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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume IV

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEO-TEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2014

ÍNDICE

  1. A VERDADEIRA SABEDORIA E A VENERAÇÃO VIVA DE DEUS 15

  2. O FUTURO DOS ARRABALDES DA PALESTINA 17

  3. O SENHOR E OS AFOGADOS 19

  4. DETERMINAÇÕES DO SENHOR EM RELAÇÃO AOS AFOGADOS 20

  5. DÚVIDAS DE CORNÉLIUS 21

  6. PERSAS E FARISEUS DISCUTEM O MILAGRE 23

  7. O SERVO INFIEL DE HELENA 24

  8. A AÇÃO DA ASSEMBLEIA 25

  9. OS ESPIÕES DE HERODES 26

  10. ZINKA SE DEFENDE E RELATA O FIM DE JOÃO BAPTISTA 28

  11. BOA RESPOSTA DE CIRENIUS 30

  12. PRISÃO DE JOÃO BAPTISTA. AS RELAÇÕES ENTRE HERODES E HERODÍADES 31

  13. O ASSASSÍNIO DE JOÃO BAPTISTA 32

  14. A PRISÃO DE JOÃO BAPTISTA 34

  15. O SUPOSTO PRIVILÉGIO DE HERODES 35

  16. AUTORIZAÇÃO FALSIFICADA 36

  17. POLÍTICA DOS TEMPLÁRIOS 36

  18. A DOUTRINA DO PROFETA GALILEU 38

  19. OPINIÃO DE ZINKA SOBRE A DOUTRINA 39

  20. ZINKA SE ADMIRA DO MILAGRE 40

  21. A SEDE DO SABER. A VERDADEIRA ARTE DO CANTO 41

  22. RAPHAEL, CANTOR 42

  23. O CONVÍVIO COM DEUS PELA VOZ INTERNA DO CORAÇÃO 44

  24. COMO SE DEVE CUIDAR DO CAMPO EMOTIVO 45

  25. INDAGAÇÕES DE ZINKA 46

  26. JESUS RESSUSCITA OS DOIS CADÁVERES. ZINKA O RECONHECE COMO SENHOR 47

  27. HISTÓRIA DAS DUAS MOÇAS 48

  28. CIRENIUS RECONHECE SUAS FILHAS 49

  29. MODÉSTIA DE ZINKA 50

  30. AÇÃO E VERBOSIDADE 51

  31. CONJETURAS DE HEBRAM E RISA 53

  32. UM ACONTECIMENTO DURANTE A ADOLESCÊNCIA DE JESUS 55

  33. CIRENIUS PROMETE DIVULGAR E DEFENDER A DOUTRINA 56

  34. A LEI IMPERATIVA E A LEI FACULTATIVA 58

  35. DIVERSIDADE DAS ALMAS DESTE ORBE 59

  36. TRATAMENTO DE MOLÉSTIAS PSÍQUICAS 60

  37. SANATÓRIOS E MÉDICOS PSIQUIATRAS 62

  38. A VERDADEIRA JUSTIÇA 63

  39. A ETERNA LEI DE AMOR AO PRÓXIMO 65

  40. O SONAMBULISMO 67

  41. PUREZA FÍSICA E PSÍQUICA. CURA À DISTÂNCIA 68

  42. UMA PROVA DE SONAMBULISMO 69

  43. O CIDADÃO ZOREL 70

  44. ZOREL EXTERNA SUAS IDEIAS SOBRE A PROPRIEDADE PARTICULAR 72

  45. ZOREL OUVE A VERDADE 72

  46. ZOREL PEDE LIVRE RETIRADA 73

  47. PREPARATIVOS PARA O TRATAMENTO SONAMBÚLICO 74

  48. CONFISSÃO DE ZOREL 75

  49. PURIFICAÇÃO DA ALMA DE ZOREL 76

  50. A ALMA PURIFICADA RECEBE VESTIMENTA 78

  51. O CORPO PSÍQUICO 79

  52. A ALMA DE ZOREL A CAMINHO DA RENÚNCIA 80

  53. ZOREL NO PARAÍSO 82

  54. RELAÇÃO ENTRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO 84

  55. ZOREL VISLUMBRA A CRIAÇÃO 86

  56. A NATUREZA DO HOMEM E SEU DESTINO CRIADOR 87

  57. OS PROCESSOS EVOLUTIVOS EM A NATUREZA 90

  58. NÃO JULGUEIS! 92

  59. FÉ MATERIALISTA DE ZOREL 94

  60. ZOREL CRITICA MORAL E EDUCAÇÃO 95

  61. ENGANOS MATERIALISTAS 97

  62. JUSTIFICÁVEL PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE 99

  63. DESCENDÊNCIA DE ZOREL 101

  64. O PASSADO DE ZOREL COMO TRAFICANTE DE ESCRAVOS 103

  65. ZOREL TENTA JUSTIFICAR-SE 104

  66. OS ATOS DE DEFLORAÇÃO PRATICADOS POR ZOREL 105

  67. REVOLTA DE CIRENIUS PELOS CRIMES DE ZOREL 106

  68. JUSTIFICATIVAS DE ZOREL 108

  69. ZOREL, O MATRICIDA 109

  70. ZOREL JUSTIFICA SUAS TENDÊNCIAS 110

  71. CIRENIUS SE ADMIRA DA ASTÚCIA DE ZOREL 110

  72. JOÃO, BOM CONSELHEIRO 111

  73. A DUPLA VONTADE DO HOMEM 112

  74. A NATUREZA DE DEUS E SUA ENCARNAÇÃO 114

  75. CIRENIUS CUIDA DE ZOREL 116

  76. O SEGREDO DA VIDA ESPIRITUAL 117

  77. ZOREL DECIDE A REGENERAR-SE 119

  78. O CAMINHO PARA A VIDA ETERNA 120

  79. A POBREZA E O AMOR AO PRÓXIMO 122

  80. A VOLÚPIA 123

  81. A CARIDADE JUSTA 126

  82. ORGULHO E HUMILDADE 129

  83. EDUCAÇÃO PARA A HUMILDADE 131

  84. BOM PROPÓSITO DE ZOREL 133

  85. ZOREL É ENTREGUE AOS CUIDADOS DE CORNÉLIUS 135

  86. HUMILDADE JUSTA E HUMILDADE EXAGERADA 136

  87. CORNÉLIUS E ZOREL PALESTRAM SOBRE MILAGRES 138

  88. OPINIÕES DIVERSAS SOBRE A NATUREZA DO SENHOR 139

  89. A PEDRA LUMINOSA DA FONTE DO NILO 142

  90. ALMA E CORPO 145

  91. DESENVOLVIMENTO DE ALMAS FRACAS NO ALÉM 147

  92. CONDUTA DAS ALMAS NO ALÉM 148

  93. PROGRESSO DA ALMA NA TERRA E NO ALÉM 151

  94. O DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 152

  95. A FINALIDADE DO SERVIR 154

  96. PESQUISANDO OS SEGREDOS DA CRIAÇÃO 156

  97. A VERDADEIRA APLICAÇÃO DO AMOR AO PRÓXIMO 157

  98. O AUXÍLIO MONETÁRIO 159

  99. O AUXÍLIO JUSTO E O AUXÍLIO ERRADO 161

  100. A DOUTRINA DE MOYSÉS E A DOUTRINA DO SENHOR 162

  101. O JOIO ENTRE O TRIGO 163

  102. OS PENSAMENTOS E SUAS REALIZAÇÕES 165

  103. O SURGIR DA MATÉRIA 167

  104. O EGOÍSMO COMO ORIGEM DA MATÉRIA 169

  105. COMO SURGIRAM OS SISTEMAS SOLARES 171

  106. FORMAÇÃO E IMPORTÂNCIA DA TERRA 174

  107. O APARECIMENTO DA LUA 176

  108. O PECADO ORIGINAL 178

  109. SALVAÇÃO, RENASCIMENTO E REVELAÇÃO 179

  110. O BATISMO. A TRINDADE EM DEUS E NO HOMEM 181

  111. ORDEM DIETÉTICA DE MOYSÉS 184

  112. PREDIÇÃO SOBRE AS ATUAIS REVELAÇÕES 186

  113. CONVOCAÇÃO PARA A VOZ INTERNA 187

  114. OS ESPÍRITOS DA NATUREZA 189

  115. YARAH E OS ESPÍRITOS DA NATUREZA 190

  116. ÍNDOLE E AÇÃO DOS ESPÍRITOS DA NATUREZA 192

  117. UM NOVELO DE SUBSTÂNCIAS PSÍQUICAS 194

  118. O OXIGÊNIO 196

  119. RAPHAEL DEMONSTRA A CRIAÇÃO DOS SERES 197

  120. A FECUNDAÇÃO 200

  121. MOTIVOS DAS REVELAÇÕES DO SENHOR 204

  122. O SENHOR REVELA O ÍNTIMO DE JUDAS 206

  123. CORRETIVO DE JUDAS 210

  124. A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS 211

  125. A VIDA DE JUDAS ISCARIOTES 213

  126. EFEITOS DUMA EDUCAÇÃO ERRÔNEA 215

  127. O PAVOR DA MORTE 217

  128. SEPARAÇÃO DA ALMA DO CORPO DURANTE A MORTE 218

  129. OCORRÊNCIAS NO MOMENTO DA MORTE 220

  130. MATHAEL, O VIDENTE 222

  131. CRITÉRIO SADUCEU QUANTO AOS CASTIGOS ROMANOS 224

  132. FIM DOS SALTEADORES CRUCIFICADOS 225

  133. A FORMAÇÃO PSÍQUICA DOS SALTEADORES 227

  134. MATHAEL VISITA O PAI DE LÁZARO, MORIBUNDO 229

  135. TENTATIVA DE RESSURREIÇÃO 231

  136. O ESPÍRITO DE LÁZARO TESTEMUNHA DO MESSIAS 233

  137. COVARDIA DO RABINO 234

  138. A VIDA DO VELHO LÁZARO 235

  139. EXPLICAÇÃO DAS APARIÇÕES DURANTE A MORTE DE LÁZARO 237

  140. INDAGAÇÕES TOLAS 239

  141. A “IRA” DIVINA 240

  142. O PRIMEIRO CASAL 241

  143. O DILÚVIO 243

  144. MOTIVO DAS CATÁSTROFES 245

  145. A INFLUÊNCIA DO MAL 246

  146. A MARAVILHOSA PLANTINHA CURADORA 247

  147. CAUSAS DE FRIO E CALOR 249

  148. QUEDA DESASTRADA DUM GAROTO 250

  149. FENÔMENOS ESPIRITUAIS DURANTE O ACIDENTE. SUICÍDIO DO

ESSÊNIO, AMALDIÇOADO PELO TEMPLO 252

  1. AS ALMAS DOS ACIDENTADOS, NO ALÉM 254

  2. EXPLICAÇÕES DO SENHOR QUANTO ÀS SITUAÇÕES PSÍQUICAS DOS ACIDENTADOS 256

  3. SITUAÇÕES DIVERSAS DE SUICIDAS NO ALÉM 259

  4. A PEDRA FILOSOFAL 262

  5. A IRRADIAÇÃO VENENOSA DA VIÚVA 263

  6. VENENO DE COBRA COMO REMÉDIO 265

  7. OCORRÊNCIAS ESPIRITUAIS DURANTE A MORTE DA VIÚVA E SUA FILHA .267

  8. EVOLUÇÃO DAS FORMAS PSÍQUICAS DAS DUAS MULHERES 268

  9. O VENENO EM MINERAIS, PLANTAS, ANIMAIS E HOMENS 269

  10. A NATUREZA VENENOSA DAS DUAS MULHERES 271

  11. REFLEXÕES DE CIRENIUS QUANTO À ORDEM EVOLUTIVA DA ALMA 273

  12. CIRENIUS CRITICA A GÊNESIS 274

  13. A CRIAÇÃO DE ADAM E EVA 276

  14. OS QUATRO SENTIDOS DA GÊNESIS 278

  15. CHAVE PARA O ENTENDIMENTO DAS ESCRITURAS 279

  16. OS VERDADEIROS DOUTRINADORES DO EVANGELHO 281

  17. A AURORA MARAVILHOSA 284

  18. JEJUM E ALEGRIA 286

  19. REPRIMENDAS FEITAS POR AMOR-PRÓPRIO 288

  20. SIMON CRITICA O CÂNTICO DE SALOMON 289

  21. CHAVE PARA A COMPREENSÃO DO CÂNTICO SALOMÔNICO 292

  22. SIMON ELUCIDA ALGUNS VERSOS DO CÂNTICO 294

  23. GABI CONFESSA SUA TOLICE E VAIDADE 297

  24. ANTIGOS PRINCÍPIOS DE GABI 298

  25. PARECER DE SIMON A RESPEITO DO SENHOR 301

  26. IDEIAS DE SIMON SOBRE O SENHOR, COMO HOMEM 302

  27. A UNIÃO DA CRIATURA COM DEUS 305

  28. NATUREZA E FIM DA SENSUALIDADE 306

  29. A NATUREZA DOS ANJOS. CORAÇÃO E MEMÓRIA 308

  30. O POVO DA ABISSÍNIA E NÚBIA 311

  31. O SENHOR ENVIA UM MENSAGEIRO À CARAVANA 314

  32. O SENHOR PALESTRA COM O GUIA DOS NÚBIOS 316

  33. O GUIA RELATA SUA VIAGEM A MEMPHIS 317

  34. MALDIÇÃO DA EXCESSIVA CULTURA DOS EGÍPCIOS 320

  35. BENEFÍCIO DA CULTURA PRIMITIVA DO HOMEM SIMPLES 321

  36. A ESTADA DOS NÚBIOS NO EGITO 323

  37. O NEGRO PEDE CONFIRMAÇÃO DA PRESENÇA DO SENHOR 325

  38. OS NÚBIOS RECONHECEM O SENHOR 327

  39. A EXCESSIVA HUMILDADE 328

  40. OUBRATOUVISHAR FALA DE SUA PÁTRIA 329

  41. O TESOURO DO NÚBIO 331

  42. O OUTRO GRUPO DE NEGROS 333

  43. NATUREZA DE ÍSIS E OSÍRIS 334

  44. O GRANDE TEMPLO NA ROCHA CHAMADO JABUSIMBIL 335

  45. O NÚBIO DEMONSTRA AOS CONTERRÂNEOS A DIVINDADE PERSONIFICADA EM JESUS 338

  46. DÚVIDAS JUSTIFICÁVEIS DOS NEGROS 339

  47. OUBRATOUVISHAR PROCURA CONVENCER SEUS AMIGOS SOBRE A DIVINDADE DE JESUS 340

  48. PROVEITOS E DESVANTAGENS ESPIRITUAIS DOS NEGROS 341

  49. DIVERSIDADE CLIMÁTICA E RACIAL NA TERRA 343

  50. A ASSIMILAÇÃO DA DOUTRINA DA VERDADE 345

  51. RAPHAEL CONVENCE OS NEGROS DA DIVINDADE DE JESUS 348

  52. O NÚBIO E OUBRATOUVISHAR ENTREGAM SEUS TESOUROS A CIRENIUS.350

  53. A ORIGEM DO TEMPLO JABUSIMBIL, DA ESFINGE E DAS COLUNAS

DE MEMNON, REPRESENTADAS PELAS DUAS PRIMEIRAS PÉROLAS 352

  1. SEGREDO DA TERCEIRA PÉROLA 354

  2. RAPHAEL EXPLICA AS CONSTELAÇÕES NA QUARTA PÉROLA 356

  3. A DIVISÃO DO TEMPO, NA QUINTA PÉROLA 358

  4. O SEGREDO DA SEXTA PÉROLA: A REPRESENTAÇÃO DAS PIRÂMIDES,

DOS OBELISCOS E DA ESFINGE 360

  1. AS CONSTELAÇÕES DA SÉTIMA PÉROLA 362

  2. HÁBITOS DOS NÚBIOS E HÁBITOS DOS BRANCOS 364

  3. FORMAÇÃO DO INTELECTO E FORMAÇÃO DO SENTIMENTO 365

  4. MOTIVO DA ENCARNAÇÃO DO SENHOR 368

  5. OS NEGROS DOMINAM OS ELEMENTOS D’ÁGUA 369

  6. COMO OS NEGROS DOMINAM OS ANIMAIS 371

  7. A MANEIRA PELA QUAL OS NEGROS DOMINAM PLANTAS E ELEMENTOS 373

  8. O CONHECIMENTO PRÓPRIO 376

  9. IRRADIAÇÃO DA ALMA HUMANA E IRRADIAÇÃO SOLAR 377

  10. INFLUÊNCIA DO CARÁTER HUMANO SOBRE OS ANIMAIS CASEIROS 380

  11. AS VANTAGENS DA JUSTA FORMAÇÃO PSÍQUICA 381

  12. O PODER DE UMA ALMA PERFEITA 384

  13. EFEITO DA LUZ SOLAR. FUNÇÃO DO OLHO HUMANO. A VISÃO DA

ALMA 385

  1. O RENASCIMENTO E A JUSTA EDUCAÇÃO 387

  2. A JUSTA COMPREENSÃO E A FACULDADE DE LER PENSAMENTOS 389

  3. A IMPORTÂNCIA DA IRRADIAÇÃO PSÍQUICA 391

  4. O PODER DO HOMEM PERFEITO PELO AMOR 393

  5. A FOME PELO ALIMENTO ESPIRITUAL 394

  6. O PODER MILAGROSO DO RENASCIDO EM ESPÍRITO 395

  7. RELAÇÃO ENTRE ALMA E ESPÍRITO 397

  8. CÉREBRO E ALMA 398

  9. A FORMAÇÃO JUSTA DO CÉREBRO 400

  10. CIRENIUS PEDE MAIOR ELUCIDAÇÃO QUANTO AO ESTUDO DO

CÉREBRO 402

  1. EFEITOS DA IMPUDICÍCIA 403

  2. BÊNÇÃO DUMA FECUNDAÇÃO ORDENADA 405

  3. ESTRUTURA DO CÉREBRO HUMANO 407

  4. LIGAÇÃO ENTRE O CÉREBRO ANTERIOR E O POSTERIOR 409

  5. LIGAÇÃO DOS SENTIDOS AO CÉREBRO 411

  6. O CÉREBRO PERFEITO E O CÉREBRO ATROFIADO 413

  7. CARÁTER DOS INTELECTUAIS E SUA DESDITA NO ALÉM 414

  8. CONSEQUÊNCIA DUM CÉREBRO ESPIRITUALMENTE CEGO 416

  9. DIFICULDADE EVOLUTIVA DUMA ALMA MATERIALISTA NO ALÉM 418

  10. EFEITO DUMA EDUCAÇÃO FALHA SOBRE O CÉREBRO 420

  11. O CÉREBRO DUM INTELECTUAL 422

  12. A ORIGEM DO PECADO 423

  13. INJUSTIÇAS APARENTES QUANTO À CONDUTA DAS ALMAS, AQUI E

NO ALÉM 425

  1. A NATUREZA DIVINA. O PESO NECESSÁRIO DAS PROVAÇÕES 427

  2. O “EU” INDIVIDUAL COMO CAUSADOR DE SEU DESTINO 428

  3. DESENVOLVIMENTO INDEPENDENTE DAS ALMAS DESTINADAS À

FILIAÇÃO DIVINA 429

  1. PORQUE MOTIVO DEUS DETERMINA A PERFEIÇÃO INDEPENDENTE

DUMA ALMA 431

  1. A POSSESSÃO. A DEMORADA DIVULGAÇÃO DO EVANGELHO 433

  2. MILAGRES EFETUADOS EM TEMPO OPORTUNO 434

  3. A ATITUDE MILAGROSA NA DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA DO SENHOR 436

  4. DIFICULDADES NA PROPAGAÇÃO DA PURA DOUTRINA 438

  5. A ESPADA COMO MEIO DE CORREÇÃO ENTRE POVOS DESCRENTES 439

  6. PAI E FILHO EM JESUS 441

  7. APARIÇÕES OCORRIDAS DURANTE O BATISMO DO SENHOR 444

  8. A GRANDIOSIDADE DA CRIAÇÃO 446

  9. A ENCARNAÇÃO DO SENHOR NO ATUAL PERÍODO DA CRIAÇÃO 448

  10. A ESFERA VITAL DA ALMA E A DO ESPÍRITO 451

  11. A ONISCIÊNCIA DIVINA 452

  12. A LINGUAGEM DOS ANIMAIS 454

  13. EXEMPLOS DA INTELIGÊNCIA ANIMAL 456

  14. O NÚBIO PALESTRA COM O BURRO DE MARCUS 458

  15. O CRESCIMENTO DA IRRADIAÇÃO PSÍQUICA DO HOMEM 459

  16. A PROJEÇÃO LUMINOSA DE MOYSÉS E DOS PATRIARCAS 460

  17. MOTIVO DAS EXPLICAÇÕES DO SENHOR 462

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. AoladodaBíblia omundojamaisconheceuObraSemelhante,sendonaAlemanha considerada “Obra Cultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e À Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo: A Redenção e Epístola de Paulo à Comunidade em Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo: O Ressurrecto e Judas Iscariotes) Prédicas do Senhor

JESUSNAZONADECESAREIA PHILIPPI

Evangelho de Mateus Cap. 16 (continuação)

  1. A VERDADEIRA SABEDORIA E A VENERAÇÃO VIVA DE DEUS

  1. Após erguer-Me com os que haviam cochilado Comigo, cha- mo os três amigos e lhes indago a razão por que não seguiram nos- so exemplo.

  2. Responde Mathael: “Senhor, quem poderia dormir, após ter re- cebido conforto tão poderoso através de Tua Palavra?! Assim aproveita- mos o tempo na investigação de coisas jamais sonhadas pelos mortais! Por isto Te rendemos toda nossa gratidão!”

  3. Digo Eu: “Muito bem; sei de vossas palestras e de tudo que vos foi dado conhecer antes do tempo. Guardai-o, pois, evitando deste modo, o uso inoportuno de tais conhecimentos. Os filhos da Terra não os assimilam, porquanto não têm vossa procedência; enquanto que a vós, será dado conhecer coisas muito mais elevadas, após a vinda do Espírito Santo, oriundo dos Céus, que vos conduzirá à Verdade plena! O Espírito de Amor, o Pai Mesmo, vos guiará e ensinará, trazendo-

-vos a Mim.

  1. Em verdade vos digo: Ninguém chegará a Mim se não for con- duzido pelo Pai; pois todos vós deveis ser ensinados por Ele, isto é, pelo Eterno Amor em Deus, caso quiserdes estar Comigo! Deveis ser tão perfeitos como o Pai no Céu! Isto jamais alcançareis através do sa- ber profundo ou por experiências variadas, mas, unicamente, pelo vivo

amor a Deus e ao próximo. Nisto se baseia o grande mistério do renas- cimento do vosso espírito, por Deus e em Deus.

  1. Antes disto, cada um terá de transpor Comigo a porta estreita da completa renúncia do seu ‘eu’, deixando de ser vós mesmos para serdes tudo em Mim.

  2. Amar a Deus acima de todas as coisas significa dedicar-se-Lhe inteiramente; amar ao próximo requer também a máxima dedicação, do contrário, não será possível fazê-lo com sinceridade; pois um amor sob medida não beneficia àquele que ama, tampouco ao ser amado.

  3. Se pretendeis vislumbrar o panorama do cume du’a montanha, tereis de galgar o seu pico; de qualquer outro ponto, avistareis apenas uma parte. Eis por que também, no amor, deve ser posta em prática toda dedicação para que frutifique.

  4. Vosso coração é um campo de semeadura, e o amor ativo repre- senta a semente viva; os pobres são o adubo para o campo. Aquele que semear em solo bem adubado, colherá safra abundante. Na medida que fordes aumentando o número de pobres a adubar o campo, mais viçoso este se tornará; e quanto melhores sementes nele lançardes, tanto mais rica será a colheita. Quem semear abundantemente, colherá com fartu- ra; quem o fizer com usura, lucrará escassamente.

  5. Deveis tornar-vos sábios pelo amor ativo; nisto consiste a mais elevada sabedoria, pois que todo saber sem amor de nada vale! Tratai, pois, de aumentar vosso amor que vos proporcionará o que ciência alguma vos poderá dar. Aproveitastes bem as três horas, en- riquecendo vossas noções e experiências. Tudo isto pouca utilidade trará para vossas almas; ao passo que, ocupando futuramente vosso tempo amando ao próximo, num dia, vossas almas lucrarão meses de benefícios!

  6. De que vos adiantaria extasiar-vos diante de Meu Poder, Mag-

nitude e Glória jamais penetrados, se à vossa porta os pobres chorassem de fome, sede e frio? Quão miserável e inútil seria louvar a Deus em honras e glórias, desinteressando-se da miséria do próximo! De que ser- vem todas as oferendas suntuosas no Templo, se diante de seus portais um pobre morre de inanição?!

  1. Inteirai-vos, pois, da miséria dos pobres e socorrei-os! Mais de- pressa colhereis benefícios assim procedendo, do que se pesquisásseis todos os astros e entoásseis loas a Mim!

  2. Em verdade vos digo: Todos os anjos, Céus e mundos com toda sua sabedoria não vos proporcionarão, em eternidades, o que alcança- reis pelo amor ao próximo usando de todas vossas energias e meios! Nada mais sublime do que o amor verdadeiro e ativo, estabelecendo a união entre Deus e a criatura!

  3. Se durante tua prece a Deus, não percebes a voz aflita de teu semelhante à procura de auxílio, tuas palavras serão amaldiçoadas por Mim! Minha Honra consiste no amor e não na fútil tagarelice.

  4. Não deveis ser como afirmava Isaías: Esse povo Me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de Mim! Mas adorai-Me em espírito e verdade, pois Deus é Espírito!

  5. A única prece de Meu Agrado é a da aplicação do amor e nunca a movimentação maquinal dos lábios. Que adiantaria ornamentardes de ouro o sepulcro dum profeta, se não ouvirdes a voz do vosso irmão sofredor?! Acaso pensais que isto Me agrada? Tolos! Olhar-vos-ia com ira, se por causa dum morto, menosprezásseis o apelo dum vivo!”

  1. OFUTURODOSARRABALDESDA PALESTINA

  1. (O Senhor): “Eis por que determinei que os lugarejos, ora por nós percorridos, daqui a cem anos, não sejam mais reconhecidos, evi- tando se lhes dedique veneração excessiva.

  2. Nazareth, onde nasci, não mais existirá, e sim uma outra cidade de igual nome, além dos montes, em direção ao Poente. O mesmo destino já atingiu Cesareia Philippi; perdurará, porém, uma semelhan- te acima do Lago Meron, origem do Jordão, e outra perto de Tyro e Sidon. Genezareth já foi extinta, restando apenas a cidade de Tibérias. Da Samaria subsistirá, somente, o trajeto daqui ao Mar Mediterrâneo, enquanto que a cidade de Sichar e o Monte Horeb serão arrasados; os descendentes desses habitantes se empenharão por encontrá-los, achan- do, no entanto, apenas u’a montanha íngreme, assim denominada, mas

que não contém o Espírito da Verdade. Esse destino terão Jerusalém e outros locais da Terra Prometida, reduzida, na sua maior parte, a um deserto.

  1. Lembrai-vos disto; tal se dará para que as criaturas ouçam os cla- mores reprovadores dos pobres, pela veneração excessiva dessas cidades. Serão confundidas em virtude desse zelo; procurarão Minha Cabana na falsa Nazareth, pois a legítima desaparecerá da Terra, logo após Minha Ascensão ao Meu Reino.

  2. Quem procurar futilidades, encontrá-las-á, morrendo com esta tendência; quem procurar a verdadeira Nazareth no coração, descobri-

-la-á em cada pobre e uma genuína Bethlehém em cada semelhante!

  1. Tempos virão em que, de longe, criaturas aqui chegarão à pro- cura destas localidades das quais apenas perdurarão os nomes! Até os povos europeus guerrearão pela sua posse, acreditando prestar-Me bom serviço, enquanto deixarão perecer, na pátria, de miséria e privações, seus familiares e amigos!

  2. Quando no Além Me pedirem o esperado prêmio pelo esforço e sacrifício despendidos, demonstrar-lhes-ei sua grande tolice e a miséria que infligiram, não só aos seus próprios parentes, como aos depen- dentes de seu auxílio. Saberão que não lhes será possível achegar-se à Luz da Minha Graça enquanto não repararem, completamente, o dano praticado, o que será mui difícil, por possuírem meios escassos, na luz crepuscular no reino dos espíritos, sobre e debaixo da Terra.

  3. Afirmo-vos: À vista da grande tolice humana, farei cair esta zona nas mãos dum povo pagão, que castigará os falsos pregadores da Minha Doutrina, nos quatro pontos cardeais.

  4. Atentai, pois, contra a infiltração de tolice e superstição na Mi- nha Doutrina de Vida e do Verdadeiro Conhecimento de Deus. Só há um caminho: o amor ativo, facultando a todos a verdadeira Luz e a compreensão justa e ilimitada das noções naturais e espirituais! É e será o único e verdadeiro caminho que vos levará a Mim e ao Meu Reino.

  5. Eu, o Amor Eterno, sou a Luz, o Caminho, a Porta e a Vida Eter- na! Quem tentar penetrar no Meu Reino da Luz por outros meios é qual ladrão e assaltante; será, por isso, relegado às profundezas das trevas aqui

e no Além. Sabeis agora, como proceder e o que considero justo. Agi de acordo e estareis trilhando a vereda certa! — Agora, passemos aos nove afogados, e tu, Marcus, manda trazer vinho que dele precisaremos!”

  1. OSENHOREOS AFOGADOS

  1. Rápido acercamo-nos dos perecidos que mando virar de cabeça para cima. Em seguida digo a Marcus que lhes faça cair algumas gotas de vinho nas bocas abertas. Isto feito, digo a todos: “Certificai-vos se não estão mortos!”

  2. Encontrava-se, entre os trinta fariseus convertidos, um médico que disse: “Não que duvide da morte dessas pessoas, mas quero apenas dar meu testemunho como perito!” A seguir ele examina os olhos vi- drados, o nariz hipocrático, provas certas da extinção de todos os ele- mentos vitais. Quando termina, diz: “Não só hoje, mas desde ontem, uma hora após terem caído n’água já estavam mortos. A julgar pelo odor, iniciou-se a decomposição e não há ciência e força humanas que os façam ressuscitar! Isto só pode Aquele que no Dia do Juízo Final fará ressurgir os mortos!”

  3. Digo Eu: “Comprovando o testemunho do médico e para que

possais reconhecer a Glória do Pai, manifesta no Filho, exclamo: Pai, glorifica o Teu Nome!” Nisto, muitos ouvem uma voz num forte tro- vão: “Já O glorifiquei por Ti, Meu Filho Amado, pois és Tu em Quem Me aprazo! As criaturas devem prestar-Te ouvidos!”

  1. Alguns há que, com o Céu límpido, ouvem o trovão e admi- ram-se desse fato; quando são informados daquilo que os outros perce- beram, dizem: “Estranho; entretanto, acreditamos nas vossas palavras! Contudo, deduzimos ser o Mestre apenas o Filho, e não o Santo e Po- deroso Pai que habita no Céu, invisível para todos, somente se Lhe podendo falar em momentos santificados. Moysés, portanto, também foi filho do Altíssimo, bem como os outros profetas; e este Nazareno poderia ser o Maior de todos, pois faz os mais deslumbrantes milagres!”

  2. Intervém Murel: “Em absoluto; estais cometendo um grande

erro! Quem teria anunciado Moysés, Elias ou Samuel, pelo Espírito do

Senhor? Foram todos repentinamente iluminados por Ele, a fim de que profetizassem! A voz que ora ouvimos, foi tanto Sua Própria, quanto aquela que nos dirigiu Pessoalmente! A diferença consiste no seguinte: Verbalmente Ele fala como Homem, e através do trovão Se fez ouvir como Aquele que foi, é e será eternamente o Mesmo Criador de tudo que existe e das Leis dadas no Sinai, sob raios e trovões. Eis por que tudo Lhe é possível, inclusive Sua Encarnação por Amor a Seus filhos; pois do contrário, jamais poderia ser por eles amado e reconhecido!”

  1. DETERMINAÇÕES DO SENHOR EM RELAÇÃO AOS AFOGADOS

  1. Nisto Me aproximo de Murel, dizendo: “Penetraste fundamen- te na verdade, esclarecendo os mais ignorantes; por isto, serás ainda um instrumento útil contra judeus e pagãos, e teu prêmio no Céu não será pequeno!

  2. Agora, mãos à obra, como vos determinei, a fim de que todos vejam que sou o Verdadeiro e Prometido Messias, anunciado pelos pro- fetas até por Simeon, Anna, Zacharias e João, este executado por Hero- des! Esses nove ressuscitarão e quando mais tarde tiverem deixado esta zona, saberão o que lhes sucedeu!”

  3. Em seguida, mando que Marcus faça verter mais algumas gotas de vinho nas bocas dos nove, enquanto Cirenius e Cornélius indagam o motivo desta medida.

  4. Respondo: “Isto, em absoluto faz parte da ressurreição; como, porém, encaminhar-se-ão para casa, necessário é que se fortifiquem. O vinho é absorvido pelos nervos da abóbada palatal e da língua. Deste modo, a alma reintegrada ao corpo, encontrará um instrumento for- talecido que poderá empregar em qualquer atividade. Se este estímulo não lhes fosse ministrado, os ressuscitados teriam de permanecer aqui para uma readaptação física. Além disto, o vinho proporciona bom pa- ladar, muito necessário, pois a água ingerida lhes produziria náuseas, di- fíceis de serem acalmadas. Estais, portanto, orientados a respeito; acaso ainda alimentais outra dúvida?”

  1. Responde Cornélius: “Não é bem isto, Senhor e Mestre; apenas me veio a ideia como podes, sendo o Onipotente, servir-Te de meios naturais para alcançar um fim qualquer.”

  2. Digo Eu: “Por que não? Acaso não é o meio natural também obra de Minha Vontade, mormente o vinho de Marcus, cujos odres e demais vasilhas enchi de modo milagroso?! Pelo fato de empregar meio natural ou espiritual, não deixo de usar Minha Onipotência. Com- preendeste?”

  3. Respondem Cirenius e Cornélius: “Inteiramente, e ansiamos pela vivificação dos afogados. Será feita agora?”

  4. Digo Eu: “Mais um pouco de paciência, pois tomarão, pela ter- ceira vez, um pouco de vinho.” Satisfeitos, todos observam como Mar- cus cumpre Minha Ordem.

  5. Em seguida digo a todos: “Já está feita a obra! Afastemo-nos e sentemo-nos às mesas onde nos espera o desjejum. Se aqui ficássemos, confundiríamos os recém-acordados, que julgariam ter-lhes sucedido algo de extraordinário. Deste modo, terão a impressão de que foram atirados a esta praia pelo temporal, acordando após profunda exaustão. Levantar-se-ão, calmamente, voltando a seus lares, onde naturalmente serão recebidos com imensa alegria.”

  1. DÚVIDASDE CORNÉLIUS

  1. Todos obedecem à Minha Ordem, alguns contrafeitos, pois com prazer teriam observado o milagre de perto. Todavia, ninguém se atreve a fazer objeção. Sentamo-nos, pois, às mesas a fim de saborear os peixes preparados.

  2. Yarah está de especial bom humor e diz: “Não posso explicar a razão de minha alegria, o que a meu ver não se dá com todos! Sendo mulher deveria ser vítima da curiosidade, todavia, dá-se o contrário! São, precisamente, os homens que não se contêm e olham para trás, verificando se os nove já ressuscitaram. Embora eu não tivesse seguido o mesmo exemplo, já os vi se afastarem, um por um, não faz bem meia hora. Mal tínhamos alcançado as mesas, começaram a se mexer, levan-

tando-se para depois irem embora, inclusive aqueles que o Senhor on- tem ressuscitou, após o temporal. Como sou pequena, foi-me possível percebê-lo por entre os galhos das árvores.”

  1. Manifesta-se Cornélius: “Com tua boa visão observas tudo! Para nós, basta o êxito da Ordem do Senhor, pois do contrário, muitos se- riam vítimas da dúvida. Mas..., terias realmente visto como se levanta- ram e afastaram?”

  2. Responde Yarah, um tanto irritada: “Acaso me tomas por men- tirosa?! Desde que me conheço, jamais proferi u’a mentira, e agora, ao lado de meu Senhor, Deus e Mestre, haveria de fazê-lo para atender tua curiosidade?! Nobre senhor, estás longe de me conhecer! Vê, a mais esclarecida inteligência é capaz de acolher a mentira, pois podes eluci- dar alguém dentro de tua compreensão; todavia, baseia-se num falso conceito, o qual te leva a externar uma inverdade. O amor verdadeiro e puro, porém, jamais poderá mentir, por considerar o próximo — como filho de Deus — mais que a si próprio, e o Pai, acima de tudo! Alimentando eu esse amor de forma integral, como poderia dar-te um testemunho falso? Nobre Cornélius, esta suposição não te honra!”

  3. Defende-se ele: “Minha Yarah, tal nunca foi minha intenção!

Podes indagar do Senhor que conhece meu íntimo, se tive esse propósi- to! Ainda estás zangada comigo?”

  1. Responde Yarah: “Em absoluto; futuramente, porém, medita antes de perguntar!”

  2. Intervenho: “Muito bem; vamos agora auxiliar Marcus na pes- ca. À tarde haverá outro assunto a resolver.” Ouvindo Minhas Pala- vras, Marcus ordena aos filhos que preparem os botes; pois os peixes guardados no grande tanque à beira-mar haviam sofrido com o últi- mo temporal.

  1. PERSASEFARISEUSDISCUTEMO MILAGRE

  1. Enquanto abordamos diversos temas à mesa, irrompe uma dis- cussão entre os trinta jovens fariseus e os vinte persas. Estes consideram a ressurreição obra milagrosa, enquanto os fariseus externam dúvidas, mormente Risa que há tempos converteu Hebram.

  2. Hebram, pois, afirma: “Risa, morta a criatura, podes deitá-la como quiseres e dar-lhe este mesmo vinho, que ela jamais reviverá! Isto foi obra da Onipotência Divina, e a posição dada aos cadáveres teve, apenas, o objetivo de expelir a água de estômago e pulmão. O vinho somente animaria os nervos abalados e melhoraria o paladar. Tudo isto nada tinha a ver com a vivificação. O Senhor assim agiu com o fito de doar às almas um físico mais resistente. Não o reconheces?”

  3. Obtempera o outro: “Sim, mas dever-se-ia fazer uma prova de que aqueles meios aplicados não restituem a vida a um cadáver qual- quer. Só depois desta comprovação, saber-se-ia tratar-se, neste caso, duma ressurreição.”

  4. Diz Hebram: “Se o Senhor aceitar tua sugestão e caso ainda se encontre algum morto durante a pesca, poderás fazer uma tentativa, que a meu ver será infrutífera.” Aduzem os persas: “Somos da mesma opinião. Agora, tomemos nossas embarcações, pois vemos que todos se encaminharam para a praia.”

  5. Em lá chegando, Meus discípulos assistem, com exceção de Ju- das, os filhos de Marcus no lançamento das grandes redes. Entremen- tes, Judas se encaminha para a cidade inteiramente destruída, pois ouvi- ra dizer que os ricos gregos tencionavam calçar algumas ruas com ouro e prata. Seu intuito, porém, trouxe-lhe apenas uma boa surra, aplicada pelos guardas. Deixou, assim, as ruínas ainda fumegantes da cidade, que outrora se chamava “Vilipia”; os gregos a denominavam “Philippi”, e sob o regímen de Roma foi-lhe acrescentado o nome de “Cesareia”.

  6. Voltando à cabana de Marcus, Judas ali encontra somente sua

mulher e filhas. Como a atitude deste discípulo sempre era algo atre- vida e impertinente, não lhe foi dada a atenção que desejava, por parte das mulheres. Assim vai ele à praia, a fim de lá nos encontrar. Havía-

mo-nos feito ao alto mar; enfadado, Judas se encaminha para as tendas de Ouran, na expectativa de lá encontrar alguma moeda perdida! Mas também ali, nada feito! Ouran havia deixado três vigias em cada tenda!

  1. Aborrecido, Judas deita-se à sombra duma árvore, onde ador- mece. Todavia, nem isto o destino lhe permite: as moscas o molestam constantemente. Quase desesperado, levanta-se e avista, finalmente, nossos barcos, arrependendo-se de não nos ter acompanhado.

  1. OSERVOINFIELDE HELENA

  1. Nesse ínterim, havíamos feito magnífica pesca dos melhores pei- xes, e encontramos em alto mar dois cadáveres femininos, inteiramente nus; haviam caído nas mãos de piratas, que lhes roubaram os bens, atirando-os em seguida n’água. Essas moças, de dezenove a vinte e um anos, eram de Capernaum e de família abastada; dirigiam-se a Gadara, por mar. Seu barco e tripulação eram escolhidos. Mas, quando já longe da praia, piratas gregos abateram os quatro marujos; as pobres moças foram vilipendiadas, despidas e atiradas ao mar. Os malfeitores já ha- viam sido capturados pela Justiça e não escapariam ao castigo merecido.

  2. Os corpos achavam-se atados pelos cabelos e flutuavam. Eis que,

a Meu exemplo, Risa predispõe-se a fazer as mesmas tentativas de sal- vamento. Para tanto, os cadáveres são envolvidos em panos e deitados num barco. Imediatamente Risa os faz deitar como Me vira fazer, en- quanto ordeno a Raphael que ajude a Marcus, para que tudo corra bem.

  1. Enquanto isso, Thomaz cumprimenta Judas Iscariotes e lhe in- daga, ironicamente, sobre o sucesso de suapescaria! Ele resmunga, sem todavia se atrever a discutir com Thomaz; pois se lembra do outro tê-lo aconselhado a não procurar ouro na cidade em cinzas.

  2. Acontece ter um servo de Ouran a ideia de explorar a tendência de Judas para o roubo, surrupiando trinta moedas de prata da sacola de Helena, alegando ter um discípulo do “grande profeta” se aproveitado da ausência de todos para realizar seu intento inescrupuloso.

  3. Diz ele: “Após breve afastamento da tenda, deparei com ele como se estivesse à procura de algo no solo. Essa atitude suspeita levou-me a

perguntar-lhe bruscamente o que estava fazendo ali, e ele, assustado, deixou a tenda. Passando revista, observei que a sacola da princesa não se achava no lugar costumeiro; qual não foi minha surpresa quando verifiquei faltarem trinta moedas, pois, como vigia, sabia do conteúdo. E aqui venho para relatar o fato, a fim de não ser tomado pelo ladrão.”

  1. Diz Helena: “Por que te desculpas antes que alguém lance suspeita à tua pessoa?!” Defende-se o vigia: “Nobre princesa, não me desculpo, relato apenas o roubo daquele discípulo.” Indaga Helena: “Quando, sem minha autorização, conferiste minha sacola pela penúl- tima vez?” Responde ele: “Logo após me ter sido entregue a guarda da tenda. Naquela ocasião contei seiscentas moedas; agora, só existem quinhentas e setenta.”

  2. Diz Helena: “Muito bem; mais tarde averiguaremos o fato e cas- tigaremos o ladrão! Talvez te enganaste ao contar e agora lanças a sus- peita contra um discípulo do Mestre, apenas pelo fato dele ter entrado na tenda!”

  3. Mal Helena termina suas palavras, o vigia repõe, rapidamente, o dinheiro subtraído, a fim de robustecer a suposição de sua soberana. Como não sabe de que forma enfrentar a situação, resolve procurá-la para confirmar o erro cometido na contagem do dinheiro.

  4. Sabendo que Ouran dificilmente castigava, a não ser a mentira ou roubo, sua atitude é bem embaraçosa. Helena apieda-se do coitado que nunca fora desonesto e lhe diz: “Não agiste bem por te quereres vingar do discípulo com quem não simpatizas; sei de tua trama que merece punição!”

  5. O servo começa a tremer; Judas, que havia assistido à cena, aproxima-se dizendo: “Perdoo-te a atitude, com a qual me prejudica- rias; procura entendimento com tua soberana.”

  1. AAÇÃODA ASSEMBLEIA

  1. Com isto Judas se afasta, e Eu digo a Helena, Ouran e Mathael: “Terminai com essa arenga, pois temos coisas mais importantes a resol- ver! Não castigueis o empregado; nunca teria praticado esse ato se não

fosse induzido por um espírito! De qualquer forma, fez uma profecia que se realizará! Agora, basta!”

  1. Indaga Cirenius, admirado: “Senhor, em que consistiria? Parece-

-me não haver coisa de maior importância senão o que passamos! Fala, Senhor! Meu coração anseia por receber Tuas Ordens e Resoluções, a fim de cumpri-las!”

  1. Digo Eu: “Um pouco de paciência, pois tudo necessita amadu- recer. Por isto, descansemos um pouco!” Todos assim fazem. Apenas Ouran, Mathael, Cornélius e Fausto se entregam à elaboração de planos governamentais. Mormente Ouran anseia por voltar ao seu reino e lá introduzir Minha Doutrina.

  2. Risa, por sua vez, observa os dois corpos, conjeturando quanto à possibilidade de fazê-los voltar à vida pela observância daquilo que Eu havia empregado com os nove. Outros há, entregues à meditação sobre Minhas Palavras. Em suma: embora externamente calmos, suas almas se empenham em assuntos diversos, sem alcançarem uma definição exata.

  3. Schabbi e Jurah, os dois oradores persas, porém, respondem aos colegas que os assediam com suposições: “Deixai isto! Seria perturbar a Onipotência Divina em nossos corações! Que sabemos a respeito de nossa constituição interna?! Confessando nossa ignorância a respeito, como querermos interpelar o Ser Divino sobre Sua Atitude?! Basta sa- bermos que tudo que Ele fizer é sumamente sábio e para nosso Bem! Ele, o Senhor Supremo, sabe o que precisamos para a perfeição interna; por isto, aguardemos Suas Determinações!” Tais palavras ponderadas a todos acalmam, inclusive aos que se acham à Minha mesa, que aguar- dam com paciência Minha Atitude.

  1. OSESPIÕESDE HERODES

  1. Nisto, Marcus se aproxima e Me diz em surdina: “Senhor, per- doa se Te venho importunar por alguns momentos.”

  2. Digo-lhe Eu: “Amigo, vai e transmite aos espiões, à espreita atrás de tua cabana: O Filho do homem age e fala abertamente diante de todo o mundo, e não pretende ter segredos para quem quer que seja;

quem, portanto, quiser a Mim se dirigir, que o faça do mesmo modo! Não admito que se venha soprar, secretamente, a Meus Ouvidos, nem conjeturar às escondidas; isto é um hábito condenável dos filhos do mundo, quando temem ver descoberta sua trama. Eu falo e ajo em público e não receio os homens, porque Minhas Intenções para com as criaturas são boas! Vai e transmite este recado aos traidores!”

  1. Nem bem Marcus executa Minha Ordem, um dos falsários res- ponde: “Pareces ignorar que Herodes concedeu-nos carta branca para julgarmos sobre vida e morte!” Retruca Marcus: “Sou súdito de Roma!” Diz o outro, atrevidamente: “Não importa; o Tetrarca não nos chamará à responsabilidade!”

  2. Pondera Marcus: “Pode ser; mas diante de Deus e do Prefeito Cirenius que aqui se encontra, há dois dias, com outros dignitários romanos, tereis de responder pelos vossos atos!”

  3. Responde aquele: “Como podes alegar isto, se há alguns dias delegou a Herodes, o direito de pena de morte?!” Diz Marcus: “Muito bem, veremos num momento quemlhe conferiu tal direito.” Inconti- nenti manda seu filho a Cirenius para informar-lhe do ocorrido. Muito irritado, o Prefeito ordena a Julius que prenda os trinta espiões e execu- te os que não se renderem. Intervenho: “Basta prendê-los!”

  4. Quando os traidores veem os soldados avançar contra eles, tentam fugir, porém sem êxito. São advertidos de que seriam mortos, caso reagis- sem. Assim, preferem se entregar, sendo levados, manietados, a Cirenius.

  5. Este os inquire peremptoriamente: “Onde estão as ordens que vos mandam perseguir o profeta da Galileia?”

  6. Responde o chefe, chamado Zinka: “Senhor, de mãos atadas não tas posso apresentar! Manda que mas soltem e te convencerás da exis- tência de um chefe a quem devemos obediência, pois tem, como os romanos, o direito de julgar sem consultar-vos!

  7. Por nós podem perambular dez mil profetas pela Galileia, des- de que nos deixem em paz. Havendo, porém, um potentado que nos contrata para esse fim e, no caso de recusarmos, far-nos-ia liquidar, o assunto muda de aspecto! Temos de ser perseguidores de qualquer um, por mais honesto que seja! E se alguém for chamado perante à Justiça

Divina — se é que Deus existe — só poderá tratar-se dum soberano e nunca do servo do mesmo! Solta-me, para que te possa exibir os docu- mentos escritos em três línguas!”

  1. Cirenius assim ordena e Zinka lhe entrega os pergaminhos, com as palavras: “Lê e julga pessoalmente se nossa caça a um tal Jesus é legal ou não!”

  2. Cirenius, então, lê o seguinte: “Em virtude do poder conferido por Roma, em troca de mil libras de prata e cem de ouro, eu, Tetrarca Herodes, ordeno que se capture o perigoso profeta da Galileia, vivo ou morto. Meus vassalos incumbidos dessa tarefa têm, por este docu- mento, pleno poder de ação, recebendo cada um o prêmio de trezentas moedas de prata. Assinado em Jerusalém, no próprio palácio.”

  3. Após alguns momentos de reflexão, Cirenius diz: “Com mi- nha aquiescência, nunca foi conferido tal poder a Herodes, apenas uma autorização para uso de armas em sua própria residência, em caso de necessidade. Fora disto, somente havendo levante contra Roma!

  4. Todos os documentos políticos passam por minhas mãos; as- sim declaro nula esta autorização até que saiba do Imperador Augus- to, quando e porque motivos, Herodes recebeu tal plenipotência! Este documento ficará, por ora, em meu poder até que seja confirmado por Roma. Embora não sejais criminosos, sois instrumentos contra a Lei!

  5. Sei perfeitamente a maneira pela qual os Herodes abusam de suas concessões, haja vista o infanticídio, que provou sua tática infernal para lançar a discórdia entre judeus e romanos.

  6. O Tetrarca será por mim rechaçado com rigor! Já experimentou meu senso de justiça há trinta anos passados; hoje, entretanto, já sou idoso, mais inclinado à ponderação. Mandarei, incontinenti, dois men- sageiros a Roma e Jerusalém, e ai de Herodes se praticou uma fraude!”

  1. ZINKASEDEFENDEERELATAOFIMDEJOÃO BAPTISTA

  1. Diz Zinka: “Não resta dúvida ter Herodes praticado muitas in- justiças à pobre Humanidade, mas que fazer?! Que poderia fazer teu assecla, se lhe ordenares decapitar alguém?

  1. Acaso ignorávamos a inocência do pobre João? Estimávamos o sábio e devoto eremita, pois nos transmitia os mais sublimes ensina- mentos, quando no cárcere; aconselhou-nos paciência e persistência; advertiu-nos dos pecados contra Deus e o próximo, dizendo haver sur- gido na Galileia, um profeta e sacerdote sem par, ao qual não merecia desatar as correias das sandálias! Em suma, ensinou-nos, seus vigias, como se fôssemos seus discípulos e amigos.

  2. Inquiridos por Herodes a respeito do prisioneiro, só podíamos prestar o melhor testemunho. Tanto isto lhe agradou, que procurou pessoalmente o profeta para ouvir seus ensinamentos; e tê-lo-ia liberta- do, não cometesse João a tolice de condenar as relações existentes entre Herodes e Herodíades.

  3. Infelizmente, celebrava-se naquela ocasião, com grande pompa, seu natalício, e Herodíades, sabedora das fraquezas de Herodes, tudo fez para ressaltar seus encantos. Excessivamente enfeitada, foi, em com- panhia da filha, cumprimentá-lo e como houvesse música, esta dançou diante de seus olhares lascivos. Tão embevecido ficou com os movimen- tos sensuais de Salomé, que o tolo jurou satisfazer-lhe todos os desejos! Com isto selava-se o destino de João, o empecilho à ganância de Hero- díades, que impôs à filha, a cabeça do profeta numa bandeja de prata! Salomé obedeceu, embora terrificada!

  4. Que nos adiantaram a simpatia e a convicção da inocência do

profeta?! De que serviu condenarmos mãe e filha?! Eu mesmo fui obri- gado a transmitir a sentença tenebrosa a João, fi-lo amarrar e decapitar! Chorei qual criança, pela maldade daquelas mulheres e pelo infeliz des- tino do meu amigo! Mas de que serviu?

  1. Assim, somos agora enviados na captura daquele grandioso pro- feta, do qual João falou. Acaso seremos culpados por esta incumbência? Se não a cumprirmos, seremos presos e até aniquilados! Algum juiz nos condenaria por este procedimento?

  2. Deixa que todos os anjos e Deus Mesmo desçam à Terra e nos jul- guem; garanto-te que nossa culpa será idêntica à de João. Se Deus existe, deve ser mais sábio que as criaturas! Assim sendo, não percebo porque mo- tivo permite a existência de tais monstros e ainda lhes dá plenos poderes!

  1. Eis o único motivo de nossa descrença em Deus. A última cente- lha de nossa fé apagou-se com a decapitação de João Baptista. É possível que ele receba, no Além, o prêmio pela paciência e resignação com que aceitou sua morte cruel. Por mim, não troco metade da minha vida por uma mais feliz que seja no Além, da qual pessoa alguma teve certeza! Os poderosos sempre estão com a razão, enquanto seus servos são conside- rados criminosos! Peço-te, senhor, que me orientes a respeito!”

  1. BOARESPOSTADE CIRENIUS

  1. Perplexo, Cirenius Me diz em surdina: “Este homem é inteli- gente e tem boa índole; não seria possível atraí-lo para a nossa causa?”

  2. Digo Eu: “Jamais se consegue abater uma árvore com um só golpe! Com certa dose de paciência muito se alcançará; além disto, não se deve permitir que alguém, ao ser levado à luz, olhe o Sol ao meio dia. Pois, administrando-se-lhe luz forte de uma só vez, poder-se-á cegá-lo, por muito tempo; sendo habituado pouco a pouco à iluminação, será um dia capaz de vislumbrar tudo na maior claridade sem risco algum.

  3. Este homem Me prestou um bom serviço pelo relato fiel e por ter sido testemunha ocular do destino de João Baptista. Não por Mim, mas por causa de Meus discípulos; deve Zinka relatar o motivo que levou Herodes a prender Meu predecessor. Faze-lhe esta indagação.”

  4. Dirige-se Cirenius ao relator: “Amigo, minha sentença atinge apenas aqueles que estão em comum acordo com um déspota. Criatu- ras como tu, que reconhecem e condenam tal atitude desumana, saberei defender com justiça.

  5. Existe, porém, um motivo mui sublime para que Deus, não raro, permita o triunfo do vício, enquanto que a virtude é muitas vezes abafada até a morte. Tua atual capacidade de compreensão é insuficien- te, não te permitindo perceberes isto e muito menos a aceitarão teus colegas, munidos, como estão, apenas dum conhecimento superficial. Em breve, talvez, assimilarás o porquê da existência dos Herodes!”

  6. Diz Zinka: “Senhor, tu que tiveste a bondade de me tratar por ‘amigo’, não deixes que este título seja apenas um tratamento formal,

mas aplica-o soltando meus vinte e nove companheiros! Crê-me, todos nós agimos a contragosto, e se nos libertasses, farias a mais justa obra humanitária!”

  1. Responde Cirenius: “Deixai isso por minha conta, pois aqui se acham muitos redimidos, embora alguns merecessem a pena capital. Espero que, em breve, tal se dê também convosco. Agora desejava saber o verdadeiro motivo que levou Herodes a prender João.”

  1. PRISÃO DE JOÃO BAPTISTA.AS RELAÇÕES ENTRE HERODES E HERODÍADES

  1. Diz Zinka: “Se me for permitido falar abertamente, poderei, uma vez que fui o próprio carrasco, apontar a verdadeira razão; se, no entanto, tua pergunta é um ardil, prefiro calar-me a respeito duma his- tória cuja recordação provoca-me profunda revolta!”

  2. Diz Cirenius: “Podes falar sem rodeios!”

  3. Prossegue Zinka: “Muito bem! Já te disse da minha incredulida- de; pois se nosso infeliz amigo pregava a existência dum Deus de Justi- ça, que, em absoluto, podia estar de acordo com os horrores praticados no Templo, fácil é imaginar a reação às prédicas de João.

  4. De há muito os templários o teriam liquidado, se não temessem o povo, na maior parte, conhecedor de suas fraudes. Assim, resolveram fazer crer a Herodes que João tencionava provocar um levante con- tra o cruel Tetrarca. A fim de se certificar dessa trama, Herodes nos acompanhou ao deserto onde João levava vida austera. Em lá chegando, verificou tratar-se de uma mistificação sem precedentes por parte do Templo, fato que o revoltou bastante.

  5. Quando os sacerdotes insistiram em liquidar o profeta, ele re- agiu, em minha presença, dizendo: ‘Jamais farei assassinar quem quer que seja, a conselho de cães miseráveis!’ A tal resposta enérgica, os cava- leiros do inferno se retiraram. Fingindo conformação, contrataram, em segredo, assassinos para o extermínio de João.

  6. Informado disto, Herodes dele se apiedou e nos disse: ‘Tenho de salvar esse homem; para tal fim, ide e transmiti-lhe meu plano. De-

veis trazê-lo como prisioneiro, no entanto, pretendo protegê-lo.’ Dito e feito. Mas essa resolução logo chega ao conhecimento das víboras do Templo, e também a notícia do contato mantido entre João e seus adeptos. Conjecturaram, então, um plano pelo qual Herodes, por suas próprias mãos, pusesse término aos dias do profeta.

  1. Sabedores da atração que Salomé exercia sobre o Tetrarca, o qual, no entanto, não se atrevia, como judeu, a cometer adultério, os sacerdotes enviaram-lhe um emissário astuto. Este, sabedor da esterili- dade da mulher do Tetrarca, induziu-o a fazer uma pequena oferenda ao Templo, alegando que, assim agindo, ser-lhe-ia permitido manter uma concubina.

  2. De bom grado, Herodes aceitou essa sugestão, entregando al- gumas libras de ouro ao portador. Em seguida, enviou um mensageiro à filha de Herodíades, que aquiesce ao seu desejo, cedendo assim, à inescrupulosa influência de sua genitora. Esta a conduziu ataviada com ricos trajes a Herodes, entregando-a às suas graças. Ele, porém, tratou-

-a apenas com carinho, presenteou-a regiamente, permitindo-lhe livre acesso aos seus aposentos sem, no entanto, pecar com ela.

  1. De volta à casa materna, é inquirida sobre o sucedido. Informa- da do insucesso, logo percebi a decepção da velha, pois tive de acompa- nhar Salomé. Perderia ela assim o direito a uma indenização por parte de Herodes; este fato levou Herodíades a instruir a moça na arte de se- dução. Senti-me tão enojado com a atividade da genitora, que relatei o fato ao Tetrarca. Profundamente revoltado, este procurou João Baptista e lhe expôs o caso.”

  1. OASSASSÍNIODEJOÃO BAPTISTA

  1. (Zinka): “João, no entanto, lhe disse: ‘Afasta de ti Herodíades e sua filha; uma é serpente, outra, víbora! Além disto, conheces a Vontade de Deus Onipotente de Abraham, Isaac e Jacob e Sua Ordem que deu ao homem, desde o início, somente u’a mulher. Seja ela estéril ou não, uma vez casados, não podes manter uma concubina, pois se te munires de paciência, Deus bem pode permitir que tua mulher conceba, mesmo

em idade avançada! Lê a História dos patriarcas e lá acharás a confirma- ção de minhas palavras.

  1. Não aceites a separação sugerida pelo Templo, porquanto tal não foi inspirado por Deus e sim, por Moysés, em virtude da dureza dos sentimentos humanos. Podes estar certo de que essa determinação não foi do Agrado do Senhor! Considera, pois, apenas tua legítima esposa e dá autorização a Zinka para que impeça a penetração daquela criatura intrigante em tua casa! Seguindo este conselho permanecerás na amiza- de de Jehovah; do contrário, Seu inimigo de ti se apossará, fato que te trará o aniquilamento!’

  2. Persuadido pelas palavras de João, o Tetrarca resolveu afastar-

-se de Herodíades. Mas tanto ela quanto a filha tudo fizeram para tentá-lo; sempre que saía, deparava com Salomé adornada, usando de todos os atrativos possíveis; não tardou que ele próprio procurasse encontrá-la.

  1. Por ocasião de seu aniversário, Herodíades empregou todos os recursos para ser incluída, juntamente com sua filha, entre os convi- dados. Inquirida pelos templários em que pé estava a amizade entre o Tetrarca e sua filha, confessa nada existir de seguro, embora soubesse que ele lhe fazia a corte.

  2. Interfere um dos sacerdotes: ‘Disto apenas é culpado aquele profeta perigoso, protegido por Herodes! Mas de nada lhe adianta- rá isto, tornou-se um obstáculo entre vós e o Tetrarca! Quanto mais cedo João Baptista for exterminado, tanto maior será vossa ascendência no palácio!’

  3. Assim informadas, mãe e filha conjeturaram um meio seguro para o extermínio do profeta e a moça prometeu-me ouro e prata em abundância, caso lhe auxiliasse nesse projeto. Com o fito de me inteirar dos pormenores, aparentemente, concordei.

  4. Herodes, porém, me disse: ‘Que posso fazer? O melhor talvez seria isolarmos ainda mais o pobre João, permitindo-lhe apenas o con- tato com seus antigos adeptos, pois, facilmente poderia um templário, comprado pelas duas mulheres, cometer um crime. A fim de salvá-lo, consentirei nas visitas de Salomé ao meu palácio.’

  1. Como servo tive de obedecer, embora soubesse que tal medida não favorecesse a João. Daí por diante, Salomé visitava diariamente o Tetrarca, empregando todos os meios para conquistá-lo. Começaram, então, os templários a insistir junto a Herodes, influenciando-o contra João Baptista. Herodíades jurou no Templo que ela tudo faria nesse sentido e a moça, por sua vez, impediria o convívio entre os dois ho- mens. Conhecendo o temperamento de Herodes, não mais me atrevi a lembrá-lo das palavras do profeta.

  2. Deste modo, a trama prosseguiu até o natalício; alguns dias an-

tes, Salomé conseguiu uma vitória, porquanto deixou, numa tática bem estudada, de comparecer ao palácio, o que irritou muito o apaixonado Rei e o seu triunfo concretizou-se.”

  1. APRISÃODEJOÃO BAPTISTA

  1. (Zinka): “A maneira pela qual se verificou o crime é por todos conhecida; entretanto reinava, entre os discípulos de João, a crença de sua ressurreição e ida para a Galileia, onde pregava! Tal notícia chegou aos ouvidos de Herodes, e Salomé estava arrependida por ter obedecido a Herodíades. Herodes, de coração opresso, mandou-me à procura de João, para solicitar-lhe perdão pela injúria cometida.

  2. Lembrando-me das profecias de João sobre o Messias, repeti-as ao Tetrarca que me disse: ‘Pois vai e traz-me aquele de quem ele falou com tanta veneração; talvez nos possa ajudar!’ Expliquei ao Rei que eu nada conseguiria contra o poder do Nazareno, cuja força de pensamen- to poderia aniquilar milhares de seres. O soberano e sua mulher, porém, insistiram no seu desejo, prometendo trezentas moedas de prata pela captura de Jesus!

  3. Retruquei: ‘Se ele não vier por livre e espontânea vontade, não adianta querer forçá-lo, pois conhece, até ao âmago, nossos pensamen- tos.’ Respondeu-me ele: ‘Se o profeta for bom, saberá, também, que tenho boas intenções. Não pretendo repetir o que fiz com João!’

  4. E assim, aqui estamos, perto de nove semanas, nessa busca sem resultado! Nesse tempo, enviei mensageiros a Herodes expondo-lhe o

insucesso de nosso empreendimento; ele, entretanto, insiste dizendo achar-se aqui o ressuscitado João ou o tal poderoso profeta. Soubemos, nesse ínterim, dos fatos milagrosos ocorridos na zona de Cesareia Phi- lippi; encontramos, no entanto, apenas uma cidade em cinzas! Agora vos pedimos, caso seja possível, nos livreis daquele déspota, e vos sere- mos gratos!”

  1. OSUPOSTOPRIVILÉGIODE HERODES

  1. Responde Cirenius: “Atenderei ao vosso pedido, após certificar-

-me da autenticidade de tal autorização romana; tiveste oportunidade de verificá-la?”

  1. Afirma Zinka: “Como não? Pois tive de copiá-la perto de cin- quenta vezes, para depois fazê-las revalidar pelo Governador. Levavam apenas a assinatura de Augusto e não a tua.”

  2. Concluiu Cirenius: “Assim sendo, deve tratar-se duma nova au- torização que desconheço. Podes precisar em que época veio de Roma?”

  3. Responde Zinka: “No ano passado; a petição continha o pe- dido ao Imperador que, como soberano, tinha autoridade suficiente para, desprezando as conveniências, conferir ao Tetrarca o direito aci- ma mencionado. Claro é que tal documento foi acompanhado por boa soma em dinheiro, e seus cinco portadores, fariseus, poucos dias antes, haviam procurado Herodes oferecendo seus préstimos em Roma, pois para lá iriam a negócios.

  4. Tal oferecimento coincidiu com suas intenções, tanto mais quan- to os cinco judeus nada aceitaram à guisa de comissão. Assim, inicia-se a viagem com trinta camelos que transportavam a vultosa soma e que levaria, na melhor das hipóteses, três a quatro semanas. Comumente, leva-se outros tantos dias à espera de audiência com o Imperador e até a solução de assunto de tal ordem, decorrem, no mínimo, seis meses. Falta, ainda, calcular o trajeto de volta e, então, saberemos o tempo imenso gasto em tal empreendimento.

  5. Os referidos mensageiros, porém, fizeram entrega da autoriza-

ção mencionada em menos de seis semanas, congratulando-se com o

Tetrarca pelo bom êxito. Guardando o donativo generoso, inclusive os animais, os espertos fariseus falsificaram a assinatura imperial, fraude esta que o próprio Herodes ignora! Eis minha opinião particular e, em absoluto, quero julgar quem quer que seja!”

  1. AUTORIZAÇÃO FALSIFICADA

  1. Confirma Cirenius: “Amigo, isto não é uma suposição, mas a verdade plena, pois a viagem marítima daqui a Roma e vice-versa leva no mínimo quarenta dias. Além disto, a todo estrangeiro em Roma é imposta a permanência forçada de pelo menos setenta dias, não con- seguindo ele, antes deste prazo, qualquer solução para suas pretensões, medida sábia que visa canalizar maiores rendas para os cofres do Estado. De sorte que Herodes supõe possuir direitos maiores de que aqueles conferidos pelo tetrarcado.

  2. Agora compreendo por que nunca fui informado sobre o as-

sunto em apreço! Por força de minhas funções de plenipotenciário em Roma, sobre toda a Ásia e parte da África, sou notificado de todos os assuntos do Governo; qualquer outra atitude levar-me-ia a pensar em conspiração contra o Império! Daí se conclui ser falsa a autorização concedida por Herodes; devo esclarecer ao Tetrarca e, em seguida, ti- rar-lhe o documento falso que será enviado ao Imperador, como prova contra os criminosos, passíveis de castigo!”

  1. POLÍTICADOS TEMPLÁRIOS

  1. Interrompe Zinka: “Nobre senhor, esqueces o lado político que confere aos sacerdotes certos privilégios mundanos, aproveita- dos com verdadeira astúcia, pois se fazem passar por deuses, empre- gando o Verbo Divino a bel-prazer. O próprio Imperador subme- te-se a esse jogo inescrupuloso, explorando a superstição popular; as criaturas são assim mantidas obedientes e humildes perante o soberano, não se atrevendo a reclamar contra as leis e os impos- tos pesados.

  1. O Imperador, por sua vez, não se oporá a esses falsários, pois em ocasiões favoráveis sugerem, em seu nome, novas determinações cujos benefícios revertem para ambos. E se ele os chamar à responsabilidade, não se considerarão os únicos responsáveis e argumentarão, com a exce- lência dos motivos, para justificá-los. Finalmente o Imperador ver-se-á obrigado a elogiá-los e gratificá-los.

  2. Experimenta chamá-los à ordem, e terás de confirmar a autori- zação dada por Herodes; convencer-te-ão de sua necessidade e com ela enfrentarão o domínio do Tetrarca. Poderia ele, deste modo, angariar um poder prejudicial, até aos próprios romanos. Que te parece?”

  3. Responde Cirenius: “Não compreendo bem, pois se Herodes engendrava plano dessa ordem, por que não me puseram a par, secreta- mente? A distância entre Jerusalém e Sidon ou Tyro não é tão longa e, facilmente, teria encontrado os meios para vencer este empecilho. Além do mais, terão os templários de responder pelo dinheiro e os trinta ca- melos desviados!”

  4. Opõe Zinka: “Nobre senhor, podes possuir altos conhecimentos de Estado, mas nesse assunto és mais inexperiente que qualquer um! Ignoravas o caso por dois motivos: primeiro, o perigo dum possível atraso; segundo, desviar toda e qualquer atenção alheia. Tua reação se- ria violenta, provocando uma revolta entre o povo, e Herodes dela se aproveitaria, contra Roma. Quanto ao dinheiro e animais, só poderiam ser entregues a ti após te informarem do ocorrido.”

  5. Contesta Cirenius: “Mas não haveria um meio de intervir nessa trama sacerdotal?”

  6. Responde Zinka: “Infelizmente as coisas se acham tão emara- nhadas, que até Deus não te poderia aconselhar de modo diferente, isto é, por ora só resta aceitar tal situação. Pelo meu cálculo, também aceito por João Baptista, não se passarão quarenta anos para sua queda definitiva e vossa conquista total de toda a Judeia!”

  1. ADOUTRINADOPROFETA GALILEU

  1. Afirma Cirenius: “Amigo, reconheço tua perspicácia e prudên- cia, e Herodes educou-te para seres um advogado sem par. Já não mais sendo partidário de sua política e podendo contar com a nossa prote- ção, podes saber o que se passa aqui! Antes de mais nada, dize-me o que farias caso surgisse o grande profeta!”

  2. Responde Zinka: “Eu? Nada, deixá-lo-ia seguir caminho! Ape- nas tentaria falar-lhe, certificando-me das palavras de João, pois se este externou-se de forma tão elevada a seu respeito, quão sábio e poderoso não será em realidade?!

  3. Saiba que, se realmente tencionasse prendê-lo, de há muito o poderia ter feito, pois nunca ignorei o paradeiro de Jesus. Retinha-me, porém, receio incontido e preferiria falar-lhe, jamais usando hipocrisia!”

  4. Nisto, dirijo-Me Pessoalmente a Zinka: “Caro amigo, conheço Jesus de Nazareth como a Mim Mesmo e te posso afirmar não ser Ele inimigo, mas benfeitor de todos aqueles que O procuram, em busca de auxílio! É inimigo do pecado, mas não do pecador verdadeiramente arrependido, humilde e desejoso de regeneração. Jamais julgou e con- denou alguém, mesmo que seus pecados excedessem aos grãos de areia desta Terra.

  5. Sua Doutrina se resume no conhecimento de Deus, amando-O sobre tudo e a seu semelhante, seja nobre ou plebeu, rico ou pobre e sem discriminação de sexo, tanto quanto a si próprio. Quem sempre agir assim e evitar o pecado, em breve saberá que tal ensinamento não é humano, mas vem de Deus! Só Deus e aqueles que com Ele aprende- ram, sabem o caminho pelo qual se alcançará a Graça da Vida Eterna.

  6. Aos instruídos pelo conhecimento humano, longe se acham do Reino de Deus. Ouvem as palavras humanas, sem lhes darem crédito porque partem de um mortal e não frutificam em seus corações. A Pa- lavra proferida pela Boca de Deus não é morta, mas viva; movimenta o coração e a vontade da criatura para a atividade, vivificando-a plena- mente. Uma vez assim fecundada pelo Verbo Divino, continua ilumi- nada e livre para sempre, jamais sentindo e provando a morte, mesmo

morrendo fisicamente mil vezes! — Eis, amigo, em poucas palavras, a base da Doutrina do Grande Profeta de Nazareth! Que Me dizes a respeito?”

  1. OPINIÃODEZINKASOBREA DOUTRINA

  1. Após breve meditação, Zinka responde: “Caro amigo, nada se lhe pode contestar, muito embora seja um tanto complexa. Muitos sá- bios baseavam seus princípios no amor, sob alegação de que este facul- tava toda sorte de alegria. Todavia, existem duas espécies de amor e é difícil se afirmar qual a preferível.

  2. Tu, porém, esclareceste nitidamente que espécie de sentimento o homem deve cultivar para alcançar a felicidade. Logo, esta doutrina não é humana, mas de Deus, provando Sua Existência. Agradeço-te de coração, pois parece-me ter reencontrado o Deus perdido.

  3. João Baptista esforçou-se para me convencer do Ser Divino, sem consegui-lo, à vista dos meus argumentos bem fundamentados lhe te- rem dificultado a tarefa.

  4. Tu, porém, dispersaste-me todas as dúvidas! Se a pessoa não achar a entrada que dá acesso ao palácio imperial, jamais a descobrirá no centro do labirinto, onde o soberano localizou sua morada. Agora, peço-te me esclareças quando tiveste a felicidade de encontrar aquele homem excepcional, que tanto desejaria conhecer.”

  5. Digo Eu: “Permanece aqui, que o encontrarás após a próxima conversa. Além disso, Marcus fará servir o almoço dentre em breve, do qual servir-te-ás à nossa mesa, enquanto teus vinte e nove companhei- ros sentar-se-ão ao lado.”

  6. Assim que Marcus ordena trazer os pratos, Zinka se admira que tantas mesas sejam servidas ao mesmo tempo. Comentando isto com Ebahl, o hospedeiro lhe diz: “Certamente não prestaste atenção quando isto foi feito.” Replica Zinka: “Amigo, por mais absorvido que esteja num assunto, nada escapa à minha percepção. Já não me inte- ressa qualquer informação, apenas persisto em dizer tratar-se de algo sobrenatural.”

  1. ZINKASEADMIRADO MILAGRE

  1. Zinka, de boa estatura, levanta-se e observa que, embora to- das as mesas estivessem ocupadas pelos hóspedes que saboreavam os pratos bem preparados, os alimentos não diminuíam, fato que o deixa atordoado. Isto, porém, não só acontece aos outros, como a ele próprio, não conseguindo terminar o saboroso peixe que lhe servira Ebahl.

  2. A mesma agradável surpresa acomete aos seus colegas que, não obstante terem saciado sua fome, o apetite os anima a prosseguir; fi- nalmente, Zinka insiste numa explicação por parte de Cirenius. Ele, porém, diz: “Após terminado o almoço, haverá tempo para palestras, portanto, serve-te à vontade!”

  3. Diz Zinka: “Amigo e nobre senhor, jamais fui glutão; se, no en- tanto, permanecer em tua companhia, bem poderei cair nesse defeito e continuo afirmando que aqui se passa algo de sobrenatural. Talvez nos encontrássemos perto do grande Profeta que procuro com meus companheiros?! Neste caso, pedir-te-ia para nos deixar seguir caminho ou então prender-nos novamente, pois nosso juramento a Herodes nos forçaria a matá-lo!”

  4. Diz Cirenius: “Que tolice é esta? Onde se viu uma lei obrigar alguém ao cumprimento dum crime?! Pelo fato de serdes meus pri- sioneiros, estais quites com Herodes e apenas tendes de obedecer às minhas ordens.

  5. Se surgisse o grande Profeta, nenhum de vós se atreveria a to- cá-lo, pois haveria de sentir o peso do rigor de Roma! Ainda há pouco te classifiquei de homem inteligente; agora és tudo menos isto! Acaso tentavas enganar-me?”

  6. Responde Zinka: “Absolutamente; confirmo minhas opiniões anteriores, entretanto, por ser prisioneiro, vejo-me impossibilitado de pedir-te explicação sobre o fenômeno ora presenciado, o que me abor- rece. Todavia, resolvo não mais ligar a este fato e não quero mais saber o que há pouco tanto me intrigou! Podeis estar despreocupados, pois não vos molestarei com futuras indagações!”

  1. ASEDEDOSABER.AVERDADEIRAARTEDO CANTO

  1. Em surdina, Cirenius Me pergunta que resultado obter-se-á com Zinka. Respondo: “Muito bom; como, porém, necessitava de repouso, fiz com que caísse nessa indiferença.

  2. Deves saber que uma alma sedenta de conhecimento elevado não se desinteressa tão facilmente. Passa-se com ela o mesmo que sen- te um noivo apaixonado; sua eleita, entretanto, sendo volúvel, pensa consigo mesma: ‘Se não for este, será outro!’ Percebendo com o tempo essa atitude, o noivo se entristece e resolve não mais pensar nela; mas..., quanto mais se esforça, tanto maior a atração; finalmente deseja que todas as asserções referentes à noiva sejam infundadas.

  3. Acontece, porém, ter ele a oportunidade de vê-la com outro, e sua revolta é quase insuportável: jura que jamais pensará nela e até a amaldiçoa! Tudo isto, todavia, de nada adianta, pois que os pensamen- tos apaixonados o assediam constantemente.

  4. Por que isto, se resolveu excluí-la de sua mente?! Acontece um amigo lhe dizer: ‘Olha, foste injusto para com tua noiva, que apenas queria experimentar teu afeto. Sendo pobre e tu rico, não acreditava que a quisesses desposar e tomava tuas promessas como pilhérias, pois é comum aos moços agirem deste modo. Agora ela se certificou de teus propósitos e te quer mais do que nunca. Sabes, portanto, o que fazer!’ Tais palavras do amigo foram um verdadeiro bálsamo para o noivo, que mal podia aguardar o momento para tomá-la como esposa.

  5. Fato idêntico se passa com Zinka: aparentemente come e bebe,

dando impressão de não mais se interessar pelo milagre; no íntimo, conjetura mil coisas! Por isso, não te preocupes.

  1. Conheço as criaturas e sei o que se passa nos corações, cujos sentimentos se acham sob Minha Orientação; ajo sempre quando ne- cessário. Deixai-nos saborear o almoço. Necessitamos de reforço para a tarde, e o jantar não será servido tão cedo.”

  2. Todos estão de bom humor, louvam a Deus e até tentam cantar. Além de Hermes, porém, não há quem tenha voz e ele mesmo se recusa, temendo a crítica dos romanos. Como os outros insistem, ele se defen-

de: “Meus amigos, faço meu canto de louvor a Jehovah no coração, e tenho certeza que isto é de Seu Agrado!”

  1. Afirmo: “Tens razão, Hermes, o cântico de teu coração soa muito mais agradavelmente aos ouvidos de Deus que o fútil canta- rolar que sensibiliza somente aos ouvidos, deixando o coração frio e insensível.

  2. O canto é agradável aos Ouvidos de Deus quando a voz é meiga e pura, traduzindo o estado de êxtase do coração pleno de amor. Assim não sendo, ele se assemelha à água lamacenta; e, se dela aproximássemos uma chama, fácil seria imaginar os odores dela emanados!”

  3. Eis que a adorável Yarah Me diz: “Senhor, já que estamos tão alegres, que tal se Raphael cantasse algo?!”

  4. Respondo, amável: “Vai e pede-lhe este favor, que Eu não Me oporei.”

  5. Repetindo Yarah seu pedido ao anjo, este esclarece: “Não fazes ideia do nosso canto e aviso-te que não suportarás minha voz por longo tempo, por ser ela pura e excessivamente comovedora. Se cantar, que seja, por um quarto de hora, morrerias de comoção, pois na Terra não existe o que se lhe pudesse comparar! Assim, querida, se quiseres, can- tarei, todavia não posso responsabilizar-me pelo efeito.”

  6. Diz Yarah: “Canta um único som, ao menos, que ele certamen- te não me matará!”

  7. Aduz Raphael: “Fá-lo-ei, e todos, mesmo os distantes daqui, ouvi-lo-ão e indagarão sobre sua origem. Para tanto vou me preparar e tu também, pois até um único som terá efeito surpreendente.”

  1. RAPHAEL, CANTOR

  1. Ouvindo tais palavras, Zinka indaga de Ebahl, a seu lado: “Este jovem é cantor especializado?” Responde o hospedeiro: “Parece-me; nunca tive o prazer de ouvi-lo e também estou curioso por conhecer sua voz.” Prossegue Zinka: “Quem é ele e sua companheira?” Responde Ebahl: “Sei que o jovem é de Genezareth e professor dela, minha filha de quinze anos.”

  1. Nisto diz Raphael: “Ouvi, pois!” Eis que todos percebem, de muito longe, um som tão indescritivelmente puro, embora fraco, que ficam extasiados, e Zinka exclama: “Este não é cantor terreno, só pode ser um anjo de Deus!”

  2. O som, porém, torna-se mais forte e vibrante e quando alcança sua máxima potência, soa qual acorde em ré bemol maior com toda a sua série harmônica, perdendo-se, no final, num suave lá bemol duma pureza jamais percebida.

  3. Os ouvintes caem em êxtase, do qual o anjo os tira a um aceno Meu. Todos despertam como dum sonho feliz e Zinka, cheio de entu- siasmo, atira-se sobre Raphael, abraça-o com efusão e diz: “Não és mor- tal! Com esta voz poderás despertar mortos e vivificar pedras! Quem te ensinou a cantar de tal forma?!

  4. Estou completamente fora de mim e todas as minhas fibras ainda vibram em virtude do deslumbramento e da beleza deste canto! Tenho até a impressão de não ter sido emitido por tua boca, mas pa- receu-me que todos os Céus se tivessem aberto, vertendo sobre a Terra morta, a harmonia vinda de Deus!

  5. Ó Deus de Abraham, Isaac e Jacob, não és apenas uma palavra pronunciada! És unicamente a Verdade e a Perfeição Pura e Eterna! Este som me restituiu o que havia perdido, devolveu-me o Santo Criador, Deus e Pai! Tornou-se para minha alma um Evangelho Celeste! Aquilo que talvez milhares de palavras não teriam conseguido, foi obtido por este único som celestial, que concretizou o meu ser! Meu coração, outrora endurecido, tornou-se qual cera ao Sol e cheio de sentimentos de pureza!

  6. João, meu caro amigo! Se o tivesses percebido no último instante de tua existência, tua morte se teria tornado um fanal para os Céus do Pai! Todavia, no escuro cárcere que ocultava o Santo de Deus, apenas se ouvia clamores de aflição e dor!

  7. Ó criaturas, quão obscurecidos se acham vossos corações e al- mas, por não terdes ouvido e sentido o que jamais esquecerei! Santo e Querido Pai, que estás no Céu, jamais desconsiderando os rogos sin- ceros dum pecador, permite possa novamente ouvir este som, quando chegar a hora de minha partida para o Além!”

  1. O CONVÍVIO COM DEUS PELA VOZ INTERNA DO CORAÇÃO

  1. Após tais palavras comovedoras de Zinka, exclama Yarah: “Ó Raphael, como agora és diferente! Partiste-me o coração! Por que fos- te cantar?”

  2. Responde ele: “Mas então não me obrigaste a tal? Agora não mais me é possível anulá-lo! Considera que nos Céus tudo se lhe deve igualar e terás oportunidade de organizar tua vida à imagem desse som; quem assim não agir, não ingressará no Reino do Amor, Puro e Eterno.

  3. Acabas de ouvir o som do Amor e da Máxima Sabedoria de Deus! Guarda bem isto e age de acordo, que serás justificada diante de Deus, que te elegeu para noiva celeste, dando-me para teu guia.

  4. Isto que acaba de acontecer se dá apenas diante de Deus e de Seus filhos. O mundo materialista nada perceberá, porquanto não o assimilaria. Observa as pessoas naquelas mesas, como discutem sobre este assunto incompreensível.

  5. O Senhor Se acha aqui há vários dias, sendo amanhã o último; somente Ele sabe o que fará então. Ilumina, pois, teu coração de amor e humildade e oculta o que assiste de extraordinário; relatá-lo a pessoas mundanas seria o mesmo que atirar pérolas aos porcos. Segue o que ora te aconselho, que serás um instrumento útil nas Mãos do Senhor, na Terra como no Céu. Ouviste?”

  6. Responde Yarah: “Caro Raphael, tuas palavras não me agradam, mormente a partida do Senhor, que amo sobre tudo nesta vida! Que será de mim quando não mais puder vê-Lo e falar-Lhe!”

  7. Diz Raphael: “Ora, passarás muito bem, pois te será possível fazer-

-Lhe indagações com o coração, pelo qual também ouvirás as respostas.

  1. Que, por exemplo, acontece conosco? Por ora me vês aqui; mas se for da Vontade do Senhor, terei de me dirigir ao mundo mais distante e pelo tempo que Ele achar necessário. Crê-me, geralmente nos encon- tramos longe do Senhor, todavia em Sua Eterna Presença Espiritual; estamos constantemente com Deus, como Ele em nós, em Sua Ação Imensurável.

  1. Quem realmente ama o Senhor acha-se sempre com Ele. Se de- seja Dele uma orientação, basta inquiri-Lo no íntimo que receberá de pronto a resposta plena pela mesma via; assim Deus ensina as criaturas. Por aí vês não ser preciso Sua Presença para seres feliz; basta ouvi-Lo e senti-Lo para possuir a bem-aventurança!

  2. Nem eu estarei visível ao teu lado; necessitas, apenas, chamar-

-me no coração, e aí estarei contigo, respondendo suavemente mas de modo perceptível, porque usarei, como veículo, os pensamentos suaves de tua alma. Logo saberás ter sido eu o autor e não tu; portanto, deves agir dentro daquele conceito.

  1. Não basta, apenas, saber o que agrada a Deus, mesmo alguém se comprazendo na Doutrina Celeste, enquanto não resolve pô-la em prática. Eis por que urge ouvi-la, compreendê-la e depois praticá-la. Assim não sendo, nada é resolvido!”

  1. COMOSEDEVECUIDARDOCAMPO EMOTIVO

  1. Raphael: “Lembras-te, querida Yarah, que o Senhor durante Sua Estada em Genezareth te ensinou, Pessoalmente, o cultivo de várias plantas, organizando uma pequena horta.

  2. Sua Atitude Benevolente causou-te grande alegria. Teria sido tal satisfação suficiente para colheres os frutos esperados? Essa atitude tal- vez te proporcionasse o crescimento da erva daninha, — e só! Todavia cultivaste tua hortazinha, de acordo com a orientação recebida, de sorte que podes aguardar boa colheita.

  3. De modo semelhante é o coração humano uma horta que, sen- do bem trabalhada e não temendo praticar os ensinamentos recebidos, em breve possuirá tantas Bênçãos e Graças Divinas, de sorte a poder dispensar nosso conselho e auxílio, vivendo de suas próprias potências espirituais.

  4. O Senhor visa justamente que a criatura se torne cidadã independente do Céu, dentro de Sua Ordem Imutável, quando, então, alcança o máximo grau de evolução. Terás compreendido isto, Yarah?”

  1. Responde ela: “Perfeitamente; tuas palavras deram grande con- solo ao meu coração e delas farei princípio de vida, cheio de alegria e verdade. Penso não te ser tarefa difícil, minha educação espiritual. Mas será que outras criaturas fazem o mesmo?”

  2. Diz Raphael: “Trata primeiro de ti, que o Senhor Se incumbirá dos outros.”

  1. INDAGAÇÕESDE ZINKA

  1. Zinka não perdera uma palavra desse ensinamento e se dirige a Ebahl, que lhe inspira maior confiança: “Amigo, este jovem não só é bom cantor, como possui conhecimento sobrenatural. Dize-me se não é aquele de quem João falava? Apenas me parece jovem demais, pois consta ter alcançado a casa dos trinta.”

  2. Obtempera Ebahl: “Caro amigo, é um de Seus principais adep- tos. O Profeta de Nazareth é Possuidor de Poder e Sabedoria tais, que os próprios anjos descem à Terra para ouvi-Lo e louvá-Lo!

  3. Prova isto o jovem mencionado que não sabes como classificar; como ser humano é demasiado angelical, e como anjo, talvez um tanto terreno! Há mais de um mês habita em minha casa e é professor de minha filha; além disto, não tem pais terrenos mas, em compensação, um poder incompreensível. Além do mais podes te dirigir a ele que, absolutamente, não é orgulhoso!”

  4. Responde Zinka: “Já sei a quantas ando, apenas desejava saber se o tal Profeta aqui se encontra, pois do contrário não compreendo a presença dum anjo. Dá-me pequena orientação.”

  5. Diz Ebahl: “Um pouco de paciência, amigo, e terás oportunida- de de conhecê-lo. Afirmo-te, contudo, achar-se ele aqui, do contrário, não verias os dignitários de Roma em nosso meio.”

  6. Satisfeito, Zinka começa a observar Cornélius e Cirenius, mor- mente o anjo, supondo que este Me trairia! Como Eu lhes inspirava as palavras, seu trabalho para descobrir-Me é baldado; além disto, a refei- ção terminava, nós nos levantamos e dirigimo-nos à praia, palestrando sobre assuntos de somenos importância.

  1. JESUS RESSUSCITA OS DOIS CADÁVERES. ZINKA O RECONHECE COMO SENHOR

  1. Em breve chegamos ao local onde Risa aguarda a ressurreição das afogadas. Eis que Cirenius lhe diz: “Então, amigo, já estão dando sinal de vida?”

  2. Responde o judeu: “Nobre amigo, é completamente inútil todo meu esforço e somente Deus lhes poderá restituir a vida.” Intervenho: “Pensas realmente assim?”

  3. Diz ele: “Basta observares a cor arroxeada e o odor que exalam para saberes que somente ressuscitarão no Dia do Juízo Final!”

  4. Nisto Zinka se adianta para também fazer suas observações, di- zendo: “Tens razão, se é que existe tal famoso Dia; pois sei da transfor- mação a que está sujeita a matéria: transforma-se em vermes, moscas, escaravelhos, ervas e plantas. Quantas pessoas não são estraçalhadas pe- las feras ou dizimadas pelo fogo! Deveriam, acaso, reunir seus elemen- tos materiais, para a ressurreição no Dia do Juízo Final?! Afirmo, como conhecedor do processo de decomposição, que até Deus terá dificulda- des nesse empreendimento. Poderá proporcionar-lhes um corpo etéreo; neste, não mais lhes doerá a cabeça!”

  5. Digo-lhe: “Amigo, és inteligente e não raro atinges o ponto vul-

nerável; no caso em apreço, erraste! Não resta dúvida que alma alguma fará uso de seu corpo mortal no Além; estes corpos, contudo, deverão ser, por certo tempo, receptáculos de suas almas! Uma será tua esposa, dar-te-á considerável prole e tu a amarás de todo coração; a outra será desposada por Risa sem, todavia, dar-lhe filhos!”

  1. Em seguida, pronuncio os nomes das duas afogadas, que ime- diatamente se levantam surpreendidas, sem saber o que se passa. Risa e Zinka se jogam a Meus Pés e o último exclama: “És Tu, de quem João falou! Todavia não és o profeta, mas o Próprio Jehovah!”

  2. Esta cena atrai naturalmente os outros, e o persa Schabbi diz a Zinka: “Sinto que julgaste acertadamente. Ele é Jehovah! E o jovem arcanjo é precisamente aquele, que em tempos idos conduziu o jovem Tobias! Agora iniciar-se-á uma nova Era!

  1. Muitos aborrecer-se-ão com Ele e tentarão aplicar-Lhe a mesma injustiça que sofreu João; este desejo, porém, dizimá-los-á em virtude de Seu Poder e Sabedoria que os cegará como as trevas, pois jamais a Terra foi por Ele pisada!

  2. Eis a opinião de nosso grupo que já não teme o mundo, a não ser Ele! Foste testemunha do Poder de Seu Verbo pela ressurreição destas moças, que necessitam de vestes apropriadas. Para tanto dirigir-me-ei às mulheres que nos acompanham!”

  1. HISTÓRIADASDUAS MOÇAS

  1. Como Schabbi Me pedisse autorização, Eu lhe digo: “Como não? Jamais alguém pecou por ter praticado a caridade!”

  2. Não demora e ele está de volta com camisas de seda branca, vestidos de fina lã persa, azul claro, e dois pares de alfinetes de ouro, enfeitados com longas fitas. Além disto, dois pentes em forma de diade- ma, ornamentados com pedras preciosas. As moças, porém, recusam-se a aceitar as joias.

  3. Digo Eu: “Já que é de Minha Vontade, podeis aceitá-las como presente nupcial!” Assim, enfeitam-se, assemelhando-se a duas prince- sas. Zinka, todo embevecido, diz: “Eis outro milagre! Quando há pou- co as vi inertes, pareciam-me de idade avançada, desprovidas de toda graça; agora, são dois tipos de rara beleza!”

  4. Aduz Cirenius: “Caso sejam órfãs, adotá-las-ei como se fossem minhas filhas!”

  5. Diz a mais velha, chamada Gamiela: “Não temos pais e aque- les que assim tratávamos, não tinham o menor parentesco com nossa família. Com a idade de dois e três anos fomos levadas à casa dum comerciante grego, que mais tarde, adotou o judaísmo e, pelo relato duma velha ama, um vendedor de escravos nos trouxera de Sidon a Capernaum, onde o tal grego nos comprou pelo preço de cinco suínos, cinco bezerros e oito carneiros.

  6. Naquela ocasião, nosso tutor recebeu um documento onde constava nossa procedência, pois nossos pais seriam romanos de alta

estirpe. Nossa viagem prende-se, justamente, à descoberta dessa supo- sição, que um parente distante nos deveria esclarecer. Por infelicidade caímos em mãos de piratas que nos atiraram ao mar, após deixar-nos na maior miséria! Onde nos encontramos e quem sois?”

  1. CIRENIUSRECONHECESUAS FILHAS

  1. Diz Cirenius: “Um momento, Gamiela, como se chama tua irmã?” Responde aquela: “Ida!” Eis que Cirenius Me beija e Me abraça, dizendo: “Senhor, como agradecer-Te?! Meu Deus, meu Pai! Restitu- íste-me minhas filhas que foram raptadas há dezessete anos! Até hoje ignoro como foi possível tal fato, pois minha casa era constantemen- te vigiada!

  2. Mandei vários investigadores à busca das meninas e um capitão destemido esforçou-se durante três anos. Então enviei um mensageiro a Nazareth à Tua procura! Tu, todavia, eras apenas um menino de seus quatorze anos e não havia vestígio de profecias.

  3. Teus próprios pais afirmavam ter-se, desde os doze anos, dissipado toda sabedoria, identificando-Te aos demais meninos. Como insistissem que Te externasses sobre o meu caso, afirmaste, então, não teres vindo ao mundo em virtude das profecias, mas para o trabalho.

  4. Quando Te relembraram os milagres praticados até aos doze anos, afirmaste que ‘o que foi, já não era mais’, sem dares maiores expli- cações. Assim, todas as minhas pesquisas foram baldadas e chorei anos seguidos a perda de minhas filhas, e agora as encontro de novo! Como agradecer-Te, Senhor?”

  5. Digo Eu: “Já o fizeste, antecipadamente, pelo cuidado que dis- pensaste a todos aqui. Como Meu primeiro amigo na Terra, muito Me tens feito e não deves ficar sem recompensa. No Além, todavia, teu mérito será ainda maior!

  6. Restituindo-te as filhas, não deves esquecer de que já escolhi seus respectivos maridos, de origem simples, é verdade, mas são de certo modo Meus filhos, circunstância esta que te alegrará!”

  1. Responde Cirenius: “Senhor, Tua Vontade é para mim um man- damento; saberei encaminhar meus genros de sorte a se tornarem úteis, espiritual e materialmente.

  2. Agora, minhas filhas, deixai-vos abraçar e beijar, pois sou o pai mais feliz deste mundo! Quão contente não ficará vossa mãe ao ter-vos de novo. Muito embora não vos possa ver por ser cega, sentirá a grande felicidade que Deus nos concedeu! Como cega tornou-se minha esposa, recuperando a visão, temporariamente; a conformação com a cegueira definitiva aguçou-lhe a intuição, de sorte que vos reconhecerá de pronto!

  3. Que desespero não teria eu sentido ao ver-vos boiando n’água, de cabelos amarrados, se soubesse quem realmente sois! O Senhor, po- rém, foi Magnânimo evitando isto, permitindo que minha alegria fosse completa!”

  1. MODÉSTIADE ZINKA

  1. Nisto se aproxima Zinka e diz a Cirenius: “Nobre senhor! Como vejo, as coisas tomam um rumo inesperado: estas moças não são filhas dum simples comerciante, mas da casa imperial, e eu apenas um judeu! Que vale isto, quando és o irmão do falecido Imperador Augusto e um dos patrícios mais ricos de Roma?!

  2. Minha felicidade ao lado de Gamiela seria completa, mas não a posso desposar. Hoje, levado pelo entusiasmo do reencontro, serias capaz de concordar com o enlace; amanhã, talvez ficarias arrependido! Que sofrimento não seria isto para mim?! Apenas aceitá-la-ei com a certeza de que não me será tirada. Como dignitário romano peço-te me dês oportunidade de trabalhar em tuas terras, pois não quero voltar a Jerusalém!”

  3. Diz Cirenius: “Deixa isto por minha conta. Quanto à minha filha, a recebeste das Mãos do Próprio Senhor, cujas Determinações, para mim, são santificadas. Pela Sua Vontade, sou pessoa de destaque no Império romano; no Além, meu amigo, todos somos iguais! Por isto, não te impressiones com minha posição social, que procuro usar em benefício da Humanidade. És e serás sempre meu filho!”

  1. Exclama Zinka: “Em verdade, somente uma alma plena da Ver- dade Divina pode assim se expressar! Minha fé jamais será abalada, pois só Ele merece meu amor e dedicação!” Em seguida, ele se joga a Meus Pés, dizendo: “Senhor, perdoa-me os pecados, para que possa adorar-Te de coração puro!”

  2. Respondo: “Levanta-te, Meu irmão! Já te perdoei, pois conhecia teu coração! Foste designado para prender-Me, e Eu permiti que Me prendesses pelo teu sentimento e para tua salvação! Vem, sê feliz e tor- na-te um instrumento útil para o Meu Reino!”

  3. Zinka se levanta e começa a meditar, profundamente, sobre a grandiosidade e significação deste acontecimento. Mais tarde, ao Meu lado, ainda se fará ouvir, porque, depois de Mathael, é o espírito mais lúcido de nossa assembleia.

  1. AÇÃOE VERBOSIDADE

  1. Nem bem acalmamos os escrúpulos de Zinka, aproxima-se Risa para iniciar discurso idêntico, como segundo genro de Cirenius. Rapha- el, porém, bate-lhe no ombro, dizendo: “Amigo, fica com tua verdadeira personalidade, pois estás longe de ser um Zinka! És bom e honesto, mas não deves agir contrariamente aos teus sentimentos. Compreendes?”

  2. Responde Risa: “Amigo celeste, seguirei teu conselho e externa- rei o que diz meu coração. Ainda sou jovem e tenho poucas experiên- cias, mormente com o sexo feminino. A segunda filha de Cirenius é-me mui simpática; sinto, porém, não estar à altura de fazê-la feliz! Até o momento, não estou apaixonado e fácil seria desistir desta felicidade, o que não se daria mais tarde. Por isto, peço ao Senhor e ao Prefeito que me desliguem deste compromisso. Falei o que sinto e ser-te-ia grato, caso me pudesses ajudar.”

  3. Protesta Raphael: “Amigo, necessitarás de pouco auxílio, por

isto aceitemos o que Ele determinou! Se bem que podes renunciar a tudo — pois, além da forma física, Deus nada determina sem conside- rar o livre-arbítrio da criatura — não é de grande sabedoria subestimar, por menor que seja, Seu Aceno. Compreendeste?”

  1. Responde Risa: “Perfeitamente, e digo mais: Quem faz a Vonta- de de Deus não pode errar, pois ninguém melhor do que Ele sabe das nossas necessidades. Já basta a luta pela vida material, onde o homem muitas vezes fracassa; se ainda pretende reagir contra sua felicidade, difícil será seu progresso espiritual. Tenho razão?”

  2. Obtempera Raphael bondoso: “Sim, todavia, esclareço-te ser mais útil agir em benefício do próximo do que falar em excesso! Teu exemplo, em ambos os casos, terá adeptos, sendo que no último o re- sultado não será apreciável, pois, de índole fraca e não possuindo o teu grau de conhecimento, serão fatalmente levados à presunção. Pela falta de coerência e convicção em suas opiniões, com o tempo, toda sorte de falsas doutrinas serão divulgadas, levando a Humanidade às trevas, onde aquelas teorias dificilmente poderão ser esclarecidas; enquanto que as variadas formas do Bem tornam as criaturas nobres e sinceras. Um coração franco é o melhor viveiro para a verdadeira sabedoria e saberá expressar-se de modo apropriado, sempre que necessário.

  3. Digo isto, por pressentir em ti forte preferência para a conver-

sa fútil, desconhecendo, entretanto, aquilo que deve conter um bom discurso. Por isto fala pouco, ouve com atenção e age tanto quanto possível de acordo com Sua Vontade e Graça, se desejas tornar-te um verdadeiro discípulo do Senhor.

  1. Os que forem destinados a falar e pregar, serão por Ele esco- lhidos; os outros, apenas reservados para a prática dentro dos moldes ditados pela Sua Doutrina, recebendo séria incumbência, tornando-se assim merecedores das Graças Perenes de Deus. Transmite isto aos ami- gos, entre os quais alguns têm o teu defeito. O Senhor os destinou à ação e não à divulgação de suas ideias.

  2. Ele te confere a felicidade terrena para que possas futuramente fa- zer o Bem; convocado para doutrinador, ter-te-ia falado: — Vem e segue-

-Me, para aprenderes a Sabedoria Divina, pois a doutrinação exige mais que a prática, por ser esta o fator principal, impulsionado pelo Verbo!

  1. Que alegria Cirenius dá ao Senhor, causada não pela verbosi- dade, mas, exclusivamente, pela prática das obras do Bem! Quem age como ele, saberá, em época oportuna, expressar-se de modo convincen-

te, pois um coração bondoso não é destituído de luz celeste. Aquele que adquiri-la no exercício das ações do Bem saberá, nitidamente, quando e o que deve falar. Compreendeste-me bem?”

  1. Responde Risa: “Como não?! Falaste a pura Verdade e ela é fa- cilmente assimilada. Agirei como me orientaste, guiando meus colegas à mesma senda; desejava, porém, saber qual a missão de Zinka.”

  2. Esclarece Raphael: “Risa, existe uma grande diferença entre vossas experiências: Zinka é uma alma nobre do Alto, possuidora de vastos conhecimentos, embora conte apenas dez anos mais que tu; eis por que será convocada para agir e falar. O mesmo se dará contigo, desde que estejas mais experiente.”

  1. CONJETURASDEHEBRAME RISA

  1. Gravando tais palavras no fundo do coração, Risa volta para jun- to de seus colegas, sendo felicitado pelo seu noivado; ele os interrompe, todavia, transmitindo-lhes o ensinamento do anjo.

  2. Eis que se manifesta Hebram: “É extraordinário tal discurso e só pode ter origem divina; todavia o orador falou antes de agir, o que acho justo, porquanto toda boa ação deve ser precedida por ensinamen- to adequado.

  3. Tem razão Raphael, pois as próprias leis indicam ao homem como agir, basta apenas querer para fazer surgir uma boa ação. Todavia, presumo que, a simples identificação do Bem não seja conhecimento suficiente para criaturas materialistas, levadas que são, facilmente, pelo egoísmo. Urge divulgar a cartilha da lei do amor, de sorte que o adepto receba ensinamentos claros e convincentes para a prática do Bem, escu- dando-o contra as tentações.

  4. Assim não sendo, a prática da virtude, embora reconhecendo-se seu incontestável valor, permanecerá problema preso a uma série de dificuldades e renúncias, conduzindo a criatura à desistência dos seus bons propósitos. Segue ela apenas os impulsos dos instintos, até alcan- çar a maturidade. Por isto, sou de opinião que a lei do amor ao próximo deve ser exemplificada.”

  1. Aduz Risa: “Tens razão e afirmas exatamente aquilo que Ra- phael havia explicado: só deve falar e doutrinar quem foi convocado pelo Senhor, pois também poderá provar suas assertivas, assim como fui induzido pelo anjo a agir. Mas se ambos fôssemos doutrinar, profe- riríamos muita tolice, e facilmente seríamos contestados por qualquer bom orador. Se, no entanto, praticarmos boas ações, não achará como contradizer-nos. Não é isto?”

  2. Diz Hebram: “Incontestavelmente! Mas quão estranho é o ho- mem! Recorda-te que, durante nossos estudos da Escritura, ficávamos constantemente comovidos com as passagens referentes ao Espírito Di- vino, que nem nos atrevíamos mencionar!

  3. E agora nos encontramos diante de Deus, que determinou Suas Leis no Monte Sinai! O arcanjo, guia do jovem Tobias, convive conosco como simples criatura, ensinando-nos a Vontade do Pai! Além disto, re- alizam-se os maiores milagres, o que em absoluto nos abala! Qual seria o motivo? Pelo justo deveríamos cair em êxtase, todavia, permanecemos insensíveis!”

  4. Conjectura o amigo: “Acalma-te! Certamente o Senhor assim o quer, pois se nos encontrássemos em constante deslumbramento, muita coisa passaria despercebida a nossos olhos. Uma vez os fatos serenados, nossa alma terá oportunidade de se manifestar!”

  5. Concorda Hebram: “Novamente dou-te razão; todavia não acho prejudicial a pessoa se empolgar com acontecimentos de tal ordem. Se essa insensibilidade dependesse de nós, seria um grande pecado; assim, agradeçamos ao Senhor, por tudo que nos facultou de Mãos cheias e fa- çamos o maior esforço em praticarmos Seus Ensinamentos. Admiro-me também do adiantamento espiritual de Zinka, ex-servo de Herodes. Onde teria adquirido sabedoria tão profunda?” Responde Risa: “Não tenho ideia; talvez assimilou, como amigo de João Baptista, os conhe- cimentos daquele profeta. Agora, calemo-nos; parece-me que o Senhor quer Se externar.”

  1. UM ACONTECIMENTO DURANTE A ADOLESCÊNCIA DE JESUS

  1. Durante essa palestra, dei oportunidade às moças de Me reco- nhecerem como Aquele que há poucos meses havia ressuscitado algu- mas pessoas em Capernaum. Gamiela, então, declara lembrar-se per- feitamente ter o velho carpinteiro José, a pedido de seu pai de criação, construído um estábulo para carneiros, naquela cidade, trabalhando em companhia de seus seis filhos, dos quais Eu era o menor. Todavia, não podia supor ocultar-Se em Mim o Espírito do Altíssimo.

  2. Ida, porém, protesta: “Mas sim, cara irmã! Estás lembrada de que ao pagar nosso pai a José o trabalho feito, ele regateou algumas moedas no preço, quando Jesus dele Se aproximou, dizendo: ‘Não faças isto, que não te trará bênção alguma! Embora gentio, crês no Deus de Abraham. Este Deus Poderoso habita em Mim, concedendo-Me tudo que Eu Lhe venha rogar! Assim também Se acha nos corações dos justos e ouve suas preces. Se acaso fosses prejudicar ao velho José, que fez um trabalho pesado, Eu pediria a Meu Deus e Pai que punisse tua dureza, e haverias de sentir as consequências! Considera não ser aconselhável ofender aos que Deus protege!’ Nosso pai, porém, pouca importância deu a tais palavras, insistindo no abatimento do preço. José, então, dis- se: ‘Sou honesto e te afirmo que, justamente, essas poucas moedas se- riam todo o meu lucro e que me possibilitariam pagar o aluguel! Como fazes tanta questão, embora rico, podes guardá-las; todavia, não proce- des com justiça, e isto não traz benefício a quem quer que seja!’

  3. A dureza de meu pai me fez chorar; fui ao meu quarto, apanhei

minhas economias, sendo logo imitada por Gamiela e, despercebida- mente, metemos perto de cem moedas na sacola de José. Apenas Tu, Senhor, observaste nosso gesto, dizendo: ‘Isto vos será recompensado futuramente!’ E tinhas a expressão de um transfigurado. Em seguida, querias deixar nossa casa; como era tarde e Nazareth ficava a várias ho- ras de distância, eu Te disse: ‘Não seria melhor pernoitar aqui, à vista da iminência dum temporal?’ Respondeste-me: ‘O Senhor tanto fez o dia como a noite, por isto não há razão para temê-los! A tempestade está

também sob Seu Poder que é, aliás, desconhecido do mundo. Nada, pois, nos prejudicará. Adeus, Minhas filhas!’ Assim, deixaste rapida- mente nossa casa.

  1. A partir de então, muito tenho meditado sobre Tuas Palavras, sem jamais ter-Te encontrado. Nosso pai de criação sentiu o tremendo efeito de sua ganância: naquela mesma noite o raio bateu três vezes sobre o novo estábulo, no qual se achavam mil e setecentas cabeças de carneiro, queimando tudo, não obstante todo esforço empregado para debelar o incêndio. Então, nosso pai arrependeu-se do ato egoísta que praticara e disse: ‘Este castigo veio do Alto e bem o mereci. Jamais um trabalhador honesto será lesado em minha casa!’ E assim foi. O velho carpinteiro de Nazareth nunca mais foi visto, e presumo ter morrido, pois era já bem idoso e fraco.

  2. Meio ano mais tarde, fomos ao grande mercado de Nazareth e

indagamos sobre ele e seus filhos; constava que se haviam dirigido para zonas da Samaria, onde construiriam algumas casas.

  1. O que naquela época não nos foi permitido, Tu nos reservaste hoje, Senhor, e de modo maravilhoso! Compreendo o sentido de Tuas Palavras tão profundas! Agora sabemos Quem é o Senhor do dia, da noite e da tempestade! Por isto, rendemos-Te nosso preito de gratidão por todas as Graças recebidas, sem, todavia, merecê-las!”

  2. Digo Eu: “Como não?! Lembrai-vos apenas da vossa atitude para com José, que julgava ter sido vosso pai, o doador da importância; Eu, no entanto, esclareci-o a respeito. Ele muito elogiou vossa bondade de coração e Eu Mesmo Me comprometi recompensar-vos; por isto, salvei-vos a vida que podeis gozar em plena saúde e em companhia de Cirenius.” As moças se dirigem àquele e a alegria os faz chorar.

  1. CIRENIUSPROMETEDIVULGAREDEFENDERA DOUTRINA

  1. Após Cirenius ter vertido lágrimas de contentamento no que é imitado pelas filhas e genros, ele Me abraça soluçando: “Ó Tu, Eterno Amor Puríssimo! Quem seria capaz de não Te amar?! Senhor, deixa-me morrer nesta felicidade!

  1. Senhor e Pai, amo-Te desde Teu Nascimento, pois me concedes- te a Graça do Teu Convívio há longos anos. Todavia, não estava seguro do domínio do meu mundo interior e exterior; mas agora, presumo ter alcançado a força necessária através da Tua Graça e Amor para palmi- lhar, até o fim da vida, dentro da Tua Vontade Santificada.

  2. Dirijo, na maior parte, somente pagãos, cujo politeísmo ainda tenho de proteger a contragosto; mas não é possível se abater uma árvo- re de um só golpe. Pretendo divulgar o conhecimento do Deus Único e Verdadeiro, ao menos no território onde governo.

  3. A classe sacerdotal, por certo, dar-nos-á grande trabalho, mas, fi- nalmente, há de ceder às novas orientações. O mais triste neste mundo é que o homem encontra a mentira com facilidade; a Verdade, somente na busca penosa que não raro acarreta perigos.

  4. Os egípcios da antiguidade adotavam o seguinte sistema: a pes- soa interessada em estudar qualquer ciência devia, antes de mais nada, depositar uma taxa na Universidade onde lhe eram demonstrados os inúmeros benefícios. Quem, no entanto, fosse à busca da Verdade Ab- soluta, à qual se condiciona a vida da alma, tinha de passar por uma série de atribulações; se, mesmo assim, conseguisse dela se integrar, per- maneceria sacerdote sob juramento de jamais transmiti-la ao leigo.

  5. Deste modo, sempre foi mui difícil alcançar o Conhecimento da Verdade, enquanto a mentira se alastrava sobre o orbe. As criaturas a ela se acostumaram, em virtude de se sentirem à vontade sob tal regime, e não será fácil fazê-las desistir.

  6. Paciência, porém. A promessa de outras vantagens talvez con- vença aos sacerdotes da necessidade de divulgarem a Verdade Única, se bem que sua completa disseminação na Terra é coisa problemática. Pessoas de boa índole certamente tudo farão nesse sentido, e para Teu Poder, Senhor, seria facílimo consegui-lo. Tu, porém, sabes melhor por- que deve ser assim, por isto, seja feita Tua Vontade!”

  1. ALEIIMPERATIVAEALEI FACULTATIVA

  1. Digo Eu: “Caro amigo, tuas opiniões bem Me agradam, pois o Pai no Céu Se compraz quando Seus filhos se deixam por Ele aconse- lhar; entretanto, existem coisas imprescindíveis, que devem ser observa- das, sem o que não se alcança determinada meta.

  2. Eis por que Deus instituiu duas leis: uma, puramente mecâ- nica, chama-se ‘lei imperativa’, de onde surgem todas formas e suas derivações, provando sua utilidade. Esta lei jamais poderá ser alterada. A outra denomina-se ‘lei facultativa’, que constitui a base da Doutri- na da Vida!

  3. Esta última dá margem à destruição de todas as partículas psí- quicas, o que pouca diferença ocasiona no total da individualidade; todavia não pode a criatura sustar a lei imperativa (biológica ou moral), mesmo abusando de seu livre-arbítrio. Oculta na forma, (corpo), per- dura a semente que de novo começa a germinar, atraindo e reorganizan- do aquilo que se havia desequilibrado.

  4. Assim vês certos povos, completamente corruptos em relação à alma vilipendiada por mentiras, hipocrisias e maldades; no entanto, sua forma humana perdura. Em tempo oportuno, porém, faço com que o espírito (o gérmen vital), receba um fluido maior (calor) que o faz crescer e destruir a anterior desordem psíquica. Processo idêntico se dá com a raiz da planta, que, ao absorver a gota d’água estagnada, pro- duz um novo vegetal sadio e forte, desdobrando-se em flor e semente. Por este motivo, jamais deveis condenar um povo corrupto, pois toda forma humana encerra um espírito, cuja força poderá transformar um demônio em anjo.

  5. Geralmente, são os falsos doutrinadores, a ganância dos poten-

tados e a temporária possessão de maus espíritos que se infiltram em carne e alma, os causadores da perdição do homem. Jamais, porém, poderão aniquilar o espírito invulnerável. Exemplo vivo temos em Ma- thael e seus colegas, cujos físicos haviam sido massacrados por maus elementos. Eu os libertei e despertei seus centros vitais, tornando-os homens perfeitos.

  1. Temos, no entanto, de considerar a diferença entre as criaturas; algumas almas são do Alto, mais fortes e resistentes aos ataques dos espíritos perversos desta Terra. Assim constituídas podem suportar uma provação maior, sem sofrerem prejuízo físico. Despertando-se seu es- pírito, isto é, o gérmen oculto da vida, e este penetrando na alma com suas raízes eternas, aquilo que até então era corrupto imediatamente é curado, surgindo um homem perfeito tais como: Mathael, Philopoldo e tantos outros.

  2. Existem anjos encarnados cujas almas não podem ser perverti-

das: João Baptista, Moysés, Elias, Isaías e outros te sirvam de exemplo. Atualmente há vários que encarnaram para Comigo percorrerem o ca- minho estreito da provação; no entanto, saberão suportá-lo com verda- deiro espírito de sacrifício.”

  1. DIVERSIDADEDASALMASDESTE ORBE

  1. (O Senhor): “Entre as almas do Alto, algumas se originam de mundos solares perfeitos. São mais fortes ainda que as de procedên- cia do nosso sistema solar, aqui encarnando para alcançarem a Filia- ção Divina.

  2. Quanto mais imperfeito o planeta, tanto mais fracos são seus emigrantes. Muito embora tenham de passar provação menor, suas al- mas podem levar grande dano. Todavia possuem um espírito potente que, uma vez despertado, equilibrará a alma.

  3. Finalmente ainda existem — e isto na maioria — almas descen- dentes dos primórdios deste planeta. São precisamente escolhidas para a Filiação Divina, sendo as mais fracas. Com facilidade, poderiam per- verter-se, totalmente, se não existissem entre cem, uma ou duas, fortes, provindas do Alto, que as protegessem contra a corrupção completa. Mesmo havendo entre elas ovelhas desgarradas, serão futuramente le- vadas ao aprisco.

  4. Toda alma — fraca, inepta ou pervertida — possui dentro de si a centelha divina, que jamais se perverterá! Uma vez seu espírito desper- tado, imediatamente ela se torna feliz, cheia de amor e sabedoria. Nesse

caso tanto pode ser um filho do Altíssimo, quanto um anjo encarnado, uma alma dum Sol central, dum Sol planetário de menor categoria ou talvez dum planeta atrasado e sem luz própria, cujo número no Espaço é idêntico aos grãos de areia e às ervas da Terra.

  1. Qualquer um de vós, por exemplo, se for renascido, poderá pro- vocar um estado sonambúlico numa criatura tola ou supersticiosa, atra- vés de passes, partindo do nariz às têmporas, até ao estômago. Nesse sono, a alma por mais perturbada que esteja, libertar-se-á de seus algo- zes físicos, permitindo assim ao espírito se manifestar temporariamente. Às perguntas a ele dirigidas, dará respostas que deslumbrar-vos-ão pela profundeza.

  2. Se após curto lapso, tal pessoa é trazida novamente à vida nor- mal — no que se deve respeitar sua própria determinação —, o espírito volta ao seu pouso, e a alma penetra novamente no corpo, sem se lem- brar do ocorrido. Continuará tão tola e supersticiosa quanto antes, pois ignorará tudo que fez e disse. Que isto vos sirva de prova, pois alma alguma será tão pervertida a ponto de impossibilitar sua regeneração.

  3. Claro é que algumas necessitam de longo tempo, aqui ou no Além, até alcançarem firmeza sadia e coerente, virtudes necessárias para despertar a centelha divina dentro de si, impregnando-se e benefician- do-se de sua luz. Duvidar de uma alma, muito embora ela se apresente aos olhos do mundo como obra dos infernos, vergada sob o peso de seus crimes, — é pecar contra o Amor e a Sabedoria de Deus.”

  1. TRATAMENTODEMOLÉSTIAS PSÍQUICAS

  1. (O Senhor): “Por isto, não deveis condenar as criaturas, para não vos tornardes juízes de vós mesmos! Não seria, pois, incompreen- sível desumanidade condenar um enfermo a castigos, apenas por que se tornou doente? Ora, muito maior absurdo seria julgar uma pessoa psiquicamente enferma, só porque sua alma se tornou fraca e doentia, pelos motivos mencionados.

  2. De acordo com vossas leis, classificais essas pessoas de crimino- sas, submetendo-as a castigos incríveis. Que fazeis com isto? Punis uma

alma, que no fundo tornou-se doentia sem culpa própria. Perguntai-vos o que Deus dirá de vossos julgamentos!

  1. E tu, Meu caro Cirenius, que terias feito sem Mim aos cinco criminosos, como juiz supremo de Roma?! Terias exigido uma confissão plena, entregando-os ao suplício da cruz, pois jamais poderias imaginar que espíritos tão elevados neles se ocultassem!

  2. Enraivecido pelos seus crimes, não só os terias feito executar, como também alimentarias a cômoda opinião de teres prestado rele- vante serviço a Deus e à Humanidade. Na realidade, todavia, terias pre- cisamente causado prejuízo, exterminando criaturas que iluminariam seu semelhante como o Sol primaveril, a todos animando para o Bem e a Verdade! Hoje, por certo, agirias de modo diferente.

  3. Eis a situação das leis terrenas: para as moléstias físicas há recur- sos em médicos e remédios; para os males da alma, existe apenas um có- digo de leis pesadas — e finalmente a espada mortal! Não seria mais hu- mano, mais sábio e inteligente, formar maior número de médicos para as almas, do que para o físico que em breve será alimento dos vermes?!

  4. Ninguém melhor do que Eu sabe das inúmeras dificuldades en- contradas na cura du’a moléstia psíquica, comparada às do físico; toda- via, nenhuma é inteiramente incurável, existindo, porém, uma que será fatal para o corpo!

  5. Para o físico frágil e perecível, construís uma quantidade de sa- natórios, farmácias, estações de águas; inventais unguentos, emplastros e poções curadoras; para a saúde da alma imortal, porém, não cogitais de meio algum!

  6. No teu íntimo agora indagas: Como poderíamos fazê-lo sem Tua ajuda, Senhor, e quem nos haveria de ensinar? Não deixas de ter razão, pois este conhecimento exige uma pesquisa mais profunda da natureza humana, do que a simples experiência da cura d’um estômago afrontado. Portanto, merece a alma muito maiores cuidados do que os incômodos dum glutão!

  7. De tempos em tempos, Deus inspirou verdadeiros médicos da psique, que ensinavam o caminho certo para sua cura. Os que seguiram tal orientação foram, incontestavelmente, curados. Mas os ricos e pode-

rosos da Terra consideravam-se de plena saúde psíquica e desprezavam tais médicos; perseguiam-lhes e até mesmo lhes proibiam exercer a pro- fissão, embargando o ensinamento da cura d’alma, o seu conhecimento e impossibilitando que suas raízes se ramificassem, transformando-se em tronco seguro de ramagens frondosas.

  1. Se por acaso fosse deitada semente sadia e forte, pessoas ego- ístas tudo fariam para cortar os galhos da árvore, tirando-lhe mesmo a casca, tão necessária, até vê-la sucumbir. Assim, até hoje, nada se fez para a cura psíquica a não ser a invenção de leis, prisões de variadas ca- tegorias e os múltiplos instrumentos destinados a terminar com a vida humana. São produtos de almas igualmente doentias, porém, fortes; merecem ajuda, rápida, caso se queira cogitar da cura e felicidade das mais fracas e inferiores.”

  1. SANATÓRIOSEMÉDICOS PSIQUIATRAS

  1. (O Senhor): “Precisamente por este motivo, vim em Pessoa à Terra a fim de instituir, para sempre, um sanatório psíquico destinado a todas as almas, pois as criaturas não o teriam conseguido. Todavia, a sobrevivência de tal sanatório será problemática, considerando-se que certas pessoas sentir-se-ão abaladas em seus direitos mundanos.

  2. O amor-próprio e a atração pelas coisas terrenas — como hábito do inferno implantado no coração do homem — opor-se-ão à pró- pria cura, preferindo os meios materiais, como sejam: leis, julgamentos e punições.

  3. Após Minha Passagem, muitos considerarão tais medidas apli- cando-as em benefício alheio. Terão, todavia, de suportar, em Meu Nome, toda sorte de perseguições por parte dos poderosos do mundo, portadores, entretanto, de almas fracas. Saberei, porém, protegê-las!

  4. Se acontecer que almas desta Terra, enfermas por culpa própria, tencionarem arrasar tal Casa de Saúde nu’a manifestação de loucura, delas Me apossarei e julgando-as, determinarei sua cura psíquica em sanatório do Além, onde haverá clamores e ranger de dentes, até sua cura definitiva!

  1. Se para os males do mundo um remédio eficaz tem sabor amar- go, que travo não encerrará aqueles usados no Além, para a cura duma alma doente, uma vez esgotados, em vida, os meios de regeneração? Serão curadas, mas suportarão tratamento longo e desesperador! Por- tanto, feliz daquele que consegue sua sanidade em Institutos terrenos!

  2. Pelos motivos acima expostos deveis, como juízes poderosos, tornar-vos verdadeiros psiquiatras, julgando as almas enfermas com justiça, para que alcancem a cura total!

  3. Em verdade, à medida que concorreis para o aumento do de- sequilíbrio psíquico de alguém, usando os recursos de vossa doentia incompreensão, vossa própria alma tornar-se-á, na mesma proporção, enferma e vossa cura no Além será mais amarga que a da outra. Ela é doente apenas em decorrência de vossa dureza de sentimentos e pode- rá ser rapidamente curada no Além; ao passo que a alma intolerante do juiz cairá, após todo julgamento injusto, duplamente na moléstia psíquica do réu, duplicando, portanto, seu próprio mal. É fácil se ima- ginar o tempo imenso e penoso que a alma miserável dum juiz terá de enfrentar até sua cura!

  4. Se tu, como médico incapaz e enfermo, fores chamado para so-

correr um doente e aceitares tal pedido visando lucro, receitando um medicamento que piora seu estado precário, que resultará daí?! Não conseguindo debelar a moléstia, também não serás pago, de acordo com vosso uso. Se além disto te contaminares pelo terrível mal, terás prejuízo duplo!

  1. Vindo, porém, em teu lugar um médico inspirado, curará teu cliente com um simples remédio, enquanto que, para tua cura, ne- cessitarás dum meio mais forte, de ação mais enérgica que abalará teu corpo.”

  1. AVERDADEIRA JUSTIÇA

  1. (O Senhor): “Suponho que compreendestes o que acabo de falar e prossigo: Em absoluto vos quero insinuar ser necessário desmantelar todas as prisões e institutos de correção, que não deixam de ser um mal

necessário, tampouco romper com os grilhões e instrumentos de cas- tigo. As almas doentias devem ser cuidadosamente isoladas e mantidas reclusas, até sua cura.

  1. Não devem, porém, ser ira e vingança os motivos para tal me- dida, mas unicamente vosso grande amor ao próximo que vos leva a cuidado extremoso! Se o espírito de amor vos indicar ser preciso a apli- cação de remédios amargos, não deveis vos atemorizar, pois seria inútil e prematura a manifestação de piedade. Somente inspirados no amor, deveis ministrar ao doente medicação drástica, que lhe trará a cura de- sejada e vos cumulará de bênçãos.

  2. O remédio que Eu Mesmo apliquei aos cinco criminosos, na- quela noite, por certo não foi de bom paladar; todavia, Meu Grande Amor o considerou inevitável para a cura completa, de tal maneira que, pela manhã, estavam libertos, podendo vos atestar se algum deles se aborreceu com Minha Atitude.

  3. Quem, levado pela raiva e vingança, martirizar de modo incle- mente um criminoso, sê-lo-á mil vezes mais do que esse, e seu castigo no Além será tanto mais doloroso!

  4. Sereis recompensados com a mesma medida aplicada ao próxi- mo; quem agir com verdadeiro amor, recebê-lo-á em troca; agindo com ira e vingança, receberá o mesmo tratamento, porém em doses multi- plicadas, até que todas as fibras de sua alma endurecida se abrandem.

  5. Com isto vos demonstrei, nitidamente, a verdadeira natureza humana e não podeis alegar desconhecimento de causa. Agi dentro deste pensamento e transmiti-o aos vossos inferiores que, portadores de almas doentias, não se apercebem de sua própria situação. Deste modo, sereis cooperadores justos e equilibrados no Meu Reino desta Terra, e Meu Agrado vos acompanhará por todas as veredas. Se, porém, recairdes no vosso antigo sistema, considerai que vossas almas foram novamente atingidas pelo mal e pedi que Eu vos cure, evitando sofri- mento dobrado!

  6. Vós, juízes, que muitas vezes aumentais o sofrimento psíquico

da criatura através de julgamentos ferrenhos, meditai seriamente sobre a missão que vos foi conferida e sobre aquilo que é justo dentro da

Ordem de Deus! E vós, regentes de povos, que finalmente representam poder e reputação, deveis ser pais de vossos súditos e vos dedicar à saúde plena e ao Bem das almas de vossos filhos! Vossa tarefa se concretiza em serdes médicos psiquiatras.

  1. Se vossos próprios filhos muitas vezes não respeitam os manda- mentos que instituis, deveriam, por isto, ser martirizados e crucificados para servirem de exemplo aos demais?! Talvez um pai desnaturado fosse capaz duma ação desta ordem; entretanto, a História da Humanidade poucos casos semelhantes registrará. Os genitores de boa índole sabe- rão repreender, com rigor, as falhas de seus filhos e em casos extremos, talvez lhes apliquem o relho! Que alegria não hão de sentir com sua regeneração!

  2. Empregai, como juízes, o mesmo sistema e vossa satisfação será

completa! Ponde-vos no lugar dos que são obrigados a obedecer vossas ordens: não seria de vosso agrado se agissem com clemência e miseri- córdia?! Aplicai, pois, sempre aquilo que desejaríeis se vos fizessem, se fôsseis enfermos!”

  1. AETERNALEIDEAMORAO PRÓXIMO

  1. (O Senhor): “Eis a interpretação prática das Leis mosaicas e de todas as profecias: Amai a Deus, vosso eterno Pai, sobre todas as coisas e a vossos irmãos necessitados, como a vós mesmos, que sereis psiqui- camente sadios e tão perfeitos como Seus filhos, motivo por que fostes chamados! Sem esta perfeição, não chegareis junto Dele para saciar-vos à Sua Mesa.

  2. Com isto, meu caro Cirenius, demonstrei-te a maneira de se dar combate à mentira, mesmo estando ela enraizada na alma; todavia, poderá ser anulada pela verdade gerada pelo amor, assim como a luz do fogo. Acaso serás tomado como sábio se, ao necessitares iluminar um recinto, o incendeies completamente?! Por isto, Minha Doutrina e Verbo, não devem ser transmitidos pela espada!

  3. Se tencionas curar uma ferida, não lhe deves aplicar outra, maior; pois seria preferível deixá-la sem cura!

  1. Em verdade, quem pretender disseminar o Meu Verbo e Doutri- na, de arma na mão, não será abençoado pelo zelo demonstrado mas, ao contrário, relegado às trevas! Se iluminares um quarto com lamparinas a óleo, todos se alegrarão com a agradável luz produzida; metendo-lhe fogo, amaldiçoar-te-ão, fugindo, como se foras um doido.

  2. Quem prega a salvação das almas deve usar palavras compre- ensivas e meigas, e não gritar qual louco, espumando de cólera, pois uma pessoa enraivecida não consegue melhorar quem quer que seja. Apenas será ridicularizada e, caso não se cale, será, finalmente, expulsa da sociedade.

  3. De modo idêntico, ninguém deve dirigir palavras de reconci- liação a quem quer que seja, enquanto sente no peito o espinho da raiva; pois envenenar-se-á com o próprio fel, arrastando seu semelhante à idêntica reação.

  4. Ao transmitirdes Minha Doutrina deveis vos apresentar sempre amáveis, porque sois portadores duma Comunicação Celeste que deve ser propagada com carinho!

  5. Que diria uma pessoa abordada com as seguintes palavras: — Ouve, pecador condenado por Deus! Eu te odeio por causa dos teus pecados e em nome da Justiça Divina; entretanto, concito-te, usando de todos os meios a meu alcance, a participares do meu banquete por- que, do contrário, te condenarei para sempre! Aceitando o meu convite, poderás contar com minha graça, ao menos por este dia!

  6. Penso que qualquer pessoa, por mais tola que seja, recusará tal convite! Se for por demais fraca, acederá, esperando escapar às conse- quências; sendo forte e positiva, fará uso de seus direitos de anfitrião.

  7. Eis por que, na divulgação da Minha Doutrina, é preciso con- siderar tratar-se de convite para uma Ceia Celeste, e como verdadeiros mensageiros do Bem, tendes de vos apresentar amáveis e amoráveis. Pois não será possível falar de coisas boas, de feições irritadas e quem assim agisse, demonstraria total inaptidão para tal incumbência. Com- preendestes?”

  8. Responde Cirenius, contrito: “Senhor, compreendi o que me toca e procurarei seguir Tuas Diretrizes! Reconheço ter pecado contra a

Humanidade, não obstante estar imbuído da melhor intenção! Quem poderá remir esses erros?”

  1. Digo Eu: “Não te preocupes e tem confiança!”

  1. O SONAMBULISMO

  1. Nisto, aproxima-se Cornélius, dizendo: “Senhor, há pouco fa- laste ser possível a uma pessoa renascida provocar estado de sonambu- lismo em alguém, e, mesmo sendo ele inculto, sua alma manifestar-

-se-ia inspirada. Não posso fazer ideia desse fato; poderias entrar em pormenores?”

  1. Digo Eu: “Como não? Pois isso é imprescindível para a recu- peração da saúde física e psíquica; o simples passe já alivia a mais forte dor e, em consequência, dá clarividência ao enfermo que poderá obter a cura. Não obedecendo estritamente à determinação dada, será difícil recuperar a primitiva saúde.

  2. Se nesse estado de cura alguém cair em transe, não deve ser in- comodado e enfraquecido por perguntas tolas, limitando-se àquilo que for estritamente necessário.

  3. Todo aquele que aplicar o passe terá de fazê-lo em Meu Nome, porque, do contrário, não surtirá efeito. Além disto, é preciso ter fé inabalável e vontade segura.

  4. O verdadeiro amor ao próximo deve ser o único móvel para a aplicação do passe, que fluirá pela palma da mão até os dedos, pene- trando, qual orvalho suave, nos nervos do doente, curando-o de suas dores atrozes.

  5. Saiba-se, todavia, que é mais difícil provocar este estado sonam- búlico no homem que na mulher. Em certos casos, a mulher poderia consegui-lo com ele; isto, porém, somente com a assistência dum anjo invisível, atraído pela prece e pureza de coração.

  6. Tais mulheres devotas poderão ajudar as parturientes, no que agiriam acertadamente, pois muitas pretendem aprender esta ciência em Bethlehém, onde é ensinada uma série de meios supersticiosos, que antes prejudicam do que beneficiam.

  1. Quantas cerimônias tolas e ridículas realizam-se por ocasião das primogenituras. Nascendo uma menina, levantam-se, durante três dias, lamúrias, gemidos e choros, em sinal de protesto e pesar! Quando che- ga um varão, matam-se vitelos e carneiros e assam-se pães de trigo. Os cantores, assobiadores e violinistas são convocados a fazer um barulho infernal e esperam que isto alivie a jovem mãe! Assim sendo, seria pre- ferível o auxílio supra mencionado!”

  2. Diz Cornélius: “Não resta dúvida; como, porém, a mulher po- deria alcançar tal beatitude?”

  3. Respondo: “Muito facilmente! Primeiro é preciso uma boa educação e ensino completo, que só poderá ser ministrado a uma vir- gem, depois de ter provado sua pureza de sentimentos. Todavia, será também possível ao sexo masculino socorrer e aliviar uma gestante pelo passe”.

  1. PUREZAFÍSICAEPSÍQUICA.CURAÀ DISTÂNCIA

  1. Interrompe Stahar, atento às Minhas Palavras: “Tal atitude não deixaria impuro o homem por um dia, de acordo com as determinações de Moysés?”

  2. Digo Eu: “De agora em diante, nada te maculará, a não ser pen- samentos maus e lascivos, desejos, paixões, má fama, mentira e calúnia, injúria e maledicência. O resto apenas sujará a pele que facilmente pode ser limpa.

  3. Moysés deu aos judeus leis severas, porque alimentavam gran- de tendência para a imundície física, cujos reflexos também prejudi- cam a alma.

  4. A verdadeira higiene psíquica se faz com uma justa penitência, pelo arrependimento dos pecados praticados contra o próximo e o fir- me propósito de se corrigir. Não agindo deste modo, podeis regar com sangue dez mil bodes que representem vossos pecados, amaldiçoá-los e atirá-los ao Jordão, que vossos corações e almas continuarão impuros como dantes. Com a água se limpa o corpo e com a vontade firme e submissa a Deus, coração e alma. Assim como a água fortalece o físi-

co, uma vontade honesta enobrece a criatura. Assim fortificada poderá, então, dar um passe à distância, em Meu Nome, conseguindo o alívio do enfermo.

  1. Quem ainda não se encontrar nesse estado de Graça, poderá recorrer ao passe anteriormente descrito, que levará o doente a estado de êxtase, determinando, também, sua cura. Todavia este tratamento é mais demorado ao ministrado por pessoa renascida em espírito, cujo resultado seria imediato.

  2. Assim, até a alma ignorante duma criança poderá predizer o fu- turo, quando se uniu ao espírito pelo sono sonambúlico. Voltando ao estado anterior, a alma novamente reunida ao corpo, ignorará o que se passou. Isto prova que, por mais pervertida que seja, é ela passível de regeneração.”

  1. UMAPROVADE SONAMBULISMO

  1. (O Senhor): “A fim de vos dar um exemplo, providenciarei a vinda dum homem tolo e mau, de Cesareia Philippi. Algum de vós fará com que caia em êxtase e, então, presenciareis sua profunda sa- bedoria. Quando voltar ao normal, será o mesmo de anteriormente e teremos dificuldades em lhe incutir qualquer conhecimento sobre Deus e o homem.”

  2. Diz Cirenius: “Isto me alegra sobremaneira, Senhor, pois nos proporcionas novos conhecimentos no campo psíquico. Estará aquela pessoa a caminho para cá?”

  3. Digo Eu: “Sim, está à tua procura, a fim de solicitar-te ajuda financeira, pois perdeu um casebre, dois carneiros, uma cabra e um burro por ocasião do incêndio. Informado de tua presença aqui, e sa- bendo socorreres as vítimas, pleiteia indenização. Embora paupérrimo, seu prejuízo não foi tão grande, pois roubara os dois carneiros, precisa- mente, alguns dias antes do incêndio, enquanto os outros animais, há um ano, chegaram da mesma maneira às suas mãos.

  4. Por aí vês ser ele trapaceiro e além disto, muito tolo, defeitos oriundos de sua ganância sem par. Com facilidade poderia ter salvo seus

trastes; preferiu, entretanto, às escondidas, apossar-se de alguma coisa, mesmo por meios ilícitos. Como nada achasse, voltou aborrecido para casa, encontrando o que possuía calcinado no meio das cinzas.

  1. Até hoje chora sua desgraça; há uma hora atrás soube que te encontravas aqui e resolveu abordar-te. Informo-te desses pormenores para teu governo; o resto descobrirás por conta própria.”

  2. Indaga Cirenius: “Devo pagar-lhe alguma indenização?”

  3. Respondo: “É preciso primeiro interrogá-lo de acordo com as leis de Roma; depois poderás agir de modo humano. Zinka está desti- nado a lhe aplicar o passe, porque é detentor de maior força, que ainda aumentará pelo contato de Minhas Próprias Mãos.”

  4. Zinka, que havia ouvido com atenção, adianta-se e diz: “Senhor, que devo fazer, pois desconheço tal tratamento?”

  5. Digo Eu: “Pousa tua mão direita sobre a testa e a esquerda na boca do estômago, que ele cairá em transe, começando a falar, porém, com voz mais fraca do que a usual. Querendo despertá-lo, basta colocar as mãos de modo inverso durante alguns instantes. Assim que voltar a si, retira-as e o tratamento estará finalizado.”

  6. Confiante, Zinka aguarda a chegada de tal homem; todavia, pergunta se deve iniciar, de pronto, os passes. Respondo: “Dar-te-ei aviso; antes, deveis vos integrar da sua imbecilidade, isto é: do estado doentio de sua alma. Depois, quando tivermos ensejo de senti-la forte e sadia, convencer-nos-emos que criatura alguma deve condenar outra por mais corrupta que seja, porque sua alma abriga o germe da vida. Preparai-vos, pois, que ele vem aí!”

  1. OCIDADÃO ZOREL

  1. Mal terminara, chega o homem chamado Zorel, coberto de tra- pos chamuscados, fazendo grande alarido. Digo, então, a Julius que pergunte-lhe o que deseja. Zorel o enfrenta, dizendo: “Sou cidadão de Cesareia, completamente arruinado pelo incêndio e somente hoje fui informado da ajuda prometida pelo Prefeito. Por isto aqui estou e pe- ço-te me digas se não houve engano!”

  1. Responde Julius: “Sim, Cirenius está socorrendo aos prejudica- dos, mas apenas àqueles cuja reputação é incontestável. Se não estive- res nessas condições, nada receberás, pois ele é mui criterioso! Acha-se sentado àquela mesa, à sombra dos ciprestes, dando audiências, onde poderás falar-lhe.”

  2. Zorel reflete um pouco e finalmente resolve ir até lá, porém, co- xeando! Quando acerca-se de Cirenius, faz três profundas reverências. Em seguida, põe-se a gritar: “Nobre senhor e severíssimo soberano! Eu, Zorel, ex-cidadão de Cesareia Philippi, peço-vos uma pequena ajuda em dinheiro e roupas, pois estou reduzido apenas a estes trapos.

  3. Fui proprietário honesto dum casebre e duma pequena lavoura. Minha esposa, perdi-a há dois anos. Não tenho filhos e vivo em compa- nhia duma criada. Meus bens se restringiam a alguns carneiros, velhas ferramentas e alguma roupa. Tudo, porém, foi devorado pelas chamas, enquanto ajudava a debelar o incêndio.

  4. Agora sou mendigo como muitos, pois até minha serva, meu único esteio, abandonou-me, o que não esquecerei! Se um dia tiver a ventura de reaver meus bens, saberei como enxotá-la!

  5. Além do mais fugirei, no futuro, do sexo feminino, pois nada vale! Dizem que sou estúpido, por não saber lidar com o sexo frágil, e que minha mulher morreu de desgosto! Se tal fosse verdade, não teria guardado viuvez perto dum ano, e minha última companheira não teria permanecido, embora mal paga.

  6. Aliás, acho vergonhoso ter o homem nascido da mulher; seria mais honroso se o fosse duma ursa! Neste ponto os deuses cometeram uma falha, além de outras mais. Sou politeísta crente; todavia, cometem muitas tolices como aquela do incêndio, pois se Apollo não tivesse um rendez-vouscom certa ninfa, abandonando seu carro celeste, a tragédia do incêndio não teria sucedido!

  7. Deve-se considerar os deuses apenas quando sábios; agindo como simples mortais, acarretando prejuízo grave para as criaturas, não merecem ser honrados. Tu, nobre senhor, sendo também politeísta, compreenderás minha situação embaraçosa, da qual somente Apollo é responsável! Por isto, peço-te socorro!”

  1. ZOREL EXTERNA SUAS IDEIAS SOBRE A PROPRIEDADE PARTICULAR

  1. Indaga Cirenius: “Quanto desejas?” Responde Zorel: “Nem muito, nem pouco; ficaria satisfeito podendo reaver o que me perten- cia!” Pergunta Cirenius: “Conheces as leis romanas que protegem a propriedade?”

  2. Responde Zorel: “Algumas, que sempre respeitei. A infração contra leis ignoradas é nula. Além disto, sou grego e no meu país não se considera muito a propriedade particular; pois os bens comuns geram amabilidade, amor fraternal, concórdia e honestidade entre as criaturas.

  3. Fossem menos severas as leis que regulamentam a propriedade particular, e haveria menos furtos e fraudes. Sendo este meu princí- pio, não vacilei em me apropriar, ilegalmente, de coisas insignifican- tes. E quem me pedisse algo emprestado, nunca teria de recear minha reclamação.

  4. Meus animais não foram comprados, tampouco roubados, por- quanto os achei na floresta. Seu dono, certamente, é possuidor de gran- des manadas e não foi prejudicado; todavia, foram de muita utilidade para mim. Os judeus admitem, mesmo, a rebusca, lei de autoria do Próprio Jehovah. Por que deveria ser, então, infração para os romanos?! Tu, como dignitário, terás meios para castigar-me; entretanto, não te será possível dobrar meus princípios!”

  1. ZORELOUVEA VERDADE

  1. Diz Cirenius, em surdina e de olhos arregalados: “Senhor, há pouco afirmaste a tolice deste homem que, no entanto, revela-se bom advogado! O próprio roubo foi tão bem defendido que não o posso contradizer.”

  2. Digo Eu: “Calma, Meu amigo, pois ele próprio contestará suas ideias. Prossegue na arguição; quero que aprendais diferençar a astú- cia mental do raciocínio!” Aduz Cirenius: “Ótimo, estou curioso por ver o fim!”

  1. Interrompe-o Zorel: “Nobre dignitário de Roma! Que devo aguardar? Partilhas da minha opinião ou queres que aceite a tua, embo- ra ainda não proferida?”

  2. Responde Cirenius: “Antes de satisfazer-te, temos algo a dis- cutir, pois tua honestidade não me parece integral. Não quero ave- riguar se realmente ‘encontraste’ os animais, perdidos na floresta. Informo-te do seguinte: em nosso meio, existe pessoa clarividente, cuja capacidade foi sobejamente comprovada e, assim sendo, dou-lhe todo crédito!

  3. Tal pessoa anunciou tua vinda antes de teres deixado a cidade e, também, que poderias ter evitado tua desdita se tivesses ficado em casa; mas teus princípios sobre os direitos de propriedade levaram-te a farejar na cidade em chamas. É compreensível que tua empregada te abando- nasse, em tal situação, pois conhece tua índole. Teria ela de restituir-te todos teus bens sob ameaças de maus tratos, porquanto a culparias de tua desgraça! Eis o que me foi dito a teu respeito. Podes defender-te, que te ouvirei com paciência.”

  1. ZORELPEDELIVRE RETIRADA

  1. Diz Zorel, pensativo: “Nobre senhor! Não sei para que me de- fender quando afirmas dar mais crédito a um clarividente, que a nume- rosas testemunhas! Além disto, és detentor de todo poder! De sorte que apenas acrescento: Perdoa-me a queixa enunciada.

  2. Todavia, persisto na minha afirmação, ser mil vezes pior uma propriedade particular, sancionada por leis severas, que a posse comum. Não necessito repetir os motivos. Acrescento apenas, ver-me obrigado a desistir do meu ponto de vista em virtude do poder brutal.

  3. Nas leis de proteção de propriedade não vejo benefício para as criaturas, mas a maior ofensa à razão. Que pode, porém, um homem, isolado e coberto de andrajos, contra milhares?!

  4. Pode-se depreciar o direito legal de posse comum em virtude de pequenos prejuízos, que todavia não estão em relação aos males surgi- dos da posse particular. Tenho dito. Nada de bom me espera em tais

circunstâncias, portanto será melhor eu me retirar. Com tua permissão, naturalmente!

  1. Se achares que eu seja criminoso, castiga-me, mas dá-me a liber- dade, ou a morte! Já não me afeta coisa alguma, pois sou indefeso e vós, romanos, perseguis todo pobre diabo com vossas leis! Dize-me, posso ir ileso ou devo aguardar castigo?”

  1. PREPARATIVOSPARAOTRATAMENTO SONAMBÚLICO

  1. Diz Cirenius, severo, porém amável: “Não deves te afastar, tam- pouco aguardar castigo, mas somente tua salvação. Jamais nos alegra- mos em castigar aos criminosos e muito nos regozijamos, quando se regeneram! Apenas quando reincidem, conscientemente, em ato crimi- noso, podem esperar pena severa.

  2. Tu, porém, levado pela miséria, violaste as leis e te encontras pela primeira vez diante dum juiz. Eis o único motivo porque não serás con- denado; entretanto terás que te modificar bastante! Tua alma bem do- entia será aqui curada e terás de reconhecer o benefício das leis, agindo dentro dos seus princípios. Assim serás libertado, fato que te alegrará.

  3. Para que tua cura psíquica e moral se processe, alguém de nosso grupo te dará um passe. Com esse suave tratamento, teu raciocínio será despertado, facultando-te a compreensão do Bem, derivado do cumpri- mento das leis. Concordas?”

  4. Responde Zorel, mais animado: “Como não? Concordo com tudo que não seja pancada, decapitação ou crucificação! Duvido, po- rém, poderes alterar meus princípios com tal tratamento, pois um tron- co velho não se enverga tão facilmente. Onde está essa pessoa?” Desper- cebidamente Cirenius Me indaga se deve agir.

  5. Digo Eu: “Ainda não; sua alma necessita de algum repouso, por- quanto Zorel está excitadíssimo e seria difícil fazer com que caísse em êxtase. Do mesmo modo, não deve Zinka ser apontado como o escolhi- do para o tratamento. Em tempo vos darei um sinal.”

  6. Todos silenciam por alguns instantes e Zinka mal pode conter a ânsia para entrar em ação. Zorel, por sua vez, conjetura o que lhe suce-

derá. Analisando nosso grupo chega à conclusão de que só poderemos fazer o Bem.

  1. Este preparo é necessário para o êxito completo, pois o “doente” deve sentir fé e confiança, do contrário, não haveria possibilidade de cura, mesmo tendo o outro, rico potencial de forças psíquicas. Outra coisa seria em se tratando dum renascido, que necessitaria para tal so- mente de sua vontade, maneira pela qual também ajo. Agora Zorel está preparado e Eu dou sinal a Zinka para começar.

  1. CONFISSÃODE ZOREL

  1. Imediatamente Zinka se aproxima de Zorel, dizendo: “Irmão, é da Vontade do Senhor, cheio de Misericórdia, Bondade, Amor e Sabe- doria, que eu te cure, apondo-te minhas mãos. Nada temas, tem con- fiança, que em nada serás prejudicado. Permite, pois, que te toque!”

  2. Responde o outro: “Amigo, com tal linguagem podes mandar-

-me até para o inferno, que obedecerei. Inicia, pois, teu tratamento!” Diz Zinka: “Então senta-te neste banco; transmitir-te-ei Fluidos de Deus!” Indaga Zorel: “De qual deles? Zeus, Apollo, Marte, Mercúrio ou Plu- ton? Peço-te não cogitares do último, cuja força titânica me apavora!”

  1. “Não fales tolices”, responde Zinka, “teus deuses existem apenas na tola fantasia das criaturas. Existe um Deus Único e Verdadeiro que desconheceis, muito embora os pagãos Lhe tenham erigido vários tem- plos. Por isso não percamos tempo com futilidades.”

  2. Mal Zinka coloca suas mãos sobre o outro, este cai em transe. Depois de alguns minutos, começa a falar, de olhos fechados: “Meu Deus, que criatura miserável e má sou eu; podendo regenerar-me, só basta querer! Eis a maldição do pecado da mentira e do orgulho que me impede tornar bom!

  3. Minha alma está tão maculada por pecados, que não percebo minha pele; pois acho-me envolto por fumaça densa. Meu Deus, quem me poderia libertar deste peso? Sou ladrão e mentiroso e só abro a boca para positivar a última mentira. Tudo que possuo foi roubado e por intermédio da falsidade!

  1. Se bem que na minha ignorância não considerasse isto pecado, deixei passar muitas ocasiões oportunas sem proferir a verdade. Meu consolo único está em não ter cometido assassínio! Pouco faltou, pois se minha serva não tivesse fugido, teria sido vítima de minha ira diabólica!

  2. Sou um monstro, e com a astúcia da raposa, tornei-me verdadei- ro diabo! Minha alma está seriamente enferma e tu, Zinka, talvez não consigas curá-la.

  3. A neblina agora está se dissipando um pouco mais, e tenho a impressão de poder respirar mais livremente. Nesta crescente claridade percebo, porém, minha figura monstruosa cheia de chagas horripilan- tes! Onde estaria o médico capaz de me curar moralmente, pois minha saúde física é perfeita?!

  4. Se alguém visse minha alma, ficaria estarrecido diante da sua horrível figura. Quanto mais clara é a visão, tanto mais horrenda ela se torna! Zinka, não haveria um meio de melhorá-la?”

  1. PURIFICAÇÃODAALMADE ZOREL

  1. Nesse momento Zorel começa a gemer, dando impressão de querer acordar. Eis que digo aos presentes: “Isto é o início do estado sonambúlico, quando a alma, desprendendo-se de suas paixões carnais e mundanas, é revelada em toda sua crueza, visão que provocou em Zo- rel viva repugnância! Para tais moléstias psíquicas, só há um remédio: o completo conhecimento, profunda repulsa pelas mesmas e, finalmente, a vontade firme delas se livrar. Chegado a este ponto, a cura será fácil.

  2. O sono de Zorel perdurará por mais uma hora e dentro em pouco falará de modo mais coerente e elevado. Caso te faça perguntas, amigo Zinka, responde-lhe pelo pensamento, pois ouvir-te-á perfeitamente.”

  3. Mal termino, Zorel prossegue, dizendo: “Chorei a minha gran- de desdita e, das lágrimas, formou-se um lago, como o de Siloah em Jerusalém. E eu me lavo nessa água, que cura as feridas e chagas da minha alma. Quão benéfico é esse banho! Embora ainda perceba as cicatrizes, o mal já passou! Como teria sido possível se formar um lago de minhas lágrimas?!

  1. É ele circundado por zona maravilhosa: a zona do consolo e da esperança; tenho a impressão de que aqui encontrarei cura completa. A água anteriormente turva, agora é límpida e clara, o que me causa grande bem-estar!

  2. Agora também percebo a manifestação duma vontade, traduzida pelas seguintes palavras: Tenho de agir, porque quero! Quem poderá impedir minha vontade! Quero a Verdade e o Bem, por ser isto o resul- tado de meu livre-arbítrio!

  3. Reconheço a verdade plena, qual luz Divina emanada dos Céus! Nossos deuses são apenas quimeras e tolo é quem neles acredita. Eu, porém, percebo a Luz e o Verbo. Deus Mesmo, todavia, não me é dado vislumbrar, por estar demasiadamente elevado.

  4. Eis que o lago se tornou lagoa e suas águas tocam-me os qua- dris e é limpidíssima; todavia, não abriga peixes; seria difícil, pois eles provêm do Hálito de Deus, mui Poderoso. Eu sou apenas uma alma humana, incapaz de produzir peixinhos do Senhor! A não ser que a criatura seja plena do Espírito Divino e com essa faculdade, poderia produzi-los. Eu, porém, estou longe dessa perfeição.

  5. O fundo da lagoa está coberto de capim vicejante; à medida que cresce, remove a água. A esperança se torna mais poderosa que os conhecimentos e os frutos subsequentes.

  6. Agora vejo um homem, na margem oposta, que me acena! Bem tinha vontade de ir ao seu encontro; mas desconheço a profundidade da lagoa e facilmente poderia me afogar.

  7. Eis que uma voz se faz ouvir do fundo d’água: — Podes trans- por-me sem susto, que sou toda por igual! Vai àquele que te chama, pois te salvará e guiará! Coisa estranha! Aqui, até a matéria fala! Nunca se viu isto!

  8. Animo-me pois, a atravessar o lago em direção daquele ami- go que, tão amavelmente, me chama. Vejo-te atrás da figura dele, mas não és tão simpático quanto ele! Quem será? Tenho vergonha de me apresentar nu, embora meu corpo não mais apresente vestígios de mo- léstia. Se ao menos tivesse uma camisa. Mas..., que fazer? Tenho de ir mesmo assim!”

  1. AALMAPURIFICADARECEBE VESTIMENTA

  1. Como Zorel fizesse pequena pausa, Zinka indaga: “Como é pos- sível ele ver tudo isto e até atravessar a água, quando se acha deitado como morto?”

  2. Respondo: “Sua alma está vislumbrando seu progresso, daí se formar no campo do sentimento um mundo novo, e aquilo que deno- minamos movimento de pensamento, apresenta-se na esfera da alma como mudança de local.

  3. O lago formado por suas lágrimas e que curaram sua psique re- presenta o arrependimento de seus pecados, e o banho, merecida peni- tência e necessário ato de contrição. A água pura aponta a noção de suas falhas, e o fato do lago se transformar em lagoa demonstra a vontade firme de purificação e a busca da cura pelo próprio esforço. A grama vi- cejante, no fundo d’água, demonstra a esperança pela aquisição da saú- de completa e da Graça Divina. Esta última é representada por Mim, na outra margem, como Emanação do Espírito Divino e da Vontade. O caminhar pela água da contrição e do arrependimento representa o progresso da alma no campo de sua regeneração.

  4. Tudo isto é apenas ficção da alma, pela qual reconhece seu esta-

do verdadeiro e o que empreende e faz para seu aperfeiçoamento, isto, exclusivamente pela vontade, sem interferência externa. Esta terá de surgir quando Zorel se achar novamente integrado no corpo.

  1. Dentro em pouco estará a Meu lado, prosseguindo na sua nar- ração. Sede atentos, pois tudo que disser corresponderá ao seu estado psíquico. Surgirá, ainda, muita coisa absurda até que penetre no tercei- ro estado, isto é: na temporária união com seu espírito. Então ouvireis palavras sábias!

  2. Por ora, manifestou-se, apenas, sua alma momentaneamente purificada; no terceiro estado sonambúlico, falará seu espírito! Seu ín- timo não mais apresentará falhas e seu discurso aquecerá vossos cora- ções!” Eis que Zorel se aproxima, dizendo: “Aqui estou, nobre amigo! Que trajetória difícil! Não podes me dar uma camisa? Envergonho-me de estar nu!”

  1. Respondo, visível através do Meu Espírito e Vontade: “Podes deixar a água, pois terás a vestimenta de acordo com tuas obras!”

  2. Diz a alma dele: “Amigo, não fales de minhas obras, pois são todas más. Minha roupagem será então, horrivelmente suja e rota!”

  3. Digo Eu: “Se assim é, temos água de sobra para torná-la limpa!” Opõe ele: “Oh, seria o mesmo que alguém pretendesse clarear um ne- gro! Todavia, será tal vestimenta melhor que nenhuma e, assim, prefiro sair do lago.”

  4. A Meus Pés se acha uma toga pregueada, porém inteiramente suja, embora sua cor original fosse cinza esbranquiçada, particularidade da vestimenta pagã no Além. Zorel apanha a toga com repugnância, volta para a água e começa a esfregá-la até conseguir clareá-la.

  5. Estando, porém, úmida, não se anima a vesti-la. Eu, então, encorajo-o a fazer, lembrando-lhe de que não se intimidara diante da própria água. Ele assim faz e falando em voz alta diz: “É verdade; an- teriormente não me impressionei com o lago, por que deveria temer a camisa úmida?”

  1. OCORPO PSÍQUICO

  1. Nesse instante, Zinka faz a seguinte pergunta, em pensamento: “Mas, então a alma também possui corpo?” Tal indagação se baseava no conceito judaico de ser a alma algo de vaporoso; pois como espíri- to puro, não tem forma, muito embora seja constituída de vontade e intelecto.

  2. Por isto, Zinka arregala os olhos quando o outro lhe responde: “Por certo tem a alma um corpo, se bem que etéreo, mas para ela, este corpo é tão real como a própria matéria. Possui tudo que existe no fí- sico. Não te é possível percebê-lo com olhos carnais, entretanto sinto, vejo e percebo tudo, pois a alma usa dos mesmos sentidos para o inter- câmbio com o corpo.

  3. Os sentidos físicos são as rédeas nas mãos da alma pelas quais domina o corpo, na vida vegetativa. Se ele não os possuísse, seria intei- ramente imprestável e um peso insuportável para a alma.

  1. Imagina alguém, cego e surdo, destituído de qualquer sensação física: qual seria a vantagem que usufruiria a alma num corpo assim dotado? Não se desesperaria em seu estado consciencial?!

  2. De modo idêntico ela não tiraria proveito dos sentidos físicos mais apurados, se não os tivesse em seu corpo psíquico. Assim sendo, ela se apercebe, nitidamente, daquilo que o corpo percebe e assimila do mundo exterior. Daí te convencerás possuir ela um corpo.

  3. Transmito-te este conhecimento que poderás gravar em tua me- mória; eu, ao voltar ao estado anterior, nada saberei a respeito, por tê-lo assimilado apenas com a psique e não com meus sentidos físicos.

  4. Se os tivesse percebido através dos sentidos físicos, estes teriam gravado certas impressões nos nervos cerebrais e no nervo vital do co- ração, e minha alma os encontraria e reconheceria quando novamente integrada no corpo. Como no momento me acho libertado do mesmo, não podendo destarte influenciar seus sentidos, nada saberei depois da- quilo que vejo, ouço, falo e sinto, e o que se passa no meu íntimo.

  5. A alma também possui peculiar capacidade de recordação e pode lembrar-se, minuciosamente, de todos os acontecimentos, porém, somente em estado livre. Achando-se submersa no corpo que a obscu- rece, ela registra apenas as impressões grosseiras, abafando tudo que seja espiritual. De si mesma, não raro, sabe somente que existe sem se dar conta dos pensamentos elevados, ocultos em seu íntimo.

  6. Também és dono duma alma sem conhecê-la, e isto porque se acha temporariamente envolta na carne. Somente agora, depois de eu ter através de minha voz, impressionado os nervos da parte inferopos- terior da tua cabeça, e de tua alma a ter registrado, em seu centro emo- tivo, sabes, por ela, que tens uma psique de acordo com teu pensar e querer, e possuir ela a mesma forma que teu físico.”

  1. AALMADEZORELACAMINHODA RENÚNCIA

  1. (Zorel): “Eis que tal amigo me diz: ‘Vem, Zorel, levar-te-ei para outra zona!’ Caminho, pois, com ele através de uma alameda deslum- brante e as árvores se curvam diante dele. Deve ser muito elevado e

grande no Reino dos Espíritos, pois algumas árvores se envergam até quase ao solo!

  1. Tu, Zinka, nos acompanhas; tens aparência nebulosa e não te apercebes do que se passa. Que mundo estranho! Até as próprias árvores falam e dizem sussurrando: ‘Salve, ó Santo dos santos! Salve, Rei dos reis de Eternidades em Eternidades!’ Não achas isto muitíssimo estra- nho?! Todavia, ages como se este fato fosse coisa corriqueira!

  2. O amigo homenageado me diz não seres tu mesmo quem nos segue, mas uma imagem de tua alma. Ela projeta certas irradiações lu- minosas; quando atingem nossa aura, adquirem forma de modo seme- lhante à imagem que se refletisse na face dum espelho. Prova isto, não estares caminhando, mas flutuando à altura de sete pés. Agora compre- endo porque não vês as árvores curvarem-se e não as ouves falar!

  3. Neste instante, a alameda se torna mais estreita e as árvores mais baixas; entretanto, a extraordinária manifestação continua. O caminho se torna mais difícil, cheio de espinhos e abrolhos e mal podemos andar! Não vejo o fim, embora o amigo afirme estarmos chegando. Oh! Agora o solo está completamente juncado de pedras e espinhos, quase nos impedindo de prosseguir.

  4. Indago, então, do amigo porque havíamos encetado tal trilha, e ele me diz: ‘Olha à esquerda e à direita que descobrirás um mar profun- do! Isto aqui é o único lugar firme, não obstante perigoso e cheio de es- pinhos, dividindo ao meio estes dois mares imensos. Ele une o mundo terreno ao grande Paraíso dos bem-aventurados. Quem lá quiser chegar, deverá percorrê-lo.’

  5. Tu, Zinka, concordarás ser bem estranha tal resposta. Por isso indago novamente: ‘No mundo também existem muitos caminhos ruins, mas os homens procuram melhorá-los. Por que não se adota o mesmo sistema aqui?’

  6. E o amigo responde: ‘Por ser precisamente este espinheiro a pro- teção do cabo contra as ressacas impetuosas. Suas vagas enormes nele se quebram e lá deixam sua espuma que, pouco a pouco, torna-se pedra, firmando esta parte importante. Este cabo chama-se Humildade e Ver- dade Básica; ambas têm sido, até hoje, semeadas de espinhos!’

  1. As palavras do amigo, Zinka, levaram-me luz ao coração, onde sinto se localizar uma forma, qual embrião no corpo materno. Esta luz aumenta mais e mais e deve ser a centelha divina no coração humano. Que grande Bem isto me faz!

  2. Continuo, ainda, caminhando na mesma trilha; seus espinhos, porém, não me confundem nem me magoam. Agora sua densidade diminui, as árvores têm o mesmo tamanho anterior e se forma nova alameda. O cabo se alarga cada vez mais e vejo, à longa distância, uma paisagem maravilhosa, com montanhas verdejantes, onde surge a al- vorada! Ainda nos encontramos na alameda imponente e as árvores frondosas continuam curvando-se em veneração, sussurrando quais harpas sublimes!

  3. Oh, Zinka, se pudesses vislumbrar este quadro! Continuas, po-

rém, silenciosamente em nosso encalço, no que não tens culpa. Meu amigo, agora, afirma que, em tempo, ser-me-á dada a recordação de tudo isto; terei, todavia, de sofrer em vida, as penas deste caminho pedregoso.”

  1. ZORELNO PARAÍSO

  1. (Zorel): “A minha luz interna se intensifica e penetra todo o meu ser! Que bem-estar indefinível sinto! Vejo a luz na forma duma criança de quatro anos e de expressão mui amável. Deve ser bastante sábia e se parece com uma estampa maravilhosa do Verdadeiro Deus dos judeus. É a cópia fiel da Verdadeira Divindade!

  2. Começo a reconhecer a Existência de Um só Deus; e somente os de coração puro verão o Seu Semblante! Jamais me será conferida esta Graça, pois meu coração já estava impuro! Tu, sim, amigo Zinka, pois nele nada descubro de mácula, a não ser a sombra e o fio pelos quais te achas preso ao mundo.

  3. Só agora vislumbro, ao longe, o final da aleia. Do mar não há mais vestígios; por todos os lados se apresenta um continente fértil e vicejante; jardins e mais jardins! Palácios e palácios! Meu amigo me esclarece ser isto o Paraíso.

  1. Mortal algum, até hoje, penetrou no Céu, pois não foi ainda construída a ponte que estabelece a ligação. Todos os justos que vi- veram desde o início da Criação permanecem aqui com Adam, Noé, Abraham, Isaac e Jacob. Aquelas montanhas são as fronteiras deste país maravilhoso. Quem as galgasse poderia vislumbrar o Céu com a imensa falange dos anjos de Deus, sem poder ali ingressar, até que fosse cons- truída uma passagem sobre o tremendo abismo.

  2. Movimentamo-nos tão rápidos como o vento. O ser luminoso, dentro de mim, já alcançou o tamanho dum menino de oito anos e tenho a impressão de que seus pensamentos me atravessam qual raios. Sinto sua incompreensível sublimidade e profundeza; todavia não abarco suas formas. Devem conter algo excelso e cada pensamen- to me transporta a êxtase indescritível! A Terra toda não faz ideia do que seja, também não lhe é facultada! Ela é um julgamento da Graça Divina, entretanto, um julgamento, onde as Graças são parcamente distribuídas.

  3. Aproximamo-nos das montanhas colossais e tudo se torna mais

encantador! Que multiplicidade de milagres! Nem mil anos dariam para descrevê-los! Naquelas montanhas habitam pessoas de rara beleza, que todavia, não nos percebem, entretanto, as próprias árvores cumpri- mentam o meu amigo! Que povo estranho!

  1. Nesse instante alcançamos o cume de elevada montanha! Meu Deus, meu Deus, vislumbro lá ao longe um horizonte claríssimo, onde deve começar o Céu de Deus que se estende ao Infinito!

  2. Entre cá e lá se abre um abismo maior que a distância entre o Sol e a Terra! Aí deve ser construída a ponte, o que para Deus é bem possível!

  3. Agora meu duplo luminoso atingiu o mesmo tamanho que eu, e coisa singular, estou ficando sonolento e o amigo me ordena que me deite sobre a relva perfumada!”

  1. RELAÇÃOENTRECORPO,ALMAE ESPÍRITO

  1. Digo Eu: “Agora entrará no terceiro estado sonambúlico, pres- tai, pois, atenção às suas palavras!”

  2. Indaga Cirenius: “Senhor, que se passa quando Zorel adormece na relva que é, entretanto, invisível? Não poderia alcançar tal estado sem este fato?”

  3. Respondo: “Sim, se sua alma fosse pura; mas enquanto se acha presa ao corpo por vários laços, preciso é que se dê certo aturdimento quando então é transportada a outra esfera. Aquilo que a alma de Zorel viu e disse, em seu segundo estado de êxtase, era apenas ficção. Agora entrará na visão real e tudo que disser será realidade.”

  4. Prossegue Cirenius: “Que vem a ser o sono e como se processa?”

  5. Digo Eu: “Já que fazes questão de sabê-lo, responderei agora. Se usas uma vestimenta, ela vive pelos movimentos que fazes, isto é, sub- mete-se à tua vontade, assim como teus membros obedecem à vontade da alma. Ao tomares um banho tiras tua roupa, por desnecessária. En- contra-se ela neste período num repouso completo. Ao saíres do banho, readquirirá a movimentação anterior e viverá, de certo modo, contigo. Por que te despiste durante o banho? Por ter sido tua roupa pesada, provocando-te pressão. Como te fortaleceste no banho, ela te será leve como pluma.

  6. Quando tua alma se tornou cansada e fraca pela luta do dia,

desperta nela a necessidade dum repouso reparador. Despe, assim, sua roupagem física e se dirige a um banho fortificante de água espiritual onde se purifica e revigora. Alcançado isto, volta à sua vestimenta mate- rial, sendo-lhe fácil a movimentação de seus membros pesados.

  1. Por certo percebeste, através do relato de Zorel, ter surgido uma individualidade luminosa no coração de sua alma, estando ela na mes- ma conexão que existe entre alma e corpo. Tal individualidade jamais havia recebido um estímulo em sua alma, que representa sua roupagem. Repousava no coração da psique, como o ovo no ventre materno, antes da fecundação. Através deste tratamento especial, tendo por veículo a Minha e a palavra de Zinka, o gérmen de origem primária foi por mo-

mentos despertado e vivificado, e cresceu até que sua alma, isto é, sua vestimenta, fosse preenchida pelo espírito.

  1. A alma, porém, muito embora purificada no que é possível, contém certas partículas materiais, demasiadamente pesadas para o espírito, jamais treinado para suportar este peso. Esta individualidade espiritual, apenas artificialmente desperta e obrigada a um crescimento forçado, é ainda muito fraca para carregar a alma e, portanto, ávida de repouso e fortalecimento. Este aparente sono da alma na relva, nada mais é que o despir do espírito das partículas materiais de sua alma. Conserva somente aquilo que lhe é afim na psique, enquanto o resto tem de repousar, assim como o corpo descansa quando sua alma se fortifica, ou, quando tua roupa se acha inerte no momento em que, por um banho salutar, proporcionas alívio ao físico.

  2. Todavia, perdura, durante este estado, uma união com as partes

mais grosseiras. Se, por exemplo, alguém viesse durante o teu banho e se apoderasse de tua roupagem, a fim de destruí-la, teu amor natural para com ela protestaria contra tal usurpação. Uma união muito mais íntima existe entre corpo e alma, e quem tentasse, antes do tempo, rou- bá-lo e destruí-lo, seria mal recebido por ela.

  1. O laço que une espírito e alma é mais poderoso ainda, por- quanto ela própria — mormente em se tratando duma alma pura — é um elemento de origem espiritual, e o espírito reagiria violentamente se houvesse tentativa de roubo. Imediatamente se incendiaria, aniquilan- do tudo que dele se achegasse.

  2. A alma, no entanto, terá de se despojar de tudo que seja maté- ria, a fim de que o espírito possa se apoderar daquilo que nela lhe é ho- mogêneo, tornando-se assim um ‘eu’ perfeito. A parte material da alma se apresenta ao espírito como roupagem da mesma. Lembras-te de que Zorel falava duma camisa impura por ele lavada no lago, e que vestiu ainda úmida? Tal roupagem é precisamente a parte externa da alma que necessita repousar, para que o espírito nela penetre e a ela se una.

  3. Este processo sempre requer certo tempo, porque tudo perten- cente à própria vida livre (alma) deve entrar em união perfeita (matri- mônio espiritual) com a entidade nova e sublime, antes que o novo ho-

mem, ou seja, a criatura renascida e munida dos sentidos, possa surgir por conta própria. Esta transplantação espiritual se faz durante o sono, no qual Zorel ora se encontra; chegado este momento, tudo foi feito para o aperfeiçoamento espiritual, não mais necessitando de outro para sua subsistência em espírito.

  1. Apenas pelo conhecimento, na perfeição do puro amor e na sabedoria celeste, em seu poder organizador, administrador e regente, existe um crescendo para o Infinito e como consequência, felicidade sempre maior. Zorel dentro em breve se apresentará como espírito per- feito, transmitindo de viva voz aquilo por que passou!”

  1. ZORELVISLUMBRAA CRIAÇÃO

  1. Durante Minha Palestra com Cirenius, Zorel permaneceu como morto. Em seguida, começa a se mexer e toma a expressão transfigu- rada, despertando grande admiração aos próprios soldados, e um deles diz: “Este homem se assemelha a um deus adormecido!”

  2. Finalmente, Zorel abre a boca e diz: “Somente aquele que é per- feito reconhece Deus, amando-O e adorando-O!” Segue-se uma pausa. Prossegue então: “Todo o meu ser é luz e não percebo sombra nem mesmo fora de mim, porquanto a luz me inunda. E nesta profusão luminosa vejo um facho radioso qual Sol, onde Se mostra o Senhor!

  3. Anteriormente, julgava ser meu amigo e guia, apenas uma alma humana como nós. Só agora O reconheço; não Se acha comigo, mas vejo-O naquele Sol. Inúmeras falanges de espíritos flutuam a Seu re- dor, em círculos variados! Que Majestade indefinível! Oh criaturas, ver Deus e amá-Lo sobre todas as coisas é máxima ventura!

  4. Penetro, igualmente, nas profundezas da Criação do Deus Úni- co e Poderoso. Vejo nosso planeta com todas as ilhas e continentes, a profundeza dos mares e seus habitantes. Que variabilidade infini- ta de seres!

  5. Percebo o trabalho dos pequeninos espíritos na formação do reino vegetal, idêntico ao constante labor das abelhas nos favos da col- meia, instigadas pela Vontade do Todo Poderoso. Ele, que foi meu ami-

go e guia na estrada espinhosa da minha provação, ora habita naquele Sol imensurável, donde emana Sua Vontade Infinita!

  1. Ele, somente, é o Senhor, e tudo tem de se submeter à Sua Von- tade; pois nada existe que se Lhe pudesse opor. Seu Poder tudo abrange e Sua Sabedoria é insondável. Tudo no Espaço Infinito Dele deriva, e percebo como irradia forças semelhantes aos raios solares na aurora, que se projetam em todas as direções; onde um raio em algo toca, manifes- ta-se a vida, fazendo surgir novas formas. A forma humana é o final de Sua Criação e todo o Céu, cujos limites somente Deus conhece, repre- senta um homem, assim como cada comunidade de anjos, também é um homem perfeito.

  2. Eis um grande mistério de Deus, e quem não tiver alcançado

o meu estado atual, não poderá compreendê-lo; pois apenas o espírito puro, provindo de Deus, assimila o que é espiritual, sua constituição e o porquê de tudo. Nada existe no Infinito que não tenha sido destinado à criatura; tudo se concretiza na necessidade temporária e eterna.”

  1. ANATUREZADOHOMEMESEUDESTINO CRIADOR

  1. (Zorel): “Deus Mesmo é o Homem Original mais Perfeito e Eterno; Sua Natureza é fogo, cujo sentimento é Amor; Luz, cuja ema- nação é Sabedoria, e uma projeção de calor, cujo sentir é a Mesma Vida na esfera perfeita da Própria Consciência. O fogo se tornando mais forte, intensifica, igualmente, a Luz e o Calor criadores, projetando-se em todo o Infinito. A Criação assim surgida, assimila cada vez mais Luz e Calor, tornando-se apta a novas formações. Tudo se multiplica, projetado do Fogo, da Luz e do Calor originais, preenchendo o Espaço.

  2. Tudo, portanto, se origina da Individualidade de Deus e se de-

senvolve até se tornar semelhante ao Espírito do Homem Original, per- manecendo, então, em plena liberdade na forma humana.

  1. Onde se manifesta luz, fogo e calor, apresenta-se também o homem, perfeito ou em início de sua carreira evolutiva. Milhões de átomos se manifestam; os corpos isolados se atraem, transformando-

-se num de maior semelhança à forma humana. Este ser projeta maior

quantidade de luz e calor, e com isto se apresenta necessidade mais forte de progresso. Imediatamente as múltiplas formas rompem a membra- na, se bem que em estado de evolução, atraem-se e se enfeixam numa outra, através da substância advinda de sua vontade, para a projeção duma criação mais aperfeiçoada. Este ato evolutivo perdura até alcançar a forma humana, onde ora me encontro, sendo idêntico à luz e ao calor originais, isto é: semelhante a Deus, que vislumbro neste instante em Sua Luz Original: o Fogo e o Calor plenos, — a Própria Divindade.

  1. Por isto, é o homem primeiramente homem por Deus, e só de- pois, homem por sua própria evolução. Enquanto existe como ema- nação da Divindade, assemelha-se a um embrião no ventre materno; só quando aceita a Ordem Divina, torna-se criatura íntegra, capaz de alcançar Sua Semelhança. Atingido este estado, é ele eterno como Deus, e criador de outros mundos e seres. É estranho que veja todos os meus pensamentos, sentimentos e desejos, recebendo um invólucro através de minha vontade. Deste modo se efetua a Criação até ao Infinito!

  2. O amor manifestado como calor necessita de polarização; quan-

to mais poderoso é este sentimento e sua produção de fogo e calor, tanto maior sua luz.

  1. A exigência do amor se expressa em imagens luminosas. Essas, porém, surgem e se desvanecem como os quadros que a fantasia gera, enquanto a pessoa se encontra de olhos fechados. Outras se apresen- tam maiores e inclinadas à projeção de estruturas mais concretas. Na criatura renascida — meu estado atual — o pensamento é fixado, por- que atingido pela vontade, recebe rápida membrana, não sendo mais possível alterar sua forma. Essa membrana de qualidade extremamente etérea, permite a infiltração de maior calor e luz por parte de quem a projetou. Essa influenciação aumenta luz e calor do pensamento origi- nal, começando a se desenvolver mais e mais e será, de acordo com a sabedoria e o conhecimento plenos, coordenada em todas as partículas e derivações. Uma vez alcançando o pensamento sua ordem orgânica, começa a se manifestar vida própria e consciente.

  2. É compreensível possa uma individualidade renascida projetar,

em tão poucos instantes, um sem número de ideias e pensamentos.

Querendo fixá-los com sua vontade, perdurarão e se desenvolverão, tornando-se, finalmente, semelhantes ao seu criador em sua máxima perfeição, onde projetarão seus similares, produzindo multiplicidade infinita, pela mesma forma projetada. Disto já temos exemplos concre- tos no mundo material.

  1. Encontrais a autoprocriação no reino vegetal e animal, e até nos corpos cósmicos. Todavia, tal procriação é limitada: duma determinada espécie de semente se reproduz um número exato de outras. O mesmo acontece com os animais, isto é: quanto maior a espécie, tanto mais re- duzida a prole. De modo idêntico no homem, e mais ainda nos corpos cósmicos. No Reino dos espíritos, porém, não existe limitação no sentir e pensar. Sendo possível a todo pensamento e ideia serem fixados pela vontade de quem os projetou, compreende-se jamais ter fim a procria- ção dos seres.

  2. Tu, Zinka, indagas no teu íntimo onde finalmente se localizará

neste crescendo. Amigo, considera apenas ser infinito o próprio Espaço e se fosses eternamente criar milhões de sóis a cada instante, estes gira- riam de modo tão rápido pelo Espaço, nele perdendo-se como se nunca tivessem sido criados! Ninguém compreende a Eternidade do Espaço Infinito, nem os próprios anjos, muito embora estremeçam diante de sua profundeza!

  1. Vislumbro com os olhos da alma o Todo da Criação! Toda essa nossa constelação com suas inúmeras estrelas, entre as quais existem galáxias que comportam bilhões de sóis e planetas, — nada represen- ta comparada ao Imenso Todo! Posso, todavia, afirmar haver algumas, cujo diâmetro ultrapassa milhões de vezes a distância daqui à estrela mais longínqua.

  2. Esses corpos são imensos, entretanto apresentam-se à tua vista como meros pontinhos luminosos! Poderias criar um bilhão de sóis com seus planetas, luas e cometas, e distribuí-los nessa nossa galá- xia, que a preencheriam tanto quanto uma gota d’água aumentaria o mar. E bilhões vezes bilhões de galáxias, tampouco seriam percebidas no que diz respeito ao Espaço, como bilhões de gotas de chuva no imenso oceano.

  1. Observa a Terra! Embora milhares de córregos, rios e torrentes caiam no mar, este de modo algum é aumentado; calcula o surgimento de inúmeras criações, que elas também se perderão no Espaço Infinito. Por isto não te preocupes com o possível excesso de seres no campo da Criação, pois no Infinito existe Espaço Eterno e Deus é bastante Pode- roso para prover sua manutenção e destino.”

  1. OSPROCESSOSEVOLUTIVOSEMA NATUREZA

  1. (Zorel): “Afirmo-te, Zinka: Tudo que pensaste, falaste e fizeste em tuas diversas encarnações é registrado no Livro da Vida. Trazes um exemplar no cérebro de tua alma, enquanto o original se acha aberto diante de Deus. Quando tiveres alcançado a perfeição — como ora me acho perfeito — saberás de tudo que se passou contigo. Alegrar-te-ás com aquilo que foi bom; pelo teu desvio da boa ordem, não sentirás propriamente tristeza como homem perfeito que és; mas reconhecerás a grande Misericórdia e os Sábios Desígnios de Deus. Isto te fortalecerá no amor a Deus e na máxima paciência para com os irmãos fracos e imperfeitos, que Ele encaminhará para tua proteção, aqui ou no Além.

  2. De tais pensamentos registrados surgirão, futuramente, novas

criações de variados matizes. São entregues ao fogo solar, a fim de al- cançarem certa maturação e depois serem expelidos violentamente no Espaço, aí alcançando, pouco a pouco sua emancipação. Nesses mun- dos recém-nascidos se desenvolvem, sucessivamente, muitos milhares de pensamentos e ideias, como as sementes deitadas no solo através da força germinativa atuando em seu centro e servindo de núcleo para a posterior formação de seres minerais, vegetais e animais, cujas almas, mais tarde, transformar-se-ão em almas humanas.

  1. Tais mundos neocriados podem ser avistados, em maior par- te, nas estrelas nebulosas e cadentes que rasgam a abóbada celeste. Sua origem deriva dos pensamentos, ideias e ações registrados no Li- vro de Deus.

  2. Por aí vês que mesmo o mais leve pensamento — aqui ou em outros mundos — jamais se perderá. E os espíritos criadores dum novo

planeta, surgido pela Vontade de Deus, compreendem ser ele sua pró- pria obra, pois se encontram em estado perfeito, aceitando venturosa- mente a direção, desenvolvimento, vivificação completa e a organização interna daquele corpo cósmico e de seus futuros habitantes.

  1. Ao observares nossa Terra, vês apenas a matéria, enquanto que distingo os seres algemados, seu desenvolvimento progressivo em for- mas úteis e os inúmeros espíritos de várias categorias, numa atividade incessante.

  2. Em cada gota de orvalho pendente na ponta duma erva, vejo miríades de seres se movimentarem! A gota d’água é apenas a primeira manifestação dum pensamento divino. Os pequeninos espíritos (ele- mentos) nela algemados, isolam-se nu’a membrana peculiar e assim criam existência mais definida e bem diversa da original. Por este pro- cesso desaparece a gota d’água, e suas formas neocriadas, espalham-se por sobre a planta. Aí se atraem, tomando forma diferente e cem mil se formam numa individualidade. Esta é envolvida em nova membrana que, pela influência de luz e calor, se transforma num organismo útil para nova criação. Eis que este ser entra em atividade preparatória para outra transformação, mais evoluída. E assim é a atividade dum ser já encapsulado em qualquer forma para o preparo de outra, mais elevada e perfeita, a fim de concretizar os elementos psíquicos e, finalmente, a vida espiritual, na forma humana.

  3. Poderia revelar-te muita coisa sobre a Ordem provinda de Deus;

sinto, escoar-se o prazo desse meu aperfeiçoamento. Por isto acrescento o pedido de usares de paciência quando voltar a ser o mesmo homem ignorante e aborrecido, conduzindo-me ao caminho certo; pois nada disto que ora te revelei, ficará na minha memória, no entanto, ser-me-á de grande utilidade.

  1. Por certo, meu espírito, levado à perfeição pela força, cansar-se-á deste estado insólito, manifestando pouco interesse. O atual repouso, porém, fortificá-lo-á, despertando-o e fazendo com que sinta a necessi- dade da verdadeira perfeição da vida que ora pude saborear, e tudo fará para o rápido progresso da alma em sua maturação dentro da Verdade, e na capacidade justa de unir-se ao espírito.

  1. Novamente adormecerei por meia hora, finda a qual, deves fa- zer com que eu desperte pelo apor em sentido contrário de tuas mãos; uma vez despertado, não me deixes afastar até que tenha descoberto o Homem dos homens, nesta mesa! Pois é o Mesmo que ora vejo no Sol do Reino Eterno dos Espíritos! Agradeço-te pela caridade com que me trataste!”

  1. NÃO JULGUEIS!

  1. Após estas palavras Zorel adormece; Zinka, porém, exclama: “Que revelações extraordinárias! Se tudo for verdade, teremos ouvido o que profeta algum jamais sonhou! Estou completamente confundido pela sabedoria deste homem!”

  2. Concorda Cirenius: “Realmente, coisas tão sublimes nunca fo- ram imaginadas. Os ensinamentos de Mathael eram bem profundos; Zorel, porém, ultrapassa-o! Se lhe fosse possível repeti-los em estado de consciência, fá-lo-ia sentar num trono, a fim de que pregasse à Huma- nidade os meios necessários para a aquisição da Verdadeira Vida!”

  3. Digo Eu: “Muito bem, amigo Cirenius! Por ora, é imprescindível não o que Zorel externou no terceiro estado sonambúlico, mas que futu- ramente não condeneis alguém só pelo fato de ser uma alma doentia. To- dos vós presenciastes habitar um espírito numa alma mui enferma; se ela for curada pelo vosso amor ao próximo, tereis conseguido um prêmio, que o mundo jamais vos poderá oferecer. Acaso seria possível determinar o benefício que tal homem renascido poderia fazer?! Isto se passa desper- cebido ao vosso conhecimento; Eu, porém, sei que vale a pena tal esforço!

  4. Por isto vos digo: Sede sempre misericordiosos para com os cri-

minosos e pecadores; pois só é possível pecar uma alma doente, e o pecado é a consequência de sua enfermidade.

  1. Quem de vós poderia julgar ou condenar alguém pela infração de um dos Mandamentos, quando todos vos achais sob a mesma lei?! O Meu Mandamento reza, justamente, que não deveis julgar o próxi- mo! Se assim fizerdes, pecais, igualmente, contra Mim. Como poderíeis condenar alguém se sois pecadores idênticos?! Não sabeis que ao im-

pordes uma pena severa a vosso irmão, psiquicamente enfermo, tereis pronunciado vossa própria condenação, duplicando suas penas a serem expiadas no Além e, muitas delas, ainda em vida?!

  1. Se entre vós existe pecador com função de juiz, que renuncie à profissão pois, pela condenação aplicada ao semelhante, acarretará, para si, duplos sofrimentos, dos quais será mais difícil se libertar do que o réu. Poderia um cego guiar outro a caminho certo?! Ou poderia um surdo relatar algo sobre os efeitos das harmonias da música?! Ou um coxo prometer a um semelhante: Vem, infeliz, levar-te-ei ao albergue!

— Não cairão ambos dentro da vala?!

  1. Por isso gravai bem: Não deveis julgar quem quer que seja, e recomendai isto aos vossos futuros discípulos! Pelo cumprimento de Minha Doutrina fareis anjos das criaturas ou então demônios e juízes de vós próprios.

  2. No mundo não existe pessoa perfeita; quem, todavia, possuir maior compreensão de sentimentos e capacidade intelectual, deve ser guia e médico de seus irmãos enfermos, e o forte deverá amparar o mais fraco, do contrário ambos sucumbirão!

  3. Proporcionei-vos exemplo nesse sentido através do relato de Zo- rel, a fim de que possais reconhecer o erro de condenardes um crimino- so à vossa moda! Tal sistema será o dominante no mundo e dificilmente se destruirá, completamente, o dragão da tirania, tornando-se a Terra palco de provações para Meus futuros filhos; em vosso meio, porém, não deve ele vigorar porque os Céus vos cumularam de frutos providos de fartas sementes.

  4. Se neste momento saboreais os frutos de Meu Zelo, não esque- çais lançar suas sementes nos corações alheios para que colham com fartura. A maneira pela qual ocorre este fato vos foi demonstrada niti- damente. Fazei o mesmo que sereis aptos a projetar nova vida, fazendo jus à Vida Eterna em sua plenitude!

  5. Agora chega o momento em que tu, Zinka, deves apor tuas mãos em Zorel, a fim de que desperte; quando voltar a si, Marcus lhe poderá dar um pouco de vinho diluído para revigorar seu físico. Exter- nando-se ele como dantes, não vos aborreçais e tampouco lembrai-lhe o

que disse em estado de êxtase, pois poder-lhe-ia causar dano físico. Pou- co a pouco podeis indicar-lhe Minha Pessoa; muita cautela, porém, pois um choque nesse sentido anularia todo esforço até agora empregado!”

  1. MATERIALISTADE ZOREL

  1. Zinka então apõe suas mãos em Zorel e ele desperta de pronto. Marcus em seguida lhe oferece uma grande taça de vinho diluído que Zorel toma com avidez, pedindo outro tanto. Permito-o sob condição de conter mais água do que vinho. Assim refeito, Zorel começa a nos observar, um a um. Não tirando os olhos de Mim, diz após alguns ins- tantes: “Zinka, aquele homem não me é estranho e quanto mais o fito, mais me convenço tê-lo visto alhures. Dize-me quem é!”

  2. Responde Zinka: “É filho dum carpinteiro de Nazareth e um curador habilidoso. Seu nome corresponde a seu caráter, pois se chama ‘Jesus’, isto é: Salvador de alma e corpo. Seu Poder de vontade é insupe- rável e Seu saber angelical!”

  3. Diz Zorel, em surdina: “Isto tudo não me esclarece o motivo por que tenho a impressão de conhecê-lo e ter viajado em sua companhia, todavia, não me recordo desse fato. Explica-me isto!”

  4. Responde o outro: “Muito fácil; tiveste talvez um sonho, do qual apenas tens uma fraca recordação.”

  5. Diz Zorel: “Podes ter razão, pois nunca vi aquele nazareno. Agora outro assunto; eu aqui vim para receber um auxílio do Prefei- to. Achas que me atenderá? Se nada tiver de esperar, poderias intervir em meu favor, fazendo com que me dispense. Que farei aqui? Nada me interessa desta controvérsia teosófica; pois minha filosofia se baseia em a Natureza que se renova constantemente. Além disto, defendo o ponto de vista de serem comida e bebida, os fatores mais importantes para a vida.

  6. No que diz respeito às artes e ciências, não sinto necessidade

de aumentar meus conhecimentos; portanto seria tolo de minha parte permanecer aqui para me inteirar de teses profundas, difundindo-as em outras plagas, tornando-me importante.

  1. Sinto verdadeira repugnância pelas leis humanas que apenas vi- sam cercear a liberdade alheia, e se eu fosse mais inteligente, saberia dos motivos de tais injustiças, o que por certo não aumentaria minha felicidade.

  2. Amigo, a pessoa que quisesse viver como dono de todas as ma- ravilhas do mundo, teria de arcar com a miséria do próximo, e seus tiranos bem mereceriam castigo severo. Mas quem seria seu juiz?! Aos miseráveis interessa a destruição, pois quando deixam de existir, leis, perseguições e penas, não têm mais efeito! Eis minha convicção, que dificilmente poderá ser contestada! Ninguém pretende ouvir a Verdade; todos se enleiam em fantasias e se julgam felizes.

  3. Intoxicai-vos, miseráveis, com o veneno da mentira e dormi sob o doce peso da loucura, se isto vos faz feliz! Deixai-me saborear o meu furto, que nada vos faço. Dai-me do vosso supérfluo apenas aquilo que me foi tirado pelo incêndio. Se, como sempre, nada me pretendeis dar, permiti ao menos que me retire e colha alguns feixes de gravetos para aquecer-me como animal. Se quiserdes infelicitar-me mais do que sou, matai-me agora mesmo! Caso contrário, eu mesmo saberei fazê-lo!”

  4. Intervém Zinka: “Em absoluto deves pensar de tal modo! Pois,

enquanto dormias, Cirenius tomou as providências necessárias em re- lação ao teu futuro, mas isto, só depois de reconheceres ser falha tua convicção ora externada. Aceita melhor orientação, que serás feliz!”

  1. ZORELCRITICAMORALE EDUCAÇÃO

  1. Antepõe Zorel: “Tuas palavras soam bem amáveis e estou con- victo da tua sinceridade; mas..., que orientação deveria aceitar?! Dois mais dois são quatro, e eu seria tolo supor que fossem sete; portanto acho difícil mudar minhas convicções.

  2. Ninguém poderá negar um Poder inteligente e eterno donde se derivam todas as manifestações de vida. Quão ridículo, porém, as criaturas ignorantes admitirem tal Onipotência numa forma humana e, às vezes, até animal!

  1. Se os judeus tivessem permanecido em sua doutrina antiga, te- riam finalmente, uma ideia razoável da Divindade que denominam ‘Jehovah’. Desvirtuaram-na completamente, superlotando seus templos com imagens e ornamentos ridículos e os próprios sacerdotes punem os fiéis que não aceitam tais baboseiras. Acaso deveria eu me tornar judeu, nestas condições?!

  2. Consta terem eles recebido Leis da Própria Divindade, cujo cumprimento seria o meio para a conduta certa do homem. De que adianta proibir roubo e fraude aos pobres, enquanto se ludibria e furta o próximo como detentor do trono da Glória?!

  3. Se um pobre coitado é forçado a se apossar daquilo que o rico tem em abundância, ele é chamado à responsabilidade e castigado com rigor. O legislador que pratica tais infrações a toda hora, está acima das leis e só acredita em seu lucro. Poderia tal conceito ter ori- gem divina?!

  4. O próximo não me deveria querer aplicar aquilo que não fosse de seu agrado, pois se a miséria me leva a mendigar e ninguém me atende, seria justo condenar-me se me aposso daquilo de que necessito?! Ainda se fosse levado a assim agir pelo ócio, a lei seria aplicável; não que queira caluniar uma sábia lei, todavia não consegue ela melhorar a índole humana.

  5. Além do mais, é injusta a lei de prisão contra a moral sem co- gitar da natureza, tempo e inclinação do homem. Basta considerar as circunstâncias que, muitas vezes, influenciam ambos os sexos. Na maior parte trata-se de pessoas sem educação e orientação. Alimentam-se, não raro, de coisas que estimulam seus instintos e até conseguem satisfazê-

-los. O caso se torna, porém, conhecido e o pecador é castigado por ter infringido uma lei divina!

  1. Tolos que sois com vossas leis! Não seria ridículo o jardineiro que principiasse a envergar as árvores com toda sorte de estacas, após terem alcançado certa altura? Assim sendo, por que Deus — ou Seu suposto profeta — não proporciona inicialmente uma educação sábia, para depois determinar o cumprimento de seus Mandamentos?! Fala, Zinka, se tenho razão em meu ponto de vista.”

  1. Responde este: “No fundo não te posso contestar, amigo Zorel; todavia, asseguro-te existirem coisas estranhas de cuja realidade não fa- zes ideia. Só quando te tiveres compenetrado do porquê, reconhecerás quanto de bom e verdadeiro repousa em tuas afirmações.”

  2. Diz Zorel: “Externa-me tua opinião caso não concordes.”

  3. Responde Zinka: “Disto não teríamos proveito; melhor será te dirigires àquele homem que alegas conhecer; somente ele te poderá elucidar.” Concorda Zorel: “Muito bem; mas afirmo-te que sua tarefa não será fácil!”

  1. ENGANOS MATERIALISTAS

  1. Com tais palavras Zorel se dirige a Mim e diz: “Nobre senhor e mestre na arte de curar! Estes trapos não me honram, todavia me co- brem os membros. De acordo com as afirmações de Zinka, és tu a pes- soa competente para me elucidar. Certamente ouviste meus princípios bem fundados, que para mim representam a verdade plena; se te for possível antepor algo melhor, ser-te-ei grato. Não sei qual título devo empregar para teu tratamento; como homem de Bem que aparentas, tal não te deve preocupar. Peço-te, pois, me orientes no que falhei: teria o homem menos direitos que o animal, o qual, a fim de saciar suas neces- sidades não hesita em se tornar ladrão?”

  2. Digo Eu: “Amigo, enquanto comparas teus direitos humanos

aos de um animal, estás plenamente certo; pois seria absurdo prescre- ver-lhe determinações morais, sabendo-se ser sua natureza seu único legislador.

  1. Se, todavia, o homem existir por uma razão mais elevada — o que até hoje não te passou pela ideia, o que demonstra estar tua inte- ligência apenas interessada pelas necessidades mais inferiores, — teus princípios matemáticos não se acham bem alicerçados.

  2. Pelo fato de ter tido o homem um destino superior, pensas estar o recém-nascido em posição inferior ao do animal, porque começa ape- nas a se tornar adulto depois de alguns anos de grandes cuidados? Terá de se submeter a uma organização qualquer e conquistar seu sustento

com grande esforço e abnegação. Por este motivo, também recebeu cer- tas leis como primeiro guia para um destino maior, considerando-as de livre vontade, em virtude de sua emancipação e determinação individu- al, únicos meios que lhe facultam alcançar seu objetivo elevado; nunca, porém, como homem-animal!

  1. Enquanto te dedicares apenas às exigências físicas, não farás pro- gresso como criatura; quando, porém, te aperceberes de que em teu íntimo habita um outro ser de necessidades bem diversas das do corpo e com finalidade mais importante, não te será difícil reconhecer em que solo arenoso se baseiam teus princípios!

  2. Conheço tua boa vontade e o quanto tens investigado na eluci- dação do porquê de todo mal, que enterra o Gênero Humano. Como sempre sentias um especial prazer em furtar, teus pensamentos procu- ravam justificar tal atitude. Tendo sido desde jovem amigo e aprecia- dor das mulheres, a moral condenando o ato excessivo, aborreceu-te fortemente.

  3. Com tais tendências, tens razão em teus princípios, assim como propugnas por uma lei pela qual todas as crianças deveriam receber educação que lhes incutisse a ordem social de tal forma a lhes impossi- bilitar, quando adultas, a infração, anulando, com isto, toda legislação posterior.

  4. Tal ordem foi instituída pelo Próprio Criador dos mundos, seres e animais! Cada animal recebe em sua natureza, ainda no ventre ma- terno, a pré-educação por ti exigida e não mais necessita de outra, pois aquela já encerra todos os princípios básicos. Aquele que criou anjos, Céus, mundos e homens, necessariamente deveria saber o imprescindí- vel para educar as criaturas, a fim de se tornarem seres independentes,

— e nunca irracionais.

  1. Se fores analisar teus princípios de vida mais minuciosamente, chegarás à conclusão de ser a linguagem grande prejuízo por induzir o homem a coisas nocivas, pois a própria mentira não se teria enraizado na Humanidade. Até mesmo o pensamento é perigoso, levando as pessoas a maldades e hipocrisias! Finalmente não conviria possuírem os cinco sentidos, tentação constante contra a qual se deve defender o homem!

Observa, pois, teu representante humano dentro de teus princípios e indaga se existe diferença entre ele e um pólipo, com exceção da forma!

  1. Para que fim então cogitar do destino elevado do homem? Qual seria a educação aplicável a um pólipo? Quando chegaria tal cria- tura ao conhecimento de si própria e do Deus Verdadeiro, da Causa de todas as coisas, toda Luz e Bem-aventurança?! Analisa a constituição sadia dum homem através do teu raciocínio crítico, e acharás que um ser tão sábio e artisticamente constituído, deve por fim, ter ainda outra finalidade, além daquela de encher seu ventre dia a dia, para depois tratar de expelir seus excrementos!”

  1. JUSTIFICÁVELPROTEÇÃODA PROPRIEDADE

  1. (O Senhor): “Alegas, como justificativa para teu roubo, possuí- res direitos de posse à vista da situação de penúria em que te encontras, não sendo isto pecado contra a Lei de Deus. De fonte segura te posso afirmar, ter Jehovah considerado tal necessidade quando criou os Man- damentos, formulando a seguinte Lei: Não deves impedir que o burro se alimente no teu campo durante o trabalho e tampouco amarrar a boca do boi que puxa o arado. E ao transportares os molhos de trigo para o teu celeiro, deixa no campo as espigas caídas, a fim de que os pobres colham aquilo de que necessitam. Todos devem estar prontos para socorrer aos necessitados e saciá-los quando famintos! Esta Lei de Jehovah demonstra ter Ele considerado, suficientemente, a pobreza.

  2. É mais que natural não ser possível a todos se tornarem pro-

prietários. Para os primeiros habitantes desta Terra, ainda era fácil sua divisão, pois não havia dono. Hoje em dia ela é habitada, mormente nas zonas férteis, por grande número de criaturas. Não se pode contestar a posse às famílias que, de longa data, vem preparando o solo para o seu sustento, e sim, protegê-las devidamente, porquanto ainda beneficiam centenas de outras, não proprietárias.

  1. Quem possui grandes terras necessita de muitos colonos que vi- vem, como o dono, do seu produto. Seria aconselhável possibilitar a todos os mesmos direitos de posse? Quem deveria cultivar os campos?

Cada dono de persi? E se ele adoecesse? Portanto, não é mais viável haver poucos proprietários com celeiros e provimentos, do que propor- cionar aos recém-nascidos o direito de posse, quando finalmente não haveria meio de sustento?

  1. Continuo a indagar de tua inteligência matemática: Se não houvesse uma lei de proteção à propriedade, que farias tu se outros viessem para tirar teu provimento, por não se disporem a trabalhar? Não haverias de indagar do motivo pelo qual não providenciaram, em tempo, com o que se alimentar? E se te respondessem: Não tínhamos disposição para tal e bem sabíamos que os vizinhos semeavam! Não acharias justo a existência duma lei que punisse tal delito e os obrigasse a trabalhar, e que fosse devolvido teu estoque? Eis a exigência da lógica!

  2. Se consideras teus princípios matemáticos como os melhores do

mundo, faze uma caminhada de algumas léguas em direção ao Oeste, onde encontrarás, nas imensas regiões montanhosas, uma quantidade de terras sem dono. Lá poderás tornar-te proprietário e ninguém porá obstáculos. Podes até mesmo levar algumas mulheres e empregados, organizando, naquelas regiões longínquas, um próprio domínio, e não serás molestado nem daqui a mil anos. Somente alguns ursos, lobos e hienas terás de liquidar, pois poderiam perturbar o teu merecido sono. Deste modo, ao menos conhecerás as dificuldades sem par com que os proprietários terão de lutar, até que o solo seja trazido ao atual estado de progresso. Com tais experiências, também compreenderás a injustiça de tirar a posse dos ricos, a fim de entregá-la aos ladrões e infratores.

  1. Como nunca foste amigo do trabalho e de favores, arrogaste o direito de roubar despercebidamente! Compraste somente o campo de duas fangas com o casebre; isto, porém, com o dinheiro que desviaste, em Sparta, dum comerciante rico. Naquela cidade o furto era permi- tido, quando feito com esperteza. Há muitos anos, porém, existem lá as mesmas leis de proteção à propriedade, de sorte que tua atitude não deixa de ser um roubo. O restante de teus bens apanhaste em Cesareia Philippi e seus arrabaldes!

  2. Ai daquele, entretanto, que te tirasse algum objeto; ensinar-lhe-

-ias teus direitos qual esbirro romano! Ou teria sido de teu agrado se

outro viesse colher os frutos de teu campo apenas por ser pobre? Por- tanto: aquilo que não achas justo para ti, também não o é para o teu próximo! Sendo a situação conforme te expus, consideras ainda teus princípios como únicos e indiscutíveis?!” Zorel queda perplexo, convic- to de sua derrota.

  1. DESCENDÊNCIADE ZOREL

  1. Aproximando-se dele, Zinka, bate-lhe no ombro e diz: “Então, amigo Zorel, aceitarás ou não o auxílio de Cirenius? Segundo me pa- rece, tuas convicções vitais — no início tão boas — não foram bem fundamentadas!”

  2. Responde ele, hesitando: “Sim, o Salvador tem razão e reco- nheço minha tolice. Como foi possível a ele saber isto tudo, e o que devo fazer?”

  3. Aconselha Zinka: “Nada mais senão pedir orientação justa e agir de acordo; o resto deixa por conta dos que te querem socorrer.” De pronto Zorel cai a Meus Pés, pedindo-Me ensinamentos. Eu, porém, indico-lhe o apóstolo João, o que muito o surpreende.

  4. Eu, então, lhe digo: “Se um senhor possui vários empregados e servos, agirá com injustiça dando-lhe uma tarefa de acordo com suas capacidades?! Não é preciso que meta as mãos para que chegue a bom termo; basta o espírito do Senhor, que o trabalho será concluído pelas mãos hábeis dos serviçais. Vai, pois, àquele que te indiquei e nele en- contrarás o homem acertado. Lá está ele, à cabeceira da mesa e usa um manto azul.”

  5. Zorel se levanta e quando perto de João diz: “Servo fiel daquele sábio senhor! Peço-te me dês o ensinamento que proporcione minha redenção, para que possa ser admitido no grupo dos que se chamam verdadeiras criaturas.”

  6. Responde João: “Receberás a Verdade em Nome do Senhor! An- tes, porém, deves reparar todo dano cometido e prometer modificar tua vida; tens de devolver ao dito comerciante em Sparta as duas libras de ouro! Além disto, tens de renegar ao paganismo e tornar-te judeu, como

foi teu avô, descendente da linha Levi. Há quarenta anos se dirigiu para Sparta, a fim de revelar aos gregos o único Deus Verdadeiro; deixou-se, porém, com toda família, convencer pelos pagãos, inclusive tu mesmo. Teus dois irmãos, que ainda vivem naquela cidade, tornaram-se sacer- dotes, dedicando seus serviços tolos a Apollo e Minerva. Tua única irmã é esposa dum comerciante que negocia com imagens e estampas de deuses, e com o meretrício. Eis teu cunhado, também judeu!”

  1. Zorel está completamente perplexo por João saber de tudo que ele mesmo procurou ocultar; todavia, julga ter o apóstolo andado pela Grécia, onde havia sido informado de tal fato. Por isto, vira-se depressa para João e diz: “Mas por que contas estas coisas diante de todo mun- do?! Não basta nós dois sabermos disto?!”

  2. Retruca João: “Acalma-te, amigo; pois se o fizesse para prejudi- car-te em alma e corpo, eu seria perverso e, diante de Deus, pior que teu cunhado na Grécia. Devo, a fim de iniciar tua salvação, denunciar-te perante os homens, para que não aparentes aquilo que não és! Se te queres tornar perfeito, deves te pôr a descoberto e estar tua alma sem segredos. Só quando tiveres afastado de ti tudo que seja contra a ordem, podes começar a trabalhar na tua perfeição. Bem poderias te livrar de teus pecados pela confissão interna e regenerar-te, de modo que teus se- melhantes te honrassem, porquanto ignoravam teus erros e seguiriam, mesmo, teu exemplo! Mas se com o tempo fossem informados de fonte segura de teus grandes delitos, quão receosos não te deveriam fitar?! Todas as tuas virtudes seriam apenas pele de cordeiro, ocultando lobo voraz; fugiriam de ti, apesar de toda tua virtuosidade.

  3. Por aí vês ser preciso também evitar as aparências, caso se queira

ser perfeito; do contrário, não se poderia ser útil ao próximo, dever principal do homem, pois, sem este objetivo, não é possível imaginar uma sociedade realmente feliz na Terra.

  1. Que benefício teria a Humanidade com a perfeição de alguns indivíduos, caso se mantivessem ocultos?! Teriam eles de suportar a des- confiança de todos. Se teu semelhante chegar a saber quem realmente és, quais tuas atitudes anteriores, e tu começares a modificar tua índole, reconhecendo o mal que fizeste e repudiando-o com sinceridade, todos

te cercarão de braços abertos, amando-te como irmão bem intencio- nado. De sorte que deves primeiro confessar tuas fraquezas, antes de poderes assimilar um ensinamento melhor. Muito embora já tenhas confessado alguns erros, ainda não te livraste de todos, e eu te auxilio neste sentido, por saber que terás dificuldade para tanto.”

  1. Indaga Zorel: “Mas como podes saber disto tudo, e quem me denunciou, pois jamais te vi?”

  1. OPASSADODEZORELCOMOTRAFICANTEDE ESCRAVOS

  1. Diz João: “Não te aflijas por isto; quando tiveres alcançado a perfeição, saberás do porquê. O pior ato de teu passado consiste em teres sido mercador oculto de escravas da Ásia Menor, entre doze e catorze anos, vendendo-as para o Egito e a Pérsia, sendo geralmente o destino dessas moças, o mais triste possível: eram vilipendiadas pelo seu comprador. Se ao menos tivessem passado por tal crime de modo natu- ral, não teria sido tão asqueroso; mas foram incrivelmente maltratadas em Alexandria, Cairo, Tebas e Memphis! Se te fosse possível ver como essas infelizes eram açoitadas pelos donos diabólicos, a fim de aumentar o gozo, tu mesmo te amaldiçoarias — embora desprovido de sentimen- tos humanos — por ter levado uma criatura a semelhante desgraça, sem descrição, na expectativa do lucro de algumas miseráveis moedas!

  2. Quantas maldições horrendas não foram proferidas contra tua

pessoa, quantas lágrimas de dor e desespero vertidas por tua culpa! Inú- meras dessas moças pereceram em consequência de atrozes sofrimentos! Todas elas pesam na tua consciência! Tua negociata imunda assumiu grande vulto mormente há três anos passados e o número das infelizes ultrapassa o de oito mil! Como irás reparar este crime?! Que te fizeram essas meninas para que as infelicitasses de modo tão brutal?!”

  1. ZORELTENTAJUSTIFICAR- SE

  1. Profundamente confundido, Zorel se cala. Depois de longa pau- sa, começa: “Amigo, se naquela época tivesse tido a compreensão deste momento, podes estar certo de que não me teria dedicado ao tráfico de escravas! Sou cidadão de Roma, e não existe lei que proíba tal negócio. Até aos judeus é permitida a compra de crianças quando eles não têm filhos; por que então não deveriam fazê-lo outros povos cultos, como os egípcios e persas?! Portanto, eram aquelas moças vendidas a povos mais cultos, e era de se esperar destino melhor do que aquele que lhes era reservado na própria pátria.

  2. Vai às zonas da Ásia Menor e encontrarás um mundo de gente,

mormente crianças, que te levam a indagar como podem subsistir sem se tornarem antropófagos! Asseguro-te que, de cada vez que lá cheguei, fui verdadeiramente assaltado pelos habitantes, que por alguns pães me entregavam um ou dois filhos, encantados com a minha vinda. Se eu comprasse cem meninas, era ainda agraciado, com mais quarenta ou cinquenta. Muitas, eu vendi aos essênios, que também prezavam os garotos. Os egípcios preferiam as mocinhas, em parte para o trabalho, e em parte para sua própria satisfação. Não duvido houvesse entre eles alguns obscenos que maltratassem as escravas, mas não eram muitos.

  1. Para a Pérsia foram poucas, e lá geralmente eram compradas por comerciantes e artistas, onde, por certo, tiveram oportunidade para ins- truir-se. Além disto, vigora lá uma lei pela qual os escravos conseguem sua liberdade, após dez anos de boa conduta. Essas, portanto, não po- dem falar de desgraça. Como já disse, talvez no Egito não passem tão bem; todavia, sua vida no lar em nada era melhor, pois sua miséria era tão cruenta, que se alimentavam de raízes e, por falta de roupas, anda- vam completamente nuas.

  2. Desses nômades, chamados zíngaros na região do Pontus, eu e

meu sócio compramos a maior parte de escravos. São verdadeiras hor- das sem pouso; habitam em cavernas e árvores, e pergunto-te se já não é caridade aliviá-los do peso de sua prole, dando-lhes em troca alimento e roupas?!

  1. Considerando o fato de eu ter livrado grande número de pessoas da escravidão e da miséria para lhes facultar vida ordenada, facilmen- te se concluirá que a desdita por ti mencionada não foi tão grande. Ainda assim, não teria agido dessa maneira se tivesse tido a compreen- são de hoje.

  2. De mais a mais, digo-te confidencialmente — não te querendo ofender em tua sabedoria elevada — ser bem estranho que Deus deixe tanta gente desprovida de qualquer socorro! E não seria de admirar se o expectador de tais situações duvidasse da Existência Divina. Meus princípios anteriores a respeito da proteção de propriedade não seriam, pois, de todo infundados!

  3. Externei-te minha justificativa contra tua severa reprimenda. Faze o que te aprouver; mas não te esqueças que Zorel não teme tua sabedoria. Deves concordar existirem situações chocantes na Terra; por que uma pessoa desfruta de todos os benefícios e milhares vivem na maior penúria?!”

  1. OSATOSDEDEFLORAÇÃOPRATICADOSPOR ZOREL

  1. Diz João: “Se pretendes medir a Sabedoria Divina pela do in- telecto um tanto desperto, tens razão em não temê-La! Sendo Ela, to- davia, medida pela Eternidade, teus argumentos são nulos! Deixemos, pois, esta controvérsia!

  2. Confirmaste — como testemunha visual — a situação deplorá- vel dos povos ciganos na Ásia Menor, alegando teres praticado caridade comprando-lhes a prole abundante, e digo que uma décima parte te compete neste ato humanitário. Descubro, no fundo da tua consciên- cia, algo que anula aquela caridade, de sorte que te responsabilizo pelas crueldades e duvido teu raciocínio poder justificar-te.

  3. De que maneira pretendes desculpar a violação, tão seguida- mente praticada?! Não acharás um motivo razoável, não contra a Lei mosaica, mas contra a de Roma que pune este crime com severidade?! Acaso te teriam impressionado os lancinantes gritos daquelas meninas? E não foste causador da morte horrenda de cinco moças? Teu sócio

ainda te apontou o prejuízo ocasionado, porquanto teriam dado o lucro de quinhentas libras, em Cairo, em virtude da sua beleza incomum. Amaldiçoaste, por tal motivo, tua sensualidade bestial; nunca, porém, por te teres tornado um assassino!

  1. Junta tudo isto, e dize-me que impressão tens de ti mesmo e se a capacidade de teu raciocínio consegue achar uma desculpa para teus crimes! Não podes querer afirmar que, como ignorante, não sabias dife- rençar entre o Bem e o mal; porque demonstraste há pouco a situação calamitosa em que vivem os povos nômades, e até me desafiaste para te explicar o motivo por que Deus deixa que isto aconteça! Possuis, portan- to, um sentimento de justiça e a noção do Bem e do mal. Como te foi possível proceder de modo tão desumano com aquelas moças? Procuras- te, em seguida, tratá-las com teus rudes conhecimentos, prejudicando-

-as ainda mais. Fala, pois, e justifica-te diante de Deus e dos homens!”

  1. REVOLTADECIRENIUSPELOSCRIMESDE ZOREL

  1. Completamente aniquilado pelo sermão do apóstolo, Zorel não sabe como se defender. Por mais que procure justificar-se, não encontra saída em seu labirinto cerebral. Eis que João o aconselha a fazer uso de sua verbosidade; o outro, nem sequer abre a boca.

  2. Nisto, Cirenius, também revoltado, diz: “Senhor, que fazer? Nessas circunstâncias, o homem cairá nas malhas da justiça! Nossas leis permitem a compra de escravos com sua prole. Nunca, porém, foi permitido vender — mormente as meninas — antes de alcançarem os catorze anos. Isto é crime!

  3. Além disto, deve todo negociante estar munido de permissão do Estado, pagando caução vultosa e imposto considerável. Zorel e seu só- cio nada disto fizeram, o que positiva outro crime contra leis vigentes, que rezam pena de dez anos de prisão.

  4. Acrescem, ainda, cinco violações que provocaram a morte das vítimas! Outro crime que em circunstâncias tão graves acarreta pena de reclusão, no mínimo, de quinze anos, ou mesmo a morte, precedendo todos esses atos a mentira, fraude e roubo diversos!

  1. Senhor, conheces meus deveres de Estado e o juramento sobre tudo que me é sagrado. Que devo fazer? No caso de Mathael e seus colegas, a completa possessão me protegia contra meus deveres. Este, porém, é um perverso perfeito e confesso! Não serei obrigado a fazer uso de minhas prerrogativas?”

  2. Digo Eu: “Compreende que, sendo Eu aqui, casualmente, o Se- nhor e tu estares preso a Mim por juramento, do qual te posso livrar quando Me aprouver, sou Eu que determino o que deve acontecer para a cura duma alma enferma. Além disto, fizeste um juramento aos deu- ses, que não existem em parte alguma, de sorte que não te pode pesar na consciência. Só tem valor o juramento a Mim prestado como prova de fidelidade; assim não sendo, és livre de qualquer compromisso.

  3. Afirmo-te não termos chegado ao final do exame deste homem; surgirá ainda algo que te deixará mais sensibilizado! É uma criatura bem esquisita, que já devias conhecer pelo que revelou de modo geral em seu primeiro estado de êxtase, quando arrependido. A atual revelação de seus atos tem de ser mais minuciosa; não deves escandalizar-te por isto, pois o permito, a fim de vos desvendar uma alma totalmente enferma e apontar o remédio que a cure. Expliquei-te, anteriormente, que seria absurdo aplicar relho e prisão à pessoa fisicamente enferma, por ter chegado a tal ponto. Quanto mais desastrado não seria aplicar-se pu- nição mortal, em virtude da completa enfermidade da alma! Dize-Me, Meu amigo Cirenius, já esqueceste o Meu Ensinamento, em virtude de teu zelo?”

  4. Responde Cirenius: “Isto não, Senhor e Mestre da Eternidade;

apenas sou levado à reação quando deparo com um criminoso empe- dernido! Vês, contudo, reconhecer rapidamente o meu erro! Já anseio pelo exame de João, cujo saber e perspicácia lhe facilitam tal tarefa. O mais interessante é que Zorel nada percebe do milagre de João saber de seus pecados mortais, praticados por toda parte, como se os tivesse presenciado!”

  1. Digo Eu: “Presta atenção, pois João o arguirá de novo.” Cirenius se cala. Eu ordeno às mulheres e moças que se retirem para as tendas, porquanto o assunto só deve ser ouvido pelos homens.

  1. JUSTIFICATIVASDE ZOREL

  1. A curiosidade de todas é imensa; todavia, obedecem, dirigin- do-se às tendas de Ouran onde deveriam ficar até serem chamadas. Em seguida, prossegue João: “Então Zorel, onde estão teus argumentos astuciosos, com os quais tencionavas entrar em luta com a Sabedoria Divina? Fala, se ainda te restam palavras!”

  2. Responde, finalmente, Zorel: “Que mais poderia dizer, pois sa- bes de tudo que fiz em vida! Agi conforme minha índole, assim como o leão e o tigre estraçalham tudo, por serem bestas selvagens! Nesse caso, cabe a culpa àquele que os criou!

  3. Se existem milhares de criaturas mansas como cordeiros, por que não sou igual a elas? Acaso sou meu próprio criador?! Se a maldade fosse ditada pela minha vontade, poderia contestar a tua sábia asserção, pois os depoimentos de pessoas isoladas, não valem como julgamento final, antes de serem comprovados. Todavia, reconheço teu profundo saber, e sei que visas apenas o meu Bem.

  4. Além disto, tens o direito de relatar, de viva voz o que pratiquei, levado por minhas inclinações. Só vos cabe matar-me, — e eu não temo a morte. Se ainda tens conhecimento de outras ações escabrosas por mim praticadas, não te acabrunhes por externá-las, pois, de há muito, perdi a vergonha!

  5. Além do mais, exageraste no caso das cinco moças, culpando-me de sua morte em virtude da violação, que, aliás, foi apenas sedução. Para tanto contribuiu a recaída de moléstia contagiosa e ter eu apenas lamentado o prejuízo monetário! Posso-te apresentar várias testemu- nhas que ouviram os meus rogos a Zeus, para conservá-las com saúde, pois tencionava adotá-las. Como todo recurso aplicado, durante trinta dias, não surtisse efeito, fiquei inconsolável e jurei não mais tocar numa virgem e abster-me do tráfico de escravas. Assim fiz até a data presente; comprei a pequena propriedade nesta zona que, entretanto, foi devora- da pelo fogo. Agora, fala tu, se pronunciei uma inverdade.”

  1. ZOREL,O MATRICIDA

  1. Diz João: “No início, eras tal qual eu te falei; mas a respeito das moças que pretendes ter apenas seduzido, proferiste u’a mentira! So- mente a última foi tratada menos brutalmente, porquanto tuas forças se estavam esgotando! Podes negar isto?! Calas-te de pavor! A moléstia contagiosa, precipitadora de suas mortes, foi por ti transmitida! Este capítulo está encerrado; passemos a outro!

  2. Aquilo que ainda pesa na tua consciência, não se prende à tua vontade; todavia, existe o ato e seu efeito! Por isso, o homem nunca deve agir levado pela raiva, porquanto suas consequências seguem as ações, como a sombra acompanha a criatura. Lembras-te, que mor- mente tua mãe — pessoa compreensiva — te advertia de tuas atitudes e amizades perversas, e qual tua reação?”

  3. Diz Zorel: “Ó deuses! Tenho uma fraca lembrança, sem contudo poder precisar o fato! Sei que jamais cometi um crime premeditada- mente; se me deixei arrastar pela ira, tenho disto tanta culpa quanto um tigre por ser um animal selvagem!”

  4. Diz João: “Isto discutiremos mais tarde; naquela ocasião pegaste duma pedra arremessando-a contra tua genitora e atingiste-a na cabeça. Desacordada, ela tombou! Tu, porém, ao invés de socorrê-la, apanhaste as mencionadas libras de ouro e fugiste para cá, num navio de piratas, tornando-te corsário por vários anos, época na qual começaste o tráfico de escravas. Pouco tempo depois, tua mãe faleceu em virtude do feri- mento e desgostosa por tua causa. Desse modo, ainda te pesa na cons- ciência o matricídio praticado, e coroando todos esses crimes, acompa- nha-te tremenda maldição de teu pai e demais irmãos! Acabo, assim, de te revelar por completo; que me dizes como homem inteligente?”

  5. Conclui Zorel: “Que poderia alegar? Não posso desfazer o que

fiz, e a tardia compreensão do meu passado criminoso de nada adianta! O arrependimento e a melhor boa vontade em querer reparar um dano seriam tão ridículos como pretender-se fazer voltar o dia que passou! Bem, posso de ora em diante me tornar um homem diferente e de boas intenções; meu passado, não me é possível remover!”

  1. ZORELJUSTIFICASUAS TENDÊNCIAS

  1. (Zorel): “Nasci com gênio irascível! Ao invés de ser ameniza- do por uma educação meiga e razoável, tratando do desenvolvimento intelectual, fui cumulado de toda sorte de castigos. Meus pais foram meus piores algozes, conseguindo fazer de mim um tigre. Não tive culpa disto, porquanto não pude escolher meus genitores antes de ser concebido e, uma vez nascido, não podia discutir a respeito da mi- nha educação.

  2. Considero teu conhecimento geral, e não duvido que possas justificar-me diante de perspectivas tais. Entre os judeus aparecem, de quando em quando, pessoas obsedadas, como tive oportunidade de ve- rificar há bem pouco em Gadara. Aquele homem era um verdadeiro demônio e o pavor da redondeza. Se fosse possível livrá-lo de seu algoz, qual seria o juiz capaz de condená-lo, em virtude de seus crimes ante- riormente praticados, instigando-lhe arrependimento e penitência?!

  3. Suponhamos que uma pedra enorme se desprenda do morro, matando casualmente vinte pessoas. Quem seria culpado desta calami- dade? Com toda a tua inteligência, não podes querer atribuir a culpa à rocha que se despencou do alto. Assim sendo, tenta julgar-me dentro da lógica e não com o capricho da tua inteligência. Sê homem, como eu!”

  1. CIRENIUSSEADMIRADAASTÚCIADE ZOREL

  1. Refletindo sobre as palavras de Zorel, João as considera bem fundadas e se dirige no íntimo a Mim, para saber como prosseguir nessa controvérsia, cujas rédeas lhe escapam. Respondo, pois, a João: “Dá-lhe algum tempo; em seguida te inspirarei o que dizer.”

  2. Cirenius, que havia acompanhado a justificação de Zorel, diz: “Senhor, confesso ter este homem um caráter todo peculiar, e tenho impressão que teu sábio apóstolo foi levado a meditar. Eu, por exemplo, nada mais saberia alegar e teria de absolvê-lo como juiz. Não compreen- do onde foi buscar tal astúcia, pois não possui educação alguma. Como é isto possível?”

  1. Respondo: “Não é de todo inculto, pois os gregos são os melho- res advogados de Roma. Conhecedores da severidade das leis romanas, estudam-nas a fundo, a fim de que possam estar aparelhados, quando chamados à responsabilidade em virtude de qualquer infração. Pessoas intencionadas em ludibriar o Estado se integram de seus direitos e da filosofia de sábios diversos. E Zorel pertence a tal classe.

  2. Antes do sono sonambúlico, não teria se pronunciado com tanta astúcia; em sua alma ainda perdura certa vibração de seu espírito, levan- do-a a críticas tão acerbas. Quando se integrar novamente na sua esfera anterior, será menos provocante. A atual arguição fá-lo mais astucioso, o que permito, especialmente, em benefício de Meus discípulos, que podem assim saborear uma boa dose de astúcia humana. Não obstan- te serem criaturas muito humildes e de corações compreensivos, são, de vez em quando, acometidas de presunção; a experiência com Zorel é-lhes um bom ensinamento.

  3. João já me confessou intimamente o fracasso de seu saber, e

os outros meditam sobre tal possibilidade. Deixo que continuem em tais conjeturas, para que cheguem a mais profundas conclusões so- bre si mesmos. Mais tarde, estimular-lhes-ei. Zorel ainda lhes dará o que pensar. Agora irei novamente inspirar a João; prestai-lhe a aten- ção devida.”

  1. JOÃO,BOM CONSELHEIRO

  1. Após breve intervalo, João se dirige a Zorel: “No fundo, não posso contestar teus argumentos; apenas não se aplicam à tua vida, por- quanto tua alma já possui noções de justiça e capacidade de julgamen- to. Pecaste contra teu conhecimento e consciência; obterás o perdão, unicamente, pelo arrependimento e a penitência, tornando-te, então, agradável a Deus.

  2. Para te tornares homem de Bem, deves reconhecer teres sido o único responsável pelos atos criminosos; assim sendo, confessarás, também, não ser justo culpar a outrem, pois agiste, consciente e con- trariamente, às tuas convicções.

  1. Se tivesses agido dentro da superstição, como base de tua vida, não serias julgado pelos teus atos, — mesmo sendo os mais perversos possíveis — cabendo-te a mesma absolvição dada à rocha e ao tigre, tomados como exemplo para justificar tua atitude.

  2. Neste caso, seria preciso ensinar-te a verdade, guiando-te neste caminho. E se alguém assim instruído, recaísse em seus antigos erros, pecaria contra sua própria convicção, atirando sua consciência numa inquietação tremenda. Portanto, servem tuas comparações somente para aqueles que jamais reconheceram algo como verdade. A voz de teu íntimo sempre te condenou; tu, porém, procuraste abafá-la com falsas razões. Também eras levado ao remorso, mas não conseguiste o arrependimento nem penitenciar-te.

  3. Por isso, Deus permitiu que caísses em grande miséria. Perdeste

tudo, e teu sócio te abandonou e se acha na Europa, onde goza a vida que os grandes lucros lhe proporcionam. Agora, encontras-te aqui à procura de auxílio, que receberás tão logo procures agir dentro do Bem e da Verdade. E tal auxílio será, então, eterno.

  1. Persistindo naquilo que consideras — tanto quanto eu — falso e perverso, serás miserável em vida e o que te espera no Além-túmulo, teu próprio raciocínio te esclarecerá, se consideras ser a vida terrena a semente, e a outra, o fruto eterno!

  2. Se plantares uma semente nobre e boa no jardim de tua vida, colherás os frutos de acordo; lançando cardos e abrolhos no solo, terás o resultado correspondente. Por certo não ignoras que cardos e abrolhos não produzem figos e uvas! Demonstrei-te o que deves fazer no futuro e minhas palavras não constituem crítica. Considera-as, portanto, que te garanto como amigo, não teres motivo para arrependimentos!”

  1. ADUPLAVONTADEDO HOMEM

  1. Responde Zorel: “Teu conselho muito me agradou, e me esfor- çarei por fazer o que me explanares como homem de bons sentimentos. Caro amigo, agora me conheço a fundo: meu íntimo não me parece dos piores; minha carne, porém, acha-se pervertida por completo. Se

fosse possível despir-me de todas as más tendências da alma e encobrir o germe vital com algo melhor, eu seria um homem de Bem; mas com minha atual constituição física, nada se pode fazer. Não sou mais a cria- tura maldosa de antanho; jamais, porém, posso confiar na minha carne. É deveras estranho, nunca ter sido levado pela vontade nas piores situa- ções. Fui como que atraído por acaso e sempre acontecia o contrário de minha vontade. Podes explicar-me tal fenômeno?”

  1. Diz João: “O homem possui duas espécies de vontade: uma, na qual o conhecimento da verdade pouca influência tem; outra, em que o mundo dos sentidos, com suas exigências atraentes, exerce grande poder, através de variados hábitos. Se o mundo exterior te apresenta um bom bocado, com a possibilidade dele te apossares, a inclinação começa a influenciar no potencial da vontade do coração; se o conhecimento da verdade tenta intervir, pouco êxito terá, porquanto a atração mais forte sempre sairá vencedora.

  2. A todos os momentos deve manifestar-se com firmeza a vontade

de querer vencer, sem temer o que quer que seja. Deve desprezar com indiferença estoica todas as vantagens do mundo e seguir o caminho iluminado da verdade, mesmo à custa da própria vida. Com isto, a vontade fraca do conhecimento torna-se forte e poderosa, dominan- do a tendência para o gozo. Assim fortificada, finalmente, ela se inte- gra por completo na Luz da vontade espiritual e a criatura alcança sua unificação, importância imprescindível para a perfeição da individua- lidade eterna.

  1. Se não consegues equilibrar pensamentos e sentimentos, como podes afirmar teres encontrado a verdade em sua profundeza?! Aparen- tas neste caso u’a mentira que, perto da verdade, pode ser comparada à noite em relação ao dia. Em tal treva não se vislumbra a luz, isto é: o homem vivendo na mentira, não pode discernir a verdade; eis por que a rédea da vontade do conhecimento é tão fraca nas pessoas mundanas, a ponto de ser vencida pela mais leve atração dos sentidos.

  2. A influência dos sentidos, conseguindo vencer a vontade do conhecimento, ocasiona uma concentração nas trevas da alma, e tal criatura é espiritualmente morta e condenada por si própria, não mais

podendo achegar-se à Luz, a não ser pelo fogo com que incendeia a matéria grosseira, causa de suas paixões. Todavia os elementos psíqui- cos são mais renitentes que os do corpo, fazendo-se necessário um fogo poderoso para destruí-los.

  1. No entanto, a alma não se submete à tal purificação dolorosa, por amor à verdade ou à Luz, e trata delas fugir, levada pela tendência de gozo e domínio; quem, pois, neste mundo se positivou na ignorân- cia espiritual, está eternamente perdido!

  2. Somente aquele que venceu, pela vontade luminosa, as suas ten- dências e paixões, concentrando em si Luz e Verdade, tornou-se pura manifestação da vida espiritual. Para tal fim é preciso — conforme já te falei — renúncia verdadeiramente estoica; não aquela, orgulhosa, de Diógenes, que se julgava superior ao Rei Alexandre em seus trajes dourados, mas a renúncia humilde de Henoch, Abraham, Isaac e Jacob. Se o conseguires, terás ajuda temporária e eterna. Não o podendo pela força do conhecimento da Verdade, estarás perdido material e espiritu- almente. Creio, porém, seres capaz de tanto, pois não te faltam compre- ensão e conhecimento.”

  1. ANATUREZADEDEUSESUA ENCARNAÇÃO

  1. Diz Zorel: “Já que o afirmas, minha vontade é patente! Se, ao menos, pudesse ficar por algumas semanas em tua companhia, para me ajudares!”

  2. Diz João: “Se tomaste a firme resolução de regenerar-te, perma- necerás entre homens tão equilibrados quanto nós, no convívio direto com a Luz do Grande Deus Vivo!”

  3. Diz Zorel: “Quem vem a ser vosso deus?”

  4. Responde João: “Esta resposta te será dada quando te unires a teu espírito; agora não adiantaria dar-te explicação, porquanto não a entenderias. Para que tenhas uma ideia, adianto-te apenas o seguinte: Deus Único e Verdadeiro é, em Si, o Espírito Puro e Eterno, munido do máximo grau de Consciência Própria, da Sabedoria mais profunda e luminosa e da Vontade Positiva que tudo cria.

  1. Deus é o Verbo em Si e o Próprio Verbo é Deus. O Verbo Eterno tomou carne, veio ao mundo para junto dos Seus, que não reconhecem a Luz que veio às trevas. Por este motivo, a Luz será tirada dos filhos de Deus e entregue aos pagãos. Estes estão à procura da Verdade, enquanto os filhos da Luz dela fogem, como os criminosos se esquivam do julga- mento. Tal é a razão por que lhes será tirada e transmitida aos gentios, conforme ora acontece.

  2. Em Jerusalém, habitam os filhos da Luz Original, desprezam a Verdade provinda de Deus, entregando-se mais e mais às trevas, à mentira e a suas obras perversas. Os pagãos, porém, peregrinam pelo mundo afora à procura da Verdade, alegrando-se sobremaneira quando a encontram, e prezam no coração o Doador da Luz, pelas boas ações.

  3. Observa esta considerável multidão: na maioria é pagã, que à busca da Verdade aqui a encontrou; enquanto que Jerusalém, a Cida- de do Senhor, enviou carrascos para abafarem a Luz! Tais mensageiros eram, todavia, mais esclarecidos que seus superiores: aproximaram-se da Luz e, com alegria, permaneceram com Ela. Se bem que A prende- ram, não o fizeram para os cárceres de Jerusalém, mas para si próprios, para seus corações, tornando-se nossos irmãos na Luz de Deus, regozi- jando-se com Aquele que a emanou.

  4. Vieste aqui como pagão, não para encontrares luz para a noite

de tua vida, e sim, ouro e prata. Mas quem sai da prisão à luz do Sol, não pode impedir que seja iluminado. O mesmo se deu contigo: foste inspirado pela luz do Sol espiritual, que iluminou o Infinito com toda a Sabedoria, para que os seres inteligentes de todos os mundos, possam pensar e querer de acordo com tal Luz.

  1. Deixa, portanto, que Ela te inspire cérebro e coração, pois a me- nor fagulha te fará mais feliz que a posse de todos os tesouros da Terra. Procura o Reino da Verdade, que todo o resto te será dado por acrésci- mo e nada mais te faltará!”

  1. CIRENIUSCUIDADE ZOREL

  1. Concorda Zorel: “Amigo, tens razão; os atos praticados na igno- rância não frutificam. Através de tuas palavras misteriosas que me elu- cidaram bastante, percebi que vivo numa noite de trevas. Se te for pos- sível interceder junto de Cirenius, pede-lhe que me arranje um manto velho, pois nestes trapos não me atrevo a ficar convosco.”

  2. Cirenius chama um lacaio e lhe ordena trazer de sua bagagem, camisa, toga e manto. Em seguida, diz a Zorel que faça uso das rou- pas para apresentar-se-lhe mais tarde. Em poucos instantes volta Zorel, bem arrumado, e diz a Cirenius: “Deus Verdadeiro e Eterno te recom- pense; pois vestiste um desnudo, obra de caridade que não mereço. Já que somos todos Seus filhos, apenas te posso agradecer, pedindo que me aceites como servo, e meu terreno, como presente.”

  3. Responde Cirenius: “O campo não te pertence e sim àquele de quem tiraste o dinheiro; por isso, vendê-lo-emos, e só depois de resti- tuída a importância ao dono ou a seus filhos, poderás te tornar meu empregado.”

  4. Diz Zorel: “Nobre senhor, farei o que quiseres, somente não me abandones. Assim como me despi de meus trapos, despir-me-ei de meu velho ‘ego’ para tornar-me outro. Desejo remir meus crimes nos dias que me restam!

  5. Se tivesse encontrado quem me elucidasse, conforme fez João, nunca teria caído em vícios tão abjetos; assim tive que me guiar pelo próprio raciocínio e não necessito repetir meus erros. Sê, portanto, mi- sericordioso e dá-me oportunidade para trabalhar. Sei ler e escrever e conheço a História dos povos, até a data presente. Além disto, decorei todo Heródoto e as Crônicas dos judeus, persas e babilônios.”

  6. Conclui Cirenius: “Sobre isto falaremos mais tarde; por enquan- to volta para junto de João e deixa que ele te oriente.”

  1. OSEGREDODAVIDA ESPIRITUAL

  1. João o recebe com carinho e pergunta como se dera na compa- nhia de Cirenius; e Zorel responde: “Isto poderás deduzir de minha vestimenta! Sinto-me otimamente bem com estas três peças presen- teadas por Cirenius. Meu estado íntimo, porém, não corresponde ao externo e ficaria eternamente grato a Deus se me pudesse transformar. Dize-me o seguinte: quem vos elucidou, pois sois humanos como eu, entretanto me destes provas duma força espiritual, que ultrapassa tudo que até hoje vi.”

  2. Responde João: “Minha explicação pouco proveito te traria; se

fizeres o que te disser, encontrarás o ensinamento dentro de ti mesmo e teu espírito despertado, fortificado por Deus, guiar-te-á para o ca- minho da Verdade e Sabedoria. Se pretendes aprender uma arte, tens de procurar um artista para que te mostre a maneira pela qual executa seus trabalhos. Em seguida, tens de te exercitar, até que te assemelhes a teu mestre.

  1. Se queres aprender a pensar, deves procurar um filósofo, que te demonstrará causas e efeitos, levando-te, por exemplo, às seguintes conclusões: a água sendo líquida, facilmente pode ser movimentada e de acordo com seu peso tende a correr para as profundezas; a experi- ência nos ensina existir um ponto de atração na Terra, para onde tudo converge pela Vontade Imutável do Criador, Vontade esta que exerce seu Poder em toda a Natureza.

  2. Mesmo alcançando a profundeza do mar, a água continua ma- leável, embora cesse sua movimentação. Se uma forte ventania soprar por sobre a superfície, fazendo com que se levantem as ondas, esta mo- vimentação da água nada mais é que sua tendência para calma, que facilmente pode ser posta fora de seu equilíbrio.

  3. Dedução: quanto mais líquido um corpo, tanto maior o seu empenho para a calma. Quanto mais manifesta tal tendência, tanto mais fácil agitá-la. Por este exemplo deduzirás como se aprende a pen- sar numa escola de Filosofia, e quais as deduções alcançadas dentro de causa e efeito.

  1. Tais pensamentos giram em torno dum círculo sem saída e pou- co ou mesmo nada adiantam ao homem no que diz respeito à sua vida espiritual. Se, portanto, só te é possível aprender a arte com um artista, o pensar racional com um filósofo, só poderás aprender a pensar es- piritualmente com um espírito, isto é: de tua própria centelha divina. Unicamente o espírito pode despertar o espírito, pois ele reconhece seu semelhante assim como um olho vê e observa outro.

  2. O espírito é a visão da alma cuja luz tudo penetra, por ser uma luz íntima e puríssima. Vês, portanto, como se processa o ensino dos mais variados assuntos e ser preciso um professor apropriado, caso não se queira permanecer um eterno diletante. A pessoa que tenha achado tal mestre, tudo deve empenhar para cumprir os ensinamentos recebidos.

  3. Quando teu espírito despertar, ouvirás sua voz como pensa- mentos luminosos no coração. Deves considerá-los e organizar tua vida dentro de tais princípios, e criarás, para o teu espírito, um âmbito de ação sempre maior; assim ele crescerá dentro de ti, até alcançar a figura humana, penetrando tua alma e teu corpo.

  4. Uma vez que tenhas chegado a este ponto, serás capacitado como nós, não somente a ver e reconhecer o que é comum às criaturas, mas também coisas que lhes sejam insondáveis, conforme observaste comi- go; pois, sem nunca te ter visto, pude relatar todos os teus segredos.

  5. Acabo de dar-te uma pequena prova da realidade das coisas espirituais. Contudo, de nada te adianta; preciso é saber o necessário para despertar o teu espírito. Isto, porém, não é de minha alçada, e sim de Um Outro entre nós, cujo Ser é pleno do Espírito Divino. Ele te indicará o Caminho da Verdade, transmitindo, pelo teu ouvido físico, a teu espírito, como o Próprio Espírito de todos os espíritos: Desperta no amor para com Deus e para com teus irmãos, em Nome Daquele que sempre foi, é e será Eterno!”

  1. ZORELDECIDEAREGENERAR- SE

  1. Diz Zorel: “Acho teu ensinamento muito elevado e puro, pois se não o fosse, não poderias ter relatado meus atos mais secretos. Estou convicto da possibilidade do aperfeiçoamento humano, que não almejo somente para, em ocasião oportuna, apontar os crimes a um pobre diabo, mas para o progresso espiritual em si e para a minha própria consolação. Não pretendo ser doutrinador e juiz clemente; quero servir como homem perfeito, a fim de não prejudicar alguém em virtude de minha ignorância.

  2. Eis o motivo único pelo qual desejo alcançar a perfeição e, se para tanto fosse preciso, sacrificaria minha própria vida. Que valor teria uma existência cheia de imperfeições?! Afirmaste, contudo, ser preciso que outra pessoa me oriente; quem é, pois, para que lhe possa pedir os meios pelos quais despertarei meu espírito?”

  3. Diz João: “É justamente Aquele que mandou que falas- ses comigo.”

  4. Acrescenta Zorel: “Um pressentimento que se manifestou quan- do despertei de meu sonho me disse, ser este filho do carpinteiro de Nazareth, algo mais que um homem comum. Estranho é ter eu a im- pressão de conhecê-lo. Não sabes me dizer quando e de que forma ele alcançou a perfeição?”

  5. Responde João: “Posso apenas dizer que te perdoo tal pergunta, pois seria o mesmo que indagasses a maneira pela qual Deus chegou à Sua Infinita Sabedoria e Onipotência. Deus O escolheu para Sua Pró- pria Morada! Eis a Grande Graça que sucede aos povos por este Eleito! A Forma Humana é o Filho de Deus; Nele, habita a Plenitude do Es- pírito Divino!

  6. Assim sendo, impossível perguntar de que modo Ele alcançou Perfeição tão Infinita! Isto que ora é e sempre será, Ele já foi no ventre materno. Seguiu todas as instituições humanas, com exceção do peca- do; todavia, isto não contribuiu para a Sua Perfeição, porquanto já era Perfeito desde Eternidades. Todas as Suas Ações visam apenas facultar aos homens, um exemplo perfeito para que Lhe possam seguir como Causa e Mestre Originais de todo Ser e Vida.

  1. Sabes, portanto, com Quem estás lidando. Achega-te Dele para que te demonstre o Caminho justo que te leva a teu espírito, o puro amor a Deus dentro de ti; através de teu espírito, serás conduzido para junto Dele, ora entre nós, como a Salvação verdadeira dos homens que já viveram, ora vivem e ainda viverão neste planeta.

  2. Se a Ele te dirigires, faze-o pelo amor em teu coração, e não pelo intelecto frio. Somente pelo amor, O conquistarás e O compreenderás em Sua Divindade, por ser ele capaz dum eterno crescendo. Teu racio- cínio jamais terá êxito, de acordo com os limites que lhe são impostos. Quanto mais poderoso se tornar o amor dentro de ti, tanto mais luz se fará em teu ser. Este sentimento puro a Deus é fogo vivo e luz claríssi- ma! Quem caminhar nessa claridade, jamais verá a morte! Agora já estás ciente; desperta teu coração e vai para junto Dele!”

  3. Com essas palavras, Zorel nem sabe que pensar e fazer de tama-

nha veneração, pois não duvida Eu abrigar a Divindade em Seu Todo, o que o deixa cada vez mais desanimado. Após certo tempo de reflexão diz: “Amigo, quanto mais medito sobre tuas palavras, tanto maior se torna a dificuldade de me aproximar Dele e Lhe pedir que me demons- tre, Pessoalmente, o Caminho luminoso para a Vida! É-me, a bem di- zer, impossível, porque sinto Dele se irradiar uma Onda de Santidade que me diz: Afasta-te, indigno! Pratica primeiro longa penitência e de- pois volta para veres se podes tocar a Orla de Minha Veste!”

  1. Responde João: “Está bem assim; é preciso que o verdadeiro amor a Deus seja precedido pela humildade do coração. Assim não sendo, o amor jamais se apresenta de modo sincero. Permanece por mais alguns instantes nesta contrição justa de tua alma, e quando Ele te chamar, não hesites em apressar-te!” Zorel se acalma um pouco; reflete, porém, quão feliz seria quem se aproximasse do Pai, sem pecado.

  1. OCAMINHOPARAAVIDA ETERNA

  1. Nisto, viro-Me para Zorel, surpreendido com a Minha Atitude: “Quem, arrependido, confessa seus erros, penitenciando-se pela verda- deira humildade do coração, é-Me mais agradável que noventa e nove

justos, que nunca sentiram tal necessidade. Vem, pois, junto de Mim, amigo contrito; em ti reina o sentimento justo da humildade que apre- cio mais que os justos de todo o sempre, a exclamarem: Hosana a Deus nas Alturas, por jamais termos profanado Teu Santo Nome, por pecado conscientemente cometido! Com tal critério também julgam o pecador, dele fugindo como da peste!

  1. Assemelham-se aos médicos a venderem saúde, entretanto re- ceiam socorrer um enfermo pelo medo do contágio. Não teria mais valor aquele que, a despeito do perigo, procurasse todos, mesmo sendo, às vezes, contaminado, não se aborrecendo e, deste modo, auxiliando a si e aos outros?! Eis uma ação justa!

  2. Por isto vem cá, que te demonstrarei o que Meu discípulo não conseguiu, isto é, o verdadeiro Caminho da Vida, do Amor e da Sabe- doria, que dele derivam!”

  3. Encorajado pelas Minhas Palavras, Zorel se aproxima em passos lentos. Quando perto de Mim, digo-lhe: “Amigo, o Caminho que con- duz ao espírito é espinhoso e estreito, isto é, deverás encarar com paci- ência e humildade tudo que em vida te suceder por parte dos homens, como sendo: aborrecimento e mágoa. Assim, também, não deves pagar o mal que te fazem, mas agir de modo contrário, que juntarás brasas em suas cabeças! A quem te fere, não pagues com a mesma moeda. É preferível que recebas mais outra ofensa, para haver paz e união entre vós, pois somente na paz, progride o coração e o desenvolvimento do espírito dentro da alma.

  4. Não deves negar a quem te pedir um favor ou uma esmola, a não

ser que colida com os Mandamentos de Deus e as leis de Estado, o que por certo saberás julgar.

  1. Se alguém te pedir a túnica, também ofertarás teu manto, a fim de que reconheça seres um discípulo da Escola de Deus! Compreendendo tua atitude, não aceitará tua oferta; ele assim não fazendo, prova ser bem fraco em seu conhecimento, e não deves ficar pesaroso em virtude do manto, mas pelo irmão que ainda não percebeu a proximidade do Reino de Deus.

  2. Quem te pede companhia por uma hora, deves satisfazer pelo dobro do tempo, provando, por tal disposição, a origem da Escola que

divulga tão elevado grau de renúncia. Deste modo, até os mais ignoran- tes serão esclarecidos sobre a iminência do Reino de Deus.

  1. Pelos vossos atos, saber-se-á que sois Meus discípulos. É muito mais fácil pregar do que agir! Que benefício trará a palavra vã, se não for vivificada pela atitude?! De que te adiantam os mais deslumbrantes pensamentos e ideias, se és incapaz de executá-los? Do mesmo modo, as palavras mais belas e verdadeiras não surtem efeito, se não tens vontade de pô-las em prática. Por isso, deve o bom orador praticar o que prega, do contrário, seu sermão é inútil!”

  1. APOBREZAEOAMORAO PRÓXIMO

  1. (O Senhor): “Há no mundo quantidade enorme de perigos para a alma; a pobreza, por exemplo, cujas noções do ‘meu’ e do ‘teu’ se tor- nam mais fracas à medida que a miséria oprima a criatura. Por isso, não deixeis que ela se alastre, caso pretendais andar pelo Caminho certo!

  2. Quem for pobre, deve pedir auxílio a seus irmãos abastados; caso não seja atendido em virtude da dureza dos corações humanos, deve dirigir-se a Mim, que o socorrerei! Pobreza e miséria, porém, não justificam o roubo e muito menos o latrocínio! Quem, portanto, é po- bre sabe o que fazer.

  3. Embora seja a penúria uma grande praga para as criaturas, com- porta ela o nobre gérmen da humildade e verdadeira modéstia, perdu- rando na Terra por tal motivo; todavia, não devem os ricos deixar que se expanda em demasia, porquanto acarretaria seu próprio prejuízo, em vida e no Além.

  4. Digo-vos: não necessitais transformar os pobres em ricos; so- mente não devem passar necessidades. Ajudai a todos que conheceis, de acordo com vossas posses. Haverá no mundo um sem número de pobres, cujos clamores não ouvis; por isto, não são entregues ao vosso amor, mas apenas os que conheceis e que vos procuram.

  5. Quem entre vós se tornar amigo dos necessitados, serei dele também Amigo e Irmão por todo o sempre, não precisando ele apren- der a Sabedoria Interna com outrem, pois ser-lhe-á dada por Mim, em

seu coração. Quem amar seu próximo como a si mesmo, não o expul- sando em virtude de sua posição e idade, será por Mim procurado, pois a ele Me revelarei. Transmitirei ao seu espírito, que é o amor, a Minha Fidelidade, fator que tornará sua alma plena de Luz. Tudo que falar e escrever terá Minha Origem para todos os tempos.

  1. A alma de sentimento endurecido será atacada por elementos perversos que a aniquilarão, tornando-a idêntica à alma animal, repre- sentando-se deste modo no Além.

  2. Dai com prazer e fartura, pois, conforme distribuís, sereis re- compensados. Um coração endurecido não será inundado pela Minha Luz da Graça, nele habitando trevas e morte com seus horrores!

  3. Um coração meigo e dócil, facilmente será penetrado por Minha Luz de natureza mui suave e benéfica, possibilitando destarte, Minha Permanência com toda Plenitude de Meu Amor e Sabedoria. Acreditai em Minhas Palavras, que são Vida, Luz, Verdade e Ação plenas, cuja realidade todos sentirão pela prática.”

  1. A VOLÚPIA

  1. (O Senhor): “Analisamos a pobreza e vimos os prejuízos que dela advirão quando se manifestar em excesso. Sabemos também como socorrê-la, e os benefícios que o homem desfrutará pelo cumprimento desta observação. Passemos para outro assunto bem diverso, existindo, todavia, relação entre ambos. Tal assunto é a volúpia. É precisamente o maior mal da Humanidade, pois daí se originam quase todas as molés- tias físicas e psíquicas.

  2. De todos os pecados, o homem consegue se livrar mais facil- mente, porque se baseiam apenas em motivos externos, enquanto a volúpia tem a causa na própria carne pecaminosa. Por isto, deveis afastar os olhos dos perigos tentadores da carne, até que a consi- gais dominar.

  3. Protegei vossos filhos da primeira queda nesta tentação e con- servai-lhes a castidade, que facilmente dominarão os instintos quando adultos; mas uma vez se desviando, o espírito mau da carne deles se

apossará! Não existe demônio cuja expulsão seja tão difícil quanto ao da volúpia, e somente pode ser conseguida pelo jejum e a prece.

  1. Evitai, por tal motivo, aborrecer aos pequeninos, excitá-los por excessivos adornos e vestimentas sedutoras, que despertariam seus ins- tintos. Ai de quem pecar de tal forma com a natureza dos adolescentes. Em verdade, ser-lhes-ia mais aconselhável se nunca tivessem nascido!

  2. O vilipendiador da santa pureza da juventude será por Mim cas- tigado com toda Potência de Minha Ira! Uma vez a carne tendo sido violada, a alma não possui mais base sólida, fator que dificultará seu aperfeiçoamento.

  3. Tarefa penosa enfrenta uma alma enfraquecida, querendo curar sua carne violentada e apagar suas cicatrizes! Que temor não sofre, quando percebe a fragilidade e vontade fraca de sua habitação terrena! Quem é culpado disto? A péssima vigilância às crianças, e os variados aborrecimentos por que passaram!

  4. A corrupção é geralmente mais pronunciada nas Cidades do que no Interior; por isto, Meus discípulos, ensinai as criaturas neste senti- do, demonstrando-lhes as variadas consequências nefastas que derivam do prematuro despertar dos instintos. Considerando vossos conselhos, muitas almas sadias surgirão, cujo espírito mais facilmente será desper- tado do que atualmente ocorre.

  5. Observai os cegos, mudos, aleijados, leprosos e entrevados; crianças e adultos acometidos pelos mais variados males físicos: tudo isto como resultado da manifestação precoce da volúpia.

  6. O homem não deve procurar contato antes dos vinte e quatro anos, e a mulher, não antes de ter alcançado, no mínimo, os dezoito; antes dessa idade o ato será violação, tornando a carne frágil e a alma cheia de paixões.

  7. Difícil é se curar um homem por tal razão enfraquecido; muito mais, porém, uma jovem nessas condições. Primeiro, por não lhe ser possível gerar filhos perfeitamente sadios; segundo, pelo desejo cada vez mais crescente pelo ato, tornando-se por fim, u’a mácula na socie- dade, não por si mesma, mas por aqueles cuja displicência a levou a este caminho.

  1. Ai daquele que se aproveita da pobreza de uma virgem, para despertar-lhe a volúpia! Em verdade, também seria preferível nunca haver nascido! E quem convive com prostituta, ao invés de desviá-la por meios adequados da trilha da perdição, terá de aguardar, no Além, julgamento rigoroso! Quem castiga pessoa sadia não peca tanto quanto aquele que fere um aleijado.

  2. Quem pratica o ato com mulher feita e sadia, também terá pe- cado; como as consequências não são de todo prejudiciais — mormente ambos gozando saúde perfeita, — o julgamento será menor. Aquele que o fizer como se ela fosse prostituída, sem gerar um filho, terá de supor- tar duplo julgamento.

  3. Repito, ser dez vezes pior tal procedimento com uma prosti- tuta, cujo físico e alma são completamente lesados. Quem socorrê-la em sua imensa miséria, de coração fiel a Mim, terá grande projeção espiritual no Meu Reino. Quem assim não agir, mas a procurar por preço vil, arrastando-a ainda mais para a infelicidade, terá no Além, o prêmio reservado ao assassino, no charco destinado a todos os demô- nios e seus servos!

  4. Ai do país ou cidade onde se pratica a prostituição, e ai da Terra, quando este mal imenso nela se alastrar! Tais países receberão, de Mim, tiranos para regentes que os agravarão de impostos elevadíssimos, para que a carne se torne faminta e desista desse ato o mais vergonhoso, até hoje aplicado pelo homem, ao seu semelhante!

  5. A prostituta, no entanto, perderá toda a honra e respeito mes- mo daqueles que dela se aproveitaram por paga miserável, e seu físico será atacado por toda sorte de moléstias contagiosas, dificilmente curá- veis. Quem, todavia, regenerar-se, será por Mim aceita!

  6. A pessoa voluptuosa que usar de meios para o gozo, diversos dos que determinei no sexo oposto, dificilmente verá o Meu Semblan- te! Moysés determinou o apedrejamento para tais casos, que Eu não revogo, por ser u’a medida drástica para criminosos completamente de- pravados pelo demônio; dou-vos apenas o conselho paternal de afastar estes pecadores das comunidades, entregando-os à miséria no desterro. Somente, quando voltarem às fronteiras da pátria, em completa penú-

ria, devem ser conduzidos a um Instituto de Psiquiatria onde deverão permanecer, até sua integral regeneração. Quando esta for comprovada, por algum tempo, poderão voltar à Comunidade. Manifestando o me- nor vestígio de inclinação pervertida, será melhor deixá-los para sempre em reclusão, porquanto poderiam contaminar os inocentes.

  1. Tu, Zorel, não foste inteiramente puro neste sentido, pois te tornaste pedra de escândalo para teus companheiros de infância. Toda- via, não se pode culpar-te desse pecado, porquanto tua educação não te proporcionou o conhecimento da Verdade, pelo qual te saberias manter dentro da Ordem Divina. Começaste a melhorar quando te integraste nos direitos sociais como cidadão romano e escrivão dum advogado. Deixaste as tendências animais, no entanto te tornaste um fraudulento de primeira categoria, enganando a teu próximo sempre que possível. Isto tudo, porém, passou, e agora te encontras diante de Mim, como criatura regenerada de acordo com teu conhecimento atual.

  2. Ainda assim, observo dentro de ti forte tendência para a vo-

lúpia. Chamo a atenção para este fato e te aconselho muita precaução. Quando melhorares de vida, tua carne, fortemente lesada, começará a se manifestar em sua recente melhoria e terás dificuldade para acalmá-la e até mesmo, curá-la definitivamente. Abstém-te de todos os excessos, pois neles reside o gérmen da volúpia. Não te deixes, portanto, tentar para a imoderação no comer e beber, do contrário terás dificuldade para dominares tua carne. Temos, assim, estudado o campo ‘volúpia’ no que te toca; passemos para outro ponto de grande importância em tua vida!”

  1. ACARIDADE JUSTA

  1. (O Senhor): “Este ponto se refere à posse. Disse Moysés: Não deves furtar!, e repetiu: Não deves cobiçar os bens de teu próximo, a não ser que estejas dentro da justiça!

  2. Podes comprar algo de teu vizinho o que te justifica usá-lo pe- rante todos; o furto, porém, é pecado diante da Ordem Divina, trans- mitida a Moysés, porque age contra o amor ao próximo. Não deves usar atitude que condenarias partindo de teu semelhante.

  1. O furto deriva, na maior parte, do amor-próprio que gera o ócio, a tendência para o conforto e a preguiça. Daí surge certo desâni- mo, coadjuvado por receio orgulhoso, que impedem a criatura de fazer um pedido importuno, mas a leva ao furto. Dele, portanto, se origina grande número de defeitos, entre os quais o excessivo amor-próprio é o motivo mais evidente. Pelo justo amor ao próximo, sempre se consegue combater esta fraqueza da alma.

  2. Naturalmente antepões o seguinte: Fácil seria aplicar-se o amor ao próximo, quando se possui os meios necessários. Entre cem, no entanto, talvez existam dez, cuja situação permita exercer tal virtude. Os noventa restantes, dependem precisamente, da ca- ridade alheia. Se apenas o amor ao próximo facilita os meios para vencer o vício do furto, os noventa necessitados dele se poderão abs- ter com dificuldade, pois lhes faltam as condições para a aplicação dessa virtude!

  3. Dentro da lógica mundana, tuas conjeturas são justificáveis

e ninguém te poderá contestar. A lógica do coração, porém, fala da seguinte maneira: As obras do amor ao próximo não se resumem na esmola e sim nas variadas ações e favores sinceros, que naturalmente sempre exigem boa vontade.

  1. A boa vontade é a alma e a vida duma obra do Bem. Sem ela, a maior caridade deixaria de ter mérito diante de Deus. Se careces dos meios necessários, mas tens vontade sincera de ajudar teu próximo, de qualquer maneira, teu coração se entristeceria diante desta impossibili- dade. Teu bom propósito vale muito mais para Deus do que a doação dum rico, forçado a fazê-la.

  2. Se ele auxilia um povoado porquanto este lhe promete o paga- mento do dízimo, tão logo lhe seja possível, sua obra de Bem de nada vale, pois já recebeu seu galardão. Sua atitude bem poderia ser imitada por um usurário, em virtude da vantagem monetária.

  3. Daí concluirás ser possível a todos — ricos e pobres — exerce- rem o amor ao próximo diante de Deus, e em benefício de sua própria vida espiritual; depende unicamente da boa vontade sincera, onde to- dos agem com dedicação no que lhes é possível.

  1. Naturalmente, a boa vontade apenas, não teria utilidade mes- mo a quem possuir meios suficientes, caso respeite certas considerações pessoais, ou dos filhos, parentes, etc. Será levado a agir com reservas, por não ser possível saber quando o pedinte é malandro, desmerecendo o auxílio rogado. Nesse caso, favorecer-se-ia ao larápio, privando um justo do recurso devido! Essas reflexões surgem de cada vez que se é abordado por um pobre!

  2. Meu amigo, aquele que fizer o Bem da melhor boa vontade e refletir dessa forma, ainda não se integrou na vida justa; por isso não valem nem as boas obras, tampouco a intenção. Onde existem meios, vontade e obra devem se equilibrar, do contrário, se desfazem o valor e o mérito diante do Altíssimo.

  3. Aquilo que deres ou fizeres, deve ser feito com muita alegria, pois assim terás duplo valor diante de Deus, aproximando-te rapida- mente da perfeição espiritual.

  4. O coração do amável benfeitor se assemelha ao fruto que ama- durece cedo, por conter a plenitude do calor justo de máxima necessi- dade para tal processo, e pela predominância do elemento correspon- dente à vida, ou seja o amor.

  5. Deste modo, a alegria e amabilidade do benfeitor são a fartura tão recomendada do aquecimento espiritual da vida, pelo qual a alma amadurece mais intensivamente, para a integração plena do espírito. É justamente o calor o transporte do espírito eterno em sua alma, que assim a ele se torna sempre mais idêntica.

  6. O doador, por mais zeloso que seja, afasta-se da meta da per- feição espiritual, à medida que se apresenta cada vez mais aborrecido e carrancudo; manifestação mundana, portanto, mui distante dum ele- mento puramente celestial.

  7. Ao fazeres a caridade, também deves evitar transmitir conse- lhos rigorosos ou talvez amargos. Provocam, não raro, tristeza profunda no coração do pobre, que deseja ardentemente jamais ser preciso pedir favores. O benfeitor, por sua vez, enche-se de orgulho por tais adver- tências importunas, evidenciando perante o outro a sua superioridade, o que prova ser mais difícil receber do que dar.

  1. Quem é rico e tem boa vontade, facilmente dá esmolas, en- quanto o pobre teme importunar o benfeitor amável. Sentir-se-á muito mais constrangido, ao ser enfrentado de feições aborrecidas, devido a ponderações apresentadas, antes de receber o auxílio. Desse modo, não mais se atreverá a voltar ao seu benfeitor em caso de necessidade, pois o sermão provavelmente será mais longo e incisivo de que a sua compre- ensão suscetível; dirá mesmo: Não voltes tão cedo — ou talvez, nunca mais! —, embora o outro não tivesse tal intenção.

  2. Eis por que um doador amável e alegre, leva tanta vanta-

gem ao pregador enfadonho, porquanto consola e eleva o coração do necessitado. Além disto, tal atitude cumula o coração do pobre de sentimentos confiantes para com Deus e aos homens, tornando seu jugo pesado mais suave, e lhe facilita suportá-lo com paciência e dedicação.

  1. O benfeitor amável representa para o pobre o mesmo que um porto seguro para um navegante em alto mar. Enquanto que o rico mal humorado apenas se assemelha a uma enseada que, malgrado garanta ao capitão salvação completa, mantém-no, contudo, em pavor constan- te de tenebrosa ressaca destruidora, que lhe traria maior prejuízo do que a antecedente tempestade.

  2. Sabes, portanto, dentro da Medida de Deus, como deve ser constituída a verdadeira perfeição espiritual, realizada pelo amor ao próximo. Age deste modo que facilmente alcançarás a verdadeira e úni- ca meta da vida!”

  1. ORGULHOE HUMILDADE

  1. (O Senhor): “Agora tocaremos num ponto sumamente impor- tante na vida, único para se alcançar o pleno renascimento do espírito na alma, como triunfo verdadeiro e final da criatura. Trata-se do polo contrário ao orgulho e altivez e se chama ‘humildade.’

  2. Em cada alma perdura um sentimento de altivez e brio, que se inflama pelo menor motivo numa ira apaixonada, impossível de ser abafada até que consiga derrotar sua vítima agressora. Mais fácil seria

saciar-se a sede de um viajor no deserto da África com areia incandes- cente, do que salvar uma alma com tendência tão horrível!

  1. Pela inclinação para o mesquinho orgulho, a própria alma se transforma em solo tão candente, que impossibilita a germinação de uma plantinha de musgo, muito menos outra, abençoada. Eis a alma dum orgulhoso! Seu fogo selvagem queima e destrói tudo que seja no- bre, bom e verdadeiro como base da vida, e milhões de anos se pas- sarão, até que o Sahara se transforme em campo fértil e verdejante. Para tanto, será preciso que o grande Mar agite suas águas por sobre aquelas areias.

  2. Observa um orgulhoso soberano ofendido pelo vizinho por as-

sunto qualquer: sua alma se incendiará, seus olhos chisparão chamas de ira, e o lema será: Vingança tenebrosa ao ofensor ultrajante! A con- sequência triste será uma guerra destruidora, onde milhares terão de perecer pela honra de seu rei. Ele, porém, de sua tenda observará, com prazer imenso, o aniquilamento de seus soldados, recompensando com ouro e pedrarias o mais bravo que conseguiu aplicar o maior dano ao adversário.

  1. Insatisfeito com sua vitória, tal soberano ainda quer martirizar o ofensor. De nada lhe adiantam os rogos; quando conseguir matá-lo com martírios indizíveis, sua carne será ainda amaldiçoada e entregue aos abutres. Nunca o coração insensível de tal homem sentirá arrepen- dimento. A ira — ou o deserto incandescente da África — perdurará, semeando a morte mais horrenda àquele que se atrever a não render homenagem, até mesmo ao palanque de honra usado por ele.

  2. Bem que possui alma, mas qual o seu aspecto? Afirmo-te: pior do que a areia mais candente do deserto! Achas que se possa transfor- má-la numa horta dos Céus de Deus? Mil vezes mais fácil o Sahara produzir tâmaras, figos e uvas, do que tal psique produzir a menor gota do Amor Celeste!

  3. Por isto, precavei-vos antes de tudo do orgulho. Nada no mun- do aniquila mais a alma que a altivez constantemente irada! Uma sede perene de vingança a acompanha, tal como a ânsia insaciável pela chuva faz parte do grande deserto africano; contamina todo ser vivo, como

também os serviçais do orgulhoso que a ele se tornam idênticos. Pois quem for servo do altivo, também fica orgulhoso, do contrário não lhe poderia prestar serviços!”

  1. EDUCAÇÃOPARAA HUMILDADE

  1. (O Senhor): “De que maneira poderia alguém preservar-se desta péssima tendência, existindo em cada alma tal germe, que não raro, até em crianças já atinge considerável grau? Apenas pela Humildade!

  2. Precisamente, em certos casos, a pobreza é acentuada, para man- ter o orgulho em rédeas fortes! Experimenta coroar um mendigo, e te convencerás se terem evaporado humildade e paciência! Eis por que é muito benéfico existirem poucos reis e muitos pobres humildes!

  3. Cada alma — como Ideia e Vontade de Deus — Dele recebeu um sentimento de altivez, que nas crianças se manifesta como pudor. O pudor infantil é uma sensação psíquica pela qual a alma começa a ter noção de si mesma, descontente por se ver, muito embora de origem espiritual, envolvida por um corpo pesado e desajeitado, do qual jamais se libertará sem dor. Quanto mais delicado e sensível o físico, tanto maior seu pudor. O educador que souber conduzir este sentimento para a justa humildade, despertará na criança um anjo protetor, levando-a ao caminho, onde facilmente alcançará sua perfeição espiritual. Basta, porém, educação um pouco falha, para transformar o pudor em orgu- lho e altivez.

  4. Já consiste grande erro em se levar o sentimento de pejo ao brio

infantil, pois a criança imediatamente julgar-se-ia superior às outras. Com facilidade é ofendida, vertendo lágrimas amargas, que testemu- nham ter sido magoada em seu sentimento altivo.

  1. Se os pais, num ato de fraqueza e ignorância, procuram acalmá-

-la pelo castigo que, aparentemente, pretendem aplicar ao ofensor, te- rão lançado o primeiro germe para a satisfação vingadora. Prosseguindo nessa educação, os genitores farão, não raro, um demônio de seu filho. Se forem levando o sentimento de pejo à humildade, seu filho será um anjo que iluminará — como exemplo vivo — os outros, qual estrela

mais deslumbrante na noite de sua vida, confortando-os pela meiguice e paciência.

  1. Como raramente as crianças recebem a educação pela qual se desperta o espírito em sua alma, o adulto de conhecimento mais apu- rado tudo deve fazer para aplicar a verdadeira e justa humildade. En- quanto não se livrar da última gota do orgulho, impossível penetrar na perfeição da vida puramente celestial, aqui e no Além.

  2. Quem quiser experimentar sua perfeição na humildade, que consulte seu coração. Veja se suporta a ofensa, se pode perdoar aos seus maiores opressores e perseguidores, e fazer o Bem aos que lhe aplicaram maldades; se não é tentado pela aparência mundana, se acha agradável sentir-se o menor entre os pequenos e humildes, a fim de servir a todos! Quem tudo isto puder fazer sem tristeza e amargura, já aqui se tornou habitante dos Céus mais elevados e sê-lo-á para todo o sempre! Pois através da humildade justa, não só a alma se une ao espírito, mas a maior parte do corpo.

  3. Por este motivo, tal criatura não sentirá e provará a morte, por-

quanto a parte etérea do corpo — precisamente a totalidade vital — imortalizou-se com alma e espírito.

  1. Pela morte física se desprende apenas a parte insensível e desvi- talizada da alma, o que não lhe produz sensação de temor e sofrimento, porquanto os elementos vitais do corpo de há muito se uniram à psi- que. Deste modo, o homem renascido sente tanto o desprendimento dessa parte amorfa quanto sentia ao cortar o cabelo ou as unhas, ou a queda da caspa. Aquilo que em vida não tinha sensação, não o terá no desprendimento total da alma, pois que tais elementos físicos já a ela se uniram, formando uma entidade inseparável.

  2. Agora sabes o que seja a justa humildade e sua ação, podendo

te esforçar nesta virtude. Quem seguir Minhas Palavras se certificará que, muito embora proferidas sem empáfia e retumbância, só podiam provir de Deus, e neste Caminho alcançará a verdadeira perfeição espi- ritual. Dize-Me, se te foi possível assimilar este ensinamento.”

  1. BOMPROPÓSITODE ZOREL

  1. Diz Zorel, completamente contrito sobre a verdade elevada e pura de Meu Ensinamento: “Senhor e Mestre Eterno de toda a Vida! Reconheço, mesmo sem considerar o tratamento que me fizeste aplicar, que Tuas Palavras jamais poderiam ser pronunciadas por boca humana, e sim, pelo Criador de Céu e Terra! Tudo farei para praticar o que Teu Amor me ensinou!

  2. Fato estranho se passa, pois tenho a impressão de já ter ouvido coisa semelhante. Deve ter sido um sonho, porque não me lembro de ter em vida recebido tão imensa Graça!

  3. A pessoa que, ciente de Verdades tão profundas, ainda não en- contrasse o caminho justo de seu aperfeiçoamento espiritual e tampou- co sentisse um poderoso ímpeto para assim agir, deveria ser totalmente ignorante ou então de tal forma absorvida pelo mundo que tornou sua alma insensível.

  4. Quem tiver assimilado tal questão importante, como eu, seria tolo em preferir o mundo onde sucumbiria, ao invés de galgar os cumes luminosos de Horeb e Libanon onde colheria as ervas milagrosas, que curam a alma enferma. As ervas referem-se às obras que se encontram somente nas alturas esplendentes do conhecimento de Tuas Verdades, sendo Horeb e Libanon a Verdade e o Bem Divinos! Eis minha in- terpretação.

  5. Senhor, és sumamente Elevado e Santo; nunca, porém, és de modo tão sublime, como nas criaturas que Teu Amor e Sabedoria trans- formaram em Teus filhos! Deves sentir a máxima alegria pela sua com- preensão iniciática ao ouvirem Palavras do Coração Paternal, resolven- do até se modificarem, a fim de alcançar a perfeição como a meta final, instituída pelo Teu Amor!

  6. Quão imensa não será tal satisfação, quando o aperfeiçoamento se tiver realizado, pois um Teu filho reconheceu sua própria insignifi- cância, através da justa humildade, sendo Tu o Verdadeiro e Único Pai! Qual seria o anjo capaz de descrever tão imensa alegria, mesmo com a maior inspiração! Qual o ente humano, apto para assimilá-la?! Tenho

a impressão de ter eu sentido algo semelhante, como num sonho; por certo será um reflexo de Tua Doutrina, Senhor, agindo em meu coração e vontade!

  1. Compara-se à alegria do semeador convicto de que seu campo foi limpo da erva daninha, tendo sido os sulcos preenchidos de semen- tes puras que garantem colheita abençoada.

  2. Meu campo agora se tornou fértil, o que, por certo, observaste, Senhor; do contrário não terias lançado a semente pura de modo tão prodigioso. Esta certeza é possivelmente a causadora da felicidade que me inunda, pois estou convicto do bom êxito. Não sou de meias medi- das, por tal motivo, tudo empregarei para realizar Teu Verbo!

  3. Se como larápio fui perfeito — muitas vezes sem expectativa de sucesso —, muito mais saberei evitar que pensamentos, palavras e ações me possam novamente atrair para o mundo. Talvez venha a esquecer minhas atuais palavras; todavia meu coração me fará relembrá-las, mes- mo à custa de minha vida. Desde que sinto existir uma vida eterna após a morte física, pouco interesse lhe dou.

  4. Existem pessoas que, levadas pelo êxtase momentâneo, falam como se pretendessem abarcar o mundo inteiro; passado este ímpeto, começam a meditar sobre os acontecimentos, enquanto a vontade para a ação diminui, dia a dia, e os velhos hábitos se manifestam de novo. Nunca isto se deu comigo; pois havendo reconhecido algo de bom, agia assim rigorosamente, até que me convencesse de coisa melhor.

  5. Minhas atitudes de antanho em nada colidiam com meus princípios, que em absoluto poderiam ser contestados diante do Foro do mais puro e filantrópico intelecto. Nunca, porém, podia imaginar entrar em contato direto com o Eterno Mestre de toda a Vida, cuja Sabedoria Elevada dissipou minhas convicções como a cera exposta ao Sol. Todavia, deu-se o incrível! Deus em Sua Magnitude Eterna, encon- tra-Se em nosso meio, ensinando-nos o destino eterno com palavras tão simples, que qualquer ignorante compreenderia.

  6. Os covardes certamente se inclinarão de preferência às opi-

niões mundanas, porquanto o mundo lhes traz vantagens materiais! Eu integrei-me no ouro celeste, portanto desprezo, do fundo de meu

coração, as tentações terrenas. Tu, Senhor, queira me castigar se fa- lei mentira!

  1. Meu pedido de auxílio que te externei, nobre Cirenius, em mi- nha ignorância e miséria espirituais, peço não tomares em consideração; desde que achei os tesouros celestes em tal profusão, dispenso outros; também não mais necessito de meu casebre, pois descobri a Morada do Senhor em meu coração. Vendei tudo e pagai aos meus credores. Dora- vante trabalharei para me tornar útil por amor de Deus!”

  2. Digo Eu: “Conhecedor de tua índole chamei-te em espírito, do contrário, não terias dado aqui. Com esta tua transformação, teu futuro será garantido. Como bom trabalhador, serás um discípulo para os gregos na Europa e nas costas da Ásia Menor, onde muitos anseiam pela Luz espiritual. Por enquanto és hóspede de Cornélius, irmão de Cirenius; em tempo serás informado da tua partida. Estás provido de tudo; o resto ensinar-te-á o Espírito da Verdade, não necessitando pen- sar a fim de falares, pois ser-te-á dado na hora oportuna. Os povos te ouvirão, louvando Aquele que te facultou tamanho Saber e Força!”

  1. ZORELÉENTREGUEAOSCUIDADOSDE CORNÉLIUS

  1. (O Senhor): “Agora já se fez noite; nosso caro hospedeiro Mar- cus aprontou a ceia, que saborearemos com prazer em virtude da boa pesca feita. Em seguida, trataremos de outro assunto e amanhã, antes da aurora, separar-nos-emos por algum tempo, pois tenho ainda de visitar muitos lugarejos. Tu, Raphael, podes chamar as moças.”

  2. Yarah é a primeira a chegar a Meu lado, e diz: “Meu Pai e Meu Amor! Minha gratidão por nos teres chamado, pois me parecia levar uma Eternidade nesta expectativa. Não era possível ouvirmos o que trataste com Zorel?”

  3. Digo Eu: “Não, Minha filha, porquanto seria um ensinamen- to prematuro para o sexo feminino; além disto, nada perdeste por tal motivo, pois, no devido momento, te será revelado. Agora vem a ceia e te poderás expandir com Josué e Raphael, que apresentarei em segui- da a Zorel.

  1. Ficaremos acordados até pela manhã; é esta a última que passarei em vossa companhia e vos facultará uma quantidade de milagres, pois deveis conhecer Aquele que vos falou! Ninguém, todavia, deve divulgá-

-los. Tu, Meu caro Zorel, procurarás Cornélius que cuidará de ti.”

  1. Interrompe Cirenius: “Senhor, nunca invejei o meu irmão, no entanto, muito prazer teria no convívio de Zorel.” Respondo: “Este teu desejo alegra o Meu Coração e vale tanto quanto a obra. Mas, deste grupo, a maior parte já depende de ti: Zinka e seus colegas, Stahar, Murel e Floran, Hebram e Risa, Suetal, Ribar e Bael, Hermes com sua família, tuas próprias filhas e genros e o milagroso menino Josué, e todos aqueles que acompanham essas pessoas. Penso teres motivo de satisfação. Cornélius assume a responsabilidade de Zorel, que prestará bons serviços à sua casa, e mais tarde aos estrangeiros que determinarei para seus tutelados. Em vossas futuras visitas sempre terás oportunidade para falar-lhe. Ainda estás triste com Minha Determinação?”

  2. Responde Cirenius: “Oh, Senhor, como podes perguntar tal coi-

sa? Sabes que Tua Santa Vontade é minha máxima alegria, seja ela qual for! Além disto, não se passa um mês sem que veja Cornélius e assim poderei trocar ideias com Zorel. Há pouco anunciaste a Yarah uma quantidade de coisas surpreendentes; em que consistirão?”

  1. Digo Eu: “Caro amigo, sabê-lo-ás em tempo. Vamos primeiro cear, mormente tuas filhas que necessitam de alimento.”

  1. HUMILDADEJUSTAEHUMILDADE EXAGERADA

  1. Marcus dá o sinal para que todos tomem assento nos longos bancos, e Cornélius chama Zorel, a fim de ficar a seu lado. Ele, porém, recusa-se dizendo: “Nobre senhor e soberano! Não queiras isto, pois meu lugar fica lá na outra ponta, onde se acham os servos, e não à tua direita e nesta mesa. Tal seria um desafio ao meu orgulho.”

  2. Intervenho: “Amigo Zorel, aqui basta Minha Vontade, por isto faze o que Cornélius te pede. Além disto, baseia-se a verdadeira humil- dade não em obras externas e à vista de todos, mas no coração, de acor- do com a Verdade plena. Vai a Jerusalém, observa os fariseus e escribas

como se apresentam humildes em vestimentas e feições; seu íntimo, porém, está cheio de orgulho ferrenho, odiando até ao inferno àqueles que não dançam de acordo com seu assobio, enquanto que um rei de coroa e cetro pode ser tão humilde como um mendigo, caso não eleve seus ornamentos em excesso. Considerando isto, podes sentar-te, sem susto, à direita de Cornélius.”

  1. Conformado e satisfeito, Zorel segue Meu Conselho. O romano então lhe diz: “Assim está bem, meu caro amigo, procuremos viver e agir no futuro em Nome Daquele que nos inspirou! Quanto à justa humildade, penso o seguinte: No íntimo, devo ser humilde e cheio de amor ao próximo, sem nunca vangloriar-me por tanto. Rebaixando-me em demasia, torno o meu semelhante orgulhoso, privando-me da opor- tunidade de servi-lo. Somente não posso desconsiderar certo respeito, pois sem ele não poderia fazer o Bem. Por isto sejamos humildes de coração, sem nos rebaixar externamente.

  2. Ainda teremos oportunidade de ver como certas pessoas são

obrigadas a executar trabalhos desagradáveis, a fim de ganharem seu sustento. Deveríamos limpar as sarjetas para coroar nossa humildade?! Penso que não! Basta não julgarmos tais pessoas inferiores a nós, por termos recebido outro ofício.

  1. Devemos primeiro considerar a profissão em nós próprios, so- mente, em virtude da mesma. Se tal é uma necessidade, não nos com- pete varrermos as ruas, e sim entregar este trabalho aos que para isto foram designados pelo Senhor. Também não suportaríamos, por não estarmos a ele habituados desde pequenos. O Pai tampouco exigirá que o façamos; exige apenas que não desprezemos os mais inveterados pe- cadores, mas tudo façamos para salvar suas almas. Deste modo, julgo, agiremos com justiça diante de Deus e dos homens.”

  2. Concordo: “É isto mesmo. A verdadeira humildade e o justo

amor ao próximo habitam em vossos corações, e não na aparência or- gulhosa dos fariseus.

  1. Quem se meter sem necessidade entre os suínos, terá de suportar seu possível ataque. De modo idêntico, a justa humildade não manda que deiteis aos porcos, as pérolas de Minha Doutrina. Existem criaturas

piores que os suínos, portanto não a merecem; antes se prestam para a limpeza de sarjetas.

  1. Não considereis a roupagem ou o título e sim, unicamente a conduta da pessoa que age de acordo com seu coração. Se for nobre, meiga, paciente, transmiti-lhe o Evangelho, dizendo: A paz seja contigo em Nome do Senhor e com todos de boa vontade! Se a pessoa de tal modo abençoada for de boa índole, a paz com ela permanecerá, e o Evangelho começará a produzir os mais lindos frutos. Creio que todos vós estais orientados sobre a verdadeira humildade.

  2. Como as mesas transbordem de bons pratos, vamos saciar-nos com prazer, pois sou o verdadeiro Noivo de vossas almas e em breve, não mais estarei em vosso meio, quando vossa alegria também diminuirá.”

  1. CORNÉLIUSEZORELPALESTRAMSOBRE MILAGRES

  1. Todos seguem o Meu convite, principalmente Raphael que, de modo veloz, consome vários peixes de bom tamanho. Zorel e Zinka se admiram com isto e o primeiro faz uma observação a respeito, por- quanto o “tal adolescente” não tinha aparência de glutão.

  2. Explica Cirenius: “Aquele jovem é miraculoso; é humano e es- pírito ao mesmo tempo, e munido de poder e força jamais sonhados. Meu irmão Cornélius te poderá atestar.”

  3. O outro, então, lhe diz: “Caro Zorel, posso-te apenas confirmar as palavras de Cirenius; descrever-te sua natureza milagrosa não me é possível por não a entender. De acordo com as asserções judaicas, é ele o mesmo anjo que serviu de guia para o jovem Tobias. Não estive pre- sente, mas creio que assim tenha sido. Aqui também se dão coisas mi- lagrosas, que dificilmente serão aceitas por nossos descendentes. Nesse caso, por que não aceitarmos ser este jovem um anjo?”

  4. Concorda Zorel: “Em absoluto imporei dúvidas; pois todo milagre vai de encontro à lei da Natureza, e é a concretização das fantasias do mais inspirado poeta. Para Deus tudo será possível, por- quanto o próprio Universo Lhe serve de testemunho de Sua Onipo- tência. Assistirmos à criação do mundo seria certamente algo de extra-

ordinário, enquanto, como seus habitantes, tudo se nos apresenta de modo natural.

  1. Coisa sumamente excepcional é o momento que vivemos, em que surge o Próprio Criador, realizando coisas somente a Ele possíveis. Não pretendo duvidar da realização de fatos milagrosos por parte duma criatura renascida em espírito, quando se prende sua ação à Vontade divi- na; quanto mais não se dar isto com criaturas e anjos por Ele inspirados!

  2. Recordo-me de uma lenda judaica em que até um burro chegou a falar de modo sábio ao profeta Bileam! Aquele animal deveria estar sob a influência do Espírito Divino, servindo-Lhe de instrumento. Eis minha opinião que não pretendo advogar como irredutível, pois já dei um golpe em falso neste terreno, e não quero repeti-lo.”

  3. Concorda Cornélius: “Amigo, falaste acertadamente; aconselho-

-te, porém, dirigires tua atenção ao peixe em teu prato, ao invés de te perturbares com o apetite extraordinário do jovem, que, com facilida- de, poderia comer mais dez. Prova seres capaz de ingerir ao menos um, não desprezando tampouco o bom vinho.” Zorel assim faz e não liga ao que se passa a seu redor.

  1. OPINIÕESDIVERSASSOBREANATUREZADO SENHOR

  1. O vinho começa a soltar as línguas, levando os presentes a con- tendas sobre Minha Pessoa; poder-se-ia dizer que nesta ceia se deu o primeiro cisma religioso. Alguns afirmavam ser Eu o Ser Supremo; ou- tros, apenas o Ser por interferência indireta. Havia os que confirma- vam somente Minha Descendência de David, sendo designado para o Messias do Reino judaico, munido, portanto, do poder de David e da Sabedoria de Salomon. Outros, ainda alegavam ser Eu um arcanjo encarnado, tendo ao Meu lado um ajudante.

  2. Um grupo, do qual até fazem parte alguns apóstolos, declarou-

-Me filho do Altíssimo; se bem que possuísse os mesmos dons do Meu Pai, não deixava de ser uma personalidade diversa e o Próprio Espírito Santo, seria, finalmente, uma terceira entidade, que, em certos casos, Se manifestava com poder autônomo.

  1. Tais pareceres eram, todavia, contestados por alguns, que se dirigem a Pedro neste sentido; Pedro, então, diz: “Quando de nossa peregrinação por esta zona, o Próprio Senhor perguntou a opinião alheia e finalmente qual o nosso conceito sobre Sua Pessoa. As respos- tas foram as mais diversas e quando fui chamado para responder, exter- nei o que senti: És o Filho do Altíssimo! E ele, satisfeito, classificou-me de ‘rocha de fé’, sobre a qual iria construir Sua Igreja, que jamais seria dominada pela força do inferno. Deste modo, minha opinião foi por Ele Mesmo confirmada e julgo não agir erradamente, se nela persisto como rocha.”

  2. João, porém, diverge da observação de Pedro e diz: “Nele habi-

ta fisicamente a Plenitude Divina! Reconheço-O, pois, como sendo a Mesma Personalidade. No Filho, pleno do Espírito Divino, vejo, ape- nas, o Corpo necessário para atingir certa finalidade; em Seu Todo, é Ele idêntico à Divindade que Nele habita em Plenitude.

  1. Acaso seria meu corpo outra individualidade que minha alma? Não perfazem ambos uma só pessoa, não obstante ter a alma formado, no início de meu ser, este físico, de sorte que se poderia afirmar: a alma revestiu-se dum corpo material, encobrindo-se de uma outra personali- dade? Se bem que se possa dizer ser o corpo um filho ou uma criação da alma, ele não perfaz outra entidade, com ou sem ela. Tampouco pode- ria se afirmar isto do espírito contido na alma; pois que seria uma alma sem centelha divina? Torna-se somente uma criatura perfeita quando o espírito a houver penetrado, onde, então, espírito, alma e corpo são uma só pessoa.

  2. Além disto consta: Deus criou o homem perfeito de acordo com

Sua Imagem! Sendo, portanto, o homem uma só pessoa constituída de espírito, alma e corpo — de acordo com a Imagem Divina — Deus Mesmo, como o Espírito Original de Máxima Perfeição, envolto duma alma igualmente perfeita, Se nos apresenta n’umsó corpo; é por conse- guinte, UmDeuse jamais três Divindades, por acaso ainda, divididas em três pessoas. Eis meu parecer que afirmarei para sempre, sem querer ser uma rocha de fé!”

  1. Respondem todos à mesa: “João falou acertadamente!”

  1. Pedro tenta corrigir-se dizendo: “É isto mesmo; somente não tenho tal verbosidade para expor minha compreensão de modo tão rá- pido, pois este assunto sempre será de difícil assimilação.”

  2. Antepõe João: “Nem por isto. Pelo teu jeito ninguém o com- preenderá; pelo meu, penso ser mais fácil. Que o Próprio Senhor, seja nosso Juiz!”

  3. Digo Eu: “A fé muita coisa consegue; o amor, porém, tudo alcança! Tu, Simon Juda, és uma rocha na fé, enquanto João é um dia- mante puro no amor, por isto possui a compreensão mais profunda entre todos. Por tal razão é Meu Secretário particular, e terá de escrever coisas misteriosas para o entendimento comum. Amor tão profundo comporta a sabedoria mais elevada; a fé, apenas determinado conhe- cimento onde consta: Até aqui e não mais além! Guiai-vos pelo pa- recer de Meu Amado, pois Me saberá transmitir ao mundo, de modo completo!”

  4. Pedro encabula com Minhas Palavras e no íntimo, alimenta

desde aí, certa inveja de João. Por este motivo comentou a atitude de João após ter Eu ressuscitado, pois que também ele Me seguia, embo- ra Eu apenas tivesse dado tal ordem a Pedro; de sorte que profetizei a imortalidade de João e o povo fez correr a lenda que este apóstolo jamais morreria.

  1. Pedro indaga do outro, donde lhe vinha compreensão e conhe- cimento tão profundos. E João responde: “Vê, não me encontro em teu íntimo nem tu te achas no meu; além disto, falta-me a medida pela qual pudesse determinar a razão de ser mais acertado, o meu parecer. Se o Senhor Pessoalmente especificou a diferença entre fé e amor, isto te sir- va de resposta. Somente Ele pode desvendar o nosso âmago; portanto, também saberá definir nossa diversidade.” Satisfeito com esta resposta, Pedro se cala. Como a ceia tivesse terminada, levantamo-nos e subimos o morro próximo.

  1. APEDRALUMINOSADAFONTEDO NILO

  1. Mal havíamos tomado assento no morro, já conhecido, Marcus se aproxima com toda a sua família, pedindo-Me encarecidamente ficar durante o dia seguinte, pois lhe dói o coração por saber de Minha Par- tida ainda antes da aurora.

  2. Digo-lhe: “Não te aflijas! Posso ir ou ficar, porquanto o tempo não Me obriga a agir. Sou o Senhor do tempo e dos tempos que jamais Me poderão influenciar. Existem, porém, muitos lugarejos que tenho de visitar; todavia, uma hora mais ou menos, não tem importância onde encontro um amor verdadeiro e vivo.”

  3. Com lágrimas nos olhos Marcus exclama: “Senhor e Pai! Grati- dão eterna por tão imensa Graça! Tua Vontade se faça para sempre! A noite, porém, é por demais escura em virtude das nuvens que cobrem o Céu. Não conviria mandar trazer algumas tochas?”

  4. Respondo: “Deixa estar que nos supriremos de luz!” Em seguida chamo Raphael e lhe digo: “No centro da África onde se acham os picos elevados chamados Komrahai e onde, numa rocha, brota a fonte do Nilo, encontrarás na altura de dez homens, oculta entre o entulho, uma pedra do tamanho duma cabeça humana. Traze-a aqui, pois iluminará suficientemente a escuridão da noite. Ao voltares, deposita-a naquele tronco donde sua luz emanará sobre toda a zona. Falo-te, como se foras humano, em virtude dos homens, a fim de que saibam Quem Sou e reconheçam Meu Poder em tua ação!”

  5. Raphael desaparece, para voltar instantaneamente, qual mete-

oro, transportando a pedra luminosa, qual Sol. Antes de depositá-la em cima do tronco, muitos pedem para analisá-la. Entretanto não é possível satisfazer-lhes tal pedido, porquanto na sua proximidade a luz é insuportável; assim que o anjo a leva ao lugar por Mim determinado, tudo se torna visível até a longa distância.

  1. É fácil compreender-se a estupefação de Zinka e seu grupo, que mal podem respirar. Principalmente Zorel procura externar-se den- tro de sua lógica habitual, sem algo conseguir, porquanto suas noções matemáticas colidem com este fenômeno. Ele por diversas vezes havia

visitado o Egito como vendedor de escravos, e tinha chegado até às ca- taratas, no que levara cinco a seis semanas, escoltado por bons camelos.

  1. De acordo com seu cálculo, um furacão levaria três dias, uma flecha, meio dia para tal distância. Que velocidade pois não usou Ra- phael para tanto! Se for ele um espírito, como pôde carregar u’a ma- téria, e esta, mesmo sendo de qualidade tão dura? Como era possível protegê-la contra a desintegração pelo atrito do ar?! A lei da Natureza não esclarece esta possibilidade! Além disto, era preciso se considerar a forte irradiação de luz jamais vista! Até esta data só se havia descoberto uma luz fraca, em madeira apodrecida; assim conjetura Zorel.

  2. Em seguida vira-se para Cornélius e Zinka: “Isto se pode deno-

minar um verdadeiro milagre, pois nunca foi visto fato semelhante na Terra! Que qualidade de pedra será esta e que valor não teria para os tesouros dum rei?! Nas extensas costas da África, além das Colunas de Hércules, (Gibraltar), nas zonas onde as faldas do Atlas tocam o Ocea- no Atlântico, observam-se, de quando em quando, pedras semelhantes; sua luz, porém, não perdura e num recinto, logo se apaga. Esta aqui parece ser toda especial e, portanto, de valor incalculável.”

  1. Diz Cornélius: “Não em virtude de seu brilho, mas por Aquele Que a fez trazer. Deixemos este assunto. Amanhã, quando nossos olhos estiverem habituados à luz do Sol, mais facilmente poderemos analisar este fenômeno.” Nisto aproxima-se de Mim, Ouran e diz: “Senhor, que será feito desta pedra?”

  2. Respondo: “Com tal pergunta, externaste propriamente o de- sejo de possuí-la para tua coroa. Isto, no entanto, não será possível, por- que poderiam irromper guerras fatídicas pela conquista. Por tal razão, Meu Raphael a reporá amanhã no lugar anterior, evitando uma possível contenda.”

  3. Observa Cirenius: “Senhor, como oferta ao Imperador esta preciosidade causaria forte impressão.” Digo Eu: “Certamente; mas também lá despertaria a inveja, cujas consequências seriam inevitáveis. Presentear-te-ei com alguns estilhaços para satisfazer-te.”

  4. Prossegue Cirenius: “De que modo se produz sua irradiação luminosa?” Respondo: “Tais pedras não pertencem à Terra, mas pro-

vêm do Sol, onde, de vez em quando, se dão grandes erupções duma violência incompreensível, projetando-as ao Espaço Imenso.

  1. Sua luminosidade deriva de sua superfície extremamente lisa, na qual se acumula, constantemente, quantidade de faíscas, incentivando os elementos algemados na matéria grosseira para uma atividade contínua. Além disto, é esta pedra muito transparente, deixando transluzir a ação, elevada à máxima potência, pela vibração externa dos elementos do ar.

  2. Essas filhas do Sol não se acham lá de modo natural, e sim são formadas pelas mãos artísticas de seus habitantes. Geralmente são encontradas em forma redonda, em regiões de grandes rios. Por ocasião das erupções colossais são fundidos blocos de minerais variados e pro- jetados no éter, recebendo sempre a forma arredondada duma gota, em virtude da força centrípeta localizada em toda matéria.

  3. O retorno de tais bólides de variados tamanhos dura, às vezes, dias, semanas, meses e até muitos anos, à medida do ímpeto com que foram expelidos. Alguns se espatifam nas montanhas de rochas solares; muitos caem nos imensos rios sem causar dano, donde são retirados facilmente pelos habitantes. Esses podem permanecer durante horas debaixo d’água; trabalham no fundo do mar como em terra seca, pois além de terem esta faculdade anfibiana, possuem instrumentos muito apropriados para tal fim.

  4. Quando de posse de uma quantidade desses bólides, as criatu-

ras ainda os pulem até que comecem a luzir. Isto feito, são colocados nas catacumbas onde sempre há corrente de ar, em colunas especiais, prestando serviço duplo: um de iluminar tais labirintos, outro como enfeite mui apreciado, pois lá uma simples moradia é internamente muito mais enfeitada que o Templo de Salomon, em Jerusalém. Assim, fácil é de se imaginar que os habitantes do Sol, mormente os da esfera central, tudo empreendam para enfeitar suas habitações. Todavia não nos reunimos a fim de discorrer sobre a narrativa do planeta solar, mas para fortalecer vossa fé, e para tanto necessitamos de outros meios.”

  1. Interrompe Cirenius: “Senhor, se este bólide é tão duro como diamante, como tirar-lhe alguns fragmentos que gostaria guardar como lembrança desta noite?”

  1. Respondo: “Tuas precauções são por demais terrenas. Existe ainda grande quantidade, seja na África ou no Sol, distância de some- nos importância para Meu anjo. Deste, ninguém poderá desprender um fragmento sequer sem destruí-lo e, nesse caso, perderia a faculdade luminosa. Agora, mudemos de assunto.”

  1. ALMAE CORPO

  1. (O Senhor): “Zorel e Zinka, aproximai-vos de Mim e dizei-Me que desejais ver e saber.” Manifesta-se prontamente Zinka: “Senhor, eis uma questão difícil de ser resolvida por pessoas imperfeitas que somos. Por certo ignoramos o que nos seja necessário saber, enquan- to não constitui isto segredo para Ti, por isto, tudo que nos fize- res pelo Teu Imenso Amor e Sabedoria, só poderá reverter em nosso benefício.”

  2. Digo Eu: “Muito bem; sendo o conhecimento da sobrevivência da alma após a morte algo de maior importância, analisaremos este ponto mais de perto. Já por diversas vezes vos demonstrei em que con- siste a morte propriamente dita, e quais os efeitos para alma e espírito. Se vos explicar tal fenômeno por teorias extensas, nem daqui a um ano terminaríamos; por isso exemplificarei tal problema, facilitando-vos a compreensão. Antes, porém, deveis saber a maneira pela qual alma e corpo estão ligados.

  3. A alma, como conglomerado de elementos de atração, é de subs-

tância puramente etérea; o corpo, também contendo em sua natureza elementos etéreos, torna-se com ela homogêneo. Esta afinidade é o úni- co laço que prende a psique ao físico, onde pouca ou nenhuma atração se manifesta; mesmo havendo essa afinidade, deve ser expelida do corpo pelo processo da decomposição, e integrada no Além à alma, de certo modo desnuda.

  1. Se em vida a psique tiver assimilado em demasia os elementos materiais do corpo, ela também é atingida pela morte, devendo decom- por-se juntamente com ele, despertando, apenas, após vários anos, em estado de máxima imperfeição. Claro é, ser mui difícil elevar-se para a

luz, porquanto nela tudo é matéria obscura, onde reina pouca manifes- tação de vida e grande treva em todos os recantos de sua natureza.

  1. Por muito tempo será impossível cogitar-se do despertar espiri- tual, até que a aflição e toda sorte de humilhações tenham exterminado da alma a ignorância tremenda e os elementos do corpo. No Além, este processo é muito mais penoso que em vida, porquanto a alma terá de permanecer só, em completo isolamento, a fim de não ser tragada, em sua natureza informe, por outra entidade plena de fogo vital, como desaparece uma gota d’água em cima de uma chapa incandescente. A toda alma incompleta vale — diante de um espírito perfeito — aquilo que disse a Moysés, desejoso de Me ver: Não poderás ver Deus e con- tinuar com vida.

  2. Quanto mais potente se manifesta uma entidade tanto mais for-

te, poderosa e pesada se apresenta, tornando impossível a sobrevivência duma inferior, a não ser a certa distância. Que vem a ser o mosquito perto dum elefante, a mosca ao lado do leão? Qual seria o valor do musgo delicado perto do cedro centenário, no Líbano? Esta Terra perto do grande Sol? Uma gota d’água comparada a um fogo poderoso? Vosso peso nas costas dum paquiderme certamente não o perturbará; se, po- rém, pisares uma formiga, será aniquilada.

  1. Se isto é palpável em a Natureza, muito mais pronunciado se apresenta no Reino dos espíritos. Em toda a manifestação de vida existe a necessidade insaciável para um acréscimo destes elementos, e o prin- cípio de atração e união é simplesmente o amor. Se assim não fosse, não haveria Sol, nem Terra e muito menos criaturas.

  2. Existindo em a vida o princípio vital de atração, esforçando-se constantemente por uma união à outra semelhante, tais elementos in- teligenciados e isolados, agrupam-se para uma única manifestação inte- lectiva de projeção maior, surgindo assim de muitos elementos de fraca inteligência, um ser de grande poder intelectual.”

  1. DESENVOLVIMENTODEALMASFRACASNO ALÉM

  1. (O Senhor): “Se dentro de tais princípios, uma alma fraca e des- nuda, encontrasse no Além um espírito semelhante a Raphael, imedia- tamente seria por ele tragada, assim como o mar absorve uma gota de chuva. Eis por que prevalece em todo o Universo, o cuidado determinado por Mim de se deixar uma psique ainda fraca e ignorante num isolamento completo, permitindo apenas a aproximação de outras, a ela semelhantes.

  2. Tais potências de vida não se podem tragar reciprocamente, por- quanto são de força e poder idênticos; entretanto, formam agrupamen- tos onde conjeturam sobre qual medida a tomar; sendo sua inteligência idêntica, nada de bom pode daí surgir. Imaginai uma assembleia de pessoas inteiramente desprovidas de compreensão, tentando resolver algo razoável. Qual seria o efeito? Nulo.

  3. Ainda hoje existem — mormente em ilhas — povos que lá vi- vem desde a época de Adam; são descendentes de Caim, na mesma cultura intelectual que há dois mil anos atrás. Por que não obtiveram progresso cultural, não obstante as variadas assembleias? Por ser o mais sábio dentre eles mais ignorante que hoje um pastor de suínos. Se tal é a situação do sábio, que esperar dos outros que lhe pedem conselhos?!

  4. Naturalmente indagareis o motivo por que Deus não lhes en- viou alguns profetas inspirados pelo seu Espírito, — e eis o nosso ponto a discorrer. Nesses povos habitam almas mui primitivas, de sorte que uma orientação mais elevada as aborreceria, prendendo-as num julga- mento infindo. A Verdade pura e sublime as transportaria à mais tene- brosa superstição, onde se haveriam de positivar de forma tal, que nem Eu as poderia libertar.

  5. Por isso é necessário que permaneçam, por mais mil anos, em seu atual conhecimento. Decorrida essa época, serão procurados por pessoas de maior inteligência, que lhes ensinarão através de exemplos. De tempos em tempos, tal surpresa se repetirá. Passados alguns séculos, com estas instruções aqueles povos estarão mais providos física e psiqui- camente, sendo então possível a gradativa aplicação dum conhecimento mais elevado.

  1. Do mesmo modo, porém mais difícil, sucede no Além a evolução e o aperfeiçoamento duma alma surgida da Natureza, completamente desnuda. Tem de permanecer isolada e em total escuridão, até que, le- vada pelo próprio sofrimento, resolva sacudir sua letargia semimaterial, começando a formar pensamentos mais concisos em seu coração.

  2. Quando tais pensamentos se tornarem mais nítidos e firmes, faz-se uma pequena luz em tal entidade, alcançando uma certa base onde se possa firmar e caminhar. Este caminhar consiste em passar dum pensamento a outro e duma impressão à outra. Trata-se duma busca que terá de ser satisfeita, do contrário, a alma recairia no antigo estado de inércia.

  3. Se neste anseio ela algo encontrar, é impulsionada para outra busca e pesquisa, e acaso achando vestígios duma semelhante, não des- cansará até que encontre o que espera.

  4. Por essa pesquisa intensiva, ela se torna mais sazonada e procura se saciar com tudo que lhe proporcione um invólucro para o seu corpo etéreo. Cá e acolá também acha algo para satisfazer fome e sede; pois quanto mais se manifesta um sentido, em virtude do crescente fogo vital, tanto maior oportunidade se apresenta para lhe despertar novas necessidades.”

  1. CONDUTADASALMASNO ALÉM

  1. (O Senhor): “Por este motivo, o espírito incumbido de guiar tal psique à certa distância deve usar da maior precaução, a fim de que ela venha apenas encontrar o que lhe proporcione um avanço.

  2. Somente com o tempo poderá encontrar uma semelhante, opri- mida pelo mesmo sofrimento, entrando num intercâmbio idêntico ao de duas criaturas que na Terra sofrem a mesma desdita. Apiadam-se reciprocamente, pouco a pouco deliberando a maneira pela qual pode- riam melhorar seu destino.

  3. Compreende-se ser tal semelhança apenas aparente, do contrá- rio um cego se tornaria guia do outro, onde facilmente ambos tomba- riam na vala, situação pior que a anterior durante o isolamento.

  1. O espírito que — como por acaso — aborda uma alma ainda jovem, não deve deixar transparecer sua perfeição, mas tornar-se inicial- mente igual a ela. Estando alegre ele rirá com ela; chorando, também imitá-la-á. Somente quando ela se aborrece e amaldiçoa seu destino, o espírito deve aparentar o mesmo desgosto, entretanto simular o in- sensível que pouca importância dá à situação. Desde que as coisas não melhorem, convém deixá-las como estão! Tal ponto de vista, torna a jovem alma mais acessível, satisfazendo-se com uma pequena vantagem que se apresente casualmente.

  2. Havendo encontrado um pequeno pouso, deve ser entregue ao

seu destino, enquanto não manifestar necessidade de melhoria. Asseme- lha-se ela às pessoas que aqui se contentam com uma posse diminuta, quando se lhes dá o necessário sustento. Progresso algum lhes toca. Aca- so os afazeres dum imperador ou general lhes dizem respeito? Enquanto tiverem o que comer e seu descanso dominical, sentem-se felizes.

  1. De modo idêntico é a situação duma alma que, após ter saído de seu estado de isolamento, alcançou um bem-estar relativo pelo próprio esforço, nada mais almejando para seu progresso, porquanto despreza tudo que seja sacrifício.

  2. Suponhamos ter uma alma encontrado um emprego com pes- soas de boa índole de sorte que nada lhe falte, ou tenha conseguido a posse duma casinha com horta, algumas cabras e, talvez, ainda um ou dois servos. Em tal caso, o espírito guia nada terá de fazer, deixando que ela permaneça por algum tempo neste estado.

  3. Pelo afastamento temporário, dará impressão tentar ele próprio algo de melhor; quando de volta, relatará ter encontrado situação mais vantajosa, mas será difícil consegui-la por se prender a muito trabalho! A jovem alma certamente indagará da espécie daquela tarefa; uma vez esclarecida e demonstrando inclinação para tanto, o guia a conduzirá para tal local. Assim sendo, deixá-la-á cuidando dos produtos de sua horta que cada vez mais escassos tornar-se-ão e finalmente nem lhe suprirão as necessidades prementes.

  4. A alma então tudo fará para aumentar a produção; o guia, no

entanto, não lhe facultará tal ensejo, mas procurará convencê-la do

completo insucesso de seu esforço, até que ela própria venha a manifes- tar vontade de abandonar aquela morada, e aceitar um serviço que lhe proporcione futuro mais seguro.

  1. O guia a conduzirá para um emprego que exija muito esforço; ele mesmo, porém, afastar-se-á novamente sob alegação de ter encontra- do um serviço bem pesado, com boa remuneração. A alma é orientada em sua incumbência; advertida, também, de que qualquer desleixo lhe será descontado, enquanto um aumento de seu esforço lhe trará acrés- cimo monetário. Ela, então, decidirá por conta própria: cumprindo as exigências, será levada a um estado de maior conforto, onde começará a receber a insuflação de pensamentos e sentimentos mais variados. Caso contrário, o anjo protetor a fará voltar à anterior penúria.

  2. Se após certo tempo ela tiver caído em extrema miséria, o guia

se apresentará bem situado, como proprietário de muitas terras, e inda- gará da alma por que razão havia desleixado o emprego tão promissor. Ela, naturalmente, começará a se desculpar do esforço que lhe fora exi- gido. Então lhe será demonstrado que sua situação nessa horta estéril é bem mais penosa e sem expectativa de melhoria.

  1. Deste modo, ela será induzida a aceitar novamente uma colo- cação onde tudo fará para satisfazer as exigências, o que lhe trará pron- to benefício, todavia, deve ser mantida na ideia de ainda estar viva. Almas materialistas custam a compreender sua situação após a morte, sendo preciso ensiná-las pelo caminho apropriado. Este conhecimento só lhes será suportável, quando tiverem alcançado um progresso que lhes faculte consistência mais sólida. Só então estarão aptas a pequeno ensinamento, porquanto começa a manifestar-se o germe do espírito.

  2. Tendo a alma aceito encontrar-se no mundo dos espíritos e

que seu destino eterno depende, unicamente, de seu próprio esforço, deverá lhe ser demonstrado o caminho justo do amor para Comigo e ao próximo, cabendo-lhe palmilhá-lo por livre vontade e determina- ção própria.

  1. Igualmente orientada sobre aquilo que de qualquer maneira lhe é necessário alcançar, o guia a deixará novamente, até que ela o chame em seu coração. Não externando desejo de sua presença, ela ipso

factoestará no caminho seguro; desviando-se por atalhos, ele provocará novo estado de penúria para ela. Reconhecendo seu erro e pedindo pela presença do guia, ele se aproximará, demonstrando com paciência a inutilidade de seu empreendimento.

  1. Se ela manifestar novo desejo de melhoria, ele a satisfará e caso ela cumpra seus deveres será favorecida, mas não tão rapidamente como da primeira vez, porquanto recairia facilmente na letargia anterior, don- de só sairia com dificuldade, pois cada reincidência a tornará endurecida qual tronco que, de ano para ano, custará mais para se deixar envergar.”

  1. PROGRESSODAALMANATERRAENO ALÉM

  1. (O Senhor): “Subentende-se não se tratar de caso isolado, mas de norma básica, pela qual se eleva uma psique, aqui e no Além, de seu atraso materialista. Existem variedades incontáveis cada qual exigindo especial tratamento; entretanto, há uma regra que todos devem consi- derar, assim como o solo tem de ser estrumado com a chuva, a fim de que a semente lançada germine. A maneira pela qual os variados grãos no solo aguardam sua vivificação, assimilando da chuva aquilo de que necessitam, é tarefa da inteligência peculiar daqueles espíritos que habi- tam nos grãos, portanto sabem cuidar de sua morada.

  2. Demonstro-vos isto para que reconheçais a dificuldade inerente

ao caminho da perfeição no Além, e quão fácil ele se dá na Terra, onde a alma é possuidora do corpo físico, no qual pode depositar suas ten- dências materiais, tão logo o queira. No Reino dos espíritos, isto não é tão fácil. A alma sem corpo, também deixou de pisar em solo terreno, e flutua sobre base espiritual, provinda de seus pensamentos e ideias, inadequados à assimilação da matéria expelida pela psique, a fim de enterrá-la para sempre.

  1. Mesmo ela tentando algo enterrar em seu solo, poderia ser com- parada à tentativa de se jogar uma pedra daqui ao Espaço Infinito. Quem possuísse força para atirá-la numa velocidade que ultrapassasse trinta mil vezes a duma flecha, tal ímpeto não mais a deixaria voltar à Terra; porém, uma força menor não surtiria efeito.

  1. Tal é a situação duma alma no Além, presa a seus pecados. Se ela os afasta de si e os atira sobre seu solo, pouco efeito terá, porquanto a base psíquica em que se encontra, é tanto sua posse quanto a força de atração telúrica faz parte da Terra, sem dela se poder afastar.

  2. Se, portanto, uma alma no Além pretende se desfazer de tudo que seja matéria grosseira, preciso é que venha a agir uma força mais elevada; esta força pousa justamente no Meu Verbo e em Meu Nome! Eis por que Deus proferiu: Diante de Meu Nome todos se ajoelharão nos Céus, sobre e debaixo da Terra! Nisto, subentende-se todas as cria- turas dos inúmeros mundos no Espaço Infinito; pois, no Céu, habitam os filhos já perfeitos de Deus. Nesta Terra, somente os que são desti- nados para tal fim. Se ela, portanto, possui este privilégio sublime, sua dignidade perante Deus está acima de todo o Universo. Os demais cor- pos cósmicos são moralmente inferiores, assim como seus habitantes, no que se entende ‘os que habitam debaixo da Terra’.

  3. Já vimos que somente pela Minha Palavra e Meu Verbo uma

alma se purificará por completo. Isto, porém, não é tão fácil, pois neces- sita de grandes preparativos. Preciso é que a psique se tenha exercitado em atitudes independentes e ser possuidora duma força considerável, antes de poder aceitar Meu Verbo e, finalmente, o Meu Nome. Nesta situação, ser-lhe-á fácil expelir o último átomo de seu território, de tal forma a impossibilitar que volte para lá.”

  1. ODESENVOLVIMENTO PSÍQUICO

  1. Interrompe Cirenius que havia prestado a máxima atenção: “Se- nhor, não posso negar ter compreendido tudo que acabaste de expla- nar, todavia tenho a impressão de que um dia não me possa externar a respeito, o que me deixa triste. Talvez fosse possível nos dares mais uma pequena elucidação.”

  2. Digo Eu: “Amigo, vós romanos, tendes um bom provérbio que diz: Longum iter per praecepta, brevis et efficax per exempla (O caminho do ensino é longo, o do exemplo, curto e eficaz). Isto se aplica no mo- mento; espera, pois, pelos exemplos que vos demonstrarei em breve.

Esclarecer-te-ão as tuas atuais dúvidas. No seu todo compreenderás o assunto, somente, quando o Espírito Puro da Verdade Eterna se espar- gir sobre vós, conduzindo-vos a todas as verdades de Céus e mundos.

  1. Acaso não percebes existir uma só lei natural no crescimento dos reinos animal e vegetal?! Todas as plantas crescem e se multiplicam através de seu interior, isto é, absorvem da umidade terrena os elemen- tos necessários, por incontáveis canais e tubos, que assim purificados se integram à vida vegetal.

  2. Os animais buscam seu alimento na mesma fonte, apenas é ele mais purificado pelo organismo das plantas ou na carne de espécimens inferiores, do que no humo primitivo da terra.

  3. O homem se alimenta finalmente de matérias mais apuradas, do reino vegetal e animal. Não lhe servem capim e feno, pois dos vegetais necessita principalmente do trigo, e das árvores, os frutos mais nobres e doces. Dos animais procura, em geral, os mais limpos, sentindo asco dos impuros.

  4. Quantos desvios e aberrações não existem no desenvolvimento dos reinos vegetal e animal! Todavia, todos alcançam sua finalidade. Não pode passar despercebido, aos olhos dum pesquisador, que no mundo da Natureza um elemento serve para o progresso de outro.

  5. A vida da alma tem de ser filtrada pelos elementos variados da Natureza. No começo se acha ela no éter, onde se concentra pela atra- ção com elementos similares e afins. Neste processo se torna mais pe- sada, emergindo em seu próprio centro, criando uma substância mais densa e sensível.

  6. Como ar, a vida psíquica se aglomera, surgindo as nuvens e ne- blinas que por sua vez se transformam pela atração, em gotas d’água caindo à terra como chuva, saraiva, neve, orvalho e, em certas zonas, permanecem como formações nebulosas e névoas úmidas.

  7. A água, muito embora de qualidade inferior, está todavia acima do éter e do ar, sendo obrigada a servir de modos variados aos superio- res centros de vida. Tem de amolecer a existência endurecida dentro da pedra, aceitando tais elementos para levá-los ao progresso. Eis o primei- ro serviço prestado.

  1. Em seguida, deve fazer passar as partículas psíquicas e substan- ciais, às plantas. Quando tais elementos se tiverem desenvolvido para formas de inteligência mais definida, são eles absorvidos pelo vapor e água. Esta, terá de lhes proporcionar a matéria para novas formas de vida, mais libertas. Deste modo, a água trabalha sempre na própria esfera, não obstante dela se desprenderem constantemente, um sem número de partículas inteligenciadas de vida psíquica, que se libertam mais e mais. A incumbência da água é mui simples. Ao reino vegetal já cabe um serviço mais variado e complexo, o que deparamos na mais simples planta.

  2. Mais diversos e importantes são os préstimos para a evolução

da vida psíquica, nos mais ínfimos e simples animais, próximos do rei- no vegetal. E assim, o desempenho se torna sempre mais entrelaçado à medida do progresso da vida psíquica.

  1. Havendo a vida psíquica se integrado inteiramente na forma humana, sua primeira determinação é servir; pois existem variados servi- ços naturais e obrigatórios na criatura. Além desses, uma quantidade de outros mais livres e muito maior número de incumbências morais que o homem tem de aplicar. E se tiver feito todas as suas obrigações, ter-se-á também elevado à máxima perfeição de vida. Isto se torna fácil em pes- soas que, desde o nascimento, se encontram em posição mais elevada. Outras, que a bem dizer, ainda beiram o reino animal, não o conseguem aqui. Terão de evoluir no Além, sempre no caminho básico do servir.”

  1. AFINALIDADEDO SERVIR

  1. (O Senhor): “Pelo servir se pratica e se evolui na humildade; pois quanto mais inferior uma tarefa, tanto maior utilidade para a verdadei- ra formação da vida. A humildade é nada mais que a condensação mais forte da vida, em si. O orgulho é uma criação fútil, a dispersão para o Infinito, a perda completa da própria vida, o que podemos chamar a segunda morte ou a morte espiritual.

  2. No orgulho, não existe cooperação e portanto nenhum progres- so. Se pelo domínio orgulhoso se concretizasse o desenvolvimento vital,

Eu, por certo, teria estabelecido uma ordem que facultasse ao homem esse direito. Sendo o orgulho contrário à Minha Ordem Eterna, toda criatura e anjo têm de se submeter a servir e encontrarão, por fim, a maior felicidade e bem-aventurança, na constante colaboração.

  1. Sem cooperação, não há vida, nem continuidade da mesma; não existirá felicidade, nem amor, nem sabedoria, nem alegrias, tanto aqui, quanto no Além. E quem julgar ser o Céu um ambiente cheio de ocio- sidade e dolcefarniente, enganar-se-á.

  2. É justamente por este motivo que aos espíritos felizes dos Céus mais elevados são conferidos força e poder tais, que prestam a Mim os serviços mais relevantes, assim como a todas as criaturas em sua vida de provação. Que utilidade teria o dom da força criadora?! Seriam precisas força e sabedoria para a ociosidade?! Se sua atividade e cooperação já cons- tituem uma importância indescritível para este planeta, quanto não repre- sentarão para o mundo dos espíritos e através deste, para todo o Infinito?

  3. Não vim ao vosso convívio a fim de educar-vos para o ócio ou apenas para a lavoura, criação de gado etc, mas para formar-vos trabalha- dores competentes da grande Vinha Celeste. Minha Doutrina se concre- tiza, primeiramente, no aperfeiçoamento de vossa vida interior; segundo, para que vós próprios, como criaturas perfeitas, possais vos tornar os colaboradores mais íntegros e aptos, em vida e mormente no Meu Reino.

  4. Se tal não fosse Minha Intenção final e Eu vos dissesse: Agi ape- nas em vida terrena; pois no Além podereis descansar eternamente, no maior conforto, e olhar boquiabertos as Maravilhas de Deus! Eu deveria ser mais tolo que qualquer um de vós. Por certo, fitareis as Glórias Di- vinas, mas não sem atividade, pois dela depende aumentardes as Mara- vilhas, tornando-as sempre mais gloriosas e divinas.

  5. É de Minha Vontade que a partir de agora, todos os Meus Pen- samentos e Ideias sejam por vós, Meus filhinhos, realizados aqui, para alma, coração e espírito de vossos irmãos, e no Além, em todos os gran- des feitos, partindo da esfera inicial do espírito até sua formação na ma- téria. De lá, porém, retornará à vida multiplicada, pura, espiritualmen- te livre e perfeita. Para tanto, será preciso tempo, paciência e atividade infinitas e uma idêntica sabedoria e força que tudo abrange!”

  1. PESQUISANDOOSSEGREDOSDA CRIAÇÃO

  1. (O Senhor): “Não deveis supor que um mundo, como esta pe- quena Terra, pudesse ser criado e povoado de hoje para amanhã. Para isto são precisos miríades vezes miríades de anos! Que período imenso já não é preciso apenas, até que um mundo seja apto para produzir um homem! Que variedade de plantas e de animais para estrumar o solo pela fermentação e decomposição foi necessária, até que se formasse no mofo, aquele humo onde a primeira alma forte pôde absorver seu corpo dentro da Ordem Divina, útil e capaz à procriação! Deste modo, as almas feitas e livres, porém, sem corpo, não mais necessitam formá-

-lo pelos vapores através de séculos, mas criam-no pelo caminho mais curto, num corpo constituído de todas as necessidades.

  1. Para tudo isto são precisos: muito tempo, muita sabedoria, mui- ta paciência e uma força infinita! Como não podeis — e muito menos Eu — deixar de pensar e formar ideias, o ato criador prossegue sempre; pois não é possível se pensar no Nada. Mal o pensamento se faz sen- tir, ele se apresenta como forma; assim surgindo, é ele envolvido por membrana espiritual e como objeto receptível à luz, do contrário não o poderíamos perceber. Enquanto Eu formar e projetar Minhas Ideias e Pensamentos, e vós o fazendo através de Mim, tal projeção nunca terminará. O Infinito jamais carecerá de Espaço, tampouco seremos molestados pelo tédio.

  2. Onde existe muito serviço, as incumbências são múltiplas, de

acordo com o grau de capacidade dos colaboradores. Quem houver adquirido muitas qualidades dentro de Minha Ordem terá de dirigir os mais variados serviços, assim como os que pouco houverem con- quistado terão tarefas menores. E aquele que nenhuma aptidão tiver alcançado terá de sofrer, no Além, penúria e consumação, até que se tenha capacitado pelo esforço íntimo, livre e independente, a aceitar o mais simples serviço; não se saindo bem, brevemente perderá aquilo que havia conseguido com suas faculdades reduzidas.

  1. A quem tem, ainda mais será dado, para que possua em abun- dância. Quem nada tiver perderá o que já possuía, e seu destino será:

noite, treva, fome, miséria e toda sorte de sofrimento, até que se pron- tifique a se tornar ativo dentro de si mesmo, para assim ser admitido a um serviço progressivo.

  1. Por isto, sede esforçados aqui, não vos deixando ofuscar pelos te- souros do mundo, que desaparecerão como forma material da Criação; acumulai, ao invés, os bens espirituais que durarão por toda a Eterni- dade! Sede mordomos prudentes na morada de vossos corações; quanto maior número de bens espirituais lá tiverdes acumulado, tanto melhor passareis no Além. Quem em vida agir com parcimônia, será responsá- vel se encontrar as despensas de seu coração inteiramente vazias.

  2. Aqui é fácil acumular-se, pois tudo que é feito de boa vontade por amor a Deus e ao próximo, será convertido em ouro puro. No Além, todavia, será preciso conquistar e pagar com o ouro puríssimo do esforço interno. E isto, Meus amigos, é difícil naquele Reino onde não existem minas de ouro e prata materiais.

  3. Aqui vos é possível transformar em ouro os detritos da rua, po- dendo com isto comprar o Céu, caso vosso coração seja honesto no momento da compra. No Além, ser-vos-á possível, somente, produzir algo de nobre, com vosso mais puro sentimento, empreendimento mais complicado que transformar aqui, o ordinário pedregulho em ouro. Quem tiver produzido, em vida, grande quantidade deste metal através de obras boas e nobres, não sofrerá necessidades posteriores; pois um grão de areia deste nobre metal, reverterá, no Além, num bloco imenso, fornecendo provimento correspondente.”

  1. AVERDADEIRAAPLICAÇÃODOAMORAO PRÓXIMO

  1. (O Senhor): “Neste momento vejo surgir um pensamento malé- volo dentro de alguns, insuflado por Satanás. Ei-lo: Empregastes muito esforço na aquisição de vossos bens, para vós e vossos descendentes, e agora devereis esbanjá-los com pessoas que passaram sua vida no ócio?! Que trabalhem para ganhar o pão convosco, que lhes será facultado à medida de seu mérito! Quem não quiser trabalhar, que sucumba qual cão em plena rua!

  1. Afirmo-vos ser maldoso tal pensamento! Como poderia um cego trabalhar? Todavia, é ele vosso irmão com os mesmos direitos de viver que vós, possuidores dos cinco sentidos! Como deveriam trabalhar os pobres, velhos e as crianças fracas de pais indigentes, desprovidos de forças? Entrevados e aleijados deveriam, acaso, procurar um ganha-pão convosco que lhes seria pago o mais reduzidamente possível?!

  2. Como poderiam trabalhar aqueles que, dia a dia, procuram colo- cação, sem encontrá-la?! Sempre ouvem a mesma desculpa de não haver trabalho, no momento. Entretanto, vosso pensamento mau manda que procurem noutra parte, onde ouvirão a mesma justificativa! Tais pes- soas, finalmente, tornam-se mendigas que insultais, chamando-as de vadias. Um ou outro, então, pratica o roubo; logo é preso por vós como animal furioso, maltratado e depois atirado ao cárcere. Um terceiro até se torna assassino ou, no mínimo, um temido assaltante. Conseguindo prendê-lo, será condenado, encarcerado e morto de modo cruel.

  3. Eis os efeitos de vossos maus pensamentos que, desde sempre,

foram insuflados pelo príncipe das trevas. Isto não mais pode continuar, pois tem sua origem no inferno e não deve surgir em vossas almas.

  1. Não exijo que distribuais todas as vossas posses com os pobres, por serdes Meus discípulos; deveis tornar-vos sábios administradores da fortuna que vos foi confiada, a fim de que os pobres não passem misé- rias e necessidades quando vos abordarem.

  2. Vede nosso amigo Ebahl de Genezareth. Desde que é hospedei- ro acolheu milhares de pobres daqui e do estrangeiro, sem relutância ou receio em virtude de sua família; todavia, sua fortuna não dimi- nuiu! Pelo contrário, é tão grande que facilmente poderia adquirir um imenso reinado. Entretanto, apenas lhe dá importância pelo motivo de poder auxiliar mais e mais aos necessitados. Preocupa-se com sua família e empregados, no sentido de que possam tornar-se fortes no conhecimento de Deus, Único e Verdadeiro; em compensação, Eu Me incumbo de tudo e de todos, e vos garanto que jamais algo fal- tar-lhes-á.

  3. Aos receosos, entrego a preocupação doméstica e jamais cumu-

larei seus celeiros com trigo e grão, e sua lagariça não transbordará de

vinho. Suas hortas não demonstrarão o acúmulo de Minha Bênção, seus lagos não serão turvados por grande quantidade de peixes, e seu gado será tampouco o mais gordo do país. Conforme se dá, receber-se-

-á! Quem manifestar confiança fraca, colherá de acordo com ela! Darei a todos à medida de sua confiança e fé, frutos do amor para Comigo e com o próximo.

  1. Sede, por isto, sempre misericordiosos, que encontrareis Mise- ricórdia Comigo! Minha Atitude convosco corresponderá àquela que usardes para com o semelhante. Aconselho-vos serdes prestativos, exce- der-vos na caridade, amar-vos como Eu vos amo, e demonstrareis, ao mundo, que sois realmente Meus discípulos e em espírito Meus verda- deiros filhos.

  2. A finalidade de todos se concretiza na prática do amor em vida, para a grande missão em Meus Céus. Lá, apenas o amor tudo fará, e a sabedoria que não tenha sua origem na chama do amor, jamais será acolhida no Céu, portanto, também, nada lhe será dado fazer!”

  1. OAUXÍLIO MONETÁRIO

  1. (O Senhor): “Quem de vós possuir muito dinheiro, não deve emprestá-lo aos que lhe possam devolvê-lo em época determinada, pagando-lhe juros elevados, mas aos pobres, impossibilitados de resti- tuí-lo de qualquer forma; assim agindo, terá crédito Comigo, que lhe devolverei capital e juros, dez vezes mais em vida e cem vezes no Além. Quem o emprestar unicamente àqueles que, em tempo cumprirem as exigências ou são obrigados a fazê-lo por ordem judicial, terá recebido seu prêmio de modo completo, não precisando aguardá-lo de Minha parte, pois não Me prestou serviço e sim, ao mundo e a si próprio.

  2. Certamente alegareis: ‘Emprestando-se, a juros, a quem se acha

em dificuldade não deixa de ser uma atitude caridosa; pois o outro assim se tornou rico e, com facilidade, pode devolver capital e juros, enquanto o credor arriscou-se a perder sua fortuna numa especulação duvidosa. Já que auxiliou o pedinte, Deus, com toda Sua Sabedoria, não poderá criticá-lo quando aceitar o que de direito. Primeiro, por ser

o credor pessoa com as mesmas obrigações para com terceiros; segun- do, pode se dar o caso de ser o dinheiro emprestado, sua única posse a lhe facultar os meios de subsistência. Se não exigir a devolução, de que modo viverá? Poderia, acaso, o devedor querer ficar com a importância, quando lhe proporcionou grandes lucros e além disto, não ignora ter sido ela a posse única do prestativo credor?!’

  1. Eis Meu Parecer: o rico que for abordado por um amigo em dificuldades, não deve privá-lo neste sentido. Emprestando a juros pres- critos por lei, terá feito uma obra de Bem que terá seu mérito também no Céu. De modo semelhante é obrigação do devedor não só restituir a importância com os juros; se o lucro foi considerável, deve dividi-lo espontaneamente com o amigo que lhe socorreu. Este, porém, nunca deve exigi-lo!

  2. Ninguém é por Mim obrigado a emprestar a um pobre, incapaz de poder empregar uma soma vultosa, porquanto teria assim esbanjado seus bens e ainda dado oportunidade ao pobre, a satisfazer seus apetites. Tal obra não seria nem boa, nem má, porém tola, portanto não agrada- ria ao Meu Amor e muito menos à Minha Sabedoria.

  3. Se uma pessoa entendida no negócio, mas que, em virtude de maus resultados, tenha se tornado pobre, não deve ser privada no que pede, mesmo não havendo certeza de reaverdes o capital, nem os juros. Se o outro obtiver sucesso em sua empresa, saberá, como vosso irmão,

o que fazer, pois tem as mesmas obrigações que vós.

  1. Caso não lhe seja possível devolver a importância, não vos com- pete zangar-vos com ele, ou procurardes reavê-la dos seus descendentes. Tal atitude seria inclemente e contra a Minha Ordem. Se filhos e netos se tornaram ricos, farão bem pagando a dívida contraída por seu pai ou avô, para com amigo tão humanitário, fazendo jus à Minha Benevolên- cia. O amigo, por sua vez, também saberá como agir com tal importân- cia, por amor a Mim e ao próximo.

  2. Se, portanto, afirmei que deveis emprestar vosso dinheiro aos que não vos podem devolvê-lo, queria apontar o que acabo de exempli- ficar. O que fica abaixo ou acima disto seria tolo ou prejudicial, logo, grave pecado contra o amor ao próximo.”

  1. OAUXÍLIOJUSTOEOAUXÍLIO ERRADO

  1. (O Senhor): “Ser útil é pois o grande lema em todas as esferas do Infinito, tanto no Reino da Natureza quanto no dos espíritos. Os habitantes do inferno também entendem do assunto, apenas divergem grandemente em sua aplicação; lá, afinal, todos querem ser obsequia- dos. Caso um venha prestar serviço a outrem, fá-lo apenas aparente- mente, visando seu amor próprio e procurando enganar ao pedinte, para em época oportuna, dele se aproveitar.

  2. Uma alma infernal enaltece seu superior, do mesmo modo que uma certa espécie de aves de rapina age com as tartarugas. Suponhamos que um gavião veja o esforço da tartaruga para sair do brejo à terra, onde tenciona saciar sua fome com ervas. O gavião esfaimado, amavel- mente, tira-a do brejo e condu-la à terra seca e verdejante. A tartaruga de pronto se entrega a saciar sua fome, enquanto ele a observa por certo tempo e, de leve, experimenta a dureza de seu casco. Não lhe sendo possível bicar um pedaço de carne com seu bico afiado, ele deixa que ela paste até que se torne mais destemida, esticando sua cabeça para fora da proteção cascuda, na ânsia de ervas fresquinhas.

  3. Percebendo isto, o gavião pega a cabeça vulnerável da tartaruga,

com suas garras, carrega-a às alturas até que depare em baixo, um solo pedregoso. Imediatamente solta-a e ela se espatifa sobre a rocha, en- quanto o gavião que acompanhou a cena, velozmente se atira à vítima e começa a encher seu estômago com o prêmio de sua prestimosidade. Tendes aí um quadro nítido do zelo diabólico, em querer ser útil!

  1. Assim, todo favor mais ou menos egoístico é semelhante às gen- tilezas do inferno e impossível ter ele valor diante de Mim e em Meus Céus. Somente um serviço desinteressado é divino, tendo seu prêmio verdadeiro e completo.

  2. Se quiserdes prestar serviços reais, deveis agir por amor e verda- deira fraternidade usual nos Céus. Se alguém vos pedir um obséquio, efetuai-o com alegria e amor, não perguntando antes pelo pagamento; tal atitude é comum entre pagãos, que desconhecem o Verdadeiro Pai no Céu e buscam seus costumes nos animais. Provam isto os egípcios,

cujo primeiro mestre que os levou a pensar era um touro, razão pela qual ainda hoje lhe rendem homenagem.

  1. Se alguém tiver prestado bom serviço, não deves indagar-lhe: Amigo, que te devo? Mas recompensá-lo da melhor maneira possível, manifestando teu amor e alegria. Vendo tua atitude, ele te abraçará com as palavras: Nobre amigo, apenas fiz um pequeno obséquio e queres pa- gar-me tão regiamente? Basta a décima parte, que aceitarei apenas como prova de tua amizade. Se ambos falarem desta forma, com sinceridade e amor, não serão ipsofactoverdadeiros irmãos em espírito?! Só assim o Verdadeiro Reino de Deus se estabelecerá convosco, regendo-vos de modo celestial com o cetro da Luz e da Graça.”

  1. ADOUTRINADEMOYSÉSEADOUTRINADO SENHOR

  1. (O Senhor): “Não basta somente saber e crer o que seja bom, justo e verdadeiro pela Ordem Divina e de todos os Céus; preciso é que se aja por amor e pela alegria do coração que o Reino de Deus e Sua Justiça regerão entre vós, tornando-vos verdadeiros filhos do Pai Celeste.

  2. Acaso alguém tiraria proveito da inteligência e compreensão, persistindo em seu ponto de vista errôneo? Não seria tolo aquele a quem se desse um palácio onde deveria desfrutar com sua família, o máximo conforto e que, embora se alegrasse com o estilo agradável e rico, vives- se reclamando constantemente as grandes inconveniências que se lhe deparam, preferindo continuar em sua velha, pequena e suja morada?!

  3. Se este homem não é tolo, não haverá tolo no mundo. Muito mais ignorante porém, é quem possui Minha Doutrina e a reconhece como eternamente verdadeira, todavia continua agindo qual boi a pu- xar sua velha carroça!

  4. Digo-vos a todos: Bem suave é o jugo que deposito em vós e mui leve o peso que tendes a carregar. Seu porte requer apenas um pequeno esforço e quem não o carregar, será culpado das amarguras e misérias. Tratai-vos com justo amor que descansareis em travesseiros macios e su- aves. Se preferis pedras sob vossas cabeças, ser-vos-ão dadas; ninguém,

no entanto, deve queixar-se na manhã da Vida, estar sua cabeça ferida e magoada.

  1. Se tens dois servos, um honesto, outro desonesto, não serás sumamente tolo dispensando o primeiro por tê-lo admitido há pouco, enquanto o falso sempre te traiu? Por isto desfazei-vos de todos os antigos preconceitos, pois não se aplicam à Doutrina pura do Céu; não somente deixa de ser um remendo para uma roupa velha e ras- gada, mas sim, é uma veste nova e completa à qual a antiga tem de ceder lugar.

  2. Em a roupa velha não compreendo Moysés e os profetas — ouro puríssimo provindo do Céu — mas vossas instituições munda- nas e as leis do Templo, de nenhuma utilidade. Pois a tentativa de se pregar um pedaço novo no grande rombo da roupa velha, não surtiria efeito, porquanto o tecido demasiadamente frágil, não suportaria se- quer um ponto.

  3. Moysés deu, para aquela época, uma constituição para todas as necessidades caseiras e misérias humanas do povo israelita. Foi ela, to- davia, deturpada; além disto, não serve para Minha Doutrina, mesmo em seu sentido inalterado. Não é possível pensar em colheita, quando o solo está sendo arado; uma vez que o trigo esteja maduro, contrata-se ceifadores que não necessitam de arado. Quer dizer: Moysés preparou o solo, os profetas semearam e agora chegou a época da colheita, onde não mais se necessita do profeta com o arado em mãos. Se bem que vimos recolher nos celeiros o que for maduro, o instrumento de Moy- sés vos será entregue para afrouxardes novamente a terra, tornando-a acessível para as sementes puras do Céu. Além disto, serão convocados os guardas destinados a impedir que venha o inimigo e semeie o joio entre o trigo nobre.”

  1. OJOIOENTREO TRIGO

  1. (O Senhor): “Muito embora a terra seja cultivada, a semente pura lançada nos sulcos e os guardas vigiando o campo, deparo desde já uma quantidade de joio entre o trigo! Como é isto possível?

  1. Vede a falta dos guardas: adormeceram à noite, pois pensaram: ‘Quem se atreverá a invadir o campo tão bem vigiado?’ E enquanto dormiam, aproximou-se o inimigo sorrateiramente e rápido, lançou sua semente má sobre o campo.

  2. Quando, de manhã, os vigias perceberam o joio entre o trigo, naturalmente correram para transmitir ao dono: ‘Senhor, lançamos a semente pura no solo limpo e vigiamos o campo maravilhoso; de que adiantou?! O inimigo veio traiçoeiramente e espalhou uma quan- tidade de joio entre o trigo! Está germinando em profusão! Devemos arrancá-lo?’

  3. Qual será a resposta do dono? Ei-la: ‘Como não vigiastes du- rante a noite — época de experiência na vida de todas as criaturas — o príncipe das trevas facilmente pôde espalhar seu joio entre o trigo. Deixai que ambos cresçam até a colheita, quando diremos aos ceifeiros: Juntai primeiro o trigo e guardai-o em meus celeiros; em seguida colhei o joio em molhos, fazei fogo e queimai-os para que suas sementes não caiam de novo à terra, prejudicando-a!’ Ansiosos pela compreensão des- te quadro, indagais em vosso íntimo: Mas como?

  4. Afirmo-vos ser fácil a compreensão; o solo é semelhante aos co-

rações das criaturas desta Terra; o trigo puríssimo, Minha Doutrina; o arador e semeador sou Eu Mesmo e vós, Comigo. Os guardas convoca- dos também sois vós e aqueles que fordes determinar em Meu Nome. O Senhor sou Eu e os celeiros, Meus Céus. Satanás é o inimigo e seu joio, o mundo mau com todas as suas paixões perversas e mortíferas. Os cei- fadores recém-convocados são os mensageiros que em tempo desperta- rei nos Céus, enviando-os para recolherem o trigo e queimarem o joio, evitando venha deturpar campo e trigo. Tereis compreendido isto?”

  1. Respondeis: “Sim, Senhor; mas poderias facilmente impedir, com Tua Onipotência e Onisciência, a aproximação do inimigo mes- mo se formos vencidos pelo sono durante a noite de nossa vida de provação.”

  2. Explico-vos: “Minha Onipotência não pode e não deve agir onde se trata do desenvolvimento livre de Meus filhos. Minha Atitude para convosco é tão tolhida, como a vossa para com outros. Dou-vos o

campo, o arado, o trigo e convosco os ceifadores; o trabalho, — depen- de de vós. Se durante a tarefa vos faltarem as forças necessárias, sabereis que vos aparelharei sempre que Me pedirdes em vossos corações, ani- mando-vos prosseguir com novas forças. Eu, porém, não posso e não devo trabalhar por vós! Se assim fizesse, a liberdade e independência de vossa vida não teria proveito; seríeis apenas máquinas; nunca, porém, criaturas livres, com pensamentos e ações independentes. Por esta ex- planação compreendereis ser o recíproco servir, condição primordial de toda a vida. Assimilai-o bem!”

  1. Diz Cirenius: “Senhor, Tu és eternamente Verdadeiro! Tuas Pa- lavras são claras, Verdade e Vida! Somente agora começo a viver, pois tenho a impressão de haver despertado dum sono profundo. Só Deus pode externar-Se como Tu, porquanto pessoa alguma pode saber o que nela se passa, o que a anima e de que forma deve cultivar sua vida. Nós, Senhor, estamos bem aparelhados por Ti; nossos descendentes terão, não obstante todo zelo, de lutar com toda sorte de joio, entre o trigo de Teu Campo. Quanto a mim, o inferno não encontrará facilidade em semear sua influência no solo. Desejava, todavia, saber de que forma ele consegue realizá-la.”

  1. OSPENSAMENTOSESUAS REALIZAÇÕES

  1. Digo Eu: “Muito fácil. Já vos demonstrei ser preciso que cada criatura caminhe pela estrada da lei, caso tencione alcançar a liberdade e emancipação de seu ser e vida. Existindo tal lei, claro é haver uma tendência na pessoa em querer infringi-la, mesmo só por momentos. Assim, espíritos foram projetados por Mim, antes da Criação, o que já vos expliquei de forma tal a não deixar dúvidas; pois vós mesmos seguis a mesma ordem ao criardes algo.

  2. Primeiro, projetais pensamentos variados; daí surgem ideias e formas. Estas, tornando-se mais concretas, recebem membrana através da vontade. Nesse estado, perduram numa vida espiritual indestrutível que podereis chamar à vossa presença, figuradamente, sempre que isto for de vossa vontade. Quanto mais tempo fixais tal ideia como objeto

formado, tanto maior é vossa afeição para com ele; surge o amor para a forma espiritual. O amor aumenta, se inflama e através do calor vital e sua luz, a ideia se desenvolve mais perfeita, completa e bela; começais então a descobrir utilidades variadas, resolvendo até sua realização.

  1. No princípio, fazeis desenhos em pergaminho até que sejam idênticos à ideia fixada. Desde que em nada divirjam ideia e esboço, consultais os peritos de que forma se poderia realizar a obra. Eles es- tudam o projeto e chegam à conclusão de serem precisos alguns anos para a realização, e o preço será fixado. Em seguida firmais o contrato, a obra é iniciada e, mais tarde, vossa ideia original estará pronta para a admiração e utilidade de milhares.

  2. Deste modo construís casas, máquinas, cidades, castelos, navios e outras coisas. De igual forma Eu crio Céus, mundos e tudo que com- portam. Naturalmente exige a criação dum mundo, mais tempo que necessitais para construirdes uma cabana, uma casa, etc; já tendes a matéria pronta, enquanto Eu preciso criá-la e extraí-la da imutável con- sistência de Minha Vontade.

  3. Poderia criar de momento u’a matéria qualquer, sim, até fazer surgir um mundo inteiro; mas sua consistência seria difícil porquanto não foi por mim devidamente alimentada até sua maturação. Quando uma ideia criadora tiver sido suficientemente nutrida e sazonada através de Meu Amor e Sabedoria, aumentará mais e mais em intensidade e consistência.

  4. Isto já se dá convosco no manejo com a matéria feita. Uma casa construída num dia, não poderá desafiar as intempéries dum século. Em edifícios cujas ideias deixastes sazonar completamente, e através de seu reflexo conseguistes maior clareza para transformar tal forma numa realização duradoura e perfeita, vossas construções poderão quase con- correr às pirâmides, conhecidas dos mortais cultos, desafiando também todas as tempestades, sem que venham sofrer dano.

  5. Se os velhos faraós não tivessem estudado com persistência a ma- neira pela qual era possível edificar tais monumentos, como depósito de suas artes e ciências ocultas, que milênios não destruíram, jamais os teriam realizado.

  1. Mais tarde, as criaturas aprenderam a pensar com mais facilida- de, desenvolvendo uma ideia da soma de seus pensamentos que, muitas vezes, era bem complicada. Como, geralmente, as ideias não iam sendo sazonadas com a devida paciência, as obras também eram passageiras, pois o fácil se torna fácil, o difícil, porém, custoso.”

  1. OSURGIRDA MATÉRIA

  1. (O Senhor): “Quando — antes da origem de todo ser — proje- tei Minhas Ideias sazonadas como espíritos, e os cumulei de Minha For- ça, de sorte que começaram a pensar e querer, preciso foi que lhes fosse demonstrada uma ordem pela qual deveriam aplicar o livre-arbítrio, a fim de serem capazes de agir livremente, incutindo-lhes a tentação do não cumprimento da ordem estabelecida. Somente esta tentação lhes facultava uma verdadeira sensação de vida, pela qual chegavam a dedu- ções, preferências e à vontade firme de agir.

  2. Fácil é compreender-se que entre os primeiros espíritos surgisse

certo joio; portanto, a tentação a muitos desequilibrou, endurecendo-

-os nesta tendência crescente e formando deste modo a base para a Criação material dos mundos.

  1. Primeiro, surgiram os principais sóis centrais que deram origem a todos os outros inúmeros sóis e corpos cósmicos, contendo tudo que já sabeis.

  2. Tudo que ora é matéria foi em outras épocas espírito que, por livre e espontânea vontade, se afastou da boa Ordem de Deus, positi- vando-se na reação àquela. É, portanto, a matéria, nada mais que es- píritos em julgamento através de sua própria teimosia; falando mais explícito, é ela a membrana mais bruta e pesada que envolve uma pro- jeção espiritual.

  3. Esta projeção espiritual, todavia, não pode tornar-se propria- mente matéria dentro do invólucro duro e pesado, mas nela permanece seja qual for sua qualidade. Sendo mui rija, a vida espiritual dentro dela é igualmente endurecida, algemada, e não pode manifestar-se e desen- volver-se, caso não lhe venha socorro externo.

  1. Na pedra, por exemplo, a vida somente alcança uma externação quando for amolecida em longas épocas por chuvas, neve, orvalho, sa- raiva, raios e outros elementos que a tornam sucessivamente mais po- rosa. Por este processo se evapora parte da vida espiritual como éter; outra, cria uma nova membrana mais leve, no início em forma de plan- tas delicadas do mofo e musgo. No decorrer do tempo, insatisfeita com tal invólucro, a manifestação da vida, já mais liberta, se concentra e cria uma nova membrana que lhe facilita movimentação mais livre e independente.

  2. Enquanto a membrana for macia e tênue, a manifestação es-

piritual se sente à vontade, nada desejando de melhor. A ação interna dos espíritos, porém, faz com que o invólucro delicado se torne mais rígido, porquanto tende a expulsar a pressão da matéria. Por isto a vida espiritual procura elevar-se, formando assim a haste da erva, o tronco da árvore, tentando proteger-se do sucessivo endurecimento provindo da terra, através de anéis e cortes cada vez mais repetidos. Como, final- mente, desta atividade não podem esperar salvação na estagnação com- pleta, os espíritos comprimem o tronco o mais possível, fugindo para os pequeninos galhos, hastes, folhas e afinal para junto da flor. Isto tudo, porém, também se tornando em breve mais duro e reconhecendo ser inútil todo esforço, os elementos começam a se encapsular com matéria mais afim à sua natureza.

  1. Deste modo aparecem frutos e sementes. Com isto, a parte mais egoística dos elementos libertos duma planta não lucra muito, pois aquilo que se encapsulou num invólucro mais resistente é obrigado a acompanhar a semente ao ser lançada na terra úmida e vivificadora. A outra parte, mais paciente, que se submetera a permanecer na matéria mais inferior, como sentinela e portadora dos elementos mais ativos, amedrontados e impacientes, em breve apodrecerá, passando a uma es- fera mais elevada. Aquilo que for assimilado como fruto pelos animais e homens, será aproveitado em sua parte mais grosseira na formação e alimento da carne; a parte mais delicada é absorvida pelo elemento espiritual que fortalece e vivifica o centro nervoso e a parte mais nobre se torna substância psíquica.”

  1. OEGOÍSMOCOMOORIGEMDA MATÉRIA

  1. (O Senhor): “Se analisardes mais de perto este progresso, não encontrareis dificuldade em reconhecer a verdadeira causa do joio, no campo limpo da Vida. Tudo que se denomina de mundo e matéria é a oposição necessária da verdadeira Ordem espiritual de Deus, pois foi preciso depositá-la como instigação, para despertar o livre-arbítrio nas ideias bem formadas, projetadas por Deus como seres independentes. Por tal razão, deve ser considerado o verdadeiro joio no campo puro e justo da Vida.

  2. Muito embora ter sido o joio, no início, uma necessidade para

a constatação duma vida espiritual completamente livre, preciso é que fosse finalmente reconhecido como tal, pelos seres em liberdade, e ex- pulso por conta própria, pois não pode manter-se com ela. Se bem que é um meio necessário para certa finalidade, nunca se pode a ela unir.

  1. A rede, por exemplo, é também um meio indispensável para a pesca; acaso deveria ser tostada no fogo e servida como alimento?! Uma vez que tenha prestado serviço na redada, guarda-se a mesma, utilizan- do o resultado.

  2. Vimos, portanto, ser imprescindível a tentação, como violação dum mandamento; é o despertador da capacidade do conhecimento e do livre-arbítrio. Enche a alma com desejos e alegrias até que tome conhecimento da tentação, sem a ela submeter-se, mas sempre em com- bate com a mesma vontade livre, que nela despertou a infração. A alma, então, aplica-a como meio, nunca, porém, como finalidade.

  3. O odre também é somente o receptáculo para a conservação do vinho. Quem poderia ser tão tolo em furá-lo, sabendo que bastará abrir em lugar certo, a fim de conseguir retirar o conteúdo?!

  4. O joio, ou seja a tentação para infringir uma lei, é algo inferior e jamais poderá tornar-se fator principal. Quem assim agisse se asseme- lharia a um tolo, tentando saciar-se com as panelas enquanto joga fora os alimentos.

  5. Em que consiste o joio, por cujos detritos a vida deve ser es- trumada? Quais as variedades de tentação ocultas na forma animada?

Ei-las: amor-próprio, egoísmo, orgulho e, finalmente, domínio. Através do amor-próprio a forma animada se concentra, ávida por tudo assimi- lar, mas também o conserva de tal modo que a ninguém possa benefi- ciar, receando vir a sofrer alguma carência. Por esta retenção daquilo que absorve da Ordem Divina, alimentadora e conservadora, manifesta-se na entidade, uma concentração crescente, solidez e prepotência tempo- rária e como efeito, um especial agrado para consigo mesma. Tal ma- nifestação é na real acepção e significado da palavra o egoísmo, que se esforça por se elevar com todo empenho, poder e meios, mesmo os mais condenáveis, acima dos outros, julgando-se sumamente importante.

  1. Após a criatura egoísta ter alcançado o que almejava, fita embe- vecida e cheia de desprezo aos seus semelhantes. O desprezo, por sua vez, assemelha-se ao asco que um estômago repleto sente da mesa farta e podia ser classificado por orgulho, que muita matéria vil contém, apresentando um campo da pior erva daninha.

  2. O orgulho, porém, sente uma insatisfação constante, pois sem- pre observa que nem todos lhe rendem seus préstimos. Analisando os meios ao seu alcance, verifica obter resultado, caso demonstre generosi- dade. Dito e feito! Como o número dos necessitados sobrepuja ao dos abastados, seu jogo é fácil: em breve as pequenas potências famintas o rodeiam e se deixam dominar, porquanto, também percebem o poder que deriva do orgulho. Obedecem-no completamente, pelo que a força do orgulho aumenta, tratando em atrair mais outros elementos. Tal insaciável avidez é, no verdadeiro sentido, o domínio mais pernicioso, destituído de qualquer sentimento de amor.

  3. Na dominação se expressa a matéria mais tenaz, e um planeta

rochoso é inteiramente munido de tais elementos, fator que podeis ob- servar materialmente nos burgos e fortalezas, nos quais se ocultam os soberanos. Suas muralhas medem várias braçadas, onde se postam os lutadores, prontos para impedir seja rompida a matéria, perturbando o descanso do soberano orgulhoso. Ai do fraco que se atrevesse a atirar apenas uma pedra, pois seria imediatamente aniquilado.

  1. Não falo daqueles regentes e soberanos destinados por Deus a diminuir o orgulho dos cidadãos, como colunas e mantedores da hu-

mildade, modéstia, amor e paciência; pois são levados pela Vontade de Deus a serem o que Ele determinou como instrumentos a melhorarem os povos. Falo apenas da dominação em geral de cada espírito e criatu- ra. Bem que houve regentes tiranos; surgiam num povo, rebelando-se contra chefes designados por Deus, como fez Absalom contra seu pai, David. Tais homens não foram convocados por Deus, por serem maus e um verdadeiro joio, figura correspondente à matéria mais grosseira.

  1. Tu, Cirenius, e o Imperador sois aquilo que determinei pela Minha Vontade, embora ainda pagãos! Mesmo assim, vos considero mais que muitos reis, que deveriam ser guias dos filhos de Deus, mas se tornaram seus assassinos física e espiritualmente, razão pela qual lhes serão tirados trono, coroas e cetros e entregues a vós, mais sábios. Fiz este aditamento a fim de que tu, Meu Cirenius, não julgasses serdes, tu e teu sobrinho, usurpadores diante de Mim. Prossigamos, pois, na consideração do joio no campo limpo.”

  1. COMOSURGIRAMOSSISTEMAS SOLARES

  1. (O Senhor): “Assim como existem criaturas que pelo amor-pró- prio, egoísmo, orgulho e, como consequência, dominação, se encheram de tantos elementos materiais, que nem em milhões de anos consegui- rão deles se desfazer, em épocas remotas se deu o mesmo com espíritos primitivos que, pela tentação existente, se tornaram egoístas, orgulho- sos e dominadores. O resultado foi sua transformação material.

  2. Isolaram-se em grandes núcleos, em distâncias por vós incalculá- veis. Centro algum tencionava ouvir, ver ou saber do outro, para poder usufruir do amor-próprio. Em tal concentração, constante e crescente, no amor-próprio e egoísmo, no orgulho cada vez mais potente e na do- minação absoluta, as inúmeras formas de vida se reduziram, pela lei de gravidade, a um bloco imenso, dando causa ao Sol central duma galáxia.

  3. Existem no Espaço Infinito, inúmeros de tais sistemas ou ga- láxias onde um Sol central serve de ponto de atração para incontáveis mundos cósmicos. Estes sóis centrais são precisamente as comunidades de espíritos concentrados, dos quais no decorrer dos tempos, surgiram

todos os enxames globulares, regiões solares, sóis centrais adjacentes, sóis planetares, planetas, luas e cometas.

  1. De que forma isto se deu? Vede, no primitivo Sol central a pressão se tornou por demais poderosa para muitos dos grandes es- píritos. Enraivecidos se incendiaram, libertando-se de sua primeira opressão. Fugindo com o grupo primitivo para zonas infinitamente distantes, perambularam certo tempo livres e inofensivos pelo Espaço, demonstrando boa vontade para transferir-se à boa ordem espiritual. Como, porém, não lhes era possível desfazer-se do elemento ‘amor-

-próprio’, concentraram-se de novo em um bloco rígido, dando causa a um Sol central de segunda categoria, num dos inúmeros enxames globulares.

  1. Em tal Sol central de segunda categoria, os espíritos principais se irritaram no decorrer dos tempos, em virtude da crescente pressão; inflamaram-se, libertando-se em grandes massas. Também manifesta- ram inclinação para um transporte espiritual; apresentando, porém, grande prazer consigo mesmos e não querendo desfazer-se inteiramente do amor-próprio, de igual modo concentraram-se em grandes bólides, dando origem aos sóis centrais de terceira categoria.

  2. Mas também aí se deu o mesmo fato: os espíritos mais elevados, em minoria, eram fortemente imprensados pelos inferiores, em número incalculável. Irritaram-se em breve, separando-se aos milhões do grupo comum, com o firme propósito de se modificarem. Durante épocas inimagináveis flutuaram separados por grandes distâncias, como massas nebulosas.

  3. Recordando o peso anterior, tal liberdade muito lhes agradava, até que sentiram vontade de alimento que procuraram no éter, isto é, uma saturação exterior. Esta saturação, forçosamente, tinham de en- contrar; pois, a avidez é qual magneto nórdico que atrai, com ímpeto, todo ferro e metais que contêm este mineral.

  4. Qual era a consequência inevitável? Sua natureza começou, pou- co a pouco, a se consolidar, despertando em seguida o egoísmo com seu séquito, produzindo uma contração até se formar outro bólide, no que são precisos inúmeros anos terráqueos.

  1. Que representa um tempo, por mais imenso, diante de Deus Eterno? Afirmou um vidente de épocas remotas: Mil anos são para Deus como um dia. Eu acrescento: Milhões de anos para Ele repre- sentam nem um instante! Ao preguiçoso, as horas se tornam dias, e os dias anos de tédio. Ao esforçado e ativo as horas se reduzem a átimos, e semanas a dias. Deus, porém, é, desde eternidades, Pleno de Atividade Infinita, e a feliz consequência disto é que épocas imensas Lhe repre- sentam momentos isolados — daí ser a completa formação dum Sol apenas coisa diminuta.

  2. Pela contração acima mencionada, surgiram e ainda surgem os

sóis planetares, iguais a este que ilumina nosso planeta. Essa categoria de sóis é de natureza mais delicada e suave que os sóis centrais; no entanto, contêm massa enorme de matéria como efeito do egoísmo de bilhões de espíritos que lhe deram origem. Aos elementos mais nobres e evoluídos, a pressão dos espíritos inferiores, completamente integrados na matéria, torna-se com o tempo, por demais pesada e insuportável. A consequência é — como nos outros sóis — erupções sob erupções, pelo que se libertam os melhores.

  1. Então neles desperta a vontade firme de regresso ao estado primitivo de perfeição, pelo cumprimento da Ordem Divina. Muitos combatem a tentação interna e se tornam anjos originais, sem neces- sitarem uma encarnação. Os que desejam encarnar no Sol, ou talvez na Terra, poderão fazê-lo. Pode até mesmo acontecer tal fato num Sol central, porém, não de modo tão frequente como neste nosso Sol que faculta luz à Terra, provindo da grande atividade de seus espíritos.

  2. Todavia alguns grupos não conseguiram desligar-se do egoís- mo, não obstante os melhores propósitos, caindo novamente nesta ten- tação, que atraiu outros elementos.

  3. Eis que se tornaram visíveis como cometas embaçados e mu- nidos duma longa cauda. Que representa esta? A fome voraz dos espí- ritos já materializados e ávidos pela saturação. Tal avidez atrai do éter a matéria afim, e tal cometa, um compêndio de elementos grosseiros, perambula pelo Espaço por muitos milênios à procura de alimento qual lobo esfaimado.

  1. Por esta constante sucção, ele se torna mais opaco e pesado. Com o tempo é novamente atraído pelo Sol, do qual se afastou, de sorte a começar a girar em seu redor. Obedecendo tal ordem, transforma-se ele em planeta.

  2. Como se encontre mais perto do Sol que anteriormente quan- do cometa, dele também recebe alimento, que ao mesmo tempo re- presenta uma isca para atrair o fugitivo o mais possível, até integrá-lo novamente no astro. Tal desejo dos espíritos primitivos do Sol não pode realizar-se com os grandes planetas, entre os quais se pode contar a Terra. Pois, muito embora os elementos presos nos planetas ainda se- jam muito materiais, conhecem a matéria solar e não sentem vontade de nele integrar-se. Se bem que lhes agrade o alimento constituído de pequeninos elementos, em absoluto querem voltar ao Sol.

  3. Acontece, às vezes, que os espíritos desertores, em seu conglo-

merado material, são atraídos para bem próximos ao Sol. A imensa atividade dos espíritos livres que circundam o astro e aos quais se deve, mormente, a irradiação luminosa da superfície, faz com que todos, con- traídos num bloco duro, sejam induzidos à máxima atividade, disper- sando-se num grande ímpeto, fugindo para longe.

  1. O resultado da atividade dos elementos dum planeta ou, pelo menos, dum cometa mais adiantado, é a dissolução brusca e total do bólide, e a salvação de bilhões e bilhões de espíritos. A maioria, já mais experiente, integra-se na justa ordem da Vida, tornando-se arcanjos e protetores úteis dos irmãos menos adiantados, como também contribui para a salvação mais rápida dos que padecem na matéria.”

  1. FORMAÇÃOEIMPORTÂNCIADA TERRA

  1. (O Senhor): “Parte de tais espíritos libertos deseja encarnar num planeta qualquer. Alguns o conseguem no Sol, num anel que mais lhes agrade; na Terra poucos se decidem encarnar por acharem tal passagem por demais difícil. Pois perdem, aqui, todas as recordações dos estados anteriores e necessitam recomeçar uma vida nova, fato que não ocorre noutros planetas e mundos.

  1. Naqueles, primeiramente, conservam os espíritos encarnados uma lembrança quimérica de suas vidas passadas, o que proporciona às criaturas de outros mundos, um conhecimento e sobriedade maiores que às da Terra. Em compensação, carecem da capacidade evolutiva numa vida liberta. Como já falei em outras ocasiões, assemelham-se aos animais terráqueos, possuidores de certa formação instintiva. Manifes- tam por tal motivo grande destreza e perfeição, impossíveis de serem imitadas pelo homem da Terra, com toda sua inteligência; tentai, po- rém, ensinar um animal algo que ultrapasse seus instintos e vereis quão diminutos os resultados.

  2. Alguns existem, aptos para aprenderem serviços simples e pesa-

dos: o boi para puxar a carroça, o cavalo, o burro e camelo para carre- garem pesos; o cão para caçar e vigiar. Eis tudo; pois a linguagem será algo quase impossível. A simples causa disto se baseia numa recordação fraca de seus estados anteriores, que prende as almas animais num jul- gamento, preocupando-se de sorte a viverem num certo aturdimento.

  1. Somente nas criaturas da Terra dá-se o caso excepcional do com- pleto esquecimento de suas vidas passadas, razão pela qual têm de reco- meçar sua existência numa ordem e formação novas, a lhes facultarem um desenvolvimento à perfeição divina.

  2. Eis por que somente pode encarnar na Terra, uma alma que te- nha origem num Sol, possuidora de todos os elementos primitivos e que já tivesse passado por uma vida solar; nesse caso, contém todas as partículas inteligenciadas da psique, necessárias à perfeição duma vida espiritualmente elevada. Casos há, em que uma alma descende direta- mente da Terra, tendo passado pelos três reinos da Natureza: pela pedra bruta atingindo todas as camadas minerais, daí ao mundo completo da flora e, finalmente, fauna.

  3. Não se trata do corpo material, e sim, do elemento psicoespi-

ritual nele oculto; o invólucro não deixa de ser também de qualidade etérea na análise; todavia, é ainda mui bruto, pesado e indolente, apre- sentando a estampa grosseira do amor-próprio, egoísmo, orgulho e do obtuso gozo do domínio mais ávido e mortífero. Tal matéria necessita ser assimilada pela substância mais pura do invólucro da alma, através

decomposições variadas e transplantações parciais. Para a substância psíquica, daí dificilmente se poderá algo aproveitar.

  1. Por isto existem na Terra espécies mais variadas de minerais, plantas e animais do que em todos os outros planetas e sóis. Em con- junto, poderiam produzir número maior de qualidades; cada qual, po- rém, não comporta a milionésima parte das diversas espécies em, ape- nas, um dos três reinos da Terra. Por tal motivo é somente ela destinada a acolher os verdadeiros filhos de Deus.

  2. Por quê? Dá-se com esta Terra um fato extraordinário! Como planeta pertence ao Sol; a rigor, porém, não lhe faz parte como todos os outros, — com exceção de um, entre Marte e Júpiter que, por motivos graves, foi destruído há seis mil anos, ou a bem dizer, foi dizimado pelos próprios habitantes, — e sim, tem sua origem primária no Sol Central e, de certo ponto de vista, é inimaginavelmente mais velha que este Sol. Surgiu fisicamente, quando nosso astro Rei de há muito havia percor- rido a primeira translação pelo Sol Central, onde subtraiu o necessário para sua final construção.”

  1. OAPARECIMENTODA LUA

  1. (O Senhor): “Há muitos milhões de anos tinha a Terra, or- ganicamente, um peso muito mais considerável e seus elementos se achavam sob forte pressão. Eis que os maus espíritos se enraiveceram, separando-se do planeta com grande massa de matéria grosseira, e as- sim perambularam por muitos milênios numa órbita desordenada em redor da Terra.

  2. Como quase todas as partes daquela massa eram macias e na me- tade, líquidas, achando-se numa rotação constante, tudo isto transfor- mou-se numa grande esfera cuja rotação era por demais vagarosa para seu diâmetro, a fim de poder equilibrar a água na superfície, enquanto seu giro em redor da Terra era mais rápido, levando o líquido ao lado oposto da mesma, em virtude da expulsão.

  3. Deste modo, o ponto de gravidade da Lua ia sendo atraído para onde se achava toda água e com o tempo, paralisou-se a rotação em

redor do seu eixo, apresentando ela sempre a mesma face à Terra, e isto porque a Lua se tornou mais compacta. Impediu, portanto, a infiltra- ção da água, pois as ondas consideráveis se jogavam, com grande fragor, contra as montanhas elevadas que haviam surgido na Lua.

  1. Este fenômeno foi um benefício para os espíritos renitentes, que então puderam sentir quão penosa é a vida enclausurada nu’a matéria seca e quase estéril. Além disto, se presta este lado da Lua — desde que a Terra é habitada por criaturas — para emigração das almas que aqui se achavam presas às tendências mundanas. De lá, munidas dum invó- lucro vaporoso, poderão saciar-se, durante milênios, com a observação do nosso planeta maravilhoso e queixarem-se em não mais poder fazer parte de seus habitantes gananciosos. Não poderão voltar à Terra, mes- mo o almejando intensamente; mas, em milhões de anos terráqueos, também se terão regenerado. Vistes, pois, a maneira pela qual surgiu a Criação até às luas e planetas, de natureza e destino similares.

  2. Do mesmo modo que espíritos primitivos fizeram surgir a Cria-

ção em virtude do egoísmo, também apareceram, no decorrer dos tem- pos, as montanhas como primeiros gigantes do mundo, e a seguir plan- tas, animais e finalmente o próprio homem.

  1. Espíritos de boa índole se libertaram com ímpeto da pressão crescente da matéria, dissolvendo a sua própria, pela força de vontade; podiam, imediatamente, ingressar na ordem dos espíritos puros. A velha tentação, porém, continua exercendo seu forte poder. O amor-próprio de pronto desperta: a planta suga, o animal ingere e a alma do homem procura alimento material e um conforto idêntico, mal ingressando no- vamente na primitiva forma divina. Por isto, precisa encobrir-se com um corpo que todavia é mais delicado que a antiga matéria pecaminosa. Não obstante possuir físico mais frágil, a alma aumenta sua potência egoística, de sorte que se tornaria novamente matéria grosseira, caso Eu não tivesse depositado em seu coração um vigia, ou seja, uma centelha de Meu Espírito de Amor.”

  1. OPECADO ORIGINAL

  1. (O Senhor): “Certamente já ouvistes falar no pecado original, ao menos os judeus. Em que consiste? Ouvi! É o velho amor-próprio, como pai da mentira e de todos os seus pecados. A mentira, porém, é a antiga matéria pecaminosa que nada mais é senão a representação fútil e condenável do amor-próprio, egoísmo, orgulho e domínio.

  2. Tudo isto surgiu da tentação necessária que fui obrigado a deitar nos espíritos, em virtude do conhecimento de seu livre-arbítrio. Mui- to embora fosse necessária a tentação, tal não se dava com a aparição dos mundos de Minha Ordem, porquanto grande número de espíritos não quis resistir à tentação, embora lhes tivesse sido possível, pois seis arcanjos e seus séquitos conseguiram, um dos quais, Raphael, agora se acha a nosso serviço.

  3. O inimigo sempre semeou, e por longo tempo ainda semeará o joio entre o trigo puro. Portanto, o velho amor-próprio e o seu cortejo por vós conhecido é o joio e, num sentido amplo, o resumo de toda a matéria, mentira, Satanás e diabo.

  4. Meu Verbo, todavia, é o trigo nobre e puro; e vossa vontade livre é o campo onde Eu, como Semeador de toda Vida, lanço a semente puríssima de Minha Ordem Eterna.

  5. Se não vos deixardes vencer pelo amor-próprio, mas o combater- des poderosamente, com a espada flamejante do amor verdadeiro e desin- teressado para Comigo e vossos irmãos, conservareis o campo limpo de todo joio, ingressando, em breve, no Meu Reino, como fruto puro e pre- cioso, onde fitareis e governareis criações novas e puramente espirituais.

  6. Cuidai, porém, que o inimigo, ou seja, vosso amor-próprio, não conquiste um átomo de vossa alma. Este átomo já é uma semente do verdadeiro joio que, com o tempo, pode dominar vossa livre vontade, e a alma se integrará sempre mais no joio da matéria, onde vós mesmos vos tornareis mentira, porquanto a matéria é, como tal, a pura mentira.

  7. O menor átomo de amor-próprio em vós, Meus discípulos, terá progredido em mil anos para montanhas cheias de joio venenoso, e Meu Verbo será enclausurado como o pior lodo em ruas e ruelas, a fim

de que não venha colidir com a mentira, cheia de orgulho e ódio. Per- manecendo, porém, puros em Minha Ordem, vereis em breve os lobos e cordeiros beberem na mesma fonte.

  1. Acabo de dar-vos uma explicação que até hoje não foi dada a es- pírito algum, e podeis deduzir Quem seja Aquele que a facultou e qual o motivo. Por certo, não em virtude do ensinamento, mas pela prática do mesmo. Por isto, não deveis apenas vos fazer de ouvintes fúteis e admirados de explicações que, antes de Mim, ninguém proferiu aos ho- mens; também não basta reconhecerdes nitidamente que Deus Mesmo, O Pai Eterno, dirigiu-Se a vós — mas deveis pesquisar se vosso coração não abriga um átomo de amor-próprio. Se o encontrardes, arrancai-o com as diminutas raízes e tornai-vos ativos dentro de Minha Ordem exemplificada, que colhereis o verdadeiro benefício da Vida! A fim de vos certificardes daquilo que acabo de explicar, abrir-vos-ei a visão in- terna para enriquecer vossa experiência. Prestai atenção!”

  1. SALVAÇÃO,RENASCIMENTOE REVELAÇÃO

  1. Ninguém estava preparado para tal revelação e uma onda de êxtase se faz sentir. Muitos batem no peito exclamando: “Senhor, Se- nhor, aniquila-nos, que somos pecadores renitentes; e isto, por culpa própria, consciente e inconsciente! Somente Tu és Bom e Santo; aqui- lo que apresenta um invólucro material é mau e condenável. Senhor, quanto tempo caminharemos dentro desta matéria? Quando se fará nossa salvação?!”

  2. Respondo: “Justamente agora, pois Eu Mesmo abençoei toda a matéria pela Minha Encarnação na velha praga. Termina, assim, a anti- ga Ordem dos Céus de antanho, estabelecendo uma nova organização e um novo Céu na base da matéria por Mim abençoada, e todo o Uni- verso, incluindo esta Terra, receberá uma nova instituição.

  3. Pela ordem antiga, ninguém podia ingressar nos Céus havendo passado pela matéria; de agora em diante, pessoa alguma poderá ser transportada ao Céu mais elevado e puro sem haver passado pelo cami- nho da matéria e da carne, como Eu.

  1. Quem, a partir de agora, for batizado em Meu Nome, com a Água viva de Meu Amor e com o Espírito de Minha Doutrina, na força e ação, terá apagado para sempre o pecado original. Seu corpo deixará de ser um antro de pecados para transformar-se num templo do Espírito Santo.

  2. Todavia, é preciso que cada qual cuide não vilipendiá-lo nova- mente, pelo joio antigo e venenoso do amor-próprio! Assim tereis san- tificado carne e sangue; e quando o espírito puro tiver alcançado o do- mínio dentro de vós, não só ressuscitará a alma, à vida perfeita e eterna, mas todo o vosso corpo! Vede a diferença entre o passado e o presente! E a atual instituição salvacionista perdurará para sempre!

  3. O Sol, anteriormente condenado por completo, será de agora em diante, pleno de bênçãos, como tudo que existe no Espaço Infi- nito. Tudo é por Mim renovado — conforme vos havia dito — e as condições de antanho serão transformadas, porquanto Eu Mesmo Me transformei, por Me ter revestido da matéria.

  4. Acrescento, todavia: Quem não crer e for batizado pela Água e o Espírito contidos em Meu Nome e através de Meu Verbo, continuará réu do julgamento! Jamais ingressará no Meu Reino, nem verá o Meu Semblante no Além, pois permanecerá nos limites mais externos de Meu Reino, onde há treva e noite, clamor e ranger de dentes. A Luz puríssima da Vida celeste terá o mesmo efeito que a irradiação duma diminuta estrela fixa para a vossa Terra, e tais criaturas saberão de Meus verdadeiros Céus de Vida, tanto quanto as daqui percebem a organiza- ção interna duma estrela fixa. Poderão meditar durante bilhões de anos sobre tal assunto, que nada lhes adiantará. Se bem que pessoas inventa- rão aparelhos óticos, a fim de verem objetos distantes, como se estives- sem bem próximos, nada conseguirão com aquelas estrelas longínquas.

  5. De modo idêntico se encontrarão os pagãos no Além, sem fé e

batismo, pois verão e julgarão de longa distância os Meus Céus, como atualmente as criaturas fitam a abóbada celeste, conjeturando a res- peito. Daqui a mil anos, saberão algo mais que agora e descobrirão tratar-se de enxames de sóis; sua constituição, luz, tamanho, distância, o número de planetas que giram a seu redor, sua formação, habitantes, hábitos, línguas e usos, jamais descobrirão pelo intelecto!

  1. E se vós, já bem orientados, transmitir-lhes tal conhecimento, não vos darão crédito; pois um intelecto puramente mundano, co- mum aos pagãos, em coisa alguma acredita caso não se certifique pe- los sentidos.

  2. Em épocas vindouras, inspirarei criaturas de ambos os sexos, entre os verdadeiros confessores de Meu Nome. A estes revelarei todos os segredos de Céus e mundos pelo coração amoroso; poucos haverá, no entanto, que aceitarão tudo isto, como Verdade convincente.

  3. Tais revelações grandiosas também facultarão uma visão plena, proporcionando uma imensa alegria, que levará as pessoas assim pri- vilegiadas a louvarem e honrarem o Nome Daquele que as destinou à missão tão abençoada!

  4. As haverá até capazes de ver a Criação completa se desenrolar diante de seus olhos, como alguém lê a Escritura Sagrada. Ninguém, todavia, receberá tal Graça se não houver acreditado em Meu Nome e recebido o batismo pelo Mesmo!”

  1. OBATISMO.ATRINDADEEMDEUSENO HOMEM

  1. Interrompe Cirenius: “Senhor, creio em tudo que ensinaste; se- rei portanto batizado?”

  2. Respondo: “Ainda não; mas não importa. Pois quem crê como tu, já é espiritualmente batizado, e até mesmo com todas as bênçãos deste Sacramento.

  3. Os judeus mantêm a circuncisão como ato pré-batismal de va- lor algum, caso o circuncidado não o seja também de coração. Enten- do com isto um coração puro e pleno de todo amor, que tem mais valor que todas as circuncisões desde Moysés até hoje. Depois dessa cerimônia, surgiu o Batismo da água, de João, mantido pelos seus adeptos; mas também de nada vale, caso não lhe anteceda ou siga a penitência!

  4. Quem por isto se deixar batizar com água, no firme propósito de regeneração, não comete erro; não deve acreditar que a água purifique seu coração e fortaleça sua alma. Isto só é possível à vontade própria e

livre; a água é apenas um símbolo que demonstra ter a vontade, ou seja, a água pura do espírito, purificado a alma dos pecados, assim como a água natural limpa o corpo das impurezas.

  1. Quem tiver recebido o batismo no sentido verdadeiro, sê-lo-á de modo pleno se durante ou antes do Sacramento a vontade no co- ração se tiver efetuado. Não o sendo, o simples batismo não terá o menor valor, tampouco abençoará a matéria e muito menos produzirá sua santificação.

  2. Do mesmo modo, o batismo não tem valor para crianças além do símbolo externo para a aceitação na sociedade, dando-lhe um nome qualquer, que para a vida da alma, evidentemente, nada representa. Por tal motivo, poderia se dar um nome à criança sem circuncisão e batis- mo, pois que para Mim seria o mesmo. Não há nome que santifique a alma, mas sim somente a vontade livre e boa em querer agir com justiça durante a vida. Qualquer nome poderá ser santificado pela vontade e ação; jamais, porém, dar-se-á o caso contrário.

  3. Enquanto João batizava, muitos lhe levavam crianças, a fim de

que fossem batizadas por ele e seus discípulos; ele assim fazia quando se apresentavam pessoas conscienciosas, que prometiam cuidar de sua educação espiritual. Nesse caso, pode-se efetuar o batismo, em virtude do nome a ser dado à criança; todavia, este ato não santifica alma e corpo do menor, até que alcance o verdadeiro conhecimento de Deus e de si próprio, fazendo uso do livre-arbítrio. Até lá, o responsável terá de zelar conscienciosamente para que seja proporcionado à criança o necessário à aquisição da verdadeira santificação, do contrário, ele terá sobrecarregado sua própria alma com a responsabilidade.

  1. Por tal motivo, é preferível efetuar o batismo somente quando a pessoa for capaz de cumprir todas as condições concernentes à santi- ficação de alma e corpo, de acordo com seu conhecimento e pela livre vontade. Além do mais, não é necessário o batismo para tal fim, mas a noção e a atitude dentro do conhecimento justo da Verdade, provinda de Deus. Se, porém, efetuar-se tal Sacramento, não é preciso usar-se a água do Jordão, aproveitada por João Baptista, pois serve qualquer água fresca; todavia, a da fonte é melhor que de poço, estagnada.

  1. O batismo verdadeiro e de único valor para Mim é aquele repre- sentado pelo fogo do amor para Comigo e para com o próximo, pelo zelo vivo da vontade, provindo do Espírito Santo, emanação da Verda- de Eterna de Deus. Eis os três pontos que no Céu são um testemunho para todos: o Amor, como Pai Verdadeiro; a Vontade, como o Verbo Vivo e Real, ou seja, o Filho do Pai; finalmente, o Espírito Santo, a justa compreensão da Verdade Eterna e Viva de Deus, todavia, somente ativa na criatura. Pois o que nela não se encontra e não for realizado pela própria vontade, não tem valor para a criatura e neste caso também não o terá diante de Deus.

  2. Deus nada é em Sua Individualidade para a criatura, até que

esta O tenha reconhecido e aceito Sua Vontade Onipotente pelo amor e o zelo vivo da vontade, organizando todas as suas ações dentro da Or- dem Divina. Só assim a Imagem de Deus Se torna viva no homem, cres- ce em breve e penetra a natureza humana. Onde isto se der, o homem terá penetrado em todas as profundezas da Divindade; pois a Imagem Divina no homem é a Semelhança Perfeita do Mesmo Deus Eterno.

  1. Quando a pessoa alcança este estado, tudo nela será santificado pois realizou-se o verdadeiro batismo do Renascimento do Espírito. Por este batismo, o homem se fez amigo verdadeiro de Deus e é tão per- feito quanto é Perfeito o Pai do Céu. Afirmo-vos peremptoriamente: tratai com todas as vossas forças de tornar-vos tão perfeitos quanto Ele! Quem assim não se tornar, não alcançará o Filho do Pai!

  2. Quem vem a ser o Filho? O Filho é o Amor do Pai. É o Amor do Amor, é o Fogo e a Luz, é o Filho do Amor ou a Sabedoria do Pai. Se, portanto, a Semelhança do Pai estiver em vós, deve ela se tornar tão perfeita em tudo, como o Pai Original, pois se a Semelhança não for perfeita, onde buscará o homem a Sabedoria Verdadeira?

  3. Assim como o Pai Se acha sempre dentro de Mim, Eu Me en- contro dentro Dele; de modo idêntico deveis encontrar-vos em vosso âmago para estardes com Deus e Ele em vós. Da maneira pela qual Eu e o Pai somos UM, deveis antes, unir-vos a Mim e ao Pai Eterno em Mim, porquanto Eu e o Pai dentro de Mim somos Unos, desde Eternidades!”

  1. Interrompem os discípulos: “Senhor, não compreendemos isto, pois Tua Doutrina está se tornando difícil. Pedimos-Te, encareci- damente, que Te expresses de modo mais compreensível!”

  2. Digo Eu: “Sois também ainda desarrazoados! Quanto tempo terei de vos suportar desta forma? Oh, raça aparvalhada! Todavia, ser-

-vos-á dado compreender o segredo do Reino de Deus na Terra!

  1. Onde estão os pensamentos de vosso coração? Já por diver- sas vezes vos expliquei Quem é o Pai e Quem o Filho; a relação entre Ambos é idêntica ao Amor e à Sabedoria, ou como o calor e a luz. De- monstrei-vos a inutilidade da luz sem o calor, mas também o calor sem luz não faria amadurecer as espigas no campo. Disse mais, que do calor emana constantemente uma luz, por ser o calor a primeira expressão de certa atividade. A manifestação duma atividade é a luz que aumenta de acordo com a crescente ação ordenada, todavia não assimilais a União entre o Pai e o Filho, tampouco a Minha convosco!”

  2. Dizem os discípulos: “Senhor, não Te aborreças por isto! Já o

compreendemos e, caso se apresentem outras dúvidas, tudo faremos para dissipá-las.” Concluo: “Sei disto muito bem; falei-vos assim por notar que preferis as perguntas ao Saber!”

  1. ORDEMDIETÉTICADE MOYSÉS

  1. Acrescenta Cirenius: “Estranho, não terem Teus discípulos com- preendido aquilo que eu e outros assimilamos facilmente. Senhor, já que Te dispões a nos dar as mais variadas explicações, até hoje nunca abordadas, desejava ouvir Teu pronunciamento a respeito da proibição de alimentos impuros aos judeus. Nós, pagãos, tudo apreciamos sem comprometer-nos perante nossa religião. Os antigos egípcios também tudo saboreavam e nada me consta dum efeito impuro; pelo contrário, sei que o Egito produziu espíritos verdadeiramente elevados e puros, e entre nós, também, sempre os houve. Por que deveriam precisamente os judeus sofrer tal carência?”

  2. Respondo: “Por ser sua geração, desde Adam, do Alto e na maior

parte ainda o é, até hoje. Foi destinada para receber-Me em seu meio,

dentro da matéria, para a salvação de todas as criaturas. Não ouviste, como foi abençoada e santificada toda a matéria, por ter Eu Me reves- tido da mesma? Vê, antes de Minha Descida à Terra, nela pousava mais ou menos a maldição — não como se Deus a tivesse amaldiçoado, pois ela própria se condenou a um conglomerado espiritual através do amor-

-próprio, egoísmo, orgulho e domínio!

  1. Há e sempre houve graduações variadas na matéria no que diz respeito à sua dureza. Quanto mais dura, tanto mais impura e selvagem, porquanto seus elementos congregados consistem em joio equivalente.

  2. Os animais que, logo de início, se juntaram às primeiras criatu- ras do planeta, como o boi, carneiro, cabrito, e, dentre as aves, a galinha e a pomba, são incontestavelmente de natureza pura e caráter meigo, tendo sido sua carne a mais adequada ao homem provindo do Alto, a fim de lhe conservar limpa a alma. Naturalmente, era preciso que esses animais fossem perfeitamente sadios e não podiam ser abatidos em épo- ca do cio, porquanto eram impuros.

  3. Pouco a pouco surgiram ainda outros animais: cavalo, burro, camelo, porco, cão e gato, que, no entanto, desde o início, faziam parte dos filhos do mundo; com exceção do burro e camelo, aqueles animais pouca amizade mantêm com os judeus.

  4. Alimentam certo receio do cavalo e do cão; não são amigos do gato e não confiam no camelo. Detestam as aves aquáticas e desprezam galinhas de angola e o peru; levarão tempo até que se tornem seus ami- gos. Seu asco diante de tais assados é forte, enquanto é muito apreciado entre gregos e romanos.

  5. Tudo isto mudará quando Eu tiver voltado a Casa! Como prova, darei mais tarde, no grande jardim de Cornélius, orientação a um Meu discípulo — judeu íntegro —, quais os alimentos que poderão ser inge- ridos, sem susto. Demonstrei-te a razão da ordem dietética de Moysés, que todos vós deveis compreender. Por isto, urge passarmos para o as- sunto que nos trouxe a este monte.”

  1. PREDIÇÃOSOBREASATUAIS REVELAÇÕES

  1. (O Senhor): “Afirmei-vos que iríeis assistir a milagres extraordi- nários! Todavia, nada sucedeu além do transporte da pedra luminosa da África, efetuado por Raphael, não obstante já ter passado de meia-

-noite. Disse mais: abrir-vos-ei a visão interna para proporcionar-vos a situação verdadeira do mundo.

  1. Antes, porém, ordeno silêncio absoluto de tudo porquanto a Hu- manidade longe está para assimilar tais coisas e realmente não o necessi- ta saber para a salvação das almas. Quando se dedicar ao amor a Deus e ao próximo, tudo lhe será revelado à medida de suas necessidades.

  2. Vós, como primeiras colunas de Minha Doutrina, deveis estar informados sobre muita coisa, a fim de que não sejais tentados a re- nunciar à mesma. Todavia, ela não se perderá e quando se tiverem pas- sado quase dois mil anos, e Minha Doutrina se encontrar enterrada no lodo, inspirarei novamente homens que anotarão fielmente o que falamos e tratamos. Este grande Livro será entregue ao mundo para abrir-lhe a visão!”

  3. Nota bem! Tu, Meu servo e escrivão, julgas que Eu não tivesse mencionado este fato naquela época? Acaso queres te tornar tão fraco na fé como ainda és na carne?! Declaro-te, ter Eu transmitido a Cire- nius e Cornélius teu nome e de vários outros; tornaram-se, portanto, testemunhas felizes de tudo que ora te estou ditando. No final, também te darei nomes daqueles que daqui a dois mil anos escreverão e produ- zirão coisas mais importantes que tu! — Guarda isto e escreve com fé!

  4. Cirenius muito se admira de Minhas Palavras e Cornélius in- daga sobre as pessoas destinadas a tal fim; e Eu lhes aponto nomes, profissão e caráter, e acrescento: “Um deles, que receberá as maiores Revelações, mais do que ora vos é facultado, descenderá do filho mais velho de José, portanto será descendente direto de David. Será fraco na carne como aquele Rei, seu espírito, porém, tanto mais forte! Felizes os que o escutarem e modificarem sua vida.

  5. Todos os grandes inspirados descendem de David, pois tais coi- sas só podem ser dadas àqueles que, fisicamente, têm a Minha Des-

cendência. Maria, Minha Mãe carnal, descendia de David, portanto tenho a mesma origem. Naquela época, os mencionados descendentes de David se encontrarão na maioria na Europa; entretanto, serão des- cendentes puros e genuínos daquele homem de acordo com a Vontade de Deus e serão capazes de transmitir a Luz mais forte do Céu. Não subirão a um trono terreno, em compensação lhes aguardará a maior glória no Meu Reino. Eu sempre Me lembrarei desses Meus irmãos! A maior parte de Meus discípulos tem a mesma origem; a rigor, são eles fisicamente Meus irmãos, com exceção de um que não é do Alto, senão puramente deste mundo. Não devia estar presente, todavia, tem de par- ticipar, a fim de que se cumpra o que foi predito.”

  1. Diz Cirenius, estupefato: “Acaso são Mathael, Zinka e Zorel des- cendentes do grande Rei, pois lhes revela o mesmo?!”

  2. Respondo: “Amigo, aqui apenas é transmitida a palavra ao ouvi- do físico! Outra coisa será, ouvir-se o Verbo oculto e interno provindo de Meu Coração e projetado no âmago da pessoa; para tanto, é preciso certa estirpe de pessoas cujo íntimo se preste a suportar a Onipotência e Força de Minha Palavra! A menor letra vinda diretamente do Meu Espírito, aniquilaria e mataria quem não estivesse preparado. Uma vez escrita, pode ser lida por aqueles de boa vontade, que por isto não serão mortos, mas fortalecidos para a Vida Eterna.

  3. Destruiria e mataria as pessoas mundanas que a lessem para dela

zombarem! Sabes, portanto, como andam as coisas; repito, que vos pre- pareis, a fim de mirardes o milagre do surgir do ser e do permanecer eternos!” Obtempera Cirenius: “Senhor, desejava apenas fazer uma pe- quena pergunta, se possível.” Digo Eu: “Pois não, fala!”

  1. CONVOCAÇÃOPARAAVOZ INTERNA

  1. Indaga Cirenius: “Senhor, se no futuro apenas se prestam para ouvir Tua Voz, aqueles que física e psiquicamente se acham prepara- dos, de nada vale aos incapazes, vida austera, para conseguirem o re- nascimento do espírito, pois não receberão tal Graça, em virtude de sua simples descendência. Julgo que isto deveria ser facultado a todos que

vivem de acordo com Tua Vontade, porquanto o espírito que penetra alma e corpo, seria apto para suportar Tua Onipotência.”

  1. Digo Eu: “Amigo, prezo-te muito; desta vez, porém, julgaste como um cego as cores lindas do arco-íris. Com tal parecer de tua parte, poderia Me admirar porque teus membros de há muito não se revolta- ram contra tua cabeça, porquanto suas aptidões são diversas.

  2. Teus pés são cegos e surdos e têm de efetuar — não obstante sua deficiência — os trabalhos mais pesados. Tuas mãos têm de executar tua vontade, entretanto não possuem olhos para ver as maravilhas da luz, tampouco ouvidos para sorverem as harmonias do canto; também carecem de olfato e paladar para poderem apreciar o tempero gracio- so da vida!

  3. Não poderia a sebe de espinhos queixar-se da videira, porquan- to ela própria nada cometeu para não compartilhar da Graça de pro- duzir uvas?!

  4. Ignoras que tudo é por Mim determinado e tem sua finalida- de? Assim como teus membros prestam serviços ao corpo de acordo com sua capacidade, os homens também recebem certos dons, a fim de se tornarem úteis reciprocamente, no que consiste a máxima ventu- ra da vida.

  5. Se tua mente e teu coração estão alegres, todo o teu físico se manifestará de tal forma; basta que uma falange de tua mão esteja ma- goada, e não sentirás alegria alguma em teus membros. Todos estarão tristes, tudo fazendo para socorrer a parte afetada.

  6. Realmente, não deixa de ser uma convocação abençoada a ca- pacidade de ouvir a Voz de Meu Amor, anotá-la e transmiti-la aos que a apreciam; todavia, não é menos abençoado quem guarda no coração o que ouviu e procura aplicá-lo. Se deste modo uma criatura, se bem que provinda da Terra, conseguiu o renascimento do espírito, será cer- tamente recompensada pelo esforço empreendido sem, todavia, lasti- mar-se contra quem é dono daquela Graça. Estás contente com Minha Resposta?”

  7. Responde Cirenius: “Perfeitamente, Senhor. Jamais formularei

pergunta tão tola. Queira, pois, abençoar-nos com Tua Graça!”

  1. OSESPÍRITOSDA NATUREZA

  1. Digo Eu: “A fim de vos abrir o mundo dos espíritos da Nature- za, mandei trazer a pedra luminosa do centro da África. Sua irradiação tem a faculdade de influir sobre os nervos vitais na boca do estômago, de tal forma que a alma — após prolongada atuação da luz — para lá concentra sua visão, onde começa a ver as coisas mais ocultas. Vossa capacidade visual será projetada para aquele ponto e começareis a ver melhor de olhos fechados que ora, abertos.

  2. Para algumas pessoas, a Lua também produz este efeito, mas não em grau tão elevado e potente. Fechai, pois, os olhos e certificai-vos se não vedes melhor pelo plexo solar!” Todos cerram os olhos e se extasiam diante da nítida faculdade visual da alma pelo centro nervoso.

  3. Somente Mathael e seus colegas se externam da seguinte forma: “Em absoluto é-nos desconhecida tal maneira milagrosa de visão; pois desta forma, víamos coisas estranhas e caminhávamos sobre penhascos que nenhum mortal poderia passar sem correr risco de vida; observáva- mos o mar, lagos e rios cheios de larvas esquisitas que se movimentavam em todas as direções. Algumas repousavam como flocos de neve sobre a terra e desapareciam rápidas em seus sulcos; outras eram absorvidas qual orvalho pelas plantas, terra e variadas pedras.

  4. As que se ocultavam nos três reinos não mais surgiam; onde, po-

rém, apodrecia um tronco, arbusto ou animal apareciam novas formas, no início, como leve vapor, que se atraíam aos milhares, criando aspecto mais definido. Mal sua figura estava completa, não levava tempo para

— como que munida de consciência própria — começar a se mexer qual cão a farejar.

  1. Geralmente vimos estes seres se dirigirem às manadas de car- neiros, cabritos e gado onde permaneciam. Quando os animais se entregavam à procriação — no que tais elementos muito os insti- gavam — eram absorvidos como a erva seca absorve o orvalho, de- saparecendo.

  2. Muitos destes elementos se dirigiam rápidos para as águas, na- vegando em sua superfície. Alguns, em seguida, submergiam; outros

se juntavam a uma massa nebulosa e somente se afogavam, quando atraídos por nova forma que não fosse aquática.

  1. Então dava-se um fenômeno estranho: surgiam da água milhares de caricaturas, larvas e formas de insetos voadores bem como aves pe- quenas e grandes, de todas as espécies. Embora munidos de asas, pernas etc, delas não se serviam, pois pendiam de seu tronco que flutuava qual neve pelo ar. Somente quando se aproximava um grupo de pássaros verdadeiros, tais larvas e formas se movimentavam em sua direção e, de súbito, eram por eles tragadas.

  2. De certa altura, descobríamos um chuvisco tênue ou denso, porém claro, que se apresentava comumente sobre as águas. Anali- sando tal poeira, deparávamos com certas formas parecidas com mi- núsculos ovos ou pequeninos vermes que também eram de pronto devorados.

  3. Poder-se-ia contar muita coisa se o tempo o permitisse. O que víamos naquela época em nosso estado infeliz, vemos agora de olhos fechados, despertando-nos a seguinte recordação: vimos estes quadros noite por noite, anos afora. Acontecia, às vezes, dar-se tal fenômeno até mesmo em dias nublados, no entanto, não sabíamos interpretá-los. Graças a Ti, Senhor, agora conhecemos sua causa pelo que Te rendemos Honra e Glória!”

  1. YARAHEOSESPÍRITOSDA NATUREZA

  1. Indaga Yarah, que se acha ao Meu lado: “Senhor, que espécie de homúnculos são esses? Surgem da floresta e nos circundam em todas cores; alguns parecem usar vestimenta vaporosa, a maioria é desnuda e tem a aparência duma criança de dois anos.”

  2. Digo Eu: “São almas humanas, já perfeitas, mas que ainda não encarnaram. Também não sentem vontade para tal, porquanto temem uma nova prisão na matéria. Os de vestimenta até já usam uma espécie de linguagem não mui inspirada; todavia, todos possuem certa inteli- gência simiesca.”

  3. Indaga Yarah: “Acaso me entenderiam se lhes falasse?”

  1. Respondo: “Faze uma tentativa.” Enchendo-se de coragem, Ya- rah se dirige a um daqueles seres diminutos: “Quem sois e que desejais?”

  2. O homúnculo azul-claro achega-se bem perto da menina e diz de olhos esbugalhados: “Quem te mandou, carne putrefata, dirigir-te a nós, puros? Com exceção de Um e de mais outro, todos vós exalais forte odor de matéria, — maior inimigo de nossas ventas! No futuro, inda- ga somente quando tiveres recebido ordem do Espírito Onipotente de todos os espíritos, e além disto, trata de te livrar de tua carne nojenta!”

  3. Digo Eu: “Então, Minha filha, que tal esta resposta?” Responde ela: “Senhor, que criaturas extremamente malcriadas e rudes! Acaso serei eu um cadáver putrefato? Poderia desesperar-me com tal expectativa!”

  4. Digo-lhe Eu: “Minha filhinha, por que te aborreces quando aquele espiritozinho te fez um benefício?! Poder-te-ia explicar de modo mais delicado, que em ti se oculta um pequeno orgulho de beleza; como, todavia, não é artista linguístico, mas apenas possui escasso vo- cabulário, externa propriamente suas impressões ao invés de usar lin- guagem habitual.

  5. Tua felicidade psíquica foi destruída por teres falado com o ho- menzinho azul-claro? Garanto-te que se tivesses te dirigido a um ver- melho, terias tido uma vertigem de raiva pela resposta! Agradece, pois, ao azul-claro que então usará de outros termos.”

  6. Novamente Yarah se anima, dizendo ao espiritozinho que ainda a fita de olhos esbugalhados: “Agradeço-te, homenzinho, pelo benefí- cio proporcionado por tuas palavras livres de rodeios; não me queiras mal, sim?”

  7. Desatando numa gargalhada, o homúnculo responde: “Aquele que te insuflou isto é-me agradável; tu, bobinha, longe estás da per- feição, porquanto, em teu solo mal cheiroso, ainda não nasceu nem pensamento nem vontade para tanto! Todavia, já me és mais suportável, não obstante manteres teu orgulho de beleza. Não sejas pretensiosa, pois tudo que te pertence é mau — o Bem é de UM Outro!!!”

  8. Diz Yarah: “De onde te vem este saber, meu amiguinho?”

  9. Novamente ri ele: “Não é preciso saber-se o que se vê! Tu tam- bém estás vendo coisas que não costumas vislumbrar. Todavia vejo mais

que tu, por não me achar dentro da matéria repugnante e sei perfeita- mente o íntimo de vós todos. Repito: não te orgulhes de tuas prerroga- tivas, que não são posse tua.”

  1. Diz Yarah: “Como assim? Explica-me isto!”

  2. Responde ele: “Se após longas viagens alguém contar-te suas experiências e conhecimentos adquiridos com muita dificuldade, in- tegrar-te-ás daquelas noções. Acaso poderias vangloriar-te por isto? O acréscimo de teu saber é apenas o mérito de quem o buscou com sacri- fício, e além disto, ainda teve a caridade de transmiti-lo.

  3. Por enquanto, és qual livro cheio de bons conhecimentos e longe estás de ser o escritor. A quem cabe o mérito daquilo que suas páginas apresentam: ao próprio livro, ou acaso ao escritor?” Dando ou- tra gargalhada, o homúnculo se posta como general frente aos outros e diz: “Já que satisfizestes vossa curiosidade, prossigamos; o odor aqui é insuportável!” Em seguida todos desaparecem na floresta.

  1. ÍNDOLEEAÇÃODOSESPÍRITOSDA NATUREZA

  1. Yarah então diz: “Quem teria imaginado tanto saber nesse ho- menzinho?! No fundo, alegro-me de seu afastamento, porquanto nos teriam apoquentado bastante, muito embora sejam de natureza gélida. Não parecem possuir amor; entretanto, sabem diferençar entre Verdade e mentira. Que será de tais elementos, pois se obstinam em não palmi- lhar o caminho da carne?”

  2. Digo Eu: “Um dia terão de fazê-lo, conquanto levarão tempo imenso para se decidir. Os azuis com mais facilidade que os outros. Al- mas surgidas da terra — fato que ocorre diariamente — prontificam-se com dificuldade, apenas quando levadas por vários conhecimentos, ex- perimentações e a esperança de jamais perderem algo pela encarnação, pois na pior das hipóteses, poderão voltar àquilo que são agora.

  3. Tais elementos da Natureza preferem as montanhas, onde aju- dam aos pastores e animais; acontece procurarem, às vezes, habitações de pessoas simples e pobres, a quem gostam de ajudar. Nunca devem ser ofendidos, pois nada perdoam e se vingam. Também frequentam as

escolas, onde muito aprendem com as crianças. Aos mineiros, não raro, apontam as minas melhores e mais ricas.

  1. Muitos existem nesta Terra que atingiram quase cinco vezes a idade de Mathusalém, sem ter encarnado. Submeter-se-iam a tudo. A perda da memória, todavia, os retém, porquanto a consideram a morte de sua atual existência. Orientados sobre esses seres, prestai atenção aos acontecimentos que se seguem.”

  2. Manifesta-se o velho Kisjonah de Kis: “Oh Senhor, quanta coisa grandiosa e sublime eu assisti quando Te achavas em minha casa, há várias semanas! Mas o que sucedeu aqui em poucos dias, jamais alguém sonhou! Perdoa, Senhor, se ousei interromper-Te, pois em Tua Presença ninguém deveria falar, senão ouvir. Caso a pessoa algo não entenda no momento, basta um pouco de paciência que a explicação virá na certa. Tenho dito!”

  3. Concluo: “Fala sempre, Meu amigo; pois teu pronunciamento soa bem aos Ouvidos de Meu Coração, porquanto a voz da humilda- de é para Mim a harmonia mais bela. Também ouviste ontem o som maravilhoso produzido por Raphael; de modo idêntico e ainda mais deslumbrante, se apresenta ao Meu Ouvido o som claro da verdadeira humildade.

  4. És também um homem justo de acordo com Minha Vontade; por isto, passarei o inverno em tua casa, onde haverá oportunidade para esclarecer-te e a tua família sobre vários assuntos. Anima-te e observa bem, que as explicações não tardarão.”

  5. Acrescenta Kisjonah: “Senhor, não mereço tamanha Graça, en- tretanto, o inverno será uma época abençoada e cheia de alegria para todos os meus. Agora já me calo.”

  6. Aduz Cirenius: “Nesse caso, serei de vez em quando hóspede em teu lar e tudo farei para suprir os pobres daquela zona.” Interrom- pe Kisjonah: “Nobre soberano, isto muito me alegra. Agora te peço silêncio, pois diante de nossos olhos flutuam, constantemente, seres estranhos, que deveríamos observar com mais atenção.”

  1. UMNOVELODESUBSTÂNCIAS PSÍQUICAS

  1. Em seguida diz Mathael: “Que novelo imenso vem flutuando da cidade para cá?! Aproxima-se rápido, em movimentos ondulantes e serpenteantes. Vislumbro figuras diversas: bois, vacas, vitelos, carnei- ros, galinhas, pombas e outras qualidades de aves; moscas, escaravelhos variados; burros, alguns camelos, gatos, cães, um casal de leões, peixes, víboras, serpentes, lagartixas, grilos, palha, pedaços de madeira, uma quantidade de grãos de trigo, roupas, frutas e até mesmo utensílios va- riados e outras coisas que desconheço. Que vem a ser tudo isto?! Talvez sejam almas metidas num grande saco transparente, onde rodopiam constantemente?!”

  2. Respondo: “São almas, ou melhor, elementos inferiores que por

certo tempo farão uma sociedade infeliz, até que se tenham emancipa- do neste saco alimentício.

  1. Tudo que existe no mundo é substância psíquica. Quando é des- truída em sua coesão material por motivo qualquer, alcançando sua liberdade psíquica, congrega-se em sua forma anterior onde permanece por certo tempo. Se depois disto essa forma se tiver munido de in- teligência, abandona-a, pouco a pouco, para ingressar numa outra de maior capacidade vital.

  2. Este novelo é um receptáculo para tudo aquilo que foi destruído pelo incêndio e aí se encontra como substância psíquica, provida de certa inteligência. O medo faz com que esses elementos se apresentem nesta confusão.

  3. Se, por exemplo, em qualquer parte do orbe, se tornam imi- nentes grandes revoluções de elementos — ocasionados por forte mo- vimentação de almas da Natureza — as almas animais são atacadas por imenso temor. Todas as espécies se juntam numa sociedade pacífica. Tanto a víbora quanto a serpente desconsideram seu veneno; os animais selvagens não mais atacam os cordeiros; a abelha e a vespa retêm seus aguilhões. Em suma: todos modificam sua índole; as próprias plan- tas deixam pender suas cabeças, inclinam-se de tristeza até que passe a calamidade.

  1. Tudo, com exceção do homem, que foi destruído em tal ocasião, reúne-se de novo como substância psíquica no pavor existente, e se envolve numa membrana. Se este novelo psíquico e solto tiver peram- bulado um século pelo Espaço, os elementos anteriormente variados se terão atraído, começando a se juntar, e perfazem uma ou talvez várias almas humanas, bem fortes.

  2. Este novelo que ora flutua diante de nós, contém tudo que foi destruído em Cesareia Philippi e necessitará mais de cem anos para seu desenvolvimento completo. Só então, mais de cem almas sazonadas romperão o tênue invólucro para, após outro século, passarem por uma encarnação.

  3. Por ocasião de grandes incêndios, manifestações vulcânicas e inundações importantes, formam-se tais novelos, seguidamente. Onde existem poucos elementos animais, a transformação é mais prolongada; quando mesclados, como aqui, o período é mais curto.

  4. Nem sempre se formam almas humanas dos conglomerados destituídos de potências animais pois podem produzir também al- mas de irracionais e até mesmo de plantas mais nobres, que se de- senvolvem geralmente de exalação putrefata ou de vapores vulcâni- cos e fumaça.

  5. Em suma, quando pode ser provado que os vapores se originam da decomposição de matéria animal, vegetal ou por processos fermen- táceos provindos de minerais, desenvolvem-se apenas almas de plantas. Unem-se pela parte mais grosseira às raízes; as mais puras se congregam com as folhas e por ocasião da fecundação, juntam-se as mais nobres, à alma vegetal que ativa, rompe o gérmen, formando assim a multiplica- ção abençoada das sementes.

  6. Os elementos mais grosseiros duma alma vegetal permanecem na matéria, isto é: no tronco e no cerne; os mais puros, na folhagem; outra categoria ainda determina o fruto e aquilo que o antecede e segue. Os mais nobres, porém, juntam-se à manifestação germinativa mais inteligente, capaz de despertar em si, novo elemento de vida, para reini- ciar sua atividade ou, através de assimilação, por parte dum animal ou do homem, transferir-se imediatamente àquela psique.

  1. Por isto, o homem geralmente se serve apenas do fruto, a fim de que os elementos germinativos da planta se possam unir à alma; a parte mais grosseira da semente se une ao sangue, à carne, à carti- lagem e aos ossos. Tudo isto tem de ser purificado por várias vezes, após ser expelido do organismo. Passará então para o reino vegetal, aí permanecendo até seu completo amadurecimento, quando será absor- vido por um elemento espiritual do gérmen, e daí será assimilado por uma alma animal ou humana. Agora sabeis como se formam tais no- velos, seu progresso e finalidade, podendo então prosseguir em vossas observações.

  2. Tudo isto representa a escada de Jacob, pela qual viu unidos

Céu e Terra e as forças da Vida e os Pensamentos de Deus, descerem e subirem. Se bem que tivesse visto tal imagem, nem ele nem pessoa alguma até hoje soube interpretá-la. Agora, acabo de desvendá-la para vós; para tal fim, era preciso transportar-vos numa espécie de sono so- nambúlico pela irradiação daquela bola luminosa, dando-vos o devido entendimento, para que soubésseis a relação entre Céu e Terra e como, pela mesma graduação, um penetra no outro. Dirigi agora vosso olhar psíquico sobre o mar e dizei-Me o que percebeis.”

  1. O OXIGÊNIO

  1. Externa-se Zinka: “Senhor, vejo uma infinidade de serpentes de fogo chisparem por sobre a água; algumas mergulham, sem que a rapi- dez de seus movimentos seja detida pela massa d’água. Vejo até o fundo do mar, onde se acha uma quantidade de monstros e peixes variados que sorvem tais serpentes. Se tal monstro ou peixe tiver tragado uma ou várias serpentes, torna-se mais vivo e animado, manifestando até certa volúpia.

  2. Agora também deparo tais elementos de fogo, porém, menores, no ar; sobre as águas são mais densos. Não parecem simpatizar com os pássaros que, à noite, costumam esvoaçar em sua superfície; enquanto que os peixes pulam fora d’água para sorvê-los. Os que navegam sobre o mar são os mais luminosos e ligeiros. Que vem a ser isto, Senhor?”

  1. Digo Eu: “É o verdadeiro elemento de nutrição vital; o sal do ar e do mar; futuramente os cientistas o denominarão ‘oxigênio’. Não poderão vê-lo, mas percebê-lo, determinando sua substância, ausência ou presença.

  2. A água, como elemento primordial para plantas, animais e ho- mens, contém grande volume de oxigênio, mormente o mar, e os ani- mais aquáticos não poderiam viver sem ele.

  3. Este elemento é, a rigor, a substância psíquica propriamente dita e corresponde aos pensamentos antes de serem concretizados para uma ideia. Quando encontrardes este elemento psíquico num amontoado, apresenta-se em breve uma forma delicada, ágil ou inerte, qual pedra ou pau. Observai, principalmente, as margens onde descobrireis diversos pontos mais concentrados de faíscas.

  4. Tal amontoado, surgido como que por acaso, irradia uma luz, por certo tempo, mui penetrante. Este acréscimo de luz é o momento da atração recíproca de uma quantidade de serpentes de fogo vital e com esta atração, já se deu a concretização de uma ideia.

  5. Uma vez a forma equilibrada, faz-se a calma; a irradiação cessa e aparece um ser: ou em forma de cristal, semente, ovo, — talvez até um animalzinho aquático ou, pelo menos, uma plantinha de musgo,

— razão pela qual se vê, comumente, as margens planas tão fartamente cobertas de variadas plantas marítimas. Onde estas vicejam, os animais de tamanhos diversos também não faltam.

  1. Indagais, quem modela esses elementos de vida em formas es- tagnadas ou, movimentadas? Raphael poderá responder melhor. Vem, Raphael, fala e exemplifica este assunto.”

  1. RAPHAELDEMONSTRAACRIAÇÃODOS SERES

  1. O arcanjo se apresenta e diz: “Deus é em Si, Eterno e Infinito e preenche o Espaço Imensurável. Ele, sendo o Pensamento mais elevado, puro, imenso e a Ideia Perfeita de todo o sempre, só pode formar, cons- tantemente, pensamentos ao Infinito que é Dele pleno. Nós, arcanjos, como Suas Ideias independentes cheias de Luz, Sabedoria, Conheci-

mento e Força de Vontade, surgidas em épocas por vós incalculáveis, temos ao nosso dispor uma quantidade infinita de espíritos-servos, que de certo modo, perfazem nossos braços, reconhecem nossa vontade, executando-a de pronto.

  1. Os pensamentos de Deus representam a substância da qual tudo surgiu no Infinito; nós nos originamos, unicamente, da Vontade do Espírito Divino, Elevado e Onipotente. Todas as coisas e seres, porém, surgiram por nós, que fomos e somos os primeiros e mais excelentes receptáculos de Seus Pensamentos e Ideias, e isto seremos para sempre numa forma mais perfeita.

  2. Ajuntamos os Pensamentos da Vida de Deus, que ora se vos apresentam em figuras de línguas de fogo, e modelamos, indetermi- nadamente, formas e seres de acordo com a Ordem Divina em nós. Tendes aqui, portanto, a substância que Deus ou nós empregamos para a formação material de tudo. Essas línguas de fogo são os elementos espirituais, donde tudo que comporta o Infinito foi criado.

  3. A maneira pela qual se dá esse processo, vos foi demonstrada pelo Próprio Senhor. Em seu todo, compreendê-lo-eis quando estiver- des completamente perfeitos em espírito, diante de Deus, o Senhor, e não mais na matéria grosseira.

  4. A fim de que possais ver pela Vontade Dele, como nós, Seus velhos e poderosos servos, agimos neste processo, dirigi para cá vossa visão psíquica, para vos integrardes daquilo que mortal algum até hoje veio a saber.

  5. Vede, em Nome do Altíssimo, ordenei aos meus espíritos-servos, a presença de suficiente substância psíquica. Eis que diante de nós se acha um amontoado luminoso de línguas de fogo. Observai como se juntam; parecem querer se introduzir uma na outra! Pouco a pouco dão a impressão de maior calma; mas tal não se dá, porquanto trata-se dum obstáculo surgido no centro pela atração centrípeta.

  6. Por que tudo converge para o centro? Vede, se jogo diversas bo- las para o ar, a mais pesada poderá ser atirada com maior ímpeto e distância, e no caso de todas serem atiradas a um só tempo, ela será a primeira a atingir a meta. O mesmo se dá com os Pensamentos incal-

culáveis de Deus. Existem de certo modo mais concretos, semelhantes a uma ideia; os menos pesados, porém consistentes; os leves, portanto ainda não sazonados e alimentados pela luz, e mais duas categorias de pensamentos sutis. São idênticos aos brotos da primavera. Embora con- tenham algo, ainda não alcançaram aquele desenvolvimento divino que permitisse positivar sua forma.

  1. Se, portanto, sou levado a formar desta substância um ser na Ordem da Vontade Divina, chamo os servos que me proporcionam a quantidade necessária; é compreensível serem os pensamentos sólidos, os primeiros, porquanto perfazem o centro, e os mais leves, o invólucro.

  2. Como os pensamentos centrais já são os mais ricos em substân- cia alimentícia, os mais vazios, pobres e famintos a eles se dirigem, a fim de algo conseguirem para seu sustento. Eis tal fenômeno que ora pre- senciais, conquanto as línguas de fogo mais distanciadas se acheguem ao centro, dando a impressão de acalmar-se; todavia, trata-se do ímpeto de satisfazer sua voracidade.

  3. Assemelham-se a um pólipo marítimo que suga constantemen- te o alimento do lodo, com milhares de trombas de sucção até que começa a criar excrescências pelas quais se movimenta, agarrando-se em algo. Deste modo, adquire forma peculiar, mui diferente da original.

  4. Estranhais por certo o processo primitivo dum ser, que todavia jamais poderá ser diferente. Dirigindo vosso olhar à Natureza exter- na das coisas, descobrireis o mesmo. Analisai o ovário da ave cheio de óvulos: alguns do tamanho duma ervilha, outros duma uva e outros, maiores, do tamanho de pequenas maçãs. Encoberta por pele mui leve, acha-se a gema. Quão informe se apresenta esta vida!

  5. Pela maturação, esta substância principal começa a formar a clara. Após certo tempo de nutrição, ela expele a matéria mais grosseira, que é depositada como invólucro seguro ao redor do ovo, protegendo-o contra um possível acidente por ocasião de ser expelido. Não deparais a grande diferença entre o ovo e o seu estado embrional?

  6. E que metamorfose não se passa quando a ave começa es- quentá-lo! Na gema se faz sentir uma movimentação e organização; surgem os pensamentos equilibrados (línguas de fogo) que se unem

aos semelhantes, atraindo também os mais leves e externos. Em breve, descobrireis coração e cabeça, olhos, intestinos, pés, asas e penugem da avezinha. Após alcançado este estado, as partes organizadas atraem elementos afins da substância psíquica, o que lhes traz maior desen- volvimento.

  1. Quase completos forma e organismo, o pensamento principal foi gradativamente fortalecido, apoiado, alimentado e começa a trans- por-se com a pujança de sua vida ao organismo, onde assume a direção. Eis que o ser cria vida, desenvolvendo-se de modo completo.

  2. Chegado a este ponto, o pensamento vital, ou seja a própria alma, integrado ao organismo, percebe estar ainda encarcerado. Por isto, entra em maior atividade; rompe a prisão e se projeta no mundo, todo fraco e temeroso. De pronto começa a se nutrir com alimento externo, até que se tenha equilibrado em a Natureza.

  3. Temos, portanto, uma ave diante de nós, capaz de assimilar as partículas específicas do campo psíquico, do ar, da água, e, na maior parte, do alimento orgânico já vivificado. Os espirituais, para o desen- volvimento progressivo da psique; os mais grosseiros não somente para a manutenção do organismo, como também para a nova criação de óvulos, dos quais surgirão posteriormente os da mesma espécie.

  4. O sexo sempre deriva do maior ou menor peso do pensamento básico da alma. Este, desde início completamente firme, de sorte a ser uma ideia, — sua forma será masculina; o pensamento se baseando num grau mais indeciso, formará um ser feminino.”

  1. A FECUNDAÇÃO

  1. (Raphael): “Pelo ato procriador dos animais, apenas se dá a ex- citação para uma atividade ordenada do pensamento básico da psique, dentro do ovo. Do contrário, permaneceria a estagnação, pela vora- cidade, sorvendo do vizinho e vice-versa, até que se tivessem tragado reciprocamente. Este ato também se pode dar com outros ovos ativados à procriação, quando as condições necessárias para o desenvolvimento são escassas ou mesmo nulas.

  1. Em todos os animais, portanto, dá-se, no momento procriati- vo, apenas um incentivo daquilo que contém o físico materno; pois uma quantidade de pontinhas psíquicas se acumula continuamente, em numeração ordenada, dentro do organismo. Lá instigam primeiro a fêmea, esta, o macho que a fecunda, não como se fosse deitar o novo sêmen no ovo, mas para despertar a vida psíquica dentro da mãe.

  2. Isto acontece pelo sêmen, constituído de elementos de vida mais libertos, que leva os elementos femininos mais presos a um estado de revolução, forçando-os à atividade, pois que sem eles permaneceriam em doce indolência, sem jamais se prontificarem para a formação e organização interna dum novo ser. Os elementos masculinos aperreiam os femininos, que se lhes opõem constantemente e, quando mais fortes, fazem calar os outros, fato comum em todo reino animal. Os elementos femininos no centro materno (útero), tendem a entregar-se à calma; quando ativados de modo suficiente, o ato ocorre sem impedimento.

  3. Tal conglomerado de potência feminina se encontra à nossa fren-

te; observai como se acalmou durante minha explanação. Se o deixasse assim, pouco a pouco se reduziria, pela tendência da calma, porquanto suas partículas se aproximariam de tal forma do centro, que em breve o teriam absorvido, fato que traria o aniquilamento de ambos. Estes elementos são como as crianças: esquivos, medrosos e quando — como aqui — se encapsularam, não aceitam alimento externo, mas sugam do centro feminino, até se reduzirem a meros pontinhos. Por isto, atrairei elementos masculinos, fortes, que farei friccionarem o centro feminino, e vereis o efeito.

  1. Pela Vontade do Senhor, atraio, pelos muitos servos ao meu dis- por, os grandes pensamentos bases de vida em forma de línguas mui luminosas que se achavam brincando à beira d’água. Observai atentos como começarão a saracotear em redor do centro vital feminino! Os menores já se movimentam numa tentativa de se livrarem dos elemen- tos masculinos. Estes, porém, não cedem, transmitindo a excitação até ao centro feminino.

  2. Agora, até mesmo este começa a se movimentar, e, como os ele- mentos vitais que o circundam se tornaram famintos de luz pela movi-

mentação, o pensamento central da vida psíquica absorveu o elemento masculino. Incentivados deste modo, os sitiantes recebem o estímulo do centro e se organizam para uma represa orientada. Os elementos mais fortes e próximos do centro, já iluminados, reconhecem sua índole e ordem, agrupando-se de acordo com sua afinidade; logo vereis surgir ligações orgânicas cujo exterior cria forma animal.

  1. Por essa atividade e luta, todas as partículas vitais sentem maior necessidade de alimento, que lhe é facultado pelos elementos masculi- nos. Com isto, os elementos exteriores, mais e mais ordenados, tornam-

-se mais familiarizados com os positivos, desaparecendo o velho temor e receio. Tudo começa a se movimentar com liberdade e o efeito é a formação dum ser que, dentro em pouco, podereis positivar. Vede: de- senvolveu-se u’a mula forte que permanecerá pela Vontade do Senhor!”

  1. Observam Hebram e Risa: “O bom Raphael parece especializa- do nessa criação, pois há dois dias já criou uma outra!”

  2. Responde o anjo: “Aquilo aconteceu para o vosso ensinamento, enquanto este animal tem outra significação: é o símbolo da humildade justa. Em vossos empreendimentos terrenos, quando executados com precipitação, surge finalmente também um burro, ou ao menos em par- te. Aqui tratou-se de demonstrar-vos, rapidamente, o desenvolvimento dum ser desde sua origem e, pela pressa, também surgiu u’a mula — já que pretendeis algo chistoso.

  3. Este animal será fecundado pelo anterior e no ano vindouro, alguém os comprará em Jerusalém e o jumentinho será lembrado para todos os tempos! Agora basta. Sabeis como surge um ser, sem mãe, dos Pensamentos isolados de Deus, e se quiserdes, poderei repetir tal fenômeno!”

  4. Respondem todos: “Poderoso servo do Senhor, já nos basta este exemplo excepcional, pois um acúmulo nos poderia perturbar.”

  5. Diz Raphael: “Muito bem, demonstrei-vos a fecundação e o surgir dum ser, pelo ventre materno e aqui, outra, livre, conforme se dá em todos os planetas ou ilhas que porventura ainda venham a nascer.

  6. Não deveis, no entanto, aplicar este meio às criaturas humanas, mormente desta Terra; conquanto haja muita semelhança, a base é mui

diversa. A mulher também possui substância natural; quando ocorre o ato, é fecundado e excitado um óvulo que, todavia, é arrancado como a uva do cacho, levado ao local acertado, onde se apresenta uma alma feita. Ela nutre o óvulo até que a substância se tenha fortalecido de tal forma, a possibilitar à alma, que se retraiu, penetrar no embrião ainda líquido, no que leva dois meses. Uma vez que dele se tenha apossado, o feto se faz sentir e cresce rapidamente ao tamanho normal.

  1. Enquanto os nervos não estiverem completamente desenvolvi- dos e ativos, a alma trabalha de plena consciência, organizando o corpo para suas necessidades. Mas quando os nervos completados e seus ele- mentos se ativando dentro da ordem, a alma se aquieta e, finalmente, adormece na região dos rins. Nada sabe de si própria, vegetando sem recordação de seu antigo estado primitivo. Só depois de alguns meses de nascida, começa a despertar, o que é fácil se observar pela diminuição do sono. Todavia leva bom tempo até que alcance alguma consciência própria, que surge com a fala; a recordação do passado, porém, não lhe é dada, pois não seria de utilidade para o desenvolvimento psíquico.

  2. Submersa na carne, a alma nada registra senão pelos sentidos

porquanto ignora possuir existência independente. Por muito tempo se identifica com o corpo e preciso são várias circunstâncias, para levar-

-lhe tal conhecimento imprescindível, pois do contrário, não poderia abrigar um espírito e tampouco despertá-lo. Somente quando tal fato ocorre, ela se torna lentamente mais lúcida; dá conta de si e descobre coisas mui ocultas que, entretanto, não sabe aproveitar.

  1. Quando o espírito e sua luz poderosa se evidenciaram, volta também a recordação de tudo, porém sublimada. Não há mais engano e mentira, e sim a Verdade mais lúcida e celeste pela união de alma e espírito, numa felicidade e bem-aventurança elevadíssimas! Entendes- tes o quadro da escada de Jacob?! Até aqui falei eu, o seguinte vos dirá o Senhor!”

  1. MOTIVOSDASREVELAÇÕESDO SENHOR

  1. Respondem todos os presentes: “Acaso haveria algo que não hou- véssemos compreendido?” E o próprio Comandante Julius acrescenta: “Se possível fosse mantermos esta vidência, poderíamos, fortalecidos pela vontade, tornarmo-nos deuses e operar milagres; sendo ela apenas o efeito da luz mágica daquela bola e nossa vontade e conhecimento ainda fracos, permaneceremos os mesmos que dantes!

  2. Refletindo sobre aquilo que somente é possível a um anjo, deparo com a grande diferença entre Deus e a criatura. Ele é tudo,

  1. Deparamos milagres inauditos, mas ai de nós se tentássemos transmitir nossa vontade a uma dessas línguas de fogo! Por isto, acho melhor saber-se menos, porquanto a pessoa não será tentada a agir mi- lagrosamente. Tudo isto que acabamos de ver, amedrontou-me. Por que então devo integrar-me de tais fenômenos?”

  2. Digo Eu: “A fim de reconheceres quão pouco é o homem por si mesmo, porquanto sua vida, noção, conhecimento e capacidades, unicamente dependem de Deus! Através de tua vontade, jamais algo conseguirás, como também o anjo nada fará; aceitando Minha Vonta- de, poderás ter a mesma função deste anjo.

  3. Constitui benefício para tua alma, o acréscimo de conhecimen- to, se compreenderes que tua própria vontade nada ou pouco fará além da ação física. Podes compreender e assimilar o mesmo que o anjo; se não tiveres adquirido Minha Vontade e Sabedoria, tudo aquilo de nada vale. Pelo contrário, ser-te-á um suplício, por seres homem de ação; isto, todavia não te prejudica, pois apenas pela humildade o homem se torna homem, e um verdadeiro filho de Deus!

  4. Além do mais, não vos foram demonstrados tais fenômenos para que fossem imitados, mas para reconhecerdes Deus em Mim, aceitando com a melhor boa vontade, a fazer o que Eu, Criador de toda a Vida, ensinei em virtude do aperfeiçoamento vital.

  1. Para este fim, tendes primeiro de alcançar o Renascimento do Espírito; do contrário, Minha Vontade não deitaria raízes em vós. Se pela vossa vontade aceitais a Minha, a ponto de submetê-la a Mim, exercitando-vos no sentido de vos entregardes ao Seu Domínio, Meu Espírito criará vida plena, penetrando todo o vosso ser.

  2. Deste modo, Minha Vontade praticada por vós chegará à ple- na pujança, e aquilo que Ela desejar, dar-se-á! Mas só então, — e ja- mais, antes!

  3. O conhecimento deve ser apenas a rédea pela qual dirigis vossa vontade à Minha; pois através de Meus Atos, deveis reconhecer ser Eu Aquele de Quem testemunhei. Assim equilibrados, ser-vos-á fácil se- guirdes Minha Vontade que Se baseia na Vontade Eterna e Indiscutível, dando-lhe plenos poderes.

  4. Se alguém vos indicar uma rota por ele mesmo não inteira- mente conhecida, sereis prudentes em não segui-la. Se as palavras, po- rém, vos indicam ser a pessoa conhecedora do caminho, porquanto é habitante da meta final, chegareis à conclusão de que não vos tentou enganar, de acordo com o conhecimento e a vontade. Assim subme- tereis, em virtude da confiança segura, vossa vontade à daquele que vos foi guia.

  5. O mesmo sucede aqui: Se Eu Me apresentasse numa aparência mística, fatalmente persistiriam dúvidas que, todavia, vos seriam perdo- adas. Se Eu, porém, Me der a conhecer por Palavras e Ações, demons- trando com toda a Sabedoria, Amor e Poder, ser realmente Aquele que Se revelou, o êxito é efetivo! Primeiro, não podeis alimentar dúvidas de Minha Pessoa e segundo, torna-se o cumprimento de Minha Vontade

  1. Um mestre sábio nada faz sem motivo; assim também Eu não vos ensino por vossa causa, senão para vos tornardes doutrinadores e guias de vossos irmãos ignorantes, em Meu Nome. Por isto, necessitais conhecimento mais profundo dos segredos de Meu Reino e Minha Na-

tureza, da índole humana desde sua origem remota até a mais elevada perfeição e Semelhança Divina!

  1. Através de vossa confiança plena e viva podereis despertar uma idêntica em vossos adeptos; assim é que também vislumbrarão, em bre- ve, coisas semelhantes às que vos foram demonstradas. Haveis compre- endido o ‘porquê’ de tudo isto?”

  2. Respondem todos, comovidos: “Sim, Mestre e Senhor!” Digo Eu: “Pois bem, despertai então para o mundo natural, a fim de que vos possa demonstrar ainda outras coisas.”

  1. OSENHORREVELAOÍNTIMODE JUDAS

  1. A estas palavras todos voltam à visão normal, e Me rendem lou- vores por tudo que Eu lhes havia proporcionado. Tal atitude demonstra terem reconhecido, na verdadeira profundeza de vida, Quem Eu Sou. Judas, porém, Me aborda com as seguintes palavras: “Senhor, por mui- to tempo alimentei dúvidas: agora acredito seres realmente Jehovah em Pessoa, ou, pelo menos, Seu Filho! Existe, contudo, a seguinte dificul- dade: Como Te foi possível abandonar o Infinito e submeter-Te à forma limitada, sendo Jehovah? E enquanto isto fizeste, o Espaço continua infinito! Tu, porém, és o Próprio Espaço Eterno! Como pode ele existir em sua Natureza imutável e Tu Mesmo, nesta forma reduzida?! Senhor, tal questão é mui importante e se me deres uma explicação satisfatória, tornar-me-ei um de Teus discípulos mais zelosos.”

  2. Digo Eu: “Como é possível que todos alcançassem a visão, en-

quanto somente tu te tornaste cego? Acaso julgas que esta matéria Me enfeixa? Ou seria o Sol, com sua luz penetrante, apenas ativo onde seus raios se fazem sentir? Como poderias vê-lo, se eles não ultrapassassem sua camada externa?

  1. Eu Sou o Eterno Ponto Central de Mim Mesmo; e deste ponto preencho eternamente o Espaço Infinito. Sou, por toda a parte, o Eter- no Eu; entre vós, porém, acho-Me no Meu Eterno Centro de Vida, de onde mantenho, de modo constante e imutável, todo o Infinito em sua extensão ilimitada.

  1. De todo o sempre habitei em Meu Centro impenetrável e em Minha Luz Inatingível, surgida de Mim Mesmo. Em virtude das cria- turas desta Terra, tive o ensejo de Me afastar de Meu Centro e Luz, de sorte que para aqui Me dirigi, nesta mesma concentração e Luz, que até mesmo aos arcanjos foi impenetrável por eternidades, — tornando-Me acessível para vós e vos facilitando a Minha Luz.

  2. Quando partimos de Sichar para a Galileia e repousamos numa montanha, demonstrei a vários dentre vós, atingir a Minha Vontade o próprio Sol. Recorda-te desse fato e saberás estar Eu Presente em toda a parte, através da emanação de Minha Vontade Imutável!”

  3. Concorda Judas: “Realmente, lembro-me teres apagado por ins- tantes a luz solar. Não é brincadeira; no entanto, conta-se que os anti- gos magos do Egito, também o faziam. Em a Natureza existem forças ocultas que conheces também como os magos. Naturalmente ninguém até hoje agiu como Tu!

  4. Todavia, não és destituído de ensino mundano, pois se fala da habilidade de José e mesmo de Maria, aluna de Simeon e Anna. A pes- soa com pais desta ordem, terá boas oportunidades de aprendizado. Eis minha opinião mundana, porquanto creio convictamente habitar em Ti o Espírito de Jehovah.

  5. De que adiantaria um Deus acima de todas as estrelas, nunca Se mostrando às Suas criaturas, tampouco operando milagres?! Eis por que Tu és, ao menos para mim, Jehovah Verdadeiro, porquanto Te apre- sentaste diante de nossos olhos como Mestre de tudo que existe. Quem pode, como Tu, ressuscitar os mortos, mandar nos elementos e criar do éter um burro real, é para mim Deus Verdadeiro!

  6. Não sou tão tolo como julgava Thomaz, pois se lhe falasse como posso, não seria capaz de me apresentar uma objeção. Se não tives- se suspeitado em Tua Pessoa o Verdadeiro Jehovah, de há muito te- ria voltado para minha olaria. Assim, renuncio à minha arte rendosa, muito embora não seja inimigo do dinheiro, preferindo Tua Moeda Espiritual.

  7. Contudo, não posso aceitar as insinuações de Thomaz que me sussurrou aos ouvidos, ter o milagre com o burro, ocorrido por

minha causa, para demonstrar-me quem sou! Se ele se julga mais in- teligente que eu, — que o seja, mas não queira molestar-me por isto! Tratando-me de ladrão, jamais poderá alegar ter eu lhe furtado o que quer que seja.

  1. Ainda há pouco nos transmitiste um Ensinamento divinamen- te sábio sobre as moléstias psíquicas, demonstrando como se deveria ter mais paciência com a alma doentia, de que com o físico. Por que não pendura ele tais ensinamentos atrás de suas orelhas, quando não cabem em seu coração? Pensa que também posso ser psiquicamente enfermo?! Não exijo que me peça desculpas, por sua sabedoria classificar-me de burro, pois também sou tão humilde quanto ele. Sinto apenas vontade em confessar abertamente ser eu enfermo da alma, enquanto não invejo a saúde de sua alma. Continuarei seu amigo de sempre, e lhe peço apli- que seu zelo corretivo em outros, pois ainda sou, tanto quanto ele, um discípulo convocado por Ti, Senhor.”

  2. Digo Eu: “Realmente, não é de todo louvável Thomaz fazer-te

alvo de sua crítica; entretanto, sei que por ocasião do aparecimento desse animal, fizeste um gracejo mal intencionado, que deu motivo à réplica de Thomaz!

  1. Dize-Me, por que motivo externaste a observação que todos os Meus Atos milagrosos eram rematados com a produção de burros? Tal observação foi maldosa e mereceu as palavras de Thomaz! Não critico tua fé pela qual Me tomas pelo Deus e Senhor Único; condeno, apenas, basear-se este conceito somente em palavras e não em tua vida psíquica. Pois na realidade, Me consideras um sábio genuíno do antigo Egito e um mago provido de todas as forças da Natureza, que bem sabe como aplicá-las.

  2. Aquilo que para centenas de pessoas constitui Verdade abso-

luta, a teu ver, merece dúvidas que ainda proferes em público; de sorte que algumas, de índole fraca, deixam-se levar a um critério desacertado a Meu respeito. Quando restituí a vida aos afogados, afirmaste ser isto bem fácil, porquanto o aspecto dos astros favorecia o êxito de tal mi- lagre, pois noutra parte não o teria conseguido! Em Nazareth, Caper- naum, Kis, Jesaíra e Genezareth também havia agido milagrosamente,

— mas não como aqui. Se, portanto, Me tomas por teu Deus e Senhor, por que então lanças suspeitas contra Mim perante estranhos?!”

  1. Responde Judas, com atrevimento: “Analisando com mais perspicácia o mundo da Natureza, observa-se, considerar Deus o local, caso tencione algo realizar. Ao galgarmos, digamos, o Ararate, nada en- contraremos além de pedra, neve e gelo. Por que não produz uvas, figos, maçãs, peras, cerejas e ameixas? Suponho julgar Jehovah, aquele monte imprestável para tal produção frutífera.

  2. Assim, creio não diminuir Tua Divindade, afirmando necessi- tares condições apropriadas para agir milagrosamente. Pois Te seria fa- cílimo transformar o grande Deserto Africano, em campos abençoados e férteis, se achasses aquele território favorável para este fim. Eis minha opinião com a qual, certamente, Thomaz não concordará!”

  3. A Meu Aceno, Thomaz se adianta e diz: “Terias falado dentro da ordem, se teu sentimento estivesse ligado ao conhecimento! A teu ver é o Senhor um sábio filósofo, entendido em extrair de todas as doutri- nas o que de mais sábio contêm e além disto, Se aperfeiçoou em magia, facilitando-Lhe êxito pleno. Eis tua ideia satânica, pela qual um grande mago, dominador das forças ocultas, deve finalmente ser um deus!

  4. Acontece corresponder o Senhor às tuas exigências neste senti- do, e não vacilas em destronar o Velho Deus de Abraham, Isaac e Jacob, dando este privilégio a um mago! Pois ainda não te apercebeste ser o Espírito deste Santo de Nazareth o Mesmo que proferiu no Sinai Suas Leis aos patriarcas?

  5. Assim sendo, não posso deixar de advertir-te sempre quando procuras externar tua língua traidora, pois todo aquele que fala contrá- rio ao que sente, é traidor da Verdade consagrada. Por isto, aceita esta advertência, jamais falando de modo contrário do que sentes. Compre- ende-me bem, pois te conheço a fundo! Não te condeno como alma doentia, — mas tua própria enfermidade!”

  1. CORRETIVODE JUDAS

  1. Diz Judas Iscariotes: “Assim sendo, devo externar-me; pois o Próprio Senhor sempre deu oportunidade aos outros de se livrarem de sua maldade e mentira. Se estranhos recebem tal privilégio, por que devo ser privado, quando pertenço ao vosso grupo e tenho comparti- lhado de vossas dores e alegrias?!”

  2. Apresenta-se, casualmente, Bartholomeu: “Com os outros, o caso era diferente porque mantinham em si falsos conceitos oriun- dos de sua educação. Mal ouviam a voz da Verdade, suas almas co- meçavam a fermentar e tal noção as instigava a despojar-se de seus erros. Tu, no entanto, de há muito te encontras na Luz plena da Verdade e recebeste milhares de provas de sua genuinidade. Tudo isto, porém, não te impressiona; tens vontade de praticar milagres, a fim de ganhares ouro e prata, qual fariseu no Templo. Teu ideal se baseia na riqueza, para poderes pecar à vontade, não obstante todas as verdades!

  3. Com esta tua índole, nada feito com o despojar de tuas tendên-

cias, pois não existem meios de te facultar outro coração. Se o Verbo Onipotente do Pai não consegue transformar-te, qual seria o resultado de nossas palavras?! Portanto, é preferível voltares ao antigo lugar e não nos molestares com tuas observações fúteis.”

  1. A este corretivo forte, Judas ainda faz menção de responder; Cornélius, porém, diz: “Abre tua boca somente quando convidado, do resto, cala-te e não interrompas o Senhor! Se, todavia, sentes necessida- de urgente de falar, vai ao fundo da mata e te dirige às árvores que não farão objeções, tampouco te poderão ofender! Nada entendes daquilo que aqui se passa e tua ignorância enfadonha, o egoísmo e ganância, derivantes dela, confundem a meditação necessária sobre as grandes Verdades da Vida, provindas de Deus, o Senhor!”

  2. Após as palavras de Cornélius, Judas se retira calado; muito res-

peito tinha ao romano sabendo de seu zelo para Comigo e Minha Dou- trina. Em seguida digo a todos: “Quem tem, receberá um acréscimo; quem não tiver, perderá aquilo que possuía!

  1. Acabastes de vos convencer do mal provindo da tendência mun- dana para o domínio; por isto preservai-vos dela! Um coração ganan- cioso não pode assimilar qualquer coisa de espiritual e tampouco pode- rá ser esclarecido sobre o que necessita para sua salvação.

  2. Embora estejais há poucos dias em Minha Companhia, já com- preendestes assuntos bem difíceis; aquele discípulo priva há meio ano Comigo, foi testemunha ocular de toda sorte de milagres e ouvinte de Verdades mais profundas, — contudo nada assimila! Causa isto sua demasiada ganância, baseada em sua preguiça.

  3. Uma pessoa verdadeiramente esforçada, ganha com facilidade o que precisa e até um acréscimo para sua velhice; mesmo não conseguin- do fazer economias, e socorrendo aos necessitados, não ficará desam- parada quando a idade avançar. Um preguiçoso ama o ócio preferindo viver à custa alheia; por isto se torna mentiroso, fraudulento, ladrão para desfrutar de posição vantajosa.

  4. Com tal tendência, obscurece sua alma de tal forma, a lhe im- possibilitar a compreensão espiritual; e se for iluminada por explicação elevada e pura, transforma-a em sua natureza grosseira e egoística, reco- nhecendo apenas o que seja material.

  5. Observastes através do surgir da mula a maneira pela qual o espírito se transforma em matéria e não necessita ser explicado; pois quem não compreendê-lo com facilidade, jamais o fará neste mundo.

  6. Por isto, indagai de vós mesmos a quantas anda vossa compre- ensão. Quem a possui, — é dono; não a possuindo, levará tempo para alcançá-la. Aquele, cuja alma é espiritualizada, facilmente assimila o que vem do espírito; enquanto que aquele, ávido pela matéria, de modo algum compreenderá as emanações puríssimas da centelha divina!”

  1. AEDUCAÇÃODE CRIANÇAS

  1. (O Senhor): “Se bem que seja necessário haver diferença entre as criaturas, alma alguma foi posta desamparada no mundo, de sorte a se tornar inteiramente materialista. Pois não existe uma, sequer, encarna- da, destituída do livre-arbítrio e inteligência própria.

  1. A causa primária da perdição das almas consiste, principalmen- te, na educação primitiva, em geral excessivamente amorosa. Deixam-se crescer os arbustos à vontade, contribuindo com mimos inoportunos para que o tronco se entorte. Quando este endurecido, de nada adian- tam as tentativas de endireitá-lo, — e uma alma torta raramente se tornará um tronco ereto!

  2. Por isto, educai vossos filhos em sua adolescência facilmente influenciável, tornando-se difícil encontrar-se alma tão materialista a ponto de não compreender o que venha do espírito, inclinando-se a uma ação justa nos caminhos da Verdadeira Ordem de Deus! Gravai-o bem, porquanto foi este o motivo que Me levou a demonstrar-vos o desenvolvimento duma alma no ventre materno.

  3. Até aos sete anos prevalece na criança o animalismo, pois sua alma se encontra em sono profundo. Deste modo, suas necessidades manifestam desejos animais, ao invés de humanos. Dai-lhes apenas o necessário! Habitua-lhes desde cedo à prática da renúncia; as de fá- cil percepção não devem ser elogiadas em demasia, enquanto se aplica amor e paciência às menos perspicazes.

  4. Devem-se exercitar em coisas úteis e boas, evitando-se des- pertar-lhes vaidade, amor-próprio e orgulho, mesmo em se tratan- do duma criança merecedora de elogios. Quando de físico atraente, não devem ser envaidecidas por roupas bonitas e luxuosas. Con- vém mantê-las asseadas sem, contudo, delas fazer-se ídolo da casa, conseguindo, deste modo, encaminhá-las desde o nascimento para alcançarem, quando adultas, aquilo que todos vós conseguistes ape- nas por Mim.

  5. A moça atingirá a maternidade, casta e pura; e o rapaz se tornará

homem de alma sazonada e espírito desperto e será uma bênção aos familiares, ao planeta e seus animais.

  1. Cedendo em demasia aos desejos e paixões animais de vossos filhos, abrireis uma entrada nova e ampla para todos os vícios pela qual se projetarão no mundo, de modo desastroso; uma vez manifestados, inútil enfrentá-los com toda sorte de armas, pois nada conseguireis con- tra seu poder e força.

  1. Cultivai, pois, as pequenas árvores para que seu crescimento seja em direção ao Céu e tirai-lhes, cuidadosamente, as excrescências; pois quando crescidas e fortes, cheias de curvas defeituosas pelos maus ven- tos, não mais será possível endireitá-las, mesmo com métodos violentos.

  2. Há pouco vistes o conglomerado de línguas de fogo, em cujo es- tado independente e solto, no que diz respeito às qualidades psíquicas, não estava determinado dali surgir um jumento; somente depois das ordens do anjo, as partes diversas se juntaram, formando o organismo daquele animal.

  3. Agora, feito, não seria admissível transformá-lo em outra espé- cie, embora para Deus não haja o impossível. Neste caso, seria preciso dissolvê-lo inteiramente e todas as partículas bases teriam de se juntar a outras, expelindo as que ora determinaram a do burro. Tal seria tarefa muito maior, do que criar um novo ser de pensamentos básicos e den- tro da Ordem.

  4. Do mesmo modo é fácil fazer-se tudo com uma criança, en- quanto um adulto ou ancião, pouco ou nada aceitará. Cuidai, por isto, duma boa e verdadeira educação de vossos filhos, que tereis facilidade em pregar Meu Evangelho Completo aos povos vindouros. A boa se- mente cairá em solo fértil e puro, trazendo colheita centuplicada! Se os deixardes crescer como os macacos, facultar-vos-ão o benefício que aqueles filhotes dão aos pais: destruirão com prazer o que por eles fora ajuntado; e caso os velhos tencionem reagir contra tamanho ultraje, os filhos, de pronto, rangerão os dentes, enxotando-os.”

  1. AVIDADEJUDAS ISCARIOTES

  1. (O Senhor): “Judas é um exemplo vivo do que acabo de relatar: filho único de pai rico, dispôs sempre do amor apaixonado de sua mãe. Resultou daí que ambos o mimaram excessivamente e tudo lhe deram sem que ele pedisse. Mal se viu bastante forte, expulsou seus genitores do lar, entregando-se aos prazeres da vida.

  2. Deste modo, não levou muito tempo e a fortuna dos velhos dis- sipou-se; vendo-se, assim, na miséria, morreram de desgosto. Foi neste

estado de penúria financeira que Judas começou a refletir da seguinte maneira: Por que sou assim? Não dei causa para minha vida, muito menos pude educar-me; entretanto, todos me lançam em rosto ser um patife miserável, que pela vida devassa me tornei causador da desdita de meus pais!

  1. Que culpa me cabe? Certamente fui mau; mas que fazer, se os velhos não souberam educar-me?! Que farei? Sem dinheiro, sem lar, sem profissão e alimento! O mais fácil seria o roubo; um ladrão desajeitado, porém, com facilidade é pegado e maltratado. Já sei que fazer! Apren- derei qualquer ofício, até mesmo o de oleiro que tornou rico meu pai!

  2. Dito e feito. Em Capernaum tornou-se aprendiz dum bom olei- ro onde, em breve, inteirou-se com afinco nessa arte. O patrão possuía uma filha que foi desposada por Judas. Se quando solteiro era generoso, agora se tornou duro e avarento e sua mulher, seguidamente, passava miséria. Se bem que sua produção fosse eficiente e lhe desse bom lucro, sua família tinha de trabalhar até o excesso. Não ganhando o suficiente, seu mau humor era insuportável.

  3. A fim de conseguir um lucro extra, alugou um arrastão e há pou- cos anos dedicou-se à magia, porquanto, por diversas vezes, verificara o lucro compensador obtido pelos magos egípcios ou persas. Todavia, nada de extraordinário conseguiu realizar, embora gastasse muito di- nheiro. Tomou até algumas aulas com os essênios que diziam poder criar um mundo, caso fosse preciso.

  4. Dentro em breve, porém, viu-se logrado, abandonando aqueles ‘mestres’. Neste ano, soube dos Meus Feitos que tudo ultrapassavam o que até então se denomina ‘ação milagrosa’. Este foi o principal motivo por que aderiu a Mim, abandonando tudo apenas para aprender a arte milagrosa e ganhar rios de dinheiro.

  5. Pouco interesse dá à Minha Doutrina. Se presta atenção às Mi- nhas Palavras, pretende somente explicação sobre os meios que Me ga- rantem a concretização dos milagres. Como nesse ponto nunca houve algo de aproveitável, anda ele sempre mal humorado.

  6. Além do mais, será levado a uma ação traiçoeira e o desespero dele o fará suicida, sendo que uma corda e um salgueiro finalizarão seus

dias na Terra. É um dos que tentam a Deus num ultraje tremendo; pois quem se atreve a assim agir, fá-lo-á também em si próprio.

  1. Todavia, vos afirmo que, dificilmente, um suicida verá o Sem- blante de Deus, no Além! Poderia provar-vos isto matematicamente, mas não vale a pena. Basta que creias no que vos disse. Baseia-se tal proceder em certa torpeza provinda do desespero que, por sua vez, é consequência dum ultraje contra Deus e Seus Mandamentos.”

  1. EFEITOSDUMAEDUCAÇÃO ERRÔNEA

  1. (O Senhor): “Existem pessoas que consideram boas e justas as Leis de Deus; outras, porém, nada disto querem saber, vivendo pura- mente para o mundo. Quem com essas entrar em negociações, já de saída é lesado e enganado, e tolo quem as procurasse para algum lucro.

  2. Tal homem pouco esperto é, todavia, de bons sentimentos, mui- to embora algo ganancioso e, em virtude de sua tolice, fraco na fé, confiando pouco em Deus. Defende a seguinte tese: Quando for rico, serei o melhor homem do mundo e saberei angariar os meios que me facilitem conhecer, mais de perto, a Natureza mística de Deus. Farei caridade aos pobres e, daqui a milênios, se pronunciará meu nome, de gratidão!

  3. Com tais esperanças tolas, esse ignorante faz planos e tentativas de aproximar-se dos ricos, que de pronto, percebem um proveito em suas invenções. Deste modo é ele ludibriado da pior maneira.

  4. Eis que se vê inteiramente saqueado em todos os seus planos e esperanças, roubado em seus bens, sem saber como sair de sua dificul- dade. A fé em Deus e a confiança segura em Sua Onipotência, Bondade e Ajuda, jamais lhe representaram algo. Com o mundo perdeu todo contato, em virtude da grande decepção sofrida. Seu intelecto é mui obtuso e não lhe auxilia, muito embora se esforce bastante.

  5. Qual a consequência? O desespero e o desgosto da vida, por- quanto não se apresenta sequer fraca expectativa de melhoria. Em tal situação, o ignorante se torna suicida! Fácil deduzir-se ter ele aplicado um dano irreparável à sua alma, pois agiu com ódio contra sua existên-

cia, do contrário, não teria cometido tal ato. Esta ignorância jamais é hereditária e sim, unicamente o efeito duma educação falha.

  1. Quem realmente ama seus filhos deve almejar, antes de tudo, educar suas almas de forma tal, a não serem tragadas pela matéria. Edu- cados na justa ordem, em breve serão capazes de assimilar o espírito, sem nunca se tornarem tolos, muito menos suicidas.

  2. Duma educação excessivamente mimada — mormente nas ci- dades — o resultado não pode ser outro. Por isto, habituai, desde cedo, a procurarem vossos filhos o Reino de Deus no coração, que os tereis coroado regiamente, conquistando a maior e melhor herança.

  3. De crianças mimadas jamais surgirá algo de relevante em vida. Se bem que nada de mal façam, manifesta-se com o tempo uma fraque- za que pessoa alguma poderá tocar. Quando tal fraqueza for mencio- nada ou ofendida, a reação é imediata: a pessoa revidará com a ameaça de não se responsabilizar pelas consequências desagradáveis, caso tal fato se repita. No fundo, não é a fraqueza defeito provindo da von- tade e conhecimento; é uma falha na psique, vulnerável não só aqui, mas no Além.

  4. Evitai, por isto, o aparecimento de fraquezas em vossos filhos,

pois serão para suas almas, idênticas às moléstias crônicas para o físico. Quando o tempo for bom e o vento ameno, elas não se manifestam e a pessoa se sente bem de saúde. Surgindo apenas um ar tempestuoso, as cicatrizes se fazem sentir, levando a criatura ao desespero.

  1. Já sendo difícil um médico curar tais moléstias crônicas, quanto mais penosa não será a cura duma antiga falha psíquica?! O capitão que pretende proteger seu navio contra rupturas, deve evitar os rochedos e bancos de corais, navegando onde a água é bem profunda. Do mesmo modo, deve o educador — como real capitão da vida — evitar que seus barquinhos naveguem pelas futilidades mundanas, mas conduzi-los às profundezes internas, preservando-os dos rombos perigosos, para con- quistar o prêmio dum verdadeiro capitão. Feliz daquele que aceita as Mi- nhas Palavras, pois trazem bênçãos para si e seus familiares. Como este assunto motivado por Judas foi bem aproveitado, voltemos às observa- ções do surgir e do aparente desaparecimento, de grande importância.”

  1. OPAVORDA MORTE

  1. (O Senhor): “O surgir de alguma coisa, ser ou criatura, sempre traz algo de agradável, enquanto que o visível perecimento e dissolu- ção — mormente duma pessoa — só contêm tristezas e sentimentos de abandono.

  2. Pergunto-vos: Por que isto, caso as criaturas creiam na sobrevi- vência da alma?! O motivo está mais oculto do que pensais: primeiro, se origina a tristeza no pavor da morte e além disto, em muitos outros fatores, impossíveis de esclarecer-vos de uma só vez, a fim de não per- turbar-vos.

  3. A alma inteiramente renascida e havendo-se integrado toda na verdadeira atividade perde naturalmente tristeza e pavores da morte. Às que ainda não alcançaram um justo grau na perfeição interna, per- dura sempre algo de angústia pelos entes falecidos e receio perante a própria morte, dos quais se livram somente pelo renascimento do espí- rito na alma.

  4. Observai uma criança bem mimada que não foi habituada desde pequena a uma atividade. Qual não será sua decepção, se aos doze anos for obrigada a trabalhar, mesmo dentro de sua débil capacidade física? Enche-se de tristeza, melancolia, aborrecimento e até de raiva contra os que a instigam a agir.

  5. Vede uma outra, que sempre desobrigou-se de seus deveres, em- bora infantis! Com que prazer executa suas pequenas tarefas diárias!

  6. Tanto o receio dum trabalho obrigatório e consecutivo, quanto o pavor da morte e até mesmo duma perniciosa moléstia de uma alma ociosa, derivam da mesma fonte.

  7. Por certo já tivestes oportunidade de observar que pessoas tra- balhadoras, muito menos terror têm da morte que as preguiçosas, com tendências ao conforto; este sentimento não passará antes que tais al- mas se tenham entregue a uma ocupação justa.

  8. Talvez pensais ser este pavor o efeito da incerteza sobre as coisas do Além; afirmo-vos ser apenas a consequência da preguiça profunda- mente enraizada na alma, porquanto pressente que, com a perda do

corpo, sua existência se tornará muito ativa. Inconsolável, ela se aflige com essa expectativa. Refleti um pouco, para prosseguirmos neste as- sunto importante.”

  1. Levanta-se Mathael e diz: “Se fosse permitido poderia acrescen- tar algumas palavras para maior elucidação.” Digo Eu: “Fala, pois teu conhecimento e compreensão têm a melhor base.”

  1. SEPARAÇÃODAALMADOCORPODURANTEA MORTE

  1. Mathael, então, diz: “Caros amigos e irmãos, não sei explicar o motivo por que, desde pequeno, via espíritos e até mesmo lhes podia fa- lar. Como se afirmava que, entre as muralhas do Templo, eles não mais me perturbariam por perderem seu poder, eu me tornei templário. Mal vesti aquela indumentária abençoada, não mais vi espíritos.

  2. Mesmo assim, eles souberam vingar-se, porém de outro modo, pois minha possessão horrenda certamente foi disto consequência. To- dos conhecem o meu sofrimento, não necessitando repeti-lo. Todavia, sou conhecedor de coisas excepcionais e julgo seu relato de algum be- nefício para os irmãos.

  3. Quando contava cerca de oito anos, morreram nos arrabaldes de Jerusalém, cinco pessoas de peste: a mulher do vizinho, duas filhas mais velhas e duas empregadas, fortes e sadias.

  4. Estranho era o fato de somente pessoas adultas e robustas fa- lecerem. Quando adoeceu a mulher do vizinho — enquanto um dia antes, filhas e empregadas já haviam falecido — ele nos procurou cheio de desespero e nos pediu salvar, se possível, sua companheira, pois meu pai, proprietário duma bela vivenda, era quase médico, portanto tinha de socorrê-lo. Como não raro os espíritos me indicavam bons remédios, compreende-se que eu o acompanhasse, pois meu pai julgava que eu encontrasse alguns espíritos na casa do vizinho. Ele não se enganara, porquanto vi uma quantidade, bons e maus. Dessa vez, porém, não havia conselho curador, pois um grande espírito de veste cinza clara me disse: Vê a enferma; sua alma acaba de surgir do plexo solar, por onde comumente se desprende.

  1. Observando mais de perto a agonizante, vi surgir da boca do estômago, um vapor esbranquiçado que se tornava sempre mais com- pacto. Quedando eu pensativo, o espírito me disse: Vê como a alma abandona para sempre sua morada. Indaguei: Por que não tem forma, se vós vos apresentais perfeitos? Respondeu-me ele: Espera mais um pouco; quando se tiver afastado completamente, consolidar-se-á com aspecto agradável.

  2. Enquanto via aquele vapor no plexo solar da enferma, o corpo ainda vivia e gemia como se fosse atormentado por pesadelo. Após um quarto de hora, a nuvem havia atingido o tamanho de u’a menina de doze anos, dois palmos acima do corpo, unida a ele apenas por uma coluna vaporosa da espessura de um dedo. Esta coluna era de cor aver- melhada, ora se prolongando, ora se encurtando. Tal processo adelgava a coluna e o corpo entrava em contrações dolorosas.

  3. Decorridas duas horas, a coluna se libertou e a parte final se asse- melhava a um tronco com muitas raízes. No instante do rompimento, observei dois fenômenos: primeiro, a morte completa; segundo, a mas- sa nebulosa se transformara, num momento, na figura de nossa vizinha. Revestiu-se de uma túnica branca e pregueada, em seguida cumprimen- tou os espíritos presentes e perguntou-lhes onde se achava e o que havia sucedido; também muito se admirava da zona agradável em que se via.

  4. Como eu nada disto visse, dirigi-me ao espírito, e ele respondeu: Teu físico te impede disto, pois aquela visão é o produto da fantasia da falecida e somente aos poucos, tornar-se-á maior realidade. Em seguida, ele dirigiu-se à alma liberta e lhe deveria ter falado algo mui agradável, porquanto sua fisionomia alegrou-se.

  5. Interessante achei seu descaso quanto ao corpo; conversava com visível prazer, mas tudo num idioma estranho. Após certo tempo, fo- ram trazidas as almas das filhas e empregadas, que cumprimentaram-na com grande prazer, mas sem ordem terrena e sim, como amigas e irmãs, também em idioma estranho. Nenhuma parecia interessar-se pelo físi- co, tampouco tomava conhecimento de nossa presença.

  6. Como estranhasse ter a alma da vizinha, logo após o rom- pimento do corpo, se expressado em hebraico a respeito do deslum-

bramento da paisagem e, quando se havia condensado, serviu-se dum idioma completamente desconhecido para o meu fraco conhecimento, dirigi-me a esse respeito ao espírito.

  1. Ele respondeu: És muito curioso. Elas se expressam por tua causa neste idioma, porquanto não querem ser compreendidas, saben- do que tens o dom de ver e falar com almas desencarnadas, como fazem os birmanenses na Índia. Sentem, outrossim, encontrarem-se aqui seus próprios corpos, que as preocupam tanto quanto uma veste rota da qual a pessoa se tenha desfeito. Poderias oferecer-lhes todos os tesouros do mundo e uma vida por mil anos cheia de saúde, que jamais voltariam ao físico anterior. O assunto que no momento discutem não compre- enderás em teu próprio idioma, pois veem que o Grande Prometido já Se encontra no mundo, embora ainda de tenra idade. Quando homem, conhecê-Lo-ás na Galileia.

  2. Eis a informação dada pelo espírito. Aquele acontecimento foi

deveras estranho, pois vira, como menino, tudo aquilo como se fosse real. Tu Mesmo, Senhor, és a prova ter aquele espírito falado a verdade. Desejava apenas explicação porque a alma, no momento da morte, se desprende como vapor, ao invés da forma completa.”

  1. OCORRÊNCIASNOMOMENTODA MORTE

  1. (O Senhor): “O vapor ainda informe é o efeito da grande pertur- bação da alma no momento da morte, onde queda por instantes, sem consciência, devido ao medo e terror. Faz ela um esforço extraordinário, na tentativa de conservar sua consciência. Todas as suas partículas caem em forte vibração, impedindo à visão espiritual mais aguçada, descobrir uma forma definida.

  2. Tens um exemplo disto nas cordas ressonantes duma harpa; quando tocada com força, ela se movimentará com tanta rapidez que apenas vislumbrarás um fio transparente. Parando de vibrar, sua forma anterior será novamente visível. O mesmo fenômeno poderás observar com a mosca, cujas asas poderás identificar, somente quando tiver pa- rado de voar; pois antes disto, a vias rodeada como por uma nuvem.

  1. Por ocasião do desprendimento da alma, do corpo destruído e imprestável, ela vibra em ondas, não raro, de um palmo de distância, em tal velocidade, que poderias contar mil vibrações num instante; enquanto isto perdura, não é possível observar uma formação. Pouco a pouco, ela se acalma dando oportunidade à apresentação da forma humana. Quando inteiramente serenada após o rompimento, é ela per- feita, caso não se tenha vilipendiado em demasia, por pecados diversos. Compreendeste?”

  2. Responde Mathael: “Senhor, Onipotente, como não? Apenas

mais uma pequena explicação: qual era o idioma que usavam? Ainda existe no mundo?”

  1. Digo Eu: “Sim, os sacerdotes birmanenses o possuem, e foi o primeiro idioma das criaturas primitivas da Terra; o vosso, o dos an- tigos egípcios e em parte o dos gregos dele se originam. Acaso julgais que compreenderíeis a linguagem de Abraham, Isaac e Jacob? Nem uma palavrinha, vos garanto! Se já vos é difícil a leitura dos Livros de Moysés, mil anos mais recentes que Abraham, quanto mais a dos pa- triarcas! Muita coisa se transformou para os judeus, inclusive o idioma, sem haver ocorrido uma segunda confusão de línguas como em Babel. Compreendeste?”

  2. Diz Mathael: “Inteiramente, Senhor; e presumo que os demais

também tenham assimilado o assunto. Assim, ouso pedir-Te outros en- sinamentos.”

  1. Digo Eu: “Pois não; entretanto ainda fizeste outras observações no reino da morte, que poderias relatar. Caso surja uma dúvida, esclare- cer-vos-ei. Há pouco vos demonstrei o surgir, até o ponto do transporte pela libertação da matéria. A morte continua sendo o pavor das criatu- ras; o motivo já vos foi explicado ligeiramente e mais tarde, será con- cluído. Agora, prossegue.” Diz Mathael: “Senhor, obedecendo ao Teu Desejo, relatarei diversos fatos ocorridos ante minha visão psíquica.”

  1. MATHAEL,O VIDENTE

  1. (Mathael): “Já contando doze anos de idade, sete dos piores as- saltantes foram condenados à crucifixão, em Jerusalém. Causou isto não somente grande alarido naquela cidade, como em toda a zona. Um tal de Cornélius, comandante romano e representante temporário do Prefeito, muito se revoltou com os crimes perversos dos presos, que pareciam sentir o maior prazer em martirizar suas vítimas o quanto possível. Em suma, a expressão ‘diabo’ era ainda fraca para tanta bes- tialidade.”

  2. Interrompe-o Cornélius: “Amigo, sou eu o mencionado capitão

e muito me interessa teu relato.”

  1. Prossegue Mathael: “Já o supunha, porquanto ainda me lem- bro de teus traços e, deste modo, tenho até testemunha para minhas palavras. Pois bem. Tratando-se de verdadeiros monstros, resolveu Cor- nélius aplicar-lhes um corretivo cruel: durante quatorze dias eram con- denados a ouvir a sentença de morte, cujos martírios lhes iam sendo especificados diariamente; além disto, porém, eram bem alimentados, a fim de fazer-lhes a vida agradável, apavorando-se da morte esperada.

  2. Por cinco vezes, visitei os criminosos, em companhia de meu pai e sempre os via arder como madeira, exalando um vapor pestilento, inigualável a qualquer odor na Terra. Quanto mais se aproximava o dia da execução, tanto mais penetrante se tornavam fumaça e mau cheiro, e a coloração dos infelizes mudava qual camaleão.

  3. Finalmente, chegou o dia da execução. Os esbirros se aproxi- mavam da praça do suplício e lhes tiraram as vestes, açoitando-os, em seguida, até sangrarem. Assisti a execução apenas de longe; observei, todavia, uma quantidade de morcegos pretos e pequeninos dragões voadores se soltarem dos flagelados que já desprendiam menos fuma- ça. Quantas criações diabólicas não se teriam liberto durante os qua- torze dias?!

  4. Após terem sido cruelmente açoitados, notei que as fisionomias anteriormente satânicas, se transformavam em expressões humanas e os próprios delinquentes se apresentavam mais fracos e temerosos. Davam

impressão de embriagados, que mal sabem o que lhes sucede e estranhei a transformação de natureza tigrina para a de cordeiro.

  1. Em seguida, trouxeram os soldados sete cruzes e cada conde- nado tinha de carregar a sua ao Gólgotha, de há muito usado pelos romanos para tal fim. Todavia, nenhum deles era capaz de movê-la, não obstante açoitados e aos empurrões. Por este motivo, providenciou-se uma carroça com dois bois, e os criminosos, amarrados, foram assim levados com as cruzes àquele local.

  2. Em lá chegando eu, meu pai e umas poucas pessoas corajosas que acompanhávamos o cortejo vimos todos serem soltos. Ensanguen- tados, foram amarrados com cordas entrelaçadas com espinhos às cru- zes, erguidas em covas anteriormente abertas. Só então começaram eles a gritar de modo horrendo! Deviam sofrer dores atrozes, pois já estavam em carne viva e além disto, eram atados com espinhos ao madeiro bruto e rude. Relato estas minúcias, a fim de que possais, mais facilmente, compreender o que se segue e a atitude justiceira do nobre Cornélius.

  3. Quanto mais tempo decorria, tanto mais agudos eram os gritos,

mais horrendas as maldições proferidas até que, depois de três horas, ficaram completamente roucos, produzindo uma baba sangrenta, por- quanto mordiam língua e lábios. Depois de sete horas, ficaram mais calmos e pareciam acometidos dum ataque de apoplexia.

  1. Confesso, ainda que se tivessem apresentado como verdadeiros diabos e não houvesse em Jerusalém e Judeia quem deles se apiedasse,

— esta cena deprimiu-me muito. Mas, enfim, a lei o prescreve e diante do mundo, não mereciam outra sentença. Servia ela de exemplo eficaz para criaturas de índole semelhante.

  1. O que vi em seguida, coroava este caso horroroso, pois come- çou a surgir do plexo solar dos crucificados, uma espécie de vapor e fumaça negras, crescendo até o dobro de seu tamanho normal. Além disto, vi um cordão vaporoso pelo qual a fumaça estava ligada ao corpo, ainda em convulsões.

  2. A massa vaporosa, todavia, não se desenvolveu para uma forma humana, mas num tigre pavoroso e preto, todo listrado de sangue. Mal essas bestas se haviam concretizado, começaram a rugir terrivelmente,

tentando arrancar-se com violência do corpo. Tal tentativa era inútil, porquanto o laço vital era forte demais.

  1. Como a cena se tornara excessivamente horrenda, voltei para casa com meu pai e relatei-lhe minha visão. Embora ele próprio nada daquilo houvesse percebido, notara pela minha expressão, que algo de invulgar acontecera. Teosofista, filósofo e quase médico, achou meu relato bem extraordinário, sem todavia poder interpretá-lo. Resolveu voltar à noite para colher observações maiores sobre o caso, e para, em ocasião oportuna, esclarecer aos saduceus o quanto andavam errados, por contestar a imortalidade da alma.”

  1. CRITÉRIOSADUCEUQUANTOAOSCASTIGOS ROMANOS

  1. (Mathael): “Nosso vizinho era saduceu convicto, homem de bem e pacífico que, entretanto, não apreciava palestras sobre Deus e a imortalidade da alma. Os que assim cressem, eram a seu ver, ignorantes e quanto a mim, afirmava possuir eu dom poético, pois era dotado de fantasia e imaginação. Meu pai muito se dedicou à sua pessoa, todavia sem resultado.

  2. Naquele dia, meu pai perguntou-lhe se não queria acompanhá-

-lo ao Gólgotha, e ele respondeu: ‘Nem se me desses o mundo inteiro! Não posso assistir à morte dum animal, muito menos à de criaturas humanas, mesmo se houvessem cometido maiores crimes que aqueles. Pessoas assim bestializadas devem ser mortas como animais selvagens; nunca, porém, martirizadas. Sua natureza, temperamento, compleição e educação sempre foram as causas de tais desvios.

  1. A afirmação de que isto é feito para dar um exemplo chocante apenas me provoca hilaridade; pois as pessoas pacíficas nada disto pre- cisam, e as outras, não serão tão tolas em quererem assistir espetácu- lo tal. Terá como consequência que criminosos ainda soltos venham a agir de modo mais cruel ainda. Mormente os romanos não têm motivo para regozijo.

  2. Quem não se lembra da época anterior à ditadura romana?! As leis também eram severas, mas razoáveis e nunca se falou em cruelda-

des. Desde que os pagãos inventaram uma legislação ferrenha, tudo piorou, porquanto se cometem crimes que provocam até vertigens, não obstante o policiamento rigoroso. Ide averiguar o exemplo da crueldade romana, que terá como efeito outra, mil vezes pior!

  1. O homem deve ser homem, porque a Natureza assim o fez. Quando se torna pior que as bestas selvagens, é chegado o tempo de voltarmos ao estado primitivo da Criação. Repito, ide ao Gólgotha, este antro amaldiçoado de toda a Terra, encharcado de sangue humano qual matadouro!

  2. Afirmais vossa crença em Deus e na imortalidade da alma; en- tretanto sois capazes de assistir ao martírio mortal, aplicado a criaturas transviadas. Estes sete sentenciados não se teriam tornado o que são, sem a severidade romana. E vós, judeus, crentes, podeis assistir como os depravados martirizam criaturas desviadas. Realmente, em nosso está- bulo se age mais humanamente que em vossa casa!’ Assim terminando ele se afastou e nós seguimos ao Gólgotha.”

  1. FIMDOSSALTEADORES CRUCIFICADOS

  1. (Mathael): “Em meia hora lá chegamos, encontrando apenas os vigias. Os sete crucificados representavam um quadro horroroso; não falo dos corpos semidesmaterializados, mas de suas almas a eles ainda ligadas, esforçando-se por destruí-los. Esses tigres pretos, de listras ver- melhas, assaltavam os corpos onde enterravam seus dentes; isto, porém, provocava-lhes uma reação dolorosa através dos nervos. De cada vez que assim agiam, manifestavam grande dor e deitavam suas patas no lugar correspondente.

  2. Observei essa manobra horrorosa perto de uma hora, enquanto

relatava a meu pai o que se passava. O vigia romano que havia percebi- do minha forte impressão, aproximou-se, a fim de indagar-nos do mo- tivo de nosso espanto. Deveríamos falar em seu idioma, do contrário nos mandaria embora.

  1. Meu pai então respondeu em grego, que lhe era mais fácil que o romano, pois em Jerusalém, era preciso conhecer-se três idiomas, em

virtude dos estrangeiros. Assim foi o romano informado de que meu pai era médico, e eu, seu filho e aluno, me interessava pelos fenômenos psicológicos.

  1. O vigia achou aquilo muito interessante e pediu que a explica- ção fosse dada em grego. Com isto nos vimos enrascados! Pois dava-se justamente o contrário e meu relato teria ocasionado boas gargalhadas por parte do outro. Que fazer?

  2. No mesmo instante vi um espírito descendo numa nuvem e tra- zendo uma grande espada luminosa. O vigia observou meu olhar es- pantado e indagou se eu estava vendo algo de incomum. E eu respondi bruscamente: ‘Sim, mas não me darias crédito se te falasse!’

  3. Ele quis insistir; como já era noite e Cornélius mandara ordem para decepar-se os pés dos mortos a machado e, caso um ainda estivesse vivo, liquidá-lo com pancadas na cabeça e peito, o vigia tinha o que fazer, deixando-nos à vontade.

  4. Fixei meu olhar no espírito de veste azul-escura; no momento em que os soldados iam finalizar a cena, ele levantou sua espada e par- tiu o fio que ligava as almas tigrinas ao corpo. Assim libertas, tomaram feição humana, mudas e tristes, caminhando nas patas traseiras; o anjo então dirigiu-se-lhes rispidamente: ‘Afastai-vos para aquele local onde vossa inclinação maldosa vos atrai! O prêmio será de acordo com vossas obras!’ Gritaram as sete almas: ‘Por que fomos martirizadas se nos espe- ra a eterna condenação?!’

  5. Disse o anjo: ‘Tudo depende de vosso amor! Modificai-o dentro

da Ordem de Jehovah por vós conhecida, que sereis vossos próprios salvadores. Só vós mesmos podereis fazê-lo. A vida é vossa; o amor é vosso. Conseguindo modificá-lo, podereis transformar toda vossa vida e natureza. Agora afastai-vos!’ A estas palavras vigorosas do anjo enor- me e poderoso, os sete debandaram com urros de desespero; eu, então, atrevi-me a perguntar sobre o destino daqueles infelizes.

  1. Ele me respondeu: ‘Depende de sua própria vontade. Não lhes faltaram educação e conhecimentos, tampouco eram possessos; preva- lecia unicamente sua vontade maldosa. Os animais que viste fugirem durante o castigo não eram demônios estranhos, mas produto e criação

da própria vontade. Por isto, fez-se um julgamento justo, condenando sete diabos perfeitos, inacessíveis a qualquer ensinamento, conselho ou modificação. Em nosso mundo, onde tudo se torna evidente, seu desti- no será tal qual seu sentimento. Não lhes faltarão oportunidades — se bem que aparentes — na decisão para situações melhores ou piores. Transmite isto a teu pai que não é dotado como tu.’

  1. Assim terminando sua explicação, o anjo desapareceu e os es- birros entraram em ação. Em cinco defuntos não mais corria sangue, fato que não se dava com os dois últimos. As pancadas desfechadas, porém, não podiam alterar seu estado mortal.

  2. Em seguida, os soldados se afastaram e os corpos foram en- tregues ao esfolador para final destruição, que era aplicada de diversas maneiras, somente não podia haver enterro. Geralmente eram incine- rados com madeira amaldiçoada, ou cozidos em água maldita e jogados às feras. Deste modo se matavam hienas, ursos e raposas que morriam com tal alimentação. Relatei com isto outra história, que me deixou dú- vida quanto aos morcegos e dragões que podiam ser emanações de sua vontade e razão pela qual aqueles não tinham forma humana. Se fosse de Tua Vontade, Senhor, poderias explicar-nos tais pontos.”

  1. AFORMAÇÃOPSÍQUICADOS SALTEADORES

  1. Digo Eu: “A formação bestial dos sentenciados se baseia em cer- ta ordem livre, pela qual partes específicas da alma se congregam ou revezam no corpo, de modo semelhante a um montão de vermes, onde cada um procura posição mais cômoda, passando por cima de outro. Uma vez que hajam encontrado um ponto que lhes agrade — seja bom ou mau — sua forma corresponderá à escolha.

  2. Vedes aqui duas plantas, uma benéfica outra maléfica. Observai suas formas através da luz clara da bola luminosa: quão delgada, delica- da e modesta se apresenta a primeira, e quão dilacerada e áspera a outra! Entretanto vivem ambas da mesma substância primária, acham-se no mesmo solo, absorvem o mesmo orvalho, ar e luz. Sua diversidade se baseia unicamente na inversão da ordem.

  1. Vistes há pouco como se formou de línguas de fogo, semelhan- tes entre si, que pelo tamanho diminuto eram invisíveis a olho nu, um burro pacífico; acaso credes que, numa ordem diversa de substâncias orgânicas, não teria sido possível o aparecimento dum tigre, camelo, boi ou elefante?! Como não? Uma outra condensação conteria natureza e qualidade diversas, inteiramente heterogêneas à pacífica e isto porque, em cada forma de organização diferente, sempre prevalece a preponde- rância em transformar as potências mais fracas a seu favor.

  2. Desta tendência, surge o sentimento de amor, o calor interno,

inclinação, gula, fome e sede. Sendo a gula — qual tendência de do- mínio — demasiado forte, apoderando-se de muita coisa para subme- tê-la a seu regime, estes elementos se tornam por demais poderosos e se apossam da ordem psíquica já existente, onde se apresentam, então, como ditador.

  1. Eis a explicação para o fenômeno animalesco por ti presenciado, Mathael. As almas dos sentenciados absorveram, por demais, substân- cias psíquicas de origem primitiva, que não condiziam com a sua or- dem, transformando-se em almas tigrinas. Da mesma fonte se origina- ram morcegos e dragões. Esta explicação ainda deixou dúvidas?”

  2. Diz a maioria: “Em absoluto, Senhor; todavia, é tão extraordi- nária que nos impede a afirmação de estarmos bem entrosados! De- monstraste a maneira pela qual o jumento se formou de substâncias espirituais, e nos esclareceste procedência e base das línguas de fogo. Sabemos até como Teus Pensamentos básicos, que preenchem o Espaço entre si de máxima diversidade, se concretizam para formas múltiplas, de acordo com seu peso. Em suma: compreendemo-lo perfeitamente; todavia não deixa de ser um grande mistério que poderias desvendar, se fosse de Teu Agrado, Senhor! Não sendo de nossa utilidade, satisfaze- mo-nos com o atual conhecimento.”

  3. Digo Eu: “Para compreenderdes a fundo o segredo do Reino de

Deus, preciso é que sejais renascidos em espírito, o que no momento ainda é impossível. Somente quando o Filho do Homem tiver voltado donde veio, enviar-vos-á o Espírito Santo de toda a Verdade. Ele aper- feiçoará vossos corações e despertará o Espírito da Verdade no coração

de vossa alma, e, através deste ato, tereis renascido em espírito, vendo e compreendendo, na luz claríssima, tudo que comportam os Céus em sua profundeza.

  1. O que ora vos demonstro e explico é apenas o preparo para aqui- lo que vos será facultado em plenitude pelo espírito. Muita coisa teria para dizer-vos, mas que ainda não suportaríeis; quando, porém, vier o Espírito da Verdade, conduzir-vos-á à toda Sabedoria! Assim orienta- dos, iniciaremos mais um ensinamento importante e mais amplo neste local, dando oportunidade a Mathael relatar-nos outra história de sua vida. Começa, pois, amigo Mathael, a contar-nos o caso de Bethânia! Restam-nos ainda quatro horas para o surgir da aurora.”

  1. MATHAELVISITAOPAIDELÁZARO, MORIBUNDO

  1. Diz Mathael: “Senhor, posso também relatar o estranho fenô- meno da Natureza que eu e meu pai observamos à meia-noite quando a caminho de Bethânia?”

  2. Digo Eu: “Certamente, pois tem relação com o acontecimento que tiveste há dezessete anos.”

  3. Prossegue ele: “Senhor, vejo que nada Te é desconhecido na esfe- ra infinita do Cosmos. Não necessitaria, pois, contar a história por Tua Causa; fá-lo-ei para os outros amigos e irmãos, sabendo que me dão crédito. Embora tenha caráter místico e extraordinário, é tudo verdade o que vou contar.

  4. Estávamos em fins de outono numa noite serena. Os cumes das montanhas se achavam cobertos de neblina e um vento impetuoso, vin- do do Norte, rodopiava as folhas secas pelo ar; somente no Oeste havia alguns pontos onde as estrelas, trêmulas, dirigiam seu olhar à Terra, chorosas. Observamos o Céu até perto de meia-noite. Quando apron- távamo-nos para entrar e dormir, vimos um homem que se aproximava em passos rápidos.

  5. Conhecendo meu pai como médico, o outro a ele se dirigiu, afli- to: ‘Doutor e amigo, venho de Bethânia e me chamo Lázaro; sou filho do velho Lázaro que hoje adoeceu inesperadamente, e pelo que tudo

indica, a moléstia é grave. Nosso rabino que entende um pouco de me- dicina, nada mais soube aconselhar. Por isto, mandou-me falar contigo porquanto já conseguiste salvar doentes, quando não mais havia cura. Vem, pois, e socorre meu pai!’

  1. Disse meu pai: ‘Depois que outros levaram o enfermo até a cova, eu devo fazer milagres? Não me recuso se tal for possível. Levarei, pois, meu filho que tem o dom de ver e até mesmo falar com espíritos, e veremos o que será possível. Se teu pai manifestar sinais hipocráticos, nada poderei fazer!’

  2. O mensageiro de Lázaro se contentou com tais palavras e sentia apenas não ter trazido animais, para irmos mais depressa. Assim, fo- mos a pé, levando, para tanto, uma hora. Caminhávamos em silêncio, quando desapareceu, no Oeste, a neblina; o Céu clareou e dentro dum quarto de hora, fez-se uma claridade semelhante à que precede a aurora. Isso tanto atraiu nossa atenção, que até paramos, não obstante a pressa.

  3. O fenômeno luminoso desenvolveu-se numa coluna de luz, al- cançando, em poucos momentos, a zona onde nos encontrávamos, e transmitiu irradiação e calor tão fortes, que nos obrigava a ocultar-nos debaixo duma figueira frondosa. Mas não levou tempo e a coluna lumi- nosa adelgaçou-se, desaparecendo também seu calor.

  4. Em poucos minutos fez-se escuridão completa, e nossa visão enfraquecida não permitia vislumbrássemos o lampião do mensagei- ro. Só pouco a pouco nos habituamos à obscuridade e continuamos a trilha mal iluminada. Tudo isto nos reteve perto de meia hora e meu pai, imediatamente, me perguntou se eu não havia visto algumas entidades.

  5. Respondi conscienciosamente: ‘Na própria luz nada depa- rei, porquanto era muito forte; perto de nós, acima da terra, vi uma quantidade de formas transparentes, todas dirigindo-se para Leste. Sua movimentação era, portanto, homogênea à luz. Apenas vi um espírito bem formado, que de nós se aproximou com expressão serena, pare- cendo regozijar-se com o fenômeno. Quando este desapareceu, o espí- rito também havia sumido em direção à Bethânia.’ Eis tudo que relatei a meu pai.

  1. O mensageiro muito se admirou de um relato do qual não du- vidava, pois dizia não ser possível a pessoa inventar tais coisas, mesmo dotada de forte fantasia. Chegamos, afinal, ao destino e nos dirigimos a casa de Lázaro, que se encontrava nos últimos momentos.

  2. Em volta do leito estavam suas filhas chorosas e considerável número de parentes que soluçavam convulsamente, como acontece em tais casos. O próprio filho tão entristecido estava, que até mesmo se esqueceu de indagar, de meu pai, se havia possibilidade de cura.

  3. Somente o rabino dele se aproximou, para saber se, ao me- nos, era possível fazer com que o enfermo recuperasse, por momentos, os sentidos. Meu pai nada respondeu; despercebidamente indagou de mim se a alma já se achava liberta.

  4. E eu transmiti-lhe: ‘Flutua, perfeita, a certa altura, sobre o corpo, onde se acha presa, apenas, por um finíssimo fio de luz, que não demorará a se romper. Estranho é ver-se a mesma coluna lu- minosa sobre a cabeça da alma, irradiando também uma agradável temperatura. A alma não desvia o olhar, pois sente um bem-estar indefinível.’

  1. TENTATIVADE RESSURREIÇÃO

  1. (Mathael): “Assim informado, meu pai dirigiu-se ao rabino que já se impacientava: ‘Amigo, pelo que observei, seria desperdiçar o mais forte bálsamo vital; a alma já se desligou do corpo. Entoa, pois, o sal- mo de dor e, como sacerdote, noticia aos presentes não mais existirem meios de cura.’

  2. A esta explicação, o rabino contraiu as feições e perguntou como lhe era possível sabê-lo. Ele, então, não muito gentil, respondeu se- camente: ‘Isto não é de tua alçada; faze o que te compete, pois sei de minhas obrigações.’

  3. No mesmo momento, a alma desprendeu-se, e vários espíritos de expressão sublime a rodearam, cobrindo-a com uma veste branca maravilhosa, e um deles tomou da coluna de luz e envolveu-a pela cintura, formando assim um cinto radioso. Ao mesmo tempo, um

outro espírito colocou-lhe um chapéu fulgurante, dizendo: ‘Sê, ir- mão, para sempre, condecorado com a Luz da Sabedoria, provin- da de Deus!’

  1. Em seguida, todas as entidades deixaram a casa com a alma li- berta, o que transmiti a meu pai. Este, então, disse ao rabino: ‘Já que a alma se libertou da matéria, por certo irás comunicar o falecimento de Lázaro aos presentes, quase cegos de tanto chorar?!’

  2. Disse ele: ‘Pois sim! Agora mesmo deitarei uma gota de remédio ativo em sua língua e veremos se sua alma — se é que existe — já dei- xou o corpo! De acordo com a minha opinião bem fundada, a criatura não possui alma que tenha vida além do sangue e dos nervos. Uma vez morta, a pessoa é tão inerte qual pedra ou pau; todavia, existe um remédio oculto, capaz de ativar a vida dum corpo semimorto. Isto farei agora, provando-te que a alma ainda não se foi, nem poderá se afastar porquanto nunca se encontrou na matéria!’

  3. Em seguida, o rabino tirou um frasco dourado de seu bolso

e disse: ‘Vê, aqui se acha a alma dum morto!’ Respondeu meu pai, sorrindo: ‘Ótimo! Olha, todas as minhas posses consideráveis que co- nheces pertencem-te, se o falecido se mexer apenas por minutos, pois conheço tal remédio milagroso, que já por várias vezes me prestou bons serviços em casos letárgicos. Por isto, é ele aplicável a todos que ainda não apresentam sintomas hipocráticos. Experimenta teu genu- íno óleo de samambaia persa e te garanto diante de todos, que nada conseguirás, porquanto o morto já começa a exalar uma onda de de- composição!’

  1. O sacerdote ficou um tanto confundido com a intervenção enérgica de meu pai; mesmo assim se aproximou do corpo, abriu-lhe a boca e ao invés de uma ou duas gotas, pingou dez na língua já resse- quida. Em seguida, fechou a boca do defunto e aguardou com atenção o primeiro movimento. Passaram-se um e mais outro quarto de hora, o dia começou a raiar — e o morto não se mexia!

  2. Então meu pai virou-se para ele e perguntou se acreditava que o cadáver ainda viesse a manifestar vida. Disse o rabino: ‘Esperaremos mais uma hora, até a vinda do Sol, que o morto até falará!’

  1. Concordou meu pai: ‘Muito bem, neste caso, dou-te meus bens; tu perdendo, exijo, apenas, que creias no Verdadeiro e Vivo Deus de Abraham, Isaac e Jacob e na imortalidade plena da alma!’

  2. Respondeu ele: ‘Pois bem; se me venceres, alegrar-me-ei em fazer parte do Templo, pois sou saduceu e de há muito queria renun- ciar a esta seita!’ Todos se calaram, esperando pela ressurreição do ve- lho Lázaro.”

  1. OESPÍRITODELÁZAROTESTEMUNHADO MESSIAS

  1. (Mathael): “Nisso, o filho de Lázaro se aproximou de meu pai e indagou se realmente as gotas milagrosas do rabino não o ressusci- tariam. Respondeu ele: ‘Meu amigo, lastimo não poder dar esperança neste sentido; posso, todavia, afirmar-te coisa muito melhor: teu pai é vivo e na realidade nunca morreu!’

  2. Disse, tristonho, o filho: ‘Como podes afirmar tal coisa, con- quanto está inerte qual pedra?’ Acrescentou meu pai: ‘Sim, mas este não é teu pai, mas apenas sua roupagem carnal. Meu filho, vidente perfeito, poder-te-á contar coisas que muito te alegrarão!’

  3. Relatei-lhe então minhas visões e quanto mais me estendia, tanto maior alegria se expressava em seu rosto, de sorte que as pró- prias irmãs lhe indagaram do motivo. Ele, apenas, apontou-me. En- caminhando-se para mim, as duas me pedem esclarecimentos. Eu, gracejando, disse: ‘Oh, em nada vos prejudica um pouco de tristeza! Nada vos direi, porquanto no momento oportuno, sabê-lo-eis por vosso irmão!’

  4. Assim informadas, ambas também pareciam perder algo da tris- teza. Como o Sol neste momento aparecia qual bola de fogo no ho- rizonte, meu pai dirigiu-se ao rabino dizendo: ‘Então, quem de nós ganhou a aposta?’

  5. Respondeu esse: ‘Confesso-me vencido e acredito em tuas pala- vras, embora não lhes conheça a base.’ Opôs meu pai: ‘Não foste venci- do porquanto és criatura livre, em Nome de Jehovah! Sou teu amigo e te peço fé, porque ela te iluminará com justiça.’

  1. Então transmiti a meu pai o seguinte: Um espírito imponente acabava de entrar e me dizia que os filhos de Lázaro se preparassem, porquanto a alma de seu genitor voltaria para abençoá-los e fazer-lhes uma grande promessa. Meu pai disto os informou e os três nem sabiam como expressar sua alegria.

  2. Não levou tempo, a alma do falecido, numa irradiação celeste, penetrou no quarto, e os filhos a viram e escutaram! Ao moço ela disse: ‘És maior; sê, portanto, tutor de tuas irmãs. Não permitas a infiltração de maus pensamentos em teu coração! Não morri, e aquilo que aconte- ceu foi da Vontade do Senhor! Ele escolheu a nossa casa para que nela se realizasse um grande milagre!

  3. Já Se encontra no mundo como Filho de pais pobres, tendo, deste modo, iniciado a Grande Obra de Salvação. Ele deseja ser um Pai Eterno para todas as criaturas da Terra de boa vontade. Futuramente não devem elas satisfazer-se com um Pai Invisível e Inatingível! Deus, Que tudo criou no Universo Infinito, frequentará este lar. Preservai, pois, vossos corações de maus pensamentos, a fim de que vosso am- biente se torne digno de agasalhar Aquele Que Céus e Terra não po- dem enfeixar!

  4. Convenceste-vos de minha vida após morte; cuidai que também

vós vivereis eternamente em Deus, nosso Pai! Recebei minha bênção paternal, não como perecível que aguarda a salvação pelo trabalho dos vermes, mas como espírito perfeito do Paraíso de Deus, no Reino dos Espíritos Puros! Considerai os Mandamentos Divinos, louvai e amai-

-O sobre todas as coisas, que fareis, em vida, uma colheita maior que ora desfruto em Seu Paraíso. Deus, o Senhor, estará convosco, Amém!’ Em seguida, o espírito desapareceu, deixando seus filhos radiantes de alegria.”

  1. COVARDIADO RABINO

  1. (Mathael): “Os amigos e parentes do velho Lázaro muito se ad- miraram do júbilo dos filhos, porquanto ninguém havia percebido o motivo. Alguns opinavam terem eles tido uma visão consoladora; um

grupo de fariseus julgava que a grande tristeza os tivesse enlouquecido. O rabino, porém, alegava ter meu pai conseguido enfeitiçá-los.

  1. Então reagi dizendo: ‘Criatura, não te lembras da promessa que fizeste a meu pai?! Como podes julgar de tal forma a Graça Extraor- dinária de Deus?! Tem cuidado que Jehovah não te castigue! Não és homem, mas um miserável animal!’

  2. Minhas palavras tal impressão causaram ao rabino, que se tor- nou tão pálido como defunto e tremia qual vara ao vento. Então fez queixa a meu pai da minha impertinência, ao que este acrescentou: ‘Bem o mereceste! Não compreendes ser impossível gracejar com Deus e Seus Espíritos? Ou crês pela prova recebida, ou continuas o mesmo de antanho!

  3. Sê íntegro: anjo ou diabo! O pior de tudo é a criatura querer ser ambas as coisas! Os fariseus recém-vindos te esquentaram a cabeça, pois te encheste de temor, começando a dançar de acordo com seu assobio. Entretanto esqueceste tua promessa. Que pretendes, finalmente?’

  4. O rabino ocultou seu rosto e se afastou. Por certo dirigiu-se para Jerusalém, a fim de meditar sobre seus pecados. Mais tarde, eu e meu pai o vimos, várias vezes, naquela cidade; ele, porém, fugia a um pos- sível encontro. Também não mais voltou à casa de Lázaro, embora ti- vesse lá deixado seu frasco milagroso, conforme nos contaram os filhos do falecido.

  5. Eis minha história, Senhor, que naquela ocasião não pude com- preender. Hoje apenas não sei interpretar o fenômeno luminoso acom- panhado pelos espíritos e a aparição da alma já perfeita. Além disto, também não havia nuvem vaporosa, mas uma entidade, somente presa ao corpo por um fio violeta-claro. Senhor, explica-nos a razão disto!”

  1. AVIDADOVELHO LÁZARO

  1. Digo Eu: “Está bem; deveis, entretanto, prestar atenção, pois aquela morte é toda especial, tanto para o passado quanto futuramente. No velho Lázaro encarnou um arcanjo por livre e espontânea vontade, passando vida de piores provações. Desde o nascimento até aos qua-

renta e sete anos, sofreu atribulações dificilmente suportáveis. Quem conhece a história de Job poderá ter uma fraca ideia do que tenha sido a vida de Lázaro.

  1. Aos dezenove anos, desposou a filha única dum rico de Be- thlehém, tornando-se dono de considerável fortuna e pai dedicado de cinco filhos bem formados. Seu estoque em ouro, prata, pérolas e pedras preciosas não podia ser transportado por cem camelos. Sua felicidade terrena, porém, teve curta duração: seus bens se desfizeram em pouco tempo, pois sendo bom e indulgente, muito dinheiro foi-lhe roubado. Finalmente, irrompeu fogo em sua casa, construída de madeira, conse- guindo ele, apenas, salvar-se e a sua família.

  2. Nesse período faleceram: esposa e filhos; ele mesmo contraiu

lepra, padecendo horrivelmente durante um ano. Um médico do Egito curou-o, completamente, mediante remédio secreto. Aos trinta e qua- tro anos, de boa aparência, foi assaltado na estrada por um grupo de persas e vendido como escravo a um senhor extremamente severo.

  1. Como se tornasse entre todos os escravos o mais fiel e supor- tasse com a máxima paciência e resignação os maus tratos, seu dono o chamou após dez anos e lhe disse: ‘De há muito te venho observando, e verifiquei teres sempre te esforçado por trabalhar em meu proveito. Sou severo, mas não incompreensível, e assim, dou-te a liberdade! Po- des voltar à pátria. Além disto, presenteio-te com cem camelos, dez das mais lindas escravas e noventa servos; e, a fim de que possas comprar uma vivenda, meu tesoureiro te pagará mil libras de ouro e duas mil de prata. Vai, pois, em paz!’

  2. Lázaro curvou-se diante de seu senhor, querendo agradecer. Este,

porém, lhe disse: ‘Amigo, quem se torna merecedor dum prêmio, não necessita externar gratidão!’ Profundamente emocionado, Lázaro dei- xou a sala e quando desceu ao pátio, tudo estava pronto, à sua espera.

  1. Montando num camelo, iniciou a viagem para Bethlehém, lá chegando após dez dias. Repousando num albergue, procurou infor- mar-se sobre sua antiga propriedade. Essa havia sido posta em leilão e, segundo as leis romanas, arrematada por não se ter apresentado in- teressado, apesar das diversas proclamações de uso. O arrendatário, de

posse há mais de dez anos, já gozava de todos os direitos, porquanto prescrita estava qualquer reclamação. Segundo as citadas leis romanas, o direito à reivindicação de bens se estendia até sete anos após a venda, que poderiam voltar às mãos do seu legítimo dono, devendo este devol- ver a importância despendida com a aquisição do imóvel, bem como despesas provenientes de conservação e benfeitorias, se as houvessem. Eis o sucedido com os bens de Lázaro.

  1. Teve assim, de sujeitar-se a passar um ano em albergues, até con- seguir comprar uma enorme casa de campo de um grego. Adquiriu-a por mil e quinhentas libras de prata e casou, aos quarenta e sete anos, com a escrava mais fiel, judia, que lhe deu três filhos. Decorridos dez anos, também ele, restituiu a liberdade a seus servos persas que, todavia, não o abandonaram, pois hoje vivem, ainda, cinquenta e três deles. To- dos adotaram o judaísmo, sendo deste modo mais agradáveis a Lázaro. Há dois anos, faleceu sua esposa, modelo de devoção e resignação femi- ninas, e desde então, os três filhos mantêm a rica propriedade do pai; além de Deus, não têm necessidades e são muito caridosos.”

  1. EXPLICAÇÃO DAS APARIÇÕES DURANTE A MORTE DE LÁZARO

  1. (O Senhor): “Tendo o velho Lázaro completado sua vida de pro- vações de modo tão perfeito, a ponto de lhe trazer grande benefício, reuniram-se, na hora da morte desse anjo, miríades de seres celestes, influenciando os elementos da Natureza de forma tal, que os levaram a uma atividade idêntica aos elementos do Sol. Foram eles a produzirem aquela luz forte, quando alma e espírito de Lázaro começaram a se des- prender do corpo.

  2. Os espíritos que acompanhavam a iluminação radiosa à Leste nada tinham a ver com o fenômeno; apenas foram estimulados para tanto pelo movimento dos elementos da Natureza, geralmente sob seu comando; portanto, nada sabiam do motivo.

  3. A direção de Oeste para Leste assinala um falecimento impor- tante, correspondente ao surgir da vida na Terra, onde tudo desperta

em direção ao Sol, voltando ao sono mortal com o ocaso. Além disto, a noite terrena é inversa à aurora espiritual, e a manhã do orbe, à noite espiritual. Na manhã terrena, a maioria das criaturas começa a se en- tregar às preocupações do mundo, que nada mais são de que uma noi- te profundamente fechada, isto é, uma escuridão espiritual completa. Somente à noite, cansadas pelas preocupações, muitas se prontificam a refletir sobre a inocuidade das coisas terrenas, dirigindo-se a Deus, ati- tude que corresponde ao raiar espiritual. Recebestes assim explicação, dentro de vosso entendimento, da relação natural e espiritual do grande fenômeno luminoso e seu acompanhamento.

  1. Analisemos, agora, a câmara mortuária, onde viste uma forma humana, perfeita, flutuar sobre o corpo. Baseia-se isto no grande amor para a atividade, que indica uma vida espiritual perfeita, plenamente destituída de pavor, diante da futura atividade no imenso Reino Celes- te. Não havendo vibrações de medo na alma, a forma humana é com- pleta e visível após a morte, para quem possui tal dom.

  2. O fio curto e fino entre alma e corpo denuncia a diminuta ten- dência para as coisas terrenas e, portanto, o desprendimento rápido e sem dor. A irradiação luminosa sobre a cabeça da alma prova sua vontade poderosa, que, pela extraordinária atividade, toma forma de coluna, correspondente à inflexibilidade e à Ordem dos Céus Divinos, cuja Luz penetra na capacidade do conhecimento da alma, a fim de que a vontade aja conscientemente.

  3. Como os pensamentos do justo emanam, principalmente, do coração, onde também se baseiam amor e vontade, a irradiação da alma liberta, que em vida teve de agir em conjunto com o cérebro, torna-se o cinto da veste do amor e da justiça, paciência e resignação. O chapéu testemunha uma nova dádiva de luz puríssima do Céu, e acrescida so- mente àqueles que, na Terra, esforçaram-se na aquisição da Sabedoria Celeste, transformando-se, destarte, em criaturas cheias de amor, sabe- doria e justiça celestiais. Tal chapéu luminoso é o produto da vontade do saber de todos os arcanjos, testemunhando que o possuidor se inte- grou na sabedoria e conhecimentos plenos, como criatura perfeita e de semelhança divina.

  1. O conhecimento adquirido por um arcanjo após ter passado pela encarnação representa tanto quanto os de todos arcanjos em con- junto, por ser tal chapéu, bem como a alma humana, um compêndio de todas as partículas inteligenciadas da Terra, o que não representa pouco.

  2. Julgo terdes recebido explicação completa sobre as aparições um tanto incomuns; caso ainda haja dúvidas, externai-vos, conquanto os Céus derramam uma justa Luz àqueles de boa vontade e de inclinações justiceiras.”

  1. INDAGAÇÕES TOLAS

  1. Diz Cirenius: “Senhor, não sabemos como agradecer-Te por tudo que nos tens proporcionado e que aumentou nosso cabedal de conhecimentos; todavia, desconheço a origem dos poderosos espíritos que vieram buscar a alma de Lázaro. Talvez fosse permitido saber-se seus nomes santificados e qual o efeito da volta de Lázaro sobre seus fi- lhos? O acontecimento foi deveras estranho e, por mim, tinha vontade de saber onde foi ele enterrado, e qual o destino daquele rabino. Além disto, desejaria explicação sobre o óleo de samambaia!”

  2. Digo Eu: “Meu amigo, isto são coisas secundárias e desnecessá-

rias ao assunto em questão. Que valor têm os nomes daqueles arcanjos?! Dispensam passaporte e julgamento terreno! Já que fazes tanta questão, trata-se de Zuriel, Uriel e, mais afastado, Miguel em João Baptista, sua última encarnação e do qual Zinka muito nos falou.

  1. Além destes, ainda havia uma quantidade de outros, invisíveis aos olhos de Mathael por serem espíritos puríssimos, apenas perceptíveis à visão do espírito — faculdade que ainda não lhe é dada. Afora isto, que valor têm o sepulcro de Lázaro, o rabino e o óleo de samambaia que, quando legítimo, susta a apoplexia e mata os micróbios estomacais? Não sendo genuíno, também não faz efeito. Deixemos tais coisas e tratemos de aumentar nosso conhecimento somente em assuntos espirituais.

  2. Indagai, portanto, sobre algo na esfera espiritual, vista por Ma- thael, ao invés de saciar vossa curiosidade com coisas tão indiferentes ao espírito, como a neve que, há mil anos antes de Adam, cobriu as

paragens desertas deste orbe! Já sabeis o que é matéria e sua origem; va- mos, portanto, dedicar-nos apenas a coisas elevadas. De que adiantam ao homem todos os conhecimentos e ciências terrenas quando ainda não conhece a si mesmo até às raízes mais profundas da vida, isto é, sua esfera psicoespiritual?

  1. Poderia ser verdadeiramente feliz, mesmo de posse de todos os bens terrenos, quando é obrigado a se perguntar, vez por outra: Que será de mim após a morte? Porventura prosseguirei vivo, consciente- mente, — ou terá tudo um fim, para sempre? Se ao inquiridor não for dada resposta satisfatória por parte de alguém mais instruído, muito menos de seu próprio receptáculo ignorante, no qual jamais penetrou um raio de Verdade, — qual seu destino? Será que tal ricaço se satisfa- rá com seus bens perecíveis? Impossível, caso tenha amor consciente à vida, pois que adiantaria conquistar todos os tesouros do mundo, caso sua alma venha a se perder?!

  2. Portanto, atirai para longe aquilo que está sujeito à destruição

pelas traças e ferrugem! Somente é eterno o que vem do espírito, pois o que pertence à matéria é submetido a transformações inúmeras, até que tenha alcançado a elevação do espírito. Perguntai apenas por coisas psíquicas e espirituais; nunca, pelas coisas da matéria!”

  1. A“IRA” DIVINA

  1. Diz Cirenius, encabulado: “Senhor, fui o único a te fazer per- guntas e me parece que Te aborreceste, como Deus e Senhor!”

  2. Digo Eu: “Como é possível Me compreenderes tão mal?! Como poderia estar aborrecido quando te demonstrei em verdade, o que seja imprescindível para todas as criaturas?! Vê quão curta é tua capacidade de julgamento! Quando terá alcançado a justa medida? Poderia o Amor Puríssimo de todo Amor em Deus aborrecer-Se com alguém?!

  3. Quando ledes a respeito da Ira Divina, deveis interpretá-la como o rigor eternamente equilibrado e firme da Vontade de Deus. Este rigor da Vontade Divina é justamente a base intrínseca do Amor mais puro e poderoso, do qual surgiram o Infinito e todas as obras, portanto jamais

Se poderia desgostar com quem quer que seja! Acaso alguém dentre vós poderia supor que Deus Se enraivecesse, qual criatura tola?!”

  1. Adianta-se Stahar, dizendo: “Senhor, perdoa se ouso fazer uma observação a respeito da Ira Divina. A pessoa que estudasse a História da Humanidade integrada numa firme fé em Deus não poderia negar ter Ele, em certas épocas, feito sentir, de modo severo, Sua Ira e Vingan- ça nas criaturas desobedientes.

  2. ‘A Ira é Minha, e a Vingança é Minha’, diz o Senhor pela boca do profeta. Isto nos foi provado pela expulsão de Adam do Paraíso, o Dilúvio em tempos de Noé e a permissão feita àquele ao amaldiçoar um dos seus filhos. Mais tarde, a destruição de Sodoma, Gomorra e das dez cidades ao redor, onde hoje deparamos o Mar Morto; a seguir, as pragas do Egito e a provação dos israelitas no deserto. Além disto, as guerras criminosas contra os filisteus, a prisão babilônica e, finalmente, o jugo completo do Povo de Deus, pelo poder dos pagãos!

  3. Senhor, considerando apenas ligeiramente tal atitude de Jeho-

vah contra as fracas criaturas, somente concluir-se-á Sua Ira e Vingança plenas. Por certo, poderia se alegar ser isto um meio de Deus educá-las com rigor e açoite. Os golpes desfechados, porém, não convencem ter sido provocados pela Mão dum Pai carinhoso, mas demonstram a ati- tude severa, muito embora justiceira, dum juiz implacável.

  1. Eis meu parecer, isto é, caso a História relate a plena verdade; tratando-se apenas duma lenda, Ira e Vingança de Deus poderão ser interpretadas como base do Seu Amor. Não querendo duvidar de Tuas Palavras, acho estranho o castigo a todos que, em sua fraqueza, viessem a pecar, e valeria a pena saber-se o motivo.”

  1. OPRIMEIRO CASAL

  1. Digo Eu: “Conforme acabas de falar de Ira e Vingança, Justiça e Amor Divinos, do mesmo modo um cego dissertaria sobre as mara- vilhas do arco-íris! Acaso ainda não compreendeste ser apenas possível assimilar os Livros de Moysés e todos os profetas, os Escritos de David e Salomon pela interpretação espiritual?!

  1. Julgas realmente que Deus tivesse mandado enxotar Adam do Paraíso por um anjo de espada na mão? Afirmo-te: mesmo que tal lhe tenha sido demonstrado desta forma, era apenas a interpretação daqui- lo que se passa no íntimo de Adam e fazia parte de seu conhecimento e do surgir da primeira religião e Igreja entre as criaturas.

  2. Nunca houve, na Terra, um paraíso material onde os peixes fri- tos tivessem nadado para dentro das bocas, pois os homens tinham pri- meiro de pescá-los e prepará-los, para depois serem comidos. O homem assim se tornando ativo e colhendo os frutos para um estoque, toda e qualquer zona se tornava um Paraíso, logo que fosse cultivada.

  3. Que finalidade teria tido a formação intelectual, caso o habi- tante do orbe não encontrasse com que se preocupar, pois os melhores frutos nasceriam frente à sua boca, bastando abri-la para saboreá-los?! Asseguro-te que a criatura, conforme interpretas o Paraíso, nada mais seria e saberia que um boi cevado ou um pólipo no fundo do mar.

  4. Que vem a ser a aparição do anjo com a espada flamejante? O primeiro homem era desnudo e não tinha passado por uma infância, como também este jumento; mesmo medindo mais de doze pés (um pé media 33cm), e Eva pouco menos, — sua experiência sobre a formação telúrica era bem infantil.

  5. Por ocasião da primavera, verão e outono suportou andar des- nudo; no inverno começou a ressentir-se com o frio, perguntando a si mesmo pela sensação que Deus lhe despertara mais e mais, através da insuflação material e espiritual: ‘Onde estou e que se passa? Sentia-me tão bem e agora os ventos frios magoam minha pele!’ Naturalmente, viu-se obrigado a tratar duma proteção contra as intempéries e cobriu-

-se com folhagem. Por este trabalho, forçou seus pensamentos a se tor- narem mais ativos e ordenados.

  1. A fome, todavia, também se manifestou; pois algumas árvores e arbustos estavam de galhos vazios. Assim, teve muito que andar para encontrar alimento; colheu os frutos e guardou-os na caverna que lhe servia de morada. Sua observação ensinava-lhe o seguinte: Nesta época a Terra se acha amaldiçoada, e poderás colher teu sustento apenas com o suor do teu rosto!

  1. Tendo, o primeiro casal do orbe, passado um inverno nas zonas que circundam o Nordeste da Terra Prometida, — da qual também faz parte a Galileia — começou a meditar e pesquisar o seu íntimo. Ma- nifestou-se, então, a necessidade de companhia e no sonho foi Adam instruído como gerar Caim, e em seguida, Abel e Seth.

  2. Foi, todavia, Eva quem lhe dera orientação, porquanto foi a primeira a sonhar a respeito. Deixemos os pormenores, pois te afirmo, Stahar, ter-se dado tudo normalmente. Moysés, no entanto, reconheceu que tudo só poderia suceder pela Vontade de Jehovah, pois que Eu, isto é, Meu Espírito, guiava os homens pela experiência natural; assim, colocou ele, Deus ao lado do primeiro casal, através de quadros correspondentes, porquanto a conduta posterior dos povos necessitava de tais imagens.

  3. Além disto, é natural ter Deus insuflado os anjos no sentido de fazerem surgir Adam e Eva numa zona das mais férteis do mundo. Se, mais tarde, fenômenos da Natureza, permitidos do Alto, obrigaram-lhes a abandonar seu primeiro Éden alimentício, tal não foi consequência da Ira Divina, mas do Amor às criaturas, para despertá-las de sua sensuali- dade, instigando-as à ação e experiências mais dilatadas.

  4. Quando Adam, Eva e seus filhos perceberam haver alimento em quase todo o orbe, começaram a encetar viagens mais longas, fami- liarizando-se com a Ásia e a África. Enriquecidos por vastas experiências e conduzidos pelo Espírito Divino, voltaram ao primitivo Éden donde se fez a povoação da Terra. Dize-Me: poderia esta proteção ser identifi- cada como Ira e Vingança de Deus?!”

  1. O DILÚVIO

  1. (O Senhor): “A Sabedoria Divina bem pode alterar-Se quan- do criaturas educadas e semievoluídas se opõem, voluntária e maldo- samente, contra a Ordem de Deus. Em compensação, o Amor Dele sabe antepor com grande paciência os meios indicados às tentativas mal orientadas e reconduzir os homens ao justo caminho. Deste modo, é alcançada Minha Finalidade com o Gênero Humano sem que se torne máquina, condenada a agir por suposta Vingança de Deus.

  1. Mesmo tais meios não são efeitos do Poder Vingativo de Jeho- vah, senão puramente as consequências da perversidade humana. Terra e Natureza têm suas leis necessárias e imutáveis, dadas por Deus, dentro da justa ordem; leis idênticas, o homem respeita em seu físico. Quando ele reagir contra tal regímen para transformar o mundo, não será por isto punido pela Ira Divina, mas pela própria ordem severa e fixada, que por ele fora infringida.

  2. No teu íntimo, indagas se o Dilúvio deve também ser consi- derado como efeito natural e necessário das ações contrárias à ordem. Respondo-te: exatamente! Eu despertara mais de cem videntes e men- sageiros para que advertissem os povos e, durante mais de cem anos, chamei a atenção sobre os horrores que deveriam aguardar, em virtude de seus atos perversos. Sua maldade chegou a ponto de não só zomba- rem daqueles enviados, mas até mesmo a muitos mataram, abrindo luta contra Mim. Contudo, não Me enraiveci, mas deixei-os agir e passar a triste experiência, que desvario e ignorância nem tudo podem fazer o que agrade à sua cegueira, contra a Natureza e a Ordem de Deus.

  3. Tens, por exemplo, o livre-arbítrio de galgar aquela rocha de

quinhentos pés de altura, e te precipitares no abismo. Pelas leis do peso, tal desvario te custará a vida. Acaso, teria sido efeito de Minha Irritação?

  1. Lá para Oeste, deparas com uma cordilheira completamente co- berta de mata. Faze-te acompanhar por milhares de pessoas e manda atear fogo às florestas — que os morros ficarão pelados! Qual o efeito? O grande número de elementos da Natureza assim inativos, começa- rão a se enfurecer no ar, levando a destruição à toda a redondeza por meio de raios, trombas d’água e saraiva. Teria Deus nesse caso agido com rancor?

  2. Se milhares de pessoas se entregam a desterrar morros, encher lagos ou construir estradas bélicas; se começam a escarpar cordilheiras em enormes extensões, numa altura de quinhentos pés, ou abrir valas profundas ao redor das montanhas, acabam liberando os veios inter- nos d’água, fazendo com que as montanhas venham a aprofundar-se nas imensas bacias. A água então começa a subir, de tal modo, que na Ásia se projeta qual mar sobre os mais elevados picos. Nessas devasta-

ções montanhosas, milhares de hectares de florestas densas também são destruídos, onde um sem número de elementos da Natureza, anterior- mente entretidos com a vegetação abundante, de súbito se veem livres e inativos. Pergunta a ti mesmo qual a reação dos espíritos no ar?! Que temporais, que trombas d’água, que massas de saraivas e que quanti- dade enorme de raios atiraram durante quarenta dias sobre a Terra, aumentando as águas sobre toda a Ásia! Teria isto sido a consequência da Ira e Vingança de Deus?!

  1. Moysés relatou a História de acordo com a época, isto é, em qua- dros onde sempre deixou prevalecer, pela insuflação de Meu Espírito, a Minha Providência, o que se compreende apenas pela interpretação justa e verdadeira. Seria Deus uma Divindade de Ira e Vingança, porquanto tu e muitos outros jamais compreenderam Suas Grandes Revelações?!”

  1. MOTIVODAS CATÁSTROFES

  1. (O Senhor): “Positivamente, bastaria viverdes apenas cinquenta anos na justa Ordem Divina, — e jamais haveríeis de sentir ou saber de alguma calamidade! Todas as catástrofes, moléstias e epidemias entre homens e animais, distúrbios atmosféricos, más colheitas, saraivas des- truidoras, inundações devastadoras, tufões, grandes temporais, nuvens de gafanhotos, etc, são apenas consequências das ações desordenadas dos homens!

  2. Se vivessem dentro dos Mandamentos, nada disto teriam de su- portar. Os anos se passariam como pérolas, uns idênticos aos outros, sempre abençoados. Jamais calor ou frio excessivos perturbariam as par- tes habitadas da Terra. As criaturas se excedendo em suas necessidades, executam benfeitorias e construções exageradas; desaterram montanhas para construir estradas bélicas; cavam-nas à procura de ouro e prata; vivem brigando entre si, ignorando que se acham rodeadas, a todo mo- mento, por quantidade enorme de espíritos inteligentes da Natureza, que dirigem a atmosfera como também efetuam a purificação e saúde do ar, água e terra. Elas poderiam se admirar quando o orbe é constan- temente castigado por uma infinidade de pragas de toda espécie?!

  1. Criaturas avarentas e gananciosas apõem trinco e ferrolho nos celeiros e além disso, determinam a vigias fiscalizar seus bens supera- bundantes e ai de quem se atrevesse aproximar-se dali, pois seria ime- diatamente processado! Não quero com isto dizer que a pessoa não deva proteger seus bens adquiridos com sacrifício; falo do supérfluo que diz respeito ao luxo desmedido. Não seria aconselhável construir celeiros que ficassem abertos para pobres e fracos, se bem que sob fiscalização dum competente distribuidor, a fim de que não ultrapassem o necessá- rio para o sustento? Se deste modo ganância e avareza desaparecessem da Terra, todas as más colheitas teriam fim!

  2. Sabes por quê? Pela maneira mais simples do mundo, isto é,

basta se observar, atentamente, como age a Natureza! Vês ainda as duas plantas: a benéfica e a venenosa. Ambas se alimentam das mesmas po- tências, todavia são de índole diversa. Isto porque a planta curadora reverte os elementos da Natureza a seu redor em sua característica bon- dosa e pacífica, que a alimenta, tanto interna quanto externamente, tornando-se assim de influência benéfica, que à luz solar exerce seus benefícios sobre criaturas e animais.

  1. Na planta venenosa, cujo íntimo contém caráter egoístico e rai- voso, os mesmos elementos são por ela assimilados inversamente. As- sim, também sua irradiação é venenosa e nociva à saúde do homem, e os próprios animais a evitam.”

  1. AINFLUÊNCIADO MAL

  1. (O Senhor): “A pessoa gananciosa e avarenta tem uma irradia- ção extremamente nociva, correspondente a seu caráter, que converte os elementos externos, pacíficos e bons, em maus e perniciosos. Como tais elementos da Natureza se acham em constante conflito, não só com o homem, mas com animais, plantas, água e ar, dão motivo contínuo para toda sorte de lutas, atritos e movimentos desnecessários do ar, água, terra, fogo e animais.

  2. Quem quiser disso tirar uma prova, procure pessoas bondosas e encontrará todos os seus animais de caráter pacífico, mormente os cães,

que assimilam, em pouco tempo, a índole do dono. O cão dum avaren- to, por certo, será uma fera gananciosa, e não conviria dele se aproximar quando estiver comendo. Enquanto que o do homem bondoso prefere se afastar da tigela, ao invés de brigar com o hóspede indesejável. Até mesmo outros animais caseiros serão meigos, de acordo com a índole do dono. As próprias plantas apresentarão grande diferença ao atento observador.

  1. Analisemos a criadagem dum avarento, e verificaremos ser na maioria mesquinha, invejosa, avarenta, portanto também será falsa e traiçoeira. O homem bom e generoso que privasse longo tempo da companhia dum avarento, enterrado até às orelhas no ouro, adotaria finalmente um sistema econômico e se tornaria escrupuloso na prática da caridade.

  2. Além disto, acontece ser, na Terra, muito mais fácil o mal trans- formar o Bem a seu favor, que vice-versa! Imagina uma quantidade de pessoas más e procura saber se o sofrimento que passam seja efeito da Ira Divina! Digo-vos, especialmente a ti, Stahar, que tudo é proveniente da atitude dos homens, nada tendo a ver com isto a Ira e Vingança de Deus. Existe apenas uma ordem em a Natureza das coisas, imutável enquanto existir a Terra; do contrário, ela se dissolveria, não mais ofere- cendo abrigo para o homem em provação.

  3. Eis por que urge conquistar o Bem com rigor e violência, quan-

do não se queira ser tragado pelo mal. Procurai, pois, aperfeiçoar vossa vida interior pelo cumprimento de Minha Doutrina, e todos os vene- nos do mundo não vos poderão prejudicar!”

  1. AMARAVILHOSAPLANTINHA CURADORA

  1. (O Senhor): “Retornemos mais uma vez ao cozimento das mil plantas venenosas, cuja infusão não poderia ser neutralizada por milha- res daquela espécie benfazeja. Existe, no entanto, uma plantinha nas montanhas da Índia — também é encontrada no Monte Sinai — da qual bastaria acrescentar-se um pedacinho ao cozimento, e no mesmo momento, todo o conteúdo se transformaria em chá benéfico.

  1. Admirado, perguntas como será isto possível, Stahar? E afirmo-

-te: de modo mui natural, conforme explicarei. Vê, numa noite trevosa, sem lua e estrelas, terás impressão existir tal escuridão em todo Infinito. Esta treva é, para os olhos, um veneno mortal, porquanto lhe tira sua capacidade de visão; libertando-se, porém, desse mal, pelo menor raio de Sol, num momento, transforma-se em luz plena.

  1. Acaso te apercebes onde quero chegar? Como pode uma faísca de luz solar dissipar toda a escuridão e por que se faz noite, sem ela? Pois o ar consiste dos mesmos elementos, tanto de dia como à noite. Quando o Sol desaparece por completo, os elementos se aquietam pouco a pouco, cada um de per si, e como não vibrem em seus pequeninos invólucros, a visão humana não percebe sua existência, ocasionando a noite completa.

  2. Acreditas que os espíritos se agitem à noite, quando sopra o ven- to? Enganas-te com isto por não teres ideia da movimentação interna dum espírito da Natureza. Se bem que a brisa sopre à noite levando os elementos a uma evidente agitação, é ela apenas uma geral, em direção qualquer, forçada por um espírito mais elevado. Se, em qualquer ponto, um ou grande agrupamento de espíritos — que viste como línguas de fogo — é levado a uma vibração extraordinária, faz-se luz, demons- trando o momento duma atração e o surgir dum ser. Essa vibração é transmitida a uma quantidade de outros elementos da Natureza, num grande raio de ação, provocando emanação de luz.

  3. Quanto mais forte for esta transmissão aos elementos vizinhos,

tanto maior o círculo de luz, levando outro grupo de espíritos a seme- lhante incentivo; prova isto, a luz solar através de sua força produtora nos planetas de sua constelação. Não só eles são deste modo forçados a uma atividade criadora, mas também no próprio Espaço se dão coisas pela atração dos elementos livres da Natureza de que vossa sapiência jamais sonhou.

  1. Da mesma forma que uma única faísca de força solar transforma o Espaço Infinito em plena luz, a mencionada plantinha curadora aco- mete à toda infusão venenosa ação salutar, porquanto os elementos da Natureza são nela extremamente ativos numa justa ordem, obrigando os mais preguiçosos e desequilibrados a uma ação positiva.

  1. Fato idêntico se dá com a influenciação duma criatura verda- deiramente aperfeiçoada, tanto sobre seus semelhantes quanto nos ele- mentos ainda libertos, num grande raio de ação. Pessoas de boa índole agirão beneficamente sobre outras menos equilibradas, que nelas te- rão um remédio curador. Quando as de bom caráter convivem com maldosas, perversas e dissolutas, dentro em breve são contaminadas, porquanto sua força interna não lhe pode oferecer resistência. Uma vez aperfeiçoadas psiquicamente, são semelhantes à plantinha curadora na grande infusão venenosa e à faísca solar na noite trevosa.

  2. Se isto tiveres assimilado a fundo, compreenderás que todo mal

entre os homens desta Terra, não provém da Ira e Vingança Divinas, mas unicamente de seu desequilíbrio. Assim orientados, depende de vós formulardes perguntas quanto à cena no passamento de Lázaro. Um dentre vós alimenta certa dúvida; que se externe!”

  1. CAUSASDEFRIOE CALOR

  1. Diz Mathael: “Senhor, este tal sou eu, porquanto existe um ponto no assunto mencionado que não posso atinar. Ao me dirigir em companhia de meu pai e do jovem Lázaro para Bethânia, de- paramos com o fenômeno luminoso e também sentimos um calor extraordinário. Quando a luz se apagou, manifestou-se tamanho frio, que comecei a tiritar. Por mais que me esforce, não posso deduzir a sua causa.”

  2. Digo Eu: “Mas é evidente, pois se esfregas com força dois peda- ços de pau, estes incendeiam-se até produzir fogo. Por quê? Porque os elementos em suas células são violentamente despertados e caem em forte vibração, que se manifesta como fogo e luz. Esta vibração é trans- mitida aos elementos vizinhos, provocando verdadeiro incêndio. Cessa- dos vibração e fogo, toda aglomeração de espíritos esfria rapidamente; quanto mais violenta a vibração, tanto mais rápido o cansaço, calma e frio dos elementos da Natureza. Um pedaço de pau ou carvão ardente, nunca transmite tanto calor quanto um fragmento de metal, na mesma situação. O motivo reside no fator de serem os elementos do metal mais

vibráteis que os da madeira. Quando carvão e metal esfriarem numa temperatura idêntica, o metal fá-lo-á mais depressa e será mais frio do que o carvão apagado.

  1. Quando num dia de verão a temperatura começa a subir, os ele- mentos da Natureza se tornam ativos, provocando grande calor e mor- maço. A intensificação é provocada pelo atrito dos mesmos, surgindo então névoas e nuvens.

  2. Todos vós já observastes o crescimento de tais nuvens que final- mente são dilaceradas por consideráveis raios. Uma vez que caiam chu- va e saraiva, sabemos ser isto obra dos espíritos pacíficos. Quanto mais fortes forem os coriscos, tanto mais fria se tornará a atmosfera, devido ao apaziguamento dos espíritos da Natureza, no que são obrigados pe- los pacíficos. O mesmo fato se deu por ocasião do fenômeno luminoso que, quando desapareceu, trouxe uma onda de frio. Compreendeste?” Responde Mathael: “Senhor, agradeço-Te por este esclarecimento!”

  1. QUEDADESASTRADADUM GAROTO

  1. Digo Eu: “Conta-nos ainda o acidente ocorrido com um me- nino, e o suicídio daquele homem a que assististe. Menciona apenas o principal.”

  2. Começa Mathael: “Como desejo relatar ambos os fatos em con- junto, preciso meditar um pouco.” Digo Eu: “Ajudar-te-ei, de sorte que tal não será necessário.”

  3. Prossegue Mathael: “Assim sendo, relatarei dois; dentre os mui- tos casos vividos até aos vinte anos. Estávamos na época da purificação geral dos judeus, onde se sacrificava o bode expiatório por todos os pecados, que finalmente era atirado ao Jordão com grande alarido, pre- ces e maldições. Pormenorizar tal acontecimento seria tempo perdido porquanto é conhecido de todos.

  4. Ignorais, todavia, que aquela cerimônia era assistida por um mundo de curiosos: gregos, romanos, egípcios e persas. É natural que a garotada também quisesse ver o acontecimento; como isto se tornava difícil, em virtude dos adultos, a curiosidade os levara a subirem nas ár-

vores. Dentro em pouco, estavam brigando nos galhos, sem respeitarem as advertências dos velhos.

  1. Eu e meu pai estávamos montados em camelos, presenteados por um persa, a quem meu pai havia curado de moléstia grave. Assim acomodados, podíamos assistir à cerimônia. Um pouco mais distante havia um cipreste delgado, em cujos galhos, por natureza frágeis, bri- gavam três meninos. Cada qual se esforçava por equilibrar-se. Como houvesse apenas dois galhos mais fortes, dois garotos neles se tinham instalado, enquanto o terceiro confiara seu peso a um ramo.

  2. Tudo corria normalmente até que, perto do meio-dia, levan- tou-se um vento forte que balouçava a extremidade do cipreste e além disto soprava a fumaça do altar em direção dos meninos, que se viam obrigados a fechar os olhos.

  3. Observei então o menino que estava agarrado ao frágil ramo. Quando a fumaça chegou a envolvê-lo numa verdadeira nuvem, vi, subitamente, dois grandes morcegos rodearem sua cabeça. Tinham o tamanho de pombas e com o movimento das asas, levavam ain- da mais fumaça sobre o menor. Chamei a atenção de meu pai e lhe disse que certamente haveria de acontecer algo desagradável, pois os morcegos não me pareciam naturais porquanto ora aumentavam, ora diminuíam.

  4. Meu pai dirigiu seu camelo até o cipreste e advertiu o menino a

descer, do contrário poderia levar uma queda. Não sei positivar se ele ouviu os gritos de meu pai, pois minha atenção estava voltada para o fenômeno estranho, enquanto o garoto procurava esfregar os olhos com uma das mãos.

  1. Vendo que seu conselho não surtia efeito, meu pai voltou para perto de mim e perguntou se eu ainda via o mesmo. Afirmei, e acres- centei que o menino cairia da árvore, caso não procurasse descer. Res- pondeu meu pai: ‘Que fazer? Não temos escada e ele não obedece. As- sim, somos obrigados a aguardar o que Jehovah determinar sobre este menino desobediente.’

  2. Mal havia acabado de falar, o galho frágil, em constante mo- vimento, partiu-se, e o menino caiu duma altura de vinte pés, espa-

tifando-se numa pedra, morrendo instantaneamente. O alvoroço foi imenso; todos rodearam o corpo. A polícia romana afastou o povo, e alguém chamou meu pai para verificar se era possível salvá-lo. Exami- nando cabeça e espinha espatifadas, respondeu ele: ‘Não existe mais o que fazer para voltar-lhe a vida!’

  1. FENÔMENOSESPIRITUAISDURANTEO ACIDENTE.

SUICÍDIODOESSÊNIO,AMALDIÇOADOPELO TEMPLO

  1. (Mathael): “Em seguida, meu pai me perguntou se eu via algo de extraordinário no menino; ao que lhe respondi, em grego: ‘Os dois morcegos se uniram sobre o peito na figura dum macaco tristonho, que se esforça por arrancar-se do corpo. Eis que agora o consegue e começa a rodear o corpo aos pulos, como à procura de algo.’

  2. Indagou meu pai: ‘Será aquilo a alma do garoto?’ Respondi: ‘Isto realmente não sei. Não teria ele psique mais perfeita?! Aquele estranho ser se agacha junto à cabeça e dá impressão de sorver o sangue, sem contudo consegui-lo; absorve apenas um vapor sangrento, passando a adquirir forma um tanto humanizada. Agora, acabam de chegar alguns homens que certamente levarão o corpo. Estou curioso por ver se o macaco os acompanha.’

  3. Quatro homens se aproximam com uma vara comprida, nela amarram o defunto e com ele se afastam. O ser simiesco, porém, ali fica a olhar em seu redor como quem nada vê. A seguir, se põe de cócoras no lugar onde o menino havia caído da árvore e faz menção de adormecer. Deve ser sua alma.

  4. Disse meu pai: ‘Felizmente a cerimônia está terminando; falta apenas a sentença para os que são excluídos desta purificação em co- mum, em virtude de seus graves pecados. Todos os anos a mesma coisa,

— sem bênção e benefício para quem quer que seja!’

  1. Calando-se, meu pai ouviu o veredicto e aborreceu-se sobrema- neira quando a maldição caiu, primeiro, sobre os pobres samaritanos; em seguida sobre todos os pagãos, essênios, saduceus, e ligeiramente atingiu os impenitentes incestuosos, fratricidas, patricidas, matricidas e

adúlteros, acrescendo a mais terrível sentença sobre os que desprezam o Templo e suas relíquias.

  1. Após este ritual destituído de conforto, no qual cada imprecação trazia um rombo na veste do sumo sacerdote, todos voltaram à cida- de. Somente um homem, a quem por certo as sentenças atingiram em excesso, parou numa rocha que beirava um lago imenso e profundo, formado pelo Jordão e no qual alguns tolos afirmavam haver-se juntado o resto da água do Dilúvio, no decorrer de um ano e alguns dias.

  2. Meu pai estranhou aquela atitude e me perguntou se algo de extraordinário estava acontecendo. Respondi: ‘Nada vejo; todavia não posso negar ser a posição daquele homem, à beira da rocha que dá para o lago, extremamente suspeita, e ouso afirmar querer ele analisar sua profundidade.’

  3. Repito minhas palavras daquele momento, muito embora meu pai não apreciasse quando eu gracejava em assuntos sérios; queira, Se- nhor, perdoar-me se repito minha pilhéria!”

  4. Digo Eu: “Está bem, Mathael; falas como quero, pois te ponho as palavras na boca. Prossegue, que todos te ouvem com atenção!”

  5. Continua Mathael: “Mal havia terminado, aquele homem le- vantou as mãos e exclamou: ‘O sumo sacerdote me amaldiçoou por eu me ter tornado essênio, para aprender uma sabedoria mais aproveitável; todavia, encontrei-a tampouco naquela seita, como no próprio Templo. Arrependido, voltei ao sinédrio, orei e fiz oferendas. O sumo sacerdote rejeitou meu sacrifício, classificou-me um dos piores difamadores do Santíssimo e me amaldiçoou por toda Eternidade, fazendo sete rasgões em sua roupa. Esperei atenuante por ocasião da purificação geral; mas em vão! Ele positivou a anterior imprecação e me condenou diante de Deus e dos homens! Nada mais tenho que esperar!’ Com tais palavras desesperadas, atirou-se da rocha e afogou-se.”

  1. ASALMASDOSACIDENTADOS,NO ALÉM

  1. (Mathael): “Não demorou e vi nadar na superfície da água algo parecido com um esqueleto humano, cinzento, e acompanhado por dez patos pretos. Somente os pés tinham vestígios de carne; todo o resto era ossada perfeita. No começo estava deitado de costas; depois de meia hora havia-se virado e começou a nadar numa tentativa baldada de enxotar os patos.

  2. Deste modo, a estranha formação óssea boiou durante uma hora na superfície do lago, ora mais depressa, ora mais vagarosamente e algumas vezes até mergulhou. Teria julgado tratar-se de um animal aquático, caso meu pai também o tivesse visto. Assim, opinei ser aquele esqueleto algo sobrenatural. Passada uma hora, acalmou-se e os patos pareciam bicar alguns restos de carne da ossada.

  3. Como nada mais de importante acontecia, voltamos ao macaco que, naquele momento se levantava nas patas traseiras numa tentativa de caminhar. Sua fraqueza era grande porquanto, nem bem dava cin- co passadas, as dianteiras se dobravam; mesmo assim, aquele ser foi se levantando aos poucos e pela maneira como olhava a seu redor, deduzi sentir medo ou fome. Pouco a pouco foi-se aproximando do lago, onde deparou com o esqueleto, em companhia dos patos.

  4. Observando-o mais prolongadamente, ouvi um forte gemido e depois de certo tempo, levantou-se feito homem e percebi perfeitamen- te as seguintes palavras, embora sussurradas: ‘Eis meu pai, tão infortu- nado! Ai de nós, pois nos alcançou a Ira e o Julgamento de Jehovah! Eu, entretanto, posso aguardar ajuda; como será o destino dele?!’

  5. A seguir, o macaco calou-se tristonho, enquanto os patos conti- nuavam a bicar o esqueleto. Passou-se, assim, mais meia hora e com ex- ceção de alguns romanos e gregos entretidos numa discussão, ninguém nos observava. Como eu nada mais visse, meu pai opinou que fôssemos embora, pois não nos caberia espreitar o que Jehovah tencionava fazer com aquelas almas.

  6. Respondi-lhe então: ‘Se bem que já estamos por três horas as- sistindo um quadro deveras triste, desejava passar mais algum tempo;

talvez surgisse algo de interessante!’ Assim ficamos esperando, — e em poucos minutos o caso mudou de feição! Repentinamente, o macaco se levantou enfurecido, pulou sobre a água e começou a fazer caça aos patos! Num momento havia estraçalhado cinco; os restantes, debanda- ram em retirada.

  1. Apanhando o esqueleto com carinho, depositou-o a cinco pas- sos do lago, numa relva e disse: ‘Pai, ouves minha voz e compreendes o que te digo? O esqueleto inclinou a cabeça, confirmando a pergunta do filho.’

  2. E o macaco, visivelmente humanizado, levantou-se como sob um poder maior e disse com voz incisiva: ‘Pai! Se é que Deus existe, só pode Ele ser bom e justo! Assim sendo, jamais amaldiçoaria quem quer que seja; pois se o homem é obra de Deus, só pode ser obra de Mestre. O mestre que amaldiçoasse sua obra, seria pior que um remendão, pois até mesmo este preza seu trabalho. E Deus, o Mestre Supremo, deveria amaldiçoar Suas Obras?!

  3. A condenação e o julgamento são invenções humanas, como efeito da cegueira e imperfeição da natureza do homem. Seus erros são provas de como usou seu livre-arbítrio e a ação é um treino para a de- terminação própria, na esfera do conhecimento e da vontade, dentro da Ordem do Criador, único meio para a existência da criatura.

  4. A maldição humana é a pior face de sua maldade; consegue assim perverter-se a si própria, como também ao semelhante, lançando, finalmente, povos inteiros na pior miséria e desespero. Tu, meu pai, fos- te morto pela maldição decuplicada pelo sumo sacerdote, embora não mereceste isto diante de Deus. Em teu grande desespero, te suicidaste e te encontras aqui, como produto miserável dum desmedido orgulho sacerdotal. Eu, por certo, recebi a Graça Divina pela compreensão e força, afastando de ti a maldição que te perturbou na figura de aves negras. Agora te encontras em terreno firme e seco, e eu tudo farei para socorrer-te em tua miséria!’

  5. Durante esse discurso a figura simiesca foi se transformando

e, ao terminar, era um menino perfeito, recebendo, do ar, vestimenta cinza-claro. Ao seu lado vi algo envolto numa tira. O menino simpáti-

co desatou-a e tirou uma camisa cinzenta escura e comprida. ‘Permite que te vista, pai!’ E assim dizendo, ele cobriu o esqueleto, e a tira, mais clara, amarrou ao redor do crânio. Em seguida, o corajoso menino quis ajudar o velho a se levantar; mas não o conseguiu.

  1. Após várias tentativas, o menino, já do tamanho dum adoles- cente, exclamou em voz alta, que meu próprio pai alegou ouvir, mas sem articular: ‘Jehovah! Se é que existes, manda-nos socorro! Meu pai não pecou. Aqueles que se adornam com nimbo divino, a fim de atrair honra e privilégios, conseguiram que ele se espatifasse e ora se acha aqui como alma perdida! Será por isto também condenado por Ti? Dá-me ao menos algo para cobrir-lhe o esqueleto, pois a figura horrenda me condói! Jehovah, ajuda!’

  2. A esta exclamação compareceram dois espíritos poderosos

e tocaram o crânio do esqueleto. No mesmo instante tudo se cobriu de tendões, pele e alguns cabelos e — ao que me parecia — também olhos, porém profundos. Nenhum dos anjos falou, desaparecendo em seguida. Experimentando novamente soerguer o pai, desta vez o rapaz teve êxito. Indagou-lhe se podia caminhar; e este confirmou com voz rouca. O jovem de pronto o amparou e ambos desapareceram em di- reção do Sul.”

  1. EXPLICAÇÕES DO SENHOR QUANTO ÀS SITUAÇÕES PSÍQUICAS DOS ACIDENTADOS

  1. (Mathael): “Eis dois fatos a que assisti pessoalmente, sem contu- do saber interpretar os fenômenos variados, como sejam: os morcegos que se juntaram num macaco, a alma do suicida se apresentando num esqueleto, a vitória do símio sobre as aves, a vestimenta surgida do éter e o efeito disto sobre as duas almas. Haveria ainda muita coisa a pergun- tar e talvez algum outro tenha vontade de externar-se?”

  2. Diz Cirenius: “Amigo, ouvindo teus relatos, a pessoa tem im- pressão de ser a vida qual rio caudaloso, que no fim se precipita num abismo, onde julga encontrar repouso numa bacia profunda. Tal, po- rém, não é possível porquanto a violência de sua queda a impele a sair,

fugindo sempre, até que venha finalmente ser tragada pela imensidade das águas profundas do mar.

  1. Senhor, esclarece-nos tais momentos horrendos da vida huma- na! Considerando, por exemplo, aquele homem que, num ímpeto de desespero, pôs fim à sua vida condenada! Que transformação tenebrosa após o suicídio! Que incerteza não o atingiu?!”

  2. Digo Eu: “Realmente deparamos com momentos desesperado- res para a vida da criatura. Mas que fazer, a fim de impedir ser ela completamente dispersa pela influência do mundo e suas tendências infernais?! Não deve por isto ser agarrada com rigor?

  3. Por certo é tal momento algo chocante para o espectador; a pas- sagem por uma portinha estreita não pode ser comparada ao aspecto duma noiva sadia; entretanto, leva, aquela passagem, a alma à vida ver- dadeira e indestrutível. Eis por que tal momento cheio de rigor tem mais consolo e conforto para quem o entenda, que a face primaveril duma noiva. Vamos agora elucidar o relato de Mathael.

  4. Antes do menino cair desastradamente, Mathael vira dois mor- cegos, grandes, que o rodeavam. Primeiro, era aquele menino descen- dente desta Terra, e tais criaturas representam um conglomerado físico e psíquico de sua criação orgânica; prova isto, o alimento extremamente variado do homem telúrico, enquanto a alimentação do irracional é mui restrita. A fim de que o homem possa levar a todas as partículas inteligenciadas de que é formada sua alma uma alimentação adequada das matérias naturais, pode ele nutrir-se dos três reinos: animal, vegetal e até mesmo mineral; pois o corpo substancial da alma é, tanto quanto o físico, alimentado do campo natural.

  5. Muita influência tem, no entanto, a esfera precedente da qual

uma criatura de origem telúrica recebeu sua alma dentro duma gradua- ção evolutiva. Além disto, deve-se considerar — mormente em crianças

— ocultar a alma, vestígios daquela espécie animal de onde passou à formação humana. Quando desde o berço recebe boa educação, a for- ma animal anterior se concretiza na humana; numa educação descuida- da, a alma infantil, pouco a pouco, representa a forma animal, e fácil é observar-se sua original em pessoas um tanto animalizadas.

  1. Se afirmei descender aquele menino psíquica e fisicamente desta Terra, deveis compreender o porquê de uma educação negligenciada. Sua alma se apresentou em forma de dois morcegos, no momento em que, tomado por uma vertigem pelo esforço de se agarrar à árvore e sufocado pela fumaça, já se achava inconsciente.

  2. Enquanto a alma, no momento da morte, não for completamen- te separada do corpo, é ela inconsciente devido a perturbação provinda do medo. Sente o mesmo que a pessoa amarrada num eixo que se acha numa rotação veloz. Por mais que se esforce em fixar o olhar, não lhe é possível positivar um objeto; poderá vislumbrar um círculo vaporoso e incolor que, pelo aumento de velocidade e a crescente inconstância da visão, passa à completa escuridão.

  3. Do mesmo modo que a visão necessita de calma para certifi- car-se dum objeto, a alma precisa de certa serenidade interior, a fim de alcançar uma consciência acertada e lúcida. Quanto mais a psique estiver inquieta, tanto mais rápido perderá sua própria noção; uma vez levada a um desassossego extremo, nada de si mesma sabe até que re- torne à calma. Quanto mais baixo o nível evolutivo duma alma, tan- to mais inquieta no momento da morte. Tal nunca poderá acontecer quando completamente perfeita, conforme Mathael pôde observar du- rante o passamento do velho Lázaro, cuja alma não manifestou inquie- tação alguma.

  4. O garoto em cima da árvore já estava morto um quarto de

hora antes da queda e nada mais sabia de si; tanto alma quanto corpo estavam envoltos em plena escuridão. Uma alma caindo numa extrema inquietação começa a se desintegrar nas criações anteriores, pequenas e imperfeitas, que no caso acima se apresentaram como dois morcegos. Somente depois do menino, pelo espatifar do cérebro, ter-se separado da alma, ela conseguiu acalmar-se mais e os dois morcegos se juntaram, surgindo daí um símio como última etapa de sua criação. Necessitou ele de calma ainda maior para a final concretização e outro tanto, para o conhecimento e a noção de si próprio. Por isso, acocorou-se por espaço prolongado no local onde seu corpo tombara, e isto, mais instintiva que conscientemente, sobre o ocorrido.

  1. À medida que a consciência ia voltando pouco a pouco, o macaco adquiriu feição humana e começou a se levantar. Sua percep- ção psíquica mais dilatada sentiu a presença da alma acidentada do pai. Deixou seu pouso, dirigiu-se atraído pela percepção ao lago, e reconheceu de pronto a alma paterna, sobrecarregada e amaldiçoada dez vezes.

  2. Isto despertou-lhe o amor filial, assim como a noção de Deus e de Sua Verdadeira Justiça, e uma revolta justa contra a maldição a que se atrevem as criaturas em seu desmedido orgulho, contra seu semelhante de boa índole. Tudo isto fez com que o macaco já mais humanizado, re- conhecesse em si, o poder de lutar contra os demônios da maldição que perturbavam a alma de seu pai, em figura de aves negras. Estimulado pelo amor filial, atira-se ele ao lago onde destrói aqueles seres, pelo que sua expressão humana mais ainda se exterioriza.

  3. Seu amor consegue até deitar raízes de vida na alma aniquilada

do pai, fator que incentiva o filho com maior poder e força, arrancan- do-o do local de sua destruição e levando-o para solo firme. Aí acha a futura vida do pai, um pouso seguro. Como o sentimento do filho cres- ce, seu conhecimento também aumenta, e nesta luz reconhece a insufi- ciência de sua força, implorando assim a Deus que o ajude. O socorro não se faz esperar: aparecem vestimenta e forças para o prosseguimento numa esfera melhor e mais perfeita, onde a alma do pai é alimentada pelo crescente sentimento do filho, alcançando carne e sangue espiri- tuais e finalmente se capacita em reconhecer a Deus, integrando-se em Sua Ordem, — coisa sumamente difícil para suicidas.”

  1. SITUAÇÕESDIVERSASDESUICIDASNO ALÉM

  1. (O Senhor): “Existem situações diversas para suicidas. Se, por exemplo, alguém se vê humilhado em seu orgulho sem que possa vin- gar-se e, numa extrema revolta, põe fim à sua vida, — comete o pior suicídio premeditado, que jamais poderá inteiramente ser reparado na alma. Serão precisos milhões de anos para conseguir u’a membrana des- tinada ao seu aparente esqueleto, destituído por completo de amor, e

muito menos cobri-lo de carne psíquica, porquanto esta, é produto do amor que também desperta tal sentimento.

  1. O homem que deparasse com uma jovem de físico perfeito, sen- tir-se-ia atraído e tudo faria para conquistá-la. Por quê? Por ser sua for- ma voluptuosa produto de grande amor. O amor desperta no próximo aquilo que perfaz sua natureza.

  2. Ao depararmos com uma jovem excessivamente magra, garan- to-vos ser difícil atingir o coração de alguém, pois será apenas alvo de compaixão. Qual o motivo? Por possuir muito pouco daquele material, como produto do amor!

  3. Uma alma, já em vida, plena de amor, será no Além perfeita e linda na formação de seu corpo psíquico. Outra, avarenta e egoísta, será magérrima; todavia terá vestígios de carne e sangue, porquanto esta alma tem ao menos amor para consigo. Um suicida, porém, é in- teiramente destituído de amor e sua alma terá forçosamente, que se apresentar como esqueleto, no Além. Depende apenas ser tal esqueleto humano ou animal.

  4. Já apontei haver variadas maneiras de suicídio. Um suicida con- forme exemplifiquei como sendo dos piores, não se apresenta em esque- leto humano, mas num dragão, serpente ou outro animal selvagem. A razão disto é fácil deduzir-se, e tal psique dificilmente poderá se integrar numa perfeição plena.

  5. Existem pessoas que põem fim à sua vida por motivos de ciúme por uma jovem, a quem outro agradara mais. Tal ciumento a martiri- zava sempre com recriminações, alegando infidelidade por parte dela. Este homem chega no Além em figura de lobo, cão ou galo, porquanto estes elementos contêm intelecto e vontade dum tolo ciumento, condi- cionando, como criações precedentes, a índole daquela alma. Também este, dificilmente, alcançará certo grau de perfeição.

  6. Há suicidas, autores de grandes crimes, sabendo que lhes aguar- da pena de morte horrorosa. Não ignoram que tal crime virá à luz do dia. Levados de imenso pavor e instigados pela própria consciência, caem num desespero completo, onde terminam sua vida com uma cor- da. Tais almas chegam no Além, no esqueleto de sua precedente forma

animal, ou seja, salamandra, lagarta e escorpião, todos amontoados e circundados por uma vala incandescente, partícula inteligenciada da- quela alma, que em geral, toma forma de serpente em brasa.

  1. Em suma, a alma que, em virtude de sua péssima educação, tiver se desfeito de todo amor, até mesmo para consigo, é compenetrada de todo inferno — pior inimigo da vida — portanto sua própria inimiga e tudo fará para destruí-la de modo indolor. Neste ódio contra a vida, todos os elementos finalmente se desintegram na alma, que só se poderá apresentar no Além, dissolvida em suas partículas isoladas de existên- cia primitiva, e mesmo assim, somente naqueles esqueletos, portadores, apenas, do julgamento imprescindível.

  2. A parte óssea é, tanto no homem quanto no irracional, a mais

condenada e desprovida de amor; não havendo possibilidade de rete- rem em si, osso e pedra o amor à vida, perduram, se bem que apenas num conglomerado psíquico, como partes correspondentes onde ja- mais repousará amor. Os ossos humanos, porém, ainda são mais capa- zes de cobrirem-se com vida de que os animais e muito menos as leves partículas esqueléticas de insetos, a cartilagem e escamas dos anfíbios.

  1. Se, por isso, um suicida se apresenta no Além na forma descri- ta, podeis calcular quão difícil e demorada será a fase, até que a alma consiga passar a esqueleto humano e daí, obter pele e carne. Perguntais em vosso íntimo se ela também vem a sentir dores, e vos afirmo: em cer- tas épocas — as mais cruciantes; em outras, nenhuma. Quando, de cer- to modo, tocada pelos espíritos incumbidos de sua vivificação, sua dor é ardente. Deixada em paz, não registra sentimento, consciência ou dor.

  2. Há uma grande quantidade de suicidas cujos efeitos não se apresentam de modo tão prejudicial para a alma; benefício, porém, jamais lhe poderá advir de tal atitude. Mathael relatou um dos mais perdoáveis, que facilitou a revivificação e salvamento da psique. No entanto, perdura nela uma falha para sempre: jamais poderá alcançar a plena Filiação Divina. Uma alma suicida não poderá ultrapassar os limites do primeiro Céu.

  3. Neste, ou seja, no Céu da Sabedoria chegam as almas de todos os outros mundos; da Terra, as almas dos sábios pagãos que viveram

conscientemente dentro da justiça, de acordo com seu conhecimen- to, sem todavia aceitarem ensinamentos de Minha Pessoa, mesmo no Além. Se no decorrer dos tempos se converterem, poderão ingressar no segundo Céu, ou seja, no Céu Central. No terceiro, mais íntimo e elevado, o Céu do Amor e da Vida, jamais chegarão. Lá somente são permitidos aqueles que alcançam a plena Filiação Divina.

  1. Penso ter-vos esclarecido os relatos de Mathael; se algum ou- vinte alimentar dúvidas, pode apresentar-se. Temos ainda duas horas para o surgir do dia, que nos trará outros assuntos.” Respondem todos: “Senhor, tudo nos é claro!”

  1. APEDRA FILOSOFAL

  1. Prossigo Eu: “Pois bem; como ainda nos restam algumas horas, Mathael nos poderá contar outro falecimento estranho. Antes, porém, Raphael levará a pedra luminosa ao seu destino, por já estar alvorecen- do e nessa ocasião, poderá trazer os grãos prometidos a Cirenius!”

  2. Em poucos instantes o arcanjo está de volta e entrega sete grãos luminosos do tamanho de ervilhas. Sua luz é fortíssima, pois bastaria apenas um, para iluminar uma grande sala de modo mais intenso que dez mil lamparinas. Cirenius, no entanto, não tem ideia como guardá-

-los e Me pede conselho; novamente chamo Raphael, incumbindo-o de trazer uma caixa apropriada.

  1. De pronto ele entrega um estojo de ouro ligeiramente forrado de amianto, onde coloca as sete bolinhas e em seguida fecha a tampa, artis- ticamente trabalhada. Ao entregá-lo ao Prefeito, o arcanjo diz: “Guarda-

-o bem! Jamais deverá ornamentar, uma destas pedras sublimes, a coroa dum rei, a fim de não despertar cobiça dum outro, desencadeando uma guerra onde milhares de pessoas se destruiriam qual lobos, hienas e ur- sos enraivecidos!” Cirenius Me agradece como também ao anjo que, no entanto, declina de tal demonstração, pois que somente Eu a merecia.

  1. Digo Eu: “Bem que este caso chegou a bom termo, pois as boli- nhas estão bem acondicionadas. Nunca faças delas uso mundano e não te vanglories perante teus parentes. Quando desejoso de predizer, basta

colocares o estojo no plexo solar; este fenômeno só deve ser conhecido de ti, enquanto que o povo deve ouvir as predições e segui-las, sem saber de sua origem! És com isto possuidor da Pedra Filosofal, da qual, por certo, já ouviste falar.”

  1. Diz Cirenius: “Qual será seu destino quando eu morrer?”

  2. Respondo: “Entrega-a a Josué que receberá intuição sobre o que fazer para a salvação do mundo! Agora basta! Começa tua história, Ma- thael, de valor milhões de vezes maior que milhares de tais bolinhas! Fala, pois em poucas palavras, a fim de que a aurora de hoje, de grande importância, não nos venha interromper!”

  1. AIRRADIAÇÃOVENENOSADA VIÚVA

  1. Mathael se curva e começa a contar: “Num vilarejo entre Be- thlehém e Jerusalém vivia uma viúva estranha. Casara duas vezes; o pri- meiro marido falecera depois de um ano. Com ele tivera uma filha, cega e muda de nascença, porém sadia e alegre, caso raro em tais pessoas.

  2. Após um ano de viuvez, um outro a pediu em casamento, pois ela era bem vistosa. Também esta ligação durou pouco, porquanto ele morreu tuberculoso, dois anos e alguns meses depois. Esse fato, natu- ralmente, assustou outros pretendentes, de sorte que não mais se atre- veram a se apresentar. Do segundo matrimônio não teve filhos; a surda-

-muda desenvolveu-se de modo surpreendente: com cinco anos tinha estatura e força de uma menina de mais de doze, além disto, possuía um belo rosto e muitos homens apreciavam seu aspecto agradável.

  1. Sua mãe viveu ainda vinte anos e a filha encantava o sexo oposto. Era bastante inteligente e culta e sabia se fazer compreender, por meio de sinais, de modo tão gracioso, que todo homem se considerava feliz em receber suas atenções. Muitos lhe faziam até propostas; mas como surdos-mudos eram excluídos do casamento — razão que não posso atinar — nada se podia realizar.

  2. A viúva era pessoa de recursos, possuía grandes terras, conside- rável número de empregados e era muito caridosa. Com prazer teria se casado mais uma vez; mas como ninguém se atrevesse e ela também,

receosa de se tornar causadora de mais uma morte, ficou viúva, levando vida retraída.

  1. Um dia, apareceu um médico grego com intenção de curá-la; ela o repudiou e disse (meu pai repetiu-me suas palavras): ‘Meus geni- tores eram bons e devotos, e eu, modelo de boa educação, não conheci homem antes do casamento. É, pois, mistério para mim como pode meu físico atraente ocultar influência tão maléfica. Sou, Graças a Jeho- vah, perfeitamente sadia e não quero médico. Aceito meu estado como Vontade de Deus! Tu, pretenso médico, podes te afastar; do contrário, te soprarei meu hálito — e estarás perdido mesmo sendo médico, pois nem consegues curar a ti mesmo! Tens um bócio horrível e, além disso, claudicas do pé esquerdo. O médico que desejasse curar deveria gozar saúde plena, a fim de despertar confiança nos doentes. Assim, apenas te posso ridicularizar e, caso te tornes importuno, fazer-te enxotar!’

  2. Resmungando, o médico deixou a casa; após um ano, porém,

voltou, informou-se a respeito da saúde da viúva e começou a cortejá-

-la. Essa, impaciente, soprou-lhe o hálito numa distância de três pas- sos e disse: ‘Afasta-te, pois absorvendo meu sopro, não durarás mais de um ano!’

  1. Ele desatou a rir e sorveu com prazer o hálito da viúva para de- monstrar-lhe não o temer em absoluto, pois sabia que era inofensivo. O melhor da história é que ela mesma não acreditava naquilo, servindo-se apenas como ameaça, porquanto o povo havia feito circular tal boato, o que impedia a aproximação de pretendentes.

  2. A opinião do povo, todavia, não era de todo infundada. Quando calma, sua exalação era perfeitamente normal; bastava a menor altera- ção, para o efeito ser mortal. A pessoa atingida, antes de decorrido um ano, manifestava uma espécie de tísica, incurável para o melhor médi- co. O mesmo aconteceu com o grego: começou a emagrecer, e em oito meses apresentava-se tão ressequido que, ao lado dele, uma múmia de três mil anos teria, ainda, aspecto bem nutrido!

  3. Em breve, a viúva disto foi informada e várias pessoas lhe cochi- chavam ter ela de enfrentar a justiça. Extremamente compungida, ela adoeceu e chamou o meu pai, que naturalmente me levou em sua com-

panhia, em virtude de minha clarividência. Usando de precaução, che- gamos à casa e encontramos a viúva extenuada no seu leito. Sua filha sur- da-muda, de beleza divinal, e mais algumas empregadas a circundavam. (Convém notar que seu hálito venenoso só prejudicava aos homens).

  1. Ao entrar, meu pai, retendo um pouco a respiração, falou: ‘Sou o médico de Jerusalém. Qual é teu desejo?’ Respondeu ela: ‘Qual pode- ria ser o desejo dum doente?! Ajuda-me, se te for possível!’

  2. Respondeu ele: ‘Permite que te observe por algum tempo, para ver se ainda existem meios de cura!’ Em seguida, virando-se para mim, falou em romano: ‘Presta atenção se não descobres algo de especial, pois essa moléstia deve ter causa bem fundada!’

  3. Esforcei-me nesse sentido, sem que no começo visse algo de extraordinário. Após uma hora mais ou menos, observei uma fumaça azulada estender-se sobre o leito e perguntei a meu pai se a via tam- bém. Como negasse, concluí estar-se dando um fenômeno. Observan- do atentamente, descobri naquele vapor azulado uma quantidade de serpentes e víboras de um dedo de comprimento, como se lá estivessem nadando. Serpenteavam horrivelmente e formavam anéis sobre anéis, sibilando com suas línguas venenosas. Avisando a meu pai, aconselhei-

-o a não se aproximar demais. Ele concordou e perguntou ao mesmo tempo se não havia meio de socorrer a viúva.”

  1. VENENODECOBRACOMO REMÉDIO

  1. (Mathael): “Procurando dentro de mim resposta, ouvi sussurrar em meu ouvido: ‘Toma de uma cascavel e uma víbora, corta-lhes as cabeças, deixa-as cozinhar bem e dá de beber o caldo à viúva, explican- do-lhe não precisar temê-lo, pois trar-lhe-á a saúde! Alguém vindo a definhar-se pelo hálito venenoso, tome tal cozimento, usado pelo pró- prio Esculápio para curar os tuberculosos! Os mencionados ofídios se encontram comumente, na encosta do Sul do Monte Horeb.’

  2. Transmiti tal conselho a meu pai que, satisfeitíssimo, afirmou à doente poder curá-la. Além disso, não devia temer a justiça em virtu- de da morte do médico grego, porquanto não lhe cabia a menor cul-

pa. Meu pai conhecia as leis do Estado e sabia não existir condenação para tal caso.

  1. A afirmação de sua inocência tanto acalmou a viúva, que fez desaparecer o vapor azulado, o que eu logo contei a meu pai. Ele en- tão mandou alguém ao Monte Horeb, onde se encontravam vários dos mais destemidos domadores de serpentes. Em poucos dias pegaram-se alguns espécimes, tiraram-se-lhes as cabeças, cobrindo em seguida os ofídios com barro para evitar que apodrecessem. Esse barro era todo especial, pois conservava os corpos por cem anos.

  2. Transportaram em camelos os ofídios, e após limpos, foram co- zidos durante três horas, sem que a enferma disto tivesse conhecimento. Nisso tudo se passaram quatro dias e meu pai, por várias vezes, conso- lava a viúva, garantindo-lhe cura completa. De tal maneira animou-a que, no quarto dia, ela fez menção de se levantar. Meu pai a impediu, receoso de que visse a preparação do remédio, o que dificultaria seu tra- tamento. Assim, de nada sabendo, ela tomou o caldo todo e confessou ser tal medicamento de bom paladar.

  3. Após algumas horas, ela teve de repetir a dose e assim conseguiu

deixar o leito no quinto dia, completamente sã. Meu pai foi regiamente pago, e eu também recebi um bom presente. À nossa partida ela per- guntou confidencialmente se meu pai conhecera aquele médico grego e se achava possível ele a ter curado. Respondeu meu pai: ‘Conheci muito bem aquele charlatão; nunca ajudou alguém — a não ser para a cova!’

  1. Satisfeita com a resposta, a jovem viúva nos despediu com ama- bilidade. Cuidadosamente, meu pai apanhou os restantes ofídios cober- tos de lama, amarrou-os com os outros objetos nas costas do camelo e assim partimos.

  2. Com aquele remédio, por certo incomum, meu pai curou gran- de número de enfermos, ganhou muito dinheiro e fez renome. Claro é, não ter ele com isto feito amizade com o Templo, tampouco com os essênios. Os romanos, porém, muito o consideravam, davam-lhe toda a proteção, elevaram sua arte e ciência às estrelas e deram-lhe o título de Aesculapius Junior. Quando o estoque de serpentes acabava, ele manda- va buscar outra remessa do Horeb, curando os fracos do pulmão.”

  1. OCORRÊNCIAS ESPIRITUAIS DURANTE A MORTE DA VIÚVAESUA FILHA

  1. (Mathael): “Após a cura da viúva passaram-se alguns anos sem termos tido notícias de sua pessoa, quando, de repente, num sábado, apareceu em nossa casa um mensageiro pedindo que fôssemos vê-la, com urgência. Tanto ela quanto a filha estavam tão gravemente enfer- mas, que ninguém da vizinhança acreditava poderem salvar-se.

  2. Compreende-se nossa imediata partida. Meu pai não se esque- ceu de levar uma boa porção do mencionado remédio, pois julgava tratar-se duma recaída da moléstia que, como se sabe, sempre é mais renitente.

  3. Montados nos já citados camelos, lá chegamos após várias horas. De longe, percebi a casa envolta numa densa nuvem azulada e à medida que nos aproximávamos, fui percebendo os ofídios já referidos. Numa distância de sessenta passos virei-me para meu pai, dizendo: ‘Não con- vém prosseguirmos, caso queiramos salvar a nossa vida! A nuvem peri- gosa envolve a casa toda!’

  4. Surpreso, meu pai mandou alguém se informar sobre o esta- do das enfermas e o mensageiro encontrou-as já inconscientes, numa agonia tremenda. Por isso, meu pai fez menção de voltar o quanto an- tes, no que foi obstado pelo mensageiro, que aventou a hipótese delas voltarem a si. Meu pai explicou-lhe que, de acordo com seu conheci- mento em tais casos, toda tentativa de salvação seria inútil. Disse-lhe mais, que conviria aos servos da viúva fazerem um caldo de serpentes, do contrário, todos morreriam tísicos e, em um ano e meio, estariam quais múmias!

  5. Grato por esse conselho, o mensageiro quis pagar a meu pai. Ele

nada aceitou e muito lhe custou fazer os camelos voltarem, coisa difícil nesses animais, quando cansados e esfaimados. Essa tarefa que sempre nos aborrecia, dessa vez foi-nos de grande utilidade, pois a partida nos teria privado dum ensinamento peculiar!

  1. O vapor azulado aumentou de u’a metade e cobriu a casa qual bola gigantesca, cheia não só de víboras e serpentes, mas também de

grande quantidade de toda sorte de animais selvagens e caseiros. Mo- viam-se no balão como as aves a quererem esvoaçar; o próprio balão es- tava preso a dois cordões, sendo a parte menor mais clara do que a maior.

  1. Estranhei que a forte brisa não alterasse sua posição. Enquanto transmitia em romano o fenômeno a meu pai, vi amontoarem-se os exemplares de animais maiores: camundongos, ratos, coelhos, galinhas, pombas, patos, gansos, cordeiros, cabritos, lebres, corças, veados, gaze- las e outros.

  2. Meu pai observou: ‘Menino, acaso estás falando a verdade? Esta aparição começa a se tornar esquisita!’ Convenci-o de estar eu falando somente o que via, nada mais, nada menos. Ele então passou a me ouvir com atenção. Absorto pelo fenômeno, repentinamente, vi romperem-se os dois cordões e ao invés de um balão, flutuavam dois, separados, sobre a casa. O vento cada vez mais forte, em nada os alterava.

  3. Após o rompimento, não mais percebi ofídios nos balões; o me- nor e mais claro continha uma miscelânea de animais pacíficos, en- quanto o maior abrigava lobos, ursos, raposas, além de outros animais caseiros. Singular era o fato que eu visse tudo como à luz do Sol, não obstante a noite estar se aproximando.”

  1. EVOLUÇÃODASFORMASPSÍQUICASDASDUAS MULHERES

  1. (Mathael): “Durante um quarto de hora, a situação foi a mesma. De repente, houve uma alteração motivada por um bando de pegas que começou a perturbar os dois balões. O considerável número de animais nos balões se agrupou, e, em pouco, apenas havia dois grandes condores cinza-claros, que atacavam as pegas. Quando uma era atingida pelo seu forte bico, desaparecia instantaneamente; e assim, deram cabo de todas!

  2. Informei disso a meu pai que obtemperou: ‘Acaso seriam aqueles condores, as almas das falecidas? Relata-me tudo, pois nunca me con- taste fato mais extraordinário!’

  3. Vi, então, os balões se reduzirem e os dois condores se transfor- marem em reais vacas, mas sem chifres e um homem subir e descer pelo

andaime da casa, carregando um pouco de feno em cada mão. Os dois animais se inclinaram para lá, estroando as línguas e comeram pacifica- mente os molhos de feno.

  1. Em seguida, o homem desapareceu e não demorou, outro apare- ceu, nada parecido com o primeiro, com dois baldes d’água que pron- tamente foram esvaziados pelas vacas. Também esse desapareceu, e os animais começaram a rodopiar. Os balões se tornaram invisíveis e o giro tão rápido, que não mais foi possível perceber as vacas, que ficaram sempre mais claras, alcançando finalmente a irradiação do luar.

  2. Súbito, cessou o rodopio, e, no lugar dos animais, vi duas cria- turas de magreza extrema inteiramente desnudas. De costas para nós, indicavam ser femininas. Passaram-se mais quinze minutos, e vi surgir outra pessoa na cumeeira, entregando, a cada uma, um embrulho. Rá- pido, as duas entidades abriram-no e tiraram duas vestes de cor cinza-

-claro, com que se cobriram num momento. Reconheci então a viúva e sua filha, muito embora bastante magras.

  1. Nisso, apareceram os dois homens com mantos verde claro, fize- ram-lhes acenos e elas os acompanharam sem hesitação. Iam em direção do Sul e em breve não mais os vislumbrei. Ouvi então as seguintes pa- lavras: ‘Toda a gratidão, louvor e honra ao Senhor pela salvação dessas duas infelizes!’ Não sei quem as proferiu; todavia, deveriam ocultar um especial sentido, pois ambas eram boas e virtuosas, caridosas e devotas e difícil é compreender-se o motivo da compaixão.

  2. Senhor, não quero externar uma pergunta peculiar, porquanto todo acontecimento é uma interrogação para mim. Queira, pois, ser complacente e esclarece-nos tal enigma!”

  1. OVENENOEMMINERAIS,PLANTAS,ANIMAISE HOMENS

  1. Digo Eu: “É este fato incompreensível para todos?” Como res- pondessem afirmativamente, prossigo: “Então não lestes a respeito dos filhos da serpente? Como é possível serdes tão ignorantes? Vede, nesta Terra existem minerais, plantas e animais venenosos. Os minerais são inteiramente venenosos, as plantas na maior parte e os animais, no que

diz respeito à sua natureza, em menor proporção. Já ouvistes serem as almas das criaturas terráqueas, um conglomerado de elementos psíqui- cos, provindo dos três reinos. Expliquei-vos este assunto de modo geral, sem demonstrar exceções especiais; agora deparamos com um caso ex- cepcional, que exemplificarei.

  1. Conheceis a Ordem Divina, justa e verdadeira, e suas anorma- lidades por serdes capazes de pensá-las e senti-las. O mesmo se dá com a Divindade. Ela conhece Sua Ordem Eterna de modo mais perfeito e completo e além disto, sabe também das mais variadas aberrações, por- tanto é de modo idêntico, capaz de pensá-las e senti-las.

  2. Deus até mesmo tem de implantar a vontade para a contraordem nas criaturas destinadas à liberdade e emancipação — mormente nos anjos — a fim de que se concretize a verdadeira deliberação individual. Daí concluir-se: Deus conhecer tanto a Ordem quanto a contraordem.

  3. Os pensamentos e sentimentos da contraordem em Deus, como também no homem, são os correspondentes venenos em minerais, plantas e animais. Em se tratando também de pensamentos e senti- mentos divinos, não podem eles desvanecer-se, mas permanecem na formação da inteligência original das línguas de fogo, atraindo-se na esfera negativa, como elementos afins, onde formam um agrupamento individual.

  4. Dessa fonte primitiva surgiu toda a Criação material e conde- nada. Tendo ela, porém, a missão de servir não só aos seres espirituais como veneno vital para a experimentação, mas também, como um bál- samo salutar na aplicação justa, estabelece-se um equilíbrio no senti- do duma separação entre os pensamentos básicos da contraordem e os de maior harmonia, que perfazem uma fileira venenosa nos três reinos da Natureza.

  5. Da primeira categoria fazem parte os venenos na matéria mais grosseira dos minerais. Em seguida, surgem os mais suaves, no reino ve- getal, apropriado para tal fim se bem que muito reduzidos. Tornam-se, todavia, perigosos à vida positiva, em certos animais de ínfima catego- ria, podendo até, em certas circunstâncias, danificar a vida intrínseca, inteiramente positiva e verdadeira.

  1. Tais potências específicas de elementos venenosos, em conjun- to com sua capacidade intelectiva, congregam-se, formando finalmen- te, uma figura — sempre feminina — munida dum especial acrésci- mo venenoso. Tais almas encarnam, oportunamente, pelo caminho conhecido.”

  1. ANATUREZAVENENOSADASDUAS MULHERES

  1. (O Senhor): “Uma vez encarnada, esta alma deposita seu veneno em carne e sangue do próprio corpo, cuja saúde em nada é alterada, porquanto ele já foi assim constituído, desde início.

  2. Não convém, entretanto, uma criatura surgida da ordem positi- va aproximar-se em demasia de tal pessoa. Se bem que não prejudique a alma, causa dano ao corpo, não preparado para assimilar tal veneno. Eis o caso da viúva.

  3. Sua alma, equilibrada numa ordem boa e justa, depositou seu elemento primitivo, ou seja, o veneno, no baço e fígado, onde se man- tinha calmo e inofensivo, desde que não fosse excessivamente irritada. Dando-se o desequilíbrio, era chegado o momento do homem se afas- tar de sua esfera.

  4. O veneno que existe em tal corpo é de qualidade etérea e penetra a esfera exterior do indivíduo. Quem o absorvesse pela respiração ou pela permanência no ambiente saturado por tal tóxico, onde facilmente pode se estabelecer uma fusão, — estaria perdido, mormente desconhe- cendo o antitóxico.

  5. O mencionado caldo seria o antídoto, caso os nervos não esti- vessem por demais excitados; além disto, tais animais deveriam ser sufo- cados em azeite de oliva, e, com esse óleo ofídico, conviria friccionar-se o corpo e também tomar o dito caldo. Somente desse modo, seria pos- sível cura completa, isto porque o veneno é imediatamente atraído dos nervos, unindo-se aos tóxicos básicos dentro do estômago, não mais podendo agir sobre o sistema nervoso.

  6. Quando foste pela primeira vez à casa da viúva com teu pai, Mathael, ela se achava intoxicada pelo próprio veneno, que o médi-

co grego havia excitado demasiadamente. Ela poderia ter morrido em consequência, porquanto é difícil a tais pessoas sucumbirem de outra moléstia. O vapor azulado onde viste nadarem vários ofídios era ema- nação do éter venenoso e bem demonstrava seu produto nocivo.

  1. Quando teu pai abrandou o nervosismo da viúva com palavras cordatas e confortadoras, as toxinas se retraíram para baço e fígado; o excesso acumulou-se na vesícula; foi em quatro dias completamente absorvido pelo caldo e expelido por via natural, dando saúde completa à mulher. A voz que te indicou este remédio proveio dum espírito pro- tetor da viúva.

  2. Quando tu e teu pai fostes chamados pela segunda vez, a viúva havia tido uma grande contrariedade, em virtude de sua filha surda-

-muda ter-se apaixonado por um rapaz um tanto volúvel. Por esse moti- vo, o veneno de ambas fora por demais irritado; seu sistema nervoso era como que mordido por mil cobras e impossível, portanto, a cura — a não ser por Mim. As duas assim se desintegraram, devido à forte irri- tação, em seus elementos básicos, ultrapassando até os limites da casa onde estavam moribundas.

  1. Uma vez efetuado o completo desprendimento, os elementos primitivos se identificaram no novelo de vapor vital. Após consequente calmaria, os dois balões se separaram, contendo o maior os elementos da viúva, e o menor, os da filha. Pela tranquilidade foram-se congregando aos poucos, apresentando-se como animais de categoria mais elevada.

  2. Ao se estabelecer maior calma no novelo psíquico, as criações precedentes à alma juntaram-se mais intimamente, transformando-se em duas aves de rapina, fêmeas. Daí a pouco, viste um bando de pegas inquietar os balões; tratava-se de elementos externos incumbidos de se unirem, também, às duas almas. Por este processo, apareceram duas vacas, já mais próximas à individualidade humana; todavia careciam de elementos básicos de nutrição.

  3. As duas almas masculinas — antigos maridos da viúva —, re- conheceram tais deficiências, cuidando por equilibrá-las. Surgiu, assim, nova vida naqueles animais. Tudo foi revolvido, dando-se uma nova ordem orgânica que produziu duas criaturas perfeitas. Eram elas de

pronto envolvidas com amor pelas almas masculinas, produzindo este amor a matéria primitiva e justa para uma vestimenta adequada. Trans- formaram-se, deste modo, as almas anteriormente tão dilaceradas, em formas humanas, perfeitas, providas do conhecimento necessário — o que é indicado pela partida.

  1. A voz que externou gratidão provinha do mesmo espírito pro- tetor que, dois anos antes, te transmitiu o meio certo de cura. Previu ele a grande dificuldade em transformar uma contraordem em equilí- brio verdadeiro e celeste; pois também aí pode-se converter, em vene- no, grande quantidade de bálsamo com tóxicos reduzidos, enquanto é inteiramente impossível transformar-se muito veneno em bálsamo salutar. Somente para Deus tudo é facultado — eis por que o espírito protetor rendeu Graças a Ele! Tereis compreendido isto? Poderá se ex- ternar quem não o tiver assimilado.”

  1. REFLEXÕES DE CIRENIUS QUANTO À ORDEM EVOLUTIVA DA ALMA

  1. Diz Cirenius: “Senhor, Único Sábio e Justo, tudo nesta história me é claro; pois vejo Tua Emanação Artística e verdadeiramente divina, num prosseguimento natural, reconhecendo Tua Ordem Eterna pela qual todas as coisas Te são possíveis.

  2. Apenas não compreendo a razão porque nossa alma, antes de passar à forma humana e plena de inteligência, necessita de perma- nência isolada em milhões de plantas, minerais, animais e tem de se submeter a raios e chuvas, a fim de ser extraída da pedra! Em seguida, sua passagem evolutiva a conduz de modo insípido pela vegetação, pelo mundo zoológico e, finalmente, tem a honra de ser abatida no mínimo entre vinte bois, alguns carneiros e cabritos! Nós, romanos, classifica- mos isto de ‘doutrina dura’!

  3. Deus não poderia criar de início uma alma perfeita, para depois

cobri-la de carne e sangue? Para que esta evolução cansativa?! Vejamos Raphael! Que lhe falta para uma vida perfeita?! E que somos nós, almas em estado evolutivo?! Possui ele mais poder e sabedoria no dedo míni-

mo, que legiões de homens em conjunto! Por que não é dada à alma humana, perfeição idêntica? Esclarece-me este ponto, Senhor, que não mais Te importunarei no futuro!

  1. Disse Moysés: Deus, o Senhor, fez o homem de barro e soprou-

-lhe o hálito vivo em suas narinas. E assim tornou-se o homem uma alma viva. A julgar por estas palavras, ter-lhe-ias dado uma alma per- feita, idêntica à Tua Imagem. Contudo, não chego a uma compreensão definida!”

  1. Digo Eu: “Caro amigo Cirenius, se tua memória vez por outra começa a falhar, não Me cabe a culpa, pois tudo isto vos foi esclarecido detalhadamente. Reavivarei tua memória, e saberás tudo!”

  2. Diz Cirenius: “Senhor, como sempre tens razão! Precisamente neste monte e nesta noite, foi-nos explicado e exemplificado pela ir- radiação da bola luminosa, toda a Criação e até mesmo a Emanação de Teus Pensamentos, Ideias e sua variedade infinita em forma de lín- gua de fogo!”

  1. CIRENIUSCRITICAA GÊNESIS

  1. (Cirenius): “Com Moysés, todavia, não me posso polarizar. Deve ocultar coisas grandiosas em seus Livros; mas quem o entende- ria, com exceção de Ti? Especialmente confuso se apresenta o relato da Criação, porquanto diz: Façamos o homem à nossa imagem, de acordo com nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, os pássaros sob os Céus, sobre os animais e toda Terra e os répteis! E criou Deus o homem à Sua Imagem; à Imagem de Deus; homem e mulher. E Deus os abençoou e disse: Frutificai; multiplicai-vos, enchei a Terra e sujeitai-a; dominai os peixes do mar, os pássaros sob os Céus e os répteis que rastejam sobre a Terra! E Deus disse: Eis que vos tenho dado grande variedade de sementes sobre a Terra toda, inúmeras árvores frutíferas que dão frutos para vosso alimento, bem como para todos os animais sobre a Terra, todos os pássaros sob os Céus e aos répteis. E assim foi. E viu Deus tudo quanto havia feito, e eis que tudo era bom. E da tarde e da manhã fez-se o sexto dia.

  1. Com este texto deveria se dar por terminado o relato da Criação; tal, porém, não se dá! Pois mais tarde, após ter Deus visto tudo e conside- rado estar bem, Moysés fala que Deus formou o primeiro homem de bar- ro, soprando-lhe uma alma com que se dera a formação o mesmo; apenas parece ter Deus esquecido a necessidade da mulher para o homem.

  2. No texto anterior lê-se: E Deus criou homem e mulher; agora consta ter Adam ficado só por muito tempo e durante um sono prolon- gado, formou-se a primeira mulher de sua costela. Quem souber unir ambos os textos de modo razoável, é mais inteligente que eu!

  3. De acordo com o primeiro texto, Deus indica que Adam e Eva deveriam dominar a Terra toda e suas criações. Além disto, abençoou-

-os; portanto, devia ter abençoado a Terra e seus animais, pois achava tudo bom que havia feito.

  1. No seguinte texto, tudo muda de aspecto. A Terra possui ape- nas um jardim habitável, se bem que de grande extensão, porquanto nascem nele quatro dos maiores rios da Ásia. Lá foi feito o primeiro homem; Deus menciona as árvores e arbustos, peixes, pássaros e répteis.

  2. Insetos, moscas, abelhas, vespas, borboletas, etc, assim como os demais habitantes do mar, foram inteiramente esquecidos! Deixemos, porém, este lapso; porquanto se pode incluir na expressão ‘pássaros’, tudo que vive no ar, e na de ‘peixes’, todos os habitantes da água. Se é que Moysés assim o interpretou, ninguém poderá afirmar.

  3. Seja lá como for, neste ponto poderá haver um entendimento da maneira pela qual Deus, no sexto dia da Criação, fez surgir um casal. Mais tarde, porém, forma o primeiro homem de barro e sua companheira duma costela; não se faz menção duma bênção especial ao segundo casal, — pelo contrário, é-lhe proibido alimentar-se duma determinada árvore, sob ameaça mortal, pois que uma infração deste mandamento traria a maldição da Terra. Deste modo, só posso concluir ser Tua Doutrina, Senhor, bem incompreensível!

  4. Se Te for possível esclarecer-me a respeito, ser-Te-ei mui grato;

se por ora tal não estiver dentro de Tua Ordem, pouca diferença fará. Todos nós recebemos de Ti uma Luz Completa, e facilmente podemos declinar da iluminação fictícia de Moysés!”

  1. ACRIAÇÃODEADAME EVA

  1. Digo Eu: “Tua observação a respeito da Gênesis não é de todo inadmissível dentro do raciocínio mundano; pelo critério do espírito, é algo bem diferente. Além do mais, os dois textos não são discordantes, pois o segundo comenta, embora espiritualmente, a maneira pela qual se efetuou o aparecimento da criatura.

  2. Demonstrei-vos nessa mesma noite exemplificação natural den- tro de vossa atual necessidade, e Mathael, familiarizado com a ciência da interpretação, explicou-vos como devem ser interpretadas as Escrituras. Mais uma vez, amigo Cirenius, vejo-Me obrigado a observar quanto à tua fraca memória! Há pouco a reavivei, facilitando-te compreensão; quanto à tua dúvida a respeito da Gênesis, acrescentarei o necessário, para teres uma ideia do fato real.

  3. Todo relato de Moysés se refere primeiramente, à educação e formação espiritual das primeiras criaturas e, somente pela interpreta- ção se relaciona à emancipação do primeiro casal.

  4. De mais a mais, foi Adam modelado e criado fisicamente, atra- vés das partes etéreas do mais puro barro, pela Minha Vontade, dentro da ordem estabelecida. Quando tinha alcançado, pela experiência, a força pela qual se formou uma irradiação sumamente intensiva, caindo num sono profundo devido ao cansaço pelo trabalho e viagens, era che- gado o momento de colocar-se na esfera exterior de Adam, uma alma criada pelos reinos por vós conhecidos.

  5. Esta alma, prontamente começou a formar um corpo, dentro de Minha Vontade e Ordem, das partes mui delicadas da irradiação psí- quica de Adam, ou seja, da projeção vital sumamente fértil, ainda hoje usada pelas almas desencarnadas, quando pretendem se apresentar no mundo material, concretizando tal corpo dentro de três dias.

  6. Ao despertar, viu Adam, surpreso e alegre, sua imagem a seu lado, que lhe dedicava grande atenção porquanto se originava de sua própria natureza. Sentiu, então, uma sensação estranha, porém, agradá- vel ao lado do coração, se bem que, em outras ocasiões experimentava um vácuo dentro de si. Foi isto o início do amor sexual, que lhe impos-

sibilitou separar-se daquela figura tão graciosa. Um seguia o outro e ele sentiu o valor da mulher e de seu afeto, tanto que exclamou num mo- mento de êxtase: ‘Nós, eu homem e tu mulher, surgida de minhas cos- telas (da zona do coração), dentro do Plano Divino, somos uma carne e um corpo. És a parte mais delicada de minha vida e assim sê-lo-ás futu- ramente, pois o homem deixará pai e mãe, seguindo sua companheira!’

  1. Se consta ter Deus coberto com carne a parte onde lhe tirara a costela, nenhum de vós será tão tolo em acreditar; pois Deus não necessitava usar desse meio a fim de formar uma mulher perfeita. As costelas são apenas um escudo externo, porém firme, dos órgãos inter- nos e delicados.

  2. Se David disse: ‘Deus, nosso burgo sólido e escudo firme!’ — seria Deus, por tal razão, uma fortaleza maciça, construída de tijolos, ou escudo grande e inquebrável?!

  3. O mesmo acontece com a costela que deu origem à Eva. É ela apenas um símbolo protetor da vida interna e amorosa de Adam e foi por Moysés adotado, primeiro, porque protege a vida; segundo, porque deve uma criatura boa, amorosa e fiel, ser considerada proteção e es- cudo na vida do homem, portanto, também lhe é costela. Terceiro, é a aura da esfera exterior, uma proteção poderosa na vida íntima da alma, sem a qual o homem não poderia viver dez minutos.

  4. Eva, portanto, surgiu da superabundância do fluido externo e delicado de Adam. Tal fluido evapora na região das costelas e do plexo solar e, por conseguinte, envolve toda a criatura à longa distância. Moy- sés, entendido na linguagem simbólica, podia, por isso, fazer surgir Eva duma costela de Adam, e também afirmar ter Deus coberto a ferida de Adam com a carne de sua companheira. Foi precisamente ela a encar- nação nascida do fluido vital de Adam, com a qual Deus repôs a per- da daquela irradiação, cobrindo a parte sensível com a carne agradável dela, que, em síntese era matéria de Adam.”

  1. OSQUATROSENTIDOSDA GÊNESIS

  1. (O Senhor): “Deste modo compreende-se a Gênesis, dentro do raciocínio natural! Claro é existir ainda compreensão mais profunda e puramente espiritual, pela qual a História da Gênesis se refere, princi- palmente, à Criação do Gênero Humano, ao conhecimento de si pró- prio, de Deus e do amor para com Ele. Nessa esfera, Deus caminha em Espírito com Adam, educa-o, dá-lhe mandamentos, castiga-o quando erra e o abençoa novamente, à medida que ele e as primeiras criaturas assim agem.

  2. Isto, porém, Deus não faria material, senão espiritualmente, fato

que ainda se vê em pessoas puras e mui simples. Por isso, pode-se inter- pretar os Livros de Moysés de quatro formas diversas.

  1. Primeiro, apenas naturalmente, onde então se observa um sur- gimento necessário em determinadas épocas, dentro da Ordem eter- namente imutável de Deus. Deste modo, todos os sábios naturalistas poderão encher seu cérebro, chegando apenas a conclusões supérfluas. Se bem que alcancem conhecimentos maiores, jamais chegarão a uma base sólida.

  2. Segundo, num conjunto natural e espiritual. É a esfera verda- deira, a melhor para criaturas que almejam alcançar as Graças Divinas, porquanto ambas as interpretações são evidentes e compreensíveis, ca- minhando de mãos dadas. (Nota: ‘A Doméstica Divina’ foi transmitida neste sentido).

  3. Terceiro, apenas espiritualmente, onde não são tomadas em consideração as situações e alterações temporárias dos fenômenos da Natureza. Nesse caso, trata-se apenas da educação espiritual das cria- turas, magistralmente apresentadas por Moysés, em quadros naturais. Esta interpretação deve ser entendida por todos os sábios de Deus, in- cumbidos da formação interna do homem.

  4. E, finalmente, puramente celestial, onde o Senhor é Tudo em tudo, como Causa de todo Ser. Este sentido só vos será dado assimilar, pelo completo renascimento de vosso espírito Comigo, assim como Eu Me tornei Uno com o Pai no Céu; apenas, com a diferença que todos

vós sereis unidos a Mim numa personalidade isolada, enquanto Eu e Pai

  1. Responde Cirenius, todo contrito: “Senhor, deixa que me cale, envergonhado; confesso minha grande estultícia! De agora em diante, não mais falarei!” Aproxima-se Cornélius: “Senhor, permite fazer uma observação, antes que surja o Sol.”

  2. Digo Eu: “Externa o que te vai n’alma!” Diz Cornélius: “Senhor, não resta dúvida ser possível às criaturas descobrirem, o primeiro, se- gundo e terceiro sentidos sobre as Escrituras, porquanto deve existir uma correspondência entre o espiritual e o material. Mas quem teria a chave própria, com exceção de Ti?

  3. Sei que Moysés escreveu cinco Livros, mais ou menos no mesmo estilo e sentido. Quem os entenderia? Não seria possível dar-nos uma orientação geral para este fim? Como possuo uma cópia e sou entendi- do no idioma hebraico, também tinha vontade de entender a leitura.”

  1. CHAVEPARAOENTENDIMENTODAS ESCRITURAS

  1. Digo Eu: “Amigo Cornélius, não existem regra e ensino no mun- do exterior; a única chave que te auxilia no entendimento do sentido das Escrituras é teu próprio espírito, renascido por Mim e por Minha Dou- trina. Enquanto não fores renascido, regra alguma te será de utilidade; uma vez que o sejas, dispensas regras, porquanto teu espírito despertado com facilidade e rapidez, descobrirá seu semelhante sem regra geral.

  2. Se pretendes compreender melhor o sentido natural das Escri- turas, necessário é que te familiarizes com o idioma dos ilírios, que possui a maior semelhança original com o antigo idioma egípcio, quase idêntico ao hebraico primitivo. Sem conhecimento idiomático, jamais poderás fazer a leitura perfeita das Escrituras de Moysés, portanto, tam- bém não entenderás o sentido. Já não te sendo possível interpretar os quadros de sentido material, qual será o resultado do entendimento espiritual, muito embora provido de milhares de regras e orientações?!

  1. A atual língua dos judeus tornou-se quase estranha à antiga, usa- da por Abraham, Isaac e Jacob. Permanece, por isso, na Fé e no Amor para Comigo, que te será dado, automaticamente, a justa compreensão,

  1. Responde Cornélius: “Perfeitamente, uma esperança justa e sóli- da vale mais que a posse plena da mesma. Assim, alegro-me daquilo que possuo; aceita, pois, minha gratidão.”

  2. Novamente dirige-se Stahar a Mim: “Senhor e Mestre, o que acabamos de ouvir é-nos compreensível; assimilá-lo-á, alguém por nós instruído? Quanto não foi preciso ouvir e ver para alcançarmos tal co- nhecimento! Todavia, isto não se dará com outros!”

  3. Digo Eu: “Amigo, acaso andaste de ouvidos tapados, quando transmiti a todos, a ordem de silêncio sobre tudo que vos foi proporcio- nado esta noite? Nada deve ser revelado ao mundo! Quem for renascido em espírito, receberá a revelação completa; quem permanecer em sua esfera mundana, julgaria isso uma tolice, portanto se tornaria para ele um grande aborrecimento. Por tal motivo é melhor que o mundo nada venha a saber, enquanto é necessário para vosso fortalecimento, com- preenderdes os segredos do Reino de Deus.

  4. Já sabeis o que ensinar em Meu Nome. Todo o resto é uma

bênção para vós que fostes mais ou menos escolhidos para doutrina- dores do povo, a fim de que creias, indubitavelmente, ser Eu o Senhor e Mestre, único, desde eternidades. Se vós tendes a fé justa e viva, também a despertareis em vossos discípulos, porquanto ela foi por vós provada. Para chegardes a tal ponto, preciso é que reconheçais ter Eu vindo do Pai, a fim de vos demonstrar, Encarnado, o Cami- nho da Vida!

  1. Se isto, Stahar, tiveres compreendido, saberás o que te cabe di- vulgar em público. Ama a Deus, teu Pai Eterno, sobre todas as coisas e teu próximo como a ti mesmo; cumpre os Mandamentos que Ele deu através de Moysés, e terás Minha Doutrina total, de utilidade para os

povos. Todo o resto que aqui ouviste, é apenas para vós, como repeti por diversas vezes. Sabes, portanto, o que fazer para o futuro e podes voltar ao teu lugar!”

  1. Nisto, o Rei Ouran se levanta e diz: “Senhor, Mestre e Deus! Sabes o motivo que me levou a encetar esta viagem. Achei o que procu- rava e me sinto imensamente feliz; penso, porém, que todos deveriam sentir esta felicidade. Acontece, não ser possível encontrá-la sem Dou- trina! Resta saber quemdeve doutrinar e o que seja preciso para tal fim. Devem os doutrinadores ir de cidade em cidade, ou seria melhor erigir escolas com professores adequados e determinar leis que obriguem as criaturas a frequentar tais institutos? Dá-nos, Senhor, uma orientação a este respeito.”

  1. OSVERDADEIROSDOUTRINADORESDO EVANGELHO

  1. Digo Eu: “Agrada-Me tua boa vontade; contudo, vejo que tam- bém tua memória está te abandonando, pois já te dei, bem como a Mathael, teu genro, as mais extensivas orientações! Reflete um pouco que te lembrarás. Além disso, subentende-se que a pessoa desejosa de conduzir um cego, deve ter boa visão, caso não queira com ele cair no abismo. Não poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa que eu tire o argueiro de teu olho’, enquanto no teu se encontra uma trave.

  2. Um verdadeiro doutrinador tem de ser isento de erros, que o prejudicarão no desempenho de sua tarefa; não haverá, pois, profes- sor pior que um imperfeito. Demonstro e explico-vos coisas inéditas, porquanto vos quero fazer professores; deste modo, cada doutrinador perfeito tem de ser ensinado por Deus, conforme ora acontece con- vosco. Preciso é que o Pai no Céu o eduque, do contrário não chegará às profundezas luminosas da Verdade. Quem esta não alcançar, não se tornará luz; como seria possível iluminar as trevas do próximo?!

  3. Aquilo que deve iluminar a noite e transformá-la em dia, deve

ser a própria luz, igual ao Sol que ora se aproxima. Caso ele fosse negro como carvão, poderia transformar a treva noturna em dia radioso? Pen- so que aumentaria sua escuridão!

  1. Por isso é um professor não instruído por Deus pior que um leigo! Tal ignorante nada mais é que um saco de más sementes, donde é lançada toda erva daninha de pior superstição nos sulcos da vida huma- na, de natureza espiritualmente pobre, por certas razões.

  2. Ao pretenderes fazer ensinar aos teus povos a ler, escrever e con- tar, podes admitir professores mundanos, estendendo tal método às crianças nas escolas. O Meu Evangelho, porém, só poderá ser trans- mitido com utilidade e bênção àqueles que possuem, em plenitude, as faculdades que mencionei como imprescindíveis para esta missão.

  3. Para tanto, não são precisas escolas especiais, senão um justo mensageiro celeste que percorrerá as comunidades, dizendo: A Paz seja convosco; o Reino de Deus veio junto de vós! Se for ele aceito, que per- maneça e pregue; não o sendo, porquanto a comunidade já é posse do mundo e do diabo, — que continue sua trajetória e até mesmo sacuda a poeira de seus pés, pois ela não merece que um mensageiro celeste venha a transportar sua poeira a outros lugares.

  4. Minha Doutrina a ninguém deve ser imposta, mas conviria a um ou vários membros, ouvir as vantagens imensas do Meu Ensino Ce- leste. Demonstrando interesse, devem ser orientados de modo incisivo; caso contrário, convém ao mensageiro prosseguir viagem, — pois aos porcos jamais devem ser atiradas pérolas preciosas para alimento!

  5. Sabes, portanto, como agir na divulgação de Meu Verbo e não deves esquecê-lo no futuro. De mais a mais, entrega esta tarefa consa- grada a Mathael e seus quatro colegas; estão bem informados no que fazer e determinar em relação à divulgação doutrinária e, além disto, permanecerão seus corações em contato verbal Comigo, condição in- dispensável na disseminação verdadeira.

  6. Quem, pois, ensinar seus irmãos — simples ou ricos — em Meu Nome, não deve prover-se de suafonte, senão da Minha! Não neces- sitará refletir sobre as palavras a serem transmitidas, pois no momento preciso, ser-lhe-á dado o que dizer.

  7. A pessoa de tal modo agraciada, não receará pronunciar-se, de medo ou acanhamento, diante da possibilidade duma ofensa ou desafio dum poderoso! Pois quem mais teme o mundo que a Mim, não faz jus

a Mim, tampouco merece Minha Graça por menor que seja, não se prestando para mensageiro celeste.

  1. É bem mais fácil tua tarefa em teu reino, onde és legislador e juiz supremo, porquanto teus povos te respeitam. Eles conhecem a invariabilidade de teu pronunciamento; ao passo que um doutrinador, como mensageiro celeste, poderá enfrentar um regente temido, onde necessitará de maior coragem que tu.

  2. Quem for ou pretenda ser um justo enviado do Céu, não deve levar bordão ou arma qualquer, tampouco uma sacola para algo guar- dar. Eu Mesmo lhe darei amigos que o proverão em suas necessidades físicas. Do mesmo modo não deve ele — com exceção do inverno ou nos países nórdicos — vestir mais que um manto, para que ninguém o repreenda ter ele um acréscimo sobre os pobres. Acaso alguém o pre- senteando com mais ou dois mantos, pode aceitá-los, pois terá oportu- nidade de tais oferendas beneficiarem um necessitado.

  3. Assim, Ouran, tens todas as regras dum bom doutrinador;

acrescento apenas isto: cada mensageiro celeste receberá de Mim o dom de curar todos os doentes pelo apor das mãos, devendo assim agir nas comunidades. Serão deste modo bem influenciados na aceitação da Boa Nova, mais do que por um discurso veemente.

  1. Todas as criaturas preferem as palavras dum médico às de um profeta, ainda que iluminado. Aquilo que Eu faço, deve ser feito pelo mensageiro celeste, por Mim enviado a todos os países. Deve ele, antes da cura, reconhecer se a moléstia não é tão grave a impossibilitar sua salvação. Uma vez percebendo encontrar-se a alma do enfermo fora do corpo, não lhe deve aplicar o passe, mas orar e abençoá-la na sua partida deste mundo. Em suma: o enviado do Céu saberá o que fazer. Estás a par de tudo que desejavas saber, Ouran?”

  2. Responde ele: “Sim, Senhor, Mestre e Deus Verdadeiro! Meus

povos louvarão e honrar-Te-ão para sempre, por teres proporcionado tanta Graça imerecida ao seu velho Rei e quanto benefício lhes trouxe! Minha gratidão fervorosa!”

  1. AAURORA MARAVILHOSA

  1. Após esta manifestação de reconhecimento pronunciada com êxtase, Ouran volta ao seu lugar. Nesse mesmo instante, o Sol se apro- xima do horizonte de maneira jamais vista, impossibilitando as cria- turas de dirigirem o olhar para lá. Milhares de pequeninas nuvens de luz rosada aguardam a maravilhosa mãe do dia, trêmulas de profun- do respeito.

  2. Passados alguns momentos, o Astro começa a surgir sobre os picos elevados, numa luz de arco-íris. Seu diâmetro, porém, parece dez vezes maior que comumente. Além disto, muitos dos presentes obser- vam grandes bandos de pássaros que giram em altura mais ou menos elevada, em ondas de luz puríssima, que também proporcionam ao Sol consideráveis protuberâncias.

  3. Sobre a imensa superfície do mar jaz uma neblina suave, refle- tindo maravilhosamente as cores do Sol. Ao mesmo tempo, um grande número de gaivotas brancas, esvoaça alegre sobre a água, inundada de grande luz, e suas asas brilham como diamantes e rubis. Sopra uma brisa agradavelmente fresca, de sorte que Cirenius e outros exclamam: “Jamais um mortal viu aurora tão deslumbrante e sentiu frescura semelhante!”

  4. A própria Yarah que havia passado a noite calada e absorta pe- los ensinamentos, exclama, em êxtase: “Eis uma aurora como gozam os anjos nos Céus! Que beleza e temperatura agradável! Corresponde à aurora que nesta noite nos surgiu no coração, de modo tão mag- nífico! Não será, Senhor, meu amor único, uma aurora celeste toda especial?”

  5. Respondo, com um sorriso: “Por certo, Minha rosa! Quan- do na criatura tudo se tornou celeste, o que a rodeia é celestial! As manhãs, os dias, as tardes se tornam verdadeiramente celestes, e a noite se transforma em paz dos Céus, sem trevas, mas plena de luz maravilhosa para a alma pura e unida ao seu espírito. Goza, pois, em longos haustos a magnificência fortalecedora da aurora mais aromática!”

  1. Yarah chora de alegria e se levanta, a fim de proporcionar ao cor- po todo este benefício salutar. Nisso, aproxima-se o hospedeiro Marcus, que atarefado com o desjejum havia perdido o romper do dia. Vendo o Sol num deslumbramento radioso do arco-íris, indaga de Mim o mo- tivo. Já idoso, tinha viajado pela Europa, África e Ásia sem nunca ter visto coisa semelhante.

  2. Digo Eu: “Se o Imperador de Roma aqui viesse, os povos sujei- tos à sua soberania lhe proporcionariam toda sorte de festins; em parte, de alegria por verem seu senhor, e em parte, para receberem alguma graça e indulgência, caso se encontrasse de ânimo alegre. Aqui, em Mi- nha Pessoa, também Se acha Presente um Imperador e Senhor Supremo sobre Céus e mundos!

  3. Os habitantes dos Céus, idênticos a Raphael, sabem das grandes Revelações da Vida que Eu vos fiz nesta noite e ser permitido Me verdes como Pai, que vos ensina em Minha Pessoa. O regozijo mais elevado e sublime que ora sentem, reflete-se na atividade dos espíritos da Natu- reza desta Terra.

  4. Não só aqui, mas em todos os mundos da Criação Infinita, ce- lebra-se neste momento, uma grande festa, pelo espaço de sete horas, durante as quais não se mata nem se gera um ser. Passado este tempo, a festa terminará, voltando tudo ao normal. Agora sabes o motivo desta aurora e nos podes preparar um especial desjejum, pois também cele- braremos uma festa peculiar!”

  5. Marcus se afasta rápido; os outros se unem à alegria do Céu e Me louvam, com fervor, principalmente Yarah. Após uma hora de cân- ticos de gratidão, Marcus nos convida para o ágape. Todavia, muitos há com desejo de permanecerem por mais tempo no monte.

  6. Eis que digo a todos: “Lá embaixo, onde se acham as mesas ao ar livre, a aurora é a mesma daqui; apreciá-la-eis na descida e duplamen- te ainda no vale! Desçamos, que necessitamos de conforto material.”

  1. JEJUME ALEGRIA

  1. A estas Minhas simples Palavras, observa um dos trinta fariseus: “Afinal, ouve-se uma expressão natural da Boca Daquele que abriga o Espírito de Jehovah em toda a plenitude de Seu Amor, Sabedoria, Força e Poder! Não se pode, entretanto, saber se não contém sentido espiritual!”

  2. Diz um colega: “Que tolice duvidar-se! Como poderia Ele algo dizer, senão dando expressão do Espírito Supremo?! Nós dois jamais descobriremos o que se oculta nesta simples frase. Por isso, te abstém de observações fúteis!”

  3. Defende-se o primeiro: “Se falei uma tolice, não se baseava ela em maldade!”

  4. Diz o outro: “Acaso disto te arrependes?! Por sermos tão igno- rantes e obtusos como uma noite de outono, o Senhor não nos chamou para relatarmos fatos tão extraordinários como fez Mathael! Que abis- mo entre nós e ele! Considero a minha pessoa nula; e tu ainda queres ter algum mérito nesta assembleia?!”

  5. Concorda o primeiro: “Tens razão, pois não mereço outra coisa! Por isso castigar-me-ei, não tomando parte no desjejum e nada comerei até à noite!” Com isto, ele se levanta para voltar ao monte.

  6. Seu colega, porém, afirma: “Minha reprimenda te leva a esta abstinência, portanto te acompanharei para torná-la mais fácil. Reco- nheceste teu erro e mereces perdão. Vamos juntos!”

  7. Antepõe o outro: “Em absoluto; pois não fica bem o inocente sofrer com o culpado, conforme acontece no mundo!” Diz o colega: “Não me digas! Onde estaria o caso de inocente como eu sofrer volun- tariamente com o réu!”

  8. Responde o primeiro: “Bem, não serão numerosos, — muito mais, porém, os casos de inocentes padecerem involuntariamente. Por exemplo: o imperador dum imenso reino, poderoso com seu exército, é ofendido por um pequeno soberano. Poderia vingar-se apenas no rei; mas não, prefere invadir o vizinho com seus soldados, que devastam o pequeno reinado. Quantos inocentes sofrem, neste caso, por um cul-

pado! Penso ter tal exemplo demonstrado que, às vezes, também te- nho razão!”

  1. Entrementes, alcançamos as mesas onde nos espera um farto desjejum. Ninguém, com exceção de Minha parte, sentiu a falta dos dois fariseus, — que não o eram mais! Por isso, digo a Marcus que fosse ao Monte, a fim de convidá-los ao repasto.

  2. Quando perto de nós, Eu lhes digo: “Simon e Gabi! Sentai-vos a esta mesa; depois veremos se, em Minha Assertiva de há pouco, se oculta um sentido espiritual. Antes nos saciaremos, pois o corpo precisa tanto de nutrição quanto a alma, quando deve crescer no conhecimento e no poder da Verdade.

  3. Por isso, comei, bebei e deixai o jejum para outra época! Enquan- to estou entre vós como verdadeiro Pai de vosso espírito e noivo de vossas almas, não deveis jejuar, nem física nem psiquicamente; quando não mais estiver em Pessoa em vosso meio, tereis de jejuar automaticamente.

  4. Um jejum exagerado e sem motivo é tolice, e como a gula po- de-se tornar pecado. Quem quiser viver na justa ordem, seja comedido em tudo; todo excesso trará prejuízo para corpo, alma e espírito! Agora saciai-vos à vontade e sede alegres e risonhos!

  5. Um coração alegre e expansivo Me é mais agradável que um aflito, tristonho, lastimoso, queixoso, insatisfeito com tudo, ingrato e egoísta. Num coração alegre habitam amor, esperança e confiança ple- nas. A pessoa aflita que procurasse outra, alegre e expansiva, em pouco se sentiria aliviada, sua alma começaria a movimentar-se mais livre- mente e a luz do espírito teria mais facilidade em iluminá-la, por já se encontrar mais calma. Uma alma tristonha se encolhe toda e finalmente se torna irritada e obtusa.

  6. Por certo, não entendereis por alegria e expansividade do cora-

ção, brincadeiras tolas e imorais, mas sim o que enche o coração dum casal honesto e sadio, ou o que sentem criaturas devotas após ações boas e agradáveis a Deus. Compreendestes?”

  1. Todos confirmam e se alegram Comigo. Em seguida começam a servir-se, com satisfação, pois os peixes especiais nada deixam a desejar e o vinho também não é desprezado.

  1. REPRIMENDASFEITASPORAMOR- PRÓPRIO

  1. Após meia hora, os ânimos se expandem e Simon começa a dar vazão a pilhérias espirituosas. Gabi, homem sério, de seus vinte e pou- cos anos, chama-lhe a atenção, por diversas vezes.

  2. Responde Simon: “Quem reprimiu David quando, num excesso de alegria, dançou diante da Arca?! Sua mulher, envergonhada, aconse- lhou-o a moderar-se, mas ele não lhe deu atenção. E eu tampouco me perturbarei com tuas chamadas, mas serei ainda mais alegre. Não me interrompas, pois que eu reagirei!

  3. Observa o Senhor, nosso Único Mestre de correção! Por que pre- tendemos, nós pecadores, corrigir-nos reciprocamente?! No mais das vezes criticamos nosso semelhante por amor-próprio. O avarento, por exemplo, adverte o outro à temperança, moderação e economia, apli- cando provérbios morais, pois teme a penúria de alguém que o obrigue a socorrê-lo, não por amor, mas em virtude da sociedade.

  4. Outro, que tem dificuldade de andar apressadamente, explicará ao seu companheiro o prejuízo da marcha forçada. Um terceiro que não aprecia o calor, saberá salientar as vantagens da sombra. O apreciador do vinho, não fará propaganda da água. Um apaixonado demonstrará à sua amada os perigos do convívio com outros pretendentes, enquanto advertirá aqueles, das relações com o sexo fraco. Não ocultaria tal ad- vertência boa porção de amor-próprio?!

  5. Deste modo, sempre observei o egoísmo da pessoa interessada em admoestar outrem. Por que o apaixonado não chama a atenção de um grupo de moças da maldade dos homens? Pela simples razão de não estar em jogo seu amor-próprio! Seria capaz de descobrir as fraquezas humanas, através das reprimendas e advertências que as criaturas fa- zem entre si!

  6. Não foi sem propósito que Nosso Mestre nos fez a observação acerca dos que se prontificam a tirar o argueiro do olho do amigo, quando conviria averiguar se não têm uma trave no próprio olho. So- mente após terem corrigido seu defeito, poderiam se dirigir ao outro com advertência de tal ordem.

  1. Eis um ensinamento que não te pretendo infligir, Gabi, como tu em tuas advertências, muito embora possa afirmar não conter ele inverda- de. Tenho dito! Agora comerei novamente! Enquanto isto, poderás dar va- zão à tua língua, apenas não me importunes com a Sabedoria Salomônica,

  1. SIMONCRITICAOCÂNTICODE SALOMON

  1. Digo Eu a Simon: “Então teu companheiro é amigo de Salo- mão? Qual é sua compreensão do Cântico dos Cânticos? Relata-Me vossas experiências neste assunto.”

  2. Responde Simon: “Senhor e Mestre de Céu e Terra, terei muito prazer em falar se me for permitido fazê-lo sem rodeios; caso contrário, não terei facilidade de expressão.”

  3. Digo Eu: “Podes falar à vontade; pois teu humor se origina de boa semente!”

  4. Prossegue Simon: “Nesse caso, falarei, se bem que não ultrapas- sarei o meu simples intelecto, todavia, sadio. Tu, Senhor e Mestre, inda- gaste de nosso progresso no Cântico. Ai de mim, que em nada progredi, porquanto seria tempo perdido! Gabi já decorou o primeiro capítulo. Mastiga e mastiga de boca cheia, sem contudo compreender seu senti- do! O melhor da história é que quanto mais se lê, menos se entende!”

  5. Digo Eu: “Também sabes de cor o primeiro capítulo?”

  6. Responde ele: “Gabi tanto me caceteou com ele, que o decorei para meu aborrecimento! Considero-o tolice! Verdadeiros e certos são os provérbios e as prédicas de Salomon. Seu Cântico, a maior babosei- ra! Quem nele acha algo mais que a obra de um doido, deve sofrer das faculdades mentais!

  7. Que significa, por exemplo: Beija-me ele com o beijo de sua boca; pois teu amor é mais delicioso que vinho! Quem é ‘ele’ e quem é o ‘me’? A seguir deve o desconhecido ‘ele’ beijar o desconhecido ‘me’ com a boca ‘dele’! Acaso teria ele outra boca que não a própria? Deve tratar-se de uma criatura singular!

  1. O final do primeiro verso parece conter o motivo do desejo da precedente frase; mas eis que consta ‘ele’ na segunda pessoa e não se pode afirmar que na expressão ‘teu amor’, — mais delicioso que vinho

  1. Além disso, o amor não é especialmente considerado quando não se afirma ser mais precioso que o vinho, desde que este não é qua- lificado; pois existem vinhos péssimos. Pode haver algo de incomum nessa confusão, que eu jamais descobrirei.

  2. Excedendo-me na demonstração incoerente do Cântico, acres- centarei o segundo verso: A fim de que se venha a sentir o cheiro de teu bom unguento, teu nome é um unguento derramado, por isso as vir- gens te amam. À medida de minha compreensão, o segundo combina com o primeiro, como uma casa em cima de um olho! Que espécie de unguento é aquele? E de quem? Quem deve cheirá-lo? Como pode o nome de alguém ser um unguento derramado e por que deve ser ele, por isso, amado pelas virgens? Que virgens são essas? Vai-te embora, grande Salomon, com toda a tua sabedoria! Uma Palavra Tua, Senhor, tem para mim valor milhões de vezes maior que toda sapiência salomônica!”

  3. Digo Eu: “Muito bem, Meu caro Simon! Não poderias repetir

Minhas Palavras dadas àqueles que, em virtude da manhã radiosa, não queriam descer do monte e dos quais afirmaste não conterem sentido especial? Ainda te recordas?”

  1. Responde Simon, um tanto encabulado: “Senhor e Mestre, se não me falha a memória, disseste: ‘Lá em baixo, onde se acham as mesas ao ar livre, a aurora é a mesma daqui; apreciá-la-eis durante a descida e duplamente no vale. Necessitamos de conforto; vamos, pois, depressa!’ Penso não ter falhado, Senhor?”

  2. Digo Eu: “Repetiste verbalmente o que falei. Que Me dirás, se afirmo corresponderem Minhas Palavras, espiritualmente, aos versos de Salomon? Achas possível isto?”

  3. Diz Simon: “Seria mais fácil acreditar que o mar imenso, ama- nhã, se terá transformado em campos verdejantes. Pois aquilo que dis-

seste no monte, Senhor, era compreensível. Mas quem entenderia os versos de Salomon? E como poderiam conter um sentido oculto? Aliás, tudo é possível e eu falo apenas o que sinto.”

  1. Digo Eu: “Tanto melhor; quanto maior contrassenso apresen- te, tanto mais alegria sentirás com a explicação. Também se tornará milagre que tu e muitos outros nada vejam e ouçam de olhos e ouvidos abertos! Mas deixemos isto! Já que conheces tão bem o Cântico, acres- centa mais o terceiro verso que de pronto, desvendar-te-ei o segredo indecifrável para ti.”

  2. Diz Simon: “Que horror! Ainda mais esse?! Por amor a Ti, Se- nhor, tudo farei; comumente isto me causa náuseas! O terceiro verso é ainda mais complicado, pois reza o seguinte: ‘Leva-me contigo, que correremos. O rei me conduz ao seu aposento. Regozijamos e nos ale- gramos em ti. De teu amor mais nos lembramos que de teu vinho. Os devotos te amam.’

  3. Ei-lo! Quem puder, que o entenda! Se ao menos constasse: ‘Leva-me, que correrei!’ Além disso, quem é aquele que deseja ser leva- do e quem são ‘nós’ que corremos?! O rei me conduz ao seu aposento. Que rei? O eterno ou do mundo? Aliás é esta frase uma das melhores. Além disto, os tais desconhecidos se lembram do amor do outro mais que do vinho, do qual se ignora a qualidade. Que modo estranho de expressão!

  4. Miserável criatura é o habitante deste orbe! Nasce destituído de noções, continua vivendo sem elas, — e acaba ignorante! Mesmo se acredita algo entender durante o período mais feliz e lúcido de sua vida, quando depara com o Cântico de Salomon tem de confessar sua ignorância! Se bem que continue vivendo, sabe existir algo que lhe foge à compreensão.

  5. Senhor e Mestre, durante esta noite nos demonstraste coisas que jamais alguém sonhou! Com isto, dilatou-se minha inteligência consideravelmente. Por que então não percebo o sentido do Cântico? Talvez, ninguém o deveria entender por se tratar da expressão dum lunático? Esclarece-me, por favor! Crerei tudo que me disseres, pois somente Tu saberás interpretar tais enigmas!”

  1. CHAVE PARA A COMPREENSÃO DO CÂNTICO SALOMÔNICO

  1. Digo Eu: “Amigo, te excedeste um pouco em tua tendência espi- rituosa, e poderia te repetir o que um célebre pintor disse a um sapatei- ro. Todavia, não podes falar de modo diferente, porquanto, de acordo com Salomon, tudo nesta Terra tem seu tempo. Prepara-te, pois, com muito boa vontade, que te esclarecerei o Cântico, provando conter o mesmo sentido que Minha Advertência no monte.

  2. Salomon apenas demonstrou Minha Atual Existência, de modo profético, por diversos quadros cheios de interpretação espiritual, de ação em ação, de situação em situação e de efeito em efeito. Eu somente sou seu objetivo; ‘ele’ e ‘tu’; ‘dele’ e ‘te’, tudo isto Me representa. Quem por ele fala Comigo é seu espírito, no singular; no plural, são os espíri- tos dos povos que, de certo modo, unem-se na tendência dominadora e régia de Salomon, para um só fito; portanto, representam uma enti- dade moral.

  3. As palavras: Beije-me ele com o beijo de sua boca!, quer dizer:

O Senhor fale pela Sua Própria Boca a mim, Salomon; por mim, ao povo de Israel, e esse, a todas as criaturas do mundo. O Senhor não fala palavras puras de Sabedoria, mas de Amor e de Vida. Pois um pro- nunciamento de amor é um verdadeiro beijo da Boca de Deus no co- ração da criatura; eis por que diz Salomon: Beije-me Ele com o beijo de Sua Boca!

  1. O seguinte verso combina muito bem, quando diz: Teu amor é mais delicioso que vinho, ou seja: Teu amor é de maior utilidade para mim e para todos os seres, que a sabedoria; pois na palavra ‘vinho’ su- bentende-se sabedoria e verdade.

  2. O fato de Salomon, no primeiro verso, suplicar pela palavra do amor na terceira pessoa, prova estar ainda longe de Mim, pela simples sabedoria. Na aplicação da segunda pessoa, quando é expressada a razão do pedido, ele já demonstra maior aproximação de Deus no caminho do amor, do que pela pura sabedoria. O beijo, ou seja, o amor, pelo qual Salomon pediu em seu Cântico, todos vós estais recebendo neste

momento. Deste modo, caro Simon, o primeiro verso já se tornou mais claro para tua compreensão?”

  1. Afirma ele: “Oh Senhor, com isto já compreendo o segundo ver- so e até me atrevo a explicá-lo.”

  2. Digo Eu: “Fala, para vermos teu grau de assimilação!”

  3. Diz Simon: “Penso ser sua interpretação a seguinte: Se Tu me beijas, Senhor, com o beijo de Tua Boca, se Teu Verbo se torna amor, portanto um verdadeiro unguento de Vida, tal unguento deve ser compreensível para todos. Pois comumente aplicamos ‘cheirar’ por ‘entender’.

  4. No momento, Senhor, Te achas em nosso meio, conforme cons- ta no primeiro verso! Temos, portanto, Teu Nome, Teu Verbo de Amor Consagrado, mais sublime que a Sabedoria de Salomon. Possuímos o Unguento derramado — compreensível — diante de nós.

  5. As virgens que por isto Te amam são, evidentemente, nós mes- mos, considerando nossa compreensão reduzida; pois uma jovem é uma criatura agradável e não inteiramente destituída de entendimento e intelecto. Todavia, nela não se pode falar dum conhecimento positivo. Daí concluo sermos as virgens que Te amam acima de tudo por vos ser compreensível Teu Verbo de Amor, o unguento derramado, em cujo aroma nos deleitamos. Terei compreendido bem, Senhor?”

  6. Digo Eu: “Perfeitamente; dá-se com o Cântico, aparentemente incompreensível, o fato de ser assimilado com facilidade, logo que se tenha conseguido a interpretação do primeiro verso. Já que o segundo não te foi difícil, tenta explicar o terceiro.”

  7. Diz Simon: “Oh Senhor, arriscar-me-ia interpretar o Cântico todo; pois o terceiro é tão claro como a atual aurora deslumbrante! Leva-me, ó Senhor, que correremos! Quem poderia levar-nos espiritu- almente senão o amor?! A consequência disto é que os educados com e pelo amor, num momento, compreendem e assimilam mais; portanto, adquirem o conhecimento mais rapidamente que a sapiência estéril e fria, aplicada durante anos. A pessoa, no singular, é apenas uma perso- nalidade isolada e no segundo verso se divide em muitas por nós repre- sentadas, em toda Israel e finalmente na Criação humana.

  1. O Rei, o Eterno, o Santo, conduz todos ao aposento santíssimo e iluminado do Amor e da Vida do Seu Coração Eterno! Isto nos alegra sobremaneira e nos lembraremos mil vezes mais do Amor do Pai, que de toda sabedoria anterior. Somente em Teu Amor somos cheios de humildade, simples e de coração devoto!

  2. A aurora da sabedoria, igual à do monte, é maravilhosa e des- lumbrante! Aqui, porém, nas mesas hospitaleiras do amor, no imenso e santo recôndito de Teu Coração de Pai, existe a mesma aurora da Verdadeira Vida. No cume, apreciamos a maravilhosa manhã de luz, no entanto, lá não havia mesas repletas de alimentos que suprem e forta- lecem a vida.

  3. Bem que nos agradou a luz da mais profunda Sabedoria. Certa- mente observaste em alguns, o germe da presunção, surgindo no sulco do coração do jardim da vida, e disseste com palavras tocantes de amor: Filhinhos, lá embaixo, no vale da humildade, existe a mesma aurora! Se descerdes a curta trajetória da altura da presunção egoística — ge- ralmente efeito da sabedoria elevada — à profundeza da humildade do amor, apreciareis a mesma aurora! E isto fareis duplamente: lá existe não só a mesma luz, senão a fonte luminosa da Vida de amor, dentro da humildade. Aqui, acham-se as mesas cheias de nutrição, fortalecimento e conservação da Vida Integral!

  4. Atraíste-nos, Senhor, até aqui pelo verdadeiro beijo de Tua

Boca Santificada; nós não hesitamos em seguir-Te e Te amamos como verdadeiros devotados com todo amor e humildade. Compreendi e in- terpretei o sentido verdadeiro de Tuas Palavras, Senhor?”

  1. SIMONELUCIDAALGUNSVERSOSDO CÂNTICO

  1. Digo Eu: “De modo perfeito, pois se Eu Mesmo vos tivesse ex- plicado os versos de Salomon, comparando-os às Minhas Palavras de advertência no monte, ter-Me-ia expressado do mesmo modo. Desem- penhaste tua tarefa a Meu pleno contento. Já que te tornaste explicador em tal assunto, poderias experimentar mais alguns, — ou seria que algum outro disto fosse capaz?”

  1. Respondem todos: “Senhor, isto não nos é possível, embora te- nhamos a impressão de que deveríamos sabê-lo!”

  2. Diz Simon: “Senhor, para mim não existe dificuldade, portanto prossigo: Morena sou, porém graciosa, oh filhas de Jerusalém; como as tendas de Kedar, como os tapetes de Salomon. Traduzido para o nosso idioma comum, isto quer dizer: Eu, o Senhor, encontro-Me no mundo entre vós, criaturas cegas e orgulhosas; sou, no mais das vezes, desconhecido e profundamente desprezado pelas pessoas de projeção, entretanto sou cheio de humildade, meiguice, paciência e amor por vós, filhas de Jerusalém!

  3. Quem são as filhas de Jerusalém? Orgulho, altivez e tendência

dominadora dos descendentes de Abraham representam as filhas enfeita- das de Jerusalém. A elas o Primeiro Homem dos homens, desprezado, — portanto um senhor enegrecido — mostra-Se benigno, misericordioso e mais amoroso e amável que as tendas de Kedar (Kai-darz), de aparência paupérrima. Por dentro, porém, são regiamente enfeitadas com toda sorte de riquezas, que deveriam ser distribuídas entre os pobres e neces- sitados. São mais agradáveis que os tapetes mais preciosos de Salomon, cuja face externa é de tecido peludo e cinza-escuro, enquanto o interior é feito de seda indiana, da mais pura, entrelaçada com ouro legítimo.

  1. A seguir consta: Não me olheis por ser eu tão negro (diante de vós, filhas de Jerusalém); pois o Sol (vosso orgulho mundano), quei- mou-Me! As filhas de minha mãe se aborreceram comigo. Quem pode- ria ser Tua Mãe dentro de Ti, Senhor, senão Tua Eterna Sabedoria, assim como Teu Pai, Teu Amor Eterno? Tua Mãe, também, representa Tua Or- dem eterna, cujos filhos aborrecidos preenchem o Espaço Infinito, pois seu equilíbrio vai de encontro à grande desordem dos filhos de Israel.

  2. Esta santa Ordem ‘foi posta para guarda de vinhas’, isto é, Tua Vontade em união com Teu Poder Celeste, deu aos homens tal Ordem, através de Mandamentos, a fim de que as vinhas — as comunidades humanas — permanecessem na Organização dos Céus.

  3. ‘A vinha que me pertencia não foi por mim guardada!’ Quer di- zer: Deixei desprotegidas Minhas Alturas, as profundezas eternas, divi- nas e inatingíveis, — do que dás testemunho pela Tua Presença acessível.

Deixaste Teus Céus mais elevados, impenetráveis e luminosos para Te apresentares na maior humildade, quer dizer, em completa obscuridade, diante dos filhos desta Terra, a fim de conduzires os pobres e justos a Teu recôndito, à tenda de Kedar. Senhor, dize-me se acertei a explicação.”

  1. Respondo: “Plenamente; por isso podes concluir o sexto!”

  2. Diz Simon: “Rendo-Te meu pleno amor e a gratidão sincera, por me teres achado digno de revelar os segredos que até hoje ninguém decifrou, diante dos que Te amam! Minha alma por isto regozija-se; contudo não contém ela orgulho, ao contrário: quanto mais compre- endo minha nulidade e Tua Grandeza, tanto maior humildade sinto. Sabes, Senhor, ser o bom humor meu fraco e além disto, o bom vinho ainda mais estimula esta tendência, de sorte que não posso evitar de aplicá-lo ao sexto verso!”

  3. Digo Eu: “Podes falar a gosto!”

  4. Prossegue Simon: “Se Salomon ou sua alma, plena de sabedo- ria, tivesse tido oportunidade do nosso convívio, por certo não teria escrito o sexto verso. Pois alega: Dize-me, tu, a quem minh’alma ama, onde apascentas o teu rebanho e onde repousas ao meio-dia, a fim de que não necessite andar de cá para lá, nos rebanhos dos teus compa- nheiros! Nesse caso, Salomon — e por ele — a alma de seu povo, cer- tamente teriam encontrado os carneiros apascentados na manhã, ao meio-dia, à tarde e à noite, isto é, constantemente ativos e não repou- sando ao meio-dia.

  5. Penso ter-se passado o eterno meio-dia de Teu repouso, aquela

fase infinita em que não te imiscuías no meio dos homens; todavia os entregaste aos Teus servos, que se tornaram sempre mais tolos e orgu- lhosos, dando oportunidade de surgir um novo e Eterno Dia de Vida. Quem Te reconheceu, não mais Te procurará entre Teus servos tolos e preguiçosos. Terei, Senhor, ao menos de longe, acertado o sentido?”

  1. Digo Eu: “Perfeitamente, não obstante teu pendor humorísti- co, o qual soubeste bem aplicar. Já sabendo ser possível se desvendar o Cântico dos Cânticos e tu, Simon, alterando tua opinião, teu mestre de correção poderá nos esclarecer, de viva voz, a razão pela qual tanto se empenhava por ele, sem nunca tê-lo compreendido!”

  1. GABICONFESSASUATOLICEE VAIDADE

  1. Gabi se levanta, faz uma reverência profunda e diz com voz tão trêmula que força os romanos circunspectos a esboçarem um sorriso: “Ó Senhor e Mestre, eu nunca procurei glórias, pois não tinha tal incli- nação e, assim sendo, prefiro calar-me!”

  2. Diz Simon, espontâneo: “Mas que é isto? Sempre fizeste questão de ressaltar-te como orador!”

  3. Retruca o outro: “Faço o que quero e tu nada tens a ver com isto: É fácil falar-se entre homens. Aqui, na Presença de Deus e dos anjos, a voz humana não deve manifestar-se, e sim silenciar com humildade e modéstia! Chamo-me Gabi, o calado, e não Simon, o indiscreto!”

  4. Diz Cirenius, sorrindo: “Vede só, este jovem não procura honras, todavia, parece aborrecido porquanto seu colega conquistou Tua Graça pela explicação do Cântico, Senhor! Isto realmente não me agrada!”

  5. Aduz Yarah: “Tampouco a mim! Sempre me alegro quando vejo revelarem-se Amor e Graça do Senhor na alma da criatura. A hipocrisia é-me sumamente repelente. Quem for pelo Senhor convidado a falar e numa falsa humildade alega não procurar honras, mente a si e a outros. Atitude condenável esta!”

  6. Diz Simon: “Levanta-te, justifica-te razoavelmente e responde ao Senhor!” Gabi, então, pede desculpas e se prontifica a responder, caso isto ainda seja do agrado do Senhor.

  7. Digo Eu: “Como não? Pois ainda não retirei Minha pergunta, ao contrário, todos nós aguardamos uma resposta modesta!”

  8. Diz Gabi: “Respondendo ao porquê de minha inclinação ao Cântico, confesso não possuir eu base alguma para tanto, isto é, não se fundamentava em algo de bom, mas em vaidade oculta, que ora reconheço. Queria passar como homem dotado de melhor orientação na Escritura, não só em meio de meus colegas, mas entre todos, pois sabia não haver um que o compreendesse dentre o grande número de fariseus. Esperto, dava a entender possuir eu a verdadeira compreensão.

  9. Por muitas vezes fui inquirido se realmente entendia a mística indecifrável do Cântico, e minha resposta lacônica soava: ‘Qual seria o

tolo que não a entendesse?’ Então insistiam e até mesmo me ameaça- vam para que eu transmitisse meu conhecimento pelo menos ao Pontí- fice. Eu, porém, sabia me desculpar com toda sorte de evasivas, jamais revelando meus segredos, — porquanto não os possuía.

  1. Somente Simon, meu amigo íntimo, sabia, em parte, a quantas andava minha sapiência salomônica; por muitas vezes me repreendeu, provando que eu era tolo, porquanto não podia entendê-lo pelo simples decorar. Consegui, todavia, convencê-lo de minha inclinação, afirman- do basear-se minha tendência para o estudo do Cântico na certeza de ocultar ele algo de grandioso. Ele, finalmente, acreditou nisto, mas se enganava, pois eu mesmo era adversário da sabedoria de Salomon, que o levou no fim da vida a tornar-se idólatra.

  2. Não era mais minha intenção enganar quem quer que fosse,

mas também não queria revelar ter eu, anteriormente, procurado enga- nar meu semelhante, a fim de me tornar um bom fariseu, que, quanto mais astuto, tanto mais considerado no Templo.

  1. Já tencionava pôr uma pedra neste assunto. Como me convi- daste a falar, Senhor, procurei expor a verdade diante de todos. Acho-

-me, portanto, na melhor ordem, reconheço a Luz Verdadeira da Vida e jamais tentarei ludibriar alguém.

  1. Se minha atitude diante de Ti foi inadmissível, peço-Te, Se- nhor, assim como a todos, perdão, de coração contrito. Não foi minha intenção prejudicar alguém, senão esconder minha vergonha. Isto não era possível diante de Teu Semblante Santificado, — e assim, demons- trei o que realmente sou!”

  1. ANTIGOSPRINCÍPIOSDE GABI

  1. Digo Eu: “O benefício foi unicamente teu por teres te externado de tal forma; todavia, ainda deves revelar algo de modo fiel, e isto, por tua própria causa! Acaso não acreditavas em Deus quando te fizeste consagrar no Templo, quando te dedicavas prontamente às traficâncias, tudo fazendo para te tornares um fariseu perfeito? Porventura ninguém te teria dito ser tal homem apenas sacerdote e servo de Deus como Aa-

ron — e jamais um astuto fraudulento? Como te foi possível permitires germinar em teu coração tendência tão maldosa?

  1. O serviço ao próximo, sempre que possível, não é o mais ma- ravilhoso princípio de vida, que até mesmo os antigos sábios pagãos respeitavam e consideravam? Não foi Sócrates quem disse: ‘Se quiseres honrar os deuses com dignidade, sendo mortal, sê útil aos teus irmãos; pois são tanto quanto tu, sua obra mais sublime! Ter-lhes-ás honrado a todos quando amares aos homens, e os maus não te castigarão por isso!’ Diziam os romanos: ‘Vive honestamente, a ninguém prejudiques e dá a cada um o que de direito!’ Desta forma opinavam os pagãos; como te foi possível ser tão maldoso, sendo judeu?

  2. Nem ao menos chegaste a pensar na existência de um Deus que

apenas quer o Bem, tendo criado o homem não só para o curto lapso da existência, senão para a Eternidade?! A respeito disto tens de prestar contas, externando teus reais motivos!”

  1. Diz Gabi: “Deus, Senhor, e Mestre de Eternidade, se em vida tivesse tido oportunidade de ouvir ao menos a centésima parte daquilo que ouvi nesses três dias extraordinários, não teria caído em tendência tão condenável. Quais foram os exemplos diante de mim? Os piores, que, todavia, podem proporcionar vida folgada aos que entendem a arte de ludibriar o povo.

  2. Alegavam ter a Natureza — e não Deus, que para eles era apenas uma fantasia —, dado às criaturas mais espertas, intuição desde o berço como aproveitar-se da tolice humana, caso se queira viver bem. Quem assim não soubesse agir, seria um tolo durante a vida, e não merecia senão a classificação de animal, dotado de alguma inteligência!

  3. Como doutrinador do povo, conviria manter-se as massas na pior superstição. Visando isto, os intelectuais teriam com que viver, demonstrando aos ignorantes a verdade e conduzindo-os à Luz. Teria chegado o momento dos outros tomarem da enxada, arado e foice, a fim de saciarem sua fome com o suor de seu esforço.

  4. O homem esperto deveria tratar de se fazer considerar, no míni- mo, como semideus. Isso alcançado, ocultaria seu conhecimento como numa tumba e se envolveria com toda sorte de falsas projeções e ofus-

camentos; isto levaria ignorantes à adoração, portanto se lhes demons- traria útil, de longe em longe.

  1. Seria preciso instituir leis severas e sanção do castigo eterno, fa- zendo-se mesmo promessa de pequenas vantagens terrenas ao cumpri- dor fiel. O seguidor de tal falsário, que entendesse manter a população na superstição mais trevosa, poderia estar certo de que nem milênios seriam capazes de projetar a luz entre os infelizes; caso contrário, seria ele perseguido como embusteiro.

  2. Moysés e Aaron teriam sido homens íntegros que, através de seu raciocínio desperto e os muitos conhecimentos quanto às fraque- zas do povo israelita, conseguiram elevar-se a guias e benfeitores que, entretanto, souberam ludibriá-lo por meio de astúcia magistralmente engendrada, de sorte que, hoje em dia, o povo continua tão tolo como há mil anos. No fundo, isso ainda era um benefício para a plebe; pois o homem é preguiçoso por natureza e deveria ser levado ao Bem pela arma e o açoite!

  3. Senhor, não é fantasia o que acabo de expor, — senão pura

verdade! Trata-se da convicção íntima dum perfeito fariseu a respeito da Revelação Divina que, quanto mais incompreensível, tanto maior valor. O Cântico de Salomon, Moysés e os outros profetas muito se prestavam para isso, motivo pelo qual me dediquei ao primeiro.

  1. Termino assim e creio ter provado, suficientemente, que mi- nhas convicções anteriores não podiam ser outras; pois o homem é sempre produto de sua educação. Compreende-se que desprezo, hoje, profundamente esta orientação diabólica, e espero, Senhor, que perdoes meu modo de pensar e proceder de antanho!”

  2. Digo Eu: “Como poderia privar-te do perdão, quando tu mesmo te afastaste daquele engenho satânico?! Foi este o motivo por que te fiz externar tudo aquilo para libertares teu coração, facilitando-te integrares, do fundo de tua alma, à plena verdade! Ao mesmo tempo, foi dada aos presentes oportunidade de ouvirem de uma real testemunha, como anda o sacerdócio, o que tornou necessário Minha Vinda à Terra, para impedir que a Humanidade se pervertesse e sucumbisse. Agora, entendei-vos, Si- mon e Gabi, podendo Simon revelar sua compreensão a Meu respeito!”

  1. PARECERDESIMONARESPEITODO SENHOR

  1. Diz Simon: “Ó Senhor, isto é facílimo! Tu és o Filho de Deus em Espírito e, diante de nós, Deus e Homem a um só tempo. És o Único que Se originou em Si Mesmo, no Céu e na Terra. Jamais um anjo se submete à vontade humana; se Tu, porém, lhe fizeres o menor aceno, ele obedece no mesmo instante. Tudo se realiza de acordo com Tua Vontade, e uma palavra pronunciada é um ato consumado!

  2. Tua Visão abrange a Criação material e espiritual; os pensamen- tos ocultos dos anjos Te são tão nítidos como se Tu Mesmo os tives- ses pensado. O que nós, criaturas, pensamos em nosso íntimo, vês de modo tão lúcido como este Sol! Tu sabes de tudo que oculta o mar em suas profundezas, o número de grãos de areia, o das estrelas e o que comportam; o número de ervas, arbustos, árvores e espíritos no Imenso Espaço! Se isto não só creio, mas sei positivamente, não será difícil afirmar: eis meu parecer a Teu respeito, Senhor, à medida que Te compreendi nesses três dias!”

  3. Digo Eu: “Como falas de três dias, se já te encontras há mais

tempo em Minha Companhia?”

  1. Responde Simon: “Conto apenas os três dias de conhecimen- to espiritual: o da matéria, da natureza das almas e do conhecimento do puro espírito. São esses os verdadeiros três dias da Vida, em Teu Aconchego.”

  2. Digo Eu: “Muito bem, estou satisfeito por ver que já tens boa prática, na esfera da correspondência espiritual. Isto, todavia, não se dá com o conhecimento de ti próprio e assim, teu julgamento de Minha Pessoa não é completo. Existe algo que deves externar. Trata-se dum pequenino grão de dúvida que tens de expelir, porquanto poderia ger- minar com o tempo e se desenvolver numa floresta cheia dos mais tene- brosos preconceitos, que dificilmente seriam arrancados de teu coração. Pesquisa-o com afinco e descobrirás o que mencionei!”

  3. Perplexo, Simon Me olha e também aos outros; pensa um pouco

e diz: “Senhor, nada posso encontrar por mais que me esforce, pois as menores dúvidas são imediatamente dissipadas!”

  1. Insisto: “Sim, — medita mais um pouco!”

  2. Diz ele: “Senhor, obrigas-me a temer minha própria pessoa! Se- ria eu, no íntimo, um monstro? Não consigo descobrir algo que ao me- nos se pareça com o que afirmas. De que forma, poderia eu alimentar dúvidas ou qual seria o motivo?”

  3. Digo Eu: “Amigo Simon, olha bem para Mim! Acaso sou tão vingativo e rancoroso, que receies confessar aquilo que, de certo modo, se acha na ponta de tua língua?!”

  4. A estas Minhas Palavras, Simon se assusta e diz: “Mas Senhor, seria preciso externar essa bagatela, cujo pronunciamento considero inapropriado? Acontece que alguém, muitas vezes, pensa em algo cuja procedência não sabe positivar. O pensamento surge e costuma per- manecer no coração; finalmente se dissipa e a pessoa nem mais dele se lembra. Deste modo, minha pequena dúvida bem pôde ter surgido no meu coração e de pronto foi por mim repelida, porquanto tenho milha- res de provas insofismáveis na memória e na alma. Além disso, achei sua externação inconveniente. Se Tu, Senhor, fazes questão, não a ocultarei.

  5. Caros amigos, ouvi aquilo que eu já havia rechaçado! Obser-

vando, constantemente, a moça atraente e sedutora ao lado do Senhor, veio-me a ideia ridícula da possibilidade Dele Se poder apaixonar, en- quanto Encarnado! Se tal fosse possível, que seria do Seu Espírito? Deus pode amar todas as criaturas com um sentimento puríssimo; afirmar poder Ele amar, sexualmente, uma pessoa dotada de físico mui atraente, é algo difícil para o meu intelecto, muito embora me dissesse: Em Tua Pessoa, toda espécie de amor só pode ser puro, mesmo se classificado por impuro entre os homens. Eis o ponto que desejavas fosse externado! Acaso vendo algo mais no meu âmago, queira-me apontá-lo e o men- cionarei sem titubear!”

  1. IDEIASDESIMONSOBREOSENHOR,COMO HOMEM

  1. Digo Eu: “Agora te purificaste e nada existe dentro de ti que possa perturbar tua fé em Mim. Demonstrar-te-ei, como a todos, o matagal espesso de descrença que teria surgido em ti, se não te houves-

ses libertado daquela pequenina dúvida. Tuas conjeturas seriam então as seguintes:

  1. Que seria, se Eu Me apaixonasse e fecundasse uma rapariga? Se o rebento fosse masculino, também seria um deus? E sendo feminino..? Tal proceder de Minha parte poderia alterar a Lei Mosaica? Não teria este ato incapacitado Minha Natureza Divina, na conservação do Espí- rito Santo? Ou talvez nem seria possível Eu efetuá-lo? Mas nesse caso, como admitir-se ter Eu criado o homem para tal, quando Eu Mesmo fosse inapto?!

  2. O ato sendo pecado carnal e enfraquecendo alma e corpo, por que foi ele por Mim implantado em carne e alma? Não teria sido possí- vel processar-se a procriação, num caminho mais puro?! Admitindo-se ser ele o único justo, dentro da Ordem Divina, Deus também deveria poder realizá-lo! Por que é o ato, pecado para o homem, enquanto isto não se dá com Deus? Seria possível ele pecar em certas circunstâncias? Mas como poderia Deus ser o puro Amor, tornando-Se culpado dum pecado humano?!

  3. Como Deus, Ele jamais poderia pecar; aceitando, porém, a na-

tureza humana, — é Seu Corpo capaz ou não do pecado? Teria de lutar também contra as fraquezas carnais? Possuindo-as, quem permite ser Ele, assim, assoberbado? Existiria uma Divindade mais antiga e mais elevada que firmasse esse novo deus por provações diversas, fazendo-

-o renascer em Espírito? Se tal jovem deus pecasse qual homem, seria igualmente condenado?

  1. Acaso não teriam razão os velhos egípcios afirmando a genealo- gia dos deuses principais? Uranos e Gea geraram Cronos, que destrói constantemente suas obras. Zeus — a vontade de Cronos — é salvo pelo amor, cresce secretamente e se torna poderoso. Seu regímen im- põe aposentadoria eterna para Uranos e Cronos, porquanto rege só e cria os homens na Terra, recebendo, de acordo com a determinação do Destino — a divindade mais antiga — o peso das fraquezas humanas. O Destino parece ser o grande Deus desconhecido; agora, cansado de governar, implantou secretamente uma centelha divina numa virgem, rejuvenescendo-se neste filho que assume a direção governamental!

  1. Poder-te-ia transmitir uma quantidade de tais aberrações de que é constituído esse matagal de dúvidas, até mesmo sua degenerescência. Como tua semente foi destruída, és puro, não correndo risco do surgi- mento da erva daninha; de tal forma também és apto a te tornares Meu discípulo.

  2. Além disso, compreenderás qual o motivo desta menina Me dedicar todo o seu amor, porquanto ninguém Me ama desse modo. Vosso amor é mais admiração sobre Minha Sabedoria e Meus Mila- gres, para vós, incompreensíveis. Ela, porém, Me ama puramente por Minha Causa, pois sabe Quem Se oculta em Mim. Isto vale mais do que admirar-Me como Deus, porquanto todos devem saber que para Deus tudo é possível. Não deixa de ser bom, enquanto a manifestação dela é melhor.

  3. Que preferirias tu: ser amado como criatura, ou porque és sábio

e artista? O primeiro sentimento surge da vida e atinge a vida; o segun- do deriva do senso artístico e toca, apenas, arte e ciência de quem o possui. Dize-Me, qual dos dois haverias de considerar mais?!”

  1. Responde Simon: “Evidentemente o primeiro; pois quem me ama como homem, fá-lo-á tanto mais como sábio e artista. Quem me amar supondo possuir eu tais dons, em breve deixará de me considerar, sabendo que tal não se dá. Por esta razão, Senhor, é o amor puríssimo dessa menina para Contigo, um amor exemplar e nos ultrapassa em grau elevado!

  2. Claro é, ser mais fácil a moça amar um homem de modo natu- ral, do que isto se dar com o próprio homem. Se ele, porém, considerar profundamente o valor de seu próximo, amá-lo-á sem pesar suas qua- lidades. Descobrindo com o tempo certas virtudes, seu amor para com ele aumentará! Ó Senhor, cada Palavra Tua é sublime e verdadeira para toda a Eternidade!”

  1. AUNIÃODACRIATURACOM DEUS

  1. (Simon): “Reconheço, Senhor, que Tu Te revelas como Deus de modo completo, sem reservas e segredos como faziam os profetas ao se referirem à Tua Personalidade, quando usavam o mais espesso véu e mal mostravam a orla de Tua Vestimenta. Formaram religião e igrejas, — mas de que forma? A religião era qual estrela distante, que irradiava do Espaço Infinito um tênue raio de esperança à Terra encoberta de trevas; a Igreja, um edifício de pedras, um templo circundado de labirintos e peristilos obscuros, não permitindo às criaturas a penetração do Santíssimo, onde todos os grandes segredos da Vida se achavam expostos em mesas de ouro.

  2. Aqui não só é franqueado tudo isto, pois Deus, o Eterno Ina-

tingível, Se revela Pessoalmente, como foi, é e será para todo o sempre. Eis por que se torna necessário assimilá-Lo física, psíquica e espiritu- almente, pelo exclusivo amor a Ele. Tal aproximação pessoal do Cria- dor para com a criatura tem, como efeito, uma completa identificação entre ambos.

  1. Deus Se une a nós, e nós a Ele, sem a menor restrição de nossa individualidade, dentro do mais perfeito livre-arbítrio. Não é possível cogitar-se de vontade libérrima sem a completa identificação do ser com seu Criador, porquanto a Vontade de Deus Se encontra na mais perfeita ilimitação, e a vontade da criatura, somente pela união com a divina!

  2. Ao querermos o que Deus quer, nossa vontade é independente, de acordo com a Vontade do Senhor; não o querendo, ou apenas em parte assim agindo, tornamo-nos os escravos mais infelizes de nossa cegueira sem fim. Só em Deus podemo-nos tornar perfeitamente livres; além de Deus só existe julgamento e morte!

  3. Vês o meu desembaraço oratório, Senhor, e presumo ter falado certo! Queira acrescentar Tua Bênção Poderosa, a fim de que esta ad- mirável semente que Tu, o Pai Santíssimo, plantaste neste planeta mui estéril, possa frutificar no solo de nossos corações ainda tolos. Querido Pai, funde-Te conosco, Teus filhinhos necessitados, para que um dia possamos integrar-nos em Ti, de corpo e alma!” Assim terminando, Simon desata a chorar.

  1. Eis que Me levanto e digo: “Vem, Meu querido irmão, abraça-

-Me, não como Criador, mas como irmão, a fim de que sejas o primeiro que se uniu a Mim!”

  1. Responde Simon todo contrito: “Ó Tu Santíssimo! Não mereço tamanha Graça como grande pecador!” Novamente ele verte lágrimas; Eu Me dirijo a ele e, num amplexo fraternal, mantenho-o contra o peito.

  2. Após algum tempo Simon se acalma, porquanto Eu o havia in- fluenciado, e diz: “Meu Senhor e meu Deus! Que fiz eu para Te de- monstrares tão misericordioso? Sou pecador, pois minha fraqueza como homem é grande. As moças bonitas muito me impressionam e, de quando em quando, sou assaltado por pensamentos impuros. Por muitas vezes, cedi com volúpia a tais pensamentos, se bem que apenas na minha alma, porquanto me faltavam oportunidades.

  3. Em seguida me firmo em argumentos equilibrados sobre este ponto; mas que adianta? Basta eu ver uma rapariga tentadora — e lá se vão meus bons propósitos, e o velho pecador está em ‘ótima forma’. Nada faço; porém não me cabe mérito, por ser apenas contido em vir- tude das circunstâncias. O medo do castigo e a vergonha me impedem, e não a livre vontade que, em ocasião oportuna, não se negaria. Infeliz- mente, tenho de confessá-lo, não merecer Tua Imensa Graça, Senhor!”

  1. NATUREZAEFIMDA SENSUALIDADE

  1. Digo Eu: “Amigo e irmão, que tens a ver com a carne e o que nela se passa?! Se não fosse por Mim nela implantada tal tendência, acaso as criaturas se juntariam para a procriação?!

  2. Se Eu não tivesse deitado no estômago a fome, alguém teria en- sejo de se alimentar? De que forma deveriam, nesse caso, transferir-se os elementos específicos da Natureza ao sangue e aos outros humores do corpo, dali ao centro nervoso, e assim purificados passar à substância psíquica? Através de Minha Onipotência tal se dá dentro da Ordem primitiva; mas que seria da possibilidade eterna da sua consistência? Haveria apenas uma condenação implacável, que impediria a indepen- dência e a futura liberdade espiritual.

  1. A menor alteração em Minha Ordem estabelecida — e a vida em sua independência e liberdade teria um fim para sempre! Não foi por Mim dado aos olhos a capacidade visual, aos ouvidos a audição, à língua o dom da palavra e do paladar, ao nariz o olfato?!

  2. Serias acaso pecador por sentires, de quando em quando, fome e sede?! Pecas quando vês, ouves, saboreias e usas o olfato?! Todos es- tes sentidos te foram dados para te aperceberes do formato das coisas, ouvires o sábio sentido da fala e conheceres os elementos bons, maus e nocivos dentro da matéria bruta e ainda não fermentada.

  3. Bem podes pecar com os sentidos, quando não empregados den- tro da ordem: ao dirigires teus olhos atrevidamente cultuando a carne; ao te dedicares com prazer a cheirar coisas fétidas, que ultrajam o físico, incapacitando-o para o trabalho; quando prestas avidamente ouvidos a injúrias, blasfêmias e obscenidades. Também pecas pelo paladar, na volúpia incontida pelos petiscos; por que deveria ele ser estimulado por pratos dispendiosos, quando junto de ti os pobres perecem de fome e sede? Satisfaz-te com alimentação simples e fresca; ao te dedicares à intemperança pecas, evidentemente, contra a Ordem Divina.

  4. Isto, porém, não se dá contigo; pelo contrário, já conseguiste

algumas vitórias sobre tua natureza, de próprio esforço. Foste comedido em tudo e controlado em teus desejos. O que de certo modo te preju- dicou foi tua descrença nas Escrituras, que não entendias; todavia era tua incredulidade sincera, enquanto a de Gabi era farisaicamente falsa. Contudo, não relegaste as Escrituras e desejavas apenas esclarecimen- to, razão pela qual estudaste todos os sábios egípcios e gregos. Mesmo assim, não se fez a Luz; permaneceste por isto externamente fariseu, en- quanto continuavas pesquisador dedicado da Verdade. Sabendo disto, vim despertar-te e abrir — como também aos outros — as portas para a Verdade luminosa!

  1. Jamais poderás cair em trevas e serás um divulgador zeloso pelo Meu Reino do Espírito nesta Terra. Através de ti, os pagãos na Pér- sia receberão grande orientação. Por ora, alimenta-te; estás faminto e ainda não te satisfizeste!” Simon, profundamente comovido, acede ao Meu convite.

  1. ANATUREZADOSANJOS.CORAÇÃOE MEMÓRIA

  1. Também os demais hóspedes se servem, mormente Raphael, o que leva Cornélius a dirigir a seguinte observação a Fausto e Julius: “Es- tranho como este anjo, sem carne e sangue, pode ingerir tanto alimento! Acaba neste instante de comer o décimo segundo peixe, enquanto fui apenas capaz de ingerir um! Talvez possa ainda liquidar outros tantos!”

  2. Diz o anjo: “Não somente doze, mas dez mil vezes mais, num instante, mesmo se fossem do tamanho da baleia, igual àquela onde o profeta Jonas se alojou, incomodamente, durante três dias!

  3. Não necessito dos peixes para alimentar-me, e sim para a for- mação do fluido semiespiritual, pelo qual formei este meu corpo visível dentro da Vontade do Senhor, mantendo-o temporariamente, muito embora espiritual não carece de carne e sangue. Acaso não vês minhas veias e meus músculos?!

  4. A faculdade de poder eu dissolvê-lo e novamente concentrá-lo através do poder dado pelo Senhor, baseia-se em minha perfeição es- piritual; não só sou capaz de desintegrar instantaneamente este corpo, como também o teu e até mesmo o orbe todo.

  5. Acaso não seria o teu físico de outro material senão de carne e osso, apenas porque poderia dissolvê-lo num instante?! Ou a Terra não consistiria de matérias variadas, água, ar e de enorme quantidade de ele- mentos básicos, só por eu poder desintegrá-la num átimo, em suas par- tículas específicas de origem espiritual, cujo volume seria para tua per- cepção visual — admitindo tratar-se de matéria — algo que não existe?!

  6. Por isto, amigos, pensai antes de pronunciardes uma palavra, a fim de que — como discípulos do Senhor — jamais externeis uma tolice, desonrando o vosso Mestre! Se bem que já vistes e ouvistes mui- ta coisa, não tendes uma fraca ideia do poder interno e da força dum anjo, muito menos do Espírito Eterno de Deus! E ainda sois capazes de observações chistosas sobre aquilo que um arcanjo necessita para sua manutenção temporária e aparente?!

  7. Acaso julgais suportável minha verdadeira figura luminosa? O fogo de minha luz primária seria suficiente para destruir inúmeros sóis

centrais, também a ti e esta Terra! A fim de que isto não suceda pela minha presença, tenho de formar este corpo passageiro — pela Vontade Poderosa do Senhor — e encobrir minha natureza real de tal modo, a evitar todo distúrbio da Ordem, dentro do julgamento da matéria. Todavia ela deve ser antes preparada pelo meu fogo vital interno, assim servindo-o como proteção. Eis por que sou obrigado a assimilar maior quantidade de alimento natural, que qualquer um de vós.

  1. Desconhecíeis tal coisa; deveríeis, porém, saber que nós outros não fomos convocados pelo Senhor para nos apresentarmos diante de vós como comilões, palhaços ou prestidigitadores; mas sim, ser-vos úteis de modo variado e dar-vos provas palpáveis da presença dos anjos de Deus e de seu poder. Assimilando isto, como é possível fazerdes ob- servações inapropriadas?”

  2. Responde Cornélius: “Caro e maravilhoso mensageiro do Se- nhor, não nos queiras mal por isto! Vês como somos, espiritualmen- te, nada mais que crianças recém-nascidas, levando antes, uma vida de sono do que consciente. Jamais algum de nós externar-se-á sobre teu apetite; ao mesmo tempo expressamos nossa gratidão pelo ensinamento grandioso que nos proporcionaste”.

  3. Protesta Raphael: “O agradecimento compete unicamente ao Senhor, vosso e nosso Pai Eterno! Aplicai tal noção a todas as experi- ências e aparições, que em breve sereis nossos irmãos meritosos. Nada deve ser por vós criticado e ridicularizado, com exceção da mentira e da fraude. Pois o mentiroso e o mistificador devem sempre ser apontados, para que saboreiem o fruto de suas ações.

  4. Em todas as outras oportunidades, deveis ensinar as criaturas transviadas com meiguice; modificando-se, serão felizes. Não o fazen- do, podereis encurtar as rédeas educativas. Se tal atitude não frutificar, prendei tais teimosos na casa de correção, deixai-os jejuar e até mesmo açoitar, pois numa boa educação o relho não pode faltar! Nós anjos, vossos educadores ocultos, também o usamos quando sois teimosos e obstinados. Guardai este ensinamento e aplicai-o, quando necessário, que caminhareis entre homens; do contrário, convivereis com animais selvagens, ocultos em larvas humanas!”

  1. Indaga Cirenius: “Senhor, teria o anjo falado de fonte própria, ou sorvido Tua Sabedoria?”

  2. Digo Eu: “Meu amigo, tua memória está te abandonando de novo! Não vos expliquei de sobra o que são os anjos, como pensam, desejam e agem, — e novamente indagas a respeito?! Sendo eles ape- nas formas animadas pela Minha Vontade, qual seria sua proprieda- de? Quais seriam seus pensamentos próprios, quando são somente a emanação de Minha Vontade e um receptáculo de Meus Pensamentos, Ideias e Intenções?

  3. Caso devessem pensar e agir individualmente, teriam antes, de se nutrir na mesa dos filhinhos e abençoar em carne, esta Terra. Daí se deduz, nitidamente, que Raphael expressou Meu Verbo e Minha Vontade, que deveis respeitar, como se Eu Mesmo os tivesse externado em Pessoa.

  4. Necessário é que assimileis Minhas Palavras com o sentimento, evitando assim esquecê-las, pois tudo o que o coração abarca permanece na recordação, podendo ser relembrado quando preciso. Se for de vossa intenção guardar Minhas Palavras apenas no cérebro, esquecê-las-eis no mínimo cem vezes ao ano, pois com a idade, a memória não é tão forte quanto na juventude. O que, porém, for assimilado pelo sentimento é absorvido pelo espírito e permanece eternamente.

  5. Afirmo-vos: de tudo que neste mundo tiverdes aceito apenas pela memória, não subsistirá uma vírgula no Além; por isto, os sábios estéreis lá se apresentam como surdos, mudos e cegos, nada sabem, por- quanto de nada se lembram. São, não raro, tão desprovidos de qualquer noção qual criança ao nascer. Têm de aprender tudo de novo, desde os elementos básicos, do contrário, permanecem surdos, mudos e cegos para sempre, pois sentem apenas uma sensação apática da vida, igno- rando sua existência passada na carne. Tudo isto lhes deve ser ensinado pouco a pouco, de modo peculiar.

  6. Quando o coração do homem é insensível, toda sua natureza

é embrutecida. Estando cheio de amor, é ele iluminado pela luz do espírito, que lhe faculta a noção plena de tudo. Por isto, assimilai o que ouvis pelo sentimento, que se fará a luz em vosso íntimo. Já que

compreendestes esta lição, preparar-nos-emos para outra coisa; o que surgir dentro em pouco, vos fará pensar, dando oportunidades de nova aprendizagem, que em época propícia podereis aplicar.”

  1. OPOVODAABISSÍNIAE NÚBIA

  1. (O Senhor): “A maioria dentre vós conhece — ao menos atra- vés de outros — o célebre Egito. Existe além das cataratas, uma região montanhosa e mui fértil chamada Abi ie sin (isto é: o filho de Abi). Tal Abi é descendente de Caim e não de Noé, pois aquela serra — como também outros países — ficou ilesa do Dilúvio.

  2. O filho desse Abi era um caçador poderoso; inventou a clava e o arco, afugentando os animais ferozes — pois era ele um gigante. Sua voz fazia vibrar as rochas, em seguida dizimadas por sua clava. Manejava o arco e usava flechas de dez libras, numa distância de mil passos, sempre atingindo o alvo. Além disto, era soberano sobre os animais, fato que levava os seus semelhantes a lhe renderem obediência. Era vigoroso, nunca porém cruel; entretanto suas ordens deviam ser cumpridas.

  3. Acreditava num Deus Poderoso, Origem de todas as coisas. Esta Divindade tinha — a seu ver — grande número de servos potentes, vi- síveis e invisíveis. Alguns organizavam os trâmites do Sol, Lua e estrelas; outros, da Terra, outros ainda, do fogo, água, etc, outra parte sobre a flora e mais outra sobre a fauna.

  4. Tais servos sempre deveriam ser honrados pelos mortais pela obediência e o rigoroso cumprimento das leis que, oportunamente, lhes transmitia. A inobservância era castigada com rigor por toda sorte de sofrimento, mormente quando sua ação para com o próximo era descortês.

  5. Em suma, o filho de Abi foi o primeiro regente e sacerdote da- quele povinho, ao qual transmitiu uma noção medíocre sobre Deus e os seres espirituais, sendo o sexto descendente de Caim e o sétimo de Adam. Orientou as criaturas sobre os animais caseiros, tornou-se o fundador duma colônia de pastores e ensinou-lhes o cultivo de frutos, a construção de choças de pedras, palmeiras e barro.

  1. Ele mesmo saneou o grande país dos animais selvagens e seus fi- lhos herdaram a bênção de esforços tão imensos. No decorrer de alguns séculos, surgiu um grande e poderoso povo, de bons hábitos e munido duma constituição governamental sadia e útil, melhor e mais inteligen- te que dos próprios egípcios, sob o regímen dos primeiros faraós.

  2. Esse feliz povo cercou todos os possíveis acessos ao país, cinco vezes maior que a Terra Abençoada, de sorte a impedir o ataque de ani- mais selvagens. Por esse motivo, não foi possível ao inimigo assaltá-lo, não obstante sua extensão colossal, pois cada nova propriedade era de pronto defendida.

  3. Somente em direção do Egito, onde se acham as faldas da Cor- dilheira do Komrahai, têm eles uma única saída: trata-se duma garganta de quatro horas de percurso, num labirinto subterrâneo que desemboca no Norte do Egito e passa por uma gruta muito estreita. Esta saída só foi descoberta pelos nativos, na época de Moysés, isto é, por fugitivos que se ocultaram na gruta. Após a terem penetrado uns quinhentos passos, munidos de arco e flecha, descobriram a saída. Uma vez salvos, entupiram a abertura com pedras.

  4. Eram setenta ao todo: trinta e seis homens e trinta e quatro

mulheres. Um dos solteiros tornou-se guia, por ser o mais experien- te, e o outro, ainda muito jovem, foi por isto designado para servo do primeiro.

  1. Nesta região ficaram durante ano e meio; todavia, não lhes era possível saneá-la, muito embora dedicassem a maior parte do tempo à caça de animais ferozes. Partiram, pois, Nilo acima e após algumas semanas, alcançaram as cataratas que, partindo do Egito, são conside- radas as segundas. Lá enfrentaram muita luta e trabalho.

  2. Pela margem direita do Nilo teriam avançado mais facilmente, pois o lado oposto é mui escarpado, encontrando-se aí inúmeras fe- ras. Desanimados, já tencionavam voltar à zona anterior quando foram acompanhados por grandes manadas de gado e carneiros que se diri- giam ao Norte. Crentes que seus perseguidores estavam em seu encal- ço, prosseguiram embora com dificuldade e após vários dias atingiram, finalmente, uma região maravilhosamente fértil.

  1. Havia superabundância de tâmaras e figos, enormes manadas de gado e carneiros que pastavam sem dono. Aqueles animais que an- teriormente os haviam forçado a prosseguir caminho, perderam-se nas furnas, o que foi do agrado do grupo, porquanto se julgava a salvo das perseguições.

  2. Nessa região, escolheram, primeiro, o melhor lugar, fortifica- ram-no e se estabeleceram num monte pitoresco, à margem do Nilo, todo plantado de tamareiras, figueiras e palmeiras; além de alguns ma- cacos, não havia vestígios de animais.

  3. No decorrer de um século, o grupo tornou-se um povo conside- rável que se apossou das manadas e construiu até aldeias. Todos os habi- tantes respeitavam crença, hábitos e costumes induzidos pelo filho de Abi.

  4. Este grande e tão fértil país foi pelos negros denominado ‘Noua Bia’ (Núbia), isto é: Nova morada. Com o tempo, travaram conheci- mento com os egípcios, que se esforçaram por subjugar esses primei- ros negros vistos por eles. No começo, julgaram-nos macacos grandes; quando perceberam que falavam idioma quase semelhante ao deles, mudaram de opinião, comprando seus animais, enquanto os negros aprenderam com os egípcios variadas artes e ciências, de grande utilida- de, mormente o preparo dos metais, que desconheciam.

  5. Esse povo manteve até agora a religião e os hábitos recebidos

do filho de Abi. Neste ano, surgiu entre eles um vidente que transmitiu aos irmãos uma visão tida por sete vezes seguidas. Descreveu-lhes o ca- minho a encetar, a fim de chegarem ao local onde Se acha Aquele que ensina às criaturas o caminho e o Grande Deus Desconhecido. Tal vi- dente de Noua Bia chegará, ainda antes de meio-dia, com considerável grupo de amigos, à zona de Cesareia Philippi, e enviaremos um men- sageiro para recebê-los. Vieram a camelo, trouxeram muitos tesouros e pagarão suas despesas com ouro e pedras preciosas.

  1. Tu, Marcus, prepara-te para suprir os núbios; pois quando, on- tem à noite, Me pediste permanecer ainda hoje contigo, cedi ao teu de- sejo. Do contrário, ter-Me-ia agregado de madrugada, em companhia dos discípulos, à dita caravana. Assim, Minha Permanência trar-te-á muito que fazer; todavia, serás recompensado!”

  1. OSENHORENVIAUMMENSAGEIROÀ CARAVANA

  1. Diz Marcus, radiante: “Senhor, Onisciente! Quantas pessoas devo aguardar?”

  2. Respondo: “Precisamente setenta, entre eles — como acontecera com os ancestrais — trinta e quatro mulheres e trinta e seis homens. Um dos solteiros é o vidente, o outro, seu servo.

  3. Do mesmo modo os negros se evadiram há quase mil anos, em virtude duma renovação das leis que, em época de Moysés, não mais eram o que foram antes do Dilúvio. O antigo guia quis revigorar os há- bitos e costumes de antanho; encontrando apenas reação de inimigos, que o perseguiam tenazmente, só lhe restou fugir com seu grupo, diante daquele fanatismo.

  4. Aquela fuga, entretanto, foi prenúncio profético do recebimento da Luz do Alto, que indicou em tempo de Moysés, aos descendentes de Caim de boa índole, o surgimento da Salvação em nossa época. Esses negros não alcançarão — como os filhos de Abraham — o velho poço de Jacob; todavia, sorverão sua água maravilhosa, caso sintam ensejo.

  5. Agora resta escolher um mensageiro, conhecedor de idioma egíp- cio; no acampamento de Julius acha-se um que será por Mim orientado como reconhecer o chefe daquele grupo e quais as palavras a serem proferidas.” Prontamente, o comandante chama tal homem. Quando junto de Mim, o romano diz: “Filho altíssimo de Zeus! Quais são tuas ordens? Não mereço tal preferência, porquanto te compete ordenar aos semideuses, estes, aos príncipes da Terra, dali as ordens passam aos ge- nerais, comandantes, capitães e escravos, dos quais eu faço parte. Vejo, porém, teu intento de fazer uma exceção e te peço ordens!”

  6. Digo Eu: “Muito bem, Meu amigo! És romano íntegro, fiel

e honesto em tua crença. Como serviste por longo tempo no Egito, aprendendo aquele idioma, farás papel de mensageiro em Cesareia Phi- lippi, que alcançarás rapidamente, porquanto és bom cavaleiro.

  1. Naquelas proximidades verás uma caravana de negros, conduzi- da pelo guia e seu servo, montados em camelos cobertos de branco; o guia cumprimentar-te-á de longe; traja-se de branco que corresponde à

sua índole. Dirigir-te-ás a ele, dizendo: ‘Alcançaste teu destino; segue-

-me! Em poucos instantes achar-te-ás diante Daquele, que procuras de acordo com teu sonho!’ Vai, pois, depressa que encontrá-lo-ás onde as estradas principais se cruzam!”

  1. O chefe da guarda se curva respeitoso e diz: “Um veterano de Roma só rende homenagem aos deuses; tu, todavia, mereces minha devoção plena!” Embora idoso, ele dispara no cavalo árabe em direção à cidade. Em pouco tempo, ele está no ponto destinado, onde espera um quarto de hora. Nós mesmos já avistamos a chegada daquela gente.

  2. Quando o romano depara com o guia, indaga-lhe primeiro pro- cedência e motivo de sua vinda. O outro responde firme e de olhar franco: “Romano, quem te mandou esperar-me aqui? Viajando sobre o grande Mar e através de estepes e florestas, somente os pássaros po- diam nos observar desde o Egito. És, portanto, o primeiro homem que encontramos em viagem. Quem te avisou de nossa chegada? Acaso és vidente? Achas-te munido de armas muitas vezes banhadas em sangue humano, — por isto não podes ser vidente! É preciso que saibas da exis- tência dum Ser Supremo, acima de todos os vossos deuses e criaturas, sejam de que cor forem.

  3. Por sete vezes tive a mesma visão: via esta zona envolvida em

luz indescritível. Um pequeno grupo de pessoas de cor branca e bronze- ada se achava dentro dessa iluminação, irradiando quais sóis. Entre elas Se encontrava Um, que emanava aquele foco, do qual todo o Universo parecia pleno. Muito embora sua forte irradiação, tal Luz não afetava a visão como faz a do Sol.

  1. No final de cada visão, ouvia sempre as palavras: ‘Dirige-te para lá, onde também a tua treva será iluminada!’ Transmiti isto aos meus irmãos e nos decidimos iniciar a viagem, partindo da Núbia e há três meses estamos a caminho.

  2. Sabia a direção a tomar, porquanto meu protetor, que me acompanha há sete anos, havia me dito encontrar-se o local de minha visão na Ásia, à beira-mar. De pronto reconheci a costa onde desembar- camos. Demos com esta estrada na qual nos vens receber! Oh, dize-me, quem te mandou esperar-nos? Fala, pois pressinto coisa grandiosa!”

Responde o romano: “Encontraste o destino de tua viagem penosa! Segue-me! Dentro em pouco, encontrar-te-ás diante Daquele que pro- curas em virtude de tua visão!” Tomando ele a dianteira, a caravana segue o romano.

  1. OSENHORPALESTRACOMOGUIADOS NÚBIOS

  1. Não tarda e o intérprete conduz o grupo de negros junto de nós, que ainda estávamos à mesa. Quando Yarah depara aquelas fisionomias cor de ébano, de lábios vermelhos e olhos mui expressivos, ela se assusta e diz: “Ó Senhor, que criaturas pretas! Não são perigosas? Já vi mouros, mas jamais um que fosse tão preto. Que dentadura forte! Realmente, se não estivesse ao Teu lado, ficaria amedrontada!”

  2. Digo Eu: “Minha filha, quem poderia temer a cor? És um tan- to infantil, mas não importa! Presta atenção, pois surgirão coisas im- portantes!”

  3. Antepõe ela: “Não entenderei uma palavra, porquanto desco- nheço seu idioma e eles não falam outros.”

  4. Digo Eu: “Será tudo traduzido; ouve, pois, calada.” Em seguida faço chamar o vidente e seu servo e lhes indago, em hebraico, do moti- vo de sua jornada. Não obstante ciente, era preciso dar-lhes oportuni- dade para se externarem.

  5. O guia, de pronto, responde da mesma forma, dizendo: “Perdo- a-me, se me atrevo à observação modesta de ter encontrado em tua pes- soa, aquela que vi em sete visões, numa claridade indefinível, fato que me levou a percorrer o mundo. Queira, pois, dizer-me se estou certo?”

  6. Respondo: “De nada te adiantaria se Eu dissesse ‘sim’ ou ‘não’. Tens de descobri-lo sozinho. Uma vez isto alcançado, progredirás; mas tens de querer com rigor e firmeza! Todo ensinamento externo de nada vale, se não for em tempo conquistado internamente. Acabas de falar em hebraico; acaso te lembras de teres aprendido este idioma? Pergunta a teus colegas a respeito, pois dá-se o mesmo fato com eles.”

  7. O chefe dirige seu camelo para lá e fala-lhes em nossa língua; todos o compreendem e respondem da mesma forma. Completamente

fora de si, eles não sabem o que dizer, pois ignoram que Eu possa facul- tar tal fenômeno.

  1. Voltando para junto de Mim — ainda montado no camelo — o guia diz: “Nobilíssimo representante do homem na Terra! Não sei o que pensar! É esta a minha primeira viagem e nunca deparei com outros idiomas! Sou completamente inexperiente, porquanto em nosso país, tudo é simples e não apresenta novidades. É bem possível que esta zona tenha a faculdade de proporcionar ao estrangeiro a assimilação de seu idioma. Não sei se tal é possível, portanto te peço explicação. Na minha terra, nunca experimentei tal fato, pela simples razão de lá jamais ter entrado um estrangeiro.”

  2. Digo Eu: “Descarregai primeiro vossos animais, conduzi-os ao

pasto, à beira-mar, para poderem descansar; pois o caminho de volta à tua pátria é em nada mais curto, que aquele que percorrestes! Depois, veremos o grau de orientação que vos poderá ser ministrado!”

  1. Ele se curva respeitoso e diz: “Nobilíssimo Homem dos ho- mens! Tens razão, já que nos é permitido pisar este solo abençoado com nossos pés profanos!”

  2. Digo Eu: “Não o sendo para as patas de vossos camelos, tam- bém não o será para vós!” Contrito, o chefe se dirige ao grupo que prontamente desce dos animais. Dez negros os vigiam no pasto, en- quanto os outros voltam a nós. Indago, então, do nome do guia que diz: “Meu nome é idêntico à minha função e soa em nosso idioma ‘Oubratouvishar’. Em nosso país só se adota nomes que correspondam à profissão; fora disto, todos se chamam Slouvi.”

  1. OGUIARELATASUAVIAGEMA MEMPHIS

  1. Prossigo: “Onde adquiriste tua cultura apreciável?”

  2. Responde Oubratouvishar: “Há dez anos atrás, eu e meu servo caminhávamos, acompanhados de vinte subalternos que deveriam vi- giar uma grande boiada, à margem do Nilo. Quem lá pretende viajar, tem de se prevenir de gado, caso não queira perecer em caminho. Figos e tâmaras não nascem por toda parte, senão em solo bom e gordo;

enquanto as margens do Nilo não carecem de capim, proporcionando bom leite ao viajor.

  1. Assim prevenidos, tentamos uma excursão que durante dois dias passou sem novidades; no terceiro percebemos, de longe, um poderoso fragor e apressando nossos passos, deparamos a primeira queda do Nilo, impedindo prosseguirmos. Um companheiro destemido subiu numa rocha e nos descreveu um caminho que, à esquerda, afastava-se do rio, mas à longa distância, novamente se unia a ele. Resolvi, pois, segui-lo. Estava cheio de rochas escarpadas. Somente à noite, alcançamos, depois de um Sol causticante, uma região abarrotada de palmeiras comuns e de papiros, em cujo meio se achava uma fonte cristalina que nos propor- cionou descanso merecido.

  2. No dia seguinte, partimos de madrugada e à aurora alcançamos,

novamente, o Nilo e uma estrada larga pela qual, após meio-dia, che- gamos às proximidades daquela cidade, tantas vezes mencionada pelos nossos ancestrais. Acampamos a dois mil passos; eu e meu servo caval- gamos ao centro, a fim de pedirmos permissão para permanência.

  1. Uma multidão de criaturas bronzeadas nos rodeava, indagan- do de nossa procedência; outras, prontamente adivinhavam, dizendo: ‘Thot e Noubiez!’ (Ele é um núbio), e eu, confirmando, externei o de- sejo de aprender muita coisa boa e útil daquelas criaturas inteligentes. Chamaram um ancião que me submeteu a exame rigoroso, e até me acompanhou ao acampamento onde se revelou como Sumo Sacerdote e prefeito da cidade, nomeado por Roma. Ofereci-lhe sete vacas, dois touros e vinte carneiros, produtores de ótima lã.

  2. Isto tornou o velho muito amável, dizendo: ‘Nossa sabedoria

antiga e pura ser-vos-á mui útil; evitai, porém, nossos hábitos corrup- tos! Esta cidade foi outrora o orgulho do país, o que prova seu nome ‘Memavise(em grego Memphis), isto é: usa o mais elevado nome; ago- ra, tornou-se um extenso montão de escombros, conforme vos podeis certificar!

  1. O povo, em parte, não crê num Ser Supremo, pois defende o politeísmo, rendendo até homenagem aos animais e seus detritos, e nós, poucos crentes num Deus Único e Verdadeiro, temos de deixá-lo assim.

  1. Nossos ancestrais, para tanto, deitaram a semente, porquanto dedicavam uma devoção semidivina a alguns animais em virtude de sua utilidade, estimulando o povo ao seu tratamento especial. Queriam eles apenas fazer ver a mais variada irradiação do amor e da sabedoria divi- nos; com o tempo, a História dos povos, quanto mais se retrai no pas- sado, torna-se mais e mais venerada e envolta dum nimbo divino. Os doutrinadores populares têm jogo fácil para divinizar os acontecimen- tos de eras remotas e enterrar a plebe cega numa superstição tenebrosa.

  2. Por isto, meus amigos sinceros, precavei-vos e aceitai apenas o

que ouvirdes de mim, como verdade; de tudo que virdes entre o povo,

— afastai-vos, pois é nocivo. Vereis praticar cerimônias ocas e em grandes comemorações, até eu mesmo tomarei a dianteira em orna- to deslumbrante. Não vos escandalizeis por isto, porquanto assim ajo externamente, enquanto o meu íntimo permanece fiel ao Deus Único e Verdadeiro, cujo Amor é minha vida e cuja Luz representa meu real conhecimento e saber.

  1. Acompanhai-me à minha casa onde vos darei orientação sobre vossa conduta; demonstrar-vos-ei também o pasto apropriado para vos- sos animais, onde podereis ficar durante um ano, sem serdes molestados como estranhos. Tu e teu servo morareis comigo para vossa instrução.’

  2. Obtemperei: ‘Bom mestre, permitirás conduzirmos à cidade nossa pequena demonstração de respeito para contigo?’

  3. Respondeu ele, amável: ‘Daqui a três dias, quando tiverdes ocupado tal pastagem. Lá convém usardes calçado, pois à noite rasteja uma quantidade de pequenos insetos e vermes na grama, localiza-se debaixo das unhas, onde provoca, com o tempo, fortes dores. Tratarei disto, pois tenho muitos servos e escravos!’

  4. Assim, voltamos à cidade, a uma grande praça circundada de enormes construções feitas de pedras. Várias já estavam um tanto ava- riadas, outras ainda bem conservadas. Uma consistia somente de co- lunas cobertas de sinais e inscrições, que o egípcio me explicou mais tarde, entre as quais se viam estátuas gigantescas. Ao lado se achava um enorme palácio onde havia grande movimento. Ele, então, disse: ‘Eis minha moradia; entrai!’”

  1. MALDIÇÃODAEXCESSIVACULTURADOS EGÍPCIOS

  1. (Oubratouvishar): “Diante do palácio estavam dois enormes obeliscos repletos de variados sinais, figuras e escritos; dois idênticos se achavam frente ao peristilo, pleno de colunas. Acanhados, entramos e tivemos que andar bastante para chegarmos aos aposentos do chefe, que tão maravilhosos eram a ponto de nos tontear.

  2. Mentalmente, comparei-os à minha simples cabana e disse de mim para mim: ‘Por que nós, negros, somos tão pobres em nosso saber e conhecimento? Por que não somos capazes de construir tais edifícios, nem lidar com o manejo de metais? Por ora, não possuímos outros instrumentos senão os recebidos dos egípcios, em troca de produtos naturais. Quão primitivos são os nossos teares! Não possuímos talento, nem inspiração e zelo! Mal alcançamos um grau mais elevado que os próprios macacos!’

  3. Externando eu tais pensamentos, o chefe me disse: ‘Não te im-

pressiones por isto; todas estas maravilhas são obras do passado e não mais nos alegram. Vós ainda sois jovens, cheios de força, plenos de zelo, no início de seu despertar. Nós já deixamos de existir para este mundo, nossas coroas jazem partidas na tumba do esquecimento, os palácios es- tão ruindo, o atual conhecimento é o pior que existe. Temos poucos fer- reiros e tecelões; as necessidades técnicas suprimos em Roma e na Grécia.

  1. Há alguns milênios aqui viveram criaturas semidivinas, que erigiram obras de cujos restos os últimos descendentes desta Terra se deslumbrarão. Nossa produção é mais uma destruição, tanto material quanto espiritualmente. Vós sois um povo ainda forte e incorrupto, podendo tornar-vos maiores que nossos ancestrais.

  2. Se quiserdes viver realmente felizes, — permaneçais na simpli- cidade! Primeiro, vos custa pouco esforço e além disto, reduz vossas necessidades físicas que suprireis facilmente. Vossa criação provida de gordos pastos, pouco trabalho dá; a vestimenta é simples, portanto ten- des tempo de sobra para entregar-vos aos estudos espirituais.

  3. Isto vale mais do que construir tais palácios com o suor sangren- to de milhões de criaturas, a fim de que a destruição do tempo se possa

entreter! Que vem a ser um montão de pedras artisticamente montadas, ao lado duma erva, obra divina? Nada! Cada arbusto, cada capim é uma construção de Deus, nasce na terra sem nossa colaboração e em pouco tempo supre nosso paladar! Enquanto que as construções humanas ali- mentam apenas orgulho e despertam inveja de outros povos, guerra e perseguição.

  1. Caro amigo, trata-se da felicidade bem duvidosa dum povo tolo, em cobrir seus pastos férteis de palácios mortos, onde milhões poderiam se nutrir dos frutos lá produzidos com simplicidade! No local onde foi erigida esta cidade, dez mil pessoas poderiam se abastecer com suas imensas manadas de animais úteis; agora, ainda habitam cerca de cem mil em suas muralhas avariadas. Mas que vida levam?

  2. Conforme diz a História, este país era o celeiro de trigo que em épocas de miséria supriu outros povos; hoje em dia, nos vemos obriga- dos a nos abastecer em países longínquos. Nossas manadas se acham em mísero estado. Milhares de pessoas não trabalham, em virtude de suas posses, flaneam dia a dia, mantêm concubinas e não raro se entregam a práticas dissolutas. Tal proceder traz uma quantidade de moléstias, coisa que desconheceis. Durante as horas de calor, vereis o centro quase que despovoado; ao descer da noite fresca, surgem de suas moradas de pedras quais abutres e se divertem com toda sorte de vícios. Eis as bên- çãos provindas da grande cultura!’

  1. BENEFÍCIODACULTURAPRIMITIVADOHOMEM SIMPLES

  1. (Oubratouvishar): ‘Por tal motivo permanecei em vossa pu- reza natural e primitiva e jamais alimenteis ensejo por tal cultura miserável! Não planejeis cidades! Ficai em vossas toscas cabanas, que podereis ser o povo mais feliz da Terra, mormente permanecendo no justo conhecimento de Deus Único e eternamente Verdadeiro, amando e honrando somente a Ele! Embora não O vejais, Ele vos vê e sempre vos munirá da força necessária para afastar os elementos nocivos ao homem. Pela lei primitiva da Natureza, é ele soberano sobre tudo.

  1. Vós ainda sois o que deve ser o homem. Diante de vossos passos, fogem leões, tigres, panteras, hienas, lobos, ursos, serpentes e víboras; apenas as manadas mansas vos seguem. De tal forma constituído, o homem ainda pisa o grau elevado de sua existência primitiva onde o Criador o havia colocado. Deitai-vos na grama, onde proliferam ofí- dios, — e eles fugirão do local santificado, onde o homem repousa como rei da Natureza. A perigosa formiga, maldição de tantas florestas e estepes, emigra, logo que o homem em sua força primitiva pisa o solo. O crocodilo — dragão do Nilo — não é visto perto de sua morada, enquanto o íbis, a cegonha e o icnêumon (isto é: não contém veneno) servem ao homem no saneamento da terra de toda sorte de elementos nocivos, e os condores limpam os campos dos cadáveres, a fim de evitar seja empestada a atmosfera.

  2. Que vida maravilhosa do homem justo em tal zona, — e que

existência miserável vivem os das cidades, cheias de orgulho e amor-pró- prio! Perderam todo poder primitivo; tornaram-se estranhos no grande reino da Natureza, inteiramente separados de Deus e de outros seres! A fim de se protegerem são obrigados a construírem burgos e castelos!

  1. Se eu deixasse pernoitar cem homens no pasto que vos indica- rei, — nenhum salvaria sua pele! Não mais são criaturas, mas apenas sombras, e seus físicos aleijados, verdadeiras moradas dos mais variados elementos da Natureza não fermentados. Sua aura não é mais seu ‘eu’ divino, mas um animal, desprovido, portanto, de qualquer poder in- terno. A Natureza externa não depara neles o ponto culminante de sua existência, senão uma corrupção total e completa destruição do grau pelo qual toda criatura tem de passar para alcançar seu final destino. Por tal motivo, toda a Criação é inimiga de tais pessoas e procura destruí-la de qualquer maneira possível, pois nada mais pode dela aguardar. Por isto, meu amigo núbio, sede, tu e teu povo, alegres com vossa cor e por habitardes ainda as cabanas inocentes, porquanto sois ainda o que deveis ser dentro da Ordem do Espírito Supremo.’

  1. AESTADADOSNÚBIOSNO EGITO

  1. (Oubratouvishar): ‘Agora trataremos do local destinado para vossa estada aqui. Além disto, designarei uma guarda de proteção para afastar de vós o povo pervertido, pois não vacilaria em corromper-vos física e moralmente!’ A estas palavras ele deu uma pancada num gongo de metal, e de súbito, apareceram homens armados, de cor bronzeada, recebendo ordens de seu chefe. O dirigente do grupo, que se trajava semelhante ao amigo que aqui nos trouxe, observou ser a zona a nós destinada um antro de víboras e serpentes, portanto, perigosa para ho- mens e animais.

  2. Ponderou o ancião: ‘A estas criaturas ainda incorruptas em nada

poderão prejudicar; pelo contrário, os ofídios cederão terreno. Vós mes- mos, como vigias, não tereis dificuldades por este motivo. Agora trazei vinte e dois pares de sapatos de couro com que proveremos estas pessoas puras, a fim de não magoarem seus pés sem necessidade.’

  1. Eu e meu servo de pronto calçamos os mais cômodos; os outros sapatos foram entregues aos nossos colegas para se dirigirem ao pas- to. Em companhia do chefe também encaminhamo-nos para lá, onde deparamos grande plantação de tamareiras, figueiras, laranjeiras, etc. Todavia, observei de longe, o sibilar de inúmeros ofídios.

  2. Dentro em pouco, aí chegaram meus amigos com as manadas de gado, carneiros e os camelos. Sem receio algum percorreram o vasto terreno e todos os répteis — inclusive quatro crocodilos — fugiram para o Nilo, cujas águas em meia hora estavam por eles cobertas. O chefe explicou o fenômeno aos vigias, animando-os a acompanharem nossa gente, pois ele estava certo de que até à noite não mais haveria um ofídio no pasto. E assim realmente foi.

  3. Do lado oposto do Nilo, vimos fugir u’a manada de carneiros, com seus pastores, diante daquela bicharada. Os homens conseguiram salvar-se sobre uma ponte; muitos dos carneiros, porém, foram ataca- dos. Além disto, uma quantidade de coelhos foi dizimada.

  4. A guarda muito se alegrou com os frutos, bem como com as al- farrobas, que aí, geralmente, se aproveitam para alimento dos camelos.

Por isto, seu chefe disse: ‘Honra a Ísis e Osíris! Finalmente podemos aqui colher, fato jamais possível neste pasto’.

  1. Disse o prefeito: ‘A colheita ser-lhes-á destinada, pois limparam, pela sua aura, o terreno empestado; podeis saborear, apenas, aquilo que de bom grado vos oferecerem! Além disto, preservai-vos de pronunciar- des os nomes de vossos deuses fúteis, pois entre vós não há um que não fosse por mim instruído sobre o verdadeiro Deus!’

  2. Virando-se para mim prosseguiu: ‘Como vês, estás provido de tudo com o Auxílio do Altíssimo! Amanhã cedo, voltarei a fim de ins- truir-te sobre o Templo, e mais tarde poderás transmitir os ensinamen- tos aos teus amigos. Até lá permanece na Graça Divina!’

  3. Em seguida, ele voltou à cidade. Devia ser pessoa de grande re- presentação, porquanto todos os transeuntes o reverenciavam sobrema- neira, fato nem percebido por ele, pois caminhava absorto em profun- das meditações. À noitinha, aproximou-se grande multidão de curiosos, sem que se atrevessem a pisar nosso terreno. Alguns nos procuraram advertir do perigo dos ofídios; a guarda, no entanto, afastou-os dizendo não mais haver perigo, porquanto nosso poder oculto os havia afastado.

  4. Com o leite fornecido pelo nosso gado, nos alimentamos e também produzimos bom queijo. Assim permanecemos durante um ano naquele país, aprendemos do chefe muita coisa útil, mormente o conhecimento do Deus Supremo. Decorrido esse tempo, voltamos à pátria, onde se manifestaram minhas visões. Imediatamente, aprontei uma caravana e tencionava viajar para Memphis, a fim de relatá-las ao amigo. Este, porém, já havia tido notícias a teu respeito e indicou-me o trajeto para cá; ao mesmo tempo, deu-me um intérprete que não quis trazer. Agora, Homem dos homens, sabes donde fui adquirir meu saber. Dize-me positivamente se me acho no lugar certo ou não!”

  1. O NEGRO PEDE CONFIRMAÇÃO DA PRESENÇA DO SENHOR

  1. Digo Eu: “Já te disse há pouco não ser de teu proveito Eu afir- mar-te: sim ou não! Tens de descobri-lo por ti mesmo e isto te será fácil, porquanto não és destituído de intuição. Medita sobre as possibilidades humanas e dize-Me se ainda não te apercebeste de algo contigo ou em algum outro.”

  2. Diz o núbio: “Como já mencionei anteriormente, nada de inco- mum notei, além da faculdade de vosso idioma ao penetrar neste país. No início, estranhei qualquer coisa; quanto mais tempo passa, mais naturalidade deparo convosco. Durante nossa viagem pelo Egito, pri- vamos com romanos e gregos cuja língua entendemos e até podíamos palestrar com eles, se bem que não tão facilmente como aqui. Tudo isto pode muito bem depender da atmosfera e irradiação do país.

  3. Como pessoas de índole ainda simples, somos muito mais sus- cetíveis a toda sorte de aparições e impressões; vemos as almas desen- carnadas e às vezes as que ainda não encarnaram, conforme sua pró- pria afirmação. Tais almas da Natureza são facilmente reconhecidas, porquanto mudam subitamente de forma, dissolvem-se em pequeninos seres, fato que nunca notamos em almas desencarnadas, podendo tam- bém se concretizar na forma humana.

  4. Indagamos do sábio chefe, em Memphis, se também podia ver tais aparições e ele respondeu ser isto faculdade das pessoas mui simples, que ignoram completamente a vida artificial. Entre seus conterrâneos, jamais se dera tal fato, e em outras pessoas, quando esporadicamente acontecia, isto sucedia de modo indefinido e inexplicável, enquanto conosco, tudo era natural e incisivo. Daí pode-se deduzir o porquê da nossa capacidade linguística. Se tu, homem nobre, o considerares, com- preenderás não estarmos convictos ser este local, exatamente, aquele visto por mim.

  5. Há muita coisa a favor: uma casa de pescador perto dum monte

e à beira-mar; uma quantidade de pessoas de relevo; tu mesmo te asse- melhas àquele homem luminoso que vi por sete vezes. Ele, porém, tudo

realizava pela simples palavra: Céu e Terra lhe eram sujeitos e falanges incontáveis aguardavam seu aceno!

  1. Isto, aqui não sucede! Encontrei criaturas excessivamente boas e sábias, mas também é só. Por isto, pergunto se me acho no lugar certo. Se responderes sim, ficarei; pois tua palavra me é suficiente. Do contrá- rio, voltaremos à pátria e resgataremos nossas manadas com o restante da importância da penhora, pois deixamos os animais em Memphis, a conselho de nosso amigo. Vês, portanto, não ocultarmos maldade em nosso íntimo, não obstante nossa cor. Procuramos a Verdade plena e alimentamos a esperança viva de encontrá-la algum dia!”

  2. Digo Eu a Raphael: “Dá-lhes uma prova, a fim de que saibam a

quantas andam!” O anjo se aproxima de Oubratouvishar e diz: “Amigo, qual foi o objeto que deixaste em tua pátria e por cuja causa querias voltar de Memphis? Tencionavas com isto presentear o sábio chefe e já havias enrolado o objeto em linho; na pressa da partida, esqueceste-o num canto da tua taba, onde ainda se encontra. Se for do teu agrado, trá-lo-ei neste momento!”

  1. Responde o núbio: “Não para me convencer se ando certo, pois acabas de me prová-lo, mas em virtude de meu desejo em querer pro- porcionar alegria ao nosso amigo, quando passarmos de volta em Mem- phis! Trata-se duma raridade no reino da Natureza e só tem valor pela beleza excepcional!”

  2. No mesmo instante Raphael lhe entrega o objeto enrolado em linho e pergunta se é o mencionado. O preto solta um grito de espanto e diz: “É ele, sim! Mas como pudeste buscá-lo, pois nem te afastas-te?! Terias acaso, nos acompanhado despercebidamente, quando há um ano atrás voltávamos de Memphis? Mas para que minhas tolas perguntas? Pois eu mesmo o escondi pouco antes de ajaezar os camelos e o co- bri com a casca duma abóbora! Evidentemente o foste buscar! Mas..., como? Tu és Deus ou um Seu servo!”

  3. Diz Raphael: “Por certo sou, apenas, um mensageiro celes-

te! Noto que esqueci a casca que cobria tua joia e vê, — aqui está ela! Deposita nela tua preciosidade e apresenta-a aos outros, ansiosos por vê-la!”

  1. OSNÚBIOSRECONHECEMO SENHOR

  1. Os negros, completamente estonteados, não sabem o que dizer. Como pessoas ainda puras, portanto ainda senhores dos elementos, po- dem realizar muita coisa pela firmeza de sua fé e vontade, fato que, em criaturas mundanas, é considerado obra milagrosa. Por isto, teria sido difícil impressionar suas almas por outro fenômeno. A cura de moléstia não seria admissível por desconhecerem os males físicos. Alcançavam idade e geralmente morriam sem sofrimento.

  2. Jamais perdiam seus filhos, porquanto gerados dentro da Or- dem, nasciam perfeitos e sadios; a alimentação, também, sendo simples, não era possível neles se infiltrar elementos enfermiços. Caso se lhes quisesse apresentar uma cura milagrosa, teria sido preciso explicar o que era a doença e como se produz. Isto acarretaria um prejuízo, porquanto o conhecimento do pecado e de seu efeito, já é tanto quanto a prática.

  3. Talvez alguém sugerisse uma ressurreição como prova?! Não te- ria efeito para criaturas que reconhecem ser a morte uma Bênção de Deus. Considerariam tal fenômeno um ultraje contra a Ordem do Espírito Divino, até serem orientados sobre a Verdade. A provocação duma grande tempestade tomariam por coisa natural, devido sua alma mui sensitiva, pois eles próprios possuem grande influência sobre os elementos do ar, água, terra e fogo. Uma velocidade que ultrapasse a duma flecha é, para essas criaturas, um real milagre que somente Deus e Seus Espíritos mais elevados podem efetuar, nunca, um mortal de vontade fraca.

  4. Ainda extasiados diante da ação de Raphael, Oubratouvishar

diz aos outros: “Irmãos, todos nós presenciamos uma ação somente possível a Deus, pois não seríamos capazes de emitir nosso pensamen- to de modo tão rápido como a ação deste servo divino! Estamos no pouso certo; cabe-nos apenas dirigirmo-nos com o máximo respeito e veneração Àquele que Se acha no centro da grande mesa. O que por Ele for proferido em Sua Indefinível Graça e Magnitude, ser-nos-á um Mandamento, o mais Santificado, que nossos descendentes respeitarão até o fim dos tempos!

  1. Longa e penosa foi a viagem para aqui, e se fosse ainda mil vezes pior, não equivaleria a grandeza desta Graça jamais merecida! Aí está o Espírito Poderoso em Forma Humana, Ele que fez Céu e Terra e tudo que existe, somente pela Emanação de Sua Vontade! Cada momento de nossa vida está em Suas Mãos; se fosse de Sua Vontade, não mais exis- tiríamos. Em suma: Ele é Tudo em tudo; isto prova minha visão que se enquadra nos ensinamentos do sábio de Memphis!”

  1. AEXCESSIVA HUMILDADE

  1. Quando o núbio termina seu discurso respeitoso, Eu o chamo e lhe indago o que ele e seus companheiros desejam comer, caso estejam com apetite, pois a viagem marítima aguça-o.

  2. Exclama Oubratouvishar: “Oh, que Graça! Tu, o Poderoso, per- mites que um verme miserável externe sua necessidade, ó Espírito Eter- no! Mas o verme no pó não se atreve, em sua nulidade, externar uma palavra sequer, para não se tornar importuno diante de Ti, Santíssimo! Temos ainda alguns sacos de tâmaras e figos secos do Egito, e algum estoque de pão, duas vezes assado, que nos suprirão durante a curta es- tada aqui. Por isto, rendo-Te, de coração agradecido e contrito, minha eterna gratidão que nada vale diante de Tua Suprema Bondade!”

  3. Respondo: “Meu amigo, se pretendes externar-te com veneração

tão excessiva e inteiramente desnecessária, ser-Me-á difícil transmitir-te algum conhecimento. Além disto, não Me honras quando — como obra de teu Criador — de nada te consideras merecedor e te rebaixas ao nível dum insignificante verme no pó. Pela não apreciação de ti mesmo diante de Mim, teu Deus, desclassificas Aquele que te criou pelo Amor e Sabedoria!

  1. Se adquires a obra artística de alguém, acaso honrá-lo-ás ao elogiá-lo e as suas demais obras, enquanto a que compraste é por ti reduzida, pois te faltam até palavras para tua crítica?! Esta espécie de humildade diante de Mim não é sábia, porém tola e ridícula! Ao te considerares imprestável e sem valor, lanças-Me em rosto ser Eu um miserável artífice de Minha Criação!

  1. Se, ao contrário, reconheces justamente Meu Valor em ti, não te considerando demasiado ínfimo e miserável para poderes dissertar Comigo sobre diversos assuntos, honras a Mim dentro de ti e reconheces Minha Perfeição Divina em teu próprio íntimo. Deste modo podes tirar de Minha Presença o real e verdadeiro be- nefício, pelo qual encetaste tua viagem. Tua excessiva humildade, todavia, não é propriamente pecado, pois se baseia em tua educação religiosa.

  2. Acabas de receber uma justa orientação neste assunto; tua ante-

rior compreensão não nos seria útil, pois te obrigaria a deixar este local demasiado santo para em Memphis, e mais tarde em tua pátria, expan- dir-te de modo extraordinário sobre Minha Santidade perturbadora,

— dentro de teu conceito! Tal seria o benefício que desfrutarias para ti e teu povo! Acaso estarias satisfeito?

  1. Por certo que não! Pois num momento mais lúcido, terias de confessar: Mas que vem a ser isto?! Teria eu encetado viagem tão pe- nosa para no destino certo ver-me obrigado a me desesperar de tanta veneração?! Eis uma bem-aventurança e felicidade das quais não desejo repetição! Tal teria sido o resultado!

  2. Eis por que urge deixar valer o raciocínio, meditar no que seja justo em cada situação da vida e assim progredirás em toda parte e obterás o resultado vivo. Afasta de ti todo respeito exagerado diante de Mim! Ama-Me como teu Criador, Pai, Senhor e Mestre com todas as tuas forças vitais; ama também teus irmãos como a ti mesmo, que farás mais que o suficiente! E quando te dirigires a Mim, trata-Me de Senhor e Mestre, que todo resto não Me honra!”

  1. OUBRATOUVISHARFALADESUA PÁTRIA

  1. (O Senhor): “Se há pouco indaguei quanto à vossa sede e fome, fi-lo por ver vossas necessidades. Já se passaram quatro horas do dia e não vos alimentastes desde ontem; leite não existia a bordo, e a água já estava deteriorada. Por isto, meu cuidado convosco é dirigido a um estímulo material, pois sem ele, não teríeis a calma necessária para a as-

similação dum alimento espiritual. Seria a coroação da tolice egoística, pregar o Evangelho a quem expressa necessidades tão prementes!

  1. Contrariando vossos hábitos, tereis de saciar-vos à Minha mesa, e dar aos camelos vossos figos e tâmaras, mofados. Sentai-vos àque- las mesas desocupadas e tu, Oubratouvishar, senta-te à mesa dos Reis, porquanto também és soberano de teu povo e aqui são discutidos os assuntos referentes à educação dos súditos.”

  2. Todos seguem Meu convite, e Marcus apronta uma quantidade de peixes com auxílio invisível. Mal os negros se acomodam, é-lhes servido bom repasto que saboreiam com prazer. O guia, já mais encora- jado, diz: “Senhor e Mestre, nunca alimento tão apetitoso tocou minha boca! Na minha terra também se comem peixes como nutrição de pe- nitência, para quem agiu contra a ordem existente; se fôssemos capazes de prepará-los desta forma, deixaria de ser castigo!

  3. Que água extraordinária é esta! Poder-se-ia tomá-la a toda hora e também saborear este pão adocicado! O sábio de Memphis me dava, às vezes, um pedaço de pão, mas não era tão gostoso quanto este. Não seria possível comprar-se desta água? (Vinho) Tinha vontade de levá-la à minha pátria.

  4. A Natureza daqui é muito mais deslumbrante que a nossa! Por toda parte vê-se abundância de ervas e árvores; lá só existem certas pas- tagens arborizadas, o resto todo é árido. As montanhas, inteiramente rochosas, são escassamente cobertas de musgo. Sua cor é avermelhada ou cinzenta e sua altura tão elevada que podem ser galgadas apenas com risco de vida. Lá em cima, o calor é insuportável. Os cumes che- gam até mesmo a se tornar incandescentes, de sorte a se poder assar peixes, carne de carneiro e cabrito, em poucos instantes. Durante a tarde, nem o condor pousa no cume e os capricórnios descem às pla- nícies do Nilo.

  5. Longe do rio é impossível viver-se, mormente, na época do ve-

rão de S. Martinho; pois pode haver dias que farão derreter pedras e areia, quando o vento soprar do Oeste. Veem-se verdadeiras chamas se arremessarem sobre os desertos arenosos, e resta somente ao homem e aos animais se precipitarem no Nilo, maravilhosamente frio.

  1. Nas proximidades dos três últimos meses do ano, a situação at- mosférica é apavorante com a chegada dos temporais. A temperatura sobe terrivelmente; nuvens idênticas a colunas de fogo surgem por de- trás das montanhas e cobrem finalmente todo o Céu. Inúmeros raios acompanhados de fragorosos trovões se precipitam da coberta celeste enegrecida, trazendo o pavor aos seres vivos. Não provocam grande dano, porquanto estouram no ar; mas não é para rir, ouvir-se durante quarenta dias tais estrondos tremendos, dia e noite, e ainda temer-se a morte pelos coriscos, — fato que já aconteceu com pessoas que não haviam untado o corpo com gordura.

  2. Passada essa época, vem a chuva que cai, de mansinho, durante

quatro a seis semanas, nos cumes até costuma nevar. Finalmente, esfria tanto, que nos obriga a esquentarmo-nos à beira do fogo. De tal forma são constituídas nossas situações de existência. Que contraste se nos de- para nesta zona! Tu, Senhor, certamente assim o quiseste e jamais algum de nós fez queixa de Tua Organização.

  1. Nossa epiderme preta é, em certas circunstâncias, um peso consi- derável; primeiro, atrai muito mais o calor que outra qualquer, e segun- do, somos tão feios de meter medo. Quão linda é, por exemplo, a figura celestial desta jovem, e quão repugnante nossas representantes do sexo feminino! Vemo-lo e sentimo-lo, e nada podemos fazer! Que cabelo ma- ravilhoso enfeita vossas cabeças, enquanto as nossas são cobertas dum emaranhado horroroso! Entretanto, não nos lastimamos, pois estamos felizes com tudo que Tu, Senhor e Mestre, nos proporcionaste. Agora, apresentarei minha joia para determinares sua importância, Senhor!”

  1. OTESOURODO NÚBIO

  1. Desenrolando o seu tesouro, Oubratouvishar Me diz: “Eis o que achei no entulho duma rocha e não resisti à tentação de guardá-lo. Pare- ce-me obra pura da Natureza e desejava saber de sua origem, porquanto não pretendo presentear algo sem valor.”

  2. Digo Eu: “Trata-se duma pedra de enorme valor, isto é, dum grande diamante lapidado e facetado, na época em que os persas guer-

reavam os egípcios. Avançaram naquela ocasião até o Deserto da Nú- bia, onde um marechal o perdeu na luta contra uma caterva de leões e panteras. Com joia tão extraordinariamente rara, farás um presente de colossal valia ao chefe de Memphis.

  1. Este diamante foi lapidado durante cento e setenta anos. Em seguida, ornou a coroa de alguns reis da Pérsia, até que um deles o presenteou a um militar que o perdeu nas estepes de vosso país, em tal época assaltado pelos animais ferozes. Foram estes por Mim dados como vossos protetores, do contrário, os persas guerreiros vos teriam achado e dizimado vossas manadas.

  2. Assim como eras destinado a encontrar um tesouro terráqueo há mais de cem anos enterrado no entulho, também foste convocado a achar o maior e mais valioso para o espírito e daí, para vossa alma. Com dignidade, encontraste o desejado. Tua pele negra não te perturbará e será para Mim, uma cor das mais consideradas!

  3. O Evangelho que vos divulgarei, será somente por vós mantido puro. Serás Meu apóstolo predecessor para teus irmãos negros. Dentro em breve, enviar-vos-ei um ajudante, que vos conduzirá a uma parte feliz de vossa pátria, onde vos ensinará a lavoura e outras artes úteis, de grande necessidade para esta vida.

  4. Naquela região ainda por vós desconhecida, tornar-vos-eis um povo inteiramente satisfeito e feliz, e conservareis a pureza de Meu Ver- bo e Minha Palavra. Ai dos que vos procurarem perturbar e subjugar! Eu Mesmo tomarei da espada flamejante da ira, para abatê-los até o último homem. Deste modo deveis, vós negros, permanecer um povo sempre livre até os fins dos tempos, numa vasta área.

  5. Acaso vos desunindo — fato possível, em virtude de vossa liber- dade —, os mais fortes entre vós levantar-se-ão como reis e vos castiga- rão com leis duras, e vossa liberdade dourada terá um fim para sempre! Vossos filhos passarão por grandes atribulações, esperando pela salvação que todavia demorará. Por isto, organizai-vos de tal modo a impedir a presença de regentes, — com exceção de tais como tu. Não és um opressor, senão um benfeitor verdadeiro de teu povo, portanto dentro de Minha Ordem!”

  1. OOUTROGRUPODE NEGROS

  1. (O Senhor): “Sou Jehovah de Eternidade e como Homem cha- mo-Me Jesus de Nazareth! Com este Nome sereis capazes de tudo rea- lizar, não só temporária, mas eternamente!

  2. Amai-Me como vosso Deus, Senhor e Mestre, e a vós mesmos tanto quanto ao vosso próximo, que permanecereis no Meu Amor, Mi- nha Força e Poder, e Minha Luz jamais de vós se afastará!

  3. Enfraquecendo no Amor para Comigo e para com vossos irmãos necessitados, manifestar-se-á a treva em vosso coração, e Minha Força e Poder diminuirão em vós. Ainda que pronuncieis o Meu Nome, a fim de agirdes por Ele, não mais recebereis Seu Fluido salutar! Toda a Força, todo Poder e toda ação realizada em Meu Nome, são recebidos unicamente pelo Amor a Mim e ao próximo!

  4. Meu Nome por si só nada realiza, mas apenas o Amor Nele contido e aplicado ao próximo! Se alguém for abordado por um pobre e lhe disser: Vai trabalhar para ganhares teu sustento! Este não possuirá o Meu Amor, tampouco receberá forças e poder em Meu Nome! Transmite isto aos teus colegas; depois volta para que possa prosseguir na Revelação do Evangelho!”

  5. Oubratouvishar se curva diante de Mim e volta à mesa, a fim de obedecer a Minha Ordem. Qual não é sua estupefação ao encontrar trinta e quatro, ao invés das vinte mulheres que haviam acompanhado seu grupo. Naturalmente, as reconhece como vizinhas e parentas, e sua primeira pergunta se refere ao porquê de sua vinda.

  6. Elas respondem: “Ver e ouvir pessoalmente é melhor do que o mais deslumbrante relato! Seguimo-vos com meio-dia de atraso. Não nos teríamos encorajado para tanto, se não fora um jovem de beleza indescritível que parecia descer das alturas e nos instigou de modo in- cisivo. Assim organizamos u’a manada de gado e carneiro chegando até Memphis; lá nos recebeu o bom sábio com seu pessoal e afirmou que também ele havia sido informado por jovem idêntico, motivo pelo qual vinha ao nosso encontro.

  7. Deu-nos notícia a vosso respeito e guardou nossos animais; pro-

veu-nos de ouro e prata em diversas cunhagens, para que nos pudés-

semos suprir de alimentos e roupas; até Alexandria, deu-nos acompa- nhamento e de lá, seguimos em navio que nos trouxe sobre uma água imensa. Ao desembarcar, vimos nitidamente vossas pegadas na areia e assim vos acompanhamos até que deparamos, ao longe, a nuvem de po- eira provocada pelos camelos. Em seguida, perdemo-vos de vista, atrás de u’a montanha arborizada.

  1. Fomos, então, novamente abordadas pelo jovem que aqui nos trouxe, sem sabermos explicar como. Neste ínterim, ouvias algo mara- vilhoso daquele Homem que tanto se assemelha ao de tua visão, mo- tivo que nos trouxe todos até aqui! Fala, pois, que pressentimos coisa extraordinária!”

  1. NATUREZADEÍSISE OSÍRIS

  1. Diz o guia: “Nós todos acreditamos naquilo que aqui sucede, por sermos testemunhas oculares; entretanto, toda a sapiência humana e o raciocínio lógico, não poderão abarcar a possibilidade daquilo que aqui existe. De acordo com minhas visões havia eu imaginado algo de grandioso; todavia, não podia antever nos meus sonhos mais sublimes, a Verdade real.

  2. Sabeis do assunto sobre o qual vos esclareci durante um ano, embora o sábio de Memphis achasse ser suficiente que eu me iniciasse em sua profunda sabedoria. Eu, então obtemperava: Mestre, vê meus irmãos! Nenhum é menos do que eu; por isto não ocultes o que quer que seja! Assim fomos todos doutrinados em conjunto.

  3. Quando, meio ano mais tarde, nos conduziu a Karnag, a fim de nos desvendar o segredo de Ísis, quase todos vós estivestes presentes. Deparamos, então, dois quadros estranhos: um de Ísis (a natureza ali- mentada da Vida Primitiva), oculta por um espesso véu; outro, de Ou sir iez (a pastagem do homem puramente espiritual).

  4. O primeiro quadro representava u’a mulher colossal cujo peito estava repleto de seios; em tempos, também, era idealizado por uma vaca. O segundo mostrava um homem que parecia estar comendo, em pé, num campo fértil, rodeado de toda sorte de frutos e de grandes manadas.

  1. Por estes dois símbolos os egípcios sintetizavam: primeiro, o Ser Primário — Deus — que tudo cria, alimenta e mantém; pelo segun- do, a Criação geradora e consumidora. Nosso amigo sábio começou a nos explicar, com palavras cheias de profunda sabedoria, a Natureza de Deus Único, Eterno, e reconhecemos a existência dum Ser Supremo que tudo criou e mantém.

  2. Esta Divindade Primária não é visível ou compreensível por pre- encher o Universo todo, estando Presente embora oculta, tanto no Es- paço quanto no tempo. Por tal motivo, sempre estava coberto o quadro de Ísis e ninguém podia levantar o seu véu, senão em épocas especial- mente consagradas, onde o sacerdote suspendia somente a ponta da bainha, diante do povo.

  3. Nós todos nos enchemos de imenso respeito à Divindade, e, a caminho para Karnag, só se falou Dela. O sábio esclareceu-nos, diante de cada árvore, a respeito da imagem oculta de Ísis, e nossa venera- ção e culto aumentavam a cada passo. Em cada objeto descobríamos o quadro misterioso de Ísis oculta, e nosso amigo se alegrava com seus discípulos negros que observavam a Natureza de compreensão diferente.

  4. Que assuntos profundos eram abordados envolvendo nossa alma numa veneração peculiar, ao dirigirmos nossos pensamentos ao Deus Único! Quantas vezes não concluímos dever despertar um sentimento feliz, ouvir-se no íntimo — se bem que mui suave, porém nítida — uma palavra do Ser Supremo!”

  1. OGRANDETEMPLONAROCHACHAMADO JABUSIMBIL

  1. (Oubratouvishar): “Indagamos, do chefe sábio, se tal fato já se havia dado sobre a Terra. Ele deu de ombros e disse: ‘De modo direto, por certo que não; mas, indiretamente, existem exemplos nas Escrituras e tradições orais onde pessoas mui justas e devotas caíam em transe e viam o Espírito de Deus como Luz preenchendo o Espaço Infinito e percebiam serem elas próprias uma partícula deste Foco. Todas assim agraciadas confessavam uma sensação indefinível de êxtase e começa-

vam a profetizar fatos, que sempre se realizavam. Jamais, porém, um mortal viu Deus de modo diferente.

  1. O homem em sua forma limitada anseia pela aproximação do Criador; seu coração deseja impetuosamente fitá-Lo numa forma aces- sível e falar-Lhe como se fosse um ser igual. Tudo isto não passa duma tola exigência do ignorante, perdoável, mas nunca possível, porquanto o Infinito não se pode tornar finito, — e vice-versa!’

  2. Tal explicação nos era compreensível; todavia, aquela ânsia per- dura por sentirmo-nos abandonados numa imaginação abstrata da Divindade, e o nosso coração clama por um Deus Pessoal, visível e adorável, muito embora nossa razão entre em luta com o sentimento: reconhece a criatura ser seu coração demasiado pequenino para poder com todo seu amor abarcar a Divindade Infinita.

  3. Relatou-nos o amigo existir um povo chamado ‘judeu’, possuidor do conhecimento mais acertado sobre o Altíssimo. O maioral dentre eles, egípcio, de nome Moi ie siez (isto é: minha aceitação, denominação dada por uma princesa que o salvou do Nilo), privou durante cinquenta anos com o Espírito de Deus. Recebeu ele a proibição severa de jamais ima- giná-Lo numa figura. Levado pelo desejo de ver Deus em Pessoa, foi-lhe dada a seguinte resposta: ‘Não poderás ver Deus e continuares vivo!’

  4. Como, no entanto, o clamor de seu sentimento se tornasse mais poderoso, o Espírito de Deus ordenou-lhe ocultar-se numa gruta, para se apresentar logo que fosse chamado. Quando Moi ie sez assim agiu, deparou de certa distância as costas de Deus, mais luminosas que mil sóis! Seu próprio rosto foi de tal modo iluminado que, durante sete anos, pessoa alguma o podia fitar sem perder a visão, motivo por que ele se viu obrigado a ocultá-lo.

  5. Eis o relato de nosso amigo, tal qual lhe fora contado. Ao per- guntarmos como, no Egito, se adorava o Deus Eterno, em Verdade, respondeu-nos ele: ‘Não longe daqui, no grande Templo de rocha Ja bu, sim, bil (Eu fui, sou e serei)! Através dum enorme portal o caminho leva ao interior de imenso pátio, ornamentado de colunas esculpidas na própria rocha. Entre elas se acha um gigante armado, da altura de doze homens, como se estivesse segurando o teto.

  1. O interior é separado por uma área, em três pátios, em cujas partes laterais há sete dos tais gigantes, portanto, quatorze. Simbolizam eles os sete espíritos emanados por Deus. Todo o grande pátio conta em suas três divisões, seis vezes, sete dessas figuras. Prova isto que Deus, desde o início da Criação, determinara seis épocas em cujo decorrer infinito, que tudo abrangia, os mesmos espíritos tudo comportavam e em tudo agiam. Cada uma das seis partes laterais do pátio imenso, dividido em três, é ornamentada com variados sinais e figuras, onde o Iniciado pode decifrar tudo o que o Espírito de Deus havia revelado aos primeiros sábios.

  2. No final dos três pátios, acha-se, novamente, o quadro oculto de

Ísis, o revelado de Ou sir iez. Diante dum altar de Ísis leem-se as seguin- tes palavras gravadas na rocha: Ja bu, sim, bil! À entrada do portal estão dois gigantes, sentados, representando os quatro elementos da Natureza Divina; sua posição prevê ordem e calma impostas por Deus, a fim de servirem aos seres dentro da Sua Vontade.

  1. Uma inscrição em cima do portal adverte ao visitante desse Tem- plo sagrado, dever ele penetrá-lo de espírito concentrado. No primeiro pátio verá duas colunas ornamentadas com figuras e sinais peculiares, referindo-se a uma espécie de luta cósmica, classificada como ‘Guer- ras de Deus.’

  2. Não me acho bastante entrosado na antiga sabedoria, para vos elucidar mais profundamente. Em sete dias para lá vos conduzirei, onde podereis convencer-vos em pessoa; é claro que o tempo já destruiu mui- ta coisa no Santuário remoto, entretanto apresenta o suficiente para esclarecer-vos.’

  3. Mal podíamos aguardar nossa partida para o dito Templo e nossos corações batiam apressadamente ao nos aproximar do peristilo, que apenas é o túmulo de alguns sábios de antanho! Que sensação não nos tocou ao contemplarmos os quatro elementos personificados, dei- xando-nos quase mudos, ao entrarmos no interior, de tochas acesas! Por que fomos de tal modo assaltados pela veneração deífica? Por julgarmo-

-nos mais próximos do Ser Divino! E quando, ao sairmos do Templo, o sábio de Memphis nos relatou algo da era primitiva do orbe, — como

nos empolgamos, de sorte a considerarmos ele todo, um Templo Di- vino! Nem nos apercebíamos da temperatura, se fria ou quente; pois nossas almas se empenhavam num esforço tremendo pela aproximação do Espírito Divino. Todavia, foi tudo em vão! Embora nosso conhe- cimento se tivesse dilatado, Ísis continuava oculta e nenhum mortal podia levantar o véu da Divindade Eterna.”

  1. O NÚBIO DEMONSTRA AOS CONTERRÂNEOS ADIVINDADEPERSONIFICADAEM JESUS

  1. (Oubratouvishar): “De volta à pátria, comecei a ter as visões da- das pela evidente Graça do Espírito Supremo, e todos vós vos regozijas- tes profundamente com o meu relato. Esta alegria, porém, não impediu a inveja em vossos nobres corações, porquanto era de vosso desejo re- ceberdes a mesma dádiva. Quando me aprontei com uns vinte amigos

  1. Agora nos encontramos no Sagrado local de minha visão, onde deparamos coisa mais grandiosa que Memphis, Karnag e mesmo o maior Templo do mundo Jabusimbil, infinitamente mais sublime que o quadro misterioso de Ísis! Reparai o grupo na grande mesa! Em seu meio Se acha, vestido de roupa avermelhada e manto azul, os ombros envoltos por vasta cabeleira loura, — não somente o Espírito Supremo, mas Sua Própria Encarnação, a Figura de Ísis, desvendada!

  2. Quando o sábio de Memphis nos recomendou amássemos o Espírito Supremo, sentimos a incapacidade do coração para tal senti- mento e externamos que, se fosse Ele uma Personalidade, isto nos seria possível e até desejável; enquanto que Sua Irradiação Infinita seria algo que nos oprimiria.

  3. Ele nos confortou com o relato de Moysés ter visto as Costas da Divindade Eterna, de sorte que Sua Luz se lhe transmitiu; daí em diante, começamos a imaginar a possibilidade de um Deus Visível, o que despertou nosso amor para com Ele, fato que por certo me facultou aquelas visões.

  1. Temos, pois, diante de nós, Aquele que nos ordena somente amá-Lo acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos! Que me dizeis, meus caros irmãos? Quais vossos pensamentos e senti- mentos? Adorai o Espírito Eterno, Deus, que até hoje, nenhum mortal pôde imaginar!”

  1. DÚVIDASJUSTIFICÁVEISDOS NEGROS

  1. Respondem alguns poucos, ainda capazes de falar: “Seria isto possível? Este homem simples e despretensioso, seria portador do Ser Supremo? Que provas nos apresentas? Não sabes ser preciso muita pre- caução para não se cair em idolatria supersticiosa, pior que a de Ísis?! Imagina os perigos e atalhos que nos esperam, caso tuas suspeitas não se realizem! E as concepções colossais que recebemos em Memphis sobre o Ser Divino, — tudo isto se oculta neste homem?!

  2. Se realmente assim for, teríamos encontrado o mais Sublime; nossa vida teria um destino supremo em sua natureza intrínseca e nos resta, apenas, procurar e pesquisar! Quem se achou a si mesmo e a Deus

  1. Observa o enorme Firmamento com suas incontáveis estrelas; pelo seu relato, mundos enormes que, pela distância, se apresentam tão pequeninos! A Terra, o mar, o Nilo, a fauna e flora, — podes imaginar ser tudo isto obra daquele homem?! Talvez possa operar milagres, como vimos alguns em Cahiron e Alexandria, mas..., que vem a ser isto diante do Poder do Altíssimo?!

  2. Recorda-te das palavras de nosso amigo, quando se referia aos magos e prestidigitadores! Um homem que unisse conceitos sábios à magia, com facilidade se elevaria a soberano e, finalmente, a um deus, qualidades que este parece possuir de sobra. Trata-se da maior precau- ção em todos os sentidos, num assunto tão complexo!

  3. Quando se cogita da remoção duma pequena pedra, pode-se declinar de conselho, caso nos obstrua o caminho. Outra coisa seria

se, uma rocha poderosa despencasse do alto e entupisse a estrada, pela qual as criaturas poderiam entrar em contato direto! Neste caso, toda a comunidade teria de resolver como livrar o caminho impedido. Aqui se trata do momento mais incisivo de nossa vida que motivou essa viagem; caso tivermos atingido a finalidade, seremos vitoriosos. Assim não sen- do, cabe-nos voltar ou seguir viagem, após solvermos nossas despesas com o hospedeiro.”

  1. OUBRATOUVISHAR PROCURA CONVENCER SEUS AMIGOS SOBREADIVINDADEDE JESUS

  1. Diz Oubratouvishar: “Acaso julgais ser eu de crença mais fá- cil que vós? Não vistes as provas recebidas pelo jovem, certamente um mensageiro celeste, a um simples aceno daquele senhor?”

  2. Respondem os vinte: “Vimos qualquer coisa e ouvimos uma ou outra palavra, sem podermos ligar o sentido, pois nossa mesa ficava muito distante.” Aduzem os recém-vindos: “Chegamos, justamente, quando te curvavas diante daquele senhor e não sabemos o que foi discutido. Fala, para sabermos a quantas andamos.”

  3. Diz o guia: “Ouvi-me, mais uma vez! Todos vós sabeis do objeto por mim achado no entulho. Tencionava levá-lo a Memphis para fazer presente ao sábio; na pressa da partida, esqueci-o enrolado num linho e escondido num canto de minha cabana. Quando aqui exigi provas da verdade propalada, aquele jovem mencionou meu tesouro e até mesmo explicou-me onde e quando eu o havia encontrado. Amigos! Somente isto era bastante para mim; ele, todavia, obedeceu a um aceno daquele senhor à mesa e me perguntou se eu desejava ter aqui minha preciosi- dade. Embora surpreso, consenti.

  4. Acaso julgais ter o transporte demorado de acordo com a dis-

tância? Em absoluto! No mesmo instante entregou-me o objeto, com a casca de abóbora que o cobria! Além disto, fui orientado do real valor e de sua origem! Analisai-o se não é o mesmo que vistes lá em casa e externai vossa opinião! Poderia um mago de Cahiron (isto é: o chifre sagrado do maior touro dessa zona), realizar isto?”

  1. Respondem todos: “Nenhum de nós duvida da veracidade, pois aqui o mais incrível se torna possível e real! Salve a todos nós e aos que ansiavam por isto! Agora esclarece-nos sobre a possibili- dade deste homem ser a Suprema Divindade a dirigir o Infinito! O que seria da Sabedoria eternamente ilimitada, ao lado de Sua Vontade Poderosa?! Aqui, diante de nós, um homem limitado e lá

  1. Responde o outro: “Por certo que não; também foge ao meu alcance, como pôde aquele jovem trazer-me a joia, num momento! Te- nhamos um pouco de paciência, com humildade e amor a este Único, que seremos esclarecidos dentro em breve!” Todos se conformam pen- sativos e aguardam os fatos.

  1. PROVEITOSEDESVANTAGENSESPIRITUAISDOS NEGROS

  1. Virando-se para Mim, diz Cirenius: “Senhor, nunca teria imagi- nado tanta sabedoria e conhecimento nestes núbios; suas experiências milagrosas me surpreendem de fato! Além disto, ignorava ter o chefe de Memphis — Justus Platonicus, que conheço como sábio — noção tão profunda em todos os mistérios do antigo Egito!

  2. Sabia ter sido ele, desde sempre, adepto de Platon, como filho de família romana conceituada, rico qual Creso, desde jovem se tornara amigo dos filósofos egípcios e gregos, tomando o Egito como ponto culminante de seus estudos. Lá viveu durante dez anos, fazendo-se ini- ciado nos mistérios. Munido duma carta de César Augusto, meu irmão, eram-lhe facultadas todas as prerrogativas, estendendo-se à função mi- litar, porquanto foi nomeado coronel civil de Memphis. Aquela cidade mantém um destacamento militar sujeito a Justus Platonicus; entretan- to, não é ele ativo.

  3. Ignorava ter ele se tornado até sacerdote e sua pessoa dá-me que

pensar, pois através de seu esforço pelos núbios, fez-se meritoso para mim. Qual seria Tua Opinião a seu respeito? E qual sua posição perante o Reino de Deus, sendo ele pagão?”

  1. Respondo: “Que pergunta! Justus é um homem de acordo com Meu Coração; ama Deus sobre todas as coisas e o próximo mais que a si mesmo! Quem assim age, já está no Meu Reino, se judeu ou pa- gão! Afirmo-te, ser mais fácil Eu entrar num acordo com ele, do que convosco; mas também vos estimo! Para a conservação de Meu Verbo, não há como estes negros; pois aquilo que chegam a assimilar, perdura inalterável e puro qual diamante lapidado. Qualquer um pode garantir manterem eles Minha Doutrina fielmente, após dois mil anos!

  2. Esta raça tem a particularidade de conservar um hábito ou ensi-

namento de modo tão puro, como o recebeu. Nada subtrairão ou adu- zirão; isto, porém, não indica serem eles superiores à branca. Acham-se, como descendentes de Caim, num grau inferior e, dificilmente, alcan- çarão a filiação divina, por serem simplesmente criaturas deste planeta, dotadas de algum raciocínio, inteligência e consciência, porém, de li- mitado livre-arbítrio.

  1. Esta livre vontade reduzida é entretanto, mais firme que a vossa, inteiramente liberta! Aquilo que os negros determinam, também é por eles executado, — mesmo se para tanto fosse preciso arrasar monta- nhas! No decorrer deste dia, ainda vereis provas de sua vontade que vos deixarão extasiados! Sua imutabilidade nas atitudes — maior que em vós, descendentes de Seth — prova seu físico.

  2. Este guia é evidentemente o mais velho; seu servo conta vinte oito anos menos! Observai se existe diferença entre eles, pois se pare- cem como irmãos gêmeos! Ser-vos-á difícil determinar a idade destas pessoas. Sua força e agilidade são idênticas, tanto dum septuagenário, quanto dum jovem.

  3. Vós, brancos, seguidamente, contraís moléstias e vossa pele é sujeita a variados males; eles, quando permanecem em sua alimentação natural, desconhecem enfermidades. A maioria morre de decrepitude. Assim como sua natureza é mais firme que a vossa, sua estabilidade psí- quica também difere e é mais sólida; entretanto, farão menor progresso no aperfeiçoamento espiritual, por ser sua vontade menos maleável. Se bem que se submeta a uma imposição, tudo depende de grande rigor e trabalho.

  1. O valor da alma e do espírito não se prende numa firmeza, de certo modo instintiva, senão na capacidade de assimilação da alma, pela qual ela compreende e alcança rapidamente a Luz da Verdade, de sorte que aceita o Bem e a Verdade, deles se assenhorando pelo livre-arbítrio. Então agirá de acordo, único meio útil no conhecimento da psique.”

  1. DIVERSIDADECLIMÁTICAERACIALNA TERRA

  1. (O Senhor): “Estas criaturas privarão, de agora em diante, com outros povos cultos e ativos, onde poderão observar lavoura, cultura da vinha e grandes cidades com palácios maravilhosos. Se daqui a mil e até dois mil anos as pudésseis observar, veríeis habitarem as mesmas chou- panas e não serem capazes de construir uma casa de madeira, muito menos de pedra. Não quero contestar sua capacidade para tanto, pois poderão aprender arquitetura; faltar-lhes-á o espírito empreendedor fa- cilmente maleável e indispensável, na realização de qualquer obra.

  2. Eis por que sua viagem para aqui é uma empresa gigantesca para

eles, enquanto que para vós seria uma brincadeira! O trajeto é longo e o calor dificulta as viagens; mas para a natureza destas criaturas, pode ele atingir grau considerável até que venham a senti-lo. Seu sangue é mais pesado e bilioso; contém pouco ferro, necessitando, por isto, grau elevado de calor para se tornar mais líquido.

  1. No rigor do inverno, digamos, nos países nórdicos de Ouran, muito haveriam de sofrer; sua pele racharia porquanto o sangue não faria a circulação nas extremidades. Dar-se-iam coágulos que, numa forte tensão dos vasos, romperiam, provocando hemorragias e dores consideráveis. A temperatura que faria incandescer a pedra, pouco os impressionaria. Um habitante do Norte que fosse a Nouabia, no verão, sucumbiria em poucos dias.

  2. Perguntas em teu íntimo: É preciso haver graduações de tem- peratura tão diversas sobre a Terra? Não seria possível reinar, apenas, frio ou calor? — Se fosses mais familiarizado com a forma do globo — muito embora te ensinasse sobre sua formação, quando Eu ainda era criança — tal indagação não teria surgido!

  1. As graduações da temperatura são consequências inevitáveis da forma esférica da Terra, porquanto, numa outra qualquer, a luz solar não se distribuiria de modo tão útil. Seria necessário fazer-se irradiar três sóis, isto é, um sobre cada Polo e outro no Equador! Quem, neste caso, suportaria o calor no solo terráqueo? Qual seria o benefício da noite para todos os seres, e qual a rotação do orbe quando dependesse da força de atração idêntica de três sóis iguais?!

  2. Já te expliquei — bem como a outros — o tamanho enorme do astro e quão pequena a Terra. Deve ela girar em torno do Sol numa dis- tância e velocidade precisas, do contrário, seria por ele atraída ou afasta- da ao Infinito. No primeiro caso, o orbe seria dissolvido, num instante, no fogo externo da atmosfera solar, ou seja pelos espíritos presos em sua matéria, em estado etéreo primitivo. No segundo caso, congelaria por carência de calor! Em ambas as hipóteses, não seria admissível se pensar em vida orgânica nas planícies da Terra!

  3. Por aí vês que uma necessidade atrai outra, dentro de Minha

Ordem, e ser impossível existir a mesma temperatura dum Polo a ou- tro. Além disto, ela é indispensável à povoação de todo o planeta, a fim de que as almas surgidas pelas criações precedentes e mais libertas, possam encarnar num corpo, de acordo com sua natureza. Resta, pois, povoar as zonas quentes com pessoas cuja natureza suporte tal clima; e nos climas frios, outras, de constituição acessível aos mesmos, a fim de cultivá-los dentro das possibilidades. Compreendendo isto, saberás porque na África Central só pode haver criaturas de tais características e de temperamento todo especial. Compreendeste?”

  1. Responde Cirenius: “Senhor, perfeitamente e Te agradeço por ensinamento tão salutar, pois percebo quão sábia e útil é a organização terráquea. Por isto, Deus e Senhor, a Ti, todo louvor, gratidão e honra! Pois Céus e Terra estão plenos de Teu Amor e Sabedoria!

  2. Mas qual será Tua Intenção para com os negros, pois vejo que ainda não se acham dentro da ordem? Seu guia explanou-lhes Tua Di- vindade de modo racional e incisivo. O relato do milagre deixou-os um tanto extasiados; entretanto, percebo que um dentre eles faz-lhe diver- sas indagações a respeito do diamante, pois supõe o guia tê-lo trazido

para provocar um deslumbramento entre eles. Que ideia! O pobre guia parece ter dificuldades em convencê-los!”

  1. Digo Eu: “Um pouco de paciência até que tenham caído numa fermentação psíquica, onde auxiliaremos o chefe; com essas pessoas tudo é mais demorado. Além disto, se nutriram com alimentos estra- nhos, o que as torna mais confusas ainda. Mas está bem assim, do con- trário, não teria sido fácil convencê-las de algo oposto aos conhecimen- tos de Deus, adquiridos em Memphis.

  2. De modo algum conseguem unificar a Infinidade Divina com Minha Pessoa; mas quando tiverem conjeturado bastante, nosso tra- balho será menor. Enquanto isto, são orientados pelo guia da suspeita de fraude quanto ao milagre. Quem levanta dúvidas infundáveis sobre algo real, deve receber ensinamento incisivo. Quanto mais estes negros forem humilhados e reduzidos por palavras severas, tanto mais firmes se tornarão na Doutrina.”

  1. AASSIMILAÇÃODADOUTRINADA VERDADE

  1. (O Senhor): “Comumente encontram-se pessoas de fácil com- preensão que, não sendo bem doutrinadas esquecem o que aprenderam, não lhe dando o devido valor; enquanto que outras, de certo modo levadas por provações e sofrimentos a assimilarem um ensinamento, jamais o põem de lado.

  2. Muitas há dotadas de talento e outras faculdades; facilmente compreendem e assimilam tudo; mas, em época das provas necessárias, consideram suas vantagens mundanas e temem o sacrifício, tudo fazen- do para esquecerem e se livrar das coisas espirituais que, muito embora evidentemente verdadeiras, não lhes trariam interesses mundanos.

  3. Assemelham-se às efêmeras transparentes que brincam o dia todo na luz, por ela transluzindo, inflamadas, cheias de vida; mas quan- do vem a noite como provação da vida, sua luz e chama se extinguem, finalizando sua própria existência!

  4. Por isto, as criaturas que inicialmente custam a assimilar uma verdade mais elevada, prestam-se mais para o Reino de Deus que as

outras. Conservam a lição de modo fiel e vivo, enquanto as primeiras brincam com a Luz Celeste quais efêmeras com a luz solar, que lhes trará benefício idêntico.

  1. De quando em quando, surgem pessoas que facilmente assimi- lam uma verdade, conservam-na e durante à noite, iluminam quais es- trelas, trazendo grande bênção para si e para outras. Todavia, são raras.

  2. Esses negros compreendem com dificuldade; mas aquilo que assimilarem, ser-lhes-á posse e daí por diante, projetarão seu conhe- cimento aos descendentes mais distantes, semelhantes às estrelas do Orion e Sirius, no vasto Espaço.

  3. Sucede com a efetiva compreensão e o justo entendimento de Minha Doutrina o mesmo que na aquisição duma fortuna: quem a tiver adquirido de modo fácil, em breve a terá gasto, pois não está ha- bituado a privações e nunca tentou fazer economias. Uma vez de posse de uma considerável herança ou dum lucro fácil, não considerará tal fortuna, pois julga ser coisa simples adquiri-la. Mas quem tiver angaria- do grandes bens pelo próprio esforço, sabe quanto suor lhe custou cada moeda; por isto, considera sua fortuna e não a esbanja de modo leviano.

  4. O mesmo se dá com os tesouros espirituais. Quem os consegue

facilmente, não lhes dá valor; pensa que jamais os perderá e caso algo ou tudo perdesse, conquistá-lo-ia de novo. Tal porém não se dá; quem algo perde espiritualmente, não o alcança mais tão rápido como da primeira vez.

  1. No lugar da perda espiritual se posta a matéria; um julgamen- to não tão facilmente afastado no início. Do mesmo modo que tudo de fonte espiritual mais se espiritualiza e liberta, tudo que é matéria também se torna sucessivamente mais material, mundano, cheio de condenação e morte, diante do espírito. Uma vez a criatura presa no julgamento, tolhida na vontade e no conhecimento, dificilmente con- segue sua libertação.

  2. Quem possui o Meu Verbo, deve conservá-lo e permanecer fir- me nele, não pelo conhecimento, mas principalmente, pelas ações e obras; pois todo saber e fé sem obras, nada representam e não têm valor para a vida!

  1. Que proveito teria a pessoa necessitada de encetar uma viagem a uma cidade, que conhece apenas de nome, se alguém lhe fizesse a descrição perfeita? Ela, porém, não deseja para lá encaminhar-se, e até mesmo volta para continuar em direção oposta. Acaso alcançará seu destino? Afirmo-te: passará por toda parte, sem nunca chegar à meta. É preciso marchar-se em direção ao destino final!

  2. De acordo com o conhecimento do orbe, são os núbios as cria- turas mais ignorantes do mundo, e sem a orientação de Justus Platô- nicos jamais teriam achado o caminho para cá; uma vez orientados, seguiram-no estritamente, e sua chegada prova sua vontade irredutível, tendência predominante da raça. Toda pessoa de firme vontade executa o que quer.

  3. Quem, portanto, possui Meu Verbo e Minha Doutrina há de alcançar sua meta, sem que possa ser impedido. Quem, todavia, se conduz dentro dos ensinamentos e, ao mesmo tempo, cumpre as exigências do mundo fútil, assemelha-se a um viajor que, após me- tade do caminho percorrido, dá meia volta para retornar ao ponto de partida.

  4. É idêntico, também, a um servo que tencione servir a dois se- nhores. Acaso dará conta de serviços antagônicos? Poderá amar a ambos os patrões, mesmo aparentemente? Qual não será a reação deles quando souberem de sua atitude dúbia? Ambos não lhe dirão: Oh servo poltrão, como podes amar o meu pior inimigo?! Serve apenas a mim — ou vai-

-te embora! Ninguém pode servir, em verdade, a dois senhores; terá de suportar um e desprezar outro. Tal servo, sem consciência e caráter, será demitido por ambos e dificilmente aceito num outro emprego; ficará entre a cruz e a caldeira.

  1. A intenção destes núbios em servirem apenas a um Senhor re- sulta na dificuldade do guia para com seus colegas, que gravaram pro- fundamente as palavras do sábio em seus corações, de onde dificilmente serão arrancadas. Unicamente aquilo que o militar de Memphis havia explicado sobre a Personalidade Divina — de acordo com Moysés — é o marco de partida e uma ponte, pela qual podem ser conduzidos a Mim. Nesta ponte, o guia disserta e procura modificar os mais teimo-

sos. Se Eu não lhe enviar a ajuda do anjo, nem daqui a um ano terão chegado a bom resultado!”

  1. Diz Cirenius: “Ó Senhor, tinha vontade de ficar perto do gru- po para poder ouvir as negociações!” Digo Eu: “Não será preciso, pois o vento será portador das palavras a serem proferidas!”

  1. RAPHAEL CONVENCE OS NEGROS DA DIVINDADE DE JESUS

  1. Chamo, pois, o anjo e lhe digo em alta voz para que os ou- tros Me ouçam: “Raphael, Oubratouvishar acaba de alcançar o ponto onde poderás ajudá-lo! Todos estão prontos a aceitar seu parecer a Meu respeito, caso ele prove ter sido o diamante por ti transportado, num instante, da Nouabia até aqui, o mesmo que lá deixou por esquecimen- to. Vai, pois, e efetua o transporte daquilo que cada um deseja de sua cabana, — e a discussão estará terminada!

  2. Essas pessoas de difícil compreensão devem ser convertidas por um milagre, porquanto a simples palavra, para eles, não possui poder convincente. Além disto, um milagre não os prejudica tanto quanto qualquer um de vós, e especialmente certos judeus. Criaturas ainda em contato com a Natureza, também conseguem produzir fatos extraor- dinários, apenas pela aplicação de sua firme fé e vontade irredutível,

— ocorrência comum entre eles. Mais tarde tiraremos a prova disto. Um grande milagre não é de efeito considerável e deste modo, podem ser assim tratados, sem dano e aborrecimento. Já sabes, portanto, o que fazer e falar.”

  1. Incontinente, o anjo se dirige à mesa dos negros, cujas discus- sões haviam chegado ao auge em virtude do vinho. Eis que Raphael diz com voz incisiva: “Por que acusais este vosso maior amigo e benfeitor a quem tudo deveis, como se vos quisesse enganar pela aceitação duma fé errônea?! Por que duvidais do milagre que eu efetuei a mando do Senhor, classificando-me de trapaceiro que agisse em seu proveito, a fim de vos enganar? Quais são as provas por vós exigidas e capazes de disper- sar vossas dúvidas? Quereis que vos traga algum objeto de vossa pátria?”

  1. A este convite enérgico, todos se calam de medo, sem saber como agir. E o guia diz: “Eis o socorro divino que me justificará diante de vossas acusações descabidas! Fazei vossos pedidos; somente provas tais desfarão vossa enorme tolice!”

  2. O maior descrente então se levanta, dizendo: “Em minha taba se acha um tesouro escondido; com exceção de minha mulher que aqui está, ninguém sabe de sua existência. Traze-o aqui e me darei por vencido!”

  3. Diz o anjo: “Determina o tempo que desejas eu gaste para te tra- zer o tesouro, embrulhado em linho e palha, enterrado na areia a dois pés de profundidade. Ele consiste numa pepita de trinta libras de peso, que se acha do lado de fora de tua cabana, em direção ao Levante junto de uma grande palmeira!”

  4. O preto arregala os olhos e diz: “Como te é possível sabê-lo tão perfeitamente?! Com isto já dispersaste minhas dúvidas! Contudo o assunto se torna cada vez mais estranho! Se indubitavelmente naquele homem habita a Plenitude do Espírito de Deus — como nos defende- remos diante Dele? Não O ofendemos com nossas suspeitas? Estamos perdidos!”

  5. Contesta Raphael: “Em absoluto, pois estais todos salvos! Dize-

-me, porém, o tempo exato em que devo apanhar o teu tesouro!”

  1. Diz o negro: “Ó amigo! Não o necessito mais para a minha convicção; mas querendo trazê-lo, não precisas apressar-te! Se for de valor, alguém poderá me oferecer em troca uns instrumentos úteis. É muito interessante, apresentando figuras em sua superfície, algu- mas foscas, outras apenas refletem a luz solar. Nisto vejo o real valor do tesouro!”

  2. Diz o anjo: “Observa-me! Vou apanhá-lo e podes contar os instantes que necessitei para tanto!” Os núbios não tiram os olhos de Raphael que nem se afasta, mas indaga: “Percebeste minha ausência?” Diz o outro: “Não, porquanto te achas no mesmo lugar!”

  3. Contesta Raphael: “Qual nada, pois a teus pés está tua joia!” Convencendo-se das palavras do anjo, o negro começa a tremer e seus lábios empalidecem. Os outros também expressam estupefação, excla-

mando: “Pelo Poder do Onipotente! Como pode isto ser possível, con- quanto nem te ausentaste?!”

  1. Responde Raphael: “Para Deus tudo é possível; daí podereis deduzir como Ele, ao Se encontrar como Homem entre os homens, rege e mantém com Sua Onipotência o Infinito, não havendo diante de Seus Olhos, que tudo abrangem, algo que não soubesse a fundo.

  2. O fato Dele ter encarnado neste planeta tornando-Se Presente em Pessoa, reside no Seu Imenso Amor às criaturas da Terra, e através disto, às de todos os inúmeros mundos, a fim de ser Deus e Pai visível, palpável e audível para todo o sempre! Ele como Deus é o Amor mais poderoso e puro, razão pela qual tanto o homem quanto o anjo só se Lhe podem achegar pelo amor.

  3. Se Dele quiserdes vos aproximar, deveis antes de tudo, amá-Lo sobre todas as coisas e vosso próximo como irmão; sem este amor, é inteiramente impossível uma real aproximação. Agora, apanha o teu tesouro e vê se é o legítimo!”

  1. O NÚBIO E OUBRATOUVISHAR ENTREGAM SEUS TESOUROS A CIRENIUS

  1. Refazendo-se do susto, o núbio apanha a considerável pepita e a coloca sobre a mesa onde tira o invólucro. Muitos se aproximam para vê-la de perto e Judas, não contendo sua curiosidade, também se extasia e lastima não ser o dono. Após ter sido admirada por todos, o negro indaga do anjo a quem poderia ofertá-la porquanto não tencionava le- vá-la de volta.

  2. Apontando-lhe Cirenius, o anjo diz: “Eis à direita do Senhor o Governador de Roma; reina sobre a Ásia e grande parte da África e todo o Egito lhe é sujeito, — portanto também o coronel de Memphis! Dá-lhe teu tesouro. E tu, Oubratouvishar, farias melhor entregar-lhe o diamante, pois Justus Platonicus não liga muito a tais objetos. Dou-te apenas um conselho, e poderás agir a teu contento.”

  3. Responde o guia: “Tua proposta é para mim um mandamento que cumprirei a toda risca, porquanto só me podes aconselhar o me-

lhor!” Com isto, ambos se dirigem com seus tesouros a Cirenius, onde o guia diz: “Não me informei antes a teu respeito, senão apenas pelo Se- nhor, pois pensava: Só pode haver um senhor e soberano e todos outros são Seus servos. Orientado pelo jovem milagroso seres tu um grande dirigente, decidi, a seu conselho, oferecer-te nossos tesouros em troca de alguns instrumentos úteis. Assim poderemos construir edificações adequadas ao preparo de pão.

  1. Nossas ferramentas agrícolas feitas com madeira e osso animal, são péssimas e perdem o corte. Em Memphis conhecemos vários ins- trumentos de corte, que nem a pedra cegam; isto nos é mais proveitoso que nossos metais ofuscantes.”

  2. Diz Cirenius: “Amigo, aceito-os não para mim, mas para o povo galileu, atrasado com o pagamento do imposto a Roma. Com estas duas peças suprirei os gastos deste país durante dez anos, o que muito o aliviará. Ao voltardes à pátria, tratarei para que recebais quantidade su- ficiente de ferramentas e instrumentos; caso queirais aceitar a proteção romana, sereis supridos de ano em ano. Do contrário tereis de fazê-lo pessoalmente, em Memphis, em troca de metais iguais a este.”

  3. Responde o guia: “A fim de resolver tal assunto, seria preciso formar um plebiscito, coisa difícil em nosso vasto país, cujos habitan- tes, às vezes, moram em cantos inacessíveis. Será melhor buscarmos o necessário em Memphis.

  4. As leis romanas podem ser boas, porém imprestáveis para nós. O próprio Justus Platonicus nos fizera proposta idêntica, que tampouco aceitamos. Se penetrásseis em nosso país, pouco benefício vos traria! Pe- rambularíeis no deserto incandescente e pereceríeis às centenas, sem en- contrardes seres humanos, mas leões, panteras e tigres, aos milhares, que vos estraçalhariam; além disto, não venceríeis na luta contra os ofídios!”

  5. Diz Cirenius: “Como vos entendeis com estes animais selva- gens? Não vos atacam realmente?”

  6. Responde o guia: “Não ouviste há pouco do jovem e pela Boca Santificada do Senhor, como somos constituídos? Como ainda indagas? Não o repitas, pois a resposta de nada te adiantaria!” Curvando-se respei- tosamente, ambos voltam para junto dos outros e relatam o que se passou.

  1. A ORIGEM DO TEMPLO JABUSIMBIL, DA ESFINGE E DAS COLUNAS DE MEMNON, REPRESENTADAS PELAS DUAS PRIMEIRAS PÉROLAS

  1. Os companheiros, porém, dizem: “Como foi possível che- gardes a um acordo com o Senhor, porquanto não Lhe dirigis- tes palavra?”

  2. Responde o guia: “Aqui, onde Ele Se encontra, tudo emana Dele e lidamos apenas com Ele, embora tratássemos com Seus discípulos.” Todos se dão por satisfeitos e se calam. Alguns então viram-se para o anjo, dizendo: “Ouve, jovem milagroso, não nos poderias trazer nossos tesouros, todos especiais, guardados em nossas cabanas?”

  3. Diz Raphael: “Apanhai-os, diante de vossos pés, colocai-os na mesa e veremos o que são!”

  4. Cinco negros olham debaixo da mesa e reconhecem, admira- díssimos, os embrulhos de sua propriedade; erguem-nos e apresentam quatro consideráveis pepitas de ouro que pesam ao todo mais de cem libras. Dum quinto pacote surgem sete cascalhos enormes, que Marcus considera inteiramente sem valor.

  5. Aduz Raphael: “Espera, que verás serem, justamente estas pe- dras, de valor insuperável no mundo! Dá-me um bom martelo que iremos analisá-las.” Prestimoso, Marcus apanha um martelão de ferro e entrega-o ao anjo. Com cuidado, este apanha uma das pedras, dá-lhe algumas leves pancadas com o que se solta a crosta de cascalho, fazen- do surgir uma pérola do tamanho duma cabeça humana, despertando geral admiração.

  6. Na superfície desta pérola fantástica, viam-se gravados vários de- senhos e hieróglifos, entre os quais um esquema do Templo Jabusimbil, no momento em que se terminara as quatro figuras gigantescas, após cento e setenta anos de trabalho, cheios de sacrifícios e sofrimento. Na- quela época, ainda se esculpia as cornijas com enormes escritos e outros sinais e também se iniciara a abertura para o portal. Quem fosse capaz de decifrá-los, saberia da origem do Templo e o motivo dos egípcios o erigirem, perto do Nilo.

  1. Essa pérola tinha, portanto, imenso valor pelo tamanho e pela sua História. Além disto, originava-se dum período terráqueo muitos milênios antes do surgimento do primeiro homem.

  2. Na era em que tais crustáceos gigantescos habitavam o Mar, a parte mais rasa da África era banhada pelas vagas enormes do Oceano Atlântico. Os antigos egípcios acharam a concha quando da escavação para a base da primeira Pirâmide, onde descobriram essas sete pérolas, uma das quais Raphael acabava de fazer surgir de seu invólucro.

  3. Naturalmente é ele importunado com indagações e dá, então, a explicação acima. Em seguida, toma da segunda pérola e liberta-a do mesmo modo. Também ela estava cheia de sinais e escritos e, numa das superfícies mais lisas, o Templo de Jabusimbil estava completamente gravado em miniatura, junto a uma cabeça semelhante à da grande Esfinge. De novo Raphael é assaltado por perguntas e diz:

  4. “Amigos, sem a completa iluminação do espírito na alma, ne- nhum mortal de hoje poderá desvendar tudo aquilo que contém esta pérola! Embora seja da mesma época que a primeira, sendo maior, foi ela gravada somente cem anos mais tarde, quando terminara a constru- ção do Templo, cujo interior todavia, ainda não estava concluído.

  5. A cabeça representa o sétimo rei pastor (faraó), que se deno- minava Shivinz (erroneamente ‘Esfinge’), — o vivo e empreendedor. Alcançou perto de trezentos anos; sua cabeça foi esculpida em tamanho colossal numa rocha de granito que ainda hoje se acha bem conservada.

  6. Esse Shivinz introduziu grandes melhoramentos em escolas, lavoura e cultura geral, desfrutando de seu povo uma veneração quase divina. As inscrições na pérola se referiam, precisamente, às benfeitorias que ele criou através de seu espírito ativo.

  7. Não foi ele o iniciador da escultura no grande Templo, pois isto foi feito por dois antecessores, mui devotos ao Espírito Divino. Por gratidão ele os fez esculpir sentados, não longe do Templo e perto do Nilo, numa vasta planície, em tamanho colossal para eterna recordação. Como não possuíam nome e não o queriam por simples modéstia, ele lhes deu o nome ‘Os Ignotos’ (Me maine oni, mais tarde desvirtuado para Memnon), cujas estátuas ainda hoje estão bem conservadas.”

  1. Aduz o guia: “Realmente, tudo isto vimos e admiramos con- dignamente. Qual seria sua idade?”

  2. Responde Raphael: “Perto de três mil anos; os subsequentes três mil não apagarão seus vestígios! Iremos agora desvendar a terceira pérola, em cuja superfície vereis além dos dois antecessores de Shivinz, outra grande revelação que vos dará que pensar!”

  1. SEGREDODATERCEIRA PÉROLA

Ossetegiganteseos sarcófagos

  1. Pondo a descoberto a terceira pérola, Raphael aponta as duas estátuas de Memnon e diz: “Eis os dois ignotos; acima deles vedes sete gigantescas figuras humanas, vestidas e rodeadas por quantidade de outras, em miniatura. Qual seria a intenção de Shivinz em gravar as pérolas de tal forma? Ouvi! Cento e sete anos antes dos dois ignotos, foi destruído um grande planeta no Imenso Espaço, pela permissão do Senhor. Era ele habitado por criaturas gigantescas.

  2. Com a súbita e imprevista destruição — embora tivesse sido anunciada àquelas criaturas, por diversas vezes —, aconteceu terem sete caído no Norte do Egito, em áreas extensas onde produziram forte tremor de terra. Essa chuva humana durou dez dias, isto é, entre a queda do primeiro e do sétimo. Os habitantes passaram por imenso susto, pois temiam que tais gigantes viessem soterrá-los du- rante a noite, e assim passaram a observar o Céu, a fim de poderem se refugiar.

  3. Durante dez anos havia vigias constantes; como nada mais acon-

tecesse, os ânimos se aquietaram, e os habitantes se atreveram a fitar os enormes cadáveres, completamente ressequidos e que se achavam várias horas de marcha distantes um do outro.

  1. Os sábios egípcios julgavam terem sido aqueles gigantes atingi- dos pela Ira Divina, por haverem ultrajado o Seu Nome, sendo atirados, pelos anjos, àquela zona, a fim de mostrar não ter Ele poupado os pró- prios gigantes. Para encurtar, começou-se a queimá-los aos pedaços e em cinquenta anos não mais havia vestígios. O fato de terem os egípcios

recebido forte impressão do acontecimento, prova sua grande tendência manifesta nas esculturas.

  1. No Templo de Jabusimbil esculpiram-se sete gigantes em cada divisão, como suportes do teto, nos trajes que usavam os que lá haviam sido projetados. Os egípcios, que anteriormente andavam completa- mente nus, imitaram tal indumentária, o que até hoje ainda se pode notar. Suas múmias e sarcófagos estão cheios de tais ornamentações.”

  2. Indaga o guia, qual era a ideia dos antigos, referente aos sarcófa- gos e porque assim denominavam tanto os grandes, quanto os peque- nos caixões maciços.

  3. Diz Raphael: “Sereis esclarecidos de sobra! Sabeis ser difícil o enterramento de corpos neste país, cujo solo seco não permite a decom- posição, portanto não pode ser destruído. Nas proximidades do Nilo, não se podia efetuar o sepultamento, para não deteriorar suas águas. Deixar os cadáveres a mercê dos animais selvagens, não se coadunava com o espírito humanitário dos egípcios. Que fazer então?

  4. Tiveram uma ideia bem inteligente: esculpiram de pedra, gran- des e pequenos caixões onde cabiam um, dois ou três corpos. Cada caixão tinha uma tampa consideravelmente pesada. Em tal sarcófago se deitavam um ou vários defuntos após terem sido untados com Mum (Muma ou Mumie, isto é, rezina terráquea); incandescia-se o tampão, fechando o caixão para sempre. Isto ressecava os defuntos, carbonizava-

-os e até mesmo reduzia-os a cinza.

  1. Em grandes povoados, usava-se caixões em comum que eram abertos de sete em sete anos, quando novamente eram preenchidos com corpos, em cuja tampa se fazia um fogo forte, que os reduzia a pó. Uma vez cheio de cinzas, o sarcófago não mais era aberto, mas ficava como recordação da inconstância das coisas terrenas.

  2. Com o tempo, se erigia abóbadas abauladas e pirâmides sobre tais sarcófagos, motivo pelo qual ainda hoje se vê uma quantidade de caixões nas Kai-tu combas (isto é, recinto oculto). Os ditos sarcófagos assim são denominados, por se dizer no antigo idioma Sarko — in- candescente — e vaga (Vascha) — tampão. Estais pois informados a respeito e passaremos à quarta pérola.”

  1. RAPHAEL EXPLICA AS CONSTELAÇÕES NA QUARTA PÉROLA

  1. Cuidadosamente, Raphael tira a casca da quarta pérola. Antes, porém, de começar a explicação, o guia indaga: “Ó jovem milagro- so, Dedo do Altíssimo, não te aborreças se te importuno com uma pergunta! Preocupa-me necessitares do martelão, embora provido de poder sobrenatural! Será ele indispensável, ou dele te serves apenas para demonstrar maior naturalidade, proporcionando-nos ambiente calmo e sem temor?”

  2. Responde o anjo: “Nada disto; faço-o para exemplificar como devereis agir, caso encontrardes semelhantes pedras. Nos desertos do Egito Norte e Central há grande quantidade destes cascalhos, se bem que poucos com tal conteúdo. Todos eles contêm desenhos, inscri- ções e sinais variados, pois os antigos egípcios não possuíam papel para escrever. Por tal razão, aproveitavam as partes lisas das pedras, a fim de gravá-las, no começo com lápis de osso, e mais tarde, com lápis de metal.

  3. As inscrições mais antigas só tinham a registrar simples ocorrên-

cia com as manadas; as posteriores já contêm, como as presentes péro- las, fatos importantes não só para esse vasto país e povo, mas para todo o orbe. O Senhor assim quis que ele se tornasse uma escola preparatória para a Sua Encarnação, motivo por que enviou seu povo predileto — os hebraemitas — para longa instrução ao Egito. E Moysés, o grande profeta do Senhor, havia cursado as escolas em Kahiro, Teba (Thebai ou Thebsai, Casa de loucos, mais tarde uma grande cidade povoada), Kar- nag, nas mais antigas cidades de Memphis, Diathira (Dia Daira — local de serviços forçados), e em Elefantina (El ei fanti — os descendentes dos filhos de Deus), sendo guiado pelo Espírito de Deus, aos cinquenta e sete anos, através do Sués, na fuga do cruel Varion, (Faraó) — confor- me se lê sua história na Escritura.

  1. Em suma, o Egito foi por Deus destinado para escola prepara- tória, e seus habitantes, os mais antigos do mundo desde eras remotas, dotados de muita cultura, e negociavam com quase todos os povos.

Compreendeis, portanto, a razão pela qual tudo que lá se encontra tem muitas vezes importância tão profunda.

  1. Analisemos, pois, a quarta pérola: Deparamos várias figuras de caçadores com aljava, arco e flecha e uma grande manada, cercada por leões. Indica uma tremenda luta dos egípcios com leões, que naquela época, invadiam os rebanhos do país.

  2. À direita desta cena, vedes os pastos cercados por muros onde se acham cabeças de touros, os chifres ora para cima, ora para baixo ou para o lado, o que indica que os rebanhos antes da proteção dos muros se achavam indefesos. Nos cantos da murada vedes, também, um cão, ora deitado ora de pé; seu nome é Pas, ou Pastshier (vigia do pastor).

  3. Mais à direita destaca-se, novamente, o Varion Shivinz (Esfin- ge), protegido por grande cão, em cuja frente se veem pedaços de leão. Um pouco mais acima está o mesmo animal e a seus pés: Sol e Lua. Que significa isto?

  4. Ouvi: Shivinz possuía, como Rei dos pastores, realmente, um cão, tão grande, que aniquilava tanto o leão quanto a pantera. Por mui- to tempo vigiou os rebanhos; após morto, Shivinz determinou eter- nizar o animal por respeito e consideração, numa constelação austral, denominando-a ‘o grande cão’, pois acha-se abaixo do Sol e Lua. Sem- pre que se vê algo abaixo do Sol e da Lua significa recordação de algo importante.

  5. Um grande e vigilante cão é hoje em dia — mormente aqui onde quase não existem animais ferozes — sem importância. No ve- lho Egito, porém, onde o seu papel era preponderante, o cão era de grande necessidade. Sua manutenção era fácil, porque tal raça enorme, geralmente, se nutria de camundongos; além disto, comia diariamente, milhares de gafanhotos; leite só tomava uma vez ao dia, tornando-se fiel aos rebanhos.

  6. Além dos grandes, os antigos egípcios também consideravam os pequenos cães, denominando-os de Mal pas (pequeno cão), pois de- nunciavam os intrujões. Os grandes, uma vez alarmados, desandavam a ladrar com energia, enchendo a zona de respeito e afastando os animais

selvagens. Os de menor porte eram, em geral, adestrados para prote- gerem a criação de galinhas. Tudo isto foi idealizado por Shivinz, que demonstrava aos conterrâneos a utilidade de sua carne e quão saborosos seus ovos, fritos ou cozidos. Aperfeiçoou o paladar dos habitantes, já consideráveis em número, o que até redundou numa verdadeira guer- ra de galinhas, sobre a qual Heródoto, historiador da Grécia, fala de modo místico.

  1. Shivinz proporcionou ao pequeno cão determinado lugar entre as estrelas, e o chamou de Porishion (Procion). Perto dele se acha a ve- lha Kokla (galinha choca); mais tarde mudou para Peleada ou Pleadza, e devido a um mito, foi pelos gregos denominada Plêiade.

  2. Vedes tudo isto em cima da pérola, e podeis reconhecer a in- teligência de Shivinz. Não foi tanto sua preocupação em fazer que seus discípulos relembrassem seus cães e suas galinhas, senão instruí-los no movimento sideral. Foi ele quem inventou, em Diathira, o primeiro Zodíaco, (Sadiaze — para o lavrador), determinando as diversas cons- telações de acordo com os acontecimentos cotidianos.”

  1. ADIVISÃODOTEMPO,NAQUINTA PÉROLA

  1. (Raphael): “Prestai atenção! Eis a quinta pérola! Já vos demons- trei como deveis lidar com tais relíquias remotas, a fim de descobri-las, de sorte que usarei meu poder de vontade com as três últimas. Vede — esta se desvenda diante de nós!

  2. Deparamos um Zodíaco de Diathira em sua superfície mais lisa! Ao lado, um Templo colossal; trezentas e sessenta e cinco colunas maci- ças carregam outros tantos arcos de pedras de granito vermelho, cons- truídas dentro das leis de arquitetura e de modo sólido. O arco mais elevado dista do solo, numa altura de sessenta e seis homens. Contém ele, precisamente, trezentos e sessenta e cinco orifícios, de tal forma aplicados que, durante o percurso duma constelação, o Sol projeta sua luz, ao meio-dia, no centro duma coluna, no meio do Templo. A luz so- lar projetava-se no altar em horas diversas, mas não passava pelo centro senão um ou vários graus mais laterais.

  1. Esta coluna, construída de modo tão artístico, ainda hoje existe, se bem que um pouco avariada, e subsistirá por muito tempo, servindo de orientação aos astrônomos.

  2. Desejais saber por que Shivinz mandou erigi-las, sem dúvida, com muito sacrifício? Antes daquela época não havia divisão de tempo, porquanto aumento ou diminuição do dia quase não eram notados. A Lua era o melhor e mais certo divisor do tempo. Em Diathira — a ci- dade dos trabalhos forçados — era necessário estabelecer-se tal ordem, dia e noite, razão por que Shivinz engendrou tal arco, no que levou dez anos, empregando cem mil operários.

  3. O arco era bastante largo e, entre a trigésima e trigésima pri- meira abertura, havia pintado o símbolo dum signo em vermelho, e no topo se via, em branco, a constelação correspondente. Aqui vedes o in- terior da coluna desenhada com traços leves, que em seguida eram des- tacados com tinta vermelho-escura, o que indica o espírito inteligente de Shivinz e o respeito ilimitado que os povos do Egito lhe rendiam. A consequência foi tão grandiosa, que bastavam um aceno seu e milhares se punham em movimento, dando origem a obras desse vulto.

  4. Nomeou os mais inteligentes para professores e sacerdotes, eri-

gindo, por toda parte, escolas para os mais variados fins humanos. A elevada sabedoria de Deus só era adquirida em Karnag e finalmente em Jabusimbil, através das mais duras provas.”

  1. Nisto, Marcus interrompe o anjo, perguntando: “Amigo adorá- vel, não nos poderias explicar o sentido peculiar da Esfinge que, sendo metade mulher e metade animal, dava aos homens o célebre problema a resolver, com risco de vida? Que espécie de animal é esse: de manhã anda de quatro, à tarde em dois e à noite em três pés? Quem não fosse capaz de decifrá-lo, seria morto pela Esfinge e caso contrário, ela se deixaria matar! Que há de verdadeiro nisto tudo?”

  1. O SEGREDO DA SEXTA PÉROLA: A REPRESENTAÇÃO DAS PIRÂMIDES,DOSOBELISCOSEDA ESFINGE

  1. Responde Raphael: “A sexta pérola responder-te-á. Aqui está ela. Que deparas à primeira vista?”

  2. Diz Marcus: “Vejo novamente a figura colossal de Shivinz e várias pirâmides; frente à maior estão dois obeliscos e ao lado — na realidade, talvez a cem passos — acha-se outra estátua descomunal. Cabeça, mãos e peito indicam uma figura de mulher. No lugar de ventre surge um cor- po de animal, indefinível. Atrás desta estátua singular, vê-se uma extensa muralha, circundando um grande pasto. Que vem a ser tudo isto?”

  3. Responde Raphael: “A figura feminina é precisamente Shivinz, o grande benfeitor, a quem o povo desejou eternizar, mandando erigir este colosso à sua própria custa. A grande pirâmide com os dois obelis- cos era uma escola chamada ‘Criatura, reconhece a ti mesma’. Possuía, no interior, vastos salões e labirintos em todas as direções que conti- nham organizações estranhas, para o conhecimento próprio, e daí, ao do Espírito Supremo de Deus. Tais arranjos tinham, às vezes, aspecto horrendo; mas nunca deixavam de alcançar bom êxito. As outras pi- râmides são geralmente indícios daqueles locais subterrâneos, onde se achava quantidade de sarcófagos, conforme já expliquei.

  4. Atualmente se encontram outras tantas pirâmides e templos no

extenso vale do Nilo, erigidos muito mais tarde, no regímen dos faraós, em épocas de Abraham, Isaac e Jacob. Nessas pérolas só se comenta as de Shivinz.

  1. O nome original era ‘Piramidai’ e significava: ‘Dá-me sabedo- ria’, e as duas colunas pontiagudas, chamadas ‘Oubeleiskav’: ‘O puro procura o que é elevado, belo e puro’. ‘Belo’ quer dizer ‘branco’, e como esta cor, para os antigos egípcios, era sinal de pureza, beleza e elevação, interpretavam-na de tal forma.

  2. O efeito salutar de tais escolas em breve se tornou conhecido, atraindo tantos estranhos para sua frequência, de modo a impossibilitar serem hospedados. Isto levou Shivinz a aplicar método drástico em fins de seu regímen.

  1. Nesta pérola vedes a estátua, semi-humana. Era oca e através duma escada de caracol, podia-se chegar à cabeça e falar nitidamente pela boca que continha um funil dirigido para baixo, dando a impres- são ter a estátua colossal falado, em verdade.

  2. Quando os estrangeiros se apresentavam para admissão na esco- la, um servente lhes chamava a atenção ser necessário se postarem em fila perante à figura que, externamente era morta, conquanto viva no interior. Cada interessado em tornar-se discípulo das pirâmides, rece- bia uma charada, sob risco de vida. Caso conseguisse desvendá-la, era aceito, dando-lhe o direito de fazer, igualmente, uma pergunta a ela e, se não fosse satisfatória a resposta, ele poderia destruí-la ou de certo modo, matá-la.

  3. O problema era dado com três dias de antecedência aos pre-

tendentes; quando, porém, chegava o momento, ninguém se atrevia a desafiá-la, pois todos recuavam com modéstia, pagavam a taxa inicial, voltando à pátria distante.

  1. Mais tarde, diz uma lenda, houve um grego que resolveu a cha- rada; não deixa de ser lenda, pois carece de verdade. O célebre enigma foi resolvido por Moysés, que todavia não destruiu a figura ainda exis- tente, embora avariada.

  2. Somente a construção interna não mais é encontrada, por- quanto acha-se soterrada pela areia e lama. O Nilo inunda de cem em cem, às vezes, também em duzentos anos a região, de sorte que, em vales mais estreitos, as ondas se elevam a trinta varas. Nessas ocasiões muito é destruído, porquanto grande quantidade de entulho, areia e lama é depositada sobre campos férteis.

  3. Na época de Shivinz, houve duas enchentes, que elevaram as vagas acima dos cimos das pirâmides. Há oitocentos e setenta anos, deu-se a última que provocou o soterramento do Templo Jabusimbil até a metade, e não foi possível limpá-lo, assim como outros monumentos. Desta forma obtiveste, Marcus, a explicação desejada. Estás satisfeito?”

  4. Replica este: “Não teria havido um corajoso durante um milê- nio, que arriscasse sua vida no dito problema? Que teria sucedido caso não o conseguisse desvendar?”

  1. Diz Raphael: “No local onde o aluno tinha de se postar, havia um alçapão que dava para um poço. Em lá chegando, teria ele sido agarrado por serventes, levado à escola — através dos labirintos —, de onde não sairia antes de se tornar homem perfeito. Nunca tal fato ocorreu na época em que o enigma foi resolvido; a construção estava tão obstruída, de modo a se tornar imprestável. Os primeiros faraós e seu povo, desde há muito, foram vencidos pelos fenícios, e os próprios reis, em tempos de Abraham, já eram fenícios. Agora vamos desvendar a sétima e última pérola.”

  1. ASCONSTELAÇÕESDASÉTIMA PÉROLA

Decadênciadaculturaegípcia.Históriadassete pérolas

  1. (Raphael): “Ei-la. Que vedes? Algo que não sabeis interpretar: Nesta pérola maravilhosa se acham desenhadas e untadas com tinta marrom avermelhada, todas as constelações, conservando-se até esta data, debaixo da crosta do entulho. Dela não aprendemos coisa de maior importância. Observamos ter tido Shivinz vasto conhecimento sideral e foi o primeiro a formar certo sistema; sua classificação das constelações ainda hoje é usual.

  2. Antes de seu regímen, a escrita por sinais, o conhecimento pró- prio e de Deus eram mui precários. Com esforço indizível ele organizou tudo isto e formou dum povo, anteriormente selvagem e nômade, um dos mais cultos e sábios do mundo, pelo que muito foi invejado. Aos es- trangeiros, cultura tão vasta, despertou grande interesse; tudo que viam, apresentava-se-lhes sumamente elevado, de sorte que não mais queriam deixar o país.

  3. De acordo com o incremento da peregrinação, fez-se também a colonização em larga escala, dando-se, destarte, o domínio dos povos primitivos e seus regentes em moldes pacíficos.

  4. Os descendentes de Shivinz já manifestavam tendências mais amenas e efeminadas; entregavam-se ao bem-estar, reportavam-se ao mérito de seu ancestral, não se preocupando com as coisas do Governo. A consequência foi que os imigrados — não raro pessoas

enérgicas — iam sendo nomeados pelos nativos para guias, sem uso da espada.

  1. De certo modo, foi um benefício; os nativos, porém, não lu- craram muito, porquanto os dirigentes estrangeiros (Varion, deturpa- do para Pharaon) em breve formaram um poder bélico, tornando-se verdadeiros tiranos e opressores. As escolas só eram acessíveis a pou- cos, e o ensino, longe do anterior, razão pela qual, pouco a pouco, se criou da verdade anteriormente pura a idolatria mais absurda, ligada à ignorância completa, onde mal se pôde descobrir — mesmo por grandes sábios — a cultura primitiva deste país. Por isso, estas sete pérolas são de valor incalculável, pois se originam duma era em que o Egito estava no auge de seu desenvolvimento espiritual, e devem ser bem guardadas.”

  2. Indaga um dos negros quando elas foram atiradas às areias do

Nilo, onde se perderam. E Raphael responde: “Já vos falei que este rio, em certas épocas, provoca verdadeiro dilúvio. Aproximadamente há quinhentos e sessenta e sete anos após Shivinz, o Nilo atingiu altura assustadora; nos estreitos, subiu mais de cento e sessenta varas. As cida- des localizadas nos vales foram inundadas pela enchente durante cinco semanas, e, nesta ocasião, as casas onde estavam guardadas as pérolas foram levadas pela enxurrada e cobertas de lama e areia.

  1. No decorrer de quase três mil anos, formou-se uma crosta con- forme vós mesmos as encontrastes e de onde eu as libertei; primeiro de modo natural e depois a meu especial feitio. Assim informados, tendes nestas sete pérolas, sete livros instrutivos sobre o país que ora habitais. Guardai-as bem; pois cada qual vale mais que um grande reinado. No momento, Oubratouvishar — o mais sábio entre vós — deverá guardá-

-las; quando deixar este mundo, determinará seu sucessor. Ai do indig- no que tencionasse delas se apoderar por cobiça!

  1. Eu, mensageiro e executor da Vontade Daquele que aí Se acha sentado, penso ter feito o suficiente no campo milagroso, a fim de vos estimular a fé! Caso não vos satisfizesse, nada mais poderei adiantar! Estais convictos ser Aquele o Mesmo eternizado por Shivinz e seus dois antecessores, no Grande Templo de Jabusimbil?”

  1. Respondem todos: “Sim, sim, poderoso mensageiro do Senhor, confirmamo-lo do fundo de nosso coração!” Raphael se afasta, e Cire- nius Me pergunta se este relato histórico do Egito é uma necessidade para o Meu Evangelho.

  2. E Eu respondo: “Uma das maiores! Daqui a vários séculos sur- girão investigadores de vários matizes para pesquisarem minuciosamen- te este país e encontrarão muita coisa mencionada por Raphael. Isto os confundirá sobremaneira, assim como o fará com vossos descendentes; esta Revelação, porém, integrá-los-á de tudo. Posteriormente, inspirarei alguns homens que desvendarão aos pesquisadores tais mistérios de eras remotas. Agora, vamos aos negros para que Eu lhes transmita o verda- deiro Evangelho dos Céus.”

  1. HÁBITOSDOSNÚBIOSEHÁBITOSDOS BRANCOS

  1. Finalmente nos levantamos, no momento em que o Sol voltava ao fulgor natural e nos encaminhamos para o grupo de negros. Todos se erguem e se curvam com dignidade, as mãos cruzadas sobre o peito. E o guia diz em linguagem hebraica: “Senhor, Senhor, Senhor, já não mais há incrédulos entre nós! Cada Palavra de Tua Santificada Boca será para nós uma Graça incalculável, manifesta por Tua Misericórdia Infinita!

  2. Se Tu, Santíssimo, nos achares dignos dum ensinamento mais extensivo sobre nós, nossos deveres e de Tua Própria Pessoa, favore- ce-nos pois, com algumas palavras, que nos proporcionarão — e aos nossos descendentes — uma felicidade sem par, porquanto teremos vis- to e palestrado com o Criador e Senhor de todo o mundo, material e espiritual.

  3. O halo luminoso visto em meu sonho, circundando Tua Na- tureza Divina qual Glória Eterna, ora Se manifesta pelo Teu Grande Amor, Amabilidade e Sabedoria, inéditos.

  4. Somos cordeiros bem intencionados, não obstante cobertos de lã negra; mas a cor preta assimila maior quantidade de luz e calor que a branca. Por esta razão, usamos roupagem alva, capaz de impedir todo excesso de temperatura. E creio que nós, negros, assimilaremos

mais profundamente a Santa Luz do Teu Espírito, do que os brancos. Seu sentimento rejeita essa Iluminação de modo mais incisivo que nossa roupagem, a luz solar. Tais exemplos observamos de sobra em Memphis, denominados por Justus Platonicus ‘sombras de vida, em movimento’; pois vivem qual efêmeras surgidas pela manhã, e mor- tas, à noite.

  1. Nada somos para nos vangloriarmos perante Ti, ó Senhor! To- davia, somos obras de Um Só Criador; portanto, nunca nos poderemos imaginar melhores que o nosso próximo, a ponto de nos considerarmos semideuses, conforme constatamos entre os brancos, onde um é senhor e os outros têm que se curvar até o solo, e caso não o façam, seriam açoitados. Tal regímen não nos agrada, Senhor, pois demonstra pouca sabedoria.

  2. Nunca batemos em nossos filhos e animais, somos pacientes e persistentes; exercitamos os filhos naquilo que reconhecemos de bom, verdadeiro e necessário. Quando crescidos, fortes e compreensivos, não os tratamos como escravos, senão como irmãos que, igual a nós, possuem os mesmos direitos dados por Deus. Dedicam-nos, por isto, grande carinho e amor; jamais cometem pecados contra seus genitores!

  3. Entre os brancos vimos as crianças rastejarem de medo dos pais severos. Poderia se concluir daí ser este método aplicável na educação dos anjos. Mal se viam, porém, distantes dos olhos paternos, muda- vam de índole e poderiam ser comparados aos adeptos do demônio, de cuja existência nas rochas escarpadas da terra, o sábio de Memphis nos informou.”

  1. FORMAÇÃO DO INTELECTO E FORMAÇÃO DO SENTIMENTO

  1. (Oubratouvishar): “Em nosso meio tratamos primeiro da for- mação do sentimento de nossos filhos; uma vez este enobrecido, o in- telecto recebe educação correspondente. Os brancos começam — mal seus filhos principiam a falar — a desenvolver o intelecto de sua prole, pois julgam venha ele cuidar do sentimento.

  1. Senhor, quão tolos são eles, por não compreenderem ser o inte- lecto bem formado, assassino do campo emotivo! A pura razão faz com que a criança se torne convencida e orgulhosa; onde convencimento, presunção e orgulho se tiverem apossado da alma, baldada será a tenta- tiva em querer modificar tal índole, pois um tronco torto e velho jamais endireitará!

  2. Nós não possuímos jurisprudência, juízes, nem cárceres, senão as leis prescritas por um sentimento bem formado. Por isto, desco- nhecemos qualquer pecado, crime ou punição; pois, de acordo como cada qual pensa de si, de modo idêntico ou ainda melhor, julga o seu próximo.

  3. Entre os brancos de certa inteligência, deparamos justamente o inverso; quase todos consideravam, apenas, a si mesmos, e o próximo, somente, no que lhes dava proveito. Quando o egoísta percebe que o outro não lhe poderá ser útil, dá preferência a qualquer animal.

  4. Nós apreciamos o próximo como tal e caso não nos seja útil, talvez lhe possamos ajudar. Assim também tenho um servo; não em vir- tude duma condição estabelecida, mas porque ele o deseja ser, de livre e espontânea vontade. Por certo ajudamo-nos, reciprocamente, mais do que fazem os brancos por retribuição monetária, porquanto a vontade não se torna escrava de outrem, fazendo tudo em plena liberdade.

  5. Por tal razão, não temos palácios e habitações de pedras, mas simples cabanas, todas iguais. Caso alguém não tenha sua choça e o espaço para morar com outrem seja reduzido, não necessita fazê-lo por si mesmo, tampouco pedir numa outra comunidade, pois lhe construi- remos uma, semelhante à nossa, por amor e respeito à sua dignidade. Deste modo reinam paz e união constantes entre nós.

  6. Esta nossa ordem doméstica é para os brancos, que tivemos oportunidade de conhecer, inteiramente estranha; alguns declararam ser ela tolice e afronta a qualquer cultura. Como então se explica obe- decerem à nossa vontade todos os animais e até mesmo os elementos, enquanto eles com a sua inteligência, não se podem aproximar duma caterva de leões?! Ai do guerreiro mais temido; pois um leão lhe de- monstrará quem é vitorioso!

  1. Lidamos com leões e panteras como se fossem camelos, touros, carneiros e cabras, e não sabemos dum caso onde um animal selvagem houvesse investido contra um homem ou atacado um rebanho. Ali- mentam-se da carne de gado, somente quando este tenha perecido de velhice. Cada aldeia possui determinado local, onde os animais mortos são levados, a fim de que as bestas selvagens se nutram. Nós outros não comemos carne, a não ser de galinha e peixes; quando as aves ficam muito velhas, também são atiradas às feras. O alimento de galinhas, gaviões e condores se reduz à carne de feras mortas.

  2. Que acontece ao branco quando cai n’água com toda a sua inte-

ligência? Afunda e morre! Podemos caminhar sobre a água como se fora terra firme e mergulhar, apenas querendo, o que depende, todavia, de bastante esforço. Todas as cobras venenosas e as formigas fogem de nossa proximidade; camundongos e gafanhotos deparamos, apenas, no Egito.

  1. Assim presumo existir, em nosso país, a ordem conforme foi estabelecida por Deus para todas as criaturas, independentemente de sua cor. Pois se o primeiro casal tivesse sido colocado sobre a Terra na atual ordem dos brancos, desejaria saber como teria se defendido! Pois antes disto, já havia muitos animais ferozes e as criaturas teriam de se prover de roupagem e armas de aço, caso quisessem enfrentar tal perigo.

  2. Se os primitivos habitantes a nós se assemelhavam com todas as forças internas, naturalmente eram soberanos sobre animais e ele- mentos. Julgo estarmos aptos para assimilar algumas palavras de Vida, Senhor! E caso nos deres leis ou regras de conduta, executá-las-emos com rigor; pois somos tenazes na conservação de uma ordem justa, como talvez poucos brancos. Já que temos a felicidade extraordinária — por certo considerada até milagre entre os anjos — de estarmos juntos de Ti, Senhor Eterno, Criador dos mundos, pedimos-Te em uníssono acrescentares mais o milagre de nos dirigir alguma palavra!”

  1. MOTIVODAENCARNAÇÃODO SENHOR

  1. Digo Eu: “Não só algumas, porém muitas vos serão dirigidas! Não vos darei novas leis, mas positivarei as antigas que Eu Mesmo gra- vei em vossos corações, de modo indelével.

  2. Vim especialmente a este mundo, para reconduzir a Huma- nidade completamente pervertida, pelo não cumprimento de Minha Ordem Primária, através de Ensinamentos, Exemplos e Ações, ao es- tado primitivo, onde as primeiras criaturas eram soberanas sobre toda a Criação.

  3. Estes brancos necessitam muito de Minha Doutrina e Ações, a fim de que reconheçam Quem os ensina e qual Sua Intenção. Vós, toda- via, ainda vos encontrais no maravilhoso estado primitivo; vosso ensino vital começa com os meios justos e no local acertado. Ensinais primeiro as crianças o mais necessário à educação e nisto, os brancos vos devem imitar futuramente, pois Eu lhes demonstro o Caminho.

  4. Indispensáveis serão muitos esforços, ações e épocas diversas até que eles cheguem lá onde vos encontrais. São os errados e perdidos que carecem de reajustamento; são enfermos necessitando do médico, que os possa curar.

  5. Como sois incomparavelmente melhores que eles, poderia ter-

-Me achegado a vós; todavia não necessitáveis de Minha Presença. Acontece, ter Eu precisão de vosso testemunho de Minha Ordem Pri- mitiva; por isso, vos fiz conduzir pela Minha Vontade e finalmente, até vos instiguei a chegardes aqui, para que os brancos vissem o que é o homem incorrupto.

  1. Dareis algumas provas de vossa verdadeira humanização como ensinamento, a estes irmãos ignorantes e errados. Alguns dentre eles estão bem próximos da perfeição; todavia, como criaturas, não existe um tão adiantado como o menos experimentado entre vós. Quereis fazer-Me tal favor?”

  2. Diz Oubratouvishar: “Ó Senhor, cujo Amor, Bondade e Mise- ricórdia preenchem também aquele Espaço do Infinito, onde no de- correr de Eternidades, novas Criações louvarão Teu Nome Sagrado na

mais profunda contrição! Poderia haver algo que não fizéssemos com a máxima dedicação à Tua Santa Vontade?! Ó Senhor, ordena, que tudo faremos!”

  1. Digo Eu: “Pois bem; demonstrai primeiro, vossa glória humana sobre os elementos da água; caminhai em sua superfície e dai exemplo de vossa agilidade nesse campo úmido!”

  2. De pronto, o guia chama sessenta colegas e Me pergunta se são suficientes. Como Eu confirmasse, o grupo constituído de ambos os sexos, dirige-se ao mar e caminha na sua superfície calma, como se fosse solo seguro. Finalmente, deslizam com tanta agilidade, que nem um pássaro, num voo rápido, os teria alcançado. Em poucos minutos, estavam longe a se perder de vista, — e no mesmo instante, aproxima- vam-se da praia com fragor estrondoso.

  3. O próprio Cirenius fica de cabelos em pé, quando os vê passar em fúria veloz, parando a uns cinquenta passos diante dele. Somente o guia encaminha-se à terra, indagando se Eu quero mais outras demons- trações aquáticas.

  1. OSNEGROSDOMINAMOSELEMENTOS D’ÁGUA

  1. Digo Eu: “Prossegui! Por exemplo: aquilo que fazeis sobre a água durante uma ventania escaldante, e a maneira pela qual efetuais a pesca!”

  2. Rápido, o guia volta ao grupo e lhe transmite o Meu Desejo. Todos caem de rosto sobre a água, onde ficam por alguns instantes qual pedaços de pau. Em seguida, começam a movimentar-se para rodopiar velozmente.

  3. Digo Eu: “Agem assim para ficarem bem molhados, evitando se- rem queimados ou carbonizados pelo escaldante Kamb’sim (Para onde fujo), o tufão mais forte dos desertos da Núbia e Abissínia. O Samum (para derreter piche), nem de longe é tão quente, quanto o Kamb’sim. Menos quente ainda é o Giroukou (Siroco — o vento que sopra de sudoeste por sobre os pastos), conhecido em Memphis desde eras re- motas, e que provém das vastas pastagens Giri. Mesmo assim, eram tão quentes que forçavam as criaturas a se refugiar nas grutas úmidas.

  1. O exercício ora demonstrado pelos negros, só é feito por ocasião do Kamb’sim; quando este perdura e aumenta, mergulham conforme fazem neste momento. Todavia, não podem fazê-lo por muito tempo, porque sua forte irradiação interna e externa torna o corpo mais leve do que a água.

  2. Agora estão sentados na superfície, e nesta posição, demonstra- rão como pescam. Vede, pelo forte poder da vontade, atraem de longe os peixes! Com as mãos são tirados da água e deitados no avental, preso à cintura e assim deslizam rápidos até a margem. Velas e remos só exis- tem na vontade; quando querem movimentar-se mais ligeiros, na água, basta querê-lo dentro duma fé inabalável, que tudo realiza.

  3. Terminaram a pesca e dentro de segundos, estarão aqui. Dito e feito! Sentados na superfície, resvalam rápidos e já se acham na praia. Marcus, instrui teus filhos para arrumarem vasilhame adequado, do contrário, os peixes morrerão!”

  4. Após terem sido acondicionados perto de cem peixes, os núbios se aproximam de Mim. O guia dirige-se aos brancos, dizendo: “Parece-

-vos algo inédito aquilo que acabamos de executar; entretanto, é isto para nós, criaturas simples, tão natural como os cinco sentidos o são para vós.

  1. O homem psiquicamente endurecido e errado torna também pesado seu físico, assemelhando-se mais e mais à pedra, incapaz de na- dar, porquanto é mais pesada que a água. Nós somos iguais à madeira, cujos elementos internos já se acham muito mais libertos que os forte- mente condenados, de qualquer pedra.

  2. Um homem de bons sentimentos, sem orgulho e amor-próprio dominador, pode se entregar à água e vos garanto que não afundará! Ao seu lado, fazei que um orgulhoso e egoísta se jogue n’água — e ele desaparecerá qual pedra! Salvo, se muito gordo — condição difícil nos egoístas — as banhas o carregariam por certo tempo.

  3. Por esta razão é a água, para nós, uma boa prova da integrida- de de uma criatura. A alma de quem a água não carregar, por certo, já sofreu qualquer prejuízo, e aquele elemento não lhe será amigo, tam- pouco lhe prestará serviço. Nossa evidente e comum desenvoltura nesse elemento, e a obediência dos peixes, são idênticas a dos homens primi-

tivos desta Terra. Riachos, lagos e o próprio mar não lhes constituíam empecilhos na descoberta do solo terráqueo, pois não necessitavam de navios nem pontes. Vós, entretanto, sois às vezes tragados, inclusive barcos e pontes, e nem uma só mosca aquática vos obedece! Que dis- tantes estais da verdadeira Humanidade!

  1. Necessitais de armas variadas para afugentardes um inimigo; nós nunca disto fizemos uso. Até então, só possuímos, apenas, uma faca de osso para a confecção de nossas cabanas e vestimentas. Nem por isto andávamos nus, nem nos queixávamos do esforço empreendido. As ferramentas que levarmos daqui, serão usadas com o devido amor ao próximo, nunca, porém, como arma! Agora, dai uma prova de vossa capacidade com os elementos da água, demonstrando vossa integrida- de!” Tais palavras não são do agrado dos romanos que reconhecem, intimamente, sua incapacidade.

  1. COMOOSNEGROSDOMINAMOS ANIMAIS

  1. O guia, então, indaga de Mim se devem efetuar outros feitos extra- ordinários. Eu respondo: “Sim, Meus caros e velhos amigos! Vede aquele morro, a uns cinco mil passos a Oeste do mar! Está repleto de cobras e víboras venenosas. Tereis de enxotá-las e nós vos acompanharemos!”

  2. Diz ele: “Senhor, Onipotente! Basta apenas um Pensamento Teu, para afastar os ofídios dali; em se tratando, porém, dum exemplo da força oculta na integridade do homem, tudo faremos de acordo com Tua Vontade!”

  3. Digo Eu: “Claro, ser tal o único motivo, que Me leva exigir-

-vos isto!” Incontinente partimos e, dentro de meia hora, alcançamos o morro, cujos habitantes nos recebem com sibilar e silvos quase in- suportáveis, pois dificultam ouvir-se a própria palavra. Estes milhares de ofídios chispam para o mar e nadam rápidos, quais flechas sobre as águas extensas, — e em poucos minutos aquele local está limpo.

  1. Aproximando-se de Mim, o guia diz: “Todos os répteis se foram; encontram-se, porém, outros tantos ovos! Quem os tirará das fendas e ninhos? Pois dentro de meio ano o morro estará nas mesmas condições!”

  1. Digo Eu: “Não tendes um meio para exterminá-los?” Responde ele: “Além do mangusto, desconhecemos outro. Seria preciso esquen- tar-se todo o local por muito tempo, o que possibilitaria a destruição natural de ninhos e ovos; o melhor meio seria naturalmente, Tua Von- tade e a de Teu servo, pois não podemos permanecer aqui, para sufocar os ofídios pela irradiação de nossa aura!”

  2. Acrescento: “Está bem, já produzistes vosso milagre e isto basta. Porei, Pessoalmente, ordem no morro. Agora galguemo-lo para dardes mais algumas provas de vossa força interior!” Subimos até chegarmos ao planalto de mil pés que comporta, no mínimo, duas mil pessoas, e de cuja altura avistamos uma imensa fila de grous.

  3. Dirigindo-Me ao guia, digo: “Amigo, estes pássaros também vos obedecem?” Responde ele: “Nunca vi tal espécie, mas não duvido po- derem sentir nossa vontade e executá-la.” Virando-se em seguida para os companheiros, ele diz: “Uni-vos a mim para cumprirmos a Vontade do Senhor!”

  4. Mal termina, os grous começam a descer e, em poucos minu- tos, estão entre os negros, evitando a proximidade dos brancos. Em seguida, o guia transmite sua ordem aos pássaros para seguirem seu voo, e eles obedecem. À imensa altura voa um casal de condores de tamanho gigantesco, e começa a girar por cima de nossas cabeças. O núbio então diz aos brancos: “Agora transmiti, vós, a ordem para eles se aproximarem!”

  5. Reage Cirenius: “Mas para que esta exigência um tanto preten- siosa? Sabes que nós, desprovidos de tal força, não somos capazes de efetuar ações deste quilate! Cumpre a Vontade do Senhor; do resto Ele cuidará, assim como nós, dentro da Doutrina!”

  6. Diz o guia: “Julgas ter eu feito tal convite levado pelo orgulho?! Enganas-te profundamente: fi-lo apenas para relembrar-vos vossa de- sarmonia psíquica — pela qual não sois culpados! Como poderíamos nos vangloriar de nossas faculdades naturais? Pois se assim fizéssemos, de há muito as teríamos perdido. Não sendo isto possível, continuamos com estes dotes — aparentemente milagrosos — dos quais recebereis outra prova! Descei, habitantes do ar!”

  1. Quais flechas os dois condores descem e pousam com ternura e visível amizade, como se fossem adestrados, no braço direito do guia. No mesmo instante, passa uma pega e o guia ordena ao condor trazê-

-la com cuidado. Qual relâmpago, a ave de rapina persegue a pega e aprisiona-a em suas garras poderosas sem feri-la. Somente após o guia ter apanhado a pega, o condor a liberta. O núbio acaricia as enormes aves e em seguida as solta, e num voo rápido elas se elevam em busca de uma presa.

  1. A pega é entregue a Cirenius, pelo núbio, como recordação deste fato, de sabor milagroso, aos brancos. Passando a ave às filhas presentes, Cirenius vira-se para Mim: “Senhor, os feitos destes negros tocam a contos lendários, — a não ser que tivesses ajudado com Tua Onipotência!”

  2. Digo Eu: “Não te falei que deixaria agirem sozinhos? Por que duvidas?! Tem um pouco de paciência, pois ainda farão coisas a te estontear!”

  1. AMANEIRAPELAQUALOSNEGROSDOMINAMPLANTASE ELEMENTOS

  1. Novamente chamo Oubratouvishar e lhe digo: “Demonstra como sois entendidos com o ar e sua força. No início de sua existência, foi dado ao homem, em sua pureza, a glória sobre os espíritos do ar, a fim de que lhe prestassem serviço quando necessário. Fazei, pois, uma demonstração de vosso adestramento!”

  2. Imediatamente o guia chama dez dos mais hábeis e manda que o rodeiem, as mãos estendidas em sua direção, cobrindo com o pé direito o esquerdo do vizinho. Assim fazendo, o guia começa a rodopiar e ele- va-se do solo na altura dum homem. Nesta posição, ele pergunta se deve subir mais, ou se isto basta como prova. Digo Eu: “É o suficiente, podes descer!” Os dez homens rompem a corrente, e o guia volta ao solo, faz uma profunda reverência diante de Mim e indaga dos Meus Desejos.

  3. Prossigo: “De que forma costumais arrancar árvores, e como re- moveis grandes rochas?” Responde o núbio: “Senhor, nosso país carece

de grandes e fortes árvores; somente as montanhas mais altas as têm, e nos pastos montanhosos onde o Kamb’sim não penetra, encontram-se algumas antigas árvores ‘Bohahania’, como habitação de macacos. Além disto, existem uns poucos ciprestes, mirras e tamareiras selvagens, no que se resume toda a vegetação em nossa terra.

  1. Nas planícies e recantos protegidos do vento, reproduz-se a tamareira, figueira, ouraniza (laranja), a semenza (romã) e várias ou- tras qualidades importantes de arbustos, que nos fornecem material para cabanas.

  2. Para arrancá-las, não é preciso extraordinário esforço; e em ár- vores maiores, nunca fizemos experiências, muito embora não duvi- demos terem de se submeter à nossa vontade, como também as mais pesadas rochas. Aqui no monte está uma árvore colossal, cujo nome e qualidade desconhecemos; faremos uma tentativa se obedece ou não nosso mando!”

  3. Intervém o velho Marcus: “Será possível!... Este é um cedro de seus quinhentos anos! Sete homens não poderiam abraçá-lo e quatro lenhadores fortes e experimentados, não o deitariam por terra em dois dias. Agora seis homens e sete mulheres para lá vão e pretendem arran- cá-lo sem machado?! Duvido do êxito, a não ser que o Senhor os ajude!”

  4. Digo Eu: “Marcus, Meu velho, calma! Nada farei com a Minha Vontade e mesmo assim, o cedro será arrancado dentro em pouco!” Durante a troca destas palavras, os negros colocam suas mãos no tronco de forma tal, que a direita venha a cobrir a esquerda do vizinho. Nesta posição, ficam a metade de um quarto de hora, quando a árvore começa a girar lentamente, produzindo fortes estalos! Os presentes fazem obser- vações de grande estupefação, porquanto não sabem interpretar o fato.

  5. No momento em que o tronco principia a girar mais rápido, percebe-se que o mesmo, o bloco de terra e as treze pessoas que o abra- çam de leve, se viram no ar. Os assistentes, mormente as mulheres, começam a gritar, pois julgam que a árvore venha a esmagar os negros.

  6. Digo Eu aos amedrontados: “Nada temais, ele cairá suavemente sem machucar quem quer que seja!” No mesmo instante, os núbios soltam as mãos, descem correndo do morro e vêm para o nosso lado. O

cedro balança, curva-se de acordo com seu peso e, em poucos momen- tos, deita-se no solo.

  1. Apontando aos negros uma rocha de cinco mil libras, digo ao chefe: “Depositai-a na cavidade que surgiu pela queda da árvore!” Eles obedecem e agem do mesmo modo, como há pouco. Mais rápido que a árvore, a rocha flutua no ar. Claro é ter sido abraçada por maior nú- mero de pessoas; mas todos reconhecem que mil das mais fortes, não poderiam vencer o seu peso. Em alguns minutos, a rocha se acha dentro do buraco, e os negros, isto é, seu chefe, Me pergunta que mais deve- riam fazer.

  2. Eu, então, faço como se estivesse pensando, o que de pronto

o leva a dizer: “Oh, agora certamente virá coisa gigantesca, porquanto estás refletindo! Julgávamos que para Deus, devia ser claro desde Eter- nidade, tudo o que pretende realizar.”

  1. Digo Eu: “Como não?! Apenas vos proporcionei um pequeno descanso, pois o que ireis fazer agora é tarefa repugnante para vós; após duas ações que requisitaram totalmente vossa esfera psíquica, preciso era um repouso. Deveis, pois, demonstrar a maneira pela qual produzis

o fogo, sendo ao mesmo tempo seu soberano!”

  1. Todos os negros formam um semicírculo em volta duma grande capoeira seca, estendendo as mãos. Em poucos momentos ela começa a fumegar. A fumaça aumenta mais e mais, e de repente, surgem fortes labaredas. Quando a capoeira se acha ardendo intensamente, os núbios se deitam, em volta, de bruços e, no mesmo instante, tudo se apaga de maneira a não se ver uma faísca nos arbustos, queimados pela metade.

  2. Levantando-se dali, eles Me perguntam se trabalham a Meu Contento, e Eu lhes dou o melhor atestado. Pedem-Me, então, alguns ensinamentos; recomendo-lhes paciência, porquanto Eu tinha de expli- car seus feitos aos brancos. E assim voltamos às mesas.

  1. OCONHECIMENTO PRÓPRIO

  1. Após ter Eu tomado assento com os discípulos, os romanos e gregos, o guia se aproxima de Mim, perguntando se ele e seu grupo podem tomar parte nas Minhas Explicações.

  2. Digo Eu: “Sem dúvida alguma, pois tereis de reconhecer per- feitamente vossa vida. Se bem que estais no pleno poder de vossa força primitiva e Me alegrando como soberanos de toda a Natureza, o que depende de perfeita confiança, fé inabalável e força de vontade firme, desconheceis tal poder, como quem desconhece a força que move seus membros, faz circular o sangue, estabelece o ritmo do coração e obriga o pulmão a respirar o ar, de acordo com as necessidades de sua vida, re- ferentes ao maior ou menor calor, produzido no sangue, pelo aumento de exercício.

  3. Tudo isto são experiências diárias de cada um; entretanto nin-

guém as entende, porquanto desconhece a si próprio. Muito menos sa- be-se interpretar vossas faculdades extraordinárias, evidentemente mais profundas que as manifestas por vosso organismo.

  1. Se Eu vos explicasse as mais intrínsecas, tal assimilação seria mais fácil do que a formação do vosso corpo e sua conexão com a alma. A função do organismo mal pode ser explanada, porquanto a enumeração variada dos diversos órgãos, levaria quase à idade de Mathusalém, isto é, perto de mil anos. Muito mais difícil é assimilar-se a especial consti- tuição e finalidade de cada órgão isolado, conexão geral, ação retroativa e suas variações de um para outro indivíduo.

  2. Tomemos, por exemplo, dois cabelos implantados que, a vosso ver, necessitam do mesmo trato, portanto também cresceriam caso tro- cassem de lugar. Os cabelos humanos não são quais plantas, arbustos e árvores, facilmente replantados. Cada fio de cabelo cresce apenas no ponto onde surge; num outro qualquer, não progrediria dentro da es- pecial formação do seu organismo.

  3. No físico humano existe uma organização extraordinária e uma diversidade não compreendida por vós. A fim de se assimilar a constituição orgânica, conhecer-se o menor átomo nela contido e

aceitar-se a razão do ‘porquê’, preciso é que o homem seja perfeito em espírito.

  1. Quando alma e espírito se tiverem amalgamado, a psique per- feita e iluminada vislumbra, de seu âmago, o corpo, e num relance, assimila a construção artística, recorda-se da causa de cada partícula por menor que seja, e sabe de sua função utilíssima. Enquanto a alma não tiver atingido a sua perfeição vital, nem em milênios poderá alcançar o conhecimento pleno de seu organismo físico.

  2. Coisa diversa dá-se com a capacidade puramente espiritual duma alma! Pode e deve receber elucidação geral, pois sem tal conhecimento prático, jamais a psique chegaria a uma real união com seu espírito, fato que possibilita um conhecimento mais profundo. Prestai, pois, atenção à maneira pela qual vos esclarecerei quanto à vida justa e ordenada das primeiras criaturas.”

  1. IRRADIAÇÃODAALMAHUMANAEIRRADIAÇÃO SOLAR

  1. (O Senhor): “O primeiro casal só podia ser colocado nesta Terra, numa ordem de vida perfeitamente justa; sua vida psíquica tinha de se apresentar absolutamente completa, a fim de não se tornar vítima de milhões de outros seres e elementos inimigos.

  2. A semelhança com Meu Ser Divino já existia naquele casal, que pôde, por isto, manifestar sua glória na ação sobre a Criação total. Como isto foi possível? Ouvi!

  3. Uma alma de índole perfeita também é patente num físico per- feito; impressão, sentimento e vontade se projetam em todas direções quais raios solares. Quanto mais próxima da alma, tanto mais intensiva e pronunciada é a constante projeção do pensar, do sentir e querer.

  4. A esfera luminosa e externa do Sol, onde se acham esta Terra, a Lua e grande quantidade de variados corpos cósmicos, é de certo modo sua irradiação vital, pela qual tudo que se acha em seu âmbito, é des- pertado para determinada vida da Natureza. Tudo tem de se submeter à ordem do Sol, que se torna, assim, legislador e soberano dos corpos cósmicos, atingidos pela irradiação solar.

  1. Claro, não se poder afirmar do Sol possa ele pensar e querer; sua luz, porém, é um grande pensamento, e o calor de sua luz uma vontade firme, mas não dele, porém, projetada por Mim, e agindo pela natureza orgânica de seu corpo.

  2. Quanto mais próximo do Sol se acha um planeta, tanto mais pronunciada sentirá a força ativa da esfera externa do Astro, sendo, por isto, obrigado a sujeitar-se a tudo que luz e calor solares nele quei- ram produzir.

  3. Assim como o Sol opera milagres nos demais corpos cósmicos, apenas através de sua irradiação vital, uma alma incorrupta, porquanto perfeita desde sua origem, é cheia de vida, isto é, de amor, de fé e plena de uma vontade inabalável!

  4. Tal psique é toda luz e calor e se projeta à longa distância; proje- ção esta que cria constantemente sua esfera poderosa. Do mesmo modo que se traduz Minha Vontade de modo milagroso pela projeção solar, não havendo poder que se lhe oponha, a vontade da alma perfeita e incorrupta se expressa de modo maravilhoso, pois, estando em Minha Ordem, é também a manifestação de Minha Vontade.

  5. Se o Sol fosse — com Minha Permissão — inteiramente destru- ído em seu organismo e mecanismo extremamente artístico e sábio, e sua imensa alma, conglomerado de todas as almas naturais, se afligisse e atrofiasse devido sua estagnação — a não ser que pretendesse conca- tenar suas partículas diminutas, ou, na pior das hipóteses, abandonar seu organismo, entregando os destroços maiores à própria dissolução

—, qual seria sua projeção na vida? No mesmo momento se daria a maior confusão em seu território cósmico. Toda vegetação e vida física terminariam!

  1. Se em tal hipótese criaturas tencionassem iluminar a noite eter- na com toda sorte de tochas e lamparinas, aquecendo-se com o estoque de lenha existente sobre a Terra, tal suprimento duraria, na melhor das hipóteses, apenas dez anos. Daí por diante, não mais existiria vida orgâ- nica e vegetação. A flora não mais cresceria, nem produziria sementes; os animais não encontrariam forragem e morreriam de fome e frio. O próprio planeta sairia de sua órbita e colidiria com outro qualquer, ou

então, seria atraído após milênios, à zona luminosa de um dos inúme- ros sóis, a fim de ressurgir através sua luz e calor, numa ordem trans- formada, — nunca, porém, alcançar a vida atual, completamente feliz e ordenada!

  1. Tudo isto seria consequência e efeito, caso o Sol caísse num desequilíbrio máximo. Não mais seria soberano e legislador para os ou- tros inúmeros planetas, vítimas da grande desordem, tornando-se pela sua queda, perigosos ao Sol; este não poderia impedi-lo, porquanto não mais possuiria força externa para sustar a gravitação desenfreada dos planetas, ou, no mínimo, amenizá-la.

  2. Um desequilíbrio mesmo de curta duração e apenas na super- fície, isto é, na membrana exterior do Sol, se apresenta de modo per- turbador, o que provam as manchas pretas que surgem de quando em quando. Se observardes tais manchas apenas do tamanho dum ponto, podeis calcular que esta desordem se registrará na Terra, por chuvas e tempestades.

  3. Mas..., por quê? Se o Sol está tão distante da Terra que uma fle- cha levaria perto de cinquenta anos para atingi-lo, que prejuízo poderá trazer ao globo cheio de força vital?!

  4. Naturalmente não pode ter influência o que se apresenta a olho nu; o ponto visto no Sol, porém, não é tão pequeno como parece: é, na realidade, duma extensão inúmeras vezes maior que toda a Terra. Isto provoca, para os espíritos sumamente sensíveis do orbe, forte deficiên- cia de luz e calor. Amedrontam-se e põem-se em atividade excessiva, provocando tempestades, furacões, nuvens, chuvas, saraivas e neve, até mesmo nos trópicos. O desequilíbrio individual também se projeta em sua esfera externa, que ultrapassa a zona de nosso planeta, atingindo até os corpos que se encontram além deste território, assim como a ordem imperturbável de luz e calor transmite-se de modo benéfico aos seus satélites.”

  1. INFLUÊNCIA DO CARÁTER HUMANO SOBRE OS ANIMAIS CASEIROS

  1. (O Senhor): “Imaginai, pois, uma alma humana em sua inte- gridade primitiva, qual verdadeiro Sol entre todos os outros seres e animais. Estes a ela têm de se submeter, porquanto absorvem de sua irradiação externa, luz e calor de potência espiritual, para a vegetação de sua própria esfera em ascensão, tornando-se meigas, tolerantes e obe- dientes. Tanto as almas de plantas quanto as de irracionais têm a finali- dade, por vós ainda desconhecida, de se tornarem humanas.

  2. As plantas e mormente os animais, nada mais são do que recep- táculos adequados, oriundos de Minha Sabedoria e Compreensão, para o ajuntamento, o sucessivo desenvolvimento e a concentração da força vital das almas da Natureza, de onde também as vossas se originam, não tendo importância se sua formação se deu neste ou em outro planeta. Essas almas animais sentem a irradiação da psique humana, perfeita, e daí sua esfera externa de luz e calor.

  3. Nesta projeção perfeita, os irracionais progridem como os plane- tas na luz e no calor solares; não há uma alma animal que se possa rebe- lar contra a vontade de uma alma perfeita, mas a rodeia com modéstia qual planeta o Astro, desenvolvendo-se em tal projeção de luz e calor espirituais de modo completo, para a transição num grau mais elevado.

  4. A fim de compreenderdes isto mais praticamente, submeteremos alguns animais caseiros e seus donos à observação mais profunda. Vede, por exemplo, um homem ríspido e orgulhoso e seus animais caseiros: seus cães são piores e mais selvagens que lobos; seu rebanho amedron- tado e assustadoramente agressivo; cabras e carneiros fogem de todos e dificilmente se deixam prender. Não convém passar-se pelas pocilgas, a fim de não ser atacado pela fúria dos suínos. Galinhas e outras aves são esquivas; com seus burros, cavalos, camelos e bois não é aconselhável entrar-se em contato, pois não apresentam nenhuma cultura animal. Para se conseguir que venham prestar serviço determinado, preciso é uma constante gritaria e o uso de chicote e garrucha — onde geralmen- te dá-se um desastre.

  1. Por que motivo são os animais dum homem orgulhoso tão bru- tos, selvagens e inadestráveis? Por ser a alma do dono, para eles, um sol vital na maior desordem! Seus empregados e servos, em breve, são como ele, isto é, deixaram de ser uma projeção positiva para as almas gélidas dos animais, entregues aos seus cuidados. Cada qual grita, mal- diz o quanto pode! Como poderiam estar tais seres dentro duma ordem benéfica?!

  2. Observemos um proprietário bom e sábio, dono de grandes manadas. Que diferença! Não há boi ou carneiro que abandone seus pastos! Basta uma única chamada — e todos acorrem ao seu lado, ro- deiam-no e dão impressão de querer ouvir suas palavras! E ele lhes fa- lando, obedecem-no e seguem a vontade do bom pastor, em cuja luz psíquica acabam de se beneficiar.

  3. O camelo entende o menor aceno de seu bondoso condutor, e o cavalo, corajoso, não se assusta com a sela de seu cavaleiro. Em suma, todos os animais dum homem bondoso e meigo são dóceis, obedientes e ouvem a voz de seu senhor; meiguice esta que também se nota em árvores, produzindo frutos de qualidade; seu tronco, galhos e folhas são arredondados, lisos, sem pontas e espinhos, e os frutos têm sabor agradável.

  4. Razão disto tudo é a emanação da alma incorrupta, cuja esfera luminosa se dirige para fora, contendo os elementos vitais da psique, como sejam: amor, fé, confiança, conhecimento, vontade e êxito.”

  1. ASVANTAGENSDAJUSTAFORMAÇÃO PSÍQUICA

  1. (O Senhor): “A alma humana estando imersa em toda sorte de preocupações mundanas, — ou começando a fazer isto —, obscure- ce sua natureza luminosa, caindo finalmente em treva completa. Neste caso, não mais existe reserva dum amor poderoso, e o pouco que sobra não supre as próprias necessidades; eis que se apresenta o amor-próprio, impossível de ser transmitido a outrem. Se o amor ficou reduzido a tal ponto, de onde deveriam originar-se fé e vontade poderosas, pois a fé é a luz provinda da chama do amor, e a vontade, a força poderosa desta luz?!

  1. Se tais criaturas desprovidas de amor percebessem finalmente

  1. A raiva não deixa de ser uma irradiação, porém nociva. Nes- te vislumbre do inferno, deparam, em breve, vários meios de trapa- ça pelos quais poderiam conseguir alguma prosperidade. Empregam tais recursos, sem obterem êxito por se tratar de fraudes. O repetido insucesso não os ensina, e sim, aumenta sua revolta e ira; tornam-se orgulhosos e começam a recorrer aos meios drásticos. Uma vitória, de quando em quando, estimula seu atrevimento, fá-los cruéis, procuran- do afastar de seu caminho todo empecilho para a sua suposta felicidade. Através de recursos condenáveis, chegam a desfrutar certa fortuna e reconhecem apenas este caminho como verdadeiro e justo pelo qual venceram na vida.

  2. A possível prole só pode receber educação correspondente aos

meios pelos quais os genitores alcançaram seu progresso material, isto é, pela experiência mundana. Fazem com que os filhos estudem vá- rias matérias, — tudo para ofuscar o mundo! Ao desenvolvimento psíquico, de necessidade imperiosa, não se liga importância; tal nem pode acontecer, porquanto os pais, os professores e educadores, que pretendem se lhes tornar agradáveis, tampouco têm noção da vida emotiva duma alma.

  1. Tudo é aplicado no desenvolvimento e na perspicácia do inte- lecto. Além disto, é a criança estimulada por variados presentes e dis- tintivos; é exercitada, desde pequena, no amor-próprio e cobiça, na for- mação de seu raciocínio; usa vestidos finos, enfeitados, e aos dez anos é um compêndio de orgulho. Ai duma criança ou de um adulto, pobres, que se atrevesse a não prestar a homenagem exigida a tal rebento, ou se chegasse a menosprezá-lo! Teria, com tal atitude, feito um inimigo imperdoável!

  1. Onde, em tais pessoas, poderia cogitar-se duma força interior se- melhante à Minha? Onde estaria a glória humana sobre a Natureza to- tal e sobre os elementos, dos quais provêm finalmente tudo que existe?!

  2. Quando uma criatura cogita, antes de mais nada, da formação e desenvolvimento de sua índole e, somente depois, é acrescida a desen- voltura do intelecto de modo natural e ativo, o raciocínio assim desper- to torna-se uma luz de vida poderosa, envolvendo a alma de maneira idêntica ao éter luminoso que circunda o Sol, de onde surgem todos os efeitos maravilhosos que vedes nesta Terra.

  3. Na justa formação da alma humana, a psique é algo de ação interior, e o que denominais de intelecto, é apenas o efeito emanado pela atividade da alma. A projeção luminosa do intelecto resplandece na alma em todos os momentos críticos da vida, e a vontade psíquica se projeta nesta luz, produzindo o germinar e frutificar de tudo. A or- dem do homem tendo assim se equilibrado com a Minha, a vontade e a confiança também têm sua origem no Meu Poder Onipotente, ao qual toda criatura tem de se submeter. Se ela de tal forma equilibrada algo quiser, sua vontade é prontamente executada num vasto âmbito, porque sua irradiação psíquica é penetrada pelo Meu Espírito, capaz de realizar todas as coisas.

  4. Uma vez inteiramente renascida pelo próprio espírito, é ela

idêntica a Mim e pode emitir sua vontade em plena independência e tudo que quiser — dentro de Minha Ordem, por ela personificada

  1. OPODERDEUMAALMA PERFEITA

  1. (O Senhor): “Este grau de máxima perfeição vital, não era pos- sível alcançar-se antes de Minha Encarnação; e Eu vim, expressamente a esta Terra, a fim de tornar-vos Meus verdadeiros filhos, pelo renasci- mento de vosso espírito em vossa alma. Se, portanto, falo agora duma alma perfeita, refiro-Me apenas àquela onde Meu Espírito já Se tornou ativo, porém ainda não se uniu a ela.

  2. Tal psique completa é — pelos motivos acima expostos — não só capaz de operar milagres, como soberana da Criação, devido ao seu espírito por momentos mais lúcido, mas também acha-se apta a ter vi- sões das esferas puramente espirituais. Pode até mesmo ouvir a palavra do Espírito Divino, conforme sucedia com todos os videntes e profetas. Possuíam eles, além da visão e predição, um domínio visivelmente mi- lagroso para as criaturas, sobre os elementos e seres.

  3. Moysés, seu irmão Aaron, Josué, Elias e uma quantidade de pro- fetas e videntes operavam milagres. O profeta Daniel (filho do dia ou da luz), foi atirado à cova de leões, em Babielon (Babylon), porquanto havia feito um sermão ao rei cruel. Na cova se achavam doze feras fa- mintas como carrascos e, há vários anos, vinham sendo alimentadas com criminosos. Muito embora o rei estimasse Daniel, em virtude de sua sabedoria, enraiveceu-se com as palavras condenadoras do profeta, mandando-o atirar aos leões.

  4. A alma perfeita de Daniel, porém, era também soberana sobre

as feras! Nada lhe fizeram; agacharam-se com visível respeito aos pés de seu senhor. Consciente disto, o profeta pediu aos discípulos seu ma- terial de escrita e escreveu, durante três dias, a profecia, incólume, no convívio com os leões. Informado disto, o rei arrependeu-se de sua ação e mandou descer um cesto pelo qual Daniel foi salvo.

  1. Na mesma época, havia três jovens que se negavam ajoelhar-se diante de Baal. Enraivecido por isto, o tolo rei mandou aquecer, du- rante três dias, um forno de cal onde atiraria os jovens, caso negassem obediência. Estes, de almas perfeitas, persistiram no seu intento bem fundado e não manifestaram o menor temor diante da caieira. Passa-

dos os três dias, o rei mandou os carrascos atirarem os moços sobre a beira do forno incandescente. Todavia nem um cabelo lhes foi cha- muscado, enquanto os próprios verdugos ficaram carbonizados pelo excessivo calor.

  1. Qual foi a proteção dos três moços dentro do forno? Sua alma perfeita, porquanto estavam debaixo de Minha Ordem Primitiva! Fi- nalmente aproximou-se um anjo levando-os para fora daquele braseiro terrível, que trazia a morte a quantos dele se aproximavam! Tudo isto são apenas exemplos da maravilhosa força e poder da alma perfeita!”

  1. EFEITO DA LUZ SOLAR. FUNÇÃO DO OLHO HUMANO. A VISÃO DA ALMA

  1. (O Senhor): “Estes negros deram provas concludentes de tudo que acabo de expor; e o Sol fornece, diariamente, provas muito mais insofismáveis em cada animal e planta, do poder e efeito contidos em sua irradiação extensa.

  2. Tudo isto deve se apresentar ao homem mundano, de intelecto mal dirigido, como lenda, ou seja, imensa tolice provinda duma fértil fantasia. Tais absurdos são, a seu ver, impraticáveis porque ele mesmo não os consegue efetuar, por motivos bem fundados. Pois quem seria capaz de algo realizar, sem o uso de suas mãos e caminhar sem pés?!

  3. Se fosse o Sol uma bola sem luz, qual pedra negra de cal — fato possível não obstante seu tamanho — ele não produziria vida no campo da Natureza. Sua organização interna e maravilhosa, incompreensível para o vosso entendimento, é de tal forma constituída, a produzir em seus órgãos internos uma enorme quantidade de gases sutis. Isto força o imenso astro a girar em torno do seu eixo, criando um atrito cons- tante da atmosfera solar com o éter que o rodeia, pelo que os inúmeros espíritos da Natureza contidos em tal atmosfera são continuamente ex- citados. Esta atividade se transmite aos elementos do éter de modo tal, que estes, facilmente irritados numa distância de duzentos mil passos em linha reta, são atingidos e, no momento imediato, projetam-se aos mais próximos, que agem de forma semelhante.

  1. Por esta transmissão aos elementos primitivos no Espaço Infi- nito, a luz básica do Sol se transmite aos planetas de seu âmbito, onde produz irradiação idêntica nos elementos da Natureza mais condensa- dos. Quanto mais desce às profundezas, tanto mais acentuado se torna, de acordo com o peso dos próprios elementos. Ao submeterdes duas pedras à fricção, esta será mais violenta do que a de duas plumas, ra- zão porque existe mais luz e calor nas planícies, do que nos picos das montanhas.

  2. Um calculista dentre vós conjetura o seguinte: Se isto é o efeito

da transmissão da luz solar ou de qualquer outra luz, deve ela ser, por toda parte, a mesma; é impossível sentir-se o disco solar em separado mais potente que em todo o Firmamento.

  1. Afirmo-vos que isto seria evidente, caso Eu não tivesse feito o olho de tal forma, que toda a luz ou objeto iluminado viesse projetar-se por um pequeno orifício à retina e dali se transmitisse aos nervos óti- cos, ambos mui sensíveis, devido a certa retroação dos raios periféricos irritados, cujas linhas se cruzam em determinado ângulo.

  2. Por esta medida, são excluídas as irradiações de luz de simples reação, dando apenas passagem aos principais raios periféricos que, cru- zados, atingem a retina e os nervos óticos, de onde o quadro é represen- tado à alma, através dos órgãos adequados e impregnados nas facetas cerebrais correspondentes ao dito quadro, ou em sinais.

  3. Se o globo ocular não fosse assim organizado, não veríeis um Sol isolado, mas tudo seria um mar luminoso e informe, semelhante aos que diversas pessoas, em êxtase, deslumbraram em espírito, onde nem lhes era possível discernir seu próprio ‘eu’.

  4. Um sábio greco-egípcio — Platon — disto dá testemunho e com ele, vários outros. Adormecendo, achavam-se conscientemente num mar de luz, sem todavia poderem ver-se a si mesmos, o que lhes facultava a sensação agradável de estarem unos com a Luz Primária, por eles denominada a Divindade.

  5. A causa disto se baseava na incompleta visão da alma, que mui- to embora tivesse recebido educação severa, era errada. Pois quando a educação do intelecto precede a do sentimento, age-se erroneamente.”

  1. ORENASCIMENTOEAJUSTA EDUCAÇÃO

  1. (O Senhor): “Quais seriam os frutos duma árvore, caso não lhes precedessem os fenômenos que tanto alegram a nossa alma?! Qual seria a função do outono no lugar da primavera, e vice-versa, quando sabe- mos que o outono é acompanhado pelo inverno rigoroso?! A geada não destruiria a época da flor, tão agradável ao nosso coração, matando a folha esperançosa junto com o fruto, que apenas pode ser abençoado pela flor para uma vida germinativa? Neste caso, a madeira da árvore aumentaria, sem nunca alguém poder observar o amadurecimento dum fruto, sequer.

  2. O mesmo se dá com o homem e principalmente com sua alma.

Toda a sua índole se torna materialista, produzindo somente aquele fruto que é atirado — como lenha — ao fogo do julgamento, para se aproveitar a cinza como adubo e purificação do solo estéril e magro, comparável aos conhecimentos materiais do agricultor.

  1. Quem procura despertar e formar primeiro o intelecto dos fi- lhos, começará a construir uma casa pelo telhado e colher água numa vasilha furada. Não deixará de estar molhada enquanto se entregar a tal tarefa inútil; jamais, porém, guardará uma gota de água viva; em outras palavras: não poderá registrar as expressões maravilhosas da vida psíquica. A não ser que tentasse tapar os orifícios do vasilhame, com sacrifício demorado; mas quão rápido apodrece uma tampinha fraca e mal aplicada, esvaziando com o tempo toda a água da vida!

  2. Este quadro deve-se entender da seguinte maneira: um homem

de intelecto desenvolvido pode muito bem alcançar uma formação pos- terior e efetiva de sua alma, através de muita renúncia; se não for ex- tremamente cuidadoso no entupimento de seu receptáculo da vida, em todas as aberturas, isto é, nas fraquezas terrenas, dando vazão apenas a uma, perceberá, em breve, ter-se evadido a água acumulada e ele, imperceptivelmente, voltará a ser o homem anterior sem a menor con- sistência psíquica.

  1. Por este motivo, vos recomendei antes de mais nada, o amor ao próximo, provindo do amor de Deus, que unicamente reajustar-vos-á

dentro de Minha Ordem. Não vos deixeis ofuscar pelo mundo; pois vos faculta apenas julgamento e morte como fruto da pura razão. Somente o amor vos poderá transformar para a vida!

  1. Eis por que Eu vim ao mundo, demonstrando-vos o retorno à Minha Ordem e o justo caminho para prosseguirdes até a proximidade do Renascimento do espírito na alma, onde não mais existe possibili- dade de recaída.

  2. Tendes de iniciar esta tarefa, porquanto os que se acham erra- dos não levariam benefício com a simples volta à verdade de sua alma remendada. Se bem que tenha de modificar-se completamente antes que possa alcançar o Renascimento do espírito na alma, sua situação remendada e obstruída não é duradoura, porquanto recai, pelo poder do mundo e suas vantagens temporárias, facilmente nos antigos erros, tão logo se manifeste oportunidade tentadora.

  3. A fim de evitá-lo, tracei o caminho a seguir de tal forma que Meu Espírito, por Mim depositado como centelha de Meu Amor Pa- ternal no coração de cada alma, alimentado por vosso amor a Mim e daí, realmente ativo, para com o vosso próximo, — cresça em vos- sa alma. Uma vez alcançadas a justa elevação e força, o espírito se unirá à alma purificada, ato que será denominado de Renascimento do Espírito.

  4. Quem tiver alcançado isto estará em posição incomparavelmen- te elevada a uma alma por mais perfeita que seja, pois embora conse- guindo muita coisa, longe estará de poder operar o que é reservado ao inteiramente renascido.

  5. A centelha de Meu Amor é depositada no coração da alma humana, somente após o homem ter ouvido o Meu Verbo e tê-lo aceito por amor à Verdade e pela Fé em sua alma. Enquanto tal não acontecer, ninguém — por mais perfeita que seja sua alma — poderá atingir o Renascimento do Espírito. Sem a Minha Palavra que ora vos dirijo, a centelha de Meu Amor não penetra no coração de vossa alma, portanto não pode germinar e crescer, tampouco renascer.

  6. No futuro, as crianças também receberão a centelha espiritual do Meu Amor no coração de sua alma, caso sejam abençoadas e batiza-

das em Meu Nome; todavia, esta fagulha não crescerá numa educação errônea, senão na que se baseia em Minha Ordem, claramente demons- trada. Em primeiro lugar, deve-se cuidar do sentimento e a seguir do intelecto, dentro das faculdades de cada um. O sentimento é desenvol- vido pelo justo amor, meiguice e paciência.

  1. Ensinai aos pequeninos amarem ao Pai do Céu; demonstrai-

-lhes como é Bom e Amoroso, tendo criado tudo para o Bem das cria- turas de modo útil, maravilhoso e sábio e se dedicando sobretudo às criancinhas que O amem! Chamai-lhes a atenção, em ocasiões opor- tunas, pois o Pai Celeste assim ordena e permite, — tereis dirigido os corações de vossos filhos a Mim, e Meu Amor dentro deles em breve germinará! Educando-os desta forma, vosso pequeno esforço vos trará frutos dourados, — do contrário, somente surgirão cardos e abrolhos que não produzirão uvas e figos!

  1. Agora dizei-Me, com sinceridade, se entendeis o motivo por que estes vossos irmãos negros podem realizar ações, que até então ti- nham de se apresentar como ‘milagres’?!”

  1. A JUSTA COMPREENSÃO E A FACULDADE DE LER PENSAMENTOS

  1. Diz em seguida o chefe dos núbios: “Senhor, Deus Onipoten- te e Sábio! Eu e meus colegas compreendemos-Te muito bem. Se os brancos, por cuja causa Tu deste esta explicação, o assimilaram na justa compreensão espiritual, não poderei afirmar com plena certeza. Ao que me parece, alguns não estão bem a par.

  2. Todavia, poder-se-á manifestar quem preze mais um conheci- mento puro, do que sua honra intelectual; porquanto certamente al- guns dentre eles nada indagarão, a fim de não denunciarem a fraqueza de seu intelecto! Como negro, aconselho-os desistirem desta fútil honra e declararem-se a favor da pura Verdade, que pode somente surgir pela compreensão acertada; do contrário, uma verdade não compreendi- da em nada é melhor que uma pura mentira. Ninguém terá benefício duma falta de compreensão, quanto duma mentira.

  1. Pessoa alguma porá em prática a mentira, portanto não lhe po- derá prejudicar, muito menos beneficiar; a verdade não compreendida também não trará benefício, por não ser possível pô-la em execução e na pior das hipóteses, será erroneamente aplicada, e deste modo em nada é melhor que a mentira perfeita. Eis minha opinião; talvez alguém possua outra, melhor, e assim serei um ouvinte atento!”

  2. Digo Eu: “Tua observação foi boa e verdadeira. Eu Mesmo sei de vários que não assimilaram a fundo a Minha Explicação: envergo- nham-se, porém, em declarar a fraqueza de seu intelecto, através duma pergunta e preferem satisfazer-se com uma compreensão fraca.”

  3. Mal termino, — e vários Me perguntam se Me estava referindo à sua pessoa. Eu, nada digo. Cirenius, aflito, dirige-se pessoalmente a Mim, para saber se também fazia parte dos que não haviam assimilado estas verdades.

  4. Respondo: “Não somente tu, mas a maior parte dentre vós! Apenas dois discípulos assimilaram perfeitamente Minha Explanação, quanto à perfeição da alma; todos os outros, com exceção dos negros, não o conseguiram. Tendes uma leve ideia do caso, e estais longe de uma compreensão perfeita daquilo que seu chefe até mesmo percebeu convosco; eis por que sua observação era justa.

  5. Uma alma perfeita desde sua origem, possui além de força mila- grosa como soberana de toda a Criação, a faculdade peculiar de notar os pensamentos de outros e, até mesmo, ver o que se passa em seu coração. Pois a irradiação psíquica fortemente positiva, percebe o que externa a aura do próximo, de relance; de sorte que, pessoas assim dotadas, em absoluto podem ser enganadas. Já de longa distância, elas sentem, com sua alma intensamente sensível, aquilo que alguém pensa ou quer, ao dirigir-se a elas.

  6. Ao aproximar-se um inimigo, estas pessoas de almas inteira-

mente perfeitas, podem fazer com que o mesmo bata em retirada pela concentração de sua irradiação psíquica; conforme vistes, estes negros extraíram, com sua força psíquica conjugada, uma árvore colossal, im- plantando naquele buraco a rocha imensa e finalmente fizeram fogo que se apoderou imediatamente da capoeira reduzindo-a a cinzas.

  1. Por isto, nenhum de vós se aborreça se o guia negro vos diz umas tantas coisas, acertando seu alvo, qual atirador de classe; vos- sa irradiação psíquica é por ele plenamente iluminada, denuncian- do vossos pensamentos mais íntimos, quando ligados à vontade. Os simples pensamentos cerebrais — que de certo modo não o são pro- priamente — eles não registram, porquanto consistem apenas de qua- dros impregnados nas facetas do cérebro e não possuem vida própria. Ao passo que os pensamentos do coração, percebem com facilidade, mormente em se achando num estado algo excitado, como acontece no momento.”

  1. AIMPORTÂNCIADAIRRADIAÇÃO PSÍQUICA

  1. (O Senhor): “Ainda não compreendeis a fundo o que venha a ser a irradiação psíquica e a maneira pela qual se manifesta, através do tato, audição e até mesmo da visão. Ser-vos-á difícil compreendê-lo, porquanto não é possível dar-se um exemplo adequado para os vossos olhos físicos, em virtude da dificuldade de se enquadrar na matéria um fenômeno espiritual. Todavia, elucidar-vos-ei, porque este assunto, sumamente importante, necessita ser bem assimilado. Necessário é que concentreis todos os sentidos, do contrário, não penetrareis às profun- dezas deste axioma vital.

  2. O fato de ser isto mui importante, podeis notar por ter Eu dei-

xado para o fim do nosso convívio aqui, a explicação deste segredo de origem vital. Embora vos tivesse demonstrado coisas profundas durante esses sete dias — e anteriormente noutra ocasião —, este problema é o maior, e deu motivo às explanações anteriores, porquanto não vos teria sido possível compreendê-lo — mesmo em parte — sem os preparos e acontecimentos milagrosos que os precederam.

  1. Por que razão classifico isto de máxima importância? É fácil deduzir-se. Quem pretende melhorar sua existência e elevá-la à vida intrínseca, deve antes reconhecer de que forma consiste e se manifesta em tudo; a maneira pela qual se apresenta em determinadas condições e ocorrências; como melhorá-la — quando errada ou desajustada —,

mantê-la nesta melhoria e transmiti-la ao próximo, a fim de que haja afinal umpastor e umrebanho.

  1. Todos os sábios do mundo, desde sempre, reconheceram e afir- maram ser o pleno conhecimento da vida, o mais importante para o homem verdadeiro; acontecia, porém, que sua descoberta era muito cansativa, difícil e, às vezes, até mesmo impossível. Por isto, vim Eu, Senhor e Mestre de toda Vida e Existência desde Eternidades, Pessoal- mente, e atraí tudo de modo milagroso, para este lugarejo tão afastado, a fim de vos demonstrar a Vida Verdadeira de maneira visível e palpá- vel e, com o tempo e a paciência devidas, a assimilareis. Em seguida, será de vossa obrigação exemplificá-la aos semelhantes, dentro de vossa compreensão.

  2. Se isto for apenas posse de uma ou duas pessoas, fazendo uso

próprio em seu país, não terá benefício especial, tampouco quanto um sábio seria útil num manicômio ou num estábulo de burros e bois! Acaso os animais entenderiam os ensinamentos elevados, transmitidos por palavras amigas?!

  1. Um sábio só poderá ser reconhecido e compreendido por um sábio. Com a vida animal e a dos verdadeiros loucos, nada se consegui- rá, pois Eu previ esta possibilidade, pela Minha Ordem Eterna; com a vida do homem, tudo podereis alcançar no caminho da Verdade, Amor, Paciência e Sabedoria!

  2. Quando tiverdes feito dos homens verdadeiros amigos e irmãos, que com o tempo a vós se assemelharão no conhecimento da Vida, desfrutareis uma alegria e felicidade verdadeiras neste convívio, tornan- do-vos fortes na prática do Bem, facilmente executado. Cem braços fazem mais que um; cem olhos, vislumbram mais que dois, e a irra- diação psíquica de milhares conjugada, é uma alavanca poderosa para o afastamento de toda sorte de perigos e males, qualquer que seja sua procedência.”

  1. OPODERDOHOMEMPERFEITOPELO AMOR

  1. (O Senhor): “Vistes a força da ação conjugada dos negros pela concentração de sua irradiação psíquica. Quantas pessoas não seriam precisas para suspender uma árvore, qual aquele cedro, junto com o bloco da terra?! Quantas para remover aquela rocha pesada?! O peque- no grupo de núbios suspendeu-a no ar! Deste fato inegável devíeis de- duzir que poder e força residem na concentração psíquica de algumas poucas almas perfeitas.

  2. Se eles, desconhecendo força e poder de Meu Nome, disto fo- ram capazes, — quanto mais não poderíeis vós pela irradiação unida ao Meu Verbo e o Espírito Onipotente de Meu Amor!

  3. Em verdade vos digo: Não somente árvores e rochas, senão ver- dadeiras montanhas, poderíeis remover, caso fosse de utilidade den- tro da compreensão de vosso coração sábio; saberíeis a cada momento, através do Meu Espírito, o que fazer, pois Ele estaria presente em vossa alma em virtude de Meu Verbo Vivo!

  4. Não seria este um estado desejado por uma criatura perfeita em Meu Nome, e muito mais ainda por uma comunidade ou povo? Sua realização está à nossa frente e preciso é que reconheçais, em vós, como Meus discípulos mais achegados, este estado importantíssimo e o de- monstreis a todos que vos rodeiam, de modo justo e verdadeiro. Quem possui uma luz, não deve deixá-la debaixo do alqueire onde seus raios luminosos a ninguém beneficiaria, mas depositá-la em cima da mesa onde iluminará a todos.

  5. Fácil é agir-se assim com a luz material, ao passo que a destina-

da ao coração e alma, torna-se bem difícil. Uma boa e firme vontade, porém, consegui-lo-á e com o Meu Auxílio garantido em assunto tão importante para a vida, ainda mais fácil do que pensais. Naturalmen- te, deve cada um possuir aquilo que deseja transmitir ao próximo, do contrário seria um cego a guiar outro, — quando chegarem ao abismo, ambos tombarão!

  1. Demonstrei-vos suficientemente a grande importância do ver- dadeiro poder duma alma perfeita e do conhecimento próprio, que po-

dem ser alcançados pelas crianças por uma educação verdadeira; pelos adultos transviados, sem própria culpa, pela humildade justa, paciência e mormente pelo amor verdadeiro e ativo para com o Pai e ao próximo. As ações dos negros de almas fortes, que deveriam vos conduzir ao co- nhecimento próprio, foram por Mim elucidadas, todavia ainda não as entendestes a fundo. Cabe-vos, indagardes em virtude da importância do assunto, demonstrando de que careceis.

  1. Deveis sentir esta carência, do contrário, não seria possível su- pri-la pelo livre-arbítrio; pois se alguém algo perder sem sabê-lo, acaso irá à sua procura? Preciso é, sentir-se nitidamente as suas próprias de- ficiências e o grande valor daquilo que necessita, do contrário jamais a criatura se empenhará em procurá-lo com o devido zelo.”

  1. AFOMEPELOALIMENTO ESPIRITUAL

  1. (O Senhor): “O homem mundano não pode sequer sonhar com o verdadeiro valor da vida; basta a satisfação de seus instintos, pois as coisas necessárias ao espírito, não o preocupam. Tem o que comer e be- ber; morada bonita e confortável; boa cama, roupa fina e outras tantas coisas agradáveis, como sejam, raparigas bonitas e sensuais. Que mais faltaria a tal usurpador dos bens terrenos?!

  2. Os pobres, coitados, têm de se refugiar em aforismos e conhe- cimentos, produção de sua fantasia faminta, a fim de conquistarem a simpatia dum rico, viver de sua abundância e, em compensação, distra- í-lo com fantasmagorias. Nisto tudo não há Verdade, senão a fome dum sábio e sua preguiça que preferem satisfazer-se com a imaginação fácil dum deus qualquer e da vida eterna da alma!

  3. Observai neste quadro vivo, se um homem provido de bens ma- teriais sente alguma deficiência; que lhe importa a imprescindível noção de si próprio, indispensável no verdadeiro conhecimento de Deus?! Acaso um dia se entregará à procura de sua maior carência?! Por certo que não! Não passa fome e sede, supostas alavancas que levam à pesquisa do saber!

  4. De que outra forma poderia ele perceber sua deficiência? So- mente fome e sede — na opinião do rico — são os únicos meios para

qualquer atividade; quem portanto nada disto padece, não precisa se ocupar com qualquer ciência. Em suma, quem a seu ver, não sofre ne- cessidades, também não tem desejos, e quem nada perdeu, por que deveria entregar-se à procura de algo?!

  1. O mesmo sucede com um ensinamento dado. Quem julga tê-

-lo compreendido, não pedirá maior explicação; pois o saciado não exige alimento, a não ser que se torne novamente faminto. Que fará, na ausência do cozinheiro? Seria capaz de preparar um alimento sem seu auxílio?!

  1. Por isto procurai agora a nutrição, enquanto o Mordomo Se acha entre vós! Quando Ele voltar de onde veio, muitos começarão a procurar a nutrição justa; será, todavia, difícil encontrá-la.

  2. Muitos dentre vós são materialmente muito ricos e tratam com zelo a aquisição dos tesouros espirituais, não extraídos do solo terrá- queo. Sois no momento, supridos em excesso, — não penseis, porém, que um acúmulo seja bastante para tudo assimilardes.

  3. Toda palavra que vos dirijo é-vos compreensível como meras criaturas; o sentido infinito que comportam, estais longe de assimilar! Eis por que não indagais, ignorando vossa incompreensão. Por que isto não se dá convosco, e qual a razão de ter Oubratouvishar percebido vos- sa deficiência? Porque sua irradiação psíquica, perfeita, desde origem, facilmente penetra a vossa, assim como poderíeis numa noite de breu, perceber pelo tato, se alguém é calvo ou não! Vossa projeção psíquica, ainda mui fraca, sente apenas aquilo que o físico registra; passando dali, vossa alma não possui fagulha de vibração!”

  1. OPODERMILAGROSODORENASCIDOEM ESPÍRITO

  1. (O Senhor): “Sentimento e percepção destes núbios podem, num momento de maior sensibilidade, estender-se à longa distância, percebendo com facilidade a natureza dos que deles se aproximam, não da índole mais intrínseca propriamente dita, mas do estado psíquico.

  2. Quando, hoje de manhã, aqui chegaram, seu conhecimento e força já de longe reconheceram Minha Alma. O Espírito dentro dela

não lhes era possível perceber, porquanto Este só pode ser reconhecido por outro espírito puro. Para este fim, foi preciso depositar — através de Minha Palavra — a centelha do espírito em seu coração; quando esta fagulha fortificou-se pela nutrição justa duma alma perfeita, eles Me reconheceram, em espírito, e ora sabem mais intensivamente que vós, Quem Sou.

  1. Tudo isto é consequência da perfeição psíquica. Vossas almas, como são e com exceção de poucas, jamais alcançarão tal conheci- mento; serão, todavia, purificadas pelo Meu grande Amor, tornan- do-se aptas na aceitação de Meu Espírito. Quando renascerdes — não pelo próprio mérito, mas unicamente pelo Meu Amor, Graça e Misericórdia — fareis coisas mais grandiosas que eles. Isto, não pelo poder da perfeição de vossas almas, mas pela Força de Meu Espírito que penetra vossa psique fraca, tornando-a, assim, eternamente ple- na de vida!

  2. Não quero fazer de vós criaturas dotadas de poder milagroso,

mas benfeitores da Humanidade! Quando Meu Espírito Se tornar ple- namente ativo em vós, vossa razão será iluminada, facultando-vos por vias naturais, o poder de auscultardes as forças da Natureza, cujos es- píritos, ou seja, suas substâncias psíquicas de origem específicas, vos serão úteis. Deste modo, alcançareis grandes benefícios materiais, que devereis empregar para obras de caridade.

  1. Se as grandes vantagens recebidas pelo Meu Espírito, com o tempo, forem aplicadas dentro de Minha Ordem, trazer-vos-ão imensas bênçãos; começando a usá-las contra Minha Determinação, tornar-se-

-ão instituições dos piores malefícios mundanos!

  1. O que ora vos falo, também é dirigido a todos que vos seguirão a dois mil anos! Em seguida, virá nova fase do planeta para sua fermen- tação e preparo futuro, com e sem criaturas; pois a Terra é grande, e muitos os espíritos presos à espera de salvação.

  2. Todo renascido também pode operar milagres, não como es- tes negros sem a noção de Meu Nome e Minha Vontade, mas pelo pleno conhecimento dos Mesmos, dentro de Minha Ordem Imutável. Ninguém poderá agir contrariamente, porquanto Meu Espírito não lhe

facultaria poderes; neste caso, seria apenas a alma a desejar, porque o espírito jamais há de querer algo contra a Minha Vontade!

  1. Pelo renascimento do espírito, a alma não perde seu livre-arbítrio e conhecimento externo, nas fileiras das grandes Criações que surgirão constantemente pelo Meu Amor, Sabedoria, Ordem, Força e Poder.”

  1. RELAÇÃOENTREALMAE ESPÍRITO

  1. (O Senhor): “A relação entre alma e espírito corresponde sempre à existente entre corpo e alma. O físico duma alma, por mais perfeita que seja, também possui vontade individual para o gozo, pela qual a psique se pode perder quando nela se integra. Uma alma bem educada jamais cederá à volúpia do físico, permanecendo sua soberana; enquan- to isto é possível à alma de educação falha.

  2. Repito, entre alma e espírito, só pode haver a mesma analogia que reina entre uma alma perfeita, desde origem, e seu corpo. Ele bem pode sentir desejos variados e estimular a psique para a sua satisfação, através de suas tendências preponderantes, que a alma sempre pronun- ciará um ‘Não’ incisivo! O mesmo faz o Meu Espírito naquela psique, por Ele completamente penetrada!

  3. Enquanto a alma aceita a vontade do espírito, tudo sucede de acordo com sua determinação, pois a vontade do espírito é também a Minha. Quando a alma sente desejos pela atração dos sentidos devido a sua recordação, o espírito se afasta em tais momentos e entrega a alma à satisfação dos seus apetites, onde nada de bom pode surgir, porquanto não se polariza com as aspirações do espírito.

  4. Percebendo sua fraqueza egoística e falta de compostura, ela desiste de seus sonhos de satisfação própria; une-se estreitamente ao espírito, deixando prevalecer a vontade do mesmo. Neste caso, são no- vamente restabelecidos: ordem, força e poder, plenos.”

  5. Um tanto desanimado, Cirenius então diz: “Senhor, através de Tuas variadas explanações e advertências, descobri um vácuo, uma de- ficiência enorme na esfera de meus conhecimentos que se apresenta mui nítida.

  1. Disseste há pouco que o egoísmo da alma, ainda mesmo tendo o Teu Espírito a penetrado inteiramente, através do renascimento espi- ritual, não se integrará nele de tal forma a impedir, em certos momen- tos, a separação. Possui ela, portanto, ainda suas tendências e pode, até mesmo, pensar e querer individualmente, como antes do renascimento do espírito.

  2. Neste caso, é ela dotada duma capacidade de conhecimento livre e individual, e forçosamente terá de reconhecer as vantagens inúmeras provindas do espírito. Assim sendo, como admitir-se querer e pensar algo, não insuflado pelo espírito?! Não deve constituir o desejo mais ardente de sua índole, unir-se inteiramente e para sempre à centelha divina?! Vejo na capacidade individual do querer, pensar e reconhecer, uma imperfeição na fase espiritual do homem.

  3. Também soa estranho que uma alma renascida no próprio espí- rito — que por isto deveria ser mais forte que a dum negro, ainda pura e perfeita, todavia, longe dum renascimento espiritual —, tenha menor poder por si só! Quando a alma dum negro emite uma vontade, ela se realiza; quando uma renascida algo quer, nada disto acontece porque tal não é da vontade do espírito.

  4. As almas destes núbios, por certo, também poderão no Além, operar coisas milagrosas; as nossas, renascidas, nada poderão realizar como simples particularidade racial?! Realmente, Senhor, pela primeira vez não sou capaz de compreender algo! Não vejo motivo, nem ponto de partida aceitável ao intelecto. Queira conceder-nos a Graça de maior esclarecimento!”

  1. CÉREBROE ALMA

  1. (O Senhor): “Já vos demonstrei, anteriormente, a maneira pela qual a alma, e finalmente, a criatura, fica desprovida de todas as facul- dades gloriosas da semelhança divina, através duma educação errônea. A princípio submeteis o intelecto duma criança a uma certa educação. O cérebro ainda não tendo alcançado dois terços de sua formação, mesmo assim é submetido a assimilar palavras, quadros e números

sem fim, nas facetas ainda mui sensíveis e líquidas, numa correspon- dência visual. Essas facetas são, de um lado, demasiado enrijecidas e de outro, levadas a uma completa desordem através dum grande esforço da memória, motivo porque tais criaturas, quando adultas, sofrem de constantes dores de cabeça, que jamais poderão ser curadas por completo.

  1. O cérebro é, deste modo, impregnado com toda sorte de figuras, tornando-se insensível à assimilação das impressões sutis que, surgidas da alma, são destinadas a impregnar-se às facetas cerebrais. Quando mais tarde, é representado um conhecimento mais elevado pelo cora- ção, a alma não pode conservá-lo, nem o assimila, porquanto tal ensi- namento não pode ser projetado além dum momento.

  2. Fora disto, a alma tem uma constante aglomeração de qua- dros materiais, idêntica a um matagal, diante de si, e dificilmente consegue vislumbrar através deles as inúmeras impressões sutis e levemente impregnadas. Mesmo percebendo, por segundos, os qua- dros quiméricos surgidos do coração, apresentam-se-lhe quais cari- caturas de difícil compreensão e percepção, porquanto os quadros materiais se postam à frente, encobrindo e até mesmo destruindo tais noções.

  3. Talvez conjeturas o seguinte: Por que motivo a alma dirige seu

olhar às facetas cerebrais? Deveria dedicar-se ao coração e assim pene- trar na luz de seu espírito! — Como não? Caso fosse possível transfor- mar a ordem vital, sem prejuízo, para a própria vida!

  1. Não seria admissível aplicar-se a alguém que, por motivo qual- quer, já fosse cego no ventre materno ou tornando-se posteriormen- te, um par de olhos no queixo, ou na testa, ou no nariz! Seria jus- to, caso estes olhos mal colocados não necessitassem dum organismo todo especial!

  2. No mecanismo do corpo humano existe uma ordem tão rigoro- samente matemática, que tudo se acha no seu devido lugar e não pode ser modificado, sem a alteração total do organismo. É, portanto, intei- ramente impossível transplantar-se um sentido físico, sem transformar-

-se todo o físico, dando-lhe outra forma e outra organização interna.

  1. Assim como não é possível mudar-se os sentidos do corpo, muito menos os da alma, possuidora dum organismo muito sensível e de fonte espiritual. Ela só vê e ouve através do cérebro; as demais im- pressões, vagas e indefiníveis, ela pode perceber com os outros nervos, que para tanto, têm de estar numa ligação constante com os nervos cerebrais, do contrário, o céu da boca não teria paladar, nem o na- riz olfato.”

  1. AFORMAÇÃOJUSTADO CÉREBRO

  1. (O Senhor): “Enquanto a alma habita no corpo, o cérebro é o órgão principal de sua visão. Se ele for bem formado, a alma verá nitidamente os quadros vindos do coração e impregnados em suas fa- cetas, podendo então julgar e agir de acordo. Se bem que ela possa, em momentos de êxtase, através de passes aplicados por pessoa cheia de fé e vontade, ver pelo plexo solar, conforme Zorel nos deu exemplo, tal visão pouco ou mesmo nada lhe serve para a vida real, porquanto não lhe assiste a menor recordação em seu cárcere trevoso.

  2. Quando o cérebro não está ligado à alma durante qualquer visão

ou percepção psíquica, ela não guarda lembrança e sim, apenas uma vaga noção. Daquilo que o cérebro registra, a alma não tem visão; assim como o corpo não possui visão qualquer daquilo que se impregnou nas múltiplas facetas cerebrais através de olhos e ouvidos, perceptíveis, apenas, à alma, localizada dentro do corpo.

  1. O que daí se grava no cérebro psíquico, a alma não pode vis- lumbrar com seus olhos que, idênticos aos do corpo, somente se di- rigem ao exterior, tampouco ouvi-lo; isto pode apenas o seu espírito. Razão porque uma pessoa só consegue assimilar algo puramente es- piritual, tão logo o espírito, completamente desperto, nela se tenha integrado.

  2. O que contém o espírito, é visto por Mim e pelo espírito do homem uno Comigo, ou com o Meu Próprio Espírito. É Ele Minha Cópia autêntica na alma, assim como o Sol reflete sua imagem no es- pelho. Deste modo, é imprescindível à alma encarnada, a posse dum

cérebro bem formado; pois um deformado, nada lhe adianta para a visão espiritual, tampouco o êxtase pelo plexo solar, por não lhe facul- tar recordação. Muito embora fique gravado em seu cérebro espiritual para todo o sempre, não possui ela olhos e ouvidos, dons que assistem apenas ao espírito desperto dentro dela.

  1. Se, portanto, o cérebro é bem formado pelo coração, dentro de Minha Ordem, e os quadros de fonte espiritual sendo os primeiros a se impregnarem nas facetas cerebrais — de certo modo representando uma luz —, as impressões subsequentes provindas do mundo exterior são iluminadas e assim facilmente compreendidas em todo o seu âmbito.

  2. Esta luz, então, não só preenche o organismo humano, mas se projeta em raios luminosos além do corpo, formando assim sua irra- diação psíquica. Quando com o tempo fica mais forte e concentrada, a criatura pode operar milagres sem o renascimento do espírito, confor- me observastes com os núbios.

  3. Num cérebro deformado se impregnam apenas quadros nubla- dos, onde a alma necessita de toda força luminosa, a fim de vislumbrá-

-los apenas em seus contornos, impossibilitando ser ela iluminada de modo a formar uma aura poderosa.

  1. Somente pela justa humildade, pelo amor poderoso para com Deus e o próximo e pelo zelo especial das coisas espirituais, os quadros materiais são iluminados no cérebro e espiritualizados, levando-o a cer- ta ordem; em vida, porém, jamais àquela, manifestada pelos negros!

  2. Isto, todavia, não importa; pois prefiro um renascido dentre vós a noventa e nove almas perfeitas que jamais necessitaram de penitência! Meus filhos verdadeiros têm de se tornar fortes através de sua fraqueza! Terás agora tudo compreendido, e tuas perguntas foram bem respon- didas, Cirenius?”

  1. CIRENIUS PEDE MAIOR ELUCIDAÇÃO QUANTO AO ESTUDO DO CÉREBRO

  1. Diz Cirenius: “Senhor, falando com sinceridade, seria preciso co- nhecimento mais apurado do cérebro, para se poder assimilar Tua Expli- cação. Não é possível fazer-se uma ideia das facetas cerebrais, que, numa boa educação, registram os quadros espirituais, enquanto que numa er- rônea, nelas projetam, primeiro, as imagens da matéria. Muito menos se compreende a maneira pela qual as diversas impressões lá se refletem.

  2. Não seria do Teu Agrado, porquanto tudo Te é possível, repre- sentar-nos o modelo duma faceta cerebral, a fim de que possamos con- ceber o que Tu Mesmo mencionaste de mais importante?

  3. Nossa alma é, certamente, muito desprovida de luz para poder, de modo próprio, analisar as facetas, tanto na forma, quanto em sua função, criando assim um justo conhecimento. É, portanto, necessário dar-nos, brancos que somos e de almas fracas, uma noção acertada da- quele órgão, de cuja formação depende o Bem ou o mal da criatura. Por isto Te peço maior orientação e, se possível, um esquema elucidativo!”

  4. Digo Eu: “Já sabia que Eu vos levaria ao ponto de reconhecerdes vossa falha, e uma ânsia acertada por suprir as lacunas; este teu desejo Me é mais agradável que tua revolta, quando expliquei que a alma dum renascido jamais poderia realizar os milagres possíveis a uma alma per- feita desde sua origem.

  5. Bem afirmei, poder um renascido fazer o mesmo que Eu, mas somente dentro e através de Minha Ordem Eterna, e não pareces estar satisfeito por isto! Todavia, não refletiste que tais almas perfeitas, tam- bém só poderão realizar o que permito, dentro de Minha Ordem e de utilidade do próximo.

  6. Tudo o que operam pelo poder de sua irradiação psíquica e que vos parece milagroso, é algo tão natural quanto este solo é coberto de musgo e capim, e a água desta enseada estaciona no fundo devido a seu peso. Achando estes fenômenos da Natureza de ordem simples, farás o mesmo com as ações destas almas equilibradas dentro de sua esfera terrena, mormente em seu país.

  1. Estes núbios têm pele preta, enquanto possuem alma lúcida. Quase todos conhecem os principais órgãos de seu físico e as facetas cerebrais, pois suas almas perfeitas podem analisar seu corpo interna- mente e, quando se acha adoentado, veem o local da enfermidade e sua causa.

  2. Através de sua irradiação psíquica — em tais momentos, mui lúcida — dentro em pouco acham a erva cujo emprego variado lhes traz a cura. Somente quando os músculos e as artérias se tornam lassos e o sangue mais grosso, acreditam não mais haver erva e cura, para impedir o enfraquecimento do corpo; nesse caso, seria melhor a alma tratar de si mesma, abandonando sua morada imprestável e feia e se dirigir liberta dos laços terrenos, ao país da bem-aventurança, localizado por todo o sempre entre Sol, Terra e Lua. Não têm o menor receio da morte; te- mem, sim, a enfermidade que exige todo esforço da alma, tornando-a fraca por certo tempo e assim, imperfeita.”

  1. EFEITOSDA IMPUDICÍCIA

  1. (O Senhor): “Quanto à pureza da carne e uma verdadeira cas- tidade virginal, não existe na Terra, um povo que seja tão isento dos vícios da impudicícia. Eis o fator principal, de máxima importância, na vida do homem.

  2. Se os brancos evitassem este vício e praticassem o ato apenas para despertar um fruto numa criatura de físico perfeito, afirmo-vos que não existiria um que não fosse, no mínimo, um vidente! Assim não sendo, de acordo com vossos hábitos, tanto o homem quanto a mulher desperdiçam diariamente, os mais elevados elementos psíquicos, fican- do desprovidos dum acúmulo de energias, que proporcionariam luz mais intensiva na alma.

  3. Eis o motivo pelo qual se tornam cada vez mais ociosos, com tendências sempre mais acentuadas para o gozo, qual pólipo. Raramen- te são capazes dum pensamento mais lúcido, pois são medrosos, co- vardes, materialistas, geniosos, fúteis, egoístas, invejosos e ciumentos. Dificilmente compreendem algo espiritual; pois sua fantasia fareja sem-

pre os prazeres da carne e não sente tendência para a elevação. Mesmo havendo momentos mais sensatos em que tal criatura se dirija ao Alto, imediatamente se apresentam pensamentos sensuais, como nuvens ne- gras no Céu, e encobrem aquela tentativa de tal forma, a levar a alma a esquecer-se da boa resolução, atirando-se no lodo do gozo carnal.

  1. Para tais pessoas, as boas intenções, não raro, pouco efeito têm. Assemelham-se aos suínos que se atiram com volúpia renovada às po- cilgas horripilantes, onde fuçam com prazer, e aos cães que voltam a comer aquilo que vomitaram.

  2. Por isto, vos digo com sinceridade, que impudicos, adúlteros de ambos os sexos e perversos de todos os matizes, dificilmente e até mes- mo nunca, acharão a entrada do Meu Reino do Céu!

  3. Se achas tal advertência demasiado forte, tenta modificar uma criatura sensual, chamando-lhe atenção para os Mandamentos de Deus com as seguintes palavras: ‘A paz seja contigo, pois o Reino de Deus veio junto de ti! Abandona tua vida devassa; ama a Deus sobre tudo e a teu próximo como a ti mesmo! Procura a verdade, o Reino de Deus no âmago de teu coração! Desiste das coisas fúteis e desperta em ti a vida do espírito! Ora, pesquisa e age dentro da Ordem Divina!’ Terás dirigido teu sermão a ouvidos completamente surdos. Rir-se-á de ti, virando-te as costas, dizendo: ‘Deixa-me em paz, tolo piedoso! Não me aborreças, do contrário me forçarias a te bater!’

  4. Dize-Me, que mais poderias empreender contra tal depravado,

na hipótese de que não te assista poder jurídico?! Se repetires tua adver- tência, terás de contar com reação mais brutal que a primeira. E então?

  1. Farás um milagre para convencê-lo do poder facultado aos que creem em Deus! Acaso lhe abrirás olhos e ouvidos? Ora, tomará aquilo como bruxaria e dirá: ‘Repete tais pecinhas interessantes, uma vez que não tragam prejuízo, pois do contrário te desafiarei para uma luta de vida e morte!’ Se o machucares, serás alvo das piores pragas! Por tal mo- tivo é um impudico não só um sexualmente perdido, mas também um mau quando atiçado; é pleno de fogo selvagem, cego e surdo diante do Bem e da Verdade. Ser-te-á mais fácil converter um ladrão, do que um impudico e adúltero.”

  1. BÊNÇÃODUMAFECUNDAÇÃO ORDENADA

  1. (O Senhor): “Quando volúpia e impudicícia se tiverem alastra- do como verdadeira peste psíquica entre as criaturas, a pregação do Evangelho terá chegado ao fim! Como seria possível falar-se aos surdos e agir-se perante cegos?! Onde não se prega a Verdade, que unicamente fortifica e liberta a alma, iluminando-a, porquanto somente pela ver- dade a alma se torna ativa, cheia de amor e portanto, de luz, donde poderia vir outra iluminação na psique, e qual seria a fonte verdadeira a lhe facultar uma irradiação poderosa?!

  2. O povo corrupto pelo adultério e impudicícia é desprovido de

toda irradiação psíquica, preguiçoso, insensível e nada lhe desperta prazeres elevados e felizes. Nem a forma o extasia; sua vital questão é apenas o gozo carnal. Do resto, nada lhe interessa! Tratai, antes de mais nada, de impedir este vício, pois os casais só devem se unir para conse- guirem um fruto abençoado!

  1. Quem perturba a gravidez com seus desejos carnais, prejudica o fruto já no ventre materno, implantando-lhe o espírito da impudicícia; pois aquele elemento que estimula o casal a efetuar o ato além do ne- cessário, passa ao rebento de modo mais potenciado.

  2. Por isto, deve-se considerar numa fecundação consciente, não ser a volúpia o móvel, e sim o amor verdadeiro e a atração psíquica; e que a mulher possa repousar durante sete semanas, após o nascimento.

  3. Filhos gerados nesta orientação e amadurecidos sem perturbação no ventre materno, nascem psiquicamente mais perfeitos, porquanto a alma terá maior facilidade de cuidar de seu foco espiritual dentro dum organismo perfeitamente equilibrado do que num avariado, onde con- tinuamente teria algo de consertar e melhorar. Além disto, é ela mais pura e lúcida por não ser perturbada por elementos impudicos que, às vezes, são projetados no feto e na alma, através da repetida ação carnal.

  4. Quão fácil pode uma criança pura, ainda pequenina, elevar-se a Deus qual Samuel, através dum amor verdadeiramente inocente e infantil! E qual não será a maravilhosa impressão baseada na fonte de toda Vida, que se projeta de seu campo emotivo ao jovem e delicado

cérebro, facultando-lhe, por esta luz, a explicação das noções poste- riores e provindas do mundo! São elas, de certo modo, implantadas numa base luminosa e verdadeira, dilatadas, analisadas individual- mente e completamente iluminadas, fator que confere à alma com- preensão rápida.

  1. Em tais crianças, desde cedo, manifesta-se uma aura psíquica, e, facilmente, se tornam videntes. Ao poder de sua vontade, tudo se submete dentro de Minha Ordem. Que contraste não apresentam os rebentos já avariados no ventre materno! São nada mais que sombras animadas de vida! Qual é a principal causa disto? Aquilo que vos de- monstrei como efeito da volúpia!

  2. Quando posteriormente, Meu Verbo for por vós difundido, este ensinamento não poderá faltar. Ele prepara o solo da vida e o liberta de todos os espinhos, cardos e abrolhos, dos quais ninguém colhe figos e tâmaras. Uma vez o solo limpo, fácil é lançar-se a semente nobre da vida, nos sulcos iluminados pela luz da alma e aquecidos pela chama do amor. Não haverá um grão que não germine de pronto, desenvolvendo-

-se para receptáculo dum rico fruto de Vida! Num terreno selvagem e impuro, podeis semear quanto quiserdes, que jamais deparareis colheita abençoada!

  1. A pessoa que divulga e dissemina o Meu Verbo assemelha-se ao semeador munido da melhor semente, que distribui onde quer que seja. Alguns grãos caem em areia e rocha. Quando vem a chuva, eles começam a criar brotos delicados; a chuva, porém, logo para, dando vazão aos ventos e fortes raios do Sol, que, em breve, sugarão a umidade do solo estéril, matando assim, os pequeninos gérmens sem produzi- rem frutos.

  2. Outros caem entre espinheiros, onde também germinam com a umidade; mas em pouco são abafados pela erva das paixões munda- nas, deixando também de reproduzir. Uma parte cai no caminho das perversidades humanas; nem pode germinar, mas é prontamente es- magada, pisada e comida pelos pássaros! Não é preciso afirmar não ter tampouco dado fruto. Apenas uma partícula cai em bom solo, germina e dá colheita boa e abundante.

  1. Este quadro vos demonstra não ser admissível jogar-se pérolas a porcos! Antes de mais nada, é preciso limpar e adubar o terreno e só então, começar a divulgação da semente viva do Verbo, que este esforço não será baldado. No empreendimento da disseminação de Meu Verbo Vivo, não basta a boa vontade; necessário é ser conduzido por uma sabedoria justa e verdadeira. Do contrário, tal divulgador poderia ser comparado ao profeta Bileam, cujo asno era mais inteligente que ele.

  2. Meu amigo Cirenius, depois do que acabo de expor, não re- cebeste resposta para tua indagação e no teu íntimo te preparas para recordar-Me disto. Todavia, digo-te que não te seria útil se não tivesse dado esta explanação.”

  1. ESTRUTURADOCÉREBRO HUMANO

  1. (O Senhor): “Veremos se existe a possibilidade de arranjarmos algumas facetas cerebrais para vossa elucidação! Raphael nos poderia mandar trazer de Roma duas cabeças humanas de criminosos que, nes- te momento, foram executados no Capitólio; todavia, não nos seriam úteis por se tratar de malfeitores.

  2. Por isto, o anjo nos trará quatro seixos brancos, dum córrego qualquer, e experimentarei fazer a demonstração dum cérebro, à medi- da do possível. Vai, Raphael, traz o que necessitamos!”

  3. Por sete instantes o anjo desaparece para, de súbito, apresen- tar-nos quatro cascalhos brancos que deposita em Minha mesa: dois grandes e dois pequenos, correspondentes à parte anterior e maior, des- tinada à visão, e a menor, posterior, para o registro dos sons.

  4. Após tê-las colocado na justa ordem, Eu as toco, tornando-as transparentes como cristal. Em seguida, transmito-lhes Meu Hálito, e elas se dividem em milhões de pequeninas pirâmides, cada qual consti- tuída de uma base e três facetas.

  5. As duas pedras à Minha Direita representam o cérebro numa justa ordem, e as outras, à Minha Esquerda, o cérebro desequilibrado por uma educação falha e outras influências nocivas, como acontece comumente.

  1. Neste último, vê-se, além das poucas pirâmides, formas estere- ométricas, figuras de tipos variados e tudo isto de modo mui nítido, porquanto Eu as havia decuplicado pelo Hálito, de sorte que se viam quatro pedras grandes na mesa, aumentadas para este fim.

  2. Digo pois aos discípulos admirados: “Podeis analisar perfeita- mente as facetas do cérebro humano. À direita, vedes ambas as partes do cérebro constituídas por pirâmides perfeitas, sendo que o cérebro posterior é três vezes menor, todavia bastante grande para o registro das vibrações psíquicas.

  3. Observai as duas pedras à Minha Esquerda: suas formas são va- riadas e não se encaixam; cá e lá se vê um espaço, causando reflexos adulterados, conforme analisaremos mais tarde. A parte posterior do cérebro também é formada de facetas, de tamanho três vezes menor. Analisai-as, pois!” Todos se aproximam e observam o cérebro de pedra, aumentado, até então, apenas em sua estrutura piramidal, sem divisão interna e união entre si.

  4. Digo Eu: “Quando tiverdes uma noção mais clara, isolarei por outro Hálito as facetas, em câmaras, e ligarei as duas partes cerebrais pela polarização, a fim de que as facetas, sejam quais forem sua qualida- de, tornem-se aptas para o registro de impressões.”

  5. Cirenius tão admirado está, que mal pode dizer: “Agora come- ço a compreender! Os primitivos egípcios, os primeiros a construírem suas escolas em formas de pirâmides, eram, certamente, criaturas ainda perfeitas, de completa luz interior, portanto podiam analisar seu pró- prio corpo físico. Derivaram do estudo das pirâmides cerebrais a cons- trução escolar, dentro da organização perfeita que lá encontraram. Por este motivo, possui tal pirâmide quantidade tão grande de labirintos e câmaras, onde nenhuma pessoa inteligente descobre sua utilidade. Senhor, terá meu parecer alguma valia?”

  6. Respondo: “Perfeitamente; assim foi que os egípcios fizeram

pintar as facetas com variados desenhos, quadros e escritos correspon- dentes àquilo que o homem desta Terra tem de passar e lutar, a maneira pela qual deve conhecer a si mesmo, sendo o verdadeiro amor o ponto central de toda vida.”

  1. LIGAÇÃOENTREOCÉREBROANTERIOREO POSTERIOR

  1. (O Senhor): “Novamente soprarei o Meu Hálito sobre as quatro pedras, e vereis algo semelhante aos obeliscos diante das pirâmides. Na- turalmente tinham aqueles, outra finalidade do que as quatro colunas diante de cada faceta cerebral; demonstravam eles, apenas, que as pirâ- mides ocultavam a sabedoria elevada, na qual se admitia, somente, um homem de sentimentos puros.

  2. As duas pequeninas pontas diante de cada faceta — portanto possui cada pirâmide oito — são os lápis a escreverem sobre as face- tas, numa certa ordem, ou desenharem com impressões luminosas de correspondência. Isto sucede através da movimentação dos nervos es- peciais do cérebro, em contato maravilhosamente organizado com os nervos óticos e auditivos.

  3. Prestai atenção! Encheremos este ‘lápis’ com linfa e iniciaremos os estudos com o cérebro equilibrado. Quero, pois, que as facetas deste sejam impregnadas por escritos e desenhos, produzidos por um senti- mento equilibrado pela audição e visão!”

  4. Todos se esforçam, com a máxima atenção, para não perderem ensinamento tal. Tive, neste caso, de fazer surgir as imagens pela luz externa, porquanto nada lucrariam os olhos dos discípulos com a ilu- minação psíquica.

  5. Observam eles como as pontas dos lápis irradiavam estrelinhas avermelhadas e azuladas sobre as facetas, de tal forma, que numa visão mais nítida, via formarem-se inúmeros quadros fantásticos. Fiz com que os olhos dos presentes fossem munidos da capacidade dilatadora dum microscópio, o que se tornara necessário para a definição duma imagem. O anterior aumento não teria sido suficiente; assim, num au- mento mil vezes maior, podiam descobrir alguma coisa.

  6. Por isto, pergunto a Cirenius quais suas observações; e ele diz: “Senhor, que coisa maravilhosa! Através da irradiação horizon- tal e vertical dos pequenos obeliscos, projeta-se grande número de estrelinhas, vermelhas e azuis. Numa atividade constante, suas pon- tas passam por cima das facetas piramidais, onde semeiam outras es-

trelinhas. Poder-se-ia supor estes rabiscos, aparentemente sem nexo, algo sem valor; todavia destacam-se formas variadas de aparência agradável.

  1. Percebo que os dois lápis se aquietam, tão logo a faceta é preen- chida. É incrível que estes milhares de desenhos tenham sido impreg- nados em tão curto lapso; as formas são pequeninas, muito embora tenhamos, à frente, uma base do tamanho de um homem. São, porém, mui nítidas e difícil seria imaginar-se algo mais perfeito.

  2. Por que não vejo imagens na parte posterior do cérebro cujas facetas são idênticas ao anterior? Percebo apenas riscos, pontos e outras figuras de gancho que não posso classificar. Que significam?”

  3. Respondo: “Representam sinais de sons e palavras; não estão isoladas, mas em sintonia com uma faceta do cérebro anterior. O som ou a ideia impregnada na parte posterior, por meio de linhas, pontos e ganchos é, no mesmo momento, emitido à primeira faceta do cérebro anterior numa imagem correspondente, para maior facilidade de assi- milação da alma. Para que isto seja realizado, uma quantidade de nervos é ligada entre ambas as partes cerebrais, do contrário, ninguém poderia ter a noção duma zona descrita ou duma ação qualquer.

  4. Sons vagos, bem como música, não são transmitidos, razão

porque ninguém deles pode formar a ideia dum fato; tais sons não são impregnados nas facetas do cérebro frontal e ficam ligados numa do cerebelo, como traço, ponto ou gancho.

  1. Das facetas do cerebelo gravadas com sons puros, desprendem-

-se nervos pela medula até aos gânglios do plexo solar e daí ao coração. Motivo pelo qual a música, quando inteiramente pura, age apenas so- bre o sentimento, tornando-o delicado e sensível.

  1. Surgindo, pois, do coração, os sons bem podem ser impreg- nados pela luz do amor, como estrelas emitidas por dois obeliscos, às facetas cerebrais em formas e, não raro, se destacam quais verdadeiros guias aos peristilos vitais do espírito. Pode assim, a música nobre e pura ser de utilidade para a união da alma com a centelha divina. Por isto, aprendei e também ensinai a música elevada, como foi executada por David!

  1. Podereis tirar disto a prova ao juntardes amigos e inimigos, fazendo então tocar boa música. Vereis que todos se entenderão, en- quanto que u’a melodia bizarra e erótica produz justamente o contrário.

  2. Vistes, portanto, que até mesmo os sons podem, por via indi- reta, ser projetados à alma, como algo visível; não como quadros ma- teriais, e sim em formas espirituais, semelhantes aos que se veem nos velhos monumentos do Egito. Penso que Minha Demonstração tenha sido bem clara, por isto acrescento serem tais fatores, possíveis somente num cérebro perfeito e incorrupto pelo preparo do sentimento, onde as facetas são gravadas pela luz do amor, com variadas formas psíquicas e espirituais.”

  1. LIGAÇÃODOSSENTIDOSAO CÉREBRO

  1. (O Senhor): “Já que analisamos e compreendemos este assun- to preparatório de maior importância, vamos, a fim de obtermos uma noção completa, averiguar de que modo a alma grava as impressões do mundo exterior às mesmas facetas.

  2. Quero, pois, que tal aconteça! Observai os lápis, diante de duas facetas, como se tornaram subitamente escuros! Dão impressão de estar preenchidos com líquido quase preto, e vede, conforme falamos e ges- ticulamos, as árvores e tudo que nos rodeia, aí estão gravados! E isto, em movimento!

  3. Cada posição fica reproduzida milhares de vezes, tal qual as re- petimos nas câmaras internas das pirâmides, onde é constantemente visível à alma, porquanto é iluminada pela luz psicoespiritual; eis em parte a memória, e em parte a recordação que se grava no lado interior das pirâmides cerebrais. Multiplicam-se através das variadas reflexões, de sorte que se pode guardar, repetidas vezes, o mesmo objeto. Assim, toda a criatura guarda em sua alma e muito mais em seu espírito, toda a Criação do Universo, pois lá teve sua origem.

  4. Observando as estrelas, a Lua, o Sol, tudo isto será novamente

desenhado no cérebro orgânico, como vos foi demonstrado; a alma se regozija com estes quadros que, por esta alegria psíquica, são gravados

no interior das pirâmides — naturalmente em proporção diminuta — múltiplas vezes através da reflexão interna, onde poderão ser de novo localizados e estudados com maior perfeição.

  1. Todos os desenhos da esfera exterior se apresentam quais proje- ções escuras; os outros, luminosos, que os circundam e provindos duma esfera superior, iluminam os quadros naturais em todas as partes, de modo a possibilitar à alma sua pesquisa e compreensão.

  2. Além disto, acha-se o cérebro anterior em constante ligação com os nervos do olfato e paladar; assim como a parte posterior (cerebelo) se acha ligada ao sistema nervoso geral. Os nervos registram certas im- pressões, em determinadas facetas, que facultam à alma pronto conhe- cimento do perfume duma flor ou pomada e do paladar dum fruto, bebida ou alimento, bem como seus odores. Tal é a organização de cada faceta, que se acha estreitamente ligada por nervos mui sensíveis a cada impressão.

  3. Tão logo um odor conhecido movimente o nervo olfativo, isto se

reproduz no quadro correspondente e a alma é rapidamente informada de sua espécie. De modo idêntico é-lhe representado, pela reação geral do cerebelo, o objeto que motivou a noção em sua forma e consistência. Isto tudo só acontece num cérebro perfeito, conforme vos demonstro; num outro, desequilibrado, encontraremos uma semelhança mui fraca, do que tiraremos a prova real.

  1. Observais, neste segundo cérebro, na sua construção irregular das camadas principais e adjacentes, um aglomerado de variadas figuras estereométricas, discos, bolas, esferoides, e outras massas informes. Na maior parte nem se destacam os obeliscos diante das bases; e, quando visíveis, são completamente atrofiados e raramente de tamanho e forças idênticas.

  2. Como poderia tal cérebro ser de utilidade à alma? Pelos motivos acima demonstrados surgiu ele, assim, do ventre materno. Analisare- mos o seu curso durante a educação e qual seu final destino! Atenção!”

  1. OCÉREBROPERFEITOEOCÉREBRO ATROFIADO

  1. Indaga Cirenius, perplexo: “Senhor, teria este cérebro, criado por Ti de modo tão milagroso, sido atrofiado no ventre materno pelo abuso sexual?”

  2. Respondo: “Amigo, que pergunta! Não declarei anteriormen- te que seria apenas a demonstração daquilo que existe na realidade?! Quem poderia imaginar tratar-se aqui dum verdadeiro cérebro, real- mente corrupto? Tem ele a mesma aparência; por isto Minha Afirmação anterior. Trata-se duma nomenclatura e cópia determinada para maior compreensão e não duma realidade efetiva! Compreendes?”

  3. Diz Cirenius: “Senhor, perdoa minha grande tolice!”

  4. Digo Eu: “Sabia que farias tal confissão, foste induzido a fazer tal pergunta por uma reminiscência do teu intelecto mundano, e daí, poderás concluir que toda sabedoria e sapiência do mundo nada podem fornecer à alma sedenta pela Verdade.

  5. Todas as perguntas feitas pelos intelectuais são sumamente to- las; quais então seriam as respostas que pessoas semelhantes poderiam formular?! Se seu conhecimento já é noite e trevas, — que aspecto terá sua ignorância?!

  6. Por isto, precavei-vos da sabedoria do mundo; afirmo-vos ser ela mais ignorante e maldosa que aquilo que ela própria denomina de toli- ce! A um tolo com facilidade se poderá socorrer; enquanto a um sábio do mundo de modo mui difícil! Tolamente indagais ‘por quê’?! Isto já se vos apresenta nitidamente no cérebro pervertido.

  7. Vede aqui o cérebro perfeito desde sua origem. Que clareza em sua estrutura! Todas as formas, internas como externas, são perfeita- mente equilibradas. Quais não seriam as noções e impressões que tal psique receberia de todas as coisas e circunstâncias! Quão sábio e forte sob todos os aspectos se apresentaria tal homem! Quem, dos inúmeros filhos do mundo, com ele se poderia medir?! Vistes anteriormente nos negros, a capacidade duma alma incorrupta.

  8. Vamos agora analisar um cérebro atrofiado, levando ainda maior prejuízo por uma educação péssima e errônea, e vereis nitidamente

quão infrutífera e ignorante se apresenta a sapiência mundana, perto da sabedoria verdadeiramente celeste! Um verdadeiro caos cerebral! Não existe conexão coordenada; cá e lá uma pirâmide definhada. Asseme- lha-se tudo antes a um montão de escombros!

  1. Esta forma o cérebro já adquire no ventre materno! Qual será o futuro de tal criatura? Qual o progresso na verdadeira escola da vida?! Se ao menos se cogitasse duma educação cuidadosa do sentimento, no mínimo pelo espaço de dez anos. Mas onde fica tal educação? Nem se pensa nela, e nas classes superiores, — de maneira alguma! O curso primário tanto sabe duma educação psíquica, quanto os habitantes pri- mitivos das selvas; seus predicados se assemelham àqueles animais que se nutrem do sangue dos animais caseiros.”

  1. CARÁTERDOSINTELECTUAISESUADESDITANO ALÉM

  1. (O Senhor): “Embora sejam nocivas tais pessoas ignorantes, mais facilmente poderão ser transformadas em perfeitas do que os in- telectuais. Possuem estes de certo modo — isto é, visando geralmente seu amor-próprio —, um intelecto bem aguçado, porque as facetas pi- ramidais do cérebro se conservam perfeitas em seu centro. Assim pro- duzem, às vezes, os sábios do mundo numa contenda intelectual, algo de relevante, apenas, porém, para fins materiais; tudo que seja mais pro- fundo e espiritual lhes escapa. Entre as vantagens terrenas e as eternas do espírito e da alma, perdura um abismo intransponível onde jamais o intelecto mais astuto achará uma ponte.

  2. Baseia-se isto tudo, na perversão primitiva da construção cere-

bral no ventre materno e, posteriormente, na educação ainda pior de coração e alma. Se esta fosse ao menos efetuada após o nascimento, o cérebro atrofiado seria em parte reorganizado; as criaturas poderiam alcançar algum conhecimento mais profundo e uma real força elevada, e através duma contínua humildade e bondade verdadeiras, no decorrer dos anos, a perda seria suplantada.

  1. Quem semeia em bom solo não ficará sem colheita; se, porém, o terreno estéril e péssimo não é adubado e tampouco lançada uma

semente de Verdade plena do Espírito, como e de onde aguardar-se um fruto ou uma colheita abundante?!

  1. As criaturas do mundo entendem bem como cavar a terra quais suínos e toupeiras e cultivá-la com variados frutos. Suas colheitas são consideráveis e abarrotam seus celeiros; isto torna os homens tão or- gulhosos e cada vez mais insensíveis para com a pobre Humanidade que, em virtude disto, nunca obtém um palmo de terra para o pró- prio sustento.

  2. Isto eles entendem de modo perfeito. O solo do espírito, da vida eterna, é por eles menosprezado e não ligam importância se produz car- dos e abrolhos. Compreende-se a razão por que as criaturas desta Terra tornam-se sempre mais miseráveis. Basta que possuam palacetes, leitos macios, bons petiscos, roupas finas e ricas, — que estarão plenamente satisfeitas; pois têm tudo que egoisticamente podem exigir no curto lapso de sua vida.

  3. Quando, porém, se manifesta a moléstia e a seguir a morte, a alma atrofiada passa de pavor em pavor, cada vez maior e finalmente se entrega ao desespero, vertigem e morte. Herdeiros sorridentes dividem os bens consideráveis e supérfluos do tolo falecido. E qual o proveito deste no Além? Nada mais que a maior pobreza, a maior necessidade e a máxima miséria, indescritíveis para este mundo! E isto, não por cur- to tempo e sim, por épocas incalculáveis para vossa compreensão, que podeis denominar de ‘eternas’. Isto é muito natural; pois onde deveria a alma, que somente cogitou e trabalhou para o seu corpo, buscar os meios para se aperfeiçoar num mundo que, em nada mais pode e deve consistir, do que naquilo que ela possui dentro de si, formando de sua irradiação espiritual um ambiente para sua habitação.

  4. Em tal mundo deveria iniciar-se sua nova organização de amor

no seu próprio reino espiritual. Como isto poderia ser possível, se o seu sentimento se tornou insensível e endurecido; se seu coração se enter- rou no aborrecimento, em virtude da compaixão consigo mesmo; se meditando sobre ira e vingança, seu espírito ficou mudo, surdo, cego, portanto quase que morto, não mais podendo analisar e alegrar-se com as facetas da alma?

  1. Mesmo se fosse possível tal espírito celeste erguer-se na alma totalmente atrofiada, a fim de ver e sentir o conteúdo no cérebro psí- quico, para ajudar-lhe a criar um novo ambiente habitável que lhe pro- porcionasse meios para sua atividade, — ele nada haveria de encontrar para isto realizar. Da matéria que a alma assimilou deste mundo em seu cérebro, completamente corrupto, nada poderia chegar à noção do es- pírito, porquanto lhe falta para tal transplantação, o elemento de força vital: a luz derivada da chama do amor para com Deus e o próximo!”

  1. CONSEQUÊNCIADUMCÉREBROESPIRITUALMENTE CEGO

  1. (O Senhor): “Acaso se refletiriam num espelho por mais polido, os objetos dum porão totalmente escuro? Conhecedores da disposição do local, poderíeis pelo tato, localizar mal e mal os objetos que lá se encontrem, sem vos munirdes de luz. Um espelho seria inteiramente inútil sem iluminação.

  2. O mesmo sucede com uma pessoa dum cérebro mundano, atro- fiado e obtuso. Não emite um raio de luz, portador das formas espiri- tuais correspondentes ao cérebro psíquico, já espiritualizado. As face- tas atrofiadas da alma continuam escuras e vazias; mesmo que nelas se projetasse a luz do espírito, ele e a própria alma tanto lucrariam quanto uma pessoa que enxergasse ao colocar uma lamparina num recinto in- teiramente vazio e caiado.

  3. O que veria? Nada mais que paredes vazias. Quais os estudos que poderia empreender? Somente o tédio desesperador! Compreen- dendo sua situação, dirá a si mesma: Sai deste recinto oco e leva tua luz onde possa algo iluminar! Deve ela realizar algumas coisas. Por que então aclarar as quatro paredes que, com ou sem luz, estão destituídas de qualquer objeto?!

  4. Quando a luz do espírito observa a vacuidade das facetas da alma, não mais se projeta para lá, onde permanecerá escuro quase que eternamente. Se isto é uma verdade incontestável — onde deveria a alma buscar, no Além, o material de construção para um ambiente ha- bitável? Pensais poder Eu ajudar tal pobre alma? Por certo; nunca, po-

rém, por uma piedade fraca, humana e fora de época, senão dentro de Minha Ordem Imutável, cujos braços são longos e cheios de paciência.

  1. Somente após a miséria ter atingido o ponto culminante, onde a psique passará a uma espécie de incandescência, através de poderosa pressão de desespero, subirão pelo pavor do coração, isto é, pelo senti- mento opresso, pequenas faíscas ao cérebro, gravando-se aí os quadros crepusculares de sua miséria, aflição, tormento, dores, fraquezas e aban- dono. Só então será capaz de formar ideias incipientes e, após longas épocas, se capacitará a projetar um mundo infecundo de tais projeções extremamente lastimáveis.

  2. Ninguém a invejará por tal posse, e passarão outras épocas até

que ela consiga melhorar, por si mesma, o seu ambiente. Serão precisos meios violentos para nova vivificação de seu sentimento. Pelos inúme- ros estados aflitivos, a alma se tornará cópia autêntica de suas noções bem tristes e, nesta base, começará a organizar caminhos onde não tão facilmente cairá em extrema penúria e desespero. Com razão se poderia chamar isto de capital e colheita próprios, no entanto, — que redução psíquica, vácuo e falta de adestramento!

  1. Se alguém abandonasse um grupo de crianças na floresta, uma ou outra morreria. Suponhamos salvarem-se duas de ambos os sexos e, como estivessem debaixo duma figueira, dos frutos da mesma se ali- mentariam até certa idade, passando, após, a outros alimentos. Cres- ceriam, com o tempo teriam filhos, e, daí a alguns séculos, surgiria um povo; no entanto, passaria sem ensino e revelação do Alto.

  2. Ao visitardes tais pessoas veríeis não serem humanas, e sim irra- cionais, piores que tigres, hienas, lobos e ursos. Não usariam de lingua- gem, pois emitiriam sons inarticulados, transmitindo assim sua voraci- dade e vontade brutal. Tragariam estranhos, animais, frutos em estado cru e, com fome excessiva, a si próprios! Sua ocupação se limitaria à caça constante de alimentos.

  3. Após alguns séculos, tendo ultrapassado suas florestas imensas e encontrado qualquer povo culto que os rechaçasse e prendesse alguns, a fim de educá-los, e tais prisioneiros, mais tarde, voltassem à tribo, esta co- meçaria a desfrutar da educação, que, entretanto, longe seria da espiritual.

  1. Quanto tempo não passará, até que aquele povo alcance, no mínimo, uma cultura exterior, e quanto não levará para chegar ao vosso estado atual, isto é, pelos caminhos dos fatos naturais!”

  1. DIFICULDADE EVOLUTIVA DUMA ALMA MATERIALISTA NO ALÉM

  1. (O Senhor): “Naturalmente, seria a educação dum povo primiti- vo mais rápida através duma revelação. Esta, porém, lhe pode ser facul- tada mais facilmente aqui do que a uma alma no Além que, conforme esclareci, não levou um átomo daquilo que de longe se assemelhasse a uma Ordem Divina.

  2. Somente quando, no Além, tal psique materialista finalmente chega a certas noções e ideias, por inúmeros estados aflitivos, atribu- lações incríveis e da atividade mais intensiva de seu coração, projeta-se uma luz fraca ao cérebro substancial. Então se forma, em consequência duma imaginação e vontade mui escassas, uma habitação miserável e quimérica; embora ainda longe da Verdade única e da Ordem Divina dela derivante, é possível enviar-lhe mensageiros a ela semelhantes, para muni-la e enriquecê-la, com cuidado, sem que o perceba, de noções melhores. Um século não basta para levar uma alma totalmente perdi- da, neste mundo, a uma ordem primitiva, no Céu.

  3. É quase impossível conduzi-la além do primeiro e puro Céu da

Sabedoria. Seu cérebro jamais perderá as primitivas impressões do so- frimento, onde se desenvolve de tempos em tempos, uma espécie de justificativa de vingança, que também deixa seu reflexo no cérebro já mais iluminado, levando o sentimento da alma à compreensão de estar ela passando relativamente bem, no entanto não compensa tudo aquilo que passou.

  1. Assemelha-se a um velho soldado romano que, em virtude de sua idade e seus ferimentos, recebeu do Imperador uma quinta, onde se pode manter pelo emprego de seu esforço. O velho, porém, resmunga quando observa suas cicatrizes, dizendo: Não deixa de ser bom; mas é pouco para quem, como eu, arriscou sua vida por César, povo e pátria!

Meus vizinhos nunca lutaram contra um inimigo mau e potente; têm uma saúde perfeita e podem tratar da lavoura. Se bem que tenha em- pregados, não posso deixar de trabalhar, caso queira algo organizado. O Imperador dispensou-me dos impostos e do dízimo, assim como os meus descendentes até a quinta geração, caso um de meus filhos use a farda. É o que faltava, — eu pagar impostos imperiais! Mesmo assim, sou mal recompensado!

  1. De modo idêntico reclamam as almas do primeiro Céu, mor- mente quando se lembram daquilo que passaram, sendo como espíritos, obrigados a trabalhar com afinco para o seu sustento, tal qual fizeram na Terra, apenas com a diferença de não poderem angariar bens supér- fluos. No Além nada disto sucede, porquanto os guias das agremiações espirituais sabem impedi-lo, de qualquer maneira. Assim sendo, tais al- mas desencarnadas nunca são inteiramente felizes, por sentirem sempre uma carência em seu estado psíquico.

  2. Claro é existir nelas grande deficiência, que jamais poderá ser

suplantada por faltar-lhes os elementos básicos. Podem ser comparadas às pessoas que tanto almejam voar qual pássaro e se entristecem porque lhes é vedado aquilo que alegra muitas aves, em grau elevado. De que adiantam tais queixumes? Faltam-lhes os elementos básicos, inalcançá- veis, não obstante todo resmungar.

  1. Demonstrei-te, Cirenius, e aos demais, os resultados que espe- ram uma alma no Além pela tendência mundana, porquanto nada lhe poderia ser útil, a não ser Minha Ordem que tudo abrange; ou então será preciso dissolver sua natureza e suplantá-la por outra, fator que pouco resolveria.

  2. Cada alma terá de se desenvolver aqui, com facilidade, e no Além, com dificuldade; para isto recebeu os meios necessários. Não o fazendo aqui, por se deixar envolver pelo mundo e seus tesouros ten- tadores, terá de realizá-lo no Espaço. A maneira pela qual isto se dá vos foi devidamente demonstrada e esclarecida, porque o vosso coração se afligia. Não sou culpado de vossas expressões tristonhas, tampouco posso alterar a Ordem. Três vezes três sempre serão nove, e jamais sete! A macieira sempre dará maçãs, e a figueira, figos!”

  1. EFEITODUMAEDUCAÇÃOFALHASOBREO CÉREBRO

  1. (O Senhor): “A fim de compreendermos este assunto mais a fun- do, analisaremos o cérebro à esquerda, em seus períodos de desenvol- vimento. Ainda se acha inalterável como foi ao nascer. Veremos qual aspecto e cor tomará quando a criança, após cinco anos de idade, é sub- metida aos princípios duma educação errada, começando a perturbar sua memória, com toda sorte de coisas a serem decoradas.

  2. Quero, neste momento, que sejam gravadas no cérebro, as pri- meiras impressões mundanas! Observai com atenção como os obeliscos de uma ou outra pirâmide, esparsas, começam desajeitadamente e com movimentos vagarosos, a rabiscar numa faceta, o quadro fraco duma impressão, com substância negra.

  3. A primeira tentativa nada mais é que uma rabisqueira confusa, razão por que a alma da criança custa, no começo, a formar ideia daqui- lo que lhe é dito. É preciso repetir-se e demonstrar-se umas cem vezes, até que consiga gravar uma impressão, se bem que confusa.

  4. A causa disto baseia-se, primeiro, na formação incompleta das poucas facetas, entre si desordenadas. Os lápis (obeliscos) à sua frente, também ainda completamente fracos e inaptos, são forçados, com vio- lência, a desenharem nas facetas virgens, sem a devida prática surgida do sentimento e desprovidas da justa substância, isto é, ainda não pre- paradas para tal fim. Por isto, o quadro se desmancha sempre de novo e, não raro, tem de ser desenhado a centésima vez pelo lápis violado, até que se destaque uma impressão apenas fraca.

  5. Qual o lucro para a alma duma figura sombreada? Vê somen-

te os fracos contornos, pois longe está a possibilidade de penetração no assunto. Quem poderia vislumbrar da fraca sombra de alguém, sua constituição interna? Através de repetidas violências e esforços, as face- tas prestáveis são, na maior parte, lambuzadas com tinta preta; a própria doutrina de Deus é lá incluída com a tabuada. E a formação do senti- mento consiste apenas nas horas de descanso do estudo material.

  1. Somente após ter o jovem estudioso terminado seu curso e con- seguido emprego, seu coração se liberta mais; começa a se interessar

pelas moças, a fim de casar-se. A época da paixão é para ele ainda a melhor, porquanto advém à sua alma uma certa excitação, se bem que de ordem inferior, pela qual se projeta um pouco de luz em seu cérebro. Com a ajuda desta fraca iluminação, começa a discernir, de modo mais prático, aquilo que aprendeu com tanto sacrifício e durante longo tem- po, tornando-se um indivíduo mais eficaz para sua profissão mundana.

  1. Criaturas que nem por este amor são tocadas perduram pedan- tes, excessivamente egoístas e estoicas, incapazes de elevar-se por um fio de cabelo além de suas facetas lambuzadas e estereotipadas, e se en- tretêm apenas com as silhuetas cerebrais, não muito numerosas; as que restam são negras, confusas, indefiníveis para a visão psíquica.

  2. Por isto, é a alma de tal estoico, inteiramente cega. Assim como alguém de boa visão é completamente cego numa noite de trevas e mal se locomove pelo tato, a alma dum egoísta não pode discernir o que se acha desenhado em suas facetas. Quando numa formação cerebral tão errônea, onde só pelo constante rabiscar duma faceta se grava um qua- dro de modo estereotípico e plástico, não existir elevação de sentimento que lhe faculte alguma luz no cérebro, é a alma obrigada a dedicar-se ao tato de suas impressões obtusas.

  3. Sendo este o único meio a lhe facultar seu conhecimento, com-

preende-se por que tal psique, em todos os atos, é tão pedante e afetada, aceitando somente aquilo que possa apalpar e reter materialmente. No final, toma tudo que vê no mundo exterior por ilusão de ótica; e o que ouve, por mentira. Apenas é verdade real, o que pode tocar. Fácil é fa- zer-se uma ideia da sabedoria e cultura espirituais desta alma, pelo que acabo de demonstrar e exemplificar.

  1. Observai mais uma vez o cérebro à esquerda: representa a câ- mara escura do saber dum sábio estereotípico do mundo, e tu, Cire- nius, dotado de boa visão, poderás relatar tuas observações!”

  1. OCÉREBRODUM INTELECTUAL

  1. Diz Cirenius: “Senhor, tanto o cérebro anterior quanto o pos- terior são de cor acinzentada na superfície; o próprio Sol não penetra no interior escuro, e os pontinhos mais claros nada representam. Com isto, já termino minha análise e poderia apenas indagar qual a relação futura deste cérebro atrofiado, com as demais formas, que, na maioria, não apresentam estrutura piramidal?”

  2. Respondo: “Tais formações nada mais são que verdadeiros de- sertos, despertando na alma o sentimento desagradável da tremenda ignorância. Se começares a dar a tal pessoa explicações das coisas e situ- ações mais elevadas e transcendentais, serás convidado a calar-te; pois se refletisse sobre tais assuntos, tornar-se-ia louca. Não é possível falar-se a essas criaturas, por faltar-lhes a devida compreensão. Já sentem dificul- dade com as coisas naturais e mundanas, quanto mais com as elevadas e sublimes.

  3. Um boi também possui boca, considerável língua, dentes e mes-

mo voz. Deveria, portanto, aprender a falar; experimenta e em vinte anos veja se ele é capaz de pronunciar uma só sílaba! Afirmo-te, no entanto, existir maior possibilidade de fazer-se um boi falar, do que transmitir-se algo transcendental a um homem dotado de tal cérebro. Mal te atreves a dissertar sobre algo que ultrapasse seu horizonte inte- lectual, cairá em boas gargalhadas, tomando-te por louco. E se prosse- guires expondo-lhe assuntos fantásticos, enraivecer-se-á enxotando-te porta afora!”

  1. Diz Cirenius: “Como, pois, convencê-lo, sendo seu número tão considerável?”

  2. Digo Eu: “Caso demonstrarem corações acessíveis, receben- do-vos em seus lares, ficai e tratai, antes de mais nada, de vivificar o mais possível sua alma ainda animada. Ativar-se-á com isto de tal forma, a espargir uma luz no seu cérebro e o calor desta luz porá ordem nas facetas cerebrais. Essas pessoas tornar-se-ão mais aptas a um ensinamento elevado, subindo de degrau em degrau à luz mais pura.

  1. Ao vos aproximardes duma alma totalmente morta, isto é, igno- rante, passai de largo! Jamais devereis atirar pérolas aos porcos! Com- preendei-o bem; quem, no entanto, ainda tiver dúvidas a respeito, que se pronuncie. Do contrário, os cérebros serão daqui tirados.”

  2. Nisto aproxima-se Marcus, dizendo: “Senhor, está perto de meio-dia. Devo tratar do almoço?”

  3. Digo Eu: “Fazes bem em lembrar-Me! A refeição para alma e espírito, provinda de Minha Boca, tem privilégio insuperável à tua. Por isto, saciar-nos-emos com mais alguns pratos espirituais até que te diga a hora para almoçarmos. Bom é bom; melhor é sempre melhor!” Satis- feito, Marcus e seus filhos aguardam o que se segue.

  1. AORIGEMDO PECADO

  1. Adianta-se Oubratouvishar, dizendo: “Senhor, seria possível que meus irmãos brancos, realmente, ignorassem o que acabas de explicar tão sabiamente? Entre nós, até mesmo as crianças o sabem, Graças a Ti; todas elas se podem analisar introspectivamente, e sentem imensa alegria quando nos relatam acerca de seus maravilhosos jardins que des- cobrem dentro de si, de quando em quando. Que fizeram os brancos, incapacitando-os desta análise importantíssima? Assim desfalcados de suas faculdades mais importantes, deixam de ser verdadeiras criaturas para se tornarem macacos, apenas mais perfeitos pelo dom da fala.

  2. Causou-nos grande admiração ao iniciares as explicações do cé-

rebro, que nos são mais conhecidas que nossas próprias tabas. No que diz respeito ao total da construção orgânica de nosso corpo, não somos entendidos; o cérebro, porém, conhecemos de ponta a ponta. Muitas de nossas facetas estão vazias, por não possuirmos com o que gravá-las; as impregnadas estão tais quais Tu demonstraste no cérebro perfeito. Desejava, pois, saber por que os brancos não conseguem ver aquilo que para nós é tão visível. Que fizeram? Quem originou esta calamidade?”

  1. Digo Eu: “Não indagues do verdadeiro causador! Existe muita coisa oculta na Ordem de Deus, que as criaturas desta Terra não ne- cessitam saber a fundo. Basta ao homem saber e reconhecer o que seja

preciso realizar dentro de Minha Ordem. Pondo em prática aquilo que as Leis do Céu indicam, tudo entrará em Ordem; de todo o resto cada um será integrado, uma vez que ame a Deus acima de tudo e ao próxi- mo como a si mesmo, proporcionando-lhe o renascimento espiritual.

  1. Trata-se apenas da questão se os irmãos brancos tudo compre- enderam e que, caso o homem sinta um vácuo dentro de si, venha a perguntar sobre o que lhe é estranho, a fim de que seja bem orientado. Eis o que é preciso! Quanto àquilo que perguntaste, todos saberão ao atingirem o renascimento de seu espírito!”

  2. Satisfeito com este ensinamento, Oubratouvishar volta para o seu grupo onde palestra em seu idioma. Então Mathael se adianta e diz: “Senhor, nosso amor e nossa vida! Já sendo permitido fazer-se per- guntas, peço em nome de meu sogro, minha querida esposa e de meus quatro companheiros, uma elucidação sobre pequena dúvida. Trata-se de certo modo duma questão jurídica, e creio que cada pessoa que faça uso de sua razão tenha justificativa de externá-la com modéstia. Pois é o homem, desde sua origem, Tua Obra e não a sua própria, o que os Céus jamais poderão contestar.

  3. Assim, parece-me a conduta no Além das almas pervertidas, um

tanto prolongada e dura, considerando Teus Meios de Amor e Poder. Não deixa de ser verdade nos teres dado neste sentido explicações varia- das, que justificam Tua Ordem firmada e estabelecida desde Eternida- des. Contudo, surge em meu íntimo a seguinte questão:

  1. É a maçã culpada por ter sido arrancada pela ventania? Uma ár- vore lascada pode ser repreendida, porquanto serviu de alvo a um raio? O mar sereno, quando eleva suas vagas pela fúria da tempestade? Que culpa cabe à serpente ser venenosa? Por toda parte um impele o outro, e finalmente, ninguém tem culpa de ser impulsionado.

  2. Uma grande pedra despencou-se do alto dizimando um rebanho de carneiros. Qual seria o culpado a pagar o dano? Se eu à noite tropecei numa pedra, a quem cabe a responsabilidade: à noite, à pedra ou ao meu pé cego? Em suma, existe uma quantidade de indagações dúbias, onde se vê um verdadeiro ultraje recíproco das leis individuais de direi- to primitivo. Qual sua origem?

  1. Coisa idêntica descubro entre as criaturas: estes negros ainda es- tão de posse de qualidades primitivas, e nós brancos, até hoje, nem sus- peitávamos tais fenômenos. Por quê? Consta que em virtude de nossa perversão psíquica, que levou a alma a se perder, pois o cérebro humano já era pervertido no ventre materno e recebeu ainda um acréscimo por sua educação falha. Francamente, tenho de secundar a indagação de Oubratouvishar, perguntando: Quem o perverteu no começo e quem permitiu que assim sucedesse? Em virtude de tal perversão as criaturas só poderão querer algo mau e jamais melhorarão, enterrando-se numa perversão cada vez maior!”

  1. INJUSTIÇAS APARENTES QUANTO À CONDUTA DASALMAS,AQUIENO ALÉM

  1. (Mathael): “Neste mundo, algumas pessoas conseguem criar um pequeno paraíso; em compensação, milhares passam privações, por- que não foram tão espertas para alcançar uma vida confortável. Por isto tornam-se vilipendiadoras de suas almas, em virtude da inveja e da ira; e o rico porque conseguiu abastança. Tanto um quanto outro são condenados.

  2. Deixemos as vicissitudes terrenas como fruto da perversão psí- quica e observemos as consequências tenebrosas no Além. Fico de ca- belos arrepiados ao imaginar o estado infeliz duma alma perdida, seja o motivo qual for! Quais seriam as palavras capazes de descrever o so- frimento atroz que padece? Somente os piores padecimentos provindos da ira psíquica poderão, por este ensino, produzir um estado de me- lhora, no que leva, no mínimo, algumas Eternidades. Quantas almas se encontrarão, em miríades de anos, na pior miséria moral, a fim de descobrirem, em milênios, um pequeno lenitivo!

  3. Senhor, eis a tese que concluí de Tuas próprias Palavras. Consi-

derando Tua Onipotência, Bondade e Amor e à vista da perversão, de certo modo inculpável de cada alma sofredora, as consequências hor- rendas e, no final, de padecimentos indescritíveis, a conquista dum Céu feliz, que em nada é melhor que o estado de escravidão neste planeta,

devo, não obstante Tuas Graças recebidas, confessar achar eu tudo isto mui estranho para o meu raciocínio. E como homem dotado de senti- mento, descubro uma injustiça que ultrapassa todas aquelas praticadas entre as criaturas. Agradeço, pois, por uma existência tão miserável — seja sua finalidade qual for!

  1. Demonstraste, Senhor, que o homem, a fim de poder subsistir diante de Tua Divindade, tem de criar o seu ‘eu’ espiritual, e que Tu apenas lhe podes facultar a oportunidade para tanto. Tudo isto me é cla- ro. Não concebo que almas encarnadas, desde milênios, no mesmo ca- minho e recebendo educação falha, tenham de sofrer no Além, durante Eternidades, para poderem dar um passo na sua evolução. Tu Mesmo nos ensinaste a tratarmos as almas doentias com meiguice, paciência e amor. Não tendo elas alcançado em vida sua regeneração, passam para o Além ainda enfermas, onde não lhes pode ser administrada uma cen- telha de amor e meiguice. Penso ter chegado o momento de trocar-se ordem e justiça por Graça e Amor!

  2. Não contesto ser a maior felicidade, a perfeição da alma unida

ao espírito de Deus; a experiência, no entanto, demonstra que uma dá- diva perde seu valor, quando sua aquisição se prolonga e se torna difícil.

  1. Admitamos que alguém deseje casar-se e já conhece sua eleita. Ao pedi-la em casamento, são-lhe apresentadas condições tais, que so- mente em mil anos ele poderá cumprir e as dificuldades a ela ligadas são quase invencíveis. Acaso é de se admirar que tal homem acabe por desistir desta união, casando-se, finalmente, com moça simples cujas pretensões são mais modestas?!

  2. Neste ponto não posso concordar, Senhor; talvez por uma fra- queza de coração. E como nos convidaste a fazer indagações, levanto esta dúvida. Poderia Tua Graça conceder-me uma explicação?”

  1. A NATUREZA DIVINA. O PESO NECESSÁRIO DAS PROVAÇÕES

  1. Digo Eu: “Eis o ponto que descobri em muitos de vós, após a explicação do cérebro, por isto vos convidei a perguntardes. Entende-se que Deus, desde Eternidades, o Amor Puríssimo e mais Elevado, jamais poderá ser destituído de sentimento; pois aplicará todos os meios ao Seu alcance, a fim de salvar uma alma, seja sua tendência qual for. Não pode, todavia, tirar-lhe o ‘eu’ individual, e sim deixá-lo e fazer com que a alma passe por estados a lhe trazerem alguma experiência.

  2. Num caso extremo, este caminho só pode ser muito longo, no que cabe a culpa apenas à alma que se tornou excessivamente obstinada e teimosa em virtude de sua imperfeição.

  3. Nisto se positiva sua própria vontade irredutível: ela assim o quer e sempre fará o que lhe convier. Uma reação onipotente lhe traria padecimentos atrozes. A mais suave influência já provoca dores indizí- veis; qual não seria o efeito duma insuflação mais forte?

  4. Deus é em Si o máximo fogo de todo fogo e a mais forte Luz de toda luz! Quem suportaria um fogo não sendo o próprio fogo e a luz mais intensa, caso não a possua dentro de si?! Vê o cérebro à esquerda: acaso vês nele algum fogo ou luz, mesmo do tamanho dum vagalume? Que não será preciso para que ele se torne pleno de fogo e luz?!

  5. Se Eu começasse a insuflar com todo o Meu Poder, de súbito desapareceriam os dois cérebros à esquerda; dissolver-se-iam nas línguas de fogo por ti conhecidas, dispersando-se até que a Minha Vontade as retivesse e formasse um novo ser. Mas que seria de sua atual existência?!

  6. Minha Ordem eternamente imutável impede, justamente, que uma entidade jamais venha ser destruída em sua esfera psíquica, inte- grando-se num outro ser, onde perderia sua individualidade primitiva. Mesmo levando épocas tão extensas até sua perfeição, a alma perdu- ra no eu individual e reconhecer-se-á como tal para todo o sempre. Isto, por certo, é mais confortador do que a possibilidade dela ser in- teiramente dizimada e transplantada num outro indivíduo, perdendo, forçosamente, toda a recordação duma existência anterior e tampouco

daquilo restaria um vestígio sequer. Para que finalidade então uma vida anteriormente independente e livre? Acaso seria o homem mais privile- giado que um verme no pó?!

  1. A vida ulterior é geralmente abençoada com várias vicissitudes, e o homem, seja até um príncipe, terá de passar umas tantas provações penosas, até o fim de sua vida. Havia feito mil planos que pretendia executar da melhor maneira; surgiam, porém, os impedimentos im- previstos, deitando tudo por terra. Era cumulado de doenças, aborreci- mentos, — em suma, a um dia feliz seguiam, no mínimo, cinco nada agradáveis, e num ano o homem certamente poderá enumerar trinta dias péssimos!”

  1. O“EU”INDIVIDUALCOMOCAUSADORDESEU DESTINO

  1. (O Senhor): “Analisando a vida humana mesmo em seu aspecto favorável, nota-se facilmente que nada é dado de graça ao homem. Des- de o rei até o mendigo, cada um tem de enfrentar lutas que em absoluto são agradáveis. Quando criança é ele castigado com fraquezas; quando adulto, com preocupações, e como ancião com ambas as coisas, — e a hora derradeira por ninguém é considerada agradável.

  2. Deste modo, a vida terrena rasteja entre cardos e abrolhos, e quem não os aprecia, nada de bom terá de contar ao aproximar-se o fim; quanto mais egoísta, tanto mais ofensas tem de registrar. Quem, no entanto, desprovido de amor-próprio, não se afligiu com os contra- tempos, tampouco ligou aos espinhos a lhe ferirem sua personalidade; quem não deixou-se abalar por variados sofrimentos físicos, pobreza, fome e sede, frio, roupas desapropriadas e inadequadas habitações, — poderá no fim da vida relatar as sutilezas agradáveis por que passou, enquanto até mesmo um rei, com todo incenso espargido, no término de sua carreira só se queixará de sua desdita.

  3. Onde estaria o regente que tivesse executado todos os projetos que

idealizara no início de sua gestão?! Sendo isto impossível, e no final desco- brindo graves erros cometidos, torna-se infeliz, tanto que é fato conheci- do, os reis morrerem geralmente em consequência dum desgosto íntimo.

  1. Assim sendo, o homem determina sua própria evolução na plena consciência de seu ‘eu’, que lhe assiste durante sua vida de provações. Se o fez dentro de Minha Ordem, não levaremos em conta; pois de qualquer maneira, a vida terrena lhe proporcionou mais amarguras que alegrias. Por este motivo, os grandes sábios pagãos a ninguém queriam declarar por feliz, somente consideravam bem-aventurados os que ja- ziam nos sepulcros.

  2. Qual seria então o lucro duma alma por todos os sofrimentos passados, se ao deixar seu corpo, perdesse a consciência de seu ‘eu’ in- destrutível, ou se este fosse disperso em milhares de outras entidades?! Algum de vós poderia estar satisfeito com tal ordem? Certamente que não. Penso ser melhor deixar as coisas dentro da antiga organização e evitar, antes de mais nada, a menor interferência na individualidade, por mais perversa que seja.

  3. Sabeis perfeitamente ser apenas possível o ‘eu’ se tornar feliz por completo quando, pela própria determinação, se tiver integrado de Mi- nha Ordem. Por isto vos doutrinei quase sete dias e vos reconduzi à base primitiva das Criações espirituais e naturais. De modo idêntico vos demonstrei, por palavras e exemplos vivos, não ser possível uma alma alcançar a felicidade, enquanto não resolver submeter-se à Minha Ordem. Como pois poderá existir dentro de Mim o mais leve vestígio de inclemência, dureza e injustiça? Talvez pretendas denominar de du- reza o que se torna necessário para a vida individual?! Isto somente seria admissível caso Minha Paciência e Indulgência fossem apenas umgrau menos poderosas!”

  1. DESENVOLVIMENTO INDEPENDENTE DAS ALMAS DESTINADAS À FILIAÇÃO DIVINA

  1. (O Senhor): “Tu, Mathael, afirmando que finalmente a culpa caberia a Mim, as criaturas no decorrer dos tempos terem caído em ten- dência maldosa, onde forçosamente teriam de perecer, faço a seguinte objeção: Almas como as destes negros, até então não eram destinadas à Filiação Divina, e àquilo que representam, foi-lhes suficiente uma per-

feição psíquica estereotipicamente conservada. Não deve ser conside- rada como efeito peculiar de seu desenvolvimento por excelência, mas lhes foi conferida tal qual sua epiderme preta. Ao quererem também alcançar a Filiação de Deus, nada disto lhes será dado, senão apenas a Doutrina.

  1. Se pela livre vontade resolverem conquistar a perfeição de sua alma, despertando assim o Meu Espírito de Amor, serão idênticos a vós. Enquanto sua perfeição psíquica por doisterços é conferida e apenas umterço conquistada, não poderão despertar o espírito dentro de si e permanecerão no Além aquilo que foram aqui: almas perfeitas, porém duma felicidade instintiva, onde os limites da bem-aventurança, forço- samente, terão de ser fixos.

  2. A consequência duma dádiva jamais pode ser uma conquista própria, pois se alguém te der a cabeça, consequentemente ter-te-á dado tronco e membros. Ou pensas que tenham eles surgido da cabeça?

  3. Coisa diferente sucede com uma alma que determine sua evo- lução, pelo Verbo Divino assimilado. Tudo que tem é posse plena, de onde poderá construir mil Céus; possui sua própria matéria e a força espiritual desperta através do amor, que lhe faculta a conquista da Per- feição do Pai Celeste.

  4. Com almas semelhantes a dos negros é fácil lidar-se no Além, pois sua posse é individual, portanto será sempre deles. Jamais vêm a sentir necessidade de elevação; são inteiramente felizes quais abelhas ao encontrarem uma flor de néctar; desta forma supridas, não aspiram outro objetivo.

  5. Com uma alma empenhada em sua evolução ocorre coisa diver- sa. A fim de realizar este ideal, preciso é facultar-lhe os meios necessá- rios pelos quais indubitavelmente atingirá a perfeição. Tais condições nunca são impostas à alma, e sim, acham-se a seu alcance tal qual os materiais dum sábio construtor. Ele fará o uso conveniente e edificará uma habitação a seu gosto, obra sua e não de quem lhe forneceu a matéria. Se tiveres à tua disposição os melhores apetrechos para uma obra, no entanto não pões mãos ao trabalho, chamando um construtor qualquer, acaso poderás afirmar ser o resultado tua própria realização?

Jamais; será obra daquele que efetuou a construção dentro de sua noção e bom senso.

  1. Do mesmo modo não são as almas dos negros sua própria pos- se, e muito embora perfeitas, pouco eles contribuíram para tal fim. Assim sendo, por ora não poderão alcançar a Filiação Divina, e caso se conferisse tal possibilidade a alguns, suas almas de pronto se tornariam menos perfeitas. Uma vez que a psique, destinada a tal finalidade, só poderá receber o material para a construção por si mesma, e além disto o ensinamento de como efetuá-la, compreende-se que até mesmo no Além, ela não poderá receber um acréscimo, caso deva permanecer em sua individualidade. Por mais pervertida que seja, não pode ser atingi- da pela Minha Onipotência, mas receberá o necessário, dentro de sua capacidade receptiva; jamais poderá ser cumulada além de suas forças.”

  1. PORQUE MOTIVO DEUS DETERMINA A PERFEIÇÃO INDEPENDENTE DUMA ALMA

  1. (O Senhor): “Acontece, ser geralmente uma alma pervertida muito fraca, de sorte a ser incapaz de sustentar sua forma humana, apresentando-se no Além numa caricatura semimaterial, e até mesmo como animal completo. Nesse caso é-lhe transmitida sucessivamente força maior, sem que o perceba; no entanto, aplica-se a maior precaução para não perturbar-lhe sua individualidade. Além disto, provoca tal au- xílio grandes dores, em se tratando de uma alma fraca e excessivamente suscetível e irritadiça.

  2. Se Eu a prouvesse de pronto com demasiada força do Céu, ela

seria levada a dores atrozes pela munificência celeste, que a tornaria mais endurecida que um diamante, impedindo a penetração de qual- quer auxílio; a não ser que fosse completamente dissolvida, sofrendo a alma trauma dificilmente equilibrável, por uma reação própria. Sua consciência se perderia por milhões de anos terráqueos, para depois começar a se concatenar e reconhecer, fator muito mais difícil em seu estado livre e incorpóreo, do que aqui onde dispõe para tanto do corpo como instrumento utilíssimo.

  1. Foste, caro amigo Mathael, atordoado pelo extraordinário per- curso indispensável à evolução psíquica, porquanto desconheces o que seja necessário, a fim de liberar uma alma a ponto de alcançar o teu atual estado. Quanto tempo calculas se tenha passado, para chegares como alma perfeita ao grau que hoje apresentas? Se fosse enumerar-te os anos, serias tomado de pavor e longe estarias de compreender seu total. Raphael o sabe e entende em sua profundeza.

  2. Afirmo-te que nenhuma alma dentre vós é mais jovem que toda a Criação! Sentes mal-estar ao convencer-te serem vossas psi- ques mais idosas que eternidades. Acaso deveria Eu Mesmo começar a sentir um descontentamento por ser Eterno e por ter dado origem a bilhões de Criações preparatórias, por vossa causa e em épocas in- calculáveis?!

  3. Caro amigo, criar um Sol, um planeta e tudo que comporta, é coisa fácil e não requer muito tempo; tampouco a criação de almas de irracionais e de plantas. Produzir uma alma em tudo semelhante a Mim, é coisa mui difícil até mesmo para o Criador Onipotente, por não Me ser útil a Onipotência, senão a maior paciência, indulgência e sabedoria.

  4. Criando uma alma de completa semelhança a Mim — isto é, uma segunda divindade — pouco posso fazer, enquanto a ela compe- te tudo realizar, recebendo somente os meios espirituais e materiais. Se assim não fosse e existindo outra possibilidade, por certo Eu, o Espírito Eterno, não Me teria submetido à Encarnação, em virtude de Meu Amor, para guiar as almas evoluídas até certo ponto. Não através da Minha Onipotência, mas unicamente pelo Amor, para dar-

-lhes um novo Ensinamento e o Meu Espírito Divino, a fim de que possam — caso o queiram com rigor — unir-se a Mim, no mais curto tempo possível.

  1. Digo mais: Somente agora se inicia a colheita dos Meus Eternos Trabalhos Preparatórios, e vós sereis os primeirosfilhos perfeitos, fato que depende de vós e não de Minha Vontade. Creio, Mathael, que acharás uma desculpa a Meu favor, porquanto agora estás bem infor- mado de tudo. Não é isto?”

  1. APOSSESSÃO.ADEMORADADIVULGAÇÃODO EVANGELHO

  1. Diz Mathael: “Estou perfeitamente orientado, Senhor; todavia fui junto com meus colegas, um verdadeiro diabo e mesmo assim, Tua Vontade Onipotente curou-me de modo rápido sem que tivesse perdi- do a consciência e recordação do passado. Como foi isto?”

  2. Digo Eu: “Vosso caso foi bem diverso; não vossas almas e sim os corpos estavam pervertidos, por se ter alojado nos intestinos uma quantidade de maus espíritos. Apossaram-se do organismo a ponto de poderem agir a bel-prazer, enquanto que vossas almas, ainda fracas para uma reação contra tal poder, se retraíram, entregando o corpo à desgraça.

  3. Isto, porém, não ocasionou o menor dano às almas, pois tais possessões só são permitidas onde habita uma psique amadurecida, de tal forma que almas desencarnadas perversas, portanto imperfeitas, em nada poderão prejudicar ao se aproveitarem dum corpo para possí- vel melhoria.

  4. Basta a menor expressão de Minha Onipotência, para expulsar do físico até milhões de tais elementos, do que te convencerás ainda hoje. Uma vez afastados, o corpo sentirá uma fraqueza sensível que perdurará até a alma ter se apossado do organismo total. Efetuado este processo, a psique completamente sadia domina o físico; foi, portan- to, ele que recebeu auxílio através Minha Onipotência, e não a alma. Quando, porém, ele destruir-se pela própria vontade, Minha Onipo- tência não pode socorrer, senão pelo Amor, Ensino e Paciência, porque cada alma terá de começar a construir e se completar com o material adquirido. Compreendes? Caso não te seja claro o assunto, prossegue com perguntas, pois agora é a oportunidade do completo esclarecimen- to, e necessitas de muita luz, a fim de iluminares os outros em todos os seus recintos trevosos da vida.”

  5. Diz Mathael: “Senhor, Único Sábio e Pleno do Amor, desde

Eternidades! Acho-me bem esclarecido e penso não haver trevas no âmago vital de minh’alma. Quanto aos outros, Tu o saberás melhor.

Meu sogro e minha esposa certamente ainda alimentarão certas dúvi- das; com Tua Graça e Auxílio poderei supri-los.”

  1. Digo Eu: “Faze-lo, pois eles até então eram pagãos, dos melho- res, e poderia afirmar: Prefiro um deles, a mil descendentes de Israel, em Jerusalém e nas doze cidades da Terra Abençoada! Nada querem ouvir ou saber de um Deus próximo. Dão preferência a Deus afastado no Infinito que, de acordo com sua ignorância, poderia ser enganado com maior facilidade. Que tremendo engano dos judeus! Que mais poderia se fazer senão reconduzir com toda paciência e até mesmo com o sacrifício da própria vida, caso fosse necessário, as criaturas através da Doutrina e ações evidentes, à Luz Primária de todo Ser e Vida?!

  2. Eis a tarefa que impus a Mim Mesmo e apresentada a vós que te-

reis de passar a outrem! Não espereis ser isto possível em pouco tempo. Digo-vos: Em mil e poucos anos, a metade da povoação da Terra não terá conhecimento destas Minhas Palavras.

  1. A questão em si, não será por isto prejudicada; pois no Além será pregado este Evangelho aos espíritos de todos os Continentes. Sede, portanto, cheios de zelo enquanto vivos, pois a justa Filiação Divina para o Meu Céu de Amor mais recôndito e puro, só poderá ser alcançada aqui! Para o primeiro e segundo, poder-se-á cuidar ain- da no Além.”

  1. MILAGRESEFETUADOSEMTEMPO OPORTUNO

  1. (O Senhor): “Tu, Mathael, estás plenamente orientado, isto é, à medida que uma alma possa estar elucidada enquanto não for com- pletamente una com o espírito; faze com que teu conhecimento aclare todos os teus irmãos! Desperta também tua fé no poder de Meu Nome; somente com Ele poderás, em caso de necessidade, operar milagres, a fim de despertar nas criaturas a primeira fagulha de fé em Mim.

  2. Quem prega o Meu Verbo aos homens e no entanto nada pode realizar pelo poder do mesmo, é ainda um servo fraco Daquele que o enviou a levar aos povos da Terra a Boa Nova de toda Vida, vin- da dos Céus.

  1. Não quero com isto dizer, ser preciso um justo apóstolo de Mi- nha Doutrina viver produzindo feitos milagrosos, a fim de conseguir a aceitação da mesma. Em absoluto; pois a Verdade tem de falar por si mesma e caso não seja compreendida, deve ser explicada até que todos a assimilem. Surgem, no entanto, ocasiões onde uma explicação apenas, não é suficiente a povos ainda embrutecidos; neste caso, é indispensável aclarar-se a explicação por meio de provas.

  2. Nunca, porém, devem ser estonteantes, o que provocaria medo e pavor, por isto, cairiam forçosamente em condenação. A alma assim nada conseguiria para o livre desenvolvimento individual.

  3. Por conseguinte, deve uma prova assumir sempre tal caráter, de modo a constituir especial benefício, como se fosse consequência da fé de quem recebeu a prova; além disto, nunca deve se afastar tanto da naturalidade, a impossibilitar explicação natural dum suposto sábio do mundo. Para essas pessoas, a prova deve causar estupefação, nunca, porém, convencê-las inteiramente, pois possuem tanta capacidade de compreensão, que reconhecerão uma verdade sem prova.

  4. Nesta época de magos e feiticeiros, podem ser os milagres de efeito surpreendente, porquanto as pessoas já viram mais de cem, efetuados por magos persas e egípcios; aquilo que porventura por vós fosse apresentado, não causaria grande impressão sobre os in- telectuais.

  5. Outrossim, somos rodeados por essênios, produzindo magias diante do povo ignorante, para, com o tempo, conquistá-lo. Deste modo, nosso feito milagroso de teor mais forte, surpreende as massas, se bem que não as convence. Eis a justa medida, porquanto não seria benefício, se fizéssemos ainda maior alarde por meio de milagres.

  6. Eu curando todas as moléstias e até mesmo despertando mortos, não produz grande surpresa, em virtude dos essênios; os templários se enchem de raiva, pois, de há muito, desejam ver-se livres dessa pra- ga. Desde que esta Ordem ocultista também se expandiu na Judeia, as curas milagrosas dos fariseus não mais lhes trazem renda, mormente à vista das ressurreições espetaculares dos essênios, cujo segredo bem conhecemos, enquanto o Templo tudo ignora.

  1. Até se pode considerar paradoxo Eu Próprio levar água ao moi- nho dos essênios; ainda ouvireis dizer que sou adepto dessa Ordem e trabalho para o seu progresso, enquanto ele mesmo opina poder, em breve, dominar moralmente o mundo inteiro. Assim sendo, é, por ora, não contra nós, e nos serve sem o querer. Ameniza, em maior parte, nossas provas diante do povo que, deste modo, continua com margem considerável para seus pensamentos e critérios. Do contrário, não po- deríamos agir tão liberalmente.

  2. Por isto, provi tudo para esta época, deixando que surgissem

oportunidades, onde facilmente e sem interferência alheia, pudéssemos agir para a verdadeira salvação da Humanidade, sem obrigá-la em sua aceitação. Ao observador superficial, nossos importantes milagres não produzem alarde nesta época. Somente quem se aprofundou em nossa causa, naturalmente achará enorme diferença, entre os Meus e os dos magos e essênios. Tal pessoa, todavia, não sofrerá dano psíquico por tal noção, porquanto tinha de reconhecer primeiro, a verdade, antes de ser capaz de encontrar a real diferença: é ela, portanto, pura e ao puro, tudo se torna puro.”

  1. A ATITUDE MILAGROSA NA DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA DO SENHOR

  1. (O Senhor): “Poderia facilmente dar provas, em Jerusalém, a ponto de algemar seus habitantes numa fé inabalável a Mim; mas..., que fé seria esta? A de um escravo levado pelo pavor e medo, portan- to um julgamento de onde, nem daqui a vários mil anos, poder-se-

-ia libertar.

  1. A fé cega e fanática, baseada ou na verdade ou na mentira, não tem real valor para a vida e dificilmente livrar-se-á um povo assim sub- jugado. Enquanto ele permanece no fanatismo, acha-se espiritualmente em julgamento, na pior escravidão psíquica, e não se lhe pode auxiliar, nem aqui nem no Espaço. Somente por um ensino prolongado, por palavras e ações, através duma explicação incisiva e compreensível sobre aquilo que prendia a alma do povo, conseguir-se-á convencê-lo.

  1. O melhor meio é: maldade, falsidade e mentira dos sacerdo- tes que surgiam como cogumelos na divulgação religiosa, impondo-se ao povo como representantes das divindades; no começo eram mei- gos exortadores, doutrinadores, consoladores e socorristas; mais tarde, tendo-se apossado da simpatia popular, apresentavam-se como juízes, algozes e soberanos dos próprios regentes.

  2. Então, geralmente, a plebe começa a descobrir suas traficâncias; a antiga crença fanática fraqueja e as dúvidas são cada vez maiores; de nada adianta querer remendá-la e são poucos a resistirem, na primeira oportunidade, em trocar a roupa velha por uma nova. Até que um povo seja levado a tal ponto, passarão no mínimo alguns milênios.

  3. Por isto, sede cautelosos na divulgação de Minha Doutrina; a ninguém deve ser imposta, nem pela espada, tampouco por milagres ressaltantes. O ferimento pela arma é curável, a dum milagre excepcio- nalmente raro, quase nunca.

  4. Onde a palavra for suficiente, abstende-vos de provas, que até hoje foram os meios aplicados pelos falsos profetas aumentando sempre a cegueira dos povos ignorantes. Devem ser apenas usadas em casos de necessidade; visitareis diversos pagãos cujos sacerdotes sabem produ- zir milagres e fazer profecias, que sempre se realizavam em virtude de uma apresentação dúbia ou por meios previamente combinados. Tudo isto, por sugestão de Satanás e seus anjos, manifesta pela má vontade dos homens.

  5. Diante de tais falsos profetas é aconselhável a produção dum

milagre, ou explicar-se ao povo bem intencionado, as fraudes do sacer- dócio; deste modo, este começará a suspeitar da ação dos sacerdotes e tereis causa ganha.

  1. Em seguida podereis dar uma prova benéfica, como seja: a cura de vários enfermos pelo passe, em Meu Nome; de quando em quando, saciar famintos e sedentos; afastar um temporal destruidor, pronun- ciando o Meu Nome contra as nuvens perigosas que, nestas ocasiões, são geralmente cheias de elementos perversos e maus. Assim agindo, não aprisionareis as almas das criaturas, mas as conduzireis caminho aberto, qual bom pastor guia seus cordeiros que o seguirão de livre

vontade, passo a passo, porquanto só lhes aguarda o Bem. Agora sabes, Mathael e teus quatro colegas, como proceder futuramente, dentro de Minha Vontade, na propagação de Meu Verbo, por palavras e atitudes, com os povos que irás governar.”

  1. DIFICULDADESNAPROPAGAÇÃODAPURA DOUTRINA

  1. (O Senhor): “Encontrarás, mormente no Norte de teu reino, que futuramente será o maior do mundo, pagãos, atrasadíssimos, onde será difícil implantar-se a Luz da Verdade; todavia, não lhes imponhas violência através de teu poder conferido. Quando necessário, poderás tratá-los com rigor; nunca, porém, com armas ou provas extraordiná- rias. A espada lhes tirará, apenas externamente, a superstição arraigada, enquanto a positivaria muito mais em seu íntimo. Com uma prova berrante, apenas conseguirias a troca dum fanatismo. Os povos que vissem teus milagres, destacariam-se em breve como maiores inimigos de seus vizinhos ainda descrentes; os perseguiriam com fogo e armas, e os de crença antiga fariam o mesmo aos outros. Qual seria a van- tagem disto?

  2. Sendo Minha Doutrina uma verdadeira mensagem de Paz, vin-

da dos Céus, não deve causar discórdia, guerra e contenda entre os homens e povos da Terra. Isto tudo deve ser evitado de qualquer for- ma. Se Eu o quisesse impedir, bastava subjugar-vos ao Poder de Minha Vontade Onipotente, onde serieis incapazes de pensar ou agir de modo contrário; mas que seria de vosso livre-arbítrio? Se Eu tal quisesse, não precisaria tomar carne neste mundo, pois Minha Eterna Onipotência vos poderia forçar a falar e agir, de acordo com a Sua Vontade, como aquela que induziu os profetas neste sentido. Acaso teríeis benefícios com isto? Ter-vos-íeis tornado semelhantes a estes negros — criaturas de almas perfeitas da Natureza — dificilmente, porém, filhos perfei- tos de Deus.

  1. A fim de vos educar, para todos os tempos, como divulgadores inteiramente livres de Meu Verbo, Eu vim à Terra onde erigi o viveiro de Meus filhos. Deveis ouvir a Doutrina pela Minha Própria Boca, ana-

lisá-la e transmiti-la entre os povos; quem a receber em pureza, de livre vontade, também aceitará, de modo livre, a esperança à bem-aventura- da filiação de Deus.

  1. Quem não a receber desta forma, mas por meios violentos, fi- cará excluído desta esperança até que resolva — aqui ou no Além — dedicar-se de modo próprio, a Mim e a Meu Verbo Puro, aceitando-o como orientação segura para sua vida.

  2. Infelizmente prevejo que daqui a alguns anos, quando tiver vol- tado donde vim, Meu Verbo em geral, terá um aspecto entristecedor. Mas também vislumbro conservar-se Ele puro como o Sol em pequenas Comunidades, até o fim dos tempos! Eis um grande conforto para o Meu Coração Paternal. Não vos preocupeis, no entanto, com a evolu- ção em geral, pois dos muitos suínos, jamais fareis filósofos; para estes, basta um chiqueiro. Se bem que chame: Vinde a Mim todos que estais cansados e sobrecarregados, pois quero saciar-vos!, Minha Chamada de Vida por poucos será ouvida e aplicada!”

  1. A ESPADA COMO MEIO DE CORREÇÃO ENTRE POVOS DESCRENTES

  1. (O Senhor): “Tempos virão onde os entendidos de Meu Ver- bo Me procurarão, dizendo: Senhor, tornou-se realmente difícil ser-se humano; não se pode propagar a Verdade sob risco de castigo, senão ocultamente. As intenções dos falsos profetas são mentiras evidentes, portanto sacrilégio! Pega da arma, Senhor, e destrói Teus inimigos antes que seja corrompido por completo o Teu Campo da Vida!

  2. Eu, no entanto, deter-Me-ei por muito tempo, e responderei a todos que a Mim se dirigem: Esperai mais um pouco, até que a medida se complete! Persisti até o fim, que sereis felizes! A imposição do mun- do não danificará vossas almas puras, e como Meus filhos primeiros, que passaram no caminho da carne por variadas vicissitudes, miséria e sofrimento, repousareis mais próximos do Meu Coração, no Meu Rei- no. Nomear-vos-ei juízes do mundo e daqueles que vos afligiram tão injustamente.

  1. Em suma: sereis identificados como verdadeiros discípulos pelo recíproco amor, assim como Eu vos amo a todos, e jamais propagueis Meu Nome e Meu Verbo com a espada!

  2. O povo que porventura se achasse em Minha Luz Plena e fosse ameaçado por religiões de teimosos, ignorantes, inteiramente pagãos, não querendo aceitar a fé em Mim, mas perseguissem com ódio os Meus cordeiros, então teria chegado o momento de tomar da arma, a fim de, para sempre, afugentardes os lobos dos rebanhos devotos. Isto sendo preciso, deve a espada agir com todo rigor para que eles dela se lembrem como defensora do Meu Nome. Onde surge um julgamento em Meu Nome, deve ter aspecto rigoroso.

  3. Contra pagãos inteiramente ignorantes, cujas almas ainda mui-

to afastadas de Minha Ordem, e de modo algum compreendendo o Meu Verbo, todavia fiéis à sua crença, a espada deve apenas funcionar como proteção das fronteiras, até que se tenham submetido à Minha Ordem; isto alcançado, deve a arma representar o sinal da fraternidade e do amor.

  1. Outra coisa será quando pessoas, desde o início denominadas ‘Povo de Deus’, ensinadas e protegidas, reagirem constantemente con- tra Minha Doutrina, perseguindo-a com zelo maldoso e egoístico; não haverá, então, outro meio, senão a espada mais inclemente. Ai deles quando ela começar a agir: não ficará uma pedra sobre a outra, e as próprias crianças no ventre materno não ficarão ilesas! Quem tentar fugir, será alcançado e morto pelas flechas, porque pretendia ser assas- sino Meu e de Meu Verbo, por egoísmo e contra sua convicção íntima! Terão de travar luta pesada, donde jamais sairão vitoriosos os que ti- verem de Me enfrentar e aos Meus! Tendes, portanto, uma orientação como e quando devereis usar a espada em Meu Nome! Tereis compre- endido tudo?”

  2. Diz Mathael: “Senhor, meu amor único, com tudo que nos

esclareceste, tão magnanimamente, não tenho a menor dúvida den- tro de mim e Te agradeço de coração e antecipadamente, por to- dos os povos que conquistarei em virtude do zelo pelo Teu Verbo e Teu Reino!”

  1. Acrescenta Cirenius: “Rendo-Te a mesma gratidão, Senhor, e atrevo-me fazer papel de profeta, sem prestígio, naquilo que aduziste à explicação do uso de armas no povo de Deus: em Jerusalém muitos há merecedores de serem aniquilados pela espada!”

  2. Digo Eu: “Ainda não; faltam ainda três obras-primas da mais desumana maldade! Somente após terem-nas realizado, não obstante todos os ensinamentos e advertências, esta cidade e seus habitantes se- rão castigados com a enorme cruz da espada! Aplicaremos ao povo a paciência durante mais de quarenta e quatro anos e adverti-lo-emos da destruição, por sete anos, através de variados mensageiros, aparecimen- to de almas desencarnadas e de muitos importantes sinais no Firma- mento! Amigo, se até mesmo isto for baldado, tua horrorosa predição se realizará numa extensão vastíssima e com a espada mais impiedosa! Bem quisera evitá-lo; mas aquilo que ainda terá de acontecer, somente o Pai é ciente e nenhum outro ser em todo o Infinito. Quem por Ele receber a Revelação em tempo oportuno, também sabê-lo-á!”

  3. Diz Cirenius: “Mas Tu, Senhor, deves estar integrado, por-

quanto és em Espírito, o Próprio Pai!”

  1. PAIEFILHOEM JESUS

  1. Digo Eu: “Falaste bem. Em Mim está o Pai em toda a plenitude; mas como homem externo sou apenas Seu Filho, e sei em Minha Alma somente o que Ele Me queira revelar. Sou a Chama de Seu Amor, e Minha Alma é a Luz do fogo do Amor Paterno; sabeis, porém, da forma milagrosa pela qual a Luz age, constantemente, em todos os recantos.

  2. O Sol que irradia a Luz tem maravilhosa constituição inter- na e intrínseca; esta, porém, só é conhecida pelo próprio Sol. A luz exterior embora tudo vivifique, nada disto sabe e em parte alguma, projeta um quadro pelo qual se pudesse vislumbrar sua organização mais recôndita.

  3. O Pai, desde Eternidades, acha-Se dentro de Mim; Sua Natureza Intrínseca somente Se revela em Minha Alma, quando Ele Próprio o quer. Sei de tudo que desde sempre Se ocultava no Pai; todavia, o Filho

ignora muita coisa que o Pai acolhe em Seu Íntimo. E caso o deseje saber, terá de pedir-Lhe.

  1. Dentro em breve virá a hora em que Ele Se unirá completamen- te com Sua Natureza Intrínseca a Mim, o Filho Único de Eternidade, assim como o Espírito do Pai em vossas almas, em breve, a elas Se amalgamará ainda em vida. Somente então tudo vos será revelado pelo Espírito do Pai, o que até hoje não era possível. Assim sendo, sabe o Pai muita coisa que Seu Filho ignora. Compreendestes?”

  2. Respondem vários discípulos: “Eis um ensinamento complica- do. Pois se Tu e o Pai sois Unos, como pode Ele saber mais que Tu? Não és o Próprio Pai a julgar pelos Teus últimos Ensinamentos? Isto entenda quem puder, — nós não o compreendemos. Por isto, Senhor, pedimos-

-Te que nos esclareças mais!”

  1. Digo Eu: “Meus filhos, quanto tempo terei de suportar-vos até que Me compreendais?! Falo-vos como Homem e não compreen- deis vosso Semelhante? Como quereis mais tarde assimilar a Palavra Pura de Deus?! A fim de vos capacitar para tanto, analisarei o assunto mais de perto.

  2. Na expressão ‘Pai’, deveis imaginar o corpo de nosso Sol, onde existem todas as condições necessárias para a constante projeção ex- traordinária de Luz. O halo luminoso ao redor do Astro corresponde à atmosfera terrena, que circunda o globo numa altura de vários mil homens, formando — visto da Lua — um aparente disco, grande e fortemente luminoso.

  3. Como se forma a atmosfera telúrica? Através do processo interno da Terra. É o centro telúrico, portanto, cheio de ar, e somente o excesso considerável se acumula por igual, a seu redor. A fim de que o centro do globo produza constantemente ar, preciso é que nele exista fogo perma- nente, provindo da grande atividade dos elementos internos.

  4. Voltemos ao nosso quadro: o fogo interno corresponde ao que chamo de ‘Pai’, e os elementos dissolvidos pelo mesmo, produzindo o ar, é aquilo que denominamos de ‘alma’.

  5. O fogo não poderia subsistir sem o ar, e o ar não poderia ser produzido sem fogo. O fogo é portanto igualmente ar, e este também é

fogo; a chama é, do mesmo modo, apenas ar, e seus elementos se acham na maior atividade; enquanto o ar é puro fogo, permanecendo os ele- mentos de que é formado, em estado de calma. É, portanto, fácil com- preender-se que, na realidade, fogo e ar são idênticos. Antes, porém, que os elementos do ar sejam excitados até certo grau, o ar continua ar; entre o vapor excitado, a ponto de se tornar fogo, e o ar ainda calmo, existe grande diferença.

  1. A luz está no próprio fogo e é, espiritualmente falando, o mais puro e elevado saber e conhecimento; no ar, penetrado pela luz do fogo, existe também tal noção, muito embora em grau menor. No ar calmo, sendo excitado a se tornar fogo e luz, também se manifestam o máximo saber e conhecimento.

  2. Assemelha-se a Terra, com esta organização, a um homem: o fogo central é o espírito de amor da alma ativa; o ar é idêntico à alma que bem pode ser um elemento de fogo, quando inteiramente penetrada pelo amor do espírito, isto é, de sua atividade, onde se torna completamente ligada a ele. Isto, a alma consegue pelo renascimento do espírito.

  3. A mesma relação deparais no Sol: em seu centro existe um fogo poderosíssimo, cuja força luminosa ultrapassa de modo indizível a po- tência da esfera externa de sua luz. Desta luz desenvolve-se, constante- mente, a mais pura atmosfera solar que, em sua superfície, reproduz-se como fogo e luz, porém, num grau menor que o próprio fogo e de sua irradiação poderosa no centro do Astro. Contudo é a atmosfera externa da luz solar em sua natureza, idêntica ao fogo central. Necessita apenas de sua máxima irritação para assemelhar-se ao fogo interno.

  4. Bem, este fogo central do Sol é idêntico ao Pai em Mim; Eu

sou a Luz e o Fogo constantemente surgidos deste Foco Original, de onde tudo que foi criado, subsiste. Deste modo sou, em Minha Atual Existência, a Projeção do Pai em Mim e tudo que é Dele é Minha Posse, e vice-versa. Eu e o Pai temos de ser plenamente Unos, apenas com a diferença de existir sempre no Foco Central, conhecimento e saber mais profundos que na luz externa, que Dele apenas recebe maior excitação à medida necessária.

  1. Poderia excitar-Me ao mesmo tempo; neste caso, porém, es- taríeis perdidos, como também todos os corpos cósmicos ao redor deste Sol; uma vez a esfera externa de luz se incendiando na força do fogo e luz solares, seu poder irritaria todos os elementos no Es- paço, tornando-se ele um mar de fogo destruidor, infinito e podero- so! O interior da matéria solar é de tal forma constituído a suportar fogo e águas poderosas que constantemente se projetam sobre ele, em virtude da circulação permanente, como nas criaturas a circula- ção sanguínea; ocupam o fogo na dissolução e nova formação do ar, consequentemente da água, impedindo seja o Sol destruído. Mesmo algumas partes se desintegrando, são novamente repostas pela água, assim se estabelecendo uma ordem constante. Se analisardes este qua- dro de perto, sabereis quem é o ‘Pai’ e o ‘Filho’, a alma e seu espírito. Dizei-Me se isto vos é claro.”

  1. APARIÇÕES OCORRIDAS DURANTE O BATISMO DO SENHOR

  1. Diz Simon Juda: “Senhor, quando Te deixaste batizar nas águas do Jordão, vimos uma chama em forma de pomba sobre Tua Cabeça e dizia-se ser aquilo o Espírito Santo. Também se ouviu uma voz do Alto: Eis o Meu Filho Amado com Quem Me comprazo; deveis ouvi-Lo! Que foi aquilo? De onde surgiu aquela chama e quem pronunciou as palavras?”

  2. Digo Eu: “Só podiam ter surgido de Mim. Pensas que atrás das estrelas habita um Pai no Espaço Infinito, que tenha feito descer tanto a chama quanto as palavras? Ó cegueira humana! Se o Pai Eterno habita em Mim, Seu Filho, também Eterno, — como ainda podes perguntar? Presta atenção: verás a Mesma Chama sobre Minha Cabeça e também ouvirás as Mesmas Palavras!” Todos veem a dita chama em forma de cruz ou de pomba, porquanto esta representa uma cruz, e ouvem aque- las palavras.

  3. Eu então digo: “Foi esta a Voz do Pai em Mim, e a chama surgiu

de Minha Infinita Irradiação de Vida, ou seja o Meu Espírito Santo.

Compreendeis isto?” Todos respondem em uníssono: “Sim, Senhor, tudo é maravilhosamente claro!”

  1. Pronuncia-se a seguir Mathael: “Senhor, Sábio desde Eternida- des, demonstraste e explicaste coisas insondáveis, contidas em Tua Or- dem Infinita. Tudo que se relaciona à permuta entre Criador e Criação, suas condições imutáveis me são claras como a luz do Sol. Tua Orga- nização é tão sábia, que a mais elevada razão e intelecto, nada poderão descobrir de incoerente.

  2. Somente ao reportar-me ao mais distante recesso de épocas e eternidades, penso que tudo que existe como: arcanjos, Céus, mundos etc, deveriam ter tido um início, do contrário, a possibilidade de sua existência — ao menos para mim, — não seria imaginável. Numa re- lação positiva, um ser ou coisa jamais tendo tido início, também não pode existir. Porventura algo poderia surgir do nada, que antes não fosse por Ti pensado?!

  3. Um Sol central, por exemplo, tinha de ser imaginado por Ti, dentro de Tua Ordem gradativa, para que pudesse agir em sua esfera. Sua idade incalculável, propriamente, não vem ao caso.

  4. Poder-se-ia então aplicar esta sentença à Tua Própria Pessoa, e toda Eternidade Perfeita Se dissolveria em nada, sem ponto de partida! Todavia meu intelecto e raciocínio claros me dizem o seguinte: mesmo reportando meus pensamentos a eternidades atrás, não posso achar um fim nesta marcha. Perdura o Espaço Infinito e com ele, idênticas épocas infinitas.

  5. Neste Espaço Infinito, deveria estar presente a força eter- na que o condicionou, isto é, um depende do outro. Esta força deve possuir um centro, assim como o próprio Espaço que, ex- pressando consciência plena, contém em si uma liberdade in- finita; pois como poderia existir, caso disto não tivesse noção elevadíssima?!

  6. O que vale para o Espaço, tem valia para a força que ele contém: também ela deve sentir sua existência. Em suma: trata-se de condições que unicamente admitem seu ser. Em síntese, tudo isto é Teu Ser Ori- ginal e jamais poderá ser desconsiderado.

  1. Tu Mesmo És, a meu ver, tão imprescindivelmente Eterno, como todo o resto, em sua consistência formal, só pode ser temporário. Agora surge outra pergunta: Se toda a Criação visível e invisível deve ter tido um início, muito embora em épocas inimagináveis, — que fizeste, Senhor, antes disto? A julgar pelo Teu Sorriso, minha indagação foi mal formulada; entretanto, estou certo de não ser ela sem base. Dá-nos pequena elucidação, pois minha alma sedenta deseja conhecimento completo!”

  1. AGRANDIOSIDADEDA CRIAÇÃO

  1. Digo Eu: “Meu caro amigo Mathael, a diferença intransponível entre Deus e a criatura temporária — mesmo da mais elevada espécie

  1. Pode o homem tornar-se idêntico a Ele na Forma, no Amor e na Sua Força; nunca, porém, na extensão individual da Sabedoria Infinita de Deus. Deste modo, poderão conter as Eternidades, em seus inúme- ros períodos, muita coisa no Espaço Infinito que os próprios arcanjos jamais sonharam. Possuem, até mesmo eles, uma capacidade de assi- milação enormemente reduzida; somente após cada arcanjo ter igual a Mim, trilhado o caminho da carne, será capaz de maior compreensão,

  1. Vós, por exemplo, descobrireis eternamente milagres excepcio- nais e começareis interpretá-los de acordo com a luz do espírito em vossa alma, sem jamais alcançardes seu fim. Isto é fácil compreender-

-se, ao imaginardes ser impossível contar os números até se chegar ao término. Eu, sendo em Espírito, desde Eternidades, o Mesmo Deus, pensando, querendo e agindo através do mesmo Amor e Sabedoria, estes forçosamente sentir-se-ão mais perfeitos e felizes pela Obra rea- lizada através de cada período criado, estendendo-se por Eternidades. Vós, já mais entendidos, podeis calcular que Eu, assim como o Pai que

ora Se expressa por Mim, até o período atual, não passei num invernal sono em algum ponto infinito no Espaço Eterno! Mesmo um período na Criação levando, desde seu início até a total perfeição espiritual, in- contáveis ciclos terráqueos, — tudo isto nada é comparado ao Meu Ser Eterno, e sua extensão incomensurável no Espaço Infinito, igualmente nada representa!

  1. Tu, Mathael, és conhecedor da astronomia egípcia e sabes lo- calizar o Régulos no grande Cão. Como se destaca à tua vista? Num pontinho luminoso, enquanto na realidade é um corpo solar tão gran- de que um raio cuja luz percorre, em quatro segundos, quarenta mil milhas, pelos cálculos em números da Arábia, necessitaria um trilhão de anos, para fazer o trajeto do Polo Norte ao Sul! Seu nome próprio é Urca, melhor ainda Ouriza (o início da Criação de bilhões de sóis dum enxame globular); é ela a alma ou o ponto central duma galáxia que, entretanto, só perfaz um nervo do Grande Homem Cósmico. Este Ho- mem Imenso, tantas galáxias tem, quanto a Terra possui grãos de areia e capim, representando apenas um período Criador, desde o início até seu aperfeiçoamento espiritual.

  2. Tal Urca e muito mais ainda uma galáxia são de tamanho respei-

tável; porém, incalculavelmente maior é o dito Homem Cósmico! Mas que vem a ser ele comparado ao Espaço Infinito? Tanto quanto nada! Pois toda e qualquer limitação, muito embora de tamanho inimaginá- vel para vós, é, em relação ao Espaço, um nada porquanto não existe possibilidade de comparação. Agora te pergunto, Mathael, se podes for- mar uma ideia do assunto?”

  1. Diz ele: “Sim, Senhor; mas vejo também que Teu Eterno Poder e Força, o Espaço Infinito e as Eternidades sem fim, começam a tragar-

-me! Foge ao meu alcance se Te compreendi na realidade; todavia, vis- lumbro que Teus períodos criadores não podem ser contados, porquan- to são inúmeros. Se eu os fosse enumerar para trás, começando pelo presente, nunca chegaria àquele que se pudesse classificar de primeiro.

  1. Em suma: Jamais tiveste um início, tampouco as Tuas Criações, muito embora o Espaço pudesse contê-las aos bilhões; não haveria uma que fosse a primeira e antes dela nada havia sido criado, porquanto seria

precedida por outra Eternidade. Que terias feito de acordo com Tua Individualidade sempre idêntica? O Espaço Infinito não só comporta as Criações passadas, mas terá lugar para outras tantas, até o Infinito, que em nada poderão aumentar o número das já havidas.

  1. O número básico sendo infinito, não é possível pensar-se num aumento. As vindouras poderão ser enumeradas; nada representam, po- rém, diante das passadas.

  2. Basta de tais pensamentos, que em virtude de sua grandiosidade, abafam minha alma pequenina! Possuindo a Vida Eterna, Teu Amor e Graça nesta zona abençoada, nem mais cogito conhecer de perto o Sol e a Lua! Vejo, agora, minha tolice em perguntar-Te algo inconveniente como homem limitado. Perdoa-me, Senhor!”

  1. AENCARNAÇÃODOSENHORNOATUALPERÍODODA CRIAÇÃO

  1. Digo Eu: “Meu amigo, não disseste propriamente uma tolice, mas uma indiscrição, demasiado atrevida, para esta existência na Terra; pois enquanto a alma não se tiver unido à centelha divina dentro de ti, não poderás compreender a fundo tais assuntos. Quando em breve tiveres alcançado o renascimento espiritual, e no Além te encontrando como entidade espiritualmente perfeita, muita coisa abarcarás a fundo; todavia, esta compreensão só se estende ao atual período criador, em cuja ordem todos os precedentes têm sua consistência, à medida de seu aperfeiçoamento. Existe, entretanto, entre este e os períodos preceden- tes — bem como entre esta Terra e todos os outros corpos cósmicos — uma enorme diferença.

  2. Durante os períodos infinitos que perfaziam o Grande Homem

Cósmico, não fui envolvido num planeta qualquer pela Força de Minha Vontade; correspondia-Me com as criaturas através de anjos expressa- mente criados para tal época. Somente o atualperíodo tem a finalidade de ver-Me diante de si, em forma limitada, e ser por Mim ensinado num pequeno planeta — justamente este orbe — para as Criações pas- sadas, bem como as vindouras em Meu Ser Divino Humanizado.

  1. Quis educar para todos os tempos e Eternidades futuras, filhos verdadeiros e reais, completamente idênticos a Mim, através de Meu Amor Paternal, a fim de que Comigo regessem todo o Universo.

  2. Para consegui-lo, aceitei — Eu, Deus Eterno e Infinito — a Encarnação para o Centro Vital de Meu Ser Divino, a fim de apre- sentar-Me aos Meus filhos como Pai visível e palpável; ensinar-vos de Própria Boca e Coração, o verdadeiro e divino Amor, Sabedoria e Força, pelos quais dirigireis Comigo, não só todos os seres do atual ciclo, mas os passados e futuros.

  3. Tem este, pois, o privilégio, que longe estais de abarcar, ser o único, por toda a Eternidade e Infinito, em que Me revesti da natureza humana. Escolhi do Grande Homem Cósmico, esta galáxia, no terri- tório do Sol Central chamado Sirius; entre os duzentos milhões de sóis circunjacentes, este nosso; dos inúmeros planetas, precisamente este, a fim de nele Me tornar Homem e educar-vos para Meus Verdadeiros filhos, em todo o Infinito e Eternidades, tanto para as que passaram quanto às futuras. Se tu, Mathael como um dos mais hábeis matemáti- cos, disto te integrares, nem Eternidades, tampouco o Espaço Infinito, perturbar-te-ão.

  4. Para a alma, por mais sábia, porém finita e limitada, tais noções

perduram como algo que oprime pela incompreensão; isto, porém, não acontece para o seu espírito perfeitamente desperto. É ele livre e em tudo semelhante a Mim; seu movimento é de tal espécie, que todas as condições concernentes ao Espaço nada lhe representam, e isto, amigos, é uma faculdade importantíssima para o homem espiritual.

  1. Imaginai a velocidade dos corpos cósmicos, conforme vos escla- reci noutra ocasião, e vereis que a celeridade dos sóis centrais elevada a uma potência incalculável, nada significa diante da rapidez do espírito, porquanto necessitam dum determinado tempo, de acordo com a dis- tância para percorrerem seus trâmites. Ao espírito, a distância nada diz: tanto o ‘aqui’, quanto o mais inconcebível ‘acolá’, para ele são idênticos.

  2. Além disto, chamo-te a atenção para o seguinte: do Espírito se transmite — mesmo se ainda não completamente integrado na alma

de sorte que imagina todos os acontecimentos, incluindo os mais re- motos, como sendo atuais, ou como se o espírito os tivesse assistido qual testemunha ocular. A sensação da época remota de ocorrências longínquas é, posteriormente, projetada ao cérebro, pela alma restrita. Nela, a recordação toma o lugar desta sensação espiritual, que todavia não atualiza o fato, mas o projeta na época em que sucedeu. O espírito, porém, se reporta à mesma como se fosse presente, o mesmo fazendo com o futuro, dando ao acontecimento início ou término.

  1. Os intelectuais denominam esta sensação puramente espiritual da atualização de fatos ocorridos ou futuros, de ‘fantasia’. Isto não se dá, pois fantasia é apenas aquilo que a alma encadeia de seu estoque de quadros como algo novo e, desta forma, cria alguma coisa não existente no mundo da Natureza. Desta capacidade psíquica surgiram todos os apetrechos, construções, indumentárias, fábulas e contos, cujo fundo raramente contém uma verdade plena e sim, pura mentira.

  2. A mencionada sensação que atualiza fatos passados ou futuros, é uma particularidade da vida do espírito e quem for capaz de pensa- mentos abstratos, compreenderá ter o espírito nada a ver com o Espaço e Tempo, portanto domina ambos.

  3. Para ele, somente existe Espaço quando o quer, e nas mesmas condições, enquadra-se também o Tempo. Não o querendo, ele o su- planta pelo Eterno Presente do Passado e Futuro.

  4. Além desta, poderíeis observar ainda outra capacidade espiri- tual dentro de vós, caso fôsseis bem atentos, e que consiste em poder- des imaginar uma coisa imensa, como seja uma região solar, em sua totalidade. A alma tem de observar as coisas através de seus sentidos de modo lento e cansativo, a fim de poder chegar a uma compreensão geral. O espírito, porém, abarca de relance um Sol Central em seu todo, até mesmo um sem número de tais astros com todos os seus planetas; quanto mais poderoso for o espírito pela ordem estabelecida dentro de sua alma, tanto mais lúcida e acentuada é sua penetração nas Criações, por mais complicadas, do Universo.

  5. Perguntais, com razão, como isto é possível, e Eu vos digo:

da mesma forma perfeita como consegue uma alma perfeita dentro da

ordem da Natureza penetrar no âmago das almas alheias, conforme vos certificastes com os núbios. Não pode, entretanto, esta capacidade duma alma, apenas em sua manifestação isolada, ser comparada à do espírito, muito embora sua intensidade, porquanto é limitada pelo Espaço; é ela somente capaz de pensar e sentir sob certos elementos básicos de natureza transcendental, e isto tanto mais potente, quanto mais próxima do espírito. Num afastamento maior, não o consegue, mesmo em seu estado individual, não obstante perfeito. Por mais for- te que seja sua projeção vital, não poderá daqui vislumbrar algo que suceda na África.”

  1. AESFERAVITALDAALMAEADO ESPÍRITO

  1. (O Senhor): “Se, num estado de êxtase, o espírito projeta sua luz original sobre a alma perfeita, aumenta em elevado grau sua capacidade de projeção à longa distância, podendo ela, em tais momentos, alcan- çar estrelas distantes e analisá-las com grande precisão. Ao retrair-se o espírito na alma, dentro da ordem estabelecida, a psique poderá pro- jetar-se pela própria irradiação apenas onde, na melhor das hipóteses, algo encontre de afinidade. Assemelha-se sua projeção externa à luz material: quanto mais afastada do foco, tanto mais fraca e apagada, até que apresente apenas noite e trevas.

  2. Tal não sucede com a projeção externa do espírito, pois é idên-

tica ao éter que, espalhado pelo Espaço, o preenche completamente por igual. Quando o espírito renascido na alma entra em contato com o éter, seu sentir, pensar e perceber se unem ao Imenso Éter Criador no Espaço Infinito, e as percepções Deste são transmitidas, no mesmo momento, ao espírito individual, enquanto a alma for penetrada por ele, que se acha em união com a Projeção Divina.

  1. A diferença entre a irradiação externa duma alma perfeita e a do espírito é, pois, imensa, e podeis ter uma leve ideia da maneira pela qual o espírito consegue projetar-se à longa distância e penetrar o Próprio Infinito, através dos sentidos da alma, por ser ele em todos os pontos do Espaço Eterno o mesmo em sua potência.

  1. Pela penetração do Espírito Divino nas almas, nelas se manifes- tam partes isoladas do Mesmo e formam uma entidade una com Ele, tão logo a penetrem, em virtude do renascimento espiritual. Com isto, em absoluto, perdem sua individualidade, porque possuem como focos de vida a mesma forma humana, sentindo e percebendo pela alma — de certo modo o corpo do espírito — aquilo que ela contém como en- tidade intermediária. Por este motivo, pode a alma, penetrada integral- mente pelo espírito, ver, sentir, ouvir, pensar e querer o mesmo que ele.

  2. Se por esta explicação clara ainda não tendes uma noção sobre a

natureza do espírito e suas capacidades, Eu Mesmo não saberei de que forma elucidar-vos, antes de vosso renascimento! Por isto, falai sincera- mente se compreendestes este assunto importantíssimo.”

  1. AONISCIÊNCIA DIVINA

  1. Dizem Mathael e outros: “Senhor, estamos plenamente orienta- dos e não sabemos que perguntas formular; talvez pudesses inquirir-nos por saberes melhor o que nos falta.”

  2. Digo Eu: “Ora, que situação seria esta Eu perguntar-vos como se fosse possível colher informações convosco, sabendo de tudo que se passa no vosso íntimo! Vossos pensamentos mais ocultos que mal conheceis Me são tão visíveis como vedes o Sol, — e Eu vos deveria indagar algo?! Não seria isto desperdício de tempo?!”

  3. Diz o núbio, ao lado: “Senhor, não acho isto lógico, pois ain- da há pouco indagaste a Teus discípulos se haviam compreendido a questão. Por que então perguntaste, acaso não sabias se realmente Te compreenderam?”

  4. Respondo: “Prezado amigo, nem sempre se pergunta o que se não sabe, mas sim para levar os outros à meditação. Assim formula o professor várias perguntas cujas respostas bem conhece. O juiz não indaga do criminoso quanto à infração duma lei, senão para obter do inquirido a confissão própria do delito, castigando-o quando persiste na negação daquilo que sabe positivamente, pelo pronunciamento de várias testemunhas.

  1. Assim sendo, Eu, como melhor professor e mais competente juiz, vos faço perguntas, não para Me instruirdes, mas obrigando-vos à reflexão e análise próprias. Seria tolice de Minha parte querer certi- ficar-Me se Meus discípulos assimilaram um Ensinamento, porquanto sei, como Deus, desde Eternidades, quem e a maneira pela qual serei compreendido nesta época e em vosso orbe. Compreendeste?!”

  2. Responde o negro: “Senhor, perdoa-me eu ter-Te importunado com pergunta tão imprópria. Não mais o farei, caso me seja permitido permanecer com os nossos em Teu Santo Convívio.”

  3. Digo Eu: “O tempo que quiseres, e terás o mesmo direito que qualquer outro a fazer perguntas! Por ora, expresso-Me sem restrições, nesta zona; posteriormente, virá uma época em que não darei respostas. Vejo ainda uma falha dentro de ti, pesquisa e indaga para seres elucidado!”

  4. Diz o negro: “Senhor, não necessito de longa meditação, pois de há muito conheço minhas lacunas. A principal consiste em não poder compreender a Onisciência de Deus. Como Te é possível saber de tudo que se passa no Infinito?”

  5. Respondo: “Se disto ainda não te integraste, não compreendeste a fundo Minhas Revelações quanto à irradiação do espírito. Sabes que o Espaço Infinito é pleno de Meu Espírito, em si o Puro Amor, isto é, Vida, Luz, Sabedoria, Consciência Plena, Percepção Nítida, Visão, Audição, Pensar, Querer e Agir.

  6. Dentro de Mim acha-se o Foco deste Espírito Único e Eterno, em união com o Éter Infinito, que em Mim se acha na mais íntima relação com tudo que abrange. Este Meu Éter de projeção externa, tudo penetra e abarca no imensurável Infinito, com a mesma percepção unificada.

  7. Tua alma também o consegue até certa distância, pois seria difícil não perceberes um pensamento mau a teu redor. Da mesma for- ma isto consegues em virtude da projeção positiva de tua alma, em constante união com a mesma, estendendo tua consciência à longa dis- tância. A Minha Esfera Espiritual age de modo idêntico, apenas com a diferença de ser tua irradiação psíquica limitada no Espaço, por não se projetar além, em virtude da variabilidade dos elementos heterogêneos que enfrenta.

  1. A projeção do espírito não se pode chocar com elementos tais, por ser ele no fundo tudo isto em conjunto; eis por que pode livremen- te ver, sentir, ouvir e compreender o que se passa no Espaço. E nisto se baseia, de modo compreensível, a Onisciência Divina. Estás bem informado?”

  1. ALINGUAGEMDOS ANIMAIS

  1. Diz o núbio: “É isto mesmo e creio compreender muita coi- sa que anteriormente não sabia interpretar. Haja vista entendermos a linguagem dos animais, pois quem se der ao trabalho de modular os poucos sons dos irracionais pela percepção interna e da inteligência psíquica, — no que naturalmente é preciso algum treino — poderá com eles conversar e aprender coisas bastante importantes. Eu mesmo fiz tal tentativa, sem contudo ter alcançado o falar de todos, porquan- to meus órgãos não se prestam para tanto; todavia, entendo tudo que falam entre si.

  2. Assim ouvi, de certa feita, dois mangustos conversarem o se-

guinte, à beira do Nilo: Dizia o macho à fêmea: ‘Receio por nossos filhos que, longe daqui, estão à procura de ovos de crocodilo. Pois se nosso filho mais velho descansar à margem do rio, após boa refeição, poderá ser vítima dum condor que o levaria às alturas, para em seguida deixar que se espatifasse numa rocha, facilitando ser assim devorado! Se formos ligeiros, ainda poderemos impedir tal desgraça! À noite a via- gem seria perigosa, pela aproximação de leões e panteras que saciam sua sede no Nilo. Vamos depressa, a fim de evitarmos um possível perigo, no intuito de salvarmos nosso filho!’ Levantou-se a fêmea e disse: ‘Não percamos tempo!’, e rápidos, quais flechas seguiram sobre paus e pedras à beira do Nilo.

  1. Quinze dias mais tarde, voltei ao mesmo local, porque senti den- tro de mim que lá se deveria encontrar uma família inteira de mangus- tos. Aproximando-me de soslaio, deparei com sete animaizinhos num banco de areia, onde brincavam alegremente. Desta vez, eu havia leva- do meu servo especialmente entendido no linguajar de animais.

  1. Ao chegarmos mais de perto, ouvi a fêmea dizer ao compa- nheiro: ‘Cuidado! Atrás daquele arbusto estão dois homens. Fuja- mos, pois não se pode confiar neles!’ O macho farejou em nossa direção e respondeu: ‘Tem calma! Conheço estes dois; não são maus, portanto não nos magoarão; até nos entendem e um deles poderia falar conosco, caso quisesse. Ainda se divertirão conosco e nos darão pão e leite!’

  2. A fêmea com isto acalmou-se e começou a pular de alegria, pois estava feliz por ter salvo seu filho. Este era um excelente exemplar e aparentava certa atitude, que se poderia classificar de orgulho.

  3. Meu empregado opinou que poderíamos nos aproximar sem receio, pois não fugiriam. Assim fizemos e o pai manifestou certo tra- quejo, porquanto indicou-nos um lugar mais cômodo para observá-los; recomendou, porém, não pisássemos o banco de areia onde se achava enterrada grande quantidade de ovos de crocodilo, e ele procurava, jus- tamente, adestrar sua prole na procura dos mesmos.

  4. Obedecemos, e meu servo assegurou ao macho não precisarem eles temer algo de nossa parte, pois até lhes supriríamos, durante sua permanência ali, com leite e queijo. Respondeu ele: ‘Será ótimo; em compensação limparei o rio deste perigo. Espera mais dois dias, pois meus filhos devem saciar sua fome com tais ovos, para depois refestela- rem-se com teu prêmio!’

  5. Em seguida, meu servo perguntou como ali podia haver ovos de crocodilo, porquanto nunca fora visto tal réptil nessa zona. E ele respondeu: ‘Eles são muito inteligentes e entendidos das coisas da Na- tureza, pois sabem que nas partes inundadas, os ovos se criam melho- res que na baixada. Por isto, durante a noite nadam para aqui e mais acima após a época das chuvas, onde enterram grande quantidade de ovos na areia quente. Ao terminarem a postura, justamente quando os homens não podem se aproximar das margens em virtude da lama, voltam igualmente à noite ao Sul, rico em manadas, que por eles são atacadas de rijo. Quando nascem os filhotes, estes também se atiram à água e procuram juntar-se aos velhos. Lá encontram alimento ade- quado e se desenvolvem rapidamente. Como sabemos onde se acham

os melhores ovos nós os comemos, pois são de sabor agradável. Às vezes, custamos a achá-los e enfrentamos sérios inimigos: o poderoso condor e a cascavel. Quando estamos em grande supremacia, nada nos podem fazer. Agora prestai atenção à maneira pela qual descobri- mos nosso alimento!’

  1. Nisto, ele saltou de perto de nós e sibilou sons inarticulados, cujo sentido não compreendi de pronto; meu empregado, de ouvido mais apurado, transmitiu-me ter ele dado ordens para a procura de ovos. Todos começaram a fuçar a areia e quando achavam alguns, solta- vam um grito agudo, metiam o focinho na areia, punham a descoberto os ovos, que em seguida eram devorados. Apenas os menores; os gran- des eram mordidos, e atirados à água com as patas dianteiras. E a caça continuava.”

  1. EXEMPLOSDAINTELIGÊNCIA ANIMAL

  1. (O negro): “Assim os observamos metade do dia e nos distraí- mos bastante, porquanto notávamos certa ordem, planos delineados e especial adestramento, com que esses animaizinhos inteligentes execu- tavam sua tarefa. Calculei ficarem cansados; mas qual o quê! Quanto mais tempo demorava a extinção dos ovos, tanto maior ânimo ma- nifestavam.

  2. Decorridas três horas, o macho nos disse: ‘Nesse banco de areia levariam, no mínimo, quatro dias e do outro lado da margem, também havia muitos ovos. Caso não fossem destruídos, dentro de um ano ter-

-se-iam reproduzido consideravelmente, e após dez anos, ninguém po- deria passar por ali sem deparar com esses répteis. As criaturas deveriam por isso, ser muito gratas aos mangustos, pela constante destruição que empreendiam aos crocodilos.’

  1. Meu servo então perguntou como podia haver tal reprodução, considerando esse zelo permanente. E o animalzinho respondeu, com seriedade: ‘O Grande Espírito da Natureza quer que jamais esses répteis sejam derrotados por completo neste rio; pois também têm sua finali- dade útil à Terra e a seus habitantes. Só não se devem exceder, no que

nos cabe a missão. Tudo foi previsto pelo Grande Espírito, visando que um ser encontre seu aperfeiçoamento em outro. Tal passagem é sempre dolorosa, em compensação o grau seguinte é mais agradável!’

  1. Inquirido como havia chegado ao conhecimento do Espírito Supremo, o mangusto respondeu: ‘Acaso não vemos diariamente o Sol Dele no Céu, a projetar uma quantidade de bons espíritos? De onde deveriam vir senão do Espírito de Luz, provindo do Sol?!’

  2. Prosseguiu o meu servo: ‘Também O venerais?’ Disse ele: ‘Que pergunta estranha duma criatura humana! Por certo não és mais tolo que nós, animais? Ao fazermos consequentemente, aquilo que Sua Von- tade implantou em nossa natureza, honramo-Lo da melhor maneira possível. Acaso poderíeis honrar-vos reciprocamente, senão pela execu- ção do desejo do próximo?!’ Assim terminando, o mangusto voltou à sua tarefa e nós para casa, a fim de tratarmos da vida.

  3. Alguns dias mais tarde, para lá voltamos, com a finalidade de suprir os animaizinhos com leite e queijo, que apreciaram bastante e depois descansaram um dia inteiro.

  4. À pergunta de meu empregado, se a carne de crocodilo era ali- mento para as criaturas, o macho respondeu que somente certas partes da barriga podiam ser ingeridas, porquanto o restante, era indigesto. Melhor seria a carne do hipopótamo, que geralmente permanece nas profundezas do mar; de quando em quando, subia à tona por ocasião das tempestades marítimas, para brincar com os barcos.

  5. Após esta explicação, nos deixaram e se acomodaram na outra margem, onde não os acompanhamos por já conhecermos as suas ca- racterísticas. Relato o exemplo do mangusto, porquanto era algo com- pletamente novo para mim, e por jamais ter descoberto grau tão eleva- do de inteligência em outros animais.

  6. Entre as aves também se depara com espécimens inteligentes, entre eles o íbis e a cegonha, o grou, o ganso selvagem e a andorinha. Entre os quadrúpedes são o camelo, elefante, burro, cão, macaco, cabra, raposa, urso e leão, os mais inteligentes e têm linguagem inteligível. Os outros animais caseiros são menos inteligentes e sua linguagem mais tola; dos invertebrados mantém a lagartixa o primeiro lugar; conside-

ramo-la um real profeta, que nos adverte muitos dias antes o que deve suceder, razão por que as tratamos bem.

  1. É extraordinário o conhecimento desses répteis e eu não con- to uma fábula, muito embora soe como tal. Caso os brancos não me deem crédito, poderão mandar buscar um asno qualquer, que meu empregado a ele falará e vereis como o animal porá em execução as suas ordens!”

  1. ONÚBIOPALESTRACOMOBURRODE MARCUS

  1. Pergunta-Me o velho Marcus: “Senhor, devo mandar buscar um de meus burros? Receio que os neocriados poderiam dar motivos a objeções!”

  2. Digo Eu: “Isso mesmo; tua ideia é boa e proporcionará ensina- mento importante!”

  3. Rápido, Marcus afasta-se para trazer um burrico, que entrega sorridente ao núbio com as seguintes palavras: “Eis um sábio do mun- do; age a teu gosto!”

  4. O negro chama o seu servo, que de pronto dirige uma série de perguntas ao asno, num linguajar comum a ele, e o animal revela muita coisa da ordem doméstica de Marcus, bem como de seu antigo dono, um verdadeiro bruto, seu nome e datas impossíveis de serem do co- nhecimento do negro, o que causa estupefação a Marcus. Finalmente, o negro pede ao burro para dar três voltas ao redor de nossa mesa, e no fim, fazer ouvir o seu “Y-a”. O animal obedece e se afasta em seguida.

  5. O guia núbio pergunta ao nosso grupo se o ocorrido era simples fábula, e Cirenius, pasmado, diz: “Não, amigo; todavia, creio que o célebre poeta Aesopo falava aos animais! Senhor, eis outro dom dos ne- gros que jamais sonhamos. Se isto continuar assim, poderemos aguar- dar outras surpresas. Li, em vossas Escrituras, dum burro que falara com o profeta Bileam; mas que vem a ser isto, perto da biografia do velho Marcus, que este asno acaba de relatar?! Em absoluto imporei objeções; apenas desejava obter uma explicação do ‘como’ se poderá falar com irracionais.”

  1. Digo Eu: “Criaturas assim dotadas, em nada são superiores a vós; pois quanto mais próximas das almas animais se acha a psique humana, tanto maior facilidade de intercâmbio linguístico. Integrada, porém, à carne, tais faculdades especiais se desvanecem e as leis trevosas da matéria tomam o seu lugar; neste caso, a alma é prejudicada em tudo que prejudica o corpo.”

  1. OCRESCIMENTODAIRRADIAÇÃOPSÍQUICADO HOMEM

  1. (O Senhor): “Não só os negros têm o privilégio de enten- der irracionais; será igualmente dom dos brancos, tão logo se te- nham completamente purificado. Uma vez a alma pura, portanto sadia e forte, começa a estender o excesso de sua projeção vital além de seu físico, isto tanto mais potente, quanto maior positividade contém em si.

  2. Seria o mesmo se alguém depositasse um pedaço de carvão le- vemente em brasa, dentro dum recinto escuro. Sua iluminação seria tão fraca, que mal se veria onde está. Alguém soprando da superfície a cinza obscurecedora, comparada à matéria psíquica, sua luz aumentaria a ponto de se poder vislumbrar sua localização. Aumentando-se o so- pro, sua superfície emitiria tanta luz, de maneira a identificar os objetos contidos no recinto e, quando incandescente por completo, facilitaria até mesmo a noção das cores.

  3. O mesmo acontece com a alma: o carvão incandescente coberto

de cinzas, assemelha-se à alma enterrada na carne. Necessita de todo seu fogo vital enfraquecido, para a formação da matéria trevosa que a circunda; neste caso, não existe possibilidade de formação psíquica, pois uma alma mui materialista não pode sentir um dom superior. Não se pode cogitar do domínio sobre o mundo da Natureza, nem ouvir a voz do próprio espírito, muito menos entender a linguagem de animais e plantas, coisas tão corriqueiras aos patriarcas, como para vós são as da matéria. Pois o que poderia iluminar a esfera psíquica, se a luz da alma não consegue emitir quantidade necessária de éter vital, que lhe facul- tasse noção de si própria?!

  1. Ignora, finalmente, sua própria existência e base, e quando in- formada de seu estado espiritual, sente repugnância; ao deparar com algo semelhante a uma alma desencarnada, quase tem uma vertigem e desanima frente a grandes milagres. Que fazer com ela?

  2. Se uma alma se torna incandescente, em virtude dum relato ve- rídico ou pela convicção própria que lhe desperta a noção de algo su- perior, começa a sentir sua individualidade e a base em que pisa. Se tais chamadas se repetem, sua luz aumenta e seu ‘eu’ se destaca da matéria de modo mais puro, projetando-a além de sua pessoa.

  3. Quanto mais poderosas e sucessivas forem as influências do es- pírito, tanto mais lúcida e potente sua irradiação vital, de sorte que tudo que atinge sua aura é imediatamente iluminado por ela, capaz de formar um critério acertado.

  4. Após ter alcançada a iluminação plena, comparável à cha- ma incandescente do carvão, sua esfera luminosa terá uma projeção intensiva, tornando-se dominadora de todo ser, porquanto se acha numa correspondência inteligente e fortemente ativa com os seres de seu convívio.”

  1. APROJEÇÃOLUMINOSADEMOYSÉSEDOS PATRIARCAS

  1. (O Senhor): “A luminosa projeção dos velhos patriarcas era tão poderosa, a iluminar durante a noite. A alma de Moysés — após ter ele entrado em contato com Deus no Monte Sinai — projetava tanta luz devido ao seu grande amor, que seu rosto iluminava mais fortemente que o Sol ao meio-dia, obrigando o profeta ocultar-se com tríplice coberta. Foi sua alma a mais perfeita sobre a Terra e as criaturas tinham de lhe obedecer. Achava-se num intercâmbio inteligente com todos os seres, sabia de Minha Vontade, que trans- mitia aos ignorantes, designando-lhes o caminho pelo qual cada um alcança a perfeição de sua alma, tão logo o queira. Para tal fim, erigiu uma escola de profetas que ainda hoje existe, todavia é seme- lhante à nova e falsa Arca, porquanto a verdadeira de há muito ficou sem efeito.

  1. Se tivesse sido possível Moysés unir a perfeição de sua alma ao renascimento do espírito, — que lhe será somente facultado quando Eu for elevado qual Elias, no entanto, sem carro de fogo — ele, como o maior dos profetas desta Terra, poderia determinar novos trâmites a todos os astros e aos imensos sóis; teriam de se submeter a ele como fizeram as ondas do Mar Vermelho e a rocha de granito que produziu uma fonte cristalina no local por ele determinado. Sua ordem se trans- mitiu aos elementos presos à matéria, que entenderam sua linguagem, submetendo-se à sua vontade.

  2. Que os antigos sábios geralmente não só falavam com os irra-

cionais, mas com todas as plantas, metais e pedras, o ar e o fogo e até mesmo com os espíritos da terra, provam como testemunhas autênti- cas, a Escritura, mormente o Livro dos Juízes, dos profetas, os cinco Livros de Moysés e uma quantidade de outras anotações e algumas tra- dições populares, fortemente deturpadas. O artifício dos essênios, em seus jardins milagrosos onde falavam: capim, árvores, rochas e águas, são apenas uma cópia daquilo que existiu na realidade.

  1. Esses negros vos demonstraram, de maneiras diversas, a força que impulsiona uma alma incorrupta. Eu Mesmo vos expliquei a razão disto, e penso poderdes aceitá-lo como Verdade, acrescentando que esta faculdade ainda existe e existirá no futuro.

  2. Além disto, tendes em vossos pastores, uma prova concluden- te de tal fato, porquanto dirigem suas manadas pronunciando certos nomes e sons peculiares, pelos quais transmitem suas ordens que pron- tamente são cumpridas. Acaso burro e boi não entendem o aceno do seu dono, embora um tanto difícil?! Quem ignora que o próprio leão reconhece o seu benfeitor, jamais o atacando, mesmo enfurecido?! Pro- va isto possuírem os irracionais compreensão, julgamento e às vezes um conhecimento aguçado e não raro, apontam ao homem certos perigos, através de gestos e reações, salvando-o desde que lhes prestem atenção.

  3. De onde deveriam derivar-se os interpretadores de sacrifícios

pagãos que ainda hoje em dia pretendem desvendar certos auspícios do canto e voo das aves e do movimento de outros animais? São fracas sombras de uma realidade remota.”

  1. MOTIVODASEXPLICAÇÕESDO SENHOR

  1. (O Senhor): “Não vos dou a explicação acima para reportar-vos aos antigos estados das criaturas, senão orientar-vos para ocasiões opor- tunas, onde devereis julgar tais fatos de fundo supersticioso, sabendo guiar-vos dentro da Verdade. Se fordes sem tal orientação, disseminar Meu Verbo entre povos idênticos aos núbios, onde veríeis suas ações ex- cepcionais, ficaríeis, dentro em breve, tolhidos de tal forma, a vos deixar pregar por eles um evangelho diferente, desviando-vos de Meu Cami- nho, onde dificilmente alcançaríeis o Renascimento do Meu Espírito.

  2. Deste modo, bem orientados sobre o que se passa no mundo,

já não mais correreis perigo de vos contaminardes, a não ser que vos deixásseis seduzir pelo egoísmo alheio, que seria vossa perdição.

  1. Não necessitais aperfeiçoar vossa alma a fim de reportar-vos às faculdades inerentes aos antigos, — pois tal coisa não faculta à alma vida verdadeira, feliz e eterna, — e sim, cada um de vós possui uma base inteiramente nova para purificar sua psique, e pela aplicação de Meu Verbo, o renascimento do espírito. Quem isto consegue, terá mais dons maravilhosos que todos os patriarcas em conjunto e munidos de sua perfeição psíquica! Poderá num relance penetrar todo o Universo e compreender a linguagem de estrelas e sóis, de modo mais fácil, que os antigos videntes e taumaturgos eram capazes de vislumbrar e julgar seu próprio país.

  2. Operavam milagres sem entendê-los. Eram fortes, mas ignora-

vam sua força e somente podiam empregá-la de modo útil, quando despertados pelo Meu Espírito. Fora disto, usavam-na onde não era necessário, semelhantes às crianças que, às vezes, dispendem energia maior e sem utilidade, com exceção do exercício físico.

  1. Outra coisa se passa com o poder do espírito, quando renascido na alma; pois com isto, penetra em plena comunhão com Minha Oni- potência Infinita e Eterna, Meu Amor e Sabedoria, Penetração, Co- nhecimento e Vontade! De plena posse de tudo isto como Meu filho verdadeiro, acaso poderia sentir desejo de efetuar coisas feitas pelos pa- triarcas, como também por esses núbios, de modo parcial e imperfeito?!

  1. Não à vossa vontade e sim ao tempo e seus hábitos pervertidos, cabem a culpa de não poderdes agir deste modo. Por isto, vim Eu, Pes- soalmente, a fim de recompensar-vos do pequeno paraíso perdido, com o Céu Pleno do Espírito mais puro e poderoso, isto é, de Mim, e julgo poderdes estar satisfeitos com a troca.

  2. Naturalmente necessitais de muito esforço e atividade, para es- piritualizar vossa alma; em se tratando da aquisição certa de dádiva maior e mais elevada, ser-vos-á fácil suportá-los. Pois todas as facul- dades milagrosas duma alma perfeita e todos os tesouros deste orbe, não representam uma gota de orvalho, diante do Grande Mar da Vida, que vos espera pelo fiel cumprimento de Minha Doutrina e Vontade, de modo mais seguro que a morte física, que no fundo, não vos inco- modará tanto quanto o faríeis ao abandonar uma casa velha sujeita a ruir a cada instante, por uma nova, tão sólida, que tempestade alguma poderia abalar.

  3. Em verdade vos digo: Todos os renascidos pelo Verbo e ação,

não sentirão a morte, tampouco pressenti-la-ão com pavor, quais cria- turas mundanas e certos animais; deixarão de livre vontade o seu corpo quando Eu os chamar à Minha Casa, para outro destino! Tereis com- preendido isto tudo?!”

  1. Respondem todos: “Sim, Senhor, nosso amor mais elevado! Tudo Te daremos em troca do Teu Amor e de Tua Graça tão infinita que nos cumulas!”

FinaldoQuartoVolume Amém

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