando a questão à luz espiritual, surge uma grande diferença. Para poderes perceber tal diferença mais claramente, dar-te-ei um exemplo flagrante. Imagina que numa região escondida de teu grande país se encontra uma moça, belíssima, em idade núbil. A fim de que isto seja do conhecimento de todos, ela envia mensageiros para os quatro cantos. Alguns então dizem: Se houvesse algo de verídico nesta comunicação, ela teria vindo pessoalmente para se apresentar e poderíamos conhecê-la.

  6. Como se fez conhecer através de mensageiros, isto pode ser acei- to ou não. Além disto, ela ainda observa que só dará sua mão àquele que a tiver reconhecido tal qual ela se diz. Qual seria o tolo a se cansar por isto? Todavia, encontram-se dois entre os zombeteiros, e o primeiro diz

para si mesmo: Irei vê-la com muita atenção. Se for como disseram os mensageiros, será escolhida para minha companheira.

  1. O segundo diz, empolgado de amor: Leva-me junto dela. Não quero analisá-la nem conhecê-la demoradamente, pois já a abracei no meu coração. Amo-a mais que tudo no mundo.

  2. Quando os dois chegam perto dela, o primeiro muito se ad- mira de sua beleza e, reconhecendo-a, ela é por ele eleita. O outro diz: Filha maravilhosa dos céus, perdoa a este pobre coitado, pois me atrevi a amar-te antes de conhecer-te e só agora percebo não merecer meu amor tua identidade celeste. Deixa-me partir para te poder amar secre- tamente com todas as forças de meu coração.

  3. Não resta dúvida que a moça entregará sua mão ao que a amava sem conhecê-la, enquanto o primeiro se satisfará em fitá-la como um de seus servos.

  4. Eis a importante diferença: Quem ama a Deus antes do conhe- cimento, receberá a plenitude da vida. Quem o fizer depois do conheci- mento, também viverá — não no coração, mas no Reino da Graça, qual servo bem pago. Guarda bem isto, pois é de suma importância para a vida. Entremos na cidade.”

216.OAMOR,JUSTOCAMINHOPARA DEUS

  1. Inflamado com as palavras de Kisehel, Lamech exclama: “Que maravilha importante acabas de me revelar. Agora percebo onde se en- contra em mim e em todos o maior problema. Procurávamos Deus por todos os cantos na dita justiça e pretendíamos chegar a uma sabedoria contemplativa; todavia, havíamos levantado a seguinte condição silen- ciosa: Se Deus realmente existe, terá que Se manifestar deste modo, quer dizer, contemplativamente. Se não for encontrado desta maneira, então Ele não existe ou é um débil qualquer. Ambas as ideias justificam que nós nos declarássemos um deus.

  2. Logo depois de ter praticado o crime em meu irmão, ouvi uma palavra divina que procurava me proteger de meu medo. Como fosse suave e bondosa, minha inteligência chegou à conclusão mais absurda:

se bem que Deus existe, deve ser um fraco, tem medo de mim e não Se atreve a aproximar-Se. Esta definição foi o motivo de todas as minhas crueldades.

  1. Já me disseste várias coisas, mas nunca me senti tão confortado e esclarecido a ponto de sentir a relação entre Deus e a criatura. Só agora percebo a totalidade de meu engano.

  2. A pessoa que tiver ouvido algo de Deus, ainda que fosse pouca coisa, já O pode amar e se pode fortalecer no exercício desse amor para que se torne a única base de sua vida. Isto se dando, o homem se apro- ximou de Deus Onipotente da maneira unicamente justa, e o Senhor Se revelará segundo a justiça de Seu Amor, exclusivo meio para vivificar coração, alma e espírito da criatura.

  3. Chegando a essa dedução, gostaria que me desses outro exem- plo, para que este santo ensinamento se torne mais sólido e eu tenha mais um ponto de esclarecimento para muitos pecadores que, em parte por minha culpa, mas também pela livre vontade, se perderam no ca- minho da vida.”

  4. Retruca Kisehel: “Acabas de me proporcionar uma grande ale- gria com teu pedido e tua atitude, e gostaria de te dar milhares de tais exemplos. Mas, isto não é necessário em tua pessoa. Compreendeste a fundo a verdade; todo o resto, o Amor para com o Senhor te oferecerá em plenitude.

  5. Se dentro de ti ainda houvesse treva, não terias descoberto a base da verdade, pois se durante a noite ainda brilham algumas estrelas no firmamento, não conseguem iluminar o solo terrestre e dificilmente perceberás o que ali se encontra.

  6. Mas, quando nascer aqueleSol, as estrelas são inúteis e também são desnecessários dois sóis. A Luz do primeiro é bastante forte para iluminar suficientemente. Satisfaze-te com um Sol, até que surja dentro de ti o Sol verdadeiro e vivo; nos raios deste hás de encontrar tudo que necessitas.”

217.DISCURSOMARAVILHOSODO ANCIÃO

  1. Com esta explicação, Lamech se acalma e se dirige com Kisehel para a cidade. Diante do palácio se encontra grande multidão a gritar: “Salve e Honra ao grande Deus que nos visitou tão magnanimamente, dando-nos um justo rei que se voltou para Ele.” A esta ovação, Lame- ch sobe numa pilastra e diz para todos: “Ouvi-me, irmãos e amigos: Eu, Lamech, vos dominei como regente, provocando temores em meus súditos. Obedecestes, mas também me amaldiçoastes devido à minha incrível crueldade.

  2. Não quero mais ser regente e soberano, mas um irmão de todos que vos conduzirá ao justo conhecimento e ao amor de Deus, Único Soberano e Rei de todos os seres e criaturas. Mandei construir um novo palácio para Este Rei que nos regerá sempre, como um bom Pai conduz os seus filhos.

  3. Amanhã será o dia em que Seu Santo Nome tomará lugar e habitação perene em tal palácio. Preparai-vos, pois haveis de receber uma grande Graça. Devemos estar em condições dignas para o Agrado Daquele que é Santo, Santo, Santo entre nós, pecadores. Sua Vontade Se faça. Amém.”

  4. A tal promessa, o júbilo é uníssono e só se ouve: “Honra ao Grande Deus nas Alturas. Seu Santo Nome seja louvado!” Depois de se acalmar o êxtase, pois havia alguns com gestos de quererem arrancar seu coração do peito para oferecê-lo aos Céus — um homem alto, idoso porém forte, sai da multidão.

  5. Lamech e Kisehel não conseguem ver sua fisionomia, pois cobre o rosto com a mão. Kisehel se dirige intimamente ao seu Amor para saber de quem se trata, e ouve: “Presta atenção, pois o conhecerás por suas pala- vras.” O forasteiro toma lugar na pilastra e diz, com voz forte: “Ouvi-me! Deus, o Pai, Santo e Misericordioso, apiedou-Se de vós, libertou-vos da escravidão e enxotou a serpente maldosa desta região, devido à sagração de Lamech com o óleo maravilhoso de Sua Graça e Misericórdia.

  6. Amai-O com todas as vossas forças, pois é vosso Pai. Ele Mesmo conteve Sua ira e Se apiedou de vós como Único Pai Verdadeiro e quer

vos aceitar como filhos. Ide ao Seu encontro em vosso coração, pois amanhã Ele virá aqui, acompanhado por mim.

  1. Filhos do Alto, quando o Pai caminhava entre nós, nunca se viu alguém querer arrancar seu coração para ofertá-lo a Ele. E isto foi feito por esses filhos necessitados. Aceita-os, Pai, e faze-os iguais a nós, para que possamos louvar-Te e amar-Te com uma só voz e com um só cora- ção. Alegrai-vos, pois o Pai virá para vos abraçar e dar-vos a Vida eterna. Por este motivo, Ele me enviou como Seu sumo sacerdote. Amanhã haveis de ver Sua Glória! Amém.”

218.AMORINFLAMADODE LAMECH

  1. Terminado o discurso do forasteiro, Lamech diz para Kisehel: “Conheces o orador? Não pode ser de origem comum, pois falou como se fosse o Próprio Senhor.” Responde Kisehel: “Ele vem em nossa dire- ção, e saberás com exatidão sua origem. A voz parecia do sumo sacerdo- te Henoch, que por Deus Mesmo foi como tal colocado sobre a Terra.

  2. Sua figura me é estranha e não posso ver seu rosto porque o esconde, virando-se sempre para o povo, e não compreendo a razão disto.” Nisto, o forasteiro se aproxima de Kisehel, estende-lhe a mão e diz: “Que o Amor e a Graça eternos do Santo Pai estejam contigo, com Lamech e seu povo. Venho trazer-vos saudações de Adão, Eva, Seth, Enos, Kenan, Mahalalel, meu pai Jared, meu filho Matusalém e seu filho, o querido Lamech, e todos se regozijam do sucesso da Obra imposta pelo Próprio Senhor.

  3. Adão abençoou diariamente as planícies e suas tribos por cem vezes, pois andava preocupado, porquanto o Santo Pai até hoje não quis mostrar vossa situação. Hoje de manhã Ele me disse: ‘Henoch, põe-te a caminho e prova aos patriarcas que Minha Misericórdia venceu nas planícies. Amanhã, acompanhado por ti, quero comemorar Meu Triunfo e ingressar na cidade de Hanoch. No começo, cobre o teu rosto com a mão como prova que sou Paciente e Indulgente. Depois segue ao palácio do rei e tira a mão do rosto.’ — Vamos, pois, ao palácio do rei; mas, antes, mostra-me a pedra na qual se encontra gravado o Nome

do Santíssimo de nosso Deus, nosso Amantíssimo Pai, para que eu, Seu sumo sacerdote, Lhe ofereça meu coração.”

  1. Lamech vai na frente e abre a porta da sala do trono, e em segui- da vai ao encontro de seu grande hóspede, dizendo: “Entra em minha casa, na qual ainda há muito que limpar, e santifica no ponto mais indigno, o Santíssimo que agora habita aqui.”

  2. Vencido pela emoção, Lamech chora por amor, remorso e ale- gria em virtude da grande Graça obtida, e Henoch o abraça, dizendo: “Agora, meu irmão ainda fraco, acabas de receber a Vida eterna. Amas o Santo Pai mais do que podes compreender, por isto saberás o quanto Ele é Bom. Em verdade, não encontrei tanto amor nas alturas, e isto me alegra mais que noventa e nove justos que lá sempre caminharam perante o Senhor, sem deixarem que seu coração fosse tão inflamado.”

219.HENOCHFALASOBREO AMOR

  1. Ao entrar no limiar do salão, Henoch põe a mão sobre o peito, em silêncio. Passado algum tempo, estende os braços, corre para perto do trono, apanha a pedra e, depois de beijá-la, coloca-a de novo no trono. Postando-se ao lado direito do mesmo ele dirige as seguintes palavras aos presentes, entre os quais se encontram vários dignitários de Lamech:

  2. “Filhos e irmãos de Um Só Pai! Aprouve a Este Pai sumamente Bondoso e Santo, transmitir-vos o Seu Santo Nome. Que pretendeis dar-Lhe em troca? Vossos pensamentos procuram e nada encontram como sendo vosso, pois tudo recebestes de Deus.

  3. Quereis louvar o Nome e adorá-Lo durante toda a vida? Podeis fazê-lo, mas direi algo que vos demonstra o firmamento e a Terra. Céus e Terra estão plenos de honra, de louvor, e os espaços infinitos estão re- pletos de anjos santificados que sempre exclamam: O Nome do Senhor é Santo, Santo, Santo. Nós Te louvamos, Senhor, Deus Eterno, pois somente a Ti compete toda honra e louvor.

  4. Se pretendemos honrar e louvar o Pai, quanto aumentaremos Sua Infinita Glória e Magnitude? O mar aumentaria muito mais com

uma gota d’água que caísse nele, do que nossa constante adoração e louvor dirigidos a Deus, que desde Eternidades estávamos com Ele em plenitude.

  1. O que então quereis ofertar ao Santo Pai por tanta Graça, Amor e Misericórdia? Quereis agradecer-Lhe durante a vida toda? Muito bem, mas se o fizerdes até gastar vossa língua, porventura Ele enrique- ceria com isto?

  2. Alguém tendo uma noiva que lhe pergunta o que mais agradaria ao seu coração, ele certamente responderia: Sou muito rico e não neces- sito de ouro e pedras preciosas, mas somente uma coisa anseia minha vida: o teu amor. Ama-me e ter-me-ás dado mais que Céus e Terra me podem oferecer.

  3. Deveis fazer o mesmo. Amai o Pai, pois o Amor é Sua Natureza e Sua Necessidade eterna. É impossível dar-Lhe mais que Sua Própria Vida, e o amor é vossa vida e a Vida de Deus em vós. Se amais a Deus, o Pai, fazeis somente o que Ele considera e Lhe é agradável.”

220.FINALIDADEDO HOMEM

  1. Muitos se batem no peito ao ouvirem o discurso de Henoch e constatam: “Ó Verdade, o caminho para chegar junto a ti é incrivel- mente difícil para quem te desconhece. Mas, se fores ao encontro do viandante cansado, tornas-te visível para ele, assim como o raio do Sol para a visão. Existe, portanto, uma só verdade: Deus Mesmo é esta Ver- dade eterna que nos mostra a verdadeira relação entre Ele e o homem. Sabemos que todas as obras intelectuais consistem de meras distrações, e a destruição é seu destino final.

  2. Somos planejadores que procuram, tentam, constroem e destro- em. Queremos sempre algo novo, algo melhor e mais perfeito, e esque- cemos que jamais poderemos nos ultrapassar; portanto, todas as nossas obras representam aquilo que têm por base, isto é, nosso intelecto.

  3. Temos boa visão para os erros dos outros, mas não conseguimos vislumbrar os nossos, e isto porque nunca percebemos uma verdade total. Agora esse grande amigo de Deus nos provou a pura Verdade, o

que nos faculta percebermos, de um só relance, a enormidade de nossas grandes tolices. O Amor é a única coisa na criatura que a mantém e a consolida, único meio pelo qual realizamos nossos pensamentos.

  1. O amor é de fato a condição primordial e evidente de todo ser, é o próprio Ser em si, a única realidade, portanto a única verdade. Como é possível que isto nos escapou há tanto tempo? Que podemos ofertar a Deus senão aquilo que representa algo para Ele, o amor, nosso amor derivado do Seu Amor. Aceita, Henoch, nossa promessa de que assim agiremos com todas as nossas forças, e que Deus nos seja sempre Mise- ricordioso. Seu Nome seja louvado. Amém.”

  2. Acrescenta Henoch: “Assim seja. Deus, o eterno Amor e a in- finita Sabedoria, isto é, a Verdade eterna, viu desde sempre que Suas Obras eram boas e durariam eternamente; por isto, o Sol ainda ilumina a Terra que nos acolhe. O homem foi colocado neste âmbito para seu aperfeiçoamento total e, embora este círculo seja pequeno, é ele preen- chido com o Amor de Deus. É preciso que todos reconheçam que Deus é Amor; é preciso reconhecer o Amor com amor, e assim ele se tornará um fogo poderoso que dentro em breve romperá este âmbito restrito. Então ingressareis no infinito Âmbito de Deus, de Seu Amor, Graça e Misericórdia, obtendo uma vida que se denominará: Sede perfeitos como Eu, vosso Pai. — Agora, vamos ao salão.”

221.CONCLUSÃODOTEMPLODO SENHOR

  1. Depois de todos se terem saciado no refeitório, Tubalkain entra em companhia de Mura e Cural, e transmite a Kisehel e Lamech que o Templo está pronto e que o chefe da metalurgia havia feito um portal maravilhoso com as sobras dos metais, e também confeccionara um trinco artístico para ficar fechado em épocas determinadas.

  2. Todas agradecem, e especialmente Lamech louva a Deus por ter dado aos operários tanto entendimento e destreza para concluírem obra tão colossal em tão pouco tempo, pois exigiria certamente vários sécu- los de outra forma.

  1. Mura e Cural se aproximam de Lamech e o primeiro diz: “Sábio rei e soberano, certamente hás de perguntar qual teu débito pela rápida solução de nossa tarefa. Mas, seria irrisório, pois se a execução foi mi- lagrosa, também milagroso foi o pagamento farto que eu e os operários recebemos.

  2. Há uma hora atrás, quando o Templo já estava pronto, apare- ceram alguns homens seguidos por grandes manadas de gado, cabra e ovelhas. Cada trabalhador recebeu dez machos e dez fêmeas de cada espécie, inclusive os outros subchefes. Por isto, já fomos muito bem indenizados e nada mais pedimos senão que nos mantenhas em tua benevolência.

  3. Por especial gratidão, Cural e eu resolvemos cobrir o piso do espaço interno da muralha com pedras polidas. Mais que três partes já foram colocadas e dentro em breve tudo estará pronto, limpo e perfeito. Aqui está a chave do Templo e mais uma menor para a porta da grade dourada que leva à muralha. A chave grande pode ficar em teu poder e a pequena te entregarei quando o piso estiver pronto.”

  4. Esta notícia surpreende Lamech a ponto de não se conter de alegria, não podendo se expressar. Por isto, Henoch se aproxima e diz: “Sou um novo mensageiro do Senhor das Alturas, e me chamo Henoch, único sumo sacerdote de Deus. Como tal, vos digo: Não vos regozijeis tanto com o pagamento e a obra feita, mas sim alegrai-vos com a Gran- de Graça e Misericórdia de Deus. Reconhecei vossos defeitos, purificai vosso coração, sede executores zelosos da Vontade de Deus e amai-O acima de tudo e a vós mesmos como vossa própria vida, que haveis de encontrar neste amor o maior prêmio, que consiste na Vida eterna em Deus. — Tubalkain ficará aqui. Mura e Cural, concluireis vossa tarefa, pois terei ainda coisas importantes a tratar convosco.”

222.HENOCHFALAACERCADOCASAMENTOENTRE PARENTES

  1. Os dois construtores se despedem e vão tratar de sua obra. Tu- balkain se atira junto de Henoch pedindo perdão por não ter percebido que um hóspede tão elevado se encontra entre eles. Henoch o levanta e diz: “Meu pobre irmão, que pretendes fazer comigo? O Próprio Senhor proibiu isto, não obstante sua infinita Santidade, provando que é muito mais fácil curvar os joelhos diante Dele do que o próprio coração.

  2. Se alguém for dotado de um coração inflexível, não querendo humilhar-se nem purificar-se diante de Deus, poderá revolver-se na po- eira a vida inteira, que isto de nada lhe adianta. Mas, quem curva seu coração, o purifica e preenche com amor, não necessita inclinar seu corpo no pó. Seu espírito sabe em toda humildade e pleno amor para com Deus, o Santo Pai, que seu corpo pertence ao pó da Terra e terá que voltar para lá.

  3. Se alguém, digamos, um hóspede importante visitasse tua casa, por acaso mandarias demoli-la diante dele e em seguida erigi-la de novo para recebê-lo? Seria realmente irrisório, pois o hóspede nada exige e, além disto, observará apenas de que maneira tu o recebes, e não como a casa morta e sem vida se portará para com ele.

  4. Assim também nosso corpo é apenas uma morada morta para o espírito, e não uma só coisa com o espírito, e o Santo Pai só considera aquilo que é feito pelo espírito — o amor e sua livre vontade — e não as ações do corpo que só efetua suas necessidades naturais.

  5. Sê tu, meu Tubalkain, um irmão em espírito e curva teu cora- ção apenas diante de Deus, ama-O acima de tudo e a mim, teu irmão, como a ti mesmo, e terás feito tudo que te compete.

  6. Agiste no teu pleno direito quanto te casaste. Mas, o fato de teres vivido com tua irmã constitui um horror para Deus. Os primeiros filhos de Adão puderam agir deste modo numa época em que Deus ain- da nãohaviaseparadoosangue, tendo todos uma carne e um sangue.

  7. Quando os homens aumentaram com o tempo, Deus separou o sangue, para evitar que se deteriorasse e extinguisse. Por este motivo

foram determinados os graus de parentesco e, em virtude desta deter- minação, ninguém pode tomar uma companheira do primeiro grau de parentesco sem especial consentimento de Deus, mas só no segundo, terceiro etc.; e quanto mais distante o parentesco, tanto melhor. Agora acabaste de tomar uma companheira de parentesco distante; portanto, podes trazê-la para a devida bênção.”

  1. Depois da bênção para o casal, Henoch chama Lamech e os sete irmãos e lhes diz: “Ouvi a Vontade do Pai: Quando à noite vos tiverdes fortalecido com vários irmãos das planícies, abençoai-os e deixai que se recolham. Vós mesmos segui com Lamech para a mon- tanha purificada por Kisehel, em Meu Nome, e vigiai até de manhã. Quando perceberdes os primeiros sinais da aurora, reuni-vos todos, pois neste momento estarei entre vós, primeiro pelos sentidos e depois audível e visivelmente. Fazei isto tudo para sermos merecedores de tal Graça.”

  2. Quando, de madrugada, Henoch sente a chegada do novo dia, ele diz para os irmãos: “Convém silenciarmos e meditarmos no coração a fim de nos prepararmos para a Chegada do Senhor, nosso Deus e Pai, pois já está a caminho para cá.”

223.AVOZDOSENHOREONOVO HÓSPEDE

  1. Com o alvorecer, começa a soprar um forte vento que provoca um efeito bastante agradável em todos. Mas, quando se apresenta um colorido mais rosado, o vento desaparece, ao passo que todas as monta- nhas começam a arder. De súbito, rompem chamas possantes de todos os montes, de sorte que impossibilitam a visão da aurora, pois a região toda parece navegar dentro de um mar de fogo.

  2. No final, Lamech se amedronta com isto, julgando ter chegado o fim de sua existência; por isto, se dirige para Henoch: “Achas con- veniente permanecermos aqui diante deste fogaréu? De minha parte, prefiro me afastar.”

  3. Diz Henoch: “Acreditas que o Santíssimo venha a pisar um solo impuro? O Senhor saneia Seus Caminhos quando pretende chegar jun-

to de nós, e caso alguém queira chegar perto Dele terá que passar pelo fogo do amor.

  1. A Chegada do Senhor se dá no fogo de Seu Amor; todavia, Ele não Se encontra no vento, nem no fogo, pois Sua Natureza é um sussur- ro delicado. Não te amedrontes por causa do fogo, que não queimará um fio de cabelo sequer, e aguarda com paciência e intrepidez. Agora mesmo ouvirás a Voz do Pai.”

  2. Quando as chamas tinham formado um círculo luminoso em torno dos presentes, uma Voz Se faz ouvir, dizendo: “A Paz seja convos- co e contigo, Lamech, pois hoje quero fazer Minha entrada na habita- ção que erigiste para Mim, e lá Meu Nome ‘Jehovah’ deverá permanecer vivamente. Além de ti, ninguém de teu povo deve penetrar enquanto for como é.

  3. Se alguém for impelido pela chama do grande amor para Comi- go, deves abrir-lhe o portal de Minha Casa. Assim deve acontecer para sempre. Neste monte levantarás um monumento para Mim, como re- cordação de Minha Palestra contigo. No dia em que os filhos das alturas e os das planícies se esquecerem de Mim, julgarei a Terra e levantarei as águas a tamanha altura como ora vês as chamas sobre as montanhas, e exterminarei toda criatura terráquea. Isto te diz, Lamech, teu Deus e teu Senhor.”

  4. Cheio de temor no seu âmago, Lamech cai sobre a face e pro- mete no coração a fidelidade total a Deus. Neste instante surge o Sol e uma mão forte ergue Lamech do solo. Quando ele abre os olhos, vê que todas as chamas se apagaram. A Terra purificada brilha sob os raios do Sol e Lamech nota um personagem jovem, forte e belo, e pergunta: “És tu também um novo hóspede das santas alturas?”

  5. Responde o outro: “Sim, sou também de lá, quer dizer, das al- turas mais elevadas. Vamos à tua casa, onde Me conhecerás melhor. Henoch, acompanha-Me.”

224.ACONVERSÃODELAMECHCOMOPROVADOPODERDOAMORDE DEUS

  1. Inflamado de amor, Henoch se atira aos Pés do Pai e diz no seu íntimo: “Eu, fraco homem da Terra, posso acompanhar-Te? Se sou um sumo sacerdote nomeado por Ti, que representa isto diante de Tua Santidade, Pai? Isto foi Obra de Tua Meiguice, Graça, Amor e Miseri- córdia; por isto, desejaria morrer dentro de Ti. Esta felicidade é quase insuportável para meu coração.

  2. Tudo isto é manifestação de Tua Vontade, portanto, que Ela se cumpra. Quão infinitamente Bom deves ser, pois eu, um nada perante Ti posso sentir tamanha Bondade Tua. Ó Terra, deves estremecer de êxtase, pois Teu Criador caminha em tua superfície. E tu, ó Sol, ainda te atreves a irradiar teus raios para o solo terráqueo, quando Aquele que te fez surgir com um leve sopro nele palmilha.

  3. Por certo estou caindo em erro devido ao meu êxtase profundo, mas não consigo conter-me, pois O amo por demais e não posso frear o coração em sua manifestação amorosa. Mas, cala-te, coração, pois me parece que Ele deseja dizer algo.”

  4. Neste instante, chegam os nove amigos e o Senhor, ao lado de Henoch, lhes diz: “Vamos descansar um pouco, pois vejo que alguns estão fatigados, mormente tu, Henoch, pois teu coração quase se apos- sou de Mim.

  5. Teu amor para com Deus é excessivo. Mas, se fosses capaz de sentir a Alegria do Pai em virtude do grande amor de um filho e depois imaginar Suas imensas fantasias de amor e pensamentos, os quais pro- jeta eternamente a fim de fazer tal filho tão feliz segundo Sua Infinita Onipotência — havias de desvanecer-se diante da mais leve aproxima- ção de tal Pensamento Divino. Continua a te deleitar com teu puro amor a Deus, que de tal deleite há de surgir no futuro um efeito tão grande que causará admiração ao teu próprio espírito.”

  6. Virando-Se para Kisehel, o Pai prossegue: “Meu filho, reconhe- ces agora o Poder do Amor do Pai? Quando foste enviado para as pla- nícies, duvidavas secretamente do êxito de tua campanha e pensaste no

início: — O Poder do Senhor é infinitamente maior que um espírito mais perfeito pudesse imaginar. Mas, quanto a Lamech, pouco se po- derá fazer, muito menos pelo caminho do amor. Seria preciso matar-se Lamech e ressuscitá-lo com uma vontade totalmente diferente; do con- trário, toda tentativa será nula.

  1. Como vês, usamos nada mais que o amor, e toda a planície se encontra purificada diante de nós. E assim será para sempre. Onde o amor nada puder realizar e conquistar, não deve outro poder ser capaz de efetuar algo.

  2. Todas as Obras da Criação surgiram do Amor. Como podem as obras serem mais poderosas que o Amor, sua base? Continuai no amor, que no final tudo será resolvido satisfatoriamente. Como já descansa- mos bastante, vamos seguir em frente, pois muitos nos aguardam.”

225.DISCURSODOJOVEMPARAO POVO

  1. Assim, todos se dirigem à cidade. Lamech, projetando mil pen- samentos acerca do homem estranho, diz a caminho para Kisehel: “Por acaso conheces este personagem? Tenho impressão que o próprio He- noch, com idade avançada, lhe rende grande veneração. Quanto ao amor e grande bondade, não parece haver muita diferença, mas é de fato estranho que o sumo sacerdote se apresente tão humilde. Se for de teu agrado, peço que me dês uma explicação.”

  2. Responde Kisehel: “Quanto ao jovem, perante o qual Henoch se porta tão submisso, isto se refere a um motivo tão profundo que no momento não poderias assimilar. Tem um pouco de paciência, e então hás de conhecê-Lo bem. Posso te adiantar que, segundo Sua Própria Afirmação no monte, é o mais elevado Senhor nas mais elevadas alturas, sobre os filhos do alto e da planície. No momento oportuno, conhecê-

-Lo-ás melhor.”

  1. A esta altura, já estão se aproximando das fileiras diante da casa de Lamech, que se vê forçado a calar. Subindo na conhecida pilastra de orador, o jovem diz: “Meus pobres filhos! Assim fala o Senhor, vosso Deus, Criador e Pai, Pessoalmente neste dia:

  1. A Paz seja convosco! Reconhecei Deus Único e Verdadeiro, Se- nhor de Céus e Terra, e amai-O acima de tudo, que Ele vos atenderá e ajudará em tudo que necessitais. Quero vos proteger enquanto perma- necerdes em Meu Amor. Mas, se começardes a julgar de modo próprio a Minha Pessoa, retirarei Minha Graça, deixando que vos ilumineis com vossa própria luz.

  2. Retirarei Minha Luz, e caireis em grandes tribulações e trevas, piores que as do início até hoje. Agora vos enviei importantes mensagei- ros, porquanto sois fracos e miseráveis de nascença. Posteriormente vos enviarei emissários fracos, dotados apenas de sabedoria, mas de vontade imponente, e serão por vós algemados e mortos, e desafiareis deste modo Minha Ira para um julgamento implacável; e isto, porque agora vos pro- porcionei uma grande Graça e Misericórdia, fazendo-vos fortes por Mim. Hoje vos dou o Meu Nome. Conservai-O, que também estarei convosco. Abandonando o Nome, Eu também vos abandonarei, pois deveis cami- nhar sempre livremente diante de Mim. Recebei agora a Minha Bênção.”

  3. Assim, o Senhor abençoou a planície e todo o povo se proster- nou diante Dele, adorando-O em Seu Nome. Ele, porém, dirigiu-Se, acompanhado de Henoch, à casa de Lamech, e ninguém se atreveu a chegar perto.

226.OSENHORÉAPORTAEA CHAVE

  1. Quando chegam à porta da sala do trono, Lamech se aproxima rápido do jovem e diz: “Eis aqui a sala do trono, no qual se encontra o Santo Nome de Deus, e como falaste de modo tão comovente deste Nome, sentirás por certo grande prazer em visitá-Lo. Se quiseres fazê-lo antes do desjejum, mandarei imediatamente abrir o salão; basta ape- nas um aceno meu, e aquelas centenas de pessoas estarão prontas a me obedecer.”

  2. Obtempera o Senhor: “Para quê dar ao povo um trabalho des- necessário? Também nós podemos fazê-lo, e muito mais facilmente que o povo pobre e fraco.” “É verdade”, diz Lamech, “mas precisamos das chaves.”

  1. Responde o Senhor: “Lamech, Eu Mesmo sou a Chave e a Porta. Comigo poderás abrir tudo que quiseres, e por Mim poderás ingressar no recinto da Vida eterna.

  2. Perceberás que Eu também sou a Chave diante da Qual não existe porta que esteja segura quando Eu disser: Abre-te! — e, como vês, as duas partes da porta se abriram.” Sumamente admirado, Lamech corre junto de Kisehel e diz: “Isto é forte demais e começo a temer este homem, pois acredito que é capaz de remover montanhas. Terias tu realizado tamanha coisa com tua força de vontade?”

  3. Diz Kisehel: “Por certo — mas apenas, como tudo até então, com o Poder e a Graça do Senhor, sem a Qual não existe poder, graça, nem força. Assim, cada um pode fazer tudo como Senhor; mas, sem Ele, nada, pois só Ele é Onipotente e pode tudo.”

  4. Conclui Lamech: “Neste caso, este jovem possui muita Graça por parte do Senhor, por conseguir isto, e se faz ressaltar diante de todos vós.” Comprova Kisehel: “De fato, Ele tem o máximo grau da Graça Divina e é portanto o mais Poderoso e Sábio.”

  5. Prossegue Lamech: “Estranho que Deus tenha conferido a este jovem maior Graça, Sabedoria e Poder que a vós, patriarcas e homens experimentados. Não achas?” Responde Kisehel: “De modo algum; isto o Senhor faz como quer. Não acontece que uma pequena flor possui perfume muito mais forte que um girassol? Por quê? Só o Senhor o sabe. Eis que o jovem Se aproxima da pedra. Vamos prestar atenção ao que fará com ela.”

  6. O Senhor fita a pedra apenas, sem grande cerimônia, e voltando-

-Se para Lamech diz: “Vamos, Meu amigo, e manda preparar um desje- jum.” Solícito, Lamech responde: “Prezado amigo, basta entrarmos no salão, que tudo está preparado.” “Então vamos”, concorda o Senhor.

  1. Assim, o Senhor Se encaminha ao lado de Henoch, e Kisehel, Lamech e os outros O seguem. Entrementes, Lamech observa para o companheiro: “Que estranho! Este jovem tão altamente considerado por Deus nem ligou à pedra; olhou-a ligeiramente e virou-lhe as cos- tas.” Diz Kisehel: “Não te preocupes; daqui a pouco tudo se esclarecerá. Faze o que Ele mandar, que será do Agrado de Deus.”

227.LAMECHÉNOMEADOPARASACERDOTEDESEU POVO

  1. Quando os hóspedes penetram no refeitório, são recebidos por Tubalkain, Mura e Cural que haviam entregue à noite as chaves a La- mech. Este convida os dois para o desjejum e pede não dispensar os operários, pois ainda há algum trabalho. Notando o jovem ao lado de Henoch, Mura pergunta por sua procedência e se também era do alto.

  2. Retruca Lamech: “Tua escolha neste sentido não foi feliz, pois nada sei a respeito dele. Deduzi pelas palavras de Kisehel ser aquele personagem forte na palavra e soberano nas alturas, ao qual o próprio Henoch é submisso. É só o que sei. Não desvies a atenção da pessoa dele, talvez descubras mais que eu.”

  3. Lamech apanha as chaves e as entrega a Henoch, pois cabe-lhe abrir o que fora erigido em honra e louvor de Deus, segundo Sua Von- tade Santa. Henoch, porém, intervém: “É da Vontade do Senhor que também sejas não só um rei, mas também um sacerdote de teu povo. Conserva as chaves de teu sacerdócio e abre o Templo e o peristilo quando estiver na hora.

  4. Digo mais: Um sacerdote é um verdadeiro irmão dos irmãos, segundo a Ordem do Amor de Deus; mas um rei é um julgamento para o povo. Sempre que houver regentes entre os povos, estes estarão em julgamento. A Terra lhes será tirada e terão que pagar grandes tributos ao rei, e até mesmo suas vidas serão posse dele.

  5. Quem se queixar por isto não raramente será punido até a úl- tima gota de sangue. Então a dor e a grande tribulação reinarão sobre toda a Terra. Sê, portanto, mais sacerdote que rei para o teu povo.”

  6. Felicíssimo, Lamech responde: “Ainda que eu fosse mil vezes rei, depositaria esse cargo para me tornar um sacerdote digno da Ordem Divina.” Como é convidado a sentar-se à mesa, ele saboreia a refeição, mas subitamente se lembra que esta não fora abençoada segundo hábito de Kisehel e ninguém havia louvado a Deus.

  7. Rápido, ele se levanta e diz: “Caros amigos, deu-se uma coisa horrível! Precisamente hoje que recebemos de Deus tantos benefícios e que o Próprio Senhor Se transferirá em Seu Santíssimo Nome neste

Templo, esquecemos de Lhe ofertar um louvor condigno antes de co- meçarmos a nos alimentar. Prefiro morrer do que alimentar-me antes de passados três dias.”

  1. Sorrindo, o Senhor o chama e diz: “Se tivesses um filho que houvesse cometido um erro qualquer, mas quando percebesse sua falta ele exclamasse: Pai, é horrível meu pecado contra ti! Por isto não to- marei alimento, ainda que morresse no segundo dia! — tu certamente dirias: Teu erro foi apenas um pequeno engano que não considero de modo algum. Prefiro que me ames.

  2. Certamente preferirias que teu filho te amasse, do que conti- nuasse a se acusar. — Bem, faze o mesmo com relação ao Pai Celeste, pois também és apenas um filho Dele, o que Lhe agradará muito mais que teu jejum.” Obtempera Lamech: “Mas, onde está o Pai para que tomasse esta mesma atitude?” E o Senhor responde: “Lamech, eis o Pai diante de Ti. Eu sou o Pai, Deus de Céus e Terra!” Todos se prosternam e Lamech balbucia: “Querido Pai, sê Misericordioso para comigo, po- bre pecador. Tua Santa Vontade Se faça!”

228.AVERDADEIRAVENERAÇÃODE DEUS

  1. Convidando todos os filhos da planície a se levantarem, o Se- nhor prossegue: “Eu sou Deus Único, Santo e Poderoso, Criador de todas as coisas e seres no Céu e na Terra. Além de Mim não existe outro Deus, e todos os Espaços e Eternidades estão preenchidos do Poder do Meu Amor, Sabedoria, Misericórdia e Graça. Sou, portanto, Senhor de tudo que surgiu de Mim e tudo depende de Meu Poder Infinito.

  2. Não pode ser de modo diferente, porque tudo que existe vive de Minha Vontade e não pode fugir da mesma. Ainda que fosse possí- vel algo se afastar de Meu Poder, ipso facto, teria que se afastar de sua existência, pois em toda a Eternidade nada pode existir senão por Mim e através de Minha Vontade, condição primordial de todo ser e que preenche os Espaços infinitos.

  3. Assim sendo, tereis que Me reconhecer como Sou, quer dizer, Deus e Senhor, Único. Só é Senhor quem possui eternamente o Poder,

a Força e a Autoridade. Contudo, não vos deveis arrastar no pó e vos empoeirar sem razão. Não vos dei o corpo para que o usásseis como vermes, mas como criaturas livres, Meus filhos e irmãos entre si e Mim.

  1. De modo algum sinto agrado em qualquer serviço físico, pois o corpo não vos foi dado para Me servirdes com ele. Ele vos deve servir em tempo justo e na medida certa para fortalecimento de vossa alma, vossa natureza essencial. Assim, também o operário fará bem caso usar o instrumento para aquilo que foi feito. Diante da obra realizada se demonstrará o respeito do ofício, mas não perante o instrumento.

  2. Eu Sou a Obra Principal para vosso espírito e Sou sempre o Mesmo Deus. Quem Me honrar e se humilhar diante de Mim, que o faça constantemente, pois também Eu Sou constantemente Santo para todos. E quem quisesse honrar-Me no pó, teria que fazê-lo sempre. Se tal fosse Minha exigência, Eu vos teria formado para vermes e não para criaturas livres.

  3. A verdadeira veneração consiste na constante execução de Minha Vontade, que vos foi revelada de três modos: dentro da ordem da natu- reza, pelo vosso coração espiritual — o puro amor — e finalmente pelos mensageiros, e agora confirmada por Mim Mesmo. Amai-Me acima de tudo e a vós mesmos, que tereis Me honrado em espírito e verdade. Eis Minha Vontade, e só Ela tem valor para Mim, todo o resto é fútil e tolo.”

229.ASAÇÕESDOAMORPUROSEJUSTIFICAMPERANTEO SENHOR

  1. Todos se sentem mais animados e Lamech, enchendo-se de co- ragem, diz: “Ó Senhor e Pai de todas as criaturas! Porventura é pecado se o homem, forçado pelo sentimento e impelido pela humildade e imenso amor para Contigo, se atira diante de Ti, tanto física como espiritualmente, sacrificando-se de modo total?

  2. Existem momentos na vida da criatura em que, fortemente to- cada por Teu Amor e Graça, vertendo lágrimas de remorso, amor e alegria, desejando abraçar-Te com o mais puro amor, não pode deixar de fazer os mesmos movimentos correspondentes aos da alma.

  1. Amigos também se abraçam e amantes sentem vibração mais forte em momentos especiais. Crianças também o fazem com os pais, e Tu Mesmo organizaste a Criação de tal modo que tudo vibra mais fortemente em certos momentos.

  2. O Sol fornece uma luz sempre igual e me parece corresponder a uma ocupação constante de Ti. Isto não ocorre com o fornecimento do calor, pois considera certas graduações de maior ou menor vibração. As árvores não produzem sempre as mesmas flores e frutos; no entanto, se encontram sempre em Tua Ordem. O próprio ar se descontrola às vezes e passa com grande violência. As montanhas nem sempre estão ardendo, muito embora estejam dentro de Tua Ordem.

  3. Assim sendo, não nos condenarás se, impelidos pelo amor, Te veneramos com corpo e alma.” Retruca o Senhor, colocando Suas Mãos em Lamech: “Foste um filho do mundo e ignoravas aquilo que acabas de dizer. Que se passa contigo, pois falas qual sacerdote ungido pelo Meu Espírito?”

  4. Com respeito, ele responde: “Ó Senhor, falo segundo o desejo de meu coração.” Diz o Senhor: “Se alguém Me ama acima de tudo e seu coração em tal momento lhe diz: — Faze isto, ou aquilo! — pode ceder a seu ímpeto, que Eu olharei com agrado o que o puro amor para Co- migo fizer. Seja ele a luz de todos e único guia eterno em Meu Nome.”

230.OJULGAMENTODENTRODALEIEALIBERDADENO AMOR

  1. Tomando da palavra, Lamech diz: “Uma vez que comecei a Te pedir e a perguntar, desejava saber como deve o homem agir em todas as relações terrenas. Para nós, nada seria mais desejável que um cami- nho delineado, uma lei que impeça de se agir contrariamente.

  2. Se recebermos de Ti uma regra certa, saberemos o que desejas, segundo Tua Ordem, e poderemos viver com facilidade segundo Teu agrado. Sem regra, todos os nossos passos serão acompanhados de in- certeza para evitarmos qualquer queda moral.”

  1. Erguendo a Mão, o Senhor diz: “Em verdade vos digo, como Pai: se Eu vos prender pela lei, ter-vos-ei algemado ao julgamento, pois não existe julgamento sem lei. Se tu, Lamech, tivesses recebido leis de Deus, Eu não vos teria visitado como Pai e Salvador, mas qual Juiz implacável a fim de vos condenar por todas as vossas ações maldosas.

  2. Desde o início vivestes quais crianças no berço, sem leis. Prati- castes ações que clamavam aos Céus, mas não recebestes lei determi- nada, apenas um conselho indireto, pois não estáveis preparados para qualquer julgamento. E agora vim Eu para vos ajudar.

  3. Como podes pedir-Me leis? O que preferes: estar livre em teu amor para Comigo tendo-Me como Pai, ou viver algemado por leis, te- mendo-Me como juiz? Prefiro destruir a Criação total a algemar Meus filhos por meio de leis, deixando de lhes ser um Pai para condená-los para a morte eterna.

  4. Volta atrás com teu pedido e destrói-o totalmente em ti. Com tua maldade Eu te apreciava mais que na consideração severa de leis que sustam todo o amor entre legislador e julgado, suplantando o amor pelo direito inclemente.

  5. Quem seria capaz de afirmar: Estou em condições de cumprir a lei de modo total? Isto só seria possível para Deus, mas nunca a um ser livre, e a criatura caminharia no julgamento como animal. Neste caso, onde ficaria a ação livre do espírito?

  6. Ai de vós e ai do povo ao qual Eu darei leis, pois a Casa do Pai estaria fechada com trancas de ferro. E se Eu não viesse Pessoalmente para cumpri-las, toda a Criação sucumbiria. Por isto não vos dou lei alguma, mas vos digo, como Pai, que Me ameis acima de tudo e ao próximo como a vós mesmos. Eis Minha Vontade. Todo o resto, fazei segundo a sabedoria que recebeis com Meu Amor, e assim vivereis a Meu Pleno Contento. Amém.”

231.LAMECHTEMEAIRA DIVINA

  1. Terminada esta explicação, o grupo queda perplexo, especial- mente Lamech, que pensa: “Ele tem realmente uma ótima aparência, de sorte que temos coragem de Lhe fazer perguntas; mas, depois daqui- lo que disse, não se pode confiar Nele totalmente. Melhor será eu me calar. Nunca se sabe como aceitará uma expressão tola, e no final pode acontecer que não haja mais salvação.

  2. Sua Ira deve ser algo terrível. Seria preferível não existir a estar ao lado de um Deus irado. O simples pensamento da possível Ira de Deus é mais pavoroso que tudo que a mente humana possa imaginar.

  3. E eu, tolo, me atrevi a Lhe falar como a um igual e expus toda a minha tolice. Agi como se eu quisesse ensinar Deus Todo-Poderoso a externar Sua Vontade. Quem sabe se não está irado? Basta olhar para Ele para se ter essa impressão. Quem me protegerá? Ele nada diz, nem a Seus amigos. Deve ser prova de Sua Ira. Estou perdido para sempre.”

  4. Aproximando-Se de Lamech, o Senhor diz com amabilidade: “Que pensamentos tenebrosos, completamente indignos de Mim, pro- jetas em teu coração? Como podes imaginar um Deus irado? Amor e Ira são os polos mais opostos que o espírito mais evoluído possa imaginar. Amor é o elemento de conservação eterna; e a ira é o princípio eterna- mente destruidor.

  5. Se em Mim existisse a possibilidade de qualquer ira, ela teria que destruir todo o amor e tudo que criou, e finalmente a si mesma. Como vês, tudo ainda existe. Onde então está Minha Ira? Pode um homem irar-se por ser uma entidade distante de Mim, devido à sua prova de liberdade; portanto é um contraste temporário. Por isto só consegue unir-se a Mim através do amor.

  6. Em tempos remotos, o Amor em Mim esteve envolto de ira. Mas, o Infinito também se encontrava totalmente vazio de seres, tanto espirituais como materiais. Mas, o Amor apossou-Se da Ira que o com- primia e a projetou fora de Si, qual entidade física.

  7. Desta Ira foram criados todos os inúmeros espíritos, sóis e mun- dos e tudo que neles existe. Se quiseres ver em verdade a Ira de Deus,

olha as coisas criadas. Porém, não são somente ira, mas também o Meu Amor que em tudo é o ser mais poderoso. Ele suporta tudo, e fora dele não existe poder mais forte.

  1. Por este motivo, não deve a criatura se prender ao mundo, mas arrancar-se dele, para não ser finalmente por ele tragada caindo em Mi- nha Ira. O mundo é Minha Ira algemada e quem estiver com ele estará dominado pelas algemas da morte eterna.

  2. Aquilo que pretendes ver em Mim como ira, é apenas Meu Zelo de Amor, Divino e Vivo, e em si, Minha Misericórdia. Podes falar diante de Mim o que quiseres que não Me zangarei, mas te en- sinarei coisas úteis. Revela o que alimentas no coração, que te ajuda- rei. Amém.”

232.OJUSTOAMORPARACOM DEUS

  1. Deste modo encorajado, Lamech diz: “É eternamente bom e verdadeiro que só podemos ser agradáveis a Ti caso Te amemos acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos. Mas, como deve ser cons- tituído o amor para com Deus, e como deve o homem agir? Isto é para mim algo importante, pois como não és igual a mim, meu amor para Contigo não pode ser humano. Sendo Tu Santo, sumamente Santo, o amor do homem também deve ser puro e santificado. Queira nos escla- recer este ponto tão importante.”

  2. Fitando Lamech com agrado, o Senhor diz: “Realmente, nin- guém até hoje formulou tal pergunta, importantíssima, pois tudo de- pende da maneira como sou amado. Ninguém pode aproximar-se de Mim com um sentimento injusto e indigno.

  3. Seria difícil explicar-te como deves amar Deus, e seria mais fácil que, com teus braços curtos, envolvesses Céu e Terra. Por isto, lhe darei uma parábola. Suponhamos que um homem de classe, digamos um regente de uma das dez cidades, tivesse vários filhos que conhecessem a ordem estabelecida para se aproximar dele, isto é, bem vestidos, de passos medidos, as mãos cruzadas sobre o peito e a cabeça baixa. Uma vez diante do pai, ele os elogia e os despede.

  1. Um dentre eles, um garoto arrojado e forte, não os acompanha e vem sozinho, aliás algo desleixado em suas vestes. Quando se encontra perto do pai, ele estende os braços e exclama: — Pai, querido pai, como te amo! Não consigo manter-me dentro dos limites da boa educação e prefiro morrer a abafar o ímpeto de meu coração!

  2. Suponhamos que fosses tu tal pai; que farias a este filho? Res- pondes: Ora, amá-lo-ia acima de tudo. — Bem, Eu também sou tal Pai. Quem, portanto, Me procurar como aquele garoto arrojado, ultrapas- sando as barreiras da boa educação, será Meu filho predileto.

  3. Não podes amar o Próprio Deus. Mas, podes amar o Pai como aquele menino, e Deus como Pai te abraçará com todo o Poder de Seu Amor e te tomará em Seu Regaço e será, por tua causa, Benigno com todos os outros, dispensando a fútil distinção. Eis o verdadeiro Amor.”

233.LAMECHPERGUNTAPELOSFILHOSJUBALE JABAL

  1. Sumamente grato, Lamech agradece de joelhos e diz para os seus súditos: “Acabastes de ouvir que Deus, o Criador e Senhor de Céus e Terra, deseja ser um Pai de todos e nos demonstrou como devemos amá-Lo em verdade. É preciso preparardes vossos corações para serem dignos de caminhar ao Seu lado quando Ele desejar penetrar no Templo erigido em Sua Honra.” E, virando-se para o Senhor, Lamech prosse- gue: “Pai, querido Pai, queira aceitar estas palavras como se tivessem mérito perante Ti e abençoa nosso coração para poder trazer-Te os fru- tos do puro amor.

  2. Meu Pai, eu tenho dois filhos, Jubal e Jabal, que se perderam há algum tempo, na época em que me separei de minha filha, e minhas duas mulheres, Ada e Zilá, me foram sequestradas. Sei que elas estão bem amparadas; portanto, não me preocupam. Mas, os filhos me afli- gem, pois ignoro o paradeiro deles, e gostaria de revê-los, caso fosse de Teu agrado.”

  3. Diz o Senhor: “Lamech, quanto ao teu discurso referente ao povo, será ele abençoado sem coação do livre arbítrio; mas, no que diz respeito aos teus filhos, eles não podem chegar aqui agora, pois foram com Hora-

dal às montanhas. Em tempo oportuno, tanto eles quanto tuas mulheres e a filha virão aqui. — Traze a pedra sagrada, que Eu lhe soprarei o Hálito e tu a levarás ao Templo. Ninguém deve penetrar antes de Mim.”

234.LAMECHNÃOCONSEGUECARREGARAPESADA PEDRA

  1. Com grande respeito, Lamech se dirige ao trono, dá honras a Deus e se apronta para tirar a pedra, tão pesada que ele não consegue removê-la. Atônito, ele se lembra de ter ouvido falar o seguinte: Sem Mim, nada podeis fazer, mas Comigo, fareis tudo.

  2. Com esta ideia, ele volta junto da assembleia e todos lhe pergun- tam onde está a pedra. Ele responde: “Meus irmãos, aceitai de coração o seguinte axioma: Quando o Pai Poderoso e Santo está conosco, con- seguimos realizar tudo. Mas, sem Ele, nada faremos. Fui tolo, pois me dirigi sem Ele para o salão a fim de apanhar a pedra. Mas, a experiência me demonstrou o que disse. Por isto, procurarei o Senhor, e certamente não voltarei de mãos vazias.”

  3. Dirigindo-se para o Senhor, que Se encontra em palestra com Henoch e os sete mensageiros, Lamech diz: “Eu, grande tolo, pretendia apanhar a relíquia, sem Ti, e trazê-la aqui. Mas, diante de seu peso, não consegui fazê-lo e me lembrei que sem Ti nada podemos. Por isto Te peço que me acompanhes e me ajudes a tirar a pedra do salão.”

  4. Retruca o Senhor: “É isto, Lamech; Comigo poderás fazer tudo; mas, sem Mim, nada farás. Quem seria capaz de fazer crescer sua altu- ra um palmo apenas? E quem diria que isto ou aquilo surja devido à minha vontade? Somente a Mim todas as coisas são submissas. Quem estiver Comigo estará também com Meu Poder — pois sou a Eterna Força em Pessoa — e poderá realizar tudo em Mim e Comigo. Vamos ao Templo para ver se a pedra ainda é tão pesada.”

  5. Todos acompanham o Senhor e Lamech, e este levanta a pedra e a leva ao refeitório, onde a coloca na mesa principal e o Senhor lhe sopra Seu Hálito.

235.RAZÃOPELAQUALOHOMEMNÃOCONSEGUECUMPRIRUMALEIEMSUA TOTALIDADE

  1. Eis que o Senhor diz: “Lamech, há pouco Me pediste para esta- belecer leis aos homens, e Eu não te atendi para evitar que o julgamento viesse sobre ti e teu povo. Acabaste de verificar quão pesada é uma lei surgida de Mim, quando pretendias suspender a pedra sem Mim, e tampouco pudeste trazê-la pessoalmente por ser muito pesada.

  2. Assim, muitas criaturas, de posse de Minhas Leis, estariam dis- postas a cumpri-las enquanto não encontrassem dificuldades. Quan- do deparam com as mesmas, que fariam se Eu não Me encontrasse, como agora, visivelmente entre vós, e a fé inabalável e o necessário amor se perdessem, razão por que ninguém como tu se encaminharia para Mim, dizendo: Senhor, compreendo que sem Ti nada se pode; por isto, ajuda-me a suspender e carregar o grande peso!

  3. Com isto te quis demonstrar que o homem jamais poderá cum- prir inteiramente uma lei divina, e quem afirmasse o contrário seria grande mentiroso e malfeitor. Só Deus pode cumprir uma lei divina, por ser ela de Deus, eterna, e contém condições infinitas.

  4. Se a criatura tiver feito tudo segundo Minha Vontade revelada e quiser ser justificada diante de Mim, terá que dizer com humildade: Senhor e Pai, sê Benevolente e Misericordioso com teu servo preguiço- so. Consegui apenar roer a casca, mas o cerne e a madeira da lei ainda continuam intocáveis por minha força de vontade.

  5. Quem, portanto, age segundo Minha Vontade, deve fazê-lo através de sua própria força, mas em constante confiança na Minha ajuda forte; no entanto, deve se lembrar que ele nada fez, mas sim Eu através dele. Quem isto reconhecer vivamente será justificado por Mim em virtude de seu conhecimento humilde.

  6. Quem atribuir a si próprio as ações realizadas, terá que enfrentar uma justificativa pesada na qual dificilmente surgirá uma prova concre- ta, a menos que o contador em tempo procure a tabuada da humildade, nela confessando que é Meu maior devedor.

  1. A fim de poupar a ti e a teu povo do julgamento, por ser o cum- primento de Minha Lei por demais pesado, quase que impossível, Eu vos dou somente a Lei do Amor — que em si não é lei, porque o amor é a vida de cada um — e que não deveis pronunciar o Meu Nome com futilidade, por ser Santo, Santo, Santo, acreditando sempre que sou o Único Deus e Criador do Céu e da Terra.

  2. Amai-Me e honrai-Me sempre acima de tudo, e acreditai ser Eu o Pai a vos transmitir isto, que tereis feito mais que a realização de dez mil leis. Essa pedra deve nos relembrar do Pai e preencher o coração com amor, veneração e fé, que estarei sempre convosco e tereis em Mim a Vida eterna. Vamos levar então a pedra ao destino previsto.”

236.AMOREPACIÊNCIA,ÚNICASCHAVESPARARESOLVEROS EMPECILHOS

  1. Lamech se curva humildemente, toma a pedra e a transporta com passos medidos, pois está compenetrado de Quem o segue com Henoch. Quando chegam à grande porta de saída, a praça do palácio está de tal forma abarrotada de criaturas a se tornar impossível a passagem. E elas tampouco podem recuar, em virtude das que empurram por detrás.

  2. Bastante perturbado, Lamech se vira para o Senhor e diz: “Meu Pai, que farei diante desta multidão? Violência seria impraticável e tam- bém não daria resultado. Repeli-la através de Tua força sobrenatural também não seria justo, pois são convidados e Teus filhos. Sairmos por outra porta também não seria admissível para este caso tão especial. Certamente disporás de milhares de possibilidades e Te peço me ajudes.”

  3. Diz o Senhor: “Ainda desconheces a chave principal com a qual sepode abrir a grande Porta da Vida eterna? A chave é o Amor; por isto procuraremos afastar os filhos, e caso esta chave não surtir efeito, existe outra que se chama paciênciacom a qual se consegue vencer tudo.

  4. Experimentemos primeiro a chave principal e guardemos a ou- tra em prontidão e te asseguro que não ficaremos impedidos com estas duas chaves da Vida.”

  1. Exclama Henoch: “Que ensinamento santo e que Santo Pro- fessor és Tu, Senhor. Tu és o Amor, mais santo e puro.” Diz o Se- nhor: “Meu caro Henoch, é preciso ensinarmos os filhos e carregá-

-los em nossas mãos, para que se tornem fortes e ricos em Graça, Amor e Misericórdia. Evitai nas alturas toda violência e tudo que tenha cunho pomposo e secreto, e caminhai com amor e simplicida- de, que todos os corações hão de encontrar paz em vós, e em Mim a Vida eterna.”

  1. Lamech então se dirige para a multidão, dizendo: “Irmãos, se for possível, abri uma brecha para podermos passar, sem que alguém use de força. Teremos paciência até que isto seja organizado.” Imediatamente este pedido é transmitido de boca em boca até o último homem e não se passa um quarto de hora e a grande porta está livre, dando passagem para todos.

  2. Chamando Lamech para Seu lado, o Senhor pergunta: “Que me dizes destas duas chaves?” Ele responde, contrito: “Só posso dizer que somente Tu és Bom e o Próprio Amor em si. Amo-Te acima de tudo.” Acrescenta o Senhor: “Então, vai em frente.”

237.ALEGRIAEBEM-AVENTURANÇA,COMOFINALIDADEDA CRIATURA

  1. Quando a multidão se movimenta pelas ruas da grande cidade, o povo se acumula, seguindo; mas, também havia outros a caminho na vanguarda. Lembrando-se das palavras do Senhor que ninguém devia entrar primeiro que ele, Lamech cai em embaraço, mas não se atreve a virar-se a fim de perguntar ao Senhor a respeito.

  2. Quando a multidão se torna por demais compacta, ele se altera intimamente. Se bem que o Senhor o perceba, Ele faz como se não o visse; mas, como Lamech não se atreve a prosseguir, Ele diz: “Lamech, por que paraste? Falta metade do caminho e Meu Tempo chegou. De- ves andar e não parar.”

  3. Encorajado, diz Lamech: “Senhor, lembrei-me que disseste que ninguém devia entrar antes de mim; mas, vê, milhares estão na nossa

frente.” Concorda o Senhor: “De fato, mas avisaste que ninguém nos devia preceder? — Respondes: Não, não me lembrei disto. — Se assim é, por que te aborrece a multidão? Não me referi a esta caminhada, mas à caminhada sacerdotal. Acalma-te e vai em frente, pois está certo que o povo marche sempre na vanguarda. Esta ordem deve permanecer sem- pre, física e espiritualmente. Mantém o povo sob teu olhar, que serás um justo pastor de Meu rebanho.”

  1. Quando, na saída da metrópole, Lamech avista o Templo suntu- oso, fica tão alegre que quase pula de felicidade, e também o teria feito se não fosse o povo. O Senhor, porém, lhe diz: “Lamech, Meus filhos devem ser alegres em Meu Nome; portanto, podes saltar qual corça, pois Me agrada mais uma pessoa alegre do que uma triste no coração. Criei-vos para a bem-aventurançae não para a tristeza.”

  2. A estas palavras, Lamech começa realmente a dar pulos e o povo se admira; algumas pessoas louvam a Deus e também o imitam. Outros obtemperam: “Vede nosso rei, tornou-se dançarino. Certamente é a influência dos moradores das alturas que devem ser magos poderosos, a ponto de lhes obedecerem as próprias pedras.” Outros ainda protestam: “Não percebeis que a pedra com o Nome Santíssimo está sendo trans- portada? Convém adorá-la, a relíquia do Deus Todo-Poderoso, que nos foi ensinado há tempos pelo rei Farak.”

  3. Com essas conjecturas, alcançam finalmente a porta dourada da muralha, e Mura a abre e a caravana se dirige para o Templo. Mas, o povo não se atreve a passar pelo limiar, permanecendo com calma fora da muralha.

238.SUNTUOSIDADEINTERNADO TEMPLO

  1. Mura abre a porta dourada e Lamech se admira muito diante da imensa suntuosidade. Depois de algum tempo, ele nota que uma luz diferente cai por cada fileira de janelas no interior do Templo. Pela primeira fila se projeta uma luz cor-de-rosa; pela do meio, uma verde, mas ao lado das duas últimas janelas se mescla com amarelo, e pela superior, uma azulpassando para o violeta. Não contendo sua curiosi-

dade, ele pergunta: “Por certo sabes, ó Senhor, porque me dirijo a Ti, e se fosse de Teu agrado, poderias acalmar meu coração.”

  1. Diz o Senhor: “Lamech, o serviço que ora desempenhas pre- valece sobretudo. Não te preocupes com a cor das janelas e faze o que te compete. Depois podes te dirigir para Mura, que te dirá o motivo do colorido.

  2. Eis o altar; fica ao lado direito e aguarda até que Eu tenha aben- çoado o mesmo. Em seguida, porás a pedra em cima dele. Então colo- carei querubins de cada lado, que sempre vigiarão este Meu Santuário.

  3. Por cima do Nome Eu soprarei uma nuvem luminosa como pro- va de que Eu, Deus, eternamente Poderoso e Senhor de Céus e Terra, assim determinei para vossa salvação do extermínio eterno. Quem se aproximar deste Templo, de coração puro e cheio de amor, será fortale- cido com Minha Graça.

  4. Mas, quem o fizer indignamente, será tomado por um fogo que se projetará do telhado, consumindo-o totalmente. Ninguém deve pe- netrar ali além de ti, sumo sacerdote das planícies — e também quem vier das alturas — e depois de ti, teu filho mais velho, caso o tiveres abençoado para sumo sacerdote, em Meu Nome. Este sacerdócio deve permanecer sempre em tua tribo principal.

  5. Quem se atrever a penetrar no Templo será morto imediata- mente pelos querubins: de igual modo, nenhuma mulher — tanto das alturas como principalmente das planícies — deve se atrever a penetrar e tu mesmo o farás apenas quatro vezes ao ano, preparando-te antes por sete dias e meditando a Quem pretendes te dirigir. Se não considerares esta ordem, teu destino não será melhor que o dos outros.

  6. Uma vez dentro do Templo, não fecharás a porta, para que o povo possa olhar o Santíssimo e toda Minha Glória de certa distância. Deveis vos reunir no vestíbulo em cada sábado para Me agradecer e Me oferecer vosso amor — mas nunca outro sacrifício. Vosso sacrifício vem de Caim e Eu não o quero considerar, senão o de vosso coração.

  7. Nenhum homem deve entrar de cabeça coberta e nenhuma mu- lher de rosto desvendado. Enquanto esta Minha Ordem for por vós observada, Minha Graça visível e efetiva continuará entre vós. Tão logo

desconsiderardes Minha Ordem, este Santuário vos será tirado e em seu lugar vereis o julgamento sobre o altar numa chama de fogo devorador. Então chegarão os filhos das alturas e vos punirão com açoites incan- descentes. Eis por ora Minha Vontade. Deixa que Eu abençoe o altar e em seguida coloque a pedra em cima.”

239.FINALIDADEDAORDEMDO TEMPLO

  1. Imediatamente Lamech se posta ao lado direito do altar com a pedra na mão, com expressão de grande medo. Como o Senhor o percebe, Ele para com a Bênção do mesmo, dizendo: “Lamech, que se passa contigo? Porventura tremes diante de Minha Ordem estabelecida para que saibas como conservar Meu Santuário, não podendo dele se aproximar nada impuro e sem preparo?”

  2. Lamech responde: “Senhor, de que adianta ao verme falar Con- tigo, uma vez que expressaste Tua Santa Vontade? Segundo Teus Desíg- nios, consta: Criatura, vive constantemente dentro de Minha Ordem, do contrário, Eu, teu Criador e Deus, te aniquilarei. Se bem que nos deste, habitantes das planícies, Teu Santuário e por Ele uma grande Graça, qual será o resultado? Conheço a natureza humana e sei quão fa- cilmente se desvia do caminho reto. Isto ocorrendo, de que nos adianta o maravilhoso Santuário?

  3. Por que somente eutenho permissão de entrar no Templo, se fui sempre grande pecador, enquanto milhares de criaturas mais puras não devem fazê-lo sob risco da própria vida? Quem estaria de coração verdadeiramente puro para nele penetrar? Deste modo, todos devem contar com sua morte caso se aproximem do Templo.

  4. Ó pedra maravilhosa, com alegria eu te carreguei para fora; mas, voltarei à casa com grandes queixumes. Tu te tornaste para nós, pobres, um julgamento inclemente em vez de uma bênção. Senhor, se já foi determinado nosso extermínio, que Se cumpra Tua Vontade.”

  5. Com olhar cheio de piedade, o Senhor diz: “Lamech, pobre filho da tristeza e da treva, por que te apavoras tão inutilmente? Se Eu real- mente fosse amigo do extermínio de Meus filhos, teria sido desnecessário

que Eu viesse visivelmente para junto de vós. Bastaria um pensamento apenas, e toda a Criação estaria destruída como se nunca tivesse existido.

  1. Vim junto de vós, espiritualmente mortos, para vos devolver a vida que perdestes, dando-vos também uma instituição pela qual pode- reis reconquistá-la. Esta instituição necessitando de uma ordem pura a fim de evitar que tal força enfraqueça através da desordem — porven- tura é isto um julgamento?

  2. Se permito apenas ao sumo sacerdote a penetração no santuário

  1. Quem Me ama já se encontra no centro do Templo; sim, no âmago do templo espiritual, e também encontrará a morte caso entre em tua companhia. Quem Meama,vemdoAltoe poderá penetrar a qualquer hora.

  2. Impossível exigires de Mim que Eu vos dê um Templo, pleno de Minha Graça viva, para um estábulo. Meu Pronunciamento continua válido e te asseguro que ninguém será prejudicado. Sou Pai de todos e não um assassino. Com isto, abençoo este altar. Amém.”

240.O SENHOR EXPLICA A ORDEM DO ALTAR E DESAPARECEDE NOVO

  1. Quando o Senhor acaba de abençoar o Templo, Lamech coloca a pedra em cima do altar e o Senhor a toca com a Mão. No mesmo instante, todos avistam dois querubins sumamente compenetrados de cada lado do altar, em cima de nuvens luminosas. Em seguida, o Senhor sopra Seu Hálito sobre a pedra e eis que surge uma coluna de luz sobre o altar subindo até o teto dourado.

  2. Todos, inclusive Henoch, sentem certo temor e ele conjectura: “Santo e Bondoso Pai, quão imenso é Teu Amor! Nas alturas abençoa- das quase não concordaste com a construção de um altar, mas Te deixas- te convencer na aceitação de um simples altar de sacrifício; e para nós, os filhos das montanhas, deixaste, como prova de Tua Presença, a grota reconstruída de Adão e a cabana de Purista, a mais simples de todas.

  1. Mas aqui determinaste um grande monumento sobre o qual Sol, Lua e todas as estrelas lançarão sua luz e os filhos do alto olharão com respeito as planícies abençoadas. Pai, ninguém pode vislumbrar os Teus Desígnios, e sei apenas que fizeste isto tudo movido por Teu infinito Amor e Misericórdia.”

  2. O Senhor fita Henoch e lhe diz interiormente: “Henoch, vê aqui o Nome, e lá em cima Seu Portador; aqui uma prova, lá o Doador da mesma; aqui Minha Aparição, lá o Meu Ser; aqui a suntuosidade da prova, em cima o Poder do Pai; aqui tudo é feito de ouro da Terra e de pedras preciosas; lá estão o Amor e a Meiguice cheios de vida do Pai. Que te parece melhor?”

  3. Sumamente comovido, Henoch responde: “Meu coração se cala por amor a Ti e só posso dizer: Pai, quão infinitamente Bom és Tu!” Prossegue o Senhor, porém, audivelmente: “Henoch, único sumo sacer- dote desta época, uma vez que Céus e Terra se uniram e se estabeleceua comunicação dos anjos celestes convosco, digo: Também este reba- nho será entregue aos teus cuidados. Tão logo vires alguma dificuldade, restabelece a boa Ordem em Meu Nome.

  4. A Sehel, nas alturas, dize que venha, pois necessito dele. Deve tomar uma espada e carregá-la como um príncipe de todos os anjos celestes, preparado para uma luta constante. Não o esqueças, pois o tempo dele é medido como o Meu.”

  5. Virando-Se para Lamech, o Senhor prossegue: “Aqui tudo está em ordem; permanece nela que ficarás no intercâmbio vivo dos Céus, e tu e teu povo viverão em paz. Quem Me amar acima de tudo e renun- ciar a todo mundanismo por amor a Mim, terá a Vida eterna e não verá, nem sentirá ou saboreará a morte.

  6. Neste Santuário sempre te será revelada a Minha Vontade, caso tiveres ofertado teu coração a Mim. Num encontro com Henoch de- ves atendê-lo em benefício de ti e de teu povo. Falarei por ti. Recebei a Minha Bênção Paternal e Meu Amor. Amém.” Com isto, o Senhor desaparece e todos começam a chorar.

241.ANATUREZADO AMOR

  1. Depois de se terem refeito de sua emoção, Henoch diz para La- mech: “Tu e todos os demais ouvistes a Voz do Pai e presenciastes Sua Presença Visível, inclusive Suas Ações que homem algum pode realizar, a não ser que o Senhor venha a agir por ele.

  2. Acreditais indubitavelmente que tenha sido o Senhor. Mas, esta fé e vosso amor para com Ele de nada adiantam, porque fostes coagidos a crer e agora resta saber como agir para que fé e amor se tornem úteis. No íntimo dizeis: Por que não deviam ter utilidade, pois já foram bas- tante úteis para nós?

  3. Está certo. Todavia, vos digo que não se trata de tal utilidade, pois tudo que o Senhor faz é útil, caso soubermos aproveitá-lo. Não o fazendo, torna-se um prejuízo para nós. Não deixa de ser de grande proveito a nossa existência livre numa Terra maravilhosa que nos supre de tudo. Todavia, será útil caso a usemos segundo a Vontade Amorosa do Pai. Não o fazendo, ela nos serve para um julgamento, aprimeiramortedo espírito, e nos conduz desta morte para a real eeterna.

  4. Do mesmo modo que o Senhor vos criou, há tempos, para uma ação livre e independente com as forças vivas dadas por Ele, também vos recriou agora, com e amor. Tais predicados ainda não são vossa posse; portanto, não se prestam para a vida, mas para um julgamento no qual sois obrigados a crer e amar.

  5. Que fazer para tirar-vos deste embaraço? Só existe um meio, que se chama a humildade verdadeira e total do coração, e consiste na aceitaçãodevossafaltademéritodestaGraçarecebida, achando-

-vos os mais simples entre o povo, ensinando-o a conhecer Deus como Senhor e Pai, Único e Verdadeiro. Além disto, deveis dizer depois de terdes trabalhado em Nome Dele: ‘Senhor e Pai, tem Misericórdia para com teus servos preguiçosos e não tomes nosso trabalho como se fosse algo nosso, pois reconhecemos que tudo é Tua Ação, enquanto fomos apenas desajeitados em Teu Trabalho. Aceita nossa boa vontade em vez da obra, e que Se faça sempre Tua Vontade Santa.’

  1. Neste estado de alma, a fé e o amor vos serão úteis. Prometei isto ao Senhor, em vosso coração, que sereis verdadeiramente vivos em espírito e vossos descendentes participarão convosco.”

242.INSTRUÇÕESPARAOEXAMEDOSVISITANTESDO TEMPLO

  1. Em seguida, Henoch se vira para Lamech diretamente e diz: “Eis a Vontade do Senhor para tua orientação: Deves fechar o Templo por noventa e um dias. No último, a contar de amanhã, o abrirás e ficarás até o dia seguinte. Quando, dentro do Templo, estiveres na Presença de Deus, não deves usar boca e mãos, mas aguardar com calma o Espírito Divino, com humildade e amor.

  2. Falarás, intimamente, diante Dele: Deus, Senhor Único de Céus e Terra, aqui estou, o mais ínfimo pecador, sem mérito de me olhares neste Teu Santuário. Mas, Tu me chamaste; por isto exclamo: Sê Mise- ricordioso para comigo que ouso amar-Te e chamar-Te de Pai!

  3. Eis tua tarefa no Templo, Lamech. Isto feito, fica em meditação total e aguarda a Palavra e a Vontade do Senhor. Se Ela Se manifestar, deves anotá-La em pedras e transmiti-La ao povo. Se nada acontecer, dá honra a Deus, afasta-te do Templo e fecha-o por noventa e um dias.

  4. Quanto ao átrio, deve ficar aberto de sábado para o outro dia, a fim de que moradores distantes também possam participar, caso não cheguem a tempo para o sábado. Dois guardas devem ficar a postos na entrada e analisar bem os que desejam ingressar no átrio. Quem se aproximar do Templo sem o devido preparo passará por aquilo que o Senhor anunciou.

  5. Todo visitante deve ser examinado psiquicamente e, se não for digno, será avisado que não pode penetrar antes de se purificar e se achar em condições para o ingresso. O exame é sempre dirigido ao cora- ção da pessoa, e os próprios guardas devem ser dotados de coração puro e desempenhar seu ofício com humildade e amor. Fora preciso que recebesses estas instruções; vamos portanto entrar e em seguida fechar

243.AINTERPRETAÇÃODACONSTRUÇÃODO TEMPLO

  1. Observando o Templo com maior cuidado, Lamech fica suma- mente feliz e grato a Deus por ter dado aos homens entendimento bas- tante para realizar algo tão sublime. Tomando-o pela mão, Henoch diz: “Lamech, segundo me parece, estás empolgado com a suntuosidade do Templo. Por acaso entendes sua interpretação? Como não o consegues, olha mais profundamente no teu coração onde descobrirás as seguintes palavras, em letras flamejantes: Tu, sumo sacerdote no Santuário do Senhor, deves conhecer a obra no espírito da verdade; do contrário serás simples blasfemo do mesmo.

  2. Ai de ti se pretendes ensinar teu irmão algo que não entendes, pois o Senhor diz: Neste caso, punirei mestre e aluno e não olharei nem um, nem outro. — Entendes isto?

  3. Quem quiser falar sobre Deus e Suas Obras, pretendendo en- sinar seu irmão, deve ter sido ensinado por Deus, porque só Deus co- nhece as Suas Obras. Tudo isto ainda te é algo estranho e desconheces como Deus ensina e educa os homens. Todavia, afirmo que ainda hoje, antes de anoitecer totalmente, hás de conhecer os primeiros elementos e assim por diante, até que sejas um perfeito estudioso em teologia.”

  4. Totalmente estonteado, Lamech pergunta: “Que coisas são essas que meu coração não assimila? Afirmaste: Ai do professor que quer ensinar algo que não entende! Que direi, se falas de assuntos mais estra- nhos que o fim do mundo?”

  5. Responde Henoch: “Não te aflijas, pois se o aluno soubesse an- tecipadamente o que devia aprender do professor, ele seria a coisa mais desnecessária do mundo. Não há aluno que no início seja tão perfeito como seu professor. Uma vez sendo igual a ele, estará perfeito, não ha- vendo diferença entre ambos.

  6. O Senhor me enviou do Alto para teu professor, por isto terás que ouvir-me. Quão tolo seria o professor, caso pretendesse dar expli-

cações acerca da análise de uma matéria, sem tê-la demonstrado! Acabo de te fornecer uma matéria crua, segundo a Ordem Divina, portanto sou justo professor. Não te irrites antes do tempo. Uma vez que te dê a matéria, também te darei a explicação. Tudo mais tem seu tempo e sua paciência. Em tua casa saberás algo mais.”

244.LAMECHSEGUEOBOMCONSELHODE HENOCH

  1. Em seguida, todos se dirigem para a cidade, em direção da casa de Lamech. Quando o grupo sai do Jardim de Deus (nome posterior- mente dado ao átrio do Templo), é impedido pela multidão. Notando a ausência daquele jovem forte, as pessoas julgam que Lamech e seu grupo o tivessem aprisionado dentro do Templo, onde teria que mor- rer de fome.

  2. Diante da atitude descontrolada do povo, Lamech se apavora e grita para Henoch: “Amigo poderoso do Senhor, por acaso não vês nos- sa grande calamidade? Terei que sucumbir nas mãos deste povo furioso? Aconselha-me como poderei fugir.”

  3. Retruca Henoch: “Como és fraco na fé! Não tens as chaves na mão? Dize-lhes que te acompanhem para o Templo a fim de tirarem de lá o jovem maravilhoso. Quando perceberem que ninguém mais lá se encontra, se acalmarão e poderemos seguir em paz.”

  4. Cheio de coragem, Lamech se dirige aos revoltosos e diz: “Aque- le jovem não Se deixa aprisionar de modo algum, pois é Ele o Próprio Senhor e somente o Nome Dele lá ficou vivo. Infelizmente tornou-Se invisível, depois de nos ter dado a conhecer Sua Vontade e ter abenço- ado o Templo todo.

  5. Isto aconteceu de fato, e a presença dos querubins vivos em cima das nuvens luminosas de ambos os lados do altar prova isto. Não acredi- tando em minhas palavras, tomai estas chaves e trazei o fabuloso jovem que Se poderá vingar em Mim. Tratai, porém, que vosso coração seja puro, do contrário tereis motivo para queixas.”

  6. Diante desta advertência, os revoltosos não se animam a tomar as chaves, tampouco ousam responder. Lamech então pergunta: “Por

que hesitais? Porventura isto não é prova suficiente de eu vos dar o direito de busca?”

  1. Eles recuam, dizendo: “Agora acreditamos que falaste a verda- de. Perdoa nosso atrevimento, pois aquele jovem tocou-nos o coração.” Conclui Lamech: “Digo mais: Prossegui nesta vibração para com Ele, que caminhareis pela trilha certa, pois Ele é Deus de Eternidade, o Deus de Farak.” Apavorado, o povo se afasta, e o grupo segue sem im- pedimentos à casa de Lamech.

245.ADVERTÊNCIAPARAA MODERAÇÃO

  1. Uma vez na casa de Lamech, ele pergunta a Henoch se não é conveniente tomarem uma refeição, ao que este responde: “Tua nature- za assim pede, segundo teu hábito; mas, não te preocupes conosco, pois não sentimos necessidade de alimento porque ainda estamos supridos do grande Amor e da Graça do Senhor.

  2. O homem não vive somente do pão, mas muito mais da Palavra de Deus. Se te alimentas e te sacias, pergunto: Por que o alimento na- tural te saciou e alimentou? — Respondes: Porque também o alimento natural se origina da Palavra Poderosa de Deus.

  3. Muito bem. Se a Palavra consistente e algemada na matéria te nutre e sacia, quanto mais o fará a Palavra Viva de Deus. Nós mesmos nos originamos da Palavra de Deus; portanto, não pode haver coisa mais nutritiva e alimentadora que Ela.

  4. Isto não quer dizer que a criatura não se deva alimentar, por- quanto Deus assim a criou e também Se alimentou em nossa compa- nhia. Não deve, porém, se tornar uma necessidade principal , e isto faz parte da Ordem das coisas divinas.

  5. Sê sempre comedido na alimentação, pois nela reside uma gran- de tentação. Se comemos o pão e os frutos da Terra, devemos ser cuida- dosos para não sufocarmos a alma imortal devido ao seu peso material.

  6. Podes fazer esta observação nas crianças gulosas que, através da voracidade, embrutecem, tornando-se inaptas para algo positivo e espi- ritual, enquanto as outras se desenvolvem para estudiosas e habilidosas.

Isto acontece de modo ainda mais forte no adulto, por ser ele capaz de paixões desenvolvidas, estranhas às crianças.

  1. Na alimentação natural o corpo é alimentado, e a alma compri- mida e forçada ao jejum. Na alimentação espiritual, ambos lucram; o espírito se torna forte e poderoso e seus sentidos se aguçam, o físico se torna flexível, comedido e conservado forte como uma veste bem tecida com fios finos, porém resistentes.

  2. No alimento natural residem elementos deteriorados, e se a cria- tura tiver ingerido grande quantidade, eles se tornam mestres da pró- pria alma e corroem sua índole como fazem os bichos roedores com uma árvore, destruindo-a totalmente.

  3. O alimento espiritual é para a alma uma chuva balsâmica dos Céus, onde ela pode em breve florescer para uma flor aromática e ma- ravilhosa da Vida eterna. Observa isto educando-te e a teu povo neste sentido. Como aceitaste o ensinamento com benevolência, podes pre- parar uma refeição para todos — mas com moderação.”

246.LAMECHORDENAUMBANQUETE FRATERNAL

  1. Compenetrado da verdade contida no conselho acima, Lamech procura o mestre de cozinha e pede uma refeição simples e comedi- da. Como o outro se admira desta ordem, Lamech aconselha a agir como mandara e assim seria servo justo daquele que Deus lhe dera para guia. O mestre de cozinha não o entende, e Lamech prossegue: “Brudal, posso explicar-te tua dúvida. Entre Lamech, o rei e Lamech, o guia, existe a seguinte diferença. O rei mandaria prender-te diante de tua objeção. Lamech, o guia instituído por Deus, te abraça e diz: Vai, caro Brudal, e faze o que te mandei, pois esta é a Vontade do Senhor Poderoso de Farak.

  2. Como já providenciaste um excesso de alimentos e refrescos, manda entrar na sala do trono os pobres e todos os prisioneiros, e serve-

-os como se fossem meus filhos e irmãos. Manda mensageiros correrem à cidade para trazerem os que forem encontrados nas ruas. As prisões devem ser abertas e nenhum prisioneiro deve ficar lá dentro, inclusive

meus maiores inimigos, cujo alimento consistia em caranguejos cozi- dos. Devem agora saborear minha refeição real.

  1. A partir de agora quero ser um irmão e guia para o meu povo, segundo a Ordem de Deus. Eis a diferença entre o rei e o irmão e guia Lamech. Não percas tempo para fazer o que mandei.” Dando um salto de alegria, Brudal exclama: “Ó Grande Deus, somente Tu conseguiste transformar o coração de ferro de Lamech em coração fraternal. Quão feliz Tu me tornaste, meu Deus, pois ainda hoje hei de ver minha mu- lher, dois irmãos, e sete filhos que foram condenados e atirados ao cár- cere porque não queriam adorar Lamech como Deus.”

  2. Dentro de uma hora, todos os prisioneiros se encontram no sa- lão do trono, inclusive grande número de pobres. Brudal organiza os serventes para cuidarem de todos, que louvam o Deus de Farak. A fa- mília de Brudal não quer se alimentar antes de ver a transformação de Lamech, pois supõe que isto seja apenas um capricho do rei. Quando ele é informado disto e vê aqueles pobres, ele se comove muito e diz: “Vinde para junto de mim, que vos martirizei e cometi grande peca- do convosco. Agora quero reparar todos os prejuízos a ponto de não encontrardes palavras para enumerar os benefícios recebidos. Acompa- nhai-me ao refeitório para sentardes ao meu lado.”

247.DISCUSSÃOPELOATRASODOBANQUETE.INTERPRETAÇÃOESPIRITUALDO TEMPLO.

  1. Quando Lamech penetra com os novos convivas, Henoch vai ao encontro dele, dizendo: “Que se passa contigo? Em outras ocasiões tudo estava organizado e bastava acenares para que os alimentos fossem trazidos à mesa. Já entraste pela segunda vez e se passaram duas horas nesta confusão, e as mesas ainda se encontram vazias. Teu estoque de alimentos estaria esgotado? Que houve?”

  2. Henoch e todos os outros, vindos das alturas, bem sabem da razão disto, e ele faz a pergunta apenas para que Lamech tenha oportu- nidade de se humilhar mais profundamente.

  1. No primeiro momento, ele não sabe o que responder; mas no fim diz: “Poderoso amigo do Senhor, quando passei tua ordem ao chefe de cozinha, ele se admirou muito e então demonstrei-lhe a diferença entre rei e guia. Para que o entendesse melhor, mandei juntar todos os pobres da cidade e libertar todos os prisioneiros, para participarem do banquete. Eles poderão testemunhar da veracidade do fato. Agora os pratos poderão ser servidos.”

  2. Abraçando o rei, Henoch diz: “Meu querido irmão, agora o Se- nhor apagou todos os teus pecados e estás tão puro como o Sol a pino. A interpretação do Templo, importante e viva, é a seguinte: Tu és o Templo e tua natureza positiva é representada pela solidez do mesmo. As janelas são os conhecimentos originais da luz flamejante do amor. O telhado de ouro representa teu coração iluminado. O altar é teu cora- ção. Os querubins demonstram teu amor ao próximo, e o Nome Vivo no altar e a nuvem luminosa são teu amor para com o Senhor, que é autor de tudo isto que fazes. A nuvem que atinge o teto testemunha que estabeleceste uma união perfeita de amor para com Deus, e o átrio é tua vida terrena, na qual praticas o amor ao semelhante.

  3. Meu irmão, deste modo o Senhor preparou-te uma grande gló- ria e te fez um filho Dele. Salve a ti e a teu povo. A fim de que vejas o Agrado do Senhor, vamos ao salão do trono, onde tomaremos a ceia.”

248.CAUSADOMALNOCORAÇÃO HUMANO

  1. Quando os principais hóspedes penetram na sala do trono, onde havia sido colocada uma mesa especial para eles, irrompe grande júbi- lo e Lamech, muito feliz, pergunta a Brudal qual a origem dos frutos jamais vistos. Este responde: “Não posso te orientar, pois também os vejo apenas agora. Acredito que teus hóspedes do alto te poderão dar explicação a respeito.”

  2. Dirigindo-se para Henoch, Lamech diz: “Sei que para Deus, o Senhor, todas as coisas são possíveis; mas não compreendo como conse- gue transformar meus frutos péssimos, em outros tão especiais.”

  1. Sorrindo, Henoch diz: “Disseste há pouco que o Senhor não pode transformar algo ruim em bom, respeitando Sua Própria Ordem. Por acaso não ouviste que Ele classificou todas as coisas criadas de boas? Então, onde estavam as ruins?

  2. Nada no mundo é ruim, senão o próprio homem quando desvia seu coração do Senhor. Ele se tornando portanto mau, tudo no mundo se torna ruim para ele. Se fores puro no coração, tudo será puro para ti; quer dizer, verás tudo dentro da verdade. Teu coração sendo mau, as coisas também o serão.

  3. Como foste anteriormente como rei? Mau e cheio de astúcia e falsidade. Assim também o teu povo se manifestava para contigo e no mais honesto homem vias somente um malfeitor, mandando atirá-lo no cárcere.

  4. Como o Senhor Se apiedou de ti, Ele salvou-te da ruína e agora não vês nenhum malfeitor, e os que atiraste na prisão são agora teus amáveis hóspedes como irmãos. Se Deus conseguiu melhorar e purifi- car-te, que eras de fato maldoso, certamente ser-lhe-á possível melhorar os frutos deste solo.

  5. Eles demonstram as ações benéficas de teu coração e o Agrado do Senhor, e assim tens diante de ti aquilo que te predisse sobre o Agra- do Dele. Vamos agora nos fortificar, em Nome de Deus.”

249.OSENHORSEAPRESENTACOMO POBRE

  1. Todos agradecem ao Senhor por tamanha Graça e Lhe pedem que Ele permaneça com eles para protegê-los contra qualquer mal, físico e psíquico. Henoch então abençoa os alimentos e convida os irmãos a se servirem. Todos apanham os frutos que, todavia, na mesa do Senhor não foram transformados. Mas, Lamech está ávido para saboreá-los.

  2. Por isto, Henoch diz: “Meu irmão, o Senhor criou muitos ani- mais que comem dia e noite. O homem não foi criado para tal fim, mas para que se aperfeiçoe em espírito, devendo se alimentar em virtude da subsistência física, comedidamente, e não para saciar sua existência aparente com os frutos mais saborosos, sem controlar-se. Por isto, não

te deixes tentar pelos frutos que enfeitam as mesas de teus hóspedes, mas contenta-te com aquilo que o Senhor nos deu.”

  1. Enquanto ainda se encontram à mesa, ouve-se uma discussão diante da porta do salão que aumenta assustadoramente. Quando La- mech vai verificar o motivo daquilo, ele vê vários pobres aos quais os servos rudes do rei proíbem a entrada por terem se atrasado e não con- vém perturbar o banquete.

  2. Enfurecido, ele diz: “Agradecei a Deus por Ele conter minha ira, pois esta atitude merecia prisão perpétua. Se sois meus servos, aguardai minhas ordens, agindo como faz Brudal e vossos superiores. Só Deus é meu e vosso Senhor, que não vos mandou reter os pobres. Que esta seja vossa última ação autoritária, do contrário vos expulsaria para o deser- to. Ide para vossos recintos e fazei penitência para que Deus vos perdoe. Vós, pobres irmãos, acompanhai-me e fortificai-vos na sala.”

  3. Um dentre os dez pobres está em situação assaz precária, estando quase desnudo, e tinha sido o mais repelido pelos empregados. Com lágrimas nos olhos, Lamech lhe diz: “Meu pobre irmão, deixa que te abrace; certamente caíste na miséria por minha culpa. Agora serás ao meu lado o mais rico, pela Graça do Senhor. Vêm.”

  4. Responde o pobre: “Ó justo rei, gostaria de seguir-te. Mas, per- doa antes os empregados que pretendiam maltratar-me, pois eu tam- bém os perdoei.” A estas palavras, Lamech não se contém e desata a chorar. Em seguida manda um servo libertar os colegas de sentimento duro e se encaminha para a mesa oferecendo seu lugar para o pobre. Nisto, também os empregados se aproximam e agradecem ao rei que os cumprimenta como irmãos.

  5. O pobre, porém, emocionado, abraça Lamech e diz: “Agora aca- bas de ser envolvido pela Vida eterna, e Eu, teu Deus e Senhor, não só serei teu Pai, mas também um verdadeiro Irmão, e como tal habitarei esta Terra eternamente.” Nesta altura, todos reconhecem o Senhor.

250.AONIPOTÊNCIADIVINAEAPOBREZADO PAI

  1. As Palavras ditas acima penetram quais flechas no coração de todos, e o próprio Henoch não estava preparado para este desfe- cho, razão pela qual anteriormente havia falado a respeito do Agrado do Senhor.

  2. Por isto, ele se vira para o pobre e diz: “Se pergunto ao meu cora- ção, ele me responde secretamente: Sim, Tu O és! Mas, se das profunde- zas de meu coração analiso o meu espírito, não consigo perceber como o Pai, Onipotente, Deus e Criador de todas as coisas, pode também ser um pobre. Dá-me explicação para que Te possas reconhecer.”

  3. O pobre olha simplesmente para Henoch, e quando ele percebe esteOlhar, corre junto Dele e exclama: “Sim, Tu O és! Tamanha Mei- guice, Condescendência, Amor e Fidelidade, ao lado de tão infinita Sublimidade Divina não se irradia da visão humana.”

  4. Só então o Pai, na figura do pobre, dirige as seguintes Palavras a todos: “Ouvi-Me e guardai o que o Pobre vos diz: Henoch, se o pobre te procura e tu o recebes em Meu Nome, ter-Me-ás recebido. Indagas no íntimo: Como isto é possível? Deus só Se polariza com o Sublime, o Poder e a Força.

  5. Em verdade vos digo: Não Me podeis reconhecer em Minha Sublimidade, nem em Minha Força e Poder, mas sim em Minha Mise-ricórdiae verdadeiro AmorPaternal. Mas, o Amor atrai tudo para Si e quer chamar a Si tudo que existe. E vede, o mesmo faz o Pai.

  6. Se quiseres medir tudo segundo Minha Divindade, não amas o Pai e pretendes apenas te aproximar da Divindade, Infinita em Sua Natureza, e assim te dispersas e te aniquilas finalmente. É preciso com- preenderdes a profundidade do Espírito de Deus. És um ser criado, e como tal és feito de um corpo e uma alma viva, na qual habita o espí- rito do Amor.

  7. Teu corpo vem da Divindade e Sua Lei é um imperativo cate- górico que não pode ser alterado. Podes fazer o que quiseres, que não modificarás a forma. Uma vez que teu corpo é obra da Onipotência Divina e existepeloimperativocategórico, é ele perecívele destru-

tível. Isto porque em Deus rege a mais infinita liberdade, não podendo conter uma coação.

  1. Se Deus fosse apenas Deus, jamais teria sido criado algo, e tudo seria um Pensamento Infinito apenas visível para Ele, não havendo um ser sequer que se alegrasse de sua existência livre em Deus.

  2. Deus não é só Deus em e por Si, mas também é Deus devido ao Amor em Si. Deus surge de Seu Amor e o Infinito é Sua Natureza. Mas, Esta Entidade retorna sempre para junto de Seu Amor e lá Se sacia com a Força e o Poder infinitos.

  3. Tua alma é Criação do Pai, o Amor em Deus. Este Amor sen- do a Natureza Básica de Deus, tua alma também é um ser básico de tua existência e um receptáculo para a Vida eterna, inclusive o corpo, Obra ou Templo do Espírito de Deus através do Imperativo categóri- co de Deus.

  4. Perguntas pelo porquê. — Enquanto segurares uma pedra em tua mão, ela se encontra em teu poder e podes fazer com ela o que quiseres. Uma vez que a tiveres atirado para longe, a libertaste de tua vontade; todavia, ela terá que manter a direção dada pela tua mão e, ainda que quisesses, não poderás alterar seu voo nem te tornar seu juiz. Quando a pedra tiver caído ao solo, porque não tem poder indepen- dente, poderás atirá-la de novo, segundo tua vontade.

  5. Quem tiver ouvidos, que ouça: O Pai, como Amor Eterno e Infinito, em Deus ou em Sua Projeção, Se desfez de tudo. Através do ímpeto de Sua Onipotência, Ele preencheu todos os Espaços com Seus Pensamentos imensos. Nada guardou para Si, pois tudo que ti- nha Ele deu.

  6. Por este motivo, o Pai em Si é pobre, e a pobreza é Seu Amor. Sua Riqueza é agora o Amor libertado e Sua Vida Única e Eterna na qual se encontram todo o Poder e Força. Esta pobreza é a maior bem-a- venturança do Pai, pois vê que tudo volta a Ele, podendo Ele se apossar de tudo, infinitamente aperfeiçoado, em Seu Amor.

  7. Sol, Lua e estrelas, tudo que vês e podes apalpar corresponde à Minha Divindade ou Onipotência. Tudo está concatenado através de Meu imperativo categórico.

  1. Mas, não pode continuar como está; tudo existe em virtude do Pai para que Se enriqueça eternamente, pois quis ser pobre por certo tempo. Também sois Minha Semelhança fiel, Meus verdadeiros filhos. Dai-Me tudo, como fiz Eu; libertai vosso amor e vossa vida, que sereis ricos para sempre.”

251.ENCARNAÇÃOESACRIFÍCIODO SENHOR

  1. Todos caem de joelhos e adoram o Pai, na figura do pobre, e Henoch exclama: “Por muitos anos meu coração se ocupou Contigo e descobriu dentro de si mesmo que és o Amor eterno, mais Puro e Infinito. Desde cedo aprendi dos meus sentimentos a me ligar exclu- sivamente a Ti, ó Pai, e não havia outro ensinamento que me levasse a conceitos diferentes.

  2. Quando no monte todos nós tivemos a felicidade celestial de Tua Visita, vi constatada minha ideia anterior; contudo, não me atrevi a formá-la de Tua Pessoa. Agora me vejo totalmente aniquilado diante de Ti, porque Te classificas de pobre e também o és, a fim de nos receber a todos, como também os milhões de seguidores, como raio de Graça que retorna glorificado junto de Ti e Te tornas um Pai, Visível, Poderoso e Santo. Esta revelação é por demais sublime para um mortal. Se me fosse possível fazer-Te rico de novo e devolver-Te tudo que Teu Amor nos entregou com tanta plenitude — quão feliz seria eu.”

  3. Nesta altura, o Pai abraça Henoch e diz: “Não te preocupes com coisas vãs. Se fosse Minha Intenção possuir de novo aquilo que dei, bem poderia fazê-lo, pois somente Eu tenho Poder e Força para tanto, não existindo outro.

  4. Ainda que te fosse possível entregar-Me todos os sóis e estrelas, planetas e cometas no Espaço Infinito, teriam menos valor do que teu amor filial para com Teu Pai Verdadeiro. É o máximo que pude fazer, tornando-Me vosso Pai, e vós, Meus filhos. Por causa de um filho sacri- ficarei bilhões de sóis e mundos para reconquistá-lo.

  5. Quero dizer-te algo mais: Sabes que conservei somente a Vida, como Meu Amor, ao Me desfazer de tudo. Tal Vida Eterna Sou Eu

Mesmo. Fora de Mim tudo é morto. Caso fosse preciso entregar Minha Vida eterna a fim de salvar um filho, Eu tomaria essa medida em bene- fício dele. Podes conceber tal Amor?”

  1. Todos, inclusive Henoch, se ajoelham, chorando de amor, e nin- guém consegue pronunciar uma palavra sequer. O Pai, porém, prosse- gue: “Isto vos disse vosso Bom Pai para que pudésseis conhecer o Seu Amor. Mas, Ele não falou em vão, pois aquilo que Ele disse Ele fará através de Sua Palavra Encarnada, na grande Época das épocas. Gerarei um Filho, ao Qual darei toda a Minha Vida, e Eu estarei no Filho e Ele em Mim, e Pai e Filho serão eternamente Unos.”

252.JESUS,OVERBO ENCARNADO

  1. Depois destas Palavras, Henoch expressa melancolia, mas final- mente diz: “Profundas e misteriosas foram Tuas últimas Palavras, Senhor. Quem poderia entender o sentido? Se Tu Te deixares matar por criaturas preparadas para tanto, o Espaço Infinito não será imediatamente despro- vido de todos os seres? Tudo que vive só tem vida por Ti, portanto, Tua Vida. Que Vida existiria, se Tu, Fonte da Vida, morresses?”

  2. Nisto, o Pai Se levanta e diz: “Henoch, somente a ti é dado co- nhecer e entender o grande Segredo de Meu Reino; por isto, deves selar dentro de ti o que te direi agora, pois ninguém deve entender o sentido do mesmo até a Época das épocas, enquanto o mundo será condenado à cegueira até o fim.

  3. Vidae Amorsão uma só coisa; no entanto, são duas: o Amor é a base, e a Vida é o efeito. Também Luze Sabedoria são uma só coisa; no entanto, são duas: Luz é a causa, e a Sabedoria é o efeito.

  4. De Amor e Vida, porém, surge um terceiro elemento, que é a ação, ou seja, o Espírito Poderoso . Da Luz e da Sabedoria também nasce um terceiro elemento: a Ordem, da qual surgiu a forma de todas as coisas e a finalidade da mesma.

  5. Do Amor e da Vida, da Luz e da Sabedoria surge o Espírito de toda Santidade, ou seja, o Verbo pronunciadopela Boca de Deus . Este Verbo é essencial e a base da qual tudo foi criado originalmente.

  1. Se analisas a essência do Amore da Vida, e a Forçadeles sur- gida, considerando a essência da Luz e da Sabedoria, e a Ordem que nasce dali, e ainda consideras a Santidade disto tudo, ou seja, a Entida- de do Verbo Eterno de Deus, chegas a ter sete espíritos, todos surgidos do Amor, e o AmorMesmoéoPrimeiroEspíritoqueSeprojetou, sendo que os outros seis nascem ao mesmo tempo do Amor e com Ele se identificam desde eternidades.

  2. Amor e Vida podem ser separados, e então o Amor se semelhará a uma pedra de gelo, sem calor. A Vida em si será apenas um fogo que destrói, e na destruição procura se abrandar. Do mesmo modo podem ser separados Luz e Sabedoria. A Luz será um fogo destruidor, e a Sabe- doria se transformará em treva, mistificação, erro e mentira.

  3. O Verbo que surge do Amor e da Vida, da Luz e da Sabedoria também pode ser separado individualmente. Isto prova a Criação total onde percebes todas as separações mencionadas. Foram por Mim efetu- adas, e Eu sou sua base, e a finalidade se prende à vida de provação ou ao constante exercício e fortalecimento da Vida eterna.

  4. Contudo, não obstante todas essas separações, estou Uno, em posse plena de todos os Meus Espíritos.

  5. Assim será também na Época das épocas, em que o Verbo Eter- no, Base essencial de todas as coisas, Se tornará Carne, na Qual habitará a Plenitude de Minha Natureza.

  6. A carne será morta pelo mundo. Mas, a plenitude que habita Nela, o Amor eterno, vivificará a carne, e então habitará a Plenitude de Deus em Seu Verbo Encarnado, como Homem frente a Suas criaturas, que poderão vê-Lo e falar-Lhe como um irmão verdadeiro.

  7. Este Homem Divino trará a todos a Vida real e eterna. Mas, até lá, vivereis uma existência separada de Meu Amor. Eis o sentido de Minhas Palavras. Deves assimilá-lo, e ninguém mais até o fim.”

253.OPINIÕESDIVERSASACERCADOMISTERIOSO POBRE

  1. Terminado o discurso do Pai, todos se sentam à mesa para se servirem, todavia ninguém se atreve a falar. Entre os demais hóspe- des os ânimos são mais descontraídos e comentam a transformação tão estranha de Lamech, pois desconhecem o que se passara com ele. Os mais próximos da mesa principal se admiram da sabedoria do pobre e comentam: “Deve ser um vidente ou feiticeiro.” “Neste caso”, conjectu- ram outros, “deveria ter uma vara mágica e outros amuletos. Achamos mais acertado tratar-se de um astrólogo, pois era chamado de Pai, título dado comumente a tais sábios.”

  2. “De minha parte”, diz um outro, “não concordo. Tenho boa visão e afirmo que este pobre é o mesmo jovem maravilhoso que se encontrava ao lado do sábio das alturas. Os braços são os mesmos, na- turalmente ocultos pela veste pobre.”

  3. Um outro opina: “Estaria tudo certo; todavia, observei um por- menor muito importante. Não vistes como aquele grupo se prosternou diante dele e o adorou formalmente? Se fosse simples sábio, como fo- ram Farak e os patriarcas das alturas, não fariam isto. Deve, portanto, existir algo especial atrás deste homem. Descobrir isto deve ser muito difícil para nós. É preferível silenciarmos e saborearmos estes frutos.”

254.CONSELHODOSENHOREDISCURSODE LAMECH

  1. Quando todos estão satisfeitos, inclusive os necessitados e ex-

-prisioneiros, agradecem ao Deus de Farak, pois ignoram que o Santo Doador se encontra no meio deles. Em seguida, se dirigem para La- mech e, de mãos postas, expressam também a ele sua gratidão. Ele lhes impede isto e com o olhar demonstra aos pobres que não devem ser gratos a ele, acrescentando: “Não eu, mas este homem é o verdadeiro Doador de todas as boas dádivas.”

  1. Estupefatos, eles comentam entre si: “Que vem a ser isto? O Rei Lamech manda que agradeçamos ao pobre que também nada possui? Deve se tratar de um capricho dele, que sempre foi cheio de ideias

esdrúxulas. Quem sabe se ainda hoje não nos fará assar! Convém ficar- mos afastados de sua pessoa.”

  1. Ouvindo tais cochichos, Lamech toma da mão de um cético e diz: “Pobre amigo, por que ainda pensas coisas maldosas de mim?” O outro leva susto tão grande que quase cai no chão. Chegou a vez de La- mech se apavorar, por isto vai junto do Pai e Lhe transmite a ocorrência.

  2. O Pai responde: “Não deves te pôr em campo sem Mim, caso pretendas ser útil ao mundo. O povo ainda ignora que não és mais um rei, mas sim um sumo sacerdote nomeado por Mim. Por isto, não con- fia em ti, e considera-te ainda o mesmo tirano. Sobe no trono e declara em Meu Nome o que és verdadeiramente e quais os teus planos, que o povo se manterá em boa ordem.”

  3. Lamech, porém, obsta se convém ele subir ao trono no qual anteriormente se encontrava o Santo Nome do Pai, e o Pai responde: “Que tolice é esta? Falas Comigo, no entanto temes o trono porque Meu Nome lá Se encontrava por certo tempo, desenhado por Ti? Que vale mais: Eu, ou Meu Nome?

  4. Se de modo algum desejas subir nele, por respeito ao Meu Nome, sobe nesta cadeira e transmite Minha Vontade, pois não te que- ro impor qualquer coação.”

  5. Lamech sobe imediatamente na cadeira e começa a pregar à multidão, demonstrando com amor tudo aquilo que tinha ocorrido com ele, sua transformação e seu bom propósito para com os súditos. Naturalmente, todos louvam o bom Deus de Farak.

  6. Quando Lamech desce da cadeira, o Senhor lhe diz que ele havia pisado na cadeira que Ele, o Santo e Poderoso Deus, havia ocupado. Lamech cai de joelhos e pede perdão. Mas o Pai o faz levantar-se e diz: “Não te disse isto para te demonstrar teu pecado, mas apenas apontei que podes usar o trono para uso doutrinário, ainda que a pedra sagrada lá estivesse por certo tempo.

  7. Afirmo-te, Minha atenção Se prende exclusivamente ao coração do homem. Todo o resto não tem valor para Mim, pois sou o Próprio Amor e só quero amor. Sobe no trono e Me apresenta perante o povo

para evitar que continue cochichando a Meu respeito, fazendo suposi- ções, pois deve saber de fato Quem está em seu meio.”

255.PALAVRASDERIGORDO SENHOR

  1. Sem mais delongas, Lamech sobe no trono e transmite, num discurso bem formado, a Presença do Pai Eterno na figura do pobre. Quando os necessitados se inteiram desta Graça, eles caem por terra e O adoram, enquanto os ex-sentenciados confabulam: “É realmente incompreensível que Deus, Onipotente, Criador de Céus e Terra, possa ser uma criatura tão pobre. Deve se tratar de uma das mistificações de Lamech, pois percebeu que nada conseguiria com violência em relação aos poderosos das montanhas.

  2. Para tal fim, teve que desistir de sua divindade ridícula e de seu reinado. Mas, a fim de continuar a nos dominar, engendrou uma di- vindade visível que deve sagrá-lo diante de nossos olhos para regente totalitário. Ó Lamech, também somos espertos como tu. Deves agir de modo diferente, caso pretendas cegar os de boa visão.

  3. Vamos indagar do próprio pobre em que situação se encontra sua divindade e veremos o que há atrás da mistificação de Lamech. Ai de ti, Lamech, se teu pobre não for o que afirmaste. Enxotar-te-emos para as chamas de fogo.”

  4. Dirigindo-se ao pobre, um dos vários oponentes pergunta-lhe: “Porventura és aquilo que o esperto Lamech pronunciou no trono? Pensa bem antes de falares, pois se percebermos que rezas pela mesma cartilha, saberemos castigar-te.

  5. Farak propagou o verdadeiro Deus e sua doutrina se manteve até a existência dos irmãos de Lamech, assassinados por ele no local dos pântanos, pois queria ele próprio ser rei. Dize-nos a plena verdade, do contrário passarás mal, e Lamech contigo.”

  6. A este convite, o Senhor Se levanta e diz: “Por que Me pergun- tais? Não fostes informados por Lamech? Se duvidais, por que não vos dirigis para lá onde vos dariam conselho melhor de Minha Pessoa?

  1. Por que foi possível aos pobres acreditarem no que disse Lame- ch? Aceitareis Minhaafirmativa? Não podeis crer, por estardes cheios de maus elementos. Lamech depositou para sempre o cetro de regen- te, uma vez que Me reconheceu, e tomou o cajado de pastor ofereci- do por Mim.

  2. Quereis vos apossar das insígnias de rei e enxotar Lamech para o fogo. Eis vossa maldade que impede Me reconheçais. Não vos direi Quem sou; ide junto dele e fazei vosso julgamento com ele. Não conhe- cereis o Pai até que Ele vos perdoe. Ide, se não quereis morrer!”

  3. Os rebeldes estão perplexos e se dirigem para o trono de Lame- ch, mas estão de tal modo perturbados que nenhum consegue falar. As Palavras do pobre os haviam tocado profundamente.

256.OPINIÃOERRADADOSREBELDESACERCADE DEUS

  1. Notando a confusão daqueles homens, Lamech diz: “Que pro- curais?” Um deles se anima e diz: “Todos nós nos encontramos em con- flito mental, pois nos transmitiste que aquele pobre seria o Deus Único e Verdadeiro que nos foi ensinado pelos teus irmãos. Não conseguimos entendê-lo, porque Farak nos ensinou um Deus Infinito, que com Sua Mão direita segura Céus e Terra, e com a esquerda se estende até onde não existem limites de Sua Natureza.

  2. Além disto, ele propagou que Deus é um Espírito, e como Tal, semelhante a um Pensamento eterno e infinito, Presente em tudo, mas que, por ser infinito, ser humano algum pode ver.

  3. Em virtude desta peculiaridade infinita é Ele também suma- mente Santo, razão porque ninguém se pode aproximar Dele, que ha- bita na Luz impenetrável por causa de eterna Contemplação. Se a isto acrescentas a figura daquele pobre — que aspecto teria Deus?

  4. Neste caso, nós faríamos melhor figura do que ele, que todavia parece ser um homem honesto e sábio. Motivo de lástima és tu ou ele, senhor; ele, porque imagina ser Deus Poderoso, e todos nós caso acre- ditemos assim. Por isto, pedimos, se possível, uma orientação melhor.”

  1. Lamech desce do trono, toma a mão do orador e diz amavel- mente: “Teus conceitos de Deus, segundo a doutrina de Farak, fazem jus a Ele, são puros e deixam transparecer a Divindade Sublime. Se então Deus é tal qual foi transmitido, como podemos atribuir-Lhe a criação de seres ínfimos, como a mosca e o piolho vegetal? Como podia a Divindade Suprema ocupar-Se com tais ninharias?

  2. É deveras revoltante imaginarmos que Deus nos tivesse criado tão imperfeitos, deixando lacunas tão imensas em Sua Criação. Por aca- so não há um contrassenso em Deus por ter feito dia e noite? Porventu- ra acabou-se o material de um segundo Sol que terminasse com a noite terrestre?

  3. Vemos entre o Firmamento e a Terra um espaço imenso e vazio. Por que Ele não o preencheu? Dá-me uma resposta satisfatória e te darei uma explicação concisa a respeito de teu problema. Tu te calas, confuso. Mas aquele pobre deu-me a faculdade de ler em teu coração, que te diz: Se assim é indubitavelmente, então não existe Deus e tudo é obra de um poder arbitrário que se formou por uma circunstância ocasional; ou então Deus existe de fato, como eterno Expectador daquilo que as forças realizam em virtude de seus movimentos ocasionais.

  4. Vê só os frutos que te vêm do teu conhecimento de Deus. Acon- selho-te o seguinte: Ajoelha-te perante o pobre e pede-Lhe Graça e Mi- sericórdia, e em breve verás a verdadeira Identidade Divina. Vai, a fim de que não pereças, mas te tornes livre em Deus.”

257.AMORHUMILDEPARACOMDEUS,ÚNICOCAMINHOPARAA LUZ

  1. Acanhados, os céticos se encaminham para junto do pobre, acompanhados de Lamech. Lá se curvam e o orador diz: “Peço nos dizeres se é permitido falar-se diante de ti como se fosses humano.”

  2. Diz o Senhor: “Conheço o assunto que te traz a Mim; portan- to, não necessitas falar. Querendo falar, faze-o por tua causa e de teus irmãos.” O orador queda perplexo e diz após algum tempo: “Bem, se

assim é, posso apenas pedir-te que me dês uma luz para acabar com nossas constantes dúvidas. Podes fazê-lo, pois te pedimos.”

  1. Retruca o Senhor: “Quem pretende medir sua capacidade de retórica Comigo terá sua língua imobilizada. Quem colocar sua visão junto à Minha ficará cego. Quem estender seu braço contra o Meu será humilhado até a última gota de sangue. Quem pretende colocar seus pés diante dos Meus ficará aleijado. Alguém querendo colocar sua cabeça junto à Minha terá seu cérebro transformado em água turva e o crânio cheio de detritos.

  2. Mas, quem vier cheio de humildade, procurando elevar seu co- ração junto do Meu, terá sua vida iluminada com a chama viva do amor para Comigo a ponto de jamais ver a morte.

  3. Farak vos ensinou um Deus Impenetrável e sua doutrina era inteiramente certa, pois naqueles tempos Deus de Céus e Terra vos era inatingível, porque uma hiena vos havia envergonhado no amor.

  4. Passaram-se poucos meses que Eu conduzi vossos filhos sob a chefia de Meduhede Sihin, porquanto demonstravam uma pequena centelha de amor. A fim de que não ficassem sufocados no vale do lodo, Eu os empurrei com Minha direita.

  5. Levei Sihinpara o deserto e dei-lhe uma hiena para professora; em seguida ele recebeu ensino por um leão, um urso, um tigre e um lobo. Estas feras tinham mais amor e piedade que o homem. Se ele era de tal ín- dole, há poucos meses, como teria sido há séculos, na vigência de Farak?

  6. Respondes: ‘Sabemos que até a época de Lamech nunca foi der- ramado sangue humano; portanto, eram os homens também melho- res.’ Sim, eram melhores, mas não livres, porém em julgamento, e não podiam agir de modo diferente à Minha Vontade. Sua ação não era obra de seu livre arbítrio, mas de Minha Onipotência. Para que fossem conservados, fora preciso que vissem Deus como juiz inclemente diante de suas almas. Mas, como as criaturas respeitavam as leis do Juiz Eterno, com grande pavor, o povo Me causou piedade e Eu o libertei. Assim que os antigos prisioneiros de Minha Onipotência se encontravam li- vres, todas as feras começaram a fugir deles, pois depararam somente com víboras venenosas.

  1. Eu o previra desde eternidades, mas também estava CientedoMeu Tempoe por queum temporal precede uma chuva benéfica. Sei porque faço as coisas e não há quem Me possa pedir contas de Minhas Determinações. Ainda que alguém o exigisse, porventura receberia uma resposta?

  2. Assim foi, assim é — mas, como será futuramente? Eu bem que o sei e não podes Me forçar uma orientação. Sou eternamente livre e faço o que quero. Hoje posso apresentar-te a Terra totalmente branca, e amanhã verás tudo negro. Sou um Senhor e não admito que se Me diga algo.

  3. Duvidas de Mim por ser pobre. De fato, um Deus e Senhor não é pobre, tampouco Eu o sou. Mas, o Senhor Se apiedou de vós e vos libertou para Se tornar um Pai para todos. O Pai Se desfez de tudo para vos conquistar como filhos; por isto é como O vês agora. Não creias em Mim, mas ama-Me, e reconhecerás ser Eu um verdadeiro Pai.

  4. O amor te curará e destruirá todas as tuas dúvidas. Vai e pes- quisa o teu coração, torna-te humilde, que serei um Deus Verdadeiro e Pai de Amor.”

258.UM CÉTICORECONHECE NO POBRE O PAI

  1. Após estas Palavras do Senhor, o grupo dos céticos fica ainda mais atônito e começa a fazer várias conjecturas, pois se ele é o que diz de si, facilmente poderia dar uma prova concludente. Quanto ao discurso, é de fato bastante elevado; todavia, qualquer habitante das montanhas pode usar das mesmas palavras.

  2. Finalmente, um deles diz o seguinte: “Irmãos, acabo de ter um ótimo pensamento. Queremos uma prova deste homem que confirme o que disse o rei. Devemos perguntar a nós mesmos qual foi a prova dada pelo grande Farak, como testemunho da Verdade. Que eu saiba, deu-nos apenas o ensinamento elevado como prova; ainda assim, acre- ditamos sem pensar se era ou não verdadeiro.

  3. Como então podemos exigir aqui uma prova para confirmação de nossa fé, a fim de trocá-la pela incompreensível de Farak? Este ho-

mem não exige nossa fé, pois disse com palavras suaves, se bem que muito sábias: Não acrediteis em Mim, mas amai-Me como Pai Único e Verdadeiro, e assim a chama do amor se tornará flamejante, proporcio- nando-vos uma luz no coração sobre aquilo que Lamech falou de Mim. Que mais queremos?

  1. Sei perfeitamente que duas criaturas nunca conseguem se co- nhecer totalmente antes de se amarem como irmãs. Quem pode co- nhecer uma mulher sem amá-la? Se concordamos nunca errarmos no nosso amor ao próximo, não vejo porque possa haver engano com o amor de Deus.

  2. Quanto a este pobre, confesso que o amo muito, pois um ho- mem dotado de tanta sabedoria jamais é pobre. Se ele mesmo, movido por seu amor, se desfez de tudo que possuía, quem não seria obrigado a amar tal amor? Para mim, é ele um homem sábio, bom e um irmão ma- ravilhoso e cheio de amor paternal; portanto, devemos amá-lo como é.

  3. Se é ou não Deus, está fora do alcance de nossas conclusões; to- davia, contém dentro de si fatores divinos, o que provam sua natureza e maneira de expressão. Por isto, serei o primeiro a me aproximar dele de coração inflamado de amor.” Achegando-se do Senhor, ele diz: “Caro irmão, pleno de sabedoria divina e amor paternal. Seja quem fores, amo-te porque te acho digno de todo o afeto e sei que tal sentimento não está errado.”

  4. Em seguida, o orador abraça o Senhor e O comprime ao peito, e o Senhor lhe diz: “Acabas de abraçar a Vida eterna. Que teu amor se torne uma Luz clara. Amém.” Feliz, ele chama os amigos, dizendo: “Vinde aqui, irmãos, pois ele é mais que humano, é o verdadeiro Pai.”

259.ASCAUSASDASNOÇÕESDIFERENTESACERCADE DEUS

  1. Em virtude desta chamada, os outros também se encaminham para perto do Senhor e, pela simples aproximação, já sentem a veracida- de do que o outro dissera. Por isto, caem de joelhos e, de mãos postas, pedem perdão pelos pecados, tolices e ignorância que impediam que percebessem a infinita Graça que lhes sucedera.

  1. O Senhor Se levanta e lhes diz: “Meus filhos, olhai em vossos corações, que haveis de perceber de alma iluminada que é o Pai a vos chamar de filhinhos. Com exceção de um irmão, acabastes de Me reco- nhecer como Deus e Pai nesta figura pobre. Todavia, vos digo que Eu pareçopobreaopobre,ericoaorico.

  2. Como fostes pobres no coração, onde habitava pouco amor, não havia outra possibilidade senão Me verdes como pobre e muito neces- sitado. Vosso conhecimento e amor eram pobres; por isto só pude Me apresentar de acordo com vosso conceito.

  3. Se tivésseis sido ricos, ter-Me-íeis visto rico. Sou pobre para os pobres, rico para os ricos, Misericordioso para os misericordiosos, Mei- go para os meigos, Benevolente para os benevolentes, Justo para os jus- tos, Clemente aos sedentos de luz, Pai Amoroso para os que Me amam, Poderoso aos poderosos, Forte para com os fortes, Juiz para os juízes, sou a Vida para os vivos, morte para os mortos, um Fogo para o fogo, uma Tempestade para a tempestade, uma Ira para a ira, um Julgamento para o julgamento. Sou o Céu para os Céus, Criador para as criaturas, Pai dos filhos, Deus para os sábios, e para os irmãos justos sou inclusi- ve um Irmão.

  4. Sou Tudo em tudo! Sou o reflexo do próprio homem e jamais hei de querer Me apresentar de outra forma senão naquela que ele mes- mo criou dentro de si.

  5. Ninguém possui uma força ou um poder da Vida senão a que Eu lhe proporcionei. Mas, a fim de que o homem se torne emancipado, dei-lhe uma vontade totalmente livre e fiz com que todas as forças vitais fossem submissas a esta livre vontade independente de Mim, como um segundo deus. Assim, a vontade, o amor e os conhecimentos são livres.

  6. Isto Eu fiz porque a criatura é totalmente semelhante a Mim, de- vendo se desenvolver inteiramente livre, segundo sua medida empregada como cópia Minha. Desta maneira, o homem cria uma imagem de Mim segundo a sua medida; porém, deturpa Minha Medida básica de tal for- ma que esta nova criação não apresenta a menor Semelhança Comigo.

  7. Assim, um faz de Mim, que Sou o Amor Eterno, um juiz; outro, um Deus vingativo; um outro Me julga um sábio; outro, uma Onipo-

tência eternamente inclemente; um outro Me vê como uma fatalida- de; um sétimo, como um dirigente dos mundos; outro, como um Rei Sublime e Senhor de Céus e Terra; outro, como um fogo irado; outro, uma força infinita; o penúltimo Me enterra na matéria; e o último Me afunda em seu estômago.

  1. Cada criatura Me projeta nisto ou naquilo; mas são poucas a se darem ao trabalho de Me projetarem em seu coração, como Pai eterna- mente Santo, Eterno e Amoroso. Mas, como ela não vive eternamente nesta Terra, sendo obrigada a deixar esta base aparente, ficará demons- trada em seu espírito a maneira pela qual Me desenvolveu em sua pas- sagem terrestre.

  2. Só chegarão ao Pai os que O trouxerem totalmente desenvol- vido em seu coração, sendo os únicos capazes de fitar a Face Original do Pai Eterno. Todos vós fostes pobres, de sorte que vim junto de vós, como pobre; tornai-vos ricos no amor para Comigo e todos os vossos irmãos, que serei Rico entre vós.

  3. E, quando chegardes junto de Mim, haveis de encontrar um Pai sumamente rico; e Eu vos procurando, não serei pobre, mas um Pai abastado. Henoch e Lamech, considerai este ensinamento para vossos filhos, pois se trata de uma verdadeira escola para a Vida eterna. Ensi- nais os povos a conhecerem o Pai, e não o Juiz, e a Terra será purificada da maldição do legislador. Podeis seguir, Meus filhos, com exceção de um que deve Me procurar.”

260.CEGUEIRADO INTELECTUAL

  1. Todos voltam para seus lugares, enquanto o primeiro orador se dirige para o Senhor, dizendo: “Aqui estou, sem saber por que me mandaste chamar. Contudo, demostrarei o que me impede de acredi- tar naquilo que os outros creem e que parece lhes proporcionar certa felicidade.

  2. És tão limitado quanto eu e não podes estender teus braços mais longe do que eu. Estás presente e nada te falta no físico e certamente na alma. De qualquer maneira, não pretendo afirmar que não sejas

aquilo que o antigo rei e agora guia demonstrou, e tu mesmo disseste de ti. Desejava apenas saber quem agora suporta e dirige a Criação total. Quem anima o solo terráqueo, produz os ventos, contém os mares em seus limites, impele o fluxo dos rios, fomenta o fogo natural das monta- nhas, amadurece as sementes e vigia a vida de todos os seres — se agora te encontras entre nós?

  1. Enquanto esta questão não for totalmente respondida, não pos- so aceitar que sejas em plenitude da Onipotência e Força, Deus, o Cria- dor Eterno e Conservador de todas as coisas.

  2. De fato, o amor consegue isto, como fazem as crianças que acre- ditam indubitavelmente que as pessoas a cuidarem delas são realmente seus pais. Todavia, seria esta afirmação realmente certa? Não, pois para tanto basta se entregar o bebê a uma família no estrangeiro e, após vinte anos, o pai se apresentar como tal. Ver-se-á que o amor somentenão é suficiente para provar a paternidade ao filho, e serão precisas outras provas pelas quais ele seja convencido racionalmente que se trata do seu pai. Isto feito, o amor no filho tomará o lugar do sentimento em relação ao pai; enquanto isto não ocorrer, deve-se desaconselhar ao filho amar o pai antes de tê-lo reconhecido racionalmente. Seria total falta de compreensão por parte do pai se ele isto exigisse de seu filho.

  3. Mas, tu fazes esta exigência de mim. Como coaduná-la com tua sabedoria efetiva? Todos, com exceção de mim, acreditam sejas verda- deiramente Deus de Eternidade. Mas, esta fé é fraca, conseguida pela argumentação de Lamech e de ti; por isto, será facilmente destruída como surgiu, e o povo dentro em breve caminhará em grande treva, atraindo sobre si o julgamento de Deus.

  4. Se este amor sugestionado esfriar, sucumbirá também a fé. Se conseguirmos reconhecer-te pelo raciocínio, o amor nascerá por si só, conservando-se sempre, e Deus não necessitará julgar os povos, poden- do fazê-los felizes. Responde minha pergunta à altura, que acreditarei em ti; do contrário, continuarei como sou, adepto do Deus de Farak.”

261.INUTILIDADEDOCAMINHORACIONALPARASECHEGARÀ LUZ

  1. O Senhor fita o orador com expressão peculiar e diz: “Ouve-Me, espírito de intelecto frio, pois quero te demonstrar como és tolo e sem juízo com tua inteligência. Acabo de vos demonstrar a diferença entre Mim e o Deus que vos foi ensinado por Farak, e, além de ti, não houve quem não o entendesse no coração. Por quê?

  2. Isto é causado por teu coração totalmente errado, onde não existe humildade nem amor. Quando o coração não possui amor — portanto não tem o fogo da vida e a chama iluminadora que devem esclarecer sua natureza total para a aceitação das verdades mais sublimes e profundas — de onde deve o coração receber alguma luz?

  3. Quais seriam as palavras e provas que convencessem um surdo e cego da Verdade? És surdo e cego no coração; por isto não entendeste o que todos os outros entenderam com o menor esforço.

  4. Alegas ser preciso fornecer-se ao filho no estrangeiro, que fora afastado da casa paterna, outros meios e provas que não o amor pater- nal, caso se deseja ser amado por ele como filho, pois o filho reconhe- cendo o pai amá-lo-á automaticamente. Muito bem; mas, que fazer se o filho infelizmente é surdo e cego?

  5. Não sabes responder; mas Eu te digo, se o pai perceber esta des- graça, ele fará tudo a fim de que o filho ouça e veja. Tomará o filho pela mão para levá-lo ao sábio espiritualista que lhe facultasse aquilo de que ele carece. Se o filho conseguir as faculdades ausentes e aprender a lin- guagem do pai, por acaso ainda pedirá outras provas para conhecê-lo, ou não será o amor paternal a lhe patentear ser ele seu genitor?

  6. Eu, Pai Único, Verdadeiro e Amoroso, vim junto de vós, cegos e sur- dos, faculto-vos estes dons e ensino-vos a falar Minha Linguagem, e muitos Me entendem, Me veem e reconhecem em Mim o Deus e Pai Verdadeiro.

  7. Por que isto não te é possível? Porque não queres te deixar curar pela maneira única e viva. Em tua surdez e cegueira és um sábio e co- nheces os meios para atingir a sabedoria, razão porque te negas ao sen- timento e não queres ser curado.

  1. Podes fazer e exigir o que quiseres, e não conseguirás jamais, temporal e eternamente, aproximar-se da luz do espírito por outros caminhos senão pelos que Eu vos ensinei.

  2. Não terás outra prova senão a de Meu Amor e Misericórdia. Esta não te satisfazendo, continua como és, pois será para ti o máximo, segundo tua opinião. Queres uma prova matemática, e Eu estou diante de ti provando que Eu e o Deus de Farak somos perfeitamente Unos. Mas, isto só perceberás quando Me tiveres conquistado pelo coração.

  3. Pelo intelecto jamais Me compreenderás, pois para ele sou In- finito; e só Eu sei como conservo todas as coisas criadas, ainda que não possa estender Minhas Mãos nem pular mais que tu, aparentemente. Procura um entendimento melhor com os que têm visão e depois Me dize até onde podes alcançar e pular materialmente. De modo algum deves esperar uma Prova Minha, pois ela havia de te julgar, enquanto quero vos vivificar.”

262.OCÉTICOEMPALESTRACOMOS AMIGOS

  1. O cético faz uma reverência diante do pobre e se volta para os amigos, dizendo a um deles: “Achas sinceramente que aquele pobre seja o Ser Supremo? Se ponderas todas as circunstâncias e qualidades ne- cessárias à Pura Divindade, por acaso não sentes alguns escrúpulos? De fato, as palavras que ele profere estão saturadas de Sabedoria e Amor; mas, considerando o homem sumamente simples, meu raciocínio pro- testa. Por isto queria ouvir de ti um parecer: crês realmente, ou és mo- vido pela simples política?”

  2. Retruca o outro: “Deves estar lembrado que fui atirado ao cár- cere por Lamech porque não quis reconhecê-lo como deus. Muitos o aceitaram por questão política, mas eu não agi deste modo. Depois de ter saboreado a prisão, seria uma política limpa ou suja de minha parte aceitar o pobre como Deus de Céus e Terra, segundo a vontade de Lamech?

  3. Mesmo que Lamech tivesse me ameaçado com mil prisões para que eu aceitasse o pobre como Deus, e Ele não O sendo, eu não o teria

feito. Pelo contrário, sempre preferi reagir contra Lamech ao invés de obedecer-lhe. Sabes que roubou minha família, minha mulher se tor- nou escrava e os filhos foram vendidos aos príncipes, por preço miserá- vel. Esta ferida não pode ser curada no cárcere nem por um banquete igual a este.

  1. Se reconheço este homem como Deus Verdadeiro e perdoando a Lamech, aceito esta fé, e podes supor ter eu motivo de sobejo para tan- to. Este motivo é o Próprio Pobre. Aprende a conhecê-Lo no coração, e não no intelecto, e descobrirás dentro de ti a base insofismável que te dirá: Este Pobre é o Pai, Santo, Amoroso e Celeste de todos os anjos e criaturas, e todas as eternidades são submissas à Sua Vontade Onipo- tente. Bastaria um simples aceno da parte Dele e nada mais existiria no Espaço, ou milhares de sóis surgiriam no Firmamento.

  2. Assim é e será eternamente, e eu creio porque o amor para com Ele isto me diz e prova. Procura amá-Lo e dentro em breve hás de sentir o mes- mo. O Pai deseja ser amado antes de ser conhecido. Esta é a Sua Vontade.

  3. As criancinhas também amam os pais antes de conhecê-los e nós nunca nos queixamos disto como sendo fora da ordem. Por que o Pai, Onipotente e Divino, não deveria querer o mesmo conosco? Ele assim o quer; portanto, convém fazeres isto.”

263.OCÉTICOACAMINHODOCONHECIMENTODO SENHOR

  1. A esta objeção do amigo, principalmente sobre as criancinhas que amam os pais sem conhecê-los, o cético começa a meditar, esten- dendo suas conjecturas à flora e à fauna, encontrando essa afirmação positivada pela primeira vez. Todos os animais se prendem aos pais e não os abandonam até terem sido dotados da força necessária.

  2. Com esta descoberta, ele se vira para o orador e diz: “À medida que me aprofundo neste pensamento, mais claro ele se torna. No início, tuas palavras me pareciam sem importância; mas agora adquirem âmbi- to cada vez maior e me parece que não são de tua autoria.

  3. Não quero afirmar que sejas incapaz de tal conhecimento, pois sempre foste homem inteligente que dificilmente desistia de uma ideia

formada, ainda que sofrendo no cárcere. Estabeleço apenas uma pe- quena diferença entre falar sabiamente, e falar e agir racionalmente. Expressaste tuas ideias com sabedoria; por isto me veio a ideia de que não tenham surgido no teu cérebro em virtude de seu conceito univer- sal. Os humanos não conseguem estender-se de tal modo por lhes faltar uma noção geral das coisas.

  1. Se me apresentas argumentos nos quais repousa a criação total, do início ao fim, creio não ofender-te diante de meu critério. Digo mais, tuas palavras me levaram mais perto da meta, e o próprio pensa- mento divino-humano torna-se mais claro e minha índole não se opõe a ele. Somente não consigo aceitar a veste do pobre. Se encontrasses uma explicação mais adequada ao meu entendimento que o discurso por demais elevado daquele homem, estaria pronto a aceitá-lo como desejas e até mesmo também eu o desejo.”

  2. Diz o outro: “És realmente mais cego que o ponto central da Terra. Que classificas de rico e de pobre? Julgas que ser rico significa alguém se cobrir com os produtos de suas mãos ou das de outros, ou al- guém ter construído uma bela casa? E chamas de pobre alguém carecer disto em virtude da dureza de seus irmãos, ou porque deseja tal estado livremente?

  3. Isto tudo é errado. Deus criou o homem segundo Sua Seme- lhança e o colocou completamente desnudo sobre a Terra. Teria ele por isto sido a criatura mais pobre de Deus? Não é, ao contrário, sumamen- te rico pela Semelhança de Seu Criador?

  4. Se o Criador nos procura em Sua Medida original e humana, em Sua Plenitude total, porventura podes criticar tal individualidade em teu coração? Reconhece tua grande cegueira, vai junto Dele e te ajoelha para que recebas Luz no emaranhado de tua vida.

  5. Reconhece a infinita Graça de termos Deus, o Criador, Oni- potente, como Pai cheio de Meiguice e Irmão Amoroso entre nós. O simples pensamento já é por demais sublime e santo para os humanos, no entanto, aqui está mais que o pensamento mais elevado. Aqui está Ele, o Próprio Pai. Será possível que ainda hesitas em tua alma, quan- do o Espaço total vibra por imenso respeito? Ele, Deus Eterno, Cria-

dor de tudo, espera por ti! Corre, antes que seja tarde, e adora-O em teu coração.”

264.TEMORDO CONVERTIDO TERAD

  1. A tais palavras, o cético não perde tempo e aceita no coração o Pobre como sendo Senhor de Céus e Terra. Todavia, algo mais o pre- ocupa, por isto se dirige para o amigo: “Não necessito de mais argu- mentos para crer que Aquele é realmente Deus, o Criador. Acontece que dentro de mim surge algo mais difícil de solucionar que as anti- gas dúvidas. É um medo tenebroso como nunca senti em minha vida. Aconselhaste-Me a me atirar aos pés Dele para adorá-Lo. Como fazê-lo se o medo paralisa meus pés? Intimamente estou com Ele, mas a Sua Presença Pessoal eu não consigo suportar.”

  2. Neste instante, o Senhor Se encaminha para junto dele, que pro- cura fugir; mas o amigo o retém, dizendo: “Pensa bem o que vais fazer. Para onde pretendes fugir e te ocultar de Deus? Vê, Ele já está junto de ti.” Apavorado, o orador cai sem sentidos.

  3. O Senhor o toca e diz: “Terad, sempre desejaste uma prova para que pudesses crer como os outros. Eu Mesmo te afirmo: Se der a ti, a algum outro ou a um povo inteiro uma prova de Minha Existência, um julgamento terá vindo sobre todos, e este julgamento contém a morte.

  4. Mas, quem Me reconhece no coração, tê-lo-á feito livremente, encontrando em si a Vida verdadeira e eterna, e a morte ficará longe daquela pessoa. Este foi o sentido de Minhas Palavras, mas Elas não te satisfizeram, pois quiseste Me conceber com o intelecto primeiro.

  5. Concordei e te falei racionalmente através de teu irmão para que compreendesses ser Eu de fato Aquele de Quem Lamech falou do tro- no. Tu Me assimilaste com teu intelecto, preenchendo-o cada vez mais com Minha Divindade eterna.

  6. Em virtude de teu desenvolvimento intelectual com relação a Mim, esqueceste teu coração, que se atrofiou; e quando quiseste Me conceber no mesmo, ele se assustou diante de Minha Grandiosidade. Assim, ele ficou oprimido com Meu Peso e tremeste de pavor, des-

maiando em seguida com Minha Aproximação. Esta foi a prova que Sou Aquele que terias encontrado mais facilmente no coração, sem ne- cessitar de experimentar um pouco o julgamento.

  1. Uma vez que Me tenhas reconhecido, abraça-Me com o coração e sê um guarda fiel de Meu Santuário dado por Mim. Sê alegre e feliz, pois Eu, teu Pai, te revelei isto. Ama-Me, que nunca necessitarás temer-

-Me. Sou apenas um Salvador, mas nunca um aniquilador.”

265.MISSÃOESPIRITUALDA TERRA

  1. Depois dessas Palavras do Pai, Terad começa a respirar melhor, seu coração está livre do temor e um forte amor pelo Pai se apossa dele. Não se contendo, inicia o seguinte discurso: “Amado e Incompa- rável Pai, és Tu Aquele que nunca me arrisquei imaginar, pois o Próprio Nome do Criador fazia estremecer todo o meu ser.

  2. O que não deve comportar o Santo Portador deste Nome? Quão imensa não será a Glória que O cerca, se o simples Nome já me aniquila a ponto de perder a noção de mim mesmo? Meus olhos não merecem olhar-Te, e assim foi minha alma desde sempre, passando por grandes necessidades.

  3. Que devo pensar, sentir e falar, agora que Te encontras em nosso meio na maior simplicidade, qual Irmão, enquanto o céu infinito ilumina as luzes que surgem de Ti, e o Sol irradia seu calor para a Terra! Que devo falar diante de Ti, Pai Santíssimo, se considero que podes, num minuto, destruir esta minha vida para a qual toda a respiração livre é Obra Tua!

  4. Não consigo suportar Tua Presença, tal é meu amor para Conti- go! Deixa-me Te amar com todas as minhas forças, de tal forma que o fogo do amor me consuma e eu morra por amor a Ti, meu Deus, meu Jehovah, meu Santo Pai! Estou diante de Ti como pecador e Te deixas amar por mim. Quão infinitamente Bom deves ser por este motivo! Ir- mãos, acompanhai-me na prosternação diante de Seus Santos Pés! Oh, Pai! Perdoa-me se ouso amar-Te como pecador!”

  5. Nesta altura, todos caem de joelhos e choram por amor. O Pai, porém, cobre Seu Rosto com a Mão e diz: “Oh Terra, que é que tu Me

dás! Verdadeiramente, teus filhos devem se tornar os Meus filhos! Hei de te elevar de sorte que sóis e anjos curvem seus joelhos perante ti e, se futuramente Eu te visitar, hei de procurar sempre os pecadores e mani- festar-lhes a Minha Grande Misericórdia!

  1. Terad, teu amor é grande, por isto receberás uma grande Mi- sericórdia, ou seja, que Eu Me torne um Pastor Fiel para o pecador da Terra.” — O Senhor silencia e chora de Amor e Piedade para com Seus filhos.

266.TERADNOMEADOCHEFEDAGUARDADOÁTRIODO TEMPLO

  1. Passado algum tempo, o Senhor Se dirige para Terad, dizendo: “Desde há muito sei que és um homem de espírito e alma fortes. Por isto, ocultei-Me diante de ti e permiti que Me procurasses, enquanto os outros Me viram desde o primeiro momento.

  2. Assim dotado, também permiti que o cárcere de Lamech não te afastasse de Mim quando Me conheceste segundo a doutrina de Farak. Por isto, te digo agora seres tu o motivo principal de Eu Me ter apieda- do das planícies, pois somente um espírito forte no justo conhecimen- to, um espírito inatingível, pode se tornar salvador do Cosmo.

  3. Deste modo, és agora um salvador de Lamech e das planícies, e de certo modo um escudo diante do Meu Julgamento, que do contrá- rio teria tido livre curso, enquanto és uma barreira entre Meu Fogo e o pecado de Caim na profundeza da noite mortal.

  4. Assim como é, será para sempre. Enquanto num ponto da Terra existirem trêspessoas justas diante de Mim, Eu não hei de julgar este ponto. Enquanto uma cidade nas planícies possuir doisjustos, Eu a pouparei em virtude da justiça destes dois. Enquanto um país tiver setejustos, Eu não o visitarei com Minha Ira; e enquanto um povo tiver dez justos, Eu o pouparei da explosão do Meu Fogo!

  5. Enquanto ainda viverem doispatriarcas entre todos os Meus filhos que Me conhecem, amam e ensinam como Sou, amando seus filhos e semelhantes, não hei de olhar a erva da Terra com o Meu Rigor!

  1. Se, porém, em todo o continente, nas planícies como nas al- turas, não se encontrar mais que umjusto, hei de esperar por pouco mais de cemanos a fim de ver se não há alguém que se vire para Mim; e para este fim farei pregar o Meu Verbo a todas as criaturas, através de emissários instruídos.

  2. Se as criaturas desviadas com isto melhorarem, Eu as aceitarei para Meus filhos. Se, todavia, permanecerem cada vez mais em sua mal- dade e até mesmo matarem os mensageiros, nem mesmo aquele justo será capaz de reter Minha Ira desta Terra, e Eu hei de exterminar todos os criminosos a fim de criar uma nova geração.

  3. Pronunciei estas Palavras diante de ti e de toda a Terra. Por isto deves anotá-las, e assim como as ouviram os filhos nesta sala, hão de testemunhar que fui Eu a pronunciá-las para que quando chegar tal época, ninguém procure se desculpar como se não tivesse tido conhe- cimento. Este testemunho deve ser por ti revelado a todos os povos e assim serás um guarda verdadeiro deste Meu Santuário para ti e todos os teus descendentes.

  4. Em cada sábado deves ser tal Chefe da Guarda no portal do átrio que circunda Meu Templo Novo, que conhecerás amanhã. Cada vez que mantiveres a guarda, relatarás estas Minhas Palavras, para que o povo jamais as esqueça. Ciente disto, recebe Minha Bênção para tua missão a fim de que te tornes forte para caminhar sempre segundo Minha Vontade.”

267.RESPOSTADOSENHORDIRIGIDAAOS INVEJOSOS

  1. Essas palavras quase que matam o guarda Terad. O Senhor, po- rém, soube conservar a vida deste novo guarda e fortificá-lo de tal modo que ele ainda viveu duzentosesessentaanos exercendo sua profissão.

  2. Como todos tivessem ouvido as Palavras do Senhor, alguns se admiram muito e dizem entre si: “Vê só que coisa estranha! Ao reniten- te, de uma teimosia férrea e quase que inatingível pela fé neste Homem-

-Deus, é dada uma grande Graça. Nós, que O aceitamos imediatamen- te no coração, sem a menor oposição, não recebemos uma palavrinha

sequer! O Senhor Único de Céus e Terra pode fazer o que quiser e ninguém poderá dizer: Por que o fazes? Se levarmos esta questão ao pé da letra, só podemos afirmar: Graças sejam dadas ao teimoso! Ao mei- go de boa vontade, ao amoroso, quando muito receberá um pouco de misericórdia e nada mais! Pode-se virar a questão como se quiser, ela é e não deixa de ser estranha, considerada da Parte Divina!”

  1. Nesta altura, o Senhor interrompe esta confabulação e diz: “De fato é estranho que Eu faça isto. Muito mais estranho, porém, é que vós vos aborreçais Comigo, na Minha Presença, só porque proporcionei a um po- bre irmão uma Graça que não podia passar para vós, fracos. Se fôsseis como deveríeis ser, vossa reação seria de uma grande alegria por Eu ser Misericor- dioso com o pecador. Vosso sentimento sendo invertido, e ainda estando longe da Verdade, vosso conceito formula apenas ser estranha Minha Mise- ricórdia para com ele. Explicarei o motivo deste aborrecimento.

  2. Sois capazes de ver a poeira no olho do irmão, mas em vossos olhos não percebeis a grande quantidade de montanhas. Esta é a ra- zão pela qual não podeis perceber o motivo de Minha Graça dirigi- da a Terad.

  3. Eu vos digo: Há muito tempo Eu via isto e percebia que vosso coração está cheio de inveja. Por isto, só vos dei a Graça na medida justa que vos facultasse reconhecer-Me como Senhor de Céus e Terra.

  4. Em Minha grande Criação não posso empregar ajudantes inve- josos. Purificai primeiro vossos corações de toda a inveja e, ainda que isto tiverdes feito no mais elevado grau, deveis considerar que esta Gra- ça não vos cabe. Só então hei de vos pesquisar para verificar se de fato estais inteiramente puros diante de Mim e escolherei os instrumentos puros para um ofício superior. A não ser assim, satisfazei-vos com a Graça livre da Vida provinda de Mim.

  5. Considerai as pequenas dádivas de Minha Mão. Querendo vos tornar Meus filhos, saberei em tempo justo conferir-vos tarefas maiores. Se é de vosso uso dar brinquedos às criancinhas, alegrando-vos com sua expansão, dizei-Me se Eu sou menos Pai para convosco do que vós para com eles. Alegrai-vos com aquilo que recebeis como filhos. Uma vez mais fortes, hei de ver qual é o ofício prestável para cada um.”

  1. Todos se prosternam e pedem perdão por seus pecados. O Se- nhor, porém, os faz se levantarem, os consola e volta para o Seu grupo.

268.O TEMPLO NO MONTE DAS SERPENTES. O SENHORDESAPARECEDE NOVO

  1. Quando o Senhor chega ao grupo principal, transmite a Lamech ter nomeado Terad para guarda principal do átrio, e isto para facilitar-lhe a organização que com o Templo necessitaria de uma orientação maior. Isto leva Lamech e Terad a nomearem trezentos homens para executa- rem esta tarefa. Lamech agradece ao Senhor por esta ajuda, Que Lhe diz: “Ouve, Meu filho, agora tudo está organizado. Acontece que a montanha saneada de serpentes, na qual tu Me viste pela primeira vez, ainda se en- contra sem ornamentação. Lembras-te que te ordenei de erguer também lá um monumento para Mim. Agora te darei a instrução necessária:

  2. Deves mandar cinzelar dez colunas de mármore branco, no comprimento de sete metros de altura, conforme Eu havia demonstra- do para Mura e Cural. Essas colunas devem ser colocadas num círculo, de modo que uma dista dois metros da outra. A base deve ser feita de mármore azul e o pedestal de mármore vermelho, sendo os capitéis de mármore verde. Por cima dos capitéis as colunas devem ser ligadas com vigas de mármore amarelo, ligadas à próxima com garras de metal. Por cima destas vigas deves mandar colocar um teto dourado, semelhante ao do Templo principal. Apenas as três bolas em cima do telhado não devem ser do mesmo tamanho, e sim, a bola inferior deve ser a maior e as duas outras, metade do tamanho da primeira.

  3. Uma vez pronto este Templo e efetuando um altar de sacrifício de puro ouro e tu Me oferecendo, na noite de cada sábado, uma ofe- renda de trigo, Eu hei de abençoar todos os campos das planícies, que terão frutos centuplicados para ti e teu povo.

  4. Hei de limpar as montanhas e as florestas dos animais ferozes e deste modo estabelecerei uma nova ligação entre as planícies e as altu- ras, para que também as planícies se encontrem debaixo do regime do sumo sacerdote Henoch.

  1. Eis o Meu maior desejo dirigido a vós, filhos de Caim, para que também vos torneis Meus filhos. Quando esta obra estiver concluída, serás conduzido às alturas dos Meus filhos e Henoch chegará com mui- tos outros para abençoar o novo Templo em Meu Nome, para santifica- ção perfeita de todos os Meus filhos. Agora sabes de tudo, toma Minha Bênção e completa a obra. Amém.” Com isto, o Senhor desaparece de novo. Todos O procuram, sem porém encontrá-Lo.

269.AVISÃOESPIRITUAL.AVOZDOSENHORNO CORAÇÃO

HUMANO.ADVERTÊNCIADIANTEDOSFALSOS PROFETAS

  1. Quando, após longa procura, os hóspedes voltam à sala do trono, alguns se dirigem para Henoch perguntando se sabia do paradeiro do Senhor. Ele lhes responde: “Amigos e irmãos, vosso coração vos estimula a procurar o Pai Onipotente, Santo e Amoroso, e isto é bom e justo; pois quem procura Deus, deve encontrá-Lo sempre no seu coração, do contrário, jamais O encontrará. Todavia, é tal procura atual bastante tola.

  2. Deus, o Pai, visto há pouco e com o Qual falastes, é um Espírito e não pode ser visto com os olhos físicos. Mas, quando Ele assim o quer, abre os olhos da alma das criaturas que conseguem então ver Deus e ouvi-Lo, como acabamos de ver e ouvir. Mas, se o Senhor, segundo Seu Desígnio muito Sábio, quer Se tornar Invisível, Ele automaticamente fecha a visão espiritual e a criatura pode fazer o que quiser, que jamais tornará a ver o Senhor.

  3. Guardai mais o seguinte: A visão não dá a Vida Eterna para ninguém,esimouvir eviversegundoas Palavrasouvidas.

  4. O Senhor fechou a visão de vossa alma, mas não a audição do coração. Por isto, cada um de vós poderá ouvir a Voz do Senhor, como também se dirigir ao Seu Amor Paternal quando necessita de algo , e o Pai lhe dirá aquilo que lhe seja um benefício, mas também o preservará de qualquer prejuízo. Sempre que pedirdes ao Pai, Ele não reterá Seu Conselho audível, falando ao vosso coração quando o desejo for sério. Sempre que vos dirigirdes a vossos irmãos em Nome do Senhor, tor- nando-vos doutrinadores cheios de amor

  1. para com Deus, Suas Obras

plenas de Seu Amor, Bondade, Graça e Misericórdia, e demonstrando ainda ser Ele o Pai mais Bondoso para os que O amam acima de tudo, não haverá uma palavra pronunciada por vós que não tivesse sido pro- nunciada por Deus em vosso coração. Quem vos ouvir, ouvirá a Voz de Deus, como neste momento A ouvis de Mim.

  1. Ai daquele que pronunciar as Palavras de Deus como sendo dele,emvirtudedoegoísmoeconceitohumano,semterantesouvi-do a Voz Viva! A língua de tal pessoa deve se tornar uma víbora cheia de saliva venenosa e quem a escutar terá a impressão de ter sido mordido por uma cobra.

  2. Precavei-vos, antes de tudo, especialmente do egoísmo . Cada um deve esquecer-se inteiramente, preocupando-se apenas com o bem dos irmãos, que deste modo estará certo do constante convívio com Deus, o Pai, temporal e eternamente.

  3. Deste modo, deveis procurar futuramente o Senhor de Céus e Terra, encontrando-O com facilidade; e se no coração inflamado per- guntardes: Pai, onde estás? — Ele responderá: Filhinhos, estou aqui! Não vos amedronteis, porque Minha Mão Poderosa vos protege dia e noite!

  4. Assim será, pois tal é a Vontade do Senhor! Considerai estas pa- lavras e agi de acordo, que não haverá necessidade de procurar o Senhor em todos os cantos sem encontrá-Lo, pois Ele virá ao vosso encontro onde estiverdes. O Pai Se preocupa conoscomuito mais que todos os filhos o fazem com Ele. Guardai isto bem, para evitardes de vos tornar desprovidos e presos ao vosso eu. Amém!”

270.APRECE SILENCIOSA

  1. Em seguida, Lamech se dirige para Henoch, dizendo: “Uma vez que estamos bem orientados, segundo o Testemunho do Senhor, e eu nada mais sei o que fazer senão oferecer-Lhe nosso louvor, peço nos digas o que deve suceder agora.”

  2. Retruca Henoch: “Segundo a Vontade do Senhor, devemos nos preparar para dormir, e todos os hóspedes ficarão esta noite em tua casa. Ninguém deve se preocupar com o dia de amanhã, pois apresentará

seus problemas como fez o de hoje. Manda conduzir os hóspedes a um recinto arejado, enquanto eu e os sete irmãos ficaremos aqui. Se quise- res nos fazer companhia, podes ficar conosco; mas, preferindo procurar outro cômodo, podes agir à vontade, pois todos são iguais.”

  1. Os empregados de Lamech levam os hóspedes aos dormitórios, onde as moças arrumam leitos confortáveis por meio de tapetes e almo- fadas aromáticas, assim como para Lamech e seu séquito. Diante das janelas ainda ardem recipientes com nafta e Lamech indaga de Henoch se devem ser apagados.

  2. Responde Henoch: “Deixa iluminar aquilo que ilumina, pois é preferível descansar-se na luz do que dormir durante a noite.” Depois de todos se terem afastado, Lamech se prosterna para louvar a Deus. Não conseguindo achar um fim nesta manifestação honrosa para o Senhor, a Voz do Pai Se faz ouvir, dizendo: “Lamech, tuas palavras soam melhores e mais belas que a grande música das esferas no Espaço Eterno da Criação; todavia, o amor no coração do espírito transmite melodias mais sublimes que todas aquelas sinfonias. Descansa os teus lábios a fim de que as águas vivas em tua alma se transformem num espelho sereno e Eu consiga vis- lumbrar-Me em ti, e possas vislumbrar o Meu Ser em tua alma.”

  3. Lamech se levanta, agradece no coração ao bom Pai por esta maravilhosa advertência e se dirige para junto dos outros para o devi- do descanso.

271.ORAÇÃOMATINALEOFERENDANOMONTEDAS SERPENTES

  1. Quando começa a clarear o dia, Henoch se levanta, louva o Se- nhor e abençoa seus irmãos ainda adormecidos. Em seguida os desperta e diz: “Levantemo-nos protegidos pelo Amor, Graça e Misericórdia do Senhor que permitiu mais um dia de nossa vida. Já irrompem os pri- meiros raios do Sol, e a noite foge diante de sua influência inicialmente fraca para em seguida afundá-la no abismo da Terra, a fim de que vales e montes sejam purificados e aptos a receberem o calor vivificador do astro-rei.

  1. Vamos ao ar livre oferecer ao Pai um sacrifício agradável, por- quanto Ele Mesmo também nos oferece um sacrifício tão maravilhoso, ou seja, um novo dia.

  2. Meus irmãos, vede as estrelas ainda brilhantes no firmamento, a majestade da Terra, as flores multicores, o chilrear dos pássaros, a glória crescente da manhã, e como a cada hálito respiramos a abundância cres- cente da Luz divina, tornando mais etéreo o curso sanguíneo.

  3. Tudo isto significa para nós um sacrifício do Pai, que deste modo nos honra. É impossível desconsiderá-Lo e não incendiarmos em nosso coração um sacrifício de amor que deve arder para sempre, e posteriormente também em nosso espírito. Vamos para o grande átrio de sacrifícios oferecer-Lhe o que Lhe compete.”

  4. Todos se levantam e se dirigem contritos para o sanado monte das serpentes. Lá Henoch lhes chama a atenção ao panorama espetacu- lar da aurora, explicando-o no sentido espiritual. Eles se comovem pro- fundamente e Lamech exclama: “Ó Pai, tudo isto fazes por nós? Como posso viver quando me lembro o que fui? Henoch, acabas de me abrir os olhos e só agora reconheço a imensidade de minha culpa em Deus. Ele sempre nos proporcionou tal sacrifício de Amor e Misericórdia — e o que Lhe demos em troca?”

  5. Henoch o consola, dizendo: “Ainda que teus pecados fossem em número maior que os grãos de areia do mar, Ele te perdoou, pois dei- xaste nascer um tão grande amor para com Ele. Permanece neste amor, que saberás ainda de outras coisas, quando tiver surgido o eterno Sol de Deus em ti. Agora aguardemos o Sol terrestre.”

272.PALAVRASDEDESPEDIDADEHENOCHESEU DESAPARECIMENTO

  1. Pouco mais tarde, todos voltam à morada de Lamech, que man- da preparar um bom desjejum no qual participam também os pobres que louvam a Deus. Depois do repasto, Henoch lhes apõe as mãos, em Nome do Pai, e manda que se aprontem a divulgar tudo aquilo que assistiram, nos paíseshabitadospelosfilhosdeCaim. Convinha que

as mulheres ficassem em casa, pois não lhes cabia o direito de profetizar em Nome do Senhor, a não ser aos próprios filhos.

  1. Virando-se para Lamech, Henoch prossegue: “Já estás ciente da Vontade do Senhor e nada precisas de mim. Lembra-te, porém, de con- servares no coração o Pai, acima de tudo, e teus irmãos, descendentes de Caim, duas vezes mais que a ti mesmo, e assim caminharás na Luz Divina, e Sua Voz te ensinará os Caminhos Maravilhosos de Deus.

  2. Constrói o templo de acordo com a orientação recebida e quan- do estiver concluído, voltaremos para abençoá-lo e também te condu- zirmos para as alturas. Lá receberás a bênção de Adão, primeiro homem da Terra e gerador original de todas as criaturas vivas, para que se apa- gue de tua fronte a maldição de Caim.

  3. Também serás abençoado por Eva, e tuas mulheres Ada e Zilá voltarão para junto de ti e verás tua filha Noêmia e seu esposo Hored, escolhido para tanto pelo Senhor.

  4. Caso pedires ao Pai em teu coração, pode suceder que este teu novo genro te acompanhe à cidade de teus antepassados. Também teus filhos Jabal e Jubal voltarão à tua companhia, mas terás que executar a Vontade do Senhor, estritamente.

  5. Embora seja o Senhor o Próprio Amor Eterno, não aceita con- dições pessoais de Seus filhos. Ele é Fiel em todas as Suas Promessas e exige igual fidelidade de nossa parte, segundo nossas forças, e devemos cumprir incondicionalmente a Sua Vontade, custe o que custar.

  6. Em caso contrário, Ele deixará a todos até a morte, e quem não se preocupar com Ele, integrando-se no mundo, será também ignorado pelo Senhor, que o deixará seguir seu caminho que o levará à perdição e à morte eterna. Que toda a tua preocupação seja voltada para Deus, e Sua Vontade Santa seja teu esforço, que Ele será Fiel para sempre.”

  7. Terminado este discurso, Henoch se afasta com os sete irmãos tão repentinamente, pela Força Divina, que Lamech não sabe expli- car a questão. Mas Terad lhe diz: “Sendo eles verdadeiros filhos do Se- nhor, semelham-se a Ele em tudo, pois Ele lhes é Tudo em tudo. Ele Se tornando Semelhante a nós devido ao nosso amor, seremos idênticos àqueles irmãos. Mas, é preciso que Sua Vontade nos seja santificada.

Assim, nada há que nos cause admiração e convém pôr mãos à obra.” Imediatamente Lamech chama Mura e Tubalkain e combina a cons- trução do templo. Mura faz o esboço e no dia seguinte mil operários estão a postos.

273.AVENTURACOMO DRAGÃO

  1. Henoch, Kisehel, Sethlahem, Joram e os quatro irmãos chamados Hil, Bael, Julel e Darel, foram transportados pela Força do Senhor a uns sete mil pés, onde começa a cordilheira. A partir daí, foram entregues à sua própria força, caminhando em direção ao monte. Depois de meio caminho andado, precisamente ao passarem por uma grande caverna, aparece um formidável dragão impedindo o caminho dos viandantes.

  2. Sua figura é horrenda e sua força ameaça tragar as montanhas. Os olhos são qual aço incandescente. Sua guelra um abismo do qual se projeta uma fumaça densa misturada com chamas. A cabeça tem forma de lobo, porém maior que a de um grande touro. O pescoço é seme- lhante ao de um leviatão, maior e mais pavoroso monstro dos mares. O corpo, coberto de escamas enormes e de barbatanas duplas, aladas e pontudas, mede a circunferência de seiscentas e sessenta e seis varas. Seus pés parecem raízes de carvalho extraídas da terra, e sua cauda, me- dindo igualmente seiscentas e sessenta e seis varas, é coberta de escamas e faz sete voltas. Eis o aspecto do horrível dragão, cujos movimentos traduzem sua intenção de avanço, ou desafio.

  3. Henoch, conhecendo a natureza deste monstro, lhe diz: “Escó- ria da Criação, autocriador desta figura pavorosa, conheço tua sapiência e tua intenção. Jamais me enganarás, como até hoje não o conseguiste; meu amor para com Deus é mais poderoso que tua força, pois Dele surge uma luz grande e santa que faz com que apareças desnudo em toda tua astúcia. Precisamente esta grande astúcia traduz tua imensa fraqueza, que pode ser dizimada com um hálito do meu amor. Isto te é dito para que saibas diante de quem te encontras:

  4. Eu, Henoch, único Sumo Sacerdote de Deus na Terra, ordeno, em Nome de nosso Deus e Senhor, que te afastes e te projetes em di-

reção ao mar de tua imensa maldade e que jamais voltes a esta zona, alimentando-te lá do lodo de tua perversidade! Afasta-te e não tentes que eu te toque com o meu dedo! De há muito deves saber qual seria o resultado. Vai, em Nome do Senhor! Amém.”

  1. Virando-se para Henoch, o dragão fala, com voz sedutora: “Sim, Henoch, eu te conheço como a vós todos, porquanto sou vossa base sólida desde o início.

  2. Antes que um Sol brilhasse no firmamento e houvesse o pen- samento da formação das coisas e dos seres, eu existia como primeira projeção de Deus. Em mim a Divindade Se bifurcou e eu era a Luz em Deus, e Deus viu que a Luz era mais poderosa que Ele e amedrontou-Se diante do poder dela.

  3. Ainda assim, permitiu que a Luz iluminasse cada vez mais du- rante eternidades, na suposição de que ela se consumisse e enfraqueces- se diante Dele, podendo Ele fortificar-Se em Sua Natureza.

  4. Eu, porém, a livre Luz em Deus, facilmente percebi o plano de Deus Original e também notei que não poderia teimar contra Sua Oni- potência Total. Por isto, falei-Lhe com palavras suaves: — Ouve, Tu, mi- nha Base Eterna e Invencível, receando o meu poderio como se fosse maior que o Teu — que me fez surgir — tira de mim esta Luz e dá-me apenas uma existência capaz de Te enfrentar, observar e palestrar Contigo.

  5. Deus, em vez de me atender, irou-Se, criando outros seres como senhores para mim, ordenando-lhes aprisionar-me em meu centro e posteriormente em todos os pontos do Infinito.

  6. Deste modo, fui aprisionado sem razão. Tudo me foi tomado, até a base de minha natureza, e o que ora vês é tudo que me resta, qual seja esta figura miserável, a consciência daquilo que fui e a capacidade única de fazer o mal, para evitar que surgisse um motivo piedoso para mim; e, além de tudo, a consciência total da Vontade Divina ligada a uma tendência contrária à Mesma.

  7. Sou um ser eternamente amaldiçoado, sem motivo, só porque a Ira Divina assim o quis. Tenho que ser um demônio surgido da Ira de Deus; por isto tenho que sofrer eternamente e ser amaldiçoado por todos os seres em virtude do capricho, da ira e da revolta Divinas.

  1. Oh, Henoch, sou uma criatura deveras miserável. Tenho que senti-lo amargamente, no entanto é impossível eu melhorar. Toda a possibilidade de conversão me foi cortada eternamente e não posso mo- dificar esta minha figura. Sou obrigado a mentir e enganar a fim de me tornar ainda mais capacitado para uma vingança maior de Deus. Tenho que olhar o bem e a verdade; no entanto sou obrigado a fazer o mal, tornando-me mais condenável e punível. Isto é demais para mim! Porventura não existe quem tenha piedade para comigo? Henoch, não me expulses daqui, não me tornes mais infeliz do que já sou! Se puderes aniquilar-me e pulverizar-me para sempre, faze-o e a consciência desta ação será minha eterna gratidão!”

274.CONTROVÉRSIAENTREHENOCHEO DRAGÃO

  1. Fixando o dragão, Henoch lhe diz com rigor e amor: “Pobre ser, acabo de ouvir a tua queixa contra Deus e também a entendo perfei- tamente. Se assim é, és realmente a criatura mais lastimável em todo o universo!

  2. Impossível imaginar-se um ser mais miserável e infeliz do que aquele que reconhece o Bem e a Verdade na profundeza, possuindo de fato o desejo de executá-los, e quando se predispõe a tanto, a Divindade Se apossa dele em Sua ira, impelindo-o, contra a vontade e conheci- mento próprios, para fazer o mal, surgindo assim uma nova motivação para Deus, pela qual a Divindade Se torna culpada de uma condenação cada vez mais forte.

  3. Se assim é, como pode suceder que o Senhor seja tão Bom e Mi- sericordioso para conosco, levando-nos a amá-Lo acima de tudo, como o Amor mais Puro e Infinito, e além disto sabermos por Ele Mesmo ser

  1. Dize-me como é possível que o Senhor tenha projetado a Cria- ção visível exclusivamente por tua causa, a fim de influenciar a conver- são total por meio da prova dura da morte física. Tu, porém, não queres voltar para Ele. Por isto, o Pai Se vê obrigado a dividir tua total força

vital, através do Seu Infinito Amor, em existências inúmeras e especi- ficadas nesta Terra, como em outros corpos cósmicos. Deste modo te libertará de tua teimosia, podendo reconduzir-te através de nós, cria- turas, porquanto em tua totalidade jamais haverias de te dispor para tanto. Explica-me este fenômeno e farei tudo que pedes.”

  1. Abrindo sua boca, o dragão se dirige para Henoch: “Criatura imatura! Ainda desconheces o sabor de mil anos desta Terra e pretendes conhecer Deus melhor que eu, que O saboreei desde eternidades em todas as Suas movimentações. Vê quão fraco e tolo és tu!

  2. Hei de abrir teus olhos infantis para que vejas ao menos uma fagulha, percebendo a situação do teu Deus, supostamente conhecido. Criações iguais a esta eu as conheço aos bilhões. Cada qual existia há bilhões de anos terráqueos.

  3. Quando tal época criadora terminava e Deus Se saturava com Suas criações, Ele desistia daquele grande jogo de pensamentos, quer dizer, destruía toda a criação infinita, surgindo um espaço infinito du- rante bilhões de eões, e além Dele e de mim nada existia. Eu poderia ter reagido contra toda a destruição, porquanto sou uma parte da Divin- dade e sempre o fui.

  4. Se, após tal era inimaginável para ti, a Divindade elaborava um novo plano grandioso para a criação, imediatamente ela aparecia, e tão logo a Divindade Se cansava, Ela passava a destruí-la com todas as coi- sas, que nada mais são do que pensamentos fixados por determinado tempo, dando lugar a um eterno vácuo.

  5. O fato que Deus sempre mantém este plano de Poder Eterno e de destruição, percebes na Terra onde as coisas mudam do surgir, viver e desaparecer. Hoje vês nascer uma flor maravilhosa; amanhã ela morre para sempre, e este fato se repete nas coisas grandes como nas pequenas. Disto sou testemunha bem antiga e indestrutível.

  6. Se, portanto, acreditas numa vida eterna, estás bem errado. Além de Deus e de mim, nada possui consistência eterna e indestru- tível. Deus, por ser Ele Mesmo o Eterno Ser em Si, e eu, por não ser apenas um pensamento como tu e todas as criações de Deus, e sim uma parte indestrutível e individual da Própria Divindade.

  1. Se perguntas por que não me quero converter apesar de todo o empenho de Deus, enquanto tu O encontraste como Amor Puríssimo, respondo: O motivo é evidente, ou seja, por eu conhecer Deus em Sua Base, o que não te é possível, pois aceitas a Eternidade somente como algo efêmero, desconhecendo, portanto, como será futuramente.

  2. Poderias, com tua atual força vital — igualmente uma partí- cula do Ser Divino — separar-te de Deus, igual de mim, e assimilar uma consistência eterna, caso o entendesses. Mas, se assim fizesses, a Onipotência infinitamente maior que tua força haveria de te maltratar como faz a mim, no que nada terias lucrado, porquanto é melhor não ser, do que ser como sou.

  3. Como me cansei desse projeto inseguro da Divindade, resolvi duas coisas: Ou depor Deus do Seu Poder, arrancando-O para mim, e fundando uma ordem eternamente consistente para todas as criaturas; ou, caso não o consiga, matar-me para pôr um eterno fim à Própria Divindade. Quantas vezes pedi à Divindade para formar uma ordem consistente e eterna, mas tudo em vão!

  4. Quis desfazer-me de minha Luz. Ela me aprisionou por meio de outros seres efêmeros. Não conseguindo dominar-me, deixou-me uma existência miserável, porquanto minha natureza anterior reduziu-

-se a esta figura. Só agora a Divindade percebe em minha Luz que Lhe sou muito mais perigoso do que na minha anterior totalidade. Por isto, tudo faz para me aprisionar.

  1. Tu e teu Deus de Amor podeis estar certos de que isto jamais Lhe será possível. Prefiro me matar e à Divindade do que me entregar, proporcionando-Lhe meio mais livre para criar e depois destruir segun- do Seu capricho. Por este motivo, os seres pensantes estão sendo sem- pre levados à humildade por parte de Deus, para que ninguém consiga livrar-se do capricho Divino. Desta vez resolvi acabar com isto e hei de demonstrar o meu poder e castigá-lo como se fosse um reles crimino- so!” — Nesta altura, o dragão desaparece.

275.MOTIVOSDA TENTAÇÃO

  1. A tal discurso do dragão, os sete mensageiros começam a ficar atordoados, sem saber como agir. Percebendo-o de pronto, Heno- ch pergunta a Kisehel o que lhe parecia tão impressionante naquele acontecimento.

  2. Responde Kisehel: “Tu me perguntas, sendo Sumo Sacerdote do Senhor? Seria mais viável eu te perguntar, e assim já fiz a minha per- gunta e espero resposta, caso te for possível em algum ponto. A questão em si é de grande importância; por isto, farei as maiores objeções, que terás de explicar. Todos nós necessitamos de conhecimento maior, caso não pretendamos passar à morte destruidora. Queira, portanto, mos- trar-nos o que de verdade contém o discurso daquele dragão.”

  3. Diz Henoch: “A pessoa incapaz de perceber, de um relance, o que deduzir daquele discurso deve ser bastante cega. Que uso fazes da Graça do Pai, apresentando-me tal pergunta? Dá a impressão que foste seduzido pelo maior inimigo do Senhor!

  4. Não notaste como pulava de um extremo a outro, contradizen- do-se constantemente? No final, se porta tão poderoso como se a exis- tência de Deus Mesmo dependesse dele. Não falou claramente como foi conduzido, impelido e punido da maneira mais cruel por parte do Senhor? E no fim ele afirma, com raiva, querer castigar o Senhor como criminoso qualquer.

  5. Não teria, com isto, se arrogado um poder superior? De outro lado, admite o aprisionamento de seres efêmeros, neocriados no Uni- verso; no entanto, tem que se conformar com esta figura pavorosa.

  6. Não afirmou que a Divindade só agoraestava Se cientificando ser ele nesta figura um tremendo perigo para Ela? Se assim é, esta figura deve ser a mais adequada para ele. Como então a qualificou de miserável?

  7. Não era o caso de reconhecer a Figura de Deus como a Suprema, quando em contraposição aponta a sua como a mais miserável? Mas, logo em seguida, julga a sua a mais perfeita, porquanto Deus devia considerá-lo seu inimigo mais forte! A certa altura aponta a Criação maravilhosa como mera brincadeira de pensamentos de Deus, da qual

nós também fazemos parte. Logo em seguida, confessa que nossa força vital é uma partícula da Verdadeira Entidade Divina, que poderia se garantir diante da destruição. Todavia, nada lucraria com isto.

  1. Tudo isto é um compêndio de gritantes contradições. Como é possível que tu, emissário designado pelo Senhor, não tivesses perce- bido isto de um só golpe? Por que o grande mentiroso se ocultou tão rapidamente? Se tivesses falado a verdade, não teria havido necessidade para tanto. Sentindo de onde sopra o vento, ele desapareceu, a fim de não ser chamado à responsabilidade. Esta é sua antiga mania de astúcia, facilmente reconhecida, pois se desvencilhou do pai Adão levando-o à queda por duas vezes, uma na fecundação não abençoada e outra na profanação do Dia do Senhor. E ainda podes perguntar-me, como se desses crédito a este mentiroso excepcional?

  2. Ai de vós, alturas abençoadas do Senhor, se vossos filhos tão facilmente acreditam nas mentiras do dragão! Tempo virá em que vos envergonhareis diante das planícies e investireis contra ela como uma águia, destruindo-as até as suas bases!

  3. Os filhos de Deus atrairão para si o julgamento, enquanto os filhos do mundo ficarão fiéis até o fim. Se nós, como colunas do mun- do, começarmos a vacilar, qual será o futuro dele? Afirmo a todos: Bem-

-aventurado e verdadeiramente feliz é aquele que suporta a tentação, pois, após ter sido confirmada a sua vitória, receberá a verdadeira meta da Vida prometida a todos pelo Pai, se O amássemos de todo o coração.

  1. Não queiras afirmar que o Pai nos tenha tentado, pois deste modo o Bom Pai não tenta ninguém para o mal e não necessita tentar ninguém. Como viu dentro de ti uma certa tendência obscura, permi- tiu que ela se apresentasse, e foste obrigado a observá-la e reconhecer se realmente não sentes mais prazer com ela.

  2. Todavia, demonstraste uma vontade para a fé; mas é preciso saberes que se alguém demonstrou uma tendência para o falso, já terá recebido o falso com a tendência; e eis a semente do pecado. Quando o pecado surgir em sua maturidade, gera a morte que nele existe.

  3. É preciso não errar, caros irmãos, pois toda boa dádiva e todo o bem verdadeiro e perfeito só nos vem do Pai de toda Luz e toda Vida.

Nele não existe mutabilidade, nem transformação. Assim como Ele é, Ele foi desde Eternidades.

  1. Ele nos criou como primogênitos de Sua Criação, do Seu Amor, segundo Sua Vontade, através do Seu Verbo Vivo da Verdade. Portanto, somos primogênitos e filhos de escol, e não projeções íntimas segundo a mentira do dragão. Isto nos revelou o Pai e eu acredito que Ele merece maior fé do que o dragão da mentira. Prossigamos em paz.”

276.KISEHELTEMEO SENHOR

  1. Essas palavras conseguem acalmar os outros, de sorte que se- guem caminho acima, e dentro de sete horas chegam junto dos filhos do Sul. Quando estes percebem a aproximação do grupo, correm para a cabana de Uranion, anunciando a importante visita. Todos se levantam para abraçá-los, e a maravilhosa Purista é a primeira a se atirar nos bra- ços de Henoch, relatando que o Senhor estivera em sua cozinha nova, mandando que preparasse uma boa refeição e avisasse aos amigos que Ele os encontraria na cabana do Amor.

  2. Todos se alegram com esta expectativa, mas Kisehel alimenta ainda um certo receio em virtude do dragão, e como tinha estado perto de cair em sua armadilha, Henoch o percebe e diz para o grupo: “De modo algum me agrada vosso temor diante do Pai. Kisehel, ainda te lembras quando por ocasião do grande sábado pretendias protestar con- tra o Pai, em virtude de um conceito errôneo?

  3. Qual foi teu castigo? Recebeste apenas uma grande Graça e Mi- sericórdia. Se disto te lembras, como podes temê-Lo, enquanto foste apenas censurado pelo dragão, todavia te faltava livre vontade para tua queda? Sê um homem e um filho digno de Adão, e não um covarde e tolo, e alegra-te do fundo de teu coração, que o Pai te fortalecerá em tua fraqueza.

  4. Se O temes, podes estar certo que o temor permanecerá contigo para soterrar o teu amor para Deus, e o Pai, poupando tua fraqueza, não Se poderá mostrar perante ti. O Senhor não castiga o injusto, pois isto é feito pelo próprio homem. Sua atitude preencheu seu coração com

temor oculto diante de Deus, e este temor é criador do julgamento e do castigo no próprio coração.

  1. O mesmo coração que pode preparar ao homem a Vida eterna e celeste por meio de seu amor para com Deus, também poderá se tornar autor de sua prisão mortal.

  2. Desiste do temor e alegra-te no coração, que Ele te receberá de Braços abertos, fortalecendo-te para qualquer batalha. Desiste do caso do dragão e considera qual sua origem, e podes estar certo que o Pai abrirá tua visão interna a respeito do monstro, a ponto de poderes per- ceber nitidamente sua verdadeira natureza. Desejo-te isto do fundo do meu coração. Vamos à cabana de Purista para aguardarmos a chegada de nosso Santo Pai.”

  3. Eis que Uranion indaga de Henoch a respeito da situação nas planícies, e ele responde: “Quanto à sua situação natural, as planícies são o que são. Mas, no que toca o espírito, transformaram-se em verda- deiras alturas que facilmente podem superar as nossas.

  4. Lamech, ex-tirano cruel das planícies, é atualmente procurador dos assuntos do Senhor, e para tanto foi abençoado por Ele. Agora envia Lamel para Adão, Seth e todos os patriarcas, Sehel, filho de Seth, Hored, irmão de Lamel, sua mulher Noêmia, para que se encami- nhem para cá. Devem estar presentes quando forem enumerados os frutos das planícies. Noêmia deverá saber somente aqui o que sucedeu com seu pai.”

277.ENCONTRODEPURAENOÊMIACOMOFORASTEIRODO SUL

  1. Decorridas duas horas, todos chegam perto de Adão que, in- tempestivamente, pergunta a Henoch a respeito das ocorrências nas planícies: se a Bênção nunca os havia abandonado, se as preces dele, Adão, haviam sido percebidas, principalmente as de Noêmia, Hored e as duas mulheres de Lamech.

  2. “Quanto à pobre Pura, ela nos causou verdadeiro espanto, pois sabes das crueldades praticadas a seus pais por parte de Lamech; no en-

tanto, não houve quem orasse tanto quanto esta menina, com tamanha confiança e amor ao Pai. Todos tiveram a impressão de que o Santo Pai estava Visível para ela, e eu me convenci ser ela verdadeira filha Dele. Por este motivo, levei-a comigo e aqui está para saber de ti a situação do Sul. Eis o que ocorreu aqui; oramos constantemente e agora ansiamos por notícias precisas, segundo a Vontade do Pai.”

  1. Retruca Henoch: “Nosso Santo Pai preservou-Se o direito e a alegria de vos informar de tudo, por isto nada posso adiantar. Posso apenas dizer que coisas inéditas sucederam, coisas de que nunca sonhas- te. Tem paciência até a chegada do Pai e convém entrarmos na cabana de Purista; com exceção de Eva, nenhuma mulher deverá entrar.”

  2. Então Purista pergunta se ao menos podem entrar a pobrezinha da Pura e Gemela, esposa de Lamech, mas Henoch responde: “Se de- pendesse de mim, gostaria que o mundo inteiro tivesse ingresso. Mas, não sou senhor da ordem dada pelo Pai, de sorte que precisamos cum- pri-la até que Ele nos dê outra determinação.”

  3. Todos os patriarcas, guiados por Purista, entram na cabana em companhia de Eva, enquanto Pura e Noêmia se afastam um pouco e oram a Deus, entregando ao Pai sua curiosidade piedosa, louvando-O com toda alma. Neste instante, um homem se aproxima delas, que fa- zem menção de fugir. Mas, ele as alcança dentro em pouco.

278.O FORASTEIRO EM PALESTRA COM PURA, NOÊMIA EGEMELANOMONTEDA GERAÇÃO

  1. Como o forasteiro as tivesse alcançado antes de as duas atingi- rem as outras moças a fim de se recolherem na cabana de Uranion, elas começam a gritar. Ele então lhes diz: “Ouvi-Me, Noêmia e Pura, não deveis temer-Me, pois nada de mal vos pretendo fazer, e sim algo muito benéfico. Acompanhai-Me àquele cedro, distante da cabana de Purista, onde podemos palestrar a respeito de coisas maravilhosas e importantes.”

  2. As duas sentem grande alívio e Pura se encoraja para perguntar pela procedência daquele personagem, pois ele as conhece e pretende fazer-lhes um bem, enquanto elas não se lembram de tê-lo visto.

  1. Retruca Ele: “Porventura isto é algo milagroso na época de hoje em que a provação é tão grande? Vossa morada, no cume das monta- nhas dos patriarcas, é bastante conhecida de todos os habitantes de lá. Se, por este motivo, Eu vos conheço, que diferença faz?

  2. Com facilidade podeis adivinhar Quem Sou e de onde vim, e subentende-se que Sou Habitante do Sul. Não Me pergunteis, portan- to, por coisas que saltam aos olhos, e acompanhai-me ao local indicado, onde relatarei tudo a respeito da situação das planícies, pois lá estive como Testemunha de tudo e até mesmo sei o que hoje lá sucede. Vinde Comigo, para serdes orientadas antes dos outros na cabana de Purista. Fostes vós as que mais oraram pela salvação das planícies; portanto, justifica-se este privilégio.”

  3. A esta promessa, as duas moças seguem o forasteiro ao ponto referido, sem saberem ser ele abençoado e nenhuma mulher podia pi- sá-lo. Quando as outras o percebem, acorrem, inclusive Gemela, e as chamam de volta. O forasteiro então lhes pergunta: “Que ocorre com este local? Por acaso não foi a Terra toda criada por Deus e com isto abençoada em todos os pontos?

  4. Se foi proibido às mulheres pisar este cume, todas vós podeis vos afastar, pois não existe outro ponto mais sagrado na Terra. É vosso hábito tolo serdes fecundadas especialmente debaixo desta árvore, antes do pôr-do-sol, constituindo pecado que isto ocorra em outro ponto desta região.

  5. Se através do desejo carnal julgais não macular este ponto, estas duas moças muito menos o farão com seus mais puros desejos em Deus. Afastai-vos, pois não Me afastarei daqui com Minhas duas amadas. A ti, Gemela, é permitido subires conosco, pois sei que és fiel em teu amor.”

  6. Diz ela: “Que é que exiges de mim? Ignoras que o Senhor me uniu a Lamech e que meu coração pertence ao Senhor, para sempre?” Responde Ele: “Justamente por isto é que te chamo; naturalmente, de- pende de tua vontade aceitares este convite. Não o querendo, podes voltar com as outras para a cabana de Uranion.”

  7. Retruca Gemela: “Homem bom e sábio, tua voz me atrai for- temente, e, se fosse possível justificar-me perante Lamech, gostaria de

ficar contigo.” Diz Ele: “Não Eu, mas o próprio Lamech, teu esposo, há de te desculpar junto de Mim. Faze o que achares melhor.”

  1. Soltando-se do grupo, Gemela corre morro acima e senta-se aos Pés daquele Homem, admirando-se da pureza dos Mesmos. As outras reclamam com veemência do atrevimento dele, e sobretudo do atrevimento das companheiras. A mulher de Uranion grita: “Precisa- mente hoje temos que enfrentar tamanho vexame, enquanto o Senhor é esperado na cabana. Que dirão os patriarcas ao perceberem esta vergo- nha? Três mulheres — as mais belas — se encontram com um homem forte em pleno dia, no local da fecundação. Que vergonha!”

  2. O Homem, porém, diz: “Realmente é uma grande vergonha, não Minha, mas vossa imensa tolice. Afastai-vos e calai, do contrário saberei amarrar vossas bocas.” Elas se calam, e Ele começa a revelar às três moças tudo que havia ocorrido nas planícies. Inteirando-se numa clareza convincente, elas irrompem em grandes louvores pela grande Misericórdia de Deus. As outras julgam haver outro motivo para aque- la manifestação de júbilo, e correm à frente da cabana de Purista para informar os homens daquele escândalo.

279.CENA DEAMORENTRE OSENHORE GEMELA

  1. Finalmente aparece Uranion na porta e pergunta algo aborreci- do qual o perigo de vida que as leva a fazer esta gritaria. Apontando para o local em que se encontravam, elas respondem: “Vê aquela vergonha, e precisamente hoje em que aguardais a chegada do Senhor. Um jovem, forte e vistoso, veio, não sabemos de onde, conquistou as moças mais jovens, levando-as lá para cima e certamente as possuiu. Observa como elas o abraçam com efusão. Que vergonha no dia de hoje em que os mensageiros do Senhor chegaram e Ele havia prometido a Purista de Se apresentar a todos. Vai depressa e enxota as que esqueceram da honra e do respeito.”

  2. Retruca Uranion: “Se isto tanto vos preocupa, deixai de olhar para lá, que tudo será melhor para vós. Por que motivo havia eu de enxotar os hóspedes que nada nos fizeram? Quanto ao gramado san-

tificado do cume, ele de certo modo só tem significado para nós. Para estranhos que nada disto sabem, é igual a qualquer outro. Ficai calmas e não nos perturbeis na cabana, onde aguardamos o Senhor. Quando Ele chegar, saberá admoestar tais abusos.”

  1. Como Uranion fechasse a porta, as mulheres se afastam, criti- cando intimamente e especialmente as mulheres lá em cima. Entremen- tes, Gemela pergunta ao Homem se esteve Presente quando o Senhor há vários dias ensinava nas planícies os Caminhos da Salvação.

  2. Diz Ele: “Amada do Senhor, nada ficou desapercebido de Mim. Sei inclusive que o Senhor te carregou em Suas Mãos, aconselhou e for- taleceu Noêmia e aceitou num Abraço a Pura, fazendo-lhe uma grande revelação. Por aí vês que estive Presente.”

  3. Suspirando de saudade, Gemela diz, enrubescida: “Ah, certa- mente não terei motivo de me alegrar com momentos tão sublimes!” Diz Ele: “O que poderá acontecer quando o Senhor chegar, se é que já não chegou! Gemela, olha bem para Mim; não gostarias de te sentar no Meu Colo?”

  4. Envolvida por um sentimento oculto, Gemela olha de soslaio e descobre forte semelhança com o adorado Abedam, Senhor e Pai de Céus e Terra; por isto, diz depois de certo silêncio: “Homem sumamen- te sábio e digno de todo amor, teu relato vivo foi mais que humano a ponto de eu crer que tenhas presenciado tudo e que ficou confirmado por Noêmia e Pura em expressões de grande êxtase.

  5. Se, além disto, te observo melhor e descubro certa semelhança com Abedam, inclusive Sua Voz, a me convidar para um abraço, tenho vontade de seguir tal impulso, não fossem aquelas mulheres a nos es- pionar. Não tenho coragem para tanto, pois se viesse o Próprio Senhor e Lamech, não sei o que aconteceria comigo. Minha única desculpa seria tua semelhança com o Senhor, e seguiria teu convite caso Ele não Se zangasse.”

  6. Diz Ele: “Minha filha, não te preocupes com o Senhor, que não te olhará com desagrado quando o Pai te toma nos Braços; vem a Mim, teu Pai.” Neste instante, Gemela reconhece o Pai e se atira em Seus Braços; Ele também a aperta contra o Coração e diz para as outras duas:

“Minhas filhinhas mais amadas, amai o Pai com todas as forças de vosso coração. Fostes as últimas e excluídas da cabana; por isto, sereis agora as primeiras a quem procuro. Gozai a plenitude de Meu Amor, mas não Me denuncieis, pois as outras Me devem descobrir por si mesmas.”

  1. Diante desta cena, as outras moças perdem o controle e correm gritando de novo à cabana de Purista; todos aparecem assustados, sendo informados da cena no cume. Henoch aconselha: “Se este é o motivo desse barulho, foi ele inteiramente inútil. Todavia, irei, a bem da paz, aconselhar os quatro personagens de se afastarem do local.”

  2. Quando Henoch chega lá em cima, reconhece o Senhor, que lhe diz: “Para curar a grande tolice dessas mulheres, manda subir Puris- ta, sem Me denunciar. Apenas Sehel deve saber que aqui estou, e deve procurar-Me mais tarde.”

280.TRANSFIGURAÇÃODE SEHEL

  1. Sem perda de tempo, Henoch se desincumbe das Ordens; mas, como o Senhor continua com as moças no cume, Adão per- gunta quem é aquele personagem que desobedece a ordem do Sumo Sacerdote. Henoch responde: “Ele não o faz porque eu não achei ne- cessário. Este é o motivo no momento. A verdade saltará aos olhos em tempo oportuno.”

  2. Então se aproxima Purista e diz: “Não achas que o Senhor Se demora porque suportamos esta cena inconveniente e tu mesmo nada tens a opor?” Diz Henoch: “Maravilhosa Purista, porventura descobres algo inconveniente naquilo? De minha parte, percebi naquele Homem um Amor Puro e Verdadeiro e a Sabedoria mais profunda e divina, a ponto de me achar verdadeiro remendão com todo o meu conhecimen- to sacerdotal.

  3. Se assim é, por que não deveríamos tolerar aquilo e até supor que seja o motivo da demora do Senhor? Pelo contrário; Ele aqui estará muito antes que O esperas. Observa Lamech e Hored, cujas esposas encontram-se com Ele, amando-O intensamente. Seriam eles os maio- res interessados em admoestá-las e enxotá-las. Mas, estão calmos e ofe-

recem tudo ao Senhor, dizendo: Ele sabe e tem Seu Motivo de Amor Santificado permitindo tal ocorrência.

  1. Se os que andam de sapatos apertados não reclamam, por que deveríamos fazê-lo? Ouve, Purista, aquele Homem me disse: Mandem-

-Me Purista, para sarar a tolice daquelas mulheres! — Que farás?”

  1. Ela enrubesce e diz, embaraçada: “Henoch, que exigência é a tua e a daquele homem? Desconheces o mandamento dado pelo Senhor?” Diz Henoch: “Sei muito bem que mandamento foi esse, pois tua ca- bana tem que ser submissa a mim, porquanto o Senhor me entregou o regime sacerdotal da Terra. Ainda assim, te digo: Vai junto daquele Personagem, em benefício de todas as mulheres desta região. Caso não fores, o Senhor não aparecerá.”

  2. Completamente enrubescida, Purista diz: “Afirmaste há pouco que reconheceste aquele homem; dize-me quem é.” Retruca Henoch: “Purista, agora estás purificada e posso te dizer em segredo que irás junto Dele por ser o Próprio Senhor. Por enquanto, silencia a respeito.”

  3. Dando um gritinho de êxtase, Purista corre junto do Senhor, atira-se aos Pés Dele e os cobre de lágrimas de alegria e amor puro. O Senhor a toma nos Braços, causando o maior escândalo no grupo das outras que, em altos brados, amaldiçoam aquele local. Correm para perto de Eva, denunciando-lhe o caso escandaloso e reclamando de tal indecência.

  4. Diz Eva: “Deixai que os homens se queixem e não vos adianteis. Se reclamarem, podeis chorar; não se justifica que uma mulher venha a fazer queixa. Sou vossa mãe e ainda sou uma semelhança justa para to- das vós. Querendo vos tornar diferentes de mim, o mundo será julgado por vossa causa. Antecipei-me apenas uma vez perante meu Senhor, e esta antecipação quase custou a existência de toda a Criação.

  5. Se o Senhor Se apiedou de minha fraqueza, fê-lo por conta da morte física. Que resultado obtereis por meio de vossa queixa, anteci- pando-vos à Calma do Senhor? Ponderai e suportai tudo com paciência e devoção, que sereis justas perante Deus. A justiça da mulher consiste na exclusiva meiguice do coração; mas uma mulher queixosa é um es- pinho no Olho de Deus.

  1. Não reclameis por deverdes ser meigas e pacientes. A queixa feminina é uma faca de dois gumes e corta a fidelidade do coração do homem; enquanto a meiguice é um elo forte que une os corações masculinos a nós e que não pode ser rompido. Acomodai-vos à Ordem Divina e silenciai. Não possuindo lei qualquer, por que agis como se a possuísseis? Deixai que eles reinem e pacifiquem.”

  2. As mulheres se calam e Henoch chama Sehel, dizendo: “O Se- nhor necessita de ti; encontrá-Lo-ás naquele gramado, mas não O de- nuncies. Ele há de te transfigurar e te outorgará um grande serviço cós- mico. Lembra-te de mim em tua transfiguração, pois no futuro Ele fará o mesmo comigo.” Quando Sehel chega ao cume, o Senhor Se levanta, dá-lhe a Mão direita e diz: “Meus campos vastos estão organizados e a semente foi lançada. Agora é preciso de bom trato para germinar e amadurecer para um fruto eternamente vivo. Por isto te chamo de volta e te dou um grande poder de ação no Espaço infinito, segundo Minha Vontade. Eis a espada do Meu Poder, e lá está o inimigo de Meu Amor. Vai e luta sempre contra o dragão. Amém.” Neste instante, Sehel desa- parece e todos se apavoram, dizendo: “Este homem deve ser um grande mensageiro do Senhor.” Em seguida se prosternam e O adoram.

FinaldoSegundoVolume Amém

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