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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume I

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2019

ÍNDICE

NATUREZA E SIGNIFICAÇÃO DAS REVELAÇÕES 17

PREFÁCIO 19

  1. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO PREÂMBULO DO EVANGELHO DE JOÃO 25

  2. O ARCANJO MIGUEL, ENCARNADO EM JOÃO BAPTISTA, DÁ

TESTEMUNHO DO SENHOR 29

  1. A ENCARNAÇÃO DO VERBO ETERNO E O TESTEMUNHO DE JOÃO

BAPTISTA 33

  1. A LEI E A GRAÇA. PAI E FILHO SÃO IDÊNTICOS COMO A CHAMA E A LUZ 34

  2. JOÃO BAPTISTA TESTEMUNHA DE SI MESMO. MOTIVO POR QUE NEGA

O ESPÍRITO DE ELIAS DENTRO DE SI 37

  1. JOÃO CONFIRMA TER RECONHECIDO O SENHOR COMO HOMEM. ELE BATIZA O SENHOR 42

  2. TRÊS VERSÍCULOS COMO EXEMPLO DA MANEIRA DE SE ESCREVER NAQUELA ÉPOCA 44

  3. OS PRIMEIROS DISCÍPULOS DO SENHOR. CONVOCAÇÃO DE ANDRÉ E PEDRO 46

  4. A PÁTRIA DE PEDRO. CONVOCAÇÃO DE PHILIPPE E NATHANAEL 48

  5. O SENHOR COM OS QUATRO DISCÍPULOS NA CASA DE SEUS PAIS. OS

TRÊS GRAUS DO RENASCIMENTO 51

  1. AS BODAS DE CANÁ. O MILAGRE DO VINHO 54

  2. O SENHOR COM OS SEUS EM CAPERNAUM. PROMESSA DE ISAÍAS 57

  3. SITUAÇÃO HORRENDA NO TEMPLO DURANTE A PÁSCOA.

PURIFICAÇÃO DO TEMPLO PELO SENHOR 58

  1. PALAVRAS PROFÉTICAS DO SENHOR SOBRE A DEMOLIÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO TEMPLO EM TRÊS DIAS 61

  2. CONTINUAÇÃO DA DISCUSSÃO ENTRE OS JUDEUS E O SENHOR 64

  3. O SENTIDO ESPIRITUAL DA PURIFICAÇÃO DO TEMPLO 66

  4. O SENHOR NUM ALBERGUE RETIRADO DA CIDADE 69

  5. CENA COM NICODEMUS, PREFEITO DE JERUSALÉM. O RENASCIMENTO ESPIRITUAL 70

  6. CONTINUAÇÃO DA PALESTRA. PARÁBOLA DA FERMENTAÇÃO DO VINHO 72

  7. MAIS TRÊS VERSÍCULOS INCOMPREENSÍVEIS A NICODEMUS 74

  8. A ENCARNAÇÃO DO FILHO E SUA MISSÃO 76

  9. NICODEMUS NÃO ENCONTRA, AINDA, O FILHO DIVINO 78

  10. AÇÃO DO SENHOR NA JUDEIA. O BATISMO DE ÁGUA E DE FOGO 80

  11. MAIOR E ÚLTIMO TESTEMUNHO DE JOÃO A RESPEITO DO SENHOR 82

  12. O NÚMERO DOS DISCÍPULOS AUMENTA 86

  13. O SENHOR E A SAMARITANA JUNTO AO POÇO DE JACOB. A ÁGUA VIVA 88

  14. A VIDA CONJUGAL DA SAMARITANA 91

  15. A SEDE ESPIRITUAL DO SENHOR PELOS CORAÇÕES DOS HOMENS 94

  16. A VOLTA DOS DISCÍPULOS. CURA DA SAMARITANA. DELEGAÇÃO DE

SICHAR 96

  1. “O ALIMENTO VIVO” DO SENHOR. A GRANDE COLHEITA 98

  2. O SENHOR É RECONHECIDO E ACEITO PELOS SAMARITANOS 101

  3. CENA DELICIOSA ENTRE O SENHOR E A SAMARITANA 103

  4. ACONTECIMENTOS MILAGROSOS NA CASA DA SAMARITANA 105

  5. ANOTAÇÕES DOS ENSINAMENTOS E MILAGRES DO SENHOR PELO EVANGELISTA JOÃO. DEUS-PAI E DEUS-FILHO 107

  6. OS DISCÍPULOS VEEM OS CÉUS ABERTOS 108

  7. INCUMBÊNCIA DE JOÃO COMO EVANGELISTA. PROMESSA DA ATUAL REVELAÇÃO 110

  8. CONVOCAÇÃO DE MATHEUS PARA EVANGELISTA E APÓSTOLO 112

  9. MATHEUS, ANTIGO ESCRIVÃO, É INDICADO PARA ANOTAR O SERMÃO

DA MONTANHA 114

  1. DISCURSO DURANTE O ALMOÇO. O SERMÃO DA MONTANHA 117

  2. CRÍTICA DO SERMÃO DA MONTANHA. O SENHOR ACONSELHA A

PROCURA DO SENTIDO ESPIRITUAL 119

  1. CONTINUAÇÃO DA CRÍTICA DO SUMO PONTÍFICE 122

  2. ELUCIDAÇÃO CLARA DE NATHANAEL. SENTIDO E UTILIDADE DA

PARÁBOLA DO ARRANCAR-DO-OLHO 124

  1. O SENHOR DÁ SUA DOUTRINA EM SEMENTES ENCAPSULADAS 126

  2. EXPLICAÇÃO SOBRE OS QUADROS “OLHO DIREITO” E “MÃO ESQUERDA” 127

  3. MODÉSTIA DE NATHANAEL COMO CONFISSÃO MARAVILHOSA DO APOSTOLADO 129

  4. CURA DE UM LEPROSO. BOM ÊXITO DESTE MILAGRE 131

  5. CEIA MILAGROSA EM CASA DE IRHAEL 133

  6. OS HÓSPEDES E OS SERVOS CELESTIAIS 134

  7. A VERDADEIRA ADORAÇÃO DE DEUS. O TEMPLO DA CRIAÇÃO 136

  8. JUSTA COMEMORAÇÃO DO SÁBADO POR BOAS OBRAS 138

  9. O EVANGELHO DE SICHAR. HISTÓRIA DA CONVERSÃO DE NATHANAEL 140

  10. A VESTIMENTA DE MARIA 143

  11. TESTEMUNHO DE PEDRO SOBRE O FILHO DE DEUS 144

  12. O SENHOR E A FAMÍLIA DE JONAEL 149

  13. O VELHO CASTELO DE ESAÚ 150

  14. “QUEM É O SENHOR?” 153

  15. “QUEM É MAIOR DO QUE O IMPERADOR?” O SENHOR SE CONFESSA

COMO O MESSIAS 156

  1. É PREFERÍVEL DAR QUE RECEBER 158

  2. O COMERCIANTE NÃO CONFIA NA DIVINA PROVIDÊNCIA. DEUS DEVE

SER MAIS AMADO QUE TEMIDO 159

  1. SURPRESAS PARA JAIRUTH. PREPARO PARA A CEIA CELESTE 160

  2. JAIRUTH JULGA SONHAR E PRESSENTE EM JESUS O FILHO DE DEUS 163

  3. DISSERTAÇÃO CLARA DO SENHOR A RESPEITO DO REINO DE DEUS E A MISSÃO DO MESSIAS 165

  4. EFEITO DO VINHO CELESTE 167

  5. JAIRUTH DESISTE DO VINHO, FAZ CARIDADE E RECEBE DOIS ANJOS PROTETORES. FINAL DA CEIA 168

  6. JAIRUTH ACOMPANHA O SENHOR. CENA COM OS MERCENÁRIOS ROMANOS 171

  7. CURA DO ARTRÍTICO. SEU AGRADECIMENTO COM CANTOS E PULOS 173

  8. JONAEL E O CURADO DISSERTAM SOBRE A ONIPOTÊNCIA DIVINA,

SATANÁS E A ORDEM DIVINA 176

  1. O SENHOR LÊ OS PENSAMENTOS. “MINHA DOUTRINA SE CONCRETIZA

NA IMITAÇÃO” 178

  1. NULIDADE DOS DEUSES. O AMOR É O CAMINHO PARA A VERDADE,

COMO BASE DE TODO SER. CHAVE DA VERDADE 181

  1. EXEMPLO DO JUIZ. ONDE EXISTE AMOR NÃO HÁ MENTIRA 183

  2. O SENHOR CURA A ESPOSA DO COMANDANTE 185

  3. PREDIÇÃO IMPORTANTE SOBRE O FUTURO 187

  4. O SENHOR EM COMPANHIA DOS SEUS EM CASA DE IRHAEL 189

  5. O POVO EM AGITAÇÃO. REPREENSÃO DO SENHOR: “NÃO PAGUEIS O

MAL COM O MAL!” 191

  1. LIMITES DA CARIDADE. A SALVAÇÃO DO MAL 193

  2. BOM DISCURSO E PRECE DE PEDRO 195

  3. O SENHOR AGE COM RIGOR CONTRA OS ATREVIDOS 197

  4. A TOLERÂNCIA. ALUSÃO À ALOPATIA 200

  5. DOENÇAS PSÍQUICAS. A PENA DE MORTE. DAVID E URIAS 202

  6. PROTEÇÃO CONTRA O PODER DAS ALMAS DESENCARNADAS PELA APLICAÇÃO DA DOUTRINA DO SENHOR 205

  7. MOTIVO PRINCIPAL DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR 206

  8. DESPEDIDA DE SICHAR. JONAEL É DESTINADO PARA PROFESSOR E

RECEBE O AUXÍLIO DUM ANJO 208

  1. IMPORTANTES ENSINAMENTOS MISSIONÁRIOS 210

  2. MATHEUS RECEBE ESCLARECIMENTOS SOBRE O COSMOS 212

  3. PROSSEGUIMENTO DA JORNADA. CHEGADA À GALILEIA. O REINO DE

DEUS 214

  1. PREJUÍZO DA IMPUDICÍCIA, AQUI E NO ALÉM 216

  2. A VERDADEIRA PÁTRIA ESTÁ COM O SENHOR 217

  3. EFEITO DA PURIFICAÇÃO DO TEMPLO SOBRE O SACERDÓCIO 220

  4. A APLICAÇÃO DE JUROS. THOMAZ E JUDAS. PEDRO E O SENHOR 222

  5. CURA DO FILHO DO RÉGULO 224

  6. EXPLICAÇÃO SOBRE A DIVERGÊNCIA ENTRE OS DOIS EVANGELHOS 227

  7. BÊNÇÃO DA ORDEM 230

  8. O LIVRE ARBÍTRIO. A VERDADEIRA VIDA VEM DO CORAÇÃO 233

  9. JUDAS DISCUTE SOBRE O DINHEIRO 234

  10. QUERELA ENTRE THOMAZ E JUDAS 238

  11. JUDAS, UM DEMÔNIO, QUER APRENDER A SABEDORIA DE DEUS 240

  12. CENA COM O CENTURIÃO DE CAPERNAUM. EVANGELHO DE MATHEUS 242

  13. SACERDOTES E LEVITAS SÃO ENSINADOS PELO POVO 243

  14. OS TEMPLÁRIOS QUEREM VINGAR-SE NO SENHOR. A NORA DE PEDRO 245

  15. DIVERSIDADE DOS EVANGELHOS DE MATHEUS E DE JOÃO. O

TESTEMUNHO DE PEDRO 246

  1. JANTAR EM CASA DE PEDRO 248

  2. GRANDE CURA MILAGROSA 249

  3. “DEIXAI OS MORTOS ENTERRAREM OS MORTOS!” 251

  4. CURA DE DOIS ENDEMONINHADOS 253

  5. VOLTA PARA NAZARETH. EM CASA DE MARIA. “FALAR É BOM, MAS

CALAR É MELHOR!” 255

  1. O BOM DEFENSOR DO SENHOR 258

  2. ALEGRIA JUSTA E ALEGRIA MALICIOSA 260

  3. PREOCUPAÇÃO DOMÉSTICA DE MARIA. ADVERTÊNCIA À PRESUNÇÃO 262

  4. PEDRO E SIMON DISCUTEM SOBRE O DESTINO DA DOUTRINA DE JESUS 264

  5. JUDAS, COMILÃO E OLEIRO. JAIRO, O REITOR DAS SINAGOGAS 266

  6. VOLTA À CASA DE JAIRO. CURA DA MULHER GREGA 268

  7. RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO 270

  8. NINGUÉM ALCANÇA SUA BASE VIVIFICADORA APENAS PELA LEITURA

DOS EVANGELHOS 272

  1. A VERDADEIRA GRATIDÃO. O ESPÍRITO DE CAIM DENTRO DE JUDAS 274

  2. O POVO QUER PROCLAMAR A JESUS, REI 278

  3. CURA DUM PARALÍTICO 280

  4. A CRIAÇÃO DE ADAM. ZACHARIAS E SEU FILHO JOÃO BAPTISTA 283

  5. OS SACRILÉGIOS NO TEMPLO 285

  6. JURAMENTO FEITO AO TEMPLO 287

  7. O ALBERGUE DE MATHEUS, O ADUANEIRO. EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS 289

  8. COMENTÁRIO DOS FARISEUS SOBRE JOSÉ, MARIA E JESUS 291

  9. OS DOIS MATHEUS: O ADUANEIRO E O ESCRIVÃO. DISCÍPULOS DE

JOÃO BAPTISTA E DISCÍPULOS DE JESUS 292

  1. TESTEMUNHO DE JOÃO BAPTISTA. PARÁBOLA DO NOIVO, DOS

CONVIVAS E DA NOIVA 293

  1. PARÁBOLA DA ROUPA NOVA E DA VELHA, DO VINHO NOVO E DOS

ODRES VELHOS. MOTIVO DO DILÚVIO 295

  1. O SENHOR CRITICA OS CORAÇÕES DUROS E O INTELECTO MUNDANO

DOS DISCÍPULOS DE JOÃO BAPTISTA 298

  1. ABASTECIMENTO MILAGROSO NA CASA DE MATHEUS, O ADUANEIRO 301

  2. MORTE DA FILHA DE CORNÉLIUS. A IMITAÇÃO DE CRISTO 303

  3. CURA DE OUTRA MULHER COM UM FLUXO DE SANGUE 305

  4. AVENTURAS NO ALÉM 307

  5. CURA DE DOIS CEGOS MENDIGOS 309

  6. CURA DO SURDO-MUDO ENDEMONINHADO. CALÚNIA DOS FARISEUS 310

  7. A VILA DO SOFRIMENTO COMO OBRA DO TIRANO HERODES 313

  8. MILAGRE DE ROUPAS E ALIMENTOS. JESUS E A CRIANCINHA 315

  9. CONVOCAÇÃO DOS DOZE APÓSTOLOS. OS ATUAIS EVANGELHOS. AS RELIGIÕES ASIÁTICAS 317

  10. O SENHOR ESTABELECE AS NORMAS DE CONDUTA PARA OS

APÓSTOLOS 320

  1. OBJEÇÃO DE JUDAS QUANTO À VIAGEM SEM DINHEIRO 323

  2. A ALMA DE JUDAS É DE BAIXO. DIRETRIZES PARA OS DISCÍPULOS 325

  3. O SENHOR CLAMA PELA CONFIANÇA E DIVULGAÇÃO DESTEMIDA DO EVANGELHO 328

  4. QUEM AMAR ALGO MAIS DO QUE AO SENHOR, NÃO O MERECE! 332

  5. A IMENSIDADE DO MUNDO CÓSMICO E ESPIRITUAL 333

  6. OS VERDADEIROS E OS FALSOS PROFETAS 335

  7. PRIMEIRA TAREFA MISSIONÁRIA. BOM ÊXITO 337

  8. PORMENORES SOBRE JOÃO BAPTISTA E SUA RELAÇÃO COM HERODES 339

  9. O GRANDE TESTEMUNHO DO SENHOR A RESPEITO DE JOÃO BAPTISTA 341

  10. ESPÍRITO E ALMA DE JOÃO BAPTISTA 343

  11. CONVERSÃO DO ADUANEIRO KISJONAH 344

  12. PARTIDA DOS JUDEUS. PARÁBOLA DOS ASSOBIADORES 347

  13. MALDIÇÃO DO SENHOR SOBRE CHORAZIM, BETHSAÍDA E

CAPERNAUM. UMA VISÃO SOBRE O JULGAMENTO FUTURO 349

  1. EVANGELHO GREGO DE NATHANAEL. O JUÍZO FINAL 351

  2. MALDADE DOS FARISEUS 352

  3. SUBIDA ÀS ESTALAGENS DE KISJONAH 354

  4. VISTA MARAVILHOSA E ACONTECIMENTOS ESPIRITUAIS NO CUME 356

  5. ALMAS DA LUA INSTRUEM AS FILHAS DE KISJONAH 358

  6. TRÊS QUERUBINS TRANSPORTAM OS DOZE APÓSTOLOS PARA A MONTANHA. O LIVRO DAS “GUERRAS DE JEHOVAH” 360

  7. PREPARO GRADATIVO PARA O CONHECIMENTO ESPIRITUAL 362

  8. ESPÍRITOS DE PAZ NA BRISA DA MANHÃ. CRÍTICOS MOSAÍSTAS FALAM SOBRE A GÊNESIS 364

  9. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DA GÊNESIS DE MOYSÉS. O PRIMEIRO DIA 365

  10. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO SEGUNDO DIA 367

  11. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO TERCEIRO DIA 370

  12. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DO QUARTO DIA 372

  13. CONTINUAÇÃO DO QUARTO DIA 374

  14. EXPLICAÇÃO DO QUINTO E SEXTO DIA 375

  15. OBJEÇÃO DOS FARISEUS À INTERPRETAÇÃO DA GÊNESIS 376

  16. RELATO DE JUDAS SOBRE A VIAGEM AÉREA 378

  17. A QUEDA DOS ARCANJOS E SUA RECONDUÇÃO ATRAVÉS DA MATÉRIA 380

  18. A NATUREZA DO HOMEM E DA MULHER. A COSTELA DE ADAM 382

  19. EVANGELHO PARA O SEXO FEMININO 384

  20. A VERDADEIRA CULTURA DEVE SURGIR DE DEUS, NO CORAÇÃO DO

HOMEM 386

  1. UM EVANGELHO SOBRE O RISO 388

  2. CURA DE TOBIAS. A CEIA NA MONTANHA 391

  3. RIBA, O ESPERTO, PROPÕE MATAR JESUS EM VIRTUDE DA PAZ 392

  4. BOA RÉPLICA DE TOBIAS 396

  5. TOBIAS É PROTEGIDO PELOS ANJOS CONTRA A IRA DOS FARISEUS 399

  6. DEUS SE APRAZ COM A APRECIAÇÃO GRATA DA NATUREZA 402

  7. O SÁBADO FARISAICO. DESCIDA DA MONTANHA 404

  8. “O FILHO DO HOMEM É UM SENHOR DO SÁBADO” 406

  9. MOTIVO POR QUE O SENHOR SE ESQUIVA DA IRA DOS TEMPLÁRIOS 409

  10. VIAGEM PARA JESAÍRA. BARAM CONVIDA O SENHOR E OS SEUS 411

  11. A GRAÇA DO ALTO. A GLÓRIA DE DEUS 413

  12. CONSELHO DOS TEMPLÁRIOS. UM DELES QUER PROTEGER O SENHOR 415

  13. ASTÚCIA DO JOVEM FARISEU 418

  14. AHAB, O JOVEM FARISEU, É CONVOCADO PELO SENHOR 420

  15. AHAB CONDUZ SEUS COLEGAS PARA PERTO DO SENHOR 423

  16. O POVO INVECTIVA CONTRA OS FARISEUS 425

  17. O SENHOR ACALMA O POVO E CONVIDA OS FARISEUS A ENTRAR 427

  18. DIVERSOS ESTADOS DE POSSESSÃO E A INFLUÊNCIA DOS MAUS

ESPÍRITOS 430

  1. A SALVAÇÃO DE TODAS AS CRIATURAS VEM DOS JUDEUS 433

  2. MARIA COM OS FILHOS DE JOSÉ, EM JESAÍRA. “QUEM É MINHA MÃE,

QUEM SÃO MEUS IRMÃOS?” 436

  1. BARAM, APRENDIZ DE JOSÉ. A INGRATIDÃO DE JAIRO 439

  2. MARIA É EXPULSA DE SUA PROPRIEDADE PELOS FARISEUS 441

  3. AS PARÁBOLAS DO REINO DO CÉU, DO SEMEADOR E DA SEMENTE 443

  4. PARÁBOLA DO JOIO ENTRE O TRIGO, DA SEMENTE DE MOSTARDA E

DO FERMENTO 447

  1. O SENHOR DOMINA A TEMPESTADE. SABEDORIA DE AHAB 449

  2. A PÁTRIA ESPIRITUAL 450

  3. JAIRUTH E JONAEL EM KIS. AÇÃO MILAGROSA DO ANJO DE JAIRUTH 451

  4. TODO O REINO VEGETAL É DIRIGIDO POR UM ANJO 453

  5. SUBIDA DO MORRO DAS SERPENTES. CONDIÇÕES MUNDANAS 455

  6. PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS. PARÁBOLA DO TESOURO NO CAMPO 458

  7. PARÁBOLA DA GRANDE PÉROLA E DA REDE 459

  8. RELATO DO SOFRIMENTO DO SUMO PONTÍFICE DE SICHAR 461

  9. O VERDADEIRO HEROÍSMO 463

  10. A VERDADEIRA IGREJA LIVRE. “SOIS TODOS IRMÃOS!” 465

  11. O VERDADEIRO ESPÍRITO DA DOUTRINA PURA DE JESUS 466

  12. POLÊMICA DE AMOR. O AMOR PURO E O AMOR INTERESSEIRO 468

  13. NATUREZA DO AMOR 471

  14. UMA GRANDE ALEGRIA NÃO DISTA MUITO DO PECADO. PROCESSO DE NUTRIÇÃO DO HOMEM 473

  15. O PREJUÍZO DA GULA SOBRE A ALMA. O VERDADEIRO JEJUM 475

  16. O SENHOR NO JARDIM COM OS SEUS 476

  17. MOTIVO DO TEMPORAL 479

  18. EXCURSÃO A CANÁ, NO VALE 481

  19. GRANDE CURA MILAGROSA EM CANÁ 483

  20. OS GREGOS SE VEEM LUDIBRIADOS E NÃO QUEREM DESISTIR DE SEU

“SOLO FIRME” 486

  1. ALMAS EM APRENDIZAGEM SOBRE A TERRA. O MUNDO SOLAR

CHAMADO PROCYON. MURAHEL E ARCHIEL 489

  1. NUMA VISÃO ESPIRITUAL, PHILOPOLDO SE INTEGRA DA VERDADE 490

  2. CONVOCAÇÃO DE PHILOPOLDO 492

  3. OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS. A ATUAL REVELAÇÃO 494

  4. ADVERTÊNCIA ÀS ARTIMANHAS DE SATANÁS 496

  5. GRANDE CURA MILAGROSA 498

  6. FERMENTAÇÃO PSÍQUICA ATRAVÉS DE MISÉRIAS E SOFRIMENTOS 501

  7. O VERDADEIRO E BEM-AVENTURADO REPOUSO EM DEUS 503

  8. A CHAMADA “PRÉDICA NOTURNA”, DO BENEFÍCIO DA ATIVIDADE 505

  9. OS FARISEUS LAVAM OS PÉS DO SENHOR 508

  10. A RAZÃO POR QUE O SENHOR NÃO SE REVELA AOS MESMOS 510

  11. NECESSIDADE E NATUREZA DA CONTEMPLAÇÃO INTROSPECTIVA 511

  12. PERTURBAÇÕES CAUSADAS PELO INIMIGO, QUE É AFUGENTADO PELO ANJO ARCHIEL 513

  13. O GRANDE BENEFÍCIO DA INTROSPECÇÃO SISTEMÁTICA 515

  14. PASSEIO DE BARCO. DOENÇA REPENTINA DA FILHA DE JAIRO 517

  15. JAIRO E O MÉDICO BORUS NO LEITO DE SARAH 519

  16. RESPOSTA COVARDE DE JAIRO. CRÍTICA SEVERA DE BORUS 522

  17. RELATO DO FILHO MAIS VELHO DE JOSÉ A RESPEITO DA MORTE DE

SEU PAI 525

  1. PRISÃO DE UM BANDO DE LADRÕES DO TEMPLO 527

  2. LIBERTAÇÃO DAS CRIANÇAS RAPTADAS 530

  3. JULGAMENTO DOS CRIMINOSOS 531

  4. NOVA SUSPEITA PELA ATITUDE DOS FARISEUS 534

  5. FAUSTO E O SENHOR. CUMPRIMENTOS COMOVEDORES 536

  6. O SENHOR ABENÇOA A UNIÃO DE FAUSTO E LYDIA 537

  7. CHEGADA DE PHILOPOLDO. CONTINUAÇÃO DO JULGAMENTO 540

  8. UM FARISEU ARREPENDIDO CONFESSA TUDO E PEDE INDULGÊNCIA

PARA SI E SEUS CÚMPLICES BEM INTENCIONADOS 542

  1. OS LADRÕES PEDEM PERDÃO 544

  2. O SENHOR DETERMINA A FINALIZAÇÃO DO JULGAMENTO 548

  3. COMO O SENHOR AGE NA ALMA DAS CRIANÇAS 550

  4. REGRAS ALIMENTARES PARA AMAS. PREJUÍZO DE ALIMENTOS

ARTIFICIAIS E DESAPROPRIADOS 552

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor

NATUREZA E SIGNIFICAÇÃO DAS REVELAÇÕES

Num sentido intrínseco podemos denominar uma Revelação de Deus, para suas criaturas, como notificação pessoal para a ins- tituição de uma nova ordem de vida, correspondente a um certo progresso alcançado.

É uma comunicação divina para o mundo que tem por objetivo sua salvação! Assim foi desde Adam até nossos dias; numa sequência impressionante, o desvelo de Deus se insurge contra a obra negativa de seu inimigo que infesta o mundo, a fim de não deixar Seus filhos sem instrução e sem meta espiritual!

Neste sentido, pois, não podemos falar numa primeira, segunda ou terceira Revelação, que historicamente não pode ser mantida. Além disto, foram elas todas o prenúncio dum grande julgamento. A Revelação dada a Adam, não obedecida, foi, no entanto, sancio- nada com a perda do Paraíso.

Surgem depois as seguintes dadas aos patriarcas, onde Deus lhes dita Sua Vontade — respeitando-lhes, porém, o livre arbítrio — até Noé, o qual recebeu para os descendentes de Caim também uma grande Revelação. Esta foi preciso sancionar com o Dilúvio, porque as criaturas não se queriam submeter às sábias Leis dadas por Deus.

Ao tempo de Abraham veio outra, ratificada com a destruição de Sodoma e Gomorra; o Mar Morto ainda hoje é o seu testemunho. A que foi dada ao velho Jacob teve sanção para os filhos de sua raça com a escravatura no Egito. Mais e mais as criaturas se rebela- ram contra o leve jugo de Deus, a ponto de ser preciso submetê-las

a uma lei severa com imediata sanção.

Sob o gládio da Justiça foi assim dada a Moysés uma grande Revelação, mais severa para o Egito que para os próprios israelitas! Data daí a queda deste país e de sua opulência.

Quando as hostes israelitas foram levadas por Josué a abando- nar o deserto, outra Revelação foi dada por Deus — e a cidade de Jericó desapareceu de sobre a terra!

Assim também foi ao tempo de Samuel, Elias e também ao dos quatro grandes profetas, isto é, seguidas sempre por grandes julga- mentos! Pergunta-se: mas por que essas tremendas sanções?

Vejamos um indivíduo bem instalado na vida, com fartos re- cursos que fundamentam sua alma em convicções próprias que o livram de qualquer dependência: aceitaria ele uma Nova Revelação não sancionada, enquanto que as leis terrenas nunca deixam de ser rigorosamente executadas?

É de se perguntar se a máxima Revelação dada ao mundo foi aceita pelos judeus! Eles a repeliram — e a consequência foi a des- truição completa de Jerusalém, o que os dispersou pelo mundo in- teiro. Resistiram, como há dois mil anos, contra o que poderíamos chamar de ingerência de Deus nas coisas deste mundo, do qual o homem se diz senhor absoluto. Quanto sangue desde aquele tempo até hoje foi derramado, e isto até em honra e glória deste Mesmo Deus, cujas leis de Amor repeliram!

Extinta a fé quase totalmente, reinantes o horror e a devasta- ção nas almas que não sabem mais em que e em quem acreditar, esboça-se já no horizonte o maior dos cataclismos; este, consuma- do, fará com que uma alma caminhe oito dias até encontrar outra semelhante!

Prevendo isto, o Pai, na Sua grande Misericórdia, com muita antecedência deu, com a Nova Revelação que ora publicamos, o Seu EvangelhoDesvendado, compreensível à nossa razão. Vemos, pois, que não colide com alguma crença ou seita existentes, mas que, ao contrário, trará a Luz para todos.

“Para o puro tudo se torna puro, e feliz aquele que ler esta Obra sem se aborrecer!” Amém!

PREFÁCIO

Em todas as épocas houve criaturas puras e devotas que ouviam a voz do Espírito Divino em seus corações.

Todos nós conhecemos as diversas passagens do Velho Testa- mento, quando o profeta fala: “E a palavra do Senhor veio a mim!” Seria admissível que esta união íntima entre Deus e o homem, como nos foi relatada por Moysés, Samuel, Isaías e outros profetas e

iluminados, não mais fosse possível em nossa época?

Não é Deus, o Senhor, desde os primórdios, o Mesmo, e as cria- turas de hoje não são elas da mesma índole como de antanho? Seria inteiramente ilógico admitir que Deus falasse apenas para Moysés e os profetas, e jamais a outros filhos Seus, e que a Bíblia encerrasse todas as revelações de maneira definitiva. Somente os crentes na le- tra poderiam ter tal compreensão!

Sabemos também, através de fontes autênticas, que a voz in- terna, sendo meio para a revelação divina, já iluminava, antes de Moysés, os “Filhos do Alto” — como por exemplo por Henoch — alegrando também aqueles que a procuravam saudosamente, depois dos apóstolos. Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da voz interna pela História dos séculos cristãos. O significado da revelação interna para o homem, bem o conheciam e apontavam Sto. Agostinho e S. Jerônimo, como também os místicos da Idade Média: Bernard de Clairvaux, Tauler, Suso e Thomas von Kempen. Além desses, muitos outros santos da Igreja Católica, Jacob Boehme e mais tarde o visionário nórdico Emanuel Swedenborg receberam revelações pela voz interna.

Pelo próprio Senhor, Jesus, o “Verbo Vivo de Deus” foi prome- tido: “Aquele que cumprir Meus Mandamentos (da humildade e do amor) é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai e Eu o amarei e Me manifestarei a ele.” (João 14, 21). — E mais adiante: “O Espírito Santo que Meu Pai enviará em Meu Nome ensinar-vos-á todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos foi dito.” (João 14, 26)

NOVA REVELAÇÃO PARA A ÉPOCA ATUAL

Este fluxo espiritual da palavra interna, todavia, não pôde impe- dir que a grande Dádiva de Luz enviada pelo Pai, em Jesus, aos ho- mens fosse obscurecida no decorrer dos séculos pelo amor-próprio da Humanidade, sendo, pouco a pouco, quase que exterminada.

Como os homens, na maioria, não se deixavam guiar pelo Es- pírito de Deus, preferindo seguir suas tendências egoísticas e volun- tariosas, as sombras de uma noite espiritual se manifestavam mais e mais, tanto que a queda completa da fé e do amor a Deus (não obstante a Bíblia e a Igreja) exigia uma nova grande revelação da Vontade Divina para a nossa época.

Prevendo a evolução desastrosa do mundo, em consequência das guerras passadas, o Pai da Luz transmitiu esta grande Nova Revelação no decorrer do último século a diversos povos da terra, anunciando, através de profetas e outros iluminados, a Velha e Ver- dadeira Doutrina de Jesus Cristo, ou seja, a Religião do Amor.

A revelação mais imponente foi transmitida no idioma alemão, durante os anos de 1840 a 1864, a um homem simples e de alma pura chamado Jacob Lorber, que, pela voz interna do espírito, rece- beu comunicações incalculavelmente profundas sobre a Divindade, a Criação, o plano de salvação e o Caminho para a Vida Eterna.

JACOB LORBER

Sobre a vida desse instrumento da Graça e do Amor Divinos, existe uma pequena biografia dada por um amigo e conterrâneo de Jacob Lorber.

Nascido a 22 de julho de 1800, numa pequena vila de nome Kanischa, na Áustria, era filho de pais pobres que viviam do culti- vo da vinha.

Cursou com grandes sacrifícios o ginásio, dando aos colegas mais novos aulas de música. A contingência da vida, porém, obri- gou-o a interromper seus estudos e a empregar-se como professor, o que lhe proporcionou os meios para concluí-los.

Como teve oportunidade de ouvir e conhecer pessoalmente o grande violinista Paganini, recebendo até algumas aulas desse “virtu- ose”, surgiu em sua alma o desejo de abandonar o professorado e de- dicar-se exclusivamente à música. Mas também esta ocupação não o satisfazia inteiramente. Interessava-se muito pela astronomia, tanto que construiu um telescópio para aprofundar-se nas maravilhas do céu estelar. Nos livros de conterrâneos iluminados, como Justinus Kerner, Swedenborg, Tennhardt, Kerning e outros, principalmente no Livro dos livros, a Bíblia, procurava conhecimentos do mundo dos espíritos e sua relação com a nossa vida.

CONVOCAÇÃO

Assim se passaram quarenta anos de sua vida simples, quando um acontecimento notável lhe mostrou qual a missão que as Forças do Céu lhe destinavam.

Era março de 1840 quando Lorber recebia de Trieste uma ofer- ta para regente, que representava para ele um bom sustento material. No dia 15, porém, quando Lorber acordava cheio de esperança e alegria e fazia sua prece matinal — eis que ouve uma voz no coração: “Levanta-te e escreve!”

Perplexo, ele obedece a essa voz. Toma da pena e escreve as pa- lavras que ouvia numa admiração sagrada, como um fluxo de pensa- mentos claros no seu coração:

“Assim fala o Senhor para cada um e isto é verdadeiro, fiel e certo: Quem quiser falar Comigo que venha a Mim, e Eu lhe darei a resposta em seu coração. Somente os puros, porém, cujos corações são cheios de humildade, deverão ouvir o som de Minha Voz. E quem Me prefere diante de todo mundo, quem Me ama como uma noiva dedicada ama seu noivo, com este Eu caminharei de braços dados; poderá ver a Mim como um irmão vê seu outro irmão e co- mo Eu o vi de Eternidades, antes que ele existisse!”

Enquanto Lorber ouvia e escrevia estas palavras, as lágrimas lhe corriam. Teria o Altíssimo o considerado digno de dar uma mensa-

gem à Humanidade, como fez com os profetas? Isto era quase ina- creditável! A Voz, porém, continuava a falar com toda a clareza e persistência, tanto que Lorber se viu obrigado a pegar de novo da pena para escrever o que lhe era dito. E assim surgiu um capítulo inteiro, cheio de maravilhosos ensinamentos de amor e sabedoria. No dia seguinte, o mesmo — um capítulo após outro!

Podia ele se esquivar dessa voz maravilhosa? — Não! — Mas, e o emprego em Trieste? Não seria uma loucura desistir de um ga- nha-pão certo, só por causa desse fenômeno que não sabia explicar?

A VOZ INTERNA DO ESPÍRITO

Mas o convocado resistiu à tentação. Seu coração não almejava dinheiro nem posição, e dedicou 25 anos, ou seja, a vida toda, à Voz maravilhosa de dentro do seu coração.

Todas as manhãs ele sentava à sua pequena mesinha e escrevia ininterruptamente, sem pausa nem correção, como se estivesse rece- bendo um ditado.

Quanto à maneira pela qual ouvia essa Voz, certa feita, interro- gado por uma pessoa mui devota, recebeu a seguinte resposta:

“Isto que o Meu servo, materialmente tão pobre, faz, todos os Meus verdadeiros adeptos deveriam fazer. Para todos servem as pala- vras do Evangelho: ‘Deveis ser ensinados por Deus! Pois quem não for conduzido pelo Pai, não chegará ao Filho!’ Isto significa que: De- veis alcançar a Sabedoria de Deus através do amor vivo e ativo para Comigo e com vosso próximo! Pois todo verdadeiro e ativo amor de cada um, sou Eu Mesmo em seu coração, como o raio do sol age em cada gota de orvalho, em cada planta e em tudo que existe nesta terra. Portanto, quem Me ama verdadeiramente, de todo coração, já possui dentro de si a Minha Chama de Vida e Luz! É compreensível que desta maneira se estabeleça uma correspondência entre Mim e uma criatura cheia de amor para Comigo, assim como uma semente sadia germina um fruto abençoado num solo fértil e debaixo do raio solar.

Este Meu servo é um testemunho de que isto é possível para todas as criaturas que cumprem os Mandamentos do Evangelho! E digo mais: Nada se consegue somente pela devota veneração da Mi- nha Onipotência Divina! Tais cristãos beatos há muitos no mundo; entretanto, conseguiram pouco ou mesmo nada. Tudo depende da criatura se tornar cumpridora do Meu Verbo, caso queira alcançar a Minha Voz Viva em si. Eis uma orientação para todos!”

AS OBRAS DA NOVA REVELAÇÃO

Deste modo surgiram as seguintes obras: A Doméstica Divi- na (A Criação de Deus), O Sol Espiritual, Bispo Martim, Roberto Blum, A Terra e a Lua, o Sol Natural, Explicações de Textos da Es- critura Sagrada, O Saturno, Correspondência entre Jesus e Abgarus, Cartas do Apóstolo Paulo à Comunidade em Laodiceia, Dádivas do Céu, A Infância de Jesus, O Menino Jesus no Templo e outras.

A obra principal, porém, a coroação de todas as outras, é o pre- sente “O Grande Evangelho de João”, em onze volumes. Nele pos- suímos uma narrativa minuciosa e profunda de todas as palavras e obras de Jesus. Todos os segredos da Pessoa de Jesus Cristo, bem como Sua Verdadeira Doutrina de Fé e Amor, são desvendados nesta Revelação Única. A Criação surge diante de nossos olhos como um acontecimento imponente de evolução, com as maiores e maravi- lhosas metas da Salvação Espiritual! Todas as perguntas concernen- tes à vida são esclarecidas neste Verbo Divino. Ao lado da Bíblia, o mundo não possui obra mais importante!

Possa a presente obra em vernáculo trazer as Bênçãos e a Luz do Céu como maior dádiva que o Pai poderia proporcionar a Seus filhos de boa vontade!

A TRADUTORA

Rio de Janeiro, novembro de 1951.

    1. Pequena introdução na compreensão do Evangelho de João, o apóstolo predileto de Nosso Senhor e Salvador Jesus, cujas palavras são cheias de espírito e profundeza. (João 1, 1–5)

      1. NOPRINCÍPIO,ERAOVERBOEOVERBOESTAVACOMDEUSEDEUSERAO VERBO.

  1. Este versículo já sofreu inúmeras explanações e interpreta- ções errôneas, pois os mais enraizados ateus se serviram justamente dele para rejeitar a Divindade. Não vamos repetir tais disparates, mas sim fazer surgir uma explicação concisa: ela, sendo a Luz, na Luz da Luz, por si mesma combate e vence os erros.

  2. A causa principal da incompreensão de tais textos é a tradu- ção deficiente e falsa da Escritura, do idioma original para os idio- mas da época atual; mas isto está bem assim, porque, se o espírito de tais textos não fosse tão bem oculto como é, o sentido santíssimo que reside neles de há muito teria sido profanado da maneira mais vil, o que acarretaria um grande prejuízo para toda a Humanidade. Assim, chegou-se a roer somente a casca, sem alcançar o Santuário Vivificador.

  3. Agora, porém, chegou o momento de demonstrar o verda- deiro sentido intrínseco destes versículos a todos aqueles que me- recem esta graça; aos indignos, previno que o prejuízo deles será gravíssimo, porquanto não permito que nestas ocasiões seja Eu pro- curado com gracejos, tampouco aceitarei condições.

  4. Depois desta recomendação imprescindível, vamos iniciar a explicação. Antes de mais nada observo, porém, que só deveis es- perar o sentido psicoespiritual, e não o mais intrínseco, ou seja, o puríssimo sentido celestial. Este é sumamente santo e só poderá ser transmitido sem prejuízo àqueles que o procuram pela conduta ele- vada, de acordo com as palavras do Evangelho. O sentido puramen- te psicoespiritual é fácil de encontrar; às vezes, basta uma tradução certa de acordo com a época, o que vos será mostrado na explicação do primeiro versículo.

  1. Muito errada e encobrindo o verdadeiro sentido é a expressão “No princípio”, porque com ela poder-se-ia contestar o Ser Eterno da Divindade e pô-Lo em dúvida, fato este que se deu com alguns sábios de outrora, de cuja escola saíram os ateus daquela época.

  2. Portanto, a verdadeira tradução será: No Ser Primário, ou seja, na Causa Primária de todo o Ser, existia a Luz, o Pensamento Grandioso e Santíssimo da Criação ou a Ideia Fundamental. Essa Luz não estava somente em Deus, mas sim também com Deus, quer dizer, a Luz manifestou-Se na Sua Essência através de Deus; portan- to, não estava apenas Nele, mas também com Ele, e envolvia com- pletamente o Ser Divino, o que nos prova a causa da Encarnação posterior de Deus, que vamos deduzir no seguinte texto.

  3. Quem era a Luz, esse Pensamento Grandioso, essa Ideia Bá- sica, Santíssima de todo o Ser Futuro e Real? — Só podia ser a Divindade Mesma, porque em Deus, por Deus e através de Deus só poderia surgir Deus Mesmo, no Ser Perfeito e Eterno. Portanto, esse texto poderia soar assim:

  4. Em Deus estava a Luz, que emanava Dele e Deus Mesmo era a Luz.

2.ELAESTAVANOPRINCÍPIOCOM DEUS.

  1. Depois de termos elucidado suficientemente o primeiro ver- sículo, de modo que toda pessoa com alguma luz própria o possa compreender, o segundo, por sua vez, explica-se por si mesmo, pro- vando que o mencionado Verbo ou Luz ou o IMENSO PENSA- MENTO CRIADOR não podia ser uma sucessão do Ser Divino, mas sim Eterno com Deus. Assim Deus, por Si, também é Eterno, não podendo ocultar um processo de origem em Si; portanto, a ex- plicação é esta: Aquela Luz estava no início ou na Causa Primária de todo Ser e Posterior Criação com Deus, em Deus e através de Deus, logo éDeusemSuaEssência.

3.TODASASCOISASFORAMFEITASPORELA(LUZ),ESEMELANADADOQUEFOIFEITOSE FEZ.

  1. Neste versículo se confirma evidentemente o que foi es- clarecido no primeiro, isto é: a manifestação do Verbo ou Luz na Origem de todo Ser e Criação, a qual, porém, ainda não Se tinha exteriorizado como tal.

  2. Portanto, este versículo deverá soar simplesmente assim: TODO SER ORIGINOU-SE DESTE SER BÁSICO, O QUE É EM SI O SER DE TODO SER.

  3. Quem tiver compreendido inteiramente estes três versícu- los, com facilidade assimilará o quarto.

4.NELAESTAVAAVIDA,EAVIDAERAALUZDOS HOMENS.

  1. É mais do que compreensível que o Ser Primário de todo Ser, a Luz de toda Luz, o Pensamento Primário de todos os Pen- samentos e Ideias, a Forma Básica como Causa Eterna de todas as Formas, primeiramente não podia ser semforma e, por conseguin- te, tampouco ser a morte, porque esta seria o polo completamente oposto de todo e qualquer ser. Tanto que neste VERBO ou LUZ, ou neste Pensamento Divino em Deus, existia uma Vida Perfeita. Deus, portanto, era a Vida Eterna. Perfeita em Si, por Si, e esta Luz, esta Vida criou os múltiplos seres que, por sua vez, eram perfeitos, de acordo com o seu Criador.

  2. A Vida Primária de Deus, porém, só poderia ser completa- mente independente e livre, do contrário não seria vida alguma, de modo que era parte integrante dos seres criados. A Perfeição Divina só podia criar seres perfeitos, que por sua vez se reconheciam como tais; mas justamente este conhecimento dava-lhes a noção nítida de que não eram criaturas com origem própria, mas sim geradas pela Eterna Onipotência Divina.

  3. Esta concepção existia, forçosamente, em toda a Criação, bem como a de que sua vida era perfeita, como Deus também é perfeito.

  4. Se analisamos este fato mais de perto, concluímos que exis- tem dois sentimentos no ser humano que se desafiam: um é a con- vicção da Perfeição Divina dentro de si; outro, trazido pela Luz Di-

vina, pela qual reconhece sua existência temporária de acordo com a Vontade do Criador.

  1. O primeiro sentimento iguala a criatura com o Ser Divino, como se fora completamente independente do Mesmo, pois sente-

-O dentro de si; o segundo, por sua vez, embora surja desta primeira noção de vida, infalivelmente reconhece que é uma criação de Deus e somente no decorrer dos tempos livremente manifestada, portanto dependente de sua Causa Primária.

  1. Desta noção de dependência surge o sentimento de humil- dade e faz com que o primeiro, ou seja, o de altivez, também se humilhe, alternativa indispensável na evolução da criatura.

  2. O sentimento de altivez luta, até o extremo, contra esta hu- milhação e tenta abafá-la.

  3. Nesta luta surge a revolta e, finalmente, o ódio contra a Causa Primária de todo o Ser (Deus) e contra o sentimento de hu- mildade ou dependência; eis a causa da debilidade e do obscurecer da noção de sua origem, e a Luz que até então Se manifestava na criatura passa a ser noite e treva. A obscuridade não reconhece mais a Luz dentro de si, afastando-se nesta cegueira do seu Divino Criador.

5.E A LUZ RESPLANDECEU NAS TREVAS, E AS TREVAS NÃO A COMPREENDERAM.

  1. Eis por que esta Luz poderá resplandecer com todo Seu fulgor, e as trevas, se bem que Dela surgissem, são desprovidas de uma visão eficaz e não A reconhecem, Ela que veio justamente para transformá-las em Luz Original.

  2. Assim, pois, Eu vim como o Eterno Ser de todo Ser e como Luz de toda Luz e Vida ao mundo das trevas, àqueles que surgiram por Mim; eles, porém, não Me reconheceram na noite do seu orgu- lho espiritual!

  3. Este quinto versículo mostra como Eu — que sou de toda Eternidade, pelos fatos e consequências primárias, sempre o Mes- mo — vim a este mundo criado por Mim e ele não Me reconheceu como sua Causa Primária (Deus).

  1. Sendo o Ser de todo Ser, Eu tinha que observar, através da Minha Eterna Luz, que a noção de sua origem, como luz espiritual no homem, ia se enfraquecendo mais e mais, inclinando-se para a presunção e o orgulho na luta incessante contra o sentimento de humildade, até que se extinguiu completamente. Se Eu Me tivesse aproximado das criaturas na Perfeição que elas também haviam re- cebido por Mim, jamais Me teriam reconhecido, mormente se Eu, de maneira repentina, surgisse num corpo humano limitado; tanto que Eu seria o único culpado se os homens não Me reconhecessem sem o necessário preparo.

  2. Foi esta a razão que Me levou a predizer a Minha Vinda por muitos e muitos profetas — que, em tal luta, não tinham perdido sua luz espiritual — desde os tempos remotos até o Meu Nascimen- to, apontando mesmo a maneira, o lugar e a época deste fato; quan- do chegou este momento, fiz com que sinais surgissem, despertando um homem no qual encarnou um arcanjo a fim de pregar aos cegos a Minha Vinda e Completa Presença nesta terra.

2. O arcanjo Miguel, encarnado em João Baptista, dá testemunho do Senhor. As leis básicas do Ser Divino, do homem e de suas relações para com Deus. Da queda do homem e dos caminhos extraordinários de Deus para salvá-lo. (João 1, 6–13)

6.HOUVEUMHOMEMENVIADODEDEUS,CUJONOMEERA JOÃO.

  1. Esse homem, que se chamava João, pregava a penitência, ba- tizando os convertidos com água. Nele estava oculto o espírito do profeta Elias, e era o mesmo arcanjo que venceu a Lúcifer no come- ço dos tempos e, mais tarde, também lutou contra ele pelo corpo de Moysés.

7.ESTEVEIOPARATESTEMUNHO,PARAQUETESTEMU-NHASSEDALUZ,AFIMDEQUETODOSCRESSEMPOR ELE.

  1. João veio como antigo e novo testemunho do Alto, ou seja, da Luz Primária como Luz, a fim de que testificasse do Ser Primário,

de Deus, cujo Ser tomou carne, vindo para Seus filhos, na mesma forma humana, para iluminá-los novamente nas suas trevas, devol- vendo-os desta maneira à sua Luz Original.

8.NÃOERAELEALUZ,MASVEIOPARA TESTIFICÁ-LA.

  1. João não era a Luz Original, mas sim, como todas as criatu- ras, apenas uma partícula desta Luz. A ele, porém, foi dado perma- necer com Ela, pela sua imensa humildade.

  2. Nesta constante união com a Luz Original e reconhecendo a diferença existente entre a Divindade e ele, pôde dar Dela o teste- munho convincente, despertando-A no coração dos homens; deste modo eles, embora no começo um tanto enfraquecidos, pouco a pouco reconheceram que Ela, Luz Original ora envolta na carne, era infalivelmente a Mesma à qual toda Criação deve sua vida li- vre, podendo conservá-la assim eternamente, de acordo com a pró- pria vontade.

9.ESTAERAALUZVERDADEIRA,QUEILUMINATODOHOMEMQUEVEMAO MUNDO.

  1. Não é a testemunha, mas sim seu testemunho e Aquele de Quem testemunha, a Verdadeira Luz Primária que desde o início iluminou e vivificou todas as criaturas que vieram a este mundo, aumentando cada vez mais esta sua ação. Por isto lemos no nono versículo que foi justamente esta a Verdadeira Luz que criou os seres para uma vida independente, vindo agora para iluminá-los de forma integral, igualando-os Consigo.

10.ESTAVANOMUNDOQUEFOIFEITOPORELE,EOMUNDONÃOO RECONHECEU.

  1. No quinto versículo foi esclarecido como as criaturas, no seu obscurecimento, não reconheciam a Mim nem a Luz deste mundo, embora tivessem surgido por Mim e Eu lhes enviasse tantos prenún- cios e avisos da Minha Vinda. É necessário, porém, mencionar que não se deve compreender por mundo esta terra portadora de almas

julgadas como réus do Juízo Divino, que perfazem a matéria; apenas aquelas que, em parte, surgiram dela, mas, como seres independen- tes, não mais podem pertencer a este conglomerado psicomaterial. Pois seria pretensão injusta de Minha parte exigir que a pedra, que se encontra presa pelos seus átomos, Me reconhecesse. Isto só se poderá esperar de uma alma libertada, que já possui o Meu Espírito dentro de si.

11.VEIOPARAOQUEERASEU,EOSSEUSNÃOO RECEBERAM.

  1. Pela palavra “mundo” deve-se, portanto, compreender ape- nas aqueles seres que, por sua individualidade psicoespiritual, faziam parte integrante de Mim, pois eram da Minha Luz e, como tal, unos com o Ser Primário.

  2. Como a noção de sua origem, porém, que a Mim os iguala- va, havia se enfraquecido — razão por que Eu tomei carne — eles não Me reconheciam e tampouco a sua própria origem, que jamais poderá ser destruída, porquanto perfaz em si a Minha Natureza Intrínseca.

12. MAS,ATODOSQUANTOSORECEBERAM,DEU-LHESOPODER DE SE TORNAREM FILHOS DE DEUS, A SABER: AOSQUECRESSEMEMSEU NOME.

  1. É fácil de se compreender que a ordem primária sofreu um distúrbio entre todos aqueles que não Me receberam nem reconhe- ceram, e com este distúrbio surgiu um estado de sofrimento, o cha- mado “mal” ou “pecado”. Ao passo que, entre muitos outros que Me reconheceram em seus corações, este mal, forçosamente, extinguiu-

-se pela união restabelecida Comigo, que lhes dava a compreensão nítida da Vida Eterna e Indestrutível dentro de si.

  1. Em tal Vida verificaram que não só são criaturas Minhas, noção esta advinda dum sentimento inferior como seres materiais, mas que também, pela Centelha Divina dentro de si, são portadoras do Meu Próprio Ser, surgidas por Mim e pela Minha Onipotência, sendo, portanto, Meus Próprios Filhos. Sua luz ou fé é igual à Mi-

nha Própria Luz e, por conseguinte, tem a Onipotência e força que está em Mim e através desta o direito integral como filhos, não só na denominação, mas sim em toda a plenitude.

  1. Porque a fé é esta dita luz, e Meu Nome, ao qual suas ir- radiações são dirigidas, é a força, a Onipotência e o Próprio Ser do Meu Ser Primário, pelo qual toda criatura poderá conseguir a Filiação Divina. Por isto lemos, no 12º versículo, que todos que Me aceitarem e acreditarem em Meu Nome terão o direito de se chama- rem “Filhos de Deus”!

13.OSQUAISNÃONASCERAMDOSANGUE,NEMDAVONTADEDACARNE,NEMDAVONTADEDOVARÃO,MASDE DEUS.

  1. Este versículo é somente uma afirmação e elucidação do anterior, e os dois poderiam soar da seguinte maneira: Aos que O aceitavam e acreditavam em Seu Nome, Ele dava o poder de se cha- marem “Filhos de Deus”, não nascidos do sangue, nem da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

  2. É mais do que compreensível que não se trata aqui de um primeiro nascimento da carne pela carne, mas unicamente de um segundo nascimento pelo espírito, do amor para com Deus e pela verdade da fé intensa no Nome Vivo de Deus, que é JESUS

  1. O “BATISMO DOS CÉUS” é a completa rendição do es- pírito e da alma com todos os seus desejos, unindo-se, destarte, ao espírito do amor para com Deus e do Amor em Deus Mesmo.

  2. Uma vez conseguida esta rendição pela livre vontade do ho- mem, todo o seu amor, como o homem mesmo, encontra-se em Deus e por este amor santificado surge uma criatura nova, renascida por Deus após sua completa maturação. Com este renascimento, que não é precedido do desejo da carne tampouco da vontade pro- criativa do homem, a criatura torna-se um verdadeiro Filho de Deus pela Graça, ou seja, pela Onipotência Divina em seu coração.

  1. Esta Graça, porém, é a grande atração de Deus dentro do es- pírito do homem, pela qual ele alcança sua verdadeira e viva sabedoria, pois é atraído pelo Pai ao Filho, ou seja, para a Divina Luz Primária.

3. A Encarnação do Verbo Eterno e o testemunho de João Baptista. Ensinamentos básicos dum novo ser pelo renascimento. A primeira Graça e a segunda. (João 1, 14–16)

14.EOVERBOSEFEZCARNEEHABITOUENTRENÓS,EVIMOSSUA GLÓRIA COMO A GLÓRIA DO FILHO UNIGÊNITO DOPAI,CHEIODEGRAÇAEDE VERDADE.

  1. Quando a criatura consegue, desta maneira, a Verdadeira Fi- liação Divina pelo renascimento, onde penetra pelo amor do Pai, atinge a Magnificência da Luz Primária em Deus, a Qual, por sua vez, é o Ser Primário Mesmo. Este Ser é o Verdadeiro Filho Unigêni- to do Pai, que, como a Luz, permanece submerso dentro do calor do amor enquanto este não o vivifica, deixando que emane dele. Esta Santa Luz é, portanto, a Real Magnificência do Filho do Pai, a qual toda criatura renascida alcança e, então, torna-se-Lhe idêntica. Pois que por toda a Eternidade está cheia de Graça (como Luz Divina) e de Verdade, que em si é A PURA REALIDADE OU O VERBO ENCARNADO.

15. JOÃO TESTEMUNHOU DELE, DIZENDO: “ESTE É AQUELE DE QUEM EU DIZIA: O QUE VEM DEPOIS DE MIM É ANTES DEMIM,PORQUEERAPRIMEIROQUE EU.”

  1. Eis o testemunho certo de João, dizendo aos homens, após o batismo no rio Jordão, que Aquele a Quem batizou era o Mesmo por cuja vinda tinha pregado a penitência para recebê-Lo condigna- mente, e mais: que Aquele que veio depois dele era primeiro do que ele. Num sentido mais profundo, significa: Eis a Luz Divina, Luz Primária de toda Luz, que precedeu todo ser, fazendo surgir todos os seres deste Ser.

16. E TODOS NÓS RECEBEMOS TAMBÉM DE SUA PLENITUDE, E GRAÇAPOR GRAÇA.

  1. Esta Luz Primária também é a Eterna e Imensa Magnificên- cia em Deus, e Deus Mesmo é esta Magnificência; e de Sua Pleni- tude todos os seres receberam seu ser, sua luz e vida independentes.

  2. Portanto, toda vida é uma Graça de Deus e preenche de ma- neira completa a forma portadora de vida. Assim sendo, a vida pri- mária em toda a criatura é a primeira Graça Divina, porque é em si a Magnitude de Deus. Esta, porém, foi danificada pelo mencionado enfraquecer do sentimento altivo em choque com o sentimento in- ferior da existência temporária, trazendo, como resultado, a infalível dependência da Luz e do Ser Primário.

  3. Como esta primeira Graça no homem estava prestes a sub- mergir, eis que a Luz Primária Mesma vem ao mundo e ensina às criaturas ser necessário devolverem esta primeira Graça a Deus, ou seja, voltar a Este Ser Primário e receber então, pela Luz antiga, uma nova vida. Esta troca representa o “receber Graça por Graça” ou, igualmente, a rendição da vida antiga, enfraquecida e inútil, para receber uma nova, indestrutível em e porDeus na plenitude.

  4. A primeira Graça foi uma necessidade, na qual não havia in- dependência e, tampouco, constância. A segunda, porém, é uma li- berdade completa, livre de qualquer obrigação e, como tal, imutável por toda a Eternidade, pois é isenta de coação e violência. Onde não existe inimigo, também não há destruição; por inimigo, entende-se tudo que recalca um ser livre por qualquer meio.

4. A Lei e a Graça. Lutas sucessivas para os seres destinados à Filiação Divina. Aparecimento do Salvador. PAI e FILHO são Idênticos como a chama e a luz. (João 1, 17–18)

17.ALEIFOIDADAPORMOYSÉS.AGRAÇAEAVERDADEVIERAMPOR CRISTO.

  1. Eis a Lei imprescindível aos primeiros seres e criaturas, e transmitida posteriormente por Moysés, que neste versículo é men- cionado como representante da Lei. Entretanto, jamais alguém po- derá alcançar a verdadeira liberdade vital pela Lei, pois esta constitui um recalque, e nunca um estímulo na vida.

  1. Através dum imperativo categórico, emanado da Imutável Onipotência Divina, foram projetadas as primeiras Ideias Criadoras numa vida isolada, como que independentes; deste modo deu-se a primeira separação e formação de vidas limitadas pelo espaço e tempo.

  2. Com isto surgiu o homem (Lúcifer), como receptáculo nega- tivo das Ideias Divinas e de certa maneira a Própria Divindade, ape- nas separado de sua Origem, porém consciente Desta e preso numa forma limitada, dentro dum imperativo imutável. Este estado não podia ser do seu agrado, tanto que seu sentimento altivo se atirou numa luta titânica contra a necessária limitação e projeção.

  3. Já que a luta se tornou cada vez mais intensa na primeira fileira dos seres (Lúcifer com seu séquito), foi preciso aguçar a Lei básica, prendendo-os num julgamento temporário e severo. Com isto surgiram os corpos cósmicos (matérias atômicas) e através deles a maior separação dos seres primários.

  4. Na segunda fileira dos seres aparece o homem na forma hu- mana (Adam), pisando o solo do seu primeiro julgamento. Apesar da terceira separação do Ser Primário, ele em breve reconheceu em si sua Origem Divina, tornando-se, porém, teimoso, orgulhoso e desobediente a uma Lei então já facultativa e que não exigia o impe- rativo categórico, mas o dever moral emanado do seu livre arbítrio!

  5. Não querendo, pois, sujeitar-se e desvirtuando esta Lei, foi-

-lhe imposta uma outra bem penosa, sancionada com toda violência e de execução pontual (vide dilúvio).

  1. Após esta lição, o Ser Divino veio ao mundo na pessoa de Melchisedek, guiando os homens; mas não levou tempo e as criatu- ras começaram novamente a combater, tanto que foram algemadas por novas leis e conduzidas à ordem (Lei Mosaica), de sorte a lhes restar somente movimentação maquinal, impedindo de se manifes- tarem em quase todas as inclinações.

  2. Logo, criou-se pela Lei um abismo imenso, intransponível, tanto para o espírito como para a criatura, pondo em dúvida sua consciência íntima e a possibilidade da continuação eterna desta vi- da tão limitada.

  1. Depois desta restrição, eis que surge o Ser Divino em Sua Própria Plenitude, na Pessoa de JESUS CRISTO.

  2. Com Ele apareceu de novo a Graça Eterna, tomando a Si todas as fraquezas humanas e dando às criaturas, em troca, uma no- va Graça, uma nova Vida cheia de Luz Verdadeira, mostrando-lhes, nesta Luz e por Si Mesmo, o Verdadeiro Caminho e a Finalidade de sua vida.

18.DEUSNUNCAFOIVISTOPORALGUÉM;OFILHOUNIGÊNITO,QUEESTÁNOSEIODOPAI,NO-LO DECLAROU.

  1. Somente agora as criaturas — que até então jamais pude- ram ver a Deus em Sua Plenitude — conseguiram o Seu Verdadeiro Conhecimento em Jesus, podendo mirá-Lo de perto e fora de si, vendo, através Dele, a si mesmas e a finalidade duma vida libérrima.

  2. Com isto o abismo intransponível provocado pela Lei foi abolido e toda criatura pôde e poderá afastar-se de seu jugo, trocan- do o velho “eu” pelo novo, de Cristo. Tanto que se lê: Quem ama sua vida de antanho, perdê-la-á; quem, porém, a abandonar, recebê-la-á (a vida nova)! Eis aqui a anunciação do Seio do Pai e o Evangelho Vivo de Deus!

  3. A expressão “Aquele que está no Seio do Pai” quer dizer o seguinte: A Sabedoria Divina ou o Próprio Ser Divino está no Amor, assim como a luz está dentro do calor; tendo sua origem na chama flamejante deste amor e, finalmente, produzindo de novo o calor através de sua existência, esta, por sua vez, produz novamente a luz. Igualmente surge do Amor, que é o Pai em Si, a Luz da Sabe- doria Divina, que é o Filho, tanto que Pai e Filho são UM, como a luz e o calor são idênticos, pois o calor gera constantemente a luz e vice-versa.

5. João Baptista testemunha de si mesmo. Motivo por que nega o espírito de Elias dentro de si. Confissão humilde do predecessor do Messias. Ideia errônea dos sacerdotes sobre a Vinda do Cristo. Repetido e claro testemunho de João a respeito do Senhor. (João 1, 19–30)

19. E ESTE É O TESTEMUNHO DE JOÃO QUANDO OS JUDEUSMANDARAM DE JERUSALÉM SACERDOTES E LEVITAS PARAQUELHEPERGUNTASSEM:“QUEMÉS TU?”

  1. Este versículo representa um fato puramente exterior, por- tanto não tem sentido espiritual; apenas dele se deduz, facilmente, que a noção espiritual dos judeus, naquela época, pressentiu que a Luz, ou o Ser Divino, aproximava-Se dos homens e já devia estar sobre a terra. Conjecturavam que esta Luz Se encontrasse, talvez, em João, e que fosse o Messias prometido.

  2. Por isto, mandaram lhe perguntar, não levados pela chamada à penitência de João, mas sim pelo dito pressentimento, quem era ele: se Cristo, se Elias ou, então, um outro profeta.

    1. E CONFESSOU E NÃO NEGOU, DIZENDO: “EU NÃO SOU O CRISTO,OMESSIAS PROMETIDO.”

    2. EPERGUNTARAM-LHE:“QUEMÉS,ENTÃO?ÉSTU ELIAS?”

      • ELERESPONDEU:“NÃOSOU!”“ÉSTUO PROFETA?”

      • RESPONDEU: “NÃO!”

  3. O motivo por que lhe perguntavam quem era baseava-se nas Escrituras proféticas, onde constava que Elias viria antes do Messias Prometido, preparando toda Israel para Sua Chegada Grandiosa! Da mesma maneira deveriam ainda surgir, em tal época, outros profetas que, igualmente, precederiam o Messias. Tudo isto os enviados de Je- rusalém sabiam, perguntando a João a respeito — e ele tudo negava.

22. DISSERAM-LHE, POIS: “QUEMÉS, PARAQUEPOSSAMOSDAR RESPOSTAS AOS QUE NOS ENVIARAM? QUE PENSASDETI MESMO?”

  1. Por isto lhe perguntavam quem era.

23. ELE REPLICOU: “EU SOU A VOZ QUE CLAMA NO DESERTO: PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR, COMO DISSE OPROFETA ISAÍAS.”

  1. João, porém, confessa ser apenas alguém que clama no de- serto, preparando o caminho do Senhor, de acordo com a profecia de Isaías.

  2. Com muita razão se poderia perguntar por que João pregava penitência no deserto, que quase não é habitado; pois seria mais razoável procurar lugares que fossem bastante povoados. Que adian- taria clamar num deserto árido, onde o eco se perderia muito antes de atingir o ouvido de alguém? E mesmo se tal acontecesse, não seria suficiente para um fator de tão grande importância para todas as criaturas!

  3. A esta pergunta respondo que, pela palavra “deserto”, não se deve compreender o conhecido deserto de Bethabara, situado além do rio Jordão, mas sim o espiritual no coração dos homens. O deser- to no qual João realmente viveu, pregou e batizou foi escolhido para este fim unicamente para demonstrar às criaturas como seu estado atual de sentimentos, seus corações estavam não só vazios, sem bons pensamentos ou intenções, mas repletos de espinhos, ervas daninhas e serpentes. Neste deserto aparece João, qual se fora uma consciência despertada, o que ele, espiritualmente falando, também representa; prega a penitência pelo perdão dos pecados, preparando deste modo o caminho do Senhor para os corações empedernidos dos homens.

  4. Resta agora responder por que João não afirmava que era Elias ou um outro profeta, pois, pelo Meu Próprio Testemunho, dado oportunamente aos apóstolos e demais ouvintes, afirmei que João era Elias, que Me devia preceder.

  5. A causa de sua negação foi que ele só se cognominava pela atual finalidade, e não pelo que fora noutra encarnação. Elias teve que castigar e destruir Moloch; João, porém, clamava pela penitên- cia, dava o perdão dos pecados pelo batismo com água, preparando, assim, Meu caminho. Eis por que só dizia aquilo que realmente era.

  1. ORA,ELESTINHAMSIDOENVIADOSPELOS FARISEUS.

  2. PERGUNTARAM-LHE,TAMBÉM:“PORQUE,ENTÃO,BATIZAS, SE TU NÃO ÉS O CRISTO, NEM ELIAS, NEM O PROFETA?”

  1. Como o batismo só podia ser efetuado pelos sacerdotes ou profetas destinados para este fim, os fariseus, enciumados, pergunta- vam a João como podia fazê-lo, não sendo um nem outro.

26. RESPONDEU-LHESJOÃO:“EUBATIZOCOMÁGUA;NOVOSSO MEIO ESTÁ AQUELE PELO QUAL PERGUNTAIS — EVÓSNÃOO RECONHECEIS!”

  1. João dizia: “Eu batizo apenas com água, quer dizer, lavo somente os corações impuros para a recepção Daquele que, de certo modo, já Se encontra há muito tempo entre vós, mas que, em vossa cegueira, não reconheceis.”

  2. Aqui se subentendem todas as criaturas que, à Minha busca, atravessam mares e terras, perguntando a todos os sábios: “Onde está o Cristo, quando e de onde Ele virá?” — No entanto, o Verda- deiro, não O procuram em seus corações, onde Ele construiu uma morada para Si!

  1. É AQUELE QUE HÁ DE VIR DEPOIS DE MIM, E DO QUAL EUNÃOSOUDIGNODEDESATARACORREIADAS SANDÁLIAS.”

  2. ISTO PASSOU-SE EM BETHABARA, ALÉM DO JORDÃO, ONDEJOÃOESTAVA BATIZANDO.

  1. Vede o testemunho humílimo de João perante os sacerdotes e levitas, pois sabia perfeitamente Quem, no Cristo, havia pisado a terra. Mas tal não interessava aos fariseus, não lhes agradava um Messias humilde, pobre e desprovido de toda pompa, mas um que a todos apavorasse.

  2. O Messias deveria, logo de saída, fazer-Se acompanhar por milhares de anjos; deveria morar unicamente no Templo, depor e aniquilar todos os potentados existentes — e, em seguida, tornar

todos os judeus imortais, munindo-os de todo o ouro do mundo; deveria arremessar centenas de montanhas, aparentemente inúteis, para dentro do mar e determinar o extermínio da plebe suja e imun- da! Isto feito, eles acreditariam Nele, exclamando: “Senhor, Tu és tremendamente poderoso, todos nós temos que nos curvar e ajoe- lhar no pó diante de Tua Santidade, e o Sumo Pontífice não merece desatar a correia de Tuas sandálias!”

  1. Cristo, porém, veio ao mundo muito pobre, pequenino e aparentemente fraco; durante trinta anos (com exceção do tempo até Seus doze anos) não deu provas de Si diante dos potentados, trabalhando pesadamente como carpinteiro na companhia de Jo- sé, mais tarde lidando com o reles proletariado. Como poderia ser este o Messias há tanto tempo esperado pelos judeus orgulhosos e sapientes? “Longe de nós tamanho blasfemador, um mago que exe- cuta seus milagres com ajuda do príncipe dos diabos! Um ajudante de carpinteiro, ordinaríssimo, rude e bruto, que anda descalço e é amigo da mais ínfima gentalha, aceita as prostitutas, come e bebe com os mais conhecidos ladrões, age por todos os meios contra as leis — este o Cristo, o Messias Prometido?! — Não! Nunca uma ideia tão blasfemadora poderá surgir dentro de nós!”

  2. Eis o julgamento dos judeus sábios e orgulhosos sobre Mi- nha Integral Presença na terra; e esta opinião persiste, ainda hoje, entre milhões de criaturas, que nada querem saber de um Deus mei- go, humilde e cumpridor de Suas palavras.

  3. O Ser Divino, para estas criaturas, deve primeiro: morar acima de todas as estrelas e, pela Sua Infinita Sublimidade, qua- se não ter existência; só poderá criar sóis, se quiser ser um Deus Digno! Segundo: não deve atrever-Se a apresentar qualquer forma, muito menos a forma humana; deve, sim, ser algum monstro in- compreensível.

  4. Terceiro: se o Cristo realmente pudesse ser Deus em Pessoa, só poderia comunicar-Se pela Palavra Vivificante a pessoas de classe, a certas sociedades, concílios, a devotos extraordinários, a hipócri- tas munidos de uma auréola santificadora, transmitindo ao mesmo

tempo a estes felizardos o poder de remover montanhas; se não fosse assim, nada feito com o Divino Verbo e a Revelação do Cristo!

  1. O Senhor jamais deveria lidar com leigos ou pecadores; pois, neste caso, a Revelação seria suspeita e não aprovada, assim co- mo Eu não fui aceito pelos levitas, pois Minha Apresentação perante seus olhos ambiciosos era tudo, menos Divina. — Mas isto não vem ao caso! Prevalece, unicamente, o testemunho de João!

  2. O mundo será sempre o mesmo e continuará a ser o deserto de Bethabara, onde João deu seu testemunho. Mas Eu também sou sempre o Mesmo e Me apresento entre as criaturas para reprimir seu orgulho e vivificar a verdadeira humildade e amor! Felizes os que Me reconhecem e aceitam, como o fez João pelo seu testemunho em alta voz, aborrecendo com isto os sacerdotes e levitas de Jerusalém!

29.NODIASEGUINTEJOÃOVIUJESUS,QUESEDIRIGIAAELE,EDISSE: “EIS O CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRA OS PECADOSDO MUNDO!”

  1. No dia seguinte João repete seu testemunho, na ocasião em que os indagadores ainda se encontravam em Bethabara, perguntan- do qual era sua ação e em que consistiam suas prédicas; isto justa- mente na hora em que Eu vim do deserto para perto dele e lhe peço que Me batize com águas do Jordão.

  2. Enquanto Me aproximava, João chama a atenção do diri- gente desses pesquisadores, que lhe confessa ter refletido muito so- bre suas palavras. João diz: “Eis que vem o Cordeiro de Deus, que toma a Si todas as fraquezas humanas a fim de que as criaturas que O receberem possam adquirir uma nova vida, tendo, deste modo, o direito de se chamarem Filhos de Deus; pois Jehovah não vem na tempestade, nem pelo fogo, mas sim no sussurro delicado!”

30. ESTE É AQUELE DO QUAL EU DISSE: “APÓS MIM VIRÁ UM HOMEMQUEERAPRIMEIROQUE EU.”

  1. João repete, mais uma vez, o que tinha declarado no dia an- terior a Meu respeito, provando, de um lado, que Eu venho ao mun-

do como se fora um espelho de verdadeira e necessária humildade humana para ajudar as criaturas em sua fraqueza, e nunca em sua suposta força! De outro lado, ele também afirma que o mencionado Cordeiro de Deus é a Causa de todo Ser, ou seja, Deus Encarnado! A expressão “Ele era primeiro do que eu” quer dizer que João — reconhecendo, num momento, seu espírito elevado — explica aos emissários que, embora nele habite o mesmo arcanjo, ele havia sido projetado não pelo seu próprio poder, mas pelo Ser Primário, que reside unicamente no Cordeiro Divino. Com esta projeção, que em si é uma obra real do Espírito Primário, inicia-se a primeira era, an- tes da qual nada existia no infinito a não ser o Espírito de Jehovah, sendo o Mesmo como Se apresenta visivelmente neste Cordeiro Di- vino e deseja ser batizado por ele.

6. João confirma ter reconhecido o Senhor como homem. Ele batiza o Senhor com água, e Este a João com o Espírito Santo. Testemunho do Pai a respeito de Seu Filho. (João 1, 31–34)

31. EU TAMBÉM NÃO O CONHECIA. MAS, A FIM DE QUE ELE FOSSE MANIFESTADO A ISRAEL, EU VENHO BATIZANDOCOM ÁGUA.

  1. Era muito natural que os pesquisadores perguntassem a João: “Desde quando conheces este homem estranho e de onde tiraste estas informações?” — Sua resposta era simplesmente que ele, como homem, não conhecia o Senhor; Seu Espírito, porém, lhe revelara isto, impulsionando-o a preparar as criaturas para Sua Vinda, lavan- do as grandes chagas do pecado com as águas do Jordão.

32. E JOÃO TESTIFICOU, DIZENDO: “EU VI O ESPÍRITO DE DEUS DESCER DO CÉU, COMO POMBA, E PERMANECER SOBRE ELE.”

  1. Após o testemunho de João, os pesquisadores examinaram bem “este homem” durante o batismo, que ele, no princípio, ne- gava-se a efetuar, dizendo que seria mais justo que Eu o batizasse! Mas, como Eu insistisse, João cedeu, afirmando que Meu Espírito

Divino se apresentava numa nuvem mui luminosa, qual se fora uma pomba, pousando sobre a Minha Cabeça; e eis que ele escuta as seguintes palavras:

  1. “Eis o Meu Filho amado em Quem Me comprazo, a Minha Própria Origem Primária! A Este deveis ouvir!”

33. EU NÃO O CONHECIA, MAS O QUE ME ENVIOU A BATIZAR COMÁGUADISSE-ME:“AQUELESOBREQUEMVIRESDESCER O ESPÍRITO E FICAR SOBRE ELE, ESSE É O QUEBATIZACOMOESPÍRITO SANTO.”

  1. Por tal razão é que João disse: “Se não tivesse estas provas, não O reconheceria!”

34. EU TENHO VISTO E TESTIFICADO QUE ELE É O FILHO DE DEUS.

  1. Depois do batismo, João conta aos levitas as provas que teve, reafirmando, novamente, que o Batizado é o Cordeiro de Deus, o Messias esperado por toda Israel, em síntese, Deus Encarnado!

  2. Ele, João, vira com seus próprios olhos o Espírito Divino pousar sobre Jesus, não como se com isto Ele O houvesse recebido, mas sim esta aparição se dera, unicamente, para o testemunho dele, que, até então, ainda não O conhecia.

  3. Poderia surgir quem perguntasse se os enviados de Jerusalém nada disto perceberam; e eis a mesma resposta, para todos os tem- pos: estas coisas são ocultas aos sábios e entendidos, mas reveladas aos pequeninos!

  4. Portanto, os levitas só viram um batismo comum, e se enfu- receram bastante quando souberam dos milagres que João dizia ter visto, acusando-o de mentiroso; mas os discípulos de João o defen- deram, dizendo que ele havia dito a verdade!

  5. Eles, porém, não aceitaram esta alegação, exclamando: “Vos- sa defesa é duvidosa, pois sois os discípulos de João; nós somos co- nhecedores das Escrituras que foram dadas por Deus aos profetas, e estamos verificando que todos vós sois doidos e contaminais o povo;

este caso já está se tornando um incômodo para os sacerdotes e me- lhor seria prender-vos todos!”

  1. Nisto João se irrita e diz: “Raça de víboras que sois! Jul- gais, com isto, escapar do julgamento? — Vede, o machado que nos era destinado já atingiu as vossas raízes; cuidai em escapar da vossa destruição! Se não fizerdes penitência e aceitardes o batismo, sereis aniquilados!

  2. Em verdade vos digo! Este é Aquele de Quem vos falei: Após mim virá Quem era antes de mim! De Sua plenitude recebe- mos graça por graça!”

  3. Após esta advertência de João, alguns aceitam o batismo; a maior parte, porém, afasta-se cheia de raiva.

  4. Estes versículos transmitem apenas fatos históricos, sem sentido mais profundo; somente vale mencionar que serão mais fa- cilmente compreendidos quando acompanhados pelas circunstân- cias. Na época em que se escrevia o Evangelho, era hábito omitir tudo que pudesse ser deduzido, isto é, fazia-se necessário “ler entre linhas”. Exemplo para isto são os três versículos que se seguem.

7. Três versículos como exemplo da maneira de se escrever naquela época. (João 1, 35–37)

35.NODIASEGUINTE,JOÃOESTAVAOUTRAVEZ,COMDOISDESEUS DISCÍPULOS.

  1. Aqui surge a pergunta: Onde estava ele? E os dois discípulos? Estavam perto dele? — É evidente que tampouco foram apontados o lugar e a ação dos dois discípulos.

  2. Por que o evangelista não teria feito menção disto?

  3. A razão já foi mencionada acima; considerando a maneira como se escrevia naquela época, deduz-se que João Baptista se en- contrava perto do rio Jordão, à espera de alguém que quisesse ser batizado. Possuindo já vários discípulos que ouviam e anotavam sua doutrina, sempre havia dois e, às vezes, vários ao lado dele, para au- xiliá-lo nesta incumbência.

  1. Portanto, escrevia-se apenas o fato principal, unindo pela conjunção “e” as frases que tivessem ligação entre si. Estas conjun- ções quase sempre eram anotadas por sinais próprios.

  2. Esta explicação não é evangélica, porém muito necessária, porquanto sem ela os Evangelhos, no seu sentido histórico, qua- se que não poderiam ser compreendidos e, no sentido espiritual, muito menos; os livros proféticos do Velho Testamento, nos quais só se falava em sentido figurado, esses apresentariam uma dificulda- de absoluta.

36.E,OLHANDOPARAJESUSQUEPASSAVA,DISSE:“EISALIOCORDEIRODE DEUS.”

  1. Esta conjunção demonstra um fato que se prende ao ante- rior, mostrando que Jesus, após o batismo, ainda se deteve por al- gum tempo perto de João Baptista.

  2. Ao vê-Lo, João Baptista exclama num entusiasmo elevado: “Vede, o Cordeiro de Deus!” Na época atual ele teria se expressado da seguinte maneira: “Vede, ainda hoje caminha à beira do rio o Supremo Homem-Deus, tão despretensioso e humilde como um cordeiro!” João, porém, fala apenas conforme consta do versículo.

37.EOSDOISDISCÍPULOS,OUVINDO-ODIZERISTO,SEGUIRAMA JESUS.

  1. Este versículo apenas é a consequência dos dois precedentes e também começa pela conjunção “e”.

  2. No texto original, lê-se apenas: “E dois discípulos, ouvindo-

-o falar, seguiram a Jesus.” Para a nossa época este versículo pode- ria constar da seguinte maneira, sem alterar seu sentido: “Quando os dois discípulos, que acompanhavam João Baptista, ouviram seu mestre falar assim, abandonaram-no e se dirigiram a Jesus; e, como Jesus estivesse prestes a deixar esse lugar, eles O seguiram.”

  1. Tudo que acaba de ser mencionado aconteceu tal e qual, senão o fato não poderia ter ocorrido. Mas, como já foi dito, de acordo com a maneira de escrever, só se apontam as palavras “ou-

vir” e “seguir”, omitindo o que as pudesse ligar. Compreendendo-se isto, tanto a parte histórica como o sentido intrínseco poderão ser assimilados.

8. Os primeiros discípulos do Senhor. Sua choupana no deserto como origem da vida dos ermitãos. André e Pedro, dois irmãos pescadores. Ensinamento importante, por ocasião da aceitação de Pedro, sobre a solicitude do Senhor e o verdadeiro testemunho íntimo. (João 1, 38–42)

38. VOLTANDO-SEJESUSEVENDOQUEELESOSEGUIAM,PERGUNTOU-LHES: “QUE BUSCAIS?” — DISSERAM-LHE:“RABI,ONDE ASSISTES?”

  1. Também este texto é mais histórico do que espiritual, pois inicia-se a convocação ainda material dos apóstolos, na mesma zona onde João Baptista se mantinha — em Bethabara, um lugar paupér- rimo e habitado por pobres pescadores. Eis a razão por que os dois discípulos perguntam onde moro.

  2. Como Eu, pessoalmente, tinha permanecido antes do batis- mo perto de quarenta dias nesta zona, preparando a Minha natu- reza humana pelo jejum e outros exercícios para a doutrinação que iniciaria, era evidente que necessitasse de um albergue numa zona deserta e árida, que se prestava muito para esta finalidade.

  3. Os dois discípulos sabiam que Eu, desde algum tempo, en- contrava-Me ali; possivelmente, tinham Me visto várias vezes, sem saber quem Eu era. Assim, não perguntaram pelo Meu lugar de nascimento, mas pelo albergue em Bethabara, onde as cabanas dos pescadores eram construídas de barro e junco e mal davam para um homem ficar de pé.

  4. Em uma cabana semelhante — obra Minha — Eu habitava, bem dentro do deserto. Dali surgiram as eremitagens, tão conheci- das em todos os países cristãos.

39. ELE RESPONDEU: “VINDE E VEREIS.” — FORAM, POIS, E VIRAM ONDE ASSISTIA; E FICARAM AQUELE DIA COM ELE.ERA,MAISOUMENOS,AHORA DÉCIMA.

  1. Esta cabana, portanto, não ficava longe do lugar onde se en- contrava João Baptista. Por isto, Eu dissera aos dois discípulos: “Vinde e vereis.” Acompanhando-Me até lá, não se admiraram pouco que o Enviado de Deus habitasse a cabana mais pobre, dentro do deserto!

  2. Isto, porém, não se deu na época do ano em que as comuni- dades cristãs de hoje se dedicam ao jejum de quarenta dias, mas sim dois meses mais tarde. Quanto à hora da nossa chegada ao albergue, era mais ou menos a décima, quer dizer, às três da tarde de nossa épo- ca. Pois lá a aurora determinava a primeira hora do dia. Como isto não se dava sempre com a mesma regularidade, o horário só poderá ser mencionado de maneira vaga. Como os dois discípulos ficassem Comigo até o pôr-do-sol, poder-se-ia indagar o que fizemos nesse tempo. Compreende-se que Eu os ensinava sobre sua futura missão e que tencionava angariar outros mais de boa vontade, como eles. Ao mesmo tempo, incumbi-os de fazerem o mesmo com seus colegas. Quando veio a noite, Eu os despedi e eles voltaram pensativos para seus lares; tinham mulheres e filhos e não sabiam o que fazer.

40. ANDRÉ, IRMÃO DE SIMON PEDRO, ERA UM DOS DOIS QUE OUVIRAMJOÃOFALAREQUESEGUIRAMA JESUS.

  1. Um deles, chamado André, logo se decide e quer Me seguir a todo preço; por isto, procura seu irmão Simon, que andava ocupado alhures com suas redes.

41. ELE PROCUROU PRIMEIRO SEU IRMÃO SIMON E LHE DISSE: “ACHAMOS O MESSIAS.” (MESSIAS SIGNIFICA O MESMOQUE CRISTO)

  1. Assim que o encontra, logo lhe revela que tinha encontrado o Messias com mais um discípulo, cuja resolução em Me seguir não era tão firme.

42. E O LEVOU A JESUS. JESUS, OLHANDO PARA ELE, DISSE: “TU ÉS SIMON, FILHO DE JONAS; SERÁS CHAMADO KEPHAS.”(SIGNIFICAPEDRO,UMA ROCHA)

  1. Simon, que alimentava em sua imaginação feitos fantásticos do Messias Prometido e achava que Ele devia ajudar os pobres e extermi- nar os ricos egoístas, disse a André: “Não temos um segundo a perder; abandonarei tudo e, se for preciso, segui-Lo-ei até o fim do mundo. Tenho que falar com Ele ainda hoje, amanhã talvez seja tarde.”

  2. Diante desta insistência de Pedro, André o conduziu até Mim; quando a uns trinta passos do albergue em que Eu Me hos- pedara, eis que Pedro para extasiado e diz a André: “Coisa estranha estou sentindo, tenho receio de ir além e, ao mesmo tempo, estou ansioso por vê-Lo!” Neste momento, apareço diante deles; Pedro é imediatamente aceito, como todos que Me procuram com o cora- ção, e recebe até um nome novo, que significa uma rocha de fé em Mim, pois desde muito tempo Eu sabia qual sua índole.

  3. Para Pedro, isso foi prova suficiente de que Eu era o Mes- sias; daí por diante não duvidou, nem Me fez perguntas a esse respeito, pois seu coração era a única testemunha válida e certa para ele. Ambos ficaram Comigo até a manhã e não me dei- xaram mais.

9. Prova de renúncia dos dois primeiros discípulos. A pátria de Pedro. Convocação de Philippe, um pobre professor; seu pressentimento a respeito do Messias; minúcias de sua convocação. Esta explicação como guia para a luz viva. (João 1, 43–51)

43.NODIASEGUINTERESOLVEUJESUSIRÀGALILEIA,ENCONTROUPHILIPPEELHEDISSE: “SEGUE-ME!”

  1. No dia seguinte Eu disse aos dois: “Meu tempo aqui no de- serto findou; voltarei à Galileia. Quereis acompanhar-Me? Tendes o livre arbítrio de fazê-lo, pois sei que possuís família e ser-vos-á difícil abandoná-la. Ninguém, no entanto, perderá o que abandona por amor a Mim, mas lhe será restituído inúmeras vezes.”

  2. Responde Pedro: “Senhor, por amor a Ti, deixaria minha vi- da, quanto mais minha família! Ela viverá sem mim, pois sou pobre e tenho dificuldade para conseguir o alimento necessário. Nossa pes- ca sustenta, quando muito, uma boca; meu irmão André que o diga.

Nascemos em Bethsaída, mas a subsistência encontramos somente às margens desertas do Jordão, que, no entanto, é rico em peixes. Nosso pai Jonas, nossas mulheres e irmãs são fortes; com a bênção do Alto, facilmente se manterão!” Eu elogio ambos e, em seguida, encetamos nossa marcha.

44. PHILIPPEERADEBETHSAÍDA,CIDADEDEANDRÉEDE PEDRO.

  1. Durante o trajeto nas margens do rio, deparamos com Phi- lippe, também nascido em Bethsaída, que desde cedo havia se mu- nido de uma rede um tanto rasgada à procura de um almoço nas águas do rio. Pedro, apontando-o a Mim, diz: “Senhor, este homem é um sofredor e muito pobre, porém honesto e devoto! Que tal se lhe permitisses que nos acompanhasse?”

  2. A esta proposta amável de Pedro, Eu apenas digo: “Phili- ppe, segue-Me.” Este não se faz de rogado, joga para longe sua rede e Me segue, sem perguntar para onde vamos. A caminho, Pedro dirige-se a ele, dizendo: “Estamos seguindo o Messias!” — Phili- ppe responde: “Isto senti no meu coração, no momento em que me chamou!”

  3. Philippe era solteiro e professor, pois tinha alguns conheci- mentos da Escritura. Era também conhecido de José, portanto Me conhecia e sabia dos fatos ocorridos durante Meu nascimento e adolescência. Ele era um dos poucos que esperavam, intimamente, que Eu fosse o Messias; mas, como vivi e trabalhei como homem comum desde os Meus doze anos, o milagre que envolvia o Meu nascimento já se tinha desfeito pela Minha posterior simplicidade. Philippe, porém, guardava um certo pressentimento com referência à Minha Pessoa, pois não ignorava as profecias feitas no Templo por Simeon e Anna.

    1. PHILIPPE ENCONTROU NATHANAEL E DECLAROU-LHE: “ACHAMOSAQUELEDEQUEMESCREVEUMOYSÉSNALEIE DE QUEM FALARAM OS PROFETAS: JESUS DE NAZARETH,FILHODE JOSÉ.”

    1. PERGUNTOU-LHE NATHANAEL: “DE NAZARETH PODE SAIR COISAQUEBOA SEJA?”

  1. Nathanael vira-se um tanto irritado e diz: “Quem não co- nhece este antro de Nazareth? Que benefício poderia advir dali? Muito menos o Messias!”

  2. Philippe responde: “Eu bem sei que foste sempre meu adver- sário neste ponto, embora te desse as minhas razões em favor dele. Agora vem e convence-te, logo me darás razão.”

  3. Nathanael levanta-se pensativo e diz: “Amigo, isto seria um milagre dos milagres! Sabemos que a gentalha de Nazareth é a pior que se possa imaginar! Pois não é verdade que com u’a moeda romana tudo se consegue de um nazareno? Lá, há muito tempo, não existe mais fé em Moysés nem nos profetas; e tu dizes que de lá veio o Mes- sias e que me queres levar até Ele? Bem, seja lá o que Deus quiser!”

  1. JESUS, VENDO NATHANAEL APROXIMAR-SE, DISSE DELE: “EIS UM VERDADEIRO ISRAELITA, EM QUEM NÃO HÁ DOLO!”

  2. PERGUNTOU-LHENATHANAEL:“DONDEME CONHECES?”

RESPONDEUJESUS:“ANTESDEPHILIPPECHAMAR-TE,EUTEVI,QUANDOESTAVASDEBAIXODA FIGUEIRA!”

  1. Nathanael admira-se muito desta real pretensão de Minha parte e pergunta: “Donde me conheces, para fazer este critério de mim? O meu íntimo só é conhecido por Deus e por mim; eu, po- rém, nunca fui ostentador e elogiador de minhas próprias virtudes, portanto como podes saber de minha índole?” — Eu, porém, afir- mo: “Antes que Philippe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, Eu te vi!”

49. REPLICOU-LHENATHANAEL: “MESTRE, TUÉSOFILHODEDEUS,TUÉSOREIDE ISRAEL!”

  1. Esta afirmação surpreende profundamente Nathanael, que, tomado de uma grande excitação, exclama: “Mestre, Tu és verda-

deiramente o Filho de Deus! Sim, infalivelmente és o Rei de Israel, esperado por tanto tempo e que irá salvar o Seu povo das garras do inimigo! Ó Nazareth! Como foste pequenina e como te tornaste grande! A última das cidades será a primeira! Senhor, quão rapida- mente Me deste a fé! Como é possível que todas as minhas dúvidas se tenham evaporado, para que eu cresse convictamente que Tu és o Messias Prometido?”

  1. DISSE-LHE JESUS: “POR EU TE DIZER QUE TE VI DEBAIXO DA FIGUEIRA, CRÊS? MAIORES COISAS DO QUE ESTAS VERÁS!”

  2. E ACRESCENTOU: “EM VERDADE, EM VERDADE VOS DIGO, VEREIS O CÉU ABERTO E OS ANJOS DE DEUS SUBINDO EDESCENDOSOBREOFILHODO HOMEM.”

  1. De agora em diante, podereis conseguir o renascimento pe- lo vosso espírito; as portas da Vida se abrirão, e vós, como anjos, vereis outros neste subir e descer; ao mesmo tempo, observareis os arcanjos descerem para junto de Mim, que sou o Senhor de toda Vida, pisando, assim, nas pegadas do Filho do homem, de acordo com o exemplo e testemunho de João!

2º CAPÍTULO

AS BODAS DE CANÁ NA GALILEIA A PURIFICAÇÃO DO TEMPLO

  1. O Senhor com os quatro discípulos na casa de seus pais. José havia morrido. Ponto de vista errôneo de Maria em relação à ação do Messias. Jacob, João e Thomaz são aceitos como apóstolos. Ensinamento a respeito da interpretação espiritual dos acontecimentos nas Bodas de Caná. Os três estados do renascimento. (João 2, 1–5)

    1. E AO TERCEIRO DIA FIZERAM-SE UMAS BODAS EM CANÁ DAGALILEIA,EAMÃEDEJESUSESTAVA PRESENTE.

  1. Estas bodas se realizaram na casa de uma família conheci- da de José, que já havia falecido. Acompanhado por Meus quatro

discípulos, passei um dia inteiro em casa de Maria, Minha Mãe, que se desfazia em atenções junto de Meus demais irmãos para bem servir-nos.

  1. Ela sentia no seu íntimo que o tempo havia chegado para o início de Minha Manifestação como Messias; ignorava, porém, de que maneira isto se daria. Por enquanto, também acreditava na ex- pulsão completa dos romanos e na reconstrução do trono poderoso de David, sua glória incontestável, inatingível e eterna.

  2. A boa Maria e toda Minha Parentela terrestre imaginavam o Messias como vencedor dos romanos e outros inimigos da Terra Abençoada. De fato, os melhores entre eles tinham uma ideia simi- lar em relação ao Messias, assim como no presente muitas pessoas honestas têm uma noção bastante errônea acerca do Reino dos Mil Anos. Mas o tempo não era chegado para dar-lhes uma explicação diferente.

  3. Se todos os Meus, inclusive Maria, mantinham esta opinião, é fácil deduzir que outras famílias conhecidas não poderiam ter um ponto de vista melhor.

  4. Por este motivo, a atenção por parte de todos não se prendia somente a Mim, mas também àqueles que Eu designava como dis- cípulos. Tanto que Jacob e João resolveram acompanhar-Me, por ser compreensível que muita coisa que Eu lhes havia claramente predito na Minha Infância já tivessem esquecido.

2.EJESUSTAMBÉMFOICONVIDADOÀSBODASCOMSEUS DISCÍPULOS.

  1. Durante as bodas, que aliás eram bem paramentadas e on- de todos estavam alegres e satisfeitos, os Meus quatro discípulos de Bethabara se dirigiram a Mim, dizendo: “Senhor, aqui se vive bem melhor do que em Bethabara! Talvez esta refeição, tão bem preparada, agradasse mais a João do que o mel de abelhas silves- tres e os gafanhotos escaldados, que perfazem comumente o seu alimento!”

  1. Respondo Eu: “A razão por que João precisa viver assim, não compreendeis agora; é preciso que assim seja para que se cumpra o que consta da Escritura. Brevemente, porém, terá vida melhor, pois Jerusalém não permitirá que ele se manifeste por mais tempo no deserto. É preciso que ele diminua, para que Outro cresça!

  2. Que há com o discípulo que chegou a Mim junto contigo, André? Ele nos acompanhará ou ficará em Bethabara?” — Responde André: “Eis que ele vem aí; certamente foi organizar os seus afaze- res.” — Digo Eu: “Muito bem, porque onde existe um Pedro, o Thomaz não poderá faltar!” — Diz André: “Sim, este é seu nome; é alma honesta e generosa, porém cheia de escrúpulos e dúvidas, mas, uma vez que aceita algo, não o renega tão facilmente. Ele está aqui; posso chamar este gêmeo espiritual?” — Digo Eu: “Sim, faze isto, porque quem vem em Meu Nome deve ser convidado às bodas!”

3.TENDOACABADOOVINHO,AMÃEDEJESUSLHEDISSE:“ELESNÃOTÊMMAIS VINHO!”

  1. De acordo com os hábitos daquela época, um conviva recém-

-chegado devia ser recebido com um cálice de vinho. Maria já tinha observado que o estoque de vinho se esgotara, tanto que Me diz em surdina: “Meu querido Filho, que situação embaraçosa! Não há mais vinho! Não poderias Tu arranjar algum para o recém-vindo?”

4.JESUSLHEDISSE: “MULHER, QUETENSAVERCOMIGO?AINDANÃOÉCHEGADAAMINHA HORA!”

  1. Esta Minha resposta ambígua dada a Minha Mãe perante os convivas desgosta a muitos que desconhecem os costumes de tal época, mormente em Nazareth, pois a exclamação “mulher” signi- fica “mãe”, e a resposta toda é: “Mãe, que temos Eu e tu a ver com isto? Como conviva que sou, não Me compete cuidar do vinho, pois o Meu Tempo ainda não é chegado!”

5.SUAMÃEDISSEAOSSERVENTES:“FAZEITUDOQUANTOELEVOS DISSER!”

  1. Até aqui temos fatos históricos, mas pessoa alguma, possui- dora de capacidade intelectiva mais profunda, poderá negar o senti- do espiritual e, como tal, profético, que se prende aos mencionados acontecimentos.

  2. Acaso não é evidente que entre estas bodas (que se deram no terceiro dia depois de Minha Volta do deserto de Bethabara) e a Minha Ressurreição, a qual também ocorreu três dias após a Minha Crucificação, existe uma correspondência estranha?

  3. Nestas bodas é demonstrado, num sentido profético, o que Me sucederia três anos mais tarde, e, num sentido mais amplo, que Eu, como Noivo Eterno, iria festejar as Bodas Verdadeiras com to- dos os Meus discípulos e verdadeiros amadores em seu renascimento para a Vida Eterna!

  4. Num sentido prático, a história destas bodas representa os três estados evolutivos por que toda criatura tem que passar para conseguir o renascimento do espírito, ou seja, as Bodas da Vida Eterna na imensa Caná da Divina Galileia.

  5. Chamam-se estes três estados: primeiro, o domínio da car- ne; segundo, a purificação da alma pela fé viva, que se manifesta por obras de caridade; terceiro, o despertar do espírito da tumba do julgamento. Tudo isto se vos apresenta, num quadro real, na ressur- reição de Lázaro.

11. Os acontecimentos nas bodas de Caná. O milagre do vinho. Confissão de Pedro. Testemunho do Senhor a respeito da Sua Missão. Brinde importante de Pedro. Interpretações. (João 2, 6–11)

6.ORA, ESTAVAM ALI COLOCADAS SEIS TALHAS DE PEDRAQUEOSJUDEUSUSAVAMPARAASPURIFICAÇÕES, ELEVAVA,CADAUMA,DUASOUTRÊS METRETAS.

1. Depois de Maria ter advertido os serventes a fazerem o que Eu mandasse, exigi que estas talhas fossem enchidas de água.

7.DISSE-LHES JESUS: “ENCHEI DE ÁGUA AS TALHAS!” —ENCHERAM-NASATÉEM CIMA.

  1. Os serventes, pensando que o recém-vindo iria lavar-se, de pronto foram enchê-las. O hóspede entra e senta à mesa sem ter lavado as mãos. Os serventes, irritados com isto, perguntam entre si: “Para que enchemos as talhas, se este hóspede não faz uso da água contida nelas?” — Eu então lhes digo: “Por que não perguntastes an- tes? Não ouvistes Maria dizer que não havia mais vinho? Embora o Meu Tempo ainda não tenha chegado, Eu transformei a água dentro das talhas em vinho, para revelar a Glória Daquele que dizem ser seu Deus, porém nunca O reconheceram! Fiz isto não por magia, mas, unicamente, pela Onipotência Divina, que está dentro de Mim!”

    1. ENTÃOLHESDISSE:“TIRAIUMPOUCODOVINHOELEVAI-OAOMORDOMO.”ELESO FIZERAM.

    2. QUANDO ESTE PROVOU A ÁGUA TRANSFORMADA EM VINHO, DESCONHECENDO SUA PROCEDÊNCIA, CHAMOUONOIVOELHE DISSE:

    3. TODO HOMEM PÕE PRIMEIRO O BOM VINHO E, QUANDOOSCONVIVASTÊMBEBIDOBASTANTE,APRESENTA-LHESOINFERIOR;MASTUGUARDASTEOBOMATÉ AGORA!”

  2. O noivo, porém, responde: “Falas como um cego das cores. Vê, este vinho não foi extraído em parte alguma, veio como o Maná dos Céus para a nossa mesa; por isto, ele deve ser melhor do que qualquer vinho desta terra.”

  3. Diz o mordomo: “Achas, por acaso, que sou um doido? A não ser que Jehovah, Pessoalmente, ou Seu servo Moysés, sentasse a esta mesa!”

  4. Diz o noivo: “Vem e convence-te!”

  5. O mordomo se cientifica de que as seis talhas estão re- pletas do melhor vinho e diz: “Senhor, perdoa-me os pecados! Somente a Deus seria possível este milagre — e Deus deve estar entre nós!”

  6. O vinho, então servido aos outros, fez com que todos Me saudassem, acreditando que Eu fosse realmente o Messias.

  1. Pedro, porém, aproxima-se de Mim e diz: “Senhor, deixa que eu me afaste, não sou digno de permanecer a Teu lado, pois és Jeho- vah em Pessoa, como foi predito nos salmos de David!”

  2. Digo-lhe Eu: “Se te achas indigno de ficar a Meu lado, quem teria este mérito? Vê, Eu não vim por causa dos fortes, mas para aju- dar os fracos e doentes. São estes que precisam de médico. Portanto, continua Comigo, que já te perdoei teus pecados; se, por acaso, pe- cares em Minha Presença, também te perdoarei; terás que alcançar a perfeição na tua fraqueza, pela qual Me reconheceste e já te tornaste uma rocha de fé!”

  3. Ouvindo estes ensinamentos, os olhos de Pedro se enchem de lágrimas e ele diz: “Senhor, se todos Te abandonarem, eu nunca o farei, pois Tuas Palavras são Verdade e Vida!”

  4. Após isto, Pedro toma do cálice e exclama: “Um viva a Israel e três vivas a nós! Somos testemunhas da promessa feita! Realizou-se o que era difícil de se acreditar! Glórias Àquele que está entre nós e nos deu, pelo Seu Poder, este vinho, para que acreditássemos Nele e Lhe déssemos a honra devida!”

  5. Eu, porém, digo-lhe em particular: “Tuas palavras não vie- ram do teu intelecto; o Pai, que está dentro de Mim, revelou-as ao teu espírito. Por ora, não te externes mais; tempo virá em que deve- rás gritar, para que o mundo te ouça!”

11. ASSIM,DEUJESUSINÍCIOAOSMILAGRESEMCANÁDAGALILEIA, MANIFESTANDO SUA GLÓRIA; E OS DISCÍPULOSACREDITARAM NELE.

  1. Assim como o Meu Jejum no deserto anunciava a persegui- ção que vinha de Jerusalém, e o batismo de João apontava a Minha Crucificação, as bodas, por sua vez, anunciavam a Minha Ressur- reição como exemplo do Renascimento pelo Espírito para a Vida Eterna! — Do mesmo modo como Eu transformei a água em vinho, o homem transformará sua matéria em espírito, se viver de acordo com o Meu Verbo! Todos vós deveis seguir o conselho de Maria aos serventes, quando disse: “Fazei o que Ele vos mandar!”, para que Eu

vos possa ofertar uma prova, como em Caná, pela qual cada um po- derá reconhecer, facilmente, o próprio renascimento pelo espírito!

12. O Senhor em companhia de Seus parentes em Capernaum. Realização de uma promessa de Isaías. Início da Doutrina Verdadeira do Senhor e Sua Dupla Ação. Explicação sobre o espírito mercantil. O Senhor e todos os Seus vão assistir à Páscoa em Jerusalém. O que representava a Páscoa naquela época. O Templo de Deus é usado como mercado de gado e agiotas. (João 2, 12–13)

12. DEPOISDISTO, JESUSDESCEUACAPERNAUMCOMSUAMÃE, SEUS IRMÃOS E DISCÍPULOS, E NÃO FICARAM ALIMUITO TEMPO.

  1. Sete dias após estas bodas, Eu deixei Nazareth, tomando o rumo de Capernaum em companhia de Maria e Meus cinco irmãos, dos quais dois já eram Meus discípulos e os demais, adeptos. Caper- naum tinha um comércio regular e ficava situada entre as províncias de Zebulon e Naphtalim, não muito distante do lugar em que João havia batizado. Alguém poderia perguntar qual era o Meu fito nesta cidade, que se tornara quase pagã. A este, aconselho a leitura da profecia de Isaías 9, 1: “Mas a terra de Zebulon e de Naphtalim, a caminho do mar, além do Jordão, e o povo que andava em trevas vi- ram uma Grande Luz, e sobre os que habitavam na terra da sombra da morte ela resplandeceu!”

  2. Uma vez que Eu vim para que se cumprisse a Escritura, era necessário que procurasse Capernaum. E não só isto — tinha também de adotar como discípulos dois filhos de Zebedeu: João e Jacob, mercadores do Mar Galileu. Foi então que iniciei Minha Doutrinação, chamando as criaturas à penitência, pois o Reino de Deus estava próximo. Dentro das sinagogas Eu pregava a Boa No- va, conseguindo que muitos acreditassem em Mim; outros, porém, aborreceram-se, querendo agredir-me e arremessar-me de cima de u’a montanha. Eu, entretanto, esquivei-me com todos os Meus e procurei outros lugarejos para pregar a Salvação do mundo e curar muitos doentes. Muitos pobres e humildes Me aceitaram, acompa- nhando-Me como ovelhas a seu pastor.

13.ESTAVAPRÓXIMAAPÁSCOADOSJUDEUS,EJESUSSUBIUA JERUSALÉM.

  1. Como tinha chegado a festa da Páscoa dos judeus, Eu Me dirigi, com todos os que Me acompanhavam, à Jerusalém. Naquele tempo esta festa não era celebrada no mesmo mês como hoje o fa- zem as congregações cristãs, e sim quase três meses mais tarde. Nessa Páscoa judia se homenageava Jehovah ofertando a primeira colheita do ano, tanto que se comia o pão feito com o trigo novo, mas que não podia ser fermentado. Nessa ocasião chegava u’a multidão à ca- pital dos judeus, que também era chamada de “A Cidade de Deus”, pois o nome Jerusalém significa basicamente “Cidade de Deus”.

  2. Entre os comerciantes havia muitos gentios que compravam e vendiam utensílios, tecidos, gado e frutos de toda espécie, de tal forma que essa festa já tinha perdido seu cunho divino. A ganância dos sacerdotes levava-os a alugar o átrio e o peristilo a judeus ou gen- tios, por uma soma bem considerável. Eu dirigi-Me à Jerusalém na época do Sumo Pontífice Caifás, que teve a habilidade de manter-se nesse cargo tão lucrativo por mais de um ano. O cumprimento das leis mosaicas era apenas considerado na sua cerimônia externa, a fim de ludibriar o povo ignorante.

  1. Mercado desonroso no Templo por ocasião da Páscoa. Aborrecimento de Pedro e Nathanael. Um velho judeu relata os horrores no Templo. Purificação do Templo pelo Senhor. (João 2, 14–17)

  2. ACHOUNOTEMPLOOSQUEVENDIAMBOIS,OVELHASEPOMBASETAMBÉMOSCAMBISTAS SENTADOS.

  1. Quando cheguei a essa cidade, encontrei uma situação indes- critível, pois havia muitos que temiam penetrar no Templo devido à aglomeração dos vendedores e também dos animais, que muitas vezes debandavam por entre os homens. Não só isto, mas também o barulho e o mau cheiro que se exalava dos bichos perturbavam sobremaneira a Mim e aos Meus, tanto que Pedro e Nathanael Me perguntaram: “Senhor, não tens raios e trovões à Tua disposição? Vê,

os pobres fiéis que vêm de longe para honrar a Jehovah nem sequer conseguem passar por entre os bois e carneiros; outros se lastimam de que, após muito sacrifício, conseguem entrar e sair, porém com- pletamente roubados dos bens que traziam. Isto é o cúmulo! É pre- ciso pôr termo a este despropósito! Já excede os horrores de Sodoma e Gomorra!”

  1. Um velho judeu, que estava perto, aproxima-se e fala: “Meus amigos, não sabeis de tudo! Há três anos atrás eu fui servo comum no Templo e vi coisas que arrepiavam meus cabelos!”

  2. Digo Eu: “Guarda isto contigo, pois sei de tudo o que se passa aqui. Asseguro-te, porém, que a medida está completa e ainda hoje verás a ação da Onipotência e da Ira de Deus! Afastai-vos um pouco dos portais para que não sejais prejudicados quando estes profanadores do Templo forem expulsos!”

  3. O judeu se afasta louvando a Deus, pois Me julgava um pro- feta. Juntando-se aos amigos, contou-lhes o que viu, e eles, cerca de cem pessoas, louvaram a Deus em alta voz!

15. E, FEITO UM AÇOITE DE CORDÉIS, LANÇOU TODOS FORA DOTEMPLO;TAMBÉMOSBOISEOVELHAS;EESPALHOUODINHEIRODOSCAMBIADORESEDERRIBOUAS MESAS.

  1. Eu, porém, chamo Pedro e digo-lhe: “Vai àquele cordoeiro, compra três cordas fortes e traze-as aqui!” Pedro obedece, entregan- do-Me três cordas grossas que Eu entrelaço fazendo um açoite. Des- ta maneira munido, digo a todos que Me rodeiam: “Entrai Comigo no Templo e sereis testemunhas, porque a Onipotência e Glória de Deus Se confirmará novamente diante de vós!” — Tomando a dian- teira ali penetro, abrindo alas para todos os que Me acompanham, embora o chão estivesse coberto de detritos.

  2. Chegando ao último peristilo do Templo, onde se encontram os mais afamados vendedores de gado para efetuarem seus negócios, justamente do lado esquerdo, pois o outro era ocupado pelos agio- tas, Eu Me posto nos degraus do pórtico e falo, com voz penetrante: “Está escrito: A Minha Casa é uma Casa de Oração; vós, porém,

a mudastes em um antro de ladrões! Quem vos deu o direito para tamanho sacrilégio?”

  1. Gritam eles: “Compramos por muito dinheiro este direito do Pontífice e gozamos de sua proteção e da de Roma!”

  2. Digo Eu: “Tendes realmente esta proteção; o Braço de Deus, no entanto, está contra vós e vossos protetores. Quem vos protegerá se Ele atingir a todos?”

  3. Dizem os vendedores e agiotas: “Deus reside no Templo e os sacerdotes são Dele; portanto, só poderão agir pela Sua Vontade! A quem eles protegem, também Deus protege!”

  4. Respondo Eu, com voz vibrante: “Como podeis proferir tamanho ultraje? Se bem que os sacerdotes continuem a ocupar os assentos de Moysés e Aaron, eles não mais servem a Deus, mas sim a Satanás e ao dinheiro; o direito de que falais é um direito do diabo, e não de Deus! Por isto, levantai-vos imediatamente e abandonai o Templo, do contrário sofrereis as consequências!”

  5. Eles, porém, se riem, dizendo: “Vede o atrevimento deste reles nazareno! Ponde-o fora daqui!” Com isto se dirigem a Mim para Me agredir.

  6. Eis que Eu levanto a mão com o açoite, fazendo-o girar com uma força sobrenatural por sobre as cabeças daqueles judeus; quem fosse atingido por ele seria atacado por uma dor insuportável. A con- fusão e a gritaria são indescritíveis: tanto os homens como os ani- mais procuram fugir, arremessando e pisando tudo que lhes impede o caminho. Eu, então, derrubo a barraca dos agiotas, derramando todo o dinheiro no chão, no que Meus discípulos Me ajudam.

16. EDISSEAOSQUEVENDIAMASPOMBAS: “TIRAIDAQUIESTASCOISAS;NÃOFAÇAISDACASADEMEUPAIUMACASADE NEGÓCIOS.”

  1. Em seguida Me aproximo dos vendedores de pombas, que se encontram no Templo esperando um comprador para suas aves. Como se trata de gente pobre e sem intenção de grandes lucros, e a venda de pombos constituía ali um fato muito antigo, Eu lhes dirijo

as seguintes palavras: “Levai tudo isto e não façais da Casa de Meu Pai uma casa de negócios; podeis vos estabelecer à saída do Templo!” Desta maneira foi realizada a limpeza.

17.ENTÃOSELEMBRARAMSEUSDISCÍPULOSDEQUEESTAVAESCRITO:“OZELODATUACASAME DEVORARÁ.”

  1. A limpeza do Templo foi de grande repercussão entre o po- vo, e os Meus discípulos temiam intimamente que os sacerdotes nos mandassem prender como revolucionários pelos guardas romanos, e julgavam difícil escaparmos da responsabilidade e do castigo, pois estava escrito: “O zelo da Tua Casa Me devorará!”

  2. Eu, no entanto, lhes disse: “Não vos preocupeis! Olhai lá fora o peristilo do Templo, como os serventes e sacerdotes se apres- sam em ajuntar o dinheiro entornado dos agiotas, guardando-o em seus bolsos. Certamente nos perguntarão a respeito dos lesados e como podíamos ser capazes de tal disparate, mas no fundo estarão muito satisfeitos. O lucro que obtiveram foi bem rendoso e não será restituído a seus legítimos donos.

  3. O zelo pela Minha Casa Me devorará, em verdade, mas não agora. Talvez uns poucos judeus venham a Me perguntar de onde provém o poder desta ação assombrosa e peçam uma prova para sua fé. Eu, no entanto, já sei disto e do que tem que acontecer, por isto não vos preocupeis! Observai na direção do reposteiro, onde estão alguns que se aprontam para esta indagação, cuja resposta lhes não será negada.”

14. Palavras proféticas do Senhor sobre a demolição e reconstrução do Templo em três dias. A incompreensão dos judeus; eles são recomendados aos discípulos. Testemunho e confissão destes. O Senhor dá um grande testemunho de luz aos judeus; eles exigem provas. (João 2, 18–22)

18.PERGUNTARAM-LHEOSJUDEUS:“QUEMILAGRESNOSMOSTRAS,VISTOQUEFAZESESTAS COISAS?”

  1. “Não conheces, por acaso, a severidade das leis?”

  1. RESPONDEU-LHESJESUS:“DEITAIPORTERRAESTETEMPLOEEMTRÊSDIASO LEVANTAREI!”

  2. REPLICARAM-LHE,POIS,OSJUDEUS:“ESTETEMPLOFOI EDIFICADO EM QUARENTA E SEIS ANOSE TU OLEVANTARÁSEMTRÊS DIAS?”

  3. MASELESEREFERIAAOSANTUÁRIODESEU CORPO.

  1. Com esta Minha resposta decisiva, os judeus ficam como es- tatelados e não sabem o que dizer, até que um deles se lembra de que foram precisos quarenta e seis anos para a construção do Tem- plo, dando trabalho consecutivo a milhares de pessoas; assim, este se Me dirige, dizendo: “Meu jovem, por acaso calculaste a grande tolice que acabas de pronunciar? Pensa um pouco, que testemunho dás de ti!

  2. Tua ação recente nos causou grande admiração e já começá- vamos, como dirigentes de Jerusalém, a estudar qual o poder que a motivou, tão louvável: se constitui um poder físico ou sobrenatural. Eis a razão por que te perguntamos. Se por acaso nos tivesses esclare- cido com palavras sábias, que entendêssemos perfeitamente, que tu és um profeta iluminado por Deus e, como tal, pudeste executar esta ação, nós te teríamos dado crédito. Entretanto, deste-nos uma res- posta tão incrivelmente presunçosa, destituída de qualquer verdade, que reconhecemos em ti somente um homem que talvez tivesse tido oportunidade de aprender um pouco de magia numa escola pagã, e com isto te quisesses fazer respeitar em Jerusalém. Lastimamos este equívoco!”

  3. Digo Eu: “Também Eu lastimo que sejais tão cegos e surdos! Eu vos dei uma prova visível, que ninguém até hoje conseguiu, falo a verdade pura e vós afirmais que sou um fanfarrão, com certa habi- lidade em magia pagã! Que imensa tolice! — Vede aquele grupo que Me segue desde a Galileia! Eles já Me reconheceram, embora digais que o povo de lá é mau e destituído de qualquer fé. Que Me dizeis?”

  4. Dizem os judeus: “Pois nós também queríamos conhecer-te; mas tu nos deste uma resposta absurda, que nos levou a este juízo.

Não reconheces a nossa boa vontade? Se tu fosses um verdadeiro profeta, poderias ter vida fácil em nosso meio; no entanto, não re- conheces isto, o que prova que não és um profeta, e sim um simples mago que profana muito mais o Templo do que aqueles que foram expulsos por ti!”

  1. Digo Eu: “Procurai vos orientar com os que Me seguiram até aqui; eles vos dirão quem sou Eu!”

  2. Os judeus seguem o Meu conselho e recebem os necessários esclarecimentos pelos Meus discípulos, que, no entanto, confessam também não compreender a Minha resposta anterior.

22. OSMEUSPRÓPRIOSDISCÍPULOSCOMPREENDERAMMINHASPALAVRASEAESCRITURAAPÓSMINHARESSURREIÇÃOMILAGROSA,TRÊSANOSMAIS TARDE.

  1. Depois de receberem os esclarecimentos por parte dos discí- pulos, os judeus se dirigem novamente a Mim e dizem: “Tudo leva a crer que tu és, realmente, o Messias! Tanto o testemunho de João como o teu milagre provam isto. Somente tuas palavras são o oposto de todo o resto. Como poderia o Messias ser Deus pela ação e um tolo pelo que fala? Explica-nos isto e nós te aceitaremos e te ajudare- mos no que for possível!”

  2. Digo Eu: “O que podereis dar a Mim, que não tivésseis rece- bido de Meu Pai, que está no Céu? Como quereis dar-Me algo, que não seja Meu? Porque aquilo que é do Pai também é Meu, pois o Pai e Eu não somos dois, mas Um só! Eu vos digo: Somente a vontadeé vossa, o resto todo é Meu!Entregai-Me a vossa vontade no ver- dadeiro amor, acreditai que Eu e o Pai somos Um, e com isto tereis dado tudo que Eu vos possa pedir!”

  3. Dizem os judeus: “Então faze um milagre — e nós acredi- taremos que tu és o Prometido!”

  4. Digo Eu: “Por que desejais uma prova? Ó criaturas erradas! Ignorais que os milagres a ninguém libertam, mas sim tornam a cria- tura réu de juízo? Eu, entretanto, não vim para o vosso julgamento, mas para dar-vos a Vida Eterna, se tendes fé em Mim! Muitos mila-

gres se hão de dar e sereis testemunhas, mas não vos trarão a vida; ao contrário, matar-vos-ão!”

15. Continuação do episódio entre o Senhor e os judeus. Um deles quer convidá-Lo e a Seus discípulos para se hospedarem em sua casa. O Senhor revela os pensamentos hostis dele e de seu grupo, bem como a maldade das leis humanas. O Senhor abandona em seguida o templo. (João 2, 23–25)

23. ESTANDO JESUS EM JERUSALÉM NA FESTA DA PÁSCOA,MUITOS, VENDO OS MILAGRES QUE FAZIA, ACREDITARAMEMSEU NOME.

  1. Eu vos digo: “Estamos na Páscoa e Eu ficarei durante estes dias em Jerusalém; ide para onde Eu vou e tereis provas verdadeiras em quantidade. Mas cuidai que elas não vos matem!”

  2. A estas palavras os judeus se admiram muito. Eu, porém, os deixo, saindo do Templo com Meus discípulos. Os judeus Me seguem disfarçadamente, porquanto não tinham coragem de fazê-lo abertamente, pois Eu havia falado “de provas que poderiam matá-

-los”. Eles não compreendiam que Eu Me referia à morte de sua alma, e não à do corpo; eles, como todos os ricos, eram grandes amigos da vida terrena.

  1. Um dentre eles se dirige a Mim e diz: “Mestre, eu Te reco- nheço como Messias e desejo seguir-Te. Onde assistes?”

    1. MAS O PRÓPRIO JESUS NÃO CONFIAVA NELES, PORQUE CONHECIAA TODOS.

    2. E NÃO PRECISAVA QUE ALGUÉM LHE DESSE TESTEMUNHO DO HOMEM, POIS CONHECIA PERFEITAMENTE O QUEHAVIANO HOMEM.

  2. Eu vi que ele não tinha boas intenções em querer descobrir o Meu pouso e disse: “Os pássaros têm seus ninhos, as raposas seus covis, mas o Filho do homem não tem uma pedra onde repousar Sua cabeça, muito menos nesta cidade. Vai primeiro purificar teu cora- ção e depois volta com intenções sérias e honestas; e verás se podes permanecer a Meu lado!”

  1. O judeu responde: “Mestre, enganas-Te comigo e com os meus amigos; se não tiveres pouso, podes vir conosco e Te acolhere- mos, tanto a Ti como a Teus discípulos.”

  2. Eu, no entanto, vi que ele tinha maldade no coração e fa- lei: “Não é possível confiar em vós, que sois amigos de Herodes e apreciais escândalos gratuitos. Eu não vim a esta cidade para vos distrair com comédias, mas a fim de anunciar que o Reino do Céu está próximo e que deveis fazer penitência para tomardes parte nele. Agora, vede: Eu não necessito de pouso! Quem mora numa casa, só poderá sair dela pela porta, que tem fechadura e trinco, com o que facilmente se faz prisioneiro um hóspede. Aquele, porém, que reside ao relento, não corre este perigo!”

  3. Diz o judeu: “Como podes proferir tamanha injustiça? Pen- sas que nós não respeitamos um hóspede? Se nós Te convidamos e se entrares em nossa casa, serás o que há de mais sagrado nela, e ai daquele que Te não respeitar!”

  4. Digo Eu: “Conheço bem esta organização vossa; porém, não ignoro a outra, que protege o hóspede enquanto dentro de casa; mas, quando este quer sair, vossos capangas o esperam atrás da porta com algemas e correntes! Dize-Me tu, este hábito também faz parte da proteção ao hóspede?”

  5. Diz o judeu, um tanto encabulado: “Quem poderá fazer este juízo de nossa casa?”

  6. Respondo Eu: “Aquele que o sabe! Não se deu isto há pou- cos dias, sendo a pessoa entregue nas mãos da justiça?”

  7. O judeu, ainda mais encabulado: “Mestre, quem Te disse isto? E se assim foi, dize-me, aquele criminoso não merecia isto?”

  8. Digo Eu: “Considerais muita coisa como crime que, para Deus e para Mim, não o é; a dureza de vossos corações condena em muitos casos para os quais Moysés não deu lei. Eis vossos estatutos que, para Mim, não têm autoridade para julgar alguém como crimi- noso! Eles são um pecado contra as leis de Moysés; como é possível condenar alguém que pecasse contra eles, considerando essas leis?! Eu vos digo: Sois cheios de malícia e astúcia!”

  1. Diz o judeu: “Mas, como assim? Moysés nos deu o direito de criar leis para casos excepcionais; assim sendo, nossos estatutos bem estudados são tanto como aquelas leis! Quem não os considera é tão criminoso como aquele que peca contra as leis mosaicas!”

  2. Replico Eu: “Assim fazeis vós, não Eu. Moysés ordenou que amásseis e honrásseis vossos pais; dizeis, porém, e os sacerdotes até ordenam: ‘Aquele que fizer uma oferenda no Templo resgatará a obrigação para com as leis de Moysés.’ Mas, se por acaso alguém vos dissesse: ‘Sois verdadeiros difamadores de Deus e miseráveis im- postores, pois anulais a Lei por causa de vossa ganância, inventando outra a fim de judiar com a pobre Humanidade!’ — sendo esta a causa por que mandastes prender aquele homem — Eu pergunto: Teria ele merecido isto? Não sois vós os criminosos?”

  3. O judeu, irritado, procura seu grupo de amigos, a quem conta o que se passou. Eles, porém, meneiam a cabeça, dizendo: “Coisa estranha, como poderia este homem saber disto tudo?!” — Eu, no entanto, Me afasto dali, procurando um pequeno albergue fora da cidade, onde permaneço vários dias com todos os Meus.

  4. O sentido espiritual da purificação do Templo revelado pelo Senhor.

  1. O Templo representa a criatura em sua esfera natural do mundo. Tanto no Templo como no homem, encontra-se um santu- ário. Por isto, o exterior do Templo deve ser santificado e purificado, para que o seu santuário, como o do homem, não se profane.

  2. Esse santuário, o do Templo, é coberto por um espesso véu e somente ao Sumo Pontífice é permitido ali penetrar, em certa época. O véu, tanto como a entrada raras vezes permitida no santuário, é uma proteção contra sua profanação. Pois, se alguém peca pela carne, não somente mancha seu corpo, mas também sua alma e, através dela, seu espírito, que representa na criatura o intrínseco e santíssimo.

  3. Tanto no Templo como no homem, esse véu somente poderá ser levantado pelo amor a Deus, que é, na criatura, o verdadeiro pontífice divino. No entanto, se este único pontífice dentro do ho-

mem também fica impuro em se apegando às coisas do mundo, como o santuário poderá ficar isento de imundícies?

  1. Uma vez que o Templo e o homem se tornem impuros, não poderão ser limpos pelo próprio homem; pois uma vassoura suja não fará limpeza dum quarto. Eis que Eu, infelizmente, tenho que pôr mãos à obra e limpar o Templo com energia, mandando doenças de toda espécie e outros aparentes acidentes.

  2. Os vendedores e compradores representam as paixões e per- versidades; os animais expostos à venda significam o grau mais ínfi- mo da sensualidade e, também, a imensa tolice e cegueira da alma, cujo amor é igual ao de um boi — que é destituído de amor procria- tivo, manifestando apenas a voracidade — e cujo conhecimento é igual ao dos carneiros.

  3. E que representam os agiotas e suas transações? Tudo aquilo que surge do amor-próprio animalizado! Porque o animal só ama a si mesmo, e um lobo devora o outro quando tem fome. Este amor-

-próprio animalizado tem que ser expulso do homem com toda sor- te de sofrimento, e aquilo que vivifica este amor deve ser derramado e dispersado.

  1. Mas por que não é completamente destruído?

  2. Porque até a este amor não poderá ser tirada a liberdade, as- sim como a semente nobre progredirá melhor num campo estruma- do com detritos animais, dando, desta maneira, uma colheita abun- dante. Se o estrume fosse tirado da terra para limpá-la dos detritos, a semente progrediria muito dificilmente, não dando boa colheita.

  3. Tanto que estes detritos, que foram inicialmente amontoados no campo, devem ser entornados e espalhados, passando a ser úteis a este campo; pois, se fossem deixados como estão, sufocariam tudo.

  4. Agora, qual é a significação dos vendedores de pombos den- tro do Templo, que também precisam se afastar e aceitar o lugar indicado para eles?

  5. Nada mais são do que as virtudes externas, que consistem em toda sorte de cerimônias, boas maneiras, gentilezas e atenções, aplicadas puramente no meio mundano, mas que a cegueira da Hu-

manidade eleva a culto respeitável, querendo basear nisto a verda- deira vida do homem!

  1. A pomba é uma ave que comumente era usada no Oriente como mensageira, especialmente em assuntos de amor; por isso, já com os antigos egípcios como um hieróglifo, representa conversação delicada e amorosa. Os jovens casais sacrificavam-na no Templo por ocasião do nascimento de seu primeiro filho como prova de que desistiram destas mensagens externas, gentilezas e cerimônias, pene- trando, deste modo, no verdadeiro amor vivificador.

  2. Sabemos, porém, que, pela ordem das coisas, o externo faz parte do exterior; a casca nunca deve encontrar-se na polpa da árvo- re, pois é algo completamente sem vida. Esta casca, no entanto, é de grande utilidade para a árvore, quando na medida justa. Se alguém quisesse fazer penetrar a casca dentro da polpa, tirando da árvore este elemento vital, ela em breve secaria e morreria.

  3. Este é o motivo por que estes vendedores de pombas têm que se afastar do santuário e aceitar o lugar indicado, mostrando que o homem não deve tomar as virtudes externas por qualidades espi- rituais, pelo que se torna um boneco social. Tendes aqui o sentido espiritual da purificação do Templo, e facilmente se compreenderá que a correspondência entre ele e o homem só poderia ser explicada pela Sabedoria Divina.

  4. Mas por que o Senhor não Se estabelece dentro do templo purificado? Porque Ele sabe como deve ser o íntimo da criatura para que possa tomar morada dentro dela. Igualmente a liberdade do homem é respeitada por Deus, para que não se torne autômato.

  5. Por isto Ele Se afasta do santuário, influenciando apenas, como que por acaso, o íntimo da criatura, não Se sujeitando às suas exigências em ficar com ela e dentro dela, estimulando assim sua inércia. Pois tem que despertar para a ação própria e tornar-se um ser perfeito, como será demonstrado no próximo capítulo.

3º CAPÍTULO

PALESTRA DE JESUS COM NICODEMUS SOBRE O RENASCIMENTO, E DE JOÃO COM SEUS DISCÍPULOS SOBRE O CRISTO

  1. Ação caridosa do Senhor pela doutrinação e as curas milagrosas. Contato com os visitantes ricos, durante a noite. “Deus escolhe aquilo que é pequeno perante o mundo!” (João 3, 1)

    1. HAVIAUMHOMEMCHAMADONICODEMUS,CHEFEENTREOS JUDEUS.

  1. Durante estes dias em que fiquei no albergue, muitos Me procuraram; os pobres vinham geralmente durante o dia, os ricos e distintos, à noite, porque não queriam passar por fracos e suspeitos.

  2. A curiosidade, porém, e o pressentimento de que Eu pudesse ser o Messias os instigavam a travar relações Comigo, tanto que Me visitavam na escuridão da noite.

  3. Estas visitas os deixavam, no entanto, amuados e escandaliza- dos, porque estes convencidos se irritavam bastante pelo fato de não receberem de Mim o mesmo trato que os pobres, os quais louvavam Minha Bondade e Amizade.

  4. Como médico, fiz muitos milagres; libertei os obsedados dos seus algozes, curei os entrevados pelo reumatismo, limpei os lepro- sos, os surdos e mudos ouviram e falaram, os cegos enxergaram de novo — e tudo apenas pela palavra!

  5. Isto era também sabido por aqueles que Me procuravam à noite, desejando uma prova do Meu Poder; no entanto, Eu sempre respondia da seguinte maneira: “O dia tem doze horas e a noite também. O dia é destinado para o trabalho, e a noite para o repou- so; quem trabalha de dia não se prejudica, mas quem o faz de noite pode ferir-se, pois não vê onde põe o pé!”

  6. Muitos desejavam saber de onde Me vinha o poder para re- alizar tantos milagres. E a resposta também era sempre a mesma: “Faço isto com o Meu Próprio Poder, não necessitando de ajuda de quem quer que seja!”

  1. Noutra ocasião, indagaram por que Eu não procura- va morada na cidade, pois, para grandes feitos, era preciso lu- gar adequado.

  2. Eu lhes disse: “Num lugar onde os guardas se postam dian- te dos pórticos e só dão entrada aos ricos e recusam os pobres, Eu não posso ficar. Além disto, Eu aprecio só aquilo que é pequeno e desprezado perante o mundo, porque está escrito: O que é grande perante o mundo é um horror para Deus!”

  3. Eles disseram: “Então o Templo, em que reside Jehovah, não é grande e maravilhoso?”

  4. Disse Eu: “Ele deveria morar lá, mas, como vós o profanas- tes, Ele o abandonou, e a Arca de Moysés está vazia e morta!”

  5. Responderam os ignorantes: “Que absurdo estás dizen- do? Não sabes o que Deus falou a David e Salomon? As palavras de Deus poderiam ser mentiras? Quem és tu, para arriscar tama- nha tolice?”

  6. Disse Eu: “Do mesmo modo que tenho, de Mim Mesmo, o Poder e a Onipotência de curar todos os doentes que Me procuram, também tenho o direito integral de dizer-vos o que ali existe; e repi- to: este vosso Templo é um horror para Deus!”

  7. Aí alguns se aborreceram, mas outros disseram: “Ele deve ser um profeta, e os profetas sempre se externavam desfavoravel- mente sobre o Templo! Deixemo-lo!”

18. Cena com Nicodemus, o prefeito de Jerusalém. Embora tivesse calculado certo as profecias sobre o Reino do Céu, ele não reconhece o Senhor. Importantes ensinamentos sobre o renascimento. (João 3, 2–5)

  1. Na penúltima noite de estada nos arrabaldes de Jerusalém, um judeu chamado Nicodemus veio à Minha procura, pois era um nobre naquela cidade. Pelo ofício, dignidade e distinção, ele era, mais ou menos, o que atualmente é um cardeal em Roma e, além disto, o mais rico cidadão de Jerusalém, capitão dos judeus e prefeito da cidade toda, pelo voto romano.

  1. ESTE FOI TER COM JESUS DE NOITE E LHE DISSE: “RABI, SABEMOS QUE ÉS MESTRE VINDO DA PARTE DE DEUS;POIS NINGUÉM PODE FAZER OS MILAGRES QUE FAZES, SEDEUSNÃOESTIVERCOM ELE.”

  1. Este homem, pois, procurou-Me durante a noite, dizendo: “Mestre, perdoa-me se venho perturbar Teu repouso, mas, como me falaram que deixarias este lugar pela manhã, eu não poderia dei- xar de demonstrar o meu grande respeito por Ti! Pois eu e muitos fariseus, após observarmos Teus atos, chegamos à conclusão de que Tu és um real profeta, e que Jehovah está Contigo! Nesta qualidade deves saber do mal que nos afeta, malgrado Teus predecessores nos prometerem o Reino do Céu. Dize-me, por favor, quando ele virá, como devemos compreendê-lo e o que será exigido para entrar nele?”

  2. JESUS RESPONDEU: “EM VERDADE, EM VERDADE TE DIGO QUE,SEALGUÉMNÃONASCERDENOVO,NÃOPODEVEROREINODE DEUS.”

  1. Estas palavras tão conhecidas têm a seguinte significação: A não ser que despertes tua alma por meios que Eu demonstro pelo Verbo e a Ação, não poderás sequer perceber o sentido vital divino que nele se encontra, tampouco penetrar em suas profundezas!

  2. PERGUNTOU-LHE NICODEMUS: “COMO PODE UM HOMEM NASCER DE NOVO, SENDO VELHO? PODE, PORVENTURA,ENTRAR NOVAMENTE NO VENTRE DE SUA MÃE E RENASCER?”

  1. “Meu querido Mestre, isto que dizes é impossível! Talvez não estejas bem informado do Reino vindouro, ou então sabes-lo e não queres esclarecer-me, com receio de que eu venha prender-Te!

  2. Mas esta preocupação é inútil; jamais privei alguém de sua liberdade, a não ser quando era um assassino ou ladrão! Tu, porém, és um grande benfeitor da pobre Humanidade e curaste muitos do- entes, apenas pela Onipotência Divina dentro de Ti; como poderia eu querer impedir esta Tua Ação?

  1. É preciso que saibas que estou seriamente interessado no Rei- no de Deus! Se souberes algo a respeito, dize-me, mas de uma forma compreensível! Pelos meus cálculos sei, positivamente, que o Reino de Deus já deve ter chegado — e desejava ter de Ti uma resposta definitiva!”

5.JESUS RESPONDEU: “EM VERDADE, EM VERDADE TE DIGOQUE,SEALGUÉMNÃONASCERDAÁGUAEDOESPÍRITO,NÃOPODERÁENTRARNOREINODE DEUS.”

  1. A esta nova pergunta dei a Nicodemus a mesma resposta que se lê no 5º versículo; apenas difere da primeira pela explicação mais nítida, quais os meios necessários para o renascimento, que são: ÁGUA E ESPÍRITO. Isto representa que:

  2. A alma necessita primeiro da purificação pela água da hu- mildade — pois ela é o símbolo antiquíssimo desta virtude e aceita tudo que se lhe faz, procurando sempre os recantos mais profundos e jamais se elevando — para só então poder receber o Espírito da Verdade, nunca compreendido por uma alma impura.

  3. Quem, portanto, assimilar a Verdade com sua alma purifica- da, será liberto pelo Espírito da Verdade e penetrará no Reino do Céu.

  4. Esta explicação, aliás, não foi dada a Nicodemus, porque sua esfera de conhecimento atual não o teria permitido. Por esta razão, ele Me pergunta novamente como deveria compreendê-lo!

19. Continuação da cena com Nicodemus. O Senhor, Mestre em tudo, também o é na Verdadeira Sabedoria. A natureza do homem. O segredo do espírito. Parábola maravilhosa do vinho novo, como interpretação de uma alma ainda não amadurecida para a luz espiritual. (João 3, 6–12)

6.“O QUE É NASCIDO DA CARNE É CARNE; O QUE É NASCIDODOESPÍRITOÉ ESPÍRITO.”

  1. E Eu lhe respondi conforme consta do 6º versículo: “Não te admires de que Eu te fale desta maneira, pois o que vem da carne é carne e nada mais do que matéria sem vida, ou invólucro da alma; mas o que vem do espírito, também é espírito e a verdade em si!”

  1. Nicodemus, porém, compreende cada vez menos e se admi- ra não deste fato, mas pela simples razão de que ele, como fari- seu erudito e versado nas Escrituras, não perceba o sentido de Mi- nhas Palavras.

  2. Por isto, pergunta-Me novamente: “Mas, como?! Poderá o espírito gerar outro espírito?!”

    1. NÃO TE ADMIRES POR EU TE DIZER: É NECESSÁRIO A VÓSNASCERDE NOVO!

    2. O VENTO SOPRA ONDE QUER, E OUVES SUA VOZ, MAS NÃO SABES DONDE VEM, NEM PARA ONDE VAI; ASSIM É TODOAQUELEQUEÉNASCIDODO ESPÍRITO.”

  3. “Vê, assim como não vês o vento, embora o escutes, não po- derás ver o espírito, tampouco compreender Aquele que vem do Espírito e fala contigo! Mas, como és de boa vontade, saberás em tempo oportuno o que hoje ainda não podes conceber!”

9.PERGUNTOU-LHENICODEMUS:“COMOPODESER ISSO?”

  1. “Tudo que compreendo, compreendo em minha carne; mas, se esta me for tirada, não compreenderei coisa alguma! Como me tornarei espírito dentro da carne, e como meu espírito poderá con- ceber um outro para um novo nascimento?”

10.RESPONDEU-LHE JESUS:“TU ÉS MESTRE EM ISRAEL ENÃOENTENDESESTAS COISAS?”

  1. “O que esperar dos outros, que mal sabem que existiu um Abraham, um Isaac e um Jacob?”

  1. EM VERDADE TE DIGO, FALAMOS O QUE SABEMOS ETESTIFICAMOS O QUE TEMOS VISTO, E NÃO RECEBEIS ONOSSO TESTEMUNHO.

  2. SE NÃO ME ACREDITAIS QUANDO FALO DE COISASTERRENAS, COMO IREIS CRER SE VOS FALAR DAS COISAS CELESTIAIS?”

  1. “Eu te digo: Somente o espírito, que em si e por si é espírito, sabe o que está nele e o que é a sua vida! A carne, porém, é apenas uma casca externa e nada sabe do espírito, a não ser que ele lhe trans- mita algo! O teu ainda está muito dominado e encoberto pela carne, por isto desconheces o que vem dele.

  2. Mas tempo virá, como já te disse, em que teu espírito se li- bertará e então compreenderás e aceitarás o nosso testemunho!”

  3. Diz Nicodemus: “Querido Mestre, ó mais Sábio entre os sá- bios! Quando virá este tempo?”

  4. Respondo Eu: “Meu amigo, não tens a necessária matura- ção para que Eu te possa dizer a época, dia e hora.

  5. Enquanto o vinho novo não tiver fermentado bastante, ele permanece turvo; e se fosse colocado numa taça de cristal e tu o segurasses contra o sol, sua luz não penetraria o líquido opaco. O mesmo se dá com o homem. Enquanto não expelir as impurezas de sua alma, a luz dos Céus não poderá transpassar seu ser. Agora, dir-te-ei algo: se o compreenderes, terás a Luz necessária! Ouve-Me!”

  1. Mais três versículos importantes, não compreensíveis a Nicodemus. Seu discurso pessimista. Pequena advertência do Senhor. (João 3, 13–15)

    1. NINGUÉM SUBIU AO CÉU, SENÃO AQUELE QUE DE LÁDESCEU, A SABER: O FILHO DO HOMEM QUE PERMANECENO CÉU.

    2. COMO MOYSÉS ELEVOU A SERPENTE NO DESERTO, ASSIM IMPORTAQUEOFILHODOHOMEMSEJA ELEVADO.

    3. A FIM DE QUE TODOS QUE NELE CREEM NÃO PEREÇAM, MASTENHAMAVIDA ETERNA.”

  1. (O Senhor): “Dize-Me, compreendes isto?” — Diz Nicode- mus: “Querido Mestre, como poderia? Possuis uma sabedoria toda especial; como já disse, mais fácil me seria ler hieróglifos do que compreendê-la!

  2. Sinceramente, se não fossem Teus milagres, eu me veria obri- gado a julgar-Te um doido, porque, como Tu, ninguém até hoje fa-

lou! Portanto, se Tuas Ações são Divinas, Tua Doutrina do Reino do Céu sobre a terra também deve sê-la, quer eu a compreenda ou não!

  1. Considerando ligeiramente a Tua Tese: ‘Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu’, eu me vejo perdido! Caro Mes- tre, depois de Henoch e Elias, ninguém teve a felicidade de subir visivelmente para o Céu! Talvez sejas Tu o terceiro? Mas qual seria o benefício da Humanidade, que não poderá subir ao Céu, uma vez que não vem de lá?

  2. Além disto, afirmas que Aquele que de lá desceu só se en- contra aparentemente sobre a terra, porque em verdade continua no Céu! Meu caro Mestre, eu Te garanto que as pobres criaturas daqui agradecem por tal Reino! Quem não sabe que uma andorinha só não faz verão? Qual foi o mérito de Henoch e Elias, para que fossem elevados ao Céu? Realmente nenhum, a não ser aquilo que era afim com a sua natureza celestial!

  3. Em tudo isto não existe esperança nem consolo para esta po- bre Humanidade! Mas, como já disse e reafirmo, Tua doutrina é divina e sábia, embora o meu raciocínio a condene como absurda!

  4. Tampouco compreendo o que dizes da elevação do Filho do homem igual à elevação da serpente de Moysés, e que todos terão a Vida Eterna quando acreditarem Nele. Quem é este Filho do ho- mem? — Onde está? — O que faz? — Virá como Henoch e Elias, do Céu? — Já nasceu? — O que aqueles que, como eu, jamais o viram devem esperar deste Filho do Homem? — Como poderá vir à terra se continua no Céu? Onde e quando será elevado? E com isto será rei dos judeus, inatingível pelo seu poder?

  5. Vês que não sou como aqueles que rejeitam uma doutrina porque não a compreendem. Peço-Te, porém, que me dês uma ex- plicação fácil, porque, se eu a introduzir em Jerusalém, todos terão que aceitá-la!”

  6. Digo Eu: “Pronunciaste muitas palavras, como alguém que não entende coisa alguma de assuntos espirituais, mas isto não pode ser de outra maneira, pois te encontras ainda nas trevas do mundo e não podes receber a luz que veio iluminar as trevas. Tens apenas um

pequeno vislumbre, entretanto não vês o que se encontra diante do teu nariz!”

21. O Senhor elucida Nicodemus sobre a encarnação do Filho e a Sua Missão como Filho de Deus e Filho do homem. Aquele que não reconhece o Senhor está sendo julgado. O que é o julgamento? (João 3, 16–21)

16.“POISASSIMTANTOAMOUDEUSAOMUNDO,QUELHEDEU SEU FILHO UNIGÊNITO, PARA QUE TODO QUE NELECRÊNÃOPEREÇA,MASTENHAAVIDA ETERNA.”

  1. “Eu te digo: Deus é o Amor e o Filho é a Sua Sabedoria! As- sim amou Deus tanto ao mundo, que lhe deu Seu Filho Unigênito, isto é, Sua Sabedoria, a qual emana Dele de toda a Eternidade, a fim de que todos que creem não pereçam, mas tenham a Vida Eterna! Dize-Me, também não compreendes isto?”

  2. Diz Nicodemus: “Tenho a impressão de que devia compre- endê-lo, mas, no fundo, isto não se dá. Se ao menos soubesse o que fazer com o Filho do homem, já me encontraria numa certa ordem! Dize-me uma coisa: Acaso o Filho do homem e o Filho Unigênito de Deus são uma só individualidade?”

  3. Digo Eu: “Vê, Eu tenho uma cabeça, um corpo, mãos e pés. Tudo isto é carne e pertence ao Filho do homem. Mas neste Filho do homem, carne, reside a Sabedoria Divina, isto é, o Filho Unigê- nito de Deus. Entretanto, somente o primeiro será elevado como a serpente de Moysés, e não o Filho Unigênito de Deus. Aqueles que não se aborrecem com isto e creem no Filho do homem receberão o poder dos Filhos de Deus, e sua vida e seu reino não terão fim.”

17. “POISDEUSNÃOENVIOUOFILHOAOMUNDOPARAJULGÁ-LO, MAS PARA QUE O MUNDO SEJA SALVO POR ELE.”

  1. “Este julgamento não vos trará guerra, dilúvio ou fogo do Céu, pois Deus mandou Seu Filho para que a carne não pereça, mas sim ressuscite para a Vida Eterna. Esta carne não é a do corpo, mas os desejos carnais da alma. A fim de que ressuscite para a Vida

Eterna, é preciso que a fé venha destruir as tendências materiais daalma— esta fé verdadeira no Filho do Homem, que de toda a Eternidade reside em Deus, e veio ao mundo para dar vida àqueles que creem em Seu Nome!”

18. “QUEM NELE CRÊ NÃO É JULGADO; O QUE NÃO CRÊ JÁESTÁ JULGADO, PORQUE NÃO CRÊ NO NOME DO FILHOUNIGÊNITODE DEUS.”

  1. “Todo aquele, seja judeu ou pagão, que Nele crê, jamais será julgado; aquele, porém, que se aborrecer no Filho do homem e Nele não crer, já estará julgado. Pois o orgulho — emanação do amor-

-próprio que se manifesta como altivez, impedindo que creia no Filho do homem — é seu julgamento. Terás compreendido agora?”

  1. Responde Nicodemus: “Sim, em parte compreendo o senti- do místico de Tuas palavras; mas, enquanto este Filho do homem, tão poderoso, não se apresentar e Tu não puderes indicar o tempo e o lugar de seu aparecimento, tudo isto soará muito vago.

  2. Do mesmo modo, Teu julgamento parece mais do que mis- terioso. Que novo sentido ligas a ele?”

  3. Digo Eu: “Meu amigo, com toda razão poderia perguntar-te: Qual o motivo que te impede de compreender o sentido claro das Minhas Palavras?”

19. “O JULGAMENTO É ESTE: A LUZ VEIO AO MUNDO E OSHOMENS AMARAM MAIS AS TREVAS DO QUE A LUZ, POISERAMMÁSASSUAS OBRAS.”

  1. “Vê, este é o julgamento: a Luz Divina veio dos Céus para este mundo; as criaturas, porém, embora recebendo-A, preferem as trevas por serem más as suas obras!

  2. Onde encontras uma fé integral? Onde, o temor justo de Deus? Acaso existe alguém que ame o próximo sem visar algum lu- cro? Onde estão aqueles que amariam a mulher apenas pela procria- ção? Procuram unicamente a satisfação do seu gozo! Onde está o ladrão que toma de uma vela para roubar à vista de todos?”

20. “PORQUANTO TODO AQUELE QUE PRATICA O MAL ODEIA ALUZEDELANÃOSEAPROXIMA,AFIMDEQUESUASOBRASNÃOSEJAM ARGUIDAS.”

  1. “Todos que praticam estas ações são maus e, portanto, ini- migos da Luz, tudo fazendo para que Ela não ilumine suas obras.

  2. Nisto consiste o julgamento; tu, porém, entendes como tal o castigo que o segue como veredicto.

  3. Já é um julgamento para tua alma o fato de preferires andar à noite; se tu, por isto, te ferires ou caíres numa vala, estarás sofrendo o castigo do teu erro, pois amas a noite e desprezas o dia.”

21. “AQUELE, PORÉM, QUE AGE PELA VERDADE, CHEGA-SE À LUZ, A FIM DE QUE SEJAM MANIFESTAS SUAS OBRAS, QUEFORAMFEITASEM DEUS.”

  1. “Quem, portanto, for amigo da Luz andará de dia, e não à noite, reconhecendo-A imediatamente, pois ele próprio surgiu desta Luz, que se chama — a fé no coração, manifestando-se co- mo verdade!

  2. Repito: Aquele que crê no Filho do homem e que Este é a Luz de Deus, já possui a vida em si; aquele que não crê se encontra sob julgamento, que é a própria falta de fé! Compreendeste isto?”

22. Nicodemus não encontra, ainda, o Filho Divino; por isto o Senhor o manda a João. Finalmente desperta uma luz em sua alma. “Segue a voz do teu coração.” O valor do amor. O Senhor pede uma caridade a Nicodemus. Sua declaração de amor ao Desconhecido.

  1. Diz Nicodemus: “Bem, agora tudo me é compreensível; fal- ta, porém, algo muito importante: o Filho do homem, sem O qual as Tuas interpretações sábias não têm valor algum. De que me adian- ta a fé ou a melhor boa vontade em querer acreditar no Filho do homem, se não existe? Não é possível criá-Lo apenas por uma ideia fixa. Dize-me, pois, onde posso encontrá-Lo e Te garanto que O aceitarei com uma fé completa!”

  1. Digo Eu: “Se Eu não tivesse percebido isto, não teria da- do esta explicação. Acontece, porém, que vieste durante a noite a Mim, embora tivesses tido conhecimento de Minhas Ações mila- grosas. Como procuravas na noite do tempo e na noite de tua al- ma, é fácil de se compreender a tua incompreensão a respeito do Filho do homem.

  2. Eu te digo: Aquele que O procurar durante a noite, pois se envergonha de fazê-lo de dia, jamais O encontrará! Como sábio que és, deves saber que a noite não se presta para procurar e achar algo!

  3. Dou-te um conselho: procura João, que ainda batiza nas águas em Enom, perto de Salim, e ele te dirá se o Filho Unigênito de Deus já veio, ou não! Lá irás conhecê-Lo!”

  4. Diz Nicodemus: “Ora, querido Mestre, isto é inteiramen- te impossível! Tenho mil afazeres, dos quais não me posso afastar! Calcula que na cidade e seus arrabaldes moram, inclusive os estran- geiros, perto de oitocentas mil pessoas, que dependem somente de mim! Fora disto, esperam-me os negócios do Templo, os quais não podem ser adiados. Caso esta graça do conhecimento do Filho do homem não me seja dada agora, em Jerusalém, vejo-me obrigado a desistir!

  5. Portanto, peço-Te que me desculpes não poder aceitar Teu conselho. Sempre, porém, que tiveres oportunidade de vir a Jerusa- lém com os Teus discípulos, vem morar em minha casa, que facil- mente comporta mil pessoas e fica na Praça David. Qualquer coisa que precisares estará à Tua disposição.

  6. Vê, deu-se uma grande modificação dentro de mim! Amo-Te, querido Mestre, mais do que tudo que me é caro, e este amor me diz, de uma certa maneira: Tu és em Pessoa Aquele que me mandaste procurar em Enom! É possível que me engane, mas, seja como for, sinto um amor profundo para Contigo! Dize-me, este testemunho de meu coração é certo?”

  7. Respondo Eu: “Tem paciência! Em breve voltarei e serei teu hóspede; então, saberás de tudo!

  1. Segue sempre à voz do teu coração, que te dirá mais do que os cinco livros de Moysés e todos os profetas! Nada é verdadeiro dentro da criatura a não ser o seu amor! Que ele seja o teu guia, para poderes andar na luz!

  2. Agora, irei anunciar o Reino de Deus na Judeia, que diriges como prefeito. Não por Mim, mas por causa dos Meus discípulos, peço-te que Me dês um salvo-conduto, como é de lei dos romanos entre os judeus, a fim de que possam passar livremente entre uma cidade e outra. Para Mim seria facílimo viajar com uma legião, mas não quero aborrecer ninguém e Me sujeito às leis de Roma.”

  3. Diz Nicodemus: “Agora mesmo, num momento, vou até à casa e farei pessoalmente o que me pedes.”

  4. Dentro em pouco ele Me entrega o documento e Eu aben- çoo este homem honesto. Ele se despede de Mim com lágrimas nos olhos e repete o seu convite de fazer uso de sua hospitalidade quando Eu voltar a Jerusalém. Eu, no entanto, recomendo-lhe que conserve a limpeza dentro do Templo, e assim nos separamos de madrugada.

23. Ação do Senhor na Judeia. O batismo de água e de fogo. O ensinamento do amor e o seu testemunho pelas boas obras. Só é necessária uma coisa. Discussão dos discípulos sobre o verdadeiro batismo. “Tu O és?” A resposta do Senhor. (João 3, 22–26)

22.DEPOISDISTO,JESUSFOICOMSEUSDISCÍPULOSPARAAJUDEIA;ALISEDEMORAVACOMELESE BATIZAVA.

  1. Todos aqueles que aceitaram, de maneira integral, a Minha Doutrina foram batizados externamente com água e, internamente, com o Espírito Eterno do Meu Amor e Sabedoria, adquirindo, as- sim, o direito de se chamarem “Filhos de Deus!”

  2. A Doutrina, propriamente dita, e as Minhas Ações foram anotadas, em parte, pelos outros três evangelistas; não necessita, pois, ser repetida aqui. Consistia principalmente na demonstração

dos defeitos dos judeus e templários e na recomendação do amor a Deus e ao próximo.

  1. Eu lhes apontava suas inclinações, advertia os pecadores à penitência, prevenindo-os do perigo de uma recaída, dando, ao mes- mo tempo, as provas mais significativas da Minha Doutrina.

  2. Curei muitos doentes, tanto do corpo como da alma, e anga- riei muitos adeptos.

    1. JOÃO TAMBÉM ESTAVA BATIZANDO EM ENOM, PERTO DE SALIM, ONDE HAVIA MUITAS ÁGUAS, E O POVO IA E ERA BATIZADO.

    2. POISJOÃONÃOTINHASIDOAINDALANÇADONO CÁRCERE.

  3. Neste trajeto pela Judeia, passei perto do pequeno deserto de Enom, onde João batizava, encontrando ali as águas necessárias, que no Jordão estavam quase secas.

  4. Havia muitos que já haviam aceitado Minha Doutrina sem o batismo de João. Estes Me perguntam se é necessária esta cerimô- nia, antes de aceitarem Meus Ensinamentos. Eu lhes digo: “Somen- te uma coisa é imprescindível: a ação de acordo com a Doutrina! Quem, entretanto, desejar sujeitar-se a esta purificação, enquanto João tiver ação livre, levará o seu benefício.” — Com isto, muitos se deixam batizar por João.

25. ORA,LEVANTOU-SEUMACONTENDAENTREOSDISCÍPULOS DE JOÃO E OS JUDEUS BATIZADOS, ACERCADA PURIFICAÇÃO.

  1. Entretanto, os discípulos de João não compreendiam como Eu também batizava com água, pois ouviram seu testemunho de que Eu o faria apenas com o Espírito Santo. Os judeus, Meus discí- pulos, afirmavam que o Meu batismo era o verdadeiro, pois, embora batizasse com água da natureza, também o fazia com a do Espírito Divino, dando assim aos batizados o poder de se chamarem “Fi- lhos de Deus”!

26. ELES FORAM TER COM JOÃO E DISSERAM-LHE: “MESTRE, AQUELE QUE ESTAVA CONTIGO ALÉM DO JORDÃO, DEQUEM TENS DADO TESTEMUNHO, ESTÁ AÍ BATIZANDO ETODOSVÃOA ELE.”

  1. “Será que é Aquele, de quem testemunhaste?”

  2. Diz João: “Ide e perguntai-Lhe: ‘És Tu Aquele que deverá vir ou devemos esperar por um outro?’ Prestai bem atenção e dizei-me também o que Ele vos responder!”

  3. Os discípulos, em seguida, dirigem-se a Mim. A Minha res- posta é bem conhecida; deviam dizer a João o que viram, quer dizer: os cegos tornam a ver, os coxos a andar, os surdos a ouvir e os pobres de espírito recebem a Boa Nova do Reino de Deus! E feliz daquele que não se aborrecer Comigo! Isto eles transmitem a João.

24. Claríssimo, maior e último testemunho de João a respeito do Senhor. Quem é a noiva e o Noivo. Humildade de João. O segredo de Deus como Pai e Filho. Condição para a Vida Eterna: a Fé no Filho do homem. (João 3, 27–36)

27. RESPONDEU JOÃO: “O HOMEM NÃO PODE RECEBER COISA ALGUMA,SEDOCÉUNÃOLHEFOR DADA.”

1. “Aquele Homem Extraordinário, que Se deixou batizar por mim e sobre O Qual eu vi o Espírito Santo descer qual pomba e de Quem testemunhei, não poderia tomar a Si o que tem se fosse simplesmente um homem. Portanto, Ele é mais do que isto e tem o poder em Si de receber do Céu e dá-lo a quem Ele quiser. Tudo que temos, recebemos por Sua Graça, portanto é impossível ditar-Lhe o que deve fazer. Ele dá — e nós recebemos! Ele tem Sua Pá em Sua Mão; Ele varrerá a Sua Terra como quiser e juntará o Trigo no Seu Celeiro; o joio, porém, será queimado com o fogo eterno e da cinza Ele fará o que for de Sua Vontade.”

28. “VÓS MESMOS ME SOIS TESTEMUNHAS DE QUE EU DISSE: EUNÃOSOUOCRISTO!MASSOUENVIADODIANTE DELE.”

  1. “Como, então, poderia eu criticá-Lo, se tem Sua Própria Pá em Sua Mão? Varrendo Sua Terra, como poderíamos nós dar-Lhe leis? Pois o agro (o mundo) é Dele, assim também o Trigo (os Filhos de Deus) e o joio (os filhos do mundo), e Seu também é o Celeiro (o céu) e o fogo (o inferno) que jamais se extinguirá.”

29.“OQUETEMANOIVAÉONOIVO;MASOAMIGODONOIVO,QUE ESTÁ PRESENTE E O OUVE, MUITO SE REGOZIJA PORCAUSA DA VOZ DO NOIVO. ASSIM, POIS, ESTA MINHAALEGRIAESTÁ COMPLETA.”

  1. “O que tem a noiva (a Sabedoria do Céu) é o Noivo. Mas, quando o Senhor vem, Pessoalmente, a missão do mensageiro está terminada, pois ele só tem que anunciar a Vinda do Senhor.”

30.“ÉPRECISOQUEELECRESÇAEEU DIMINUA.”

  1. “Fostes sempre meus discípulos desde que eu vim como mensageiro; quem de vós ouviu que eu me vangloriasse com isto?! Conservei sempre a glória justa para Aquele que a merece. Se eu testemunhei de não merecer desatar-Lhe a correia de Suas sandálias, apenas dei-Lhe a honra que a cegueira dos homens quis prestar a mim. Por isto, repito: a minha missão está terminada. O mensageiro (a carne) tem que diminuir e Ele, como Senhor (o Espírito), tem que crescer sobre toda a carne.”

31.“OQUEVEMDECIMAÉSOBRETODOS;OQUEÉDATERRAÉDATERRAEFALADATERRA.OQUEVEMDOCÉUÉSOBRE TODOS.”

  1. “Aquele que tem o poder de dar leis, é de cima; aquele que tem que obedecer, é de baixo. Aquele que vem do Céu está sobre todos, pois é o Senhor e pode fazer o que quiser e pode batizar com água, fogo e espírito, pois tudo é Dele.

  2. Acho, porém, que Ele não batizou com água, mas com fogo do espírito; os Seus discípulos, porém, batizaram os homens com

água, como eu o fiz. Este batismo não tem valor algum, se não rece- berdes, depois, o Espírito Divino.”

32.“OQUEELETEMVISTOEOUVIDO,ISSOTESTIFICA;ENINGUÉMRECEBEOSEU TESTEMUNHO.”

  1. “A água só dá testemunho da água, e limpa a pele da sujeira da terra. O Espírito Divino, porém, com que apenas o Senhor pode batizar, pois o Espírito Divino está dentro Dele, testifica de Deus e daquilo que ele vê e ouve em Deus.

  2. Mas, infelizmente, quase ninguém aceita este testemunho. Porque o que é detrito é detrito e não pode aceitar o espírito, a não ser que fosse primeiro passado pelo fogo e lá se lhe tornasse idêntico; pois um fogo verdadeiro aniquila toda a matéria. Eis a razão por que o batismo espiritual do Senhor destruirá muitos, o que explica o receio deles em aceitá-lo.”

33.“AQUELEQUEACEITOUOSEUTESTEMUNHODEVESELARDENTRODESIQUEDEUSÉ VERDADEIRO.”

  1. “Perguntais-me: ‘Mas por que lacrar dentro de si o testemu- nho do Céu dado por Deus?’ — Eu vos digo, entre o homem e o espírito há uma grande diferença! Se o homem do mundo receber o espírito dentro da sua concepção mental, poderá o espírito perma- necer com ele se não for guardado dentro de seu coração?

  2. Poderia haver uma medida certa, pela qual o espírito fosse distribuído de sorte que cada um soubesse o quanto dele recebeu? Como esta medida não existe, é preciso que o homem mental abra uma dentro do seu coração. Quando, então, o espírito se estabelecer na paz de seu coração, preenchendo uma nova medida, ele também perceberá o seu grau de evolução.

  3. O que vos adiantaria encher com água do mar um tonel furado? Poderíeis algum dia dizer e reconhecer que colhestes uma determinada quantidade d’água deste mar imenso? Quando, porém, o tonel for bem atado, podereis facilmente averiguar quanto conse-

guistes colher. Mas a água do mar é uma só, em pouca ou grande quantidade.”

34. “POIS AQUELE QUE DEUS ENVIOU FALA AS PALAVRAS DE DEUS;PORQUEELENÃOOESPÍRITOPOR MEDIDA.”

  1. “Se Deus quer transmitir o Seu Espírito a alguém, não o faz na medida infinita, que somente existe em Deus em toda Sua Pleni- tude, mas na medida existente na criatura. Se esta deseja recebê-Lo, sua medida não deve ser defeituosa ou aberta, mas sim bem atada e lacrada!

  2. Aquele a Quem perguntastes se era o Cristo tem dentro de Si o Espírito de Deus, não pela medida do homem que representa, mas na medida infinita de Deus Mesmo, recebida de toda a Eter- nidade! Ele é o mar infinito do Espírito Divino em Si! Seu Amor é Seu Pai de Eternidade e está não fora do homem visível, porém Nele Mesmo, que é o fogo, a chama e a luz de Eternidade, dentro do Pai!”

35. “O PAI AMA AO FILHO E TUDO TEM POSTO NAS SUAS MÃOS.”

  1. “Tudo que temos na medida justa, colhemos de Sua Pleni- tude. Ele Mesmo tornou-Se um homem de carne pelo Seu Próprio Verbo, e Sua Palavra é Deus, Espírito e Carne, que chamamos o ‘Filho’! Este Filho, portanto, é em Si a Vida da Vida!”

36. “O QUE CRÊ NO FILHO TEM A VIDA ETERNA; O QUE, PORÉM, DESOBEDECE AO FILHO NÃO VERÁ A VIDA, MAS SOBREELEPERMANECERÁAIRADE DEUS.”

  1. “Quem, portanto, aceitar o Filho e crer Nele, já tem a Vida Eterna em si; pois, assim como Deus Mesmo é, em toda Palavra, Sua Eterna e Perfeita Vida, o mesmo se dá com toda criatura que assimi- la e guarda o Seu Verbo. Mas quem, por sua vez, não aceita a Palavra Divina pela Boca do Filho, portanto não crê Nele, não poderá rece- ber a Vida, tampouco vê-la e senti-la em si, e a ira de Deus, que é o

julgamento das coisas, pousará sobre ela, não possuindo Vida, a não ser aquela imposta pelo determinismo da Lei.

  1. Eu, João, disse-vos isto e vos dei um testemunho comple- to. Purifiquei-vos do lodo da terra por minhas próprias mãos. Ide, aceitai a Sua Palavra, para receberdes o batismo do Seu Espírito; sem este, todo meu trabalho seria inútil. Até eu tenho vontade de me achegar a Ele! Mas Ele não o quer e me revelou, pelo espírito, que devo ficar aqui, pois já recebi o que vos falta!”

  2. Eis o último e maior testemunho de João a Meu respeito.

  3. O motivo por não ter sido tão completamente explicado no Evangelho é que, naquela época, só eram anotados os pontos principais, pois todo espírito lúcido compreendia tudo isto com facilidade. Além do mais, o Verbo Santíssimo e Vivo não devia ser profanado e deturpado. Cada versículo é uma semente oculta sob um véu, na qual germina a Vida Eterna em sua jamais concebível sabedoria!

4º CAPÍTULO

CONVERSÃO DOS SAMARITANOS CURA DO FILHO DO RÉGULO

  1. A Graça concedida aos crentes aumenta o número dos seguidores do Senhor. Aparecimento de Evangelhos falsos. Ciúme e perseguição dos sacerdotes. O Senhor vai à Galileia pela Samaria. Caráter dos samaritanos. Sichar. O Senhor repousa com os Seus discípulos à beira do poço de Jacob. (João 4, 1–6)

    1. QUANDO, POIS, O SENHOR SOUBE QUE OS FARISEUS TINHAMOUVIDODIZERQUEELE,JESUS,FAZIAEBATIZAVAMAISDISCÍPULOSQUE JOÃO,

    2. SE BEM QUE JESUS MESMO NÃO BATIZASSE, MAS SIM SEUS DISCÍPULOS,

    3. DEIXOU AJUDEIAEVOLTOU PARAA GALILEIA.

  1. Após este discurso de João, seus discípulos passaram a vir a Mim e o número deles aumentava de dia para dia, sim, de hora para hora. Todos que começavam a crer em Mim, recebendo a Minha Bênção de acordo com a medida da sua fé, após o batismo aplicado pelos Meus discípulos, enchiam-se do espírito da força e da coragem e todo pavor da morte desaparecia.

  2. Embora Eu tivesse proibido a divulgação a respeito, em pou- co tempo toda a Judeia estava ciente dos Meus Atos, que muitas vezes eram exagerados, o que atraía outros judeus para a Minha companhia.

  3. A consequência disto foi que os fariseus tomaram conheci- mento de tudo, de sorte que os próprios romanos principiavam a pensar que Eu devia ser Zeus ou um filho dele!

  4. Em breve, alguns investigadores foram enviados ao Meu en- calço, entretanto não achavam aquilo que esperavam, porque nestas ocasiões Eu não fazia milagres, para evitar que o povo ficasse mais supersticioso do que já era.

  5. Estes exageros provocaram em seguida uma série de Evange- lhos falsos, deturpando o verdadeiro.

  6. Os fariseus, como chefes do Templo e da Escritura, conjec- turavam como impedir a Mim e a João em nossas ações, sendo o meio mais inocente a nossa internação num “asilo de previdência perpétua”, como mais tarde o realizaram na pessoa de João, por or- dem de Herodes.

  7. Não é preciso mencionar que estes planos Me eram conheci- dos, mas, para evitar atritos e escândalos, vi-Me obrigado a abando- nar a Judeia ultramontana e dirigir-Me à Galileia mais liberal.

4.PRECISAVAATRAVESSARA SAMARIA.

  1. Como os samaritanos tinham conseguido a sua libertação dos sacerdotes do Templo com ajuda dos romanos, eram considera- dos por estes o povo mais desprezível e ateu sobre a terra.

  2. Em compensação, os sacerdotes eram por eles julgados como a ralé. Se, por exemplo, um samaritano numa discussão chamasse

um outro de fariseu, este imediatamente ia perante o juiz e o acusa- va de caluniador, o que redundava sempre numa indenização. Esta situação era muito favorável para a nossa viagem, pois na Samaria não seríamos perseguidos pelos fariseus.

5.CHEGOU A UMA CIDADE DA SAMARIA CHAMADA SICHAR,PERTODASTERRASQUEJACOBDEUASEUFILHO JOSÉ.

  1. O caminho conduzia pela cidade de Sichar, perto duma aldeia antiquíssima que Jacob e Raquel receberam como dote e ha- viam dado a seu filho José como presente natalício, inclusive com seus habitantes, que na maioria eram pastores.

6.ERA ALI O POÇO DE JACOB. JESUS, POIS, CANSADO DOCAMINHO, ASSENTOU-SE JUNTO DA FONTE. ERA QUASE AHORA SEXTA.

  1. Era verão e o dia estava quente, de modo que até Eu Me sentia fisicamente cansado desta longa viagem. Todos que Me se- guiam desde a Galileia e Judeia procuravam abrigo na vila ou então debaixo das árvores para repousar. Até Pedro, João, André, Tho- maz, Philippe e Nathanael caíram como mortos na grama à sombra das árvores.

  2. Embora muito cansado, sentei-Me à beira do poço, pois previamente sabia que ia ter uma boa oportunidade de palestrar com um samaritano teimoso, porém livre de preconceitos. Além disso, sentira muita sede e esperava por um discípulo que fora em busca de uma vasilha para que Eu pudesse beber.

  1. O Senhor e a samaritana perto do poço. As palavras do Senhor sobre a qualidade de Sua Água Viva. (João 4, 7–16)

    1. UMA MULHER DA SAMARIA VEIO TIRAR ÁGUA NO POÇO. DISSE-LHEJESUS:“DÁ-MEDE BEBER!”

    2. POIS SEUS DISCÍPULOS TINHAM IDO À CIDADE COMPRAR ALIMENTOS.

  1. Enquanto esperava pelo vasilhame, aparece uma samaritana com um cântaro a fim de enchê-lo com água do poço. Após ela ter feito isto, falo-lhe: “Mulher, dá-Me de beber!”

9.DISSE-LHE A MULHER: “COMO, SENDO TU JUDEU, PEDESDE BEBER A MIM, QUE SOU SAMARITANA? OS JUDEUS NÃOSECOMUNICAMCOMOS SAMARITANOS.”

  1. A samaritana se espanta, pois vê que sou judeu e diz: “Tu fazes parte daquele grupo que encontrei diante da cidade e pergun- tou onde poderia comprar víveres? Pela tua vestimenta vejo que és judeu, e eu sou uma pobre samaritana! Como exiges de mim que te dê de beber?! Realmente, quando estais em dificuldades, sabeis vos dirigir a nós! Sim, se me fosse possível afogar com esta água toda a Judeia, eu com prazer te daria de beber deste cântaro! Fora isso, pre- feria ver-te morrer de sede, do que dar-te uma gota d’água!”

10. RESPONDEU-LHEJESUS:“SETIVESSESCONHECIDOADÁDIVA DE DEUS, E QUEM É O QUE TE DIZ: ‘DÁ-ME DEBEBER’, TU LHE TERIAS PEDIDO E ELE TE HAVERIA DADOÁGUA VIVA.”

  1. Digo Eu: “Como és cega em teu conhecimento, falas des- ta maneira; se assim não fora, reconhecerias a dádiva de Deus e Aquele que fala contigo e disse: ‘Mulher, dá-Me de beber!’ Cairias a Seus pés, pedindo uma verdadeira água e Ele te daria de beber uma água viva! Eu te digo, aquele que crê em Minhas Palavras, sobre este derramarei o Meu Espírito, conforme se lê em Isaías 44, 3 e em Joel 3, 1.”

11. ELA LHE RESPONDE: “SENHOR, NÃO TENS COM QUE ATIRAR E O POÇO É FUNDO; DONDE, POIS, TENS ESSA ÁGUA VIVA?”

  1. Diz a mulher: “Parece-me que és conhecedor das Escrituras! Mas, como não tens vasilha e a tua mão não alcançaria a água do poço, desejo saber como pensas consegui-la! Talvez queiras me dar a

entender que desejas algo de mim?! Sou jovem ainda, pois não com- pletei os trinta anos e tenho os meus encantos; mas um desejo desta ordem seria, da parte de um judeu com relação a uma samaritana desprezada, um verdadeiro milagre, pois preferis os animais que nós, samaritanos! Penso que este não pode ser o teu fito!”

12.“ÉSTU,PORVENTURA,MAIORQUENOSSOPAIJACOB,QUENOS DEU ESTE POÇO DO QUAL ELE BEBEU, ASSIM COMOSEUSFILHOSESEU GADO?”

  1. “Quem és então, que falas desta forma comigo? Vê, sou uma pobre mulher, pois se fosse rica não viria pessoalmente, neste ca- lor, buscar água para beber! Queres aumentar a minha infelicidade? Olha as minhas vestes que mal me cobrem o corpo, e saberás que sou bem pobre! Como podes exigir de mim que te sirva para tua satisfação? Que horror, se tal fosse teu intento! Entretanto, não dás esta impressão e eu não quero positivar minha suspeita! Mas, já que falaste comigo, explica-me o sentido de tua água viva!”

13. REPLICOU-LHE JESUS: “TODO O QUE BEBE DESTA ÁGUA TORNARÁATER SEDE!”

  1. Digo Eu: “Considerando a tua cegueira, facilmente se de- duz por que não Me compreendes. Eu te disse: ‘Quem acreditar nas Minhas Palavras, receberá as bênçãos da água viva!’ Fica sabendo que estou há trinta anos neste mundo e jamais toquei nu’a mulher; como poderia desejar a ti?! Oh! Tola que és! E mesmo se isto acon- tecesse, em breve sentirias novamente sede e necessidade de beber para saciá-la! Se Eu te ofereci uma água viva, é claro que desejava com isto saciar tua sede eternamente; pois a Minha Palavra, a Minha Doutrina, é tal água!”

14. “MAS QUEM BEBER DA ÁGUA QUE EU LHE DER, NUNCAMAIS TERÁ SEDE; PELO CONTRÁRIO, POIS QUE SETORNARÁNELEUMAFONTEDEÁGUAQUEEMANAPARAAVIDA ETERNA.”

  1. “Julgas-Me um judeu orgulhoso, entretanto sou, de toda al- ma, meigo e verdadeiramente humilde.

  2. A Minha água viva é justamente esta humildade; quem, por- tanto, não se tornar tão humilde como Eu, não tomará parte no Reino de Deus, que veio ao mundo.

  3. Da mesma maneira, esta água viva que Eu te ofereci é o único e verdadeiro conhecimento de Deus e de sua Vida Eterna, emana portanto Dele, da Vida de toda Vida para os homens, tornando-se então uma vida eternamente inesgotável que volta para Deus, oca- sionando ali esta mesma Vida cheia de liberdade. Vê, foi esta água que te ofereci! Como podes interpretar-Me tão mal?”

    1. DISSE-LHE A MULHER: “SENHOR, DÁ-ME DESSA ÁGUA PARA QUE NÃO TENHA MAIS SEDE NEM NECESSITE VIRTIRÁ-LA AQUI!”

    2. DISSE-LHEJESUS:“VAI, CHAMATEUMARIDOEVEM CÁ!”

  4. “És extremamente tola! Não posso falar contigo, pois não percebes coisa alguma do espírito! Vai à cidade, chama teu marido e volta com ele; falar-lhe-ei e ele compreender-Me-á melhor! Ou será que também é como tu, desejando saciar sua sede natural com a água espiritual da humildade?”

  1. Continuação da cena junto ao poço. Diálogo entre o Senhor e a samaritana a respeito de seu marido. Ela O reconhece como profeta e pergunta onde deveria adorar a Deus a fim de ser curada. A verdadeira adoração de Deus em Espírito e Verdade. Ensinamentos. (João 4, 17–24)

    1. RESPONDEU A MULHER: “NÃO TENHO MARIDO” REPLICOU-LHE JESUS: “DISSESTE BEM QUE NÃO TENS MARIDO.

    2. PORQUE CINCO MARIDOS TIVESTE, E O QUE TENS AGORA NÃOÉTEU MARIDO!”

  1. “Minha filha, os teus cinco maridos morreram porque a tua natureza não correspondia à natureza deles, tanto que o teu convívio

não era suportável além de um ano. No teu corpo residem fluidos destruidores, e quem tem que lidar contigo, em breve é morto por eles. Aquele que vive em tua companhia não é teu marido, mas sim teu amante, para a infelicidade de ambos!”

19. “SENHOR”,DISSE-LHEAMULHER,“VEJOQUEÉSUM PROFETA!”

  1. “Se sabes tanta coisa, talvez saibas o que me possa salvar!”

20. “NOSSOSPAISADORARAMNESTEMONTE(GARIZIM)EVÓS DIZEIS QUE EM JERUSALÉM É O LUGAR ONDE SE DEVEADORARA DEUS!”

  1. “Bem sei que no meu caso somente Deus poderia ajudar-me; mas como e onde devemos adorá-Lo? Já que és um profeta verdadei- ro, esclarece-me isto! Ainda sou moça e o mundo diz que sou bonita; seria, pois, um horror se estes maus fluidos me destruíssem em vida! Oh, como sou infeliz!”

21.DISSE-LHEJESUS:“MULHER,CRÊ-ME,AHORAVEMEMQUE,NEM NESTE MONTE, NEM EM JERUSALÉM, ADORAREIS O PAI!”

  1. “Minha filha, conheço bem tua pobreza, teu sofrimento e teu organismo doentio; também sei do teu coração, que não é bom nem mau, e esta é a razão por que falo agora contigo. Pois, quando a índole é mais ou menos boa, ainda há salvação! Quanto às tuas dúvi- das de como e onde deves adorar a Deus, estás muito enganada! Eu te digo e afirmo: O tempo vem e já chegou em que não ireis adorar o Pai nem em Garizim, nem em Jerusalém!”

  2. Diz a mulher, assustada: “Ai de mim e de todo o povo ju- deu, que devemos ter pecado horrivelmente! Mas por que Jehovah não nos mandou desta vez um profeta que nos advertisse? Que nos adianta tudo isto agora, se dizes que não se adorará a Deus em Gari- zim, nem em Jerusalém? Será que Deus abandonará Seu velho povo e tomará morada no meio de um outro? Dize-me o lugar, para que

possa dirigir-me até lá e adorá-Lo como penitente, a fim de que me ajude e não abandone completamente meu povo?!”

  1. Respondo Eu: “Escuta-Me e compreende o que te digo! — Por que duvidas e tremes? Acaso achas que Deus seja tão infiel em manter Suas Promessas, como o fazem os homens entre si?”

22.“VÓSADORAISOQUENÃOCONHECEIS,NÓSADORAMOSO QUE CONHECEMOS, POIS A SALVAÇÃO VEM DOS JUDEUS!”

  1. “Embora subais a montanha para orardes, não sabeis a quem dirigis vossas preces! O mesmo acontece com aqueles que oram em Jerusalém; vão ao Templo e fazem grande alarde com suas orações, mas também não sabem o que fazem!

  2. Entretanto, a salvação não virá por vós, e sim pelos judeus, conforme Deus falou pela boca dos profetas. Lê o terceiro versículo do segundo capítulo de Isaías, onde tudo está escrito!”

  3. Diz a mulher: “Sei que isto consta ali e que a lei vem de Zion, pois ela será guardada lá na Arca; mas, como dizes: nem em Gari- zim, nem em Jerusalém?!”

23. “MAS A HORA VEM E AGORA É, EM QUE OS VERDADEIROS ADORADORES ADORARÃO O PAI EM ESPÍRITO E VERDADE;POISOPAIASSIMO QUER.”

  1. Digo Eu: “Ainda não Me compreendes! Olha, Deus, o Pai de Eternidade, não é Garizim, nem templo, nem Arca, portanto não está nem em cima da montanha, nem dentro do Templo e tam- pouco dentro da Arca! Por isto te disse: Virá o tempo e já chegou, em que os verdadeiros adoradores (como os estás vendo repousar debaixo das árvores) adorarão Deus, o Pai, em Espírito e Verdade! Pois assim é que o Pai quer que eles o façam!”

24. “DEUSÉESPÍRITO,EÉNECESSÁRIOQUEOSQUEOADORAMFAÇAM-NOEMESPÍRITOE VERDADE.”

  1. “Para isto não é preciso u’a montanha nem um templo, mas somente um coração puro, amoroso e humilde!

  2. Quando o coração é o que deve ser, isto é, um tabernáculo de amor a Deus, cheio de meiguice e humildade, a verdade com- pleta está dentro dele. Onde estiver a verdade, estará também a luz e a liberdade, pois a luz da verdade liberta todo coração! O coração estando livre, também estará a criatura!

  3. Aquele, portanto, que ama a Deus com um coração assim é um verdadeiro adorador do Pai, e o Pai ouvirá sempre a sua prece, porque Ele olhará unicamente o coração do homem, e não o lugar, que não tem valor algum, pois a terra é toda de Deus! Penso que me compreendeste agora!”

28. A samaritana se prontifica a dar de beber ao Senhor. A sede espiritual do Senhor pelos corações dos homens. O poder milagroso do espírito no homem crente. O Senhor Se revela à samaritana como o Messias. (João 4, 25–26)

  1. Diz a mulher: “Senhor, agora sim, pois falaste mais claro! Mas dize-me, não tens mais sede e não queres beber do cântaro de uma pecadora?” — Digo Eu: “Minha filha, deixemos isto de parte, pois tu Me és mais querida do que teu cântaro e tua água. Quando há pouco te pedi de beber, não Me referi ao teu cântaro, mas ao teu coração, onde está uma água muito mais deliciosa do que neste poço. Com a água do teu coração poderás curar também teu corpo, pois aquilo que em ti Me compraz te curará, se tu acreditares!”

  2. Diz a mulher: “Senhor, como farei para oferecer-te a água de meu coração? Perdoa-me se te falo tão abertamente; sou uma criatura miserável, e a miséria desconhece a vergonha, conhecendo unicamente a si mesma. Se eu não fosse tão desprezível, realmente te ofereceria o meu coração. Mas ó Meu Deus, meu querido Pai que me ajude! Estou demasiado doente e não devo juntar novos pecados aos antigos; pois oferecer um coração tão impuro a um Puro como Tu seria, na certa, o maior dos pecados!”

  1. Digo Eu: “Minha querida, enganas-te em pensar que não po- des oferecer-Me o teu coração, pois Eu já Me apossei dele ao te pedir água. Portanto, podes Me ofertá-lo, que aceito também os corações dos samaritanos. Fazes bem se Me amas; pois Eu já te amei muito antes que tu pudesses imaginar!”

  2. Nisto, a mulher enrubesce e diz, um pouco encabulada: “Desde quando me conheces? Já passaste em outra época por este lu- gar? Eu jamais te vi. Peço-te que me digas onde e quando me viste?!”

  3. Digo Eu: “Nem aqui, nem em Samaria, nem em qualquer outro lugar, pois já te conheço desde o teu nascimento, e ainda an- tes disto, e sempre te amei como a Minha Vida! Como aprecias este Meu Amor? Estás satisfeita? Lembras-te quando aos doze anos caíste num poço? Fui Eu que te salvei; tu, porém, não podias ver a mão que te salvou! Estás lembrada disto?”

  4. Com isto a samaritana fica toda confundida, pois seu coração era uma chama viva e seu amor crescia visivelmente.

  5. Após alguns minutos de confusão, Eu lhe pergunto se ela não sabia algo do Messias que devia vir.

25. “EU SEI”, RESPONDEU A MULHER, “QUE VEM O MESSIAS QUE SE CHAMA CRISTO; QUANDO ELE VIER, ANUNCIAR-NOS-ÁTODASAS COISAS.”

  1. Ela Me responde, com as faces coradas: “Senhor, ó mais sá- bio dos profetas de Deus, bem sei que o Messias Prometido deverá vir e que o Seu Nome será Cristo! Se Ele vier, só poderá anunciar o que tu me relataste! Mas quem nos dirá quando e donde Ele vem? Talvez tu possas responder-me isto, e talvez Ele me ajudasse se eu Lhe pedisse?”

26.DISSE-LHEJESUS:“EUOSOU,EUQUEFALO CONTIGO!”

29. O diálogo entre o Senhor e a samaritana é interrompido pela volta dos discípulos. A verdadeira adoração de Deus consiste no amor ativo. Cura da samaritana. Sua alegria e vontade de angariar novos adeptos para o Messias. Os sicharenses mandam uma delegação ao Messias. (João 4, 27– 30)

27. NISTO CHEGARAM SEUS DISCÍPULOS E ADMIRARAM-SE DE QUE ESTIVESSE FALANDO COM U’A MULHER. NINGUÉM,TODAVIA, PERGUNTOU-LHE: QUE PERGUNTAS? OU: QUEFALASCOM ELA?

  1. Com estas Minhas Palavras a samaritana se assusta muito, tanto mais que, justamente neste instante, os discípulos voltam da cidade com os alimentos e se admiram de encontrar-Me conversan- do com u’a mulher, embora não se atrevessem a perguntar o que se tinha passado entre nós. Os outros companheiros, incluindo Minha Mãe, estavam dormindo, pois a viagem os tinha extenuado bastante. Finalmente, também voltou aquele discípulo que tinha ido à vila em busca de uma vasilha, e no entanto não a encontrou. Por isto, ele se desculpa, dizendo: “Senhor, a vila possui umas vinte casas, entretan- to não há vivalma lá e as portas estão fechadas.”

  2. Digo Eu: “Não te preocupes com isto! Pois este fato se nos apresenta seguidamente, que somos levados pela sede do nosso amor a bater nas portas (os corações das criaturas) à procura de uma va- silha para colhermos a água viva. Mas os corações estão fechados e vazios! Compreendes este quadro?”

  3. Diz o discípulo, sensibilizado e perplexo: “Senhor, querido Mestre, infelizmente Te compreendo bem! Mas, assim sendo, não teremos grande êxito!”

  4. Digo Eu: “Apesar disso, Meu irmão, vê esta mulher; Eu te digo: Tem mais valor encontrar um perdido do que noventa e nove justos, os quais, de acordo com sua consciência, não necessitam de penitência! Pois julgam servir a Deus aos sábados em Garizim. Aqui, entretanto, eles tiram na véspera do sábado todos os vasilhames para que ninguém venha saciar sua sede neste poço, o que aos olhos dos justos seria uma profanação! Aqui, porém, está uma pecadora com

um cântaro para nos servir! Dize-Me: O que é melhor? Ela ou no- venta e nove justos em Garizim?”

  1. Diz a mulher, toda contrita: “Senhor, Tu, Filho do Eterno, aqui está meu cântaro! Servi-vos dele, que o deixarei aqui! A mim permiti voltar depressa à vila, pois estou com vestes indignas perante vós!” — Digo Eu: “Filha, tem saúde e faze o que te agrada!”

28.AMULHERDEIXOUOCÂNTARO,FOIÀCIDADEEDISSEAO POVO:

  1. Chorando de alegria ela corre à vila, voltando-se de vez em quando para saudar-nos, pois já Me ama muito. Chegando, quase sem fôlego, à cidade, encontra alguns homens passeando nas ruas, como de costume num sábado. Vendo a mulher tão apressada, eles dizem: “Mas, então houve algum incêndio?” — A mulher responde: “Não gracejeis, senhores, pois o nosso tempo é muito mais sério do que podeis imaginar!”

29.“VINDEVERUMHOMEMQUEMECONTOUTUDOOQUEFIZ;SERÁ,PORVENTURA,O CRISTO?”

  1. Os homens a interrompem cheios de curiosidade: “Mas, o que há? Estão inimigos em marcha contra o nosso país ou aproxi- ma-se uma nuvem de gafanhotos nesta zona?”

  2. Diz a mulher, completamente extenuada: “Nada disto. O as- sunto é muito mais extraordinário! Ouvi-me: quando há uma hora atrás eu me dirigia ao poço de Jacob em busca de água, encontrei um homem à beira da muralha. Depois de ter enchido o meu cântaro sem tomar nota dele, eis que se me dirige e pede um pouco d’água do meu cântaro, o que rejeitei, pois me parecia judeu.

  3. Ele, porém, continuou a falar sabiamente comigo, como um Elias, dizendo-me tudo o que fiz na vida.

  4. Finalmente levou a conversa para o Messias e, quando per- guntei onde, como e quando Ele viria, olhou-me com seriedade e disse, com uma voz que jamais esquecerei: ‘Sou Eu, que estou falan- do contigo agora!’

  1. Antes disso, porém, eu havia pedido se não era possível curar-me das moléstias que avassalavam meu corpo, e Ele, por fim, exclamou: ‘Tem saúde!’ — e todo o meu mal-estar desapareceu!

  2. Ide, portanto, e vede pessoalmente se não é o Cristo Verda- deiro, o Messias Prometido!”

  3. Dizem os samaritanos: “Realmente, se assim for, a nossa época será de grande importância! Seria melhor se fôssemos em nú- mero maior até lá, e que alguns dentre nós tivessem conhecimento das Escrituras. É uma lástima que os nossos sacerdotes se encontrem todos no monte Garizim. Talvez Ele se prontifique em ficar aqui por alguns dias, a fim de que possamos examiná-Lo melhor!”

30.SAÍRAMDACIDADEEVIERAMTERCOM ELE.

  1. Juntaram-se, assim, cerca de cem pessoas para ver o Messias.

  1. Explicação do Senhor a respeito de Seu Alimento Vivo. A grande missão da colheita. “Pedi mais cooperadores!” A tolice do sábado e como deve ele ser celebrado. (João 4, 31–38)

  2. ENTRETANTO,OSDISCÍPULOSLHEROGAVAM,DIZENDO:“MESTRE, COME!”

  1. Enquanto isso, Meus discípulos Me pedem que Eu coma al- go antes, pois sabiam que não tomava alimento quando alguém Me procurava. Embora acreditassem que Eu fosse o Cristo, julgavam-

-Me dum físico fraco, o que os preocupava.

    1. MASELELHESRESPONDE:“TENHOUMMANJARPARACOMERQUE DESCONHECEIS.”

    2. OSDISCÍPULOSDIZIAMUNSAOSOUTROS:“PORVENTURAALGUÉMLHETROUXEDE COMER?”

    3. DISSE-LHESJESUS:“OMEUALIMENTOÉFAZERAVONTADEDAQUELEQUEMEENVIOUACOMPLETARSUA OBRA!”

  1. “Não vos falo de um alimento material, e sim de um espiri- tual, que é muito mais elevado e nobre, e consiste em que Eu faça a Vontade Daquele que Me enviou para concluir Sua Grande Obra!

  2. Ele é o Pai, do Qual dizeis que é o vosso Deus, entretanto não O conheceis! Eu, porém, O conheço e executo o Seu Verbo. Eis o Alimento que desconheceis!

  3. Eu vos digo: Não somente o pão é alimento, e sim toda boa ação e obra; embora não o seja para o corpo, muito mais o é para o espírito!”

35. “NÃODIZEISQUEAINDAQUATROMESESATÉACEIFA? EU, PORÉM, VOS DIGO: ERGUEI VOSSOS OLHOS ECONTEMPLAIESSESCAMPOS,QUEESTÃOBRANCOSPARAA CEIFA.”

  1. “Não falo dos campos da natureza, mas do imenso campo que é o mundo, onde os homens se encontram como o trigo madu- ro, que deve ser recolhido no Celeiro de Deus!”

    1. QUEMCEIFAESTÁRECEBENDOSALÁRIOEAJUNTANDOFRUTOPARAAVIDAETERNA,AFIMDEQUEOQUESEMEIAEOQUECEIFAJUNTAMENTESE REGOZIJEM.

    2. POIS NISTO É VERDADEIRO O DITADO: UM SEMEIA E OUTRO CEIFA.”

  2. “Porque, após a colheita, tanto o semeador como o ceifador comerão de um só fruto e de um só pão da Vida; vede a multidão que vem para ver o Messias; estes já são o trigo maduro, que há mui- to tempo devia ter sido ceifado!

  3. Digo-vos com muita alegria: A colheita é grande e há poucos ceifadores! Pedi ao Senhor da Colheita que envie mais ceifeiros!”

38.“EU VOSENVIEIA COLHERAQUILOQUE NÃOTENDESSEMEADO; OUTROS SEMEARAM E VÓS ENTRASTES NO SEU TRABALHO.”

  1. “Aquele que semeia está longe da colheita; aquele que está ceifando colhe e tem em suas mãos o novo pão da Vida! Portanto, sede colhedores ativos, porque o vosso esforço é mais bem-aventura- do do que o do semeador!”

  2. A maior parte dos discípulos compreende bem este ensina- mento e começa imediatamente a anunciar aos samaritanos a Minha Doutrina do amor a Deus e ao próximo.

  3. Outros, porém, um tanto fracos de compreensão, pergun- tam-Me a sós: “Senhor, donde tirar as foices, quando hoje é sábado?”

  4. Eu respondo: “Por acaso vos disse que devíeis ceifar os cam- pos de trigo? Oh, que sois estúpidos! Quanto tempo terei de aturar-

-vos assim?

  1. Não compreendeis por acaso isto: O Meu Verbo do Reino de Deus, manifesto em vossos corações, de lá se projetando pela vossa língua aos ouvidos e corações de vosso próximo, é a foice espi- ritual que Eu vos dou para ceifardes e colherdes vossos irmãos para o Reino de Deus, ou seja, o Reino do verdadeiro conhecimento de Deus e a Vida Eterna, em Deus!

  2. Realmente, hoje é sábado, mas o sábado é absurdo, como é insensato vosso coração! Eu, como o Senhor do sábado, digo-vos: Exterminai-o de dentro de vós, se quiserdes ser Meus verdadeiros discípulos!

  3. Todos os dias são iguais para o trabalho; quando o Senhor do sábado trabalha, Seus servos não deverão ficar inativos!

  4. Pois o sol não projeta diariamente seus raios para esta terra? Se, portanto, o Senhor do sol como do sábado descansasse, estaríeis satisfeitos com o sábado às escuras? Vede como sois cegos? Por isto, levantai-vos e fazei o que Eu e os Meus discípulos estamos fazendo; assim festejareis um verdadeiro sábado!”

  5. Após estas palavras, os discípulos mais fracos também se dirigem aos samaritanos, ensinando-lhes a Minha Doutrina.

31. O Senhor é reconhecido e aceito pelos samaritanos. Cena entre os cidadãos de Sichar e a samaritana. Discurso desta sobre o verdadeiro distintivo: o amor para com o Senhor. (João 4, 39–42)

39. MUITOS SAMARITANOS DAQUELA CIDADE CRERAM NELEPOR CAUSA DAS PALAVRAS DA MULHER QUE TESTIFICARA:“ELEMEDISSETUDOQUE FIZ.”

  1. E assim passou-se o dia, e muitos, no começo, acreditavam em Mim pelo testemunho da mulher; outros, porém, pelo que di- ziam os discípulos, e mais firmemente aqueles samaritanos que ou- viam Minhas Palavras.

  2. Entre estes havia alguns bem informados sobre as Escrituras, que então dizem: “Este fala como David nos salmos: ‘Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; os mandamentos são puros e iluminam os olhos. O temor do Senhor é limpo e permanece para sempre, os juízos do Senhor são verdadeiros e justos. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino, e mais doces que o mel e o licor dos favos!’ — Nós também o sabemos, e este é o nosso testemunho cheio de verdade e força, que Aquele que assim fala e age como David é o verdadeiro Messias Prometido. Pois a este queremos aceitar!”

    1. QUANDO, POIS, ESTES SAMARITANOS VIERAM TER COM JESUS, PEDIRAM-LHE QUE FICASSE COM ELES; ASSIMPASSOUALIDOIS DIAS.

    2. MUITOS MAIS CRERAM POR CAUSA DAS PALAVRAS DE JESUS.

  3. A samaritana, que também se encontrava no meio deles, dis- se-lhes: “Caros amigos, penso que aceitareis também a mim, pois fui eu quem vos mostrou o caminho até aqui?”

42.EDIZEMÀMULHER:“NÃOÉTANTOPELASTUASPALAVRASQUE NÓS CREMOS; MAS POR QUE NÓS MESMOS TEMOSOUVIDO E SABEMOS QUE ESTE É VERDADEIRAMENTE OSALVADORDO MUNDO.”

  1. Dizem os samaritanos: “É justo que recebas a honra devida, uma vez que não peques mais.”

  2. Diz a mulher: “Infelizmente fazeis um juízo errôneo de mi- nha pessoa. O mal que transmiti aos meus cinco maridos e lhes pro- vocou a morte não foi tanto por culpa própria, e sim pela herança de meus pais. Isto me causou uma moléstia insuportável do coração, e eu resolvi não me unir mais a quem quer que fosse. Decorrido um ano, chegou a Sichar um médico com ervas, tinturas e unguentos, que curou muita gente. Conhecendo o meu estado precário, tam- bém o procurei.

  3. Ele, porém, disse-me: ‘Mulher, daria um mundo inteiro se me fosse possível curar-te, pois jamais vi uma criatura tão linda como tu! Mas, já que não posso curar-te completamente, poderei, contudo, aliviar-te o sofrimento!’ Ele veio, então, morar em mi- nha companhia, dando-me diariamente os remédios necessários e tomou conta de mim; jamais, porém, tocou-me com intenções condenáveis!

  4. Perante Deus, tanto eu como vós somos pecadores; mas, aos vossos olhos, não me acho tão culpada como me julgais. Aqui, porém, está Quem pode julgar com justiça; perguntai-Lhe e Ele vos dirá até que ponto eu mereço ser chamada abertamente uma pecadora!”

  5. Os samaritanos se admiram muito destas palavras da sama- ritana e dizem: “Bem, não fiques logo ofendida, pois não tínhamos esta intenção; em compensação, serás uma cidadã de honra em Si- char. Estás satisfeita com isto?”

  6. Diz a mulher: “Oh! Não vos preocupeis com a honra de uma pobre mulher! Já tomei a mim a maior parte da honra!”

  7. Dizem os samaritanos: “Mas como? Nada nos consta a res- peito de um distintivo! Donde o tiraste?”

  8. Diz a mulher, apontando para Mim com lágrimas de ver- dadeiro amor e gratidão: “Aqui Ele ainda Se encontra! É a minha única honra; honra esta que tampouco o mundo me poderá dar ou tirar, pois foi dada por Ele Mesmo! Sei perfeitamente que, em abso-

luto, tenho mérito para receber uma honra Dele, Senhor de toda a Glória! Ele, porém, deu-ma, e eu a recebi antes de vós, pois não O conhecíeis, e isto é um distintivo verdadeiro e tem seu valor por toda a Eternidade! O vosso é apenas temporário e somente para Sichar. Deste eu desisto! Espero que compreendais agora como e de onde recebi a maior parte da verdadeira honra!”

  1. Dizem os samaritanos: “Mas será privilégio o fato de teres encontrado, casualmente, em primeiro lugar, o Cristo? Nós também O achamos e O louvamos em nossos corações, como tu, e Ele nos prometeu, como também a ti, permanecer mais dois dias em nossa cidade. Como podes, então, falar de uma honra especial?”

  2. Diz a mulher: “Meus amigos, se eu quisesse discutir convos- co, jamais acharíamos um fim. Falei-vos a verdade e não a repetirei! Muitos de vós estudaram a lei romana e se tornaram juízes dentro desta lei que alegam ser sábia. Eu compreendo o idioma romano e li o seguinte: Primo occupantis jus!Fui a primeira e não podeis tirar-me este direito!” A isto os samaritanos não sabem o que responder, pois apreciavam muito as leis de Roma.

32. Cena deliciosa entre o Senhor e a samaritana, em cuja casa Ele quer hospedar-Se. Discurso do Senhor aos samaritanos. O Senhor vê o coração, o homem vê o exterior. A honra da samaritana.

  1. Neste meio tempo a noite se havia aproximado e todos que Me acompanharam desde a Judeia e se encontravam adormecidos começam a despertar pouco a pouco, e se admiram ao notar que já é noite fechada! Perguntam-Me, então, o que deveria acontecer: se procurariam um albergue ou se a marcha iria prosseguir.

  2. Eu lhes digo: “Enquanto as criaturas dormem, o Senhor fica vigiando e Se preocupa com tudo; vós nada tendes a fazer, senão ficar a Meu lado. Levantai-vos, portanto, para entrarmos na cidade dos samaritanos! Encontraremos um bom albergue para todos; esta mulher que Me rejeitou a água possui uma casa espaçosa e não nos negará pousada por dois dias!”

  1. A samaritana se ajoelha, soluçando de amor e alegria, e diz: “Senhor, meu Salvador, eu, que sou pecadora, como mereço es- ta graça?!”

  2. Digo Eu: “Acolheste-Me em teu coração, que é muito mais precioso que tua casa, portanto creio que também Me acolherás nela, que igualmente foi construída por Jacob para seu filho José. Acontece, porém, que somos muitos e terás muito trabalho, o que te será recompensado mil vezes!”

  3. Diz a mulher: “Senhor, e se fôsseis dez vezes mais, abrigar-

-vos-ia a todos, de acordo com os meus recursos! A minha casa, embora já muito velha e defeituosa, possui muitos quartos arejados e mobiliados com simplicidade; é habitada por mim, por meu médico e alguns criados seus. Eu, porém, digo-Te: Senhor, ela é Tua, pois tens o direito mais antigo! Vem, portanto, Tu, que és o Senhor de tudo o que nela se encontra!”

  1. Digo Eu: “Minha filha, tua fé é imensa e amoroso o teu cora- ção, por isto serás Minha discípula, e onde quer que este Evangelho for anunciado deverá ser feito menção de ti!”

  2. Os samaritanos se aborrecem não pouco, e Me dizem: “Se- nhor, também possuímos casas, e teria sido mais decente se Tu tives- ses procurado um albergue conosco. A casa desta mulher é difamada e, além disto, assemelha-se mais a uma ruína do que a uma casa!”

  3. Digo Eu: “Já Me acompanhais durante três horas e sabeis quem Eu sou e que já é noite; como, então, nenhum de vós nos ofereceu um albergue, embora tivesse Eu cedido ao vosso pedido de permanecer mais dois dias aqui?!

  4. Vi o coração desta criatura e observei sua ansiedade de que aceitasse sua hospedagem! Não fui Eu, portanto, quem pediu, e sim seu coração! Mas, como não ousava externar diante de vós este dese- jo, Eu vim ao encontro dele e pedi o que tão amorosamente e cheio de saudade e disposição deseja dar-Me!

  5. Este é o motivo mui concludente, pelo qual irei hospedar-

-Me na casa desta mulher! Feliz daquele que não se aborrecer por isto!

  1. Digo-vos mais: Da maneira como semeais, ides colher; quem semeia economicamente, colherá parcamente; quem semeia fartamente, colherá com abundância. Dentre vós, ninguém ofereceu algo a Mim ou a Meus discípulos; esta, porém, deu-Me tudo que possui! Achais injusto que lhe dê uma honra merecida? Quem de vós discutir com ela se verá Comigo!”

  2. Os samaritanos não sabem o que dizer, e finalmente pedem licença para visitar-Me no dia seguinte.

  3. Eu lhes respondo: “Não vos convido, nem exijo a vossa pre- sença; quem quiser vir de livre e espontânea vontade, não encontra- rá as portas fechadas!”

  4. Os samaritanos se levantam e se dirigem para a cidade. Eu, porém, permaneço mais algum tempo ao lado do poço, onde a sa- maritana saciava a sede de todos que Me acompanhavam.

33. Acontecimentos milagrosos em casa da samaritana. O médico e os samaritanos mosaístas. Ultraje infame deles com referência a Jesus e o castigo merecido. Relato do médico e advertência do Senhor.

  1. O médico da samaritana, porém, que também estava ali, di- rige-se às pressas para a casa a fim de preparar pousada e jantar para Mim. Qual não é sua surpresa ao encontrar quase tudo feito, tudo que iria determinar aos empregados! Tanto que lhes pergunta quem tinha dado aquelas ordens. Eles respondem: “Um jovem de uma figura maravilhosa aproximou-se de nós e disse: ‘Arrumai tudo, por- que o Senhor, que virá até esta casa, o necessita!’ Com esta ordem, executamos tudo que o jovem mandou!”

  2. O médico se admira e pergunta: “Mas onde está este jovem?!”

  1. Em seguida sai correndo para avisar-Me que está tudo preparado!

  1. No meio do caminho ele dá com uns ultramosaístas, que lhe dizem: “Amigo, não fica bem correres assim num sábado; ignoras, por acaso, como se profana o dia de Jehovah?”

  2. Diz o médico: “Cavalgadores de letras de Moysés! Julgais que andar depressa num sábado, cujo sol já se foi, é pecado? Mas, se pecais pela carne, com vossas mulheres e prostitutas, que vos parece isto? Será que Moysés instituiu isto num feriado de Jehovah?” — Dizem os samaritanos: “Se não fosse sábado, nós te apedrejaríamos! Por hoje serás perdoado!” — Diz o médico: “Realmente, vossa ati- tude se aplica bem numa época em que o Messias Prometido Se en- contra justamente às portas de Sichar, e eu me apresso em avisá-Lo de que tudo está pronto para a Sua recepção! Então, não sabeis o que sucedeu?”

  3. Dizem os samaritanos: “Contaram-nos que uma caravana de judeus fez acampamento perto do poço de Jacob e que um deles, certamente o dirigente, alega ser o Cristo. Tu és médico e não com- preendes que os judeus querem pregar-nos uma peça? Que Messias? De onde?! Pensas que não o conhecemos? Pois não somos também da Galileia e vossos irmãos na fé, severos nas leis de Moysés? Conhe- cemos este nazareno, que é filho dum carpinteiro. Como o trabalho não lhe agradasse, ele se deixa explorar pelos fariseus aplicando algu- mas artes mágicas, dizendo-se o Messias! E tolos como tu acreditam nas suas palavras sedutoras! Deviam ser todos presos, depois açoita- dos e jogados para lá da fronteira, como imundos!”

  4. Diz o médico: “Oh, que sois cegos! Em minha casa os anjos esperam o Senhor e trouxeram comida, bebida e leitos dos Céus pa- ra Ele, e dizeis tamanha estultice! Que o Senhor vos castigue!”

  5. Mal o médico havia pronunciado estas palavras, dez dentre eles perdem a fala, permanecendo neste estado durante a Minha Presença em Sichar.

  6. O médico os deixa, volta a Mim e exclama: “Senhor, a Tua casa está preparada! Tudo se deu milagrosamente! Mas, na volta para cá, fui abordado por um número de difamadores que se atreveu a dar um testemunho criminoso a Teu respeito! Isto, porém, não du-

rou muito tempo, pois o Teu anjo castigou-lhes a boca e dez emude- ceram; dois outros fugiram!”

  1. Digo Eu: “Tem calma, tudo isto tinha que acontecer, a fim de que aqueles que já creem em Meu Nome não fossem desvia- dos. Agora vamos, e tu, querida mulher da Samaria, não te esqueças do teu cântaro!” — Mais uma vez a samaritana enche seu cântaro e o leva para casa. Assim se passou metade do primeiro dia perto de Sichar.

34. Anotações dos ensinamentos e milagres do Senhor pelo evangelista João. O Senhor, acompanhado de Seus discípulos, vai à velha casa de José em Sichar. Preparativos dos anjos para a Santa Assembleia. A relação entre DEUS-PAI e DEUS-FILHO.

  1. Meu discípulo João, porém, pergunta: “Senhor, se Tu permi- tires, eu poderei anotar, durante a noite, tudo que se passou?!”

  2. Digo Eu: “Nem tudo, Meu irmão, mas sim aquilo que Eu te disser. Porque, se fosses anotar tudo integralmente, encherias vários pergaminhos; quem, porém, iria ler e compreender tudo isto? Se, entretanto, escreveres somente os pontos principais numa corres- pondência certa, como é de tua particularidade, todos que possu- írem alguma noção espiritual compreenderão tudo que se passou e tu pouparás tempo e forças. Assim, facilitarás teu trabalho e, ao mesmo tempo, serás o primeiro escrivão da Minha Doutrina e dos Meus Feitos.”

  3. João Me abraça e nos dirigimos para a cidade e a casa de José, em companhia da samaritana e do médico.

  4. Em lá chegando, ela encontra uma arrumação para a Mi- nha Chegada como jamais tinha imaginado! Há uma quantidade de mesas e bancos, e em cima de cada mesa um castiçal de prata! O soalho está coberto com lindos carpetes, as paredes ornamentadas simetricamente com tapetes floridos, e dentro dos mais belos cálices de cristal, resplandece um precioso vinho!

  5. A mulher custa a voltar a si, e só depois de alguns minutos exclama: “Mas, Senhor, que fizeste? Ordenaste isto aos Teus discí-

pulos? Donde foram buscar isto tudo? Eu sei o que tenho: de prata e ouro, nada, e aqui está tudo abarrotado com estes metais! Jamais vi um cálice de cristal igual a este! E aqui vejo mais de cem! Oh, Senhor, dize-me, donde vem tudo isto?”

  1. Digo Eu: “Não afirmaste, há pouco, que esta casa é Minha? Assim sendo, não seria delicado de Minha parte apresentar à doado- ra um ambiente indigno! Eu também sou possuidor de bom gosto, e penso que estás contente com esta troca.

  2. Aprendi isto com Meu Pai; as Moradas Dele são munidas dos mais delicados adornos, o que podes observar pelas flores que enfei- tam os campos, sendo a mais simples mais linda do que Salomon em seus trajes de Rei!

  3. Se o Pai já enfeita as flores que murcham rapidamente, quan- to mais não o fará em Sua Casa, que está nos Céus? Mas o que faz o Pai, também Eu faço, porque Eu e o Pai somos UM! Quem aceita a Mim, também aceita o Pai, pois Ele está em Mim, como Eu estou Nele! Quem Me fizer algo, fazê-lo-á também ao Pai! Portanto, não podes dar-Me algo sem receberes, em troca, cem vezes mais!

  4. Agora vamos à mesa, pois há muitos famintos e sedentos en- tre nós. Depois de termos refeito as nossas forças, continuaremos a nossa palestra!”

35. Em Sichar. — Relato do servo a respeito da arrumação milagrosa da casa. Veneração e reconhecimento da samaritana perante o Senhor. Sua Ordem de silêncio e Seu Cuidado por Maria. Os discípulos veem os Céus abertos. Boa confirmação de Nathanael. Advertência do Senhor para silenciarem sobre o segredo milagroso.

  1. Após a refeição, a samaritana se Me aproxima novamente, mas não ousa falar, pois durante o repasto conversou com os em- pregados do médico, querendo saber como se tinha dado aquela arrumação extraordinária. Os criados lhe respondem: “Querida se- nhora, só Deus sabe como se deu isto! Nós fizemos quase nada, e o médico ainda menos. Quando, muito antes da chegada dele, nos ocupávamos com nossos afazeres, apareceu um jovem de uma beleza

retumbante e nos disse o que devíamos fazer. Mas o que é mais des- concertante é que, quando íamos executar suas ordens, tudo já esta- va feito! Acreditamos que aqui tenha agido a Onipotência de Deus e que o jovem fosse um anjo! Aquele que entrou a teu lado deve ser um grande profeta, pois as Forças Divinas Lhe servem!”

  1. Ouvindo isto, a samaritana perde mais de sua coragem e só consegue balbuciar com voz fraca: “Senhor, Tu és mais que o Mes- sias! Infalivelmente foste Tu quem castigou o Faraó, salvou os israe- litas no Egito e ordenou-lhes as Tuas Leis no Monte Sinai!”

  2. Eu, porém, lhe digo: “Mulher, ainda não chegou a hora em que o mundo deva saber disto, portanto guarda-o em teu coração! Agora te peço, distribui nos diversos quartos a multidão que Me acompanha; tu, porém, o médico e os Meus discípulos, em número de dez, ficai aqui. A esta, que vês a Meu lado e é Minha Mãe, darás o melhor leito, pois está cansada e necessita de um bom repouso.”

  3. A samaritana, muito contente em conhecer Minha Mãe na- quela criatura tão despretensiosa, trata-a com todo o carinho. Maria lhe agradece e recomenda que faça tudo que Eu lhe pedir.

  4. Depois de tudo calmo, sentamo-nos na sala de refeição e Eu então Me dirijo aos discípulos, dizendo: “Estais lembrados do que vos disse em Bethabara: De agora em diante, vereis os Céus abertos e os anjos de Deus descerem sobre a terra! E vede, isto está se dando em verdade! Pois tudo que vedes aqui e que comestes e bebestes não é desta terra: foi trazido dos Céus pelos anjos de Deus! Agora abri vossos olhos e vede quantos anjos estão prontos para servir-Me!”

  5. Com isto, abriu-se a visão espiritual de todos, que viram a imensidade de anjos descerem dos Céus.

  6. Diz Nathanael: “Senhor, Tu és Verdadeiro e Fiel! Tudo que disseste se realiza maravilhosamente! Em verdade, Tu és o Filho de Deus Vivo! Com Abraham, Deus falou pelos Seus anjos; Jacob viu em sonho uma escada pela qual os anjos desciam e subiam; a Jeho- vah, porém, não viu, a não ser um anjo, que tinha o Nome de Deus escrito na sua direita. Como Jacob duvidou que fosse Jehovah, tor- nou-se coxo, devido a um golpe que recebeu. Moysés falou com

Jehovah, mas só viu fogo e fumaça, e quando teve de se ocultar em uma gruta, porque Jehovah iria passar por aí, não devia mirá-Lo até que tivesse passado! Mas, depois, teve que cobrir seu rosto com uma tríplice coberta, pois iluminava mais que o sol e ninguém po- dia vê-lo sem morrer! Ainda houve Elias, que percebia Jehovah pelo sussurro delicado. E agora — Tu estás aqui!”

  1. Eis que Eu interrompo a dissertação de Nathanael e digo: “Basta, Meu irmão, a hora ainda não é chegada! Somente a uma alma pura como a tua, sem hipocrisia e subterfúgios, é possível con- ceber isto! Mas guarda-o para ti, pois nem todos têm este preparo!

  2. Esta samaritana não era como tu, mas tornou-se assim; por isto, sente o que disseste. Quando o véu do Templo se rasgar em dois, podereis afastar a coberta da face luminosa de Moysés!”

36. Em Sichar. — O Senhor informa a João que nem tudo se presta a ser anotado. Promessa da atual Revelação. “Basta que tu creias e Me ames!” O Messias e o Seu Reino. Bênçãos para o médico e a samaritana. Joram e Irhael são unidos pelo Senhor num matrimônio verdadeiro e indissolúvel. O Senhor não dorme.

  1. Pergunta-Me João: “Senhor, isto é preciso que eu anote, pois é mais que o milagre de Caná e prova de onde vieste!”

  2. Digo Eu: “Deixa isto; o teu Evangelho é um testemunho pa- ra o mundo que não tem a verdadeira compreensão; portanto, para que o teu sacrifício? Julgas que te dará crédito? Estes que aqui se acham acreditam porque viram! O mundo que está nas trevas não poderá acreditar, pois não imagina as obras da Luz! E se tu fosses explicá-las, serias ridicularizado! Anotarás só aquilo que faço aber- tamente; o resto, mesmo sendo milagroso, anotarás em teu coração!

  3. Tempo virá em que todas estas coisas sagradas serão reveladas ao mundo; mas, até lá, muitos frutos verdes cairão das árvores. Em- bora estejam cheias de frutos, nem um terço chegará à maturação. Os dois terços deverão ser pisados, apodrecendo e secando, para que uma chuva os dissolva e um vento forte os leve para o tronco, fina- lizando um segundo nascimento!”

  1. Diz João: “Senhor, isto é muito profundo; quem o com- preenderá?”

  2. Digo Eu: “Também não é preciso! Basta que tu creias em Mim e Me ames; a compreensão mais profunda de tudo virá quan- do o Meu Espírito da Verdade for espargido sobre vós! Antes disto, muitos se aborrecerão Comigo e em Meu Nome!

  3. Todos vós tendes ainda uma noção errônea do Messias e do Seu Reino, e levará tempo até que tudo se esclareça den- tro de vós!

  4. Pois o Reino Dele não será um reino deste mundo, e sim do Espírito da Verdade, no Reino Eterno de Meu Pai, que jamais terá fim! Quem for admitido nele terá a Vida Eterna, que é uma bem-a- venturança a qual jamais alguém viu, ouviu e sentiu!”

  5. Diz Pedro, que andava calado: “Senhor, quem poderá capaci- tar-se para esta felicidade?”

  6. Digo Eu: “Meu amigo, hoje é tarde e necessitais de repouso, a fim de que estejais fortes para a labuta de amanhã! Assim, finalize- mos o dia de hoje para andarmos amanhã em boa luz. Que cada um procure o seu leito!”

  7. Todos voltam à visão natural e acham uma espécie de di- vã para o repouso. Os discípulos, bastante cansados, agradecem e se deitam.

  8. Somente Eu, o médico e a samaritana continuamos acorda- dos. Quando veem estes os outros adormecidos, ajoelham-se diante de Mim e agradecem fervorosamente a grande Graça que lhes suce- deu; ao mesmo tempo, pedem permissão para também seguir-Me.

  9. Eu, porém, lhes digo: “Não é isto necessário para vossa feli- cidade; mas, já que assim o quereis, fazei-o em vosso coração! Deveis permanecer aqui como Minhas Testemunhas.

  10. Tu, Meu querido Joram, serás de agora em diante um ver- dadeiro médico! A quem aplicares tuas mãos, terás curado, seja o mal qual for! Fora isto, deveis unir-vos num matrimônio indissolú- vel, pois, do contrário, a vossa convivência seria um escândalo para os cegos, que só veem o exterior.

  1. Tu, Joram, não precisas temer a Irhael, que está comple- tamente curada de corpo e alma. E tu, Irhael, terás em Joram um marido dos Céus e a felicidade completa; pois ele não é um espírito da terra, e sim do Alto!”

  2. Diz a mulher: “Oh, Jehovah, como és Bom! Quando será de Tua Vontade que nos unamos perante o mundo?”

  3. Digo Eu: “Já vos uni — e esta união é a única que tem valor, tanto nos Céus como na terra! Eu vos digo: Desde Adam não houve sobre a terra uma união mais perfeita que a vossa, pois foi abenço- ada por Mim!

  4. Amanhã cedo virão para cá muitos sacerdotes e cidadãos desta cidade; deveis contar-lhes que sois casados perante Deus e o mundo! E se algum dia tiverdes filhos, educai-os de acordo com a Minha Doutrina e batizai-os em Meu Nome, como tereis oportuni- dade de assistir amanhã ao batismo de muitos. E tu, Joram, começa- rás também a batizar todos que creem em Meu Nome!

  5. Agora recolhei-vos, mas, enquanto Eu permanecer nesta ca- sa, não vos aproximeis um do outro! Tampouco vos preocupeis com a mesa e a adega, que serão providas pelos Céus! Mas não comenteis isto, pois ninguém o aceitaria. Quando Eu tiver deixado este lugar, podereis contar este milagre.”

1º DIA EM SICHAR, UMA CIDADE DA SAMARIA

37. Cântico dos sacerdotes em Sichar. O Senhor os ordena para o monte. Convocação de Matheus como evangelista e apóstolo. A natureza dos sonhos.

  1. De manhã cedo, quando o sol ainda não tinha subido um palmo além do horizonte, já se aproximava um grande número de sacerdotes da casa de Irhael, começando a gritar com voz estridente: “Aleluia, aleluia, e um salve para Aquele que veio em Nome da Gló- ria de Deus! Ó sol e tu também, ó lua, estacionai até que o Senhor de toda a Glória venha bater e destruir, com Sua Mão poderosa, todos os Seus inimigos, que também são os nossos! Poupa apenas os

romanos, pois são nossos amigos e nos protegem contra os judeus, que já não são filhos de Deus, e sim filhos de Satanás, fazendo sacri- fícios a esse pai no Templo que Salomon construiu em Tua Honra! Fizeste bem, ó Senhor, em vir para perto dos Teus Filhos verdadei- ros, que acreditavam nas Tuas Promessas e Te esperavam até hoje, com ansiedade! Se bem que vieste dos judeus — pois consta que a Salvação virá por eles — ouvimos como os castigaste no Templo com os Teus açoites! Que todos os Céus Te rendam louvores com salmos, harpas e trombetas! Afirmávamos sempre que Tu não dei- xarias de passar neste lugar abençoado em que Daniel, Teu profeta, anunciou o horror de devastação de Jerusalém! E é daqui que irás anunciar a Salvação dos povos! Abençoado Teu Nome, Glória nas Alturas e salve a todos de boa vontade!”

  1. Esta gritaria, em parte sensata e em parte absurda, atrai uma grande multidão. O vozerio aumenta mais e mais, e todos dentro de casa se veem obrigados a levantar-se para ver o que se passa. Os dis- cípulos são os primeiros e Me perguntam se não seria aconselhável afastar-nos dali.

  2. Mas Eu lhes digo: “Como sois medrosos! Ouvi como cantam Aleluia, e onde se faz isto não poderá haver perigo!”

  3. Os discípulos se acalmam e Eu continuo: “Descei e informai-

-os de que devem calar-se e dirigir-se à montanha, pois irei até lá às seis horas (quer dizer, depois do meio-dia) com todos vós e procla- marei a Salvação! Que levem também escrivães para as necessárias anotações!

  1. Tu, Meu querido João, não precisas fazer isto, pois haverá muitos que o farão. Aqui se encontra um judeu da Galileia com nome de Matheus; já anotou muita coisa de Minha Adolescência e, como é muito ligeiro, facilmente anotará tudo. Chamai-o, pois que- ro falar com ele. Informai também os primeiros sacerdotes e aqueles que estavam presentes ontem, perto do poço!”

  2. Enquanto os discípulos executam as Minhas Ordens, os ou- tros convivas, junto com Maria, entram na sala de refeição, cum- primentam-Me com carinho e contam, rapidamente, sonhos ma-

ravilhosos que tiveram durante a noite e se era possível ligar-lhes importância.

  1. Eu lhes digo: “A alma só vê aquilo que lhe é afim! Se ela se encontra na verdade e bondade daquilo que vos ensinei, só poderá ver coisas verídicas, tirando dali boas conclusões para sua vida. Se, entretanto, achar-se na mentira e, através disto, na maldade, só verá em sonho coisas erradas, concluindo para si a maldade. Como vos encontrais na verdade pela Minha Doutrina, vossa alma só poderia ver a verdade, pelo que chegará a fazer muita coisa boa.

  2. Agora, se ela consegue penetrar naquilo que vê, isto é um assunto diferente. Assim como há muitas coisas no mundo exterior que não compreendeis, a alma também poderá não compreender o que vê dentro de seu mundo. Quando, como já disse a Nicodemus, o vosso espírito renascer na alma, facilmente compreendereis tudo!” Todos se retiram satisfeitos com esta explicação.

38. Em Sichar. — Matheus, antigo escrivão, é indicado para anotar o Sermão da Montanha. Discurso de recepção do Sumo Pontífice dirigido ao Senhor. Resposta Deste. Ensinamentos. “Não somente ouvindo, mas sim agindo dentro de Minha Doutrina, ela vos trará a Salvação!” Almoço campestre.

  1. Nisto se aproxima a hospedeira com seu esposo, cumprimen- ta-Me com dignidade e pergunta se queremos tomar a primeira re- feição, pois já está tudo preparado.

  2. Eu lhe digo: “Querida Irhael, espera mais um pouco, os dis- cípulos trarão mais alguns hóspedes que tomarão parte no almoço e que saberão, por Mim, que tu e Joram sois um verdadeiro casal; verão também que a vossa casa não é uma ruína, e sim, tanto interna como externamente, uma casa de primeira ordem desta cidade, e por isto Eu Me hospedei aqui!”

  3. Eis que Pedro e João abrem a porta e fazem entrar Matheus, que se inclina diante de Mim e diz: “Senhor, estou pronto a servir-Te integralmente! Sou escrivão de profissão, mantendo assim minha pe- quena família; mas, se Tu precisares de mim, abandonarei neste mo- mento o meu emprego e Tu, Senhor, não deixarás perecer os meus.”

  1. Digo Eu: “Quem Me segue não deve preocupar-se, a não ser em ficar a Meu lado para sempre. Olha esta casa: seus legítimos do- nos abrigarão em Meu Nome a tua família, bem como a ti, quando vieres até cá!”

  2. Matheus, que conhecia esta casa como ruína, diz admirado: “Senhor, aqui deu-se um grande milagre! Esta ruína tornou-se um palácio como não haverá outro em Jerusalém! E este arranjo luxuoso devia ter custado milhões!”

  3. Digo Eu: “Se te convenceres de que muita coisa que para o homem parece irrealizável é possível para Deus, saberás como esta ruína pôde ser transformada num palácio! Agora, tens o material necessário para escrever?”

  4. Fala Matheus: “Possuo o suficiente para três dias.”

  5. Digo Eu: “Isto basta para dez dias; mais tarde, prover-nos-e- mos noutro lugar! Fica aqui e toma parte no nosso almoço; depois de meio-dia subiremos à Montanha! De lá anunciarei a Salvação a estes povos; escreverás tudo, conforme falarei, em três capítulos, subdivididos em pequenos versos como o fazia David. Procura mais alguns escrivães, que tirarão cópias para este lugar.”

  6. Fala Matheus: “Senhor, a Tua Vontade será cumprida!”

  7. Depois desta conversa necessária com Matheus, os outros discípulos entram em companhia dos sacerdotes e outras notabilida- des de Sichar, que Me cumprimentam completamente contritos. O primeiro sacerdote se adianta e diz: “Senhor, preparaste bem a Tua Morada, para que fosse digna de receber-Te! Salomon construiu o Templo com muito esplendor, a fim de que merecesse a Presença de Jehovah entre os homens, mas estes profanaram esta Morada pelos seus vícios horripilantes, e Jehovah abandonou o Templo e a Arca, e veio a nós na Montanha! Assim como Tu: de início estiveste em Jerusalém; não recebendo acolhimento, Te encaminhaste para nós, Teus antigos adoradores.

  8. E agora realizar-se-á conforme consta em Isaías 2, 2–3: ‘E acontecerá, no último dos dias, que se formará o Monte da Casa do Senhor no cume dos montes e se exalçará por cima dos outeiros; e

concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos e dirão: Vin- de, subamos ao Monte do Senhor, a Casa do Deus de Jacob, para que nos ensine acerca de Seus Caminhos e andemos em Suas Vere- das; porque de Zion sairá a Lei, e de Jerusalém a Palavra do Senhor.’

  1. Todos nós estamos contentíssimos como uma noiva quan- do vem o noivo e lhe oferece, pela primeira vez, seu coração, sua mão e sua saudação! Em verdade, Senhor, Jerusalém, a Cidade Eleita pelo grande Rei, tornou-se desprezível e Te não merece! Não que nós nos achássemos meritosos — pois o que não é preciso para ter mérito perante Deus? — mas uma coisa está certa: se o Senhor tiver que escolher entre dois males, escolherá a nós como o mal menor! E isto se realiza diante dos nossos olhos, de uma forma milagrosa! És Tu Quem esperávamos há tanto tempo; por isto, Aleluia a Ti, que vens em Nome do Senhor!”

  2. Digo Eu ao orador: “Sim, falaste certo, mas Eu também vos digo: se ouvis a Minha Doutrina, deveis aceitá-la e permanecer ati- vos dentro dela; só então tomareis parte na Salvação, que vos anun- ciarei do cume da Montanha! Pois, se bem que a Graça vos vem do Alto, ela não ficará convosco se não for posta em ação! Será o mesmo se tu te encontrares faminto debaixo de uma árvore cheia de frutos; ainda que o vento a sacuda e os figos maduros caiam, se tu não os apanhares e comeres, por acaso te saciarão?

  3. Não basta ouvir, e sim agindo pela Doutrina é que recebeis a Salvação que veio a vós de Jerusalém! Compreendeste isto?”

  4. Fala o orador: “Sim, Senhor, pois como Tu, só Deus po- derá falar!”

  5. “Pois bem”, digo Eu, “então, vamos ao almoço; depois anotarás que Eu abençoei, ontem à noite, o matrimônio de Irha- el e Joram, e que ninguém mais se escandalize com eles! Que assim seja!”

  6. Todos se sentam para saborear um bom leite com pão e mel.

39. Em Sichar. — O almoço em casa de Irhael. Discursos. Leite e mel da Judeia, os melhores do mundo. O discurso do sábio em louvor do Criador. Dissertação do Senhor sobre a meta do homem para a perfeição.“Meu jugo é suave e Meu fardo, leve!” A Verdadeira Casa de Deus: a natureza livre e a alma humana. O Sermão da Montanha. (Matheus capítulos 5, 6 e 7)

  1. Hoje em dia, este gênero de almoço não seria considerado muito delicioso; porém, num país que era, ao pé da letra, inundado por leite e mel, não deixava de sê-lo; pois o mel da Judeia era o me- lhor do mundo e ainda o é, assim como o leite, que não podia ser ultrapassado por qualquer outro.

  2. Em seguida, serviram-se frutas saborosas e todos louvavam a Deus que lhes dava este sabor!

  3. Um dentre os convivas, que era um sábio, disse: “Não se pode louvar suficientemente a Sabedoria, Onipotência e Bondade de Deus! Pois a chuva cai na terra, milhares de plantas, arbustos e árvores sugam esta mesma chuva e se encontram no mesmo solo; entretanto, cada espécie possui um paladar, um odor e uma forma diferentes!

  4. E no reino animal, vede os espécimes da terra, da água e do ar! Que quantidade e variedade, desde a mosca ao elefante, da traça até o cavalo-marinho! Senhor, que Força, que Poder e que Profunde- za Infinita de Sabedoria devem existir em Deus, que conduz o sol, a lua e todas as estrelas, mantendo o mar na profundeza, construindo as montanhas sobre a terra e criando a terra mesma pelo Seu Verbo Onipotente!”

  5. Digo Eu: “Sim, sim, Deus é sumamente Sábio e Justo, e não precisa de conselhos e ensinos de ninguém, quando quer criar algo! Eu, porém, vos digo: O homem não tem menos direito em tornar-se perfeito como é Perfeito o Pai nos Céus!

  6. Até então, isto era impossível, porque a morte dirigia o cetro sobre a terra; de agora em diante, será possível para todos viver de acordo com a Minha Doutrina, quando isto for da von- tade da criatura!

  1. Penso que, se Deus oferece esta possibilidade à criatura em troca de um pequeno esforço, o homem não deveria ter receio de trabalhar com afinco para conseguir esta Graça!”

  2. Diz o Sumo Pontífice: “Sim, Senhor, pelo mais sublime, o homem deve arriscar o máximo! Quem quiser apreciar a vista do alto de uma montanha, forçosamente terá que se sujeitar a uma su- bida penosa. Quem quiser colher, deverá primeiro arar a terra e se- mear; e quem souber que poderá ter algum lucro, há de arriscar algo! Assim que, uma vez de posse dos Teus Ensinamentos, não poderá haver dificuldade em alcançarmos o que nos anunciaste: a perfeição, como é Perfeito o Pai nos Céus!”

  3. Digo Eu: “Exato, e ainda acrescento: O Meu jugo é suave e o Meu Fardo é leve! Mas os homens tiveram um fardo pesado so- bre seus ombros, nada conseguindo com isto; resta saber que rumo tomará sua fé, quando trocar o peso de antanho por uma novidade suave! Não irão dizer: Se pelo sacrifício e esforço não realizamos coisa alguma, o que esperar de um trabalho infantil?

  4. Eu vos digo: Tereis que tirar o velho ‘eu’, como se tira uma roupa velha, e vestir outra completamente nova! No começo ela não será muito cômoda; mas quem não se impressionar com um peque- no mal-estar alcançará a perfeição de que vos falei.

  5. Agora aprontai-vos, pois iniciaremos o nosso pequeno pas- seio à montanha! Quem quiser acompanhar-Me que se levante, e tu, Matheus, vai sem demora buscar teu material para escrever!”

  6. Diz Matheus: “Senhor, sabes de minha boa vontade em servir-Te; mas, se eu for para casa agora e passar na fronteira da cidade onde está o meu escritório, infalivelmente encontrarei muito serviço, e os guardas romanos não me deixarão sair enquanto não aprontar tudo. Por isto preferiria, se possível, achar por aqui os per- gaminhos necessários e, logo à noite, ir buscar minha reserva, pois não recebo além daquilo que preciso para três dias!”

  7. Digo Eu: “Meu amigo, faze sempre o que Eu te disser! Vai como te disse, e não encontrarás nem trabalho nem guardas à tua espera!” — Diz Matheus: “Assim sendo, já vou!”

  1. Tudo se dá conforme Eu havia dito, e em breve Matheus volta com mais três escrivães; assim iniciamos nossa marcha para o Monte Garizim. Chegando lá, depois de uma hora, o Sumo Pontífi- ce Me pergunta se deverá ir lá em cima e abrir a velha Casa de Deus.

  2. Eu lhe aponto a zona toda e a multidão que nos segue e di- go: “Amigo, vê! Esta é a igreja mais velha e mais condigna de Deus! Mas está muito abandonada, tanto que irei erigi-la novamente, co- mo fiz com a casa de Irhael. Vamos ficar ao pé da montanha, onde se encontram várias mesas e bancos, que serão de grande utilidade para os escrivães. Abri vossos ouvidos, olhos e corações e preparai-

-vos, pois agora se dará diante de vossos olhos o que foi predito pelo profeta Isaías!”

  1. Diz Matheus: “Senhor, estamos prontos para ouvir-Te!”

  2. Com isto, começa o Sermão da Montanha, que se lê no Evangelho de Matheus capítulos 5, 6 e 7. Durou perto de três horas, pois falava devagar por causa dos escrivães.

40. Em Sichar. — Crítica sobre o Sermão da Montanha pelos sacerdotes. O Sumo Pontífice, sincero, dirige-se ao Senhor em continuação da crítica. Advertência do Senhor de que se deve procurar a interpretação espiritual destes quadros.

  1. Quando o Sermão terminou, muitos estavam espantados, principalmente os sacerdotes, e alguns diziam: “Quem poderá assim alcançar a felicidade? Nós, escribas, também pregamos de acordo com as leis dadas por Moysés, mas aquilo era orvalho e brisa da noite, em comparação com esta doutrina e este sermão impetuoso! Não que se possa impor argumentos, mas esta doutrina é demasia- damente dura e ninguém poderá aplicá-la em si!

  2. Quem poderá amar seu inimigo, fazer o bem àquele que nos prejudica, abençoar os que nos odeiam e só falam mal a nosso respei- to? E se alguém me pedir um empréstimo, não devo afastar-me dele e fechar ouvidos e coração, sabendo que o devedor jamais me poderá restituí-lo? Isto é uma tolice! Quando os preguiçosos souberem dis- to, não irão pedir empréstimos tantas vezes aos ricos, enquanto estes

tiverem alguma posse? Se, desta maneira, os pobres tiverem recebido tudo dos ricos, será interessante saber quem futuramente irá traba- lhar? É de se compreender que, com a observância desta doutrina, o mundo em breve se parecerá com um deserto!

  1. Assim sendo, onde iriam as criaturas progredir culturalmen- te, se todos os colégios forçosamente fechassem suas portas, pois não haveria quem os sustentasse? Esta doutrina de nada vale! Os crimi- nosos deverão ser castigados, e quem me bater na face receberá duas bofetadas, a fim de perder a vontade de me aplicar outra!

  2. O devedor negligente deverá ser preso numa penitenciária, para que aprenda a trabalhar e ganhar seu pão, e o mendigo que peça esmolas, que as receberá! Isto sim é uma boa lei, sob a qual a Humanidade poderá manter-se! Não que eu queira criticar isto tudo, embora seja bem absurdo; mas a mutilação dos membros quando nos aborrecerem e fora isto a preguiça estimulada, pela qual ninguém deverá preocupar-se com o dia de amanhã, mas sim pro- curar o Reino do Céu, a todo transe, que receberá todo o resto por acréscimo?! Façamos uma experiência de alguns meses, procurando evitar o trabalho, e veremos se os peixes fritos nadarão para dentro de nossa boca!

  3. E que idiotice a tal mutilação dos membros! Se alguém pe- gar du’a machadinha com sua mão direita para decepar a esquerda, que fará se esta também o aborrecer, como decepá-la? E como irá arrancar os seus olhos e cortar seus pés? Ah! Deixai-me em paz com tal doutrina!

  4. Basta imaginar as consequências e se deduzirá com facilidade que ela é apenas o resultado do fanatismo judaico!

  5. Mesmo se todos os anjos do Céu viessem para ensinar aos homens estes meios para conseguirem a Vida Eterna, eles deveriam ser enxotados deste mundo e satisfazer a si mesmos com este céu idiota! Que incoerência — pela opinião dele, o ‘dente por dente’ e ‘olho por olho’ é injustiça e barbaridade, pregando a maior docili- dade e indulgência, abrindo as portas aos ladrões, enquanto diz: ‘A quem te pedir a túnica, também darás teu manto!’ Bonita doutrina!

Em compensação, devem as criaturas arrancar seus olhos e decepar mãos e pés! Meus agradecimentos! Quem de vós já ouviu tamanha idiotice?”

  1. O sacerdote se aproxima de Mim e diz: “Mestre, Teus Atos demonstram que podes mais que um homem comum. Mas, se tens a capacidade de pensar logicamente, o que não duvido, pois escutei Tuas Palavras em casa de Irhael, revoga certos parágrafos impraticá- veis desta Tua doutrina! Do contrário, somos obrigados a conside- rar-Te um mago fanático, que estudou numa escola do antigo Egito, e expulsar-Te como impostor!

  2. Observa Tu mesmo Tua doutrina mais de perto e verás que ela é completamente inútil para a obtenção da Vida Eterna! Pois seria melhor não ter nascido, do que alcançar um céu completamen- te mutilado! Dize-me, sinceramente, concordas comigo ou tomas a sério a Tua doutrina?”

  3. Digo Eu: “Mas tu, sendo Sumo Pontífice, és mais cego que uma toupeira?! O que esperar dos outros? Eu vos falei em quadros, e vós engolis apenas sua matéria, que vos ameaça abafar! Do espírito, porém, que Eu deitei nestes quadros, pareceis não ter um vislumbre!

  4. Crê-Me, somos tão sábios quanto vós e sabemos muito bem se é preciso alguém mutilar-se para receber a Vida Eterna! Mas tam- bém sabemos que não compreendeis o espírito desta Doutrina e le- vareis muito tempo para chegar até lá! Jamais revogaremos as Nossas Palavras! Tu tens ouvidos que não escutam a verdade; como também tens olhos que são espiritualmente cegos! Tanto que não ouves e não vês, embora de ouvidos e olhos abertos!”

41. Em Sichar. — Continuação da crítica do Sumo Pontífice a respeito da Doutrina do Senhor. Sua boa parábola do cântaro lacrado e do sedento. Lógica prática do homem da razão. A paciência do Senhor para com o sacerdote sincero. Repetição de sua crítica. O Senhor lhe indica procurar Nathanael.

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Bem, realmente dou-Te razão e por ora não posso e não quero discutir qual o sentido espiritual contido em Teus quadros; mas uma coisa deves considerar: se por acaso eu quisesse passar a outrem uma doutrina que desejasse ser compreen- dida e aplicada, forçosamente teria que apresentá-la de u’a maneira acessível ao meu discípulo.

  2. Assim sendo, também poderia exigir dele uma conduta de acordo. Mas, se eu transmitir uma doutrina em quadros que de forma alguma poderão ser postos em prática, e o discípulo me perguntar: ‘Mas, como? De que forma deverei tirar-me a vida, para ganhá-la? Como posso matar-me, para, assim morto, tirar da morte uma Vida Eterna?’ — eu então lhe direi: ‘Isto deves fazer assim, assim, porque entre os quadros e a verdade contida neles existe tal correspondência; portanto, deves seguir esta correspondência, e não o quadro externo!’

  3. Vê, querido Mestre, isto qualquer discípulo compreenderá e eu poderei exigir dele o cumprimento de minha doutrina! Agora, poderei exigir isto sem ser tomado por um doido, se ela não o per- mite? Se assim fizesse, todo mundo considerar-me-ia como alguém que carregasse água num cântaro lacrado. Um sedento se aproxima dele e pede de beber; o portador d’água, porém, lhe entrega o cânta- ro lacrado e diz: ‘Aqui a tens para beber — bebe!’ O outro procura saciar sua sede, mas, não encontrando a abertura, diz: ‘Como po- derei, se o cântaro está fechado por todos os lados?’ — O primeiro responde: ‘Se és cego e não achas a abertura, engole todo o cântaro e terás engolido a água!’

  4. Dize-me, querido Mestre, o sedento não teria razão em cha- mar o outro de doido?

  5. Não que ousasse dar-Te este nome; mas, se afirmas que não compreendemos Tua doutrina por causa da nossa cegueira e surdez

espiritual, comparo-a a este cântaro lacrado que deverá ser engolido com a água, exigência esta que só poderia ser reclamada por um pro- feta que tivesse fugido dum manicômio! — Considere esse parecer como quiser! Enquanto não deres uma explicação razoável de Tua doutrina, que em outras partes contém muita coisa boa e verdadeira, confirmo, com muitos outros presentes, minha opinião acima! Por isto, jamais hás de ver iniciarmos nossa mutilação por Teus Ensina- mentos! Também trabalharemos como sempre para nosso sustento e ai daquele que procurar roubar-nos astuciosamente!

  1. Tampouco presentearemos com um manto o ladrão que nos roubar a túnica! Se és verdadeiramente um sábio enviado por Deus, compenetrar-Te-ás da necessidade do cumprimento das Leis de Moysés. Entretanto, se tencionas romper a Lei com a Tua doutrina, terás que entender-Te com Jehovah!”

  2. Digo Eu: “Sou de opinião que depende do legislador cum- prir a Lei em Espírito e Verdade, ou então sustá-la sob certas condições!”

  3. Diz o Sumo Pontífice: “Isto soa estranho de Tua boca! Hoje de manhã teria honrado esta explicação, pois me parecia que Tu fosses, realmente, o Messias. Agora, porém, com esta doutrina, és a meus olhos um tarado que se apraz em oferecer suas ideias fixas como Sabedoria do Messias! Portanto, é preferível que expliques melhor Tua doutrina dura, que jamais será compreendida assim!”

  4. Digo Eu: “Então fala o que te deixa tão consternado, que te aliviarei!”

  5. Fala o Sumo Pontífice: “Já Te disse por diversas vezes, mas, a fim de que vejas que sou razoável, confesso-Te que, enquanto todos os outros pontos são praticáveis, não aceito o arrancar dos olhos e a mutilação de pés e mãos. Considera Tu se existe a possi- bilidade de alguém arrancar uma vista! Ou por outra, não morrerá aquele que decepar u’a mão ou um pé? E, uma vez morto, qual o seu progresso?

  6. Vê, eis o ponto inútil de Tua doutrina que não poderá ser executado! E se morrer, pergunto como David: ‘Senhor, quem po-

derá louvar-Te na morte e na tumba?’ Portanto, explica este ponto com mais clareza, que aceitaremos o resto como doutrina humani- tária, levada ao extremo!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, teu pedido é aceitável e Eu te digo: Depois de Samuel, és o mais sábio dos sacerdotes, pois tens bom coração e não rejeitas Minha Doutrina, pedindo, apenas, que te seja explicada. Mas receberás a Luz não por Mim, e sim por um dis- cípulo Meu! Dirige-te a qualquer um deles e saberás que Minha Doutrina desde já é compreendida sem explicação de Minha parte!”

42. Em Sichar. — Elucidação clara e rude de Nathanael sobre os pontos escandalizantes do Sermão. A Missão do Messias de falar em parábolas. Correspondência entre o natural e o espiritual. O caminho para a compreensão espiritual. Razão da vida de provação. Ensinamentos elucidados. Perigo do amor para com o mundo. Advertência aos críticos.

  1. Eis que o Sumo Pontífice se dirige a Nathanael e diz: “Pelo conselho do Mestre, dirijo-me casualmente a ti; por favor, explica-

-me, apenas, o ponto mais duro da doutrina de vosso Mestre. Mas peço-te, dá-me palavras claras e puras, pois que com fumaça não se ilumina um quarto!”

  1. Diz Nathanael: “Sois tão tapados que não compreendeis o verdadeiro sentido desta Doutrina? Não foi predito pelos profetas que o Cristo só falaria em parábolas?”

  2. “Sim”, diz o Sumo Pontífice, “tens razão!”

  3. Diz Nathanael: “Bem, se sabes isto como escriba, como po- des intitular o Senhor de doido se Ele, de acordo com a Escritura, fala alegoricamente? Devias pedir que Ele te desse uma Luz, e não O chamar de doido!

  4. Vê, as coisas da natureza têm uma ordem pela qual são man- tidas; o mesmo se dá com as coisas do espírito, que não poderiam existir, nem ser pensadas ou faladas fora de sua ordem própria. Mas, entre ambas, existe uma correspondência exata — pois a natureza surgiu do espírito — que só poderá ser conhecida pelo Senhor.

  1. Se Ele transmite coisas puramente espirituais a nós, que nos encontramos na ordem terrena da natureza, só poderia fazê-lo por meio de quadros alegóricos. Para compreendê-los, devemos tratar de despertar nosso espírito para o cumprimento das Leis Divinas. Somente então se fará a Luz dentro de nós e saberemos interpretar tais quadros, o que prova a diferença entre a Palavra Divina e a pa- lavra humana.

  2. Presta atenção: O que para a criatura é visão, para o espírito é a percepção das coisas divinas e celestiais, únicas que se prestam à natureza do espírito para sua existência abençoada e eterna.

  3. Mas, como o espírito, de acordo com a Ordem Imutável de Deus, deve ser submerso na matéria da carne neste mundo, para que se firme em sua liberdade e quase total independência de Deus, sem a qual jamais poderia vê-Lo e tampouco existir em Deus, ao lado de Deus e com Deus (não obstante nesse período em que o espírito amadurece dentro da matéria e se firma na liberdade e in- dependência de Deus, ele se encontrar no inevitável perigo de ser absorvido pela matéria e ser destruído junto com ela, destruição esta que tornaria uma ressurreição para a Vida em Deus extremamente difícil e um grande sofrimento para ele), o Senhor fala não para o homem racional, mas para o espiritual: se teu olho direito te es- candaliza, arranca-o e atira-o longe de ti, pois te é melhor que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno! Quer dizer: se a luz do mundo te seduzir, deves te conter e afastar desta luz que te atrairia para a morte da matéria! Portanto, priva-te como espírito do prazer fútil da contemplação do mundo e dedica-te com tua alma às coisas puramente celestiais, pois será melhor penetrar no Reino da Vida Eterna sem sapiência mundana, que com um excesso desta e um mínimo em assuntos espirituais, e ser absorvido pela matéria!

  4. Se o Senhor falou em dois olhos, mãos e pés, não se referia ao corpo, e sim à capacidade dupla da visão, da atividade e da ca- pacidade progressiva, e prevenia não ao corpo, que não tem vida, e

sim ao espírito em não se unir ao mundo, quando percebe que este o atrai em demasia.

  1. O espírito deve ter conhecimento do mundo, mas não achar prazer nele! Assim que sente que o mesmo o seduz, deve afas- tar-se imediatamente, pois já lhe ameaça o perigo! Esse afastamento brusco é expresso pelo quadro do arrancar do olho, e Aquele que nos deu esta parábola deve certamente ser entendido em todos os assun- tos espirituais e materiais do homem, o que, a meu ver, só é possível Àquele que, através de Sua Própria Onipotência, Amor e Sabedoria, criou tanto o espírito como a matéria! Penso que me compreendeste bem e reconhecerás o quanto pecaste contra Ele, que tem tanto a tua como a minha vida em Suas Mãos!”

43. Em Sichar. — A fundamentação de Nathanael a respeito do discurso alegórico do Senhor. Continuação da explicação do Sermão. Ensinamentos práticos.

  1. Com estas palavras o Sumo Pontífice fica um tanto perplexo, e muitos outros com ele, e diz: “Agora compreendo bem! Mas por que o Senhor não fala logo assim, de maneira compreensível como tu? Eu teria evitado, com isto, cometer um pecado tão grande!”

  2. Diz Nathanael: “Se tivesses sete anos de idade, tua pergunta seria justificável; mas tu és um dos mais sábios deste lugarejo, por- tanto me admira isto.

  3. Porventura não queres perguntar ao Senhor por que deposi- tou nas sementes diversas a capacidade de forma e progresso até o infinito, dentro da árvore germinada? Não teria sido melhor se fizes- se chover os frutos maduros dentro das mãos dos homens? Para que esta evolução cansativa de uma árvore pela semente e uma espera tão longa pelo fruto? Vê, como és tolo!

  4. A Doutrina do Senhor é como todas as Suas Obras! Ele no-

-la dá em sementes encapsuladas; estas devemos semear no solo do nosso espírito, que é o amor, para que possa germinar e crescer uma árvore do Verdadeiro Conhecimento de Deus e de nós mesmos. Só

então poderemos colher desta árvore, na época justa, os frutos ma- duros para a Vida Eterna!

  1. O amor é o essencial, sem ele não germinará o fruto do espírito. Experimenta semear trigo no ar e verifica se ele germina e dá fruto! Se tu, porém, o depositares num bom solo, crescerá e dará muitos.

  2. Esta é a razão por que o Senhor aboliu a Lei dura do casti- go, dada por Moysés, a fim de que vos tornásseis brevemente mais ricos em solo fértil nos vossos corações. Quem pune pela Lei possui pouco ou nenhum amor, e neste coração dificilmente germinará a Semente Divina do Verbo! O outro, que recebe a punição, já se en- contra num julgamento que não tem amor!

  3. Por isto, é preferível não procurar os erros do próximo, mas sim ser mais condescendente e paciente! E se ele, em sua fraqueza, pedir-vos algo, não deveis privá-lo do que quer que seja, para que o amor aumente em vós e felizmente também no vosso irmão neces- sitado! Quando este amor existir em abundância, a Semente Divina germinará em vós e o fraco considerar-vos-á em sua gratidão, recom- pensando-vos o que fizestes por ele.

  4. Mas, se sois mesquinhos e duros contra vossos irmãos fracos, jamais conseguireis um fruto divino, e a provação do fraco levar-vos-

-á finalmente à desgraça!

  1. Se o Senhor diz: ‘A quem te pede a túnica também darás o teu manto’, quer apenas dar a entender que vós, que sois ricos, deveis ter mão aberta quando os pobres vos procurarem. Este é um meio para conseguirdes um campo vasto no vosso coração, o que vos trará uma imensa felicidade e os pobres vos abençoarão!”

44. Em Sichar. — Outras perguntas do sacerdote sobre a interpretação dos quadros alegóricos no Sermão. Explicação de Nathanael sobre o “olho direito” e “mão esquerda”. Agradecimento do sacerdote.

  1. Diz o Sumo Pontífice, que ouviu a explanação muito atento: “Está tudo muito certo e creio compreendê-lo. Mas tenho que fazer mais uma observação: o Senhor só falou do arrancar do olho direito

e do decepar da mão direita. Em meu zelo de investigador, incluí também os pés na mesma interpretação. Acontece que tu me expli- caste o decepar dos pés assim como o do olho e da mão, que foram os únicos que o Senhor mencionou. Disseste-me que existia corres- pondência somente na Palavra do Senhor, que fala para o espírito do homem. Como, então, encontraste uma interpretação também em meu aditamento?”

  1. Diz Nathanael: “Enganas-te; o Senhor também falou do pé direito. Apenas deu um sinal aos escrivães para que excluíssem o ensinamento dos pés, porque aqueles que já dirigiram sua visão in- terna ao Céu, ativando sua vontade no amor — que corresponde à mão esquerda, vinda do coração — dentro da Vontade Divina, não mais necessitam se desfazer do pé direito, pois já desistiram da tendência pela ação puramente mundana, que compreende a mão direita. Em síntese: com a visão interna da alma e a justa vontade na ação, já se iniciou na criatura a evolução nas regiões da Vida Eterna, com o que automaticamente efetuou-se o desprendimento do pé direito, ou seja, o progresso material, não mais necessitando dum esforço peculiar.

  2. Vós, samaritanos, podeis começar a vos corrigir pelo pé; pois, conquanto vossa visão esteja dirigida ao divino e vossas mãos execu- tem uma atividade justa, vosso pé, ou seja, vossa cobiça de progresso, projeta-se unicamente no mundo material! Esperais do Messias algo mui diferente do que, pela predição, Dele deveríeis aguardar! Isto representa, espiritualmente falando, o pé direito que deveis decepar, a fim de poderdes penetrar no Caminho para o Reino de Deus. Por vossa causa o Senhor mencionou o pé direito e impediu que tal fosse anotado, porquanto os Seus posteriores adeptos bem saberão onde e em que consiste o Reino do Messias, e o essencial para penetrá-Lo. Tens mais algumas objeções a fazer?”

  3. Diz o Sumo Pontífice: “Tudo me é claro dentro de minha compreensão. Mas, mesmo assim, acrescento que vossa Doutrina, na forma como deve ser aplicada, é dura e dificilmente compreendi- da, e vereis que muitos se oporão a ela!

  1. Não quero profetizar o vosso insucesso, mas sei que os ju- deus orgulhosos não a aceitarão, o que nós, embora ignorantes, não fazemos! Exigirão milagres, e talvez vos irão perseguir por causa des- tes milagres!

  2. Nós acreditamos não por este motivo, mas pela Doutrina como foi explicada. Deveríeis permanecer conosco, pois, com os judeus altivos e os gregos incrédulos, fareis maus negócios.”

45. Em Sichar. — A modéstia de Nathanael como confissão maravilhosa do apóstolo. Quem não for capaz de renunciar a tudo por amor ao Senhor, não O merece! O desejo do Sumo Pontífice em segui-Lo e sua preocupação pelo bem do seu rebanho.

  1. Diz Nathanael: “Até aqui eu tive que falar contigo! Dora- vante, está tudo nas Mãos do Senhor. A Vontade Dele também é a nossa, pois somos muito pobres de espírito. Por isto, precisamos ficar ao lado Dele para conseguirmos o Reino do Céu! Igualmente desejamos sofrer todas as calamidades e perseguições, a fim de nos consolarmos com Ele. Em Seu Nome queremos ser dóceis em todos os nossos pensamentos, julgamentos, desejos, vontades e ações, para alcançarmos a posse verdadeira do solo fértil, que é o amor puro em nossos corações.

  2. Do mesmo modo, não tememos o país onde existem a injus- tiça e a dureza de coração, para que possamos sentir fome e sede pela justiça, pois temos Aquele que nos saciará eternamente!

  3. Queremos ser misericordiosos para com todos, independen- temente de que nos tratem com justiça ou não, para que sejamos mais merecedores da Grande Misericórdia de Deus.

  4. Almejamos proteger nossos corações de toda e qualquer im- pureza, para que o Senhor não nos abandone quando O mirarmos. Pois não é possível aproximarmo-nos de Deus de corações impuros, fitá-Lo em Espírito e Verdade, bem como a Plenitude dos Milagres em Suas Obras.

  5. Se somos de coração puro, devemos ser pacíficos, pacientes e dóceis para com todos, pois um coração raivoso não poderá ser

puro; assim sendo, é-nos permitido aproximarmo-nos Daquele que nos trouxe a FiliaçãoDivina, ensinando-nos a orar a Deus como nosso Pai!

  1. E se formos, como é de vossa opinião, perseguidos por esta causa justa, em nada importa; pois temos a Ele, e por Ele o Céu dos Céus! Esta é a nossa maior felicidade já em vida, mesmo se o mun- do nos desprezar e perseguir, porque Ele é um Senhor sobre todos e sobre tudo! O nosso maior mérito e maior honra consistem em podermos servir Àquele a Quem obedecem todos os Céus! Portanto, não te preocupes conosco, já sabemos a quantas andamos!”

  2. O Sumo Pontífice se admira muito com este discurso enérgi- co de Nathanael e diz: “Em verdade, se a minha presença não fosse necessária aqui e eu não tivesse mulher e filhos, acompanhar-vos-ia!”

  3. Diz Nathanael: “Também abandonamos mulher e filhos e O seguimos, e eles continuam vivos! Eu acho que aquele que não pode abandonar neste mundo seja lá o que for, por amor a Ele, não mere- ce a Sua Graça! Talvez isto te ofenda, mas é um fato! O meu coração assim fala e nele tudo é verdade, uma vez que o espírito despertou no pensamento vivo em Deus! Ele não necessita de nós; mas nós necessitamos Dele!

  4. Já te foi possível ajudar-Lhe fazer surgir o sol imenso no ho- rizonte, para que estendesse sua luz sobre a terra? Por acaso viste algum dia as algemas que o Senhor impõe aos ventos? Como con- trola os raios, os trovões e o mar em sua profundeza? Quem poderia dizer que ajudou ao Senhor em qualquer coisa? Assim sendo, como é possível mencionar mulher e filhos quando Ele nos chama? Ele, o Senhor de toda Vida, que esperamos por tanto tempo e que final- mente veio, tal como foi predito pelos profetas e patriarcas?”

  5. Diz o Sumo Pontífice: “Se eu não fosse Pontífice, faria o que todos vós fizestes! Mas sou indispensável aqui para os fracos na fé, que necessitam dum preparo lento. Que posso fazer?

  6. Estou convencido de que vosso Mestre é o Messias Prometi- do, mas que fazer com a minha comunidade? Tu mesmo viste como muitos se afastaram durante o Sermão! Estão muito aborrecidos e

divulgarão sua incredulidade, e outros, que ainda ontem estavam cheios de fé, começam a duvidar e não sabem o que acreditar!

  1. Agora, imagina o trabalho que terei, pois me consideram um oráculo! Se não os convencer, continuarão por toda a vida o que são hoje! Este é o motivo principal por que preciso ficar aqui, e penso que o Senhor não Se irá aborrecer comigo por causa disto! Embora não continue fisicamente em Sua companhia, fá-lo-ei em espírito por toda a Eternidade como servo fiel e pastor do Seu Reba- nho, esforçando-me por passar adiante a Sua Doutrina!”

  2. Digo Eu: “Sim, assim estará bem! Pois serás um instrumen- to valioso em tua comunidade e tua recompensa no Céu será grande! Mas agora já é noite e temos que voltar para casa! Que assim seja!”

  3. Em seguida todos se põem a caminho.

46. Em Sichar. — A cura do leproso após seu pedido: “Senhor, se Tu queres, podes purificar-me!” Bom êxito deste milagre. Entusiasmo e iniciativa louvável do Pontífice. Ensinamentos do Senhor para a moderação em tudo.

  1. Como já era noite e houvesse muitas pessoas idosas em nossa companhia, a caravana movia-se lentamente.

  2. Chegando mais na planície, encontramos no caminho um homem cheio de chagas horripilantes que, assim que Me viu, levan- tou-se, veio a Mim e disse com voz lastimosa: “Senhor, se Tu queres, podes purificar-me!” Eu em seguida estendi Minha Mão sobre ele e disse: “Quero que sejas puro!” O doente no mesmo momento ficou curado, todas as chagas, caspas e crostas desapareceram como por encanto. Tratava-se de lepra muito adiantada, impossível de cura, tanto que o povo ficou perplexo em ver quão rapidamente o homem ficara bom.

  3. Ele de pronto começou a louvar-Me, mas Eu o ameacei e disse: “Relata isto apenas ao Sumo Pontífice, que vai lá atrás com Meus discípulos! Depois vai à tua casa e oferta no altar o que Moysés determinou!”

  4. O purificado obedeceu e o Sumo Pontífice, estupefato, ex- clamou: “Se algum médico me tivesse dito: ‘Olha, vou curar este

homem!’, eu teria dado uma gargalhada e respondido: ‘Tolo, vai ao Eufrates e experimenta esvaziá-lo! Quando tirares um balde d’água deste rio, ele porá mais mil no lugar; contudo, será mais fácil secar o Eufrates do que curar este homem, cuja carne já está em decom- posição!’ E Aquele, que reconhecemos como Messias, conseguiu-o com uma só palavra! Isto é o bastante! — Ele é o Cristo! — Não necessitamos de mais provas!

  1. Digo mais, a quem hoje pedir-me uma túnica, a este darei não somente o manto, mas sim todas as minhas roupas! Ele é Jeho- vah em pessoa! O que almejamos mais? Farei um arauto, esta noite, proclamar em todas as ruas a Sua Presença!”

  2. Depois desta exclamação ele se joga a Meus Pés e diz: “Se- nhor, deixa que eu Te adore! Tu não és somente o Cristo, o Filho de Deus, e sim Deus Mesmo oculto na Carne!”

  3. Digo Eu: “Amigo, deixa isto! Já vos mostrei como deveis orar; pois orai calados e isto é o bastante! Não faças hoje demais e ama- nhã de menos! Para tudo é preciso uma medida justa! Se juntares o manto à túnica, terás conseguido um amigo no pobre! Mas, se fores dar-lhe todo o estoque de roupas, ele ficará encabulado e julgará que o queres envergonhar ou que talvez estejas sofrendo das tuas facul- dades mentais, o que não teria resultado!

  4. Mas, se alguém te pedir um talento1e tu lhe juntares mais dois ou três, alegrarás o coração do pedinte e te sentirás feliz. Se, do contrário, lhe desses mil, ele se assustaria, pensando: ‘O que significa isto? Será que me acha insaciável e quer me envergonhar? Quem sabe se não é doido?’ Este homem nunca seria um lucro para teu coração, nem tu para ele! Portanto, aplica sempre uma medida jus- ta em tudo!”

  5. Com este ensinamento, o Pontífice dá-se por satisfeito.

  1. Moeda grega.

47. Em Sichar. — A ceia milagrosa em casa de Irhael, em companhia dos anjos. Explicação do Senhor a respeito destes Seus Servos celestiais. Aborrecimento e incredulidade por parte dos conterrâneos do Salvador.

  1. Chegando à casa de Irhael, encontramos tudo como no dia anterior; somente os preparativos para a ceia eram mais fartos. No limiar da casa, porém, os sicharenses que nos tinham acompanhado querem se despedir. Acontece, entretanto, que uma série de jovens, vestidos de branco, os convidam todos para a ceia.

  2. O Sumo Pontífice, admirado por tudo, principalmente com a amabilidade e fino trato, pergunta-Me com humildade: “Senhor, quem são estes jovens? Não devem ter mais de dezesseis anos de ida- de, no entanto demonstram em cada palavra e gesto sua educação aprimorada! Por favor, dize-me, donde vêm?”

  3. Digo Eu: “Não ouviste falar que todo senhor tem seus servos e criados? Tu Me chamas de Senhor, pois então é justo que os tenha também! Se demonstram cultura, provam que Seu Senhor é mui sá- bio e delicado! Os senhores do mundo são duros e ríspidos, e assim também são os servos; o Senhor do Céu veio à terra e trouxe Seus Servos de lá; assim, eles se parecem com Ele, pois também são filhos de Sua Sabedoria e de Seu Amor. Compreendes-Me?”

  4. Diz o Sumo Pontífice: “Sim, Senhor, na medida que me é dado compreender-Te. Muita coisa queria perguntar-Te a respeito e espero encontrar ainda hoje oportunidade para isto!”

  5. Digo Eu: “Naturalmente! Agora vamos à ceia, pois está tu- do pronto.”

  6. Todos que creram em Mim tomaram parte; outros se afasta- ram, pois julgavam aquilo um ardil. A causa disto devia-se a serem todos galileus imigrados, muitos de Nazareth, que conheciam tanto a Mim como a Meus discípulos. Estes falam, então, aos samaritanos: “Conhecemo-lo e a seus adeptos; ele é carpinteiro de profissão, e eles, pescadores. Ele frequentou a escola dos essênios, que é especia- lizada em diversas artes, na terapêutica e no fetichismo. Tudo isto conseguiu aprender lá e agora o aplica com esmero para fazer adep-

tos e dar lucros aos essênios. Estes jovens são moças disfarçadas e compradas pelos essênios no Cáucaso, como meio de maior atração! Mas nós não nos deixamos ludibriar, pois sabemos que não se deve brincar com o Deus de Abraham, Isaac e Jacob. Mesmo que perdês- semos nossa fé, não poderíamos esperar uma equivalente por parte dos essênios; eles nos transformariam em verdadeiros saduceus, que não acreditam na ressurreição e na vida eterna! Que Jehovah nos proteja disso!” — Com estas afirmações este grupo volta para casa.

  1. Eu, porém, e uma grande parte dos samaritanos apreciamos a boa ceia e os anjos nos servem, pois lá também trabalhei num de- serto, onde se lê: “Quando Satanás se viu obrigado a ceder, os anjos vieram e O serviram!”

48. Em Sichar. — Os hóspedes e os servos celestiais. A dúvida do Sumo Pontífice sobre sua missão de conversão do povo incrédulo. O êxito da missão dos mártires após a morte. Advertência do Senhor e predição sobre o Seu Nascimento, Morte e Ressurreição. Aparição de espíritos. Promessa final e maravilhosa dos verdadeiros seguidores.

  1. Poucos dos que estavam sentados à mesa sabiam que eram servidos por anjos com alimentos dos Céus. Julgavam que Eu real- mente trazia servos excepcionais no Meu Séquito e talvez os tivesse comprado na Ásia Menor. Só não compreendiam a presteza, amabi- lidade e educação deles, pois geralmente os escravos executavam os trabalhos de caras amarradas e de má vontade. Em suma, os presen- tes se divertiam muito e o Sumo Pontífice, vendo que estes jovens só podiam ser criaturas sobrenaturais, começou a sentir-se mal vendo como o povo se misturava livremente no meio deles.

  2. Principalmente o aborreciam aqueles que, embora tivessem obtido provas do Céu, tinham ido para casa. Com o coração opri- mido, ele diz: “Meu Senhor e meu Deus, quais serão os meios que levarão estas criaturas à fé, se tudo isto não frutificou? Até Tu, Se- nhor, e os muitos anjos não foram capazes de converter esta súcia; que poderei eu fazer? Não me insultarão quando ousar ensiná-los?”

  1. Digo Eu: “Mas também tens muitos crentes a teu redor; faze com que te ajudem e tudo irá bem. Pois, se alguém tiver que levantar um peso e não possuir a força suficiente, procurará um auxiliar. Se um não for bastante, tomará mais um ou dois, dominando, assim, o peso. Como aqui já se encontra um número maior de crentes do que de descrentes, o trabalho será fácil!

  2. O mesmo não será em lugares onde não existirem crentes. Lá convém fazer uma tentativa, a fim de que ninguém venha a descul- par-se de que nada sabia a respeito.

  3. Se encontrares um crente, deves ficar com ele e revelar-lhe o Reino da Graça de Deus! Caso contrário, abandonarás o lugar, sa- cudindo o pó de teus pés; pois não merece mais graça alguma, a não ser aquela que é dada aos animais. Aqui tens instruções bastantes da maneira de agir com os descrentes!

  4. Uma coisa, porém, te digo: Permanece fiel à tua fé, do con- trário não poderás agir em favor do Meu Reino! Não te deixes aba- lar por diversas notícias que receberás de Jerusalém daqui a alguns anos! Porque Eu serei entregue às autoridades, que irão exterminar este Meu Corpo! No terceiro dia, porém, Eu o vivificarei de novo e continuarei convosco até o fim dos tempos! Pois aquela ralé em Jerusalém só acreditará quando convicta de que Eu não poderei ser aniquilado!

  5. Acontecerá que, em muitas partes do mundo, os transmis- sores do Evangelho serão mortos fisicamente pelos obstinados. Mas justamente esta morte será motivo de sua crença posterior, pois ve- rificarão que todos aqueles que vivem pela Minha Doutrina têm uma vida espiritual, portanto jamais serão exterminados! Os mortos voltarão, a fim de ensinarem a seus discípulos os Meus Caminhos!

  6. Mas aquelas criaturas mundanas que não têm fé, ou, embora a possuindo, não agem de acordo, jamais receberão a Minha visita ou a de Meus discípulos, para afastar de seus corações as trevas da dúvida. Quando, porém, o fim de seus dias vier, sentirão o mal da incredulidade e as consequências da inobservância de Minha Dou-

trina, ao passo que os outros, que aplicam Meu Verbo, não sentirão a morte da carne!

  1. Pois Eu abrirei a porta de sua carne e eles seguirão qual pri- sioneiros que abandonam seus cárceres.

  2. Portanto, não te perturbes quando ouvires isto ou aquilo a Meu respeito! Quem persistir fiel e imutável até o fim, na fé e no amor, como Eu vos ensinei, será bem-aventurado no Meu Reino Eterno, no Céu, que tu vês agora aberto, com os anjos descendo e subindo!”

49. Em Sichar. — Ensinamentos sobre o modo e lugar onde se deve adorar a Deus. Bom discurso de Irhael. “Não deveis construir casas de oração, e sim albergues e hospitais para os pobres!” Indicação sobre o Templo da Criação.

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Agora estou completamente instruí- do e espero que, em breve, todos deste lugarejo também o estejam. Permite-me somente uma pergunta: Será do Teu Desejo que conti- nuemos a honrar o sábado nesta velha igreja ou queres que constru- amos uma nova, a fim de nos reunirmos em Teu Nome? Poderias indicar-nos o lugar mais acertado para isto!”

  2. Digo Eu: “Amigo, já vos disse na montanha o que é preciso para todas as criaturas.

  3. Para este cumprimento não é necessária a casa na montanha nem uma nova na cidade, mas sim um coração crente e uma von- tade firme.

  4. Vossa pergunta também Me foi feita por Irhael e ela vos dará a Minha Resposta!”

  5. O Pontífice dirige-se a Irhael, que lhe diz: “O Senhor me disse o seguinte: ‘A hora virá, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores não adorarão a Deus nem em Garizim, tampouco em Jerusalém! Pois Deus é Espírito e só poderá ser adorado em Espírito e Verdade!’ Estas foram as Palavras do Senhor e tu, como Pontífice, saberás o que fazer.

  6. Eu sou de opinião que, se o Senhor nos deu a grande graça de tomar morada nesta casa, que não é minha mas unicamente Dele,

ela deverá ser para sempre o lugar onde nos poderemos reunir em Seu Nome e celebrar o sábado!”

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Sim, terias razão se todos já fossem crentes; mas é preciso considerar os fracos na fé, que ofender-se-ão com isto!”

  2. Digo Eu: “Irhael está com a razão; quem se ofender, que o faça e suba sua montanha! Nada encontrando de valor, procurará outra coisa!

  3. Não deveis construir casas de oração, e sim albergues e hos- pitais para os pobres, que não vos podem pagar.

  4. No amor para com o próximo sereis Meus verdadeiros ado- radores e Eu estarei Presente nestas verdadeiras casas de adoração, sem que o saibais. Num templo, porém, que foi construído apenas para que Eu fosse adorado com os lábios, estarei tão pouco como o vosso intelecto se encontra no dedinho do vosso pé.

  5. Se quiserdes erigir um templo sublime em vossos corações e humilhar-vos, ide mirar no vasto templo da Minha Criação o sol, a lua e as estrelas, o mar, as montanhas, as árvores e os pássaros no ar, os peixes n’água e as múltiplas flores nos campos, que vos transmi- tirão a Minha Honra!

  6. Dizei-Me, não é a árvore imensamente mais linda que o Templo de Jerusalém? Pois ela é uma Criação de Deus, tem vida e dá fruto! Mas o que é o Templo? Digo-vos: nada mais do que orgulho, raiva, inveja, ciúme e altivez, pois não é obra de Deus, mas do homem!

  7. Em verdade vos digo, quem Me adorar pelas boas obras terá a sua recompensa eterna nos Céus. Quem, no entanto, o fizer em templos construídos para este fim, terá seu prêmio temporário por eles. Se depois da morte exclamar: ‘Senhor, Senhor, sê clemente para comigo!’, Eu direi: ‘Não te conheço, por isto afasta-te de Mim e busca teu mérito com aquele a quem serviste!’ — Assim sendo, não deveis mais ter ligação com o Templo.

  8. Nesta casa, porém, podeis vos reunir, seja no sábado ou num outro dia qualquer, pois todos os dias são do Senhor!”

50. Em Sichar. — A santificação do sábado. O que Deus quer que o homem faça. A constante atividade de Deus. Ensinamento de Moysés sobre o sábado. “Deveis ser perfeitos como é Perfeito o Pai no Céu!” O Senhor promete atender as preces.

  1. (O Senhor): “Podeis santificar com mais justiça o sábado sendo mais ativos nas boas ações do que nos outros dias!

  2. Somente não deveis fazer o serviço do operário que é efetu- ado pelo salário e por uma recompensa do mundo, tanto num dia comum como num sábado. Aqui tens, Meu amigo, uma regra com- pleta de como deves servir a Deus no futuro!”

  3. Diz o Sumo Pontífice: “Reconheço a verdade pura desta re- gra, que prefiro aceitar como lei. Mas os judeus cheios de preconcei- tos terão dificuldades em aceitá-la como dada pela Vontade Divina! Penso que muitos não a aceitarão até o fim do mundo, porque a Hu- manidade habituou-se ao sábado desde os primórdios, e dificilmen- te desistirá desta ideia preconcebida. Isto será um trabalho insano!”

  4. Digo Eu: “Também não é preciso que seja ele abolido inte- gralmente, mas sim o absurdo mantido até hoje! Deus, o Senhor, não necessita de vossos serviços e de vossa honra, pois Ele criou o mundo e o homem sem auxílio algum e exige apenas que as criaturas O reconheçam e O amem de todo o coração, isto não só num sába- do, mas diariamente, sem cessar!

  5. Que culto será este se vos lembrardes de Deus só num sába- do, e jamais durante o resto da semana?

  6. Não é Deus O Mesmo todos os dias? Não trabalha diaria- mente? Se o Senhor não faz feriado, por que deveriam as criaturas fazê-lo, apenas para a ociosidade? Nada é tão pontualmente respei- tado por elas como a ociosidade num sábado! Mas, com isto, não prestam homenagem a Deus!

  7. Deus quer que os homens se habituem mais e mais à ativi- dade pelo amor, para que possam procurar e encontrar nesta ação a verdadeira e única bem-aventurança quando chegarem ao Além! Mas, será possível consegui-la pela preguiça? Eu te digo: Jamais!

  1. Num dia útil o homem se exercita no amor-próprio, mesmo trabalhando, pois o faz para sua carne e diz que é seu o que con- seguiu! Quem quiser usufruir algo desta posse terá que pagar com dinheiro ou trabalho, do contrário não conseguirá coisas de valor! Agora, se ele durante a semana trabalha em favor de seu amor-pró- prio e no sábado, como único dia em que deveria aplicar o amor ao próximo, entrega-se ao ócio, resta saber quando irá pôr em prática o verdadeiro culto a Deus, que consiste apenas na ajuda caridosa para com seu semelhante!

  2. Deus mesmo não descansa um minuto e sempre trabalha para as criaturas, pois não necessita para Si nem sol, nem lua, nem estrelas, nem de tudo aquilo que surge dali. As criaturas, porém, necessitam disto tudo e o Senhor trabalha constantemente para elas.

  3. Assim sendo, como poderia Ele querer que Seus Filhos O adorassem no sétimo dia pelo ócio, depois de terem trabalhado seis dias pelo seu amor-próprio?

  4. Eu te digo isto com tanta clareza a fim de que mostres à tua comunidade o sentido verdadeiro do sábado, que desde Moysés até hoje não foi compreendido. A Minha Explicação é a mesma que foi dada a Moysés; o povo, porém, em breve o transformou num dia de ócio pagão, julgando assim prestar um bom serviço a Deus através da preguiça e do castigo àqueles que às vezes ousavam, também num sábado, efetuar pequenos trabalhos ou auxiliar os doentes! Que ce- gueira imensa e que tolice absurda!”

  5. Diz o Sumo Pontífice: “Senhor, verdade tão clara e pura só poderia surgir de Tua Boca! Tudo me é claro, afastando de meus olhos a tríplice coberta de Moysés! Já não preciso mais de provas. Aqui Tua Palavra é o suficiente! Eu afirmo com toda a segurança que, no futuro, todos aqueles que não acreditarem em Ti pelo Ver- bo, e sim pelas provas, não possuirão a verdadeira fé viva e serão apenas seguidores automáticos de Teus Mandamentos e de Tua Von- tade! Conosco será diferente! Não as provas dadas por Tua Presença, mas Tua Palavra Santificada será a condição para poder despertar em

nossos corações o verdadeiro amor para Contigo! Que Tua Vontade seja feita por toda a Eternidade!”

  1. Digo Eu: “Amém! Sim, Meu querido amigo e irmão! Só as- sim alcançareis a Perfeição do Pai que está nos Céus, o que vos dará o direito de chamá-Lo: ‘Pai, querido Pai!’ E tudo que Lhe pedirdes como Seus Filhos Ele vos dará, pois Ele é Bom e dá tudo o que possui! Agora, comei e bebei, pois este alimento não é desta terra, porquanto o Pai vo-lo manda dos Céus e está Presente entre vós!”

51. Em Sichar. — Palestra dos anjos com os hóspedes amedrontados. O Evangelho de Sichar. A história da conversão de Nathanael. A Ordem do Senhor de silenciarem sobre Sua Divindade até Sua Elevação na cruz.

  1. Diz o Sumo Pontífice: “Senhor, devemos novamente comer? Já nos saciamos durante a ceia, embora sempre tivéssemos conver- sado sobre vários pontos. Eu, por mim, estou satisfeito e não posso mais comer e beber!”

  2. Digo Eu: “Tens razão, pois estás repleto de comida e bebi- da dos Céus! Porém, aqui há muitos que não ousavam comer nem beber, pois não Me conheciam e tinham medo de bruxaria! Mas, depois que ouviram nossas palestras e compreenderam a verdade pu- ra, perderam o medo tolo; a fome e a sede se manifestaram, porém não têm coragem de saciar-se. Achas que devemos deixá-los assim? Em absoluto! Devem sentir-se à vontade, porque deste alimento só receberão novamente quando estiverem Comigo nos Céus!”

  3. Animei novamente a multidão para que se alimentasse e disse aos jovens: “Não deixeis que lhes falte algo!”

  4. Os jovens novamente foram depositar pão, vinho e frutos nas mesas. Muitos hóspedes, entretanto, estavam receosos de comer estes frutos que não conheciam. Os jovens lhes dizem: “Queridos irmãos! Comei sem susto, que são puros e de sabor maravilhoso! Nesta terra existem muitos frutos, plantas e animais em cuja forma- ção trabalham espíritos impuros por Ordem do Senhor, porque os maus espíritos têm que servi-Lo, queiram ou não queiram! Assim

como um escravo algemado tem que servir a seu senhor, do mesmo modo o têm os diabos, mas este trabalho não é abençoado!

  1. Assim, há na terra muitas obras, ações e fatos de qualidade impura, dos quais os homens não se devem servir caso queiram ficar ilesos de toda sorte de moléstias; pois, muitas vezes, acontece que homens, animais e diabos residem sob o mesmo teto. Por este mo- tivo, o Senhor fez com que Moysés descrevesse todos os alimentos puros, advertindo os homens do uso daqueles que foram produzidos pelos maus espíritos. Aqui, porém, tudo é puro, pois veio dos Céus para vós, razão por que podeis tudo apreciar sem susto. O que o Pai dá dos Céus é bom e incentiva a vida da alma e do espírito por toda a Eternidade!”

  2. Todos se alegraram com esta explicação dos jovens sábios e louvaram a Deus por esta Graça! Este ensinamento foi posteriormen- te anotado de memória e conservado nesta cidade por muitos anos.

  3. Quando, mais tarde, este lugar foi invadido pelo inimigo, muita coisa se perdeu, inclusive este ensinamento, do qual Paulo faz menção por palavras místicas em suas cartas, quando fala de diversos espíritos.

  4. A grande assembleia estava satisfeita e os anjos ensinavam os convivas sobre Mim e Minha Doutrina.

  5. Nathanael, porém, levantou-se e disse: “Queridos amigos e irmãos, há poucos meses eu ainda era pescador de Bethabara no rio Jordão, quando um homem muito simples deixou-se batizar por João, e este, sem tê-lo visto antes, testificou e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que lava os pecados do mundo! Este é Aquele de Quem eu disse, que era antes de mim e vem após mim, e que não mereço desatar as correias de Suas sandálias!’

  6. Aquilo impressionou-me muito e contei isto a minha mu- lher e a meus filhos; todos se admiraram deste testemunho de João.

  7. Pois ele era difícil de entender e suas palavras eram rudes, não poupando a ninguém; fosse fariseu, sacerdote ou levita, todos tinham de enfrentar a lâmina de sua língua.

  1. Mas, quando veio Este que agora é nosso Senhor, João tor- nou-se o mais manso dos cordeiros e falou de maneira mui suave, igual ao canto do rouxinol. Pois bem, minha família quase não me dava crédito, pois conhecia o feitio de João.

  2. Dois dias depois, fui consertar minha rede debaixo de uma árvore, quando surgiu Aquele, de quem João testificou, e me cha- mou pelo nome. Como eu me admirasse disso, pois nunca O tinha visto antes, Ele me disse: ‘Não te admires com isto, pois de agora em diante verás os Céus abertos e os anjos descerem e subirem sobre o Filho do homem!’

  3. E vede, tudo que o Senhor me disse naquela ocasião reali- zou-se de maneira milagrosa! Os Céus estão abertos e os anjos estão descendo para servir-nos. Que prova maior necessitamos para saber que Ele é Aquele que deveria vir, de acordo com a promessa que desde Adam foi feita até esta época? Por isto, também o julgo mais de que o Messias! Ele é...”

  4. Aqui Eu interrompi Nathanael e disse: “Meu querido ami- go e irmão, até aqui e não mais além! Somente quando esta Car- ne for exaltada pelos judeus poderás falar abertamente o que sa- bes de Mim!”

  5. Nathanael se calou, mas não compreendeu bem o que sig- nificava a exaltação de Minha Carne; outros acharam que Eu iria subir ao trono de David em Jerusalém. — Apenas o Sumo Pontífice o compreendeu, mas calou-se e entristeceu-se! Eu, porém, conso- lei-o relembrando Minhas Palavras ditas noutra ocasião, o que o confortou.

  6. Neste meio tempo vinha chegando a alvorada, mas ninguém sentia cansaço ou sono e todos Me pediam que lhes fosse permitido permanecer este dia Comigo, o que lhes concedi de bom grado!

SEGUNDO DIA EM SICHAR

52. O Senhor orienta o Sumo Pontífice a respeito da prática doméstica. A vestimenta de Maria. Calúnia feita à família do Sumo Pontífice. Tristeza de Jonael. O bom consolo e testemunho do Senhor referente ao mundo.

  1. O Sumo Pontífice levanta-se e diz: “Senhor, já que desejas nos proporcionar a grande Graça de Tua Presença por este dia, peço-

-Te venhas comigo visitar três lugares aqui por perto; talvez encon- tremos alguém que acredite em Teu Nome!”

  1. Digo Eu: “Não por causa deles, mas por tua causa, pois isto alegra teu coração. Mas tens mulher e filhas, não Me queres apresen- tá-las? Onde estão e quantas são?”

  2. Diz o Sumo Pontífice, um pouco embaraçado: “Senhor, te- nho uma boa companheira, que já é idosa como eu, e sete filhas, entre doze e vinte e um anos de idade. Tu sabes que não constitui honra para um israelita não ter descendentes masculinos; assim, Se- nhor, tem paciência com minha fraqueza, não tive coragem de apa- recer com meu batalhão de mulheres.

  3. Mas, se for de Teu Gosto, peço-Te que passes por minha casa, que Te apresentarei minha família. Não ficaria bem se elas viessem até cá, porque, embora nada nos falte, pois vivo modestamente com os meus, nossa vestimenta é muito pobre. Para uso caseiro estão bem vestidas, mas, para se apresentarem numa assembleia como esta, fa- riam um feio como família de um Sumo Pontífice. Acho que seria melhor ficarem em casa, onde não serão ridicularizadas pelo mundo nem serão expostas à sua vaidade inata. Prefiro afastá-las do mundo, porque este sempre foi e será mau!”

  4. Digo Eu: “Farei o que desejas, depois deixa que Me acom- panhem. Também já foi previsto uma roupagem melhor para elas. Fazes bem em afastá-las do mundo, mas para nosso meio, que certa- mente não é mundano, estariam bem vestidas.

  5. Observa Maria, Mãe de Minha Carne; usa roupa branca e um simples avental azul por cima, que lhe fica muito bem! Na ca- beça traz um chapéu para proteção contra o sol, como é uso entre

as mulheres da Galileia e Judeia. Isto tudo, no entanto, não vem ao caso; tua mulher e filhas estarão ainda hoje em nossa companhia!”

  1. Diz um samaritano: “Estaria tudo bem, se o que ouvi falar da boca de muita gente desta zona não fosse verdade. Consta que, sempre que o Sumo Pontífice está ausente, as quatro filhas mais velhas de Jonael são vistas à noite nas ruas, onde fazem mau uso de sua beleza. Isto é o que consta por aí; eu, porém, não tenho provas; acho que seria melhor — por causa dos descrentes — não permitir a presença destas quatro moças! Pois tu, Jonael, conheces nosso povo atrasado e mesquinho!”

  2. Diz o Sumo Pontífice, muito triste: “Senhor, se eu tivesse si- do menos severo na educação de minhas filhas, não estaria tão triste; mas, sabendo que tudo foi feito para a formação do intelecto e do coração, ouso fazer um juramento sagrado: todas as minhas filhas são tão puras quanto as flores na Montanha de Jehovah! Como é possível tamanha calúnia?”

  3. Digo Eu: “Meu querido Jonael, não te aborreças. Se Eu con- sidero puras as tuas filhas, isto te deve satisfazer! Pois o mundo é to- do do diabo! Já ouviste falar que alguém colhesse uvas dos espinhei- ros ou figos dos abrolhos? Tudo isto Eu sabia e foi o motivo por que falei no Sermão da Montanha sobre o argueiro no olho do próximo, com o que se afastaram muitos, pois sabiam que Me dirigia a eles!

  4. Eu, porém, te digo, justamente agora é que tuas filhas irão conosco e Eu no meio delas! Vamos, pois elas já receberam Meu Aviso e estão a nossa espera!”

53. Em Sichar. — Testemunho entusiasmado de Pedro sobre o Filho de Deus e seu julgamento severo a respeito do galileu descrente. Crítica do galileu sobre Jesus e Seus discípulos. Resposta sincera de Pedro. O Senhor e o anjo julgam o mentiroso e caluniador. Um espírito mau como algoz. O castigo da maldade.

  1. A caminho da casa de Jonael, Pedro começa a falar de si para si: “Agora tudo gira em torno de mim, de tanto milagre! Quem ain- da não reconhecer que Este Jesus de Nazareth é o verdadeiro Filho

de Jehovah, forçosamente será castigado com a cegueira dos faraós, ou então estará completamente morto! Pois os doentes são curados pela simples palavra, os surdos-mudos escutam, os coxos andam e os leprosos são purificados, como se nunca tivessem pecado!

  1. Fora disto os anjos lidam conosco como se desde a formação do homem jamais tivessem abandonado a terra; são de uma beleza tão rara, quase insuportável! Quando Ele fala numa Sabedoria inau- dita, estes servos são de uma atenção e respeito tão profundos, e ao mesmo tempo tão alegres como as andorinhas num dia de verão! Realmente, quem fosse capaz de dizer que ‘este Jesus é um simples mago e nada mais’ deveria ser morto como um boi, pois tal pessoa não é de Origem Divina, e sim um animal com capacidade de falar!”

  2. Enquanto Pedro fala assim sozinho, sem saber o que se passa em redor, um cidadão descrente lhe bate com toda a força sobre o ombro e diz: “Neste caso, serás o primeiro a morrer como um boi! Se até hoje, pois, ainda não sabes o que é possível a um verdadeiro mago, não deverias abrir tua boca em presença de pessoas com ex- periência própria!”

  3. Diz Pedro: “Oh! Espírito nefasto! Dize-me, teus magos tam- bém curam os doentes apenas pelo Verbo e abrem os Céus, jamais alcançados por sua mão e intelecto?”

  4. Diz o cidadão: “Como és cego! Por acaso não sabes que um mago verdadeiro pode transformar um pau num peixe ou numa ser- pente? Ainda há pouco, houve um do Egito que jogava varas na água e surgiam peixes; mas, se as jogasse sobre a terra, apareceriam cobras e serpentes! Soprando seu hálito no ar, este ficava repleto de gafa- nhotos e outros insetos. Se atirasse pedras brancas no ar, surgiriam pombos que esvoaçariam; depois, pegou de um punhado de areia e, atirando-o contra o vento, imediatamente o ar ficou repleto de moscas, tanto que mal se via o sol. Em seguida, levou-nos para perto de um lago, de onde tinha tirado os peixes; mal tocou a água com uma vara, esta se transformou em sangue; tocando-a novamente, a água voltou a ser o que era! À noite, ele chama as estrelas e elas caem dentro de suas mãos. Quando lhes ordena, elas voltam para o firma-

mento! — No entanto, tu dizes: ‘Onde está o homem cujas mãos atingem o céu?’ Posso apresentar-te cem testemunhas deste fato. — Que me dizes agora do teu Filho Divino de Nazareth, que conheço perfeitamente, sei de quem é filho e onde aprendeu o que sabe?”

  1. Diz Pedro: “Se isto tudo não for uma mentira que me pre- gaste após ter conseguido comprar por algum dinheiro as cem teste- munhas, todos os que reconhecem em Jesus o Cristo forçosamente devem ter conhecimento deste mago! Imediatamente irei perguntar a Jonael! Ai de ti, se me pregaste tamanha mentira!”

  2. Diz o cidadão: “Aqueles não te informarão a respeito, pois não assistiram às magias, de medo que fossem obras de Satanás! Só nós, que somos mais corajosos, presenciamos tudo, porque não acreditamos nisto e sabemos que existem forças ocultas na natureza, convencendo-nos de que muita coisa é possível ao homem!”

  3. Diz Pedro: “Tu deves ser um cliente muito fino, com certeza! Entretanto, asseguro-te: não escaparás ao castigo! Acompanha-me até o Sumo Pontífice desta cidade! Lá poderemos esclarecer nossa questão!”

  4. Diz o cidadão: “O que tenho eu a ver com o teu Pontífice? Sou galileu, quer dizer, sou mais grego que judeu; o teu Pontífice é muito ignorante, enquanto suas quatro filhas mais velhas se de- dicam à prostituição, com o consentimento materno. Que vou eu fazer com um tolo desta ordem? Aprecio, acima de tudo, artes e ciências, dedicando o maior respeito aos verdadeiros artistas e cien- tistas, que no entanto não devem fazer mais de si do que são!

  5. Se vosso mestre, que realmente é muito habilidoso e sábio, tivesse permanecido o que é, seria um dos homens mais conside- rados entre judeus, gregos e romanos! Mas ele se diz Deus, o que é sumamente ridículo e faz parte da antiguidade!

  6. Sois criaturas honestas e simples; mas, além da pescaria, não entendeis de coisa alguma! Por isto, deixemos nossa discussão! Po- deis acreditar no que vos apraz, nós não nos deixamos ludibriar!”

  7. Diz Pedro: “Amigo, não consegues inocentar-te! Não se tra- ta aqui de creres nisto ou naquilo do nosso Mestre, e agora te esfor- ças numa discussão aparentemente razoável para fazer-me esquecer

que me mentiste escandalosamente! Vá lá que o Pontífice, na tua opinião, não seja um zeloso exagerado, mas, como pessoa credencia- da, deverá saber se há pouco tempo passou por aqui um mago como tu o descreveste! Isto é que desejo saber, porque deduzirei daí o que pensar do meu Mestre.

  1. Vê, eu e muitos outros abandonamos tudo, inclusive mu- lher e filhos, e O seguimos incondicionalmente, porque vimos feitos que jamais alguém conseguiu fazer e também ouvimos como falou tão sabiamente como ninguém, antes nem depois, poderia falar!

  2. Tu, porém, queres me convencer de um outro mestre, que faria os mesmos milagres!

  3. Se tuas palavras são verdadeiras, afirmo-te que hoje mes- mo abandonarei meu Mestre, no qual supunha Poderes Divinos, e voltarei para minha família! Entretanto, se tu mentiste — o que eu acredito — a fim de lançar uma grave suspeita sobre meu querido Mestre, ai de ti! Terás a prova de que eu também já possuo algum poder dado por Ele, sem querer passar por mago!

  4. Por isto, aconselho-te que me sigas junto ao Pontífice que neste momento está conversando com Matheus; este certamente também conhece teu mago, pois mora há muito tempo nesta cidade! Vamos, senão te obrigarei!”

  5. Diz o cidadão: “Como poderias me obrigar, se não quisesse acompanhar-te? Lá atrás estão umas centenas de pessoas que te ata- carão, se usares de força contra mim!”

  6. Diz Pedro: “Não porei minha mão sobre ti, como tu o fizes- te há pouco comigo, e mesmo assim serás atraído para lá. Parece-me que não vês a quantidade de anjos que nos acompanham. Basta um simples aceno e eles te levarão para onde eu quiser!”

  7. Diz o cidadão: “Falas destes garotos vestidos de branco? Es- ta é boa! Se vossa defesa está nas mãos deles, basta uns piparotes e todos vós estareis no chão, juntos com estes garotos!”

  8. Esta exclamação irrita de tal maneira a Pedro, que chama um anjo para castigar o cidadão. O anjo, porém, diz: “Bem eu qui- sera, se fosse da Vontade do Pai; mas ainda não recebi ordem Dele,

e por isso não posso atender ao teu pedido ainda! Pergunta tu ao Senhor, que eu executarei Suas Ordens!”

  1. Pedro de pronto se dirige a Mim e Me conta sua dificul- dade. Como já chegáramos à casa de Jonael, Eu lhe digo: “Vai e traze-Mo aqui!”

  2. Pedro se sente aliviado, volta para perto do anjo e diz: “É da vontade Dele que seja trazido até cá!”

  3. O anjo apenas olha para o cidadão, que começa a tremer e segue a Pedro para perto de Mim! Eu, porém, o fito e ele confessa que tinha mentido e que jamais viu tal mago, apenas lhe contaram algo dum suposto. Alega não ter más intenções, somente queria ex- perimentar a fé de Pedro.

  4. Digo Eu: “Para salvar-te da primeira mentira, proferes uma segunda, o que prova que és do diabo! Vai, que ele te dará o prêmio que mereces!”

  5. Imediatamente o cidadão é acometido dum espírito mau, que começa a martirizá-lo! Ele, então, grita: “Senhor, ajuda-me! Confesso que pequei!”

  6. Eu, porém, lhe digo: “Quem te contou que as quatro filhas mais velhas de Jonael eram levianas? Fala, senão serás martirizado até o fim do mundo!”

  7. Diz o cidadão: “Ninguém me falou, mas, quando as encon- trei uma noite levando água do poço, eu quis tentá-las. Elas, entre- tanto, repudiaram-me de tal maneira que desisti para sempre; jurei, porém, que havia de vingar-me e inventei esta calúnia. Tudo isto foi arquitetado por mim, pois elas são puras e só eu que sou mau!”

  8. Em seguida Eu ordeno ao espírito que se afaste do cidadão, o qual, por sua vez, dá às filhas de Jonael dez vezes mais do que Eu havia prescrito como indenização.

  9. Eu, porém, lhe digo: “Não basta uma indenização material por tamanha calúnia! Revoga tudo o que disseste e, então, serás per- doado! Que assim seja!”

  10. O cidadão promete fazer tudo que lhe é possível.

54. Em Sichar. — O Senhor e a família nobre de Jonael. Aborrecimento dos discípulos com a cena comovedora das filhas de Jonael em plena rua. Repreensão séria do Senhor. Onde está o Reino de Deus. “Permanecei no amor!”

  1. Depois do afastamento do cidadão, Eu chamo a mulher e as filhas de Jonael, que tinham recuado para dentro de casa quando viram seu caluniador.

  2. Elas se aproximam de Mim e Me agradecem, com lágrimas nos olhos, por lhes ter restituído sua honra difamada.

  3. Eu abençoo a todas e lhes asseguro que deverão permanecer a Meu lado o dia todo! Elas, entretanto, Me dizem: “Senhor, não me- recemos esta grande Graça e já ficaremos contentíssimas em poder seguir-Te na retaguarda da grande multidão!”

  4. Eu, porém, respondo: “Pois justamente por causa de vossa verdadeira humildade é que Eu vos quero a Meu lado!”

  5. Nisto Jonael lhes pergunta: “Minhas queridas filhas, onde fostes buscar estes lindos vestidos que vos ficam tão bem?”

  6. Só agora as filhas observam que estão vestidas com roupas do mais fino tecido e suas cabeças ornadas com diademas preciosos, de modo que se parecem como filhas de um rei.

  7. Com este encanto, ficam completamente extasiadas e não sa- bem como interpretar o sentimento de amor puro e a gratidão que lhes invade o coração. Completamente atrapalhadas, perguntam ao pai quem poderia ter sido o doador tão bondoso!

  8. Jonael, encantado com sua aparência graciosa, responde: “Agradecei Àquele que vos abençoou, pois é o doador!”

  9. As filhas Me abraçam, chorando de alegria e são incapazes de falar. Os discípulos, com isto, se escandalizam e falam: “Para que esta cena em plena rua? Deviam ter feito isto dentro de casa!”

  10. Eu Me viro e lhes digo: “Já Me encontro em vossa compa- nhia há muito tempo, no entanto nunca Me destes u’a manifestação de alegria tão sincera como estas moças! Eu vos digo, elas estão no caminho certo e escolheram para si a melhor parte! Se não seguirdes

este exemplo, dificilmente achareis a entrada para o Meu Reino! Pois aqueles que se aproximam de Mim como estas, ficarão em Minha Companhia; os outros, que o fazem apenas com louvores e agrade- cimentos puramente obrigatórios, só sentirão um vislumbre, e não a Minha Pessoa em seu meio.

  1. Mas o Meu Reino só existe onde Eu Me encontro com todo o Meu Ser! Compreendei isto! O Senhor é um Senhor também de todo o orbe, e não necessita preocupar-Se com o que possa escanda- lizar o vosso mundo tolo!”

  2. Diz Pedro: “Senhor, tem paciência com as nossas tolices! Tu sabes que a nossa educação não é do Céu, mas mundana! Perdo- a-nos, pois também Te amamos sobre todas as coisas, do contrário não teríamos seguido Teus Passos!”

  3. Digo Eu: “Então permanecei no amor e não tomeis conhe- cimento do mundo, mas, sim, dos Céus por Mim!”

  4. Com isto, os discípulos se satisfazem e Me louvam em seus corações.

55. Em Sichar. — Passeio pelo delicioso bosque. O velho castelo de Esaú. Cena entre o dono do castelo, seus servos e o Senhor. O comerciante inteligente, como amigo da verdade, vê-se atrapalhado com o Senhor, que lê seus pensamentos. Pergunta dúbia.

  1. Nós, entretanto, continuamos nosso passeio e, depois de uma hora, chegamos a um bosque bem tratado, que pertencia a um rico comerciante de Sichar. Este bosque era artisticamente enfeitado com canteiros, cheios de pássaros, cascatas, lagos com peixes etc. No fim, chega-se a um velho e enorme castelo protegido por uma forte muralha; fora construído por Esaú, que morava lá enquanto Jacob se encontrava no estrangeiro. No decorrer dos tempos ficou um tanto avariado, mas este comerciante tinha gasto vultosas somas a fim de reconstruí-lo como morada para si e sua família. Era homem de pos- ses e muito generoso; entretanto, estimava muito este solar e ficava irritado quando era invadido por muita gente.

  1. Quando viu que u’a multidão se dirigia ao castelo, mandou imediatamente empregados e servos impedir que nele penetrássemos.

  2. Eu, porém, disse aos servos: “Dizei a vosso patrão que o seu e o vosso Senhor lhe comunica que virá com todo o Seu Séquito hospedar-Se em sua casa.”

  3. Os empregados transmitem esse recado a seu dono. O patrão lhes pergunta se não sabiam quem Eu era. Eles respondem: “Já te dissemos que é o teu e o nosso Senhor; como podes ainda perguntar? Ele caminha em meio de sete moças tão bem vestidas como prince- sas. Talvez seja um Príncipe de Roma, e conviria recebê-lo com todas as honras no portão do castelo.”

  4. O comerciante, ouvindo isto, diz: “Então trazei depressa mi- nha vestimenta mais rica e preparai festivamente toda a casa!”

  5. Depois desta ordem dada, estabelece-se um grande movi- mento no castelo; as cozinheiras vão às despensas para preparar uma boa refeição, e os jardineiros vão à horta a fim de escolherem os melhores legumes e frutos.

  6. Passados alguns minutos, aparece o dono do castelo acom- panhado por cem dos seus mais atenciosos servos, dirige-se a Mim, faz três reverências até o chão e dá-Me as boas-vindas, agradecen- do a grande Graça de Minha Visita, pois Me julgava, em verdade, um príncipe.

  7. Eu o fito com seriedade e pergunto: “Amigo, qual te parece ser a máxima honra que o homem pode alcançar neste mundo?”

  8. Diz o rico comerciante: “Senhor, perdoa ao teu escravo obe- diente, pois sou tão ignorante, que não compreendo tua sábia per- gunta! Queira descer das alturas imensas de tua sabedoria e formar a pergunta de tal maneira que eu possa compreendê-la com minha inteligência diminuta!” (Bem que ele me tinha compreendido, mas era uso social que a pessoa alegasse não entender as coisas mais sim- ples, para assim exaltar a sabedoria do outro.)

  9. Eu lhe digo: “Meu amigo, compreendeste-Me muito bem, e fazes um rapapé inútil e fora de curso. Portanto, responde a Minha Pergunta!”

  1. Diz o comerciante: “Já que me permites responder, direi que, a meu ver, o Imperador é o maior dignitário deste mundo!”

  2. Digo Eu: “Mas, Meu amigo, por que te contradizes, quan- do teu coração já formou o seguinte lema: ‘A verdade é a coisa mais sublime e elevada nesta terra e o empregado que exercer suas funções de verdade e justiça é portador do cargo mais digno do mundo!’ Eis tua divisa! Como podes afirmar que a posição de Imperador — que apenas exerce o cargo do poder absoluto como dirigente máximo de um povo — seja a mais digna, pois nem sempre se baseia na verdade e na justiça e, de acordo com tua convicção, está em pleno desacordo com o mais sublime?”

  3. O comerciante se admira muito e diz: “Senhor supremo, quem te revelou este meu lema? Jamais o externei, embora o tivesse pensado mil vezes! Pois é sabido que nem sempre convém externar a pura verdade quando se quer passar ileso entre a Humanidade!

  4. Mas, pelo que vejo, és tu mesmo um grande amigo da ver- dade e da justiça, e eu poderia arriscar-me a lhes fazer jus em tua presença; pois os grandes senhores jamais querem ouvi-las e honram a bajulação, condenando os direitos humanitários. O que eles que- rem, conseguem e mesmo à força! Por isto, convém usar de diploma- cia quando em presença deles, do contrário haverá prisão e galeras.”

  5. Digo Eu: “Falaste bem e dentro da verdade, e sou também de tua opinião; mas dize-Me, por quem Me tomas tu?”

  6. Diz o comerciante: “Senhor, eis uma pergunta muito emba- raçosa! Se eu exagerar, serei ridicularizado! Se não falar à altura, serei preso! Portanto, prefiro não responder!”

  7. Digo Eu: “Mas, se Eu te der a certeza de que não precisas temer nem uma coisa nem outra, poderás responder-Me sem susto! Portanto, que achas que Eu sou?”

  8. Diz o comerciante: “És um príncipe de Roma, já que sou obrigado a falar!”

  9. Diz Jonael, que se encontra atrás de Mim: “Isto é muito pouco! Precisas calcular mais alto! Porque o cargo de príncipe não satisfará!”

  1. O comerciante, assustado: “Senhor, talvez sejas o próprio Imperador?”

  2. Diz Jonael: “Ainda mais alto!”

  3. Diz o comerciante: “Então desisto, porque além do Impera- dor não há cargo mais elevado!”

  4. Diz Jonael: “Mesmo assim! Existe algo de maior projeção; pensa um pouco e fala ousadamente! Vejo em teu coração que dás ao Imperador de Roma o lugar mais ínfimo! Por que falas diferente- mente do que sentes?”

56. Em Sichar. — Resposta dilatada do cauteloso comerciante sobre a pergunta: “Quem é o Senhor?” As experiências desagradáveis daqueles que testemunham a verdade sobre a terra. Exemplo do ladrão e do impostor. Argumentação de Jonael sobre a mentira como causadora de todos os males na terra.

  1. Em seguida fala o comerciante: “Meus queridos hóspedes! Não há coisa melhor do que evitar, o mais possível, a atividade de nossa língua. Nunca se deve, na presença de pessoas elevadas, exter- nar o que se sente ou pensa no coração, pois os personagens impor- tantes têm uma pele muito sensível, que não suporta o choque da verdade. Por isto, é muito perigoso falar abertamente em presença de autoridades. Cada um pense o que quiser; na ação, ele deve ser um bom patriota, para poder viver sossegadamente! Mas contenha sua língua, do contrário sofrerá as consequências.

  2. Já falei demais e persisto em minha opinião de que o Impe- rador é o máximo dignitário sobre a terra! CaesaremcumJoveunamessepersonam. 1

  3. Portanto, é preciso abolir a verdade, se existe, pois não presta para a Humanidade! Quanto sofrimento não surgiu pela verdade, e seus propagadores a expiaram na cruz ou pela espada! Aquele, po- rém, que se dedica à mentira, sempre consegue escapar ileso.

    1. César e Deus unificam esse personagem.

      1. Por isto, quem poderia ser amigo da verdade, quando lhe espera tal recompensa? É preferível contê-la no peito, viven- do livremente entre os homens, que libertá-la e deixar prender corpo e alma!

      2. Jamais ouvi que a verdade trouxesse um benefício a alguém! Alguns exemplos verterão mais luz nesse assunto:

      3. Um ladrão foi acusado de furto; se ele for entendido em mentir, será liberto por falta de provas. Se, entretanto, relatar o fato real, será punido com rigor. O diabo leve a verdade!

      4. Outro caso: alguém foi lesado em algum negócio. Como possui muitos bens, não percebe a fraude e vive satisfeito e feliz. Um amigo da verdade, que percebeu o logro, esclarece-lhe sobre o pre- juízo que levou em tal negócio! Daí em diante o lesado se desespera, procura o juiz e gasta muito dinheiro para castigar o impostor. Esta verdade lhe trouxe algum benefício? Não! Apenas despertou raiva e vingança em seu coração, levando-o a maiores gastos de sua fortuna. O impostor, que soube mentir, não sai prejudicado, mas o defensor da verdade é preso como caluniador! Pergunto eu: Qual o lucro do amigo da verdade?

      5. Por isto, aboli-a de sobre a terra; ela é a única culpada do estado infeliz da Humanidade, pois Moysés já falou: ‘Da árvore da ciência do bem e do mal não hás de comer, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás!’ — Até hoje as coisas andam assim: com a mentira irás ao trono, e com a verdade, à prisão.

      6. Procurai-a onde quiserdes, mas deixai-me ileso! Tudo que contêm minhas despensas e que encontrais em meus jardins está às vossas ordens; mas o santuário do meu coração é meu, como dádiva de Jehovah! O que Ele me dá, dou a vós e ao mundo! Mas a Salvação de Deus é unicamente minha!”

      7. Diz o Sumo Pontífice: “Confesso que tua descrição a respei- to do mundo é certa. Mas já que falaste em Moysés, deves saber que Deus lhe ofertou uma Lei em que a mentira e o falso testemunho são proibidos e somente a verdade é um dever! Não achas que a vida seria maravilhosa se todas as criaturas considerassem esta Lei?

      1. Deves reconhecer que não é a verdade culpada do sofrimen- to na terra, e sim a mentira, pois as criaturas, com raras exceções, são orgulhosas e altivas. Cada qual quer ser mais do que seu próximo e, assim, o homem cego usa de todos os meios para mostrar sua supre- macia perante aquele que, por esta ou por aquela razão, não pode concorrer com ele!

      2. Esta concorrência leva a criatura, pouco a pouco, a praticar toda sorte de vícios — até o homicídio, caso não lhe seja possível, por outros caminhos da mentira e da fraude, conseguir maior domí- nio e respeito perante os homens.

      3. Como todos querem ser meritosos e melhores do que real- mente são, não lhes resta senão mentir constantemente — e a verda- de não tem cotação alguma em seu meio.

      4. Facilmente, porém, conseguiriam reconhecer a vantagem da verdade sobre a mentira se respeitassem a Deus e Suas Leis Sábias, fugindo com isto daquela como se fora a peste; a Justiça Divina cas- tigaria um mentiroso com a morte — enquanto a altivez e o orgulho levam a criatura a amar a mentira.

      5. Nós, entretanto, já sabemos que ninguém vive eternamente sobre a terra e que devemos, em breve, morrer, a fim de que este cor- po seja entregue aos vermes. Não obstante, a alma terá que enfrentar o julgamento de Deus! Como será este juízo se ela só tiver feito jus à mentira?

      6. Eu sou de opinião que é melhor ser crucificado em prol da verdade, do que enfrentar a Deus e a Sua Exclamação: ‘Afasta-te de Mim, que te não conheço!’

      7. Se me compreendeste bem, chegaste à conclusão de que so- mos reais amigos da verdade e não precisas temer um castigo por sua causa. Portanto, fala abertamente o que julgas de nós e, principal- mente, Daquele que está conversando com minhas filhas.”

57. Em Sichar. — A resposta dada à pergunta dúbia.“Então, és o Messias? Sê bem-vindo! Trabalhei a vida inteira para Ele!” O Senhor aceita o convite do comerciante para a refeição.

  1. Diz o comerciante: “Amigo, falaste sabiamente e repetiste apenas aquilo que muitas vezes senti em meu íntimo. Mas uma coi- sa não compreendo: Por que insistes em saber minha opinião sobre vós?! Já vos disse, no começo, o que julgava e me dissestes que de- veria calcular mais alto. Eu, porém, não posso saber como se possa ser mais do que o Imperador, sem ser Deus! Jehovah, unicamente, é, mundana e espiritualmente falando, mais do que o Imperador! Será que aquele é Jehovah?”

  2. Diz Jonael: “Observa melhor nosso séquito. Talvez estranhes a presença dos múltiplos jovens que nos acompanham.”

  3. O comerciante: “Pensei que fossem pajens do Imperador e fi- lhos de nobres de Roma, embora sua pele e cor levassem a crer serem habitantes da Ásia Menor. Jamais vi criaturas mais lindas, se bem que, em tempos passados, estivesse habituado a negociar com moças do Egito para a Europa, principalmente para os romanos sensuais. Nunca vi jovens de beleza tão inaudita! Quem são e donde vêm?”

  4. Diz Jonael: “Não compete a mim esclarecer-te, e sim unica- mente Àquele que vês em meio de minhas filhas. Dirige-te a Ele, que receberás a necessária informação.”

  5. O comerciante não hesita, vem a Mim e fala: “Senhor de toda esta multidão, que a meu ver te segue como as ovelhas a seu pastor, dize-me: com quem tenho a elevada honra de falar? Fui inquirido e adivinhei o cargo mais elevado, porém informaram-me que não estava certo. Agora, nada mais sei e peço que te dignes informar.”

  6. Digo Eu: “Também fazes parte daqueles que não acreditam sem provas; mas, quando as têm, dizem: ‘Ah! Este, ou é um discí- pulo dos essênios, quiçá um mago do Egito, talvez daquele país que é banhado pelo Ganges, ou servo do diabo!’ Que posso fazer? Se te disser abertamente Quem Sou, não Me acreditarás!

  1. Externaste tua opinião, que era falsa. Quando Jonael te disse que Eu era mais do que o Imperador, respondeste: ‘Somente Jeho- vah é maior que o Imperador!’ — e calaste, ante a hipótese de que Eu pudesse ser maior que ele, a quem temes como poderio munda- no mais elevado, mas no teu coração desprezas como a peste.

  2. Hoje já é o terceiro dia de Minha Presença em Sichar e a dis- tância daqui até lá é de apenas alguns cem metros. Admira-Me que não tivesses sido informado por teus colegas a Meu respeito!”

  3. Diz o comerciante: “Ah! Então tu és o Messias de quem me contaram, ontem e hoje, fatos extraordinários! Consta que refor- maste e mobiliaste, mui regiamente, a casa da bonita Irhael! Rela- taram-me, também, uma prédica imponente na Montanha, na qual muitos se escandalizaram por ter sido inteiramente antimosaísta. Então, tu o és?!

  4. Realmente, regozijo-me muito com tua visita e espero co- nhecer-te mais de perto! Sabes que não condeno a ideia da vinda do Messias e creio firmemente que Ele deve vir, e virá! A época para isto é mais do que propícia, pois o jugo romano não é mais suportável! E por que não deverias ser o Messias? De minha parte, não tenho dificuldade em acreditar nisto.

  5. Se és ciente do teu poder e sabes apresentar-te condigna- mente, auxiliar-te-ei com toda a minha fortuna. Isto porque dedi- quei, desde a infância, todas as minhas forças em juntar uma fortuna vultosa para que o Messias pudesse organizar com ela um exército de guerreiros destemidos e audaciosos. Há tempos comuniquei-me com povos lutadores da Ásia Menor, e basta apenas enviar um men- sageiro para, em poucos meses, um exército poderoso estar ao teu dispor. Por agora, nada mais! Em minha casa teremos oportunidade para tratar do necessário!

  6. Penso que também nosso almoço esteja pronto e convido-

-vos a todos para participarem dele!”

  1. Digo Eu: “Por ora está tudo bem, o resto combinaremos mais tarde! Conduze-nos ao salão. Aqueles homens que vês lá atrás, deixa-os aqui; não fazem parte dos Meus, e sim do mundo!”

58. Em Sichar. — Ensinamentos sobre a vida e a conduta. É preferível dar que receber. As obras de amor duram eternamente. A miséria no Além dos amigos do mundo. Conselho do Senhor sobre a boa administração de bens. Como se conseguem as Bênçãos Divinas.

  1. Diz o comerciante: “Eu os conheço, são sicharenses egoístas que, de acordo com sua fé e ação, assemelham-se mais aos pagãos do que aos filhos de Israel. Os piores são os da Galileia, por serem materialistas enraizados e não cogitarem de coisas elevadas e subli- mes! Preferem mil vezes um mago da Pérsia a Moysés e os profetas. Mas, a fim de não lhes dar oportunidade de crítica, hospedá-los-ei no jardim de inverno. Ai de mim, se não lhes atender!”

  2. Digo Eu: “Faze o que queres e podes, porque é melhor dar que receber! No futuro, darás apenas aos pobres e necessitados; se algum rico te pedir dinheiro emprestado e tu souberes que ele te res- tituirá o empréstimo com juros, não lhe deves fazer o empréstimo. Pois, uma vez que lhe tiveres emprestado, tornar-se-á secretamente teu inimigo, e terás que lutar muito para receber de volta o dinheiro com os juros.

  3. Mas, se um pobre te pedir e tu souberes que ele não te poderá devolver a importância, a este deves emprestar, pois o Pai te resti- tuirá mil vezes mais, de outra maneira, sobre a terra, sendo que as Bênçãos do Céu te esperam quando chegares no Além.

  4. Eu te digo: As obras de amor na terra também se realizam nos Céus e duram eternamente; mas o que é feito pelo intelecto mundano é destruído pelo solo. Qual será o benefício para uma alma, angariando posses materiais?

  5. Tolo é quem trabalha para a terra e a carne; pois ambas serão destruídas. Assim sendo, onde irá a alma construir sua morada?

  6. Toda criatura que perde seu corpo também perderá a terra, e se não tratar de conseguir uma nova terra pelo seu amor, a alma será entregue aos ventos, às nuvens e neblinas, sendo levada pela Eternidade sem pouso nem descanso, a não ser nas criações vagas e errôneas de sua própria fantasia que, quanto mais tempo duram,

mais fracas se tornam, até chegarem às completas trevas, donde di- ficilmente uma alma poderá sair e salvar a si mesma! Portanto, fa- ze futuramente o que Eu te ensinei; por ora, entretanto, como o quiseres!”

  1. Diz o comerciante: “És extremamente sábio e poderás ter razão em todos os assuntos; mas, quanto aos empréstimos, não concordo contigo, pois, se alguém conseguiu fazer fortuna e resol- ve emprestar seu dinheiro a juros modestos, terá agido justamen- te, porque, se o tivesse enterrado, facilmente poderia ser roubado. Naturalmente, pode-se fazer a caridade e auxiliar o próximo com o supérfluo!”

  2. Digo Eu: “Deixa que o Senhor resolva estes assuntos e au- xilia àqueles que Ele te enviar; assim, nunca terás prejuízo em tua fortuna! Por acaso não possuis pastos, campos e hortas repletos de frutos? Teus estábulos não estão cheios de gado? Se negociares com estes bens, terás lucros que te restituirão completamente o que du- rante o ano gastaste com os pobres. Os juros, porém, que esperas do teu dinheiro emprestado aos ricos jamais te trarão as bênçãos, e sim constantes preocupações. Faze, pois, o que te ensinei e terás uma vida folgada e os pobres te abençoarão, o que será melhor que se cuidares de teus juros.”

59. Em Sichar. — Falta de fé do comerciante com relação à Solicitude Divina em assuntos diários. Sua veneração a Jehovah e benevolência para com os pobres. Deus deve mais ser amado que temido.

  1. A caminho do castelo o comerciante diz: “Senhor e amigo, vejo que de ti emana a Sabedoria Divina e de maneira tão suave co- mo jamais ouvi de uma boca humana. Mas para observar tua doutri- na é imprescindível uma confiança absoluta em Jehovah, o que me custa muito, embora tenha uma fé segura. Sei perfeitamente que Ele é o Criador de tudo, que rege e conduz todas as coisas; entretanto, não posso imaginar que, como Espírito Supremo, queira ou possa intervir em assuntos particulares. Para mim, Ele é tão sumamen-

te Santo que mal ouso pronunciar Seu Santo Nome, muito menos poderia esperar que me ajudasse nos meus assuntos financeiros com Sua Mão Abençoada.

  1. Procuro ajudar os pobres e não tenho cachorro que os pos- sa afugentar; somente evito a penetração de estranhos neste meu bosque muito estimado, porque costumam estragar os canteiros e plantações, onde não encontram o que comer e beber. Por isto, cul- tivei uma grande horta com figueiras e ameixeiras que está ao dispor de todos; somente não devem danificar as árvores, motivo por que organizei a guarda.

  2. Por aí vês que não me esqueço dos pobres; porém, jamais poderia me dirigir a Deus com um pedido no sentido de que admi- nistrasse, material ou espiritualmente, minha fortuna. Se Ele assim fizer — e realmente já fez, não tenho dúvida — isto dependerá, unicamente, de Sua Vontade Suprema! Meu profundo respeito a Ele até me impede agradecer-Lhe, pois, se assim fizesse, poderia consi- derá-Lo um servente, coisa que O desonraria imensamente! Por isto, procuro viver retamente, de acordo com as forças dadas por Deus, e não amarro as bocas dos bois e dos burros quando pisam o trigo. Porém, venero-O em Seu Dia, pois consta que: Não tomarás o No- me do Senhor, teu Deus, em vão!”

  3. Digo Eu: “Se não soubesse, há muito tempo, que és um ho- mem justo, Eu te não teria procurado. Mas não é admissível que temas Aquele que deverias amar sobre tudo, e Eu vim a ti para mostrar-te co- mo deves, futuramente, amar, mais do que temer, a Deus. Deste modo, Ele Se dignará servir-te de maneira segura, potente e incondicional!”

60. Em Sichar. — Uma surpresa após outra, milagre sobre milagre. O Senhor como hóspede do comerciante trata-o neste velho castelo de Esaú com alimentos celestes, por servos divinos, no grande salão recriado.

  1. Neste ínterim, penetramos no grande pátio do castelo, quan- do todo o séquito de criados se aproxima do comerciante, comple- tamente embaraçado e surpreso, e o administrador toma a palavra e diz: “Senhor, que organização desastrosa! Os cozinheiros não con-

seguem preparar um prato, tudo sai mal! Por isso, queria ao menos enfeitar as mesas com frutos e vinho, mas acontece que todos os quartos estão fechados e não foi possível abrir uma porta sequer! Que faremos?”

  1. O comerciante, em parte admirado, em parte aborrecido, diz: “Eis o que se dá quando me afasto de casa! Nada mais do que desordem sobre desordem! O que estão fazendo os cozinheiros? Já recebemos mais de dez mil pessoas e tudo correu normalmente! Agora, não somos nem mil e está tudo no ar! Mas, que vejo?! As janelas estão ocupadas por jovens, portanto o castelo está cheio — e tu me dizes que as portas estão fechadas? Como é possível? Estais todos mentindo ou quereis desculpar vossa preguiça! Respondei-me, quem fechou as portas?”

  2. O administrador não sabe responder e todos os criados estão consternados e sobressaltados.

  3. Eu, porém, digo ao comerciante: “Querido amigo, deixa, conforme está, está bem! Vê, quando, há pouco, mandaste teus ser- vos perguntarem quem Eu era e o que procurava, Eu pedi como teu Senhor que tu nos desses a todos um bom almoço! Imediatamente te decidiste, embora não sabendo quem era Aquele que se dava ao direito desta exigência.

  4. Tanto tu como teus servos vos prontificastes em atender-nos, pois julgastes que Eu fosse um príncipe de Roma. Durante nossa palestra chegaste, pouco a pouco, à conclusão de que Eu era o Mes- sias — o que muito alegrou teu coração — e calculaste servir-nos até que teu mencionado exército estivesse em forma para, sob Meu Comando, expulsar da terra de Deus todos os inimigos, que são pagãos e não acreditam no Deus Vivo e Verdadeiro!

  5. Quando notei esta decisão tua, Eu também decidi algo, pois que tudeverias ser Meu Hóspede, embora em tua própria casa! Para este fim, dei as Minhas Ordens e Meus servos se puseram em ação, tanto que serás servido a Meu lado com alimentos dos Céus!

  6. A colheita de tua horta poderás oferecer aos sicharenses que se não conformam em não terem sido convidados. Penso que estarás

de acordo, porque, quando vejo boa vontade na criatura, Eu aceito esta vontade como ação, e te livrei de uma despesa inútil. Sou mais rico que tu e quero, por isto, saciar-te!”

  1. O comerciante se admira e fala após uns minutos de silêncio: “Senhor, isto é demais para uma alma pecadora! Não posso conceber este milagre em toda a sua profundeza! Se fosses um homem igual a mim, isto não te teria sido possível, pois não vejo nesta multidão quem pudesse ter sido o portador de alimentos naturais. Notei, há pouco, servos lindíssimos entre este povo e pergunto: donde vêm?”

  2. Digo Eu: “Amigo, quando te mudas para outro país a fim de negociar, também levas teus servos para tua ajuda. O mesmo faço Eu! Possuo muitos e jamais poderias conceber seu número. Por que deveria deixá-los em casa quando viajo?”

  3. Diz o comerciante: “Senhor, está tudo muito bem; apenas quero saber: de onde vieste tu e teus servos maravilhosos?”

  4. Digo Eu: “Primeiro vamos ao nosso almoço e mais tarde teremos oportunidade para maiores esclarecimentos. Vamos, pois, para a sala grande que fica para oeste e que não podemos ver daqui, porque nos encontramos do lado oposto do castelo!”

  5. Com estas palavras o comerciante quase tem uma vertigem e diz, estupefato: “Senhor, agora basta! Como podes mencionar este grande salão, que existiu, talvez, há duzentos anos e quase não era conhecido pelos meus antepassados?”

  6. Digo Eu: “Só depois, se não encontrares esta ala, poderás falar; achando-a, saberás que muita coisa é possível para Deus! Mas cala-te por enquanto, porque os que Me acompanham não estão maduros para isto!”

  7. Diz o comerciante: “Realmente, agora estou aflito para ver este salão do castelo, desconhecido por meus ascendentes. Existem apenas os alicerces, que conheço desde que vim para cá.” O comer- ciante se encaminha para lá apressadamente e nós o seguimos.

61. Em Sichar. — Continuação das surpresas milagrosas. Os anjos como construtores do salão maravilhoso. O comerciante, estatelado, pressente em Jesus o Filho de Deus.

  1. Chegando ao primeiro andar, ele vê de pronto a ala mencio- nada e corre precipitadamente em direção da grande porta aberta, lança um olhar para dentro do salão — e perde os sentidos! Alguns dos Meus servos o assistem e ajudam a se levantar! Depois de se ter refeito um pouco, ele se Me aproxima e, tremendo de surpresa, diz: “Senhor, dize-me com certeza, estou acordado ou dormindo e sonhando?”

  2. Digo Eu: “Pelo jeito com que perguntas, pareces estar so- nhando; entretanto, estás acordado e tudo que vês é real. Não Me contaste, há pouco, constar que Eu reconstruí a casa de Irhael? Por que então não Me havia de ser possível fazer o mesmo com o velho castelo de Esaú?!”

  3. Diz o comerciante: “Sim, sim, está visível a verdade; entre- tanto, é incrível que um homem possa fazer estas coisas! Senhor, se não fores um profeta, como Elias, então és um arcanjo em forma humana ou talvez Jehovah em Pessoa!”

  4. Digo Eu: “Sim, sim, se não tivesses visto este milagre, não Me acreditarias. Agora crês, mas não com o espírito livre! A fim de que possas libertar teu coração desta prova, digo-te: Não sou Eu o criador de tudo isto, mas sim os jovens que aqui vês, pois têm este poder de Deus! Pergunta-lhes como o realizaram!”

  5. Diz o comerciante: “É verdade, já perguntei a Jonael sobre estes jovens e ele me endereçou a ti. Não sei por que me esqueci disto quando em tua presença, e agora te peço que me dês uma in- formação certa a respeito.”

  6. Digo Eu: “Não quero entreter-te com evasivas e digo que são anjos, se o podes conceber; caso contrário, podes tomá-los pelo que quiseres, somente não os julgues diabos ou seus servos.”

  1. Diz o comerciante: “Senhor, Senhor, onde irei parar? Há pouco perguntei se estava acordado; agora, pergunto se estou vivo! Pois estas coisas não podem suceder nesta terra!”

  2. Digo Eu: “Como não? Eu apenas abri tua visão espiritual, por isto vês os espíritos dos Céus! Agora, basta de perguntas, pois o almoço está pronto!”

  3. Diz o comerciante: “Sim, sim, ótimo! Mas não poderei co- mer muita coisa, pois aqui tudo se tornou milagre. Se pudesse ter imaginado isto hoje de manhã! Acontece tudo tão rápido e ines- perado! Ainda não faz três horas que vieste de Sichar até aqui, e o que não aconteceu neste curto lapso?! Parece incrível, no entanto é verdade! Mas quem acreditará, a não ser as testemunhas? Senhor, ó grande Mestre ensinado por Deus, eu acredito porque vi com meus próprios olhos; mas, se fores contar estes fatos a milhares de pesso- as, elas se aborrecerão e insultarão o relator! Por isso, não conteis a ninguém o que se passou, que é muitíssimo milagroso! Quem algum dia viu tamanha maravilha como este salão? As paredes são de pedras preciosas, o teto de ouro, o soalho de prata, as múltiplas mesas de jaspe, jacinto e esmeraldas, as estantes de ouro e prata, os castiçais de cristal e as baixelas de um fino e luminoso rubi! Os bancos em volta da mesa são também de fino metal, os estofos de seda, cor de car- mim e os alimentos de odor sublime! — Senhor, ou és Deus Mesmo ou, infalivelmente, o Seu Filho!”

  4. Digo Eu: “Muito bem, muito bem, agora vamos à mesa! Depois podemos conversar, porque há muitos que estão com fome e sede, pois o dia está muito quente!”

62. Em Sichar. — A Ceia Divina no salão angelical. Boa promessa do comerciante. Discurso pessimista, porém verdadeiro, de Jairuth sobre a situação dos povos daquela época. Dissertação clara do Senhor a respeito do Reino de Deus e a Missão do Messias. A morada das almas desencarnadas antes da Ascensão do Senhor.

  1. O comerciante agora se cala, agradece e senta-se à mesa gran- de no meio da sala. Eu e todos os discípulos, Jonael com sua família, Irhael e seu marido, entre eles Minha Mãe, também nos sentamos a esta mesa.

  2. O comerciante se alegra muito com isto e diz: “Como gra- tidão pela honra que me deste de sentar à minha mesa, prometo dar um décimo de todos os meus bens aos pobres; os impostos, que são obrigados a pagar aos romanos, pagarei adiantado por dez anos! Após este tempo, espero que Deus, o Teu e o nosso Pai, salve-nos desta praga, no que, como já disse, ajudar-Te-ei com todas as mi- nhas forças.

  3. Mas liberta-nos deste jugo e faze com que os judeus de Jeru- salém se unam a nós, porque se afastaram completamente da verda- de. No meio deles prevalece o domínio, o egoísmo e a luxúria. De Deus não se lembram e muito menos do amor ao próximo! Despre- zam Garizim — e transformaram o Templo de Jerusalém num antro de agiotas e mercadores! Quando se lhes diz que estão ultrajando a Arca Divina, eles proferem injúrias e maldições. Isto não pode continuar, pois, do contrário, teremos em breve um outro dilúvio! O mundo está cheio de pagãos; em Jerusalém e na Judeia vivem judeus, sacerdotes, levitas, escribas, fariseus, agiotas e mercadores, que são mil vezes piores do que os pagãos! Em suma, o mundo está mais pervertido que na época de Noé! Senhor, faze o que está em Teu Poder e eu Te ajudarei!”

  4. Digo Eu: “Querido Jairuth, vê estes jovens! Eu te digo que possuo tantos que não teriam lugar em milhões de terras como esta, e bastaria um deles para destruir o Império Romano em três minu- tos. Vós, porém, embora de uma fé mais firme, tendes a mesma falsa compreensão que os judeus a respeito do Messias e do Seu Reino.

  1. Bem que Ele irá construir um novo Reino sobre esta terra, mas — observa bem — não um material com coroa e cetro, e sim um Reino do Espírito, da Verdade, e da Liberdade por esta Verdade, sob o regime do Amor!

  2. O mundo será chamado para nele penetrar e, se assim o fi- zer, seu prêmio será a Vida Eterna; não atendendo a esta chama- da, continuará sendo o que é, para finalmente ser alcançado pela morte eterna!

  3. O Messias, como filho do homem, não veio para julgar este mundo, mas sim para chamar a todos que estão nas trevas da morte, para entrarem no Reino do Amor, da Luz e da Verdade!

  4. Ele não veio a este mundo para reconquistar o que os vossos pais e reis perderam para os pagãos, mas unicamente para dar-vos aquilo que Adam perdeu para toda a Humanidade que viveu e ainda viverá sobre este orbe!

  5. Desde Adam até hoje não há uma alma sequer que tenha sido levada para os Céus; existe uma imensidade delas que até este mo- mento padecem no limbo! Mas, de agora em diante, serão libertas! E quando Eu subir aos Céus abrirei a todos o caminho da terra para lá, a fim de nele ingressarem para a Vida Eterna!

  6. Vê, esta é a Obra que será realizada pelo Messias! Portanto, não precisas chamar teus guerreiros da Ásia Menor, pois jamais pre- ciso deles. Necessito de trabalhadores espirituais para o Meu Reino

  1. Diz Jairuth: “Senhor, preciso de tempo para meditar! Jamais alguém ouviu falar dum Messias desta ordem e, penso, não trará grande benefício, enquanto este mundo for o que é: inimigo de tudo que for espiritual.”

63. Em Sichar. — Bom efeito do alimento e, principalmente, do vinho celeste. Discurso de Jairuth sobre a diferença entre a Lei e o bom conselho. O efeito diverso do vinho sobre pessoas diversas.

  1. Todos começam a comer e beber e até Jairuth, distraidamen- te, dedica-se em excesso ao vinho, que não deixa de fazer seu efeito, e ele, transformado em amor por este néctar do Céu, diz: “Senhor, tive uma ideia maravilhosa! Seria possível eu conseguir algumas mu- das desta uva milagrosa, que deixa todos que a apreciam repletos de amor?! Eu mesmo tive esta prova; sou uma criatura que considera tudo o que é bom e belo; mas, que tivesse algum dia sentido um tão forte amor para com meu próximo, não me lembro!

  2. Tudo que eu fazia tinha a mola de uma certa obrigação, que eu mesmo me prescrevia pelo conhecimento das leis. Nunca me pre- ocupei se uma lei era boa ou má. O meu lema era: Lei é lei, se de Deus ou de César! O nosso amor-próprio nos diz se é conveniente cumpri-la. Uma lei não sancionada deixa de ser lei para tornar-se um bom conselho, que a criatura pode seguir ou não.

  3. O não cumprimento de um bom conselho pode trazer-nos um prejuízo, semelhante a uma pena jurídica, mas não é pecado, uma vez que atinge apenas aquele que não o cumpriu. Quando o conselho é mau, pecarei no seu cumprimento.

  4. Com a lei o caso é diferente: boa ou má, ela deve ser mantida, donde se conclui que o bem, feito por obrigação, não contém amor. E agora que bebi este vinho dos Céus, sinto apenas um amor imenso dentro de mim e tenho vontade de abraçar e beijar o mundo inteiro!

  5. Pelo que vejo, todos sentem o mesmo efeito; por isto, gos- taria de cultivar uma grande vinha, daria a todos deste vinho e em breve eles se teriam transformado pelo amor! Se, portanto, fosse pos- sível arranjar alguns pés, considerar-me-ia o homem mais feliz desta terra abençoada!”

  6. Digo Eu: “Nada mais fácil; entretanto, o efeito que se apre- sentar nem sempre será o desejado, pois este vinho desperta o amor quando já existe na criatura; mas quando, no caso contrário, existe a

maldade no coração, despertará tudo quanto é mau e a pessoa fará, com grande entusiasmo, tudo aquilo que o vinho despertou em si!

  1. Portanto, é preciso sempre considerar a quem é ele ofere- cido; mas não deixarei de proporcionar-te uma vinha abundante- mente carregada com frutos desta qualidade; porém, sede cuidadoso quanto a quem o vais oferecer! Em verdade, muito bem pode ser praticado por um amor assim despertado; porém, é preferível que o amor seja despertado pela Palavra Divina, pois assim perdura, ao passo que, sendo despertado pelo vinho, evaporar-se-á assim como o efeito deste. Tenha isso em mente, ou poderás infligir muito mal ao invés de bem!”

  2. Diz o comerciante Jairuth: “Neste caso, será melhor não o fazer.”

  3. Digo Eu: “Como quiseres. Eu te digo: todas as qualidades de vinho desta terra possuem, mais ou menos, este dom. Experimenta oferecer de tua vinha uma porção idêntica à que tomaste a diversas pessoas e verás como algumas ficarão amorosas; outras, porém, tão exaltadas, que será preciso prendê-las. Se vosso vinho faz isto, quan- to mais não o fará o vinho do céu!”

64. Em Sichar. — Jairuth desiste do vinho, faz caridade aos pobres e recebe dois anjos protetores. Natureza e missão dos anjos. Boa opinião de Jairuth sobre a bênção da fraqueza humana.

  1. Diz Jairuth: “Senhor, é isto mesmo, pois já tive diversas opor- tunidades de verificá-lo; tanto que prefiro desistir da plantação de uvas e abolir completamente o uso desta bebida dentro de minha casa. Compreendo que o verdadeiro amor também poderá ser des- pertado dentro da criatura pelos Teus Ensinamentos e a maldade não terá ocasião de se manifestar. Irei, por isto, desistir do vinho da terra, depois de ter provado este; que me dizes a respeito?”

  2. Digo Eu: “Não posso louvar-te, nem te censurar! Faze o que achares melhor! Faze o que apraz a tua alma de acordo com uma boa compreensão! Além do mais, podes pedir-Me o que quiseres, porque és justo e severo, e Eu te fiz esta promessa.”

  1. Diz Jairuth: “Senhor, peço-te que fiques com todos os Teus amigos em minha companhia, ou ao menos deixa um ou dois destes jovens comigo, para que me possam ensinar o verdadeiro Amor e Sabedoria!”

  2. Digo Eu: “Não posso satisfazer teu primeiro pedido, pois te- nho muita coisa a fazer neste mundo; mas podes escolher dois jovens para tua companhia. Cuidado, porém, para não caíres tu, ou alguém de tua família, em qualquer pecado, pois neste caso eles se tornariam teus algozes e te abandonariam em seguida! É preciso que saibas que são anjos de Deus e podem mirá-Lo a toda hora!”

  3. Diz Jairuth: “Oh, Senhor, isto é penoso! Pois quem poderá afirmar que não pecará uma vez durante o ano por pensamentos, palavras e ações? Agora, imagina estes algozes, aos quais nada fica oculto; isto será um desastre, por isto prefiro desistir deste pedido e tudo ficará conforme está!”

  4. Digo Eu: “Muito bem, tudo se fará conforme a tua vontade! És livre e nada te será obrigado, esteja certo disso!”

  5. Diz Jairuth: “Mas... imaginar estes verdadeiros anjos tão lin- dos e amáveis e calcular a possibilidade de um pecado... jamais! Por isto, seja lá como for — eu fico com dois deles!”

  6. Digo Eu: “Pois bem, ficarás com eles enquanto se sentirem bem em tua casa. Meu amigo Jonael ensinar-te-á os Meus Cami- nhos. Terás dois anjos protetores contra toda sorte de infelicidades se permaneceres nestes Ensinamentos, mas, se tu os abandonares, eles também o farão!”

  7. Diz Jairuth: “Ótimo, está tudo combinado! Jamais alguém tomará vinho em minha casa; com o estoque existente pagarei aos romanos os impostos dos pobres e secarei as uvas dentro da horta, o que as tornará um alimento delicioso e as sobras serão vendidas. Achas que está bem assim?”

  8. Digo Eu: “Perfeitamente! Tudo que fizeres por amor a Mim e ao próximo será bom e justo!”

  9. Em seguida Eu convoco dois jovens, apresento-os a Jairuth e pergunto: “Servem-te estes?” Jairuth, extasiado com a beleza dos

jovens, exclama: “Senhor, se Tu achas que mereço esta Graça, fico profundamente satisfeito com isto. Sinto, porém, que não mereço tão imensa dádiva, mas esforçar-me-ei para conseguir esta beneme- rência e a Tua Vontade seja feita!”

  1. Os dois jovens, porém, dizem: “A Vontade do Senhor é o nosso ser e a nossa vida. Onde esta é executada, nós nos tornamos auxiliadores e agimos com todo o poder e plenitude. Nosso poder ultrapassa toda a Criação visível; a terra é para nós um grão de areia, e o sol, qual ervilha na mão de um gigante; toda a água da terra não basta para umedecer um cabelo nosso, e as estrelas estremecem dian- te do hálito de nossa boca! Este poder não nos foi dado para que nos vangloriássemos perante a fraqueza dos homens, mas sim para aju- dá-los de acordo com a Vontade do Pai! Por isto, nós te auxiliaremos dentro desta Vontade, enquanto tu a reconheceres, aceitares e respei- tares na ação. Mas, uma vez que tu a abandones, terás também nos abandonado, pois nada mais somos do que a Vontade personificada de Deus. Falamos tudo isto na Presença do Senhor, cujo Semblante miramos eternamente, obedecendo aos Seus mais leves acenos!”

  2. Diz Jairuth: “Queridos jovens, compreendo perfeitamente que possuís um poder incalculável para nós, que somos mortais; eu, entretanto, também consigo muita coisa que talvez vos fosse difícil! Pois me vanglorio perante vós de minha fraqueza, na qual não há força, nem poder. Mas justamente nesta grande fraqueza está o po- der de eu reconhecer, aceitar e executar a Vontade do Senhor!

  3. Não da maneira comum a vós, mas o Senhor, certamente, não me sobrecarregará além de minhas forças. Por isto, honro minha fraqueza, pois ela me garante a ajuda do Senhor!

  4. E pelo que deduzo dos Ensinamentos Dele, Ele prefere a fraqueza dos Seus Filhos, e os espíritos fortes e poderosos dos Céus devem se deixar conduzir pelos filhos fracos desta terra, a fim de chegarem à mesa Dele. Pois, se o Senhor vem aos fracos, parece-me que seja para torná-los fortes!”

  1. Dizem os jovens: “Sim, tens razão. Reconhece pois a Vonta- de do Pai, age de acordo com ela e terás nossa força e poder em ti, o que nada mais é do que a Vontade Dele!”

  2. Digo Eu: “Por ora chega; refizemos as nossas energias, por isto levantemo-nos e deixai-nos continuar o nosso passeio!” Todos se erguem de seus lugares, agradecem e se dirigem ao jardim.

65. Em Sichar. — Jairuth acompanha o Senhor. Ajuda dos anjos. Cena com os mercenários romanos.

  1. Depois de Jairuth se convencer de que Eu tinha de curar vários doentes na redondeza e, portanto, não podia permanecer em sua companhia, ele Me pergunta se não seria possível acompanhar-

-Me até à vila. De bom grado Eu lhe dou esta permissão e ele pede aos jovens para nos seguir.

  1. Os anjos, porém, dizem: “Será melhor permanecermos aqui, porque os hóspedes que estão no jardim de inverno denunciaram-te aos romanos como provocador dum motim, e tua casa estaria numa situação precária sem nossa presença. Estás compreendendo?”

  2. Jairuth se altera muito e diz: “Quem teria sido o desastrado autor desta infâmia e qual seria o motivo de sua ação?”

  3. Diz um jovem: “Vê, em Sichar vivem comerciantes que não são tão felizes quanto tu: não podem adquirir castelos tampouco comprar uma área imensa, como tu fizeste, à beira do Mar Vermelho na Arábia. Eles, portanto, invejam-te muito e desejam tua queda. Esta intenção seria executada se não fosse a assistência que te pro- porcionamos em Nome do Senhor, de sorte que nada acontecerá! Mas trata de afastar-te daqui por três dias.”

  4. Jairuth se acalma e se apressa em sair do castelo.

  5. No momento, porém, em que atravessamos o pátio do cas- telo, somos abordados por uma tropa de mercenários e esbirros ro- manos que nos ameaçam e impedem de prosseguir. Eu, entretanto, adianto-Me e apresento o documento de Nicodemus. O cabo, po-

rém, Me diz: “Isto de nada vale, pois existe uma suspeita justa de levante contra Roma!”

  1. Digo Eu: “O que desejas de nós? Foste levado a este passo pela mentira descabida de um grupo de invejosos. Eu, no entanto, te digo que tudo é calúnia! Se até agora prestaste ouvidos à mentira, faze-o mais condescendentemente em prol da verdade, da qual en- contrarás muito mais testemunhas aqui do que na cidade, e não da mentira mais chã destes caluniadores.”

  2. Diz o cabo: “Isto são puros subterfúgios e não têm valor para mim. Apenas na defrontação com o acusado poder-se-á apurar a verdade. Por isto, aprontai-vos para seguir-nos perante a justiça; caso contrário, usaremos de força!”

  3. Digo Eu: “Lá está o castelo! Seu dono foi acusado como amo- tinador; averiguai lá o que há com relação dum motim. Se, porém, tendes a intenção de forçar-nos a enfrentar um julgamento injusto, dar-vos-emos a prova de que também somos capazes de reagir. Fazei, portanto, o que vos apraz, o Meu tempo ainda não chegou! Eu vos assegurei que não há culpa de quem quer que seja. Quem está na justiça deverá defendê-la por todos os meios.”

  4. O cabo lança um olhar sobre nós e ordena aos soldados nossa prisão. Começando pelos jovens, eles tentam prendê-los; estes, po- rém, são tão ligeiros que não é possível agarrá-los. Nesta luta em que os soldados são dispersados, Eu Me dirijo ao cabo e digo: “Parece-Me que terás dificuldades em nos aprisionar!” — Este tenta bater-Me com sua espada, mas, no mesmo momento, um jovem arranca-a de suas mãos e joga-a com tanta violência para o ar que ela se destrói.

  5. Digo Eu: “Então, qual arma tens para atacar-Me?” Diz o cabo, furioso: “É assim que respeitas as leis de Roma? Muito bem, irei comunicar estes fatos às autoridades romanas e podereis espe- rar as consequências, pois que nesta zona não ficará uma pedra so- bre a outra!”

  6. Eu, porém, mostro-lhe como os jovens conduzem os sol- dados em grupos, todos algemados! Quando ele vê isto, começa a invocar os deuses Zeus e Marte e até as Fúrias!

  1. Eu, entretanto, digo aos jovens que soltem os soldados e eles obedecem. Então, pergunto ao cabo: “Ainda tens vontade de experimentar o teu poder?” Diz ele: “Estes jovens devem ser deuses, pois doutra maneira não seriam capazes de dominar estes guerrei- ros todos!”

  2. Digo Eu: “Sim, sim; para vossa crença poderão ser deu- ses; portanto, deixai-nos continuar nossa marcha, senão acontecerá coisa pior.”

  3. Diz o cabo: “Bem, considero-vos inocentes e vos permito prosseguir. Vós, meus soldados, dirigi-vos ao castelo, examinai tudo e não deixeis que alguém se afaste até que esteja tudo apurado!” Diz um deles: “Mas por que não queres tu mesmo dirigir a investiga- ção?” Responde o cabo: “Não vês que fiquei sem espada? Assim, a investigação não terá valor!” Diz o soldado: “Nós estamos em situ- ação idêntica; que fazer?” Exclama o outro: “Mas, que — também estais sem armas? Que desastre! Sem armas nada faremos!”

  4. Digo Eu: “Vede, em direção do velho cedro estão vossas armas. Ide apanhá-las, pois não vos tememos, com ou sem armas.” Eles se dirigem rapidamente para lá, para apoderar-se delas.

66. Em Sichar. — Cura do artrítico perto da pequena vila. Seu agradecimento com cantos e pulos. Fuga e volta dos soldados romanos.

  1. Nós, entretanto, continuamos nossa marcha em direção do levante e em breve chegamos a uma vilazinha, mais ou menos a duzentos metros distante do castelo. Toda a população nos recebe alegremente e indaga em que nos poderia servir. Eu lhes pergunto: “Não tendes algum doente aqui?” Eles afirmam e dizem: “Sim, te- mos um, completamente aleijado pelo reumatismo.”

  2. Digo Eu: “Então, trazei-o até cá, a fim de que receba a saú- de!” Responde um deles: “Senhor, isto será difícil, pois é tão doente que não deixa o leito há três anos e a cama está parafusada no soa- lho.” Digo Eu: “Neste caso, enrolai-o numa esteira e carregai-o até aqui!” Eles assim fazem, deitam-no na rua e dizem: “Senhor, aqui está ele!”

  1. Eu, porém, pergunto ao doente se acha que Eu poderia curá-

-lo. Ele Me olha e diz: “Querido amigo, parece-me que sim, pois te assemelhas a um verdadeiro salvador! Sim, sim, eu o acredito!”

  1. Em seguida, Eu digo: “Pois bem, levanta-te e caminha! Tua fé te ajudou, mas, futuramente, abstém-te de certos pecados para que não tenhas uma recaída, que seria pior do que o estado atual!”

  2. O doente de pronto se levanta, pega da esteira e começa a caminhar. Quando percebe que está completamente curado, joga-se a Meus Pés, agradece e diz: “Senhor, em Ti existe mais que o poder humano; abençoada seja a Onipotência Divina em Ti! Bem-aventu- rado o ventre que Te trouxe e os seios em que mamaste!”

  3. Eu, porém, acrescento: “Felizes todos que escutam as Mi- nhas Palavras, guardam-nas em seus corações e vivem de acordo com elas!” Diz o curado: “Senhor, onde poderia ouvir-Te?”

  4. Digo Eu: “Conheces o Sumo Pontífice Jonael de Sichar, que ministrava em Garizim? Ele possui o Meu Verbo; procura-o e ele te ensinará.” Diz o curado: “Senhor, quando poderei encontrá-lo?” Digo Eu: “Aqui está ele, perto de mim. Fala-lhe!”

  5. O curado se dirige a Jonael e diz: “Meritoso Pontífice de Jehovah em Garizim, a que horas poderei procurar-te?”

  6. Diz Jonael: “Até então teu trabalho consistia em ficares dei- tado e suportar teu sofrimento; portanto, já que nada perdes em casa, acompanha-nos e presta atenção, muita coisa se dará e amanhã saberás do resto.”

  7. Diz o curado: “Com muito prazer vos acompanharei, se tiver mérito para isto. Porque, meu amigo, quando se padeceu du- rante três anos as dores mais atrozes e agora, apenas por uma Palavra Divina, consegue-se a libertação do mal, é que se aprecia verdadeira- mente o valor da saúde! Que alegria, poder caminhar com as pernas direitas! Por isto, tinha vontade de pular e cantar como David e exultar a grande Bondade do Senhor!”

  8. Diz Jonael: “Então faze-o, a fim de que se realize diante de nossos olhos o que foi dito pelo Senhor: O coxo pulará como um veado!”

  1. Aí o curado joga a esteira longe, põe-se na frente da mul- tidão e começa a pular e exultar, não se deixando perturbar em sua alegria. Justamente neste momento se aproximam os soldados, que no castelo de Jairuth foram dispersados pelos dois jovens, e per- guntam o que se passa. O curado imperturbável exclama, enquanto pula e canta: “Quando os homens estão alegres, as bestas se entris- tecem, pois a alegria deles lhes traz a morte! Por isto, viva! Viva!” Ele continua, sem cessar, aborrecendo muito o cabo, que lhe proíbe esse barulho!

  2. O curado, porém, diz: “Por que proíbes minha alegria? Fi- quei completamente aleijado durante três anos na cama! Se tu ti- vesses vindo e me dissesses: ‘Levanta-te e caminha!’, e eu com es- ta sentença ficasse curado, veneraria todas as palavras de tua boca. Mas, como não tens este dom, obedeço ao meu Senhor e por isto

  1. O cabo lhe proíbe severamente o barulho e o ameaça com o castigo. Mas, neste momento, aproximam-se os dois jovens e lhe dizem: “Não te deixes perturbar em tua alegria!”

  2. Quando o cabo vê os dois jovens conhecidos, grita pa- ra seu bando sem armas: “Correi depressa! São outros dois servos de Plutão!”

  3. Ouvindo este comando, todo pelotão corre em debandada nunca vista antes. O curado, porém, pula e canta mais ainda atrás dos fugitivos: “Viva! Viva! Quando os homens estão alegres, as bestas estão tristes!” Depois se acalma, volta para perto de Jonael e lhe diz: “Amigo, se não fosse cansativo falares comigo enquanto andamos, poderias esclarecer-me sobre a Doutrina do Senhor, que me deu a saúde! Penso que devo conhecer uma lei, antes de poder aplicá-la!”

  4. Diz Jonael: “Olha, estamos nos aproximando duma vila- zinha e julgo que o Senhor realizará algo ali. Tu, entretanto, nos seguirás até a cidade e encontrarás em minha casa, ou na de Irhael, pousada pelo tempo que desejares. Lá saberás de tudo! Já estamos perto da vilazinha que, por uma nova lei, já faz parte da cidade propriamente dita. Mas, como serve de forte para os romanos, se-

pararam-na de Sichar, circundando-a com um vale, dando-lhe um nome próprio. A vila é pequena, em menos de mil passos a teremos atravessado. De lá tomaremos a esquerda e, andando mais uns cento e quarenta metros, chegaremos às primeiras casas de Sichar. Por isto, tem um pouco de paciência, que o teu desejo será atendido!”

  1. Diz o curado: “Deus meu! Se este lugar serve de forte para os romanos, estaremos enrascados!”

  2. Diz Jonael: “Entreguemos isto ao Senhor! Ele saberá resol- ver tudo da melhor maneira possível. Mas estou vendo um grupo de guerreiros com bandeira branca marchando em nossa direção, e acho que isto seja um bom agouro!”

  3. Diz o curado: “Se não for um ardil muito comum, pois nestes assuntos os romanos e gregos são peritos!”

67. Em Sichar. — Importante dissertação sobre o Messias, Satanás e a Ordem Divina. O Senhor como Anunciador da Nova Lei do Amor. A presença de Jehovah no sussurro delicado.

  1. Diz Jonael: “Contra o poder humano este ardil poderia surtir efeito, mas não contra o Poder de Deus. Somente o amor puro e ver- dadeiro consegue influir no Poder Divino; todo o resto é um galho seco ao vento. Portanto, tranquiliza-te!”

  2. Diz o curado: “Sim, tens razão! Mas nós sabemos que Deus também estava com Adam — e mesmo assim Satanás conseguiu capturá-lo com astúcia! O arcanjo Miguel se viu obrigado a entre- gar o corpo de Moysés após uma luta de três dias contra o príncipe das trevas! Deus é Poderoso, não resta dúvida, mas Satanás é cheio de astúcia e conseguiu prejudicar o povo de Deus. Por isto, muita cautela à vista do tigre, enquanto vivo; no entanto, uma vez morto, poder-se-á respirar sem cuidado e preocupação.”

  3. Diz Jonael: “Tens razão, mas pensa bem que Deus permitiu a Satanás agir à vontade, pois é preciso facultar a Lúcifer, o primeiro e maior espírito criado por Deus, um tempo imenso para a prova de sua liberdade.

  1. Mas esse tempo findou agora e o príncipe das trevas terá que suportar algemas muito fortes, que impedirão sua ação livre de antanho.

  2. Esse é o motivo por que podemos caminhar mais despre- ocupadamente por este mundo, uma vez que nosso amor resi- de em Deus.

  3. Desde Adam até hoje, a Lei da Sabedoria dominou a Huma- nidade e era preciso muito conhecimento e uma vontade inabalável para cumprir uma lei desta ordem.

  4. Deus viu, porém, que as criaturas não eram capazes de cum- pri-la, tanto que Ele veio Pessoalmentea este mundo para dar-lhes uma Nova Lei de Amor, de fácil cumprimento. Da Lei de Sabedoria, Jehovah emanava a Sua Luz; esta Luz não era Ele Mesmo, assim como os homens, como emanação de Deus, não são Jehovah. Mas, pelo amor e no amor, Jehovah Mesmo veio aos homens e mora es- piritualmente, em toda a Sua Plenitude, neles, fazendo-os iguais a Si em tudo. Por este motivo, não mais é possível a Satanás atacar com sua esperteza o homem assim protegido, pois o espírito de Jehovah dentro dele penetra sempre a maldade mais oculta de Satanás e pos- sui poder em demasia para destruir todo seu suposto poder.

  5. Elias denominava este estado atual das criaturas, em que Jehovah Se aproxima diretamente delas, o sussurro delicado que passava diante da gruta, pois Deus não está na grande tempestade, nem no fogo.

  6. O sussurro delicado é o amor da criatura para com Deus e seus irmãos, nos quais Jehovah está Presente, pois Ele não Se encon- tra na tempestade da Sabedoria nem na espada flamejante da Lei!

  7. Como Jehovah agora está conosco, já não precisamos temer os estratagemas de Satanás como era necessário nas eras primárias, tanto que podes enfrentar o tigre de Roma com mais coragem e des- preocupação! Não viste, há pouco, como toda a legião saiu correndo quando avistou os dois jovens? Em nossa companhia se encontra uma quantidade enorme deles — e achas que devemos ter receio

dos romanos, que se encaminham em nossa direção com bandeira branca? Afirmo-te: nem sonhando, quanto mais na realidade!”

  1. O curado arregala os olhos e diz: “Que me dizes? Jehovah está entre nós? Pensei que o homem que me curou fosse o Messias! Como é que tomas a Jehovah e o Messias como uma Pessoa só?

  2. Vejo então que no Messias Se manifesta o Poder de Jehovah de maneira muito mais poderosa que em todos os profetas. Jamais teria pensado, muito menos ousado dizer, que o Messias e Jehovah são Um só! Além disso, consta que não se deve fazer uma imagem de Jehovah, e agora este homem, que possui realmente todas as qua- lidades do Messias, deve ser Jehovah Mesmo? Bem, concordo plena- mente se tu, como Sumo Pontífice, não te opuseres!

  3. Logo depois de minha cura pensei que o Messias pudesse ser um deus, porque, de acordo com as Escrituras, todos nós somos deuses se cumprimos as Leis de Deus. Mas, que fosse Jehovah em Pessoa?! — Sim, mas, neste caso, preciso tomar outra atitude. Fui curado pessoalmente por Ele — e é necessário agradecer-Lhe de ma- neira diferente!”

  4. Com isto ele quer se Me dirigir. Jonael, porém, o impede e aconselha a fazê-lo quando estivermos em Sichar. O curado se dá por satisfeito com este conselho.

68. Em Sichar. — A delegação militar de Roma. Diálogo entre o Senhor e o comandante romano sobre a Verdade. Homens e larvas de homens. A Perfeição. Os seguidores do Senhor.

  1. Neste ínterim, a delegação militar chega até nós e seu diri- gente Me entrega uma petição por parte do comandante deste forte, na qual Me pede, pela salvação dos homens, não tomar em consi- deração o caso ocorrido e preparar a multidão no sentido de não mencionar o que se passou, pois isto poderia prejudicar muito, sem trazer benefícios a quem quer que fosse! Todos nós só poderíamos lucrar com a amizade do comandante. Jairuth também devia calar-se e podia estar certo de que não seria mais incomodado em sua casa!

Além disto, ele Me pedia que o visitasse, pois tinha assuntos secretos e importantes a discutir.

  1. Eu respondo ao mensageiro. “Transmite ao teu senhor que o desejo dele se realizará. Porém, não irei à sua residência; se tiver que conversar Comigo sobre assuntos secretos, que Me espere no portão desta vila, que lhe esclarecerei no que desejar discutir Comigo!”

  2. Com esta explicação o delegado se afasta em companhia de sua comitiva e informa ao seu senhor o que lhe foi dito; este se di- rige, incontinenti, com seus oficiais selecionados ao portão da vila, onde Me espera.

  3. Jairuth Me pergunta se era possível dar fé a este convite, pois conhecia a esperteza deste comandante, que já despachara desta ma- neira diversas pessoas para o outro mundo!

  4. Digo Eu: “Caro amigo, Eu também o conheço como foi e como é. Os jovens lhe impuseram um grande respeito, e ele os toma por gênios e a Mim por um filho de Júpiter, e agora deseja saber o que há de verdade nisto. Já sei o que responder.”

  5. Jairuth se dá por satisfeito, e em poucos minutos chegamos ao portão, onde encontramos o comandante com seus oficiais. Ele se adianta, cumprimentando-Me atenciosamente, e quer Me fazer suas perguntas.

  6. Eu, entretanto, antecipo-Me e digo: “Amigo, Meus servos não são gênios, nem Eu um filho de Júpiter! Agora sabes tudo que tencionavas perguntar!”

  7. O comandante fica melindrado com a Minha atitude, pois não havia falado com ninguém sobre suas dúvidas.

  8. Somente depois de alguns instantes ele Me diz: “Se é assim, então, quem és tu e quem são teus servos? De qualquer maneira, sois mais que criaturas comuns e me seria agradável honrar-vos de- vidamente!”

  9. Digo Eu: “Toda pessoa que pergunta honestamente merece uma resposta à altura; Eu sou, como Me vês agora, um homem! So- bre esta terra existem muitos que têm a Minha Aparência, mas não são homens, e sim apenas larvas de homens! Quanto mais perfeito

um verdadeiro homem é, mais poder e força apresentará no seu co- nhecimento e na sua ação poderosa!”

  1. Diz o comandante: “Então, toda criatura poderá tornar-se tão perfeita como tu?”

  2. Digo Eu: “Como não! Se praticar os Meus Ensinamentos para conseguir esta perfeição!”

  3. Diz o comandante: “Então me explica tua doutrina, que eu desejo agir e viver de acordo com a mesma!”

  4. Digo Eu: “Bem que Eu poderia fazê-lo, mas ela não te seria de muita utilidade, porquanto não viverias dentro dela. Enquanto fores aquilo para que foste nomeado em Roma, esta Minha Doutri- na não te será útil — a não ser que abandones tudo para seguir-Me. Do contrário, não será possível praticá-la.”

  5. Diz o comandante: “Realmente, isto seria difícil; mas, mesmo assim, poderias esclarecer-me sobre alguns pontos; por que não deveria aceitá-los? Talvez me fosse possível praticá-los de qual- quer maneira!”

  6. Digo Eu: “Meu amigo, se a Minha Doutrina consiste justa- mente em seguir-Me, pois, caso contrário, a criatura não poderá entrar no Reino da Minha Perfeição — como queres botar isto em prática?”

  7. Diz o comandante: “Isto soa de modo estranho! Mas pode- rá haver algo nisto! Deixa que eu pense um pouco!”

  8. Depois de alguns minutos ele pergunta: “Falas de uma imi- tação pessoal ou moral?”

  9. Digo Eu: “A imitação pessoal, quando é possível em con- junto com a moral, sempre é a mais perfeita. Mas, se a primeira, por motivo de administração militar, que também é necessária, tor- na-se impossível, basta a moral, de acordo com a consciência. Esta consciência, porém, deve considerar a Mim no amor para Comigo e, consequentemente, para com todas as criaturas, tendo a verdade como base. Caso contrário, a imitação puramente moral seria espi- ritualmente sem efeito. Compreendeste isto?”

  10. Responde o comandante: “Isto é obscuro! Mas, assim sen- do, que devo fazer com todos os meus lindos deuses? Meus ante-

passados acreditaram neles; será justo manter a fidelidade aos meus ancestrais, ou devo iniciar-me na fé do Deus Único dos judeus?”

69. Em Sichar. — Da nulidade dos deuses. Valor e natureza da verdade e o caminho que conduz a ela. O real nó górdio. Segredo do amor. Cabeça e coração. Chave e sítio da verdade.

  1. Digo Eu: “Tanto os teus ancestrais como os deuses que ado- ravam não têm valor algum, pois eles já morreram há muito tempo e os deuses só têm existência na fantasia de pessoas poéticas. Mas os seus nomes e imagens não possuem uma realidade. Se, portanto, abandonares esta fé oca nos teus deuses, pouca diferença fará, pois não poderão fortificar tua alma, tal como os alimentos pintados nu- ma tela não poderiam saciar tua fome. Nisto tudo não existe verda- de, porque tudo depende daquelaverdade e da vida por ela e nela!

  2. Pois, se viveres pela mentira, tua vida também se tornará u’a mentira e jamais chegarás a uma realidade. Mas, se tua vida emanar da verdade, será a própria verdade e realidade o que surgir de tua vi- da! Ninguém poderá ver e reconhecer a verdade na mentira, porque nesta tudo é mentira.

  3. Somente aquele que renascer pelo Espírito da Verdade, tornando-se verdade — sim, completa verdade — para este até a mentira tornar-se-á uma verdade! Porque quem puder reconhecer a mentira como tal já se tornou em tudo verdadeiro, pois a reconhece como é, e isto também é verdade! Compreendes isto?”

  4. Diz o comandante: “Amigo, falas certo, e dentro de ti repou- sa uma sabedoria profunda! Mas aquela grande e maravilhosa verda- de, onde está e o que é? São as coisas tal qual nós as vemos ou será que os olhos do negro as vê diferentemente? Para alguns, um fruto parece doce e agradável; para um outro, o mesmo é amargo e asque- roso. Do mesmo modo diversas raças falam diversos idiomas; qual dentre eles é verdadeiro e bom? É possível que haja uma verdade aplicável de indivíduo para indivíduo, porém uma verdade absoluta, que tudo abrange, não pode haver, de acordo com a minha opinião. Mas, se é que existe, dize-me onde está e o que é?”

  1. Digo Eu: “Meu amigo, eis aqui o velho e bem conhecido nó górdio, que só foi resolvido pelo Rei e herói da Macedônia.

  2. O que vês e sentes por meio de teus olhos carnais faz parte da matéria e de seus meios, pois é instável e passageiro; assim sendo, como poderia fornecer-te a base da verdade imutável e eterna?

  3. Só existe uma coisa dentro da criatura e esta coisa imensa e sagrada é o amor, que por sua vez é fogo junto de Deus e reside no coração. Somente no amor existe verdade, porque o amor é a Causa Primária de toda a Verdade em Deus e, por Ele, também na criatura!

  4. Se quiseres observar e reconhecer as coisas e a ti mesmo na verdade plena, necessário é fazê-lo sob esta base única e verdadeira do teu ser. Todo o resto é ilusão — e o intelecto da criatura faz parte do nó górdio, que ninguém poderá desatar com cuidado.

  5. Apenas com a força cortante da vontade o homem poderá decepar este nó — o intelecto — com o espírito do amor dentro do coração e, assim, principiar a pensar, ver e reconhecer no coração, conseguindo penetrar na verdade do seu ser e de todo e qualquer outro ser e vida.

  6. Tua cabeça poderá criar uma imensidade de deuses, mas que serão? Eu te digo — nada mais que imagens vãs e mortas, cria- das no cérebro pelo seu mecanismo fértil.

  7. No coração, porém, encontrarás apenas umDeus e Ele é Verdadeiro, porque o amor, pelo qual O encontraste, é a verdade mesma. A verdade, portanto, só poderá ser procurada e achada na verdade. A cabeça terá feito o suficiente quando te der a chave para aquela. Tudo que te induz ao amor poderá tornar-se uma chave para a verdade, por isto segue sempre estas intuições e descobre o amor de teu coração, quando acharás a verdade que te libertará de todo e qualquer engano!”

70. Em Sichar. — Exemplo em a natureza da cabeça e do coração. “Trata o pecador não como juiz, mas sim como irmão amoroso, e encontrarás a verdade e salvação!” Raiva é provação. Onde existe amor não há mentira. Verdade geral sobre a Eternidade. Ensinamentos sobre a individualidade do ser no Além. “Quem és Tu?”“Segue-Me!”

  1. (O Senhor): “Vou dar-te um exemplo para maior elucidação!

  2. Vê, entre os teus empregados tens alguns que se opuseram às tuas ordens e, portanto, queres castigá-los! Por meio de indaga- ções astuciosas, procuras arrancar-lhes uma confissão; mas eles, não menos inteligentes, negam toda e qualquer insinuação de tua parte. Desta maneira, uma mentira reveza outra, e não alcançarás êxito até que resolvas condená-los sem confissão, apenas pela denúncia de testemunhas malévolas. O resultado será que entre dez talvez um seja julgado com justiça e, na maioria das vezes, o culpado como o inocente sofrem o mesmo destino.

  3. Experimenta enfrentar teus irmãos pecadores como homem cheio de amor e desperta este sentimento em seus corações, e eles te confessarão, com arrependimento, como e quando pecaram contra ti. Mas, depois disto, não deves pensar ainda em castigo! Toda e qualquer punição não contém verdade, e sim mentira, pois não sur- ge do amor, mas, unicamente, da ira do adversário. A ira, porém, é um julgamento no qual não existe amor, e onde este não predomina, não há verdade.

  4. Dedica-te ao amor puro e age em sua verdade e força, e en- contrarás por toda parte a verdade, reconhecendo, em breve, que existe uma verdade geral, que penetra não só nesta terra, mas no Universo todo!

  5. Se observares uma atitude assim, seguir-Me-ás moralmente com toda a justiça e esta imitação te trará a Vida Eterna. Se, entre- tanto, continuares como até então, nada mais te espera no Além-tú- mulo a não ser as trevas e uma vida oca e mentirosa, o que representa a morte do amor e da verdade!

  1. Sabes que esta vida é curta e depois terás que enfrentar a Eternidade! Se não tiveres despertado a verdade absoluta dentro de ti, continuarás a ser aquilo que foste em vida!

  2. Agora sabes tudo o que de momento necessitas saber; se de- sejas maiores conhecimentos, procura Jonael, o Sumo Pontífice em Sichar. Poderá ele informar-te sobre tudo que aprendeu, viu e co- nheceu. Age de acordo com o que te disser e serás feliz!”

  3. Diz o comandante, compenetrado da verdade de Minhas Pa- lavras: “Amigo, deduzi, pelos teus ensinamentos, que és o mais sábio dos sábios desta terra e farei tudo o que me aconselhaste; apenas queria saber, de ti mesmo, quem és verdadeiramente! Não obstante ter sofrido uma derrota vexatória por parte dos jovens que te acom- panham e não tendo outra explicação para isto, a não ser que sejam deuses ou gênios do céu, reconheço pela tua imensa sabedoria que és verdadeiramente mais que um simples homem! Certamente já dis- seste a muitos dos teus discípulos quem és! Por isto, dize-o também a mim, e donde vens!”

  4. Digo Eu: “Primeiramente, já te falei de maneira acessível, e se meditares um pouco, compreender-Me-ás! Depois, indiquei-te a pessoa de Jonael para maiores explicações. Lá saberás de tudo. Agora não nos detenhas, pois o dia está findando e Eu tenho mais alguma coisa a fazer!”

  5. Diz o comandante: “Então, permite que te acompanhe até a cidade.”

  6. Digo Eu: “O caminho está livre, e se queres acompanhar-

-Me com boas intenções, podes fazê-lo. Mas, se tens um motivo diabólico em vista, será melhor ficares em casa, pois te sairias mal com isto. Já experimentaste o Meu Poder!”

  1. Diz o comandante: “Longe de mim tal intenção, embora tivesse motivo de sobra para isto, porque os judeus esperam um Sal- vador enviado pelo seu Deus a fim de conseguirem sua libertação de Roma, e de vez em quando surgem boatos de que já se encontra nesta terra! Facilmente poderia imaginar que tu fosses esse Salvador

como o mais sábio dos sábios e estimo-te como um verdadeiro ami- go da Humanidade! Penso que estes meus sentimentos não poderão me impedir de seguir-te pessoalmente pela verdade até Sichar, e es- piritualmente durante toda a minha vida, embora isto não me traga honra alguma como romano! Agora te esclareci todo o meu ponto de vista e pergunto novamente se posso acompanhar-te. Se disseres sim, irei; mas, se responderes não, ficarei aqui!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, podes acompanhar-Me com todos que te rodeiam, para que tenhas as testemunhas necessárias!”

71. Em Sichar. — O Senhor cura a esposa do comandante. Ensinamentos importantes para alcançar a verdade e força plena. O Senhor dá testemunho do Pai. Critério da Doutrina.

  1. Depois desta advertência, pergunto ao comandante se não há doentes neste lugar. Ele responde: “Amigo, se és entendido na arte de curar, salva minha esposa, que sofre há um ano de moléstia desconhecida para os médicos! Talvez seja possível, para tua imensa sabedoria, descobrir a doença e curá-la!”

  2. Digo Eu: “Tua esposa está com saúde! Manda chamá-la!”

  3. O comandante manda imediatamente um criado à sua re- sidência e sua esposa o recebe à porta, completamente sã e alegre, dirigindo-se para perto do comandante. Este se admira muitíssimo e Me diz: “Amigo, tu és um deus!”

  4. Digo Eu: “Sois todos iguais! Acreditais apenas quando ten- des provas! Contudo, sois bem-aventurados, acreditando por causa das provas; mas, se alguém não acreditar apesar delas, perecerá in- falivelmente.

  5. No futuro, somente encontrarão a felicidade aqueles que acreditarem em Minhas Palavras sem provas de Meu Poder, pela conduta dentro dos Ensinamentos! Descobrirão dentro de si a ver- dadeira e viva prova, que é a Vida Eterna, a qual jamais lhes poderá ser tirada!

  6. Alegras-te por Eu ter curado tua esposa apenas pela Vontade de Meu Coração e te perguntas constantemente como isto é possível!

Eu, porém, digo-te: Se alguém vivesse dentro da verdade absoluta, apoderando-se assim dela e jamais duvidando, poderia dizer a um destes montes que circundam esta zona: Levanta-te e joga-te ao mar!

  1. Mas, como esta verdade não se encontra em ti, nem em mui- tas criaturas, não podeis realizar obras como esta e vos admirais mui- to quando Eu, que possuo esta Verdade em toda sua Plenitude, faço coisas que apenas podem ser realizadas pelo poder desta Força!

  2. Por esta verdade se desperta e ativa a fé, que é no homem a mão direita espiritual; seu braço é longo e executa coisas grandiosas!

  3. Se algum dia chegardes a fortalecer o braço do vosso espírito através desta Verdade, fareis o que Eu fiz diante de vossos olhos, chegando à conclusão de que isto é muito mais fácil do que apanhar com vossas mãos uma pedra e arremessá-la longe!

  4. Portanto, vivei dentro de Minha Doutrina; sede executores, e não apenas ouvintes e admiradores de Minhas Palavras e Ações, pois assim conseguireis realizar o que se deu em vossa presença!

  5. Mas não vos provo isto de Mim Mesmo, porém Daquele que Me ensinou estas coisas diante do mundo. Dizeis que é vosso Pai — mas não O conheceis! Entretanto, Ele é o Pai que fez todas as coisas: anjos, sóis, lua, estrelas e a terra, com tudo que nela existe!

  6. Assim como Este Pai ensinou-Me diante de todo o mundo, Eu agora vos ensino para que Ele, que vive dentro de Mim, tam- bém possa morar dentro de vós, querendo provar, também em vós, a eterna e pura Verdade de Sua Natureza intrínseca, que é o Amor em Deus, que em si é o verdadeiro Ser de Deus Mesmo!

  7. Não vos deixeis arrebatar tanto pelos milagres que vos de- monstro, a fim de não cairdes numa fé morta que vos julgará, mas sim vivei e agi como vos ensinei, pois todos vós sois destinados a serdes perfeitos como o Pai no Céu é Perfeito! Agora sabeis tudo, aplicai estes Ensinamentos e podereis verificar se vos disse a verdade ou não! Não sejais, nunca, mornos, e sabereis se esta Doutrina é Obra de Deus ou do homem!”

  8. Após esta dissertação decisiva, diz o comandante: “Agora começa a se fazer alguma luz dentro de mim. Tudo isto que ouvimos

contém uma sabedoria tão profunda que, no começo, é de difícil assimilação para criaturas comuns. Mas penso que isto não importa, porquanto, pela prática dos Ensinamentos, a criatura chega a um verdadeiro conhecimento, que a fará penetrar nesta imensa sabedo- ria. Tanto que deixarei de questionar e, quando tiver recebido de Jo- nael toda a explicação, dedicar-me-ei de corpo e alma a esta tarefa.”

  1. Digo Eu: “Muito bem, Meu amigo; se tu um dia alcançares a luz, faze com que também ilumine a teus irmãos — e terás um prêmio no Céu! Agora, porém, vamos para Sichar, pois tenho algo a fazer ali!”

72. Em Sichar. — Predição importante sobre o futuro. O fim do mundo e o julgamento geral. A grande atribulação. Promessa dos anjos com a trombeta a respeito da Vinda do Cristo. A terra como paraíso. Última prova para Satanás. Sofrimento e ressurreição do Senhor.

  1. Iniciamos todos a caminhada para Sichar e o comandante, sua mulher e dois tenentes nos acompanham. Entre o comandante e sua mulher caminha Jonael, e eles indagam a respeito da religião judaica com relação a Mim. O rapaz que foi curado do artritismo assiste às explicações com muita atenção. Eu, entretanto, encontro-

-Me no meio das filhas e da mulher de Jonael, que também desejam saber muita coisa do mundo, de Jerusalém e de Roma. Esclareço-as com bondade e demonstro como, em breve, o príncipe das trevas se- rá julgado e em seguida todo o seu séquito! Igualmente mostro-lhes o fim do mundo e um julgamento geral, igual ao do tempo de Noé, e elas me perguntam, profundamente admiradas, quando e como isto se dará!

  1. Eu lhes digo: “Minhas queridas filhas, será do mesmo modo como na época de Noé: o amor diminuirá e esfriará completamente. A fé e uma Doutrina pura, trazidas do Céu para as criaturas, e o verdadeiro conhecimento de Deus transformar-se-ão numa supers- tição nefasta, cheia de mistificações e ludíbrios. Os potentados se servirão novamente dos homens como se fossem animais e deixarão que sejam mortos friamente e sem escrúpulos, se não cumprirem a vontade deste poder enganoso! Os dirigentes atormentarão os po-

bres com toda sorte de imposições, perseguindo e oprimindo todo espírito livre, o que trará uma atribulação para a Humanidade como jamais foi vista! Mas eis que os dias serão encurtados por causa dos escolhidos, pois, se assim não fora, até os escolhidos, que se encon- trarão entre os pobres, seriam aniquilados!

  1. Até lá se passarão quase dois mil anos! Então, enviarei os mesmos anjos como os vedes agora com as trombetas, em auxílio das pobres criaturas! Despertarão das tumbas de suas trevas aqueles espiritualmente mortos, e estes muitos milhões de despertados pre- cipitar-se-ão sobre todos os potentados, como se fossem uma coluna de fogo que se estende de um polo a outro, e ninguém lhes poderá fazer resistência!

  2. Quando isto acontecer, esta terra se transformará num pa- raíso e Eu conduzirei para sempre os Meus Filhos no caminho verdadeiro.

  3. Depois do decurso de mil anos, o príncipe das trevas será libertado por sua própria causa pela duração de sete anos, alguns meses e dias, para sua queda definitiva ou para o possível retorno.

  4. Na primeira hipótese, a terra seria transformada num cár- cere eterno, em suas partículas internas; nas suas camadas externas continuaria a ser um paraíso! No segundo caso, ela se tornaria um verdadeiro Céu e a morte do corpo e da alma desapareceriam por toda a Eternidade! — Nem o primeiro anjo do Céu poderá saber como e quando isto poderá acontecer, somente o Pai o sabe! Não digais a ninguém o que vos acabo de revelar, até que saibais, dentro de alguns anos, que fui elevado desta terra!”

  5. As filhas de Jonael, então, indagam em que consistirá tal elevação.

  6. Eu lhes digo: “Quando tiverdes conhecimento disto, vossos corações se afligirão! Consolai-vos, porém, porque voltarei para o vosso meio depois de três dias, entregando-vos, pessoalmente, a grande confirmação do Novo Testamento e as chaves do Meu Reino Eterno! Tratai, pois, que vos encontre tão puras como agora; do con- trário, não podereis ser as Minhas Noivas para sempre!”

  1. Após isto, as filhas e a mãe prometem observar tudo que lhes havia ensinado.

73. Em Sichar. — O Senhor em companhia dos Seus em casa de Irhael. João, o curado, e Jonael. A boa compreensão de ambos é louvada e abençoada pelo Senhor. O Senhor e Jairuth.

  1. Nesta ocasião, alcançamos a cidade e a casa de Irhael e Jo- ram. Jairuth e o comandante, bem como a esposa e os dois tenentes, ficam extasiados diante da beleza da casa, e o curado se externa da seguinte maneira: “Isto só é possível a Deus! Quando garoto, muitas vezes brinquei e peguei lagartos nas ruínas deste palácio, que Jacob tinha construído para seu filho José! Agora, está muito mais impo- nente que naquela época! Homem algum poderia realizar isto! Já sei o que fazer! Meu nome é João, lembrai-vos disto!”

  2. Este é o mesmo João que foi ameaçado pelos Meus apóstolos quando os enviei para ensinar o povo no segundo ano, pois também curava os doentes e afastava os maus espíritos, sem ter recebido uma ordem. (Marcus 9, 38–40)

  3. Diz Jonael: “Amigo, tua vontade, tuas palavras e teu senti- mento são incontestavelmente bons; todavia, falta-te algo que é o conhecimento puro da Vontade Divina! Por isso, procura-me por estes dias ou, então, fica aqui mesmo, que te darei o conhecimento desta Vontade de Deus! Só então poderás realizar, em boa ordem, tudo que teus bons sentimentos te insinuam.”

  4. Diz o curado: “Que Deus, o Senhor, te ilumine! Farei o que me dizes, pois vejo que és um verdadeiro amigo deste grande profeta e por isso tens o verdadeiro conhecimento Dele; Ele está sobre todos os outros e, penso, é Aquele que David honrou no salmo:

  5. ‘Do Senhor é a terra e sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque Ele fundou-a sobre os mares e firmou-a sobre os rios. Quem subirá ao Monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a Bênção do Senhor e a justiça da sua salvação.

  1. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas e entrará o Rei da Glória! Quem é este Rei da Glória? O Senhor, forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos exércitos, Ele é o Rei da Glória!’

  2. Eu, João, que fui curado por Ele, testemunho abertamente que Este é, em Pessoa, o Mesmo Rei da Glória de quem David can- tou e predisse! Portanto, rendamos toda a Glória a Ele por toda a Eternidade!”

  3. Diz Jonael: “Agora sim encontras-te numa base sólida! Toda- via, isto deve ficar entre nós, pois ainda não é chegado o tempo de falarmos abertamente! Quando Ele, porém, conforme a Sua Vonta- de, afastar-Se daqui, talvez para a Galileia, poderemos ensinar o po- vo a Seu respeito, e quando voltar em breve a este lugar, encontrará as entradas bem abertas e as portas do mundo bem altas para Sua Chegada, quer dizer, nossos corações dilatados o quanto possível e nosso amor para com Ele elevado até às estrelas.”

  4. Neste momento, acerco-Me dos dois, coloco as Minhas Mãos sobre seus ombros e digo: “Assim está bem, Meus queridos amigos! Sempre que estiverdes reunidos em Meu Nome, estarei entre vós, não física, mas espiritualmente! Agora, porém, estou ouvindo um alvoroço nas ruas da cidade, por isto mantende-vos todos calmos! Veremos qual o elemento que se apoderou destas criaturas!”

  5. Jairuth se dirige a Mim e diz: “Senhor, isto não me soa bem! Se for de Tua Vontade, chamarei neste momento duas legiões e a ordem se fará em breve!”

  6. Digo Eu: “Podes deixar isto! Se for necessário, usarei da ver- dadeira arma; mas é aconselhável a ti ocultares-te dentro de casa, a fim de que ninguém te veja e reconheça! As criaturas mundanas nesta cidade atraem maus elementos e facilmente poderiam dar-te grandes prejuízos materiais!”

  7. Diz Jairuth: “Mas ainda tenho os dois jovens, que certa- mente protegerão minhas propriedades!”

  1. Digo Eu: “Mesmo assim, faze o que te digo, pois, se neces- sitar de auxílio humano, chamarei o comandante, que também se encontra aqui. Mas nada disso será preciso, por isso acalma-te!” — Jairuth se conforma e penetra na casa de Irhael.

74. Em Sichar. — Os mudos atrevidos e seus companheiros mentirosos em atitude agressiva. Rigor de Joram e zelo dos discípulos contra os mentirosos. Repreensão do Senhor e ensinamento a respeito da maldade da criatura. “Não pagueis o mal com o mal!” Parábola do senhor e do servo. Exemplo do erro da contestação e do revide!

  1. Logo em seguida se aproxima u’a multidão munida de porretes, em cujo meio se encontram os dez mudos que tinham sido castigados pelo médico por causa do ultraje feito a Meu No- me. Esta gente exige, com ameaças, que os mudos readquiram o dom da fala.

  2. Joram, o médico, dirige-se a eles, falando com voz penetran- te: “Ó filhos do mal! Será esta a nova maneira de vos dirigir a Deus e implorar-Lhe alguma Graça?”

  3. A multidão recua um tanto e grita: “Quem é Deus aqui e onde está? Por acaso te consideras Deus, ou, talvez, aquele mago da Galileia, blasfemador atrevido?”

  4. Diz Joram, alterado: “Quem é vosso mago da Galileia, ce- lerados inconscientes?” — Respondem os outros: “Falamos do tal carpinteiro de Nazareth, com nome de Jesus; conhecemo-lo bem, assim como sua mãe e irmãos que se encontram aqui! Também co- nhecíamos seu pai, que dizem ter morrido, há pouco, de desgosto, pois sua mulher e filhas não lhe queriam obedecer e o enganavam por todos os meios!”

  5. Joram quase enlouquece de raiva por tamanha injúria, corre para perto de Mim, assim como João e Jacob, e Me diz: “Senhor, Senhor, deixa cair fogo do Céu sobre estes atrevidos, a fim de que sejam devorados! Isto é por demais injusto!”

  6. Digo Eu: “Mas então, ó filhos do trovão, deixai-os mentir, pois não existe fogo mais ardente que o da mentira! Tratai-os com

bondade e tereis colocado brasas em suas cabeças! — Guardai bem isto! Jamais deveis pagar o mal com o mal!” — Os três se calam e Joram em seguida Me pergunta o que deveria fazer com eles.

  1. Digo Eu: “Faze em Meu Nome o que exigem e manda-os embora!” Joram dirige-se à multidão e diz: “Em Nome do Senhor! Que os mudos entre vós voltem a falar e ofertem a Deus, con- forme a Lei!”

  2. Com estas palavras readquirem a fala, mas não Me dão a hon- ra devida, exceto um, que adverte os outros para o fazerem. Estes, porém, respondem: “Tolo que és, pensas que foi Jehovah que nos emudeceu? Foi apenas um entendido nas magias que nos aplicou este dano — e agora queres que honremos um deus pagão? Se assim fizéssemos, que deveríamos esperar do Poderoso Deus de Abraham, Isaac e Jacob?” Com esta insinuação, aquele que ainda tinha melho- res intenções junta-se aos outros e perde a ocasião de honrar-Me.

  3. Joram e os Meus se aborrecem com isto e Simon Pedro, tam- bém cheio de revolta, diz: “Senhor, está tudo bem de acordo com a Tua Vontade, mas, se tivesse uma centelha do Teu Poder espiritual, saberia o que fazer com estes caluniadores do Teu Santo Nome!”

  4. Digo Eu: “Simon, já esqueceste do Meu Sermão da Monta- nha? Qual seria o bem que lucrarias em pagar o mal com o mal? Se preparas uma comida de paladar insípido e, ao invés de temperá-la com sal, leite e mel, adicionas-lhe fel e vinagre, por acaso terás agido com sabedoria? Se, ao contrário, juntares algo de melhor a uma refei- ção que já possui bom paladar, ninguém te chamará de tolo. Mas, se te deparas com uma refeição ruim e ainda lhe adicionas ingredientes inferiores, onde estará aquele que não dirá: ‘Vede que homem tolo!’

  5. Vê, muito mais isto se aplica à criatura! Pergunta a ti mesmo se consegues melhorar uma pessoa má fazendo-lhe mal. Porém, se pagares o mal com o bem, suavizarás a maldade no teu irmão, que pouco a pouco se modificará completamente!

  6. Se um patrão tem um empregado no qual confia muito e este, abusando desta bondade, engana-o, merece uma admoestação; será que o patrão se torna mais condescendente ao repreendê-lo se

este empregado, por sua vez, revolta-se pela acusação? Não! O patrão se enraivecerá com o empregado infiel e o mandará embora!

  1. Se, entretanto, o empregado, percebendo que o patrão agirá contra ele, confessar-lhe o delito e pedir perdão pelo que lhe fez, o patrão infalivelmente abrandará sua raiva, não somente o perdoan- do, mas até mesmo o beneficiando.

  2. Por isto, jamais pagueis o mal com o mal, se vos quereis tornar bons! Mas, se desejais julgar e castigar aqueles que vos preju- dicarem, todos vós vos tornareis maus e ninguém terá o verdadeiro amor e bondade dentro de si!

  3. O poderoso se dará o direito de castigar aqueles que agi- rem contra suas leis. Os infratores por sua vez se encherão de raiva, procurando aniquilar os dirigentes. Pergunto: qual será o bem que resultará disto tudo?

  4. Portanto, não julgueis e condeneis a ninguém , a fim de não serdes julgados e condenados. Tendes compreendido este mais importante ensinamento, sem o qual o Meu Reino jamais existirá para vós?”

75. Em Sichar. — O lado oposto da aplicação do bem. Exemplo do jardim zoológico. A salvação do mal. Novo caminho para a liberdade dos Filhos de Deus. Tratamento dos criminosos. Comparação com o leão. Um Evangelho da missão e do apostolado.

  1. Diz Simon Pedro: “Sim, Senhor, compreendemos até a sua profundeza. Mas este caso tem um lado mau, que a meu ver consiste no crescimento do número dos malfeitores, se nós, de acordo com Tua Doutrina, sustarmos os castigos para eles. Onde existir uma lei, esta deve ser sancionada, pois do contrário não seria lei!”

  2. Digo Eu: “Meu caro, julgas como o cego a cor da luz! Ob- serva apenas o parque dos ricos e verás uma variedade de animais selvagens como tigres, leões, panteras, hienas, lobos e ursos. Se não estivessem dentro de jaulas poderosas, ninguém estaria seguro nas suas proximidades! Por outro lado, seria um absurdo engaiolar cor- deiros e pombos!

  1. O inferno necessita de leis severas, que deverão ser executa- das rigorosamente! O Meu Reino do Céu, porém, não necessita nem de um, nem de outro!

  2. Eu não vim com a finalidade de vos educar para o inferno pelo cumprimento das leis, mas sim para o Céu pelo Amor, a Doci- lidade e a Verdade. Se, portanto, liberto-vos da lei pela Minha Dou- trina do Céu, mostrando o novo caminho pelo coração para uma vida verdadeira, eterna e livre, por que quereis viver sempre dentro do julgamento, não considerando ser melhor morrer mil vezes fisi- camente pelo amor livre, que caminhar um dia na morte da lei?

  3. Entende-se que se deva prender ladrões, salteadores e assas- sinos, pois são iguais às bestas selvagens, que habitam as cavernas à espreita de alguma presa. Consiste num dever até para os anjos, caçá-los; mas não devem ser mortos, e sim presos, a fim de melho- rarem! Somente numa reação violenta deverão ser mutilados e, se reagirem com teimosia, aniquilados! É preferível um inferno morto, do que vivo.

  4. Mas quem continuar a julgar e matar um malfeitor dentro da prisão terá que enfrentar a Minha Ira. Quanto mais severamente os homens julgarem e castigarem os malfeitores, mais perversos e astuciosos serão os que se encontrarem em liberdade. Se invadirem uma residência durante a noite, não somente carregarão tudo, como também matarão aqueles que os poderiam denunciar.

  5. Sustai o julgamento severo e aconselhai as criaturas a ajuntar o manto quando alguém lhes pedir a túnica, e os ladrões possivel- mente vos pedirão isto ou aquilo, mas nunca assaltarão e matarão!

  6. Quando a Humanidade deixar de juntar os bens perecíveis desta terra por amor a Mim e se portar como Eu, não haverá mais ladrões, assaltantes e assassinos!

  7. Erro é considerar que as leis severas e os julgamentos duros extinguirão os malfeitores deste mundo! O inferno sempre os teve! O que te adiantaria matar um diabo se o inferno restitui dez, dos quais um já é pior do que dez iguais ao primeiro? Se o mau encon- tra um outro, ele se torna um verdadeiro diabo; mas, encontran-

do amor, docilidade e paciência, acaba desistindo de sua maldade e se afasta.

  1. Se o leão vê que se aproxima dele um tigre, ele se enraivece, ataca-o e aniquila. Se vier um cachorrinho, deixa que brinque consi- go e fica todo manso. E se vier u’a mosca e se sentar sobre suas patas enormes, ele nem lhe dará atenção, deixando que ela continue seu voo, pois o leão não se mete a pegar moscas. Assim também todo inimigo poderoso se portará convosco se não o enfrentardes com violência.

  2. É preferível abençoar vossos inimigos do que prendê-los e justiçá-los, depositando assim brasas em suas cabeças.

  3. Alcançareis tudo com amor, meiguice e paciência. Se, entre- tanto, julgardes e condenardes as criaturas que, embora cegas, não deixam de ser vossos irmãos, semeareis apenas imprecações e dissen- ções sobre a terra, ao invés da Bênção do Evangelho!

  4. Portanto, deveis ser sempre os Meus discípulos pela Pala- vra, Doutrina e Ação, se quiserdes ser auxiliadores na divulgação do Meu Reino neste mundo! Se isto não vos aprouver, por achar- des os meios muito difíceis ou errados, ainda está em tempo de voltar para vossos lares! Eu, todavia, também poderei criar discí- pulos das pedras!”

76. Em Sichar. — Bom discurso e prece de Pedro. O Senhor dá o melhor conselho de Estado para a manutenção da ordem e da paz. “Conseguireis tudo pelo amor!” A violência desperta o mal nos diabos. Proposta humanitária de Pedro para a divulgação da Verdade. As Palavras do Senhor sobre o trabalho dos anjos protetores e a natureza dos malfeitores.

  1. Diz Simon Pedro: “Senhor, quem poderia Te abandonar, quem não haveria de querer servir-Te? Pois somente Tu tens Palavras de Vida como jamais foram pronunciadas por boca humana! Exige tudo de nós e nós o faremos; mas nunca nos mandes embora e tem paciência com nossa grande fraqueza! Fortalece-nos com a Graça do Pai no Céu, que também Te fortaleceu, tanto que Lhe és completa- mente Unido, ensinando e agindo!

  1. Nós, porém, iremos pedir sempre, como Tu nos ensinaste na Montanha, em Nome do Pai: Pai Nosso, que estás no Céu, Teu Reino venha a nós e Tua Vontade seja feita! Assim como perdoamos aqueles que nos fizeram mal, pedimos-Te que perdoes também nos- sas fraquezas e pecados!”

  2. Digo Eu: “Simon Pedro, agora falaste bem melhor do que há pouco, quando defendias a lei e sua aplicação! O que adianta a um país uma paz e ordem conseguidas pela força? Durante algum tempo tudo irá bem, mas, quando esta opressão se tornar insupor- tável, os espíritos se revoltarão e pisarão com sarcasmo hediondo as leis e seus legisladores. Pois aquele que ainda necessita ser dominado pela violência é um diabo. Entretanto, os que se deixam guiar pelo amor, meiguice e paciência são iguais aos anjos de Deus e merecem ser Filhos do Altíssimo!

  3. Pelo amor conseguireis tudo; pela violência, apenas desper- tareis o diabo! Qual seria o benefício que surgiria no despertar dos diabos sobre esta terra?

  4. Portanto, é mil vezes melhor que o amor e a docilidade au- mentem entre os homens, obrigando os diabos à inatividade e à calma a fim de não prejudicarem o mundo, que despertá-los com o retumbante estrondo da violência, fazendo-os destruir tudo que existe! Dize-Me, qual a tua objeção a respeito?”

  5. Diz Pedro: “Senhor, nada mais há a contrapor, pois tudo é claro e compreensível. Mas quantas criaturas existem conhecedoras desta Verdade Santa? Senhor, aqui se encontram legiões de anjos dos Céus; envia-os para os homens, a fim de propagarem esta Verdade! Isto feito, penso eu, haverá mais luz e compreensão sobre este pla- neta pecaminoso.”

  6. Digo Eu: “Julgas dentro do teu entendimento! Eu, porém, sou de outra opinião! Vê, milhões de anjos se encontram constantemente perto dos homens e influenciam seus sentidos e índole, de maneira a não ter a pessoa consciência da necessidade de agir dentro desta influên- cia, podendo aceitar e seguir estes pensamentos, desejos e ímpetos como se foram seus, não obstante o seu livre arbítrio. Mas, que acontece?

  1. As criaturas no seu íntimo têm bons pensamentos, bons pro- pósitos e desejos. Mas, quando deve surgir a ação, contemplam o mundo, seus bens e as necessidades enganosas de seu corpo, agindo dentro de seu amor-próprio!

  2. Poderia citar-te milhares de malfeitores e lhes perguntarias se eram conscientes de seus atos — e todos haveriam de confirmar isto! Se indagares o porquê, uns dirão: ‘Porque sentimos prazer nisto!’ Outros: ‘Temos vontade de fazer o bem, mas, como os outros prati- cam o mal, fazemos o mesmo!’ Outros ainda dirão: ‘Conhecemos o bem, mas não temos força para praticá-lo; nossa natureza se revolta e somos obrigados a odiar aqueles que nos ofendem!’

  3. Vê, estas e outras respostas ouvirás — e compreenderás que até os mais ínfimos malfeitores possuem conhecimentos do bem e da verdade, entretanto praticam o mal!

  4. Assim sendo, que esperar dum conhecimento exterior? Sim, os conhecimentos externos do bem e da verdade virão dos Céus para as criaturas, e por esse motivo elas matarão a Mim, a vós e a muitos outros que as ensinarão a fazer o bem e evitar o mal!”

  5. Diz Simon: “Senhor, neste caso é preferível que este mundo seja do diabo! Pois qual o valor da Humanidade que não quer reco- nhecer e aceitar o bem?”

  6. Digo Eu: “Quem, como tu, fala numa grande irritação, ain- da está longe do Meu Reino! Quando, porém, Eu tiver subido ao Céu, tu te modificarás. Agora, Meu amigo, já é noite, vamos entrar e tomar qualquer coisa para o nosso conforto!”

77. Em Sichar — O Senhor e os bradadores atrevidos. Pensamentos lúgubres do comandante a respeito da perversão dos homens. Indicação sábia de Jonael com referência à confiança para com o Senhor. “Ele agirá — em tempo oportuno!”

  1. Mal acabo Minha Explicação, um grande grupo que se ha- via aproximado de nós exige um milagre da Minha Parte e diz: “Se fazes milagres diante dos cegos, que não possuem conhecimentos e intelecto e, portanto, não podem julgar, faze-os para nós! Se forem

verdadeiros, teremos fé em ti; caso contrário, saberemos o que fazer! Pois temos noções de muitas coisas!”

  1. Digo Eu: “Se sois tão eruditos, para que os milagres? De acordo com a vossa suposta sabedoria, deveis saber se ensino a Ver- dade ou não! Para que provas? No decorrer destes três dias já se deram fatos milagrosos, por cuja veracidade existem centenas de tes- temunhas. Se estes não vos satisfazem, outros tampouco satisfarão vossos corações maldosos! Por isto, afastai-vos, se não quereis ser afastados à força!”

  2. Gritam eles: “Quem irá, quem poderá afastar-nos com vio- lência? Por acaso não somos donos deste lugar, porquanto moramos, trabalhamos e governamos aqui? Podemos muito bem expulsar-te num momento, e não o contrário, galileu ingênuo! Ordenamos, graças ao nosso poder, que abandones esta cidade antes de meia-

-noite, pois encheste-nos as medidas com tua vadiação!”

  1. Digo Eu: “Cegos que sois! Quanto tempo quereis viver pelo vosso domínio? Basta um Pensamento Meu, e sereis transformados em pó junto com o vosso poder! Por isto, voltai às vossas moradas, senão sereis devorados pelo fogo neste mesmo lugar!”

  2. Neste instante, o solo se abre diante de seus pés, e fogo e labaredas surgem pela fenda. Quando os blasfemadores veem isto, gritam: “Ai de nós! Estamos perdidos, pois pecamos contra Elias!” Com estes gritos, fogem, e a fenda se fecha. Nós, porém, penetra- mos calmamente na casa de Joram.

  3. Lá tudo está preparado para a ceia. Eu abençoo a refeição e todos, perto de mil pessoas, sentam-se à mesa. Estão alegres e bem dispostos, com exceção do comandante, que come e bebe pouco. Jonael senta-se ao lado dele e pergunta qual o motivo de sua tristeza.

  4. O comandante suspira profundamente e diz: “Nobre e sá- bio amigo! Como poderei estar alegre, quando reconheço que quase todas as criaturas são tão más que nem merecem o mais tenebroso Tártaro?! Não há quem não compreenda que dois lobos famintos, encontrando um osso, entregam-se à luta desenfreada por causa da fome; pois são lobos, irracionais, máquinas vivas levadas pelo instin-

to de conservação a agir deste modo. Mas aqui trata-se de homens que alegam possuir um certo grau de educação e cultura; entretanto, são piores que os animais selvagens! Exigem para si toda e qualquer consideração, enquanto não consideram seu próximo! — Dize-me, também são homens? Merecem, por acaso, alguma misericórdia? Não, digo eu, mil vezes não! Esperai, povo miserável! Iluminar-vos-

-ei de uma forma que jamais podereis esquecer!”

  1. Diz Jonael: “Que irás fazer? Se os castigares, em breve terás um grande número de inimigos que te denunciarão em Roma, para teu prejuízo! Por isto, deixa a vingança para o Senhor e tem certeza que Ele tomará a medida justa para estes atrevidos!

  2. Lê a História de meu povo e verás como o Senhor castigou severamente todos os seus pecados, e crê-me: o Senhor do Céu e da terra ainda é O Mesmo de toda a Eternidade! Ele é indulgente, cheio de paciência e nunca deixou o povo sem instrutores e sinais do Alto; mas ai do povo, quando a Paciência do Senhor se esgotar! Uma vez que pegou do açoite, também não descansará enquanto não tiver decepado todos os membros da nação, cujos ossos ficarão completamente mortificados.

  3. O que tencionas fazer com tanta dificuldade e perigo, o Se- nhor consegue apenas por um Pensamento sutil. Mas, enquanto Ele quiser suportar estas criaturas, nós também as suportaremos.

  4. Não viste, há pouco, quão facilmente abriu uma fenda no solo e fez surgir fogo e fumaça do abismo? Teria sido coisa de nada para Ele transformá-los em pó e cinzas, porém preferiu assustá-los, afugentando-os!

  5. Assim sendo, conformemo-nos com isto, pois Ele conhece a medida justa. Se Ele está contente e demonstra alegria em nosso pe- queno grupo, por que deveríamos estar lúgubres e tristes? Sê conten- te e feliz e alegra-te da Graça Divina; o resto deixa por conta Dele!”

78. Em Sichar. — Continuação do diálogo entre o comandante romano e Jonael a respeito da tolerância. Bom testemunho do comandante sobre Jesus, e seu aborrecimento com os judeus maus e cegos. Alusão à alopatia. Consequência do pecado como cura do mesmo. Docilidade e paciência têm mais poder que a ira. Exemplos. É preferível seguir ao Senhor que antecipar-se-Lhe.

  1. Diz o comandante: “Querido e sábio amigo! Falaste bem e certo! Mas que direi eu como estranho nesta causa? Acredito e estou intimamente convencido de que Jesus de Nazareth é o Deus Verda- deiro em forma humana! E isto não por motivo dos milagres que efetuou, e sim pela Sua Imensa Sabedoria! Porque quem quiser criar o mundo deve ser tão sábio quanto Ele em todas as Suas Palavras!

  2. Mas estes velhacos aqui se dizem criminosamente Filhos de Deus, a quem Ele em todos os tempos falou direta ou indiretamen- te; agora Jehovah vem Pessoalmente e eles O repudiam como va- gabundo e querem expulsá-Lo desta cidade! Amigo, sou romano e panteísta, quer dizer, um pagão cego, mas defendo esta minha fé recente com a própria vida!

  3. Se tivesse que lidar com pagãos, teria condescendência; mas, como se dizem Filhos de Deus, desprezando o Seu Pai Eterno, não posso ter paciência com eles!

  4. Querem expulsar a Deus, porém serão os expulsos! Estas ví- boras têm que ser exterminadas para que possa germinar um bom fruto neste solo que o Senhor preparou! Pois, se esta erva daninha ficar aqui, em pouco tempo perverterá tudo o que foi semeado de forma tão maravilhosa pelo Senhor! Dize-me, sinceramente, tenho razão ou não? O que devo considerar mais, o Senhor ou esta ralé?”

  5. Diz Jonael: “Perfeitamente, teu ponto de vista é justo, mas, se é preciso executá-lo — isto é outro assunto! Pode ser que estes inju- riadores bastante assustados caiam em si e se arrependam, de modo que seria errado expulsá-los! O pecado só continua sendo condená- vel enquanto a criatura persistir nele; mas, uma vez que abandona o mau caminho e vive dentro da Ordem Divina, tanto o pecado como o castigo não têm nada que ver com a criatura!

  1. Seria o cúmulo da tolice castigar-se alguém só porque em outras épocas pecou em consequência de sua cegueira e fraqueza; poderia mesmo se comparar a um médico tolo que, após curar do- entes, lhes dissesse: ‘Estais completamente curados, mas deveis re- conhecer que este ou aquele órgão pecou contra vós e por isto deve ser punido!’ Se estes doentes fossem martirizados, que restaria de sua saúde? Digo-te, ficariam dez vezes mais doentes do que foram! Para que então este martírio fora de tempo? A cura por si só já é um cas- tigo para a carne! Se esta ação já é tola e absurda dentro da matéria, quanto mais se for aplicada impiedosamente à alma!

  2. Bem que é do nosso dever chamar a atenção dos nossos ir- mãos, os quais em tempos idos pecaram e se regeneraram, para os perigos do caminho do mal — e fortificá-los com tudo que estiver ao nosso alcance, a fim de que não recaiam sob o jugo do pecado. Mas castigá-los, uma vez que se purificaram, seria atraí-los para no- vos pecados muito piores!

  3. Resta saber se tal atitude, perante Deus, não é cem vezes mais condenável do que os pecados praticados pelo malfeitor! Acredita-

-me, o castigo que acompanha o pecado é um remédio para a alma, mas, se o mal já passou, para que mais outro remédio?” Diz o co- mandante: “Como preventivo contra a possível recaída no mal!”

  1. Diz Jonael: “Sim, preventivos sempre são bons quando for- tificam e não matam! Só se consegue abrandar a ira pelo amor, a meiguice e a paciência!

  2. Aquele que arde em fogo deve ser acalmado com água, e não com piche ou aço incandescente! Quem quebra a perna deve ser carregado e tratado de maneira que em breve possa novamente usá-

-la, e não ser alvo de pancada por ter sido tão desajeitado no andar, que tivesse caído e fraturado sua perna!

  1. Ainda há pouco tempo, um mensageiro, de volta do país dos skythos — Ásia Central — que tinha a incumbência de reve- lar a estas criaturas o Deus de Abraham, Isaac e Jacob, contou-me que estes nômades sempre castigavam alguém que morria! Era este completamente despido, amarrado num poste e açoitado o dia to-

do, mesmo se tivesse sido morto por outro, pois tinha culpa por deixar-se matar! O assassino, porém, era louvado por ter salvo a própria vida!

  1. Embora este caso soe tão ridículo, tem analogia com o nosso, pois queremos matar espiritualmente uma alma já morta pelo pecado!

  2. O doente necessita do médico e do remédio, mas castigá-

-lo porque teve a infelicidade de adoecer é um absurdo! Penso que reconheces ser preferível seguir o Senhor em todas as coisas, do que antecipar-se-Lhe com mãos desajeitadas e estragar o viveiro imen- so de Deus!”

79. Em Sichar. — Palavras de Jonael sobre o tratamento de doenças psíquicas. Graves consequências da severidade exagerada, tanto em pequenos como em grandes assuntos. A pena de morte. A vingança dos assassinados. Bom conselho para a reconciliação com inimigos na hora da morte. Exemplo do inimigo morto de David. Bênção da paz e da amizade. Vingança dos inimigos no Além.

  1. Diz o comandante, compenetrado pela verdade convincente do discurso de Jonael: “Sim, agora estou em claro e desistirei de meu propósito. Futuramente, só farei o que me aconselhares!”

  2. Diz Jonael: “Fazes bem e mereces o Agrado do Pai! — Vê, as doenças do corpo requerem socorro físico, mas uma alma doente necessita de ajuda adequada!

  3. As doenças psíquicas das crianças podem ser curadas facil- mente por uma disciplina severa, acompanhada pelo relho! Os adul- tos, por conselhos sábios e amigos, pela doutrinação e advertência dos perigos que surgiriam pela persistência em tais fraquezas. Se tu- do isto, porém, não frutificar, será preciso usar de meios drásticos, sem jamais desconsiderar o amor ao próximo, o qual é a única bên- ção num tratamento mais rigoroso!

  4. Todo esforço será inútil se os instrutores agirem com irrita- ção e vingança, pois, em vez de fazer dos enfermos criaturas úteis

para a Humanidade, conseguirão criar diabos cuja vingança não tem limites.

  1. Satanás pode ser contido pelo Poder do Alto; mas, se o Se- nhor vê a pretensão do homem em querer manter a Ordem Divina pela tirania, Ele retira o Seu Poder, Satanás se liberta e então tudo está perdido! — As criaturas que deveriam ser tratadas pelo amor, embora severamente, transformar-se-ão em verdadeiros diabos e se revoltarão contra seus supostos benfeitores.

  2. O pior é a pena de morte! Que adianta matar o corpo de alguém, quando não é possível conter alma e espírito, pois são estes que possuem, unicamente, o poder para a ação?

  3. Cego é quem julga livrar-se do seu inimigo por tê-lo morto. Só conseguirá fazer, de um inimigo fraco e visível, mais de cem in- visíveis, que o perseguirão dia e noite, prejudicando-lhe o corpo, a alma e o espírito!

  4. Numa guerra, na qual muitas vezes são exterminadas milha- res de criaturas, o vencedor julga ter se livrado de seus inimigos por- que os liquidou fisicamente. Que grande erro! As almas e espíritos dos mortos destruirão por muitos anos as semeaduras de toda a es- pécie por sua ação direta na atmosfera, provocando desta maneira a infalível carestia dos gêneros alimentícios e esta, por sua vez, a fome, as doenças e pestes! Este flagelo arrebatará, em pouco tempo, mais criaturas do que o vencedor conseguiu matar! Por este motivo, ele se vê enfraquecido no seu poder e procura angariar por muito dinheiro soldados em outros países. Consegue assim endividar a si e a seu po- vo; se, depois de alguns anos, tiver sugado seu país e seus súditos, em breve será perseguido por todos os lados com mil imprecações. Seu povo se levantará contra ele e este momento o inimigo não deixará escapar: atacá-lo-á de novo e ele jamais conseguirá ser um vitorioso, pois o desespero o aniquilará até o âmago de sua alma!

  5. Vê, isto tudo é a ação dos inimigos mortos!

  6. Por isso, considero uma regra e um hábito louvável os pa- rentes de um moribundo se reconciliarem com ele e se deixarem por ele abençoar, pois, se morre como inimigo de alguém, o sobreviven-

te é digno de lástima. Primeiro, a alma liberta martirizará a outra sem cessar através de um insuportável peso na consciência, e então influenciará as circunstâncias terrenas de tal maneira que ela dificil- mente conseguirá algum êxito material!

  1. Deus permite tudo isto a fim de que seja feita justiça às almas ofendidas, e para o sobrevivente é incontestavelmente melhor que seja martirizado neste mundo por suas ações orgulhosas do que cair, após a morte física, nas mãos de espíritos inimigos, que não o tratariam com muita amabilidade naquele mundo desconhecido!

  2. David, desde a infância, foi uma criatura que agiu de acordo com a Vontade de Deus, mas conseguiu fazer um inimigo — Urias

  1. Outra coisa é quando o Senhor te mandar, como mandou a David contra os filisteus, a fim de abater e destruir com poder bélico os inimigos de Deus e do homem! Estes cairão no Além num julga- mento severo e jamais poderão levantar-se contra o Braço de Deus!

  2. Aqueles inimigos, porém, que atraíste sem Ordem Divina, apenas pela tua descortesia, teu orgulho ou pela aplicação da justiça humana, serão no Além teus inimigos irreconciliáveis!

  3. Dar-te-ia tudo se pudesses me apontar um felizardo neste mundo cujo inimigo já se encontra no Além! Conheço casos em que a vingança dum espírito inimigo se estendeu até a décima gera- ção, assim como, num país ou numa zona, pessoas muito ofendidas assolaram como espíritos estas terras de modo que ninguém mais podia manter-se lá! Amigo, embora isto tudo te soe inacreditável, não deixa de ser a pura verdade! E se não fosse, como poderia ousar transmiti-la a ti na Presença do Senhor? Se, entretanto, tiveres algu- ma dúvida, pergunta a Ele, o Eterno Causador de todas as coisas, e Ele dar-te-á um testemunho integral se pronunciei uma inverdade!”

80. Em Sichar. — “Vivei em paz e união!” Os anjos protetores. Ensinamento sobre a Divina Ordem doméstica. Pergunta justificadora: “Como e quando as criaturas melhorarão sobre a terra? Quando virá o Reino de Deus?”

  1. O comandante arregala os olhos, outros ouvintes também o fazem, e diz: “Se for assim, a vida é uma questão perigosa; quem poderá manter-se nela?”

  2. Digo Eu: “Todo e qualquer que viver dentro da Minha Doutrina! Mas quem vive principalmente do amor-próprio, do or- gulho saciado pela presunção, e não pode perdoar àquele que, de qualquer maneira, o tenha ofendido deverá sentir cedo ou tarde as consequências infalíveis da inimizade! Contra esta inimizade não deve esperar proteção da Minha Parte, a não ser que tenha pago a sua dívida até o último ceitil! Por isto, vivei em paz e união com todos! É preferível aturar uma injustiça do que causá-la a alguém, mesmo aparentemente. Assim fazendo, jamais tereis vingadores, e os espíritos, que de outra maneira se tornariam vossos inimigos, serão vossos anjos protetores e desviarão muita desgraça de vós!

  3. Agora, qual o motivo disto? Eu te digo: Porque está dentro da Minha Vontade e da Minha Ordem Imutável!”

  4. Diz o comandante: “Sim, Senhor, reconheço claramente o Teu Amor e Tua Sabedoria e digo que a terra se transformará num verdadeiro Céu se todas as criaturas se compenetrarem de Tua Dou- trina. Mas quando isto ocorrerá? Pois, aparentemente, o procedi- mento cruel é a tendência mais pronunciada dos habitantes deste or- be! Estão encharcados do egoísmo animal e do orgulho desvairado!

  5. Onde quer que se encontre um povo pacífico que, pela fusão de suas forças, consegue algum conforto, imediatamente é desco- berto e invadido pelos homens-tigres. Os pobres são vencidos e se tornam mil vezes mais infelizes que em seu estado primitivo!

  6. Se, entretanto, tais povos pacíficos e educados se mantêm como vencedores de seus inimigos pela coragem, sabedoria e energia de espírito e os inimigos desencarnados se transformam para eles em perseguidores atrozes, pergunto o seguinte: Como, quando e em

que circunstâncias Tua Doutrina salvadora deitará raízes nesta terra, modificando a todos?

  1. Se apenas povos isolados se banharem felizes nos raios suaves de Teus Ensinamentos excelentes, eles serão sitiados, dia após dia, por mais e mais inimigos. Se resolverem se entregar aos conquista- dores, em breve serão seus escravos, tendo que suportar até a proibi- ção de aplicar Tuas Leis.

  2. Mas, por outro lado, se conseguirem dominar seus inimigos, terão de enfrentá-los como espíritos, e o Reino do Céu no mundo torna-se, a meu ver, um mito.

  3. Por isso, duvido que seja aconselhável pagar o mal com o bem a todos os adversários! Acredito que seja possível transformar um inimigo cego num amigo consciente. Mas aplicar esta regra às grandes massas é, a meu ver e para minha fraca inteligência, uma coisa arriscada!

  4. Sempre me lembro de Szylla e Charibdis, pois, quando se pensa escapar da primeira, inevitavelmente se é tragado pela segunda!

  5. Senhor, esclarece-me este ponto e eu abraçarei todos os meus adversários e libertarei todos os prisioneiros, sejam eles la- drões, assaltantes ou assassinos!”

81. Em Sichar. — Ensinamento do Senhor sobre o tratamento dos criminosos. A pena de morte e seus efeitos. Lição para juízes. Motivo principal da Encarnação do Senhor. Elevação da ponte entre este mundo e o outro. Guias, no Além, para os ignorantes. Pedido justo.

  1. Digo Eu: “Amigo, tens uma visão muito curta se interpretas Minha Doutrina desta maneira! Jonael já te havia dito que uma luta em defesa própria está dentro de Minha Ordem, e que a alma des- ta pessoa é aprisionada num julgamento severo, sem poder efetuar uma ação vingativa sobre seu vencedor. Se isto é uma verdade imu- tável, como podes antepor tamanhas dúvidas à Minha Doutrina?

  2. Quem te disse que não se deve prender verdadeiros crimino- sos? Ao contrário, isto te manda o amor ao próximo. Assim como

matarias uma hiena se a visses atacar alguém, do mesmo modo de- fenderias uma pessoa que fosse assaltada por um assassino.

  1. Mas, uma vez que estas hienas humanas, quando se juntam, não somente são perigosas ao viajor, mas também a povoados in- teiros, torna-se dever indispensável para a justiça mandar cercar e prender estas criaturas.

  2. Porém, a pena de morte só deve ser aplicada àqueles que não apresentarem melhoras durante o espaço de dez anos. Se o crimino- so na hora da execução prometer se regenerar, deve-se conceder-lhe mais um ano de prazo. Se, decorrido este tempo, continua o mesmo, então deve ser aniquilado!

  3. Entretanto, se o magistrado, de acordo com a comunidade, resolver modificar a pena de morte merecida em prisão perpétua, a fim de conseguir qualquer modificação do criminoso, Eu não o chamarei à responsabilidade.

  4. Inimigos daqueles que vivem dentro de Minha Doutrina não terão poder de vingança após a morte. Este poder só é dado àqueles espíritos que, embora tenham procurado o caminho do bem, foram mortos por soberanos orgulhosos de maneira cruel.

  5. Se estes juízes desprovidos de todo sentimento nobre criarem adversários por julgamentos injustos, eles como espíritos se vinga- rão, pois esta reação Eu lhes concedo. — Penso que tuas dúvidas se aclararam agora!”

  6. Diz o comandante: “Ah, sim, agora afugentaste a Szylla com a Charibdis.

  7. Mas como Tua Doutrina, realmente Santa, enveredará por um caminho desimpedido diante da cegueira atual da Humanidade, isto me é tão incompreensível como dantes! Se ela fosse levada às criaturas por via milagrosa, de nada adiantaria, pois estas se tor- nariam apenas máquinas. Por outros meios naturais, custará muito sangue e levará um tempo imenso! Sim, embora não possua eu dom profético, tenho o ensejo de afirmar que, da maneira como conheço os povos da Ásia e da Europa, daqui a dois mil anos nem a meta-

de das criaturas deste orbe terão aceitado Tua Doutrina! Tenho ou não, razão?”

  1. Digo Eu: “No fundo, não estás errado. Mas isto não vem ao caso como julgas, pois não se trata tanto da aceitação geral de Minha Doutrina nesta terra, e sim da construção da ponte, feita por Mi- nha Vinda Atual e Minha Palavra, ponte esta que une o mundoda matéria ao mundo do espírito, cujas plagas se encontram no Além-túmulo!

  2. Quem aceitar Meu Verbo em toda a sua extensão consegui- rá, já em vida, atravessar esta ponte. Quem, porém, não o aceitar em absoluto ou o fizer mornamente, incompletamente, chegará àquele mundo em grandes trevas — e difícil se tornará achar essa ponte!

  3. Apenas aquelas criaturas que nunca tiveram oportunidade para buscar os necessários conhecimentos receberão guias no Além que as conduzirão àquela ponte. Se elas seguirem estes guias, al- cançarão a Vida Eterna. Não se prontificando a isto por teimosia, serão julgadas de acordo com a vida que levaram, sem conseguirem a Filiação Divina. — Eis a verdade! Que Me dizes agora, pois o Meu Tempo neste lugar se está esgotando!”

  4. Diz o comandante, depois de alguns minutos: “Senhor, tudo está claro e iluminado dentro de mim; se, porventura, mais tarde se apresentar alguma dúvida, temos Jonael que poderá escla- recer-nos. Por isto, seja louvado Teu Nome! — Tenho somente um pedido a fazer-Te, o qual peço que consideres com especial carinho: se nos deixares agora, seja com a intenção de muito breve nos rever. Será minha preocupação principal, de ora em diante, que, na volta, encontres corações mais dignos de Tua Presença!”

82. Em Sichar. — Promessa de uma Visita secreta do Senhor. O profeta tem mais crédito no estrangeiro. Matheus acompanha o Senhor como escrivão. Gratidão do comandante. Jonael é instituído como professor, recebe poder milagroso e, como instrutor, um anjo. Grande dor de Irhael e Joram por motivo da despedida do Senhor. (João 4, 43–44)

43.EDOISDIASDEPOISPARTIUDALIEFOIPARAA GALILEIA.

  1. Digo Eu: “Voltarei aqui, porém secretamente; não desejo que todo o povoado tenha conhecimento deste fato, porque muita gente virá se estabelecer aqui devido à opressão das autoridades em arre- cadar impostos na Judeia e na Galileia, sendo este lugar o menos sobrecarregado, pois Meu Jairuth pagará os impostos para os pobres.

44. PORQUEJESUSMESMOTESTIFICOUQUEUMPROFETANÃOTEMHONRAEMSUAPRÓPRIA PÁTRIA.

  1. Onde se acham tantos conterrâneos, um profeta não tem va- lor, a não ser que seja um ancião! Os tolos só consideram divinas as palavras de um velho, pois acham que a sabedoria de um homem mais moço seja fantasia mesclada, de quando em quando, de lógica. Quanto aos milagres, mesmo extraordinários, são considerados co- mo efeitos mágicos, que infelizmente são muito comuns na época de hoje. As criaturas, por sua vez, são tão cegas que não distinguem a verdade da impostura, condenando tudo.

  2. Por isso é melhor que o profeta procure o estrangeiro; tanto que vos abandonarei agora com os Meus discípulos, voltando, po- rém, em breve, conforme prometi.

  3. Levarei Comigo um homem chamado Matheus, que possui muita prática como escrivão. Peço-te que lhe dês um passaporte, a fim de satisfazer as exigências do mundo.”

  4. O comandante resolve isto num instante e Me agradece de todo o coração por tudo que Eu lhe havia feito. Alguns hóspedes o acompanham nesta atitude; outros, porém, cansados da marcha, encontram-se dormindo. Os amigos querem acordá-los; Eu, porém, digo: “Deixai-os descansar até o raiar do dia! Prefiro afastar-Me à meia-noite, com toda a calma, para não despertar curiosidade. Ficai todos aqui e que ninguém Me siga, a não ser no coração!

  5. Tu, Meu Jonael, faze com que Minha Doutrina seja enrai- zada aqui, para poder trazer bons frutos como nova árvore de vida! Dou-te também, em Meu Nome, o poder sobrenatural dos Céus! Não te deixes levar, no teu zelo, a fazer uso dele num tempo impró- prio ou sem sabedoria, pois com isto conseguirias prejudicar, em vez

de beneficiar. Por certo tempo deixarei um anjo em tua casa e ele po- derá te ensinar o uso justo desse poder. Mas não contes a ninguém que em casa de Jonael habita um anjo!”

  1. Nisto se aproximam Joram e Irhael chorando, incapazes de falar porque cheios de amor e gratidão! Eu os abençoo e digo: “Con- solai-vos, em breve estarei em vosso meio!”

  2. Ambos beijam Meus Pés, banhando-os com suas lágrimas, e Joram fala: “Ó tempo abençoado, apressa-te e traze-nos de volta o Senhor de toda a Glória! — Ó Senhor, lembra-Te de nós, que Te amamos de todo o coração, volta em breve e fica para sempre entre nós!”

  3. Digo Eu: “Sim, voltarei, mas, como já disse, secretamente, pois que ninguém deverá ser obrigado a acreditar em Minha Missão do Alto e, por conseguinte, em Minha Palavra!”

83. Em Sichar. — Importante ensinamento para a missão. Poder da Verdade. Ação da Palavra do Pai. Graça da convocação da criatura para a Filiação Divina. O Senhor não quer hipócritas nem condenadores do mundo. Ensinamentos práticos. O que é o mundo e como deve ser aproveitado. Despedida de Sichar.

  1. (O Senhor): “A Doutrina deve justificar a Verdade. Quem, no futuro, não viver pela Palavra Divina morrerá pelo julgamento da Mesma como réu de juízo, pois lhe foi dita e não Lhe deu crédito.

  2. Assim como tenho o Poder do Pai de dar ou tirar a vida àque- le que aceitar a Doutrina com a sua própria vontade, o mesmo con- seguirá o Meu Verbo, pois é a Expressão Eterna de Minha Vontade Onipotente!

  3. Portanto, quem aceitar plenamente a Minha Palavra e agir constantemente de acordo com ela, também Me aceitará com todo o Meu Amor, Sabedoria e Onipotência, tornando-se assim um verda- deiro Filho de Deus, a quem o Pai jamais negará o que quer que seja.

  4. O Santo Pai não poderá fazer mais do que revelar-Se pessoal- mente em Mim, Seu Filho, formando de vós, que sois réus de juízo, deuses livres, chamando-vos Seus amigos e irmãos.

  1. Refleti sempre sobre Quem vos revela isto e o que recebeis com esta Revelação; desta forma vos será fácil vencer, o que é tanto mais necessário, porquanto não podereis ser Filhos do Pai sem terdes vencido o mundo dentro de vós!

  2. Não quero com isto que vos torneis hipócritas e condenado- res do mundo, mas sábios aproveitadores dele.

  3. Não seria um tolo quem se apaixonasse por um instrumento útil, necessário ao emprego de sua arte, mas não chegasse a usá-lo, fixando-o extasiado para depois guardá-lo num escrínio, a fim de que não enferrujasse?

  4. O mundo é para vós um instrumento com o qual podeis criar coisas úteis no seu emprego justo! Mas, como discípulos Meus, deveis usá-lo da maneira que Eu vos ensinei nestes dias, sendo o vosso Mestre único e Verdadeiro!

  5. Empregado assim, este instrumento vos preparará e fortale- cerá para a Vida Eterna. Do contrário, pode ser comparado a uma faca nas mãos de crianças inconscientes, que com facilidade provo- carão um ferimento mortal.

  6. Aceitai com estas Palavras Minha Bênção completa e trans- miti Meu Verbo àqueles que não o puderam ouvir, a fim de que ninguém venha a se desculpar com sua ignorância!

  7. E agora, vós Meus discípulos e todos que me seguistes da Galileia e de Jerusalém, aprontai-vos para a viagem de volta àquela cidade, onde podereis vos dedicar novamente à administração de vossa lavoura!”

  8. Com esta sentença levanto-Me, faço um aceno aos anjos so- mente por eles compreendido, e em seguida eles desaparecem, com exceção do anjo de Jonael. Também as portas do Céu se fecham, mas a casa de Irhael e Joram permanece com todos os apetrechos do Céu, bem como o castelo de Jairuth. Todos os presentes acordados Me seguem até à porta. O comandante, porém, acompanha-Me até a fronteira do distrito e de lá volta para Sichar.

Final do segundo dia em Sichar

VIAGEM À GALILEIA

84. Repreensão de Matheus ao Senhor. O Ser Divino e a Sua Criação. Beleza, distância e imensidade do sol. Um eclipse do sol. “Um pouco de medo não prejudica o homem sensual!”

  1. Entretanto, continuamos o nosso caminho e ao romper da aurora alcançamos a fronteira da Samaria. Chegando à Galileia, repousamos um pouco numa pequena colina coberta dum gra- mado viçoso.

  2. Todos admiram a bela paisagem e Matheus diz: “Senhor, se as criaturas se compenetrassem inteiramente de Tua Doutrina, a Terra, que é bastante linda, seria um paraíso para elas! Mas, quando penso que os homens, na maioria, são piores que as feras, tenho von- tade de repreender a Deus por ter feito o mundo tão maravilhoso para criaturas tão más!”

  3. Digo Eu: “Esta repreensão Me atinge, pois o Pai e Eu somos UM! A Eterna Sabedoria do Filho, que é em síntese a Sabedoria do Pai, elaborou o Grande Plano Criador, ao qual o Amor do Pai acrescentou: ‘Que assim seja!’ Deste modo surgiu este planeta, assim como surgiram o sol, a lua e as estrelas.

  4. Os seres que habitam esta terra também foram criados por Mim e deverão ser modificados!

  5. Assim sendo, como podes Me repreender? Ademais, ela não é tão maravilhosa como te parece. Todas estas regiões que agora vês só constituem quadro delicioso e agradável pela distância com que são observadas. Se lhes chegares mais perto, não acharás beleza nem graça, além de umas poucas árvores ou um jardim, feito por mãos humanas; neste jardim, o palácio de um rico! Acharás isto bonito e maravilhoso?

  6. Fita o sol, lá existem outras regiões! Lá, um deserto é mais lindo que um paraíso aqui! Pois, se é a luz do sol que faz estas zonas se tornarem tão esplêndidas, se sem ela esta terra seria um vale de sofrimento e pavor, quanto mais maravilhosas não deverão ser as re- giões solares, de cujo esplendor a terra só tem um fraco vislumbre!”

  1. Diz Matheus: “Senhor, que me dizes? É o sol um mundo imenso e um deserto lá mil vezes mais retumbante do que aqui um paraíso? Observa a grande terra e o pequeno disco do sol! Quantas vezes ele não caberia na terra, da qual só vemos uma pequena parte?”

  2. Digo Eu: “Quando falo de coisas terrenas, não Me compreen- deis; como ireis compreender-Me quando falar de coisas espirituais?

  3. Ouve-Me, lá para oeste vês um cedro à beira da montanha! Compara sua aparente pequena altura com a de um capim daqui, que mal chega a um palmo! Verás que esta erva colocada diante de tua face se estende aparentemente a uma altura muito mais elevada que aquele cedro, que na verdade é centenas de vezes mais alto! Isto é ocasionado pela distância! Se aprecias uma boa caminhada, pode- rás alcançar o cedro em dez horas. Portanto, o que representa este tempo para a medida ocular?

  4. Agora, calcula a distância entre o sol e a terra! Se um pás- saro, num voo rapidíssimo, na época da criação de Adam tivesse partido da terra em direção ao sol, ainda não teria chegado lá, pois lhe faltariam mais alguns anos para isto! Se Me podes compreender, também saberás por que o sol te parece tão pequeno, sendo mais de um milhão de vezes maior que a terra.”

  5. Matheus, desesperado com esta distância e grandeza do sol, diz: “Senhor, como podes dirigir e manter isto tudo daqui?”

  6. Digo Eu: “O que te parece impossível, para Mim é facílimo; por enquanto não o poderás compreender, mas tempo virá em que não terás dificuldade para tanto.

  7. A fim de que reconheças que Eu alcanço num momento o sol pela Onipotência do Pai em Mim, presta atenção! Cobrirei o sol por alguns segundos, de sorte que criatura alguma o poderá ver.”

  8. Diz Matheus: “Oh, Senhor, não faças isto! As criaturas morreriam de pavor!” Digo Eu: “Preocupa-te com outras coisas! Os homens julgarão que se trata dum eclipse comum e em poucos mi- nutos verão novamente o sol. Atenção!” Diz Matheus, um tanto medroso: “Senhor, devo chamar a atenção dos outros?” Digo Eu: “Deixemo-los dormir e descansar! Basta que tu vejas isto, pois um

escrivão deve saber mais que aqueles que não têm esta missão! Ago- ra, Eu digo: Sol, cobre o teu semblante por sete segundos para toda a terra!” No mesmo momento escurece tudo e somente algumas estrelas são visíveis no firmamento.

  1. Matheus treme de pavor e diz: “Senhor, ó Poderoso! Quem poderá permanecer a Teu Lado, quando o Teu Braço Divino alcança tão longe?” Mal tinha pronunciado estas poucas palavras, surge o sol novamente com todo o seu esplendor e o Meu Matheus respira mais livremente. Fica, no entanto, incapaz de dizer qualquer coisa. Depois de alguns instantes, ele cria coragem e diz: “Senhor, isto está fora do meu alcance! Teu Poder deve ser Infinito! Mas poupa-nos com provas tão pavorosas, do contrário em breve todo o mundo será aniquilado!”

  2. Digo Eu: “Não te preocupes! Alguém morreu? Um pouco de medo não prejudica o homem sensual. Agora, desperta os outros, pois continuaremos a nossa jornada! Mas não contes a ninguém o que acabas de presenciar!” — Em seguida, Matheus acorda os com- panheiros e encetamos de novo a marcha, que agora se torna mais fácil, pois vamos morro abaixo.

85. Prosseguimento da jornada. Chegada à Galileia. Pontos de vista diversos sobre o Messias. Ensinamentos sobre o Reino de Deus. Continuação da jornada. (João 4, 45)

45.CHEGANDO, POIS, ÀGALILEIA, OSGALILEUSORECEBERAM,VISTO TODAS AS COISAS QUE FIZERA EM JERUSALÉM NODIADAFESTA,AQUEELESTAMBÉMTINHAM ASSISTIDO.

  1. Chegando ao vale, em pouco tempo alcançamos uma vila da Galileia habitada por muitos que presenciaram a purificação do Templo em Jerusalém.

  2. Todos Me cumprimentam atenciosos e Me louvam por ter feito aquela ação destemida. Tratam-nos muito bem e nos convidam a ficar aquele dia e a noite em sua companhia.

  3. Surgem muitas indagações a respeito do Messias e alguns Me reconhecem como Tal, dizendo: “Quem manifesta tamanha cora-

gem em presença de tantas pessoas deve possuir um Poder do Alto! Pois, se um homem comum tivesse agido assim, teria sido perse- guido, mas o Teu caso foi diferente! Parecia que um tufão os tinha enxotado — e desde então não houve mais mercado no Templo!”

  1. Os galileus se admiram e dizem: “Se for assim, as coisas an- darão mal! Que se fará com o domínio eterno dos descendentes de David, que foi prometido pelos profetas e que será erigido pe- lo Messias?”

  2. Digo Eu: “Ele inaugurará um Novo e Eterno Reino para os verdadeiros filhos e descendentes de David, mas não neste mundo, e sim no Céu! Quem interpretar os profetas de modo diferente andará nas trevas!”

  3. Após esta explicação vários se afastam, pois acreditam num Messias mundano! Muitos outros, porém, pedem uma melhor elucidação.

  4. Eu lhes digo: “Também vós acreditais apenas quando tendes provas! Acompanhai-Me a Caná, onde sabereis de tudo!”

  5. Em nosso grupo se encontram muitos daquela cidade que tinham presenciado o milagre das bodas e querem contar os muitos fatos e ensinamentos que assistiram.

  6. Eu, porém, os impeço nisto e digo: “Para estes ainda não chegou o tempo. Deixai que nos acompanhem a Caná, onde serão instruídos. Agora, continuemos nossa jornada e que ninguém fale a caminho, pois que aqui há muitos salteadores galileus!”

  7. Eles Me dão razão, afirmando haver espiões em toda parte, que abordam os viajores para saber algo dum certo Jesus de Naza- reth, onde se encontra e se está doutrinando. — Digo Eu: “Eis o motivo por que iremos calados para Caná!”

86. O Senhor de volta a Caná. Os impudicos se traem. O Senhor fala sobre o dano da impudicícia aqui e no além. A voluptuosidade como artimanha de Satanás. (João 4, 46)

46. PELA SEGUNDA VEZ FOI JESUS A CANÁ NA GALILEIA, ONDE DAÁGUAFIZERA VINHO.

  1. Alcançando a cidade de Caná, rapidamente nos dirigimos àquela casa onde Eu havia feito o primeiro milagre. Não se passa uma hora e todo mundo sabe que chegara bem, em companhia da- queles que Me haviam seguido.

  2. Eu lhes pergunto se não há doentes neste meio e eles Me res- pondem que, felizmente, nesta época não há um doente.

  3. Eu, porém, digo: “Fisicamente estão gozando saúde, mas não na alma, pois quem pratica atos impudicos e lascivos está gravemen- te enfermo da alma! Este pecado faz com que o coração da criatura se torne dia a dia mais endurecido, insensível e desapiedado para com os irmãos, e finalmente só ame a si e seu parceiro que satisfaz seus desejos. Esta criatura foge à Palavra de Deus, que lhe adverte do pecado, e se torna um inimigo daqueles que consideram e vivem dentro do Verbo do Pai. Muitos de vós sofreis deste mal e Eu vim para vos curar; portanto, quem souber disto, que Me peça ajuda e Eu o curarei!”

  4. Mal acabara de falar e muitos abandonam a casa, temendo que Eu os denunciasse abertamente. Entre eles estavam alguns adúl- teros e incestuosos de ambos os sexos, que de bom grado se afasta- ram de Meus Olhos.

  5. Não que quisessem fugir da cura, mas sim da vergonha! Na maior parte eram pessoas benquistas e teria sido muito desagradável para elas se os vizinhos chegassem a saber de sua fraqueza. Entretan- to, não consideraram que o seu afastamento os denunciava.

  6. Muitos que tinham ficado dizem: “Vede só, jamais teríamos esperado isto!” — Outros não podem conter o riso e Me dizem: “Como soubeste formular bem a Tua Pergunta! Se algum outro lhes perguntasse durante muitos anos, jamais teriam respondido. Ofe-

receste apenas o Teu Auxílio, e eles fugiram! Certamente temiam que Tu pudesses entrar em pormenores e isto os enxotou! Nós não os julgamos por isto, pois conhecemos a fundo as nossas próprias fraquezas e sabemos que é mais prudente varrer na própria porta — entretanto não deixa de ser ridículo!”

  1. Digo Eu: “Deixai-os, os cegos bobos! Perante os homens se envergonham, mas perante Deus, que tudo vê e sabe, não se avexam! Digo-vos a todos: Esta vergonha mundana é fútil! Quanto tempo durará esta falsa compreensão? O corpo que lhes proporciona tantos prazeres lhes será tirado, chegarão ao Além completamente nus e seus pecados serão divulgados abertamente! E lá tão facilmente não conseguirão libertar-se da vergonha!

  2. Em verdade vos digo: Os obscenos, lascivos e adúlteros não entrarão no Reino do Céu, a não ser que se regenerem completa- mente de seus vícios! Todos os outros pecados a criatura os pratica fora do corpo e facilmente os poderá deixar. Mas o adultério se dá dentro do homem, prejudicando-lhe alma e espírito; é, por isto, o pecado mais perigoso! Evitai-o por todos os meios como se fora a peste, pois a sensualidade é uma artimanha de Satanás! Ai daquele que se deixa prender por ele! Terá que lutar muito para se libertar de suas garras! Sofrerá moléstias e dores atrozes! Considerai bem isto, senão tereis de enfrentar dias e horas que não vos agradarão! Agora, vamos nos recolher!”

  3. Muitos que haviam voltado Comigo dirigem-se para suas moradas. Meus discípulos, Maria e Meus irmãos, quer dizer, os cin- co filhos de José, ficam em Minha Companhia.

87. A Verdadeira Pátria está com o Senhor. Os judeus céticos. Sua partida e prisão por guerreiros romanos. Cornélius e o Senhor.

  1. Quando todos se tinham afastado, o hospedeiro, em cujas bodas Eu tinha transformado a água em vinho, aproximando-se, diz: “Senhor, aqueles que vos seguiram da Judeia e de Jerusalém reconfortaram-se no salão de hóspedes e desejam dirigir-Te umas

poucas palavras. Pelo que vejo, tencionam voltar para seus lares e afazeres. Se permitires, eu os impedirei nisto!”

  1. Digo Eu: “Penso que isto seja inútil! Quem estiver e ficar Comigo já estará em sua pátria, e quem não procurar conseguir esta verdadeira e Eterna Pátria sempre será um andarilho, qual caça afu- gentada que procura comida e pouso; mas não encontrará nem um, nem outro, e finalmente morrerá de inanição, vítima dos animais selvagens, cuja pátria é o deserto!

  2. Quem já se viu privado de algo em Minha Companhia? Não foram todos alimentados e saciados, física e espiritualmente, pelos Céus? Alguém sentiu fome e sede ou passou por alguma desgraça? Teria sido abordado pelas autoridades humanas porque Me acompa- nhasse? Eu te digo: Quem quiser ir, que vá; quem quiser ficar, que fi- que! Não necessito dos homens, mas vós necessitais de Mim! Quem Me abandonar, será abandonado por Mim e quem não Me procurar, por Mim não será procurado! Vai, pois, e comunica isto a eles!”

  3. Diz o hospedeiro: “Senhor, isto me custará, pois certamente também estás aborrecido com esses cidadãos de Caná, que acabam de regressar a seus lares?”

  4. Digo Eu: “Não Me compreendeste! Esses cidadãos já Me aceitaram em seus corações e a Minha Doutrina lhes é Santa; para estes judeus aqui, ela não agrada completamente e eles anseiam mais pelo fermento que pelos seus afazeres! A fim de não serem tomados por grosseiros, querem externar sua gratidão para Comigo! Por isto, vai transmitir tudo que Eu te disse!”

  5. O hospedeiro obedece e transmite tudo aos judeus, que se sentem a descobertos. Alguns se aborrecem; outros, porém, reco- nhecem o seguinte: “Ele atingiu-nos em cheio e tem razão! Que nos perdoe, pois queremos ficar!”

  6. Os outros se ofendem com isto e dizem: “Nós iremos! Na- da nos faltou em Sua Companhia, mas estamos cansados desta vida de ciganos. Além disso, é preciso uma vigilância constante para não deslizar com uma palavra sequer! Pois o julgamento se- gue imediatamente e será difícil uma reabilitação. Ele não tem a

mínima condescendência; o que diz, deve ser executado! Por isto, vamos embora!”

  1. Dizem os arrependidos: “Tendes razão. Os sacerdotes de Je- rusalém são mais maneirosos, principalmente quando a oferenda corresponde à sua expectativa! Ele, porém, nada perdoa, mesmo que a criatura oferte um mundo inteiro! Apesar de ser difícil de se tratar, Ele não deixa de ser um grande profeta e cada palavra que profere é cheia de verdade, força e vida e a natureza obedece a Seu simples aceno! Só nos resta ficar em Sua Companhia, pois milagres como os Seus jamais alguém conseguiu fazer!”

  2. Os ofendidos: “Fazei o que quiserdes! Nós iremos! O hospe- deiro que nos faça a conta, caso lhe devamos algo!”

  3. Diz o hospedeiro: “Não tenho albergue para estrangeiros, e sim para os filhos de Jacob, que nada pagam!”

  4. Com esta informação, os outros se levantam e se põem a caminho. Após algumas horas de marcha, estão de tal maneira can- sados, que não conseguem dar mais um passo, e resolvem pernoitar à beira da estrada. Eram, ao todo, umas cem pessoas.

  5. Acontece, porém, que uma forte legião romana aparece no fim da estrada e, em breve, dá com esta caravana. Como os cansados não despertassem, são vigiados até de manhã. Quando acordam, veem-se de mãos amarradas e, não tendo salvo-conduto, são levados, todos prisioneiros, para Jerusalém. Lá são interrogados durante uma semana, até provarem que eram judeus e libertos, depois de terem pago u’a multa.

  6. Uma parte desta legião romana se encaminha também para Caná. Quando examinam a casa e nos identificamos com o passa- porte de Jerusalém, eles continuam a marcha para Capernaum. O comandante desta legião, porém, reconhece-Me, conversa amistosa- mente Comigo e conta que irá residir, por longo tempo, em Caper- naum, onde já se encontra sua família. Convida-Me para ir até lá e visitá-lo, o que lhe prometo, passados alguns dias.

  7. Em seguida, ele pergunta se Eu sabia que caravana era aque- la que encontrou na estrada para Jerusalém.

  1. Eu lhe esclareço e ele diz, sorridente: “Já imaginava que fossem espiões fariseus e me admiraria se não os reconhecesses como tais!”

  2. Eu lhe digo: “Não estás errado em teu julgamento. Porém, quando Me seguiram de Jerusalém e da Judeia, ainda não o eram; agora, entretanto, alguns se tornaram denunciadores para o seu pró- prio prejuízo. A casta do Templo aprecia a denúncia, mas teme mais o delator que o inimigo denunciado, e dificilmente deixa o traidor em liberdade. Quase todos são obrigados a beber a água maldita

88. Palestra do Senhor com Cornélius sobre a casta em Jerusalém e a purificação do Templo pelo Senhor. Boa influência de Nicodemus. Predição do julgamento sobre Jerusalém.

  1. Diz o comandante Cornélius, irmão do Imperador Augusto: “Ora, bom proveito para eles! Não podes imaginar como esta súcia me enerva! Eu te digo: um sacerdote é o pior dos piores sobre a terra! Os nossos sacerdotes, quase que egípcios, não prestam, entretanto aparentam, às vezes, algo de humano. Pouco se sabe de crueldade e, com raras exceções, instigam as criaturas ao senso humanitário e à coragem guerreira.

  2. Mas estes atrevidos aqui são hipócritas até à raiz dos cabelos! Aparentemente, são severos e beatos, mas no íntimo não merecem o Tártaro! Se as nossas três principais Fúrias, cuja aparência horrenda dizem petrificar tudo, avistassem um deles, elas mesmas se transfor- mariam em pedras, de pavor! Digo mais: para desatar, finalmente, este emaranhado maldito da casta judaica, será preciso uma espada afiada do Rei da Macedônia; do contrário, o mundo inteiro será envolvido nele! — Meu amigo, poderia contar-te coisas horripilan- tes desta súcia, que a terra toda se agitaria! Mas, basta; quando me visitares, teremos tempo para isto!”

  1. Digo Eu: “Não é preciso! Conheço-os melhor que tu! Já des- tinei um ‘Rei da Macedônia’, descendente de tua raça, que deverá receber o prêmio para desatar este nó com uma espada incandescen- te! Antes disto, farei muita coisa para sua possível melhora!”

  2. Diz o comandante: “Não faças isto! Pois, se for possível ma- tar-Te, eles o farão! Como Te disse, eles nem a Deus respeitarão!”

  3. Digo Eu: “Deixemos isto! Acontecerá o que for da Vontade do Pai! Bastaria um sopro de Minha Boca e eles não mais existiriam! Mas isto não é de Sua Vontade; portanto, deixemo-los!”

  4. Diz o comandante: “Se continuarem deste modo por mais dez anos, sobrará pouca gente na Judeia. Já teria havido barulho se não fosse Nicodemus, que acalmou os ânimos no sinédrio por oca- sião da purificação do Templo, feita por Ti. Ele conseguiu impedi-lo no intuito de perseguir-Te. Foi interessante a maneira como pôde convencê-los de que esta purificação era permitida por Deus, a fim de que os Seus servos chegassem a ganhar muito dinheiro; porque eram justamente os vendedores de pombos e os agiotas que nunca depositavam um óbolo no Templo, enquanto eles possuíam a maior fortuna! Quase todos estavam satisfeitos e alguns diziam: ‘Bem, este poderá voltar para a próxima festa com seu poder, pois nos será útil!’ Outros, porém, que costumavam efetuar negócios com os agiotas, não estavam muito satisfeitos com essa perspectiva. Mesmo assim, garanto que, numa outra festa em que Tu queiras repetir a purifi- cação, não terás que temer algum imprevisto. Se algum dia quiseres voltar lá, aconselho-Te que o faças secretamente; senão, encontrarás o Templo vazio, pois estas criaturas enviarão espiões para todos os lados para Te observarem; entre esses judeus que eu mandei prender na estrada, havia muitos!”

  5. Digo Eu: “Bem que Eu poderia fazer-lhes este favor, mas, depois disto, podes estar certo, não haveria ali mais negociantes e agiotas. Quando fizer a Minha Última Entrada em Jerusalém, terei que limpar mais uma vez o Templo, como há pouco!”

  6. Depois desta afirmação de Minha Parte, aproxima-se um guia da coorte e anuncia ao comandante que as tropas estão prontas

para a partida. O comandante manifesta, novamente, o desejo de Minha Visita a Capernaum e se despede. O hospedeiro serve um bom almoço, no qual todos tomam parte.

89. Jesus ora por todos, despede Seus irmãos a fim de organizarem seus afazeres e dá ensinamentos a respeito da aplicação de juros. Thomaz e Judas. Pedro e o Senhor. “Onde não existe fé, não há o que fazer.” O melhor tempero para a refeição. Curas pelo passe. Ervas curadoras. A volta dos discípulos. O jovem Marcus, filho de Pedro. Boa pesca de Thomaz. A ação de Judas.

  1. Depois do repasto, dirijo-Me a todos e digo: “Se alguém tiver que organizar algo em sua casa, poderá ausentar-se por dois dias, mas no terceiro deve estar de volta, pois só ficarei aqui a fim de repousar um pouco. Os que moram muito distante poderão per- manecer junto àqueles que não Me quiserem deixar! Mas, como já disse, não trabalharei em coisa alguma e só farei preces por todos!”

  2. Maria e Meus cinco irmãos também perguntam se podem ir até Nazareth, a fim de organizarem seus afazeres.

  3. Eu lhes digo: “Sim, ide, ponde ordem nas coisas mundanas por alguns anos e alugai vossa casa aos pobres, mas sem juros! Como Meus discípulos e irmãos, não deveis aceitar juros ou recompensas, e sim receber, unicamente, o que vos é dado por livre e espontânea vontade.” — Os irmãos e Maria prometem tudo cumprir e, em se- guida, vão a Nazareth.

  4. Dos discípulos, somente Thomaz foi à casa, com o pretexto de angariar novos adeptos, o que conseguiu. Mas, entre estes, havia um judeu chamado Iscariotes, que Me traiu mais tarde. Em certa época, era o discípulo mais ativo de todos. Fazia o papel de mordo- mo, pagava as despesas e se fazia o enunciador de Minha Pessoa! No entanto, também tinha o dom de fazer-se pagar, clandestinamente, pelos milagres que Eu porventura efetuasse! Esta avidez por dinheiro foi que o levou a ser o Meu traidor! — Pedro e os outros adeptos ficaram a Meu Lado!

  5. Quando perguntei a Pedro se não queria passar alguns dias em casa, ele disse: “Senhor, somente a morte ou uma ordem Tua

poderão me afastar de Ti! Dei a Thomaz a incumbência de trazer meu filho Marcus, que nos poderá ser útil como escrivão. Eis tudo que teria que fazer em casa; do resto Tu cuidarás, meu Senhor e meu Deus.” — Digo Eu: “Não fales tão alto, Meu Pedro! Não estamos em Sichar! Há muitos que não têm o teu adiantamento e se abor- receriam com isto! Portanto, basta que Me chames, futuramente, de Senhor.”

  1. Pedro se contém e pergunta se nada faríamos nestes dois dias. Digo Eu: “Como não? Mas é certo que não trabalharemos tão in- tensamente como em Sichar. Aqui nos encontramos em nossa pátria terrestre e sabes que o profeta não vale muito em seu país. Por isso, faremos e ensinaremos muito pouco, pois onde não existe fé, há pouco trabalho para nós. Logo, descansaremos e nos aprontaremos para o que há de vir.”

  2. Nisto Matheus se aproxima e quer saber se deve anotar al- guns apontamentos nestes dois dias.

  3. Digo Eu: “Já que desejas fazer algo, tira mais algumas cópias do Sermão da Montanha, pois uma poderá ficar aqui, nas mãos do hospedeiro, e outra em Capernaum!”

  4. Agora vem o hospedeiro e pergunta o que desejo comer no almoço. Eu respondo: “Amigo, para que esta pergunta? Hoje de ma- nhã não Me consultaste e Eu Me dei por satisfeito! Pois o almoço também Me agradará! Eu te digo: Todo prato que for temperado com o amor do coração tem bom paladar, até muito melhor que os quitutes saborosos dos ricos!” O hospedeiro se retira satisfeito e tudo faz para agradar a nós todos.

  5. Assim se passam estes dois dias, entre boas palestras e diver- sas visitas por parte dos cidadãos desta cidade.

  6. Alguns doentes foram curados apenas com passes; a um médico da zona, que não podia compreender esta cura milagrosa, mostrei uma quantidade de ervas curadoras, com as quais salvou a muitos e adquiriu renome.

  7. No terceiro dia todos voltaram, com exceção de Maria, e apresentaram os novos adeptos. Thomaz, principalmente, conse-

guiu boa pesca em adeptos e trouxe bastante peixes fritos, pois sabia que Eu os apreciava.

  1. O jovem Marcus transmitiu a seu pai, Simon, muitas re- comendações de seus parentes e entregou-lhe uma quantidade de peixes; Iscariotes trouxe muito dinheiro e alegria para nosso meio, contando fatos interessantes que sucederam no Império Romano.

  2. Como todos estavam presentes, Eu queria continuar a nossa trajetória. O hospedeiro, porém, pediu-Me que ficasse até à noite, pois o dia estava muito quente. Assim fiquei até o anoitecer. Mas, quando o sol começava a desaparecer entre as montanhas, lembrei que todos deviam preparar-se para a jornada.

90. Cura do filho dum régulo. Agradecimento e conversão do mesmo. Discurso de Cornélius a respeito da única veneração agradável ao Senhor. Ensinamento sobre a contagem de tempo daquela época. (João 4, 47–53)

47. E HAVIA ALI UM RÉGULO, CUJO FILHO ESTAVA ENFERMO EM CAPERNAUM. OUVINDO ESTE QUE JESUS VINHA DAJUDEIA PARA A GALILEIA, FOI TER COM ELE E ROGOU-LHEQUE DESCESSE E CURASSE SEU FILHO, PORQUE ESTAVA À MORTE.

  1. Mal iniciamos a caminhada, eis que Me aborda um homem de descendência régia e parente do comandante Cornélius, que ha- via sido informado de que Eu estava de volta da Judeia. Este régulo tinha um filho único, que de repente foi atacado de uma febre ma- ligna, e o médico de Capernaum reconheceu logo que nada havia que o salvasse. O pai, completamente desesperado, não sabia o que fazer! Foi quando Cornélius lhe disse: “Irmão, dou-te um conselho! Daqui até Caná é apenas uma hora de marcha! Lá encontra-Se o famoso Salvador Jesus de Nazareth, pois eu mesmo falei com Ele! Certamente ainda lá Se acha, porque me prometeu vir direto para Capernaum e me visitar quando chegasse. Corre depressa e pede que venha ajudar teu filho! Eu te garanto que Ele o fará!”

  2. Quando o régulo ouve isto de seu irmão, imediatamente se põe a correr e nos alcança justamente quando íamos iniciar a nossa

jornada. Mal Me avista, joga-se a Meus pés e Me pede que venha o mais depressa possível salvar seu filho que está à morte.

48. ENTÃOJESUSLHEDISSE:“SENÃOVIRDESSINAISEMILAGRES,NÃO CREREIS.”

  1. “Vê, Meu filho, teu caso é difícil, porque Eu ajudo apenas aqueles que creem sem ter visto milagres! Pois onde Me recebe a fé incondicional Eu curo na certa!”

49. DISSE-LHE O RÉGULO: “SENHOR, DESCE, DESCE, ANTES QUEMEUFILHO MORRA!”

  1. “Mas, se demorares, certamente morrerá! — Vê, eu tenho muitos servos e quando digo a qualquer deles: ‘Faze isto ou aquilo!’, ele o faz! Se não tivesse fé completa em Ti, ó Senhor, teria enviado um servo para chamar-Te! Confesso que não mereço que venhas à minha casa — mas, se disseres uma palavra, meu filho viverá!”

50.DISSE-LHEJESUS:“VAI,OTEUFILHOVIVE!”EOHOMEMACREDITOUNAPALAVRAQUEJESUSLHEDISSEESE FOI.

  1. Digo Eu: “Amigo, fé igual à tua jamais vi em toda Israel! Vai, far-se-á o que acreditares!”

  2. O régulo se dirigiu para casa entre agradecimentos e soluços. Eu, entretanto, fiquei aquela noite e o dia seguinte em Caná, o que alegrou muito o hospedeiro.

    1. E, DESCENDO ELE, LOGO SAÍRAM-LHE AO ENCONTRO SEUSSERVOSQUELHEANUNCIARAM:“TEUFILHO VIVE!”

    2. PERGUNTOU-LHES,POIS,AQUEHORASEACHARAMELHOR; E DISSERAM-LHE: “ONTEM ÀS SETE HORAS AFEBREO DEIXOU!”

    3. ENTENDEU, POIS, O PAI, QUE ERA AQUELA HORA A MESMA EMQUEJESUSLHEDISSERA:“TEUFILHOVIVE!”ECREUELEETODAASUA CASA.

  1. Chegando à casa, o comandante Cornélius o recebe em com- panhia do filho completamente curado e diz: “Então, meu irmão, indiquei-te o verdadeiro salvador?”

  2. Diz o régulo: “Sim, meu irmão, com teu conselho restituíste-

-me a vida! Mas este salvador, Jesus de Nazareth, visivelmente é mais que um curador comum! — Imagina, Ele falou sem nunca ter visto meu filho: ‘O teu filho vive!’, e ele se curou no mesmo momento! Isto é uma coisa curiosa! Pois te digo, só Deus poderá fazer isto! De agora em diante eu e minha casa acreditaremos que este Jesus é um verdadeiro Deus, que veio para salvar e curar a Humanidade! Se Ele vier aqui, deverá receber uma veneração divina!”

  1. Diz Cornélius: “Já O considero como Deus e ninguém me afastará desta fé! Mas Ele não permite que se Lhe atribua este poder!”

  2. Diz o pai do curado: “Irmão, quando se possui provas tão convincentes, dificilmente poderá haver um exagero na veneração.”

  3. Responde Cornélius: “Concordo contigo, mas, como já te disse, Ele é contra toda e qualquer manifestação externa de homena- gem. Eu O conheço desde Seu Nascimento em Bethlehem e sei que só permite aquela homenagem que se manifesta pelo amor. Portan- to, evita isto, do contrário afastá-Lo-ás daqui!”

  4. Diz o régulo: “Pois bem, já que segui teu conselho ontem durante o dia, fá-lo-ei também hoje à noite!”

  5. A fim de que não venha a surgir uma divergência sobre a palavra “ontem”, torna-se necessária uma pequena explicação. Na Galileia o dia durava apenas até o crepúsculo; passando dali já come- çava um novo dia, tanto que, poucos minutos após o crepúsculo, já se falava no dia de “ontem”. Igualmente, começava a ronda noturna para o dia seguinte. Uma ronda perfazia o espaço de três horas de nossa época atual, uma hora diurna no verão representava duas atu- ais e no inverno não chegava a uma; pois o dia solar devia sempre ter doze horas, independentemente da duração do dia. Se, portanto, consta que o régulo fez a trajetória de Capernaum a Caná em uma hora, isto hoje quer dizer que levou duas. — Esta explicação é tanto

mais necessária quanto haverá muitas coisas não bem compreendi- das neste Evangelho, pela maneira por que o tempo era considerado na contagem daquela época.

91. Diretrizes do Senhor a João e Matheus. Explicação sobre a divergência existente entre os dois Evangelhos. Por todos os tempos o Senhor efetuou esclarecimentos sobre sua Doutrina. Seu Testemunho a respeito da Atual Revelação. (João 4, 54)

54.JESUSFEZESTESEGUNDOMILAGREQUANDOIADAJUDEIAPARAA GALILEIA.

  1. No dia seguinte Eu digo a João, em Caná, que anote também este milagre, conforme tinha anotado o das bodas. João fá-lo em poucas palavras e oito versos, como consta do Evangelho.

  2. Matheus, entretanto, quer saber se também ele deve anotar este fato e Eu lhe digo: “Deixa isto, amanhã poderás anotar os fa- tos que se derem em Capernaum. Porém, acrescenta ao Sermão da Montanha a cura do lázaro em Sichar, por ocasião da nossa descida do monte.”

  3. Diz Matheus: “Senhor, sei que em Sichar curaste dois lepro- sos; a qual deles devo considerar?”

  4. Digo Eu: “Apenas aquele que mandei apresentar-se a Jonael. Quem não acreditar com uma prova, não o fará com cem! Por isto, menciona apenas aquela de que falei!”

  5. Diz Matheus: “Já sei, Senhor, e farei o que Tu ordenas inician- do um novo capítulo, pois o Sermão já havia sido dividido em três.”

  6. Digo Eu: “Por enquanto, esta classificação está bem; mas, quando Eu for Elevado desta terra para o Reino Eterno, terás de escrever mais quatro capítulos precedentes. Por isto, já podes marcar os três capítulos do Sermão com os números V, VI e VII, e o novo que irás escrever será o VIII.”

  7. Matheus organiza tudo conforme Eu havia dito, tanto que se vê o Sermão da Montanha no quinto capítulo, embora fosse o primeiro que havia escrito.

  1. Para maior clareza é necessária esta explicação, pois ambos os Evangelhos foram escritos sob Minha Direção e, como fossem apa- rentemente desiguais, torna-se indispensável harmonizá-los. Pois, muitas vezes, acontecia que conhecedores dos milagres se pergunta- vam: Como pode Matheus dizer isto e João aquilo, quando se trata do mesmo fato?

  2. Foi este motivo que provocou muitos erros e, às vezes, até a completa negação da Minha Doutrina, conforme consta nos Evangelhos.

  3. Poder-se-ia perguntar por que Eu não dava os esclarecimen- tos necessários.

  4. Digo: NuncasepassouumséculoemqueEunãoesco-lhesse e despertasse criaturas a fim de trazer à Humanidade asexplicaçõesimprescindíveis!Estas criaturas cumpriram sua missão e completaram historicamente os documentos, os quais, pela negli- gência e má vontade de diversos escribas, perderam-se. Mas poucos foram os que aceitaram estas explicações.

  5. As igrejas que pouco a pouco se formaram rejeitavam e de- nominavam estes fatos como heresias e obras do diabo, pois não lhes traziam proveito material!

  6. Os sábios e intelectuais declaravam estas aparições como imaginações e fantasias de algum ignorante que também queria ser algo sem ter procurado angariar conhecimentos pelos estudos e a devida estruturação mental.

  7. Na cidade ou vila em que tal profeta vivesse e agisse, absolu- tamente teria mérito, pois, pela compreensão comum das criaturas, um profeta não deveria habitar na terra, nem ter um corpo físico, tampouco alimentar-se e vestir-se como criatura normal; deveria, no mínimo, movimentar-se como Elias, num carro de fogo, e somente transmitir às criaturas aquilo que elas almejassem ouvir! Este, sim, seria um profeta verdadeiro, mormente se nestes passeios aéreos dis- tribuísse moedas de ouro e prata entre os ricos e de cobre entre os pobres, elogiando os primeiros e castigando severamente a plebe, particularmente quando se revoltasse contra os potentados.

  1. Mas, se o profeta fosse um homem como outro qualquer, comendo e bebendo e, talvez ainda, tendo uma profissão, jamais seria reconhecido como tal. Infalivelmente seria declarado um doido ou hipócrita e ninguém lhe daria crédito em sua pátria.

  2. Por isto, EucompleteiasfalhasdaDoutrinaduranteestesquasedoismilanos!Mas quem o aceitou? Digo-vos: Muito poucos, e estes nem sempre com bastante seriedade! Bem que aceitaram os co- nhecimentos, mas viver dentro deles e convencer-se de que o homem se destina, por Mim, a transmitir a luz verdadeira dos Céus àqueles que se encontram nas trevas, jamais tinha sido seu objetivo.

  3. Um havia comprado uma junta de bois e se via obrigado a adestrá-los para lavrarem a terra; portanto, não tinha tempo. Outro estava ocupado com a lavoura e também não achava ocasião. Um terceiro casara-se e ainda tinha menos tempo que os outros. Assim, cada qual tinha um pretexto, e mais uma vez a nova luz dos Céus iluminava em vão durante um século inteiro um cantinho qualquer desta terra! Se no vindouro Eu enviar uma nova luz para iluminar os Evangelhos, dar-se-á o mesmo fato.

  4. Se estas experiências são inegáveis, resta saber se a culpa é Minha quando existem as mesmas lacunas de mil anos atrás, pro- vocando o aparecimento dos muitos céticos e condenadores de Mi- nha Doutrina.

  5. Eis a razão por que agora transmito a LUZ COMPLETA , para que ninguém venha a se desculpar numa argumentação errônea de que Eu, desde Minha Presença Física nesta terra, não Me tivesse preocupado com a Pureza e Integridade de Minha Doutrina e de seus aceitadores!

  6. Quando voltar novamente, farei uma grande seleção e não aceitarei quem vier se desculpar, pois todos que procurarem com seriedade acharão a verdade! Os cordeiros e burros doentes que se encontrarem na manjedoura receberão um remédio que os fará ávi- dos do alimento dos Céus. Mas, como convalescentes, serão alimen- tados por muito tempo com doses homeopáticas. — Agora, retor- nemos ao Evangelho.

92. O Senhor e Matheus. Uma ordem justa sempre é boa e útil. Alguns exemplos: A limpeza, a organização de pedras no campo. A Onisciência Divina. Como as criaturas são guiadas pelo seu anjo protetor. Deus é Amor. A revelação entre Deus, como Amor Puro, e a criatura. Advertência na partida para Capernaum.

  1. No dia seguinte, Matheus mostra as diversas cópias que tinha concluído e Eu o elogio, pois estava tudo anotado em poucas pala- vras. Depois de ter embrulhado o seu material de escrivão, ele vem novamente a Mim e pergunta o que iria necessitar em Capernaum, pois só tinha quatro quadros disponíveis para este fim. Se fosse pre- ciso mais, teria que desembrulhar novamente o pacote.

  2. Eu digo: “Bastam estes quatro. Tenho, porém, de chamar-te a atenção para um lapso de pouca importância; já que tudo deve ser feito dentro de uma certa ordem, não agiste bem embrulhando tudo e depois Me perguntando o que irás precisar. Se tivesse dito que pre- cisarias de cinco quadros, ver-te-ias obrigado a abrir teu embrulho, o que daria muito trabalho. Mas, como recebeste por Mim a intuição, deixaste a quantidade certa do lado de fora. O benefício da ordem, mesmo nas pequenas coisas, é de grande proveito.

  3. Se, por acaso, alguém quiser lavar o rosto, sem ter primeiro lavado as mãos, jamais o tornará limpo.

  4. Outro exemplo: Um homem possui um campo coberto de pedras e, querendo limpá-lo, separa-as de acordo com seu tamanho, organizando dez montões de pedras diversas.

  5. Os vizinhos se riem dele e acham que esteja perdendo seu tempo com esta brincadeira.

  6. Acontece porém que, pouco depois, um construtor passa por esta estrada à procura de pedras. Deparando com os dez montões, procura o dono e as compra por quatro talentos. Quando os vi- zinhos veem isto, dirigem-se ao construtor e oferecem por pouco dinheiro as que também cobriam os seus terrenos. O construtor, entretanto, diz: ‘Teria de arrumar primeiro as vossas pedras, o que me daria muito trabalho e perda de tempo. Por isto, prefiro pagar mais por estas que já estão arrumadas.’

  1. Portanto, tende sempre tudo em boa ordem, pois não sabeis o benefício que vos espera. Compreendes isto?”

  2. Diz Matheus: “Senhor, como não! Apenas de uma coisa de- sejava explicação: Como podes saber que irei necessitar somente de quatro quadros em Capernaum, pois a Onisciência Divina é para mim um enigma?

  3. Às vezes sabes de tudo sem perguntar e organizas Teus Ca- minhos. Outras vezes, perguntas como nós e dás a impressão de não saber o que se passa! Como é possível? Senhor, peço-Te que me dês uma pequena orientação sobre isto!”

  4. Digo Eu: “Amigo, bem que Eu quisera, mas não Me pode- rias compreender. Em breve, porém, compreenderás e assimilarás estes segredos.

  5. De antemão posso dizer-te que, se estiver na Vontade de Deus, Ele saberá o que se passa no homem, considerando o seu livre arbítrio. Mas, se não o quiser saber, a fim de que o homem aja livre- mente, Ele não o saberá! Compreendes isto?”

  6. Diz Matheus: “Se for assim, a vida humana torna-se uma coisa perigosa! Quem não conhece os múltiplos inimigos que se an- tepõem ao homem, provocando sua queda? Se não tomares conhe- cimento disto, como se fará a salvação da criatura?”

  7. Digo Eu: “Não tão difícil como julgas! Porque, primeira- mente, cada um viverá de acordo com sua fé e suas tendências. Além disso, ele poderá sempre, quando em perigo, dirigir-se a Deus pe- dindo proteção, e o Pai o ajudará em suas dificuldades!

  8. Além do mais, toda criatura tem um espírito protetor com a incumbência de conduzi-la desde o nascimento até à morte. Este protetor atua sobre a consciência do homem e só se afasta, pouco a pouco, quando este se deixa levar pelo amor-próprio e abandona toda a fé e amor para com o próximo.

  9. Por aí vês que o homem desta terra não é tão abandonado como julgas; pois depende unicamente dele mesmo ser vigiado e guiado por Deus! A vontade do homem prevalece em tudo, e se ele se afasta de Deus, o Pai não mais Se preocupa com ele, a não

ser naquilo que lhe é destinado como ser criado e que se relaciona à condição de sua vida física. Fora disto, Deus não se envolve com a criatura, respeitando o seu livre arbítrio! Só quando uma pessoa procurar a Deus pela livre vontade de seu coração e Lhe pedir ajuda Deus atenderá, uma vez que peça com sinceridade!

  1. Mas, se o fizer apenas para verificar se Deus existe e se Ele vai lhe atender, jamais será considerado pelo Pai! Pois Ele é em Si o Amor Puro e só mostra o Seu Semblante àqueles que O procuram pelo amor desinteressado e divino, desejando conhecê-Lo como seu Criador e ser protegido e guiado por Ele.

  2. Sobre estes, Deus sempre está orientado e Ele Mesmo os ensina e guia em todos os caminhos. Dos outros, que não querem saber Dele, Ele não toma conhecimento.

  3. Quando um dia, no Além, forem levados à Sua Presença e exclamarem: ‘Senhor, Senhor!’ Deus lhes responderá: ‘Afastai-vos de Mim, que não vos conheço!’ Estas almas terão que sofrer e lutar muito, até que possam aproximar-se de Deus. Compreendes isto?”

  4. Diz Matheus: “Sim, Senhor, entendo tudo clara e perfeita- mente. Mas não poderia anotar este ensinamento maravilhoso, que deveria estimular os homens a procurar incessantemente a Deus e pedir-Lhe que os conduza aos caminhos certos?”

  5. Digo Eu: “Não, Meu caro amigo, pois este ensinamento quase ninguém poderá assimilar em sua verdadeira e viva plenitude! Por isto, não precisas anotá-lo, a não ser que o queiras fazer mais tarde para teu uso e o de uns poucos irmãos.

  6. Agora vamos, já que estais preparados para a jornada. Quem quiser, que nos siga; quem desejar ficar, que fique! Eu irei para Ca- pernaum, onde há muita miséria, bem como nas pequenas cidades que circundam o mar da Galileia.”

93. O Senhor e o hospedeiro Koban em Caná. O livre arbítrio. Exemplo da obra de arte. “Quem tem, a este será dado!” A verdadeira vida vem do coração. O peregrino viaja melhor livre de bagagem.

  1. Mal iniciamos o nosso caminho, o hospedeiro se aproxima novamente e pede que Eu fique esta noite com ele.

  2. Eu respondo: “Em breve voltarei; porque, antes de ir à próxi- ma festa em Jerusalém, preciso passar por Nazareth e Me hospeda- rei, tanto na ida como na volta, em tua casa.”

  3. Diz o hospedeiro: “Senhor, isto será a minha maior felicida- de! Mas, já que não podes permanecer mais aqui, permite que Te acompanhe!”

  4. Digo Eu: “Isto depende unicamente de ti, pois de Minha Parte ninguém será obrigado! Quem quiser aceitar-Me, que o faça e quem quiser seguir-Me e a Minha Doutrina, que siga! Pois Eu e o Meu Reino somos livres e queremos ser conquistados com toda a liberdade!

  5. Para Mim só tem valor o livre arbítrio; fora disto nada vale, nem para Mim nem para o Meu Reino!

  6. Pois todo e qualquer ato coercivo, que não tenha origem no coração, é algo estranho dentro da criatura e, de acordo com Minha Ordem Imutável, não tem valor algum para sua vida.

  7. O que adiantaria se alegasses que uma obra artística feita por outrem tenha sido realizada por tuas mãos? Se viesse alguém e te oferecesse uma grande soma para que fizesses obra idêntica, serias apontado como impostor.

  8. Do mesmo modo, a perfeição da vida espiritual está nas mãos de cada criatura.

  9. Aquilo que, no dia da grande prova da vida de cada alma, for reconhecido como heterogêneo a ela aos Olhos do Pai, não terá va- lor e lhe será tirado, conforme consta: ‘Quem tem, a este será dado muito; daquele, que não tem de si próprio, será tirado o que tem, pois não é dele!’

  1. Eu te digo, não é necessário que Me sigas, mas, se o queres fazer por ti mesmo, por Meu Amor, não terás prejuízo; ao contrário, lucrarás muito! Pois quem agir por verdadeiro amor a Mim será re- compensado aqui e no Além!”

  2. Diz o hospedeiro: “Se assim é, irei na certa Contigo; pois meu coração me ordena e eu obedecerei a ele!”

  3. Digo Eu: “Bem, faze-o e viverás pelo coração, onde está a vida verdadeira, pois que qualquer outra será a morte da própria vi- da do homem! Eu, como Único Senhor de Toda Vida, digo-te isto!”

  4. O hospedeiro fica todo satisfeito, pega de sua mochila e algum dinheiro e está pronto para a viagem.

  5. Eu, porém, lhe digo: “Liberta-te de tudo isto e andarás mais lépido, pois os ladrões só atacam aqueles que carregam bens. Se nada tiveres, nada te poderão tirar!”

  6. O hospedeiro entrega o dinheiro e a mochila à sua mulher e Me segue.

94. O dinheiro. Objeção lógica de Judas Iscariotes a respeito da preocupação mundana. O maior tesouro é a confiança em Deus. Por que Moysés não alcançou a Terra Prometida. O testemunho do Senhor. Praga e perigo do dinheiro por todos os tempos. O fogo libertador do Céu. Discurso atrevido de Judas sobre o dinheiro. Uma resposta severa. “O que se ama se defende.”

  1. Judas, que se encontrava perto, diz: “Eu acho que um pouco de dinheiro a ninguém prejudica durante uma viagem.”

  2. Eu, porém, digo: “Quem Me conhece como este hospedeiro, que esteve em Minha Companhia em Sichar, sabe que se passa mui- to bem Comigo, mesmo sem dinheiro. Olha, a Minha Roupa não tem bolso e muito menos dinheiro; entretanto, conduzi centenas de pessoas da Judeia e Samaria até aqui! Pergunta-lhes quanto lhes custou esta viagem!

  3. Digo mais, que saciarei milhares de pessoas sem ter mais di- nheiro que neste momento.

  4. Eu te digo: com os tesouros da terra poderás manter por cer- to tempo corpo e alma, mas uma confiança absoluta no Pai vale

mais que tudo isto! Como salvarás a tua alma se a puseres a perder com as riquezas desta terra?”

  1. Diz Judas: “Sim, sim, tens razão, mas, para certas coisas, o dinheiro se torna indispensável!”

  2. Digo Eu: “Quanto dinheiro possuía Moysés quando condu- ziu os Israelitas?” — Responde Judas: “Tinha grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas.”

  3. Digo Eu: “Sim, mas também foi esta a causa que impediu que chegasse à Terra Abençoada! Podes compreender isto?”

  4. Diz Judas: “Sou de opinião que não foram tanto estes bens materiais, que Moysés levou do Egito por ordem de Jehovah, culpa- dos deste impedimento, e sim o fato de que ele, num momento de fraqueza, duvidou da Fidelidade de Jehovah!”

  5. Digo Eu: “E qual foi o motivo dele ter tido esse momento de fraqueza? Eu te digo, fui Eu quem deixou que Moysés tivesse essa fraqueza, justamente pelos seus pensamentos ávidos pelo ouro e pra- ta! Existe uma explicação alegórica sobre isto, entretanto foi assim, como acabo de te revelar!”

  6. Diz Judas: “Bem, aceito que assim tenha sido! Mas o di- nheiro é, atualmente, um meio de compensação, instituído pelo Rei de Roma, a fim de facilitar as necessárias transações entre os homens, e por isto somos obrigados a fazer uso dele; acho que, não sendo pecado depositar um óbolo no Templo, tampouco será dá-lo a um pobre para que se alimente por alguns dias. Assim sendo, teria sido aconselhável ao hospedeiro Koban levar consigo seus talentos.”

  7. Digo Eu: “Sei que andas com um bolso bem provido, en- tretanto não deste nem um óbolo aos três pobres que te abordaram ontem. Por aí vês que tu mesmo não fazes o uso louvável do dinhei- ro, que há pouco externaste.

  8. Quanto ao depositado no Templo, afirmo-te que é uma abominação devastadora, não tanto para os pobres de espírito que julgam com isto garantir o Céu para si, mas para aqueles que tiram este dinheiro à noite para gastá-lo com mulheres! Enquanto não o houve, também não houve meretrizes! Mas, com o aparecimento do

dinheiro, eis que elas surgiram em quantidade em Jerusalém e nou- tras cidades, e os homens pecam dia e noite! Quando as nacionais não mais agradam aos ricos, eles mandam comprar moças em outros países e praticam toda sorte de depravação. Isto e mais outras coisas são as consequências do dinheiro, tão elogiado por ti!

  1. Entretanto, isso é apenas o começo da maldição que paira sobre o dinheiro.

  2. Virão tempos piores que os que precederam a construção da arca de Noé, e os homens terão de agradecer sua miséria ao dinheiro, e apenas o fogo do Céu, que destruirá os detritos do inferno, poderá salvar as criaturas da perdição!”

  3. Diz Judas: “Sim, Tu és um profeta nos plus ultra e podes saber disso tudo. Mas o dinheiro bem empregado não terá justificativa?”

  4. Digo Eu: “Sim, quando bem aplicado, como tudo que exis- te na terra; mas a grande diferença nota-se ao precisares carregar utensílios ou gêneros para trocares por outros objetos necessários. Não deixa de ser incômodo — mas ao mesmo tempo dificulta seres seduzido pelo pecado! Pois, se tu, como oleiro, fores levando pane- las e tigelas dentro de uma cidade e procurares uma meretriz a fim de pecar com ela em troca de algumas panelas, ela se rirá de ti e tu ficarás isento do pecado! Mas, se tiveres moedas em ouro e prata, ela não zombará de ti, e sim satisfará teus desejos! Tanto que o dinheiro é coisa muito cômoda, porém uma grande atração para o mal!

  5. Esta foi a razão por que Satanás trouxe o dinheiro ao mun- do, pois sabia que era um meio fácil para levar a criatura à queda! Talvez não saibas que a ocasião faz o ladrão?”

  6. Diz Judas: “Sim, é justo! Porém, muita coisa deveria ser modificada nos homens para evitar que os ladrões achassem moti- vos de tentação! Em primeiro lugar, as criaturas deveriam ser todas igualmente pobres; em segundo, uma parecida com a outra; e, em terceiro, ninguém deveria ser mais inteligente que o próximo! Mas, enquanto isto não se der, todo ensinamento, milagre e sermão serão inúteis! Haverá os que se modificarão; mas a maior parte continu- ará como é ou talvez pior. Toda criatura possui um certo grau de

amor-próprio e almeja um conforto relativo; por isto, todos pensam primeiro em si e depois nos outros! E não podem ser condenados por este motivo! Nem todos conseguem casa própria, a não ser que Deus proporcione u’a morada para todas as crianças recém-nascidas. Como isto não se dá e todo primogênito já possui o que deseja, não resta senão adquirir vários conhecimentos e, com estes, tornar-se in- dispensável aos proprietários ociosos, ou então dedicar-se ao roubo para não cair na miséria dos mendigos. Se, na boa execução de seu emprego, a pessoa consegue juntar algum dinheiro para sua velhice, não vejo por que isto deva ser algo prejudicial àqueles que nascem sem posses. Lembro que foi Deus Mesmo que levou os governadores a inventar o dinheiro, pelo qual também os filhos dos que não têm bens possam ter u’a manutenção necessária, muitas vezes melhor que aquela representada em propriedades. Penso que Deus não há de querer que esses Seus Filhos morram na miséria! Pois não têm culpa de terem nascido com as mesmas necessidades dos outros!

  1. Como maior profeta que és, aceito tudo que ensinaste e ainda ensinarás; entretanto, não estou de acordo com o defeito do dinheiro, conforme declaraste. Neste caso, tudo nos poderia pre- judicar! Eu seria hoje o homem mais rico de Israel se possuísse os cordeiros, gado, burros, galinhas, pombos, frutos e pães que foram furtados em nosso país desde David! E a prostituição já era comum em Sodoma e Gomorra, quando ainda não havia dinheiro!

  2. Não quero afirmar que Tua Opinião seja errada; mas onde existe algo nesta terra que não seja mal aplicado? Se Deus não o con- dena, por que haveria de enraivecer-se tanto por causa do dinheiro?”

  3. Digo Eu: “O que se ama, também se elogia; tu adoras o dinheiro, portanto sabes defendê-lo! Não falarei mais a respeito, pois em breve ainda conhecerás sua praga! — Agora, basta! Continuemos o caminho para Capernaum, pois devemos chegar lá antes da noite, para procurar um albergue!”

95. Thomaz e Judas. A natureza de Judas e a predição de Thomaz. Palavras injuriosas de Judas.

  1. Nisso Thomaz se aproxima de Judas e o repreende por Me ter molestado com suas ideias monetárias, porquanto Eu era Jehovah em Espírito e Verdade e executava milagres somente possíveis a Deus.

  2. Diz-lhe Judas: “Continuas tão bobo como sempre foste, ou acreditando em contos de fada ou em nada acreditando! Não pensas, nem calculas! Quando levavas os peixes ao mercado, vendias tanto os grandes como os pequenos pelo mesmo preço, e os compradores se riam de ti! Por aí podes calcular o grau de tua inteligência!

  3. Eu me encontro apenas há poucas horas na presença deste grande profeta e considero um dever sagrado analisá-Lo como Se apresenta! Tu já O acompanhas há meio ano, portanto deves conhe- cê-Lo melhor! Achas, então, que não deva esforçar-me nisto?”

  4. Diz Thomaz: “Não me venhas dizer que desejas voltar ama- nhã para casa e, por isto, queres indagar tudo hoje. Ainda bem que o Senhor continuou a andar, senão a discussão sobre o dinheiro te- ria se prolongado até amanhã! Ele tem razão! O maldito dinheiro dar-te-á a morte, pois vês tanta grandiosidade nele! Ele te mostrou claramente o valor da moeda e como serve para prejudicar a criatu- ra; mas tu és mais sábio que Deus e, por isto, podes coroar-te em presença Dele! Cuidado, porém, que não venhas a sufocar-te com tanta sabedoria!

  5. Além disso, que tens a ver com minha venda de peixe? Em primeiro lugar, sempre vendi todos os meus peixes, ao passo que, com tua inteligência, tinhas de levar de volta a metade. Eu vendia os grandes como os pequenos, dez por vinte moedas, e poderia ter vendido cinco vezes mais, se os tivesse! Penso que o meu cálculo deu mais resultado que o teu, que te julgas muito sábio e nada mais és que um avarento à procura de salvação no dinheiro! Realmente, esta sabedoria não me interessa!”

  6. Diz Judas, um tanto perplexo: “Cada um fala como enten- de!” — Diz Thomaz: “É claro, tu entendes o assunto de acordo com

tua burrice e falas dentro dela! É preferível que consideres aquele mendigo ali na estrada! Dá-lhe tua bolsa e terás agido sabiamente, pela primeira vez em tua vida!”

  1. Diz Judas: “Isto, nunca! Pois não me lembro de alguém que me tivesse dado algo no verdadeiro sentido da palavra; portanto, eu também não o farei!”

  2. Diz Thomaz: “Que preceito louvável! Já merece ser maldito de antemão! Digo-te, com ideias semelhantes não terás êxito junto ao nosso Salvador e Mestre! Isto te garanto! Ele é a Generosidade em Pessoa — e tu, um avarento incorrigível! Que boa combinação!”

  3. Diz Judas: “Se conseguir modificá-Lo, de modo que reco- nheça como se deve viver para ser um homem benquisto, facilmente restringirá Sua Generosidade! Além do mais, é muito fácil a pessoa ser generosa às custas dos que possuem algo e preparam boas re- feições para Seus adeptos! Olhe, se eu encontrar bobos iguais ao hospedeiro, também serei generoso! Mas este Jesus, que de nascença é paupérrimo, deveria alimentar Seus múltiplos discípulos com Seus Próprios Meios! Então teríamos a prova de Sua Generosidade, assis- tindo como prescindiria de todos.”

  4. Diz Thomaz: “Digo-te apenas que és inteiramente do diabo, pois, da maneira como falas, somente o diabo falará! Aparentemente dizes algo dentro da lógica, mas isto é um engano e tua dissertação nada mais é que u’a mentira infame. Arrependo-me de ter te con- duzido até aqui! Em Sichar centenas de pessoas foram alimentadas pelos Céus, e a casa de Irhael, Ele a reconstruiu em poucos minutos, de modo que se tornou a casa mais rica da cidade! E tu, que és ilimi- tadamente tolo, queres provar a mim, que vi com estes meus olhos o Céu aberto e uma imensidade de anjos descerem e subirem, que Jesus é um pobre coitado, que sabe fazer um bom passa-dia por con- ta dos outros?! Infeliz que és! Ele, a Quem pertencem Céu e terra, pois os criou pela Sua Onipotência, necessitaria da minha ou da tua fortuna a fim de poder viver aqui, onde fez germinar e amadurecer os frutos? Infeliz, repito! Vai a Sichar, certifica-te de tudo e depois veremos se ainda podes falar tão tolamente!”

  1. Judas profere um palavrão e diz, lacônico: “Por acaso vis- te tudo aquilo com teus próprios olhos? Ou pediste emprestado alguns olhos de burro, para que te fosse possível fiscalizar tanta coisa extraordinária? Além disso, fico feliz em saber que este sábio nazareno travou relações com a bela Irhael, a qual, como me con- taram, vive com o sexto marido, pois os outros cinco ela conseguiu matar! Neste lar, na presença dessa beldade, acredito que os céus estivessem abertos! Sim, sim, Irhael já despachou alguns para o céu! Por que faria ela uma exceção convosco? Mas eu não irei a Sichar por causa dela; considero a lei de Moysés e não me vejo inclinado a pecar!”

96. O Senhor acalma Thomaz, irritado, e o induz ao perdão a fim de se libertar de sua raiva. Thomaz conta a discussão de Judas com João Baptista e de sua pretensão espiritual. Advertência do Senhor sobre Judas. Chegada a Capernaum.

  1. A estas palavras maliciosas de Judas, Thomaz quase explode e quer se atracar com ele. Eu, porém, aproximo-Me de Thomaz, já perto de Capernaum, e digo: “Meu irmão, enquanto Me vês calmo e sereno, faze o mesmo; se um dia Me vires bater, então deverás também bater com todas as tuas forças! Mas agora isto não é preciso! As trevas sempre foram trevas e Judas será sempre Judas! Não está condenado a isto como a treva, que é a sombra natural da terra; mas, se quiser continuar o que é, será da vontade dele. O futuro mostrará até que ponto o levará seu espírito!”

  2. Diz Thomaz: “Mas talvez fosse possível afastá-lo de Ti, senão haverá muito barulho! Pois sua boca é imunda e má!”

  3. Digo Eu: “Não o chamei e não o mandarei embora, mas, se quiser ir, não choraremos! Tu, porém, afasta-te dele, pois não com- binais! Perdoa-lhe, porém, tudo, como Eu o faço, e terás um cora- ção livre!”

  4. Diz Thomaz: “Quanto a isto, já o perdoei; nunca tive raiva dele, embora reconhecesse que é difícil de se tratar — pois até com

o profeta João Baptista teve suas discussões! Mas confesso que ficaria contente se não fizesse parte do nosso grupo!

  1. Quando estive em casa anteontem, contei naturalmente muita coisa aos meus conhecidos, que ficaram admiradíssimos com os Teus Milagres! Entre eles se encontrava Judas, que foi um dos primeiros a se decidir em se tornar Teu discípulo. Pois a Doutrina de João não lhe satisfizera, clamando somente pela penitência e adver- tindo os renitentes dos castigos que deveriam aguardar, motivo por que sempre havia discussões entre eles.

  2. Judas declarou abertamente a João Baptista que a penitência externa, conforme manda o sectarismo, era a maior idiotice na vida do homem. Deveria modificar-se em suas ações e tendências, e não botar cinzas em sua cabeça!

  3. Não que João Baptista tivesse recomendado isto num ato ex- terno, mas sim como quadro alegórico, querendo apontar o meio da criatura abster-se do pecado. Judas, todavia, não quis aceitar esta explicação da possibilidade de ensinar a Humanidade por meio de quadros e parábolas, pois, em assunto tão importante como a salva- ção das almas, era preciso falar com a máxima clareza!

  4. Aos olhos de Judas os profetas são meros idiotas, pois deixam margem à criatura de interpretar seus ensinamentos conforme quer. Portanto, são eles que levam à perdição os sacerdotes, reis e povo! Para encurtar, todos são idiotas quando não pensam como Judas, e eu acho que sua companhia não será um lucro para nós!”

  5. Digo Eu: “Meu querido Thomaz, o que dizes Eu já sabia há muito tempo; entretanto, afirmo que se ele quiser ir, que vá; caso contrário, fique! Sei de muita coisa mais a seu respeito, e até mesmo

o que fará a Mim! Não obstante, poderá ficar se quiser. Pois sua alma é um diabo e quer aprender de Deus a Sabedoria, mas esta intenção trará um prejuízo grave para ela! Agora, basta! Em breve, teremos oportunidade de pô-lo num aperto! Ainda bem que chegamos às portas de Capernaum, pois vejo um centurião que se nos dirige em companhia do comandante Cornélius e do régulo. Certamente ha- verá um doente para curar!”

97. Cena com o centurião de Capernaum. Cura do servo doente pelo pedido cheio de fé do seu patrão. “Quem tiver fé e amor será bem-aventurado — seja pagão ou judeu!” Efeito diverso do milagre em Capernaum. (Matheus 8, 5–13)

  1. Agora, Matheus passa a anotar a História até o momento em que Me dirijo novamente a uma festa em Jerusalém.

  2. Encaminhamo-nos calmamente até a fronteira da cidade, quando um centurião se dirige a Mim e diz: “Senhor, meu servo jaz em casa e tem muitas dores!” (Math. 8, 6)

  3. Digo Eu: “Irei e lhe darei a saúde!” (Math. 8, 7)

  4. Diz o centurião: “Senhor, não sou digno de que entres de- baixo do meu teto, mas dize somente uma palavra e o meu servo há de sarar (Math. 8, 8). Pois também eu sou homem sujeito ao poder, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu criado: ‘Faze isto!’, e ele o faz (Math. 8, 9).

  5. A ti todos os espíritos obedecem e és Senhor em toda a Ple- nitude, sobre todas as coisas que existem no Céu e na terra; basta acenares às forças invisíveis para nós, e elas executarão imediatamen- te Tua Vontade!”

  6. O pedido externado pelo centurião a respeito de seu servo, de maneira tão confiante, tem sua razão na cura rápida do filho do régulo, bem como nos muitos fatos narrados pelo comandante, de que Eu também podia curar à distância, apenas pela palavra. Por isto Me procura, quando sabe que Me encontrava perto da cidade.

  7. Depois de ouvir suas palavras tão confiantes, mostro-me sur- preendido, não por Mim, mas por causa dos discípulos, e falo aos que Me rodeiam: “Em verdade vos digo, nem em Israel encontrei tanta fé! (Math. 8, 10). Mas afirmo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraham, Isaac e Jacob no Reino dos Céus (Math. 8, 11) e os filhos do Reino serão lança- dos nas trevas exteriores, onde haverá clamor e ranger de dentes!” (Math. 8, 12)

  1. Após este preâmbulo, muitos batem no peito e dizem: “Se- nhor, então desdenharás os Filhos do Reino do Céu e aceitarás em lugar deles os pagãos?”

  2. E Eu digo: “Tampouco os Filhos do Reino do Céu como os pagãos! Pois quem tem fé e amor será aceito, seja judeu, grego ou romano!”

  3. Depois disto, viro-Me para o centurião e lhe digo: “Vai, e como creste te seja feito!” E naquela mesma hora o seu criado sarou (Math. 8, 13).

  4. O centurião Me agradece com sinceridade, vai para casa e vê que se tinha dado o que ele acreditara, pois o servo ficou são no momento em que Eu dissera: “Far-se-á conforme acreditaste!”

  5. Este milagre em Capernaum e o que se deu com o filho do ré- gulo causaram grande alarido, principalmente entre os romanos e gre- gos que se encontravam nesta cidade. Entre os judeus, sacerdotes e es- cribas nela estabelecidos, provocou apenas aborrecimentos, ira e raiva.

98. Astúcia inteligente do povo contra o sacerdócio judaico: Deseja que este também cure os doentes, apenas pela Graça Divina. Escusa esperta dos sacerdotes. Resposta ameaçadora do povo e bom testemunho de Jesus.

  1. O povo simples, embora tivesse visto os milagres, temia a casta do Templo, de modo que receava aceitar e seguir a Minha Doutrina, forjando a seguinte astúcia: Buscara diversos doentes e os levara para perto dos sacerdotes, dizendo: “Escutai, sábios escribas e fariseus, que sois iniciados em todos os segredos de Deus, de acordo com o vosso testemunho! O homem Jesus de Nazareth faz grandes milagres, como nunca foram vistos, e sua Doutrina é qual pura tor- rente de fogo, que aniquila ou leva de roldão tudo que se lhe opõe! Cura todas as doenças e ressuscita os mortos apenas pela palavra, como se fora Deus!

  2. Inteirando-nos desta verdade, tivemos a boa ideia de consi- derar vosso poder milagroso e pensamos o seguinte: ‘Por que esta grande admiração? Pois não temos sacerdotes e escribas, iniciados

em segredos que lhes facilitarão fazer o que fez este Jesus?’ Já era nossa intenção levar a ele os nossos doentes; mas lembramo-nos da circuncisão e da Arca, das quais não queremos desistir, enquanto nos dão o necessário, tanto física como espiritualmente. Mas, agora, corremos perigo se não enfrentarmos este Jesus com o mesmo poder!

  1. Por isto, trouxemos vários enfermos, cujos estados não são graves, até cá e vos pedimos, pela vossa e nossa salvação, a cura dos mesmos, pelo poder vosso da simples palavra!

  2. Então iremos com os curados pelas ruas da cidade, anuncian- do em alta voz a honra de Deus e a vossa glória! O nazareno perderá o seu prestígio e se verá obrigado a mudar de rumo!”

  3. Os sacerdotes, cônscios de sua incapacidade, procuram iludir o povo com as seguintes palavras: “Tolos, como exigis de nós o que só compete a Deus? Quando teria um sacerdote ou escriba realizado milagres? Isto só é possível a Deus e ao Sumo Pontífice no Templo de Jerusalém, quando penetra no Santíssimo! Portanto, levai vossos doentes até lá, onde obterão, de acordo com a oferenda que ides fazer, a cura, se Deus assim o quiser! Em caso contrário, tereis de conduzi-los de volta!

  4. Nós somos bem informados em diversos segredos de Deus, mas não no Poder Divino, que é Santíssimo e que jamais um mor- tal percebeu!

  5. Mas quem realiza milagres pela magia ou com ajuda do dia- bo, como o faz este Jesus, é um monstro do inferno, lugar condena- do por toda a Eternidade. E quem se dedicar à sua doutrina e a seus milagres é, perante Deus e Seus anjos, um verdadeiro diabo! Esta é a verdade pura; ai de vós se fordes procurar este nazareno e aceitar sua ajuda!”

  6. Dizem os outros: “Sois em tudo mentirosos! Como poderia ser um diabo aquele que só faz o bem às criaturas, ensinando ape- nas o amor, a indulgência e a paciência, praticando tudo isto na perfeição?!

  7. Vós sois do diabo, se falardes isto dele; enquanto ele é de Deus, pois executa a Sua Vontade!

  1. Chamastes-nos de tolos quando exigimos aquilo que cos- tumais afirmar, sempre quando possível: que tendes este poder pela prece e pela Palavra Divina! Mas, quando se trata de demonstrar a veracidade daquilo que dizeis, nos classificais de tolos! Esperai, malditos servos de Satanás, iluminar-vos-emos de tal maneira que morrereis por esta luz!”

99. Ódio e gênio vingativo dos sacerdotes contra o Senhor. O Senhor na choupana de Pedro. O Mar Galileu, lugar predileto de Jesus. Cura milagrosa da nora de Pedro. (Matheus 8, 14–15)

  1. Quando os sacerdotes e escribas ouvem estas palavras, reti- ram-se; pois os outros, ao todo umas cem pessoas, falaram com toda a seriedade e desde muito tempo vinham observando que súcia ve- nenosa representava a casta do Templo!

  2. Este foi o motivo por que o sacerdócio judaico começou a observar-Me e conjecturar entre eles um modo possível de Me aniquilar.

  3. Toda esta trama chegou aos Meus Ouvidos por intermédio do comandante, em cuja casa encontrava-Me por alguns dias.

  4. Então, disse Eu: “Conseguirão o seu fito maldoso, mas não agora! A fim de não lhes dar oportunidade de porem em prática sua vingança, procurarei uma outra cidade e, mais tarde, quando o ódio deles se tiver abrandado, voltarei aqui!”

  5. O comandante justificou Minha Intenção, embora estivesse contentíssimo com Minha Presença. Mas também temia essas víbo- ras e sabia como eram entendidos na denúncia secreta a Roma.

  6. Na manhã seguinte bem cedo, Eu deixei com Meus discípu- los a casa hospitaleira do comandante e visitei a choupana de Pedro, perto de Bethabara, onde João Baptista pregou. Entrando em casa de Pedro vi a nora deste, que jazia com febre e muitas dores. Eis que Pedro Me pede que Eu ajude (Math. 8, 14).

  7. Imediatamente me aproximo da cama dela, tomo-lhe a mão e digo: “Filha, levanta-te! É melhor preparares uma refeição que ficar sofrendo neste leito!”

  1. No mesmo instante a febre a abandonou, a moça se levantou e nos serviu com muita atenção (Math. 8, 15).

100. Advertência do Senhor ao escrivão Matheus. A diversidade das esferas dos Evangelhos de Matheus e de João. O primeiro relata fatos; o segundo, interpretações profundas. A refeição feita na choupana de Pedro. A pesca maravilhosa. Testemunho humilde de Pedro a respeito da Divindade do Senhor. O traidor.

  1. Nisto Matheus Me pergunta se deve anotar este milagre, bem como outros ensinamentos que Eu havia dado em casa do comandante.

  2. Digo Eu: “Tanto o milagre e as palavras com o centurião em Capernaum como este, em casa de Pedro, omitindo o que pro- nunciei, porquanto não faz parte da Doutrina! Não menciones as palestras em casa do comandante e o fato de Eu ter permanecido lá por dois dias.

  3. Brevemente voltaremos ali, no momento em que sua filha predileta morrer, e Eu a ressuscitarei, devolvendo-a a seu pai! Anota- rás isto, sem positivar o lugar — pois os sacerdotes já estão de olho aberto com o nosso amigo.

  4. Até a próxima festa em Jerusalém, darei muitas provas que deverão ser anotadas por ti!”

  5. Matheus se apronta para escrever. João, porém, todo tris- tonho, diz: “Senhor, Tu, meu Amor! Será que nada me dás pa- ra anotar?”

  6. Digo Eu: “Meu querido irmão, não estejas triste por isto! Terás ainda muita coisa para escrever, pois destinei a ti os assuntos mais importantes e profundos!”

  7. Diz João: “Parece-me que o milagre feito com o filho do ré- gulo em nada é mais importante que o outro, em Capernaum?!”

  8. Digo Eu: “Enganas-te se assim pensas! No filho do régulo se entende todo o mundo pervertido que recebe de longe um socorro pela Minha Doutrina e Influência Espiritual. No servo do coman- dante, primeiramente, compreende-se apenas a criatura como tal;

em segundo, também poderá ser compreendida uma comunidade ou sociedade com Meu Nome, a qual carece de atividade em algum ponto, acabando pela inatividade em todos os outros, por motivos políticos. Isto nada mais é que o artritismo da alma, a qual só poderá ser ajudada pela fé segura na Minha Palavra!

  1. Agora vês, Meu querido João, a grande diferença que existe entre os dois milagres! O primeiro representa o estado doentio do mundo inteiro e, mais profundamente, de todo o Infinito! O segun- do, apenas aquilo que te elucidei. Com isto, também sabes o que compete a ti e a Matheus.

  2. Agora, porém, vamos almoçar, pois à tarde ajudaremos Pe- dro na pescaria. Pela noite haverá muito trabalho.”

  3. Após a refeição, dirigimo-nos para o Mar da Galileia e, em poucas horas, fazemos tão boa pescaria que se torna difícil guardar a grande quantidade de bons peixes.

  4. Pedro se apavora e exclama, num aturdimento beato: “Se- nhor, peço-Te que me abandones, pois sinto que sou um grande pecador! Já me assustaste um dia, quando me encontrava pescando com meus ajudantes! Senti imediatamente Tua Divindade! Agora, porém, meu medo é maior, porque reconheço claramente quem Tu és em Verdade! Tanto naquela ocasião como hoje, nada se pescou. Tua Presença e Tua Palavra, porém, foram o bastante para que as re- des quase se arrebentassem com o peso dos peixes! Por isto, sinto-me quase que apavorado, porque Tu... és...”

  5. Digo Eu: “Fica quieto e não Me denuncies! Conheces aque- le entre nós que é um traidor!”

  6. Pedro se cala e começa a guardar os peixes. À noite entra- mos em casa, onde a nora de Pedro nos espera com um bom jantar. Todos estão alegres e felizes! Pedro, então, começa a cantar um hino de louvor e os outros o acompanham.

101. O testemunho solene de Pedro é interrompido pelo Senhor. O jantar com Pedro. Pedro e Judas, presunçoso. Um milagre extraordinário com o vinho. Iscariotes fica bêbedo. Grandes curas milagrosas.

  1. Depois de haver terminado o cântico, diz Pedro em tom solene: “Meus amigos e irmãos! Que diferença entre nós e David, quando deu ao povo este cântico maravilhoso! Quando cantava, le- vantava os olhos para as estrelas, pois Jehovah, pela compreensão humana, residia naqueles tempos na luz inacessível, acima de todas as estrelas. O que faria David agora, quando Aquele, que julgava acima das estrelas...” — Interrompo: “Pedro, basta! Lembra-te de quem está em nosso meio!”

  2. Pedro se contém novamente e chama todos para o jantar, que consiste em pão e peixes bem preparados.

  3. Judas, no entanto, pergunta-lhe se não era possível comprar algum vinho na redondeza. Pedro responde: “Aqui perto existe um albergue onde se vende vinho.” Judas, em seguida, quer saber se não seria possível mandar alguém comprar um odre inteiro.

  4. Diz Pedro: “Vês e conheces minha vida doméstica e sabes que não tenho a quem mandar! Se queres vinho, vai tu mesmo e compra o que desejas!” — Diz Judas: “Neste caso, desisto!” — Diz Pedro: “Faze o que quiseres, não posso dar-te empregados, pois es- tão ocupados com a pescaria. Minha mulher, meus filhos e minha nora estão muito atarefados, como podes ver, e penso que não irás exigir de mim que eu vá, agora à noite, buscar um odre cheio de vinho!” — Diz Judas, aborrecido: “Bem, bem, minha intenção foi boa, pois vi que não tinhas vinho e eu teria pago pelo odre o preço que custasse!”

  5. Diz Pedro: “Entre nós está Alguém que transformou água em vinho, nas bodas de Caná. Se fosse preciso, Ele faria o mesmo. Mas, como não me parece necessário, podemos beber da água de meu poço, que nada deixa a desejar!”

  6. Diz Judas: “Pois bem, dou-me por satisfeito, pois aprecio uma água pura. Mas, numa ocasião como esta, o vinho seria agra-

dável. Se, porém, Aquele de Quem falas e que presumo conhecer é capaz disto, também nos poderia fazer este favor!”

  1. Digo Eu: “Vai ao poço e bebe! Ele dará vinho a ti e água a nós!”

  2. Vai, assim, Judas ao poço; quando começa a beber, vê que é vinho da melhor qualidade e bebe tanto que fica bêbedo. Corre perigo de cair dentro do poço e alguns servos de Pedro o carregam para dentro de casa. É muito bom que tal aconteça, pois nesta noite curo muitos enfermos e afasto maus espíritos que os vinham ator- mentando; nesta ocasião, Judas só teria atrapalhado.

102. Cena com o judeu de Capernaum. Grande cura milagrosa. Advertência do Senhor a respeito das víboras do Templo. O orador dos escribas dá seu testemunho ao Senhor com um verso de Isaías. Aglomeração do povo. O escriba esperto é desmascarado pelo Senhor. (Matheus 8, 16–20)

  1. Depois do jantar tudo está calmo e Judas dorme profunda- mente em cima duma esteira. Eis que aqueles judeus, que no dia anterior tinham experimentado o poder milagroso dos sacerdotes, trazem uma quantidade de endemoninhados e outros doentes, pe- dindo-Me fervorosamente que Eu os cure a todos!

  2. Eu, porém, pergunto-lhes com seriedade se acreditam que o filho do carpinteiro de Nazareth é capaz disto, pois estes homens Me conheciam desde Minha Infância.

  3. Eles respondem: “O que temos de ver com o filho do car- pinteiro? Se foi destinado por Deus a ser um profeta para o povo de Israel, ele o será, mesmo que seja, mil vezes, um filho de carpinteiro; pois todo homem é aquilo que é por Deus, e nunca pelo que foram seus pais! Por isto, acreditamos que poderás ajudar-nos a todos, co- mo o fizeste com o filho do régulo e com o servo do comandante!”

  4. E Eu lhes respondo: “Já que tendes esta fé e este critério de Minha Pessoa, que se faça o que acreditais!”

  5. No mesmo momento os espíritos são afastados e os enfermos curados de suas moléstias (Math. 8, 16).

  6. É compreensível que este grande milagre provocasse deslum- bramento e gratidão.

  1. Também não falta quem critique, acerbamente, o sacerdócio judaico; Eu, porém, os contenho e mostro que não é aconselhável despertar as víboras adormecidas: “Porque, enquanto se encontram no seu sono invernal, não prejudicam a ninguém, mas, quando des- pertadas, são mais perigosas que antes de seu sono!

  2. Os servos astuciosos do Templo dormiam como as serpentes no inverno. Vós, porém, os despertastes com vossas críticas; por isto, tende cuidado para que não vos venham prejudicar, pois, para eles, a maldade é uma volúpia!”

  3. Todos compreendem o erro que cometeram. Eu os consolo e advirto no sentido de não comentarem, em Capernaum, os fatos ocorridos, a não ser com aqueles que sabem calar! Eles, então, pro- metem-Me assim fazer!

  4. Há um dentre eles que, embora não pertença ao sacerdócio, tem vastos conhecimentos das Escrituras.

  5. Este se põe frente à multidão e fala com muita seriedade: “Escutai, amigos e irmãos! Este milagre me revelou mais que as vos- sas palavras: ‘Vede, este homem é um profeta!’ Penso que isto se deu a fim de que se realizasse, em toda a plenitude, o que foi predito pelo profeta Isaías: ‘Verdadeiramente, Ele tomou sobre Si nossas enfermi- dades e dores e levou-as Consigo!’ (Isaías 53, 4). Nada percebeis e não sentis que finalidade tem tudo isto?”

  6. O povo arregala os olhos, pois não o compreende. Ele torna a fazer sua pergunta e, como ainda não encontra quem o compre- enda, diz: “Difícil se torna explicar aos cegos as cores do arco-íris!”

  7. Digo Eu: “Tem calma! Por enquanto é melhor que eles não o entendam! Se assim fosse, iriam molestar os sacerdotes, o que não seria vantagem para vós nem para Mim, sob o ponto de vista da Minha Doutrina! No tempo certo, compreenderão tudo o que foi dito pelo profeta!”

  8. O orador se dá por satisfeito e o povo se afasta com os curados.

  9. Quando, porém, chegam a Capernaum, espalham o que se tinha passado e, na madrugada do dia seguinte, u’a multidão imensa

rodeia a casa de Pedro e todos querem ver o autor de tão grandioso milagre! — Pedro, então, pergunta o que faremos, pois a aglomera- ção se torna cada vez maior!

  1. Digo Eu: “Prepara o grande navio, que passaremos para o lado oposto (Math. 8, 18). O povo tem boas intenções, mas atrás dele está o sacerdócio, com o qual não queremos atritos!”

  2. Pedro prepara rapidamente o grande navio, mas, antes de subir, Eu sou abordado por um escriba de Capernaum, que Me diz:

  3. “Mestre, permite que te siga!” (Math. 8, 19). Como Eu vis- se que o motivo secreto em querer Me seguir não era louvável e que desejava apenas sua manutenção física, Eu lhe respondi: “As raposas têm seus covis e as aves debaixo do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar Sua Cabeça!” (Math. 8, 20)

  4. O escriba Me compreendeu e foi para casa, pois Eu lhe dera a entender que também ele era uma raposa esperta e tinha seu covil (emprego) e as aves de sua espécie, que residem debaixo do céu, isto é, por baixo da Verdade Divina e do Amor, têm seus pousos onde devoram suas presas. Mas o Filho do homem não tem destas justifi- cativas mundanas, nem um tal estratagema político (pedra) no qual pode, de quando em quando, repousar a cabeça! O escriba enten- deu-Me bem, voltando, sem resposta, para Capernaum.

103. “Deixai os mortos enterrarem os mortos!” O Senhor Se oculta da aglomeração, com todos os Seus, dentro do navio. A tempestade no mar. O Senhor dorme e é acordado pelos discípulos. “Ó homens de fé fraca!” A tempestade amaina — e os homens se admiram. (Matheus 8, 21–27)

  1. Antes de subir para o navio, um discípulo Me pede licença para enterrar seu pai que havia morrido de repente, na noite passada (Math. 8, 21). Eu, porém, lhe digo: “Segue-Me e deixa os mortos sepultarem os mortos!” (Math. 8, 22). O discípulo imediatamente desiste do seu pedido e Me segue no navio, pois compreende que é melhor cuidar da vida que da morte — preocupação que se presta somente para os mortos! Todos aqueles que fazem uma certa os-

tentação num enterro são mais ou menos mortos, porquanto hon- ram a morte.

  1. A verdadeira morte do homem é o seu egoísmo, cujo espírito é o orgulho, que almeja, antes de tudo, a honra! Assim, um enterro suntuoso nada mais é que a última manifestação do orgulho de uma criatura, espiritualmente morta há muito tempo.

  2. Tendo o adepto chegado a compreender tudo isto, segue-Me a bordo e zarpamos rapidamente, levados por um bom vento (Ma- th. 8, 23).

  3. Alguns procuram acompanhar-nos com pequenas embarca- ções, mas, como o vento está aumentando, resolvem voltar.

  4. Quando atingimos o alto mar, o vento bom se tinha trans- formado numa tempestade. Ao subir para o navio, já Me sentia fi- sicamente cansado e disse a Pedro: “Ajeita-Me um leito, repousarei um pouco durante a viagem, pois sabes, não tive um minuto de descanso nesta noite!”

  5. Pedro imediatamente trouxe algumas esteiras e um traves- seiro, e Eu adormeci realmente, embora soubesse que a tempestade viria ameaçar a embarcação.

  6. Passadas algumas horas, o temporal alcança o ponto culmi- nante e as ondas começam a passar por cima do tombadilho (Math. 8, 24). Aí, os mais corajosos discípulos se amedrontam, pois veem que a água vai penetrar no navio, mormente no centro, que, pela construção daquela época, é o ponto mais baixo. Como a tempesta- de não passe e as vagas cresçam mais e mais, os discípulos Me des- pertam, pois Me encontro num lugar mais elevado, onde as águas não chegam, e gritam apavorados: “Senhor, salva-nos, pois perece- mos!” (Math. 8, 25)

  7. Eis que Me levanto e digo: “Ó homens de fé fraca, como vos podeis amedrontar, quando estou convosco? O que é mais: a tempestade, ou Aquele que é Senhor sobre todas as tempestades?”

  8. Mas, como os discípulos e muitos outros a bordo quase per- dem a fala, e até Pedro só tem forças para balbuciar, Eu ameaço os ventos e o mar — e tudo serena! A tempestade está então como que

cortada e o mar, tão liso como um espelho. Sente-se apenas uma ligeira trepidação pelo desequilíbrio dos remadores (Math. 8, 26). Alguns, porém, que ainda não Me conheciam de perto, pois se jun- taram a nós na mesma manhã, admiram-se muito e perguntam aos discípulos: “Por amor a Jehovah, quem é este, a quem até os ventos e o mar obedecem?”

  1. Eu, com um sinal, faço entender aos Meus que não Me devem denunciar, e Pedro diz: “Não pergunteis tanto, ajudai-nos a tirar a água de dentro do navio, pois, se a tempestade voltar, estare- mos perdidos!” Os outros se calam e ajudam os discípulos, até que alcançamos a outra praia.

104. Chegada dos gergesenos. Cena entre os dois endemoninhados. Sua cura pela Palavra do Senhor. O sermão dum pagão. Medo dos gergesenos. A saída do Senhor. Bom trabalho missionário dos dois curados. (Matheus 8, 28–34)

  1. Após termos deixado o barco e nos encaminhado em direção à pequena cidade de Gadara, eis que descem dum pequeno mor- ro, onde está o cemitério desta zona, dois homens completamente desnudos, obsedados por uma legião de maus espíritos, tão ferozes que ninguém ousa passar por lá (Math. 8, 28). Suas moradas são os sepulcros e pessoa alguma os pode prender, pois sempre conseguem romper as algemas mais fortes.

  2. Quando os dois Me veem, jogam-se a Meus Pés e gritam: “Que temos nós Contigo, Filho do Altíssimo? Vieste para nos ator- mentar antes do tempo?” (Math. 8, 29)

  3. Eu os ameaço e pergunto: “Quem és tu, espírito mau, que atormentas estes dois como se fora um só?”

  4. Gritam eles: “Nosso nome é legião, pois somos muitos!”

  5. Eu, porém, ordeno-lhes que abandonem estes dois homens! No mesmo momento uma quantidade de espíritos maus, em figura de grandes moscas pretas, saem de dentro deles e Me pedem que não os enxote dali!

  1. Por perto, beirando os pequenos morros que circundavam o mar, encontrava-se uma grande manada de porcos, pois este povo, na maioria gregos, comia esta carne e também a negociava com a Grécia (Math. 8, 30).

  2. Quando os espíritos veem essa manada, pedem-Me que lhes permita entrar naqueles animais (Math. 8, 31).

  3. Depois de lhes permitir isto, por motivos ocultos ao mundo, eles se introduzem imediatamente nos porcos, cuja manada consta de, aproximadamente, duas mil cabeças.

  4. Mal isto acontece, os bichos debandam morro acima e de lá se precipitam de um despenhadeiro para dentro do mar, onde todos se afogam (Math. 8, 32).

  5. Quando os porqueiros veem o que se passa, apavoram-se, fogem para a cidade e contam, mormente aos patrões, o que tinha acontecido (Math. 8, 33).

  6. Os habitantes desta cidade se assustam e um que, como vários outros, ainda era pagão e venerava muito a Júpiter, diz: “Que foi que disse esta manhã? Quando os dois homens atormentados pelas fúrias sossegarem e o mar se agitar à luz do sol, então virá um deus de cima e nós seremos julgados. Pois os deuses nunca vêm sem açoite e espada! E agora, temos tudo isto: as fúrias que atormenta- vam os dois agitaram o mar, porque sabiam que viria um deus para afugentá-las. Compreendo, perfeitamente, que se introduziram em forma de moscas pretas para dentro dos porcos! Para nós só resta uma coisa a fazer: Pedirmos, cheios de humildade e contrição, que este deus — seja Neptuno ou Mercúrio — abandone este lugar, pois sua permanência só nos trará desgraça sobre desgraça!

  7. Ninguém, porém, se atreva a fazer queixa do prejuízo que teve. Há muito tempo que não fazemos uma oferenda real aos nossos velhos deuses, pois que somos impedidos pelos judeus tolos, e por isto um deus veio pessoalmente buscar o que lhe compete. Vamos, pois, cumprimentá-lo e pedir que deixe o mais depressa possível esta zona!”

  8. Alguns judeus, ouvindo isto, dizem: “Julgais-nos tolos, mas temos maior conhecimento que vós neste assunto. Este suposto deus

ou é um mago da Pérsia ou, então, o célebre Jesus de Nazareth, de quem já ouvimos dizer grandes coisas! Mas concordamos convosco em pedir-lhe que nos abandone, pois, quando o nosso Deus desper- ta um profeta, a desgraça não fica longe!”

  1. Todos, excluindo alguns doentes acamados, se juntam, vêm ao Meu Encontro e, quando veem que sou um homem como outro qualquer, encorajam-se e Me pedem que deixe aquela cidade (Ma- th. 8, 34).

  2. Alguns, entretanto, rodeiam os dois que conheciam como endemoninhados, mas que agora estão vestidos e conversam calma- mente. Relatam como foram libertos de seus algozes e como os que Me acompanhavam também lhes haviam dado roupa para vestir. Com tudo isto, não é possível tirar-lhes o medo, tanto que só repe- tem o mesmo pedido: que Eu Me afaste!

  3. Então falo a Pedro: “Apronta o barco e saiamos daqui!”

  4. Ao entrar no barco, os dois curados Me perguntam se po- dem Me acompanhar, pois ninguém neste lugar terá vontade de lidar com eles! Eu, porém, recuso-os com carinho, dizendo: “Vol- tai para casa de vossos parentes, que vos receberão com alegria! E contai a todos desta zona a grande Graça de Deus que vos ocorreu, assim testemunhando o Poder Divino — e ninguém vos deixará morrer de fome!”

  5. Eles obedecem imediatamente e contam o que Deus em Sua Misericórdia lhes havia feito, e assim despertam em muitos ju- deus e gregos uma grande saudade por Mim.

105. A volta para Nazareth. O Senhor toma uma boa refeição com os discípulos em casa de Maria. Divergência sobre o motivo por que o Senhor não faz milagres em Nazareth. Visita a uma sinagoga. “Falar é bom, mas calar é melhor!” Caráter da casta judaica. Resposta hipócrita e pergunta irritada sobre Jesus. (Matheus 9, 1)

  1. Seguimos agora direto para Nazareth, pois tenho a intenção de descansar um pouco em casa e nesta ocasião trazer alguma luz aos nazarenos!

  1. A volta, porém, dura mais que a ida, e muitos começam a sentir fome. Eu os fortaleço e, sentindo um bem-estar extraordiná- rio, alguns dizem: “Em verdade, uma respiração dá o pão e outra tem sabor de vinho!” Assim alcançamos, na manhã seguinte, a praia. De lá até Nazareth andamos a pé e em poucos minutos chegamos à casa. Enquanto isto, os empregados de Pedro atracam o barco, indo em seguida também para seus lares.

  2. O lugar onde desembarcamos é uma espécie de porto, onde muita gente vai e vem, uns esperando suas embarcações para viagens de negócio em todas as direções, enquanto outros vêm de todos os cantos — até de Jerusalém — para Nazareth, pois justamente agora um grande mercado está sendo realizado.

  3. Quando se espalha a notícia de Minha Chegada, até aqueles que tencionam viajar para longe ficam, e uma grande multidão Me acompanha à Nazareth.

  4. Eu e Meus discípulos nos dirigimos para a casa de Maria, que se encontra lá com os três filhos mais velhos e quatro moças que José havia adotado quando Eu ainda era menino.

  5. Todos que lá estão põem mãos à obra e nos preparam um bom almoço, tanto mais necessário porquanto os Meus discípulos, há mais de um dia, não se tinham alimentado. Depois de nos refa- zermos, vamos até a cidade para ver o movimento dali. Mas torna-se difícil a saída de casa por causa da aglomeração, que na maior parte ali se encontra por curiosidade; outros, por espionagem ultrajante, e pequena parte por miséria e necessidade.

  6. Quando chegamos à frente da casa, alguns fariseus e escri- bas de Jerusalém perguntam se não vou dar provas do Meu Poder milagroso. Respondo sério e decidido: “Não! Por causa de vossa in- credulidade!” A este “não” enérgico, afastam-se e alguns cochicham: “Ele tem medo dos senhores de Jerusalém!” Outros: “Certamente esqueceu-se dos amuletos!” etc. Pouco a pouco se dispersam e nós temos caminho aberto para a cidade.

  1. Lá entramos numa sinagoga, na qual, de praxe, todo judeu podia falar abertamente diante de três escribas e apresentar alguma queixa contra os sacerdotes, que eram escolhidos por Jerusalém.

  2. Simon de Caná pergunta-Me em surdina: “Senhor, não po- demos também fazer alguma queixa, pois temos motivos de sobejo?!”

  3. Digo Eu: “Meu amigo, sempre é bom falar em tempo opor- tuno e dentro da verdade, mas calar em tempo oportuno é ainda melhor! Podes fazer o que quiseres, jamais conseguirás fazer ouro de ferro e prata do barro! Esta gente que está no Conselho é por fora um cordeiro e por dentro um lobo feroz!

  4. Pensas que estejam aqui para amenizar a situação dos quei- xosos? Engano!

  5. Apenas procuram descobrir o que pensam dos sacerdotes! Crê-Me, hoje te atenderiam amavelmente, e amanhã serias aprisio- nado e castigado durante um ano com víboras!

  6. Por isto, nós apenas escutaremos o que possivelmente se dirá a nosso respeito!” Simon de Caná se conforma e procuramos assentos num canto da sinagoga.

  7. Tanto pessoas isoladas como também delegados de comuni- dades apresentam uma série de queixas incríveis contra os sacerdotes e são considerados mui amavelmente.

  8. Depois de assegurar-lhes um castigo justo para os culposos, um escriba pergunta de maneira muito ingênua o que sabem de Mim, o conhecido revolucionário Jesus! Consta que ele atua na Ga- lileia, fazendo milagres como até então nunca vistos. Querem saber se isto é verdade e qual a opinião dos presentes.

106. Um bom homem dá abertamente um testemunho verdadeiro sobre o Senhor. Traços pessoais e gerais sobre Jesus de Nazareth. Sua Vida, Seus Atos e Sua Doutrina. Resposta dura do fariseu. O bom homem reafirma a Divindade do Senhor e aponta a maldade dos fariseus, que são obrigados a retirar-se. Os crentes querem declarar Jesus como Mestre e Sumo Pontífice.

  1. Eis que um homem benquisto da redondeza de Capernaum levanta-se e diz: “Meritoso servo de Jehovah no Templo de Jeru- salém! Jesus, o por vós mencionado, nasceu nesta cidade e sempre demonstrou qualidades excepcionais. Muitas vezes foi visto orando horas a fio; jamais alguém o viu sorrir; chorar, sim, em lugares de retiro, que muito procurava.

  2. Desde sua infância deram-se fatos extraordinários e ago- ra, como médico, que igual não haverá outro no mundo, iniciou uma viagem curando apenas pela palavra, como se fora o Pró- prio Jehovah!

  3. Todos os acontecimentos desde Moysés nada representam em vista desta grandiosidade: curou um artrítico completamente aleijado; toda e qualquer febre, por mais maligna que seja, rende-se diante de suas palavras; os surdos, mudos e cegos ouvem, falam e veem como nós! Purifica os leprosos, afasta os maus espíritos dos endemoninhados e os mortos ele chama e eles se levantam, comem, bebem e caminham, como se nunca tivessem sofrido!

  4. Sua Doutrina se resume, em geral, nisto: ‘Amai a Deus sobre todas as coisas e ao vosso próximo como a vós mesmos!’

  5. Por isto, consideramo-lo um profeta extraordinário enviado por Jehovah, como Elias naquela época! Eis tudo que eu e muitos outros sabemos deste maravilhoso Jesus; como agradecer a Deus por Se ter lembrado de Seu povo tão amargurado?

  6. Muitos o consideram o grande Enviado de Deus! Eu, por mim, não sou a favor nem contra, apenas pergunto se o Cristo, que deverá vir, poderia fazer maiores milagres?!”

  7. Diz o sacerdote: “Falas como um cego julgaria as cores! On- de é que se lê que surgiria um profeta na Galileia?! Nós te dizemos que este vosso Jesus nada mais é que um feiticeiro maldoso, que

deveria ser aniquilado pelo fogo! Sua doutrina é u’a máscara, sob a qual oculta suas ações criminosas! Pratica os milagres não pelo Poder Divino, e sim com o supremo de todos os diabos! — E vós, cegos, o tomais pelo Messias! Realmente, sois todos condenados a morrer na fogueira!”

  1. O homem, porém, enfrenta-o e diz: “Sim, por vós, se não fôssemos galileus, principalmente eu, um romano íntegro, já terí- amos perecido na fogueira! Mas, felizmente, a maravilha judaica terminou para nós! Somos súditos romanos e nada temos que ver convosco, a não ser expulsar-vos da Galileia se ousardes levantar a mão contra nós!

  2. Digo mais, com referência ao nosso grande profeta Jesus: ai de vós se tentardes molestá-Lo!

  3. Porque, para nós, Ele é um VERDADEIRO DEUS! Pois faz coisas que somente a Deus seriam possíveis!

  4. Um Deus que faz o bem à pobre Humanidade deve ser Jus- to e Verdadeiro! O vosso, porém, que só pode ser apaziguado com ouro, prata e outras oferendas rendosas e nada faz pelas preces carís- simas, é igual a vós, que vos dizeis seus servos; portanto, mereceis ser banidos deste país!

  5. Afirmais que Jesus é um lobo voraz com aparência dum cordeiro. Neste caso, que sois vós? Digo-vos, sois aquilo que afirmais do bondoso Jesus!

  6. Escutais as nossas queixas com ares de amizade. Mas no coração tramais uma vingança escabrosa e, se fosse possível, nos ani- quilaríeis com o fogo de Sodoma! Mas, nada disto! Víboras e serpen- tes! Quem manda aqui somos nós, romanos, e saberemos como vos indicar o caminho para Jerusalém se não vos prontificardes a achá-lo por vós mesmos!”

  7. Este discurso quase faz estourar de raiva os três escribas, mas não têm coragem de externar-se diante da multidão, tanto que se evadem por uma portinha dos fundos em direção a Capernaum, onde se encontra a maioria dos sacerdotes e escribas de Jerusalém, praticando sem pejo toda sorte de adultérios e fraudes.

  1. Mal deixam estes a sinagoga, um outro se adianta e apre- senta ao orador o agradecimento por parte de todos e acrescenta: “Se não seguirmos o exemplo dos samaritanos, jamais teremos paz!”

  2. Todos lhe dão razão e dizem: “Se nos fosse possível encon- trar nosso Salvador Jesus, declará-Lo-íamos Único Mestre e Sumo Pontífice!”

  3. Diz o orador: “Também seria meu desejo; mas, antes disto, precisaríamos da permissão do Prefeito de Capernaum. Porque os ro- manos não têm situação fácil ao lado da casta do Templo, pois cons- ta que ela se corresponde secretamente com o Imperador de Roma!”

  4. Todos concordam com esta proposta e deixam, um por um, a sinagoga.

107. Alegria do hospedeiro em vista da derrota que atingiu os templários. Advertência do Senhor de quandoa pessoa se pode alegrar. Erro em ridicularizar os cegos e achar prazer em anedotas. Exemplos: os curados gergesenos, e o cego enganado. A comédia mundana é, para os Filhos de Deus, uma tragédia.

  1. Eu, porém, digo a Simon de Caná: “Viste agora como é bom calar em tempo? Quando os outros falam e agem por nós, temos a oportunidade de calar! Compreendes isto?”

  2. Diz Simon: “Sim, Senhor, mas às vezes a pessoa é tentada a fazer uso de sua língua; entretanto, aqui foi evidente melhor calar do que falar. Além disso, o orador romano fez um papel corajoso e importante.

  3. Até me deu vontade de rir quando os três templários bateram em retirada!

  4. Realmente, Senhor, penso que não seja pecado se o nosso coração sente um inevitável bem-estar ao ver que as intenções mal- dosas destes três foram interceptadas!”

  5. Digo Eu: “Tudo aquilo que põe a descoberto a maldade ocul- ta pode alegrar o nosso coração; mas, presta bem atenção, somente o fato de tê-la evitado justifica a alegria, e jamais devemos zombar do homem que, pela sua cegueira, deixa-se tentar pelo pecado!

  1. Não viste os dois endemoninhados, como eram maus? No entanto, quando os livrei da legião de espíritos sofredores, torna- ram-se bons e louvaram a Deus, que havia dado este poder ao ho- mem. Teria sido justo se nos houvéssemos alegrado pelo fato de se ter visto aquela legião de demônios impossibilitada de agir, sem lhe havermos transmitido um pensamento de perdão? Ou, ainda, que nos ríssemos por ter sido a manada, objeto de usura por parte dos gregos, precipitada no mar? Não! Tal alegria teria sido indigna, par- tindo de uma criatura justa! Se, porém, nos tivéssemos alegrado pela razão de serem as duas criaturas libertas de seus algozes, que pas- saram assim a servir à Causa Divina, e também pela destruição do elemento de transação inescrupulosa dos porqueiros para com seu próximo — esta alegria, sim, teria se originado na Verdade!

  2. Eu vos digo, pela mais perfeita e profunda Verdade: Quem se ri de um bobo demonstra que possui a mesma tendência. Porque um age tolamente pela sua idiotice, e o outro se ri em consequência dela, tanto que um se regozija no outro e lastima quando o antago- nista começa a agir com inteligência.

  3. Diferente será quando chamardes com carinho a atenção do vosso próximo e vos regozijardes quando ele começar a agir com critério!

  4. Que alegria poderias sentir vendo um cego que pede a al- guém de boa visão: ‘Amigo, estou um tanto atrapalhado neste cami- nho e não sei se deva ir para frente ou para trás. Minha casa deve ser naquela direção e, pelos passos contados, já deveria estar perto. Mas, se eu, em vez de ir para diante, andei para trás, devo estar mais longe que o ponto de partida. Tem, pois, a bondade de conduzir-me pelo caminho certo até a casa!’

  5. Se, nesta ocasião, o outro começar a rir do cego, que se encon- tra apenas a poucos passos da porta, e disser: ‘Ora, como te enganaste! Dá-me tua mão, levar-te-ei até lá, embora seja um pouco distante!’ — Assim, ele dá vinte voltas em redor de sua casa e depois lhe diz com zombaria: ‘Pronto, meu amigo, já chegamos!’ O cego agradece-lhe mil vezes e o outro fica contentíssimo com a pilhéria que praticou!

  1. Pergunto Eu quem é mais cego: o guia ou aquele privado da vista? Digo-te: o maldoso guia, pois é cego de coração, o que é mil vezes pior que a cegueira dos olhos!

  2. Assim também as criaturas se riem de anedotas e, principal- mente, quando contêm alusões obscenas e apontam certas fraquezas e pecados, em companhia de outros!

  3. Eu vos digo, quem pode achar graça nisto ou se alegra pre- senciando como um espertalhão engana a outrem vendendo-lhe um feijão mal prateado como pérola legítima, neste coração o diabo terá lançado uma infinidade de más sementes, de onde nunca surgirá um fruto de Vida!

  4. Por tal razão é melhor afastar-se de tudo isto e entristecer-se onde o mundo cego se veja obrigado a rir, pois a comédia do mundo é uma tragédia para os Verdadeiros Filhos de Deus, e muitas vezes os anjos no Céu choram quando as criaturas se riem!

  5. Portanto, deixemos os três templários, que embora cheios de maldade pela influência de Satanás, pelo egoísmo e amor ao mundo, não deixam de ser filhos perdidos Daquele Pai, que também é vosso Pai! Devemos somente condenar o mal e nos apiedarmos deles como irmãos!

  6. É preferível cobrir a Noé, bêbedo, que o expor ao ridículo perante o mundo!

  7. Se compreendestes isto dentro de vossos corações, podemos deixar a sinagoga vazia, pois o almoço deve estar pronto!”

108. O Senhor afasta a preocupação doméstica de Maria. Agradecimento dela e advertência Dele. Elogio dos discípulos e do Senhor a respeito de Maria. Ele prediz a idolatria feita à mesma. Advertência à presunção. Vaidade e orgulho são fraquezas da mulher.

  1. No meio do caminho encontramos Judas, que nos pergunta donde estamos vindo, pois seus negócios com a venda de utensílios caseiros impedem-no de nos acompanhar.

  1. Agora, porém, entra conosco para tomar a refeição, uma vez que nada lhe custa. Mal acaba de almoçar, volta para o mercado, que dura três dias.

  2. No dia seguinte, Maria Me pergunta quanto tempo iria ficar e se viria mais gente, porque o estoque de mantimentos estava se esgotando.

  3. Digo Eu: “Mãe, não te preocupes neste sentido Comigo e com Meu grupo! Aquele que nutre a terra imensa e sacia pelo Seu Amor o sol, a lua e todas as estrelas, conhece também esta casinha pequenina e sabe o que lhe falta! Por isto, nada de preocupações, pois já tudo foi provido pelo Alto!

  4. O Pai nos Céus não deixa Seus Filhos passarem fome, a não ser que isto lhes seja útil.

  5. Já presenciaste, em Sichar, como o Pai cuida de Seus Filhos! Achas que desde aquele dia o coração Dele tenha endurecido? Revis- ta a tua despensa e verás que tua preocupação foi baldada!”

  6. Maria dirige-se para lá e vê tudo abarrotado com pão, mel, frutas, peixes frescos e defumados, leite, queijo, manteiga e trigo! Isso tudo a deixa um tanto atordoada; portanto, volta correndo para junto de Mim e Me agradece, de joelhos, esta maravilhosa provisão! Erguendo-a rapidamente, digo: “Como é que fazes a Mim o que só o Pai merece? Levanta-te, pois nós dois já nos conhecemos há trinta anos e Eu sou sempre O Mesmo!”

  7. Maria chora de contentamento, cumprimenta Meus discípu- los e vai à cozinha preparar-nos um repasto.

  8. Os discípulos, porém, dizem: “Que criatura amorosa e que mãe dedicada! Conta quarenta e cinco anos de idade e parece não ter passado os vinte! Realmente, este amor tão puro que irradia é virtude da melhor das mulheres de todo o mundo!”

  9. Digo Eu: “Sim, ela é a primeira e jamais haverá igual! Acon- tecerá que as criaturas construirão mais templos para ela do que para Mim, dedicando-lhe maiores honras — e surgirá a crença de que só por Maria conseguirão a bem-aventurança!

  1. Por isto, não quero que seja tão reverenciada, pois sabe que é Minha Mãe e também não ignora Quem age dentro de Mim!

  2. Sede atenciosos e bons para com ela, mas não lhe dediqueis uma Veneração Divina!

  3. Com todas as virtudes que possui, não deixa de ser mulher, e entre a mais pura e a vaidade, só há um passo!

  4. Toda vaidade é uma semente de orgulho, do qual surgiu todo o mal no mundo! Por isto, considerai o que disse a respeito de Minha Mãe!”

109. Palestra de Pedro e Simon sobre o destino da Doutrina de Jesus. O Senhor lembra a confiança em Deus. “Não vos preocupeis com coisas futuras e fazei aquilo a que fostes destinados.” Comparação do artista e seus instrumentos. “Sois a pá na Mão do Pai!”“Quem és Tu?” Ensinamentos sobre o Pai e o Filho.

  1. Pedro meneia a cabeça e dá de ombros! Simon de Caná, ven- do isto, pergunta-lhe: “Que tens? Tudo virá conforme foi predito pelo Senhor; portanto, por que abanas a cabeça?”

  2. Diz Pedro: “Não é por isto que me vês assim!

  3. Vê, a Palavra do Senhor é Santificada, assim como Sua Ação! Como poderiam ser felizes as criaturas do mundo se já possuíssem esta Doutrina e vivessem de acordo com seus Ensinamentos! Mas, considerando os empecilhos que se opõem a esta perfeição — não sei quando será posse abençoada da Humanidade! E se o Senhor ainda permitir que isto ou aquilo aconteça, penso que esta dádiva em breve se tornará um alimento para os animais!”

  4. Digo Eu: “Pedro, deixa isto! Farás aquilo para que foste des- tinado! O efeito não te deve preocupar! O que virá, de acordo com a imensa Sabedoria do Pai, tem que vir; só é sabido por Ele e por aquele a quem for revelado!

  5. Se tu entrares na oficina de um grande artista que possui múltiplos instrumentos, por acaso saberás a maneira de usá-los para realizar uma obra? Certamente que não! Mas, se ele te explicar o seu uso, compreendê-lo-ás!

  1. Eu, porém, digo-te: Deus é o Maior dos Artistas! E a mais sublime arte consiste em criar de Si uma vida independentemente livre em seres isolados! Para este fim, torna-se necessária uma quan- tidade imensa e variada de instrumentos! Tu, como Maria e todas as criaturas, sois obras e instrumentos variados que somente o Pai nos Céus saberá manejar para este único fim!

  2. Por isto, não te preocupes além daquilo para que foste esco- lhido e assim prestarás, como instrumento certo na Mão de Deus, bons serviços!

  3. Ou pensas que a pá esteja acima daquele que a usa como instrumento de limpeza? Se for prestável, poder-se-á limpar o trigo, a cevada e o grão; será também preparada para isto se não servir, ou, então, jogada ao fogo! Se o Pai te destinou a ser pá, então que o sejas e não queiras, também, ser uma vasilha! Compreendes isto?”

  4. Diz Pedro: “Senhor, isto soa um tanto confuso. Parece-me que o compreendo, mas, aprofundando-me na causa, não entendo este quadro misterioso. Como pode alguém ser obra e instrumento, e como sou eu uma pá?”

  5. Digo Eu: “Pois então, não é todo instrumento, já antes de ser usado, uma obra completa, a fim de que possa ser utilizada pelo artista na realização de outra obra?

  6. Eu te digo que és uma pá na Mão do Pai, pois foste, como os outros discípulos, ensinado por Mim a levar os homens ao Verda- deiro Conhecimento de Deus!

  7. As criaturas do mundo são o grão, o trigo e a cevada. Mas este cereal vivo não cresce sem o joio e a poeira. Para que ele possa ser recolhido nos Eternos Celeiros Divinos inteiramente limpo, sois transformados em pás justas e vivas, com as quais o Pai irá limpar Seu Cereal. Compreendes agora?”

  8. Diz Pedro: “Sim, Senhor, tudo está claro; só desejamos mais uma orientação: Falas sempre do Pai no Céu como se fora uma se- gunda pessoa, enquanto nós, desde Sichar, tomamos-Te também por Ele! Quem és então, verdadeiramente? Por acaso, como nós, és uma pá na Mão do Pai, ou um outro instrumento qualquer?”

  1. Digo Eu: “Primeiro sou Aquele que Eu Sou, mas também Sou Aquele que aparentemente não Sou! Eu semeio e colho, como o Pai semeia e colhe, e quem Me servir de pá também servirá ao Pai, pois onde está o Pai também está o Filho e onde estiver o Filho também o Pai estará. O Pai, entretanto, é acima do Filho e o Filho surgiu do Pai. Ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho O revelar. Compreendeis isto?”

  2. Diz Pedro: “Senhor, nem os anjos, muito menos nós! Mas, se quisesses, poderias nos mostrar o Pai!”

  3. Digo Eu: “Ainda não estais bastante amadurecidos para is- to; breve virá o tempo em que todos vós O vereis!”

  4. Nisto vem Maria com suas ajudantes nos avisar que o re- pasto está pronto.

110. Judas ofendido. O Senhor faz uma advertência a seu respeito. Judas, comilão e oleiro. O Senhor e os três fariseus, entre eles Jairo de Capernaum.

  1. Quando nos sentamos à mesa, entra Judas e nos repreende por não termos mandado alguém chamá-lo, pois diz, devíamos sa- ber que ele andava muito ocupado e não podia informar-se sempre quando iríamos comer! Além disso, presume fazer parte de nosso meio! Thomaz se aborrece com as palavras dele e diz: “Senhor, não mais me posso conter! Tenho que agir com meus punhos!”

  2. Digo Eu: “Deixa isto! Nunca ouviste falar que, entre doze an- jos, o décimo segundo é um diabo oculto? Não te aborreças, porque este tu não corriges!” Thomaz senta-se e Judas se afasta sem comer.

  3. Continuamos nosso almoço quando ele aparece novamente e, com boas palavras, pede um prato de comida. Na cidade nada mais havia, devido à aglomeração inesperada de hóspedes.

  4. Digo Eu: “Deem-lhe algo para comer!” O irmão Jacob lhe dá pão, sal e um peixe inteiro, bem preparado. Judas, em pouco tempo, come o peixe todo, de quase três quilos, e bebe muita água — tanto que começa a sentir-se mal. Então reclama que, certamente, o peixe não estava fresco, pois que lhe dava dor de estômago.

  1. Thomaz se irrita de novo e diz: “Continuas a ser o mesmo malcriado e mal-educado de sempre! Verifica se os peixes, que estão na despensa, estão estragados! Se devoras, qual lobo faminto, um peixe de três quilos, bebes água que saciaria a sede de vinte pessoas e ainda comes um pão de bom tamanho, tens de sentir um peso no estômago! Mas, se sentes muitas dores, temos o melhor médico em nosso meio; pede-Lhe, que te ajudará!”

  2. Diz Judas: “Estais todos com raiva de mim e dizeis que sou um diabo; como acreditareis que sofro e como me ajudareis?”

  3. Diz Thomaz: “Não viste como o Senhor atendeu ao pedido dos gergesenos? Se te julgas, na verdade, um diabo, então pede como tal; facilmente se achará u’a manada de porcos onde te possas intro- duzir, se o Senhor atender a teu pedido!”

  4. Diz Judas: “Ah, que boas intenções tens comigo, nunca pen- sei que me prezavas tanto! Entretanto, irei pedir a Jesus, o Filho desta casa, que me ajude — e veremos se Ele me obrigará a entrar nu’a manada de porcos!” Judas se Me dirige e se queixa de dores fortes. Eu, porém, digo: “Vai para perto de tuas panelas, lá te senti- rás melhor!”

  5. Judas vai e diz de passagem a Thomaz: “Como vês — nada de porcos!” — Diz Thomaz: “Mas, também, em nada melhor! Tuas panelas são, igualmente, um meio para a usura, como os porcos o eram para os gergesenos!” — Judas não responde e se afasta depressa.

  6. Pouco depois, entram três fariseus e perguntam se Eu Me encontro em casa. Sendo informados de que Eu estava na sala de refeição, eles aí penetram e perguntam por Mim, pois não Me conheciam.

  7. Eu, porém, digo severamente: “Sou Eu! Que desejais que vos faça?”

  8. Eles se apavoram com Minha Resposta e não têm mais co- ragem para outras perguntas, pois Minha Palavra Poderosa tinha, em seus corações, o efeito de um raio! Eu lhes pergunto novamente o que desejam.

  9. Um se adianta e diz, com voz toda trêmula: “Bom Mestre!”

  1. Eu, no entanto, replico: “Por que Me chamas de bom? Não sabes que só Deus é bom?” — Diz o fariseu: “Peço-te, não sejas tão duro comigo, que necessito do Teu Auxílio eficaz!” — Digo Eu: “Vai e não Me detenhas; hoje à tarde irei pescar no mar. Lá Me encontrarás!”

  2. Com esta resposta, eles se afastam. Aquele que falara Co- migo era o reitor da escola e sinagoga em Capernaum e se cha- mava Jairo.

111. A Santa Assembleia no barco. Volta à casa de Jairo. Cura da mulher grega do fluxo de sangue. Curta história sobre a vida dela.

  1. Quando Pedro fica sabendo que Eu iria pescar, pergunta-Me se deve preparar o grande barco. Eu, porém, lhe digo: “Não te inco- modes, tudo estará pronto quando ali chegarmos!”

  2. Também Maria quer saber se deve preparar algo para o al- moço ou jantar e Eu lhe respondo: “Nada disto é preciso, porque voltaremos só à noite!”

  3. Em seguida digo aos discípulos que se arrumem, caso Me queiram acompanhar. Todos se levantam depressa e se dirigem Co- migo para o mar, que, como é sabido, começa perto de Nazareth.

  4. Em lá chegando, encontramos uma grande multidão e vários barcos, e em seguida subimos no de Pedro, deixando a praia.

  5. O povo, então, ocupa outros tantos e Me acompanha.

  6. Entre eles se encontra um dos três fariseus. Mal alcança Mi- nha embarcação, ajoelha-se no seu bote e Me pede: “Senhor, minha filha está expirando! Se quisesses ir até lá, a fim de curá-la!” Como ainda não estamos longe da margem, mando que Pedro volte.

  7. Na praia há tanta gente que mal podemos andar, e leva- mos perto de três horas para chegar à casa de Jairo, que fica não muito longe.

  8. Enquanto nos arrastamos vagarosamente em companhia de Jairo, u’a mulher, que há doze anos sofria dum fluxo de sangue e tinha gasto quase toda a fortuna em médicos, vem se aproximando

por detrás e toca a orla de Minha Vestimenta, crente de curar-se com isto, pois muito ouviu a Meu Respeito.

  1. Como é grega e não judia, falta-lhe coragem de vir aberta- mente perto de Mim, porque naquela época existia uma tensão en- tre ambas as nações em virtude das vantagens comerciais por elas almejadas em Roma.

  2. Os gregos, como povo culto e heroico, eram respeitados pelos romanos e gozavam de maiores vantagens que os judeus, que eram malquistos. De certa maneira, os gregos faziam a polícia secreta entre os judeus, o que não lhes trazia grande simpatia da parte deles.

  3. Daí também o medo, principalmente das mulheres gregas, dos judeus, porque estes tinham feito correr o boato de que as pode- riam tornar estéreis, quando fixadas por seu olhar. Tal foi a razão por que esta mulher grega se aproxima de Mim por detrás.

  4. Quando Me toca, sente que está completamente boa. A fonte de seu sofrimento desaparece, de sua alma apodera-se uma grande serenidade e todo o seu ser sente-se outro.

  5. Eu, entretanto, viro-Me e pergunto aos discípulos que estão mais próximos: “Quem Me tocou?”

  6. Eles ficam quase aborrecidos com esta pergunta e dizem: “Não vês como o povo Te empurra, e ainda indagas quem Te tocou?”

  7. Eu, porém, respondo: “Não é bem isso! Pois quem Me to- cou tinha fé e uma intenção ao fazê-lo, porque Eu senti irradiar-se de Mim uma força poderosa!”

  8. A mulher se assusta, pois Eu a fito e sei que fora ela quem Me havia tocado e por que o fizera! Joga-se, então, a Meus Pés e con- fessa tudo, pedindo perdão; seu medo é tão grande que faz tremer todo o seu corpo, o que é fácil de se compreender considerando o que foi dito acima.

  9. Eu, porém, fito-a com doçura e digo: “Levanta-te, Minha filha, tua fé te ajudou! Vai em paz e tem saúde!”

  10. A mulher levanta-se toda alegre e volta para sua pátria, o que dura meio dia. É filha de um arrendatário nas redondezas de Zebulon e solteira. Com a idade de treze anos entregara-se a um ho-

mem sensual, que lhe dera duas libras de ouro; em compensação, ela sofreu durante mais doze, gastando toda sua fortuna antes da cura.

112. Morte da filha de Jairo. Consolo e Promessa do Senhor. Ressurreição da filha de Jairo. Acontecimentos com ela no Além. Ordem de silêncio do Senhor.

  1. Enquanto estou comentando a vida da mulher grega, um servo de Jairo chega correndo e transmite-lhe a triste notícia do fa- lecimento de sua filha.

  2. Este, muito entristecido, diz-me: “Querido Mestre, infeliz- mente já é tarde para ajudares minha filha, que foi tudo para mim; não precisas Te incomodar mais.”

  3. Dizendo isto, ele chora amargamente, pois adorava Sarah, que tinha doze anos de idade, mas aparentava o físico de u’a mo- ça de vinte.

  4. Como a tristeza de Jairo Me condói muito, Eu lhe digo: “Amigo, não tenhas medo e crê! Tua filha não morreu, está dormin- do — e Eu a despertarei!”

  5. Ouvindo isto, ele se anima novamente.

  6. Quando estamos perto da casa dele, Eu mando que o povo e os discípulos, de uma fé um tanto vacilante, fiquem parados ali, e somente Pedro, Jacob e seu irmão João podem Me acompanhar, pois sua fé é bem sólida.

  7. Chegando à casa de Jairo, encontramos uma balbúrdia tre- menda, porque é costume judaico chorar e lastimar em altas vozes a morte de alguém.

  8. Entrando no quarto onde a morta se acha numa cama en- feitada, Eu dirijo as seguintes palavras aos presentes: “Por que fazeis tanto barulho? A filhinha não morreu, está apenas dormindo!”

  9. Aí zombam de Mim e dizem: “Pois sim, eis o aspecto de quem dorme! Não respira e não tem pulsação há três horas e meia, o corpo gelado e cadavérico, os olhos vidrados — e achas que ela esteja dormindo? Sim, não deixa de estar dormindo, mas só acordará no Dia do Juízo Final!”

  1. Eu então digo a Jairo: “Bota-os para fora daqui, não preciso de descrentes!” Jairo o faz, mas o povo não lhe obedece e ele Me pede que o ajude nisto! Aí Eu os afasto à força.

  2. Depois disto, entro de novo no quarto em companhia dos pais, aproximo-Me da filha, tomo-lhe a mão esquerda e digo: “Tali- thakumi!”, o que quer dizer: “Filha, levanta-te!”

  3. No mesmo momento ela se levanta, pula de sua cama e em seguida abraça e beija seus pais! Ao mesmo tempo sente muita fome e deseja algo para comer!

  4. Os pais, contentíssimos, perguntam-Me, com os olhos ra- sos de lágrimas de alegria, se podem fazê-lo! Eu, porém, digo: “De- em-lhe o que quiser e o que tendes à mão!”

  5. Num prato estão alguns figos e tâmaras e a filha pergunta se pode servir-se. Eu digo: “Come o que te agrada, pois estás boa e não adoecerás mais!”

  6. A menina esvazia quase todo o prato e os pais receiam que isto lhe possa fazer mal.

  7. Eu os acalmo e digo: “Não vos preocupeis, disse-vos que não lhe prejudicará!”

  8. Depois de ter agradecido, a menina indaga em voz baixa a seus pais quem Eu era, porque, enquanto estava dormindo, viu os Céus abertos e uma quantidade de anjos. “No meio deles estava este homem risonho, olhou para mim, pegou-me a mão e disse: ‘Talitha kumi!’, e eu acordei imediatamente com esta chamada! Vede, este homem se parece com aquele que vi em sonho! Deve ser um homem muito bom!”

  9. Embora o pai entendesse claramente a pergunta da filha, só lhe diz que tivera um sonho verdadeiro e bonito e que ele lho expli- caria em breve. Pois Eu aviso ao pai de que assim faça.

  10. Depois disto, digo a Jairo que deve ir lá fora com a mu- lher e a filha para repreender os outros por sua falta de fé! E todos nós vamos. Quando os outros veem a menina alegre e bonita que agora lhes pergunta por que estavam tão perplexos e assustados, apavoram-se mais ainda e dizem: “Que milagre maravilhoso! Esta

menina estava morta, e agora vive!” Em seguida querem espalhar esta novidade.

  1. Eu os ameaço, dizendo que deviam guardar este fato, pela sua salvação física e espiritual! Eles se calam e vão embora.

113. Advertência do Senhor aos Seus dois evangelistas, Matheus e João, sobre a natureza dos Evangelhos. O único caminho que conduz ao Verdadeiro Conhecimento do Verbo Divino.

  1. Matheus, que se encontrava um pouco distante, aproxima-se e deseja saber se deve anotar este fato.

  2. Eu, porém, digo: “Deixa, a fim de não provocar um equívo- co! Porque depois de amanhã iremos de novo ao mar e lá se dará um caso idêntico! Este, sim, anotarás integralmente! Além disso, pode- rás anotar, de amanhã em diante, tudo que acontecer!”

  3. Matheus está satisfeito, mas João, que considera este ato ma- ravilhoso, pergunta-Me se não poderia ao menos apontá-lo em pou- cas palavras.

  4. Eu lhe digo: “Podes fazê-lo, mas não a seguir daquilo que anotaste até agora; porque daqui a meio ano teremos um caso seme- lhante, que poderás considerar como este atual, ou vice-versa!

  5. Não vem ao caso se um fato parecido com outro seja anotado ou não, porque isto poderia provocar equívoco para os posteriores seguidores de Minha Doutrina e dali surgirem conjecturas e dúvidas que, em tese, seriam um prejuízo, e não um benefício.

  6. Enquanto Eu, vós e aqueles que poderão testemunhar a ver- dade plena nos encontrarmos nesta terra, com facilidade estas dúvi- das poderão ser evitadas, mas, no futuro, em que apenas as Escritu- ras testemunharão de Mim, por causa do livre arbítrio do homem, estas anotações devem ser puras e ordenadas.”

  7. Diz João: “Senhor, meu amor, o que dizes é a verdade pura, mas, justamente por este motivo, não seria aconselhável que eu ano- tasse exatamente aquilo que Matheus anotar sobre Tua Doutrina?

  8. Pois, se no futuro a Humanidade comparar as duas Escritu- ras e não encontrar na minha o que consta na dele, não irá pôr em

dúvida sua veracidade, dizendo: ‘Mas então não houve umJesus que ensinou e praticou os mesmos Atos? Por que será que Matheus escreveu isto e João aquilo, quando consta que ambos O rodeavam constantemente?’ — Penso que este juízo dos meus sucessores não será evitado em vista de eu escrever coisa diferente de Matheus!”

  1. Digo Eu: “Bem, tens razão, irmão querido; mas o motivo que Me leva a esta decisão, por ora ainda não podes compreender; sabê-lo-ás no futuro!

  2. Aquilo que Matheus escreve só é proveitoso para esta terra; entretanto, tuas anotações têm valor por toda a Eternidade! Naquilo que escreves, jaz oculta a pura Manifestação Divina de Eternidades para Eternidades, através de todas as Criações já existentes e da- quelas que, em Eternidades futuras, tomarão lugar das que existem agora! Mesmo que escrevas em milhares de livros o que irei revelar a ti e a vós todos, o mundo jamais os compreenderia, daí a inutilidade (vide João 21, 25).

  3. Mas quem viver dentro dos Ensinamentos recebidos e acre- ditar no Filho renascerá em espírito e este o conduzirá em todas as profundezas da Verdade Eterna.

  4. Agora sabes o motivo por que não deixo que escrevas tudo; por isto não Me perguntes mais! O mundo não poderá ser esclareci- do em demasia, a fim de não cair num julgamento ainda maior do que aquele em que já se encontra.

  5. Ninguém poderá alcançar a base da Verdade Viva apenas lendo ou ouvindo o Evangelho, mas sim unicamente pela ação, de acordo com a Minha Doutrina; Ela, apenas, iluminará a cada um!” (Vide João 7, 17)

114. O Senhor explica a Jairo a Verdadeira Gratidão. Pedro testemunha em público a ressurreição da morta. A volta à Nazareth na casa de Maria. Judas é ensinado por Pedro e Nathanael. O espírito de Caim dentro de Judas. A coragem como vício. Exemplo dos heróis.

  1. Depois deste Ensinamento, Jairo se Me aproxima e diz: “Querido Mestre, pela ressurreição de minha filha deste-me mais do que se me tivesses dado mil vidas! Como devo agradecer-Te, como recompensar-Te? O que devo fazer?”

  2. Digo Eu: “Nada, somente não te aborreças no futuro Comi- go quando souberes isto ou aquilo de Minha Pessoa! Até então, eras contra Mim; portanto, sê de hoje em diante a Meu favor! Porque o mundo inteiro não poderá dar e fazer o que te dei e fiz! Dia virá em que compreenderás como e por que Me foi possível isto. Lembra-te de Mim em teu coração!”

  3. Jairo chora de alegria; sua mulher e filha soluçam quando Eu Me apronto para voltar a Nazareth com Meus discípulos. Eles Me acompanham até o lugar onde esperam os outros e uma gran- de multidão.

  4. Em lá chegando, apresentam-se muitos curiosos que desejam saber algo sobre a filha falecida de Jairo.

  5. Pedro toma a palavra e diz: “Ó cegos, não vedes esta menina? Pois foi ela que estava morta e agora vive! Por acaso quereis mais?!” Muitos se dirigem a Jairo e perguntam se isto é verdade.

  6. E Jairo fala em voz alta: “Sim, cegos e incrédulos! Há uma hora atrás chorei a perda desta minha querida e única filha, e agora me vedes louco de alegria, pois que a tenho de novo! Não vos basta esta prova visível?”

  7. Todos se admiram muito com estas palavras, e quando Eu Me ponho a caminho de novo com Meus discípulos, toda esta multidão Me acompanha até Nazareth e são nada menos que três mil pessoas.

  8. Já é noite fechada quando chegamos à casa, mas Maria e os irmãos ainda estão de pé. Aguardam-nos com uma boa refeição, o que muito nos alegra, pois só nos tínhamos alimentado cedo.

  1. Judas também se acha em casa e dorme sobre um leito de palha. Sendo despertado por nossas conversas, levanta-se e apenas pergunta se a pesca tinha sido boa.

  2. Pedro lhe diz: “Vai averiguar!” Judas vai lá fora e só vê uma grande multidão que se tinha acampado em volta de Minha casa. Em seguida, entra no quarto e torna a indagar a Pedro onde esta- vam os peixes, pois procurara em volta da casa e não encontrara um peixe sequer!

  3. Aí, Pedro diz: “Nunca ouviste dizer que os cegos nada veem, os surdos nada ouvem e os tolos nada entendem, além das necessida- des do seu estômago? Vê tu, usurário cego, as criaturas que se acam- param aos milhares são os peixes maravilhosos que eu mencionei!”

  4. Diz Judas: “Muito bem, não deixa de ser uma boa pescaria para um certo fim, mas, para nossa vida em geral, prefiro um peixe de cinquenta quilos, que eu possa vender por um bom dinheiro; no entanto, aquela gente lá fora não vale um ceitil!”

  5. Diz Pedro: “Tua ganância fará de ti um diabo! Por acaso és mais do que nós?! Todos nós vivemos sem cobiça e tu vives em nossa companhia, comes de nossa travessa e isso te custa apenas o trabalho da mastigação! Se, portanto, vives aqui sem dinheiro, para que então esta avidez?”

  6. Diz Judas: “Acaso não tenho mulher e filhos? Quem os sus- tentaria se eu não trabalhasse? Pensas que poderiam se alimentar de brisa?”

  7. Diz Pedro: “Olha, suporto tudo, menos uma mentira in- fame! Em Jerusalém, onde não és conhecido, poderias te vangloriar como dedicado pai de família; mas diante de mim, jamais! Pois to- dos nós, que fomos e ainda somos teus vizinhos, conhecemos a ti e a tua organização doméstica, de modo que não te damos crédito. Tua mulher e teus filhos sempre passaram misérias e tiveram que se sustentar a si próprios. Dos peixes que costumas pescar, jamais saborearam um sequer; as roupas foram-lhes dadas por mim — e quanto tempo faz que te ajudamos a reconstruir tua casa em ruínas?

Quanto nos pagaste por tudo? E chamas isto — cuidar da mulher e dos filhos? Vai e envergonha-te por teres coragem de mentir tanto!”

  1. Judas faz uma cara meio desapontada, não dá uma palavra e sai, pois Pedro o tinha atingido no âmago. Lá fora ele reflete um pouco, volta e pede perdão a todos! Também promete modificar-se e tornar-se seriamente Meu discípulo, pedindo apenas que nós não o expulsemos! Aí diz Nathanael, que costumava falar pouco: “Em ti está alojado o espírito de Caim, e este não se regenera neste mundo, pois ele é o mundo, do qual não se poderá esperar melhoria alguma!”

  2. Diz Judas: “Ora, vens de novo com teu velho espírito de Caim?! Onde está ele e onde estamos nós?! Sua raça se extinguiu, somente Noé ficou, em cujos descendentes não há mais uma gota do sangue de Caim, mas o sangue puro dos Filhos de Deus. Onde o sangue é puro, o espírito também o é, pois o espírito do homem tem origem no seu sangue.”

  3. Diz Nathanael: “Este teu conceito é um absurdo e não tem valor! Procura os saduceus, que terás mais êxito lá! Para nós, o san- gue é matéria e o espírito é e será eternamente espírito! O que te adianta o sangue dos Filhos de Deus se no mesmo reside um espírito impuro, como acontece contigo? Compreendes-me?”

  4. Diz Judas: “Sim, podes ter razão e eu me esforçarei por compreender vossa Doutrina; mas, se ela se baseia no humanismo e proclama a paciência e a meiguice, penso não seja admissível que me expulseis com toda sorte de acusações! Porque o que seria uma doutrina sem discípulos? Um som sem eco! Ela necessita de adeptos, como os adeptos dela necessitam! Por isto, penso que todo discípu- lo tem um valor exato, como o tem a doutrina por si mesma! Não vos prejudicaria se tivésseis um pouco mais de paciência com vosso companheiro!

  5. Vedes, tão bem quanto eu, que ainda estou preso aos anti- gos princípios; mas, por isto mesmo, desejo conhecer vossa doutrina para livrar-me de meus erros!

  6. Quando for um iniciado e achar que vossos preceitos estão certos, tornar-me-ei dez vezes mais fervoroso que todos vós em con-

junto, porque tenho coragem e teimosia e não temo a ninguém. E se eu tivesse medo, há muito tempo teria de vós me afastado, pois já me destes a entender, assim como vosso Mestre, que minha com- panhia não vos é agradável! Mas, como não conheço o medo, volto sempre. Vós vos aborreceis muito com isto, mas não me perturbo e continuo a ser um discípulo como vós. Que respondeis a isto?”

  1. Diz Nathanael: “Muito e nada, como queres! A tua falta de medo não representa uma virtude louvável! Pois Satanás também precisa ser destemido, senão como ousaria desobedecer a Deus por tantas Eternidades?! Isto já se nos apresenta na terra entre os ani- mais. Observa um leão, um tigre, uma pantera, um lobo, uma hiena ou um urso, coloca a seu lado um cordeiro, uma cabra, uma corça, um coelho e outros animais mansos! Dize-me, entre estes, dos quais desejarias fazer parte?”

  2. Diz Judas: “Naturalmente me dirigiria aos animais mansos e jamais aos ferozes, pois a coragem do leão é a morte do homem!”

  3. Diz Nathanael: “E te vanglorias da coragem e achas que por causa dela és um bom discípulo?! Digo-te: a coragem, no sentido da palavra, é um grande vício pois é o fruto do orgulho, que despreza tudo aquilo que numa pessoa constitui seu ser intrínseco. Por isto, a coragem destemida é considerada em nossa Doutrina nunca uma virtude, pois exige do homem o orgulho!

  4. Quem faz a guerra? Os heróis que não temem a morte! Se o mundo estivesse repleto deles, seria dominado pela guerra. Pois o herói não quer cooperar com outros, mas sim ser o único, não sos- segando enquanto não os exterminar.

  5. Agora, imagina a Humanidade cheia de criaturas pacíficas e meigas — como a terra seria um paraíso!

  6. Se o herói avistar um medroso, não o perseguirá, pois não poderá competir com sua bravura! Encontrando-se dois heróis, em breve se desafiarão, até o completo aniquilamento de um! Tens aí a bênção dos corajosos!

  7. Se, portanto, queres fazer parte do nosso meio, tens que abandonar tua coragem supérflua e encher-te de amor, paciência e

meiguice; terás, assim, todos os predicados de um verdadeiro discí- pulo do Senhor!”

  1. Diz Judas: “Bem, tens razão; vou refletir e amanhã vos co- municarei se fico ou se vou!”

  2. Após estas palavras, Judas sai, procura vários conhecidos entre a multidão e passa a noite conversando sobre aquilo que Na- thanael falara. Todos são a favor deste e dizem: “Ele é verdadeira- mente sábio!”, pois sabiam que esta alma era pura! Nós, entretanto, vamos dormir.

115. Multidão em frente à casa de Maria. Intenção do povo em querer proclamar a Jesus, Rei. Declaração do homem do povo para a empregada: “Jesus é o Prometido!” O povo procura e acha a Jesus. Ajuda inteligente de Cornélius.

  1. Na manhã seguinte, faz-se sentir um grande movimento diante da casa. Já de madrugada, juntam-se outras pessoas, vende- dores de pão e leite também não faltam, e todos começam a ficar com medo da barulhada.

  2. Eu então digo: “Deixai-nos tomar o leite e o pão; em seguida nos dirigiremos a uma casa conhecida, atrás de Capernaum, para evitar este alvoroço!”

  3. Nisto vem Judas e diz: “Irmãos, ficarei convosco! Por tal mo- tivo, liquidei meus negócios hoje, em vez de amanhã. — Agora o povo, que abrange milhares de pessoas, quer nada menos que pro- clamar a Jesus, Rei. Penso não ser isto aconselhável, em presença do grande número de soldados romanos!”

  4. Digo Eu: “Então vamos depressa, pois hoje é sábado e a mul- tidão pode aumentar.”

  5. Em volta de Minha casa, isto é, dos dois lados da mesma, há um jardim bem cercado, no qual só se pode penetrar por uma portinha traseira. Nós a utilizamos e fugimos, desta maneira, dos olhos curiosos de milhares de pessoas, entre as quais três quartas partes são apenas atraídas pela curiosidade, para admirarem fatos extraordinários.

  1. Enquanto fugimos sem sermos vistos pela multidão, que ain- da espera em frente à casa a fim de Me proclamar Rei dos judeus, uma serva Minha sai e pergunta a um homem que lhe dá boa im- pressão qual o desejo desta multidão. E o homem responde: “Esta- mos aqui para coroarmos a Jesus, o mais poderoso dos poderosos e o mais sábio de todos os sábios! Fomos testemunhas de como o mar e o vento Lhe obedecem e os piores espíritos obsessores são afugen- tados! Ele é, infalivelmente, o Messias Prometido que salvará o povo de Deus do jugo e da tirania de Roma! É tempo de elevá-Lo Rei, reconhecido e adorado por todos os judeus! Por isto estamos aqui — mas que faz Ele lá dentro, que não nos dá atenção?”

  2. Diz a serva: “Esperais em vão, pois Ele e Seus discípulos já saíram cedinho para Capernaum, talvez para ver um doente.”

  3. O homem pergunta se ela não sabe em que casa Eu teria ido. A serva afirma que não o sabe, ela e ninguém de casa, porque Eu não o havia mencionado.

  4. A fim de confirmar a veracidade desta informação, o ho- mem revista a casa e só encontra umas poucas pessoas ocupa- das na cozinha. Depois anuncia aos outros que Eu tinha ido a Capernaum.

  5. Quando a multidão ouve isto, levanta-se e diz: “Então va- mos para lá! Descobriremos onde Ele se encontra!”

  6. Todos se encaminham para essa cidade e Minha casa fica livre desta aglomeração.

  7. Em compensação, as pessoas de Capernaum se assustam quando veem toda esta gente se aproximar. O comandante romano manda vários esbirros ao encontro deles indagarem o que desejam, pois é sábado e ali não se encontra nenhum mercado.

  8. Aí alguns respondem: “Procuramos a Jesus de Nazareth, pois ouvimos dizer que Ele se encontra aqui.”

  9. O comandante lhes faz ver que Jesus não está ali, e sim per- to de Bethabara, para onde tinha partido há poucas horas.

  10. A multidão imediatamente segue para lá. A caminho, en- tre os dois lugarejos, eles descobrem uma outra multidão rodeando

uma casa, aproximam-se e perguntam o que há. São informados de que Eu ali estava.

  1. A partir de então a casa é rodeada por todos os lados e o po- vo conjectura como poderia proclamar-Me Rei. Então o comandan- te presta-Me um bom serviço, mandando uma legião de soldados que vigia o povo e este desiste de sua intenção.

  2. Com este movimento todo, aproxima-se um grupo de fari- seus, pois ouviram Jairo dizer que Eu ressuscitara sua filha. O povo lhes dá passagem para entrarem em casa.

  3. Logo que Me veem, fazem uma série de perguntas; Eu, en- tretanto, aponto-lhes Meus discípulos e digo: “São Minhas Teste- munhas e sabem de tudo, perguntai-lhes!”

  4. Então Meus discípulos são interrogados pelos outros e res- pondem de maneira segura.

116. Cena entre o paralítico e os fariseus. O Senhor consola o doente. Os templários orgulhosos e aborrecidos. Cura do paralítico. Bom efeito da cura. (Matheus 9, 2–8)

  1. Enquanto isto, chegam oito homens com um paralítico em cima de uma cama e pedem que Eu o cure. Mas é tão compacta a multidão que rodeia a casa, que não é possível levar o doente para dentro. Receiam, porém, que Eu faça uso de uma saída nos fundos que dá para o mar. Por isto, um deles se acerca do dono da casa e diz: “Amigo, somos oito irmãos e trouxemos nosso tio que há cinco anos jaz enfermo; tanto que o transportamos com o leito para levá-lo à presença do célebre salvador Jesus. Mas, devido a esta multidão, isto não é possível, e peço-te que me dês um conselho!”

  2. Diz o dono da casa: “Isto será difícil, porque o quarto em que se acha Jesus está cheio: mais de cem discípulos e um grande número de fariseus, escribas e sacerdotes, de todas as zonas, estão confabulando com Ele. Mas, levando em conta a nossa velha amiza- de, dar-vos-ei uma oportunidade!

  3. Vede, minha casa é, como as demais, coberta de junco! Co- locaremos por fora duas escadas até o telhado e o deslocaremos o

bastante que dê passagem ao enfermo com sua cama! Uma vez no sótão, amarrareis umas cordas fortes, que se encontram lá, nas qua- tro pontas do leito. Eu abrirei o alçapão e faremos descer o vosso tio para dentro do quarto, e ele poderá pedir pessoalmente a Jesus que o cure. Os que se encontram debaixo do alçapão abrirão espaço, se não quiserem que a cama caia em suas cabeças!”

  1. Esta proposta é aceita e executada sob os aplausos alegres da multidão. Apenas um, que era um templário ultramontano e tolo e media a lei com o transferidor, advertiu-os de que deviam conside- rar o sábado!

  2. Os outros respondem: “Quem te pediu conselho?! Vai ao Templo em Jerusalém e canta lá tuas lamúrias! Nós já abandona- mos vosso preceito desumano e sabemos que Deus Se regozija com boas ações!”

  3. O templário se cala em vista do novo aplauso por parte do povo, porque a maior parte dos galileus não considerava mais os ditames judaicos.

  4. Neste meio tempo, abre-se o alçapão e um fariseu diz, com ares de importância: “O que há ali em cima?”

  5. Diz o outro: “Um pouco de paciência e vereis tudo! Vede, hoje é sábado e neste dia a salvação vem de cima, como ensinais em vossas sinagogas! Desta vez a salvação do homem está embaixo, tan- to que agora vem um de cima, que ainda não foi salvo, à procura da salvação aqui embaixo. De modo que nada se faz que seja contrário ao sábado; pois não importa se a salvação vem de cima ou alguém a procura embaixo, uma vez que ela já se encontra entre os cegos que não a veem, embora esteja na sua frente!”

  6. Este discurso provoca grande alegria entre os discípulos e muita raiva entre os fariseus, escribas e sacerdotes; mas os discípulos dizem em altas vozes: “Então, fazei descer aquele que procura sua salvação!” Imediatamente o doente desce.

  7. Quando se vê diante de Mim, pede chorando que Eu o ajude! Como vejo que tanto ele como aqueles que o trouxeram têm fé verdadeira, Eu lhe digo: “Anima-te, Meu filho, pois teus pecados

te são perdoados!” Digo isto como prova aos escribas, que já Me consideravam pela ressurreição da filha de Jairo.

  1. Mas, quando digo: “Teus pecados te são perdoados” (Ma- th. 9, 2), desperto a ira em alguns escribas, que pensam o seguinte: “Que é isto? Como pode ser um salvador, se está blasfemando?” (Math. 9, 3). Tomavam-Me apenas por um médico excepcional, e a ideia de que em Mim poderia alojar-Se um Poder Divino era para eles um sacrilégio. Pois este Poder Divino só estava com eles, mor- mente quando em Jerusalém.

  2. Sentindo os pensamentos deles, digo: “Por que fazeis mau juízo em vossos corações? (Math. 9, 4). Pois que é mais fácil dizer: ‘Perdoados te são teus pecados’ ou ‘Levanta-te e anda’?” (Math. 9, 5)

  3. Diz um escriba: “Penso que não darás a este mais do que o perdão, uma vez que, sendo paralítico, só a morte o ajudará!”

  4. Digo Eu: “Pensais assim? Digo-vos: a fim de saberdes que o Filho do homem tem Poder na terra para perdoar os pecados, Eu afirmo a este doente diante de vós, que vos atreveis a possuir o poder do Perdão de Deus: Levanta-te, toma a tua cama e vai para casa com saúde e ânimo!” (Math. 9, 6)

  5. Com estas palavras o enfermo estende os membros horrivel- mente torcidos e, em parte, completamente dessecados, e no mesmo instante tudo se cobre de carne, o que ele Me agradece chorando de imensa alegria. Em seguida, levanta-se da cama, pois tornara-se forte e rijo, solta as cordas do leito, tomando-o debaixo do seu braço esquerdo e carrega este peso com facilidade, por entre a grande mul- tidão, até sua casa em Capernaum (Math. 9, 7).

  6. O povo, que tinha assistido a esta cena, começa a louvar e glorificar a Deus por ter dado a um homem tal poder, pois só Ele o pode dar, e pelo qual são possíveis todas as coisas! (Math. 9, 8)

  7. Este ato convence de novo os fariseus e escribas presentes, que abandonam os maus pensamentos e dizem: “Isto é incrível! Só Deus sabe como podes fazer semelhantes coisas!”

117. Discurso imponente do jovem romano aos fariseus. Exemplo da criação de Adam. Homicídio de Zacharias e de seu filho, João Baptista. Bom testemunho do Senhor.

  1. O jovem que há pouco tinha falado tão bem diz através do alçapão: “Será que o Sumo Pontífice em Jerusalém conseguiria isto com mil bois, dez mil burros e cem mil cordeiros?!”

  2. Esta pergunta chistosa desperta uma grande gargalhada até entre os fariseus. No entanto, um escriba se faz ouvir e diz lá para cima: “Meu caro, não arrisques muito! Pois os braços do Sumo Pon- tífice abrangem a terra toda, e quem for atingido por ele será estra- çalhado! Além disso, ele não precisa ressuscitar os mortos e curar pa- ralíticos, porque isto faz parte da carne e não do espírito do homem, e é papel dos médicos antes que dos sacerdotes. Compreendeste?”

  3. Diz o orador: “Amigo, bem que deveria ser papel dos sacer- dotes, mas, como não o podem executar nem por todas as riquezas do mundo, veem-se finalmente obrigados a confessar: ‘Isto não toca a nós, que só tratamos do espírito do homem!’ Eu acho que o fato de um médico restituir espírito e alma a u’a menina completamente morta, que faleceu às minhas vistas de uma febre maligna, não deixa de ser ato fortemente espiritual!

  4. Quando Deus criou Adam do barro, modelou apenas uma forma humana sem espírito!

  5. Mas, quando Ele soprou nesta forma inerte uma alma viva e nesta um espírito pensante, Deus realizou uma obra puramente es- piritual na primeira criatura desta terra! E se agora, diante de nossos olhos, este médico milagroso, Jesus de Nazareth, fez o mesmo com a filhinha de Jairo, esta cura forçosamente é um ato espiritual?!”

  6. Diz o escriba: “Isto são coisas que não entendes, portanto deves calar-te!”

  7. Diz o jovem: “Se eu ainda fosse judeu, calar-me-ia; mas, não o sendo e me considerando um grego honesto e admirador da dou- trina maravilhosa de Sócrates, não vejo por que deva calar-me diante

dos sacerdotes judaicos, cuja doutrina atual eu, infelizmente, conhe- ço muito bem!”

  1. Diz o escriba: “Que achas de tolo — tu que és pagão — na Doutrina Antiga e Divina dos judeus? Talvez penses não serem bas- tante elevados seus propagadores?”

  2. Diz o jovem: “Não, Moysés e todos os profetas que disseram de vós o que acabo de falar são sábios muito puros! Mas vossas leis, com as quais nem Moysés nem os profetas jamais sonharam, eu con- sidero sumamente absurdas!

  3. Como servis a Deus? No altar consagrado a Ele queimais o estrume, e os bois, vitelos e carneiros ofereceis a vosso estômago insaciável! Exterminais a Divina Pureza de vossa Doutrina — e se alguém ousa ensiná-la como foi dada, fazeis a ele o que fizestes a todos os vossos profetas!

  4. Quanto tempo faz que assassinastes Zacharias no Templo?

  5. Seu filho João pregou em Bethabara, advertindo a vós, que sois criminosos inconscientes no Santuário de Deus, à penitência e à volta para a Doutrina pura de Moysés — e que fizestes com ele? Onde está? Desapareceu! Consta-me que foi apanhado à noite por soldados!

  6. Agora está aqui, em Nazareth, Jesus, como profeta enviado por Deus, fazendo milagres que só poderão ser possíveis aos deuses onipotentes, e vós O observais com olhos de abutres! Ai Dele se ou- sar, como eu, contestar-vos juntamente com vossa própria doutrina imunda! Vós O condenaríeis pelo crime máximo do sacrilégio e, co- mo gratidão por ter ressuscitado vossos mortos e feito andar vossos paralíticos, apedrejá-Lo-íeis ou, talvez, crucificá-Lo-íeis!

  7. Vosso prazer é dominar e vos nutrir bem nu’a mesa farta! Quem tencionar reduzir-vos este prazer é vosso inimigo, que com facilidade será exterminado!

  8. Desprezo-vos a todos, como um cadáver putrefato, porque sois realmente os maiores inimigos de Deus e de Suas criaturas! Eu sou pagão — e reconheço neste homem Jesus a Onipotência Divina, numa Plenitude jamais vista sobre a terra!

  1. Não é Sua Carne que faz estes milagres, mas sim o Espírito Onipotente e Puro que habita Nele!

  2. Vede, esta é a minha compreensão como pagão declarado por vós! E que pensais de Jesus, que desperta vossos mortos só pela palavra e faz com que os paralíticos pulem quais corças?”

  3. Com esse discurso realmente destemido, ele consegue en- raivecer de tal maneira os fariseus e escribas que, de bom grado, o teriam estraçalhado, se tal fosse possível. Mas o povo não o teria permitido, pois jubilava com a audácia deste jovem em ter falado a verdade integral a estes presunçosos!

118. Os fariseus ofendidos dirigem-se ao Senhor. Este revela ainda mais os sacrilégios, os horrores no Templo e as tais cerimônias.

  1. Um fariseu, porém, dirige-se a Mim e diz: “Como podes calar-te, sendo judeu, quando um reles pagão, com quem tu foste caridoso, atreve-se a injuriar a Doutrina Sagrada de nossos pais?!”

  2. Digo Eu: “Ele não injuriou Moysés ou os profetas, e sim unicamente vós e vossas leis, deixando-Me em paz; por que deve- ria repreendê-lo?! Acusou apenas a vós, portanto é questão vossa; ajustai-vos com ele! Pois nada tem contra Mim, que poderia Eu ter contra ele?! Tratai de fazer as pazes com ele, porque até agora ambos estamos de acordo!”

  3. Dizem os sacerdotes e fariseus: “Sim, não injuriou a ti, mas a nós, e como te tornaste nosso amigo, poderias, com facilidade, fazer com que este pagão se calasse, pois conhecemos o poder de tua palavra! Mas permitiste que ele nos reduzisse perante o povo, o que não foi muito louvável de tua parte! Não iremos odiar-te por isto, mas também não seremos a teu favor!”

  4. Digo Eu: “Sede como quiserdes e Eu serei como achar por bem fazer! Além disso, é estranho de vossa parte sustardes vossa ami- zade para Comigo quando, realmente, nunca a manifestastes! Eu, entretanto, que teria plena razão de assim fazer, não o faço, em- bora os vossos corações não alimentem pensamentos louváveis a Meu respeito!

  1. Que poderia Eu perder com a vossa amizade? Digo-vos: Nada! Mas, se não tiverdes a Minha, quem ressuscitará vossos fi- lhos mortos?!

  2. Se, todavia, considerardes as palavras do jovem, deveis chegar à conclusão de que ele falou a verdade! Conheceis a Escritura, Moy- sés e os profetas! Perguntai a vós mesmos se ainda existem vestígios deles no Templo?!

  3. Neste mesmo ano Eu estive pessoalmente em Jerusalém e vi, com grande desgosto, como se fez de um Templo um antro de assassinos!

  4. Os peristilos estão cheios de gado e outros animais para ven- da, tanto que se torna perigoso penetrá-lo! De um lado do antetem- plo, abatem-se os animais como nos matadouros e vende-se a carne; do outro, estão os bancos e mesas dos agiotas, e o vozerio é tamanho, que dificilmente se ouve a própria voz.

  5. Entrando no Templo, encontram-se os vendedores de pom- bos e outras aves, que são oferecidos numa barulheira infernal! E o Santíssimo, no qual somente o Sumo Pontífice pode penetrar uma vez no ano, pela Ordem de Deus, é mostrado por bom preço até aos pagãos, se prometerem não contar esse fato aos judeus! E em Roma se conhece tão bem o Santíssimo como em Jerusalém o Su- mo Pontífice! Assim revela-se, por dinheiro, os segredos do Templo aos estrangeiros; mas, se um pobre judeu se atrevesse a penetrá-lo, imediatamente seria apedrejado como sacrílego atrás da muralha do Templo, no lugar maldito! E não se passa uma semana sem que isto aconteça uma vez!

  6. Que instituição é esta, que inicia nos seus segredos os es- trangeiros e mata os próprios filhos?!

  7. Respondei vós mesmos se Moysés e os profetas ensinaram isto e se Salomon construiu este Templo, em sua grande sabedoria, para que fosse mantido como está sendo?! Em suma, a Casa de Deus tornou-se um antro de assassinos e o Espírito de Jehovah não pousa mais sobre a Arca, em forma de coluna de fogo!”

  1. Os fariseus e escribas se admiram e Me dizem: “Tu estiveste sempre em e perto de Nazareth: como podes saber tudo isto? Quem te denunciou o que se passa no Templo?!”

  2. Digo Eu: “Que pergunta mais tola! Se Me é possível saber vossos pensamentos mais íntimos, como não deveria saber o que ali se passa? Isto já sabe o mundo inteiro!

  3. Vós mesmos sois os verdadeiros denunciadores e vossa ga- nância vos levou a isso! Por dinheiro revelais os segredos aos estran- geiros e estes, por sua vez, contam-nos aos judeus nas ruas. E ainda Me perguntais como Eu o sei?!

  4. Mas, assim sendo e conhecendo aquilo que Moysés e os profetas todos ensinaram — repletos do Espírito Divino — como então é constituída vossa fé em Deus, quando rejeitais tão facilmente o Verbo Divino, proclamando, com presunção inconcebível, vossas próprias leis, como se fossem vindas de Deus, ao povo cego e pobre, intimidando-o, com toda sorte de terror, a cumpri-las e venerá-las?!”

119. O juramento feito ao Templo. Onde não estiver Deus, está a maldade. “Não acreditando em Minhas Palavras, crede ao menos em Minhas Obras!” A Escritura é apenas um guia para Deus! Exemplo da viagem a Roma. Só com a execução da Vontade de Deus chegamos a conhecê-Lo! O Senhor acalma a vingança do povo contra os templários e embarca de navio.

  1. Diz um escriba: “Amigo, arriscas muito dizendo-nos coisas cuja denúncia te traria a morte! Tua sorte é que prestaste um grande favor ao nosso dirigente, senão estarias mal; pois nós estamos ligados ao Templo por um juramento potente!”

  2. Digo Eu: “Podeis rompê-lo quando quiserdes; não jurastes a Deus, e sim ao Templo construído por mãos humanas e no qual Deus não reside!

  3. Onde não Se encontra Deus, habita o príncipe das trevas e do mal, e com este, que é o atual senhor do Templo, podeis romper o juramento, sem medo!

  4. Se assim fizerdes, sereis agradáveis ao Senhor e Ele vos dará aquilo que Me deu desde o início do mundo e que não compreen-

deis, alegando que somente Deus pode fazer estes milagres! Mas, se temeis mais ao Templo que ao Senhor, a Quem não conheceis, continuareis presos àquele, sendo um horror perante Deus!

  1. Se não acreditais nisto pelas Minhas Simples Palavras, fazei-o pelos milagres que realizei em vosso benefício!”

  2. Diz o escriba: “Como podes conhecer melhor a Deus do que nós, quando não estudaste as Escrituras?!”

  3. Digo Eu: “Conheceis a letra morta, mas nela não está Deus, portanto não O podeis conhecer! A Escritura vos mostra apenas o ca- minho para Ele — e isto se seguis incondicionalmente este caminho!

  4. Que vos adiantaria conhecer a estrada que leva para Roma se jamais a percorrêsseis, a fim de ver Roma e seu Rei?! Quem poderia afirmar o conhecimento desta cidade sem ter seguido o caminho que vai dar lá? Do mesmo modo, de que serve a compreensão da Doutrina, que é um caminho para Deus, se nele ainda não destes um passo?!

  5. Eu, porém, conheço, como vós, a Escritura toda e sempre vi- vi pelas Leis Divinas nela contidas; por isto, estou no Conhecimen- to Pleno de Deus e posso afirmar como Fonte Original que, entre vós, jamais alguém O conheceu e, pelos maus caminhos que trilhais, tampouco o conseguireis, pois sois todos ateus!

  6. Vós mesmos não quereis conhecê-Lo e impedis, com per- seguições e morte, aqueles que o querem! Por isto, sofrereis no Além maior condenação, porque todos os que perseguis serão vos- sos juízes!”

  7. Estas palavras despertam novamente os aplausos do povo, que quer agarrar os fariseus e escribas. Eu impeço isto e Me afasto pela porta da praia com os discípulos e todos os fariseus e escribas. Rapidamente tomamos os barcos e o vento nos leva ligeiro, de modo que o povo não nos alcança.

120. Desembarque e pousada na casa do aduaneiro Matheus. Seu convívio com os pescadores e fariseus. A educação de crianças. Utilidade e destino do homem. (Matheus 9, 9–13)

  1. Quando o povo já não pode mais nos avistar, Eu mando di- rigir os barcos para a praia. É quase hora do almoço e no barco não há o que comer. Mais ou menos duas horas distantes da última casa, temos que andar um bom pedaço para alcançar uma vila pequena, onde pretendemos almoçar.

  2. Na entrada da vila está a alfândega, e qual não é a nossa sur- presa ao encontrarmos, na barreira, aquele jovem que tinha sido o bom orador e era um irmão dos oito.

  3. Quando os fariseus e escribas o avistam, dizem: “Que pouca sorte! É preciso que este seja o aduaneiro romano! Certamente pe- dir-nos-á uma boa taxa! Que faremos?”

  4. Digo Eu: “Deixai isto por Minha Conta!”

  5. Com estas palavras, dirijo-Me ao aduaneiro e digo: “Matheus, (pois este era o seu nome) entrega esta mesa a outrem e segue-Me!” E ele levanta-se e Me segue (Math. 9, 9). Enquanto os discípulos, fa- riseus e escribas perguntam o que devem pagar, diz Matheus: “Desta vez o Senhor pagou a taxa por vós todos, porque curou meu tio. Como poderia eu cobrar algo Dele, deste Mestre Divino?!”

  6. Com isto, abre-se a barreira e todos passam.

  7. Chegando à vila, Matheus nos conduz à sua casa, onde almo- çavam todos os publicanos, uma quantidade de fiscais e outros. A casa de Matheus é grande e, ao mesmo tempo, um albergue, onde os judeus podem tomar refeições por dinheiro. Os aduaneiros e fiscais, porém, não pagam, pois são sujeitos a Roma.

  8. Eu, entretanto, sou convidado por todos os publicanos a sen- tar-Me à sua mesa, e Meus discípulos, os fariseus e escribas ficam lá fora, recebendo pão e vinho em quantidade. Os discípulos estavam bem humorados (Math. 9, 10). Isto, porém, não se dá com os ou- tros, que se aborrecem por não terem sido convidados à mesa.

  1. Acontece que neste ínterim chegam mais publicanos e peca- dores de outras zonas; todos Me cumprimentam amáveis e afirmam que não poderia suceder graça maior a esta casa, do que contar Co- migo entre os hóspedes. Todos se sentam à Minha mesa, que tem de ser aumentada.

  2. Os fariseus, do lado de fora, aglomeram-se diante da porta para observar Meus Atos e Minhas Palavras. Quando veem que Eu trato bem os publicanos e pecadores, aborrecem-se intimamente e perguntam a Meus discípulos: “Por que come vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Será igual a eles?” (Math. 9, 11)

  3. Ouvindo esta pergunta, de Minha mesa dirijo-Me a eles e digo com boa disposição: “Os fortes e sadios não necessitam de médico, e sim os doentes (Math. 9, 12).

  4. Ide e aprendei o que significa: Alegro-Me com a misericór- dia antes que com o sacrifício!

  5. Eu vim para chamar os pecadores à penitência — e não a beatos que não necessitam do arrependimento!” (Math. 9, 13)

  6. Os fariseus e escribas interpretam estas palavras a seu favor e se sentem lisonjeados.

  7. Eu, porém, entretenho a assembleia com diversas parábolas que mostram nitidamente a fraqueza humana e, em consequência desta, a perversidade. Do mesmo modo estipulo as regras funda- mentais para a verdadeira educação dos filhos, mostrando que uma educação falha tem, como resultado, toda sorte de sofrimento, tanto físico como espiritual.

  8. Digo-lhes o motivo por que o homem tinha sido criado por Deus e como deveria, pelo seu livre arbítrio, seguir voluntariamente a Intenção Divina para conseguir a realização de um ser perfeito e espiritualmente indestrutível.

    1. Comentário dos fariseus sobre José, Maria e Jesus. Queixa de José e suas dúvidas a respeito de Jesus. Advertência do evangelista João aos fariseus.

  1. Estes ensinamentos eram aceitos, embora nem sempre bem compreendidos. Os próprios fariseus e escribas perguntam, entre si, donde Me vem tamanha sabedoria, pois conhecem a Mim, a José, a Maria e a todos os filhos de José. Dizem então aos discípulos: “É realmente incompreensível! O pai dele foi um bom carpinteiro, ho- nesto e fiel, e além disso um judeu severo, que seguia estritamente as leis de Moysés e dos profetas — porém jamais deu provas de sabe- doria! Os outros filhos, que por diversas vezes trabalharam por nossa conta, estão distantes da sabedoria como o sol, a lua e as estrelas o são da terra.

  2. A bondosa Maria, uma criatura ainda bonita, ativa e virtuo- sa, foi educada no Templo. Mas sabemos quanta sabedoria é ensina- da às moças por esta educação! Tanto que não a herdou de sua mãe! Também não me consta que ele tivesse frequentado alguma escola!”

  3. “Ao contrário”, diz um escriba amigo de José, “muitas vezes José se queixou de seu filho Jesus e me dizia: ‘Não sei o que fazer com este menino! Seu nascimento extraordinário e as aparições que levavam a crer que o Ser Divino iria manifestar-Se por ele, bem como suas palavras de grande sabedoria, encheram-me das maiores esperanças, tanto mais que sou descendente da casa de David. Mas justamente agora, que devia aprender algo, nada feito! Se lhe dou um professor, o menino sabe e entende tudo melhor que ele!

  4. A única coisa que lhe acompanha desde criança é uma força de vontade inabalável, com a qual faz os milagres, mas este é o moti- vo por que não quer aprender algo! Fora disto, é bondoso, obedien- te, comportado, meigo e modesto, como sua mãe!’

  5. Vede, estas queixas ouvi não apenas uma vez, e sim muitas vezes, por parte do velho José.”

  6. Diz João, o evangelista: “Amigos, sei perfeitamente o motivo disto tudo, mas ainda é cedo para vos esclarecer! Tempo virá em que

o sabereis por Sua Própria Boca! Por enquanto, contentai-vos com Seus Atos e Sabedoria.” — Os judeus insistem para que João lhes dê alguns esclarecimentos maiores, mas ele não se deixa tentar. Nesse meio tempo, vários fiscais e aduaneiros voltam ao trabalho, deixan- do, assim, mais espaço na mesa.

    1. Os dois Matheus: o aduaneiro e o escrivão. Cena com os pescadores. Os discípulos de João e os discípulos de Jesus. Boa resposta de Pedro a respeito da atitude de João.

  1. O jovem aduaneiro Matheus (que não deve ser confundido com o escrivão Matheus — por isto sempre se lê nos Evangelhos a expressão “aduaneiro” quando se trata dele) chamou Meus discípu- los, os fariseus e escribas, que de pronto começam a saciar sua fome e sede. Somente Judas se contém, pois teme a conta elevada que este almoço poderá custar.

  2. Quando todos estão à vontade, entra uma empregada e diz ao dono da casa: “Que faremos? Os pescadores chegaram agora tra- zendo peixes e querem algo para comer. Mas, como hoje tivemos muitos hóspedes imprevistos, que acabaram com tudo que havia na cozinha, não sabemos o que decidir!” — Diz Matheus, o aduaneiro: “Quantos são?” — Diz a empregada: “Uns vinte.” Responde ele: “Deixa-os entrar, aqui ainda há bastante para eles!”

  3. A empregada transmite isto aos pescadores e estes entram na sala e sentam-se em uma mesa pequena, da qual já se haviam levan- tado os outros hóspedes.

  4. Quando avistam Pedro e outros, cumprimentam-nos e, ob- servando a escassez de alimentos em sua mesa, dizem a Pedro: “Para nós, basta, pois somos verdadeiros discípulos de João e nossa lei é o jejum. Vós, porém, como novos discípulos de Jesus, podeis comer à vontade; parece que não tratais da abstinência!”

  5. Diz Pedro: “João Baptista jejuou por aquilo que nós temos, e nós o imitamos de acordo com sua Doutrina e prédica severa. Ele anunciou Aquele que acompanhamos e Dele deu testemunho. Mas, quando Este veio e aceitou o batismo, João não confiou com-

pletamente, assim como vós. Enquanto dava testemunho de Jesus, levado pelo espírito, e quando Ele se aproximou, nos disse: ‘Vede, Este que vem é Aquele de que vos falei, que viria após mim, que não mereço desatar as correias de Suas Sandálias!’ — ele intimamente duvidava, como vós ainda agora duvidais. Por isto, ele também jejua convosco; para nós, que somos crentes, a abstinência terminou! Sois os únicos culpados do vosso jejum! Mas assim está bem; do mesmo modo que o cego não pode saciar sua visão com a luz e suas cores, o cego de coração não poderá saciar nem coração nem estômago. Compreendestes?

  1. Se João tivesse acreditado, teria seguido o Cordeiro que tira os pecados do mundo, conforme seu testemunho. Mas, como sua alma duvidou Daquele de Quem testemunhou, continuou no de- serto, até que Herodes o prendeu.

  2. Por que não O seguiu, pois nos falava: ‘A Este deveis ouvir!’ Por que não quis ouvi-Lo? Não temos conhecimento de que Este, a Quem seguimos, lho tivesse proibido. Portanto, dai-me um motivo concludente por que João não seguiu a Jesus?!”

  3. Os discípulos de João não sabem o que dizer. Somente um deles alega que a notícia da prisão por parte de Herodes é falsa; que este apenas o tinha chamado para seu palácio, a fim de apurar tudo sobre o Enviado de Jehovah. Que Herodes tinha muito respeito por João e não iria aprisioná-lo.

  4. Diz Pedro, secamente: “Se ainda não o fez, em breve o fará! Pois Herodes é uma raposa astuciosa, que merece tão pouca confian- ça como uma serpente!”

123. O testemunho de João Baptista a respeito do Senhor. Comparação do noivo, os convivas e a noiva. “Quem tem o Filho, terá a Vida Eterna!” Um crítico cego de Jesus. (Matheus 9, 14–15)

  1. Depois desta conversa, os discípulos de João, juntamente conosco, continuam a comer. Apenas alguns fariseus observam o jejum total e só irão comer após o ocaso.

  1. Depois de algum tempo, quando o vinho já despertara a ver- bosidade dos discípulos de João, um se levanta e quer saber de Mim Mesmo o motivo por que tinham que jejuar tão severamente, quan- do Eu e Meus adeptos não o fazíamos. E diz: “Senhor e Mestre, por que jejuamos nós e os fariseus, muitas vezes, e Teus discípulos não?” (Math. 9, 14)

  2. E Eu lhe digo: “Amigo, estiveste presente quando se comu- nicou a João que Eu batizava os homens e que muitos Me seguiam! Responde, perante todos, o que disse João Baptista!” — Diz o adep- to de João: “João Baptista disse: ‘O homem nada poderá receber que não lhe seja dado pelo Céu! Sois testemunhas de eu haver dito que não sou o Cristo, e sim o enviado por Ele. O noivo é que tem a noiva; o amigo do noivo, que Lhe assiste e ouve, alegra-se muito com a voz dele. Assim, pois, já este meu prazer está satisfeito. Ele convém crescer; a mim, porém, diminuir! Aquele que vem de cima está sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da mesma. Aquele que vem do Céu é acima de todos!’

  3. Depois João relatou o que tinha visto e testemunhado Dele, mas, finalmente, lastimou com tristeza que seu teste- munho verdadeiro não era aceito por pessoa alguma! E aquele que o aceitava enfeixava em si esta Verdade Divina, com me- do do mundo.

  4. Embora soubesse que Aquele Enviado por Deus só falava a Palavra Pura, não ousava afirmar isto perante o mundo; pois temia o inimigo de Deus — o mundo — mais do que a Deus, por causa de seu corpo que fazia parte do mundo. Que adianta reconhecer em si a Medida Justa de Deus, se a criatura ainda vive da medida do mundo?! A ninguém Deus dá o Seu Espírito pela medida mundana, tanto que estarão perdidos aqueles que, embora tenham reconheci- do o Espírito Divino, continuam agarrados a essa medida, pois não têm a Vida Eterna em si!

  5. ‘Apenas aquele’, diz João, ‘que acredita no Filho possui a Vida Eterna, pois o Filho é a Vida do Pai! Quem não acredita no Filho não terá essa Mesma Vida, e a ira de Deus estará sobre ele!’

  1. Eis as palavras de João, mas até hoje nenhum de nós pôde compreender seu sentido intrínseco! Sabemos que ele se referia a Ti, mas em relação a que — isto não percebemos!”

  2. Digo Eu: “Bem, deveis saber que Eu sou o Noivo ao qual ele se referia! Assim sendo, estes que estão aqui devem ser os convivas!”

  3. Diz o discípulo de João: “Mas onde está a noiva? Como po- des ser um Noivo sem noiva?!”

  4. Digo Eu: “Estes convivas são a Minha Noiva, assim como todos aqueles que ouvem a Minha Palavra, guardam-na em seu co- ração e agem de acordo com ela! Podem, porventura, os convivas andar tristes enquanto o Noivo está com eles?! Dias virão em que lhes será tirado o Noivo, e então jejuarão!” (Math. 9, 15)

  5. Esta explicação surpreende e aborrece muito os discípulos de João Baptista; pois, como Eu a dou sorridente, julgam que Eu esteja gracejando. Por isso esse mesmo discípulo, tentando ser sar- cástico, diz: “Estranho! Através de João falava o Espírito de Deus; de Ti deveria falar tanto mais Este Espírito, pois que o testemunho dele se referia a Ti! O mais estranho é que o Espírito Divino instruiu fartamente Moysés, os profetas e João a exigir a maior penitência; Tu, entretanto, pareces fazer e ensinar justamente o contrário! De acordo com Moysés, todo aquele que pisasse a casa dum pecador se tornaria impuro. Quem, num sábado, tocasse nu’a mulher cairia no mesmo erro! Tu, porém, não pareces considerar o sábado e a puri- ficação da pessoa! Como, pois, Tua Doutrina pode ser de Deus?!”

124. Parábola da roupa nova e da velha, do vinho novo e dos odres velhos. A tendência econômica e a misericórdia. Ensinamentos sociais. Pela Ordem Divina a terra é posse comum. Motivo do dilúvio. Advertência à situação atual do mundo. (Matheus 9, 16–17)

  1. Digo Eu: “Minha Doutrina é igual a um vestido novo; a vossa, porém, é velha e cheia de rasgos e defeitos, motivo por que pudestes pescar, não obstante Moysés e João, embora fosse sábado. Portanto, Minha Doutrina é nova e não é possível tirar-Me um pe- daço para remendar vosso vestido velho e roto. E se assim se fizesse,

só se conseguiriam novos buracos, porque o pano novo rompe o velho, aumentando o estrago (Math. 9, 16).

  1. É Minha Doutrina, igualmente, um vinho novo, que não deve ser deitado em odres velhos porque se romperiam, entornando o vinho, mas sim em odres novos, pois ambos se conservarão. Com- preendeis isto?” (Math. 9, 17)

  2. Dizem os discípulos de João: “Não tão facilmente, tanto que poderias explicar-Te melhor?!”

  3. Digo Eu: “Se quero ou posso explicar-Me melhor?! Sim, po- deria se o quisesse! Mas aqui não quero ser mais explícito e digo ape- nas que sois vestidos e odres velhos, que não se prestam para Minha Doutrina! Ela vos prejudicaria no vosso bem-estar, que prezais acima de tudo e a cuja melhoria dedicais todo o vosso esforço, pescando até no sábado! Entretanto, não vedes os pobres, os doentes, os fa- mintos e sedentos!

  4. Aquele de barriga cheia desconhece a dor que o faminto sen- te em seu estômago! Vós, que estais bem agasalhados, desconheceis as intempéries do inverno, pois tendes meios suficientes para prote- ger vosso corpo. Mas, se um pobre coberto de trapos vos aborda, tre- mendo de frio, pedindo um agasalho, aborrecei-vos dizendo: ‘Vai-te embora, preguiçoso! Se tivesses trabalhado no verão, não sofrerias no inverno! Além disso, não faz tanto frio e um mendigo não deve ser tão sensível!’

  5. Mas o pobre responde: ‘Senhor, trabalhei durante o verão e outono, mas o meu ganho não foi a milésima parte daquilo que o meu patrão lucrou com o meu trabalho pesado. Este é o mo- tivo por que ele poderá se agasalhar no inverno, enquanto nós, servidores mal pagos, padecemos no inverno! O lucro do patrão é nossa miséria!’

  6. Vede, assim fala o pobre, não Me referindo àqueles que me- recem a sua miséria!”

  7. Dizem os adeptos de João: “Tu falas demais, pois não é bem assim! Um bom trabalhador nunca teve motivo para se queixar de seu patrão! Quem quer trabalhar encontra serviço e ganho, tanto no

verão como no inverno! Quanto aos preguiçosos, achamos por bem enxotá-los!”

  1. Digo Eu: “Isto Eu sei! Mas Eu não sou desta opinião e sabe- reis o porquê! Dizei-Me, quem criou o mar e os múltiplos peixes?”

  2. Dizem eles: “Ora, mas que pergunta! Quem mais do que Deus?!” — Digo Eu: “Pois bem, dizei-Me, acaso possuís Escrituras dadas por Deus que vos deem o direito de conseguir peixes de qua- lidade, vendê-los por preço exorbitante e ficar com o lucro quase integral, não dando aos vossos empregados a milésima parte pelo trabalho pesado que executaram, muitas vezes arriscando a pró- pria vida?!”

  3. Dizem os adeptos de João: “Outra pergunta ridícula! Pois onde estará a pessoa, neste mundo, que possua documento de posse dado por Deus? Para esse fim Ele criou o Chefe do Estado, que emi- te tais documentos e o possuidor destes é considerado o verdadeiro dono. Além disso, esse dono é obrigado a pagar diversos impostos, que o justificam no lucro necessário!”

  4. Digo Eu: “Sim, estas são as leis do homem egoísta! Mas no começo do mundo não foi assim; a esse tempo, a terra toda era posse comum do homem!

  5. Mas, quando os filhos de Caim se apossaram de uma parte da terra com direitos de patrimônio, estabelecendo para tanto lei e ordem puramente egoístas, em menos de mil anos tudo teve fim!

  6. Deus permitiu que viesse o dilúvio, afogando todos, com poucas exceções! E tudo voltará a este mesmo ponto! O Pai é Pacien- te e Indulgente, mas Se cansará de vossas atitudes; resta saber quem, depois, será dono desta terra!

  7. Por assim falardes, provais que vossa fé e justiça é um vesti- do velho que não suporta remendo novo, assim como também é um odre velho, no qual não é possível deitar-se um vinho novo! Pois sois todos criaturas más e egoístas! Compreendestes-Me agora?”

125. Continuação da controvérsia entre o Senhor e os discípulos de João a respeito dos essênios. A inteligência comum do cidadão. A casa do aduaneiro Matheus como exemplo humanitário. Bênção e Confiança Divinas. Testemunho do Senhor sobre João Baptista. Séria advertência sobre a caridade e misericórdia para com os pobres. O inimigo de Deus.

  1. Dizem todos: “Por acaso agimos mal, vivendo de acordo com os ensinamentos dados por João? Foi ele um pregador severo, mas nunca nos deu lição igual a esta!

  2. Conhecemos a ordem dos essênios, que também é bastante severa e cujo preceito máximo é a verdade. Mas que adianta tudo isto? Quem os considera? Nem os judeus, nem os gregos; contam alguns adeptos entre os romanos. Sua doutrina pode ser boa, mas não é aplicável a toda a Humanidade!

  3. De que nos servem palavras bonitas e retumbantes a favor do humanismo?

  4. Vê, esta casa é grande, boa e hospitaleira, não havendo outra que se lhe possa comparar; achas, porém, que ela deva sempre pron- tificar-se a receber todasas pessoas, nossos irmãos? Mesmo com a maior boa vontade, isto não seria possível pela insuficiência de espa- ço, meios, mantimentos etc.

  5. Suponhamos que um casal de pobres conseguisse, com mui- to sacrifício, a construção de um casebre e juntasse o imprescindível para se alimentar durante o inverno; se dele se aproximassem dez pessoas e exigissem pousada e passadio, dize-me Tu: existiria uma doutrina que obrigasse ou apenas aconselhasse aqueles dois a aceitar os dez, pois que seria bom e meritoso, conseguindo, desta maneira, sua própria ruína?!”

  6. Digo Eu: “Todo pássaro canta de acordo com o seu bico e vós falais dentro de vossa razão! Eis tudo que Eu vos posso dizer! Pois, se vos falasse coisas mais elevadas e verdadeiras, dos Céus, não Me entenderíeis, porque vosso coração vos impediria disto!

  7. Tolos, quem faz crescer e amadurecer os frutos nesta terra? Quem conserva e lhe fornece a energia necessária para tanto? Pensais que Deus não quer ou não pode recompensar aquele que se sacrifica

em favor do seu irmão? Ou julgais que Ele seja Injusto, exigindo do homem o impossível?!

  1. Penso que uma vontade verdadeiramente boa e o desejo forte de auxiliar o próximo são possíveis a todos!

  2. Se todos se empolgassem com esta ideia, não haveria na terra um casebre que fosse habitado por apenas duas pessoas.

  3. Vede, esta casa de Matheus abrigou a muitos e deu-lhes de bom coração todo o seu provimento; se não o acreditais, verificai sua despensa e seu celeiro e não encontrareis um grão sequer! Aqui se encontra o dono da casa, perguntai-lhe se disse u’a mentira!”

  4. Diz Matheus: “Senhor, infelizmente é assim e não sei co- mo cuidar amanhã dos meus hóspedes. Isto já se deu muitas vezes, mas eu confiei em Deus — e eis que tudo se renovou e eu pude satisfazê-los!”

  5. “Vede”, digo Eu, “assim pensa e age um homem justo desta terra e não se queixa de que o Pai o abandonasse! Assim foi e será eternamente!

  6. Quem confia em Deus merece também Sua Confiança e Seu Amparo! Mas aqueles como vós, que, embora crendo, não con- fiam Nele inteiramente, pois seu coração lhes diz que não merecem uma Ajuda Divina, a estes Deus não atenderá. Não têm confiança no Pai, mas sim unicamente em suas forças e meios que julgam inatingíveis, e dizem: ‘Olha, se queres ser ajudado, faze algo por ti, pois todo homem é o seu semelhante mais próximo e deve tratar primeiro do seu bem-estar!’ Até que tenha conseguido isto, o neces- sitado morre!

  7. Eu vos digo: Se tratardes primeiro de vós, sereis abandona- dos por Deus e desprovidos de Sua Bênção e de Sua Ajuda segura! Pois Ele não fez o homem por egoísmo, fê-lo por Amor — por isso devem as criaturas corresponder a este Amor, que lhes deu a vida!

  8. Se viverdes e agirdes sem amor e confiança no Pai, transfor- mareis o que é divino em vós em diabólico, afastando-vos Dele para vos tornardes servos do inferno, que vos dará o prêmio merecido, isto é: a morte na ira de Deus.

  1. Alegais que os essênios, que vivem pela doutrina de Pitágo- ras, são considerados apenas por alguns romanos, em virtude de sua pura filantropia.

  2. Eu também não os considero, por negarem a imortalidade da alma; entretanto, o pior entre eles é superior ao melhor entre vós!

  3. Digo-vos, abertamente: entre todos que, desde o início des- te mundo, nasceram pela mulher, não houve maior do que João; de agora em diante, porém, o mais humilde dos Meus discípulos no Verdadeiro Reino de Deus será maior do que ele, que chamais vosso mestre sem, entretanto, jamais o compreenderdes! Ele vos mostrou o caminho que se Me conduz e vos aplainou este caminho, mas o mundo em vós cegou vossos corações; por isto não reconheceis se de fato já vos achais Comigo!

  4. Ide, portanto, e tratai de vosso mundo, de vossas mulheres e filhos, para que não andem desnudos e não venham a sofrer fome e sede; em breve, porém, far-se-á sentir o benefício que lhes propor- cionastes com isto! Digo-vos que Deus não cuidará deles!

  5. Digo mais: Todo aquele que possuir fortuna, terras ou ofí- cios que lhe deem grandes lucros, fazer economias para si e seus filhos e, no entanto, desprezar os irmãos necessitados, afastando as crianças pobres quando lhe pedirem um óbolo — é um inimigo de Deus! Como também aquele que disser a um pobre: ‘Volta daqui a alguns dias ou semanas, que farei isto ou aquilo em teu benefício!’, e quando o pobre, todo esperançoso, procurá-lo para o cumprimen- to das promessas, ele desculpar-se alegando que no momento essa ajuda não é possível (embora tendo a possibilidade para tanto), em verdade vos digo: Também é um inimigo de Deus! Pois como há de querer amar ao Pai, que ele não vê, quando não ama a seu irmão, a quem vê e conhece a sua necessidade?

  6. Eu vos digo: Quem abandona seu irmão na miséria aban- dona, juntamente — Deus e o Céu! E Deus o abandonará sem que ele se dê conta disto!

  7. Mas quem não desamparar seus pobres irmãos, mesmo se Deus lhe mandar uma provação, este será abençoado mais farta-

mente na terra e no Céu, do que a despensa e o celeiro de nosso hospedeiro!”

  1. Dizem os discípulos de João: “Acreditamos nisto de bom grado, pois estão totalmente vazios!”

126. Um milagre de vinho e alimentos. Onde e a Quem os anjos servem. A Fidelidade e Imutabilidade de Deus e Suas Bênçãos.

  1. Eis que vem uma ajudante de cozinha toda alterada e diz a Matheus: “Patrão, vem depressa e vê o que aconteceu! Há pouco chegaram alguns jovens e trouxeram uma quantidade tão grande de mantimentos que nos suprirá para um ano! Os celeiros estão reple- tos; os odres, cheios do melhor vinho! Onde estes judeus consegui- ram tudo isto num sábado?”

  2. Matheus e todos os presentes no recinto ficam perplexos, e os adeptos de João, que há pouco se tinham certificado de que os celeiros estavam vazios, perguntam a Matheus se ele tinha encomen- dado estes víveres.

  3. Diz ele: “Nem eu, nem minha mulher, pois ela havia me noticiado a falta de tudo. Só possuímos um quintal e alguns campos alugados que não dão para um plantio em grande escala — e eu não teria tempo para isto, como aduaneiro. Por essa razão, abasteço-me uma vez por semana com víveres que encomendo em Capernaum; quanto aos peixes, sempre fostes vós que os trouxestes. Assim, não posso saber de onde vem esta encomenda!

  4. Se não for ação de um grande amigo, não sei a quem atribuí-

-la! Irei chamar o meu pessoal e perguntar-lhe-ei, diante de vós, se conhecia os portadores!”

  1. Todos os empregados são interrogados e afirmam o mesmo: “Os jovens usavam cabelos anelados e vestimentas romanas. Depo- sitavam rapidamente o que traziam e falavam: ‘Eis uma dádiva ao aduaneiro Matheus, a quem o grande Mestre convocou hoje!’ — Com isto se afastaram depressa e nós não sabemos para onde foram.”

  2. Diz um fariseu: “Isto parece muito estranho, entretanto é verídico!? Teríamos vontade de averiguar isto de perto!”

  1. Falando a Matheus, ele continua: “Olá, deixa-nos provar os vinhos e dir-te-emos de onde são!”

  2. Imediatamente são trazidos diversos cálices com vinho, e quando os fariseus e escribas os provam, dizem extasiados: “Jamais bebemos igual! E somos bons conhecedores de vinho de todos os recantos da terra, mas, perto deste, parecem uma água morna! Que mistério é este?!

  3. Mas já que tens um estoque tão grande, poderias vender-nos alguns odres? Valia a pena até mandar uma remessa ao Sumo Pontí- fice, em Jerusalém!”

  4. Diz Matheus: “Eu o recebi de graça e o darei da mesma forma; mas ao Sumo Pontífice — nem uma gota! A não ser que ele passe por aqui como hóspede comum! Pois, como dignitário ecle- siástico, é para mim um horror e um assassino do espírito daqueles que compartilham de sua religião!”

  5. Diz um escriba: “Amigo, o julgas mal e ignoras sua natureza e profissão!”

  6. Diz Matheus: “Deixemos isto, que poderia me alterar! Sois os olhos dele e não vedes aquilo que está na vossa frente. Passemos a outro assunto, pois não desejo ofender-vos como meus hóspedes!”

  7. Diz um fariseu mais cordato: “É verdade, é melhor falarmos com o Mestre Jesus, que nos poderá esclarecer este acontecimento, pois nos ultrapassa em toda ciência e sabedoria!” E dirigindo-se a Mim: “Que dizes Tu, neste caso? De acordo com Tua Palestra com os adeptos de João, deves estar informado, pois, no mesmo momen- to em que explicavas como Deus cuida daqueles que O amam verda- deiramente e Nele confiam sem restrições, condenando ao mesmo tempo a praga do egoísmo, aconteceu isto tudo e me parece que Tu Mesmo sejas o Doador!”

  8. Digo Eu: “Bem, se supondes isto de Mim, deduzis que Eu falei a verdade aos discípulos de João!

  9. Quem agir assim, do fundo de seu coração, experimentará aquilo que Matheus experimentou!

  1. Crede-Me, Deus é sempre o Mesmo que foi quando ainda não existiam o sol, a lua e as estrelas no firmamento — e será eter- namente O Mesmo!

  2. Quem O procurar no caminho certo, achá-Lo-á e será abençoado por todas as Eternidades!”

  3. Estas palavras calam fundo no coração de todos, e os discí- pulos de João reconhecem o seguinte: “Deve ser um profeta maior que João! Vivemos durante dez anos a seu lado, mas nunca presen- ciamos algo idêntico! Tudo leva a crer que isto é uma prova da nossa cegueira junto ao nosso antigo mestre!”

127. Discussão entre Judas e Thomaz. Sugestão grosseira do adepto cego de João. A meiguice do Senhor colhe louvores gerais. Morte da filha de Cornélius. A verdadeira imitação de Cristo. (Matheus 9, 18–19)

  1. Nisto Judas também deseja externar um parecer ao seu vizi- nho, um adepto de João. Mas Thomaz, seu adversário de sempre, antecede-lhe e diz: “Amigo, quando os mestres falam, os alunos de- vem calar-se! Pois aqui, toda e qualquer palavra de nossa boca seria uma tolice! Se sentes necessidade de falar, vai lá fora, grita o quanto puderes e, quando te cansares, volta aqui!”

  2. Diz Judas: “Que tens contra mim? Nada te fiz! Então, jamais poderei falar?”

  3. Diz Thomaz: “Conhecemos tua sabedoria há anos e ela não nos interessa, diante da Sabedoria do nosso Grande Mestre! És tão sábio quanto nós e deves compreender que não é necessário que fa- les! Apenas podemos falar quando somos interrogados; as perguntas que fazemos devem se basear numa necessidade verdadeira! Pois, se perguntamos por mera curiosidade, a fim de movimentar nossa língua, merecemos um castigo!”

  4. Diz Judas: “Pois bem, pois bem, já me calo! Não devo nem posso falar em tua presença, pois que tu és a sabedoria de Elias mes- mo! Pena não teres vivido antes de Salomon! Teria ele lucrado muito na tua escola! Mas agora chega, já me calo!”

  1. Thomaz quer responder a Judas, mas Eu demonstro que já é bastante e ele se contém.

  2. Um dos adeptos de João ainda não se conforma de Eu os haver comparado a um vestido velho remendado com pano novo, e a odres velhos imprestáveis para conservar o vinho novo. Por isto, dirige-se a Mim com uma sugestão grosseira: “Reconheço que és um profeta; mas me parece que o vinho de odres velhos te agrada mais que o novo de odres novos, assim como tua veste também não é nova. Se precisares de alguns remendos, dirige-te a mim, que os possuo em quantidade!”

  3. Por esta insinuação estúpida, seus companheiros querem pô-

-lo para fora. Mas Eu dele Me acerco e dou-lhe uma explicação mais compreensível, que o acalma.

  1. Aos outros, porém, digo: “Se vedes um cego tropeçar sobre uma vala e na queda pisar a grama na beira da vala, por acaso sereis sábios chamando-o à responsabilidade e ao castigo? Vede, este vosso irmão enxerga como vós, com os olhos da carne, mas os da alma não têm visão e, como sabemos disto, seria uma injustiça castigar um cego por ter tropeçado um pouco!”

  2. Após estas palavras todos exclamam um “Viva!” e dizem: “Eis um discurso verdadeiro e quem agir como Ele fala merece ser aclama- do um Homem dos homens! Salve e Viva Tu, Homem dos homens!”

  3. Mal estas palavras são pronunciadas, vem correndo, numa agitação única, o comandante Cornélius de Capernaum, que se joga a Meus Pés e exclama: “Senhor, Amigo Mestre Divino e Salvador! Minha querida filha, minha boa e querida Cornélia, faleceu!” Ele tanto chora e soluça, que mal pode falar.

  4. Depois continua: “Senhor, a Quem tudo é possível, vem comigo até a casa e faze o que fizeste com a filhinha de Jairo, que tinha morrido e ressuscitou! Peço-Te como amigo mais estimado: vem e me concede esta Graça!” (Math. 9, 18)

  5. Digo Eu: “Anima-te, irei e farei o que Me pedes! Embora tua filha já esteja morta e gelada, Eu a ressuscitarei para que venha anunciar às pobres criaturas a Glória de Deus! Vamos!” (Math. 9, 19)

  1. Os discípulos perguntam se Me devem acompanhar. Eu, porém, digo: “Todos vós, que sois Meus discípulos, e tu, Matheus, que foste aduaneiro! Já provi tua casa e o farei futuramente; por isto, deves ser Meu discípulo.”

  2. Matheus muda de paletó sem determinar ordens que, tal- vez, devessem ser executadas em sua ausência.

  3. “Assim deverá fazer todo aquele que Me quiser seguir! Deve desistir de tudo e não relembrar suas condições de vida, do contrário não se prestará para o Meu Reino! Pois quem bota a mão no arado e olha para trás não é destinado a ser um filho de Deus!”

128. Cena com outra mulher que tinha um fluxo de sangue. Os evangelistas Marcos e Lucas. O Senhor em casa de Cornélius. Ressurreição de sua filha. (Matheus 9, 20–25)

  1. Continuemos, pois, a história do Evangelho!

  2. No meio do caminho para Capernaum aproxima-se, tam- bém por detrás, u’a mulher que, tal como a grega, sofria há doze anos dum fluxo de sangue e ninguém conseguia curá-la. Como ti- nha sido informada pela outra, apenas toca a orla de Minha túni- ca, porque dizia consigo: “Ficarei boa se tocar a Sua vestimenta.” (Math. 9, 21). E assim se dá, como acreditou, pois sente que o seu sofrimento se acaba.

  3. Eu, porém, viro-Me e lhe digo: “Tem ânimo, Minha filha, tua fé te salvou! Vai em paz!” E a mulher parte com lágrimas de alegria e gratidão (Math. 9, 22).

  4. Esta criatura era judia, e não grega; morava, porém, perto de uma colônia grega e chegou a saber da cura da outra, da qual Marcos e o pintor e poeta Lucas fazem menção, tanto que estes dois fatos idênticos são tomados por um só, mesmo pelos teósofos mais sábios, mas que não é verdade e forneceu muita água para o moinho dos céticos.

  5. Matheus não deixa de Me perguntar se deve anotar isto e qual dos fatos ocorridos.

  1. E Eu lhe digo: “Deves anotar todos os acontecimentos de hoje menos o abastecimento de Matheus, o aduaneiro, bem como todas as conversas havidas. Hoje ainda voltaremos para casa e ama- nhã teremos tempo suficiente para designar o que deve ser anotado.”

  2. Em breve alcançamos a casa do comandante e penetramos na sala, onde se acha a filha falecida num ataúde.

  3. Lá dentro, porém, encontra-se uma quantidade de flautistas e outros que fazem barulho; pois é hábito fazer-se grande alarde em volta dos mortos para despertá-los ou, se isto não mais é possí- vel, afugentar os enviados de Plutão, de acordo com o conceito do povo pagão.

  4. Ouvindo esta barulhada, Eu ordeno que parem com aquilo e deixem o quarto, ou melhor ainda, a casa, pois que a filha não está morta, apenas dorme.

  5. Aí aqueles que tinham sido pagos para fazerem barulho co- meçam a zombar de Mim e um deles diz, baixinho: “Será difícil fazer o mesmo que na casa de Jairo! Observa-a bem e, como médico, verificarás que dá mostras cadavéricas.”

  6. Quando o comandante vê que o povo não se mexe dali, manda que alguns esbirros se incumbam disto e, assim, a sala em pouco tempo está calma.

  7. Só então Eu Me aproximo do ataúde, tomo a mão da filha sem pronunciar uma palavra e ela no mesmo momento se levanta, como se nunca tivesse adoecido (Math. 9, 25).

  8. Vendo-se no ataúde, a moça pergunta a razão daquilo.

  9. E o pai extremoso lhe diz, com imensa alegria: “Minha que- rida Cornélia, estiveste muito doente e faleceste em consequência dessa moléstia; terias permanecido morta se não tivesses sido des- pertada por este milagroso Salvador Jesus, que há poucos dias fez o mesmo com a filhinha de Jairo. Por isto, regozija-te desta nova vida e agradece a este Amigo dos amigos, que ta restituiu!”

129. Aventuras da ressuscitada no Além. Sua boa pergunta sobre a nova vida. Resposta do Senhor. O romano estranho dá bom testemunho do Senhor. Ordem especial do Senhor. O livre arbítrio. (Matheus 9, 26)

  1. Diz a filha: “É verdade, agora me lembro que estive muito doente; mas, durante a moléstia, entrei num sono profundo e tive um sonho maravilhoso. Para onde me dirigia havia somente luz — e nesta luz formava-se um mundo magnífico. Jardins, duma beleza indescritível, surgiam envoltos em plena claridade e u’a maravilha revezava outra. Mas, aparentemente, não havia um ser vivo habitan- do nestas paragens e, como me vi tão só, comecei a ficar apavorada. Chorei e clamei por auxílio! — Nada! Nem ouvia o eco de minha voz. Então, a tristeza aumentou mais e mais!

  2. Por fim, quase desfalecida, chamei por ti, meu pai, e eis que este amigo surgiu dos jardins, pegou-me na mão e disse: ‘Levanta-

-te, Minha filha!’ Aí, todas as maravilhas desapareceram como por encanto e eu despertei, enquanto este amigo me segurava a mão. No primeiro momento não pude lembrar-me daquilo que tinha visto! Mas, quando me voltou a consciência plena, como se fora dada pe- los Céus, lembrei-me de tudo isto que acabo de contar.

  1. O que me parece mais estranho é o fato de que eu, embora morta, tivesse continuado a viver. E mais estranho ainda é que en- contre aqui o mesmo amigo que vi em sonho!

  2. Agora, meu pai, pergunto-te, esta vida que ele me restituiu não lhe pertence? Meu coração sente uma grande ternura e tenho a impressão de que jamais poderei dedicar meu amor a um outro homem! Será que posso amá-lo acima de tudo — mais do que a ti, meu pai, e mais do que tudo neste mundo?”

  3. Cornélius fica um tanto atrapalhado e não sabe o que res- ponder. Eu lhe digo, porém: “Deixa tua filha com este sentimento, que lhe dará a plenitude da vida!”

  4. Diz Cornélius: “Assim sendo, podes amar a este amigo aci- ma de tudo! Pois quem pôde dar-te a vida, a ti que estiveste morta, pela sua força e onipotência, jamais poderá prejudicar-te; porque, se

morresses outra vez, ele certamente te despertaria de novo. Por isto, podes amá-Lo como eu também O amo, de todo o coração!”

  1. Digo Eu: “Quem Me ama, também ama Aquele que está em Mim e que é a Vida Eterna. E se morrer mil vezes neste amor para Comigo, viverá eternamente!” — Muitos, ouvindo esta afirmação, pensam consigo mesmos: “Que ouço? Um homem poderia dizer isto? Mas poderia um homem fazer também o que ele faz?!”

  2. Diz um romano, hóspede de Cornélius: “Amigos, houve um sábio que disse não existir homem importante que não fosse pleno do hálito dos deuses. Neste caso, Jesus de Nazareth, embora de nas- cença humilde, recebeu este bafejo completo! Os deuses não primam pela grandeza do mundo e, quando descem à terra, procuram sem- pre externar-se o menos possível; e só por sua atitude é que os mor- tais percebem quem são. Com toda a certeza isto também se dá com Ele. Podeis pensar e achar o que quiserdes; eu O considero como um Deus! Pois nunca um mortal conseguirá despertar um morto!

  3. E se algum filho de Esculápio (nome latino do deus curador) já conseguiu acordar um letárgico por meio de bálsamos, unguen- tos e pomadas, nunca teve o despertado a aparência tão salutar que apresenta Cornélia! Eis a minha opinião e vós podeis pensar o que vos agrada!”

  4. Digo Eu: “Quem tem razão, julga tê-la! Eu, porém, peço-

-vos um ato de amizade: que todos vós que vistes e assististes o que se passou aqui não o comenteis com quem quer que seja, pois co- nheceis o mundo!” E eles Me prometem fazê-lo.

  1. Durante a Minha Permanência em casa de Cornélius se ca- lam, mas, quando Me afasto dali, este fato corre mundo na Galileia (Math. 9, 26). Bem que Eu poderia ter evitado isto contendo o livre arbítrio do homem; mas, como esta sua faculdade deve ser respeita- da, deixo passar o que não estava dentro da ordem e que não traz, tampouco, algum benefício à Causa.

130. Cena com dois cegos. Sua exclamação lisonjeira não é considerada por Jesus. Cura de ambos. “Trabalhai só por amor!” Exigência de ganho do Senhor. (Matheus 9, 27–31)

  1. Em Capernaum havia dois cegos de nascença que tinham ouvido falar de Mim e de Meus Atos. De volta desta cidade para Nazareth, passamos numa encruzilhada, acompanhados pelo Co- mandante, sua mulher, seus filhos e vários amigos. Justamente neste lugar costumavam sentar-se os dois cegos. Quando ouvem que vem muita gente, inclusive o primeiro Chefe da Galileia e, no meio deles, encontro-Me Eu, de quem se falava ser Descendente da linha de David, os dois se levantam e correm tão bem quanto podem, gritan- do: “Jesus, ó Filho de David, tem piedade de nós!” (Math. 9, 27). Davam-Me este título por julgarem que isto Me lisonjeava.

  2. Eu, porém, deixo que nos sigam até Nazareth, para mostrar-

-lhes que não ligo aos títulos do mundo.

  1. Quando chego à casa, eles pedem à pessoa mais próxima que os conduza até Mim. E os discípulos assim o fazem.

  2. Achando-se em Minha Presença, querem começar de novo a implorar. Cortando-lhes a palavra e sabendo o que desejam, di- go: “Acreditais que Eu possa fazer isto?” E eles respondem: “Sim, Senhor!” (Math. 9, 28). Então toco-lhes os olhos e digo: “Que seja feito segundo a vossa fé!” (Math. 9, 29)

  3. E os olhos se lhes abrem (Math. 9, 30) e veem todas as coisas como qualquer pessoa com boa visão. Cheios de alegria por esta Graça recebida, querem Me agradecer, dando-Me tudo que têm jun- tado pela mendicância. Porque no futuro iriam trabalhar e não mais pedir esmolas.

  4. Eu lhes digo: “Fazeis muito bem assim; pois quem enxerga e pode trabalhar não deve viver no ócio e ser de peso a seus irmãos, mas ajudá-los e servi-los, para que o amor cresça entre os homens.

  5. Vossas propostas são boas e muito louvável é a intenção de dar-Me vossas economias, mas Eu e Meus discípulos não necessita- mos disso; podeis guardá-las.

  1. O que Eu exijo por vos ter restituído a luz dos olhos é que, primeiramente, cumprais os Mandamentos de Deus, amando-O so- bre todas as coisas e ao vosso próximo como a vós mesmos, servin- do-os em tudo com prazer e dedicação. Segundo, que não comenteis este fato, evitando que seja ele divulgado!”

  2. Dizem os dois: “Senhor, isto será difícil, pois todo o mundo sabe que éramos cegos. Que resposta daremos se nos perguntarem o que sucedeu?” Digo Eu: “Uma, que tem por base o nome de silên- cio!” Eles Me prometem isto, mas não o fazem e em pouco tempo todos sabem de Mim (Math. 9, 31).

131. Cura do surdo-mudo endemoninhado. Os fariseus presentes testemunham a cura como feita pelo diabo. Cornélius condena os malvados para o suplício na cruz. Discurso de Matheus aos condenados. Desculpa inteligente dos fariseus e perdão de Jesus. (Matheus 9, 32–35)

  1. Mal os dois cegos curados deixam a casa, trazem-Me um surdo-mudo endemoninhado (Math. 9, 32). Tinham nos seguido alguns fariseus e escribas para ver o que Eu faria. Em frente da casa eles encontram aqueles ex-cegos, os quais relatam logo que lá dentro deveria ser curado um surdo-mudo. De si mesmos não falam ainda porque têm muito medo.

  2. Os fariseus se apressam para assistir à cura. Penetrando no quarto, reconhecem o obsedado e dizem: “Oh! Este conhecemos há muito tempo! Não existe quem possa contê-lo; quando o espírito se enraivece, arranca árvores do solo e não há muro ou corrente que o contenha. Não sente o fogo e ai dos peixes quando ele entra no mar! Felizmente é surdo-mudo, pois do contrário ninguém estaria seguro sobre a terra. E a este ele quer curar? Isto somente seria possível ao príncipe das trevas!”

  3. Digo Eu: “Entretanto, Eu irei curá-lo, a fim de que reconhe- çais que todos os seres têm que obedecer a Deus!”

  4. Com isto, estendo a Minha Mão sobre o obsedado e digo: “Abandona este homem, espírito impuro e mau!” E o espírito grita: “Para onde devo ir?” Digo Eu: “Para lá, onde o mar é mais profundo

e onde te espera um monstro!” O espírito dá um grito selvagem e sai de dentro do homem.

  1. Este, porém, toma outro aspecto, agradece e responde a to- das as perguntas com delicadeza e atenção.

  2. Quando os discípulos e o povo veem isto, exclamam: “Re- almente, isto sobrepuja tudo! Nunca tal se viu em Israel! (Math. 9, 33). Já houve quem afastasse ventos e tempestades, embora não tão maravilhosamente; também já foram despertados alguns letárgicos, rochas se precipitaram para dentro do mar e, a pedido de Moysés, caiu maná dos Céus.

  3. Enquanto Salomon construiu o Templo e ficou sem trabalha- dores durante um mês, pediu a Deus que o ajudasse; e eis que mui- tos jovens apareceram oferecendo sua ajuda, o que Salomon aceitou.

  4. Em suma, deram-se muitos milagres desde Abraham; mas, como este, não houve igual!”

  5. Esta admiração enerva os fariseus, que não se contendo de raiva, falam ao povo: “Como podeis ser tão cegos e bobos! Não dissemos logo de saída quem seria o mestre de tais obsedados? Unicamente o dirigente dos diabos! Ele curou o obsedado, mas como? Pelo príncipe das trevas conseguiu expulsar este demônio!” (Math. 9, 34)

  6. Este testemunho dos fariseus enraivecidos, feito de Minha Pessoa perante o povo e também na presença do Comandante Cor- nélius, provoca uma reação unânime! Este último, revoltado até à fibra de seu coração, quase que os fulmina com a seguinte sentença: “Ainda hoje sereis supliciados! Ensinar-vos-ei a diferença entre Deus e o demônio!”

  7. Vendo Cornélius tão alterado, os fariseus começam a im- plorar e gritar; o povo, porém, regozija-se e diz: “Encontrastes, fi- nalmente, um que expulsará o vosso diabo? Ótimo! Muito bem feito para vós, porque sois iguais ao príncipe das trevas; lutais ainda, co- mo ele o fez contra o arcanjo Miguel para salvar o corpo de Moysés, quer dizer, pela matéria inerte de sua Doutrina, perseguindo com pragas, fogo e espada tudo que se assemelhe ao espírito! Tanto que

sois vós que agis sempre com ajuda do demônio, e o castigo que vos é imposto pelo Comandante é justo e não temos a mínima compai- xão de vós!”

  1. Agora se aproxima Matheus, o aduaneiro, e diz aos tem- plários: “Passaram-se quatro dias desde que o Mestre Jesus curou o irmão de minha mãe; o que não vos foi dito naquele dia, de ver- dadeiro e profundo? Até crianças o entenderam e vos apontaram; o Mestre vos dirigiu a Palavra tão Pura e Elevada, que vós mesmos perguntastes de onde Lhe vinha tal Sabedoria! Mas tudo isso não vos abriu a visão!

  2. Apesar de tudo, se vossos corações se tornam cada vez mais empedernidos e vingativos — o que vos faltará para serdes demô- nios completos? Sim, já vos disse que sois piores que todos os diabos reunidos, e é justo, perante Deus e todos os homens de boa vontade, que sejais exterminados como os animais ferozes!

  3. Minha índole não me permite matar u’a mosca ou pisar um verme; mas seria capaz de decepar-vos as cabeças, sem pestanejar. Por isto, congratulo-me com o Comandante que vos condenou ao suplício na cruz!”

  4. Quando os fariseus veem que ninguém se apiada deles nem pede indulgência a Cornélius, que dirige a justiça romana sobre toda a Galileia, todos eles, perto de trinta, caem de joelhos diante dele. Afirmam que sua intenção para com Jesus não era tão má como era interpretada, e somente queriam expressar de maneira mais forte como a Onipotência Divina nele, o mestre dos mestres, era capaz de fazer submeter-se até o príncipe dos demônios; pois seria lasti- mável para os homens que Deus não tivesse Poder sobre eles. Se, entretanto, a Força e Onipotência Divinas agiam em Jesus — o que jamais poderia ser contestado — forçosamente dominava anjos e de- mônios, obrigando-os a uma obediência severa! “Queríamos apenas expressar nossa opinião de que ele é capaz de expulsar os demônios pela ajuda de seu príncipe, pois sua Onipotência abrange tudo que está nos Céus e na terra. Assim, não compreendemos como é pos- sível que tu, ó senhor supremo de Roma, possas pronunciar este

julgamento sobre nós!? Por isto, pedimos-te, em nome do Divino Mestre Jesus, que revogues tua sentença!”

  1. Diz o Comandante: “Se Jesus, o Mestre, externar-Se em vosso benefício, fá-lo-ei; se Ele Se calar, morrereis ainda hoje! Não acredito em vossas palavras, pois vosso coração sente de ou- tra forma!”

  2. Agora, todos se jogam a Meus Pés e clamam: “Ó Jesus, Bom Mestre, pedimos-te que nos salves e libertes! Se não confias em nós, dar-te-emos reféns como prova de que não mais impediremos os teus caminhos! Porque estamos convencidos de que és um mensa- geiro puríssimo de Deus, enviado para nós, que nos tornamos filhos maus! Ó Jesus, atende a este nosso pedido!”

  3. Digo Eu: “Pois então, ide em paz! Tende, porém, cuidado em vossas intenções, porque aí Eu não repetiria estas palavras!”

  4. Eles Me prometem tudo e o Comandante diz: “Como Ele vos deu a paz, revogo o meu julgamento! Mas ai de vós, se ouvir queixas a vosso respeito!”

  5. Os fariseus agradecem a Mim e ao Comandante, afastam-

-se depressa e se calam, pois temem muito a Cornélius. Em seus corações conjecturam a possibilidade de uma vingança, mas, não se apresentando uma boa oportunidade, têm que desistir de suas intenções escabrosas. Esta situação torna-se favorável porque posso anunciar o Evangelho do Reino de Deus até o outono nas cidades e lugarejos da Galileia, curando muitas moléstias e epidemias entre o povo (Math. 9, 35).

132. A grande miséria do povo. A vila do sofrimento como obra do tirano Herodes. Esclarecimento importante do Senhor a respeito desta permissão. (Matheus 9, 36–38)

  1. A miséria entre as criaturas, que vinham morrendo de ina- nição nestes povoados, é tremenda. Física e psiquicamente andam desgarradas e errantes, qual cordeiros entre lobos, que não têm pastor (Math. 9, 36). Como este estado lastimável Me condoesse muito, Eu falo como em Sichar, perto do poço: “A seara é grande,

mas poucos os ceifeiros (Math. 9, 37). Rogai, pois, ao Senhor que mande ceifeiros para Sua Seara! Pois estes pobres estão maduros para o Reino de Deus, e o campo onde estão é grande. Morrem famintos e sedentos de luz, de verdade e libertação! Mas onde estão os traba- lhadores?” (Math. 9, 38)

  1. Dizem os discípulos: “Senhor, se Tu nos achasses competen- tes, poderíamos nos dividir e cada um dedicar-se-ia a uma vila ou povoado.” Digo Eu: “Estamos a caminho dum vilarejo paupérrimo. Lá escolherei os mais hábeis e fortes dentre vós e enviarei a diversos pontos, onde fareis o que Eu fiz diante de vossos olhos. Agora, po- rém, apressemo-nos para chegar a tal povoado!”

  2. Em menos de meia hora alcançamos o nosso destino, onde a miséria é inacreditável. Tanto os adultos como os menores andam completamente nus e se cobrem com uma tanga feita de folhagem. Quando nos veem chegar, correm ao nosso encontro para pedir es- mola. As crianças choram e botam as mãozinhas sobre o ventre, pois a fome é tremenda e há dois dias que não se alimentam. Os pais, por sua vez, desesperam-se também pela fome e, mais ainda, por não terem o que dar aos pequeninos.

  3. Pedro, muito sensibilizado com este quadro, pergunta a um velho: “Amigo, quem provocou esta miséria? Como pudestes chegar a este estado? Fostes atacados por um inimigo que tudo vos roubou e até destruiu vossas casas? Pois só vejo paredes sem teto e os celeiros estão vazios! Como pôde acontecer tudo isto?”

  4. Diz o homem, com voz chorosa: “Meus bons amigos, isto é obra da dureza e ganância de Herodes! O pai dele foi o braço esquer- do — ele é o braço direito de Satanás! Não nos foi possível pagar os impostos que nos exigiu há dez dias atrás; seus esbirros nos deram, então, um prazo de seis dias, mas o que representa isto? Neste espaço eles acabaram com nossos mantimentos e, como não nos foi possível arranjar o dinheiro para as taxas, acabaram tirando-nos tudo que tí- nhamos, deixando apenas esta vida miserável! Oh, meu amigo, isto é duro, muito duro! Se Deus não nos ajudar, morreremos todos ainda hoje! Ajudai-nos, se assim puderdes! Se os servos malvados de He-

rodes não nos tivessem tirado a roupa, ainda poderíamos mendigar. Mas, assim, para onde iremos? Para nossos filhos as distâncias são muito longas — e nós, desnudos como nascemos! Meu Deus, por que devíamos nós chegar a este ponto? Qual dos nossos pecados nos atraiu este castigo?”

  1. Aproximando-Me do velho, digo: “Amigo, isto não é paga dos vossos pecados, que são os menores em Israel; foi o Amor do Pai que vos fez assim!

  2. Fostes os mais puros neste país, mas ainda havia algumas tendências mundanas em vossa alma. Deus, porém, amando-vos muito, quis libertar-vos de uma só vez do mundo, para que vos pudésseis capacitar à aceitação da Graça do Pai, que está nos Céus. Como isto se deu agora, estais seguros para sempre da perseguição por parte de Herodes, pois, onde sua ganância permite o saque com- pleto, ele suspende as taxas — e os mendigos são riscados do seu livro de impostos.

  3. Vede, com isto vos livrastes do mundo de um só golpe, que é a maior Caridade de Deus, e agora vos podeis dedicar puramente à salvação de vossas almas.

  4. Digo-vos, porém: não edifiqueis para o futuro pomposas casas, mas choupanas toscas e não haverá, assim, quem vos queira cobrar impostos, salvo o Rei, como única autoridade legal. E ele exi- girá de dois a três por cento. Se o tiverdes, está bem; caso contrário, estareis livres do pagamento. Falaremos sobre isto mais tarde.

  5. Agora, penetrai em vossas casas destelhadas, onde encontra- reis alimentos e roupa. Fazei uso de tudo e voltai aqui, que combi- naremos o resto.”

133. O milagre de roupas e alimentos. Bom discurso dos pobres favorecidos. Suave advertência da criança. Palavras do Senhor dirigidas ao Céu. Jesus e a criancinha.

  1. Ouvindo isto, os pobres correm todos para dentro de suas casas semidestruídas e se admiram muito quando encontram ali- mentos bons e fartos e roupas para todas as idades e ambos os sexos.

Um pergunta ao outro como isto podia ter acontecido — e ninguém sabe responder.

  1. Mas, quando se certificam de que os celeiros estão abarrota- dos, as mulheres e crianças falam aos homens: “Isto foi Deus quem fez! Como poderia nos abandonar, nós que sempre O imploramos, quando deixou que chovesse maná no deserto durante quarenta anos, alimentando, assim, Seus Filhos?! Oh! Isto nos dá a certeza de que Deus não desampara aqueles que Lhe pedem!

  2. Quando David caiu em miséria, pediu auxílio a Deus e Ele o socorreu em seu sofrimento. Portanto, teria sido um fato inaudito se Deus não nos tivesse atendido, pois sempre clamamos por Ele: ‘Pai, querido Pai!’ Por isto, amá-Lo-emos sobre todas as coisas! Isto tudo nos foi mandado por Ele, pelos Seus anjos!”

  3. Diz o velho, que era bom conhecedor das Escrituras e a quem todos gostavam de ouvir: “Meus filhos, amigos e irmãos! Bem que consta da Escritura: ‘Preparar-Me-ei um louvor pela boca dos peque- ninos e fracos!’ E vede, isto acaba de se realizar diante de nossos olhos! O Pai querido lembrou-Se de nós em Sua Infinita Misericórdia! Por isto, todo nosso amor para Ele e todo louvor pela boca de nossos pe- queninos! Pois o de nossa boca não é bastante puro para satisfazer o Altíssimo! Agora, porém, deixai-nos procurar o jovem que nos man- dou verificar esta Graça que Deus nos concedeu! Deve ser um grande profeta — Elias talvez, que deveria preceder o Grande Messias!”

  4. Diz uma criancinha, que ainda mal sabe falar: “Pai, e se este homem fosse o Grande Messias?”

  5. Diz o velho: “Oh, meu filho, quem libertou tua pequenina língua? Pois não falaste como uma criança, e sim como um sábio, no Templo em Jerusalém!”

  6. Diz a criança: “Isto não sei, querido pai. Sei apenas que até então tinha dificuldade para falar e agora já não a tenho mais! Mas como isto pode te surpreender, se estamos presenciando somente milagres divinos?”

  7. Diz o velho, apertando a criança contra o peito: “É verdade, tens razão! Tudo se tornou milagre e tu não te enganas, por certo,

em considerar este homem como o Messias. Para nós, Ele O é, infa- livelmente! Agora, porém, deixa-nos agradecer-Lhe como é devido!”

  1. Todos se dirigem apressadamente para perto de Mim e as criancinhas são as primeiras a se jogar a Meus Pés, umedecendo-os com suas lágrimas inocentes!

  2. Eu, no entanto, levanto os olhos para o firmamento e digo em voz alta: “Ó Céus, olhai e aprendei das criancinhas de como o vosso Deus e Pai quer ser louvado! Ó Criação, como és imensa e antiga, quão inúmeros são os teus sábios habitantes e, entretanto, não encontraste o caminho para o coração de teu Criador, teu Pai! Por isto, vos digo: Quem não vier a Mim como estes pequeninos, não achará o Pai!”

  3. Em seguida Eu Me sento e abençoo os pequeninos! O me- norzinho diz ao pai, que não podia compreender aquilo tudo: “Pai, aqui existe mais do que Elias, mais do que o teu Messias! Aqui está o Pai Mesmo, o querido Pai, que nos trouxe pão, leite e roupas!”

  4. O velho começa a chorar; a criança deita sua cabecinha no Meu Peito, abraça-Me, dizendo: “Sim, sim, eu o escuto; neste Peito pulsa o Verdadeiro e Bom Coração Paterno! Oh! Se me fosse possível beijá-lo!” Diz o velho: “Filhinho, não sejas tão mal educado!”

  5. Digo Eu: “Sede todos tão mal educados, senão jamais vos aproximareis do Coração do Pai, como esta criança amorosa!”

134. Referência aos evangelistas Matheus e João. Convocação dos doze apóstolos e sua missão. Ensinamento importante sobre os atuais Evangelhos do Espírito Divino. Motivo do desaparecimento dos originais dos Evangelhos. As religiões asiáticas. (Matheus 10, 1–4)

  1. Nisso Matheus, o evangelista, e João Me dizem: “Senhor, este fato deveria ser anotado, pois é extraordinário e divino!”

  2. Digo Eu: “Não fiz Eu o mesmo em Sichar? Não provi há poucos dias a Minha casa e a de Matheus, o aduaneiro? Não permiti que anotásseis aquilo por motivos somente conhecidos por Mim! Por que haveríeis de anotar um fato idêntico a outro? Deixai isto! Sei perfeitamente de que este mundo necessita e avisar-vos-ei do

que deverá ser anotado! Tua vez de fazê-lo ainda está longe, Meu querido João!

  1. Agora irei escolher alguns entre vós que enviarei, desde já, para as cidades de Israel, a fim de anunciarem aos povos o Reino do Céu (Math. 10, 1). Simon Pedro, és o primeiro; tu, André, mano de Simon, o segundo; tu, Jacob, filho de Zebedeu, és o terceiro e tu, João, seu irmão, o quarto. Philippe, és o quinto; Bartholomeu, o sexto; Thomaz o sétimo e tu Matheus, o publicano, o oitavo; Jacob, filho de Alfeu, és o nono e tu, Lebeus, que também tens o nome de Thadeu (Math 10, 3) és o décimo; Simon de Caná, és o décimo primeiro e tu, Judas Iscariotes, és o décimo segundo (Math. 10, 4).

  2. Dou-vos o poder de expulsar os maus espíritos e curar todas as moléstias possíveis. Deveis divulgar o Reino de Deus, mas ocultar fatos milagrosos!”

  3. Depois desta convocação, os doze apóstolos Me perguntam para onde se deveriam dirigir e o que deveriam falar.

  4. Eu dou a extensa resposta a seguir, que não lhes agrada, tanto que só a executam em toda sua extensão após Minha Ascensão.

  5. Esta convocação, também, foi dada de tal maneira que so- mente seria aplicável em épocas posteriores.

  6. Antes, porém, de Me referir a estas diretrizes, é necessário mencionar que os Evangelhos, inclusive o de Matheus e o de João, como são atualmente conhecidos em diversos idiomas, apenas con- têm extratos do Original, e nem de longe aquilo que os dois evan- gelistas escreveram. De vez em quando, ia sendo adicionado um suplemento por parte do compilador, que só podia ser anexado pos- teriormente, como, por exemplo, aqui no 10º capítulo, versículo 4 de Matheus, com referência a Judas Iscariotes, onde consta: “O mesmo que O traiu.” Naquela época não se mencionou este fato, que somente foi aposto mais tarde por algum copista.

  7. Por isto consta sempre nas Bíblias hebraicas e gregas a obser- vação: Evangelho segundo Matheus, segundo João etc.

  8. Ninguém se deve escandalizar durante a leitura destes Evan- gelhos quando descobrir anotações que, de maneira alguma, o evan-

gelista poderia ter feito, pois este fato só se deu mais tarde. Aqui, porém, tudo é transmitido dentro de uma ordem severa, para evitar que, com o tempo, não venham a surgir observações errôneas.

  1. Como até então, serão feitas intercalações para completar o que muitas vezes era omitido por ser considerado sem autenticidade. Naquela época, muitas anotações foram intercaladas, em parte por testemunhas visuais, em parte por aquilo que ia sendo comentado, de modo que se tornava difícil manter a fidelidade dos fatos.

  2. Assim, os dois Evangelhos, segundo Matheus e João, são os mais puros, descontando-se poucas minúcias.

  3. Alguém poderia perguntar o seguinte: “Mas onde ficaram os originais? Será que não existem mais sobre a terra e que Deus não possa transmiti-los, tais como os primitivos, a uma pessoa compe- netrada pelo espírito?”

  4. Eis a resposta: os originais foram removidos para outras re- giões, a fim de evitar que em pouco tempo fossem idolatrados como relíquias. A idolatria ainda é fato comum com relíquias falsas, em- bora tenha sido proibida por Minha Doutrina Pura e Verdadeira. Agora, imaginai isto com uma relíquia historicamente comprovada! Digo-vos, neste caso a idolatria seria pior que aquela feita ao Santo Sepulcro em Jerusalém!

  5. Quanto à segunda pergunta, o espírito contido nos origi- nais também se encontra nas cópias, mas a letra, por si só, não tem importância! Ou será que o Espírito Divino não é o mesmo, só por- que Se manifesta em múltiplas e diversas formas nesta terra, e muito mais em um sol?

  6. Vede, ée serásempre o Mesmo Espírito Santo!

  7. Considerai ainda as religiões de nações estrangeiras, como as dos turcos, persas, hindus, chineses e japoneses! Como divergem daquelaque só foi dada aos Filhos dos Céus! Entretanto, o mesmo Espírito Divino nelas Se manifesta, embora mais ocultamente!

  8. Toda pessoa que tiver alguma noção da natureza das coisas compreenderá que se encontram muitos detritos, vermes e insetos dentro da casca grossa e deteriorada. Infelizmente, são tomados por

muitos como provindos da própria árvore. Pois, se a casca cresce da árvore viva e não o contrário, ela também possui algo da vida desta árvore, de onde se depreende a possibilidade de tantos vermes e insetos encontrarem alimento vital, mas que não deixa de ser mui externo e passageiro.

  1. Guerras, perseguições e devastações só se passam em cima da casca estéril e seca, enquanto a madeira continua fresca e sadia. Por isto, u’a madeira viva não se deve preocupar com aquilo que se passa na casca morta, que será jogada fora quando a madeira for recolhida.

  2. Esta explicação foi necessária para facilitar a compreensão do que se segue.

135. Matheus, o aduaneiro, faz um bom discurso aos seus colegas. O Senhor estabelece as normas de conduta para Seus discípulos. Discussão entre Judas e Thomaz. Simon de Caná faz uma pergunta a respeito do dinheiro. O Senhor fala sobre o dinheiro e seu domínio. (Matheus 10, 5–10)

  1. Depois de haver selecionado os doze discípulos para mensa- geiros e precursores, transmitindo-lhes por Minhas Mãos diversos poderes e dando-lhes, ligeiramente, uma orientação do que deviam fazer, todos eles Me pedem para dar-lhes diretrizes mais exatas pa- ra estas incumbências; pois tinham um grande receio dos fariseus e escribas.

  2. Apenas Matheus, o aduaneiro, é mais corajoso e diz: “Qual o quê! Eu sou grego: a mim não poderão prejudicar! Além disso, tenho uma língua afiada e dois braços fortes e sou, de acordo com docu- mentos comprobatórios, um cidadão romano, portanto protegido pelas autoridades. Quanto às perseguições ocultas, não duvido da proteção do Espírito Onipotente do Nosso Senhor e Mestre e penso estar munido das melhores armas possíveis! Vós sois, na maior parte, galileus, ou seja, mais gregos do que judeus, e tendes os romanos por amigos. Portanto, não há que temer! Além do mais, devemos estar cheios de coragem, quando se trata de execução de coisa tão gran- diosa e santificada! Deixai que o mundo venha abaixo; o homem

destemido deve continuar firme nos destroços, lutando por uma causa justa! Mas também pleiteio uma explicação mais minuciosa, antes de iniciar esta nossa campanha!”

  1. Após este discurso enérgico de Matheus, todos se enchem de mais coragem e estão ansiosos para entrar em ação.

  2. Então Eu fico no meio deles e digo: “Prestai todos atenção máxima: cientificar-vos-ei de tudo que necessitais.

  3. Na vossa primeira missão, nem tudo se dará da maneira que Eu vos explicar; quando, porém, Eu for Elevado desta terra para os Céus, a fim de vos preparar Moradas Eternas na Casa do Pai, passa- reis por aquilo tudo que Eu vos revelarei num sentido só — tanto para agora, como para o futuro. Por isto, atenção naquilo que é para já e no que é para depois!

  4. O que vos digo experimentarão, mais ou menos, todos aque- les que seguirem vossas pegadas em Meu Nome. Tu, escrivão Ma- theus, irás escrever, como em Garizim, tudo o que Eu falar, pois o mundo não deverá perder o que será um testemunho severo contra ele!”

  5. Matheus se apronta e Eu digo aos discípulos:

  6. “Antes de mais nada, não vades nas ruas dos pagãos! Isto é:

  7. Não ajais como os pagãos, pela violência, e evitai também povos selvagens, pois não deveis anunciar o Evangelho do Reino de Deus aos cães e porcos. Um porco sempre será um porco e um cão voltará sempre para aquilo que vomitou. Este é o sentido das pala- vras: não vades nas ruas dos pagãos.

  8. Da mesma forma, não procureis as cidades dos samaritanos! Por quê? Primeiro, a estes Eu já dei, às vossas vistas, um apóstolo; segundo, os judeus vos receberiam de mau grado se soubessem que estais de comum acordo com seus inimigos (Math. 10, 5). Ide, an- tes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! (Math. 10, 6)

  9. Deveis ensiná-las, de maneira compreensível, como o Reino do Céu chegou perto delas! (Math. 10, 7). Uma vez que aceitem vossas prédicas, curai os doentes, purificai os leprosos, ressuscitai os mortos — onde isto se tornar necessário, pela intuição do espírito,

no corpo e, antes de tudo, na alma! (Isto não foi anotado por Ma- theus porque, pela ressurreição dos mortos, sempre se subentendia a ressurreição espiritual!)

  1. Expulsai os demônios e evitai sua volta! Mas lembrai-vos bem: jamais deveis aceitar uma recompensa por este motivo! De graça o recebestes por Mim — e assim o deveis dar, em Meu Nome!” (Math. 10, 8). Esta adição foi proposital, por causa de Judas Isca- riotes, que intimamente já estava calculando o preço que iria estipu- lar por este ou aquele socorro dado. Principalmente a ressurreição de uma criatura com parentela rica poderia render muito dinheiro! Minha adição não agradou muito a Judas, que fez uma cara contra- riada. Thomaz, que o tinha observado, lhe diz: “Ora, fazes uma cara como alguém que se julga com direito à exploração de interesses financeiros, mas a quem o juiz impede este intento!”

  2. Diz Judas: “Que tens a ver com a minha cara? Talvez tenha que prestar contas a ti? Sou tão escolhido e convocado quanto tu, por que tens sempre que me criticar?”

  3. Diz Thomaz: “Não te estou criticando, mas uma pergun- ta, em certas ocasiões, deve ser permitida! Por que não fizeste cara feia quando o Senhor nos transmitiu um poder milagroso e mos- trou como devia ser aplicado? No momento, porém, em que Ele advertiu que deveríamos usá-lo de graça, tua fisionomia se transtor- nou. Por quê?”

  4. Diz Judas para Mim: “Senhor, faze-o calar, senão serei sempre alvo de suas observações, que com o tempo poderiam me ofender!”

  5. Digo Eu: “Amigo, quando se atribui a um inocente um pe- cado, este se ri em seu coração, o que o absolve de toda a culpa. Se, entretanto, alguém acusar casualmente o outro de algo que este é seriamente culpado, digo-te, este homem poderá se rir em seu cora- ção? Não! Enraivecer-se-á com o outro e jamais será seu amigo! Por isto, muda de atitude, senão confessarás tua culpa!”

  6. Ouvindo isto, Judas imediatamente muda de feição, a fim de não se trair! Thomaz, porém, diz consigo: “Ó raposa, como és esperta! A mim não enganas!”

  1. E Simon de Caná pergunta-Me: “Que faremos, Senhor, se alguém nos oferecer ouro, prata ou dinheiro em paga de uma cura? Também não deveremos aceitá-lo, quando existem tantos pobres aos quais poderíamos ajudar desta maneira?” Judas, sem ser convidado, exclama: “Pois é, esta é a minha opinião! Não seria possível receber algo em benefício dos pobres?”

  2. Digo Eu: “Não, Meus irmãos! Não deveis ter ouro, nem prata, nem cobre em vossos cintos (Math. 10, 9), pois todo bom tra- balhador merece sua comida! Mas quem não quiser trabalhar, em- bora o possa, também não deve ser sustentado! Porque está escrito: Comerás o teu pão com o suor do teu rosto! Mas não que um pre- guiçoso deva saciar sua fome com óbolo de ouro, prata ou cobre! Os fracos, velhos e doentes serão mantidos pela lei, pelas comunidades.

  3. Tempo virá em que o dinheiro dominará as criaturas, es- tipulando-lhes o valor perante o mundo. Será um tempo mau, em que a luz da fé se apagará e o amor ao próximo, endurecendo-se, esfriará como o cobre!

  4. Por isto não deveis levar alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem bordão! Porque digno é o operário do seu alimento!” (Math. 10, 10)

136. Pergunta e objeção de Judas sobre o viajar sem dinheiro. Ensinamento Santificado do Senhor: “Sede precavidos como as serpentes e mansos como as pombas!” Réplica condenadora de Judas. (Matheus 10, 11–16)

  1. Judas, então, pergunta: “Senhor, está muito bem assim e os camponeses cuidarão de nós sem dinheiro! Mas iremos também visi- tar as cidades e vilas, onde a hospitalidade há muito não existe mais! Como será a nossa atuação, sem recursos?”

  2. Digo Eu: “Quando entrardes numa cidade ou vila, certificai-

-vos se existe nela alguém digno de vós, necessitando daquilo que tendes! Se achardes um, hospedai-vos aí, até que vos retireis! (Ma- th. 10, 11)

  1. Entende-se que, ao entrardes numa casa, a saudeis (Math. 10, 12), pois nela o verdadeiro amor penetra, sempre com boa edu-

cação. E se a casa, isto é, seus moradores, forem dignos, vossa paz descerá sobre eles; assim não sendo, ela voltará a vós (Math. 10, 13).

  1. E se ninguém vos receber, nem escutar vossas palavras, saí imediatamente dessa casa ou dessa cidade e sacudi até mesmo o pó de vossos pés, para um futuro testemunho importante! (Math. 10, 14). Em verdade vos digo, que no Dia do Juízo Final haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra, que para essa cidade! (Ma- th. 10, 15)

  2. Vede, Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos, por isto sede sempre precavidos como as serpentes e sem falsidade como as pombas, que representam a docilidade!” (Math. 10, 16)

  3. Diz Judas, em seguida: “Senhor, com estas perspectivas fa- remos maus negócios! Que adianta o futuro Dia do Juízo Final no mundo dos espíritos, no qual quase ninguém acredita? Se não nos for possível agir com Teu Poder contra estas feras humanas, será melhor ficarmos em casa! Pois, no momento em que formos teste- munhar de Ti diante destes lobos que enchem as cidades, seremos presos e açoitados perante os judeus e, finalmente, expulsos como proscritos. Realmente, agradeço de antemão! De que serve toda a prudência, verdade e honestidade, quando age como oponente o poder absoluto, em sua cegueira completa?

  4. Se de fato existe a verdade plena e a justiça integral, das quais a Humanidade não tem a mínima compreensão, devemos então aplicar a máxima romana: Que o mundo se perca, mas que a justiça seja aplicada! A verdadeira virtude sempre encontrará sua recom- pensa; mentira, inveja, usura, falsidade e todas as injustiças deverão sofrer o castigo implacável! Se quisermos conseguir algo com esta Humanidade tão pervertida, necessário se torna agir como anjos so- bre Sodoma e Gomorra! Quem nos ouvir e aceitar em Teu Nome receberá, como recompensa, a Tua Graça; mas os outros, que sejam castigados com uma praga! Aquele, porém, que nos quiser perseguir e condenar deverá ser aniquilado por um fogo vindo do Céu!

  5. Nestas condições, teremos bom êxito em nossa missão; mas, se Tu não permitires que assim façamos, todo esforço e trabalho será

inútil. Finalmente seremos apedrejados e Tu, Senhor, morto — se for possível — e a imensidade de inimigos nossos pisarão com es- cárnio os nossos cadáveres. Em suma, para vencer é preciso dominar Satanás, ou então servi-lo incondicionalmente!”

137. Resposta do Senhor às propostas missionárias de Judas. A alma de Judas é de baixo. A vida da terra é a morte do espírito. Visão retrospectiva e histórica a respeito dos meios empregados na Salvação dos homens. Agora estamos na época em que o Senhor vem no sussurro delicado. O sofrimento dos missionários. Texto de Isaías. Consolo dos apóstolos. (Matheus 10, 17–29)

  1. Digo Eu: “Como és desta terra, falas dentro desta compreen- são. Mas quem é de cima fala diferente, porque reconhece e sabe o que é preciso ao homem para libertar seu espírito da Onipotência e Ira de Deus, tornando-se verdadeiramente independente.

  2. A existência nesta terra não dá vida nem liberdade ao espíri- to, e sim a morte; esta morte, entretanto, é o nascimento do espírito para a Vida Eterna e sua Eterna Liberdade.

  3. Falando humanamente contigo, afirmo-te que tudo isto e muito mais já foi aplicado às criaturas, e podes perguntar, tu mes- mo, onde estão os frutos dourados desta ação!

  4. O que se deu na época de Noé e qual o seu benefício para os homens? Quais os acontecimentos em Sodoma e Gomorra?

  5. Vê, todos os gentios até os habitantes do extremo oriente são descendentes de Lot, bem como muitos skythos animalizados, que habitam os países setentrionais. Que proveito tiraram com a lição dada a Lot?

  6. Vai ao Egito e observa os povos; quanto melhoraram com as sete pragas? O que não foi feito por Moysés e pelos profetas?

  7. Jehovah deixou que os judeus maldosos sofressem durante quarenta anos na prisão babilônica, onde foram tratados como ani- mais de carga e alimentados com a comida dos porcos e cães. Suas bonitas filhas sofreram martírios indescritíveis por parte dos babi- lônios insaciáveis, assim como os meninos e adolescentes, que eram

castrados! Vai e pergunta aos judeus altivos e orgulhosos até que ponto este vexame os corrigiu?!

  1. Aponta-Me uma época, um ano, um mês, uma semana, um dia, em que Deus não tenha castigado a Humanidade pervertida, tanto isoladamente como na totalidade!

  2. Por isso, teu conselho vem atrasado; tudo já se deu, propor- cionando aquilo que foi previsto para o caminho espiritual. Mas, para as condições externas dos homens, não pode e não deve surgir um efeito perceptível, porque nunca isto foi permitido pelo Alto.

  3. Se Eu quisesse fazer anunciar o Evangelho do Reino de Deus por meio de raios e trovões, não necessitaria de vossa aju- da. Para este fim haveria no Céu uma imensidade de anjos po- derosos que saberiam, melhor do que vós, divulgar o Meu Reino nesta terra.

  4. Agora é chegado o tempo que foi mostrado a Elias quando se encontrava oculto dentro da gruta; Jehovah não Se aproxima na tempestade, nem no fogo, mas sim no sussurro delicado! E este mo- mento é chegado! Por isto não agiremos pela violência, mas dentro da Ordem Eterna de Deus, com todo amor, paciência e meiguice! Não deveis desconsiderar a prudência, pois vejo muito bem que ides, como cordeiros, enfrentar lobos vorazes; mas, se fordes prudentes, conseguireis muita coisa!

  5. Evitai tais homens-lobos; pois serão eles que vos acusarão e açoitarão nas sinagogas — se não fordes prudentes! (Math. 10, 17). Quando um carneiro se encontrar no sótão, onde o lobo não poderá chegar, e lá permanecer, ficará ileso. Se, ao contrário, descer a fim de ver mais de perto seu inimigo, sofrerá por culpa própria se por ele for estraçalhado e devorado (Math. 10, 18).

  6. Futuramente, quando Eu tiver subido aos Céus para pre- parar-vos Moradas Eternas na Casa do Pai, sereis conduzidos à pre- sença dos governadores e reis por Minha Causa, para servir de teste- munho a eles e aos gentios (Math. 10, 18) a fim de que se dê o que Meu profeta Isaías predisse, por todos os tempos e para Meu Reino verdejante sobre esta terra, a respeito dos reis bobos:

  1. ‘Porque o louco diz absurdos e seu coração obra a iniqui- dade, usando de hipocrisia e falando erros contra o Senhor, para deixar vazia a alma do faminto e fazer com que o sedento venha a sentir falta do que beber. Também todos os instrumentos do avarento são maus; ele maquina invenções malignas para destruir os aflitos com palavras falsas, como também ao seu juízo, quando os pobres chegam a falar. Mas o liberal projeta liberalidade, e por isto fica de pé.

  2. Levantai-vos, mulheres, que estais em repouso e ouvi mi- nha voz; e vós, filhas, que estais tão seguras, inclinai os ouvidos às minhas palavras. Muitos dias de mais do ano vireis a ser turbadas, ó filhas, que estais tão seguras; porque a vindima se acabará e a colhei- ta não virá. Tremei, vós que estais em repouso e turbai-vos, filhas, que estais tão seguras; despi-vos, ponde-vos nuas e cingi, com saco, vossos lombos.

  3. Lamentar-se-á sobre os peitos, sobre os campos desejáveis e sobre as vides frutuosas. Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e sarças; como também sobre todas as casas de alegria, na cidade que anda pulando de prazer. Porque o palácio será desamparado, o arru- ído da cidade cessará e Ofel e as torres da guarda servirão de cavernas eternamente para alegria dos jumentos monteses e para pasto do ga- do; até que se derrame sobre nós o Espírito do Alto: então o deserto se tornará um campo fértil e este será reputado por um bosque.

  4. E o juízo habitará no deserto e a justiça morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.

  5. E o Meu povo habitará em morada de paz e em moradas bem seguras e em lugares quietos e de descanso. Mas, descendo ao bosque, saraivará e a cidade se abaixará inteiramente.

  6. Bem-aventurados vós, os que semeais sobre as águas e para lá enviais o pé do boi e do jumento.’ (Isaías 32, 6–20)

  7. Se, portanto, este momento chegar, não vos preocupeis de como deveis falar ou com que vos justificar, porque naquela mesma hora vos será dado o que haveis de dizer! (Math. 10, 19). Porque não

sois vós que ireis falar, e sim o Espírito de vosso Pai que fala por vós! (Math. 10, 20)

  1. Isto, porém, refere-se à segunda missão que desempenhareis após Minha Subida ao Céu. Por ora, não tereis muitas dificuldades!

  2. Repito as palavras do profeta: ‘Felizes vós que semeais sobre todas as águas e para lá enviais o pé do boi e do jumento’, isto é, podeis agir com diligência pelo bem e pela verdade, naquilo a que fostes destinados! Então não encontrareis um rei louco, nem mulhe- res altivas e orgulhosas, mas sim pobres, doentes, obsedados, coxos, surdos e cegos, física e espiritualmente. A estes deveis procurar e pregar-lhes o Evangelho do Reino de Deus, curando a todos que nele acreditarem e não ocultando o Meu Nome.”

138. Boa pergunta: “Que será se a semeadura do Céu, cheia de amor, despertar a discórdia?” — “Não vos preocupeis com a reação de Satanás!” Judas discute novamente. O Senhor clama pela confiança e divulgação destemida do Evangelho. (Matheus 10, 21–33)

  1. Fala Simon de Caná: “Tenho uma pergunta a fazer — a meu ver muito importante — antes de nos encaminharmos para nossa missão. Peço-te que me ouças!”

  2. Digo Eu: “Leio tua pergunta muito mais nítida no teu co- ração do que serás capaz de externá-la; mas isto não te impede de pronunciá-la diante dos irmãos!”

  3. Diz Simon de Caná: “Pois bem, ei-la:

  4. Procuraremos aqueles que necessitam de nós. Ensinaremos o que pregaste na Montanha. Esta Tua Prédica é extraordinariamente pura e verdadeira — mas oposta à lei mosaica.

  5. Conheço quase todos os lugares que circundam o Mar Gali- leu, bem como seus habitantes, entre os quais há muitos que se des- fizeram de Moysés e dos profetas, aceitando a Pitágoras. Com estes não teremos dificuldades. Mas existem outras famílias que vivem e morrem pela causa de Moysés e do Templo — fato que geralmente se dá mais com os pais do que com os filhos, embora o contrário não seja coisa rara. Se, por acaso, os filhos de judeus enraizados aceita-

rem Tua Doutrina contrária ao Templo, mas os pais não o fizerem, que surgirá daí?

  1. Os pais, na certa, amaldiçoarão os filhos em virtude de sua desobediência — caso comum nestes judeus fanáticos!

  2. Se tal se der, que faremos? Pois é evidente que os pais nos perseguirão por este motivo!

  3. Desta maneira semearemos não só a bênção, mas também discórdia, discussão, raiva, ódio e vingança, e seremos odiados, per- seguidos, amaldiçoados! Quem nos libertará destas violências?”

  4. Digo Eu: “Não vos preocupeis com isto! Vê, o Céu não so- mente irradia os raios suaves dum sol primaveril; manda a tempes- tade, granizo, raios e trovões.

  5. Todos apreciam o raio do sol; mas o granizo, a tempestade, o raio e o trovão, ninguém os louva; o inverno para todos vem cedo demais, entretanto é mais salutar do que a primavera — e a tem- pestade, o granizo, o raio e o trovão são tão necessários como a luz crepuscular!

  6. Eu vos digo: Assim, há de acontecer que um irmão entrega- rá à morte o outro irmão, em Meu Nome; o pai denunciará o filho e os filhos se levantarão contra os genitores e os matarão (Math. 10, 21). Vós mesmos sereis odiados por todos no mundo, como aconte- ce atualmente, em Meu Nome!

  7. Mas aquele que perseverar até o fim, será salvo (Math. 10, 22), pois de bom grado Satanás não largará sua presa! Compreen- destes-Me?”

  8. Diz Judas: “As coisas estão melhorando! Se nossa missão nos trouxer o ódio de todos, então adeus para este empreendimento! Senhor, se estás falando sério, afirmo-Te como homem simples, mas com alguma experiência própria: é melhor Tu e nós ficarmos em casa! Pois esta semente não germinará, nem dará frutos! Escuta, que deveremos fazer se numa cidade, na qual doutrinarmos e curarmos, as pessoas nos odiarem até à morte? Teremos de deixar que nos ma- tem? E, depois disto — quem irá divulgar Tua Doutrina? Ora, pensa um pouco no que exiges! Pelo amor aos Céus, não reconheces que

Te tornarias impossível, sendo Teu Próprio inimigo e perseguidor? Onde estaria aquele que, odiando-me até a morte, ainda escutasse a minha pregação que enche sua casa de discórdias, ódio, raiva e vin- gança mortal? Fala — que fazer neste caso inevitável?”

  1. Digo Eu: “Falas como o entendes; nósfalamos como nóso entendemos. Interpretas tudo materialmente, quando estamos tra- tando de assuntos espirituais.

  2. Mas, se tu ou algum outro tiverdes tanto medo dos ho- mens, fugi para outra cidade! Em verdade vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que o Filho do homem volte a vós (Math. 10, 23), como Um que acenderá um fogo destruidor e despertará o verme mau em seus corações, e o fogo jamais se extin- guirá, nem o verme morrerá; vós, porém, sereis justificados, pois ai daqueles que vos perseguirem ou matarem!”

  3. De novo, fala Judas: “Sim, uma vez mortos, então virás! Se já nos deste o poder de curar todas as doenças, por que não nos dás também o domínio sobre as criaturas, das quais às vezes umaé pior do que todos os espíritos que até hoje habitaram num corpo humano? Dá-nos o poder de chamar o fogo da terra para debaixo dos pés daqueles que nos perseguirem — e conseguiremos converter o mundo inteiro!”

  4. Digo Eu: “Por acaso queres ser mais do que teu Mestre e Senhor? Eu vos digo a todos: o discípulo não é mais do que seu mestre e o servo mais do que seu senhor (Math. 10, 24). Basta que sigais o Meu Exemplo.

  5. Mas, se vosso Mestre e Senhor não usa de meios extraor- dinários para obrigar os homens à aceitação de Sua Doutrina, por que o haviam de querer os Seus discípulos e servos? Se as criaturas do mundo chamam a Mim de ‘Beelzebub’, quanto mais não o farão convosco, que sois Meus domésticos? (Math. 10, 25)

  6. Por isto, não deveis temê-las, pois já as conheceis. Julgais que Me seja velado o que se passar convosco? Eu vos digo: Nada há oculto que não seja revelado e nem tão secreto que Eu não o saiba (Math. 10, 26).

  1. Portanto, podeis sempre contar Comigo! Pois, se a leoa não abandona seus filhotes, defendendo-os com sua vida — acaso Eu não saberei vos defender com a Minha Vida, contra o perigo?

  2. Não temais os homens do mundo! O que Eu vos ensinei à noite, dizei-o de dia, e o que escutais com os ouvidos do vosso coração, pregai-o sobre os telhados (Math. 10, 27); não temais aqueles que po- derão matar o corpo, qual animal feroz, entretanto não poderão des- truir a alma, que unicamente possui vida, não podendo prejudicá-la!

  3. Antes, temei Aquele que é Senhor de vossas almas, podendo fazê-las perecer no inferno, se assim o quiser! (Math. 10, 28). E Este já conheceis, pois é Ele que vos fala!

  4. Observai, diante de nós, um celeiro coberto, sobre o qual os passarinhos vivem contentes e felizes! No mercado compram-se dois por um ceitil. Quão pequeno é seu valor! Entretanto, nenhum deles cairá sobre a terra, sem a Vontade do Pai! (Math. 10, 29)

  5. Eu, porém, digo-vos: Vossos cabelos são contados (Math. 10, 30) e nenhum deles cairá de vossas cabeças sem que o Pai o saiba e queira! Se Ele cuida de coisas tão insignificantes aos vossos olhos, por acaso não cuidará de vós, que ides divulgar Seu Verbo e Sua Graça?

  6. Por isto, vosso temor é vão, pois sois mais do que muitos passarinhos (Math. 10, 31).

  7. Ide, sem medo, dar testemunho de Mim perante o mundo! Pois a quem Me testemunhar perante os homens, Eu darei Testemu- nho perante o Pai nos Céus! (Math. 10, 32). Mas quem Me negar de medo diante dos homens, a este Eu também negarei diante do Pai!” (Math. 10, 33)

  8. Judas toma de novo a palavra e diz: “Tudo isto é mui sa- biamente falado; mas de que serve? Tua Doutrina é maravilhosa e Teus Atos provam Quem é Aquele que os executa. Mas, com estas diretrizes, dificilmente achará aceitação e se tornará impossível pelo fato de estabelecer a dissensão entre as famílias, ou será proibida severamente pelo Estado! Se dentro em breve nós, como divulga- dores de Tua Doutrina e Obra, morrermos pela espada, no fogo, na

cruz ou na cova dos leões, quem irá tomar nossos lugares e executar nossos serviços?”

139. Importantes ensinamentos de vida e conduta. Quem amar algo mais do que ao Senhor, não O merece! A luta no mundo é necessária. Promessa maravilhosa aos fiéis no amor. (Matheus 10, 34–39)

  1. Digo Eu: “Já te disse que julgas pela tua razão. Dar a paz ao mundo seria entregá-lo, ainda mais, à morte em que já se encontra atualmente.

  2. Achas que o cego conseguiria a luz dos olhos se tu os ar- rancasses? Ou poderia o coxo andar um dia se lhe decepasses o pé doente? O mudo, por acaso, seria levado a falar quando se lhe cor- tasse a língua? A peste poderia curar a peste? Um incêndio seria apagado com fogo?

  3. Vê, tudo isto se passa com as criaturas mundanas desta época! São espiritualmente mortas, pois não possuem vida, além de sua vida animal. Suas almas são puramente carne e seu espírito, a bem dizer, morto, assemelhando-se aos espíritos que habitam nas pedras, condensando pela sua constância a matéria em si porosa, de mo- do que surgem as pedras de diversas formas e qualidades: porosas e duras, transparentes e opacas, de cores diferentes, de acordo com a tendência do espírito nelas enfeixado.

  4. Achas que seria possível libertar os espíritos de sua matéria com água morna? Certo que não! Digo-te: a pedra continuaria a ser o que é. Para conseguir sua libertação, é preciso um fogo poderoso que os levará a romper estes laços poderosos. O mesmo se dá aqui!

  5. O que liberta os elementos de dentro das pedras, como sen- do: fogo, lutas, pressão insuportável, golpes pesados, também des- perta os espíritos nos corações empedernidos das criaturas, libertan- do-os, principalmente entre os grandes e ricos, que têm corações da dureza de diamantes, que jamais um fogo da terra abrandará.

  6. Gravai bem o que vos digo: abandonai a ideia de que Eu vim para enviar por vós, Meus discípulos e servos, a paz às criaturas do mundo, mas sim a espada! (Math. 10, 34)

  1. Compreendei-o bem! Eu vim para excitar o filho bondoso contra a dureza empedernida do pai, a filha modesta contra a mãe dominadora e a nora meiga contra a sogra avarenta e invejosa! (Ma- th. 10, 35). Sim, os piores inimigos serão os familiares do homem (Math. 10, 36).

  2. Em verdade vos digo: quem ama seus pais mais do que a Mim, não é digno de Mim, e quem tiver filhos e os ame mais do que a Mim, não é digno de Mim! (Math. 10, 37). E quem não tomar de boa vontade sua cruz nos ombros e Me seguir, não Me merece e não terá parte no Reino de Deus (Math. 10, 38).

  3. Em verdade vos digo: quem procurar a vida deste mun- do e achá-la com facilidade, perderá a Vida Eterna e Eu não o despertarei para ela no Dia do Juízo Final, ao deixar este corpo; expulsá-lo-ei, ao invés, para o inferno da morte eterna.

  4. Quem, porém, não procurar a vida mundana e, por Meu Amor, a ela fugir e desprezar, encontrará a Vida Eterna (Math. 10, 39), pois Eu o despertarei imediatamente após a morte de seu corpo, no primeiro dia da vida nova no mundo espiritual, para conduzi-lo ao Meu Reino; homenageá-lo-ei com a Coroa Eterna da Sabedoria e do Amor e ele reinará Comigo e com todos os anjos do Céu Infinito sobre todo o mundo cósmico e dos espíritos!”

140. A imensidade do mundo cósmico e espiritual. A dignidade e o destino dos Filhos de Deus. “Sede executores do Verbo!” Única prova possível de uma Palavra Divina. O Segredo Divino dentro do homem. (Matheus 10, 40)

  1. Pergunta Simon de Caná: “Senhor, não queres nos revelar onde está o Céu, no qual habitam os anjos, o tamanho dele e do mundo cósmico, o qual mencionaste?”

  2. Digo Eu: “Amigo, és cego se não vês e compreendes isto! Se Eu disse que o Céu é infinitamente grande, como podes perguntar pelo seu tamanho?! Ele se estende espiritualmente tal qual este Es- paço Infinito do Cosmos, do qual tua vista abrange apenas a infini- tésima parte.

  1. A terra, o grandioso sol, a lua e todas as estrelas — que em si são mundos imensos, alguns milhares de milhões de vezes maio- res que esta terra — tudo isto que faz parte do Cosmos excede em imensidade a comparação de uma gota de orvalho perto do oceano, cuja superfície é tão extensa, que um bom capitão não poderia na- vegá-la toda sem chegar, para isto, à dupla idade de Mathusalém. Mas este mundo dos sentidos, com tudo que foi criado até então, possui um limite, além do qual existe um espaço eterno e infinito, cuja extensão para todos os lados é comparável — relativamente à mencionada Criação — a um momento de tempo em confronto à Eternidade!

  2. O mundo dos espíritos é, em si, tão infinito como o Espaço é infinito!

  3. Neste imenso e eterno Espaço, entretanto, não existe em suas profundezas mais longínquas um pontinho sequer em que o Espí- rito da Sabedoria e Onipotência de Deus não esteja tão Presente como aqui no vosso meio. Os verdadeiros Filhos de Deus, que se esforçarem no verdadeiro Amor a Deus, ao Pai de Eternidade, e no amor puro para com seu próximo, receberão na Imensa Casa do Pai a Força e o poder para preencher mais e mais, com novas criações, o Espaço, que jamais será repleto!

  4. Ainda não compreendeis o que vos disse. Entretanto, vos afirmo: Jamais o olho mortal viu, o ouvido escutou e nenhum sentido físico percebeu o que espera no Além aqueles que se tor- nam merecedores do nome de Filhos de Deus!

  5. Pois, diante deles, as terras, os sóis e as luas flutuarão co- mopoeira resplandecente!

  6. Por isto, não sejais somente ouvintes, mas executores da Mi- nha Palavra!

  7. Apenas pela ação reconhecereis se o que falei e ainda falo sur- giu da boca de um homem ou da Boca de Deus! (João 7, 17)

  8. Da mesma maneira que deveis agir plenamente dentro dos Ensinamentos que vos dei, sentindo em vosso coração Quem vos deu esta Doutrina e o Mandamento do Amor, deveis estimular tam-

bém aqueles que ides ensinar; porque, enquanto a palavra perdurar no cérebro e não penetrar no coração, não terá maior valor que os berros dum animal, que também são ouvidos por outros.

  1. Somente quando ela penetrar no coração tornar-se-á viva, apossando-se da vontade, que é o centro do amor, e estimulando a criatura toda para a ação.

  2. Por esta ação surgirá uma nova pessoa dentro da velha e a Minha Palavra a tornará, verdadeiramente, uma nova carne e sangue.

  3. Esta criatura nova dentro de vós anunciar-vos-á que Minhas Palavras são, na verdade, Palavras de Deus, que possuem hoje e por todos os tempos o mesmo Poder, Força e Efeito de Eternidades!

  4. Tudo que percebeis com vossos sentidos é, em si, nada mais que a Palavra de Deus, Que criou os mundos, sóis, luas e os destinou aos seus trâmites — como também vos indicou os novos caminhos da Vida Eterna!

  5. Acrescento ainda: quem vos aceita também Me aceita, e com isto terá aceito Aquele que Me enviou.” (Math. 10, 40)

141. Diretrizes para conduta e missão dos apóstolos. Os verdadeiros e falsos profetas. Primeira missão dos apóstolos aos lugarejos de Israel. Promessa de esclarecimentos futuros. (Matheus 10, 41–42)

  1. (O Senhor): “Digo-vos mais: sabeis que ora existem profetas como os houve em todas as épocas e haverá até o fim dos tempos entre todos os povos, seja qual for sua fé. Pois serão eles que hão de estabelecer a ligação entre o Céu e a terra, mesmo depois de todos os laços rompidos.

  2. Sempre houve, há e haverá os falsos profetas; mas isto não prejudica a verdadeira causa da autenticidade dum profeta dos Céus, porque o falso em pouco tempo será revelado pelo verdadeiro e não escapará ao castigo.

  3. Se um verdadeiro profeta entrar em uma casa onde for aceito, aquele que o receber e guardar suas palavras no coração ganhará o prêmio de um profeta no Reino de Deus. E aquele que receber um

justo sem ter experimentado sua justiça receberá no Reino do Céu o prêmio de um justo (Math. 10, 41).

  1. Acrescento mais: Vede estes pequeninos que Me rodeiam amorosamente! Quem oferecer um copo d’água, em qualidade de discípulo, a um deles, de modo nenhum verá este seu ato de pouca importância sem recompensa (Math. 10, 42).

  2. Agora sabeis de tudo que necessitais para vossa missão. Pro- curai as cidades que vos apontei, ensinai os habitantes acerca do Rei- no de Deus e fazei o que vos disse. Vosso mérito não será pequeno.

  3. Quando tiverdes feito isto nas cidades de Israel, que não são muitas, voltai a Mim, para que Eu possa iniciar-vos nos segredos mais profundos do Meu Reino!”

  4. Diz Pedro: “Senhor, devemos ir todos juntos ou sepa- radamente?”

  5. Digo Eu: “Como quiserdes, mas será melhor se fordes em grupos de dois ou três, para que um possa dar seu testemunho ao outro; Meu Espírito agirá mais poderosamente quando estiverdes reunidos, dois ou três, em Meu Nome.

  6. Resolvei entre vós quais as cidades, vilas ou aldeias que ides tomar a vosso cargo!

  7. Pois, assim, podereis doutrinar em diversos lugares ao mes- mo tempo, para voltardes mais depressa. Se fordes diligentes, acaba- reis vossa tarefa dentro de sete meses, ou talvez ainda antes. Agora, porém, ide, que todo minuto é precioso!”

  8. Diz Judas: “Senhor, o sol está quase desaparecendo e o dia não durará além de trinta minutos; até alcançarmos a próxima al- deia, levaremos duas horas. Não seria melhor que fôssemos amanhã, bem cedo?”

  9. Digo Eu: “Não, meu irmão, cada minuto perdido repre- senta uma ameaça! Ainda hoje alcançareis uma vilazinha atrás do morro, em direção ao levante, onde se necessita de vosso socorro; sereis bem recebidos, mas não demoreis mais do que três dias ali, como em qualquer lugar onde fordes! Até lá, ficai em conjunto; depois, separai-vos!”

  1. Após estas palavras, os discípulos põem-se depressa a cami- nho, e os moradores deste lugar completamente destruído por He- rodes e reconstruído pela Minha Graça oferecem-lhes alguns guias que os dirigem no trajeto mais curto para tal vilazinha.

142. Primeira tarefa missionária dos apóstolos. Cena com os habitantes chorosos e os extorquiadores de impostos de Herodes. Pedro profere boas e sérias palavras. A Justiça Divina atinge os exatores. Bom êxito desta missão. Os exatores convertidos em boas testemunhas dos apóstolos.

  1. Quando os doze alcançam a vilazinha, após algumas horas de marcha, encontram os moradores em grupos diante dos portais, chorando, gritando e se lastimando desesperadamente, pois os ex- torquiadores dos impostos de Herodes haviam ali provocado uma confusão tremenda; saquearam as casas e arrebataram aos pais, im- possibilitados de lhes pagar, os filhinhos mais queridos, amarrando-

-os como animais e jogando-os, em seguida, em cima dos carros de bois. Quando os discípulos se inteiraram destes crimes, imediata- mente se Me dirigem em seus corações.

  1. Ouvindo nitidamente as seguintes palavras: “Far-se-á o que quiserdes!”, eles dizem aos moradores entristecidos: “A paz esteja convosco! O Reino de Deus venha a vós, do qual somos os divul- gadores, em Nome do Senhor! Entremos na vila para acertar vossa questão com os extorquiadores de Herodes!”

  2. Dizem os habitantes: “Oh! Não vos prestarão ouvidos! Pois sereis assaltados não por criaturas, mas por animais ferozes!”

  3. Diz Pedro: “Queridos irmãos, aceitai o que trazemos; o resto, o Senhor fará! Não espereis ouro nem prata, que não possuímos. Agora, porém, apressemo-nos para evitar maiores sofrimentos aos pequeninos!”

  4. Quando os discípulos penetram na vila em companhia dos habitantes, dão com vários carros repletos de apetrechos de uso ca- seiro, alguns cheios de crianças, outros sobrecarregados com carnei- ros e vitelos, e os extorquiadores já dão o sinal de partida, sem ligar aos gritos e choros dos meninos.

  1. Pedro se dirige ao chefe e diz, com voz mui severa: “Infame, com que direito praticas estes atos horripilantes? Não sabes que aci- ma de ti existe um Deus Onipotente, que poderá, num momento, aniquilar a ti e a teus cúmplices? Desiste de teu propósito vergo- nhoso, devolve tudo, senão sentirás agora todo o Poder da Ira de Deus!” Diz o chefe: “Quem és tu, que te atreves a falar comigo desta maneira? Não conheces o poder de Herodes, que o arrendou de Ro- ma e ao qual eu sirvo? Talvez ignoras que posso mandar matar, sem julgamento prévio, todo aquele que se me antepor? Afasta-te! Mais uma palavra — e sentirás a minha espada!”

  2. Diz Pedro: “Pois bem, embora filho de Jacob, não mais és um ser humano, mas um animal feroz — e sofrerás junto com teus cúmplices a Justiça Divina! Porque eu e estes que me acompanham somos enviados por Deus! O que tencionavas fazer a mim, que te quis advertir dos teus crimes, aplicarias a Ele; por isto te atinge a Justiça Divina! Amém!”

  3. Quando Pedro pronuncia estas palavras, com grande ênfa- se, surge um fogo da terra, que consome o exator num momento! Quando os outros veem isto, se assustam de tal maneira que se ajo- elham aos pés de Pedro e prometem fazer tudo que ele queira, desde que não os castigue!

  4. Diz Pedro: “Então devolvei tudo e ide em paz! Mas que ja- mais vos deixeis tentar a prestar um serviço desta ordem a Herodes; pois um passo com esta intenção será o bastante para que sofrais o mesmo que vosso chefe!”

  5. Os exatores libertam imediatamente as crianças, os animais e tudo aquilo que tinham saqueado, e sobre os quais nem eles, nem Herodes tinham poderes, pois esta vila há muitos anos tinha con- seguido seu resgate com os romanos, no que foi imitada por várias outras. Mas Herodes fazia incursões secretas, negava a certidão de resgate e dava plenos poderes a seus cobradores através dum novo documento que os justificava perante Roma.

  6. Quando Pedro explica esta política infame de Herodes, eles reconhecem a injustiça que praticaram com seus irmãos, converten-

do-se, em número de cem, e seguindo a Pedro. Esta pescaria foi de bom êxito, pois estes convertidos muito contribuíram para a divul- gação rápida de Minha Doutrina.

  1. Os moradores da vila, entrementes, deixam-se batizar em Meu Nome durante os três dias de permanência dos apóstolos. Não que eles tenham recebido ordem, mas sabem que isto não é contra a Minha Vontade.

  2. Os batizados tudo fazem para bem servir aos discípulos, oferecendo, finalmente, dinheiro pelas curas de seus doentes.

  3. Eles, porém, nada aceitam, o que causa muita admiração entre os exatores ora convertidos, que dizem: “Provais mais pelo vosso desinteresse que pelos milagres, que sois verdadeiros envia- dos de Deus!”

  4. Judas fica estupefato quando vê dinheiro; Thomaz, porém, não sai de seu lado, e o discípulo ganancioso não se atreve, desta vez, a aceitá-lo, o que muito sente.

  5. Findos os três dias, os discípulos, dois a dois, separam-se, e cada grupo é acompanhado por dez a quinze convertidos, que lhes prestam bons serviços.

  6. Deste modo, os doze executam Minhas Ordens com bom êxito. E que fiz Eu, durante este tempo?

143. Ação do Senhor durante a expedição dos apóstolos. Pormenores sobre João Baptista e sua relação com Herodes. João Baptista duvida de Jesus como Messias. Quer informações do Senhor. A resposta Dele. (Matheus 11, 1–6)

  1. Naquela época, João Baptista havia sido encarcerado por He- rodes por intermédio dos sacerdotes de Jerusalém, que tudo fizeram para este fim. Não podiam esquecer e perdoar a João, que os havia chamado “Víboras e serpentes”, no entanto não tinham coragem de aprisioná-lo no deserto, pois sabiam que o povo o considerava um grande profeta.

  2. Por isso se juntaram a Herodes por meio de dinheiro e ou- tras exigências, conseguindo que este o prendesse sob pretexto de

que se tratava de um doido que perturbava o povo com ideias revo- lucionárias.

  1. No fundo, Herodes pouco se interessava com o que João Baptista pregava, queria-o apenas como presa, pois que não ficou incomunicável, sendo permitidas as visitas por um preço módico. Seus adeptos comprovados pagavam por semana u’a moeda de co- bre, enquanto outros, por dia, uma de prata.

  2. Herodes permitia-lhe fazer suas prédicas numa grande sa- la que tinha sido transformada em prisão, pois isto lhe dava um bom dinheiro.

  3. De quando em quando até o visitava, concitando-o a fazer seus sermões, dizendo-se seu protetor e amigo.

  4. Em seu íntimo, João não se deixava enganar por Herodes, mas aproveitava sempre as oportunidades para falar até aos templá- rios, que não compreendendo o motivo da condescendência de He- rodes Antipas para com João, perguntavam-lhe e ele, muito ladino, respondia: “Faço isto para conhecer todos os adeptos deste homem perigoso!” Os templários louvavam-no muito e lhe presenteavam ouro, prata e pedras preciosas, pensando: “Este é o nosso homem e merece todo o auxílio, pois é destinado a liquidar esta gentalha de profetas!”

  5. Mas Herodes, grego de nascença, só se interessava por di- nheiro e mulheres; o resto não o preocupava.

  6. Deste relato se depreende ser possível a João saber de Minha Ação na Galileia, de tal modo a mandar dois discípulos que Me perguntassem: “És Tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar por outro?” (Math. 11, 3)

  7. Muitos poderão estranhar esta atitude de João, que Me deu um testemunho tão grandioso, entretanto é bem compreensível.

  8. Ele reconhece que Eu sou o Messias Prometido e julga que basta a Minha Presença para salvar o povo judeu.

  9. Quando, porém, é aprisionado e se convence de que a força dos poderosos aumenta dia a dia, pouco a pouco começa a duvidar de Minha Pessoa.

  1. Pois pensa da seguinte maneira: “Se este Jesus de Nazareth é realmente o Prometido, o Filho do Deus Vivo, como pode abando- nar-me agora e me não libertar da prisão?”

  2. Ouvindo, entretanto, dos Meus Feitos por aqueles que o visitam, ele manda que Me façam a pergunta acima.

  3. Como vejo o motivo que o leva a esta pergunta, Eu respon- do conciso: “Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes (Math. 11, 4): os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados e aos pobres é anun- ciado o Evangelho (Math. 11, 5). E bem-aventurados os que não se aborrecem Comigo!” (Math. 11, 6). Aí os dois adeptos não sabem o que dizer.

144. Ação e desventura de João. Jesus e João como sol e lua. “Ele tem que aumentar e eu, que diminuir!” O Senhor testemunha de João: “Ele é mais que um profeta, ele é Elias!” (Matheus 11, 7–14)

  1. Passados uns minutos, o mais velho Me pergunta por que João deve padecer na prisão se nunca pecou diante de Deus e dos homens.

  2. Digo Eu: “Poderia estar livre, se o quisesse! A lua presta bons serviços durante a noite; mas, se quer concorrer com o sol, como se sua luz fosse tão necessária quanto a dele, ela se engana. Pois, uma vez que o sol se apresenta, pode-se dispensar a luz da lua. Compre- endeis isto?

  3. Se João Me reconheceu no rio Jordão, por que então não Me seguiu? Continuou no deserto, fazendo uma severa penitência

  1. Dizei-lhe, também, que Eu não vim para tirar o poder mun- dano dos potentados, mas sim para firmá-los em seus tronos. Quem quiser discutir Comigo enfrentará uma luta árdua!”

  2. Os dois discípulos nada respondem, voltam a Jerusalém e relatam tudo a João.

  1. Este, porém, bate no peito e diz: “Sim, sim, é Ele! Ele tem razão! Ele deve aumentar e eu diminuir e morrer para este mundo!”

  2. Na aldeia Seba, situada no Mar Galileu, onde Me encon- tro com muitos outros que assistiram esta conversa, alguns Me per- guntam: “Como é possível que João Baptista tenha pecado? Acaso constitui pecado o fato de ele não ter seguido a Ti, Senhor? Nosso julgamento está certo?”

  3. Eu lhes respondo: “Quando a lua cheia brilha na noite, todos admiram esta luz e se alegram disto; mas, se vem o sol, embora a lua ainda fracamente ilumine, todos se dirigem ao sol, louvando seu esplendor em cada gota de orvalho!

  4. Será que a lua comete um pecado em ser obscurecida pelo sol, que até numa gota de orvalho transmite mais luz aos olhos do admirador do que toda a lua?

  5. Eu vos digo a todos: Quem tiver ouvidos, que escute! O Fi- lho do homem é um sol e João é sua lua. Bem que ela ilumina as tre- vas do vosso espírito, testemunhando da luz que veio e que vós ainda não reconheceis em vossas trevas! E se a luz da lua vem a enfraquecer porque o sol do dia esplandece, quereis apontar-lhe um pecado?

  6. Em verdade vos digo: Desde Adam até hoje, não houve al- ma tão pura num corpo humano!

  7. Eu, porém, pergunto a todos, pois que não há um entre vós que não tenha assistido e aceito a doutrina de João: que fostes ver no deserto?

  8. Uma cana agitada pelo vento? (Math. 11, 7). Ou um ho- mem ricamente vestido? Vede, os que se trajam ricamente estão nas casas dos reis, e não no deserto de Bethabara! (Math. 11, 8). Ou fostes ver um profeta?

  9. Sim, Eu vos digo, João é mais que um profeta (Math. 11, 9). Porque é este de quem está escrito: Eis que envio o Meu anjo diante de Ti, que preparará o Teu Caminho! (Math. 11, 10). Sabeis, agora, quem ele é?

  10. Digo-vos, mais claramente: Entre todos que desde o início nasceram de mulheres, não apareceu um maior do que João Baptis-

ta; mas aquele que é o menor no Reino de Deus é maior do que ele (Math. 11, 11).

  1. Lembrai-vos, porém: Desde os dias de João Baptista até agora, se faz violência ao Reino do Céu e só os violentos se apode- ram dele! (Math. 11, 12)

  2. Todos os profetas, como também a lei de Moysés, profeti- zaram até João (Math. 11, 13). Foi o último profeta antes de Mim.

  3. Se quiserdes dar crédito, é este João o Elias, que haveria de vir antes do Messias (Math. 11, 14). Dizei-Me, sabeis quem é João?”

145. Espírito e alma de João Baptista. “Eu sou o Caminho e a Vida!” Convocação e liberdade individual de João como profeta. A natureza das perguntas. O pecador arrependido e os noventa e nove justos.

  1. Dizem os homens: “Senhor, sendo assim, cometes uma in- justiça se o deixas na prisão! A julgar pelo Teu Poder, ser-Te-ia fací- limo tirá-lo de lá, ele que trabalhou por Ti!”

  2. Digo Eu: “Aquele que vem pessoalmente alcança mais do que enviando um mensageiro ou uma carta. O espírito de João é grande e maior do que todos os que até hoje encarnaram, mas seu corpo pertence a esta terra, da qual se desenvolveu uma alma fraca! No entanto, está bem assim.

  3. Um espírito forte é bem capaz de educar uma alma fraca, mas a carne e a alma de João são fracas. Por isto, sempre mandou mensa- geiros em seu lugar — e estes nada conseguiram — o que seria fácil se viesse ele em pessoa, na qual residem alma e espírito.

  4. Eu não posso e não devo obrigar alguém a aceitar Minha Força e Meu Poder, a não ser que venha buscá-los. Pois jamais o detenho na busca da vida, do julgamento, ou do Meu Poder, por uma causa justa.

  5. Mas quem não vem pessoalmente nada recebe — a não ser a Graça da Luz, pela qual possa achar, aqui ou no Além, o caminho para Mim, e neste caminho reconhecer que Eu sou oCaminhoparaaVidaeaVida Mesma!

  1. João conseguiu dominar sua carne como ninguém; viu a salvação diante de si e não a quis agarrar. Por quê? Teria sido isso necessário?

  2. Vede, aqui está Aquele que pronuncia o imperativo da Lei onde é necessário! Mas Este também vos diz que, com relação a João, não o proferiu!

  3. O fato de ele ter sido convocado para preparar o Meu Cami- nho às criaturas contém um certo imperativo, atrás do qual se oculta uma liberdade eterna, que não podeis compreender em vossa carne. Mas o não Me seguir quando Me viu e reconheceu, isto não era ne- cessário e muito menos um imperativo! Neste ponto o espírito dele obedeceu à objeção da alma e começou a duvidar de Mim, tanto que já Me enviou mensageiros pela segunda vez. Quem pergunta ainda duvida, pois toda pergunta pressupõe uma ignorância ou dúvida daquilo que se sabe; por isso, João mandou os mensageiros!

  4. Jamais alguém viveu uma vida tão austera quanto ele, que por dias seguidos não comia nem bebia quando sua carne manifes- tava um desejo — tornando-se, assim, o maior penitente do mundo, sem nunca ter pecado! Todavia, digo-vos a todos: um pecador que se regenera, procurando-Me cheio de amor, está acima de João!

  5. Pois aquele que Me disser: ‘Senhor, sou um pecador e não mereço que entres na minha casa!’ será mais considerado que no- venta e nove justos, que não necessitam de penitência. Estes prezam a Deus em seus corações por não serem pecadores, julgando-se me- lhores que os outros. Digo-vos, o prêmio deles no Além não será considerável!”

146. Conversão do aduaneiro Kisjonah. Um exemplo da Graça Afável e Misericordiosa do Senhor. Irritação dos fariseus e sacerdotes. Palestra entre eles.

  1. Quando já terminara Minha Palestra, eis que se aproxima um aduaneiro, cujo coração de há muito tempo palpitava por Mim, embora fosse consciente dos seus pecados.

  1. Todo contrito, joga-se a Meus Pés e fala: “Ó Senhor, aqui se ajoelha um grande pecador, que ousa amar-Te sobre tudo! Vê, Se- nhor, já é meio-dia e uma satisfação imensa seria o pedir-Te e a Teus discípulos para honrarem meu almoço, se merecesse tal Graça! Sei que minha casa e eu somos impuros para receber-Te. Mas em mi- nha cozinha se encontram comidas e bebidas limpas. Concede-me a Graça de poder trazer os pratos por mãos limpas até aqui!”

  2. Digo Eu: “Kisjonah, levanta-te! Entrarei em tua casa e almo- çarei contigo! Ela será abençoada, não pelos teus pecados, mas pelo teu amor e humildade; perdoadas são tuas faltas, como se nunca as tivesses cometido!”

  3. Em seguida ele se levanta, e nós — mais de cem pessoas — ali encontramos bom trato.

  4. Mas, além de nosso grupo comum, acompanha-nos uma grande multidão de todas as zonas da Galileia e Judeia, tendo Kisjo- nah mandado servir a todos, fora da casa, pão e vinho.

  5. Naturalmente não faltam fariseus que Me seguem desde Ca- pernaum. Quando Me veem bem disposto e alegre em companhia dos aduaneiros — aos olhos dos judeus considerados pecadores empedernidos — dando-lhes Minha Mão e chamando-os de Meus queridos amigos, eles muito se escandalizam.

  6. Aborrecem-se mais quando, depois do almoço, Eu pas- seio, de braços dados com os publicanos, no jardim pitoresco que dava para o mar, mostrando também Minha Afabilidade às cinco filhas graciosas de Kisjonah, cujos corações estavam reple- tos de um amor sincero para Comigo. Amavelmente as trato de “Minhas queridas noivas”, o que constitui um grave pecado aos olhos dos fariseus!

  7. Quando aceito o convite de Kisjonah para não só pernoitar, como também para ali ficar no mínimo três dias, os fariseus não se contêm. “Vede só, entretém-se com esta gentalha, come e bebe até se embriagar e, em seguida, passeia como homem de trato com as filhas pervertidas dos pecadores! Finalmente ainda lhes anuncia, com palavras dóceis e suaves, o Evangelho de Deus, em vez de nos

mandar que as prendamos e as queimemos! Bonito Messias este! Agora que estas meretrizes o conquistaram, ele quer ficar até não sei quando!

  1. Vamos embora, pois para que ficar aqui? Já sabemos o que há com ele! Alguém já o viu orar? Quem o viu jejuar? Não considera o sábado, seus amigos são os maiores hereges e pagãos, gregos e roma- nos, publicanos, pecadores e meretrizes sensuais e, além disso, preza a boa comida e o bom vinho!

  2. Em suma, é um mago esperto da escola de Pitágoras e sabe agir! Fala muito bem, o que é necessário a um mago. Não aceita dinheiro por suas curas, como fazem os outros no primeiro ano de sua função. Uma vez com prestígio, não há dinheiro que chegue para satisfazê-los!

  3. Também não necessita do dinheiro, pois come e bebe gra- tuitamente — e, fora disto, de nada precisa! É um comilão, beberrão e pecador, vivendo de acordo com suas tendências! Como se julga Deus, ou no mínimo um Filho Dele, não O considera, nem as Suas Leis. Alegam que foi gerado pelo nosso Deus de Abraham, Isaac e Jacob com a conhecida Maria de Nazareth. Quem não vê logo esta trama infame?

  4. Pois bem, sabemos o bastante e é tempo de nos afastarmos dele, senão é capaz de nos prejudicar! Vede como graceja com as cin- co filhas deste maldito aduaneiro, e como o adoram! Aposto que, se este profeta e salvador fosse hoje a Jerusalém, em pouco tempo teria relações íntimas com a rainha das meretrizes, a conhecida Maria de Magdalon — talvez, também, com Maria e Martha de Betânia, que recebem muitos graúdos de Jerusalém!”

  5. Diz um outro, de melhor visão: “Não estás de todo errado! Mas, se consideras a cura na casa do aduaneiro Matheus, deves lem- brar-te que lá também o julgamos assim e sua sabedoria era inatingí- vel! Responsabilizar-te-ias por nós se ele falasse de novo?”

  6. Diz o primeiro: “O que sabes, eu também o sei. Ele usará de subterfúgios, como orador e mago que é. Mas nosso intelecto nos adverte e diz: Ide embora, antes que vos torneis do diabo!”

  1. Diz o outro: “Mas a doutrina dele é pura e nada apresenta de diabólico, pois ensina o mesmo que Moysés: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, pagar o mal com o bem, abençoar aqueles que nos amaldiçoam, ser humilde e meigo — não são atitudes do diabo!”

  2. Diz o primeiro: “Não para teu entendimento, que já és do diabo! Pois não sabes que ele se torna mais perigoso quando com aparência de anjo?”

  3. O outro: “Se aceitas estes contos de fadas como diretrizes para tua vida, não é possível conversar contigo! Digo-te que tanto tu como teus companheiros sois injustos com ele!

  4. Conhecemo-lo como amigo da Humanidade; devemos, pois, condená-lo por tratar, tanto aos justos como aos pecadores, com o mesmo carinho e paciência?”

147. Partida dos judeus fanáticos, seu desvio e volta. Pousada em casa de Kisjonah. Boa comparação do Senhor a respeito de João como flautista. Raiva e ameaça dos judeus. (Matheus 11, 15–19)

  1. Após esta boa insinuação do primeiro judeu, os outros se afastam e se encaminham, já noite fechada, para Capernaum. To- mam caminho por terra, pois o mar está agitado e eles têm receio de enfrentá-lo, embora os marinheiros afirmem que não há perigo.

  2. A caravana, que conta cento e cinquenta pessoas, não conhe- cendo o trajeto, em pouco tempo se vê diante dum rochedo que sai do fundo do mar. Esta rocha faz parte duma cordilheira, intrans- ponível por este lado; assim, todos se veem obrigados a encetar a viagem de volta, o que leva algumas horas, alcançando a quinta de Kisjonah depois de meia-noite. Troveja e chove torrencialmente, e os perdidos, completamente molhados, são recebidos com todo o carinho por parte do aduaneiro e seu pessoal, que lhes arrumam leitos de palha seca.

  3. No dia seguinte aparecem, ainda muito cansados, para seca- rem suas roupas ao sol.

  1. É sábado. Kisjonah e seus empregados trabalham como se fosse um dia comum e, ao meio-dia, arrumam-se as mesas e bons pratos são servidos.

  2. Naturalmente são convidados para o almoço. Eles, porém, não só não aceitam o convite, como também começam a proferir maldições contra estes profanadores do sábado! Um verdadeiro ju- deu não devia fazer ou comer algo — só podia beber três vezes!

  3. Observando o efeito de seu convite amigável, Kisjonah per- gunta-Me: “Senhor, que fazer com estes doidos? Quero lhes fazer o bem, e eles me amaldiçoam! Dize-Me Tu, atende Deus esta maldi- ção em prejuízo do amaldiçoado?!”

  4. Digo Eu: “Como não? Mas somente contra o amaldiçoador! Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça! (Math. 11, 15). Digo-vos a verdade sobre eles; julgais que consideram o sábado por Moysés tê-lo ordenado? Ou, talvez, que jejuem por este motivo?

  5. Tanto Moysés como os profetas, para eles não valem um cen- tavo e só reconhecem aqueles que lhes pagam o dízimo, como suces- sores dignos de Aaron!

  6. Com quem se assemelha esta geração? É semelhante aos me- ninos que se assentam nas praças e clamam aos seus companheiros (Math. 11, 16): ‘Tocamos flauta e não dançastes, cantamos lamen- tações e não chorastes!’ (Math. 11, 17). Aqui não comparo esses fa- náticos aos meninos, mas sim aqueles que estão conosco, pois ontem quiseram, de coração, reter aqui esses doidos e ateus perfeitos, mas eles zombaram deles e de Mim! Os marinheiros quiseram transpor- tá-los para Capernaum pelo mar, pois havia um bom vento, mas esses tolos não acreditaram. Afastaram-se, e um temporal os tocou novamente para cá. Agora vós os convidais para o almoço, e eles vos amaldiçoam!

  7. Meus queridos filhinhos, que vos assentais aqui diante de Mim, no Verdadeiro Mercado da Vida, Eu vos digo: não toqueis mais a flauta para eles, que são coxos de espírito e não querem dan- çar. Assim também, deixai de clamar, pois suas almas são iguais a pedras, sem umidade.

  1. João, de quem ontem testemunhei, veio e levou uma vida austera, comendo gafanhotos que tirava dos buracos da terra e mel silvestre, e dizem que tinha um demônio (Math. 11, 18) que o ali- mentava durante a noite!

  2. João tocou a flauta e clamou como ninguém antes dele — eles e muitos outros não quiseram dançar nem chorar!

  3. Dentro de Mim, o Messias Prometido veio ao mundo! Ele come, bebe e o que eles dizem? Vós mesmos ouvistes como Me jul- garam, gritando: ‘Vede como este homem é comilão, beberrão e companheiro dos publicanos e pecadores!’

  4. Mas Eu vos digo: Esta sabedoria é justificada por seus filhos (Math. 11, 19), isto é, os próprios filhos os declaram doidos, e assim sua sabedoria se justifica nos filhos. Mas a Minha também, pois é reconhecida e aceita pelos filhos, tanto que se faz jus à verdadeira e à falsa sabedoria!”

  5. Aí se levantam os fariseus e judeus fanáticos e Me dizem: “Tem cuidado, que ainda és judeu! Temos a lei e o direito de aniqui- lar-te como herege, pois queres prejudicar a Moysés e aos profetas. Ai de ti, se não dominares esta tendência! Possuímos a autorização do Imperador de empregar a lei romana, e todos os governadores têm que nos obedecer!”

148. Os discípulos desejam que a Honra do Senhor seja justificada. “Após esta vida existe uma Vida Eterna.” O Senhor condena as cidades de Chorazim, Bethsaída e Capernaum. Uma visão sobre o julgamento futuro. “Pai, Eu Te rendo louvor, porque o revelaste aos pequeninos!” “Eu e o Pai somos UM.” (Matheus 11, 20–26)

  1. Diante desta ameaça, os discípulos querem que Eu reaja, e dizem: “Senhor, como podes ouvir isto? Não tens Poder suficiente para aniquilar estes infames? Afugentaste os sicharenses por diversas vezes quando queriam se opor a Ti, entretanto não fizeste tanta coisa lá como em Capernaum!”

  2. Digo Eu: “Sem dúvida teria Poder de sobra para tanto! Mas o Senhor da Vida não necessita fazer aqui um julgamento. Porque,

após esta vida, existe outra que não tem fim — boa ou má, sua duração é a mesma! E por aquela Vida Eterna Eu anuncio um julga- mento justo e condeno todas as cidades em que tanta caridade fiz, recebendo esta paga!

  1. E como não se arrependeram (Math. 11, 20) com todas as prédicas que proferi, e ainda continuam mudas em seus corações, ai de ti Chorazim, ai de ti Bethsaída! Se em Tyro e Sidon fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrepen- dido com saco e cinzas (Math. 11, 21).

  2. Digo-vos, porém: haverá menos rigor para Tyro e Sidon, no Dia do Juízo final, que para vós (Math. 11, 22).

  3. E tu, Capernaum, que foste erguida até aos Céus, serás aba- tida até aos infernos! Porque, se em Sodoma fossem feitos os pro- dígios que em ti se fizeram, esta cidade teria permanecido até hoje (Math. 11, 23).

  4. Afirmo-vos que haverá menos rigor no Além para os de So- doma, no Dia do Juízo Final, que para ti (Math. 11, 24) que és uma cidade orgulhosa, dura e ingrata! Teria Eu curado milhares de teus doentes e ressuscitado teus mortos para Me amaldiçoares?! Ai de ti no Além, onde saberás a Quem amaldiçoaste!”

  5. Depois deste sermão, muitos presentes têm a visão espiritual daquilo que sucederá no Dia do Juízo Final a estas cidades amaldi- çoadas por Mim, veem Minha Imagem nas nuvens e como Minha Boca profere a maldição.

  6. Quando estas criaturas simples voltam à visão normal, ajoe- lham-se perante Mim e Me louvam!

  7. Eu estendo Minhas Mãos sobre elas, abençoo-as e digo: “Eu, como homem, rendo-Te graças, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos! (Math. 11, 25). Sim, Pai Santíssimo, assim aprouve a Ti e a Mim! (Math. 11, 26). Porque o que Tu fazes, Eu também faço; pois temos sido UNOS desde toda a Eternidade! Eu nunca fui Outro senão Tu, Pai Santíssimo, e o que é Teu também é Meu de Eternidade!”

  1. Com estas últimas palavras se apodera de todos um gran- de pavor, especialmente daqueles que, agora, não mais duvidam de Minha Divindade!

149. Nathanael, como evangelista particular, e o Senhor. O Dia do Juízo Final. Promessa maravilhosa para os despertados. “Ai dos antagonistas de Minha Ordem!” “Ninguém conhece o Pai — a não ser o Filho!” “Quem não for atraído pelo Pai, não alcançará o Filho!”“O Pai é o Amor do Filho.”“Vinde a Mim, que Eu vos aliviarei!” (Matheus 11, 27–30)

  1. Nathanael, que de certa maneira faz o guia dos restantes, pois escreve um Evangelho em grego, aliás mais completo que todos os outros, sem ter recebido esta incumbência da Minha Parte, assusta-

-se muito e me diz: “Ó Poderoso Senhor! Eu também tive a visão daquilo que mencionaste, tanto que minha mão não pôde anotá-lo! Peço-Te, na plenitude de meu amor para Contigo, ó Santo Eter- no, que me digas se isto se realizará, em verdade, como foi visto por muitos!”

  1. Digo Eu: “Não precisas temer algo! Quem vive e age como tu, será despertado no Além e, já aqui, para a Vida Eterna; isto será o Dia do Juízo Final, quando a pessoa for despertada por Mim para tal Vida, seja aqui ou no Além.

  2. Que cada um se esforce para que isto se dê aqui, pois não verá nem sentirá a morte do corpo e sua alma não terá pavor.

  3. Mas ai destes e de todos os antagonistas de Minha Ordem! Em verdade, sentirão mil vezes Aquele contra Quem reagiram, im- pondo-Lhe toda sorte de maldições!

  4. Posso afirmar-te isto porque todas as coisas Me foram dadas pelo Pai! Ninguém, porém, conhece o Filho, que sou Eu, senão o Pai, assim como ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar!” (Math. 11, 27)

  5. Diz Nathanael: “Por conseguinte, nós, os Teus discípulos mais fiéis, também ainda não Te conhecemos; entretanto, já nos revelaste muita coisa e mostraste quem és!”

  1. Digo Eu: “Conheceis-Me no que diz respeito à Minha Re- velação. Todavia, muito vos falta. Quando fordes reconhecer o Pai, reconhecer-Me-eis completamente, o que se dará quando Eu subir ao Céu. Daí por diante será o Pai que vos atrairá para junto de Mim, como Eu agora vos levo para perto do Pai. E a quem o Pai não atrair, não chegará ao Filho. Em verdade vos digo: então todos terão que aprender por Deus Quem é o Filho. Não sendo ensinados por Deus, não chegarão ao Filho e não terão a Vida Eterna Nele.

  2. O Filho, porém, não é mais severo que o Pai; porque o que fizer o Amor do Pai, o mesmo fará o Amor do Filho e do mesmo modo, pois o Amor do Pai é o Filho, o Amor do Filho é o Pai.

  3. E o Filho vos diz, bem como a todas as criaturas: Vinde a Mim, todos que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei! (Ma- th. 11, 28)

  4. Tomai sobre vós o Meu Jugo e aprendei de Mim, que sou Meigo e Humilde de Coração — assim encontrareis descanso para vossas almas e o medo vos abandonará! (Math. 11, 29)

  5. Porque o Meu Jugo é suave e o Meu Fardo é leve, vo-los dou a carregar sabendo o que podeis suportar!” (Math. 11, 30)

150. A maldade perversa dos fariseus é devidamente esclarecida e combatida. O medo os leva para o mar, a tempestade os traz de volta, tanto que silenciam em Capernaum.

  1. Minhas Palavras muito confortam os discípulos; os fariseus, porém, indagam o que tinham visto que lhes causara tanto pavor.

  2. Todos relatam o mesmo fato. Isto deixa os templários um tanto perplexos e perguntam entre si: “Como é possível que todos tenham tido, a um só tempo, a mesma visão? Como poderia um mago tê-la provocado a uns e não a outros? Por que somente seus adeptos viram algo, e nós não? Se fomos condenados por ele, que pretende ser judeu, embora sejamos mosaístas — teria sido mais aconselhável que mostrasse esta aparição a nós, a fim de que nos assustássemos, tornando-nos seus adeptos. Mas ele é esperto e evita estas encenações em nossa presença, pois sabe que o denunciaría-

mos perante os outros! Contra este homem perigoso é preciso to- mar medidas mais sérias, para evitar que nos domine e os romanos nos matem!”

  1. Digo Eu em voz alta: “Há muito tempo que estais maduros para isto — e bastaria apenas uma palavra do Comandante e todos vós estaríeis pendurados no pelourinho! Pensais que ignore vossas maquinações secretas contra o Imperador Tibério? Em absoluto! Sei mesmo o dia, a hora e o sinal combinado para toda a Judeia, Galileia e Jerusalém! Eu vos digo que sereis mal sucedidos neste negócio, pois o Governador Pontius Pilatus, que maneja uma espada agu- çada, dar-vos-á, diante das muralhas de Jerusalém, o prêmio para o vosso trabalho, e Herodes, por sua vez, terá dificuldade em recon- quistar a amizade do Governador!

  2. Na vossa cegueira imensa e perversidade sem limites, podeis tomar medidas mais severas contra Mim e Meus discípulos, mas Eu também saberei agir contra vós antes do tempo!

  3. João vos chamou de ‘víboras’, de ‘serpentes’. Eu nunca vos dei tais nomes! Agora, porém, também vos classifico assim e ordeno que vos afasteis daqui, senão farei surgir os ursos da floresta para que façam convosco o que foi feito aos patifes que zombaram de Eliseu! Porque não sinto a mínima misericórdia de vós!

  4. Se Me tivésseis blasfemado, Eu vos perdoaria. Mas vós vos in- surgistes e vos armastes contra o Meu Espírito, que é o Amor e Meu Pai de toda a Eternidade, e este pecado não vos será remido, nem aqui nem no Além! Portanto, afastai-vos, para que Eu possa ficar em paz por estes dias com Meu amigo Kisjonah!”

  5. Diz um fariseu: “Não devemos perder-te de vista, pois rece- bemos esta ordem de nosso chefe!”

  6. Digo Eu: “Sim, fostes colocados sobre Mim como lobos so- bre um rebanho. Se, porém, persistirdes no vosso propósito, chama- rei os ursos da montanha como guardas e mestres de correção!”

  7. Neste mesmo instante ouve-se um forte rugido vindo das montanhas. Os fariseus, apavorados, correm para a praia, tomam um bote e começam a remar. Mas um vento forte toca-os de novo

para a praia, onde os esperam alguns ursos. Assim, lutam durante duas horas, até que um barco grande os recolhe extenuados, já sob a iminência dum temporal fortíssimo, que ameaça soçobrar a em- barcação. Nesta peleja passam o dia todo, alcançando Capernaum somente no dia seguinte.

  1. Lá são interpelados pelos dirigentes sobre o que viram e ouviram. Mas eles, com medo de Mim, nada relatam.

151. Proposta para escalar u’a montanha. As montanhas daquela época. Kisjonah faz uma pergunta conscienciosa aos espiões do Templo. A resposta da montanha e seu bom efeito. Primeira pousada na montanha de Kisjonah.

  1. Os superiores de Capernaum, entretanto, escolhem outro grupo, que mandam em nosso encalço. Mas estes também têm que enfrentar um temporal, fato comum naquela época do ano (outono) no mar da Galileia. Assim, só Me encontram no quinto dia e desejam falar-Me. Como sabia o seu intuito, não os recebo e os advirto de que iria ficar ali alguns dias para visitar as redonde- zas, mas que se mantivessem quietos, caso contrário iriam sofrer as consequências!

  2. É justamente domingo e um dia maravilhoso; por este moti- vo, Kisjonah propõe-Me escalar a grande montanha próxima.

  3. Esta ainda não tinha nome. A geografia daqueles tempos era muito precária, tanto que a maioria das montanhas, vales, lagos, ribeiros e pequenos rios não possuíam nomes, a não ser aqueles que, de vez em quando, lhes eram dados pelos habitantes das redondezas.

  4. Montanhas não isoladas, como Tabor, Líbano, Ararate e Si- nai, pertencentes a cordilheiras extensas, não possuíam nome pró- prio que não fosse provisório, com referência ao proprietário cujos rebanhos ali pastassem. Quando o dono se mudava, a montanha também trocava de nome, e assim esta, como posse de Kisjonah, também tinha o seu.

  5. Este lugar, situado entre a Galileia e a Grécia, é um ponto central da alfândega, porque ligado por um trilho através da cor-

dilheira e usado por milhares de comerciantes a cavalo, camelos e burros, levando suas mercadorias.

  1. Quando os fariseus recém-vindos ouvem da nossa escalada, também querem tomar parte. Kisjonah diz: “Se fordes de boa von- tade, esta montanha, que fica vinte horas de marcha distante da Grécia pelo comprimento e cinco horas ao largo, é bastante espa- çosa para vos também comportar. Mas, como espiões maldosos do sacerdócio de Jerusalém, não vos aturarei, grego que sou e adepto fervoroso deste Divino Mestre, e tudo farei para livrar-me de vossa companhia! Consultai vosso coração! Se for puro, tereis livre passa- gem; do contrário, voltai de onde viestes!”

  2. Dizem os templários: “Nossas intenções são boas. Somos ju- deus como Jesus e confessores de Moysés, não podendo ele deturpar suas leis. Mas, como se fala por todos os lados de seus atos e ensi- namentos, precisamos averiguar se não são contra Moysés. Uma vez confirmando estas leis, nós os aceitaremos; caso contrário, serão por nós condenados!”

  3. Diz o aduaneiro: “Falastes como falavam vossos antepassa- dos aos profetas, apedrejando-os em seguida. Entretanto, procurais sempre neles vos apoiar! Por isto, não confio em vós em relação a este Santo Profeta!

  4. Embora vos confesseis adeptos de Moysés, vossas ações não provam isto! Portanto, analisai se sois merecedores de acompanhar-

-nos neste passeio!”

  1. Digo Eu: “Kisjonah, deixa que nos acompanhem! Se a su- bida for muito cansativa, eles voltarão, pois nunca um deles subiu a um pico! Talvez o ar puro venha a purificar-lhes os corações!”

  2. Kisjonah concorda e nós começamos a escalada, munidos do necessário.

  3. As cinco filhas também fazem parte do grupo e Me rodeiam como pintinhos, fazem mil perguntas sobre a Criação dos mundos, mormente sobre a formação destas montanhas, e Eu as esclareço dentro de sua capacidade intelectual. Os múltiplos discípulos e o povo que nos acompanha ouvem atentos estas explicações.

  1. Nathanael, que mais se compenetra da Minha Divindade, de quando em quando fala: “Ó montanha! Por acaso sentes Quem é que pousa os Seus Pés sobre ti?” E de cada vez a montanha estremece de tal forma que todos o sentem.

  2. Os fariseus se entreolham e querem sugerir ao povo a não ir mais adiante. Era bem possível que fosse u’a montanha sagrada que não devia ser pisada por um indigno, senão ela começaria a estreme- cer e enfurecer-se!

  3. O povo, porém, diz: “Então voltai, pois nós já a escalamos diversas vezes e ela nunca se enfureceu!”

  4. Aí, os fariseus começam a repreender o povo. A montanha, porém, estremece de novo, afugentando-os numa carreira desenfre- ada e nós nos libertamos desta companhia desagradável.

  5. Calmamente continuamos nosso passeio, alcançando, à noite, as imensas estalagens alpinas de Kisjonah, onde pernoitamos. Por causa do cansaço das mulheres, só no segundo dia escalamos o pico, donde se tem uma vista maravilhosa sobre toda a Judeia, Sa- maria, Galileia e uma grande parte da Grécia.

152. Chegada ao cume. Vista única e acontecimentos extraordinários. Convívio com espíritos e almas desencarnadas. Lugar especial, no Além, para as celebridades. Zonas no Além. Restrição de Satanás no Além. A visão dos espíritos. Desejo de Kisjonah de ver os anjos.

  1. Neste cume passamos um dia e uma noite e presenciamos muitas coisas maravilhosas.

  2. Para Mim nada há de maravilhoso, pois que a causa de todos os maravilhosos acontecimentos jaz dentro de Mim. Falo aqui da- queles que Me acompanham.

  3. Em primeiro lugar era a paisagem grandiosa que extasiava a visão. Em segundo, Eu permiti que, depois do poente, a visão interna de todos se abrisse, podendo vislumbrar o imenso mundo espiritual.

  4. Que surpresa quando deparam por sobre a terra um mundo imenso de seres que vivem e agem; além disso, zonas extensas, em

parte de uma beleza inaudita, e em parte triste e deserta, quando perto do norte.

  1. Em silêncio, ordeno a todos os espíritos que se calem a Meu respeito.

  2. Muitos dos discípulos conversam com aqueles sobre a vida do Além e eles lhes dão provas da continuidade desta vida.

  3. Kisjonah, então, exclama: “Todos os meus desejos se cumpri- ram. Daria metade de minhas posses, inclusive esta montanha, se me fosse possível chamar aqui alguns saduceus e essênios que não admi- tem uma vida além da morte! Em épocas passadas quase me deixei seduzir por sua doutrina, conseguindo pouco a pouco libertar-me, depois de ter sido orientado pela aparição de meu falecido pai.

  4. Isto é extraordinário! Pode-se lidar e falar com estes seres co- mo se fossem iguais a nós! O que, entretanto, me causa espanto é que nesta multidão de espíritos, entre os quais alguns não me são desconhecidos, não vislumbro um patriarca, um profeta ou um rei!”

  5. Digo Eu: “Meu caro amigo e irmão, esses também vivem no mundo dos espíritos, mas, a fim de evitar que se lhes dedique uma veneração divina, são isolados num lugar especial que se chama lim- bo, na esperança de que Eu os liberte nesta época e os conduza aos Céus, morada de Meus anjos — o que também acontecerá!

  6. Ao mesmo tempo estes espíritos de patriarcas, profetas e reis justos perfazem uma guarda entre o inferno propriamente dito e este mundo espiritual, para impedir que aquele venha obscurecer a este, empestá-lo e seduzi-lo.

  7. É permitido a Satanás penetrar no mundo da natureza e estabelecer a confusão de vez em quando. Mas aqui, no Além, é vedada a penetração de todos os diabos. Pois, onde a vida real se ini- cia, a morte é afastada para sempre. ‘Satanás’, ‘diabo’ e ‘inferno’ são o julgamento ou a morte, e nada têm que fazer no Reino da Vida. Compreendes isto?”

  8. Diz Kisjonah: “Senhor, na medida do possível e permitida pela Tua Graça, mas, não resta dúvida, muita coisa está além da minha percepção e somente quando for habitante desta zona um

tanto tristonha compreendê-lo-ei plenamente. Na direção do levan- te e meio-dia, este mundo espiritual se apresenta muito agradável e formoso; mas, para o poente e meia-noite, é pior que o deserto imenso onde existiu a grande Babilônia. Esta impressão prejudica a formosura do levante e meio-dia!”

  1. Digo Eu: “Tens razão, mas os espíritos que ora vês aos mi- lhares não avistam aquela zona, como tu. Pois todo espírito abran- ge, de uma só vez, somente aquilo que diz respeito à sua natureza intrínseca.

  2. Só quando se tornarem idênticos aos Meus anjos poderão ver tudo como tu acabas de ver.”

  3. Diz Kisjonah: “Senhor, isto está difícil de se compreender, mas penso que, por enquanto, também não seja necessário. Como Tu, ó Senhor, és tão magnânimo com estas revelações extraordiná- rias, poderias nos mostrar alguns anjos? Já ouvi falar muito em ar- canjos, querubins e serafins, mas a minha imaginação é, certamente, muito errônea. Se fosse da Tua Vontade, poderias nos proporcionar uma percepção verdadeira!” As cinco filhas presentes também refor- çam o pedido do pai.

  4. Digo Eu: “Fá-lo-ei, mas não antes de meia-noite, e sim de- pois. Agora palestrai com os espíritos sem denunciar-Me perante eles, pois não seria de utilidade antes do tempo.”

  5. Contentíssimos com a promessa, todos aguardam com an- siedade a meia-noite.

153. Cálculo de tempo naquela época, pelo movimento das estrelas. As filhas de Kisjonah são instruídas por três espíritos da lua a respeito da mesma. “Abandona a sabedoria e dedica-te unicamente ao amor.” O Senhor anuncia novidades.

  1. Kisjonah, que entende algo de astronomia, começa a calcular, pelo movimento das estrelas, se a meia-noite estava prestes a chegar.

  2. Depois de um certo tempo, diz ele: “Pelo meu cálculo, a meia-noite já passou?!”

  1. Digo Eu: “Amigo, teu cálculo não serve, pois temos, ainda, uma hora antes de meia-noite. É melhor desistires destas conjectu- ras, pois o movimento dos astros não é como pensas! Futuramente haverá criaturas que poderão fazê-lo. Mas este tempo está muito distante!”

  2. No entremeio de nossa conversa, chega a meia-noite e a lua surge. As filhas de Kisjonah logo querem saber o que seja a lua e por que muda, constantemente, sua luz.

  3. E Eu lhes digo: “Minhas queridas filhas, atrás de vós se acham três espíritos da lua; a estes indagai! Esclarecer-vos-ão por que muda sua luz e, às vezes, perde-a completamente!”

  4. A mais velha repete a pergunta aos três e estes dizem: “Que- rida, tua pergunta poderia ser comparada com a nossa sobre a terra em que habitas. Ignoras o motivo da escuridão que envolve a terra, o que não te preocupa. Como podes perguntar a respeito da lua, que fica muito mais distante que o planeta que te carrega?

  5. Vê, tua terra é um mundo e redonda como uma bola; o mes- mo acontece com o nosso planeta. Tua terra é iluminada pelo sol, de uma só vez, até à metade. O mesmo se dá com a lua. Para tua visão, a noite bem como o dia duram, geralmente, mais ou menos treze horas. Na lua, porém, catorze dias, daí resultar a constante mudança de sua luz.

  6. Entretanto, existe uma grande diferença entre tua terra e a lua, que consiste em ser a mesma habitada, naquele lado que tu não vês, por seres iguais a mim, enquanto tua terra o é por todos os lados.

  7. Oh! Em nossa lua a vida não é tão boa como aqui! Lá existe muito frio e muito calor, muita fome e, às vezes, uma sede arden- te! Por isto não tenhas saudade daquele mundo pequenino e extre- mamente estéril, onde não nasce trigo nem grão e muito menos existe vinho!

  8. O lado que avistas sempre de tua terra não é habitado por seres ou animais, mas por espíritos infelizes, impossibilitados de me- lhorarem por conta própria.

  1. Agora sabes tudo que te possa interessar. Não procures saber mais, pois este conhecimento te faria muito infeliz!

  2. Dedica-te ao amor e abandona o saber; pois é preferível nutrir-se na mesa do amor, que sorver na lua o orvalho escasso da sabedoria!”

  3. Depois desta explicação os três espíritos da lua se afastam e a moça pergunta-Me, confidencialmente, se aquilo tudo era verdade.

  4. E Eu digo: “Sim, Minha querida filha, é assim mesmo, e às vezes muito pior! — Agora deixemos a lua seguir os seus trâmites e olhai todos em direção ao levante!

  5. Chamarei vários anjos dos Céus que surgirão naque- la direção!”

154. Os três querubins transportam os doze apóstolos para a montanha perto do Senhor. A Ceia Divina dos oitocentos. Discurso de Kisjonah. O livro das “Guerras de Jehovah”.

  1. Todos dirigem o olhar para o levante, onde a claridade, como ao nascer do sol, aumenta mais e mais, sendo mais perceptível à vista interna, embora a visão externa não deixe de ser afetada.

  2. Finalmente surgem três seres mais luminosos que o sol, em figuras humanas perfeitas e flutuam pelo ar até nós. Mas na luz des- tes três anjos, que pela irradiação e consistência são denominados “querubins”, o mundo espiritual é quase que imperceptível e os es- píritos se parecem como pequenas nebulosidades que pousam em redor dos picos.

  3. Quando os querubins se encontram perto de nós, abrandam um pouco sua luminosidade, jogam-se com a face a Meus Pés e dizem: “Senhor, quem, nos Imensos e Eternos Céus, seria digno de contemplar Teu Semblante Santíssimo? A Ti dedicamos todas as Honras e Glórias da Eternidade e do Infinito!”

  4. Eu, porém, digo-lhes: “Cobri-vos e apressai-vos em trazer Meus doze mensageiros que se encontram num certo lugar! Já cum- priram a Minha Vontade!”

  1. Num instante os três anjos se cobrem e, em poucos minutos, trazem de volta os apóstolos.

  2. Todos estão alegres por terem sido transportados de maneira tão milagrosa!

  3. Somente Judas diz: “Agradeço por uma viagem que durou apenas poucos instantes, mas — o medo! E a corrente de ar!”

  4. Os anjos haviam feito com que apenas Judas sentisse isto.

  5. Este acontecimento dura por muito tempo na boca do povo.

  6. Na montanha, porém, muitos se amedrontam, dizendo: “Céus, estes milagres já são demais, isto ninguém aguenta!”

  7. Outros dizem: “Somente a Jehovah isto seria possível!”

  8. Os doze discípulos, entretanto, muita coisa contam daquilo por que passaram.

  9. Eu ordeno aos anjos para trazerem bastante pão e vinho, pois que os apóstolos não se tinham alimentado um dia inteiro. Os anjos executam Meu Pedido e os doze se refazem.

  10. As cinco filhas de Kisjonah Me pedem para provar um pou- co deste pão e deste vinho. O pai condena esta gula e diz: “Isto também é pecado! É necessário em todas as coisas a aplicação da renúncia, sem a qual o homem não alcançará a verdadeira virtude que proporciona a vida!”

  11. Eu, porém, digo: “Amigo, este pecado lhes será perdoado para sempre! Tuas filhas sentem realmente fome e sede, e como há bastante pão e vinho, quem o quiser poderá saciar-se!”

  12. Todos aceitam o Meu convite, louvando-Me por este con- forto que é trazido a oitocentas pessoas.

  13. Kisjonah, subindo numa rocha, dirige-se à multidão com as seguintes palavras: “Escutai-me, amigos e irmãos! Conhecemos as Escrituras desde Moysés até hoje e os livros das guerras de Jehovah, que recebemos da Pérsia e os temos traduzidos, depois de reconheci- dos como verdadeiros! Mas de todos os milagres neles relatados não existe um que possa ser comparado a este que se deu às nossas vistas. Quem, portanto, será Aquele que executa o que apenas a Deus seria possível?”

155. Advertência para com os novatos. Os diversos graus de evolução espiritual. Como Deus pode ser um homem — e o homem um deus. A diferença entre a compreensão científica e a compreensão pela fé. Como se deve agir a fim de iniciar alguém no espiritualismo.

  1. Nisto, chamo a Kisjonah e lhe digo em surdina: “Cala-te por enquanto e não Me denuncies! Existem muitos aqui que não têm o mesmo preparo que tu e não devem saber inteiramente Quem, em Verdade, Eu Sou; senão, a liberdade do espírito seria impedida, o que tornaria impossível que ele ressurgisse.

  2. É o bastante que muitos comecem a pressentir Quem sou Eu, e a maioria Me julgue um profeta e alguns o Filho de Deus — o que sou externamente. Mais do que isto seria prejudicial!”

  3. Diz Kisjonah: “Sim, Senhor, isto é certo; mas eu também sou um homem. Minha alma não será prejudicada, uma vez que não somente acredito, mas também sei, no fundo, Quem Tu és?”

  4. Digo Eu: “Tu foste preparado por Mim, pela Palavra e pe- la Doutrina. Quando, há poucos dias, vim a tua casa, julgavas-Me um médico sábio e ilustre, e quando Me viste agir milagrosamente classificaste-Me profeta, pelo qual age o Espírito Divino. Como és um homem culto, querias averiguar como era possível um homem chegar a esta perfeição. Aí, então, revelei-te o que é o homem, quais suas tendências e o que pode alcançar quando se conhece a si mes- mo, chegando assim à completa liberdade de seu espírito.

  5. Mas também fiz ver a ti como Deus Mesmo é um homem, única razão pela qual tu e todos os teus semelhantes são criaturas. No teu íntimo ensinei-te que Eu Mesmo sou o Homem e que toda criatura é destinada a tornar-se e ser, por toda a Eternidade, aquilo que Eu sou. Desde aquele momento, sabes Quem Eu sou.

  6. Vê, isto foi um preparo útil à tua alma e teu espírito, de sorte que poderás assistir à criação dum mundo ou à transformação de pe- dras em homens sem que isto te prejudique, pois aceitaste livremen- te, de maneira científica, que Deus pode ser um homem e vice-versa! Por esta razão, nem tua alma nem teu espírito são perturbados, pois

reconheces plenamente que Eu Sou o Único e Verdadeiro Deus e Criador de todas as coisas, por toda a Eternidade.

  1. Isto, porém, não se dá com estas pessoas aqui, inacessíveis a qualquer preparo científico. Só possuem fé e pouca inteligência.

  2. A fé, no entanto, está mais próxima da vida da alma que o mais perfeito intelecto. Sendo obrigação, ela se torna uma algema da alma e neste estado não há possibilidade dum desenvolvimento livre do espírito.

  3. Recebeste a compreensão pelo intelecto e tua alma conti- nua livre, aceitando da luz intelectual somente aquilo que poderá assimilar.

  4. Assim se desenvolve num intelecto bem formado uma fé verdadeira, completa e viva, pela qual o espírito recebe, através da alma, um alimento justo que o torna mais forte e poderoso — e isto toda criatura poderá perceber quando seu amor para Comigo e com o próximo aumentar mais e mais.

  5. Mas, como já disse, quando o intelecto no homem não for desenvolvido e ele apenas tiver fé, que duma certa maneira é uma obediência do coração e da vontade deste, deverá ser tratado com muito cuidado para que não fique estagnado numa ilusão vã, ou en- tão desvie-se por atalhos horrendos, como acontece com os pagãos.

  6. Agora compreenderás por que impedi que tu Me revelasses diante do povo. Pois que não seja um cego que conduza outro cego, mas alguém com visão intelectual, senão ambos cairão no abismo.

  7. Eu vos digo, sede diligentes e acumulai um conhecimento justo sobre todas as coisas! Analisai tudo, guardai o que é bom e ver- dadeiro e tereis facilidade para compreender a verdade, vivificando a fé morta, tornando-a uma verdadeira luz da vida!

  8. Digo a todos vós: se quiserdes tirar um proveito verdadeiro desta Minha Doutrina para vossa vida, é preciso, antes de mais nada, compreendê-la, para depois aplicá-la!

  9. Deveis ser perfeitos como o Pai no Céu é perfeito — senão jamais podereis vos tornar seus Filhos!

  1. Leste o Meu Sermão da Montanha onde Eu ensinei aos dis- cípulos como orar e iniciar a prece com a exclamação: ‘Pai Nosso!’

  2. Quem fizer a prece e, entretanto, não a compreender é co- mo um cego que louva e preza o sol não o vendo, embora irradie este uma luz intensa; por conseguinte, não pode ter uma noção dele. Isto não é pecado, mas também de nada lhe adianta, na verdade, pois continua nas trevas.

  3. Por isto, se quiserdes preparar o coração de alguém, não esqueçais de formar, primeiro, seu intelecto, senão fareis dele um adorador cego do sol, o que de nada lhe servirá!”

156. A brisa fresca e salutar. Espíritos de paz. Descida do cume da montanha e permanência da assembleia nas estalagens. Os cegos críticos mosaístas. A História da Criação dada por Moysés.

  1. Após esta elucidação, que Kisjonah diz completa, o dia co- meça a romper no oeste, e no cume da montanha faz-se sentir uma brisa muito fresca; Kisjonah propõe que procuremos abrigo numa estalagem vizinha, até que surja o sol.

  2. Digo Eu: “Não é preciso! Esta brisa a ninguém prejudica; ao contrário, fortifica a todos. Além disto, ela passará logo — o que é imprescindível, pois uma certa categoria de espíritos que não precisa ser mencionada prejudicaria a atmosfera de hoje se não fosse impe- dida de se levantar.”

  3. Assim ficamos até o meio-dia, lá em cima. Em seguida nos encaminhamos para as estalagens, onde passamos vários dias entre diversas discussões sobre os deveres vitais do homem, a natureza da terra, das estrelas e outras coisas.

  4. Muitos ensinamentos não são assimilados pelos fariseus que tinham ficado em Minha Companhia, mas eles também não pro- testam. Estes judeus que Me haviam procurado desde o primeiro dia na casa de Kisjonah são realmente espíritos mais elucidados e pensadores mais calmos, o que os faz aceitar Minha Palavra como Divina. Por isto, não podem ser comparados àqueles que foram en-

xotados para Capernaum, tampouco àquele grupo que a montanha apavorou com sua reação.

  1. Mesmo assim, estes fariseus bem intencionados não deixam de dar de ombros sobre as Minhas Explicações a respeito da verda- deira formação e criação gradativa da terra e de todas as coisas sobre e dentro dela, bem como a respeito de outros planetas. Dizem entre si: “Mas tudo isto é contrário a Moysés! Onde ficam os seis dias da Criação e o sábado em que Deus descansou? Se este homem mila- groso de Nazareth nos dá uma doutrina completamente diversa da de Moysés, que diremos? Se ele anula Moysés, forçosamente anula todos os profetas e, finalmente, a si mesmo.

  2. Mas, no fundo, sua doutrina está certa e é possível que a Criação tenha sido assim como ele explica.”

  3. Aí um se aproxima de Mim e diz: “Senhor, se for como Tu dizes, o que há com Moysés e os profetas?”

  4. Digo Eu: “Deverão ser compreendidos no seu sentido verdadeiro!

  5. Em sua dissertação acerca da Criação, Moysés expõe apenas quadros que revelam o início do conhecimento divino no homem desta terra, e não sua criação material!”

157. Explicação da Gênesis 1, 1–5 (primeiro dia). Correspondência entre o estado psiconatural do homem e a natureza. Treva espiritual duma alma infantil. O intelecto como noite espiritual. A Luz Divina no coração é Alvorada Espiritual.

  1. (O Senhor): “Não se lê: ‘No princípio criou Deus os Céus e a terra; e a terra era deserta e vazia e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre as águas.

  2. E Deus disse: Haja luz! — e houve luz. E Deus viu que era boa a luz; e Deus separou a luz das trevas. E chamou a luz — dia, e as trevas — noite. E foi da noite e da manhã, o primeiro dia.’

  3. Eis as palavras de Moysés! Se fordes interpretá-las literalmen- te, logo verificareis o contrassenso que surgirá daí.

  1. O que vêm a ser o ‘Céu’ e a ‘terra’ de que fala Moysés, que foram criados no princípio? O ‘Céu’ corresponde ao espírito, e a ‘terra’, à natureza dentro do homem, que foi e ainda é deserta e vazia — como em vós. As ‘águas’ são os conhecimentos deficien- tes de todas as coisas, sobre os quais paira o Espírito Divino, sem penetrá-los.

  2. Mas, como o Espírito de Deus vê que a escuridão é tremenda em vosso mundo abismal, Ele vos diz, como agora: ‘Haja luz!’

  3. Aí começa a romper o dia em vossa natureza e Deus vê quão benéfica é a luz para vossas trevas; somente não podeis ou não que- reis reconhecê-lo. Por isto, dá-se uma separação em vós, isto é, dia e noite são separados e averiguais, pelo dia em vós, a noite anterior de vosso coração.

  4. A primeira noção natural no homem é noite profunda, por- tanto trevas. Mas, como Deus lhe dá uma luz, esta luz se torna nele uma verdadeira alvorada, surgindo assim um primeiro dia vital.

  5. Vede, se Moysés, como conhecedor de todas as ciências do Egito, tencionasse designar em sua Gênesis o primeiro dia natu- ral da terra, deveria ter chegado à conclusão de que jamais poderia surgir um dia do anoitecer e da manhã, pois àquele sempre segue a noite densa.

  6. Portanto, a noite densa preenche o intervalo do anoitecer e da manhã, e o que fica entre esta e a noite é o dia!

  7. Se Moysés tivesse dito: ‘E assim se tornou da manhã e da noite o primeiro dia!’ poderíeis entender o dia natural, mas ele, por motivo de interpretação espiritual, disse justamente o contrário. O anoitecer representa, pois, as trevas do homem, coisa de fácil com- preensão, considerando que jamais alguém viu uma criança plena de sabedoria.

  8. Quando nasce uma criança, sua alma se encontra numa completa escuridão, que é a noite densa. Mas a criança cresce, recebe instrução, inteirando-se de vários assuntos e, vede, isto é o anoitecer, quer dizer, a alma começa a receber uma luz crepuscular como ao entardecer.

  1. Dizeis que também de manhã se faz sentir esta luz e Moysés poderia ter falado da seguinte maneira: ‘E do amanhecer e do raiar do sol, se fez o primeiro dia!’

  2. Eu acrescento: Realmente, se ele tencionasse transmitir pe- la interpretação espiritual um mero contrassenso! Moysés, porém, sabia que apenas o anoitecer corresponde ao estado material do ho- mem e que a formação do intelecto é idêntica ao vislumbre cada vez mais enfraquecido do anoitecer natural.

  3. Quanto mais a criatura lutar com seu intelecto por coisas mundanas, mais fraca se tornará a luz puramente divina do amor e da vida espiritual em seu coração. Por isto, Moysés cognominou esta luz terrena do homem como o anoitecer.

  4. Somente quando Deus, na Sua Misericórdia, acende uma luzinha de vida no coração do homem ele começa a reconhecer a nulidade de tudo aquilo que, até então, adquiriu pelo seu intelecto

  1. A Verdadeira Luz de Deus, acesa no coração do homem, é justamente a manhã, que, em conjunto e através do anoitecer prece- dido, perfaz o seu primeiro e verdadeiro dia.

  2. Por esta Minha Explicação, podeis observar que deve haver uma diferença poderosa entre estas duas luzes, ou melhor, conheci- mentos, pois todo conhecimento na luz do anoitecer do mundo é enganoso e perecível. Só a verdade perdura eternamente, enquanto o engano deve ser destruído.”

158. Explicação da Gênesis 1, 6–10 (segundo dia). A fé verdadeira como ligação entre os dois conhecimentos. O segundo dia. A fé surge do conhecimento ou o conhecimento da fé? Os quadros da Gênesis só têm sentido espiritual. O solo do amor.

  1. (O Senhor): “Poderia acontecer, porém, que a Luz Divina no coração humano inundasse a luz do anoitecer, a qual seria absorvida ou tão mesclada que dificilmente se perceberia o que é a luz intelec- tual e a Luz Divina.

  1. Por isto, Deus fez uma expansão entre as duas águas, que representam os conhecimentos de que falei acima.

  2. Essa expansão (firmamento) é o céu no coração humano que se manifesta numa fé viva e verdadeira, e nunca em conjecturas in- telectuais.

  3. Por esse motivo, Eu chamo de rocha aquele que possui uma fé poderosa e inabalável, fixando-a como um novo firmamento entre o céu e o inferno, o qual poder nefasto algum jamais pode- rá dominar.

  4. Quando este firmamento se positivar no homem e a fé tor- nar-se mais e mais poderosa, ele com facilidade reconhecerá a nu- lidade do raciocínio lógico. Sujeitar-se-á ao domínio da fé e assim surgirá no homem, de sua noite e da manhã mais desanuviada, o segundo dia bem mais iluminado.

  5. Neste seu estado do segundo dia, o homem já reconhece aquilo que, sendo a plena verdade, deve também ser provado! Mas, em seu íntimo, ainda não há uma ordem justa! Ele continua mes- clando as coisas da natureza com o que é puramente espiritual, es- piritualizando a natureza e percebe matéria no espírito, motivo por que ainda não se manifesta por uma ação justa.

  6. Assemelha-se o homem a um mundo de água pura que, em- bora envolto de atmosfera luminosa, não chega à conclusão exata se a água surgiu da atmosfera luminosa, ou vice-versa, isto é — não reconhece se o seu conhecimento espiritual se desenvolveu através do raciocínio lógico, ou se este do conhecimento espiritual que age secretamente dentro da criatura; em síntese, ele ignora se a fé veio do conhecimento ou se surgiu este pela fé, e qual a diferença entre ambos.

  7. Ainda não sabe o que veio primeiro: a galinha ou o ovo; a semente ou a árvore.

  8. Neste transe, Deus virá em auxílio do homem, quando este tiver aplicado a força que lhe foi dada, e que portanto é sua, em prol deste segundo dia de sua formação espiritual. Este auxílio consiste num aumento de luz que, igual ao sol da primavera, não só produz

uma irradiação mais poderosa, como também, pelo calor que ema- na, começa a fertilizar todas as sementes depositadas no coração.

  1. Este calor divino chama-se Amor e é, espiritualmente, o so- lo em que as sementes começam a germinar e criar raízes.

  2. Vede, consta na Gênesis que Deus ordenou às águas que se juntassem em certos lugares isolados, sendo assim possível observar o solo seco e firme no qual, unicamente, as sementes poderiam cres- cer para um fruto ativo e vivificador!

  3. Consta ainda: E Deus chamou à porção seca ‘terra’, e ao ajuntamento das águas, ‘mares’.

  4. Pergunto: para quem Deus denominou isto assim? — Para Si, claro que não; pois seria ridículo imaginar que a Sabedoria Di- vina sentisse um prazer especial em ter conseguido, qual se fora um homem, chamar à porção seca ‘terra’ e às águas isoladas em lugares determinados, ‘mares’!

  5. Mas, para outra pessoa qualquer, Deus não poderia empre- gar estas denominações, uma vez que, na época da Criação, não existia alguém que O pudesse compreender!

  6. Este conto de Moysés, portanto, não pode ter um sentido material; ele é puramente espiritual e só tem relação com a Criação dos mundos numa correspondência retrospectiva, isto é, do espiri- tual para o material, o que somente a sabedoria dum anjo poderá abarcar. Mas, de acordo com o que consta, só tem sentido espiritual, mostrando como primeiro se forma um homem e, através dele, a Humanidade toda, de tempos em tempos, de período em período, de sua índole de origem natural para o aperfeiçoamento puramente espiritual.

  7. O homem, por conseguinte, é isolado em suas partículas da natureza. Os conhecimentos têm seu lugar determinado, que é o mar do homem, e o amor que surge pelos conhecimentos, co- mo um solo capacitado em produzir frutos, é banhado sempre pelo mar, qual conjunto de conhecimentos verdadeiramente iluminados, sendo fortificados para uma produção mais fértil em diversos fru- tos nobres.”

159. Explicação da Gênesis 1, 11–13 (terceiro dia). Ação do conhecimento no bom solo do coração. Trata-se do homem espiritual dentro do homem natural. Reconhecimento e dúvida do fariseu. Correspondência existente entre a diferença da visão material com a espiritual.

  1. (O Senhor): “Quando, portanto, os conhecimentos do ho- mem envolvem por todos os lados o amor, sendo mais e mais ilu- minados e aquecidos pela sua chama, que eles alimentam sucessiva- mente, o homem se torna, na mesma medida, mais ativo e capaz.

  2. Nesse estado d’alma, Deus Se aproxima de novo do espírito da criatura e fala, como o Eterno Amor, ao amor do homem: ‘Pro- duza a terra erva verde que dê semente, árvore frutífera que dê fruto, segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra!’

  3. Com este Mandamento de Deus no coração, o homem ad- quire uma vontade firme, força e coragem e põe mãos à obra.

  4. Vede, seus conhecimentos justos se elevam quais nuvens plu- viais sobre o mar ordenado, dirigem-se para a terra seca, umede- cendo-a e frutificando-a. A terra começa a verdejar, fazendo surgir múltiplas qualidades de ervas e árvores frutíferas e arbustos com se- mentes, isto é: o que o intelecto, iluminado pela Sabedoria Divina, reconhece como sendo inteiramente bom e verdadeiro, também o quer e deseja o amor da criatura.

  5. Pois, do mesmo modo como a semente posta na terra, depois de certo tempo, germina e dá frutos, assim também agem os conhe- cimentos verdadeiros quando depositados no solo fértil do coração.

  6. A semente desperta a força vital que jaz na terra, fazendo com que ela se congregue de modo mais intenso em seu redor para que desabroche e se torne uma árvore frutífera. Ou seja: o verdadeiro conhecimento só se torna ativo dentro do coração, de onde surgem as boas ações. Elas se referem àquilo que Moysés diz na Gênesis ca- pítulo 1, versículos 11 e 12.

  7. O antigo ‘anoitecer’ do homem, elevado ao conhecimento verdadeiro pela Luz dos Céus, modifica-se em boas obras, e isto é o terceiro dia do desenvolvimento da índole do homem — ho-

mem-espírito — por cuja causa, tanto Moysés como todos os outros profetas e até Eu, agora, viemos ao mundo! Penso que deveis estar bem elucidados?!”

  1. Diz um dos fariseus: “Ilustre sábio, amigo e Mestre! Eu, por mim, assino todas as palavras que nos deste, pois devem ser e são verdadeiras. Mas vai a Jerusalém, explica a Gênesis desta maneira e serás apedrejado com todo o Teu séquito, se não Te protegeres com Teu evidente Poder Divino! Se, entretanto, enfrentares os templários com este Poder, encontrar-se-ão eles sob julgamento, pois seria o mesmo que Tu os aniquilasses com raios e fogo do Céu!

  2. Como já disse, de qualquer maneira seria arriscar muito, embora não houvesse um ponto em Tua Explicação que pudesse ser contestado. Mas agora vem o quarto dia, em que Deus criou o sol, a lua e todas as estrelas! Que explicação diferente poderás dar, uma vez que se encontram evidentemente no firmamento e ninguém conhece outra causa de sua origem a não ser a que se lê na Gênesis?

  3. Pergunto eu onde está a chave, onde a correspondência pela qual o quarto dia se refere unicamente ao homem?”

  4. Digo Eu: “Meu amigo, já ouviste falar que existem pessoas de visão longa, outras de visão curta e, finalmente, as que são meio cegas, muito cegas e inteiramente cegas! Os presbitas enxergam tudo bem à distância, mas de perto, mal; os míopes veem bem de perto e mal de longe. Para os meio cegos, uma vista ainda é boa, mas, como a outra é nula, compreende-se que estas pessoas veem tudo à meia-luz. Cegos há que, não distinguindo mais os objetos, têm deles, ainda, um pequeno vislumbre durante o dia, o que os faz diferençar o dia da noite. Os inteiramente cegos, no entanto, nem este vislumbre têm.

  5. Vê, esta graduação visual do homem é muito maior em sentido espiritual. Tu tens um grande defeito de visão, muito mais acentuado na alma que nos olhos, pois és extremamente míope, psi- quicamente falando!”

160. Explicação da Gênesis 1, 14–19 (quarto dia). Crítica acertada do texto. Só existe um firmamento: a Vontade de Deus. O firmamento de Moysés: o Céu no homem. A Filiação Divina como finalidade mais sublime do homem.

  1. (O Senhor): “Consta na Gênesis:

  2. E disse Deus: ‘Haja luzes na expansão dos Céus para haver separação entre o dia e a noite, e para sinais e tempos determinados e para dias e anos. E sejam duas luzes na expansão dos Céus para alu- miar a terra! E assim foi. E fez Deus as duas grandes luzes: a maior para governar o dia, e a menor para governar a noite; e também as estrelas. E Deus as pôs na expansão dos Céus para alumiar a terra. E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E Deus viu que era bom. E foi da tarde e da manhã, o quarto dia.’

  3. Assim consta literalmente na História da Gênesis do quarto dia.

  4. Se fores interpretá-la, digamos, com teu intelecto, logo de saída verás o grande absurdo contido nestes versículos!

  5. Se Deus, pois, criou a luz no primeiro dia, fazendo-o do anoitecer e da manhã, dize-me tu: que luz foi esta, suficiente para fazer surgir o dia e a noite? No quarto dia, Deus fala de novo: ‘Haja luzes no firmamento!’ Pergunto: que qualidade de luzes deveriam separar o dia da noite? Pois, se a luz criada no primeiro ocasionou três dias, para que, então, mais luzes no quarto, para o mesmo fim? Além disso, fala-se de luzes, mas não há a mínima menção a uma lua e a um sol! Estas luzes produzem sinais — que sinais? — finalmente tempos — quais? — dias e anos — que dias e anos? — E a noite, nada representa? Não é contada tanto quanto o dia?

  6. Além do mais, a terra é redonda, e de um lado sempre é dia, do outro é noite. De acordo com o movimento ao redor de seu eixo, sempre é dia naqueles países que, nesta rotação, ficam de- baixo do sol.

  7. Se desta maneira se dá o dia natural sobre a terra, no que o sol nada faz além de a iluminar constantemente, tornando claro onde

seus raios penetram — pergunto: como poderia Moysés ter pensa- do em sol e lua quando falou das luzes? E mesmo se esta fosse sua intenção, forçosamente teria lhes dado um nome, pois na sua época já eram conhecidas!

  1. Moysés também fala de uma expansão no Céu, que não exis- te em parte alguma, pois tanto o sol, a lua e todas as estrelas, bem como esta terra, flutuam no éter livre e ilimitado e, pela lei que tudo rege, são mantidos em suas posições úteis!

  2. Só existe uma expansão no Espaço Infinito, que é a Vontade de Deus, pela qual uma Lei eternamente imutável preenche este Es- paço e todas as coisas nele contidas.

  3. Se isto, que se apresenta aos vossos olhos como uma abó- bada estendida pelo Espaço, fosse uma expansão na qual sol, lua e estrelas estivessem presos, como poderiam mover-se, principalmente os planetas mudarem constantemente seus lugares?

  4. As outras estrelas que chamais de fixas dão a impressão de serem presas. Mas tal não se dá. São apenas tão imensamente dis- tanciadas e suas órbitas tão extensas, que dificilmente poderiam ser percorridas em cem mil anos; por este motivo seus movimentos não poderão ser percebidos por centenas de gerações humanas.

  5. A expansão de que fala Moysés é a vontade firme que surge pela compreensão justa e pelo amor que em si é o solo abençoado da vida. Mas, como esta vontade só poderá surgir da plenitude fertili- zante do Amor Divino no coração do homem, assim como este amor se projetou da Luz Divina espargida sobre ele quando Deus separou suas trevas em noite e dia, este justo amor, a justa compreensão e o justo intelecto são o Céu no homem, que se manifesta por uma fé viva. A vontade firme dentro da Ordem Divina é a expansão deste Céu! Quando estiver na ordem justa, dentro da Vontade do Amor Divino, Deus emitirá novas luzes do Céu dos Céus, que é o Puro Amor do Pai no Coração de Deus. Estas luzes iluminam a vontade, elevando-a à compreensão dos anjos dos Céus, transformando assim o homem criado no incriado, que pelo seu livre arbítrio torna-se um Filho de Deus dentro da Ordem Divina!”

161. Continuação da explicação da Gênesis. O homem natural é perecível e o espiritual é verdadeiro. As duas grandes luzes, ou a natureza do espírito eterno e a natureza da alma. A significação dos astros. O quarto dia.

  1. (O Senhor): “Como criatura, o homem é temporário, pe- recível e instável, porque, pela sua formação natural, apenas é um receptáculo útil, no qual se poderá desenvolver um homem justo com a constante cooperação divina.

  2. Quando este receptáculo tiver adquirido o necessário grau de aperfeiçoamento, para o qual Deus o organizou com todas as tendências e substâncias, Ele desenvolve o Seu Eterno Espírito In- criado no coração do homem. Este Espírito é, de acordo com a sua emanação, aquilo que Moysés mencionou quando se referia a uma das grandes luzes que são colocadas na expansão do Céu, e assim também foi compreendido por todos os patriarcas e profetas.

  3. Esta eterna e Incriada Luz no Céu do homem será o verda- deiro dirigente do seu verdadeiro dia, ensinando o antigo receptá- culo a se transformar completamente em seu Ser Divino, Eterno e Incriado, e fazer-se um Filho de Deus.

  4. Mas todo ser criado possui uma alma viva que em si é espíri- to, tendo capacidade necessária para reconhecer o bem e a verdade, o mal e a mentira, podendo atrair a verdade e o bem, afastando a mentira e o mal. Entretanto, ela, a alma, é um espírito criado e, co- mo tal, jamais poderá alcançar a Filiação Divina.

  5. Quando tiver aceitado o bem e a verdade, dentro da lei es- tabelecida, em toda a humildade e modéstia de seu coração e de sua vontade livre, dada por Deus, esta vontade humilde, modesta e obediente ter-se-á tornado, então, uma expansão, pois formou-se através do Divino depositado na alma do homem e estará apta para assimilar o Divino Puro e Incriado.

  6. O Puro Divino, ou seja, o Espírito Incriado de Deus, que é firmado nesta expansão, representa a Grande Luz. A alma do ho- mem, porém, que é por Ela transformada numa luz quase idêntica, representa a segunda e menor luz, que igualmente é firmada nesta

expansão, onde será transformada pela luz incriada (espírito) numa outra também incriada, sem perder algo de sua estrutura natural, ganhando infinitamente, num sentido espiritualmente purificado. Pois a alma do homem, por si só, jamais poderia mirar a Deus em seu Ser Espiritual Puríssimo; da mesma forma um espírito puro in- criado não poderia aperceber-se da natureza, que não existe para ele. Somente pela união completa do espírito puro com a alma esta poderá ver a Deus em Seu Ser Primário e o espírito apenas verá a natureza por intermédio da alma.

  1. Isto se refere às palavras de Moysés quando diz: uma luz grande governa o dia e a luz pequena, a noite, determinando sinais, isto é, determinando pela sabedoria a causa de todos os fenômenos e coisas, como também os tempos, dias e anos, o que em outras palavras é reconhecer em tudo a Sabedoria, Amor e Graças Divinas.

  2. As estrelas mencionadas por Moysés são os múltiplos conhe- cimentos nas diferentes coisas, os quais surgem do conhecimento principal e por isto são também firmados na mesma expansão.

  3. Eis o quarto dia da Criação, que, como os primeiros três dias, surgiu do anoitecer e da manhã do homem.”

162. Quinto e sexto dia da Criação de Moysés. Formação natural da terra e do homem. Advertência sobre a sabedoria e conselho para a procura do Reino de Deus dentro de si próprio.

  1. (O Senhor): “A fim de que não Me pergunteis a interpreta- ção do quinto e do sexto dia da Criação, digo-vos: tanto a posterior Criação do mundo animal como, finalmente, a do homem, nada mais representam que a completa vivificação e realização certa de tudo aquilo que o homem contém em suas partículas naturais.

  2. Seu mar e todas as suas águas se tornam cheias de vida e ele reconhece e vislumbra em sua luz divina e incriada a plenitude infinita e múltipla de ideias e formas criadoras, compenetrando-se, desta maneira, de sua descendência divina. Pela criação do primeiro homem é representada a completa encarnação ou a integração da Filiação Divina.

  1. Naturalmente tu Me perguntas em teu íntimo: ‘Está tudo muito bem, e ninguém poderá contestar esta verdade plena; mas como surgiu, então, esta terra, que de modo algum poderia ter sido, de toda a Eternidade, tal como hoje se apresenta? Como se deu o plantio das ervas, arbustos e árvores de variadas espécies? Como sur- giram os animais e quando?

  2. Como foi que o homem se tornou seu habitante? É verdade que tenha sido criado apenas um casal, conforme consta na Gênesis, ou foi aqui colocada uma quantidade de criaturas de diferentes co- res, formas e caracteres?’

  3. A esta pergunta só posso repetir o mesmo: quando tiveres te apossado da sabedoria dos anjos, poderás deduzir do puramente es- piritual, numa correspondência retrospectiva — da natureza, a Cria- ção natural — e saberás que as criações da natureza se seguem na mesma ordem, em períodos muito extensos. A formação do primei- ro casal nesta mesma época e sua experiência e procriação seguem naquela ordem, conforme consta em quadros ocultos.

  4. Mas, como já disse, não poderás compreender isto sem a sa- bedoria dos anjos, mesmo de posse de toda a sapiência dos sábios desta terra, que neste ponto já externaram as mais diversas opiniões.

  5. Mas tal ciência mundana não é de especial utilidade, por induzir o homem a que se torne orgulhoso e altivo, desprezando seus irmãos.

  6. Antes de mais nada, deves procurar o Reino de Deus em teu coração e Sua Justiça, não te preocupando com o resto, pois que te poderá ser dado, inclusive a sabedoria dos anjos, num abrir e fechar de olhos. — Penso que Me tenhas compreendido?!”

163. Resposta do fariseu à explicação do Senhor sobre a Gênesis. O Senhor prediz o julgamento de Jerusalém. Silêncio acerca do que foi visto e ouvido.

  1. Com esta Minha Explicação extensa sobre a Gênesis, os fari- seus ficam como que tolhidos e o principal deles fala, após profunda meditação: “Senhor, Mestre de todos os mestres, em todas as coi- sas! Nós outros reconhecemos, com muito pesar, que Tu tens razão

em tudo e que só falaste a verdade. Mas repito, reconhecemos isto muito pesarosos, pois com esta Sabedoria Santa pregarás a ouvidos surdos neste mundo extremamente egoísta, e se agires com milagres, terás apenas espectadores cegos.

  1. Se o homem, a fim de tornar-se um ser verdadeiro, tem que ser completamente livre em sua vontade e ação, que pregues Tu e fa- ças milagre à vontade e, entre cem, talvez um se deixe impressionar. Pois, se a pessoa não tiver conhecimento em alguma ciência, não po- derá assimilar a Tua Doutrina. Mas, se possuir um grau por demais elevado e um intelecto baseado em razões falsas, seja na Escritura ou em outra ciência ou arte, juntando a isto uma vantagem material com a necessária consideração da pessoa — deixa que Jehovah fale por Ti através de raios e trovões, e as criaturas farão aquilo que fize- ram nossos antepassados no deserto, no momento em que Moysés recebia os Santos Mandamentos, isto é: fundirão de ouro um bezer- ro, dançando em volta numa verdadeira adoração!

  2. Se não conhecesse a índole dos fariseus, escribas e levitas, principalmente os de Jerusalém, não me atreveria a dizer-Te isto. Mas, como os conheço muito bem, afastei-me do Templo.

  3. Se Tu, algum dia, voltares a Jerusalém, não Te esqueças de levar uma boa porção de Onipotência; do contrário, serás apedre- jado como blasfemador! Pois quem quiser ser mais inteligente do que o mais reles varredor dos átrios dos templos é imediatamente insultado como herege e blasfemo e, se não se converter com uma boa oferenda, tem que enfrentar o apedrejamento no lugar maldito!

  4. Para Jerusalém, meu Amigo Divino, só existe uma cura: a mes- ma de Sodoma e Gomorra! Fora disso, nem os habitantes se salvarão!”

  5. Digo Eu: “Amigo, já sei de tudo aquilo que acabas de Me contar! Mas te afirmo que tal coisa será o fim de Jerusalém! Antes, porém, tem que se dar tudo que foi predito pelos profetas, a fim de que se complete a Escritura e a medida deles se encha. Contando de hoje, não se passarão setenta anos e não ficará uma pedra sobre a outra! E se alguém perguntar: ‘Onde fica o Templo?’, não haverá quem possa responder a este investigador!

  1. Entre aquelas paredes muitos profetas foram assassinados e Eu os conheço; seu sangue pede vingança nos mais elevados Céus! Mas a medida dos pecados desta cidade ainda não está cheia, por isto foi poupada. Mas pouco falta, e o julgamento recairá sobre ela!

  2. Antes, porém, de descermos a montanha, Eu vos dou um mandamento severo: não comenteis um fato sequer do que se deu, até que vos autorize em espírito. Quem não respeitar este manda- mento será punido com a mudez, pois o povo do vale ainda não está amadurecido — e até vós, por ora, não o estais completamente!

  3. Comentai entre vossos amigos o que vos ensinei como se fosse conhecimento vosso! Só depois de eles se integrarem nestes en- sinamentos podereis dizer-lhes, em segredo, de Quem os recebestes e quais as provas que os precederam!

  4. Mas não esqueçais de transmitir, igualmente, o mandamen- to recebido e qual o castigo que o segue!

  5. Durante o tempo que continuarmos aqui em cima, assisti- reis a coisas inauditas, pois quero que vos torneis fortes em vossa fé. Em tudo, porém, considerai a ordem recebida, pois do contrário vos atingiria a punição por um ano!”

164. Relato de Judas sobre sua viagem aérea. Suas perguntas inúteis. Resposta do Senhor e repreensão de Thomaz.

  1. Diz Judas Iscariotes: “Senhor, eis um mandamento difícil! Quem poderá cumpri-lo integral e severamente?”

  2. Digo Eu: “Deus fez da morte do corpo uma Lei igualmen- te inevitável, e não retira Sua Palavra Santa, embora os homens se queixem muito! Podes falar e resmungar o quanto quiseres — um dia terás que morrer! Somente no Além saberás quão útil foi a morte para teu corpo!

  3. Vê, assim acontece com todas as leis dadas por Deus! Pres- creve esta lei a ti mesmo e facilmente poderás cumpri-la. Pois onde uma lei está contra outra, será difícil e até impossível o cumprimen- to de ambas.

  1. Eu te digo: Tem cuidado, a fim de que, com o tempo, não venha uma lei, contrária em ti, provocar tua morte!”

  2. Diz Judas: “Que vem a ser isso? Falas como os egípcios, por hieróglifos, que um sábio mal compreende! Que significa uma lei contrária, no sentido exato da palavra? Como posso dar-me uma lei que me fora dada por outrem? Posso cumpri-la ou não, o que depen- de unicamente do meu livre arbítrio, e nunca duma lei contrária!”

  3. Digo Eu: “Se continuares tão tolo como és, será melhor vol- tares para Bethabara, pois estás Me aborrecendo!

  4. Então, donde vêm as leis? Somente daquele que possui von- tade, força e poder para formá-las e executá-las! Pois não tem a cria- tura o poder integral de fazer o que quer? Se quiser aceitar as leis externas, cumpri-las-á com facilidade. Não o querendo, sua vontade se tornará antagônica, sofrendo a execução da lei externa!”

  5. Judas toma uma expressão contrafeita, mas concorda, dizen- do: “Agora compreendo. Mas, quando falas veladamente, eu me as- susto e desejo saber a causa, principalmente quando se trata de uma lei cujo cumprimento será difícil, não só para mim, mas também para muitos outros. Porém, Senhor, se outra pessoa Te faz pergunta, respondes com delicadeza e boa vontade. Entretanto, quando eu o faço, ficas irritado, e eu nem coragem tenho para perguntar, mesmo sobre assuntos importantes!

  6. Por exemplo: minha viagem aérea de anteontem, que não posso compreender, pois foi de uma velocidade incrível, e vi apenas uma faixa que chispava por baixo de meus pés; desejava saber de Ti como isto foi possível! Pois eu estava mais distante daqui que todos os outros, além da outra praia, e teria levado, a pé, quatro a cinco dias de viagem.

  7. Tinha acabado de terminar minha pregação numa aldeia grega, onde infelizmente não encontrei ouvidos e corações acessí- veis, embora tivesse curado vários doentes. Por isto me aborreci e abandonei a vila. Encontrando-me só, a mil passos distante do po- voado — pois Thomaz não quis acompanhar-me à Grécia — de repente vejo-me envolto num tufão que me trouxe, com uma velo-

cidade incrível, nesta direção. Nem tive tempo para pensar no que sucederia se esbarrasse num rochedo! Qual não foi minha surpresa quando me vi aterrissar suavemente a Teus Pés!

  1. Assim, desejo uma pequena explicação de Tua parte, de co- mo isso foi possível!”

  2. Digo Eu: “Amigo, como podes pedir-Ma, sabendo Quem Eu sou? Olha as nuvens! Quem as contém? Ouviste há pouco como expliquei a formação da terra, da lua, do sol e das estrelas, que são sóis imensos.

  3. Vê, todo o Cosmos flutua livremente no Espaço Infinito, tendo uma velocidade inacreditável para tua compreensão!

  4. Pergunta: Quem contém tudo, numa ordem imutável, nes- te Espaço extenso? Pensa um pouco e reconhecerás a tolice dessa tua pergunta! E com isto já obtiveste a resposta.”

  5. Aproxima-se Thomaz e diz: “Será que não consegues apre- sentar uma pergunta mais digna do Senhor? Pois se viajamos da mesma maneira que tu?! Sabemos que foi da Vontade Dele, o que explica tudo! Se tua fé no Senhor fosse mais firme e viva, nem em sonho te lembrarias de fazer tal pergunta!”

  6. Diz Judas: “Já começas de novo? Se tens prazer nisso, con- tinua! Desta vez não me aborreço, pois vejo que realmente impor- tunei o Senhor com minha indagação néscia — o que para o futuro saberei evitar!”

  7. Diz Thomaz: “Então seremos bons amigos e irmãos, e eu não mais te censurarei!”

  8. Digo Eu: “Sossegai! Kisjonah preparou nossa refeição, de- pois dela veremos o que há para fazer!”

165. A assembleia alegre na montanha. Pergunta de Kisjonah a respeito dos três anjos. Os anjos puros, os anjos caídos e os homens. O corpo não é o fim, e sim o meio para o desenvolvimento espiritual da alma.

  1. Todos se dirigem às estalagens, onde tomam a refeição — e não há um que não esteja alegre e satisfeito.

  1. Mais tarde, Kisjonah pede permissão para visitar alguns pon- tos da montanha a fim de pagar aos pastores e verificar o estoque de lã dos carneiros.

  2. Digo Eu: “Sabes, amanhã é o antessábado, que desejo passar aqui; como tencione proporcionar-vos mais alguns ensinamentos, poderíamos permanecer juntos!”

  3. Diz Kisjonah: “Senhor, todo desejo de Teu Coração é pa- ra mim uma lei santíssima! Agora, porém, apresento uma pergunta referente àqueles três seres que há pouco surgiram da alvorada, na- quela imensa luminosidade! Eles continuam em nossa companhia, falam, bebem e comem, não se manifestando diferentes de nós, a não ser pelo físico assaz nobre.

  4. Tenho a impressão de que ficarão conosco — o que me é sumamente agradável. Eu os abracei e beijei e, vê, têm ossos e corpos perfeitos e robustos, o que muito me admira!

  5. Desejo, pois, saber como isto é possível?! Antigamente eram espíritos puros e, agora, são tão humanos quanto nós; onde foram buscar os corpos? E se isto fizeram, como se vê de maneira muito mais perfeita, por que não é possível a todas as criaturas surgirem no mundo deste modo, em vez de passarem pelo nascimento difícil?”

  6. Digo Eu: “Primeiramente, não poderias ver nem sentir estes três anjos se Eu não tivesse estabelecido a união de tua alma com teu espírito, de sorte que pudesses ver o espiritual como se fosse natural e físico. Entretanto, é espiritual e nada tem de físico em si.

  7. Existe uma grande diferença entre o homem e o espírito, que consiste em usar este — assim como os três anjos — sua liberdade pela vontade livre, desde o início dentro de Minha Ordem, jamais pecando contra ela. Uma grande e incontável quantidade de espí- ritos abusou da liberdade de sua vontade, caindo, deste modo, no julgamento predito. Destes espíritos se formaram esta terra e outros imensos mundos, como o sol, a lua e as estrelas, ressurgindo, através de leis imutáveis, dentro da natureza, passando a serem homens por meio do nascimento, pela educação e ensino, e depois da morte do corpo, poderão desenvolver-se em espíritos puros e livres.

  1. Uma vez que o corpo humano é dado a um espírito surgido do julgamento — a fim de que experimente uma nova prova para sua liberdade como se fora seu próprio mundo — deves reconhecer a inutilidade do corpo físico para os espíritos perfeitos, pois é ele apenas um meio, e jamais finalidade, considerando que tudo deverá tornar-se puramente espiritual, e não material.

  2. Eu te digo: Esta terra e todo o Cosmos desaparecerão quan- do todos os espíritos contidos nesta matéria se tornarem espíritos puros através da encarnação. Os espíritos puros, porém, permane- cerão eternamente, assim como Eu e o Meu Verbo. — Dize-Me, compreendeste isto?”

166. Administração de Kisjonah e boa compreensão dos ensinamentos dados pelo Senhor. A criação de Adam. A natureza do homem e da mulher. A mulher caída e sua má influência sobre o homem. A decadência da Humanidade. A Encarnação do Senhor e a Salvação.

  1. Diz Kisjonah: “Meu Deus, meu Deus, que sabedoria profun- da! Quem, algum dia, ouviu isto? Somente Deus poderá dizê-lo! Isto é demais para um pobre pecador como eu!

  2. Com esta revelação compreendo, como por um toque mági- co, toda a Gênesis!

  3. Agora percebo o que quer dizer: ‘Deus fez Adam de barro, como primeira criatura desta terra.’ Deus quis, pela Sua Ordem Eterna, que os espíritos sob julgamento formassem seu corpo de barro, de acordo com a forma espiritual que lhes dava plena liberda- de. Podiam reconhecer a si mesmos e, através deles, a Deus, devendo sujeitar-se livremente à Ordem Divina para alcançar sua natureza arquiespiritual, quer dizer, tornarem-se espíritos perfeitos e puros

  1. Sim, sim, tudo me é claro! Consta que ‘a mulher foi feita da costela de Adam’; como isto é compreensível! — Assim como as montanhas representam a parte mais dura e, como tal, mais teimosa da terra, concentrando em si os espíritos mais obstinados, também

se concentrou, no primeiro como nos subsequentes homens, a parte mais aferrada nos ossos, que correspondem às montanhas.

  1. As tendências mais tenazes no homem, como o orgulho e a altivez, foram separadas dele pela Sabedoria e Onipotência Divinas, concatenando-se numa forma feminina e semelhante que, tendo ori- gem no homem, está numa correspondência viva com ele. Pelo ato da procriação se capacita, pela Vontade Onipotente de Deus, a fazer despertar um fruto vivo dentro de si, e sendo a parte mais resistente das tendências psíquicas do homem, é-lhe imposto um sofrimento maior, tendo por isto a mesma oportunidade que ele de desenvolver sua alma, pelo que, finalmente, homem e mulher se tornam unos.

  2. A expressão de que ambos terão um corpo quer dizer: pela provação maior, devido a suas fraquezas, a mulher se tornará enfim idêntica ao homem, que em si é mais meigo. Que dizes, ó Senhor, desta minha explicação?”

  3. Digo Eu: “É perfeita! A Escritura devia ser interpretada e aplicada desta maneira, a fim de que a Humanidade agisse em seu próprio benefício! Mas infelizmente as criaturas, principalmente as mulheres, afundaram-se no abuso do livre arbítrio, no sensualismo, começando a enfeitar seu corpo mais atraente e herdado por Satã e se tornaram melindrosas, orgulhosas e voluntariosas, por amor-

-próprio, obrigando o homem a cair em suas teias; ele, querendo ser atendido por ela, seria obrigado a dançar de acordo com seu assobio, por fim até achando prazer quando se via completamente enleado pela astúcia satânica da mulher.

  1. Com essa sua queda, o homem se tornou triste, luxurioso, egoísta, vaidoso e orgulhoso, quer dizer — tanto ele como a mulher são do diabo!

  2. Entretanto, o espírito do homem reclamava suavemente, através do despertar do amor para a vida, o conhecimento das Escri- turas e a consideração das imensas Obras de Deus! Alguns o faziam depois de se livrarem das artimanhas femininas. Isto, porém, não lhes adiantava muito, porquanto não mais entendiam as Escrituras

a letra qual moeda de ouro, fazendo assim da Palavra Divina um horror, e do Templo de Deus um antro de ladrões!

  1. Digo-vos a todos: Chegou ao ponto em que a Humanidade estaria perdida se Eu, o Senhor, não tivesse vindo ao mundo para libertar-vos do jugo de Satanás e de sua eterna perdição; serei obri- gado a fazer o máximo para iniciar a elevação duma pequena parte dos homens à verdadeira Luz dos Céus.”

167. O Evangelho do matrimônio.As mulheres causadoras da ruína da Humanidade. Distintivo de mulheres más. Advertência sobre matrimônios com mulheres orgulhosas. Praga desta união aqui e no Além. O mal e o bem não regem, ao mesmo tempo, um coração.

  1. (O Senhor): “Ai do mundo quando as mulheres começarem a se enfeitar e se apossar dos tronos, pois aí a terra será passada pelo fogo!

  2. Observai com elas uma boa disciplina, principalmente pa- ra que sejam humildes! Devem ser limpas, mas nunca enfeitadas e adornadas, pois seus adornos e joias são a sepultura e a perdi- ção do homem!

  3. Assim como u’a mulher limpa, humilde e de bons costumes é uma verdadeira bênção do lar, uma que se adorna, tornando-se orgulhosa, é um castigo para todo o mundo, sendo um anjo do mal, igual a uma serpente que atrai com seus olhares provocadores os pássaros dos Céus para dentro de sua boca venenosa e mortal!

  4. Dou-vos este conselho, sem que o mesmo seja um mandamento:

  5. Se algum de vós quiser constituir um lar, procure uma mo- ça que não enfeite seu corpo, não atraindo, assim, os olhares dos transeuntes pela ostentação de seus atrativos, cobrindo-se no verão com linho e no inverno com lã incolor, que evite falar demais, não comentando o que possui. É muito salutar à mulher ter apenas o necessário. A uma rapariga assim, deveis desposar. Mas uma rica, en- feitada de joias e adornos, vestida com roupas gritantes, que procura

o conhecimento e homenagem dos ricos e distintos, achando que os pobres cheiram mal, desta fugi, como se fosse um cadáver!

  1. Uma criatura assim é uma cópia autêntica do inferno tenta- dor, e quem se une a ela comete um grave pecado contra a Ordem Divina, podendo ter a certeza de que, se ela morrer antes, levá-lo-á para o inferno por longo tempo! Isto porque, apesar de possuir este homem boa índole, adora-a por seus atrativos físicos.

  2. Pois, se ela na terra usa de meios enganosos para conquistar alguém que escolheu para sua satisfação, do mesmo modo, porém mil vezes mais tentadora, apresentar-se-lhe-á no Além, e ele a seguirá ao seu ninho infernal. Custar-lhe-á muito desvencilhar-se dela.

  3. Por isto, quem quiser se casar, que tenha antes a certeza de que não vai se ligar a um demônio, ao invés de um anjo! Este Meu Conselho vos poderá ser bastante útil se o seguirdes.

  4. Aquele que chamar à ordem uma criatura vaidosa e tenta- dora, de modo que reconheça sua maldosa tolice, terá um grande mérito no Céu.

  5. Afastai, portanto, vossos olhos de mulheres tentadoras, pois se uniram inconscientemente a Satã, servindo-o para seus fins sedutores.

  6. Se algum de vós desejar ver Satanás em sua mais perigosa forma, que observe u’a mulher enfeitada e melindrosa!

  7. Quando ele, como dragão, vomita guerra, fome e epidemias sobre a terra, é menos perigoso, pois neste sofrimento as criaturas se dirigem a Deus e começam a se penitenciar, escapando do inferno e seu julgamento.

  8. Cobrindo, porém, seus dragões com a vestimenta lumino- sa de um anjo, torna-se mais perigoso para o homem de natureza sensual! Quando o lobo se apresenta tal qual é entre os carneiros, eles fogem em todas as direções, confundindo o algoz, que não sabe qual deve perseguir e finalmente se afasta sem presa. Mas, quando vem disfarçado em carneiro, eles não fogem e ainda se regozijam com o companheiro novo, que estraçalha a manada sem que algum pense em fugir.

  1. Vede, este ensinamento e conselho deveis guardar como re- líquia em vosso coração e segui-lo como se fosse um mandamento; assim, vosso matrimônio será coberto de bênçãos do Alto; caso con- trário, com a praga do inferno!

  2. Não vos deixeis tentar pelos encantos enganosos da maté- ria, conservando-vos sempre temperados e dando ao mundo o seu real valor.

  3. Não troqueis o ouro e as pérolas que ora recebestes dos Céus, pelas futilidades do mundo, e vivereis em paz, vendo o Céu aberto! Se, porém, deixardes vos aprisionar pelas tentações munda- nas, sereis culpados se o Céu se cerrar mais e mais para vós, e quando chegardes à penúria, pedindo socorro celestial, não tereis alívio! Pois nãoépossívelquealguémpossaestaremuniãocomoCéuquan-doaindasenteprazeremqualquercoisado mundo!

  4. Toda criatura é de tal maneira constituída e formada que não suportaria o bem e o mal, a verdade e a mentira, a um só tempo em seu coração; ou uma coisa ou outra, mas ambas — jamais!

  5. Poderá e terá que reconhecer os dois caminhos no intelecto, mas, no coração, só permanecerá como base vital uma ou outra tendência. Compreendestes este Meu Conselho?” — Dizem todos: “Sim, Senhor e Mestre de toda a Sabedoria Divina!”

168. A cultura e as escolas. O que é imprescindível. Pesar do fariseu quanto à perdição da Humanidade. O Senhor explica o Seu Verbo, o mundo e os homens. A relação do homem para com Deus.

  1. Nisso se aproxima um fariseu e diz: “Senhor e Mestre! Tudo isto está bem e certo e não há o que contrapor. Mas, se as criaturas não explorassem os minérios que a terra lhes proporciona de ma- neira tão farta e não os preparassem artisticamente, em breve ela se pareceria com um deserto. As casas e colégios não são necessários? Se não existissem, em pouco a Humanidade se encontraria num es- tado animal! Não é possível deixar o mundo completamente de lado enquanto se é uma criatura da matéria!”

  1. Digo Eu: “Vossos colégios se prestam justamente para matar o espírito no ânimo delicado da criança, e não seria de se lastimar caso decaíssem completamente! Em verdade vos digo: Se o mundo for vosso mestre, qual será o ensinamento espiritual que dele po- deis lucrar?

  2. Quem não for ensinado por Deus em seu coração ficará nas trevas — e a Luz da Vida ficará longe dele por toda Eternidade!

  3. Quem, porém, não for iluminado pela verdadeira Luz da Vi- da emanada por Deus estará morto mesmo se tiver aprendido pelo mundo toda a sabedoria dos anjos! Que duração terá?

  4. Por isto, ficai em Mim, que Eu ficarei em vós e a Sabedo- ria dos Céus preencherá de Vida os vossos corações. Podeis assi- milar isto?”

  5. Quando o fariseu ouve este ensinamento de Minha Boca, fala com expressão triste: “Ó verdade imensa, santa e compreensível! Como és maravilhosa e deslumbrante! Quão felizes poderiam ser todas as criaturas desta terra se fossem de ti compenetradas! Mas, ó Senhor, aqui existe um grande ‘senão’: Enquanto esta terra for habi- tada pelos homens, haverá entre eles cobiça, inveja, avareza, orgulho e tendência de domínio, tudo que se baseia no inferno. Num solo assim, esta Verdade Celestial jamais deitará raízes, e será perseguida até a última letra por milhões de adeptos do inferno! Que utilidade teria esta verdade?

  6. É preciso exterminar a maior parte da Humanidade e repor uma nova, que sendo educada desde o berço nestes ensinamentos, prometerá frutos prestáveis para o Céu. Mas, da maneira que está agora, não presta nem para os infernos, muito menos para Teu Verbo!

  7. Mesmo que Tu tivesses a intenção de organizar uma pequena comunidade com dever de firmar-se e crescer dentro de Tua Sabe- doria Divina, ela não deixaria de ser perseguida por todos os lados por lobos vorazes, que embora não a podendo prejudicar espiritual- mente, impediriam surgisse em sua pureza. Só Deus sabe a situação destes descendentes depois de séculos passados!

  1. Os homens sempre serão homens, hoje são anjos — amanhã demônios, e não se pode confiar nos melhores entre eles!

  2. Os filhos de Israel foram conduzidos visivelmente por Jeho- vah para fora do Egito; eles O viram dia e noite. No deserto, onde receberam Suas Leis, Ele os alimentou maravilhosamente durante quarenta anos. Naquela época choviam milagres! — Se comparar- mos os Livros Históricos com os estados religiosos atuais, sociais e com relação ao próximo, averiguaremos que não há mais vestígios do que foram!

  3. Por isto eu afirmo, sem Te querer contestar: é uma lásti- ma considerar Teus Atos e Sabedoria, visto a Humanidade não os merecer! É digna do fogo, e jamais desta Graça imensa! Aqui falo claramente, pois presumo não haver traidor entre nós. Mas, quando descermos, silenciarei como uma sepultura! Tenho razão ou não, ó Senhor e Mestre?”

  4. Digo Eu: “Falando materialmente, tens razão. Mas isto não Me obstará de revelar ao mundo a Verdade dos Céus!

  5. Para que ele possa ser julgado, deve primeiro receber aquilo que o julgará, isto é: Esta Verdade que veio por Mim ao mundo e nele ficará, mesmo que seja sempre perseguida!

  6. Tua opinião com referência à Humanidade é certa; mas en- tre Deus e o homem desta terra existem relações extraordinárias, conhecidas apenas pelo Pai e por aquele a quem Ele as revelar.

  7. Agora, basta! Já é noite e aqui nesta altura faz frio, por isto entremos nas estalagens!”

169. A disputa pelo fogo e o calor dentro da estalagem. Cena com o velho cego, descendente de Tobias. Um meio especial de aquecimento. Os fogos de regozijo e honra na montanha. Séria admoestação às mulheres galhofeiras. Um Evangelho sobre o riso.

  1. Após estas conversas penetramos na estalagem, e muitos, prin- cipalmente as mulheres e moças, aproximam-se do fogo e se aque- cem. Alguns judeus se aborrecem com isto, pois também querem aproveitá-lo. Dizem-Me isto e reclamam contra a atitude daquelas.

  1. Com boas palavras os repreendo e todos se acalmam, com exceção de um judeu de Capernaum, que continua a reclamar: “De que servem estas conversas? Lá fora já senti tanto frio que mal me aguentei. Agora que desejo aquecer-me um pouco, eu que sou ve- lho, estas mulheres mo impedem e estou quase gelado! Não que- ro ser grosseiro, portanto dize Tu a elas que me deixem aproxi- mar do fogo!”

  2. Digo Eu: “Não sabes que te poderias aquecer sem fogo, se tivesses fé?”

  3. Diz o velho: “Sim, Senhor, acredito! Pois vi muitos milagres e creio que tudo se fará conforme Tu falares e quiseres!”

  4. Digo Eu: “Então fica perto dos três anjos que vieram do Alto e imediatamente te aquecerás!”

  5. O velho assim faz e sente tanto calor que, não o suportando, agradece-Me, mas pede para ir lá fora, a fim de se refrescar.

  6. Eu, porém, digo: “Faze o que tu quiseres, não te prendi àque- les anjos! Vai lá fora que te sentirás melhor!”

  7. O velho vai, mas volta rapidamente, gritando de medo: “Sal- ve-se quem puder! Toda a montanha está em fogo e suas labare- das estão se aproximando mais e mais! Por Jehovah, estamos todos perdidos!”

  8. Nisto entra Kisjonah, que estava entretido com seus afaze- res, e Me diz: “Senhor, certamente me perdoarás se eu, de acordo com os costumes de meus pastores alpinos, preparei uma pequena festividade, já que esta é a última noite que permaneces aqui. Meus pastores acenderam alguns feixes de gravetos que colheram na flo- resta, entoando em Tua Honra canções e salmos. Não queres assistir a esta manifestação?”

  9. Digo Eu: “Com prazer, pois te quero muito!” — Levanto-

-Me e saio acompanhado por todos os discípulos.

  1. As mulheres, porém, ridicularizam o velho judeu por ter visto toda a montanha em fogo, fazendo um alarido como se o mun- do viesse abaixo! O velho envergonha-se um pouco, suportando com paciência suas gargalhadas.

  1. Eu condeno esta falta de educação e as ameaço. Então elas Me pedem que Eu e o velho as perdoemos, dizendo que não o fize- ram por maldade. Em seu meio não se encontram as cinco filhas de Kisjonah, que estão preparando a ceia.

  2. O velho imediatamente lhes perdoa de coração; mas os três anjos se lhes dirigem, dizendo: “Escutai-nos! Este velho é um descen- dente de Tobias, que era cego e que curamos com o fel de um peixe. Todos os descendentes dele, que foi coveiro, com a idade avançada sofrem da visão, por motivo apenas conhecido por Deus e nós. Adver- timos-vos de que é grande pecado e tem por base um coração volúvel alguém rir-se de um cego, em vez de dar-lhe a mão para conduzi-lo sobre pontes e caminhos pedregosos. Se não fosse de vosso conheci- mento ser ele, que também se chama Tobias, meio cego, não teríeis pecado. Mas sabendo-o e, no entanto, ridicularizando-o, mereceis um grande castigo. Como, porém, ele vos perdoou, também o fazemos.

  3. Mas ai de vós, se fordes novamente zombar de um enfermo! O padecimento dele será vosso!

  4. Além disto, as criaturas raramente se devem rir! Pois o riso também tem sua origem no despertar de espíritos perversos que se acham dentro do corpo humano.

  5. O movimento amável dos músculos da face, pelo qual se reconhece a expressão de uma especial benevolência, é celestial. To- do outro riso tem sua raiz no inferno. Os demônios sempre se riem quando conseguem um golpe maldoso. Nos Céus ninguém ri, ape- nas se manifesta a mais amável e amorosa benevolência para com todas as criaturas, e a máxima piedade para com todo irmão sofredor que passa sua provação na terra. Guardai bem isto!

  6. Quando os homens começarem a ridicularizar as fraquezas do próximo, a fé desaparecerá como o sol no crepúsculo e o amor nos seus corações esfriará como agora esta noite, e haverá miséria so- bre a terra como nunca houve! O riso é do inferno, que está repleto de gargalhadas escarnecedoras!

  7. Há casos em que compete apenas aos homens se rirem du- ma coisa tola, mas este riso é um castigo merecido para o outro.

  1. Se alguém relata fatos e conversas com o fim de despertar o riso, dá mostras de que é tolo! Pois somente o coração do tolo po- de ser estimulado para o riso. Toda pessoa de algum conhecimento compreenderá com facilidade o santo rigor da vida e dificilmente terá vontade de se rir de algo.

  2. Por isto, não deveis rir mais no futuro e afastai-vos dos comediantes e palhaços, que se deixam pagar para preparar-vos o inferno. Sede sempre de corações sóbrios para conseguirdes a Bene- volência de Deus e, com isto, a verdadeira honra!”

170. Cena entre o Tobias meio cego, os três anjos e o Senhor. Cura daquele. Relação entre esta cura e a nossa época. A ceia na montanha.

  1. O velho, porém, tinha escutado o que os três anjos falaram com as mulheres e diz: “Ouvi como relatastes que, pela graça e oni- potência que está em vós, restituístes a luz dos olhos de meu bisavô.

  2. Meus queridos e eternos amigos de Deus, estou prestes a ficar completamente cego. De uma vista já nada enxergo, e a outra está começando a se apagar. Que tal se me restituísseis a plena luz de meus olhos? Seria fácil para vós! Apiedai-vos de mim!”

  3. Dizem os anjos: “Então não vês Aquele que, na tua frente, observa as labaredas da fogueira em companhia de Kisjonah e escuta os cânticos e salmos dos pastores? Foi Ele quem devolveu a luz dos olhos ao velho Tobias! Procura-O! Ele, o Senhor, pode fazer o que quer! Nós não podemos e nada conseguimos por nós mesmos, pois somos apenas Seus servos e aguardamos Seus acenos!”

  4. Após estas palavras, o velho se dirige a Mim, pedindo que lhe restitua a visão.

  5. Digo Eu: “Por longo tempo foste um judeu aferrado, um elogiador do Templo em Jerusalém e Me julgavas um essênio, um mago etc. Como é que tens fé agora?”

  6. Diz o velho: “Senhor, estive presente em Capernaum quando ressuscitaste a filha de Jairo. Aquele fato despertou-me a fé! Mas era preciso que ela se firmasse mais, o que sucedeu com o que assisti;

agora creio que Tu, ó Senhor, consegues tudo o que queres. Se for de Tua Vontade curar-me, podê-lo-ás!”

  1. Digo-lhe Eu: “É um absurdo dar-se a visão a alguém duran- te a noite; mas, se tua fé for tão inabalável como dizes, tal poderá se dar! Eu, porém, afirmo: Agora é noite espiritual para todas as criaturas, que são completamente cegas; não poderão ver de dia, e sim de noite, e para muitas surgirá um primeiro dia de suas trevas e alvorada. Assim, que recebas a visão à noite!”

  2. Com estas palavras o velho torna a ver e admira as diversas fogueiras que antes, pela visão embaciada, pareciam-lhe um formi- dável incêndio!

  3. Quando se cientifica da visão nítida, joga-se a Meus Pés, não sabendo como louvar-Me e elogiar-Me, mostrando-se con- tentíssimo.

  4. Eu, porém, digo: “Também ouviste o Meu Mandamento, portanto silencia acerca de tudo que se passou, senão acontecerá contigo o que vos falei!” O velho se levanta e promete calar-se.

  5. Desta maneira tudo se completa bem na montanha, e quan- do as fogueiras se apagam vêm as filhas de Kisjonah convidar-Me e aos presentes para a ceia. Vamos todos, ceamos e, em seguida, deitamo-nos.

171. Os fariseus entre si. Riba, o esperto, inventa uma estória bem ousada sobre o Nazareno, seus pais e os planos que tinham com referência ao trono de David. Sua proposta de matar Jesus em virtude da paz.

  1. Há uns trinta fariseus que já manifestam uma certa fé, uns mais, outros menos, e passam a noite toda numa cabana à parte, conjecturando sobre o que iriam fazer.

  2. Entre eles há um esperto que se chama Riba. Quando vê que os outros nada decidem, toma a palavra e diz: “Meus irmãos, durante duas horas discutistes, sem chegar a uma conclusão. Conheceis-me e sabeis que, em casos críticos, sempre acertei o ponto culminante, depois de ter considerado os prós e os contras. Agora, ouvi-me!

  1. Não se pode negar que este homem, filho do carpinteiro de Nazareth, realiza obras e fatos que só seriam possíveis a Deus. Um pouco mais faltou — e eu teria aderido a esta crença; pois os acon- tecimentos nesta montanha foram tão extraordinários, que os da época de Elias e Moysés não podem ser mais importantes.

  2. Minha visão aguçada, porém, percebeu certos fatos que ti- raram a coberta de meus olhos. Não reparastes nos homens que se aproximaram de nós, como anjos?” — Todos confirmam que sim.

  1. Deve ser de vosso conhecimento que o carpinteiro José é des- cendente da casa de David e que, de quando em quando, dava-se o nome de ‘filho de David’! O pai dele, de nome Eli, também foi carpinteiro e conjecturava, secretamente, elevar sua raça ao trono da Judeia. Sob pretexto de que José se deveria formar como construtor, mandou-o a Pérsia, talvez até a Índia, a fim de que aprendesse a magia e, uma vez conhecedor desta ciência, ofuscasse as criaturas e se deixasse eleger, como Enviado de Deus, ao trono dos judeus e romanos. Era preciso, no entanto, que também fosse um judeu severo, sem mácula diante da Lei, de tal forma que os sacerdotes não lhe pudessem acusar de qualquer deslize! Depois de vários anos, José voltou de suas viagens possuindo a arte, mas não tendo meios e oca- siões para pô-la em prática. Faltava-lhe a coragem e, principalmente, o dom da palavra, pois era muito fraco e calado. Quando Eli viu seus planos frustrados, apenas deixou que José trabalhasse como carpin- teiro. Antes de morrer, porém, recomendou-lhe que abandonasse o plano mencionado, assim como os outros filhos deveriam fazê-lo.

  2. Após a morte da primeira mulher, José teve a sorte — que lhe foi dada pela magia aprendida — de receber em sua casa a jovem e bonita Maria, também descendente da mesma estirpe. Ele engravi- dou-a, contando ela apenas catorze anos, legalizando esta situação mais tarde, o que lhe trouxe muitos aborrecimentos. Com dinheiro e magia, entretanto, tudo correu bem.

  1. Consta que os pais de Maria — Joaquim e Anna —, que ainda vivem em Jerusalém, não concordaram com este matrimônio. Mas José possuía dois amigos no Templo, o velho Simon e Zacha- rias, que se interessaram por ele, tanto que Maria tornou-se sua es- posa e seus pais acabaram por se conformar.

  2. José, estimulado por Maria, a quem muito amava, fez tudo para o desejado fim, no que os meios consideráveis dos sogros cer- tamente o ajudaram: elevar a criança ao trono, caso fosse do sexo masculino, pormenor sobre o qual não alimentava dúvidas, por ter conhecimentos até nestas coisas.

  3. Poucas semanas antes do parto, enviou secretamente alguns mensageiros a Pérsia, pedindo a visita dos três magos que tinha co- nhecido na mocidade. Eles vieram a Nazareth. Como naquela época o Imperador Augusto houvesse determinado o recenseamento na Judeia, José, seus filhos e Maria se tinham dirigido a Bethlehem para este fim.

  4. Os três magos, quando chegaram com sua criadagem pom- posa, não sabiam para onde se dirigir e, infelizmente, indagaram ao velho Herodes pelo recém-nascido Rei de Israel — e com isto despe- jaram óleo no fogo! Herodes, naturalmente, não podia informar outra coisa a não ser que, primeiramente, ignorava este fato, e segundo, se tal fosse verdade, esta família devia encontrar-se, como outras mil, em Bethlehem, por causa do recenseamento. Com esta informação os três magos se encaminharam para lá, encontrando o que procuravam.

  5. Não faltaram as aparições mágicas que impressionaram até os romanos, tanto que Herodes determinou o infanticídio. Estes magos ofereceram grandes dádivas para uma boa educação da crian- ça; não que tivessem feito presentes, mas sim empréstimos que de- veriam ser restituídos a Pérsia depois do menino ser declarado Rei.

  6. Por isso, os três magos não perderam de vista a criança re- cém-nascida, cuidando de sua instrução mágica até esta data, vol- tando agora sob a aparência destes três anjos que ajudam Jesus a efetuar seus milagres — e o povo, cego e ignorante, deixa-se ofuscar pelos sermões sábios e fatos milagrosos.

  1. Como, porém, somos entendidos em tais mistérios, não podemos ser enganados. Tomamos como dever santíssimo observar- mos este homem em todos os caminhos e atalhos, a fim de impedir que se exceda.

  2. O pior será se convencer os romanos! Por isso, é pre- ciso evitá-lo, senão passará por cima de nossas cabeças! Que me dizeis?”

  3. Dizem os outros: “Podes ter razão, mas, se o caso for dife- rente, que será de nós?”

  4. Diz Riba: “A pergunta neste caso não é admissível! Ele é ou poderá ser mais que um homem? Quem entre nós é igual aos pagãos, que não sabem o Que e Quem é Deus, adorando pessoas ilustres e, às vezes, até considerando certos animais como deuses?

  5. Se o nazareno quisesse continuar sendo o que é, pratican- do sua arte em prol da Humanidade, ensinando-a em diversas coi- sas de que as criaturas não têm conhecimento e compreensão, teria um valor inestimável — e o país que o contasse como cidadão se- ria invejado!

  6. Aspirando, porém, ao trono de David, sua coroa e cetro, ele se torna desprezível a todos os judeus verdadeiros, que ainda possuem o velho espírito para compreender todos os acontecimen- tos na vida humana, não podendo ser enganados como os publi- canos e pagãos!

  7. Que proveito terá a Humanidade quando for dividida em diversas seitas por ensinamentos fascinadores como estes, odiando-se como animais ferozes? Os de crença antiga perseguirão os descrentes e vice-versa, e em vez de amizade, amor e paz, semearão muitas vezes inimizade irreconciliável, ódio e guerra desenfreada! Estes sempre foram os frutos de todas as renovações religiosas sobre a terra! Assim sendo, torna-se um dever imprescindível para nós, criaturas mais es- clarecidas, impedir a um tal renovador o prosseguimento num cami- nho que trará a perdição e ruína para milhares. Pois não é preferível exterminar um mago com tendências de domínio a permitir que em pouco tempo muitos sejam exterminados?!”

172. Boa réplica de Tobias. Seu testemunho sincero de Jesus. Sua Santa Doutrina e Seus Atos Divinos. A astúcia dos templários. Profecia referente aos judeus.

  1. Diz o outro: “Interpretando a questão sob o ponto de vista mundano, não estás errado. Considerando, porém, a vida da alma após a morte — do que não tenho a mínima dúvida — todas estas considerações não têm valor, e este Jesus é um sol para as trevas do espírito humano, mostrando-nos o caminho pelo qual podemos, já em vida, conseguir uma visão nítida do Além e sorver da Casa do Pai o alimento maravilhoso para a Vida Eterna!

  2. E isto ele ensina, querendo mostrar às criaturas cegas como pode e deve o ar fornecer pão e vinho como alimentos reais, sem pre- paro especial, como há poucos dias assistimos no cume da montanha!

  3. Que as trevas sempre se encontram em luta com o dia que se aproxima, já nos ensina não só a História da Humanidade, mas tam- bém a natureza, tal qual se nos apresenta. Isto faz parte da Ordem Divina e de Sua Onipotência, contra a qual nenhum poder humano poderá se revoltar.

  4. O que farias se este Jesus, pela constante união com Deus, te fulminasse com seus pensamentos? Que oposição lhe farias?

  5. Ouve, um homem a quem os ventos e os mares, os bons e os maus espíritos obedecem, um homem que ressuscita os mortos e cura toda e qualquer moléstia, apenas pela sua vontade, deve ser mais do que um gênio na arte mágica! Pois não assististe tantas vezes em minha companhia como os magos se preparam com símbolos, fórmulas, amuletos e varas, fazendo grande alarido quando conse- guem um pequenino efeito?

  6. Este Jesus, porém, não tem amuletos nem outros apetrechos concernentes à magia, nem unguentos, nem certas ervas e raízes, tampouco é sisudo, místico ou orgulhoso, mas um amigo da Huma- nidade: sincero, bondoso e amável.

  7. É muito simples, bem-humorado, suas palavras fluem como mel e leite, e com toda esta singeleza só acontece o que for de Sua

Vontade! Estou convencido de que, facilmente, poderia criar um mundo, apenas pela Palavra! Conheço-o desde pequenino e digo-te: com poucos anos de idade fazia o mesmo que faz hoje!

  1. Sendo assim, o que me poderá impedir de considerá-lo Deus?

  2. Sou galileu e tenho mais de setenta anos de idade, exerço a profissão de sacerdote há mais de quarenta anos, e há trinta sofro da vista. Dos muitos médicos que vinham de todos os recantos da terra a Capernaum e se faziam passar por criaturas sobrenaturais, domi- nando serpentes e animais ferozes, cortando as cabeças dos pássaros e em seguida fazendo-as crescer novamente, em suma, realizando verdadeiros milagres, eu comprei por muito dinheiro os remédios que receitavam, tomando-os fielmente e — nada!

  3. Há poucas horas, ele me curou pela palavra e sem remédios, tanto que enxergo tão bem como, talvez, poucos entre vós!

  4. Procurai nos livros da História se alguém, munido deste poder milagroso, habitou esta terra! Moysés conseguiu muita coisa pela Onipotência Divina, que lhe foi dada pela força de sua fé, co- mo Abraham recebeu a grande promessa! Mas quão pequeninos são esses milagres em vista dos que se passam diante de nossos olhos!

  5. E vós conjecturais como exterminá-lo! Isto é tão ignomi- nioso, que mereceis ser punidos com o açoite.

  6. Neste Jesus cumpre-se o que o grande profeta Isaías predisse com as palavras: ‘1) Eis aqui meu servo, a quem sustenho, o meu Eleito, em quem se apraz a minha alma: pus meu espírito sobre ele; juízo produzirá aos gentios. 2) Não clamará nem alçará sua voz, nem se fará ouvir na praça. 3) A cana trilhada não quebrará nem apagará o pavio que fumega: com verdade produzirá o juízo.’ (Cap. 42, 1–3)

  7. Se quisesse coroa e cetro, teria poder de sobejo! Pois, se po- de mandar transportar pelos ares Seus discípulos de diversas zonas, o que todos nós vimos, com facilidade poderia juntar todos os po- tentados desta terra e declarar-lhes: ‘Eu sou o Senhor e vós deixastes de reger para sempre! Se quiserdes ser Meus servos, podereis perma- necer Comigo; se isto não for de vossa vontade, afastai-vos de Mim e perecei!’

  1. Mas Este, que é poderoso no verdadeiro sentido, até nos ameaçou de sermos castigados se fôssemos comentar lá embaixo o que presenciamos! Portanto, Ele não procura a honra e a considera- ção do mundo, mas sim, unicamente, o enobrecimento e a perfeição espiritual do homem. Já se vê que deseja apenas construir um Reino Espiritual entre os homens e reconduzi-los, os que não sabem mais de onde vieram, ao paraíso perdido! E por este motivo deveremos nós exterminá-Lo? Isso, nunca! Maldito seja quem possa dar atenção a tais pensamentos!

  2. Perguntai a vós mesmos de que espírito sois filhos, e Sata- nás, que habita em vosso peito, responderá: ‘Eu sou vosso pai!’

  3. Como deveria ser o vosso Messias? Como vós? Ou, talvez, como Sansão, aniquilando com seu poder milhões de criaturas de um só golpe? Ou que vos cedesse o lugar no trono, deixando-se dominar severamente por vós? Deveria fazer o papel de burro de carga, dum camelo, dum cachorro vigilante, dum leão feroz ou de um condor, que com seus olhos aguçados vos anunciasse das alturas donde viria o inimigo, a fim de que pudésseis devorar vossa presa e vos divertísseis com as virgens mais lindas desta terra? Eis o verda- deiro Messias para vós!

  4. Quereis ser o Messias e Ele, vosso servo! Assim estaria certo! Mas, porque deveis chamá-Lo ‘Senhor’, isto não vos apraz, razão pela qual quereis exterminá-Lo!

  5. Perguntai a vosso coração se assim não é, e ele respon- derá: ‘Sim!’

  6. É uma vergonha para nós, que nos chamamos filhos do Al- tíssimo, os gentios tomarem a nossa dianteira! Os gregos, romanos, egípcios, persas, assírios e quase todos os povos conhecidos como pagãos veneravam por gratidão os homens sábios, construindo-lhes templos em lugares sagrados, onde haviam morado. Existem poucos exemplos de crueldades destes ateus contra seus ídolos.

  7. Nós, judeus, que usamos o nome de ‘povo de Deus’, ape- drejamos um grande número de profetas enviados por Ele, amaldi- çoamo-los e ainda nos ousamos intitular de ‘filhos de Deus’!

  1. Elias, um dos maiores e mais poderosos profetas, teve que fugir quase para o fim do mundo para salvar-se da ira dos ‘filhos de Deus’! Bonitos ‘filhos de Deus’, estes!

  2. Fomos nós que apedrejamos os Seus mensageiros e agora queremos aniquilar este bom Jesus, caso isto seja possível! Se tal acontecer — pois Deus permite aos homens os atos mais horripilan- tes, a fim de que encham suas medidas — eu vos predigo uma eterna maldição sobre todos os judeus, que não terão, jamais, uma pátria sobre a terra, e seu nome, perante o qual até os pagãos se curvaram, será uma coisa nojenta para os homens!

  3. Tão certo como Deus é Vivo, isto acontecerá! E este ato horripilante será punido no inferno, por toda a Eternidade! Lem- brai-vos bem de que, como fariseu, vos disse isto!”

173. Raiva dos templários contra seu colega Tobias. Os três anjos impedem seu apedrejamento. Continuação da palestra entre aqueles descrentes e Tobias. O Senhor aquieta os fariseus bêbedos. Subida ao morro para a alvorada.

  1. Alguns aceitam as palavras do velho Tobias, mas a maior par- te se enraivece de tal maneira que tenta arrancar-lhe as vestes e ape- drejá-lo, assim como a todos que com ele concordam.

  2. Mas o velho diz: “Podeis executar vossa intenção! Os três an- jos que ainda estão aqui dar-vos-ão o castigo merecido nos infernos, e os demônios farão o resto!”

  3. Quando pronuncia estas palavras e os fariseus já começam a procurar pedras, eis que os três anjos penetram na choupana com suas faces iluminadas como o sol.

  4. Os renitentes ficam apavorados quando veem isto e caem, gritando de medo e pedindo perdão.

  5. Os anjos dizem: “Se sois inimigos daqueles que são levados pelo Espírito Divino — quem serão vossos amigos? Respondemos por vós: os demônios! Por isto, convertei-vos, senão ireis experimen- tar a Onipotência do Altíssimo!”

  1. Gritam os outros, tremendo de pavor: “Que devemos fazer?” Respondem os anjos: “Sede humildes e crede no verdadeiro e único FilhodeDeus,cujaalmaéunidaaoPai!PoisoPaiestácomEle,enãoforaDele!

  2. Após estas palavras desaparecem e os fariseus começam a se reerguer e desistem de sua intenção escabrosa. Tobias, porém, per- gunta-lhes: “Então, como é? Que fareis? Onde estão as malditas pe- dras? Por que não avançastes sobre eles, que considerastes serem os três magos da Pérsia?”

  3. Dizem os outros, confundidos: “Sabes bem que precisamos cumprir as Leis de Moysés, às quais juramos fidelidade no Templo! Mas, se este Jesus ensina e faz em toda a parte o contrário, como poderia ser fácil trocarmos nosso juramento por esta doutrina anti- mosaica? Em todo caso, iremos refletir o que se poderá fazer! Não diremos sim nem não, pois consta que jamais viria um profeta da Galileia! E com isto este assunto, embora maravilhoso, prende-se a muitas conjecturas!”

  4. Diz Tobias: “É certo que não viria um profeta da Galileia! Mas, pergunto eu, também consta que de lá não viria o Messias? Não há um indício de onde viria Ele? Penso haver uma grande di- ferença entre um profeta e o Messias?!” — Dizem os confundidos: “Tens razão, iremos refletir sobre isto!”

  5. Diz um outro, do fundo, que até então tinha presenciado tudo com calma: “Irmãos e amigos, para penetrar esta coisa suma- mente maravilhosa, é preciso um ânimo alerta — e nós estamos mais ou menos embriagados da ceia e, além disso, com sono! Como poderíamos fazer um julgamento válido, neste estado?

  6. Penso seja melhor dormirmos um pouco e amanhã pode- remos continuar nossas discussões! Pelo que me parece, está co- meçando a clarear e deveríamos enfrentar o sábado com a neces- sária calma!

  7. Os muitos adeptos de Jesus já se estão levantando! Deve- ríamos vigiá-los — mas como, se estamos sonolentos e talvez não cheguemos a perceber quando sairão daqui?”

  1. Diz o outro: “Mui facilmente, um de nós vigiará!” — Diz o primeiro: “Quem? Tu ou algum outro, tão sonolento como nós?!”

  2. Diz um terceiro: “Já passou da hora de dormir, pois os ou- tros estão se preparando para a partida e nós só podemos segui-los!”

  3. Diz um quarto: “Vede, o Mestre Jesus já se encontra diante da choupana e se apronta para a jornada!”

  4. Diz o primeiro: “Isto eu estava prevendo! Faremos uma bo- nita viagem — sem termos dormido, e um tanto bêbados da ceia de ontem!”

  5. Dizem vários: “Agora não há outro jeito! Não esperarão por nós; por isto, vamos! Poderemos dormir lá embaixo, na vila!” Todos se levantam e se dirigem para fora.

  6. Como os fariseus se preparam para a jornada e Eu, entre- tanto, ainda não inicio a partida, eles se aborrecem, com exceção de poucos, e Me perguntam se ainda não Me encaminharia.

  7. No entanto, lhes digo: “Eu sou um Senhor, faço o que que- ro e ninguém tem que perguntar o porquê! Se alguém sentir-se mal com isto, que faça o que quiser, pois não prendo a ninguém! Se qui- ser ir — que vá! Se quiser esperar — que espere com paciência! Não partirei antes da aurora e farei, primeiro, um ligeiro repasto, pois o caminho é longo e cansativo.”

  8. Dizem os fariseus: “Então, podemos descansar um pouco?”

  1. Dizem os templários, entre si: “Entenda isto quem puder, nós não o entendemos!”

  2. Diz o velho Tobias: “Eu o compreendo e por isto fico aqui fora; talvez também se faça a luz em minhas trevas.”

  3. Dizem os outros: “Faze o que quiseres; entraremos para dor- mir um pouco.” Dito isto, eles se jogam sobre seus leitos de palha.

  4. Muito respeitoso, Tobias quer Me contar o que se passou durante a noite. Eu o consolo e digo: “Sei de tudo! Se não sou- besse, como poderia mandar-te socorro na hora exata? Deixa tu-

do como está! Pois quem ousar levantar-se contra Mim sofrerá as consequências! Não tenhas medo! Pois, daqui por diante, nenhum contratempo te atingirá!

  1. Deixa-nos subir mais um pouco aquele morro, em direção ao levante; dali avistaremos uma aurora maravilhosa. Isto fortalece tanto a alma como o corpo, e alegra o coração e os rins.”

  2. Todos Me acompanham até lá e esperam ansiosos pe- la alvorada.

174. A alvorada deslumbrante. Bom e bonito discurso de Tobias. Ensinamentos do Senhor. Diretrizes para juízes e legisladores. Tratamento para os criminosos e condenados à morte.

  1. Depois de uma hora de espera, eis que surge a aurora numa indescritível beleza e majestade, e todos se sentem comovidos até às lágrimas, cantando salmos em honra Daquele que fez tudo tão maravilhoso e deslumbrante.

  2. Em seguida, o velho Tobias fala: “Senhor, este templo é bem diferente do Templo de Jerusalém, que sempre está cheio de lixo e detritos! Quantas vezes em minha vida cantei salmos sobre salmos

  1. Digo Eu: “Quem, como tu, aproxima-se da Criação Divina e sente tão calorosamente o que deve a seu Deus e Criador já Me apresenta o melhor e mais agradável agradecimento.

  2. Permanece sempre cheio destes sentimentos e jamais te faças de surdo aos rogos de teu irmão mais pobre, mesmo que tenha sido um inimigo, e receberás uma grande Graça dos Céus! Não condenes

e julgues os pecadores! Pois nem sempre são eles que pecam, e sim o espírito que os incentiva para assim agir. Não poderás saber qual

o elemento que os influencia. Há muitos que facilmente se tornam orgulhosos em sua devoção e desprezam os pecadores, o que os faz mais maldosos do que aqueles. Então são tomados por um espírito que os levará a um pecado qualquer, e o herói, cheio de virtudes, reconhece estar longe de ser um deus, e que é apenas uma criatu- ra falível!

  1. Então humilhar-se-á e fará penitência, o que achava impossí- vel enquanto se julgava melhor que o pecador!

  2. Ninguém deve odiar a quem peca; fará bem se odiar o peca- do! Somente a um criminoso empedernido, que se identificou com

o mal, deves negar tua mão! Mas, se em consequência do seu erro, tiver caído numa verdadeira miséria, deves considerá-lo a fim de que melhore, e se te procurar com um rogo, não deves fechar teu ouvido! Quando vires que um malfeitor é levado à condenação, não deves te regozijar por isso, mesmo se tivesse cometido um crime em tua casa, pois não é de todo impossível que também possa chegar à bem-aventurança no Além!

  1. O amor deve ser o elemento predominante na vida de ca- dacriatura!Uma justiça que não tem suas raízes no amor não é jus- tiça alguma diante de Deus, e aquele que a executa como juiz é, por esta razão, um pecador dez vezes maior do que o condenado, e Deus agirá com ele sem misericórdia, como ele condenou seu próximo!

  2. Por isto, não julgues nem condenes ninguém, mesmo que tenha pecado grosseiramente contra ti — e não serás julgado nem condenado no Além, pois a medida que aplicas te será aplicada. O juiz severo e implacável, embora justo, terá de enfrentar julgamento idêntico, e os esbirros e carrascos jamais verão o Semblante de Deus!

  3. Quem prender um ladrão e assassino terá feito o bastante se

o entregar à justiça. O juiz, no entanto, não deverá esquecer que o criminoso não é um demônio completo enquanto viver neste mun- do, mas um homem seduzido e corrupto, com o qual se deve tentar todos os meios para sua melhora antes de condená-lo à morte!

  1. Um réu jamais deve ser executado imediatamente, mas sim ser amarrado de pés e mãos num poste, cinco palmos acima da terra, durante um dia inteiro e à vista do povo.

  2. Se mostrar um arrependimento sincero e prometer que se regenerará, deverá ser conduzido a um instituto de correção e liber- tado, depois que der provas de estar morigerado. Caso contrário, isto é, não mostrando arrependimento, prova que é um demônio perfeito, devendo ser morto após o crepúsculo e, em seguida, quei- mado junto com o poste, no mesmo lugar.

  3. Digo-te isto porque foste e ainda és juiz entre os fariseus e tens de preparar a praça do suplício e as sepulturas para os executados.

  4. Feliz aquele que agir desta maneira; seu nome brilhará no Livro Eterno da Vida!

  5. Agora entremos, nosso Kisjonah preparou um pequeno al- moço e nos espera com sua mulher e filhas.”

175. O Senhor de novo com os Seus na cabana de Kisjonah. Diretrizes caseiras. Bondade do Senhor para com Seus inimigos. Ele e os Seus jejuam. O sábado farisaico. Descida da montanha. Os templários e Matheus discutem sobre o sábado.

  1. Em pouco tempo descemos do morro e Kisjonah nos recebe, convidando-nos para o almoço, mas, ao mesmo tempo, pede des- culpas porque as mesas de hoje são menos fartas. Os mantimentos se esgotaram, e ele não mandara buscar mais, pela simples razão de Eu querer descer hoje da montanha.

  2. Eu o consolo e digo: “Não te apoquentes por isto. Está tudo bem e dentro da Minha Vontade. Além disso, preciso dizer-te, como amigo e irmão, que tu te excedeste um pouco durante estes dias.

  3. Não terias pecado se não tivesses convidado a legião de fa- riseus, pois possuem ouro e prata em quantidade e facilmente se poderiam ter sustentado a si mesmos! Se quiseres, ainda, apresen- tar-lhes uma conta, não Me aborrecerei. Quanto ao velho Tobias, tomá-lo-ei a Meu cargo.”

  1. Diz Kisjonah: “Farei isto, mas existem muitos pobres que nada pagarão! Agora, Senhor, peço-Te tomares a refeição antes que os fariseus acordem, pois não desejo que tomem parte.”

  2. Digo Eu: “Deixa isto! Desperta-os e convida-os para a re- feição! Jejuarei com os Meus até meio-dia. Na baixada, almoça- remos bem.”

  3. Kisjonah obedece, embora contrafeito. Os fariseus se levan- tam rapidamente e comem com avidez, pois temem que o sol venha a projetar seus raios sobre a cabana e, então, não mais poderiam se alimentar até o crepúsculo.

  4. Kisjonah observa este fato e diz: “É bem divertido isto: para eles o sábado só começa quando o raio solar atinge o ponto onde se encontram! Como já observaste várias vezes, Senhor, o sol só atinge esta cabana perto de meio-dia, e estes bajuladores só irão considerar o sábado durante a tarde. Que camaradas!”

  5. Digo Eu: “Deixemo-los; antes de alcançarmos a baixada, te- remos oportunidade de mostrar-lhes como consideram o sábado. Mas isto nada é, quando se sabe do seu costume de deturpá-lo ao observarem que este não lhes promete uma boa colheita: cerram portas e janelas, de modo a impedir que o sol venha irradiar sua luz dentro daquela sinagoga, onde, então, não existe o sábado! Do mesmo modo, não aceitam um dia chuvoso como sábado completo, a não ser que acendam os castiçais de sete velas — naturalmente por um bom preço —, razão por que preferem um sábado chuvoso, a um radioso como o de hoje.

  6. Mas, como já disse, ainda teremos oportunidade de nos refe- rir a isto. Agora, porém, vamos, pois o dia será muito quente, o que não é agradável para se viajar.”

  7. Com isto partimos ligeiros e os sacerdotes nos seguem ar- quejantes e se aborrecem com nossa pressa. Um até nos chama e diz: “Por que correis tanto? Por acaso roubastes algo lá em cima?”

  8. O apóstolo Matheus não se contém e replica: “Andamos com nossos próprios pés, assim como vós usais os vossos, e não jul- go necessário prestar-vos conta de como nos movimentamos. Além

disso, não me lembro de que tivéssemos combinado, antes, o nosso passo! Por isto, calai-vos e andai como quiserdes e puderdes! Não nos preocupamos convosco; por que agis inversamente?”

  1. Diz um fariseu, irritado: “Por que estás tagarelando, pu- blicano bobo? Não sabes que hoje é sábado, e que ninguém deve discutir?”

  2. Diz Matheus: “Então o sábado só é válido para mim e não para vós?! Quem começou a discutir? Não me consta que não se de- va andar depressa neste dia; pelo contrário, até exigis que não se deve demorar a caminho da sinagoga; portanto, não transgredimos a Lei se hoje andamos mais depressa do que num outro dia. Lá embaixo, na aldeia, existe uma pequena escola que alcançaremos em tempo, se andarmos ligeiros.”

  3. Dizem os fariseus: “Igual a ti se assemelham os que se apressam para chegar às sinagogas e escolas! É para rir, quando um publicano fala de tal coisa! Por acaso não te conhecemos? És mais pagão que grego — e queres falar de zelo pelas sinagogas, nefasto blasfemador?!”

  4. Diz Matheus: “Já é tempo de calardes vossa boca, senão to- maremos a liberdade de romper o sábado com cacetes, em cima de vossas costas! Vede só o atrevimento destes preguiçosos, que julgam possuir direitos sobre nós! Mais umaofensa e eu esquecerei o sábado e tratar-vos-ei como um urso!” Diante desta ameaça, os fariseus nada mais dizem, mas no íntimo estão cheios de raiva.

176. Cena com os templários por motivo da colheita de espigas num sábado. A misericórdia é melhor do que o sacrifício. “O Filho do homem é um Senhor do sábado.” Cura do homem da mão mirrada. Os fariseus querem apedrejar Jesus. Kisjonah interfere. O Senhor foge, curando muitos. (Matheus 12, 1–16)

  1. Depois de algum tempo, já perto do vale, chegamos a uma seara cheia de sementes maduras. Há um caminho através deste campo e nós o seguimos, porque encurta a distância para a aldeia. Os discípulos, famintos — pois não tínhamos tomado alimento al-

gum — começam a arrancar as espigas mais maduras, tirar-lhes os grãos e comê-los (Math. 12, 1).

  1. Quando os fariseus avistam isto, já um tanto aborrecidos, aproximam-se rapidamente de Mim e dizem, com ares de impor- tância: “Não vês o que fazem teus discípulos, o que não é lícito num sábado?” (Math. 12, 2)

  2. Digo-lhes Eu: “Não tendes lido o que fez David e os que es- tavam com ele, quando tiveram fome? (Math. 12, 3). Como entrou na Casa de Deus e comeu os pães da proposição, coisa que só os sacerdotes podiam fazer? (Math. 12, 4). Ou não tendes lido na Lei que os sacerdotes violam o sábado no Templo e ficam sem culpa? (Math. 12, 5)

  3. Vistes Minhas Obras e ouvistes Meus Ensinamentos, e vos foi dito várias vezes Quem Eu Sou! Se isto tudo não vos basta, digo-

-vos mais uma vez, face a face, que em Mim está Aquele que é maior que o Templo! (Math. 12, 6)

  1. Se soubésseis o que quer dizer: ‘Alegro-Me com a misericór- dia e não com o sacrifício!’, não teríeis condenado estes inocentes! (Math. 12, 7). Fariseus cegos e surdos que sois, sabei: O Filho do homem, que sou, também é um Senhor do sábado!” (Math. 12, 8). Estas palavras assustam muito os templários, de sorte que se afastam e não mais impedem que os discípulos arranquem as espigas.

  2. Kisjonah, a quem pertence esta seara, diz-Me: “Senhor, irei na frente, a fim de preparar um bom almoço; tenho pena dos bons discípulos, que estão visivelmente famintos!”

  3. Digo Eu: “Farás bem. Eu, porém, irei antes com eles visitar uma escola, para não aborrecermos mais ainda estes fariseus. Já se ir- ritaram com Matheus, que lhes provou que andávamos tão depressa por causa da sinagoga. Se nós, agora, não entrássemos, fariam baru- lho. Assim, tapamos-lhes a boca e podes apresentar-lhes tua conta; isto, porém, terminado o sábado.” Kisjonah segue diretamente para sua casa, onde encontra tudo em boa ordem.

  4. Nós, porém, tomamos a esquerda em direção da aldeia e nos dirigimos à sinagoga (Math. 12, 9). Os outros nos seguem cheios de

raiva, porque se viram alvo da hilaridade dos discípulos por ocasião da queixa na seara.

  1. Quando ali entramos, os fariseus apresentam-Me logo um homem que há muito tempo estava com uma das mãos mirrada, quase não podendo trabalhar. Então Me perguntam se é lícito curar neste dia, uma vez que Eu Me dizia um Senhor também do sábado. Esta pergunta só fazem para poder acusar-Me de algo (Math. 12, 10), pois seus corações ardem de ódio e raiva.

  2. Eu, porém, lhes digo: “Por que esta pergunta? Acaso podeis curar este doente e vivificar sua mão há tanto tempo amortecida? Se Eu quiser curá-lo, não vos irei pedir licença!

  3. Quem, dentre vós, seria tão tolo em não levantar uma ove- lha a qual, num sábado, caísse numa cova? (Math. 12, 11). Quanto mais um homem, valendo mais que uma ovelha? É, por conseguin- te, lícito fazer a caridade num sábado!” (Math. 12, 12)

  4. Os fariseus silenciam. Eu, porém, chamo o homem e digo-

-lhe: “Estende tua mão!” — Ele obedece, e ela fica sã como a outra (Math. 12, 13).

  1. Isto é demais para os templários, que abandonam a escola e planejam a Minha morte (Math. 12, 14).

  2. Matheus segue-os, ouvindo toda a trama e, em seguida, nos informa de tudo. Imediatamente mando um discípulo a Kisjonah, avisando-o de que seria mais prudente não almoçarmos com ele, pois que os fariseus tencionam matar-Me, tanto que Eu abandonaria esta zona para evitar que eles se tornassem maiores criminosos do que já eram. O discípulo sai correndo, ciente do lugar onde poderia encontrar-Me mais tarde.

  3. Mal informo a Kisjonah, este e todos os seus, largando tu- do, reúnem rapidamente um grande número de pessoas e correm até à escola, chegando justamente a tempo de impedir que os fariseus

  1. Kisjonah fá-los se retirarem e Eu deixo aquela aldeia acom- panhado por muita gente, cujos doentes curo no caminho. Por oca- sião da colheita do trigo esta zona é um tanto febril, pois fica perto

do Mar Galileu e, em consequência disto, há muitos enfermos. Prin- cipalmente as mulheres são as mais atingidas e Me seguem, quando sabem que Me encontro aqui (Math. 12, 15).

  1. Em seguida Eu os ameaço para que não comentem em ca- sa nem o fato (Math. 12, 16) tampouco o lugar onde foram cura- dos, nem para onde Me dirijo. Prometem-Me tudo e Eu os des- peço em paz.

177. Pergunta dos apóstolos ao Senhor sobre por que Ele, como o Onipotente, às vezes dá mostras de temor dos homens. Resposta justa do Senhor. Judas, o faminto, e Thomaz, seu corretor. Boa repreensão de Pedro. Elogio do Senhor. Medida de conduta. (Matheus 12, 17–21)

  1. Depois de se terem afastado, os apóstolos Me dizem: “Se- nhor, às vezes és um tanto enigmático! Vê, já vimos e sentimos tanta coisa maravilhosa, que nem por um minuto poderíamos duvidar de que és, num sentido completo e verdadeiro, o Filho de Deus Vivo. Entretanto, há certos momentos em que pareces, realmente, temer os homens, Tu que tens à Tua disposição um Exército Celestial!

  2. Estes fariseus, com seus sequazes desarmados, teriam sido bem recebidos por nós! E bastava uma única palavra Tua e eles te- riam perdido a vontade de perseguir-Te! Com a melhor boa vonta- de, não podemos compreender a Tua fuga! — Por favor, explica-nos a Tua Atitude!”

  3. Digo Eu: “Sois consideravelmente fracos e cegos, porque não compreendeis isto à primeira vista! Vede, tal tinha que se dar, a fim de que se cumprisse o que o profeta Isaías falou a Meu respeito (Math. 12, 17): ‘Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito e anunciarei aos gentios o juízo (Juízo significa Verdade, Luz e Vida; pois a verdade não deixa de ser um juízo justo). (Math. 12, 18). Não contenderá nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas sua voz (Math. 12, 19). Não esmagará a cana quebrada e não apagará o pa- vio que fumega, até que faça triunfar o juízo (a verdade plena). (Ma- th. 12, 20). E os gentios esperarão em seu nome.’ (Math. 12, 21)

  1. Eis a razão por que Eu não queria entrar em discussão e luta com os templários.

  2. Além disso, bem sabia que Kisjonah lhes daria uma boa lição! Assim, foram castigados com maior rigor do que se lhes tivéssemos reagido, uma vez que os espancaram tremendamente; em segundo lugar, não poderão dizer palavra em Capernaum sobre aquilo que lhes sucedeu, o que os aborrece mais ainda.

  3. Pois, se assim fizerem, ficarão imediatamente mudos, surdos e, se necessário, também cegos. Por esta razão fizeram uma tentativa para matar-Me, pois acreditavam que com isto desmanchariam o efeito de Minha ameaça.

  4. Continuam a tomar-Me por um mago maldoso, que só terá poder enquanto vivo. O pior é não saberem para onde Eu Me dirijo. Já enviaram alguns mensageiros em direção do levante — pois viram que nós nos encaminhávamos para o oeste; mas ignoram que nós, depois de uma hora de marcha, dirigimo-nos para o poente e agora embarcaremos para atingir o outro lado do mar. Então, compreen- deis tudo?”

  5. Dizem os doze e muitos outros que estão conosco: “Sim, agora tudo está claro! E foi melhor que não lhes reagíssemos. Está tudo na melhor ordem.”

  6. Diz Judas, lacônico: “Sim, com exceção de nossos estômagos! Além dos grãos de trigo, nada mais lhes foi adicionado, e agora já é noite. Seria aconselhável cuidarmos um pouco deste assunto, antes da travessia do mar!”

  7. Digo Eu: “Hoje é preciso jejuar, no mínimo até chegarmos à outra beira; lá certamente encontraremos algo.”

  8. Thomaz repreende Judas por esta falta de compostura e diz: “Mas, como é possível que possas interromper as palavras do Senhor com coisa tão banal? Não tens honra ou pejo? Se sentes uma fome tão voraz, previne-te com alimentos; mas externar ao Senhor uma observação tão vulgar é demasiado atrevimento!”

  9. Diz Judas: “É verdade, esqueci-me de que também te en- contras em nosso meio! Continuas sendo o meu mestre de correção,

o que muito parece te alegrar. Está muito bem; se tens prazer nisso, não mais me aborrecerei contigo!”

  1. Diz Pedro: “Tanto melhor! Todavia, Thomaz tem razão, embora seja, às vezes, um pouco rude. Eu, porém, acho que deví- amos sempre olhar o Senhor, pois quando Ele diz algo, está certo, cada um deve obedecer! Mas, se Ele nada diz, também não nos com- pete falar! Devemos considerar sempre isto, a fim de que a paz e a união estejam entre nós!

  2. Meu querido irmão Thomaz, se Judas, faminto, não se cala diante do Senhor, muito menos receio terá diante de ti! Se nós nos advertimos reciprocamente, vamos deixar de lado toda aspereza e rigidez, para que se torne evidente, também em nós, o versículo de Isaías mencionado por Ele!”

  3. Digo Eu: “Está bem, Meu querido Simon Jona! Assim de- veis permanecer e, finalmente, toda a Humanidade! Pois quem tiver uma ferida e lhe aplicar ácidos, conseguirá aumentá-la em vez de curá-la! Mas quem a tratar com unguento e óleo puro, curá-la-á, reparando o dano na carne.

  4. Agora deixai-nos ir à praia, pois Kisjonah e seus maru- jos estão dirigindo o barco para cá. Vamos ajudá-los e embarcar em seguida!”

178. A Santa Assembleia navega com Kisjonah para a outra margem. A refeição na praia. Alegria dos habitantes pela chegada do Salvador. Cura milagrosa do obsedado, mudo e cego. Um homem honesto convida o Senhor e os Seus à sua casa. (Matheus 12, 22–23)

  1. Dito e feito, tomamos o barco, que nos deixa em hora e meia do outro lado da praia, perto dum lugarejo que em parte é habitado por gregos, e em parte por judeus.

  2. Quando chegamos, ainda está bastante claro e Kisjonah en- via dois servos à vila a fim de averiguarem se há morada para umas cem pessoas. Eles, porém, voltam em breve sem ter achado o que desejam, tanto que ficamos à noite no barco, pois o mar está calmo.

  1. Em seguida, Kisjonah manda apanhar da provisão do barco uma quantidade de pão, vinho e peixes fritos, e sua mulher e filhas nos servem. Este fato foi de muito agrado para Judas.

  2. Kisjonah indaga se deve fazer uma fogueira no barco, pois as noites à beira-mar são bem frescas. Dou-lhe permissão para isto, e em pouco tempo ele prepara uma tocha de resina, óleo e outros produtos incendiáveis, que irradia uma luz forte sobre toda a zona. Isto atrai muitos curiosos, entre os quais alguns que Me conheciam e se alegram muito que Eu, o famoso Salvador, encontro-Me em sua vila, onde há muitos doentes.

  3. Alguns correm para casa e dizem por toda parte que Eu ha- via chegado.

  4. Não leva tempo e um obsedado, mudo e cego é conduzido à praia, e o povo Me pede que o cure.

  5. Entre a multidão, porém, também se acham alguns fariseus, que dizem: “A este ele não curará!”

  6. Eu, todavia, curo-o num momento, tanto que ele fala e vê (Math. 12, 22). A multidão se admira e os judeus, que não são a favor dos templários, exclamam: “Este é realmente o Filho de David, esperado por todos os judeus!” (Math. 12, 23)

  7. Um homem bom e justo se aproxima e diz: “Mestre Divino e milagroso! Por que hás de ficar esta noite em cima do barco, que joga constantemente e privar-Te-á dum merecido descanso, em vista do vento frio? Todos sabem que, nesta zona, a um dia muito quente segue-se uma noite fria, motivo por que há tantas doenças entre o povo. Possuo uma boa casa, bem acondicionada, onde poderias ficar com Teus discípulos o tempo que Te aprouver. Também não faltam os necessários alimentos!”

  8. Digo-lhe Eu: “Sim, aceitarei teu convite, pois sei que tua al- ma é sincera. Mas entre nós também se encontra Kisjonah com sua família. Também terás lugar para ele, sendo um discípulo fiel e um homem justo?” Diz o velho: “Quem estiver Contigo será bem-vindo!”

  9. Digo Eu: “Por esta razão, tua casa receberá uma grande Graça!” Dirigindo-Me a Kisjonah: “Conduze o barco para perto da

praia, a fim de que possamos descer!” Assim se faz e, em seguida, vamos à casa do velho, que mandara preparar as necessárias acomo- dações para nós.

179. Humildade e nobreza do velho hospedeiro. Zona fértil, entretanto insalubre. A Graça do Alto. A Glória de Deus. O povo louva o Salvador e aponta os pecados dos templários.

  1. Depois de ter organizado tudo para a noitada, chega o velho com seus filhos — pescadores, barqueiros e carpinteiros — e Me diz: “Senhor, está tudo arrumado na medida do possível e podes fazer o que te aprouver. És o Senhor desta casa que construí com meus sete filhos. Externa as Tuas ordens e eu serei Teu servo junto com todos os meus!”

  2. Digo Eu: “ Tu és o que és, e Eu também o que sou; mas, co- mo és humilde e te rebaixas, deverás ser elevado em Meu Reino. Para hoje só necessitamos de repouso; amanhã deixa vir todos os doentes desta zona, que Eu os curarei!”

  3. Diz o velho: “Então terás muito que fazer! Esta vila não é tão pequena, e dificilmente haverá uma casa que não tenha o seu doen- te. O solo é um dos mais férteis à beira-mar, mas também o mais insalubre. Só há febre e chagas de toda espécie!”

  4. Digo Eu: “Deixa estar! Amanhã tudo isto será mudado, e não esqueças de te abastecer com peixes para que Meus discípulos se possam alimentar! Serás recompensado por tudo!”

  5. Diz o velho: “Senhor, perdoa-me se ouso protestar! Em mi- nha casa milhares de pessoas foram saciadas e hospedadas, e nunca aceitei algo por isto, muito menos o aceitarei de Ti! Entrego as mi- nhas contas aos ventos, que as levam às estrelas, onde habita o Pai. Ele sempre tem sido o meu melhor pagador e remunerador, e tam- bém o será desta vez! Quantos enfermos não tratei durante meses, e em minha casa jamais alguém adoeceu! Senhor, isto é uma graça do Alto, portanto não me fales em recompensa, pois não a aceitaria.”

  6. Digo Eu: “Bem, isto será difícil! Se Eu não te recompensar, a recompensa do Alto será nula! Pois Eu determino tudo, mesmo acima das estrelas!”

  1. O velho se assusta com Minhas Palavras e não sabe o que dizer. Depois de alguns minutos diz, um tanto acanhado: “Por Jeho- vah! És, por acaso, um anjo dos Céus e tens alguém a Teu serviço, dado pelo Pai?”

  2. Digo Eu: “Por ora vai dormir, amanhã ser-te-á revelado mui- ta coisa! Avisa o povo que também vá descansar e amanhã poderá trazer todos os doentes, que Eu os curarei!” O velho faz conforme Eu ordeno.

  3. Então o povo começa a se rejubilar e gritar: “Viva o Filho Ilustre de David! Ele veio a nós para nos libertar de toda sorte de sofrimento! Não sabemos donde vem, mas certo é que o Espírito de Deus está com Ele, como esteve com David! Se não fosse assim, não podia ter curado o obsedado!”

  4. Mas entre a multidão há também alguns fariseus, como po- lícia do Templo, destinados a fiscalizar tudo o que Eu iria fazer. A cura do obsedado já lhes causara irritação, e conjecturam constan- temente como agir para lançar a suspeita contra Mim, como sendo um vagabundo, maltrapilho, amotinador ou, talvez, até um feiticei- ro ligado ao demônio. Por isto, dizem ao povo: “Amanhã veremos que espécie de salvador é, quando for curar os aleijados, coxos e le- prosos!” — Dizem os outros: “Se Lhe foi possível curar o pior, num momento, tanto mais fácil será curar os demais! Não deveis falar sobre estas coisas, pois jamais curastes alguém, não obstante preces caríssimas e amuletos, que vendeis por bom preço!

  5. Ele tem o Espírito Divino dentro de Si e já nos provou isto por Sua Ação; vós sois apenas compenetrados do espírito da ganân- cia e do orgulho!

  6. Quereis ser os primeiros depois de Deus e exigis uma ve- neração divina de nossa parte. Declaramos, porém, que sois os úl- timos para nós, e cem vezes piores que os pagãos! Nada fazeis em nosso benefício; não trabalhais, e os frequentadores de vossas escolas tornam-se tão obtusos e supersticiosos, que somente um anjo com Poder Divino os poderá endireitar! E isto ainda é o melhor que fazeis em nosso suposto benefício!

  1. As esposas de vossos irmãos em fé seduzis para o adultério, e com suas filhas praticais obscenidades! Mas isto nada é! Se um po- bre coitado pecar de tal forma, será apedrejado! Um rico e distinto pagará uma indenização, tornando-se vosso amigo!

  2. Os judeus, vossos correligionários, não vos conhecem tão bem como nós, gregos, e mesmo se vos conhecessem, nada pode- riam dizer. Mas nós sabemos quem sois e podemos falar. Por isto, externamos esta nossa opinião num momento tão propício!

  3. Apressai-vos em voltar para casa, senão virá uma tempesta- de de punhos gregos sobre vós! Vigiaremos aqui, a fim de que não ouseis tocar neste homem!

  4. Também fomos judeus e agora estamos contentes em ser- mos gregos; sendo-o, pelo nome e pela lei, continuamos judeus no coração, o que não se dá convosco, que vendeis vossas preces por dinheiro, atribuindo-lhes poder milagroso!

  5. Oramos a Deus, por Ele ser Deus; e nós, Suas criaturas, temos este dever para com Ele. Por isto, afastai-vos, pois vossa pre- sença nos causa um mal-estar!”

  6. A este claro convite os fariseus desaparecem e o povo se regozija com esta vitória.

180. Conselho dos templários. O jovem fariseu elabora um bom plano para a proteção do Salvador, e faz um discurso ao povo.

  1. Esta vila é conhecida pela perspicácia dos seus habitantes; para se discutir com eles é preciso muita astúcia. Por isto, os fariseus não respondem e vão para casa. Lá, porém, elaboram um plano para Me aniquilar.

  2. Um dentre eles, de melhor índole, diz ao fim: “Irmãos, opino no sentido de dormirmos agora, para amanhã chegarmos a melhores determinações! De que adiantam todas as nossas conjecturas?! Não resta dúvida que é extraordinário, pois a cura à distância do obseda- do é um fato nunca visto!

  3. Por isso, acho arriscado julgá-lo cegamente, considerando o estado de excitação do povo, que há muito tempo vem se juntando

aos gregos. Por isto, ouvi meu conselho. O dia de amanhã nos po- derá ser mais favorável!”

  1. Diz um outro: “Então não revidaremos o ultraje sofrido? De- vemos ignorá-lo, sem puni-lo?”

  2. Diz o outro: “Se te for possível, pede uma indenização! O que pode um, contra tantos? Penso que, no momento, é mais acon- selhável silenciar. Deixa que a maçã amadureça no pé, se tencionas comê-la sem cica!”

  3. Diante das palavras deste, mais bem intencionado, os fariseus e escribas se acomodam, dando ordem a um servo de acordá-los de manhã, para não perderem os acontecimentos.

  4. O fariseu, de melhores intenções, levanta-se quando vê que os outros estão dormindo e começa a refletir na maneira de desfazer os planos infernais dos velhos. Pensa o seguinte: “Se me fosse pos- sível chegar perto deste homem milagroso, eu lhe sugeriria o meio de curar os doentes! Mas, como chegar até ali? O povo rodeia a casa e, pelo que vejo, já está carregando os doentes para lá; amanhã vai haver um grande alvoroço e ninguém poderá aproximar-se dele. Sei o que fazer; vou e digo abertamente as minhas ideias: que sou inimi- go destes falsários e necessito esclarecer algo ao Salvador, senão lhe será difícil fazer as curas! Se o povo permitir, está bem; senão — ao menos terei seguido a voz do meu coração!”

  5. Com estes pensamentos ele caminha em direção ao povo, que em breve reconhece o jovem rabino à luz do luar.

  6. Imediatamente é abordado pelos gregos, que perguntam bruscamente o que está fazendo ali e se, por acaso, é um espião.

  7. Ele diz, porém, num tom confidencial: “Queridos amigos! Ainda uso a vestimenta dos fariseus e, como sabeis, também o sou por obrigação como primogênito de uma família rica. Mas, intima- mente, sou-o menos que vós, embora sejais gregos. Minha intenção é a seguinte: Conheceis meus colegas e os direitos que supõem ter. São teólogos e ninguém deve entender algo mais da Escritura do que eles; cá entre nós, entendem muita coisa, menos isto. Mas o Templo os designou para tal e eles fazem uso destes direitos.

  1. Do mesmo modo, são médicos, e não aturam que um es- tranho venha diminuir seus lucros com o conhecimento que tenha. Possuem privilégios do Templo, que sabem defender.

  2. Além disso, são juízes e senhores sobre a vida e a morte dos seus súditos, podendo exercitar este direito quando e como quise- rem, sem se tornarem responsáveis. Apenas devem apresentar uma lista anual de condenações, inclusive a importância do arrendamen- to das escolas.

  3. Todos estes empregos são arrendados ou vendidos (vita- lícios); os outros aqui são, apenas, arrendatários e eu, um empre- gado destes.

  4. Digo-vos: uma sinagoga ou escola custa muito dinheiro ao Templo! E para que possa ser arrendada por uma importância maior, é tributada de muitos privilégios, os quais o arrendatário defende a todo transe. Naturalmente só é possível tornar-se comprador ou arrendatário duma sinagoga depois de ter sido nomeado fariseu, com juramentos pesados. Mas, uma vez o sendo, é quase impossível renunciar.

  5. Vede, embora um judeu honesto deva sentir asco destas fraudes do Templo, não deixam elas de ser reconhecidas e sanciona- das pelo Estado. Poderia contar-vos alguma coisa mais, porém basta isto para saberdes que o direito está com eles.

  6. Se eu não tivesse acalmado os velhos e vingativos colegas, teríeis que enfrentar situações fatais, pois eles já queriam pedir uma legião de soldados em Capernaum e entregar todos à justiça! Portan- to, sou vosso amigo e não um espião! Agora, não me denuncieis! Se quiserdes ouvir um bom conselho, prestai atenção!”

  7. Dizem os três gregos: “Pareces ter um coração honesto; dize o que devemos fazer. Mas não nos ouses enganar, pois pagarias isto com tua vida!”

  8. Diz o jovem fariseu: “Não tenho medo disto, pois, se tivesse cem vidas, dá-las-ia pela verdade e sinceridade de minhas intenções! Agora, ouvi-me! Sabeis que os templários só se interessam pelo lucro arrendado. Combinai com eles uma certa importância para permi-

tirem que o médico milagroso, que se encontra aqui, possa curar os doentes — e eu vos garanto que estes velhos agiotas vos darão a licença. E se não lhes puderdes pagar agora, prometei-lhes fazê-lo mais tarde, que eles aceitarão!

  1. Só quero sugerir que este homem milagroso abandone em seguida este lugar, senão os fariseus serão capazes de pedir um segun- do pagamento. Também não deverá ele querer converter o povo, por causa dos velhos que são muito impertinentes!

  2. E a exclamação de ‘Filho de David’ é o que há de pior para os meus colegas. Se isto for evitado, tenho a certeza de que tudo se fará calmamente; do contrário, haverá barulho!”

181. O jovem e bem intencionado fariseu é bem recebido pelo povo. Ameaça do povo e seu plano de revolta contra os templários. Astúcia do jovem.

  1. Falam os três gregos: “Teu conselho não é tão mau, mas não nos agrada completamente! Quanto tempo deve durar o domínio cruel destes traidores do povo? Já nos cansamos deles; estão sempre nos provocando e nas sinagogas nos caluniam e amaldiçoam. Além disto, são nossos juízes em causas civis e, se queremos obter um direi- to, temos que gastar muito dinheiro. Tudo nos leva à decisão de pôr termo a este domínio; todos os judeus aqui estabelecidos aderirão, amanhã, a nós — e os fariseus serão expulsos, com exceção de ti, se quiseres permanecer conosco! Vê, este é o nosso plano. Que achas?”

  2. Diz o jovem rabino: “Nada, se a execução tiver êxito com- pleto! Mas sede cautelosos como os corvos, senão — ai de nós! Co- nheço bem as patas destas velhas raposas; seus olhos veem através das paredes e seus ouvidos ouvem o que se diz no maior segredo. Deixai-me voltar agora, para não despertar suspeitas. Já começa a clarear e as raposas brevemente despertarão e seria um desastre se sentissem a minha falta!”

  3. Dizem os três: “Então, vai; mas cuidado para não nos denun- ciares!” — O jovem volta para onde estão os templários e encontra todos dormindo, inclusive o vigia. Ele o acorda com muita irritação,

por estar dormindo. Com isto os velhos também despertam e saem para ver o que há.

  1. O jovem diz — como se estivesse cheio de raiva — que, não podendo dormir, foi verificar se o guarda estava cumprindo seu de- ver: “Vede isto e aborrecei-vos comigo — o vigia dorme tão profun- damente quanto nós! Logo hoje, no dia mais importante, em que os nossos descendentes irão falar — este vigia, bem pago, dorme! Isto é demais! Se Jehovah não nos tivesse protegido esta noite, poderíamos ter sido assassinados pelo povo irritado!”

  2. Estas palavras fazem arrepiar os velhos, que reconhecem o grave perigo que correram, elogiando muito o jovem colega, que fez o papel de anjo de guarda.

  3. O jovem mal contém o riso e diz: “Irmãos, penso que não há tempo a perder, se quisermos assistir aos fatos que surgirão!”

  4. Dizem os velhos: “Tens razão! Mas, enviaste um mensageiro a Capernaum para suprir-nos com uma proteção militar?”

  5. Responde o jovem: “Se fosse esperar vossas ordens, estaría- mos perdidos! Tudo isto eu já fiz. Agora não sei se os soldados chega- rão a tempo, pois Capernaum fica longe e precisamos ter paciência, aguardando o que vier, a Vida ou a Morte!” (Ditado do jovem)

  6. É claro que o jovem não pensara em mandar pedir reforço militar, pois, no íntimo, é inimigo dos fariseus e adepto secreto dos essênios, desejando nada mais do que liquidar estes templários.

  7. Estes, porém, ainda nada tinham comido e dizem: “Talvez seja possível tomarmos algo antes de irmos até lá, porque o mago certamente não iniciará seus feitiços antes do levante!”

  8. Diz o jovem: “Certo que não! Se for de vosso agrado, irei num momento averiguar se já há movimento na casa de Baram e podeis, neste ínterim, tomar o desjejum.” (Baram é o nome do car- pinteiro em cuja casa o Senhor pernoitou; o lugar se chamava Jesaíra e é hoje uma estepe.)

  9. Dizem os velhos: “Irás jejuar hoje?”

  10. O jovem: “Isto não; mas sabeis que nunca posso comer an- tes do levante, por isto peço-vos que guardeis algo para mim!”

  1. Os velhos: “Pois não! Mas agora corre e dá-nos notícias dos soldados, porque sem eles estaremos perdidos!”

  2. O jovem se põe a caminho e os velhos gritam atrás dele: “Não te esqueças dos soldados!” — E ele: “Confiai em mim!” E de si para si: “Que estareis perdidos!”

182. Prece matinal de Jesus. Ahab, o jovem fariseu, é convocado pelo Senhor. O pecado que não é levado em conta. Uma Bíblia sacerdotal elaborada de acordo com sua infalibilidade. Fraude com os detritos do Templo. Grande milagre curador.

  1. Quando o jovem alcança a casa de Baram, vê-la completa- mente sitiada pelos doentes, e pergunta se Eu já estava acordado. Responde um grego velho e honesto: “Sim, Ele já levantou-Se e foi para a frente da casa. Mas o amigo Baram O chamou para que fosse tomar algo, e Ele entrou novamente.”

  2. Pergunta o jovem: “O que fez lá fora?”

  3. Diz o grego: “Nada mais do que levantar Seu olhar para o firmamento, parecendo haurir forças de lá; mas Sua Expressão era de um grande general, a cujos acenos milhares de criaturas têm que obedecer! Seu Semblante é extremamente amável, mas, ao mesmo tempo, de uma seriedade jamais vista! Foi bom Ele não me ter fixa- do; penso que não suportaria Seu Olhar! Entretanto, senti-me atra- ído por um poder incompreensível, ao qual eu não teria resistido se Ele não fosse chamado por Baram!”

  4. Diz o jovem: “Que te parece isso tudo? De acordo com as apa- rências e a tua opinião, sempre muito certa — quem julgas que seja?”

  5. Diz o velho: “Sou grego, e no vosso julgamento um pagão, que acredita em muitos deuses; no entanto, sou tão pouco pagão como tu, e acredito num só Ser Divino! Mas este homem milagroso poderia levar-me com facilidade à crença em muitos deuses, e se não for, no mínimo, um semideus, eu desisto da minha humanidade!”

  6. Diz o jovem: “Teria muita vontade de vê-lo! Se ao menos fosse possível ali penetrar, seria fácil travar conhecimento com ele! Já seria do máximo interesse trocarmos apenas algumas palavras!”

  1. Nisso Eu deixo o interior da casa e falo: “Ahab, filho de Thomé de Toreh, vem cá; se tens fome e sede de verdade, deverás ser saciado!”

  2. Diz o jovem: “Senhor! Jamais nos vimos e, pelo que me consta, nunca estiveste em Jesaíra! Como podes conhecer a mim e a meu pai?!”

  3. Digo Eu: “Sei muita coisa de ti e dos teus, que não é preciso ser mencionado aqui, mas o fato de que vigiaste por Mim esta noite e arriscaste muito tem grande valor para Mim; este sacrifício ser-te-á recompensado! Vem!”

  4. Ahab atravessa rapidamente a multidão e não se conforma que Eu possa saber tudo isso.

  5. Digo Eu: “Não te admires tanto, pois ainda serás testemu- nha de outras coisas! Foi muito bom conseguires prender os velhos em casa, pois teriam perturbado a fé destas criaturas, o que tornaria difícil curá-las todas. Uma vez curadas, poderão vir e fazer jus à sua consciência templária e monetária. Por isto, fica aqui e deixa-os esperar até que Eu termine. Sei de tudo! Pregaste-lhes uma gran- de mentira, mas, para um fim como este, Deus perdoa tal pecado! Compreendes isto?”

  6. Diz o jovem: “Sou conhecedor das Leis e sei que Moy- sés disse: ‘Não darás falso testemunho do teu próximo!’ Uma Lei notável — mas que não é considerada pelos meus colegas. Dizem eles que um testemunho falso em favor do Templo e seus servos é do agrado de Deus, mas que um testemunho justo contra os mesmos é por Deus amaldiçoado, devendo a testemunha justa ser apedrejada!

  7. Isto não consta da Escritura, mas os templários dizem e en- sinam que a palavra no livro é morta, sendo eles, no entanto, o úni- co livro no qual Deus faz escrever Sua Vontade por um anjo; tanto que já possuímos uma Bíblia completamente nova, que é, em tudo, o contrário do que foi ensinado pelos profetas!

  8. De acordo com esta nova Bíblia, a mentira bem aplicada não só é permitida como, em certos casos, até obrigatória, isto é,

quando se trata de vantagens para o Templo! Pois, ali, quem mente melhor e com mais astúcia é bastante considerado!

  1. Como deves saber, o Templo é sempre limpo antes das festividades, quando se acumula muito lixo. Este estrume não tem utilidade, por ser muito seco e misturado com terra e areia. Exis- tem, porém, verdadeiros profetas do estrume; vão por toda a parte vendendo-o em quantidades pequeninas e exigem, pelo peso de um ovo, uma moeda de prata! O estrume do Templo passa a ser a al- ma de outras qualidades, com o qual os fracos na fé preparam seus campos e acreditam seriamente que, sem ele, não conseguiriam boas colheitas, e mesmo se as obtivessem, seriam desprovidas da Bên- ção de Deus.

  2. Às vezes acontece que estes ‘profetas de estrume’ não levam o suficiente para suprir todas as zonas; neste caso, enchem seus ces- tos com lixo das ruas, conseguindo deste modo vender dez vezes mais do que apanharam no Templo. Vê, aí já está a primeira fraude, porque o estrume do Templo é pior do que qualquer outro; mas não basta isto: as criaturas cegas e ludibriadas compram o lixo da rua, como se fora estrume!

  3. Isto, porém, não importa, pois esta fraude é aplicada em benefício do Templo; portanto, não é pecado, é virtude e, como tal, agradável aos olhos de Deus! — Ó Moysés! Se alguém ousasse esclarecer o povo neste sentido, seria amaldiçoado e teria dificuldade em salvar sua pele!

  4. E assim há mil coisas mistificadoras e fraudulentas!

  5. Eu, pessoalmente, não considero a mentira feita aos meus colegas como pecado, principalmente quando me foi possível pro- teger um homem como Tu. Agora, porém, cura Teus doentes, senão poderás ser atrapalhado por estes facínoras!”

  6. Digo Eu: “Já estão todos curados! Os cegos veem, os coxos andam, os surdos ouvem, os mudos falam e todos que padeciam de algum sofrimento readquiriram sua saúde! Dir-lhes-ei que sigam para seus lares e poderás trazer teus colegas, informando-os primeiro daquilo que viste!”

  1. Após isto, Eu ordeno aos curados que voltem para casa e digo-lhes que não espalhem sua cura em parte alguma e muito me- nos em Jerusalém, se algum dia ali chegarem. Todos Me prometem silenciar e Me agradecem com lágrimas nos olhos.

  2. Eu, então, repito: “Ide — vossa fé vos ajudou; mas não pe- queis no futuro, pois uma recaída é sempre pior!” Depois disto, to- dos se afastam e louvam a Deus por ter dado tal poder a um homem.

  3. Diz Ahab, admirado: “Nunca tal coisa foi vista por alguém, sem qualquer cerimônia, palavra ou passe! Não! Isto é demais para uma criatura de índole simples como eu! Senhor, explica-me como isto Te é possível?”

  4. Digo Eu: “Por ora não podes compreendê-lo; mas, se qui- seres te tornar Meu discípulo, compreenderás. Agora, vai e avisa teus colegas!”

  5. Diz Ahab: “Sim, irei e falar-lhes-ei como gostam! Deitarei areia nas vistas deles, para que fiquem completamente cegos! Nada lhes direi do que se passou, bastando a cura do obsedado de ontem!”

  6. Digo Eu: “Bem, bem, faze como te parecer melhor! Nós dois somos amigos; livra-te deles e segue-me, que encontrarás a Ver- dade e a Vida, e serás livre pela Verdade!”

183. Ahab, o rabino, e seus colegas. Seu êxito: eles se encaminham para a casa de Baram.

  1. Ahab se afasta e, quando se aproxima dos outros, todos se lhe dirigem e dizem: “Mas, que houve que te fez demorar tanto? Andamos muito preocupados contigo! Que há? Que fez o feiticeiro? E os soldados, já vêm? Estamos numa situação desesperadora! Talvez ainda de nada saibas?”

  2. Diz Ahab: “Mas, quê? Houve algo?”

  3. Dizem os velhos: “Imagina tu! Faz meia hora que chegaram aqui três cidadãos judeus, que nos notificaram ter esta vila, Jesaíra, aderido integralmente aos gregos, razão por que nada mais temos que fazer aqui! Que dizes a isto? Agradecemos tudo a este maldito

feiticeiro, que nada mais é do que um apóstolo do inferno, trazendo em seu peito o espírito de Beelzebub!”

  1. Diz Ahab: “Se assim é, as coisas estão ruins para nós, e deve- mos tratar de nos safar daqui! Bem que ouvi algo sobre isto, ontem, mas não pude inteirar-me do assunto. Também é muito bem feito para nós. Disse-vos várias vezes que nos sairíamos mal com nossa tolice e cegueira perante os gregos espertos, e que seria fácil para eles embrulhar-nos; mas, com isto, eu só conseguia derramar azeite no fogo! Agora dá-se o que eu sempre calculei!

  2. O povo sempre considerou os profetas; nós, entretanto, dizí- amos: ‘Estes morreram, junto com suas Escrituras! Deus revela Sua Vontade dentro do Templo e demonstra o que se deve considerar de Moysés e dos profetas. Os sumos pontífices, os levitas e todos os fariseus e escribas são agora o Moysés e os profetas vivos!’ Eis vossa doutrina!

  3. Mais de cem vezes vos adverti que esta presunção nos sairia cara. Mas zombastes de mim, afirmando que isto seria inteiramente impossível! Agora estamos neste pé — e a vossa afirmação, por aca- so é certa?

  4. Repito que bem merecemos isto! Fiz tudo na casa de Baram para acalmar os ânimos do povo, e disse aos alterados que o reforço de Capernaum chegaria a qualquer momento para castigá-los! Eles se riram e disseram: ‘Esperareis em vão, pois vosso mensageiro está sob nosso domínio — assim como todos vós! Tratai de sair daqui por bem, ou usaremos de outros meios para vos compelir a isto!’ Esta foi a reação à minha ameaça, que melhor seria tê-la guardado para mim.

  5. Quanto ao feiticeiro, digo-vos, é completamente inocente; ele e seus discípulos são os únicos judeus neste lugar! Não contesto que parece ser um mago; mas que age por Beelzebub, não ouso afir- má-lo, embora não queira ir contra a vossa opinião. Ide vós mesmos, falai com ele e vos certificareis de tudo!”

  6. Perguntam os velhos: “Já curou os doentes?”

  7. Diz Ahab: “É possível, embora não tivesse visto algo a res- peito. Existem algumas pessoas de ambos os sexos em frente à casa

de Baram. Na maioria são gregos, conhecidos meus, e conversam com o mago, que é extremamente simples; mas não vi doentes. Tal- vez os tenha curado enquanto estive aqui. Como já disse, vamos até lá e podereis averiguar como andam as coisas.”

  1. Dizem os velhos: “Não há perigo de vida a temer?”

  2. Diz Ahab: “Que pergunta mais tola! Estais mais seguros aqui? Uma vez que as coisas tomaram este rumo desfavorável para nós, é melhor procurarmos ar livre, onde poderemos fazer uso das nossas pernas, do que nos deixarmos matar entre quatro paredes!”

  3. Dizem os velhos: “Tens razão, vamos e tranquemos todos os nossos tesouros, que são de grande valor!” Diz Ahab: “Muito bem

  1. A estas palavras os velhos se levantam, trancam tudo e nem aos seus servos mencionam suas intenções.

184. O povo invectiva contra os fariseus. (Matheus 12, 24)

  1. Quando chegam à casa de Baram deparam com uma com- pacta aglomeração, e o povo quase se apavora com o milagre da grande cura. Como os fariseus não o presenciassem, julgam que o povo continue extasiado com a cura de ontem, do obsedado, pois repete a exclamação: “Salve, ó Filho de David! Este é, verdadeira- mente, o Filho de David!”

  2. Os templários, ouvindo isto, dizem: “Por que vos admirais tanto? Sabemos, melhor do que vós, como isto se deu! Ele não ex- pulsa os maus espíritos senão por Beelzebub, o príncipe dos demô- nios (Math. 12, 24) — e vós o prezais como Filho de David?!” — Então alguns mais fracos na fé duvidam e pedem aos fariseus que lhes expliquem isto, e como é possível que o príncipe dos demônios consiga, às vezes, praticar ações divinas.

  3. Esta pergunta as velhas raposas não esperavam e não sabem o que dizer. Quando os indagadores percebem que os templários não têm base para isto, dizem: “Por que não nos respondeis? É muito fácil denunciar um homem, que consegue realizar milagres, como

servo de Satanás; mas coisa diversa é apresentar uma prova convin- cente disto! Por que silenciais, se tendes tanta certeza?”

  1. Dizem eles: “Calamos porque sabemos, como iluminados pelo Espírito de Deus, o que é necessário ao homem saber. Não podemos e não devemos falar, a fim de apresentar-vos um argumen- to sólido. O vosso dever é, unicamente, acreditar em tudo que vos ensinamos, e não investigar. Por isto fomos instruídos por Deus, para analisar a fundo todas as coisas, guardando os segredos para nós, transmitindo ao povo somente aquilo que ele necessita saber. Compreendestes?”

  2. Diz o povo: “Perfeitamente! E este foi o motivo por que ade- rimos aos gregos, que não mantêm estas mistificações! Possuem um Aristóteles, um Pitágoras, um Platão e um Sócrates, cujas obras e doutrinas são verdadeiras e claras. Ocultais tudo nas mais profundas trevas, de modo que não se enxerga um palmo diante do nariz.

  3. Por que lançais suspeitas contra este Salvador que Deus nos mandou? Ele fez a caridade de curar nossos doentes — e vós O cha- mais um servo de Satanás?

  4. Neste caso, que sois vós que nunca praticastes a menor ca- ridade em nosso favor? Quando curastes alguém pelas vossas pre- ces? Jamais!”

  5. Dizem os fariseus: “Então não temos provas?”

  6. Diz o povo: “Sim, tendes provas retumbantes — pelo Tem- plo! Mas onde estão as ações por que alegais ter poder? Desco- nhecemo-las!

  7. Este homem, porém, apareceu sem provas e age de maneira nunca vista! Reconhecemos a razão pela qual quereis denunciá-Lo!

  8. Ei-la: Ele faz milagres que vós deveríeis realizar, de acordo com as vossas afirmações. Mas, nestes trinta anos, nada surgiu de vossa parte.

  9. Quanto dinheiro e oferendas não recebestes para agirdes em nosso benefício! No entanto, onde estão eles? Quando perguntá- vamos sobre a realização de vossas promessas, apontáveis as nossas searas e rebanhos. Entretanto, mencionávamos os dos gregos, idên-

ticos aos nossos, que todo sábado são praguejados sete vezes antes do levante. Aí, dizeis: ‘Esta opulência é obra de Satanás, e o pão deste trigo e a carne deste rebanho proporcionam a morte e não a vida!’ Todavia, não desprezáveis o tributo devido de diversas qualidades de trigo que os gregos eram obrigados a pagar anualmente por esta permissão! Dizei-nos: que fizestes com este produto amaldiçoado?”

  1. Dizem os fariseus, cheios de raiva: “Era vendido aos pagãos romanos e gregos, a fim de que recebessem maior condenação no Dia do Juízo Final!”

  2. Diz o povo: “Muito bem! Consta que o diabo é tolo e suas mentiras podem ser apalpadas; mas vós sois dez vezes mais tolos!

  3. Acaso não éramos nós que transportávamos todo o vosso trigo, em bois e burros, a Jerusalém? Naturalmente conhecíamos seu destino! E sois tão atrevidos que nos dizeis tê-lo vendido aos pagãos, para seu próprio julgamento?! Se vos quiserdes salvar pela mentira, fazei-o mais inteligentemente!”

  4. Dizem os fariseus: “Nada sabeis! Ignorais que a mentira mais absurda se torna uma verdade luminosa na boca de um fariseu? Pois isto consta nas Leis do Templo, para quantos se dediquem ao serviço de Deus!”

  5. O povo se ri e diz, gracejando: “Sim, conhecemos essas Leis; consta que, se um fariseu botar lixo na boca, ele se transfor- ma em ouro!”

185. O Senhor acalma o povo e convida os fariseus a entrar. Seu ótimo discurso. (Matheus 12, 25–33)

  1. Quando os templários notam que são descobertos pelo povo, enchem-se de pensamentos de vingança. Então Eu digo ao povo: “Deixai-os, pois são guias cegos de cegos. Quando chegarem a uma cova, todos cairão. Como dirigentes e senhores que são deste país, poderão vos prejudicar muito, e não podereis reagir; mas agora caí- ram em vossa armadilha, pois disseram que venderam o maldito tri- go aos romanos e gregos, e se quiserdes denunciá-los por isto, serão

liquidados! Mas isto não deve acontecer! Vamos entrar, pois quero ver se Me é possível dar a visão a estes cegos de espírito!”

  1. Dito isto, entro, os fariseus seguem-Me e são cumprimenta- dos pelos Meus discípulos. Segue-nos, também, muita gente, tanto que há grande alvoroço no quarto. Eu e os discípulos, porém, fica- mos à vontade.

  2. Quando tudo serena mais, Eu falo aos fariseus, cujos pensa- mentos nefastos vejo claramente: “Sois os únicos culpados por es- tarem as coisas neste pé. Há trinta anos que estais aqui em Jesaíra e ainda não conheceis a índole deste povo! Agora que desperta, é tarde para obrigá-lo novamente a dormir! Tanto que a vossa irritação é vã, porque fostes os causadores.

  3. Eu vim como judeu verdadeiro e, como tal, na posse comple- ta do Espírito de Deus e de Sua Onipotência!

  4. Quando fostes atraídos pela fogueira no navio, vistes como curei o cego-mudo e obsedado. O povo de pronto reconheceu em Mim o Poder Divino e Me saudou como Filho de David; vós mes- mos também assim fizestes. Mas, como temestes que isto vos pudes- se acarretar algum prejuízo, dissestes, contra vossa íntima convicção, que Eu fazia estas coisas com o poder do príncipe das trevas! A quem prejudicastes com isto? Somente a vós mesmos!

  5. Se, ao menos, tivésseis refletido um pouco e analisado esse fato, logo teríeis reconhecido o absurdo dessa vossa afirmação, pela qual perdestes todo o prestígio com este povo esperto!”

  6. Dizem os fariseus: “O que, então, deveríamos ter feito? Já que és tão sábio, dize-nos!”

  7. Digo Eu com muita seriedade: “Deveríeis ter pensado, jul- gado e falado da seguinte maneira: ‘Todo reino, dividido contra si mesmo, é devastado; e toda cidade ou casa, dividida contra si mes- ma, não subsistirá (Math. 12, 25). E se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo; como, pois, subsistirá seu reino maldoso?’ (Math. 12, 26). Penso que isto é bem claro!

  8. Se Eu, como judeu perfeito, expulso os demônios com Beelzebub — de acordo com a vossa afirmação cega — por quem os

expulsam, então, vossos filhos? Eu vos digo: Não somente o povo, mas também vossos filhos serão vossos juízes! (Math. 12, 27)

  1. Se Eu, portanto, expulso os demônios pelo Espírito de Deus, o Reino do Céu já chegou perto de vós (Math. 12, 28), mo- tivo por que vos deveis regozijar perante os gregos! Pois só assim poderá o judeu verdadeiro provar ao mundo ser ele a única criatura nesta terra em União Visível com Deus, podendo realizar, pela Oni- potência Divina, fatos que serão impossíveis a qualquer outro.

  2. Quando isto fosse reconhecido por outras pessoas, juntar-

-se-iam aos milhares aos judeus poderosos e diriam: ‘Somente o ju- deu é do Senhor. O Poder Divino age milagrosamente por ele; é forte e sábio, e deve ser nosso dirigente para sempre!’

  1. Se o judeu verdadeiro se manifestasse tão poderoso pelo Es- pírito Divino, também o fariam sua família e seu país! Como pode alguém entrar na casa do homem poderoso e valente e roubar seus utensílios? A não ser que — e isto seria impossível — manietasse primeiro o poderoso para, em seguida, saqueá-la (Math. 12, 29), como realmente fizeram os romanos convosco, quando vos encon- traram bêbedos e adormecidos. Prenderam-vos, saquearam vossas casas, fazendo-vos escravos, o que foi bem feito para vós, que vos afastastes do Senhor.

  2. Deus, porém, compadeceu-Se do Seu povo e quis ajudá-lo; por isso, vim Eu a mando Dele. Se isto é evidente, por que dispersais o que Eu reúno?!

  3. Quem não está Comigo, é contra Mim, e quem Comigo não ajunta, dispersa (Math. 12, 30) e é contra o Espírito de Deus, que o quer libertar!

  4. Por isto, acrescento a tudo que já passastes: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados ao homem; mas a proferida contra o Es- pírito de Deus, jamais! (Math. 12, 31). Porque sabíeis perfeitamente que Eu curei o obsedado pela Onipotência Divina; entretanto, blas- femastes pelo lucro material e pela reputação mundana o Espírito de Deus dentro de Mim, que vos queria salvar, tanto que recebestes a paga merecida de parte dos pagãos!”

  1. Dizem os fariseus: “Não blasfemamos contra o Espírito Di- vino, mas contra ti, que não hás de sê-Lo em carne e osso?! Pois és, tanto quanto nós, um filho do homem!”

  2. Digo Eu: “Sim, aparentemente, mas em realidade sou, talvez, algo mais! Sendo, como vós, um filho do homem, isto não perdoa, em absoluto, a vossa blasfêmia! Pois não faço estas coisas

  1. Sim, quem disser algo contra Mim, como mera criatura, será perdoado; mas quem falar contra o Espírito Santo não o será, nem aqui, nem no Além! (Math. 12, 32)

  2. Pois, quando a árvore é de má natureza, também será mau o fruto; mas, se é de natureza boa, o fruto também será bom. Pelo fruto se conhece a árvore. Vós sois a árvore, e os judeus, que se tor- naram pagãos por vossa culpa, os consequentes frutos! Julgai, vós mesmos, se são bons ou maus!” (Math. 12, 33)

186. Teimosia incorrigível dos fariseus. Palavras severas do Senhor. Ensinamentos sobre diversos estados de possessão e a influência dos maus espíritos dos templários. (Matheus 12, 34–45)

  1. Dizem eles: “Esses não são nossos frutos; são os de vagabun- dos como tu, que de quando em quando se apresentam como fei- ticeiros e, às nossas vistas, executam a sua arte miserável; mas, à noite, agem como prosélitos da filosofia pagã e fazem uso de uma verbosidade imponente para denunciar-nos como deturpadores do Templo e das ordens recebidas por Deus! São, pois, esses judeus-

-pagãos os frutos resultantes de tal conversão, como se vê aqui em Jesaíra! Sempre falamos a verdade e ensinamos as Leis de Moysés! Mas se Beelzebub desvia o povo por indivíduos iguais a ti, que culpa temos nós? Nossa doutrina e eloquência são boas, mas a tua e teus atos emanam do príncipe dos demônios e seduzem os de crença fácil! Por isto deveríamos apedrejar e matar a ti e a teus seguidores!”

  1. Estas palavras irritam o povo, que quer atacar os fariseus.

  1. Eu o contenho, dizendo: “Deixai isto! Basta que estes mise- ráveis estejam condenados por toda a Eternidade; por este motivo, poupemo-los! Entretanto, deverão ouvir por Mim um testemunho merecido!”

  2. Diz o povo: “Sim, Senhor, pedimos-Te que lhes digas o que são realmente!”

  3. Eu Me dirijo de novo aos fariseus e digo com severidade: “Raça de víboras! Como podeis falar coisas boas, quando sois maus em vossos corações? Pois, do que está repleto o coração, fala a boca (Math. 12, 34). Um homem bom tira coisas boas deste seu tesouro; e um homem mau tira coisas más de seu tesouro mau! (Math. 12, 35). Eu vos digo, porém, que as criaturas irão dar conta no Dia do Juízo Final de toda palavra má e inútil que proferiram (Math. 12, 36). Será como consta no Livro de Job: ‘Por tuas palavras serás justi- ficado, e por tuas palavras serás condenado.’ (Math. 12, 37). Escla- reci-vos, há pouco, a razão de Minha Presença entre vós, mas a má tendência de vosso coração não aceita isto e muito menos o assimila, para que possais ser livres e felizes!

  4. Pelo bem que vos faço, quereis apedrejar-Me! Ó raça de ví- boras! Como é verdadeiro todo testemunho mau que os profetas de vós predisseram! Honrais a Deus unicamente com cerimônias e com os lábios, mas os vossos corações estão longe Dele!”

  5. Alguns fariseus e escribas há que se sentem tocados por Mi- nhas Palavras; dirigem-se a Mim e dizem: “Mestre, não podemos, de todo, condenar teus ensinamentos, mas fomos impedidos, ontem e hoje, de presenciar teus milagres. Efetua mais um, pois temos von- tade de assistir! (Math. 12, 38). Talvez seja o bastante para o nosso intelecto — e assim poderemos aderir à tua doutrina!”

  6. Eu, porém, falo ao povo: “Esta geração má e adúltera pede um sinal! Entretanto, não se lhe dará senão o sinal do profeta Jonas! (Math. 12, 39). Pois como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também estará o Filho do homem, três dias e três noites, no centro da Terra.” (Math. 12, 40). (O centro da terra representa, primeiramente, o sepulcro; espiritualmente, mostra que

a alma do Filho do homem irá ao limbo, onde estão presas as almas desencarnadas, a fim de libertá-las.)

  1. Os fariseus se entreolham e dizem: “O que é isto? Que irá fazer? Como chegará ao centro da terra? Onde fica ele? Não está em toda parte e em parte alguma? Quem conhece o tamanho da terra e onde se encontra o seu centro? Este homem é doido, ou talvez um espírito mau queira apossar-se dele! Pois se diz que todo homem, antes de enlouquecer, pode fazer milagres. Por que se compara a Jonas, que pregou em Nínive?”

  2. Falo novamente ao povo: “Sim, o povo de Nínive ressurgirá no Dia do Juízo Final com esta geração e a condenará, por se ter arrependido em virtude da pregação de Jonas. E eis que aqui está Quem é mais do que Jonas! (Math. 12, 41). Do mesmo modo, tam- bém a rainha do meio-dia se levantará no Dia do Juízo Final com es- ta geração e a condenará! Porque ela, Semíramis, veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomon. E eis que aqui está Quem é mais do que Salomon!” (Math. 12, 42)

  3. Dizem os fariseus: “Já que acreditas que somos uns demô- nios e que seremos julgados no Dia do Juízo Final, expulsa-os de nós, como fizeste ontem com o cego-mudo, e poderemos louvar-te, tal como fez ele!”

  4. A razão desse pedido, que não é feito com seriedade nem com o fim de afastar os múltiplos espíritos maus que os acompa- nham, é de poderem ter algo contra Mim e armar-Me uma cilada, por saberem que tal não era possível. Pois, quando um espírito mau consegue que tudo no homem lhe seja tributário, ele age de maneira cordata, de tal forma que todos são levados a crer que o homem não seja obsedado, enquanto o é mais do que qualquer outro, acaso martirizado por um elemento mau, por não conseguir tomar conta desta criatura.

  5. Por isto, digo aos fariseus e escribas: “Tal não é possível por várias razões: os maus espíritos em vós há muito se identificaram com as vossas almas e perfazem completamente vossa própria exis- tência má e adúltera. Se Eu os afastasse, tirar-vos-ia a vida; mesmo

se fosse possível manter-vos a vida primária, nada adiantaria, porque vossa natureza é completamente diabólica! Quando o espírito imun- do é expulso do homem pelo Meu Poder, ele caminha por lugares áridos à procura de pouso e não o encontra (Math. 12, 43). Isto é, o demônio tenta as pessoas virtuosas e bate em seus corações, mas não lhe são abertas as portas. Isto representa para ele e suas intenções os lugares áridos e desertos, onde não nasce a erva que procura. Então diz: ‘Voltarei para minha casa. Nas estepes e desertos não posso mo- rar, e nas casas onde já habitam seres iguais a mim, não sou admi- tido.’ Voltando à antiga morada, encontra-a vazia, varrida e ornada (Math. 12, 44). Então afasta-se e convoca mais sete espíritos piores que ele. Com ajuda destes, facilmente penetra na velha casa e ali fica com os outros — e os atos deste homem serão piores que dantes!

  1. Assim acontecerá a esta má geração (Math. 12, 45). Por isto não deve ser mais condenada do que já é.”

  2. Ouvindo isto, os fariseus quase explodem de raiva e teriam Me estraçalhado, se não temessem o povo.

187. O Senhor ensina e adverte Ahab. “É melhor calar que mentir com boas intenções.” A salvação de todas as criaturas vem dos judeus. Comparação entre o Templo de Jerusalém e o de Delfos. Exemplo da dialética de um oráculo. Testemunho do grego com referência ao Senhor.

  1. O jovem Ahab se afasta dos velhos, contente com as verda- des que Eu havia dito. Em particular, ele Me pergunta se também é obsedado.

  2. Eu lhe digo, amavelmente: “Se tu o fosses, não Mo pergun- tarias. Até agora também foste um lugar árido para Satanás; tem cuidado para não te tornares um campo fértil para ele! Tem sempre muita cautela com teus maus colegas!”

  3. Diz Ahab: “Senhor e Mestre! Não me abandones, que o infer- no jamais poderá me influenciar! Não faltarei com minha dedicação!”

  4. Digo Eu: “Vai; serás forte pela fé e pelo teu zelo por Mim! Mas tem cuidado para que te não enganem; seus demônios têm um bom faro e um ouvido aguçado para fins perversos!”

  1. Diz Ahab: “Senhor, Tu me conheces melhor do que eu! Sou muito astucioso e o diabo é, como se diz, cego. Darei uma prova disto. Irei dirigir-Te algumas palavras rudes para que não percebam que estive falando Contigo; mas não me queiras mal por isto!”

  2. Digo Eu: “Faze o que quiseres; antes de mais nada sê bom, sá- bio e verdadeiro; a mentira, mesmo sendo bem intencionada, só auxilia temporariamente, trazendo mais tarde prejuízo para quem a proferiu!”

  3. Diz Ahab: “Muito bem; então, nada direi!”

  4. Digo Eu: “Será melhor! Porque é preferível calar que mentir para um fim conveniente!”

  5. Com este ensinamento Ahab se afasta e se dirige para junto dos colegas, dos quais um percebera sua conversa Comigo. Inicia logo um exame rigoroso, mas Ahab se sai bem e o examinador final- mente se vê obrigado a elogiá-lo.

  6. Eu viro o rosto e começo a palestrar com o povo. Demons- tro que não é justo, perante Deus, abandonar o judaísmo, porque a salvação dos homens só viria dos judeus e eles deveriam voltar a ser o que foram em verdade; do contrário, não seria possível alcançar a Filiação Divina.

  7. Diz um grego: “Então devemos nos ajoelhar diante destes fariseus arrogantes e comer do seu fermento indigesto? Amigo, és um grande Mestre, cheio de Poder e Onipotência de Deus; entre- tanto, exiges de nós algo absurdo. Não necessitamos voltar a Moysés porque nunca o abandonamos, e o Deus dos judeus também é o nosso no coração. O nome externo — seja judeu ou grego — não fará diferença à Sabedoria Divina?! Para nós constitui a muralha de proteção contra as perseguições constantes dos templários! Por que devemos nos chamar, novamente, judeus e gregos?

  8. Vê, esta exigência tua não é sábia! Que importância tem se, além de Moysés, também conhecemos os sábios gregos em sua teo- sofia poética, cuja interpretação é bem diferente da do estrume do Templo? Além do mais, não ligamos muita importância a isto, pois sabemos muito bem como surgiram os deuses pagãos, e que Jehovah é o Único Deus, Que tudo criou e tudo rege!”

  1. Digo Eu: “Amigo, falas mas não Me compreendeste, en- quanto aqueles que Me compreenderam não falam, sendo gregos como tu. O nome não tem valor, mas sim a fé do coração! Todavia, deve-se considerar que é melhor fazer uma peregrinação a Jerusalém e assistir às festas com a necessária devoção, do que fazer uma via- gem a Delfos e pedir um conselho à Pítia insensata!

  2. Os abusos monstruosos do Templo, conheço-os melhor do que vós, e sabeis que os condeno. Mas, mesmo com todo o seu mal, o Templo é, sem dúvida, melhor que o de Delfos, cujos sacer- dotes e sacerdotisas nada mais são que dialéticos apurados, capazes de responder a todas as perguntas de tal maneira que sempre lhes dão razão!

  3. Quando tinhas a intenção de casar, foste primeiro a Delfos saber de Pítia, por muito dinheiro, se irias ser feliz com a moça que tencionavas desposar. Dize-Me, qual foi a resposta?”

  4. Diz o grego: “Ei-la: ‘Com a moça serás feliz, não bem infe- liz!’ E o oráculo teve razão, pois sou deveras feliz com minha esposa!”

  5. Digo Eu: “Sim, mas também a teria, se fosses infeliz com ela!”

  6. Diz o grego: “Não vejo como isto seria possível!” — Digo Eu: “Porque és cego de espírito! A sentença era: Com a moça serás feliz não bem infeliz. Se pusesses uma vírgula após a negação, o orá- culo estaria certo, da mesma forma. Pois aí a frase seria a seguinte: ‘Com a moça serás feliz não, bem infeliz!’

  7. Se não Me queres acreditar, pergunta a teu vizinho, que foi a Delfos um ano depois para um assunto idêntico, se a resposta que obteve não foi igual à tua! Ele, entretanto, é infeliz, porque sua mulher é uma cortesã; mas o oráculo tem razão, tanto com ele como contigo. E dás-lhe tanto valor! Julga por ti o que será melhor: O Templo de Jerusalém ou o oráculo de Delfos?!”

  8. O grego arregala os olhos e diz: “Mestre, agora compre- endo tudo! Isto só Deus pode saber; um homem, jamais! Ou és Deus Mesmo ou, no mínimo, um Seu Filho, e nunca o de um ho- mem qualquer. Por isto, dirigir-nos-emos novamente ao Templo! Os fariseus têm que se afastar, pois nos enganaram de todo jeito e

nos privaram de todos os bens, espiritual e materialmente! Portanto, continuaremos gregos pelo nome; pela verdade no coração, adeptos de Moysés e dos profetas! Também tomaremos parte nas festas em Jerusalém; e se o Templo for fechado, ainda nos restam os átrios dos estrangeiros.”

  1. Digo Eu: “Fazei o que quiserdes; apenas preservai vossos corações da hipocrisia, raiva, perseguição e vingança! Sede castos e puros! Amai a Deus sobre todas as coisas e ao vosso próximo como a vós mesmos; abençoai os que vos amaldiçoam, não façais mal aos que vos odeiam e perseguem, e sereis agradáveis a Deus, tereis paz e juntareis brasas nas cabeças dos vossos inimigos!”

188. Chegada de Maria com os filhos de José. “Quem é Minha Mãe, quem são Meus irmãos?” O convite de Baram para a refeição. Despedida do povo. Os fariseus amaldiçoam Baram e recebem a paga merecida. (Matheus 12, 46–50)

  1. Enquanto palestro com o povo, eis que chega Maria com Meus irmãos, pois soube em casa de Kisjonah que Eu Me encontra- va em Jesaíra. É uma caminhada que dura metade dum dia, tanto que chegam na hora do almoço.

  2. O assunto que a trouxe é em parte caseiro, em parte espiri- tual, porque muita coisa lhe tinha chegado aos ouvidos em Caper- naum a Meu respeito (Math. 12, 46). Mas a multidão em frente à casa é tão grande, que ela fica lá fora à Minha espera.

  3. Como o tempo passe, pede a uma pessoa da casa de Baram que Me avise que ela se encontra, há muito tempo, lá fora e que tem necessidade de falar Comigo. O mensageiro passa por entre a mul- tidão, aproxima-se de Mim e diz: “Mestre, Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e desejam falar Contigo!” (Math. 12, 47)

  4. Então falo num tom muito sério ao mensageiro: “Que dizes? Quem é Minha Mãe e quem são Meus irmãos?!” (Math. 12, 48) — E ele recua assustado.

  5. Eu, porém, levanto Minha Mão sobre Meus discípulos e di- go: “Vê, eis aqui Minha Mãe e Meus irmãos! (Math. 12, 49). Porque

quem fizer a Vontade de Meu Pai que está nos Céus é, verdadeira- mente, Meu irmão, Minha irmã, Minha mãe! (Math. 12, 50). Vai e dize-lhes que Eu irei!”

  1. Muitos acham estas Minhas Palavras severas e perguntam-me se não conheço as Leis de Moysés com relação aos pais.

  2. Eu os repreendo com as seguintes palavras: “Eu sei quem sou, Meus discípulos e Minha Mãe da terra também o sabem, por- tanto posso falar dentro da verdade. Varrei as soleiras de vossasportas — Comigo não tendes necessidade de vos incomodar, pois sei muito bem o que tenho de fazer!” Todos se calam e não ousam responder.

  3. Depois de algum tempo de silêncio, aproxima-se Baram, di- zendo: “Senhor e Mestre! É meio-dia e o almoço está pronto. Quei- ras proporcionar-me, a mim que sou pobre pecador, a honra e a graça de tomar a refeição bem preparada!”

  4. Digo Eu: “Tinha outro alimento em vista para hoje, que to- maria à beira do mar; mas, como Me convidas tão delicadamente, aceito de bom grado. Digo-te, porém, que nenhum fariseu deve pe- netrar na sala, com exceção de Ahab, que adoto como discípulo! Não se poderá manter por mais tempo com os seus colegas, os quais suspeitam dele por terem-no visto conversar Comigo. Também in- forma ao povo que não falarei, tampouco farei milagres nesta casa, e que nos dê livre passagem!”

  5. Baram se dirige ao povo e diz: “Queridos vizinhos! O Divi- no Mestre não fará curas nem falará mais nesta casa; por isto, afas- tai-vos todos com exceção de Ahab, porque o Mestre quer falar com ele!” A multidão se retira, menos os fariseus.

  6. Quando veem que os outros se afastam, perguntam-Me atrevidamente quais Minhas intenções para com Ahab, e se tenciono prepará-lo para o inferno?! Baram, ouvindo isto, enche-se de irrita- ção justa e diz-lhes: “Paguei todos os anos os meus impostos até o último ceitil e sou, por conseguinte, o legítimo dono desta casa por mim construída; não admito que uma pessoa que venero e hospedo seja importunada por estranhos como vós! Exijo, portanto, que vos

retireis já, dirigindo-vos para além da demarcação do meu terreno, senão farei uso dos meus direitos bem pagos!”

  1. Dizem os fariseus: “Então também já te tornaste grego, e pretendes possuir um direito doméstico?! Ignoras talvez que o judeu não o possui com relação ao fariseu? Ele é dono da casa onde pene- tra, devolvendo este privilégio ao outro quando sai. Como judeu, deves saber que és apenas um arrendatário e não dono de casa e terreno; podemos tirá-los de ti e alugá-los a outrem pelo espaço de cinquenta anos!”

  2. Diz Baram: “Sempre soube disto como judeu, e para meu grande aborrecimento; por isso, também sou grego e romano, res- pectivamente, e comprei o direito de posse no tribunal imperial, que vos demonstrarei, caso não aceitardes meu convite!”

  3. Dizem os fariseus: “Mostra-nos este documento!” Baram apresenta o pergaminho selado pelo Imperador, dizendo: “Conhe- ceis isto?” Exclamam eles: “Então, também te tornaste um traidor de Deus, do Templo e nosso?! Isto certamente devemos agradecer a este filho de David! Sê amaldiçoado junto com os teus!”

  4. Mal proferem estas palavras, Baram pega de um porrete e começa a lhes aplicar uma boa surra, dizendo: “Esperai, servos de Satanás, levareis o prêmio merecido pela maldição!” — Grita um fariseu a quem o porrete ainda não tinha alcançado: “Está escrito: Ai daquele que levanta a mão contra um ungido!” — Diz Baram: “Por isto mesmo uso do porrete!” E faz com que este também o prove. Aí todos fogem, com exceção de Ahab, e lá fora o povo lhes aplica outra surra.

189. Baram pede desculpas pelo procedimento. Ahab adverte-o da vingança dos templários. O Senhor consola ambos. Baram, aprendiz de José. Satisfação de Maria quando torna a ver o Senhor. Ahab esclarece u’a manobra satânica do Templo contra Jesus, em consequência da ressurreição da filha de Jairo.

  1. Após se ter certificado da partida dos templários, Baram vol- ta um pouco extenuado e diz “Senhor, perdoa-me! Não fiz aquilo por prazer! Mas não houve outro jeito com esta geração adúltera e má! É difícil imaginar Satanás pior do que eles, que julgam a terra sua posse! Isto, apenas, não me teria alterado tanto; mas quando começaram a atacar-Te, não me pude mais conter e fiz uso dos meus direitos de proprietário! Não Te incomodes com isto, que saberei defender-Te, caso venham a fazer queixa!”

  2. Diz Ahab: “Amigo, em todo caso convém que te previnas, porque eles irão, mais que depressa, relatar tudo em Jerusalém. Pri- meiro, esta ação prejudicial para eles por parte deste Mestre Divino; segundo, terem os habitantes de Jesaíra abandonado o judaísmo; terceiro, minha atitude; e, finalmente, comunicarão a Herodes ter ele perdido seus súditos, pois se tornaram cidadãos romanos! Isto despertará os maus espíritos no sinédrio! Assim, previne-te com a proteção do Império, senão terás dificuldades!”

  3. Digo Eu: “Ahab, deixa estar, garanto que nada há de suceder à casa de Baram; realmente, estas criaturas desumanas farão o que disseste, mas nem tu nem Baram deveis temer algo. Agora, vamos à mesa, onde quero ouvir Maria e os filhos de José!”

  4. Diz Baram, admirado por ouvir este nome: “O quê? Meu mestre em Nazareth, a quem tanto devo? Naquela época ainda era moço, quando fui seu aprendiz, entretanto já era um mestre em sua arte. Jamais esquecerei a maneira pela qual demonstrou as vantagens de seu ofício com tanta paciência e amabilidade, e em breve pro- porcionou-me os melhores trabalhos, auxiliando-me gratuitamente com bons conselhos!”

  5. Digo Eu: “Bem, Maria é sua segunda esposa, que lhe foi da- da pelo Templo; os dois homens que a acompanham são filhos da

primeira e continuam em seu ofício. Eu sou o Filho de Maria e Meu Nome é JESUS!”

  1. Diz Baram: “Como sou feliz que tal graça e honra suceda em minha casa! Vamos à mesa, a fim de evitar que a querida Maria com os filhos de José venham a esperar mais!”

  2. Assim, penetramos na sala de refeição, e quando Maria Me vê, começa a chorar de alegria, pois há dois meses que não nos ve- mos, bem como os dois irmãos, que muito Me estimam. Depois dos cumprimentos e abraços, vamos à mesa, fazemos nossa prece de agradecimento e, em seguida, almoçamos em companhia de Kisjo- nah, que não Me abandonara com sua mulher e filhas.

  3. Depois da refeição ficamos palestrando, enquanto tomamos um pouco de vinho diluído em água, por causa do grande calor. Então Ahab Me pede licença para falar. Tinha que contar-Me uma descoberta importante relativa à Minha segurança pessoal, pois pela conversa a que assistira chegou à conclusão de que Eu era Jesus de Nazareth, tão conhecido pelo povo e malquisto entre os fariseus. — Digo-lhe Eu: “Fala o que sabes!”

  4. Diz ele: “Senhor e Mestre! Todo mundo sabe que ressusci- taste a filha de Jairo, bem como a filha do Comandante de Roma. Quem poderia duvidar que até um tirano cruel deveria ser grato por este milagre, dando ao benfeitor um lugar à direita de seu trono, como fez o Faraó a José após a profecia deste?!

  5. No entanto, que fazem estas víboras, estes servos de Sata- nás? Enviam um relatório, o qual fui obrigado a assinar, embora até hoje nada tivesse ouvido ou visto da doutrina e das ações de Jesus. Em consequência deste relatório infame, foram convocados espiões e assassinos em todo o país, por parte do Templo bem como de He- rodes e do Governador romano, a fim de matar-Te!

  6. És caluniado neste memorial como revolucionário, subor- nador e amotinador. Consta nele que a filha de Jairo não estava morta quando Te chamaram para curá-la e que o fingiu, a fim de experimentar-Te! Quando lhe disseste: ‘Thalita kumi’, o comandan- te logo reconheceu que eras um impostor e não tinhas noção da

verdadeira cura; pois, se Te fosse possível julgar uma criatura e sua moléstia, como médico, deverias constatar de pronto que a menina não estava morta!

  1. O comandante romano, de nome Cornélius, cujo servo ou filha também ressuscitaste, não concorda com isto; mas que pode ele, sozinho, contra a quantidade de falsas testemunhas?!

  2. Querido, prezado Amigo, Mestre e Senhor! Poderia reve- lar-Te muita coisa mais; vejo, porém, que a minha história verídica Te entristeceu! Basta que Te diga o principal. O melhor disto tudo é que Satanás é tolo e pode ser vencido com facilidade pelo sábio verdadeiro; algo que, portanto, não Te custará!

  3. Sou de índole simples; todavia, engano estes perversos com a maior facilidade e penso não seja pecado enganar Satanás sempre que possível. Assim, é ele obrigado a retirar-se temporariamente do campo de luta, dando oportunidade ao homem inteligente de entre- ter sua alma com coisas mais elevadas.”

190. Maria conta como foi enxotada com os filhos de José de sua casa e propriedade. Proposta consoladora de Baram e Kisjonah à Maria. O Senhor toma o barco e dali dá o ensinamento do Reino do Céu. (Matheus 13, 1–2)

  1. Diz Maria: “Meu Senhor e Filho! Tudo que este jovem acaba de contar é a plena verdade, por isto vim aqui para Te anunciar que fui expulsa de meu lar por Tua causa. Que farei com Teus irmãos, embora saiba que não tens parentes nesta terra, além dos Teus discípulos?

  2. Nossa pequena posse nos foi tirada pelos fariseus, que vende- ram a choupana com o quintal bem cultivado a um estranho! Vê, eu e Teus irmãos não somos tão moços para nos dedicarmos a serviços pesados, e mesmo se o quiséssemos, não seria possível, porque estes chefes maus do Templo proibiram a todos os judeus, sob pena de severa punição, dar-nos qualquer trabalho ou esmola! Que faremos e de que viveremos?!”

  3. Dizem Baram e Kisjonah, juntos: “Mui estimada Mãe, a quem Deus dignou a tão imensa Graça de fazer nascer o Filho Al- tíssimo de todos os Céus, não te preocupes com isto! Não somos

mais judeus com relação ao Estado; porém, nos corações, judeus perfeitos, enquanto externamente gregos. Pela Graça de Deus, am- bos somos ricos; por isto, vem morar conosco com todos os teus, que nada te faltará!”

  1. Digo Eu: “Amigos, vosso convite é um bálsamo para o Meu Coração! Minha Bênção e Graça acompanhar-vos-ão eternamente! Mas, antes disto, irei para casa verificar com que direito estes malva- dos roubaram a Maria, esposa legítima de José, a pequena posse que foi adquirida com tanto sacrifício.

  2. Em seguida trocarei algumas palavras com Jairo, pois sua fi- lha deverá adoecer novamente e ele virá procurar-Me. Agora parti- remos, porque esta camarilha infernal nos ameaça de todos os lados, tanto que tomaremos um barco, pois o mar não nos prepara cilada!

  3. Dali revelarei muita coisa ao povo a respeito do Reino do Céu através de parábolas, a fim de que ninguém venha desculpar-se dizendo: ‘Como poderia acreditar e seguir isto se nunca me foi dito?’

  1. Amigo Kisjonah, vai preparar teu grande barco, pois necessi- taremos dele!” Ele se levanta com os seus para cumprir meu desejo.

  2. Baram pede permissão para Me acompanhar, uma vez que não posso permanecer mais em sua casa.

  3. E Eu digo: “Para onde e pelo tempo que quiseres! Por Mim jamais foi rejeitado um pedido justo e honesto!” Baram ordena sua casa, determinando à sua mulher e filhos o que fazer em vista dos perseguidores. Em seguida vai buscar algum ouro e nos encaminha- mos para o mar, e uma grande multidão nos segue (Math. 13, 1).

  4. Os velhos fariseus não faltam, apenas se disfarçam para que os outros não os reconheçam. Chegando à beira-mar, o povo se aglo- mera, exclamando constantemente: “Salve, ó Filho de David”, de modo a não termos espaço nem para ficar em pé.

  5. Por isto digo a Kisjonah: “Faze descer a escada para subir- mos no barco, que a praia não nos comporta mais!” Kisjonah fez descer rapidamente a escada e nós subimos (Math. 13, 2). Quando o

povo vê isto, julga que Eu vá partir e começa a implorar em voz alta que Eu transmita a doutrina prometida do Reino do Céu!

191. As parábolas do Reino do Céu, do semeador e da semente. Objeção dos discípulos. Explicação da parábola. A quem tem, a este será dado; mas àquele que não tem, até o que tem será tirado. (Matheus 13, 3–23)

  1. Encontrando-Me ali, mando que o povo se mantenha calmo e se acampe na praia. Só os fariseus ficam em pé, perto de seu barco, pois planejaram não Me perder de vista e, se necessário, perseguir-

-Me no mar.

  1. Eu, entretanto, sento-Me no tombadilho espaçoso e princi- pio a falar em parábolas, para que os fariseus não O entendam. O povo, porém, mais esperto, compreende bem o que digo.

  2. Primeiro, comparei-Me a um semeador e falo: “Ouvi-Me bem!

  3. Houve um semeador que saiu para semear um bom trigo (Math. 13, 3). Enquanto semeava, uma parte caiu ao pé do caminho e as aves vieram e a comeram (Math. 13, 4). Outra parte caiu em pedregais e logo germinou, porque não tinha bastante terra pesada sobre si (Math. 13, 5). Mas, quando veio o sol com seus raios quen- tes, secou a semente que germinara na noite estival e úmida, pois ainda não tinha raízes (Math. 13, 6). Outra caiu entre espinhos, que cresceram mais fortes que o trigo e o sufocaram (Math. 13, 7). E outra caiu em boa terra e deu frutos, alguns deram cem, outros ses- senta e outros trinta (Math. 13, 8). Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!” (Math. 13, 9)

  4. Quero continuar Minha parábola, mas os discípulos não compreendem estes quadros e Me dizem: “Por que lhes falas por esta forma? Nós, que há tanto tempo Te acompanhamos, quase que não a entendemos; como os outros a entenderão? Não vês como al- guns dão de ombros e outros até julgam que estejas gracejando? Pois quem ignora que não se deve semear pelos caminhos, em pedregais, ou entre espinhos?! Nós compreendemos o sentido de Tuas Palavras, mas os que estão na praia pensam que estejas brincando! Acaso tens mesmo a intenção de doutrinar de maneira incompreensível?”

  1. Digo Eu aos discípulos: “Que dizeis? Por que Me interrom- peis? Eu sei por que falo a este povo em parábolas, que não com- preende! A vós é dado compreender os mistérios do Reino de Deus, mas a eles não (Math. 13, 11). Porque àquele que tem, como vós, se dará, para que tenha em abundância; mas àqueles que não têm, até aquilo que têm lhes será tirado! (Math. 13, 12). Por isso lhes falo em parábolas; porque, embora estejam vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem nem compreendem! (Math. 13, 13)

  2. Que fiz Eu aqui e pelo que Me tomam eles? São cegos e surdos. Vistes ontem, no cego e mudo, a parábola que se lhes aplica. O que ele era fisicamente, eles o são psiquicamente, por isto falo em parábolas, a fim de que se realize nos mesmos o que consta na profecia de Isaías: ‘Ou- vireis e não compreendereis, vereis e não percebereis!’ (Math. 13, 14)

  3. O coração deste povo está endurecido, seus ouvidos ouvem mal e seus olhos dormem, para que não vejam com os olhos, não ouçam com os ouvidos, nem compreendam com o coração; em consequência disto não se convertem, para que Eu os cure! (Math. 13, 15)

  4. Mas bem-aventurados os vossos olhos porque veem, e os vos- sos ouvidos porque ouvem! (Math. 13, 16). Em verdade vos digo, muitos profetas justos desejaram ver o que vedes e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não ouviram! (Math. 13, 17)

  5. Disse-vos há pouco que a vós é dado compreender o misté- rio do Reino de Deus; mas vejo que, no fundo, a vossa compreensão não se adianta em muito à dos que estão na praia. Escutai, pois, a parábola do semeador (Math. 13, 18):

  6. Quando alguém ouve a Palavra do Reino de Deus, mas não a compreende em seu coração, que pelas tendências mundanas é tão bem pisado qual caminho, vem o maligno e percebe a Palavra, que não caiu na terra, mas sim na base externa repisada e lisa do coração, arrebatando-a com facilidade. Vede, este homem se compara ao ca- minho em que caiu a semente, isto é: a Minha Palavra! (Math. 13, 19). E lá na praia se encontram muitos deste gênero!

  7. O sentido da semente que caiu nos pedregais é o seguinte: Uma pessoa ouve o Verbo e aceita-O com muita alegria (Math. 13,

20). Mas, igual à pedra, que contém pouca umidade vital e também pouca terra — a primeira representando a coragem do coração, e a segunda, uma vontade firme — ela, a pedra, por toda esta carência, depende das variações atmosféricas; assim também o homem vaci- lante em seu objetivo de seguir Minha Doutrina enche-se de raiva quando, em consequência da aplicação da Minha Palavra, encontra angústia e perseguição (Math. 13, 21), tornando-se semelhante a uma pedra muito aquecida pelo sol, na qual não é possível que a semente possa deitar raízes, pois que ressecará de todo.

  1. E vede, lá na praia se encontram muitas destas pedras que, por Minha causa, estão cheias de raiva, motivada pelos fariseus; mas como veem que as Palavras do Alto trazem angústias e perseguição, elas, pelo aborrecimento e o medo, conseguem exterminar Meu Ver- bo em seus corações. Embora tivessem tido tantas provas e Eu lhes assegurasse vivamente a Minha Proteção, não têm fé e por isto se igualam à pedra sobre a qual caiu a semente.

  2. Eis a significação da semente que cai entre espinhos: Al- guém ouve o Verbo e também O aceita; entretanto, os negócios do mundo e suas preocupações pelo lucro efêmero se acumulam mais e mais, invadindo como erva daninha o coração e, em breve, sufocan- do a semente, que é a Minha Palavra (Math. 13, 22).

  3. E vede, lá estão muitos que se assemelham aos espinhos nos quais caiu esta semente!

  4. Mas a que é lançada em boa terra significa que um homem ouve a Minha Palavra, aceita-A na profundeza de seu coração, on- de unicamente é assimilada e compreendida; portanto, é qual bom solo onde germina e frutifica, de acordo com a vontade e a força da criatura, produzindo ora cem, ora sessenta e ora trinta vezes em boas obras (Math. 13, 23). Cem vezes — quem faz tudopor Mim; sessenta vezes — quem faz muito por Mim, e trinta vezes — quem faz uma boapartepor Mim.

  5. Assim também existem três Céus no Meu Reino: o mais elevado é do fruto que deu cem; o mediano, do que deu sessenta, e o que está embaixo, do que deu trinta. O fruto abaixo de trinta

não é considerado, e a quem tiver menos de trinta lhe será tirado e acrescido a quem tem trinta, sessenta ou cem. Tanto que é tirado daquele que não tem e dado àquele que já tem, a fim de que tenha a completa abundância!

  1. Vede, lá na praia estão muitos dos quais foi tirado e dado a vós, que já tendes muito, enquanto eles têm pouco ou mesmo nada!

  2. Se alguém possui dois campos, um que lhe dá muitos fru- tos, por ter bom solo, e outro que quase nada lhe dá, embora seja bem estrumado, pergunto: que fará o proprietário? Tirará do campo estéril o fruto esparso para juntá-lo ao fruto bom e abundante do solo fértil, e no próximo ano não mais semeará no solo estéril! Aque- le produzirá todo o fruto, enquanto o último será exposto à erva daninha, aos espinhos e abrolhos.

  3. Vede, assim age um proprietário inteligente; deveria o Pai no Céu agir menos sabiamente que um homem desta terra?

  4. Por isto, afastai de vossos corações a ideia de que Deus possa ser injusto!

  5. Se sabeis que só se pede conselho a um sábio, afastando-se do palrador, pergunto: age-se mal em retirar a fé dum tagarela, dan- do-a ao sábio que já possui a confiança plena de todas as pessoas?

  6. Ou por outra, agis vós injustamente, na qualidade de Meus discípulos, seguindo-Me e abandonando o Templo, os fariseus e escribas, tirando-lhes a última centelha de confiança e dando-Ma, pois que já possuo a confiança de muitos, em vista de Meus Atos e Palavras? Penso que compreendeis claramente não existir injustiça quando vos falei, em números, que àquele que não tem, será tirado o que tem.

  7. Falo para o espírito e não para a matéria, pois seria injusto tirar de alguém a pequena posse e dá-la a um rico, cujos celeiros já estão repletos. Por isto, tudo o que Eu digo se refere ao espírito e não à matéria, à qual não se pode nem deve dar outra lei a não ser o imperativo severo até a época de sua posterior dissolução. Compre- endeis isto?”

  1. Dizem todos: “Sim, Senhor e Mestre, pois Tua Sabedoria ultrapassa todos os nossos pretensos pensamentos, mais elevados possíveis!”

192. A parábola do joio entre o trigo, do grão de mostarda e do fermento. A incompreensão dos discípulos. Ahab dá um bom testemunho de Isaías. O povo ignorante é afastado. Os fariseus enfrentam uma tempestade no mar. (Matheus 13, 24–35)

  1. Eu, então, falo em voz alta, para que os da praia também Me escutem: “Pois bem, quem tem ouvidos, que ouça e quem tem olhos

  1. O Reino do Céu assemelha-se a um homem que lançou uma boa semente no seu campo (Math. 13, 24). Mas, como seus servos estivessem dormindo, veio o inimigo do homem e semeou o joio entre o trigo, que germinou com ele (Math. 13, 25). E quando o trigo cresceu e frutificou, apareceu também o joio (Math. 13, 26).

  2. Percebendo isto, os servos foram ter com o pai de família e disseram: ‘Senhor, não lançaste boa semente em teu campo? Por que, então, tem ele joio?’ (Math. 13, 27)

  3. E ele disse: ‘Isto foi o inimigo que fez!’ — Os servos falaram: ‘Senhor, queres, pois, que o mondemos?’ (Math. 13, 28). O senhor falou: ‘Não, para que ao mondardes o joio não aconteça que piseis e arranqueis também o bom trigo! (Math. 13, 29). Deixai que ambos cresçam até à ceifa, quando então direi aos ceifeiros: Mondai pri- meiro o joio e atai-o em molhos para queimá-lo; mas o trigo puro ajuntai-o em Meus Celeiros!’ (Math. 13, 30). Vede, esta é uma boa parábola do Reino do Céu! Mas dar-vos-ei outras, por isto ouvi-Me.

  4. O Reino do Céu é semelhante ao grão de mostarda, que o homem semeou no seu campo (Math. 13, 31). Este grão, conhecido como a menor de todas as sementes, mas, crescendo, é igual a uma árvore, de sorte que vêm as aves do Céu e se aninham em seus ra- mos.” (Math. 13, 32)

  1. Nisto, os discípulos se entreolham e dizem: “Que é isto? Quem o poderá compreender? Agora, o Reino do Céu é comparado a uma mostardeira!”

  2. Digo Eu: “Não vos admireis com isto e ouvi-Me! Dar-vos-ei um outro quadro do Reino do Céu:

  3. Ele se parece ao fermento que u’a mulher mistura com três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.” (Math. 13, 33)

  4. De novo os discípulos, inclusive os doze apóstolos, fitam-se e dizem de si para si: “Quem poderá compreender e assimilar isto? Será que Ele quer zombar do povo por causa dos fariseus? É incom- preensível por que fala em quadros tão confusos!”

  5. Ahab, bem entendido nas Escrituras, diz: “Sendo Ele Quem eu acredito convictamente ser e falando somente em parábolas (Ma- th. 13, 34), pode-se atribuir-Lhe o que Isaías predisse do Messias: ‘Abrirei Minha Boca em parábolas e pronunciarei o que foi segredo desde a formação do mundo!’ (Math. 13, 35)

  6. Assim falou o grande profeta e, do mesmo modo, cantou David em seu salmo 78, 2; isto tudo se aplica a Ele, e vós ainda perguntais: ‘Como? O quê?’, encontrando-vos há tanto tempo a Seu lado? Se for preciso, Ele desvendará estas parábolas; caso contrário

  1. Os discípulos se dão por satisfeitos com a explicação de Ahab; o povo, porém, indaga se Eu continuarei a falar tais disparates ou se podem voltar para seus afazeres, pois esperavam um bom en- sinamento que não veio!

  2. Digo Eu: “Ide para casa; não abri Minha Boca por vossa causa, sabendo que sois de corações incompreensíveis! Por este mo- tivo vossos filhos serão um dia vossos mestres e juízes!” Com isto a multidão se afasta e todos procuram seus lares.

  3. Quando os fariseus percebem que Kisjonah prepara sua embarcação, zarpam incontinenti no seu navio. Eu, porém, quero que sejam perseguidos por um vento forte, que impele o seu barco, cobrindo-o de quando em quando com ondas fortes.

193. O Senhor, em companhia dos Seus, apazigua a tempestade. A dúvida dos discípulos é afastada por Ahab. Objeção de Judas e o testemunho humilde de Ahab. O Senhor fala de Ahab.

  1. Partimos em outra direção e acontece fato semelhante ao ocorrido anteriormente: somos atacados por um temporal e os Meus discípulos se apavoram, gritando pelo Meu Socorro, senão todos haveriam de perecer!

  2. E Eu mando que serenem os ventos e o mar, como daquela vez, e no mesmo momento os elementos se acalmam como por en- canto, e o povo no barco fala: “Quem é ele, a quem os ventos e o mar obedecem?!”

  3. Ahab, que não tinha tomado parte nesta indagação, diz aos outros: “Amigos, que pergunta imprópria! Já estais há tanto tempo ao lado Dele, e ainda vos admirais como se este fosse o primeiro milagre a que assistis! Eu ainda não passei um dia em vossa companhia, no entanto tudo me é tão compreensível como se fosse fato comum! Ele, sendo o Messias Anunciado, que de acordo com David é Jehovah em Pessoa agindo através desta carne e deste sangue, tem facilidade em sustar um temporal, já que a Criação do Mundo não Lhe constitui dificuldade! Portanto, como podeis ainda vos admirar e perguntar?!”

  4. Diz Judas, aborrecido com esta observação: “Ahab, então na- da daquilo que o Senhor faz diante dos nossos olhos nos deve causar admiração, só porque já vimos e assistimos a muitas coisas?”

  5. Diz Ahab: “Irmão, não é bem isto! Bem que nos devemos admirar na humildade do nosso coração por agir Ele assim diante de nós, que somos criaturas sem mérito e que, entretanto, acha me- recedoras do Seu Amor, Sabedoria e Onipotência! Eu, ao menos, considero-me sem mérito de alguma coisa! Mas, se somos cientes de quem Ele é, que fez Céu e terra, e nos admiramos de Seus Feitos como se fosse uma criatura humana, penso que tal admiração não seja bem aplicada!

  6. Não seria ridículo se caíssemos em admiração sobre o sol, a lua, as estrelas, a terra e suas múltiplas criaturas que, iguais ao serenar

da tempestade, são Obras Suas? Se quisermos admirar algo, devemos fazê-lo unicamente pelo fato de Jehovah, o Onipotente, o Inefável, poder rebaixar-Se tão infinitamente vindo a nós, criaturas mortais e fracas, o que seria incrível se não tivesse sido predito desde Adam, Henoch e todos os profetas, até o pobre Zacharias e seu filho João.

  1. Este é para mim o maior milagre! O que se dá agora é nada mais que a consequência natural da primeira e milagrosa aparição nesta terra, isto é, a aparição predita de Jehovah em carne e osso!”

  2. Dizem os doze apóstolos: “Senhor, donde lhe vem esta com- preensão e sabedoria?”

  3. Digo Eu: “Esta intuição ele a recebeu pelo espírito, que é muito lúcido, tanto que pouco lhe falta para o renascimento! Não é honroso para vós que ele seja vosso instrutor, mas seu coração é humilde e o conhecimento das Escrituras lhe é de grande vantagem; todavia, quero-vos tanto quanto a ele!”

194. O íntimo da criatura é sua pátria espiritual. A viagem para Kis. O Pai, o Filho e Espírito Santo. O Senhor abençoa Kisjonah.

  1. Perguntam-Me os discípulos: “Senhor, para onde nos diri- giremos agora?” — Digo Eu: “Diretamente para nossa pátria!” — Dizem eles: “Senhor, lá passaremos mal, pois os fariseus saquearam tudo que possuía Tua Mãe!”

  2. Digo Eu: “Já deveríeis ter mais prática na linguagem do espí- rito! Por acaso Eu disse que desejo ir para Nazareth? Se falo de nossa volta à pátria, entendo-a pelo íntimo da criatura, que é o único re- ceptáculo espiritual de vida, onipotência e sabedoria. Para lá iremos! Necessitamos da calma interna do espírito, que é a verdadeira pátria; nela encontraremos — por vossa e não por Minha causa — o que é indispensável ao nosso corpo físico! Compreendeis isto?”

  3. Dizem os discípulos: “Sim, Senhor, agora compreendemos!”

  4. Digo Eu: “Materialmente, iremos para a casa de Kisjonah, lá estaremos seguros. Sua casa é livre e ele paga um grande tributo ao Imperador, o que afasta os templários. Após alguns dias, então,

iremos para nossa pátria terrestre — e tentaremos endireitar o que está errado.”

  1. Diz Kisjonah: “Senhor, não queiras ficar apenas alguns dias, mas, no mínimo, algumas semanas em minha casa, que realmente é Tua; pois em Nazareth não encontrarás acolhimento, principalmente entre os templários, que procuram mais e mais Teu aniquilamento!”

  2. Digo Eu: “Amigo, abstém-te desta preocupação; eles só po- derão Me prejudicar na medida que o Pai, que está em Mim como Eu Nele, o permitir. Já sei de toda a Eternidade o que será permitido pela salvação do mundo e pelo cumprimento da Escritura! Se não o soubesse, os profetas nada poderiam ter profetizado, pois o Mes- mo Espírito que habita em toda a plenitude dentro de Mim e que agora fala contigo, também a eles falou, conforme consta nas Escri- turas! Por isto não te preocupes, que o Espírito Onipotente saberá Se defender!”

  3. Kisjonah compreende e se cala, depois bate três vezes no pei- to e diz: “Não mereço que entres em minha casa, mas Te peço que sejas misericordioso e fiques alguns dias comigo, para meu consolo!”

  4. Digo Eu, pondo Minha Destra sobre o coração de Kisjonah: “Acalma-te! Enquanto estiver nesta terra, tua casa será um retiro pa- ra Mim. De vez em quando serei obrigado a abandoná-la por causa de Minha Missão; mas, espiritualmente, jamais a deixarei!”

195. Surpresa agradável por ocasião da chegada na cidade de Kisjonah. Alegria entre Jairuth e Jonael. O anjo efetua um serviço maravilhoso por Ordem do Senhor.

  1. Durante esta palestra alcançamos o lugar de desembarque de Kisjonah, donde se pode, atravessando seus grandes e lindos jar- dins, chegar às construções e propriedades suas, onde tudo já está preparado para nos receber; pois Kisjonah, informado em casa de Baram de que Eu iria voltar para perto dele, mandara alguns men- sageiros para lá.

  2. Mas, quem ali encontramos? Jairuth, o rico comerciante de Sichar, senhor do velho castelo de Esaú, e Jonael, o conhecido Sumo

Pontífice desta mesma cidade; ambos tinham sido conduzidos por um dos anjos que foram destinados como protetores de Jairuth. Têm assuntos importantes para Me falar e, deste modo, isto se torna uma surpresa agradabilíssima.

  1. Quando os dois Me veem, são tomados duma alegria tão grande, que não podem dizer palavra. Cruzando as mãos trêmulas de alegria e comoção sobre o peito, cumprimentam-Me com todo o seu afeto!

  2. Eu, porém, lhes digo: “Meus queridos amigos e irmãos! Pou- pai vossa língua! Pois a linguagem de vossos corações tem mais valor para Mim do que mil palavras, as mais retumbantes, das quais mui- tas vezes o coração nada sabe!

  3. Antes de tudo, descansai de vossa viagem longa; depois vos informarei do que deveis fazer contra o Pontífice que foi eleito pe- los arquissamaritanos. Mas, como já disse, necessitais primeiro de um repouso!

  4. Tu, Meu querido Kisjonah, traze-lhes algo para beber e ser- ve-te do ajudante destes dois amigos, pois não está cansado e poderá ajudar-te rapidamente, sendo tão bem informado nos teus assuntos caseiros como se fosse teu empregado há muitos anos. Deixa tam- bém descansar os outros, que ele os substituirá.”

  5. Kisjonah diz: “Senhor, estou plenamente convicto de que tudo Te é possível; mas não compreendo como este rapaz franzino irá executar todos os serviços e servir a nós todos, que somos em número de várias dezenas!”

  6. Digo Eu: “Amigo, tens falta de produtos de leite, mas tuas estalagens estão bem providas; deixa que ele traga todo o teu estoque para cá, pois esta noite um bando de skythos fará uma busca nas montanhas.”

  7. Diz Kisjonah: “Ah! Agora compreendo! Este rapaz é idêntico aos três que nos serviram lá em cima?” Digo Eu: “Então, não per- guntes e adivinhes tanto, senão será tarde!”

  8. Kisjonah se dirige rápido ao adolescente e lhe externa seu desejo. Diz este: “Acalma-te, querido amigo do meu Senhor e Deus;

em poucos minutos tudo estará em ordem, pois, para mim, tanto aqui como lá são uma coisa só, e embora seja um dos mais fracos, a terra toda estremece sob a força de meus passos!”

  1. Kisjonah muito se admira com estas palavras, e fica tão em- bevecido que não percebe a saída do jovem.

  2. Continua conjecturando e quer justamente fazer-Me uma pergunta a respeito, quando o jovem se apresenta e diz, sorrindo: “Ora, ainda te admiras? Vê, já está tudo feito! Até o serviço que teus escrivães não puderam terminar por acúmulo, embora trabalhassem muito — foi concluído!”

  3. Kisjonah, estupefato, não sabe o que pensar e replica: “Mas, querido, como se pode admitir tal coisa? Mal deixaste este quarto e fizeste mais que todo o meu pessoal em uma semana? Isto é incrível!”

  4. Diz o jovem: “Bem, então vai e certifica-te de tudo!”

196. Outros milagres do anjo em casa de Kisjonah. Todo o reino vegetal é dirigido por umanjo. O poder do anjo lhe vem do Senhor. O mensageiro rápido.

  1. Kisjonah entra nas despensas e encontra o estoque de leite, queijo e manteiga bem arrumado, vai aos celeiros e os acha repletos, pois todo o trigo dos campos tinha sido recolhido. Os estábulos estão em ordem; no escritório, verifica que os livros contábeis estão organizados e a caixa repleta. Na cozinha, tudo está preparado e ar- rumado; então pergunta como isto podia acontecer. Os cozinheiros só puderam dizer o seguinte: “Um belo jovem chegou aqui e disse: ‘Arrumai os pratos, que já está tudo pronto!’ Examinamos os mes- mos e estavam como ele nos dissera. Prova, tu mesmo, como tudo está bem!”

  2. Kisjonah verifica por si próprio a verdade. Entra na sala onde Eu Me encontro com o jovem e este lhe pergunta: “Então, Kisjonah, estás satisfeito comigo?”

  3. Responde ele: “Muita coisa milagrosa se deu em minha casa, e eu só podia interpretá-las como feitas por Deus! Mas isto é incon- cebível! Que um trabalho que, para uma criatura comum, requere-

ria um dia inteiro fosse executado, num momento, por uma outra compenetrada do espírito divino — ainda é compreensível; o que se torna difícil de entender é que cem serviços, em pontos distantes, pudessem ter sido realizados em um só momento; por isso, apenas digo: Tem piedade de mim, Senhor, que não mereço que entres em minha casa!”

  1. Digo Eu: “Deixa de tanta admiração e faze com que teus serviçais tragam os alimentos, pois que estamos todos com fome.

  2. Se, porém, o que se deu já te espanta, que dirás desta re- velação: em todo este planeta, só um anjo cuida do crescimento e da múltipla produção de frutos no reino vegetal, bem como dos animais, na água, no ar e sobre a terra?! Certamente também não o compreendes; entretanto, é assim! Por isto, basta de espanto e faze com que teus servos nos tragam a refeição!”

  3. Diz Kisjonah: “Senhor, Tu meu único amor e minha vida, dize-me: que tal se este jovem me ajudasse, porque meus servos pre- cisarão, para este fim, no mínimo de uma hora?”

  4. Digo Eu: “Pois bem, que ele te ajude, mas deixa-te de espan- to, pois sabes que para Deus tudo é possível!”

  5. Kisjonah, satisfeitíssimo, dirige-se ao jovem.

  6. Diz este: “Pois bem, mas não te admires, porque já se deu o que pediste. Mas, onde está o vinho?”

  7. Diz Kisjonah, lançando um olhar sobre as mesas: “É verda- de, quase me esqueço! Queres ter a gentileza de trazê-lo?”

  8. Diz o jovem: “Olha bem, o vinho já está ao lado das travessas!”

  9. Kisjonah observa as quarenta mesas e vê que nada falta: há cadeiras e bancos em boa ordem e as lâmpadas já estão acesas em ci- ma das mesinhas! Depois de olhar aquilo tudo, ele diz: “Meu Deus, meu Jesus, meu eterno amor! Se isto continuar assim, minhas casas se dilatarão e a madeira e as pedras criarão vida!”

  10. Dirigindo-se ao jovem: “Meu querido amigo ou anjo, ou seja lá o que fores, não podes explicar-me isto?”

  11. Diz o jovem: “És muito curioso, mas te digo, nada me é possível sem Aquele que agora habita vossa terra; só Ele é Quem faz

todas estas coisas! A força dentro de mim para agir não é minha, e sim posse do Senhor. Se queres saber como tal Lhe é possível, per- gunta-Lhe!”

  1. Diz Kisjonah: “Meu amigo, isto eu sei; queria apenas uma explicação sobre a maneira de como se torna realizável. Certamente te movimentas! Mas que ligeireza não deves ter!? Comparado con- tigo, o raio tem o passo de uma lesma! Ah, não posso mais pensar! Como podes fazer mil coisas num só momento? Isto é que me ton- teia, de modo que nem posso respirar de tanta estupefação!”

  2. Digo Eu a Kisjonah: “Bem, como é, ainda não findou o teu espanto? Penso ser melhor tomarmos primeiro o jantar. De- pois poderemos conversar sobre a Onipotência, a Sabedoria e o Amor Divinos!”

  3. Diz Kisjonah: “Senhor, perdoa-me! Já estava esquecendo disto! Peço-Te que tomes assento com Teus discípulos! Mas onde está Tua Mãe e Tuas supostas irmãs, para que eu possa ir buscá-las?”

  4. Digo Eu: “Pergunta primeiro por tua mulher e filhas! Onde elas estiverem, também estará Maria com as filhas de José, que foi meu Tutor na terra. Estão muito ocupadas em examinar tudo, o que muito bem poderão fazer amanhã ou depois! Nosso jovem servo as trará aqui!”

197. A ceia em companhia do Senhor e dos Seus. Afastamento das víboras do morro onde Kisjonah quer erigir uma escola. As condições nesta terra. Elucidações sobre a parábola do joio. (Matheus 13, 37–42)

  1. Quando ainda assim falo, eis que o jovem entra com as mu- lheres; sentamo-nos todos à mesa e, alegremente, tomamos a refei- ção. Depois disto Eu digo a todos: “Como a noite é clara e estrelada, não devemos procurar nossos leitos, mas acomodarmo-nos lá fora sobre o gramado, pois tenho muita coisa para vos dizer e mostrar!”

  2. Esta proposta é do agrado de todos. Encaminhamo-nos, pois, para um pequeno morro que ficava no fim do jardim. Kisjonah explica que dali se descortina uma bonita paisagem marítima, mas que, infelizmente, este morro é habitado por toda sorte de serpentes,

em consequência da proximidade do mar. Diz que tudo já havia feito para expulsar esses ofídios, mas em vão!

  1. Digo Eu: “Deixa estar! Asseguro-te que isto acabará!”

  2. Diz Kisjonah: “Agradeço-Te muito pelo afastamento desse mal. Irei construir, por gratidão, uma escola para ensinar adultos e crianças dentro de Tua Doutrina!”

  3. Digo Eu: “Se ela permanecer em suas bases, poderá sempre se regozijar de Minha Bênção. Mas, infelizmente, o mundo tudo perverte, e com o tempo isto também acontecerá com essa escola e até com a Minha Doutrina! Pois o mundo é mau e cerceado por Sa- tanás! Agora, subamos!” Eu tomo a dianteira com Kisjonah, e todos os discípulos e empregados nos seguem.

  4. Quando chegamos ao pé do morro, Kisjonah vê uma grande serpente; em seguida, avista muitas outras e Me diz: “Senhor, será que a minha fé em Tua Palavra foi pequena, pois que estes répteis ainda estão aí?”

  5. Digo Eu: “Isto é para que possas ver e reconhecer a Glória do Filho do homem em Sua Plenitude! Presta atenção! Ordenarei que abandonem este lugar e, enquanto houver descendentes teus nestes jardins e morros, eles ali não penetrarão; verás como estas víboras obedecerão à Minha Voz!”

  6. Assim, dirijo-Me ao morro e ameaço os répteis. Eles saem quais flechas, aos milhares, de seus buracos e fogem para dentro do mar. Desta maneira o morro fica limpo, e não mais se vê um verme sequer.

  7. Agora subimos com ânimo e, como a grama esteja úmida, Kisjonah manda buscar uma grande quantidade de tapetes, que co- brem quase o morro todo. Presta o jovem bons serviços nisto, e nos acomodamos muito bem.

  8. Meus discípulos, que embora refletissem e meditassem so- bre a parábola do joio no campo, não chegavam a uma conclusão exata, aproximam-se de Mim e pedem uma explicação.

  9. Eu, porém, lhes digo: “Não ouvistes Kisjonah dizer o que deseja fazer em Minha memória, e o que Eu lhe falei sobre o que

aconteceria a um instituto assim, por parte do mundo? Isto se refere ao bom solo que foi semeado com trigo bom e, entretanto, deixou que germinasse uma grande quantidade de joio! Eis, porém, a expli- cação da parábola:

  1. Eu ou, como dizem os judeus, o Filho do homem, semeio o bom grão (Math. 13, 37). O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio, os filhos do mal (Math. 13, 38). O inimigo que o semeou é o espírito do mal; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros, os anjos! (Math. 13, 39). Assim como o joio é mon- dado, ajuntado e queimado, tal também se dará no fim do mundo! (Math. 13, 40)

  2. O Filho do homem mandará Seus anjos e eles colherão do Seu Reino todos os escândalos e os que cometeram maldades (Math. 13, 41), não tendo olhos, nem ouvidos e coração para o sofrimento de seus irmãos, e os lançarão na fornalha, onde haverá gemidos e ranger de dentes (Math. 13, 42). A fornalha será o coração dos filhos do mal e sintetiza o orgulho, o egoísmo, o domínio, a dureza de sen- timentos, a indiferença em relação à Palavra de Deus, usura, inveja, mentira, fraude, falta de palavra, impudicícia, adultério, falso tes- temunho, má fama e tudo aquilo que é contra o amor ao próximo!

  3. Pois, assim como do coração do justo surgirá o Céu com toda a sua Glória, assim também germinará do coração dos injustos o que ele contém; uma semente má jamais produzirá bom fruto!

  4. Um coração duro não dará fruto meigo, e um que não cum- pre a sua palavra jamais poderá ajuntar — e a ira será o fogo que nunca se extinguirá! Preservai-vos de tudo isto e sede, em tudo, jus- tos pela lei do amor!”

198. Prosseguimento da explicação da parábola do joio. O pior é uma promessa não cumprida! “Sede amorosos e justos!” A parábola do tesouro no campo. Compreensão dos discípulos. (Matheus 13, 43–44)

  1. (O Senhor): “Nunca prometais a alguém o que não possais cumprir, ou pior, não queirais cumprir, sejam os motivos quais fo- rem, se vos quiserdes tornar verdadeiros filhos de Deus. Em verdade vos digo, o pior de tudo é uma promessa não cumprida!

  2. Quem tem raiva, peca contra si e prejudica a si mesmo. Quem pratica obscenidades enterra sua alma no julgamento da carne e tam- bém se prejudica. Mas o pior mal de todos os males é a mentira!

  3. Se algo prometestes a alguém, mas pela força das circunstân- cias não vos é possível realizar, ide incontinenti à sua procura escla- recê-lo, de bom coração, sobre o que vos sucedeu, para que ele possa procurar outros meios de livrar-se de qualquer aflição!

  4. Ai daquele que não cumpre, sendo-lhe possível, o que pro- mete, pois causa um enorme mal. O esperançoso não pode concreti- zar sua aspiração, e os que dele dependem ficam de mãos amarradas; assim, uma promessa vã ocasiona um grande constrangimento e tris- teza para muitos, sendo justamente o contrário do amor ao próximo!

  5. É preferível ter um coração indiferente, que não engane nin- guém; pois aquele que promete algo e não o cumpre, deixando que a pessoa a quem prometeu fique na expectativa, é comparado a Sata- nás, que desde o início fez as mais deslumbrantes promessas e nunca as cumpriu, levando uma imensidade de criaturas à miséria!

  6. Abstende-vos de promessas que não possais cumprir e, o que seria pior, não tencioneis cumprir, pois assim age o príncipe das trevas.

  7. Sede amorosos e justos em todas as coisas; pois os justos es- plandecerão como o sol, no Reino do Pai!

  8. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça (Math. 13, 43). Dar-vos-ei mais algumas parábolas do Reino do Céu:

  9. Ele é semelhante a um tesouro que um homem achara escon- dido num campo; como fosse de grandes proporções e pesado, ele

não podia carregá-lo; assim, enterrou-o à noite, foi para casa cheio de alegria, vendeu tudo que possuía e comprou aquele campo (Ma- th. 13, 44). Pois o tesouro tinha mil vezes mais valor que o terreno, e desse modo pôde extrai-lo do mesmo sem que alguém lho pudesse impedir. Com calma conseguiu levar seu tesouro para a nova mora- da, não necessitando mais de trabalhar com o suor de seu rosto, pois tinha com que viver em abundância. Compreendeis isto?”

  1. Dizem os discípulos: “Sim, Senhor, esta parábola é simples. Pois os descobridores do tesouro são os que ouvem a Tua Doutrina; o campo é o coração mundano da criatura, que necessita ser adqui- rido espiritualmente pelo cumprimento da Tua Palavra a fim de que se torne posse sua, podendo, assim, fazer toda sorte de benefícios para si e seu próximo!”

  2. Digo Eu: “Compreendestes bem, pois é assim mesmo. Ago- ra, ouvi outra!”

199. Parábola da grande pérola e da rede. Interpretação de Ahab sobre os peixes podres. Um bom pai de família aproveita o que é velho e o que é novo. (Matheus 13, 45–52)

  1. (O Senhor): “Outrossim, o Reino do Céu assemelha-se ao negociante que procura boas pérolas em todos os países (Math. 13, 45). Encontrando uma grande pérola de valor inestimável e infor- mando-se do seu preço, vendeu tudo que tinha e comprou-a (Math. 13, 46), pois que igualmente era mil vezes mais preciosa que seu custo. Compreendeis este quadro?”

  2. Dizem os discípulos: “Sim, Senhor, pois nós somos o tal ne- gociante e abandonamos tudo por Tua Causa, sendo Tu a grande e inestimável pérola para nós!”

  3. Digo Eu: “Muito bem; mas dar-vos-ei um outro quadro!

  4. Igualmente, o Reino do Céu é semelhante a uma rede lança- da ao mar a fim de conseguir múltiplas espécies de peixes (Math. 13, 47). Quando está repleta, é trazida para a praia pelos pescadores; e, assentando-se, eles guardam os bons num vasilhame, jogando fora os doentes e podres (Math. 13, 48).

  1. Assim se dará no fim do mundo: os anjos virão e separarão os maus dentre os justos (Math. 13, 49) para lançá-los na fornalha do seu próprio coração mau — e haverá gemidos e ranger de den- tes (Math. 13, 50), que é a verdadeira treva da alma perversa. Esta procurará, com a cinza de sua razão mundana, algo que possa satis- fazer seu amor-próprio, sem jamais o conseguir!” Eu pergunto aos discípulos pensativos se também tinham compreendido este quadro.

  2. Dizem eles: “Sim, Senhor (Math. 13, 51), pode ser compa- rado ao que dizias na praia de Jesaíra: a quem tem, a este será dado, para que tenha em abundância; mas àquele que não tem, ainda lhe será tirado aquilo que tem!”

  3. Ahab acrescenta: “Nos peixes doentes e podres eu entendo, principalmente, os fariseus e escribas indolentes, que sempre ofer- tam seus velhos trastes, louvam a natureza e sua fertilidade e, no entanto, desprezam e perseguem aquele que lhes oferece o presente radioso! Não serão eles os peixes doentes e podres? Qual o valor em ser um escriba e fariseu no cérebro, julgando-se superior às outras criaturas, exigindo oferendas e impostos dos que, não obstante, são melhores que eles?!

  4. Por isto, penso: para o futuro, aquele que se tornar sábio no coração pela Tua Doutrina deve afastar de si as Escrituras doentias e velhas dos fariseus para basear-se unicamente nos Teus Ensinamen- tos; pois são sábios e justos e, portanto, contrários aos deles!

  5. Sei bem que Moysés e todos os outros profetas falaram atra- vés do Teu Espírito; mas, como são deturpados hoje em dia! E como Tu estás Presente em Pessoa para revelar-nos Tua Santa Vontade, para que, então, o Moysés antiquado? Assim também, para que os outros profetas?

  6. Quem for ensinado por Ti para o Reino do Céu, não mais necessitará deles!”

  7. Digo Eu: “Tens razão até um certo ponto, pois um ver- dadeiro escriba, isto é, o ensinado para o Reino do Céu, deve ser igual a um sábio pai de família, que oferece do seu tesouro coisas novas e velhas (Math. 13, 52). Ou será que deveríamos despejar o

bom vinho velho depois de termos enchido os odres com o vinho novo?! Ou, ainda, jogarmos fora o trigo velho quando for recolhido o novo?! Por isto, um escriba desejoso de conquistar o Reino do Céu deve conhecer as Escrituras velhas tão bem quanto a Minha Palavra Nova — e aplicá-la!”

  1. Diz Ahab: “Mas, naturalmente, apenas Moysés e os profe- tas, pois de nada servem as leis deturpadas e as cerimônias vãs, uma vez que somos sujeitos às leis romanas!?”

  2. Digo Eu: “Isto entende-se por si mesmo. Já se encontra es- crito o que deve ser omitido considerando o amor ao próximo na velha Lei; e aqui estão Meus dois amigos de Sichar, que são testemu- nhas do Sermão da Montanha, onde tudo isto foi anotado.” Ahab se dá por satisfeito.

200. Relato do sofrimento e perseguição do Sumo Pontífice Jonael, enxotado pelos templários. “Os desígnios de Deus são impenetráveis.” Incompreensível permissão do Senhor. Um pedido aparentemente justo.

  1. Então chamo os dois sicharenses a fim de Me dizerem o moti- vo de sua vinda. Jonael faz o relato e diz: “Senhor, há pouco apontas- te o verdadeiro motivo! Não podemos crer que pessoas que tenham visto, como nós, os Teus Milagres possam ser más! Embora tenham reconhecido a verdade, elas a perseguem! A mim expulsaram; se não fosse Jairuth, que me acolheu com toda a família, estaria sem teto!

  2. Senhor, quantas vezes Te pedi, em espírito, que viesses em meu auxílio contra os inimigos! Mas, nada! Não vieste!

  3. É verdade que deixaste dois anjos para nos servirem. Mas nem sempre eles queriam agir como eu achava necessário, pois ale- gavam que nada fariam sem a Tua Vontade, pois ela é sua força e onipotência. Mas se os arquissamaritanos, ofendidos, expulsaram centenas dos Teus adeptos — os quais até procuravam proteção en- tre os gentios — penso que era chegado o momento de Teus anjos intervirem, acabando com estes excessos, em vez de assistirem a tu- do com manifestações de pesar, exclamando: ‘Os desígnios de Deus sempre foram insondáveis e impenetráveis!’

  1. Que adianta isto? Centenas de pessoas se tornam pagãs e são surradas com porretes e açoites!

  2. Joram teve que deixar Sichar por um certo tempo — e a casa que foi construída por Jacob está fechada e vazia! Tanto ele como sua mulher se encontram em casa de Jairuth com muitas outras famílias, que não foram mais admitidas em Sichar, por Tua Causa!

  3. E contra isto tudo Teus anjos, que estão conosco, nada fize- ram! Senhor, Senhor, pelo Teu Santo Nome! Por que isto?

  4. É preciso que Satanás consiga todo o poder sobre Ti? Seu in- ferno, então, é mais poderoso que Teu Céu? Senhor, se isto continu- ar assim, os homens serão finalmente obrigados a construir templos e erigir altares a Satanás, destruindo os Teus!

  5. O culto em Garizim e em Jerusalém nada mais é que um cul- to satânico! Sei, de Tua Própria Boca, que Tu és o Senhor Mesmo, e como se deve louvar e honrar a Deus. Verifica o culto em Garizim e verás como espargem incenso a Satanás!

  6. Tudo isto é verdade e Tu Mesmo o sabes; entretanto, deixas que isto aconteça! Senhor, como devemos compreender Teu Verbo?

  7. Até o bom e honesto irmão Jairuth recebe, dia a dia, ame- aças para que se declare arquissamaritano, pois do contrário será destituído de seus bens!

  8. Muitos dos que já se dedicavam à Tua Doutrina foram de tal maneira intimidados pelas ameaças diárias, que aderiram de novo ao serviço de Satanás, sob maldições prescritas contra o Teu Nome!

  9. Vê, Senhor, estes fatos se dão e os Teus anjos cobrem suas faces; assim, para que aquela demonstração vã de pesar?

  10. Senhor, Tu vês meu coração que palpita por Ti, por isto falo sem restrição: assistir a estes acontecimentos com manifestação pesarosa é tão fora de tempo como um figo que surge três dias após a queda da flor! É necessário agir, e isto com força e poder, senão Satanás adquire base e raízes!

  11. Se desde já Teus discípulos nada conseguem contra ele, que será quando tiver chegado à força completa?

  1. Por isto Te peço, pelo Teu Santo Nome e por todos que continuam fiéis como nós, ajuda-nos e liberta-nos das garras de Satanás!

  2. Ensinaste-nos a orar na montanha e sempre pedimos assim; entretanto, as coisas pioram dia a dia!

  3. Estamos prontos para toda sorte de sacrifícios e quere- mos viver tão pobremente quanto possível, por Teu amor; mas de- ves nos proporcionar um cantinho qualquer nesta terra enquanto vivermos!”

201. O Senhor fala sobre a dupla finalidade da permissão — como provação para Satanás e os crentes. Ensinamentos sobre a missão e conduta. A verdade como espada do amor. “Meu Reino não é deste mundo.” “Não temais os homens, e sim a Deus.” Como deve lutar o verdadeiro herói.

  1. Digo Eu: “Amigos, sabia perfeitamente que isto acontece- ria em breve, a fim de que Satanás completasse sua obra. Aqueles, porém, que se refugiaram entre os gentios também teriam achado abrigo aqui na Galileia, e os que amaldiçoaram o Meu Nome para não perderem seus bens materiais teriam agido melhor desistindo de suas posses do que se prendendo a elas, portadoras da morte, pois toda criatura tem que deixar tudo algum dia.

  2. Como isto é difícil para aquele que muito tem, e quão fácil para o outro que nada possui e, sobretudo, ainda é perseguido por Minha Causa! Este despreza o mundo e não lhe sentirá a falta quan- do abandonar este charco, com a visão nítida do Reino do Céu!

  3. Vede, assim como o ouro é experimentado no fogo, onde ad- quire seu real valor, o mesmo deve acontecer convosco se quiserdes ser Meus discípulos verdadeiros, porque o Meu Reino, para o qual todos nós trabalhamos, não é deste mundo, mas daquele, imenso, que se segue a esta curta vida de provação!

  4. É por isto que Eu não vos dou a paz aqui, mas a espada, pois pela luta com o mundo, com tudo que ele oferece, deveis conquistar a liberdade da Vida Eterna!

  5. O Meu Reino só pode ser conquistado com violência!

  1. É muito fácil ser discípulo Meu num lugar apaziguado, ten- do o necessário para o sustento, ensinando aos cordeiros a virtude e saciando-os com água pura; realmente, para isto não é preciso mui- to! Mas outra coisa é domar leões, tigres e panteras e transformá-los em animais úteis! Requer mais inteligência, coragem, persistência e força que para domesticar cordeiros!

  2. Por tal motivo, deveis encarar os acontecimentos em Sichar tal como são e entrar numa luta natural, na qual Eu vos ajudarei; mas, se permitirdes que a cegueira e malícia dos homens despertem a raiva em vós, imediatamente desejando que o Céu extermine esses malfeitores, terá que suceder aquilo que já aconteceu!

  3. Os Meus anjos não podem nem devem agir em casos como estes, pois tal ajuda seria contrária à Minha Ordem Eterna.

  4. Se vos quiserdes tornar conquistadores do Meu Reino, fazei da Verdade Pura uma espada, que deve ser feita de amor desinteres- sado! Com tal arma lutai destemidos — e não temais aqueles que, num caso extremo, poderão destruir vosso corpo, sem vos poder causar maior dano!

  5. Mas, se tendes medo, que o tenhais Daquele que é o Ver- dadeiro Senhor sobre a vida e a morte, e pode aceitar ou conde- nar uma alma!

  6. Quem, numa luta justa por Mim, perde sua vida terrena, recebê-la-á em toda a plenitude no Meu Reino; mas quem procura conservá-la nesta luta é um covarde — e não compartilhará da coroa da vitória da Vida Eterna! Qual será o seu mérito, lutando contra insetos e matando moscas?

  7. Diferente é enfrentar uma caterva de leões e tigres, bem protegido por uma couraça, com a espada na mão! Quando a tiver abatido e voltado como vitorioso, será recebido com louros, e um grande prêmio pela bravura o aguardará!

  8. Portanto, voltai e lutai como vos ensinei e a vitória será vossa!

  9. Sei melhor que vós da ação desastrosa de Satanás nesta terra e teria poder suficiente para destruí-lo; mas o Meu Grande Amor e Paciência não permitem isto!

  1. Pois quem julga vencer seu inimigo pela destruição é um lutador covarde! Não terá sido a coragem, e sim o medo que lhe deu forças para isto.

  2. Quem quiser ser um verdadeiro herói deve se dar ao traba- lho de conquistar o inimigo com inteligência, paciência, amor e sa- bedoria no coração; só então poderá vangloriar-se de uma verdadeira vitória, e o inimigo conquistado será o seu maior prêmio.”

202. Continuação dos ensinamentos aos sicharenses. “Primeiro, ensinai por boas obras; depois, com palavras simples!” A verdadeira Igreja livre. “Sois todos irmãos!” O verdadeiro sábado. A Casa de Deus e o culto verdadeiro.

  1. (O Senhor): “Se compreendestes isto, voltai com vossos anjos para Sichar e agi como vos ensinei — e a situação em breve mudará.

  2. Não vos apresenteis como juízes irados, mas como doutrina- dores e amigos verdadeiramente sábios dos cegos, mudos e surdos, e eles se deixarão guiar por vós!

  3. Quem poderia aborrecer-se se um cego lhe pisasse o pé? Se tens olhos para enxergar, não será tua a culpa se fores pisado pelo cego?! Afasta teu pé donde ele pisar, e não serás magoado!

  4. Mas, se vês que ele está à beira de um abismo, corre e condu-

-lo em segurança para a luz, que cura toda a cegueira da alma — e ele será teu melhor e mais grato amigo e irmão.

  1. Se doutrinais as criaturas em Meu Nome, fazei o que Eu faço

  1. Se vos ocultais, porém, em grandes e profundos segredos e quereis fazer ver aos homens que sois convocados por Deus para os julgar, abençoar ou condenar, e se vos aborreceis quando os anjos não vos auxiliam nisto, deveis compreender que tal procedimento não é da Minha Vontade e que construístes uma ordem toda vossa, conjecturando a edificação de nova Igreja bem protegida no lugar da velha, de Moysés!

  2. Vede, assim se deu com a Igreja Mosaica, que logrou poucos frutos e, na maior parte, degenerados!

  1. Eu vos dou uma Igreja completamente independente, que não necessita de outra proteção além do coração de cada criatura, no qual reside o espírito e a verdade, onde Deus quer ser reconhecido e adorado pelos verdadeiros adoradores!

  2. Não vos deveis julgar melhores que qualquer outro por terdes recebido Meu Espírito em primeiro lugar; tampouco deveis fazer de uma dádiva uma profissão, tal como os pagãos, os fariseus e judeus cegos, pois somente Um é o Senhor de todos! Vós, porém, sois to- dos iguais e irmãos, jamais devendo existir em vosso meio qualquer diferença!

  3. Também não deveis considerar certas regras, dias e épocas como melhores ou piores, ou que Deus determine certos dias para ouvir preces e aceitar oferendas. Eu vos digo: Para Deus todos os dias são iguais, e o melhor entre todos é aquele em que fizerdes uma verdadeira caridade. Assim deverá futuramente vossa ação determi- nar o sábado verdadeiro e agradável aos olhos de Deus!

  4. O sábado comum dos judeus é um horror para o Pai!

  5. Se quiserdes construir uma tal Casa de Deus, edificai, ao invés, hospitais e asilos para os pobres, onde poderão receber tu- do que necessitam — e professareis o verdadeiro culto que alegra o Pai no Céu.

  6. Só assim reconhecer-se-á que sois Meus discípulos.

  7. Portanto, ide para casa e agi deste modo, que vossa tarefa será abençoada.”

203. Confissão do erro. O verdadeiro espírito da Doutrina Pura de Jesus. Seguem-se os ensinamentos. Canto de louvor de Jonael.

  1. Após este ensinamento prolongado, dizem os dois: “Senhor, perdoa o nosso pecado! Reconhecemos que fomos nós que erramos, e não os outros, e com Tua Ajuda e Graça poderemos normalizar tudo!

  2. Só agora compreendemos o verdadeiro espírito de Tua Dou- trina Santíssima e nos esforçaremos em divulgá-la entre o povo! Mas, que faremos com aqueles que aderiram aos pagãos?”

  3. Digo Eu: “Fazei o que Eu lhes faço.

  1. Vede, esta casa é pagã e há muito professa a doutrina dos gregos sábios; agora, está mais para o Meu lado que qualquer família judaica! Fazei o mesmo e convertereis mais pagãos do que judeus!

  2. Pois quem tiver um estômago vazio tomará uma refeição com mais avidez que um outro, saciado, principalmente se for doentio; coisa análoga se dá com os templários!”

  3. Dizem os dois: “Que faremos com aqueles que amaldiçoa- ram o Teu Nome a fim de não perderem suas posses?”

  4. Digo Eu: “Levantai o que caiu e conduzi-o ao bom caminho, para que reconheça seu pecado e dele se arrependa! Eis vossa tarefa!

  5. Eu não vim para julgar e condenar este mundo, mas para procurar o que se perdeu e reerguer o que tombou! Cientes disto, ide e agi assim!”

  6. Após estas palavras, os dois se curvam diante de Mim e Me pedem para ficar alguns dias a Meu lado.

  7. Eu lhes faço esta concessão e digo: “Se vos afirmei há pouco que deveríeis voltar para casa, quis mais apontar a boa vontade de vossos corações que impor-vos a volta; portanto, podeis permanecer aqui os poucos dias que ficarei com Meu amigo.”

  8. Os dois Me agradecem e Jonael diz, num êxtase de sua al- ma: “Ó terra! Envelhecido campo do joio, dos abrolhos e espinhos! Sepultura funesta da vida, velha mãe do pecado e da morte! Acaso mereces que o Senhor, teu Deus e Criador, pise-te com Seus Pés San- tíssimos, respirando teu ar pestilento, aceitando teus frutos maus?!

  9. Nós, criaturas, bem como toda a Criação não merecemos nem ser fitados por Ele! Tudo é somente uma Graça e Misericórdia Infinitas!

  10. Por isto, levantemo-nos e louvemos a Ele, sempre e sempre!

  11. E vós, estrelas no firmamento, cobri vossas faces pro- fanas, pois é Deus, vosso Criador, a Quem olhais, orgulhosas de vossa altura!

  12. Ó terra, o que se deu contigo?! Qual seria o nome que de- verias receber — não por tua causa — mas por causa Daquele a Quem acolhes?!

  1. Oh, quanto mais medito sobre Quem é Este que Se encon- tra entre Seus eleitos, mais e mais isto me oprime o coração! Como poderia a terra guardar em si Aquele cuja Plenitude nem Céus nem anjos comportam?!

  2. Ó época santíssima desta terra, onde habita O que deu luz ao sol e à lua, prescrevendo-lhes o caminhar do longo trajeto de Seu Amor e Sabedoria, dando à terra o dia e a noite!

  3. Por isto louvemos o Senhor de Toda Glória, pois Ele merece todo o louvor, toda a honra e todo o amor da Eternidade!”

  4. Ouvindo estas exclamações, os discípulos dizem: “Senhor, não ouves como Jonael Te louva e glorifica, como se o espírito de David se tivesse apossado dele?”

  5. Digo Eu: “Escuto seu louvor e Me regozijo com ele, pois de vós, jamais recebi idêntico. Não vos causaria prejuízo se meditásseis, profundamente, sobre Quem é Aquele que fala convosco! Agora, entretanto, descansemos, pois já passa de meia-noite!”

  6. Tudo silencia em volta do morro e quase todos se entregam ao sono; somente Jonael e Jairuth se aprofundam em meditações a Meu respeito.

204. Polêmica de amor entre Kisjonah e Baram. É bem conduzido quem faz o bem. Parábola da mãe com os dois filhos desiguais. O amor puro e o amor interesseiro.

  1. Quando, na manhã seguinte, o sol está prestes a surgir, o anjo de Jonael e Jairuth desperta os que estão dormindo; Kisjonah, que se encontra perto de Mim em companhia de sua família, encarrega depressa sua mulher e filhas de prepararem um bom almoço!

  2. Eu lhe digo, porém: “Deixa isto por hoje, pois também de- vemos, uma vez, dar este prazer a Baram de Jesaíra! Olha bem em direção ao mar — não muito longe da praia está um barco carrega- do, e seus filhos e servos estão justamente ocupados em transportar as refeições destinadas para o dia de hoje, inclusive quarenta odres do melhor vinho grego.”

  1. Diz Kisjonah: “Ora, vê só, quem iria pensar isto do lacônico Baram! Não me disse uma palavra do seu projeto! Ontem à noite, de repente, sumiu, e agora aparece com esta fartura! Deve ter tido bons ventos para poder estar de volta tão depressa, pois daqui a Jesaíra leva-se um dia inteiro num percurso normal.”

  2. Digo Eu: “Irmão, acredita-Me, quem tem boas intenções sempre é conduzido por bons ventos.

  3. Houve uma vez dois irmãos cuja mãe possuía muitos bens. Ambos lhe demonstravam muito amor, de modo que ela não sabia qual dos dois a queria mais, para dar-lhe a herança maior. Mas so- mente um deles a estimava realmente; o outro só tinha interesse na herança, por isto dedicava-lhe mais atenção, muitas vezes tomando a dianteira do primeiro.

  4. O bom filho não tinha a mínima desconfiança do irmão e se regozijava por ele agradar tanto à mãe querida. E assim os anos se passavam.

  5. A mãe, tornando-se mais idosa e enfraquecida, um belo dia chamou ambos e disse: ‘Não posso saber qual de vós mais me es- tima, a fim de que a este possa dar a maior parte da herança; por isto, quero que, após a minha passagem sobre a terra, a fortuna seja dividida em partes iguais.’

  6. Eis que falou o bom filho: ‘Minha mãe, pelo teu desvelo aprendi a trabalhar e posso ganhar o necessário para meu sustento; vou pedir a Deus, de todo o coração, que te conserve tanto tempo como a mim, e assim possas administrar tua fortuna a bem da casa! Seria suplício possuí-la sem ti. Por isto, guarda e dá tua posse a quem quiseres! Teu coração é a melhor herança; queira Deus conservá-lo por muito tempo!’

  7. Quando a mãe ouve estas palavras do bom filho, responde comovida, ocultando seus pensamentos: ‘Querido filho, bem que tua confissão me alegra muito, mas não posso legar tua parte a es- tranhos. Se desistes dela, teu irmão ficará com toda a herança — e tu trabalharás para ele, ganhando teu pão com o suor do teu rosto!’

  1. Diz o bom filho: ‘Querida mãe, enquanto eu servir e tra- balhar, meu coração sempre se lembrará de ti cheio de gratidão e dirá: Vê, assim tua mãe te ensinou para o trabalho! — Se a herança fosse minha, talvez me tornasse preguiçoso, entregando-me ao lazer e, finalmente, até esquecesse de ti! Por isto, não quero a fortuna, que não apresenta o cunho do teu coração, mas o do poder do Impera- dor; aquilo que recebi do teu coração também possui o teu cunho e tem sua estabilidade no meu. A herança que me legaste desde pe- quenino me é muito mais rica do que esta, que adquiriste pelo teu próprio esforço!’

  2. A mãe fica tão comovida, que chora; depois chama o outro filho e lhe expõe as ideias do primeiro.

  3. Este responde: ‘Sempre observei que o meu irmão possui um caráter nobre, mas em certos pontos ele é um tanto esquisito! Eu sou diferente! Assim como te considero e respeito, faço-o igual- mente com tudo que me quiseres dar e aceito toda a fortuna, cheio de gratidão. Os serviços que meu irmão me irá prestar ser-lhe-ão pagos. Se te fosse possível, minha mãe, poderias me adiantar metade da fortuna para que possa adquirir um terreno e casar-me?!’

  4. Diz a mãe, um pouco entristecida: ‘Será como determinei

  1. O filho, porém, sai todo tristonho.

  2. Um ano mais tarde a mãe adoece gravemente, tanto que uma empregada vai chamar os dois filhos, que trabalhavam no cam- po, para que recebessem sua bênção.

  3. O bom filho fica muito triste e durante o caminho pede a Deus, em voz alta, que Ele lhe conservasse a mãe com vida.

  4. O filho mau se aborrece com isto e diz ao irmão: ‘Por acaso tencionas prescrever as leis à natureza?! Quem estiver maduro, seja pai, mãe, irmão ou irmã, tem que morrer; aí não adiantam mais o pedido e a prece! Por isto, o meu lema é: o que Deus quiser, eu também quero!’

  5. Ouvindo tais palavras, o bom irmão fica mais triste ainda e pede fervorosamente pela vida de sua mãe.

  1. Quando entram em seu quarto, o mais velho diz: ‘Eu sabia que não ias morrer tão depressa!’ Em seguida começa a explicar-lhe que não devia temer a morte!

  2. O bom filho, porém, pranteia e ora, e Deus atende a seu pedi- do, enviando um anjo para perto da mãe, que a cura completamente.

  3. Quando esta sente que as forças lhe voltam por um poder mais alto, diz: ‘Isto eu devo aos rogos daquele que não aceitou a he- rança oferecida, por verdadeiro amor! Eu te digo, meu querido filho: como nada querias por tão altruístico motivo, deves receber tudo; o que é meu, também é teu! Tu, porém, que me amavas somente por causa da herança, esperando a minha morte, eu que fui tão boa em legar-te tudo, nada deves receber, e serás para sempre um servo dos homens!’

  4. Vede esta parábola: qual dos dois estava sendo bem guiado?”

  5. Dizem os discípulos: “Evidentemente aquele que amava sua mãe com sinceridade!”

  6. Digo Eu: “Pois bem! Digo-vos que o Pai no Céu agirá do mesmo modo que esta mãe!

  7. Quem não Me ama por Mim, nunca chegará onde Eu estou.

  8. A criatura deve amar a Deus sem interesse, como Deus tam- bém a ama, senão seria Dele completamente indigna!”

205. A natureza do amor. O amor deseja possuir. Diferença entre o amor divino e o amor infernal. Baram oferece um repasto ao Senhor. Recompensa das ações de amor.

  1. Diz Ahab: “Isto é uma verdade bem profunda; entretanto, quero observar que, entre as criaturas, não pode existir amor sem interesse. Muito tenho refletido sobre o amor e cheguei à conclusão de que ele sempre tende a roubar, mesmo sendo puríssimo.

  2. O meu amor para Contigo é o mais sincero possível; sim, tenho até vontade de introduzir-Te em meu coração!

  3. Agora pergunto: por que não posso sentir o mesmo por uma pessoa completamente indiferente?! Por que sinto isto apenas para Contigo? A resposta é evidente!

  1. Sei quem Tu és, o que Tu podes e também sei o que me é possível conseguir por Ti e pela prática dos Teus Ensinamen- tos — o que, em síntese, é o motivo essencial do afeto que Te consagro. Por isto, tenho o maior interesse por Ti, o que dá causa ao meu amor!

  2. Não digo que Te estime por um lucro especial, pois abando- no tudo no mundo por Teu Amor; entretanto, o meu deseja con- quistar-Te, a Ti que és mais do que todo o mundo para mim!

  3. A tendência material ou espiritual dá valor a tal sentimento. O negociante, por exemplo, vendeu tudo que possuía quando en- controu a grande pérola. Por quê? Porque tinha mais valor do que tudo que até então havia adquirido! O interesse não deixa de ser nobre, mas é um interesse, sem o qual não existe amor na criatura! E se alguém quisesse me convencer sobre a existência dum amor de- sinteressado, eu diria: ‘Amigo, é possível que tenhas muita sabedoria; mas ainda não meditaste sobre o assunto!’

  4. O amor divino também tende a arrebatar, como o amor in- fernal, mas tudo restitui! Ele colhe unicamente para devolver, en- quanto que o infernal apenas arrebata e nada devolve.

  5. Quando vamos à conquista do amor dos Céus, sabemos que jamais teremos prejuízo em dar, mas um lucro cada vez maior, de todos os pontos de vista.

  6. Podemos nos comparar a uma cova dentro do solo: quanto mais terra perde, maior se torna o espaço interno, como receptáculo da Luz dos Céus. Senhor, penso que tenho razão; qual a opinião de Tua Sabedoria infinitamente elevada?”

  7. Digo Eu: “A mesma que tens, pois se o amor não fosse la- drão, de uma forma ou de outra, não seria amor, pois todo ele é um desejo de posse.

  8. A finalidade dessa posse é que separa o Céu do inferno, por toda a Eternidade!

  9. Mas, eis os servos de Baram com o nosso repasto; como cuidamos bastante do espírito, vamos considerar um pouco a nos- sa matéria.”

  1. Baram Me apresenta um peixe fino, bem preparado, nu- ma travessa de ouro e um cálice de vinho, que Me pede aceitar de suas mãos.

  2. E Eu lhe digo: “Este ato te será recompensado! Deste-te a este trabalho por amor a Mim e a Kisjonah, a quem procuraste assim aliviar, considerando que ele teria de alimentar centenas de pessoas por vários dias.

  3. Eu te afirmo: Kisjonah não passa miséria, pois nós todos não gastaríamos seus gêneros alimentícios no decorrer de dez anos! Mas, como consideraste que talvez ficasse desfalcado de algo, esta atitude terá o seu prêmio, como se o tivesses feito a um pobre. Deus só considera o coração do doador.

  4. Agora senta-te aqui a Meu lado e serve-te Comigo e Kisjo- nah de uma só travessa, pois o peixe dá para três!” E assim foi.

  5. Esta refeição dura cerca de duas horas, pois vinha acompa- nhada de diversos refrescos.

206. A alegria dos hóspedes e a tristeza do anjo. Uma grande alegria não dista muito do pecado. O processo de nutrição do homem. Corpo, alma e espírito.

  1. É dispensável uma especial menção ao fato de que todos es- tão alegres e falam muito, pois o vinho tinha lhes soltado a língua. Até Jonael e Jairuth estão alegres e pedem que Eu os deixe voltar para Sichar neste ânimo! Eu lhes dou permissão!

  2. Eles, então, dizem: “Uma vez que Tu nos concedes isto, não há pecado na alegria — mas resta saber se podemos estar alegres!”

  3. Digo Eu: “Pois bem, deveis — e sereis alegres!”

  4. Ouvindo esta promessa, o anjo se entristece. Jonael, que o observa, pergunta-Me o motivo.

  5. E Eu digo: “O anjo sabe que, entre uma grande alegria e o pecado, só há um passo! Prevendo o trabalho que terá com a vossa volta a fim de preservar-vos do pecado, ele se entristece. Dá-lhe um pouco de vinho, talvez isto o anime!”

  1. Jonael oferece ao anjo um cálice cheio de vinho e ele o esvazia de uma só vez, fato que muito o admira, por ser inédito!

  2. O anjo, porém, diz: “Já me encontro há bastante tempo em vosso meio; por que nunca me ofereceste um cálice de vinho?”

  3. Diz Jonael: “Como podia imaginar que um anjo, neste mun- do, tomasse alimento material?”

  4. Diz o anjo: “Estranho! Não viste que o Senhor de todos os Céus também come e bebe, sendo o Espírito mais Perfeito e Su- blime? Por que não deveremos nós, anjos, comer e beber, quando somos obrigados a tomar corpo a fim de servir-vos na matéria?!

  5. Dá-me um pedaço de peixe e pão e verás que não só bebo, mas também como. Onde o Senhor toma alimento material, os an- jos também o fazem.”

  6. Jonael, então, oferece-lhe um peixe inteiro e um bom pe- daço de pão.

  7. Mas, ainda assim, não se conforma e lhe indaga como isto é possível a ele, que é apenas espírito.

  8. Diz o anjo: “Já viste um morto comer e beber?” — Diz Jonael: “Jamais alguém viu tal coisa!”

  9. Diz o anjo: “Se um corpo sem alma, e muito menos sem espírito, não pode tomar alimento, é indiscutivelmente a alma e seu espírito vital, dentro dela, que se nutrem. Como o corpo nada mais é do que um servo da alma e não necessita de alimento para si, é evi- dentemente a alma e seu espírito que absorvem o alimento da terra enquanto habitam no corpo, e o mantêm pelos detritos que lhe dá! Pois o corpo se nutre dos detritos da alma.

  10. Já vês que se justifica que eu me sustente com alimento material, uma vez que possuo um corpo formado do éter para pisar esta terra, a fim de vos ser útil! Que te parece isto?”

207. O prejuízo da gula sobre a alma. A morte espiritual como consequência da intemperança. O jejum justo. O dano da mortificação como meio de intercâmbio com os espíritos. A Vida e Doutrina do Senhor como exemplos.

  1. Todos que tinham ouvido esta explanação do anjo arregalam os olhos, e Pedro diz: “Que foi que o servo de Jonael falou? Soou-me um tanto estranho! Como pode o corpo alimentar-se de detritos da alma?! Será possível que a alma tenha um estômago e, quem sabe, até um intestino?!”

  2. Digo Eu: “O anjo falou a pura verdade, é assim mesmo. Eis por que a gula e a intemperança tornam a alma sensual e material, sobrecarregando o corpo, que não pode mais assimilar todo o de- trito da alma; a consequência disto é que o detrito nela permanece, perturbando-a e atemorizando-a. Para se livrar desta aflição, ela pro- cura todos os meios, como a impudicícia, a prostituição, o adultério e coisas semelhantes.

  3. Mas, como estas torpezas produzem um certo gozo à alma, ela se torna mais e mais concupiscente, dedicando-se à intemperan- ça e, finalmente, entrega-se apenas ao sensualismo, que a faz insen- sível, má e orgulhosa.

  4. Se uma alma perde seu valor espiritual desta maneira, tor- nando-se completamente morta, começa a levantar um trono de seus detritos e julga, finalmente, que representa uma honra e repu- tação boa ser tão imunda!

  5. Eu vos digo: Todas as criaturas que apreciam aquilo que satis- faz a sua sensualidade estão com as almas enterradas nos detritos até os ouvidos e olhos e, portanto, são espiritualmente surdas e cegas.

  6. Por isto, sede sempre temperados no comer e beber, para que não adoeçais em vossa alma e esta sucumba em seu detrito!”

  7. Pedro faz uma cara indecisa e diz: “Senhor, neste caso seria melhor jejuar mais do que comer?”

  8. Digo Eu: “Quem jejua em tempo oportuno age melhor do que o comilão e beberrão, mas há uma diferença quanto à inter- pretação deste jejum! O verdadeiro consiste na criatura abster-se de

todo pecado, renunciando a todas as coisas do mundo, tomando sua cruz1nos ombros e seguindo a Mim, sem receio no que come e bebe, e não se excedendo nestas necessidades. Todo e qualquer outro jejum não tem valor.

  1. Existem pessoas que procuram penetrar no mundo dos espí- ritos e, com sua ajuda, dominar as forças da natureza através de cer- tas mortificações; mas isto só prejudica a alma, porque cai da árvore da vida como fruto amadurecido antes do tempo, cuja semente vital é oca e podre, portanto morta.

  2. Tal jejum e mortificação não são virtudes, mas um grande pecado!

  3. Quem quiser viver dentro da verdadeira ordem, que viva como Eu, como lhe ensinei, e terá oportunidade de ver germinar e amadurecer o fruto da vida, no qual a semente se formará íntegra para a futura vida espiritual, numa consciência perfeita do seu espí- rito. Agora sabeis o que é justo dentro da Ordem Divina. Agi assim, que tereis a vida dentro de vós!

  4. Mas, eis que os raios solares estão se intensificando; recue- mos para as sombras do jardim e tu, Meu escrivão Matheus, poderás preparar teus quadros, completando as ocorrências e ensinamentos. Nós, entretanto, descansaremos um pouco!”

208. O Senhor no jardim com os Seus. Matheus organiza sua escrita. Uma calma apavorante precede o temporal. O anjo apazigua os homens. Terremoto, maremoto e trovoada.

  1. Deixamos o pequeno morro e procuramos assento na relva, debaixo de uma grande figueira, e em pouco tempo Eu adormeço. Os outros, inclusive Maria, acompanham-Me e também conciliam o sono. Somente Jonael e Jairuth estão sentados junto à mesa do jar- dim, onde Matheus se encontra organizando seus quadros e o anjo aponta-lhe várias faltas.

  2. Quando se aproxima o meio-dia, Baram, que se acha no bar- co com Kisjonah, percebe que, em direção do poente, estão sur-

  1. Representava naquela época, num sentido figurado, a miséria, a aflição e o tormento.

gindo sobre o horizonte nuvens negras e densas e o espelho d’água fica cada vez mais calmo, o que é uma prova certa e iminente dum temporal tremendo, junto com um terremoto.

    1. Baram manda que se tire depressa o provimento do navio, ancorando-o o mais seguro possível; mal termina esta tarefa, o mar começa a elevar-se no horizonte.

    2. Aí, fala Kisjonah: “Teremos que acordar o Senhor e Seus dis- cípulos, pois os que dormem correrão perigo, em vista da inundação que poderá alcançar o jardim! O navio também poderá ser lançado contra a praia!”

    3. Diz Baram: “Sim, amigo, se o Senhor não dominar este tem- poral, o prejuízo será grande! Mas confio Nele, que não nos deixará perecer! Enquanto Ele dormir não precisamos temer a tempestade, que em poucos minutos desabará. Em todo caso, vamos acordá-Lo e chamar-Lhe a atenção para o cataclismo!”

    4. Com isso, os dois correm para Meu lado e tentam despertar-

-Me; mas, por certos motivos, Eu não acordo e o anjo lhes diz: “Dei- xai-O descansar, pois dorme por causa deste temporal necessário! As consequências demonstrarão o porquê!”

    1. Diz Kisjonah: “Mas que será se as ondas colossais passarem por cima de meus jardins?”

    2. Diz o anjo: “Preocupa-te com outras coisas! Pensas que o Se- nhor ignora esta tempestade, só porque às tuas vistas está dormindo? Vê, Ele o quer assim, portanto acalma-te!”

    3. Pergunta Kisjonah: “Sabes a razão disto?” — Responde o an- jo: “Mesmo sabendo-o, não poderia esclarecer-te sem a Vontade do Senhor. Por isto, nada mais perguntes e não tenhas medo!”

    4. Com estas palavras do anjo, que passa a ajudar calmamente a Matheus na sua tarefa, Kisjonah sossega e Baram diz: “Confes- so que, durante toda a minha vida, jamais vi uma tempestade tão ameaçadora; entretanto, não houve uma que eu assistisse com tanta calma! Em poucos minutos estaremos dentro dela!

    5. Vê só, as ondas gigantescas se espalham pelo comprimento do mar, a uns quinze minutos distantes daqui, em direção de Si-

barah, e parecem-se com montanhas flutuantes que são constante- mente dilaceradas pelos raios! Que coisa estranha! A barra continua tranquila e permite apreciar este fato curioso, embora tétrico! Mas os que estão em alto mar não terão a nossa calma!

    1. Os trovões chegam até nossos ouvidos; lá o barulho deve ser ensurdecedor! Agora sinto um sensível estremecimento do solo! Percebes o mesmo?”

    2. Diz Kisjonah: “Como não? Já queria chamar-te a atenção também; mas que a minha praia continue tão serena, isto é um mi- lagre! Sei por experiência o espetáculo horrendo que oferece quando fica agitada! Mas, ouve! O tremor da terra está aumentando e as ondas enormes já atingem a minha barra! Em Nome do Senhor! Só podemos perder esta vida! Mas o quadro é horrendo! Que o Senhor tenha piedade de nós, pecadores!”

    3. Fortes rajadas de vento vergastam as árvores e raios sucessi- vos atravessam as nuvens negras! Sob medonho estampido, muitos caem dentro da barra e produzem uma espuma acompanhada de forte rugido, mas ainda não cai uma gota d’água. Nisso, um relâm- pago bate no morro no qual passamos a noite; seu estrondo desperta a todos, menos a Mim.

    4. E Judas diz, completamente alterado: “Mas, Senhor! Como podes dormir com esta tempestade?! Chovem raios do Céu! Quem poderia estar seguro por um momento? Ajuda, Senhor, senão a terra cai em frangalhos!”

    5. Digo Eu: “Já foste atingido por algum raio?” — Diz Judas: “Isto não, mas bem pode acontecer a cada momento! Só poderei falar enquanto vivo, pois o próximo raio poderá impedir-me disto, por todos os tempos!”

    6. Enquanto Judas ainda fala, eis que a ressaca se joga com grande fragor contra a praia e, como aparentemente é muito mais elevada do que o ponto onde estamos, os discípulos todos come- çam a gritar e alguns até debandam para uma elevação do terreno, donde são enxotados pelos coriscos! “Senhor, se Tu podes, ajuda-

-nos — senão pereceremos todos!”, bradam eles. Somente Matheus,

Jairuth, Jonael e o anjo não se perturbam e estão prestes a terminar seu trabalho.

    1. Desta vez não intervenho na fúria cega da tempestade; ela não pode causar, unicamente a nós, o menor dano!

209. Motivo deste temporal: destruição dos inimigos do Senhor. Perigos que aguardam os missionários. Bom efeito da tempestade. A boa pesca.

  1. Pedro se aproxima de Mim e diz, em surdina: “Senhor, será que o Espírito do Pai Se recolheu em Ti de tal maneira, que não Te é possível dominar os elementos? Vê se podes fazer com que se acalmem!” Digo Eu: “Há um motivo muito sério para que se devam expandir! Para que não duvides, fica sabendo que se encontram dez embarcações inimigas em alto mar, a fim de nos perseguir e cau- sar ruína! Esta tempestade lhes aplica aquilo que destinavam a nós; portanto, como podes Me pedir que a suste, se necessária à nossa salvação? Ela se acalmará depois que houver atingido seu objetivo! Observa o mar e dize-Me o que está sendo arremessado pelos ares, como se fossem brinquedos nas mãos de crianças voluntariosas!”

  2. Pedro contempla a superfície, tremendamente agitada, e avista vários destroços de navios; um, menos danificado, está sendo jogado pelas ondas como palha. Assim também distingue algumas pessoas agarradas aos destroços, num supremo mas baldado esforço para alcançar a praia, pois que são enterradas pelas ondas e, em se- guida, arremessadas para o ar.

  3. Após ter observado estas cenas, Pedro Me diz: “Senhor, per- doa-me! Sabes que sou pecador e daí o ter Te importunado com uma tão tola pergunta; agora, porém, tudo me é claro! Os maus fariseus de Jesaíra foram buscar auxílio em Jerusalém; lá aprontaram dez na- vios com esbirros romanos a fim de nos prender aqui. Como não podiam alcançar Kis1por terra, vieram pelo mar, recebendo a paga merecida! Como vejo, a correnteza está levando os navios destroça- dos em direção de Sibarah, onde há tantos penhascos que será difícil

  1. Lugarejo, todo ele pertencente a Kisjonah.

ali alguém salvar-se! Este acontecimento deverá servir para tirar aos templários a coragem de perseguir-Te!”

    1. Digo Eu: “Satanás se deixa bater mil vezes e continua sempre o mesmo inimigo perverso de Deus e de tudo que é bom e verda- deiro, emanado do Espírito Divino. Estes mortos que flutuam nas ondas não nos poderão prejudicar, mas depois deles virão outros que nos obrigarão a fugir para as cidades da Grécia, o que não demorará muito tempo!”

    2. Diz Pedro: “Senhor, teremos paz durante a nossa perma- nência aqui?”

    3. Digo Eu: “De certo, mas neste planeta existem vários povos que necessitam do Evangelho, como vós, e foram criados pelo mes- mo Pai que vos criou! Devemos procurá-los, não obstante todas as perseguições, e levar-lhes a Boa Nova dos Céus! Perseguir-nos-ão, mas com o tempo hão de se converter e entrar como ovelhas para o nosso aprisco!

    4. Nós somos bons e o mundo é mau; portanto, não podemos esperar algo de bom — a não ser de vez em quando um morango doce entre o joio imenso! Agora observa que a tempestade se abran- dou e o perigo passou por esta vez!

    5. (A Baram): Amigo, o meio-dia passou-se com a tempestade, vamos pois almoçar, a fim de termos forças para a tarefa da tarde.”

    6. Não é preciso fazer menção ao almoço e ao efeito do tempo- ral, que atingiu principalmente as dez embarcações. Basta saber que, das mil pessoas que se achavam nos navios, apenas cinco escaparam com vida. As outras foram tragadas pelas ondas ou desapareceram nos despenhadeiros de Sibarah. Tempos depois se encontraram ca- dáveres roídos pelos peixes e também uma imensidade de correntes e armas romanas, que se destinavam a Mim e Meus discípulos.

    7. Este acontecimento provoca uma situação vexatória entre os fariseus e romanos, principalmente em Capernaum e Nazareth, e Eu e Meus companheiros temos sossego por algumas semanas.

    8. Após o almoço, os discípulos fazem uma boa pesca com os pescadores de Kisjonah, que muito se alegra com isto e ordena que

cerca de cem peixes sejam preparados com temperos e ervas. Assim termina este dia e, depois do jantar, todos se recolhem cedo.

210. Excursão a Caná, no vale. Os lavradores judeus e os comerciantes gregos como devedores de Kisjonah. Ação nobre deste. Doutrina rápida ao povo. O Senhor testemunha de Si e de Sua Missão. Bom êxito desta Boa Nova.

  1. No dia seguinte, fazemos uma excursão em um vale que se estende entre as duas serras, em direção da Samaria; passa por ele também a estrada principal para Damasco e dali para todos os pe- quenos e grandes lugarejos da Ásia Central, motivo por que a alfân- dega de Kisjonah, em Kis, é a mais rendosa em toda a Galileia.

  2. Neste vale há uma quantidade de pequenas vilas, bastante povoadas por judeus e gregos por causa do comércio. A duas horas distante de Kis está situada uma vila, também cognominada Caná, que se diferencia da de Nazareth adicionando-se-lhe “na Galileia”. Quando se diz apenas “Caná”, entende-se a outra, acima menciona- da, que já faz parte da Samaria.

  3. Esta Caná é na maior parte povoada por gregos, pois, para uma família judia, contam-se cinco famílias gregas. Os judeus vivem da lavoura e os gregos, somente do comércio.

  4. Portanto, fazemos uma visita a Caná, isto é, aos habitantes judeus, que são muitas vezes lesados pelos gregos, astutos e espertos, devendo, como proprietários dos imóveis, pagar quase todos os im- postos, sendo ainda sobrecarregados com outras exigências, o que não raro lhes traz tristeza, doenças e outros sofrimentos.

  5. Chegando a Caná, os judeus e gregos cumprimentam Kisjo- nah e lhe pedem indulgência, pois todos lhe devem grandes somas de dinheiro.

  6. Ele, porém, diz: “Se quisesse vos exigir algo, não necessitaria encetar pessoalmente esta caminhada, e teria enviado um servo; vim para vos trazer um grande consolo e dizer que a vossa dívida para comigo foi paga mais do que suficientemente. Pois o meu e o vosso

Senhor a pagou e me satisfez de maneira completa; assim, podeis estar alegres e despreocupados.”

  1. Quando os moradores de Caná ouvem isto, numa alegria imensa desejam saber de Kisjonah onde está este senhor para que possam agradecer-lhe!

  2. Kisjonah pousa sua mão sobre Meu Ombro e diz: “É Este; deveis vos ajoelhar diante Dele!”

  3. Ouvindo tais palavras, os habitantes caem de joelhos e ex- clamam: “Salve, ó Benfeitor desconhecido! Que fizemos de bom e meritoso para que te apiedasses da nossa grande miséria? Que po- demos fazer para nos mostrar um pouco mais merecedores de tua bondade?!”

  4. Digo Eu: “Sede justos em todas as coisas; amai a Deus sobre tudo e ao vosso próximo, seja amigo ou inimigo, como a vós mes- mos; fazei o bem àqueles que vos prejudicarem; abençoai os que vos amaldiçoam, pedi pelos que vos perseguem, e sereis aceitos como filhos do Altíssimo, no que consiste o único e verdadeiro agradeci- mento para Mim!”

  5. Dizem os gregos: “Senhor e amigo! Temos muitos deuses! Qual deles devemos amar sobre tudo? Zeus, Apolo, Mercúrio ou algum outro entre os doze principais? Ou devemos amar o Deus dos judeus? Parece ser o mesmo que o nosso deus Cronos! Mas, como podemos amá-lo sobre tudo?!”

  6. Digo Eu: “Vossos deuses nada mais são do que uma obra vã, feita da matéria por mãos humanas. Podeis adorá-los, venerá-los e implorá-los durante mil anos, que jamais vos atenderão, pela sim- ples razão de que não existem em parte alguma.

  7. O Deus dos judeus é o Único Verdadeiro e Eterno, Criador do Céu e da terra, com tudo que nela existe. Mas Ele já não é mais reconhecido na plena verdade, e em vez de adorá-Lo em Espírito e Verdade, o que é a base do verdadeiro amor, é considerado por ceri- mônias ocas e imundas!

  8. Eu sou Seu Enviado de Eternidade, e vim para anunciar-vos e a vossos filhos este Evangelho!

  1. A Este Deus deveis amar sobre tudo e cumprir Seus Manda- mentos, que se resumem nisto: Amá-Lo sobre todas as coisas e ao vossopróximocomoavós mesmos!

  2. Além disso, deveis crer que este Deus, que é Meu Pai e, portanto, Meu Amor de Eternidade, enviou-Me a este mundo para que todos que acreditarem em Mim tenham em si a Vida Eterna, tornando-se filhos do Altíssimo!

  3. A fim de que possais crer com mais facilidade, trazei todos os vossos doentes que Eu os curarei, seja a moléstia qual for!”

  4. Este Meu discurso lhes causa muita admiração e todos ex- clamam: “Nossa vila recebeu uma grande graça! Quão poderosas e maravilhosas soam as palavras santas e verdadeiras deste nosso ben- feitor! Realmente, nesta bondade não há astúcia, falsidade ou mis- tificação; por isto, faremos tudo que ele nos exigir! Louvado seja o Deus de Abraham, Isaac e Jacob, que Se lembrou de nós!”

  5. Após estas palavras vão à toda pressa buscar uns duzen- tos doentes!

211. Grande cura milagrosa em Caná. Pedido dos anciãos. Exame de fé. Discurso do Senhor aos de físico são, mas de alma doentia. Regras evangélicas e ensinamentos sociais. Maldição aos usurários! A queda social. Ameaça de castigo do Alto.

  1. Depois dos doentes serem transportados em macas e mulas, postam-se num semicírculo a Meu redor, e os mais velhos deste lu- gar Me pedem:

  2. “Senhor, que nos libertaste das nossas dívidas com o po- deroso e rico Kisjonah — uma ação pela qual jamais poderemos agradecer-te condignamente — faze com que estes pobres consigam recobrar sua saúde para poderem se regozijar conosco do grande benefício que nos proporcionaste!”

  3. Digo Eu: “Sim, convidei-vos para tanto e cumprirei a Minha Promessa; mas antes Eu vos pergunto se podeis acreditar nisto?! Vos- sa fé muito vos ajudaria!”

  1. Dizem os velhos: “Senhor, parece-nos que te seja possível; portanto, acreditamos que possas curar nossos enfermos com teus remédios milagrosos e desconhecidos para nós!”

  2. Digo Eu: “Mas como poderei curá-los, se não tenho remé- dios especiais nem óleos curadores? Qual é vossa opinião?”

  3. Dizem os velhos: “Senhor, como podemos nós entender tal mistério? Entendemos de muitas coisas, menos da medicina! Aqui temos um médico que nada vale, só ajuda a enterrar os outros! Mes- mo se soubéssemos tanto quanto ele, nada poderíamos dizer sobre tua maneira de curar todas as moléstias semremédios.

  4. Talvez possuas meios sobrenaturais, ou talvez sejas um discí- pulo do milagroso curador de Nazareth, chamado Jesus! Se assim é, estas curas serão bem fáceis!

  5. É de lastimar que — conforme consta — os fariseus tanto instigassem Herodes que este se decidisse a prendê-lo e encarcerá-lo! Que infelicidade para esta pobre Humanidade sofredora!

  6. Entretanto, é um grande benefício que ele tenha transmitido sua arte a muitos discípulos! Raras vezes um discípulo é tão perfeito quanto o mestre. Porém, já é uma coisa importante que acreditemos que tu... Mas, que é isto? Quando íamos provar a nossa fé em ti, como discípulo de Jesus, todos os doentes se levantaram de uma vez! Os cegos veem, os coxos andam, os mudos falam, os leprosos estão limpos! Entre eles havia alguns atacados de cólera, outros com a tosse da morte, e agora estão curados! Desde que existe o mundo não foi visto coisa tão grandiosa! Por amor ao grande e onipotente Deus, como isto foi possível? Foste tu quem os curou?! Ou teria sido a obra de um anjo do Céu que tocasse invisivelmente os enfermos?

  7. Pois tu estavas conversando conosco e nem olhaste para eles! Dize-nos, como isto foi possível?”

  8. Digo Eu: “Que importância tem o ‘como’, uma vez que os doentes ficaram completamente curados pela Minha Vontade e Pa- lavra interior, a que todas as coisas são sujeitas? Este fato não se deu por causa dos enfermos, mas por vossa causa, que sois fisicamente sãos, porém muito mais doentes que estes que curei!

  1. Ficaria muito satisfeito se Me fosse possível curar vossas al- mas como curei aqueles de corpo! Mas isto não é tão fácil, porquan- to cada alma deve ser o seu próprio médico!

  2. Já vos dei o remédio espiritual; fazei uso dele e tereis saúde em vossas almas, tornando-vos verdadeiros filhos de Deus.

  3. No entanto, o Verbo que vos dei deve ser considerado sem o mínimo aditamento e sem a mínima omissão! Vós, raros judeus des- te lugar, deveis ser judeus perfeitos no coração; e vós, gregos, tornai-

-vos verdadeiros judeus, a fim de que haja paz e união entre todos!

  1. Também não deveis obrigá-los, pelo vosso espírito usurá- rio, a fazer empréstimos a juros a fim de cumprirem vossas exigên- cias injustas.

  2. Acaso fostes vós que criastes a terra com seus múltiplos te- souros, de modo a agirdes como se fosse ela vossa propriedade?

  3. Por que exigis dos judeus um juro sobre o arrendamento, quando a terra lhes foi dada por Deus e, portanto, seria deles o di- reito a esta exigência?! Sois estrangeiros no país dos judeus, que são mais filhos de Jehovah do que vós, e exigis juros de arrendamento dos campos, pastos e matas, que lhes pertencem desde Abraham! Perguntai a vós mesmos se isto pode ser justo diante de Deus e de todas as pessoas jurídicas!

  4. Advirto-vos seriamente a que não cometais futuras injusti- ças e atos escabrosos, pelo que tereis de arcar com as consequências!

  5. Restituí aos judeus os bens que lhes açambarcastes, conside- rai-vos como estrangeiros na terra deles e tereis uma parte abençoada em tudo que lhes é dado, de acordo com a promessa. Caso contrá- rio, recebereis a maldição de milhares!

  6. Considerai este caso com alguma clareza e vereis que os ju- deus são, para vós, nada além do que animais de carga!

  7. Bem que lhes deixais o direito político de posse, podendo eles afirmar: ‘Este imóvel é meu!’ Acontece, porém, que surgistes com vossos artigos de luxo, tentando as judias a se vestirem à vossa moda, e como os judeus não pudessem pagar estas extravagâncias, legaram-vos o usufruto de seus campos, hortas, pastos e matas. Co-

mo também necessitavam de algo para seu sustento, viram-se obri- gados a um aluguel elevado, dando-vos o dízimo sobre a colheita! Além disto, eles, os verdadeiros proprietários, são obrigados a pagar todos os impostos e outros encargos!

  1. Eu vos digo: Tal injustiça grita aos Céus e merece punição do Alto! Por isto, deixai-vos orientar por Mim, senão será difícil escapardes do Açoite Divino!”

212. Discurso mordaz e humorístico do Senhor dirigido ao grego Philopoldo. Resposta presunçosa do mesmo. Dissertação estoica e cega contra a Divina Ordem da Vida.

  1. Estas palavras deixam os gregos estupefatos e alguns dizem: “Isto foi muito bem engendrado pelos judeus, geralmente bobos; encomendaram este milagroso Jesus a fim de intimidar-nos! Mas nós temos um solo seguro e estamos firmes!”

  2. Desta vez, Eu Mesmo fico alterado com a dureza dos gregos e digo ao orador que tenta persuadir os bem intencionados: “Ouve, homem de coração endurecido! Vê que o solo em que pisas não va- cile! Já houve muitos que também exclamaram com voz exagerada- mente heroica: ‘Deixai que o mundo seja destroçado, pois os franga- lhos me carregarão numa completa insensatez pelo Espaço infinito!’ Mas, quando o solo apenas começava a trepidar um pouco, o herói presunçoso era o primeiro a fazer uso de suas pernas! Talvez não o fizesse por medo de ser soterrado sob os escombros de sua casa, mas para agarrar um pedaço de terra, a fim de iniciar uma cavalgada intrépida pelo infinito!

  3. Digo a ti, que és um grego presunçoso e te chamas Philopol- do: a mosca que, às vezes, atreve-se a fazer uma viagem de negócios sobre o teu nariz acha-se mais segura lá do que tu, em cima do teu solo! Pois, mesmo que teu nariz fosse destroçado, ela ainda possuiria uma outra base onde pudesse manter-se, e esta base — é o ar! Onde estaria a tua outra base, caso o solo começasse a tremer debaixo de teus pés?”

  1. A estas Minhas Palavras, premeditadamente chistosas, Philo- poldo se irrita e diz: “Fato interessante: um judeu humorista?! Cer- tamente o primeiro e último, em toda Israel! Amigo, quando um grego fala em coragem, ele a tem na verdade! Pois sabe fugir à vida e procurar a morte. A História só fala do heroísmo grego, enquanto a covardia incompreensível dos judeus é bem conhecida! Faze estre- mecer a terra ou solta todos os dragões que nela existem — verás se Philopoldo se altera por isto!”

  2. Digo Eu: “Desiste de tua oca presunção e faze o que ordenei a ti e a todos, senão Me obrigarás a impor uma severa prova à tua coragem! Pois o Deus dos judeus não admite galhofas em assuntos tão sérios e a Sua Grande Paciência também tem limites em cer- tas coisas!

  3. Mas, se quiseres fazer uma experiência, convencer-te-ás in- teiramente de que não é tão fácil acalmar um Deus Rancoroso, que deixa de ser Indulgente para com um grande pecador!”

  4. Diz Philopoldo: “Isto soa de modo bem judaico! Os judeus tiveram certos profetas que só abriam a boca para soltar ameaças, as quais, geralmente, só se cumpriam em épocas incertas. Na maior parte eram apenas externadas e não cumpridas, pois a natureza da terra sempre foi mais poderosa que as palavras dum profeta judaico! Os gregos são quase todos estoicos e, como tais, não temem coisa alguma — como eu, que também sou estoico!”

  5. Matheus, o apóstolo que fora aduaneiro em Sibarah, diz-Me em surdina: “Senhor, conheço bem este homem aborrecido e fatal! Sempre provocou querelas na minha alfândega quando se dirigia com seus artigos de venda de Capernaum para Nazareth. Teria von- tade de ‘conversar’ um pouco com ele!”

  6. Digo Eu: “Deixa disto; já lhe reservei algo!”

  7. Matheus recua um pouco, mas Philopoldo o reconhece e lhe diz: “Ora vê só, que fazes tu aqui, aduaneiro avarento?! Que será de tua alfândega se não podes vigiá-la por todos os lados, com teus olhos de lince?! Não precisas instigar este curador contra mim; saberá o que fazer se eu me tornar por demais obstinado com ele.

Previno-vos que tereis uma luta feroz comigo, pois um estoico não é um barbante que se possa dobrar à vontade.

  1. Olha, a cura milagrosa dos duzentos impressionou quase todos os habitantes de Caná. Por que isto não se deu comigo?! Por- que sou um estoico verdadeiro, para o qual toda Criação não vale um piparote, e eu, com esta minha vida miserável, ainda menos! Com que quereis castigar-me? Com a morte? Eu vos digo: eu a DE- SEJO com a destruição eterna; penso que não devo gratidão a ne- nhum deus por esta vida misérrima! Ou deve alguém agradecer pela dádiva mais odiosa?! A um deus poderoso não deverá ser coisa muito difícil criar um homem! Quem o poderia impedir nisto? A criatura a ser criada não é consultada previamente para que possa, como única autorizada, pronunciar o seu Sim ou Não! A uma criatura não interessa a posterior criação de uma outra — muito menos à uma que ainda está para vir! Portanto, criar nada de mais é, para um deus; mas para a criatura, sim, pois tem que ser algo para o qual nunca pôde expressar desejo algum. Poderia haver coisa mais miserável do que ser, sem jamais o ter desejado?!

  2. Dai-me de comer e beber, sem trabalho e preocupação, e eu me contentarei, ao menos pelo tempo de minha vida terrena. Mas ser obrigado a trabalhar pesadamente pela conservação deste ser, sofrer como um lobo perseguido, cumprir certos mandamentos, essencialmente egoístas do Criador — eu agradeço, perante todos os deuses judaicos e gregos!”

  3. Diz Matheus: “MAIS exemplares iguais a este, e Satanás terá uma escola que poderá frequentar durante cem anos! Senhor, que fazer com ele? Se é como fala, nem os anjos dele conseguirão alguma coisa!”

213. Almas em aprendizagem sobre a terra. A terra como única escola para os filhos de Deus. A reencarnação. O mundo solar chamado Procyon. A Encarnação do Senhor. Milagre do anjo como mensageiro. Murahel (Philopoldo) e Archiel (Arcanjo). O contrato feito no mundo solar.

  1. Digo Eu: “Verás, em breve, o que poderá ser feito com ele!” E dirigindo-Me ao estoico Philopoldo: “Pensas, por acaso, que não fir- maste um contrato com Deus, o teu Criador, consentindo todas as condições imprescindíveis para a vida neste planeta e que, antecipa- damente, muitas vezes te foram demonstradas? Tolo que és, porque este já é o vigésimo planeta em que habitas fisicamente. A tua idade corpórea contém tantos anos desta terra que ultrapassa o número de grãos de areia de todos os mares! Um tempo infinito, incalculável para uma criatura, permaneceste no espaço como espírito puro, no seu ser completo e numa consciência perfeita, em companhia de espíritos incontáveis, vivendo e apreciando esta vida livre em toda a sua pujança!

  2. Quando, em tua última encarnação, habitaste o mundo so- lar que os sábios desta terra denominam Procyon, mas pelos seus próprios habitantes é chamado Akka1, externaste o desejo vivo de encarnar possivelmente no mesmo planeta no qual, como te fora dito por um anjo, o Grande e Onipotente Espírito Eterno, como Único Criador e Sustentador do Infinito e de tudo que nele existe, tomaria carne, usando a forma perfeita do homem. Querias ver e ouvir Aquele que te criou. Eis que, então, surgiu o mesmo anjo que vês à Minha direita, em sétimo lugar, em forma de homem e, no entanto, é um espírito completamente independente, que te expôs, com todas as minúcias, as condições difíceis que haverias de passar como habitante deste planeta, no qual poderias conseguir a Filia- ção Divina!

  3. Aceitaste todas as condições, inclusive esta de que, como seu habitante, ficarias destituído de toda recordação de teu passado em

  1. Em toda parte com a mesma pronúncia, pois eles só falam um idioma.

outros, até o momento em que o mesmo anjo te chamaria três vezes seguidas pelo nome que usavas no Akka.

    1. Se tudo isto se baseia na verdade incompreensível ao teu en- tendimento, como podes afirmar, tão injustamente, não existir con- trato entre ti e teu Criador que justifique tua estada nesta terra?!”

    2. Diz Philopoldo: “Que absurdo é este?! Eu teria habitado um outro mundo melhor e mais bonito, como homem na carne?! Não, isto é forte demais! Ouve, tu que és o sétimo à direita e que o na- zareno chama de anjo, como te chamas tu e qual é o meu nome?”

    3. Diz o anjo: “Espera um pouco; trarei num instante provas convincentes do teu passado e dar-tas-ei para teu conhecimento!”

    4. O anjo desaparece e volta em poucos instantes, entregando a Philopoldo um pergaminho no qual consta, visivelmente, o no- me do anjo e o seu próprio em caligrafia hebraica, e um segundo pergaminho com todas as condições que ele aceitara antes de sua transição.

    5. Entregando-lhe isto, o anjo diz: “Lê e reconhece-o, velho Murahel, Murahel, Murahel! Pois eu, que me chamo Archiel, trou- xe-o do mesmo altar onde fizeste tua grande promessa! Não me per- guntes como isto pôde acontecer tão rapidamente, pois para Deus são possíveis os maiores milagres! Lê primeiro e depois fala!”

214. Visão espiritual de Philopoldo. Cena familiar no Akka. Philopoldo, convertido, louva o Amor de Deus. O contrato é novamente assinado. Causa do esquecimento do nosso passado. Conexão de corpo, alma e espírito. Fase final da perfeição do homem. O espírito do homem é um pequeno deus. Diferença da vida espiritual entre este planeta e os outros.

  1. Philopoldo lê os pergaminhos com grande atenção; com isto, abre-se sua visão espiritual, tanto que diz, após um certo tempo de profunda admiração: “Sim, realmente; reporto-me a todas as pro- fundezas de minhas sucessivas encarnações, vejo todos os mundos em que habitei, inclusive os lugares onde vivi desde o nascimento até a morte. Vejo o que fui e o que fiz nos diversos planetas e todos os meus ascendentes e descendentes no Akka; vejo até meus pais e ir-

mãos! Ouço como discutem preocupados por minha causa, e dizem: ‘Que há com Murahel? Teria o espírito dele encontrado, no Espaço infinito, o Grande Espírito em forma humana? Não se lembrará de nós, porque Archiel, o Seu enviado, vedou-lhe toda a recordação até que o chame três vezes pelo seu nome verdadeiro!’

  1. Ouço-os falarem assim e vejo-os nitidamente! Agora, diri- gem-se ao templo a fim de reverem nos documentos as duras con- dições de vida aqui, mas não os encontram! O Sumo Pontífice lhes diz que Archiel os apanhara há pouco para mostrá-los a mim, mas em breve os levará de volta. Eles esperam no templo e fazem uma oferenda em meu benefício!

  2. Ó amor, força divina! Como teus braços santos abrangem o Infinito! Por toda a parte o mesmo amor! Meu Deus, quão Grandio- so e Santo és Tu, e como está repleta de segredos ocultos a vida do es- pírito! Quem poderia abarcar as profundezas que ora avisto?! Quão insipidamente perambula a pobre criatura sobre este orbe árido, tra- vando uma luta de vida e morte por um palmo de terra, enquanto traz dentro de si o que milhares de terras não podem abranger!”

  3. Após estas palavras Philopoldo entrega os dois pergaminhos ao anjo, dizendo: “Devolve-os ao lugar onde são aguardados!”

  4. O anjo responde: “Vê, também trouxe o material com que assinaste os documentos no templo do Akka. Assina cada um duas vezes, isto é, com o nome no Akka e com o atual, guardando como lembrança a pena que usaste!”

  5. Philopoldo assim faz, o anjo apanha os documentos e desaparece.

  6. Depois de alguns instantes de conversação com o Sumo Pon- tífice no Akka, ele volta e pergunta a Philopoldo quais as suas ideias.

  7. Responde este: “Quando te devolvi os dois pergaminhos, a visão desapareceu; da recordação só me resta algo como num sonho, do qual não é mais possível à criatura se lembrar! Também vejo que tenho uma pena estranha em minha mão esquerda, mas não lhe conheço a origem. Por isto queria saber por que a pessoa só guarda

recordações muito fracas ou nenhuma, de aparições tidas dentro de sua alma!”

  1. Diz o anjo: “Porque a criatura deve tornar-se completamente nova, por Deus e em Deus. Uma vez que o consigas, terás obtido a filiação divina, quando tudo te será restituído!

  2. Em todos os outros mundos eras formado, interna e exter- namente, para aquilo que devias ser; aqui, entretanto, Deus entrega a formação externa à alma, que constrói seu próprio corpo dentro da ordem por que foi criada. A alma, porém, é obra do espírito dentro dela, o qual também obedece às leis externas. Quando a alma con- segue um justo grau de maturação e aperfeiçoamento, o espírito a penetra inteiramente; a criatura, com isto, torna-se perfeita, um ser novo através de Deus, pois que o espírito no homem nada mais é do que um deus em menor proporção, tendo sua origem no Coração do Senhor. Mas isto não pela ação Dele, mas pela sua própria, o que o faz um verdadeiro filho de Deus! Em resumo:

  3. Em todos os outros mundos, as criaturas não são formadas por si, e sim por Deus ou por Seus filhos, o que é a mesma coisa. Mas aqui elas são obrigadas a formar-se por si , de acordo com a or- dem revelada; do contrário, não poderão tornar-se filhos de Deus! E tal criatura perfeita desta terra é, em tudo, idêntica a Deus; enquan- to que outra, imperfeita, fica abaixo do reino animal!”

215. Discurso de Archiel sobre a Encarnação do Senhor. Acanhamento de Philopoldo e sua convocação ao lado do Mestre. A verdadeira imitação do Senhor.

  1. Novamente Philopoldo indaga ao anjo: “Mas quem nos po- derá mostrar esta ordem misteriosa?”

  2. Responde-lhe este: “Justamente Aquele que te me indicou! Vai a Ele que te repetirá o mesmo, pois os ensinamentos que dá perfazem a ordem de vida pela qual, unicamente, alcançar-se-á a filiação divina!

  3. É por causa Dele que tu e muitos outros abandonaram o Akka em espírito e encarnaram nesta terra.

  1. Em todo o Cosmos, isto é, nos planetas habitados por seres racionais em forma humana, divulgamos a Encarnação do Senhor. Mas somente a poucos espíritos de alguns mundos é permitida a encarnação neste orbe. O Senhor conhece a natureza de todos os mundos no Espaço e sabe se um espírito se presta para a encarnação nesta terra.

  2. Sempre que houve alguém aproveitável, esse alguém foi transportado para cá, mas este número é pequeno e não ultrapassa muito a dez mil.

  3. Entre estes tu és um felizardo, pois, se quiseres, pode- rás ser aceito pelo Senhor como discípulo igual àqueles que O acompanham.”

  4. Responde Philopoldo: “Meu Archiel! Como já me fizeste tantos benefícios, faze mais este de conduzir-me ao Senhor; pois, agora que O reconheço, falta-me a coragem de achegar-me a Ele! Se fosse por mim, teria vontade de fugir e me esconder onde jamais alguém me pudesse encontrar! Mas, como já estou aqui e todos me conhecem, daria motivo a boas gargalhadas! Por isto, peço-te que intercedas por mim!”

  5. Diz o anjo: “Tal não é preciso, pois o Senhor sabe o que nós dois necessitamos; assim, vai tu sozinho, que Ele te não irá arrancar a cabeça!”

  6. Após este conselho, Philopoldo cria novamente coragem, aproxima-se de Mim de modo circunspecto e diz, a uma certa dis- tância: “Senhor, permites que eu me aproxime de Ti? Caso contrá- rio, recuarei!”

  7. Eu, porém, digo: “Quem quiser vir, que venha! Vacilando, jamais alguém se adiantou!”

  8. Quando Philopoldo ouve isto, apressa seus passos e em pouco está perto de Mim, alcançando rapidamente o que muitos não conseguem devido à hesitação, tanto que não se consegue arre- dá-los, não obstante as muitas chamadas.

  9. Enquanto a criatura, em todos os seus atos, não dirigir seus passos em linha reta para Mim, tudo que fizer será inútil. Mesmo

se ganhar o mundo inteiro, não Me possuindo, de nada lhe servi- rá, pois não renasceu em espírito! Se Eu nesta época da revelação do Evangelhochamar alguém e lhe disser: “Vem!”, e ele não vier, precipitar-se-á na morte do espírito! Por isto, Philopoldo é um vivo exemplo, que todos deverão seguir! Se alguém for chamado após ter perguntado por Mim, que venha e não vacile! Pois Eu não ficarei para sempre em Caná — quer dizer, neste mundo cheio de graça — mas seguirei em breve, afastando olho e ouvido de todos aqueles que hesitam quando digo: “Vinde!”

216. Philopoldo faz um discurso bom e humilde. O Senhor responde cheio de Graça. Na terra existem duas classes de criaturas, as de baixo e as de cima. Motivo da Encarnação do Senhor neste planeta. Os últimos serão os primeiros. Diretrizes para os curados. Os escrivães Matheus e João. A atual Revelação.

  1. Quando Philopoldo se aproxima de Mim, diz: “Senhor, pe- quei tremendamente contra Ti, mas isto em consequência da mi- nha grande cegueira! Agora que Tu, ó Senhor, deste-me a visão de maneira tão maravilhosa e eu reconheço quem Tu és, peço-Te, pelo Teu Amor Eterno e Tua Sabedoria, que me perdoes todos os erros cometidos contra Ti e contra meu próximo. Se eu tivesse escrito o Teu Santo Verbo, então por todos os Céus — nenhuma vírgula dei- xaria de cumprir! Creio ter compreendido bem Teu desejo e segui-

-lo-ei fielmente! Pagaste por nós a dívida a Kisjonah e curaste nossos enfermos gratuitamente, tudo isto sem que alguém o tivesse pedido; espero, pois, que não afastes de Ti um pecador contrito!”

  1. Digo Eu: “Estás aceito! E todo aquele que vier, também o será! Antes, porém, vai organizar tuas coisas, depois Me segue. Não deves ficar preso a este mundo, pois não és daqui de baixo, mas dum outro, de cima!

  2. De todos que vês a Meu redor, também alguns são do teu mundo; diversos pertencem a um diferente sol e poucos a esta terra; estes não representam grande coisa, pois o mundo lhes vale mais do que Eu. Por isto, conseguem pouco ou mesmo nada.

  1. Escolhi este orbe por serem seus filhos os últimos e mais ín- fimos de todo o Universo; trajei-Me com a vestimenta da mais pro- funda humildade, para que fosse possível a toda a Minha Infinita Criação aproximar-se de Mim. Desde os habitantes planetários mais baixos até aos mais elevados, de sóis centrais, todos deverão procurar esta aproximação, pelo mesmo caminho.

  2. Por isto, não te admires de encontrar-Me neste último e mais imperfeito planeta de todo o Cosmos! Eu Mesmo assim o quero, e quem poderá prescrever-Me o agir de outra maneira?!”

  3. Diz Philopoldo: “Senhor, quem haveria de querer ou poderia dar-Te um conselho se acredita, sabe e reconhece que Tu és o Senhor de Eternidade?! Agora, porém, eu vou, para cumprir Tua Vontade Santíssima!”

  4. Após estas palavras ele se afasta, às pressas, com todo o Con- selho Municipal. Enquanto vários judeus se juntam a eles a fim de averiguarem as atitudes dos gregos, Eu transmito ensinamentos aos curados de como deveriam agir no futuro para não mais caírem nos velhos erros!

  5. Todos aceitam estas diretrizes e Me agradecem de coração pelo grande benefício recebido.

  6. Em seguida proíbo-lhes contar a estranhos o que viram e ou- viram para não Me denunciarem antes do tempo; do contrário, as consequências seriam graves! Eles Me prometem que ninguém, fora deste lugar, saberia algo.

  7. Depois disto despeço-os e também ordeno aos discípulos que silenciem sobre estes fatos, que só poderão ser relatados em Kis. À pergunta de Matheus se poderia anotá-los, respondo: “Não! Com- preendeis isto bem, como testemunhas próximas; se, porém, tudo que falo e faço diante de vós for escrito em livros, o mundo não só deixará de compreendê-los como também se aborrecerá, condenan- do-vos como mistificadores! Por isto, Matheus, só deverás anotar aquilo que Eu permitir!”

  8. Diz João: “Mas, Senhor, Tu meu amor puríssimo, ouve! Es- taria tudo muito bem assim; se no decorrer dos tempos, porém, o

mundo receber documentos primitivos de Tua Passagem e Atividade nesta terra, as criaturas cairão forçosamente em toda sorte de dúvi- das sobre Ti, Teu Ser e Ação, tomando estes fragmentos por obras do egoísmo sacerdotal!”

  1. Digo Eu: “Mas é justamente isto que Eu quero para o mun- do propriamente dito, que é u’a morada de Satanás; pois, se fordes deitar grãos de milho ou as pérolas mais perfeitas a uma porca, ela fará às pérolas o mesmo que fizer ao milho.

  2. Assim, é melhor que o mundo receba a Doutrina completa- mente velada, podendo ele estraçalhar-se com a casca, mas em cujo centro fique incólume a semente da vida.

  3. Se algum dia se tornar necessário, Eu novamente desperta- rei algumas criaturas, transmitindo-lhes tudo que aconteceu e o que o mundo deverá aguardar em vista de sua maldade incorrigível.

  4. A maneira como isto se dará Eu te revelarei, Meu irmão João, ainda nesta terra, em quadros ocultos para todo o mundo, após Eu ter tomado novamente morada em Meus Céus!

  5. Agora, porém, estão voltando os gregos e judeus do Con- selho Municipal desta localidade, e veremos como cumpriram Meu desejo!”

217. Advertência das artimanhas de Satanás. Ele só pode influenciar os

sentidos, e não a vontadeda alma. Ensinamentos consoladores.

  1. Philopoldo aproxima-se de Mim com vários gregos e diz: “Senhor, fizemos o que era possível dentro do curto espaço de tem- po; as minúcias não serão esquecidas. Organizei tudo em minha casa e com minha família, de modo que poderei seguir-Te livremente por dois ou três anos, se de quando em quando der notícias aos meus sobre onde me encontro e o que Tu fazes. Pois todos acreditam em Teu Nome. Dize-me, ó Senhor, se estás satisfeito?”

  2. Digo Eu: “De saída fizestes tudo que é justo perante Deus e a criatura com pensamentos honestos; mas tende cuidado para que Satanás não vos arme toda sorte de ciladas que vos levarão a brigas

e dissenções, num estado muito pior do que este, do qual Eu acabo de vos libertar!

  1. O espírito mau não descansa, nem de dia nem de noite; fica rodeando cá e acolá, qual leão faminto que ataca tudo que por acaso se lhe apresente.

  2. Se fosse visível, muitos corajosos arriscar-se-iam a lutar com ele; mas, como não se apresenta como realmente é, pode, quando quer, elevar sua figura até à beleza de um anjo luminoso ou transfor- mar-se num dragão que vomita fogo, não havendo quem o queira enfrentar! De qualquer forma far-se-á vencedor sobre milhares de pessoas, ou por sua beleza ou por sua aparência horrenda. A criatura, no entanto, poderá com facilidade reconhecer sua influência maldo- sa, porquanto esta predispõe a alma à inclemência, à impudicícia, ao adultério, ao egoísmo e à imperiosidade, ao perjúrio, à avareza e à insensibilidade contra tudo que é verdadeiro e divino. Torna-a indiferente aos pobres e enfermos e ávida pelo gozo no mundo. Uma vez, porém, que tenha consciência destas insinuações, a criatura po- de enfrentar abertamente Satanás, que só pode influenciar os sen- tidosdaalma,ejamaissua vontade!

  3. Demonstrei-vos como podeis reconhecer qual a influência que espreita vossa alma e qual a intenção do espírito que vos rodeia.

  4. Quando sentirdes algo deste jaez em vós, lembrai-vos de Mi- nha Doutrina e levantai vosso ânimo, fazendo justamente o contrá- rio daquilo a que fordes tentados; assim, dominareis o mau espírito! Uma vez conseguido isto em todos os pontos mencionados, ele vos deixará em paz. Mas, se vos deixardes seduzir por uma ou por outra tendência, ou pelo menos cederdes com facilidade, não vos conse- guireis livrar dela até o fim de vossa vida.

  5. Por isto, gravai bem os pontos a que Me referi! Quando o espírito do mal tiver conseguido que uma alma ceda num ou noutro ponto, o que redunda em pecado, é preciso lutar destemidamente para reparar este dano feito à alma.

  6. Mas quem tiver uma vontade rigorosa e fizer o quanto pos- sível, entregandosuasfraquezasaMim,conseguiráuma vitória

plena sobre Satanás, mas, notai bem, apenas chamando, numa fé viva e convicta, pelo Meu Nome.

  1. Agora sabeis de tudo que necessitais, conheceis o Único e Verdadeiro Deus Vivo, bem como a Sua Vontade.

  2. Eu vos digo: O Pai no Céu vos proveu de tudo! Agora de- pende de vós o querer aproveitá-lo, conscientemente, para vosso ver- dadeiro e eterno benefício vital.

  3. De vossas ações surgirá o efeito e as palavras serão vos- sos juízes!

  4. Tu, Philopoldo, permanece aqui por mais três dias e pro- cura colocar tudo em ordem; em seguida, vai até Kis, onde Me en- contrarás.”

  5. Philopoldo promete assim agir; Eu abençoo este vale e de- pois nos encaminhamos para Kis.

218. Os acontecimentos em casa de Kisjonah na ausência do Senhor. Os fariseus são desviados pelos servos de Kisjonah, e em seguida chamados de volta por ordem do Senhor. Confissão dos fariseus e seu pedido para que os doentes sejam curados. Grande cura milagrosa.

  1. Chegando à casa, somos recebidos por vários servos que nos contam ter vindo, logo depois da nossa partida para o vale, uma quantidade de estranhos que se informou do que Eu andava fazendo e para onde Me havia dirigido. Como os servos reconhecessem que eram templários disfarçados, responderam que Eu há muito havia abandonado esta zona, presumivelmente para Damasco, ou talvez para a Pérsia, a fim de visitar os pagãos.

  2. Os investigadores se aborreceram visivelmente com isto, e um deles dissera: “De árvores novas os garotos conseguem sacudir os frutos, mas não de uma árvore velha, que só pode ser galgada com todo o cuidado, quando se quiser alcançar os galhos carre- gados de frutos! Este charlatão pouco poderá fazer contra o velho judaísmo!”

  3. A estas palavras os servos se riram e disseram: “Tende cuida- do para que a árvore não caia com o vento, de podridão! Parece-nos

que a vossa há muito tempo está morta e de fruto nem vestígio mais há, a não ser que dependureis figos secos nos galhos estéreis, decla- rando esta fraude um milagre!”

  1. Com esta expressão os fariseus se tornaram indignados, ame- açando os servos.

  2. Estes, porém, responderam: “Primeiramente, somos gregos e professamos a religião do Imperador; assim, podemos ridicularizar vossa estultícia, que chamais de doutrina divina, e não podeis rea- gir, uma vez que não fazemos isto em vossos templos e sinagogas. Segundo, aqui somos muitos que servimos na casa do grande e rico Kisjonah, e se não abandonardes este lugar, indicar-vos-emos o ca- minho com cacetes!” Eles morderam os lábios de raiva, seguindo o caminho à beira-mar, em direção a Jerusalém.

  3. Dizem os servos: “Agora perguntamos-Te, Senhor, se agimos bem!”

  4. Digo Eu: “Em parte sim, mas não foi justo que lhes dissés- seis, conscientemente, u’a mentira! Teria sido melhor dizer-lhes a verdade, pois neste caso teriam nos esperado e lhes causaríamos uma transformação. Na maior parte eram enfermos e, entre eles, alguns fariseus bem intencionados. Acamparam-se na colina que se eleva do lado superior da baía; ide depressa até lá com burros e mulas e trazei-os até aqui. Dizei-lhes: O Senhor chegou e vos espera! Deitai os enfermos sobre mulas, e os sãos, que venham a pé!”

  5. Embora já esteja anoitecendo, os servos se põem a caminho; uma hora mais tarde trazem de volta todos que tinham sido enxo- tados por eles.

  6. Cinco fariseus se aproximam de Mim, cheios de respeito, e se queixam de terem sido tratados tão rudemente por parte dos servos.

  7. Eu os consolo, dizendo que não havia má vontade nisto. “Agiram apenas por amor cego para Comigo, pois vos tomaram por Meus inimigos. Assim, mandei que vos fossem buscar e penso que estais quites, vós e eles.”

  8. Dizem os templários: “Perfeitamente, está tudo em boa or- dem. Agora, mudemos de assunto!

  1. Viemos de Bethlehem e trouxemos os nossos doentes, pois ouvimos fatos maravilhosos do teu poder curador. Os que ainda ti- nham forças para caminhar vieram a pé, os mais fracos foram trans- portados sobre mulas. Por isto, pedimos-te que tenhas piedade dos sofredores e os cures!”

  2. Digo Eu: “Onde estão aqueles que transportastes para cá? Os servos nada Me disseram a respeito.”

  3. Dizem os cinco fariseus: “Deixamo-los no albergue além da encosta, pois não sabíamos se te encontraríamos. Ninguém nos informava ao certo; lá poderão contar com um certo trato.

  4. Agora, Senhor e Mestre, já que te esclarecemos sobre tudo, se quiseres, socorre os pobres sofredores!”

  5. Digo Eu: “O caso é este: se não vedes milagres e sinais, vossa fé é fraca; e sem a força da fé, pouco se fará pela salvação dos homens! Mas, se credes, vereis a Glória da Onipotência de Deus no homem!”

  6. Exclamam todos: “Sim, sim, Senhor! Cremos todos! Quem ressuscitou a filha do reitor Jairo poderá curar todas as doenças que estão longe de serem mortais! Pois estes atos ouvimos narrar até em Bethlehem, a cidade de David!”

  7. Digo Eu, com as Mãos levantadas: “Pois bem, que aconteça como credes!”

  8. Todos os doentes que estão à espera da cura no pátio re- cuperam a saúde, gritam e exultam, dizendo: “Vimos uma luz que penetrava em nossos corpos — e o mal-estar desapareceu como se nunca tivéssemos estado doentes. Salve Aquele que nos curou!”

  9. Os fariseus tão admirados estão que não dizem palavra. Da- qui a pouco, porém, ouvem-se gritos de regozijo por toda a vila de Kis, e os templários e os curados se apressam em sair para ver a causa desta algazarra. Logo deparam com os enfermos que tinham deixa- do no albergue, que, aos pulos, lhes vêm ao encontro, exclamando: “Salve Aquele que nos curou tão milagrosamente!” Eles, perto de trinta pessoas, contam em uníssono que em tal hora uma luz havia penetrado em seus corpos.

  1. Os cinco fariseus percebem que foi justamente no momen- to em que Eu havia dito: “Que aconteça como credes!”

  2. Todos estão cheios de admiração e os curados pedem: “In- dicai-nos o nosso salvador para que lhe possamos oferecer nosso lou- vor e gratidão!”

  3. Os templários os conduzem a Mim e eles se ajoelham, lou- vando a Deus por ter concedido ao homem tal poder!

  4. Eu faço com que se levantem e exijo que nada falem, nem em Jerusalém nem na cidade de David.

  5. Prometem fazê-lo na medida do possível, pois em sua cida- de isto será difícil quando voltarem todos com saúde. Em todo caso farão tudo para não Me denunciar.

  6. Em seguida, levo-os pessoalmente à sala de refeição, onde abençoo comida e bebida e os convido a se servirem, que nada ha- veria de prejudicá-los. A seguir, retiro-Me para uma outra sala, onde o honesto Baram havia preparado um bom jantar para Mim e os Meus, no qual também Kisjonah e sua família tomam parte.

219. Novo ensinamento missionário. Necessidade da fermentação psíquica. Comparação com o boi cevado. A bênção da provação.

  1. Depois do jantar diz Ahab: “Senhor, claro que eu, desde Je- saíra, estou completamente orientado sobre a Tua Natureza Divina; não seriam, pois, precisos estes sinais milagrosos para convencer-me de que és Jehovah, agindo através dum corpo humano tirado desta terra. Estou curioso, apenas, por saber se estes fariseus de Bethlehem, que parecem ser honestos, não percebem Quem é Aquele que curou, tão milagrosamente, os enfermos. Sou de opinião que deveríamos experimentá-los, para ver o que pensam de Ti!”

  2. Digo Eu: “Amigo, espero não duvides que Eu saiba o que pensam de Mim; portanto, julgo não ser preciso que os perturbemos em suas conjecturas. Amanhã, também, teremos tempo para muita coisa. Deixemos que fermentem um pouco! Assim como a fermen- tação é indispensável para um vinho novo a fim de se tornar um vinho bom, da mesma forma torna-se necessária uma fermentação

idêntica na alma de todas as criaturas, caso deva penetrá-la a verdade espiritual.

  1. Vê, quando um homem possui tudo que necessita, sente-se bem a gosto; não se preocupa com coisa alguma, não trabalha e, tampouco, pergunta se existe Deus, uma vida após a morte, ou se é mais do que um animal e vice-versa. Montanhas e vales são o mesmo, inverno e verão não o atingem, pois no verão tem sombras e banhos refrescantes, e no inverno, lareiras aquecedoras e roupas quentes.

  2. De igual modo, não se incomoda se a colheita foi boa ou má, porque, primeiramente, está provido de mantimentos pelo espaço de dez anos, e segundo, possui tanto dinheiro que se pode abastecer a qualquer hora.

  3. Um homem assim tem a mesma vida de um boi cevado e não lhe vêm outros pensamentos que não se relacionem com seu bem-estar.

  4. Se fizesses uma tentativa de pregar-lhe o Evangelho do Rei- no de Deus, ele faria o mesmo que fez o boi cevado com a mutuca que o incomoda enquanto come: sacode sua cauda sobre o hóspede inoportuno, o qual levanta voo rapidamente para não ser abatido.

  5. E vê, este homem que vive na opulência dará ordens à sua criadagem, figuradamente a cauda que afasta as moscas, para enxo- tar-te. Naturalmente, procurarás fugir dali o mais depressa possível, e somente a uma boa distância poderás refletir sobre o efeito que teu sermão evangélico produziu no ricaço.

  6. Eu, porém, sei preparar um sermão para estes egoístas, fa- zendo com que se deem acidentes sobre acidentes; com isto, vêm as preocupações, o medo e o pavor, e a criatura começa a indagar pela razão de tal castigo, porquanto jamais cometeu uma injustiça contra alguém, tendo levado uma vida honesta e decente!

  7. Mas isto acontece apenas para a necessária fermenta- ção íntima.

  8. Neste estado d’alma, a pessoa procura amigos que lhe pos- sam trazer alguma paz; então poderás aproximar-te dela e falar do Evangelho, pois não serás interrompido por uma cauda agitada.

  1. Por este motivo é salutar que os nossos hóspedes venham a fermentar um pouco durante esta noite; tal coisa os fará mais aces- síveis e amanhã teremos uma tarefa mais suave. Reconheces isto?”

220. Admiração de Ahab sobre a Sabedoria Divina. É imprescindível o conhecimento de si próprio. “Não sede apenas ouvintes, mas executores da Palavra de Deus!” O verdadeiro e bem-aventurado repouso em Deus. Advertência contra o sono prolongado e a preguiça.

  1. Diz Ahab: “Ó Sabedoria Divina! Quanto ensinamento eleva- do e verdadeiro comportas dentro de ti e quão imensamente igno- rantes somos nós! Consiste numa verdade eterna a afirmação de que jamais poderá surgir algo sem ser precedido duma ação positiva — e eu queria procurar os fariseus de Bethlehem e iluminá-los! Ó ponto central de toda ignorância! Pois não dizem os sábios gregos: ‘Toda atitude depende de uma luta e o efeito é a consequência desta’ — e eu não vi isto?! Por que o vejo agora?!

  2. Sim, enquanto não preceder no íntimo da criatura uma luta entre ela e seus elementos vitais, tudo que lhe for aplicado externa- mente será em vão!

  3. Estou completamente a par das condições instrutivas sobre a vida do homem; tenho vontade de levantar um axioma e creio ter atingido o alvo!” Digo Eu: “Externa-o! Analisá-lo-ei depois!”

  4. Diz Ahab: “Deus não poderá dar ao homem, sem prejuízo, o que este não tiver adquirido pelo seu próprio esforço, de acordo com as qualidades recebidas desde o início para o seu aperfeiçoamento! Deus poderia provê-lo da perfeição através da Graça, o que, porém, não constituiria mérito para a criatura.

  5. Quem não conhecer a si mesmo, como poderá conhecer a outrem e, finalmente, a Deus? Este seria o meu lema, Senhor; acertei bem?”

  6. Digo Eu: “Amigo Ahab, acertaste no ponto ‘nevrálgico’, é isto mesmo! O que o homem não conquistar com seu próprio esforço, Deus não lhe poderá proporcionar sem submetê-lo a um julgamento.

  1. Assim, não sejais apenas ouvintes do Meu Verbo, mas cumpridores do mesmo — e começareis a sentir sua Bênção den- tro de vós.

  2. Pois a vida é uma ação, e não um estacionamento de forças que a condicionam; pela sua constante atividade até a preservam para a Vida Eterna, porque na não ação não existe vida!

  3. O bem-estar que vos é proporcionado pelo repouso nada mais é que a morte parcial das forças necessárias à vida; quem, por- tanto, achar prazer num descanso, principalmente de potências de fonte espiritual, entregar-se-á cada vez mais aos braços da morte ver- dadeira, da qual nem Deus o poderá salvar tão facilmente!

  4. Sim, existe um justorepouso cheio de vida, que reside em Deus e consiste num sentimento feliz de estar em ação dentro da Vontade Divina.

  5. Este feliz sentimento de satisfação é a consciência plena de ter agido sempre dentro da Ordem Divina, é o justo repouso em Deus, cheio de vida e atividade. Todo e qualquer outro que traga o extermínio das forças vitais é, como já disse, a morte real. Compre- endeis isto?”

  6. Diz Judas Iscariotes: “Senhor, então seria melhor o homem fugir do sono como da peste!”

  7. Digo Eu: “De certo! Por isto os dorminhocos jamais atin- gem uma idade avançada. Quem na mocidade dormir cinco horas e na velhice, seis, alcançará uma vida longa e conservará o aspec- to juvenil, enquanto um dorminhoco envelhecerá cedo, ficando cheio de rugas e de cabelos grisalhos, parecendo-se na velhice com uma sombra.

  8. Como o corpo se torna mais e mais desvitalizado pelo ex- cesso de sono, muito mais isto se dá com a alma, quando desleixa sua atividade dentro dos Meus Ensinamentos e da Minha Vontade.

  9. Uma vez que o ócio se aninhou numa alma, em breve tam- bém o faz o vício, pois o ócio é uma tendência que visa o seu próprio bem-estar, fugindo de toda atividade em favor de outrem, porque deseja apenas que os outros trabalhem por ele!

  1. Por isto, resguardai-vos do ócio, que é uma verdadeira se- mente para toda espécie de vícios!

  2. Tendes como exemplo os diversos animais ferozes, que só se põem em ação destruidora quando levados por uma fome voraz; estes, e principalmente as serpentes, uma vez satisfeita esta fome, recolhem-se em suas covas, onde repousam dias a fio.

  3. Observai um ladrão e assassino! Este homem, que foge a toda e qualquer ocupação, repousa dias e dias em um covil, e só quando os espiões o avisam de que uma opulenta caravana irá passar por tal lugar ele se apronta para atacá-la, assassinando os viajantes para não ser denunciado! Eis o fruto do ócio.

  4. Por isto, repito: evitai o ócio, que é o caminho e a porta larga para o vício!

  5. Após uma tarefa concluída, um repouso moderado bene- ficia o corpo, enquanto o exagero é pior do que nenhum repouso!”

221. O dano do ócio e a bênção da atividade. Ensinamentos para o viandante. Regentes tíbios e regentes severos. Maria e Thomaz. Matheus anota esta doutrina da atividade, chamada “A prédica noturna”. Por que se extraviou.

  1. (O Senhor): “Se alguém, após uma longa caminhada, chega a um albergue e, em vez de procurar repouso, continua se movimen- tando, estará de pé no dia seguinte antes da alvorada, sem sentir o mínimo cansaço o dia todo; e quanto mais prosseguir em sua traje- tória, menos fatigado ficará.

  2. Se, porém, atingindo o albergue com a mesma exaustão, joga-se incontinenti sobre um leito, deixando-o apenas à tarde, fá-lo-á com os pés intumescidos e a cabeça atordoada; no pros- seguimento de sua viagem, em breve sentirá necessidade de um repouso, podendo até acontecer que fique à beira da estrada, à espera de socorro.

  3. Quem é culpado disto? A predisposição exagerada para o des- canso e a ilusão de que o repouso fortaleça a criatura.

  1. Se alguém quiser alcançar uma agilidade extraordinária em uma arte, pergunto: atingi-la-á se, em vez de exercitar-se constante- mente, andar de mãos no bolso, a fim de não cansar os dedos?

  2. Em verdade, seria difícil até para Mim, com toda a Minha Sabedoria, profetizar a época em que este adepto da arte se tornaria um ‘virtuose’! Por isto, Meus queridos amigos e irmãos, repito:

  3. Aplicai atividade sobre atividade, em benefício comum das criaturas! Pois toda vida é um fruto do lidar constante e incansável de Deus, e só pode ser mantida e preservada para toda a eternidade através da justa atividade, enquanto do ócio só surge a morte.

  4. Pousai vossas mãos sobre o coração e observai como bate, dia e noite! A vida física depende unicamente desta atividade; quando o coração começar a parar — a vida também se extingue!

  5. Porém, como o descanso do coração físico é, visivelmente, a morte plena do corpo, do mesmo modo o repouso do coração da alma é a morte desta!

  6. O coração da alma, no entanto, chama-se amor e sua pulsa- ção se manifesta em verdadeira e plena atividade amorosa.

  7. Quanto mais ativo pulsar, mais vida se manifestará dentro dela, e se deste modo tiver atingido um grau de vida suficientemente evoluído, de forma a se igualar ao mais elevado e divino — este grau despertará a vida do Espírito Divino dentro da alma!

  8. O espírito, como vida pura, é em si a máxima e incansável atividade, pela qual se projeta na alma, idêntica a ele, iniciando nela a vida eternamente indestrutível!

  9. Vede, pois, o efeito da atividade, e jamais do ócio!

  10. Por isto, fugi deste e procurai aquela — e o vosso prêmio será a vida eterna!

  11. Não julgueis que Eu vim para dar aos homens deste planeta a paz e o repouso; oh, não! Vim para dar-lhes a espada e a guerra!

  12. A criatura precisa ser estimulada para a atividade por toda sorte de miséria e sofrimento; do contrário, tornar-se-á qual boi ce- vado, que pela voracidade engorda a si mesmo para a morte eterna que o consumirá.

  1. Os sofrimentos provocam no homem uma fermentação após outra, e no fim algo de espiritual se desenvolve nele!

  2. Poder-se-ia alegar que a miséria e o sofrimento despertam ira, vingança, crime, inveja e perseguição. Isto é verdade; embora estas coisas sejam nocivas, são mais benéficas para o êxito do que a pregui- ça, que é a morte da alma, não produzindo nem o bem, nem o mal.

  3. Digo-vos: é preferível a criatura ser completamente calorosa ou inteiramente fria, com relação a Mim; porque os mornos Eu cuspirei de Minha Boca!

  4. Prefiro um inimigo enérgico a um amigo tíbio; porque o inimigo enérgico obrigar-Me-á a uma ação completa, pela qual ou possa Eu conquistá-lo ou procure um caminho certo para vencê-lo. Mas, perto de um amigo tíbio, Eu mesmo Me tornaria como ele e no que Me poderia ser útil, caso um dia necessitasse da sua ajuda?

  5. Assim também, um regente tíbio é muito nocivo para seus súditos, cujo espírito cria mofo; transformam-se estes em tubarões e burros de carga! Mas um regente severo, ou talvez até tirano, faz des- pertar o povo — e todos se esforçam por não agir contra as leis; e se, por acaso, ele abusar desse poder, o povo já despertado se revoltará, a fim de se livrar de seu verdugo.

  6. Penso que já vos falei bastante sobre a atividade, estando convicto de que todos compreenderam este ensinamento. Por isto, se alguém sentir necessidade dum repouso, que procure seu leito. Aquele, porém, que desejar vigiar Comigo, que fique aqui!” Aí to- dos dizem: “Senhor, como poderemos dormir se Tu ficas vigiando?! Somente Tua Mãe parece necessitar de descanso, e Tu poderias con- vidá-la para isso.”

  7. Embora Maria se encontre cochilando numa espreguiçadei- ra, percebe bem a conversa e diz amavelmente ao orador: “Amigo, que costumas abrir tua boca em favor de teus colegas: digo-te que tua preocupação comigo é baldada, pois já passei centenas de noites sem dormir por amor ao meu Senhor, e continuo viva; assim, passa- rei outras tantas em vigília, sem perder minha vida, se isto for de Sua Vontade! Não vos preocupeis comigo, basta que Ele o faça!”

  1. Estas palavras são dirigidas a Thomaz, que pede a Maria para não o tomar a mal. Ela, porém, agradecendo-lhe sua atenção, alivia-o e ele volta para seu lugar.

  2. Depois disto faz-se um silêncio, ninguém fala; todos refle- tem e se compenetram, mais e mais, da verdade que foi dita.

  3. Somente Matheus diz, de si para si: “Amanhã cedo anota- rei estes ensinamentos sobre a atividade e o repouso num quadro à parte, porque é tão precioso que não se deve perder!” E assim que começa a clarear, ele realiza seu objetivo. Tal ensinamento conser- vou-se por muitos anos e também foi levado por Jonael e Jairuth para Samaria, mas com o tempo foi bastante deturpado, até que se extraviou. Cursava entre o povo sob o nome de “Prédica Noturna”.

222. Os cinco fariseus lavam os Pés do Senhor. Síntese do Evangelho.

  1. Na manhã seguinte os cinco fariseus cumprimentam-Me mui respeitosamente, demonstrando uma especial atenção quando perguntam se Eu os acho merecedores da honra de lavar-Me os Pés.

  2. Pois ainda é costume em Bethlehem que o hospedeiro lave os pés do hóspede ou vice-versa. Por isto, dou-lhes esta permissão.

  3. A seguir, começam a falar: “Realmente grande e incompre- ensível Mestre! Por favor, dá-nos uma explicação de como te é pos- sível fazer estas curas milagrosas! Não resta a menor dúvida de que ages pela Onipotência Divina, mas a maneira de agires com tanta perfeição é que desejaríamos saber. Bastam uns poucos esclareci- mentos para que voltemos a Bethlehem cheios de gratidão por tudo que fizeste.”

  4. Digo Eu: “Não acreditaríeis mesmo que vo-la revelasse, pois a tríplice coberta de Moysés tapa vossa visão a fim de que não pos- sais perceber Quem é Aquele que vos fala! Perguntais porque não O conheceis!

  5. Mesmo que Eu vos desse uma resposta certa, não a aceita- ríeis, pois vedes apenas o que existe no mundo da matéria, mas o que se refere ao espírito, seu reino e ação vos é estranho; por tal

motivo não compreendeis nem sentis a natureza e a ação do Reino de Deus dentro do homem.

  1. Portanto, ide e penitenciai-vos de vossos pecados e percebe- reis que o Reino de Deus está perto de vós.

  2. Amai a Deus sobre todas as coisas, adorai-O em Espírito e Verdade; amai vossos irmãos, não persigais os inimigos; não amal- diçoeis os que vos amaldiçoam e fazei o bem aos adversários; assim, juntareis brasas sobre suas cabeças. Deus olhará estas vossas obras e vos recompensará cem vezes.

  3. Não empresteis dinheiro àqueles que o poderão devolver com juros, mas aos verdadeiramente pobres e necessitados; desta forma tereis empregado capital com juros elevados nos Céus e o Pai vos pagará eternamente.

  4. Não aceiteis louvor e gratidão do mundo pelas boas ações, pois, se as tiverdes feito por causa do mundo, qual será vosso prêmio no Céu? Digo-vos: Quem pedir pagamento por uma caridade feita a um pobre irmão — seja este pagamento qual for — já não deve contar com uma recompensa celeste!

  5. Quem trabalha tendo em vista o Céu terá o prêmio do Céu, aqui e no Além! Mas quem trabalha objetivando o mundo receberá deste uma recompensa desprezível e passageira, encontrará o livro do mérito vazio e sua pobreza espiritual jamais terá fim!

  6. Se considerais isto e agis assim, em breve conhecereis a ma- neira pela qual curei vossos doentes. Agora sabeis o que vos era pre- ciso saber. Não façais outras perguntas, cujas respostas de nada vos adiantariam.

  7. Tende cuidado de não tornar públicos Minha Pessoa, Meus discípulos e Minhas Ações, tanto em Jerusalém como na cidade de David, porque isto não vos traria bênção alguma! Depois de terdes tomado vossa refeição, podereis encetar o caminho de volta!”

  8. Este Meu discurso deixa os cinco fariseus um tanto desa- pontados, mas não se atrevem a fazer outras perguntas e se curvam diante de Mim, dirigindo-se depois à sala de refeição, de onde, meia hora mais tarde, encaminham-se para casa.

223. A opinião dos cinco fariseus sobre o Senhor. Um deles diz: “Ele é um deus ou um demônio!” Conjecturas sobre o socialismo. Ensinamentos.

  1. Depois disto os discípulos se aproximam e indagam por que havia Eu falado tão veladamente aos fariseus de Bethlehem.

  2. Digo Eu: “Sois ainda tão desarrazoados, como se nunca tivés- seis ouvido uma sábia palavra de Mim?! Estes templários tomam-Me por um médico dotado de habilidades extraordinárias, que faz curas milagrosas com o auxílio de poderes ocultos.

  3. Conhecem a seita dos essênios, possuidores de conheci- mentos consideráveis na arte secreta da medicina, com a qual são capazes de curar certas moléstias e provocar aparições que, para um leigo, apresentam-se como milagres reais. Por isto, conside- ram-Me um essênio de quarto grau, isto é, o mais elevado, cuja ciência é tão profunda que com facilidade dirige as múltiplas forças da natureza!

  4. Se Eu lhes tivesse revelado abertamente que, como Filho do Altíssimo, sou o Messias Prometido, estes judeus fanáticos começa- riam a se aborrecer, julgando-Me um mago extremamente presun- çoso que agisse com ajuda de Satanás — e a cura teria sido, para eles, uma pedra de escândalo! Mas, como Me julgam um arquiessênio, vão calmamente para casa, louvando a Deus por ter dado ao homem conhecimentos e forças tão poderosos, pelos quais lhe é possível be- neficiar a Humanidade sofredora!

  5. A fim de que pudessem chegar com facilidade à conclusão de que Eu talvez não fosse um essênio, em vista das máximas exter- nadas sobre as condições de vida moral e social, que se acham jus- tamente opostas às daqueles magos, dei-lhes apenas o ensinamento suficiente para este fim.

  6. Com muito gosto teriam continuado nas indagações, pois verificaram que, por Minhas Ações , Eu poderia ser um essênio do mais alto grau, mas por Minhas Palavras, não. Durante o caminho ainda conjecturam: ‘Será que os essênios possuem duas doutrinas, uma externa para o povo cego e uma interna, só para eles?’ Mas

também fui sincero em frisar algumas sentenças, como conhecedor da doutrina, deixando que eles procurassem a explicação por con- ta própria!

  1. Um entre eles acha que Eu devo ser muito mais, e diz: ‘Há pouco tempo falei com um essênio bastante honesto, que nada men- cionou acerca de uma doutrina secreta. Considero este salvador de Nazareth algo inédito. Ele é ou um deus — ou um demônio, mas, quanto a esta última hipótese, tenho minhas dúvidas, pois sua dou- trina contém um princípio social jamais visto; e um demônio é um tirano e inimigo do socialismo!’

  2. Vede, estas são suas conjecturas; e estão absortos de tal modo que não se dão conta de estarem andando ou parados.

  3. Meus amigos, é preciso muita cautela na doutrinação; nunca se deve arrombar uma porta quando se deseja visitar alguém, mas andar de mansinho e bater de leve! Quando se dá um jantar, apre- senta-se o segundo prato depois dos convivas terem se servido do primeiro, pois, se fizer servir uma quantidade de pratos, o dono da casa cortar-lhes-á o apetite. Com uma certa ordem, os convidados continuarão com bom apetite, elogiando finalmente o anfitrião, que soube tão bem servi-los!

  4. O mesmo se deve fazer na doutrinação para conseguir êxito. Compreendestes isto?”

  5. Dizem os discípulos: “Sim, Senhor, compreendemos tudo que Tu nos falaste tão sabiamente!” — Digo Eu: “Pois bem, então vamos comer algo!”

224. Concorrência amorosa entre Kisjonah e Baram. Necessidade e natureza da contemplação introspectiva. A contemplação é perturbada por Satanás.

  1. A seguir, vamos ao jardim, onde Baram nos espera com um bom repasto.

  2. Kisjonah, porém, dirige-se a ele e diz: “Irmão, que estás fa- zendo?! Pensas, por acaso, que minhas despensas, adegas e celeiros estejam vazios?”

  1. Diz Baram: “Amigo, sei perfeitamente que isto não se dá, mas eu tampouco faço parte dos pobres deste país; portanto, dá-me ainda por hoje o prazer de atender a todos estes hóspedes! Sinto uma grande satisfação em poder servir ao Senhor, como criado! Amanhã será tua vez!”

  2. Os dois se abraçam, tomam lugar à mesa e comem um bom peixe com pão e vinho.

  3. Depois da refeição, Kisjonah indaga qual o programa deste dia e se Eu desejo fazer um pequeno passeio.

  4. Digo Eu: “Meu irmão e amigo! Não te preocupes! Far-se-á o que vier no momento! Mas nem hoje nem amanhã teremos traba- lho, a não ser conosco mesmos. Amanhã de noite Philopoldo voltará de Caná e nos há de contar muitas novidades.

  5. Agora, porém, dedicar-nos-emos a alguns exercícios de con- templação introspectiva!

  6. Digo-vos em verdade: Nada é tão salutar ao homem como uma temporária contemplação introspectiva! Quem quiser conhecer a si e a suas forças precisa, de vez em quando, perscrutar e contem- plar a si mesmo.

  7. Vamos, pois, dedicar-nos a este exercício e, depois do almo- ço, faremos um passeio de barco.”

  8. Alguns, porém, não sabem como se procede numa intros- pecção e Me perguntam a respeito. E Eu lhes digo: “Repousai e me- ditai profundamente sobre vossas atitudes e ações sobre a Vontade Divina que já conheceis e se a cumpristes sempre nas diversas fases da vida; com isto tereis aplicado a introspecção, dificultando a influ- ência de Satanás no caminho de vosso progresso. Pois ele nada mais almeja tão ardentemente do que impedir esta ação do homem, por meio de fantasmagorias externas e fúteis.

  9. Uma vez a criatura alcançando uma certa habilidade na contemplação através de exercícios repetidos, com facilidade reco- nhecerá as artimanhas daquele espírito, podendo destruí-las com- pletamente, precavendo-se com a maior energia contra todas as cila- das possíveis. Satanás o sabe muito bem e se dedica constantemente

a seduzir a alma para atrações externas, preparando-lhe uma série de armadilhas. Se ela facilmente cair, não conseguirá mais aplicar este exame psíquico, o que lhe será de grande prejuízo.

  1. Tornando-se cada vez mais afastada de seu espírito, a alma não poderá despertá-lo, fato que dará início à segunda morte do homem, isto é, de sua alma.

  2. Agora sabeis o significado da contemplação introspectiva. Por isto, dedicai-vos a ela até o almoço e não vos deixeis perturbar por aparições externas! Pois Satanás não deixará de vos querer afastar disto por um espetáculo qualquer! Mas então lembrai-vos de que Eu vo-lo predisse e concentrai-vos de novo!” Com isto, todos procuram calar suas mentes, num exame meticuloso do seu “eu” pelo espaço de uma hora.

225. Aparição de um monstro. Promessa de uma recompensa maravilhosa para os que persistem corajosamente. O anjo Archiel afugenta Satanás. O temporal ameaçador. Conforto para os fracos. Baram, o nobre hospedeiro.

  1. Passada uma hora ouve-se um terrível estrondo, como se um forte raio tivesse caído numa casa próxima. Todos se assustam e es- tremecem, mas, lembrando-se de Minhas Palavras, logo se contro- lam e continuam em meditação.

  2. Satanás, entretanto, não se faz esperar muito, pois, de repen- te, ouve-se um sibilar aterrador e, à beira do mar, surge um monstro estranho. A cabeça se parece com a de um lobo, porém cem vezes maior, a língua que sai da guelra, como se fora uma serpente, move-

-se enfurecida; as duas orelhas são de um touro gigantesco; os olhos, duas placas de aço incandescente; os pés dianteiros, iguais aos de um urso descomunal e os traseiros, como os de um leão enorme. O tronco é de um crocodilo e a cauda, de um basilisco (vampiro africano). Seus gritos são estrondosos e seu bafo, um sibilo horrível. Desta maneira ele surge do mar!

  1. Na praia, porém, estavam pastando carneiros, bois e burros, que são imediatamente perseguidos e devorados pelo monstro. Os

animais caseiros fogem para dentro de casa e o monstro se move em nossa direção.

  1. Quando alguns o avistam, levantam-se e dizem: “Senhor, esta prova é muito forte! O bicho já devorou vários vitelos, dez carneiros e duas mulas; agora tenciona apanhar aqui entre nós uma guloseima especial. Seria aconselhável recuarmos o mais possível, pois, numa luta com esta fera, ninguém sairia com vida!”

  2. Digo Eu: “Não vos deixeis perturbar! Externamente, todos reunidos não dominaremos este verdadeiro leviatã; mas, diante de nossa força interna, ele terá que fugir até o fim do mundo, razão por que não vos deveis apoquentar! Mais uma hora de persistência e te- reis rompido as algemas e os limites da morte — e o domínio sobre todo o inferno e seu exército será o vosso prêmio!”

  3. Logo após estas Minhas Palavras, o monstro faz ouvir uma série de estampidos e se encaminha, resoluto, em nossa direção, ma- nifestando sua voracidade pelos movimentos agitados da língua de víbora e pelo constante bater da cauda imensa. Mas os discípulos estão no melhor ânimo e esperam-no com toda a calma e coragem.

  4. Quando ele se encontra a uns dez passos distantes, aceno discretamente ao anjo Archiel, que enfrenta o monstro, dizendo: “Que procuras aqui, Satanás? Afasta-te ou serás aniquilado!” Então o leviatã abre sua enorme boca, como se quisesse falar, mas o anjo repete seu mando! A fera solta vários estampidos e se lança n’água com uivos apavorantes.

  5. Mal desaparece, o mar se agita como num temporal, mas isto tudo não impressiona os discípulos, que continuam na prática da contemplação.

  6. Já quase ao fim se manifesta, de repente, uma trovoada vio- lenta! Raios fortes dilaceram o ar; rajadas impetuosas vergam as ár- vores até o solo e uma forte chuva, acompanhada de granizo, des- prende-se das nuvens negras!

  7. Alguns discípulos, mais fracos, já se querem refugiar dentro de casa, mas o anjo diz: “Ficai e reconhecei a fantasmagoria oca de Satanás!” Então ficam e suportam com facilidade aquela chuva. Bem

que chove cada vez mais forte e o granizo pula alegremente sobre o solo, mas ninguém é atingido pelos elementos em fúria.

  1. Nisto o anjo ameaça as nuvens, que se dispersam, fazendo surgir um dia radioso! Depois de alguns instantes a prática da intros- pecção está terminada e Baram diz: “Senhor, a refeição está pronta; queres tomá-la dentro ou fora de casa?”

  2. Digo Eu: “Espera mais um pouco, pois tenho que dirigir algumas palavras a Meus discípulos.”

  3. Baram volta para seu barco, onde estão guardados vários odres do melhor vinho, e faz com que sejam transportados para a co- zinha, recomendando que só deveriam servir quando ele os avisasse. Em seguida volta para perto de Mim e escuta o que Eu falo sobre a introspecção e seu benefício.

226. O grande benefício da introspecção sistemática. O renascimento. A bruxaria é um caminho para o inferno. Por que é necessária a existência de Satanás? Indiscrição de Judas e sua corrigenda.

  1. (O Senhor): “Acabastes de ver uma nova maneira de como o homem da matéria pode penetrar, cada vez mais, na vida espiritual, conseguindo neste caminho ser um mestre de si mesmo e, final- mente, de toda a natureza. Portanto, praticai isto de quando em quando em Meu Nome, que alcançareis um grande domínio sobre vossas paixões.

  2. Presenciastes aparições horrendas de Satanás, que vos apavo- raram bastante; dominastes-vos, porém, confiantes na Minha Pala- vra, concentrando-vos de novo; nesta calma vos tornastes senhores dos acontecimentos terríficos.

  3. Mas não penseis que já conseguistes vencer a coragem nefasta do espírito do mal! Sempre que vos fordes dedicar a estes exercí- cios sereis perturbados por ele, enquanto não estiverdes renascidos em espírito!

  4. Uma vez, porém, que o consigais, ele perderá todo poder sobre vós e sereis seus juízes, assim como os que ele atraíra anterior- mente e que ireis arrancar para sempre de suas garras.”

  1. Pergunta Pedro: “Como renasce a criatura? Deverá a alma e o espírito renascer de novo do corpo de u’a mulher? Como se deve interpretar isto?”

  2. Digo Eu: “Ainda estás longe de compreendê-lo integralmen- te. Só quando Eu for elevado ao Céu, donde vim, e Meu Espírito tiver libertado o teu compreenderás o renascimento do espírito em toda a profundeza e plenitude. Por ora, isto não seria possível a ne- nhum dentre vós. Somente pelo cumprimento de Minha Doutrina e através destes exercícios vitais poderás finalmente alcançar essa Luz pelo próprio esforço.

  3. Essa percepção não é conseguida por doutrinas e práticas ex- ternas, mas unicamente por este caminho que, para todo o sempre, acabo de vos mostrar.”

  4. Diz Judas: “Senhor, já vi feiticeiros poderosos que exorciza- vam e conjuravam as almas do Além, que lhes revelavam coisas ocul- tas. Como conseguiam eles penetrar no mundo dos espíritos? Não era isto também um certo renascimento espiritual?!”

  5. Digo Eu: “Como não? Porém, não para o Céu, que é o Trono de Deus, mas para o inferno, onde habita Satanás e os anjos do mal!”

  6. Diz Judas: “Neste caso, Satanás também é um senhor, em- bora provido de poder maléfico! Penso que seria melhor, se possível, destruir um demônio que deixá-lo aniquilar milhões! Com que fina- lidade é necessária a existência de um satanás numa Ordem Divina?”

  7. Digo Eu: “Para capturar também a ti, que te empenhas tanto por ele! Ainda levarás tempo para ter uma fraca ideia de tua índole, tanto quanto para compreender a imensa Ordem Divina, que criou ao lado do dia também uma noite, por mui sábias razões. Acaso compreendes a fundo a noite desta terra e o dia eterno de todos os sóis, que também são planetas iguais a este que te carrega e alimenta? Se não te é possível compreender isto, Eu te pergunto: Como podes fazer uma indagação que não convém a uma criatura, diante do seu Senhor, Deus e Criador? Não queres também saber por que uma pedra é dura e a água tão mole, ou por que o fogo causa dor, não se dando o mesmo com a água?

  1. Digo-te: Se nada entendes, então aprende primeiro e fica quieto, prestando atenção; só quando entenderes algo a fundo po- derás falar e apresentar a teus irmãos perguntas capciosas!

  2. Contigo se dá o mesmo que acontece com a ignorância dos homens; intimamente se envergonham dela, mas querem encobri-la com toda sorte de perguntas aparentemente inteligentes, sem con- siderar que, justamente com isto, demonstram sua estupidez! Aceita esta lição, senão te encontrarás mal um dia e Eu não te socorrerei no teu desespero!”

  3. Minhas Palavras tiram a Judas a vontade para indagações posteriores, e ele dirige olhares significativos em direção a Thomaz; tanto este como os outros, no entanto, fazem como se não tivessem assistido a esta corrigenda, e Judas retira-se sossegado.

  4. Eu, porém, digo a Baram: “Agora, irmão, poderás mandar servir o almoço, mas desta vez nos aposentos!” Ele ordena tudo e dentro de uma hora havíamos almoçado.

227. Um passeio por mar. Notícias da moléstia repentina da filha de Jairo. Declaração severa do Senhor aos mensageiros de Jairo. A volta para Kis.

  1. Como o dia esteja bonito e límpido, encetamos um passeio por mar. Tanto Baram como Kisjonah aprontam seus barcos, que comportam com facilidade a metade dos discípulos.

  2. Depois nos transportamos para o navio bem construído de Baram, que tem velas e, de ambos os lados, seis remos fortes, tanto que se pode navegar com vento e remos. Tomamos a direção de Ca- pernaum, mas sem a intenção de chegarmos até lá.

  3. Após algumas horas em alto mar, vemos de longe um navio aproximar-se rapidamente dos nossos. Traz as cores de Capernaum e, quando mudamos de direção para saber se realmente está em nos- so encalço, ele também muda, tomando o nosso rumo. Os remado- res de Baram então lhe perguntam o que devem fazer, e ele, por sua vez, quer saber o que Eu penso.

  1. Respondo: “Deixai o navio aproximar-se e veremos quais su- as intenções!” Baram faz com que se recolham os remos e os rema- dores de Kisjonah fazem o mesmo.

  2. Após um quarto de hora os remadores do barco de Caper- naum nos alcançam e perguntam a Baram se Eu Me encontro ali; são enviados pelo reitor Jairo a fim de Me pedir que fosse àquela cidade, pois a filhinha dele, que Eu havia ressuscitado há poucas semanas, tinha adoecido de novo mui gravemente e médico algum a pôde curar. “O pai teme o desenlace. Por isto, recebereis uma grande recompensa se nos indicardes Jesus de Nazareth!”

  3. Baram, porém, diz: “A julgar por vossas palavras, a intenção que vos traz é boa e eu vos digo: Aquele que procurais está no meu barco, mas não sei se atenderá ao vosso pedido. Irei falar com Ele.”

  4. Em seguida Me procura na cela e quer Me expor o pedido dos capernauenses.

  5. E Eu lhe respondo: “Irmão, guarda tuas palavras! Sei de tu- do e já te disse em Jesaíra o que sucederá a esta raça difamadora. A fim de Me perseguir e lançar suspeitas contra a Minha Doutrina, eles negaram a doença e morte da filha de Jairo, dizendo que se encontrava apenas num sono perfeitamente são, do qual Eu a des- pertara de maneira natural, alegando fraudulentamente tê-la ressus- citado da morte.

  6. Agora, porém, já que Minha Ação foi uma fraude, que dei- xem que adormeça da mesma maneira, podendo facilmente ser despertada!

  7. Em verdade, não será tocada por Mim antes de ter perma- necido três dias no sepulcro! Vai e transmite isto; depois apronta as velas, pois um bom vento nos levará rapidamente caminho acima, na baía de Kis, e eles não perceberão para onde fomos!”

  8. Baram sobe rápido para o tombadilho e anuncia: “Prezados enviados de Jairo! Lastimo imensamente que não vos possa transmi- tir uma resposta favorável de Jesus, o Senhor! Mas disto os próprios capernauenses são culpados. Pois quando, há pouco tempo, Ele res- suscitou sua filha de morte visível para a vida plena, não demorou

muito e os fariseus desta cidade, amaldiçoada por Ele, declararam-

-No um impostor e disseram que Jairo só queria experimentá-Lo, deitando sua filha sã num ataúde apropriado. Jesus, o impostor, não desconfiando desta armadilha, despertou-a com facilidade — como me foi contado por alguns — pois, tendo percebido que ela não estava morta, pegou-a com força pela mão e ela, com isto, preferiu levantar-se!

  1. Era intenção de Jairo que a filha não se deveria deixar des- pertar, para que a prova contra Jesus fosse mais evidente. Mas, assim, o plano de desmoralizá-Lo foi frustrado, pois o povo estava convicto de que a filhinha, que havia sido mantida propositadamente no lei- to, ressuscitara.

  2. Portanto, Ele não a olhará a não ser talvez depois do corpo já estar em decomposição!

  3. Voltai com este recado e transmiti-o a vosso reitor a fim de que reconheça sua ingratidão! De maneira nenhuma Jesus irá a Ca- pernaum, que foi amaldiçoada por Ele para sempre!”

  4. Após estas palavras, Baram manda largar velas e o vento leva os dois barcos com tal rapidez, que em poucos minutos o de Caper- naum, não possuindo velas, perde-nos de vista. Quando desembar- camos baía acima, o vento muda, soprando em direção contrária.

228. Jairo e os médicos junto ao leito de morte de sua filha Sarah. Borus de Nazareth diz-lhe a verdade. Ameaça dos fariseus. Controvérsia entre Borus e Jairo.

  1. Quando galgamos a colina bastante elevada, que se ergue aci- ma da grande barra em cujo pé se encontra o albergue conhecido na estrada principal para Jerusalém, avistamos ao longe aquele barco a lutar contra as ondas, que impossibilitam os remadores de tomarem uma direção certa. Por isto resolvem erguer os remos e deixar que o barco flutue em linha reta para o porto de Capernaum.

  2. Pode-se imaginar o desapontamento de Jairo quando recebe Meu recado.

  1. Imediatamente convoca todos os médicos da redondeza, in- clusive o de Nazareth, que tem fama de ser milagroso como discí- pulo Meu e já ter conseguido curar doenças graves através de passes.

  2. Mas, quando vai a Capernaum e vê a filha de Jairo sobre o leito, ele dá de ombros e diz aos médicos presentes: “A esta só poderá ajudar Aquele que a criou! Vede, esta menina tomou um refresco durante uma festa onde reinava um calor intenso, o que lhe produziu uma tuberculose galopante; em menos de sete dias estará tudo acabado! Não podemos dar-lhe um novo pulmão, portanto não haverá socorro para ela!”

  3. Diz Jairo: “Que te parece? Não haverá possibilidade de o Di- vino Jesus conseguir curá-la, pois já de uma feita ressuscitou esta minha filha, bem como a de Cornélius, em cuja casa Sarah contraiu esta moléstia?”

  4. Diz o médico de Nazareth: “Como não? Ele o poderá, se quiser. Mas já Lhe mandaste mensageiros com este pedido a Kis e Ele vos deu uma resposta negativa; em vista disto, mandaste chamar por nós, que nada podemos fazer!”

  5. Diz Jairo: “Mas eu Lhe pedi com tanta humildade e Ele, que só prega o amor e como se deve fazer o bem até aos inimigos, dá a meus mensageiros semelhante resposta!”

  6. Diz o médico: “Deu-vos a única que merecíeis vós todos, que vos intitulais servos do Altíssimo! Dize-me, como deveria ser cons- tituído o homem que, após vossa atitude, pudesse continuar a ser vosso amigo? Realmente, Deus Mesmo não poderia prestar maiores benefícios do que este Divino Jesus o fez, de maneira tão sublime! E que Lhe fizestes por isto? Perseguistes-Lo como reles criminoso e, se tivesse sido possível capturá-Lo, já O teríeis assassinado; mas, como a Mão de Deus O protege evidentemente, fizestes-Lhe o que de maldade vos foi possível.

  7. Que vos fez Sua pobre e mui devota Mãe para que lhe ti- rásseis a casa pequenina com a horta, enxotando-a sob o escárnio público junto com as filhas de José?

  8. Repito: por que lhe fizestes isto?”

  1. Diz Jairo: “Porque Jesus sempre lançou suspeitas contra nós, injuriando os sacerdotes e o Templo — e penso ser isto motivo de sobejo?!”

  2. Diz o médico de Nazareth, chamado Borus, que era grego de nascença: “Ah — Hince ergo illae lacrimae?! 1Ouvi-me: como sa- beis, sou grego e nada tenho que ver com vossa teologia, embora não me seja estranha. Longe de mim querer criticar Moysés e todos os profetas maltratados por vossos antecedentes, pois suas advertências e ensinamentos são os mesmos que vos apresentou o meu mui esti- mado amigo Jesus; portanto, estão plenos da verdade.

  3. Verificai vossa atual teologia, as leis miseráveis do Templo e suas organizações e deveis exclamar: Quammutatusabillo! 2

  4. Lede, além dos vossos estatutos, as profecias de Isaías, com- penetrados duma fé viva, pela qual reconhecereis que Jehovah e os profetas apresentam algo mais elevado que a finalidade egoística que visais; e tereis que recuar, cheios de horror, diante do sacrilégio que praticais no Santíssimo!

  5. Se agora o Divino Jesus, pelo qual Deus age a olhos vistos, vos adverte de vícios horrendos, qual um Isaías, desejando recondu- zir-vos a Deus como verdadeiro amigo — pergunto: merece Ele este vosso tratamento?!

  6. Positivamente: se a Sua Onipotência fosse posse minha, há muito estaríamos quites, como com Ele quites estão os tripulantes das dez embarcações que se encontram nos penhascos de Sibarah e que enviastes tão ‘amavelmente’ contra Ele e Seus Adeptos! Certo que Sua Paciência Divina esgotou-Se!

  7. Repito: se eu possuísse o Seu Poder, já vos teria afogado a todos no mar Galileu como se afogam camundongos e ratos!”

  8. Este discurso sério de Borus irrita vários fariseus, que di- zem: “Contém tua língua grega! Não foste chamado para isto! Deves temer-nos, pois podemos aniquilar-te!”

  1. Por isso aquelas lágrimas?!

  2. Que diferença!

    1. Diz Borus: “Ora, acredito sem dúvida alguma, pois vossa amabilidade humana — scilicet1— é uma prova irrefutável! Mas comigo há um grande ‘senão’ e, em consequência deste, Borus de Nazareth não tem o mínimo medo de vós!

    2. Não que ele seja tão poderoso como o Divino Jesus; entre- tanto, possui bastante poder para vos destruir num minuto, pois, como médico, não precisa prestar contas a ninguém! Compreendes- te-me?! Jesus, porém, é Deus, e eu apenas um homem; por isto Ele tem mais paciência! Contende-vos, pois, senão a perderei!”

    3. Com estas palavras ele tira um frasco de seu bolso e apre- senta aos fariseus enraivecidos: “Vede, esta arma é mais poderosa que dez legiões. Eu saberei proteger-me, mas, no momento em que o abrir, estareis todos mortos! Neste frasco também está contida mi- nha defesa, caso quiserdes lutar contra mim!”

    4. Os fariseus se assustam fortemente com esta perspectiva, pois o frasco contém um veneno fortíssimo e de ação ultrarrápida, cujo odor atordoa e mata tudo que atinge. Trata-se de um arcanum2que mais tarde se perdeu. Extraído de um arbusto que nasce nos confins da Índia, destrói tudo, numa grande extensão. Os templá- rios sabem disto e se calam de medo, pelo que Jairo pede a Borus que guarde sua perigosa arma.

    5. Este assim faz e pergunta a Jairo: “Amigo, como é possível perseguir a um Jesus que te fez tamanho benefício?! Fala sincera- mente se não reconheces a veracidade de todas as Suas Palavras?!”

229. Resposta covarde de Jairo. Crítica severa de Borus. A recompensa no Além. Borus nega seu auxílio ao medroso Jairo e se afasta.

1. Diz Jairo: “Amigo, compreendo-te melhor do que julgas, mas existem coisas que, mesmo bem compreendidas, devem ser silencia- das em vista da posição mundana do homem!

  1. Compreende-se.

  2. Remédio oculto.

    1. Acontece que és, às vezes, obrigado a rir como homem de projeção social, quando no teu íntimo tens desejo de chorar; outras vezes, tens que chorar, quando teu coração está alegre. Mas que po- des fazer como homem isolado? Poderás nadar contra a correnteza, se ela te domina?!

    2. Nós, criaturas, temos uma pele sensível e um estômago exi- gente; estes dois querem ser satisfeitos e só nos resta desistir do in- telecto e raciocínio, acompanhando a maré ou, então, morrer em algum canto do mundo, como reles mendigo.

    3. Crê-me que eu, falando entre nós, conheço melhor o Cristo que tu; que adianta, entretanto, tudo isto perante Roma e Jerusa- lém?! Morrerás assim que manifestares tua sincera opinião!

    4. Não tenho a menor dúvida de que Jesus é Filho do Altíssimo; mas poderei externar esta minha crença, minha convicção íntima, tendo tal posição mundana?! Se o fizesse, o que me aconteceria?”

    5. Diz Borus: “O quê? O quê? Deste modo o mundo sempre fez perguntas miseráveis, considerando seu bem-estar, ao amigo para o qual a verdade pura representou sempre mais que todos os impérios do mundo; e por isto a Santa Verdade tem encontrado seu sepulcro na barriga e na pele do homem material!

    6. Aquele para quem o bem-estar e a fama do mundo represen- tam mais que a Verdade Divina infalivelmente é dominado por tais interrogações, recuando da Luz dos Céus para as trevas do mundo, negando a Deus! E por quê? Qual o fator que impõe esta exigência ao seu coração? Vê, nada mais do que a tendência ao bem-estar! Apega-se a tudo que lhe dê um prazer e, uma vez que o consiga com muito sacrifício, facilmente se desfaz de toda verdade; quando per- cebe que sua vida de conforto pode sofrer uma diminuição, torna-se cruel para tudo que apresente uma centelha de verdade em si!

    7. Quando, porém, adoece e procura um médico, ele só al- meja o verdadeiro auxílio! Por que só então o procura, e fora dis- to — nunca?!

    8. Vê tua filha! Jaz enferma duma moléstia incurável! O que não darias por um remédio verdadeiro, que lhe trouxesse a saúde do cor-

po?! Eu te digo como médico experimentado: existe um verdadeiro remédio para ela, que seria, em relação à sua moléstia, uma verdade plena! Sim, por esta verdade darias tudo; mas, por uma que cure tua alma, tu não somente nada queres dar como também a persegues, visando teu comodismo. Dize-me: que comportamento é este?

    1. Sabes tão bem quanto eu que o estrume do Templo não tem efeito; sabes que nestas coisas há uma superstição tremenda, man- tida para abafar o menor vislumbre de compreensão no povo fraco; entretanto, perseguirias com fogo e espada aquele que levantasse sua voz contra isto.

    2. Imagina, porém, Deus Verdadeiro e Justo, que é a Eterna Verdade personificada e não Se deixa comprar — o que dirá Ele àqueles que O serviram como tu?

    3. Em verdade, ninguém dentre vós escapará! Quer acrediteis ou não, o grande Além existe após o sepulcro, no qual cada um re- cebe de acordo com suas ações!

    4. A mim ele não é desconhecido, pois o procurei e o encon- trei. Tenho minha vida eterna nas mãos e daria mil vidas para con- servá-la, se tal fosse necessário.

    5. Aprendi a desprezar a vida material, dando-lhe apenas valor pelo que me é útil a fim de buscar a outra, da alma. Isto me foi pos- sível, em toda a plenitude e verdade, unicamente por Jesus, que me ensinou o caminho oculto.

    6. E a Este Jesus, Deus entre todas as criaturas, perseguis com fogo e espada, sem descansardes antes de Lhe terdes feito o que vos- sos pais fizeram a todos os profetas!

    7. Mas ai de vós! Deus enviou a vós, que vos dizeis Seu povo e Seus filhos, um Deus dos Céus; cada palavra Sua é uma Verdade Eterna do Criador, palpável para toda criatura sincera — e quereis matá-Lo, porque vos condena o velho estrume do Templo!

    8. Ai de vós! Pois a ira de Deus virá tremendamente sobre todos!

    9. Sim, eu poderia ajudar tua filha, pois sinto agora este poder em mim. Mas não querosocorrê-la, porque sois todos demônios, e não criaturas humanas! E ao demônio jamais auxiliarei!”

    1. Estas palavras penetram no coração do reitor como setas em brasa; reconhece ele a profundeza da verdade nelas contida e já pen- sa até em renunciar a seu cargo, mas teme o escândalo e diz a Borus:

    2. “Não és muito delicado, mas tuas palavras são verdadeiras. Se me fosse possível desistir do meu elevado cargo sem grande alar- de, realmente o faria em benefício de minha filha! Considera, po- rém, o escândalo que este meu gesto provocaria! Tenho, pois, que adiá-lo para uma oportunidade mais propícia.”

    3. Diz Borus: “Eu disse o que tinha de dizer e continuarei no meu trilho, melhor do que este que aqui me trouxe. Existe aqui, evi- dentemente, o inferno sobre a terra e não há anjo que o possa vencer com o bem, muito menos eu, criatura fraca e mortal!”

    4. Com estas palavras Borus abandona rapidamente e um tan- to agitado a casa do reitor. Isto se dava em Capernaum, no segundo dia após termos encontrado o mensageiro à beira-mar. Eu, porém, descansava na colina, um dia antes do ocorrido, relatando este fato aos outros, pois bem o previra.

230. Alegria dos discípulos com a atitude de Borus e o agradecimento de Maria. Kisjonah presenteia Maria e os filhos de José. Devoção de Joses, filho de José. Profecia consoladora do Senhor. “Eu e o Pai somos Um, não dois!” Morte de José e seu testemunho sobre Jesus. Cuidado na divulgação de segredos espirituais.

  1. Depois deste relato, durante o qual todos os discípulos têm o ensejo de abraçar e beijar Borus, que conhecem bem, dirigimo-nos de novo a Kis, chegando lá ao pôr-do-sol.

  2. Baram já nos espera com um bom jantar e nós o apreciamos de bom grado. Judas também fica bem-humorado e louva o âni- mo de Borus.

  3. Após o jantar ainda muito se fala a respeito, e a própria Maria abençoa Borus, que a defendeu contra Jairo quando este lhe tirou seus bens.

  4. Um dos filhos mais velhos de José diz: “Seria possível reaver nossa pequena posse?”

  1. Diz Kisjonah: “Amigo, não desejes isto! Vê, aqui tendes uma estada melhor e sois livres de perseguições; dou-vos de posse o alber- gue no fim da barra e cinquenta alqueires de terra e penso que com esta troca podereis ficar satisfeitos. Além disto, estais mais perto de Jerusalém.” Joses está de acordo, mas pergunta a Minha opinião.

  2. Eu digo: “O que é melhor, sempre é melhor; por isto, aceita-

-o como se te fosse emprestado por Deus!”

  1. Diz Joses: “Senhor e irmão, isto já aprendemos de nosso pai, tanto que jamais consideramos a pequena posse em Nazareth como nossa, mas como algo que Deus houvesse emprestado à nossa vida terrena. Pedíamos-Lhe que no-la conservasse para nosso sustento. Isto se deu enquanto foi de Sua Vontade; agora digo como Job: O Senhor no-lo deu e, como foi de Sua Vontade, no-lo tirou. Sua Vontade seja feita, e Dele é toda Honra, todo Louvor e toda Glória! O que Deus nos tira também nos poderá restituir, regiamente. Sobre isto, estamos todos de acordo; mas acontece que nos tiraram também nossas ferra- mentas e utensílios caseiros. Penso que nos deverão ser devolvidos!”

  2. Digo Eu: “Acalma-te; em três dias iremos a Nazareth e tudo se resolverá, pois temos um anjo do mais alto grau em nosso meio! Basta um aceno e tudo estará em ordem; se um não for suficiente, teremos legiões à nossa disposição!

  3. Digo-vos: o que Eu expuser ao Pai no Meu Coração Ele fará, e o que quer o Filho também quer o Pai, não havendo diferença entre a Vontade do Pai e a Vontade do Filho! Crede-Me: Pai e Filho não são dois, e sim, em tudo, perfeitamente Unos! Por isto, acalmai-

-vos e acreditai que assim seja!”

  1. Diz Joses: “Senhor e irmão, como não acreditar, quando Te rodeamos desde o Teu Nascimento e vimos uma imensidade de provas que nos declaravam abertamente quem Tu és? O irmão Jacob escreveu um grande livro com todos os fatos, desde que nasceste até à idade de vinte anos; desde então, até Tua idade atual, não fizeste mais milagres, passando a trabalhar conosco como um homem co- mum; por isso, quase estávamos esquecidos de quem Tu és, o que nos foi lembrado por ocasião da morte de nosso querido pai!

  1. No momento em que José expirava em Teus braços, suas últimas palavras, acompanhadas de um sorriso transfigurado, eram as seguintes:

  2. ‘Ó meu Deus e meu Senhor! Como és tão clemente e mi- sericordioso! Vejo que não existe morte e que viverei eternamente! Quão maravilhosos são Teus Céus, Senhor! Meus filhos, olhai para Este que, neste momento, sustenta meu corpo desfalecido com Seus braços! Ele é meu Senhor e meu Deus! Como é feliz quem morre neste mundo nos braços poderosos do seu Criador!’

  3. Ditas estas palavras ele expirou — e nós todos choramos amargamente; somente Tu não choraste, mas nós compreendía- mos o porquê!

  4. Vê, desde este momento nunca mais pudemos esquecer quem Tu és! Portanto, como não acreditar em tudo que dizes?”

  5. Digo Eu: “Muito bem, Meus queridos irmãos! O que falas- tes é certo e justo, pois que estamos reunidos numa completa com- preensão e tal conhecimento não poderá trazer prejuízo a ninguém, a não ser àquele que se choque intimamente com o relatado! (Isto se referia a Judas.)

  6. Mas, quando nos achamos em presença dos filhos do mun- do, deveis vos calar! Agora iremos dormir, para amanhã nos levan- tarmos com bom ânimo!”

231. Como o pessoal de Kisjonah captura um bando de ladrões e contrabandistas do Templo. Ordens de Kisjonah e do juiz romano. Chegada da caravana.

  1. Somente Kisjonah, Baram, Jonael, Jairuth e o anjo Archiel saem de casa e Kisjonah revista tudo em volta. Tudo está em ordem e os guardas e fiscais informam seu chefe que irão fazer hoje uma presa importante, que lhes foi avisada com antecedência.

  2. Kisjonah indaga, interessado, se não se trataria de pobres que iriam levar suas mercadorias escassas ao mercado a fim de ajuntar dinheiro para seus impostos.

  1. Diz o chefe dos fiscais: “Senhor e patrão! Sabes como respei- tamos tuas ordens justas e suaves em prol da pobre Humanidade; mas desta vez não se trata da pobreza, e sim da fraude mais vil por parte dos templários.

  2. Começando por Capernaum, encetaram uma série de pe- nhoras e extorsões num grande âmbito, e hoje, perto de meia-noite, levarão uma quantidade de animais, trigo, vinho e utensílios de toda espécie para Jerusalém. Ali vendê-los-ão, não por caminhos lícitos, mas por um expressamente preparado através das montanhas.

  3. Sabes que daqui não existe passagem por terra para Sibarah

  1. A fim de escapar de todas as tuas aduanas, os ricos fariseus mandaram preparar um desvio pelas montanhas em zonas da Sama- ria, e neste caminho fazem hoje a primeira tentativa.

  2. Mais ou menos a dois mil passos daqui, em direção de Caná, romperão sobre o vale, no lugar em que construímos uma ponte sobre o riacho; desde cedo organizamos perto de duzentos vigias e guardas nos melhores pontos. Garanto-te que nem um camundon- go escapará! Mostrar-lhes-emos o Poder de Jehovah de tal forma que nunca mais O esquecerão!”

  3. Diz Kisjonah: “Trabalhastes bem e sereis recompensados! O dinheiro que trouxerem lhes será tirado como presa; os animais, o trigo e utensílios ficarão aqui, até que esses ladrões citem todos aqueles a quem roubaram para que tudo lhes seja devolvido.

  4. Como não obtiveram licença para abrir caminho pelas mi- nhas matas, pagarão uma indenização de mil libras de prata ao juiz romano, que instituiu seu ofício aqui em minha casa. Dois terços são destinados ao Imperador e um terço à minha caixa, de acordo com as leis vigentes.”

  1. Nisto vem o juiz romano e pergunta o que há e se é preciso assistência militar. O fiscal informa-lhe de tudo e ele diz:

  2. “Ah, trata-se disto?! Pois bem, não deixeis escapar estes la- drões camuflados! Aplicar-lhes-emos uma lição das leis de Roma! Deverão para sempre perder a vontade de fazer mendigos de seus súditos, a tal ponto que não podem pagar seus impostos, enquanto que eles próprios, gananciosos, não pagam um ceitil! Prevalecem-se de sua pobreza enterrando ouro, prata, pérolas e pedras preciosas em quantidade. Esperai, trapaceiros, cortarei vosso ofício para sempre!”

  3. Mal o juiz termina de falar, ouve-se uma grande gritaria vinda do vale. O fiscal esfrega as mãos, satisfeito, e diz, lacônico: “Muito bem, já travaram relações; em pouco tempo estarão aqui. Vamos rapidamente acender as tochas de piche para iluminar todo o vale e impedir-lhes a fuga!”

  4. Com quarenta tochas acesas, toda a zona fica iluminada — e não demora que seja trazida a Kisjonah a primeira leva de doze fariseus, os quais, a mando do Templo, tinham a incumbência de levar o roubo para Jerusalém, a fim de que lá fosse vendido.

  5. Os acompanhantes apresentam os doze algemados e dizem: “Senhor, eis os responsáveis; cinco de Capernaum, três de Nazareth e quatro de Garizim! Todos criminosos perfeitos, que fazem jus a seu prêmio! Atrás deles vem o resto, uma quantidade de cabras, carnei- ros, perto de quatrocentos burros carregados de trigo, número igual de mulas com odres de vinho e mais quinhentos cavalos transpor- tando crianças e jovens de bela aparência, entre doze e dezoito anos, destinados ao grande mercado de Sidon. Tudo isto acompanhado por grande número de servos dos sacerdotes! Arranjai espaço para que todos possam ser acomodados!”

  6. Diz Kisjonah: “Abri, incontinenti, os grandes depósitos de penhora perto do mar; lá tudo será acondicionado. Para os jovens aprontai o albergue e tratai que recebam algo para comer e beber! Meu Deus, meu Deus, por que permites que estes diabos exerçam tal poder sobre a Humanidade pacífica?!”

232. Libertação e provimento das crianças raptadas. Conselho do Senhor concernente ao julgamento dos malfeitores. Preparo do processo.

  1. Já se ouve o choro das crianças que foram raptadas dos braços de seus pais. Kisjonah, Baram, Jonael, Jairuth e o anjo lhes vão ao encontro, enquanto o juiz manda recolher os doze culpados numa cela segura.

  2. Passado pouco tempo chega a caravana; o anjo liberta, num momento, as crianças e os jovens, vendo-se agora que são em maior número do que se calculava, pois há dois e três em cima de um mesmo animal. Todos tremem de medo por julgar que lhes sucederá algo desagradável, mas o anjo lhes fala com carinho, dizendo que em breve retornarão para casa, o que os acalma um pouco.

  3. Alguns se queixam de dores provocadas pelas cordas; outros apresentam luxações no corpo frágil, seviciados que eram quando choravam porque podiam denunciar, pelo barulho, a caravana toda. A maioria está nua, pois pelas roupas poderiam ser reconhecidos no caminho de Capernaum para Sibarah. Portanto é necessário cuidar, agora, de um vestuário urgente.

  4. Kisjonah, de pronto, fornece uma quantidade de linho fino e todos começam a confeccionar pequenos aventais, de modo que na manhã seguinte cada criança tem sua roupinha. Depois são levadas para o albergue, pouco mais acima da aduana.

  5. Em seguida, chega o transporte principal com os animais e todo o resto. A tudo é dado seu destino e os servos dos fariseus são levados para a prisão.

  6. Passado este alvoroço, Kisjonah e seus quatro ajudantes des- cansam um pouco, pois o dia não demora a clarear.

  7. Depois disto, ele Me procura e pede um conselho. E Eu lhe digo: “Irmão, antes de mais nada, manda rápido um mensageiro cre- denciado pela justiça de Roma à procura do comandante Cornélius em Capernaum, a fim de que ele mande um comissário para inquirir e julgar os doze fariseus, de forma que a todos os prejudicados possa ser restituído o gado subtraído e, principalmente, os filhos a seus

pais aflitos! Porque, para esta trama, a jurisprudência daqui não é bastante poderosa e em tais casos não tem a suficiente competência. De Minha Pessoa, porém, em tudo isto não deve ser feito menção!

  1. Estes templários ainda darão muito trabalho à justiça! Não poderão ser autuados pelo roubo, nem por se terem esquivado de tua aduana, pois possuem livre passagem por todo o país. E, como são daqui, não se lhes pode exigir uma taxa pela travessia com o produto do roubo; o motivo de terem evitado a alfândega foi o me- do ao povo.

  2. Portanto, só existe umacausa pela qual poderão ser conde- nados a uma indenização: o delito florestal praticado em tuas matas, mas nem seus pertences nem todo o dinheiro que têm em mãos poderão saldar teu prejuízo.

  3. Por isto, manda uns avaliadores competentes, em compa- nhia de um magistrado, lá para cima para estipular o prejuízo, a fim de que tudo esteja preparado para a autuação do delito. Caso contrário, a justiça estenderá as investigações e os lesados ganharão sua causa talvez daqui a um ano.”

  4. Após esta informação, Kisjonah ordena tudo com seu pes- soal, conforme Eu havia sugerido.

  5. Um pequeno barco à vela vai rápido para Capernaum, e o próprio juiz se dirige com mais oito avaliadores juramentados para as montanhas, pelo lado esquerdo de Kis, enviando um comissário com outro grupo pelo lado direito do vale. Às quatro horas da tarde chegam o comissário com dois escrivães e os avaliadores das monta- nhas com o cálculo certo do prejuízo.

233. Interrogatório enérgico aos doze fariseus. Possuem um documento favorável de César Augusto. Como os templários cumprem as leis de Deus. Castigo severo pelo delito florestal e de lesa-majestade.

  1. Rapidamente se preparam as investigações e, em seguida, os doze fariseus são citados. O juiz inicia o interrogatório sobre o roubo e eles respondem: “Somos senhores próprios e temos nossa justiça em Jerusalém. Além de Deus e desta justiça, não somos res-

ponsáveis pelos nossos atos e tu podes formular perguntas à vontade, que não receberás uma resposta; encontramo-nos em solo jurídico bastante sólido!”

  1. Diz o Juiz: “Para renitentes desta ordem, possuo um meio apropriado que se chama vara e relho! Estes vos levarão a fa- lar! A justiça não conhece diferença de classe, perante ela todos são iguais!”

  2. Diz o primeiro dos doze templários: “Oh! Este meio conhe- cemos; porém, conhecemos ainda um outro! Se formos fazer uso dele, o que tudo indica, na certa seremos os últimos a quem julgarás! Conheces, por acaso, o célebre atestado de César Augusto, escrito por ele mesmo e entregue aos sacerdotes de Jerusalém, que diz:

  3. ‘Esta casta sacerdotal é mais vantajosa ao trono de Roma do que qualquer outra; por isto, todas as suas leis e privilégios deverão ser protegidos como santos! Ai daquele que os atacar! O infrator será punido por crime de lesa-majestade.’ Esta lei continua sendo válida hoje como há trinta anos atrás. Se te for desconhecida, lem- bramo-la agora. Faze o que e como quiseres, que nós fazemos o que nos convém.

  4. Possuímos os direitos jurídicos de penhora e ninguém no-

-los poderá tirar. Pelo poder momentâneo isto seria possível, pois estamos em minoria; mas, uma vez libertos, saberemos defender nossa causa!”

  1. Diz o juiz supremo: “Não vos estou julgando em virtu- de da penhora, que nada mais é do que um roubo, pois conheço muito bem quais os privilégios que soubestes extorquir pela vossa hipocrisia.

  2. Se Augusto vos tivesse conhecido como eu conheço, lógico que teríeis recebido um outro atestado! Mas, infelizmente, soubestes enganá-lo pela vossa lábia.

  3. Agora depende de mim e do comandante Cornélius mostrar ao Imperador o que sois em verdade, para em breve ficardes desti- tuídos de vossas prerrogativas! Além disso, podeis fazer-me quantas contra-ameaças quiserdes; eu também me acho em solo jurídico,

uma vez que recebi, há bem pouco, uma nova ordem relativa às vossas fraudes — já bem conhecidas pelo Imperador — com a mais severa determinação de fiscalizar-vos! E asseguro-vos que nós, juízes, cumpriremos religiosamente esta determinação! Compreendestes?!

  1. Sugais, como basiliscos africanos, a última gota de sangue dos súditos do Imperador, fazendo-os mendigos, enquanto algo que venha a sobrar é açambarcado pelo governador Herodes, a fim de alimentar bem suas mil meretrizes. O pobre povo que morra de ina- nição! Isto é justo?!

  2. Se Deus existe e possui tanto sentimento de justiça e amor para com as criaturas quanto eu, não é possível que deixe tais de- mônios, como vós e Herodes, continuando a governar a pobre Humanidade!

  3. Existe uma lei moral, dada por Ele, que se chama: ‘Amai vosso próximo como a vós mesmos!’ Mas, como a seguis?!

  4. Em verdade, a lei que praticais constantemente se chama: ‘Ódio contra toda pessoa que não vos quiser auxiliar em vossa vida voluptuosa!’ Mas, infelizmente, conseguistes que se criasse uma para este fim e com ela praticais toda sorte de ultrajes!

  5. No caso atual, porém, cometestes um ato que vos levará a julgamento: o delito florestal nas imensas matas de Kisjonah! Ele é grego, súdito do Imperador e seus direitos serão protegidos por legiões, porquanto paga por isto, anualmente, mil libras, o que não é pouco.

  6. Destruístes, numa extensão de perto de cinco horas de per- curso, através do preparo de um caminho secreto para o contra- bando, uns mil cedros novos e vários milhares de outras árvores, dando a Kisjonah prejuízo de mais de dez mil libras, de acordo com documentações dos avaliadores juramentados. Como ireis resgatar esta dívida?!”

  7. Diz o primeiro fariseu: “Não sabes que a terra é de Deus e nós somos Seus filhos, a quem Ele unicamente deu esta terra? Assim como Deus Mesmo tem o direito de fazer com ela o que quiser, da mesma maneira nós o temos. E se um poder pagão nos açambarcou

este direito por um certo tempo, Deus lho tirará de novo a fim de nos restituir.

  1. Considerando pela Justiça Divina, não temos que indenizar delito algum, pois a terra é nossa. Mas, em consequência da justiça mundana que aplicais injustamente contra nós, prontificamo-nos a uma indenização. Das dez mil libras, porém, serão descontados nove décimos, porque também sabemos avaliar as árvores que aproveita- mos para a construção de pontes; não há, pois, tamanho prejuízo! Existe um caminho novo que o aduaneiro Kisjonah poderá utilizar! Se ele mesmo o tivesse construído, teria gasto no mínimo mil libras; agora poderá organizar uma nova alfândega e, em um ano, terá ga- nho três vezes mais!”

  2. Fala o juiz supremo: “Em nome do Imperador e de suas sábias leis, eu vos condeno à multa de vinte mil libras, das quais um terço pertence a Kisjonah e dois terços aos cofres do Império! O pre- juízo foi avaliado em tanto, agravado pela audácia de vos julgardes possuidores de toda a terra e, por conseguinte, como tendo poder sobre César Augusto, razão por que vos condeno, também, por cri- me de lesa-majestade!

  3. Mas, como este crime é punido com a morte ou com o des- terro, tendes que escolher o que melhor vos aprouver! Eu falei em nome do Imperador e de suas sábias leis! Que o mundo venha abai- xo, mas o direito deve ser cumprido! Assim age um juiz de Roma que não teme ninguém, exceto os deuses e o Imperador!” — Depois disto o juiz lava suas mãos; o esbirro parte um bastão em dois e atira aos pés dos sentenciados.

234. Os fariseus em aperturas. Pagamento de soma elevada. Uma nova suspeita: roubo dos impostos. Medo de que são possuídos.

  1. Então começam a fraquejar, e um deles, um pouco mais co- rajoso, diz: “Senhor, revoga o segundo veredicto e pagaremos quatro vezes mais — e isto dentro de quarenta e oito horas!”

  2. Fala o juiz: “Aceito a proposta, mas persisto no desterro du- rante dez anos consecutivos! Estais satisfeitos?”

  1. Dizem os fariseus: “Senhor, pagaremos cinco vezes mais em prata, se nos dispensares do exílio!”

  2. Responde o magistrado: “Pois bem, mas com a condição de que permaneçais sob fiscalização policial durante dez anos; toda ten- tativa de ludíbrio ao Estado e a seus dirigentes, toda alusão contra Roma, bem como qualquer penhora não concedida pela justiça, seja qual for sua natureza e seu título — terão como consequência o desterro imediato para a Europa e não haverá mais perdão! A inde- nização deve ser paga aqui, no tribunal, dentro de quarenta e oito horas; passando uma hora do prazo, não mais será aceita e a primeira sentença entrará em vigor.

  3. Além disto deveis citar os nomes e as moradias das pessoas lesadas, para que as chamemos e restituamos o que lhes pertence!”

  4. Logo após os templários dão as informações exigidas e o juiz envia vários mensageiros aos lugares mencionados; não leva mais de dez horas e os reclamantes chegam a Kis.

  5. Neste meio tempo, os fariseus abrem os carros de dinheiro e todos se admiram da quantidade enorme de ouro e prata. Com facilidade poderiam ter pago cinco vezes mais a importância exigida pelo juiz supremo, que já se arrepende de não lhes ter aumenta- do a multa.

  6. Mas, de repente, vem-lhe uma boa ideia e então recomeça o in- terrogatório, dizendo: “Ouvi-me, pagastes a multa exigida e tendes o recibo em mãos! Mas, como descubro tamanha quantidade de dinhei- ro convosco, cuja aquisição me parece impossível dentro da lei, exijo uma declaração formal de como esta fortuna caiu em vosso poder!”

  7. Diz o primeiro deles: “Que suspeita é esta? Este dinheiro foi economizado para o Templo, por todos os fariseus, sacerdotes e levi- tas, no decurso de cinquenta anos; como o prazo se extinguiu, temos que devolvê-lo. Além disto, esta soma é a menor que já foi enviada de Capernaum a Jerusalém. São apenas importâncias de oferendas, legados e coletas e, como tais, legalmente adquiridas e ajuntadas.”

  8. Diz o juiz supremo: “Deixemos a expressão ‘legalmente’ de parte! Nada mais são do que extorsões vis!

  1. Há um mês, todos os juízes receberam um aviso de Roma de que há meio ano se aguardam os impostos da Ásia Menor e de uma parte das vilas situadas no Pontus; já deviam ter sido despacha- dos há muito tempo e consistem em ouro, prata, pedras preciosas e pérolas, sendo que o ouro e a prata estão ainda sem cunhagem. A soma perfaz, em ouro, vinte mil libras; em prata, seiscentas mil li- bras, e mais ou menos o mesmo valor em pedras preciosas e pérolas.

  2. Como vejo ainda cinco carros cobertos, mandai abri-los a fim de que possa verificar seu conteúdo!”

  3. Com visível embaraço os fariseus destampam os carros res- tantes — e todos estavam cheios de várias espécies de pedras pre- ciosas, na maior parte não lapidadas, e um outro com mais de uma tonelada de pérolas pequenas e grandes, ainda por perfurar.

  4. Quando o juiz supremo vê toda esta fortuna, diz: “Parece-

-me evidente qual o fim dos impostos e tesouros da Ásia Menor e do Pontus! Ser-vos-á difícil justificar isto, mas eu me atrevo a jurar, por todos os deuses e seus céus, que está em minhas mãos o que há tanto tempo se aguardava em Roma! Logo que chegarem os chefes de Capernaum farei um interrogatório minucioso!”

  1. Ouvindo isto, os fariseus ficam todos pálidos e nervosos, o que não escapa à observação do magistrado, o qual diz ao outro, de Kis: “Irmão, penso que os ladrões caíram na armadilha!”

235. O juiz supremo Fausto e o Senhor. Grande alegria e cumprimentos comovedores.

  1. Responde aquele: “Escuta, meu amigo, aqui se encontra, há três semanas, o célebre Jesus de Nazareth, e certamente ainda ficará alguns dias. Digo-te: Ele é Deus, para Quem todas as coisas ocultas são evidentes, já nos tendo dado disto provas cabais. Que tal se nos dirigíssemos a Ele neste nosso caso? Poderia esclarecer-nos, princi- palmente considerando que não é amigo destas asas negras e das de- terminações do Templo. Ouvi, pessoalmente, como Ele amaldiçoou Garizim e Capernaum, isto é, seus respectivos sacerdotes e fariseus. Assim, estou convencido de que Ele nos orientará neste caso.”

  1. Diz o juiz supremo, admiradíssimo: “Que me dizes?! Este Homem Divino está aqui?! Mas por que não me disseste logo?! Re- almente, deixaria que Ele tivesse presidido o julgamento, o que me pouparia muito trabalho! Leva-me depressa à Sua Presença! Pois o comandante Cornélius me incumbiu, com o máximo interesse, de informar-me a Seu respeito e dar-lhe ciência imediatamente!

  2. Se ele souber que Jesus Se encontra entre nós, em breve estará aqui também, com toda a sua família. Todos eles O adoram e eu faço o mesmo. Rendo-Lhe todo o louvor pela felicidade imerecida de vê-Lo e falar-Lhe! Por isto, depressa, depressa, levem-me a Ele! Agora tudo está ganho!”

  3. Enquanto o juiz supremo se dirige, rápido, em direção à casa, numa vontade imensa de ver-Me e falar-Me — Eu lhe venho ao en- contro! Quando Me avista, grita de alegria: “Oh, Tu aqui estás, meu Amigo e Irmão, se é que Te posso assim chamar!

  4. Deixa que Te abrace e cubra Tua Face Santificada, com mil beijos sinceros! Oh, meu querido Amigo, Tu! Como sou feliz em ter-Te de novo! Realmente, onde quer que as criaturas estejam em aflição, estás presente para ajudá-las! Não sei que fazer de tanta ale- gria por ter-Te achado aqui!”

  5. Digo Eu, abraçando-o com carinho: “Também és bem-vin- do, Meu amigo! Teu coração não fraquejou com tua profissão pe- nosa de juiz, e Eu te amo por isto e abençoo teus trabalhos! Em verdade, deves a Mim e Àquele que está em Mim a descoberta do roubo dos impostos! — Primeiro, porém, deixai-nos jantar, depois conversaremos!”

236. A refeição em comum. Fausto ouve a Doutrina de Jesus. Seu amor para com Lydia. O Senhor intercede. “O que Deus une, o homem não deve separar!” Ensinamentos matrimoniais.

  1. O juiz supremo e o juiz subalterno, Kisjonah, Baram, Jo- nael, Jairuth e Archiel acompanham-Me durante o jantar. O juiz supremo, ainda solteiro, sente grande atração pela filha mais velha de Kisjonah e Me diz: “Meu nobilíssimo Amigo, sabes quanto Te

estimo, não obstante nossas religiões diferentes, porque vejo em Ti não um judeu astucioso e parcial, mas um homem versado em todas as ciências e de uma cultura vastíssima.

  1. Por isto, confesso-Te que a filha de Kisjonah muito me atrai. Como sabes, sou romano e ela judia, e jamais poderá unir-se a um pagão. Dize-me, Amigo, não haverá uma condição qualquer de tor- ná-la minha esposa?”

  2. Digo Eu: “Tu és romano e ela grega, não judia; portanto, não existe empecilho para pedi-la em casamento, desde que a convic- ção religiosa que a tornou judia e espiritualmente adepta de Minha Doutrina não seja uma pedra de escândalo para a tua própria!”

  3. Diz o juiz supremo, chamado Fausto Caio Filho: “Em abso- luto, pois sou de todo coração também um adepto fervoroso de Tua Santa Doutrina! Julgo que um Deus, que é capaz de construir um mundo com seres vivos até chegar à criação do homem, deve ser, outrossim, imensamente Sábio!

  4. Como Tua Doutrina possui o caráter e o espírito que se co- adunam com a natureza e o princípio de conservação humanos, eu a considero puramente divina, aceitando-a e propalando-a no lar e entre os meus empregados; por esta minha concepção religiosa idên- tica, penso que só me falta o consentimento de Kisjonah!”

  5. Digo Eu: “Bem, este já tens, bem como o amor de Lydia. Vê seu pai atrás de ti, feliz por tamanha honra sucedida à sua casa!”

  6. Fausto se vira e Kisjonah diz: “Senhor e dirigente de toda a Galileia e Samaria! É verdade que desejas desposar minha filha?”

  7. Diz Fausto: “Oh, sim! Entre milhares, ela é a única, se tu ma queres entregar!”

  8. Kisjonah chama Lydia, que se aproxima visivelmente acanha- da de amor e alegria, e lhe diz: “Minha querida filha, desejas ser abençoada com este homem valioso?”

  9. Lydia, toda embaraçada, diz baixinho: “Como ainda po- des me perguntar? Quando vi hoje este simpático Fausto pela pri- meira vez, meu coração falou: ‘Quão feliz deverá ser a esposa deste

homem!’ E agora, que ele deseja desposar-me, deveria responder-

-lhe que não?”

  1. Diz o pai: “Mas, que dirá teu querido Jesus?!” Responde Lydia: “Somos todos Dele! Ele é o Criador e nós Suas criaturas, as quais deseja educar para verdadeiros filhos! Continuará a ser o que há de mais profundo no meu coração!”

  2. Fausto arregala os olhos e diz, admiradíssimo com este tes- temunho inesperado de Lydia sobre Minha Pessoa: “O quê — o que ouço? Será que o sonho maravilhoso, que há pouco tempo sonhei, tem uma significação verdadeira? Vi todo o Céu aberto; tudo era luz, inúmeros seres se apresentavam numa irradiação luminosa, e na profundeza do Céu avistei a Ti, Meu Amigo Jesus! Todos os espíritos aguardavam Teu aceno com alegria mal contida, a fim de anunciar, num momento, Tuas Ordens para todo o Infinito!

  3. Naquela ocasião julguei ter visto Zeus em Tua Imagem, cujo resplandecer sobrepujava até o sol, e me admirava muito de Tua Semelhança extraordinária com ele, tanto que Te julgava, no íntimo, um seu filho, identificando-o com o Jehovah dos judeus e o Brahma dos hindus. Todos os outros deuses iguais a Ti, filhos de Zeus, eram criados por este, de quando em quando, com as filhas da terra, a fim de dar aos homens os guias, doutrinadores e vivificadores!

  4. Mas agora este sonho recebe outro aspecto; Tu mesmo és o Zeus vivo, Brahma ou Jehovah em Pessoa, e nos ensinas Tua Sabedo- ria Divina, porquanto Teus antigos filhos a ensinaram erradamente e não souberam praticá-la entre seus semelhantes!

  5. Assim sendo, recebo esta linda criatura diretamente das mãos do meu Deus e Criador e não preciso perguntar se serei feliz nesta união!

  6. Até meu próprio desejo transformou-se! Querida Lydia! Fita o Senhor! Aqui não se trata do nosso amor recíproco, e sim, unicamente, da Vontade Santíssima deste Único dos Únicos, deste Senhor de toda Glória, deste Deus de todos os deuses, do qual sur- giram os Céus, sol, lua, terra e todos nós!

  1. Ó meu Jesus, Divino em toda a Plenitude e Verdade! Se for do Teu Agrado que Lydia seja minha esposa, ela o será! Mas, se não o for de maneira alguma, então dize-me — e minha vida será unicamente a expressão ativa da Tua Vontade!”

  2. Digo Eu: “Meu nobilíssimo irmão! Já vos abençoei a am- bos, portanto estais perfeitamente unidos! Mas gravai bem: O que Deus une, o homem jamais deverá separar, pois esta união represen- ta o verdadeiro matrimônio, indissolúvel por Eternidades! Um falso matrimônio, porém, que visa apenas os interesses mundanos sob múltiplas formas, não é uma união perante Deus e, portanto, disso- lúvel como qualquer conluio entre criaturas mundanas! Nada mais significa do que a pura prostituição, pela qual os filhos de Satanás são gerados para uma vida miserável. Portanto, sois perfeitamente marido e mulher, e perante Deus um corpo só. Amém!”

  3. Após estas palavras eles se abraçam e beijam. Esta união inesperada é uma sensação em Kis e compreende-se Kisjonah pensar em proporcionar-lhes um rico dote.

237. Chegada de Philopoldo. Promessa do Senhor. Continuação do julgamento do bando de ladrões templários. Sentença eficaz de Fausto.

  1. Depois de se ter serenado a exaltação com este acontecimen- to, vem chegando de Caná o grego Philopoldo e quer relatar-Me como tinha posto tudo na melhor ordem naquela vila.

  2. Eu, entretanto, cumprimento-o amavelmente e digo: “Já sei de tudo. Agora que és Meu discípulo, procura os outros, que terão algo a te contar. Há muito que fazer esta noite e amanhã teremos vários assuntos para decidir; serás um bom instrumento para Mim.”

  3. Philopoldo se dirige aos outros e, no mesmo momento, os vigias anunciam a chegada de todos os intimados de Capernaum e Garizim; perguntam o que devem fazer.

  4. Eu lhes digo: “Conduzi-los primeiro a seus filhos e dai-lhes de comer e beber! Enquanto isto, iniciaremos a autuação dos fariseus.”

  5. Os vigias afastam-se e Fausto pergunta-Me se não seria melhor que Eu interrogasse aqueles, fazendo ele apenas o papel de escrivão.

  1. Eu, porém, digo: “Não, Meu irmão, isto não é possível; pe- rante eles somente tu possuis o direito de função, trazes o anel do Imperador, o bastão e a espada; portanto, precisas interrogá-los pes- soalmente. Mas Eu te inspirarei o modo de fazê-lo e eles não pode- rão se esquivar! Mãos à obra, que já é noite adentro!”

  2. Chegando ao foro, encontramos os culpados com seus trinta cúmplices sob forte vigilância, aguardando, com pavor, a chegada do juiz supremo; agora não há mais tempo nem ocasião para arranjar quem testemunhasse em favor deles. É considerado graça especial, por parte dos fariseus, o fato de que qualquer criatura jure em falso a favor do Templo e de seus servos! Naturalmente, é necessário que esteja bem informada, o que no caso atual não é possível.

  3. Por isto, entramos no foro em companhia de Kisjonah, Baram, Jonael, Jairuth e o anjo Archiel, o juiz subalterno e vários escrivães.

  4. Logo de saída, o primeiro fariseu se dirige atrevidamente a Fausto e pergunta: “Que maneiras são estas de impedir nossa liber- tação, a nós que somos sacerdotes de Deus, uma vez que nos de- claramos prontos a satisfazer as exigências estipuladas?! Afirmamos como servos de Deus: sereis castigados por Ele, se não nos derdes imediatamente a liberdade!”

  5. Diz Fausto: “Sede calmos, senão me verei obrigado a vos acalmar, pois temos que resolver assuntos importantíssimos! Ouvi-

-me com atenção!

  1. Já vos falei, há pouco, da impressão de que vossos tesouros imensos se assemelham aos posteriormente mencionados. Apenas existe um ponto a ser esclarecido: as importâncias referentes aos im- postos, bem como os tesouros, eram escoltadas por quase três mil soldados romanos; portanto, não devia ter sido coisa muito fácil subjugá-los ou, no mínimo, afugentá-los.

  2. De modo que me resta saber a maneira pela qual o conse- guistes e a importância exata que roubastes, para que eu possa enviar o relato certo ao Imperador de Roma.”

  3. Diz o primeiro fariseu: “Senhor, isto é uma calúnia ino- minável! Mesmo que tivesses mil testemunhas falsas contra nós, de

nada te adiantaria, pois estamos bastante seguros e com todo o teu poder não nos poderás prejudicar! Poupa teu esforço, porque não re- ceberás mais nenhuma resposta, a não ser para teu próprio prejuízo!

  1. Se até agora não conheceste os fariseus, terás então oportu- nidade de tal, porque reagiremos contra esta calúnia! Aceitamos, em prol da paz, fazer o pagamento do prejuízo das matas; agora, porém, sustamo-lo e se por acaso te atreveres a tocar numa só moeda de ouro ou prata, não somente terás que a restituir cem vezes, como também perderás teu posto de dignitário! Porque no Templo já se sabe o que maldosamente praticaste contra nós.”

  2. Diz Fausto: “Ah, desta maneira vos quereis desembaraçar? Muito bem; já sei perfeitamente o que irei fazer convosco! Com isto termina o interrogatório; a prova é contra vós e constatada por cem testemunhas, pelo que vos dou um ultimatum :

  3. Se vossos trinta cúmplices quiserem falar, escaparão com vida; caso contrário, sereis todos decapitados esta noite! Podeis vos convencer do medo que tenho de vós!”

  4. A estas palavras enérgicas de Fausto, os trinta cúmplices se adiantam e exclamam: “Senhor, poupa nossa vida, relatar-te-emos tudo com todas as minúcias!”

238. Continuação do julgamento. Confissão plena dos cúmplices. Moderação da sentença.

  1. Responde Fausto: “Pois bem, então falai! Pela minha honra, prometo que saireis ilesos!”

  2. Diz um fariseu, tomado de medo mortal: “Senhor, salvarás também a mim, se eu depuser?”

  3. Replica Fausto: “Certo, pois és um dos mais desprezados entre eles.”

  4. Dizem os onze fariseus: “Não sabes que é preferível morrer do que se fazer um delator de Deus?!”

  5. Diz o outro: “Sei bem disto; mas aqui não se trata de Deus, e sim de vossa fraude incrível contra os romanos. Soubestes, por uma astúcia vergonhosa, cometer contra eles o grande roubo!

  1. Tu, como principal ladrão, usavas a vestimenta do governa- dor, que reside em Tyro — mas atualmente se acha em Sidon — co- mo também uma espada de ouro e o bastão da soberania de toda a Palestina, Síria, Ásia Menor e todo o Pontus.

  2. Além disso, aparentando a mesma idade do ancião Cirenius, usavas o nome dele, adornando-te com pompa igual e montando seu maravilhoso ginete. Quando o comandante, emissário do Pon- tus, cumprimentou-te como se foras o governador, numa distância de meio dia de jornada de Tyro àquela zona para fazer-te entrega de documentos, tesouro e dinheiro, que passaste a teus soldados dis- farçados, ordenaste-lhe voltar o mais depressa possível para o Pon- tus. Isto porque havias sido informado de que rompera uma revolta naquela zona em consequência das extorsões alfandegárias, e que os habitantes do interior se haviam juntado às tribos poderosas de skythos contra o Império de Roma. O perigo era iminente; por is- to, tu, o falso governador, havias ido ao encontro do mais valente comandante do Pontus e da Ásia Menor a fim de lhe encurtar o caminho de volta!

  3. É compreensível que o comandante voltasse com urgência com sua coorte de três mil soldados — e em poucas horas se achasse tão distante que não mais era preciso temê-lo. A todos nós havia sido recomendado o máximo sigilo, sob ameaça de morte se não o ob- servássemos, e tínhamos a promessa de duzentas libras de prata para cada um, que deveriam ser recebidas em Jerusalém. Mas o destino assim não o quis, e jamais conseguiremos estas importâncias.

  4. O dinheiro e o tesouro foram transportados durante a noite para Capernaum, onde ficaram perto de dois meses; o caminho se- creto foi feito apenas por causa do tesouro e não conduz a Jerusalém, mas a uma grande caverna nestas montanhas, onde já se encontram várias mil libras de ouro e prata.

  5. Deste segredo só sabemos nós, fariseus, e os nossos trinta cúmplices, os quais foram informados de que estes tesouros eram destinados ao futuro Messias que deveria libertar os judeus do jugo romano. Mas eu sei o verdadeiro motivo, que, primeiramente, é:

uma vida faustosa, e segundo: o poder de suborno para casos em que se queira conquistar os romanos ou comprar o posto de pontífice no Templo, de preço astronômico. Agora sabes de tudo, podes indagar dos trinta que te dirão o mesmo.

  1. Apenas as penhoras eram destinadas a Jerusalém, a fim de conseguir favores do Templo. Peço-te que sejas benigno para comigo e para com os trinta atraídos pelo ganho fácil!”

  2. Diz Fausto: “De vós não serei juiz, mas protetor; os onze serão julgados por Cirenius! Dize-me mais isto: não foi extraviado algo do tesouro da Ásia Menor? Onde fica a tal caverna?”

  3. Responde o fariseu: “O tesouro está completamente intac- to; quanto à caverna, sei que ninguém achará acesso para lá sem ajuda de um de nós.”

  4. Fausto elogia o fariseu sincero, de nome Pilah, e diz a Kisjo- nah: “Então, meu amigo e prezado sogro, a caverna que se encontra em tuas terras dar-te-á o que de direito pela primeira sentença; o tesouro e o dinheiro do Imperador podes guardar por enquanto, até a finalização deste processo extraordinário.

  5. A Pilah acomoda por minha conta, e aos trinta cúmplices dá, por esta noite, uma pousada debaixo de chaves, porquanto não poderão ser libertos antes de se desocupar a caverna. Mais tarde po- derão ir para onde quiserem. Também não serão fustigados, pois sua boa vontade nos levou a grandes descobertas.”

239. Continuação da cena no foro. Os onze ladrões em aperturas. Seu pedido de perdão. Oferta de outros tesouros como resgate.

  1. Em seguida, Fausto dirige-se aos julgados e diz: “Bem, que há com a destruição com que me ameaçastes tão arrogantemente? Qual vossa opinião sobre este caso, como servos ungidos de Deus? Realmente, deve ser penoso para um tal servo ser apontado como ladrão! Mas esperai um pouco, que isto foi apenas o preâmbulo; o melhor ainda virá!

  2. Se não vos mando despir e aplicar a maldição do Imperador, deveis unicamente a Jesus de Nazareth, que está a meu lado e ao

Qual há muito tempo amaldiçoastes e perseguistes de um ponto para outro, somente porque tomou a liberdade de esclarecer o povo enganado por vós.

  1. Olhai para o vosso íntimo e dizei se existe, além de Satanás, coisa pior! Ensinais o povo a reconhecer Deus, em Quem jamais acreditastes, porque se crêsseis Nele, Jehovah, que vos foi revelado por Moysés e no Qual vossos patriarcas creram e esperaram, não iríeis vilipendiar, com tamanho ultraje, vosso Deus Onipotente!

  2. Deixais que o povo, que espiritualmente cegastes, vos renda honras divinas como pretensos servos ungidos do Altíssimo; além disso, exigis oferendas exorbitantes deste pobre povo, enquanto cer- rais as portas do Reino da Luz Divina com trincos e ferrolhos!

  3. Dizei a vós mesmos se pode haver criminosos maiores contra Deus, o Imperador e a pobre Humanidade! Que paciência e indul- gência inacreditável do Grande Deus! Se eu tivesse apenas uma fagu- lha da Onipotência Divina sobre os elementos, os Céus não teriam fogo suficiente que fizesse cair sobre vós, dia e noite!

  4. Senhor, por que castigaste tão severamente as dez cidades, inclusive Sodoma e Gomorra, no tempo de Abraham, se seus habi- tantes eram verdadeiros anjos — descontando-lhes as perversidades sexuais — em comparação com estes perversos, cujo número na Ju- deia é maior do que o de toda a população daquelas cidades?!

  5. Chamais-vos de filhos de Deus e dizeis ser Ele vosso Pai! Realmente, agradeço a um deus que criou filhos como vós; pois este se chama, para nós romanos, Pluton — e é vosso Satanás ou Beelzebub!

  6. Sois a semente má que vosso pai sempre semeia entre o Trigo Divino, a fim de que abafe a Santa Colheita de Deus — e ainda vos intitulais de servos ungidos do Senhor?! Sois servos, sim, de Sata- nás; foi ele que vos ungiu para a destruição de tudo que é divino sobre a terra!

  7. Se fôsseis um pouco menos satânicos, eu teria pronunciado uma sentença mais suave, em consideração Àquele que aqui Se en- contra. Mas, como sois tão diabolicamente maus, não quero man-

char meu nome convosco, e sim entregar-vos ao Judiciocriminisatri 1

em Sidon, pois lá todo Judexhonoris2lava suas mãos por sete vezes!”

  1. Quando os onze ouvem estas palavras, fraquejam e pedem perdão, prometendo regenerarem-se completamente e prontifican- do-se a reparar, cem vezes, todo o prejuízo que haviam causado.

  2. Diz Fausto: “Mas com quê? A caverna mencionada já está em nosso poder; de onde ireis buscar mais ouro e joias? Tendes, por acaso, ainda outras tantas?”

  3. Dizem eles: “Senhor, possuímos mais uma além de Gari- zim, que contém velhos tesouros da era da prisão babilônica, perten- centes a diversos templos. Ninguém sabia algo a respeito, até bem pouco; há mais ou menos sete anos passados encetamos uma caça de perdizes e também procurávamos abelhas silvestres e mel. Nesta oca- sião encontramos, bem próximo de uma zona grega, uma parede da qual escorria mel e cera de abelhas, numa enorme altura. Na parte superior da parede via-se uma abertura do tamanho de um menino de doze anos.

  4. Acima desta grande fenda elevava-se uma outra parede nu- ma altura equivalente à de setenta homens, de modo que não seria possível alcançá-la sem escada, e de onde víamos sair e entrar, cons- tantemente, um enxame de abelhas. Em pouco tempo arranjamos uma escada e uma quantidade de palha seca a fim de exterminar os insetos, conseguindo assim uma colheita de várias centenas de libras de um mel puríssimo e igual quantidade de cera.

  5. Enquanto nos entretínhamos com a retirada da cera, toca- mos de imprevisto em apetrechos metálicos do Templo e, ao anali- sarmos o metal, verificamos ser ouro e prata puros! — Quanto mais escavávamos, mais riquezas incalculáveis íamos encontrando. Deixa- mos tudo conforme estava, dentro da gruta; apenas entrincheiramos a entrada com pedras e musgo, e um vigia de confiança se encontra lá, desde aquela época até hoje. Todas estas riquezas te entregaremos se sustares, em nome do Imperador, a pena que nos infligiste!”

  1. Julgamento de crime hediondo.

  2. Juiz de honra (juiz em causa honrosa).

    1. Diz Fausto: “Vou pensar sobre isto! Agora, porém, escla- recei-me conscientemente se encontrastes a caverna, em terras de Kisjonah, já ocupada ou se fostes vós quem a abarrotou com tesou- ros; neste caso, onde achastes tudo isto e desde quando esta caverna está impedida?!”

    2. Dizem os fariseus: “Adquirimos este tesouro durante quinze anos através de negócios lícitos. Mas, como só nos é permitida a posse de uma determinada soma, por uma nova Lei do Templo, devendo toda sobra ser ali entregue, todo aquele que possuir algo a mais, constatado numa investigação severa e anual, é impiedosa- mente castigado como impostor de Deus. A fim de fugir do castigo e, ao mesmo tempo, possuir algo para certas ocasiões, escolhemos a caverna oculta nas montanhas de Kisjonah, guardando nela nossas sobras consideráveis.”

    3. Diz Fausto: “O caminho que preparastes dá até lá?”

    4. Dizem eles: “Não, senhor, somente até à mata espessa, atra- vés da qual ali se chega por um atalho apenas conhecido por nós.”

    5. Determina o juiz: “Bem, amanhã então sereis nossos guias! Por hoje a discussão está terminada!”

    6. Os fariseus jogam-se aos seus pés e pedem perdão, mas ele afirma: “Isto já não depende de mim, e sim de Outro Alguém; se Ele vos perdoar, eu também o farei. Que assim seja!” Com isto saímos da sala para o necessário descanso.

    7. Lydia se encontra na entrada da casa, esperando por Mim e por Fausto, seu esposo, e lastima a luta que tivemos no caso do roubo.

    8. Fausto cumprimenta-a com carinho e diz: “Sim, querida Lydia, a questão não foi fácil, mas, com a ajuda puramente divina do nosso Divino Amigo Jesus, que merece toda Honra e Louvor, conseguimos a solução desejada. Agora, porém, deixemos isto; ama- nhã ainda haverá muita coisa para resolver.” Com exceção dos vigias, todos repousam.

240. A verdadeira celebração do sábado. Libertação dos onze fariseus. Distribuição dos tesouros. Devolução das crianças raptadas e dos penhores; indenização dos lesados.

  1. No dia seguinte, Fausto, embora romano, pergunta-Me se o sábado deveria ser comemorado ou não, e o que deveria ser feito com os fariseus.

  2. Digo Eu: “Caro amigo e irmão! Todo dia repleto de boas ações é um verdadeiro sábado; assim sendo, já foi comemorado em verdade! Por esta razão deves fazer, hoje que é sábado, o bem o quan- to puderes, e não terás pecado; a não ser perante os tolos do mundo que até amaldiçoam os ventos, a chuva e os bandos de pássaros que, porventura, surjam nesse dia. Estes tolos, porém, nunca deverão ser um estímulo para nós, mas um exemplo detestável; pois amaldiço- am o bem, desejando que sua maldade seja considerada por todo o mundo! Agora tens uma orientação certa para todos os sábados!

  3. Quanto aos onze fariseus, podes libertá-los, depois de tirar-

-lhes o roubo! Envia ao Imperador o que de direito, justificando o atraso com motivos aceitáveis. Ao Templo também darás o que lhe pertence da caverna de Garizim, orientando o Sumo Pontífice sobre como estas riquezas foram descobertas há vários anos pelos onze fariseus, tendo-lhe sido sonegadas; ele saberá fazer-lhes justiça.

  1. O que diz respeito aos tesouros em terras de Kisjonah, um terço será dele, um terço pertencerá a ti, em nome do Imperador, e um terço deverá ser distribuído entre os pobres que aqui chegaram a fim de buscar seus filhos e bens; com isto, o processo terá término para todos os tempos. Aproveitai o dia de hoje!

  2. Baram e Kisjonah possuem bons barcos e, em poucas horas, com ajuda de bons ventos, tereis feito o necessário na gruta de Ga- rizim; outro grupo se incumbirá da caverna de Kisjonah; se fordes ativos, tereis trazido as riquezas até à noite, as quais amanhã serão divididas conforme disse!

  3. Bem que as poderia fazer vir num minuto com ajuda de Ar- chiel, mas há muito povo aqui e tal milagre faria um grande alarde;

por isto, deixo de fazê-lo. Entretanto, ajudar-vos-ei em segredo, no sentido de que este trabalho, que nu’a marcha comum levaria três dias, seja concluído em apenas um dia. Agora não mais vos dete- nhais, que não há tempo a perder!

  1. Cada grupo levará apenas um fariseu como guia, os outros ficarão presos aqui!

  2. Pilah não precisa vos acompanhar, pois já é bom demais para ocupar-se com coisas nocivas aos filhos de Deus. Também não é necessário que vás em pessoa fiscalizar os trabalhos; basta para tanto um comissário munido da devida autorização. Enquanto isto, dedi- car-nos-emos à distribuição das penhoras e das crianças aos respec- tivos pais.”

  3. Quem poderia estar mais satisfeito com estas determinações do que Fausto?! Pois ganhou três vantagens: uma, de ficar Comigo; outra, com sua esposa, e terceira: ter tempo para fazer um relato ao Imperador, bem como uma guia em bom pergaminho determinan- do a entrega do dinheiro e dos tesouros.

  4. Depois de se terem os dois comissários afastado, come- çamos a distribuir as penhoras e as crianças, que, na maior parte, já tinham encontrado seus pais durante a noite; mas algumas há cujos pais se encontram adoentados em casa, de desgosto e tristeza, e não podem chegar até Kis para acompanhar seus filhos e read- quirir seus trastes.

  5. Estes progenitores acamados deram a incumbência a vizi- nhos de receberem os filhos e bens, por acaso encontrados; proce- dendo desta maneira, cada um recebe o que de direito e, além disto, uma parte do terço destinado aos pobres, a qual, de acordo com Minha Ordem, redunda em cem libras para cada um. Depois disto feito e de terem recebido de Fausto um bom ensinamento e conse- lho, todos são despedidos.

  6. Kisjonah manda preparar todos os barcos de carga, levan- do desta maneira a caravana que mora em Garizim, Capernaum e Nazareth até suas casas, no que não gasta mais de sete horas e meia.

241. Uma palavra para nossa época. Doenças e aflições das crianças. Razão disto. Má influência espiritual sobre as crianças. A criação material como receptáculo para espíritos sob julgamento.

  1. Alguém poderá, no momento em que este fato ocorrido há muito tempo é transmitido aos homens através de um servo expressa- mente escolhido por Mim, o Mesmo Cristo que há quase dois mil anos doutrinou como Deus e homem nesta terra, perguntar o seguinte:

  2. Como era possível que Eu, o primeiro Amigo dos pequeni- nos, não os procurasse e lhes dirigisse uma palavra sequer — uma vez que sempre os chamei a Mim, acariciando-os e abençoando-os perante todos — considerando que mais da metade teria de ser ven- dida, o mais tardar em doze dias, a Sidon, Tyro, Cesareia, Antiochia ou Alexandria pelos privilegiados mercadores de escravos, caso não fossem procurados por seus responsáveis?!

  3. A esta pergunta respondo: Primeiro, a maioria destas crianças já tinha ultrapassado a idade de nove anos, pois havia-as, de ambos os sexos, de catorze a dezesseis, e não era possível se penetrar no recinto de criaturas semidesnudas sem provocar escândalos; além disto, não eram tão inocentes como Eu as encontrava de vez em quando, mas, sob o aspecto moral, completamente viciadas, pois a pederastia e violação em parte alguma eram tão vergonhosamente poderosas como nas zonas fronteiriças entre judeus e gregos. Por- tanto, a lição que Eu lhes consentira não foi de todo imerecida, dada sua perversão sexual; muito ao contrário, não deixava de ser uma advertência a não mais servirem, para o futuro, à sensualidade dos gregos lascivos, a fim de levar a sério uma vida religiosa, se não quisessem ser castigados mais sensivelmente numa recaída, detalhe que Fausto havia frisado quando aconselhava pais e filhos.

  4. Considerando isto, compreender-se-á que Eu, embora cheio de Amor Divino para com toda criatura, não Me podia aproximar pessoalmente da carne pecaminosa e extremamente profanada, em vista de Minha Santidade Divina, manifestando-se então, nestes ca- sos, o bem conhecido NoliMetangere!(Não me toques!)

  1. Eis a grande diferença entre uma criança pura e uma impura. A primeira poderá ser guiada diretamente por Mim, mas a segunda apenas indiretamente, por caminhos espinhosos, de acordo com as necessidades, conforme é mostrado neste caso.

  2. Tampouco não se deve ser tão precipitado em perguntar por quemuitas vezes as crianças são mais severamente castigadas, porquanto nada fizeram ou, no mínimo, são irresponsáveis, do que velhos pecadores, cujos vícios já perfazem o número de grãos de areia do mar!

  3. Neste caso digo: Quem quiser dar uma certa inclinação a uma árvore, terá que fazê-lo enquanto nova e delgada. Uma vez ve- lha, torna-se necessário recorrer a meios extraordinários para que, talvez, mude de direção, pois um tronco muito velho não mais a aceita — a não ser quando é abatido.

  4. “E por isto acontece que Eu”, fala o Senhor, “não raro trato as crianças com mais rigor que a um adulto, pois em parte alguma os maus espíritos são tão ativos e fazem tudo para construir-lhes o corpo de tal maneira que sirva também para eles, espíritos, como morada com grande quantidade de recintos!”

  5. Mas o que faz o Senhor, para o Qual nada é oculto?

  6. Vede, Ele envia Seus anjos, fazendo desmoronar a obra mi- serável e astuciosa dos maus cooperadores, expulsando através de doenças externas todas as partículas estranhas.

  7. Observai as múltiplas doenças das crianças! Nada mais são do que a expulsão do material estranho e nocivo, com o qual es- píritos maus e impuros querem erigir moradas livres num corpo a ser construído. Se isto não fosse impedido energicamente, haveria tantos obsedados, surdos-mudos, mentecaptos e aleijados, que seria difícil encontrar uma criatura sequer numa saúde completa.

  8. Novamente Me perguntam: Mas como pode permitir Deus, o Extremamente Sábio, que elementos maus e impuros se infiltrem no jovem corpo?! E Eu digo: Assim pergunta o homem cego, que não sabe que toda a terra, sim, toda a Criação em sua parte externa e material, em seus elementos propriamente ditos, é um conglo-

merado de espíritos julgados a permanecerem aprisionados por um certo tempo.

242. O segredo da força vital. A ação purificadora de moléstias e dietas. Importância de uma alimentação certa para as crianças. Prescrição dietética de Moysés. Advertência de alimentar-se com frutas bichadas e verdes, de batatas e café.

  1. Cada vez que a alma pede alimento material para seu corpo e este desejo é satisfeito, ela ingere uma legião de elementos maus e impuros em estado liberto, que são obrigados a ajudar a alma a prosseguir na construção de seu corpo.

  2. Estes elementos, porém, juntam-se pouco a pouco e formam almas próprias com inteligências afins; quando alcançam este grau, abandonam a alma, como dona autorizada do corpo, iniciando nes- te as organizações adequadas para o seu próprio bem-estar. Quando este conforto atinge um grau elevado — o que é facílimo, conside- rando a gula e voracidade que a alma sente para o seu jovem corpo

  1. O que é nocivo tem que ser expulso por moléstias a fim de evitar que a criança venha a ser completamente obsedada; ou, para impedir que uma alma mais frágil viva sob tormento, é permitido que continue a viver neste corpo semiestranho até o momento em que lhe possa ser administrada, através de ensinamentos, a noção da influência externa e interna dos elementos; assim poderá expulsá-los por vontade própria, pelo jejum e por toda sorte de privações. Se estes parasitas forem persistentes, o corpo será tirado à alma, sendo então educada no Além para a Vida Eterna.

  2. Este também é o motivo da morte prematura das crianças, tão dolorosa para os pais; por isto devem, principalmente os ricos, cuidar muito dum alimento apropriado para os filhos. A mãe não deve amamentar quando se nutre com alimentos determinados co- mo impuros por Moysés; deve deixar que outra pessoa, que obedeça

a estas leis, o faça; do contrário, muito sofrimento cairá sobre es- ta criança.

  1. Por este motivo foi dito aos judeus por Abraham e Moysés quais os animais e frutos puros — e todos que respeitavam estas leis nunca tinham filhos doentes, alcançando eles mesmos uma ida- de avançada.

  2. Nesta época, porém, em que se procura as guloseimas es- trangeiras, sem jamais refletir se este bocado é puro ou não, e que em vários países se come tudo o que não é pedra e terra, já se torna um milagre os homens cegos não decaírem fisicamente ao estado animal, o que já conseguiram com sua alma.

  3. Quando as crianças são atacadas com toda sorte de molés- tias na idade mais tenra, o motivo está evidentemente no alimento inadequado, pelo qual uma grande quantidade de elementos maus e impuros são levados para o corpo. Muitas vezes, pela salvação da alma, só poderão ser expulsos com a morte do mesmo, e disto so- mente é culpada a cegueira imperdoável dos pais, porquanto seguem tudo, menos o Conselho Divino no Livro Sacro!

  4. Vede, Eu ordeno aos Meus anjos uma seleção anual de todas as árvores frutíferas que servem de alimento para os homens, de mo- do que nenhuma pera, maçã ou qualquer fruto possa amadurecer se um espírito impuro se tiver infiltrado nele; todo fruto assim é tirado do pé completamente verde.

  5. O mesmo cuidado é observado nas plantas e grãos destinados ao alimento humano. Mas o homem cego não somente deixa de reconhecer isto, como também come tudo como um pólipo, e se admira quando adoece, tornando-se fraco, aleijado e completamen- te desditoso!

  6. Assim também, todas as qualidades de batatas são mais do que prejudiciais para crianças, amas e mulheres grávidas, e muito pior ainda o café! Mas a cegueira nada enxerga e se alimenta de ambos com avidez; as crianças, porém, enfraquecem em seu físico e, finalmente, homens e mulheres. Mas isto não importa ao cego, pois

se ele ingere venenos muito piores — por que não deveria ingerir estas duas qualidades mais suaves?!

  1. No futuro darei uma orientação sobre os alimentos úteis; seguindo-a, a criatura obterá e ficará com saúde — caso contrário, será aniquilada como uma fera má no deserto.

  2. Agora, porém, encerro esta explicação, aliás necessária, para voltarmos ao fato principal!

FinaldoPrimeiroVolume Amém

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