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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume II

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2015

ÍNDICE

  1. ACERCA DA PUNIÇÃO DE CRIMINOSOS 15

  2. JUDAS ISCARIOTES, LADRÃO 17

  3. O EMPREGO JUSTO DO PODER MILAGROSO E CURADOR 19

  4. VISITA E DESCRIÇÃO DE UMA CAVERNA ESTALACTÍTICA 22

  5. HISTÓRIA DOS TESOUROS DESCOBERTOS 25

  6. ORIGEM E DEMOLIÇÃO DA CAVERNA ESTALACTÍFERA 27

  7. FAUSTO ENCONTRA OS TESOUROS BEM ORGANIZADOS 29

  8. O REINO DO CÉU 31

  9. A NATUREZA DO CÉU E DO INFERNO 33

  10. A LEI DA ORDEM 35

  11. O SENHOR E SEUS DISCÍPULOS PARTEM PARA NAZARETH 37

  12. SEGUNDA RESSURREIÇÃO DE SARAH 39

  13. CENA ENTRE JAIRO E SUA MULHER 43

  14. A DIFERENÇA ENTRE O PODER HUMANO E O PODER DIVINO 45

  15. PHILOPOLDO DÁ TESTEMUNHO DA DIVINDADE EM JESUS 48

  16. O SENHOR SE DIRIGE À SINAGOGA 50

  17. O SENHOR EXPLICA UM TEXTO DE ISAÍAS 52

  18. A NATUREZA DE DEUS E SUA VERDADEIRA ADORAÇÃO 55

  19. IGNORÂNCIA E PERTURBAÇÃO DOS FARISEUS 56

  20. MEDO DOS TEMPLÁRIOS DIANTE DO JULGAMENTO ROMANO 58

  21. CIRENIUS E OS TEMPLÁRIOS 61

  22. CURA DE UM ARTRÍTICO. TESTEMUNHO DO NAZARENO 63

  23. ADMOESTAÇÃO FEITA AOS NAZARENOS 65

  24. DISCURSO DE CIRENIUS A RESPEITO DOS NAZARENOS 67

  25. INDIGNIDADE DO POVO 69

  26. ENSINAMENTOS PARA LEGISLADORES 70

  27. PREJUÍZO PARA A ALMA ATRAVÉS DE LEIS HUMANAS 73

  28. A LIBERDADE DO ESPÍRITO 75

  29. BÊNÇÃO DA EVOLUÇÃO INDEPENDENTE 76

  30. EVOLUÇÃO E LEI 78

  31. JAIRO FALA SOBRE OS EFEITOS DOS MILAGRES 79

  32. TENDÊNCIAS BÁSICAS DO SER DIVINO 80

  33. CURA DA FAMÍLIA DE UM VELHO JUDEU 82

  34. CENA ENTRE OS FARISEUS E O GENRO DO VELHO 83

  35. OS FARISEUS FAZEM A LEITURA DO SALMO N° 37. SÁBIO CONSELHO

DE ROBAN 85

  1. O VELHO ROBAN EM COMPANHIA DE JESUS 88

  2. JOSA, O VELHO, AGRADECE AO SENHOR 91

  3. A NATUREZA HUMANA E A NATUREZA DIVINA DO SENHOR 93

  4. A INFLUÊNCIA DOS ANJOS SOBRE OS HOMENS 94

  5. O AMOR PARA COM DEUS 96

  6. A NATUREZA DO VERDADEIRO AMOR 98

  7. O DIA DO JUÍZO FINAL 100

  8. O SENHOR E OS SEUS NA PESCA 101

  9. TRAÇOS PESSOAIS DE BORUS 103

  10. A VERDADEIRA NATUREZA DOS ANJOS 106

  11. O AMOR AO PRÓXIMO, DOS MÉDICOS 108

  12. UMA PROPOSTA A JAIRO. CERIMÔNIAS EXTERNAS 111

  13. ASSUNTOS HEREDITÁRIOS DE JAIRO 113

  14. ABDICAÇÃO DE JAIRO. O SENHOR NA SINAGOGA 115

  15. PALESTRAS DOS ANCIÃOS SOBRE A SITUAÇÃO JUDAICA 119

  16. TESTEMUNHO DE UM ORADOR A RESPEITO DA ARCA 121

  17. DISCURSO DE DEFESA DO ANCIÃO 123

  18. CHIWAR TESTEMUNHA DA VIDA E DAS AÇÕES DE JESUS 125

  19. CONSELHO DOS ANJOS AOS TEMPLÁRIOS CONVERTIDOS 127

  20. RELAÇÃO ENTRE OS POVOS E SEUS DIRIGENTES 129

  21. ROBAN E KISJONAH RELATAM SUAS AVENTURAS 131

  22. O TRABALHO CÓSMICO DOS ANJOS 133

  23. AS RELAÇÕES DAS CRIATURAS DESTA TERRA PARA COM O PAI CELESTE 134

  24. A GRANDE LUTA DENTRO DO HOMEM 136

  25. A UTILIDADE DAS PAIXÕES 138

  26. A IMPORTÂNCIA DO LIVRE ARBÍTRIO 139

  27. O PENSAR NO CORAÇÃO 140

  28. A VOLTA DO FILHO PERDIDO 142

  29. A RESPEITO DO SER, DA VIDA E DO TRABALHO DOS ESPÍRITOS DA NATUREZA 143

  30. CONTOS DE GNOMOS. A FEITIÇARIA 145

  31. FEITICEIROS E ADIVINHOS 148

  32. O SENHOR CURA UM ENDEMONINHADO 149

  33. UM EVANGELHO PARA OS RICOS 152

  34. NA TUMBA DE JAIRO 154

  35. RESSURREIÇÃO DE JOSOÉ 156

  36. ESTUPEFAÇÃO DE BAB E SUA MULHER. PROMESSA DE IMORTALIDADE DADA A JOSOÉ 158

  37. O VERDADEIRO CULTO A DEUS 159

  38. A CEIA EM CASA DE MARIA 160

  39. DISCUSSÃO ENTRE JUDAS E THOMAZ 162

  40. O SENHOR ADVERTE JUDAS 164

  41. HUMILDADE E RENÚNCIA 166

  42. AS TRÊS QUALIDADES DE AMOR 167

  43. PLANO INTELIGENTE DE JOSOÉ 169

  44. DOIS ANJOS OFERECEM SEUS PRÉSTIMOS A JOSOÉ 171

  45. CIRENIUS ADOTA JOSOÉ 173

  46. RELATO DE ROBAN REFERENTE AO NOVO REITOR 174

  47. HISTÓRIA E FIM DE JOÃO BAPTISTA 176

  48. CENA COM O NOVO CHEFE DO TEMPLO EM NAZARETH 178

  49. CHIWAR TESTEMUNHA DE JOÃO BAPTISTA E JESUS 181

  50. O SENHOR LOUVA ROBAN E CHIWAR 182

  51. KORAH, O NOVO REITOR, E CHIWAR NA SINAGOGA DE NAZARETH 184

  52. CHIWAR E KORAH DISCUTEM A RESSURREIÇÃO DE SARAH 187

  53. OPINIÃO DE CHIWAR A RESPEITO DO TEMPLO 189

  54. PALESTRA ENTRE CHIWAR E KORAH A RESPEITO DO MESSIAS. SATANÁS DESAFIA CHIWAR 191

  55. KORAH LEMBRA-SE DO SENHOR 193

  56. OS AMIGOS DE JESUS EM CASA DE BORUS 195

  57. A GRAÇA DO SENHOR QUANTO À HUMANIDADE 196

  58. BORUS FALA SOBRE A NATUREZA HUMANA 198

  59. CONVIVÊNCIA DOS AMIGOS DO SENHOR, EM NAZARETH 199

  60. A CURA MILAGROSA E A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES 201

  61. OS DISCÍPULOS NO MAR TEMPESTUOSO 203

  62. JUDAS ELOGIA OS MILAGRES DOS ESSÊNIOS 205

  63. JOÃO E BARTHOLOMEU EXPLICAM A JUDAS OS TRUQUES DOS ESSÊNIOS 208

  64. FILOSOFIA DOS ESSÊNIOS 210

  65. OS DISCÍPULOS EM ALTO MAR 212

  66. PEDRO DÁ SUA PROVA DE FÉ 213

  67. CHEGADA À CIDADE LIVRE GENEZARETH 215

  68. O SENHOR E OS SEUS NO ALBERGUE DE EBAHL 216

  69. O SENHOR ABENÇOA A FAMÍLIA DE EBAHL E CRITICA OS ESSÊNIOS 218

  70. O SENHOR E O COMANDANTE ROMANO 221

  71. AS EXPERIÊNCIAS MUNDANAS DO COMANDANTE 222

  72. A PESSOA E A MISSÃO DO SENHOR 224

  73. RELAÇÃO ENTRE O PROFETA E DEUS 225

  74. OS PROFETAS E A DIFERENÇA DE SUA ATITUDE QUANTO A DO SENHOR 227

  75. O PRADO ABENÇOADO. O PASSEIO SOBRE O MAR 228

  76. A VERDADEIRA PRECE 230

  77. ORDEM DOMÉSTICA E AMOR 231

  78. O PERIGO DO ELOGIO 232

  79. YARAH EXPÕE SUAS EXPERIÊNCIAS COM RELAÇÃO ÀS SUAS PRECES 234

  80. YARAH VÊ OS CÉUS ABERTOS 235

  81. A DOUTRINA DE JESUS DEVE SE TORNAR POSSE COMUM 236

  82. A CHEGADA DE DOENTES. OS HÓSPEDES DE JERUSALÉM E SUA MISSÃO .238 118. CENA ENTRE O COMANDANTE E OS TEMPLÁRIOS 239

  1. O PODER DO AMOR 242

  2. SONHO DE YARAH REFERENTE À CRUCIFICAÇÃO DO SENHOR 243

  3. PALESTRA ENTRE O COMANDANTE JULIUS E O SENHOR 245

  4. GRANDE CURA MILAGROSA 246

  5. O SENHOR E O CHEFE DOS FARISEUS 248

  6. DISSERTAÇÃO DE JULIUS QUANTO À BÊNÇÃO DO SENHOR 249

  7. TRÊS DOCUMENTOS 251

  8. ADVERTÊNCIA DO SENHOR QUANTO À ASTÚCIA DOS TEMPLÁRIOS 253

  9. O SENHOR FALA SOBRE O ESPÍRITO DO AMOR 254

  10. PALESTRA ENTRE OS TEMPLÁRIOS E OS ESSÊNIOS 256

  11. O SENHOR E OS DOIS ESSÊNIOS 259

  12. ESCALADA MARAVILHOSA 260

  13. NO CUME DA MONTANHA 261

  14. A NATUREZA DO MEDO 263

  15. CRISTO, MEDIADOR ENTRE CÉUS E TERRA 265

  16. O LEVANTAMENTO DO MAR GALILEU 266

  17. PROVA DE AMOR DE YARAH 268

  18. O PODER DOS ANJOS. VISITA A UMA ESTRELA 270

  19. A FACULDADE INTERNA PARA CONTEMPLAR A CRIAÇÃO 272

  20. UM INSTITUTO DE RENÚNCIA NO ALÉM 274

  21. PESQUISANDO A ORGANIZAÇÃO CÓSMICA 276

  22. ESTADOS EVOLUTIVOS NO ALÉM 277

  23. A GRANDIOSIDADE DO ESPÍRITO HUMANO 278

  24. A VERDADEIRA GRANDEZA ESPIRITUAL 280

  25. OS DISCÍPULOS SÃO DESPERTADOS 281

  26. DISCURSO DE LOUVOR DE YARAH 283

  27. REALIDADE DO SONHO 284

  28. YARAH E OS PRESENTES QUE RECEBEU 285

  29. CONVÍVIO COM O SENHOR PELO CORAÇÃO 287

  30. OS FENÔMENOS NATURAIS E SUA INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL 289

  31. OBSERVAÇÕES DURANTE A AURORA 291

  32. OS ESSÊNIOS RECEBEM DO SENHOR A INCUMBÊNCIA DE

CONSTRUÍREM UMA ESCOLA MAÇÔNICA 292

  1. O ALMOÇO ABENÇOADO NO CUME DA MONTANHA 294

  2. APARIÇÃO DE SATANÁS 295

  3. A DESCIDA DA MONTANHA 298

  4. MILAGRE CURADOR NA HOSPEDARIA DE EBAHL 299

  5. ZELO DO AMOR 301

  6. QUESTÃO DE SEXO DOS ANJOS 302

  7. A DISTRIBUIÇÃO DE ESMOLAS E A CELEBRAÇÃO EM MEMÓRIA DE

ALGUÉM 304

  1. O SALMO 47 DE DAVID 306

  2. A RESPEITO DO AMOR AOS INIMIGOS 309

  3. OS MARUJOS RELATAM OS ACONTECIMENTOS NOTURNOS 311

  4. RAPHAEL E O MARINHEIRO 312

  5. RECEPÇÃO DOS FARISEUS EM GENEZARETH 314

  6. O COMANDANTE JULIUS RELATA EPISÓDIOS DO TEMPLO 315

  7. A IMITAÇÃO DE JESUS 316

  8. CENA ENTRE RAPHAEL E YARAH 318

  9. AMOR, CLEMÊNCIA E PACIÊNCIA 319

  10. DESPEDIDA DO SENHOR E PARTIDA PARA SIDON E TYRO 321

  11. CENA COM A MULHER CANANEIA PERTO DE TYRO 323

  12. A OBSESSÃO 324

  13. A FONTE MILAGROSA 326

  14. GRANDE CURA MILAGROSA NA MONTANHA 328

  15. PREDIÇÃO DO SENHOR QUANTO À SUA DOUTRINA 329

  16. A SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES 330

  17. FARISEUS E SADUCEUS TENTAM O SENHOR 331

  18. O SENHOR NUMA POBRE CABANA EM CESAREIA PHILIPPI 334

  19. O TESTEMUNHO DOS DISCÍPULOS SOBRE O CRISTO 337

  20. MARCUS, O DONO DA CABANA, RELATA CRUELDADES DO TEMPLO 339

  21. FATO OCORRIDO COM OS TEMPLÁRIOS 340

  22. REVOLTA DOS DISCÍPULOS EM VISTA DAS CRUELDADES TEMPLÁRIAS 342

  23. A PESCA ABENÇOADA. O ESTRUME DO TEMPLO 343

  24. MARCUS E OS CAÇADORES DO DÍZIMO 344

  25. O SENHOR PREDIZ SUA MORTE E RESSURREIÇÃO 346

  26. A VISITA DE CIRENIUS É ANUNCIADA 348

  27. MARCUS RECEBE CIRENIUS 349

  28. MÉTODO DE ENSINO ANGELICAL 350

  29. O PRESENTE DE CIRENIUS A MARCUS 352

  30. A ASSEMBLEIA NO MAR 353

  31. JOÃO EXPLICA A DIFERENÇA ENTRE A COMPREENSÃO NATURAL E ESPIRITUAL 354

  32. CHEGADA DE UM NAVIO MILITAR. A PESCA ABUNDANTE 356

  33. OS NOVOS HÓSPEDES 357

  34. MÉTODOS DE ENSINO, CELESTIAL E MUNDANO 359

  35. OS DIREITOS TRIBUTÁRIOS DO TEMPLO 361

  36. TRATAMENTO DE MALFEITORES E OBSEDADOS 362

  37. AS SÁBIAS PALAVRAS DE YARAH 364

  38. MATÉRIA E ESPÍRITO 365

  39. YARAH DESATA, POR JOSOÉ, O NÓ GÓRDIO 366

  40. O CONHECIMENTO LIMITADO DAS CRIATURAS 368

  41. QUE É A VERDADE? 369

  42. O SEGREDO DA ORIGEM DE TODA A SABEDORIA 370

  43. JOSOÉ E YARAH EM PALESTRA 371

  44. OBSERVAÇÕES DE YARAH ACERCA DE SEU JARDIM 373

  45. INTERPRETAÇÃO DO QUADRO 374

  46. O MATERIALISMO E SEUS PROPAGADORES 375

  47. PALESTRA ENTRE JOSOÉ E YARAH A RESPEITO DE JUDAS 377

  48. CADA POVO NECESSITA DE SEUS MEIOS EVOLUTIVOS 378

  49. JOSOÉ TENTA DESCULPAR-SE 380

  50. DISSERTAÇÃO DE JOSOÉ 381

  51. A IMPOSIÇÃO DA LEI, E O AMOR 382

  52. A PUREZA DA ALMA 383

  53. CORPO E ALMA 385

  54. CIRENIUS FAZ UM DISCURSO SOCIALISTA 387

  55. A MISÉRIA, UM MEIO EDUCATIVO 388

  56. CONSEQUÊNCIAS DO BEM-ESTAR 389

  57. O CONTRASSENSO CONTIDO NA GÊNESIS 390

  58. A FORMAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM 391

  59. O PROCESSO DE CRESCIMENTO DO TRIGO 394

  60. A EVOLUÇÃO ESPIRITUAL DO HOMEM 395

  61. ALMA E CORPO 397

  62. A CRIAÇÃO DE CÉU E TERRA 398

  63. TERRA E LUZ 400

  64. SEPARAÇÃO DE LUZ E TREVA 401

  65. FASE FINAL DA CRIAÇÃO 403

  66. PARECER DE CIRENIUS A RESPEITO DA HISTÓRIA DA GÊNESIS 404

  67. A QUEDA DOS ARCANJOS, DE ADAM E O PECADO ORIGINAL 405

  68. O PODER DA HEREDITARIEDADE 406

  69. AS PREOCUPAÇÕES MUNDANAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS

PARA A ALMA 408

  1. A QUEDA DOS ARCANJOS 410

  2. FORÇA E RESISTÊNCIA 412

  3. A NATUREZA DE SATANÁS 414

  4. O ENSINO DOS ARCANJOS 415

  5. AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA DE LÚCIFER 417

  6. INVÓLUCRO E ALMA 418

  7. O SABER 420

  8. MARCUS DISSERTA SOBRE O PRÓXIMO 421

  9. MARCUS SALVA FARISEUS NAUFRAGADOS 423

  10. CRÍTICA DOS FARISEUS À PESSOA DE JULIUS 425

  11. DECISÃO DOS FARISEUS 427

  12. CONSELHO DO SENHOR QUANTO À PRÁTICA DO AMOR AO PRÓXIMO 429

  13. JULIUS ACONSELHA OS FARISEUS 431

  14. YARAH DÁ TESTEMUNHO DO SENHOR 433

  15. AS INTENÇÕES DO TEMPLO SÃO REVELADAS 434

  16. O MILAGRE DO ARCANJO RAPHAEL 435

  17. DISSERTAÇÃO DO JOVEM FARISEU 437

  18. JULIUS ESCLARECE OS FARISEUS 438

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“Obra Cultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e A Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor

PERMANÊNCIADEJESUSEDOSSEUSEMKISE NAZARETH

Evangelho de Matheus Cap. 13 (continuação)

    1. ACERCADAPUNIÇÃODE CRIMINOSOS

  1. Altas horas da noite, chegam os tesouros da caverna de Kisjo- nah, representados em ouro, prata e uma quantidade enorme de pedras preciosas; há três libras de diamantes lapidados, cerca de sete libras em bruto, outro tanto de rubis, o dobro em esmeraldas, jacintos, safiras, topázios, ametistas e quatro libras de pérolas do tamanho de ervilhas. Em ouro, vinte mil libras e em prata, cinco vezes mais.

  2. Quando Fausto vê esta riqueza imensa, exclama: “Senhor! Como filho de um dos mais ricos patrícios de Roma, tive oportunidade de apreciar grandes tesouros; mas coisa idêntica, jamais vi! Isto sobrepuja todo o poderio dos faraós e a fábula de Creso, cuja riqueza era tal, que desejou construir um palácio de ouro, no que foi impedido pelo seu inimigo.

  3. Agora, dize-me Tu, Senhor, que és conhecedor de tudo, como poderiam estes onze servos de Satanás conseguir tamanha ri- queza! Não lhes teria sido possível por meios lícitos! Como, pois, deu-se isto?”

  4. Digo Eu: “Amigo, não te preocupes mais! Não vale a pena perder muitas palavras com estas imundícies do demônio. Asseguro-te, porém, que em toda esta riqueza não há uma, sequer, moeda honesta! Seria perder tempo discriminar as traficâncias vergonhosas que esta ninhada de víboras praticou para juntar tudo que vês.

  1. Certamente não duvidas de que são todos uns criminosos, os mais perversos; ninguém, porém, necessita saber até que ponto chega sua perversidade. Pela lei de Roma merecem dez vezes a morte, ape- nas pelo crime de saque à caravana de impostos imperiais; e o roubo presente em nada é mais atenuado, embora não atinja tão de perto os impostos romanos.

  2. Mesmo se soubesses de tudo, não poderias matá-los mais de uma vez. Podes aguçar o martírio, mas para que? Sendo violento — usando de vossos termos jurídicos — não deixa de se tornar mortal; se for mais ameno, porém mais prolongado, o criminoso não sentirá muito mais do que sentirias, caso uma mosca te importunasse. A alma, cega de conhecimentos espirituais, apavora-se com a morte certa do seu corpo e se retrai para dentro de sua morada mais recôndita; começa de livre e espontânea vontade a se libertar do invólucro material, que não lhe proporciona mais estada, tornando-o deste modo completamente insensível. Poderás martirizá-lo à vontade, que ele pouco ou nada sen- tirá. Se, de outro modo, lhe aplicares uma dor muito intensa, a psique não a suportará por muito tempo, rompendo o laço; poderás, então, queimá-lo ou assá-lo, que ele nada disto sentirá.

  3. Por isto sou contra a pena de morte, porque não tem valor para o sentenciado e, muito menos, serve de escudo ou utilidade à justiça; terás matado um — e milhares jurarão vingança! Sou a favor de que um criminoso deva ser tratado com a maior severidade, até que se rege- nere completamente! Um açoite em época oportuna é melhor do que dinheiro e ouro puro, pois a alma deste modo se liberta mais e mais de sua matéria e, finalmente, acaba se dirigindo para o seu espírito; assim, ela é salva da perdição e a criatura da morte eterna!

  4. Eis a razão por que juiz algum deveria castigar o maior crimino- so com a morte física, que de nada vale, mas sempre com o açoite, de acordo com o crime cometido. Se assim fizer, será juiz das criaturas para o Céu; em caso contrário, para o inferno, pelo que jamais terá recom- pensa de Deus, mas sim daquele reino, pelo qual julgou os crimino- sos! Agora sabes bastante e podes mandar guardar os tesouros! Amanhã também chegarão os de Chorazim e então se iniciará a distribuição e os

despachos de toda esta imundície de Satanás. Agora, porém, entremos no refeitório, que o jantar já nos espera! Realmente, este caso está Me aborrecendo e é tempo de Me apressar para Nazareth!”

  1. Diz Fausto: “Senhor, reconheço que tudo isto Te incomoda, mas que fazer? Peço-Te, meu Senhor e meu melhor e maior amigo, que não partas daqui antes de mim. Em primeiro lugar, nada poderei sem Ti, e, além disto, morreria de enfado sem Tua Presença, não obstante a minha querida esposa aqui se encontrar! Espero que até amanhã à tarde tudo esteja em ordem!”

  2. Digo Eu: “Muito bem! Nada mais, porém, quero ver destes tesouros, nem dos onze fariseus! Já Me repugnam como se fossem cadá- veres!” Responde Fausto: “Tratarei disto!”

2.JUDASISCARIOTES, LADRÃO

  1. Mal tínhamos iniciado a refeição, quando dois servos conduzem Judas perante o juiz supremo e lhe comunicam que aquele tivera a in- tenção de furtar algumas libras de ouro; eles, porém, pegaram-no em flagrante, tiraram-lhe o ouro e o trazem até aqui.

  2. Judas, horrivelmente envergonhado, diz: “Nem de longe me passou pela ideia apossar-me do ouro; apenas queria conferir o seu peso. E estes tolos me acusam de ladrão e me apresentam como tal! Peço-te, Fausto, que este vexame me seja tirado!”

  3. Diz Fausto aos servos: “Deixai-o ir! É um adepto do Senhor e, por isto, poupá-lo-ei.” E, dirigindo-se a Judas: “Futuramente evita, principalmente à noite, pegar em barras de ouro, a não ser que sejas um taxador imperial. Caso contrário, sofrerás a punição judicial por tenta- tiva de roubo! Compreendeste bem o juiz supremo, Fausto?”

  4. Responde Judas, todo confundido: “Senhor, não houve o mí- nimo vestígio dum roubo tencionado, e apenas uma experiência do seu peso.”

  5. Digo Eu: “Vai e procura teu leito! Morrerás também deste mal, pelo qual todos os ladrões morrem, pela mão de Satanás; pois foste, és e serás um ladrão! Enquanto a severidade da lei te retém, não o és em

ação; mas, no teu íntimo, há muito tempo! Se Eu revogasse todas as leis, serias o primeiro a pôr a mão nos tesouros. É uma lástima não pulsar sob tua cabeça um coração mais prestável! Vai dormir, a fim de que amanhã sejas mais cordato!”

  1. Com esta admoestação Judas se retira envergonhado e, no seu quarto, reflete durante duas horas como poderia se esquivar daquilo que Eu lhe havia profetizado; mas não há saída no seu coração, por- quanto este faz ouvir constantemente a sua voz ávida pelo ouro. Deste modo, adormece. Como as duas noites anteriores nos tivessem cansado bastante, também nos recolhemos. A alvorada, porém, não está longe.

  2. Enquanto Fausto tenciona cochilar mais um pouco, eis que che- gam os portadores do tesouro de Chorazim e ele se vê obrigado a levan- tar para revistá-lo e taxá-lo. Quando termina, já nos encontra de pé e a merenda também se acha arrumada na sala de refeição. O juiz, exausto, entra com sua jovem esposa e toma lugar ao Meu lado.

  3. Em seguida Me conta que sua tarefa matinal já está terminada e que tudo tinha seguido seu destino. Tanto os documentos como as car- tas judiciais se encontram prontos no escritório. O tesouro da caverna de Kisjonah tinha sido bem dividido e munido de documentos com- probatórios, o mesmo se dando com o outro tesouro. Somente havia ainda considerável quantidade de apetrechos de carpintaria, cujo dono não se tinha manifestado.

  4. Digo Eu: “Lá, na ponta da mesa, sentados ao lado de Maria, es- tão dois filhos de José, de nomes Joses e Joel; isto lhes pertence! Foi-lhes tirado como penhora junto à pequena casinha em Nazareth e lhes será restituído!”

  5. Diz Fausto: “Senhor, inclusive a casinha! Dou-Te a minha pa- lavra! Oh, Senhor e amigo! Quantos aborrecimentos já me proporcio- naram estas asas-negras; mas a lei é a favor deles e não há meios de condená-los. Praticam as maiores injustiças diante dos meus olhos, sem que seja possível agir, embora o poder me assista; aqui, porém, Satanás os abandonou e tenho uma arma em mãos, que os fará tremer como uma folha seca na tempestade! O relato ao governador Cirenius é uma obra-prima, atestada por ele e imediatamente expedida para Roma.

Partindo de Tyro, Sidon e Cesareia, o navio imperial, munido de uma vela possante com vinte e quatro remadores, estará em doze dias na costa romana, portanto, nas mãos do imperador! Bom proveito para estes ladrões!”

  1. Digo Eu: “Amigo, afirmo-te que te regozijas cedo demais! Dentro do Templo os doze terão que aguardar boa coisa; não serão mortos, mas presos na câmara de penitência até o fim da vida! Perante Roma, porém, serão abertamente desculpados — e depois exigir-se-á de ti explicações minuciosas e terás dificuldade em responder a todas as perguntas. Por isto, deixar-te-ei Pilah, que te prestará bons serviços. Trata de arranjar depressa uma indumentária romana para ele a fim de que não seja reconhecido por seus colegas de Capernaum! Pois digo-te: nem o próprio Satanás tem seu regimento tão bem adestrado como esta ninhada de serpentes. Por isto, sê meigo como as pombas e precavido como a serpente, senão terás dificuldades com esta geração!”

  2. Diz Fausto: “Agradeço-Te bastante por este conselho! Como, porém, este negócio teve solução, vamos tratar de coisas mais agradáveis!”

  3. Digo Eu: “Pois não! Esperemos apenas por Kisjonah, que está aprontando seu cofre!”

3.OEMPREGOJUSTODOPODERMILAGROSOE CURADOR

  1. Depois de algum tempo chega Kisjonah, cumprimenta a todos com amabilidade e diz: “Meu querido amigo Jesus! Dou-Te este Nome apenas externamente, pois sabes Quem és no meu coração! Agradeço tudo isto unicamente a Ti! Isentei os pobres habitantes de Caná apenas com a pequena soma de cinco mil libras e Tu me proporcionaste cin- quenta mil, não contando o valor incalculável dos tesouros restantes, que talvez representem o dobro! Prometo, pelo amor indescritível para Contigo, empregar tudo isto em benefício dos necessitados e oprimidos, e desta imundície de Satanás ainda se fará ouro para os Céus de Deus!

  2. Não pretendo, em absoluto, dar ouro e prata aos pobres, pois isto é sempre um veneno para as criaturas fracas; proporcionar-lhes-ei casa e terreno sem juros, dando-lhes também gado, pão e roupas. A

todos os beneficiados pregarei o Teu Verbo, anunciando o Teu Nome, para que saibam a Quem devem tudo isto, pois sou apenas um servo mau e preguiçoso! Tu, ó Senhor, fortalece-me sempre quando servir em Teu Nome! Se algum dia, porém, deixar-me tentar em dirigir apenas um sentido ao mundo, faze com que todas as minhas forças fraquejem para que eu mesmo possa reconhecer em mim um homem falho, nada conseguindo pelo próprio esforço!”

  1. Coloco Minha Mão sobre seu peito e lhe digo: “Amigo e irmão, guarda-Me aí dentro e jamais te hão de faltar forças para a realização de obras nobres! Na fé viva e no pleno amor puro para Comigo e na intenção de fazer o bem às criaturas em Meu Nome, poderás mandar nos elementos e eles te obedecerão! Tua chamada aos ventos não lhes será incompreensível e o mar reconhecerá tua vontade. E ao falares à montanha: ‘Levanta-te e joga-te no mar!’, ela obedecerá à tua ordem!

  2. Se alguém, no entanto, exigir uma prova para sua fé, não o aten- derás. Quem não quiser reconhecer a plena verdade, se esta não lhe for prova suficiente, melhor será continuar em sua cegueira; pois, se for obrigado a aceitá-la em consequência da prova e não agir dentro da Doutrina, esta prova se tornará um julgamento duplo para ele. Pri- meiramente, ver-se-á obrigado a aceitar a verdade por si mesma — re- conhecendo-a ou não em sua cegueira — segundo, cairá forçosamente num julgamento mais profundo em si próprio, em virtude da Ordem Divina, quando não agir pela convicção da prova. Isto já é o bastante; a compreensão ou incompreensão não justifica quem quer que seja.

  3. Pois se alguém desejar um comprovante para confirmação da verdade e disser: ‘Não reconheço a causa da verdade em tuas palavras; mas, se fizeres um milagre, aceitarei esta doutrina como autêntica!’ Bem, cedendo ao pedido de tal pessoa, ela não poderá se esquivar em aceitar a Luz da Doutrina, mesmo não a compreendendo a fundo, pois a prova é um testemunho convincente.

  4. Como sua cegueira não lhe permite atingir a causa da mesma e a imitação da Doutrina lhe traz situações de vida muito incômodas, pensa de si para si: ‘Deve haver algo nisto, pois do contrário não seria possível esta prova; mas, mesmo assim, não vejo a causa de tudo e, se agisse de

acordo, teria que me sujeitar a uma renúncia inclemente. Por esta razão, prefiro não fazê-lo, e sim continuar na minha maneira de viver, que não me proporciona fatos extraordinários, entretanto agrada-me muito!’

  1. Vê, nisto consiste o julgamento a que o pedinte se preparou pela exigência de provas; por sua conduta contrária, declara-se um lutador contra a Verdade Eterna, renegando-a completamente, não obstante a prova obtida, que lhe foi dada como indicador da verdade, que jamais poderá ser desfeita. Por isto, é muito melhor não fazer milagres como prova da verdade!

  2. Para beneficiar as criaturas, todavia, poderás agir secretamente neste sentido, sem que alguma coisa te peçam — e ninguém terá peca- do nem caído em julgamento. Depois de uma prova, poderás doutrinar a pessoa, se tal desejo existir; caso contrário, faze-lhe apenas uma séria advertência contra o pecado. Mas não te deixes levar em prosseguir na doutrinação, porquanto aqueles que curaste te tomariam por médico mago e a prova não lhes seria um julgamento.

  3. Todos aqueles que receberam o poder de agir milagrosamente deverão seguir fielmente este Meu Conselho, caso queiram fazer real- mente a caridade.

  4. Além disto, ninguém deve fazer um milagre num momento de alteração ou aborrecimento! Pois toda prova só deve ser efetuada na base do mais puro e verdadeiro amor e da meiguice! Se o motivo, porém, for a ira ou o aborrecimento — o que é muito bem possível — então o inferno já toma parte e tal prova não traz a bênção, e sim a maldição.

  5. Se por diversas vezes já vos dei o Ensinamento de que deveis até abençoar àqueles que vos amaldiçoam, com muito mais razão deveis evitar uma maldição aos cegos de espírito!

  6. Refleti bem sobre isto e agi assim, que transmitireis por todos os lados as bênçãos, se bem que não espiritual, mas fisicamente, como Eu fiz e ainda faço! Às vezes, uma caridade puramente material age mais no coração e no espírito do necessitado que cem dos melhores ensinamentos virtuosos; tanto que está dentro da ordem da divulgação do Evangelho abrir caminho no coração dos necessitados e só depois pregá-lo às índoles sadias. Melhor assim do que passar adiante a prédica

e em seguida lançar, através dum milagre, os pobres ouvintes numa miséria maior do que fora o seu estado anterior.

  1. Se fores chamado a socorrer um doente, antes de mais nada toca-lhe com as mãos para que melhore; se ele te perguntar: ‘Amigo, como te é possível isto?’, então dirás: ‘Pela fé viva no Nome Daquele que foi enviado por Deus dos Céus para a verdadeira bem-aventurança de todas as criaturas!’ Se depois perguntar pelo nome, dar-lhe-ás o en- sinamento inicial de acordo com a capacidade de assimilação, para que possa compreender a possibilidade deste fenômeno.

  2. Quando chegares neste ponto, podes-lhe proporcionar mais e mais na medida justa. Se durante estas palestras perceberes que o cora- ção do ouvinte se anima de maneira positiva, poderás dizer-lhe muito, que ele o aceitará e acreditará em todas as tuas palavras. Se, porém, lhe deres demais de uma só vez, seus sentidos se perturbarão, o que te dará muito trabalho.

  3. Do mesmo modo como não se dá às crianças recém-nascidas o alimento de um adulto, que as mataria, assim também não se deve for- necer, de início, a uma alma infantil um alimento espiritual completo, e sim somente aquilo que possa assimilar; senão será aniquilada e difícil se tornará revivificá-la espiritualmente! Tereis compreendido isto?”

  4. Respondem todos com corações sensibilizados: “Sim, Senhor, tudo isto é tão claro como o sol ao meio-dia e o cumpriremos fielmente!”

  5. Digo Eu: “Bem, então vamos até à caverna na qual os fariseus haviam escondido seus tesouros; pois nessa gruta existe outra, que ire- mos examinar. Muni-vos de archotes, vinho e pão; pois encontraremos seres mui famintos!”

4.VISITA E DESCRIÇÃO DE UMA CAVERNA ESTALACTÍTICA

  1. Kisjonah prepara tudo; Baram, que não se podia separar de nós, faz com que seus estoques de vinho e pão sejam trazidos pelos emprega- dos. Jairuth e Jonael Me pedem para acompanhar a expedição.

  2. E Eu digo: “Como não? Sois até muito necessários e Archiel nos prestará bons serviços! Digo-vos mais: neste momento, uma delegação

de vossos eternos inimigos se encaminha de Sichar para cá, a fim de convencer-vos a voltar em breve; o povo levantou-se contra eles e depôs ontem o novo sacerdote, membro da delegação. Estarão aqui à noite e serão bem tratados por nós! Agora, porém, vamos!” As mulheres e mo- ças também fazem menção de acompanhar-nos.

  1. Eu, porém, lhes digo: “Minhas queridas filhas, isto não é passeio para vós; ficai em casa e tratai de um bom jantar!” Elas se acomodam, inclusive Maria. Lydia com prazer se teria juntado a nós, mas, como vê que isto não é de Minha Vontade, faz o mesmo que as outras.

  2. Entrementes, encaminhamo-nos para a gruta, alcançando-a em algumas horas. Imediatamente nela penetramos com os archotes incen- diados. Kisjonah se admira de sua grandeza e tão interessante formação estalactífera, a mais considerável de toda Ásia Menor, que conta com uma grande quantidade destas grutas. Figuras gigantescas de toda espé- cie recebem os visitantes amedrontados.

  3. O próprio Fausto, que não carece de coragem, torna-se medroso e diz: “Aqui pode-se chegar à conclusão de que no subterrâneo habita uma espécie de deus, que consegue efetuar estas obras colossais pelo seu poder nefasto. Vejo figuras de homens, animais e árvores; mas, de que dimensões! Perto disto, que são os formidáveis templos e as estátuas de Roma? Vede aí este árabe bem esculpido! Realmente, quem quisesse chegar à sua cabeça levaria uma hora, subindo em degraus. Acha-se sen- tado — e já fico tonto só de olhar para cima! Isto é sobremaneira raro, estranho e não pode ser obra do acaso! Ali está um grupo de guerreiros com espada e lança! Lá no fundo um enorme elefante nos ameaça; a figura nada deixa a desejar! Senhor, como isto pôde ter surgido?!”

  4. Digo Eu: “Amigo, observa tudo que se apresenta à tua visão e não perguntes muito; a explicação natural seguirá depois. Ainda se dará muita coisa aqui que te causará grande admiração; mesmo assim, não indagues demais! Quando tivermos deixado a caverna, esclarecer-vos-ei a respeito!”

  5. Prosseguindo em nossa excursão, alcançamos um imenso vestí- bulo bem iluminado; pois existem aí várias fontes de petróleo, que ti- nham sido incendiadas há muitos anos por pessoas que habitavam esta

gruta, e desde então ardiam constantemente! No alto deste vestíbulo há uma saída, pela qual também cai uma forte luz durante o dia.

  1. O solo apresenta diversas figuras: serpentes, sapos gigantescos e múltiplas formas animais, regularmente bem esculpidas, bem como grande quantidade de pequenas e enormes figuras de cristais de todas as cores, o que causa aspecto deslumbrante.

  2. Fausto, então, diz: “Senhor, disto se fariam joias imperiais de tamanha abundância, como jamais um imperador poderia imaginar! Certamente deve ser uma espécie de Tártaro, como foi descrito pelo mito grego? Faltam apenas o Estígio, o velho Caron, os três implacáveis juízes de almas — Minos, Éako e Radamanto — finalmente o cão de três cabeças, chamado Cérbero, algumas Fúrias e, talvez ainda, Plutão com a linda Proserpina — e o inferno estaria completo! Estes diversos fogos do solo e das paredes, estas figuras medonhas de animais — em- bora mortas e petrificadas — anunciam estarmos perto, talvez já dentro do Tártaro. Ou então, o que me parece mais admissível: esta gruta é na certa a base fundamental da mitologia grega!”

  3. Digo Eu: “Existe muita veracidade nisto, embora não em tudo; pois o sacerdócio esperto de todos os povos sempre soube tirar o maior proveito destas formações da Natureza. O mesmo fizeram em Roma e na Grécia, dando livre curso à sua fantasia nefasta, conseguindo enga- nar povos e povos, no que terão êxito até o fim dos tempos, ora mais, ora menos.

  4. Enquanto a Terra apresentar formações consideráveis, de acor- do com sua múltipla maleabilidade, as criaturas em sua cegueira lhes atribuirão forças e efeitos divinos, porquanto criam em sua fantasia di- versas caricaturas, sem poder distinguir a verdadeira causa.

  5. Vês aí o Estígio (rio), o navegador Caron e, além deste rio da largura de doze braças e uma vara de profundidade, precisamente um lago de fácil travessia no ponto mais raso, verás, numa fraca ilumina- ção, os três juízes, algumas Fúrias, Cérbero e Plutão com Proserpina

Naulo (passagem) ao Caron, a pé sobre o Estígio, para examinarmos de perto este Tártaro.”

  1. Em seguida, atravessamos num ponto mais raso o dito rio, pe- netrando o Tártaro através duma fenda bastante estreita, onde, pela ilu- minação dos archotes, apresenta-se um tesouro imenso e desconhecido de todos os fariseus; assim, pois, tudo que era tão oculto surge por Mim à luz do dia.

5.HISTÓRIADOSTESOUROS DESCOBERTOS

  1. Fausto, estonteado, chama imediatamente Pilah e lhe diz: “Não tens conhecimento disto? — Fala, senão te verás comigo!”

  2. Diz Pilah: “Senhor, não sabia coisa alguma e nunca penetrei tão profundamente nesta gruta! Os velhos sacerdotes certamente o sabiam; porém, ocultavam-no para guardar o resgate de possível prisão.”

  3. Fausto Me pergunta se Pilah fala a verdade e Eu lho confirmo, dizendo: “Amigo, se alguém desposar a filha de família conceituada, com razão poderia esperar um dote. Até então, tiveste muito trabalho e ainda não foste recompensado; portanto, aceita este imenso tesouro e considera-te seu legítimo dono. Tem o valor de um milhão de libras.

  4. As grandes pérolas, cada uma do tamanho de um ovo de galinha, possuem maior valor. Um grande cofre de bronze está repleto delas. Tais pérolas não surgem mais neste planeta, porquanto os crustáceos que lhes deram origem, bem como muitos outros animais pré-históri- cos, não mais existem. Outra particularidade é não terem sido pescadas no mar, mas encontradas na terra pelo rei Nínias, também chamado Nino, durante as escavações do solo quando mandou construir a cidade de Nínive. Depois de muitas peripécias chegou a Jerusalém uma peque- na parte, na época de David; a maior, porém, veio durante o reinado de Salomon. Para esta caverna foram trazidas quando os romanos conquis- taram a Palestina, ou melhor dizendo, apossaram-se da metade da Ásia.

  5. Os sumos pontífices, conhecedores de há muito da existência desta gruta, transportaram todos os tesouros do Templo para cá, logo que souberam da invasão romana. Os leões de ouro, que em parte car-

regavam o trono de Salomon e em parte vigiavam seus degraus, ficaram soterrados durante a destruição de Jerusalém pelos babilônios, mas na época da reconstrução foram descobertos novamente e recebidos pe- los sacerdotes para uso do Templo. A maior parte também se encontra aqui; um grande número de riquezas do Templo foi levado durante a invasão dos babilônios poderosos para a conhecida caverna de Cho- razim. Entretanto, os invasores, mais tarde ainda, encontraram vários cálices e outros objetos preciosos, destinados ao uso perpétuo do Tem- plo, e os levaram para a Babilônia. Agora, ordena ao teu pessoal que tire tudo desta gruta; em seguida, Archiel irá lacrar a entrada de tal maneira que jamais uma criatura aqui poderá penetrar!”

  1. Fausto emite suas ordens, mas os empregados não são capazes de suspender os cofres pesados. Então pedem-Me que lhes proporcione a força necessária.

  2. Neste instante chamo Archiel e digo-lhe: “Transporta toda esta imundície para o grande armazém alfandegário em Kis!” — De súbito desaparecem todos os cofres e Archiel também já está de volta, de sorte que ninguém pôde perceber sua ausência.

  3. Fausto, em seguida, afirma: “Isto ultrapassa tudo que se possa imaginar! Meus servos teriam levado três dias para esta tarefa — e agora se fez tudo num abrir e fechar de olhos! Já não pergunto mais pela pos- sibilidade deste fato, é necessário um sentido divino para compreender e avaliar com justiça tais milagres!”

  4. Digo Eu: “Sim, tens razão! Por enquanto, também não seria be- nefício para o homem se compreendesse tudo que se lhe apresenta. Pois consta: ‘No dia em que comeres do fruto do conhecimento, mor- rerás!’ Por isto, é melhor aceitar todo milagre como se apresenta, ima- ginando que para Deus nada é impossível, do que tentar explicá-lo em sua origem, enquanto se compreende tão pouco depois da explicação como antes.

  5. Basta que vejas ser a Terra feita para abrigar e nutrir as criaturas! Se soubesses como foi organizada, perderia toda graça, nem sentirias mais prazer algum, mas avidez de pesquisar uma outra. E, caso desco- brisses nesta segunda a mesma base de formação e consistência, e assim

também numa terceira, quarta e quinta, não mais te interessaria anali- sar uma sexta e sétima. Com isto, tornar-te-ias preguiçoso, enfadado, cansado da vida, amaldiçoando a hora que te proporcionou tais conhe- cimentos, estado este que representa a morte completa para tua alma!

  1. Mas, como tudo é de tal maneira organizado — de acordo com a Ordem Divina — que tanto o homem como também todo anjo só poderão reconhecer pouco a pouco o que se relaciona à Natureza Divina em si em todas as coisas criadas, e isto somente até certo grau, a crescente vontade de viver e o amor para com Deus e o próximo perduram e lhe facultam o único meio para a bem aventurança eterna. Compreendes isto?”

  2. Diz Fausto: “Sim, Senhor e Amigo, compreendo-o comple- tamente! Portanto, também não mais Te perguntarei pela origem da formação desta gruta!”

6.ORIGEMEDEMOLIÇÃODACAVERNA ESTALACTÍFERA

  1. Digo Eu: “O conhecimento a respeito não aumentará nem di- minuirá tua vida. Poderás, porém, saber que jamais a mão humana a formou, mas unicamente a natureza dos elementos. As montanhas ab- sorvem constantemente a umidade do ar, a chuva, a neve e a neblina que, não raro, circundam seus cumes. Toda esta umidade ali depositada se infiltra, na maior parte, pela terra e nas pedras, e, quando atinge uma zona oca, junta-se em gotas, que consistem em parte de cal diluída. Es- tas gotas caem. A água pura vai se infiltrando mais profundamente ou, então, evapora-se no vácuo. A massa calcária se torna mais consistente, surgindo, pela constante aglomeração, as múltiplas formas, que mais ou menos assemelham-se às já existentes sobre a Terra. Desta maneira, surgiram todas as formas nesta caverna de um modo natural, embora também seja admissível que os servos de Satanás muito tivessem con- tribuído para o aperfeiçoamento, a fim de ofuscar as criaturas fracas.

  2. Portanto, é melhor impedir a penetração nesta gruta por todos os tempos, porque ela muito favoreceu a superstição. Vamos, pois, dei- xá-la, para que Archiel possa executar sua incumbência!”

  1. Fausto Me agradece por esta explicação e diz: “Compreendo isto perfeitamente, pois já ouvi esta hipótese por físicos romanos. A suges- tão da cooperação de Satanás é de grande importância, pois o inimigo da vida não deixará de aproveitar tais coisas, e suas consequências de- sastrosas se apresentam nas três partes do mundo! Tudo isto me é claro; somente uma coisa não compreendo: a bem-aventurança de Deus!

  2. Dize-me, que prazer Deus poderá sentir em Sua Própria Vida Imutável, quando a razão intrínseca de todo Ser Lhe é eternamente consciente, quando para o homem seria um enfado mortal?”

  3. Digo Eu: “Observa estas criaturas! São um prazer para Deus, quando se tornam aquilo para que foram destinadas por Sua Ordem. Nelas, Ele Se resplandece e seu crescimento constante em vários conhe- cimentos e, através disto, em todo amor, sabedoria e beleza representam o gozo e a bem-aventurança eterna para Deus! Pois tudo que encerra a Eternidade existe apenas para a pequena criatura e nada há que não fosse exclusivamente criado para ela. Agora também foste informado sobre isto! Vamos, pois, sair daqui!”

  4. Em poucos minutos tínhamos deixado a gruta e Eu dou um aceno a Archiel. No mesmo instante, ouve-se um grande estrondo. A abertura folgada se apresenta agora como uma parede alta de granito, que dificilmente um mortal poderia atravessar. Mas, para impossibilitar terminantemente a penetração, fez-se um declive no terreno — após o nosso afastamento dali — de sorte que a tal entrada apresentou-se en- tão na altura de uns duzentos metros, mais ou menos, e teria sido pre- ciso uma escada desse comprimento para alcançá-la, o que, por sua vez, não traria êxito, porquanto o paredão de granito seria um empecilho.

  5. Quando Fausto e os outros assistem a esta transformação, diz-

-Me aquele: “Senhor e Amigo, realmente, agora custo a me controlar. Os acontecimentos estão se tornando demasiado fenomenais e distam uma Eternidade de meu horizonte de assimilação! Positivamente, não sei se vivo ou se sonho! Dão-se coisas tão extraordinárias, que a pessoa mais sensata poderia perder a noção do seu próprio sexo. Eis esta parede colossal de granito! Onde se encontrava quando, há pouco, trilháva- mos, comodamente, o caminho que dá para a gruta?

  1. O mais estranho é que, com toda esta transformação, não há vestígio, sequer, de uma demolição violenta. Parece que isto já estava assim, desde eras remotas! Se, por acaso, mil homens trabalhassem du- rante anos, ainda duvido que tivessem conseguido remover estas massas colossais! Isto é incrível! Estou curioso acerca da reação dos navegantes quando derem com esta rocha! Muitos não poderão orientar-se e outros farão o que faz o gado quando vê uma nova cerca!”

  2. Respondo Eu: “Por isso, digo a vós todos que caleis a respeito e nem façais menção disto às mulheres; não permiti que nos acompa- nhassem porque não podem silenciar sobre fatos extraordinários. Podeis relatar a formação da gruta e a descoberta de novos tesouros; mas, fora disto, nem uma sílaba!” Todos Me prometem assim agir e em seguida encetamos a caminhada de volta para Kis, chegando lá ao pôr-do-sol. Somos recebidos pelas moças e mulheres que, naturalmente desejosas de saber das novidades, são informadas serem importunas as perguntas, e que só houve transporte de um tesouro oculto pelos fariseus. Elas se satisfazem com isto e se calam. Nós, porém, fomos jantar, pois estáva- mos todos com apetite.

7.FAUSTOENCONTRAOSTESOUROSBEM ORGANIZADOS

  1. Somente depois do jantar Fausto vai verificar se os tesouros estão bem acondicionados no armazém. Tudo está numa ordem perfeita, ha- vendo inclusive uma minuciosa lista, que registrava cada preciosidade e seu valor, conforme encontrada na gruta. Fausto então pergunta aos vigias quem havia feito esta lista.

  2. Os vigias respondem: “Senhor, já encontramos tudo conforme está e não sabemos quem a tenha feito.”

  3. Continua a perguntar o romano: “Dizei-me como chegou isto aqui e quem o trouxe?”

  4. Respondem eles: “Também não o sabemos; só pode ter sido um jovem que, há dias, se encontra aqui em companhia do médico milagroso de Nazareth e que mandou que vigiássemos isto. Recebemos a ordem pelo juiz subalterno e aqui nos encontramos há duas horas. Eis tudo!”

  1. Fausto dirige-se, então, ao juiz com a lista e faz as mesmas per- guntas; este sabe tanto quanto os vigias. Como Fausto vê que ninguém em Kis sabe algo da origem dos tesouros, pensa consigo: “Como nada sabem, não mais chamarei a atenção sobre este fato.”

  2. Voltando à sua residência, é recebido de braços abertos por sua jovem esposa. Antes, porém, de recolher-se, ele Me procura para dis- cutir assuntos importantes. Eu, no entanto, transfiro isto para o dia seguinte e o aconselho a dar o devido descanso ao corpo e à alma.

  3. Cedo, porém, todos se levantam a fim de tomar o desjejum na sala de refeição e depois disto rendem louvores a Jehovah, conforme consta no salmo 33, de David: “Regozijai-vos no Senhor, vós justos, pois aos retos convém o louvor. Louvai ao Senhor com harpa, cantai a Ele com saltério de dez cordas. Cantai-Lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo. Porque a Palavra do Senhor é reta, e todas as Suas Obras são fiéis. Ele ama a justiça e o juízo: a Terra está cheia da Bondade do Senhor. Pela Palavra do Senhor foram feitos os Céus e todo o Seu Exército pelo Espírito da Sua Boca. Ele ajunta as águas do mar num montão; põe os abismos em depósitos. Tema toda a Terra ao Senhor; temam-No todos os moradores do mundo. Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu. O Senhor desfaz o conselho das nações, que- branta os intentos dos povos. O Conselho do Senhor permanece para sempre; bem como os intentos do Seu Coração de geração em geração. Bem-aventurada a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele es- colheu para Sua Herança. O Senhor olha dos Céus e está vendo todos os filhos dos homens. Do lugar da Sua Habitação contempla todos os moradores da Terra. Aquele que forma o coração de todos eles, que con- templa todas as suas obras. Não há rei que se salve com a grandeza dum exército nem o homem valente se livra pela força desmedida. Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que O temem, sobre os que esperam Sua Misericórdia, para lhes livrar as almas da morte e para os conservar vivos na fome. A nossa alma espera no Senhor: Ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois Nele se alegra o nosso coração; porquanto temos confiado no Seu Santo Nome. Seja a Tua Misericórdia, Senhor, sobre nós, como em Ti esperamos.”

  1. OREINODO CÉU

  1. Fausto, que havia assistido a isto, pergunta-Me: “Mas onde fo- ram Teus discípulos buscar esta ovação maravilhosa, verdadeira e tão merecida por Ti? Jamais ouvi coisa mais grandiosa!”

  2. Digo Eu: “Procura arranjar a Santa Escritura com os fariseus e lê os salmos do rei David; lá encontrarás tudo! O reitor Jairo, com o qual teremos um assunto a liquidar hoje, poder-te-á fornecer uma cópia. Há dois dias sepultaram sua filha e ele está profundamente arrependido dos seus pecados contra Mim. Por isto, será ajudado para que não se perca para o Reino do Céu!”

  3. Diz Fausto: “Senhor, que reino é este e onde se encontra?”

  4. Respondo: “Bem, caro amigo, o verdadeiro Reino do Céu está para os amigos de Deus em toda parte; para os inimigos, em parte al- guma, pois para estes é inferno tudo que se prende aos seus sentidos. Neste ponto não existe diferença entre o que está em cima e o que está embaixo. Não olha para as estrelas, tampouco para esta Terra, que tudo está sob julgamento, como teu corpo, que morrerá um dia! Em vez dis- to, investiga e procura no teu coração, onde encontrarás o que almejas. No coração de cada criatura está a semente viva, da qual germinará a eterna aurora da Vida.

  5. Vê, o Espaço no qual flutua esta Terra, bem como o Sol, a Lua e as incontáveis estrelas, que nada mais são do que sóis e terras, é infinito! Com a velocidade dum pensamento, poderias deixar este planeta, pro- jetando-te nesta velocidade em linha reta — e se, deste modo, percor- resses eternidades sobre eternidades, jamais te aproximarias do fim! Em toda parte, porém, irias encontrar criações mais raras e maravilhosas, que preenchem e vivificam todo este imenso Espaço.

  6. Pelo teu coração projetar-te-ás, após a morte física, dentro deste imenso Espaço Divino e, de acordo com este teu coração, vê-lo-ás como Céu ou como inferno!

  7. Um Céu propriamente criado não existe em parte alguma, tam- pouco um inferno nesta qualidade; tudo vem do coração do homem. Por suas obras, boas ou más, ele prepara no seu coração ou o Céu ou o

inferno e, de acordo como crê, deseja e age, manifestará sua fé, pela qual se nutriusuavontade,entrandoemação.

  1. Que cada um examine as próprias tendências e facilmente saberá qual o espírito que o domina. Se essas tendências atraem o coração e seu amor para o mundo e o fazem sentir o desejo de tornar-se algo de grande e importante, quando o coração com tendências para o orgulho sente um desagrado com a pobreza, desejando dominar outrem, sem ter sido escolhido e ungido por Deus para este fim, a semente do inferno já se acha nele e, se não for combatida e sufocada, proporcionará o inferno ao homem após sua morte na matéria.

  2. Quando o coração do homem é cheio de humildade, sentindo-

-se feliz por ser o mais ínfimo entre os outros, servindo a todos, não ligando a si mesmo por amor a seus irmãos, obedecendo de boa von- tade seus superiores, amando a Deus sobre tudo, então a semente no coração germinará e tornar-se-á um verdadeiro Céu eternamente vivo! A criatura cujo coração encerra a plenitude do Céu e é repleto da fé ver- dadeira, da esperança e do amor puríssimo, impossivelmente penetrará em algo diferente do que o Reino do Céu de Deus, que já possuía, há muito tempo e em toda pujança, no seu coração! Se considerares isto a fundo, compreenderás com facilidade o sentido do Reino do Céu e do inferno!”

  1. Diz Fausto: “Querido, mui sábio Senhor, Mestre e Amigo! Realmente, Tuas Palavras são muito profundas, mas desta vez não me foi possível compreender e assimilá-las! Como pode o Céu e o inferno estarem num lugar só, de modo que um teria que penetrar infalivel- mente no outro? Tal fato é, para criatura materialista como eu, uma impossibilidade! Ainda mais incompreensível é que, do meu coração, deverá surgir um Céu infinitamente feliz ou infeliz! Vejo-me, portanto, obrigado a pedir-Te elucidação maior; do contrário, seguirei para casa, embora com toda a luz do dia, numa cegueira completa de espírito!”

9.ANATUREZADOCÉUEDO INFERNO

  1. Digo Eu: “Então presta atenção, pois faço questão que sigas com a visão espiritual.

  2. Vê, numa casa moram dois homens. Um está contente com aqui- lo que consegue extrair do solo com o suor do seu esforço e a Bênção do Céu. Goza seu lucro escasso e o divide com imensa alegria com seus irmãos mais pobres. Quando é procurado por um faminto, regozija-se em poder saciá-lo e jamais lhe pergunta, com irritação, o motivo de sua pobreza, nem lhe proíbe voltar quando a fome o perseguir de novo.

  3. Não se queixa do Governo e, quando lhe é pedido um imposto qualquer, ele diz como Job: ‘Senhor, Tu mo deste; tudo é Teu! O que me deste poderás tirar; a Tua Santa Vontade Se faça!’

  4. Em suma, nada há que possa perturbar a alegria deste homem, bem como seu amor e confiança para com Deus e, consequentemente, sua dedicação para com o próximo; ira, inveja, discussão, ódio e orgu- lho lhe são estranhos.

  5. Em compensação, seu irmão é a criatura mais descontente! Não acredita em Deus e diz: ‘Deus é uma ideia vã pela qual as criaturas de- signam o máximo grau dos heróis da Terra. Somente um tolo poderia ser feliz na pobreza, tal como os irracionais, que se contentam com a satisfação de seus instintos. Aquele, porém, que se elevou pelo intelecto acima do instinto não se deve dar por satisfeito com o alimento para animais, nem cavar a terra com suas próprias mãos, destinadas para coisa melhor; deve, sim, tomar da espada e se elevar a um poderoso ge- neral, a fim de conquistar as grandes cidades. Sentir a terra estremecer sob as patadas do ginete resplandecente de ouro e pedrarias, que garbo- samente carrega o senhor de poderosos exércitos.’

  6. Com tal índole este homem amaldiçoa sua vida miserável, conjeturando sobre os meios de angariar fortuna para realizar suas ideias altivas.

  7. Detesta seu irmão feliz, e todo pobre lhe é um horror. De mise- ricórdia não há vestígio, pois a tem como tendência ridícula de escravos covardes e macacos sociais. Aplica atenuadamente sua malvadez como

pseudogenerosidade — mas isto mesmo, tão raro quanto possível! O pobre que o aborda é recebido com as seguintes palavras: ‘Afasta-te de mim, seu preguiçoso! Trabalha, se desejas comer! Procura o desprezível irmão do meu corpo, mas não do meu espírito elevado! Ele trabalha como um burro de carga para seu semelhante e é misericordioso como um macaco social! Eu, apenas, sou generoso, perdoando-te, por esta vez, tua vida miserável!’

  1. Vê, estes dois irmãos, filhos dos mesmos pais, habitam na mes- ma casa. O primeiro é um anjo, o segundo quase um demônio. Para aquele a cabana tosca é um Céu; para este, um inferno completo. Vês, agora, como Céu e inferno podem estar juntos?!

  2. Certamente pensarás: ‘Bem, nesse caso ofereçamos um trono ao altivo, que se prestará para proteger os povos e afugentar os inimigos!’ Como não? Isto seria bem possível; mas onde está a justa medida, que lhe prescrevesse o limite de suas ambições? Que fará com as criaturas que não se submeterem à sua vontade? Ele as fará martirizar horri- velmente e a vida humana terá o mesmo valor que uma erva pisada! Agora, pergunto: que espécie de homem é este? Digo-te: um verdadei- ro demônio!

  3. Regentes e generais são indispensáveis, mas é preciso que se- jam destinados por Deus para estes fins. Ai daquele que abandona sua choupana para conquistar, por todos os meios, o emblema do poder! Em verdade, teria sido melhor que nunca tivesse nascido!

  4. Dar-te-ei mais um quadro do Reino do Céu de Deus: Compa- ra-se a um bom solo, no qual crescem e amadurecem tanto as uvas mais finas como os cardos e abrolhos! A diferença consiste unicamente no aproveitamento deste mesmo solo: a vinha o reverte para o que é bom; os cardos e abrolhos, para o que é nocivo e inútil.

  5. Assim também o Céu penetra no demônio e nos anjos de Deus; mas cada qual vale-se dele diferentemente!

  6. Também pode ser comparado a uma árvore frutífera, que pro- duz frutos bons e doces. Aproximam-se pessoas desejosas de saborear tais frutos. Algumas, parcimoniosas, apenas aproveitam o que lhes satis- faça a fome. Outras, ávidas, porém, comem tudo até o último fruto. A

consequência disto é a doença e, talvez, até a morte, enquanto aquelas somente sentiram o benefício do mesmo fruto!

  1. Do mesmo modo o Céu pode ser comparado a um bom vinho, que fortifica o sóbrio, prejudicando e matando o intemperado; portan- to, o mesmo vinho foi aproveitado por um para o Céu, e por outro para o inferno! Dize-Me, amigo, se compreendes agora o que sejam o Céu e o inferno!”

10.ALEIDA ORDEM

  1. Diz Fausto: “Senhor, vislumbro agora uma pequena luz! Em todo o Infinito só existe umDeus, umaforça e umaLei da Ordem Eterna. A criatura que acatar esta Lei encontrará em tudo o Céu; mas quem procurar reagir pelo livre arbítrio só descobrirá em toda parte o inferno, sofrimento e martírio!”

  2. Digo Eu: “Isto mesmo! O fogo, por exemplo, é um elemento utilíssimo, e quem o empregar sabiamente terá um benefício incalcu- lável. Seria muito extenso citar todas as vantagens que poderão advir ao homem através do fogo. Mas, se alguém o empregar apenas para a distração fútil, de maneira a incendiar casas e matas, este mesmo fogo tudo destruirá!

  3. Durante o inverno não há quem não procure o calor da lareira, mas aquele que caísse dentro dela sofreria as consequências do fogo.

  4. Digo mais: As criaturas deste mundo têm que passar pela água e pelo fogo, a fim de se tornarem verdadeiros filhos de Deus. O Céu, na sua natureza intrínseca, é água e fogo. O que não for idêntico à água será morto por ela, e o que não for fogo não poderá suportá-lo.”

  5. Diz Fausto: “Senhor, eis outra coisa que não compreendo! Como é isto? Como é possível alguém tornar-se água e fogo? Pois ambos são elementos antagônicos; um destrói o outro. Sendo o fogo muito intenso, transformará a água em vapor. Caso contrário, será apagado. Assim, se para obter a Filiação Divina for preciso tornar-se água e fogo, dar-se-á finalmente a dissolução!? E o que seria do estado eterno da vida?”

  1. Digo Eu: “Perfeitamente bem, na relação justa, pela qual um elemento gera e mantém o outro! Se não houvesse fogo dentro e em volta da Terra, também não haveria água e vice-versa.”

  2. Pergunta Fausto: “Mas como?”

  3. Respondo: “Afasta todo o fogo, de onde emana o calor, da Terra, e ela se tornará uma massa de gelo duro como o diamante, na qual não haverá vida. Em seguida tira toda a água da Terra, que ela se dissolverá em pó! Pois sem fogo e água não poderá manter-se, por serem imprescindíveis a novas criações na Terra. Onde, porém, não se derem procriações ou novas criações, a morte e a decomposição terão se estabelecido.

  4. Observa uma árvore destituída de sua seiva e verás que, em pou- co tempo, ela terá apodrecido. Compreendes isto?”

  5. Diz Fausto: “Sim, Senhor, não só isto como também reconhe- cemos que Tu és pleno do Espírito Divino e o Criador de todas as coisas. Pois qual seria a criatura que pudesse reconhecer em si a causa e a Lei da Criação? Isto só pode ser conhecido em toda a sua profundeza por Aquele que possui o Espírito e do Qual surgiram todas as coisas, que permanecem estáveis dentro da Ordem Divina. Eu apenas pode- rei agradecer, com o coração cheio de amor para Contigo, todos os benefícios materiais e espirituais recebidos! Que outra atitude poderia adotar como homem fraco e pecador diante de Ti, Senhor de toda a Eternidade?”

  6. Digo Eu: “Tens razão; mas, por enquanto, silencia sobre tudo que sabes, viste e conheceste; não Me denuncies antes do tempo e não esqueças, em tua felicidade terrena, dos pobres! Pois tudo que lhes fi- zeres em Meu Nome terás feito a Mim, e a recompensa te será dada no Céu! Agora, como já terminamos a nossa tarefa em Kis, preparemo-nos para a jornada a Nazareth!”

11.OSENHORESEUSDISCÍPULOSPARTEMPARA NAZARETH

Ev.MatheusCapítulo13,versículo 53

  1. Diz Fausto: “Devo ordenar que transportem minhas coisas para bordo?”

  2. Digo Eu: “Já está tudo feito! Como os teus navios não eram bastante grandes, Baram e Kisjonah emprestaram os seus para este fim, e já está tudo pronto para a partida.”

  3. Diz Fausto: “Confesso que não me admiro que assim seja, pois o que não seria possível ao Onipotente?!”

  4. Nisto Jonael e Jairuth se achegam a Mim com Archiel e Me agradecem por tudo. Mal se tinham encaminhado para Sichar, são al- cançados pela delegação predita por Mim, que os recebe com todas as honras, implorando a Jonael reassumir o posto de sumo pontífice. Tan- to Jonael quanto Jairuth lembram-se daquilo que Eu lhes havia dito.

  5. Neste ínterim — enquanto Eu havia terminado a explicação so- bre o Reino do Céu (Matheus 13, 53), despedido os sicharenses e, em seguida, recomendado a Kisjonah permanecer em casa, prometendo-

-lhe voltar em breve — nós outros embarcamos, duas horas antes de meio dia, num grande navio, em companhia de Fausto e sua esposa. Tomamos a direção de Capernaum, que também serve de porto para Nazareth, não muito longe dali.

  1. No momento em que desembarcamos, diz Fausto: “Senhor, irei Contigo para Nazareth, a fim de restituir à Tua Mãe e a Teus irmãos o que lhes pertence!”

  2. Digo Eu: “Também isso já está feito, Meu amigo, e em tua casa bem como no teu distrito, encontrarás tudo na melhor ordem, porque, até aqui, Meu Archiel resolveu todos os teus problemas. Vai a Caper- naum e, se encontrares o reitor Jairo, que certamente te contará sua grande desdita, poderás dizer-lhe que ficarei por algum tempo por aqui! Caso deseje algo, que Me procure — mas a sós!”

  3. Diz Fausto: “Eu não poderia acompanhá-lo?”

  4. Respondo: “Pois não, mas somente tu!” Com estas palavras nos separamos!

  1. Acompanhado pelos inúmeros discípulos, dirijo-Me à Minha pátria terrena, enquanto Fausto providencia uma quantidade de carre- gadores e carroças, com que faz transportar os tesouros para sua casa em Capernaum. É fácil se imaginar o alarido que isto causa, sobretudo pela presença de sua jovem e bonita esposa. Também é de se esperar que Jairo procure o juiz supremo, pois já sabe do caso dos doze fariseus, que motivou a ida do romano a Kis.

  2. Fausto o recebe com todo o respeito, dizendo: “Um homem honesto foi salvo, as penhoras que tinham sido extorquidas injusta- mente dos pobres judeus foram todas restituídas e onze desses fariseus padecem, no Templo de Jerusalém, o castigo merecido por tantas frau- des e roubos. Seria muito demorado contar-te as minúcias; se algum dia tiveres folga, vem e lê pessoalmente os autos, e ficarás com os cabelos ar- repiados! Agora, outra coisa! Como está passando tua filha? Melhorou?”

  3. Diz Jairo, tristíssimo e choroso: “Oh, por que me fazes lembrar isto? Infelizmente ela faleceu, pois não houve médico que lhe ajudasse! O único médico, Borus de Nazareth, disse-me que teria poder para tanto, mas não o faria porque eu havia pecado demasiadamente contra o seu amigo Jesus. E, assim, faleceu minha filha querida! Dilacerou-nos

o coração ouvi-la chamar por Jesus, pedindo socorro e lançando-me, acerbamente, toda a culpa, porquanto grande era o meu pecado contra Ele. Fiz tudo para encontrá-Lo! Ele, porém, não deu ouvidos aos meus mensageiros, embora eu estivesse arrependido, mil vezes, da minha ação! Agora, tudo está terminado! Há quatro dias ela se encontra na tumba, já em decomposição! Que Jehovah seja benigno e misericordio- so para com sua boa alma!”

  1. Diz Fausto: “Amigo, sinto imensamente tua má sorte, mas te asseguro que o Senhor Jesus Se encontra agora em Nazareth. De acordo com minhas diversas experiências, sei que nada Lhe é impossível! Que tal se O procurasses? Ele tem Poder suficiente para fazer ressuscitar tua filha da tumba!”

  2. Diz Jairo: “Mesmo que isto não mais seja possível, procurá-

-Lo-ei para Lhe pedir perdão por tê-Lo ofendido e magoado, embora o tivesse feito sob coação!”

  1. Diz Fausto: “Pois bem, então vem comigo; encontrá-Lo-emos em casa de Sua Mãe. Mas, cumprindo Sua Vontade, ninguém poderá nos acompanhar!” Jairo, tocado por uma esperança imensa, concorda e em pouco tempo eles cavalgam sobre mulas em direção a Nazareth. Poucas horas antes do poente, alcançam esta cidade, deixam as mulas num albergue e se dirigem a pé para a casa de Maria, onde são aguarda- dos por Mim e Borus, um dos primeiros a Me receber.

  2. Assim que Fausto penetra no quarto em companhia de Jairo, este se joga a Meus pés e, chorando copiosamente, pede-Me que lhe perdoe a grande falta de gratidão cometida contra Mim.

  3. Eu, porém, lhe digo: “Levanta-te! Tua falta te é perdoada, mas não o faças uma segunda vez! Agora, onde jaz tua filha?”

  4. Responde ele: “Senhor, sabes que mandei construir, não lon- ge daqui, uma escola com uma casa de oração, onde fiz preparar um sepulcro para mim; como Sarah faleceu antes, eu a sepultei ali. Dista daqui uns dois mil passos. Se Tu, ó Senhor, quisesses ir até lá, ficar-Te-ia muito grato!”

  5. Digo Eu: “Pois bem, leva-Me; mas, além de ti e de Fausto, ninguém mais nos deve acompanhar!” Os apóstolos, porém, pergun- tam-Me se não podem estar presentes.

  6. Respondo: “Desta vez, ninguém mais do que os mencionados!”

  7. Diz Borus: “Senhor, Tu me conheces e sabes que sei silenciar como um peixe; que mal haveria se vos acompanhasse como médico?”

  8. Digo Eu: “Já disse que ninguém mais nos acompanhará!”

12.SEGUNDARESSURREIÇÃODE SARAH

  1. Com estas Minhas Palavras, pessoa alguma ousa perguntar ou pedir algo, e nos dirigimos para a tumba. Aproximando-Me do corpo, já em adiantado estado de decomposição, pergunto a Jairo se acha que sua filha esteja apenas aparentemente morta.

  2. Diz Jairo: “Senhor, tampouco como da primeira vez, pois sabia perfeitamente que minha querida Sarah estava morta. Apesar disso, fui obrigado a dar este falso testemunho a Teu respeito para evitar que

fosses molestado mais ainda! Tanto que chegou-se à conclusão de seres apenas um andarilho vadio, que de quando em quando curava doen- tes e tencionava fazer nome como profeta escolhido por Deus — ou, talvez, o Messias Prometido. Este Messias era por demais temido pelo sacerdócio rico, pois constava que, se o sumo pontífice dentro da or- dem de Melchisedek viesse à Terra, a casta judaica não levaria vanta- gens e Melchisedek reinaria eternamente com seus anjos sobre todas as gerações.

  1. Afirmo-Te que não teme o sacerdócio nem o fogo, nem a tem- pestade que passou diante da gruta que ocultava Elias; mas o sussurro delicado sobre a gruta do grande profeta os apavora, porque dizem que o Messias na ordem de Melchisedek viria de mansinho, como um la- drão à noite, e lhes tiraria tudo que haviam conseguido! Eis a razão por que nenhum sacerdote quer assistir à chegada do Unigênito de Deus de Eternidade, mas deseja prorrogá-la para um futuro longínquo.

  2. Mas como eles, mormente os velhos, reconhecem que sejas in- dubitavelmente o Anunciado, tudo fazem para aniquilar-Te! Se isto, porém, não conseguirem e fores plenamente o que presumem, farão penitência com saco e cinzas, aguardando com intenso pavor o golpe tremendo pelo qual temem tudo perder; do contrário, não teriam ape- drejado quase todos os profetas. Vê, este foi o motivo por que preferi declarar-Te um vagabundo, do que aquilo que realmente És! Pois a homem algum é possível despertar os mortos — isto só pode o Espírito de Deus, que na minha opinião reside em Ti em toda a plenitude!”

  3. Digo Eu: “Como sabia de tudo, Eu vim de novo para socorrer-te por muito tempo. Este é o motivo pelo qual não quis que outros nos acompanhassem. Quando o tempo chegar, saberão o porquê.”

  4. Em seguida Me debruço sobre a tumba, na qual estava Sarah envolta em linhos, e digo a Jairo: “Já é noite e a lamparina ilumina mui fracamente. Vai ao vigia desta escola-igreja e pede-lhe uma luz mais forte, pois, quando ela ressuscitar, precisará de claridade.”

  5. Exclama Jairo: “Oh, Senhor, isto poderia se dar? Ela já está em decomposição! Todavia, creio que para Deus tudo seja possível e volta- rei em breve, com uma luz melhor!”

  1. Ele de pronto procura o vigia para este fim, mas ali também encontra o fogo infelizmente apagado, tanto que leva tempo para con- segui-lo através de dois pedaços de madeira que esfrega com força.

  2. Logo que Jairo nos deixa, Eu desperto Sarah e lhe ajudo a sair da tumba.

  3. Um tanto sonolenta, ela Me pergunta: “Por Jehovah! Onde es- tou? Que aconteceu comigo? Achava-me num lindo jardim, em com- panhia de muitas outras e, de repente, sou transportada para esta câ- mara escura!”

  4. Digo Eu: “Sê contente e calma, Sarah! Eu, teu Jesus, que há poucas semanas te despertei da morte, fi-lo neste momento, de novo, dando-te uma vida sólida! De agora em diante, não sofrerás doença alguma e, quando daqui a anos teu tempo chegar, virei Pessoalmente dos Céus para conduzir-te ao Meu Reino, que não terá fim por toda a Eternidade!”

  5. Quando ouve Minha Voz, Sarah revive completamente e diz com a voz mais amorosa deste mundo: “Oh, Tu, único amor de minha jovem vida e coração! Eu sabia que aquele que Te ama sobre todas as coisas não precisa temer a morte! Adoeci por um amor poderoso para Contigo, meu primeiro portador de vida, pois não podia descobrir Teu Paradeiro. E quando perguntava com o coração cheio deste amor, res- pondiam-me que tinhas sido aprisionado e entregue à justiça severa, como reles criminoso! Isto fez com que meu coração fraquejasse; fiquei gravemente doente e morri pela segunda vez! Como sou feliz agora por ter-Te encontrado de novo, meu único e mais elevado amor!

  6. Bem que dizia no meu leito de morte: ‘Se meu divino Jesus ainda for vivo, Ele não me deixará dentro da tumba fria!’ Eis que se deu aquilo que meu coração dizia! Estou novamente viva e nos braços de meu queridíssimo Jesus! Mas, de agora em diante, nada haverá que me possa afastar de Tua Companhia Divina! Seguir-Te-ei como a serva mais humilde, para onde fores!”

  7. Enquanto Sarah assim fala Comigo, Jairo vem se aproximando da tumba com uma vela de resina. Eu, porém, digo a ela: “Aí vem teu pai! Esconde-te atrás de Fausto para que não te veja de súbito, o que

prejudicaria sua saúde! Quando Eu te chamar, apresenta-te sorridente!” Sarah segue Meu Conselho, ocultando-se no momento em que Jairo penetra na câmara. Ele, então, pede desculpas por ter demorado tanto.

  1. Eu, no entanto, respondo: “Não tem importância! Ninguém pode pecar além do possível e, uma vez morto, não poderá tornar-se mais morto em quinze minutos; pelo contrário, tornar-se-á mais vivo, caso as condições de vida ainda se manifestem!”

  2. Diz Jairo: “Senhor, se um pobre pecador pode arriscar a pe- dir-Te, concede esta Graça não a mim, que não sou merecedor, mas a Sarah, que Te ama sobre tudo!”

  3. Digo Eu: “Pois bem; mas a esta Graça prende-se uma con- dição: não a despertarei para seu pai, mas unicamente para Mim! Ela Me seguirá e, caso queiras também seguir-Me de quando em quando, poderás permanecer ao lado dela!”

  4. Diz Jairo: “Que se faça a Tua Vontade, Senhor, desde que Mi- nha filha possa ressuscitar!”

  5. Digo Eu: “Pois bem, então ilumina a tumba aberta!”

  6. Com um suspiro, Jairo se aproxima da beira, olha, olha — e não vê senão os linhos, panos de cabeça e fitas amontoadas. Como não descobre a morta, vira-se com tristeza para Mim e diz: “Senhor, que aconteceu? Eu nada vejo! Teria alguém roubado o corpo? Por que, en- tão, não levou o resto?”

  7. Digo Eu: “Porque a ressuscitada não precisa mais disto!”

  8. Jairo solta um grito de alegria, que num momento domina sua dor: “O quê! — Como?! — Onde está minha Sarah?”

  9. Exclamo Eu: “Sarah, apresenta-te!”

  10. No mesmo momento, ela surge por detrás de Fausto e fala com alegria: “Aqui estou, completamente viva e curada! Porém, não mais pertenço a ti, mas unicamente a Jesus! Tudo se fez para que o meu grande amor para com Ele, o Senhor de toda a Vida, fosse consi- derado pecado, ocasionando assim uma segunda morte ao meu corpo frágil! Mas agora este mesmo amor ressuscitou-me de novo! Vê, meu pai: tu me chamas de filha, embora me tenhas dado uma única vez a vida! O que é, porém, Aquele, para mim e eu para Ele, que me deu

a vida por duas vezes? Qual, entre ambos, terá maior direito de pai sobre mim?”

  1. Responde Jairo: “Tens razão, jamais me oporei ao teu amor por Aquele que te deu por duas vezes a vida plena! Segue integralmente teu coração, e eu seguirei a ti e a teu amor de quando em quando! Estás feliz por isto, tu que foste tudo para mim nesta Terra e continuas a sê-lo ao lado de Jesus, o Senhor?” Diz Sarah: “Sim, pai, estou plenamente satisfeita!”

  2. Concluo: “E Eu também! Agora, voltemos para Minha casa! Lá nos espera um bom jantar, e Minha filha Sarah necessita refazer-se!”

13.CENAENTREJAIROESUA MULHER

  1. Jairo cobre de novo a tumba, fecha a porta da câmara e nos acompanha. A uns setenta passos distantes da escola, encontra-se a ca- sinha do vigia que há pouco forneceu a vela a Jairo.

  2. Como o luar é bastante forte, o vigia logo reconhece a moça que, em seus trajes brancos e compridos, caminha a Meu lado. Cheio de pavor, ele pergunta a Jairo: “Que é isso? Que vejo? Não é Sarah, vossa falecida filha?! Então, também não morreu desta vez?”

  3. Diz Jairo: “Seja lá como for! Nada tens a perguntar, mas calar sobre tudo que vês aqui, sob risco de perderes teu emprego! Uma coisa, entretanto, grava bem na tua alma: sabe e compreende que para Deus tudo é possível! Para isto, porém, torna-se necessário uma fé integral e uma confiança viva! Compreendeste?” Diz o vigia: “Sim, mui venerá- vel senhor!”

  4. Diz Jairo: “Futuramente, não me importunes com tais títulos ho- noríficos e fala como se fosse teu irmão! Agora, já que não tens mais de vigiar um defunto, corre a Capernaum e não contes a ninguém o que aca- bas de ver, nem mesmo à minha mulher. Dize-lhe, porém, que se dirija imediatamente a Nazareth, a casa de José; pois tenho coisas importantes a transmitir-lhe! Apronta boas mulas, para chegares mais depressa!”

  5. O vigia, possuidor dum burro ligeiro, executa com rapidez sua tarefa e dá o recado à mulher de Jairo. Ela se apressa em segui-lo. Dentro

de uma hora, chegam à casa de Maria, que, alegre por se encontrar de novo na casinha de José, recebe-a de braços abertos. Quando a mulher de Jairo penetra na sala (onde tomávamos um bom jantar, que desta vez fora encomendado por Borus), ela avista Sarah, satisfeitíssima, sentada a Meu lado, saboreando com grande apetite um bom peixe, preparado com sal, azeite e vinagre.

  1. A mãe, não acreditando no que vê, diz a Jairo, batendo em seu ombro: “Meu marido, aqui estou, tristíssima, e a quem queres falar coisas importantes! Creio, porém, que já estou vendo sua importância! Dize-me, estarei sonhando ou isto é realidade? Esta moça, ao lado de Jesus, não é a imagem viva de nossa filha querida? Ó Jehovah, por que me tiraste Sarah?”

  2. Diz Jairo, comovido: “Tem fé, minha querida! Esta moça não apenas se parece com nossa filha, mas é Sarah em pessoa! Nosso Senhor Jesus a ressuscitou pela segunda vez! Sua boa aparência lhe vem do Di- vino Poder que Ele possui! Agora, não interrompas o seu bom apetite, pois muito jejuou!”

  3. Diz a mulher, não se contendo de admiração e alegria: “Explica-

-me, já que és sábio em Israel, qual tua opinião a respeito deste Jesus?! Estou cada vez mais convencida ser Ele, não obstante Seu Nascimento humilde, o Messias Prometido! Pois fatos idênticos jamais foram reali- zados por profetas, muito menos por um homem qualquer!”

  1. Diz ele: “Sim, é isto mesmo! Mas devemos manter o maior sigi- lo, de acordo com a Vontade Dele; do contrário, teríamos de enfrentar em breve toda Jerusalém e Roma, obrigando-O a uma reação milagrosa! Por isto, silencia! A fim de não denunciá-Lo, Sarah ficará durante um ano sob Sua proteção, ou sob os cuidados de Maria, e nós poderemos visitá-la de quando em quando. Na realidade, também não possuímos direito sobre ela, que recebeu de nós apenas uma vida miserável e enfer- miça. Deus no-la deu de alma sadia; nós, entretanto, só lhe proporcio- namos um corpo fraco e enfermo. Já por duas vezes ela morre e estaria perdida para sempre se Ele não lhe desse duas vidas novas e perfeitas! Resta, portanto, saber quem tem mais direito de pai e mãe: Ele ou nós, pobres pecadores!”

  1. Diz a mãe de Sarah: “Sim, és sábio, conheces a Lei e todos os profetas, por isto tens sempre razão; para mim já constitui uma fe- licidade imensa o fato dela viver e nós a podermos visitar de quando em quando!”

  2. Aduz Jairo: “Agora, calemo-nos; o jantar terminou e talvez Ele queira dizer algo!”

  3. Eu, porém, chamo Fausto para dizer-lhe: “Amigo, lastimo não possas pernoitar hoje aqui; mas, como te esperam grandes negócios em casa, dou-te permissão por alguns dias; em seguida, deves voltar. Caso se fale a Meu respeito, saberás o que responder!”

  4. Diz Fausto: “Senhor, Tu me conheces melhor do que eu mes- mo! Podes confiar em mim; um romano nato não é uma cana fraca ou um joguete para os ventos! Nem a morte obrigar-me-á a um ‘não’, quando eu afirmar que ‘sim’. Assim vou indo, já que a mula está atrela- da, e em uma hora lá estarei. Em Teu Nome, meu Jesus, meus negócios terão um bom desfecho. Entrego-me inteiramente ao Teu Amor, Sabe- doria e Onipotência!” Com estas palavras Fausto se afasta rapidamente.

  5. Em seguida, a mãe de Sarah Me agradece, toda contrita, e con- fessa não ser merecedora de tão imensa graça.

  6. Eu a consolo e digo a Sarah: “Minha filhinha, eis tua mãe!”

  7. Só então ela se levanta ligeira e cumprimenta delicadamente sua genitora, observando-lhe, porém, que ficará em Minha Compa- nhia, pois seu grande amor não permite separar-se de Mim! Os pais a elogiam por isto; pedem, no entanto, que não venha a esquecê-los de todo! Ela afirma que os ama mais do que nunca, o que os satisfaz plenamente.

14.ADIFERENÇAENTREOPODERHUMANOEOPODER DIVINO

  1. Nisto se aproxima o grego Philopoldo, de Caná, e diz: “Senhor, há três dias me encontro em Tua Companhia e ainda não me foi possí- vel falar como fui capaz de efetuar tudo de acordo com a Tua Vontade e como consegui, com a minha prédica, converter a todos depois de Tua

partida. Segundo me parece, tens agora uma pequena folga e peço-Te que me ouças!”

  1. Digo Eu: “Meu prezado amigo Philopoldo! Como podes supor que Eu não tivesse perguntado por isto ou aquilo referente a Caná, se não soubesse perfeitamente como andam as coisas? Vê todos estes Meus irmãos! O que falo com eles? Durante muitos dias, nenhuma palavra externamente, mas muitas nos seus corações. E ninguém se levanta e pergunta: ‘Senhor, por que não falas comigo?’ Eu te digo, como já disse a todos, que não aceito discípulos para com eles palestrar, mas para ouvirem Minha Doutrina e serem testemunhas de Meus Atos! O que eles sabem Eu já sei há muito tempo, e o que necessitam saber trans- mito-lhes no momento oportuno, pelo coração. Assim sendo, pergunta a ti mesmo para que fim os Meus discípulos iniciados necessitam de conversação externa! Já que também és Meu discípulo, precisas suportar a organização de Minha Escola.

  2. Com os que não são Meus adeptos, preciso trocar palavras, pois não poderiam ouvir-Me e compreender-Me em seus corações mundanos. Quando, porém, o tempo e as circunstâncias o exigem, falo também externamente com Meus discípulos, mas isto não por sua causa, mas pelos outros que ainda não o são! Dize-Me, compre- endeste isto?”

  3. Afirma Philopoldo: “Sim, Senhor! Agora reconheço a Tua Graça tão nitidamente como o Sol ao meio-dia e Te agradeço por esta expli- cação cheia de bondade! Mas, Senhor, quando observo esta Sarah tão linda, cuja beleza poderia concorrer com a de qualquer anjo, parece-me quase impossível tenha ela permanecido no sepulcro por um segundo. Esta frescura de vida jamais vi! Entretanto, sei que a ressuscitaste por duas vezes! Sinto um forte desejo de saber como Te foi possível isto!”

  4. Digo Eu, em surdina: “Penso que viste o bastante em Caná, para saber Quemsou Eu! Assim, como podes perguntar de que maneira Me foi possível vivificar um defunto? Pois o Sol, a Lua e todas as estrelas, como esta Terra não surgiram de Mim e não fui Eu Quem povoou este planeta com inúmeros seres vivos? Se Me foi possível dar-lhes existência e vida independentes, por que não poderia fazer com uma só criatura o

que faço com seres incontáveis, de eternidades para eternidades? Se sa- bes isto e até foste ensinado por um anjo, como podes ainda perguntar?

  1. Vê, toda e qualquer pedra que poderia ferir teu pé é apenas man- tida pela Minha Vontade; se Eu a libertasse por um momento desta Mi- nha Vontade criadora e conservadora, ela no mesmo instante deixaria de existir.

  2. Se bem que possas triturá-la e, por um fogo forte, até dissolvê-

-la numa espécie de gás — como ensina a arte oculta da alquimia — tudo isto só é possível, tanto com a pedra como com qualquer outra matéria, porque Eu assim o permito para o bem da Humanidade. Se Eu não o permitisse, não poderias removê-la por menor que fosse, tampouco uma montanha. Podes também jogar uma pedra no ar, e ela alcançará uma altura considerável, de acordo com tua força e ha- bilidade; mas, depois disto, ela infalivelmente cairá por terra. Vê, eis a Minha Vontade e Permissão até certo grau, onde consta: ‘Até aqui, e não mais além!’

  1. Uma pedra jogada ao ar demonstra, nitidamente, até onde vai a força e a vontade da criatura. Alguns momentos — e a vontade fraca do homem é alcançada pela Minha e repelida para a Minha Ordem Eterna, a qual é equilibrada até o peso de um átomo, por toda a Eternidade! Se isto tudo depende puramente da Minha Vontade e Permissão, como não Me seria possível fazer ressuscitar alguém?

  2. Vai lá fora, traze-Me um pedaço de pau e uma pedra, e mostrar-

-te-ei como todas as coisas Me são possíveis pela Onipotência do Pai dentro de Mim!”

  1. Prontamente Philopoldo apanha uma pedra e um pedaço de pau apodrecido, e Eu lhe digo, sempre à meia voz: “Olha, pego da pedra e deposito-a no ar — e ela não cai! Experimenta modificar sua posição!” Philopoldo o tenta — mas a pedra não se move.

  2. Prossigo: “Agora, permitirei que possas empurrá-la à vontade; mas, se a largares, ela tomará esta mesma posição, onde continuará fixa após algumas vibrações!”

  3. Diz Philopoldo: “Senhor, deixa esta experiência; para mim bas- ta Tua Palavra Santa!”

  1. Digo Eu: “Pois bem; quero, no entanto, que esta pedra se dis- solva e que este pau venha a verdejar e produzir folhas, flores e frutos de acordo com sua espécie!” No mesmo momento, a pedra desaparece e o pau apodrecido torna-se verdejante, produzindo folhas, flores e fi- nalmente frutos amadurecidos, isto é, vários figos, pois era um pedaço de figueira.

  2. Alguns começam a nos observar, pois os demais discípulos já dormitavam. Jairo e sua mulher, porém, continuam em colóquio amo- roso com sua filha. Eu e Philopoldo tínhamos realizado nossas expe- riências numa pequena mesa à parte, sob uma iluminação um tanto fraca, de sorte que não fomos observados por muitos. Mas, quando Philopoldo começa a manifestar grande admiração, logo atrai diversas pessoas. Eu, porém, lhes ordeno calma e todos sossegam.

  3. Agora ordeno à pedra que volte a existir, e ela se acha de novo sobre a mesa; o galho com os figos deixo ficar, a fim de que Sarah os saboreasse na manhã seguinte.

  4. Aí pergunto a Philopoldo se estava a par de tudo, e ele, curvando-se, diz: “Senhor, plenamente!” Digo Eu: “Então, va- mos dormir!”

15.PHILOPOLDOTESTEMUNHODADIVINDADEEM JESUS

  1. Philopoldo também procura repousar, mas não consegue dor- mir, porquanto os acontecimentos do dia muito o tinham impressio- nado. Além disso, os leitos não eram dos melhores; os credores tudo haviam levado, assim encontramos a casa vazia. Durante a ressurreição de Sarah, tanto Borus quanto Meus irmãos e muitos outros discípulos incumbiram-se de fornecer leitos, mesas, bancos e utensílios de cozi- nha; mas, para várias centenas de pessoas, das quais muitas dormiam ao ar livre ou então em albergues, era impossível arranjar rapidamente o mais necessário.

  2. E assim, Eu Mesmo passo esta noite em cima de um banco, com um pouco de palha sob a cabeça — e Philopoldo no chão, e sem palha. Por isto, é um dos primeiros a levantar-se de manhã. Quando Jairo, que

tinha conseguido um bom leito de palha para si, sua mulher e filha, pergunta-lhe como tinha passado a noite, Philopoldo diz:

  1. “Como o solo o permite! Mas tudo depende de hábito; depois de um ano o corpo se prontificaria melhor a isto.”

  2. Diz Jairo: “Por que não me falaste? Tínhamos uma quantidade de palha!”

  3. Diz Philopoldo: “Vê o Senhor, a Quem todos os Céus e mundos obedecem e todos os anjos veem Sua Vontade! Seu Leito em nada foi melhor que o meu!”

  4. Diz Jairo, no qual ainda havia muito de fariseu: “Amigo, por acaso não dizes demais? Não resta dúvida que este Jesus esteja repleto do Espírito Divino, muito mais do que qualquer outro profeta, pois Seus Atos sobrepujam todos os feitos de Moysés, Elias e outros, grandes e pequenos. Parece-me, porém, uma suposição audaciosa alegar que Nele habite a Plenitude Divina. Os profetas também ressuscitavam mortos pelo Espírito Divino dentro deles; nunca, porém, ousavam atri- buir a si mesmos a realização desses milagres. Se assim fizessem, teriam pecado gravemente contra Deus, e Ele lhes teria tirado o espírito. Mas Jesus faz tudo de Si, como se fora um Senhor, o que diz respeito à tua suposição e no que, de certa maneira, concordo. Mas, muita cautela! Pois isto também podia ser para nos experimentar que provássemos a nossa fé em Deus Único! Se realmente toda a Plenitude de Deus residir em Jesus, deveremos aceitar Seu Testemunho incondicionalmente! Que te parece?”

  5. Responde Philopoldo: “Acredito que Seu Testemunho é inteira- mente verdadeiro! Ele é Deus e não há outro senão Ele!

  6. Torna-se difícil a explicação disto numa época tão milagrosa como a nossa, porquanto sempre haverá quem diga: ‘Por diversas vezes tive oportunidade de assistir a fatos milagrosos de magos, e os profetas também ressuscitavam mortos; até houve um que cobriu um esqueleto com carne e o vivificou, de modo que milagres não provam que um mago seja um deus!’

  7. Outra coisa acontece com Jesus, o Senhor! Todos os profetas necessitavam de preces contínuas e jejuns, a fim de que Deus os achas-

se meritosos para efetuarem um milagre. Os magos precisam de uma vara milagrosa e de outras provas e fórmulas, unguentos, óleos, águas, metais, pedras, ervas e raízes, cujas forças ocultas bem conhecem, apli- cando-as em suas produções; todavia, onde alguém viu algo parecido com Jesus, o Senhor? Nem vestígio de prece e jejum, muito menos apetrechos mágicos.

  1. Além disso, todos os profetas falavam e escreviam por hierógli- fos, e quem não os conhecesse nada entenderia! Eu sou grego, mas não desconheço vossa linguagem e li Moysés e todos os profetas! Duvido que haja quem os entenda de ponta a ponta!

  2. Jesus, porém, fala as coisas mais ocultas de maneira tão clara que, não raro, até uma criança as entenderia! Ele explicou a Criação do Cosmos, e eu já me vi capaz de criar um mundo! Onde estaria o profeta e onde o mestre dos mágicos que falasse como Jesus?!

  3. Quem alguma vez entendeu uma sílaba daquilo que o mago costuma falar durante suas magias?! As palavras de Jesus, porém, con- têm a mais profunda sabedoria e são claras como o Sol do meio-dia; tudo o que Ele quer realiza-se num momento!

  4. Se isto é a pura verdade, por que deveria hesitar em reconhecê-

-Lo como Senhor Absoluto dos Céus e da Terra, amá-Lo sobre tudo e dar-Lhe, unicamente, toda a honra?!

  1. Este galho fresco de figueira, cheio de frutos, é uma explicação viva do que ontem Ele me ensinou, quando Lhe perguntei como era possível ressuscitar os mortos. Pediu-me um pedaço de pau qualquer, e eu apanhei no escuro um galho de figueira. Ele nem o tocou; apenas deu-lhe uma ordem e o galho começou a verdejar, florescer — e aqui tens os frutos maduros! Oferece-os à gentil Sarah, que muito apreciará!”

16.OSENHORSEDIRIGEÀ SINAGOGA

Ev.MatheusCapítulo13,versículo 54

  1. Jairo chama Sarah, que aliás já estava despertando, e lhe oferece o galho magnífico; ela, com imenso prazer, começa a saborear seus fru- tos. Nisto, desperto em cima do Meu banco.

  1. Sarah é a primeira a Me dar um “Bom dia” e Eu lhe pergunto se gostou dos figos. Ela responde com satisfação: “Senhor, estavam deli- ciosos como mel. Teu amigo Philopoldo mos deu em Teu Nome, e eu os saboreei, todos! Certamente arrumaste-os para mim?!”

  2. Digo Eu: “Minha querida Sarah, naturalmente que sim! Pois foste a causa que Me levou ontem à noite a mostrar ao amigo Philo- poldo que Me é possível ressuscitar os mortos, vivificando um galho apodrecido de figueira, a fim de que produzisse, mais uma vez, os doces frutos de sua espécie. Fizeste muito bem em tê-los comido, pois aumen- tarão tua saúde! Agora, saiamos, para que os quartos sejam limpos; de- pois, tomaremos o desjejum para, em seguida, desempenharmos nossa tarefa!” Todos Me acompanham e apreciam a manhã deliciosa.

  3. Jairo vem a meu lado e diz: “Senhor, jamais deixarei de agrade- cer-Te! Antes que seja tentado contra Ti, renunciarei a meu cargo e tor- nar-me-ei um seguidor fervoroso de Tua Santa Doutrina. Philopoldo será meu amigo para sempre, pois devo a ele a verdadeira Luz sobre Tua Pessoa. Embora seja ele grego, é mais conhecedor de nossas Escrituras do que eu e todos os escribas da Judeia, Galileia, Samaria e Palestina! Em suma, estou completamente esclarecido, mas devo dirigir-me a Ca- pernaum, onde me esperam vários negócios. Por isto, recomendo a Ti minha mulher e filha! Se me for possível desembaraçar-me à noite, vol- tarei com Fausto e Cornélius e, talvez, também com o velho Cirenius, que é esperado hoje naquela cidade! Portanto, deixo-Te agora, pedindo Teu Amor, Paciência e Graça!” Jairo, despedindo-se também dos seus, parte, montado na mula ligeira. Enquanto isto, nós outros entramos para tomar o desjejum.

  4. Em seguida, Borus Me chama de lado e diz: “Meu queridíssimo amigo! Estou certo de que já sabes o que desejo falar-Te; mas, entre Teus discípulos alguns há que, a meu ver, não necessitam saber o que pretendo dizer-Te. Por isto, chamei-Te de lado.”

  5. Digo Eu: “Não era preciso, pois o que desejas contar-Me Eu já relatei e comentei com os discípulos, em Kis, externando Meu Conten- tamento. Eles de tudo sabem, portanto não precisamos fazer segredos!”

  6. Diz Borus: “Ah, neste caso serei franco!”

  1. Com isto, voltamos à assembleia e Eu digo a Borus: “Meu ami- go, já sabemos de tudo o que nos ias contar! O caso, portanto, está liquidado. Como grego que professa livremente o judaísmo, não de- pendendo de suas leis, tens toda liberdade para falar-lhes; mas, se fosses um verdadeiro judeu pela circuncisão e pela lei, terias de medir tuas palavras. Mas, assim, falaste bem e está tudo resolvido. Agora, porém, leva-Me à sinagoga de Nazareth! Ensinarei ao povo para que saiba a quantas anda!” (Matheus 13, 54)

  2. Maria pergunta se estarei de volta para o almoço. Digo Eu: “Não te preocupes se venho; basta que Eu tome todas as precauções a Mim! À noite, porém, estarei aqui!” Pergunta-Me Sarah se pode acompanhar-Me.

  3. Respondo: “Como não? Podes vir, embora pela lei a mulher não possa penetrar na sinagoga em companhia de homens. Mas isto deve mudar! A mulher, tanto quanto o homem, tem o pleno direito ao Meu Amor e Graça, que emanam de Deus, o Pai, através de Mim. Fica- rás a Meu lado e servirás como testemunha potente! Para este fim, con- serva a mortalha, que também servirá de prova. Agora, vamos!” Após estas palavras dirigimo-nos à sinagoga.

17. O SENHOR EXPLICA UM TEXTO DE ISAÍAS

  1. Penetrando na escola, encontro um grupo de dez anciãos de Na- zareth, com vários fariseus e escribas, sentados em volta de uma grande mesa, discutindo os seguintes versos de Isaías: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus Olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o juízo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas. Vinde agora e argui-Me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a branca lã. Se quiserdes e ouvirdes, comereis o bem desta Terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à es- pada; porque a Boca do Senhor o disse. Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de juízo, que abrigava a justiça, é hoje habita-

da por homicidas. Sua prata se tornou espuma, seu vinho se misturou com água. Seus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um ama as fraudes e corre seduzido pelo ganho fácil, não fazendo jus- tiça ao órfão, não chegando até ele a causa das viúvas. Por tudo isto, diz o Senhor, Deus dos Exércitos, o Forte de Israel: Ah, consolar-Me-ei acerca dos Meus adversários e vingar-Me-ei dos Meus inimigos!” (Isaías 1, 16–24) Embora discutissem, não conseguem compreender seu ver- dadeiro sentido.

  1. Nisto, Eu Me adianto e lhes digo: “Como podeis conjeturar so- bre o que se apresenta diante de vós numa claridade dum Sol de meio-

-dia? Olhai vossos órfãos, vossas viúvas! Que vida levam? Ao invés delas cuidardes, açambarcais o que possuem, e os órfãos ainda vendeis como escravos aos gentios, como há poucos dias queríeis fazer secretamente, mas no que fostes impedidos pelo aduaneiro Kisjonah!

  1. Bem que fala o Senhor: ‘Vinde e argui-Me! Ainda que os vossos pecados sejam escarlates, se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a branca lã!’; mas Eu pergunto: quando e sob que condição? Qual a vossa atitude, e como se apresenta a Cidade Santa, que se chama ‘Cidade de Deus’? Quantos pe- cados horrendos já se praticaram ali e quantos são levados a efeito agora?

  2. ‘Lavai-vos, purificai-vos e tirai a maldade de vossos atos de dian- te dos Meus Olhos!’, eis que falou Jehovah pela boca do profeta. Lavais, durante o dia, sete vezes o vosso corpo, limpais vossas roupas e caiais duas vezes ao ano os sepulcros dos vossos mortos; mas vossos corações continuam endurecidos e cheios de imundícies, tanto que sois seme- lhantes aos sepulcros caiados, externamente limpos e adornados, mas internamente cheios de podridão, ossadas e odor putrefato!

  3. O profeta falou da purificação de vossos corações e vos advertiu que tirásseis vossos pecados diante dos Olhos de Deus; vós, porém, jamais aceitastes este sentido no vosso íntimo e continuais purificando a pele, enquanto vosso coração se afunda nas imundícies do inferno! Ó raça do inferno, quem te ensinou tal coisa?

  4. Dizeis: ‘O bode ordenado por Moysés e Aaron, até esta data, é coberto anualmente com os pecados de toda Israel; em seguida é morto

e jogado no Jordão!’ (Levítico 16) Ó cegos, que culpa tem o bode de vossos constantes pecados e de não purificardes os vossos corações?

  1. Este ato representa somente aquilo que já devíeis ter aprendido há muito tempo, isto é, que o bode demonstra vossas perversas tendên- cias mundanas, como sejam: o orgulho, que igual ao bode dá marradas e cheira mal; a impudicícia e obscenidades em todas as coisas; avareza e inveja! Com a destruição do bode expiatório, devíeis aniquilar, para sempre, o bode de vossos corações — e assim teríeis cumprido o Man- damento de Moysés e Aaron, o que, na certa, vos teria trazido grande benefício! Matastes, porém, os bodes, o que de nada adianta, e os vossos corações continuam os mesmos; por isso, Jehovah executou Sua Amea- ça e o fará ainda mais quando vossa medida se encher.

  2. Não deixa de ser louvável que os pagãos defendam os direitos do povo, cuidando das viúvas e órfãos! Mas também é verdade o que diz o profeta: ‘Consolar-Me-ei com os inimigos, os pagãos, e vingar-Me-

-ei por eles!’ Onde ficou vosso poder e força? Um pequeno grupo de pagãos domina o antigo povo de Deus, tão poderoso! Que vergonha e desonra! Os filhos da serpente são mais sábios e honestos do que vós, filhos da Luz!

  1. Por isto, o mesmo acontecerá em breve; este solo santo será en- tregue aos pagãos, e vós jamais tereis nem país, nem rei! Ireis servir aos tiranos estrangeiros, como escravos; vossas filhas nobres serão ultrajadas pelos pagãos e seus servos, e seus rebentos serão odiados como ninhada de víboras, de serpentes!

  2. Conjeturais pelas Escrituras dos profetas, que escreveram para os vossos corações, como poderíeis aumentar a pompa na cerimônia durante o ato da purificação de vossos corpos, roupas e sepulcros, para que rendessem maiores oferendas. Mas não percebeis o que apraz a Deus! Ó servos maldosos do diabo! Servis a ele com vossas cerimônias

  1. Purifica-se o corpo quando for necessário, uma, duas ou três vezes ao dia e limpam-se as roupas quando sujas; isto foi ordenado por Moysés em benefício da saúde física. É preciso também cobrir os sepul- cros com um palmo de barro e caiar esta coberta, quando seca, várias

vezes, para que não rache. Pois isto poderia facilitar, nos primeiros anos, a saída de gases nocivos, portadores de doenças, tanto para as criaturas como para animais e plantas.

  1. Vede, esta é a razão por que se devem caiar os sepulcros! Como podíeis engendrar desse fato uma cerimônia religiosa? Oh, que sois insensatos e tolos! Qual o proveito desta tolice para a alma do falecido?!”

18.ANATUREZADEDEUSESUAVERDADEIRA ADORAÇÃO

  1. (O Senhor): “Quando morre uma criatura, sua alma é afastada do corpo e, como corpo etéreo, levada a um sítio que corresponda a sua verdadeira natureza, tendo unicamente seu livre arbítrio e seu amor como auxílio. Se vontade e amor forem bons, a zona que terá para o cultivo, de acordo com a força e o poder dados por Deus, também será boa. Vontade e sentimento sendo maus, também o serão suas obras — do mesmo modo como na terra uma árvore má não dará frutos bons e vice-versa. Ornamentai com ouro e joias um espinheiro e observai se com isto vos dará uvas! Se, porém, ornamentais ou não uma parreira, ela dará uvas doces e de maravilhoso aroma!

  2. Assim sendo, perguntai-vos qual o benefício que poderiam ob- ter as almas no Além pelo caiar de seus sepulcros, que contêm apenas esqueletos e podridão!

  3. Julgais, realmente, que Deus seja tão imbecil e tolo, que Se deixe servir pela ostentação fútil e vã da matéria?

  4. Digo-vos: Deus é Espírito, e os que quiserem servi-Lo deverão fazê-lo em espírito e na verdade plena e pura de seu coração; jamais, po- rém, na matéria, pois ela nada mais é que a Vontade do Pai Onipotente e por Ele, por algum tempo, fixada!

  5. Que diríeis a alguém que exigisse uma recompensa por ter des- truído vossa sementeira e ironicamente ainda afirmasse ter-vos prestado bom serviço?! A resposta que daríeis a este tolo atrevido também vos dará o Pai no Além — e teríeis que vos afastar Dele para as mais longín- quas trevas, onde só há clamor e ranger de dentes!

  1. Maria, Minha Mãe, é uma prova autêntica de como defen- deis as causas das viúvas, pois lhe tirastes tudo. E isto repetis sempre que possível!

  2. Não é do conhecimento de todos que as judias procuram defen- sores de suas causas entre os pagãos, porque os judeus não as atendem? Satanás deve regozijar-se ao ver que seus filhos ultrapassam os filhos de Deus no que diz respeito à lei e à justiça! Por isto, deverão os filhos do mundo se tornar filhos de Deus; vós, porém, sereis filhos daquele a quem servis fielmente!

  3. Já que lestes Isaías, não achastes aquela passagem onde diz: ‘Re- gozijo-Me com a misericórdia e não com as oferendas!’ e mais além: ‘Este povo adora-Me com os lábios, mas seu coração está longe de Mim?’

  4. Se afirmais que Deus falou isto pela boca do profeta, de que ma- neira O respeitais, se preferis sempre vossas leis desprezíveis ao invés das Leis do Pai, considerando as que engendrastes para vosso lucro munda- no, pisando os Ditames Divinos?! Ó malvados servos do diabo! Como tencionais enfrentar o julgamento de Deus?! Em verdade, os sodomitas terão melhor sorte que vós! Pois, se naquele tempo tivessem acontecido os milagres a que assististes, teriam feito penitência com saco e cinza, e Deus não os teria julgado com fogo do Céu! Ai de vós, o tempo é che- gado em que se dará aquilo que vos predisse!”

19.IGNORÂNCIAEPERTURBAÇÃODOS FARISEUS

  1. Após Minhas Palavras, levantam-se os anciões, fariseus e escribas e dizem: “Como te atreves a querer discutir conosco? Quais os milagres que se deram aqui?”

  2. Digo Eu, apontando-lhes a bem conhecida Sarah: “Conheceis esta menina e sabeis o que lhe aconteceu pela segunda vez?”

  3. Todos se fitam desapontados e dizem entre si: “Céus, esta é a filha do reitor Jairo! Teria ‘ele’ a ressuscitado de novo? Como isto foi possível? Mas, se assim for — que faremos? Jairo parece estar a favor dele, do contrário não lhe teria entregue sua filha amada! Ou será que nada sabe a respeito? Talvez o filho de José a ressuscitasse secretamente e

deseje entregá-la a seu pai! Este caso é muito suspeito! É ela mesma, não resta dúvida! Assistimos, entretanto, a seu enterro, assim como também a vimos morta em Capernaum! Que será, se este homem-deus realiza coisas tão impossíveis?” Agora se calam.

  1. Eu, porém, digo, fixando-os severamente: “Então, que diz vosso coração maldoso a isto? É este milagre suficiente ou não, para vos pro- var que falei a verdade?”

  2. Respondem os anciãos: “Não somos médicos nem farmacêuti- cos, que investigam as forças da Natureza aplicando-as em sua arte; tampouco entendemos de magia que se pode aprender do diabo, pois isto seria o maior pecado perante Deus; não sabemos, portanto, com que meios a ressuscitaste! Por isto, não nos perturbamos com provas iguais a esta nem pode isto abalar nossa fé em Moysés e nos profetas, bem como na interpretação da Escritura, autorizada pelo Céu, em favor do Templo! Existem vários magos do oriente e do Egito que vieram nos mostrar seus milagres; todos executam obras que judeu algum pode nem deve compreender, pois isto tudo é causado pelo diabo. Afirma- mos, portanto, o seguinte: Teus milagres, pertencentes à magia, não têm valor para nós e provam apenas que és um mestre íntegro na sua execução. Nunca, porém, hás de conseguir que, em vista de teus feitos, aceitemos tua doutrina, que nos é nojenta! Para nós, um médico está longe de ser um sacerdote e muito menos um profeta — e tu, em ab- soluto, o poderás ser, uma vez que te conhecemos quase há trinta anos, como também conhecemos a teu pai! Por isto, trata de abandonar a escola com teus larápios, do contrário usaremos de força!”

  3. Diz Sarah: “Senhor, peço-Te, deixa estes miseráveis! São mais renitentes que as pedras, mais obtusos que a noite e mais egoístas que um abismo! Por duas vezes restituíste-me a vida, e para eles isto nada representa! Julgam-Te um feiticeiro sacrílego e ousam, na sua cegueira, expulsar-Te da sinagoga! Senhor, isto é demais! Vamos, vamos! A pre- sença destes miseráveis é idêntica à de Satanás!”

  4. Digo Eu: “Minha querida Sarah, acalma-te! Ficaremos aqui o tempo que Eu quiser, pois sou o Senhor! Os poderosos da Terra já se dizem ‘senhores’ possuindo pouco poder; Eu, porém, tenho o Poder so-

bre o Céu, o inferno e toda a Terra! Sou, portanto, um Senhor Íntegro e não permito que se Me ordene! O que Eu executo, faço-o livremente, porque sou o Senhor!”

  1. Ouvindo isto, os anciãos rasgam suas vestes, gritando: “Afasta-

-te! Pois agora ouvimos nitidamente que és um sacrílego! Executas tuas obras com ajuda de Beelzebub, querendo, em compensação, afastar os povos de Moysés e de Deus, através de tua doutrina, tanto que só nos resta apedrejar-te!”

20.MEDODOSTEMPLÁRIOSDIANTEDOJULGAMENTO ROMANO

  1. Em todas as escolas, bem como no Templo, guardava-se o ma- terial para um possível apedrejamento. Os anciãos, fariseus e escribas, numa terrível excitação, apressam-se em apanhá-lo. Os discípulos, por sua vez, jogam-se contra eles e os ameaçam. Os outros começam a gri- tar e reagir, procurando arremessar as pedras contra Mim. Neste mes- mo instante, Fausto, Cornélius, Jairo e o velho Cirenius penetram na sala de aula.

  2. Quando os templários irritados avistam estes grandes senhores, os quais bem conheciam, deixam cair as pedras e começam a fazer uma série de reverências respeitosas.

  3. Jairo dirige-se rápido para junto de Mim e de sua filha, abra- ça-Me e fala em alta voz a Cirenius: “Ei-Lo, o Grande Homem dos homens, com minha filha querida, que Ele ressuscitou por duas vezes da morte completa!”

  4. O velho Cirenius se aproxima, com lágrimas nos olhos, e diz: “Ó meu Deus e meu Senhor! Com que palavras poderei eu, criatura pobre e fraca, agradecer-Te por todas as graças que me proporcionaste?! Oh, como sou feliz por ver-Te, meu Santo Amigo! Há mais de vinte anos não tinha notícias Tuas, embora pensasse diariamente em Ti e por muitas vezes procurasse saber do Teu paradeiro!

  5. Ah, como andei preocupado há poucos dias quando o impera- dor começou a exigir com severidade os malogrados impostos do Pon-

tus e da Ásia Menor, e eu não sabia que fim haviam levado! Como, po- rém, fiquei contente, sim, feliz, quando há três dias me foram enviados não só os ditos impostos, mas ainda uma quantidade muito maior de preciosidades em ouro, prata, pérolas e pedras preciosas, por parte dos meus sinceros amigos Fausto e Cornélius — e isto tudo unicamente pelo Teu Santo Intermédio!

  1. Meu Senhor, meu maior Amigo Jesus! Dize-me, que devo fazer a fim de resgatar, em parte, a imensa dívida para Contigo? Se for do Teu Desejo possuir minha coroa de vice-rei, com que imensa alegria e dignidade a depositarei a Teus Santos Pés!

  2. Realmente Senhor, Tu, minha vida, como sabes, não dou valor algum aos tesouros desta Terra; se aquilo que já expedi para Roma fosse meu, milhares de pobres obteriam auxílio! Pertencia, porém, tudo ao imperador e me esforcei por achar os impostos! Como isto teria sido possível sem Ti, sem meu querido Fausto e o irmão Cornélius? Oh, tiraste-me um peso do meu peito! Agora trata-se de recompensar-Te dentro de minhas posses! Fala, fala, Tu, maior amigo dos homens, que devo fazer?”

  3. Durante este comovente discurso de Cirenius a Mim dirigido, aqueles que há pouco tencionavam apedrejar-Me empalidecem qual morto e tremem como varas, porque julgam que Me vingarei denun- ciando-os a Cirenius, que temem mais do que a morte; pois Ele jamais gracejava! Os juízes romanos são conhecidos como exageradamente se- veros na execução de suas sentenças e veredictos; por isto, os judeus sentiam verdadeiro pavor em presença deles, principalmente os anciãos nazarenos, fariseus e escribas, dos quais alguns eram coniventes no rou- bo dos impostos romanos.

  4. Eu, porém, falo com a maior amabilidade a Cirenius: “Pensas, então, que o homemesqueceu o que fizeste à criança, quando teve de fugir de Herodes, de Bethlehem para o Egito? Oh, o homem está bem lembrado de tudo! Fizeste tudo sem interesse, porque Me amavas — e deveria Eu agora exigir uma recompensa qualquer? Não! Isto, nunca! Mas, como mandas sobre toda a Ásia na qualidade de representante do imperador, ordena a estes renitentes servos de Satanás que silenciem

sobre tudo que fiz aqui, caso contrário serão severamente castigados! Pois todo aquele que levantar pedras contra o seu próximo será punido com rigor!”

  1. Diz Cirenius: “Estes miseráveis teriam ousado levantar pedras contra Ti?”

  2. Diz Sarah: “Sim, é verdade, nobre Cirenius! Quiseram apedre- jar o Senhor porque lhes falou a verdade! Dizem-se servos de Jehovah, entretanto são ateus; consideram exclusivamente suas leis egoísticas e dominadoras, dando aos crimes mais hediondos o cunho de divino!

  3. Quem se não deixar ludibriar pelo seu brilho falso é contido por um poder criminoso, não tendo mais liberdade neste mundo! Num confronto entre as Leis de Moysés, dos profetas e as deles, descobre-

-se com facilidade o que eu, com meus dezesseis anos, já verifiquei há muito tempo! Em verdade, quem considera os nossos profetas é deles inimigo declarado! Igual aos samaritanos é ele considerado, diariamen- te, como amaldiçoado e odiado de tal forma pelos templários que seu nome é idêntico a uma maldição!

  1. Eu, como moça, pergunto: É isto a palavra de Deus ou o cul- to a Deus? Jesus lhes provou, claramente, que tal palavra só poderia vir do inferno, e o culto, como o deseja Satanás! Por isto querem-No apedrejar diante do povo, que, ciente de suas traficâncias, poderá redu- zir-lhes o lucro!

  2. Nobre senhor, já por duas vezes estive no Além e sei o que minha alma vislumbrou! Vi Moysés e todos os profetas! Possuem a paz e seu maior regozijo é a época atual, que chamam de o ‘Grande Dia do Senhor’! Mas entre estes santos de Israel não vi nenhum fariseu, nenhum escriba! Por isto perguntei onde se encontravam.

  3. Eis que apareceu um anjo luminoso e mandou que o seguisse, o que fiz. Em pouco tempo encontrávamo-nos num lugar horrivelmen- te escuro, qual noite de tempestade. Bem no fundo havia um ponto incandescente, e o anjo falou: ‘Eis o charco onde habitam os que men- cionaste!’ Fixando o olhar, vi apenas diabos, e perguntei: ‘Mensageiro do Senhor! Só vejo demônios; onde estão, pois, aqueles que procuro?’ O anjo respondeu: ‘São eles mesmos, os que vês!’

  1. Assustei-me muito, pensando em meu pai, que é dirigente dos fariseus; mas o anjo, percebendo o que se passava comigo, falou: ‘Não te preocupes! Teu pai achará o caminho certo e serás ainda seu guia na Terra!’

  2. Isto tudo vi e ouvi; falo, portanto, de experiência própria e não necessito aprender algo destes tolos e maus, servos de Satanás; vi e aprendi a única verdade e dela sou testemunha, pois que Jesus a ensi- na. Estes doutrinadores tenebrosos, porém, ensinam e falam a mentira perfeita! Tenho dito!”

21.CIRENIUSEOS TEMPLÁRIOS

  1. Diz Cirenius: “Ouvistes o testemunho de uma ressuscitada con- tra vós, que vos acusa muito mais que qualquer roubo ou assassínio? Que farei convosco após esta acusação tremenda? Crucificar-vos, seria muito pouco! Vergastar-vos um dia inteiro e, em seguida, decapitar-vos, também seria um castigo muito suave! Mas já sei o que fazer e ficareis satisfeitos comigo!” Diante destas palavras de Cirenius, todos empali- decem, gritam e imploram!

  2. Em segredo, Cirenius Me pergunta se deve, realmente, condená-

-los além do veredicto do silêncio que lhes tinha sido imposto.

  1. Respondo: “Considera apenas o veredicto, ameaçando-os seria- mente caso não cumpram o que exigi! Depois, manda-os embora!”

  2. Cirenius se adianta, ordena silêncio e fala: “Ouvi-me, facínoras miseráveis! Deveis unicamente a Este, a Quem quisestes apedrejar, so- mente pela verdade de que vos falou, o fato de não vos mandar enxotar para o deserto e, uma vez expostos numa rocha que dá para o abismo

  1. Tampouco deixarei impune o conhecimento de que talvez façais sofrer e perseguir o povo, por extorsões indébitas, em virtude desta San- ta Verdade! Ensinai o povo a conhecer Deus e Suas Leis, a agir dentro delas e sereis tão bem considerados como este Homem Divino, Jesus,

que em absoluto transmite coisa nova, mas a antiquíssima Doutrina de Deus. Isto para Ele não constitui dificuldade, porquanto é, em Espírito, Aquele Mesmo que, de acordo com vossa Doutrina, transmitiu-vos as Leis através de Moysés, no Monte Sinai. Isto não é compreendido por vós; para mim, entretanto, que declarais pagão, é evidente. Não ouseis perseguir Este Santo, pois tal perseguição custar-vos-ia a vida dupla- mente: aqui, no corpo, e no Além! Compreendestes?”

  1. Respondem todos: “Sim, nobre Senhor, e faremos tudo que exi- giste! Sabes, porém, que nós, criaturas, não somos deuses, tendo toda sorte de fraquezas; se, portanto, alguém pecar num ou noutro ponto, pedimos-te que apliques como homem um castigo humano!”

  2. Diz Cirenius: “Os comerciantes e mercadores costumam fazer negociatas — os romanos, porém, jamais! Considerai isto e agi assim, que não necessitareis de indulgência. As criaturas só se tornam fortes e heróis da ordem através de leis rigorosas e implacáveis!

  3. Se o soldado não tivesse leis rigorosas a seguir, seria um covarde e, quando mandado a perseguir, lutar e vencer o inimigo, relegaria seus deveres — e a proteção da pátria seria um mito! Mas, a lei prescrevendo ao militar todo passo a dar diante do inimigo, ele também o fará! Pois, não o fazendo, a morte será seu destino; caso contrário, poderá até ser um vitorioso e herói!

  4. Eis a regra mais rigorosa de Roma: Uma lei severa fará criaturas severas e ordeiras. Por isto, não negociamos neste ponto com quem quer que seja! Agi assim e sereis livres da lei.

  5. A Terra toda e tudo que nela existe mantêm-se pela imutabi- lidade da Vontade Divina. Se Deus negociasse com suas criaturas, que aspecto apresentaria o orbe e todos nós? Tudo cairia em frangalhos!

  6. O mesmo se daria com um povo: se uma das leis fosse afrouxada, as outras também perderiam sua força e estabilidade, provocando em breve a ruína do governo! Portanto, persisto na mi- nha ameaça!”

  7. A este revide enérgico do vice-rei, os anciãos e fariseus tomam uma expressão de perplexidade e um, dentre eles, diz, num êxtase do- loroso: “Ó Roma, Ó Roma! És demasiadamente severa! Jehovah! Li-

bertaste Teus filhos da prisão babilônica depois deles se penitenciarem; acaso jamais nos libertarás deste jugo mil vezes mais pesado?”

  1. Digo Eu: “Se não vos modificardes inteiramente, não só conti- nuareis para sempre como súditos de Roma, mas também sereis por ela devorados como o cadáver pelos abutres! Deus terá paciência convosco por tempo determinado, mas depois recairá sobre vós o castigo severo, no qual sereis perseguidos até o fim do mundo. Agora, ide, e não mais nos aborreçais!”

  2. Todos se retiram para os diversos cômodos; nós, entretanto, permanecemos na sinagoga, onde afluem muitos nazarenos, interessa- dos em ver os dignitários romanos. A fim de não sermos imprensados pelo povo, somos obrigados a subir, finalmente, nos bancos e nas mesas.

22.CURADEUMARTRÍTICO.TESTEMUNHODO NAZARENO

Ev.MatheusCapítulo13,versículos55e 56

  1. Borus, neste ínterim, conduz pessoalmente um artrítico, cujas mãos e pés estão inteiramente ressequidos e contorcidos, de sorte que médico algum fora capaz de curá-lo.

  2. Borus, fazendo transportar o doente por dois homens em uma maca, diz em alta voz, diante da multidão: “A este enfermo somente Deus poderá curar! Sou um dos primeiros médicos em toda a Galileia e muitos doentes de Jerusalém e Bethlehem já curei; mas a este não me foi possível! Peço-Te, meu Santíssimo amigo Jesus, a Quem nada é impossível, que lhe dês o poder de caminhar com saúde, se tal for de Tua Vontade!”

  3. Digo Eu: “Amigo, aqui existem muitos descrentes, o que dificul- ta tal cura! Mas, a sós, poderei curá-lo!”

  4. Alguns entre o povo começam a cochichar: “Oh, o filho do car- pinteiro é bem esperto! Quer experimentar a cura secretamente para ver o resultado!”

  5. Como ouço esta observação maldosa, digo: “Que sois tolos e doidos! Conheceis esta menina ao lado de Jairo? Não é sua filha, por duas vezes falecida? Quem lhe restituiu a vida? Tolos! Se o Filho do

homem tem poder para ressuscitar os mortos, certamente poderá dizer a este doente: ‘Levanta-te e caminha?!’ A fim de que vejais que tenho este Poder, ordeno-te, tu que és artrítico, que te levantes e caminhes com saúde!”

  1. No mesmo instante, um fogo atravessa o corpo do entrevado, que se torna completamente são, levantando-se em seguida e cami- nhando alegremente. Seu corpo havia se enrijecido de músculos, dan- do-lhe um aspecto remoçado. Cheio de admiração, ele diz, após alguns instantes: “Isto só a Deus é possível! Sem remédios, sem passes, uni- camente pela palavra, conseguir esta cura — jamais alguém assistira! Senhor Jesus, confesso e acredito plenamente que és o Filho de Deus ou Deus Mesmo Encarnado! Tenho vontade de adorar-Te.”

  2. Digo Eu: “Deixa isto e não faças alarido por tal! Guarda apenas o que sentes em teu coração! Tempo virá em que necessitarás desta ele- vação de sentimentos — e então poderás orar ao Pai no Céu, que deu, somente a Seu Filho, tal Poder!” A estas palavras, o curado silencia.

  3. O povo, entretanto, apavora-se e diz: “Donde lhe vem tal sabe- doria, tais atos e tal força? Não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não é Maria? E seus irmãos, Jacob, Joses, Simão e Judas? (Matheus 13, 55) E suas irmãs não estão todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isto?” (Matheus 13, 56)

  4. Enquanto assim estão perguntando e conjeturando, muitos se escandalizam, dizendo: “Isto é para enlouquecer! Nossos filhos es- tudaram em Jerusalém, angariando conhecimentos em várias artes e ciências; além disso, cursaram a escola, ainda existente, dos profetas, aperfeiçoando-se na interpretação dos hieróglifos egípcios! E este car- pinteiro, que, como se sabe, jamais frequentou uma escola, e que vi- mos trabalhar com plaina e serrote, confunde-nos e a nossos filhos, de maneira a causar admiração às mais altas personagens governamentais, de sorte que quase o consideram um deus! Isto é realmente detestável! Ele é tudo em tudo, fala todos os idiomas, é um profeta non plus ultra , fazendo milagres que haveriam de gloriar qualquer deus; nossos filhos, porém, e nós mesmos, que também aprendemos algo, damos a impres- são de não poder contar até dez!”

  1. Diz um outro grupo: “Onde teria aprendido algo? Descon- tando alguns meses, sempre esteve em casa, trabalhando com seu pai e seus irmãos; nunca percebemos nele algo de excepcional! Costumava ser sisudo e, quando se lhe perguntava algo, às vezes não respondia ou, então, mui parcamente, de tal forma que era considerado tolo — e ago- ra se apresenta como homem que atrai as vistas de todo o mundo! Isto é por demais aborrecido!

  2. Que, finalmente, passou-se com ele? Sabemos que durante sua infância mostrou certas faculdades mágicas. Seus pais acreditavam que viesse a ser um dia algo de importante; entretanto, tais faculda- des promissoras se perderam no decorrer dos anos. Jamais frequentou uma escola e assim tornou-se um simples carpinteiro. Por várias vezes perguntei ao velho José sobre a atitude de Jesus em casa, e sua resposta era: ‘Ele, em casa, é mais calado do que em qualquer outra parte!’ Seus irmãos diziam o mesmo! Assim, donde lhe vem o dom da palavra?”

23.ADMOESTAÇÃOFEITAAOS NAZARENOS

Ev.MatheusCapítulo13,versículo 57

  1. Como, todavia, pelos Meus Atos, Eu tivesse dado provas de um profeta, um velho nazareno conta o seguinte: “Certa feita ouvi um ba- bilônio que viajava por estas zonas — fato comum entre esse povo, que se exibe como mágico e quiromante — predizer o seguinte ao meu vizinho:

  2. ‘Nazareth, entre tuas muralhas habita um homem que desco- nheces! É calado e compenetrado; mas, quando chegar o Seu Tempo, as montanhas, os ventos e o mar obedecer-Lhe-ão, e a morte diante Dele estremecerá, impossibilitada de impor-Lhe seu poder! O povo desta cidade escandalizar-se-á por isto; mas ninguém poderá enfrentar Sua Força! Quando, porém, quiser deixar este mundo para subir ao Céu, permitirá que Seus inimigos O matem por três dias; no terceiro, entre- tanto, afastará de Si o poder da morte, ressuscitando em toda pujança para, em seguida, ascender ao Céu com o Seu Corpo! Ai daqueles que O perseguirem; seu destino será um julgamento pavoroso, jamais visto

sobre esta Terra! Ai dos judeus orgulhosos! Não terão pátria até o fim dos tempos, perambulando sobre este orbe qual caça maldita no deser- to. Prepararão um alimento intragável de espinhos, cardos e abrolhos, a fim de saciar a fome, morrendo em consequência deste alimento!’

  1. Eis as palavras de tal babilônio, ditas há três anos; é realmente es- tranho que se apresente, neste Jesus, tal homem em nossa cidade, cujas palavras e ações confirmam tudo que acabo de narrar! Mas que fazer? Se um fato já se realizou, o outro, ou seja o julgamento, também virá! Por isto, sou de opinião que O deixemos agir, pois será difícil desafiá-Lo! Quem ressuscita mortos terá poder para algo mais! Será impossível ven- cer a Quem as montanhas, os ventos e mares respeitam! Por isto, repito, deixemo-Lo, já que, como vedes, várias centenas de pessoas seguem Sua Doutrina de corpo e alma, considerando-O o Messias Prometido!”

  2. Estas palavras do velho nazareno a muitos ainda mais aborre- cem; no entanto, ninguém se atreve a dizer palavra.

  3. Eu, todavia, observo que nada alcançaria com este povo, sem fé e confiança, e digo que todos Me escutem: “Por que vos aborreceis? Não ouvistes que sempre se diz: Em parte alguma um profeta vale tão pouco quanto em sua pátria e sua casa?! (Matheus 13, 57) Assim sendo, por que então vos aborreceis? Quereis ser espertos: Eu, porém, vos digo que sois cegos, surdos e tolos! Se Eu sou Quem sou, provando isto por palavras e Ações, por que não Me acreditais? Acaso é preciso que um profeta seja do estrangeiro para merecer crédito? Ou seu lugar de nasci- mento deve ser desconhecido, bem como seu idioma?

  4. Se tivesse vindo da Pérsia ou da Índia, fazendo milagres que ja- mais alguém houvesse conseguido, ajoelhar-vos-íeis, gritando: ‘Deus visitou-nos, que estamos cheios de pecados! Quem nos protegerá de Sua Ira?’ Mas, como sou o por vós conhecido filho de José, perguntais: ‘Donde lhe vem isto?’ Cegos, tolos! Acaso este solo aqui não é, tanto quanto na Pérsia ou na Índia, o solo de Deus? Não brilha aqui o mes- mo Sol e os frutos daqui como de lá não crescem e amadurecem pelo constante Poder Divino? Lua e estrelas, Sol e Terra — serão aqui, talvez, menos divinos? Se faço milagres diante de vossos olhos, impossíveis a um persa ou hindu, por que então não Me será possível angariar vosso

respeito e fé? Realmente, se Me dirigisse aos gregos e romanos, eles fa- riam templos e altares em Minha Honra!

  1. Vós, entretanto, perguntais pelo simples motivo de ter nascido em vosso meio: ‘Donde foi buscar este carpinteiro desajeitado o dom para estes milagres?’ Esperai um pouco! Este palerma deixou de sê-Lo, fazendo-vos grandes benefícios — primeiro como palerma, e agora como Mestre e Salvador; no futuro, porém, deixará de fazê-los!” Estas palavras irritam mais ainda os fariseus, que deixam a escola.

24.DISCURSODECIRENIUSARESPEITODOS NAZARENOS

  1. Diz Cirenius: “Senhor e Mestre, pelo que vejo, trata-se aqui mais de ignorância do que de maldade! Pois os nazarenos, com exceção de alguns, são conhecidos como tolos que custam a compreender algo. Dotados de pouco ensino, nenhuma experiência, geralmente pobres — eis os nazarenos! Normalmente vivem da lavoura e criação de animais, e a Jerusalém vão uma vez por ano, onde nada aprendem, ao contrário, perdem intelectualmente. Onde, portanto, deveriam buscar maior ca- pacidade intelectual, a fim de poderem julgar Tuas Palavras e Ações? Além disso, as criaturas tolas costumam também ser invejosas, e este é o motivo do seu aborrecimento: seus filhos, embora frequentassem todos os colégios possíveis, não podem concorrer com Tua Sabedoria, Conhecimento e Ação! Assim, vejo apenas uma imensa tolice em seu proceder; deixemo-los!

  2. Também não temo um assalto à Tua Pessoa, pois, se tens Po- der suficiente para pôr em fuga um exército bem adestrado — quan- to mais fácil não Te será enfrentar estes tolos! Além do mais, tens a Teu favor a nossa presença como dignitários romanos sobre toda a Ásia, e não Te faltará proteção! Se, por acaso, fores perseguido, sabe- rás onde ficam as cidades de Sidon e Tyro! Vai para lá e terão fim as perseguições!

  3. Estes moradores de Nazareth são quase destituídos de qualquer educação, e a prova é que não cumprimentaram nem a mim, nem a ne- nhum outro representante de Roma! Vieram aqui por mera curiosida-

de, portando-se qual burros e carneiros, julgando-se donos do mundo! Devido a esta estultice, não os posso acusar de pecado e penso que Tu, ó Senhor e Mestre, conhecendo-os mil vezes melhor, também não os culparás!”

  1. Digo Eu: “Disto podes estar certo! Mas Me empenho que reco- nheçam em seus corações Quem Eu sou; pois disto depende sua Vida Eterna! Não Me conhecendo, também não o farão com Aquele que Me enviou ao mundo e muito menos, que Eu e Aquele somos Um Ser Uno! Enquanto isto não fizerem, não Me possuirão em seus corações, tam- pouco a Vida Eterna e, por conseguinte — são mortos em espírito! Eu Mesmo sou esta Vida Eterna e a Minha Doutrina é o caminho para lá!

  2. Quem, portanto, não aceitar a Mim e a Minha Doutrina, deixa de aceitar a Vida Eterna, dando preferência à morte.

  3. Todavia, não Me é possível forçar alguém para a fé, pois toda co- ação é um julgamento para o espírito, que lhe traria tanto a morte como o faria a incredulidade; assim é difícil, até para Deus, agir de modo tal que a criatura não seja prejudicada psiquicamente! Qual o meio para fazer despertar o seu espírito?

  4. Não aceitando Meu Verbo Vivificado, também não aceita a Mim como única Fonte de Vida em todo o Infinito! Pergunta a ti mes- mo, donde irás buscar a Vida da qual sou Portador?”

  5. Diz Cirenius: “Sim, compreendo tudo perfeitamente, pois já Te conheço há trinta anos; mas deixemos isto de parte; saberei como levar a fé a esta gente! Vamos, portanto, ver onde podemos almoçar, pois já é bem tarde!” Saímos da escola e da cidade, dirigindo-nos à Minha casa, onde nos aguarda um bom almoço. Passamos este dia alegres e bem dispostos.

25.INDIGNIDADEDO POVO

Ev.MatheusCapítulo13,versículo 58

  1. Fazem-se muitos comentários a respeito dos acontecimentos em Ostracina, no Egito, onde passei Minha Infância, e até Maria toma parte, com satisfação, nas conversas do vice-rei da Ásia, título que hon- rava Cirenius.

  2. Jacob, filho de José, que também sabe escrever, apanha um rolo bem volumoso do seu armário, entregando-o a Cirenius com as seguintes pala- vras: “Nobre senhor, anotei aqui todos os acontecimentos desde o Nasci- mento até aos quinze anos de Jesus. Suas Ações constam até aos doze anos, pois dali em diante perdeu Seu Dom Divino. Por isto, nada consta nos treze, catorze e quinze anos, pois, além de algumas Sábias Palavras, nada de maior sucedeu; com isto, o relato de Sua Adolescência está terminado.

  3. Existe, no entanto, além destas minhas anotações, uma quan- tidade de obras falsas, certamente de velhas mulheres de pescadores; peço, portanto, a todos, considerarem exclusivamente as minhas como verdadeiras! Se, com isto, posso te proporcionar uma alegria, peço-te aceitares este pequeno trabalho como recompensa de minha parte por todos os benefícios que nos prestaste!”

  4. Cirenius aceita os pergaminhos com muita satisfação, folheia-os e, em seguida, passa a ler vários trechos, o que é uma alegria para todos, principalmente para a gentil Sarah e sua querida mãe.

  5. Após alguns minutos, Sarah exclama, com os olhos rasos de lá- grimas: “Que mais seria preciso para constatar o que já reconheci desde minha primeira cura?! Meu Deus! Tais Fatos, tais Milagres — e nada de fé, nem compreensão, nem conhecimento do Divino! Senhor, como pobre e fraca pecadora, peço-Te: Não mais faças um milagre sequer em Nazareth! Este povo não o merece! Confesso que, se tivesse poder para tal, faria que estas criaturas passassem pela miséria e pelo açoite, até que reconhecessem o quanto pecaram por não terem reconhecido esta Santa Época de Tua Vinda!”

  6. Digo-lhe Eu: “Meu coração, não te aborreças por isto! Conheço-

-os e a sua incredulidade; e, como é de teu desejo, não mais darei provas

do Meu Poder (Matheus 13, 58). Tu, Meu escrivão Matheus, anotarás isto, a fim de que o mundo venha a saber da dureza dos corações dos Meus conterrâneos em vida! Contudo, ficaremos mais alguns dias, a fim de que tenham motivo para o seu aborrecimento, tornando-se as- sim maduros para o reino de Satanás!”

  1. Diz Cirenius: “Lastimo imensamente não poder permanecer aqui além de um dia, em virtude de meus negócios; entretanto, poden- do Te ser útil em qualquer coisa, em vista deste povo miserável, espero Tuas Ordens! Se o quiseres, farei açoitar a povoação toda!”

  2. Digo Eu: “Deixemos isto! Já estão castigados pelo fato de não Me acreditarem! Sua incredulidade será o juiz implacável! Em verdade, digo-te: é mais fácil um impudico, um adúltero e um ladrão entrarem no Céu do que estes incrédulos! Digo mais, não que lhes seja impossível acreditar; não o querem, a fim de poderem pecar mais livremente! Pois, aceitando a Minha Doutrina, sua consciência os acusaria de suas faltas; por isto, preferem não crer, procurando através de discussões sofísticas duvidar de toda possível verdade, para viver uma vida voluptuosa! Ami- go, teria muita coisa a dizer; mas é melhor calar! Deixemo-los como são; o que é do diabo, dificilmente pode se tornar divino pelo cami- nho natural!”

26.ENSINAMENTOSPARA LEGISLADORES

  1. Diz Cirenius: “É bom saber isto! Mas, como não aceitam Tua Doutrina, tratarei de uma outra! Farei publicar, por Fausto e seus ser- vos, certas ordens imperiais permitidas há meio ano; talvez o ‘evange- lho’ de Roma lhes incuta mais respeito! Esta ordem contém cem pontos como leis, sancionadas pela cruz e pelo açoite! A poligamia é sustada, a impudicícia castigada com o açoite; o adultério, roubo e fraude, com a crucificação; o contrabando, com o açoite e mais cem libras de prata, e uma quantidade de leis menos severas, mas cujo não cumprimento tem como consequência o açoite e cem libras de prata. As viagens sem passaporte são proibidas; o passaporte é conseguido com o pagamento de cem libras! Sim, isto eu farei, manobrando estas leis com todo o

rigor para as cidades na Galileia — e quero ver se este povo não tem consciência!”

  1. Digo Eu: “Isto compete ao teu âmbito governamental, e não te poderei dizer ‘sim’ ou ‘não’. Faze o que quiseres; mas não nos dificultes as viagens pelo país!”

  2. Diz Cirenius: “Em absoluto! Artistas, médicos, sábios e profes- sores são excluídos destas leis! Seus testemunhos, suas obras e prédicas servem de passaporte e ninguém os poderá impedir em suas funções, sob pena de morte. Dar-Te-ei um diploma que Te auxiliará!”

  3. Digo Eu: “Alegro-Me sempre de tua boa vontade; mesmo assim, poupa-te este trabalho! Enquanto quiser empreender Minhas viagens, não haverá poder humano que Me possa impedir. No dia em que Eu Me quiser sacrificar em benefício da Humanidade, ninguém Me pode- rá proteger; mesmo oferecendo-Me proteção, não a aceitaria! Porque, Meu amigo, Aquele, a Quem Céus e Terra obedecem, forçosamente é mais poderoso que todas as criaturas deste orbe, que mal Me serve para escabelo! Portanto, faze o que quiseres, que não adiantaria muito! Po- des elaborar uma lei da maneira mais perfeita: verás em breve com que habilidade os homens a conseguem contornar — e nada poderás fazer.

  4. As Leis de Deus, dadas ao povo por Moysés, são perfeitas; mas os homens conseguiram modificá-las habilidosamente em seu próprio benefício, de sorte que não se perturbam em transgredi-las, uma vez que se justificam com seus próprios estatutos.

  5. Por isto, faze o que quiseres, que não Me oporei; mas também te digo: Quanto maior o número de leis, maior o dos criminosos, para os quais, com o tempo, vossas cruzes e açoites não serão su- ficientes!”

  6. Diz Cirenius: “Tudo que dizes é justo e verdadeiro, mas, a fim de orientar-me, pergunto: quais os meios aplicáveis à teimosia das cria- turas que, iguais a esses nazarenos, não acreditam em Deus ou numa revelação do Alto, agindo contrariamente aos Mandamentos Divinos?! Deverão viver sem as severas leis do mundo, para que possam usufruir uma vida voluptuosa, agindo entre si e com seu próximo de maneira mais brutal que os animais selvagens?! Sou de opinião que tais bestas

humanas só poderão retornar à ordem e à compreensão de Deus através de leis vigorosas!”

  1. Digo Eu: “Não resta dúvida; pois não existe outro caminho pos- sível e imaginável que não seja o imperativo das leis mundanas! Entre- tanto, depende muito de seu caráter.

  2. Para este fim, é necessário um conhecimento profundo da natu- reza humana, considerando a verdadeira razão que levou a Humanida- de à perversão; do contrário, o legislador assemelha-se ao médico que tenciona curar todas as doenças com apenas umremédio. Não observa ele que as diversas enfermidades têm suas diferentes causas. Tal médico talvez consiga curar um ou outro doente, para o qual seu remédio foi adequado. Centenas de outros, entretanto, cujo mal é de origem diver- sa, não somente deixam de melhorar, mas pioram ou talvez até morram!

  3. Se, portanto, torna-se difícil curar o corpo visível e pal- pável, quanto mais o não será determinar o verdadeiro remédio para uma alma!

  4. A lei é um remédio quando acompanhada por um ensinamen- to justo que lhe explique o motivo; mas considera que:

  5. Ora defrontas com uma alma enraivecida; ora, com outra cheia de pavor; talvez, ainda, com uma terceira, intrigante ou invejosa, ava- renta ou simuladora. Mais além, deparas com uma criatura perspicaz, ao lado de uma ociosa. Numa casa habitam quatro almas humildes, noutra, cinco renitentes — e assim, entre milhares encontras as mais diversas tendências, fraquezas e paixões.

  6. Agora pretendes dar a estes múltiplos caracteres uma lei em comum; mas qual o resultado? O medroso se desesperará, o enraivecido pensará em vingança, o ocioso continuará o mesmo e o pesquisador perderá toda coragem, desistindo de seu trabalho; o avarento se tornará mais mesquinho, o orgulhoso se juntará ao raivoso e o intelectual fará um pacto com ambos!

  7. Considera estas e mais outras consequências desastrosas que surgiriam da aplicação de uma lei tola, e reconhecerás que, se bem que seja necessária tal ordem, imprescindível se torna um minucioso exame para verificar se condiz com todos os caracteres!

  1. Assim não sendo, uma lei jamais deverá ser sancionada, por- quanto só prejudicará.

  2. Deus, o Sábio Criador, só deu Dez Mandamentos, adequados para todos os males psíquicos e aplicáveis por todas as criaturas. Assim, como pode um imperador pagão instituir cem leis de uma só vez, para a salvação da Humanidade?”

27.PREJUÍZOPARAAALMAATRAVÉSDELEIS HUMANAS

  1. (O Senhor): “Digo-te: Enquanto o povo judaico se manteve sob a direção dos juízes, que consideravam unicamente as Leis Divinas, a vida que levou era justa, salvo pequenas exceções. Quando, porém, teve oportunidade de observar a pompa dos reis pagãos, seus suntuosos palácios e como seus povos diante deles se curvavam no pó, também exigiu um rei dado por Deus, pois se julgava o povo mais poderoso do mundo. Deus, entretanto, não quis atendê-lo em seu desejo tolo, ad- vertindo-lhe e mostrando as consequências nocivas que deveria esperar sob o domínio dum soberano. Mas os profetas incumbidos desta tarefa pregavam a ouvidos surdos: o povo queria, a todo preço, um monarca.

  2. E Deus lhe deu na pessoa de Saul o primeiro rei, ungido pelo Seu velho e fiel servo Samuel. Em breve decretou Saul leis mui severas, que provocaram a queda dos judeus até à atual perversão.

  3. A quem cabe a culpa disto? Vê, às leis inapropriadas, feitas pelo homem que não conhece sua própria natureza e, muito menos, a de seu próximo, aniquilando-lhe a vida da alma.

  4. Reflete um pouco no efeito que um palrador conseguisse em querer consertar um mecanismo artisticamente trabalhado, que fun- cionou por certo tempo, correspondendo à idealização do seu inventor, mas um belo dia viesse a parar! Qual seria a consequência de suas mãos desajeitadas? O prejuízo não seria maior do que o benefício, pois que ele nada entendia do mecanismo? Talvez até conseguisse estragá-lo por completo, de sorte que nem o próprio idealizador o pudesse reparar!

  5. Se tal coisa pode acontecer com um simples mecanismo, cujas partes internas são visíveis e palpáveis, quanto mais não se dará com a

criatura — que em todas as suas partículas é o mecanismo vital mais artístico e sabiamente construído, de cuja função total só Deus possui o máximo conhecimento e compreensão — se um legislador ignorante e orgulhoso tenta melhorá-la através de leis contraproducentes e inúteis, sem possuir o mais leve vislumbre dum conhecimento que lhe dê, ape- nas, a noção de fazer crescer um cabelo?!

  1. Por isto, Meu querido amigo Cirenius, desiste das cem mencio- nadas leis; pois não conseguirias melhorar uma pessoa sequer! Aplica as Leis Divinas, que conseguirás fazer, das máquinas humanas, criaturas verdadeiras.

  2. Uma vez isto conseguido, expõe-lhes as necessidades do Estado, e elas, com a verdadeira compreensão, farão mais do que escravas de leis severas.

  3. Digo-te: somente aquilo que o homem fizer de livre vontade, dentro de uma compreensão bem formada, é certo e terá um ou outro benefício; enquanto todo trabalho e ato forçados não valem um ceitil. Pois, neste caso, somente tomarão parte ira e vingança contra o legisla- dor, que jamais abençoarão as obras.

  4. Se tu, caro Cirenius, refletires um pouco sobre Minhas Palavras, confessarás que falo unicamente a verdade!”

  5. Diz Cirenius: “Divino e nobilíssimo amigo, não é preciso; compreendo tudo e farei o que disseste. Sancionarei novamente a lei mosaica e saberei levar o povo a agir dentro dela! Se fosse de Tua Von- tade, faria o mesmo na Grécia, com Teu Auxílio! Para isto, também não me faltariam motivos políticos, pois é sabido que existem constantes divergências entre judeus e gregos em virtude da crença diversa. Dão-se sérios atritos em consequência disto!

  6. Se eu, entretanto, der aos gregos a Lei Divina como obriga- tória, sancionando-a, estes atritos terminarão. Senhor e Mestre, farei bem, agindo assim? Em caso afirmativo, peço-Te que me digas, através de Tua Imensa Sabedoria, como agir para conseguir êxito completo!”

28.ALIBERDADEDO ESPÍRITO

  1. Digo Eu: “Amigo, tua vontade é boa, mas tua carne é fraca. Tua boa intenção terá efeito no decorrer de um século e poderás fazer mui- tos benefícios para teu povo — mas resguarda-te, em assuntos espiri- tuais, do imperativo romano, que prejudica em vez de beneficiar. Todo imperativo é uma obrigação, não admitindo a liberdade, único campo fértil no qual a semente da Vida germina e frutifica!

  2. Se alimentares um pássaro recém-nascido a fim de que em breve possa levantar voo, mas, ao mesmo tempo, lhe cortares as asas, dize-Me: qual o benefício do alimento, por melhor que seja? Ele vegetará, sem poder fazer uso de suas asas, enquanto as cortares.

  3. O mesmo acontece com o espírito do homem, se o imperativo da lei lhe corta as asas do conhecimento livre! O espírito sem liberdade de ação já é morto, porquanto lhe falta o que constitui sua vida intrínseca.

  4. O prejuízo será muito menor se deres centenas de leis para a vida da criatura, compelindo-a a uma obrigação, do que se sancionares uma Lei Divina.

  5. O que é do espírito precisa se manter dentro da liberdade, deter- minando à própria criatura a sua ação e, com isto, o possível julgamen- to. Só assim o espírito alcançará a perfeição na vida.

  6. O livre conhecimento do bem e da verdade é a luz da vida do espírito, donde este determina as leis que com ele condizem. Tais leis são livres e eternamente aplicáveis para uma vida independente. A von- tade do espírito dentro do conhecimento da verdade é a lei espontânea, e a eterna necessidade de agir dentro desta vontade representa a eterna sanção, pela qual espírito nenhum poderá agir doutra maneira.

  7. Vê, eis também a Ordem Divina, que determina a Si Mesma, porquanto Deus não tem legislador acima de Si.

  8. A Libérrima Vontade de Deus, portanto, determina dentro de Si a Lei, de acordo com os perfeitos Conhecimentos Eternos, sancionan- do-A pela própria necessidade. Eis a causa de todas as coisas e sua con- sistência imprescindível, enquanto esta for necessária para a formação e fixação e, finalmente, completa independência do espírito.

  1. O espírito do homem, porém, deve se tornar tão perfeito, em si e por si, como o Espírito de Deus; do contrário, seria a morte de sua individualidade.

  2. A fim de que o espírito do homem possa isto conseguir, é pre- ciso que tenha oportunidades dentro do tempo, assim como o Espírito de Deus Se formou, de eternidades, por Si Mesmo!

  3. Vê, teria o Poder necessário dentro de Mim para obrigar todas as criaturas a agirem estritamente de acordo com qualquer lei, de sorte que não pudessem fugir desta coação. Mas, neste caso, o homem deixa- ria de ser homem, igualando-se a um irracional. Executaria seu trabalho numa precisão única — mas este trabalho seria idêntico ao das abelhas.

  4. Caso tivesses o ensejo de querer educar seres irracionais para algo de mais elevado, dentro da tua compreensão, terias tão pouco êxito como aquele que quisesse ensinar as abelhas a construírem suas casas de maneira mais apropriada.

  5. Por isto, não deves considerar a inclinação humana para o pe- cado tão vil e criminosa; pois, sem a capacidade de poder agir contra as leis, o homem seria um animal!

  6. Digo-te: o pecado dá ao homem o testemunho de ser ele ho- mem; pois, do contrário, seria um irracional!”

29.BÊNÇÃODAEVOLUÇÃO INDEPENDENTE

  1. (O Senhor): “É bom e justo castigar os pecadores, quando se desviaram completamente daquela ordem que Deus Mesmo estabele- ceu para a obtenção certa e rápida da bem-aventurança; mas ninguém deve ser impedido, através de uma lei férrea, da possibilidade de come- ter um pecado. Em verdade te digo: Prefiro um pecador que se peniten- cia do que noventa e nove justos na medida da lei, jamais necessitando de penitência. O pecador regenerado é um homem perfeito, enquanto os outros o são apenas em parte!

  2. Isto não quer dizer que um pecador renitente seja mais agradável a Meus Olhos do que um justo, porquanto a permanência no vício o iguala ao animal que leva uma vida imunda dentro de seus próprios ins-

tintos. Trata-se de um viciado que reconhece em si o mal por ter agido contra a lei, começando a se modificar em uma criatura que passou por todas as vicissitudes.

  1. Tal espírito terá capacidade para grandes realizações no Meu Reino, enquanto o outro, que nunca se desviou um palmo da lei de pa- vor da mesma, tornou-se uma máquina, reduzindo sua própria vontade tanto física como espiritualmente.

  2. Toma duma pedra e joga-a para o ar! De acordo com a lei exis- tente tanto nela como na Terra, cairá em breve. Deve a pedra ser louvada por ter obedecido estritamente à lei? Podes conseguir muita coisa com uma pedra quando se tratar de formar uma base sólida; agora, propor- ciona-lhe uma atividade livre, que ela jamais abandonará sua inércia!

  3. Por isto, não deves querer fazer pedras dos homens através de leis imperativas, mas educá-los dentro de sua liberdade — e terás agido plenamente dentro da Ordem Divina.

  4. Vê, se as criaturas de destaque não fossem tão ociosas — com raras exceções — em pouco tempo verificariam que o homem, conse- guindo um certo grau de educação, jamais se conformará com a mono- tonia animal. Já não usará mais palha e barro para a construção de seu casebre, mas talhará as pedras e fará tijolos, construindo uma mansão com um muro cerrado e munido de torres, dentro das quais poderá vislumbrar ao longe os inimigos.

  5. Assim, mil pessoas de certa cultura construirão mil casas, uma diferente da outra, tanto na forma quanto na decoração interna; em compensação, jamais verás uma diferença nos ninhos dos pássaros e nos leitos dos animais! Observa o ninho da andorinha, do pardal, analisa o tecer da aranha, a célula da abelha e outros tantos produtos e obras dos animais — e não verás uma tendência para melhor ou pior! Vê, no entanto, as construções do homem: que variabilidade quase infinita não descobrirás ali! Entretanto, são sempre as mesmas criaturas que conseguem isto com muito esforço!

  6. Disto se deduzirá com facilidade que Deus, dando ao homem um espírito semelhante ao Seu, não o criou para que se animalizasse, mas para alcançar a Sua completa e livre semelhança!”

30. EVOLUÇÃOE LEI

  1. (O Senhor): “Se o homem, portanto, foi criado por Deus para esta tarefa máxima — sem distinção de sexo, cor e posição social — ja- mais seu espírito poderá ser sujeito a uma lei categórica. Toda lei deve ser dada como um dever, e o castigo justo só deve ser aplicado em oponentes maldosos, considerando sempre a melhoria da criatura, de tal forma que a punição não seja arbitrária, mas possa ser considera- da como consequência inevitável da lei não aplicada. Assim, o espírito do homem chegará a conjeturar independentemente, aceitando a lei e agindo dentro dela. Uma punição arbitrária sempre exaspera e revolta a alma, tornando-a diabólica; seu desejo de vingança não se apagará até que consiga este intuito, aqui ou no Além, o que lhe é permitido, por- quanto nunca poderia melhorar no inferno do próprio coração.

  2. O legislador e punidor jamais deverá esquecer que o espírito do homem, bom ou mau, é eterno! Enquanto vivo, podes te defen- der e afugentá-lo, se te persegue; uma vez fora do corpo, capaz de se aproximar de ti de mil diversas maneiras para te prejudicar a cada passo, sem que o possas ver e perceber — dize-Me: com que armas o enfrentarás?

  3. Agora te digo: tua grande desdita, que, sem Minha Ajuda, teria te alquebrado, deves exclusivamente àqueles espíritos que se tornaram teus inimigos imperdoáveis em virtude de manteres tão severamente as leis romanas. Aceita este Meu Ensinamento e te tornarás um bom tra- balhador na Vinha de Deus, pois não te faltam poder, meios e uma boa vontade equilibrada. Acabas de receber aquilo que te faltava; aplica-o fielmente, e a coroa de frutos benditos será o teu prêmio!”

  4. Diz Cirenius, comovido ante a Sabedoria prática do Meu En- sinamento: “Ó Tu, meu santíssimo, primeiro e maior amigo, Mestre e Deus do meu coração! Agora estou bem a par de tudo e muitos fatos de minha vida surgem diante de meus olhos; reconheço que eu mesmo, apesar de toda a boa vontade, pequei muito mais contra a Ordem Divi- na do que aqueles que por mim foram julgados num excesso de justiça. Como livrar-me destes meus grandes pecados, ó Senhor?”

  1. Digo Eu: “Amigo, acalma-te! Para Deus tudo é possível, e Eu já remediei tudo — do contrário, não estarias a Meu lado!”

31.JAIROFALASOBREOSEFEITOSDOS MILAGRES

  1. Diz, em seguida, Jairo: “É verdade, ó poderoso Cirenius, tens plena razão em assegurares que estás bem informado; pois todos nós reconhecemos a verdade imutável, a razão das coisas e como o homem deveria agir. Mas que fazer? A Humanidade é completamente viciada, não mais entende uma doutrina livre e dócil, e seria — falando seria- mente — perder tempo o querer melhorá-la! Portanto, por um meio suave nada se conseguirá, pelo menos com os judeus!

  2. Ensinar o povo através de milagres trará dois prejuízos: primei- ro, que o homem levado a crer através deles torna-se dependente e to- lhido. Acredita, não por livre convicção, e sim por medo dum possível castigo, agindo dentro deste complexo. Se, no entanto, alguém conse- guir persuadi-lo de que tal milagre não é possível, ou talvez seja uma fraude — o outro nem mais cogita do Verbo, nem da fé! Segundo: o milagre, sendo relatado a posteriores gerações, perde seu efeito e passa a ser um conto de fadas.

  3. Se fosse possível dar ao milagre efeito permanente, ou se os dou- trinadores possuíssem este dom, em pouco a Humanidade o classifi- caria como aparição natural. Se fosse efetuado constantemente pelos doutrinadores, tornar-se-ia algo corriqueiro como os magos, os quais, contudo, não posso imitar.

  4. Não é milagre tudo que nos rodeia? O que vemos, ouvimos, sen- timos e apreciamos — significa milagre! Mas como é fato permanente, dentro duma ordem preestabelecida, perdeu o cunho miraculoso, não prendendo a atenção da criatura. Somente os naturalistas se ocupam cientificamente com isto. Esforçam-se até em ouvir, se possível, o capim crescer. Embora nada disto consigam, dão a entender que o sabem. Mas como não conseguem, não obstante toda a sua sapiência, fazer nascer um pé de capim, procuram aprender certas magias, enganando os cegos e fazendo rir os sabidos.

  1. Portanto, está confirmado que os milagres não melhoram a Hu- manidade: despertam na maioria a curiosidade, não conseguindo soltar as algemas do coração, não obstante todo pavor a que é submetida a alma — fator imprescindível para sua libertação — e a criatura con- tinua a mesma, perguntando ingenuamente: ‘Como é possível a este homem milagroso conseguir tal coisa?’ Os mais tolos, no entanto, só veem nisto a obra dos demônios.

  2. Assim sendo, julgo razoável perguntar: Senhor, que fazer como doutrinador? O milagre prejudica, a lei severa também! E, para o en- sinamento livre pela Sabedoria Divina, poucos se prestam! Como nos livrarmos deste dilema? Como navegar entre a Szylla e a Charibdis, sem ser-se tragado por uma ou outra?”

32.TENDÊNCIASBÁSICASDOSER DIVINO

  1. Digo Eu: “Meu amigo, julgaste bem; no entanto, esqueceste que para Deus muita coisa é possível, embora para as criaturas seja inacredi- tável. Observa Meus discípulos: poucos dentre eles possuem instrução. Eu os despertei primeiramente pela Palavra, atraindo-os a Mim, e em seguida os fiz sentir o mencionado poder do Verbo Divino. Um milagre efetuado após a palavra pura não mais é um julgamento, e sim uma confirmação daquela.

  2. Não quero, no entanto, dar provas do poder do milagre, mas da luz da palavra, e afirmo: Quem viver inteiramente de acordo com o Meu Verbo sentirá a convicção viva de que Minhas Palavras não são humanas, mas Divinas!

  3. Quem, em verdade, não receber em seu coração a prova ora pro- nunciada não obterá benefício com provas materiais! Minhas Palavras são Luz, Verdade e Vida!

  4. A pessoa que ouve Meu Verbo, aceita-O e vive de acordo com ele, aceitou-Me dentro de seu coração. E quem Me recebe, tê-lo-á feito com Aquele que Me enviou ao mundo e, no entanto, está integrado Comigo! O que Eu quero, também Ele o quer! Ele não sendo Outro que Eu, nem Eu Outro que Ele e até mesmo o envoltório de nós Am-

bos! A criatura, porém, que igual a Mim, acolhe o Amor e a Sabedoria, é identificada Comigo e com Aquele que Me enviou a este mundo para Salvação e Bem-aventurança de todos que acreditarem no Filho do ho- mem! Compreendeis isto?”

  1. Respondem alguns: “Sim, Senhor!” Outros, porém, dizem: “Se- nhor, eis um ensinamento difícil, que não compreendemos. Como é possível que Tu e o Teu Verbo sejais uma só coisa?”

  2. Digo Eu: “Se não compreenderdes isto, embora vos ilumine como a luz do meio-dia, como ireis assimilar coisas mais grandiosas? Não entendendo o que seja do mundo, como percebereis aquilo que é celestial? — O que e Quem é o Pai? Ouvi-Me: O Pai é o Amor Eterno em Deus! — O que e Quem é o Filho? O Filho é aquilo que emana da chama do Amor — a Luz, como sendo a Sabedoria em Deus! Assim como o Amor e a Sabedoria estão unidos, Pai e Filho são Unos!

  3. Acaso existe algum de vós que não possua certo grau de amor e um idêntico de inteligência? É ele, com isto, um duplo ser? Não é suficiente uma lâmpada com uma forte chama, semelhante ao fogo, para iluminar um quarto escuro? Ou seria necessário um incêndio em todo o quarto? A luz, por acaso, não emana da chama? Assim sendo, é ela outra coisa do que a chama iluminadora? Ó cegos que sois! Coisas tão terrenas não podeis compreender, que será com a assimilação de assuntos celestes?

  4. Quem, por isto, aborrecer-se Comigo, vá para casa, fazendo e crendo o que lhe parecer justo! Pois no Além cada um viverá de acordo com sua fé, e as ações que praticou através do seu amor serão seus juízes!

  5. E isto porque jamais alguém será julgado por Mim; o próprio amor

de cada criatura será seu juiz — de acordo com que acabo de vos falar!”

  1. Após esta explicação, os que não Me haviam compreendido aproximam-se, perguntando se podiam ficar Comigo; já Me entendiam melhor e se esforçariam ainda mais neste intuito!

  2. E Eu digo: “Dei-vos unicamente o conselho: seria melhor, para vossa salvação, que fôsseis embora do que vos aborrecêsseis Comigo; ja- mais tive intenção de vos afastar de Mim. Portanto, ficai, se sois de bons sentimentos!” Satisfeitos com Minhas Palavras, eles se juntam aos outros.

33.CURADAFAMÍLIADEUMVELHO JUDEU

  1. Nisto um velho judeu da zona de Nazareth penetra no quarto, perguntando todo aflito por Mim. Os discípulos Me apontam e ele cai de joelhos, chorando:

  2. “Querido Mestre, filho do meu velho amigo José! Ouvi do teu po- der milagroso de curar e venho, num grande desespero, pedir-te socorro.

  3. Vê, já passei dos noventa anos e me sinto muito alquebrado; tenho filhos e netos, que sempre me trataram com todo o amor e dedi- cação. Acontece, porém, que uma moléstia desconhecida e maligna os atacou a todos e eu, como ancião, sou o único de pé, sem poder agir. Vizinho nenhum tem coragem de vir à minha casa, tanto que não sei mais o que fazer! Orei a Deus, o Senhor, que me ajudasse — mesmo pela morte, se tal for de Sua Vontade!

  4. Enquanto me encontrava assim orando, eis que apareceu um homem na minha janela, dizendo: ‘Por que duvidas, se o socorro está tão próximo?! Vai à casa de José! Lá se encontra Jesus, Ele somente quer e pode te ajudar!’ Em seguida me animei, entregando todos os meus doentes a Deus, o Senhor, e vim até aqui. Como tive a felicidade de te encontrar, querido e bondoso Salvador, peço-te, de coração, que venhas e socorras os dezessete enfermos, que muito estão sofrendo!”

  5. Digo Eu: “Embora não mais tivesse intenção de fazer milagres nesta zona destituída de fé, ajudar-te-ei, porque a tens! Vai, e que se faça conforme acreditaste!”

  6. O ancião agradece muito comovido e se vai. Aproximando-se da casa, é ele recebido pelos filhos e netos, tão cheios de saúde como se nunca tivessem adoecido. Todos afirmam que recuperaram a saúde perfeita havia meia hora, achando-se mais fortes do que nunca. Já o tinham procurado, preocupados com sua ausência.

  7. Ouvindo isto, o velho percebeu que a cura se dera no momento em que Eu lho prometera.

  8. Perguntado onde tinha ido, diz ele: “Haviam me contado que o milagroso Jesus se achava novamente em Nazareth, e então fui a ele, pedindo que vos ajudasse — e vede, atendeu-me e disse: ‘Que se faça

conforme acreditaste!’ E recuperastes todos a saúde no mesmo instante! Dizei-me: coisa idêntica já se deu em Israel?”

  1. Dizem os curados: “Pai, se for assim, ele deve ser mais do que um curador milagroso! Talvez seja um grande profeta, maior do que Isaías, Jeremias, Ezechiel e Daniel; quem sabe é igual a Moysés, Aaron e Elias! Só estes podiam fazer tais milagres com ajuda de Jehovah, por- quanto lhes obedeciam todos os espíritos, de cima e de dentro da terra, da água e do ar!

  2. De que maneira, porém, teria o filho do carpinteiro consegui- do tal Graça Divina? Todos nós o conhecemos bastante; não faz bem três anos que trabalhou conosco em companhia de seus irmãos! Jamais vimos algo de excepcional em sua pessoa! Deve ter recebido esta Graça há pouco tempo! Foi muito devoto e correto. Trabalhava calado, falan- do unicamente o necessário. Nunca foi visto rindo. Talvez estes fossem os motivos de Jehovah lhe conceder esta Graça!”

  3. Diz o velho: “Sim, podeis estar com razão. Mas, neste caso, te- mos que ir amanhã cedo e lhe apresentar nosso louvor e agradecimento! Pois, diante dum profeta ungido pelo Espírito Divino, todos deverão se ajoelhar! Não é o profeta que fala, e sim Deus Mesmo através daquele coração e daquela boca!” Dizem todos: “Amém, eis nosso maior dever!” Com isto, entram para a ceia.

34.CENAENTREOSFARISEUSEOGENRODO VELHO

  1. Os fariseus de Nazareth, entretanto, souberam que os morado- res dessa casa se achavam tão enfermos que não haveria mais salvação. Por isto, se dirigiram para lá a fim de combinar o enterro e o dízimo da herança. Após a morte não mais lhes caberia este direito, porquanto os doentes teriam falecido sem ajuda deles e, neste caso, o Estado en- traria de posse dos bens. Chegando lá à noite, no momento em que os curados se iam recolher, os gananciosos “despachantes” de almas sofrem grande decepção quando veem todos com boa saúde.

  2. O primeiro fariseu, retendo a respiração como medida preventi- va, entra e diz: “Mas que é isto? Sois vivos? Julgávamos que, no mínimo,

a maior parte de vossa família tivesse morrido, tanto que vimos para encomendar vossas almas e enterrar-vos, de acordo com o hábito de nossos patriarcas! Quem vos curou? Borus, certo que não! Sabemos que ele não atendeu vossa chamada, naturalmente por medo do contágio da moléstia. Quem, portanto, foi vosso médico?”

  1. Diz o genro do velho, um homem vigoroso no trabalho e no falar: “Por que indagais? Não nos ajudastes, por isto nada vos devemos! Não viestes aqui para nos socorrer, mas sim pelo dízimo da herança! Digo-vos: afastai-vos daqui! Pois, se não quereis, não podeis e não vos esforçais por socorrer os que estão em perigo, dispensamos vossa ajuda! Sois piores que os vermes perigosos da terra, que existem exclusivamen- te para comer, destruindo todos os bons frutos. Ide, ide! Do contrário, vos ajudaremos nisto!”

  2. Diz um velho fariseu: “Pois bem, já vamos; mesmo assim, podeis nos contar quem vos curou! Diariamente fizemos preces, durante sete horas, e desejávamos saber se isto vos auxiliou tão milagrosamente! Pois que por meios naturais nada era possível fazer!”

  3. Diz o genro: “Afastai-vos, mentirosos! Vossas possíveis preces certamente pediram pela nossa morte; pois não viestes aqui para nos cumprimentar como restabelecidos, mas para vos assegurar do dízimo! Miseráveis, bem que vos conheço e as vossas preces! Ide embora, que não mereceis pronunciar o nome daquele que nos curou!”

  4. Insiste o velho: “Pois bem, seja lá como for, não podemos nos modificar! Mas aqui deu-se um milagre, que poderia alterar nossa ma- neira de pensar e agir! Por isto, relatai-nos o fato!”

  5. Diz o genro, irritado: “Nada neste mundo poderá vos modificar, nem Deus Mesmo! Vosso deus é o dinheiro, servindo-lhe de coração, usando a vestimenta de Moysés e Aaron unicamente para salvar as apa- rências, a fim de que possais mais facilmente atacar as manadas de cor- deiros, estraçalhando-as em seguida!

  6. Jehovah, no entanto, vos conhece e vos dará a paga merecida! Deus houve por bem despertar Jesus, filho do carpinteiro José, como o fez com Moysés. E este Jesus, que nos curou somente pela palavra, também vos poderá esclarecer sobre vosso mérito perante Deus. Ele

é compenetrado do Espírito Divino — vós, porém, da influência de Beelzebub! Por isto, convido-vos pela última vez a deixardes esta casa e nunca mais voltardes — do contrário, sofrereis as consequências!”

  1. Os fariseus se afastam, conjeturando coisas escabrosas sobre Je- sus, que os privara dum lucro esperado. Enquanto assim discutem, ou- vem de repente um forte estrondo atrás de si, que os faz voltar à cidade.

35.OSFARISEUS FAZEMALEITURADOSALMO37.SÁBIOCONSELHODE ROBAN

  1. Chegando à casa, procuram os salmos de David e, abrindo o livro a esmo, deparam com o 37° Salmo, e o mais velho começa a ler:

  2. “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja de que obrem a iniquidade. Porque cedo serão ceifados como erva e murcharão como verdura. Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na Terra e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Se- nhor, que te concederá os desejos do teu coração. Entrega teu caminho ao Senhor; confia Nele, e Ele te atenderá. Fará sobressair tua justiça como a luz; e o teu juízo, como o meio-dia.

  3. Descansa no Senhor e espera Nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho em virtude de seus astutos inten- tos. Deixa a ira e abandona o furor; não te indignes por fazer somente o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados da Terra, enquanto aqueles que esperam no Senhor a herdarão.

  4. Pois, dentro em pouco, o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar — e não aparecerá. Mas os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância da paz. O ímpio maquina contra o justo e contra ele range os dentes. O Senhor Se rirá dele, pois vê que vem chegando o Seu dia. Os ímpios puxaram da espada e entesaram o arco, para derribarem o pobre e necessitado, e para matarem os de reta palavra. Sua espada, porém, entrar-lhes-á no coração e seus arcos hão de se quebrar.

  5. Vale mais o pouco que tem o justo do que as riquezas de muitos ímpios. Os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor susterá os justos. O Senhor conhece os dias dos retos, e sua herança permanecerá

para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão. Mas os ímpios perecerão e os inimigos do Senhor serão como a gordura dos cordeiros; hão de desaparecer e em fumo se desfarão. O ímpio toma emprestado e não paga; mas o justo se compa- dece e dá!”

  1. Depois deste versículo, um fariseu se levanta e diz ao velho lei- tor: “Que tolices estás lendo? Não percebes que as maldades se referem a nós, enquanto que o filho do carpinteiro faz o bem? Eis um testemu- nho condenável contra nós mesmos — e fazes esta leitura como se fosse um louvor do Pontífice de Jerusalém a nós dirigido!”

  2. Diz o ancião: “Amigo, que mal há nisto, se estes versículos nos esclarecem um pouco sobre o que se refere a nós próprios?! É preferível fazer isto agora do que sermos, em breve, descobertos perante o mun- do como embusteiros do povo! Depende, finalmente, de Deus quanto tempo continuaremos ilesos neste nosso modo de proceder; portanto, continuarei a leitura deste salmo extraordinário!”

  3. Exclamam vários: “Tens razão, continua!” E o ancião prossegue: “Porque aqueles que Ele abençoa herdarão a Terra, e os que forem por Ele amaldiçoados serão dela desarraigados!”

  4. Interrompe o fariseu, perguntando: “Quem são os abençoados, e quem os amaldiçoados?”

  5. Responde o ancião: “É evidente não sermos nós os primeiros, em virtude da crescente perseguição dos romanos! Pois, se fôssemos os abençoados, Deus não nos teria castigado com tal praga! O resto é fácil de se deduzir! Agora, continuarei a leitura:

  6. Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, que deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o susterá com Sua Mão. Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem sua semente a mendigar o pão. Compadece-se sempre e empresta, e a semente é abençoada.

  7. Aparta-te do mal e faze o bem, que ficarás para sempre. Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os Seus santos; são preservados por todos os tempos; mas a semente dos ímpios será desarraigada. Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para a Eternidade.

  1. Pela boca do justo, fala a sabedoria; sua língua, do juízo. A Lei de seu Deus está em seu coração; seus passos não resvalarão. O ímpio espreita o justo e procura matá-lo. O Senhor não o deixará em tais mãos, nem o condenará quando for julgado.

  2. Espera no Senhor e guarda Seu Caminho, e Ele te exalta- rá para herdares a Terra; vê-lo-ás quando os ímpios dela forem de- sarraigados.

  3. Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal. Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não o pude encontrar.

  4. Nota o homem sincero e considera o reto, porque o fim deles é a paz. Quanto aos transgressores, serão destruídos, assim como as reli- giões dos ímpios. Mas a salvação dos justos vem do Senhor; Ele é a sua fortaleza na angústia. E o Senhor os ajudará e os livrará. Ele Mesmo os há de salvar e ajudar, porquanto confiam Nele!”

  5. Com isto o ancião termina o salmo; o fariseu, no entanto, gri- ta-lhe, enraivecido: “Idiota, não percebes que neste salmo somos apon- tados como ímpios, e aqueles que aderem a Jesus, como justos? Não percebes que nós seremos desarraigados do solo pátrio, enquanto eles ficarão no país? Acaso não estamos conjeturando matá-lo, o justo, en- quanto Deus o protege? Que salmo apropriado para nós!”

  6. Diz o ancião: “Não fui eu quem o escreveu! Consta no Livro! E se continuarmos como somos, deveremos suportá-lo! Compreendes isto e a Onipotência Divina?!”

  7. Diz um outro: “Entendo-o melhor do que vós todos! Nosso amigo Roban tevede ler este salmo; foi a ação do poder incompreen- sível do filho do carpinteiro. Pois, se foi capaz de curar a família toda que acabamos de procurar, a fim de nos apoderarmos de sua herança, também lhe será fácil nos obrigar a ler somente aqueles salmos que dão testemunho contra nós mesmos, como o fizeram com os inimi- gos de David.

  8. Além disso, consta que o velho José descende deste rei, de sorte que se cognomina Jesus, por ser também Maria, sua mãe, da mesma estirpe, um ‘Filho de David’. Isto certamente levou José, que sempre

foi esperto, a que fizesse Jesus aprender toda sorte de magias, para que se apresentasse diante dos romanos e gregos como um filho de Júpiter ou Apolo, o que, na certa, faria com que Roma o declarasse imperador! E se os dirigentes de Roma forem tão cegos como os da Ásia, que há muito são por ele fascinados, não levará tempo e ele dará novas leis aos romanos!”

  1. Diz um outro: “Uma missiva secreta ao imperador impe- diria isto!”

  2. Responde o primeiro: “Será difícil conseguir tal coisa, quando sabemos que ‘ele’ tem visão milagrosa, que em tudo penetra. Pois não foi ele quem nos assustou com aquele estrondo, porquanto devia ter ouvido os nossos planos?! E por que fez com que lêssemos tal salmo, que nos acusou tão seriamente? Por certo, porque soube de nossas in- tenções contra ele! Vai e experimenta fazer tal missiva secreta para o imperador — e te garanto que não serás capaz de escrever uma palavra sequer, ou talvez serás obrigado a escrever aquilo que não desejas, em virtude do seu feitiço!

  3. Além do mais, o reitor Jairo estima-o muito, porque ressusci- tou por duas vezes sua filha, protegendo-o sempre que necessário — e será difícil agirmos contra ele. Por isto, acho melhor aderirmos como seus alunos, do contrário nada de bom nos espera.”

  4. Diz o velho Roban: “Também sou desta opinião! Só há dois caminhos: um, mantermo-nos indiferentes; outro, acompanhá-lo!”

  5. Concordam todos: “Será melhor seguir o primeiro, pois neste caso não nos incompatibilizamos nem com Roma nem com Jerusa- lém.” Em seguida se acomodam em seus leitos e cada um reflete sobre o melhor caminho a seguir.

36.OVELHOROBANEMCOMPANHIADE JESUS

  1. Na manhã seguinte, Roban Me procura em casa e deseja falar-Me.

  2. Eu, no entanto, digo-lhe: “Já sei o que tencionas dizer; ignoras, porém, o que tenho a falar-te; portanto, ouve-Me!”

  3. Diz Roban: “Podes falar, que estou pronto para te ouvir!”

  1. Digo Eu: “Leste ontem o salmo 37, que vos abalou um tanto e, por isto, conjeturastes qual a atitude que deveríeis tomar para Comigo. Este é o motivo que te traz aqui.

  2. Eu, no entanto, digo nem sim, nem não! Se desejas ficar, fica; caso contrário, podes ir! Tenho adeptos de sobra! Todos os cômodos de Minha casa estão repletos! Lá fora vês várias tendas, todas elas habitadas por discípulos Meus. Ao lado deste Meu pequeno quarto, fica a sala de refeição e de trabalho; nela acomodam-se os dignitários de Roma

  1. Diz Roban: “Senhor, eu fico — e é bem possível que outros colegas meus também adiram! Pois estou percebendo que existe mais dentro de ti do que as magias dum prestidigitador! És um profeta ungi- do por Deus como jamais foi visto!

  2. Bem consta que não surgiria profeta da Galileia, mas não con- sidero isto; prefiro a ação à palavra mística da Bíblia, que ninguém entende em verdade. Além disto, não és da Galileia, nasceste em Be- thlehem; portanto, podes muito bem ser um profeta. Sinto uma gran- de atração por ti e ficarei contigo. Não possuo grande fortuna, porém a que tenho basta para nós todos vivermos durante trinta anos! Se desejas um pagamento em troca daquilo que ensinas, dar-te-ei metade de minha posse!”

  3. Digo Eu: “Pergunta a Meus discípulos o que pagam, e terás que fazer o mesmo!”

  4. Roban se dirige a vários e recebe a seguinte resposta: “Nosso Mestre jamais pediu algo de nós, embora fôssemos mantidos por Ele. Exige, unicamente, fé e amor!”

  5. Indaga Roban: “Também já sois capazes de efetuar ações mila- grosas? E se assim for, como isto é possível?”

  6. Diz Pedro: “Sendo necessário, também fazemos milagres pelo Poder Dele dentro de nós e compreendemos perfeitamente como são possíveis. Dar-se-á o mesmo contigo, caso te tornes Seu verdadeiro dis- cípulo. O amor estabelece a lei e a sabedoria a executa!”

  1. Continua indagando Roban: “Já te foi dado observar a partici- pação de Satanás nesses fatos extraordinários?”

  2. Diz Pedro: “Que imensa tolice é esta?! Como poderia isto ser admissível quando os Céus influenciam poderosamente? Eu e todos nós os vimos abertos e os anjos descerem à Terra; vimos como serviam a Ele e a nós! Como, pois, é possível a influência satânica?!

  3. Se não podes acreditá-lo, vai a Sichar e informa-te com o sumo pontífice Jonael e o comerciante Jairuth, que habita o conhecido cas- telo de Esaú! Aqueles amigos te dirão fielmente Quem é Aquele cujos discípulos somos por uma Graça imerecida! Lá até mesmo encontrarás anjos em corpos aparentes.”

  4. Ouvindo isto, Roban se acerca de Mim cheio de respeito e pergunta se tenho algo a opor a uma viagem sua a Sichar.

  5. Digo Eu: “Em absoluto! Vai e cientifica-te! Quando voltares, informarás teus irmãos e colegas sobre aquilo que viste e ouviste! Isto feito, poderás voltar para Me seguir, pois será fácil saber para onde Me terei dirigido! Se passares por Sibarah, a primeira alfândega daqui, por Kis e Caná, na Samaria, e te perguntarem em nome de quem estás via- jando — basta dizeres Meu Nome, que terás livre passagem. Mas não vistas a indumentária dum chefe de fariseus, que não irias longe. Vai à paisana, que ninguém te impedirá!”

  6. Roban, em seguida, põe-se a caminho, procurando no estran- geiro o que se encontra tão perto dele.

  7. Mas sempre haverá criaturas que julgam que no estrangeiro haja mais coisas para ver, conhecer e aprender do que no próprio país; no entanto, o Sol em toda a parte é o mesmo. Sim, poder-se-á conhe- cer outras zonas, criaturas, hábitos e idiomas diferentes, mas o coração nada ganha com isto!

  8. Aquele que vai ao estrangeiro exclusivamente para sua distração e prazer nada lucrará para a formação de sua alma. Quem, no entanto, o faz a fim de levar nova luz às criaturas terá um grande benefício! Todo profeta fará melhores negócios no estrangeiro que em sua pátria.

37.JOSA,OVELHO,AGRADECEAO SENHOR

  1. Após a partida de Roban, o velho judeu chamado Josa vem, em companhia de seus filhos e netos, agradecer-Me a graça recebi- da, pedindo ao mesmo tempo para permanecer, com os seus, este dia Comigo.

  2. E Eu lhe digo: “Faze o que for da tua vontade! Tivestes ontem que enfrentar uma luta árdua com os fariseus por Minha Causa e vos saístes bem. Por este motivo sereis livres, futuramente, desta praga! Agora procurai Meus discípulos, que vos orientarão sobre a fé e vossas ações futuras!”

  3. Pedro se levanta e os conduz ao escrivão Matheus, que lhes dá a leitura da Minha Doutrina e daquilo que até então havia sucedido.

  4. Após terem recebido o alimento espiritual, apresentam-se Cire- nius, Cornélius, Fausto e o reitor Jairo com esposa e filha, cumprimen- tando-Me mui amavelmente e agradecendo pelos sonhos maravilhosos que tiveram durante a noite. Respondendo sua atitude amável, apresen- to-lhes os recém-vindos.

  5. Cirenius se aproxima e se informa de todas as minúcias. Quan- do, porém, ouve das artimanhas dos fariseus, ele se altera, dizendo: “Senhor, isto não poderei perdoar a esses adeptos de Satanás! Fá-los-ei castigar, sob risco de perder minha vida! Em toda a Ásia não haverá hienas e raposas iguais a estas! Qual a diferença entre estes facínoras e os piores ladrões e assaltantes? Dizem-se servos de Deus e se fazem homenagear durante o dia. De noite, porém, praticam os roubos mais criminosos! Esperai, esperai, que levareis a paga de tudo!”

  6. Digo Eu ao exaltado Cirenius: “Amigo, não faças isto! Já os tratei durante a noite, e a consequência será que em breve aceitarão a Minha Doutrina. O mais velho, de nome Roban, já o fez hoje; por isto, man- dei-o como Meu adepto a Sichar, onde poderá ver e aprender muita coisa. Em dois dias estará de volta, fazendo com que seus colegas o sigam! Vê, isto é melhor do que o açoite e a cruz!”

  7. Diz Cirenius, mais calmo: “Está muito bem; mas faço questão dum interrogatório minucioso!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, mas somente à tarde! Vamos aproveitar a manhã para coisa melhor! Agora, vamos ao repasto!”

  2. Borus já tinha dado ordens para a arrumação, ao ar livre, de várias mesas — no que Meus irmãos, carpinteiros, lhe prestaram bons serviços — de sorte que íamos festejar um antessábado, isto é, um feria- do. Havia cinquenta mesas e bancos, grande quantidade de alimentos e vinho, e dava prazer observar as centenas de hóspedes em volta das mesas, entoando cânticos de louvor e saciando-se com os bons pratos. No centro havia uma espécie de tribuna, na qual uma grande mesa bem ornamentada nos esperava e nós — Eu, Cirenius, Cornélius, Fausto, Jairo e sua família, Minha Mãe e os doze apóstolos — sentamo-nos, a fim de participarmos do bom repasto.

  3. Lydia, porém, a jovem esposa de Fausto, não estava presente, pois ele a deixara em Capernaum em virtude dos seus múltiplos negó- cios. Por esta razão Minha Mãe o repreende com carinho; arrependido por tê-la deixado em casa, ele resolve buscá-la.

  4. Eu, no entanto, lhe digo: “Espera; pois Eu o querendo, ela estará aqui ao meio-dia!”

  5. Fausto Me pede que o faça e Eu lho prometo. No mesmo ins- tante aparecem dois lindos jovens ao Meu lado em vestimenta azul clara. Curvando-se até o chão, dizem: “Senhor, Teus servos aguardam humildemente Tuas Ordens!”

  6. E Eu lhes digo: “Ide e trazei Lydia para junto de nós!”

  7. Os dois desaparecem, e Cirenius pergunta, admirado: “Amigo, quem são esses jovens tão lindos? Jamais vi figuras tão sublimes!”

  8. Digo Eu: “Vê, todo senhor tem seus servos e, chamando-os, eles têm de aparecer e lhe servir. Como também sou Um Senhor, tam- bém os tenho e eles anunciam Minhas Ordens para todo o Infinito! Tu não os podes ver, mas Eu sim; onde nada supões, existem milhares aguardando Meu Aceno. Embora apresentem-se tão frágeis, têm força suficiente para destruir esta Terra, caso lhes desse esta ordem! Vede, aí já estão de volta, junto com Lydia!”

  9. A estas palavras, os que estão sentados à Minha mesa se apavo- ram, e Cirenius diz: “Como isto é possível? Não podiam se ter afastado

mais do que quinhentos passos — até Capernaum leva-se perto de duas horas — e eis que já estão de volta! Isto é incrível!”

  1. Lydia, após ser recebida carinhosamente por seu esposo, é in- terrogada por Cirenius: “Gentil Lydia, como chegaste tão rapidamente aqui? Acaso já te encontravas em caminho?”

  2. Diz ela: “Não vês os dois anjos de Deus? Foram eles que me trouxeram tão rápido como uma flecha. Nada pude vislumbrar, tal a velocidade. Mas pergunta-lhes, que saberão melhor responder!”

38.ANATUREZAHUMANAEANATUREZADIVINADO SENHOR

  1. Cirenius, dirigindo-se a eles, indaga sobre a possibilidade de tal fato. Os dois anjos, entretanto, apontam-Me respeitosamente com suas lindas mãos e falam, com voz melodiosa: “A Vontade Dele é o nosso ser, nossa força e velocidade! Por nós próprios nada podemos; Ele o queren- do, assimilamos a Sua Vontade, conseguindo tudo através da mesma. Nossa beleza, porém, que ora te ofusca, é o nosso amor para com Ele e este amor é, unicamente, Sua Vontade em nós! Se vos quiserdes tornar semelhantes a nós, aceitai Seu Verbo Vivo em vossos corações e agi de livre vontade, que tereis a força e o poder deste Verbo em vós. Ele chamando-vos para agirdes dentro de Sua Vontade, podereis conseguir todas as coisas e fareis ainda mais do que nós, pois tereis surgido pu- ramente do Seu Amor, enquanto nós, de Sua Sabedoria. Agora sabes o porquê da nossa ação. Age futuramente dentro do Seu Verbo, que farás o mesmo!”

  2. Cirenius arregala os olhos e diz: “Então, tenho razão se conside- ro Jesus Deus Único e Criador do Cosmos?”

  3. Dizem os anjos: “Certo; mas não faças alarde disto! E se no- tares algo de humano Nele, não te deves aborrecer, pois tudo aquilo que é humano não o seria se não fosse Divino de Eternidade! Se Ele, portanto, movimentar-Se de vez em quando em formas por ti conhe- cidas, fá-Lo-á na forma que corresponda à Sua Dignidade. Pois cada forma, cada pensamento, Nele teve origem antes que determinasse,

através de Sua Vontade, uma outra. Esta Terra e tudo que nela existe é somente Seu Eterno Pensamento fixado que, através do Seu Ver- bo, tornou-se verdade. Se Ele, portanto — o que Lhe seria facílimo

  1. A Vontade de Deus, todavia, não é semelhante à dos homens; é eternamente uma só e nada a fará desistir de Sua Ordem Imutável. Esta Ordem, porém, contém a máxima liberdade, tanto que Deus pode fazer o que deseja, como todos os anjos e criaturas. Isto poderás observar com facilidade contigo mesmo.

  2. Embora possuas esta livre vontade, não poderás alterar a forma intrínseca das coisas, por serem sujeitas à Ordem Divina.

  3. A parte externa da Terra é fácil de ser modificada: nivelar as montanhas, desviar os rios, secar os lagos, fazer surgir outros; poderás construir pontes por cima dos mares e transformar o deserto num solo abençoado e fértil. Tudo isto poderás alcançar; no entanto, não con- seguirás aumentar o dia e encurtar a noite, tampouco dominarás os ventos e as tempestades.

  4. Tens de suportar inverno e verão, jamais podendo modificar a forma e a constituição da criatura. Do cordeiro não farás um leão e vice-versa, e nisto podes constatar a Ordem Divina.

  5. Aqui, porém, está Aquele que elaborou esta Ordem de Eterni- dades, podendo-a desmantelar quando o quiser. Do mesmo modo que, dentro desta Ordem Imutável, que determina o teu ser e tudo que te rodeia, tu és livre no pensar, querer e agir — Deus também o é, porém, de maneira íntegra.

  6. Por isto, repito: Não te deves aborrecer em Se apresentando Ele diante de vós em Forma Humana, porquanto é Sua Própria Obra!”

39.AINFLUÊNCIADOSANJOSSOBREOS HOMENS

  1. Este ensinamento convence Cirenius de maneira plena a respei- to do Meu Ser Divino, tanto que se Me aproxima, dizendo: “Senhor, agora compreendo tudo! Tu O és!

  1. De há muito meu coração isto me dizia; no entanto, Tua For- ma e Manifestação Humanas novamente me incutiam dúvidas. Mas, agora, tenho minha fé convicta, que nada poderá abalar. Como sou feliz por ter visto Aquele que me criou e, certamente, conservar-me-á para sempre!”

  2. Digo Eu: “Meu querido amigo, esta posse será eternamente tua! Guarda-a, por enquanto, para uns poucos amigos iniciados, pois, se o comentasses em público, prejudicarias Minha Causa e os descren- tes. Além disto, não te aborreças Comigo; antes que existissem anjos e criaturas, Eu fui o Primeiro Homem e possuo o direito de sê-Lo no convívio com Meus Filhos!”

  3. Diz Cirenius: “Com tudo que farás, continuarás para mim eter- namente o Mesmo que és! Tenho, no entanto, o desejo que estes dois anjos fiquem em minha companhia até a minha morte!”

  4. Digo Eu: “Isto não é possível, pois não suportarias sua pre- sença visível e tua alma não teria benefício com isto. Invisivelmente, porém, continuarão teus protetores, como o foram desde tua infância! Como ficam o dia de hoje em nossa presença, poderás ainda pales- trar com eles.

  5. Ser-te-á possível fazê-lo até mesmo em sua ausência e ouvirás as respostas nitidamente em teu coração. E isto vale mais que um diálogo externo! Digo-te: a palavra depositada por um anjo em teu coração é mais benéfica para tua alma que mil palavras proferidas! Porque aquilo que ouves em teu coração já é tua posse; sendo que as palavras pronun- ciadas tens que pôr em ação, a fim de se tornarem uma conquista tua.

  6. Se tens o Verbo no coração e te deixas induzir ao pecado, tua consciência, que não concorda com isto, obrigar-te-á à confissão e ao arrependimento, deixando de ser pecador. Se, entretanto, a palavra se acha apenas no cérebro, para lá conduzida pela audição, e pecas, o co- ração fútil nisto te acompanha e não te obrigará nem ao conhecimento nem ao arrependimento do pecado, que permanecerá latente em tua alma, tornando-te culpado diante de Deus e dos homens!

  7. Assim, Meu amigo, é-te muito mais salutar não veres teus pro- tetores, enquanto viveres neste mundo; uma vez deixando-o, vê-los-

-ás como espírito. — E não somente estes dois, mas uma imensidade de outros!”

  1. Diz Cirenius: “Estou plenamente satisfeito e aproveitarei a opor- tunidade de hoje para palestrar com eles!”

  2. Digo Eu: “Mas como será isto? Avisaste aos fraudulentos fari- seus, em Meu Nome, querer aplicar-lhes uma boa corrigenda, e neste caso terás que desistir da companhia dos anjos?!”

  3. Diz Cirenius: “É verdade, já me havia esquecido disto! Que maçada! Que farei?”

  4. Digo Eu: “Que tal se Eu te desobrigasse de tua promessa, por- quanto já os amedrontaste tanto?”

  5. Responde Cirenius: “Senhor, se for do Teu Agrado, desistirei com prazer de minha ameaça, entregando-os a Ti e ao velho Roban, que os endireitará em poucos dias.”

  6. Digo Eu: “Oh, nada tenho contra isto! Pois, sabendo que mu- darias de ideia, Eu transferira o teu propósito para a parte da tarde. Como o dia hoje é tão radiante, iremos pescar algo para nossas refei- ções. Quem quiser poderá Me acompanhar!”

40.OAMORPARACOM DEUS

  1. Pedro e Nathanael, porém, perguntam: “Senhor, estamos sem apetrechos de pesca; que fazer? Desejas que peçamos alguns empresta- dos aos pescadores?”

  2. Digo Eu: “Não é preciso; a dificuldade consiste em falta de me- mória, pois esqueceis a cada momento que sou o Senhor, a Quem tudo é possível! Ficai, portanto, no grupo e esclarecei, durante a pesca, ao velho Josa e a sua família sobre a Força e Onipotência Divinas, também presentes no homem!” A estas palavras ambos se retiram e meditam sobre a própria cegueira, referente à pergunta tão material. O próprio Josa faz observação a respeito!

  3. Diz Nathanael: “Amigo, somos criaturas como tu e muito habi- tuadas às condições mundanas, de sorte que, de vez em quando, apre- sentamos algo de tolo; mas, no futuro, teremos mais cuidado!”

  1. Nisto Sarah se aproxima e pergunta se pode Me acompanhar.

  2. Digo Eu: “Naturalmente! Este empreendimento é feito em tua consideração! Continuas sendo Minha amada! Por que motivo não te sentaste a Meu lado na hora do desjejum em conjunto?”

  3. Diz Sarah, toda trêmula: “Senhor, não tive coragem; imagina os três grandes de Roma a Teu lado e eu, Tua pobre serva! Onde iria buscar o ânimo para tal?”

  4. Digo Eu: “Mas, Meu amor, pude observar, nitidamente, que teu desejo era ficar Comigo! A Mim não escapa o que se passa no coração de alguém, por isto te quero muito!

  5. Mas, dize-Me, Minha amada Sarah: agradam-te estes dois jo- vens? Não darás preferência a um deles? Vê, fisicamente não posso con- correr com os mesmos!”

  6. Diz Sarah: “Mas, Senhor, meu amor único e eterno, como podes sugerir tal coisa? Não trocaria um Céu repleto de anjos mais sublimes do que estes por um fio Teu de cabelo; quanto menos um destes dois pela Tua Pessoa Integral? Embora sejam maravilhosos, pergunto: Quem lhes deu tal beleza? Foste Tu! Para isto era necessário que a beleza esti- vesse dentro de Ti!

  7. Para mim, Tu és tudo em tudo e jamais Te abandonarei, mes- mo se me quisesses ofertar uma imensidade de anjos mais sublimes!”

  8. Digo Eu: “É isto mesmo! Assim é que deve ser! Quem Me ama deverá fazê-lo sobre todas as coisas, desejando que Eu também o ame! A beleza destes anjos é incontestável; no entanto, quero-te mais do que a eles, por isto deves ficar sempre Comigo! Entre muitas és verdadeira- mente Minha noiva! Compreendes isto?”

  9. Responde ela: “Senhor, de que modo me seria possível? Como poderia ser Tua noiva? Acaso poderei tornar-me aquilo que minha mãe é para meu pai? Tu és o Senhor de Céu e Terra, e eu — apenas Tua cria- tura; portanto, onde a possibilidade de uma união entre o mais ínfimo e o Altíssimo?”

  10. Respondo: “Muito fácil, pelo motivo que o por ti mencio- nado ínfimo também surgiu do Altíssimo — assim, também faz parte Deste.

  1. Eu sou a árvore da Vida e tu és o seu fruto. O fruto é aparen- temente menor e menos consistente que a árvore; mas em seu centro existe uma semente alimentada e amadurecida pelo mesmo fruto. Esta semente, por sua vez, contém árvores da mesma espécie, capazes de gerar os mesmos frutos com sementes vitais.

  2. Daí poderás concluir, com facilidade, que a diferença entre Criador e criatura, até certo ponto, não é tão imensa como calculas; pois ela é em si e por si a vontade do Criador — fundamentalmente Bom e Digno. Se esta livre vontade emanada do Criador e idêntica à Sua Forma se reconhece no seu isolamento independente de sua origem primária e age de acordo com ela, torna-se igual a Ele e é, em sua peque- nina medida, perfeitamente aquilo que é o Criador em Sua Plenitude. Enquanto esta partícula liberta da Vontade Divina não reconhece isto em si, não deixa de ser o que é, no entanto, não poderá alcançar o má- ximo destino, até que reconheça o que é realmente.

  3. A fim de facilitar o trabalho do conhecimento de si próprias, a estas partículas libertas, que se chamam ‘criaturas’, o Criador deu em todas as épocas revelações, leis, Doutrinas dos Céus e agora até desceu em Pessoa à Terra.

  4. Compreenderás, portanto, a relação que existe entre Criador e criatura e também assimilarás como tu, completamente idêntica a Mim, poderás ser Minha noiva e esposa, eternamente unida a Mim pelo teu amor! Compreendes isto que acabo de te revelar?”

41.ANATUREZADOVERDADEIRO AMOR

  1. Diz a jovem e atraente Sarah: “Sim, perfeitamente; mas neste caso todas as filhas de Eva têm o mesmo direito à Tua Pessoa?”

  2. Digo Eu: “Naturalmente, quando iguais a ti; não o sendo, pode- rão, todavia, tornar-se Minhas servas, mas nunca Minhas esposas. Pois, se David possuía muitas e era um homem como Deus o desejava, por que não deveria Eu fazer o mesmo, porquanto sou mais do que David? Digo mais: sou capaz de manter, numa felicidade máxima, tantas espo- sas como existe areia no mar e erva sobre a Terra, e nenhuma terá um

desejo sequer que não lhe seja satisfeito integralmente. Assim sendo, não poderás te sentir diminuída quando desejo dar a muitas o que te dou em abundância!”

  1. Diz Sarah: “És o Senhor, Único, o Amor e a Sabedoria em Pes- soa e tudo que fazes é sabiamente feito; mas não é minha culpa eu Te amar tão intensamente, desejando possuir-Te unicamente para mim! Perdoa isto ao meu coração, um tanto infantil!”

  2. Digo Eu: “Justamente isto está certo. Quem não Me ama cheio de ciúme, não Me procurando possuir exclusivamente, não tem o ver- dadeiro e vivo amor para Comigo! Neste caso não terá a plenitude da Vida dentro de si; pois Eu Sou a Própria Vida na criatura pelo amor de sua alma para Comigo, e este amor é o Meu Espírito na criatura.

  3. Quem, portanto, desperta o amor para Comigo, tê-lo-á feito com o espírito dado por Mim e, como este espírito sou Eu Mesmo — por- quanto não existe outro espírito vital fora de Mim — ele, o homem, terá despertado a Mim Mesmo! Com isto nasceu para a Vida Eterna e jamais morrerá, nem poderá ser destruído — ainda que pela Minha Onipotên- cia, pois tornou-se uno Comigo. De igual modo Eu também não Me posso destruir a Mim Mesmo, pois que Meu Ser Eterno jamais poderá Se tornar nulo. Não penses, por isto, que teu amor para Comigo seja tolo; ele é como deve ser! Persiste nele, que jamais verás nem sentirás a morte!”

  4. Este esclarecimento dado a Sarah fá-la inteiramente feliz, de sor- te que começa a Me abraçar e beijar com todo carinho.

  5. Sua mãe a repreende, dizendo: “Minha filha, isto não fica bem! Que falta de educação!”

  6. Diz ela: “Qual o quê! Também não fica bem quando se morre; mas, quando vem o Senhor, desperta o defunto e o tira da tumba, o que não deixa de ser algo de extraordinário, qual é a opinião alheia? Minha mãe, a única coisa que fica bem perante o mundo é o nosso amor a Jesus! — Tenho razão, meu querido Jesus?”

  7. Digo Eu: “Inteiramente! Quem no mundo se avexa de Me amar abertamente, sobre tudo, levar-Me-á a fazer o mesmo e Eu Me avexarei de amá-lo perante os Céus e despertá-lo para a Vida Eterna no Dia do Juízo Final!”

42.ODIADOJUÍZO FINAL

  1. Muitos, então, indagam quando viria o Dia do Juízo Final.

  2. E Eu digo: “O dia mais próximo só virá depois de passado o anterior. Como não posso despertar alguém no dia que passou, fá-lo-ei no seguinte. Não é, pois, todo o dia que viveis no momento, o dia pre- sente? Ou poderia alguém assistir a um que não fosse presente? Vede, todos nós vivemos hoje o dia mais recente! O de ontem não mais o po- derá ser e o de amanhã ainda não chegou. Disto se conclui que, afinal, existem tantos dias recentes como os que a criatura já passou! Eu vos digo: o Dia do Juízo Final é aquele em que morrereis; portanto, só po- dereis despertar neste mesmo dia, da morte para a vida. E como todas as criaturas terão que passar por isto, não se dará no dia anterior, e sim no presente! Este dia não é determinado nem por Mim nem por um qualquer espírito angelical, porquanto todo dia vindouro se prestará para tanto. Compreendestes isto?”

  3. Os indagadores recuam um pouco perplexos, dizendo: “Real- mente, isto é tão claro como o ar e, no entanto, fizemos uma pergunta tão tola! Se costumamos falar dos dias passados, é certo que haverá os mais recentes! Que tolice nossa! Ela requer da parte Dele uma paciência infinita!”

  4. Diz Sarah, sorrindo: “Sim, o Senhor tem muita paciência para conosco! Mas, a respeito do Dia do Juízo Final e de sua vinda — já sabia desde minha infância que amanhã virá o tal dia! Não sabíeis isto?”

  5. Respondem os outros: “Fomos bem tolos em não sabê-lo e tí- nhamos verdadeiro pavor do tal Dia do Juízo Final!”

  6. Digo Eu: “Não vos apoquenteis! Sobre esta pedra, milhares de criaturas tropeçarão no futuro e muito se profetizará e escreverá para o povo ignorante, a respeito.

  7. Agora, porém, tratemos da pesca, pois já chegamos à beira-mar. Está tudo preparado, e os dois jovens, com os quais Cirenius está pales- trando, ajudar-nos-ão! Mãos à obra!”

43.OSENHOREOSSEUSNA PESCA

  1. Todos, porém, admiram-se, pois não sabiam como tinham feito o trajeto de Minha casa à beira do mar.

  2. Mas Eu lhes digo: “Como vos podeis admirar? Já não assististes a coisas semelhantes? É compreensível que Josa, seus filhos e netos se sur- preendam; mas que vós o façais não se admite, pois sabeis nitidamente que nada Me é impossível!

  3. Vede, digo ‘inadmissível’, porquanto toda admiração sobre uma Atitude Minha, extraordinária, representa uma falta de fé oculta na alma. A criatura duvida, de antemão, da possibilidade dum fato extra- ordinário; mas, se, não obstante sua dúvida, tal coisa acontece, o cético pergunta, perplexo: ‘Como isto foi possível?’ O que externa com esta pergunta? Nada mais do que o seguinte: ‘Duvidei e, no entanto, a prova é evidente! Que coisa extraordinária!’

  4. É compreensível que o leigo assim se manifeste, mas, se os Ini- ciados assim agem, provam que fazem parte dos chamados ‘leigos’! Não mais vos admireis, por isto, em presença de estranhos, quando Eu fizer algo de excepcional; do contrário, os estranhos vos classificarão como eles mesmos!”

  5. Dizem os discípulos: “Senhor, sabes que Te amamos sobre tudo e sabemos Quem és; mas, apesar disto, não podemos evitar a admiração de Teus Atos, sobretudo quando surgem inesperadamente. Vê, muitas vezes já vimos uma aurora e um crepúsculo; mas qual seria a criatura que se não sentisse mais ou menos extasiada na contemplação deste fenômeno habitual? O mesmo acontece conosco! No entanto, és mais do que milhares de auroras, e pedimos que nos desculpes esta falta.”

  6. Digo Eu: “Está bem! Mas no futuro aceitai Meu Conselho dian- te dos estranhos, para que possam reconhecer em vós os Meus verda- deiros adeptos! Agora, vamos à pesca! Acontecerão também pequenos milagres; mas agi como se nada acontecesse! Os estranhos devem desco- bri-los por si próprios e julgar se são fatos comuns ou não!”

  7. Após esta explicação necessária, os discípulos sobem rapidamen- te nos botes e começam a jogar as redes, mas a pesca é quase nula. Pedro

faz a observação de que o vento forte toca os peixes para o fundo. Um outro alega que antes do anoitecer não se conseguirá muita coisa, pois, como o Sol esteja muito forte, os peixes procuram as profundezas.

  1. Nisto, os dois jovens sobem nos botes, a fim de jogar as redes. Diz André: “Se estes não forem assistidos por um milagre, poderão tentar a pesca em alto mar durante dez anos, sem conseguir um pei- xe sequer!”

  2. Os dois, porém, fazem uma boa redada, trazendo trinta bons peixes à praia. Diz André: “Não é propriamente milagre, mas não deixa de ser coisa considerável pescar estes trinta peixes em alto mar.”

  3. Finalmente, Eu tomo um bote e Sarah, outro, e estendemos uma grande rede. Logo na primeira redada, pegamos uns quinhentos peixes de bom tamanho, de sorte que os dois jovens se veem obrigados a socorrer Sarah, que não pode aguentar o peso. Em seguida, os peixes são trazidos à praia e guardados em barris, que aí se encontram em quantidade.

  4. Os discípulos, porém, fazem mais uma tentativa, mas só conse- guem alguns pequeninos peixes. Diz Pedro: “Para hoje basta! Não vale a pena que um velho pescador igual a mim tente uma redada!” Com isto faz menção de jogar os peixinhos para dentro do mar.

  5. Eu, porém, lhe digo: “Guarda o que pescaste, pois os pequenos são muitas vezes melhores e por Mim preferidos aos grandes, cuja carne costuma ser dura. Lembra-te desta lição!

  6. Quando te dedicares à pesca humana, não te aborreças se, na rede do Evangelho, só caírem alguns peixinhos, pois que os prefiro! Tudo, porém, que é grande e importante diante do mundo é, de certa maneira, um horror para Mim! Deixemos agora a pesca e vamos para casa! Temos o suficiente para hoje e amanhã.”

  7. Em seguida recolhem-se as redes, guardando uma quantidade de peixes diversos no grande reservatório construído por José ao lado de Minha casa.

44.TRAÇOSPESSOAISDE BORUS

  1. Chegando à casa uma hora depois de meio-dia, espera-nos um bom almoço, que Borus havia mandado preparar e, por isto, não ti- nha tomado parte na pesca. É sua maior alegria preparar refeições para muitos, principalmente ao ar livre. Sua fortuna é tão grande como a de Kisjonah, pois com facilidade pode suprir, diariamente, seis a sete mil pessoas e satisfazê-las com o melhor vinho! Os motivos de sua abas- tança eram os seguintes: Primeiro, por ser filho dum grego muito rico de Athenas, que possuía terras e ilhas na Ásia; segundo, era o único herdeiro disto tudo; terceiro, como médico mais afamado da Judeia, fa- zia-se pagar muito bem pelos ricos, tratando gratuitamente dos pobres e sendo considerado o maior benfeitor do país.

  2. Além disso, era solteiro — e sentia um imenso prazer em pre- sentear enxovais à mocidade pobre. Seu bom humor, no momento, era tanto mais compreensível, porque julgava no seu íntimo que Eu fosse desposar a jovem e bonita Sarah.

  3. Assim se Me aproxima durante a refeição e pergunta, em surdi- na, quando isto iria realizar-se?!

  4. Respondo-lhe Eu: “Querido irmão e amigo! Conheço teu no- bre e bondoso coração. Sei que só te sentes feliz quando podes levar a felicidade aos outros. Até hoje não pensaste em ti mesmo e, como observaste um grande amor entre Mim e Sarah e ouviste como falamos de noiva e esposa, já antegozavas a alegria duma possível união entre nós. Estás muito errado! Vê, todas as mulheres que vivem, já viveram e ainda viverão na Terra são, quando levarem vida pura, mais ou menos, Minhas Noivas e Esposas. Esta íntima união, porém, não as impede de serem esposas de homens justos — e este fato está se dando entre Mim e Sarah. Muito bem poderá se tornar tua esposa, sendo espiritualmente Minha por toda a Eternidade!

  5. Penso o seguinte: Como auxiliaste a tantos bons rapazes, quan- do pobres, na união com boas moças, desejo também proporcionar-te esta felicidade! Justamente esta adorável Sarah será tua esposa! Defen- deste-Me após sua primeira ressurreição quando jazia, pela segunda

vez, no leito de morte; Eu a despertei, pois, para teu prêmio justo. Ela conservará sua atual aparência até aos setenta anos! Compara-a com os dois anjos que palestram com Cirenius; não é ela mais linda? Di- ze-Me, sinceramente, se já não a fitaste por várias vezes e o que teu coração sentiu!”

  1. Diz Borus, um pouco encabulado: “Senhor, é inteiramente impos- sível ocultar-se algo diante de Ti! Por isto, digo: Sarah é a única criatura que desejava para mim! Já passei dos trinta anos e ela conta apenas dezes- seis — mas meu coração não parece ter alcançado sua idade primaveril! Se se tornasse minha esposa, amá-la-ia mil vezes mais que minha vida!”

  2. Sarah tinha prestado muita atenção a esta nossa conversa. Quan- do Eu a fito e pergunto se o assunto discutido entre Mim e Borus lhe agradava, ela enrubesce e diz: “Mas é preciso que observes tudo?! Olhei a Borus uma única vez, por ser ele muito bondoso e prestativo!”

  3. Digo Eu, gracejando: “Sim, mas em teu coração já o olhaste por várias vezes, se não Me engano!”

  4. Diz Sarah, ocultando seu rosto: “Mas Senhor, és impossível! É preciso que saibas de tudo?!”

  5. Digo Eu: “Sarah, se ele te pedisse para esposa, acaso o re- jeitarias?”

  6. Diz ela, agradavelmente surpreendida com esta pergunta: “Se não o fizesse, como poderia me tornar Tua Esposa? Amar só me é possí- vel a Ti, embora deva confessar que prezo muito a Borus; parece-me o melhor homem em toda a Judeia, excluindo a Ti!”

  7. Digo Eu: “Pois bem, haverá um jeito! Pensa um pouco e obser- va Lydia, que, espiritualmente, é Minha Esposa, enquanto fisicamente pertence a Fausto! Isto não se interpõe à nossa amizade espiritual, por- tanto também continuarias a ser Minha Noiva e Esposa!”

  8. Diz Sarah, após uns instantes: “Mesmo que me fosse agradável uma união com Borus, não posso saber o que pensam meus pais! Já não me oponho a isto para Te ser agradável, mas preciso saber a opi- nião deles!”

  9. Digo Eu: “Pois bem, olha para eles, que já lhes perguntei e con- cordam Comigo. Mas Eu não te obrigarei a isto. Tens a livre vontade!”

  1. Diz ela, cada vez mais encabulada: “Senhor, sim, bem o sei, mas... eu... sim, eu... não quero!”

  2. Digo Eu: “O que não queres?”

  3. Diz Sarah: “Ora, estás me encabulando horrivelmente! Por que fui olhar o simpático Borus?”

  4. Digo Eu: “Mas ainda não Me contaste o que é que não queres! Portanto, Minha Sarah, coragem, dize-Me o que é!”

  5. Diz ela: “Mas Senhor, como podes perguntar? Sabes-lo perfeitamente! Faze as perguntas e eu responderei por sinais o que não quero!”

  6. Digo Eu: “Pois bem, ouve: Não queres que Borus adoeça de tristeza se tu lhe recusares tua mão!”

  7. Sarah se levanta, bate com sua mãozinha no Meu ombro e diz, aparentemente aborrecida: “Ora, fazes logo a pergunta... Quase que me traio!”

  8. Digo Eu: “Então, dize a verdade!”

  9. Responde ela: “Pois bem, por que dizes logo a verdade?!”

  10. Digo Eu: “Vê, Eu sabia que aprecias muito mais a Borus do que o manifestas! Mas está tudo certo! A moça deve dar pouca demons- tração dos seus sentimentos para com o outro sexo. Só quando se trata duma afeição séria pode abrir seu coração àquele que a deseja desposar

  1. Diz ela: “Mas, Senhor, nada disto eu fiz!”

  2. Digo Eu: “Bem o sei, e por isto te elogiei como modelo! Agora poderás externar a Borus os teus verdadeiros sentimentos!”

  3. Protesta ela: “Ah, agora não digo; quando for meu marido, ain- da haverá tempo!”

  4. Digo Eu: “Mas, se ele da Minha parte já o é, o que então?”

  5. Diz Sarah, agradavelmente surpreendida: “Bem, como? Bem... então... então... então deveria manifestar-me abertamente?”

  6. Digo Eu a Borus: “Ela não é adorável? Toma e cuida bem dela como se fora uma planta delicada; recebe-la do Céu como prêmio me-

recido. Deixai-vos abençoar por seus pais e depois vinde a Mim, para que o possa fazer mais uma vez!”

  1. Borus Me agradece, incapacitado de falar, de tanta emoção — e Sarah se levanta, graciosa, e diz cheia de alegria: “Senhor, faço-o uni- camente por ser a Tua Vontade; se não fosse, teria lutado contra o meu coração, mas agora agradeço-Te pelo melhor homem de toda a Judeia!”

  2. Os dois se aproximam dos pais de Sarah, que os abençoam; em seguida voltam para junto de Mim; abençoo-os, unindo-os para o matrimônio verdadeiro e válido em todos os Céus, pelo que Me agra- decem, sensibilizados.

  3. Deu-se, portanto, uma união inesperada, que poderia ser con- siderada uma das mais felizes deste mundo. Daí se conclui que aquilo que a pessoa Me oferece de coração, jamais o perderá, pois ser-lhe-á restituído cheio das mais sublimes bênçãos, e isto quando menos o es- pera. Borus andava apaixonado por Sarah e teria dado todos os tesouros em troca; no entanto, ofertou-Ma e desejou celebrar, com tudo que possuía, as Minhas Núpcias. O mesmo se deu com Sarah; Eu, então, dei-lhes aquilo que de todo coração Me tencionavam dar. — Quem agir assim, receberá o mesmo prêmio que eles!

  4. Este ensinamento serve para todos que o ouvirem ou lerem, pois é o único caminho para conseguir-se tudo de Mim. Quem Me oferece muito, no entanto, guarda algo para si, só receberá aquilo a que renunciou.

45.AVERDADEIRANATUREZADOS ANJOS

  1. Após este acontecimento notável, Cirenius se Me aproxima, di- zendo: “Senhor, abordei diversos assuntos com estes dois anjos; de tudo que disseram, nada mais aprendi do que aquilo que já ouvi pela Tua Bondade e Graça. O que me surpreendeu foi que ambos se mantinham completamente desinteressados por tudo que se passava! Falam de uma Sabedoria profunda e sua voz ultrapassa as harmonias delicadas da har- pa; seu sorriso é qual a aurora; seu hálito tem a fragrância das rosas, do jasmim e do âmbar, seus cabelos se parecem ao ouro e suas mãos, da

cor do alabastro, são tão perfeitas e delicadas, que não há iguais; em suma, poder-se-ia enlouquecer de amor diante de tanta perfeição! Mas, com todos estes predicados que emanam somente do Amor e poderiam transformar a mais dura pedra em cera — são eles tão insensíveis e in- diferentes como uma estátua de mármore! Isto me deixa tão frio como a frieza que irradiam.

  1. Manifestam nada de repelente, nem pela palavra nem pelo ges- to; nada, porém, os faz sair de sua insensibilidade. Externam-se a Teu respeito numa profunda sabedoria, mas tenho a impressão que estejam fazendo a leitura de uma carta cujo idioma não se entende.

  2. Explica-me, como isto é possível com dois seres puramente ce- lestiais? Este é o hábito dos espíritos em Teus Céus?”

  3. Digo Eu: “Em absoluto! Estes aqui se manifestam tal como de- vem; no entanto, possuem uma vontade livre e um coração cheio dum amor intenso, que te destruiria num momento, caso o externassem!

  4. A criatura humana poderá suportar a mais elevada sabedoria dos anjos; seu amor, porém, somente quando se lhes tiver tornado idêntico em seu coração.

  5. Poderás observar isto no fogo e em sua luz. Suportarás a luz que emana do fogo, mas nunca a sua chama.

  6. O Sol contém a luz mais intensa em relação a esta Terra, e o su- portas com facilidade! Mas, se no aumento da luz se intensifica o calor, já não mais suportarás a luz. Consegues, acaso, aguentar fisicamente, como o anjo, a atmosfera do Sol? Digo-te: ela destruiria num minuto a Terra toda, com tudo que nela existe, como uma gota d’água que caísse em cima de uma chapa de aço incandescente!

  7. Quem quisesse permanecer em tal luz e tal fogo deveria antes se tornar idêntico a esses elementos! Eis o motivo por que os dois anjos não podem externar seu amor para contigo! Compreendeste?”

  8. Responde Cirenius: “Mais ou menos — como outras tantas coi- sas! Pois não percebo como um amor tão intenso me poderia matar!”

  9. Digo Eu: “Pois bem, dar-te-ei um exemplo! Tens um filho e uma filha mui queridos! É difícil analisares o grau do teu grande amor para com eles. Agora imagina que tanto ela quanto ele morressem su-

bitamente e pergunta a teu coração se suportaria a dor que tal perda te causaria! Vê, já sentes uma verdadeira aflição, apenas porque mencionei esta possibilidade! O que não seria o fato real? Conhecendo teu cora- ção, afirmo que não suportarias esta dor mais de três horas e morrerias de desgosto!

  1. Que representa, porém, o amor de teus filhos comparado com o destes mensageiros celestes? Se te olhassem com carinho e permitis- sem que os acariciasses, teu amor se elevaria de tal forma que te não seria possível suportá-lo. E se eles te abandonassem mesmo aparente- mente, sentirias tal tristeza, que sucumbirias!

  2. Embora sejam de beleza rara, ela nada representa diante da- quela que manifestariam compenetrados pelo Meu Amor! Tudo que o mundo apresenta de Beleza e Amor se desfaria! Penso Me teres com- preendido?!”

46.OAMORAOPRÓXIMO,DOS MÉDICOS

  1. Diz Cirenius: “Sim, meu Senhor e meu Deus, agora compreen- do perfeitamente; sua aparente frieza não deixa de ser puro amor!

  2. Recordo-me da lenda de uma moça que era duma beleza excep- cional. Todos os homens, tanto velhos quanto moços, desafiavam-se, a fim de decidir quem a desposaria. O número de pretendentes aumen- tava dia a dia, para perdição dos que se desafiavam. Reconhecendo que não chegavam a um resultado satisfatório, concluíram: ‘Esta criatura não pertence à Terra, senão aos Céus, portanto é uma deusa! Por isto, somente oferendas elevadíssimas poderão decidir! A quem dos muitos pretendentes ela oferecer sua mão, este a possuirá para sempre!’ Logo após começaram a lhe ofertar tesouros riquíssimos, prestando-lhe ho- menagem divina. Esta idolatria chegou ao ponto de não mais adorarem aos deuses. Estes, por vingança, proporcionaram-lhe maior atrativo, porém fizeram que seu hálito se tornasse venenoso, de sorte que todo e qualquer atingido perdesse os sentidos por várias horas. Além disto, sua língua, munida dum aguilhão venenoso, podia matar quem se lhe aproximasse em demasia.

  1. Um dia, porém, apareceu um jovem de figura mui atraente e o coração da donzela começou a vibrar. Mas que fazer para poder amá-lo, sabendo quanto era irresistível? Contemplando-o, cairia ele por terra, desacordado; beijando-o, matá-lo-ia! Por isto, virou-lhe as costas e mos- trou-se indiferente, amando-o pela aparente frieza.

  2. Do mesmo modo os dois jovens amam as criaturas deste ínfimo planeta, pois sabem que elas não suportariam a chama do amor de seus corações celestes!”

  3. Digo Eu: “Sim, apenas seu hálito não é venenoso e sua língua não tem aguilhão; pelo contrário, o primeiro vivifica, enquanto sua língua abençoa a Terra.”

  4. Nisto se aproximam Borus e Sarah e ele pergunta o que deveria fazer, a fim de se mostrar grato pela imensa graça recebida!

  5. Digo Eu: “Meu amigo e irmão, onde estaria a criatura que, como tu, Me fosse mais afeiçoada desde Minha Infância?! Quando menino, eras o Meu constante companheiro e tudo fazias que Me pudesse agra- dar. Sempre que passavas uma temporada na Grécia, em companhia de teus pais, Eu era o primeiro a quem procuravas quando de volta, trazen- do-Me sempre lembranças dessas viagens. Até deixaste de te aborrecer quando quebrei com o martelo um templo de Diana feito de prata, proibindo de Me trazeres presentes tais.

  6. Quando moço e quase ninguém Me dava atenção, eras o único que continuava o mesmo. Portanto, nada mais fiz do que retribuir-te um favor que te devia há muitos anos. Por isto, não exageres! Recebeste a mais linda e, espiritualmente, a mais adiantada esposa — e Sarah, o melhor e, sob todos os pontos de vista, o mais rico e conceituado esposo. Minha Bênção jamais vos faltará e tu serás o melhor médico, não só des- ta zona, mas do mundo inteiro! Acho, portanto, que podeis viver bem!

  7. Não esqueçais, no entanto, dos verdadeiramente pobres; não aceites algo pela arte curadora, inalcançável a quem quer que seja, por parte deles, tampouco de um empregado, seja em dinheiro, trabalho, cereais ou gado!

  8. Mas dos ricos, corretores e agiotas, comerciantes e proprietá- rios deves exigir pagamento justo; pois quem tem e deseja viver, deve

de vez em quando, fazer um sacrifício por sua vida! Haverá pobres em quantidade, aos quais poderás favorecer com o dinheiro pago pela vida do rico!

  1. Um médico como tu vende a vida aos homens, o que para as criaturas humanas representa a maior dádiva. Devem, por isto, pagar bem e se dar por satisfeitas por existir nesta Terra alguém que lhes possa vender a vida.

  2. Afirmo-te: É a maior e mais pura arte — que jamais o ho- mem do mundo poderá aprender — o curar, pela palavra, pela von- tade e, de vez em quando, pelo passe, todas as doenças, entre a pior obsessão, inclusive todas as pestes e o mais leve resfriado! Purificar os leprosos, fazer com que os cegos vejam, os surdos ouçam, os coxos e entrevados caminhem — e, além disto, transmitir aos pobres de espí- rito a Boa Nova do Reino de Deus! Amigo, vai e procura no mundo inteiro um que se compare contigo! Digo-te: além de ti e de Mim, não existe outro!

  3. Em Sichar também inspirei um médico para que realizasse consideráveis curas; mas não consegue se separar inteiramente de suas ervas, portanto não pode concorrer contigo!

  4. Meus discípulos te imitarão dentro de alguns anos; mas nem todos que ora vês aqui.

  5. Minha querida Sarah também aprenderá uma arte: a de par- teira, pois diante de Deus consiste num grande mérito ajudar as partu- rientes, de sorte que ambos estais tão providos como jamais o estiveram um rei e uma rainha!

  6. Dou-te, no entanto, ainda este conselho: se um doente te pro- curar, deves perguntar-lhe sempre com gravidade: ‘Acreditas que te pos- sa ajudar em Nome de Jesus, o Salvador Celeste?’ Se ele responder, convicto: ‘Sim, creio!’, podes curá-lo. Se ele duvidar, não o cures até que isto lhe seja possível! — Agora umas palavras a ti, Jairo!”

47.UMAPROPOSTAAJAIRO.CERIMÔNIAS EXTERNAS

  1. Diz Jairo: “Senhor, estou pronto para te ouvir e aplicar Teu Conselho.”

  2. Digo Eu: “Pois bem; se o fizeres, serás feliz para todo o sempre! És chefe dos fariseus e de suas escolas em todas as zonas de Nazareth, Capernaum e Chorazim, de Caná na Galileia e muitos outros lugarejos, vilas e aldeias. Teu conceito, portanto, na Galileia é quase idêntico ao do sumo pontífice em Jerusalém. Com tudo isto não conseguiste evitar que tua filha morresse por duas vezes!

  3. Um cargo tão importante só serve para aumentar o orgulho de tal pessoa e a tendência para o bem-estar, enquanto sua capacidade de auxílio ao próximo se torna cada vez mais fraca. Pois quem não pode ou não quer socorrer aos necessitados é tão pobre quanto eles.

  4. Um ofício igual ao teu não tem valor nem mérito; que tal se o restituísses às mãos do sumo pontífice em Jerusalém e mais tarde fosses morar em companhia de teu genro, com o qual passarias melhor que no convívio com os teus colegas? Poderias esclarecer Borus, pouco a pouco, sobre a Escritura, o que lhe seria muito útil; ele, por sua vez, ensinar-te-ia algo a respeito da arte de curar. Com isto não te imponho uma obrigação, depende tudo da tua vontade! Farás bem seguindo o Meu Conselho; no entanto, não pecarás por não fazê-lo!”

  5. Diz Jairo: “Senhor, externaste meu mais sincero desejo! Já o tive há muito tempo; mas, como agora se apresenta uma oportunidade tão feliz, mandarei amanhã mesmo o pedido de minha demissão a Jeru- salém! Não faltará pretendente, pois até os há que se prontificam ao pagamento de taxas dez vezes mais elevadas ao valor de tal cargo, de sorte que os senhores do Templo se darão por satisfeitos com este meu pedido. Costumam eles até propor a desistência do cargo àqueles que o ocupam, porquanto com isto um novo aspirante teria oportunidade de enriquecer o sinédrio com mais algumas libras de prata e ouro! Tais negociatas rendem grande lucro em Jerusalém!”

  6. Digo Eu: “Oh, isto sei melhor do que tu! Lá se dá maior valor à matéria, e não ao espírito do homem! Se te apresentasses como pro-

feta, pregando qual um Moysés ou Elias, mostrar-te-iam em breve as pedras malditas, com as quais se apedrejou a maioria dos profetas; mas, se aparecesses com dez mil libras de ouro, serias recebido com todas as honrarias! Manda levar dois bois cevados ao Templo e podes estar certo que terás mais agrado que Moysés e Elias. Mas deixemos isto de parte! O tempo não está longe que dará aos templários, bem como a Jerusa- lém, a paga merecida! Tratemos, porém, de outro assunto! Que se fala de João? Encontra-se ele ainda no cárcere?”

  1. Responde Jairo: “Não me consta que fosse posto em liberdade! Mas, se for de Tua Vontade, mandarei indagar sobre isto pelo meu men- sageiro, que levará meu pedido de demissão!”

  2. Digo Eu: “Deixa isto; Herodes é uma raposa ladina e poderia causar aborrecimentos a teu portador. Além disto, vejo em espírito a situação de João Baptista. Depois de amanhã receberemos más notícias, que abalarão a todos!”

  3. Após estas Minhas Palavras, Cirenius e Cornélius perguntam se é de Minha Vontade que também desistam de seus cargos elevados.

  4. Respondo: “Em absoluto! Vossos cargos são diferentes, mui necessários e de grande importância! Deveis preenchê-los com retidão e justiça e tratar a todos igualmente, dentro da lei! Todavia, como já ouvistes de Mim, fazei que o amor anteceda à justiça e considerai que o pecador, agindo muitas vezes por ignorância contra o poder gover- namental, não deixa de ser uma criatura, destinada, como vós, à Vida Eterna no Reino de Deus! Manipulando o vosso direito dentro desta compreensão, agireis como os anjos do Céu, que são servos de Deus, como vós o sois do imperador!”

  5. Diz Cirenius: “Faremos isto à toda risca! Mas resta esclarecer o seguinte: Somos romanos e pagãos; devemos continuar como tais ou renunciar abertamente ao paganismo e aceitar a circuncisão?”

  6. Digo Eu: “Nem uma nem outra! Pois quem, como vós, foi cir- cuncidado no coração pela fé e o amor a Deus nada disto necessita para a obtenção da Vida Eterna. Além disso, Meus discípulos repletos do Es- pírito Divino procurar-vos-ão daqui a alguns anos a fim de vos batizar, e assim recebereis tudo que necessitais. Agora sabeis de tudo; como já

é quase noite, vamos nos recolher mais cedo, por ser um antessábado. Após a ceia nada mais haverá para discutir.”

  1. Eis que se Me aproximam os dois anjos, pedindo para per- manecerem estes dias em Minha Presença Física, pois isto lhes seria a máxima Bem-aventurança.

  2. Respondo em alta voz: “Tendes plena liberdade de ação; mas não esqueçais vossa tarefa! Os sóis centrais necessitam de grande aten- ção e sabeis a imensidade existente no Espaço Infinito!”

  3. Dizem os anjos: “Senhor, já está tudo feito e continuará a sê-lo.”

  4. Digo Eu: “Sim, já sei; por isto, podeis ficar; pois a mais ínfima entre estas criaturas representa mais que incontáveis sóis centrais, paré- lios ou planetários! Mas todos eles foram criados por causa do homem e, por isto, necessitam de muito trato!” Os anjos se curvam contentís- simos, juntando-se aos discípulos, esclarecendo-os a respeito de muitos assuntos importantes. Borus, porém, vai tratar duma boa ceia.

48.ASSUNTOSHEREDITÁRIOSDE JAIRO

  1. Após a ceia, que durou mais de uma hora, Cornélius se dirige a Cirenius: “Nobre irmão, que te parece? Devemos ficar aqui ou — em vista de possíveis negócios urgentes — irmos embora? Sujeito-me às tuas determinações.”

  2. Responde Cirenius: “Já devia ter partido de manhã cedo. Mas dize-me: Quem poderia partir, sabendo o que aqui se passa? Seria difícil alguém abandonar um imperador amigo, se este dissesse: ‘Se quiseres fi- car, fica!’ Mas que representa um tal dirigente mundano perto do Cria- dor dos Céus e da Terra? Além disto, Seus anjos obtiveram permissão para aqui permanecer, e nós poderíamos aproveitar muita coisa com este convívio. De jeito algum irei embora! Disto nem o Império Roma- no me convenceria! Portanto, também poderás ficar, que te dou permis- são para tal; mesmo que aconteça algo de extraordinário em Roma, a Mão do Onipotente possuirá meios suficientes para normalizar tudo.”

  3. Diz Cornélius: “Nobre irmão, estou contentíssimo com teu pa- recer, pois não sinto o menor desejo de abandonar este ambiente! Fiz a

pergunta apenas em virtude de ordem política. Seria, no entanto, razo- ável ordenarmos a um vigia que procurasse saber da opinião a respeito de nossa presença aqui.”

  1. Diz Cirenius: “Se isto for da Vontade do Senhor, poderemos assim agir; acho, porém, que tanto Ele como os dois anjos farão o papel de polícia secreta. Uma vez afastados deste convívio celeste, teremos que usar de meios naturais.”

  2. Digo Eu a Cirenius: “Está tudo bem assim; além do mais, sei desde o Alpha ao Ômega tudo que se passa na cidade. Nada há que temer! Este povo é ignorante e tolo demais para certas maldades! De Nazareth nunca surgirá uma revolta. Além disto, Meu Borus é um po- licial fiel; tão fácil não lhe escapa algo de importante. Também poderia ordenar a Meus dois anjos efetuarem a espionagem, tanto que saberíeis num momento muito mais que se investigásseis durante dez anos; mas, como já disse, nada disto é preciso, portanto iremos nos recolher. Jairo somente terá que mandar um mensageiro a Jerusalém por causa de sua demissão. Amanhã haverá outro assunto a resolver.”

  3. Diz Jairo, tristonho por ter que nos deixar: “Senhor, não seria possível preparar este documento aqui e fazê-lo entregar em Jerusalém por um portador? Tudo que possuo é uma casa em Capernaum com tudo que ela contém, a qual deixarei para meu genro. Munido dum atestado comprobatório, poderá entrar de posse dos meus bens como se fosse meu herdeiro, e tanto eu como minha esposa somos dispensáveis nesta transação. Meus verdadeiros amigos já se encontram aqui e não necessito despedir-me naquela cidade.”

  4. Digo Eu: “Pois bem; podes ficar, que mandarei um dos Meus Mensageiros; mas somente amanhã, sábado!”

  5. Opõe Jairo: “Penso que este dia não seja apropriado para tal fim, porquanto os templários o consideram com rigor!”

  6. Digo Eu: “Deixa estar, fazem isto porque uma possível transgressão lhes traria lucro. Entrega-lhes ouro e prata num feriado e verás como o transgridem. Por isto, não te preocupes; Meu servo liquidará este negócio!

  7. Julgas que seria do agrado dos fariseus se não houvesse quem ultrajasse o Dia do Senhor? Quanto mais ultrajes, principalmente da

parte dos ricos, maior regozijo dos senhores do Templo! Meu servo será bem recebido durante o sacrifício e, além do mais, já existem dez as- pirantes para o teu posto. Irão interromper a cerimônia para iniciar o leilão e saberás pelo mensageiro o nome do sucessor. Vê, assim andam as coisas na Casa do Senhor em Jerusalém, que se tornou a cidade de Satanás. Como já organizamos tudo, vamos nos recolher!”

49.ABDICAÇÃODEJAIRO.OSENHORNA SINAGOGA

  1. Em seguida todos vão repousar. Apenas Meus Irmãos, Maria e Borus estão ocupados na cozinha, a fim de tudo prepararem para o sábado, no que são acompanhados por Sarah e Lydia. Logo após, também se recolhem e na manhã seguinte Maria é a primeira a se le- vantar, acordando as ajudantes para a organização do necessário antes do pôr-do-sol, como é de uso entre os judeus. Borus também ajuda e, quando nos levantamos, as mesas já se encontram postas, com travessas de peixes, pão e vinho.

  2. Cantam-se salmos de louvor e todos se entregam ao bom desje- jum. Após a refeição, mando o mensageiro a Jerusalém. Preocupado, Jairo espera sua volta. Depois de duas horas de negociações, o mensa- geiro chega, para satisfação de Jairo, trazendo-lhe a notícia da agradável surpresa que sua desistência do cargo despertara e mais o agradecimen- to e louvor por tê-lo desempenhado fielmente. Também é-lhe trans- mitido o nome de seu sucessor com o pedido de auxiliá-lo em caso de necessidade.

  3. Jairo, todo contente, dirige-se a Mim: “Senhor, agradeço-Te do fundo do meu coração por esta boa solução do meu caso, pois neste ofício teria me tornado uma presa de Satanás!”

  4. Digo Eu: “Pois não te disse que se pode interromper num sába- do a hora do sacrifício quando se trata dum bom negócio?! Por aí vês o quanto os templários prezam a Deus e Suas Sábias Leis!

  5. Agora, porém, iremos, por causa do povo, visitar a sinagoga para ver o que lá fazem os fariseus; tomaremos assentos nos últimos bancos para que não sejamos logo descobertos por eles!”

  1. Diz Jairo: “Não irei, pois sou conhecido por todos os meninos e teria que me sentar no presbitério, o que vos denunciaria!”

  2. Respondo: “Não te apoquentes! Quando Eu te aconselho algo, podes Me seguir, que nada sofrerás! Vamos!” Em seguida saímos, al- cançando em poucos minutos a escola. Qual não é nossa surpresa ao encontrar apenas fariseus serventes na sinagoga! Pouco a pouco chegam alguns velhos judeus, que se assentam nos seus lugares de costume para se entregar à habitual soneca.

  3. Após o sacrifício concluído e a leitura monótona dos Manda- mentos, dum Salmo e do Cântico dos Cânticos de Salomon, um orador sobe ao púlpito e começa a falar com voz rouca: “Amados de nossos pais Abraham, Isaac e Jacob! Vivemos numa época atribulada, idêntica à de Noé quando construiu a Arca, fechando-se nela com os seus a mando de Jehovah! Encontramo-nos no lugar sagrado do qual Daniel predisse o horror da devastação — como os escravos banidos pela bruxa, Mege- ra, veem os martírios de seus irmãos, esperando apavorados a sua vez de serem atirados dentro do aço incandescente — sem nos podermos me- xer para a direita ou para a esquerda! Estamos tão abandonados como um tronco seco há muito tempo, como prova de que nestas zonas se encontravam, em épocas remotas, florestas verdejantes! Que fazer? Eis a pergunta! Uma coroa de diamantes àquele que seja capaz de achar resposta razoável! Que não deixe, no entanto, de considerar a nossa posição extremamente agrilhoada pelo mundo!

  4. De um lado os romanos nos pesam na nuca como se fora o Monte Sinai — do outro, o filho do carpinteiro, que surgiu como se caísse das nuvens, qual profeta jamais visto desde Abraham. Todos o se- guem, grandes e pequenos, jovens e velhos! Se hoje Jehovah surgisse em Pessoa, não faria atos mais grandiosos! Cura todas as doenças pela pa- lavra, desperta os defuntos e dá-lhes vida completamente nova! Assim também ordena aos ventos e às ondas do mar — e eles lhe obedecem como escravos a um senhor! Quando fala, manifesta uma sabedoria luminosa e todos são arrebatados e o seguem! Além disso, os nobres de Roma são a seu favor e o auxiliarão com legiões, em caso de necessida- de. Nós, porém, estamos à beira dum abismo, podendo ser tragados a

cada momento e não temos um ser vivo ao nosso lado, a não ser estes velhos dorminhocos na sinagoga! Repito, pois, minha pergunta: Que devemos fazer?

  1. Que nos adiantam Moysés e todos os profetas e mesmo Jeho- vah, que com eles falou, deixando-nos, porém, há mais de um século no mais tenebroso lodo? Gritamos por socorro de tal maneira, que as estrelas mais distantes nos deveriam ouvir — mas Jehovah não Se ma- nifesta e nos abandona de pior modo que um noivo pirata poderia pro- ceder com sua noiva, por ele enganada! Além disso, possuímos o título de ‘Povo de Deus’, enquanto os falados pagãos têm reputação, riquezas mundanas e poderes idênticos aos que Jehovah prometeu a David de acordo com a Escritura — fatos que nunca se realizaram!

  2. Lê-se verbalmente: ‘Teu Reino jamais terá fim!’ Fitemos, pois, o Reino Eterno de David! Que mentira mais flagrante dum profeta ba- julador! David teve o prazer de assistir ao efeito negativo dessa profecia

  1. Tanto a História quanto a nossa experiência demonstram cla- ramente que a Doutrina de Moysés e dos profetas nada mais é que uma casca oca — no entanto, a ela nos agarramos como a um cálculo certo e não arredamos pé, muito embora a água tente afogar-nos, entrando pela boca como o Jordão pelo Mar Morto!

  2. Deixai-nos, por isto, aderir ao filho do carpinteiro, que esta- remos abrigados! Faz ele coisas que os patriarcas jamais contaram de Jehovah! Penso ter com este meu discurso respondido minha própria pergunta; segui meu conselho, que todos nós melhoraremos, tanto físi- ca como moralmente!

  1. Roban, nosso superior, deu-nos o exemplo; sigamo-lo, que lucraremos com isto! Talvez este não considerado carpinteiro Jesus se preste para restabelecer o infeliz Reino de David, ao menos por algum tempo! Através de seu poder mágico, que desafia qualquer outro, po- derá com facilidade impor tal respeito aos romanos, que suas legiões invencíveis debandem aos milhares!”

  2. Nisto se levantam os anciãos, escribas, fariseus e levitas, di- zendo: “Entendes mal a Escritura, falando de modo tão herético. Com relação à vida material, pareces ter razão; mas, relativamente ao espírito, cometeste um crime sacrílego contra a incontestável Majestade Divina; por isto, vemo-nos forçados a te expulsar do nosso meio, para o conví- vio dos pagãos!”

  3. Responde o orador: “Julgais, com isto, castigar-me? Oh! Que erro tenebroso! Se desejardes continuar os mesmos tolos a morrer de inanição, fazei-o, que permanecereis nas vossas trevas! Cabeças ocas, dai-me um exemplo de qualquer orador da Palavra Divina que desper- tasse um morto da tumba, como o fez este carpinteiro!”

  4. Dizem os anciãos: “Isto será feito por Deus no Dia do Ju- ízo Final!”

  5. Diz o orador: “Pois sim! Esperareis em vão! Pessoa alguma sabe que Jehovah, como O conhecemos pela Escritura, alguma vez tivesse feito voltar à vida alguém! Assim sendo, e enfrentando, após uma curta vida terrena, a morte eterna, a criatura se apavora, perguntando cheia de temor: ‘Quem sou, para onde irei quando esta vida terminar?’ Como nunca faltassem os tais servos de Deus, como temos a honra duvidosa de nos chamar, eles tinham que inventar, para consolo dos indagado- res e de si mesmo, o mencionado despertar no Dia do Juízo Final! E nós, tolos pensadores, enganamo-nos a nós próprios — e esta cegueira impede que possamos considerar os fatos milagrosos que se passam em nossa frente!

  6. Que tencionais com estes velhos trastes dos judeus que, com o esclarecimento dos povos, não durarão mais meio século? Eu, por mim, não esperarei o final deste ensinamento tolo, o qual nada de positivo tem a não ser os nomes históricos!

  1. Se Jehovah não puder falar e ensinar com mais lógica, como qualquer filósofo grego, que frequente primeiro tal escola! Com isto não quero dizer que não suponho Jehovah mais sábio que um filósofo!

50.PALESTRASDOSANCIÃOSSOBREASITUAÇÃO JUDAICA

  1. Exclamam os anciãos, irritados com o orador: “Herege! Sacríle- go! Sabes que pelas tuas explanações mereces, de acordo com Moysés, ser apedrejado dentro da escola? Como te atreves a abalar a fé de outros em Deus e Moysés, só porque não a tens?

  2. Teu raciocínio tão fraco é a não veres que a vida duma criatura não basta para alcançar a sabedoria através da experiência? Por isto Deus ensi- nou aos homens as letras, a fim de que pudessem anotar aquilo que suce- dia naquela época. Isto já nos prova a experiência de nossa vida, porquanto não há dias, semanas e anos idênticos! Investiga na Crônica e te daremos tudo que possuímos se nos provares já ter ocorrido o que ora acontece!

  3. Que tencionas, portanto, com tuas graves suspeitas contra a Escritura, herança sagrada de nossos ancestrais, que nos ensina uma conduta impecável e as diretrizes necessárias, pelas quais os descenden- tes conseguem levar uma vida mais agradável a Deus?! Acreditas que sejamos tão tolos que nos fosse impossível julgar o que se passa na nossa frente? Enganas-te! Aproveitamos a sabedoria de nossos pais, que tudo analisaram antes de aceitá-lo!

  4. Se tivessem tua fé tão vacilante, não teriam apedrejado os profe- tas, pois, quando verificavam que, apesar de apedrejados, continuavam convictos do que afirmavam, aceitavam suas profecias! Se isto fizeram nossos pais, achas que seja razoável supor nossa Sagrada Doutrina nada mais que um panfleto?!

  1. Declaraste-nos tolos e bobos; mas surge a pergunta: não és o maior dentre nós? Não fica bem a um descendente da estirpe de Levi julgar rispidamente seus irmãos! Se, no entanto, tencionavas examinar se ainda somos os mesmos, não obstante os acontecimentos extraor- dinários desta época, tiveste uma atitude desprezível e mostraste teu verdadeiro sentimento!

  2. Toda criatura demonstra pelo zelo excessivo suas paixões. O ou- vinte calmo tira suas deduções, levando a vantagem de conhecer bem seu adversário. Pensas não sabermos que, principalmente, a prática da nossa Doutrina contém muitas aberrações que, por infelicidade, obs- curecem Moysés e os profetas mais intensamente que as mais densas nuvens tempestuosas, o Sol? A pura Doutrina, porém, não pode ser prejudicada e o verdadeiro escriba sempre saberá onde achar a Verdade!

  3. Observamos tão bem como tu que estes abusos exterminarão, no final, a verdadeira Religião, como o fazem os vermes numa árvore verdejante, naquelas criaturas semelhantes a ti. A Doutrina, entretanto, continuará sempre a mesma e terá seus fiéis. Já não viste os parasitas nas árvores, sugando-lhes o viço? Por tal motivo deixam estas de ser o que são?

  4. Nós, criaturas, ignoramos a causa disto; uma coisa, porém, sabe- mos: essas aberrações não existiriam se não fosse da Vontade de Deus! Por que existem lobos, que só servem para destruir as manadas pacífi- cas? E o leão, o tigre, a hiena e outros animais selvagens — por que o condor ao lado da pomba? Eis os segredos insondáveis para os homens ignorantes!

  5. Um lavrador, por exemplo, cultiva o seu campo; tudo germina maravilhosamente. Ele até aumenta seus celeiros para que comportem a grande colheita; mas, de repente, tudo é destruído por um temporal! Não poderia se perguntar: ‘Meu Deus, se fosse de Tua Vontade que este campo não desse fruto por ser o camponês um pecador, tinhas Poder de sobejo para destruir os gérmens, poupando-lhe a despesa e trabalho!’ Vê, quantas vezes isto acontece, sem que possamos saber do motivo!

  6. Do mesmo modo, vemos os deslizes praticados na Doutrina de Moysés e observamos os viandantes em caminhos errados. Mas que nos

é dado fazer? Não é obra nossa, portanto devemos suportá-la, mesmo sendo condenável!

  1. Ao nosso espírito não foi imposto limite; reconhecemos a ver- dadeira Doutrina na sua pureza original e esta nossa compreensão nem por Deus pode ser contestada. Seria ridículo se Deus nos falasse a cada um em particular: ‘Vai e destrói o Templo, que está cheio de detritos; Eu, Deus Onipotente, aborreço-Me com estes horrores!’ Isto justificaria ao homem a seguinte resposta: ‘Senhor, vê que absurdo exiges de mim, criatura fraca! Se minha existência Te incomoda, basta um Teu Pensa- mento para destruí-la; exigir, porém, o impossível de mim, é o mesmo que ordenar a um mosquito que carregue um elefante nas suas costas!’ Achamos que Deus é Sábio, de tal forma que reconhece ser impossível a um homem nadar contra a maré! Agora, dize-nos se concebes a plena verdade de nossa opinião, que te perdoaremos os impropérios que nos lançaste em rosto!”

51.TESTEMUNHODEUMORADORARESPEITODA ARCA

  1. Responde o orador, que durante este discurso não perdeu a cal- ma: “Queridos amigos e irmãos! Tudo que acabastes de falar também o sei! No entanto, regozijo-me em saber, pela primeira vez em minha vida, que não sois tão ignorantes, como eu também não o sou! Falastes certo; minha pergunta, porém, não foi respondida. Consegui apenas que externásseis claramente vossa opinião pela primeira vez no nosso convívio durante vinte anos! Esta mútua compreensão não atenua o mal em que nos encontramos; resta saber qual a medida a tomar.

  2. Como filho dum Pontífice de Jerusalém e educado no Templo, sei perfeitamente da situação da Arca. Madeira, prata e ouro ainda são os mesmos; mas a vara verdejante de Aaron secou até tornar-se pó, as tábuas com os Mandamentos se quebraram, o Maná só existe na imagi- nação! E a coluna de fogo, onde ficou?! Sabe-se pelos anais da Escritura que todo leigo perdia a vida quando tocava na Arca com mãos profa- nas; agora pode-se nela pisar e tocá-la à vontade, sem que deite fogo mortífero.

  1. Quando estrangeiros desejam vê-la, é-lhes concedido isto por muito dinheiro e promessas de sigilo, mas somente um dia após a con- cessão! Pois neste caso produz-se artificialmente a coluna de fogo — não por cima da antiga Arca, mas acima da nova, feita de metal! Con- tém na parte superior, ao centro, uma taça preta colocada dentro da tampa, de maneira que não pode ser vista no escuro, produzindo fogo e fumaça. Nessa taça mistura-se um puríssimo óleo de nafta com ou- tros óleos aromáticos, que se acendem mais ou menos uma hora antes. Queimando numa altura de seis palmos, representa a coluna de fogo. Se os curiosos, após a terem apreciado, desejam ver o interior da Arca, tira-se com cuidado a sua tampa, sob cerimônias e preces incompreen- síveis, e aos visitantes são mostradas as novas pedras de Moysés como sendo verdadeiras. Assim também se faz com o Maná fresquinho e a vara verdejante de Aaron.

  2. Alguns ficam inteiramente comovidos; outros, principalmente gregos, saem de lá sorrindo e dizem: ‘Eis um espetáculo interessante!’ A maioria se queixa da sujeira no interior do Templo. Aposto como atualmente já nem mais existe a velha Arca.

  3. Se não me quereis dar crédito, podemos nos disfarçar em roma- nos, ir a Jerusalém e nos portarmos como estrangeiros dentro do Templo. De pronto seremos abordados por um servente, que examinará nossas intenções quanto à origem, o que procuramos, o tempo que permane- ceremos na ‘Cidade de Deus’, se possuímos dinheiro, se não queremos vender ouro ou prata e, finalmente, se não desejamos ver o Santíssimo por uma pequena taxa. Perguntando pelo preço, responder-nos-á algo de cem libras de prata. Alegando ser muito dispendioso e que não nos interessa tal coisa, mas que pagaríamos dez libras, imediatamente é-nos mostrado o Santíssimo, se prometermos ao vigia jamais relatar este fato, nem na Judeia nem no Estrangeiro. Isto feito, seremos conduzidos ao Santíssimo — e vos podereis certificar se menti a respeito da Arca!

  4. Amigos e irmãos, quando uma pessoa esperta viu estas coisas no Templo, torna-se-lhe difícil, como homem honesto, fazer o papel dum impostor e mentiroso pago! Quantas vezes não pensei o seguinte: ‘Se o Santíssimo, no qual se baseia a Doutrina Sagrada e todas as Suas Leis,

é um logro infame, que esperar do sentido da Mesma?’ Externei minha opinião e estou pronto para vos ouvir!”

  1. Diz um ancião: “Tiveste permissão para relatar estes segredos? Não foste obrigado a fazer um juramento de sigilo eterno antes de dei- xar o Templo como Iniciado?”

  2. Diz o orador: “Certo, mas tomo a liberdade de rompê-lo por não ter valor algum e declaro ao mundo inteiro como fui enganado! Além disso, não se toma estas coisas tão a sério aqui, em Nazareth, e pode-se muito bem agir sem escrúpulos.”

52.DISCURSODEDEFESADO ANCIÃO

  1. Dizem os velhos: “Reconhecemos que de certo modo tens razão; falta-te, porém, a experiência. Nem sempre as coisas no Templo anda- vam neste pé! Se pensas um pouco, deves aceitar o seguinte: se nunca houvesse algo verdadeiro e real, ninguém poderia ter a ideia de imitá-lo! Por que motivo a falsificação de diamantes, pérolas e prata?

  2. Sabemos que os persas tecem os melhores e mais finos xales e outros tecidos, tingindo-os de acordo com sua arte oculta, motivo pelo qual seus produtos têm tanto valor. Se fores a Jerusalém, Sichar ou Damasco, é preciso que sejas um conhecedor apurado, a fim de não comprares as imitações feitas em nosso país!

  3. Se nunca houvessem coisas legítimas, ninguém teria a ideia de imitá-las. E se o genuíno não tivesse valor tão elevado, a cópia seria dispensável. Por aí vês que se não teria feito uma falsa arca com coluna de fogo, se realmente não tivesse existido a verdadeira.”

  4. Diz o orador, chamado Chiwar: “Muito bem! Isto é claro; resta saber qual o acontecimento que fez com que a velha Arca, a bem dizer, morresse! Ela existe e, de vez em quando, acha-se no lugar da falsa — coisa rara, porém, em virtude das frequentes visitas. Sabe-se perfeita- mente que, há trinta anos atrás, ninguém podia penetrar no Santíssimo além do Pontífice, possuidor do direito de sentar-se na cadeira de Aa- ron. Qual, portanto, a razão de o Santíssimo só o ser pelo nome, pois no fundo o é tão pouco como esta nossa sinagoga?”

  1. Diz um ancião experimentado: “Qual o motivo disto nem eu nem um Iniciado em toda Israel poderá saber; certo é que a coluna de fogo se apagou após o homicídio do sacerdote Zacharias, ocorrido entre o Altar e o Santíssimo, e nunca mais apareceu, não obstante as múltiplas preces.

  2. Compreendes não ter sido possível relatar este acontecimento ao povo, pois se teria rebelado. Com os romanos no país, uma revolta teria sido de consequências funestas! De modo que, além de nós, Ini- ciados, pessoa alguma tem conhecimento disto, e estes galileus que ora estão dormindo nos bancos não poderão ter ouvido algo. Mesmo se assim não fosse, não teria importância, porquanto, desprovidos de fé, defendem o seguinte ponto de vista: é preciso que haja religião para conter o povo.

  3. Que interesse pode ter o galileu legítimo na genuinidade da Arca, quando esta tem o efeito desejado sobre o povo supersticioso?! Por isto, pode-se agir com sinceridade quanto a este assunto nas redon- dezas de Nazareth, Capernaum e Chorazim, sem prejudicar alguém. Com referência aos romanos e gregos, sabemos o que fazer! Foi este o motivo do aprisionamento de João Baptista, pois temia-se que ele, como filho de Zacharias, pudesse revelar a fraude feita com a Arca! Eis por que também o carpinteiro é tão perseguido, de sorte que devemos guardar este segredo para nós!”

  4. Diz Chiwar: “O assunto é deveras muito sutil; espero que os que se acham sentados na entrada da sinagoga não tenham ouvido algo!”

  5. Diz o ancião: “Cochichamos apenas e, mesmo que eles ouvissem algo, não o entenderiam, pois são gregos e romanos.”

  6. Obtempera Chiwar: “Vi entre eles o filho do carpinteiro, Jesus, o vice-rei Cirenius, o reitor Jairo, o comandante Cornélius, Fausto e outros conhecidos!”

  7. Diz o outro: “Contra estes não há proteção; portanto, não importa se nos ouviram ou não! Se quiserem transmitir isto ao povo, fá-lo-ão, pois devem estar a par da situação da Arca do Templo; não o querendo, nossa palestra não lhes terá trazido motivo para tanto — por isto, não precisamos nos preocupar! Devemos evitar a divulgação

do fato e, se algum dia isto se tornar necessário, teremos que agir com muita precaução!”

53.CHIWARTESTEMUNHADAVIDAEDASAÇÕESDE JESUS

  1. Diz Chiwar: “Realmente, preciso elogiar vossa inteligência! Em- bora trabalhássemos juntos desde muitos anos, nunca se havia dado uma oportunidade de vos conhecer mais de perto, e folgo em ver que sois mais inteligentes que os servos do Templo. Contudo, a pessoa do carpinteiro Jesus é o que há de mais extraordinário visto até hoje. Adam, com suas experiências centenárias, nada vale! Henoch faz par- te dos mendigos espirituais! Abraham, Isaac e Jacob, Moysés, Aaron e Elias são uns pobres coitados em comparação a nós mesmos! Umdia traz maiores milagres que os que foram assistidos pelos patriarcas!

  2. Desde ontem venho fazendo o observador secreto daquilo que se passou em casa do velho José. Repito: milagres sobre milagres! Dois anjos perfeitamente vivos lhe servem! A esposa de Fausto se encontrava em Capernaum e o carpinteiro quis que ela tomasse parte no almoço; no entanto, sua busca levaria cerca de quatro horas. O que aconteceu? O carpinteiro fez um aceno aos dois anjos, que desapareceram por al- guns minutos, trazendo Lydia, alegre, sã e salva a Nazareth! — Que dizeis? Podeis assimilar isto?”

  3. Perguntam os anciãos: “Que mais viste?”

  4. Responde Chiwar: “Conheceis a filha de Jairo e sabeis que mor- reu por duas vezes e que na última já estava alguns dias na sepultura; ignorais, no entanto, que esta linda Sarah se tornou esposa de Borus! Não é extraordinário que uma moça por duas vezes falecida possa até se casar, coisa nunca vista na Terra?! Quando recebia a bênção do carpin- teiro, ela viu os Céus abertos e uma imensidade de falanges de espíritos preenchiam o éter, louvando a Deus por ter manifestado esta Honra e Graça ao mundo! Após esta cena os Céus se fecharam com o aceno do carpinteiro; ficaram somente os dois anjos, como os vedes perto da porta da escola. Mirai-os e dizei se é possível que sejam de outras zonas que não dos Céus!

  1. Se isto se deu tal como vos acabo de contar, por que então não o considerar mais elevado que um simples adepto dos essênios, aos quais nunca poderia ter visto, porquanto, a meu ver, nunca se afastou daqui, a não ser umas poucas vezes que foi a Nazareth em companhia do pai e irmãos. Consta que foi uma vez a Sidon para ajudar na construção duma casa.

  2. Embora se saiba que era muito calado e comumente conside- rado pouco inteligente, ninguém ignora que se deram fatos estranhos desde seu nascimento até aos doze anos; até o próprio nascimento consta ter sido milagroso, de acordo com o relato do comandante Cornélius!

  3. Por isto, pergunto se é admissível hesitarmos em considerar este Jesus, pelo menos, um Filho de Deus; pois seus atos e a forma pela qual ordena aos anjos levam a crer ser ele pleno do Espírito Divino! Não sei, portanto, por que razão devemos continuar presos à Arca morta, se a ‘viva’ caminha e age diante de nossos olhos! Podemos continuar sendo externamente o que fomos, por causa do povo; mas, no íntimo, deverí- amos professar suas ideias!”

  4. Diz o sábio ancião: “Ou tudo, ou nada! Se for pleno do Divino, forçosamente detestará meios-termos; não o sendo, será melhor conti- nuar com a Arca sem vida, relembrando seu estado anterior, que aceitar algo cuja causa se desconhece!”

  5. Aduz Chiwar: “Por isto, analisaremos o fato; eu, por mim, não preciso investigar coisa alguma — sei o que faço, seguindo-o!”

  6. Opõe o outro: “Julgas que o Templo nada fará se uma comu- nidade após outra dele se afastar? Sou de opinião que não demorará em mandar seus algozes por toda parte! Coitados dos que cometeram apostasia, que serão seriamente castigados! Os discípulos dos filósofos gregos levarão vantagem sobre os adeptos de Jesus, que não são nem in- teiramente judeus nem gregos, sabendo mais ou menos que o Templo já não possui mistérios para eles! Digo-vos: nada haverá de mais perigoso para o sinédrio que a atuação profética de Jesus e seus adeptos! Tudo fará para impedir a divulgação de uma doutrina que, forçosamente, arruinará sua existência!

  1. Não viste no ano passado a ação do Templo com um grego que divulgara ser lá aceito dinheiro romano, enquanto só era destinada a moeda de Aaron para este fim, não podendo ser recebido outro qual- quer? Foi atraído por promessas de lucro para, em seguida, ser morto de tal maneira jamais anotada na Crônica! — Por isto, muita cautela! Devemos ou nos tornarmos gregos, aderindo a Jesus de corpo e alma, ou, então, continuarmos o que somos!”

  2. Diz Chiwar: “Tens razão no que se refere ao cuidado mun- dano; mas que dirás se este carpinteiro for o Messias Prometido, isto é — como David O chama, num profundo respeito — Jehovah em Pessoa? Devemos então usar de subterfúgios, ou, então, aderir à Sua Bandeira Celeste, não nos deixando amedrontar pelas artimanhas de Satanás, pois teremos com Ele a certeza da Vida Eterna, mesmo isto nos custando esta miserável vida terrena?!” Com esta proposta de Chiwar, todos ficam estatelados e não sabem o que decidir.

54.CONSELHODOSANJOSAOSTEMPLÁRIOS CONVERTIDOS

  1. Nisto, os dois anjos se lhes aproximam, dizendo: “Chiwar falou certo e tu, ancião, também tens razão no que diz respeito detestar Deus meios-termos! Nós, no entanto, como testemunhas dos Céus, dize- mos: Não temais àqueles que não podem prejudicar vossas almas, e sim Aquele que é o Senhor sobre toda a Vida nos Céus e na Terra! Sem Ele, não existe Vida! Por isto, aceitai o conselho do vosso amigo Chiwar!”

  2. Indaga o ancião: “Mas quem sois, que vos dizeis testemunhas dos Céus?”

  3. Respondem eles: “Pergunta a Chiwar, que nos viu buscar a es- posa de Fausto!”

  4. Diz o ancião: “Assim sendo, não há mais que refletir, pois renun- ciaremos ao Templo!”

  5. Dizem ambos: “Não façais isto, queridos amigos; o Senhor é Condescendente em tudo! Se Lhe seguirdes no coração, acreditando que somente por Ele se cumpre a Escritura, fazeis o bastante; quanto ao resto, conservai-vos como sois, a fim de que os servos do mundo e do

diabo, dos quais o Templo está repleto, não sejam despertados antes da hora! Ensinai o povo a respeito de Moysés e os profetas e mantende o cumprimento das Leis Divinas; as instituições do Templo, porém, não precisais considerar — e com isto sereis tão bem Seus discípulos como os que ele escolheu entre os pescadores.

  1. Passados dois dias recebereis um novo reitor de Jerusalém, que, no início, terá ideias templárias; mais tarde, entretanto, mudará, con- cedendo uma quantidade de indulgências por dinheiro. Pessoalmente, ele não acredita no Templo, tampouco vos fará dificuldades. Jairo está aposentado e morará em casa do genro. Quanto ao novo reitor, não lhe conteis algo de milagres aqui ocorridos!”

  2. Diz Chiwar, respeitoso: “Servos Divinos do Reino da Luz e da Vida Eterna! Vossos conselhos são ótimos; eu, porém, prefiro coisa melhor! Que vos parece, se eu aderisse integralmente aos discípulos do Senhor?”

  3. Respondem eles: “Toda criatura deste mundo é livre e pode fazer, crer e falar o que quiser; mas, se alguém, como vós, recebe um conselho dado pelos Céus, fará bem em aceitá-lo. Pois, sobre os atuais adeptos do Senhor, virão épocas de grande tentação — sendo experimentados pelo espírito, terão que fazê-lo também pelo fogo — e muitos fraquejarão, renunciando à justa causa! Vós não tereis muita dificuldade, podendo alcançar em paz aquilo que os outros só conseguirão sob grande pavor e perseguição! Podes, no entanto, fazer o que te agrada; será, porém, melhor continuar em tua atual posição!”

  4. Diz Chiwar: “Sim, ficarei; mas, enquanto o Senhor aqui perma- necer, desejo acompanhá-Lo, a fim de aproveitar os Seus Ensinamentos! É isto possível?”

  5. Respondem os anjos: “Como não? O Senhor, no entanto, pou- co falará e tampouco realizará milagres, pois que as criaturas daqui não têm fé e O julgam um mago. Vós, porém, tereis oportunidade de orien- tá-las, o que vos será recompensado por Ele. Hoje à noite, Roban vol- tará ao vosso meio, trazendo-vos provas importantes a favor do Mestre e tornar-se-á vosso instrutor, pois é um dos espíritos mais fortes entre vós.” — Ditas estas palavras os anjos aderem ao outro grupo.

55.RELAÇÃOENTREOSPOVOSESEUS DIRIGENTES

  1. Nisto, Cirenius Me pergunta se não é aconselhável absolver da lei severa estes fariseus, anciãos, levitas e escribas, na opinião dele, com- pletamente convertidos.

  2. Digo Eu: “Quando a pessoa tem o poder legislativo nunca deve se precipitar em formar novas leis! Mas, uma vez que assim aconteceu, mui- to menos deverá se apressar em querer sustá-las; neste caso, o Conselho de Justiça terá de apreciar as razões. Se formares uma nova lei, terás inimi- gos naqueles que por ela serão atingidos; no caso de a revogares, apontar-

-te-ão como fraco, dizendo: ‘Vede o tirano! Como percebe a maioria de oponentes, procura reabilitar-se com o povo pela revogação da antiga lei. Mas não terá êxito com isto, pois um tirano nunca deixa de sê-lo!’

  1. Por isto, é melhor não revogar leis; no entanto, é possível fazê-lo em segredo e, caso surgirem reincidências, deve-se aplicar a indulgên- cia, não julgando com severidade. Numa possível mudança de governo, depende de o regente modificar o legislativo. A não ser que sejas procu- rado para amenizar a severidade de teu governo, no que poderás ceder, mas sempre sob condição de, num caso de reincidência, renovares com rigor o teu poder.

  2. Eis a prudência que todo regente deveria ter, caso almejasse o progresso de seu povo! Um negligente em breve perceberá que um afrouxamento das rédeas governamentais a todos trará prejuízo.

  3. A posição dos povos com referência aos dirigentes é a mesma que entre filhos e pais. Quando estes forem severos e sábios, terão filhos bons, obedientes, e prestativos; ao passo que transigentes são domina- dos e até expulsos pelos filhos. O amor em conjunto com a sabedoria estabelece uma Lei Eterna; quem agir dentro deste conceito jamais fa- lhará, obtendo bons resultados. Compreendeste-Me bem?”

  4. Diz Cirenius: “Sim, Senhor; e sempre foi assim no mundo. Pen- so que a perfeição se encontra entre um governo transigente e um seve- ro, não é assim?”

  5. Digo Eu: “Exatamente, no meio está a felicidade, como acabo de te mostrar! Agora, porém, vamos para casa, que já é tarde!”

  1. Pergunta Cornélius: “Mas Senhor — estes velhos ficarão dor- mindo? Podiam ter tirado a soneca em casa, a fim de não incomodar a outros com seu ronco! É de fugir! Como se portam! Aguento muita coisa, mas o roncar de alguém me leva ao desespero!”

  2. Digo Eu: “Ora, deixa estar; enquanto roncam, não pecam! E se não o fizessem, teriam ouvido coisas aborrecidas para eles! Agora, vamos!” Com isto, dirigimo-nos à saída, mas os fariseus e anciãos se adiantam, ligeiros, abrem a grande porta, dizendo: “Senhor, está escri- to: Abri as portas e os portais para darem passagem ao Rei da Glória! Quem é Este Rei? É Jehovah Zebaoth! Por isto, dedicamos-Lhe todo louvor e toda honra, para sempre!”

  3. Diz Cirenius, amável: “Sim, assim é e deve ser por toda a Eter- nidade! Que o Senhor esteja convosco!”

  4. Aduzem eles: “E com o teu espírito, a fim de que sejas mise- ricordioso conosco! Tuas leis até hoje nos oprimiram duramente, pior que a morte; mas, como nos tornamos alunos do Senhor e aceitamos livremente os teus preceitos, deixaremos de sofrer. Mesmo assim, te agradecemos pela severidade do teu governo, pois sem ela facilmente nos tornaríamos traidores desta Santa Causa! Por isto, também não te pedimos a revogação das leis, pois, pelo idêntico pensar, crer e agir con- tigo, elas deixam de existir como tais!”

  5. Diz Cirenius: “Deste modo também não mais as considero e estou convicto não necessitar renová-las por vossa causa. Não vos dei- xeis enganar e segui severamente o conselho dos dois anjos de Deus, que seremos os melhores amigos! E se por acaso houver perseguição por parte do novo reitor por serdes adeptos de Jesus, o Senhor de Eter- nidades, sabereis como encontrar-me — e os vossos direitos físicos e espirituais serão protegidos! Agora repito: O Senhor esteja convosco!”

  6. Eles respondem: “E contigo para todo o sempre!” Em seguida todos se curvam, respeitosos, dando-nos passagem pelas alas abertas. Chegando à casa, nos espera um bom desjejum com pão, vinho e uma grande variedade de frutos saborosos.

56.ROBANEKISJONAHRELATAMSUAS AVENTURAS

  1. À noitinha, chega Roban acompanhado de Kisjonah e cumpri- menta de longe todos que avista; Kisjonah dirige-se a Mim de braços abertos, com lágrimas nos olhos, e só em seguida cumprimenta sua filha, que segurava e beijava a mão dele. Depois saúda seu genro e Cor- nélius e, quando sabe que o romano a Meu lado é o vice-rei Cirenius, pede-lhe perdão por não o ter reconhecido.

  2. Comovido, Cirenius pega de sua mão e diz: “Eu é que deveria pedir desculpas por não te ter cumprimentado, pois não te conhecia! Além do Senhor Jesus, que merece todo louvor e honra, devo a ti, meu amigo, a maior gratidão! Pois, entre todas as pessoas de Kis, fizeste o máximo para me salvar duma situação que, facilmente, ter-me-ia custa- do a vida! Que imenso prazer conhecer-te pessoalmente!”

  3. Kisjonah, todo satisfeito, relata, entre outros fatos, que visita- ra Sichar em companhia de Roban e palestrara com Jonael, Jairuth e Archiel, que ora vivia como mortal e ninguém desconfiava nele um espírito puro.

  4. Do mesmo modo procurara o médico Joram em seu palacete, bem como sua esposa querida, ouvindo por parte deles narrativas ma- ravilhosas. Roban fazia apenas papel de ouvinte e não cessava de ex- tasiar-se; só de vez em quando dizia de si para si: “Sim, darei minha vida e meu sangue a este Divino Mestre de Nazareth! Não é possível que seja um homem; sim, é Deus Mesmo, pois do contrário não faria estas coisas!”

  5. Enquanto Kisjonah isto menciona, Roban se aproxima de Mim e diz, somente: “Senhor, sou Teu e não haverá poder, a não ser a Tua Vontade, que de Ti me poderá afastar!”

  6. Digo Eu: “Sabia de antemão que assim farias; mas ainda ignoras que teus irmãos e colegas também são Meus discípulos, sem deixar de ser, perante o mundo, o que são, até que o novo reitor se tiver ambien- tado. Teus irmãos te orientarão sobre o que deverás fazer e falar perante vosso novo chefe, que no começo usará uma vassoura dura. Mas não levará meio ano e tereis conseguido o que desejais, porquanto não faz

fé no Templo, e sim no dinheiro. Mais tarde, porém, modificar-se-á. Agora, vai e transmite a teus irmãos o que presenciaste em Kis!”

  1. A estas Minhas Palavras, Roban agradece Kisjonah por tudo que lhe fizera, dizendo: “Na certa haverá poucos Kisjonah sobre a Terra; por isto, és o único que me tocou o coração! O Senhor te abençoe por tudo que fizeste a mim e a milhares de outros!” Em seguida se curva diante de nós e procura os outros na sinagoga — onde encontra todos reunidos, exceto aqueles que lá costumavam tirar uma soneca. É re- cebido com muita alegria e atenção e logo após troca suas impressões surpreendentes com os colegas.

  2. Também nós estamos bem-humorados, porquanto Kisjonah trouxera vários animais carregados de vinho, trigo, queijo, pão, mel e uma quantidade de bons peixes defumados, de sorte que Maria mal sabe onde guardar tudo isto. Por tal motivo pede-se a um vizinho para acondicionar o resto em sua grande despensa, o que fez — não por gentileza, pois era avarento, mas sim por Kisjonah lhe ter oferecido algumas moedas de ouro. Mostrou-se ele com isto tão solícito que, no afã, esbarrou com violência contra o apóstolo João. Este lhe dirige as seguintes palavras: “Amigo, sê mais cuidadoso no teu zelo pago, do contrário prejudicarás a ti e a outros! Todavia, serias feliz se fosses tão cuidadoso a favor do Reino de Deus, que está tão próximo de ti! Ó ce- gueira, que jamais deseja ou pode reconhecer o Altíssimo!” O vizinho, porém, não liga importância a João e continua no seu trabalho pago.

  3. Eis que João pergunta: “Senhor, é possível que uma criatura seja tão cega em sua alma?”

  4. Respondo: “Deixa-o! Existem na Judeia milhares destes imbe- cis, mais tapados que os burros, e seu prêmio será adequado!” Os ouvin- tes se riem, e Philopoldo acrescenta que é mais fácil a criatura enxergar tudo que a rodeia, que aquilo em cima de seu nariz! Todos confirmam isto e em seguida nos recolhemos.

57.OTRABALHOCÓSMICODOS ANJOS

  1. Todos procuram seus leitos, dormindo até a manhã seguinte; também Eu descanso por algumas horas. Os dois anjos, no entanto, executam sua tarefa cósmica durante a noite e ao pôr-do-sol se Me aproximam, dizendo: “Senhor, está tudo em ordem no Grande Ho- mem Cósmico. Os principais sóis centrais continuam em suas órbitas; a trajetória dos sóis de segunda categoria também se faz normalmente e os de terceira rodeiam os de segunda classe na máxima ordem, como os de quarta dimensão com seus milhões de sóis planetários, dentro da medida por Ti ordenada, ora mais, ora menos! Os incontáveis sóis planetários dependem, em conjunto, com seus pequenos planetas sem luz e suas luas, da ordem dos grandes sóis-guias, de sorte que neste con- glomerado solar, que temos a incumbência de vigiar, tudo se encontra numa ordem perfeita e, por isto, podemos permanecer mais um dia na Tua e na companhia de Teus caros filhos!”

  2. Digo Eu: “Muito bem; mas aproveitai cada minuto com ensi- namentos úteis, pois que os Meus filhos muito o necessitam!” Os dois recuam contentes e cumprimentam Maria, os discípulos, Cirenius, Cornélius, Fausto, Jairo, Kisjonah e Borus. Cirenius, porém, que ouvi- ra algo dos múltiplos sóis, indaga logo a respeito, porquanto conhece somente um.

  3. Os anjos respondem, atenciosos: “Querido amigo e irmão do Senhor, não queiras saber aquilo que não podes conceber e do que, tampouco, depende a salvação da tua alma! Pois aquilo que comen- tamos com Ele matar-te-ia, se o assimilasses de modo comum a nós. Todas as estrelas que avistas numa noite serena e muitas outras que tua visão não abrange são mundos solares duma imensidade incalculável para o teu cérebro. Aquele Sol, que costumas ver, é um dos menores e, no entanto, mais de um milhão de vezes maior que esta Terra. Imagina, agora, um Sol Central, apenas de quarta categoria, em redor do qual giram no mínimo milhões destes sóis planetários em órbitas distantes, com seus planetas semelhantes a este que habitas! Seu tamanho é tão imenso como a soma das dimensões de todos os sóis planetários com

seus planetas e luas multiplicado por mil! Dize-nos, amigo: podes fazer uma ideia desta grandiosidade?”

  1. Diz Cirenius: “Gentis servos de Deus, peço-vos: nada mais me digais a respeito, pois já estou ficando tonto! Quem jamais teria sonha- do com tal coisa? E vós podeis observar isto tudo de um relance? Que poder e profundeza de Sabedoria Divina não deveis possuir! Como sou muito curioso, peço-vos, unicamente, que me digais o que há nestes incontáveis e imensos sóis?”

  2. Respondem os dois: “Tudo que vês nesta Terra, mais nobre e imenso encontrarás nestes conglomerados solares. Homens, animais e plantas de toda espécie, imensas e maravilhosas construções, perto das quais o Templo de Jerusalém e o palácio do imperador de Roma são meras habitações de lesmas — e de tudo isto é Jesus o Senhor, Único e Eterno Criador!”

58.AS RELAÇÕES DAS CRIATURAS DESTA TERRA PARA COM OPAI CELESTE

  1. Ouvindo isto, Cirenius diz, compenetrado duma imensa vene- ração: “Amigos e servos de Deus, apenas agora sei Quem é o Senhor e quem sou eu! Sou totalmente nada e Ele é Tudo em Tudo! Só não compreendo nosso atrevimento, a Ele nos dirigindo como se fora se- melhante a nós!”

  2. Dizem os dois anjos: “Ele Mesmo assim o quer; pois os filhos têm o direito, de Eternidade, de palestrar à vontade com o Pai! Por isto, não faças perguntas tolas; não depende de ti seres um homem, mas unicamente Dele, que assim te criou de Si Próprio, prendendo-Se ape- nas ao Seu Próprio Conselho. Como também poderia Ele perguntar a alguém, a não ser a Si Mesmo, porquanto não havia um ser antes Dele, em todo Infinito?!

  3. Fazes bem, se com Ele falares como se fosse Idêntico a ti; pois Deus não tem, além de Si, com quem falar. Mas Suas criaturas são tão livres que o podem fazer — merecem seu Criador como Ele vos merece. Cada ser é testemunha da Onipotência, Sabedoria e Amor Divinos, não

havendo espírito tão poderoso que pudesse criar algo de si! Compre- endes isto?”

  1. Diz Cirenius: “Servos mui sábios da Onipotência Divina, quão compreensível me é vosso ensinamento! Em verdade, o homem não ne- cessita envergonhar-se do que é, sendo Obra-Prima do Criador, quando vive dentro da Vontade de Deus. Caso contrário, deturpa esta Obra e não mais corresponde àquilo que era e deveria ser, para sempre! Por isto, é o pecado uma ação contra a Ordem Primária de Deus e o homem se torna criador de sua natureza vilipendiada!”

  2. Dizem os anjos: “Tens razão! A criatura, no entanto, continua sendo uma Obra Digna de Deus quanto à sua forma, utilidade, capaci- dade e independência, no que o espírito se pode manifestar livremente. O que, porém, diz respeito à educação moral de coração e alma pode rebaixar-se ao nível dum monstro do inferno, no que consiste o maior pecado, pois terá deturpado a Obra Divina, e Deus terá que pelejar numa paciência incalculável em modificá-lo para o que fora.

  3. Em consequência duma infinidade de Obras assim deturpadas, o Mestre veio Pessoalmente ao mundo; mas as criaturas continuarão a fazer o mesmo e, por isto, Ele inaugurará uma Nova Instituição, pela qual elas se poderão reabilitar a si próprias. Quem não quiser dela fazer parte de livre vontade estará perdido para sempre! Compreendes o que acabamos de explanar?”

  4. Diz Cirenius: “Compreendi bem e, por isto, sou de opinião que se deve obrigar por leis às criaturas a fazerem uso desta Instituição!”

  5. Dizem os anjos: “Isto acontecerá, mas não trará benefícios, pois somente é útil ao homem aquilo que fizer de livre vontade. Todo o resto prejudica. Se fosse possível levá-lo à perfeição por vias obrigatórias, ex- ternas ou internas, teríamos poder de sobra para tanto, sem que jamais se pudessem livrar desta influência. Mas com isto conseguiríamos ape- nas a criação de máquinas, sem atitude própria! Daí poderás concluir que só pelo ensinamento verdadeiro e a determinação individual conse- guir-se-á viver dentro da Ordem Divina! — Assimilaste isto?”

59.AGRANDELUTADENTRODO HOMEM

  1. Diz Cirenius: “Infelizmente o compreendo, pois prevejo pou- co êxito! Onde estão as criaturas que fossem capazes de assimilar um bom ensinamento? E, mesmo entre os ensinados, quantos existem que o pusessem em prática? Entre mil haverá, talvez, dez que terão vontade e coragem para aplicarem uma doutrina bem explanada! De que isto lhes adiantaria, se por este motivo serão amordaçados pelos fanáticos?!

  2. Sois servos imensamente sábios do Senhor, mas, como estadista experimentado, afirmo: Sem coerção, jamais será aceita esta Doutrina verdadeiramente sagrada! Pelo menos torna-se necessário acabar com a superstição, do contrário será inútil divulgá-la!

  3. Acreditamos nesta Verdade Eterna que nos foi revelada; entre- tanto, não o fazemos inteiramente livres. Porque vós, o Senhor e Seus Atos não deixam de constituir uma certa coerção, sem a qual não have- ria tantos seguidores. Se este móvel não nos transformou em meras má- quinas, penso que uma obrigação externa, que modificasse as criaturas em verdadeiros filhos de Deus, não seria tão prejudicial!”

  4. Dizem os dois anjos: “De certo modo tens razão e não faltarão meios coercíveis externos; todavia, convencer-te-ás que são mais con- traproducentes que os internos! Pois Satanás também deles faz uso para manter a superstição; se nós, portanto, tivermos que aplicar os mesmos meios que ele para a nossa Causa — pergunto qual o benefício para as criaturas?

  5. A superstição sempre se estabeleceu e firmou com fogo, armas e derrame de sangue; se, agora, a Palavra de Deus deverá fazer o mesmo, haverá, acaso, uma criatura inteligente que a aceite como vinda dos Céus? Não será obrigada a dizer: ‘Meu Deus, não basta que a Humani- dade seja perseguida pelo espírito do mal, de sorte que também Tu, ó Onipotente, de nós Te aproximas pelos mesmos caminhos?’ Vês, queri- do amigo e irmão, o contrassenso deste projeto? Sim, infelizmente tem- pos virão em que se divulgará a Doutrina de Jesus, deturpada, com fogo e armas; mas isto será de grande prejuízo para os povos. Compreendes?”

  1. Diz Cirenius: “Com pesar, e continuo perguntando se estas ca- lamidades não serão evitadas pelos Céus e qual o motivo da permissão do mal no mundo!”

  2. Dizem os dois: “Querido amigo, se possuis alguma sabedoria, julga por ti mesmo: poderá haver um ‘pró’ sem um ‘contra’? Onde teria surgido um herói sem luta? E esta, acaso, ter-se-ia manifestado, se ape- nas existissem cordeirinhos? Ser-te-ia possível experimentar tua força, se não houvesse objetivos que a ti se opusessem? Haveria uma subida sem a possibilidade de uma descida? Ou serias capaz de fazer o bem, se não te pedissem um auxílio? Vê, em um mundo em que o homem se deve formar um verdadeiro filho de Deus, é preciso que se lhe dê oportunidades boas e más!

  3. Deve haver calor e frio, para que o rico possa prover com roupas seus pobres irmãos. Do mesmo modo, estes existem para dar oportuni- dade aos abastados a se exercitarem na caridade — e os necessitados na gratidão. Os fortes ajudarão os fracos, e estes deverão reconhecer com humildade que estão desprovidos de poder. Assim haverá os tolos e os inteligentes; pois, do contrário, o conhecimento destes seria inaplicável! Se não houvesse os maus, onde estaria a medida que o bom aplicasse para conhecer o grau de sua bondade?!

  4. Em suma, nesta instituição de ensino próprio, de criaturas e fi- lhos livres do Pai, terá que haver uma infinidade de ‘prós’ e ‘contras’! Afirmamos que, enquanto o homem não tiver expulso a Satanás de próprio poder e vontade, através de lutas e vicissitudes — estará lon- ge da completa Filiação Divina! Como, porém, tornar-se-á vencedor deste inimigo, tirando-lhe todas as oportunidades de contato? Sim, o Verdadeiro Reino de Deus exige uma batalha infrene pela liberdade completa para a Vida Eterna e, para tanto, são necessárias as lutas entre Céu e inferno!”

60.AUTILIDADEDAS PAIXÕES

  1. (Os anjos): “Sabes que o homem é possuído de muitas paixões; um sente ânsia de possuir tudo que tem algum valor: evidentemente é a usura um pecado. E vê, a este pecado se deve a navegação; pois so- mente criaturas gananciosas poderiam ser tomadas pelo desejo ardente, mesmo com risco de vida, de achar meios para a descoberta de outros países. Após grandes lutas alcançam, além-mar, um país despovoado. As peripécias sofridas amenizam sua paixão pela posse, tirando-lhes a coragem para a volta. Estabelecem-se e povoam, deste modo, novas terras. Julga por ti mesmo se as criaturas teriam descoberto estas zonas sem a volúpia da posse?!

  2. Tomemos a volúpia carnal: exclui tal tendência, imagina a Hu- manidade celestialmente pura — e terás prazer na vida virtuosa que levarão os castos até a idade avançada. Mas que aspecto tomará a pro- criação, de acordo com a Ordem Divina? Por aí vês que esta inclinação é necessária para povoar a Terra. Se existem criaturas que se excedem, agem elas contra as Determinações de Deus e caem no pecado. O exces- so, no entanto, é preferível à extinção dessa tendência.

  3. Todas as forças dadas ao homem e que se manifestam como pai- xões desenfreadas devem ter capacidade evolutiva para o bem ou para o mal, do contrário ele permaneceria uma água morna, caindo no ócio detestável. Afirmo-te: nada te dará testemunho tão verídico da finalida- de divina do homem como os grandes vícios ao lado das mais elevadas virtudes; por aí se evidenciam as capacidades infinitas dadas às criaturas deste planeta. Do mais sublime Céu Divino, que até a nós é vedado, até o mais ínfimo inferno — eis a trajetória do homem! E se assim não fora, impossível seria alcançar a Filiação de Deus!

  4. Lidamos com criaturas de incontáveis mundos; mas que dife- rença! Lá existem barreiras, tanto físicas como espirituais, dificilmente transponíveis. Aqui tendes tão poucos empecilhos como o Próprio Se- nhor e podeis fazer o que vos agrada. Podeis vos elevar à Morada mais íntima do Pai, mas em consequência disto vos precipitar no inferno, como fez Satanás, o libérrimo espírito de Deus. Sua queda foi completa

e ser-lhe-á difícil achar o caminho de volta, porquanto ao vício é dado, por Deus, a mesma perfeição infinita como à virtude.”

61.AIMPORTÂNCIADOLIVRE ARBÍTRIO

  1. (Os anjos): “Nesta Terra tudo depende do livre arbítrio da cria- tura e do ensino sem constrangimento, dado pelo Senhor de tal maneira que toda pessoa o compreenda de uma só vez; ninguém, portanto, pode- rá se desculpar de não o ter assimilado! O Mandamento ‘Ama a Deus so- bre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!’ é tão compreensível que dispensa explicação! A pessoa que segue esta Lei, que tudo contém, recebe em seu coração a sabedoria pelo Próprio Senhor, podendo se tor- nar uma orientadora para o próximo. Desta forma um guiará o outro, até que Deus Mesmo o eduque para a Filiação. Eis a justa divulgação da Doutrina Sagrada, na Ordem Divina; o resto é prejudicial, não trazendo bênçãos para o Viveiro de Deus. Compreendeste-o bem?”

  2. Diz Cirenius: “Não só isto como também o destino grandioso desta Terra e seus filhos; a única fatalidade é que, ao lado dos filhos de Deus, os do inferno frequentam a mesma escola, cada qual em sua esfera! Mas percebo que, do ponto de vista da mais profunda Sabedoria Divina, não há outro meio. O Senhor, no entanto, é tão Bom e Sábio que saberá dar também ao inferno uma outra direção! A Eternidade é bastante longa para tomar as medidas necessárias, a fim de que, em di- versas modalidades, tanto os filhos quanto seus tentadores se rendam!”

  3. Dizem os dois anjos: “Tua suposição excede nosso horizonte de sabedoria! Tu, porém, como filho do Senhor, estás mais perto do Pai que nós, meros seres, e poderás sentir melhor uma necessidade divina em teu coração; sabemos, apenas, que para Deus nada é impossível. Além disto, nada mais concebemos. Se desejas mais profundos esclare- cimentos neste assunto, deves dirigir-te ao Senhor Mesmo; julgamos, porém, que Ele não revelará tais coisas a um mortal, em virtude da audição apurada de Satanás. É preciso muita cautela com este inimigo, a fim de não fazê-lo pior do que já é!”

  4. Diz Cirenius: “Compreendo e calar-me-ei!”

  1. Digo Eu: “Não precisa falar em voz alta; ouço também o que falas e perguntas no coração.”

62.OPENSARNO CORAÇÃO

  1. Diz Cirenius: “Senhor, desde minha infância estou habituado a pensar no cérebro; como agir para poder fazê-lo no coração?”

  2. Digo Eu: “Nada mais fácil! Tudo que pensas e sentes tem origem no coração; pois o pensamento mais sutil deve ter tido um motivo, a fim de que fosse criado. Uma vez criado, de acordo com uma necessi- dade qualquer, o pensamento sobe ao cérebro, para que seja contem- plado pela alma e esta, então, movimenta o corpo, a fim de executar o pensamento. Assim, é inteiramente impossível a criatura pensar apenas com o cérebro. O pensamento é uma criação meramente espiritual, portanto tem origem no espírito que habita o coração da alma e dali vivifica a criatura toda. Como poderia surgir uma criação da mais sutil matéria como é o cérebro, que, por isto, nunca será causa, mas sim dele só emanarão efeitos?! É-te possível compreendê-lo e, talvez, até sentir que pessoa alguma poderá pensar com o cérebro?”

  3. Diz Cirenius: “Senhor, sim, sinto-o vivamente! Mas como é pos- sível? Tenho deveras a impressão que desde sempre pensei com o cora- ção! Estranho! Que se passa? Sinto reais palavras no coração, palavras pronunciadas!”

  4. Digo Eu: “É a consequência natural pelo despertar do teu espí- rito, que é o amor para comigo e, através de Mim, para com todas as criaturas. Em pessoas cujo amor espiritual ainda não despertou, os pen- samentos surgidos no coração não podem ser vislumbrados, por ser este ainda mui material. Percebem-nos somente no cérebro, onde, já mais materializados em virtude do ímpeto para a ação, criam formas e amal- gamam-se com as impressões do mundo exterior através dos sentidos. Assim, tornam-se visíveis para a alma de acordo com a individualização material e, portanto, a base necessária para as más ações. Por isto, toda a criatura tem que renascer no coração, isto é, no espírito, do contrário não entrará no Reino do Céu!”

  1. Diz Cirenius a Pedro, que se encontra perto dele: “Compreen- des este renascimento do espírito no coração, onde e o que é o Reino do Céu, do qual Ele fala com os anjos, prometendo-nos isto como re- compensa de nossa fé?”

  2. Responde Pedro: “Certo que o compreendo e, se não o fizes- se, iria para casa tratar da minha vida. Investiga, nobre senhor, no teu coração, onde encontrarás mais do que se eu te orientasse duran- te cem anos!

  3. Observa-nos, Seus primeiros discípulos, e testemunhas se fala- mos algo externamente com Ele! No entanto, fazemo-lo internamente mais que tu e outros pela palavra pronunciada; falamos com Ele ape- nas no coração, perguntamos-Lhe mil coisas e recebemos as respostas em pensamentos nítidos; portanto, ganhamos duplamente. Pois uma resposta do Senhor no coração da criatura já é sua posse, enquanto a palavra externa deve ser constantemente aplicada em vista do trei- no psíquico.

  4. Deste modo, nobre senhor, podes fazer as perguntas em teu co- ração a respeito do anjo do mal e o Senhor te responderá secretamente, de sorte que Satanás nada ouvirá! Da mesma maneira poderás indagar do Senhor quanto ao renascimento do espírito dentro do coração e do Reino de Deus, que receberás uma resposta completa!”

  5. Diz Cirenius: “Agora compreendo por que nunca dirigis a pala- vra a Ele, o que muito me admirou! Bem, tentá-lo-ei! Se o Senhor é tão Misericordioso convosco, também o será comigo! Pois demonstro meu imenso afeto para com Ele pelo fato de me ter afastado do meu governo pelo tempo de Sua Presença aqui, fortalecendo minha alma com todas as Palavras vindas de Sua Boca Santificada!

  6. Creio, também, que já fiz muito mais por amor a Ele do que todos vós, pois conheço-O desde criancinha e Dele cuidei em longín- qua terra dos pagãos, assim como de Seus pais e irmãos! Enquanto sacrificastes somente vossas redes de pescador, eu estou pronto a desistir de minhas honrarias mundanas, se Ele o aceitar. Segui-Lo-ia como o mais simples entre vós, ofertando minha vida a Seu Favor — como já o fiz por várias vezes tanto por Ele quanto por vós, não considerando

uma possível perseguição de Roma! Assim sendo, julgo que mereço o mesmo que vós!”

  1. Digo Eu: “Meu fidelíssimo amigo e irmão! Por que te alteras com aquilo que já possuis? Experimenta perguntar-Me algo em teu co- ração, que nele depositarei a resposta clara, compreensível e audível, pois que Me amas sinceramente!”

63.AVOLTADOFILHO PERDIDO

  1. A este Meu Conselho, Cirenius indaga a respeito de Satanás, seu fim e se era possível cogitar de sua volta a Casa do Pai.

  2. E Eu lhe dou a resposta audível no coração: “Todos os aconteci- mentos têm o seguinte objetivo: procurar aquele que se perdeu e ofere- cer remédio ao enfermo, considerando sempre a livre vontade; impedi-

-lo em seu livre arbítrio seria transformar a infinita Criação material e todos os seus elementos em pedra duríssima, incapaz de sentir a menor vibração de vida. Todo o Cosmos representa este grande espírito caído e desagregado em inúmeros mundos. Deste único ser são tiradas miríades de criaturas, na maioria iguais às deste planeta, e transformadas, pela Onipotência, Poder, Amor e Sabedoria Divinos, em seres semelhantes a Deus — o que, em síntese, não deixa de ser uma volta do grande anjo caído!

  1. Quando, porém, todos os planetas e sóis se tiverem transforma- do em criaturas, nada mais sobrará ‘daquele’, a não ser o seu puro ‘eu’, que, no completo abandono, em épocas vindouras prontificar-se-á para a volta, caso não queira ser entregue ao eterno definhamento! Então não mais haverá Sol nem terras materiais girando no Espaço Infinito, e sim uma Nova e Maravilhosa Criação Espiritual com seres felizes e livres que preencherá o Infinito, e Eu serei Deus e Pai de todos os seres por toda a Eternidade! Haverá então umrebanho, umaprisco e umPastor!

  2. Esta época, porém, jamais poderá ser determinada! Mesmo se Eu te desse a era precisa, não a poderias assimilar, porquanto não te seria possível somar os anos, nem se contasses os grãos de areia do mar e da Terra, as ervas em todos os campos e matas, as gotas do mar, dos

lagos e dos rios, das cascatas e fontes — a fim de determinar o tempo da salvação definitiva!

  1. Por isto, satisfaze-te com o seguinte: Trata, antes de mais nada, da conquista do Reino de Deus e Sua Verdadeira Justiça, que serás des- pertado por Mim após tua morte para a Vida Eterna e, naquele Reino dos Espíritos Puros, mil anos passarão como se fora um dia!

  2. E lá, Meu amigo, no Meu Reino cheio das maiores bem-aven- turanças, com facilidade aguardarás aquilo que aqui te parece eterno! Por ora, nem tu nem um dos Meus discípulos podereis ser iniciados em toda a Sabedoria dos Céus — somente depois, quando fordes batiza- dos, daqui a alguns anos, pelo Espírito Santo de Deus! Ele vos condu- zirá a toda Sabedoria Divina e verás, então, numa Luz Completa, tudo aquilo que ora te parece tão incompreensível! Guarda o que te revelei, pois deverá ser segredo ainda por muito tempo!”

  3. Cirenius se assusta não pouco e diz, após alguma reflexão: “Sem dúvida ouvi a Tua Palavra no coração; mas é preciso que a advertência final deva ser considerada tão rigorosamente? Não seria possível trans- mitir algo a pessoas honestas e devotas?”

  4. Digo Eu: “Meu amigo, este conhecimento não prejudica quan- do é assimilado pela voz do espírito, como tu o acabaste de fazer, mas, externamente recebido, seria de grande dano. Comoe por que— já te falaram os Meus anjos, portanto deixemos este assunto. Temos outras coisas que resolver para já, enquanto tua pergunta toca a Eternidade!”

64.ARESPEITODOSER,DAVIDAEDOTRABALHODOSESPÍRITOSDA NATUREZA

  1. Cirenius se contenta com esta explicação; Kisjonah, porém, apresenta-se e pede para fazer uma pergunta a respeito duma determi- nação Minha que se não realizou.

  2. Digo Eu: “Fala, amigo dos amigos e inimigos!”

  3. Diz Kisjonah: “Senhor, quando transportávamos o tesouro de minhas cavernas, ordenaste que levássemos pão e vinho em quantidade, pois que haveríamos de encontrar muitos famintos e sedentos! Eu assim

fiz e fiquei esperando, tanto perto quanto dentro da gruta, que viesse alguém que disto necessitasse! Mas... nada! Ninguém apareceu!

  1. Depois de termos saído da caverna, que mandaste lacrar através do Teu Poder manifestado em Archiel, pão e vinho haviam sumido e nenhum dos carregadores sabia explicá-lo. Não me foi possível observar o momento preciso que tal fato aconteceu. No dia seguinte, quando deixavas Kis, todos em minha casa só falavam de Ti e se comentava, no mínimo, o dobro de Tuas Ações, como sempre acontece em casos semelhantes. E eu condenava isto como invenções duma fantasia prodi- giosa, mas o relato do desaparecimento de pão e vinho também a mim estonteou.”

  2. Digo Eu: “Sabia que isto iria te preocupar e, como Me pedes que te esclareça, ouve, pois: Tanto nas montanhas como no ar, den- tro da terra, na água e no fogo, existem certos espíritos da natureza que ainda não passaram por uma encarnação, por não lhes ter sido facultada oportunidade para tanto no momento da concepção. Em todos os elementos existem quantidades enormes de tais almas não encarnadas.

  3. As que atuam nas montanhas já adquiriram mais consistência pelo ar e não sentem especial necessidade de uma encarnação. Preferem até, por serem dotados duma certa inteligência, continuar o mais possí- vel num estado livre. Possuem mesmo sentimento de justiça e temem o Espírito de Deus, e os mais velhos, às vezes, têm conhecimento claro da Divindade! Os mais jovens costumam ser atrasados e maus, aplicando sua maldade quando não são impedidos pelos outros. Sua tarefa princi- pal consiste em formar quantidade de metais e organizá-los nas fendas e galerias montanhosas.

  4. Estes espíritos tomam alimento pela natureza, isto é, pelo reino vegetal. Trabalham arduamente na remodelação das rochas, na demoli- ção de partes montanhosas, no esvaziamento de cavernas cheias de água etc., numa atividade intensa, a fim de perderem seu amor aos montes e procurarem uma encarnação, porquanto, especialmente de agora em diante, nenhum espírito poderá alcançar a verdadeira felicidade sem ter passado pela carne.

  1. Estes elementos, Meu querido Kisjonah, mormente os que cui- dam das tuas montanhas, incumbiram-se de uma tarefa pesada a reali- zar no fechamento de tal gruta e, por isto, tinham que se fortalecer com pão e vinho! São estes de que falei que iríamos encontrar, famintos e sedentos! Assimilaram tudo e, com ajuda do Meu anjo, o imenso traba- lho foi bem concluído. Compreendeste?”

65.CONTOSDEGNOMOS.A FEITIÇARIA

  1. Diz Kisjonah: “Sim, Senhor, tanto mais quanto meus mineiros incumbidos da procura de metais muitas vezes me contavam que o pão e o vinho que tinham levado ao trabalho desapareciam sem descobri- rem o ladrão! Se estes mineiros famintos se aborreciam, ouvia-se uma forte gargalhada e alguns alegavam terem visto pular pequeninos seres de cores azul, vermelha, verde, amarela e até preta.

  2. Não há muito, o mineiro mais idoso contou-me que um gnomo azul lhe aconselhara a levar, no futuro, pão e vinho na bolsa de couro, que assim os outros não poderiam deles se apossar. Pessoa alguma de- veria falar em voz alta nas galerias, muito menos assobiar ou praguejar. Os gnomos não o suportavam, prejudicando os que o fizessem! Tam- bém não toleravam as gargalhadas. Se o meu pessoal de vez em quando lhes fornecesse sua merenda, os gnomos lhes auxiliariam na procura de metais.

  3. Embora tivesse, por várias vezes, fiscalizado os poços das minas, nunca tive provas da existência destes seres, por isto atribuía-lhes o valor de contos de fada; mas agora, após Tua Bondosa Explicação, tudo me é claro! Apenas uma coisa não percebo no momento: como estes gnomos, sendo espíritos, possam assimilar alimento natural! Como o fazem?”

  4. Digo Eu: “Mais ou menos da maneira como o fogo destrói o que alcança! Se depositares nele uma gota de vinho ou uma migalha de pão, verás quão rápido desaparece! Os gnomos dissolvem rapidamente a matéria transformando a existente substância espiritual em matéria psíquica, integrando-a no seu ser — e isto, num momento! Agora tam- bém estás informado a respeito dos gnomos!”

  1. Diz Kisjonah: “Senhor, agradeço-Te por esta explicação, pois alegra muito a minha alma e reconheço mais nitidamente que tudo que me rodeia é vida!”

  2. Digo Eu: “Muito bem, Meu querido amigo! Peço-te, porém, que tu e os que Me ouviram guardeis este conhecimento para vós, pois não é útil para qualquer um. Todos os feiticeiros egípcios e persas cos- tumam trabalhar com auxílio de duendes e gnomos. Essas magias são um horror para Deus e quem as pratica dificilmente entrará no Reino do Céu! Os mencionados feiticeiros impedem que aquelas entidades possam encarnar e, quando morrem, estas pessoas tornam-se prisionei- ras de tais almas incompletas e dificilmente poderão ser libertas, por- quanto assimilam constantemente suas inferiores vibrações. Digo-vos o seguinte: Amaldiçoado seja o feiticeiro! Jamais conseguiu uma boa ação pelo seu feitiço! Sempre prevalece a ganância e o domínio desmedidos, e estes espíritos receberão no inferno seu prêmio humilhante!”

  3. Diz Fausto: “Senhor, prevejo nada de bom para os muitos fei- ticeiros e magos no vasto Império Romano! Pois esta gente é lá consi- derada com honrarias divinas e consegue, com uma palavra, paralisar a vontade do imperador ou dum herói — e em caso contrário, animá-los de tal forma que as montanhas estremecem diante de seus atos!”

  4. Digo Eu: “Bem, Meu amigo, estes magos de atitudes semidivinas não passarão bem; sabem que traem torpemente os incautos, pois vendem o ‘nada’ por muito dinheiro, induzindo as pessoas a perversidades horren- das. São verdadeiros criadores do mal, para a perdição do próximo!”

  5. Perguntam vários romanos presentes: “Não poderão alcançar a bem-aventurança eterna, caso melhorem?”

  6. Respondo: “Como não? Mas a lástima é que estas pessoas pouco se prestam para a regeneração! Facilmente podeis converter as- sassinos, ladrões, salteadores, adúlteros etc., e um imperador e um rei também desfazer-se-ão das coroas; mas um mago não se separa de sua vara! Seus asseclas invisíveis não o permitem e o dominam quando os deseja abandonar.

  7. Por isto, repito: Amaldiçoada seja a feitiçaria! Pois por ela os pecados vieram ao mundo! Quem desejar fazer milagres terá que rece-

ber o poder de Deus; e só deverá fazê-lo onde exista necessidade pre- mente! Quem agir por mistificações através de rimas e sinais não mais necessita ser amaldiçoado, pois já o é pela sua vontade! Por isto, preser- vai-vos da magia, como da predição, da buena-dicha etc., pois muito prejudicam o espírito!”

  1. Quase todos se assustam com Minhas Palavras e indagam se também não mais deviam guiar-se pelos prenúncios dos tempos, apro- vados pela experiência.

  2. Digo Eu: “Oh, sim! Mas apenas quando se baseiam em cálcu- los científicos. Não o sendo, torna-se isto um pecado, pois que a criatu- ra aceita uma segunda crença, que enfraquece a fé pura na Providência Divina e, finalmente, liga mais às manifestações da Natureza do que ao Deus Único e Verdadeiro.

  3. Quem permanecer na fé inabalável e pura poderá pedir porque receberá, ainda mesmo que as experiências atmosféricas provem o con- trário; aquele, entretanto, que se fia nos sinais terá as provas de acordo. Os fariseus também acreditam neles e se deixam pagar para explicá-los; por isto, serão amaldiçoados!

  4. Não fez Deus tudo que servisse de prova para o homem? Será, portanto, Senhor e Guia sobre tudo! Se Ele assim fez, como poderiam as coisas e os sinais determinar algo sem Ele? Por isto, deve o homem pedir a Deus, que tudo pode, independentemente dos sinais! Não é isto mais confortador que milhares de explanações místicas?”

  5. Dizem todos na Minha mesa: “Senhor, isto é certo e verdadei- ro! Se, porém, fosse de Tua Vontade que todo o mundo assim pensasse e agisse, em pouco tempo tudo se modificaria! Nós, que Te rodeamos, não temos dificuldade para tanto, pois que és a Base de Todo Ser e Vida! Mas isto não se dá com milhões de criaturas não possuidoras desta Imensa Graça da Tua Presença, tampouco podem ouvir de Ti as Palavras de Vida! Certo é que também almejam vislumbrar Aquele de Quem a Criação dá testemunho tão evidente! Mas esta Graça não lhes é satisfeita. É fácil, portanto, compreender-se que feitiços e magias as atraem, pois oferecem-lhes algo, embora falso, que não deixa de ter aparência divina!”

66.FEITICEIROSE ADIVINHOS

  1. Eis que Cirenius toma de novo a palavra e diz, seriamente: “Se- nhor, ninguém pode contestar a Tua Divindade; mas confesso que, nesta explicação sobre feiticeiros e adivinhos, nada senti de Tua tão co- nhecida Misericórdia e Teu Amor! Nessas condições tudo depende de Ti — pois Tu Mesmo aplicas golpes fortes ao homem, que muito o magoam; mas ai dele, quando começa a gemer! Não sei se isto também é justo! As criaturas deste mundo são, na maioria, cegas e tolas e, como tais, pervertidas. Pergunto: onde está a culpa e como surgiu o mal? As- sim como ora pergunto, milhares de romanos o farão!

  2. Não é admissível que o homem surgisse de Tuas Mãos com más tendências, tampouco uma criança possa nascer como demônio. Se, portanto, o primeiro homem foi bom, como podiam tornar-se maus o segundo e terceiro? Foi isto da Tua Vontade, ou daquele que o gerou? Tudo que aconteceu estava dentro da Tua Sabedoria! Por que, então, a maldição daqueles que, realmente, salvaram a Humanidade do desespe- ro, pois que Tu não Te mostravas com sua súplica?! Por isto, Te peço: sê Justo, e não Inclemente; a criatura não tem armas contra seu Criador, e só pode pedir, sofrer e se desesperar!”

  3. Digo Eu: “Amigo Cirenius, já esqueceste de tudo aquilo que ouviste tanto de Mim quanto dos dois anjos?! Acaso disse que Eu Mes- mo julgava tais pessoas? Há poucos dias tencionavas mandar castigar os fariseus pela razão de quererem Me apedrejar, e Eu te impedi naquilo! Agora pareces querer tomar o partido deles! Talvez entendas melhor proporcionar meios adequados, pelos quais os homens consigam a Fi- liação Divina, quando o quiserem? Vê como ainda és fraco! Acaso és tão entendido na História da Humanidade que Me repreendas ter Eu, somente agora, dirigido Minha Atenção aos rogos dos homens?

  4. Não viveram as primeiras criaturas em Minha Presença cons- tante? Quem foi o sumo pontífice Melchisedek, que viveu como um Justo Rei dos Reis em Salém, desde Noé até Moysés? Quem foi o Espírito na Arca? E como este Me penetrasse — pergunto: Quem Sou Eu? Os clamadores desejavam-Me atrair das estrelas, porquanto

Eu lhes era mui simples e pouco divino, não querendo brilhar como os astros!

  1. Aquilo que acaba de te agitar está errado, e Satanás, percebendo que trazes o segredo dele dentro de ti, deitou-te uma armadilha — e já tencionavas discutir Comigo! Reflete se te assiste direito naquilo que falaste?!

  2. Poderia Eu, algum dia, ser Injusto e Inclemente? Sou, por aca- so, Injusto em te oferecendo o ouro verdadeiro, ao invés do falso? Ou deveria vos deixar na velha e inútil superstição? Não teria Eu, o Senhor, maior direito para aniquilar os perversos fariseus do que tu? Acaso os julguei? Vês quão curta é tua visão? Penso, Meu amigo, que tudo aquilo que viste e ouviste deveria proporcionar-te maior lucidez!”

  3. Cirenius, arrependido, pede que lhe perdoe, assim como todos os presentes, pois reconhecem seu erro. Eu os conforto, dizendo: “Oh, ainda passareis por muitas experiências semelhantes; mas, então, não esqueçais este acontecimento e a lição que acabais de receber. Caso con- trário, podeis cair em piores tentações e de nada vos adiantariam o Meu Convívio e Minhas Palavras; pois neste caso sereis vítimas do mundo, compartilhando com os que acabais de mencionar: Procuraram e cha- maram a Mim e Eu, a fim de os poder condenar, ofereci-lhes magos e adivinhos!” Todos Me pedem de novo perdão — e Eu os abençoo.

67.OSENHORCURAUM ENDEMONINHADO

  1. Logo a seguir chega um grupo de cidadãos e anuncia que um homem fora acometido de um acesso de loucura. Eu lhes pergunto o que lhe deveria fazer. E os cidadãos respondem: “Sabemos que és um médico milagroso, pois os fariseus nos contaram hoje que curaste, apenas pela tua vontade, a família de Josa e que és maisque o carpin- teiro Jesus! Por isto te pedimos, como teus conterrâneos, que cures este obsedado!”

  2. Pergunto: “Qual o motivo de sua loucura?”

  3. Respondem eles: “Querido Mestre, ele foi mordido por um cão e estes acidentes jamais foram curados! Se morrer, sua casa será queima-

da, pois bastaria alguém tocá-lo para ser contaminado do mesmo mal! Por este motivo, prendemo-lo em sua casa e te pedimos que nos libertes desta praga!”

  1. Digo Eu: “Ide e trazei-o, a fim de que se cure, assim como todos os que por ele se contaminaram!”

  2. Opõem os cidadãos: “Ó Mestre, como fazê-lo? Pois quem o to- car estará condenado a morrer!”

  3. Digo Eu: “Se não crerdes e não tiverdes fé, não poderei so- correr-vos!”

  4. Respondem eles: “Mestre, se te foi possível curar a família de Josa sem que os enfermos fossem conduzidos à Tua Presença, também deverias ter o mesmo poder para com este obsedado!”

  5. Digo Eu: “Josa tinha fé, vós não, e viestes apenas descobrir o que Eu faria com este pobre homem. Por isto, repito: Trazei-o aqui, que tan- to ele como vós sereis ajudados! Pois vós todos já fostes contaminados e a raiva poderá explodir a qualquer momento! Mas, se tendes fé a ponto de soltá-lo, este veneno satânico será aniquilado dentro de vós!”

  6. Após estas Minhas Palavras, eles vão buscar o raivoso, amarrado, que, com aspecto horrendo, uivava feito cão! Os Meus hóspedes se apa- voram, tanto que as mulheres se refugiam dentro de casa. Até Minha Mãe ali se oculta e Meus Próprios discípulos se afastam um pouco. Judas se esconde atrás de uma árvore. Somente Cirenius, Fausto, Cor- nélius, Kisjonah e Borus permanecem a Meu lado. Eis que digo aos cidadãos: “Libertai-o!”

  7. Todos se apavoram e gritam: “Senhor, então estaremos perdi- dos!” E não têm coragem para obedecer-Me, pois o povo junto com os discípulos fazem uma gritaria tremenda!

  8. Digo Eu a Borus: “Vai e desata-o! Já está curado em Meu Nome e não mais poderá prejudicar alguém!”

  9. Cheio de coragem, Borus se dirige ao raivoso e diz: “O Senhor Jesus esteja contigo, curando-te em Seu Nome!”

  10. No mesmo instante o homem se acalma e sua pele quase preta volta ao normal, pedindo ele a Borus que lhe tire as cordas. Este as- sim faz — e elas estão inteiramente limpas! O curado se Me aproxima,

agradece a grande graça recebida e Me pede que, no futuro, fique isento deste mal.

  1. Digo-lhe Eu: “Tu e todos que contaminaste sois curados; mas, no futuro, não sede amigos dos cães, e sim dos homens! Por que tendes cães em quantidade? Só deverão ser mantidos pelos que deles necessi- tam nas caçadas de animais ferozes e pelos pastores como proteção de seus rebanhos; além disto, ninguém deles precisa. Quem já tiver um deve mantê-lo acorrentado, a fim de não afugentar os pobres que, por- ventura, vos queiram pedir algo. Quem, daqui por diante, não seguir este conselho terá a mesma paga que tu. É preferível manterdes crianças pobres em vossa casa ao invés de cães perigosos e inúteis, que jamais sereis acometidos da raiva, cujo veneno deriva de Satanás!”

  2. Todos Me prometem acabar ainda neste dia com os cães que possuem; mas alguns fracos na fé indagam se realmente estão livres deste mal, mesmo para o futuro.

  3. Digo Eu: “Ó incrédulos! Não vistes como o raivoso ficou cura- do? Este o sendo, muito mais o sois vós, que ainda não fostes atacados por esta moléstia! Se posso chamar os mortos da tumba, tais males não poderão ser piores que a própria morte! O tempo vos dará o testemu- nho verdadeiro a respeito! Agora ide calmamente para casa! Mostrai-vos aos fariseus e escribas e ofertai no Altar o que Moysés determinou aos purificados da lepra!”

  4. Todos Me agradecem de coração e perguntam o que deveriam fazer como reconhecimento. E Eu lhes digo: “Acreditai e fazei aquilo que os templários vos ensinarão!”

  5. Eles se retiram satisfeitos e vão diretamente à sinagoga, onde contam tudo que lhes sucedera e fazem uma rica oferenda. Os fariseus, ignorando o caso do raivoso, muito se admiram, dizendo: “Realmente, esta cura só a Deus é possível! Jamais houve coisa idêntica em Israel! Este homem faz coisas jamais vistas pelo maior profeta! Não há doença que ele não curasse e tampouco um morto que não fosse despertado por ele! Voltai aqui amanhã que discutiremos este assunto!”

68.UMEVANGELHOPARAOS RICOS

  1. Os cidadãos se dirigem a seus lares e acompanham o curado a sua casa, onde é recebido por sua mulher, contentíssima, e seus dez fi- lhos. Todos choram de alegria e Me procuram para agradecer de joelhos esta imensa graça. Ao mesmo tempo oferecem sua moradia a Mim ou a qualquer pessoa que Eu lhes indicasse!

  2. Digo Eu à mulher: “Tudo que fizeres em Meu Nome a um po- bre, tê-lo-ás feito a Mim! Pelo pouco tempo que aqui permanecer, Mi- nha casa está provida de tudo. Quanto à Minha volta, serás informada!”

  3. Ela chora de alegria e gratidão e diz: “Senhor, ó Verdadeiro Mestre, dado pelo Céu! Sou possuidora de grande fortuna e farei dis- tribuir a metade entre os pobres e a outra parte administrarei em seu benefício; assim, nada lhes faltará. Penso ser isto razoável, pois sei que os necessitados não sabem como empregar grandes meios, gastando demais de uma só vez para depois ficarem desfalcados no momento de necessidade!”

  4. Digo Eu: “Faze isto, querida! Assim todos os ricos deveriam agir e os pobres não passariam misérias. A pobreza é um grande mal e tenta a criatura a maiores vícios que a riqueza. O rico mantém sua honra diante do mundo e raramente dá tanto escândalo quanto um pobre, capaz das piores ações, pela miséria. O rico desapiedado, porém, que aproveita os pobres na prática de seus vícios é, com toda sua honra mundana, mil vezes pior que o pobre viciado. Este se torna assim em consequência de sua miséria, e o rico é o criador do vício em sua abastança desmedida.

  5. Da maneira, porém, como irás administrar a tua fortuna, a ri- queza se torna uma Bênção dos Céus, trazendo temporária e eterna- mente o maior benefício a seu dono! Por isto, quem quiser ser virtuoso que seja sempre econômico, a fim de que possa socorrer os pobres na hora de penúria.

  6. Digo-vos a todos: Vosso amor para com os vossos filhos deve arder como uma chama; mas o amor para com os filhos dos pobres

Nome, dela cuidando tanto material quanto espiritualmente como se fora seu próprio sangue, aceita a Mim e Aquele que Me enviou ao mun- do, inteiramente Uno Comigo!

  1. Se desejais atrair a Bênção Divina para os vossos lares e aumen- tá-los como um grande campo de colheita, criai viveiros para crianças pobres, que sereis cumulados de Bênçãos, qual torrente que tudo inun- da. Mas, se enxotais os pequeninos e, por cima, ainda vos aborreceis com sua presença — a Bênção vos abandonará como o dia que morre diante dos passos largos da noite! Com isto, vai, Minha Filha, faze o que te disse e lembra-te das viúvas e dos órfãos!”

  2. A mulher se levanta com os filhos, agradece-Me e exclama: “Ó Deus de Abraham, Isaac e Jacob, como és Bom e Santo, Poderoso e Sábio, dando a nós — que somos pecadores — um Homem de Teu Coração, capaz de curar todos os nossos males físicos e psíquicos! A Ti, Pai Santíssimo, dedicamos todo louvor, honra e gratidão! Querido Pai, como és Bom para com aqueles que somente em Ti confiam! Castigas os que não cumprem Teus Mandamentos; mas, se o pecador arrepen- dido Te chama: ‘Querido e Santíssimo Pai, perdoa-me!’, Tu o salvas do seu sofrimento!

  3. Ó criaturas, segui o meu exemplo! Também eu fui uma peca- dora e Deus me fez sentir, poderosamente, Seu Açoite Divino; mas eu não vacilava na confiança para com Ele, arrependi-me das faltas e roguei fervorosamente ao Pai nos Céus. E vede, Ele atendeu as minhas súplicas, salvando-me da imensa miséria! Por isto, confiai apenas Nele! Pois, quando não há mais auxílio humano, Ele vem na certa e socorre o desesperado! Eis por que devemos louvá-Lo constantemente! A Ti, querido Enviado dos Céus, toda a minha gratidão, pois deves ser um Instrumento Sagrado nas Mãos do Deus Onipotente!”

  4. Esta exclamação, que se refere a Mim, faz-Me verter muitas lágrimas de comoção, tanto que tenho de Me virar. Cirenius percebe-o e diz: “Senhor, que tens, pois estás chorando?”

  5. E Eu respondo: “Amigo, existem poucos filhos iguais a esta! Deveria Eu, o Pai, tão sinceramente por ela elogiado, não Me comover? Digo-te: mais que qualquer outro pai! Esta é como todas deveriam ser

e Eu muito Me alegro com ela! Mas também deverá saber o que repre- senta Eu ter chorado de regozijo por sua causa!”

  1. Enxugando Minhas Lágrimas, digo-lhe, pois que nela vibra um amor intenso para com Deus: “Minha querida filha! Teu amor e tua fé em Deus, sendo tão imensos como jamais vi, não posso deixar-te assim. Manda teu filho mais velho chamar teu marido, que tenho algo de importante a lhe dizer!” O menino corre à cidade e em pouco tempo volta com o pai curado.

  2. Então, digo-lhe: “Amigo, chamei-te a fim de que não sejas ape- nas são de corpo, e sim também da alma, que viverá eternamente, e saibas de tudo que aqui sucedeu. Hoje à noite serás Meu hóspede com tua mulher e filhos e, além disto, assistirás a muita coisa para saberes Quem te curou. Isto será uma grande alegria para vós todos. Antes da ceia, porém, daremos um pequeno passeio à sinagoga construída por Jairo, e ele, sua esposa, sua filha e esposo, Cirenius, Cornélius, Fausto, Kisjonah e tu com tua família nos acompanhareis. Lá verás o que for- tificará tua fé!”

  3. Diz o curado, chamado Bab: “Mestre, far-se-á de acordo com a tua vontade! Estou pronto a seguir-te até o fim do mundo!” Em seguida dirigimo-nos à sinagoga, alcançando-a em quinze minutos.

69.NATUMBADE JAIRO

  1. Chegamos, portanto, à sinagoga e de lá nos dirigimos ao sepulcro no qual Sarah ficara mais de quatro dias e onde ainda se acham os len- çóis e as faixas com as quais fora envolvida. Mas ali também repousa um outro defunto, das relações de Jairo. Trata-se dum menino de doze anos que falecera há ano e meio duma enfermidade maligna. Encontrava-se ele num caixão de cedro e estava completamente putrefato, até aos ossos.

  2. Ao passar perto do caixão, Jairo começa a chorar e diz: “Este mundo é algo doloroso! Faz surgir as flores mais delicadas, e qual seu destino? Morte e destruição! O perfume balsâmico da rosa se torna desagradável e o lírio mimoso e inocente emana um odor pestilento quando deteriorado.

  1. Este menino foi, ao pé da letra, um anjo! O temor de Deus já o animava desde o berço e, com a idade de dez anos, entendia a Escritura e mantinha os Mandamentos como um adulto. Para encurtar: seu com- portamento realmente devoto e suas faculdades espirituais justificavam as maiores esperanças. Eis, então, que adoeceu — e não houve médico que o curasse; assim, tudo que se podia dele aguardar desvaneceu-se.

  2. É justo, portanto, perguntar-se por que Deus, o Senhor, cheio de Amor e Misericórdia, age de tal forma com as criaturas que Nele confiam! Milhares de crianças pobres vagueiam sem teto e sem cultura, e Deus não as chama! Mas aquelas, cujos pais têm posses para educá-las de maneira agradável a Deus, geralmente morrem cedo! Por que isto? Se é do agrado do Pai criar apenas imbecis, incapazes de pronunciar cinco palavras, fará bem chamar para Si aquelas crianças que manifestam um espírito elevado!”

  3. Digo Eu: “Caro amigo Jairo, falas de maneira humana; Deus, porém, age como a Sua Sabedoria Eterna Lhe orienta; do contrário, ninguém e nada teria vida! Portanto, és injusto em tua reclamação! Pois, se Deus tirasse da Terra todas as crianças que desde cedo manifestassem inteligência e talento, todos vós que Me rodeais estaríeis na tumba! Alcançastes, no entanto, a idade atual! Embora em vós se externasse um certo grau de inteligência e vossos pais também não fossem po- bres, Deus vos deixou com vida, enquanto tirou aos pagãos milhares de filhos através da disenteria e outras moléstias. Sofreram eles tanto quanto os pais deste menino, que em seu lugar adotaram três filhos de pobres. Estes três, porém, são sucessores dignos deste filho, que com o tempo teria sido extremamente mimado pelos genitores em consequên- cia de seus talentos e, no fim, não teria correspondido às suas elevadas esperanças. Teria ele se tornado orgulhoso e vaidoso, e nenhum escriba poderia lhe ensinar algo!

  4. Prevendo isto, Deus o afastou em tempo desta Terra, entregan- do-o aos anjos para uma educação melhor, a fim de que possa alcan- çar o seu destino. Ao mesmo tempo, Deus previu que agora chegou a época em que Seu Nome deve ser glorificado, por vossa causa. Fez com que este menino morresse há ano e meio, para que se encontrasse em

completa decomposição naquele momento em que Deus, o Senhor, o ressuscitaria. Tirai o caixão e abri-o!”

70.RESSURREIÇÃODE JOSOÉ

  1. Imediatamente Borus e Kisjonah descem à tumba e tentam le- vantar o caixão. Isto, no entanto, não lhes é possível, por ser o mesmo de cedro maciço e, além disto, ornamentado com metal, ouro e prata. Após várias tentativas diz Borus: “Senhor, não conseguimos levantar este caixão! Lembro-me que foi aqui depositado com máquinas e só poderá ser retirado do mesmo modo!”

  2. Digo Eu: “Então saí, que os dois jovens se incumbirão!” Borus e Kisjonah obedecem e os anjos suspendem o esquife como se fora uma pluma. Bab, sua mulher e filhos arregalam os olhos e dizem: “Que força possuem estes dois jovens, que não aparentam mais de quinze anos! Isto jamais aconteceu!”

  3. Digo Eu: “Deixai isto de parte, pois sereis testemunhas de coi- sas mais grandiosas! Mas uma coisa vos recomendo seriamente: não comenteis algo do que suceder, mesmo aos Meus discípulos! Por ora não o poderão saber. Abri o caixão, a fim de que vejamos o estado de decomposição deste menino!”

  4. Abre-se, então, o esquife, e o que resta do corpo é, por Borus, desembaraçado dos panos e tiras. Todos contemplam com horror aque- le miserável esqueleto.

  5. Fausto, então, diz: “Eccehomo! Que destino maravilhoso da car- ne tentadora! Um crânio horrendo no qual ainda estão colados uns poucos cabelos! A pele sobre o peito, marrom-esverdeada, perfurada por algumas costelas meio apodrecidas, a espinha dorsal enegrecida, sobre a qual se veem vestígios das vísceras cobertas de mofo! E os pés

  1. Digo Eu: “Mas, se o Filho do homem tem o Poder de ressus- citar defuntos iguais a este, e todos que, desde Adam, jazem na terra

  1. Assim, pois, exclamo: “Josoé, digo-te: levanta-te e vive, e tes- temunha que Eu tenho o Poder de ressuscitar defuntos como tu!” No mesmo instante faz-se sentir uma forte rajada de vento! O mofo de- saparece, sobre os ossos se estica a pele, o corpo começa a surgir e em poucos minutos se levanta do caixão o menino completamente vivo! Reconhece logo Jairo, Fausto e Cornélius, que conhecia de Nazareth, e pergunta àquele: “Querido tio, como cheguei eu dentro deste caixão? Que aconteceu comigo? Encontrava-me em companhia tão agradável e não sei como aqui cheguei!”

  2. Diz Jairo: “Querido Josoé, vê Este a teu lado, que é o Senhor sobre a vida e a morte! Morreste fisicamente e já te encontravas há ano e meio neste caixão, não havendo poder humano capaz de te restituir a vida! Mas Este, aparentemente um homem, fez com que ressuscitasses! Por isto, deves agradecer-Lhe do fundo de tua alma!”

  3. Estonteado, o menino Me olha dos pés à cabeça, e diz, após uma pequena meditação: “Mas é justamente Aquele Que me chamou do meu grupo maravilhoso, dizendo: ‘Josoé, vem cá, tens de Me servir como testemunha de que Me é dado todo Poder nos Céus e na Terra!’

  4. De boa vontade Lhe segui, pois logo observei que tinha sido mandado por Deus, sendo Pleno da Onipotência Divina! É tal qual O vi no mundo dos espíritos. Agora tudo se me torna claro e estou ciente de que já vivi nesta Terra; mas não me lembro de que maneira morri! Mal deixara este mundo — encontrei-me numa bonita casa e em com- panhia muito agradável. De quando em quando via e falava a meus pais e irmãos sobre Assuntos Divinos, que me foram ensinados pelos companheiros experimentados. Mas Este Santo dos Santos não mais vi, a não ser agora, quando me chamou!”

  1. Dirigindo-Me aos dois jovens, digo: “Trazei roupa, pão e vi- nho, a fim de que sua carne se fortaleça e ele seja capaz de nos acom- panhar a Nazareth!” No mesmo instante, os dois apresentam o que havia pedido.

71.ESTUPEFAÇÃODEBABESUAMULHER.PROMESSADEIMORTALIDADEDADAA JOSOÉ

  1. Este acontecimento é demasiado forte para Bab e sua mulher, que lhe diz: “Querido, não percebes que somos grandes pecadores, pois que aqui, em Jesus, manifesta-Se a Plenitude Divina? Não é Aquele de Quem predisseram todos os profetas, até Zacharias e seu filho João? Não é Aquele que David chamou seu Senhor, quando diz: ‘O Senhor falou ao meu Senhor?’ Meu marido, eis aqui Jehovah e ninguém mais! Nós, porém, somos pecadores e não merecemos a Presença Dele!”

  2. Digo Eu aos extremamente comovidos: “Quem desperta os mortos também pode purificar sem ajuda de Moysés! Por isto, ficai! Pois Moysés não é mais que Eu e Aquele Que o despertou para aquilo que foi! Perdoados são vossos pecados e não necessitais de Moysés, que nada é sem Mim!”

  3. Diz Bab: “Então ficaremos, pois não duvido que assim seja!”

  4. Aduz sua mulher: “De ora em diante serei uma serva de meu Senhor e tudo que for de Sua Vontade farei! Sua Presença Santíssima, no entanto, quase me sufoca!”

  5. Digo Eu: “Filha, ouvi tua veneração divina em Nazareth e fiz o que viste por tua causa! Assim, poderás muito bem suportar Minha Presença. Agora, porém, repito que não comenteis uma sílaba sequer a respeito, não por Minha ou vossa causa, e sim em virtude dos muitos incrédulos, a fim de que não sejam forçados a acreditar no Filho do homem, mas façam-no livremente através do Evangelho!

  6. Por uma tal prova as criaturas de hoje seriam como que obriga- das a crer em Mim, pelo que sua vida sofreria um grande dano; seus descendentes, todavia, não a aceitariam senão como pura invenção da fantasia humana, escandalizando-se com a Doutrina e a Verdade Eter-

na. Eis por que é melhor silenciar sobre Meus Feitos Milagrosos, mor- mente no início de Minha Doutrinação.

  1. Tu, Jairo, entregarás Josoé a seus pais numa época propícia, dan- do-lhes as necessárias diretrizes. Deverão crer, sem fazer alarde diante das pessoas! Este menino, no entanto, tendo passado pela decomposi- ção, não mais morrerá fisicamente. Quando o seu tempo chegar, será chamado por um anjo, seguindo-o livremente — e jamais um mortal o verá nesta Terra! Agora, tendo já se fortalecido com pão e vinho, vamos para casa, que a noite não está longe!” A seguir, saímos da sinagoga, cujo túmulo é fechado por Jairo e Borus depois de os anjos lá terem depositado novamente o caixão, a seu pedido.

72.OVERDADEIRO CULTOA DEUS

  1. Lá fora Me diz Cirenius: “Senhor, se isto tivesse ocorrido em Roma, até as pedras teriam Te adorado; e nós, aqui, agimos como se fosse algo corriqueiro! Senhor, tem paciência — ou com nossa fraqueza ou com nossa estultícia!”

  2. Digo Eu: “Se esta fosse a Minha Intenção, teria nascido em Roma, e não em Nazareth! Fazei apenas o que vos exijo! O resto faz parte do pa- ganismo e é pecado. Ainda ignoras que ‘Amar a Deus sobre tudo e ao pró- ximo como a si mesmo’ é, indizivelmente, mais que construir miseráveis templos de pedras e madeira em honra do Senhor dos Céus e da Terra?

  3. Se, de acordo com Salomon, Céus e Terra não comportam a Majestade Divina, o que significa então uma miserável construção de pedras alcantiladas, quando tanto a Terra quanto o Infinito por Deus foram criados?!

  4. Dize-Me: que diria um pai a seus filhos que, tolamente, constru- íssem uma casinha e uma imagem dele de sua matéria fecal, adorando-o de joelhos? Que farias tu se teus filhos fizessem tal coisa e, embora o proibindo, continuassem nesta adoração imunda, obrigando até pelo castigo seus semelhantes a seguir-lhes e, por cima, ainda lhes exigissem uma taxa beata? Acaso te alegrarias com tal adoração imunda por parte dos teus filhos?

  1. Vê, já te sentes mal com esta expectativa; no entanto, afirmo-te que ainda seria mais admissível que a veneração humana dirigida a Deus nos templos! Pois os filhos ainda utilizariam para sua obra aquilo que ali- mentou o pai, mas os homens edificam, dos excrementos de Satanás, igre- jas nas quais adoram a Deus, o Criador! Que te parece esta veneração?”

  2. Diz Cirenius: “Senhor, se me fosse possível, destruiria com mil raios os templos desta Terra, coisa de momentos para os Teus anjos!”

  3. Digo Eu: “Amigo, isto já aconteceu, está acontecendo e ainda acontecerá no futuro — e os homens continuarão a construir templos! O de Jerusalém será arrasado assim como os dos pagãos! Mas no lu- gar dos poucos virão milhares — e enquanto esta Terra for habitada, os homens edificarão igrejas, grandes e pequenas, e lá procurarão sua felicidade. Poucos, porém, dedicar-se-ão ao empreendimento de cons- truir um Templo vivo no coração, onde Deus poderia ser dignamente reconhecido, venerado e adorado, porquanto é o exclusivo meio de vida para a alma!

  4. Enquanto as criaturas habitarem em palácios e por este motivo se deixarem adorar por aqueles que nada disto possuem, também se edificarão igrejas para um suposto deus, não para adorá-lo em verdade, mas para a elevação de seu construtor. Desta forma os homens se darão a honra que a Deus pertence e seu prêmio corresponderá a este atrevi- mento! No Além, entretanto, não terão mérito, pois serão expulsos para as trevas tenebrosas, onde o clamor e o ranger de dentes determinarão seu destino! Por isto, deixemos tudo conforme está, pois cada nó será desatado no mundo dos espíritos!”

73.ACEIAEMCASADE MARIA

  1. Enquanto isto, alcançamos a Minha casa, onde nos aguarda uma boa ceia, constituída, como sempre, de pão, vinho e uma quantidade de peixes bem preparados. Josoé os aprecia muito e se alegra da fartura.

  2. Jairo, no entanto, diz-lhe: “Querido sobrinho, não te deves ali- mentar com tanta avidez, pois que teu ‘novo’ estômago não poderá suportar uma quantidade tão grande de matéria!”

  1. Diz o menino: “Não te preocupes com isto, tio! Aquele Que me ressuscitou, certamente não iria implantar tal apetite no meu estômago, caso isto lhe prejudicasse! Pois não é brincadeira a pessoa passar sem comer durante ano e meio! Se isto te tivesse sucedido, compreenderias o meu apetite. Além Daquele Que me ressuscitou, sei perfeitamente se esta refeição me pode prejudicar!”

  2. Diz Jairo: “De minha parte me alegro do teu apetite e só tive boas intenções em minha reprimenda!”

  3. Enquanto tomamos alegremente a refeição, muitos comentários são feitos a respeito de Jerusalém. Os discípulos, entrementes, infor- mam-se acerca do menino, pois não sabem a sua origem. Tanto as per- guntas feitas ao próprio menino, quanto a Jairo e aos dois jovens, de nada adiantam, pois ninguém lhes dá uma resposta satisfatória.

  4. Observando a impaciência dos apóstolos, Maria lhes diz: “Por que indagais coisas que não necessitais saber? Fazei o que Ele vos disser e assim agireis de acordo com a Sua Vontade, certos do prêmio eterno! Tudo, porém, que for contra a Vontade do Mestre, vosso Salvador, é pecado — físico e espiritual! Gravai bem isto!” Com esta advertência de Maria, os discípulos deixam as indagações, confabulando entre si; Pedro, porém, dirige-se a Meu Amado João e lhe pergunta o que pensa daquele menino.

  5. João lhe diz: “Parece não teres ouvido as palavras meigas de Ma- ria, tanto que não desistes de querer saber aquilo que o Senhor, por motivos mui sábios, não nos deseja transmitir. Vê, a mim isto não pre- ocupa; basta saber o que sabemos! Se nossa curiosidade excede àquilo que devemos saber, cometemos uma tolice e merecemos tudo, menos sermos Seus discípulos!”

  6. Diz Pedro: “Sim, tens razão; no entanto, é a curiosidade uma dádiva implantada pelo Senhor no coração do homem, sem o que se assemelharia ao animal. A tendência divina da curiosidade consiste em ser a mesma comparável à sede que uma alma venha a sentir durante o sonho. Necessita ela de grande quantidade de água e vinho, que, no entanto, mais ainda estimulam sua vontade de beber. Nossa curiosidade insaciável demonstra, nitidamente, que em Deus repousa uma Plenitu-

de de Sabedoria que jamais será sondada por algum espírito pesquisa- dor! Assim sou de opinião que esta minha curiosidade não será pecado.

  1. Vê, dá-se comigo e com meus irmãos o mesmo que acontece com crianças gulosas que, enquanto não veem as guloseimas, não sen- tem vontade de saboreá-las. Convida-as, porém, a uma mesa de doces e proíba-lhes de provar algo — e em breve verás lágrimas em seus olhos e água em suas bocas. Contudo, tens razão, pois, do mesmo modo que um pai sábio proibirá aos filhos se servirem dos petiscos, a fim de que se exercitem na renúncia — nosso Pai Celeste parece fazer o mesmo, até que consigamos um certo grau de abnegação. E assim, dar-nos-emos por satisfeitos com aquilo que possuímos e sabemos, a fim de que se cumpra a Sua Vontade!”

  2. Digo Eu: “Caro Simon Juda, assim está bem e certo! Nem todo conhecimento e experiência se prestam para a ressurreição do espírito e a vivificação da alma. Pois consta: ‘E Deus falou a Adam: No dia em que comeres da árvore do conhecimento, morrerás!’

  3. No conhecimento jaz o julgamento e a lei; pois, enquanto ig- noras uma lei, não haverá condenação que a siga. Por isto, queira saber apenas aquilo que Eu te revelo, que saberás o suficiente. Quando o tempo chegar, tudo te será desvendado!”

74.DISCUSSÃOENTREJUDASE THOMAZ

  1. Com esta orientação, todos se satisfazem, louvando a Minha Bondade, Sabedoria e Onipotência. Apenas Judas reclama em voz alta: “Aos fariseus, que fazem ver aos estrangeiros o Santíssimo por dinheiro, Ele recrimina ao ponto de chamar chuva de enxofre dos Céus, mas, quando demonstra aos romanos a Sua Santidade e disto exclui Seus fi- lhos — acha que esteja dentro da Ordem Divina! Alguém teria assistido à coisa idêntica? Quando é feita em Jerusalém, torna-se um pecado — Ele o fazendo, fá-lo-á dentro da Ordem de Melchisedek! Nada há que fazer; no entanto, isto dá para a pessoa se aborrecer!”

  2. Diz Thomaz, como sempre mentor de Judas: “Vê só! Achaste algo que te não agrada? De há muito me admiro não discutires com o

Senhor por ter Ele localizado o Sol tão distante da Terra, de sorte que não possas secar tuas panelas com menos gastos!

  1. Como seria bom se pudéssemos voar qual passarinhos! Confesso: muitas vezes tive ímpeto de acompanhar o voo das andorinhas, chegan- do mesmo a pular e a movimentar os braços; o peso do corpo, porém, impedia-me de me elevar do solo! De cada vez me conformava, pensan- do: Se fosse da Vontade de Deus que as criaturas voassem, Ele lhes teria dado asas. Prevendo que tal faculdade seria prejudicial ao homem, o Pai lhe deu dois pés firmes e sólidos e, além disto, duas mãos bem úteis e um intelecto capaz de alcançar as estrelas, com o qual ele, em substituição às asas, pode conseguir uma infinidade de vantagens. E duvido que os pássaros possam avaliar suas asas, como o homem seus pés e intelecto!

  2. Vê, da mesma forma é difícil à criatura movimentar-se na água, mas seu intelecto lhe faculta os meios para a construção dum navio e, por certo, nossos descendentes farão grande progresso neste campo — e quem sabe se algum dia não conseguirão elevar-se da Terra por meio de asas artificiais, como faziam os antigos hindus?!”

  3. Eis que Judas interrompe bruscamente Thomaz e diz: “Acaso destinei-te mestre de correção, para me cansares constantemente com tuas prédicas? Guarda tua sabedoria para teus filhos e deixa-me em paz, do contrário serei obrigado a te fazer calar! Varre a soleira de tua porta, que me incumbirei da minha. Se algo não me agrada, nada tens a ver com isto! Recorda-te de como o Senhor apaziguou a nossa disputa em Kis e satisfaze-te com isto! Compreendes?”

  4. Diz Thomaz: “Judas, meu irmão, que te fiz eu que tanto te abor- reces comigo? Acaso não é verdade que reclamavas por Deus ter coloca- do o Sol tão longe da Terra e por te não ter dado um par de asas?”

  5. Como Judas não responda, Thomaz continua: “Se queres zan- gar-te comigo, fá-lo-ás sem razão! Tal atitude na Presença do Senhor não me parece muito louvável, pois índole igual à tua não deveria fazer parte dos discípulos do Senhor e farias melhor voltando para junto de tua olaria, do que importunando a Companhia de Jesus por motivos fúteis. Já esqueceste do Sermão da Montanha, no qual Ele manda amar aos inimigos, abençoar aos que nos amaldiçoam e fazer o bem pelo mal?

  1. Não querendo seguir o Verbo do Pai, humilhando-te sempre que possível — pergunto-te: por que nos molestas com tua presença?! Passas dias sem nos dirigir palavra; alguém te perguntando, não lhe respondes, ou o fazes de maneira tão bruta, que não se anima à outra tentativa. É este o comportamento dum discípulo do Senhor? Vai-te embora ou então corrige-te! Realmente, arrependo-me cada vez mais de ter-te trazido ao nosso meio! Implorarei ao Senhor, de joelhos, que te afaste daqui, caso não o queiras fazer de boa vontade!”

  2. Diz finalmente Judas, retendo sua íntima raiva com ares de sor- riso: “Nem tu nem o Senhor podereis determinar se vou ou se fico! Sou um homem livre e posso fazer o que me agrada! Vê, se eu não soubesse que tu te aborreces tanto, de há muito teria procurado outra compa- nhia! Por isto, fico para te servir de prova na aplicação da paciência e do amor ao próximo, desejando aprender, pelo Sermão praticado, a Doutrina de Jesus! Compreendeste-me, sábio Thomaz?”

  3. Diz este, dirigindo-se a Mim: “Senhor, todos nós Te pedimos a exclusão deste elemento! Pois a seu lado não há possibilidade de união fraternal, tampouco a prática de Teus Ensinos! Além disto, é ele um traidor e instigador! Por que deveria aqui permanecer, se não só não aplica as Tuas Leis, como zomba dos que se esforçam por fazê-lo?”

75.O SENHOR ADVERTE JUDAS

  1. Digo Eu a Judas: “Thomaz tem uma queixa justa contra ti! Ad- virto-te: modifica teu coração e torna-te um homem! Como diabo Me és repugnante e podes ir! Pois Minha Companhia é Santa por ser bafe- jada pelo Espírito Divino — e em tal ambiente demônio algum poderá permanecer!”

  2. Estas palavras levam Judas a cair de joelhos e pedir perdão a Thomaz. Este, porém, diz: “Amigo, não mereço isto, e sim Aquele, cuja Doutrina vilipendiaste, falando contra mim!” Judas se levanta rápido e repete a atitude a Meus Pés.

  3. Eu, no entanto, digo-lhe: “Modifica teu coração mau, pois teu pedido de perdão apenas de lábios, sem a devida regeneração, não tem

valor perante Mim! A forma externa assemelha-se à serpente que seduz pelas curvas graciosas os pássaros do Céu, a fim de que os devore. Repi- to: Tem cuidado para não te tornares vítima de Satanás, que não larga sua presa!”

  1. Judas se levanta e diz: “Senhor, chamas os mortos da tumba — e eles vivem! Por que deixas que meu coração se perca no pecado? Quero modificar-me, mas não o posso por ser incapaz de melhorar o meu ín- timo! Por isto, faze-o Tu, que serei outro!”

  2. Digo Eu: “Eis o grande mistério da regeneração do homem! Tudo lhe posso fazer, e ele continuará a ser homem! O coração, entre- tanto, é seu e deverá ser transformado, caso deseje preparar-se para a Vida Eterna. Se Eu Pessoalmente fosse empregar a lima no coração da criatura, ela perderia sua independência, tornando-se maquinal. Rece- bendo o Ensinamento, o homem deve agir de própria vontade, a fim de reformar a sua índole.

  3. Após ter purificado o coração, Eu ali penetro e habito, e a criatura com isto renasce em espírito, jamais podendo se extraviar! Torna-se una Comigo, como Eu o sou com o Pai, do Qual Eu surgi, vindo ao mundo para mostrar às criaturas o caminho espiritual que devem trilhar, a fim de alcançar a Deus na Verdadeira Plenitude! Por isto, deves — como to- dos vós — pôr mãos à obra na reforma do coração; do contrário, estarás perdido, mesmo Eu te ressuscitando mil vezes da tumba material!”

  4. Diz Judas: “Senhor, então estarei perdido, porquanto tenho um coração indomável e não posso socorrer a mim mesmo!”

  5. Digo Eu: “Neste caso ouve teus irmãos e não te enraiveças quando te advertem com carinho; pois ajudam-te nessa reforma! Aprende com Thomaz, que com tua malcriação não se absteve de te admoestar, quan- do davas margem à maldade dentro de ti. Por isto, ouve suas palavras de amigo, que melhorarão o teu íntimo! Se, porém, não aceitares conselhos dos irmãos, como até agora o fizeste, serás presa fácil de Satanás!

  6. Antes de tudo, abstém-te da raiva e da ganância, senão serás filho da morte! Arrependimento e penitência no Além-túmulo não têm valor e tampouco auxiliarão uma alma impura e enegrecida. Vai e refle- te sobre Minhas Palavras!”

  1. Judas recua pensativo e, tomando uma meia-resolução, diz a Thomaz: “Bem, irmão, verás que Judas se modificará, tornando-

-se um exemplo para todos! Consigo muito quando quero, e agora me decidi!”

  1. Responde Thomaz: “Irmão, se te elogias com antecedência, o resultado será nulo; com isto também te tornarás um exemplo, não esti- mulador, mas detestável! Se desejas te tornar melhor que nós, conhece- dores de nossas fraquezas e misérias, da falta de mérito perante o Senhor

76.HUMILDADEE RENÚNCIA

  1. Judas, chamando-Me, pergunta: “Senhor, é certo o que Thomaz acaba de falar num tom de mando?”

  2. Digo Eu: “Sim! Quem entre vós mais se rebaixa diante dos ir- mãos é o primeiro no Reino de Deus; toda presunção leva a criatura ao último degrau. Se algum de vós sentir algo de altivez e presunção dentro de si, ainda não se terá libertado do inferno, que tudo destrói, e estará longe do Reino de Deus, pois seu espírito está algemado. Redu- zindo-se, porém, abaixo dos irmãos, prontificando-se a lhes servir com tudo que possui — será o primeiro no Reino de Deus e um exemplo para seu semelhante. Somente aquele capaz de se rebaixar perante todos possui um espírito divino!”

  3. Diz Judas: “Neste caso depende dos outros deixar-se servir por ele, a fim de que possa conseguir a prioridade celestial! Que será se eles não aceitarem seu serviço, pois lhe fazem concorrência? Quem, então, será o primeiro?”

  4. Digo Eu: “Todos que o fizerem de bom coração. Aqueles, po- rém, que, levados dum certo amor-próprio, não aceitarem o auxílio

do outro — a fim de não lhe dar oportunidade de ser um primeiro no Reino de Deus — serão os últimos e ele o primeiro, porquanto quis socorrê-los por amor e verdadeira humildade!

  1. No Além tudo será medido e pesado minuciosamente — e se surgir algo de egoístico, a balança não registrará a boa ação. Por isto, tens de ter a plena verdade dentro de ti, senão será impossível o teu ingresso no Meu Reino! Somente a verdade pura vos libertará diante de Deus e de Suas criaturas! Compreendes isto?”

  2. Diz Judas: “Sim, compreendo-o; no entanto, também reconhe- ço ser inteiramente impossível alcançá-lo, pois não existe possibilidade de o homem renunciar completamente ao amor-próprio. Há de comer, beber, tratar de casa e roupa — o que não deixa de ser uma ação egoís- tica. Ele procura uma esposa apenas para si — e ai daquele que a queira conquistar! Não é isto um certo egoísmo?

  3. Se possuo um campo bem semeado e chegar a época da colhei- ta, deverei, acaso, procurar meus vizinhos e dizer-lhes: ‘Amigos, po- deis colher o que semeei; pois sou o mais despretensioso e vosso servo, trabalhando apenas por vós?!’ Penso haver necessidade dum limite na renúncia estipulada por Ti, pois sem isto só se demonstraria o critério desvantajoso que se faria do próximo. Julgar-se superior ao outro não deixa de ser orgulho! Mas neste caso imaginemos a Humanidade daqui a cem anos — e veremos se não comerá capim qual gado no pasto, nem haverá vestígio dum idioma, muito menos duma habitação e cidade! Qual é, pois, o limite do amor-próprio?”

77.ASTRÊSQUALIDADESDE AMOR

  1. Digo Eu: “Pois bem, darei uma medida pela qual todos vós sabe- reis aplicar o amor-próprio, o amor ao próximo e o amor a Deus.

  2. Toma o número seiscentos e sessenta e seis, que, em boas ou más condições, designa ou um homem ou um demônio perfeito!

  3. Divide o amor em seiscentas e sessenta e seis partes; darás, então, seiscentas a Deus, sessenta ao próximo, ficando com seis! Se quiseres ser, porém, um demônio perfeito, inverterás os valores!

  1. Vê, são os empregados e servos que cultivam os campos de seus patrões. Julgando por ti, deveriam guardar a colheita, pois que é fruto de seu trabalho; eles, entretanto, regozijam-se em poder dizer ao dono: ‘Patrão, teus celeiros estão repletos; no entanto, ainda há metade nos campos! Que faremos?’ E seu regozijo aumentará, o patrão responden- do: ‘Louvo vossa assiduidade e zelo desinteressados; ide em busca de construtores, a fim de que construam, rapidamente, outros celeiros que comportem o resto da colheita, para épocas que talvez não sejam tão abençoadas!’ Vê, nada pertence aos lavradores, não possuem celeiros e despensas; no entanto, trabalham por um ordenado pequeno, como se fosse em seu benefício, pois sabem que não lhes faltará algo enquanto o patrão tiver abundância.

  2. Na justa atividade do servo consiste a relação da verdadeira cria- tura quanto a si mesma, ao próximo e a Deus. O verdadeiro empregado cuida, para si, seis vezes; para seus colegas, a fim de conquistar sua amizade, sessenta vezes, e para o patrão, seiscentas vezes, ganhando sem querer seiscentas e sessenta e seis vezes. Pois os outros lhe estimarão por ser ele destituído de amor-próprio, e o dono o elevará. Mas um empre- gado que apenas tratar do seu bolso, preferindo ser o último no traba- lho e procurando a tarefa mais leve, será logo malquisto pelos outros e o patrão perceberá que é um preguiçoso. Não o elevará a posto melhor, mas diminuirá seu ordenado, fazendo-o sentar no fim da mesa. Ele não se corrigindo, será dispensado com más referências e, por conseguinte, dificilmente achará outro emprego. Se, porém, ainda tiver um amigo, ao qual algum dia manifestou-se desinteressado, este o poderá acolher em sua casa, pelo que o Senhor não o criticará. Compreendes isto?

  3. Toda pessoa deve ter um certo grau de amor-próprio, sem o qual não poderia viver — mas, como digo, o menor grau possível; exceden- do-se em algo, já altera a relação puramente humana, pois a Balança Divina até um cabelo pesa! Tens com isto o limite delineado e veremos como o porás em prática!”

  4. Diz Judas: “Para tal é necessária uma sabedoria profunda, a fim de podermos julgar se conseguimos a medida justa do amor-próprio! Como será possível a um homem de curta visão?”

  1. Digo Eu: “Deve fazer o que puder, que Deus preencherá as la- cunas. Ninguém, todavia, deverá se preocupar se possui menos de seis partes de amor-próprio, muito menos criaturas de tua índole!” Judas se cala e levanta-se pensativo, a fim de preparar um leito para si.

  2. Eis que Josoé se manifesta, dizendo: “Quase não mais suportei a estultícia deste homem! É Teu discípulo, no entanto, tão cego como uma coruja à luz do dia. Entendi tudo que Tu, ó Senhor, lhe falaste; ele, porém, nada compreendia, porquanto sempre perguntava e fazia objeções, afastando-se, finalmente, tão ignorante como se Tu nada lhe tivesses falado! As perguntas duma criança são perdoáveis; mas um adulto que pretende ser inteligente, caindo neste erro — eviden- temente com más intenções — força a pessoa a se aborrecer! Aceitarei por três vezes a morte, caso este homem se modifique! Parece avarento e calcula o lucro que lhe seria facultado se possuidor de Teu Poder Milagroso! E eu, Josoé, tudo daria e sofreria, se fosse possível Judas modificar-se!”

  3. Digo Eu: “Meu caro Josoé, deixa estar; precisamos de diversos servidores na edificação dum novo Céu e duma nova Terra, e nisto Ju- das nos será útil! Agora, porém, dize-Me: que dirás a teus pais quando os encontrares dentro de alguns dias?”

78.PLANOINTELIGENTEDE JOSOÉ

  1. Diz Josoé, sorridente: “Senhor, penso ser isto bem fácil! Serei reconduzido pelo tio Jairo à casa de meus pais, pois na certa ainda las- timam a minha morte. Admirar-se-ão de ver um menino tão parecido com o Josoé. Jairo, então, dirá que sou um exposto e, casualmente, uso também o mesmo nome do falecido. Meus pais me adotarão e amarão mais do que aquele. Pouco a pouco poderão ser integrados na verdade de que sou, realmente, seu filho. Estará bem assim, Senhor?”

  2. Digo Eu: “Teu plano é bem traçado, Meu querido Josoé; há, porém, um pormenor nocivo, pois que tencionas dizer uma mentira. Não sendo um exposto, como irás justificar esta afirmação diante de teus pais e de Deus?”

  1. Responde o menino: “Senhor, quando sorris, as coisas não an- dam mal; portanto, já me acho justificado por Ti como o foi Jacob diante de seu cego pai, Isaac, quando meteu suas mãos em pele de car- neiro! Penso que aquilo foi muito mais uma mentira do que se eu for entregue como exposto aos meus! Se Deus, naquela ocasião, mostrou-

-Se benigno aceitando a primogenitura de Jacob, não vejo por que deva Ele repudiar o exposto Josoé, que é realmente isto, como nenhum outro sobre a Terra! Não haverá pessoa mais abandonada e perdida como al- guém que tenha morrido; portanto, também não haverá um que mais mereça este título!”

  1. Digo Eu: “Ótimo, conseguiste uma boa defesa em teu favor! Agora, só desejo saber como irás te apresentar a teus pais como filho verdadeiro!”

  2. Diz Josoé: “Oh, Senhor, nada mais fácil! Uma vez em casa, por- tar-me-ei como dantes; farei as mesmas perguntas, procurarei os meus brinquedos — e a maneira de usá-los certamente causará admiração a meus pais, que dirão: ‘Eis nosso Josoé, que talvez fosse despertado por Borus com seus remédios misteriosos!’ Então, deixo-os algum tempo nesta fé e, quando a época for propícia, saberão da verdade.”

  3. Digo Eu: “Eis outra mentira! Pois deixar ficar alguém conscien- temente num engano é o mesmo que uma mentira! Que farás?”

  4. Diz Josoé: “Senhor, aceito Teu Sorriso como bom agouro e pen- so ser tal mentira de qualidade especial. Apresentar uma mentira como verdade, com más intenções, é algo diabólico! Todavia, uma aparente, pela qual se oculte a verdade pelo tempo indispensável que o outro ne- cessite para suportá-la, não pode ser maléfica, pois surge dum coração benevolente!

  5. Neste caso, toda parábola poderá ser considerada uma menti- ra, porquanto oculta uma verdade elevada. Entretanto, os patriarcas e profetas costumavam falar em quadros! E que Borus, como afamado médico, assuma o Teu Lugar, é o mesmo que, na época de Abraham, terem os três anjos que o procuraram tomado o lugar de Jehovah; assim, também a mentira de José no Egito, feita a seus irmãos à procura de trigo, não foi registrada por Deus como pecado. Tal mentira aparente

é, a meu ver, uma precaução divina, enquanto uma verdadeira faz parte da astúcia satânica!”

  1. Digo Eu: “Vem cá, Meu querido Josoé, e deixa que Eu te abrace! Embora ainda garoto, és mais sábio que um velho escriba!”

  2. Josoé dá a volta em redor da mesa, abraça-Me e beija, e diz numa alegria incontida: “Vede, velhos espíritos e elementos poderosos, e ocultai vossos semblantes! Jamais vistes o que ora se dá! O Eterno e Santo Pai, Presente no Filho Jesus, deixa-Se abraçar e beijar por uma Sua criatura! O Eterno, atraindo um ser temporário, beija-o, eterni- zando-o deste modo! Ó Tu, Verdadeiro e Único Pai das criaturas, quão doce é o Teu Amor!”

79.DOISANJOSOFERECEMSEUSPRÉSTIMOSA JOSOÉ

  1. Em seguida, aproximam-se os dois anjos e dizem: “Sim, adorá- vel menino, falaste certo! Jamais nossos olhos, que, muito antes de um sol manifestar sua presença no Eterno Espaço Divino, contemplavam o Infinito, assistiram à cena presente! Permanece neste ânimo que te inspira de modo tão sublime, que seremos eternamente teus irmãos!”

  2. Diz Josoé: “Quem sois, falando tão sábias palavras? Porventura não sois humanos?”

  3. Dizem ambos: “Querido irmão, espiritualmente somos o que tu és; nunca, porém, encarnamos! Somos anjos do Senhor, aqui presentes para Lhe servir. Se Ele, futuramente, conceder-nos a Graça duma en- carnação, seremos o que ora és. Por enquanto, tens esta vantagem sobre nós; a Eternidade, porém, é longa e nivelará todas as diferenciações. Oferecemos-te nossos préstimos como fiéis servidores; externa tuas or- dens que as cumpriremos!”

  4. Diz Josoé: “Que ajuda vos poderia pedir? Todos nós temos umDeus, umSenhor e umPai de Eternidade. A Ele compete exigir de mim e de vós; nós, por Ele criados, de ninguém devemos exigir algo, mas servir-nos mutuamente por amor, se anjo ou criatura de algo necessite!

  5. Já não considero perfeito aquele que, embora mui prestativo, socorra um irmão necessitado; pois, neste caso, apenas receberá ajuda

quem possua oportunidade e coragem de expor sua miséria. Quem, desta forma, ajudará uma pessoa que não tenha ocasião e ânimo para pedir um auxílio? Se já não aceito um socorro implorado, muito menos um exigido!

  1. Por isto, afirmo na Presença Daquele Que é Senhor sobre vida e morte: se perceberdes que necessito de algo, ajudai-me sem que vos peça, ou, talvez, ordene como se fosse um senhor! Faria o mesmo com relação a vós!

  2. Todo aquele que, de qualquer maneira, desfrute posição avan- tajada deve averiguar com assiduidade a pobreza do próximo, a fim de socorrê-lo. Deste modo será, a meu ver, agradável aos olhos do Pai

  1. Vede, meus amigos: se vossa sabedoria não for além de oferecer às criaturas que vos ordenem quando de vós necessitarem, não trocarei minha posição de garoto com a vossa, angelical. Se, entretanto, queríeis apenas experimentar-me, penso não me ter saído mal neste exame; e se, por acaso, ouvistes algo que sensibilizasse vossos ouvidos, deveis levar-me em conta. Não vos falei a fim de vos doutrinar, mas em prol da verdade, que não foi o móvel de vossa oferta. Como espíritos perfeitos, deveríeis penetrar e conhecer o meu íntimo, de modo que saberíeis, de antemão, da minha resposta à vossa oferta, pela qual não vos posso agradecer!”

  2. Os dois jovens recuam algo humilhados e dizem: “Realmente, esta Sabedoria Pura e Divina anjo algum teria suposto neste menino!”

  3. Digo Eu: “Sim, Meus queridos, os Olhos de Deus até nos anjos perfeitos descobrem máculas — assim como um coração puro é seme- lhante à menina-do-olho de Deus! Permiti este fato não por vossa cau- sa, mas em consideração aos hóspedes, a fim de que ouvissem, pela boca dum menor, o quanto lhes falta para a Perfeição Divina. Além disto, possui ele de nascença um espírito extraordinariamente lúcido, por isto ninguém deve supor que Eu tenha depositado as palavras que proferiu em seu coração e, afinal, em sua boca. São propriedade sua, razão por que, em tempos, será um instrumento de grande valor!”

80.CIRENIUSADOTA JOSOÉ

  1. Diz Cirenius: “Senhor, tinha vontade de levar este menino co- migo e, ele o aceitando, não só igualá-lo a meus filhos, mas até consi- derá-lo mais ainda que os próprios. Realmente, ficaria contentíssimo se fosse meu, pois é mais anjo que criatura humana! Também encon- trará dificuldades na companhia dos pais, restando saber se o aceitarão. Ciente de tudo, poderei com o tempo facilitar as condições para que eles o reconheçam. Querendo recebê-lo, poderão se decidir, com a con- dição de que Josoé ficará comigo, isto é, acompanhando-me nas minhas viagens pela Ásia, Europa e África!”

  2. Digo Eu: “Combina isto com Jairo e Josoé! Estou de acordo com tudo, pois ele Me será fiel onde quer que esteja!”

  3. Diz o menino: “Pai, por certo não duvidarás de mim? A não ser que Tu Mesmo modifiques a minha índole! Se pudesse determinar sobre o meu futuro, preferiria ficar a Teu lado! Acaso haveria algo de mais elevado, sublime e bendito em toda a Eternidade, que permanecer Contigo, a Fonte Primária do Amor, da Sabedoria e da Vida? Este seria o meu mais forte desejo; além disto, porém, sei obedecer à Tua Vonta- de! Tanto irei com Cirenius, que muito prezo, quanto também voltarei para junto dos meus; mas, sem a Tua Vontade, nada farei!”

  4. Digo Eu: “O teu caráter demonstra claramente que tens esta aspiração, a qual também se cumprirá; por ora, entretanto, necessitas de algum repouso através dum afastamento de Minha Pessoa, a fim de que se firme a relação entre corpo e alma. Daqui a um ano poderás voltar para junto de Mim, sem que Eu necessite conter tua alma dentro da matéria. Eis o motivo por que permito o teu afastamento! Resolve, porém, com quem desejas viver! Uma coisa é certa: lucrarás muito mais com Cirenius do que sendo um exposto aparente na casa paterna.”

  5. Diz Josoé: “Muito bem, sabendo disto, acompanharei o vice-rei. Tinha, porém, vontade de rever meus pais e ver sua admiração.”

  6. Diz Cirenius: “Será fácil fazê-lo amanhã, quando nos dirigirmos por Capernaum a Sidon e Tyro! Quando em Capernaum almoçarmos em casa de meu irmão Cornélius, que vês a meu lado, farei convidar

os teus pais com outras notabilidades — e então terás oportunidade de revê-los. Cuidado para te não traíres! Pela vestimenta não te reconhe- cerão, pois arranjar-te-ei uma toga. Mas, como já disse, cuida de tua língua, para não te denunciares!”

  1. Diz o menino: “Não te preocupes! Com a ajuda do Senhor, tudo correrá bem.” Cirenius acaricia-o e diz: “Amo-te mais que a meus pró- prios filhos e àqueles que adotei e dos quais também sou pai amoroso, como de ti, pois ser-lhes-ás de grande proveito espiritual!”

  2. Diz Josoé: “Alegro-me bastante com isto, pois foi sempre uma grande satisfação o poder ser útil a alguém.”

  3. Digo Eu: “Bem, Meu Josoé, vendo que futuramente és fiel a teu propósito, dar-te-ei um Poder dos Céus, pelo qual ser-te-á mais fácil ajudar ao próximo. Em que consiste tal Poder sentirás no momento oportuno! Agora vamos nos recolher, que já passa de meia-noite. O que o dia de amanhã nos trouxer de bom será nossa parte, e do mal sabere- mos nos afastar!” A seguir todos se recolhem.

MORTE DE JOÃO BAPTISTA. JESUS NO DESERTO E NO LAGO DE GENEZARETH

Ev. Matheus – Capítulo 14

81.RELATODEROBANREFERENTEAONOVO REITOR

  1. A manhã seguinte é radiosa e muitos hóspedes já se acham fora de casa quando Eu, os discípulos, os romanos e Kisjonah nos levanta- mos. Daqui a pouco aparece Bab com sua família; haviam dormido em casa, a fim de não nos dar trabalho. Conta ele, rapidamente, que na cidade, mormente na sinagoga, havia tanta agitação que não teve coragem de perguntar o motivo.

  2. Digo Eu: “É consequência da ação do novo reitor que, na certa, veio fazer uma inspeção em Nazareth! Nada há demais nisto, portanto vamos tomar nosso desjejum.” A seguir digo aos dois jovens ainda pre- sentes: “Ide à sinagoga e buscai Roban, pois preciso lhe falar! Não vos

denuncieis com atitudes sobrenaturais!” Ambos se afastam e nós nos entregamos à refeição.

  1. Mal deixamos a mesa, chega Roban com seus companheiros, curva-se respeitosamente diante de Mim e dos nobres romanos e diz, extenuado: “Ó Senhor, eis o Céu, e lá, na sinagoga, o inferno no auge! Senhor, nada necessito dizer-Te, pois sei que és o Onisciente, mas é de desesperar o que faz o nosso atual reitor! Se não for um verdadeiro irmão de Satanás, desisto de minha integridade! Primeiramente, não só nos tira o que possuímos em dinheiro, mas também nos saqueia todos os bens, de modo a não sabermos com que viver no futuro. Tirou-nos todo o trigo, cereais e peixes defumados; marcou bois, vacas e garrotes, carneiros e burros como sendo posse do Templo! Além disto, nos decla- ra apóstatas, querendo impingir-nos toda sorte de multas! Alega que em Jerusalém se sabe tudo o que aqui acontece, tendo ele a incumbência de Te prender como revolucionário e entregar-Te às autoridades! Que me dizes a respeito?

  2. Herodes é sabedor de todos os Teus Passos e já teria agido há muito, se não fosse de opinião — inculcada por um adivinho, discípulo de João — seres Tu João Baptista ressuscitado! Havia ordenado sua de- capitação a pedido de Herodias, apresentando-lhe a cabeça do profeta como prova de sua promessa! Por aí vês, Senhor, como andam as coisas! Se não Te opuseres a isto com todo o Teu Poder, estarás perdido com aqueles que te acompanham! É o inferno desenfreado — e Tua Cabeça representa o valor de dez mil libras!”

  3. Eis que chamo Matheus e lhe digo: “Anota o que ouvires!” Ele, de pronto, presta-se a esta tarefa. A seguir, digo a Roban: “Relataste ligeiramente a triste história de João; repete-a tal qual vos foi contada pelo novo chefe! Faço questão que seja assim anotada.” Diz Roban: “Com a melhor boa vontade; temo, porém, que se perceba minha au- sência — e corremos perigo que este chefe satânico aqui nos venha procurar!”

  4. Digo Eu: “Não te aflijas, que ainda temos o Poder suficiente para detê-lo!” Aduz ele: “Neste caso passarei a contar literalmente a história de João Baptista!”

82.HISTÓRIAEFIMDEJOÃO BAPTISTA

Ev.MatheusCapítulo14,versículos1a 12

  1. (Roban): “Os fiscais de impostos do Tetrarca Herodes há pouco falaram sobre Ti e Teus Atos, e que dispersaste seus delegados, pois não se podiam opor contra o Teu Poder. Eis que Herodes consultou seu adivinho. Este sendo, secretamente, um discípulo de João, não perdoa- va o homicídio com ele praticado e aproveitou a oportunidade para se vingar em Herodes, declarando-lhe: ‘Eis João Baptista, ressuscitado dos mortos, que ora age contra ti!’

  2. Herodes se assustou não pouco e, tremendo, disse aos empre- gados: ‘Não se trata do carpinteiro Jesus, que bem conheço, pois há cinco anos construiu com seu pai um novo trono para mim. Embora fosse muito sisudo era habilidoso como um artista. É João Baptista, por minha ordem decapitado, que, como espírito, atua contra mim de ma- neira milagrosa (Matheus 14, 2). Nada façais contra ele, pois que isto seria a minha desgraça!’

  3. A esta explicação os servos se afastaram perplexos, pois sabiam que Tu não és João Baptista — mas não ousavam contestar o Tetrarca. A seguir perguntamos ao reitor o que havia de verdadeiro com o homi- cídio de João, pois nada disto sabíamos. Eis que ele, então, contou-nos: Embora superficialmente, Herodes no início também foi adepto dele, considerando-o um sábio. Por isto, o levou à corte e quis dele aprender a ciência oculta. Mas, como não queria desistir de sua paixão para com Herodias, mulher de seu irmão Philippe (Matheus 14, 3), João se al- terou, dizendo ao Tetrarca: ‘Não te é lícito possuí-la! (Matheus 14, 4). Pois consta: Não cobiçarás a mulher do teu próximo!’ Herodes, enrai- vecido, mandou encarcerá-lo e também o teria matado, se não fosse o medo ao povo, que o considerava profeta (Matheus 14, 5).

  4. Acontece, porém, que, poucos dias após, Herodes festejava seu aniversário, e a bela filha de Herodias dançou diante dele e dos nobres convivas, o que muito lhe agradou (Matheus 14, 6). Jurou dar-lhe tudo que ela exigisse (Matheus 14, 7). Salomé, porém, consultou Herodias, que havia jurado vingança a João, por este haver querido interferir em

suas relações com Herodes. E a mãe a instruiu de forma a que viesse exigir a cabeça do profeta.

  1. Eis que a filha se dirigiu ao Tetrarca e lhe disse: ‘Dá-me, num prato de ouro, a cabeça de João Baptista!’ (Matheus 14, 8). O rei se afligiu, não por causa de João, mas pelo povo, de quem temia vingança. Entretanto, pelo juramento e pelos presentes à mesa, ordenou se desse a Salomé o que exigira (Matheus 14, 9). E os servos degolaram João no cárcere (Matheus 14, 10) após terem dali afastado seus discípulos. Levaram sua cabeça numa bandeja à sala de refeição para entregá-la à Salomé, e esta ofertou-a à sua mãe! (Matheus 14, 11).

  2. Quando ali voltaram os adeptos, só encontraram o corpo de João Baptista. Levando-o consigo, enterraram-no (Matheus 14, 12) à vista de milhares, que, chorosos, praguejavam contra Herodes Antippas e sua família. Herodias, porém, quando viu o semblante de João, caiu mor- ta por terra contorcendo-se horrivelmente, e sua filha acompanhou-a poucos minutos após. Herodes e seus hóspedes fugiram apavorados.

  3. Eis, Senhor, a triste história de João Baptista, que batizava no Jordão, não distante do deserto de Bethabara, onde o rio desemboca no lago, atravessando-o, a fim de dirigir-se ao Mar Morto. Que me dizes? Será possível que criaturas se tornem demônios numa época em que Tu, a Quem Céus e Terra obedecem, caminhas como Homem sobre o orbe? Acaso não tens raios e trovões à Tua Disposição?”

  4. Manifestam-se Cirenius e Cornélius, alterados: “Senhor, o peri- go é iminente! Não podemos esperar com Tua Paciência, é preciso agir! No mais tardar em dez dias, esta raça do inferno junto com o Templo deverão ser dizimados!”

  5. Digo Eu: “Bastariam estes dois jovens para executar, num mo- mento, o que o poderio romano não conseguiria em um século! Se isto estivesse dentro da Ordem Divina, seria coisa de minutos para Mim! Mas tudo isto tem de acontecer, em vista da formação dum novo Céu e duma nova Terra! Tratai, porém, de vos afastar daqui; este reitor é mau — e Satanás lhe mostra mil caminhos para vos prejudicar! Por isto, ide! Também Eu deixarei esta zona, por tempo indeterminado, pois convém fugir dos cães raivosos! Ele tem ouro e prata em quantidade,

do contrário não poderia ter comprado este posto. Tu, Roban, volta para lá enquanto ainda não deram pela tua ausência!” Diz ele: “Que responderei, caso me perguntarem a Teu Respeito?” Respondo: “Isto te será revelado na hora!”

83.CENACOMONOVOCHEFEDOTEMPLOEM NAZARETH

  1. Imediatamente Roban se dirige à sua casa, onde logo é procura- do por um mensageiro que lhe transmite a ordem de comparecimento na sinagoga. O chefe, sabendo que Roban Me procurara em Sichar, deseja falar-lhe. Em lá chegando, ele o descompõe.

  2. Roban, porém, diz: “Sou decano de Nazareth e estou perto dos oitenta anos, ao passo que tu ainda estás longe dos trinta! O fato de teres conseguido te tornar nosso chefe, devido à tua fortuna, não te dá o direito dum Moysés ou Aaron, tampouco o de ensinares-me algo que eu não soubesse antes de teres nascido! Todos nós desempenhamos nosso cargo a contento do teu predecessor e do Templo, considerando os acontecimentos ocorridos sob o critério de judeus devotos, impondo barreiras onde necessário. Se tu, porém, entenderes melhor destas coisas e quiseres, de um golpe, converter em judeus todos os gregos e romanos, garanto-te que serás o único judeu restante na Galileia, além de nós!

  3. A vila de Jesaíra, por este motivo, tornou-se grega, obrigando to- dos os fariseus, escribas e sacerdotes a abandoná-la! Faze uma tentativa e inicia uma sindicância naquele local, que seus habitantes te esclarecerão de tal forma que farás uso de tuas pernas! Por que, então, apostata- ram aquelas pessoas? Em consequência do rigor e do domínio daquele sacerdócio, culpado deles se terem tornado adeptos de Pythagoras! O mesmo acontecerá aqui — e todos nos poderemos congratular! Não sejas tão cego e reconhece a verdade!

  4. Os mais elevados cargos de Estado são preenchidos por gregos e romanos, que folgariam se os judeus aderissem à sua nova fé. Como evi- tarás esses incidentes, quando todos na Galileia sabem que o sacerdócio se assemelha a uma noz oca? E quem mais que os próprios templários gananciosos são culpados disto, pois apresentam o Santíssimo aos es-

trangeiros, os quais, não obstante a promessa de sigilo, comentam este fato ridicularizando-o perante o povo?! Vai e pergunta aos moradores desta cidade, que te contarão o mesmo!”

  1. Diz o reitor: “O quê? O povo sabe disto tudo?” Responde Ro- ban: “Exatamente! Vai, porém, e tira-lhe este conhecimento!” O chefe, pensativo, caminha de lá para cá e diz, depois de algum tempo: “Na certa o profeta nazareno tem culpa nisto! Portanto, suceder-lhe-á o que foi feito a João, a mando de Herodes!”

  2. Diz Roban: “Sim, depende duma tentativa de pôr mãos neste médico milagroso, que o povo, os judeus, romanos e gregos, conside- rando-o um deus, terão algo a te contar! Eu, ancião de Nazareth, dou-te um conselho de amigo: se caminhares nas pegadas de teu predecessor Jairo, irás bem, por algum tempo; se, porém, procurares a confusão, poderás, em breve, ir em busca de outra colocação em Jerusalém. Jairo está nas mãos dos gregos; Borus, seu genro, um segundo médico mila- groso e abastado, terá uma boa conversa contigo! Em suma, faze uma experiência e depois me conta se te dei um conselho errado!”

  3. O reitor bate com o punho cerrado na mesa e diz: “Sois todos do demônio e pareceis fazer conchavo com os antagonistas do Templo, aderindo à doutrina daquele revolucionário! Por isto, expulsar-vos-ei da sinagoga, preenchendo vossos postos com elementos novos e vos entregando as autoridades! Por isto repito: Que foste fazer em Sichar?”

  4. Diz Roban: “Tenho setenta e nove anos e sei o que faço! Tua ameaça não me assusta, tampouco a algum outro! Se nos quiseres entre- gar à Justiça, podes tentá-lo, e veremos quem por ela será preso — tu ou nós! Felizmente somos benquistos por parte do vice-rei, irmão do im- perador Augusto, portanto não será tão fácil aprisionar-nos! O Templo, porém, que odeia Jesus por motivo de domínio, agradece-lhe o fato de não ter sido arrasado pelos romanos! Certamente ouviste falar no gran- de roubo de impostos, praticado há cinco semanas pelos seus agentes, cujo transporte vergonhoso fora apreendido pelo ricaço Kisjonah. Vê, aí foi Jesus, o injustamente odiado pelo Templo, porém venerado pelos romanos mais que a Júpiter, quem desviou, pela palavra e ação mila- grosa, a tempestade que iria desabar sobre Jerusalém! Mas ainda não foi

de todo sustada; uma teimosia de vossa parte — e ela se desencadeará! Além disto, basta uma notificação por parte de Borus, Jairo e eu, que te aconselho procurares daqui a vinte e um dias o lugar do Templo — e dificilmente o encontrarás! Compreendeste-me bem?”

  1. O chefe, alterado, bate com o pé e diz: “Quem poderá positivar tal afirmação, se os implicados neste caso se acham no Templo?”

  2. Diz Roban: “Pela lei de Roma o criminoso não pode jurar, mas podem as testemunhas, as quais, quando necessário, havê-las-á aos milhares, o que bastará contra dez criminosos!”

  3. Completamente desanimado, diz o reitor: “Quer dizer que não se pode mais confiar em Jehovah, Moysés e os profetas, e suas Leis não deverão ser consideradas, por causa dos romanos?!”

  4. Diz Roban: “Não venhas te querer reportar a eles! Nenhum de vós os considera; pois o Templo há trinta anos foi reformado numa casa de agiotagem e negócios! O que lá existe é apenas a máscara e os lobos vorazes se revestem de pelo de carneiro, a fim de devorarem com mais facilidade os pobres rebanhos. Se considerasses as Leis de Moysés, não te terias deixado levar pela aquisição do cargo que ora ocupas! Dou-te minha vida se provares ter Moysés determinado tal coisa!”

  5. Esta réplica de Roban quase faz estourar o outro de raiva, que grita: “Isto não importa! Acharei um meio para vos dominar!” Diz Ro- ban: “É possível! No entanto, também conhecemos tuas traficâncias, de sorte que resta saber se já não impedimos teus planos escabrosos! Faze uma tentativa e verás o resultado!”

  6. Dizem os outros a Roban: “Mas por que impedes que este monstro seja aniquilado? Está em nossas mãos e poderá clamar pelo so- corro do Céu, se tomarmos a liberdade de lhe fazer provar as pedras de Nazareth!” — E voltando-se ao reitor: “Somos fariseus e escribas como tu e até mais que isto, pois descendemos de Levi, enquanto compraste este direito! Hoje em dia até o Céu é comprável! Portanto és um intruso e sacrílego, e deverias ser apedrejado!” Esta ameaça faz com que o chefe se torne, ao menos aparentemente, mais acessível, tanto que diz: “Não me julgueis mal; também eu conheço as deficiências do Templo, mas trata-se de encobri-las, para que ele volte a ter seu poder antigo!”

84.CHIWARTESTEMUNHADEJOÃOBAPTISTAE JESUS

  1. Diz em seguida Chiwar: “Para que este trabalho insensato? Não fui servo do Templo dos onze aos vinte e cinco anos? Sei muito bem o que lá se passa. Se tivesse más intenções, de há muito poderia ter relata- do aqueles horrores! Mas o povo cego necessita do Templo! Por que de- veria tirar-lhe a fé, que lhe dá a esperança ilimitada e a nós, sacerdotes, um bom passadio? Se, entretanto, dedicarmo-nos em demasia ao escla- recimento do povo, teremos que, em breve, procurar outro sustento!

  2. Que fazer contra o crescente número de inimigos? Julgas que o sinédrio nos protegerá? Em Roma vivem muitos judeus em palacetes suntuosos, que construíram com dinheiro ilicitamente ganho no Tem- plo! Serão estes tão pouco nossos defensores como os colegas daqui, que há muito já se acham prontos a encetar uma viagem para a Itália e nunca mais voltar. Por isto, deveremos continuar com dignidade em nossos postos como sacerdotes e, além disto, considerar o termo roma- no inmediovirtus(no meio está a virtude); do contrário, teremos que nos dedicar à pescaria!

  3. Para completar, aparecem precisamente agora dois homens, cujo poder incompreensível seria capaz de conquistar o mundo inteiro com sua nova doutrina! João Baptista, o primeiro, que já não mais está entre os vivos e cujos ensinamentos quase toda a Judeia e Galileia aceitaram! Foi possível à perversidade de Herodes decepar a cabeça deste autêntico profeta. Seria também capaz de fazê-lo ao seu espírito e à sua doutrina? Não o creio; pois, justamente pela perseguição, toda boa doutrina se torna invencível!

  4. No lugar de João surgiu Jesus, que, comparado àquele, é igual ao poderoso Ararat perto dum montículo de areia! Sua apresentação e atitudes meigas e bondosas; a profunda sabedoria de cada Palavra Sua

dum comportamento prudente e de contar com o futuro para poder- mos nos manter em nosso posto!”

  1. Diz o reitor: “Achas, portanto, que se não deva prender este Je- sus, e esperar que nos aniquile?”

  2. Diz Chiwar: “Tenta prendê-Lo, se te for possível! Que não fize- mos nós contra Ele e de que valeu? Conseguimos que aumentasse Seus discípulos com mil adeptos novos e quase tivemos a sorte duvidosa de cair nas mãos dos romanos, que O consideram Deus! Além disto, Ele é constantemente acompanhado por anjos que, embora de aparência frágil, possuem uma força inaudita! Ainda tencionas botar tuas mãos sobre Ele? Peço-te não sejas doido! Antes que possas dar um passo com más intenções, já estarás aleijado! Julgas que Ele ignore o que ora dis- cutimos? Todos aqui são testemunhas como, há poucos dias, era do Seu conhecimento o que conjeturávamos em segredo!

  3. É muito agradável ouvir falar duma tempestade em alto-mar! Coisa diferente, porém, ter passado por ela! Desempenha o teu cargo com calma e sem escândalo, que não terás de aguardar aborrecimentos! Se agires com tirania, todos nós te garantimos que tu, Capernaum e Jerusalém caireis no abismo! Com prudência será possível manter esta última por uns cinquenta anos — mas também pode-se provocar sua queda em poucas semanas! Podes escolher livremente o que te agrada; nós estamos garantidos pelos romanos! Afirmo-te que todos os digni- tários de Roma se deixam conduzir por Jesus qual cordeiros! Sendo prudente, poderás te tornar amigo dos romanos e passarás bem como teu ex-colega Jairo!”

  4. Esta dissertação não deixa de surtir efeito: o reitor se acalma e re- conhece ser razoável seguir o conselho de Roban e Chiwar. Deste modo a primeira tempestade dentro da sinagoga foi apaziguada.

85.OSENHORLOUVAROBANE CHIWAR

  1. Passada uma hora, Chiwar volta para junto de Mim, queren- do contar-Me o sucedido. Eu, porém, lho impeço, dizendo: “Amigo, poupa teu esforço, pois sabes que nada Me é oculto! Tenho apenas que

elogiar a ambos, que vos saístes bem, pois o reitor teria cometido hor- rores! Mas convenceu-se ser melhor não agir contra os romanos. Não podeis, no entanto, confiar nele integralmente e convém não perdê-lo de vista. Como foste o defensor mais zeloso de Minha Pessoa, e ainda o és — dar-te-ei a faculdade de curar os doentes através de preces e pas- ses, conhecer pela intuição os planos do novo reitor e tomar a devida e rápida precaução para conseguires um resultado! Abençoo-te, portanto, para tal fim!”

  1. Chiwar se ajoelha e Me pede com fervor esta Graça. Depositan- do Minha Destra sobre seu coração e a Esquerda em sua cabeça, ele se torna iluminado e diz: “Senhor, toda penumbra desapareceu de dentro de mim, fazendo meu corpo tão transparente qual diamante pela luz do dia! Senhor, deixa que esta Bênção perdure comigo, que procurarei dela me tornar digno!”

  2. Digo Eu: “Permanece na Minha Doutrina, que não terás motivo de queixa sobre a perda desta Luz!” Chiwar se levanta e observa que, além de Borus, Jairo, Maria e Meus irmãos, não há mais nenhum hós- pede na sala, e pergunta a razão.

  3. Digo Eu: “Isto tinha que ser assim! Vê, em pouco teremos outono e inverno. O tempo da colheita está próximo e tenho de ir à procura de trabalhadores para o campo e para a vinha. Se tudo for recolhido, podere- mos descansar no inverno, a fim de reiniciarmos o trabalho na primavera.

  4. Ainda hoje deixarei esta zona; pois Herodes é uma raposa ladina, o novo reitor, seu servo — e Minha casa não deverá ser um campo de batalha. Há poucas horas enviei Meus discípulos e Kisjonah a Kis, onde aguardarão adeptos de João Baptista para lhes anunciarem a aproxima- ção do Reino de Deus. À noite, todos estarão de novo aqui, a fim de, juntos, seguirmos caminho. Saberás pela intuição o nosso destino.

  5. Procura agir em combinação com Borus e Jairo; são os mais dig- nos em Nazareth, possuem todo Meu Amor e, por Mim, a Plena Graça de Deus! Nenhum dos Meus discípulos até hoje conseguiu amar-Me e conhecer-Me como eles! Não levará tempo e todos os Meus adeptos aborrecer-se-ão Comigo. A Borus e Jairo, porém, nada perturbará; pois sabem Quem Eu sou! Procura-os sempre, que te tornarás idêntico!”

  1. Inteiramente satisfeito, Chiwar pergunta pelos dois anjos, que também não mais ali estavam.

  2. Eu lhe digo: “Levanta teu olhar que verás, não só dois, mas inú- meras falanges em torno deles!” Assim fazendo, Chiwar avista os dois arcanjos rodeados por miríades de anjos prontos para Me servirem. Hu- mildemente ele baixa os olhos e diz: “Senhor, sou pecador e não posso suportar esta visão santa; mas tudo farei por merecê-la!”

  3. Digo Eu: “Age com justiça, que teu prêmio no Céu, cuja orla acabas de ver, será grande! Volta, agora, à sinagoga; pois o reitor, que permanecerá por alguns dias em Nazareth, não deve sentir tua falta, porquanto considera tua opinião!”

86.KORAH, O NOVO REITOR, E CHIWAR NA SINAGOGA DE NAZARETH

  1. Com estas palavras se afasta o honesto Chiwar e, chegando à escola, sabe que o reitor deu por sua falta, pois lhe pergunta onde esteve e que fizera. Diz Chiwar: “Tive um caso complicado com um viajante, ao qual dei solução, tanto que pôde seguir viagem!”

  2. Diz o reitor: “Donde veio ele e para onde foi? Poderei ainda lhe falar?” Responde o outro: “Era um judeu que veio de cima e já partiu! Não poderás vê-lo, a não ser quando voltar! Quando? Em alguns dias!”

  3. Diz o reitor: “Tua resposta ambígua não me satisfaz! Dá-me o nome do albergue em que se hospedou, pois quero ir até lá informar-

-me de tudo! Uma interferência importante por parte dum fariseu é algo de extraordinário e merece ter sido testemunhada por muitos!”

  1. Diz Chiwar: “Vai, se queres saber mais que eu! Esteve hospe- dado na casa do carpinteiro José! Se fores até lá, não deves esquecer de proteger tuas costas, que haverá pancada de sobra! Pensas que o povo respeita pessoas iguais a nós? O mínimo deslize terá, como consequ- ência, uma pancadaria em regra! Mas, como já disse, basta fazer uma tentativa para se adquirir experiência!”

  2. Diz o reitor: “Por tuas palavras deduzo que todos vós vos insur- gistes contra mim! Mas não importa! Dentro em breve espero descobrir

a trama toda e, então — ai de vós! Dize-me: como se chega à casa do carpinteiro?”

  1. Responde Chiwar: “Chega à janela que verás, a uns dois mil passos, a morada dele. Vai e convence-te, inclusive das pancadas!” Diz ele: “Exijo que me acompanheis!” Respondem todos: “Pois sim! Só se fôssemos doidos!” Diz o reitor: “Bem, então irei em Nome de Jehovah e quero ver quem terá coragem de tocar num ungido de Deus!”

  2. Retruca Chiwar: “Ungidos iguais a nós, esta unção nada mais é que uma fraude vulgar, sem valor diante de Deus, que não nos prote- gerá contra coisa alguma! Pois, como já disse, o povo sabe muito bem o que deduzir do Templo!” Diz o reitor: “Seja como for, irei agora! Ai de vós se encontrar as coisas de modo diverso!”

  3. Responde Chiwar: “Dificilmente ouvirás o que desejas saber, mas receberás outra coisa que te produzirá sofrimento!” Não mais pres- tando atenção às palavras de Chiwar, o reitor se dirige à rua. Mal é visto, a garotada o persegue, gritando: “Eis o novo reitor mau! Fora com ele!” De todos os lados se juntam mais crianças e adultos munidos de pedras e porretes, que o fazem sentir no corpo esta recepção “animadora”! Rá- pido, volta à sinagoga, fechando a porta, que recebe a chuva de pedras. Juntando-se aos fariseus, diz, cheio de raiva: “Isto é obra vossa! Saberei vingar-me!”

  4. Responde Chiwar, irritado: “Que falas, miserável? Como pode- ria ser obra nossa, quando te prevenimos ao saíres? Somente depois de teres sido recomendado por nós poderás te dirigir ao povo, que não te considera por teres comprado este teu posto! Se tencionas, como pró- logo de teu exercício, tiranizar-nos, serás odiado por todos e farás bem passando teu cargo a um que o mereça.

  5. Terias que te modificar completamente, caso tenciones con- quistar nossa simpatia! Isto, no entanto, será difícil, pois que não adianta externares uma feição amável quando possuímos a intuição de ler teus pensamentos! Se modificares teu coração, deixando que nele penetre a sabedoria divina, então louvar-te-emos diante do povo; ao passo que de nada te valem o sumo pontífice, Pilatus e, muito me- nos, Herodes!”

  1. Diz o reitor: “Como podes saber que eu estava pensando nesses três amigos?”

  2. Responde o outro: “Através do meu espírito profético, diante do qual será difícil te ocultares! Será, portanto, impossível empreende- res algo sem que não tomemos as devidas precauções! Estás satisfeito conosco? Vê, ainda somos sacerdotes verdadeiros! O Espírito de Jeho- vah nos acompanha, embora tenha abandonado de há muito o Templo de Jerusalém! Se te quiseres manter em nosso meio, terás que te tornar um real sacerdote!”

  3. Diz o reitor: “Malditos servos do sinédrio! O meu dinheiro vos agradou — no entanto, não calculastes que, ao invés dum posto ren- doso, fui buscar um ninho de marimbondos! Vereis que Korah não vos deu tal fortuna de graça!” Após alguns minutos dirige-se ele de novo a Chiwar, perguntando: “Que devo fazer para conquistar vossa amizade e a do povo?”

  4. Diz aquele: “Tanto eu quanto Roban já te demos as devidas instruções — e aqui tens a Escritura, que te revela a Vontade de Jeho- vah. Age de acordo, que tudo correrá bem! Terás que conquistar a Graça de Deus por ti mesmo — então tudo mais ser-te-á dado por acréscimo!”

  5. Responde Korah: “Sim, fá-lo-ei dentro de minhas posses. Na certa não vos será de todo desagradável se eu transferir para cá minha residência pelo espaço de um ano? Pois aqui terei muita oportunidade de aprendizagem, ao passo que em Capernaum e Chorazim só se veem bajuladores!”

  6. Dizem todos: “Teremos o maior prazer em te servir como rei- tor! Aqui não há fraudes nem mistificações, não se vende estrume nem gado; nossa pequena Casa de Oração ainda é o que deve ser! Não pos- suímos uma arca com uma tal chama divina; em compensação, nossos corações ardem num amor sincero para com Deus, o que Lhe deve agradar mais! A falsidade dos templários grita aos Céus! Ornamentam, anualmente, os sepulcros dos profetas, por eles assassinados! Caso nos convidem a uma festa qualquer em Jerusalém, teremos a liberdade de recusar o convite, esperando por uma morte natural, ao invés de procu- rá-la nos recintos secretos do Templo!”

  1. Diz Korah: “Estou bem informado de tudo, e o sinédrio po- derá se regozijar das amabilidades que lhe proporcionaremos!” Diz Chiwar: “Nada lhe faremos propositadamente; ai dele, porém, se nos desafiar, pois temos material de sobra para uma ação contra ele!” Nisto, o cozinheiro convida a todos para o almoço.

87.CHIWAREKORAHDISCUTEMARESSURREIÇÃODE SARAH

  1. Enquanto todos saboreiam o bom ágape, entra Borus, cumpri- menta a todos e lhes apresenta sua esposa, Sarah, pedindo para que seja registrado seu matrimônio. Chiwar apanha o livro de registro e os inscreve como casados, diante de Deus e do mundo!

  2. O reitor, então, pergunta se isto era possível, sendo Borus grego. Responde Chiwar: “Como não? Aqui tudo se admite — e seria ridículo não querer registrar um casal de há muito abençoado por Deus!”

  3. Diz o reitor: “Donde sabes isto?” Diz Chiwar: “Sei de muita coisa que ainda ignoras, pois aqui existe um outro regime que o do Templo!” O reitor sorri e se cala. Nisto, Borus apanha em sua algibeira a taxa prescrita e a deposita na sacola. Após ter deixado a sala, o reitor, verificando a importância, diz: “Mas — eis além de cinco libras de ouro com o cunho de Augusto, mais algumas de Tibério! Isto aqui é hábito? No Templo bastaria uma libra de ouro como dádiva de honra!” Diz Chiwar: “Doações iguais a esta não são raras; Borus, depois de Je- sus, o maior médico, é muito distinto e rico e não necessita mostrar-se mesquinho!”

  4. Pergunta o reitor: “Quem é sua esposa, tão simpática?” Diz Chiwar: “É filha de Jairo e foi ressuscitada duas vezes pelo Salvador Jesus!” Diz o outro: “Certamente ela apenas estava desacordada, fato comum às moças!”

  5. Diz Chiwar: “Ora, penso não haver sombra de vertigem quando a pessoa permanece quatro dias na sepultura e o mau cheiro se torna insuportável! Jesus a ressuscitou apenas pela palavra; hoje é mais linda e saudável que antes — e muito jovem, pois conta apenas dezesseis anos!”

  6. Diz o reitor: “Quanto tempo faz que foi ressuscitada?”

  1. Responde Chiwar: “No máximo há seis ou sete dias! Não posso precisar bem, sei que foi no começo da semana passada!” Diz o outro, perplexo: “Realmente, tal jamais foi visto! A não ser que tenhas inven- tado uma história, este lugarejo parece milagroso!”

  2. Diz Chiwar: “É verdade! Principalmente é Jesus Quem atrai toda atenção sobre Si! Seus Atos excedem tudo que foi escrito pelos profetas! Não existe doença que Ele não cure, mesmo sem ver ou tocar no enfermo!

  3. Eis outro caso: a renúncia de Jairo, há quatro dias, cujo requeri- mento foi apresentado no Templo no mesmo instante! De modo natu- ral, esse talvez só hoje fosse lá recebido; no entanto, já chegaste há dois dias em Capernaum e hoje aqui, como seu sucessor. És, deste modo milagroso, sumo sacerdote da Galileia, enquanto o documento de Jairo se acha nas mãos do Pontífice — e isto tudo é obra de momentos! Tam- bém nos contaram que Jesus ameaçou um tufão marítimo e que mar e vento obedeceram imediatamente à Palavra do Messias — e bem se poderia supor que este homem fosse assecla de Satanás, se Suas Palavras não nos convencessem do contrário!

  4. Digo-te sinceramente: Seus Atos são maravilhosos; no entanto, tornam-se de valor secundário em vista do Poder Estupendo de Sua Doutrina! São verdades jamais sonhadas por um profeta! Descreve a vida da criatura de modo a não deixar dúvida a respeito da imortalidade da alma! Em suma, é tão extraordinário que se pode afirmar conscien- temente: Homem igual não habitou a Terra! Os elementos Lhe obe- decem, miríades de espíritos O assistem; assim ouvi contar pelos Seus discípulos que, durante a viagem de Sichar a Caná da Galileia, fez o Sol ocultar-se por minutos!

  5. Roban e outros nos relataram que Ele reconstruiu em Sichar dois velhos burgos — a antiga casa de José e Benjamim e o castelo de Esaú, ora pertencente a Jairuth — de tal maneira, que os atuais cons- trutores confessam serem precisos no mínimo dez anos para tal fim! Não só a construção é tão perfeita, como também seu aparelhamento é completo, nada deixando a desejar! Philopoldo, um grego de Caná da Samaria, contou-me coisas incríveis, que tinha de acreditar porque foram confirmadas por mais de mil testemunhas!

  1. Estes fatos obrigam a criatura a tomar este homem como o maior profeta! Diz Ele, porém, que toda pessoa seria capaz de tais coi- sas, caso tivesse uma fé inabalável e convicta. Penso, entretanto, que uma fé desta ordem já seria milagre, como consequência duma capaci- dade consciente que concretiza o êxito.

  2. Quem conhece suas forças, deve confiar nelas para a realização dum fato ou obra. Excedendo sua fé além destas forças, esta pessoa será presa, pouco a pouco, de dúvidas em relação ao seu poder, não conse- guindo o desejado. Encontrando no seu caminho uma pedra de várias libras, não duvidará em poder tirá-la. O mesmo não acontecerá com uma rocha dum peso muito maior, pois a vontade poderá ser levada ao máximo sem algo conseguir, porquanto faltará a convicção subjetiva para tal possibilidade.

  3. A Jesus, porém, tudo é possível! Uma montanha ou um grão de poeira são idênticos para Sua Vontade! Terra, água e fogo Lhe obede- cem como carneiros a um pastor, e até ao raio Ele ordena! Que deduzir disso? Peço-te que externes tua opinião como reitor!”

88.OPINIÃODECHIWARARESPEITODO TEMPLO

  1. Diz o reitor: “Não duvido de tuas palavras, e penso estar ele em união íntima com o Espírito Onipotente de Jehovah; talvez seja idêntico a Moysés, ou Elias, o qual também tinha o poder de chamar o fogo do Céu.

  2. Consta até que este último vivificou, certa ocasião, uma quanti- dade de esqueletos, que se cobriram de carne, pele e cabelos! Também fez com que as fontes do Euphrates secassem por três anos — e impediu as nuvens de surgirem no céu durante o mesmo prazo. Só depois das criaturas se penitenciarem ele libertou tanto as fontes quanto as nuvens! Além disso, há uma infinidade de fatos referentes a esse profeta; dele se diz que voltará antes do Fim do Mundo, convertendo as criaturas em penitência através de grandes provas, porquanto nunca morreu, mas subiu aos Céus num carro de fogo. É, portanto, bem possível que Jesus seja a encarnação desse grande profeta, fazendo milagres que só por Deus seriam realizáveis!”

  1. Diz Chiwar: “Poderia aderir à tua opinião se não tivesse sido testemunha visual de coisas que deixam atrás Elias, por uma eternidade! Certamente desejas saber quais sejam. Eu, no entanto, não teria pala- vras para descrevê-las; seria preciso a pessoa tê-las presenciado. Por isto, estou convicto, como milhares, de que Jesus é o Messias! Seria possível algum outro fazer coisas mais grandiosas? Além disto, descende Ele, de acordo com a Crônica, que vai até o avô de José, diretamente da linha de David (Matheus 1, 14–17). Achim foi pai de Eliud; este de Eleasar; Eleasar, pai de Matthan; este, de Jacob; Jacob foi pai de José e José pai de Jesus. Continua neste retrocesso que chegarás a David. Além do mais, consta que o Messias haveria de descender de David, e que todos O reconheceriam pelos Atos.

  2. Tudo isto prova ser Jesus o Esperado! É evidente que o Templo orgulhoso não concordará; nós, porém, não nos deveríamos importar com ele, que mal nos sustenta — a não ser que lhe tenhamos pago tanto que dez pessoas pudessem viver por cem anos! Calcula a importância que pagaste pelo teu cargo e verás que daria para teu sustento por um século. Deixa que os romanos te persigam e procura proteção no Tem- plo; verás que lá não se pode nem sequer proteger alguém, a não ser que pagues mais outro tanto, para receberes em troca uns conselhos tão obscuros como os do oráculo de Delfos, que sempre tem razão com sua resposta dúbia sobre um futuro bom ou mau.

  3. Graças ao Senhor, conheço toda a patifaria do Templo e não vacilo em enganá-lo sempre que possível! Acaso pensas que se possa al- cançar algo de bom pela justiça e bondade? Lembro-me dum certo gre- go, de nome Bars. Era muito rico. Este homem falava pouco e, quando o fazia — era só mentira! Exigiu dos templários a importância de mil libras, dando em troca um pergaminho que, talvez, valesse um talento. O sumo pontífice deu de ombros; Bars fez uma cara ladina, dizendo cinicamente: ‘Hum, ou tudo, ou nada!’, com que o Pontífice empalide- ceu, entregando-lhe o dinheiro. Mais tarde soube-se ser ele trapaceiro, pois o Templo nunca mais recuperou a importância.

  4. Havia judeus honestos que chegavam a pedir empréstimos aos

  1. fariseus, sob boa fiança; nada, porém, recebiam, pois eram honestos

demais para que pudessem ser atendidos! De sorte que mantenho o se- guinte princípio: é preciso enganar o Templo caso não se queira ser por ele enganado! E com isto também não perguntarei se Jesus é o Messias, pois para mim Ele o é! Que te parece?”

89.PALESTRAENTRECHIWAREKORAHARESPEITODOMESSIAS.SATANÁSDESAFIA CHIWAR

  1. Diz o reitor: “Amigo, simpatizo com tua pessoa, pois nunca vi alma tão sincera como a tua! Tens razão sobre o que diz respeito a Je- sus. Mas resta saber a opinião de vós todos e dos templários de ou- tras cidades!”

  2. Diz Chiwar: “O que acabo de te dizer é convicção de todos daqui; os de Capernaum não estão longe de aderirem — e quanto às outras, deixemo-las nas suas velhas ilusões para mais tarde! Se exerceres teu ofício aqui, em Nazareth, garanto-te que em poucos anos a Galileia se terá desprendido do sinédrio! Os romanos e gregos são a nosso favor e algo da Proteção Divina também — portanto estamos seguros!”

  3. Diz Korah: “Concordo plenamente contigo! Precisamos, porém, considerar que o arcanjo Miguel, o mais poderoso, lutou durante três dias e três noites contra Satanás pelo corpo de Moysés! Caso o príncipe das trevas nos desafiasse, que farias?”

  4. Diz Chiwar: “Embora não seja um arcanjo, não temo nem um, nem mil! É preciso ter coragem e impedir a penetração deste verme, que só poderá nos prejudicar se lhe dermos oportunidade! Tão certo como Deus me criou: jamais edificarei um templo ao anjo do mal, espargin- do-lhe incenso para que me deixe em paz! Se quiser lutar comigo, que venha — e verás que lhe darei cabo em menos de três dias!”

  5. Diz o reitor: “Amigo, arriscas muito em desafiar um leão, en- quanto és mosquito! Deverias pedir a Deus que te protegesse eterna- mente de suas perseguições!”

  6. Diz Chiwar: “Sim, conheço um Nome que afugenta legiões de demônios! Onde está ele, se tem coragem para lutar comigo? O mos- quito é, pela força, um nada perto do leão; pode, porém, afugentá-lo

quando quer! Basta que lhe zuna dentro do ouvido, para o leão, crente que se aproxima um tremendo temporal, esconder-se apavorado! Não é preciso muita força a fim de vencer o mais forte; basta ser prudente! Tu mesmo vieste aqui com uma boa porção de tendências satânicas; e vê, minha prudência fez com que tudo se endireitasse. Estás agora à nossa frente como homem livre e nosso reitor, sem que Satanás nos pre- judicasse! Sei o que sei, e garanto que ele jamais se tornará meu mestre e senhor!”

  1. Diz Korah: “Amigo, não fales tão alto; pois o mau tem olhos e ouvidos por toda a parte. Deus nos proteja de sua visita!”

  2. Diz Chiwar: “Não desejo a luta, mas também não a temo!” Mal pronuncia estas palavras, aparece um gigante horrendo na sala, posta-se furioso diante de Chiwar e diz-lhe com voz de trovão que faz estremecer as colunas: “És tu o reles mosquito que pretende fazer uma trovoada no ouvido do leão? Experimenta, verme do pó, lutar comigo! Sei de algo que desconheces! Vê, o teu Messias depende unicamente de minha benevolência, pois não me constitui honra travar batalhas com insetos; mas, se ele fizer muitas trapaças, fá-lo-ei pregar na cruz, onde o poderás adorar! Que farias se te desfizesse em átomos?”

  3. Chiwar, levantando-se vagarosamente, fulmina Satanás com as seguintes palavras: “Sai do mesmo modo por que conseguiste entrar, senão serás julgado por Jesus, o Senhor!”

  4. Ouvindo este Nome, o gigante recua vários passos, prevenindo Chiwar a não mais pronunciá-lo!

  5. Este, porém, diz: “Tenho de fazer um zunido para que proves como um leão foge de um mosquito!” A seguir: “Jesus, Filho do Altíssi- mo, há de te justiçar e castigar! Jesus, Filho do Altíssimo, há de te tocar daqui! Jesus, Filho do Altíssimo, castigar-te-á pelos teus inúmeros ultra- jes!” Não ouvindo o final da sentença, Satanás foge com gritos de pavor.

  6. Em seguida dirige-se Chiwar ao reitor, que treme feito vara: “Viste como se toca um leão? Por que não me reduziu a pó? Eis sua fraqueza! Que volte quando quiser e te garanto que fugirá mais rápido!”

  7. Diz o reitor: “Ouve, amigo, admiro tua coragem e me sinto transportado aos tempos dos patriarcas! Em todo caso, evita, no futuro,

desafiá-lo! É muito engenhoso, podendo usar todas as formas, inclusive a dum anjo, quando, justamente, torna-se mais perigoso!” Diz Chiwar: “Obtivemos uma pequena prova disto; agora, podemos estar descansa- dos, que ele não voltará tão cedo!”

90.KORAHLEMBRA-SEDO SENHOR

  1. A seguir, Korah pergunta se não é possível travar conhecimento Comigo, e diz: “Sinto que existe algo de extraordinário em teu Messias e peço-te que me leves a ele!”

  2. Diz Chiwar: “Pois não; o povo, porém, não é a teu favor e nos arriscaríamos a levar umas pedras na cabeça; além disto, Ele Se prepara para viajar e convém esperar Sua Volta, para o inverno.”

  3. Diz Korah: “Tens razão; entretanto, não posso conter o desejo que sinto de conhecer este homem, no qual age a Plenitude da Glória e Poder Divinos! Aliás, lembro-me dum caso durante a Páscoa em Jerusa- lém! Talvez seja o mesmo Jesus que enxotou os agiotas, derrubando suas mesas?! Os animais debandaram por todos os lados, numa barulheira infernal! Pois tal homem, com quem falei — de maneira não delicada

  1. Naquela ocasião, em Jerusalém, ele curou muitos enfermos; quando, porém, Herodes soube do caso, este homem milagroso desa- pareceu como por encanto e não se sabia para onde tinha ido. Semanas depois surgiram boatos do filho do carpinteiro. Entretanto, não po- díamos supor que este homem simples, sisudo e inculto — pois não sabia ler nem escrever — fosse o mesmo que fez tremer milhares den- tro do Templo. Neste caso, já o conheço e não necessito me tornar importuno”.

  2. Diz Chiwar: “Sim, é Ele Mesmo! Conheço-O há vários anos, como também a seu pai, o velho José, que faleceu há um ano! Nunca

observei algo de incomum Nele, embora se tenham dado fatos milagro- sos por ocasião de Seu Nascimento até aos doze anos. Dali em diante perdeu Suas Faculdades extraordinárias, continuando Ele a ser carpin- teiro, como atualmente. Era muito calado; no entanto, sempre bondo- so para com as crianças e os pobres. Fugia de reuniões alegres, amando a solidão. Estranho é que raramente era visto numa sinagoga ou escola, que visitava algumas vezes ao ano a pedido dos pais, deixando-o aborre- cido. Num templo nunca foi visto. Por estas particularidades acontecia que era tido por atrasado.

  1. Com trinta anos desapareceu da casa paterna, permanecendo algum tempo no deserto de Bethabara, onde se encontrava o célebre João, sendo por este batizado. Desde ali surgiu doutrinando, cheio de Poder Divino, curando enfermos e expulsando demônios. Eis, em pou- cas palavras, Sua Biografia, que em parte me foi por Ele contada, em parte por outros.”

  2. Diz Korah: “Sim, tens razão! Esse caso de Bethlehem fez grande alarde há trinta anos; e se não me engano, foi este o motivo de Herodes ter ordenado o infanticídio em massa. Ele, entretanto, fugira para o Egito. Então, é ele mesmo?! Que vontade tinha de falar-lhe antes que deixasse esta cidade!”

  3. Diz Chiwar: “Como quiseres! Mas para este fim teria que fazer o arauto na cidade, referindo-me favoravelmente à tua pessoa; pois co- nheço os nazarenos!”

  4. Diz Korah: “Pois então manda rápido vários mensageiros pelas ruas, senão ele é capaz de partir!” Chiwar assim faz e o povo se regozija tanto que prepara presentes, com os quais deseja homenagear o novo reitor no próximo antessábado.

  5. Ciente desta agradável novidade, Korah diz: “Vamos depressa, não há tempo a perder!” Diz Chiwar: “Estou pronto. Deveríamos to- dos Dele nos despedir; mas neste caso iremos sós!” Em seguida, ambos saem. A alguns passos fora da cidade, porém, encontram Jairo, Borus, sua esposa e Maria, que lhes contam ter o Senhor deixado o lugar há meia hora em companhia dos apóstolos e os adeptos recém-vin- dos de João.

91.OSAMIGOSDEJESUSEMCASADE BORUS

  1. Esta notícia entristece o reitor. Convidado por Borus, ele e Chiwar o visitam em sua residência, onde tudo é feito para uma boa re- cepção. Bab e Roban se juntam e todos passam a falar de Jesus, o Senhor.

  2. Finalmente pergunta o reitor: “Dizei-me o motivo por que não mais quis permanecer aqui! Parece temer Herodes! Um homem a quem obedecem Céus e Terra e, além disto, conta com a amizade do coman- dante romano não deveria ter motivo para fugir do Tetrarca! Seja lá como for, não ficará bem, diante dos habitantes desta Terra, se Deus começa a temer os demônios! Quanto mais reflito, mais estranho isto me parece!

  3. Dai-me uma explicação concisa; senão, ver-me-ei obrigado a de- clarar que vos enganastes a respeito deste homem. O Onipotente não necessita temer um Tetrarca que, talvez, nunca pensou em persegui-Lo! Como um seu favorito, conheço-o bem, e sei que se arrependeu mil vezes de ter assassinado João. A morte súbita de Herodias e sua filha o apavoram tanto, que jamais fará matar um profeta! Assim, deve haver um outro motivo para a inesperada partida de Jesus. Quem de vós me poderia esclarecer?”

  4. Diz Borus: “Caro amigo, isto não será fácil, porquanto também estranhamos Seu Regresso, embora saibamos Quem Ele é! Evidente- mente tinha receio de ti, no que não Lhe posso dar razão, por ver que és a Seu favor!”

  5. Diz o reitor: “Contai-me o que se passou antes de sua despedida!”

  6. Diz Borus: “Desde cedo Ele enviara Seus apóstolos à beira-mar a fim de que Lhe preparassem uma embarcação — e talvez para averiguar se não havia espiões de Jerusalém. Em Sibarah, numa alfândega perten- cente a Matheus, que é discípulo de Jesus, os apóstolos encontraram sete adeptos de João. Estes lhes contaram o ocorrido com seu mestre e que Herodes — embora confirmasse ser Jesus o ressuscitado João — havia enviado seus asseclas com a seguinte ordem: se sua opinião fosse acertada, deveriam deixar Jesus em paz; caso contrário — matá-lo-iam! Isto conseguido, poderiam contar com um grande prêmio por parte do

Tetrarca. Caso isto não fosse possível por ser Jesus um Homem-deus, imortal, as condições de prêmio seriam as mesmas, pois que ele então se tornaria um Seu adepto, bem como toda a corte!

  1. Quando Jesus ouviu isto, disse: ‘Jamais deverá Herodes ser Meu adepto por esta prova! A Terra é imensa para Me dar um cantinho onde ele não Me encontrará! Acaso o Filho do homem veio para Se tornar, através de assassinos contratados, o que já é? Não! Jamais! Aquele que, de armas na mão, perguntar Quem sou nunca obterá resposta! Além disto, já está em tempo de partirmos; portanto, vamos, a fim de encon- trarmos criaturas, em solo estranho, que, sem armas, acreditem sermos o que somos!’ Destarte preparou-se a partida, pois Jesus ainda disse: ‘Vamos depressa, pois vejo, através de Minha Vontade, que Herodes enviou seiscentos assassinos ao Meu encalço e já se acham perto daqui!’ Assim foi e penso estarem Jesus, Seus apóstolos e os adeptos de João já em alto mar a caminho de Sibarah!”

92.AGRAÇADOSENHORQUANTOÀ HUMANIDADE

  1. Diz a seguir o reitor: “Agora a questão muda de aspecto! Ele não partiu de medo, e sim por precaução, a fim de evitar que Herodes se torne pior do que já é! O Tetrarca é uma criatura difícil de se com- preender: ora é bom, ora é um demônio de primeira categoria! Hoje seria ele capaz das maiores promessas; mas ai de ti, se amanhã o fores lembrar disto! Serias de tal forma recebido que jamais o procurarias! Por tal razão também é difícil fazer-se um pacto de amizade com ele, pois é o primeiro a não cumpri-lo! E o nosso Salvador Jesus deve muito bem saber disto, motivo por que se lhe desviou! Além do mais, o Tetrarca é esperto, sabe extorquir os impostos, assim como ficar devendo o ar- rendamento aos romanos, e eu sei como o faz; deixemos, porém, isto para mais tarde! Desejo apenas de vós saber se o nosso Mestre Jesus não voltará aqui; não vos falou a respeito?”

  2. Diz Borus: “Nada definitivo; mas espero que Ele passe o inverno em nossa cidade! Caso Ele tencione passar esta temporada em Sidon ou Tyro, informar-nos-á, a fim de que possamos nos dirigir para ali!”

  1. Diz Maria, tristonha: “Certamente só virá por alguns dias!”

  2. Aparteia o reitor: “Ora, não te aflijas; não Se esquecerá de nós e muito menos de ti!”

  3. Diz ela: “Por certo que não; é-me, porém, doloroso saber como as criaturas más e cegas desconhecem seu benfeitor máximo, perseguin- do-O sempre que possível!”

  4. Diz ele: “Vê, querida, as criaturas são como são e teve razão David quando exclamou em sua desdita: ‘Quão inútil é todo auxílio humano se não pode socorrer os aflitos!’ Além disso, sempre foi a triste sorte das pessoas providas de faculdades excepcionais, vindas de Deus, serem perseguidas pelos vermes maldosos, como andorinhas pelo pode- roso condor.

  5. Observa os grandes profetas! Qual foi seu destino? Pobreza des- de o nascimento, toda sorte de privações, inveja, perseguição e, final- mente, morte violenta por mãos assassinas! Por que razão Deus assim o quis — sempre me foi um enigma! Resta apenas a esperança duma vida melhor no Além! Teu filho divino teria poder de sobejo, pelo que ouvi, para acabar, de um só golpe, com esta miséria humana! Que tal não é de sua vontade já nos mostrou sua fuga diante de Herodes, ao invés de exterminá-lo! Embora podendo, ele não o faz — e assim continua o estado precário! Quando voltar aqui, procurá-lo-ei para uma palestra a respeito!”

  6. Diz Borus: “Não terá resultado! Pois fui testemunha de como o vice-rei, sendo tio do imperador, fazia-Lhe toda sorte de propostas

93.BORUSFALASOBREANATUREZA HUMANA

  1. Diz o reitor: “Isto ainda poderá ser discutido; pois, consideran- do as relações terrenas, a Humanidade jamais melhorou! Qual seu crité- rio a respeito dos profetas? Digo-vos: nos meios intelectuais se ri deles, tomando-os por mitos religiosos, inúteis para o espírito do homem, sobrepondo-se-lhes a filosofia de Pythagoras e Aristóteles! Uma prova evidente que a Instituição de Jehovah, por mais sublime e verdadeira que seja, não consegue a finalidade propalada! De que vale a Revelação, quando não se lhe dá meios necessários pelos quais, unicamente, seria possível manter as criaturas no respeito à Palavra Divina? Se os pais fizessem uma tentativa de educar os filhos sem o castigo — em breve veríamos o respeito que lhes seria tributado, não obstante todos os ensi- nos sábios e bons! Por este motivo não dou valor às doutrinas e, mesmo, às leis, se não forem transmitidas pelo açoite e a espada; o homem é mau e tem que ser forçado para o Bem!”

  2. Diz Borus: “Neste ponto concordo contigo; existe, no entanto, um grande ‘senão’, que conhecerás quando ensinado por Ele Próprio! Vê, quando observamos uma obra mecânica, ficamos admirados. Iden- tificando-nos com ela, logo descobriremos uma série de falhas e somos possuídos duma ânsia de corrigi-las. Para este fim procuramos o mestre, informando-lhe de nossa observação. Ele, todavia, esboçará um sorriso, dizendo: ‘Amigos, isto não é possível, pois a máquina corresponde a determinadas exigências! Quem a mandou construir, fê-la de acordo com suas necessidades e a mínima alteração a prejudicaria! Necessita apenas duma certa desenvoltura; qualquer excesso romperia o fio da meada e o tecelão nada conseguiria produzir! Somente depois de usada e imprestável será chegado o momento de tocá-la, a fim de que volte a ser o que foi!’ Eis a resposta do mestre, e nós só podemos lhe dar razão.

  3. Resposta idêntica nos será dada por Jesus, o Senhor, se Lhe per- guntarmos o motivo da maldade das criaturas a par da Bondade Divina! Que sabemos nós da formação e constituição interna do homem? Mui- tas vezes somos levados a amaldiçoá-lo, enquanto o Senhor o abençoa Plenamente! Pois não compreendemos o Bem e o Mal no seu todo!

  1. A pessoa, por melhor que seja, não deixa de ter algo de amor-

-próprio. Nesse estado, ela sempre se torna juiz do seu próximo, con- siderando-lhe as ações como falhas, quando não estão de acordo com suas próprias ideias egoísticas. Como todos pensam egocentricamente, o critério relativo ao semelhante será sempre falho. Estes julgamentos provocam insatisfação recíproca, aborrecimento, raiva e sentimentos afins. Quem, portanto, é culpado do atraso das criaturas, senão elas mesmas? O maquinismo da Humanidade se desgasta com o tempo, necessitando ser reformado pelo Mestre Sublime. E tal período parece ter-se aproximado, depois de decorrido quase um milênio. Esta reforma equilibrará as criaturas por um certo tempo, mas não além de dois mil anos, do que seremos testemunhas no Além!”

  1. Diz o reitor: “Realmente, congratulo-me contigo! És um discí- pulo digno do teu Mestre! Reconheço não poder concorrer com tua sa- bedoria. Esforçar-me-ei por consegui-lo em breve ao lado do meu ami- go Chiwar, pois a atual sapiência do Templo não basta para este fim!”

94.CONVIVÊNCIADOSAMIGOSDOSENHOR,EM NAZARETH

  1. Nisto, alguns cidadãos trazem um doente que há anos sofria de loucura. Como era pobre, os parentes não se animavam a procurar um médico, e muito menos tinham coragem de Mo trazer, porquanto mui- tos afirmavam que os por Mim curados prescreviam sua alma a Beelze- bub! A mesma opinião cursava a respeito de Borus, do qual alegavam ter aprendido por Mim estas maquinações de Satanás!

  2. Por isto, Borus pergunta: “Que aconteceu, que trazeis este do- ente aqui? Que fez ele para quererdes entregá-lo ao demônio?” Respon- dem todos: “Senhor, fomos informados de algo melhor!” Diz o médico: “Quem o disse?” Respondem eles: “Precisamente aqueles que há muito nos detinham nesta tolice pelos seus ensinamentos!”

  3. Diz Borus, sorrindo: “Compreendo! Mas que farei com o louco? Pois o mal dele se firmou devido a vossa grande estultícia, e será difícil curá-lo, considerando vossa fé duvidosa!” Dizem os outros: “Se assim fosse, não o teríamos trazido!”

  1. Responde o médico: “Pois bem, veremos o que pode a Onipo- tência dentro do homem!” Descobrindo sua cabeça, Borus se aproxima do raivoso e diz: “Quero, em nome de Jesus, o Senhor de Eternidades, que tenhas saúde e sejas livre deste mal!”

  2. No mesmo instante o louco é curado, dando honra a Deus por ter munido o homem de tal poder! Borus o acompanha em sua excla- mação e, em seguida, presenteia-o ricamente, fazendo que se lhe sirva uma boa refeição.

  3. Aproxima-se então o reitor e diz: “Realmente nunca poderia supô-

-lo! Vi hoje na sinagoga que do Nome de Jesus emana um Poder ao qual até as forças do inferno obedecem; mas, que as enfermidades também se lhe rendessem, só agora presenciei. Deve haver um outro fator que se prenda a este Nome, e haveremos de conversar a respeito!” Com isto ele procura o curado e lhe pergunta se este se sente perfeitamente bem!

  1. Diz o outro: “Nunca me senti tão bem disposto em meus cin- quenta anos — e isto quer dizer alguma coisa!” O reitor o confirma e lhe oferece uma boa importância. O curado a recusa com as seguintes palavras: “Senhor, aqui em Nazareth existe gente mais pobre — dá-lhes isto, pois que agora posso trabalhar!”

  2. Diz-lhe o ofertante: “Isto se chama ser ‘altruísta’! Não o esperava de ti! Bem, sou o reitor da escola de Nazareth e de toda a Galileia; caso precises de algo, achar-me-ás!” Diz o outro: “São poucas as pessoas cari- dosas e é preciso conhecê-las, para uma possível eventualidade! Agrade- ço tua proposta!” Em seguida se levantam o curado e seus guias, agra- decem ao médico e seguem para seus lares, não longe de Minha casa.

  3. Este acontecimento é muito comentado, tanto que se recolhem depois de meia-noite. Maria permanece mais alguns dias na residência de Borus, onde nada lhe falta. A organização doméstica cabe aos Meus dois manos mais velhos, e Borus lhes fornece tudo que necessitam. Des- te modo Meus amigos vivem em harmonia durante Minha ausência, aplicando e ensinando Minha Doutrina.

  4. O reitor analisa tudo, sendo sempre levado a dúvidas; pois é destas pessoas que esquecem o que na véspera prometeram. Assim Chiwar e Roban lutavam dia a dia com este homem propenso a ser

justo, mas que se movia entre vários princípios de justiça e parcialidade, qual folha ao vento. Quando se lhe provava que a justiça consiste unica- mente na aplicação das Leis Divinas, ele o compreendia e aceitava. No dia seguinte, porém, achava ele uma série de razões contrárias, de modo que Chiwar não raro tinha dificuldades em contrapô-las. Este, então, lembrava-se de que Eu lhe recomendara precaução com o reitor, pois não era possível confiar nele inteiramente. O que mais lhe preocupava era o Poder de Meu Nome. Quando, às vezes, ele se excedia, Chiwar o convertia por este meio. Borus, porém, tinha a maior ascendência sobre ele. Com isto ficou provado o que fizeram os nazarenos na Minha au- sência; voltemos, portanto, àquilo que se prende à Minha Pessoa.

95.ACURAMILAGROSAEAMULTIPLICAÇÃODOS PÃES

Ev.MatheusCapítulo14,versículos13a 24

  1. Como já foi dito acima, deixei Nazareth com os discípulos, to- mando um navio em Sibarah. Durante a travessia para Bethabara, eles Me relataram seus feitos, pelo que Eu os elogiei. Chegando ao destino, mandei ficasse a maioria a bordo, levando apenas alguns adeptos, que Me acompanharam ao deserto à procura dum lugar seguro contra as perseguições de Herodes.

  2. Houve, porém, várias embarcações pequenas que Me seguiram e logo souberam onde Me encontrava, pois não era de todo Minha In- tenção ocultar-Me completamente das criaturas necessitadas. Por este motivo Meu paradeiro no deserto não durou um dia — e de todas as cidades, vilas e aldeias, afluiu grande multidão, em conjunto com mais oitocentos adeptos, que um dia antes haviam regressado a seus lares e agora Me estavam seguindo.

  3. Entre eles havia vários de Caná da Galileia e Caná da Samaria, outros de Jesaíra, de Kis e Sibarah, de Capernaum, Chorazim, Cesareia, Genezareth e Bethabara; anunciaram-Me eles em outros tantos lugare- jos, de sorte que uma grande multidão lá Me procurou, em parte a pé e em parte de barco, trazendo consigo muitos enfermos. Como já disse, mal se faz o dia, algumas mil pessoas dão com Meu pouso.

  1. Este, sendo no deserto, consistia duma gruta espaçosa e achava-

-se num planalto rodeado de árvores. Diante da gruta havia um terreno imenso no qual vários milhares se podiam acomodar. Vendo este cons- tante acúmulo de pessoas que Me bloqueavam a gruta, Meus discípulos se preocupam por Minha Causa. Entregam o navio aos oito marujos, a fim de Me avisar da multidão e alegando que não se podiam responsa- bilizar se fizessem parte da mesma alguns asseclas do Tetrarca.

  1. Ciente do fato, saí da gruta e, olhando o povo, Meu Coração se condoeu, pois todos Me pediam chorosos que Eu curasse os doentes. E Eu os curei a todos, inclusive àqueles ainda a caminho do planalto (Ma- theus 14, 14). Isto, naturalmente, despertou manifestações de júbilo e louvor que se estenderam até à noite. O lugar em frente à gruta já estava tão cheio que os discípulos começaram a se apavorar; jovens havia que subiam nas árvores, a fim de observar-Me.

  2. Quando a noite desceu, os discípulos se Me aproximaram, di- zendo: “Senhor, estamos no deserto; a hora é avançada e, pelo que ve- mos, ninguém trouxe algo para comer! Despede a multidão para que procure alimentos pelas aldeias!” (Matheus 14, 15). Disse-lhes Eu: “Não é necessário que o façam, dai-lhes vós alimento! (Matheus 14, 16). Para beber só precisam de água, abundante nestas fontes.”

  3. Responderam os discípulos, um tanto admirados: “Senhor, te- mos apenas cinco pães de trigo e dois peixes fritos (Matheus 14, 17). De que vale isto para tanta gente?”

  4. Disse-lhes Eu: “Trazei-Mos aqui!” (Matheus 14, 18). Mandando que o povo se acomodasse na relva, tomei os cinco pães e os dois peixes, ergui os olhos ao Céu, agradeci ao Pai, partindo os pães e dando-os aos discípulos, que os levaram à multidão (Matheus 14, 19). Os dois peixes e um pedaço de pão sobraram para os adeptos.

  5. E todos comeram e se saciaram. As sobras juntaram nos cestos, que o povo costumava levar consigo. Eram de bom tamanho, carrega- dos nos ombros, e se encheram doze deles (Matheus 14, 20). O nú- mero dos que se saciaram era — excetuando mulheres e crianças — de cerca de cinco mil pessoas (Matheus 14, 21). Este provimento do povo durou uma hora e despertou grande admiração, de sorte que queriam

proclamar-Me Rei. Percebendo este plano, mandei que os discípulos embarcassem para alcançar a outra margem, até que Eu despedisse o povo (Matheus 14, 22). Com isto impedi aquela manifestação, dizendo em seguida aos que Me procuraram que se podiam retirar. Quando só (Matheus 14, 23), subi ao monte e orei, a fim de unir mais intimamen- te a Minha Natureza humana com o Pai. Deste cume avistei ao luar o navio dos discípulos lutando contra as ondas, açoitadas por um vento contrário (Matheus 14, 24).

96.OSDISCÍPULOSNOMAR TEMPESTUOSO

  1. É fácil de se imaginar que o ânimo dos discípulos não é dos melhores; fazem, por isto, várias observações sobre Minha Pessoa, e até Pedro se externa da seguinte maneira: “Não tinha Ele coisa mais interes- sante a fazer do que expor-nos à morte pelas ondas? É realmente estra- nho da parte Dele! Não tenho coragem para fazer os marujos remarem, pois dentro em pouco tocaremos rochas e bancos de areia, e eu, como velho pescador, por nada me responsabilizo! Assim, é melhor continu- armos nesta altura até de manhã!”

  2. Diz Thomaz: “Desejava saber o que ele pretendia, quando nos mandou seguir na frente!”

  3. Diz André: “Que eu saiba, não há embarcação na costa deserta

  1. Diz Judas: “Todos vós nada sabeis! De há muito percebi que nos tornamos importunos; por isto, ele aguardou uma boa oportunidade para se descartar de nós. Duvido ser esta sua atitude louvável!”

  2. Diz João, Meu Amado: “Não, jamais Ele faria isto! Conheço-O muito bem! Não o faria como homem, muito menos como Filho de Deus, na Plenitude do Espírito Divino! Deve ter Suas Razões para tal e pressinto que, em breve, convencer-nos-emos disto! Meu Deus, se Ele, a Quem obedecem Céus e Terra, quisesse descartar-Se de nós, bastaria um sopro de Sua Boca e todos nós estaríamos do outro lado do pla-

neta, como o fez há três ou quatro semanas, transportando-nos numa velocidade incrível para junto Dele! Meu caro irmão Judas, evita estas observações ridículas, que apenas provam a tua incredulidade!”

  1. Diz Nathanael: “Concordo contigo, João; julgo, apenas, ter sido possível, apesar de todo o zelo de consciência, termos pecado contra Ele sem que o quisesse mencionar. Por isto, deixou-nos a sós para meditar- mos sobre nosso comportamento. Ele voltará, tão logo nos tivermos purificado.

  2. Já fiz um exame introspectivo, sem ter achado algo que me pa- reça condenável. Realmente, para mim, um pecado consciente seria um alívio, pois reconheceria, por tal certeza, que mereço esta reprimenda do Senhor, arrependendo-me em seguida! Agora, até invejo um peca- dor! Não que eu pretenda sê-lo; sentiria, porém, um consolo, tornan- do-me penitente diante de Deus e do mundo! Como, no entanto, seria possível a um homem justo trajar-se da vestimenta de rigoroso peniten- te sem se tornar ridículo perante o Pai?”

  3. Diz Bartholomeu: “Mas que ideia esquisita! Como podes prefe- rir um pecador a um justo?”

  4. Diz João: “Não é de todo errado! Naturalmente trata-se, neste caso, de um pecador por fraqueza e paixão irrefletida, e não de um servo do inferno!”

  5. Diz Jacob: “É verdade! Nem de longe podemos concorrer com a sabedoria de Nathanael! Fala pouco e, quando o faz, todos lucram em ouvi-lo, pois suas palavras são profundas!”

  6. Responde o lisonjeado: “Meu irmão, deixa de elogiar-me quan- do digo qualquer coisa! O Senhor sabe melhor o quanto vale minha fra- ca sabedoria; pois, se fosse de valor, de há muito seria um mensageiro igual a ti; no entanto, continuo sendo um simples discípulo. Possuo um espírito poético, e não profético, como João, que o tem desde o nascimento; por isto, o Pai o destinou para escrivão de coisas ocultas em relação ao espírito!”

  7. Diz João: “Não digas! Neste caso, o que é Matheus?”

  8. Responde Nathanael: “Este é destinado a escrever e divulgar fatos relativos ao mundo!”

  1. Diz João: “É possível; assim sendo, é da Vontade do Senhor dar-nos isto — e temos que aceitá-lo!”

  2. Interrompe Judas, resmungando: “Na certa, nada mais nos dará! A ampulheta já se esvaziou quatro vezes, enquanto as ondas nos atacam, e não vejo embarcação que nos siga!” Replica João: “Não im- porta; pois Ele não determinou a hora para seguir-nos!” Diz Judas: “Terá seus motivos!”

  3. Responde João: “Amigo, dize-me sinceramente se, depois de teres passado por tantas provas, ainda não crês e sentes que Jesus seja Deus em Verdade, que possui Poder de Ação tanto no Céu quanto na Terra?! Fala com sinceridade!”

97.JUDASELOGIAOSMILAGRESDOS ESSÊNIOS

  1. Diz Judas: “Se o fizesse irrestritamente, seria tão fraco na fé como tu e muitos de vós! Não faz meio ano que o acompanhamos, e temos visto coisas realmente extraordinárias; como sois criaturas simples, não viajadas, e jamais assististes outros fenômenos do que os produzidos por Jesus, compreende-se que lhe atribuais Poder Divino. Comigo isto não se dá; pois muito viajei, assistindo a coisas milagrosas. Observai os essênios e os tomareis por deuses, como o fazem romanos e gregos que os adoram, levando-lhes grandes oferendas.

  2. Tudo isto que fez Jesus como algo extraordinário, também po- deis admirar com os essênios. Assim não vejo por que lhe atribuir as prerrogativas duma divindade total. Se ele fosse o único sobre a Terra a quem obedecem os elementos, seria fácil acreditar-se em sua divindade. Como minhas vastas experiências me provaram haver várias pessoas que usam túnica inconsútil, deve este Jesus fazer muito mais para que se possa acreditar ser ele Jehovah, como o foi de Eternidade!

  3. Classificais a ressurreição, a multiplicação dos pães, as constru- ções suntuosas de palácios, as provas em Lua e Sol, como sendo mila- gres divinos! Isto tudo ainda não prova a Divindade de alguém, por- quanto coisas idênticas deparei diversas vezes com os essênios. A cura de enfermos ali é fato vulgar; eu mesmo fui testemunha como o chefe

deles escreveu em três idiomas dentro da Lua! Assim também escureceu o Sol em pleno dia! Após ter feito certos desenhos e cálculos, nos disse: ‘Dentro de uma hora enviarei uma praga aos homens, pois ocultarei o Sol por vários momentos, para que se façam trevas em todo o mundo!’

  1. Nesta expectativa, não muito agradável, aguardamos, sob tensão nervosa, a praga predita, pois escurecia mais e mais! Quando a areia passou para o outro lado da ampulheta, o chefe estendeu suas mãos e falou pausadamente: ‘Sol, oculta-te! Eu o quero!’ No mesmo instante se fez noite sobre a Terra! A seguir, e levado pelos nossos pedidos insis- tentes, estendeu de novo suas mãos, que pareciam chispar fogo, e falou: ‘Basta! Incendeia-te, pouco a pouco, e aquece o orbe!’ E vede, a este mando, deu-se o que ele ordenara!

  2. Não longe do mosteiro dos essênios, com seu grande jardim cir- cundado de altos muros, havia uma montanha, duas vezes da altura do mesmo. Eu costumava procurá-los quatro vezes ao ano, para lhes ven- der meus utensílios caseiros. Numa destas ocasiões um essênio me disse: ‘Se desejas assistir como até as montanhas obedecem à força de vontade de nosso chefe, fica e terás a prova disto. Pois aquele monte está nos obstruindo a vista e em seu lugar verás, amanhã, um suntuoso palácio!’

  3. Observando a montanha a uns quatrocentos passos do mosteiro, vi que era uma rocha coberta de musgo e alguns arbustos. Então disse, sorrindo ao essênio: ‘Se isto for uma rocha verdadeira, vosso mestre de- verá possuir poder divino se pretende transformá-la numa construção!’

  4. Disse o outro: ‘Se duvidas, vamos até lá!’ Eu respondi: ‘Amigo, o que vejo não necessito apalpar, pois vislumbro de longe os menores objetos!’ Respondeu-me ele: ‘Então permanece aqui — e verás uma quantidade de milagres!’

  5. A seguir levou-me ele a uma câmara escura, na qual havia no mí- nimo uns cem cadáveres expostos — e o mau cheiro não deixava dúvida do seu estado. Enquanto ainda os observávamos — e até os tocamos

esta graça! São homens, mulheres e jovens — e é pena não haver crian- ças em seu meio. Não te assustes quando se levantarem a meu mando!’

  1. Postei-me na saída, para o caso de que quisesse fugir! O essênio levantou as mãos e exclamou, com voz vibrante: ‘Ressuscitai, vivei e trabalhai para vosso sustento! Dai, porém, ao grande Espírito de Deus, a devida honra, por ter dado às criaturas tanta sabedoria e poder!’ No mesmo momento todos se levantam e agradecem ao essênio a graça recebida, manifestando alegria e saúde. Ele os cumprimenta e despede.

  2. Que me dizeis desta ressurreição de cento e dois defuntos? Per- guntei àquele homem milagroso se isto acontecia várias vezes ao ano e ele disse: ‘Isto se dá uma vez por semana. O chefe, porém, até ressuscita esqueletos, de sorte a obterem vida normal como estes que viste agora! Mas tal poder não me assiste!’ Em seguida conduziu-me a uma câmara mais escura, onde se via uma quantidade de esqueletos; podia-se vis- lumbrá-los através duma luz mortiça. Assim ficamos alguns minutos, quando se aproximou o chefe com aspecto grave e perguntou ao meu guia se conseguira ressuscitar os outros. E ele respondeu, respeitosa- mente: ‘Sim, nobre e sábio mestre!’ Disse o chefe: ‘Bem, então presta atenção! Iniciar-te-ei em presença deste estrangeiro, para que possas, no futuro, vivificar também os esqueletos! Vai e toca em cada um, com o polegar e o dedo mediano de ambas as mãos, o tórax e o crânio, conta até sete e exclama: Cobri-vos de carne e pele, e que o fogo vital emane das paredes, vivificando-vos em criaturas normais!’

  3. Meu guia obedeceu, de sorte que, com sua exclamação, des- prendiam-se verdadeiras labaredas — e os esqueletos se apresentaram como criaturas perfeitas, cheias de vida, em número de cem, cumpri- mentaram-nos e agradeceram ao chefe a graça alcançada. Este mandou que respirassem o ar puro dos jardins, pois disto necessitavam para re- fazer as suas forças! Que me dizeis a isto? E o nosso mestre? Onde fica com seus milagres?

  4. Em seguida me convidaram para a ceia e sentamo-nos a uma mesa longa e vazia. O chefe fez uma oração num idioma estrangeiro, levantou o olhar para o alto e nós seguimos seu exemplo. De repente ouviu-se um estrondo, como se o teto tivesse desabado! Nem eu nem

algum outro soube dizer como se deu o fato — pois a mesa estava re- pleta de bons pratos e bebidas, comuns a um banquete régio! Mais tarde ainda fui verificar o monte, que nesta noite deveria ser transformado num palácio, e depois repousei num recinto à parte.

  1. Logo cedo meu guia veio chamar-me, dizendo: ‘Vem olhar!’ Fui todo curioso e — nem sombra mais havia da rocha: em seu lugar se achava um palácio imperial, por cujos salões fui conduzido, con- vencendo-me de que o milagre não era fraude. Pergunto-vos agora se nosso mestre Jesus já fez coisa mais milagrosa! É, no entanto, por vós declarado Jehovah em Pessoa! Por isto, não deveis vos aborrecer se, ele voltando, eu de vez em quando fizer perguntas que não vos agradem!”

98.JOÃOEBARTHOLOMEUEXPLICAMAJUDASOSTRUQUESDOS ESSÊNIOS

  1. Diz João: “Isto que acabas de contar dos essênios eu e outros de há muito já sabíamos e ainda sabemos mais: são mistificadores e frau- dulentos, piores que os visionários de Delfos, os quais hoje em dia a ninguém mais enganam! Os essênios — como remanescentes da velha casta sacerdotal do Egito, riquíssimos pelos tesouros de pérolas, pedras e metais preciosos — construíram, na fronteira entre a Terra Abençoada e o Egito, um verdadeiro engenho milagroso, e outro, perto de Jerusalém, que lhes dá boa renda! Admiro-me de que tu, tão esperto, não o saibas!”

  2. Diz Judas: “Sempre usei dos meus cinco sentidos!”

  3. Afirma João: “No entanto, nada viste e compreendeste! Acaso pensas que os ‘mortos’ eram defuntos?”

  4. Diz Judas: “O quê, então?”

  5. Responde João: “Nada reparaste na câmara escura? Os tais mor- tos eram tão vivos como tu — e a exclamação, apenas a chamada para que se levantassem. Pergunta ao nosso irmão Bartholomeu, que lá tra- balhou durante dois anos como defunto, conseguindo finalmente fugir do claustro horroroso de fraudes!

  6. Conforme me contou, fazia ele este papel quatro vezes por se- mana. Primeiro, na câmara dos recém-mortos e, a seguir, na dos es-

queletos, em estantes em cujos tampos eram pintados, enquanto nos primeiros eram pregados, por serem feitos de madeira. As estantes eram uma espécie de bancos com tampas abauladas, munidas de tiras de abrir e fechar. As criaturas se deviam deitar neles; a seguir se fechavam as tampas, onde, nas faces externas, havia esqueletos pintados. Como a câmara seja bem escura, com facilidade se efetua a ressurreição diante de estrangeiros. A exclamação é feita para que os servos, do lado de fora, incendeiem resina pulverizada, soprando o fogo através de pequenos orifícios para dentro da câmara.

  1. Com esta encenação os visitantes se assustam e os outros apro- veitam o momento de balbúrdia para abrir o esquife, levantando-se contritos e agradecidos por esta imensa graça! Nisto consiste a ressur- reição! Aqui está Bartholomeu para testificá-lo!”

  2. Reconhecendo a farsa, Judas diz: “Ótimo! Muito bem engen- drado! Isto deve dar rios de dinheiro a estes mistificadores! Mas como conseguem transformar o monte num palácio?”

  3. Responde Bartholomeu: “O palácio de há muito foi construído. Não viste acima dele uma cúpula, pousando numa possante coluna?”

  4. Diz Judas: “Oh, sim...! E me admirei daquilo!”

  5. Diz, a seguir, Bartholomeu: “Vê, dentro da cúpula está o se- gredo, feito de linho, pelo qual os essênios transformam o palácio num monte aparente e vice-versa! Compreendeste, ou é preciso que me ex- plique melhor?”

  6. Responde Judas: “Oh, compreendo perfeitamente! Mas quem poderia supor que esses simuladores fossem tão deslavados? Resta saber, agora, que há com a escrita na Lua cheia e o obscurecimento total do Sol!”

  7. Diz Bartholomeu: “Isto atinge o ridículo! Quantas vezes não suspendi a lua artificial, com outros cinquenta homens fortes, numa vara comprida? Ela consiste em dois arcos cobertos de pergaminho e ao centro se encontram quatro lamparinas a óleo que, quando acesas, produzem uma forte luz. A parte virada para o castelo é escrita em letras garrafais, em três idiomas! Que dizes desta Lua cheia?”

  8. Responde Judas: “Esta fraude é incrível! Como, porém, se efetua o obscurecimento total do Sol verdadeiro?” Diz Bartholomeu:

“Conseguem-no através de cálculos, pelos quais se positiva a passagem da Lua em frente do Sol. Estes cálculos são reais, pois que tocam à ciência que os essênios aprenderam com os egípcios. Quanto à mesa milagrosamente posta, isto se prende a um mecanismo fácil e idêntico ao dos caixões dos defuntos. Eis os milagres essênios, dos quais não viste nem a centésima parte e se prestam a deixar perplexos os incautos.

  1. Existe num terreno baldio uma floresta, onde se ouvem falar as árvores; noutro canto o fazem os rochedos e, além, a fonte! Num lago profundo vê-se uma quantidade de serpentes inofensivas, diariamen- te alimentadas com leite, as quais também, de vez em quando, falam! Num lugar especial, até mesmo o capim! Necessitaria de tempo para te descrever tudo; basta, porém, que te diga serem ludibriados por dia trinta a quarenta pessoas em troca de ouro e prata!”

99.FILOSOFIADOS ESSÊNIOS

  1. (Bartholomeu): “O mais interessante é que, às vezes, aceitam-se crianças realmente falecidas, de pais ricos, para fins ressuscitáveis, as quais são devolvidas apenas depois de um ou dois anos. Neste caso, um curador essênio visita os tristes genitores e se informa de todas as minú- cias concernentes ao extinto. É preciso mencionar tudo: a idade, o que a criança porventura ouviu e aprendeu, suas predileções alimentícias, a descrição de seu quarto, quem e como eram seus amiguinhos, tudo que sucedeu, onde e em que ocasião. Em suma, nada deve ser oculto, do contrário, diz o essênio, não é possível se efetuar a ressurreição!

  2. Os pobres pais, com prazer, atendem a este pedido, acreditando que tal seja imprescindível ao desejado fim! O proponente, porém, tem outro plano!

  3. Como já disse, possuem eles na fronteira do Egito um grande instituto de crianças de todas as raças. Lá escolhem um tipo semelhante ao falecido, sendo este último bem enterrado. Levando tal criança con- sigo, educam-na em tudo que sabem sobre o morto, levam-na secre- tamente a lugares frequentados por aquele e convidam seus amigos ao convento, para com ele terem contato. Este substituto é informado da

arrumação do futuro lar paternal: descrevem a disposição dos quartos, a fim de que possa perguntar aos pais por tudo, e estes tenham uma verdadeira alegria. A impostura é tão bem engendrada que os genitores não têm a mínima dúvida de ser aquele o filho legítimo. Pagam, por isto, uma soma enorme, e com muito prazer.

  1. A pais pobres tal milagre nunca acontece; em compensação, é-lhes dado um consolo animador e, através de pequenas magias de pouca monta, fortifica-se-lhes a crença de que seu filho falecido subiu ao Céu, em linha reta.

  2. No fundo, os essênios defendem bons princípios, pois dizem: É preciso que haja uma sociedade de pessoas cultas, que tudo faça para a felicidade do próximo por meios prestáveis. Essa sociedade conclui, através de longas pesquisas, ser a morte o fim de tudo, não mais haven- do consciência ou vida de espécie alguma após a mesma. Seus membros têm bastante filosofia para desprezar a vida, não a considerando a maior dádiva; entretanto, é preciso difundir a crença duma vida completa da alma após a morte, a fim de levar a felicidade às criaturas. E para este fim se usa de milagres aparentes que, quanto mais assombrosos, maior efeito surtem!

  3. Os iniciados têm de manter o máximo sigilo e o dever rigoroso de fugir, diante de estranhos, da verdade, pois que ela torna o homem escravo da morte. Por isto Moysés falou na Gênesis: ‘Quando comeres da árvore do conhecimento — isto é, da árvore da Verdade — mor- rerás!’ Assim, fundou ele uma casta sacerdotal para os judeus, que se manteve até a presente data, embora hoje completamente desvirtuada.

  4. O conceito principal é o amor, cuja aplicação as criaturas de- vem considerar como dever sagrado através de Leis dadas por Deus. Esta virtude deve ser praticada com persistência e como desejada pela Divindade: o Pai Bondoso para os bons, ao mesmo tempo que Juiz Implacável para os renitentes. Por estes meios se induz a Humanidade a praticar boas ações.

  5. Caso encontrando uma pessoa que propale a verdade, lançan- do suspeitas contra a ideologia dos essênios, deve ser considerada um monstro que traz a morte a milhares através de sua doutrina, e esta

sociedade tudo deve empreender para afastá-la ou, melhor ainda, con- quistá-la para seus fins! Pois nada é pior que um esclarecimento no campo da fé em um deus e numa vida eterna! Vê, Judas, eis os prin- cípios dos teus tão prezados essênios! Falando mundanamente, não se lhes pode criticar; quanto ao espírito, porém, são condenáveis. De sua boca jamais um leigo ouvirá uma sílaba de verdade e, tentando-o, selará sua própria execução!”

  1. Diz Judas, irritado: “Mas que feras! Jamais poderia supor ta- manho embuste e acredito por tu mo dizeres, sendo ex-essênio! Como conseguiste fugir ileso?”

  2. Diz Bartholomeu: “Fiz-me iniciado prestando todas as provas, e fui designado para cá num serviço externo. Como merecia toda con- fiança, deixaram-me nesta incumbência; é um privilégio concedido pelo convento que só lhe dá lucro. Encontrando, todavia, a plena verdade, prefiro não mais voltar! Por mim os do claustro nunca serão informados do que sei; com o tempo, os que estão fora saberão quem são eles!”

100.OSDISCÍPULOSEMALTO MAR

  1. Diz Pedro: “Já deve ter passado uma hora após meia-noite e ain- da não há vestígio dum barco!” Responde André, possuidor de ótima visão: “Também nada vejo!”

  2. Diz Matheus, o aduaneiro: “Se ao menos o vento se acalmasse! Os marujos já estão exaustos, embora lhes tivéssemos ajudado. Somen- te a manhã nos trará outro vento!”

  3. Diz Nathanael: “Eu com coisa alguma me importo — queria apenas que o Senhor chegasse; do contrário, seria aconselhável voltar- mos à procura Dele! Talvez caísse nas mãos de servos herodianos?!”

  4. Diz Simon: “Ora, mais isto?! Ele, o Senhor dos Céus e da Ter- ra — nas mãos daqueles assassinos?! Ele disse que viria — e tudo que diz é verdade! Não teremos alcançado a outra praia e Ele estará em nosso meio!”

  5. Afirma João: “Também concordo! Confiemos Nele, que nunca nos abandonará! Não teríamos resistido a esta ventania que nos castiga

há cinco horas, se não fosse o Seu Poder de contê-la! Pelo que vejo, nosso navio continua no mesmo ponto, de sorte que podemos deixar de remar!”

  1. Diz Pedro: “Sim, tens plena razão!” E, assim dizendo, dirige-se aos remadores, afirmando-lhes que não precisam cansar-se. Dizem eles: “Vemos a costa beirando o deserto, a maré está furiosa! Não nos sendo possível parar aqui, pereceremos todos!”

  2. Diz Pedro: “Só se não fôssemos discípulos do Senhor Jesus! Es- peremos a madrugada, que tudo melhorará!” Os remadores, pouco a pouco, deixam de remar e percebem que o navio não se move, acredi- tando que isto se dê devido a Meu Poder.

101.PEDROSUAPROVADE

Ev.MatheusCapítulo14,versículos25a 33

  1. Neste meio tempo se aproxima a quarta ronda. O vento se acal- ma e André, observando o mar ainda revolto, vê alguém caminhando sobre as ondas como se pisasse solo firme (Matheus 14, 25). Chamando pelos outros, aponta-lhes aquela figura e diz: “Este não é um bom agou- ro, é um fantasma do mar! Quando é visto, os navegantes nada de bom podem aguardar!” (Matheus 14, 26)

  2. Todos são da opinião de André, apavoram-se e gritam: “Ó Jesus, por que nos abandonaste a ponto de perecermos? Oh, se ainda Te en- contras em alguma parte, lembra-Te de nós e salva-nos da morte certa!”

  3. Nisto, chego a dez passos do navio e lhes falo: “Tende fé, pois sou Eu! Não vos amedronteis!” (Matheus 14, 27). E os discípulos se acalmam. Diz André: “Céus! É Jesus, nosso Senhor e Mestre!” Pedro, no entanto, ainda duvida, pois responde: “Se for Ele, que me faça caminhar sobre a água para que possa, como Ele, experimentar se é sólida!”

  4. Pergunta André: “Terias coragem, se te chamasse?” Responde Pedro: “De certo! Sei que o mar aqui é bem profundo; se for Ele, nada me sucederá — se não for, de qualquer maneira estaremos perdidos. Serei o primeiro a me afogar, preparando-vos uma morada!”

  1. Com isto, Pedro se dirige à parte mais baixa do navio e grita: “Senhor, se fores Tu, manda-me ir ter Contigo por cima das águas!” (Matheus 14, 28)

  2. Digo-lhe Eu: “Vem e convence-te!” Sob gritos de pavor dos ir- mãos, Pedro pisa sobre o mar. Quando os outros veem que não afunda, dissipa-se-lhes a dúvida e acreditam ser Eu.

  3. Pedro se apressa a vir junto de Mim (Matheus 14, 29). Faltando para isto sete passos pequenos, vê que um vento forte levanta as ondas. Assusta-se muito, imaginando que poderia ser por elas tragado — e apenas essa dúvida é bastante para que afunde até os joelhos. Neste momento grita aflito: “Senhor, ajuda-me!” (Matheus 14, 30)

  4. Aproximando-Me, rápido, estendo-lhe a mão, com o que firma de novo seus pés sobre a água, e lhe digo: “Oh, como és fraco em tua fé! Por que duvidas? (Matheus 14, 31). Ainda ignoras que unicamente a fé inabalável é soberana sobre os elementos?”

  5. Diz Pedro: “Senhor, perdoa-me! Vês que ainda sou fraco, pois deixei-me amedrontar pelo vento e as vagas!”

  6. Digo Eu: “Está bem! Vamos subir ao navio!” Assim fazemos e a ventania se acalma (Matheus 14, 32). Todos a bordo, inclusive os re- madores, recebem-Me com as seguintes palavras: “Agora reconhecemos que és verdadeiramente o Filho de Deus!” (Matheus 14, 33)

  7. João, porém, abraça-Me e beija-Me numa alegria incontida, di- zendo: “Ó meu querido Jesus, finalmente estás de novo em nosso meio! Agora já não há motivo para medo! Nunca mais nos abandones, pois é horrível estarmos sem Ti! Jamais esquecerei esta noite! Nunca passei tanto pavor e susto! Se a ventania se quiser manifestar, que o faça! Pois temos seu Mestre em nosso meio, que a fará aquietar-se!”

102.CHEGADAÀCIDADELIVRE GENEZARETH

Ev.MatheusCapítulo14,versículo 34

  1. Digo Eu: “Embora não Me vejais, sempre estarei convosco! Acreditando em Mim, confiando em Meu Nome e amando-Me verda- deiramente, sempre estarei em vosso meio! Quem duvida de Mim, não Me possuirá — mesmo estando Eu a seu lado!

  2. Além disto, Bartholomeu fez bem em vos esclarecer (principal- mente a Judas) a respeito dos essênios. Conquanto este último não lucre muito com isto, tal não se dá convosco! Pois Judas aprecia tais truques e pensa: ‘Se não aprendê-los com Jesus, procurarei os essênios!’ É e será avarento, apreciando mais dez libras de ouro que a Verdade Celestial e a Vida Eterna! Se Herodes lhe propusesse um vultoso lucro, ele nos trairia a todos, pois esta Terra dificilmente o corrigirá!

  3. Por tal razão, nada mais é tão perigoso para a Vida Eterna que os tesouros deste mundo! De que serve ao homem conseguir riquezas materiais, sofrendo dano em sua alma? Antes que se dê conta, esta lhe será tirada e lançada nas trevas, onde há eterno clamor e ranger de den- tes! Que benefício lhe darão seus tesouros? Por isto, deveis todos ajuntar os tesouros do espírito, inatingíveis pela ferrugem e as traças, que tereis abundância por toda Eternidade!

  4. Vede: aí, no fundo do mar, jazem muitos navios com seus donos e tripulação! Que lucro tiveram querendo açambarcar grandes somas no mercado? Uma tempestade finalizou seu intento inescrupuloso, en- terrando suas almas nas profundezas do mar!

  5. Vossa embarcação, lutando esta noite contra uma ventania incle- mente, achava-se repleta de tesouros indestrutíveis do Espírito e da Vida de Deus — e a borrasca não vos conseguiu exterminar! Por isto, vim sobre as vagas para junto de vós, mostrando que somente o portador das rique- zas celestes se pode elevar, com facilidade, sobre as tempestades e ondas na luta contra o mundo, nele marchando sem sofrer dano e, finalmente, tornando-se senhor acima de todas as vicissitudes. Quem abarrota o barco da vida com os tesouros da Terra, sendo atingido pela borrasca das preo- cupações mundanas, soçobrará, assim como seu barco! Entendestes isto?”

  1. Respondem todos: “Sim, Senhor! Foi claro e explícito!” Digo Eu: “Pois bem, então deixai-nos navegar para a outra costa, à cidade Genezareth e ao pequeno povoado livre que usa o mesmo nome!”

  2. Em meia hora chegamos àquele local (Matheus 14, 34). Neste ponto o mar transforma-se numa grande enseada, sendo ligado à cidade por um estreito, que se chama “Lago Genezareth”. Desembarcamos no lado esquerdo, porquanto os navios que passam o estreito têm de pagar a tarifa alfandegária. Atracamos o navio, deixando nele dois marujos; os outros nos acompanham à cidade, onde compram pão, sal e algum vinho, pois a noite os havia deixado exaustos. Abençoo-lhes o pouco que compraram, de sorte a estarem providos por vários dias.

  3. Permaneço algum tempo em Genezareth, uma cidade livre, onde não é possível que sejamos atacados por Jerusalém, pelo Templo e tampouco por Herodes, pois que os romanos a protegem, havendo lá um acampamento sob a direção de Capernaum. Isto não consta nas Escrituras por ser de somenos importância, entretanto é verdade.

103.OSENHOREOSSEUSNOALBERGUEDE EBAHL

  1. Em ali chegando, vamos ao albergue dum homem honesto, chamado Ebahl. Recebendo-nos hospitaleiramente, diz: “A julgar pe- las aparências, sois galileus da zona de Genezareth?” Confirmando-lhe isto, ele nos manda servir pão, vinho e peixes, dizendo: “Estareis isentos de pagamento durante três dias e três noites! Sendo-vos possível in- formar-me sobre o Salvador Jesus, que dizem curar todas as moléstias, abrigar-vos-ei, gratuitamente, pelo tempo que quiserdes!

  2. Se for verdade o que se diz, tudo farei para encontrá-lo! Este povoado, embora livre, sofre grande miséria, pois é assolado por toda sorte de enfermidades. Não são mortais, porém castigam muito! Tudo faria para trazer o Salvador aqui! Tenho uma grande hospedaria repleta de doentes que mal podem andar de dores, impossibilitados de voltar a seus lares; existem até egípcios, persas e hindus no meio deles. Além desses, também alguns fariseus e escribas de Jerusalém e dois essênios, gravemente enfermos, sem que os médicos e curadores de todas as zo-

nas os possam curar! Por isto, dizei-me como poderei falar a este Jesus de Nazareth!”

  1. Digo Eu: “Por que não Lhe mandaste um mensageiro, sabendo que Se encontra em Nazareth?”

  2. Responde Ebahl: “Isto já fiz por várias vezes, sem tê-lo encontra- do. Meus mensageiros me contaram verdadeiros milagres a seu respeito, mas nunca tiveram a felicidade de conhecê-lo!”

  3. Digo Eu: “Pois bem, como vejo que não és levado pelo egoísmo a respeito do Salvador, mas tens, unicamente, o desejo de socorrer os aflitos sem distinção de nacionalidade — o que Me trouxe até aqui — sabe, para teu consolo e alegria, que Eu Mesmo sou o tal Jesus que tanto procuravas e estou curando, neste momento, os teus enfermos! Manda indagar no albergue se lá ainda se encontra algum!”

  4. Ebahl, quase louco de alegria, exclama: “Mestre, se tu o és, não necessito mandar saber e acredito em tua palavra; por isto, louvarei a Deus por ter permitido que esta Graça aqui sucedesse! Mestre, grande e divino Mestre, externa os teus desejos, que és dono desta casa e todos têm que te obedecer!”

  5. Enquanto ele assim fala, chega a notícia de que os doentes da hospedaria — perto de dois mil — haviam ficado curados. Devia ter acontecido um milagre! Todos eles viriam, a fim de patentear seus agra- decimentos ao hospedeiro!

  6. Diz Ebahl: “Dizei-lhes que não necessito disto e também não mereço um agradecimento de espécie alguma, mas unicamente Deus, por nos ter mandado o curador Milagroso a esta cidade! Exigi dos ricos e estranhos uma pequena importância pela hospedagem; dos aqui radi- cados nada peçais!” Os servos se afastam com esta incumbência.

  7. Após isto, Ebahl se ajoelha diante de Mim, agradecendo com lágrimas nos olhos a grande Graça. Faço-o levantar e Me apresentar sua família. Ele se vai, a fim de cumprir Minha Ordem. Quando Me apresenta duas mulheres e dezesseis filhos, entre estes dez homens e seis moças, diz: “Vês em mim um israelita genuíno! Assim como outrora Jacob, pai de nossa estirpe, tinha duas mulheres — Lia e Raquel — gerando filhos com elas, o mesmo fiz eu, sendo que as minhas não são

irmãs. Com a mais velha criei dez meninos, que hoje são homens; as seis moças são da mais jovem, e eu conto setenta anos.

  1. Todos eles foram educados dentro da Lei; o mais velho é escri- ba, não a serviço do Templo, mas para si e seus descendentes! Também os outros sabem algo da Escritura, conhecem a Vontade de Deus, cum- prindo-A rigorosamente. Amam a Deus, mas também O temem; pois o temor de Deus é o início da sabedoria. Em minha casa se considera os verdadeiros versos de Jesus de Sirach. Estás satisfeito com esta minha ordem doméstica?”

  2. Digo Eu: “Como foi estabelecida, nada tenho a contrapor nem proíbo que alguém tenha duas, três ou mais mulheres, pois foram elas criadas para a procriação da Humanidade. Deus não Se apraz com uma mulher estéril, a não ser que o seja de natureza, pelo que não tem culpa.

  3. Daqui por diante, todo homem se deverá casar somente com uma, virgem ou viúva; pois, se fosse da Vontade de Deus que o homem tivesse mais de uma, Ele teria criado outras para Adam.

  4. As criaturas mais tarde se afastaram desta Lei e, principalmente entre pagãos, tornou-se um vício, porquanto um regente tomava para si todas as moças mais lindas e até comprava outras tantas no estrangeiro; mas tal não foi da Vontade de Deus, e sim, da do homem sensual, pois muitas destas moças não eram destinadas à procriação, mas a despertar a potência aniquilada do homem. E todos deixam de viver dentro da Ordem Divina, não cumprindo a primeira Lei de Deus!

  5. Outra coisa será se a mulher for estéril como o foi Raquel; neste caso o homem poderá tomar outra, tendo em vista a prole. Estás dentro da Ordem e tens o senso da justiça, portanto és justo diante de Deus; do contrário, não teria vindo à tua casa!”

104.OSENHORABENÇOAAFAMÍLIADEEBAHLECRITICAOS ESSÊNIOS

  1. A seguir abençoo-lhe os filhos e as duas mulheres como se fos- sem uma só, pois eram de uma só índole e jamais discutiam. Então falo a Ebahl: “Podes te congratular com teus filhos, que não há um entre

eles que seja pervertido, material ou espiritualmente. Todos vendem saúde, possuem corações puros, cheios de beatitude e obediência — e tuas mulheres ainda parecem jovens! O ar nocivo desta zona não parece ter influência sobre teu lar!”

  1. Diz Ebahl: “Para os habitantes, tanto o ar como a água são ino- fensivos; um estranho, basta passar alguns dias, e se tornará doente, de sorte a não poder deixar o leito, não raro durante um ano! Uma vez vencida a crise, poderá morar aqui o tempo que quiser, pois nada mais lhe acontecerá.

  2. Isto se torna um prejuízo para o país, pois é difícil se encontrar trabalhadores, e os estrangeiros evitam esta zona como a peste; os que ficam, em virtude de negócios urgentes, caem enfermos. Por este mo- tivo a maior parte da ocupação militar dos romanos está acamada, sem que médico algum a possa socorrer!

  3. Estranho é que, raramente, duas pessoas apresentem os mesmos sintomas. Uma tem febre; outra, uma erupção; uma terceira, distúrbio intestinal; a quarta, uma tosse forte, e assim por diante; tanto que os médicos não sabem como agir. Talvez te fosse possível curá-los e receitar um preventivo que os protegesse contra futura recaída!”

  4. Digo Eu: “Como tenciono permanecer por alguns dias nesta ci- dade, os curados poderão informar aos habitantes. Os que vierem serão curados, mas não os outros; pois ninguém é tão gravemente enfermo que não possa fazer a caminhada!”

  5. Diz Ebahl: “Se fosse do teu agrado, Mestre, poderia enviar men- sageiros às redondezas!” Respondo Eu: “Deixa estar; sabê-lo-ão por toda a parte!” Dentro em pouco chegam vários sarados, entre esses, fariseus e escribas de Jerusalém e dois essênios, a fim de Me agradecerem pela cura e, se possível, aprender de Mim a ciência de realizá-la apenas pela palavra.

  6. Eu, porém, digo-lhes: “Que pesquisais? Vossa questão se prende ao mundo e sua matéria, por vós tão apreciada; aqui, trata-se de algo es- piritual! Ainda não compreendestes o que seja a matéria; como, então, perguntais pelo que vem do Espírito? Principalmente vós, essênios, que pregais um Deus e uma ressurreição, produzindo milagres, que muito dinheiro custam, apenas para conseguirdes adeptos! Vosso princípio é

este: É preciso enganar o próximo a fim de fazê-lo feliz, pois a verdade destrói o bem-estar das criaturas!

  1. Se, portanto, vossa base vital é a mentira, como podeis querer ouvir que vos fale da Verdade? Tudo vos falta para o conhecimento do Reino de Deus sobre a Terra e sois os últimos, julgando-vos, porém, os primeiros! Se continuardes como sois, jamais Dele compartilhareis! Que vos adianta a boa vontade de querer levar ventura aos seres através de fraudes e mentiras se, em consequência disto, aniquilais as almas ig- norantes? Qual não será vossa situação no Além, quando os ludibriados vos enfrentarem como juízes?

  2. Na certa não acreditais no que digo, entretanto é verdade! Mi- nha Base de felicidade humana consiste em salvar a alma à custa do corpo e de sua pretensa felicidade, para preparar-lhe uma Vida Eterna e Verdadeira! Se Minhas Palavras não despertam vossa fé, dai ao menos crédito às Minhas Ações, que jamais por outrem foram praticadas! Es- tas, sendo verdadeiras, provam o que digo!

  3. Pessoa alguma vos poderia relatar algo da Índia, a não ser que de lá viesse; do mesmo modo, ninguém vos poderá informar sobre o Além senão quem de lá vos procura — Que sou Eu! Quem acredita em Minhas Palavras terá a Vida Eterna; não o fazendo, será tragado pela morte sem fim! Pois elas não são humanas; representam e transmitem a Vida a quem as aceita, agindo pelo Espírito nelas contido!

  4. As que vós, essênios, pregais ao povo são apenas mentira e frau- de, porquanto não lhes dais crédito! Possuís uma doutrina dupla: uma para o povo e outra para vós, que alegais verdadeira, mas que a multidão deve ignorar para poder viver uma suposta felicidade.

  5. Digo-vos, porém: destes ao povo, com vossa pretensa mentira, mais de verdade que a vós mesmos. Pois o que julgais verdade é mentira completa, e o que ensinais aos incautos só o é em parte; por isto, Deus vos tolerou. Para o futuro, ensinai a verdade, crendo nela, que sereis servos meritosos de Deus; a mentira e a fraude devem ser evitadas para sempre, do contrário o julgamento recairá sobre vós!”

  6. Respondem os dois essênios: “Mestre, reconhecemos que fa- laste certo; no que se refere a nós, tudo faremos para introduzir teu

ensinamento em nossa sociedade; entretanto, por nada nos responsabi- lizamos! Nossos confrades não são maus e talvez fosse possível falar-lhes entre quatro paredes — se, porém, surtirá efeito, não o garantimos!”

  1. Digo Eu: “Fazei o que é de vossa obrigação que Deus dará Sua Bênção! Acreditai na plena verdade, que vos libertará para sempre!” Di- zem ambos: “Senhor e Mestre, permite que permaneçamos aqui durante a tua estada.” Respondo Eu: “Tendes a liberdade de fazer o que vos agrade!”

105.OSENHOREOCOMANDANTE ROMANO

  1. Nesta altura chega Ebahl e convida a Mim e a Meus discípulos para um almoço farto; além de sua família, ninguém deveria nele tomar parte. Isto não é do agrado dos fariseus, que sempre pretendem ser os primeiros. Se bem que fossem servidos numa sala à parte, tal não lhes satisfaz, por verem que Ebahl Me trata com mais atenção. Por isto, per- guntam a um servo se o dono da casa achava a companhia deles de tão pouca importância, que não os convida à sua mesa.

  2. O servo, inteligente, diz: “O patrão tem muito que falar ao mé- dico milagroso, desejando, por tal motivo, ficar a sós com ele!”

  3. Perguntam os fariseus e escribas: “Acaso tu e teu patrão ignorais que nos devem ser relatados todos os segredos da casa por nós visitada? Somos nós que vos purificamos, curando-vos quando enfermos!”

  4. Diz o servo: “Assim sendo, por que não podeis curar a vós pró- prios? Se o médico milagroso de Nazareth não tivesse passado por aqui, ainda estaríeis sofrendo da nevrite. E quem, como ele, tem esta facul- dade também merece uma especial atenção!” A esta boa resposta eles se calam, não por convicção, mas por necessidade.

  5. À noitinha, o número dos que Me pedem auxílio ascende a mais de cem, os quais são por Mim curados. Todos Me agradecem sensibi- lizados e louvam a Deus por ter dado este poder a um homem. Mais tarde, ainda aparece o comandante, rogando-Me que também ajude sua guarnição militar.

  6. E Eu lhe digo: “Vai, pois se dará como acreditas!” Verifican- do que todos os soldados do acampamento ficaram sãos, ele volta

satisfeito para junto de Mim com a intenção de Me gratificar com ouro e prata.

  1. Recuso tudo, dizendo-lhe: “Amigo, jamais curei alguém pelos te- souros materiais, mas pelos do Céu, que consistem numa fé viva e num verdadeiro amor, desinteressado, a Deus e ao próximo, não obstante sua posição. Trata teus subalternos com carinho, como se fossem teus irmãos verdadeiros, e terás Me recompensado meritosamente! Aquilo que tencionavas dar-Me poderás entregar a Ebahl; sua hospedaria lhe custa muito e deve ser mantida.

  2. Além disto, seria aconselhável que vós, romanos, erigísseis hos- pedarias para os pobres, ao invés de templos pagãos. Vossos deuses de madeira, metal e pedras são criações mortas, às quais podeis adorar o quanto quiserdes que não vos socorrerão. Se, porém, abrigais leprosos, aleijados, cegos e mudos, dedicando-lhes bom trato — o Deus Único e Verdadeiro olhará vossas obras de caridade, abençoando-vos mil vezes. Vossos deuses mortos não vos recompensarão as boas ações, nem puni- rão as más. Sois obrigados a fazer uso de armas, pretendendo manter a ordem no país. Neste caso fazeis pela força o que Deus faria se O con- siderásseis e cumprísseis Suas Leis!”

106.ASEXPERIÊNCIASMUNDANASDO COMANDANTE

  1. Diz o comandante: “Amigo, reconheço que falaste a verdade; mas o mundo é uma torrente poderosa, dificilmente enfrentada por alguém. Sempre foram tragados pelo redemoinho aqueles que o tenta- ram. Isto apenas é possível numa cidade pequena e calma, cujos habi- tantes ainda não foram contaminados pelo hálito pestilento do mun- danismo. Vai a Roma, Athenas e Jerusalém — e, se não fores um deus, sentirás em breve o gume da espada dos poderosos, como aconteceu a João Baptista, decapitado por Herodes na prisão.

  2. Este homem foi, sem dúvida, um inspirado, que pela máxima renúncia pregou a verdade às criaturas. Milhares aceitaram sua doutri- na, fazendo penitência e entrando no bom caminho. Quando, porém, começou a se manifestar no Jordão, perto de Jerusalém, foi preso pelos

carrascos herodianos, para mais tarde ser morto. Seus adeptos poderão em segredo difundir a doutrina; mas resta saber se ela em cem anos ainda será a mesma como jorrou de sua boca!

  1. Nossa crença religiosa se baseia no mesmo princípio da judaica, pois se fundamenta num ser divino, ao qual todos os deuses obedecem. A mitologia lhe deu várias denominações: os gregos o chamam ‘o deus desconhecido’; os romanos, ‘destino’, do qual dependem todas as de- mais forças. Observa a atual doutrina greco-romana e verás que contém apenas fábulas e contos vãos, baseados tanto nas virtudes como nas fraquezas humanas. É imposta aos homens com fogo e espada! Procura modificá-la, se isto te é possível; da minha parte não te porei pedras no caminho.

  2. O melhor exemplo nos dá tua própria crença mosaica! Lê os profetas e analisa o que se passa no Templo, onde nem uma vírgula daquelas verdades é respeitada! Deus Mesmo teria dado no Monte Sinai Suas Leis salutares aos homens, firmando a velha união entre Si e Seu Povo. Os que se atreveram a apostatá-las foram castigados por diversas maneiras, e até mortos! De que adiantou isto?

  3. Onde se encontra a Arca milagrosa, sobre a qual Deus jazia numa coluna de fogo? Sim, sendo romano, poderás contemplar uma chama de nafta, desde que pagues para isto! Mas da verdadeira — nem sombra!

  4. Assim, acho que nada se consegue pelas revelações e doutrinas; pois as criaturas em pouco tempo as deturpam de tal forma que podem ser comparadas ao quadro de um ancião junto a um recém-nascido. As múltiplas paixões e necessidades humanas transformam em lodo o que há de mais sublime. E a maior e jamais vencida testemunha é a Histó- ria, que por ninguém poderá ser negada!

  5. Amigo, embora não tenha a pretensão de me tornar teu pro- fessor, julgo — descontando teus vastos conhecimentos ocultos em a Natureza — possuir mais experiência que tu, e te aconselho fugires das grandes cidades, nas quais as criaturas são mais que pervertidas. Não confies nos fariseus, escribas e em tua própria doutrina, evita aquelas zonas de domínio herodiano — e poderás fazer a caridade por muito tempo. Do contrário, terás a mesma sorte que João!”

107.APESSOAEAMISSÃODO SENHOR

  1. Digo Eu: “Considero-te Meu amigo, pois tudo que acabas de falar é verdade. Se Eu fosse uma criatura igual a ti, sem dúvida seguiria o teu conselho, pois em teu peito pulsa um coração justo. Entretanto, sou bem diferente do que julgas! Pois tanto as forças do Céu como as da Terra têm que Me obedecer; deste modo, nada há que temer. Se bem que a Escritura se cumprirá em Mim de maneira dolorosa, tal não se dará pela vontade deste mundo, mas pela do Pai do Céu, Que ora está em Mim e Eu Nele, desde todo o sempre! Mesmo assim, Meu Poder em nada será atingido. Pois, se o quisesse, esta Terra seria dizimada a pó num momento, com tudo que nela existe; como Meu Princípio se chama ‘conservação’, tal coisa não se dá!

  2. Poderá acontecer que Me acusem de amotinador e herege, por ódio e vingança dos templários que Me pregarão à cruz! Contudo, isto não quebrará o Meu Poder, tampouco prejudicará a Minha Doutrina até o fim dos tempos! Não obstante as criaturas mundanas fazerem com Minha Religião do Amor o que os egípcios, gregos e romanos fizeram com o ensinamento básico dado a Adam — muitos haverá que conser- varão a Minha Doutrina tão pura como ora é por Mim transmitida, possuindo, por este motivo, a força que emana pela fé viva no Meu Po- der! Sou, portanto, também um Senhor, não temendo leis mundanas!”

  3. Responde o comandante: “Amigo, falaste muito, em poucas pa- lavras! Estou quase certo desta possibilidade, após ter assistido à tua cura — embora milagres idênticos não me sejam estranhos. Pois é sa- bido que acontecimentos extraordinários produzem um efeito na saúde física e psíquica, de acordo com o temperamento da pessoa. Haja vista que um forte susto restitui audição e fala a um surdo-mudo.

  4. Em resumo, desejo apenas afirmar que tua maneira milagrosa de curar em absoluto me convence que estejas imunizado contra as forças celestes e materiais! Não tenciono duvidar — pois para Deus muita coisa é possível; entretanto, existe um abismo entre a possibi- lidade e a execução! Peço-te não tomares a mal minhas palavras um tanto presunçosas, pois falei como o entendo, sem ter maldade no

coração. No momento devo me afastar a negócios; amanhã estarei às tuas ordens!”

  1. Digo Eu: “Podes ficar, se o desejares, pois teu serviço foi feito em teu nome!” Responde o comandante: “Já estaria escuro, se não fosse o luar; irei, num momento, ao acampamento para ver se os vigias se postaram.” Ele sai rápido e é elogiado por Ebahl como uma felicidade para Genezareth, pela justiça e prudência que aplica.

  2. Digo Eu: “Isto é deveras uma vergonha para os judeus, possui- dores do Verbo e das Leis Divinas, porquanto seus corações estão re- pletos de mentiras, fraude, contendas, ódio, adultério e coisas vis. Por isto, acontecerá que o Reino Prometido a David será tirado dos judeus e entregue aos pagãos, e os descendentes de Hagar regerão sobre os de Isaac, não obstante a salvação, nesta época, vir sobre a Terra partindo do tronco Judá.”

  3. Diz Ebahl: “Mestre, prefiro-te salvador ao invés de profeta, pois nunca compreendi por que motivo eles todos predisseram coisas más em vez de boas. Tal é preciso ou acreditam manter com isto seu prestígio misterioso? Querido Mestre, eis a conclusão que tirei de tuas palavras, e talvez te fosse possível dissipar-me esta dúvida acerca dos profetas.”

108.RELAÇÃOENTREOPROFETAE DEUS

  1. Digo Eu: “Um profeta é, igual a ti, uma criatura simples e co- mum, cheia de fraquezas; como, porém, possui um coração compreen- sivo, isento de ira, vingança, inveja, orgulho e falsidade — o Espírito Divino purifica-o das tendências mundanas. Deste modo purificado, ele recebe uma luz do Céu dada pelo Pai.

  2. Ciente disto e de que esta luz se manifesta em palavras perceptí- veis no seu coração, basta que as pronuncie — e a criatura já está pro- fetizando. Sendo, portanto, necessário, o profeta é levado pela Vontade de Deus a se externar diante do povo, o que nada mais é do que o Verbo Divino transmitido por uma boca humana.

  3. Um profeta, entretanto, em nada é melhor que outra pessoa qualquer, desprovida desta Graça. Pelo contrário, o julgamento que o

atinge quando não segue a Vontade Suprema é pior, por ter tido ciência direta daquilo que Deus lhe havia exigido. Uma outra que, pela ceguei- ra de sua alma, não crê no que lhe é dito pelo profeta sofrerá um castigo mais brando; mas para esta última não há desculpas como tampouco para aquele que, embora acredite, não cumpre a Vontade do Pai por amor ao mundo.

  1. Contudo, o prêmio dum profeta será maior do que de outra pessoa, porquanto carrega sete vezes mais. Todos aos quais falou, bons e maus, ser-lhe-ão entregues no Além, sendo por ele julgados em Meu Nome por cada palavra vã. Aquele que receber um verdadeiro profeta em Meu Nome e em nome do mesmo será seu amigo e poderá aguardar igual prêmio. Coisa idêntica acontecerá se lhe facilitar sua missão de profeta.

  2. Ai daqueles que abandonam tal criatura em consideração do mundo, lançam-lhe suspeitas por algo ou, talvez, a perseguem; pois jamais verão o Semblante Divino! Quem investir contra um profeta será punido com o fogo eterno, porquanto seu coração, sua boca, mãos, pés, olhos e ouvidos são de Deus! Onde estiver um profeta estará o Pai; por isto, deveis pisar sua morada com veneração, pois é santificada! Considerai isto não pelo profeta, mas pela Divindade Que fala e age por ele. O motivo dum profeta apenas predizer julgamentos se baseia na perdição do mundo, cujas criaturas se entregaram aos vícios! Dize-me, Ebahl, se estás a par do que seja um verdadeiro profeta!”

  3. Responde este: “Perfeitamente, prezado Mestre, e presumo que também sejas um?!”

  4. Digo Eu: “Não o sou, pois consta que não surgiria algum na Galileia!

  5. Sou, no entanto, mais que um profeta, porquanto no Meu Peito habita o Mesmo Espírito que por eles falava e ainda falará. Quem, no futuro, guardar o Meu Nome cheio de fé em seu coração, possuirá o espírito da profecia. Compreendes isto?”

  6. Diz Ebahl: “Senhor e Mestre, parece-me que homem algum po- derá falar como tu! Em ti existe alguém, oculto pelo teu corpo!”

109.OSPROFETASEADIFERENÇADESUAATITUDEQUANTOADO SENHOR

  1. Enquanto Ebahl assim opina, chega o comandante de volta, contando, cheio de alegria e admiração, ter encontrado tudo na melhor ordem e que seus subalternos se admiraram por seu regresso, porquanto ele já tinha, da primeira vez, recomendado uma boa ordem! Ele, porém, esquivara-se com a alegação de que quisera apenas assegurar-se do cum- primento de suas exigências. A seguir, pergunta-Me ele quem tinha sido o seu substituto, tendo concluído de maneira tão louvável a sua tarefa.

  2. Digo Eu: “Não te havia dito que tenho à disposição todas as forças do Céu e da Terra? Não Me querias dar crédito. Agora saberás que não necessito temer a morte e também sou Alguém Que possa dizer e mandar algo!”

  3. Diz o comandante: “Sim, Senhor e Mestre, deves ser um Deus! A nossa religião pagã não mais me parece tão fabulosa, porquanto tenho em ti a plena convicção de que, vez por outra, um deus se afasta do seu Céu, a fim de se mostrar a seus filhos mortais; presenteia-os com toda sorte de tesouros espirituais e materiais para que possam cultivar a Terra deserta, tornando-a uma morada para deuses imortais! Tenho razão?”

  4. Digo Eu: “Isto nada mais é do que um conto vão, não contendo uma fagulha de verdade, como supões. Se entendesses por ‘Terra’ os conhecimentos e a vontade dos seres, seria razoável; deuses, porém, que não existem, jamais pisaram este solo. Aquelas criaturas pelas quais fa- lava o Espírito Divino e, de acordo com Sua Vontade, muitos milagres realizaram, não eram deuses, mas profetas, pessoas iguais a ti, morrendo fisicamente — só sendo eternos sua alma e seu espírito. Por Mim o Espírito Divino pisa pela primeira vez esta Terra, sendo o Mesmo do Qual todos os patriarcas, sábios e profetas predisseram em suas visões!”

  5. Falando deste modo ao comandante, entra um servo, dizendo que lá fora há um grande número de enfermos à espera do Meu socorro. Digo-lhe Eu: “Vai e lhes afirma que poderão seguir para seus lares!”

  6. Rápido, ele volta e encontra todos que, minutos antes, se quei- xavam e lastimavam, alegres e felizes, louvando a Deus. Só então lhes

transmite o Meu recado, com que todos se afastam. Seguem-se então os comentários usuais às curas, já bem conhecidos. Durante a palestra saboreamos algum pão e vinho, para depois nos recolhermos.

110.OPRADOABENÇOADO.OPASSEIOSOBREO MAR

  1. Na manhã seguinte a praça já está repleta de doentes. Ebahl Me procura a fim de que Eu lhe ajude, pois a multidão lhe bloqueia a casa de modo a não permitir entrada ou saída. Já tinha feito o comandante uma tentativa de ali penetrar, sem que isto lhe fosse possível.

  2. Então Me dirijo à porta, levanto as mãos — e todos se curam, gritando de alegria! Eu lhes imponho silêncio e mando que voltem à casa sem mais pecarem no futuro; e todos Me obedecem.

  3. A seguir digo a Ebahl: “Se no decorrer do dia ainda vierem al- guns pedindo ajuda, que se dirijam ao prado acima da rua, e ali serão curados!” — Abençoo, pois, o prado, de forma a que todos que o pisas- sem obtenham saúde. Neste dia vieram várias centenas de enfermos de todos os cantos e não houve um que se não curasse.

  4. Os dois essênios arregalavam os olhos e os templários não me- nos, porquanto seu prestígio se reduzia a nada; ninguém com eles se preocupava e os servos de Ebahl, de quando em quando, davam-lhes a entender que o tempo estava bom, não impedindo que voltassem a Jerusalém! Eles, no entanto, continuavam ali firmes.

  5. Após alguns minutos um deles se Me aproxima, perguntando se o prado continuaria com aquela característica. Digo Eu: “Só pelo dia de hoje até ao pôr-do-sol!”

  6. Pergunta ele: “Por que não para sempre?” Respondo Eu: “Por- que há certas pessoas que iriam cercá-lo, exigindo ouro e prata dos que nele se curassem! Como tal não é de Minha Vontade, a ação milagrosa terminará à noite, porquanto a procura é grande. Amanhã, os poucos que vierem serão curados através de sua fé e confiança!”

  7. Com esta explicação eles Me viram as costas, aborrecidos, nada mais perguntando. O comandante com isto se irrita e com gosto lhes teria chamado a atenção; Minha Pessoa, porém, o impede. Em com-

pensação, muito o fizeram os dois essênios. À tarde mando que falassem com Meus discípulos, entre os quais descobrem Bartholomeu, o que muito os alegra. Entretêm-se com todos até a meia-noite acerca de Mi- nha Doutrina, Ações e Sabedoria.

  1. Eu, à tardinha, dou um passeio ao mar com o comandante, Ebahl e sua família e encontramos os oito marujos ocupados com a restauração do navio. Nossa chegada muito os alegra, contando ao ro- mano o meu passeio sobre a água, pois este acontecimento não lhes saía da cabeça. Ouvindo este comentário, o comandante Me pergunta como podia isto ter sido possível.

  2. Digo-lhe Eu: “Já te falei ontem que os elementos Me têm que obedecer. Como podes indagar pela possibilidade? Aliás, tendo cora- gem de pisar sobre a água e Eu o querendo, poderás caminhar o tempo que Eu quiser! Se todos vós tendes vontade, poderemos fazer uma expe- riência! Mas não duvideis, e sim segui-Me!”

  3. Diz o comandante: “Estaria tudo muito bem se a água não fos- se tão profunda neste ponto! Bastaria um passo em falso, para se fazer companhia às salamandras!”

  4. Digo Eu: “Como és fraco na fé! Pensas que Eu teria tal audá- cia se não soubesse Quem sou? Quem de vós tiver fé e coragem, que Me siga!” A seguir piso a superfície da água, que Me carrega qual terra firme. Tendo dado dez passos distantes da praia, volto-Me e convido o grupo a seguir-Me; ninguém, no entanto, se anima. Então chamo a filha mais nova, de doze anos, de Ebahl, e ela, corajosa, pisa com um pé sobre a água. Vendo que esta não cede, pula alegremente para junto de Mim!

  5. Todos lhe seguem o exemplo, com exceção do comandante! Pouco depois, mais animado, ele Me pergunta. “O que seria se vies- se um vento forte?” Respondo Eu: “Vem e certifica-te!” Finalmente ele o tenta e, com cuidado, retendo a respiração e procurando tor- nar-se mais leve, chega até perto de Mim, feliz por poder pisar este solo incomum.

  6. Digo Eu: “Bem, já que vos convencestes ser a água solo firme para os crentes — continuaremos nosso passeio!” Com prazer o roma-

no teria voltado; as seis moças, alegres, o encorajam com seus pulos gra- ciosos, de tal modo a nos acompanhar uns cinco mil pés em alto mar.

  1. Eis que se levanta um vento forte, que joga as ondas em nossa direção. Todos sentem pavor, e o comandante pede que Eu volte. Eu, porém, digo: “Não temas! As ondas só te querem persuadir de que, iguais ao vento, devem Me obedecer!” Dentro em pouco, porém, como as vagas se tornem mais fortes, ele dá meia volta e — corre desabalada- mente, alcançando ileso a praia, onde se sacode, nervoso, para depois marchar com satisfação sobre a areia firme. Em poucos minutos junta- mo-nos a ele.

111.AVERDADEIRA PRECE

  1. Encontrando-nos todos à beira-mar, diz o comandante: “Se- nhor, agora tenho provas de sobejo seres ou o Deus Supremo ou Seu filho; pois um mortal não seria capaz de tais coisas!” A estas palavras todos se ajoelham, fazendo menção de adorar-Me.

  2. Mandando que se levantem, digo-lhes: “Nem Deus nem Eu ne- cessitamos disto; a verdadeira adoração consiste no amor sincero ao Pai no Céu e ao próximo. O resto não tem valor diante de Deus e de Mim.

  3. Jehovah nunca ensinou as criaturas a adorarem-No com os lá- bios, deixando frios seus corações. O fato de terem Samuel e outros profetas orado em voz alta diante do povo, de ter David cantado seus salmos e Salomon seu Cântico — levou o povo a imitá-los. Diante de Deus, tais preces acompanhadas por oferendas e promessas são um horror! Quem não souber orar no coração que deixe de fazê-lo, a fim de não se tornar hipócrita! Deus não lhe deu pés, mãos, olhos, ouvidos e lábios para que externassem sua prece, mas unicamente o coração!

  4. A criatura, entretanto, poderá orar com os pés quando distribuir socorro e consolo aos necessitados; com as mãos, socorrendo aos enfer- mos; com os olhos, não se escandalizando com a miséria; com os ouvi- dos, pela maneira como ouve e aplica o Verbo Divino, não se fazendo de surdo aos rogos dos pobres; finalmente, com os lábios, tomando a defesa das viúvas, órfãos e prisioneiros, tantas vezes injustamente con-

denados! Do mesmo modo, a criatura ora com os lábios, ensinando aos ignorantes, despertando-lhes a fé, o verdadeiro conhecimento de Deus e o desejo de aplicar as virtudes divinas. Sabeis agora o que quer dizer: Adorar a Deus em Espírito e Verdade.

  1. Bem consta que a criatura deva orar constantemente, não de- sejando cair em tentação. Que coisa ridícula! Pois neste caso deveria permanecer ajoelhada dia e noite, pronunciando preces vãs! E quando cumpriria seus deveres? Se, entretanto, orardes conforme vos ensinei acima, fá-lo-eis constantemente, recebendo as Bênçãos Divinas aqui e no Além! Tereis compreendido isto?” Respondem todos: “Perfeitamen- te, Senhor!” Digo Eu: “Muito Bem, Meus amigos, voltemos então à cidade!” Aos oito marujos Ebahl ordena que alguns o acompanhem, pois quer provê-los de pão, vinho, peixes e frutos.

112.ORDEMDOMÉSTICAE AMOR

  1. Em chegando à casa, as crianças também desejam ficar em Mi- nha companhia. Ebahl, no entanto, apologista de boa ordem domésti- ca, proíbe-lhes, principalmente as moças, dizendo: “Já assististes muita coisa; agi de acordo como vos foi dito pelo Senhor, pois sereis abenço- adas. Agora voltai à vossa tarefa.” Elas se despedem de nós de corações tristes, dirigindo-se a seus aposentos.

  2. Eu, entretanto, digo a Ebahl: “Amigo, por que as mandaste em- bora? É muito salutar às mulheres e às crianças serem afastadas do mun- do; mas aqui, em Minha Presença abençoada, não existe tal perigo, mas sim a influência do Céu, onde tal cuidado é inútil e não lhes devias ter privado desta Bênção!”

  3. Ouvindo isto, Ebahl diz: “Oh, não Te importunando, chamá-

-las-ei de volta! Fiz isto por saber que são muito curiosas e tagarelas.”

  1. Digo Eu: “Nada no mundo, a não ser a maldade, poderá impor- tunar-Me — vai buscá-las!” Ebahl assim faz e a menorzinha logo se Me achega e acaricia. Seu pai a repreende por falta de educação.

  2. Eu, porém, afirmo-lhe: “Amigo, deixa que o faça, pois ela já es- colheu a melhor parte! Digo-vos a todos: Quem não Me procurar como

esta criança jamais penetrará no Reino de Deus! Deveis Me buscar com amor, amor intenso, se desejais herdar a Vida Eterna! Esta menina prova o que sente; vós, porém, falais de maneira sábia, mantendo frio o cora- ção! Não percebeis Quem realmente sou?” — Todos caem de joelhos e Ebahl beija Meus Pés, exclamando após uns instantes de contrição: “Se- nhor, já o senti de há muito, faltava-me a coragem de manifestar-me!”

  1. Digo Eu: “Então não deves castigar tua filha, que vos encorajou a todos a caminhar sobre as águas e agora vos animou a Me amar! Oh, como a quero bem! Já possui o que levareis tempo para achar! Esfor- çai-vos no verdadeiro amor a Deus e ao próximo, e tereis a Graça e a Bênção plenas!”

  2. Diz o comandante: “Senhor, jamais amei alguém, além de minha família, agindo dentro da justiça. Mantive as leis, não pela severidade, mas com meiguice, obtendo bons resultados. Sinto, agora, ser possível amar as criaturas, fazendo-lhes o bem na medida que esperamos que a nós seja feito. Neste amor ao próximo está compreendido o amor a Deus, por ser Ele o Amor em Pessoa, o Criador amoroso de todas as coisas.

  3. Minhas observações durante estes dias me convenceram seres Tu o Criador Personificado ou Seu Filho, apresentando-Te como um nosso semelhante, ensinando-nos o amor para Contigo. Embora não tenha a coragem de imitar esta menina, faço-o dentro do meu coração, e penso ser isto o mesmo!”

  4. Digo Eu: “Está bem; melhor seria se o amor crescesse em ti como nela! Vê só como está radiante!”

113.OPERIGODO ELOGIO

  1. Diz a irmã mais velha, um tanto enciumada: “Yarah sempre foi de natureza apaixonada, enamorando-se de tudo que vê; portanto, não é de estranhar que se apaixone por um homem atraente como tu! Tam- bém eu poderia fazê-lo; mas de que adiantaria, se ela já te conquistou?”

  2. Digo Eu: “Vê, irmã ciumenta, não terias assim falado se possuís- ses um verdadeiro amor em teu coração! Tal não se dá devido ao mimo que te foi dispensado. Yarah ama sem perguntar se é amada! Amigo ou

inimigo lhe são idênticos; só se acha feliz podendo amar a todos! Jamais cogitou de ser amada, pois seu afeto aos pais e irmãos é mais profundo do que possas imaginar! É por vós considerada por último, sem que isto perturbe seu sentimento. Isto se chama amar verdadeiramente!

  1. Tu, quando amas, queres que te amem dez vezes mais; e quan- do este tributo não te é pago, tornas-te desconfiada e revoltada no teu coração cheio de amor próprio! Yarah, porém, jamais exigiu paga por sua dedicação. Eis por que poderá amar-Me o quanto quiser! Pois vim aqui por sua causa e também será motivo para Eu ficar mais alguns dias. Portanto, deveis a ela o fato de Eu ter curado todos os doentes.

  2. Onde vou, procuro sempre o mais ínfimo e oprimido! Aqui- lo que o mundo considera digno e respeitável é, diante de Deus, um horror! Por isto, esforçai-vos por ser o que é Yarah, e vos encontrareis a Meu lado física e espiritualmente para todo o sempre! Elogiai apenas quem o merece, evitando que se torne vaidoso; a vaidade é a semente do orgulho, espírito de Satanás!”

  3. Diz Ebahl: “Mas Senhor — Teu elogio a Yarah, diante dos ir- mãos, não a fará vaidosa?”

  4. Digo Eu: “Não te preocupes, pois quem Me abraçou jamais se tornará vaidoso! Dize-Me, Yarah, se te julgas superior a teus irmãos por Eu tanto te querer?”

  5. Responde ela, acanhada: “Oh, Senhor! Ninguém é culpado dis- to! Desejava, porém, que Tu amasses mais as minhas cinco irmãs que a mim, pois são mais bonitas e inteligentes. Sempre fui por elas chamada de feia e tola. O que bem mereço. Espero, entretanto, tornar-me mais inteligente quando for mais velha.

  6. Não permito que lhes acuses de algo, pois me ensinam coisas muito úteis e queremo-nos muito! Senhor, é preciso que da mesma forma as queiras bem! Pois fico triste quando as vejo acabrunhadas e desejo tudo lhes dar para alegrá-las! Prefiro tomar a mim a tristeza e desgraça de todos, se com isto se tornarem felizes! Por isto, peço-Te, meu querido Jesus, ama-as tanto quanto a mim!”

  7. Digo Eu: “A ti, Minha querida Yarah, nada posso negar! Tuas irmãs já reconhecem o motivo do Meu Amor para contigo — e se pro-

curarem se tornar idênticas a ti, amá-las-ei também! Assim como tu não podes ver um infeliz sem o desejo de socorrê-lo — o mesmo, porém de maneira completa, dá-se Comigo: o desejo e a Vontade Poderosa de ajudar a todas as criaturas! Procurar quem se perdeu, aliviar os enfermos e libertar os algemados de corpo e alma — eis Meu Intuito e Minha Vontade, não obstante o livre arbítrio da pessoa. Dize-Me: concordas Comigo, querida Yarah?”

114.YARAHEXPÕESUASEXPERIÊNCIASCOMRELAÇÃOÀSSUAS PRECES

  1. Diz Yarah: “Como não? Faria o mesmo se me fosse possível! Mas que me adianta minha vontade humanitária, se não posso ajudar? Em se tratando de pequeninas coisas, peço a meus pais para aliviarem aos necessitados e quase sempre sou atendida; às vezes, porém, recriminada, por possuir um coração mui sensível.

  2. Meu pedido a Deus, o Onipotente, nem sempre foi considerado! Pedia sem cessar; mas, quando ia verificar se era ouvida, tudo continuava no mesmo. Então perguntava a meu pai por que motivo Deus era tão surdo! Ele então me explicava que Deus sabia a razão dum sofrimento mais prolongado para este ou aquele, e media bem o tempo necessário para sua penitência. Nesse caso não adiantava a prece, até que o penitente se regenerasse. Isto me acalmava; entretanto, não deixava de pedir por ele.

  3. Havia ocasiões, porém, em que Nosso Senhor me atendia com presteza, com o que me alegrava muito. A Tua Vinda, ó Senhor, pare- ce-me uma prece considerada! Pois todos nós ouvimos falar dos feitos dum carpinteiro Jesus. No começo, aceitamo-lo como sendo um conto; entretanto, chegaram aqui pessoas por ele curadas, de sorte que acaba- mos por acreditar.

  4. Assim, vi-me tomada de grande amor para com esse homem, tanto que pedi, dia a dia, que Deus no-lo enviasse através de Sua Oni- potência. Eis que Ele me atendeu! Quando soube que tinhas vindo, senti-me tão feliz que mal pude me conter! Oh, se fosse menos acanha- da, teria Te abraçado; mas fui obrigada a me abster, à vista de meus pais

e irmãos! Agora, porém, chegou o momento feliz de eu poder ficar a Teu lado! Estás aqui e eu posso Te amar, sendo por Ti amada! Nem os anjos no Céu poderão ser mais felizes que eu! Nunca, porém, deves nos abandonar, pois morreria de tristeza!”

  1. Digo Eu: “Meu coração, jamais te deixarei! Nunca deverás sentir e ver a morte, pois Meus anjos te levarão deste mundo para junto de Meu Pai no Céu! Minha querida Yarah, Aquele a Quem pediste Sua Presença acha-Se a teu lado e te quer com o Amor Divino de todos os Céus; portanto, tens razão em afirmares tua felicidade! Levanta o teu olhar e verás o que te disse!”

115.YARAHOSCÉUS ABERTOS

  1. Yarah levanta os olhos dum azul celeste e vê, numa transfigura- ção, as profundezas dos Céus. Depois de alguns minutos começa a bal- buciar com voz meiga e doce: “Oh, oh, oh, Tu meu Santíssimo Criador! Que maravilhas avisto! Os Céus Infinitos repletos de seres angelicais! Como devem ser felizes! Entretanto, a pobre Yarah é mais feliz que eles! Pois o Trono Eterno no centro dos Céus Imensos, rodeado pelas falan- ges de espíritos, está vazio, e elas exclamam: ‘Santo é Aquele, cujo Trono aqui está erguido! Regozijai-vos, Eternidades, pois em breve Ele terá concluído a Imensa Obra, inenarrável, a fim de ocupá-lo, o Trono da Glória de Deus!’ Aquele a Quem unicamente cabe este direito acha-Se como homem ao lado da pequena Yarah! Louvai-O e honrai-O; pois Dele é o Trono Eterno da Glória e do Poder Divinos!”

  2. Após estas palavras ela volta a si e cai nos Meus Braços, dizendo: “Tu, Santíssimo! Não me repudies por eu Te amar, embora tenha visto as Glórias dos Céus!”

  3. Digo Eu: “Meu coração, pois se foi esse o motivo de Eu te haver mostrado o Meu Reino!? Continua assim, que não te prejudicará!”

  4. Yarah Me abraça com todo o fervor, o que Me leva a dizer aos outros: “Segui seu exemplo! Conta apenas doze anos e Me dedica um afeto jamais visto em toda Israel; e quem a imitar, dar-lhe-ei em pleni- tude o que o mundo nunca possuiu e Israel jamais sentiu!”

  1. Após esta cena comovedora, os servos de Ebahl indagam se está na hora de servir a ceia. Responde ele: “Se for da Vontade de nosso Se- nhor Jesus!” Digo Eu: “Trazei o que tendes! O amor dá e recebe, o que também Eu desejo fazer! Esta menina é Meu Alimento preferido, pois Me dá mais que todas as Eternidades!”

  2. Os empregados se aprontam para servir. Qual não é sua surpre- sa, não mais achando seus pratos arrumados! Entretanto, encontram as despensas repletas dos mais saborosos alimentos, frutas e vinhos, e voltam à sala para saber o que deviam fazer.

  3. Digo Eu: “Trazei o que há nas despensas; por hoje sois Meus hóspedes! Meus discípulos, os dois essênios e os fariseus já foram servi- dos daquilo que preparastes. Não os interrompais, pois necessitam de suas energias num empreendimento que se estenderá até à meia-noite.”

  4. Ebahl e o comandante, no entanto, dizem alegres: “Senhor, já não mais nos surpreendem tais fatos, pois sabemos que tudo Te é pos- sível! Só nos resta saber como merecemos tal Graça!” Nisto são trazidos os alimentos celestiais e todos os saboreiam com prazer, pois nunca experimentaram idênticos.

116.ADOUTRINADEJESUSDEVESETORNARPOSSE COMUM

  1. Digo-lhes Eu: “Felizes vós, que acreditais ter o Filho do homem vindo do Pai, dos Céus, a fim de erguer os caídos e libertar os presos! Observai, porém, que nada seja divulgado a respeito dos Meus milagres! Uns aborrecer-se-iam, não acreditando e vos declarando doidos; outros, de crença fácil, seriam por tal razão tolhidos em suas ações livres, no que matariam a alma!

  2. A Doutrina, unicamente, deve ser divulgada; pois Minhas Pala- vras são Verdades Eternas e libertam os que as aceitam como norma de vida e reconhecem serem elas de Deus, encerrando o Ser Eterno. Infe- lizmente, muitos haverá que a perseguirão como inimigos. Outros lhe fugirão como à peste, de medo dos poderosos da Terra, e com isto não penetrarão na Vida Eterna, compartilhando da morte infinita! Quem preza a vida do corpo e procura mantê-la a todo preço perderá, com a

morte, a vida eterna da alma! Quem fugir à vida da matéria ganhará a da alma! Guardai bem isto! Quem tiver dúvida, que Ma exponha!”

  1. Diz o comandante: “Senhor e Mestre, que mais poderíamos perguntar?! Sabemos e sentimos Quem és, reconhecemos a necessida- de duma conduta dentro dos Teus Ensinos, pois tens e podes dar a Vida Eterna a todos que se esforçam! Logo, sabemos o que nos é útil, porquanto — segundo me asseguraram Teus discípulos — até seremos capazes de curar os enfermos em Teu Nome!

  2. Nossa gratidão será indene, além da ação do mal e do tempo, por esta Graça imerecida e eterna, e patenteamos com ela o que nos vai no coração! Penso, portanto, podermos nos recolher, uma vez que já é tarde! Antes, ainda, verificarei o meu acampamento!”

  3. Digo Eu: “Deixa isto, pois está tudo em ordem! Vigiarei até além de meia noite e vereis o porquê: chegarão ainda uns viajantes de Jerusalém, entre esses alguns fariseus e escribas que nos darão trabalho.”

  4. Diz Ebahl: “Que maçada! Tais hóspedes são sempre desagradá- veis; pois um exige tanta atenção como cem outros que pagam, enquan- to eles tudo querem de graça, mormente quando viajam a negócios do Templo. Ora, Senhor, que notícia me foste dar! Quais os preparati- vos a fazer?”

  5. Digo Eu: “Não te preocupes! Despensa e adega estão cheias; lei- tos existem para cem pessoas, e é quanto basta. Foram enviados a Naza- reth à Minha procura, mas, como aqui vão Me encontrar, mudarão de itinerário. Amanhã tereis um grande aborrecimento por sua causa; Eu, porém, falar-lhes-ei às claras, de sorte que abandonarão este local!” Diz Ebahl: “A fim de fazerem queixa ao Templo, o que será pior!” Digo Eu: “Evitarei isto!” Com esta afirmação, todos se calam e meditam sobre o que lhes havia dito.

117.ACHEGADADEDOENTES.OSHÓSPEDESDEJERUSALÉMESUA MISSÃO

Ev.MatheusCapítulo14,versículo 35

  1. Dentro em pouco ouvem-se vozes e os cães começam a latir. Diz Ebahl: “Pronto, já chegaram!” Digo Eu: “Ainda não! São enfermos à Minha procura e deverão esperar até amanhã (Matheus 14, 35); mas, em breve, os outros também virão! Vai e acomoda os doentes num al- bergue; os que tiverem fome e sede, sacia-os!”

  2. Ebahl, em companhia de alguns empregados, segue para o pá- tio cheio de enfermos, entre romanos, gregos e egípcios. Todos pedem que sejam conduzidos à Minha Presença. Ele, entretanto, indica-lhes uma hospedaria, onde são bem tratados. Voltando para junto de nós, diz: “Graças ao Senhor! Foram atendidos sem grande trabalho; se, ao menos, já tivesse feito isto com os anunciados do Templo...” Enquanto assim resmunga, chega um servo e os anuncia. Ebahl e sua família se apressam em recebê-los; apenas Yarah fica em Minha Companhia.

  3. O comandante, então, diz: “Saberia o que fazer se fosse Ebahl! Mandaria que meus empregados aplicassem uma boa surra nestes tem- plários, e não seria a primeira vez que teriam tal recepção! Quando aqui entrarem, far-lhes-ei um interrogatório sem par! Demonstrarei que todo comandante possui o direito de aprisionar aqueles que se apro- ximam dum acampamento romano altas horas da noite! Quero-lhes pregar bom susto, porquanto não executarei minha ameaça!”

  4. Digo Eu: “Amigo, faze o que te agrada; se tencionas agir como autoridade, tens que te apresentar junto com alguns subalternos!” Diz ele: “Já sei o que fazer, Senhor!” A seguir chama a guarda; o romano, en- tão, determina: “Manda um mensageiro ao acampamento com ordem ao tenente de enviar uns trinta homens para cá! Vai!” Em dez minutos se apresentam aqueles, sem serem observados pelos templários, e o te- nente pede ordens. Diz o comandante: “Esperai, é preciso manter o respeito! Mantende-vos calmos e aguardai meu comando!”

  5. Em seguida Ebahl abre a porta do salão, fazendo entrar uns vinte fariseus. Entende-se que vinham acompanhados por servos, in-

cumbidos de cuidar da bagagem carregada por mulas. Penetrando na sala, os judeus perguntam a Ebahl a finalidade da presença dos sol- dados romanos. Diz Ebahl: “Certamente para vos dar a devida hon- ra!” Diz um deles: “Não me parece! Em todo caso manda que nos sirvam algo!”

  1. Rápido, Ebahl e seus filhos aprontam uma grande mesa. Após terem lavado as mãos, os judeus se sentam, comem bem e bebem perto de sessenta taças de vinho. Daí a pouco começam a tagarelar e também explicam a razão de sua vinda, indagando: “Nada ouvistes acerca dum vagabundo nascido em Nazareth? Parece ser carpinteiro, exerce o feiti- ço, divulga uma nova doutrina, cura os enfermos, exorciza os espíritos e atiça o povo contra o Templo e o imperador. Vamos para este fim até Nazareth. Como consta que age por toda a Galileia, é possível que saibais de algo!”

118.CENAENTREOCOMANDANTEEOS TEMPLÁRIOS

  1. Manifesta-se o romano e diz: “Conheço o homem que procurais e sei de Seus Feitos, inclusive daqueles realizados há poucas semanas em Kis. Se não fosse por Sua Ação milagrosa, o juiz Fausto não teria conhecimento do imenso roubo praticado por vossos colegas, com os impostos romanos e tesouros vindos do Pontus, fato que causou grande abalo ao vice-rei Cirenius e pôs em perigo todo o reino judaico.

  2. Se os impostos não tivessem aparecido com a ajuda de Jesus, todos os judeus teriam sido marcados com ferrete por pena infamante; portanto, deveis a Ele vossa vida! É uma calúnia que O classifiqueis de amotinador, pois se o fosse não seria amigo de Cirenius!

  3. Mudemos, porém, de assunto, meus senhores! Deveis saber que aqui, em Genezareth, há anos se acha um acampamento romano, de sorte que todo viajor, independente de nacionalidade e profissão, ne- cessita de passaporte. Assim, peço-vos a apresentação deste documento, sobretudo por terdes aqui chegado à noite. Caso não possais satisfazer esta exigência, ver-me-ei obrigado a vos prender e fazer açoitar em pú- blico, mandando-vos em seguida de volta a Jerusalém!”

  1. Diz o chefe dos fariseus: “Senhor, sou pessoalmente o documen- to vivo para todos! Sou tão bom chefe quanto tu — e posso viajar com o privilégio imperial, dia e noite, por todo o país! Somos ungidos por Deus — e ai de quem nos tocar!”

  2. Diz o comandante: “O privilégio imperial só é válido em ci- dades livres de guarnições militares.” Diz o outro: “Como tal lei não nos foi dada a conhecer, não podíamos respeitá-la. Mas, neste caso, expediremos um mensageiro a Jerusalém, e amanhã, a esta hora, terás os documentos exigidos.”

  3. Diz o romano: “Nada disto é preciso, porquanto depende de que vos dê crédito. Sereis rigorosamente vigiados — e a mínima sus- peita vos fará prisioneiros! Durante vossa permanência tereis forte vigia para escolta — contra pagamento de cem moedas de prata — até a fronteira. Se possuísseis o salvo-conduto, nada pagaríeis.”

  4. Diz o chefe. “Esse pagamento será efetuado pelo hospedeiro, porquanto não podemos levar dinheiro em viagem. A Terra é de Deus e nós somos Seus servos; temos o direito de chamá-la nossa e podemos colher onde não semeamos. Todo judeu sabe que sua posse é apenas emprestada, assistindo-nos o direito de exigi-la quando quisermos! Por este motivo nunca somos estranhos, mas senhores das propriedades, para tanto mandamos que Ebahl pague por nós, pois sua casa é nossa!”

  5. Como este assunto toca de perto o hospedeiro, ele diz: “Meus senhores, estais equivocados! Primeiro, esta zona é livre e, com exceção de Deus e do imperador, ninguém lhe poderá exigir algo. Segundo, é posse de minha segunda esposa, grega de nascença; portanto, eu nada possuo e sereis obrigados a pagar a importância! Perguntai ao coman- dante se não é verdade!”

  6. Diz aquele: “É isto mesmo e não adianta objetar!” Replica o fariseu: “Se mandarmos agora um mensageiro a Jerusalém, ele estará de volta amanhã à tarde!” Diz o romano: “Tanto faz! Tendes de pagar por falta de documentos; agora basta!” Pergunta o outro: “Mas donde tiraremos o dinheiro, se não o possuímos?” Responde o comandante: “Neste caso, agiremos pela penhora; pois tendes um considerável carre- gamento, que vale a multa!”

  1. Diz o chefe dos fariseus: “Mil vezes mais; entretanto, são ob- jetos consagrados a Deus, e fariam morrer quem os tocasse! Portanto, nada feito!” Diz o outro: “Não deve ser tanto assim e averiguaremos se vossos bens ‘consagrados’ são, realmente, tão perigosos!” Gritam os tem- plários: “Não, não, arranjaremos o dinheiro, pois nosso pessoal o tem!”

  2. A seguir, um fariseu vai buscar uma sacola com a importância, a qual o comandante manda depositar na caixa dos pobres pecadores. O chefe, porém, obsta: “Hábito estranho o depositar dinheiro consagrado na caixa dos pecadores! Ignoras que quem ofende um servo de Deus também terá insultado Jehovah?”

  3. Diz o comandante: “Que tenho eu a ver com vosso deus? Sou romano! O deus ao qual servis jamais será o meu! Para mim sois peca- dores empedernidos — e vosso dinheiro foi bem depositado! Compre- endestes?” Responde o outro: “Sim, compreendemos estarmos lidando com um pagão, que tanto despreza os judeus quanto sua doutrina!”

  4. Diz o comandante: “Não é bem isto. Consideramos o velho judaísmo; vossas instituições, vossa própria falta de fé e as fraudes cho- cantes é que repudiamos como à morte. Sois apenas judeus pelo nome; sei, perfeitamente, o que houve com a vossa Arca. Onde, então, acha-se hoje o Espírito de Deus?” Responde o judeu: “Tudo permanece o mes- mo, como na época de Aaron!”

  5. Diz o romano: “Ouvi-me! Não faz três anos que visitei o tal Santíssimo pelo preço de setecentas pratas. Mas que vi? Um caixão de aço em cima duma estante, de cujo centro saía uma labareda de nafta, exalando um cheiro não muito agradável. Comigo não precisais gastar vosso latim! Se fosse o imperador, far-vos-ia dependurar no pelourinho!”

  6. Diz o chefe: “Senhor, não menciones isto diante do povo, que se revoltaria!” Diz o romano: “Nada há que temer. Pois todo galileu sabe disto e ninguém fala em revolta. E em tal caso nós, romanos, sabe- remos abafá-la!” Diz o chefe dos fariseus: “Bem, já paguei a multa e po- demos mudar de assunto. Que me dizes a respeito do mago Jesus, pois temos ordem do Templo para relatar quanto à sua doutrina duvidosa?”

  7. Responde o comandante: “Já vos disse que O conheço bem e teria sido o primeiro a prendê-Lo se me desse impressão dum amoti-

nador. Se fôsseis iguais a Ele, Jerusalém seria a Eterna Cidade de Deus para todos os tempos e o Espírito Divino pousaria sobre a Arca, como na época de Aaron! Transmiti-o a vossos colegas, a fim de que saibam ser arenoso o solo que carrega o seu Templo. Amanhã sereis testemu- nhas de vários fatos, portanto podeis vos recolher!”

  1. Diz o chefe: “Ficaremos sentados a esta mesa, pois tuas palavras nos tiraram o sono. Quem quiser dormir que vá; eu ficarei! — Lá no canto da mesa se acha um hóspede com uma menina. São teus prisio- neiros e, talvez, também por não possuírem documentos?” Responde o comandante: “Não vos incomodeis com Ele; está sob minha proteção! Espero que amanhã O conheçais melhor.”

119.OPODERDO AMOR

  1. Ouvindo tais palavras, os fariseus se calam. Em seguida, Me le- vanto, cumprimento o romano, que Me retribui a saudação, acompa- nhando-Me e Yarah a um outro aposento, onde há um leito preparado para Mim. Digo, então, ao comandante: “Se quiserdes ficar Comigo, podeis fazê-lo, sem que isto vos cause cansaço para o dia de amanhã. Além do mais, falaste como Meu amigo aos fariseus; estão cheios de pavor, contando os grãos de areia de suas ampulhetas, na expectativa daquilo que ouvirão!

  2. Por sorte Meus discípulos não se apresentaram, pois estavam ocupados com os outros judeus e os dois essênios. Se tivessem vindo, teria sido um alvoroço! Muito bem, que farei, entretanto, com Minha querida Yarah? Esta menina não Me larga!”

  3. Diz ela: “Senhor, enquanto Te encontrares em nossa casa não Te deixarei — e se por acaso morresses, eu Te acompanharia! Quando nos deixares sem que me possas levar Contigo, chorarei e implorarei ao Pai no Teu Coração que Te traga de volta, pois não mais poderei viver sem Ti!”

  4. Digo Eu: “Vede um exemplo justo de como se deve amar a Deus, a fim de ser por Ele amado! O Amor Divino tudo abrange sem conter ira ou vingança; entretanto, existe uma grande graduação no Amor que

Deus dispende a Suas criaturas. Enquanto respiram, provam o Amor do Pai, sem o qual estariam mortas. Quem, todavia, ama a Deus como esta menina força-O a tomar morada em seu coração, com o que a criatura já possui a Vida Eterna, sendo una com Ele!

  1. Não é dado a todos amarem tão poderosamente a Deus como Yarah; no entanto, poderão fazê-lo de acordo com suas forças, receben- do destarte Seu Espírito e Graça, que os protegerão da queda. Mesmo tropeçando, serão erguidos, continuando compenetrados da Vida Eter- na. Agora, Minha querida, como Me amas tanto, podes nos contar uma história das muitas que conheces!”

  2. Diz Yarah, sorrindo inocentemente: “Oh, Senhor! Não queiras isto; pois seria demasiado tolo, considerando Tua Sabedoria!” Digo Eu: “Não, isto não te deve confundir, conhecedora que és de Minha grande Indulgência! Entendo não apenas o choro, mas a linguagem das crian- ças. Costumas ter sonhos estranhos e podes nos relatar algum.”

120.SONHODEYARAHREFERENTEÀCRUCIFICAÇÃODO SENHOR

  1. Diz Yarah: “Pois não; acontece, porém, que meus sonhos geral- mente são horrendos, mostrando-me as criaturas mundanas em sua fi- gura satânica. Foi o que se deu da última vez. Vi um homem de aparên- cia majestosa, que se parecia Contigo, Senhor. Achava-se ele amarrado como criminoso. Perguntando aos que o seguiam chorosos, todos di- ziam o mesmo: ‘Foi grande benfeitor da Humanidade. Jamais cometeu injustiça, externando sua boca apenas a Verdade Pura. Por este motivo foi acusado pelos fariseus egoístas de falsário — e entregue à justiça romana. Está sendo levado ao suplício, e poderás nos acompanhar para ver o escárnio que lhe é praticado pelos homens maus!’

  2. Acompanhei-os até um pequeno monte — e vi aquele homem honesto carregando uma cruz pesada, enquanto o sangue lhe corria do corpo vergastado! Chegando ao lugar do suplício, foi ele despido e jo- gado em cima da cruz, na qual se lhe pregaram mãos e pés com cravos pontudos! Senhor, que quadro horroroso! Sinto-me desfalecer ao rela-

tá-lo! Finalmente, ergueram a cruz, enterrando-a numa cova feita para este fim. O mais estranho, porém, é que ele não dava um gemido de dor, enquanto dois outros, que não foram tão martirizados, gritavam horrivelmente.

  1. Nisto acordei, toda trêmula. Este sonho foi algo de horrendo para mim, que sou tão sensível! Por isto, pedi ao Pai do Céu que me preservasse no futuro destas visões — e desde aí nada mais sonhei. Meu pai sempre afirmava que sonhos não têm significação e derivam de dis- túrbio físico. Isto, no entanto, não compreendo, por ter saúde boa, ânimo alegre e expansivo.”

  2. Digo Eu, um tanto tristonho: “Minha querida Yarah, teu sonho tem um grande significado e te podes considerar abençoada por tê-lo recebido, pois foram poucos os profetas alvos de tal Graça. Muita coisa é vedada aos homens nesta Terra e o porquê lhes será revelado somente no Além. Conta-Me mais aquele outro sonho que tiveste três dias após, com a mesma pessoa.”

  3. Diz Yarah: “Oh, como não?! Foi maravilhoso! Encontrava-me eu de manhã cedo num jardim pitoresco, de onde, todavia, avistava a mencionada praça de suplício. Tomada de grande pavor, orei, em so- nho, que o Pai do Céu evitasse aparições horrendas, porquanto via ain- da ali as três cruzes erigidas.

  4. No mesmo momento apareceu um jovem de aparência celestial que me consolou e confortou com as seguintes palavras: ‘Não te ame- drontes, ó alma pura e sensível! Aquilo que viste há três dias tinha que se dar de acordo com a determinação de Deus, do contrário criatura alguma poderia chegar à bem-aventurança e à contemplação do Pai. O Filho de Deus foi crucificado, sendo que a Divindade estava Nele. Ago- ra, passados os três dias, o Filho de Deus ressuscitará, com Sua Própria Onipotência, da morte física e reinará sobre todo o Infinito, sendo Sua Glória e Seu Reino Eternos. Diante de Seu Nome se curvarão todos os potentados — e os que se Lhe opuserem serão dizimados. Chegou o momento feliz, por isto observa a laje da tumba!’

  5. Mal o jovem acabara de falar, levantou-se a pedra pesada — e o mesmo homem, que vira crucificado, surgiu num deslumbramento

inédito! Via até mesmo as provas do suplício em suas mãos e pés! Apro- ximou-se de mim e me disse, com voz melodiosa: ‘O que acabas de ver é apenas uma prova da realidade que um dia presenciarás. A Mim verás ainda em Pessoa, e após Minha Ressurreição!’ Em seguida acordei e muito tenho meditado sobre aquela visão; além de Ti, não conheço quem se assemelhasse àquele!” Digo Eu: “Quem sabe se sou Eu? Agora, porém, deixemos isto!”

121.PALESTRAENTREOCOMANDANTEJULIUSEO SENHOR

  1. (O Senhor): “Os fariseus que por Minha causa vieram de Jeru- salém, os quais o nosso amigo soube tão bem afastar, dar-Me-ão muito trabalho. Contudo, ouvirão pela primeira vez uma verdade completa. Os doentes que já se encontram aqui e os que ainda vierem necessitam apenas tocar a orla de Minha túnica para se curarem. Meus discípulos deverão, em seguida, desjejuar sem lavarem as mãos — o que será sufi- ciente para irritar estes arquifilisteus! Começarão a fazer suas perguntas capciosas e Eu lhes darei respostas mais amargas e ácidas que vinagre e fel, com que costumam mitigar a sede dos pecadores. As horas até a alvorada passaremos em silêncio.

  2. Meus discípulos já se recolheram com os dois essênios e alguns templários — e fizeram bom serviço com esta conquista. Pilah de Kis e Ahab de Jesaíra chegaram aqui ontem pela manhã e muito os auxi- liaram nesta tarefa, porquanto Meus discípulos, na maioria pescadores, não possuem grande verbosidade. Ebahl, transmite-lhes que não de- vem lavar as mãos para o desjejum, enquanto os recém-convertidos se ocultam até a partida dos colegas de Jerusalém. Só então os abençoarei. Caso queiram continuar em Minha Companhia ou manter as aparên- cias diante do mundo — isto depende somente deles!”

  3. Ebahl se vai, cumpre Minhas Ordens e todos prometem seguir as Minhas Determinações. A seguir, o comandante diz: “Alegro-me com o dia de amanhã e acrescento, levado pelo sonho estranho de Ya- rah, que aqueles judeus não deverão aguardar boa coisa. Caso queiram fazer trapaças, fá-los-ei açoitar até que o sangue lhes escorra pelas costas!

  1. Seria bem possível que esses asseclas de Jerusalém Te aplicas- sem aquilo que nos foi relatado por Yarah, pois Pontius Pilatus não tem fibra para reagir. Se eu fosse prefeito naquela cidade — garanto-

-Te que faria enforcar todos aqueles que ousassem tocar-Te! Infeliz- mente sou destacado para esta localidade e não Te poderei socorrer em caso de perigo! Por isto, quero ao menos que recebam uma lição bem aplicada!”

  1. Digo Eu: “Podes fazer o que te agrada, que não te impedirei. És um dos Meus mais sábios amigos e possuis uma compreensão verda- deira, tanto em tuas palavras quanto nas atitudes. Tudo isto, no entan- to, não surtirá efeito; fá-los-á, ao contrário, mais perversos e maldosos. Poderás conseguir enxotar umdemônio, mas seu lugar será ocupa- do por dez.”

  2. Diz o romano: “Tão certo como me chamo Julius, somente os fustigarei em caso extremo!” Digo Eu: “Tens toda a razão! Deves apli- car a máxima paciência; num excesso de abuso, porém, convém tomar medidas drásticas, a fim de que os criminosos não julguem tratar-se de pilhéria.”

  3. Afirma o comandante Julius: “De pleno acordo. Agora sugiro aproveitarmos as poucas horas para um repouso!” Digo Eu: “Sim, que assim seja!” Em seguida tudo silencia e cada um cai num sono agradá- vel, do qual desperta como se tivesse dormido toda noite.

122.GRANDECURA MILAGROSA

Ev.MatheusCapítulo14,versículo 36

  1. Ebahl manda imediatamente preparar o desjejum pelas filhas mais velhas. Os fariseus, tendo ocupado uma grande mesa no refeitório, são servidos com pão, vinho, mel e alguns peixes fritos. Só depois de terem terminado a refeição Ebahl manda aprontar uma outra mesa para Mim, os discípulos, o comandante, ele próprio e sua família. Antes que penetrasse na sala, incumbi-o de conduzir os enfermos ao refeitório, instruindo-o de que bastaria tocar a orla de Minha vestimenta para readquirirem a saúde.

  1. Após isto, entramos, sentando-nos à mesa sem tomar conhe- cimento ou cumprimentar os templários, o que os escandaliza. Nisto abre-se a porta — e perto de duzentos enfermos Me vêm pedir para tocar o Meu manto. Eu lhes permito isto, enquanto tomo o desje- jum em companhia dos outros — e todos que o fazem se curam (Ma- theus 14, 36).

  2. Alguns fariseus há que, invejosos, infiltram-se no meio de alguns doentes, dizendo-lhes em surdina: “Não toqueis a roupa deste nazare- no, que já conhecemos — e também ficareis bons!” Os que seguem tal conselho, porém, não se curam. Percebendo isto, pedem-me para tocar-Me. Eu, entretanto, lhos proíbo, dizendo: “Viestes por Mim ou por causa daqueles que vos insinuaram à desconfiança? Procurai os que mereceram vosso crédito!” Ouvindo estas palavras, os fariseus se enrai- vecem e seu chefe Me diz: “Então, és aquele que procuramos?”

  3. Eu não lhes dou resposta; o comandante, que se acha à Minha direita, responde peremptoriamente: “Sim, é Ele, a Quem não mereceis olhar! Por que impedistes a estes pobres de se curarem como os demais? Miseráveis, não sabeis outra coisa senão infelicitar as criaturas, sempre que possível!”

  4. A esta altura, aceno a Julius para que se contenha, do contrário teríamos atritos chocantes. Ele se reprime, mas insiste em que o chefe lhe diga a razão de ter impedido os pobres em sua cura.

  5. Diz o fariseu, encabulado: “Foi nosso fito certificarmo-nos se, realmente, isto era possível; uma vez convencidos do fato, nada os obsta de procurarem sua saúde.”

  6. Dizem os enfermos: “Se não fôssemos tão fracos e doentes, apli- car-vos-íamos uma lição que dificilmente esqueceríeis! Mas não impor- ta! Um dia, quando sãos, saberemos onde vos encontrar!”

  7. Digo-lhes Eu: “Afastai a vingança de vossos corações, se desejais que vos socorra!” Exclamam os doentes: “Mestre, faremos tudo que exigires; apenas, ajuda-nos!”

  8. Digo Eu: “Então, vinde e tocai Minha vestimenta!” Nem bem assim procedem — são curados! O comandante, agitado, dirige-se aos outros: “Então, cegos d’alma, vindos da ‘Cidade de Deus’! Estais

convencidos que este homem, a cujo respeito fostes tão condenavel- mente informados e que deveis capturar, seja o mesmo por vós ontem mencionado?”

  1. Respondem os templários: “Certificamo-nos que dele emana um poder curador excepcional; isto, no entanto, não prova que o faça através de força divina, pois notamos que ele e os que o acompanham não seguem os ditames dos anciãos!” Diz o comandante: “Isto não en- tendo! Dirigi-vos a ele, pessoalmente!”

123.OSENHOREOCHEFEDOS FARISEUS

Ev.MatheusCapítulo15,versículos1a 9

  1. A seguir, o chefe encaminha-se para Mim, dizendo: “Mestre, quem são os que te acompanham?” (Matheus 15, 1). Digo Eu: “São Meus discípulos!” Continua ele: “Por que transgridem eles as leis dos patriarcas? Pois não lavam as mãos antes de comer!” (Matheus 15, 2)

  2. Então Me levanto, enfrento o chefe e digo com seriedade: “Por que violais vós as Leis Divinas em virtude de vossos princípios? (Ma- theus 15, 3). Deus falou: ‘Deves honrar pai e mãe — e quem os amal- diçoar deverá morrer!’ (Matheus 15, 4). Vós, porém, ensinais aos filhos a dizerem o seguinte aos progenitores: ‘Ser-vos-á mais útil fazermos por vós uma oferta no Templo que honrar-vos, constantemente, como de uso!’ E se assim fazem, dizei-lhes: ‘Agistes bem!’ (Matheus 15, 5). Qual a consequência disto? Vede, quase ninguém mais honra seus progenito- res! Revogastes, portanto, a Lei de Deus em vosso favor! (Matheus 15, 6). Quem vos deu tal direito? Como, entretanto, nunca acreditastes em Deus, pudestes assim agir, pois aquele que é espiritualmente morto não tem mais consciência!”

  3. Manifesta-se o comandante: “Ah, as coisas andam neste pé? É preciso ser anotado! Este, então, é o motivo de não poderdes reconhecer a Natureza Divina de nosso Mestre e Salvador?! Vosso deus existe ape- nas para o vosso conforto e bem-estar! Muito bem, já que vos conheço assim, podeis prosseguir!”

  4. Diz o chefe: “Somos servos de Deus pela ordem de Aaron!”

  1. Digo Eu: “Ó hipócritas miseráveis! Bem que Isaías de vós falou: (Matheus 15, 7) ‘Este povo Me honra com os lábios; seu coração, po- rém, está longe de Mim!’ (Matheus 15, 8). Veneram-Me inutilmente, pois ensinam ao povo doutrinas formuladas nos conceitos humanos!” (Matheus 15, 9)

  2. Retruca o chefe: “Nossas leis, que muito úteis são às criaturas, não revogam as de Deus!”

  3. Digo Eu: “Acabo de vos provar isto com umaapenas, acaso dese- jais saber como vilipendiais as outras, sobrepondo-lhes as vossas?”

  4. Exclama ele: “Não faças isto diante do povo!” Diz o comandan- te: “Testemunhai, então, à vista da multidão, que o Mestre vive e age de acordo com a Lei de Deus!” Esquiva-se o chefe: “Isto só é possível no Templo e pelo sumo pontífice!”

  5. Diz o comandante: “Tal se classifica em Roma: Ars longa, vita brevis! (A arte é longa — a vida, curta). Isto quer dizer que se tenciona prorrogar indefinidamente uma questão, a fim de fugir dela. Eu vos afirmo que o vosso testemunho quanto a um Mestre como Jesus de Nazareth é péssimo e miserável! Se pretendeis fazer um relato falso a respeito de Jesus aos vossos colegas em Jerusalém, participarei ao impe- rador de Roma a maneira pela qual praticastes o roubo dos impostos! E não se passará um ano — e o vosso ninho infernal será destruído de sorte a não mais deixar vestígios! Guardai bem isto! Pois um romano cumpre o que diz! Compreendestes-me?”

124.DISSERTAÇÃODEJULIUSQUANTOÀBÊNÇÃODO SENHOR

  1. A esta declaração do comandante Julius, os fariseus se reúnem perplexos, conjeturando o que fazer. Um deles opina que seria melhor dar tal documento exigido pelo romano.

  2. Diz o chefe: “Como poderíamos, se despreza ele as leis do Tem- plo?! Se o fizéssemos apenas aparentemente, de nada adiantaria, por- quanto tal testemunho nos poderia prejudicar mais tarde. Faremos, portanto, o que exige o comandante, pois, no caso de sermos chamados

à responsabilidade pelo sumo pontífice, poderemos nos desculpar!” — Após esta resolução eles se calam.

  1. Eis que Me levanto e digo ao chefe dos fariseus: “Não podes e não queres documentar vossas diretrizes contrárias à Minha Doutrina para defender teu corpo miserável!? Se o tivesses feito, terias alcançado a felicidade tanto aqui como no Além; agora, no entanto, este momen- to passou! O Filho do homem não necessita do teu testemunho, pois Suas Obras e Palavras já o demonstram plenamente! A fim de que tu e teus colegas vejais que não temo aos homens, direi ao povo, em vossa presença, que vossas leis de nada valem e aquele que as seguir como as ensinais será pecador diante de Deus!”

  2. Diz o chefe: “Não faças isto, se não queres sofrer as consequências!”

  3. Diz o romano: “Pois sim! Ele o fará sem que algo Lhe suceda! Guardai isto, miseráveis! Aqui vos encontrais em meu poder; a mínima atitude suspeita de vossa parte e vos farei esquartejar e jogar no mar! A História prova que os templários, há trezentos anos, nada de bom fize- ram para os crentes. E caso aparecesse uma criatura mais bondosa em seu meio, fariam-lhe o que sucedeu ao pobre Zacharias!

  4. Jesus foi mandado por Deus a esta zona insalubre, que contava vários milhares de enfermos; dos meus próprios soldados, mais que a metade estava acamada, muitos há mais de um ano. Eis que vem este Salvador e os cura a todos. Não é justo que se Lhe construa um altar, a fim de honrá-Lo devidamente?

  5. Quais foram vossas ações caridosas? Enchestes-vos gratuitamen- te com os alimentos fornecidos por Ebahl, e por gratidão tencionais aniquilar o nosso Benfeitor! Deveis a Ele não ter Cirenius convocado as legiões na Ásia, a fim de dizimar vosso ninho de serpentes! Confessai se não sois piores que o próprio demônio?!”

  6. A seguir ele se dirige a Mim: “Senhor, ensina-nos a verdade e o que é preciso que o povo faça em vista dos conceitos humanos! Sei que Céus e Terra e todos os elementos Te obedecem e que Te seria facílimo destruir com um sopro estes infames; no entanto, estou — embora como criatura fraca — a Teu dispor, até o último soldado! Pois estes miseráveis deverão me conhecer!”

  1. Diz o chefe com voz trêmula: “Que provas tens de nossa in- tenção de aniquilar este homem? Vimos para examiná-lo, o que não se pode condenar; porém, não se cogitou de destruição! Tu podes falar convictamente, pois o conheces através de seus atos e ensinos. Além da cura milagrosa de hoje, nada sabemos a seu respeito, portanto é justo que examinemos este taumaturgo!

  2. Sabemos que o solo que nós, templários, pisamos é oco; con- tudo, é ele melhor que outro qualquer — e é obrigação do Estado protegê-lo até que Deus nos dê um mais firme! Por isto, te peço não nos ameaçares com a espada só por trocarmos algumas palavras com este Jesus! Que faça e ensine o que deseja, para podermo-nos integrar melhor em suas ideias. Se forem aplicáveis, mudaremos de critério, pois não somos tolos e nosso coração ainda é capaz de formar um juízo acertado.”

  3. Diz o comandante: “Vossa recusa referente ao documento exi- gido não prova a justiça de vossos sentimentos — porém, veremos!”

125.TRÊS DOCUMENTOS

Ev.MatheusCapítulo15,versículos10a 14

  1. Imediatamente convoco a multidão, que em parte consiste dos curados e em parte dos habitantes, que consideram este dia feriado por ser um antessábado.

  2. Quando todos se acalmam, digo: “Ouvi-Me e compreendei! (Matheus 15, 10). O que entra pela boca não contamina o homem, mas sim aquilo que dela sai (Matheus 15, 11). Comer o pão de mãos não lavadas não corrompe o homem. Afirmando-vos isto, revogo para sempre este preceito mundano!” Minhas Palavras despertam júbilo e louvor do povo. Os discípulos, no entanto, rodeiam-Me e perguntam: “Observaste como os fariseus se aborreceram com o que disseste?” (Ma- theus 15, 12)

  3. Respondo-lhes: “Todas as plantas que Meu Pai Celestial não plantou serão arrancadas (Matheus 15, 13). Deixai-os! São guias cegos, e quando um cego conduz outro, ambos cairão na cova! (Matheus 15,

14). Podem se aborrecer à vontade, pois o pai deles não é o Nosso, Que é de cima!”

  1. Ouvindo isto, os fariseus se enchem de raiva e o chefe diz: “Já ouvimos o bastante! Ultrajou tanto a Deus quanto a nós! Sabemos, por- tanto, com quem lidamos e comunicaremos ao sumo pontífice quem é este nazareno!”

  2. Diz o comandante: “É fácil de se entrar num local de acordo com o próprio desejo; a saída, porém, depende da vontade daquele que ali manda; por isto, obrigo-vos a ficar!” A estas palavras do ro- mano, os templários se assustam de tal forma que não conseguem dizer palavra.

  3. Vendo o efeito de sua atitude enérgica, o comandante prossegue: “Antes de vos deixar seguir, teremos muita coisa a esclarecer: trata-se da elaboração de dois contratos e de um testemunho por vós escrito em presença do povo, de cujo cumprimento depende vossa vida! Basta que eu seja informado pelos meus espiões de que deixastes de cumprir um ponto sequer, para que a morte vos atinja, mesmo vos ocultando entre as paredes do Templo!”

  4. A seguir ele manda buscar o necessário material e escreve: “Con- trato n° 1: Se algum de vós se atrever a falar algo que desabone Jesus de Nazareth — entre vós ou a estranhos — será condenado à morte! Con- trato n° 2: Castigo idêntico atingirá aquele que comentar em Jerusalém e no Templo o que sucedeu aqui, dando testemunho prejudicial a Jesus, nosso Senhor! E que ninguém se iluda com a esperança de que tal não seria descoberto, pois, no mesmo momento em que não cumprirdes o que sois obrigados a prometer, o castigo vos alcançará!”

  5. Logo após, o comandante escreve a seguinte declaração: “Nós, abaixo assinados, confessamos, como prova da verdade e em memória eterna, que praticamos o conhecido roubo dos impostos imperiais e dos tesouros do Pontus, cujo transporte para Jerusalém foi denunciado em Kis por Jesus de Nazareth, não verbalmente, mas através de sua influ- ência. Em consequência disto, teríamos sido condenados à morte pelo juiz Fausto, se não fôssemos salvos pela interferência do mesmo Jesus! Esta é a verdade pela qual depositamos nossa vida!”

  1. Tendo assim preparado os três documentos, o comandante lê seu teor aos fariseus, cujas fisionomias manifestam uma revolta sem par. Finalmente, quando se cientificam do último, gritam desesperados: “E isto devemos assinar?”

  2. Responde o romano: “Exatamente! Não o fazendo, esperam-

-vos os carrascos munidos de açoites e espadas!” Ante a seriedade do momento, eles resolvem assinar, no que são lembrados pelo comandan- te de aporem seus verdadeiros nomes. Aqueles entre o povo que sabem escrever também assinam. Depois de tudo terminado, diz o comandan- te: “Agora tenho em mãos o que de há muito desejava! Podeis seguir viagem, a escolta vos levará até a fronteira!” Dentro de meia hora os templários deixam Genezareth, sem terem proferido mais uma palavra.

126.ADVERTÊNCIADOSENHORQUANTOÀASTÚCIADOS TEMPLÁRIOS

  1. Uma vez longe dali, o comandante diz: “Senhor, espero que se venham a calar devido a esses documentos! Além disto, é plena verdade que saberei dentro de oito dias o que comentarem!”

  2. Digo Eu: “Sim, silenciarão; mas sua raiva será tanto maior, por- quanto nunca se esquecerão do que se passou. Por isto, tende cuidado! Conjeturarão novos meios de vos prejudicar e enviarão outro grupo de espiões, conseguindo até falsas testemunhas contra vós!”

  3. Diz o comandante: “Senhor, agradeço-Te por esta advertência! Todos que aqui vierem terão que se precaver, principalmente os de Jerusalém!”

  4. Digo Eu: “Sim, pois são maneirosos como pombas; no íntimo, porém, mais venenosos que uma serpente egípcia! Virão disfarçados como comerciantes persas, gregos, egípcios e até romanos e será difícil distingui-los entre os verdadeiros. Apenas num exame rigoroso o des- cobrireis!”

  5. Diz o romano: “Ó Senhor, agradeço-Te mais uma vez! Agora saberei como agir no futuro! E se tiver caso difícil a solucionar, permi- tirás na certa que chame pelo Teu Nome Poderoso, dizendo: ‘Espírito

Onipotente do meu Senhor! Ilumina meu coração, a fim de que saiba como agir!’ E Tu não deixarás de me socorrer!”

  1. Digo Eu: “Amigo e irmão! Permanece deste modo com relação a Mim, que Meu Espírito te acompanhará a toda hora de todo dia!”

  2. Diz Yarah ao Meu lado: “Mas, Senhor, falas como se fosse de Tua Intenção abandonar-nos?! Peço-Te que fiques mais alguns dias, pois és minha vida! Como viverei sem Ti? Tens que ficar, pois não Te deixarei ir!”

  3. Digo Eu, amavelmente: “Minha mui querida Yarah, a ti jamais deixarei! Mesmo Me afastando dentro em pouco, em virtude de Mi- nha Incumbência, Meu Espírito continuará contigo — e poderás Me falar, que te darei resposta perceptível a todas as perguntas! Compre- endes isto?”

  4. Diz ela: “Sim, meu queridíssimo Jesus, porquanto sei que tudo Te é possível; entretanto, prefiro Tua Presença em Pessoa. Desde que aqui estás, tudo parece tão maravilhoso e celeste! Duvido que os Céus sejam mais deslumbrantes! Por tal razão tens que permanecer mais al- guns dias!”

  5. Digo Eu: “Bem, não é possível recusar algo a um amor tama- nho! Regozija-te, pois, que escolheste a melhor parte!”

  6. Louca de alegria, Yarah corre para junto do pai e diz: “Vê, pai, o Senhor continuará conosco!” Diz ele: “Querida filha, eis uma Graça imerecida, pois Ele é o Senhor dos Céus e Terra! O que deseja e faz se acha oculto nos Seus Desígnios, pelos quais nossos cabelos são contados como os grãos de areia! Mas concordo que não Lhe fará grande diferen- ça se ficar mais um pouco, pois um dia é, para Ele, idêntico a mil anos. Assim, não O deixes, pois te prefere entre todos!” Diz Yarah: “Jamais O deixarei!”

127.OSENHORFALASOBREOESPÍRITODO AMOR

  1. Eis que Me aproximo despercebidamente de Yarah e, tomando-a em Meus Braços, digo: “Meu amor, como irás prender-Me, se sou mais forte que tu?”

  1. Diz ela, após Eu a ter de Mim desprendido: “Sei que és imen- samente mais forte que eu, fraca criatura, pois manténs, pela Tua Oni- potência, Céus, Terra e mar em suas profundezas! Apenas creio que Te deixarás prender por mais algum tempo em nosso meio pelo meu amor indescritível para Contigo!”

  2. Digo Eu: “Tens plena razão, pois tudo se consegue Comigo pelo amor! E quem se Me dedica como tu, conseguirá o que almeja. Tal exigência do amor surge dos recônditos da Ordem Divina. Minha Presença, no entanto, de nada vale; Meu Espírito é o único móvel de Minhas Ações! Por amor a ti, porém, ficarei mais alguns dias — ama- nhã, sábado, e depois, domingo. A seguir irei a Sidon e Tyro, voltando no inverno.”

  3. Diz Yarah, radiante: “Todo louvor ao Pai por tal Graça, que me enche de alegria!” Os presentes admiram a atitude da menina e um velho diz: “Nesta criatura delicada se oculta um anjo!” Diz um outro: “Exato! Ela conta apenas doze anos e meio, no entanto aparenta de- zesseis. Corpo e alma são identicamente desenvolvidos, e feliz quem a desposar!”

  4. Ouvindo isto, Yarah diz: “Um coração que ama a Deus não ne- cessita do amor dum noivo egoísta, pois já foi conduzido à Casa do Pai! Amo as criaturas em suas necessidades e procuro sempre fazer-lhes o bem; mas dum certo amor a um jovem nada sei e também nunca o conhecerei, a não ser que seu coração também seja repleto do amor puro a Deus!”

  5. Diz um outro judeu: “Eh, eh, menina! Falas como um anjo; entretanto, és feita de carne e osso, que se manifestarão em época oportuna!”

  6. Diz Yarah: “Desde pequena sei que a criatura é humana, todavia ela pode, pelo justo amor a Deus, tornar-se mestre de seu corpo, por- quanto Deus lhe ajuda neste propósito. Ele sempre auxilia integralmen- te — e aquilo que hoje sucedeu ao vosso físico doentio foi a manifesta- ção do Auxílio Divino!” A estas suas palavras, ninguém mais ousa falar.

  7. Tomando de sua mão, digo-lhe: “Ótimo, falaste tão bem quanto um profeta!”

  1. Diz ela à meia voz, sorrindo: “Coisa fácil estando a Teu lado e recebendo por Ti as palavras no coração! Se tivesse falado por mim, certamente só teria proferido tolices!”

  2. Respondo, também em surdina: “Bem possível, Minha Yarah! De agora em diante, poderás sempre falar sabiamente, caso mais tarde não te tornes infiel!” Diz ela: “Senhor, se isto fosse possível, preferi- ria morrer!”

  3. Digo Eu: “Quer dizer que tal não se dará?!” Diz Yarah, abra- çando-Me com fervor: “É isto mesmo, pois seria loucura trocar ouro puro por detritos!”

  4. Digo Eu: “Então, dás valor ao ouro?” Responde ela: “Sim, dou tudo pelo ouro da alma! Mencionei este metal para dar um exemplo!”

  5. Digo Eu: “Já te compreendi e apenas estava te provocando por te querer muito!” Diz ela: “Podes fazê-lo, que não me impedirá de te amar! Bem sei que Deus experimenta, com toda sorte de provações, aos que Ele ama especialmente; portanto, se Tu me provocas, provas o quanto me queres!”

  6. Digo Eu: “Minha filha, corações tão puros quanto o teu nunca são experimentados pelo Pai, e sim os que, embora O amem, de quando em quando se deixam atrair pelo mundo! Compreendes?” Diz Yarah: “Como não, Senhor, Alento do meu coração?!”

128.PALESTRAENTREOSTEMPLÁRIOSEOS ESSÊNIOS

  1. Pedro, ao lado, começa a considerar: “Não percebo a fácil com- preensão desta menina! Sou velho e tenho minhas experiências, en- tretanto encontro dificuldade na percepção espiritual. Haja vista não entender a parábola do Senhor: ‘Apenas o que sai da boca prejudica o homem, e não o que entra por ela!’ Caso alguém vomite ou tussa — como isto poderá prejudicá-lo? Moysés nada falou a respeito!”

  2. Dizem os outros discípulos: “Também não o entendemos! Vai e indaga em nome de todos como devemos interpretá-lo!” Pedro anima-

-se e diz: “Senhor, explica-nos a última parábola, que nenhum de nós a compreendeu!” (Matheus 15, 15)

  1. Digo Eu: “Até vós ainda não a entendeis? (Matheus 15, 16). Quanto tempo devo suportar-vos? Não percebeis que tudo que entra pela boca passa pelo estômago para depois ser expelido? (Matheus 15, 17). Mas o que sai por ela procede do coração e contamina o homem! (Matheus 15, 18). Do coração surgem os maus pensamentos, mortes, adultério, roubo, falso testemunho e injúrias (Matheus 15, 19). São es- tas coisas que contaminam o homem; comer, porém, sem lavar as mãos, não o prejudica! (Matheus 15, 20). Compreendestes?”

  2. Respondem os discípulos: “Sim, Senhor, e agradecemos por esta santa Luz!” Digo então ao escrivão Matheus: “Anota a multiplicação dos pães, nossa viagem noturna e o que hoje sucedeu, mas em poucas palavras! Mais tarde poderá ser acrescentado algo a esta parte essencial do Evangelho.”

  3. A seguir os discípulos retornam a seus quartos, onde os esperam os convertidos fariseus e os dois essênios. Aí são esses bem informados a respeito de seus colegas de Jerusalém, o que os leva a comentar a ceguei- ra daqueles, à vista de tantas provas concludentes, dizendo: “De que lhes adiantou toda sua astúcia? Agora estão presos pelos documentos, de tal forma que nem podem trocar ideias entre si!”

  4. Dizem os essênios: “A questão com Jesus é muito clara e eles nada percebem. Conosco dá-se o seguinte: Conseguimos uma educação mundana perfeita, pois cursamos todas as escolas da Pérsia, do Egito e da Grécia, e bem conhecemos as velhas doutrinas dos judeus. Isto, porém, não nos impede de confessar que, tanto pela Sabedoria quanto pela Palavra, Jesus é um Deus Perfeito.

  5. Observamos que ambas as Emanações de Sua Divindade são perfeitas. Os Céus se abrem ao Seu Aceno, enviando milhares de an- jos a Seu serviço; basta que Ele o ordene para que as despensas vazias transbordem de alimentos e as adegas, de vinhos saborosos! Acaso isto não tem valor? Ordena ao mar que se torne firme, permitindo que as criaturas nele caminhem. Tudo isto foi demonstrado àqueles homens; no entanto, continuam os mesmos, de índole maldosa! Que me dizeis?”

  6. Respondem os fariseus e escribas: “Tens razão; a criatura que, ape- sar dessas demonstrações, continua teimosa só pode ser um demônio!”

  1. Dizem os essênios: “Somos de vossa opinião, depois que acredi- tamos existirem realmente maus espíritos que prejudicam as criaturas, tentando-as para más ações!”

  2. Diz Judas: “Se não fosse tão convicto de Sua Onipotência Di- vina, poderia até começar a me preocupar com Ele, pois esses homens seriam mesmo capazes de expulsar a Deus de Seu Trono. Os templá- rios, após a expulsão dos samaritanos, os quais os continham em seus excessos, são capazes duma ação extrema antes de renunciarem ao seu bem-estar!”

  3. Diz Pedro: “Julgas que nosso Senhor esteja seguro da astúcia deles com toda a Sua Onipotência? Se Ele não enfrentar esses assassinos como implacável juiz, será em breve vítima de sua vingança insaciável! Sim, um judeu é destinado a coisas grandiosas; no entanto, não haverá demônio pior que um judeu pervertido! Por isto, o Senhor devia Se precaver com o Templo; se for lá como homem bondoso, estará per- dido. Contudo, Ele conhece a índole das criaturas e saberá fugir de seus planos!”

  4. Diz um fariseu: “Ele, começando a se esquivar, já prova a pou- ca segurança. Somente a vontade de querer evitar todo alarido desculpa Sua esquiva. Penso que enfrentará a perversidade do mundo somente quando sua medida estiver completa!”

  5. Dizem os essênios: “Concordamos! A não ser que Se entregue de Própria Vontade nas mãos da justiça humana, dizendo: ‘Aqui estou, finalizai em Mim, vosso Criador, vossa perversidade, a fim de que a Justiça Divina vos castigue!’ Mas com isto Ele nada perderá, porquanto poderá permitir que se Lhe cause a morte física; quem, todavia, poderá prejudicar o Seu Espírito eternamente Onipotente? E ai daqueles ini- migos e demônios; pois saberão a Quem perseguiram!! Que me dizeis?” Respondem os outros: “Concordamos, embora não o desejemos!”

129.OSENHOREOSDOIS ESSÊNIOS

  1. Neste ínterim, Ebahl faz a chamada para o almoço e todos pe- netram de bom grado no refeitório. Então pergunto a Meus discípulos qual o assunto que fora discutido.

  2. Respondem os dois essênios: “Senhor, em virtude de Tua Onis- ciência deves saber de tudo, não ignorando que nada de mal falamos a Teu respeito!”

  3. Digo Eu: “Pelo contrário; falastes bem, porquanto recebestes as Palavras do Pai! Guardai-as, pois que as criaturas são cegas, tolas e más! Vamos à mesa!”

  4. O almoço é farto; os oito marujos haviam feito uma boa pesca, pelo que são recompensados com pão e vinho. Os peixes são bem pre- parados. Os essênios, alunos de Aristóteles e Epicuro, consideram uma boa cozinha e se externam quanto à qualidade e ao preparo dos peixes. O próprio comandante os aprecia de tal forma que teme dano para seu estômago.

  5. Eu lhe digo, porém: “Não te preocupes, querido Julius, pois em presença do médico nada te prejudica!” Satisfeito, ele se acalma. (Esta Minha Afirmação conservou-se até à época de hoje entre os médicos). Terminado o almoço, Julius indaga: “Que tal, Senhor, se fizéssemos um pequeno passeio, pois que o dia está maravilhoso?”

  6. Digo Eu: “Este também é Meu intento; escalaremos desta vez uma montanha!” Diz o comandante: “A mais próxima se chama ‘Au- rora’; é a mais alta e íngreme e, no seu todo, um colosso de pedra. Se tencionas subir ali, não alcançaremos o pico antes da noite — e não será interessante pernoitarmos naquelas alturas, onde sempre há neve e gelo.”

  7. Digo Eu: “Amigo, isto tudo não nos impedirá de escalar aque- la rocha, mormente porque conheço o caminho certo. Em menos de duas horas estaremos no cume; quem, portanto, quiser tomar parte, que venha!”

  8. Diz o romano: “Senhor, Contigo iria até ao fim do mundo; muito mais facilmente Te acompanharei nesta escalada. Convém levar- mos algum pão e vinho?”

  1. Respondo Eu: “Pois não! Mas que faremos com Minha querida Yarah, que talvez tenha dificuldade na subida?!”

  2. Diz ela: “Contigo, Senhor, tudo me será fácil; se for da Tua Vontade, não só subirei a ‘Aurora’ como andarei Contigo até no fogo, como o fiz na água!”

  3. Digo Eu: “Sabes dar sempre a resposta justa do teu coração, cheio de amor e verdade! Podes, portanto, acompanhar-nos!” Ela se apronta rapidamente e diz: “Senhor, estou bem assim?”

130.ESCALADA MARAVILHOSA

  1. Yarah, com um vestido azul, sapatos trançados e um chapéu de palha, pega de Minha Mão e diz: “Mas, Senhor, minha vida, peço-Te que me digas se Te agrado?”

  2. Digo Eu: “Isto já estás vendo, Minha Yarah! Seria melhor que todas as criaturas Me fossem tão agradáveis como tu, que és um anjo! Agora, vamos!”

  3. Todos, com exceção dos empregados, Me seguem, sendo que Yarah, Ebahl e o comandante vão ao Meu lado. Quando chegamos à parte da rocha cortada por fendas profundas, o romano diz: “Senhor, de modo natural não haverá possibilidade para esta escalada. As fendas são íngremes, úmidas e, às vezes, cobertas de espinhos.”

  4. Digo Eu: “Como podes ter receio, se já vencemos a maior par- te?! Olha para trás e hás de ver em que altura estamos.” Ele assim faz e se assusta quando percebe que atingimos a parte mais inclina- da. Numa excitação nervosa, ele diz: “Isto compreenda quem puder! Como foi possível subirmos a este desfiladeiro, sem sentir o míni- mo cansaço?”

  5. Digo Eu: “Então não vês que não estacionamos no caminho?”

  6. Diz ele: “É verdade! Mas, se olho para cima, não sei como subir!”

  7. Digo Eu: “Para tanto é preciso que se tenha um bom guia, a fim de transpor todos os obstáculos! Vê, este desfiladeiro à nossa frente já é a passagem para o cume!” Exclama o romano: “Mas de que forma? Não andamos nem uma hora — e mais alguns passos estaremos em cima!”

  1. Diz Yarah: “Julius, como podes indagar, quando Deus, o Se- nhor, é nosso Guia?! Podia nos ter transportado pelos ares sobre estes estreitos jamais pisados por alguém, e cabe-nos agradecermos do fundo do coração por esta Graça! Perguntar-Lhe, porém, sobre a possibilidade é sumamente tolo! Caso ele nos desse uma explicação, resta saber o quanto assimilaríamos e se também nos tornaríamos onipotentes!”

  2. Digo Eu: “Ó pequena sábia! Quem esperaria tanta luz em ti?! Di- go-te: são poucas que possam concorrer contigo; no entanto, algo há que necessito te dizer, não obstante o Meu Amor: no futuro deves ser mais econômica em tua sabedoria e apenas externar o necessário. Aqui, em Minha Presença, tal não se dá, porquanto também sei responder conci- samente às perguntas de quem quer que seja! Se o nosso amigo não fosse tão sábio, tê-lo-ias magoado. Procura aproximar-te das criaturas com mo- déstia, e terás te tornado Minha Noiva! Compreendes Minhas Palavras?”

  3. Responde Yarah, tristonha: “Oh, sim, Senhor; temo, porém, que já não mais me queiras tanto como dantes, o que me entristece!”

  4. Digo Eu: “Preocupa-te com outras coisas! Pois te quero mais que anteriormente!” Diz ela: “E o comandante?”

  5. Responde este: “Querida Yarah! Agradeço-te pelo grande ensi- namento! Teremos muita coisa para discutir, pois vejo que teu coração contém a sabedoria celeste; por isto, seremos amigos!”

  6. Digo Eu: “Então, Yarah, estás satisfeita?” Diz ela: “Muito! Mas também prometo controlar-me, pois que a indiscrição foi sempre o meu fraco.” Digo Eu: “Pois bem; então daremos os últimos passos ao pico!”

131.NOCUMEDA MONTANHA

  1. Em poucos minutos alcançamos o cume, que é mais um des- penhadeiro escarpado e mal comporta trinta pessoas que não sofram de vertigem. O comandante, não satisfeito com isto, diz: “A vista é deslumbrante, mas o planalto, tão alcantilado, prejudica este prazer!”

  2. Digo Eu: “Senta-te, amigo, e vós outros também; Eu ficarei de pé!” Diz o romano: “Mas onde? Além do mais estou com medo, embo- ra saiba que nada me sucederá! Por que isto?”

  1. Digo Eu: “Por não admitires a impossibilidade da queda. Ob- serva Minha querida Yarah, como pula alegremente duma rocha para outra, enquanto seus irmãos e Ebahl estão lívidos de pavor! Tende fé que nada vos sucederá!”

  2. Diz o comandante, que sente uma pedra se afrouxar debaixo de seu pé: “É mais fácil um condor ter fé, pois suas asas o carregam por so- bre todos os penhascos! Oh, o que não daria para estarmos lá embaixo!”

  3. Aproxima-se dele Yarah, pulando alegremente: “Caro Julius, pe- ço-te que não sejas tão medroso, pois nada te vai acontecer! O Senhor nos conduziu são e salvos até aqui, sem que um de nós caísse no abis- mo; como podes cogitar desse fato, quando alcançamos o pico da mon- tanha? Vem comigo, que não posso ver teu semblante tão apreensivo!”

  4. Com isto ela tenta levá-lo para o outro lado; ele, porém, grita: “Não! Larga-me, pequena bruxa! Pouco falta — e me jogas no abismo! Conheço-te bem; és boazinha e inteligente, mas, às vezes, és tomada dum espírito traquino e, por isto, digo: não me toques! Sei que nada nos sucederá; mas que culpa tenho de sofrer de vertigem?”

  5. Diz Yarah: “Que ideia supores que te queira assustar! Não sou, em absoluto, uma bruxa!” Seus olhos se enchem de lágrimas, e o co- mandante se arrepende de suas palavras, dizendo: “Não te zangues! Quando estivermos lá embaixo, te acompanharei num passeio, mas aqui não posso vencer a tontura!”

  6. Diz ela: “Isto é doença! Por que não pedes ao nosso Salvador que te cure?!” Diz o romano: “Esta sugestão é ótima e vou segui-la!” Nisto ele se vira para Mim e pede: “Senhor, liberta-me do medo e da tontura!”

  7. Digo Eu a Ebahl: “Dá-Me um pouco de vinho!” Em seguida dou um cálice de vinho ao romano e lhe digo: “Toma, que ficarás me- lhor!” Ele o faz — e todo o medo desaparece, de sorte que se deixa levar por Yarah para todos os lados, olhando calmamente para o fundo do abismo!

  8. Quando os outros observam isto, também Me pedem que os liberte do mesmo mal — e após terem tomado do vinho, o cume se torna tão movimentado como praça pública. Uns cantam, outros apon- tam zonas distantes e alguns procuram um caminho para a descida.

Como não encontrem e o Sol esteja prestes a desaparecer no horizon- te, os discípulos Me dizem: “Senhor, dentro em pouco estará escuro; que faremos?”

  1. Digo Eu: “Não é de vossa conta! Quem tiver fé verá esta noite a Glória de Deus nestas alturas!” Os discípulos se retiram e procuram um lugar seguro. O mesmo faz o comandante. Apenas Yarah diz, apon- tando o ocaso: “Jesus, meu amor, não irás tão cedo? Pois tinha tanta vontade de ver a aurora!”

  2. Digo Eu: “Passaremos a noite aqui e todos vós vereis a Gran- diosidade Divina!” Isto alegra tanto Yarah que quase desfalece.

132.ANATUREZADO MEDO

  1. Assim que o Sol desaparece, levanta-se da zona norte um vento forte e frio. Todos sentem receio e o comandante diz: “Se este vento aumentar, será capaz de nos jogar no precipício!”

  2. Digo Eu: “Deixa o vento, que agora é sua vez de soprar — e não te esqueças que ele tem um Mestre que o criou e o fará acalmar quando quiser!” O comandante se dá por satisfeito e se deita no chão, no que é imitado pelos outros.

  3. Apenas Yarah continua firme a Meu lado e diz: “Senhor, donde vem o pavor destas criaturas, que tantas provas tiveram de Tua Onipo- tência? Principalmente me admira partindo de Teus discípulos e em Tua Presença; explica-me a razão disto!”

  4. Digo Eu: “Trata-se da influência do mundo, ainda não intei- ramente afastada de dentro deles; se isto tivessem feito como tu, não teriam medo, porquanto o espírito é bastante forte para subjugar a Natureza.

  5. Encontramo-nos no cume da montanha jamais por alguém esca- lada, pois seus despenhadeiros não permitem subida nem descida. Viste que, após termos alcançado a metade da montanha, esvaneceu-se toda possibilidade de galgarmos pelas paredes escarpadas. Tanto o coman- dante quanto os outros então perguntavam: ‘Que será de nós?’ — Eu, porém, continuei contigo e eles nos seguiram. Como se deu tal fato?

  1. Vê, foi obra do espírito por Mim despertado dentro das criaturas que as levou até o cume. Como tal ação não fosse habitual a ele, uma vez alcançado o pico, retraiu-se novamente no recôndito da sua alma, que se encheu de medo. A alma humana se integra na carne — através duma vida mal dirigida — ou então no seu espírito — por uma con- duta justa — pelo que está unificada com Deus, assim como a luz do Sol nele está integrada. Amalgamando-se a alma em sua carne — em si morta e recebendo vida por ela, enquanto o corpo não sofre dano — ela em tudo se une à matéria. Nesta constante integração psíquica, onde a própria alma se torna carne, é ela acometida da sensação destruidora como qualidade da matéria; tal sensação é o medo, que finalmente en- fraquece e incapacita o homem em tudo.

  2. Coisa diversa se dá quando a alma se integrou, desde sua in- fância, com o espírito. A destruição para ela não existe, porquanto sua índole é idêntica à constituição de seu espírito, eternamente indestrutí- vel. Não verá nem sentirá a morte por ter-se unido a ele, senhor sobre o mundo da Natureza. A consequência, facilmente compreensível, para

o homem encarnado é a ausência de medo; pois onde não há morte não há pavor.

  1. Por tal razão, as criaturas devem se interessar o menos possível pelas coisas do mundo, buscando, unicamente, que sua alma se identi- fique com o espírito. De que adiantaria ao homem ganhar os tesouros terrenos se com isto sua alma sofre o maior dano imaginável? Pois este mundo com suas maravilhas um dia se desfará qual bolhas de ar na água, bem como o Céu e estrelas a seu tempo; mas o espírito continuará eterno, bem como cada Palavra por Mim proferida.

  2. É muito difícil ajudar às criaturas integradas no mundo; com- preendem a vida apenas pelas coisas fúteis, vivem num pavor constante e são inatingíveis pelo caminho espiritual. Aproximar-se-lhes por meios naturais precipita seu julgamento na matéria e a morte de sua alma.

  3. A criatura mundana que quiser salvar sua alma terá de aplicar enorme violência, renunciando a tudo que lhe cause agrado. Se fizer isto com grande dedicação e zelo, salvar-se-á, obtendo ingresso para a Vida Eterna. Caso contrário, só se libertará por sofrimentos atrozes,

morais e físicos, a fim de que aprenda a desprezar o mundo e seus pra- zeres. Dirigir-se-á, então, a Deus, procurando o Seu Espírito dentro de si para se unir a Ele. Digo-te em verdade: A felicidade terrena é a morte da alma! Compreendeste isto?”

133.CRISTO,MEDIADORENTRECÉUSE TERRA

  1. Diz Yarah: “Senhor, meu amor e minha vida! Pela Tua Graça compreendi tudo muito bem; no entanto, fico triste que as criaturas não o queiram ou possam entender. Senhor, faze com que elas possam assimilar esta Santa Verdade e se regenerarem; do contrário, enfadar-

-me-ia de viver entre mortos.”

  1. Digo Eu: “Não desanimes, pois este é o motivo que Me trou- xe ao mundo. Até então havia falta de caminhos aplainados, e os Céus estavam afastados da Terra; agora serão unidos, a fim de que todos possam se aproximar do Céu. Ninguém, no entanto, deverá ser tolhido no seu livre arbítrio. Ai, porém, de todos vós que o sabeis, mas não vos modificardes! Tereis maior prejuízo que os de antanho, muitas vezes cheios de vontade de melhorar, sem que o pudessem! Compreendes?”

  2. Diz Yarah: “Senhor, compreendi tudo. A possibilidade é boa, mas prevalece a livre vontade. As criaturas veem e gozam o mundo; dos Céus, porém, nada sabem; por isto, muitos não quererão trilhar o caminho indicado — e a situação será pior que dantes, porquanto a renúncia é o mais difícil na vida do homem.”

  3. Digo Eu: “Não te preocupes; os preparativos para a melhoria se- rão muito extensos, entre a Terra e o Além! Vê, durante a nossa palestra todos, inclusive o comandante, adormeceram. Que faremos?”

  4. Diz ela: “Senhor, isto saberás melhor do que eu.”

  5. Digo Eu: “Certo! Fiz com que adormecessem, a fim de sonha- rem com aquilo que verás em realidade. Os Céus se abrirão e todos os anjos nos servirão! Amanhã, esta montanha apresentará um suave de- clive, de sorte que todos poderão descer sem dificuldade. Presta atenção à cena que se desenrolará diante de teus olhos!”

  1. Após estas Minhas Palavras, Yarah levanta o olhar e fita o Céu estrelado. Como nada de incomum se lhe apresente, diz com voz me- lodiosa: “Senhor, minha vida, meu amor, nada vejo e como saberei dis- tinguir algo de excepcional?”

  2. Digo Eu: “Querida, deves usar os olhos da alma e não da cabe- ça — e verás em breve maravilhas numa luz deslumbrante! Faze uma experiência e te certificarás de que tenho razão!”

  3. Seguindo Meu Conselho, Yarah avista os Céus abertos e incon- táveis falanges de anjos descerem sobre a Terra, cantando: “Espargi, ó Céus, toda a Graça aos justos deste planeta! Pois Santo é Aquele que nele caminha para a Salvação dos perdidos, que caíram antes que um sol ardesse na Luz da Graça Divina, na imensa Eternidade! Ele aceita as criaturas geradas por Satanás, tornando-as Filhas do Seu Amor! Por isto, compete-Lhe toda Honra e Glória; tudo que faz é justo e Sua Or- dem é o Amor ligado à Sabedoria. Ele, unicamente, é Santo e diante de Seu Nome todos se curvam no Céu, sobre e dentro da Terra! Amém!”

134.OLEVANTAMENTODOMAR GALILEU

  1. Terminado este cântico sublime, Yarah se dirige a Mim: “Senhor, é deveras difícil diferenciar o que seja mais deslumbrante: o canto, as palavras, as luzes multicores ou esses incontáveis e luminosos cantores! Agora, somente, estou tendo uma ideia do que sejam os Céus Divinos! Tinha vontade de morrer para me integrar na fileira destes seres! Dize-

-me, Senhor: são eles realmente o que parecem ou foram criados apenas para este momento?”

  1. Digo Eu: “São anjos surgidos em épocas remotas, antes que houvesse o vislumbre duma criação material. Chama um deles e te cer- tificarás de que é um ser verdadeiro como seus semelhantes. Embora de aparência etérea, possuem força e poder tamanhos que o mais fraco poderia destruir a Terra toda, de tal forma a não deixar o vestígio dum átomo! Faze uma experiência com um deles!”

  2. Diz Yarah: “Senhor, não me atrevo; pois sua beleza me desperta certo receio!”

  1. Digo Eu: “Mas, filha, não te expliquei o que vem a ser o medo? Não deves sentir coisa idêntica, senão provas que reside algo de mundano em teu coração. Encontras-te Comigo; como, pois, sentes medo?”

  2. Diz ela: “É verdade; no entanto, cena tão deslumbrante comove um jovem coração! Contudo, dominar-me-ei!” Acenando a um anjo próximo, este dela se aproxima flutuando e pergunta com voz meiga e carinhosa: “Yarah, filha querida do meu Senhor de Eternidade, que deseja teu coração puro e amoroso?”

  3. Diz Yarah, um tanto confusa pelo brilho e majestade do mensa- geiro celeste: “Sim, é verdade — o Senhor me disse que todos vós sois tão poderosos que desejava me certificar. Que prova, porém, pedirei, sabendo somente aquilo que desde alguns dias ouvi de Jesus, o Senhor?”

  4. Diz o anjo: “Ó linda flor do Céu, ajudar-te-ei em teu embaraço! Vê, lá embaixo, o extenso e profundo Mar Galileu! Que tal se o levan- tasse por uma hora, fazendo-o flutuar diante de teus olhos?”

  5. Diz ela: “Isto seria maravilhoso; o que, porém, aconteceria aos peixes, aos navios atracados nas praias e aos que se acham no fun- do do mar?”

  6. Diz o anjo: “Será minha incumbência que não suceda dano aos peixes e navios. Se o desejares, executarei a tarefa!”

  7. Diz a menina: “Pois bem, já que nada de prejudicial acontece!”

  8. Diz o anjo: “Então, olha aqui! O lago está vazio e toda água flutua qual balão, diante de ti!”

  9. Yarah, numa tentativa de querer olhar para baixo, toca com a testa na parede fria e úmida da imensa bola d’água, cuja circunferência é de quase quatro mil braças. Então diz, acanhada: “Mas como isso te foi possível neste instante? O leito do Mar está realmente seco?”

  10. Afirma o anjo: “Vem e certifica-te!” Pergunta ela: “Mas como?”

  11. Responde o mensageiro celeste: “Se consegui suspender a mas- sa colossal de água, também terei o poder de levar-te até lá! Mas é pre- ciso que seja da tua vontade; respeitamos mais o menor vestígio do livre arbítrio humano do que o Poder Divino dado a nós por Deus! Assim, é necessária tua ordem para que eu possa agir!”

  1. Diz ela: “Pois bem, dá-me esta prova!” No mesmo momento, encontra-se no fundo seco do Mar e o anjo lhe entrega uma linda pérola como lembrança e prova para os outros, que tudo acompanham em sonho. Enquanto Yarah guarda este presente no bolso de seu avental, o anjo pergunta: “Então, acreditas que toda a água se encontre naquela bola imensa que vês acima de nós?”

  2. Diz ela: “Sim, e também teria acreditado sem esta prova. Le- va-me, por favor, para junto de Jesus, pois não posso viver longe Dele!” Mal tinha pronunciado estas palavras — e se acha a Meu Lado, no cume da montanha. Eu, então, pergunto sua opinião a respeito do que viu.

  3. Diz ela: “Senhor, sei convictamente que tudo Te é possível, mas como um anjo possua o poder que reside em Ti — até ele não saberá definir!” Digo Eu: “Respondeste certo; no teu coração acharás mais tarde a explicação deste milagre. Mas agrada-te este anjo?”

135.PROVADEAMORDE YARAH

  1. Diz Yarah: “Ele é indescritivelmente lindo, mas perto de Ti, Se- nhor, todos os anjos e Céus, com sua Luz deslumbrante, nada represen- tam; pois sua beleza vem de Ti Próprio! Jamais poderia amar algum!”

  2. Digo Eu: “Acaso sou mais vistoso que este anjo? Olha Minhas Mãos rudes e calejadas, Minha Pele queimada do Sol; Minha Idade não é atraente, enquanto ele tudo isto possui — e até os Céus o classificam de lindo!”

  3. Diz Yarah: “Senhor, o externo nada vale para mim, se o íntimo não corresponde ao Teu Coração!”

  4. Digo Eu: “No entanto, o Meu Amor e Sabedoria irradiam dos seres celestes; se tu Me amas em virtude do Meu Amor, a Mim, sendo o Senhor, não vejo por que não possas amar a este da mesma forma!”

  5. Diz ela: “Senhor, meu amor e minha vida! Destes dois elemen- tos vitais, todas as criaturas foram criadas, entretanto não as posso amar como a Ti. Amo a todos, mormente aos necessitados, e faço tudo para socorrê-los; mas não lhes posso dedicar tanto afeto como a Ti, e o mes- mo se dá com este anjo. Amo-o; meu coração e minha vida, porém, só

Te pertencem! A não ser que Tu, ó Senhor, repudies meu afeto, pelo que ficaria mui triste, dizendo: Ele, o Puro e Santo, achou que o teu sentimento não O merece; por isto, afastou-te!” Após estas palavras ela começa a chorar e diz, soluçando: “É isto mesmo! Excedi-me no meu amor e não considerei, na minha ignorância, Quem é Aquele que meu coração procurou! Por isto, afastou-me com meiguice e deu-me um anjo, a fim de que purifique o meu sentimento. Que dor imensa! Sei, porém, que Ele é o Senhor, tanto que tudo suportarei!”

  1. Digo Eu: “Meu Amor, que reprimendas vãs fazes ao teu coração! Quem não Me ama deste modo, preferindo algo no mundo mais que a Mim, não Me merece; tu, porém, a quem todos os anjos não podem de Mim afastar, és de há muito um anjo perfeito, do qual Eu Mesmo Me apaixonei! Vem cá e busca no Meu Coração a recompensa por esta pequena prova!” Estas palavras confortam a menina, que se apega no- vamente a Mim.

  2. Eis que o anjo diz: “Ó sublime bem-aventurança! Que repre- sentam os Céus diante deste amor? Nós, anjos perfeitos, já desfrutamos felicidades incontáveis, que nada são em vista desta; pois Tu, o Pai San- tíssimo, tomas Tua Filha em Teus Braços, apertando-a com visível amor contra Teu Peito! Que felicidade não deverá sentir esta menina!?”

  3. Digo Eu: “É imensa, como também para Mim! Mas também a sentireis um dia, quando tudo estiver concluído, tendo vos saciado na Mesa do Pai! Agora, faze com que a água volte ao seu lugar! Em seguida, Minha Filha terá outra tarefa.” Chegando o Meu Rosto à cabecinha de Yarah, digo: “Não é, Meu Amor, ainda terás outras incumbências para os Meus anjos?”

  4. Diz ela, inocente e meiga: “Oh, sim; farei tudo que for da Tua Vontade! Basta que o digas — e eu me jogarei ao fogo ou neste precipício!”

  5. Digo Eu: “Contudo, não haveria algum, na Terra, que te pu- desse queimar, pois já te tornaste um fogo poderoso! Tampouco pedras ou águas poderiam prejudicar-te, porquanto teu caráter tornou-se mais sólido que diamante, dentro de Minha Ordem — e tua índole é mais meiga que as águas dos Céus! Por isto, dou-te liberdade para ordenares

aos anjos como se fora Eu! Imagina qualquer tarefa, pois este está ansio- so por executar uma ordem tua!”

  1. Diz Yarah: “Querido mensageiro celeste, se for possível, faze, em Nome do Senhor, que esta montanha venha a ter um caminho de fácil ascensão até o lado marítimo!” Diz o anjo, curvando-se graciosa- mente diante da menina: “Adorável soberana em Nome do Senhor! Vê se estás satisfeita com meu trabalho, pois já foi feito!”

136.OPODERDOS ANJOS.VISITAA UMA ESTRELA

  1. O anjo conduz a menina a todas as partes da montanha e ela se convence de que esta não perdeu sua altura e é, no entanto, de fácil acesso por todos os lados. Por isto, exclama: “Este fato é tão grandioso que começo a duvidar de meus sentidos, sem saber se estou sonhando! Explica-me o seguinte: há pouco suspendeste o Mar Galileu como se fora uma imensa gota d’água; agora preparaste vários caminhos para a escalada desta montanha! Como isto te foi possível, pois não te ausen- taste por um instante?!”

  2. Diz o anjo: “Por ora não o podes conceber; mas tempo virá em que esta concepção te será facultada! Posso apenas adiantar-te que nós, anjos, nada podemos por nós próprios — mas tudo fazemos pela Von- tade Onipotente do Senhor, a Quem tanto amas.

  3. Vê, a Terra e todos os Céus nada mais são que Pensamentos e Ideias de Deus, contidos pela Sua Vontade Imutável; se Ele recolher Sua Ideia e dissolver Seus Pensamentos, incontinenti se dissolverá a Criação visível; se, porém, elaborar um novo pensamento e o retiver pela Sua Vontade poderosa, a criação se tornará visível a todos.”

  4. Pergunta Yarah: “Qual, então, é vossa tarefa?”

  5. Responde ele: “Somos puramente receptáculos da Vontade Divi- na e Seus executores. De certo modo representamos as asas ou a Própria Vontade de Deus, bastando o mais leve pensamento nosso unido ao Po- der do Pai, para que a obra esteja concluída; daí a rapidez da execução.

  6. Vês aquela estrela luminosa no levante? Se houvesse um cami- nho direto até lá, não haveria número suficiente de grãos de areia, re-

presentados em anos, necessários a um pássaro para esta trajetória — muito mais tempo levaria um homem, por mais ligeiro que fosse! Eu, entretanto, posso ir e voltar num momento, sem que percebas minha ausência. Acreditas?”

  1. Diz Yarah: “Por que não? Mas com isto não estou convicta, nem sinto o menor desejo de acompanhar-te em tal viagem!”

  2. Diz o anjo: “Mas por quê? Não sabes que para Deus tudo é pos- sível? Se for de Sua Vontade, levar-te-ei sem que algo te suceda!”

  3. Diz ela a Mim: “Senhor, isto pode-se dar?”

  4. Digo Eu: “Sim, na mão deste anjo. Se o quiseres, poderás te entregar a ele e em poucos minutos estarás de volta; não te esqueças de trazer uma lembrança de lá!”

  5. A estas palavras Yarah se vira para o anjo e diz: “Pronto, podes-

-me levar contigo!” Ele a toma nos braços, apertando-a carinhosamente contra o peito — e desaparece. Em dez segundos estão de volta — e Yarah Me apresenta uma pedra luminosa como a estrela Vênus. Depois de se ter refeito da estupefação, ela pergunta: “Senhor, são todas as incontáveis estrelas idênticas àquela que acabo de ver com estes meus olhos? Nossa Terra me parece tão pequenina como a casinha de uma lesma comparada a esta montanha. Existem lá criaturas perfeitas, habi- tando em templos imensos e de construção maravilhosa. Aqueles seres, porém, são tão gigantescos que medem três vezes mais que esta rocha.

  1. Encontrávamo-nos no pico duma montanha colossal e avis- távamos uma planície sem fim, que era banhada por caudalosos rios, cujas ondas tinham as cores do arco-íris. O solo era cultivado em ma- ravilhosos jardins. Num momento nos achamos lá embaixo, perto dos templos e seus moradores. De longe, estes têm aspecto deslumbrante, mas de perto se assemelham a montanhas andantes. Seria, por certo, necessário usar duma escada comprida para alcançar apenas o dedo mí- nimo de um deles! Para encurtar, teria assunto até o fim de minha vida, contando-Te o que vi, em poucos segundos! Desejava apenas saber se todas as estrelas são iguais a esta?”

  2. Digo Eu: “Sim, Minha Filhinha, e há maiores e mais deslum- brantes! Acreditas, então, que visitaste aquela em corpo e alma?!”

  1. Diz Yarah: “Senhor, meu amor e minha vida, na ida fizemos quatro estágios e, antes de alcançarmos a última etapa, a estrela ainda se apresentava como dantes; por fim, tornou-se tão grandiosa como o nosso Sol. Mais um segundo — e já estávamos naquele mundo ma- ravilhoso. Eis aí a prova da excursão estelar que empreendi naquela montanha.”

137.AFACULDADEINTERNAPARACONTEMPLARA CRIAÇÃO

  1. Digo Eu: “É o bastante! Mostrar-te-ei agora um modo pelo qual uma criatura perfeita pode visitar as estrelas sem que necessite se afastar desta Terra. Apenas não poderá trazer uma lembrança dali. Gravaste bem a estrela mencionada?” Diz Yarah: “Sim, Senhor!” Digo Eu: “Se assim é, projeta-a vivamente em teu coração, fixando esta visão interna, e relata-Me sua aparência!”

  2. Yarah assim faz e exclama após alguns minutos: “Senhor, meu amor e meu Deus — vejo-a como na última etapa; mas sua luz é intensa, quase insuportável. Por felicidade não sinto minha visão afe- tada por este clarão imenso, que acaba de abranger todo o Firmamen- to! Deus, meu Deus, quão maravilhosas são Tuas Obras; entretan- to, caminhas como homem simples e despretensioso entre os vermes desta Terra!

  3. Oh, encontro-me novamente naquela montanha e vejo o mes- mo quadro maravilhoso: os templos, as criaturas, os jardins e as flores. A menor entre elas é maior que uma casa daqui! Vejo até animais e aves estranhas, porém — de que tamanho! As árvores colossais estão carre- gadas de frutos e há duas pessoas que deles se nutrem. Um desses frutos

  1. Digo Eu: “Presta atenção, pois verás uma cidade: que tal?”

  2. Yarah solta um grito de deslumbramento, dizendo: “Senhor, es- sas maravilhas jamais alguém sonhou! São indescritíveis! Que imensa fi- leira de templos! As colunas, as cúpulas! Essa riqueza é demais! Senhor, leva-me de volta!”

  1. Digo Eu: “Fecha teus olhos, pensa em Mim — e tudo estará como dantes!” Yarah assim faz e avista a estrela como tal. Depois de ter recuperado o ânimo, diz: “Senhor, teria o anjo me mostrado aquele astro como Tu ou despertou acaso a minha visão interna?”

  2. Digo Eu: “Não, ele te conduziu realmente até lá: isto te foi per- mitido por teu coração transbordar de amor. Jamais seria possível com outra pessoa, pois, se o tentasse, a sua simples aproximação mataria tal criatura.

  3. Todas as estrelas são mundos, como esse que acabas de visitar. Vê, quando um noivo conquista sua eleita, oferece-lhe seus tesouros, a fim de a tornar mais amorosa. O mesmo faço Eu contigo para que, chegado o momento da tentação mundana, não venhas a renunciar às Minhas Riquezas, pois não sou tão pobre como pareço. Sou teu querido e, por isto, te mostrei algo de Minhas Posses!”

  4. Diz Yarah: “Senhor, minha vida, se fosse preciso ver ainda ou- tras, a fim de me preservar duma infidelidade, arrepender-me-ia de ter visto aquela estrela; és para mim infinitamente mais do que Todas elas com suas maravilhas! Para Te amar, necessito somente de Ti; nada mais! Mas, se for do Teu Agrado, contemplarei os milagres de Tua Onipotên- cia e Sabedoria!”

  5. Digo Eu: “Ouve, Minha querida Yarah: leio em teu coração o quanto Me estimas; mas és ainda uma criança. Até então, te achavas sob a proteção dos Meus anjos, e os maus espíritos do mundo não po- diam se aproximar de ti. Quando cresceres, terás que resistir com tuas próprias forças às tentações, a fim de conquistares o solo firme interior de acordo com Minha Ordem Imutável, instituída para todos os seres, aproximando-te de Mim, deste modo, em Espírito e Verdade. Vê, o mundo tem um grande poder sobre a criatura por ser dominado em grande parte pelo inferno, e a alma necessita lutar destemidamente para não ser por ele tragada.

  6. És de aparência atraente. Dentro em pouco, os jovens se desa- fiarão para te conquistar e terás dificuldade para enfrentá-los. Aí, então, lembra-te de Mim, de tudo que testemunhaste — e a vitória sobre a matéria te será mais fácil!”

  1. Diz Yarah, um pouco triste: “Desde Eternidades deves saber se me tornarei infiel! Já que o prevês, como podes amar-me e permitir que uma futura pecadora de Ti se aproxime?”

  2. Digo Eu: “Este conhecimento é por demais elevado para tua alma! Em virtude do Meu Grande Amor, dir-te-ei o seguinte: Se for da Minha Vontade, saberei o futuro da criatura; no entanto, desvio o Meu Olhar de sua pessoa, a fim de que possa agir livremente na época do seu crescimento, a não ser que Me peça com fervor o auxílio na luta contra o mundo.

  3. Por este motivo não quero prever o teu futuro, para que possas agir com independência. Neste sentido agora te oriento a respeito das tentações futuras, para que te lembres das Minhas Palavras. Teu anjo da guarda também se afastará de ti, voltando somente quando tiveres vencido o mundo, para poder te servir em tudo. Compreendeste isto?”

138.UMINSTITUTODERENÚNCIANO ALÉM

  1. Diz Yarah: “Compreendi-o bem — mas tal fato não deixa de ser triste para todos nós, pois entre mil não haverá um que possua a força para enfrentar o mundo como Tu o desejas!”

  2. Digo Eu: “Por este motivo Eu vim a vós, para vos fornecer, pela Minha Doutrina e Ações, o meio fácil de conseguirdes o autodomínio.”

  3. Diz Yarah: “Mas existem na Terra um sem número de criaturas que talvez nem em mil anos saberão algo de Ti. Qual será seu preventi- vo contra as tentações? Merecem o mesmo que nós, judeus.”

  4. Respondo Eu: “Os povos da Terra são comparáveis aos muitos filhos dum pai criterioso: o primogênito terá educação diversa daque- les nascidos três, quatro e cinco anos após. O filho mais velho terá se tornado homem e a filha, moça; além desses, existem alguns de tua idade e três ainda no berço. Seria justo se o pai tratasse os últimos como os adultos?”

  5. Responde Yarah: “Tal atitude seria mui tola.”

  6. Digo Eu: “Pois bem, eis a razão pela qual alguns povos só terão conhecimento de Minha Doutrina após adquirirem a necessária matu-

ridade. Compreendes?” Diz ela: “Perfeitamente; mas qual será o destino de povos, no Além, que ainda não alcançaram este grau de adiantamen- to?” Digo Eu: “Mostrar-te-ei neste instante. Fixa o teu olhar naquele astro que vês no Oriente numa luz avermelhada e em breve terás a resposta.”

  1. Dentro em poucos minutos Yarah diz: “Ó Senhor, Criador Oni- potente de Céus e Terra, eis um mundo bem maior que o outro, inun- dado de luz maravilhosa! No entanto, não é tão clara como a outra: É dum vermelho suave, de tom alaranjado. Agora já se está tornando mais intensa e me vejo transportada no solo desse mundo. Que maravilha! Pequenos montes circundam vales frutíferos, onde vejo uma espécie de cabanas com telhados, em cima de sete colunas cor de rubi. Há cente- nas dessas casinhas, enfileiradas e iguais — mas, por ora, não vejo os seres causadores desta arquitetura. Coisa interessante que tudo seja tão igual: árvores, flores etc. Não deixa de ter aspecto agradável, mas com o tempo deve se tornar cansativo. Encontro-me neste momento diante duma dessas cabanas, onde há criaturas idênticas a nós. Um homem se postou em cima dum palco e parece fazer um sermão, e os outros lhe ouvem atentos.

  2. Na cabana seguinte percebo várias pessoas com vestimentas am- plas, fazendo uma refeição em mesa bem provida; à volta deles se acham muitos famintos, sem que se lhes dê algo. Na terceira vejo algumas moças bonitas, completamente despidas, em colóquio com uns homens um tanto palermas; no fundo se acha um grupo de rapazes de aparên- cia sensual, acenando às moças; entretanto, não são atendidos nos seus desejos. Que ordens domésticas estranhas! Conquanto uma casa se pa- reça com a outra, as ocupações dos moradores são mui variadas. Prefiro nosso pequeno planeta — sem os maus, naturalmente!”

  3. Digo Eu: “Tudo que vês é apenas uma amostra na prática da re- núncia. Continua a pesquisar que verás outros quadros!” Yarah obedece e súbito solta um grito que quase desperta os outros.

  4. Inquirida pelo motivo, ela diz: “Ó Senhor, este deslumbramen- to, esta riqueza sobrepuja tudo que a fantasia humana possa imaginar! Vejo um palácio tão grandioso como a maior montanha de nossa Terra!

As paredes são cravejadas de pedras preciosas. Milhares de escadas dou- radas enfeitam sua parte externa, cuja extremidade tem forma de ponta. Em redor, os mais lindos jardins estão repletos de flores e nos lagos deslizam obras artísticas. Senhor, que significa isto tudo? Quem são os habitantes desse palácio deslumbrante?”

139.PESQUISANDOAORGANIZAÇÃO CÓSMICA

  1. Digo Eu: “Esse palácio é morada dum reitor da zona que acabas de ver. Dirige ele aquelas cabanas escolares, assim como as obras de arte que deslizam no lago e que são usadas, em certas épocas, como meio de ensino na alta sabedoria. Na zona central desse mundo luminoso, exis- tem centenas de milhares de moradas semelhantes a essa, além de alto número de grandes cidades. Ao todo há setenta e sete zonas, cada uma com organização própria, sendo esta a menor. Esse mundo, assim como o primeiro, são, na realidade, dois sóis iguais ao nosso, diferenciando-se apenas no que concerne ao seu volume; pois o Sol que avistaste antes é mil vezes maior que o nosso e este, quatro mil vezes.

  2. Atualmente a compreensão das criaturas a respeito do Cosmos é ainda bastante deficiente; mas no futuro, quando souberem calcular melhor, obterão resultados certos.

  3. Em torno de cada Sol giram inúmeros planetas, que por sua vez são acompanhados de satélites. Cada um mantém número igual de zonas correspondentes a seus satélites, com exceção dos sóis centrais, destinados a conservar e guiar os sóis telúricos, sendo milhões de vezes maiores que dez milhões de sóis iguais a esses que acabas de ver.

  4. Um Sol Central não é dividido em zonas, e sim em extensos ter- ritórios destinados a prover os sóis telúricos; e cada território é de mil a dez mil vezes maior que a superfície de cada sol, inclusive seus planetas. Um Sol Central é rodeado, no mínimo, de milhões de sóis telúricos.

  5. Existem três categorias de sóis centrais: os de primeira, segunda e terceira, acompanhados de incontáveis sóis telúricos com seus plane- tas e satélites. Têm a sua classificação numérica de acordo com a maior ou menor distância que os separa do Sol Central de todo o sistema, guia

desse imenso cortejo de astros; assim, os de terceira têm a menor órbita, pois se encontram mais pertos do Sol Central, os de segunda, a órbita média e os de primeira a órbita maior. Compreendes isto, Yarah?”

  1. Diz ela: “Senhor, quem poderia assimilar tal grandiosidade? Um simples esforço já me atordoa! Como, no entanto, processa-se a vida dos povos primitivos no Além?” Digo Eu: “Afasta teu olhar deste qua- dro e Me ouve!”

140.ESTADOS EVOLUTIVOS NO ALÉM

  1. Digo Eu: “Todas as criaturas não evoluídas são, na maior parte, conduzidas ao Sol que acabas de ver, e ensinadas em escolas especia- lizadas nos assuntos vitais. As crianças falecidas são educadas na zona central de nosso Sol, isto é, na parte espiritual deste astro.

  2. Almas não evoluídas recebem no mencionado Sol um corpo — sem nascimento — que se torna etéreo como a alma, podendo integrar-

-se no espírito. Já aprendeste como são transportadas tais almas e por quem durante tua viagem pelo primeiro Sol. Aquele anjo que ainda vês é o guia e soberano de todos os mundos e sóis que mencionei. Por aí vês que força e sabedoria lhe são afins.

  1. Os inúmeros anjos que avistas em teu redor têm tarefa idêntica; pois nas profundezas eternas existem conglomerados solares incontáveis para a percepção humana, cada um acompanhado de um Sol Central, ora descrito, sendo cada um dirigido por um desses anjos. Embora vejas inúmeras falanges, elas não perfazem a milionésima parte dos grandes anjos soberanos, sem mencionar os menores, incumbidos do controle e direção de sóis, terras e pequenos corpos cósmicos. Minha Tarefa con- siste em cuidar espiritualmente de todos, e se afrouxasse este zelo por um segundo sequer — tudo se desfaria em pó! Que Me dizes?”

  2. Responde Yarah: “Oh, Senhor, se os fariseus de Jerusalém pu- dessem apreciá-lo, por certo se modificariam! Suas almas serão condu- zidas àquele Sol Central?”

  3. Digo Eu: “Em absoluto, Minha Yarah; pois fazem parte dum povo amadurecido. Tais almas, se se integrarem na maldade, serão le-

vadas às profundezas da Terra, por ser a matéria seu elemento. Tudo será tentado para sua salvação: misérias e dores serão permitidas para fazer com que se desprendam da matéria. Se algum o conseguir, será levado às escolas existentes na parte espiritual desta Terra e só depois transportado para a Lua. Conseguindo lá todos os graus da renúncia, tornando-se forte assim, será levado a um planeta mais perfeito, a fim de aprender a justa sabedoria.

  1. Quando a alma penetrar na luz da verdade, que pouco a pou- co irá se intensificando, produzir-se-á o calor da vida espiritual, o que fará sua união com o espírito, de sorte a sua vida se tornar amor. Ten- do este sentimento evoluído à força necessária para uma integração na verdadeira e interna chama de vida, será então a alma completamente iluminada e apta a ser admitida no mundo dos espíritos felizes, onde será conduzida como criança.

  2. Para que uma alma, sendo materialista, possa alcançar este grau evolutivo, passarão, no mínimo, várias centenas de anos. Vejo agora uma pergunta em teu coração, que poderás fazer ao anjo, pois te dará a resposta certa.”

141.AGRANDIOSIDADEDOESPÍRITO HUMANO

  1. Yarah, virando-se para o anjo, diz: “Com permissão de nosso Senhor, peço-te que me digas por que meus pais e irmãos, bem como os Seus discípulos, se encontram adormecidos, vendo em sonho o que vejo com meus próprios olhos?”

  2. Diz o anjo, com voz melodiosa: “Por teres integrado comple- tamente tua alma em teu espírito, pois não tens quase ligação com a matéria, enquanto os outros, não; tua visão externa tornou-se posse da alma, e esta, visão do teu espírito eterno. És, portanto, formada como foi previsto por Deus.

  3. Todo espírito humano é de tal forma constituído que, igual ao Espírito de Deus, contém o Infinito dentro de si. Se tu, portanto, as- similas um astro ou algo diferente com tua alma pura — que de certo modo é igual à visão do espírito — e, através da alma, para lá também

diriges a visão externa — dá-se uma colisão entre o quadro existente no teu espírito e a forma externa. Deste conflito se faz a luz completa na alma com referência ao objeto, que se apresenta em sua real forma.

  1. Afirmo-te com segurança: tal fenômeno seria fato comum a to- das as criaturas se fossem de alma idêntica à tua. Esses que se acham aqui adormecidos estão longe deste estado, pois sua alma não transpassa o sentido da visão externa e a do espírito está ainda completamente velada. Por tal motivo torna-se necessário capacitar primeiro a alma a alcançar, com os sentidos mais sutis, a percepção do sobrenatural, tiran- do-lhe através do sono a ligação com a matéria.

  2. O sono desses aqui é incomum e raramente conseguido de modo natural. Existem pessoas de alma e espírito fortes que o realizam em outra de índole fraca apenas pela aplicação das mãos. Tu, por certo, não duvidas que o Senhor faça tudo através de Sua Vontade?”

  3. Diz Yarah: “Que o Senhor te abençoe pelo esclarecimento que assimilei tão bem! Mas outra pergunta: como poderei compreender tua ação rapidíssima?”

  4. Diz o anjo: “Adorável filha de Deus! Tal só compreende um es- pírito puro, que nada tem a ver com tempo e espaço. Por nós mesmos nada somos, pois tudo que vês em nós pelos olhos do teu espírito é o Pensamento de Deus, Suas Ideias e Seu Verbo. Nós, portanto, somos espíritos inteiramente puros e a matéria não nos pode ser empecilho, de sorte que cá e lá para nós são idênticos. A matéria não possui movi- mento tão rápido como o nosso, porquanto ela encontra obstáculos no mais tênue éter.

  5. Existem no Espaço Infinito os sóis centrais de terceira categoria, precedidos pelo Sol-mater! Esses sóis se movimentam em torno deste numa velocidade incalculável para tua concepção, a fim de que perma- neçam nas distâncias prescritas.

  6. Toma, como exemplo, esta Terra, uma esfera muitas cem mil vezes maior do que como a avistas daqui. Suponhamos que ela consista totalmente de grãos de areia e calculemos o número necessário para preenchê-la. Imagina, para cada grãozinho, uma distância equivalente àquela que nos separa da estrela que visitamos primeiro — e terás o

diâmetro da órbita duma estrela central de terceira categoria. Tal órbita é percorrida pelo mencionado Sol central apenas em milhões de anos; como, porém, essa trajetória é bastante extensa, tal Sol terá percorrido num minuto mil vezes a distância daqui ao astro que visitamos.

  1. Por certo pensarás: ‘Neste caso, tal Sol se movimenta mil vezes mais rápido que tu, espírito puro; pois, se tivéssemos voado com essa rapidez, teríamos lá chegado mil vezes antes!’

  2. Digo-te, porém, que a velocidade do Sol é, comparada à mi- nha, uma viagem de lesma; porquanto eu, ou um outro anjo igual a mim, percorremos esta distância tão velozmente que nem percebes nos- sa ida e volta. Deste modo existe uma grande diferença entre a velocida- de dum espírito e dum corpo cósmico, por mais rápido que seja. Eis a nossa capacidade, anjos puros, pois que não encontramos obstáculos no Infinito! Dize-me agora, filha de Deus: compreendeste também isto?”

142.AVERDADEIRAGRANDEZA ESPIRITUAL

  1. Diz Yarah: “Compreendi-o com o Auxílio de Nosso Senhor; no entanto, sinto-me novamente atordoada, pois estou convicta de que um espírito criado necessitará de uma eternidade, a fim de pesquisar apenas um daqueles imensos sóis centrais. Quanto tempo não levaria na pesquisa de todos?!

  2. Seria tolice de minha parte se tal fosse meu desejo! Prefiro per- manecer no amor e penso que, embora seja tal Sol algo de imenso e um testemunho poderoso da Sabedoria e Onipotência Divinas — ele, o Sol, não pode compreender e amar o Criador tal qual como posso! Sou de opinião que isto vale mais do que ser um astro grandioso nas profundezas do Espaço!

  3. Vê, esta nossa Terra é, comparada àquele astro, uma poeira imperceptível; no entanto, o Senhor pisa seu solo, pelo que deduzo ser a grandiosidade interna mais considerada aos olhos de Deus. Que sou eu, menina, fisicamente falando, perto do nosso globo? Entre- tanto, sinto em meu peito um espaço tão imenso que com facilidade comportaria todo o Cosmos! Meus olhos pequeninos abrangem, de

um só golpe, milhões de estrelas; esta faculdade também é afim aos grandes sóis?”

  1. Tomo de novo a palavra e digo: “Tens razão, Minha Yarah, equivales a todos os sóis no Espaço! No entanto, sempre é salutar ao homem conhecer Minhas Obras, para que aumente seu amor para Co- migo, o Pai!

  2. Agora já está clareando e teremos que acordar nossos amigos! Fá-lo-emos, porém, paulatinamente — e tu nada contarás até o mo- mento em que este anjo te der um aviso; pois ficará em tua compa- nhia até à tua maturação, porém em outras vestes. Os outros espíritos deverão desaparecer; que assim seja!” No mesmo instante, resta ape- nas um só, de nome Raphael, que usa vestes à maneira da cidade de Genezareth.

  3. Yarah, então, diz: “Agora, aprecio-te mais que dantes, em tua glória celeste. Assemelhas-te a uma criatura comum, o que me facilitará te querer bem! Mas quem assumirá tuas tarefas cósmicas?”

  4. Responde o anjo: “Não te preocupes; já te disse que para mim não existe espaço nem tempo. Além do mais, sempre me apressarei em voltar para junto de ti, pois te quero muito. Olha: o Senhor irá desper- tar os irmãos; por isto, silêncio!”

143.OSDISCÍPULOSSÃO DESPERTADOS

  1. Digo Eu a Raphael: “Vai e acorda primeiro Simon Juda!” (Pe- dro). Despertado pelo anjo, Pedro olha em volta de si e pergunta: “Mas, então, dormi realmente? Parecia-me estar acordado a noite toda! Entre- tanto, lembro-me de ter tido sonhos maravilhosos! Por certo não foram sem importância, Senhor?”

  2. Digo Eu: “Olha em torno de ti — talvez descubras algo na mon- tanha que também tenhas sonhado!”

  3. Pedro assim faz e diz: “Senhor, de fato vi em sonho o que se deu na realidade!” Como ele queira continuar a falar, digo-lhe: “Desper- ta primeiro os outros!” Os discípulos levantam-se e externam a mes- ma surpresa.

  1. Judas, porém, afirma: “Não creio que tenha dormido; pois dis- cuti contigo, Pedro, a respeito de diversos assuntos, sendo que me con- tradizias sempre, replicando: ‘Todos estes milagres não impedirão que te tornes um traidor de todos nós por algumas moedas de prata!’ Aquilo me revoltou de tal forma que tentei jogar-te no abismo, mas eis que Thomaz se precipitou sobre mim, e eu caí no chão! Dize-me, Pedro: nada sabes a respeito?” Responde ele: “Nem uma sílaba! Não me lem- bro de ter sonhado contigo!”

  2. Digo Eu: “Averiguai se não se realizou algo que vistes em so- nho!” Os discípulos se dirigem aos diversos pontos da montanha — e caem em êxtase! André então diz: “Assistimos, no decorrer de meio ano, a tantos milagres, que se tornou difícil concebermos a ideia de que algo maior ou coisa tão grandiosa pudesse suceder. Eis, no entanto, que nossos sonhos se realizaram.

  3. Vi o anjo escolhido por Yarah suspendendo toda a água do Mar Galileu, fazendo-a flutuar qual gota enorme; vi-lhe o fundo seco, a lin- da concha que foi guardada por Yarah no seu avental e, em seguida, como o anjo, obedecendo à ordem desta menina, aplainou a montanha, tornando-se fácil agora sua escalada! E isto foi um fato real!

  4. Quais serão as palavras e ações nossas que honrarão devidamen- te Nosso Senhor e Mestre? Onde estará o anjo capaz de depositar em nossos corações pensamentos tão excelsos que os achemos dignos de Sua Santidade? Oh, nada somos diante Dele, Deus Onipotente!

  5. Os patriarcas tremeram no Sinai quando ele deu a Moysés as Leis Divinas do Amor sob raios e trovões! E quando Moysés de lá vol- tou, sua face resplandecia mais perante a Majestade Divina que o Sol do meio-dia; foi preciso que ele se cobrisse com uma tríplice coberta, para que o povo dele se aproximasse. Usando temporariamente aque- la coberta, os visionários do Senhor profetizaram por muito tempo, e ainda hoje admiramos sua alta sabedoria! E agora, Ele, Deus — está aqui Pessoalmente! O Sinai tornou-se lava incandescente sob Seus Pas- sos — e como poderemos continuar frios como noite invernal em Sua Presença?! Por isto, levantemo-nos rápidos, a fim de Lhe render toda a Honra, todo o Amor e Adoração!”

  1. A este discurso de André, todos se enchem dum zelo entusiástico

144.DISCURSODELOUVORDE YARAH

  1. Ao som deste hino, todos os que ainda dormiam despertam, acompanhando o ato de louvor; Yarah, porém, abraça Meus Pés e chora de alegria e felicidade! Em seguida, levanta-se e diz, com entonação profética: “Ó Terra, quando serás novamente tão feliz de ser tocada por estes Santos Pés? Acaso sentes, ó externação muda dos vícios, Quem ora te pisa? Não, não o podes sentir por seres muito pequenina! Como poderias assimilar aquilo que é imensamente grandioso e santo para as incontáveis miríades de seres no Espaço Infinito?! Onde começarei, onde terminarei, a fim de louvar Sua Glória, apenas numa gota de orva- lho? Pois Ele, Deus, o Eterno, criou tanto a gota quanto os imensos sóis! Ó Senhor, meu Deus, aniquila-me, porque meu coração não suporta o amor profundo para Contigo!

  2. Antes de conhecer Tua Glória, amava-Te eu como criatura per- feita. Pressentia em Ti o Espírito Divino, amando-O indescritivelmen- te; no entanto, imaginava-Te o Filho do Altíssimo! Agora, porém, tudo mudou! ÉsoAltíssimoMesmo!NãooutroalémdeTi!Portanto, per- doa-me que sou um verme do pó, que na sua cegueira ousou amar-Te como criatura!”

  3. Digo Eu: “Meu Amor, nada tenho a perdoar-te; permanece nes- te amor! Pois quem não Me ama como tu, não Me ama, em absoluto! Quem não amar a Deus como sendo o Homem mais Perfeito, não poderá amar ao seu próximo, criatura muito imperfeita! Se consta que Deus fez o homem de acordo com Sua Imagem, como poderia ser Ele diferente? Talvez perdesse Eu algo de humano, por teres tido algumas demonstrações da Minha Glória?”

  4. Diz Yarah: “Oh, não, és o Mesmo e o meu coração também sen- te o mesmo! Sim, tenho vontade de guardar-Te dentro dele e abraçar-Te com tanto fervor até que se me rompessem as veias; sim, desejo cobrir

Teu Semblante com milhares de beijos e jamais deixar de beijar-Te! Não sei expressar o que faria por amor a Ti! És, no entanto, o Ser Supremo e julgo ser muito indigna em amar-Te como se fosses uma criatura. Todas estas conjeturas, porém, não são consideradas pelo coração que Te ama cada vez mais!”

  1. Digo Eu: “Está bem assim! Que tua alma siga sempre a tendên- cia pura do coração, incendiando nele a chama verdadeira, para que o Espírito Divino possa dela surgir como um sol, em cuja Luz e Calor vitais germinará a Semente de Deus, alimentando a alma com todos os frutos da Vida Eterna! O Espírito Divino só pode ser despertado na criatura pelo amor a Deus e, através deste, o amor ao próximo. Por isto, permanece em teu afeto, que tem mais valor para nós dois que todas as maravilhas que avistaste! Vamos agora ouvir as impressões dos outros acerca dos acontecimentos desta noite.”

145.REALIDADEDO SONHO

  1. O comandante levanta-se com cuidado e diz: “Senhor e Mestre! Agradeço-Te por me achar vivo, pois facilmente poderia ter caído no abismo se no sono tivesse dado duas voltas! Peço-Te, porém, que nos conduzas a todos, destas alturas horrorosas até Genezareth! Enquanto tiver de me preocupar com a descida, não poderei me sentir bem!”

  2. Digo Eu: “Nada sonhaste nesta noite?”

  3. Responde ele: “Oh, sim, é verdade; de medo quase me esqueço do sonho maravilhoso que tive! Se esta montanha fosse como a vi em sonho, seria um prazer descê-la!” Diz Ebahl a seu lado: “Vai, verifica seu estado e te certificarás de que é de fácil acesso, até mesmo pelo lado do mar!” Diz o romano: “Não será engano de tua visão?” Responde Ebahl: “Como, se eu e minha família já andamos por todos os lados e vimos o que acabo de te falar?”

  4. O comandante se convence da veracidade dos fatos e diz: “Re- almente, não resta dúvida ser este Jesus, Deus e homem ao mesmo tempo! Procuremos Yarah, a fim de que nos mostre as lembranças que trouxe de suas viagens celestes. Vi como guardou uma grande concha

e uma pedra apanhada no Sol, que visitou com um espírito. Se aquelas provas também forem reais, não mais necessitaremos de outras!”

146.YARAHEOSPRESENTESQUE RECEBEU

  1. Dito e feito, Ebahl e o comandante pedem a Yarah que lhes mostre os mencionados presentes. Ela os tira do bolso de seu avental e diz: “Então, Julius, acreditas agora e deixas de ter medo?”

  2. Responde o romano: “Sim, minha fé tornou-se tão sólida como esta montanha! Mas teus presentes são dum preço inestimável! Só a concha equivale ao valor da cidade de Jerusalém, pois comporta vinte e quatro pérolas do tamanho dum pequeno ovo e o valor de cada é de cem mil libras de ouro! Esta pedra, por sua vez, transparente e mais brilhante que Vênus, não pode ser avaliada, porquanto não se coaduna materialmente com coisa alguma que a Terra nos apresenta! Em suma, és, tanto espiritual como materialmente falando, a moça mais rica do mundo. Que te parece?”

  3. Diz Yarah com modéstia: “Estas duas lembranças só têm va- lor da recordação dos indescritíveis milagres de Deus, feitos aos pobres e fracos habitantes de Genezareth. O Senhor não permanecerá para sempre em nosso meio; estas lembranças, entretanto, recordá-Lo-ão em nossos corações, inflamando sempre o nosso amor! Eis meu parecer.

  4. Além disto, Ele ainda me deixou outra prova desta noite mila- grosa, que ficará comigo até que eu tenha alcançado os dezesseis anos. Deixar-me-á, então, voltando apenas quando eu o merecer.”

  5. Pergunta seu pai: “Não queres nos mostrar tal prova?”

  6. Diz Yarah, apontando o anjo Raphael: “Aqui está!”

  7. Responde Ebahl, após analisar o anjo dos pés à cabeça: “Esta lembrança é deveras a mais preciosa. Temo, porém, que te apaixones, antes do tempo, por este jovem; ele, afastando-se, causar-te-á um gran- de sofrimento.”

  8. Diz Yarah: “Não penso isto, pois quem ama a Deus como eu o faço não olha nem mesmo as belezas celestes! Quero-o muito, pois é sábio, forte e ligeiro!”

  1. Pergunta o comandante: “Donde veio? Não me lembro de tê-lo visto em Genezareth; entretanto, traja-se como o povo de lá! Admiro seus traços finos e delicados e sua indumentária de branco e azul lhe fica muito bem. Realmente, nada vejo neste jovem que pudesse justificar tua rejeição. Quanto mais o fito mais atraente se me apresenta — e tu, Yarah, podes-te considerar feliz com esta dádiva.

  2. Que farás, no entanto, com ele? És simpática e bonita, mas, perto dele, até perdes teus encantos. Seria ótimo se vos unísseis num matrimônio; se ele, porém, for apenas teu companheiro, teu coração muito breve há de incendiar-se. Que te parece?”

  3. Diz Yarah: “Falas assim por não conheceres o espírito! Este será meu protetor e guia até meus dezesseis anos e ensinar-me-á a Sabedoria Divina!” Diz o romano: “Depois casarás com ele?” Responde ela: “Oh, Julius, que pergunta! Já não te disse que então me deixará por um certo tempo, conforme foi determinado pelo Senhor, pois meu coração per- tence unicamente a Ele?!”

  4. Diz Ebahl: “Querida filha, por ora tens razão; mas, com o tempo, terás de enfrentar a luta com tua carne. Desejo-te que possas ser vitoriosa!”

  5. Afirma o romano: “Teu pai está certo! Ainda és criança, no entanto tens um coração ardente. Por enquanto, ele almeja apenas o mais elevado; mas, quando esta atração se afastar, sentirás a necessidade do amor material, e não levará tempo para estenderes teus braços a ou- tros objetivos, pois a fome de amor é mais sensível que a do estômago. Querida Yarah, o amor é algo poderoso e necessita de orientação segura, para evitar que se aniquile a si próprio!”

  6. Responde a menina: “Talvez tenhas razão. Suponho, porém, que o Senhor socorre a quem Lhe pede?!”

  7. Diz Julius: “Lembro-me das Palavras que proferiu durante esta noite. Ele é Deus, e o espírito da criatura só Dele se poderá achegar quando se tiver formado e positivado dentro das forças que recebeu; neste período, Deus Se afasta da criatura. Quando esta época chegar, poderemos conversar a respeito!”

  8. Responde ela: “Confio e creio que Ele não me abandonará de maneira total!” Diz o comandante: “Por certo! Não obstante, sentirás

Sua Ausência mais fortemente pelo grande amor que Lhe dedicas! Va- mos agora voltar para junto Dele!”

147.CONVÍVIOCOMOSENHORPELO CORAÇÃO

  1. Os três se dirigem a Mim e o comandante indaga: “Senhor, que faremos? Parece que tens algum projeto?”

  2. Digo Eu: “Não vês a aurora deslumbrante? Prestai todos aten- ção, pois assistireis a um espetáculo inédito; embora seja um fenôme- no natural, contém ele um sentido oculto, pois uma aurora encon- trará outra!”

  3. Diz Pedro: “Senhor, como devemos interpretá-lo?”

  4. Respondo: “Quanto tempo terei que aturar-vos?! Depois dum convívio tão longo, ainda não percebeis que por Mim surgiu em vossa alma um Sol Celeste, que vos iluminará cada vez mais?!”

  5. Diz Pedro: “Senhor, não Te aborreças; sabes que somos criaturas simples, apenas com alguma noção de escrita e de leitura. Se Te tivésse- mos compreendido, a pergunta seria um atrevimento.”

  6. Digo Eu: “Teria justificativa se ignorásseis a possibilidade duma palestra em vosso íntimo; portanto, não é a pergunta, e sim a maneira de fazê-la o erro que critico. Vede os essênios e fariseus, admi- rados por terdes Me perguntado algo em voz alta, porquanto, como seus mestres, deveríeis saber que deposito no coração do indagador a resposta plena!

  7. Vossa atitude não resulta de ignorância ou teimosia, mas dum hábito enraizado em vós; tende mais cuidado para o futuro, a fim de que os outros reconheçam que sois Meus verdadeiros discípulos, pois não deveis perder este conceito diante do mundo, útil à vossa missão. Agora ide e esclarecei os adeptos, do contrário inquirirão o motivo de vossa indagação!”

  8. Diz Pedro: “Senhor, quer dizer que jamais poderemos externar um pensamento Contigo?”

  9. Respondo: “Oh, sim; mas tudo a tempo e a hora e quando vos autorizar! Ide e fazei o que vos disse!”

  1. Os discípulos se dirigem àquele grupo com as palavras: “Não estranheis que às vezes perguntemos algo ao Senhor, porquanto ainda estamos presos aos velhos hábitos!”

  2. Dizem os dois essênios: “Já imaginávamos tal coisa, pois fize- mos aquela pergunta em nosso íntimo e recebemos, no mesmo instan- te, a resposta clara. O que mais nos preocupa são as visões que todos nós tivemos esta noite, sendo que sua realização representa o maior milagre! Cremos convictamente ser este nazareno mais do que um homem per- feito, pois em Seu Coração habita a plenitude da Onipotência Divina! Agora, porém, deixai-nos prestar atenção à aurora milagrosa!”

  3. Diz Pedro: “Bem, não sei se vai ser milagrosa; em todo caso, teremos um espetáculo deslumbrante, do qual poderemos deduzir que nossa alma também já foi banhada por uma Aurora Eterna!”

  4. Acrescenta um dos essênios: “Sim, uma Aurora não somente para nós, mas para toda a Criação; pois nos parece que a Encarnação do Supremo Espírito Divino repercute em todo o Infinito! Difícil é compreender a razão que O levou a escolher a Terra, pois teria miríades de sóis deslumbrantes para tal fim! Outrora, quando opinávamos ser o globo o único mundo no Universo, tal hipótese era admissível. Julgáva- mos que o Sol, a Lua e as estrelas existissem somente para iluminar este planeta. Resta, portanto, saber o que motivou esta Graça? Que dizeis? Seria admissível perguntar-Lhe a respeito?”

  5. Responde Pedro: “Fazei uma tentativa em vosso coração. Se não vier resposta, prova será que ainda não estamos amadurecidos para tal ensinamento. Vede só: o Sol está prestes a surgir, as pequeninas nu- vens têm um brilho tão forte que quase nos cega!”

  6. Dizem os essênios: “É verdade! Que quadro encantador! Mas não percebeis como algo se movimenta acima das nuvens? Parece serem estrelas de fulgor estranho. Que será?”

  7. Responde Pedro: “A verdadeira causa somente o Senhor a co- nhece! Nós, pescadores, chamamos isto de ‘peixinhos da manhã’, que prometem boa pescaria; à noite, geralmente, desencadeia-se um tem- poral.” Dizem os dois essênios: “Vamos para junto do Senhor! Está em palestra com Ebahl e seus filhos.”

148.OSFENÔMENOSNATURAISESUAINTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL

  1. Aproximando-se todos de Mim, advirto aos dois essênios prestarem atenção aos fenômenos concernentes à aurora. Dizem eles: “Senhor, compreendemos haver muito que aproveitar; nossa alma, porém, estará apta para tal? Fitamos de olhos ávidos as pro- fundezas luminosas de Tua Criação; se, entretanto, nossa cegueira nos impede de avaliarmos os milagres contidos numa gota de orva- lho, muito menos o conseguiremos com as estrelas no Firmamento. Já fizemos comentários com Pedro acerca dos pontos luminosos que se movimentam acima das nuvens; queres nos dar uma elucidação a respeito?”

  2. Digo Eu: “Não é de grande importância, pois trata-se dum fenô- meno natural, idêntico ao que se dá com o mar: quando este se acha em movimento, podes observar o mesmo, se te encontras naquele ponto onde os raios solares se quebram.

  3. A atmosfera terrestre não alcança as estrelas, mas ultrapassa em sua máxima altitude aproximadamente quatro vezes esta montanha; após essa altura é ela abruptamente isolada, assim como a água do ar, e apresenta, tal como aquela, uma superfície fulgurante e lisa, manifes- tando ondulações constantes, tais como as ondas marinhas.

  4. A luz do Sol, quando resplandece sobre essas vagas aéreas, reflete como a superfície do mar. Sendo fortes as ondulações, a luz é refletida para a Terra de quando em quando, e mais facilmente quando o Sol se apresenta aparentemente por detrás do horizonte, onde seus raios iluminam a superfície do mar atmosférico por baixo. Assim, são essas luzes saltitantes nada mais que reflexos solares, tendo seus movimentos condicionados às vagas da atmosfera.

  5. Mas que essas luzes, no momento em que o Sol quase atinge a linha do horizonte, são vistas especialmente sobre estas nuvens tão ilu- minadas, tem sua causa no fato de que as ondas atmosféricas absorvem a luz refletida destas nuvens, entretendo-as num jogo continuo. Eis a explicação deste fenômeno natural.

  1. A respeito disto tudo, porém, existe espiritualmente a seguinte explicação: Imaginai o Sol espiritual! Sua luz é absorvida da superfície sempre ondulante do Mar da Vida, que a reflete formando imagens grotescas, embora ainda num brilho tênue, pois perderam todo vestígio da Forma Divina Original; por isto, é tanto o paganismo quanto o ju- daísmo uma aberração de tudo que é Divino.

  2. Se, porém, vedes um plácido espelho d’água, no qual o Sol está brilhando, será ele refletido com igual majestade, tal como se encontra no Céu. Da mesma forma é necessário um temperamento sereno e de- sapaixonado, somente conseguido por uma completa renúncia do ‘eu’, humildade, paciência e amor puro, a fim de refletir a Semelhança de Deus no espírito do homem.

  3. Neste estado tudo se torna verdadeiro dentro da criatura, capa- citando a alma a observar as profundezas da Criação Divina. Assim, porém, que ela se agita, as imagens primárias são destruídas, levando-a a toda sorte de enganos, dos quais só se poderá afastar pelo completo repouso em Deus.

  4. Eis o verdadeiro descanso do sétimo dia, instituído por Jehovah. Nesse dia a criatura deve se abster de todo trabalho físico que obrigue a alma a lhe prestar suas forças; agita-se ela deste modo, provocando uma irritação no espelho de sua água vital, impossibilitando-a de reconhecer a Verdade Divina. Ninguém deve trabalhar nesse dia, destinado ao re- pouso, a não ser que as necessidades do próximo o exijam.

  5. Muito mais, porém, a alma deve se abster das paixões que a atormentam quais tempestades, pois que agitam sua água vital, dilace- rando a Semelhança Divina, como a perfeição do Sol é deturpada pelas vagas do mar. E se a tempestade for de longa duração, surgirão do mar os vapores condensados, preenchendo a atmosfera celeste da alma de nuvens pesadas, impedindo que a luz do Sol espiritual alcance as águas da Vida — e a alma se tornará obtusa, não mais podendo diferenciar a verdade da mentira, tomando a fraude do inferno como luz celeste. Uma alma assim já estará perdida! Serão precisos os ventos fortes, isto é, provações duríssimas, a fim de rasgarem suas nuvens trevosas, propor- cionando-lhe o verdadeiro repouso!

  1. Eis o sentido verdadeiro e útil desta aurora maravilhosa. Quem o considerar, permanecerá na Verdade e em toda Luz que é a Sabedoria, tendo como prêmio a Vida Eterna. Quem, no entanto, a desprezar, morrerá para sempre.”

149.OBSERVAÇÕESDURANTEA AURORA

  1. (O Senhor): “Observai agora como o Sol estende seu lado oeste sobre o horizonte; que vedes?”

  2. Respondem os essênios: “Apenas a superfície luzidia que surge com muita rapidez; os pontos luminosos desapareceram, bem como as pequenas nuvens. Neste momento o Sol aparece completo e sentimos uma brisa fresca. Eis tudo.”

  3. Digo Eu: “Dirigi vossos olhos às planícies e vales terrenos e di- zei-Me o que observais.”

  4. Dizem eles: “Estão cheios de neblina cinzenta, de que também o mar se acha coberto. Terá isto um sentido oculto?”

  5. Respondo: “De certo, nada na Terra acontece sem causa espiri- tual. O Sol corresponde inteiramente ao Ser Divino; a Terra, com tudo que apresenta, ao homem externo.

  6. As neblinas que se interpõem entre Sol e Terra constituem as múltiplas preocupações, pequeninas e vãs das criaturas, através das quais a luz solar só penetra de vez em quando, pois as neblinas sobem, cobrindo até as montanhas. Estas correspondem ao bom entendimento humano, que também é turvado pelas preocupações fúteis das criaturas ignorantes.

  7. Por isto surgem as brisas matinais, que dispersam as neblinas de sobre montanhas e campos, a fim de serem iluminados e aquecidos pelo Sol, que fará amadurecer os frutos da Vida. Penso ser bem clara esta explicação!”

  8. Dizem os essênios: “Tão clara como o Sol. Oh, que Doutrina Maravilhosa! Este conhecimento deve ser bem mais eficaz que a noção do próprio ‘eu’. Senhor, será incumbência nossa divulgarmos o ensi- namento a respeito do repouso justo no Dia do Senhor, pois ultrapas-

sa tudo que até então ensinaste! Para isto foi preciso que os Céus se abrissem, a fim de transmitir aos homens esta Doutrina Santa! Como agradecer-Te condignamente por tudo? Dá-nos um mandamento de como louvar-Te!”

  1. Digo Eu, depositando Minhas Mãos sobre seus ombros: “Meus amigos, agi de acordo com Minhas Leis, que Me dareis em troca a mes- ma alegria. Vosso mérito será grande levando outros a este caminho!”

150.OSESSÊNIOSRECEBEMDOSENHORAINCUMBÊNCIADECONSTRUÍREMUMAESCOLA MAÇÔNICA

  1. (O Senhor): “Edificai uma escola nestes moldes e ensinai a con- servação do Dia do Senhor; entregai-vos a este descanso diariamente, por algumas horas, que em breve sentireis os grandes benefícios.

  2. Este edifício deve ser livre de muros e ferrolhos. Sede verdadei- ros pedreiros livres, iniciando de tal modo uma obra nova das escolas de profetas. Que seja vossa maior preocupação considerar Minha Dou- trina fielmente sem mesclá-la de outros preceitos, como é de praxe por parte dos fariseus e anciãos. Vossos atuais ditames devem ser extermina- dos a fundo, dando lugar ao Meu Verbo, que deve ser ensinado de livre e espontânea vontade, senão o Meu Espírito não terá ação, conforme foi predito pelos profetas.”

  3. Os essênios agradecem por este ensinamento, prometendo cum- pri-lo religiosamente; pedem, apenas, que Eu lhes confira a justa pro- teção e a força necessárias na aplicação e divulgação aos sedentos da Verdade Divina.

  4. Digo Eu: “Jamais faltarei com o que Me compete; tende, no en- tanto, cuidado de evitar futuras ambições de posto. O mais experiente dentre vós seja vosso professor e guia; isto, porém, não o deve levar a crer ser mais que o menor em vosso meio. Deve ser amado e honrado e seu conselho seguido por todos como se fora lei. Ai daquele que o atacar, pois Meu Olhar irado o perseguirá!

  5. Na escolha dum guia e professor, pedi e analisai a quem preten- deis eleger; pois um mau e imprudente numa sociedade é o mesmo que

um pastor descuidado com seu rebanho. Vendo a aproximação do lobo, é ele o primeiro a fugir, entregando seus cordeiros ao inimigo; ou, tal- vez, também se torne espiritualmente um lobo, como o são atualmente os fariseus e sacerdotes. Caminham em pele de cordeiros, mas, no ín- timo, são lobos vorazes. Recusam-se a alimentar uma mosca; quando, porém, o fazem, exigem em troca um camelo!

  1. Não vos torneis seus iguais. Habitam em construções sólidas, sempre trancadas e vigiadas, para que ninguém se lhes aproxime e ob- serve suas traficâncias. Havendo um corajoso que tente penetrar em tal recinto do Templo, será declarado herege e apedrejado!

  2. Por isto, relembro: Construí vossas escolas sem muros, para que todos possam frequentá-las. Que lá não haja mistério! Iniciai a todos que o desejem, dentro de sua compreensão, pois não vos vendo gato por lebre com esta Minha Doutrina — digo-vos a pura Verdade e não ocul- to coisa alguma, a não ser aquilo que a prudência pede em benefício de cada um. Sede verdadeiros, mas também prudentes; a sinceridade não deve exceder-se a ponto de jogar pérolas aos porcos!

  3. Teria muito que vos dizer, mas que não poderíeis suportar. Quando, porém, o Espírito da Verdade Plena despertar dentro de vós, conduzir-vos-á a toda Sabedoria; este Espírito é a Semelhança Divina em vosso Coração e será por vós despertado pela consideração que da- reis ao grande Dia do Senhor. Compreendestes?”

  4. Respondem os essênios, contritos: “Sim, Senhor, pois Tuas Pala- vras não derivam dum ser humano, possuindo luz, calor e vida! Temos a impressão de que cada uma faz gerar novas e imensuráveis criações, e sentimos este fenômeno dentro de nós. Regozija-te, pois, ó Terra, que foste escolhida entre milhares para receber a Bênção dos Passos do Senhor da Eternidade, ouvindo Sua Voz Santíssima! Ó Senhor, qual deve ser o número dos seres que projetas através de Tuas Palavras e Teu Hálito?! Deixa que Te honremos e louvemos, ó Santo Eterno!”

151.OALMOÇOABENÇOADONOCUMEDA MONTANHA

  1. Digo Eu: “Bem, bem, Meus queridos amigos e irmãos! Vamos agora tratar um pouco de nosso físico, já que saciamos nossa alma. Ebahl, tens alguma provisão?”

  2. Responde ele: “Existem umas poucas sobras de pão e vinho!”

  3. Digo Eu: “Vai buscá-las, a fim de que as abençoe e tenhamos o suficiente para todos.” Ebahl manda trazer metade dum pão e cerca de três cálices de vinho que sobrara no odre, dizendo: “Eis tudo!” Digo Eu: “Distribuí-o — e se algo ficar, nós também nos saciaremos!”

  4. Ele começa a repartir pequenos pedaços do pão, que, no en- tanto, não diminui. Por isto, espalha fatias maiores — e o fenômeno é o mesmo. Como percebe o apetite dos hóspedes, inicia novamen- te a distribuição entre os trinta, restando-lhe um bom bocado. En- tão diz: “Senhor, eis o que ficou. Será suficiente para Ti, Raphael, Yarah e eu?”

  5. Digo-Lhe: “Deixa que Yarah o divida que dará para todos.” A menina dá primeiro um pedaço a Mim, a seguir a Raphael, Ebahl e come o resto. Percebendo isto, o comandante diz a Ebahl: “Amigo, por que não fui considerado na segunda distribuição? Não me achas com mérito para tanto?”

  6. Digo Eu: “Irmão, não te aborreças por tão pouco! Ebahl calcu- lou que nada sobrasse, motivo por que iniciou a distribuição tão par- camente, mas sem desejar que fizesses parte dos que nada receberiam. Como, porém, algo sobrou de acordo com a Minha Vontade, fez-se a segunda partilha. Se fizeres questão, dar-te-ei a Minha Parte!”

  7. Responde ele: “Ora, está bem; lembrei-me apenas dum velho hábito romano! O que me admira é de ver o apetite de Raphael; parece o mais faminto entre nós. É mais espírito do que homem, no entanto come como se tivesse nascido aqui. Sua atitude é deveras simpática. Sinto agora que o pão, não obstante muito saboroso, desperta forte sede. Haverá algo para beber?”

  8. Digo Eu a Ebahl: “Reparte o vinho, começando pelo nosso ami- go Julius!”

  1. Intervém este: “Senhor, peço-Te que Te sirvas primeiro, pois deve haver certa ordem numa refeição!”

  2. Concordo: “Também considero isto; como, entretanto, não estamos à mesa e tampouco somos convivas, toma o vinho à vontade! Quem tiver mais sede pode beber primeiro!” Satisfeito, o comandante esvazia o cálice, dizendo: “Senhor, agradeço-Te por este conforto celes- te, pois nunca tomei vinho idêntico.”

  3. Digo Eu: “Todos se alegram que agora te sintas bem, nesta altura.” Diz ele: “Senhor, perdoa se vou dizer uma tolice; mas tenho a impressão de que o próprio Satanás haveria de sentir-se bem aqui.”

  4. Digo Eu: “Poderei chamá-lo, caso tenhas vontade de vê-lo, e te certificarás se este ambiente lhe agrada.” Diz o romano: “Se realmente existir um demônio em pessoa, que me apareça!”

152.APARIÇÃODE SATANÁS

  1. Mal o comandante pronuncia estas palavras, eis que se vê forte raio acompanhado por fragoroso trovão, e Satanás se posta numa figura descomunal, toda em brasa, diante do romano. Bate com tanta violên- cia com o pé que a montanha estremece, e diz: “Que esperas de mim, miserável incestuoso? Por que me chamas a esta altura, que me é mil vezes mais antipática que todo o fogo do inferno?!”

  2. Responde o comandante, irritado pela expressão “incestuoso”: “Contém-te, inimigo da Humanidade e de Deus; não te compete fazer julgamento diante Dele, teu Senhor! Se pequei no sono pelo aturdi- mento dos sentidos, sou eu o único prejudicado. Penso, porém, ser Deus mais do que tu e não me classificou de tal forma! Aconteceu que aos catorze anos pratiquei este ato abominável com minha mãe, que se havia disfarçado numa grega, usando máscara sobre sua linda face. Contava ela vinte e oito anos e eu treze e meio. Em Roma figurava como o jovem mais atraente; por isto, ela usou de disfarce, a fim de levar-me ao pecado! Como podes, por tal razão, chamar-me de incestu- oso? Acaso seria assassino aquele que, na queda dum telhado, matasse um transeunte? Fala, miserável!”

  1. Satanás, por sua vez, irritado com as palavras do romano, diz: “Vejo apenas a ação, e não o modo como foi praticada; não consi- dero atenuante, portanto fazes parte do inferno e não escaparás do meu poder!”

  2. Reage o comandante: “Tolo que és! Conheces Este, à minha di- reita, que Se chama Jesus de Nazareth?”

  3. Com o pronunciamento do Meu Nome, o demônio cai por ter- ra, ameaçando o romano para não mais citá-lo. Conhece bem o naza- reno e odeia-o por pretender conquistar a Onipotência Divina, pouco lhe faltando para se tornar senhor dos Céus e Terra!

  4. Diz o comandante: “Ignorante! Ele é e será para sempre o que foi, e somente Ele julgará a mim como a ti! Se te julgas tão poderoso, por que Seu Nome te faz fraquejar? Observa como este planalto é alegre e o bem estar que todos sentimos. Se não fosses tão imbecil, poderias desfrutar da mesma alegria! Converte-te e reconhece em teu coração — se é que possuis um — ser Jesus o Senhor de todo Infinito, e serás tão feliz como nós!”

  5. Satanás ri com escárnio, dizendo: “Repetes ainda este maldito nome?! Se não tens outro assunto, podes, ao menos, circunscrevê-lo; pois me irrita mais que dez mil infernos no auge do seu fogo irado! Além disto, sou um espírito e devo permanecer como tal, e pela vossa salvação; portanto, não me posso converter a favor de vosso Senhor e Deus! Estou condenado para sempre, não havendo redenção para mim!”

  6. Diz o comandante: “Mentiroso! Se tivesses vontade de te con- verter, serias aceito com todo o teu séquito; existe dentro de ti uma teimosia maldosa, pela qual não te queres redimir, pois constitui uma satisfação diabólica desafiar o Senhor, em virtude do livre arbítrio. Afir- mo-te que Ele não te condenou definitivamente! Regenera-te, que serás recebido e perdoado!

  7. Sou pagão e adorei, quando moço, a Natureza e os ídolos feitos por mãos humanas; em breve, porém, reconheci que estava trilhando o caminho errado. Tu, no entanto, foste criado como espírito puro por Aquele que ora habita no coração deste nazareno e ao Qual Céus e Terra obedecem. O conhecimento da verdade te será fácil, enquanto eu

perambulei por muito tempo nas trevas. Basta que o queiras e voltarás a ser o anjo da Luz!”

  1. Exclama Satanás: “Não posso!” Indaga o comandante: “Por quê?” Responde o anjo do mal: “Porque não quero!” Irrita-se o romano e diz com voz alterada: “Então afasta-te, pois sinto asco de ti! Que o Senhor te julgue!” Como se um raio o tivesse fulminado, Satanás cai por terra; Eu aceno a Raphael para que o enfrente.

  2. O anjo aparta os dois e diz a Satanás: “Eu, servo humilde do Senhor Jesus-Jehovah-Zebaoth, ordeno que te afastes desta zona, que, pelo teu hálito, tornou-se prejudicial às criaturas!”

  3. Diz Satanás, raivoso: “Para onde irei?” Responde Raphael: “Para onde te esperam teus servos com imprecações! Vai! Que assim seja!” Satanás, transformado numa bola de fogo, desaparece como raio em direção ao Norte. O anjo arranca do solo, onde Satanás pisara, uma pedra de cinquenta toneladas, atirando-a com tanta violência para den- tro do mar que se dissolve em pó pela pressão atmosférica.

  4. Todos admiram este ato, e o comandante diz: “Que atirador estupendo! Vale mais que dez legiões romanas! Além do mais, agradeço-

-Te, ó Senhor, por esta revelação; pois cheguei a conhecer pessoalmente o eterno inimigo do Amor, da Luz e do Bem! Jamais melhorará!

  1. Para Deus todas as coisas são possíveis; neste caso, porém, pen- so que Lhe será difícil levar este espírito ao arrependimento e à peni- tência. Se continuar com o livre arbítrio, não se regenerará; se este, no entanto, for-lhe tirado, deixará de existir. Querer convertê-lo pelo sofrimento será o mesmo que encher de água, com uma peneira, um tonel furado! No meu parecer será a prisão eterna e sem padecimento o melhor meio para evitar que prejudique as criaturas.”

  2. Digo Eu: “Amigo, não podes conceber a razão disto tudo e o tempo terreno não possui medida para determinar a época da possível remissão de Satanás. Isto talvez seja possível quando o primeiro Sol Cen- tral se tenha dissolvido; onde, porém, estarão, nesta época, a Terra e o Sol? Pois um tão imenso corpo cósmico necessita de um tempo incalcu- lável para que toda sua matéria se desintegre até o último átomo numa vida livre e espiritual. Mas, como já disse, não o podes conceber por ora.

Nem os anjos o poderiam; tempo virá em que não duvidarás disto que acabas de ouvir. Agora, basta! Levantai-vos, encetaremos a descida!”

153.ADESCIDADA MONTANHA

  1. Diz Yarah, que havia coberto o rosto durante a presença de Sa- tanás: “Senhor, volto com prazer para a cidade, pois a aparição do anjo do mal prejudicou nossa estada aqui em cima. Jamais tornarei a pisar esta montanha.”

  2. Digo Eu: “Não viste como ele foi enxotado e como Raphael limpou o lugar onde pisou? Além do mais, não te trará prejuízo ou benefício tua volta a esta altura. A melhor escalada para a criatura é a do próprio coração — e quem tiver penetrado em suas profundezas terá alcançado a máxima visão espiritual. Agora vamos, pois já passou a terceira hora deste sábado. Segui-Me pelo próximo atalho!”

  3. Diz o comandante: “Senhor, se não me engano, falou-se que permaneceríamos todo o dia aqui?”

  4. Respondo: “Não Me entendeste bem; referi-Me à consagração do sábado — o Dia do Senhor — pela contemplação introspectiva. Va- mos, pois lá embaixo nos esperam vários doentes. Antes de deixar este lugarejo, quero curar a todos.”

  5. Em companhia de Yarah e Raphael, tomo a dianteira e, após duas horas e meia, já estamos perto de Genezareth. Então reúno os vi- sitantes da montanha e lhes digo: “Ouvi-Me! Repito que guardeis, por enquanto, o que se passou lá em cima! Quando receberdes um aviso do Céu, podeis contá-lo àqueles de boa vontade; aos materialistas tais coisas deverão continuar ocultas como o centro da Terra. Pois a razão externa jamais as poderia assimilar, condenando-vos como doidos, jul- gamento este que sentenciaria suas almas à morte.

  6. Gravai bem: Minhas Palavras e Ações são mais preciosas que as pérolas raras de Yarah, e tudo que vem do Alto é destinado aos que de lá vieram. Para cães e porcos servem unicamente os detritos do mundo; pois o cão volta àquilo que vomitou, e o porco se deita no lodo por ele próprio há pouco produzido. Por isto, segui o Meu Conselho!”

  1. Obtempera o comandante: “Senhor, se pessoas curiosas nos per- guntarem o que ocorreu na montanha, que diremos?”

  2. Digo Eu: “Dizei-lhes que, de acordo com a Minha Advertência, deveis ficar calados, e eles nada mais perguntarão.” O romano, satis- feito, se junta aos outros e continuamos a trajetória pela cidade até a casa de Ebahl.

154.MILAGRECURADORNAHOSPEDARIADE EBAHL

  1. Em lá chegando, os servos de Ebahl nos vêm dizer que na hos- pedaria há uns cem enfermos, sequiosos pela Presença do Senhor e Sal- vador Jesus de Nazareth.

  2. Digo Eu aos empregados: “Comunicai-lhes que podem voltar com calma a seus lares, pois sua fé no Poder de Minha Palavra já os curou!” Os servos encontram todos em pé, cantando louvores pela saú- de reconquistada e pedindo para ver-Me!

  3. Eu, porém, digo: “Já vos falei que podiam ir para casa, pois conseguiram o que procuravam — e para coisas elevadas não possuem inteligência.” Recebendo este recado, os curados dizem: “Não fica bem perguntar-se a uma pessoa se deseja aceitar um agradecimento; por- tanto, vamos, que ele não nos rejeitará, possuindo nós as melhores intenções.”

  4. Com isto dirigem-se à casa onde estou e batem na porta do grande refeitório. Ninguém lhes ordena a entrada. Como continuem batendo, digo a Ebahl: “Deixa-os entrar, à vista de sua fé tão positiva!” Aquele assim faz, e eles enchem o quarto, externando-Me sua gratidão.

  5. Mando que se calem, dizendo: “Um louvor de boca e um agra- decimento de lábios nada valem perante Deus e Mim! Quem se quiser aproximar de Minha Pessoa, faça-o de coração, que o considerarei; uma gritaria, porém, na qual o coração nada sente é, diante de Meus Olhos, o que representa o ar pestilento às narinas. Recebestes o que procuráveis e, além disto, nada vos interessa. Vosso louvor não Me agrada! Voltai e não provoqueis alaridos nesta casa! Guardai-vos da impudicícia, adulté- rio e gula — do contrário, sofrereis males piores!”

  1. Minhas Palavras penetram em seus corações, tanto que come- çam a perguntar entre si como podia Eu saber que seus sofrimentos derivavam, na maioria, de obscenidades. São tomados de pavor por julgarem que Eu pudesse pôr a descoberto tais fatos. Assim se retiram. O comandante percebe-o e Me pergunta: “Que houve? Por que se afas- taram tão depressa? Mal lhes falaste de seus pecados e desapareceram!”

  2. Respondo: “São peritos no campo da devassidão. Praticam toda sorte de obscenidades e um adultério é fato corriqueiro; as mulheres são para eles propriedade comum e a violação de uma virgem lhes é idêntico a um gracejo! Entre eles se acham ainda muitos que praticam a sodomia, a fim de evitar o contágio de moléstias, o que não lhes imu- niza de contrair outras piores. Foi este motivo que Me levou a tratá-los com aspereza, pois palavras meigas não teriam efeito algum!”

  3. Pergunta o romano: “De que zona são?”

  4. Digo Eu: “De Gadara; mais para o Norte existem uns vilarejos e quatro aldeias. Seus habitantes são judeus, egípcios, gregos e roma- nos. Quase não possuem religião; seu ofício consiste, na maioria, da criação de porcos, que exportam para a Grécia e Europa, onde o suíno é muito apreciado. Já por esta profissão são eles impuros; no entanto, não seria pecado se em suas tendências não fossem mil vezes piores que os bichos!”

  5. Diz o comandante: “É bom que eu saiba disso. Aquelas zonas são sujeitas à minha ordem, tanto que não me descuidarei em dar-lhes um mestre de correção para fiscalizar suas atitudes imorais. Senhor, sou apenas uma criatura simples; minha vida em assuntos do governo fez-

-me compreender que o melhor meio de educação para o homem per- vertido é um regime severo e o açoite.”

  1. Digo Eu: “Sim, tens razão no que concerne àquela zona; apli- cando, porém, tais meios indistintamente, provocarás grande prejuízo. O remédio deve atender à doença, e não vice-versa. Mas, como já disse, naquela comunidade teu medicamento produzirá o efeito desejado. O açoite nunca deve ser erguido na mão da ira, mas na do amor!”

155. ZELODO AMOR

  1. Diz o comandante: “Reconheço isto; deu-se, porém, um fato em minha vida no qual o amor não surtiu efeito. Foi o seguinte: Entre os meus soldados havia um jovem illyrio (habitante de uma zona ao Norte do Mar Adriático) duma força física extraordinária. Sua espada pesava cinquenta libras, no entanto manobrava-a como se fosse uma pluma. Este guerreiro, munido de escudo e couraça, conseguia mais do que cem outros. Durante a guerra era, pois, aproveitável; mas não em tempo de paz, pois brigava com todos e não se passava uma semana sem que eu tivesse de apaziguar uma contenda. Sempre o tratava com amor, fazendo-lhe ver o prejuízo de sua atitude. Ele então, prometia corrigir-

-se. Mas não se passavam mais de dez dias — lá vinham as queixas de todos os lados e era preciso pagar indenizações. Inquirido por que fazia tal coisa, respondia: ‘Estou-me exercitando na arte guerreira!’

  1. Esses exercícios levavam-no, não raro, a procurar os rebanhos, a fim de cortar-lhes a cabeça de um só golpe. Um dia regozijou-se de haver decapitado cem bois, o que nos custou mil moedas de prata!

  2. Minha revolta foi tão grande que o fiz amarrar a uma árvore e açoitar durante uma hora, até que desfaleceu. Então mandei tratar de suas feridas, restabelecendo-se dentro de vinte dias, completamente mudado! Tornara-se pacífico e modesto, tanto que o fiz nomear tenente

  1. Digo Eu: “Não foi propriamente este o móvel de tua ação, mas sim o zelo do amor, pelo qual também ajo, quando necessário. Não fosse o amor zeloso — e o Infinito estaria até hoje desprovido de seres, pois toda a Criação deve sua existência ao grande zelo do Amor Divino. Foi, portanto, teu zelo que te levou a aplicar-lhe o que merecia, pois do contrário tê-lo-ias matado. Teu amor deixou que fosse vergastado sem exceder-se naquilo que ele suportaria.

  2. Se for preciso, poderás aplicar o mesmo método em Gadara; a primeira tentativa, porém, seja a da aplicação do amor e do ensino. Quando as criaturas percebem que se lhes dá leis severas a fim de que

melhorem, suportam tudo com resignação. Se o poder legislativo se manifesta como tirania, ninguém se corrige, convertendo até os bons duma comunidade em demônios à cata de vingança. Compreendeste?”

  1. Diz Julius: “Sim, Senhor, tanto que ainda hoje enviarei um mensageiro com uma ordem para o tenente em Gadara, e amanhã as comunidades estarão informadas. Assim, procurarei por alguns instan- tes meu pessoal para tratar deste assunto.”

156.QUESTÃODE SEXO DOS ANJOS

  1. Ato contínuo o comandante dirige-se à casa; Ebahl lhe pede não demorar muito, porquanto estava na hora do almoço. Julius lhe respon- de: “Caso não haja assunto importante, voltarei em breve!”

  2. Em casa, o tenente lhe conta o que se passara durante sua au- sência, entregando-lhe uma ordem dirigida à comunidade de Gadara escrita pelo próprio comandante. Este verifica que era tal e qual ele imaginara, por isto chama um mensageiro, que se apresenta em in- dumentária romana. Não percebendo que Raphael se disfarçara de tal forma, o romano lhe pergunta se é capaz de entregar a missiva naquela cidade distante.

  3. Responde o anjo: “Senhor, levá-la-ei com a rapidez duma flecha, e em poucos instantes terás a resposta!” Só então o comandante o reco- nhece e lhe entrega o pergaminho. Depois dum certo tempo o anjo está de volta conforme prometera. Julius se admira pela demora e pergunta pelo motivo.

  4. Diz Raphael: “Foi apenas o tempo necessário para o tenente res- ponder. Vamos agora à casa de Ebahl, que nos espera para o almoço.”

  5. Chegando perto, Julius observa que Raphael está novamente com a vestimenta de Genezareth e lhe pergunta onde deixara a outra indumentária. Diz ele, sorrindo: “Temos vida mais fácil do que vós, pois carregamos nosso guarda-roupa bem provido dentro de nossa von- tade; basta querê-lo — e já estamos vestidos. Se tu me avistasses em minha vestimenta de luz, teus olhos cegariam e tua carne se dissolveria. Comparada à minha roupagem, a luz do Sol é apenas treva!”

  1. Diz o romano: “Amigo, a possibilidade de se poder vestir à von- tade muito me agrada e seria bem útil para os pobres no inverno! Quan- to à forte luz de tuas vestes que impossibilita a nossa aproximação, não acho conveniente, ao menos aqui na Terra. Desejava uma orientação tua, já que ninguém nos ouve: Existe entre vós diferença de sexo?”

  2. Responde o anjo: “Que pergunta imprópria! Enfim, como de- riva apenas de quereres satisfazer tua falta de conhecimento, respondo: não! Entre nós, arcanjos, prevalece o masculino-positivo; no entan- to, também se acha presente em nós o princípio feminino-negativo, de sorte que todo anjo representa o matrimônio perfeito dos Céus. Depende de nosso desejo nos manifestarmos na forma feminina ou masculina.

  3. Eis a razão por que — como andróginos — jamais envelhece- mos, pois ambos os polos se equilibram dentro de nós. Nas criaturas são eles separados por uma personalidade de sexo diferente, não encontran- do equilíbrio neste isolamento. Se os polos personificados e separados se tocam, perdem sua vitalidade e se assemelham a um odre, que enruga à medida que se lhe tira o conteúdo. Se fosses capaz de imaginar um que restituísse o que se lhe abstrai, jamais irias encontrar os sinais da velhice. Compreendes?”

  4. Diz o comandante: “Um pouco; talvez tenhamos oportunidade de nos aprofundar no assunto. Está na hora do almoço!” Diz Raphael: “Ótimo, já estou com fome!” Diz o romano: “O quê? És espírito puro, como poderás alimentar-te?” Diz Raphael, sorrindo: “Melhor do que tu! Todo alimento é por mim absorvido inteiramente e transformado em vida contemplativa — contigo apenas no que corresponde à tua po- laridade vital, e o resto é expelido. Vês, portanto, que aproveito melhor o que se refere à alimentação!”

  5. Diz Julius: “No Céu também se come e se bebe?”

  6. Responde Raphael: “Sim, mas somente de maneira espiritual. Possuímos dentro de nós o Verbo Divino, pelo qual Céu e Terra foram criados; este Verbo é, primeiramente, nosso ser e o verdadeiro pão e vinho de Vida! Ele flui em nossas veias como em vós o sangue, estando nossas vísceras repletas de Pão de Deus!”

  1. Diz o romano: “Oh, como falas sabiamente! Este ponto é pre- ciso que o Senhor me esclareça. Agora, calemo-nos, pois já estamos atrasados!”

157.ADISTRIBUIÇÃODEESMOLASEACELEBRAÇÃOEMMEMÓRIADE ALGUÉM

  1. Ao chegarem, são abordados por Yarah, que lhes diz: “Mas que demora! Tu, Raphael, já pareces ter adotado a nossa contagem de tem- po. Vinde depressa, pois que o almoço já está servido.” Ambos entram rápidos e Me saúdam.

  2. O comandante faz menção de Me agradecer pela Minha Ajuda; Eu, porém, lhe digo: “Amigo, satisfaço-Me com teu coração! Vamos fortalecer nosso corpo, a fim de cuidarmos em seguida das coisas es- pirituais.”

  3. Todos agradecem e se sentam à mesa, mas o romano não con- segue desviar o olhar do anjo, que come e bebe com grande apetite. Por fim não se contém, dizendo com humor: “Ignorava que os anjos tivessem tanta disposição para comer. Nosso amigo Raphael até come por três!”

  4. Diz Ebahl: “É verdade; mas há outro fato mais extraordinário: seu prato não fica vazio! Aqui aplica-se o provérbio: Aquilo que o Céu tira, devolve-o no mesmo instante! Esta mesa será considerada para sempre como relíquia e anualmente haverá um festejo, no qual os po- bres desta zona serão alimentados.”

  5. Digo Eu: “Deixa a mesa ser mesa e continua tu como eras! Se um pobre te procurar em qualquer dia, ajuda-lhe sempre, pois uma festança anual não trará benefício a ambos, mormente quando em Meu regozijo. Quem desejar lembrar-se de Mim, que o faça durante todas as horas do dia, porquanto uma comemoração anual não Me satisfará!

  6. Assemelhar-te-ias aos templários em Jerusalém, que o fazem três vezes ao ano, distribuindo pão aos pobres como se ficassem alimentados até a próxima celebração. Que absurdo contêm estas festas ridículas! As oferendas recebidas nesses dias dariam para os templários viverem du-

rante cem anos! O pobre, porém, que se satisfaça com três côdeas anu- ais! Por isto, deixa esta mesa conforme é; tu Me darás uma festa agra- dável se ajudares, se possível diariamente, a um pobre que te procure.

  1. Se por acaso fores procurado dia a dia pelo mesmo mendigo, não lhe perguntes se não existem outras pessoas que o socorram; pois isto o amedrontaria de tal forma que por muito tempo deixaria de bater à tua porta — e tua boa obra perderia todo o valor diante de Mim!

  2. Tampouco é do Meu Agrado que distribuas algo entre os pre- guiçosos capazes de trabalhar; faze-os trabalhar, a fim de que possam receber comida. Não aceitando serviço, embora sejam fortes, também não devem comer! Agindo deste modo, terás sempre comemorado um dia honroso para Mim! Com tal festividade anual, porém, não Me aborreças!

  3. Em que sentido a época dum ano seria melhor que a de um dia qualquer? Quem, por exemplo, honra o aniversário do pai uma vez por ano, deveria, ao menos, honrar diariamente a hora de seu nascimento!

  4. Tais comemorações mundanas nada representam para Mim, a não ser que sejam consideradas cada dia, sim, cada hora no íntimo da criatura. Assim também são fúteis a lua nova, os jubileus, a festa da libertação de Jerusalém do poderio babilônico, a da reconstrução da Cidade e do Templo, a festa de Moysés, Aaron, Samuel, David e Salo- mon — pois têm tanto valor como a chuva caída no mar há mil anos.

  5. No início tais comemorações são consideradas num sentido religioso, em memória de alguém ou dum fato que assistiram. Na se- gunda, terceira e quarta geração se tornam uma cerimônia vã, na qual milhares nem sabem do motivo — e mais tarde converte-se numa ação pagã.

  6. Todavia, não quero, com isto, revogar as verdadeiras comemo- rações; devem, apenas, não só conter a tradição anual, mas o da aplica- ção diária, do contrário serão sem efeito. Quanto a esta mesa, já te dei Minhas Ordens!”

  7. Diz Ebahl: “Será tudo realizado dentro da Tua Vontade, Se- nhor; consideraremos as festas diárias, socorrendo o próximo em tudo que nos seja possível, comemorando assim as festas anuais.”

  1. Digo Eu: “Deste modo provareis que sois Meus discípulos. Agora, levantemo-nos da mesa e vamos conversar com os pescado- res, que sempre sabem contar fatos extraordinários. Aqui teríamos pouco sossego, porquanto dentro de uma hora chegará uma carava- na de Bethlehem, da qual fazem parte alguns fariseus com quem não quero entrar em contato; tratai que sejam ainda hoje transportados para Sibarah!”

  2. Diz o comandante: “Com muito gosto, pois não existe criatura mais repugnante para mim.” Todos nos levantamos, encaminhando-

-nos para a praia.

158.OSALMO47DE DAVID

  1. Encontramos os marujos entretidos com a leitura dos salmos de David. Após os cumprimentos, seu mestre se dirige a Mim, dizendo: “Senhor, somente Tu poderás nos tirar deste embaraço. Ontem à noite chegaram alguns fariseus e escribas pedindo uma travessia para Zebu- lon e Chorazim. Recusamo-nos em virtude de não sermos os donos, mas empregados do barco e, além disto, estávamos ocupados com a lei- tura dos salmos, por ser o antessábado. Nisto um jovem escriba pegou dos salmos e leu o 47°:

  2. ‘Aplaudi com as mãos, todos os povos, cantai a Deus com voz de alegria. Pois o Senhor Altíssimo é tremendo e um grande Rei sobre toda a Terra. Subjugará todos os povos e nações, debaixo de nossos pés. Destinou, para nossa herança, a glória de Jacob, a quem amou. Deus subiu com júbilo, e o Senhor ao som da trombeta. Cantai, cantai lou- vores ao nosso Rei! Pois Deus é Rei de toda a Terra, por isto cantai-Lhe louvores com inteligência! Deus também é Rei dos pagãos e Se assenta no Trono Santificado. Os príncipes dos povos se ajuntam para um só diante do Deus de Abraham; pois Deus foi elevado pelos escudos da Terra!’ Terminada a leitura, ele perguntou: ‘Entendeis este salmo?’ In- felizmente tivemos que negar. E desde manhã cedo estamos quebrando a cabeça, sem resultado. Mil vezes pensamos em Ti, pois, se o quiseres, poderás nos esclarecer.”

  1. Digo Eu: “Perguntai a esta menina a Meu lado, pois saberá fazê-lo!”

  2. Diz o mestre do barco: “Como poderá possuir a sabedoria de Salomon, se não ultrapassou os catorze anos?!”

  3. Digo Eu: “Sim, não só a de Salomon, como a de todos os sábios da Terra e algo mais comporta este coração! Até aqui não houve quem vislumbrasse coisa alguma além das estrelas; ela, porém, poder-vos-á informar. Possui o segredo da pedra filosofal em seu avental; portanto, fazei uma tentativa a respeito do salmo!”

  4. Diz o barqueiro aos outros: “Ela parece ser inteligente, mas sua figura bonita não promete muita sagacidade; sempre tive a experiência de que as meninas mais belas também eram as mais tolas. São, geral- mente, tratadas com muito mimo, o que lhes desperta a vaidade, des- curando os estudos. A uma criança de poucos atrativos não se dá muita atenção, castigando-a sempre quando malcriada; isto a faz humilde, modesta e obediente, portanto apta para estudar. Todavia, veremos o que esta pequena nos poderá esclarecer sobre o salmo.”

  5. Ouvindo este pedido, Yarah diz: “Amigos, apesar de não haver aprendido qual escriba, sinto dentro de mim que aquilo que David pro- fetizou há muitos séculos realiza-se plenamente diante de nossos olhos.

  6. Não vistes como Ele — de Quem David falou e que ora está em nossa presença — caminhou sobre o mar e curou milhares em poucos dias? E vede esta montanha, que transformação lhe sucedeu! Quem pode transpor montanhas e suspender o mar de suas profundezas? Quem é Este, a Quem os anjos e os elementos obedecem? Vede, aqui está, diante de nós, Aquele mencionado por David!

  7. A Ele devemos aplaudir com as mãos, através de obras de verda- deiro amor ao próximo! A Ele devemos louvar com a voz pura da verda- de, sem falsidade, hipocrisia e astúcia! Pois ai daquele que O louvar com a voz da mentira! Sendo amoroso e meigo para com os justos, é também terrível com os que ocultam mentira, falsidade e vilania em seus cora- ções; pois consta: ‘Horrendo é cair nas mãos de Deus; Ele é um Rei Poderoso sobre toda a Terra e ninguém se poderá ocultar diante Dele!’

  8. Ele veio, a fim de convencer todos os povos, através de Sua Doutrina, a aderirem a nós, compartilhando destarte da nossa salvação.

As nações são os filhos do mundo, depositados a nossos pés para que se- jam julgados. Pois somente nós somos herdeiros da Vida Eterna. Quan- do Jacob afirmou: ‘Senhor, Tu somente és minha glória!’, tornou-se Seu amado, amado Deste que ora Se acha em nosso meio!

  1. Não permanecerá aqui para sempre, mas subirá aos Céus Eter- nos com a alegre voz da Verdade Plena, pela qual criou uma nova Terra e um novo Céu por toda a Eternidade. Ele é e será o Senhor — e o som claro de Sua trombeta, que representa o Verbo pronunciado, anunciará isto a todas as criaturas na Terra e nas estrelas, tanto espiritual quanto materialmente.

  2. Já sabendo Quem Ele é, devemos honrá-Lo e louvá-Lo de co- rações puros e sábios, e não como o fazem os fariseus hipócritas: apro- ximam-se dum falso Deus com os lábios e cerram seus corações a este Verdadeiro e Vivo Jehovah, Dele se afastando.

  3. Não é apenas nosso Deus e Rei, mas de todos os pagãos, pois dirige, do Trono Eterno de Sua Onipotência e Glória, todos os seres da Criação Infinita. À Sua frente os principados se reúnem como diante deles fazem seus povos; pois Ele é o Deus Único de Abraham, Isaac e Jacob. É elevado por Si Mesmo sobre tudo e sobre os escudos dos poderosos!

  4. O fato Dele ter vindo a nós, até aos anjos é uma Graça incom- preensível! Chegou, no entanto, anunciado por todos os profetas, que não eram compreendidos em virtude da crescente dureza dos sentimen- tos humanos. Agora, porém, veio Pessoalmente, revelando-Se a todos que são de boa vontade.

  5. Para os que possuem corações orgulhosos e maus, será Ele, evi- dentemente, algo pavoroso, pois a maldade tem como juiz implacável a onipotente e eterna justiça! Do mesmo modo que uma boa balança registra o peso dum cabelo, tampouco poderá enfrentá-Lo a menor fal- sidade, erro, maldade, injustiça e toda sorte de embrutecimento. Por tal razão, é Ele um horror para todo pecador empedernido e mau. Enten- destes agora o sentido do salmo n° 47?”

159.ARESPEITODOAMORAOS INIMIGOS

  1. Diz o barqueiro: “Menina maravilhosa, quem te deu tal sabedo- ria? Sobrepuja a de Abraham, Isaac e Jacob!”

  2. Responde Yarah: “Não vos demonstrei, há pouco, Quem está em nosso meio? Como podeis indagar donde me vem este conhecimen- to profundo?! Ele é o Doador de todas as boas dádivas! Quem O ama e crê ser Ele o Senhor Jehovah Zebaoth, receberá Sua Eterna Luz, que ilu- minará a criatura, tornando-a compenetrada da Sabedoria Divina. Se tiverdes um pouco de compreensão, deveis sentir a quantas andamos!”

  3. Diz o barqueiro: “Sim, pequeno anjo, já o compreendemos; aqueles que ontem nos abordaram por causa da travessia não o aceita- rão. Somos criaturas simples e não necessitamos de milagres para acre- ditarmos, o que não se dá com eles!”

  4. Diz Yarah: “Por este motivo, seu julgamento será horrendo! Pois os ventos farão divulgar Seu Verbo aos quatro cantos da Terra — e ai da- queles que o ouvirem, compreenderem e, no entanto, rejeitarem-No!”

  5. Digo Eu aos marujos: “Então, que vos parece a inteligência desta Minha Filha?”

  6. Respondem eles: “Senhor e Mestre, já não mais se trata dum milagre, pois, se Te foi possível fazer com que o burro de Bileam pro- fetizasse, muito mais fácil será preparar a boca desta menina para uma profecia. Acreditamos plenamente em suas palavras, por isto Te pedi- mos que transformes nossa fraqueza em força, a fim de nos protegermos contra os inimigos da Luz e da Verdade! É deprimente sermos obriga- dos, como judeus, a nos orientar com os pagãos. Jerusalém tornou-

-se um antro de ladrões e assassinos e, caso queiramos algum conforto espiritual, somos forçados a procurá-lo em Sidon e Tyro, entre gregos e romanos.”

  1. Digo Eu: “A paz esteja convosco! Ninguém se julgue superior ao próximo! Sois todos irmãos; aquele, no entanto, que procura servir aos outros por se achar o mais simples, é o mais elevado! Sevosexijoacooperação,soisrealmenteoMeuPoder.Tantoquetodoservoéaforçadeseusenhor;esteporém,suajustiça!Amai-vos uns aos outros, fazei o bem

aos inimigos, abençoai aos que vos maldizem e pedi pelos que con- tra vós praguejam! Pagai o mal com o bem, não empresteis dinheiro a quem vos possa pagar juros — e conseguireis a plenitude da Bênção e da Graça Divinas! Deste modo compartilhareis da Luz, da Verdade, da força e do Poder, pois, da maneira com que derdes, vos será restituído!”

  1. Diz um ajudante do barqueiro: “Senhor, sentimos que Tua Dou- trina é verdadeira, mas muito difícil de seguir. Não deixa de ser louvável fazer-se o bem a quem nos prejudica; quem, no entanto, seria capaz de enfrentar a maldade com uma paciência constante? E resta saber se um castigo não seria mais conveniente, a fim de evitar uma reincidência. Acho, por isto, ser melhor enfrentar destemido o maldoso e construir uma muralha em volta da casa, para impedir a tentação do roubo. Isto modificaria o sentimento do mau, dando-lhe oportunidade de se tornar um amigo.”

  2. Digo Eu: “Sim, do ponto de vista humano, mas que nada con- tém de divino. Pelo castigo intimidarás o outro — mas nunca será ele teu amigo! Se, pelo mal que fez, o auxiliares na miséria, ele reconhecerá seu erro, arrependendo-se e tornando-se teu amigo incondicional. A caridade feita a um pecador melhorá-lo-á; o castigo, porém, fará dele um adversário declarado!

  3. Se o primeiro ato foi praticado com atrevimento, o segundo será feito com ira e vingança. Por isto, repito: Fazei o que vos disse, que recebereis a Bênção e a Graça Divinas!

  4. Quem quiser ser por Mim abençoado terá que aceitar o Meu Verbo, portador da Graça, Luz, Verdade e Poder.

  5. Vede o Meu Exemplo: Sou meigo de coração, humilde e pa- ciente para com todos! Não irradia o Sol sua luz sobre justos e injustos, bons e maus; não cai a chuva fertilizante tanto no campo do pecador como no do justo? Sede, pois, perfeitos em tudo, como é Perfeito o Pai do Céu, que sereis abençoados em plenitude! Compreendestes?”

  6. Respondem todos: “Sim, Senhor, tudo é verdade e prometemos nos esforçar em segui-lo ao pé da letra; no entanto, o início não será fácil.”

  7. Digo Eu: “Sim, Meus amigos, nesta época o Reino do Céu requer violência — e quem não agir desta forma não o penetrará! Todo

aquele que aplica energia numa conquista é um sábio e um construtor prudente; pois, não edificando sobre areia e tendo uma base sólida, as tempestades e enchentes não lhe poderão prejudicar.

  1. O mesmo acontece na luta pelo Reino do Céu: uma vez con- quistado, será para sempre. As tempestades mundanas não poderão abalar a criatura. Quem não o conseguir pela aplicação de suas forças e coragem será tragado pelas intempéries, perdendo aquilo que já pos- suía! Lembrai-vos disto, porque virão tempos que o requererão.”

  2. Dizem os marujos: “Por tudo só Te podemos agradecer, reco- nhecendo que nada teremos a dar se nada recebermos de Ti. Ordena

  1. Digo Eu: “Fazei o que vos disse, será bastante! Contai-nos, ago- ra, o que vistes esta noite, pois os pescadores assistem a coisas estranhas.”

160.OSMARUJOSRELATAMOSACONTECIMENTOS NOTURNOS

  1. Sentamo-nos na relva, com exceção de Raphael, que é convidado por um marujo a seguir o nosso exemplo. Responde-lhe o anjo: “Começai o relato, pois que me sentarei quando estiver cansado. Além disto, poderia acontecer que um de vós perdesse o equilíbrio e minha ajuda seria rápida.”

  2. Diz o marinheiro: “Tu, com teus quinze anos? Há bem pouco ain- da usavas fraldas — e te julgas com forças de amparar um de nosso grupo?”

  3. Diz o anjo: “Não demoreis tanto a contar o que é da Vontade do Senhor; quanto ao resto, aguardemos os fatos!”

  4. O marujo se cala e seu chefe inicia o relato: “Era justamente a hora da primeira ronda quando se deu um grande clarão. Como sua causa não fosse visível, julgamos que além dos montes houvesse uma fogueira imensa, cujas labaredas durassem quase toda a noite e numa intensidade como a luz do dia. É compreensível que este fato nos dei- xasse um tanto amedrontados. Vieram até algumas pessoas da cidade e opinaram ser o mar causador deste fenômeno.

  5. Nossa estupefação, porém, aumentou quando olhamos o mar: não havia ali uma gota d’água sequer — e nosso navio jazia no fundo!

Tivemos oportunidade de ver a profundeza marinha! Que horror! Nos- so navio estava encostado numa rocha saliente, que por todos os lados apresentava abismo imenso! Pela praia de Genezareth, porém, o fundo era raso, animando-nos a apanhar algumas conchas.

  1. Estávamos entretidos com este passatempo quando se viu um forte relâmpago, seguido de estrondoso trovão! Fugimos para a mar- gem esquecendo nossas bonitas conchas, com exceção de algumas que eu tinha guardado no bolsa. Só depois, quando na terceira ron- da o mar começou a encher as margens, começamos a discutir sobre este fenômeno!

  2. Um velho morador desta zona então nos disse ser aquilo obra dos espíritos irados das montanhas e do ar, castigando os da água! Acha- mos tal assertiva ridícula, mas na aflição se aceita até uma explicação tola. Durante a quarta e quinta rondas, a noite tornou-se mais escura e subimos no navio, a fim de dormir. Eis, em suma, o que assistimos durante esta noite.”

161.RAPHAELEO MARINHEIRO

  1. Mal o barqueiro termina sua história, o primeiro marujo, que tenciona ir buscar as conchas por ele guardadas durante a noite, trope- ça, caindo em cheio. Os outros se riem, dizendo: “É sempre o mesmo desajeitado”. Isto o aborrece. Raphael, porém, acode-o rápido, dizendo: “Vês como foi bom eu ter ficado de pé? Previa tua queda, e eu, ‘rapazo- la’ de quinze anos, pude socorrer-te!”

  2. Resmunga o marujo em suas barbas: “Sim, está bem. Mas ga- rotos como tu andam sempre cheios de traquinagem e provocam tais coisas! Já os conheço! Pareces honesto — mas és malandro; por isto — três passos distantes de minha pessoa!”

  3. Diz Raphael: “Amigo, cometes um grande erro, que te perdoo por não saberes quem sou.”

  4. Diz o marinheiro: “Ora, quem poderás ser? No máximo um príncipe de Roma ou seja lá que for! Quiçá pretendes ser adorno pode- roso de Nosso Senhor?”

  1. Diz Raphael: “Sim, mais ou menos. Mas vai apanhar tuas con- chas!” O marujo assim faz e nos apresenta três de pouco valor. Raphael, então, diz: “Servem como lembrança, simplesmente. Que farás com isto?”

  2. Responde o marujo: “Espertalhão! Pretendes ficar com elas, e de graça! Pensas que o velho Dismas seja tão tolo?! Se me deres três moedas de prata, poderás levá-las.”

  3. Diz Raphael: “Não me interessam! Tenho apenas que obstar tua intenção de quereres vender algo que não te pertence. Encontraste estes moluscos em terras de Ebahl — pois que as arrendou, inclusive esta praia — portanto, são posse dele, a não ser que tas presenteie.”

  4. Responde Dismas: “Vê só este maroto! Fala como um juiz de Roma! És um ótimo jurista e serias capaz de me tirar as vestes rotas, ale- gando poder para tanto! O mar sempre foi posse dos navegantes e tudo que pescam n’água ou na praia é propriedade sua. Por isto, passa-me as três moedas, que terás as conchas!”

  5. Diz Raphael: “Nada disto. Enquanto Ebahl não as declarar como tuas, não as poderei comprar!” Dismas dirige-se neste sentido a Ebahl, que lhe diz: “Raphael tem razão; mas, como não farei uso dos meus direitos de proprietário, podes ficar com os moluscos”. Satisfeito, Dismas se vira para Raphael: “Então, que há com o dinheiro?”

  6. Responde o anjo: “Toma lá! As conchas podes entregar a Ebahl.” Este, por sua vez, entrega-as a Yarah, dizendo: “Guarda-as, mi- nha filha, por terem grande valor estimativo para nós.” Diz ela, conten- te: “Como são lindas! Que brilho furta-cor! Poder-se-ia exclamar como Job: ‘Quão maravilhosas são Tuas Obras, ó Deus!’ Mas quem ensinou a lesma a construir tal casa, tão bonita? Sem tijolos e vigas, é ela mais deslumbrante que Salomon em seus trajes reais!”

  7. A seguir indaga de Raphael onde tinham ficado os moluscos como donos das conchas. E ele responde: “Minha querida Yarah, já morreram há vários mil anos, enquanto suas casas ainda poderão durar outro tanto, pois são de matéria calcária e jamais se destroem, mormen- te debaixo d’água. Eis o que posso afirmar; o resto saberás no Além.”

162.RECEPÇÃODOSFARISEUSEM GENEZARETH

  1. Neste momento chega da cidade a notícia de que os referidos fa- riseus e escribas de Bethlehem tinham vindo, apresentando uma ordem do Templo no sentido de serem logo transportados a Nazareth.

  2. Diz Ebahl, revoltado com esta exigência: “Eis o que se dá se- guidamente! Nesses cinco dias em que aqui Te encontras, já assististe ao quarto transporte desses impertinentes, que neste vaivém dão mais prejuízo que as nuvens de gafanhotos! Que farei? Até um anjo perderia a paciência!”

  3. Digo Eu: “Amigo, calma! Alcançarás tudo pela tolerância! En- trega a questão a Julius, que, fazendo-os seguir rápidos, impedirá que te importunem tão repetidas vezes.”

  4. Diz Julius ao sargento: “Convoca vinte soldados e ide depressa à cidade! Declara aos atrevidos que esta vila se acha em estado de sítio e, devido à constante ocupação militar, ninguém podia penetrá-la sem ordem expressa duma alta patente romana. Quem não respeitá-la será vergastado e, em seguida, ser-lhe-ão vendados os olhos, tapados os ou- vidos com barro, mãos e pés amarrados! Se os belemitas tiverem dinhei- ro, que paguem o resgate do açoite com duzentas libras de prata; caso não o tenham ou não o queiram desembolsar, deverá cada um receber quinze chicotadas! Dixi,fiat!”

  5. O sargento executa a ordem e encontra em casa de Ebahl ca- torze templários, que amaldiçoam os empregados por se negarem a lhes servir. Como lhes é exigida documentação comprobatória, dizem eles: “Somos sacerdotes de Deus; aqui está a prova do Templo — é quanto basta!”

  6. Eis que o sargento lhes transmite a ordem dada por Julius. Eles, por sua vez, chamam o mordomo de Ebahl e exigem que lhes empreste as duzentas libras. Este responde: “Meu patrão não vos chamou; como deveria pagar por vós? Quem algo vos empresta tem jogado o dinheiro no mar! Aliviai vossos burros de carga que ficareis isentos do açoite!”

  7. Não tendo outra saída, os templários se veem obrigados a seguir este conselho debaixo das vistas do militar, o que muito os constrange.

Após ter recebido o resgate, ele os põe em grilhões e conduz à espaçosa barca, que os leva sob escolta ao destino mencionado. Revoltam-se eles contra este tratamento, mas de nada lhes adianta. Decorrido uma hora o sargento nos relata o fato. O comandante o elogia, perguntando onde havia deixado a importância. Ele, então, diz que fizera entrega da mes- ma ao mordomo.

163.OCOMANDANTEJULIUSRELATAEPISÓDIOSDO TEMPLO

  1. (O comandante): “É preciso agir com os templários de modo inescrupuloso! Nunca senti prazer em castigar um criminoso, sempre considerando as circunstâncias que o teriam levado àquela ação. Mas por esses não sinto a mínima compaixão, pois são os maiores crimino- sos da Humanidade.

  2. Assisti pessoalmente, em Jerusalém, como procuravam conven- cer um pobre coitado, que possuía apenas umas poucas moedas, de ofertá-las ao Templo. O bom homem depositou realmente uma na sa- cola, desculpando-se por guardar as outras, porquanto sua caminhada para casa era longa. Em vão! Os fariseus fizeram-no ver quão salutar seria para sua alma morrer de fome por amor a Deus e ao Templo! Caso contrário, haveria ele de padecer nas chamas da Ira Divina! Tre- mendo de medo, o homem depositou o último níquel na sacola. Os templários murmuraram algo semelhante a uma prece, mandando que seguisse caminho.

  3. De longe fui seguindo o pobre e, quando afastado do Templo, acerquei-me dele com as seguintes palavras: ‘Bom amigo, como podes ser tão fraco, a ponto de deixar que te extorquissem o pouco que tens? Esses maldosos jamais acreditaram naquilo que disseram; como vós, porém, julgais que sejam semideuses, é-lhes facílima tal ação repugnan- te, pois esta esmola lhes serve para suas guloseimas, enquanto morreis de inanição. Toma aqui o teu dinheiro e não voltes mais ao Templo, que é um antro de ladrões!’ O pobre olhou-me admirado, aceitou o dinheiro e disse: ‘Nobre senhor, deves saber mais do que eu, portanto tens razão!’ Com isto, foi andando.

  1. Fatos semelhantes vi aos milhares; presenciei como tal sacerdote tentara uma jovem a roubar sua mãe, que, muito esperta, nunca havia feito uma oferenda ao sinédrio. Como ambas eram samaritanas, a tática do templário não surtiu efeito. Muitas vezes tive vontade de agir, sem ter o necessário apoio como subalterno do prefeito.

  2. De Pontius Pilatus nada se deve esperar, pois é geólogo e amigo do peito dos cientistas de Pompeia e Herculanum. Não se interessa pe- los negócios do Estado, deixando que Herodes e os templários ajam a bel prazer, desde que paguem pontualmente o tributo a Roma. Por sor- te sou destinado aos serviços de Cornélius e este, aos do velho Cirenius, que, igual a mim, é inimigo declarado do Templo. Deste modo apro- veito sempre a oportunidade para enfrentar devidamente esses ateus, no que, por certo, não há pecado!”

164.AIMITAÇÃODE JESUS

  1. Digo Eu: “Perante Mim não pecas; considera, porém, em todas as tuas ações, que também és irmão do pecador! Quando teu coração manifestar ira pelo pecado do próximo, deves largar do açoite; pois, pela raiva, este instrumento de castigo deixa de ser o orientador salutar, tornando-se uma serpente, que injeta veneno na ferida que produziu e causa a morte.

  2. Tampouco deves julgar que te livraste dum inimigo pelo motivo de o teres matado. Pois, se em vida foi um simples adversário, pela mor- te será, como espírito livre, cem vezes pior, martirizando-te com toda sorte de sofrimentos sem que te seja possível a libertação.

  3. Por isto, procura castigar apenas com amor, nunca pela ira! Nada de excessos com os fariseus! Considera serem guias cegos de cegos! Foi o mundo que os cegou e o mundo é de Satanás, que acabaste de conhecer. Vê, tenho Poder sobre Céus e Terra e poderia exterminá-los com um Pensamento; no entanto, suporto-os com paciência, até que sua medida de maldade se encha.

  4. Se bem que as criaturas Me aborreçam e entristeçam Meu Co- ração, Eu as trato com indulgência e amor a fim de que melhorem,

podendo destarte ingressar no Reino da Vida Eterna, razão por que foram criadas. Se, portanto, quiseres te tornar um juiz verdadeiro, terás que Me seguir!

  1. É muito mais fácil pronunciar um julgamento que suportá-lo; aquele, porém, que assumir o veredicto dum culpado, zelando pelo seu progresso, terá grande mérito no Reino de Deus. Guardai bem isto, todos vós! Pois, se Eu assim ordeno, acaso podereis querer outra mo- dalidade? Sou Senhor sobre vida e morte! Unicamente Eu sei o que seja a vida e o que é preciso a fim de preservá-la para sempre numa eterna bem-aventurança! Se agirdes de acordo com Minha Doutrina, a Vida Eterna será vossa; do contrário, perdê-la-eis pela morte espiritual, o estado mais infeliz das almas, igual ao fogo que nunca se extingue, ao verme que nunca morre!”

  2. Diz o comandante: “Senhor, reconheço a necessidade disto tudo, mas também vejo a dificuldade de se viver dentro desse rigor. É preciso que nos ajudes!”

  3. Afirmo: “Eis o motivo por que vim a este mundo, isto é, para vos socorrer! Por isto, confiai em Meu Nome, que conseguireis re- alizar o impossível! Agora entremos, pois o Sol está prestes a de- saparecer!”

  4. Pergunta o primeiro marujo quando deveriam aprontar o barco para a partida. Digo Eu: “A qualquer momento deveis estar prontos, a fim de que o dono do navio, vindo antes do tempo, não vos encontre inativos e preguiçosos e vos expulse sem ordenado! Entretanto — é mais fácil servir a Deus do que aos homens!”

  5. Diz o tal marujo: “Senhor, se acaso amanhã voltarem os fari- seus, que ontem foram a Jesaíra para converter os judeus transforma- dos em pagãos, e desejarem discutir o Salmo 47 conforme anunciaram, que diremos?”

  6. Digo Eu: “Prometei-lhes sete talentos se forem capazes duma boa explicação; não o sendo, será chegado o momento de vossa exigên- cia neste sentido e, caso se neguem, recorrei ao auxílio militar!”

  7. Aduz o comandante: “Vinde a mim, que os farei pagar sete vezes sete talentos, sem dó nem piedade!”

  1. Satisfeitos, os marujos se retiram. Voltamos à cidade, à casa de Ebahl, que mandara preparar o jantar. Julius apanha as duzentas libras de prata, entrega-as ao dono da casa e diz: “Toma isto como pequena indenização pelas centenas de enfermos que acolheste sem cobrar algo. És realmente o único homem honesto nesta cidade!” Ebahl as recebe com a observação de aplicá-las para fins de caridade.

165.CENAENTRERAPHAELE YARAH

  1. A seguir todos se sentam à mesa bem provida, e Yarah oferece um grande peixe a Raphael. Ele, no entanto, diz: “Querida irmã, isto é demais para a noite, dá-me um menor.”

  2. Diz ela: “Oh, então não vi como no almoço te serviste de vá- rios? Portanto, poderás dar cabo deste! Vê, o Senhor é um Espírito infinitamente mais nobre que tu; todavia, já se serviu do segundo, tomando vinho e pão nos intervalos. Faze o mesmo; atualmente és humano como nós e não deves menosprezar atitudes humanas por seres arcanjo!”

  3. Diz Raphael: “Já que isto é de tua vontade, fá-lo-ei!” Tomando o peixe de dois quilos e meio, Raphael o come num instante. Diz Yarah, estupefata: “Mas..., onde puseste o peixe enorme? Com esta capacidade poderias comer um monstro marinho sem mais nem menos!”

  4. Diz Raphael: “Não só um, mas milhares iguais àquele que me ofereceste. Poderia tê-lo comido como tu; isto, porém, levar-te-ia a crer que eu fosse uma criatura humana. Tal ideia seria nociva, porquanto poderias te apaixonar por mim! Se, portanto, eu, de quando em quan- do, te mostro que não sou o que supões, tu te assustas, permanecendo em teu lugar. Ainda verás outras peças minhas, pois, quando quero, sei também ser traquinas, mas sempre com motivo muito sábio!”

  5. Diz ela: “Não me agrada teu intento de querer conseguir algo de bom por uma traquinagem. O Senhor consegue tudo sem este meio. Por que não O imitas? Sou de parecer que apenas o bem fará o bem

mesmo com simples aparência de maldade. Compreendes isto, meu querido Raphael?”

  1. Diz ele: “Como não? Tua resposta demonstra nitidamente que tu é que não me compreendeste. Dou-te um pequeno exemplo, pelo qual verás que a travessura celeste também é virtude.

  2. Nós, espíritos, possuímos longa visão; teu pensamento não al- cança esta percepção visual. Acontece que, principalmente neste orbe, a criatura se torna cheia de teimosia maldosa. Mais de cem vezes é afas- tada, por nosso intermédio, dum grande perigo — mas em vão! Pro- cura novamente o mesmo risco. Então deixamos que faça o que deseja, sofrendo duramente os resultados. Esta experiência dolorosa a corrige, tornando-a boa.

  3. Assim os pais advertem os filhos das brincadeiras perigosas, sem que sejam atendidos. Aí entramos com nosso jogo celeste, fazendo com que se prejudiquem e, às vezes, até deixamos que tal criança pague sua desobediência com a morte, para servir de exemplo às outras.

  4. Há anos já te apliquei certas traquinagens que te foram de gran- de valia, de sorte que te tornaste uma menina boa! Qual é agora tua opinião a respeito?”

166.AMOR,CLEMÊNCIAE PACIÊNCIA

  1. Diz Yarah, um pouco acabrunhada: “Bem, se assim for, nada te- nho a dizer. Se me tivesses falado antes, não teria feito objeção. Quando te externas com meiguice, te estimo muito, pois com tempestuosidade até a verdade se torna chocante.

  2. Por isto, acho que até os mais perfeitos anjos deveriam se esfor- çar por falar como o Senhor e Criador. Suas Palavras, mesmo em assun- tos sérios, soam brandas e fluem como leite e mel. Deste modo, todos os doutrinadores e guias deveriam imitá-Lo; pois a meu ver a palavra meiga contém o máximo poder. Quem grita e fala com violência muitas vezes ofende, quando deveria socorrer. Observa a Face sempre amável do Senhor, tanto para com amigos quanto para inimigos; quem poderia admirar-se dos enfermos se curarem apenas pelo Seu Olhar?! Assim, tua

fala e ação devem sempre se manter sob este regime, a fim de que teus passos sobre a Terra transbordem de bênçãos!”

  1. Atraindo Yarah ao Meu Peito, digo a todos: “Eis Minha mais perfeita discípula, cuja escola até os anjos poderão frequentar. Compre- endeu-Me profundamente, por isto também possui o Meu Amor em Plenitude!

  2. Em verdade, se fordes doutrinar os povos em Meu Nome, lem- brai-vos das palavras desta menina, amorosa e meiga, que vossos passos serão acompanhados de bênçãos! Sedes pacientes e, em tudo, cheios de meiguice! Meu anjo Raphael foi levado a falar daquele modo para que Yarah externasse este ensinamento; além do mais, é ele tão meigo como a brisa benéfica da noite e dócil como a lã mais macia do carneiro.”

  3. Todos estão de acordo, exceto o comandante, que diz: “Tudo isto é sublime e divino; se eu, porém, falar com meiguice a meus solda- dos, farei uma figura triste e ninguém me obedecerá! Quando me altero e grito — tudo vai às mil maravilhas!”

  4. Digo Eu: “Não se trata tanto duma meiguice externa, e sim da interna. Onde for estritamente necessário fazer uso sábio da severidade celeste, deve ela ser aplicada; pois a regra de toda sabedoria é: Sede astu- tos como a serpente, porém meigos como as pombas!”

  5. Diz o romano, radiante: “Senhor, agora tenho a chave de tudo! Deste modo as ações dum justo refletem a sabedoria Divina! Mas é pre- ciso saber calcular, como fez Euclides, adicionando à determinada dose de astúcia, idêntica de amor, paciência e meiguice!”

  6. Digo Eu: “Sim, este cálculo sempre dará bons resultados e toda justiça e julgamento encontrarão nele sua estabilidade. Eis a necessária base para a construção espiritual. Tratai da mesma antes de construirdes vossa morada eterna e vosso esforço não será inútil.

  7. Sois de Deus e deveis vos tornar idênticos a Ele, que não Se apressa no criar. Primeiro surge a semente, depois, o gérmen. Deste nas- ce a árvore, que dá folhas, flores e, finalmente, o fruto saboroso, onde se acha a semente original amadurecendo para a reprodução.

  8. O mesmo processo vedes no mundo: o Sol não surge no hori- zonte sem prenúncio; e uma tempestade sempre manda seus mensagei-

ros. Se Deus Mesmo considera esta ordem com rigor, com a máxima paciência e perseverança, vós, como Meus verdadeiros discípulos, tereis que palmilhar o mesmo caminho, a fim de não vos perderdes na própria trilha! Compreendestes?”

  1. Diz o comandante: “Senhor, compreendi e creio que entre nós não haja quem não o assimilasse; por isto, rendemos-Te toda a nossa gratidão!”

  2. Digo Eu: “Sim, todos o entenderam, inclusive um, que o fez apenas com o intelecto!” Minhas Palavras os confundem, tanto que Me perguntam a quem Me refiro.

  3. Eu, porém, digo: “Ainda não está na hora para tal; em época oportuna vos lembrareis de Minhas Palavras. Quem de vós tiver uma suspeita, que a guarde, pois não se deve abater uma árvore antes do tempo!” Então compreendem que Me refiro a Judas Iscariotes; no en- tanto, não dão demonstrações e se calam. Matheus e João indagam se podem anotar este ensinamento, tão benéfico para o mundo.

  4. Digo Eu: “Podeis fazê-lo num pergaminho à parte, pois vol- tarei ao assunto, dando-vos autorização para tal. Agora, vamos des- cansar e dedicar-nos novamente à contemplação introspectiva, pois ela é a verdadeira consagração do sábado!” Tudo silencia durante três horas. Decorrido este tempo, digo: “Está terminado; daremos, pois, ao corpo o repouso necessário!” Todos Me seguem e dormimos até bem tarde.

167.DESPEDIDADOSENHOREPARTIDAPARASIDONE TYRO

  1. Após o desjejum dei a Ebahl várias orientações agrícolas, o cul- tivo dos campos, frutos e vinhas, a fim de que dessem boas colheitas. Ensinei-lhe a inoculação de plantas frutíferas e a propriedade de vá- rias ervas úteis para uso caseiro; o plantio e emprego de certas batatas, desconhecidas dos judeus. Mostrei-lhe o preparo da carne de coelhos, lebres, corços e veados e como devia abatê-los.

  2. Fiz também com os discípulos uma pequena horta para Yarah, com ervas, legumes e batatas, recomendando-lhe todo o cuidado. Ela

Mo promete, e assim tudo se acha na melhor ordem em casa de Ebahl. Nestas ocupações se passam domingo, segunda e terça-feira e Eu Me apronto para a jornada. Todos, porém, pedem-Me que passe a noite em sua companhia; assim, fico até quarta-feira.

  1. De manhã, chegam alguns marujos, contando que os fariseus ti- nham vindo no dia anterior sem mencionar o salmo 47. Em compensa- ção haviam se interessado por Minha Pessoa, pois queriam chamar-Me à responsabilidade pelo fato de Eu ter apartado Jesaíra do Templo. Que eles, os marujos, não lhes tinham respondido, mas sim exigido os sete talentos, pagos com revolta e imprecações. Em seguida haviam embar- cado para Capernaum, certamente no Meu encalço.

  2. Assim informado, mando que aprontem o barco dentro em bre- ve. Yarah, ouvindo que Eu estou prestes a partir, desata a chorar amar- gamente, pedindo que demore mais uma hora.

  3. Eu a consolo com a promessa de Minha Volta breve, dizendo que poderia falar-Me espiritualmente, pois lhe daria a resposta nítida. Além disto, Raphael a conduziria pelo caminho certo. Isto a acalma. Abençoo a família de Ebahl e Me encaminho para o mar, no que todos Me acompanham. Os dois essênios e o grupo de templários convertidos pedem para seguir-Me.

  4. Eu lhes digo: “Ficai, a fim de que não haja atritos. Pois os pás- saros têm ninhos e as raposas, covis, mas o Filho do homem não tem uma pedra para pousar Sua Cabeça. Como, portanto, não tenho posses, mas sou acompanhado por uma multidão, falar-se-á: ‘Com que ele os alimenta? Não tem horta nem rebanhos! Na certa é ladrão e impostor!’ A fim de evitar isto, convém ficardes, e vós, essênios, voltai para junto de vossos confrades e contai-lhes tudo; modificar-se-ão, mudando de sentimentos e intenções.

  5. Vós outros, acaso chamados pelo Templo para orientar os que Me perseguem — não faleis sobre Minhas Ações, porém acerca de Mi- nha Doutrina. Não temais aqueles que num caso extremo poderiam matar-vos, pois não causariam dano a vossa alma eterna. Contudo, não vos prenderão. Se fordes expulsos, procurai os essênios, que vos hão de receber de braços abertos!”

  1. Intervém o comandante: “Podeis também ficar comigo; dar-vos-

-ei indumentária romana e uma espada, o que vos tornará soldados e protegerá contra o Templo e seus asseclas.”

  1. Aduzo: “Sim, podeis aceitar esta proposta. Sede sempre precavidos como as serpentes e meigos como as pombas, que tereis paz no mundo!” Com isto subo com Meus vinte discípulos ao navio, que nos leva rápido em direção de Sidon e Tyro (Matheus 15, 21), bem distante do Mar Galileu.

168.CENACOMAMULHERCANANEIAPERTODE TYRO

Ev.MatheusCapítulo15,versículos22a 29

  1. Desembarcando na praia oposta, temos que encetar marcha for- çada até à zona de Tyro, altas horas da noite. Uma mulher de Caná na Galileia, casada há quinze anos com um grego, reconhecendo-Me, cla- ma: “Senhor, Filho de David, tem piedade de mim, pois minha filha se acha horrivelmente martirizada por um demônio!” (Matheus 15, 22). Eu, no entanto, deixo-a gritar, passando de largo.

  2. Como, porém, não se cale, os discípulos de Mim se acercam, dizendo: “Despede-a! Há meia hora nos importuna com esses gritos! (Matheus 15, 23). Não podendo ou não querendo ajudá-la, faze ao menos com que se afaste, do contrário os transeuntes pensarão que lhe fizemos algum mal!”

  3. Digo-lhes Eu: “Eu não sou enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (Matheus 15, 24)

  4. Os discípulos, admirados, fitam-se sem saber o que pensar. Ju- das, de pronto, começa a Me acusar de inconsequência em máximo grau, dizendo a Thomaz: “Às vezes tenho vontade de explodir de raiva por tamanhas incoerências no Seu Falar e Agir! A esta pobre Ele alega ser apenas enviado às ovelhas de Israel; os romanos, porém, mais pagãos que ela, um tanto grega e judia, sempre socorre!”

  5. Diz Thomaz: “Desta vez não estás de todo errado; creio, porém, ter Ele motivo concludente em não atender esta criatura!”

  6. Enquanto os discípulos assim confabulam, a mulher se joga a Meus Pés e pede: “Senhor, ajuda-me!” (Matheus 15, 25)

  1. Fitando-a, digo: “Não é justo que se tire o pão dos filhos e se jogue aos cães!” (Matheus 15, 26)

  2. Diz ela: “Sim, Senhor — no entanto, os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus senhores!” (Matheus 15, 27). Esta resposta a todos admira, e Pedro observa: “Nunca vi sabedoria tão profunda numa judia; além do mais, é ela grega, embora nascida em Caná da Galileia. Conheço-a de há muito e já lhe vendi vários peixes.”

  3. Eu, porém, fitando-a, digo: “Ó mulher, grande é tua fé; seja feito conforme o desejas!”

  4. Ela se levanta e agradece, dirigindo-se rapidamente à casa, onde encontra a filha curada (Matheus 15, 28). As pessoas que tinham ficado em companhia da moça contam que o demônio a deixara havia meia hora, esbravejando furiosamente. A mãe, então, percebe que fora naqueles minutos em que Eu lhe falara.

  5. Nisto, os discípulos indagam se devem procurar um albergue distante da cidade ou se deviam fazê-lo na fronteira.

  6. Eu lhes digo: “Nada disto! Dirigir-nos-emos ao sudoeste, onde alcançaremos novamente o Mar Galileu. Existe lá uma montanha, atin- gível dentro de duas horas, onde pernoitaremos.” Dito e feito, após pequena marcha subimos ao cume, a fim de repousarmos na grama (Matheus 15, 29).

169. A OBSESSÃO

  1. Após termos apreciado por algum tempo a calmaria, Pedro diz: “Senhor, já tenho noção de muita coisa, mas a possessão — mormente em crianças inocentes — é algo que não entendo! Como podem Tua Ordem e Sabedoria permitir tais aberrações?! A filha da mulher que hoje nos seguiu conta treze ou catorze anos e, pelo relato da mãe, já há sete sofre esta atração diabólica, durante sete horas diárias. Por que isto?”

  2. Digo Eu: “São coisas que vosso raciocínio não alcança em seu todo. Como, no entanto, estamos sós, esclarecerei alguns pontos.

  3. A Terra é portadora de duas classes de criaturas: uma descende desde o início do Alto, no que se entende os Filhos de Deus. A outra,

ínfima, é da Terra. Sua alma é de certo modo um conglomerado de partículas vitais extraídas de Satanás e aprisionadas, como matéria, na massa telúrica. Dali passam pelo reino vegetal ao animal, formando-se, através dos múltiplos graus evolutivos, numa potência de incontáveis partículas psíquicas, até formarem uma alma humana. Tomando corpo, mormente nas concepções não abençoadas, nascem como os filhos da Luz, provindos das esferas espirituais do Céu.

  1. Tais crianças — cuja natureza foi extraída de Satanás — são mais ou menos expostas ao perigo de se tornarem vítimas da possessão dum espírito mau, isto é, da alma perversa dum demônio já vivido nesta Terra. Isto tanto mais é possível quando uma alma jovem, sur- gida das partículas satânicas da Terra, começa a encetar uma direção espiritual. Pois essa atitude faz com que uma parte vital seja arreba- tada violentamente da esfera infernal, o que produz dor insuportável àquela esfera, razão por que o inferno tudo empenha para impedir tal ferimento.

  2. Admiras-te de como isto poderia provocar uma dor ao inferno, pois que uma alma é ali muito mais insignificante que um pequeno fio de cabelo comparado ao homem. Não deixas de ter razão; no entanto, procura o fio de cabelo mais insignificante do teu corpo e arranca-o! Ve- rás que não só sentirás dor em tal lugar como também em todo o corpo, o que te levaria ao desespero caso durasse uma hora. Por esta explicação já podes compreender por que se dá a possessão dos demônios nesta Terra até sua final dissolução.

  3. Tal possessão, todavia, traz um benefício para a vítima, pois a alma é purificada por este sofrimento e protegida contra outra influên- cia. Em época oportuna virá para ela o auxílio do Alto, conquistando essa alma mundana para o Céu. Compreendeste?”

  4. Responde Pedro: “Sim, perfeitamente; mas, neste caso, melhor seria não ajudar até o pior obsedado?!”

  5. Digo Eu: “Se alguém te pede socorro, não deves privá-lo de tua ajuda; o Meu Zelo prevê que um atuado não procure alívio an- tes do tempo. Por isto, deve-se ajudar a todos que pedem. Compreen- deste agora?”

  1. Diz Pedro: “Sim, Senhor, e por isto Te agradeço de coração, pois vejo que não há no mundo o que não externe o máximo Amor e Sabe- doria Divinos!”

  2. Acrescento: “Exato; eis por que nunca deveis fraquejar diante das aparições mais horrendas. O Pai no Céu as conhece, como também sua causa. Assim também a maioria das doenças são preventivos contra a integração demasiada da alma com a carne, pois esta, até dos filhos da Luz, provém de Satanás, com a diferença de que suas dores são per- mitidas e enviadas do Alto, tão logo a alma procure amalgamar-se na matéria. As dores dos filhos do mundo têm igualmente a mesma ori- gem; entretanto, representam sofrimentos infernais, quando o inferno registra uma dor violenta pelo desintegrar duma parte de sua totalidade através duma influência poderosa dos Céus. Assimilaste também isto?” Afirma Pedro: “Sim, Senhor; a Ti todo o meu amor!”

170.A FONTE MILAGROSA

  1. Prossigo: “Observastes se alguém nos viu subir este monte?”

  2. Respondem os discípulos: “Senhor, durante a caminhada não encontramos pessoa alguma, o que terá impedido que fôssemos vistos.”

  3. Digo Eu: “A mulher cananeia, no entanto, descobriu-nos e isto será bastante para sermos procurados amanhã por milhares.”

  4. Propõem eles: “Mestre, não estamos cansados, portanto pode- ríamos deixar este monte após meia-noite, seguindo para outra zona, onde não fôssemos molestados!”

  5. Replico: “É da Vontade do Pai que aqui fiquemos durante três dias, a fim de curar vários enfermos. Tratai pela manhã conseguirdes o pão necessário para tal fim.”

  6. Diz Judas: “Nesse caso teremos que procurá-lo longe daqui, pois neste lugar não existe padeiro!” Afirma Pedro: “Tratarei disto, pois co- nheço todas as aldeias praianas. Em duas horas terei o que preciso”.

  7. Digo Eu: “Pois bem, Pedro, determina quem te deve acompa- nhar”. Diz Pedro: “Levarei dez colegas, que facilitarão o transporte de pães e peixes fritos.” Digo Eu: “Muito bem; ide, que nós descansaremos!”

  1. Em breve todos dormem. Somente pela manhã concilio o sono, despertando com o raiar do Sol. Pedro, já de volta, traz boa quantidade de alimentos, que Matheus comprara numa embarcação que navegava de Magdala para Jesaíra. Estamos, pois, bem providos, apenas falta água e a pouca quantidade de vinho não chega para tantos.

  2. Dizem Pedro e João: “Senhor, Tu és mais que Moysés! Basta falares a esta rocha, que ela nos dará a melhor água!”

  3. Digo Eu: “Se tiverdes bastante fé, pousai vossas mãos na rocha e ordenai em Meu Nome, que ela obedecerá!”

  4. Ouvindo isto, ambos procuram um lugar adequado, onde colocam as mãos. A rocha não se manifesta! Após terem ficado nesta posição mais de uma hora, a pedra se move, afastando-se uns dez pas- sos. Este bloco havia caído como meteoro, entupindo a única fonte existente nesta montanha. Como é afastada, surge pujante, enchendo uma grande bacia. Deste modo a montanha fica provida para sempre da melhor água, como se constata ainda hoje. Mas nem Pedro nem João compreendem como a pedra pôde se mover pelo aplicar das mãos. Os outros fazem a mesma tentativa, inutilmente. João e Pedro fazem nova experiência — e a pedra se move! Então aqueles indagam: “Senhor, por que isto não nos é possível?”

  5. Respondo: “Por vossa fé ser um tanto fraca; no entanto, digo-

-vos que, se não duvidásseis daquilo que desejais realizar, até poderíeis remover uma montanha. O que, porém, por ora não vos é possível, futuramente o conseguireis. Agora, tomemos o desjejum, pois dentro em breve seremos quase que espremidos pela multidão! Os provimentos depositai em cima da rocha por vós removida!”

  1. Depois disto feito, apreciamos a vista magnífica, que abrange Sidon e Tyro. O planalto é vasto e permitiria facilmente a construção duma cidade. Súbito ouvem-se várias vozes de lástima e queixa.

171.GRANDECURAMILAGROSANA MONTANHA

Ev.MatheusCapítulo15,versículos30e 31

  1. Ouvindo o vozerio, Judas reclama: “Adeus, paz e sossego; pois aí vem uma verdadeira invasão de doentes!”

  2. Digo Eu: “Que te importa isto? Por certo não serás procurado a fim de curá-los — e se Meu Convívio te incomoda, volta para junto de tuas panelas! Em Minha Presença terás de te submeter às Minhas Ordens, pois sou o Senhor!”

  3. Resmunga Judas: “Pronto — basta eu abrir a boca para errar! Também posso silenciar como pedra!”

  4. Diz o sábio Nathanael: “Seria isto uma atitude inteligente, ja- mais vista partindo de ti. É proveitoso ouvir o sábio falar; o tolo, con- vém emudecer!”

  5. Enquanto Nathanael procura relembrar alguns provérbios de Salomon, aparece por todos os lados uma multidão amparando enfer- mos de toda espécie. Deitam-nos, cerca de quinhentos, num semicírcu- lo, pedindo que Eu os cure. Eu assim faço, dizendo-lhes: “Levantai-vos e caminhai!” (Matheus 15, 30)

  6. Primeiro são os cegos que recuperam a plena visão; depois os mudos, respondendo com alegria. A seguir os aleijados e coxos expe- rimentam movimentar os membros torcidos. E não há um que se não cure, inclusive de outras enfermidades.

  7. A multidão se admira e louva o Deus de Israel (Matheus 15, 31), ficando até o terceiro dia, embora tivessem gasto as rações trazidas. Durante esta estada são todos doutrinados por Mim e pelos discípulos, não havendo quem tome o partido dos fariseus. Pelo contrário, quei- xam-se amargamente das experiências dolorosas que o contato com os templários lhes causara.

172.PREDIÇÃODOSENHORQUANTOÀSUA DOUTRINA

  1. Em meio deles há alguns gregos, sumamente admirados quanto à Doutrina, e um diz: “Eis um ensinamento extraído do fundo da Na- tureza! Não haverá outro igual, pois contém leis condicionadas à vida da criatura, capazes de conservá-la para sempre de maneira benéfica. Não demonstra tendência egoística ou de domínio, e é aplicável para toda a Humanidade. Se fosse reconhecida e considerada, o mundo se tornaria um Céu!

  2. Para tal, porém, seria preciso uma nova geração! O imprestável refugo humano tem que ser exterminado, a fim de transformar os seres do futuro! O luxo e a tendência para o bem-estar alcançaram um nível por demais elevado e o poderoso sabe se aproveitar dos pobres e fracos; eis por que poucos são felizes e a massa padece! O miserável começa a duvidar, por fim, da Providência Divina, enquanto o rico esquece de Deus no seu conforto; a consequência disto é que ambos se tornam diabólicos!

  3. Tua Doutrina é, em si, a verdade pura e divina, ou melhor: ela é a Vida Pura. Mas os grandes representantes do mundo dirão: ‘Para que fim verdade, amor, meiguice, paciência e sabedoria? Vive-se muito bem ao lado de Zeus, Apolo e Mercúrio!’

  4. Onde estaria aquele que aceitasse Tua Doutrina de amor frater- nal, enquanto a escravatura fornece o máximo bem-estar? Mestre, vai e faze milagres, propalando a escravidão, mostrando ao povo misérrimo que apenas César possui direito de viver — o populacho, porém, na medida que ama o ditador! Além disto, testemunha de viva voz ter ele o direito indiscutível de resolver sobre vida e morte de cada súdito, arrecadando os tesouros da Terra — que serás trajado em vestimenta de púrpura!

  5. Por ser Tua Doutrina contra estes ditames, pregando a fraterni- dade universal, classificando todo homem como filho de Deus — serás perseguido, juntamente com Teus Ensinamentos!”

  6. Digo Eu: “Amigo! Infelizmente é certo o que acabas de dizer e a luta será feroz entre os pagãos poderosos até Me compreenderem! Uma

vez isto conseguido, porém, serão os potentados Meus Apóstolos mais ativos! Farão demolir os templos pagãos, edificando Casas de Deus, nas quais os irmãos se poderão reunir, dando honra ao Deus Único e ensinando aos filhos esta Doutrina, que ora vos dou para vossa salva- ção eterna!

  1. Isso não será possível de hoje para amanhã, pois primeiro é pre- ciso deitar a semente, para que germine e dê frutos. Sei desde toda a Eternidade que este Meu Verbo será atacado pelo mundo materialista. Sim, esta Minha Doutrina meiga desencadeará, com o tempo, guerras sangrentas, sem que tal possa ser impedido; pois a vida surgiu duma luta titânica dentro de Deus, luta que continua para que a vida possa ser mantida! Compreendes isto?”

  2. Responde o grego: “Senhor e Mestre, Teus discípulos talvez o possam assimilar; para mim, porém, é por demais profundo!”

  3. Digo Eu: “Sim, tens razão; entretanto, assim é e será para toda a Eternidade!”

  4. O povo se admira não pouco com Minhas Palavras e vários observam entre si: “O nosso patriarca de Pathmos falou bem, mas den- tro de sua concepção humana. Quando este jovem Mestre se externa, é como se Deus Mesmo falasse, alegrando nossos corações!” Tais ob- servações se repetem, mormente no terceiro dia, após receberem maior orientação acerca de Minha Doutrina.

173.ASEGUNDAMULTIPLICAÇÃODOS PÃES

Ev.MatheusCapítulo15,versículos32a 39

  1. Estão de tal modo contentes com Minha Doutrina, que se es- quecem da escassez dos provimentos; somente pela tardinha começam a sentir fome e indagam entre si se não há alguma coisa para comer; sem resultado, porém, porquanto nada mais havia desde o dia anterior.

  2. Percebendo-o, chamo os discípulos e digo: “Ouvi-Me! Tenho pena deste povo, que há três dias está Comigo e nada mais tem para co- mer! Não quero despedi-lo assim, a fim de que não pereça no caminho, pois muitos vieram de longe! (Matheus 15, 32). Dai-lhes de comer!”

  1. Dizem os discípulos: “Senhor, sabes dos nossos provimentos reduzidos. Donde buscar tantos pães para saciar esta multidão?” (Ma- theus 15, 33)

  2. Pergunto-lhes: “Quantos pães ainda sobraram?” Respondem eles: “Sete, e alguns peixinhos.” (Matheus 15, 34). Digo Eu: “Trazei-os!”

  3. Em seguida abençoo tudo, mando que se acomodem na relva (Matheus 15, 35) e agradeço ao Pai, que habita em Meu Coração em toda a Plenitude. Reparto o alimento, passando os pedaços aos dis- cípulos, que os dão aos famintos (Matheus 15, 36). Todos comem à vontade, saciando-se plenamente. As sobras são tantas que enchem sete cestos (Matheus 15, 37). O número dos que comem é cerca de quatro mil pessoas, além de mulheres e crianças (Matheus 15, 38). Então des- peço o povo, que, agradecendo, segue caminho.

  4. Meia hora mais tarde descemos à praia, onde encontramos um navio à espera de mercadoria. A tripulação já Me conhece de Caná na Galileia, tanto que só pede Minha Bênção para a viagem.

  5. Digo-lhes: “Se não for muito além de vossa rota, conduzi o na- vio para perto de Magdala!” — E um vento bom nos leva rápido ao destino (Matheus 15, 39).

JESUS NA ZONA DE CESAREIA PHILIPPI

Ev. Matheus – Capítulo 16

174.FARISEUSESADUCEUSTENTAMO SENHOR

Ev.MatheusCapítulo16,versículos1a 12

  1. Há na fronteira uma grande hospedaria, onde sempre se acomo- dam pessoas de várias classes, como judeus, gregos, romanos, egípcios, samaritanos, saduceus, essênios, fariseus e escribas. Assim que chega- mos, os templários procuram se informar a nosso respeito, sem que esta curiosidade seja satisfeita de pronto.

  2. Uma serva que havia sido curada de lepra, por ocasião do último milagre, reconhece-Me e cai de joelhos, agradecendo novamente pela

graça recebida. Percebendo este fato, os fariseus deduzem ser Eu o afa- mado Jesus de Nazareth. Durante a noite não nos importunam; entre eles, porém, e os saduceus, conjeturam sobre a maneira de Me armarem uma cilada no dia seguinte.

  1. Quando de manhã, por ocasião do desjejum, participo aos Meus discípulos não haver aqui o que fazer — eles Me abordam, atrevida- mente. Com amabilidade louvam Minhas Ações Meritosas, a fim de Me levarem à tagarelice. Um saduceu até diz: “Mestre, estamos prontos para seguir-te como adeptos, se nos deres uma prova, pois que muitos te chamam de Filho de Deus.” (Matheus 16, 1)

  2. Perscrutando seus corações, constato neles apenas malícia; pois cada palavra é uma mentira vergonhosa! Por isto, respondo-lhes: “À tarde, dizeis: ‘Amanhã haverá bom tempo, porque o Céu está verme- lho!’ (Matheus 16, 2). E pela manhã: ‘Hoje haverá tempestade, pois o Céu está de um tom sombrio!’ Hipócritas! Sabeis diferençar a face celeste; por que não o fazeis com os sinais dos tempos, na esfera da vida espiritual do homem? (Matheus 16, 3). Se, de acordo com vossas pa- lavras, ouvistes coisas extraordinárias e afirmais entender a Escritura, deveríeis observar que, por Mim, tudo que foi predito pelos profetas se realiza! Externamente sois amáveis e vossa face é como leite e mel; vossos corações, no entanto, estão cheios de fel, ódio, impudicícia e adultério!”

  3. Extremamente confusos e ofendidos, eles recuam, sem Me ousa- rem dirigir mais uma palavra, pois o povo que se havia juntado começa a fitá-los com espanto; assim, resolvem afastar-se. A multidão Me elogia por Eu ter falado tão às claras com estes mistificadores.

  4. Eu, porém, não lhes dou atenção, porquanto também sua índole não é das melhores, e digo de passagem aos discípulos: “Esta geração má e adúltera exige um milagre; mas não lhe será concedido outro se- não o do profeta Jonas!” (Matheus 16, 4). Afasto-Me dali, rápido, para o navio, em companhia dos Meus, mandando que tome o rumo donde viemos na noite anterior.

  5. Após uma travessia agradável, encontramo-nos, novamente, ao pé da montanha onde se tinha realizado a multiplicação dos provi-

mentos. Só aí os discípulos se lembram que não haviam comprado pão em Magdala (Matheus 16, 5); por isto, alguns resolvem voltar para lá.

  1. Como Me pedem conselho, digo: “Fazei o que vos agrade; evi- tai, porém, o fermento dos fariseus e saduceus!” (Matheus 16, 6). Eles então opinam: “Esta reprimenda se refere ao nosso esquecimento sobre os pães!” (Matheus 16, 7)

  2. Observando estes pensamentos negativos, digo-lhes: “Ó ho- mens de fé vacilante! Por que vos aflige o fato de não terdes comprado pão?! (Matheus 16, 8). Ainda não Me compreendeis? Não vos lembrais dos cinco que reparti entre os cinco mil e das grandes sobras?! (Matheus 16, 9). Tampouco dos sete de ontem para os quatro mil, excetuando mulheres e crianças, e do restante que guardastes nos cestos? (Matheus 16, 10). Como é possível não entenderdes que não Me refiro ao pão, mas que vos guardeis contra o fermento dos fariseus e saduceus (Ma- theus 16, 11), pelo que se entende a falsa doutrina que estas criaturas divulgam, com gestos aparentemente amáveis e promessas vãs, regozi- jando-se, no íntimo, quando conseguem uma pescaria farta de almas ignorantes.

  3. Quem propala mais veementemente a imortalidade da alma, o paraíso e os horrores eternos do Hades — quando eles, os saduceus, em nada disto acreditam, pois são ateus? Compreendeis agora o que vem a ser o ‘fermento’?” (Matheus 16, 12). Esta noite ficamos a bordo, alimentando-nos das sobras.

  4. No dia seguinte, mando alguns discípulos para Cesareia Phili- ppi, uma pequena cidade em zona grega, a fim de investigarem a opi- nião do povo quanto à Minha Pessoa. Assim fazendo, Meus adeptos se admiram não pouco quando percebem que este lugar, jamais por Mim procurado, já Me conhece e as pessoas relatam inúmeras ocorrências, pois que os discípulos apenas dão a entender algum conhecimento so- bre o Salvador.

  5. É fácil de se deduzir a existência de muitos exageros, tanto que os Meus até proíbem a divulgação do seguinte fato: Constava ser Eu capaz de desdobrar o Meu Físico a tamanho gigantesco e também re- duzi-lo ao dum anão; assim como ora Me apresentava Eu muito velho,

ora moço. Havia quem Me tivesse visto como mulher perfeita. Outros alegavam Me terem visto em figura de bicho!

  1. É compreensível que os discípulos proibissem terminantemen- te tais absurdos; o fato de terem surgido tais disparates até mesmo em locais onde doutrinei e curei — eis um enigma para os próprios anjos. Daí a origem de cerca de cinquenta evangelhos, queimados como apó- crifos durante o primeiro Concílio no Oriente, em si um benefício. Pois no fundo somente os Evangelhos de João e Matheus, a História dos Apóstolos, as Cartas e a Revelação de João são autênticos. Os Evan- gelhos de Marcus e Lucas têm seu valor relevante e abençoado, muito embora divirjam em pequenos senões. Cientes disto, podemos conti- nuar nossa peregrinação evangélica.

175.OSENHORNUMAPOBRECABANAEMCESAREIA PHILIPPI

  1. Enquanto os discípulos assim se desincumbem de sua tarefa, Eu permaneço naquela enseada à beira da montanha. Somente à tardinha Me encaminho com os outros para Cesareia Philippi, onde encontro o primeiro grupo numa simples cabana, cujos moradores estão entretidos no preparo do jantar. Não leva tempo e são informados a Meu respeito. Eis que o dono do casebre se joga a Meus Pés, exclamando: “Que fiz eu, pobre pecador, de bom e meritoso para merecer esta Graça? Que devo fazer para agradecer-Te?”

  2. Digo Eu: “Bom amigo, trata dum jantar de peixe, pão e vinho; a seguir, manda preparar-nos um simples leito — e terás feito tudo que desejo!”

  3. Levanta-se o pobre, dizendo com tristeza: “Tudo que possuo es- tará à tua Disposição; pois sei que és Filho de David e, além disto, um grande profeta. A provisão de pão e peixes nos suprirá até amanhã, mas o vinho é escasso em toda a zona. Tenho algum suco de framboesas, porém já está velho e ácido; costumamos tomá-lo com água ou mel. Fora disto tenho algum leite coalhado, que, tomado com pão, é um bom alimento!”

  4. Digo Eu: “Pois bem, traze o que tens! Mas que finalidade têm aqueles odres, se não tens vinha?”

  1. Responde ele: “Fabrico-os para o mercado da cidade, vendendo-

-os por pouco!”

  1. Digo Eu: “Então, enche-os com água!” Pergunta o pobre: “Para que fim?” Digo Eu: “Amigo, não perguntes, faze sempre o que te digo e serás feliz!”

  2. O pobre chama sua mulher e filhos — seis moças e dois rapazes

  1. Digo Eu: “Leva-os para a gruta, na parte de trás da cabana!” O homem cobre o chão com palha, deposita os odres com cuidado e per- gunta se está bem assim.

  2. Digo Eu: “Pois não; agora enche alguns cântaros com o conte- údo dum odre, prova-o e dize-Me se te agrada o gosto da água!” Ele obedece, enchendo doze cântaros e percebe o bom aroma do vinho. Ao experimentá-lo, não mais se contém, dizendo aos filhos: “Isto cérebro algum pode conceber! A água transformou-se em vinho! Provai-o!”

  3. O mais velho, então, diz: “Pai, sabes que sou entendido na Escritura e conheço os profetas e seus atos; assim, sei que nunca fez alguém coisa idêntica! Este homem estranho é mais que um profeta!”

  4. Afirmam as moças: “É verdade, pai! Talvez seja Elias, destina- do a preparar a Vinda do Prometido! Ou, quem sabe, o Grande Mes- sias Mesmo?” Diz o velho: “É bem possível! Mas..., como isto sucedeu tão rápido?”

  5. Enquanto assim conjeturam, aparece a mulher toda contente: “Vinde ver o que sucedeu em nossa cabana! A despensa está abarrotada de víveres! Isto só poderia ter partido do Mestre, que há uma hora nos pediu hospedagem!”

  6. Diz o marido: “Não resta dúvida! Mas como? Quem é ele? Se alegamos ser ele profeta, não o classificamos à altura. Se afirmamos que é Deus, diremos demais! Deus é Espírito; ele, porém, um homem. Quem sabe se não é Zeus ou Apolo? Vamos servi-lo da melhor forma, pois esta Graça é imensa!”

  7. Com isto, todos começam a nos servir, e o velho, dirigindo-se a Mim, diz com humildade: “Senhor e Mestre! Quem és tu, possuidor

de tal poder? Tremo de veneração diante de ti! Não és igual a nós; por isto, quem és?”

  1. Digo Eu: “Meu amigo, dir-te-ei algo de onde poderás tirar uma conclusão. Quando de madrugada vês que o dia vai surgir, avermelhan- do o Céu, dizes: ‘O Sol está prestes a aparecer!’ Mas também clareia-se o Céu com o surgir da Lua, havendo apenas a diferença de sua fraca luz não prometer uma aurora, tampouco as flores abrirem suas pétalas para receberem um jato frio e morto!

  2. As pequenas e luminosas nuvens, mensageiras da aurora, são bem mais alvas que a Lua cheia; se, porém, não as seguisse o Sol, o aspecto da Terra seria idêntico ao dos países setentrionais, que durante nove meses não veem sua claridade. O mesmo fato se dá no país eterno do espírito, pelo qual surgiu e em que consiste a matéria.

  3. Surge uma quantidade de doutrinadores e profetas ensinando as criaturas. Às vezes apresentam algo de verídico, mas, ao lado duma fagulha de verdade, caminham milhares de mentiras, de aparência in- versa. Todos esses doutrinadores e profetas se assemelham ao brilho do luar, que muda constantemente e, grande parte das vezes, deixa de ilu- minar durante a noite, quando mais necessário.

  4. Ao lado dos falsos, no entanto, existem os verdadeiros e sinceros, dimanando a Luz Divina através dos olhos, coração e palavras. São com- paráveis às nuvens luminosas precursoras da aurora. Se, porém, não forem seguidas pelo Sol, os corações das criaturas se tornarão frios, endurecidos, mortos. Com o surgir do Sol, isto é, pelo primeiro raio de luz projetado sobre as montanhas azuladas e os vales sombrios — tudo desperta cheio de alegria e vida: os passarinhos cantam seus salmos à origem da luz e do calor, os insetos e escaravelhos levantam voo, zunindo de entusiasmo; as flores dos campos erguem suas cabecinhas regiamente enfeitadas e abrem suas boquinhas balsâmicas, a fim de bafejar o Doador Celeste.

  5. Desta exposição verdadeira poderás deduzir qual o lugar que Me compete em teu coração. Nem a luz das estrelas, tampouco a da Lua ou o brilho dourado das nuvens são capazes de libertar as algemas da existência, presa à matéria desta Terra, a fim de aliciá-la para a vida independente e ativa. Isto só será possível ao Sol.

  1. Quem, todavia, entre as criaturas, poderia ser Aquele a cuja Voz e Vontade todos os espíritos algemados à matéria obedecem — e de cuja Vinda todos os profetas falaram?”

  2. O pobre, confundido, entra pensativo na cabana, onde perma- nece para não nos molestar durante a ceia.

176.OTESTEMUNHODOSDISCÍPULOSSOBREO CRISTO

Ev.MatheusCapítulo16,versículos13a 20

  1. Enquanto ceamos, o velho nos prepara um leito. Mais tarde, diz à família: “Ouvi! Eis, sem dúvida, o Messias Prometido; isto é, Jehovah em Pessoa, o Eterno Sol dos espíritos, precedido pelos profetas com- penetrados da Luz Divina! Estou bem a par de tudo; mas que fazer?! Falta-me até o ânimo de falar-Lhe, ao Santo Eterno, a Quem servem incontáveis falanges de anjos invisíveis! E Este é hoje nosso hóspede! Regozijai-vos, tremei de alegria, pois Ele ficará esta noite conosco nesta miserável cabana!”

  2. Neste ínterim, pergunto aos discípulos que haviam feito inves- tigações naquela zona: “Quem dizem os homens que Eu sou?” (Ma- theus 16, 13)

  3. Respondem eles: “Uns julgam seres realmente João Baptista res- suscitado. Outros alegam seres Elias, do qual consta que voltaria antes da Chegada do Prometido, a fim de incentivar as criaturas à penitência. Alguns opinam seres Tu Jeremias ou um profeta qualquer (Matheus 16, 14); outros tantos, Zeus disfarçado.”

  4. Digo Eu: “Muito bem, externastes a opinião alheia; desejo, porém, ouvir o vosso critério. Pergunto-vos seriamente, pois vejo que de quando em quando mudais de opinião, por verdes que Minhas Ações tocam o campo terreno. Por isto, dizei-Me, por quem Me tomais vós?!” (Matheus 16, 15)

  5. Perplexos, os discípulos se calam. Judas, porém, tocando Tho- maz, diz: “Fala! És sempre tão inteligente e sábio! Deve ser facílimo responderes à pergunta estranha do Mestre!”

  6. Replica Thomaz: “Fala tu, se te achas competente para tal! To- mo-O por aquilo que Ele diz de Si! Sempre falou: ‘Sou Filho do ho-

mem, e Deus é Meu e vosso Pai!’ Se bem que aja de maneira inédita, seus Atos têm o Cunho Divino. Para o Espírito Divino, tanto faz trans- por montanhas ou destruí-las por um escolhido!”

  1. Insiste Judas: “Então, achas que seja apenas um profeta?”

  2. Responde Thomaz: “Exato, e o maior que a Terra até hoje aco- lheu; isto, porém, não é mérito seu, mas de Deus, que, unicamente, pode fazê-lo surgir. Assim fez com Samuel, criança, e até com o burro do falso profeta Bileam, animal que, profetizando, também tornou seu dono um profeta verdadeiro. Se compreendemos isto e mais o tes- temunho que Jesus dá de Si Mesmo, isto é, ser apenas um Filho do homem, embora munido do Poder Milagroso de Deus, pronuncian- do, por vezes, o ‘EU’ Divino — impossível termos outra opinião. É, portanto, um Filho Divino em perfeição, assim como nós, embora imperfeitos.”

  3. Diz Judas: “E a respeito do critério de muitos, que O julgam o Messias Prometido, e de certos romanos e gregos, que até o classificam de Deus Único?”

  4. Diz Thomaz: “Também estão certos; pois o Poder Divino nele é o verdadeiro Messias e, por conseguinte, Jehovah Mesmo.” Judas se dá por satisfeito e Eu Me calo.

  5. Pedro observa Meu silêncio e diz: “Senhor, noto entre os ir- mãos opiniões diversas a Teu respeito. Permite que dê meu testemunho de viva voz!”

  6. Digo Eu: “Faze-o!” Diz ele: “Do fundo do meu coração digo e confesso diante do mundo: Tu és Cristo, Filho de Deus Vivo!” (Ma- theus 16, 16)

  7. Respondo-lhe Eu: “Bem-aventurado és tu, Simon, filho de Jo- nas; pois isto não te foi revelado por tua carne e por teu sangue, mas por Meu Pai que está no Céu! (Matheus 16, 17)

  8. Mas também afirmo que és Pedro, uma rocha, sobre a qual edi- ficarei Minha Igreja, e as portas do inferno não a dominarão! (Matheus 16, 18). Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu, e tudo que ligares sobre a Terra, sê-lo-á também no Céu, e o que desligares sobre a Terra será desligado no Céu!” (Matheus 16, 19)

  1. Diz Pedro: “Senhor, agradeço-Te por esta Graça sublime, da qual me acho o menos digno, porquanto fui e ainda sou grande pecador. Quan- to ao ligar e desligar, confesso que não o entendo e peço que mo expliques!”

  2. Digo Eu: “Em tempo oportuno tudo te será esclarecido; por ora, proíbo-vos severamente divulgardes que Eu sou Jesus, o Verdadeiro Cristo!” (Matheus 16, 20). Após este esclarecimento importante Ma- theus, o escrivão, indaga se deve anotá-lo.

  3. Respondo: “Não necessitas mencionar o milagre e a palestra entre Thomaz e Judas, mas somente aquilo que falei a Pedro. Escre- ve sempre o que ouves no coração, que tudo estará certo!” Matheus, satisfeito, vai dormir; nós, entretanto, palestramos até meia-noite em companhia da família pobre.

177.MARCUS,ODONODACABANA,RELATACRUELDADESDO TEMPLO

  1. O cabaneiro, chamado Marcus, sabe de muitos fatos acerca dos fariseus e pretensos escribas. Entre outros menciona as crueldades ocul- tas dos templários, inimigos de todos que, porventura, manifestassem tendências espirituais ou, talvez, proféticas. Eram secretamente exter- minados! Primeiro, eram convidados com amabilidade e honrarias; uma vez nos recintos privados do Templo, dava-se cabo deles! “Incon- cebível”, diz Marcus, “Deus permitir crimes tão horrendos. A situação em Sodoma e Gomorra era péssima, mas, em vista da de Jerusalém, não era nem uma gota d’água comparada ao mar. Não obstante os rogos de Abraham, Deus fez chover fogo sobre aquelas cidades! Por que, então, Ele não age em Jerusalém?”

  2. A esta boa pergunta, respondo: “Amigo, Deus sabe de tudo que se passa! Sabe dos múltiplos e horrendos crimes dos sacerdotes, e por este motivo Eu vim ao mundo, isto é, a fim de que esta raça de víboras complete em Mim suas crueldades; quando, porém, chegar este mo- mento, ai deles!”

  3. Diz Marcus: “Senhor e Mestre! Se não possuíres a força de extermi- nar centenas de criaturas apenas pelo hálito, serás alvo de compaixão, caso

tenciones aparecer um dia em Jerusalém para operar milagres! Sou homem simples, mas entendo de muita coisa jamais sonhada pelos templários.

  1. Como, porém, me tomam por imbecil, às vezes me deixam vis- lumbrar seus segredos nefastos. Nessas ocasiões descubro coisas que me fazem duvidar da Existência de Deus! Pois o homem é, pela doutrina de Platon, fisicamente de descendência simiesca e, psiquicamente, de ori- gem bestial. Por isto, torna-se necessário um Sansão forte e inteligente, que conduza a comunidade pelo açoite! Tais são meus pensamentos ao assistir às maquinações tenebrosas dos templários. A fim de dar-Te uma pequena prova, contar-Te-ei o que assisti há bem pouco! Não posso saber onde estas asas negras buscaram ideias tão absurdas; com Satanás por certo que não, pois sua perversidade não vai tão longe!”

178.FATOOCORRIDOCOMOS TEMPLÁRIOS

  1. (Marcus): “Existe, nos confins da Ásia Menor, uma zona onde, na maioria, as mulheres são estéreis. Não sei a causa, mas além disto é fato sabido que, se elas se casarem com judeus ou samaritanos, con- cebem como as nossas. Pois bem; os fariseus, enviando seus apóstolos nefastos a todas as zonas, de há muito descobriram-nas e mandam-lhes verdadeiras caravanas, a fim de curar sua esterilidade. Constava isto apenas como ato amistoso, mas os respectivos maridos, em breve, des- cobriram como eram logrados. Suas mulheres não eram propriamente fecundadas num instituto especial, construído pelos missionários de Jerusalém na fronteira daquele país, porquanto eles compravam crian- ças recém-nascidas na Judeia. Eram transportadas ao dito instituto, no qual as supostas mães deviam ficar durante dez meses. Decorrido este período, em que aqueles apóstolos tenebrosos abusavam das mulheres, inculcavam-se-lhes as crianças compradas de modo tal que acabavam por crer serem filhos legítimos! Com o tempo, porém, tanto os mari- dos quanto elas próprias deram pela fraude através da denúncia dum honesto samaritano.

  2. Incontinenti os logrados reclamaram este fato escandaloso! Os templários espertos, porém, acharam uma saída, descrevendo os sama-

ritanos de tal forma, que os reclamantes compreenderam serem aqueles

  1. Os bons samaritanos, em vista disto, foram alvo de duas vin- ganças: uma pela denúncia feita aos maridos, outra por acreditarem estes na mentira dos templários, que os diziam feiticeiros, porquanto, há muitos anos, um samaritano havia sido assassinado por ter tido liga- ção com mulher daquela região. Eles, porém, os fariseus, sabiam dum remédio eficaz que venderiam a bom preço aos ditos maridos! Agora, Mestre, ouve esta obra verdadeiramente satânica!”

  2. Digo Eu: “Prossegue, a fim de que os discípulos o saibam!”

  3. Continua Marcus: “Quereis saber em que consistia o remé- dio contra a esterilidade? Ouvi, pois: Era preciso arranjar o sangue de crianças samaritanas, que seria tomado fresco ou pulverizado, por ambas as partes; isto possibilitaria a concepção, quebrando o feitiço dos samaritanos e fazendo as mulheres normais! Mas como conse- guir o sangue? Ora, o Templo se encarregaria disto, mediante bom pagamento!

  4. O contrato seria estipulado e aceito pelos interessados. Em se- guida, os templários fariam caça — como até hoje — às crianças. Eram elas — entre um e doze anos — levadas àquele instituto e bem alimen- tadas, durante certo tempo, a fim de aumentar o volume do sangue. Isto alcançado, despiam-se as vítimas, que eram conduzidas a uma câ- mara especial e entregues ao verdugo. Este as amarrava com tiras fortes em pés e mãos, prendendo os pequenos a um poste no centro de uma banheira. Finalmente, vendavam-lhes os olhos, para depois cortar as veias de mãos e pés. Enquanto assim morriam de hemorragia, os ‘após- tolos’ da Cidade de Deus se portavam como se nada tivessem a ver com o fato. Os cadáveres eram cremados e o sangue vendido, como já disse. O inferno deve ter abençoado esse remédio pavoroso, porquanto as mulheres que o tomam se tornam realmente fecundas!

  5. Por que Deus não age contra esses crimes? Continua o Mesmo de há trinta anos, quando permitiu que cerca de cinco mil crianças de ambos os sexos fossem massacradas em Bethlehem.

  1. Aprendi na Escritura ser Deus bom, sábio e misericordioso; mas, observando esses fatos horrendos, chego à conclusão de que ou Ele não existe, ou não liga às criaturas deste mundo! Acaso poderia alguém con- denar-me por isto? Por certo que não, pois meu coração vibra pela dor alheia! Se, portanto, algo de divino se oculta em Ti, Senhor, faze um milagre, exterminando esses miseráveis!”

179.REVOLTADOSDISCÍPULOSEMVISTADASCRUELDADES TEMPLÁRIAS

  1. Digo Eu: “Amigo! Isto que acabas de Me contar não é nem a sombra daquilo que Eu vejo e sei; careces do conhecimento profundo da Ordem Divina para acusares, com alguma razão, a aparente indo- lência de Deus. Como possuis um coração honesto e sincero, permane- cerei contigo durante seis dias, dando-te o devido esclarecimento sobre tudo. Como agora já é quase meia-noite, vamos nos recolher!”

  2. Dizem os discípulos: “Senhor, não há diferença entre vigiarmos dentro ou fora de casa; assim, aqui ficamos, pois o relato de Marcus nos tirou o sono! Realmente, o sangue nos ferve nas veias de revolta contra essas feras humanas do Templo! Senhor, faze no mínimo chover fogo do Céu, pois isto ultrapassa o que de perversidade se ouviu falar até hoje!”

  3. Digo Eu: “Por isto mesmo procuraremos nos livrar deste ímpe- to; uma vez mais calmos, poderemos julgar com maior critério!” Nin- guém ousa retrucar Minhas Palavras e todos se dirigem aos leitos.

  4. Poucas horas mais tarde já estamos de novo ao ar livre e Pedro diz: “Senhor, consegui dormir pouco, porquanto aquele caso não me sai da mente! Isto jamais foi visto! Até eu não posso entender Tua Pa- ciência, quando penso como nos castigas com palavras ou olhares se fazemos pergunta imprópria; entretanto, assistes durante séculos a tais infrações contra a lei. São coisas que não podemos compreender e Mar- cus não erra ao formular sua opinião sobre Deus. Certo é que recom- pensas no Além tais mártires por sofrimentos de instantes; no entanto, para a vítima, representam eternidades!”

  1. Digo Eu: “Já vos falei ontem que daria o devido esclarecimento; por isto, tende paciência! É preferível ajudardes Marcus a recolher a pesca que Eu abençoei!”

180.APESCAABENÇOADA.OESTRUMEDO TEMPLO

  1. A estas Minhas Palavras, todos os discípulos ajudam a Marcus e seus filhos. Em seguida ele se aproxima de Mim, cansado da tarefa, e diz: “Senhor e Mestre! Creio convictamente teres sido o causador, tanto do milagre do vinho quanto desta pesca abundante. Agradeço-Te, pois, por tudo que nos proporcionaste com tanta fartura. Os barris estão cheios dos melhores peixes — e se for do Teu Agrado, minha mulher poderá preparar alguns!”

  2. Digo Eu: “Pois não; depois podes mandar alguns cestos a Cesa- reia Philippi, que terás bom lucro.”

  3. O velho assim ordena e dois filhos se dirigem, munidos de dois cestos com peixes, àquela cidade. Mal os expõem no mercado, apre- sentam-se vários compradores e, em poucas horas, estão de volta com um saco repleto de dinheiro. Então os dois rapazes perguntam ao pai se é possível repetir tal empreendimento, pois que muitos ficaram sem serem atendidos. O velho o permite — e a venda é mais rápida que da primeira vez. Marcus não se contém de alegria, pois sua longa miséria acabara de findar.

  4. Enquanto isto fazemos uma boa refeição, e o assunto mor das palestras se refere aos servos do Templo. A filha mais velha de Marcus, de dezenove anos, mostra-nos um recipiente com estrume do Templo, perguntando se ele, de acordo com a garantia dos vendedores atrevidos, fertilizava campos e jardins.

  5. Todos se riem a valer, e Thomaz diz: “Que vergonha! Esta fraude está sendo feita há cinquenta anos e muitos sacerdotes honestos se rebe- lam, sem nada conseguir; o lucro é por demais rendoso. E as criaturas são tão cegas que dão crédito a esta chantagem!”

  6. Diz a moça: “Não é bem isto! A maioria não o crê; mas que fazer? Não comprando este estrume, logo se é maltratada pelos fariseus

rudes; assim, prefere-se comprá-lo, a fim de se livrar deles. Mesmo o despejando n’água às suas vistas, não se alteram, pois sabem que um ano depois é-se obrigada a comprá-lo novamente!”

  1. Diz Pedro: “Trapaça, mentira e fraude são suas virtudes, eles que se dizem servos de Deus! Somente Tu, ó Senhor, saberás o motivo desta permissão.”

  2. Digo Eu a todos: “Deixemos isto; é quase meio-dia! Como não está muito quente, vamos procurar um lugar apropriado a fim de pa- lestrarmos!”

  3. Propõe Marcus: “Senhor, a uns cem passos daqui há um peque- no morro com uma velha castanheira, debaixo da qual coloquei um banco espaçoso. De lá se avista Cesareia Philippi e outras cidades.”

  4. Digo Eu: “Muito bem, leva-nos até lá.” Marcus toma a diantei- ra e em pouco tempo alcançamos a frondosa árvore. Todos começam a localizar diversas cidades.

181.MARCUSEOSCAÇADORESDO DÍZIMO

  1. Ao mesmo tempo verificamos que vários fariseus se encami- nham para a choupana de Marcus. Diz Matheus, o aduaneiro: “Esta corja deve ter tido notícia do Teu Paradeiro. Será que os filhos de Mar- cus Te denunciaram?” Diz o velho: “É possível, pois gostam de tagare- lar. Irei para certificar-me.”

  2. Digo Eu: “Não é preciso que vás. Ninguém Me denunciou, e sua intenção é que lhes presenteies cem peixes, direito que lhes assiste onde se efetua uma boa colheita. Tua pesca não deixa de sê-lo, portanto vai e dá-lhes o que te disse!”

  3. Indaga Marcus: “Como irão transportar cem peixes?”

  4. Digo Eu: “Não te preocupes; além disso, trazem uma mula para tal fim.”

  5. Marcus verifica este fato e diz: “É verdade; vou separar os peixes, o que, por certo, deixá-los-á perplexos.”

  6. Digo Eu: “Está bem; mas, se te perguntarem como poderias sa- bê-lo, deves dar uma resposta prudente, pois não deves mentir!”

  1. Mal o velho se dispõe para tal, alguns fariseus se aproximam, perguntando por ele. Adiantando-se, ele diz: “Aqui estou, e neste barril se acha o dízimo de peixes especiais, motivo de vossa vinda!”

  2. Estupefatos, eles se fitam e um retruca: “És um profeta, para saberes, de antemão, deste acontecimento?”

  3. Diz ele: “Para isto não é preciso ser profeta. Apanhai vossos pei- xes e ide em paz! Tenho muito que fazer!”

  4. Sugere um fariseu: “Devias acrescentar mais trinta como pa- gamento de multa, pois é injusto não teres mandado o que temos di- reito, porquanto, como servos de Deus, sempre Lhe rogamos pela tua salvação!”

  5. Diz o velho: “Toma, não trinta, mas quarenta! E peço-vos que me deixeis em paz!”

  6. Retrucam eles: “Temos direito de vir e ir quando isto nos agra- de! Manda que os peixes sejam postos nos recipientes!”

  7. Os filhos de Marcus concluem esta exigência e o velho diz: “Então, estais satisfeitos?”

  8. Responde um fariseu atrevido: “Não, não e não! Pois falas co- nosco como se fôssemos criaturas repugnantes, esquecendo que somos serviçais de Deus Onipotente e podemos aniquilar-te com um sopro! Tua atitude desrespeitosa será castigada com o confisco de tuas posses!”

  9. Isto excede a paciência de Marcus: apanha rápido um perga- minho no qual consta ser ele cidadão romano, possuidor de todos os direitos e prerrogativas.

  10. Diz o fariseu, estupefato: “Desde quando és pagão? Pois, há bem pouco, ainda eras judeu?!”

  11. Responde Marcus: “Sou romano de nascimento e servi como soldado pelo espaço de trinta anos; apenas fui judeu incircuncidado a título de experiência por três anos. Não obstante reconhecer a sublimi- dade da Doutrina judaica, em breve me convenci serem os sacerdotes mistificadores inescrupulosos, que servem a Deus só às vistas do povo e enterram seus corações no fundo do inferno! Eis por que são capazes de negociar com o sangue de inocentes crianças samaritanas, motivo de eu voltar a ser romano! Portanto, afastai-vos o mais depressa possível!”

  1. Dizem os fariseus: “Marcus, como te podes ter tornado tão inteligente?! Conhecemos-te há muito como homem de pouca sagaci- dade! Como se deu esta metamorfose?”

  2. Responde ele: “Isto foi apenas máscara para descobrir vossas trapaças, fraudes e crimes! Garanto-vos que entendo mais de Moysés e dos profetas que vós — embora seja romano, mas, no íntimo, judeu verdadeiro!”

  3. Dizem eles: “Sem circuncisão não é possível alguém se tornar judeu e aproximar-se de Deus!”

  4. Contesta Marcus: “Nunca almejei a maneira pela qual dele vos aproximais; faço-o no coração, pelos ensinamentos de Isaías. Se Deus me condenar por eu não ser circuncidado, nada tendes a ver com isto. Julgo apenas ser Ele mais sábio e justo que os homens, aceitando um coração puro; porquanto a circuncisão é algo material e nada tem a ver com o espírito. Não obstante, dou-vos, como judeu verdadeiro, o dízimo! Agora, ide! Do contrário, tirar-vos-ei os peixes! Compreendes- tes?” A estas palavras enérgicas, os templários nada dizem, encetando o caminho de volta.

182.OSENHORPREDIZSUAMORTEE RESSURREIÇÃO

  1. Marcus apronta rápido o almoço, para em seguida nos contar o atrito havido com os sacerdotes. Louvo-o por este fato, dizendo: “Mar- cus, a este povo foi dado, desde o início, conhecer a Verdade — e a grande promessa se realizou. Mas, como é obstinado e não quer aceitar o momento atual de provação — pois prefere procurar os benefícios no charco da vida — é-lhe permitido completar a medida de seus crimes, assassinando seu Deus e Senhor!

  2. Por tal motivo toda Graça, Luz e Justiça serão dadas a vós, pa- gãos, pois que tendes boa vontade e aceitais, embora ignorantes, aquilo que os judeus conscientes rejeitaram. A Luz do Alto vos fará videntes no coração; os filhos da Luz, porém, serão expulsos para as trevas. Terão que procurar migalhas entre povos estrangeiros e o título de ‘povo’ lhes será tirado!”

  1. Diz Marcus: “Então poderia acontecer que eles na sua ira Te prendessem e matassem, como fizeram com quase todos os profetas?”

  2. Respondo: “É isto mesmo! Mas tal fato concluirá o número de seus crimes!”

  3. Aduz ele: “Deves, portanto, evitar a dita cidade de Deus! Co- nheço os servos do Templo! Sua amizade é uma maldição e esta, a morte! A vida do semelhante é, para eles, idêntica à de um insignifi- cante inseto.”

  4. Obtemperam os discípulos: “De acordo com a compreensão que temos do Mestre, toda a perfídia do Templo será dizimada pela Sabedo- ria do Senhor, pois Ele, que ordena à morte e que ressuscita os mortos, não poderá ser assassinado!”

  5. Digo Eu: “Sim; no entanto, Ele será morto para testemunhar contra eles, completando suas medidas. Uma vez que tiverem profa- nado a Santidade Divina, tê-lo-ão feito a Mim, positivando o seu pró- prio julgamento! Quem assim o quer não poderá alegar injustiça, se for condenado. Tornando-se criminosos quanto aos mensageiros, não pouparão Aquele que os enviou.

  6. Haverá, porém, uma circunstância fatal: consiste no assassinado surgir após três dias como Vencedor Poderoso da morte e de Seus ini- migos para consolo eterno de Seus amigos e irmãos! Conjeturarão, pois, como matar o Ressuscitado, o que os levará à queda. Tal acontecerá, trazendo o cumprimento da Minha Promessa. Bem que ficareis tristes, sofrendo horrores por Minha Causa! Tudo isto, porém, modificar-se-á em alegria imensa quando virdes o Ressuscitado com todo o Poder so- bre vida e morte!”

  7. Diz Marcus: “Se assim é, não será difícil Te deixares matar proforma, com a possibilidade de ires a Jerusalém quando Te aprouver, pois nada Te acontecerá! Se após a morte serás mais poderoso que antes, posso imaginar o pavor de Teus inimigos, porque seus atos horripilan- tes serão visíveis a todos, impedimento suficiente para continuarem a praticá-los! Ó Senhor, já sou velho e meu tempo nesta Terra está conta- do. Por isto, gostaria de assistir a este fato, para que se tornasse minha morte mais suave!”

  1. Digo Eu: “Ainda não está certo que assim seja, embora tudo indique este desfecho. Mas já passou de meio-dia e necessitamos dum alimento. Desçamos!” Diz Marcus: “Muito bem; já está tudo pronto. Se for da Tua Vontade, poderemos voltar aqui.” Digo Eu: “Sim, amanhã; pois hoje à tarde teremos outro programa.”

183.AVISITADECIRENIUSÉ ANUNCIADA

  1. Durante o farto almoço, que tomamos ao ar livre, à sombra dum velho castanheiro, Marcus, o honesto guerreiro, conta-nos com sua habitual verbosidade vários acontecimentos, dando oportunidade aos Meus de apreciarem suas vastas experiências.

  2. Terminado o almoço, aparece um mensageiro da cidade, trans- mitindo a Marcus a notícia de que Cirenius, o idoso vice-rei da Ásia, havia chegado a Cesareia Philippi. Seria, portanto, oportuno Marcus externar-lhe — como conhecido soldado — seu estado de necessidade, pois que Cirenius certamente o atenderia.

  3. Diz ele, entretanto, ao mensageiro: “Agradece por mim ao bom colega, por se ter lembrado de minha miséria. Apesar disto, não pode- rei aceitar seu oferecimento, porquanto entre os meus hóspedes está o Senhor e Mestre, que já me livrou das dificuldades. Este Senhor e Mestre prometeu-me permanecer aqui durante seis dias e, caso o nobre governador nos queira dar o prazer de sua visita, tudo será feito para re- cebê-lo condignamente!” O mensageiro se afasta e Marcus diz: “Espero que o vice-rei não me tome a mal!”

  4. Digo Eu: “Não te preocupes. Quando souber de Minha Presen- ça aqui, tudo fará para Me ver, pois Me conhece desde pequeno!”

  5. Diz ele: “Não duvido; mas sua posição elevada obriga-o a evitar tudo que desabone sua conduta. Daí não crer que me dê a grande honra de sua visita.”

  6. Digo Eu: “Nem bem o mensageiro lhe transmita a notícia, Ci- renius deixará tudo para ver-Me. Avisa tua mulher e filhas que apron- tem um almoço para o agrado de todos!” Marcus obedece, pedindo refeição para mais umas trinta pessoas. A mulher não sabe se o leva a

sério; ele, porém, convence-a da urgência da ordem e ela segue para a cozinha.

  1. Seus filhos são mandados ao cume da montanha para anuncia- rem a possível chegada do visitante. Em pouco tempo retornam, avi- sando a aproximação dum grupo de pessoas. Marcus, então, pergunta: “Senhor, é preciso que o recebamos com especiais honrarias?”

  2. Respondo: “Em absoluto; quem se sente atraído por Mim virá sem recepções formais! Cirenius é um espírito forte e dispensa o con- vencionalismo. Somente um fraco que se tenha encaminhado para nós requer amparo, a fim de não tombar em meio do caminho!”

184.MARCUSRECEBE CIRENIUS

  1. Mal acabo de falar, ouvimos um vozerio: É Cirenius com seu séquito, e Josoé, o por Mim ressuscitado na tumba de Jairo, cavalga a seu lado em lindas vestes romanas. Alcançando a cabana, Cirenius in- daga dos moços se esta é a morada do velho soldado Marcus; no mesmo instante aparece este, dizendo: “Nobre senhor, nada neste mundo me teria impedido de procurar-te; acontece, porém, que tenho um hóspe- de com vários alunos e acompanhantes, o qual, por certo, deve ser um deus, porquanto consegue pela vontade o que jamais foi possível a um mortal. À vista disto, não poderia deixá-Lo; ademais, cumulou-me de tantas bênçãos que me tornei rico.”

  2. Diz Cirenius: “Regozijo-me por encontrar-te tão feliz; peço-te, porém, que me leves à Presença deste Hóspede que deu motivo à minha chegada. Pois, pela descrição do mensageiro, presumo ser ele o Divino Jesus, ao Qual jamais poderei agradecer o que me fez. Onde está?”

  3. Como Cirenius não Me havia visto debaixo da frondosa árvore, Marcus o conduz em companhia de Josoé até Mim. Quando Me vê, seus olhos se enchem de lágrimas de alegria, dizendo: “És Tu Mesmo, conforme imaginava! Como sou feliz por me ter sido proporcionado novamente a Graça dos Céus de poder ver-Te, que és tudo para mim, e ser abençoado e vivificado pelo Teu Hálito! Ó Senhor, meu amado Jesus, Soberano Eterno de mundos e Céus! Sou Teu grande devedor por

cada minuto de vida que se passa e, além disto, pela imensa ação cari- dosa auferida em Kis através de Tua Sabedoria Insondável, conseguin- do eu descobrir o roubo das taxas imperiais! Quantas vezes ao dia me lembro do grande embaraço do qual me salvaste, e nesses momentos só posso chorar de gratidão e adorar-Te!”

  1. Digo Eu: “Amigo e irmão, vem e senta-te à Minha Direita, po- dendo teu séquito tomar lugar em outra mesa. Dentro em pouco almo- çaremos. Como está passando Meu Josoé? Dá-se bem com a temporária visita do anjo?”

185.MÉTODODEENSINO ANGELICAL

  1. Aproxima-se o garoto, com aspecto mais forte, dizendo: “Se- nhor e Vida de toda vida, estou completamente bom e meu apetite é dos melhores; mas o anjo de Sichar, que de três em três dias me procura por alguns instantes, não me agrada, porquanto sempre faz objeções às minhas palavras. Aprecio todo ensinamento útil; no entanto, se alguém me quer convencer de que um mais um não são dois, mas podem repre- sentar espiritualmente um número qualquer — aborreço-me e discuto com o professor! Jamais considera verdade o que, anteriormente, por ele foi estipulado. Em suma, às vezes me faz arrepiar os cabelos! Por isto, peço-Te que digas ao meu mentor espiritual que tenha outro método, ou então deixe de me procurar!”

  2. Digo Eu: “Meu querido Josoé, tenta suportá-lo, que te levará à verdadeira sabedoria celeste! Os cálculos dos espíritos divergem dos do mundo! Se Eu te falasse numa linguagem celestial, nada entenderias. Falo como homem de carne e sangue, de forma humana sobre assuntos do espírito — e as criaturas se aborrecem Comigo por não Me entende- rem, e muitas porque não o querem. Teu professor espiritual ensina-te como deve; tu, porém, só o entenderás melhor na velhice; a luz com- pleta te será dada no Além, onde as impurezas da carne e do sangue não mais poderão turvar tua alma. Compreendes?”

  3. Diz Josoé: “Oh, Senhor, a Ti compreendo com muita facilidade! Quando, porém, o anjo me diz que, na síntese, ira e amor são uma só

coisa, tudo se revolta dentro de mim; como também alega serem Céu e inferno idênticos! Entenda-o quem quiser, pois para mim é um perfeito contrassenso!”

  1. Digo Eu: “O anjo tem razão, porque é assim mesmo. Dar-te-ei um exemplo que te facilitará a compreensão. Ouve: Quão benéficos são os raios solares num dia de inverno; no entanto, quando nos desertos da África começam a derreter a areia e tu és obrigado a suportá-los, tornam-se infernais! Compreendes?”

  2. Responde Josoé: “Sim!”

  3. Continuo: “Pois bem! A noite que segue a um dia quentíssi- mo torna-se grande amiga e benfeitora da Humanidade extenuada; deixemos, porém, que permaneça durante trinta dias — e as criatu- ras começarão a amaldiçoá-la! A razão disto é que faria morrer toda vida orgânica sobre a Terra, tornando-se de benfeitora um verdadei- ro inferno.

  4. Se após longa marcha num dia de verão alcançares uma fonte cristalina, quão celestial sentirás seu benefício! Mais abaixo, no entanto, a água se junta numa bacia profunda — e se tu lá caíres, morrerás na certa! Vês, portanto, que também esta água tanto pode ter efeito celeste como infernal.

  5. Aprecias um bom gole de vinho: tenta beber, porém, um odre inteiro, que seu efeito maléfico te matará!

  6. Alegra muito teu coração a escalada duma montanha, a fim de gozares a paisagem deslumbrante; se ela, no entanto, soltar uma pedra, enterrando-te com seu peso, dar-se-á o mesmo fenômeno!

  7. A brisa que num dia de calor passasse em tua testa por certo te daria alívio. Crescendo num temporal que arrancasse frondosas árvores, acaso te sentirias confortado? Procurarias fugir dele, que se tornara pela sua força algo de prejudicial!

  8. Por isto, é dado às criaturas medida justa em tudo, de acor- do com a força e espécie. Se permanecem nessa medida, mantêm-se elas na Ordem justa, dada por Deus, e tudo que as rodeia é o ‘Céu’; ultrapassando-a, atrairão o peso da matéria sobre seus ombros, que as aniquilará! A justa medida é um Céu, tanto para as criaturas quanto

para os anjos; o excesso, todavia, é o inferno pleno para todos. Terás compreendido tudo?”

  1. Diz Josoé: “Oh, sim! Alegro-me muito e desejo saber por que meu mentor não me esclarece deste modo?”

  2. Digo Eu: “Por mui sábias razões! Se assim fizesse, nunca te darias ao trabalho de discernir e julgar por ti próprio; o certo é que te ensina de maneira verdadeira e celeste. Quando necessário e tu tiveres alcançado a justa maturação, ele te dará para cada ensinamento o qua- dro correspondente. Antes disto, terás que ativar tua alma, pois de ou- tra forma não assimilarás as verdades profundas da Sabedoria Celeste. Estás bem a par disto?”

  3. Responde Josoé: “Inteiramente; agora também sinto uma grande afeição para com meu tutor!”

  4. Acrescento: “Este amor te proporcionará o meio que tornará fá- cil o ensino. Agora, mudemos de assunto! Os filhos de Marcus estão ar- rumando as mesas para o almoço. Servi-vos à vontade, pois que em Mi- nha Presença todos se deverão saciar, tanto física como espiritualmente!”

186.OPRESENTEDECIRENIUSA MARCUS

  1. Cirenius muito elogia a mulher de Marcus pelo saboroso almo- ço; em seguida dirige-se a este com as palavras: “Meu velho companhei- ro de lutas! Minha mula branca traz ouro e prata, que te hão de facilitar a construção duma boa casa e a aquisição de um campo para lavoura. O restante guardarás para um caso de emergência; pois, enquanto vi- vermos nesta Terra pela Vontade do Pai, não nos deve faltar o necessário para o sustento. Precisamos trabalhar e ganhar o pão de cada dia; mas quem, como tu, já o fez em excesso, merece conforto na velhice. Vai e aceita a pequena recompensa, e que o Senhor ta abençoe!”

  2. Comovido, Marcus agradece a Cirenius — mas, no íntimo, di- rige-se a Mim, pois sabe que sou Eu o Causador de tudo!

  3. Assim lhe digo: “Aceita e emprega o que te é dado, mas não lhe dês muito valor; pois, se podes medir uma dádiva material, isto não te será possível com tua própria vida! Hoje, és dono de teus tesouros; ama-

nhã, tua alma será chamada para o Além — e o que não darias, a fim de salvá-la da morte eterna! Por isto, deves primeiro procurar o Reino de Deus, que receberás o resto por acréscimo!

  1. Aquilo que te é dado não deve ser guardado, mas ter proveito real pare ti e teu próximo. Encontrarás grande número de verdadeira- mente necessitados; deves te regozijar por teres os meios materiais e espirituais que mitiguem a miséria e alegrem o coração entristecido de teu semelhante!

  2. Cada coração que tenhas alegrado em Meu Nome será no Além um Céu cheio de bênçãos sem conta, e já aqui, em vida, há de te pro- porcionar satisfação e verdadeira paz — paz que o mundo desconhece! Portanto, vai para receberes o que é teu!”

  3. O velho leva seus filhos, a fim de que tragam as sacolas cheias de dinheiro, guardando-as em lugar seguro. A seguir Me agradece, inda- gando de Meus Planos para a tarde.

  4. Digo Eu: “Manda preparar teus barcos para um pequeno pas- seio, durante o qual poderás novamente jogar tua grande rede ao mar.” Em poucos instantes ele manda aprontar tudo e Eu Me levanto.

187.AASSEMBLEIANO MAR

  1. Chegando à praia, subo no barco maior em companhia de Cire- nius, Josoé, Marcus, cujos filhos pegam dos remos, Pedro, João e Jacob. Os outros discípulos e o séquito de Cirenius embarcam nos outros, ficando a grande rede conosco. Já bem longe da praia, diz Marcus: “Se- nhor, dize-nos quando devemos iniciar a redada.”

  2. Digo Eu: “Por enquanto, não; pois não devemos despertar os elementos da água. À tardinha o faremos. Se alguém quiser saber algo, poderá Me perguntar.”

  3. Diz Cirenius: “Estranho a força física de teus filhos, Marcus; também eras atleta quando moço, mas eles te ultrapassaram!”

  4. Responde Marcus: “É verdade; mas hoje admiro-me de como possam remar com tanta ligeireza. Por certo Tua Vontade, Senhor, está em jogo neste caso?!”

  1. Digo Eu: “Sim, Meu amigo, ela influi em tudo que apresenta o surgir, ser e manter do mais elevado ao mais ínfimo, do contrário o Espaço em pouco estaria vazio. Podes, portanto, admitir que Minha Vontade esteja ativa em teus filhos.”

  2. Dizem os três discípulos entre si: “Nosso Senhor e Mestre é, às vezes, um tanto enigmático! De quando em quando fala como Senhor Único de Céus e Terra, agindo de acordo; em outras ocasiões é Ele ape- nas homem, não deixando transparecer Sua Divindade! Tudo que diz é sumamente sábio; mas, que num futuro breve se deixará martirizar até a morte com todo Seu Poder e Sabedoria — isto não se pode classificar de sábio! Qual o benefício da Humanidade com este flagelo? Poderá até duvidar, alegando ter Ele sido — embora Poderoso — vítima dos mais poderosos. Tendo a força de ressuscitar mortos e remover montanhas, dever-Lhe-ia ser fácil exterminar Seus inimigos!

  3. Na época de Noé foi preciso que toda a Humanidade perecesse, com exceção deste e de sua família; entretanto, as criaturas não eram tão perversas como hoje. E por serem tão maldosas, Ele quer Se lhes entregar em vez de castigá-las, como em Sodoma e Gomorra! Em suma, muitas de Suas Ações são bem incompreensíveis!”

188.JOÃOEXPLICAADIFERENÇAENTREACOMPREENSÃONATURALE ESPIRITUAL

  1. João, que ouvira atentamente as palavras de Pedro, diz: “Anali- sando o fato do ponto de vista mundano, nada tenho a contrapor-te. Julgando-o, porém, pelo espírito, tudo muda de figura, pois a Sabedo- ria Divina não considera a sapiência do homem.

  2. Por acaso sabes qual a finalidade de muitos vegetais infrutíferos? Caso deem frutos, de nada servirão eles, diante de nossa compreen- são. A mesma variabilidade se nota no reino animal: desde o parasito até o enorme leviatã, que domina os mares — para que existem eles, excluindo os poucos animais caseiros? Quem poderia dizer o porquê da existência de inúmeras feras? E da imensidade de estrelas? Qual a finalidade da Lua? Para o nosso raciocínio, tudo isto parece tolice! Para

Deus, porém, há sempre motivo mui sábio, tanto que não nos devemos admirar de não compreender Suas Ações. Que me dizes?”

  1. Responde Pedro: “Sim, tens razão! Não deixa, no entanto, de ser verdade que algumas Determinações do Senhor se apresentam como se alguém afirmasse que dois mais dois fossem sete!”

  2. Digo Eu: “Sim, Pedro, podes ter esta impressão. Fica, porém, sabendo: para Deus muita coisa é possível, mas foge do alcance do in- telecto humano. Toma esta pequena rede e joga ao mar! (Simon assim faz). Agora verifica quantos peixes contém!”

  3. Diz Pedro: “Quatro!” Digo Eu: “Conta outra vez, pois são sete!” Ele constata a veracidade de Minhas Palavras e as repete, admirado: “Sim, para Deus muita coisa é possível!”

  4. Digo-lhe Eu: “Pois bem; evita, portanto, tagarelar coisas inúteis. Seria preferível te calares — para não te assemelhares aos fariseus!”

  5. Defende-se Pedro: “Senhor, sabes o quanto Te amo; entretanto, recriminas meus erros de forma tal que não me atrevo a fazer perguntas! Tudo aceito com o máximo de paciência, não podendo, todavia, evitar uma pequena tristeza da alma por ser alvo de Tua Severidade!” Com isto, vira-se para o mar, olhando-o com amargura.

  6. João aproxima-se dele, dizendo: “Irmão, te ressentes com a pequena reprimenda do Senhor, mas observa: Seu Amor e Sabedoria conhecem a ra- zão disso e, se analisares profundamente teu coração, descobrirás o porquê!”

  7. Replica Pedro: “Mas que será? Dize-me tu!”

  8. Explica-lhe João: “Vê, no que diz respeito ao conhecimento e à fé viva e inabalável, és entre nós, evidentemente, o mais forte e, pelo tes- temunho do Senhor, uma verdadeira rocha. Contudo, tens momentos em que te sobrevém uma espécie de amor-próprio, que não dista muito do orgulho! A fim de que te livres desta tendência, o Senhor te submete a certas humilhações. Já por diversas vezes tenho observado isto, sem encontrar oportunidade propícia para te esclarecer. Espero, portanto, que não tomes a mal o que te falei?!”

  9. Diz Pedro: “Sim, tens toda a razão; apenas não compreendo por que Ele não nos adverte em tempo, pois nos habilitaria a uma con- duta acertada.”

  1. Conclui João: “Também terá Seus motivos justos. Tenho a im- pressão de Ele desejar que a criatura venha primeiro a conhecer a si própria, antes de tocá-la com Sua Mão aperfeiçoadora e tomar morada, com Sua Luz, no coração do homem. Eis por que Ele nunca aponta os defeitos vitais, senão por vias indiretas, isto é, por certos acontecimen- tos que obriguem a alma a um exame de consciência, reconhecendo seus erros através daquela Luz, livrando-se destarte das fraquezas que a impediam viver dentro da Ordem Divina. Eis minha opinião. Que te parece?”

  2. Responde Pedro, pensativo: “Sim, terás razão, pois entre nós reconheces mais profundamente os Pensamentos do Senhor! No futuro tuas palavras me servirão de fanal!”

  3. Em seguida Pedro se vira para Mim com gestos gratos, por Eu ter revelado este ensinamento a João. Então lhe observo que ajude os moços a jogarem a grande rede. Assaz contente, ele assim procede, pois um olhar amoroso de Minha parte lhe representa mais que todos os tesouros do mundo; aliás, todas as criaturas deveriam o mesmo sentir, quando desejosas de conquistar a Vida Eterna.

189.CHEGADADEUMNAVIOMILITAR.APESCA ABUNDANTE

  1. Enquanto isto, aproxima-se uma grande embarcação militar. Ci- renius, então, se manifesta: “Em virtude de minha posição social, preferi- ria desviar-me daqueles soldados, por encontrar-me num barco simples.”

  2. Digo Eu: “Não necessitas te preocupar com tais coisas, pois, quando o Sol está no zênite, parece menor do que quando no horizon- te — e ninguém o pode fitar naquela altura. Aquele barco, por mais aparatoso que esteja, em nada aumentará tua dignidade, pois aquilo que és, sê-lo-ás no cume do Ararate ou em cima dum monte de areia. A verdadeira consideração, ligada ao amor, ser-te-á proporcionada onde se aproximarem de ti com facilidade! E digo mais: este encontro te será de grande valia!”

  3. Cirenius aguarda, curioso, a chegada do navio. Como um vento contrário parece impedi-lo, ele sugere tomar a mesma rota. Eu, porém,

digo: “Nada disto, pois ainda saberás em tempo o que te interessa. Por ora, assistiremos à pesca.”

  1. Decorrido algum tempo, a grande rede está tão abarrotada de bons peixes que é preciso tocar para a praia, a fim de depositá-los num lago apropriado. Perfazem o total de mais de sete mil e o velho Marcus não se contém de alegria e gratidão.

  2. Digo-lhe Eu: “Amigo, ainda hoje receberás outra dádiva, por ocasião da chegada do navio romano. Não consistirá em peixes, ouro ou prata, mas sim em Palavras Minhas que abrirão caminho para a Vida Eterna! Presta atenção, que se fará a Luz em tua alma agora e sempre! Compreendeste-Me?”

  3. Responde ele: “Sim, Senhor! Meu coração me diz: Marcus, ve- lho guerreiro, hoje tua vida será desenferrujada! Ouvirás a Voz dos Céus de Jehovah e tua alma sentirá a realidade de tua salvação!”

190.OSNOVOS HÓSPEDES

  1. Mal os filhos de Marcus estendem a rede para secar e o navio está próximo da margem, os marujos pedem que se mandem alguns barcos para os viajantes, pois não é possível fazer atracar a embarcação devido à pouca profundidade d’água. Qual não é a surpresa de todos quando descobrem o comandante Julius, Ebahl e Yarah entre os romanos!

  2. Além destes, porém, há cinco salteadores, que agiam nos desfi- ladeiros entre a Judeia e a Samaria, tendo já praticado vários crimes de morte. Viajavam disfarçados de rabis e tinham aparência simpática; no entanto, em seus corações habitam legiões dos piores demônios, que os forçam a assaltarem os viajores, assassinando-os em seguida para não se- rem denunciados. Tais delinquentes são, todavia, favorecidos às ocultas pelos templários, porquanto por suas ações condenáveis impossibilitam encontros entre samaritanos hereges e judeus, o que constituiria algo de prejudicial à doutrina farisaica. Os romanos têm conhecimento disto e castigam implacavelmente tais criminosos.

  3. Há ainda alguns outros, autores de crimes políticos, que a man- do do Templo fazem propaganda subversiva contra Roma; todo este

transporte humano é destinado a Sidon. A fim de não ser visto por um grupo de fariseus à Minha Procura, Eu Me oculto para evitar o cumpri- mento de Ebahl, Yarah e Julius.

  1. Cirenius saúda Julius muito amavelmente, o que é do agrado deste, porquanto o vice-rei é bastante circunspecto diante de seus su- balternos. Logo de saída ele pergunta se Julius já tem sentença formada quanto aos criminosos, pois que um julgamento só poderia ser revoga- do pelo próprio imperador. Julius, entretanto, deseja que justamente Cirenius o faça e, para este fim, quer fazer transportar os delinquen- tes a Sidon.

  2. Diz Cirenius: “Não ages mal, mas tampouco eu serei juiz dessa causa; sê-lo-á Alguém, mais Poderoso!”

  3. Indaga Julius: “Nobre senhor de toda a Ásia! Por acaso acha-se o imperador neste país?”

  4. Responde Cirenius: “Não, caro Julius; trata-se de Alguém que ordena em todos os países do mundo, portanto acima, de igual modo, do filho coroado do meu irmão, Augusto! Zeus chegou a nós com todo o Seu Poder Divino; Suas Palavras são obras realizadas!” Cirenius assim fala a Meu respeito, para não Me denunciar, também ignorando que Julius já Me conheça.

  5. Por isto, Julius responde: “Meu chefe, vivemos numa época de milagres e os deuses se mostram mui magnânimos para com os mortais; pois eu, da mesma forma, tive, há poucos dias, a estranha oportunidade de conhecer um Homem semelhante a Zeus! Um ano não bastaria para te relatar tudo que fez Ele em Genezareth e, principalmente, em casa de Ebahl!”

  6. Cirenius arregala os olhos e, encabulado, não sabe o que dizer, pois logo percebe que se trata de Mim; só não queria, porém, pertur- bar a crença de Julius. O mesmo fato ocorria com este. E assim ambos fazem rodeios em volta de Minha Pessoa, até que Eu, finalmente, apre- sento-Me, dissipando suas dúvidas recíprocas.

191.MÉTODOSDEENSINO,CELESTIALE MUNDANO

  1. Tanto Ebahl quanto Yarah confirmam o testemunho de Julius, pois se acham a caminho de Sidon para encontrar esse Homem Mila- groso, do Qual a menina sente grande saudade. Aparentemente admi- rado, Cirenius indaga como isto é possível, porquanto ela se acha em companhia dum rapaz muito atraente.

  2. Como sabemos, Yarah nunca fica devendo resposta, pois lhe replica: “Nobre senhor! Como podes negar Aquele que tantas provas já te deu de Sua Divindade, classificando-O como um dos muitos deuses mortais? Vê, eu sinto Sua Presença e tu também, no entanto O negas! Acho ser isto não muito louvável, tanto de tua parte como da de Julius!

  3. Além disto, acusas-me de eu estar enamorada Dele; amo-O como todas as criaturas o deveriam fazer: adorando-O como meu Cria- dor, Deus e Senhor, com sentimentos de pureza. Como poderia estar enamorada? Pergunta a este meu companheiro e professor, pois sabê-

-lo-á explicar melhor. É mais sábio e forte que todos os heróis, com exceção Daquele que procuro. Por isto, indaga deste jovem!”

  1. Cirenius vira-se para Raphael, mas Josoé o impede em sua inten- ção, dizendo em surdina: “Nada lhe perguntes, pois é igual àquele que me procura de vez em quando. Estes seres nada suportam de impuro, tampouco uma pergunta imprópria.”

  2. Dirige-se Cirenius a Ebahl: “É de se admirar a sabedoria de tua filha! Não é crível que a tenha aprendido em poucos dias do Mestre dos Mestres e, muito menos, daquele jovem. Esta categoria de professores, embora raros na Terra, não obtém grandes resultados com os mortais. Sei por experiência com meu filho adotivo Josoé, que, de quando em quando, recebe a visita dum rabi. Depois de terem discutido algum tempo, não se sabe quem tem razão, pois, não obstante as opiniões di- vergentes, ambos estão certos. O ensino redunda numa sábia contenda, da qual ambas as partes saem vitoriosas.

  3. Josoé torna-se, às vezes, um tanto intempestivo com o seu místi- co professor, de sorte a mandá-lo embora; mas o outro não se perturba,

reafirmando seus absurdos e deixando — finalmente, transparecer al- guma Luz. Penso que o de tua filha faça o mesmo.”

  1. Diz Ebahl: “Realmente, nunca pude positivar quem tivesse ra- zão. Não há ensino, propriamente dito; o jovem mestre procura apenas confundir as noções de sua aluna, deixando que esta as organize. Se tenciona, porém, anular as objeções do rabi, é preciso que apresente argumentos tão concisos que o impeçam de uma saída. Com isto prova estar certa! Minha filha já conseguiu deixar seu professor em tais aper- turas que só pela ajuda dela própria pôde se salvar — o que também confessou!

  2. O ensino celeste é bem estranho! Na maioria dos casos o aluno ensina ao mestre, o que muito lhe agrada. Aprovo este método com prazer, pois numa hora se aprende mais que numa escola mundana durante um ano. Nesta, o aluno se torna, tanto física quanto espi- ritualmente, escravo do professor, pois só aprende aquilo que o ou- tro sabe. E caso pergunte pela veracidade dos dogmas, é severamente castigado.

  3. Não raro tenho visto crianças duma lucidez espantosa! Qual não teria sido seu futuro, se tivessem educação apropriada; no entanto, en- sinavam-lhes a tecedura de cestos, deixando o espírito à míngua. Eis a grande diferença entre o ensino celeste e o mundano: um educa a alma dentro da liberdade, fazendo-a caminhar através de máximas relativas ao espírito; o professor mundano faz o contrário, isto é, abate o espírito em prol da matéria! Estarei certo?”

  4. Responde Cirenius: “Perfeitamente; de há muito compartilho desta opinião. Mas que fazer? Os professores só poderão ensinar aqui- lo que sabem, e assim se tornam guias cegos de cegos! Aprendemos a Imensa e Santa Verdade Daquele que, com ela, nos fez discernir a Luz das trevas; mas, até que esta Luz seja posse comum da Humanidade, muitos cestos serão trançados por espíritos lúcidos! Dize-me: qual o futuro de tua filha? É um espírito de Luz e, além disto, ensinada por um mestre dos Céus. Será, porventura, uma dona de casa?”

  5. Diz Ebahl: “Nobre senhor! Observa nossas escolas! Realmente, são vergonhosas instituições! Penso que um bom educandário feminino

seria algo de se desejar, pois a mãe é a primeira e melhor professora dos filhos. Se ela possuir inteligência e sentimento na justa medida, os filhos não construirão suas moradas em bases arenosas, tampouco po- derão ser desencaminhados. Se as mães, porém, forem mais tolas que os vermes — o que hoje em dia é fato comum — nada se poderá aguardar de seu ensino. Não é isto?”

192.OSDIREITOS TRIBUTÁRIOSDO TEMPLO

  1. Diz Cirenius: “Tens plena razão e, reconhecendo em ti um ho- mem de especial valor, nomear-te-ei para algum cargo!”

  2. Obtempera Ebahl: “Isto não será fácil, porquanto sou judeu e impedido pelo Templo de aceitar qualquer nomeação romana.”

  3. Diz Cirenius: “E se eu te fizesse cidadão romano?! Seria, para todos os efeitos, de grande utilidade!”

  4. Responde Ebahl: “Nobre senhor, aceito tua proposta por me dar a liberdade dum natural de Roma; no íntimo, porém, continuarei judeu verdadeiro, pois não posso mudar a convicção de que o judaísmo veio dos Céus para trazer a salvação à Humanidade.”

  5. Diz Cirenius: “Pois bem, terás este documento com todos os direitos da cidadania romana, que te protegerá contra os templários.” Em poucos instantes ele manda aprontar o pergaminho, que entrega a Ebahl. Comovido, este agradece, prometendo levar outros judeus ao mesmo caminho.

  6. Diz Marcus: “Amigo, é justo que te alegres, pois esta liberdade representa valor. Sou romano de nascimento; não obstante, sou obri- gado a pagar ao Templo — qual judeu — um tributo anual. Os judeus apenas pagam o dízimo; mas de nós, romanos, exigem um certo tribu- to, em virtude dum direito sub-reptício, e é preciso que nos conforme- mos com isso. Roma deveria cortar aos templários esta prerrogativa, por fazê-los muito atrevidos.

  7. Neste transporte de criminosos a Sidon, acham-se vários im- plicados e subornados pelo Templo. A obrigação tributária vigora ape- nas em alguns principados de Canaan, onde o Templo possui deveras

autorização para tanto. Os templários, porém, não se satisfazem com isto e, munidos de documentos falsificados, obrigam os romanos ao pagamento do dízimo. Ainda hoje de manhã paguei-lhes o correspon- dente aos peixes, do contrário teria sido molestado. Sou de opinião que se deveriam revogar todos os privilégios dados ao Templo, pois Roma corre perigo de revoltas em quantidade na Ásia!”

  1. Diz Cirenius: “Este caso ainda poderá ter solução. Quanto ao mencionado tributo, os templários terão que enfrentar a justiça roma- na!” (Virando-se para Julius): “Tu, Julius, vais receber hoje alguns per- gaminhos por mim redigidos, onde lavrarás algumas sentenças. Com- preendeste-me?”

  2. Diz este: “Estaria tudo bem se o tetrarcado da Judeia não viesse sendo arrendado pelo guloso Herodes! Além disto, vive em Jerusalém Pontius Pilatus, um prefeito comodista, que não deseja ser importu- nado. Ainda que dites ao Templo mil leis, as mais severas, ele saberá sonegá-las. Agir pela violência seria arriscar muito, pois o povo tem os sacerdotes — mormente na Judeia — por semideuses. Assim, é preciso muita cautela, caso se queira agir contra o sinédrio.

  3. Ele soube se munir de muitos privilégios por parte de Roma, que teremos de respeitar, enquanto romanos, e as ‘cartas brancas’ pouco efeito terão. Em Genezareth e seus arrabaldes já cortei aos sacerdotes a extorsão do dízimo e do tributo, e sei que Cornélius fez o mesmo em Capernaum. Na Judeia, porém, isto por ora será difícil. Eis minha opi- nião; estou, no entanto, às tuas ordens!”

193.TRATAMENTODEMALFEITORESE OBSEDADOS

  1. Cirenius louva Julius, externando-lhe a seguinte opinião: “Meu amigo, sabes o quanto te considero e sempre apreciei teu tirocínio. En- tretanto, parece-me que o que acabas de falar não vem do teu intelecto, mas que o assimilaste por Alguém!”

  2. Diz Julius: “Oh, por certo! A verdade não está no fogo, mas em sua luz suave; por isto, sou muito mais benigno e condescendente desde que O conheço! Se me fosse possível encontrá-Lo de novo...!”

  1. Afirma Yarah a seu lado: “Também este é meu ardente desejo!” Nisto aproximo-Me por detrás de Julius, e Cirenius diz: “Vê só: atrás de ti está Alguém querendo te falar!” Ele se vira rápido e quase perde os sentidos de alegria por Me ver aqui; Yarah solta um grito de êxtase — e cai desfalecida em Meus Braços, levando meia hora a voltar a si.

  2. Como esteja anoitecendo, digo a Marcus: “Cuida dum bom jantar de peixes, pão e vinho.” Diz ele: “Senhor, que faremos com os criminosos atados a pilastras e vigiados por militares?”

  3. Digo Eu: “Ficarão sem alimento algum, a fim de se curarem dos inúmeros elementos perniciosos que os dominam. Tu, Meu irmão Julius, apresentar-lhes-ás um veredicto onde se leia a sentença de mor- te atroz por fogo brando! Somente amanhã serão perdoados e, talvez, libertos. O imenso pavor fará com que os elementos se mortifiquem até se afastarem. Atai-os bem, do contrário vos darão muito trabalho! Os sete rebeldes políticos poderão ficar mais à vontade; anuncia-lhes o castigo com o açoite e dá-lhes algum pão e água. De manhã veremos se é possível sustar o castigo!”

  4. Cirenius se dirige a Julius com a ordem: “Vai, parte o bastão e transmite-lhes o que os aguarda amanhã!” Julius, de pronto, dirige-se com alguns soldados à praia, cerca de quinhentos passos distante da casa de Marcus. Chegando junto dos criminosos, atados a estacas na margem, ele ordena que sejam mais fortemente amarrados. Só após os soldados isto terem feito, com fortes cordas e correntes, Julius comu- nica aos cinco salteadores o que lhes aguarda a partir de amanhã cedo. Ao mesmo tempo cientifica aos sete implicados políticos da flagelação.

  5. Quando orientado a respeito, o primeiro grupo começa a gritar desesperadamente, pedindo a morte, pois não seria capaz de suportar tamanho castigo. De modo idêntico o outro pede clemência; Julius, porém, afasta-se sem lhes dar ouvidos. Ao encontrar-se de novo conos- co, ele diz: “Francamente — isto não é brincadeira! Tamanha gritaria e desespero até afugentariam um animal! Que expressões horrendas! Estou para ver como se apresentarão amanhã!”

  6. “Vês”, digo Eu a Julius, “tal foi o efeito dos maus elementos que abrigam! Dificilmente suportarão o grande pavor até amanhã, abando-

nando em parte suas vítimas, e nosso trabalho será fácil para libertá-los integralmente!”

  1. Indaga Cirenius: “Que será feito com eles? Continuarão por algum tempo sob vigilância?” Digo Eu: “Claro, pois nenhum poderá ser liberto sem a devida educação; nem os sete criminosos políticos, pois homem algum se livra do pecado na mesma rapidez que o cometeu. Para tanto os cinco levarão mais que um ano; os outros, seis meses. Agora, vamos jantar.”

194.ASSÁBIASPALAVRASDE YARAH

  1. Diz o velho Marcus: “Senhor e Mestre, através de Tuas Palavras ouvi tantas verdades como nunca, de sorte que Tua Promessa de co- nhecer eu a finalidade do homem e o Reino do Céu se realizou. Farei, agora, com que nosso físico também se refaça.”

  2. Digo Eu: “Isto mesmo, pois, após o jantar, algo virá te iniciar mais de perto no Reino de Deus!”

  3. Diz ele: “Senhor, que se passa com esta menina que parece não tencionar mais deixar-Te?!” Digo Eu: “Indaga-lhe, pois não te ficará de- vendo resposta!” Marcus assim faz e Yarah, levantando-se, diz: “Ouve, prezado e velho amigo! Quem tiver conquistado a Este nunca O deverá largar; pois isto seria idêntico a perder a Vida Eterna. Todos nós deverí- amos conservá-Lo deste modo em nossos corações!

  4. Quem ama sua vida e, por vezes, esquece o Senhor da Vida por causa do mundo, perdê-la-á como a Ele. Mas quem a desconsiderar, classificando de Vida Verdadeira apenas aquela que se dedica ao Senhor da Vida, tê-la-á conquistado, mesmo morrendo mil vezes!

  5. Da primeira vez que vi o Senhor, reconheci-O em meu coração, amando-O sobre tudo; se Ele desejasse que eu morresse agora, tal morte seria um prazer! Pois sei e sinto que o amor para com Ele é imorredouro e imune do pecado, que para a alma representa a morte. Se a alma esti- ver morta, a criatura também o estará. Guarda isto, pois sou da escola do Céu, que é Amor, Verdade e Vida!”

  6. Entusiasmado, Marcus exclama: “Ó filha dos Céus, és dema- siada boa e pura para este planeta! Realmente, deixando o Senhor

esta casa, procurar-te-ei, a fim de aprender a Sabedoria Celeste! Que diferença entre ti e minhas filhas! És um sol, enquanto elas mal transmitem o brilho deste astro numa gota de orvalho! Oh, Ebahl! Como és feliz por seres pai deste anjo!” Com lágrimas nos olhos ele vai à cozinha, onde conta às filhas o ensinamento recebido por Yarah. Elas, por isto, lhe pedem para lhes proporcionar o convívio com a menina.

  1. Em seguida vamos para a mesa, onde Yarah recita um salmo de David e pede que Eu abençoe os alimentos. Cirenius está à Minha es- querda e Yarah à direita; ao lado dela se acha Raphael e, em frente deste, o velho Marcus, que se admira de como o anjo se alimenta, pois tudo que leva à boca desaparece.

  2. Josoé, observando o espanto de Marcus, indaga-lhe o motivo. Diz o velho: “Filho de meu nobre senhor, que coisa estranha! Este jo- vem não abre a boca, não mastiga, entretanto os alimentos são ingeri- dos! Que milagre é este?”

195.MATÉRIAE ESPÍRITO

  1. Diz Josoé: “Daí deves depreender que matéria alguma poderá penetrar nos Céus, como este anjo, que dissolve todo alimento em suas potências espirituais, dele assimilando apenas o que é espírito. Ele é um ser puríssimo e representa o Céu em forma diminuta; os alimentos sig- nificam as criaturas mundanas, por ora enterradas na matéria. Se bem que ela fosse — como estes pratos saborosos — preparada no fogão do Grande Mestre, que isto nos ensinou pessoalmente — não podemos, todavia, com ela penetrar no Reino do Céu.

  2. Quando formos chamados por Deus a deixar este mundo, um anjo nos fará o mesmo que este com o alimento, isto é: libertará num instante tudo que pertence ao espírito, entregando a matéria à disso- lução. A alma e seu espírito e tudo que na matéria lhe pertence serão unificados numa perfeita forma humana, conduzindo a primeira ao mundo dos espíritos puros, de acordo com a Vontade Eterna e Imutável de Deus. Eis a dedução obtida da atitude deste anjo!”

  1. Diz Marcus, admirado com a sabedoria de Josoé: “Deste-me um ensinamento muito importante, pelo qual sempre te serei grato; toda- via, quanto mais sei mais desejo saber, no que diz respeito à dissolução da matéria.”

  2. Responde Josoé: “Amigo, não convém ao homem saber demais; no entanto, digo-te ser ela nada mais que espíritos fixados pela Vontade Onipotente de Deus. Tal anjo é a expressão personificada de Sua Von- tade e só pode agir de igual maneira.

  3. Deus querendo dissolver a matéria duma criatura, a Onipotência Divina dela se apodera e sua unificação é sustada, o que a faz desapare- cer, integrando-se em seu elemento de origem espiritual e permanecen- do o que fora, então enobrecida e aperfeiçoada. Inúmeras potências ou- trora isoladas são unidas a um indivíduo perfeito que se apresenta como alma humana, de acordo com a Vontade Divina. Compreendeste?”

  4. Responde Marcus: “Sim, porém não mais farei perguntas, pois tua sabedoria é por demais elevada! Apenas desejaria ouvir-te palestrar com Yarah, pois isto deve ser qualquer coisa de maravilhoso!”

  5. Obtempera Josoé: “Eis o que considero um tanto fútil! Acaso seria prudente despejar o conteúdo dum cálice num outro, cheio, para que fosse entornado sem necessidade? O que sei ela também saberá; portanto, nenhum de nós aprenderia alguma coisa com o outro. Procu- ra tu mesmo falar com ela, pois vós todos lucrareis com isto. Até hoje moça alguma passou por tais experiências, por isto é conhecedora de coisas que tem ciência apenas o Senhor!”

196.YARAHDESATA,PORJOSOÉ,O GÓRDIO

  1. Digo Eu: “Meu Josoé, como afirmas que o amor de Yarah se baseia numa sabedoria tão elevada e possuir ela conhecimentos que so- mente Eu sei?”

  2. Responde ele: “Senhor, como podes perguntar-me, se foste Tu que me inspiraste para falar de tal modo?”

  3. Digo Eu: “Muito bem; assim sendo, dize-Me por que o faço, quando conheço os pensamentos de teu coração muito antes de tu os elaborares?”

  1. Perplexo, Josoé procura uma resposta — mas em vão! Depois de algum tempo diz, encabulado: “Senhor, não é possível responder razo- avelmente, dentro de meu conhecimento ainda escasso. Talvez o fizesse pro forma, como fazem os rabis com os educandos. Existe, entretanto, grande diferença entre Ti e um deles, que só sabem do seu próprio co- nhecimento, ignorando o do aluno. Tu, porém, não só és ciente do que sei, mas de todos os pensamentos ocultos das criaturas e dos anjos — e mo perguntas?! Eis o nó górdio, que ignoro como desatar, pois não sou Alexandre!”

  2. Digo Eu: “Por que és inquirido pelo anjo de Sichar, tendo ele tão profundo saber? Até se deixa ensinar por ti, como se fosse teu aluno?”

  3. Replica Josoé: “Senhor, eis aí minha constante queixa, pois, se eu lhe faço uma indagação, ele responde: ‘É justamente o que ia per- guntar-te!’ Hoje de manhã já me referi a este método estranho. O pai de Yarah desenvolveu uma teoria aplicável também à Tua pergunta pre- sente. Não estou, porém, de pleno acordo. Tal método é admissível com alunos de vastos conhecimentos, pois os estimula a pensar, sentir e deduzir por si próprios. Com um analfabeto o resultado seria nulo; portanto, a boa opinião de Ebahl não é praticável neste momento e digo com sinceridade: não sei responder, Tu precisas fazê-lo por mim!”

  4. Digo Eu: “Que tal se Yarah nos esclarecesse?”

  5. Diz Josoé, um tanto perplexo: “Como não? Se lhe for possível. Se Tu, Senhor, lhe deres a resposta no coração, ela não terá dificuldade neste certame!”

  6. Digo Eu: “Por certo que não o farei!”

  7. Responde ele: “Então obterá o mesmo resultado que eu!”

  8. Digo Eu amavelmente: “Veremos! Yarah, dize-nos por que mo- tivo fiz uma pergunta a Josoé, se Eu de há muito já conhecia a devida resposta?”

  9. Diz ela, um tanto encabulada: “Senhor, se é que devo falar, parece-me que lhe fizeste uma indagação oculta, a fim de que sua alma fortemente vibrátil fosse um pouco humilhada. Afirma ele não haver assunto a discutir comigo, alegando saber de tudo que sei. Esquece que Tu distribuis as dádivas espirituais — até entre os anjos — do modo

mais variado, de sorte que o espírito mais perfeito terá que aprender com outro idêntico.

  1. Opino, por isto, teres Tu formulado essa pergunta para que Josoé conseguisse um conhecimento que lhe fizesse compreender a hu- mildade. Embora — contradizendo-se — afirmasse a Marcus ter feito eu experiências através de Tua Graça como ninguém nesta Terra — ele se compara a um cálice cheio! Assim, não compreendo por que não desejava palestrar comigo. De minha parte creio que — não obstante minhas experiências sem par — muita coisa poderei lucrar com ele! Por esta dedução, vejo que seu cálice não estava tão repleto que não comportasse mais uma gota do meu vinho! Não quero, em absoluto, criticar meu bom amigo; falo como sinto. Mas, se cometi um pecado, começarei a penitenciar-me!”

  2. Digo Eu: “Não, de modo algum! Vejo teu coração fiel; fizeste um grande favor ao Meu querido Josoé, pois foi, no ponto mencionado por ti, um tanto fraco, o que com o tempo prejudicar-lhe-ia. Agora está curado e terá muito prazer numa palestra contigo!”

197.OCONHECIMENTOLIMITADODAS CRIATURAS

  1. (Virando-Me para Josoé): “Então, que Me dizes a esta resposta precisa de Yarah?”

  2. Diz ele: “Senhor de toda Vida! Esta menina não é humana, mas a personificada Luz Celeste de primeira grandeza — enquanto eu, ape- nas uma estrelinha! Também conto com experiências raras aos mortais

  1. Diz Yarah: “Caro Josoé, és filho dum rei; eu, filha dum judeu, hospedeiro em Genezareth — portanto, falando mundanamente, seria pretensão minha aproximar-me de ti! Se quiseres descer de tuas alturas, encontrarás dois braços estendidos e a porta aberta de minha choupana

simples!” A esse convite, Josoé mal sabe o que responder. Cirenius en- tão lhe diz: “Vai, Josoé, senta ao lado de Yarah, pois até eu estou curioso por ouvir-vos!”

  1. Diz ele: “Ah, ela não ordenou que eu me sentasse a seu lado! Além disto, não parece admitir eu não ser filho dum rei, tampouco que o orgulho de nascimento me seja mais distante que o Céu da Terra. Sou unicamente pela verdade! Desprezo tudo que lhe fique abaixo; mas, aci- ma dela, como sendo os Segredos de Deus, adoro-os e não exijo clareza do inadmissível para os vermes deste orbe!

  2. Em Deus reside a Plenitude da Sabedoria Infinita; em nós — nem um átomo! Tudo que sabemos é imperfeito; torna-se difícil desco- brir o caminho entre o Alpha e o Beta — muito menos até ao Ômega! Nos Céus brilham miríades de estrelas; quem as conhece? A Sabedoria Divina as criou e as rege!

  3. Sabemos o que Deus nos revela; além disto, permanecem as tre- vas para a alma e ai daquele que arriscasse rompê-las, pois seria por elas tragado. Nós, criaturas, somos receptáculos de certa medida, porém de capacidades diversas. A minha é, evidentemente, a menor; a de Yarah é bem dilatada, de sorte que me poderá prover de algo. Não posso, con- tudo, sentar-me a seu lado por ser ela mais sábia!”

198.QUEÉA VERDADE?

  1. Digo Eu a Josoé: “Meu filho, falaste mui sabiamente, expressan- do tuas palavras muita coisa boa e verídica; entretanto, preciso chamar-

-te a atenção sobre certo ponto. Como és sábio, posso externar-Me de modo mais profundo.

  1. Disseste literalmente: ‘Sou apenas pela verdade...!’ É justo ser a criatura inclinada à verdade; este princípio, porém, é atravessado por uma indagação poderosa, formando destarte uma cruz perfeita! Se tu, ou algum outro, puderdes resolver esse problema — Meus Ombros ficarão livres da cruz.

  2. Dize-Me: o que vem a ser a verdade, pela qual te empenhas? Porventura é o que vês? Tudo se apresenta de forma nebulosa e aquilo

que hoje nos aparece como verdade, amanhã já não mais o é! Vê, lá no horizonte se movimenta uma pequena nuvem em forma de peixinho. Quanto tempo permanecerá como tal? O próximo momento a decla- rará uma mentira!

  1. Se Eu te der três peras, confirmarás seu número. Considerando as sementes nelas contidas, como irás positivar o cálculo exato? Terás, assim, as três frutas como número certo ou são elas somente uma apa- rência sob a qual se ocultam outras tantas, como os guerreiros no ventre do cavalo de Tróia?!

  2. Onde começa a verdade e onde termina? É o homem, tal como se apresenta, uma verdade? Olha uma criança e observa, em seguida, um ancião! Será uma cidade algo real? Hoje existe, amanhã poderá ser destruída!

  3. A verdade só existe para aquele que se acha dentro dela; para outrem, apenas aquilo que nele é verdadeiro. Uma verdade temporária é relativa; a verdade plena, porém, será eternamente o que é a cada mo- mento. O que, portanto, vem a ser a verdade plena?”

199.OSEGREDODAORIGEMDETODAA SABEDORIA

  1. Josoé pensa daqui e dacolá e não sabe o que dizer! Cirenius, então, responde: “Senhor, eis uma pergunta com a qual todos os sábios e filósofos quebraram a cabeça. A julgar por Tuas Expressões, tudo que vemos não é verdade plena, e sim pela metade mentira?! Quem poderá neste caso ter confiança em uma palavra? Tua pergunta até me entriste- ce. Terás que ter a gentileza de respondê-la Tu Mesmo, pois não haverá sábio que desvende este mistério!”

  2. Digo Eu: “Não te incomodes! Nesta mesa há muitos capazes de solvê-lo, pois sabem donde sopra o vento! Quero, porém, que Yarah socorra Josoé! Por isto (voltando-Me para ela), Minha filha, vê se en- contras em teu coração uma resposta acertada!”

  3. Diz ela, sorrindo: “Realmente, surpreende-me que o tão sábio Josoé não tenha encontrado a solução precisa para esta fácil questão! A verdade plena e eterna é Deus Mesmo, o Qual, sendo a Perfeição,

é em Espírito o Mesmo, isto é, Imutável, porquanto em Sua Perfei- ção não pode haver mutação possível. Deuséaúnicaeeternarazãodetodo ser.Tudo que existe nada mais é que Suas Ideias fixadas; e estas, a Vida de Deus.

  1. Assim, só há verdade plena em Deus, porquanto nada existe além Dele — e em nós, apenas o que concerne à nossa união com Seu Espírito, através do amor puro para com Ele. Essa união nos ilumina em todas as situações. Essa Luz Original, em Sua máxima pureza, é a verdade eterna e imutável. Julgo ter dado a única resposta possível.”

  2. Digo Eu a Cirenius: “Então, que Me dizes? Não penses que Eu a tenha inspirado; encontrou esta conclusão em seu íntimo. Digo-vos a todos: Yarah não pronunciou uma palavra demais ou de menos.

  3. Mas donde lhe vem isto, enquanto Josoé afirmava ser apenas pela verdade e não a encontrou? Vede, o amor puro e desinteressado desta menina une seu coração a Mim, de sorte a capacitá-la na busca da Luz pelo caminho mais curto, integrando-se de toda Sabedoria provin- da desta Luz e da Verdade, que em Mim são idênticas. Se tu, Meu Josoé, és pela verdade, que dirás à tua amiga, que vive pelo amor?”

  4. Responde ele, embaraçado: “Senhor, reconheço a mancha em minha alma; no entanto, não sei como exterminá-la! Fui injusto para com Yarah e desejo reabilitar-me; se me permites, sentar-me-ei a seu lado.”

  5. Digo Eu: “Pois não! A Assembleia toda aguarda com prazer vos- sa controvérsia. Digo-te que, ao lado dela, encontrarás aquilo que tanto prezas!” Ele se levanta rápido e se assenta entre Raphael e Yarah.

200.JOSOÉEYARAHEM PALESTRA

  1. Quando a seu lado, Josoé lhe diz: “Não me queiras mal! Ig- norava que tu, uma menina, possuísses sabedoria mais profunda que todos os sábios da Terra. Peço-te, porém, que me reveles algo do teu vasto cabedal!”

  2. Diz Ela: “E tu faças o mesmo, pois és conhecedor de coisas es- tranhas para mim!”

  1. Diz Josoé: “Não lucrarás muito, por ser minha medida pequena e, além disto, furada como peneira! Portanto, começa tu! Estou tão en- cabulado que não saberia o que dizer. Na Presença da Sabedoria Divina é mais fácil calar e ouvir. Tu, porém, possuis para tanto uma boa ponte, podendo buscar o que te agrada!”

  2. Afirma Yarah: “Mas Josoé, não fica bem a uma menina querer tomar a dianteira! Poderás arguir-me, que te responderei!”

  3. Diz ele: “Não seria difícil se me ocorresse uma ideia! Quando criança, tinha perguntas em quantidade; mas, depois que a pessoa já se deu as respostas a si mesma, é menos fácil perguntar do que responder. Peço-te que dês início à questão!”

  4. Diz ela: “Já que o queres, dize-me por que Deus, o Senhor, per- mite que, mormente em nossa época, Seus servos e privilegiados distri- buidores de Seu Verbo sejam as criaturas mais maldosas e orgulhosas e pratiquem os atos mais repelentes sem titubear? Por que não temem a Deus, cujo Poder e Glória anunciam diante do povo com pompa cerimonial?”

  5. Replica Josoé: “Esta pergunta é muito importante; como não sei respondê-la, és tu obrigada a fazê-lo!”

  6. Intervém Cirenius: “Mas, Josoé, terás algo a dizer?! Tuas cons- tantes evasivas já me aborrecem! Não és tão ignorante que não saibas dizer qualquer coisa. Se errares — há nesta mesa muitas pessoas que te poderão esclarecer!”

  7. Diz Josoé: “Ilustre pai e senhor! É fácil mandar; obedecer, po- rém, é amargo, quando, como eu, não se é capaz de demonstrar obe- diência! Imagina a máxima Bondade e Sabedoria Infinitas de Deus ao lado de atos repugnantes praticados a toda hora! Analisando tais polos, verás ser mais difícil responder que provar o resultado de três vezes três! Algum outro faça esta tentativa e verá não ser brincadeira!”

  8. Diz Cirenius: “Concordo seja indispensável se possuir um grau elevado de sabedoria; em todo caso, ficaria satisfeito em saber por que motivo Deus permite tais fatos. Penso que, se além de Ti, Senhor, e Yarah, ninguém souber explicar sua causa, será preciso que Te prontifi- ques a fazê-lo!”

  1. Digo Eu: “Somente se ela não o conseguir. Faze uma tentativa, Yarah, provando não ter Eu arranjado teu jardim em Genezareth por tão pouco.”

201.OBSERVAÇÕESDEYARAHACERCADESEU JARDIM

  1. Ela se levanta qual orador e começa: “Muito bem; minha horta foi abençoada pelo Alto e, quanto ao meu zelo aplicado apenas há três dias, posso relatar o seguinte: lucro material ainda não foi possível ob- ter; todavia, já me proporcionou um benefício espiritual muito maior.

  2. Aquela horta é para mim um livro de profundos conhecimentos e aprendi neste curto lapso mais do que Salomon poderia com toda a sua sabedoria. Assim, a presente resposta surgiu nesse jardim de ma- neira brilhante, tornando-se posse minha, dada pelo Senhor! Se des- conhecesse a resposta certa, nunca teria feito a pergunta a bel prazer, buscando algo que talvez não se coadunasse com meu entendimento. É aplicável não só para agora, mas para todos os tempos em que a Palavra Divina e o respectivo sacerdócio existirem sobre a Terra! Ei-la:

  3. Semeei no bom solo de meu jardim várias espécies de bons grãos. Alguns germinaram no dia seguinte, e no terceiro os brotos alcançaram a altura de quatro dedos.

  4. Sempre fui muito curiosa e não me contive em observar de perto um gérmen mais desabrochado entre os outros. Para tanto tive que desen- terrar alguns e... vede — encontrei a semente apodrecida e a terra em vol- ta mesclada de mofo! Desta tumba surgiu a tenra plantinha e da semente, propriamente dita, existia apenas um pouco de sua casca indestrutível.

  5. Além dessa observação importante, verifiquei terem sido vários grãos exterminados pelo mofo, nada restando que prometesse uma completa germinação. Contudo, não passou despercebido aos meus olhos o crescimento de pequenas plantinhas sobre a terra mofada, com- pletamente diversas da boa semente. Logo deduzi que esses falsos gér- mens também eram produto do que havia eu semeado; acontecendo apenas que a terra faminta dele se nutrira, impedindo que desabrochas- se. De que lhe adiantara isso? Em lugar de um gérmen nobre, surgiram

trinta agrestes, extraindo talvez mais alimento do solo que uma boa plantinha.

  1. O ouro não necessita ser tratado como o cobre, basta purificá-lo uma vez para que brilhe durante séculos. A vinha dá frutos no pior solo; os cardos e abrolhos procuram geralmente o melhor. Os animais caseiros são raras vezes vorazes, enquanto um lobo, uma hiena e outros sentem fome a toda hora. De modo idêntico, o homem bom é parci- monioso; ao materialista, porém, coisa alguma satisfaz.

  2. Vede, o solo de meu jardim foi um tanto avaro, desejando nu- trir-se de meus grãos especiais. Qual foi a consequência? Teve de nutrir, em vez de uma planta boa, cem vorazes e agrestes!

  3. O mesmo acontece às criaturas desejosas dum Céu sobre a Terra com todos os prazeres efêmeros. Um dia terão que deixar sua fortuna, conquistada com tanto sacrifício, para outros esbanjarem-na de modo inescrupuloso. Isto é apenas o preâmbulo à resposta. Gravai bem este quadro que achá-la-eis por vós mesmos!” Todos se absorvem em medi- tações e se admiram da profunda sabedoria de Yarah.

202.INTERPRETAÇÃODO QUADRO

  1. Nisto ela se volta com delicadeza para Josoé, dizendo: “Ainda não recebeste uma luz clara em teu coração?”

  2. Diz ele: “Sábia Yarah! Parece-me que vislumbro algo. Continua, portanto, com teu esclarecimento!”

  3. Prossegue ela: “Se meu quadro foi por vós assimilado, compre- endereis também o que se segue: Espiritualmente falando, as criaturas da Terra são idênticas ao solo de meu jardim; a Palavra Divina que veio dos Céus através de Adam, dos patriarcas e profetas designados por Deus Mesmo é comparável aos grãos bons e nobres que semeei. Não há, porém, semente que dê logo frutos quando depositada na terra, o mesmo acontecendo com o Verbo Divino.

  4. Quando penetra a alma do homem, necessário é vivificá-lo pelas ações — correspondentes à vitalidade alimentar do solo — tornando-se deste modo um gérmen justo, destinado ao fruto verdadeiro e poderoso

da Vida Espiritual em Deus. Se, porém, aqueles que primeiro aceitam o Verbo — como sejam os profetas e sacerdotes — a fim de disseminá-lo no imenso campo da Humanidade após a devida maturação no seu íntimo, fazem o mesmo que o solo quando absorveu a semente nobre, nutrindo-se a si próprios — não é de se admirar que nesse campo só cresçam a erva daninha, cardos e abrolhos.

  1. Embora tal aconteça, não é de todo contra a Ordem e a Sabedo- ria Divinas, pois, quando o fruto nobre amadurece, é ele recolhido nos celeiros. A erva daninha fica no campo estrumando a terra, que, com isto, torna-se pujante para a próxima semeadura, ávida por assimilar uma nova semente e vivificá-la.

  2. O mesmo ocorre conosco: se já fôssemos saciados da Verdade Pura dada por Deus, ela não mais nos interessaria para o futuro. Ele, o Senhor, prevendo tal fato, permite que a Humanidade obtusa seja alimentada por certo tempo com ração para porcos, a fim de fertilizar seu solo através do matagal. Só então se torna ávida do fruto nobre da Palavra Divina, como acontece conosco.”

203.OMATERIALISMOESEUS PROPAGADORES

  1. (Yarah): “Realmente, acontecem crimes horrendos a mando de tais servos de Deus! Os que possuem noção das Escrituras indagam como isso é possível diante da Onipotência Divina?! Essas indagações são muito úteis, tornando-se o móvel da verdadeira ação humana, sem a qual jamais poderia penetrar na verdadeira liberdade espiritual, im- prescindível à vida eterna de alma e espírito.

  2. É justo que a criatura exclame diante das maquinações do sa- cerdócio: ‘Senhor, não tens raios, granizo, enxofre e piche que façam castigar esses homens-tigres com a máxima violência de Tua Ira?’ Como resposta, eis que se manifesta uma voz suave do fundo do coração e diz: ‘Sê prudente e sábio, olha onde pisas! Desvia-te da serpente no cami- nho; pois a terra toda ainda não está coberta delas!’

  3. É preciso que haja noite para o homem reconhecer a luz do dia! De dia ninguém sente necessidade da luz de lamparina; mas a noite

obriga a criatura a se prover mesmo de fraca iluminação, que sempre é melhor do que nenhuma.

  1. Vê, quando o Senhor provê as criaturas de bens materiais, elas em pouco se tornam ousadas, dedicando cuidado demasiado ao corpo, enquanto a alma, portadora do espírito, é absorvida pela carne do corpo, ao invés de conseguir o alimento necessário para o desabrochar do Espí- rito Divino. Para este fim Deus deu à alma o corpo. Quando ela é absor- vida pela matéria, poderá apenas apresentar espinhos, cardos e abrolhos.

  2. Tal criatura é, a bem dizer, espiritualmente morta! Ignora o que vem do espírito, negando-o e materializando o que existe. Além da ma- téria grosseira, nada mais há para ela: seu estômago e sua pele sensível são dois deuses, em prol dos quais se prontifica a qualquer sacrifício. Para tais criaturas não existe Deus e, tornando-se sacerdotes, infeliz- mente um fato comum, não é preciso que se indague: ‘Por que razão esses servos da carne se tornaram súditos do Templo, se para eles alma, espírito, Deus e Seus Céus nada mais são que expressões fantasiosas?’ Basta observar suas barrigas cheias, que dão a resposta concisa!

  3. Para esses distribuidores do Verbo Divino, tanto faz alimenta- rem sua comunidade com o Pão Celeste ou com detrito da sarjeta; basta que sejam bem pagos! Por este motivo não nos deve escandalizar o rela- to de ocorrências tenebrosas por parte do Templo.

  4. Que esperar duma criatura que sinta de sua dignidade moral tanto quanto uma víbora da floresta? Convém evitá-la, pois o Senhor está com todos aqueles que O procuram sinceramente, não desampa- rando o filho que na miséria pede socorro!

  5. Todos nós, habitantes das margens do Mar Galileu, de há muito somos um joguete do Templo. Em compensação recebemos a Luz Divi- na, enquanto a Judeia ainda se mantém nas trevas. Fomos os primeiros a sentir a voracidade egoística do solo templário, pelo que entendo o sa- cerdócio; conseguimos, contudo, libertarmo-nos dele. Como semente de Deus, não desperdiçamos nossa potência germinadora no abarrotar do grande estômago do Templo, mas sim volvemos à Ordem Divina, por nós reconhecida, encontrando-nos, destarte, como fruto inúmeras vezes abençoado no solo imenso e maravilhoso de Deus. Os da Judeia,

da Mesopotâmia e países meridionais levarão tempo para reconhecer como são enganados pela casta sacerdotal.

  1. Por esta minha resposta extensa, todos os presentes poderão constatar que a menina de Genezareth sabe definir os Ditames de Deus! Tu, ó Senhor, queiras desculpar eu ter abusado da palavra, a Teu lado! Não era intenção demonstrar meu conhecimento, mas falei o que me vinha da alma!”

204.PALESTRAENTREJOSOÉEYARAHARESPEITODE JUDAS

  1. Digo Eu: “Filha do Meu Coração! Não pronunciaste uma pala- vra demais ou de menos; por isto, aconselho-vos a todos que guardeis o que acaba de falar e procureis agir de acordo. Caso alguém tenha uma objeção a fazer, que se pronuncie!”

  2. Judas se levanta e diz: “Há muita coisa com que não concordo, embora admire profundamente a sabedoria de Yarah.”

  3. Irritado, Josoé o ataca: “Ó criatura sumamente tola! Não ouviste o testemunho do Senhor? Abre teus olhos e vê a meu lado um anjo ce- leste, cujo ser é a luz pura. Além disto, vês Yarah, a sábia oradora, e por certo não és tão cego que não vejas o Senhor Mesmo — no entanto, atreves-te a não concordar com a dissertação daquela?! Dize-me: quem és, para debater-te com o Supremo?” Estas palavras enérgicas de Josoé intimidam Judas de tal forma que volta para seu lugar.

  4. Continua o outro: “Não é ele um dos principais adeptos? Pare- ce-me já ter visto esta fisionomia em Nazareth. Ah, lembro-me de ter ele discutido por várias vezes com Thomaz!”

  5. Diz Yarah: “Deixa, Josoé! Se ele tivesse a nossa fácil compreen- são, calar-se-ia para meditar; como é de sentimento rude, concebe com dificuldade uma explicação elevada!”

  6. Diz o menino: “Tens toda a razão! Julgo, entretanto, não lhe prejudicar a pequena admoestação, pois sei que é muito atrevido. Pro- cura ser um dos primeiros para que os outros lhe peçam conselho; isto, naturalmente, não se dá, porquanto são mais sábios e compreensivos, o que muito o aborrece.”

  1. Diz Yarah: “Sim, lembro-me duma discussão calorosa em Gene- zareth. O Senhor terá Suas Razões para aturá-lo, pois eu de há muito o teria dispensado. Causa-me repugnância e sinto que um dia nos po- derá afligir muito. Não confio em pessoas que não me olham ao falar! Parecem temer uma denúncia de seu íntimo através dos olhos. Essa qualidade não louvável é por Judas manifestada.”

  2. Digo Eu a Yarah: “Minha filha, há bem pouco esclareceste por que permito ao lado do trigo o crescimento do joio. Vê, este adepto é o joio no Meu campo fértil. Quando o trigo for recolhido em Meus Celeiros, o joio permanecerá no campo; será queimado para estrumar e tornar mais fofo o solo duro. Se bem que deva ser solto para o bom crescimento do fruto — também não o deve ser em demasia! Numa terra muito solta, as raízes não poderão se firmar, sendo facilmente queimadas pelo Sol ou arrancadas pela enxurrada. Eis por que a criação dos filhos de Deus necessita de uma base mais sólida; temos de nos conformar com o aparecimento do joio em meio do trigo, pois sem tomar parte na safra permanecerá como adubo, a fim de que a próxima colheita seja mais abundante. Compreendes?”

205.CADAPOVONECESSITADESEUSMEIOS EVOLUTIVOS

  1. Responde Yarah: “Oh, sim! Os filhos carecem duma educação mais rigorosa de que os escravos; pois aqueles terão posteriormente a in- cumbência de cuidar da posse paterna, enquanto os outros necessitam apenas saber o que seu serviço monótono lhes exige. Contudo, seria interessante saber por que razão Deus, o Senhor, permite que na Terra um sirva como escravo a outrem, existindo até leis sancionadas pelo imperador para decisões de vida e morte.”

  2. Digo Eu: “Querida filha, esclarecer-te na íntegra levaria muito tempo; não obstante, mencionarei alguns exemplos. Quem os com- preender saberá a quantas anda. Vê, existem diversas qualidades de grãos: trigo, cevada, aveia e milho; além disto, várias espécies de feijão e lentilha. Cada qual necessita dum solo apropriado, a fim de que dê boa colheita.

  1. Do mesmo modo as criaturas necessitam de educação diversa, de acordo com suas tendências. O exemplo que vês com os vários fi- lhos dum só pai aplica-se à comunidade e a povos. Um precisa dum governo brando para não debandar e, com isto, tornar-se uma praga. Outro possui inclinação definida para o domínio e a tirania. Para tais almas, nada melhor que uma escravidão por vários anos, para que sejam humilhadas. Uma vez que se submetam com resignação e paciência, tornar-se-ão criaturas livres e úteis à Humanidade.

  2. A fim de te facilitar a compreensão, toma como exemplo as di- versas partes do corpo, cada uma de forma diferente, necessitando de tratamento especial em caso de doença. Haja vista que o olho carece dum remédio diverso do pé. Quem sofre de distúrbios intestinais tem de usar precauções adequadas; além disso, uma enfermidade recente é curável por meios suaves, ao passo que um estado crônico requer remé- dios drásticos. A alma da criatura é semelhante aos diversos órgãos do seu corpo; à medida que corresponde a um órgão mais ou menos nobre, deve ser aplicado o tratamento individual.

  3. As diversas relações humanas correspondem à esfera psíquica de seus membros. Um dente infeccionado terá que ser extraído, a fim de não prejudicar os outros; de modo idêntico, um homem corrompido terá que ser expulso da sociedade devido ao seu contágio prejudicial. Um povo in- teiro, às vezes, é aniquilado moralmente para evitar a corrupção de outros.

  4. Estuda a Crônica e verás a grandeza dos povos: babilônios, ni- nivitas, medas, persas, egípcios, gregos, fenícios e troianos. Onde se acham eles? Onde os gomorritas e sodomitas, os povos das dez cida- des? Se ainda existem alguns remanescentes, jamais serão reconhecidos como tais. Nada há pior que um nome velho e tradicional, portador de orgulho fútil. Seus descendentes se julgam melhores que outros que, pela meiguice, humildade e amor para com seus irmãos, se acham jus- tificados diante de Deus.

  5. Observando tais fatores com atenção, logo sabereis testemunhar a Bondade e Justiça do Pai. A Terra foi destinada para educar, por toda a Eternidade, filhos do Espírito Divino; eis por que é necessário que seu solo seja mais duro e estéril do que fofo e fértil.

  1. O joio que aparece com o trigo não prejudica o germinar aben- çoado do fruto, porquanto servirá para adubar o solo. Em suma: Tudo que Deus permite é bom e, para o puro, nada que surge sobre a Terra é impuro. Compreendestes-Me?”

  2. Diz Cirenius: “Senhor, como não? Pois é claro como o Sol!” Digo Eu: “Pois bem; Josoé, então, poder-nos-á externar seu parecer!”

206.JOSOÉTENTA DESCULPAR-SE

  1. Diz Josoé: “Senhor, minha opinião é, por certo, vacilante! Com- preendo o assunto em seu todo; todavia, não me sinto capaz de discutir a respeito. Seria ótimo se Yarah tomasse a si essa incumbência; pois, em- bora procure externar-me com inteligência, sempre haverá o que con- trapor. Assim prefiro ouvir com humildade as lucubrações dos sábios quando emanam irradiações luminosas como o Sol. Além disto, acho supérfluo fazer reflexões sobre um assunto tão bem esclarecido. Quem teria ideia de acender uma lâmpada ao meio-dia, a fim de aumentar a luz solar? Se alguém tiver dúvidas a respeito de Tuas Palavras tão claras, que se externe.

  2. Bem sei que é preciso obedecer-Te, Senhor; mas desta vez vejo-

-me obrigado a desobedecer em virtude de minha justa humildade! Isto porque facilmente Tua Exigência poderia se tornar provação para mim, levando-me, por um sentimento de amor-próprio, a querer iluminar o Sol com uma lamparina defeituosa. Meu coração, porém, diz: ‘Tem cuidado, menino vaidoso; o Senhor está te arguindo! Vê se não fraque- jas diante Dele!’ Ouvindo palavras tais, sei que me devo manter no meu lugar modesto. Tenho razão?”

  1. Digo Eu: “Sim e não, caro Josoé; pois sei o porquê quando te exijo algo. E, caso queiras ter segurança em tua salvação, necessário se torna obedeceres, seja lá em que sentido for! Mesmo exigindo-te a vida, terias que deixá-la com prazer, pois nunca o faria para tua infelicidade.

  2. Sei o que paralisou tua língua. Foste um pouco precipitado no afirmar que eras apenas pela verdade; e como Yarah, uma simples meni-

na de Genezareth, envergonhou-te pela resposta brilhante, perdeste um tanto de tua coragem. Este desânimo não é, no fundo, uma humildade sincera, mas sim a vaidade ofendida de tua alma! Eis o motivo por que não te decides a falar! Quero, porém, que consigas vencê-la, pois para uma alma vaidosa é preferível ser ridicularizada que, pelo caminho do triunfo, ver-se alvo de homenagens! Por isto fala, quando faço tal exi- gência. Externa tua opinião a respeito de Meu Ensinamento sobre a escravidão.”

207.DISSERTAÇÃO DE JOSOÉ

  1. Diz Josoé: “Em Teu Nome farei uma breve tentativa; duvido ser ela muito certa. Evidentemente os pés do homem se acham em situação menos elevada que as mãos; se eles, porém, não levassem a criatura à fonte, não poderiam ser por elas lavados da poeira. Eis por que acho que tanto os escravos quanto os senhores sejam necessários. Quando os pés tropeçam, levam o homem à queda, o que justifica cuidar-se mais deles — embora escravos do corpo — que dos outros membros. Involuntariamente são os pés às vezes obrigados a carregar o corpo numa longa trajetória, recebendo por tal serviço pequeno conforto num riacho, enquanto o corpo procura se fortalecer com comida e bebida.

  2. Por isto, opino ser a escravidão uma necessidade que jamais po- derá ser abolida caso a Humanidade deva permanecer na ordem pres- crita, a não ser que os homens inventem com o tempo outro meio de locomoção, dispensando o serviço escravo dos pés. Seria, em todo caso, preferível abolir-se o cativeiro deprimente, fato que talvez ocorra daqui a muito.

  3. O escravo é considerado comumente o joio entre as criaturas, o que não impede a preguiça e indolência dos donos. Todavia, a escra- vidão é uma escola de humildade, portanto benfazeja aos orgulhosos. Foi pena ter a prisão babilônica durado tão pouco, pois que os isra- elitas melhoraram consideravelmente. Nem bem se viram libertados, procuraram reorganizar sua antiga pompa. Com o levantamento das

muralhas do Templo, surgiu também o antigo orgulho, e a índole dos judeus tornou-se pior que dantes. Eis por que quarenta anos de prisão não foram suficientes; deveria ter durado, no mínimo, um século.

  1. Considero, pois, a escravidão de grande utilidade e penso ser mais elevada a moral dum cativo, porquanto pode ser espiritualmente livre, ao passo que o outro é escravo de seus sentidos. Existe grande diferença entre a pessoa dona de sua vontade — o que acontece com o escravo — e outra, cuja vontade desconhece obediência. Por isto, reafirmo: se esta escola de humildade se extinguir, as criaturas serão grandemente prejudicadas, enquanto não viverem de acordo com Tua Doutrina! Peço-Te, Senhor, que apontes as falhas de minha exposição, para que possa penetrar igualmente na verdade desta esfera.”

  2. Digo Eu: “Caro Josoé, tens razão; apenas te excedeste quanto à prisão babilônica. Toda prisão e escravidão são castigos permitidos por Deus. No entanto, nada mais são que uma obrigação externa para que se modifique o procedimento nocivo para a alma; pois quem evita o mal somente por causa das consequências está longe do Reino de Deus. Apenas aquele que faz o bem pelo bem e foge do mal por ser contra sua índole é um homem perfeito; pois, enquanto não se esforçar na con- quista da verdadeira Luz, permanecerá escravo em espírito e excluído do Reino de Deus. As contingências externas muitas vezes levam as criaturas aos atalhos da vida moral, o que vos explicarei.”

208.AIMPOSIÇÃODALEI, EO AMOR

  1. (O Senhor): “Certa moça é mandada pelos patrões a resolver um assunto caseiro na vizinhança; atrasa-se, porém, de sorte que na volta é surpreendida pela escuridão. No caminho dá com a morada dum ere- mita, como os há em todas as zonas da Judeia, que leva vida austera. Ela bate à porta pedindo pousada para a noite chuvosa.

  2. O eremita abre e verifica tratar-se de uma jovem, por cuja pre- sença sua cabana, por certo, seria profanada. Por isto ele diz, tomado de zelo beato: ‘Não te atrevas a pisar em minha choupana abençoada, mulher impura; segue o caminho donde vieste!’ Sereno e calmo fecha

a porta, deixando a moça chorosa entregue a seu destino. Agradece o ermitão a Deus por tê-lo protegido contra o perigo para sua alma, sem se preocupar com possível acidente a essa criatura.

  1. Após uma hora ela alcança, completamente encharcada, a casa dum publicano difamado, que perante os judeus é grande pecador. Já de longe ele lhe ouvira os gritos, porquanto não é amigo do sono, sendo mesmo cognominado malandro, desordeiro.

  2. Este pecador acende uma tocha e vai ao encontro da infeliz; quando a vê mancando e aflita, consola-a, preparando-lhe uma ceia e um bom leito. De manhã, atrela duas mulas e faz-lhe companhia até a casa dos patrões. Vê, o eremita é penitente rigoroso, vivendo constante- mente numa sujeição voluntária e evitando tudo que possa prejudicar sua suposta alma pura, na certeza de que Deus Se compraz com ele. Além disto, faz questão que o mundo o julgue santo, pois sua chou- pana jamais fora pisada por mulher. É evidente que esta pureza moral lhe proporcione certos benefícios materiais, que escasseariam caso fosse denunciado por haver recebido uma moça.

  3. Ao publicano não importa a opinião do mundo, pois sua casa de qualquer maneira é considerada impura; por isto, judeu algum ali penetra, pois perderia sua pureza por dez dias. Dize-Me, Josoé: a quem darias preferência?”

  4. Diz este, sorrindo: “Oh, sem vacilar, ao publicano! Realmente, se me fosse possível conferir o Céu após a morte, o ermitão seria o último a receber um lugarzinho, pois não lhe daria oportunidade de melhoria até que se tornasse idêntico ao primeiro! Estarei certo?”

209.APUREZADA ALMA

  1. Digo Eu: “Perfeitamente, e afirmo: quem não se tornar igual ao publicano não entrará no Reino do Céu. Prezo, acima de tudo, a pureza verdadeira da alma, ao passo que a do ermitão de nada vale. Basta ser puro de coração diante de Deus, sem que o mundo seja informado a respeito, pois quem espera os aplausos mundanos não precisa aguardar elogios de Minha Parte.

  1. A verdadeira atitude do homem deve se manifestar da seguinte forma: ‘Senhor, sê misericordioso para comigo, que sou pecador!’ Ja- mais deverá cair no juízo temerário, mas sim deve orar pelos inimigos e fazer o bem àqueles que o maldizem e, muitas vezes, prejudicam-no.

  2. Em verdade, quem age desta forma está purificado perante Mim

  1. Até os anjos são, às vezes, obrigados a descer ao inferno, mas, quando voltam, são tão puros como dantes. O mesmo acontece, não raro, com Meus irmãos na Terra; não obstante, externamente, descerem ao inferno, a fim de manter o equilíbrio da Ordem e Onipotência Divi- nas, suas almas permanecem puras na união com Meu Espírito.

  2. Em suma: quem for humilhado por pecado semelhante ao do publicano terá descido por instantes, como anjo, ao inferno, para lá estabelecer a ordem e a calma; quando voltar, porém, sentir-se-á enoja- do, o que purifica a alma. Quem, por sua vez, torna-se orgulhoso pelo vício e nele permanece já é um demônio, embora aparentemente de índole pura.

  3. Aconselho-vos o seguinte: Jamais repudieis aos pecadores que vos peçam socorro; ajudai-os como se nunca tivessem errado! Deveis empregar todos os meios de futuro progresso para vossos tutelados, pelo Amor e pela Sabedoria, aquela sabedoria que deriva do Amor.

  4. De acordo com as Leis de Moysés, a adúltera deve ser imediata- mente apedrejada pela primeira pessoa que a encontre. Eu, porém, digo: Quem a receber em seu lar e procurar salvá-la, física e espiritualmente, será por Mim bem-vindo no Além — e suas culpas serão escritas na areia e o vento as apagará! Quem lhe atirar uma pedra não estando isento de pecado terá de enfrentar julgamento rigoroso; mas quem Me encami- nhar aquele que se perdeu receberá grande prêmio no Reino do Céu. Ficai sabendo: quem julgar pela lei deverá aguardar o mesmo desfecho!”

  5. Diz Cirenius: “Senhor, tudo que falaste é claro e compreensível; apenas existe um ponto...”

  1. Interrompo: “Já sei; queres saber como uma criatura de senti- mentos bons e puros poderá descer ao inferno por um pecado come- tido, a fim de lá estabelecer ordem e calma, voltando purificada. Isto é fácil de se compreender, sabendo-se a fundo o que sejam o pecado e o inferno! Ouvi-Me!”

210.CORPOE ALMA

  1. (O Senhor): “O corpo é matéria e consiste das mais grosseiras e primitivas substâncias psíquicas, que, pela Onipotência e Sabedoria do Eterno Espírito Divino, foram forjadas de acordo com a forma desti- nada à alma.

  2. No início a alma em nada é melhor que o corpo, porquanto tam- bém descende da alma originária e impura de Satanás. O corpo é para a alma impura nada mais que um instrumento de purificação, mui sabia- mente elaborado. Entretanto, a centelha divina habita na alma, através da qual recebe noção de si mesma e da Ordem Divina pela voz da consciência.

  3. Além disto, é o corpo provido dos cinco sentidos, pelos quais a alma adquire impressões externas, boas e más. Através do critério do espírito, ela, em breve, sabe distinguir o bem do mal; pelos sentidos faz experiências de variados matizes, recebendo por Deus, através de Reve-laçõesextraordinárias, o caminho para a Ordem Divina.

  4. De tal forma constituída, a alma pode determinar sua conduta, fator imprescindível à sua existência livre e eterna. Cada alma ansiosa de vida tem que desenvolver-se com os meios facultados, do contrário teria que compartilhar da sorte do corpo. Também se poderia ver na contingência de abandoná-lo não completamente evoluída, deixando o físico imprestável, pelo que se veria obrigada a continuar sua tarefa num meio penoso e desconsolador.

  5. O corpo, constituído de partículas condenadas ao julgamento e, portanto, mortal, é para todos o inferno no sentido mais restrito; a matéria cósmica é o inferno no modo mais amplo.

  6. Quem, portanto, muito cuida do físico faz seu próprio inferno, alimentando seu julgamento e morte para a própria destruição. O cor-

po necessita de certo alimento, a fim de que possa servir à alma no seu destino elevado; quem, no entanto, preocupar-se com ele meticulosa- mente dia e noite, tê-lo-á feito para seu inferno e morte.

  1. Quando o corpo atiça a alma a agir para a satisfação dos sentidos, tal ânsia deriva sempre dos múltiplos elementos da Natureza, que perfa- zem a construção física. A alma, dando ouvidos às exigências biológicas, entrará em contato com tais elementos, descendo, deste modo, ao seu pró- prio inferno. Neste caso terá cometido um pecado contra a Ordem Divina.

  2. Se ela persiste com prazer nesta fraqueza, torna-se tão impura como os elementos de seu corpo — e embora viva no mundo, é espiri- tualmente morta, sentindo e se apavorando com a morte. Tudo que faça em seu inferno não lhe proporcionará vida, embora a ame sobre tudo.

  3. Eis a razão pela qual milhares de pessoas nada sabem da vida duma alma após a morte; caso alguém algo lhes transmita, riem-se ou se aborrecem, pedindo-lhe comunicar tais baboseiras aos animais selva- gens. Não obstante, toda criatura deveria, aos trinta anos, ter chegado à formação do seu ‘eu’ de tal forma, que a vida libérrima e feliz após a morte lhe fosse fato comum. Entretanto, quão distantes se acham aqueles que apenas formulam tal indagação, sem mencionar os que nada desejam ouvir! Tais criaturas se acham durante a vida em pleno inferno ou morte.

  4. Pode, porém, acontecer que uma alma se tenha purificado e, por isto, lhe seja dado certo tempo para a purificação de seu corpo e seus elementos impuros, pelo que a parte física mais nobre atrai a imor- talidade da alma, sendo despertada no conjunto, após a morte, a parte mais grosseira de sua natureza.

  5. Eis que, então, almas purificadas se veem obrigadas a descer de vez em quando ao próprio inferno (corpo), quando este se manifesta mui exigentemente, a fim de satisfazê-lo. Tais almas não mais poderão se tor- nar impuras, porquanto o são apenas durante a permanência no inferno, que não suportam por muito tempo, voltando tão puras como dantes. Terão apenas estabelecido ali calma e ordem, podendo se dirigir nova- mente às coisas do espírito. Aquele entre vós que tenha alguma compre- ensão saberá interpretar Minhas Palavras; e tu, Cirenius, que Me dizes?”

211.CIRENIUSFAZUMDISCURSO SOCIALISTA

  1. Diz Cirenius: “Senhor e Mestre, eis um ensinamento comple- tamente novo e não resta dúvida que apenas Tu, como Criador, pode- rás saber de tais coisas. As múltiplas experiências da vida provam esta veracidade, mas não houve sábio que descobrisse a razão para tanto, pois exigiria conhecimento total da natureza humana, desde o espírito à matéria.

  2. Quem poderia penetrar em tal conhecimento? Quem conhece o corpo físico no seu todo ou já viu uma alma? Deve, porém, haver meios pelos quais o homem consiga noção mais profunda de si próprio, e enquanto não lhe for possível averiguar o que é, para que finalidade existe e como alcança a meta que o Criador lhe destinou — de nada lhe adiantam todas as doutrinas e leis. Sua alma se aprofundará cada vez mais em seu corpo devido às exigências imperiosas do mesmo; a fome rói, a sede arde, o frio queima, enquanto o bem-estar físico não somen- te é necessidade, mas constitui até certo luxo!

  3. As exigências da matéria são tão preponderantes que muitas vezes abafam o grito da alma! Como, portanto, admirarmo-nos que milhões de criaturas nem pressintam tal conflito? É fato comum que pessoas necessitadas de tudo não sentem o menor vestígio de elevação espiritual. Qual a causa disto? A completa carência de provimentos. Se o homem precisa enfrentar as intempéries, a fim de conseguir alguma coisa para seu sustento, não é possível que se lhe exija ânsia pelas coisas espirituais. Nas grandes cidades, Roma por exemplo, onde o povo se supre de tudo que precisa, o conhecimento da alma de há muito é di- vulgado, o que facilita vida moral e sadia.

  4. Também acontece, porém, que os ricos se enterram em seu bem-

-estar físico, menosprezando a formação psíquica. Contudo, lhes é mais fácil a procura de algo melhor, pois a linguagem e o contato com outros sempre são lucro para a alma. Por isto, opino ser aconselhável se trate de suprir primeiro as necessidades materiais, e depois desperte as almas para o lado espiritual. É difícil se pregar a quem sente fome! Senhor, tenho razão?”

212.AMISÉRIA,UMMEIO EDUCATIVO

  1. Digo Eu: “Por certo, não falaste uma palavra falsa. Imagina, en- tretanto, condições de vida tais que todas as pessoas, sem muito esforço, tivessem o necessário para o sustento — e em breve terias os povos nórdicos em tua frente.

  2. Eram eles, em tempos remotos, providos na Ásia — o berço da Humanidade — tão bem e ainda melhor que os romanos de hoje e, além disto, educados pelo Alto. Havia sábios entre eles como a Terra nunca os teve antes de Minha Vinda. Qual a consequência? Comiam e bebiam comodamente, tornando-se dia a dia mais ociosos, decaindo de geração em geração no que são hoje. Agora veem-se obrigados a cuidar do sustento com o suor do seu rosto, embora não de todo desprovidos de doutrinadores.

  3. Precisamente tal miséria os levará a um grau de educação supe- rior à atual em Roma. Por isto, não é salutar que o homem seja fisica- mente provido de tudo, pois torná-lo-ia tão preguiçoso que nada lhe despertaria o interesse. Esta tendência deriva do corpo, de certo modo inerte. A alma, que, geralmente, tem de procurar sua consistência no corpo através duma justa atividade, também se acomodaria à inércia, porquanto nela predomina esta inclinação desde eras remotas.

  4. Pelas necessidades dolorosas da matéria, a alma é despertada de sua letargia — pois sente que a miséria física lhe traz a morte. Assim age por todos os meios, cuidando primeiro do plano material. Como, porém, sente pavor da morte, em breve procura também se aprofundar na verdadeira vida, e no despertar do amor à mesma, reconhece que sobreviverá à morte física.

  5. Daí surge uma espécie de fé em sua imortalidade, que pou- co a pouco se positiva, tornando-se uma necessidade para o homem. Pessoas de inteligência mais apurada não se satisfazem somente com a fé, tentando experimentar sua força e poder por todos os meios disponíveis.

  6. O povo classifica tais pesquisadores de videntes ou auditivos, influenciados por espírito elevado que, pelo convívio com almas desen-

carnadas, conseguem noção profunda da vida do Além. Estas pessoas são geralmente elevadas a sacerdotes que, observando a necessidade do povo, abusam muitas vezes de sua confiança, locupletando-se de van- tagens terrenas. Contudo, sempre há algo de bom, por que as massas permanecem em contato com o Alto.

  1. De vez em quando — pois a fé cega nos sacerdotes diminui cada dia mais — aparecem entre o povo novos pesquisadores, que analisam as opiniões antigas e aproveitam o que é bom. Esses resultados juntam às próprias ideias inovadoras e, finalmente, surge uma nova doutrina. Não mais se satisfaz esta com a fé cega, mas apenas com a convicção baseada em fatos que, se preciso, poderão ser apresentados diante de todos.

  2. Deste modo a nova geração encontra, por fim, embora com di- ficuldades, a verdade e, através de múltiplas experiências, as leis, pelas quais as criaturas poderão viver felizes, facilitando-lhes a conservação da verdade.

  3. Se a essa descoberta, surgida unicamente pela crescente ativida- de humana, é acrescida uma revelação do Céu numa Luz maravilhosa, tal povo já é salvo e como que renascido em espírito! Isto jamais será efeito duma vida materialmente garantida, mas da abençoada miséria e aflição dos homens! Afirmo-te: na miséria até mesmo o animal se torna engenhoso — quanto mais o homem! Quando é forçado pela neces- sidade a refletir, o solo sob seus pés começa a verdejar; levando vida folgada, parece-se com um irracional que nada faz e pensa.

  4. Bastaria que Eu proporcionasse à Humanidade cem anos de colheitas abençoadas, e as criaturas começariam a tresandar como a peste. Como faço que as boas revezem as más, são elas obrigadas a cuidar de seu sustento, caso não queiram perecer à míngua. Compre- endeste-Me?”

213.CONSEQUÊNCIASDO BEM-ESTAR

  1. Diz Cirenius: “Senhor, és realmente o Mestre da Criação e agora sei a quantas ando. Apenas não compreendo por que razão um povo teria que cair numa completa inércia, tendo algo mais a gastar que os escravos.”

  1. Digo Eu: “Amigo, consulta a História dos povos: do velho Egito, Babel e Nínive, Sodoma e Gomorra, dos israelitas no deserto alimenta- dos por Mim durante quarenta anos com maná — e terás aí o resultado do bem-estar!

  2. Uma moça, por exemplo, que se crie nessas condições, nada mais fará que enfeitar-se o dia todo; em breve, até mesmo para tal terá pre- guiça, deixando que outros o façam por ela. Mas não levará tempo e tal criatura até para isto não se animará, igualando-se a um bicho preguiço- so. Que fazer com ela? A que meios de educação poderia ser submetida? Digo-te: não serviria nem para a prostituição! Isto se deu em Sodoma e Gomorra, eis por que o povo começou a se perverter. Compreendes?”

  3. Responde Cirenius: “Realmente, nunca foste tão generoso em Teus Ensinamentos. Falta-me apenas esclarecer uma dúvida; devo in- quirir-Te ou já lês meu pensamento no coração?”

  4. Digo Eu: “Formula tua pergunta para que os outros dela se inteirem.”

214.OCONTRASSENSOCONTIDONA GÊNESIS

  1. Diz Cirenius: “Desde que me conheço, medito acerca da manei- ra que as primeiras criaturas de nosso orbe chegaram ao conhecimento dum Ser Supremo e de sua própria entidade psicoespiritual. Li a res- peito em livros do Egito, da Grécia e de vosso Moysés, e até consegui uma obra da Índia, que fiz traduzir por um hindu em Roma. Em todos, porém, dava com alegorias místicas incompreensíveis a quem quer que fosse — e muito mais para o meu entendimento, pois que me julgo, desde pequeno, menos inteligente que os outros. Em toda parte deparei absurdos tremendos.

  2. Haja vista o que consta em Moysés: ‘No princípio criou Deus Céu e Terra, e a Terra estava deserta e vazia e havia trevas nas profun- dezas; e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. E Deus falou: Que se faça luz! — E assim foi e Deus viu que era boa a luz e separou-a das trevas, chamando à luz, dia, e às trevas, noite. E foi da noite e da manhã o primeiro dia.’

  1. Em seguida fala-se da separação das águas, o aparecimento da porção seca, a criação das ervas, arbustos e árvores, com que se pas- sam três dias e noites. Como, porém, passou a haver, desde a criação da primeira luz, dias e noites, não vejo por que Deus necessitou criar mais duas luzes no quarto dia: uma para determinar a noite e a outra, maior, o dia.

  2. Comparando-o com Tua Explicação sobre o Sol, a Lua e as es- trelas, chega-se à conclusão de que a História da Gênesis é o maior contrassenso ouvido sobre a Terra. Quem entenderá isto? Sabemos ser a Terra não um disco, mas uma bola imensa, conforme Tu mo afir- maste quando ainda eras criança, no Egito. Também aprendemos que nunca é noite em todo o globo, porquanto uma parte sempre é ilumi- nada pelo Sol.

  3. Loucura, portanto, é afirmar que da noite e da manhã se fez um dia. Além disto, a expressão de Deus ter reconhecido ‘que era boa a luz’ é outra baboseira, pois Sua Sabedoria, como Luz Eterna, devia sabê-lo previamente. No livro hindu diz-se que houve uma criação de espíritos puros, mormente o primeiro, chamado Lúcifer. Mais um motivo, portanto, para a opinião de Deus ser boa a luz! Por aí vês que toda essa história é muito confusa, razão por que não me admiro que os escribas não lhe deem crédito; mantêm-na, entretanto, por causa do povo.

  4. Todos os princípios sobre a Criação, conforme implantados à nossa época, são simples mitos e fábulas. Uma vez isto evidenciado, surge a pergunta: Como se deu a Criação do primeiro homem? Como chegou ao conhecimento de Deus e de si próprio, quem lhe ensinou a diferençar o bem e o mal?”

215.AFORMAÇÃODOPRIMEIRO HOMEM

  1. Digo Eu: “Meu amigo, de certo modo já tiveste um ensinamento a respeito quando te apontei os efeitos da miséria dos povos. Que, além disto, a História da Gênesis, aplicada literalmente à Criação da Nature- za, apresente-se como mero contrassenso, não existe quem o conteste.

  1. A pessoa, porém, que se aprofundar na sequência dos livros de Moysés verificará que ele em suas alegorias reportava-se apenas à forma- ção original do sentimento e do intelecto dos primeiros seres da Terra, e não à Criação cósmica; eis por que ligava a evolução psíquica à história. Esta, porém, só podia ser produto da formação do intelecto e nunca da natureza muda, que continuará a mesma para todo o sempre.

  2. De modo idêntico acontece com os livros hindus, nos quais se fala primeiro da formação dos espíritos puros, a seguir da queda de alguns sob o título ‘As Guerras de Jehovah’, da criação do mundo dos sentidos, dos animais e, por fim, do homem. Tudo isto deve ser to- mado em sentido espiritual, mormente no que se refere à formação moral humana.

  3. Quem tiver uma orientação do espírito e se integrar na inter- pretação do mundo material e do espiritual facilmente deduzirá o apa- recimento do primeiro através do segundo, como e de onde surgiram os sóis, planetas e seus habitantes. Para este fim é preciso ser o homem despertado pelo espírito, pois somente a mais remota testemunha de todo Ser e Criação poderá iluminar aqueles labirintos impenetráveis aos olhos humanos.

  4. Além do mais, que a idade da Humanidade no aperfeiçoamento atual corresponda ao cálculo de Moysés quanto à matéria e ao tempo

  1. Era preciso que o solo árido fosse amolecido, a fim de prepará-

-lo para o cultivo de plantas e outros animais, menores, antes de pro- duzir a natureza delicada do homem dentro do plano divino, plano este já transmitido a cada alma não materializada, todavia existente na atmosfera.

  1. Quando o solo telúrico se achava inteiramente produtivo, Deus chamou uma alma perfeita do éter, a fim de que formasse do barro fer-

tilizante um corpo de acordo com a Imagem Divina nela encerrada. A entidade mais completa e forte assim fez, apresentando-se destarte num corpo robusto e bem organizado, que podia observar o mundo e suas criações precedentes.

  1. A criação dos animais enormes em parte já havia desaparecido da Terra muito antes que o primeiro homem a pisasse em sua majestosa semelhança divina. Não obstante, sempre se encontrará vestígios seus, sem que os homens lhes possam dar destino.

  2. Pouco a pouco os sábios chegarão à conclusão de que a Terra antecede ao cálculo de Moysés, o que trará a este um grande descrédito. Eu, porém, designarei outros sábios, pelos quais este profeta será inte- gralmente reabilitado. E não levará tempo para que o Reino de Deus sobre a Terra se estabeleça, obrigando à morte dela desaparecer. Antes disto, porém, muitas atribulações cairão sobre este orbe.

  3. Será preciso adubá-lo por muitas vezes com sangue e carne hu- manos, e através deste adubo espiritual começará a época fisicamente imortal deste planeta, assim como em tempos de Adam havia-se inicia- do a era em que, pelo estrume fertilizante do lodo, foi possível à alma formar um corpo perfeito como Deus.

  4. As criaturas que, em vida, renascerem completamente em es- pírito governarão para sempre esta nova criação, como anjos e espíritos puros, enquanto que os outros, retardados na perfeição, virão à Terra, em tal época, em corpos imortais, porém num estado de grande mi- séria. Terão de se sujeitar a serviços pesados, o que não lhes agradará, pela lembrança de sua primitiva e feliz condição quando encarnados. Este período perdurará até que tudo se transforme em vida puramente espiritual, de acordo com o eterno plano de Deus. Eis a trajetória de todas as coisas que surgem, permanecem e se transformam dentro da Ordem Divina!”

216.OPROCESSODECRESCIMENTODO TRIGO

  1. (O Senhor): “Observa o grão de trigo! Quando depositado na terra, apodrece, a fim de fazer surgir o gérmen delicado. Que representa isto com relação à natureza humana?

  2. Vê, o depositar da semente sadia representa o primeiro apare- cimento do homem. É idêntico à encarnação da alma completamente formada, cujo local de permanência anterior é o ar, mormente nas re- giões centrais montanhosas, onde terminam as florestas, até às glaciais.

  3. Tão logo uma alma perfeita tenha alcançado a consistência pla- nejada, desce às habitações humanas, onde adquire alimento pela aura que todos possuem, permanecendo onde é atraída pela homogeneidade de sua natureza.

  4. Quando um casal é levado a ceder à atração física, a referida alma recebe um aviso instantâneo através da aura, penetrando pela sim- patia no sêmen que, por sua vez, a deposita num óvulo. Daí em diante a alma é semelhante ao grão de trigo semeado na terra; passa no corpo materno por todos os estados evolutivos até o nascimento, tal como a semente que projeta o gérmen fora do solo.

  5. Eis que começam os diversos graus de educação, externa e in- terna. Com a planta as raízes permanecem na terra, sorvendo o ali- mento que lhes proporcionaria a morte se não fosse purificado pela luz solar.

  6. O primeiro sedimento da haste é um tanto material; quando, porém, depositado no fundo, a haste é, de certo modo, isolada por um anel. Por este passam filetes muito finos, que filtram os líquidos. Destes forma-se um segundo anel; como as substâncias ainda sejam grosseiras, cria-se um outro, munido de tubos mais finos, pelos quais passam ape- nas os líquidos vaporosos para alimentar a força vital, conforme consta em Moysés: ‘E o Espírito de Deus pairava sobre as águas.’

  7. Com o tempo também estes líquidos se tornam por demais con- densados para a vida vegetal, com risco de sufocá-la; por isto, forma-se mais outro anel, com tubos finíssimos, pelos quais apenas passam os humores mais afins com o espírito que paira sobre eles. Esta força vital

logo percebe se o líquido se presta para a formação posterior. Se desco- bre ser um tanto grosseiro, e que há nele vestígios do julgamento e da morte, formará esta força tantos anéis até que toda partícula material tenha desaparecido.

  1. Dá-se, então, uma nova fase de crescimento: os humores etéreos, que passam pelos finíssimos tubos, formam o botão e a flor, munidos de órgãos capazes de conceber a vida pura dos Céus.

  2. Após ter prestado este serviço fenece a flor, pois é uma osten- tação vã da sabedoria, por cuja beleza e estímulo é atraída a vibração da vida do amor, que tudo possui, prescindindo dum aparato externo. Toda flor é qual noiva enfeitada, ávida por atrair o noivo em suas péta- las! Uma vez, porém, consumada a posse, os enfeites fúteis do noivado são despidos, dando início ao humilde rigor da vida. Eis que surge o verdadeiro fruto. Após a aplicação de toda a atividade em seu amadu- recimento, a vida protege-se nele, como por fortalezas e burgos, conse- guindo escapar dos possíveis perigos.

  3. Quando a vida procura se desenvolver e sazonar-se mui rapida- mente, não tem a devida consistência; basta se aproximar um adversário para logo ser atraído. Dá-se, com isto, uma união, na qual a semente é depositada no fruto precoce! Esta manifestação anormal e fictícia atrai a vida delicada da planta, estragando-a e aniquilando-a. Os frutos bi- chados são mais do que uma prova convincente.”

217.AEVOLUÇÃOESPIRITUALDO HOMEM

  1. (O Senhor): “O mesmo acontece com todas as criaturas. Tomai, por exemplo, uma menina fisicamente desenvolvida. Conta apenas doze anos, no entanto parece uma moça. Tal criatura atrai todo homem sensual com muito mais poder que cem outras, embora bonitas. Fica então, por tal motivo, exposta a mil perigos, e compete aos pais o maior zelo em protegê-la. Se for entregue, muito jovem, a homem sensual, perderá sua fecundidade. Se for evitado todo contato nocivo, seu físico perde o viço e ela se torna pálida, debilitada e, quase sempre, morre jovem. Comendo pouco, isto é, fazendo regime, fica triste e desanima-

da; se, pelo contrário, alimenta-se bem, engorda em demasia, torna-se preguiçosa e de aspecto doentio.

  1. O mesmo acontece com uma prematura e exagerada educação psíquica. Quando se obriga as de pouco talento a seguirem rigorosa- mente os estudos que os pais lhes exigem, tais almas enfraquecem, ex- temporâneas que são no desenvolvimento físico.

  2. Tudo tem seu tempo dentro da Ordem Divina. Quando nasce uma criança, a eterna centelha divina é depositada no coração da alma, tal como o fruto ao despir a flor, iniciando sua consolidação. Uma vez desenvolvido o corpo, inicia-se o desenvolvimento do espírito no cora- ção da alma, no que ela tudo deve fazer para o resultado final. A alma é qual raiz e haste — o corpo, o solo; portanto, não deve alimentar o espírito com matérias grosseiras.

  3. Os anéis que ele desenvolve são as humilhações da alma. Quan- do ela tenha passado pela última, o espírito se desenvolve por si pró- prio, assimilando tudo que na alma lhe é afim. Consolidando-se deste modo, torna-se eternamente indestrutível, processo que verificamos em grande número de plantas.

  4. Após o fruto ter quase conseguido amadurecer no caminho da ordem, as centelhas do gérmen vital, que repousam dentro dos grãos, são depositadas em tênues invólucros anteriormente preparados. Em seguida o grão se isola por certo tempo, consolidando-se como por con- ta própria; entretanto, fá-lo em parte, através do éter vital do fruto que o circunda.

  5. Com o tempo o fruto externo começa a murchar e secar. Por quê? Pelo motivo da alma penetrar no espírito germinador dentro do grão. Uma vez que toda a força se tenha integrado neste potencial, a haste, anteriormente viva, seca de maneira completa; todavia, a vida vegetal se une à do gérmen, não podendo jamais ser destruída, presa ou não à matéria da semente. Deste modo podes observar a mesma ordem em todas as coisas.”

218. ALMAE CORPO

  1. Diz Cirenius: “Senhor, perdoa! Tenho uma observação a fazer! Que acontece com o gérmen quando o trigo é moído, assado e, final- mente, ingerido com o pão? Continua vivo?”

  2. Digo Eu: “Por certo; pois, quando te alimentas, a parte material do trigo é expelida do corpo por via natural; a vida do gérmen, porém, integra-se como potência máxima na vida psíquica. A parte mais ma- terial do gérmen, que, semelhante à água da Gênesis, sempre serviu de base sólida para o Espírito Divino, torna-se alimento para o corpo, pas- sando, por fim, devidamente purificada, à alma, onde forma e alimenta os órgãos psíquicos, como sejam os membros, cabelos etc.

  3. Que a alma consiste das mesmas partículas que o corpo podes observar convincentemente no anjo Raphael, neste momento em pa- lestra com Josoé. (Dirigindo-Me ao primeiro): Raphael, vem cá e deixa tocar-te Cirenius!”

  4. Diz o vice-rei da Ásia: “Realmente, ele possui um corpo idêntico ao nosso, porém mais nobre e perfeito, e sua face é duma beleza insu- perável! Sem ser feminina, é, no entanto, ainda mais atraente! Até aqui não lhe dei muita atenção; agora, quanto mais o fito mais lindo me pa- rece! Que coisa extraordinária! (Dirigindo-se ao anjo): Ouve, também sentes amor?”

  5. Responde este: “Por certo, pois meu corpo espiritual é idêntico à Sabedoria Divina e minha vida é o Amor Eterno de Deus, portan- to o amor puro. Aquilo que Deus, o Senhor de Eternidade foi, é, e sempre será, também devemos ser; pois somos perfeitos, portanto, em tudo Sua Natureza Divina, assim como o raio do Sol é e produz o que está nele!”

  6. Diz Cirenius: “Sim, está certo e também o saberia sem tua ex- plicação; apenas indaguei para ouvir tua voz. Estamos quites e podes voltar ao teu lugar.”

  7. Responde o anjo: “Esta ordem compete unicamente ao Senhor!”

  8. Diz Cirenius: “Amigo, pelo que vejo és, com toda a tua sabedo- ria, beleza e amor, um tanto teimoso!”

  1. Responde o anjo: “De modo algum! Apenas não posso e não devo aceitar sugestões de mortais, pois, além de ser em tudo criação divina, o meu ‘eu’ é perfeitamente livre! Além disto, não preciso temer algo como as criaturas deste mundo, pois disponho de poder e força, incompreensíveis para teu alcance. Inquire o comandante Julius, minha aluna Yarah e os discípulos do Senhor, que todos confirmarão minhas palavras.”

  2. Diz Cirenius: “Senhor, dize-lhe que se sente, do contrário co- meçarei a temê-lo! Torna-se cada vez mais rude e agitado, o que muito prejudica sua beleza!”

  3. Digo Eu: “Pois bem; Raphael, volta para teu lugar!” E o anjo obedece, para alívio de Cirenius.

  4. Indagam João e Matheus se poderiam anotar o que se passou.

  5. Respondo: “Sim, mas somente para vós, pois o mundo ainda é dois mil anos jovem demais para compreendê-lo. Nunca se deve deitar pérolas aos porcos, que as comeriam como milho.” Os dois discípulos o fazem em quadros alegóricos, anotando os ensinamentos em hebraico.

219.ACRIAÇÃODECÉUE TERRA

  1. A seguir Cirenius Me pede explicação para a Gênesis de Moysés. Digo Eu: “Amigo, o que iniciei também terminarei, apenas duvido que o possais entender. Para tal é indispensável noção sobre o ser humano, tão difícil quanto a compreensão justa e completa de Deus.

  2. Teria de desmembrar a construção física, psíquica e espiritual do homem, de fibra em fibra, para demonstrar como a alma se desen- volveu e formou do espírito, e a matéria, da alma, em suas múltiplas correspondências, conforme acontece entre os raios de luz e as trevas. Por aí vedes que isto não poderá ser feito tão fácil e rapidamente como julgais; contudo, dir-vos-ei tanto quanto assimilardes, de acordo com vossas experiências psíquicas.

  3. Se diz Moysés: ‘No início criou Deus Céu e Terra’, em absoluto se referia ao mundo visível, porquanto, como sábio, tinha apenas como objetivo a verdade plena. Ocultava, porém, sua sabedoria em quadros

correspondentes, dando prova disto quando teve de cobrir sua face lu- minosa com uma tríplice coberta.

  1. No tocante ao ‘Céu’ deve-se entender que Deus projetou, em eras remotas, de Seu Centro Eterno e Espiritual, a capacidade intelecti- va, exteriorizando-a. Mas, como disse: apenas a capacidade intelectiva, semelhante a um espelho que, mesmo numa noite trevosa, possui o po- der de refletir em sua superfície polida. Sem objetividade, no entanto, não tem valor.

  2. Por tal motivo Moysés menciona, além da projeção do Céu, ou seja, a capacidade intelectiva isolada do Centro Vital de Deus, uma chamada criação simultânea da Terra. Que vem a ser a Terra? Por acaso isto que pisamos? Nunca!

  3. A Terra representa a capacidade de assimilação e atração das inteligências afins, semelhantes àquilo que os egípcios e gregos deno- minavam associação de ideias, da qual, finalmente, surge uma frase verdadeira.

  4. Se, portanto, devido à projeção da capacidade intelectiva, a afi- nidade recíproca é condicional, a atração é evidente — e Moysés não poderia encontrar quadro mais apropriado para esse ato puramente espiritual do que a Terra, que nada mais é que um conglomerado de partículas substanciais de afinidade simultânea.

  5. Moysés prossegue: ‘Havia trevas nas profundezas’. Quereria ele, deveras, apontar a escuridão sobre a Terra recém-criada? Digo-vos: nunca sonhou tal ideia, pois era profundo conhecedor da natureza ter- ráquea, iniciado na sabedoria e ciência dos egípcios. Não ignorando, portanto, que a Terra — filha de um Sol Central, milhões vezes milhões de anos mais jovem — não poderia estar nas trevas quando foi criada. Moysés apenas apontou figuradamente que a capacidade intelectiva e a afinidade de atração das inteligências não possuíam noção, compreen- são e consciência de si próprias — tudo isto idêntico à luz — mas sim o contrário, até que se apoderaram reciprocamente, atrito que finalizou em luta. Ainda não observastes o fenômeno produzido pelo atrito de duas pedras ou paus, de que deriva o fogo e a chama? Eis a luz da qual fala Moysés!”

220. TERRAE LUZ

  1. (O Senhor): “Sabemos, portanto, o que seja a luz; consta, po- rém, que a Terra estava deserta e vazia! Por certo; pois somente a capa- cidade de assimilar qualquer coisa e a noção desta necessidade de modo algum seriam suficientes para encher uma vasilha, ficando neste estado o receptáculo vazio.

  2. O mesmo sucedeu durante a Criação. Bem que havia sido pro- jetada, por Deus, uma quantidade de pensamentos e ideias através da Onipotência de Seu Amor e Sabedoria no Espaço Infinito — projeção que, há pouco, denominamos as diversas capacidades intelectivas e isto porque todo pensamento é, de certo modo, o reflexo no cérebro daqui- lo que o coração ativo produz.

  3. Todavia, um pensamento ou uma ideia por si só se assemelha a um receptáculo vazio ou a um espelho num porão em trevas, portanto a afinidade recíproca de ideias apresenta o mesmo quadro. Não existe atividade entre elas, mas apenas capacidade para tal.

  4. Todas essas ideias inativas da Sabedoria Divina são comparáveis à ‘água’, na qual também se acham amontoados inúmeros elementos especificados em um só, do qual, todavia, o mundo absorve sua exis- tência variada.

  5. Mas todos os pensamentos grandiosos e as ideias deles surgidas dentro da Sabedoria Divina — embora sublimes e verdadeiros — ja- mais poderiam ter conseguido se concretizar, tal como acontece a um sábio se lhe faltam os meios adequados. A fim de imaginarmos uma realidade como sequência de pensamentos e ideias, torna-se necessário conseguir os meios correspondentes, pelos quais a verdadeira atividade das ideias é ativada por uma elevada força.

  6. Se uma pessoa deseja dar corpo a alguma ideia, precisa, além dos recursos materiais, sentir um grande amor por tal empreendimento. O amor acaricia o projeto, pelo que tudo se torna mais claro e compre- ensível. E vede, tal amor é o Espírito de Deus que paira sobre as águas, onde se apresenta a massa infinita dos pensamentos e ideias divinos, ainda informes.

  1. Vivificados por esse Espírito, os pensamentos de Deus começa- ram a se unir numa ideia grandiosa e um pensamento impelia outro. Com isto se deu, automaticamente, na Ordem Divina o ‘Que se faça luz!’ e ‘A luz se fez!’, e explica-se por si mesmo o grande ato criador e na- tural desde o início — equivalente ao processo evolutivo psicoespiritual da criança recém-nascida até o ancião e do primeiro homem da Terra até o fim dos tempos — em tudo!

  2. Moysés externa uma frase pela qual se poderia deduzir que Deus reconhecesse ser a luz boa, após sua aparição pelo fogo da atividade amorosa do Espírito. É claro que isto não se dá; testemunha apenas a Sabedoria Infinita de Deus, pela qual essa luz é a Vida Espiritual verdadeiramente livre, surgida pela atividade dos pensamentos e ideias divinos dentro da Sabedoria. Poder-se-ão, deste modo, desenvolver para seres independentes com inteligência própria, sob influência cons- tante de Deus! Eis o que se deve entender sob o aditamento de Moy- sés; nunca, porém, supor ter Deus chegado à noção subjetiva ser a luz algo de bom.”

221.SEPARAÇÃODELUZE TREVA

  1. (O Senhor): “Agora, porém, temos algo mais difícil de compre- ender. Ei-lo: Deus separou a luz das trevas, denominando à primeira ‘dia’ e à segunda ‘noite’. Ser-vos-á mais fácil classificar as noções de ‘dia’ para vida independente, liberdade, vida consciente do Amor Divino, surgida na criatura, enquanto que para ‘noite’, morte, julgamento, pri- são, pensamentos e ideias de Deus ainda não vivificados.

  2. Esta ordem também se vos depara em cada planta, que apresen- ta, até o surgimento do fruto, nada além de treva ou morte, porquanto o Divino Espírito paira sobre as águas das profundezas antes do preparo vital dentro da matéria. Havendo, porém, uma base sólida, de sorte que o último anel na haste da Criação possa ser formado, dando início à verdadeira vida do espírito numa consciência própria — é evidente a separação entre luz e treva, da vida liberta e imutável do seu julgamento temporário, idêntico à noite.

  1. A seguir, consta: ‘Da noite e do amanhecer fez-se o primeiro dia.’ Que vem a ser isto? — A noite é semelhante às condições prepa- ratórias, onde a assimilação da vida do Amor Divino, pela influência da Onipotente Vontade de Deus, concretiza-se como se pensamentos isolados se unissem a uma ideia. Uma vez firmados para a formação do último anel debaixo da espiga do trigo, a noite terá findado, dando início à ação livre e independente do fruto. Como as criaturas denomi- nassem de ‘manhã’ a passagem da noite para o dia, de modo idêntico se classifica o estado transitório de constrangimento do homem, antes de se libertar de sua mente. Moysés, portanto, não cometeu erro de lógica quando fez surgir o primeiro dia da noite e da manhã seguinte.

  2. A razão dele fazer seguir seis dias após o primeiro baseia-se na observação segura de que cada coisa, desde o início até sua perfeição, terá de passar por seis períodos dentro da Ordem Divina, assim como acontece à espiga de trigo quando amadurece na haste seca.

  3. Da semeadura ao germinar, dá-se o primeiro dia; até a formação da haste e das folhas protetoras, o segundo; daí ao último anel rente à base da espiga, o terceiro; da formação dos vasos respectivos, tal como os aposentos nupciais para a geração da vida independente, até a flor, o quarto dia; daí à queda da flor, a formação do fruto vital e sua livre ação — embora ainda ligado aos estados primitivos de aprisionamento, dos quais uma parte nutritiva é absorvida para formar as películas, não obstante o alimento principal ser assimilado dos Céus de luz e calor — até o completo desenvolvimento do fruto, o quinto dia; finalmente, a queda da casca que o envolve já amadurecido, fase em que a semente exige o alimento celeste para sua consolidação, nutrindo-se livremente para uma vida indestrutível, o sexto e último dia de formação e plena liberdade vital. No sétimo se apresenta o repouso, o estado da vida perfeitamente consolidada para a Eternidade e munida da plena Per- feição Divina.”

222.FASEFINALDA CRIAÇÃO

  1. (O Senhor): “Se fordes capazes de meditar um pouco mais que o comum das criaturas sobre o que vos acabo de falar, compreendereis, embora não em sua profundeza, que Moysés se referia à única e verda- deira aparição do desenvolvimento de todas as coisas, desde seu início à perfeição máxima, dentro da Ordem da Sabedoria Eterna.

  2. Quem não o entender desta forma não deve ler os livros desse profeta, pois interpretá-lo-á erradamente, aborrecendo-se com a estulti- ce e, finalmente, com aqueles que desejem, por meio de armas, incutir tal ensinamento aos demais como divino.

  3. Fazendo a leitura dentro da compreensão acima, a pessoa re- conhecerá ser Moysés profeta mui sábio, iluminado pelo Espírito de Deus, dotado da maior capacidade de inspiração e vontade firme, capaz de transmitir às criaturas a verdade plena sobre a Divindade e Sua Cria- ção da maneira como a recebeu por Deus em seu espírito gigantesco.

  4. Deste modo surgiram sóis, planetas, isoladamente e tudo que comportam, ao mesmo tempo com relação ao Todo. Apareceu o ho- mem num sentido restrito e de modo geral, porquanto toda partícula

  1. Por ser o homem o que Deus queria alcançar através dos ciclos anteriores — de que sois prova irrefutável — tudo que está nos Céus e no Cosmos corresponde a ele, conforme foi explicado pelo profeta. Analisai-o cautelosamente e chegareis a esta conclusão. Tu, Cirenius, estarás satisfeito com Moysés?”

223.PARECER DE CIRENIUS A RESPEITO DA HISTÓRIA DA GÊNESIS

  1. Diz Cirenius: “Senhor, Tua Sabedoria ultrapassa tudo que a Terra até hoje apresentou. Consiste em grande vantagem o homem ser sábio; muito maior valor terá, porém, podendo explicar a profunda Sabedoria de Deus de tal forma a torná-la acessível a pessoas sem especial educação filosófica, conforme acontece conosco. Somente Deus poderia nos dar tal elucidação, tão fácil e clara. Pois um homem, por mais sábio que fosse, só poderia interpretar, como Moysés, a sabedoria recebida pelo Espírito Divi- no através de quadros alegóricos, ou talvez a recebesse como sementes que lançaria no solo do coração humano. Dali surgiriam os frutos correspon- dentes; as criaturas, no entanto, não os reconheceram, como também já não se haviam apercebido das sementes depositadas em suas almas, de sor- te que a colheita posterior não lhes foi útil, por não saberem empregá-la.

  2. De modo geral os primeiros disseminadores da sabedoria não a aplicam devidamente, e muito menos o fazem os posteriores adeptos; por isto, os erros dos profetas quanto à aplicação da doutrina são res- ponsáveis pelos enganos subsequentes.

  3. Por certo Moysés e Aaron viveram dentro dos Ensinamentos dados pelo Espírito de Deus; no entanto, duvido que tenham compre- endido a Doutrina como acabas de nos explicar. É fácil traduzir de um idioma para outro; difícil, todavia, é entender-lhe o sentido.

  4. Do modo como Tu nos elucidaste a Gênesis, não poderá perdu- rar uma dúvida no coração do homem e o cumprimento de tal Doutri- na só pode ser justo. Uma vez que demonstras tanta benevolência com a revelação das verdades mais profundas, poderias nos dar pequena ex- plicação acerca da dita queda dos anjos como os primeiros seres criados, da queda de Adam e, finalmente, do pecado original!”

  5. Digo Eu: “Caro amigo, eis um ponto mais difícil que a Gênesis, embora esteja nela contido, brilhando qual ouro para o pesquisador tenaz. Se desejas apenas uma explicação concisa, poderei satisfazer-te, pois um ensinamento completo levaria muito tempo e já soou a hora da terceira ronda.”

224.AQUEDADOSARCANJOS,DEADAMEOPECADO ORIGINAL

  1. (O Senhor): “A queda dos arcanjos ou das ideias livres e vivas de Deus no Espaço é a separação da qual Moysés diz: ‘Deus separou a luz das trevas!’ Já vos demonstrei como deveis legitimamente in- terpretá-lo; a consequência daquele fato — o mundo material com seus sóis, planetas e luas e todo o seu conteúdo — acha-se espalhado no Espaço.

  2. Quanto à queda de Adam, há nela mais objetividade do que na queda dos anjos; no entanto, é, na interpretação espiritual, homogênea. Apenas surgiu com o primeiro homem uma lei positiva, enquanto na rebelião dos anjos não havia lei, pois naquela época se iniciara a grande evolução dos seres a serem libertados e, além de Deus, não existia inte- ligência sujeita à lei.

  3. Por tal razão deu-se, sob a chamada ‘queda dos anjos’, uma sepa- ração necessária e forçada, enquanto a adamítica, surgindo da primeira, já era um ato livre do primeiro homem encarnado, liberto em todas as esferas psíquicas. Em seu todo representa, entretanto, também um acontecimento previsto dentro da oculta Ordem Divina, embora não sendo obrigação absoluta; é dado ao homem — numa livre escolha entre ‘tu deves’ e ‘tu não deves’ de seu livre arbítrio — a fim de se con- solidar pela própria ação.

  4. Há diferença entre uma criatura inapta para o uso de suas per- nas — e que, portanto, tenha de ser carregada dum lugar para ou- tro — e uma sadia e treinada. Quem sabe marchar não necessita ser transportado — qual criança recém-nascida — a um destino desejado em seu benefício; basta que se lhe mostre o caminho direto. A pessoa que deseja alcançá-lo, assim o fará; se andar por atalhos e desvios, terá culpa quando chegar à meta um tanto atrasada e depois de muitas peripécias.

  5. Este quadro se nos apresenta em Adam. Se tivesse ele considera- do o mandamento positivo, a Humanidade, isto é, a alma perfeita do homem, não teria chegado a um físico tão duro, pesado e alquebrado,

acometido de muitas fraquezas e males. A desobediência à lei positiva levou o primeiro homem a um desvio, no qual alcançará o destino mui- to mais tarde e dificilmente.

  1. Duvidas que uma pequena lei moral não respeitada pudesse in- fluenciar em a natureza total do homem, julgando que Adam teria sido o mesmo homem carnal sem o gozo fútil da maçã, tendo que morrer como todas as criaturas de hoje!

  2. Em parte tens razão, pois o saborear duma maçã não pode ser mortal; entretanto, era proibido até uma época incerta, para que a alma se consolidasse ainda mais. Ela, porém, ciente de seu livre ar- bítrio, desconsiderou a lei, invadiu de certo modo sua natureza, pro- duzindo um ferimento profundo e de difícil cura. Embora esta ferida venha a sarar, uma quantidade de vasos é obstruída de tal forma a impedir a circulação dos humores psíquicos, provocando na cicatriz uma pressão dolorosa.

  3. Por este motivo a alma é desviada de cuidar somente do livre progresso do espírito, aplicando a maior parte de sua atividade no apa- gar da cicatriz. E esta cicatriz se chama ‘o mundo’.

  4. A alma tenta dela se libertar, por atormentá-la nesta preocupa- ção mundana. Quanto mais se esforça neste sentido, maior se torna a cicatriz, aumentando sua preocupação. No final nada mais faz além de se ocupar da cura da mesma, isto é, livrar-se da preocupação, enter- rando-se totalmente na cicatriz e desviando-se do seu espírito. Nisto consiste o dito ‘pecado original’!”

225.OPODERDA HEREDITARIEDADE

  1. (O Senhor): “Haverá quem indague: Como isto poderia ser pas- sado por herança? — De modo muito fácil, mormente na formação or- gânica da alma, pois aquilo que tiver assimilado perdurará por milênios, caso não seja posto em ordem pelo espírito. Vede o tipo de um povo, imaginando a figura de seus ancestrais — e observareis uma acentuada semelhança. Se os antepassados foram bons e meigos, todo o povo o será, com raras exceções, e vice-versa.

  1. Se um indelével traço físico ou moral dum antepassado manifes- ta-se nos descendentes no decorrer de milênios, quanto mais não será com o do primeiro homem, já que sua alma era, no início, muito mais susceptível e irritável que as posteriores. Nessas se impregnava o cunho paternal no momento da concepção, que não podia ser apagado e exter- minado de modo natural. Infelizmente a alma fica desfigurada por tal cicatriz, e Deus empregou todos os meios, a fim de que ela conseguisse livrar-se para sempre de mácula tão perniciosa. Tal empreendimento, porém, não obteve completo êxito até então, motivo por que Eu vim Pessoalmente apagar esse velho e indesejável estigma.

  2. Consegui-lo-ei; apenas, porém, pelas muitas feridas aplicadas em Meu Corpo. Por ora não o compreendereis; somente quando tal acontecer e Meu Espírito vos conduzir a toda Sabedoria.

  3. Já lestes em Moysés a respeito da maldição de Jehovah sobre a Terra: ‘Prepararás o teu pão no suor do rosto!’ E mais além: ‘Produzirás cardos e abrolhos!’

  4. Se fosseis interpretá-lo literalmente, isto é, dentro da matéria, teríeis razão de acusar Deus duma incoerência completa. Mas, como tal expressão deve ser tomada apenas no sentido psicoespiritual, essa acusação é infundada. Deve o homem atribuir a si mesmo qualquer agravante em sua natureza, como também a responsabilidade das más colheitas. No que diz respeito aos estados atmosféricos, nem tudo de- pende da Vontade de Deus, mas do próprio homem.

  5. Quando uma alma tiver plena consciência de si mesma, fazendo uso do bom senso, de sorte a reconhecer em si a Ordem Divina, terá chegado o momento de sua independência, em virtude de sua consoli- dação. Deixando de assim agir em alguma tendência, ou fazendo algo inverso, ter-se-á prejudicado em tal ponto e não se poderá libertar por conta própria. Toda sua ação será mais ou menos desordenada e com o tempo surgirão recalques psíquicos, como sejam: ignorância, tolice, in- compreensão, inércia, medo, reduzida capacidade de assimilação, desen- corajamento, tristeza, pavor, aborrecimento, tédio, raiva e, finalmente, desespero. Eis os cardos e abrolhos que a Terra, isto é, a atrofiada capa- cidade intelectiva da alma, fará surgir como parasitas nos galhos sadios.

  1. A ‘maldição’ de Deus nada mais é que a compreensão nítida, transmi- tida a uma alma pervertida por culpa própria, em virtude de se ter mantido contra a Ordem, pelo que é obrigada a procurar seu pão pelo próprio esforço.

  2. O ‘suor do rosto’ é a mencionada cicatriz da preocupação psíqui- ca que a alma contraiu pelo saborear da maçã, que muito bem poderia ter sido evitada.”

226.AS PREOCUPAÇÕES MUNDANAS E SUASCONSEQUÊNCIASNEFASTASPARAA ALMA

  1. (O Senhor): “Por isto, vos afirmo ser necessário que abandoneis todas as preocupações fúteis; cada preocupação mundana representa um laço material que prende a alma à cicatriz adamítica. Quanto mais a psique se une à matéria física, tanto mais o desenvolvimento do espírito é atrofiado, pois pela preocupação com o corpo — que em si é apenas um julgamento, simples necessidade fatal, portanto a morte mesma — ela perde a consciência e o conhecimento da vida eterna e imutável dentro de si. Se, porém, desprender-se deste laço, mais livre se tornará em tudo e, à proporção que se for unindo à centelha divina — mais viva e iluminada será sua consciência da vida eterna.

  2. Aquele que sente pavor da morte mantém sua alma numa forte união com o corpo e numa fraca ligação com o espírito; pois grande amor à vida terrena demonstra que a alma pouco se dedica à vida do espírito, no que é culpada a velha cicatriz que Adam aplicou a si e a todas as almas encarnadas.

  3. Todavia, cada uma pode, quando quer, sarar dessa ferida. Deus Mesmo providenciou os meios seguros em presença de Adam, tanto que pôde este se curar quase integralmente no fim de sua vida. Henoch conseguiu-o de forma completa, a ponto de se transfigurar em vida, o mesmo se dando com alguns outros patriarcas. Como seus descenden- tes se tenham unido aos de pais não abençoados, a herança adamítica perdurou mais ou menos forte como provação do homem.

  4. Daí derivam os partos e mortes dolorosos; pois uma alma ferida pelo sêmen une-se de modo tenaz à carne materna, sendo necessário

romper esses laços com violência na hora do parto. Filhos como Isaac nasceram sem causar sofrimento às mães.

  1. O mesmo acontece com a desencarnação. Criaturas muito pre- sas à vida, cuja preocupação convirja apenas para esse lado, sofrem mui- to quando na carne, adoecendo, não raro, psíquica e, em seguida, fisi- camente. Antes da morte enfrentam sempre sofrimentos insuportáveis, desprendendo-se do corpo numa dor atroz, que tudo abafa, percutindo seu eco ainda no Além, mormente quando se trata de pessoas habitu- adas à existência cheia de conforto e bem-estar. As almas, porém, que em vida chegaram à conclusão salutar de que todos os tesouros de nada valem — perecíveis que são como o corpo, libertando-se o mais possí- vel da cicatriz adamítica e encontrando em compensação seu espírito, o atma de Deus, pelo zelo cuidadoso desta dádiva divina — poucas moléstias têm de passar.

  2. Uma vez estabelecida a união entre alma e espírito, o corpo pou- co a pouco aceitará direção espiritual, tornando-se insensível às impres- sões do mundo, pois toda doença surge geralmente pelo rompimento de um laço material. Em suma, o corpo é abarrotado pela alma faminta com inúmeras necessidades. Se, em consequência de circunstâncias cli- máticas etc., não é possível satisfazê-la, é preciso romper os laços, um por um, com que o corpo adoece unido à alma, de certo modo porta- dora do sofrimento.

  3. Alma e corpo habituados a múltiplas privações do reino mortal do mundo, terão poucos laços entre os bens perecíveis da Terra e o corpo, facilitando o desprendimento na hora da morte. Se deste modo é sustado todo motivo para as moléstias, desejava saber de que forma poderiam infiltrar-se em corpo e alma. Em tais criaturas ele pouco sen- te, ainda mesmo martirizado por meios brutais.

  4. Lembrai-vos dos jovens no interior da fornalha! Cantavam e louvavam a Deus! Embora fosse o corpo destruído pelo poder do fogo, eles nada sentiam, porquanto de há muito se haviam libertado de todos os laços mundanos, unindo-se ao espírito divino. Nessa união a alma não sofre na hora da morte, porquanto sua ligação ao corpo é muito fraca; sente, ao contrário, um bem-estar sublime em toda sua complei-

ção, não perdendo a consciência, a luz da visão espiritual e tampouco a audição, o olfato, a gustação e o tato mais apurados, conforme os possui o anjo Raphael.

  1. Como já disse, porém, para consegui-lo, necessário é que o ho- mem se livre do pecado adamítico, conforme vos demonstrei: as pre- ocupações mundanas têm de ser exterminadas da alma, pois só assim conseguirá penetrar novamente na Ordem Divina. Eis o pecado origi- nal, de certo modo a carne da alma; espiritualmente são as preocupa- ções pelo seu bem-estar a herança de Adam, deixada para todos os seus descendentes. Além do meio por Mim apontado, existe ainda outro, que será dado às criaturas para a salvação de suas almas após terminar Minha Missão e do qual João Baptista foi o arauto escolhido.”

227.AQUEDADOS ARCANJOS

  1. (O Senhor): “O que sucede com o homem na medida ínfima, isto é, sua queda no erro vilipendiador de sua natureza, ocorreu tam- bém na criação dos arcanjos.

  2. Uma vez que os Pensamentos e as subsequentes Ideias de Deus se tinham tornado conscientes — de sorte a se solidificarem em seres de inteligência ilimitada, de acordo com a Forma Divina, começando a se integrar em sua independência — necessário era dar-lhes oportunidade de ação, ensinando-lhes o caminho.

  3. De que modo? Por acaso, dizendo-lhes apenas: Sois livres e po- deis fazer o que vos agrade?! — Resta saber se tais seres inexperientes teriam capacidade para uma ação qualquer ou se precipitar-se-iam uni- camente, quais pólipos, à saciedade de sua natureza, o que se vos apre- senta em povos espiritualmente atrasados, cuja preocupação e atividade se dirigem apenas à satisfação da fome.

  4. Haverá quem diga: De acordo com sua inteligência, poderiam ser instruídos quanto à sua ação. — Bem, digo Eu: se a inércia, porém, prepondera nesses seres — pois surgiram da inação — e não existe sen- so de atividade e também não pode ser desperto — que fazer? Talvez sugirais que se lhes force através da Onipotência Divina?

  1. Pois não! Que aconteceria, porém, à absoluta independência, pela qual, unicamente, um ser criado poderá alcançar sua liberdade, pois do contrário seria qual máquina, que age apenas quando acionada pela vontade e inteligência livre de seu mestre?

  2. Vedes, portanto, ser este meio impossível, pois por obrigação só máquinas podem agir, sendo a própria Terra uma pequena amostra. Os inúmeros sóis, planetas e luas são simples máquinas no Espaço, como também seus habitantes — e o corpo humano nada mais é do que um engenho artístico movimentado pela livre vontade da alma.

  3. De que modo, portanto, deveriam os arcanjos alcançar sua inde- pendência? Evidentemente apenas por um mandamento, embora não tão positivo como foi dado a Adam.

  4. A lei, no entanto, teria sido dada inutilmente, se com ela não es- tivesse enraizado em todos os seres originais o desejo de infringi-la. Uma vez a tendência da infração fazendo parte da natureza dos seres primiti- vos, deve acompanhá-la qual castigo uma consequência desagradável e automática, sendo preciso demonstrar sua realidade, causa e efeito. Este ensinamento dado aos anjos mostra a necessidade da obediência.

  5. Torna-se até necessário apontar-lhes que pela infração poderá surgir no começo um benefício passageiro, o qual, mais tarde, acarreta- rá um prejuízo prolongado e doloroso. Deste modo orientados, os seres poderão fazer verdadeiro uso de sua livre inteligência e atividade cor- respondente, ou para o bem, ou para o mal. Em suma, eles começarão a agir com liberdade, fator principal para a verdadeira e plena emanci- pação num caminho mais curto ou mais longo, evitando-se com isto a destruição completa duma entidade inteligente.

  6. Quanto ao Criador, tanto faz se a independência por ora seja feliz ou infeliz, pois para todos está aberta a porta que conduz — nos caminhos demonstrados — à bem-aventurança. Tudo depende da livre vontade da criatura. Infeliz ou não — ela terá de corresponder à Ordem Total do Criador.

  7. Cientes disto, não será difícil deduzir-se a queda dos primeiros anjos, pois também para eles foi preciso estabelecer uma lei acompanha- da da tentação de infringi-la, ligada a vantagens momentâneas. De outro

lado, dar-lhes esclarecimentos necessários quanto aos verdadeiros e eter- nos benefícios, embora tardios, caso agissem dentro da lei estabelecida.

  1. A Criação material prova que apenas uma parte dos seres res- peitou o mandamento, sendo uma consequência ou um castigo do não cumprimento; espiritualmente falando, nada mais é que o caminho mais longo à existência feliz e livre dos seres criados.

  2. Além disto, o anjo ora aqui presente é uma prova nítida de que inúmeras falanges de espíritos livremente criados consideraram o mandamento — muito embora não fosse tão positivo quanto ao dado a Adam — de sorte que a Criação material é subordinada ao seu poder, força e sabedoria.

  3. Este anjo não poderá provar à posteridade não ter uma enorme parte de anjos puros caído pelo mandamento dado; tal conhecimen- to também torna-se desnecessário para a bem-aventurança de todas as criaturas, mormente se ainda não alcançaram o conhecimento próprio através de seu espírito. Uma vez alcançado este estado, o homem pode- rá, a qualquer momento, ver, como se diz, os sete Céus abertos, sendo-

-lhe possível de lá buscar as provas que desejar. Deste modo, tudo ficou previsto. Agora dize-Me, Cirenius, se podes formar uma ideia quanto à queda dos arcanjos.”

228.FORÇAE RESISTÊNCIA

  1. Responde Cirenius, todo feliz: “Senhor, tanto meu coração quanto o cérebro Te darão provas disto. Creio, entretanto, haver atrás desses esclarecimentos maravilhosos infinidade de outros, com os quais nem os anjos puros talvez sonhassem. Por mim, estou plenamente satis- feito e terei assunto para meditar até o fim da vida, pois tudo isto excede o mais elevado horizonte do saber e conhecimento humanos. Apenas Satanás e seu séquito de demônios continuam sendo um enigma! Pode- rias nos dar sobre isto uma pequena explicação?”

  2. Digo Eu: “É demasiado prematuro para teu entendimento es- clarecer-te este assunto em seu todo. Dar-vos-ei, todavia, uma pequena elucidação, a bem de vossa compreensão.

  1. Vede, tudo que existe vibra através de certa luta constante. Toda existência, inclusive a divina, contém em si uma quantidade de contras- tes negativos e positivos, que se chocam como calor e frio, treva e luz, duro e mole, amargo e doce, pesado e leve, largo e estreito, alto e baixo, odioso e amoroso, mau e bom, errado e certo, mentiroso e verdadeiro.

  2. Não existe força capaz de agir se não houver resistência. Imagi- nai um gigante, cujo vigor físico poderia desafiar um exército. De que lhe adiantaria isto, se fosse colocado qual nuvem no espaço? Bastaria para impeli-lo uma leve brisa, que mal movimentasse uma pequena folha, não obstante sua força!

  3. A fim de que o gigante pudesse fazer efetivo uso da mesma, ne- cessário seria um solo firme que o sustentasse. O solo, neste caso, é seu contraste, pois necessita, para exercício de livre movimentação, de uma base sólida onde se ligasse à estabilidade segura do solo, oferecendo-

-lhe possibilidade para enfrentar um suposto ataque. Sendo o solo uma rocha, não pode haver movimento, por mais poderoso, capaz de agir contra sua estabilidade, a não ser que seja mais elevado que as forças ali concentradas. A base sendo flexível, possibilitando menor capacidade de movimentação violenta ao gigante, seu vigor encontrará pouca resis- tência no solo e será difícil ele enfrentar outra força, mesmo que menor.

  1. Para maior elucidação, imaginai ser este gigante capaz de levan- tar, num solo firme, o peso de mil pessoas. Imaginemos tal experiência em cima dum brejo, que mal suportaria o peso dele; se mesmo assim tentasse erguer cem ou apenas dez pessoas — nada poderia conseguir, porquanto afundaria e toda sua força seria anulada por não ter a resis- tência precisa debaixo de seus pés.

  2. Não há força que se possa externar, caso não se tenha polariza- do com outra, idêntica, num certo atrito. No caso do gigante, o solo firme luta contra seu peso e movimento, vencendo-os até certo ponto; e tal vitória estável do solo se transforma em base para a força e medi- da motora.”

229.ANATUREZADE SATANÁS

  1. (O Senhor): “Por este exemplo palpável, nos convencemos da razão por que não haverá existência sem resistência, assim como a força do gigante no livre espaço seria nula quanto ao efeito, pois necessita dum polo oposto para sua ação. Esta relação deve existir em tudo den- tro da medida justa, do contrário não entraria em evidência.

  2. De tal forma, a Existência Perfeita de Deus contém em Si os contrastes mais desenvolvidos, sem os quais não haveria vida. Tais con- trastes estão em combate ininterrupto, de modo tal que a constante vitória de uma força serve de apoio à vencida, conforme observamos na vitória do solo firme sobre a força do gigante.

  3. Se Deus, portanto, desejava criar seres semelhantes, tinha de muni-los de forças antagônicas, que desde Eternidades Ele possui den- tro de Si, naturalmente num equilíbrio perfeito, do contrário jamais teria tido ação.

  4. Pois bem; os seres foram criados de acordo com a Semelhança Divina e, finalmente, apossaram-se da capacidade de consolidação atra- vés da luta surgida pelos contrastes dados por Deus.

  5. Todos os seres receberam as tendências de calma e movimento, inércia e senso ativo, treva e luz, amor e ira, impetuosidade e meiguice etc.; apenas havia diferença quanto à medida. Em Deus todos os con- trastes se achavam desde Eternidades na mais perfeita ordem. Nos seres criados tinham de alcançar, pela luta independente, igual posição.

  6. Eis que se registraram diversas vitórias: numa fileira a estagnação vencia o movimento, tanto que o último se esforçava constantemente por amolecer a pedra, para que se lhe tornasse semelhante, sendo com- batido pela calma, mais fraca, a fim de conseguir um equilíbrio justo. Noutras, o movimento se tornava preponderante.

  7. Em muitos seres os contrastes alcançaram uma justa medida dentro da Ordem Divina, tornando-os perfeitos por se equilibrarem continuamente através de suas capacidades intelectivas, idênticas.

  8. Se uma força qualquer, num ser prestes a se consolidar, procura fazer emudecer através dum esforço tenaz todas as potências contrárias,

atraindo-as para sua esfera — tal força se aniquila a si própria, pois afas- ta todas as oportunidades para manifestar-se. Como já disse: uma força sem oposição não tem poder, conforme vimos no exemplo do gigante.

  1. A que seja dominada por si mesma tende a atrair outras, a fim de se livrar de seu doloroso estado de prisão, no que podeis observar o que seja Satanás e os demônios.

  2. Satanás é uma personalidade poderosa e corresponde à estag- nação e ao ócio; queria ele unir em si todas as demais forças, tornan- do-as em parte inertes. Mas as potências nele vencidas não estagnavam completamente, pois manifestam atividade constante, personificando-

-se; por tal atividade individual vivificam elas sua origem — Satanás

  1. Tais forças vencidas, contudo, não aceitando a derrota, são o que se chama demônio ou espírito mau. Dei-te uma pequena elucida- ção; caso desejes algo mais, fala!”

230.OENSINODOS ARCANJOS

  1. Diz Cirenius: “Tenho a impressão de entender qualquer coisa a respeito; longe, porém, estou de compreendê-lo a fundo, porquanto o assunto é por demais sutil. O equilíbrio das forças entre si é de tal for- ma complicado que dificilmente poderá entrar numa relação ordenada em criaturas como eu, manifestando-se em seguida como entidade de perfeição divina.

  2. Por isto, julgo não ser possível culpar-se um espírito original, semelhante a nós, que se haja excedido contra a boa ordem. Quem poderia atribuir a alguém a culpa plena de sua brutalidade, se desde o nascimento não teve ocasião de adquirir bons hábitos, comuns a pes- soas educadas?

  3. Como admitir houvesse nos seres primitivos — que através dos pensamentos e ideias de Deus se consolidaram — aquela compreensão necessária para desenvolver-se dentro da Ordem Divina? A natureza individual de Satanás não podia possuir o entendimento do arcanjo

Miguel, do contrário lhe seria idêntica. Em suma, Senhor, estou vaci- lando entre luz e treva, pois, quando me aproximo da primeira, tenho a impressão de que sua chama me venha queimar; afastando-me, acho-

-me na treva anterior. Por isto, será necessário despejar mais algum óleo na lamparina do meu intelecto!

  1. Por ora posso comparar-me a uma pessoa meio adormecida du- rante a madrugada: dum lado os olhos estão cerrados pelo sono, doutro lado a claridade atua sobre eles, de sorte a não se poderem entregar à sonolência. Desperta, Senhor, inteiramente os meus olhos, do contrário poderá acontecer que eu adormeça, não obstante o pleno conhecimen- to da Ordem Divina na Sabedoria e Amor totais!”

  2. Digo Eu: “Caro amigo; avisei-te ser difícil assimilar estas coisas em seu todo. Tentarei esclarecer-te por meio de quadros e parábolas, porquanto é do teu desejo conseguir uma noção mais profunda.

  3. Enganas-te julgando que Deus tivesse entregue os seres criados à própria educação antes de possuírem a capacidade de reconhecer e assimilar em si a Ordem Divina. Precederam longos períodos de ensino até que fossem entregues à própria liberdade e à educação individual.

  4. Calcula o tempo decorrido entre Adam e hoje — durante o qual o ensino perdura de modo variado! E após este preparo Eu vim Pesso- almente mostrar às criaturas os caminhos que deverão palmilhar pela própria força interior, que até então recebeu a devida formação do ‘pró’ e do ‘contra’. Pela Minha Presença é dada ao homem a plena liberdade para seu aperfeiçoamento, acompanhada por nova lei de amor, conten- do todas as demais leis e a Sabedoria de Deus.

  5. Quem viver dentro deste novo mandamento desenvolverá in- dubitavelmente sua vida dentro da Ordem Divina, podendo ingressar na plenitude do verdadeiro e eterno ser. Não o aceitando e deixando de organizar suas ações dentro de tal princípio, por certo não atingirá a meta do aperfeiçoamento verdadeiro.

  6. Ninguém poderá afirmar: ‘Não sabia o que fazer!’ Mesmo que diga, distante daqui: ‘A chamada divina não chegou aos meus ouvidos!’, terá a seguinte resposta: ‘Desde agora não existe criatura na Terra que não sentisse no coração qual seu proceder dentro da justiça!’

  1. Todos possuem voz de consciência, que os guia para o bem e a verdade; quem a seguir alcançará conhecimento maior, iluminando-lhe todos os caminhos da Ordem Divina.”

231.ASCONSEQUÊNCIASDAQUEDADE LÚCIFER

  1. (O Senhor): “Quão curto é o período de Adam até nós compa- rado à duração, inconcebível ao entendimento humano, entre a era do surgimento dos arcanjos até a época em que podiam fazer pleno uso do livre arbítrio.

  2. Existem no Espaço Infinito sóis primários que, não obstante seu tamanho incalculável, mal podem ser vistos como pequeninos pontos luminosos devido à grande distância. Têm mais ou menos a duração da época que dista entre a queda dos anjos puros até nossos dias. A su- perfície da Terra não comportaria o número de anos correspondentes à idade de tais astros! E se tomasses para milhões de anos um grão de areia da Terra, na hipótese que toda ela contivesse tais grãos — este cálculo ainda não lhe corresponderia! Entretanto, nada representa quanto à du- ração daquela era em que Deus começou a projetar Seus Pensamentos e Ideias, formando os primeiros espíritos. E que não foi feito para o aperfeiçoamento de seu livre arbítrio!

  3. Contudo, houve, no fim daquele longo período de formação espiritual, uma quantidade de anjos, os quais, embora tivessem com- preendido os caminhos evolutivos de Deus, não desejavam segui-los, desviando-se em troca de pequenas vantagens para a estrada da destrui- ção própria.

  4. O principal espírito de luz, que acolhia dentro de si inúmeros de outros, cada qual possuidor de várias inteligências, falou de si para si: ‘Que mais necessito? Possuo todos os atributos divinos, pois Deus depositou em mim todo Seu Poder. Agora sou forte e poderoso, por- quanto Ele tudo me deu, ficando isento de forças; veremos se a vanta- gem da infração contra a Lei será deveras curta. Opino poder estendê-la a eternidades, providos que somos, eu e meus afins, de todo poder e força. Quem nos poderá obstar? O Espaço Infinito que preenchemos

não comporta outro poder e inteligência; assim, quem seria capaz de contestar a vantagem?’

  1. Eis as conjeturas do anjo de luz, dirigidas a si próprio e seus asseclas. Dito e feito! A consequência, porém, manifestou-se em sua própria prisão e estagnação, com que surgiu a criação da matéria dentro da Ordem Divina, pois o êxito completo do não cumprimento da Lei Divina foi tão bem previsto como o estado libérrimo daqueles espíritos cumpridores do mandamento.

  2. Deste modo, o primeiro anjo e todos os espíritos inferiores e afins se haviam algemado tremendamente pela própria teimosia. A du- ração deste aprisionamento voluntarioso ninguém conhece, incluindo os anjos, além de Deus.

  3. Uma coisa é certa: os espíritos isolados, contidos nesse filho per- dido da luz, serão despertados de sua inércia pelo Poder Divino e encar- nados neste orbe, o que lhes dará oportunidade idêntica à dos filhos do Alto para evoluírem à perfeição máxima dos Filhos de Deus.

  4. A matéria toda é um espírito isolado, cuja alma poderá ser renas- cida em cada criatura para a Vida Eterna. Quando todos os elementos isolados dum mundo tiverem surgido à luz, este orbe terá alcançado o fim de sua existência. Num planeta como o nosso, isto levará muito tempo; um dia, porém, terá chegado o fim.”

232.INVÓLUCROE ALMA

  1. (O Senhor): “Existe, porém, algo dentro da matéria que nunca se achará numa alma: o conhecido invólucro, no qual é enfeixada uma qualquer potência psíquica isolada até alcançar um certo grau de in- dependência. Após ter conseguido um estado de amadurecimento, tal potência rompe o pequeno invólucro e une-se imediatamente a outras, idênticas e já libertadas, criando dos elementos correspondentes do ar, da água e da terra um novo invólucro, como podeis observar em grãos, arbustos, árvores, óvulos de insetos, pássaros e anfíbios.

  2. Este invólucro é apenas uma emanação da fixação da Vontade Divina, nada contendo duma inteligência psíquica propriamente dita;

somente representa um meio necessário, pelo qual a mencionada inte- ligência se forma, como por si mesma, neste isolamento, para um ser completamente livre.

  1. A matéria é, portanto, dois terços alma e um terço membra- na desvitalizada, como portadora da vida psíquica, no início isolada, mas que pouco a pouco se vai unindo num ser concreto e sazonado. A matéria do invólucro, ou seja, o Pensamento fixado de Deus, é por tal motivo uma instituição de salvamento, pela qual os espíritos isolados, levados à queda por Satanás, poderão alcançar sua perfeita liberdade dentro da Ordem estabelecida — embora num caminho mais longo que o palmilhado pelos demais anjos da era primitiva.

  2. Como o tempo não aflige e perturba a Deus, porquanto Ele fixa a realização completa de Suas Ideias como algo presente — não obstante sua duração — mil anos Lhe são idênticos a um dia ou um momento! Um planeta poderia necessitar, para a libertação de todos os espíritos contidos em seus invólucros, maior número de anos do que a quantidade inexpressível de seus próprios grãos de areia — e para Deus seria o mesmo que um momento.

  3. Afirmo-vos existirem no Espaço Infinito alguns mundos que já concluíram sua tarefa. Perduram como portadores de novos e livres se- res, apenas mais puros e sólidos, e em sua estrutura imutável de acordo com a Vontade de Deus, que corresponde à Sua Sabedoria e Ordem Eternas, imprescindível à existência dos seres.

  4. Pois, não obstante possuírem, após sua perfeição espiritual, uma existência inteiramente livre, como que independente do Ser Divino, essa liberdade não poderia ter duração se não fosse de toda Eternidade fixada por Deus, dentro de Sua Ordem, a Ele se unindo. Essa fixação constitui a duração eterna e a manutenção de todos os seres.

  5. Daí se conclui automaticamente que jamais poderá ser destruí- do algo que Deus tenha criado. Poderá mudar de forma, ou para outra mais nobre e sublime, ou então para pior, como no caso do arcanjo e seus seguidores. Diz-me, Cirenius, compreendes melhor este assunto?”

233. O SABER

  1. Diz Cirenius: “Sim, Senhor e Mestre, compreendo-o dentro de minha capacidade ocasional. Claro é que haveria ainda muita coisa a indagar, porém reconheço que o excesso de saber não é de utilidade para o homem, pois lhe anularia a atividade.

  2. Tal criatura se me apresenta como um rico: para que fim haveria de querer arar a terra? Seus celeiros estão repletos; as adegas, cheias do melhor vinho; e seu palácio, abarrotado de ouro, prata e pedrarias. Por isto, seria tolice e loucura dedicar-se à lavoura; entrega-se ao descanso, gozando seus bens terrenos.

  3. Ao passo que a pessoa desprovida de vastos conhecimentos está sempre à procura da verdade, sentindo imensa alegria quando se lhe faz a luz. Por isto, acho que já sei o suficiente nesta esfera; o que me falta representará o motivo de minha atividade constante. Tenho razão?”

  4. Digo Eu: “Tanto o excesso quanto a carência não são de provei- to; todavia, é preferível demais que de menos, pois aquele que tiver em abundância poderá prover aos necessitados. Por tal razão, é melhor pos- suir em excesso a Sabedoria Verdadeira; pois o ignorante jamais pode- rá transmitir algum conhecimento. Uma coisa, porém, digo: não seria útil, nem aos anjos, possuir onisciência, como Deus!

  5. Ele até isto prevê, pois, assim como um espírito jamais poderia preencher o Infinito, tampouco a sabedoria do espírito mais perfeito seria capaz de analisar e assimilar todas as profundezas da Sabedoria Divina. Compreendes?”

  6. Responde Cirenius: “Perfeitamente, pois aplica-se ao ditado: Quod licet Jovi, non licet bovi(Nem tudo serve para todos). Perante Deus, convém aos homens e anjos não saberem em demasia, porque, segundo a lei da Natureza, a vida perderia sua graça se não houvesse sempre algo a pesquisar.

  7. Por isto, considero mui sábio o fato de que nenhum espírito, por mais perfeito que seja, jamais se possa aproximar da Sabedoria Divina, pois o que é infinito não pode ser alcançado pelo finito.

  1. Não convém perder palavras sobre tal assunto, porquanto have- rá, por certo, uma quantidade de outros, cuja revelação nos será mais útil que a confecção da medida pela qual o fraco espírito humano pu- desse calcular a Sabedoria Divina. O amor é, evidentemente, mais ele- vado que toda sapiência, humana e espiritual.

  2. Afirmaste há pouco ser possível curar-se a velha cicatriz psíquica pela nova lei do amor ao próximo, pela qual o homem se compene- trará da consciência plena quanto à verdadeira Vida Eterna. Tal será sua maior conquista, pois lhe facultará meios de realizações grandiosas e sublimes.

  3. A noção cruciante da morte e o desaparecer do palco da vida fazem com que o homem perca toda coragem para uma atitude no- bre — ou então, leva-o a precipitar-se nos prazeres efêmeros, a fim de afugentar o pensamento de sua extinção, procurando gozar a vida da matéria como se fosse eterna; seria de suma importância criar uma lei que facultasse ao homem encontrar dentro de si o paraíso perdido por Adam. Consta ser o amor ao próximo o meio para tanto. A questão é saber como se deve considerar tal mandamento, importantíssimo, den- tro da Ordem Divina, a fim de alcançar o destino por Ti prometido.”

  4. Digo Eu: “Eis uma boa observação de tua parte, para a qual não deixarei de fornecer-te a resposta certa. Antes, porém, ouçamos o parecer de nosso anfitrião a respeito do amor ao semelhante. Dize-nos, Marcus: quem consideras realmente teu próximo, merecendo todo o teu amor?”

234.MARCUSDISSERTASOBREO PRÓXIMO

  1. Diz o velho Marcus: “Senhor, sinto-me tão comovido por tudo que acabo de ouvir em minha casa, que não me julgo capaz de externar uma palavra razoável; muito menos poderia afirmar quem seja meu verdadeiro próximo.

  2. Não resta dúvida seja aquele meu semelhante ao qual me pren- dem laços de parentesco e tem direito ao meu auxílio. Ao mesmo tem- po, meu vizinho seria meu próximo, assim como minha mulher e filhos.

  1. Durante a atividade militar, meus camaradas faziam jus a esta classificação. Por outro lado, toda pessoa, não obstante sua religião di- versa, será meu próximo no momento de necessidade. Até nossos ani- mais caseiros o são; em suma, penso dever o homem seguir o Governo Divino, fazendo que o Sol do seu amor irradie sobre todos, assim como Deus faz com todos os seres. Justamente por ser criatura finita, o ho- mem consegue imitar a Deus de modo limitado; entretanto, sua seme- lhança divina lhe facilita o desenvolvimento das faculdades conferidas por Deus. Eis minha conclusão; prefiro que Te externes, Senhor, se é que o tencionas fazer a estas horas.”

  2. Digo Eu: “Sim, falarei, embora já tenha passado de meia-noite. Antes, faremos um pequeno intervalo, a fim de prestar ouvidos a uma possível chamada de socorro vinda do mar!” Súbito ouve-se um vozerio na direção da praia. Marcus e seus filhos indagam se deveriam prestar socorro aos possíveis náufragos, que talvez enfrentem forte ventania numa frágil embarcação ou, então, algum redemoinho.

  3. Digo Eu: “Trata-se duma péssima embarcação de jovens levitas e fariseus, das zonas de Capernaum e Nazareth, a caminho de Jerusalém. Preferiram a via marítima, por ser mais curta e fácil; em Sibarah conse- guiram apenas um barco de pescador com fendas, que agora faz água e a situação tornou-se perigosa, a menos que sejam socorridos.”

  4. Diz Marcus: “Senhor, não seria de lastimar se esses fossem devo- rados pelos peixes! Mas, se for de Tua Vontade, os auxiliaremos!”

  5. Digo Eu: “Não afirmaste há pouco que o homem, criado se- gundo a Imagem Divina, deveria imitá-Lo, fazendo espargir os raios do pequeno sol de seu coração sobre todos, considerando como próximo

  1. Tuas palavras são justas e verdadeiras e necessário se torna aplicá-

-las, do contrário a verdade não tomaria vida em teu lar! A verdade pura de nada adianta à vida eterna do homem, enquanto não vivificada pela ação. Somente pela aplicação a Luz da Vida Eterna se esparge e ilumina todos os recônditos emaranhados da alma humana, tal como o Sol ao meio-dia fornece luz a todos os vales e covas, preenchendo-os de calor e vida. Agora, faz o que te agrada.”

  1. Diz Marcus: “Mãos à obra, mesmo que o barco comportasse ursos, tigres, leões e hienas!” Rápido ele e seus filhos se encaminham à margem, soltam um bom barco, que dirigem ao lugar donde as vozes de socorro se tornavam mais angustiadas.

235.MARCUSSALVAFARISEUS NAUFRAGADOS

  1. Em breves momentos Marcus atinge o bote prestes a soçobrar, ajudando trinta náufragos a passarem à sua embarcação; reboca em se- guida o bote e todos alcançam em pouco tempo a margem. Uma vez em terra firme, os levitas indagam o preço que sua salvação merecia, pois re- conhecem em Marcus um romano. Se fosse judeu não o teriam feito, por- quanto constitui grande mérito conferido por Jehovah o fato de alguém poder salvar Seus servos de algum perigo. Deus permite tais ocorrências, a fim de dar oportunidades às criaturas de demonstrar a solidez de sua fé e inabalável devoção ao Templo, única morada digna da Divindade.

  2. Replica Marcus: “Embora romano, possuo conhecimento mais profundo acerca de Deus Verdadeiro do que vós, pois, se O conhe- cêsseis, de há muito não mais seríeis fariseus e levitas, mas criaturas íntegras! Como careceis deste conhecimento, digo-vos: Amaldiçoado seja quem exigir recompensa por ter salvo seu irmão. Deus não des- considera uma boa ação feita em Seu Nome; neste caso, por que razão deveríamos aguardar pagamento recíproco? Sois todos servos maus, ale- gando servi-Lo enquanto exigis dos pobres um preço exorbitante pelos supostos préstimos.

  3. Por isto, aprendei comigo, velho guerreiro romano, como se deve servir ao Único, eternamente Vivo e Poderoso Deus, quando se espera ser por Ele recompensado. Eis por que não aceito paga por um serviço prestado a alguém. Trabalhando para minha família exijo paga- mento razoável, deixando que me paguem os peixes que levo ao mer- cado. Se tencionais fazer aqui uma refeição, tereis que me indenizar.”

  4. Dizem os socorridos: “Falaste como judeu, o que, contudo, não criticamos; entretanto, não concordamos com o que alegas contra nós. Somos apenas levados pela corrente do sinédrio e não é fácil enfrentá-

-lo. Se houvesse um meio de saída, seríamos os primeiros a apostatar, porquanto o Templo de Jerusalém nada mais é que uma instituição fraudulenta, que não traduz uma sílaba sequer de verdade. Roma, po- rém, sancionou-a e nada há que fazer.

  1. Além disto, se é que Deus vive, terminará em breve esses absur- dos. Se não existe e tudo que sabemos é apenas um velho mito — fare- mos o mesmo que o Templo, pois o mundo prefere o engano à verdade e não é possível exigir-se mais de nós, nem dele.”

  2. Diz Marcus: “Sois realmente uns heróis! Epicuro é vosso mestre, não obstante de há muito falecido. E como o estômago é vosso ponto sensível, dizei-me se desejais algo para comer.”

  3. Indaga um deles: “Que hóspedes são estes, que a esta hora ainda se acham acordados frente a tua casa? Também foram salvos duma res- saca? Pois o mar está bravio!”

  4. Responde Marcus: “Não vos interessa; são dignitários de Roma e não podeis arriscar em falar-lhes, pois vosso caráter é demasiado cor- rupto. Entre eles acha-se o comandante Julius de Genezareth e, se lhe quiserdes falar, posso me dirigir a ele neste sentido.”

  5. Ouvindo isto, os levitas e fariseus se assustam, pedindo a Mar- cus evitar um possível contato, pois neste grupo se encontram alguns a quem Julius, há dias, havia mandado tapar olhos e ouvidos com barro, fazendo-os reconduzir a Capernaum sob escolta militar.

  6. Marcus lhes assegura: “Nada temais, basta apresentar o salvo-

-conduto, exigência rigorosa dos romanos.”

  1. Externa-se um do grupo: “Eis nossa dificuldade: o Templo não quer se sujeitar às ordens de Roma, ocasionando-nos grandes aborreci- mentos em nossas constantes viagens a serviço do sinédrio, que nunca nos indenizou um prejuízo.

  2. Somos filhos de pais ricos, pois do contrário o Templo não nos teria atraído; agora, presos por suas leis, não nos é possível fugir. A con- sequência é sermos os bodes expiatórios para todo mundo. Liberta-nos, se te for possível! Terás dum lado nossos familiares fanáticos e obstina- dos, e doutro lado a obrigação templária. Em tais condições ninguém consegue movimentar-se livremente!”

  1. Diz Marcus: “Quereis saber algo? A julgar por vossas palavras, deveríeis entrar em contato com o grupo em frente à minha casa. Acom- panhai-me; defenderei vossa causa e talvez seja possível salvar-vos das arti- manhas do Templo, que parece ser tão ‘humanitário’ com os seus servos!”

  2. Dizem os outros: “Seria ótimo, caso Julius não estivesse presen- te e se tivéssemos documentação!”

  3. Acalma-os Marcus: “Deixai isto por minha conta e segui-me! Julius é, como eu, amigo de pessoas sinceras!” A esta persuasão do velho guerreiro, os templários se animam a acompanhá-lo.

236.CRÍTICADOSFARISEUSÀPESSOADE JULIUS

  1. Aproximando-se de nossa mesa o grupo de judeus, faz-se lugar para que todos se acomodem. Em seguida Marcus Me procura e indaga se permito que se lhes ofereça pão, sal e vinho.

  2. Digo Eu: “Se eles pedirem e teu coração desejar, fá-lo! Eis uma regra principal para o amor ao próximo. Deve o necessitado pedir, ou por palavras, clamando por socorro, ou, num caso extremo, pela miséria visí- vel, o que levará teu coração a querer agir por amor; assim, este sentimen- to ao próximo será empregado dentro da Ordem Divina — e o efeito se apresentará tanto na alma quanto no espírito do doador. Compreendes?”

  3. Responde Marcus: “Como não? E farei tudo para agir dentro deste ensinamento.”

  4. Digo Eu: “Então vai; mas não Me denuncies, pois neles não se pode confiar inteiramente. Seus corações se acham nas trevas e suas almas estão longe duma compreensão mais profunda.” Incontinenti Marcus procura os judeus para saber se necessitam de alguma coisa.

  5. Responde um do grupo: “Amigo, bem que estamos com fome e sede; nossa fortuna consiste apenas em nove moedas de cobre, e por este preço será difícil se conseguir comida nesta zona; se te for possível nos oferecer qualquer coisa, nosso dinheiro será teu.”

  6. Diz Marcus: “Nesse caso não é preciso pagamento, mas podeis comer à vontade.” Em seguida, ele e os seus dão rapidamente algum alimento ao grupo recém-vindo, pois de manhã teriam algo mais subs-

tancial. Os famintos não se fazem de rogados, apreciando pão e vinho. Acerca deste último suas opiniões divergem entre um produto egípcio, persa e romano.

  1. Contesta o velho: “Nada disto; o vinho nasceu aqui!” Tal afirma- ção muito os surpreende, sabendo-se que a Galileia fornecia o pior dos vinhos. Dentro em pouco todos começam a tagarelar, sem se perturbar com nossa presença. Julius, sentado próximo dum jovem fariseu, inda- ga-lhe se não teria negócios a resolver em Genezareth.

  2. Responde o outro: “Senhor, não sei de tua origem, mas afirmo que essa cidade não presta nem para um demônio, quanto mais para uma pessoa honesta como eu! Basta dizer que lá vive o conhecido co- mandante Julius e quem privar com ele, tê-lo-á feito com Satanás. Não o conheço pessoalmente, mas já experimentei suas ordens, deduzindo daí seu caráter.

  3. Parece ser inimigo declarado dos habitantes de Jerusalém, do contrário não lhe teria sido possível agir tão barbaramente com pessoas de nosso quilate. É justo uma certa antipatia pelos templários, após se descobrir suas tramas e fraudes; mas é preciso abrir exceções para poder julgar com critério em que circunstâncias alguém faça parte dum ins- tituto. Se a pessoa agiu de livre vontade, não terá direito para queixas. Mas quantos não são membros dum péssimo grêmio, onde foram obri- gados a ingressar!

  4. Um juiz honesto deveria analisar quais os motivos que levaram pessoas como nós a fazerem parte dum sinédrio. Se fôssemos voluntá- rios, poderíamos ser castigados. O mesmo se daria se um jovem honesto fosse assaltado e conduzido à caverna de ladrões; lá seria ameaçado de toda sorte de castigos mortais, caso não desejasse compartilhar do gru- po. Toda e qualquer tentativa de fuga seria punida com a morte.

  5. Acontece que essa sociedade de assaltantes é atingida pela jus- tiça, sofrendo a pena adequada. Seria justo que o jovem honesto par- ticipasse da mesma sorte? Dever-se-ia tentar para ele todos os meios possíveis de salvamento, ao invés de pendurá-lo à cruz e quebrar-lhe as pernas. É fácil julgar e condenar para aqueles que têm armas e poder nas mãos! Mas como — eis outra questão!

  1. Sinto ser melhor soltar dez vagabundos, cuja culpa não pu- desse ser inteiramente provada, do que executar um, conforme acabo de relatar. Seria o pecado mais ignóbil contra os direitos sagrados do homem. Já sendo condenável fazer-se a infelicidade de alguém, quanto mais aumentar a desdita dum miserável, em vez de empenhar-se por salvá-lo a todo transe!

  2. Eis nossa situação como jovens templários: fomos, como filhos ricos, votados por obrigação ao Templo sem pertencermos ao tronco Levi, pois tal prerrogativa é atualmente negociável. Somos levitas, impedidos de nos libertar desta profissão. Poderíamos fugir e ingressar no exército romano; com isto, porém, teríamos atraído aos nossos familiares toda desgraça possível — e nem Deus os salvaria da morte pela água maldita. Todos que foram obrigados a tomar tal veneno tiveram morte horrível.

  3. Contaram-nos que, há trinta anos, houve um casal da Galileia que não morreu após beber essa água satânica. Possível — mas não o assistimos. Aquele que, após considerar nossa situação, fizer-nos tratar como bestas humanas, pouco direito terá à honra de ser homem — e a justiça romana é bem duvidosa!

  4. Eu e mais alguns do nosso grupo fomos tratados em Genezare- th, pelo dito comandante Julius, de forma tal, que será compreensível se evitarmos, futuramente, este lugar como a peste!”

237.DECISÃODOS FARISEUS

  1. Diz Julius: “Hum, estranho isto dum homem que sempre foi considerado justo e honesto. Por acaso poderias relatar-me o motivo que o levou a tal atitude severa? Deve ser possível reconsiderar uma injustiça, do contrário as comunidades sociais de nada valeriam!”

  2. Diz o jovem fariseu: “Oh, poderia ter tido diversos motivos, que redundariam na possibilidade duma criatura se tornar criminosa por obrigação ou, no mínimo, alvo de suspeita. Afirmam vossas leis ser necessário uma intenção má ou premeditada para uma ação criminosa, o que deve ser provado; do contrário, dever-se-ia crucificar aquele que, na queda dum telhado, matasse uma criança!

  1. Nós, jovens fariseus, somos sempre enviados do Templo em as- suntos aparentemente honestos; acontece, porém, sermos obrigados a realizar ações maldosas, condenadas no fundo do nosso coração. Mas que fazer? Somos quais guerreiros, que a mando do superior invadem um país, anarquizando tudo apenas por motivos ocultos, dos quais os soldados nunca terão conhecimento. Têm de agir como máquinas, que em caso de desgaste são postas de lado.

  2. Opino, portanto, sendo o Templo com suas intenções escabro- sas uma instituição tão bem conhecida em Roma, que pessoas como o comandante Julius deveriam exterminar o mal pela raiz, e não pelos pequenos galhos, isentos da culpa de terem nascido num tronco tão ignóbil. Eis a minha e também a opinião de todos os colegas, que se justifica diante de Deus e das criaturas justas!”

  3. Diz Julius: “Falaste dentro da verdade e, evidentemente, fostes maltratados em Genezareth, o que vos valerá uma indenização. Tal coi- sa não se teria dado se não tivésseis invadido a casa de Ebahl de modo tão brusco. Mas deixemos isto, pois é possível que o Templo vos tivesse dado ordens para tal procedimento. O que desejo saber é, como amigo de todas as causas justas, quais foram as intenções do sinédrio naque- la ocasião.”

  4. Responde o outro: “Demonstrar-te-ei o motivo oculto para pro- var que, em absoluto, somos aquilo que os romanos julgam. Vê, em Jerusalém, mormente no Templo, consta viver na Galileia um homem, divulgador duma nova doutrina antitemplária, que opera grandes mi- lagres para confirmação da mesma, de sorte que até fariseus velhos se declaram a seu favor.

  5. Deves compreender que este homem não pode ser bem visto pelo Templo. Por tal razão fomos ali juramentados e enviados a fim de averiguar a veracidade de tais fatos. Encontrando-o, deveríamos procu- rar conquistá-lo para o Templo; caso contrário, enviá-lo para o outro mundo. Eis a intenção ‘louvável’ do Templo, cujos mensageiros inofen- sivos e inocentes somos nós. Entende-se que o mencionado, por certo honesto e bom homem, jamais teria de temer-nos, pois, se o localizás- semos, nada lhe sucederia.

  1. Chegamos a saber, por toda parte, ser ele deveras um homem extraordinário: verdadeiro, honesto e bondoso — qualidades que sa- bemos apreciar. Em suma, se o tivéssemos encontrado, o Templo de nada saberia, tampouco nos empenharíamos em conquistá-lo a favor do sinédrio. Se em nosso íntimo fôssemos idênticos aos sacerdotes, não te falaríamos tão abertamente, não obstante o vinho tomado.

  2. Alimentamos a intenção secreta de fugir do Templo, ainda que com risco de vida de nossos parentes. Assim, fizemos a travessia à noite e desejamos alcançar Tyro ou Sidon a fim de esclarecer nossa situação a Cirenius, homem de visão ampla. A maior parte de nosso grupo é de parecer que deveríamos antes ir até Jerusalém, pelo caminho mais cur- to, para angariar certa importância com a família a fim de custear uma suposta viagem no interesse do sinédrio, que nos facilitaria os meios ne- cessários. Além disto, precisamos de indispensável documentação, que também requer dinheiro.

  3. Eu e mais alguns outros pensamos de modo diferente: nossa fuga já trará grandes atribulações aos nossos; assim seria injusto pedir-

-lhes o dinheiro que necessitariam para escapar do castigo com a água maldita — fato não raro, pois que o Templo explora até isto. É difícil tomar-se uma decisão. Por mim optaria pela fuga secreta, o que levaria tanto o Templo quanto os parentes a presumirem que tivéssemos sofri- do um acidente. Neste caso todos teriam ensejo de orar por nós. Qual tua opinião, como amigo da verdade e da justiça?”

238.CONSELHODOSENHORQUANTOÀPRÁTICADOAMORAO PRÓXIMO

  1. Diz Julius: “Agrada-me vossa intenção; os meios para a execução não me convêm, porquanto não se baseiam na verdade, apesar de que não podereis alcançar o fim pela aplicação da mesma. Deixai-me refletir um pouco, talvez encontre um caminho pelo qual sereis justificados diante de Deus e do mundo.

  2. O juramento no Templo é o maior empecilho. Como contor- ná-lo? Se fosse possível desconsiderá-lo — em virtude de vosso Deus

Verdadeiro — bastaria uma palavra para vos desembaraçar do jugo tem- plário. Procurarei entendimento com alguns companheiros esclarecidos a fim de verificar se existe uma solução.”

  1. Diz o jovem fariseu: “Ter-nos-ás feito com isto um grande favor. Antes, dize-me quem são os hóspedes para que lhes possamos render o devido respeito. O ancião deve ser ou um romano nobre, ou, talvez, um grego rico?”

  2. Diz Julius: “Deixemos isto de parte, para tais esclarecimentos teremos tempo amanhã!” Dirigindo-se a Mim, Julius fala no idioma romano: “Senhor, que devemos fazer? Se de minha parte agir com violência, anular-se-á todas as leis e juramentos templários. Com isto apresentar-me-ia como desrespeitador do mais sagrado dos juramen- tos, atingindo-me a responsabilidade do perjúrio. Não que os considere quando feitos apenas para a execução de deveres maldosos, pois despre- zo-os por ser Deus implorado como Testemunha e Auxiliador de ações condenáveis; aqui, trata-se do Templo de Jerusalém.

  3. De um lado é ele, de eras remotas, uma casa de oração, purifi- cação e oferendas, pelo que é considerado por milhares; de outro lado praticam-se nele os maiores crimes de modo inescrupuloso. Eis o ponto que me leva ao desejo de querer quebrar todos os juramentos. Dize-me Tu o que seja justo diante de Deus, pois, se o que estes jovens relatam é verdade, desejo socorrê-los.”

  4. Digo Eu: “Já apontei a maneira pela qual se deve praticar o ver- dadeiro amor ao próximo. Se teu coração concorda com o desejo des- ses templários, saberás como agir. Além disto, nunca fizeste juramen- to que te prendesse ao sinédrio; assim, que te impede de agir dentro da verdade?

  5. Por diversas vezes empregaste violência com relação a socieda- des, não obstante estarem presas a velhos hábitos e fórmulas, sem que isto te obstasse, porquanto tais hábitos continham quase sempre cruel- dades secretas; eis por que neste assunto poderás agir dentro de teu senso de justiça.

  6. Violência por parte de Roma susta toda e qualquer obrigação feita por juramento, mesmo diante de Deus, isto é, quando o sectário

reconhece de livre vontade ter sido: primeiro, obrigado contra sua de- terminação; segundo, que tal juramento visava um fito maldoso, san- cionado por leis mundanas.

  1. Libertar uma criatura presa num juramento prejudicial, ou seja, de Satanás, constitui uma obra meritória de amor ao próximo, ainda mesmo que tal pessoa continuasse algemada pela crença — muito mais neste caso, em que a compreensão plena é manifestada por estes jovens. Age dentro de tua boa intenção, e meu amigo Cirenius não te nega- rá auxílio.”

  2. Diz Cirenius: “Não somente isto; aplicarei aos trinta templá- rios poder judicial para o consciencioso desempenho de Julius, e o Tem- plo poderá pedir contas a mim.” Todos os presentes se regozijam com esta determinação.

239.JULIUSACONSELHAOS FARISEUS

  1. Dirigindo-se ao grupo dos fariseus, Julius diz: “Bem, amigo, já encontramos o meio seguro pelo qual vós e vossos pais sereis plena- mente justificados diante do Templo, facilitando por fim aos familiares uma justa queixa às autoridades romanas. Por esse meio o Templo será condenado a uma indenização referente à perda de seus filhos, pois que a desconsideração do sinédrio às leis de Roma, em virtude dos sal- vos-condutos, levou os romanos a vos prenderem, integrando-vos na legião estrangeira! Com isto declaro-vos presos para o vosso bem; estais satisfeitos?”

  2. Respondem todos: “Senhor, este conselho só Deus poderia transmitir-te; realmente, deste modo alcançaremos um bom propósi- to para nós e os nossos. Estamos tão contentes que desejamos tomar mais um gole deste delicioso vinho, pois fomos libertados do inferno e transportados aos Céus. Os judeus cegos ainda aguardam a chegada do Messias Prometido, que os libertará do jugo romano. Nós, no entanto, encontramo-Lo em vós, prezados romanos, pois a verdade pura é o verdadeiro Messias de todas as criaturas! Vai, velho hospedeiro, deixa brindarmos nossos salvadores!”

  1. Marcus ordena que se sirva pão e vários cântaros de vinho, e o jovem orador torna a perguntar a Julius sua identidade e quais eram os personagens do nosso grupo. Diz ele: “Já te falei há pouco que o por ti tão acerbamente criticado Julius de Genezareth indenizar-te-á de toda e qualquer injustiça aplicada contra a sua vontade, pois eu mesmo sou o temido Julius. Em minha frente está o vice-rei da Ásia e Egito — Ci- renius, que iríeis procurar em Sidon. Agora pergunto: estás satisfeito conosco, romanos intransigentes?”

  2. O jovem fariseu ouvindo tais palavras muito se assusta, mas logo se refaz e diz: “Nobre senhor, por acaso te aborreceste com a minha crítica, que não te poderia agradar? Não foi minha a culpa, tampouco a tua, termos sido transferidos para Capernaum com olhos e ouvidos tapados com barro. Hoje, por certo, conhecendo-nos melhor, não o farias. Perdoa-nos o conceito acerca de tua pessoa!”

  3. Diz Julius: “Gosto de palestrar com pessoas sinceras, nunca me ofendendo com a verdade; ai daqueles, porém, cujos pensamentos não cor- respondam às palavras! Condeno a mentira — e é preferível morrer ao invés de querer salvação por uma inverdade. Conhecedor de vossas relações desde Jerusalém e Bethlehem, sei que vos externastes sinceramente. Contu- do, ocultais algo em vosso íntimo; ser-vos-á, entretanto, fácil reconhecê-lo se mantiverdes fidelidade à toda prova e devoção fraternal aos romanos.”

  4. Responde o jovem orador: “Ilustre senhor, sê também sincero e dize-nos, abertamente, tua observação quanto à nossa índole. É claro existir muita coisa que não mencionamos; uma, por ser escasso o tem- po, outra, por não convir que estourássemos com tais assuntos numa reunião tão ilustre, mormente em presença do vice-rei da Ásia. Além disto, acha-se uma menina em companhia dum jovem nesta mesa, o que nos obriga a conter a língua. Uma vez a sós nada ocultaremos de tua pessoa. Por ora te pedimos que nos esclareças quanto aquele ho- mem, ao qual te dirigiste em romano!”

  5. Diz Julius: “Esta apresentação seria de vosso máximo interesse! Hoje, porém, não há mais tempo; por isto, deixemo-lo para amanhã.” Conformados, os templários se servem novamente de pão e vinho, be- bendo alegres à saúde de todos.

240.YARAHTESTEMUNHODO SENHOR

  1. Por fim um deles se lembra de brindar o “nobre Nazareno”, di- zendo: “Saúde também àquele que procuramos sem encontrar! Jamais seremos inimigos de sua vida, a qual é a salvação das criaturas! Caso o tivéssemos achado, teria sido esclarecido acerca do Templo para tirar-

-lhe a vontade de dirigir-se para lá. Ao menos queremos oferecer este gole abençoado ao bom médico de corpo e alma, de Nazareth!”

  1. Tais palavras comovem Julius e Cirenius, Yarah e Meus discí- pulos. Dirigindo-se em surdina a Mim, a menina diz: “Ó Senhor, se me fosse possível falar, quanto não lhes poderia relatar a Teu respeito!” Digo Eu: “Se não Me traíres, poderás te fazer ouvir!” Responde ela: “Ah, então pedirei que me ouçam!” Acrescento: “Está bem; cuidado para não chorares!”

  2. Com isto Yarah se levanta e diz, com voz melodiosa: “Ouvi, amigos que acabais de brindar o Salvador de Nazareth! Compartilho convosco de todo coração, pois tive a felicidade imensa de privar com Ele em Genezareth. Por isto, posso-vos transmitir um relato fiel de Seu Caráter e Faculdades excepcionais, caso isto vos agrade!”

  3. Respondem todos: “Menina adorável, com o máximo prazer te ouviremos, se não te cansares muito!”

  4. Diz ela: “Em absoluto. Ouvi, pois: Nossa zona foi sempre a mais insalubre de toda a Galileia — e o estrangeiro que lá permanecesse al- guns dias cairia doente e impossibilitado de seguir, razão por que a evi- ta. Muitos até se viam obrigados a ficar além de um ano. Os habitantes, em geral, não adoeciam.

  5. Quando ouvi os comentários a respeito do Salvador, pedi fervo- rosamente ao Deus de Abraham, Isaac e Jacob que O trouxesse a Gene- zareth. E não levou tempo para que Ele chegasse, curando a todos, mes- mo das mais antigas moléstias, incuráveis, apenas pela Vontade. Coxos, cegos, surdos, aleijados, obsedados, entrevados, leprosos e centenas de outros enfermos sararam. Julius, romano, é testemunha entre centenas.

  6. Entretanto, Ele não só curava o físico, mas também a alma, des- pertando sua compreensão, varrendo a superstição dos corações dos to-

los e ensinando aos ignorantes de modo fácil e compreensível, com que não raro conquistava maior admiração que através dos milagres. Além disto, demonstrava-Se Senhor e Mestre sobre a Natureza; obedecem-

-Lhe os quatro elementos, o Cosmos e os anjos celestes.

  1. Retribuo Seu Amor, embora não seja um homem bonito. É de estatura mediana, Mãos ásperas e calejadas — Sua Cabeça, porém, de formação nobre e Seus Olhos, os mais expressivos que já vi! Sua Boca traduz a máxima amabilidade; às vezes, um traço de rigor. Sua Voz é verdadeiramente cativante e mais agradável que o canto mavioso. Eis um pequeno esboço do Célebre Salvador de Nazareth, do qual poderão testemunhar centenas de pessoas. Isto vos agrada?”

241.ASINTENÇÕESDOTEMPLOSÃO REVELADAS

  1. Dizem os fariseus: “Nada de novo nos relataste, pois disto toda Jerusalém é ciente. Como os boatos a seu respeito são extraordinários, muitos foram enviados pelo Templo, a fim de conduzi-lo aos maiorais numa tentativa de aproveitar suas faculdades em seu benefício. Caso ele rejeitasse tais propostas, o que era de esperar por ser homem bom, honesto e muito sábio, o cárcere o esperaria. A menos que fosse deveras onipotente. O Templo tornou-se tão vil, que Satanás poderia frequen- tá-lo, aprendendo ali maquinações escabrosas. Opinamos que o Salva- dor de Nazareth jamais se prestaria para tanto; neste caso, tornar-se-ia vítima do sinédrio.

  2. Consta terem vários fariseus aderido à sua doutrina; mas que adianta isto? Tiveram de enfrentar situações diabólicas com seus cole- gas, a fim de poderem levar vida menos atribulada e, além disto, tinham que proferir as piores mentiras.

  3. Se o sumo sacerdote disser: ‘Hoje não haverá sol!’, nenhum dos templários poderá arriscar a observação de que o dia seja radioso. E se ele disser: ‘Hoje fluirá, durante sete horas, apenas sangue no riacho Cidron!’ — ai daquele que não confirmar tal absurdo. Se aparecesse um doente e o sumo sacerdote lhe dissesse: ‘Meu filho, estás curado; vai fazer uma oferenda e volta para teu lar!’, continuando, porém, o

enfermo no mesmo, que alegava por tal motivo não poder ofertar um sacrifício — ai dele! Para encurtar: a palavra do sacerdote tem de curar e tal serviço deve ser pago, embora sem resultado positivo.

  1. Compreendes, portanto, serem as faculdades extraordinárias do Salvador um achado para o Templo, motivo pelo qual se lhe faz caça. Contudo, te agradecemos a descrição, pois talvez tenhamos um dia a felicidade de encontrá-lo. A Jehovah rendemos todo louvor, por nos ter libertado das garras do Templo! Voltando para lá como guerreiros ro- manos — o sinédrio poderá regozijar-se por isto! Caso tiveres algo mais a contar a respeito desse homem excepcional, ficar-te-emos gratos, pois nos interessa sumamente!”

242.OMILAGREDOARCANJO RAPHAEL

  1. Diz Yarah: “Se me fosse permitido, fá-lo-ia com o maior prazer; mas, como Ele Mesmo mo proibiu, apenas relatarei pequenos fatos. Quando há pouco mencionei que o Cosmos e os anjos Lhe obedecem, alguns dentre vós menearam a cabeça. Afirmo-vos, porém, que falei a verdade, e já vos teria provado isto antes se não fosse vosso sorriso du- vidoso. Agora vos darei a prova de que não sou uma tolinha que comu- mente exagera quanto ao alvo de seu amor. Esse fato é incontestável nas moças mundanas; comigo não há nem sombra disso, o que vos provarei de modo insofismável. Observai o jovem que ocupa o segundo lugar à minha direita e está em palestra com o filho do nobre Cirenius — por quem o tomais?”

  2. Respondem eles: “Ora, por uma criatura semelhante a nós!”

  3. Diz Yarah, meneando a cabeça e sorrindo: “Longe disto, meus amigos! É um arcanjo que escolhi, com autorização do Salvador, en- tre um sem número de outros, para que me instruísse e guiasse por certo tempo. Se não me derdes crédito, convencei-vos através dos sentidos!”

  4. Diz o primeiro orador: “Sem prova palpável esta afirmação atin- giria o absurdo!” Levantando-se, diz o jovem fariseu: “Então, pequena, como me convencerás?”

  1. Responde Yarah: “Basta te aproximares dele, cujo nome é Raphael!”

  2. Assim fazendo, o fariseu é inquirido pelo anjo: “Por que não acreditas nas palavras de minha aluna? Toca minha mão; que te parece?”

  3. O judeu assim faz e diz admirado: “Estranho, sinto apenas mi- nha própria mão cerrada, isto é, atravesso a tua e reconheço não seres de carne e osso, como nós.”

  4. Ordena Raphael: “Dá-me uma pedra!” O jovem apanha uma de trinta libras, observando: “Se minha mão atravessa a tua, esta pedra cairá de tuas mãos, podendo até esmagar meu pé.”

  5. Diz Raphael: “Se tal acontecer, curá-lo-ei no mesmo momento! Dá-me a pedra!” Quando o anjo começa a jogar a pedra de uma para outra mão, como se fora uma bola, o fariseu diz: “Ouve, espírito ou seja lá o que fores: não será razoável entrar em luta contigo. Donde te vem esta força?”

  6. Diz Raphael: “Isto nada representa; reduzi-la-ei a pó!” No mes- mo momento vê-se um montão de pó fino sobre a mesa! Todos os fa- riseus se levantam, a fim de observar de perto este milagre. Diz o anjo: “Não é tão difícil reduzi-la a pó como fazê-la voltar ao que fora. Pois qualquer pessoa pode, se bem que não igual a mim com as mãos, mas com bom martelo, dizimá-la. Presta atenção!” Juntando o pó, a pedra retorna ao seu estado primitivo. Os assistentes estão de tal forma estu- pefatos, que não proferem palavra.

  7. Prossegue Raphael: “Ainda não terminei!” E dirigindo-se à pe- dra: “Dissolve-te em éter!” A este mando a pedra desaparece e Raphael indaga do fariseu: “Então, serias capaz de imitar-me?”

  8. Diz o outro: “Isto é inacreditável! Creio mesmo seres um anjo! Apenas não compreendo como te podes sujeitar a uma criatura, possui- dor de tal força!? Existe realmente um poder sobre a Terra pelo qual vos sujeitaríeis? A Escritura aponta casos em que anjos serviam a mortais, a mando de Deus; mas da forma pela qual te apresentas entre nós, não há exemplo! Não, meus amigos, aqui há qualquer coisa! Tanto podes ser um anjo quanto um..., bem, já sabeis a que me refiro! É meia-noite, a hora preferida por eles! Neste caso temos ensejo de fugir daqui o mais

depressa possível!” Nesta altura todos se levantam para retirar-se, no que são impedidos por Cirenius. De novo tomam assento — mas como se os bancos estivessem salpicados de agulhas.

243.DISSERTAÇÃODOJOVEM FARISEU

  1. Diz Julius ao jovem orador: “Julgava-te mais inteligente! Como podes confundir um arcanjo com um demônio? Não concluíste de nos- sas palavras que, em absoluto, somos amigos de Satanás?! Acaso ele se teria alguma vez mostrado misericordioso para com o necessitado? Cegos! Nunca vistes um obsedado? Pois eu já privei com vários, tor- turados tremendamente! Se na vossa estultice nos julgais diabólicos, pelo que classificais os templários, apontados, há pouco, como mestres de Satanás?! A nós, que sempre procuramos fazer o bem ao próximo, igualais aos demônios, somente pelo motivo dum espírito celeste ter dado uma pequena prova de seu poder e força? Desejo, portanto, saber que aparência, a vosso ver, manifestaria aquele que não fosse demônio?”

  2. Diz o fariseu, mais calmo: “Por favor, nobre Julius, não nos cri- tiques tão severamente. Vê, o corpo absorve o alimento que lhe é dado; sendo este de boa qualidade, o proveito será idêntico, e vice-versa. O mesmo se dá espiritualmente: fomos providos, durante anos, de alimen- to nocivo — e levará tempo para expeli-lo do estômago de nossa alma!

  3. Nossas noções e conhecimentos mais favoráveis devemos ao convívio com romanos e gregos. Basta, porém, voltarmos ao Templo para, em poucas horas, classificarmos aqueles ensinamentos de absur- dos. Não é de se admirar, portanto, que em tais oportunidades a alma, apenas, receba um raio de luz, para depois cair na maior treva. Assim, pedimos-te paciência; já nos contentamos por ora com a compreensão do nosso estado precário, pois dum tronco rude e duro não se realiza uma figura completa apenas com algumas pancadas de formão.

  4. Já ouvimos e lemos a respeito de anjos celestes: os três estranhos que visitaram Abraham; o de Lot; os da escada de Jacob; o burro de Bileam, que anunciava ao profeta a presença dum anjo; os protetores de Tobias; os israelitas que viram o anjo da morte bater de casa em casa,

entre os egípcios; os três jovens na fornalha, que avistaram anjos — e na Escritura comenta-se várias vezes o contato visível entre anjos e cria- turas. Por que tal fato não poderia ocorrer agora?

  1. Nestas circunstâncias, porém, a presença dum anjo é tão extra- ordinária que dificulta sua aceitação. É fácil crer em algo do passado, porquanto este se apresenta na imaginação melhor do que o momento atual. Julga a pessoa não possuir mérito para tais aparições, sem refletir que em Sodoma e Gomorra Deus não tinha motivo para regozijar-Se, do contrário não teria feito chover fogo do Céu. Para encurtar: deves compreender que este acontecimento é inaudito, provocando uma ati- tude ridícula de nossa parte.”

244.JULIUSESCLARECE OS FARISEUS

  1. Diz Julius: “Bem, já vos havia dito que manifestáveis uma certa ignorância, provinda de vossa educação, mas que, com o tempo, teria de ser removida. Não será possível consegui-lo de uma só vez, pois é mais fácil curar uma moléstia do que extirpar uma tolice da alma. Um meio justo, finalmente, cura ambas.

  2. Ninguém é culpado de ser ignorante, porquanto sua educação não lhe facultou conhecimentos maiores. Uma vez que a pessoa tenha oportunidade para alcançar vastas experiências, podendo assimilar a verdadeira sabedoria com quem a possua em todos os assuntos, ne- cessário se torna abandonar suas falsas concepções, prontificando-se a aceitar o que lhe é mostrado e explicado. Numa resistência teimosa tal criatura merece castigo, ou então, a exclusão do convívio com pessoas bem intencionadas, pois é preferível levá-la a um asilo de alienados que permitir que provoque aborrecimentos.

  3. Convosco tal não se dá, pois vossa inteligência já foi desperta- da no contato com romanos e gregos, as criaturas mais cultas da Ter- ra, embora, de acordo com vossa opinião, não acreditemos no Deus de Abraham. Se perguntássemos até que ponto vossa crença se firmou dentro da concepção cerimoniosa, vossas atitudes responderiam: ‘Não temos crença alguma, porém simulamos possuí-la diante do povo, dei-

xando-nos pagar por tal mistificação.’ Comparando-a com nossa fé em Jehovah, é ela muito mais convincente.

  1. Reconhecemos ser vosso Deus o Único e Verdadeiro, do Qual nossos deuses apenas apresentam Seus Atributos, personificados pela imaginação humana. Vós, entretanto, não O reconheceis, tampouco Suas Qualidades Sublimes, que adoramos em quadros alegóricos. Eis por que muito vos falta para aprenderdes e averiguardes a verdadeira causa de tudo que existe.

  2. Uma vez que tenhais encontrado a verdade, deveis aceitá-la, amoldando vossa vida de acordo com ela e tornando-vos realmente fi- lhos de Deus, porquanto até hoje apenas o alegáveis — como todos os judeus — sem nunca terdes, na verdade, acreditado que Deus existe!”

FinaldoSegundoVolume Amém

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