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O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO

Volume VIII

O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO — 11 volumes

Recebido pela Voz Interna por Jacob Lorber

Traduzido por Yolanda Linau

Revisado por Paulo G. Juergensen

Direitos de tradução reservados

CopyrightbyYolanda Linau

UNIÃO NEOTEOSÓFICA

www.neoteosofia.org.br

Edição 2015

ÍNDICE

  1. FARISEUS DISFARÇADOS PROCURAM LÁZARO 15

  2. PEDIDO DOS FARISEUS 18

  3. OS PRINCÍPIOS RELIGIOSOS DE UM FARISEU 20

  4. UM ESCRIBA SE REFERE À ORDEM DIVINA 22

  5. FALECIMENTO DE CRIANÇAS. O MESSIAS 24

  6. LÁZARO RELATA CASOS COM O SENHOR 25

  7. LÁZARO CRITICA A INDOLÊNCIA DOS FARISEUS 28

  8. RECEIOS DOS FARISEUS QUANTO AO SENHOR 30

  9. LÁZARO TESTEMUNHA A RESPEITO DO SENHOR 31

  10. RAPHAEL SE REVELA 33

  11. LÁZARO É ELOGIADO PELO SENHOR 35

  12. A MATÉRIA E SEUS PERIGOS 36

  13. PARECER DE AGRÍCOLA QUANTO À DOUTRINA DO SENHOR 39

  14. O DESTINO DA DOUTRINA 40

  15. FUTURA POVOAÇÃO DO ORBE. O PESO DA VELHICE 43

  16. ENCARNAÇÃO DE HABITANTES ESTELARES 45

  17. O TRATAMENTO DAS CRIATURAS, AQUI E NO ALÉM 47

  18. A PORTA DO CÉU E O REINO DE DEUS 48

  19. A IMPOTÊNCIA HUMANA 50

  20. AS LEIS DO SENHOR 53

  21. AGRÍCOLA PEDE CONSELHO PARA A EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE 56

  22. A ORDEM NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 57

  23. MEIOS DE SUPRESSÃO AO SACERDÓCIO PAGÃO 58

  24. A TRINDADE EM DEUS E NO HOMEM 61

  25. A ATIVIDADE DOS TRÊS CORPOS DO HOMEM 63

  26. A NATUREZA DE DEUS 66

  27. O SENHOR COMO FILHO 68

  28. O ESPAÇO INFINITO E A ETERNIDADE 70

  29. RELAÇÃO ENTRE OS SERES E A INTELIGÊNCIA UNIVERSAL 73

  30. A PREVISÃO DO FUTURO 75

  31. AGRIPPA RELATA A AVENTURA COM UM POSSESSO 77

  32. A OBSESSÃO 79

  33. LOCALIZAÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL 80

  34. A NATUREZA DE SATANÁS 82

  35. SATANÁS COMO PERSONALIDADE 85

  36. LOCALIDADE DOS DEMÔNIOS PERSONIFICADOS 87

  37. AS BASES DA CRIAÇÃO 88

  38. A PRECE PELOS DESENCARNADOS 91

  39. RUÍNAS MAL-ASSOMBRADAS 93

  40. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL DE PÃO E VINHO 95

  41. A POLIGAMIA 98

  42. A JUSTA PENITÊNCIA 100

  43. A ABSOLVIÇÃO 102

  44. OS ELEMENTOS DO AR 104

  45. AGRÍCOLA SE LEMBRA DE MARIA DE MAGDALA 107

  46. O JULGAMENTO DO PAGANISMO 108

  47. O FUTURO DE ROMA E DO ANTICRISTO 109

  48. O REINO DE MIL ANOS 111

  49. MISSÃO DOS FILHOS DE DEUS NO ALÉM. DURAÇÃO DO ORBE 112

  50. GRATIDÃO DOS ROMANOS A MARIA DE MAGDALA 114

  51. OS FUTUROS JULGAMENTOS 116

  52. MARIA DE MAGDALA E O SENHOR 117

  53. A VIAGEM PARA BETHÂNIA 118

  54. O COBIÇOSO PUBLICANO E O SENHOR. A FÉ ATIVA 120

  55. NAS PROPRIEDADES DE LÁZARO 122

  56. SITUAÇÃO ESPECIAL DA TERRA 123

  57. RELAÇÃO ENTRE MICRO E MACROCOSMO 124

  58. BOA COMPREENSÃO DO ROMANO COM RELAÇÃO AO ENSINAMENTO

DO SENHOR 127

  1. RELAÇÃO ENTRE NOSSO PLANETA E OS DEMAIS 128

  2. A IMPORTÂNCIA DE NOSSA TERRA 130

  3. DEVER PRINCIPAL DO HOMEM 132

  4. RETORNO DOS SETENTA DISCÍPULOS DO SENHOR 135

  5. UM ESCRIBA DESAFIA O SENHOR 137

  6. QUEIXA DOS ESCRIBAS 140

  7. HIPOCRISIA DOS ESCRIBAS 143

  8. A ABSOLVIÇÃO DOS PECADOS 144

  9. O SENHOR RESSUSCITA UM SERVENTE 146

  10. ACERCA DA EDUCAÇÃO 148

  11. HISTÓRICO DE NOSSO PLANETA 150

  12. CONTEÚDO CIENTÍFICO DOS 6° E 7° LIVROS DE MOYSÉS 151

  13. OS DOIS PRIMEIROS PERÍODOS DA FORMAÇÃO TELÚRICA 152

  14. A FORMAÇÃO DA TERRA ATÉ OS PRÉ-ADAMITAS 154

  15. OS DOIS ÚLTIMOS PERÍODOS EVOLUTIVOS DA TERRA 157

  16. EVOLUÇÃO PSÍQUICA DOS PRÉ-ADAMITAS 159

  17. OS ASTEROIDES 160

  18. OS HABITANTES DO PLANETA DESTRUÍDO 162

  19. A PARÁBOLA DO REINO DO CÉU 164

  20. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA 167

  21. É MELHOR FALAR E AGIR DO QUE ESCREVER. EVANGELHOS

GENUÍNOS E EVANGELHOS FALSOS 169

  1. A CONSAGRAÇÃO EM BETHÂNIA 172

  2. A MORTE DA CRIATURA 174

  3. A RAZÃO DO SOFRIMENTO ANTES DA MORTE 176

  4. FINALIDADE DA DECOMPOSIÇÃO LENTA DOS CORPOS 178

  5. CREMAÇÃO E EMBALSAMAMENTO 179

  6. O SENHOR E OS FARISEUS CONVERTIDOS 180

  7. TESTEMUNHO DO ROMANO MARCUS 183

  8. MOTIVOS DA ATIVIDADE DOS TEMPLÁRIOS 184

  9. CULTO E SACERDÓCIO 186

  10. SÁBADO E SACERDÓCIO 187

  11. A JUSTA CONSIDERAÇÃO DO SÁBADO 189

  12. UM ESCRIBA FAZ REFERÊNCIAS A MOYSÉS 190

  13. A INSTITUIÇÃO DO SÁBADO 192

  14. ALIMENTO PREFERIDO DO SENHOR 194

  15. O CÉU ESTELAR 196

  16. A FORÇA NAS COISAS MÍNIMAS 197

  17. A FORMAÇÃO DO VENTO 199

  18. A PESQUISA CIENTÍFICA 201

  19. VIGILÂNCIA DA ALMA 202

  20. PROFECIAS CUMPRIDAS E PROFECIAS NÃO CUMPRIDAS. O LIVRE

ARBÍTRIO HUMANO E A ONISCIÊNCIA DE DEUS 204

  1. HÁBITOS 206

  2. O BANDO DE GROUS 208

  3. SENTIDO ESPIRITUAL DO VOO DOS GROUS 210

  4. A CHEGADA DOS ROMANOS 213

  5. PARÁBOLA DO VIANDANTE FAMINTO 215

  6. A VIOLÊNCIA A SER APLICADA NA CONQUISTA DO CÉU 216

  7. O ALÉM 218

  8. UTILIDADE DAS MONTANHAS 220

  9. IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA DO SENHOR 222

  10. O SENHOR DEIXA BETHÂNIA 224

  11. LIBERTAÇÃO DE UM GRUPO DE JOVENS 226

  12. A CHEGADA AO ALBERGUE 228

  13. A CURA NO ALBERGUE 230

  14. O HOSPEDEIRO FALA DOS FARISEUS 230

  15. ACUSAÇÕES FEITAS A HERODES 231

  16. A CONDUTA DO POVO JUDAICO 234

  17. O CORONEL E O HOSPEDEIRO RECONHECEM O SENHOR 235

  18. O RELATO DO TAVOLEIRO 238

  19. O ALBERGUE DO JUDEU 239

  20. A CARIDADE 241

  21. O AMOR AO PRÓXIMO 242

  22. A ANTIGA CASA REAL 244

  23. O SENHOR EXPLICA O SALMO 247

  24. OBSERVAÇÕES HISTÓRICAS 249

  25. IRRITAÇÃO DOS DISCÍPULOS DE JOÃO 250

  26. PEDIDO DOS ADEPTOS DE JOÃO BAPTISTA 252

  27. O CAPITÃO DE BELÉM PROCURA O SENHOR 254

  28. PONDERAÇÕES DO CAPITÃO 256

  29. RELAÇÃO ENTRE DEUS E A CRIATURA 257

  30. A IMORTALIDADE DA ALMA 259

  31. VOLTA A BETHÂNIA 261

  32. A PERSONALIDADE DE RAPHAEL 262

  33. INVOCAÇÃO DE ALMAS DESENCARNADAS 265

  34. EXPERIÊNCIAS ESPÍRITAS DO MILITAR 266

  35. UM SONHO DO ROMANO 267

  36. NATUREZA DO SONHO 268

  37. GRAUS SUPERIORES DA VISÃO 270

  38. RAPHAEL SE CONFESSA ESPÍRITO 272

  39. A NATUREZA DO SENHOR 274

  40. O TEMPORAL E SUA FINALIDADE 276

  41. MOTIVO DA CRIAÇÃO 278

  42. EFEITOS DA TEMPESTADE 280

  43. CAUSA E EFEITO DO TEMPORAL 282

  44. A ELETRICIDADE 284

  45. CAUSA DOS FENÔMENOS METEOROLÓGICOS 286

  46. FENÔMENOS ELÉTRICOS 288

  47. ÍNDOLE DE RAPHAEL 290

  48. NEVE E GELO 291

  49. AGRÍCOLA LEMBRA A PARTIDA 293

  50. O DESTINO DO SENHOR 294

  51. O CAMINHO DA UNIÃO COM O ESPÍRITO 296

  52. AJUDA DO SENHOR NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 298

  53. A ORDEM DIVINA NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 300

  54. O SENHOR DÁ DIRETRIZES AOS ROMANOS 303

  55. O EMPREGO DA FORÇA MILAGROSA 305

  56. OS ESSÊNIOS SE QUEIXAM AO SENHOR 307

  57. CONSELHO DO SENHOR AOS ESSÊNIOS 308

  58. A CARAVANA DE DAMASCO 310

  59. A DESPEDIDA DA CASA DE LÁZARO 312

  60. NA ESTRADA DA HOSPEDARIA 314

  61. O CULTO A DEUS E A PRECE EFICAZ 317

  62. A PARÁBOLA DO JUIZ E DA VIÚVA 319

  63. A ORDEM NA DOMÉSTICA DIVINA 321

  64. A VOLTA DO SENHOR 323

  65. DIANTE DO ALBERGUE DE UM PUBLICANO 325

  66. UMA CURA NO HOSPITAL DO PUBLICANO 327

  67. O SENHOR E O RICO REITOR 329

  68. O PRÊMIO DOS DISCÍPULOS 332

  69. OS DISCÍPULOS E O CEGO A CAMINHO DE JERICÓ 333

  70. O SENHOR NO ALBERGUE EM JERICÓ 335

  71. O HOSPEDEIRO PROCURA O SENHOR 336

  72. O FILHO ESQUECIDO DO HOSPEDEIRO 337

  73. A CHEGADA DE KADO 339

  74. O REI ABGARUS DE EDESSA 341

  75. A CEIA 342

  76. FINALIDADE DAS CERIMÔNIAS 344

  77. A VERDADE 347

  78. O ESTRANHO FENÔMENO NA ILHA DE PATHMOS 349

  79. A SEGUNDA APARIÇÃO DA NUVEM 352

  80. O SONHO DO SACERDOTE DA ALDEIA 353

  81. A TERCEIRA APARIÇÃO DA NUVEM 355

  82. OPINIÕES FILOSÓFICAS 356

  83. PREVISÕES 358

  84. LIBERTAÇÃO DA MATÉRIA 360

  85. RELAÇÃO ESPIRITUAL ENTRE EPICURISTAS E CÍNICOS 361

  86. PRIMEIRO E SEGUNDO FOGO PURIFICADOR 363

  87. TERCEIRO E QUARTO FOGO DE PURIFICAÇÃO 364

  88. CONDIÇÕES PARA A VOLTA DO SENHOR 366

  89. O SENHOR E OS SEUS NO MONTE ARALOTH 367

  90. A ANTIGA JERICÓ 369

  91. FINALIDADE DA ORDEM EM A NATUREZA 372

  92. PROVA DE VOO 374

  93. NO ALBERGUE EM ESSEIA 377

  94. O RIGOR DO SENHOR 379

  95. O VERDADEIRO PERDÃO 381

  96. O PEDIDO DO ÁRABE 384

  97. AS REVELAÇÕES DE DEUS ENTRE OS POVOS 385

  98. A CONSERVAÇÃO DE FERIADOS. CONJECTURAS DOS DISCÍPULOS

COM REFERÊNCIA AOS ESSÊNIOS 387

  1. O SENHOR E OS LADRÕES 389

  2. UTILIDADE DAS VIAGENS 391

  3. ORIENTAÇÃO AOS DOUTRINADORES 394

  4. AS CURAS DO CHEFE ESSÊNIO 396

  5. A CURA DOS POBRES 399

  6. A EXPERIÊNCIA DOS RICOS 400

  7. ROKLUS E OS RICOS 403

  8. A JUSTA ADORAÇÃO A DEUS 404

  9. A EXIGÊNCIA DO SENHOR 406

  10. OS DOIS ORGULHOSOS FARISEUS EM ESSEIA 408

  11. ROKLUS E OS DOIS TEMPLÁRIOS 411

  12. ROKLUS REVELA AS INTENÇÕES DOS FARISEUS 412

  13. ROKLUS CURA OS ENFERMOS 415

  14. ROKLUS E OS SALTEADORES 417

  15. O MILAGRE DO SENHOR 419

  16. A MULHER DO HOSPEDEIRO 421

  17. O MAIOR MILAGRE DO SENHOR: SEU VERBO 424

  18. O HOSPEDEIRO SUPERSTICIOSO 425

  19. O ALBERGUE PARA POBRES 428

  20. OS MILAGRES À ENTRADA DE ESSEIA 430

  21. OS AUXILIARES ESSÊNIOS 433

  22. O INSTITUTO ESSÊNIO 435

  23. O SENHOR SE DESPEDE DOS ESSÊNIOS 438

S

eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhecem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele

sempre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta. Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim, e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão durante os anos de 1840 a 1864 a um homem simples chamado Jacob Lorber. A Obra Principal, a coroação de todas as demais, é “O Grande Evangelho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa e sua Doutrina de Amor e de Fé! A Criação surge diante dos nossos olhos como um acontecimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compreensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Semelhante, sendo na Alemanhaconsiderada“ObraCultural”.

ObrasdaNova Revelação

O Grande Evangelho de João – 11 volumes A Criação de Deus – 3 volumes

A Infância de Jesus

O Menino Jesus no Templo

O Decálogo (Os Dez Mandamentos de Deus) Bispo Martim

Roberto Blum – 2 volumes A Terra e a Lua

A Mosca

Sexta-Feira da Paixão e À Caminho de Emaús Os Sete Sacramentos e Prédicas de Advertência Correspondência entre Jesus e Abgarus Explicações de Textos da Escritura Sagrada Palavras do Verbo

(incluindo:ARedençãoeEpístoladePauloàComunidadeem Laodiceia)

Mensagens do Pai

As Sete Palavras de Jesus na Cruz (incluindo:ORessurrectoeJudasIscariotes)Prédicas do Senhor

OSENHOREOS ADVERSÁRIOS

Evangelho de João Cap. 9 (continuação)

    1. FARISEUSDISFARÇADOSPROCURAM LÁZARO

  1. Nem bem termino de falar, um empregado de Lázaro entra no refeitório e lhe transmite a chegada de vários forasteiros à procura do proprietário do albergue; Lázaro se dirige a Mim para saber qual a atitude a tomar.

  2. Respondo: “Por ora, ficas aqui; Raphael e os sete egípcios irão lá fora para encetar uma pequena controvérsia com os fariseus e escribas ladinos. Já sabem como agir!”

  3. Prontamente o arcanjo se dirige àqueles e indaga com severi- dade qual seu desejo. Um templário sumamente hipócrita diz: “Meu jovem, de aparente boa família, acaso és delegado de Lázaro, com o qual apenas desejamos falar? Que hábito estranho mandar-se um rapazola dirigir-se a visitantes! Dize-lhe ser nosso posto muito mais elevado que o dele em Jerusalém e demais países judaicos!”

  4. Diz Raphael: “Pretendendo serdes tão importantes, admiro-

-me de vosso disfarce na escuridão da noite para subirdes ao monte por vós difamado! Porventura não consta em vossa maldição: O ju- deu que pisar esse monte, de dia ou à noite, será amaldiçoado física e espiritualmente? Como, pois, quereis falar ao herege Lázaro?”

  1. Responde o fariseu: “Que entendes tu a respeito?! Se temos o po- der de Deus de excomungar um local, assiste-nos, igualmente, o mesmo para sustar a proscrição a nosso favor; estamos acima da lei, entendeste?”

  1. Responde Raphael: “Julgando-vos acima da Lei de Deus, sois evidentemente mais que Ele! Deus mesmo Se submete às Suas Leis de Ordem eterna, jamais as infringe e tampouco revoga qualquer Lei — caso quisesse agir contra a mesma.

  2. Se vos julgais suficientemente capazes para tanto, estais aci- ma de Deus; pois Ele Mesmo, a Lei Original, existe e age dentro da mesma, portanto Se submete a ela. Se Ele a considera rigorosa- mente, quem vos deu o direito de elevar-vos acima da Lei e usardes disfarce, para que ninguém vos veja quando agis contra a mesma? Pretendendo, porém, ser senhores da mesma — por que o temor do povo quando infringis a Lei?!”

  3. Irritado, o fariseu responde: “Que entendes tu, rapazola, de assuntos elevados, sobre os quais somente os sacerdotes têm direito de ajuizar?”

  4. Retruca Raphael: “Neste caso, por que Samuel, ainda meni- no, teve direito de falar a Deus e opinar acerca de assuntos divinos?”

  5. Diz o fariseu: “Como te atreves a comparar-te a Samuel?”

  6. Responde o arcanjo: “E como vos arrogais elevar-vos a Deus e Suas Leis? Quem vos deu direito para tal? Realmente, assiste-me direito mil vezes maior em comparar-me a Samuel, do que vós ele- var-vos a Deus e Suas Leis! Estou cansado de vossa tolice! Dizei-me o que vos trouxe aqui, do contrário ireis conhecer-me de perto e percebereis por que me comparo a Samuel!”

  7. Responde o fariseu: “Isto é um segredo que só podemos transmitir a Lázaro; chama-o aqui, para não sermos obrigados a for- çar a entrada em sua casa! Nosso assunto não te interessa, ainda que fosses dez vezes mais que Samuel!”

  8. Contesta o arcanjo: “O quê? Um segredo?! Como pode ser segredo o que todo mundo sabe?! Eu vo-lo direi, para verdes que vosso segredo de há muito não o é.

  9. Resolvestes no Alto Conselho averiguar se Lázaro aqui está presente para informar-vos do paradeiro do profeta tão odiado por vós e, caso Lázaro aqui não estivesse, subornar o hospedeiro ou ou- tro empregado qualquer para vos dar orientação a respeito. Uma vez

informados, enviaríeis todos os esbirros ainda fiéis para capturar e matar o dito profeta. Eis vosso segredo, do qual nós, principalmente eu, maior amigo do sublime Profeta, estamos informados! Respon- dei se assim não é!”

  1. De olhos esbugalhados, o fariseu fita Raphael; depois de al- gum tempo, diz: “Quem te dá direito de desconfiar de nós? Ignoras se somos judeus e membros do Templo e, além disto, te asseguramos nada sabermos do teu profeta! Durante a viagem ouvimos certos bo- atos de um grande mago, e não nos interessa ser amigo ou inimigo dos sacerdotes. Somos comerciantes e não nos preocupamos com ninharias!”

  2. Diz Raphael: “Prevendo o perigo, pretendeis negar vossa profissão; isto não será possível diante de mim e de meus compa- nheiros. A fim de que o possais compreender melhor, tomarei a li- berdade de tirar vossas túnicas gregas, apresentando-vos em vestes templárias!”

  3. Instintivamente, os fariseus agarram as túnicas — mas em vão; pois Raphael dá ordem pela vontade e eles se apresentam quais sacerdotes, fazendo menção de fugir. De um salto, os egípcios os enfrentam, ordenando-lhes a não darem um passo, e, se desobede- cessem, passariam mal.

  4. A fim de impressionar mais, eles apontam três grandes leões que se encontravam mais abaixo. Isso produz efeito e os dez fariseus começam a pedir perdão a Raphael, confessando os planos que os trouxeram ao Monte das Oliveiras.

  5. Estão de tal modo apavorados, que Raphael lhes diz: “Quem, entre todas as criaturas, seria pior que vós? Quereis ser ser- vos de Deus, todavia o sois do inferno! Qual foi o demônio que vos gerou?! O grande Mestre de Nazareth demonstrou e provou, por Palavras e Ações, ser Ele o Messias Prometido e, como Tal, Senhor Único de Céus e Terra — conforme predisseram os profetas — e vós não acreditais, mas O perseguis com toda fúria! Tolos! Impotentes! Como pretendeis reagir contra o Poder do Onipotente, que vos po- deria exterminar ou atirar vossas almas ao inferno merecido?!”

  1. Responde um outro: “Jovem e sábio orador, pedimos-te livre partida para a cidade e te damos plena segurança que jamais participa- remos da perseguição ao milagroso profeta da Galileia! Empenharemos todos os esforços para dissuadir os colegas, conquanto não possamos garantir o êxito. Convencemo-nos, pessoalmente, ser a perseguição ao galileu a maior das tolices, que apenas nos levaria à desgraça!”

  2. Diz Raphael: “Pois bem, podeis seguir sem impedimento; mas ai de vós, caso não cumprais vossa palavra! Guardai bem que Poder, Sabedoria, Onisciência e Rigor de Deus são infinitos, sendo impossível ao mortal cruzar os seus Caminhos! Compreendendo se- rem as Ações do Ungido de Deus apenas Obras Divinas, é lógico estar Deus Mesmo estreitamente unido a Ele, de sorte a ser suma- mente tola qualquer reação contra as Determinações Divinas!

  3. Transmiti isto aos colegas ignorantes e maus! Podem levar sua raiva contra Ele a ponto de exterminarem Sua Vida Física, pela Permissão Dele; com isto precipitariam o julgamento sobre si mes- mos e Jerusalém. Ele — a Própria Vida — não morrerá, mas viverá eternamente para julgar os povos da Terra. Feliz daquele que Nele crê, procurando apenas Seu Agrado e Amizade! Sabeis o que fazer e, querendo, podeis partir; desejando, porventura, trocar algumas palavras com Lázaro, dou-vos permissão para tal.”

  4. Diz um fariseu: “Assim desejava, mas num assunto diver- so!” Dirigindo-Me a Lázaro, no refeitório, digo: “Agora podes trocar umas boas palavras com os fariseus amedrontados; nada digas de Minha Presença!”

2.PEDIDODOS FARISEUS

  1. Lázaro se dirige aos templários e pergunta o que desejam. Um deles diz: “Aqui vimos por influência de um mau espírito, de sorte a não ser bom o assunto que desejávamos abordar contigo; todavia, fomos tocados pela palavra desse jovem sumamente inteli- gente e pelo estranho poder daqueles homens. Por isto, desistimos de nosso plano nefasto.

  1. Pedimos com sinceridade permissão para visitar-te em Be- thânia, porque desejamos falar a sós contigo. Além disto, rogamos a devida proteção para voltarmos à cidade, em virtude dos leões obedientes àqueles homens.”

  2. Diz Lázaro: “Se vossa intenção corresponde às vossas pala- vras, e prometendo reparar o dano aplicado a viúvas, órfãos e pobres, na medida do possível, podereis passar perto das feras sem que vos deem atenção; vosso íntimo não estando de acordo com as palavras, será perigoso aproximar-vos! Será igualmente difícil penetrardes em minha casa, não modificando vossa índole; pois lá existem vigias semelhantes a esses!”

  3. Responde o orador do Templo: “Podes crer em nossa hones- tidade e na resolução em reparar qualquer prejuízo, entretanto não temos coragem de passar perto dos leões. Dá-nos proteção segura!”

  4. Diz Lázaro: “Os sete egípcios vos conduzirão incólumes! Dese- java uma informação: Qual o motivo de não acreditardes em Jesus de Nazareth e ser Ele o Messias Prometido? Conheceis a Escritura, ouvis- tes Seus Ensinamentos e assististes aos Seus Milagres! Como é possível serdes tão obtusos? Milhares de judeus acreditam Nele e muitos pa- gãos vêm de todos os cantos da Terra, curvam-se diante Dele, aceitam o Seu Verbo e creem em Sua Divindade; somente vós, incumbidos de dar o melhor exemplo perante o povo, opondes resistência.

  5. O Senhor encarnou nesta Terra de acordo com o que Ele Mesmo predisse pelos profetas e realiza as obras que foram con- tadas há séculos pelos visionários, entretanto não Lhe dais crédi- to! Por quê?”

  6. Responde o fariseu: “Amigo, isto discutiremos com calma em Bethânia, aqui só posso dizer ser difícil a alguém manter-se no Tem- plo. É-se sacerdote, mas sem direitos humanitários. Um é inimigo do outro e procura prejudicá-lo em benefício próprio, a ponto de se ver obrigado a uivar com as hienas, para não ser estraçalhado. Não levará tempo e esse sistema templário será transformado! Sa- bes como pensamos a respeito; tem, pois, a bondade de nos fazer acompanhar!”

  1. Vira-se Raphael para eles: “Por que tamanha pressa em che- gar à cidade? Crendo sinceramente no Messias, aqui estais mais se- guros que na metrópole. Viestes como Seus inimigos; por que não procurais informar-vos Dele como amigos, demonstrando-Lhe vos- sa transformação?”

  2. Responde ele: “Jovem sábio, se assim fizéssemos, podería- mos dar impressão de querer descobrir o Messias. Não nos inte- ressa! Nada temos contra ele; apresentar-nos como simpatizantes, achamos indigno. Queremos voltar para determinar nossa futura conduta, a fim de aderirmos integralmente a ele. Além disto, temos que informar o Templo do insucesso da empresa, evitando o envio de outros. Eis os motivos por que desejamos voltar quanto antes!”

  3. Diz Raphael: “Asseguro-vos que o Templo espera vossas no- tícias para amanhã; portanto, não enviará outros emissários. Láza- ro tem acomodações de sobra, onde podereis palestrar à vontade e também não faltam alimento e vinho. Aconselho-vos ficardes até a meia-noite, para então descerdes protegidos. Se ainda assim qui- serdes seguir, não vos impediremos! Os leões não estão aí e naquela tenda se acham vossas túnicas gregas! Fazei o que vos agrade!”

3.OSPRINCÍPIOSRELIGIOSOSDEUM FARISEU

  1. A esse convite de Raphael, os fariseus não se decidem. Final- mente, um deles diz: “Sinto ter o jovem falado a verdade e opino ficarmos até a noite, caso Lázaro nos ofereça um canto para resolver- mos nosso problema.”

  2. Todos concordam e são levados a uma sala confortável. Láza- ro manda servir um bom jantar, do agrado de todos. Um ancião, bastante culto, diz então: “Tão bem tratados estamos, que vos con- vido a ficar até amanhã, pois desejo transmitir-vos algumas palavras, o que não é possível dentro do Templo.

  3. É estranha a existência da criatura! Cultiva a Terra qual deus mortal, dando-lhe cunho harmonioso, todavia nada mais é que mi- serável animal, pois sabe que algum dia terá que morrer, enquan-

to o irracional nada disto pressente. Por tal motivo, o homem age bem quando procura distração a fim de afugentar os pensamen- tos da morte.

  1. O poder que criou o homem não pode ser bom e sábio, porquanto projeta obras artísticas a fim de destruí-las quando tiver alcançado sua máxima perfeição, para em seguida reiniciar sua tarefa.

  2. Quem isto considerou concluirá que Deus não é perfeita- mente bom e justo, pois não cuida da subsistência de sua criação! Basta o homem atingir maior capacidade intelectual, e suas forças físicas diminuem até que dê o último suspiro.

  3. Em nossa religião afirma-se existir um corpo espiritual den- tro do físico, que continuará vivo após o desprendimento. De que adianta uma crença para a qual ninguém tem provas?!

  4. Quantos patriarcas, sábios e profetas viveram dentro das Leis, adoravam e amavam a Deus acima de tudo e também acreditavam na Vida eterna após a morte! Finalmente, tiveram que deixar a vida e nada nos resta deles, senão seus nomes e ensinos. Onde ficaram suas almas?

  5. Quem de nós teria visto ou falado a uma alma?! Talvez em sonho ou no delírio. Existem os que o afirmam; são geralmente isen- tos de conhecimentos gerais e capacidade de critério, e agrada-lhes relatar fatos sobrenaturais para causarem impressão de místicos.

  6. Devemos confessar a existência de outros que operam mila- gres para provar suas afirmações, como ora acontece com o pecu- liar profeta de Nazareth. Doutrina o povo e garante a vida eterna a quem nele crer.

  7. Isso não deixa de ser louvável, porque produz certo confor- to, tirando o pavor da morte. Todos os profetas assim agiam e milha- res selaram sua fé com o martírio. O tempo apagou suas existências, nada mais ficando que recordação.

  8. Por que não veio a alma de Elias, Daniel ou Isaías? Assim como desapareceram, nós desapareceremos, inclusive o célebre pro- feta que dizem ressuscitar mortos. Ainda que a crença perdure por

alguns séculos, com aditamentos e deturpações, a convicção real será a mesma que a nossa da sobrevivência da alma.

  1. Esta seria realmente algo maravilhoso e o homem tudo faria para garanti-la, caso conseguisse provas cabais; essas faltando, não é de se admirar o esfriamento da fé firme dos patriarcas.

  2. Quais seriam os intelectuais que hoje em dia visitam o Tem- plo com fé? Ali vão apenas para que o povo lhes siga o exemplo. Por isto, não sou adversário do célebre Galileu, porque entusiasma as criaturas pela vida após a morte, dando-lhes o consolo necessário; não me agrada ele nos declarar os maiores traidores do povo e, no entanto, faz ele o mesmo que nós. Que fale a verdade como eu, e duvido ter ele tantos prosélitos! Eis minha convicção e confissão diante de vós, colegas, que no fundo pensais como eu. Estou certo?”

4.UMESCRIBASEREFEREÀORDEM DIVINA

  1. Obsta um outro escriba: “De modo geral, concordo contigo; entretanto, não posso aceitar tua opinião como verdade íntegra. É difícil crer que Deus, Criador de Céus e Terra, tenha criado os ho- mens — obra mais perfeita de Sua Sabedoria e Onipotência — sim- plesmente para bonecos perecíveis!

  2. O motivo de ser curta sua existência deve se basear no desen- volvimento da alma para conseguir certa firmeza, a fim de subsistir num outro mundo, sem dúvida infinito.

  3. Se o homem fosse destinado a viver apenas para esta Ter- ra, imensa, porém limitada, o planeta se tornaria pequenino com o constante aumento dos habitantes, haja vista consistir na maior parte de água; seria preciso Deus fazer as criaturas se tornarem es- téreis e impedir sua decrepitude, para poderem subsistir com forças normais, cultivando o solo terráqueo.

  4. É fácil deduzir-se produzir tal vida monótona cansaço geral, pois a experiência nos ensina o desejo de mudança em situações uni- formes, e o homem mais engenhoso haveria de chegar a um ponto final após mil anos de variedades agradáveis.

  1. Dessa conclusão importante, deduzimos ter a Sabedoria Di- vina criado os seres para uma vida mais elevada e livre, e não para um mundo restrito que serve apenas para o primeiro grau de educa- ção, sem contudo proporcionar-lhe subsistência eterna.

  2. Esse e mais outros motivos me levam a acreditar na imorta- lidade da alma, porquanto seu extermínio demonstraria ser Deus inepto e tolo, quando Sua Sabedoria e Poder irradiam em todas as Suas Obras.

  3. Impossível um homem inteligente afirmar a projeção de seres humanos através de uma força cega e inconsciente. Ninguém poderá dar o que não possui. Imaginai um tolo, mal sabendo se expressar, querer ser professor de línguas. Por isto, deve existir um Deus mui Sábio e Poderoso, Autor de todas as forças intelectivas.

  4. Deus, sendo Sábio e Onipotente, é igualmente Bom e Justo, e Seus Planos para com as criaturas devem ser bons e justos; transmi- tiu pelos profetas o que deveriam fazer para gozarem na Terra uma existência feliz, a fim de se prepararem à bem-aventurança eterna!

  5. Nunca observei ter Deus imposto sofrimentos ao homem, geralmente culpado de sua desgraça; não respeita a Vontade Divina, contraindo sérias moléstias que lhe entristecem a vida.

  6. Acaso seriam disto culpadas Sabedoria e Bondade de Deus? Se assim fosse, as criaturas honradas, sempre cumpridoras das Leis Divinas, teriam que suportar moléstias graves, assim como acontece às que sempre levaram vida indigna. Até hoje me convenci da longe- vidade das que aplicavam a Ordem Divina.

  7. Existem casos excepcionais, em que os homens justos e bons deixaram o mundo por meios violentos como prova maior de paciência, a fim de atingirem firmeza mais sólida no Além. Ou en- tão, pode o homem que na idade avançada se tenha tornado beato e justo ter prejudicado a saúde quando moço através de pecados vários, fazendo que se tornem amargas as últimas horas de sua exis- tência. Certo é que quem sempre viveu dentro da Ordem Divina terá desprendimento suave. Eis minha confissão, respeitada até o túmulo; podeis crer e fazer o que vos agrade!”

5.FALECIMENTODECRIANÇAS.O MESSIAS

  1. Responde o primeiro orador: “Nada consigo contrapor, exce- to que esqueceste de nos informar o porquê da morte prematura de crianças ao lado da Sabedoria, Bondade e Justiça de Deus.

  2. Segundo teu critério, destina-se o homem à consolidação e emancipação de sua alma nesta Terra, o que declararam todos os profetas e patriarcas. Mas qual o destino de crianças que, em virtude de uma existência nem ordenada, nem desequilibrada, não podem ser chamadas à responsabilidade? Porventura morre a alma infantil com o corpo?”

  3. Diz o primeiro orador: “Na era primitiva da Humanidade, não houve morte de crianças, pois esta foi sempre causada pelos pe- cados dos pais, culpados consciente ou inconscientemente da perda dos filhos. Deus, em Sua Infinita Sabedoria, cuidará de suas almas inocentes, e no Além terão oportunidade de recuperar a perda.

  4. Seria esta Terra o único mundo habitável? Grandes sábios da era primitiva e o próprio Moysés nos dois Livros finais — ainda em nosso poder, sem que lhes déssemos crédito — demonstraram serem Sol, Lua e estrelas, mundos maiores que o nosso. Assim sendo, será fácil para a Sabedoria e o Poder de Deus determinarem outro mundo de experiência para almas infantis, onde possam atingir sua perfeição.

  5. Seria possível duvidar-se de outras escolas planetárias no Es- paço infinito, se as criaturas nesta Terra criam vários institutos de educação para os filhos? Por que não admitir-se tal hipótese ao Deus Onipotente?

  6. Os patriarcas, ainda mais unidos aos Céus do que nós, sa- biam que assim é; através da tendência materialista, perdemos tudo que vinha do espírito. Tal é minha opinião como homem material; é claro não poder me expressar dessa forma dentro do Templo!”

  7. Retruca o primeiro escriba: “Estou contente por teres mo- dificado minha compreensão. Não devemos esquecer o problema mor, isto é, o estranho profeta da Galileia. De saída, afirmei os dons especiais de certas criaturas, como ficou provado por ele.

  1. Todavia, assistimos a um milagre com o súbito desapareci- mento de nossas túnicas e o surgir dos três leões! Qualquer pessoa poderia afirmar a ação do Messias, só porque consegue operar mila- gres como os essênios! Como ajuizar a respeito?”

  2. Responde o outro: “Minha opinião, até agora não externada por motivos concludentes, é a seguinte: Conheço ensinos e ações do Galileu. É, na acepção da palavra, puro judeu dentro das Leis Mo- saicas. Sabemos como o profeta é por nós considerado no Templo, fato conhecido pelo Galileu, do contrário não teria se expressado tão severamente a respeito. Além disto, operou verdadeiro milagre em um cego de nascença, fato inédito até hoje, e aconselho deixarmos de reagir contra ele. Se finalmente for o que diz de si mesmo, nada poderemos fazer; não o sendo, sua ação contra nós será nula, não obstante todos os milagres!

  3. É melhor analisarmos secretamente todos os seus ensinos e atos; descobrindo sua origem divina, acreditaremos. Esta expectativa não se cumprindo, continuaremos o que somos, entregando o resto a Deus!”

  4. Após tal discurso, aceito por todos, Lázaro os procura com Minha Ordem, ciente do que haviam falado, pois Eu lhe havia contado tudo.

6.LÁZARORELATACASOSCOMO SENHOR

  1. Os fariseus expressam satisfação com a inesperada chegada de Lázaro, ao que ele responde: “Agrada-me vosso bom ânimo em local por vós amaldiçoado, e presumo não fazerdes uso da difamação após vossa palestra particular.”

  2. Diz o primeiro orador: “Certo que não; mas como podias ouvir o que conversamos de portas fechadas? Qual foi nosso assun- to, pois, do contrário, somos obrigados a crer em pilhérias!”

  3. Lázaro relata, palavras por palavra, o debate havido entre eles, levando o primeiro fariseu a exclamar: “Mas..., como foi possível?”

  4. Diz Lázaro: “Tu mesmo afirmaste haver criaturas dotadas de capacidades estranhas! Por que não aceitais tal hipótese em minha

pessoa? Posso acrescentar algo muito mais importante, quer dizer, estaríeis bem próximos do Reino de Deus, não fora a má esfera do Templo. Concordo em todos os pontos debatidos entre vós!”

  1. Diz o outro: “Caro amigo, explica-te melhor! Como pode- mos estar perto do Reino de Deus? Estaremos para morrer? Acaso puseste veneno no vinho?”

  2. Responde ele: “Como é possível pensardes tamanho absur- do?! Tereis que viver por muito tempo! Aproximastes-vos do Reino de Deus pelo conhecimento e a fé, jamais pela vida física!”

  3. Indaga o primeiro: “Como interpretas o Reino de Deus?”

  4. Diz Lázaro: “Nada mais é que o justo conhecimento de Deus em vossa alma! Se, além disto, aceitásseis Deus como realmente é — mas até hoje por vós foi perseguido — estaríeis inteiramente no Seu Reino! Entendestes?”

  5. Retruca o primeiro: “Foi bom tocares neste ponto! Há tempos sabemos de tua simpatia para com o estranho galileu e seria oportuno esclarecer-nos a seu respeito; não seu paradeiro, porquanto não faremos uso da informação, mas por nossa pró- pria causa!”

  6. Responde Lázaro: “Sabeis, tanto quanto eu, como e onde Ele nasceu e os milagres ocorridos naquele dia; ter Herodes man- dado assassinar grande número de crianças, de um a dois anos, em virtude de terem os magos do Oriente anunciado o nascimento de um rei dos judeus em Belém. Ignorais, todavia, não ter Ele caído nas mãos criminosas de Herodes, pois conseguiu fugir para o Egito por intermédio do Capitão Cornélius e só depois de três anos, quando Herodes faleceu devorado por vermes, voltou para a zona de Naza- reth, onde cresceu na solidão e sem ensino especial.

  7. Aos doze anos, dirigiu-Se com os pais para o exame pres- crito aos meninos em Jerusalém; ficou três dias no Templo, onde causou a maior admiração entre os doutores, em virtude de suas perguntas e respostas, fato contado por meu pai, que pagou a taxa adicional. Essa ocorrência deve ser lembrada por vós, se bem que ignorais Sua fuga para o Egito, voltando após três anos.

  1. É Ele justamente o Mesmo que ora opera obras tão gran- diosas pelo Poder Divino de Sua Vontade e Palavra; portanto, estais orientados genealogicamente sobre Quem é o especial Galileu, a fim de poderdes formar conceito mais favorável de Sua Pessoa. De modo geral sabeis de Seus Feitos, julgando ser grande parte lenda e exagero popular, no que cometeis grave erro!

  2. Sabeis não ser eu inclinado a comprar gato por lebre, razão por que me informei minuciosamente de Sua Índole. Nunca achei algo suspeito, conforme sucede com magos e feiticeiros! Seus Ensi- nos são idênticos aos dos profetas, opera milagres apenas quando necessários e sem receber remuneração. Em suma, externa a Palavra Divina, a Sabedoria de Deus e Suas Obras, impossíveis aos mortais!

  3. Quando, há mais de meio ano, fui a Belém com Ele e Seus apóstolos, encontramos, às portas da antiga cidade de David, grande número de mendigos, porquanto era dia de festa. Esses pobres de ambos os sexos pediam esmola em altos brados; mais fortemente gri- tavam os mutilados de pés e mãos, e eu me prontificara a ajudá-los.

  4. Ele me fez ver que para tal ainda havia tempo, perguntando se não prefeririam trabalhar para o seu sustento, caso adquirissem saúde plena. Todos responderam querer trabalhar dia e noite, em vez de implorar a caridade alheia. Ele, então, exclamou: Levantai-vos e caminhai! Em seguida procurai serviço! — Eu contratei todos para meu serviço e dei-lhes ajuda monetária.

  5. Quando se foi testemunha dessa e de outras ações, das quais não se pode afirmar que fossem menos grandiosas do que as precedentes, assistindo-se como à Sua Vontade obedecem animais, elementos, Sol, Lua e estrelas, e Ele afirmando: Eu e o Pai no Céu somos Um! Quem vir a Mim verá o Pai! Quem crer em Mim terá a Vida Eterna, pois Eu Mesmo sou o Caminho, a Verdade e a Vida

  1. Eu creio indubitavelmente Nele e o confesso perante o mun- do, por ter meus motivos concludentes. Em poucas palavras vos disse o mais importante e compete-vos julgar vossa própria crença e fé!”

7.LÁZAROCRITICAAINDOLÊNCIADOS FARISEUS

  1. Diz o segundo, bom orador: “Amigo, tens razão; e, se eu es- tivesse no teu lugar, faria o mesmo. Assim, só posso guardar minha própria convicção, porquanto é impossível nadar-se contra a maré. És rico e, como cidadão romano, inteiramente livre, podendo fazer o Bem quando quiseres. Conheces a situação dos templários; inti- mamente podemos ser amigos da Verdade — em público, obrigam-

-nos a mentir.

  1. Participo de tua fé, pela qual tenho provas de toda espécie; só posso abster-me no Alto Conselho de externar qualquer opinião e procurar dissuadi-lo da perseguição. E tal atitude não pode ser condenável.”

  2. Responde Lázaro: “Quem tiver a convicção de uma Verdade tão imensa e luminosa, entretanto não se atrever a expressar-se fa- voravelmente, seja qual for a profissão, pode ser comparado ao que não é quente, nem frio. Eu sendo obrigado a afirmar: ‘Eis o Próprio Senhor, por cujo Amor, Graça e Vontade eu vivo! É Ele tudo para mim, e o Templo — nada! Cumpriu Sua Promessa; Ele, que no Sinai deu as Leis a Moysés e aos patriarcas, está em Pessoa diante de nós.’ Como é possível manifestares indolência em assunto de tama- nha importância?!

  3. Em vosso lugar, não hesitaria em reaver minha fortuna e me tornaria discípulo do Senhor. Grandes lucros não podeis espe- rar do Templo, porquanto as oferendas diminuem de ano para ano. Além disto, vos encontrais no declínio da vida, e segundo me parece não tendes orientação do Além! O Senhor, atualmente Encarna- do, poderia esclarecer-vos, dando-vos a maior Graça em vida! Que vos parece?”

  4. Diz o primeiro orador: “Falaste bem e admitimos a Verdade quanto ao Galileu; entretanto, é preciso estudar um meio de romper a ligação com o sinédrio sem provocar alarde. Não fôssemos anciãos, poderíamos nos afastar sob qualquer pretexto, digamos, como mis- sionários para converter pagãos.

  1. Caso requerêssemos aposentadoria mediante depósito da dé- cima parte da fortuna, haveríamos de prejudicar, em vez de bene- ficiar a causa do Galileu; nossos postos seriam imediatamente pre- enchidos por outros interessados. Estes enfrentariam o profeta de modo mil vezes mais raivoso que nós, sabedores de Sua Identidade.

  2. Poderíamos agir em favor dele e afastar certas dificuldades em sua missão através da nossa influência e, em tempo oportuno, demonstraríamos quem é realmente o Galileu, sendo loucura querer desafiar um homem cuja vontade é capaz de destruir o mundo.

  3. Pormenorizando tal situação, o sumo sacerdote esfriará seu zelo selvagem, enquanto procuraríamos uma oportunidade para um encontro com o Galileu como amigos e adeptos. Achas meu parecer aceitável?”

  4. Responde Lázaro: “Sim; todavia, não terá grande utilidade para vós. Vossos planos em benefício Dele têm aspecto humano; considerando ser Ele — a Quem chamais de célebre Galileu — o Próprio Senhor, que dispõe de toda Sabedoria e Poder, deveis convir ser ridícula vossa intenção de ajuda a Deus. Ele não necessita de nossa ajuda, mas nós necessitamos da Dele!

  5. Se ele permite façamos algo de bom em Seu Nome, é por- que visa a nossa própria salvação; pois desse modo nos exercitamos no Amor a Deus e ao próximo. Quanto mais ele crescer em nosso coração, tanto maiores capacidades nos dará para o Amor! Se agir- mos dentro de Sua Doutrina, fazemo-lo em benefício próprio, e não pela Salvação do Senhor, que é a Própria Salvação de todos os seres.

  6. Facilmente podereis concluir ser Ele o Senhor, quer dizer, descobrindo no Galileu o Próprio Deus. Julgando-o simples homem dotado de faculdades excepcionais, entretanto necessitando da co- laboração humana, vosso plano é elogiável; pois o amor ao próximo nos ensina o auxílio mútuo.”

8.RECEIOSDOSFARISEUSQUANTOAO SENHOR

  1. Prossegue o primeiro orador: “Amigo Lázaro, julgaste certo, pois concordamos com tua explanação. Num caso de tamanha im- portância para nós — o povo eleito — preciso é um exame rigoroso, a fim de averiguar se no fundo não há algum inconveniente capaz de modificar a questão.

  2. Impressionou a mim e aos colegas a maneira pela qual o jo- vem loquaz nos tirou as túnicas pela simples vontade e de modo tão rápido, a não sabermos onde tinham sido levadas. Em seguida, houve a ação dos sete egípcios ou árabes: a um simples aceno fizeram aparecer três leões! Trata-se, portanto, de verdadeiros milagres. Se, porventura, aquele jovem afirmasse: Sou Cristo, pois minha ação o prova! — aceitá-lo-ias? Se um dos sete pronunciasse a mesma sen- tença — dar-lhe-ias crédito?! Não operavam Moysés e outros, gran- des milagres, merecendo o título de ‘Cristo’?

  3. O milagroso Galileu realiza coisas estonteantes, fala mui sa- biamente e se diz Cristo! Isto não é prova convincente, porém a aceitamos convictos de não haver impedimento para analisarmos tudo à luz do dia.

  4. Pessoalmente, vimo-lo poucas vezes no Templo e, quanto aos milagres, só nos foram relatados por outrem, pois assistimos apenas à cura de um entrevado e um cego de nascença.

  5. Referindo-nos à sua verbosidade, o jovem igualmente se ex- pressou qual profeta, e as túnicas não nos protegeram diante de seu olhar penetrante. Assim, poderíamos concluir que nem milagres, nem ensinos elevados se tornam provas insofismáveis de ser o Galileu realmente o Messias, do Qual consta ser o Próprio Senhor, Jehovah.

  6. Tu mesmo nos deste um exemplo singular de como o ho- mem pode saber dos pensamentos mais secretos através de sua sa- gacidade despertada e talvez outras coisas mais. Se te assiste tal dom como simples homem, por que não ao Galileu, enquanto ao leigo deve se apresentar qual milagre, pois desconhece os meios para tal conquista?

  1. Em tempos idos houve uma escola de profetas onde se admi- tia somente quem se tivesse destacado por qualidades excepcionais; antes de tudo se exigia moral elevada e castidade.

  2. É fácil concluir-se haver possibilidade de desenvolvimento psíquico em uma índole pura; tal criatura, porém, jamais poderia afirmar sua descendência divina.

  3. Eu mesmo vi, quando jovem, um simples pastor classificado de rei pelos companheiros. Era de índole pura e mui devoto. Não usava cajado; bastava aplicar a vontade, e o rebanho lhe obedecia. Ignoro se possuía outros dons; por que não pôde fazer com que se tornasse sua força generalizada? Por isto insisto, por ora, na afirma- ção de haver criaturas dotadas de capacidades excepcionais; é preci- so, porém, cuidado para não considerá-las divinas!”

  4. Acrescenta Lázaro, amavelmente: “Falaste bem, dentro do critério humano, e não podias expressar-te de modo diferente, por careceres de meios para reconhecer o Galileu em Sua Natureza In- trínseca. Crê-me, não me deixei encantar por êxtases produzidos através de milagres, a fim de descobrir o Messias no Sublime Gali- leu. Outros foram os motivos!

  5. Estais admirados acerca do jovem, dos sete egípcios e de mim mesmo; entretanto, vos asseguro desconhecerdes o primeiro, assim como aquele grupo ainda incorrupto, como foram os patriar- cas, e de igual modo ignorais como me era possível saber de tudo que falastes!”

  6. Diz o outro: “Explica-te melhor, para vermos se poderemos seguir a tua fé!”

9.LÁZAROTESTEMUNHAARESPEITODO SENHOR

  1. Diz Lázaro: “Acaso não leste na Escritura: Quando vier o Senhor como Filho do homem a esta Terra, os poucos justos verão os anjos descerem dos Céus para servi-Lo?

  2. Aos sete habitantes do Egito setentrional, o espírito demons- trou ter-se cumprido entre os judeus a grande promessa, e aqui vie-

ram para ver o Senhor de toda Glória qual Homem entre os ho- mens, tão ignorantes e cegos a não perceberem o que estrangeiros veem em plena Luz.

  1. Quanto à minha capacidade em saber o que discutistes, é dádiva do sublime Galileu, em virtude de minha fé e amor para com Ele e aos necessitados.

  2. Falta-me outro meio para testificá-lo, senão repetindo que assim é, e será minha firme convicção que o Galileu é o Messias Prometido, Jehovah, Zebaoth! Quem Nele crer e amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmo terá a Vida Eterna!

  3. Podeis fazer o que vos agrade, pois Ele Próprio ensina: Até mesmo o livre arbítrio do demônio tem que ser respeitado, do contrá- rio o homem não seria semelhante a Deus. Semelhar-se-ia ao irracio- nal, cuja alma não tem liberdade, obedecendo à Onipotência Divina.

  4. Tudo que vedes na Terra e no Firmamento está sob julga- mento e sujeito à Lei imutável do imperativo categórico. O homem é obrigado a suportá-la por certo tempo no corpo; quanto à sua for- ma, crescimento, constituição artística e duração normal, é ele diri- gido pela Onipotência Divina, de sorte a Deus poder curar qualquer moléstia através do Poder de Sua Vontade Divina. Ela não influi na liberdade da alma; por isto, as regras de conduta para a psique não se enquadram no imperativo, mas no dever!

  5. Recebemos as Leis de Deus sem coação e, querendo, pode- mos respeitá-las; é este o motivo pelo qual ninguém é obrigado pelo Senhor a acreditar Nele, dependendo da livre vontade de cada um. Basta, porém, considerar-se as consequências para a alma no Além, onde continua livre como aqui, apenas com a diferença de ter que suprir-se a si mesma, no que diz respeito à subsistência eterna! Qual será sua situação, caso não tenha acumulado tesouros espirituais, como manda a Lei de Deus?!

  6. Assim como Deus Se mantém afastado com Sua Onipotên- cia em virtude da liberdade vital da alma, Ele respeitará a mesma medida no Além. Aqui, cada um desfruta da vantagem provinda de várias dádivas facultadas pela Onipotência de Deus, pelas quais po-

derá angariar imensos tesouros espirituais pelo bom uso. No Além, cessa toda e qualquer fonte de dons alimentícios criados por Deus, e a alma, Semelhança Divina, terá que criar tudo de si mesma, quer dizer, suprindo-se de sua sabedoria e livre vontade. Como será seu futuro, caso não tenha tido ligação com a Vontade, Sabedoria e Amor de Deus?! Que fará uma alma completamente cega, maldosa, inepta e destituída de qualquer força espiritual?! Disse-vos tudo que um homem sincero vos poderia transmitir e repito apenas: Podeis fazer o que vos agrade; pois vossa alma é tão livre quanto a minha! Meditando a respeito, deveis concluir ser sumamente tolo não que- rer participar da época mais sublime da Graça do Senhor, que talvez jamais se repetirá de tal forma!”

  1. Diz o segundo orador: “É mais que visível não alimentar o amigo Lázaro qualquer interesse em nossa conversão devido à sua grande fortuna. É tão rico, que facilmente poderia adquirir um rei- nado! Longe de nós supormos que pretenda guardar nossa fortuna no seu banco, há vários anos fechado. Soube explanar a questão do célebre Galileu sob vários aspectos, e certamente agiríamos bem em seguir o seu conselho. Quanto a mim, estaria pronto a me afastar do Templo, caso fizésseis o mesmo! Apenas umacondição ousaria externar: Seria possível, Lázaro, falar-se ao jovem, há pouco classifi- cado de arcanjo?”

  2. Responde ele: “Nada mais fácil, basta chamá-lo!”

10.RAPHAELSE REVELA

  1. Em seguida Lázaro chama Raphael, de acordo com as Mi- nhas Instruções dadas no refeitório, e o arcanjo aparece como por encanto, despertando admiração entre os fariseus. Movido de estra- nha emoção, o segundo orador diz: “Jovem misterioso, é verdade o que Lázaro acaba de dizer?”

  2. Responde Raphael: “Por que duvidais? Não concluístes ser impossível a uma criatura de minha idade possuir minhas facul- dades? Não sou humano, mas genuíno mensageiro de Deus! Meu

nome é Henoch; ora me chamo Raphael, porque não tive morte física, qual Elias, quando em eras remotas vivi na Terra. Deus, o Senhor, transfigurou-me num momento. Tal Graça não só foi con- cedida a mim, mas a quem O amar acima de tudo.

  1. Sempre vivestes em descrença, alimentando tal tendência em extremo. Esta nunca vos serviu de benefício e, como não conseguis crer livremente, não haverá força externa ou interna que vos obri- gue. Vossa vontade será respeitada, pois sem ela seríeis irracionais, semelhantes aos macacos nas florestas da África.

  2. Afirmo-vos: Quem for capaz de apreciar a inconstância do mundo e suas profissões fúteis, egoísticas e de conceito lastimável, acima do Senhor, atualmente em Pessoa entre os homens, e nós, Seus servos celestes, com Ele — é verdadeiro tolo, não obstante sua inteligência, desmerecendo-O; portanto, não pode esperar Sua Aju- da. Quem tiver reconhecido ao Senhor, e não O procurar, não será favorecido pela Sua Graça!”

  3. Retruca o segundo orador, que se deleita com a maravilhosa figura de Raphael: “És realmente arcanjo! Creio em tudo e agora se faz sentir dentro de mim uma enorme ânsia para um encontro com o sublime Galileu; ajoelhar-me-ei e pedir-lhe-ei perdão pelos muitos pecados cometidos!” Tal desejo é igualmente expresso pelos nove fariseus.

  4. Diz Raphael: “Muito bem; podeis voltar ao Templo pela manhã. Se fordes inquiridos pelos colegas, quase todos maus, quais as informações a respeito do Galileu, respondei: Pesquisamos com grande zelo e soubemos de fatos proveitosos. Convém prosseguir- mos, a fim de inteirarmo-nos de tudo. Voltaremos, portanto, apenas quando chegado tal momento.

  5. A essa explicação, com agrado sereis dispensados. Segui para Bethânia e não vos preocupeis com o restante, pois será minha incum- bência, de acordo com a Vontade do Senhor. Antes de tudo, nada dei- xeis transparecer do que houve aqui.” Terminando, Raphael desapa- rece e Lázaro se despede dos templários, que até meia-noite palestram acerca do assunto, para depois adormecerem nas espreguiçadeiras.

11.LÁZAROÉELOGIADOPELO SENHOR

    1. Ao voltar Lázaro para junto de nós, digo-lhe: “Meu filho, amigo e irmão! Resolveste a tarefa de hoje a pleno contento; pois os últimos templários mais esclarecidos foram convertidos em be- nefício de Minha Causa. Neles se baseava o Alto Conselho; são in- teligentes, experimentados e loquazes. O grande número que ainda rege no Templo é completamente ignorante, tolo e mau.

    2. Devem os neoconvertidos continuar no Templo, como fa- zem Nicodemos e José de Arimateia. Se o abandonassem em defi- nitivo, os outros começariam a enfurecer-se de tal forma a levarem os romanos a pegar das armas antes do tempo, causando prejuízo ao povo e país. Esses anciãos lá ficando, poderão suprimir determi- nadas reações, acalmando a ira dos colegas. Todavia, será oportuno irem amanhã a Bethânia sob pretexto aceitável e providenciarem a transferência de seus bens à câmara administradora de Lázaro; deste modo não mais serão sujeitos ao Templo, dele podendo se afastar quando e como o quiserem, continuando membros do mesmo para evitar sejam seus postos ocupados por mistificadores.

    3. O motivo que justifica sua ausência por tempo indetermina- do é aceitável, pois outros acreditarão na Minha captura definitiva. Cometerão grande erro! Os dez encetarão maiores pesquisas de Mi- nha Pessoa, mas em benefício de sua alma.

    4. Deu-se hoje a última boa conquista do Templo; pois os dez eram os restantes ramos verdes na árvore velha, seca e oca do Siné- drio. Se forem inoculados num tronco ainda novo e fresco, dentro em pouco darão bons frutos. Facultar-lhes-ei, a todos, um sonho es- pecial que lhes dará assunto para meditação e conjecturas. Amanhã mesmo o relatarei em Bethânia.

    5. Tive que transmitir-vos as negociações havidas entre os fa- riseus antes de nos dirigirmos à ceia; agora, Lázaro, podes mandar servir peixes bem preparados, pão e vinho. Esta noite, memorá- vel para todos, ficaremos acordados para absorverdes maiores co- nhecimentos!”

    1. Em pouco tempo Lázaro e Raphael preparam tudo e durante a refeição tocou-se em vários assuntos úteis à Humanidade, inclusive na questão dos fariseus.

    2. Especialmente os romanos, Nicodemos e José de Arimateia se sentem felizes pela conversão dos dez fariseus, piores entre todos e que, no Alto Conselho, sempre Me atacavam com inclemência.

    3. Digo Eu: “Conseguimos grande vitória na justa causa da Vida; todavia, o inferno continua sumamente ativo e o príncipe da treva e da mentira também não descansará, a fim de deturpar a se- meadura da Minha Vida nova e, antes de passar um ano, percebereis os maus frutos de sua ação!”

12.AMATÉRIAESEUS PERIGOS

  1. Retruca Agrícola, um tanto alterado: “Senhor, Tu és infinita- mente Sábio e Onipotente; além disto, dispões de inúmeras falanges de anjos poderosos, idênticos a Raphael. Nós, romanos, queremos lutar contra o poder de todos os demônios, para não se perder uma vírgula da Verdade e Justiça em Tua Doutrina!

  2. Tu, unicamente, és Poderoso e não necessitas de ajuda dos Teus anjos e muito menos dos exércitos romanos. Assim, deve ser algo mui simples exterminar a ação do príncipe das trevas! Deste modo, haverá calma, ordem, verdade, amor e justiça entre os homens!”

  3. Digo Eu: “Falas despreocupado, por não entenderes em que consiste o inferno e o príncipe da mentira e das trevas!

  4. Com razão afirmas ter Eu Poder para exterminá-los; se assim fizesse, não mais haveria Terra, Sol, Lua e estrelas! Toda a Criação material é um julgamento constante dentro da Ordem Imutável da Minha Sabedoria e Vontade. Tal medida é necessária, a fim de que as almas possam conquistar liberdade e independência da Vida eterna e indestrutível no solo duro do julgamento.

  5. Caso dissolvesse toda a Criação material, conforme acon- selhas, teria que exterminar todo corpo humano, instrumento ne- cessário à alma, com o qual unicamente pode conquistar a Vida

eterna dentro de Minha Sabedoria mais elevada e profundo Co- nhecimento.

  1. O corpo, sendo indispensável à vitória final, é igualmente a maior desgraça para a alma; pois, se ela se deixa seduzir pelas neces- sárias tentações da carne — entregando-se-lhes pelo amor, pensar e querer — participa do julgamento do seu próprio príncipe das trevas e da mentira, do qual dificilmente será libertada.

  2. Vê, a função do corpo para a tua alma corresponde ao da Terra com relação à Humanidade! Quem se deixa ofuscar e prender pelo brilho de seus tesouros, ingressa voluntariamente no seu julga- mento e morte, dos quais igualmente será difícil libertar-se.

  3. Como as criaturas do planeta se aperfeiçoam na extração dos tesouros deslumbrantes para aumentarem conforto e prazeres físicos, traduzem estes precisamente a ação aumentada do príncipe do inferno.

  4. Quais seriam o Poder e a Sabedoria aplicáveis na sua derrota? Digo a todos: Somente pela Verdade por Mim ensinada, pelo poder da máxima abnegação de si próprio e com a humildade real e plena do coração!

  5. Aplica a Verdade dentro da tua compreensão — não apa- rentemente e por motivos mundanos, como fazem os templários e muitos pagãos — que terás vencido todo o inferno e ao seu príncipe! Nenhum dos maus espíritos existentes na matéria poderá pertur- bar-te, ainda que viessem do conjunto do Homem Cósmico, pois se desvaneceriam diante de ti como palha seca e areia do deserto atingidos pelo furacão.

  6. Se os tesouros da Terra te tentassem a ponto de negares a Verdade a fim de te apossares deles, tua alma estaria vencida pelo poder do inferno e por seu príncipe, que encerra mentira, trevas, julgamento, desgraça e morte.

  7. Vê os sete egípcios! Conhecem todos os tesouros imensos do orbe e poderiam explorá-los em grandes massas; todavia, os des- prezam, vivem mui simplesmente e procuram apenas as riquezas do espírito. Deste modo, continuam detentores das faculdades remotas

e verdadeiras, pelas quais se tornaram senhores e soberanos reais da Natureza total, o que não seria, caso se tivessem deixado tentar pelos seus atrativos.

  1. Se, porventura, um chefe de família quiser manter a boa ordem em sua casa, não pode familiarizar-se com os empregados, aceitando as suas fraquezas variadas; pois, se assim fizer, torna-se ele prisioneiro dos serviçais e, quando emitir uma ordem, eles ridicula- rizarão o patrão!

  2. O mesmo sucederia com um marechal que se submetesse aos soldados, cuja força e coragem agradecem apenas a ele. Se viesse um inimigo e o chefe comandasse um ataque, os guerreiros lhe obe- deceriam? De modo algum, pois haveriam de responder: Como pre- tendes dar ordens? Não tiveste coragem e vontade para nos ensinar o uso das armas; ao contrário, nos tratavas como companheiros de esporte. Como podemos seguir-te contra o adversário?! Nunca foste nosso mestre, e sim nós te dominamos! E agora pretendes dominar a quem te domina?!

  3. Vede, assim acontece a todos que desde cedo não foram induzidos por genitores e professores a renunciar às paixões, a fim de evitar que se tornem senhores e mestres de sua alma! Uma vez dominando-a, ela enfrenta luta tenaz para dominar as exigências da carne, responsável pela sua fraqueza, indolência e queda.

  4. À alma desde cedo conduzida e exercitada na Verdade da razão pura, tornando-se mestra de seu corpo dentro da Natureza, o mundo com seus tesouros e outras tentações se tornam indiferentes; espiritualmente fortalecida, ela se elevou a mestre não só de suas paixões, mas de toda a Natureza, portanto do próprio inferno e seus chefes da mentira e da treva.

  5. Agora sabeis o que seja o inferno e seu regente e como pode ser enfrentado e dominado. Agi assim, que em breve tereis extermi- nado o seu reino nesta terra, e vós sereis senhores de tudo!”

13.PARECERDEAGRÍCOLAQUANTOÀDOUTRINADO SENHOR

    1. Diz Agrícola: “Senhor e Mestre, acabas de revelar uma Verda- de sumamente importante e percebo que assim deve ser. Mas quan- do começar com a educação dos filhos?

    2. Nasce, por exemplo, uma criança de pais ricos, cujo amor ex- cessivo tudo lhe concede, mimando-a de modo insuportável. Não se atrevem a lhe fazer a menor reprimenda pelas má-criações e, se mais tarde o professor quiser corrigi-la, tanto os pais quanto o filho se tornam seus inimigos. Os velhos romanos diziam: Quando os deu- ses odiavam alguém, dele faziam preceptor! São os genitores cegos e tolos, e o professor terá que sê-lo, caso queira viver. Onde poderiam tais rebentos desfrutar uma boa educação?

    3. Numa vida comum nos meios da alta sociedade, a criatura, quer dizer, a Humanidade total é de tal forma sofisticada de ma- neira a se tornar impossível imaginar-se como deve ser na verdade! Confesso abertamente serem necessárias tempestades incontáveis a varrerem mares e terras, até que o Gênero Humano volte ao estado primitivo.

    4. Escolas deveriam ser feitas não só para menores mas para os próprios pais, onde aprenderiam a Verdade pela qual todos se tor- nassem aproveitáveis.

    5. Onde, porém, achar-se professores para tanta gente? Tu, Se- nhor e Mestre, criaste um equipamento doutrinário, e Teus apósto- los sabem o que se torna preciso para um homem ingressar na Tua Ordem; mas que representa o seu número diante da Humanidade?! Além disto, acresce a brutalidade e selvageria dos povos, seus hábi- tos, costumes e idiomas!

    6. Como poderia alguém vencer tamanhos empecilhos?! Tu és o Próprio Senhor e tudo obedece à Tua Vontade — entretanto defron- tas diversas dificuldades! Qual será a situação de Teus discípulos?!

    7. Ótimo seria depositar-se Tua Doutrina celeste, da noite para o dia, nos corações de todos, inclusive o zelo de aplicá-la! Tal medida

não está no Teu Plano; assim, o progresso da Humanidade será mui lento e não se pode calcular a época em que todos recebam a Tua Doutrina, permanecendo a Luz da vida posse de poucos, e talvez ainda deturpada!

    1. Pois, enquanto os homens não se compenetrarem da Verdade do Teu Verbo, continuarão presa das tendências mundanas e dela farão uma fonte de renda, dando-se a mesma situação com os judeus e pagãos de hoje. Não querendo ser profeta, é esta minha opinião adquirida de experiências, e presumo estar certo.”

14.ODESTINODA DOUTRINA

  1. Digo em seguida: “Tens razão, e bem sei que assim será na maior parte, entretanto não tem importância na totalidade. Na Mi- nha Criação existem muitas escolas para almas. Quem não aprender em Jerusalém, será ensinado em outra parte!

  2. Sei que após Mim muitos falsos doutrinadores surgirão, di- zendo: Eis o Cristo! ou: Lá está ele! Digo-vos — e vós transmiti-o ao próximo e aos filhos — que não se deve crer neles; pois facilmente serão descobertos pelas ações!

  3. Viste ontem em Emaús como se deve apresentar um discí- pulo Meu, quando expedi os setenta adeptos para divulgarem a Mi- nha Doutrina!

  4. Onde encontrares doutrinadores que de tal modo dissemi- narem a Chegada do Reino de Deus entre os homens, podes con- siderá-los genuínos e verdadeiros; quando se pretende negociar e angariar tesouros por intermédio do Meu Verbo, seus propagadores são falsos e jamais escolhidos por Mim! Meus discípulos e divulga- dores verdadeiros serão como Eu, materialmente pobres, mas ricos em dons espirituais! Não necessitam apossar-se do Verbo pelo es- tudo fastidioso dum predecessor, pois Eu depositarei a Doutrina e Vontade em seu coração e boca.

  5. Os falsos terão que assimilar ensinos, provérbios e aforis- mos por longos estudos e, quando tudo tiverem decorado, serão

consagrados para neófitos pelos mestres ostentadores e presun- çosos, como ora acontece com os fariseus, escribas e anciãos; os pagãos sustentam cerimônias semelhantes, pois o sacerdócio cria uma verdadeira casta, hereditária, na qual um homem do povo só é admitido caso o sacerdote não tiver filhos e, ainda assim, se for educado para tal.

  1. Demonstrei claramente como deveis diferenciar entre dou- trinadores e divulgadores por Mim escolhidos e os falsos, e todos se poderão precaver; quem lhes dedicar amizade e fé, homenageando e auxiliando-os, será responsável caso for por eles tragado.

  2. Acontecerá aos falsos profetas elevarem-se a tronos de ouro, perseguindo os verdadeiros por Mim escolhidos e chamados. Isto se dando, seu julgamento e morte os abaterão, enquanto a Minha Doutrina brilhará apenas como posse livre e em silêncio, iluminan- do e consolando; jamais, porém, será qual soberana de povos intei- ros em cima dum trono, munida de coroa, bastão e cetro.

  3. Onde isto se der em Meu Nome, Eu Mesmo estarei longe e, em vez do Meu Amor, reinarão ganância, avareza, inveja e perse- guição de toda espécie, e uma traição revezará outra. Descobrindo tais resultados entre os pretensos doutrinadores, sabereis que espé- cie de profetas ocupam os tronos e de quem procedem suas falsas doutrinas!

  4. Se podes desfrutar sempre do justo e verdadeiro, basta sen- tires desejo para tanto e certamente não entregarás o teu coração ao erro! E assim todos sabem que, não obstante o surgimento de falsos profetas e doutrinadores, Meu Verbo Puro subsistirá no silêncio e na simplicidade até o fim dos tempos.

  5. De igual modo expliquei por várias vezes os motivos que Me levam a divulgá-lo aos poucos entre todos os povos da Terra, pois Eu sei quando tal momento é propício.

  6. Quanto à rápida divulgação de Minha Doutrina a todos os pontos apropriados da Terra, já foram tomadas as providências necessárias, que serão aumentadas dentro em breve; assim, podemos encerrar o assunto, por haver outro, mais importante.”

  1. Diz Agrícola: “Certamente será como disseste; mas nós, im- pedidos de sondar o futuro e apenas podendo levar uma vida de pro- vação, vemo-nos obrigados a perguntar acerca do final disso tudo!

  2. Porventura será Tua Doutrina posse geral e quando? Talvez subsistirá apenas entre alguns escolhidos? A julgar por Tuas Palavras, parece ser esse o caso! Muito bem! O que Tu, Senhor e Mestre, acha- res justo, terá que ser aceito por nós; facultando-nos, além do livre arbítrio, um critério igualmente livre, foi essa a minha opinião.

  3. Além do mais, deduzi teres planos e intenções especiais com as criaturas, do contrário não permitirias o aparecimento de falsos doutrinadores; por isto, passarei a ser ouvinte.”

  4. Digo Eu: “Farás bem, pois melhor é ouvir que falar, en- quanto falta a base para tal. Acredita-Me: Criar mundos é fácil; fazer surgir criaturas livres e deixá-las atingir o aperfeiçoamento — no que a Onipotência Divina tem que silenciar e ser inativa, devido à Ordem de Seu Amor e Sabedoria — é finalmente um problema difícil até mesmo para Mim! Disponho apenas de infinita Paciência e imensa Meiguice.

  5. Por isto é preciso deixar as criaturas passarem por situações boas e más através de sua fé e ação, para aprenderem a ser prudentes e, no fim, procurarem o justo conhecimento espontaneamente.

  6. Assim como todos os seres nesta Terra progridem material- mente entre noite e dia, verão e inverno, o mesmo sucede ao homem espiritualmente.

  7. Quando as criaturas primitivas caminhavam espiritualmen- te em pleno dia, a Luz se lhes tornava, no fim, incômoda; quando, mais tarde, apareceu a noite espiritual, começaram a sentir o valor do dia de Luz e os mais inclinados procuraram com temor o Paraí- so perdido.

  8. A poucos foi dado encontrar o Dia espiritual e muitos, ofuscados pelo brilho do mundo, não compreendiam o que era um Dia espiritual, continuando em sua treva, seduzidos pela própria preguiça. Naturalmente não gozavam da felicidade de um Dia espi- ritual, encontrando-se em grande aflição. Tal aflição foi, todavia, um

bom vigia aos felizes, pois percebiam o resultado surgido da treva espiritual.

  1. Assim acontece, se se mantiverem e progredirem ignorantes ao lado de inspirados! Por isto, nunca haverá carência de criaturas verdadeiramente iluminadas, tendo oportunidade de esclarecer as ignorantes; os iluminados que assim fizerem em Meu Nome terão grande recompensa no Meu Reino!

  2. É Graça imensa e inestimável a criatura ser por Mim ilu- minada; mil vezes mais valioso, porém, ela iluminar com a Luz ver- dadeira da Vida a outros que caminhem nas trevas, caso queiram aceitá-la. Todavia, repito novamente: Não atireis as Pérolas da Mi- nha Doutrina aos impuros! Pois quem se tiver maculado qual suíno, sê-lo-á para sempre! E ainda que tal homem, numa boa oportuni- dade, ouça com agrado uma palavra verdadeira e justa, na primeira ocasião ele volta ao antigo lodaçal, nele se atirando com prazer. A tais criaturas não deveis passar o Evangelho, pois disponho de outro que lhes ensinará a própria Natureza, sob muitas dores, clamores e ranger de dentes!

  3. Abordamos este assunto importante e podemos tratar de outro. Quem tiver alguma dúvida, pode externar-se; quero que ama- nhã deixeis o Monte das Oliveiras bem esclarecidos!”

  4. Responde a maioria: “Senhor, não alimentamos dúvida al- guma e nos sentimos mui felizes!”

15.FUTURAPOVOAÇÃODOORBE.OPESODA VELHICE

  1. Um dos magos da Índia, porém, obsta: “Senhor e Mestre, poderias esclarecer-me algumas dúvidas?”

  2. Respondo: “Não és menos homem que qualquer outro, por- tanto podes externar-te!”

  3. O mago hesita um pouco, supondo ser a questão algo tola; finalmente se anima e diz: “Senhor, descubro um ponto duvidoso quanto à subsistência do Gênero Humano e, caso não haja modifi- cação de Tua parte, a situação tende a piorar.

  1. Todo ser vivo se procria, necessitando de maiores recursos alimentícios; o solo terráqueo não aumenta! Se dentro de alguns milênios não houver alteração, impossível imaginar-se a subsistência das criaturas. Qual é Teu parecer?”

  2. Digo Eu: “Caro amigo, poderias ter poupado tal preocupa- ção por diversos motivos; desde épocas eternas, foi por Mim calcu- lado o número de criaturas para as partes habitáveis da Terra. Se ela existir ainda por dez mil anos e o gênero Humano se duplicar ou triplicar, podem nela viver dez vezes mais que atualmente. E, caso surgissem tantas, a ponto da parte seca não mais as alimentar, há quantidades de recursos, fazendo surgir do mar outros continentes, para cem mil vezes mais.

  3. No momento, nela habitam tantas criaturas, cujo número co- lossal desconheces, entretanto há territórios inabitados tão vastos, que alguém nem em mil anos os teria percorrido e analisado. Ainda assim, pessoas muito ricas possuem terras enormes, mais de cem vezes exage- radas para suas necessidades de sobrevivência. Calcula igual distribui- ção do solo terráqueo, e todos — ainda que fossem cem vezes mais do que agora — achariam alimento e acomodações, mormente vivendo dentro de Minha Doutrina. Estás satisfeito com Minha Explicação?”

  4. Responde o mago: “Inteiramente, Senhor e Mestre, e meu co- ração se sente aliviado! Todavia, tenho ainda outra dúvida; encontran- do-me na Fonte Original da Luz, desejava elucidação maior. É a vida do homem realmente grandiosa! É gerado, criado e educado até que, adulto, encontre pelas experiências a razão intelectual. Conseguindo elevar suas forças espirituais a um grau superior, com grandes lutas e experiências dolorosas, a resistência física desaparece aos poucos e a criatura morre geralmente com sofrimento e pavor da morte.

  5. Explicaste que o desprendimento não seria pavoroso, mas completamente indolor, caso as criaturas se tivessem mantido den- tro de Tua Ordem, que lhes foi revelada. No entanto, é lamentável que as criaturas — que na maioria desconhecem Tua Ordem dada na era original, portanto são inculpáveis — tenham que sofrer as consequências negativas por viverem de forma totalmente oposta.

  1. Aceito a Lei capital para o assassino, a fim de instituir um exemplo aos demais. Querer castigar com a morte quem, pela que- da do telhado, matou um transeunte, seria a maior das injusti- ças. Este exemplo traduz os Desígnios de Deus referentes às mo- léstias e a morte; tal castigo jamais mereceram e poderias alterar tal desfecho!

  2. Os hindus suportam dores atrozes com a máxima paciência, porque nossa doutrina ensina ser isto do agrado de Deus. Diante de sofrimentos tão atrozes, a alma dum espectador desprevenido se re- volta, perguntando se Deus não tem recursos para iluminar a razão humana, como fez às criaturas primitivas! Por que permites o mar- tírio de milhões, antes de semear uma fagulha de luz em seu meio?”

16.ENCARNAÇÃODEHABITANTES ESTELARES

  1. Digo Eu: “Amigo, há dias vos dei explicação completa, e não tenho culpa se não a compreendeste! Vê as estrelas! São mundos imensos, habitados como o nosso orbe.

  2. Muitas criaturas de lá sabem, pelos anjos, ser apenas possí- vel nesta Terra uma alma chegar à filiação de Deus, através de uma encarnação difícil e pesada. Caso o queiram, podem encarnar em nosso planeta. Isto acontecendo, terão que se submeter à provação por certo tempo, pois assim colhem o triunfo da Semelhança Divi- na. Eu Mesmo suportando muita coisa por amor dos Meus filhos

  1. Responde o mago: “Sim, Senhor e Mestre, e também me lembro de Tuas Palavras anteriores. Quando nosso corpo for expe- rimentar dores e sofrimentos, suportá-los-emos com toda paciência e por amor a Ti; pois ignoramos quais as circunstâncias que nos trouxeram à Terra, cabendo-nos apenas procurar Deus para amá-Lo acima de tudo, não obstante a vida de provações.

  1. Segundo me parece, permites maiores sofrimentos aos mais próximos do Teu Coração. Nas minhas viagens sempre encontrei pessoas ateístas que tratavam o semelhante pior que irracionais, to- davia desfrutavam perfeita saúde e vida de fausto. Para completar, morriam subitamente!

  2. Em compensação, deparava com criaturas devotas e boas, que com toda paciência suportavam grandes atribulações, fato que me fazia duvidar da própria Existência de Deus. Tais dúvidas se dis- siparam e reconheço em tudo o Desígnio de Deus; meu sentimento não cala, afirmando ser a vida de provação difícil tarefa para os ho- mens, não obstante alcancem o maior benefício espiritual.

  3. Nunca poderíamos ter tido o desejo de viver; este desejo foi Teu, portanto somos Obra Tua, pela qual cuidas para poder se tor- nar aquilo que determinaste.

  4. Assim sendo, e Tu nos demonstrando os Caminhos a palmi- lhar, segui-los-emos com gratidão, suportando com paciência e de- dicação os espinhos a ferirem os nossos pés. Eis a decisão minha e de meus companheiros. Não nos sobrecarregues de provas mui duras por ocasião da partida da Terra e sê Misericordioso para com todos!”

  5. Digo Eu: “O que pedirdes em Meu Nome, ser-vos-á dado. Pois somente o Pai é Bom e Lhe desagrada o sofrimento das criatu- ras; todavia, não impede que sejam assoladas quando esquecem-No pelo mundanismo, atirando-se a tudo que lhes possa prejudicar.

  6. Prossegui nos Caminhos por Mim demonstrados, que pou- cos serão os sofrimentos e vossa morte será suave!

  7. Sofrimentos atrozes atacam no fim aqueles que enterraram sua alma no corpo, em virtude de suas tendências mundanas; pois, antes de se perderem totalmente na carne, têm que ser arrancados com grande violência, que fatalmente produz fortes dores físicas, em benefício da alma que, deste modo, se purifica dos gozos da carne, encontrando no Além franco progresso espiritual.

  8. Criaturas mundanas e ateístas, que desfrutam de boa saúde até a idade avançada e no final têm morte rápida e indolor, já rece- beram o prêmio da Vida neste mundo, e não devem esperar recom-

pensa no Além. Em sua companhia haverá treva mais densa, choro e ranger de dentes.”

  1. Diz o mago: “Senhor e Mestre, se criaturas como, por exem- plo, os pagãos, não têm culpa de sua ignorância do Deus Verdadeiro, recebem castigo tão inclemente, julgo tal medida injusta! Homens iguais a nós, que tivemos a ventura de conhecer Deus, mereceriam, pelo afastamento Dele, destino inclemente no Além. Mas quem não tem culpa do seu atraso semelhante ao dos animais é irresponsável, e uma punição após a morte pelas más ações aqui praticadas não me parece estar em harmonia com a Ordem e o Amor de Deus. Eis um ponto incompreensível para a minha alma, pedindo-Te mais algum esclarecimento!”

17.OTRATAMENTODASCRIATURAS,AQUIENO ALÉM

  1. Digo Eu: “Acerca desse assunto, já foi explicado o necessário, inclusive pelos Meus discípulos; vossa memória não sendo treinada, continuam obscuros certos recintos de vossa alma. Caso vivais de acordo com o Meu Verbo, recebereis o Batismo do Espírito, ou seja, o renascimento do espírito em vossa alma. Ele vos levará à Verdade plena, fazendo-se luz onde ora há escuridão.

  2. Aquilo que teu raciocínio esclarecido classifica de injusto, quer dizer, castigando-se a quem não recebeu Lei a ser respeitada, é do Conhecimento de Deus e da Sabedoria Divina.

  3. Acontece não haver um povo no orbe isento de leis; pois Deus inspirou e determinou, entre todos, homens inteligentes que transmitiam as leis, inclusive o conhecimento de Deus, que tudo cria, sustém e rege. Além disto, ensinavam recompensar Deus os cumpridores dos Mandamentos, aqui e no Além. Os infratores, po- rém, seriam punidos com rigor em vida e após a morte, porquanto a alma sobrevive no mundo dos espíritos, onde seria julgada.

  4. Essa noção foi transmitida a todos os povos e, tão logo a es- quecem, são relembrados por outros missionários e, de modo geral, pela própria consciência, não havendo desculpas quando, mesmo

dispondo de intelecto e dos cinco sentidos normais, agem contra- riamente às leis conhecidas. Se, no Além, a criatura se encontra no estado criado por seu sentimento e livre arbítrio, não pode alegar ser vítima de uma injustiça divina, pois agiu livre e conscientemente.

  1. Cada alma terá, no Além, o que deseja. Querendo o mal, são-lhe apontadas as consequências de sua vontade. Dando atenção às advertências, dentro em pouco receberá ajuda; assim não agindo, tudo lhe será facultado para satisfazer sua inclinação!

  2. Tal inclinação, boa ou má, é a vida peculiar da alma de cada criatura, anjo ou demônio; se tal pendor lhe for tirado, ela perde a vida e o ser. Isto não pode estar na Ordem Divina; pois, se fosse possível a destruição do menor átomo da Criação, perdendo sua existência para sempre, Deus Mesmo perderia um átomo de Sua Existência — coisa inteiramente impossível.

  3. Assim sendo, uma alma humana tampouco pode perder sua vida; pode se tornar muito infeliz e miserável pela própria vontade, mas igualmente alcançar sua plena felicidade.

  4. As condições de vida e os estados psíquicos sendo de tal for- ma constituídos — como poderiam ser mais sábios e justos?! Com- preendeste esse ponto, e teu recinto obscuro aclarou-se algo mais?”

  5. Responde o mago: “Senhor e Mestre de toda vida, estou ple- namente orientado! A situação é tal qual a descreveste; portanto, não há o que contrapor, e assim terminei as minhas perguntas.”

  6. Digo Eu: “Por ora ages bem! Haverá momentos em que surgirão outras. Quem de vós desejar algum esclarecimento, pode manifestar-se; pois hoje as Portas dos Céus estão abertas para todos!”

18.APORTADOCÉUEOREINODE DEUS

  1. Quando termino de falar, aproxima-se, rápido, um dos fari- seus convertidos e diz: “Senhor e Mestre, já que afirmas estarem as portas do Céu abertas, acaso não seria possível lançarmos um olhar lá para dentro, a fim de termos uma pequena ideia de sua formação?”

  1. Respondo: “Por quanto tempo terei que suportar vossa com- preensão material?! Quem é a Porta para o Verdadeiro Reino do Céu? Eu sou a Porta, o Caminho e o próprio Céu! Quem Me ouvir, crer em Mim e amar o Pai em Mim, acima de tudo, caminha pela Porta certa de todo Ser e Vida, no Caminho luminoso do Reino dos Céus, espiritualmente criado do Meu Amor puro, da maneira mais clara e viva de Minha Sabedoria.

  2. Não dirijais o olhar para cima ou para baixo, querendo des- cobrir a forma real, a natureza do Céu e o Reino de Deus, mas dirigi os olhos da alma à consciência do amor vivo em vós, onde descobrireis o Céu em toda parte, não obstante onde vos achais nas Minhas Criações — se nesta ou em outra Terra; pois a formação do Céu corresponderá à vossa base vital, resultante da aplicação do Meu Verbo e das boas ações. Somente por esse vosso Céu chegareis ao Meu, eterno e infinito.

  3. Lembrai-vos bem: O Reino de Deus não consiste num apara- to de pompa externa, tampouco vos procura com esquema e forma externos; existe dentro de vós, no espírito do puro amor a Deus e ao próximo e na Verdade da vida da alma; pois quem não tiver amor para com Deus e ao próximo não terá vida em si, tampouco ressur- reição, que é o próprio Céu na criatura. Deste modo, não há vida nela, apenas julgamento e a morte eterna, frente à vida unicamente verdadeira e perfeita no Céu.

  4. As almas dos maus também continuam vivas após a morte; no entanto, é uma vida aparente, igual a toda matéria e a de certos animais que, durante o inverno, dormem em qualquer cova, intei- ramente inertes.

  5. Refletindo algo mais, impossível Me dizerdes: Senhor, mostra-nos a Porta do Céu e algo dele mesmo, ou então, mos- tra-nos também o inferno para, advertidos pelo aspecto, po- dermos nos abster mais facilmente de todos os pecados! Seria obrigado a chamar de tolo quem assim indagasse; toda criatura tem o Céu ou o inferno perfeito dentro de si, podendo ana- lisar tudo.

  1. É surdo e cego na alma quem alimenta o inferno em si; vez por outra, a consciência lhe acusa, do contrário não poderia perce- ber o inferno dentro de si, pois uma alma infernal já se encontra na morte pelo julgamento de sua matéria.

  2. Uma alma que, pelas boas obras feitas à Minha Vontade, tem o Céu em seu coração, pode vê-lo à luz do dia e, de tempos em tempos, em visões nítidas. Essas são facultadas aos homens a fim de permanecerem em contato com o mundo dos espíritos mais ou menos elevados, de acordo com a criação do verdadeiro Céu, através das boas obras pela vontade de Deus. Palmilhai, portanto, nos Meus Mandamentos e facilmente percebereis forma e natureza do Céu! Tereis compreendido isso?”

  3. Respondem todos: “Sim, Senhor e Mestre, e Te agradecemos sinceramente pelo ensino, por sermos ainda bastante cegos e surdos, não obstante a grande Luz por Ti proporcionada! Por isso, pedimos que tenhas paciência com nossas grandes fraquezas; de nossa parte nos esforçaremos para que Tua Santa Doutrina nos ilumine cada vez mais.”

19.AIMPOTÊNCIA HUMANA

  1. Digo Eu: “Tudo que fizerdes, seja feito em Meu Nome; pois, sem Mim, nada de eficaz podereis fazer para a salvação de vossa alma! E, se no final tiverdes feito tudo que foi recomendado para a conquista da Vida eterna e verdadeira, confessai ao mundo e a vós mesmos terdes sido servos preguiçosos e inúteis! Pois somente Deus é Tudo em tudo e também faz as boas obras na criatura.

  2. Quando aplicar a Vontade revelada de Deus, ela não age pela sua vontade, mas pela divina; aquilo que a Vontade divina fizer no homem ou no anjo puro deixa de ser vontade deles, e sim a obra do Autor da Vontade.

  3. Obra humana para sua salvação consiste apenas na aceitação da Vontade de Deus, revelada, por amor e verdadeira veneração a Ele, agindo de acordo. Daí em diante, não mais age a vontade do

homem, mas a de Deus, que faz o Bem através dela, de sorte a ser o Bem apenas Obra de Deus, fato que o homem justo e verdadeiro é obrigado a reconhecer em sua humildade. Atribuindo-se o mérito de uma boa ação, demonstra ele não ter reconhecido a si mesmo e muito menos a Deus, razão por que está longe do Reino de Deus.

  1. Por isso, dai em tudo e sempre Honra a Deus e agi em Seu Nome, que tereis o Amor de Deus dentro de vós — e quem possuir o Amor divino terá tudo para todo o sempre.

  2. Além disto, lembrai-vos do seguinte: Quando o homem agir mal, não obstante sabedor da Vontade divina, tal ação não é Obra de Deus, mas do próprio homem; pois ele não submeteu sua vontade livre à de Deus, revelada, reagindo constantemente contra Ele. Por esse meio ele se condenou pelo grande abuso do livre arbítrio, pro- vocando em tal cegueira sua própria infelicidade.

  3. Em assuntos espirituais dá-se o mesmo que com um inteli- gente marechal em relação aos guerreiros: aos milhares eles são obri- gados a enfrentar lutas sangrentas e encarniçadas; todavia, nenhum pode querer senão de acordo com o plano e a vontade do chefe militar. Quem assim agir será feliz na guerra; mas quem dissesse: Eu mesmo tenho coragem, forças e conhecimentos estratégicos e luta- rei por conta própria para conquistar a coroa! — automaticamente se afastaria do plano bélico do chefe militar, do que resultaria sua queda, pois seria preso e maltratado pelo inimigo. De quem seria a culpa? Dele mesmo! Por que não adotou a vontade do chefe, sendo fácil participar da vitória?! Querendo ser general e soldado, tornou-

-se presa do inimigo.

  1. Eu sou, igualmente, Marechal Único da Vida contra tudo que lhe seja adversário. Quem lutar pelos Meus Mandamentos e dentro de Meus Planos, fácil luta e vitória plena terá contra os inú- meros inimigos da Vida; quem se comprometer, sem Mim, e pela própria vontade ou inteligência, numa luta contra os vários adver- sários da Vida, será aprisionado e maltratado por eles. Uma vez no cárcere — quem o libertará, se lhe cabe descobrir e vencer os piores inimigos dentro de si mesmo?!

  1. Se alguém consegue facilmente vencer ao Meu lado mui- tos adversários, a vitória é apenas Minha Obra, pois a conseguiu unicamente pelo fiel cumprimento de Minha Vontade, Plano e Conselho. A Vitória sendo Minha Obra — Honra e mérito tam- bém Me cabem!

  2. Espero que tenhais compreendido como e por que nada de meritório podeis fazer sem Mim para a eterna salvação de vossa alma, e por que deveis confessar perante Mim serdes ociosos e inú- teis servos ao Meu lado, ainda que tenhais feito tudo.

  3. O lavrador, ao aprontar o campo, prepara-o com estrume, sulca o solo com o arado, espalha a semente nas aberturas, cobrin- do-a com a grade, nada mais fazendo até a colheita. Porventura é a colheita obra e mérito do lavrador — ou Minha?! Quem criou a jun- ta de bois para o arado? Quem lhe deu madeira e ferro, e a semente com o gérmen vivo? Quem depositou nele inúmeros germens e se- mentes novos? De quem era a Luz do Sol, aquecedora e vivificadora? Quem proporcionou orvalho e chuva fertilizantes? Quem facultou o crescimento às hastes, o amadurecimento, e quem, finalmente, deu aos lavradores vida, sentidos, compreensão e inteligência?

  4. Refletindo sobre esse quadro, compreendereis quão peque- nos são trabalho e mérito do lavrador no preparo do campo. Obser- vados à luz clara, são eles quase nulos; entretanto, ele poderia afir- mar: Eis o resultado de meu zelo! — sem refletir quem realmente foi o principal trabalhador no campo de trigo! Não deveria ele confessar no íntimo: Senhor, Grande, Bom e Santo Pai no Céu, agradeço-Te por tanto zelo! Pois tudo isso é e será sempre Tua Obra; eu, apenas servo preguiçoso e inútil!?

  5. Isso se justificando num trabalho material — quanto mais deveria ser afirmado por parte do homem, ao qual ajudo de toda e qualquer maneira no preparo de seu campo de vida espiritual, nada mais tendo a fazer senão acreditar em Mim e, em seguida, apossar-se de Minha Vontade divina como simples Dádiva Minha, como se fosse sua! Se tal criatura, na posse plena de Minha Vontade, puder efetuar coisas e obras grandiosas — de quem é o principal mérito?!”

20. ASLEISDO SENHOR

    1. Novamente todos respondem em uníssono: “Senhor e Mes- tre, tudo é desde eternidades apenas Tua Obra e Teu Mérito! Nós, criaturas, nada somos perante Ti! Somente Teu Amor e Tua Graça nos deram a vida e, além disto, nos querem elevar para filhos seme- lhantes a Ti, de sorte a sermos simples Obra Tua e nossas qualidades excelentes nada mais são que Teu Mérito! Jamais nos abandones, Senhor! Onde buscaríamos as noções espirituais de Ti e de Tua Von- tade Onipotente?! De modo idêntico, nossos descendentes tudo de- verão a Ti, caso se encontrarem dentro de nossa compreensão e fé pura; Tu, Senhor, certamente cuidarás deles para não se afastarem da Luz que ora nos ilumina!”

    2. Digo Eu: “Isto será entregue — como foi até hoje — aos trabalhadores de Meus Campos e Vinhas; e tudo dependerá como aplicarão a Minha Vontade transmitida, justa ou erradamente. Evi- tai especialmente discussões e contendas quando Eu tiver partido, pois tornar-se-iam geradores do anticristo nesta Terra! Previno-vos, a fim de que sejam evitadas. Certamente assim fareis; quanto aos sucessores — eis uma questão duvidosa, porque a vontade deles terá que ser respeitada tanto quanto a vossa.

    3. Minha Doutrina vos faculta a máxima liberdade e não pode ser divulgada pela espada e com algemas da escravidão tenebrosa; pois o que proporciona a maior liberdade de vida, o homem terá que reconhecer e aceitar em plena liberdade. Assim como vos dei tudo gratuitamente, tereis que passá-lo aos que o desejarem!

    4. Nunca vos impus coação, mas sempre vos convidei em plena liberdade: Quem quiser — venha, ouça, veja e Me siga! E seguistes pelo livre arbítrio! Agi deste modo em Meu Nome, que caminhareis em boa trilha!

    5. Quem operar pela obrigação não será Meu discípulo, en- contrando rochas, desfiladeiros e espinhos na estrada. Meu exem- plo vos sirva de imitação, justa e real! Que Me custaria forçar, por um momento, todas as criaturas da Terra, através de Minha Oni-

potência, à aceitação de Minha Doutrina e ao cumprimento pleno de Minha Vontade, assim como posso, de momento, determinar à restante criação o caminho ao imperativo categórico, que deveria seguir rigorosamente?! Teria sensação de liberdade moral e venturo- sa? Nenhuma!

    1. Deve haver grande diferença entre uma inteligência embotada e mui reduzida, dotada de uma fagulha de Minha Vontade obriga- tória, pela qual tem que agir, e uma percepção ilimitada, ligada ao intelecto mais lúcido e uma vontade sem restrições, à qual nunca impus: Tens que agir de tal forma! — mas sempre aconselhei com a expressão: Deves fazer isto ou aquilo! Pois todos os Meus Manda- mentos não foram propriamente Leis, senão conselhos dados pelo Amor e Sabedoria eternos. Destes conselhos, as criaturas fizeram Leis rigorosas, na suposição de Me proporcionarem maior honra, cujo não cumprimento sancionavam com castigos temporais e eternos.

    2. Muito contribuiu Moysés para tal desfecho a fim de alcançar maior respeito à Vontade de Deus. Outros fizeram o mesmo, e os atuais fariseus atingiram o ponto culminante, não só da tolice mas da consequente maldade. A situação do judaísmo, tão precária, é o efeito da legislação de Meus Conselhos. Como pode uma lei com- binar com o livre arbítrio e o intelecto, igualmente livre e ilimitado?

    3. O livre arbítrio certamente aceitará com gratidão uma eluci- dação do seu intelecto, como Graça do Alto; uma Lei obrigatória, ele amaldiçoará com a vontade e a alma. Por isto é condenado e, ipsofacto, amaldiçoado quem se acha debaixo da Lei categórica.

    4. Quem, portanto, der Leis categóricas em Meu Nome, dará às criaturas, em vez de Minha Bênção, o fardo pesado e o jugo duro da maldição, fazendo-as novamente escravas do pecado e do julgamento.

    5. Por esse motivo, vosso cuidado na divulgação de Meus Mandamentos deve ser dirigido em não acumulardes peso maior, mas libertá-los do antigo jugo!

    6. Quando a criatura compreender e reconhecer, de alma li- vre, a Verdade luminosa da Doutrina e de Minha Vontade Paternal, ela espontaneamente formará uma Lei individual, aplicando-a com

liberdade, o que unicamente lhe servirá para benefício real de sua alma; isto porque, primeiro: uma Lei obrigatória é contra Minha Ordem Divina — apenas obscurece e nunca ilumina; segundo: em virtude dos legisladores se arrogarem poderes elevados e exclusivos, tornam-se altivos, orgulhosos e dominadores. Além disto, acres- centam aos princípios puramente divinos os próprios, inclusive sua vontade individual, diante da qual os crentes devem tremer mais do que perante Deus.

    1. Tal situação cria superstição tenebrosa, ódio contra fiéis de outras religiões, perseguição, assassínios e guerras exterminadoras. Para tanto, os homens se baseiam em incríveis absurdos e, no final, acreditam prestar serviço agradável a Deus quando cometem os pio- res crimes aos semelhantes de seitas diferentes. Disto são culpados somente os legisladores!

    2. Por isso, ao chegarem no inferno, de quem foram servos prestimosos, ocuparão os primeiros lugares entre os legisladores in- clementes; pois em Meus Céus só reinam a máxima liberdade e a maior união, surgidas do puro amor e da mais profunda sabedoria!

    3. Demonstrei e expliquei o assunto com toda a clareza e sabeis livremente o que considerar como divulgadores de Meu Evangelho. Algum de vós ou vossos discípulos pretendendo agir inversamente, serão advertidos, sem coação interna. Os maus resultados apontarão qual a índole de tais criaturas.

    4. Não acrediteis, contudo, Eu ter sustado a Lei de Moysés; ela é a mesma em sua pureza original. Revogo, apenas, a antiga co- ação e vos restituo a plena liberdade de antanho. Nisto se baseia principalmente a obra de salvação de vossas almas do pesado jugo do julgamento e do próprio Satanás, príncipe de noite e trevas, li- bertando-vos da Lei em Meu Nome.

    5. Assim como vos dou a plena liberdade, por Mim, deveis agir com os semelhantes! Batizai-os em Nome de Meu eterno Amor

21.AGRÍCOLAPEDECONSELHOPARAAEDUCAÇÃODA JUVENTUDE

  1. Todos respondem afirmativamente, enquanto Agrícola se adianta, dizendo: “Senhor e Mestre, compreendo a fundo a Tua Ver- dade pura e luminosa, e vejo ser a maldita coação da Lei obra da cegueira humana que, infalivelmente, terá que destituir as criaturas de um conhecimento superior, porquanto obstrui as fronteiras pelas quais a Luz celeste poderia penetrar, razão por que atrai e oprime a alma na matéria. Tal prejuízo cresceu a tamanho poder e força, a se tornar difícil bani-lo da Terra.

  2. Haja vista a máquina legislativa de Roma, para cuja manu- tenção se tornam necessários, no mínimo, oitocentos mil soldados e igual número de sacerdotes pagãos, dotados de suas prerrogativas. Furar tal dique assassino de almas e destruí-lo é inteiramente impos- sível, ainda que com a melhor boa vontade e energia.

  3. Falo de nosso Estado, que manifesta a maior civilização, por- quanto em outros países as criaturas não diferem muito dos animais. Se deparo com tantas dificuldades — qual será a situação em raças selvagens?!

  4. Haverá muitas pessoas dispostas a aceitarem a Doutrina, como eu o fiz; basta apenas formarem-se sociedades e agrupamen- tos, e os sacerdotes influenciarão o imperador, até que reaja pelo poder. A antiga Lei categórica lançará suas algemas e correntes sobre os povos, e ai de quem se atrever a divulgar Tua Doutrina!

  5. A essas considerações acresce um ponto importante: a edu- cação desde o berço! Quantas crianças são mal-educadas pelo exces- sivo mimo ou a severidade tiranizadora! Além disso, existem, para as classes privilegiadas, escolas sujeitas ao regime sacerdotal, onde aprendem a ler, escrever e contar; todavia, de assuntos espirituais somente aprendem o que diz respeito à superstição.

  6. Como iniciar, a fim de demonstrar aos genitores a educação da prole? E caso fosse possível obter-se alguns resultados — qual a iniciativa nas escolas públicas para se alcançar êxito na salvação das

almas? Muito embora Teus Conselhos sejam aproveitáveis pela prá- tica, quase impossível se me depara a conversão geral. Preciso é Tua Onipotência entrar em ação, do contrário nada se conseguirá com a Humanidade até o Fim dos Tempos.

  1. Não sou profeta, mas velho político, e conheço a máquina do Estado e os povos; portanto, posso prognosticar qual o efeito de Tua Doutrina. Por isso, Te peço demonstrares os meios certos para passá-la aos semelhantes.”

22.AORDEMNAEVOLUÇÃO ESPIRITUAL

  1. Digo Eu: “Falaste com inteligência, e a situação corresponde à tua exposição; todavia, afirmo-te não querermos modificá-la, mui- to embora fôssemos capazes.

  2. Assim como o dia não rompe de súbito, mas gradativamen- te — desde o imperceptível alvorecer até o surgir do Sol através dos crescentes graus da Luz — também ocorre o Dia espiritual nas criaturas desta Terra. Se Eu fizesse surgir o pleno Dia espiritual de momento, elas se tornariam ociosas, sem interesse em pesquisas e estudos. Cumpririam os Mandamentos e agiriam dentro da Verdade luminosa — porém de modo mecânico. Assim é melhor; percebem o surgir do Dia espiritual de grau em grau pela própria procura, pesquisa e ação, causando-lhes imensa alegria e podendo instruir aos irmãos ignorantes pelo estímulo de sua evolução.

  3. Os discípulos a divulgarem o Evangelho nesta época de obs- curecimento serão dotados de todo o Meu Poder, sendo capazes de operar grandes milagres em Meu Nome, quando tal for necessário em benefício real das criaturas; todavia, será de muito maior va- lor se as conversões à fé em Mim se derem dentro da ação de Mi- nha Doutrina.

  4. Pela palavra simples a alma não sofre constrangimento, mas continua livre no conhecimento e na ação; enquanto as provas dadas antes do ensinamento impõem certa coação de crença, nada melhor que a Lei.

  1. Quanto às Leis de Estado, devem continuar para o físico hu- mano, pois, enquanto o homem não for inteiramente renascido em espírito, necessita ele de leis externas para exercitar humildade e pa- ciência. São indispensáveis ao renascimento e impedem o ignorante e maldoso a fazer o mal ao próximo ao extremo, pois apontam em linhas pronunciadas o que cabe a cada um, castigando os infratores.

  2. Por isso também vos digo que deveis ser submissos ao poder mundano, ainda que não vos pareça equilibrado, até mesmo mau, pois sua força lhe foi dada pelo Alto. Quem for renascido em espíri- to se perturbará tanto quanto Eu com uma Lei do mundo.

  3. As crianças devem ser educadas com amor verdadeiro e con- trolado. Todo mimo e condescendência por parte dos pais são gran- de prejuízo para as almas dos filhos, cabendo àqueles a culpa. Geni- tores sábios serão abençoados por filhos compreensivos.

  4. Na educação deve existir coação até que o benefício da Lei se tenha transformado em obediência voluntária e alegre. Chegado esse ponto, a criança terá sustado o imperativo da Lei, tornando-se criatura livre. Fazei, pois, o que acabastes de ouvir, que tudo dará certo! Quem tiver mais alguma dúvida pode expressar-se, que lhe darei uma luz para poder caminhar e agir em pleno dia!”

23.MEIOSDESUPRESSÃOAOSACERDÓCIO PAGÃO

  1. Nisto se adiantam Agrippa e seu companheiro Laius, mo- radores de Emaús, e o primeiro diz: “Senhor e Mestre! Revelaste assuntos importantes e maravilhosos; todavia, esqueceste um ponto mencionado por Agrícola: o difícil extermínio do sacerdócio pagão.

  2. Já existem dificuldades com o judaísmo, ciente de um Deus Único e Verdadeiro — quanto mais com os pagãos presos a imagens de pedra, metal e madeira veneradas pelo povo. Seria proveitoso um esclarecimento de Tua parte.”

  3. Digo Eu: “Também nesse ponto não precisais preocupar-vos; pois afirmo-vos ser mais fácil converterdes cem sacerdotes pagãos a umsó fariseu. Isso porque os primeiros perderam grande prestígio

pelos filósofos gregos e seus sucessores romanos; segundo, as ações milagrosas caíram em descrédito através dos magos que, de toda parte do mundo, vinham a Roma. O povo acompanha certas apre- sentações a título de distração, sem fé especial. Assim, acontecerá que os sacerdotes pagãos acabarão, enquanto o farisaísmo judaico se manterá por muito tempo. O pior de tudo será a criação de um novo farisaísmo sob Minha Bandeira, de efeito muito mais perni- cioso do que o antigo! Na explicação dos dois capítulos de Isaías, demonstrei igualmente o novo farisaísmo e não necessito repeti-lo.

  1. No tocante aos sacerdotes pagãos, a própria ignorância co- meça a oprimi-los e muitos almejam conhecimento melhor e real, razão por que alguns vão ao Egito de quando em quando, a fim de receberem, por parte de um sábio, noção mais profunda sobre a fi- nalidade do homem, de sorte que a situação deles não é tão precária como pensais. Foi esse o motivo por que não quis fazer referência especial à mesma. Vós imaginando um abismo intransponível em tal situação, vi-Me obrigado a esclarecer-vos.

  2. Repito e peço considerardes o ponto acima: Não façais, sob pretexto algum, de Minha Doutrina uma Lei categórica, para conti- nuar em sua pureza livre — ao menos entre poucos — até o Fim dos tempos desta Terra, e Eu convosco, agindo em Espírito.

  3. Com o tempo, aparecerão em vão quantidade de profetas, falsos e semifalsos, em Meu Nome, afirmando isso e aquilo; os es- clarecidos na Doutrina pura se lhes oporão com toda paciência e meiguice e, no final, contarão com a vitória.

  4. O número dos inteiramente puros será sempre inferior; não posso evitá-lo — a não ser que fizesse, das criaturas livres, animais, através de Minha Palavra poderosa — e vós muito menos disto se- reis capazes!

  5. Se Eu quisesse evitá-lo pela Onipotência, não necessitaria encarnar nesta Terra; pois a restante criação Eu poderia ter guiado estando no Céu, conforme ora faço, sem que noteis uma diferença, por menor que seja. Não vim ao mundo como Homem por causa de pedras, flora e fauna, mas unicamente em virtude da vontade e do

conhecimento inteiramente livres do homem. Eu Mesmo não lhe posso impor uma obrigação divina, porém a liberdade plena e divi- na como Evangelho verdadeiro dos Céus, deixando que o homem escolha e aja livremente.

  1. Podeis estar certos de que a desconsideração de Minha Dou- trina dentro da Ordem terá as consequências prejudiciais, e isto é o bastante para dominar aqueles que receberam boa noção do Verbo, entretanto voltaram ao mundo.

  2. Em determinada época, quando a aflição tiver chegado ao cume, saberei limpar a Terra do antigo detrito! Já vos demonstrei os maus resultados do pecado para a alma, física e moralmente: o corpo será atingido por moléstias incuráveis, e a alma sofrerá pelas dúvidas — surgidas da incredulidade, falsa fé e ações tolas e maldo- sas — como efeito.

  3. Nisto tudo, aquele que está na Luz pura da Vida reco- nhecerá qual a situação espiritual das criaturas martirizadas fí- sica e moralmente. Encontrando tais infelizes, dizei-lhes: A paz seja convosco! Caminhais em trilhas erradas; vimos guiados pelo Espírito do Senhor para vos transmitir o Evangelho verdadeiro, os Caminhos à Luz da Vida, ou seja, a verdadeira salvação da alma por Deus!

  4. Se fordes aceitos, ensinai-lhes a Verdade e a ação dentro dos princípios de fácil compreensão! Assimilando-os com alegria e começando a praticá-los, orai por eles, aponde as mãos aos enfer- mos para se curarem de seus males; em seguida, batizai-os como vos ensinei, que tereis feito obra do Meu Agrado, aumentando vossa recompensa no Céu.

  5. Tendo deste modo convertido uma comunidade, curando e firmando-a em Meu Nome, escolhei do seu meio o mais esclare- cido e fiel para amável protetor e guardião, transmitindo-lhe espe- cialmente os dons do Espírito Santo, a fim de se tornar verdadeiro benfeitor da sociedade; não o prendais a uma Lei imperativa — me- dida igualmente observada por ele com relação aos outros — com exceção da prole, como já vos orientei acima.

  1. Muito embora seja tal guardião convocado em Meu Nome, não deve ter classificação mundana, mas ser, como vós, servo humil- de e simples dos irmãos, não aceitando honrarias ou remuneração. O que receber de graça, ele deve transmitir da mesma forma, com todo amor para com os mais incompreensivos.

  2. A sociedade lhe oferecendo algo pelo amor franco, deve ser aceito, assim como vos permito fazer; pois quem fizer o Bem a um enviado Meu, receberá prêmio de um enviado. Sabeis de tudo que necessitáveis; muita coisa vos será dada em época oportuna.”

24.ATRINDADEEMDEUSENO HOMEM

  1. Aproxima-se um fariseu, dizendo: “Senhor e Mestre! Escla- receste que Teus discípulos, incumbidos na divulgação de Tua Dou- trina, deveriam batizar em Nome do Pai — o Amor; do Verbo — o Filho ou a Sabedoria do Pai; e em Nome do Espírito Santo — a Vontade Onipotente do Pai e do Filho.

  2. Penso o seguinte: se eles batizarem somente em Teu Nome, ou apenas em Nome do Pai, poderia surgir um empecilho através de divergências. Pela terminologia da trindade, muito embora ex- pressando noções elevadíssimas, facilmente as criaturas poderiam ser levadas à crença de três divindades personificadas, assim como a antiga fé pura em um só Deus verdadeiro, com o tempo, se trans- formou, nos primitivos egípcios, em inúmeros deuses derivados dos diversos atributos de Jehovah. A fantasia humana, cega e tola, trans- formou-os em seres divinos e construiu templos de adoração, não podendo impedir a queda no materialismo, atribuindo aos persona- gens divinos fraquezas humanas e paixões viciadas.

  3. Tal calamidade poderia repetir-se após vários séculos em consequência do batismo sob diversos nomes, doando aos deuses distintos, templos apropriados. Isso sucedendo, as criaturas começa- rão a venerar os Teus apóstolos e seus seguidores, construindo-lhes templos individuais. A meu ver, tal poderia ser evitado pela divulga- ção de Um só Deus. Que me dizes?”

  1. Respondo: “Falaste bem; todavia, não posso deixar de reco- mendar-vos encarecidamente a explicação acima, pois, pela termi- nologia da Trindade, o Ser Divino é representado em sua totalidade.

  2. É bem verdade poder surgir uma espécie de tríplice individu- alidade divina para uma criatura de compreensão fraca; entretanto, não é possível modificar a Verdade profunda e intrínseca.

  3. O homem é criado à Imagem de Deus, e quem quiser co- nhecer a si mesmo terá que aprender sua tríplice individualidade. Tens um corpo, dotado de todos os sentidos, membros, órgãos e partículas, da maior à mais ínfima. Esse corpo tem vida natural para o desenvolvimento da alma, mui diversa da manifestação espiritual da psique. Ele subsiste de alimento natural, do qual se formam o sangue e demais humores alimentícios para as diversas partes.

  4. O coração possui um mecanismo especialmente vivificado, pelo qual se dilata e se contrai constantemente, impelindo o san- gue com os humores criados a todas as partes do corpo, que pela contração os assimila novamente para supri-lo de novas substâncias alimentícias. Pela nutrição das diversas partes do corpo nas quais habitam número idêntico de elementos da Natureza, assimilando do sangue a matéria supridora necessária ao órgão, fortifica-se o corpo todo. Sem a constante atividade independente do coração, a criatura não teria vida.

  5. A alma não tem relação com essa atividade, que de modo al- gum está ligada à vontade livre da psique, como também desconhe- ce a função do pulmão, fígado, baço, estômago, vísceras, rins etc., portanto não pode zelar por eles; todavia, é o corpo um indivíduo definido e age como se ele e a alma fossem idênticos! Quem, porém, poderia afirmar serem ambos uma só coisa?!

  6. Analisemos a alma e descobriremos ser ela igualmente uma criatura isolada com as mesmas partes do corpo, porém de substân- cia espiritual, dele se servindo como o corpo utiliza seus membros!

  7. Muito embora corpo e alma representem dois seres distin- tos — cada qual com sua função peculiar, nem podendo se dar conta do como e porquê — constituem realmente umindivíduo de finali-

dade vital, de sorte que ninguém pode afirmar ter duas personalida- des. O corpo serve à alma, e ela, ao corpo pelo intelecto e vontade, tornando-a responsável não só pelas ações dele mas pelos próprios pensamentos, desejos e apetites.

  1. Se analisarmos mais de perto a vida da alma, perceberemos ser ela, como criatura substancial, em nada superior à de um símio. Sua inteligência instintiva seria algo mais elevada que a de um ir- racional; nunca, porém, haveria intelecto e critério livre das coisas.

  2. Essa capacidade superior e idêntica a Deus, da alma, é pro- vocada por outra individualidade, puramente espiritual, dentro da psique. Através dela, ela pode diferenciar a Verdade da mentira, o Bem do mal, julgar e querer livremente, e tornar-se idêntica ao espí- rito — forte, poderosa, sábia e renascida — à medida da determina- ção própria, pela Verdade e o Bem.

  3. Em tal caso é um ser com o espírito, como também as par- tes mais puras do corpo de uma alma perfeita — partes estas cons- tituídas de variados elementos da Natureza — imigram no corpo etéreo que podeis chamar ‘a carne da alma’. No final, ela ingressa no essencial do espírito, no que se subentende a verdadeira ressur- reição da carne no dia mais recente e real da alma, quando a cria- tura renasce em espírito, já em vida ou no Além, porém difícil e demoradamente.

  4. Conquanto renascida em espírito, ela é uma só; todavia, sua individualidade se divide em três distintas. A maneira pela qual isso acontece será explicada por Mim! Prestai atenção!”

25.AATIVIDADEDOSTRÊSCORPOSDO HOMEM

  1. (O Senhor): “Em todas as coisas, descobrireis três fatores distintos: o primeiro é evidentemente a forma, pois sem ela nada existiria ou poderia ser imaginado. O segundo é o volume; sem ele, as coisas não existiriam, tampouco teriam forma. O que vem a ser o terceiro fator, tão imprescindível à existência do primeiro e do segundo? A força interna de coesão, que perfaz a natureza das coisas.

Essa força, constituindo conteúdo e forma, é, ipso facto, a base de tudo; sem ela não se admite um ser ou objeto.

  1. Vistes serem os três fatores distintos, porquanto a forma não é volume, e este não é a força condicionada. Todavia, os três são um só; pois, se não houvesse força, não haveria volume, nem forma.

  2. Voltemos à alma. Em virtude de sua existência definida, ela necessita de forma, isto é, do corpo, seja ele material ou de substân- cia espiritual.

  3. A alma, se apresentando como criatura, por certo terá con- teúdo correspondente. Este conteúdo, ou seja, o corpo interno, é a própria alma.

  4. Isto tudo existindo, deu-se a força, ou seja, o espírito, do qual depende a alma; o espírito é tudo em tudo, pois sem ele não há substância sólida, corpo ou forma.

  5. Muito embora os três fatores constituam umser, devem ser reconhecidos e classificados distintamente.

  6. O espírito, ou a essência eterna, é habitado pelo amor como força acionadora de tudo, pela inteligência mais elevada e pela von- tade viva e firme; isto em conjunto produz a substância da alma, dando-lhe forma ou corpo.

  7. Uma vez surgida a alma ou a criatura, de acordo com a von- tade e a inteligência do espírito, este se retrai no seu recôndito, pas- sando à alma vontade livre e inteligência independente, das quais ela se apossa pelos sentidos, externos, e pela percepção interna, aperfei- çoando-os como se fosse obra própria.

  8. Em virtude desse estado, no qual a alma se sente isolada do espírito, é ela apta a revelações externas e internas. Conclusão: Acei- tando-as pela prática, ela inicia a união com o espírito, passando paulatinamente à liberdade ilimitada do mesmo, tanto na inteligên- cia, quanto na livre vontade, bem como na força e poder de realizar tudo que quer.

  9. Daí deduzireis que a alma, como pensamento do espírito transformado em substância viva — no fundo, o próprio espírito — pode ser considerada qual emanação dele, sem deixar de ser o que ela é.

  1. A experiência diária demonstra a apresentação da alma como indivíduo, a terceira personalidade. O corpo serve à alma como revelação externa do espírito, tendo a finalidade de externar inteligência e livre arbítrio da alma, contê-los e só então procurar a inteligência ilimitada, a Vontade e a Força verdadeiras, tornando-se deste modo um ser infinitamente glorificado e independente, unido ao espírito, única realidade e ser penetrante do homem.

  2. Se, com essa explicação, compreendestes como toda cria- tura em si, bem como todo objeto em grau inferior, se constitui de três fatores distintos, passaremos à triplicidade da Natureza de Deus, a fim de assimilardes por que vos incuti — em virtude da Verdade superior e viva — a batizardes as criaturas que crerem em Mim, aceitando Minha Doutrina pela ação, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Prestai atenção ao que ouvireis de Minha Boca para complemento de tudo.

  3. As Escrituras afirmam que Eu, Jesus Cristo, o Filho do Ho- mem, sou Deus Verdadeiro, muito embora denominado Pai, Filho e Espírito Santo! Todavia, é Deus umasó Glória, personificada na forma perfeita do homem.

  4. Se alma, corpo e espírito são de tal forma unidos a consti- tuírem um ser, ou finalmente uma substância individual, entretanto são manifestações distintas — Pai, Filho e Espírito Santo igualmente estão unidos, conforme ensina a Escritura dos patriarcas e profetas.

  5. Desejou David que Deus encontrasse seu corpo, alma e es- pírito impunes. Se o antigo e sábio rei assim se expressou, acaso poderia se perguntar: O homem consiste de três pessoas? Tal per- gunta sendo impossível numa criatura cuja educação e verdadeira perfeição da vida lhe fazem sentir a divisão de sua natureza — como supor que Deus, desde eternidades perfeitamente Um Só, poderia ser dividido em três pessoas, respectivamente deuses?!”

26.A NATUREZA DE DEUS

  1. (O Senhor): “Se Deus, Criador de todos os seres — todavia diferente de todos — foi, é e será eternamente Verdadeiro, acaso tal fato O obriga a permanecer no Centro Original?! Se ao homem foi dada livre movimentação física e muito mais em espírito — como deveria Deus Se limitar neste sentido? Digo-vos: O Infinito divino tem Poder de movimentação infinita; portanto, assiste-Lhe o direito de transformar Sua Glória em carne, a fim de Se tornar visível e palpável às criaturas.

  2. O Poder de criar deuses semelhantes a Ele não Lhe assiste, nem pode ser; pois, se assim fosse, Ele teria que criar outros Espaços infinitos, absurdo este compreendido por qualquer pessoa inteligen- te. Se o Espaço é infinito — onde deveria começar um segundo?!

  3. Um segundo Deus Perfeito dotado da mesma Glória infinita é tão pouco admissível quanto um segundo Espaço, e daí podereis deduzir ser Eu, como Homem físico, o Mesmo Deus de todas as criaturas que fui e serei para toda a Eternidade.

  4. Se Eu criasse mais dois deuses, digamos, o Filho e o Espíri- to Santo, de sorte que ambos possuíssem individualidade diferente, teriam que outorgar-se os mesmos poderes, porquanto sem eles não se concebe um Deus, tampouco a existência de outro Espaço sob de- terminada divisão e restrição recíproca. Se isto fosse possível — que aspecto teria o Direito de Prerrogativas de Deus?!

  5. Só pode existir umDireito de Realeza Divina! Se existissem três — o Reino Uno e Infinito de Deus estaria esfacelado e sua sub- sistência seria tão pouco imaginável quanto a existência de três Es- paços infinitos.

  6. Somente o Reino Uno de Um só Deus pode existir eterna- mente, por ser apenas Ele Soberano e Senhor, como disseram os pro- fetas pela Inspiração de Deus. A Divindade não passará Sua Glória a outrem; Eu, Cristo, sou Deus Único! Criaturas, anjos, exércitos e poderes angelicais, todas as coisas no Céu e na Terra sempre se curvaram diante de Mim e jamais o fariam perante outro, assim

como todos os Espaços cósmicos — incompreensíveis à vossa ima- ginação — são tragados pelo único Espaço Infinito, como se nada representassem.

  1. Se, com a denominação de Pai, Filho e Espírito Santo, não se subentendesse Um Deus, Isolado em Sua Base e Natureza, e hou- vesse necessidade de aceitardes um Filho e um Espírito Santo Dele divergentes — que aspecto teria Deus como Pai?!

  2. Se, pela Escritura dos profetas — incompreendida pela inte- ligência embotada através da própria culpa humana — o Pai doa ao Filho todo Poder e Força no Céu e em todos os mundos, dando-Lhe o Espírito Santo como Assistente para a santificação e organização da Boa Nova vinda dos Céus, para cujo Chefe foi nomeado o Filho representado por Mim — pergunto: Que Deus fazeis do Pai?! Por- ventura ainda podeis fazer Dele um Deus?!

  3. Se fordes capazes de imaginar um outro, dentro de vossa ce- gueira mundana e material, só poderia ter aparência ociosa, pois deveis compreender que, em tais circunstâncias, Ele nada mais teria que operar e reger! Para tanto, bastaria imaginardes que Deus-Pai, em virtude de Sua Idade — como fez o velho faraó no Egito, passan- do a regência a José — entregasse o cetro ao Filho, devido ao cansaço e às dificuldades, para poder Se entregar ao repouso!

  4. Porventura podeis imaginar que, por ter o Pai envelhecido, Ele quisesse aposentar-Se, pois, além do Filho dotado do mesmo Poder, ainda dispõe de um Espírito Santo igualmente Poderoso e emanação de Pai e Filho, aos quais passaria o Governo, renunciando ao mesmo?! Quão tola e cega seria a mente humana capaz de ideias tão absurdas.

  5. Se existem Filho e Espírito Santo diferentes do Pai, assim como existem anjos e criaturas, só podem ser criações Dele, porquan- to possuem a natureza perfeita do Criador, e não em consequência da própria Onipotência individual.

  6. Como poderia haver parentesco perfeito e divino ou unida- de substancial entre um espírito sem corpo e forma, e um, dotado dos mesmos? Poder-se-ia dizer do Filho, como vedes, Pessoa física,

estar Ele no Pai, se o Pai não tivesse corpo e forma — ou poderia o Pai Infinito, sem corpo e forma, estar no Filho?

  1. Prossigo: Se o Espírito Santo for uma terceira individua- lidade surgida de Pai e Filho — como pode possuir as mesmas ca- pacidades e ser igualmente eterno? Aquilo que recebe existência de um outro ser poderia ser idêntico Àquele que se autocriou?! Pode a Eternidade ser idêntica ao tempo fugaz, ou um Espaço limitado, semelhante ao Infinito?!

  2. Admitindo encontrarem-se todas as épocas na Eternidade, onde se movimentam e mudam, impossível afirmar-se que a Eternida- de esteja no tempo mais longínquo, assim como se poderia afirmar que todos os espaços imensos, todavia limitados, certamente se encontram no Espaço Original e Infinito; nunca, porém, dar-se-ia o inverso.

  3. Caso o espírito Santo surgisse, qual criatura, de Pai e Filho, seria ele um deus do tempo e não da Eternidade! Tal deus poderia, como tudo que é temporal, deixar de existir com o tempo! Neste caso — quem poderia dar e conservar a existência eterna a criatu- ras e anjos?! A fim de proporcionar-vos maior elucidação, prossiga- mos no tema!”

27.OSENHORCOMO FILHO

  1. (O Senhor): “Se o Filho existiu desde Eternidades — como podia ser gerado? E se o Espírito Santo igualmente existiu desde sempre — poderia surgir e originar-Se de Pai e Filho? Se, dentro da razão e lógica, os três Personagens divinos — dos quais os homens, posteriormente, poderiam criar três deuses — são eternos, isto é, sem princípio, impossível um dar início à existência do outro!

  2. Eu, como Homem carnal, sou o Filho gerado por Mim Mes- mo, portanto Meu Próprio Pai desde Eternidades. Onde poderia estar o Pai, senão no Filho, e onde estaria o Filho, senão no Pai, portanto Deus e Pai em uma Pessoa?

  3. Este Meu Corpo é a Figura glorificada do Pai, por causa dos filhos e anjos, a fim de Me tornar um Deus compreensível e visível,

de sorte que podeis Me ver, ouvir e falar, conservando-vos vivos; pois constava: ninguém pode ver Deus e continuar com vida. Eu sou inteiramente Deus; em Mim está o Pai; e a força projetada no Meu Amor, Sabedoria e Onipotência a preencher o Espaço Infinito, agindo em toda parte — é o Espírito Santo.

  1. Eu, como Homem-deus entre vós, encontro-Me com Minha Natureza primitiva e total, perfeita e uniforme, neste refeitório do Monte das Oliveiras; como Deus e Homem ao mesmo tempo, não estou em parte alguma, nem nesta, nem em outra Terra; através da Força projetada, o Espírito Santo, conheço, sei, ordeno, crio, con- duzo e rejo tudo, do maior ao mais ínfimo.

  2. Assim orientados por Mim Mesmo, compreendereis por que deveis fortificar pelas mãos, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, as criaturas que em Mim acreditam e agem pela Doutrina.

  3. Assim sendo, é lógico não poderem ter a ideia de três deuses individuais por causa da nomenclatura de seus atributos. Peço-vos, encarecidamente, transmitirdes aos homens um esclarecimento jus- to e positivo; onde este faltar, eles em breve atrofiarão espiritual- mente, passando a toda sorte de erros, tornando-se difícil levá-los ao caminho da Verdade plena.

  4. Ainda que mantenhais toda fidelidade, surgirão doutrinadores e profetas falsos, seduzindo a muitos; não o podereis impedir, tam- pouco sereis responsáveis, assim como não se pode culpar o lavrador que semeou trigo escolhido no campo, entretanto o inimigo nele lan- çou o joio durante a noite, que vicejou e enfraqueceu o bom fruto!

  5. É Meu maior desejo que todas as criaturas desta Terra encon- trem os caminhos luminosos da Verdade, para alcançarem a Vida Eterna; como sou obrigado a Me retrair com Minha Onipotência, todo indivíduo é inteiramente livre e pode, no final, crer e fazer o que lhe aprouver.

  6. Na divulgação de Minha Doutrina, agireis bem pelo preparo da razão e do sentimento das criaturas. Onde ambos forem compe- netrados da mesma, a fé se tornará viva e ativa pela boa vontade; sem a justa elucidação de intelecto e sentimento, a fé continua apenas

aceitação cega e muda daquilo que a criatura aceitou de qualquer fonte autorizada. Tal fé é tanto quanto nenhuma; não vivifica a alma para uma ação espontânea que alegre o coração, portanto é morta, sem obras livres e criadoras de felicidade.

  1. Passai aos futuros adeptos os conselhos que vos transmito! Poderia exigir-vos a fé, sem maiores explicações, pois os sinais por Mim operados Me autorizam essa exigência; tal fé obrigatória não é luz interna da alma e não a incentiva à ação.

  2. Provam isto vossas constantes perguntas, confessando que a fé autoritária pouca luz dá à alma, cuja carência é suprida pelas Mi- nhas Explicações. Se, além de todas as provas e ensinos, pedis eluci- dações maiores e beneficiadoras — o mesmo farão vossos discípulos; não sejais econômicos com as explicações, caso queirais impedir o surgimento de falsos profetas!

  3. Também operareis milagres, e eles vos imitarão com toda sorte de mistificações; por isto, os milagres serão prova fraca da ge- nuinidade dos ensinamentos; o que inculcardes ao intelecto e sen- timento através de palavras esclarecedoras será prova viva e eterna- mente indestrutível da Verdade da Doutrina viva dos Meus Céus. Somente ela libertará a todos. Dei-vos novo esclarecimento e per- gunto se compreendestes tudo.”

  4. Respondem todos: “Perfeitamente, Senhor e Mestre, pois falaste com muita clareza!” Prossigo: “Ainda há tempo; quem desejar outra orientação poderá manifestar-se!”

28.OESPAÇOINFINITOEA ETERNIDADE

  1. A este convite, levanta-se um greco-judeu e diz: “Senhor e Mestre, ouvimos tantos ensinamentos luminosos de Tua Boca e por parte de Raphael, que se torna difícil fazer-se perguntas.”

  2. Digo Eu: “Feliz é tua alma por teres assimilado tanta Luz vital! Se não encontras um pontinho obscuro no teu íntimo, tal- vez haja outro nessas condições, e quiçá tu mesmo sentirás tal fator oportunamente!” O judeu se curva e volta ao seu lugar.

  1. Manifesta-se Lázaro: “Senhor e Mestre, deparo com mais al- guns recantos obscuros dentro de mim, e seria grande bálsamo para minha alma, caso me esclarecesses.”

  2. Digo Eu: “Sei o que desejas e poderia dar-te resposta clara em teu coração; tratando-se aqui da elucidação de todos, a fim de que saibam se realmente estão orientados, podes externar-te!”

  3. Prossegue Lázaro: “Segundo as Tuas Explicações referentes aos corpos cósmicos, dos universos-ilhas, do grande Homem cósmi- co, enfim, consegui certa noção da imensidade do Espaço Infinito; todavia, descobri em seguida um abismo enorme sobre o qual o meu pensamento mais intrépido não consegue voar!

  4. O Espaço sendo infinito, portanto sem limite em qualquer direção — é claro para todos nós! Mas qual sua subsistência eterna? Quando foi criado para tamanha grandeza? Que vem a ser a Eterni- dade, e como Deus Mesmo é Eterno dentro de Tempo e Espaço? Eis minha pergunta, por certo desajeitada; mas que culpa tem a alma sedenta de Luz, se dúvidas deste teor nela despertam?”

  5. Digo Eu: “Tua pergunta foi bem formulada e Eu darei a to- dos explicação clara! Vê: Deus, Espaço e Eternidades correspondem à noção de Pai, Filho e Espírito! O Pai é puro Amor, portanto a dedicação eterna pelo Ser Perfeito através da força da Sua Vontade eterna. O Espaço — ou o Filho — é o constante surgir emanado da eterna dedicação do Amor; e a Eternidade — ou o espírito, como Força original e eterna no Pai e no Filho — é Movimento e Execu- ção da aspiração do Amor, no Filho.

  6. Se o Espaço tivesse partido de um determinado ponto, de onde se estenderia ao Infinito, ele, até este momento, não seria infi- nito, como não o é o grande Homem cósmico. Além disto, surge a pergunta: O que circundava o ponto de partida em todas as direções até o Infinito, do qual surgiu o Espaço eterno? Acaso tratava-se do éter sem luz, o caos pagão, ou teria sido uma massa compacta, ou ar, água ou fogo?

  7. Se fosse um desses elementos — como poderia o ponto ini- cial ter a força de impulsionar massas infinitas ao Infinito, e para

onde teriam sido levadas, se o próprio Espaço surgiu do ponto ini- cial? Naturalmente, tinham que se encontrar além do Espaço Infi- nito, assim como inicialmente estavam fora do ponto original. Se fosse possível imaginar-se tal coisa, o Espaço seria limitado e jamais se tornaria infinito, não obstante a permanente extensão.

  1. Por aí vedes que o Espaço sempre foi infinito em todas as direções e nunca podia ter tido começo; e como Deus, Espaço e Eternidade são idênticos, Deus, que reúne em Si todas as noções, também é sem início. Penso ter dado explicação clara.

  2. Todavia, percebo certa dificuldade em vós: imaginais o Es- paço eterno e infinito inerte e sem qualquer inteligência de Vida, por isso não compreendeis como Deus — único Princípio de Vida

  1. Partindo de vossa noção, impossível imaginar-se que o Es- pírito infinito — Deus — poderia equilibrar-Se na morte eterna, como Vida perfeita desde Eternidades!

  2. Por isto, procurai fazer uma ideia contrária do Espa- ço infinito! Imaginai não haver nele um pontinho sequer sem vida, e apenas se acha fixado pela Onipotência divina, conforme vedes nos corpos cósmicos ou em suas partículas aparentemen- te inertes.

  3. Se todos os mundos e suas partículas variadas nada mais são que Ideias e Pensamentos de Deus fixados pela Onipotência, como podem as criaturas considerá-los isentos de vida e inteligência?

  4. Se Deus — sinônimo de Espaço e Tempo — é em Si a Vida mais elevada e perfeita, como poderia ser morto, inerte e sem inteli- gência o que Dele surgiu?

  5. O que se vos apresenta inerte e morto é apenas assim fixado por Deus e pode voltar à Vida inteiramente livre tão logo Ele liberte os grilhões de Sua Vontade.

  6. Vistes, por Mim e por Raphael, a transformação de pedras no éter original e vice-versa, e a coluna a caminho de Emaús é pro-

  1. va palpável.

  1. Assim sendo, preciso é banirdes a morte do Espaço infinito, imaginando somente vida e inteligência, para chegardes à verdadeira noção de Deus; pois, no Ser Divino de Inteligência poderosa e infi- nita, não pode haver morte!”

29. RELAÇÃO ENTRE OS SERES E A INTELIGÊNCIA UNIVERSAL

  1. (O Senhor): “O fato de ter o homem, dotado de consci- ência própria, impressão de ser o Espaço infinito e tudo que con- tém mudo, morto e sem inteligência baseia-se no sábio motivo de estar sua consciência isolada da consciência total, em virtude da conquista da emancipação idêntica à Minha, podendo des- cobri-la dentro de si para firmar-se e desenvolver-se no cami- nho revelado.

  2. Enquanto o homem estiver preocupado consigo mesmo na independência individual, não sente estar ele rodeado e penetrado de vida e inteligência elevadíssima, sem as quais não existiria. Uma vez conformado com a Vontade de Deus, e seu espírito a penetran- do inteiramente, a criatura estabelece uma livre ligação com a Vida superior e sua luminosa inteligência no Infinito geral de Deus, sem algo perder de sua personalidade. Neste estado, não cogita de um Espaço morto e mudo, nem de pedras inertes, porquanto tudo se tornou para ela Vida e Inteligência clara e consciente.

  3. Isto prova Minha Onisciência tantas vezes evidenciada. Como poderia Eu saber de tudo, se o Espaço entre Mim — isto é, Minha Pessoa física — e, digamos, o Sol ou um corpo muito mais longínquo, fosse sem vida e inteligência?! Há igualmente muitas criaturas que, não obstante permanecerem em determinado local, sabem o que se encontra a longa distância e o que lá se passa ou passará no futuro.

  4. Nos sete egípcios tivestes prova flagrante disto. Quem os avisou de Minha Existência? Perceberam-na através da grande in- teligência universal, bem como o caminho que os traria aqui. Se

  1. A alma humana dentro do corpo é separada da Inteligência universal por uma parede mui sutil, em nenhuma relação com aque- la; é o suficiente para ela geralmente não sentir o que acontece bem próximo, digamos, nas suas costas, e não entender a milionésima parte daquilo que vê e acontece. Isto é ocasionado pela parede di- visória entre a vida no espaço comum e do Espaço infinito. Se essa parede fosse de grande espessura e extensão — qual seria a noção de uma alma tão fortemente isolada, daquilo que a rodeia em todas as direções?!

  2. Às vezes acontece ser uma alma — por motivos de Meu Co- nhecimento — separada da Vida Intelectiva de Deus por uma pa- rede mais espessa e compacta, o que observareis nos mentecaptos e cretinos; tal psique é capaz de educação mui reduzida, ou mes- mo nenhuma. Eu e alguns apóstolos sabemos o porquê; vós outros oportunamente percebê-lo-eis.

  3. Almas de vegetais e de animais não se acham tão estritamente separadas da Manifestação de Vida divina; prestam-se ao que foram destinadas pela intuição da espécie sem qualquer ensino. Cada ani- mal conhece seu alimento e sabe onde encontrá-lo; possui armas que usa sem exercício.

  4. Do mesmo modo, o espírito das plantas conhece a matéria na água, no ar e no solo, útil à sua individualidade. A alma do car- valho jamais absorverá o alimento do qual o cedro cria sua espécie e existência. Quem ensina o vegetal a atrair apenas os elementos destinados a ele? A ação da Inteligência mais elevada e universal que preenche o Espaço; nela, toda alma vegetal e animal absorve a inteligência especialmente necessária, agindo de acordo com sua orientação.

  5. Assim sendo — como prova a experiência cotidiana — é cla- ro que o Espaço infinito e tudo nele é Vida e máxima inteligência, da qual as criaturas só não têm percepção visual a fim de que pos- sam criar sua independência vital dentro de sua inteligência isolada,

porém de grande projeção; nenhuma alma vegetal e animal o po- deria, razão por que não tem existência isolada, mas mesclada até à alma humana, passando por inúmeras transformações, das quais não guarda recordação, porque em cada fase ingressa em outra esfera intelectiva.

  1. Até mesmo a alma humana, conglomerado altamente po- tencializado de almas minerais, vegetais e animais, não tem recorda- ção de suas existências passadas, porque as partículas psíquicas espe- cificadas nos três reinos não possuíam inteligência própria e isolada, mas uma espécie de noção derivada da Vida vegetativa de Deus. Não deixam de estar unidas numa alma humana todas as pré-inteligên- cias especificadas — o que faz com que ela reconheça e classifique todas as coisas; entretanto, não é possível recordação especial dos graus de constituição e existência, pois de todas as almas isoladas se formou umacriatura humana.

  2. Tão logo estiver o homem plenamente penetrado do Es- pírito de toda Luz e Vida, descobrirá tal ordem dentro de si, assim como Eu Mesmo a vejo constantemente, isto é, tudo existe por Mim e Eu sou Tudo em tudo. Dize-Me, Lázaro: compreendeste o assunto?”

30.APREVISÃODO FUTURO

  1. Apresenta-se Lázaro: “Senhor e Mestre, o que acabaste de revelar ultrapassa tudo até hoje transmitido por Ti, e agora compre- endo por que encarnaste entre nós, orientando-nos acerca de Deus e de nós mesmos: fomos por Ti destinados a viver eternamente na máxima independência, o que somente alcançaremos pela ação den- tro de Tua Doutrina.

  2. Sem esta noção, a ninguém seria possível conquistar a Vida eterna; mas, assim, torna-se fácil palmilhar pela trilha iluminada. Mas quantos milhares nem pressentem algo a respeito, sendo obri- gados a prosseguir nas trevas! Quanto mais nitidamente sentimos Tua Graça, maior se apresenta a infelicidade alheia. Se Tu o permites

por motivos justos, assim deve ser. Quanto tempo levará até que todos os habitantes do orbe se tornem unos na fé, no conhecimento e na fraternidade?”

  1. Reforça Agrícola: “Eis minha constante preocupação! A no- ção cada vez mais lúcida no coração começa a me afligir quando penso no alheamento espiritual de quase toda a Humanidade. Se- nhor, o futuro Te é tão conhecido quanto nossos pensamentos e ideias; portanto, poderias nos dizer a época em que, no mínimo, a maior parte das criaturas se possa regozijar de um conhecimento superior.”

  2. Digo Eu: “Enquanto o homem viver na Terra não inteira- mente renascido, não será de grande utilidade a noção de muita coisa a respeito do futuro, porquanto haveria de oprimir sua alma ainda fraca, podendo levá-la ao desespero.

  3. Basta considerares apenas como sofreria, caso soubesse em que dia e hora haveria de morrer. Já lhe é desagradável a ideia da morte; quanto mais seria o conhecimento da data do desenlace!

  4. Outra coisa acontece com a criatura renascida no espírito da Vida total, sentindo sua existência futura dentro de si! Esta pode saber perfeitamente o fim de seus dias; pois a libertação do grande peso da matéria não lhe será pesar, mas alegria plena. Numa criatura comum, tal previsão teria efeito desolador.

  5. Por isto, não procureis saber o futuro, e satisfazei-vos com aquilo que sabeis para a salvação de vossa alma; e, além disso, de Eu ser Onisciente, permitindo se faça tudo para maior benefício dos bons e maus, e deste modo suportareis qualquer expectativa futura.

  6. Uma vez renascidos no Espírito da Vida, sereis capazes de prever o futuro, sem vos entristecer ou enfraquecer. Quanto ao fu- turo longínquo, foi-vos demonstrado pelos fenômenos noturnos e, mais claramente, através da explicação dos dois capítulos de Isaías; todavia, demonstrarei mais alguns fatores do fim da Humanidade maldosa, o que não vos satisfará. No momento, deixemos o assunto, pois é meia-noite e temos outro, mais importante, a tratar. Quem tiver algum desejo, poderá expressar-se!”

31.AGRIPPARELATAAAVENTURACOMUM POSSESSO

    1. Diz Agrippa: “Aproveitando Tua grande Benevolência, Se- nhor e Mestre, desejaria explicação de um acontecimento estranho. Sou, como Agrícola, homem de experiência e posso falar acerca de fatos incomuns. Há vários anos viajei à Illyria a negócios de Estado. O país é montanhoso e estéril, razão por que os habitantes se asse- melham à sua terra, apresentando cultura fraca. Duros de sentimen- tos e pouco inspirados, interessam-se por mitos e superstições.

    2. Em determinada aldeia, onde os romanos há tempos têm uma fortaleza, encontrei, num grupo de aldeões, alguns sacerdotes. Lidavam com um homem duns trinta anos, do qual diziam estar possesso há muito tempo e agora tentavam livrá-lo de um mau espí- rito. O moço era filho de família conceituada, que sofria, inclusive os moradores da zona, com o suplício do doente, que naturalmente era o mais prejudicado.

    3. No começo, tomei aquilo como tolice das criaturas e, além disto, especulação dos sacerdotes, que talvez tivessem escolhido um homem prestável a simular demência para impressionar o povo. Certificando-me, porém, da loucura, porquanto os excessos redun- davam em força extraordinária, comecei a acreditar na presença de um espírito mau.

    4. Os dois sacerdotes, entendidos no assunto em virtude dos sintomas anteriormente presenciados, viraram-se para o grupo de homens fortes, dizendo-lhes: ‘Não demora a aparecer o momento da fúria; amarrai-o com cordas e correntes!’ Só deste modo seria possível ao espírito deixar o moço, pois não seria capaz de romper as cordas e correntes consagradas. Em seguida, o homem foi de tal modo amordaçado a não se poder mexer. Os sacerdotes e demais assistentes se afastaram a uns cem passos, e eu aceitei o alvitre para tal precaução.

    5. Não se passaram vinte segundos, quando ele deu tremen- do salto, arrebentando cordas e correntes. Pulava a altura elevada, soltando berros horrendos e ao mesmo tempo arremessava pedras

enormes para o ar. Essa fúria durou cerca de uma hora, finda a qual ele caiu desacordado.

    1. Passados alguns momentos, os sacerdotes se dirigiram a ele, perguntando se havia sofrido muito. Ele nada sabia do ataque e con- tava ter tido a visão de uma bela paisagem. No início do relato, a voz era meiga e sofredora. Súbito, transformou-se. A boca escanca- rada, como por poder mágico, gritava qual trovão em idioma grego: ‘Miseráveis mosquitos de larvas humanas! Quereis enxotar-me de minha morada? Todo o exército romano não seria capaz disto! Antes de se ter cogitado da construção de Roma, eu fui o célebre rei Cya- xares, o primeiro deste nome, venci os skythos e combati os lydios. Minha segunda filha, Mandave, tornou-se esposa do rei dos persas e mãe do grande Cyrus, cujo pai foi Kambyses. Mais do que isto, não precisais saber!

    2. Essa morada carnal, da qual não me deixo expulsar, descende de meu sangue, portanto tenho direito sobre ela. Todo esforço para me enxotar é inútil; posso fazer aqui o que eu quero!’

    3. Nessa explosão estranha, proferiu mais algumas maldições e ameaças contra os sacerdotes e sacudiu sua vítima, que despertou mui fraca, pedindo algo para se alimentar. Uma vez fortificada, per- guntaram-lhe se sabia o que havia falado. Ele negou, com voz meiga, lembrando-se apenas de ter sonhado com um grupo de adolescentes vestidos de branco.

    4. Conversando com os sacerdotes e os pais do jovem, aconse- lhei tirar-lhe a vida de modo suave, obrigando ao demônio abando- nar sua morada. Todos me asseguraram ser isto impossível, e quem o tentasse, arriscaria a vida. Alguém já o havia tentado, sendo ter- rivelmente castigado. Pouco mais tarde deixei aquele local; anotei o caso e o relatei a várias pessoas — inclusive aos judeus daqui — sem conseguir explicação. Qual teria sido a causa do sofrimento da- quele rapaz?”

32. A OBSESSÃO

      1. Digo Eu: “Tua experiência é fato comum, e Eu Mesmo já libertei vários entre judeus e gregos. Há, realmente, criaturas posses- sas por maus espíritos, sem prejudicarem a alma.

      2. Os que se apossam da carne humana são almas desencarna- das que levaram vida condenável, e bem sabem dos seus pecados.

      3. A obsessão só se dá entre aqueles cuja fé em Deus e na imor- talidade da alma deixou de existir.

      4. Tais ocorrências tão impressionantes, em épocas de completa ausência de fé, são permitidas como forte advertência aos descrentes, provando o prejuízo da ignorância espiritual e a realidade de Deus, que pode castigar maldade e cegueira humanas além-túmulo, por- quanto a alma sobrevive após a morte.

      5. O mau espírito que se apodera de uma criatura sofre, não obstante sua relutância, as humilhações mais insuportáveis, tor- nando-o mais meigo e acessível; as testemunhas de tais estados são como que violentamente arrancadas de sua compreensão materialis- ta e tola, refletindo acerca de assuntos espirituais e modificando seu modo de agir. Assim sendo, esse caso tão triste e de aspecto desagra- dável tem seu benefício em época de maior carência de fé, conforme viste nos illyrios.

      6. Os dois sacerdotes, que anteriormente souberam atrair o povo através de magias, nada acreditavam, porém acumulavam tesouros vultosos; assim, tiraram outras conclusões por aquele obsedado, desistindo de suas mistificações; pois o mau espírito por diversas vezes os havia fulminado com a sentença de suas fraudes, e ser ele muito melhor que eles, prontos a quererem dominá-lo.

      7. Os sacerdotes acabaram por acreditar na sobrevivência da alma e em UmSó Deus, porque o mau espírito lhes havia gritado ser ele muito mais poderoso que dez mil legiões de deuses imaginários, por meio dos quais pretendiam expulsá-lo. Haveria ele de obedecer somente ao Deus Único, caso lhe exigisse abandonar aquele homem.

      1. Os assistentes também mudaram de compreensão, de sorte ser a obsessão nem sempre algo prejudicial, injustamente permitido por Deus, conforme julga o raciocínio humano.

      2. Em criaturas firmes na Fé verdadeira e luminosa, nunca se dá tal estado, porquanto alma e espírito penetraram igualmente o corpo, a ponto de impedir a influência de um mau espírito; a alma, se tornando ignorante, carnal e materialista, e com isto temerosa, enferma e fraca, não pode resistir ao intruso. Almas perversas que, após a libertação da carne, se mantêm nas regiões baixas da Terra, agindo a seu bel prazer onde homens afins habitam, podem penetrar no físico de uma criatura fraca e geralmente se localizam no baixo ventre, começando a manifestar-se no exterior.

      3. A alma propriamente nada sofre, como já falei; portanto, a obsessão não é prejuízo tão grande. Caso encontreis tais obsedados, aponde-lhes as mãos em Meu Nome, que os maus espíritos deixarão a vítima; se for obsedada por um renitente, basta ameaçá-lo, que obedecerá de pronto! Onde Minha Doutrina for divulgada, não é preciso que os demônios venham a soerguer a fé de uma criatura descrente; onde os anjos ensinam, os demônios terão de debandar!

      4. Quanto ao obsedado na Illyria, é ainda vivo e livre de sua praga, e a redondeza crê em Um Deus — embora Desconhecido

33.LOCALIZAÇÃODOMUNDO ESPIRITUAL

  1. Diz Agrippa: “Senhor e Mestre, tudo isso me é claro e Te agradeço pelo Ensino; apenas existe um ponto a ser esclarecido: onde se encontra o mundo espiritual como paralelo à Terra?”

  2. Digo Eu: “Como já disse por várias vezes, nada tem o mun- do espiritual a ver com o Espaço e Tempo referentes à Terra con- denada, portanto coagida. Todavia, é o Espaço, como invólucro externo, portador de todos os Céus e mundos espirituais, porque

não podem estar fora do mesmo. Devem, pois, existir — para falar racionalmente — certas localidades onde se encontram as esferas espirituais, muito embora o local não atinja um espírito perfeito, assim como o Monte das Oliveiras nada terá de reclamar, caso qui- seres imaginar Roma ou Atenas. Para o espírito não existem Espaço nem Tempo.

  1. Quanto ao espírito, como ser individual, ele não pode — como Eu — achar-se inteiramente fora de Espaço e Tempo; assim, as almas desencarnadas desta Terra se encontram em determinada localidade, não obstante as imperfeitas nada disso saibam; assim como tu, num sonho, ora te encontras num ou noutro local, bem disposto e até mesmo ativo, sem modificares a zona, no que diz res- peito ao próprio eu.

  2. Desejas informação da esfera das almas imperfeitas, e Eu te esclarecerei. Quando a criatura alimenta especial simpatia para certa localidade na Terra, ela lá continua, às vezes durante séculos, che- gando a compreendê-lo, embora não nitidamente, através de cer- tas relações.

  3. Onde, na Terra, encontrares um local, destina-se ele também aos espíritos; em si não é material, mas espiritual, porque se projeta da fantasia das almas através de sua vontade.

  4. Podes viajar mentalmente por tal mundo autocriado; toda- via, continuas, como indivíduo, no local terrestre.

  5. Um homem, por exemplo, sente grande desejo de conhecer o Sol, Lua e estrelas. Quando desencarna, a alma se encontra no local de seus desejos. Dentro em pouco entra em contato com almas daqueles mundos, aceitando suas sugestões e estudos.

  6. Uma alma que, em vida, for compenetrada pelo Amor a Deus, não alterará a localidade material, podendo, entretanto, viajar por todo o Infinito à medida da necessidade intelectual e crescente felicidade, assim como Eu não vos abandono, todavia estou Presente no Universo. Não Me é possível estender-Me mais profundamen- te; quando fores renascido em espírito, terás compreensão maior. Entendeste?”

  1. Dizem Agrippa e vários outros: “Senhor e Mestre, agrade- cemos por esta explicação tão necessária.” Digo Eu: “Muito bem; estando orientados acerca da obsessão e da localização dos espíritos, e faltando quatro horas para romper o dia, podemos esclarecer ainda outros assuntos. Quero vos dar um conhecimento claro e justo sobre o segredo do Reino de Deus!”

34.ANATUREZADE SATANÁS

  1. Aproxima-se um escriba, convertido em Emaús, e diz: “Se- nhor e Mestre! Sabemos a causa da obsessão e quem, no fundo, são os espíritos maus. Na Escritura fala-se de demônios reais, de seu príncipe, chamado Lúcifer, que fora atirado ao eterno fogo do infer- no com inúmeros outros anjos.

  2. Além disto, consta ter ele, como serpente, levado à queda o primeiro casal, e Deus dele usou para tentar o devoto Job. Que relação tem a Escritura com Tua Boa Nova? Quem é e onde está Satanás? Quem são os demônios?”

  3. Digo Eu: “Muita coisa foi por Mim esclarecida a respeito, e Meus apóstolos sabem do que se trata; como és novato, justifica-se a pergunta, portanto ouve! Tudo que o Espaço infinito comporta como matéria acha-se em julgamento; portanto, fixado pela Força de Vontade de Deus. Se assim não fosse, não existiriam Sol, Lua, Terra e seres, e Deus seria o Único na contemplação de Seus Pensa- mentos e Ideias, imensos.

  4. Desde eternidades Deus externou Seus Pensamentos e lhes deu corpo através de Sua Onipotência. Tais Pensamentos e Ideias não são propriamente corpos, mas elementos fixos e invólucros des- tinados à maturação para uma existência independente, criações designadas a subsistir ao Meu lado, o Criador visível, como que pos- suindo força própria.

  5. Toda criação, como elemento espiritual fixado, é ainda im- pura comparada ao elemento puro e livre, podendo ser considerada má e nociva ao lado do espiritualmente puro.

  1. Na expressão ‘Satanás’, deves entender, de modo ge- ral, a Criação em sua totalidade, e um ‘demônio’, suas tendên- cias isoladas.

  2. Quando o homem nesta Terra vive dentro da Vontade reve- lada por Deus, ele se liberta da prisão criadora, passando à liberdade original de Deus.

  3. Quem não quer acreditar em Deus, nem pretende aplicar a Sua Vontade revelada, submerge cada vez mais profundamente na Criação material, tornando-se espiritualmente impuro, mau e condenado pela maldade — um demônio. Toda criação e fixação material é, como já disse, impura, má e perversa frente ao puro espí- rito incriado, não pela suposição de que Deus tivesse projetado algo impuro, mau e nocivo, mas porque: primeiro, é necessário existir a Criação dotada de inteligência e força de ação, e, no homem, in- cluindo o livre arbítrio; segundo, por ser designada a transformar o efeito da Criação a fim de atingir a possível independência como elemento individual.

  4. Perante Deus, nada existe de impuro, mau e nocivo, pois, ao puro, tudo o que Deus criou é puro e bom; portanto, não existe, para Deus, Satanás, diabo nem inferno. Somente a Criação o é, en- quanto tiver que existir como tal, até finalmente resolver conquistar a vontade livre.

  5. Se consta na Escritura ter Satanás, em figura de serpente, seduzido o primeiro casal, quer dizer que ele, muito embora conhe- cendo Deus e Sua Vontade, deixou-se tentar pelo prazer do mundo material, de sorte que o desejo de sua carne condenada externou-se, dizendo: Veremos o resultado da infração contra a Vontade Divina! Deus Mesmo nos outorgou a ação, portanto nada perderemos no conhecimento, mas lucraremos! Deus conhece a consequência de nossa ação livre — mas nós a ignoramos! Ajamos a nosso gosto, para experimentarmos aquilo que só Deus sabe!

  6. Assim, ambos saborearam o fruto da árvore do Conheci- mento por meio da experiência, afundando um grau na matéria, que, frente à vida livre do espírito, pode ser classificada como ‘morte’.

  1. Reconheceram, em seguida, que em sua carne localizaram-

-se condenação e morte, capazes de enterrar igualmente a alma no julgamento e prisão. Assim perderam o Paraíso, que consistia na completa união da alma com o espírito, sem reencontrá-lo inteira- mente. Sua alma havia sido ferida pelo espinho da matéria e muito teve que lutar para se manter o mais afastado possível do julgamento surgido do imperativo projetado, conforme ora acontece a todas as criaturas, razão pela qual Eu vim a este mundo para demonstrar-lhes o Caminho da Vida e entregar-lhes novamente o Paraíso através de Minha Doutrina.

  1. O mesmo se deu com Job. Era materialmente muito feliz e proprietário de grandes bens, sábio e devoto a Deus, vivendo estrita- mente dentro da Lei. Sua abastança excepcional despertou cada vez mais a sensualidade, fazendo grandes exigências ao espírito.

  2. O elemento condenado da carne sugeriu à própria alma: Quero ver se consigo afastar-te de Deus por todas as minhas alegrias e dores, esgotar-te a paciência e subjugar-te à minha lei condenadora!

  3. Isto valeu grande luta para Job; dispunha de todas as ale- grias terrenas, as quais gozava sem dominarem a sua alma, que con- tinuava em união com o espírito.

  4. O elemento pernicioso da matéria nada conseguindo com a alma, foi ela experimentada por toda sorte de atribulações físicas, descritas na Bíblia. Job suportou-as com paciência, embora às vezes reclamasse de sua aflição; no final, porém, confessava Deus lhe ter dado tudo, mas lhe tirara tudo. Todavia, poderia agraciá-lo de novo, e até muito mais, em virtude da fusão de alma e espírito. Se assim foi — quem era Satanás que tanto experimentou o beato Job? O elemento condenado de sua carne, isto é, seus variados apetites!

  5. Jamais houve um Satanás individualizado, e demônios per- sonificados só existiam na matéria telúrica de espécie variada. Os antigos sábios representavam Satanás e os diabos sob quadros hor- rendos, isto porque a alma deveria ter noção, sob vários aspectos, do sofrimento de uma existência livre, quando se deixa novamente aprisionar dentro da matéria.”

35.SATANÁSCOMO PERSONALIDADE

    1. (O Senhor): “Eu Mesmo fiz com que Satanás aparecesse em figura, e Meus discípulos se apavoraram. O mesmo aconteceu várias vezes aos patriarcas; naquela época, não houve explicação do acon- tecimento, pois eles entenderam o sentido da aparição por meio da interpretação espiritual, razão por que diziam: Horrível é cair-se nas Mãos da Justiça Divina. Isto quer dizer: Para uma alma que já tenha atingido a plena consciência, horrendo é deixar-se aprisionar pela Lei categórica da Onipotência, dentro da matéria.

    2. Prova isto a experiência com um moribundo que não tenha alcançado o renascimento espiritual. Por que o temor da alma diante da morte de seu corpo? Porque julga morrer com ele através da Lei categórica que a prende à matéria. Podeis fazer tal observação nos que descreem na sobrevivência da alma, por encontrar-se ela enter- rada na matéria, em parte ou totalmente, sentindo a morte até que dela seja separada pela Minha Vontade.

    3. Espero tenhais compreendido a verdadeira situação de Satanás e seus demônios, de sorte a perceberdes a mesma relação no inferno: é, como Satanás, a eterna condenação, ou seja, o mundo e sua matéria.

    4. Por que se denomina Satanás o príncipe da treva e da men- tira? Por não ser a matéria o que parece, e quem dela se apegar pelo amor encontra-se, evidentemente, no reino da mentira e — em con- fronto com a Verdade — no reino da treva.

    5. Quem, por exemplo, aprecia os ditos tesouros do reino da matéria inerte, considerando-os pelo que parecem e não pelo que são na realidade, acha-se no reino da mentira, porque seu amor, base da vida, nela se enterrou cegamente e mui dificilmente se poderá elevar de tal escuridão à Luz da Verdade plena.

    6. Quem considerar o ouro apenas como manifestação corres- pondente ao Bem surgido do Amor em Deus, assim como a prata, a Verdade da Sabedoria em Deus — conhecerá o verdadeiro valor de ouro e prata, encontrando-se no Reino da Verdade; sua alma não será sufocada pelo brilho enganador e por sua condenação.

    1. Deste modo, somente os patriarcas e profetas davam o verda- deiro valor ao ouro, prata e pedrarias; não tinham apreciação como matéria; portanto, não se tornavam perigosos à alma. Pela justa no- ção do valor da matéria, rapidamente descobriram sua utilidade na- tural, tirando o proveito verdadeiro.

    2. Quando, posteriormente, as criaturas começaram a apre- ciar a matéria em virtude de seu brilho e apresentação, caíram no julgamento dela e se tornaram espiritualmente cegas, duras, ávidas, mesquinhas, mentirosas, rixentas, traiçoeiras, orgulhosas, más, com tendências dominadoras e bélicas, deixando-se atrair ao paganismo, portanto ao inferno, do qual não podiam ser liberta- das sem Mim.

    3. Por isto, tive que vestir a própria matéria e, com ela, o jul- gamento, e terei que rompê-la, a fim de Me tornar a Porta para a Vida Eterna para todos os prisioneiros, caso queiram passar por ela. Eis por que Sou a Porta para a Vida, e a Própria Vida. Quem não ingressar por Mim, não chegará à Vida na Luz da Verdade Eterna e à Liberdade, ficando preso no julgamento da matéria.

    4. Todavia, segue-se a seguinte pergunta: Neste caso, não existem Satanás e demônios personificados? Respondo: Claro, os há aqui encarnados e muito mais no Além, constantemente empe- nhados em exercerem sua influência sobre a Terra. Primeiro, pelos elementos brutos da Natureza que jazem na matéria em virtude da maturação determinada, e, além disto, indiretamente, por certas in- sinuações e tentações. Percebem fraquezas e tendências das criaturas, apossam-se das mesmas, incitando-as a paixões violentas.

    5. Quando uma fraqueza se tiver desenvolvido a tal ponto, a criatura se acha em estado de julgamento da matéria e de seus maus elementos, e será difícil libertar-se.

    6. Satanás é o conglomerado do julgamento da matéria total e, quanto à sua personalidade, não existe; todavia, perfaz uma socie- dade de diabos de toda a espécie, não só da Terra mas de todos os mundos do Infinito, assim como todos os inúmeros universos-ilhas representam o Grande Homem Cósmico.

    1. Em escala menor, o agrupamento de todos os demônios de um planeta é um Satanás, e, em menor proporção, cada diabo de persi.

    2. Antes que houvesse criaturas num corpo cósmico, também não existiam diabos personificados, mas apenas espíritos não sazo- nados e condenados na própria matéria telúrica; dela faz parte tudo o que percebeis pelos sentidos.

    3. Uma coisa é certa: não há, em outros mundos, diabos mais perversos e maus que nesta Terra. Se tivessem permissão, muito pre- judicariam o planeta e seus habitantes. A fim de impedi-los, são acometidos com cegueira e tolice completas, e seus núcleos asseme- lham-se aos manicômios, onde se enclausuram loucos e desvairados para não prejudicarem os outros. Por esta explicação, podeis perce- ber, pelo raciocínio e intelecto claros, qual a situação de Satanás e dos demônios. Compreendeste tudo, escriba?”

36.LOCALIDADEDOSDEMÔNIOS PERSONIFICADOS

  1. Responde o escriba: “Sim, Senhor e Mestre, à medida que meu entendimento o assimila, porquanto o simples conhecimento não faculta percepção penetrante. Tendo revelado assuntos tão com- plexos, acrescenta mais a localidade dos diabos personificados, para podermos nos precaver!”

  2. Digo Eu: “Julgas mui materialmente! Que importa certo lo- cal, onde poderiam encontrar-se demônios em pessoa?! A tua alma, tornando-se pura e forte por Mim, poder-se-á encontrar nos pio- res agrupamentos diabólicos, que nenhum dano sofrerá. Uma alma pura e forte pode, não obstante rodeada por inúmeras legiões de diabos, encontrar-se no Reino dos Céus, que não existe alhures, com pompa externa, mas no coração da alma perfeita; deste modo, ela se torna criadora de seu reino, semelhante a Mim, no qual jamais um demônio poderá penetrar.

  3. Por isto, a localidade menor ou maior de diabos personi- ficados lhe é inteiramente indiferente; ela, para onde for, leva o

Céu consigo, assim como o diabo personificado carrega inferno ou julgamento.

  1. Mas, falando a respeito, classificarei suas moradas especiais. Observai as casas de comércio e negócios, inclusive o Templo; são localidades especiais para inúmeros diabos personificados. Igual- mente o são os antros nos quais se praticam impudicícia e adultério; montanhas e cavernas perfuradas pelos homens com avidez e cobiça de ouro, prata e pedrarias; florestas e grutas onde se ocultam ladrões, assaltantes e assassinos; campos de guerra; estradas de caravanas; rios, lagos e mares nos quais se comercia.

  2. Além disto, territórios e bens de raiz, campos, pastos, vinhas e matas de pagãos inclementes; as possessões de judeus ricos e ava- rentos — são habitações apreciadas por demônios; inclusive o ar na- quelas localidades, o fogo, nuvens, chuva, todos os templos pagãos e seus oráculos. Eles também se localizam em grande número onde se apresenta luxo excessivo e orgulho subsequente.

  3. Locais não habitados e não vilipendiados pelos pecados humanos não são por eles procurados, a não ser que ali passe uma caravana gananciosa. Assim, recebeste esclarecimentos nesse ponto.”

37.ASBASESDA CRIAÇÃO

  1. Diz o escriba: “Mas como podem os demônios percebê-los? Porventura veem a Terra e os habitantes com suas atitudes?”

  2. Respondo: “Claro, mas somente o que lhes diz respeito. Di- go-vos: Juntam-se rapidamente os abutres onde se encontra um ca- dáver a seu gosto!

  3. Eu, somente, sei desde eternidades o que é preciso para apre- sentar um Pensamento Meu num ser livre, na mesma independência divina. Se, para tal realização, forem necessários morte, julgamento, criatura ou anjos — não faz diferença até alcançar a finalidade prin- cipal de Meu Amor e Sabedoria. O Eterno sempre terá o tempo à disposição. Se bem que disse David, mil anos não representarem um

dia para Deus — Eu te afirmo que milhões de anos não têm o efeito de um simples momento!

  1. Tu existes, e incontáveis criações como esta jazem perfei- tas no passado, numa sequência natural. Que reclamação poderias apresentar por Eu ter permitido tua encarnação nesta época, e qual seria o protesto dos que, em bilhões de eras, serão por Mim proje- tados na vida?!

  2. Sou Senhor de Meus Próprios Pensamentos e Ideias; posso realizá-los quando quiser! Não estou sujeito à Lei, por ser Eu Mesmo a Lei desde eternidades, e posso criar uma Lei em assuntos de Moral Divina, que somente partirá de Mim, dependendo de Minha Von- tade, como e quando o quiser, dentro de Meu Amor e Sabedoria!

  3. Quem poderia prever, quem obrigar-Me, senão Eu Mesmo, partindo de Minha Ordem eterna?!

  4. Minha Vontade eternamente livre é a Lei sobre Meus Pen- samentos e Ideias, que, todavia, levam existência contemplativa dentro de Mim. Tão logo seja do Agrado do Meu Amor fazê-los aparecer numa existência sólida e independente, Minha Sabedoria determina a Vontade para a Lei acima de Pensamentos e Ideias, que surgem fora de Meu Ser como realizações externas, enquanto Meu Amor e Sabedoria — como Lei de todas as Leis — os conserva den- tro de sua utilidade.

  5. Deste modo, é a existência dos demônios personificados uma Lei que lhes foi outorgada além do livre arbítrio. Enquanto não Me reconhecerem e o que fui desde eternidades, sou e ainda serei para sempre, Minha Lei categórica deles não se apartará, pois, se assim o fizesse, sua existência independente estaria finda.

  6. Minha Ordem eterna não será alterada, caso um ser isolado venha a regenerar-se pela livre vontade, agora ou em épocas inima- gináveis, para ingressar no Reino da Verdade; para todos existem os meios necessários para tal fim.

  7. Como vos demonstrei as localidades das almas más e per- versas, ou sejam, os demônios personificados, evitai-os, caso vos sintais algo fracos; em tais antros o perigo ameaça o fraco! Ele, ati-

rando-se ao perigo, facilmente sucumbirá ou, pelo menos, sofrerá algum dano.

  1. Por isto, não vos deixeis tentar pelas coisas impuras e não sazonadas deste mundo, porquanto, como criaturas no último grau do aperfeiçoamento interno, as deixastes para trás. Procurai progre- dir e desconsiderai o retrocesso, e dentro em breve estareis na meta final! Compreendestes?!”

  2. Diz o escriba: “Senhor e Mestre, também este ponto nos é claro. Existem, porém, outros, não compreendidos. Haja vista ca- sos de burgos e residências antigas serem palco de manifestação de fantasmas, e ai de quem se aproximar casualmente, e pior ainda o atrevido que de propósito para lá se dirigisse! Que vem a ser isto, pois não podem ter sido frequentados por pecadores?”

  3. Digo Eu: “Meu amigo, a causa é bem diversa da que pen- sas. Basta mandares circundar tais burgos e antigas fazendas por um bravo exército, e te garanto que tais aparições se retraem de forma a nem despertarem tal suposição entre os soldados.

  4. Existem algumas localidades onde se mantêm almas de há muito desencarnadas, manifestando-se de longe em longe. Geral- mente estavam muito presas aos bens materiais e, a fim de aumen- tá-los, praticaram graves injustiças. Lá ficam até se ter apagado o úl- timo vislumbre da existência do local. Só então começam a refletir, porque percebem ser fútil e vã toda posse terrena.

  5. Tais almas não degeneram em maldade real e sua existência restrita e impotente não pode provocar dano moral; ao contrário, sua manifestação passageira age beneficamente sobre a incredulida- de dos materialistas, que começam a crer e modificar sua maneira de viver, inteirando-se da sobrevivência da alma, que todavia não lhes parece boa e feliz.”

38.APRECEPELOS DESENCARNADOS

    1. (O Senhor): “Tais almas, nem boas nem más, não se podem tornar perigosas, e constitui obra de caridade pedir por elas. A prece de uma criatura plena do verdadeiro amor e piedade, convicta do Meu Amor, exerce grande alívio em almas verdadeiramente necessi- tadas. Ela forma certa camada de éter vital, na qual veem — como num espelho — seus males e defeitos, melhorando e facilmente su- bindo à Luz da vida.

    2. Eu Mesmo vos dei oportunidade para vos tornardes úteis aos desencarnados. Mas, como pedir? Por certo não julgueis levar-Me à Misericórdia através de vossa prece, porquanto sou infinitamente mais Misericordioso que todas as criaturas bondosas do mundo em conjunto; mas explicai-lhes o Evangelho, com fé e amor, e elas vos ouvirão e aproveitarão. Deste modo pregareis a Boa Nova aos verda- deiramente pobres de espírito, que lhes será muito útil.

    3. Todas as demais preces e orações de nada adiantam às al- mas, mas prejudicam pelo aborrecimento de serem comuns e, entre fariseus, até mesmo dentro da Lei, feitas apenas com pagamento vultoso. A maneira pela qual vos ensinei a pedir e cuidar da pobreza espiritual dos desencarnados reverte em bênção; orações e missas dos fariseus são-lhes maldição que desprezam e de que fogem.

    4. Guardai este Meu conselho; com sua prática, criareis amigos verdadeiros, poderosos e reconhecidos, no Além, que não vos aban- donarão, aqui ou lá, caso passeis qualquer atribulação! Tornam-se tais amigos vossos protetores, zelando pelo bem de seus benfeitores.

    5. Somente os conseguireis pelo zelo e cuidado por Mim descri- tos. Para tanto, não é preciso a descoberta de burgos e fazendas, pois podeis fazê-lo sempre e em qualquer lugar e pelo número de almas de que for capaz vossa imaginação. Vossa fé, amor e misericórdia verdadeiros, e a Verdade surgida por Mim ultrapassam as esferas do grande Homem Cósmico. Não sois apenas Minhas criaturas, mas idênticas a Mim, vosso Pai, e infinitamente mais, enquanto o Ho- mem Cósmico não é nem um ponto sensível no menor nervo do de-

dinho do pé — isto, considerado espiritualmente, ou seja, do ponto de vista da Verdade mais profunda.

    1. Em verdade vos digo: a vós é dada uma esfera de atividade infinita, cuja extensão vereis apenas quando morardes e agirdes no Meu Reino, eterno, numa só Casa do Pai! Por enquanto, tudo isto vos parece um sonho curioso, como acontece aos bons filhos de pais religiosos. O que vos digo é Verdade profunda e divina.

    2. Assim como Me é dado todo Poder e Força no Céu e neste ínfimo planeta, também vos serão dados a todos que creem em Mim e Me amam acima de tudo. Os filhos de um pai não podem ser me- nos perfeitos do que ele.

    3. Nas criaturas desta Terra, a situação é geralmente outra

    1. Dei-vos pequena prova da qual deduzireis Quem Sou, quem sois, e o que vos cabe fazer. Agi sempre dentro de Meu Verbo, e fa- cilmente atingireis a meta final. Todo Infinito não terá Testemunha mais segura e poderosa do que Eu. Mas, como já disse, guardai-o no fundo de vossa alma; do contrário, terei falado baldadamente.

    2. Pelo pequeno sacrifício feito a Mim, não procureis recom- pensas no mundo, pois, em tal caso, seríeis não Meus filhos, mas da Terra — péssimo escabelo do Meu Amor e Rigor; fazei tudo por Amor verdadeiro e vivo para Comigo, vosso Pai, e Eu saberei como vos recompensar com verdadeira alegria!

    3. Em verdade, em verdade vos digo: Jamais alguém viu, ouviu e sentiu o que Eu reservo para os filhos que Me amam como Pai, de coração singelo. Todavia, acrescento: Não permito ser considerado ao lado do mundo! Ou tudo, ou nada! O meio termo é hábito dos pagãos e lhes traz maus frutos.

    4. Que vantagem desfrutaria quem possuísse todos os tesouros do mundo, levando grave prejuízo à sua alma?! Por isto, preocupai-

-vos somente com os tesouros não destrutíveis pela traça e ferrugem, que tereis o maior dos benefícios!

    1. Considerai também este conselho e tereis vida boa na Terra, inclusive os que creem em vós; todos os outros devem consumir-se, a fim de que sua carne não se torne demasiado orgulhosa! Eu, uni- camente, sou o Senhor e faço sempre o que quero, dentro de Minha Sabedoria eterna. O mundo que grite tão alto quanto quiser ou pu- der, sobre isso ou aquilo, que jamais darei atenção à sua gritaria tola!

    2. O que Me expuserem Meus verdadeiros filhos e amigos será por Mim considerado e, brevemente, aliviarei os seus males. Tudo que é e se chama mundo deve, a partir de agora, ser castigado cem ve- zes mais do que o foi desde o início dos tempos! Eis Minhas Palavras

— e os tempos ensinarão as criaturas Eu não as ter falado em vão!

    1. Ai de todos os materialistas e renitentes de Minha Vontade! Esta Terra é um berço para Meus filhos, que não se tornarão aptos sem relho; e se golpes suaves não derem resultado, mais fortes entra- rão em ação, dos quais Eu Me incumbirei. Agora, vamos considerar a outra parte de tua pergunta.”

39.RUÍNAS MAL-ASSOMBRADAS

  1. (O Senhor): “Tu, amigo escriba, mencionaste os seres ba- rulhentos em antigos castelos e fazendas; confirmo sua existência, mormente nesta época; entretanto, não se trata de fantasmas pe- rigosos, mas de criaturas nocivas e más que, com ajuda de magos pagãos, ex-sacerdotes judeus e essênios foragidos ou demitidos, en- gendraram suas maquinações. Sustentam toda sorte de larápios e, através de roubo, assassínios e peças diabólicas, acumulam grandes tesouros. Os lugarejos com seus labirintos subterrâneos lhes servem para obras condenáveis.

  2. O incauto, tentando se aproximar de tal ninho infernal, é assustado de tal forma a se tornar seu melhor protetor e defensor; faz o relato a milhares de pessoas, todas consideram aquilo como so- brenatural e ninguém se atreve a sondar o antro. Mas, como já disse: basta um exército sitiá-lo, e os ‘espíritos’ não aparecerão, porquanto fugiram por saídas secretas.

  1. Tais castelos e fazendas não são habitados por almas desen- carnadas, e sim por grande número de criaturas criminosas, piores do que os demônios do Além! Compreendeste bem, ou alimentas outra dúvida?”

  2. Apresenta-se Agrícola: “Foi ótimo eu ouvir essa explicação, pois saberei acabar com tais maus espíritos: Conheço na Europa quantidade de ninhos mal-assombrados, e hei de exterminá-los!”

  3. Digo Eu: “Em teu país tal medida seria mais difícil do que aqui, porquanto vossos sacerdotes colaboram naquele malefício. Enquanto Minha Doutrina não tiver tomado considerável avanço, pouco se conseguirá pela violência em locais mal-assombrados. O melhor meio contra tais abusos é o esclarecimento do povo mais instruído; quando conhecer, na realidade, qual a razão daquilo, o povo também se integrará, tornando-se ele mesmo a extinção de espíritos de carne e osso.

  4. Quem quiser caçar aves, não deve atirar cacetes nos arbustos, mas armar o laço para atraí-las e, em seguida, prendê-las.

  5. Onde princípios de Governo são ligados estreitamente ao sacerdócio mistificador, pouco será alcançado pelo poder externo; posteriormente, porém, poderá ser aplicado.

  6. Na Judeia, mormente na Galileia, Eu Mesmo desmantelei alguns antros de mistificação, e Cirenius poderá relatá-lo. Ainda há outros que saberei exterminar, como fiz nos templos pagãos de Sa- mosata, no Eufrates.

  7. Na Europa só se poderá fazer o que disse. Por ora, os povos ainda estão presos ao paganismo e levarão séculos para largá-lo. Todavia, haverá muitos na plena Verdade, sofrendo perseguições pelos pagãos. Por isto, farei descer um grande julgamento sobre eles, para acabarem com seus erros. Dize-me, amigo escriba, se compreendeste tudo, pois dou a todos oportunidade de conheci- mento completo.”

  8. Responde ele: “Senhor e Mestre, estou bem informado de tudo, através de Tua Graça e Misericórdia. Fizeste menção de um jul- gamento sobre todos os pagãos e poderias indicar a época do mesmo.

  1. Daniel e Isaías disso falaram veladamente e Tu explanaste dois capítulos do último profeta, inclusive a destruição de Jerusa- lém. Certamente haverá prenúncios de tudo, pois não deixas de ad- vertir as criaturas.”

  2. Digo Eu: “Caro amigo, fizeste boa pergunta, que será res- pondida; entretanto, não deve o paganismo futuro ser por vós ima- ginado como o atual. Os templos pagãos de hoje de há muito se- rão destruídos; no seu lugar surgirão outros pelo anticristo, e seus sacerdotes se farão honrar como representantes Meus, procurando açambarcar todos os bens mundanos. Saberão passar bem, deixando o povo sofrer física e espiritualmente. Quando aquele paganismo se tiver alastrado, o grande julgamento será lançado sobre a nova prostituta de Babel! Pormenores vos direi posteriormente; tomemos primeiro algum vinho.”

40.INTERPRETAÇÃOESPIRITUALDEPÃOE VINHO

  1. Imediatamente, Lázaro manda trazer bom vinho e diz: “Os Ensinamentos grandiosos transmitidos pela Tua Boca Divina devem ser brindados!”

  2. Digo Eu: “Tens razão, irmão e amigo! O Bem e a Verdade encontram em pão e vinho sua analogia; por isso, podeis estar certos de Minha Presença até o Fim dos Tempos, quando, em recordação de Mim, tomardes pão e vinho sobriamente. Se bem que não Me vejais sempre, vosso coração dirá: Regozijai-vos, pois o Senhor, Deus e Pai, está entre vós, abençoando pão e vinho! Sede alegres e felizes em Seu Nome, lembrando-vos mormente dos necessitados e dos po- bres de espírito!

  3. Vosso coração assim falando, podeis acreditar na Minha Pre- sença e tudo que pedirdes de bom e verdadeiro para a vida da alma prontamente vos será dado!

  4. Quem Me receber com intenso amor terá a convicção ocular da Minha Presença. O que ora vos digo e garanto vale para todos os vossos seguidores verdadeiros e fiéis. Agora dá-Me o vinho, que

estou com sede!” Todos Me acompanham e louvam o vinho que, por Minha Vontade, tinha especial aroma. Em seguida, o escriba pergunta se Eu estava disposto a voltar ao assunto anterior.

  1. Digo Eu: “Amigo, ainda há outros mais importantes que o fim do paganismo. Esperemos o dia e a partida dos fariseus acomo- dados no outro recinto, que explicarei ao ar livre o assunto que te interessa. Antes disso, o que vos parece necessário para aumentar vosso conhecimento e fé?”

  2. Expressa-se Pedro: “Terei uma pergunta a fazer, caso permitires.”

  3. Digo Eu: “Fala, pois agora todos têm direito para tanto!”

  4. Prossegue ele: “Determinou Moysés certos meios para pu- rificação dos pecadores, conhecidos de todos os judeus. Convém usá-los? Possuem poder santificador, tornando-se indispensáveis à vida eterna da alma? Devem os pagãos submeter-se à circuncisão, ou basta o batismo? E os demais recursos de purificação, convém aplicá-los em pagãos convertidos?”

  5. Respondo: “O judeu circuncidado, sempre o será; esse ato em si nada representa, tampouco tem valor secreto e de efeito mági- co sobre a alma. Nada santifica o homem, senão a fé viva e o amor ativo para com Deus e o próximo.

  6. Quem tiver pecado contra Deus e o semelhante, deve reco- nhecê-lo com remorso, pedir perdão a Deus e reparar o dano prati- cado. Evitando os erros, estará purificado; pois, pelo reparo do mal e evitando o pecado, os erros lhe serão perdoados.

  7. Quem não agir assim, persistirá no pecado e seus efeitos, não obstante tiver feito matar dez mil bodes, atirando-os ao Jordão. Esse e outros meios externos de purificação não melhoram nem san- tificam o homem, mas unicamente sua ação justa e sincera dentro de Minha Doutrina, acreditando no Deus Único e Verdadeiro, isto é, em Mim!

  8. Já vos ensinei que deveis batizar todos que tiverem acei- to viva e verdadeiramente a Minha Doutrina, ou a Mim Mesmo, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; basta apordes as

mãos e, como prova externa da purificação interna e verdadeira pelo Espírito Divino, o banho com água limpa. É o suficiente para ju- deus e pagãos.

  1. Todo o resto não tem valor para Mim, incluindo preces la- biais, ainda que prolongadas. Quem desejar ser atendido por Mim deverá orar no recôndito de seu coração, com fé, e lhe darei o que desejar. Novamente repito: Procurai em tudo somente a Verdade; ela vos libertará!

  2. Convém a criatura respeitar as Leis de Moysés referentes à higiene. Por falta da mesma, toda sorte de moléstias se localizam na carne e no sangue, criando desânimo e tristeza na alma frágil; mas o que limpa o corpo da impureza não purifica a alma de seus pecados. Os judeus costumam lavar as mãos antes e após a refeição — às vezes até mesmo os pés; nós nem sempre assim agimos, entretanto somos mais puros de mãos não lavadas, que os judeus fanáticos de mãos e pés limpos. Em suma: Nenhum meio externo santifica o íntimo do homem, mas somente a fé viva, seu amor e as boas obras. Entendeste?”

  3. Diz Pedro: “Nesse caso, também não será necessário aben- çoarmos os matrimônios, como fazem os sacerdotes do Templo?”

  4. Respondo: “De modo geral — não; pois a união matrimo- nial é suficientemente estabelecida pela promessa recíproca peran- te os pais ou demais testemunhas idôneas. Se, numa comunidade criada em Meu Nome, fordes comprovar e abençoar as uniões, tal proceder ser-lhes-á útil na confirmação das mesmas. Depende de vossa boa vontade como ato amistoso.

  5. Isso vos sirva de conselho, e não como lei; tampouco deveis disto fazer uma lei. Já vos demonstrei o mau resultado das leis obri- gatórias sobre a alma, ávida de liberdade, de sorte que tudo entre vós deve ter o cunho do amor verdadeiro e puro, jamais de uma coação. Reconhecer-se-á aos Meus verdadeiros discípulos pela prática da lei livre do amor, amando-vos como Eu vos amo!

  6. Uma bênção matrimonial, paga a um sacerdote orgulhoso dentro ou fora do Templo, não tem o menor valor para Mim, mas

  1. Diz Agrícola: “Os romanos aplicarão tal medida, Senhor! Que me dizes a respeito da poligamia?”

41.A POLIGAMIA

  1. Digo Eu: “Quanto à poligamia, os Meus seguidores devem respeitar a situação existente no começo da Humanidade, onde Deus criou umhomem, a quem deu umamulher. Quem se tiver ca- sado, prometendo amor completo e fidelidade invariável, unindo-se a outras, evidentemente terá cometido adultério contra a primeira; todavia, a Lei reza: Não adulterarás!

  2. Afirmo-vos ser a poligamia um grande mal; pois atrai a alma à sensualidade carnal, que sempre será manifestação de impudicícia e adultério. Quem for acometido de tais males não entrará no Reino de Deus. A alma estará demasiadamente enterrada na carne sensual, não conseguindo compreender e sentir algo espiritual. Por isso, tais criaturas voluptuosas dificilmente ingressam no Reino de Deus.

  3. Conquanto a poligamia seja nociva à alma, não vos dou lei contrária, entregando tudo à vontade individual; demonstro a Ver- dade e dou bom conselho. O mesmo sucede com o homem que mantém concubinas: comete igualmente adultério com a esposa. Quem viver somente em companhia de concubinas, sem casar-se, é tão mau ou talvez pior que muitos adúlteros; pois prejudica igual- mente a alma das companheiras. Tais criaturas criam, já em vida, um destino amargo, e muito pior e miserável no Além; pois, pela má conduta, gastaram quase todo o elemento vital da alma.

  4. Quem quiser alcançar rápido e completo renascimento no espírito de sua alma, leve vida casta e não se deixe seduzir pelas mu- lheres; a atração sexual leva o sentido da alma ao exterior, impedindo fortemente o despertar do espírito na alma, sem o qual não se pode cogitar do renascimento.

  1. Um bom matrimônio na base da razão, sabedoria e re- núncia, não impede o renascimento espiritual, enquanto a vo- lúpia e impudicícia o impossibilitam. Por isto, fugi delas mais que da peste!

  2. Impudicos de ambos os sexos, ainda que se arrependam e comecem a levar vida casta através da renúncia, conseguindo ple- no perdão por essa penitência, alcançarão o renascimento espiritual apenas em parte. A alma de tais criaturas muito terá que fazer para se libertar da carne a ponto de, ao menos, ouvir as advertências do espírito, necessárias à salvação. Pode tornar-se boa e sábia e fazer o Bem; nunca chegará à plena ação milagrosa. Somente no Além isto será possível.

  3. Tal psique pode ser comparada a uma criatura há muitos anos enferma, que finalmente recupera a saúde por um remédio adequado. Pode alcançar idade avançada, caso leve vida ordenada; todavia, não chegará à força de uma outra, sadia desde o berço, por- que seus músculos, nervos e fibras foram impedidos no desenvolvi- mento necessário e, além disto, ponto principal, não se exercitaram nos movimentos e esforços.

  4. O mesmo acontece a uma alma enferma durante longo tem- po: falta-lhe o desenvolvimento básico do amor puro e verdadei- ro a Deus, porquanto carece igualmente de fé e vontade. Essa falta impede o exercício das virtudes, e seu poder sempre ficará atrofia- do na alma convertida, não obstante haver no Céu maior alegria pela conversão de um pecador, do que com noventa e nove justos, jamais necessitados de penitência. Para que amor, fé e vontade se tornem realmente ativos, preciso é desenvolvê-los desde a infância e exercitá-los.

  5. Mas, como tenho o Poder de curar toda moléstia grave e prolongada, a ponto de a criatura se tornar tão forte como se nunca houvesse estado enferma — a alma de um pecador remi- do pode, a partir de agora, chegar à força interior de um justo, que jamais necessitou de penitência. Custa-lhe isso muita força de renúncia.

  1. Quem tiver filhos deve exercitá-los nas três virtudes, para facilitar-lhes o domínio do mundo interior! Dou-vos este bom con- selho não como lei; pela lei obrigatória, o homem não consegue tor- nar-se livre fundador de sua salvação! Quem, pela aceitação de Meu Conselho, impuser uma obrigação à sua vontade, praticando-o, terá agido bem. Teríeis todos entendido isto?”

42.AJUSTA PENITÊNCIA

  1. Respondem todos: “Realmente, Senhor e Mestre, a penitên- cia plena e justa é o único meio de salvação. Compreendemo-lo a fundo. Que dizes, porém, dos penitentes rigorosos? Acaso é preciso andarem de veste especial e fazerem uso da cinza?”

  2. Digo Eu: “Tais atitudes são tão desnecessárias quanto o foi fazerdes tal pergunta, pois já vos demonstrei no que consiste a ver- dadeira penitência! Qual seria o benefício de saco e cinza para a sal- vação de uma alma? Foram idealizados pelos antigos como interpre- tação de uma penitência justa: o saco representa humildade externa; a cinza, a da alma. O simples uso de um saco e o salpicar de cinza na cabeça proporcionam tão pouco a santificação da criatura quanto jejum e mortificação — semelhante à atitude de um guerreiro que se oculta numa caverna, de medo do adversário, em vez de enfrentá-lo com coragem, não podendo receber a coroa da vitória.

  3. Atirai para longe saco e cinza, jejum e mortificação, sacrifício de animais e todas as demais oferendas no Templo para o perdão dos pecados; não têm o menor valor para Mim! Usai a vontade firme e inabalável para o aperfeiçoamento verdadeiro! Aplicai o amor vivo para com Deus e o próximo, a Fé viva Nele e Sua Encarnação na Minha Pessoa! Isto santifica o homem, fortalece e vivifica a alma no Meu Espírito, ativo dentro dela!

  4. Ensinai-o a todos os povos, e tereis poupado o julgamento aos pagãos de épocas vindouras; não tremais diante dos homens; revelai-lhes, de vontade boa e corajosa, o Rigor Divino da Verdade! E se não fordes capazes de vencer todo o paganismo em breve tem-

po, a Verdade pura o fará posteriormente. Pois o grande julgamento por Mim anunciado que cairá sobre o reino da mentira consistirá na vitória da Verdade sobre a hipocrisia.

  1. Naquela época, novamente inspirarei homens — e até mes- mo mulheres — que, pela Minha Boca em seu coração, transmitirão esta Verdade de forma tão clara e pura como ora vos transmito de viva voz; e tal Verdade será, para os pagãos cegos, o juiz poderoso e inclemente. Por isto — nada mais de saco e cinza, mas, em tudo, Verdade plena e vontade firme!

  2. Meus discípulos e amigos, falei abertamente e não em sím- bolos; portanto, entendei-o livremente e pela ação. O puro saber, pouco, ou mesmo nada, adianta à alma! Quem, pela ação, fizer certo sacrifício em prol da Verdade, colherá a Vida eterna.

  3. Externai-vos, caso vos oprima qualquer ignorância, e se real- mente assimilastes Minhas Palavras simples em sua realidade! Não indago como se ignorasse vosso entendimento, mas para analisardes quanto ao reflexo da Verdade dentro de vós. Somente ela vos servirá para a vida!”

  4. Exclamam todos em uníssono: “Compreendemos e assimila- mos a Verdade plena; todavia, duvidamos ser ela aceita com alegria pelos ignorantes. Havendo considerável número de criaturas cegas de espírito, apenas felizes nas cerimônias místicas, julgando pecarem contra Deus caso fossem obrigadas a despir o velho ‘eu’ como se tira uma roupa gasta — será difícil falar-lhes dessa necessidade.

  5. Quem não chegar ao raciocínio mais claro pelas experiências, não aceitará a verdade mais luminosa. Existe entre judeus o velho hábito de confessarem ao sacerdote, a fim de que ele pese pecados e boas ações, determinando as obras de penitência e oferendas purifi- cadoras. O homem que executa as ordens do Templo julga-se puro e justificado perante Deus. Observando-o mais de perto, continua ele o mesmo e, além de prosseguir nos velhos hábitos, acrescenta outros pecados, o que prova ser tal instituição prejudicial. Quem se atrevesse a criticá-la teria que fugir para não ser apedrejado. Que dizes a isto, Senhor?”

43. A ABSOLVIÇÃO

  1. Digo Eu: “Por isso deveis pregar somente a Verdade! Quem a aceitar, será livre e feliz; quem assim não fizer, permanecerá nos pecados, no seu julgamento e morte espiritual.

  2. De modo algum vos obrigo a transmitirdes as Verdades da Vida a todos, e de tal forma que venham a vivê-los inteiramente. Por enquanto, foi dado apenas a vóso entendimento do Segredo do Reino de Deus, e não a todos os ignorantes desta época; posterior- mente, encontrareis criaturas em quantidade que aderirão com todo entusiasmo, cooperando no progresso espiritual.

  3. Quanto à mencionada confissão perante o sacerdote, é, da maneira aplicada hoje em dia, prejudicial e condenável, porque não melhora a criatura, fazendo com que permaneça no pecado; toda- via, não sou contrário ao homem fraco e psiquicamente enfermo confessar de boa vontade suas fraquezas e males a um de alma forte e saudável, porquanto lhe pode dar os justos meios pelos quais re- vigore e regenere sua alma. Deste modo, torna-se salvador de um semelhante. Novamente, trata-se de um bom conselho, e não de lei; o que faço, também deveis fazer, ensinando a Verdade a todos!

  4. A simples confissão purifica a criatura tão pouco quanto o re- lato da enfermidade, pois o doente deve ouvir o conselho do médico inteligente e experimentado, segui-lo, evitando o que lhe provocara a enfermidade.

  5. É igualmente benéfico conhecer-se o ponto fraco ou forte do seu semelhante numa comunidade, para se poderem ajudar re- ciprocamente no físico e na alma. Quem se retrair porque presume aborrecer com a sua confissão, não deve ser provocado!

  6. Quem dentre vós for sábio, e seu espírito lhe revelar as fra- quezas do irmão temeroso e fraco, deve dar-lhe bom conselho, par- ticularmente, ajudando pela ação, e seu prêmio não se fará esperar!

  7. Todavia, respeitai o livre arbítrio e não imponhais qualquer obrigação, sabendo ser contra Minha Ordem Eterna toda coação moral! Não façais o que Eu não faço! Deste modo ficou esclarecido

o sentido da confissão aberta, das fraquezas e pecados; o que passa daí é contra Minha Ordem e prejudicial.

  1. O irmão fraco que se tiver confessado ao mais forte não deve ser enfrentado com expressão de juiz ameaçador, mas sim deveis ex- por-lhe a verdade com amor e amabilidade e dar-lhe os meios pelos quais se cure, que desse modo não perderá o ânimo, tornando-se discípulo grato da Verdade. Enfrentando-o com sermão condena- dor, pouco alcançará, aumentando sua infelicidade.

  2. Acontecerá, infelizmente, que, em épocas vindouras, as con- fissões perante falsos profetas serão mais comuns que em qualquer tempo, provocando queda e julgamento daqueles que usam o Meu Nome. Alegarão, como os pagãos, Deus ter dado somente a eles o direito de perdoar, ou não, os pecados; assim, também beatificarão e santificarão seus favoritos mediante grandes oferendas.

  3. Em tal época, o grande julgamento não demorará a cair sobre o novo paganismo; por isto, sede precavidos com as confissões públicas, a fim de que os falsos profetas não vos imitem de modo pior que fazem os fariseus e arquijudeus de hoje!

  4. Afirmei, mormente aos apóstolos, poderdes perdoar aos que vos prejudicarem, recebendo eles o perdão no Céu; se, po- rém, tiverdes motivo, em virtude de incorrigibilidade moral, de não lhes perdoar os pecados praticados contra vós, não serão re- midos no Céu.

  5. Já naquela ocasião estabelecemos assistir-vos direito de sus- tar o perdão após sete vezes setenta e sete perdões. Se vós, Meus discípulos diretos, apenas deste modo podeis perdoar ou não os pe- cados feitos a vós, é claro não assistir ao sacerdote a prerrogativa de Deus em perdoar ou sustar pecados de outrem.

  6. Quem, por exemplo, tiver ofendido Caifás, este poderá per- doar ou não o delito; quem tiver agido contra Herodes, nada terá

o que ver com Caifás, mas sim com o Tetrarca. Quem tiver agido contra o Templo, trate de reabilitar-se com ele!

  1. Não Me refiro ao Templo como é, mas como foi — pois até mesmo Eu seria infrator contra o mesmo, como vós todos —

portanto não necessitamos fazer confissão no sinédrio. Nós mes- mos somos o verdadeiro Templo de Deus, que lá embaixo tornou-se antro de assassínios. Dentro em breve verá a colheita de seus maus frutos semeados em seus campos, e não se colherão uvas e figos de espinhos e cardos.

  1. Do mesmo modo que atualmente o Templo está organiza- do em Nome de Jehovah, será ainda pior a situação do novo paga- nismo em Meu Nome; e a colheita de seus frutos será mil vezes pior que a desse, dentro em breve.

  2. Não vos caberá culpa no novo paganismo, assim como não têm responsabilidade os profetas pela situação do Templo; toda cul- pa recai nos homens cuja indolência não permitiu que caminhassem pelas veredas da Verdade; preferiram que outros, mormente os tais sacerdotes, caminhassem em seu lugar em troca de sacrifícios imun- dos — não pelas veredas da Verdade, mas da mentira e mistificação. Assim, um cego guia outro, até que ambos caiam na vala.

  3. Ouvindo este Meu Ensino, assimilai-o na plena Verdade e jamais vos deixeis tentar pela indolência dos ricos! Quem não quiser trabalhar não deve se alimentar na Mesa da Vida!”

  4. Diz o escriba: “A Verdade de Teu Discurso é palpável! Se Moysés e os profetas assim tivessem falado, o judaísmo total seria outro!

  5. Tua Doutrina sendo divulgada, trará outros frutos, pois nós a passaremos tão fielmente como imutável é a trajetória dos astros. Pedimos-Te, Senhor, não nos abandonares com Tua Graça e Ajuda, bem como os que guiarão Teus povos posteriormente!”

44.OSELEMENTOSDO AR

  1. Digo Eu: “Falaste bem, e a Doutrina permanecerá pura para os puros, até o Fim dos Tempos; mas enganas-te julgando que a situação do judaísmo seria outra, se os profetas tivessem usado a mesma clareza que Eu; pois o povo, somente entendido no sentido simbólico, não teria compreendido Moysés e os profetas!

  1. Naquele tempo, o homem simples possuía o conheci- mento da interpretação espiritual; sua escrita era em quadros e a linguagem de acordo com eles. Quando o povo se tornou mais abastado e conceituado, suas necessidades materiais aumentaram e era preciso recursos maiores para satisfazê-las. As necessidades e os meios recebiam simples denominação, dispensando quadros correspondentes. Assim, os nomes suplantaram a linguagem sim- bólica e sua interpretação, de sorte a não caber culpa aos pro- fetas da falta de compreensão dos judeus atuais. Eles mesmos são responsáveis em virtude do crescente egoísmo, perdendo a noção da escrita e linguagem antigas, que sempre ocultavam sen- tido profundo.

  2. Se na época de Moysés te tivesses expressado como hoje, nem ele nem outro profeta teriam te compreendido; sabes, portanto, o motivo por que não os entendeis.

  3. Eis que começa a clarear, e os fariseus na sala contígua se aprontarão para a partida. Quando tiverem se afastado, iremos ao ar livre para fazermos observações. Tu, amigo Lázaro, agirás bem fa- zendo-os acompanhar de alguns empregados até o portão do jardim; em pensamento, veem os três leões escondidos na moita, causando-

-lhes receio.” Lázaro assim fez e, dentro em pouco, os templários se afastam.

  1. Em seguida, chamo Raphael e lhe digo em voz alta, por causa dos presentes: “Cuida dos jovens e leva-os a Bethânia num caminho pouco usado. Dentro de três horas seguiremos.”

  2. Entrementes, a luz é mais clara. Saímos do albergue e su- bimos a colina. No Céu ainda brilham as estrelas maiores, a Lua crescente e o planeta Vênus, formando um quadro belíssimo. Os romanos, então, dizem: “Seria realmente agradável, não fora a tem- peratura tão fresca!”

  3. Digo Eu: “Esse frescor é algo desagradável para a pele, porém benéfico para corpo e alma, pois os elementos mais puros do ar passam por nós. Se sentirdes muito frio, farei com que internamente sejais aquecidos; todavia, ficaremos nessa temperatura!”

  1. Ninguém mais protesta. Agrícola, então, diz: “Senhor e Mes- tre, teriam os elementos do ar forma limitada, ou são informes e unidos como as gotas de água dentro do mar?”

  2. Respondo: “Meu amigo, será difícil responder-te; por isto, usarei outro meio. Abrirei a vós, romanos, a visão interna, facultan- do-vos resposta visual.”

  3. Assim, percebem eles, inclusive Agrippa e Laius, inúmeras formas flutuando perto deles, e Agrippa diz: “Há formas indescrití- veis, em meio das quais vejo ervas, plantas e sementes. Nas plantas estão toda sorte de ovos, larvas e alguns insetos. Em todos veem-se pontinhos luminosos e entre eles flutuam, igualmente, inúmeras luzinhas. Tudo isto em movimento, sem haver união.” Nisto, cerro-

-lhes novamente a visão psíquica.

  1. Diz Agrícola: “Senhor e Mestre, qual a finalidade de tais es- píritos? Surgirão na matéria de acordo com a propensão, ou seriam, de certo modo, almas de plantas e insetos mortos?”

  2. Respondo: “Ainda se destinam ao ingresso no mundo ma- terial. Sua inteligência, manifestada pela forma, os impulsiona a se unirem ao elemento afim nesta Terra. Agem nos vegetais, e a colhei- ta depende de sua quantidade e ação elevada, aplicando-se tal medi- da aos insetos e larvas. Trata-se da primeira manifestação animal de um planeta, cuja unificação psíquica é criada por animais maiores.”

  3. Diz Agrícola: “Por que não foi possível vermos igualmente almas desencarnadas?”

  4. Respondo Eu: “Por dois motivos: Primeiro, abri vossa visão a ponto de verdes os elementos em imigração na matéria, faculdade do primeiro grau da visão interna, posse de criaturas simples. Com este grau não se pode ver almas, especialmente mais perfeitas, por- que tal visão faz parte da faculdade material, e não espiritual.

  5. Segundo, quanto às almas impuras que poderíeis ter visto por momentos, não havia uma sequer neste local; percebem a Mi- nha Presença Pessoal, evitando-a com todo zelo.”

45.AGRÍCOLASELEMBRADEMARIADE MAGDALA

    1. Novamente Agrícola pede a palavra: “Que tesouros imensos colhemos durante esta semana! E a quem devemos tamanha Graça? Àquela moça que nos ensinou o caminho para cá! Muito embora não desse impressão de considerar castidade e virtudes morais, foi ela, sem dúvida, por Ti inspirada, tornando-se um fanal para a Vida.

    2. Não a conheço particularmente e ignoro se é rica ou pobre. Caso faça parte da pobreza, tinha vontade de lhe proporcionar uma ajuda por intermédio de Lázaro. Lembro-me que de Emaús andou à Tua procura, Senhor. Encontramo-nos aqui há alguns dias, e estra- nho ela não se ter apresentado.”

    3. Digo Eu: “Ela ignorava o Meu paradeiro; ontem recebeu in- formação pelas irmãs de Lázaro em Bethânia, e está a caminho para cá. Quando surgir o Sol, ela estará presente, e poderás combinar o auxílio desejado. Quanto à sua vida moral, julgaste certo. Sempre se lembrava da pobreza, porque pela beleza física tornou-se rica e já o era por parte dos pais.

    4. Lá, em direção a Leste, numa colina, há um castelo. Cha- ma-se Magdala. Lá nasceu ela, e o castelo, jardins, campos, pastos, vinhas e matas são posse dela, porquanto os pais faleceram há alguns anos. Por diversas vezes poderia ter casado; os templários a persuadi- ram do contrário, porque sempre eram bem recebidos e, além disto, apreciavam sua companhia. Desde que Me viu e ouviu, tudo mudou em sua casa, no pensar e sentir; como muito amou a pobreza, foi remida de seus pecados.

    5. Chama-se Maria de Magdala. Não necessita auxílio mate- rial. Todavia, poderás propô-lo em benefício dos pobres de que cui- da. Sua culpa foi escrita na areia! Observemos a aurora magnífica, e descobrireis diversos pontos relacionados com a época final dos neopagãos!”

46.OJULGAMENTODO PAGANISMO

  1. Externam-se os apóstolos: “Senhor e Mestre, seria oportuno entrares em detalhes!”

  2. Digo Eu: “Sei melhor do que vós quando o momento é opor- tuno e, além disso, já vos disse muita coisa que acontecerá porque não posso alterar o livre arbítrio. Desde o Meu Nascimento come- çou o julgamento dos pagãos em toda parte, e prosseguirá num cres- cendo até quase atingir dois mil anos.

  3. Assim como no momento se formam nuvens que se agrupam no horizonte, dando impressão de querer impedir o aparecimento do Sol, também se oporão enormes massas de nuvens contra o Sol espiritual e eterno, ocasionando grandes prejuízos, sem poderem impedir, no final, a grande Aurora da Verdade.

  4. Há pouco vistes muitas estrelas no Céu e, no ocaso, as que bri- lhavam na noite profunda. Precederam, como bons arautos, os mensa- geiros matutinos, ainda visíveis, e agiam durante a noite; eis vossa tarefa!

  5. Quando, no horizonte da Aurora espiritual, surgirem os mensageiros luminosos, será prova de que em breve seguirá o grande Sol da Vida e da Verdade. Sua Luz claríssima será um julgamento in- clemente de toda mentira e mistificação, que, juntamente com seus adeptos devotos e pompa mundana, serão atirados no abismo do desprezo, da justa ira e do esquecimento. E as criaturas iluminadas não mais se lembrarão da mentira e do julgamento.

  6. Percebeis que as nuvens anteriormente negras e ameaçadoras começam a receber friso dourado; também notareis que, naquela época, as criaturas anteriormente ignorantes e inimigas da Luz da Verdade são iluminadas por todos os lados, transformando-se em adversários da mentira. Tal iluminação, aproximando-se como pre- núncio do Sol da Verdade dos Céus, será o Meu Símbolo como Filho do homem para todos os representantes da Verdade na Terra e o início do grande julgamento da prostituta da nova Babel.

  7. Os amantes da Verdade começarão a rejubilar-se e Me lou- varão, por lhes ter enviado Meu Sinal no Céu do Dia espiritual.

Os inimigos da Verdade chorarão e rangerão os dentes, procurando ocultar-se em cubículos com os reduzidos afins — o que pouco lhes adiantará. Quando tiver surgido o pleno Sol da Verdade, sua Luz penetrará em todos os esconderijos, cavernas e grutas, e os inimigos da Luz não mais terão refúgio na Terra nova.

  1. Eu Mesmo serei a Verdade eterna naquele Sol e, por Sua Luz, Soberano e Guia de sua vida e de seu destino temporal, espi- ritual e eterno. Deste modo vos demonstrei o grande julgamento do judaísmo antigo e novo, na Verdade plena e facilmente com- preendida. Posteriormente, darei mais um símbolo que podereis transmitir às criaturas com a justa explicação. Prossigamos a ob- servar a Aurora!”

47. O FUTURO DE ROMA E DO ANTICRISTO

  1. Após termos observado as cenas matutinas durante um quar- to de hora, digo: “Prestai atenção ao que surgir antes do Sol; quero que vejais os acontecimentos no Final dos tempos com relação ao novo paganismo.” Todos voltam a atenção para Leste.

  2. Primeiro, vê-se no horizonte uma névoa densa e inteiramente negra. Após ter surgido sete vezes a altura da cordilheira, tornou-se incandescente; milhares de raios a rasgavam, levando a crer na fúria de uma terrível tempestade.

  3. Digo Eu: “Nada de preocupações; além de nós, ninguém mais vê este fenômeno!” E a calma volta aos presentes. Súbito, nos bordos da névoa negra e rubra, vê-se uma grande cidade! E Eu expli- co: “Eis a nova Babel!”

  4. Diz Agrícola: “Tem grande semelhança com a nossa Roma. Está circundada por muitas ruínas. No centro vejo, além dos edifí- cios conhecidos, grande número de novos, inclusive templos orna- mentados com cruzes. Que representa isso?”

  5. Digo Eu: “É a decadência do velho e o surgir do novo paga- nismo. A contar de agora, em 500 a 600 anos, tudo terá esse aspecto. Continuai observando!”

  1. As cenas se precipitam. Grandes transmigrações, lutas e guer- ras! E, no centro da metrópole, surge algo parecido a um monte! Em cima do monte aparece um trono como se fora de ouro candente. Nele está um soberano com um bastão ornamentado com trípli- ce cruz e uma tríplice coroa na cabeça. Da boca surgem inúmeras flechas, dos olhos e do peito se projetam raios de ira e orgulho. E regentes se aproximam; alguns se curvam com respeito, sendo bem acolhidos por ele, aos quais confirma o poder. Os outros são perse- guidos e maltratados por flechas e raios.

  2. Diz Agrícola: “Realmente, não é bela a perspectiva dos futu- ros soberanos da nova Babel! Seu poder parece maior e muito mais cruel. Hoje somente os piores criminosos são punidos com a cruz, simples. Esse soberano opõe uma tríplice cruz a todos os regentes!”

  3. Digo Eu: “Não se trata de um soberano de país e povos, mas da personalidade do anticristo! A tríplice cruz é Minha Doutrina, que será imposta três vezes falsificada aos reis e povos: falsa na pala- vra, falsa na Verdade e falsa na aplicação.

  4. Os regentes que não se curvam, sendo amaldiçoados por ele, permanecerão mais ou menos na Verdade da Doutrina. Embora atingi- dos pelas flechas e raios, não serão prejudicados. Prossegui na observa- ção do quadro, pois posso apenas demonstrar os momentos principais.

  5. Vede, muitos soberanos que anteriormente se haviam cur- vado diante daquele que ocupa o trono concentram seus exércitos para desafiá-lo! A luta é tremenda, e o trono se inclina à cidade e vê-se somente alguns reis reverenciarem pró-forma, enquanto outros lhes atiram flechas e raios. Agora quase nada mais se vê dele, e tal época será daqui a mil até mil setecentos anos.

  6. Então fará tentativas de elevar-se, protegido da camarilha negra, e alguns reis lhe estendem a mão. São, entretanto, ineptos, e seus povos lhes arrancam as coroas, entregando-as a regentes fortes! O trono soçobra, os regentes poderosos o dividem, selando o final de seu poder, grandeza e altivez! Ainda atira flechas e coriscos, sem poder prejudicar alguém. A maioria se volta contra ele, ferindo-o e a suas hordas cansadas e ignorantes.”

48.OREINODEMIL ANOS

    1. (O Senhor): “Observai como o Sol começa a penetrar tudo com Sua Luz, e as hordas obscuras debandam em todas as direções, fugindo do local do Sol, pois, diante do Seu Fulgor, tudo desvanece e cai no reino do esquecimento.

    2. Agora percebeis a formação de uma nova Terra criada por nuvens luminosas, representadas por núcleos de criaturas ilumina- das pela Verdade divina. Tais núcleos se fundem num enorme agru- pamento, justamente a nova Terra, sobre a qual se estende um novo Céu cheio de Luz e claridade!

    3. De modo algum deveis imaginar o desaparecimento do glo- bo terrestre para transformar-se num novo; as próprias criaturas projetarão um novo mundo espiritual através da aceitação plena da Verdade divina em seus corações, como verdadeiros irmãos, em Meu Nome. Neste novo mundo Eu Mesmo estarei regendo entre os Meus, gozando eles do Meu Convívio e jamais Me perdendo de vista.

    4. Observai a Terra antiga! Fachos cada vez mais concentrados de Luz descem sobre ela, até incendiá-la em chamas vivas. Vedes inúmeros mortos surgirem das tumbas, dirigindo-se à Luz e, dentro em breve, se cobrirão com a veste da Verdade para subirem ao Reino da Terra nova.

    5. Ao mesmo tempo, uma grande parte da treva se esforça em cobrir sua veste negra com a da Luz, querendo novamente criar um novo paganismo anticristão por egoísmo e domínio; Eu Mesmo fa- rei explodir Minha Ira sobre eles — o Fogo de Minha Verdade — e Meus anjos da Terra nova cairão sobre eles com espadas em chamas, afugentando toda tentativa de mistificação ao abismo da destrui- ção completa.

    6. Será esse o último e maior julgamento, mil anos mais tarde. Tal época será denominada o Meu Reino de Mil Anos na Terra, que, pelo último julgamento, terá uma curta interrupção bélica. A vitória será completa e para sempre. Daí em diante surgirão, dos Céus e da Terra, umpastor e umrebanho. Como sempre, serei Eu o Pastor; o

rebanho será formado pelas criaturas desta Terra, em plena união com os bem-aventurados dos Meus Céus.

    1. Estes se comunicarão com os encarnados, conforme sucedia em épocas remotas. Antes, porém, o planeta sofrerá grandes trans- formações. Enormes continentes e reinos, hoje ainda cobertos pelo mar, serão suspensos como solo fértil, e montanhas elevadíssimas se- rão niveladas; o seu entulho preencherá vales e cavernas profundas, criando zona fértil.

    2. As criaturas de tal época, não mais cobiçando os bens terre- nos e perecíveis, cem mil vezes mais do que hoje poderão subsistir, felizes. De igual modo, desaparecerão as moléstias tão martirizantes. Os homens atingirão idade avançada e serena, podendo fazer cari- dade, e ninguém alimentará receio da morte, porquanto terá a visão nítida da Vida eterna da alma.

    3. O motivo principal da caridade consistirá na justa educação da prole e no socorro à velhice desamparada. Na nova Terra haverá ma- trimônios — como no Céu, dentro de Minha Ordem — e também haverá procriação, não pela simples volúpia, mas pelo rigor verdadeiro do amor, até o final de todas as épocas desta Terra. Eis o quadro fiel e de fácil assimilação do último julgamento sobre todos os pagãos.”

49.MISSÃODOSFILHOSDEDEUSNOALÉM.DURAÇÃODO ORBE

  1. Nisto, perguntam os discípulos: “Senhor e Mestre, será pos- sível vermos e sentirmos isto tudo como habitantes do Reino dos espíritos? E quanto tempo durará a época feliz da Terra?”

  2. Respondo: “Subentende-se que não somente vereis e sentireis tudo isto, pois sereis os guias principais em todas as épocas, inclusive do grande Homem Cósmico e de incontáveis núcleos de todos os Céus, infinitos. Por isto, repito: Ninguém viu, ouviu e sentiu o que Deus reserva aos que O amam.

  3. Poder-vos-ia dizer e demonstrar muita coisa, todavia não se- ria suportável; quando fordes bafejados pelo Espírito da Verdade

total, e vós nele renascendo, ele vos conduzirá a todas as profundezas de Minha Luz. Só então compreendereis a grandiosidade de Minhas Palavras, que por vosso intermédio dirigi a todos.

  1. A segunda pergunta é um tanto pueril; nosso cálculo desco- nhece número pelo qual pudesse determinar a idade da Terra até seu final e, admitindo-se tal hipótese, não faria diferença para os que vivem eternamente.

  2. Digo-vos: Nem um anjo no Céu sabe tal dia e hora; é co- nhecimento exclusivo do Pai. A Criação total é a expressão do Seu Grande Pensamento, não temporal, mas tão eterno quanto o Sus- tentáculo e Portador, eternos. Já vos demonstrei como a matéria será transformada em elemento espiritual, como que independente, e dispensa maiores explicações.

  3. Preferível é observardes a Aurora e verdes como a Luz do Sol dispersa vapores e tristezas da Terra, concluindo vossa própria tarefa futura; assim agireis mais proficuamente do que procurando infor- mações daquilo que não vos diz respeito.

  4. Por diversas vezes expliquei qual deve ser vossa preocupação; até mesmo afirmei ser desnecessário e fútil — caso vos mantenhais na fé e no amor em Mim — a preocupação do dia vindouro referen- te às suas necessidades.

  5. Acaso não se vende no mercado cem pardais por uma moe- da?! Quão pequeno é seu valor diante dos homens, todavia o Pai no Céu cuida deles!

  6. Vede os lírios e as flores do campo! Salomão, em toda sua pompa de rei, não era tão ricamente vestido quanto elas! Quem zela pela sua veste? Compreendei a futilidade de tais preocupações, e muito maior a do final da Terra!”

  7. Todos se conformam, com exceção de Judas, alegando não estar claro quanto ao dito sobre o último julgamento pagão. Retru- co: “Procura então aqueles que o assimilaram. Um antigo apóstolo deveria entender o que entendem os próprios romanos!” Ele nada mais diz, percebendo o motivo de Minha Resposta.

50.GRATIDÃODOSROMANOSAMARIADE MAGDALA

  1. Enquanto ainda nos deleitávamos na colina, vimos Maria de Magdala dirigir-se ao albergue, informando-se do Meu paradeiro junto aos empregados de Lázaro. Não obstante lhe aconselhassem a aguardar Minha volta, preferiu subir a encosta. Agrícola vai ao seu encontro, cumprimenta-a com carinho, para depois levá-la aos amigos, igualmente cheios de atenção para com ela.

  2. Modestamente, ela diz: “Não sei o motivo de tamanha defe- rência. Sou pecadora e mereço o desprezo de todos. Além do mais, vim somente agradecer ao Senhor de minha vida, porquanto me libertou dos maus espíritos carnais.”

  3. Diz Agrícola: “Graciosa Maria de Magdala, todos os roma- nos aqui sentem profunda gratidão para contigo; pois, se não nos tivesses demonstrado, há oito dias, o caminho para cá, talvez jamais tivéssemos a incalculável felicidade de conhecer o Senhor da Vida e aprendermos a amá-Lo acima de tudo.

  4. Em nosso país se respeita uma lei pela qual se deve demons- trar gratidão por gestos, palavras e ações a quem tiver proporcionado grande felicidade a outrem, ainda que desconheça tal fato. Esse reco- nhecimento se estende aos seus descendentes.

  5. Que representam bens materiais comparados aos do espíri- to, aqui colhidos?! Encontramos o Deus Verdadeiro e a vida eterna da nossa alma, no que foste causadora. Fosse tua situação precária, serias regiamente recompensada; deste modo, podemos apenas ex- pressar o que nos vai no coração e não poderás recusar-nos!”

  6. Responde ela, igualmente amável: “Vossa gratidão não cabe a mim, que fui simples instrumento do Senhor!”

  7. Obsta Agrícola: “Sabemos perfeitamente devermos tudo a Ele; todavia, não é admissível desconsiderarmos o instrumento usa- do para a nossa purificação. Se assim não agíssemos — qual seria a situação do verdadeiro amor ao próximo, que nos ensina a amar aos próprios inimigos?! Foste escolhida para nossa estrela-guia, à qual devemos respeito e verdadeiro amor.”

  1. Diz Maria de Magdala: “Neste ponto tens razão, senhor. Da minha parte agradecerei a Jesus, meu único amor, por me ter deter- minado para instrumento inconsciente. Se soubesse Ele encontrar-

-Se aqui, não vos teria demonstrado o caminho; pois estou profun- damente convicta da Verdade de Sua Doutrina, de Sua Santidade Divina e jamais poderia Dele me aproximar como pecadora. Nova- mente vos peço render honra e gratidão apenas a Ele!”

  1. Aparteio: “Ouve, Minha Maria! Falaste certo, partindo do teu ponto de vista; os romanos, igualmente. Demonstraste estares inteiramente compenetrada do verdadeiro espírito de humildade, razão pela qual te são perdoados todos os pecados. Teus amigos tam- bém provaram o verdadeiro amor ao próximo e não cometem erro pela grata recordação à tua pessoa, embora fosses simples instrumen- to de Meu Amor e Vontade.

  2. Aproveito a oportunidade para dizer a todos: Não deveis procurar gratidão e honra com as criaturas às quais tereis feito o Bem em Meu Nome, assim como Eu Mesmo não o faço, porquanto Aquele que habita em Mim é Minha Máxima Honra. Se, porém, vos desonrarem e vos enfrentarem com ingratidão pelos benefícios espi- rituais, Eu considerarei tal desfeita como praticada a Mim! Quem não honrar o discípulo por Mim inspirado e não lhe for grato em Meu Nome, deixará de honrar a Mim, o Senhor e Mestre, tampou- co será grato à Graça recebida.

  3. Eu despertando discípulos e profetas, tal não acontece ape- nas por causa deles, mas em virtude de todas as criaturas; por isto, devem aqueles receber a consideração merecida. Quem acolher um discípulo ou profeta em Meu Nome, com amor e grato respeito, considerarei como se tivesse acolhido a Mim Mesmo; sua recom- pensa será idêntica à de um discípulo e profeta, e não será pequena!

  4. Ai dos falsos discípulos e profetas, que quais fariseus e su- mos sacerdotes se deixam honrar e até mesmo o exigem legalmente! Em verdade, serão considerados ladrões e assaltantes; futuramente serão dizimados diante de todos os anjos! Quanto mais cobiçarem a honra do mundo, tanto pior será a vergonha que terão de passar.

  1. Fácil é guardardes essa Verdade; pois, considerando bem o Meu Mandamento do amor ao próximo, verdadeiro e puro, com- preendereis que precisamente o orgulho ferino provoca a maior dor à criatura justa e verdadeira!”

51.OSFUTUROS JULGAMENTOS

  1. (O Senhor): “Por isto, sede cheios de meiguice e humildade, patenteando, deste modo, a maior e mais real honra humana. Vivei em paz e harmonia. Ambição e orgulho produzem malquerença, aborrecimento, desprezo, revolta, ira e, no final, vingança, guerra e suas consequências. O ambicioso e orgulhoso está sempre cheio de egoísmo e cobiça, querendo possuir tudo para aumentar seu prestí- gio mundano; a triste consequência disso é que milhares nada têm, vivendo em plena miséria, como aconteceu em época de Noé, e no final do novo paganismo ainda será pior.

  2. Tal situação realmente infernal será o julgamento cria- do pelos homens. O excessivo número de pobres e oprimidos se levantará contra os orgulhosos opressores, liquidando-os. Será qual segundo dilúvio pela ira do fogo da pobreza, por de- mais oprimida.

  3. Haverá, igualmente, um fogo natural que destruirá muitos locais; em virtude da exagerada cobiça, os homens perfurarão, quais maus vermes, as profundezas da Terra à procura de tesouros. Tão logo chegarem aos enormes depósitos de matas virgens soterradas, usando-as como combustível na fundição de metais etc., o último julgamento estará à porta. Passarão piores sofrimentos os habitantes das metrópoles de reis e demais chefes de Estado.

  4. Permanecei, por isto, na meiguice e humildade, isto é, no verdadeiro amor ao próximo, que nenhum julgamento será gerado entre vós; pois, onde em tal época as criaturas viverem em Minha Ordem, não surgirá julgamento final. Predigo-vos isto para o trans- mitirdes a outrem, a fim de que ninguém venha se desculpar por não ter sido avisado.”

  1. Todos concordam: “Senhor e Mestre, de nossa parte não fal- tará o verdadeiro zelo; mas a Terra é enorme, e não podemos visitar todos os países, de sorte que o mal progredirá!”

  2. Digo Eu: “Por isto não sereis chamados à responsabilidade, como qualquer outro que aja em Meu Nome. Basta que a Verdade seja divulgada; a ação depende das criaturas. Quem viver dentro dela, não será atingido pelo julgamento, colhendo a Vida eterna e sua bem-aventurança.”

52.MARIADEMAGDALAEO SENHOR

  1. Nisto, se aproxima Maria de Magdala e diz: “Senhor e Mes- tre, será que também alcançarei a bem-aventurança e a Vida eterna? Sou grande pecadora e cada vez mais me convenço não merecer a menor Graça Tua!”

  2. Digo Eu: “Continua no amor puro e não peques mais. Tal deve ser tua preocupação; do resto, Eu cuidarei. Libertei-te dos espíritos impuros e também te disse: Teus pecados foram perdo- ados pelo Bem praticado aos pobres, e agora Me amas acima de tudo. A quem Eu fizer tal afirmação, estará realmente remido. Deves não mais pecar; pois, se assim fizer, cairá num estado pior ao anterior.

  3. Quem, por amor a Mim, fizer tudo que o amor ao próximo exige, a este farei tudo que estiver no Meu Poder. No Meu Poder não só está muita coisa, mas tudo. Sabendo isto, querida Maria, podes estar alegre e fazer o Bem, que não te abandonarei!”

  4. Ela se atira a Meus Pés, umedecendo-os com suas lágrimas e, em seguida, os enxuga com os cabelos. Aos apóstolos esta cena parece estender-se demais e ser também inconveniente, razão por que resmungam entre si.

  5. Eu o percebo e lhes digo: “Por que vos aborreceis? Há mui- to tempo convivo convosco e nunca Me demonstrastes tamanho amor, tampouco o exijo. Por isto, vos digo: Onde for pregado o Meu Evangelho, deve ser mencionada esta Maria, pois demonstrou gran-

de prova de amor. Lembrai-vos também disto! Tu, Maria, levanta-te e esteja certa de Meu Amor e Graça plenos!”

  1. Ela se ergue, agradecendo mais uma vez de coração cheio de amor; os discípulos pedem desculpas a Mim e a ela pela falta de paciência. E Eu digo: “Aprendei a suportar os fracos, demonstrando maior força psíquica do que lutando e vencendo apenas heróis. — Eis que o Sol já subiu no horizonte e o desjejum deve estar pronto. Vamos tomá-lo e, em seguida, partiremos para Bethânia.”

  2. Isto feito, Lázaro fez as contas com o seu hospedeiro, acondi- cionando o lucro em dinheiro e demais tesouros, inclusive dos fari- seus convertidos, necessitando para isto de dez malas para transporte.

  3. Nicodemos, José de Arimateia e o velho rabi se recomendam à Minha Graça e Amor e, em companhia dos magos, vão à cidade. Os dois romanos se dirigem com os sete egípcios para Emaús, de onde os últimos, dentro de alguns dias, pretendem voltar à pátria. Todos os outros nos acompanham para Bethânia. Não é preciso mencionar especialmente as demais pessoas, porquanto já tinham sido apresentadas no Monte das Oliveiras. A Maria de Magdala re- comendo dar ordens em sua casa e procurar-nos em Bethânia, onde Eu descansaria por três dias.

53. A VIAGEM PARA BETHÂNIA

  1. No final, Agrícola pede permissão para levar como recorda- ção uma baixela de ouro, milagrosamente criada para os romanos, mediante pagamento do valor correspondente.

  2. Digo Eu: “O que foi criado por vossa causa vos pertence, po- dendo levá-lo sem escrúpulos. Além do mais, levarás grande número de necessitados para Roma e, cuidando deles, tuas baixelas represen- tam pequena recompensa por tudo que fazes por amor a Mim. Não deves considerá-lo como prêmio real, pois este será bem diverso já em vida, e muito mais no Além.

  3. Zela rigorosamente pelos tutelados que Eu te entreguei. Dentro de um ano farás uma viagem para a Europa, a negócios de

Estado, em companhia de um filho, e terás que trabalhar por muito tempo. Para tal época é preciso organizares tua casa, a fim de que teus protegidos nada sofram física e psiquicamente.”

  1. Comovido por esta manifestação de Meu Amor, Agrícola diz: “Senhor e Mestre, será minha maior preocupação, e espero resolver tudo com Tua ajuda. Jamais me abandones e não permitas grandes tentações para mim e os meus. Percebo tua força dentro de mim, mas conheço também minhas antigas fraquezas. Caso for induzido à queda, fortalece a minha vontade para não cair!”

  2. Digo Eu: “Realmente, o que pedires ao Pai — a Quem agora conheces — em Meu Nome, ser-te-á dado! Por isto, podes estar pleno de conforto e confiança, verdadeira e viva! Permanecendo na Fé viva e no Amor a Mim, sempre estarei contigo, guiando-te como a todos que assim fizerem!”

  3. Tanto os romanos quanto seus tutelados Me agradecem. As- sim, partimos pela estrada que segue a Bethânia. Passando pela mu- ralha da grande metrópole, o hospedeiro do Vale diz: “Senhor, que muro forte! Como poderia ser destruído por mãos humanas?”

  4. Respondi: “O que foi feito por elas, poderá ser destruído por elas. Os homens são mais hábeis na destruição do que na criação, de sorte que, em determinada época, darão cabo desta muralha re- sistente. Afirmo-vos: Nenhuma pedra ficará em cima da outra! E, dentro de alguns séculos, as criaturas procurarão o local do Templo, sem encontrá-lo.

  5. Como era a situação antes do Dilúvio? Demonstrei-vos há poucos dias. Se naquele tempo eram capazes de demolir montanhas, pelo que as águas internas do orbe romperam e afogaram os trans- gressores — muito mais fácil destruírem este muro.” Seguimos via- gem e, em pouco tempo, alcançamos uma aduana.

54.OCOBIÇOSOPUBLICANOEOSENHOR. A ATIVA

  1. O aduaneiro Me reconhece e Me cumprimenta, dizendo: “Senhor e Mestre, desde que Teus Ensinos me penetraram no Mon- te das Oliveiras, tornei-me outro e Te agradeço por tudo feito a mim e à minha família. Todos creem em Ti. Deixa que Tua Graça nos proteja!”

  2. Digo Eu: “Por assim teres feito, a salvação para todos vós não estará longe. É, porém, de Meu Conhecimento exigires taxa dos radicados, quando a afluência de estrangeiros em Jerusalém é fraca. E, quando estes chegam, reclamas muito mais do que a lei pres- creve. Tal atitude não está de acordo com o amor ao próximo, tão recomendado por Mim. Não aplicando essa virtude, estarás longe do Meu Reino. A simples fé, sem obras de amor, é morta, inclusive quem assim age. Modifica tua atitude, do contrário pouco benefício surgirá de tua fé em Mim.

  3. És publicano do qual os templários afirmam ser pecador; en- tretanto, não te considero assim; oprimindo os viandantes e exigin- do o que ultrapassa a taxa legal, és contrário ao amor ao próximo, portanto cometes grande pecado, que de modo algum traz benefício a quem quer que seja. Corrige-te, se pretendes tornar-te discípulo justo e útil de Minha Doutrina!”

  4. Perplexo, o aduaneiro respondeu: “Senhor e Mestre, vejo não haver o que se oculte diante de Teus Olhos! Modificarei o meu modo de agir e agradeço por essa advertência.”

  5. Aduzo: “Procura reparar o dano praticado aos pobres, senão terás semeado o amor ao próximo em base arenosa!”

  6. Respeitoso, ele se curva e diz: “Boa vontade não me falta, mas a possibilidade, porquanto desconheço a maioria e não posso restituir-lhe o excesso da taxa.”

  7. Digo Eu: “Faze o possível, que considerarei tua vontade como ação. Nos arrabaldes de Jerusalém há muitos necessitados de socorro; faze um sacrifício por eles, que terás pago tua injustiça.” Novamente ele se curva e promete seguir o Meu Conselho.

  1. Continuamos a nossa trajetória; a meio caminho de Bethâ- nia, deparamos com um cego sentado na estrada. Ao seu lado estava um guia, avisando a aproximação de Minha Pessoa. Imediatamente o cego começa a bradar: “Ó Jesus de Nazareth, verdadeiro Salvador dos homens, ajuda-me!”

  2. Meus discípulos o ameaçam por causa da gritaria, pois Eu o ajudaria sem tamanha algazarra. Corrijo-os, porém, dizendo: “Por que vos irritais com a súplica do cego? Seus gritos vos incomodan- do, tapai os ouvidos e deixai que Me chame! Caso enxergasse, não gritaria tanto. Nada vos pediu, portanto não é de vossa conta, nem vos cabe o aborrecimento e a ameaça contra ele!”

  3. Eles se calam, enquanto Me aproximo do cego, dizendo: “Aqui estou! Que queres que te faça?”

  4. Responde ele: “Bom Salvador, Santo e Mestre, peço que me devolvas a luz dos olhos, pois ouvi dizer que curas todos os cegos!”

  5. Digo Eu: “Crês indubitavelmente?” Responde ele: “Sim, Senhor e Mestre, somente Tu poderás ajudar-me, se for de Tua Vontade!”

  6. Exclamo: “Quero, pois, que vejas novamente! Previno-te, todavia, não repetires teus pecados, pois te fariam novamente cego! Considera bem o que te disse!” Compenetrado, ele o promete. To- co-lhe os olhos e, imediatamente, ele volta a enxergar e não se con- tém de alegria, agradecendo de mãos erguidas a Minha Ajuda.

  7. Digo-lhe, pois: “Completamente são que és, levanta-te e procura qualquer serviço, pois o ócio é a base e o início de todos os vícios e pecados!”

  8. Responde ele: “Eu e meu amigo trabalharíamos com muito prazer, caso encontrássemos trabalho.” Os dois hospedeiros se adian- tam, dizendo: “Vinde conosco, temos serviço de sobra em campos e vinhas.” Deste modo, nosso grupo recebeu mais dois viandantes.

55.NASPROPRIEDADESDE LÁZARO

  1. Ao chegarmos nas proximidades de Bethânia, de longe, as ir- mãs de Lázaro Me avistam, correndo ao Meu encontro de braços aber- tos. Não se cansam de relatar os benefícios ocorridos durante a Minha permanência em Jerusalém e a alegria com a chegada dos jovens. To- davia, lastimam eles não permanecerem em Bethânia, de acordo com o aviso de Raphael. Explico-lhes o motivo e elas se conformam.

  2. Entrementes, penetramos no grande salão, onde a juventude Me saúda como Pai, com palavras tão amorosas a comover os pre- sentes. Em seguida, fomos ao refeitório e Lázaro nos fez servir pão e vinho, abençoados por Mim. Assim refeitos, passamos uma vistoria nas propriedades e os romanos se admiram da abastança de Lázaro.

  3. Ele, então, explica: “Meus amigos, possuo trinta vezes mais do que vedes apenas superficialmente. Tamanha riqueza não me faz feliz. Hoje sou proprietário legítimo; amanhã o Senhor poderá cha- mar a minha alma, que terá de prestar contas de tudo. Em tal situ- ação, muitos enfrentarão dificuldades. Partindo do justo ponto de vista, somos apenas administradores de bens terrenos em benefício da Humanidade; nunca, porém, proprietários. O Senhor é Dono legítimo e eterno, e será para nosso bem, caso nos diga: Soubestes zelar pelos bens entregues aos vossos cuidados!”

  4. Diz Agrícola: “Tua compreensão e atitude referentes aos bens terrenos serão por mim adotadas. A Ti, Senhor, pedimos não faças uma conta muito rigorosa pelos bens emprestados. Nem sempre as circunstâncias permitem façamos o que seja justo.”

  5. Digo Eu: “O que acontece contra a vossa vontade será da responsabilidade dos que vos enfrentarem vez por outra. A única prestação de contas estará escrita em vosso coração. Sendo agora Meus amigos, sê-lo-eis na Eternidade!

  6. Em verdade vos digo: Felizes sois por ver e ouvir o que tanto desejavam patriarcas e profetas! O tempo não havia chegado para eles. Em espírito, assistem a tudo e se alegram sobremaneira; fisica- mente tal lhes ficou oculto e com as futuras gerações dar-se-á mais

ou menos o mesmo. Para vós é fácil crer e agir, pois sois testemunhas oculares de tudo que jamais um ser humano assistiu; no futuro, se- rão felizes somente os que creem sem ver, e seu mérito será maior.”

  1. Dizem os discípulos: “Se dentro de algum tempo não serás visto nem ouvido, como ficarás com os Teus até o final dos tempos?”

  2. Respondo: “Que pergunta mais tola! Quanta coisa grandiosa já vos provei, todavia entendeis tão pouco da sabedoria interna de Deus! Não poderei ficar eternamente encarnado e já vos afirmei, por diversas vezes, o que Me sucederá, a fim de encher a medida dos judeus e determinar o seu julgamento; entretanto, indagais, quais cegos, pela luz das cores e como poderei ficar para sempre com os Meus!

  3. Repito: Em Espírito, no Verbo e na Verdade ficarei entre eles, e quem sentir imenso amor para Comigo ver-Me-á por momentos. Os que viverem de acordo com o Meu Verbo e se aprofundarem na sua Verdade intrínseca, com estes ficarei pelo entendimento do coração e Minhas Palavras surgirão em suas almas. Em Meu Nome, moços e moças bem formados terão visões, explicando-lhes Minha Natureza, o Céu e a Vida eterna, bem como o destino dos renitentes e maus. Deste modo ficarei eternamente com os Meus!”

56.SITUAÇÃOESPECIALDA TERRA

  1. Durante o nosso passeio, voltamos ao local predileto de Láza- ro, uma pequena colina. Aí ficamos para descansar um pouco, quan- do um romano se dirige a Mim: “Senhor, tudo que por Ti e pelo anjo foi dito dá testemunho de Tua Onipotência. Demonstraste-nos o Céu estelar e nos facultaste a visão de outros mundos habitados por seres muito mais inteligentes, cuja ordem e beleza ultrapassam o nosso planeta. Surgiu em meu coração a pergunta: Por que justa- mente encarnaste nesta Terra, quando dispunhas de mundos solares de inexprimível beleza? Poderias dar uma explicação?”

  2. Digo Eu: “Sim, muito embora vos tivesse alertado durante a revelação da Criação material, mormente na explicação da ordem

solar dentro de um enxame globular do grande Homem Cósmico, por que encarnei aqui nesta época. Ainda que o repetisse, não o assi- milaríeis até vosso renascimento espiritual. Todavia, darei mais uma explicação, prevendo ser justamente este ponto o pomo de discórdia entre futuros filósofos e teósofos.

  1. O motivo principal reside na Minha Sabedoria e Vontade. Sabeis ter toda criatura um coração, do qual depende a vida, toda- via desconheceis sua estrutura. Eu o conheço e sei o que contém para animá-lo.

  2. Nele existem duas câmaras diminutas, correspondentes às duas coronárias. Para vossa visão, tais câmaras nem seriam perceptí- veis. Embora tão pequeninas, condicionam, pela organização, a vida do coração e, por ele, a existência do corpo.

  3. A primeira câmara, mais importante, corresponde à natureza do espírito, ou seja, à própria vida; por isto chamá-la-emos de po- sitiva e verdadeira. A segunda, de certo modo menos importante, conquanto indispensável à vida física, denominaremos de material ou negativa. Não contém vida; é simples receptáculo da vida recebi- da pela pulsação vinda da câmara positiva para transmiti-la ao corpo através do sangue.

  4. Daí poderás concluir a construção do coração, a fim de pro- porcionar vida ao físico. Subentende-se tal função organomecânica mui artística e sábia, como elemento propulsor; pois, onde se trata de acelerar algo, caminhos e meios devem estar de prontidão. Para o caso em si, necessitamos apenas das pequeninas câmaras, especial- mente da positiva.”

57.RELAÇÃOENTREMICROE MACROCOSMO

  1. (O Senhor): “A organização física do homem para a vida de provação corresponde à do Homem Cósmico, em vasta extensão. Justamente o enxame globular no qual se encontram esta Terra, Lua, estrelas etc. faz parte do coração do grande Homem Cósmico e este, tal como seus planetas, representa a câmara da vida positiva, e nesta

câmara a Terra condiciona o elemento espiritual. Não há sábio que o compreenda. Eu — o Criador do Infinito — sei e posso expli- car o porquê.

  1. Desde eternidades, sou a Razão de todo Ser e Vida, por- tanto também sou a Câmara original e positiva no Coração eterno do Infinito.

  2. Se, dentro de Meu Amor, Sabedoria e Ordem, determinei a Minha Encarnação, só podia realizá-la naquele ponto do grande Homem Cósmico que corresponde à Minha Natureza básica.

  3. Isto não quer dizer que esta Terra deveria representar o pró- prio ponto positivo. Poderia ter sido outro planeta, como realmente aconteceu. Seus habitantes se portaram muito mais indignamente do que os da Terra, de sorte que foi condenado e destruído com eles.

  4. Esta, tendo sido escolhida desde Adam, e Eu nela aceitan- do o corpo material, ela o será até o fim dos tempos dos espíritos condenados na matéria, e vós sereis portadores da Vida original de todo Infinito e Eternidade, permanecendo Comigo em espírito e, por isto, sereis Meus verdadeiros filhos.

  5. Eis, em breves traços, o motivo pelo qual Eu só pude encar- nar neste planeta e não em outro mais perfeito, por simples amor aos Meus filhos.

  6. Além deste motivo principal, existem outros igualmente de- terminados pela Minha Vontade, dentro da Ordem eterna. Trata-se de consequências indispensáveis do primeiro motivo, e não preci- sam ser enumeradas.

  7. Um deles, por exemplo, é a completa humilhação e avilta- mento, sem os quais até mesmo um espírito elevado não se pode revestir com a carne e, em seguida, voltar a vida inteiramente livre e independente.

  8. Eis o que acontece com a Terra. A câmara da vida positiva no coração é o ponto que menos ressalta no corpo, e nunca é atingido pelos raios solares; o próprio homem o desconhece e desconsidera, entretanto lhe dá a vida. Caso isto fosse dito aos sábios do mundo, dariam de ombros, dizendo: Como pode a existência humana de-

pender de um pontinho insignificante? Daí se percebe plenamente que eles, nem de longe, conhecem a causa de sua existência, quanto mais o leigo.

  1. Todavia, toda criatura terá que penetrar nessa câmara de vida positiva pela máxima humildade e submissão e devolver-lhe es- piritualmente a existência de lá colhida, caso queira conhecer Deus e a si mesma. Se assim fizer, ela dilata sua câmara vital e a ilumina in- teiramente. Isto se dando, o coração e, partindo dele, toda a criatura serão iluminados; ela descobre a si mesma e a Deus pela visão nítida do influxo da vida divina para esse recôndito, onde se concentra e desenvolve para uma existência livre e independente.

  2. Nesta câmara habita o próprio Espírito de Deus e, quando a alma nela ingressa pela plena humildade e sujeição, idênticas ao amor da criatura justa que penetra o eterno Amor incriado de Deus, ela se une ao Espírito Divino, dando-se o renascimento da alma no Espírito Supremo.

  3. A maneira pela qual isso deve ser feito pelo homem, a fim de ingressar na Glória da Vida, foi demonstrada por Mim Mesmo como Exemplo e Guia reais no Grande Homem Cósmico; por isto, vim a esta Terra porque corresponde à câmara positiva do Coração, podendo deste modo ingressar na Minha e na vossa Glória com todo Poder no Céu e na Terra.

  4. Desde Eternidades, Eu estava em Meu Próprio Poder e Gló- ria, mas não era um Deus Visível e Compreensível para qualquer criatura, nem para o anjo mais perfeito. Quando Me queria tor- nar Visível a Abraham, Isaac e Jacob, influenciava um anjo com o Espírito de Minha Vontade, de tal forma a representar ele Minha Pessoa por alguns momentos. De agora em diante, sou Deus Visível a todas as criaturas e anjos, fundei-lhes uma vida perfeita, eterna e independente, portanto real, no que consiste Minha Própria Glória e também vossa.

  5. Como podiam os anjos mais perfeitos e as criaturas mais devotas de todos os planetas glorificar Deus, jamais visto e não com- pletamente compreendido, através de um amor verdadeiro e vivo?

Sempre constou: Ninguém pode ver Deus e continuar vivo; pois a Divindade absoluta é Fogo Eterno e destruidor! Este Fogo foi por Mim coberto e abrandado pelo Corpo, e agora constará: Todo anjo e criatura poderão ver Deus e viver, e quem não vir Deus, levará vida mui miserável e condenada! Eis um dos motivos principais por que aceitei a encarnação nestaTerra.

  1. Isto assimilado, o restante será compreensível. Percebeste como a imperceptível câmara de vida positiva, sendo princípio bá- sico da existência do homem, é unicamente capaz da inteligência mais lúcida e real; portanto, é em si Luz, Verdade e Vida. O mesmo acontece com as criaturas desta Terra. Comparadas às de outros pla- netas, não são vistosas, porém pequenas, ignorantes, fracas e ineptas; os espíritos de outros mundos quase não as conhecem e elas mesmas se desconhecem. Precisamente em sua profundeza de vida oculta são por Mim o ponto central do Homem Cósmico, podendo de- senvolver capacidades tão elevadas, que, em outros planetas, surgem apenas em grau isolado e inferior.

  2. Em virtude de tais aptidões de semelhança divina, das quais fazem parte o idioma interno e externo, a escrita, a aritmética etc., prestam-se unicamente a ouvir a Palavra da Boca de Deus, primeiro pelas letras e símbolos, e depois no sentido espiritual e, no fim, o mais oculto e celeste.

  3. Tal dom é algo grandioso, assim como a capacidade intelec- tiva e vital da câmara de vida positiva perfaz a parte mais perfeita e sublime do homem. Justamente por isto, só pude vir junto de vós, e de mais ninguém. Eis os motivos principais de Minha Encarnação nesta Terra. Refleti a respeito, e dizei-Me vossas conclusões.”

58.BOACOMPREENSÃODOROMANOCOMRELAÇÃOAOENSINAMENTODO SENHOR

  1. Diz o romano: “Senhor e Mestre, segundo a Tua Explicação, cremos indubitavelmente no que acabas de revelar, conquanto não a entendamos a fundo. Agradecemos-Te por tamanha Revelação,

com a qual nos proporcionaste uma arma capaz de liquidar todos os intelectuais e filósofos. Constitui uma prova sem igual, sorvida da fonte vital de cada criatura, colocando-a em íntima relação com a grandiosidade de Tua Criação, pois o homem representa o ápice de Tuas Obras devido à sua semelhança Contigo.

  1. Ressalta de Tua Revelação ser mui estreito e íngreme o ca- minho para a Vida eterna e feliz; todavia, sente-se não haver outra possibilidade. Quem quiser encontrar a si mesmo, descobrindo ipsofactoa Tua Pessoa dentro de si, terá que passar pela porta estreita, do contrário não penetrará no recôndito de seu coração. Somente o amor para Contigo e ao próximo dilata a portinha estreita, a hu- mildade verdadeira produz a satisfação da alma, e a justa meiguice a torna submissa; assim preparada, pode a alma passar pela porta estreita e penetrar na câmara vital de seu espírito, renascendo pela união com ele. Eis a conclusão prática de Tua Revelação maravilho- sa. Descobri o motivo pelo qual nos recomendas o amor a Deus e ao semelhante, e o exercício da humildade e meiguice.

  2. Conhecedores do motivo e da meta a ser alcançada, só nos cabe agir com toda dedicação e zelo. Em nossa imensa pobreza es- piritual, sabemos onde se encontra o mais rico tesouro e temos ins- trumentos e meios para conquistá-lo. Seríamos, portanto, os piores ignorantes, caso cruzássemos os braços, lutando apenas pela maté- ria fugaz! Mais uma vez, aceita nossa gratidão por tamanho Co- nhecimento!

  3. Resta-me ainda uma pequena pergunta, que expressarei em virtude dos presentes, porquanto Tu bem sabes o que me vai na alma. Teriam os habitantes de outros mundos alguma noção de Ti? E, caso a tenham, quem a forneceu? São eles semelhantes a nós?”

59.RELAÇÃOENTRENOSSOPLANETAEOS DEMAIS

  1. Digo Eu: “Assimilaste Minhas Palavras e achaste uma apli- cação tão útil e real para a vossa vida, que nem Eu seria capaz de esclarecê-la melhor; quem, pois, passar pela estreita porta, renas-

cerá em espírito para a Vida eterna. Tendo chegado a conclusão tão perfeita, quase se torna milagre não teres encontrado resposta à tua pergunta.

  1. Se as criaturas desta Terra representam o recôndito vital do grande Homem Cósmico — que naturalmente vive e age dentro das normas da razão e vontade e, às vezes, pelo instinto — tua pergunta é facilmente respondida.”

  2. Diz o romano: “Sim, Mestre e Senhor, tenho impressão de captá-la, mas não o consigo! Tem a Bondade de demonstrar-nos o Caminho.”

  3. Prossigo: “Pois bem! O motivo principal se baseia, tanto para o corpo quanto para a alma, na câmara positiva do coração. Ela es- tando ativa, todas as demais partes de sua natureza vivem de modo tal, como se fossem elas mesmas o próprio recôndito, acionadoras e portadoras de vida. Vês que teus membros alcançam força eston- teante e agilidade artística através de um justo exercício. A quem, finalmente, devem todas as suas capacidades e agilidades? Unica- mente àquela câmara vital no coração; pois, sem ela, todos os mem- bros estariam mortos e paralisados, como os de um ídolo de me- tal! De quem aprenderam as mãos do artista e, de modo geral cada membro, sua especial capacidade? Tudo isso surgiu do mencionado recôndito do coração, e isto, em subsequentes graduações.

  4. As primeiras manifestações de vida acionam o coração todo, gradativamente. Daí passa a atividade pelo sangue ao pulmão, fíga- do e baço, em seguida cursa, pelos demais órgãos e vísceras, à cabeça e todas as suas partes.

  5. Uma vez a cabeça dentro da ordem e o cérebro desenvolvido, inicia-se no homem o pensar, julgar, concluir, entender e assimilar, e só então surge a prática justa e sábia dos membros externos, que, dentro em breve, executam os mais artísticos trabalhos, como se ti- vessem eles mesmos criado uma vida própria e independente.

  6. Digo mais: O homem renascido em espírito pode pensar e falar em todas as suas partículas físicas e psíquicas, tornando-se, igual a Mim, espírito, vida, força, pensamento — a própria mani-

festação da palavra viva. De onde ele o conseguiu? Exclusivamente de seu recôndito positivo no coração!

  1. Se o homem alcança o estudo completo e o aperfeiçoamento final apenas de seu coração, os habitantes de outros mundos conse- guem o aprimoramento determinado somente pelo recôndito do co- ração do grande Homem Cósmico, imenso, de acordo com sua pró- pria formação e capacidade. Quando fores inteiramente renascido em espírito, compreenderás e assimilarás o grande ‘como’ e o ‘porquê’. Tens uma leve ideia da maneira pela qual as criaturas de outros mun- dos chegam ao Meu Conhecimento, tornando-se sábias e felizes?”

60.AIMPORTÂNCIADENOSSA TERRA

  1. Diz o romano: “Senhor e Mestre, por essa segunda elucida- ção de assunto tão importante, todos nós recebemos conhecimento luminoso qual Sol! Nós, nesta Terra, em estreita união Contigo pelo Amor e a Sabedoria, representamos o polo positivo para o grande Homem Cósmico em relação à nossa câmara vital no coração. Os demais corpos cósmicos e seus habitantes, os enxames globulares com os sóis centrais e universos-ilhas se relacionam a nós como as restantes partes do corpo e da alma no que diz respeito ao recôn- dito vital.

  2. Tu Te encontras entre nós em Tua Personalidade intrínseca e divina; daqui dominas o Infinito, e as criaturas do orbe, mormen- te as que Te rodeiam neste ambiente, perfazem a expressão do Teu Amor e Sabedoria, vivos, pela aceitação de Tua Doutrina.

  3. Assim sendo, de nós partirá a educação espiritual dos habi- tantes de outros planetas, de igual modo como a vida básica e a edu- cação geral se dirigem da câmara positiva do nosso coração à criatura total, até o completo renascimento.

  4. Quanto a isso, não resta dúvida, e a maneira de como se processa tal fenômeno não nos deve preocupar, porquanto somos filhos ainda menores do Teu Amor e Graça. Pois Tu, desde eterni- dades Conhecedor do mesmo, Te encontras entre nós para sempre.

Tua eterna Presença nos garante a situação educacional e evolutiva, porquanto nossa relação para Contigo jamais se poderá modificar.

  1. O recôndito do coração também não poderá ser transpor- tado para os olhos, ouvidos, nariz, enfim, aos órgãos físicos, muito embora tenham uma antena receptiva, do contrário não poderíamos captar a vida básica e aplicá-la com utilidade.

  2. Cada órgão se vale da vibração positiva de modo diverso, mas, no final, as infinitas variedades completam um todo que cor- responde à vida básica no coração, onde se sentem como em sua pátria original. Isso sucedendo, dá-se o renascimento em espírito, por Ti tão bem explicado.

  3. Neste momento, um pensamento grandioso me atinge, tão luminoso como esse Sol! Junto ao renascimento espiritual de uma criatura nesta Terra, que alcançaremos indubitavelmente, esplande- ce um outro, infinito, isto é, do grande Homem Cósmico!

  4. De mim mesmo, jamais poderia ter descoberto tal grandio- sidade se Tu, Senhor, não me tivesses dado uma leve ideia; embora fosse uma pequena fagulha, transformou-se dentro de mim num Sol luminoso!

  5. Elucidaste, com imensa clareza, que numa criatura renascida sua vida básica se irradia por todo o corpo, tornando-se vida origi- nal, pela qual consegue o homem pensar, julgar, deduzir e falar, em suma, transformar-se numa palavra viva semelhante a Ti!

  6. Isto se dando com a criatura renascida, é claro que tal su- cederá com o grande Homem Cósmico. Ele será por nós, através de Ti, penetrado em todas as suas esferas, e nossa vida e luz nele agirão e iluminarão, até que ele, conosco e Contigo, nos tornemos umasó palavra viva.

  7. Tenho, pois, impressão de entender algo desse processo; dentro de Tua Ordem eterna, nós fazemos com que o grande Ho- mem Cósmico seja penetrado e vivificado por intermédio de nosso conhecimento e educação.

  8. Agora só me falta algo de Tua Boca para comprovar a vera- cidade; pois, através de Tua Graça, sou dotado, desde a infância, de

uma memória indestrutível e gravei tudo que falaste. Quando esti- vemos na montanha, contaste uma história da volta do filho perdido ao lar paterno, a fim de exemplificar a Imensidade de Tua Misericór- dia Divina. Naquela ocasião, tirei minhas conclusões, quiçá diversas dos demais ouvintes, isto porque Tu Mesmo fazias certas referências.

  1. Tal filho perdido a voltar junto do Pai parece-me, em peque- na dimensão, tratar-se do renascimento individual; mas, em sentido dilatado, do futuro renascimento do Homem Cósmico. Pois Tuas Palavras não são humanas, mas divinas, e se aplicam não apenas a nós, senão ao Universo, natural e espiritual. A Criação é, desde eter- nidades, Teu Pensamento, Tua Palavra e Tua Vontade. Terei assimi- lado mais ou menos Teu Ensino dentro de minha ignorância pagã?”

61.DEVERPRINCIPALDO HOMEM

  1. Digo Eu: “Amigo e irmão Marcus, filho de Aurélia, a patrícia mais casta e educada, não só assimilaste aproximadamente o Meu Ensinamento, mas atingiste o ponto vulnerável. Por isto, repito: O conhecimento será tirado dos judeus e entregue aos pagãos, pois sua longa noite de treva se transformará em dia, e o dia dos judeus sub- merge em noite mais densa. Trazei-os aqui de Jerusalém e de toda a Judeia, que não haverá um que se possa medir com este Meu Marcus na plena Sabedoria!

  2. Em verdade te digo, proporcionaste grande alegria ao Meu Coração pelo teu raciocínio justo; Minhas Palavras criaram vida em teu coração, razão pela qual tu e teus companheiros, em breve, tereis alcançado o pleno renascimento no Meu Espírito.

  3. Tu, Marcus, já te encontras na entrada da portinha que leva ao recôndito de tua Vida original; se assim não fora, não terias as- similado Minhas Palavras em sua profundeza luminosa. Essa não pode ser dada ao homem pelo intelecto, senão pelo Meu Espírito, despertado em sua alma.

  4. Daí todos poderão deduzir em que profundidade de Verdade e Sabedoria se encontram os que aguardam o pleno renascimento de

sua alma no Meu Espírito. Repito o que tantas vezes já falei: Jamais a criatura viu, ouviu e sentiu a bem-aventurança que Deus reserva aos que O amam realmente, isto é, na ação!

  1. Tenho dentro de Mim, desde eternidades, a máxima Bem-

-aventurança, em pleno gozo; pois Meu Amor, Minha Sabedoria e Meu infinito Poder Me oferecem o mais elevado e indizível Gozo de Minha Vida Divina e Perfeita, e como Pai vos digo: O que Eu tenho, também vós, Meus filhos mais queridos, deveis possuir! Onde have- ria na Terra um pai que não dividisse todas as alegrias com os filhos, aos quais ama ainda mais do que a si mesmo, e no final só encontra a maior satisfação quando remi-los todos?!

  1. Acaso pensais que o Pai no Céu teria satisfação menor com Seus filhos que O amem acima de tudo? Sua Alegria é infinitamente maior! Por isto, lhes proporcionará alegrias infinitamente maiores do que as que um pai terreno de bom coração pudesse facultar à prole. Pois vosso Pai no Céu tem recursos infinitos e mais variados.

  2. Fazei, portanto, com grande zelo o que não vos ordeno, mas aconselho como Pai, e, em breve, percebereis o prêmio que vos aguarda! Refleti um pouco: Não seria o maior tolo o comerciante sa- bedor do preço acessível da maior pérola de valor incalculável, caso não vendesse prontamente todos os seus bens para poder adquiri-la?!

  3. O mesmo sucede ao valor do renascimento da alma com seu espírito original, vindo de Mim! Não valeria a pena o homem justo desistir de todos os tesouros mundanos, almejando com todas as forças apenas a união da alma com o espírito?! Seria preferível tratar da Vida eterna da alma que cuidar de bens perecíveis, os quais jamais se podem integrar na existência clara e viva da psique!

  4. É bem verdade assimilar a alma, durante a vida, os elementos afins do corpo, transformando-os em sua natureza, e, após a mor- te, se apossar pouco a pouco dos elementos sutis da decomposição correspondentes à sua veste; ainda assim, não se trata de um tesouro vital da alma, mas simplesmente de uma particularidade psíquica determinada em Minha Ordem, que jamais poderá ser considerada de algum mérito.

  1. Certo e real é que, numa alma pura, cuja vida se adaptou à Minha Verdade, maiores serão os elementos a se integrarem nela do que numa impura e pecaminosa; pois, se em vida o corpo casto foi adorno da alma, muito mais o será em estado de transfiguração espiritual.

  2. Até mesmo isto não faz parte do mérito vital da alma, mas é uma Determinação Minha em seu benefício, e seria tolice dela caso se preocupasse com esse tesouro terráqueo, que lhe pertence inclusive no Além. Seria tal preocupação idêntica à de pais muito ignorantes, unicamente interessados no físico atraente e belo de seus filhos, imaginando recursos para realizarem tal desejo tolo, sem con- siderar dependerem forma e crescimento exclusivamente da Vonta- de de Deus, não havendo criatura capaz de alterá-los.

  3. Por isto, é apenas necessário que cada alma procure e des- cubra o Meu Reino de Vida no pequenino recôndito de Vida bá- sica, no próprio coração; todo o resto é espontâneo acréscimo de Minha Parte.

  4. Eis o motivo por que vos disse tantas vezes que não deveis vos preocupar pelo alimento e pela veste; procurai, antes de tudo, o Meu Reino e sua verdadeira Justiça dentro de vós! O restante vos será dado, pois o Pai no Céu sabe de vossas necessidades materiais!

  5. Se hoje trabalhardes e vos alimentardes, tereis cuidado sufi- cientemente pelo dia. Fútil seria, pois, preocupar-vos pelo seguinte. Caso amanhã estejais vivos, o dia apresentará suas preocupações. Somente o dia que viveis e trabalhais vos é debitado por Mim; o imediato ainda está em Minhas Mãos, não vos cabendo responsa- bilidade. Portanto, é inútil preocupar-se materialmente pelo dia de amanhã, pois depende unicamente de Mim se permito sua existên- cia para o homem.

  6. Houve um pai de família e proprietário de grandes terras e manadas, que, desejando aumentar e garantir sua riqueza material, mandou construir celeiros e estrebarias, depósitos seguros para ce- reais e, para maior proteção, uma resistente e alta murada em redor das novas construções. Quando terminou, disse: Ah, agora meu co-

ração aflito se sente mais leve, pois posso viver sem preocupações e desilusões! Assim falando, ele ouviu uma voz qual trovão, dizendo: Materialista tolo! Como te vanglorias e te consolas, como se foras se- nhor de tua alma e vida? Ainda esta noite tua alma será separada do teu corpo, pelo qual tanto zelaste. Que utilidade terão para tua alma todas as tuas grandes preocupações, trabalhos e fadigas?! — Apa- vorado, ele reconheceu que pouco tinha feito pela alma, morrendo em seguida.

  1. Perguntai-vos de que lhe adiantou o grande cuidado pe- las coisas mundanas? Não teria sido mais prudente se tivesse zelado pelo futuro de sua alma, descobrindo dentro de si o Reino de Deus, como fizeram muitos antigos, inclusive pagãos, conforme provaram os sete egípcios?!

  2. De maneira alguma quero afirmar ser de Minha Vontade a um homem justo não executar trabalhos materiais, pois o ócio físico é gerador e supridor de todos os pecados! Pelo contrário, todos de- vem trabalhar ativamente e comer o pão suados de cansaço!

  3. Depende unicamente da intenção com que trabalham. Quem o fizer como Meu Amigo e Irmão Lázaro, procurará inten- samente o Meu Reino e Sua Justiça dentro de si, encontrando-os como ele o fez quase totalmente — e tu também, caro Marcus. Sê alegre e feliz, pois já te apossaste da grande pérola e serás útil aos irmãos. Agora, descansemos um pouco, porque vejo pela estrada Leste alguns apóstolos por Mim enviados a Emaús. Dentro em pou- co, saberemos como se deram.”

62.RETORNODOSSETENTADISCÍPULOSDO SENHOR

  1. Pouco mais tarde chegam os discípulos enviados a Emaús, pois seu espírito lhes dera a intuição de Eu Me encontrar em Be- thânia, em companhia dos amigos. No começo, aparecem apenas quarenta; em seguida, vieram outros, incentivados pela intuição, a fim de testemunharem perante todos a realização, em poucos dias, de tudo que Eu lhes havia predito.

  1. Acompanha-os um grupo de eruditos judeus e gregos, uns para ouvir, pessoalmente, algumas Palavras de Vida; outros, queren- do experimentar-Me se realmente Sou o Anunciado pelos discípulos.

  2. Assim, sou rodeado, e um judeu Me pergunta: “Mestre, esses discípulos fizeram boa referência de ti, curaram nossos enfermos e libertaram os obsedados de seus maus espíritos. Daí concluirmos seres tu real profeta, ou efetivamente o Messias Prometido. Não in- terpretes mal nossa vinda, porque procuramos apenas confirmação de suas palavras.”

  3. Dirigindo-Me aos discípulos, digo: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos desprezar, tê-lo-á feito a Mim e assim desprezará Aquele que Me enviou. Quem Me enviou é Uno Comigo e é justa- mente Quem afirmais ser vosso Deus. Nunca O conhecestes, por- tanto não reconheceis o Enviado por Ele. Eu vos digo, Meus discí- pulos, que transmitistes o Meu Verbo fiel, verdadeira e justamente.”

  4. Cheios de alegria, os discípulos se aproximam de Mim e di- zem: “Oh, Senhor, em Teu Nome, os piores demônios se submete- ram, o que nos causou grande satisfação.”

  5. Respondo, em sentido velado: “Sim, bem vi Satanás cair do Céu qual raio (a separação do falso e do verdadeiro); tal não é su- ficiente, mas a ação dentro da Verdade, a fim de que ela se torne viva no homem!

  6. Dei-vos o poder de pisar em víboras e escorpiões, igualmente o domínio sobre os inimigos! Não vos alegreis por isto, mas pelo fato de serem escritos vossos nomes no Céu! Eis também Minha grande alegria! Como Homem, Te prezo, Pai e Senhor de Céus e Terra, por- que ocultaste tais coisas aos intelectuais e sábios do mundo, revelan- do-as aos simples. Assim, Pai, já foi do Teu Agrado desde eternidade!

  7. Aos sábios e astutos, digo: Foi-Me entregue pelo Pai todo Po- der no Céu e na Terra! Entre vós, ninguém sabe Quem e o Que é o Filho; somente Meu Pai Eterno o sabe. De igual modo, ninguém de vós sabe e reconhece Quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar! Ele já o revelou aos que queria dar conhecimento; assim não fará aos que muito consideram sua inteligência e sensatez!”

  1. Em seguida, Me viro para todos os discípulos e lhes digo especialmente: “Em verdade vos digo: Bem-aventurados os olhos que viram e veem o que vedes, e felizes os ouvidos que ouvem o que ouvis e ouvistes! Repito: Muitos profetas e reis desejaram ver e ouvir o que vos foi dado assistir!

  2. Há alguns que veem e ouvem o que vedes e ouvis; toda- via, nada percebem, entendem e assimilam, pois são e continuarão obtusos e cegos no coração. Quem for obtuso e cego no coração, sê-lo-á no cérebro e no físico; pois, se aquilo que deveria ser luz no homem é treva, quão enorme não será a treva da matéria completa do homem?!

  3. Sabeis ser o sal o primeiro e melhor tempero para alimen- tos; como temperá-los, se o próprio sal se deteriorou? Vós sois um justo sal para a vida das criaturas; cuidai de não vos corromperdes como os fariseus e escribas o fizeram, e, por isto, não podem prepa- rar os homens à Vida Eterna, levando-os à morte espiritual pelo sal deteriorado.”

63.UMESCRIBADESAFIAO SENHOR

  1. Entre o grupo dos setenta discípulos, se encontra um escri- ba aborrecido com as Minhas Palavras. Por isto, se adianta e diz: “Mestre, deduzi de tua explanação seres bem versado nas Escrituras; diz-me o que devo fazer para me tornar feliz como teus discípulos.”

  2. Digo: “O que consta na Lei de Deus, e como a interpretas, sendo escriba?”

  3. Responde Ele: “Deves amar a Deus, teu Senhor, de todo co- ração, de toda alma e com todas as tuas forças, e ao teu próximo como a ti mesmo.”

  4. Aduzo: “Respondeste certo. Age deste modo, que viverás; o simples conhecimento não proporciona a Vida eterna. É ele neces- sário, pois, sem ele, o homem seria qual cego sem guia na estrada da vida; o cego conseguindo a visão pelo conhecimento, todavia não querendo caminhar pela estrada indicada, de nada lhe adianta a

luz. Quem não souber como agir não peca pelo erro. Conhecendo o certo e não o fazendo — estará em pecado.”

  1. Admirado, o escriba procura justificar-se: “Mestre, vejo teres experiência da Verdade, e sei ser preciso viver e agir dentro da Lei de Deus, a fim de agradar-Lhe. É, porém, necessário saber-se quem é o nosso próximo, a quem se deve amar como a si mesmo.”

  2. Digo Eu: “Tu, como escriba, ignoras quem é teu próximo! Vou contar-te uma história, da qual tirarás uma noção clara. Houve um negociante que, a caminho de Jerusalém e Jericó, caiu em mãos de salteadores. Despiram-no e tanto o maltrataram, que ficou semi- morto estirado no solo, enquanto eles se evadiam.

  3. Casualmente, passou por aí um sacerdote de Jerusalém que, sem se perturbar, passou de largo. O mesmo fez um levita. Pouco mais tarde, aí chegava um samaritano, que compadeceu-se do po- bre homem. Tratou as feridas com óleo e vinho, deitou-o em cima da mula, levando-o ao próximo albergue e dele cuidou dia e noite. Vendo-o fora de perigo e seu pronto restabelecimento pendente de trato cuidadoso, chamou o tavoleiro, deu-lhe algum dinheiro e dis- se: Tenho que partir a negócios urgentes; cuida dele até a minha volta. As despesas serão por mim pagas. — Quando tornou, pas- sados alguns dias, encontrou o homem bem tratado e em situação de poder reconduzi-lo a Jerusalém. Pagou o hospedeiro e comprou roupas para o curado. Qual dos três teria sido o próximo em relação à infeliz vítima?”

  4. Responde o levita: “Evidentemente, aquele que lhe fez caridade.”

  5. Prossigo: “Então faze o mesmo! É teu próximo aquele que necessita de teu socorro; se o ajudares, és igualmente o próximo dele, e o amaste como a ti mesmo. Pois o verdadeiro amor ao próximo consiste em fazeres ao semelhante tudo aquilo que razoavelmente desejas que te faça em caso de necessidade.”

  6. O escriba não se atreve a outras perguntas, volta aos colegas e diz: “Nesse galileu se oculta um poderoso espírito da Verdade. Vale a pena ouvi-lo!”

  1. Manifesta-se um dos discípulos: “Vale mais viver e agir como Ele ensina. Ele é o Senhor e tem o Poder sobre vida e morte. Quem praticar sua Doutrina, Dele receberá a Vida!”

  2. Conjectura o escriba: “Terás razão, caso ele seja o Messias dos judeus. E, se tiver todo Poder e Força nos Céus e na Terra, deve divulgá-lo aos sumos sacerdotes; não o querendo aceitar, deve casti- gá-los com o fogo dos Céus, como fez Deus em Sodoma e Gomorra.”

  3. Diz o discípulo: “Falas como se expressam os homens; nós falamos dentro do Espírito Dele. Por Ele sabemos o que ainda fará, e conhecemos Sua Onipotência como testemunhas de tudo que fez em Jerusalém.

  4. Acaso todos os sumos sacerdotes não assistiram aos sinais do Céu, revelando o que os aguardava?! Não tiveram a menor reper- cussão além do ódio contra Ele, procurando resolver o Seu extermí- nio. Ele, todavia, caminha livremente por toda Judeia e não receia os adversários numerosos. Não fora Ele Senhor de todo Poder e Força em Céu e Terra, de há muito teria Se evadido. Quem mais senão Ele teria coragem para tanto?! Para qualquer criatura sensata, é prova cabal ser Ele o Messias, portanto o Próprio Senhor!

  5. Todos nós vimos Seus Milagres, ouvimos a Verdade eterna em Suas Palavras e acreditamos vivamente em Sua Pessoa; convosco tal não se dá. Em que se baseia vossa incredulidade? Na grande ce- gueira e teimosia de vossos corações! Sois escribas e sabeis sob quais condições o Messias viria ao mundo. Todas elas sendo evidentes — como ainda podeis duvidar e esperar algum outro?!

  6. Não haverá outro até o Fim do mundo e suas eras! Há al- guns dias ouvistes em Belém nossas explicações acerca da Escritura, conquanto fôssemos incultos, nem sabendo ler e escrever; além dis- to, operamos milagres a bem das criaturas, que vos estontearam; de quem teríamos recebido tais faculdades?

  7. Se houvesse tal escola no mundo, teria sido por vós frequen- tada! Somente Ele é Mestre desde eternidades, o Senhor Encarnado, em Espírito o Mesmo que criou todos os Céus e mundos pelo Amor, Sabedoria, Vontade e Palavra.

  1. Quem não aprender com Ele, jamais receberá o dom da Vida, ainda que curse todas as faculdades superiores. Pois consta: Em tal época, todos que quiserem serão ensinados por Deus; o Espí- rito do Pai os educará! E quem não for atraído pelo Pai, não chegará ao Filho, no Qual o Pai habita; não O conheceis, razão por que desconheceis o Filho, conforme Ele Mesmo falou.

  2. Nós conhecemos o Filho e o Pai Nele, pois Ele Mesmo Se nos revelou; assim fez porque prontamente acreditamos. Falou em público Quem é. Não O acreditastes e por isto permanecereis na noite do pecado, nela morrendo! Isto afirmamos em Belém quando nos ameaçastes; e agora o repetimos em Sua Presença, a fim de que Ele Mesmo testifique se falamos com razão.

  3. Viestes ao nosso encalço como se quisésseis ouvir a Verda- de de Sua Própria Boca; entretanto, pretendeis desafiar o Senhor da Glória Divina. Ele já vos provou a tolice desse intento. Silen- ciastes, porque nada mais vos ocorreu para tentá-Lo. Será melhor voltardes aos vossos ninhos pecaminosos, para evitar suceda algo desagradável!”

64.QUEIXADOS ESCRIBAS

  1. Esse discurso vibrante aborrece o escriba e seus colegas; por isto, se aproximam de Mim, dizendo: “Mestre, deste aos discípulos o direito de falarem de tal modo conosco? Se não acreditamos da mesma maneira que eles, procurando maiores provas como intelec- tuais, nada têm a ver com isso! Agindo como fazem, não obterão resultados!”

  2. Digo Eu: “Cada palavra pronunciada pelo discípulo foi por Mim deitada em sua boca, portanto fui Eu Mesmo a Me pronunciar. Eis a resposta, demonstrando de Quem ele tem o direito de vos falar como fez. Não vos agrada ouvir a Verdade, prezando lisonja e hipo- crisia; por isto, Meu Discurso vos parece duro, rude, e vos aborrece.

  3. Eu, todavia, vos digo: Quem, como vós, se fundamentou no erro, ensinando erradamente e, além disto, exige grandes honras por

parte dos ignorantes, pois em sua cegueira se julga importante — considera dura a Verdade luminosa, sente-se ofendido e se irrita. Afirmo-vos: tal criatura não querendo humilhar-se em seu erro pela Verdade mais esplendente, jamais nela ingressará, deixando-se ho- menagear em sua cegueira, razão por que com ela sucumbirá.

  1. Houve um homem que muito havia lido das estradas em outros países; era muito considerado pelo seu conhecimento e lhe agradava tal respeito. Todavia, não conhecia pessoalmente o que estudara dos gregos e romanos. Aconteceu um príncipe pretender longa viagem e contratou tal homem, muito embora tivesse outros guias habituados a viajar, portanto experimentados.

  2. Quando chegaram ao Egito, onde o príncipe queria alcançar a antiga cidade de Memphis, ele pediu conselho aos entendidos, que acharam conveniente seguir rumo do Nilo, conquanto fosse mais longa a viagem. O letrado contestou: O pouco que aprendestes já foi esquecido; estudei todas as rotas dos egípcios, gregos e romanos; proponho se tome a reta pelo deserto, e estaremos em Memphis três dias mais cedo que pelo curso do rio. — O príncipe concordou e lhe entregou a direção.

  3. Com dificuldades tremendas, a caravana seguia pela areia du- rante dias, e já começavam a escassear mantimentos e água. Nova- mente o príncipe chamou os guias, que responsabilizaram ao outro por ter desviado a caravana. Os antigos guias opinaram: Caso não voltarmos tomando rumo do Oriente, mas prosseguindo pelo Poen- te, todos nos perderemos! — O versado nas rotas protestou, porque lhe agradava merecer a honra de intelectual. O príncipe ordenou seguissem rumo do Oriente; em três dias, alcançaram o Nilo, e em sete, a velha cidade.

  4. De que adiantou à caravana o versado em Geografia, orgu- lhoso e vaidoso? Se o tivessem acompanhado, teriam se perdido no deserto; seguindo-o apenas alguns dias, atingiram a meta mais tarde e mais cansados.

  5. Ao chegarem a Memphis, o príncipe lhe disse: Resolveste mal a tua tarefa; por isto, serás o último e mais inferior dos meus

serventes. Com humildade terás que aprender a te tornares útil; do contrário, mereces justo castigo.

  1. O mesmo digo Eu a vós, eruditos nas Escrituras. Em vossa pretensa honra, levais as criaturas à triste perdição, em vez de à Au- rora da Vida interior; alguém vos chamando a atenção, enchei-vos de raiva e ódio, porque guardais na mente a letra morta das Escritu- ras, sem jamais terdes nela reconhecido o Espírito vivificador; vossos corações estavam cheios de orgulho e mundanismo, não podendo despertar à Vida luminosa o espírito que reside na verdadeira hu- mildade do coração.

  2. Não prestando para guias de Minha Caravana, optei pelo sistema antigo de condutores incultos, porém experimentados e en- tendidos nos caminhos da verdadeira humildade do coração e do amor ao próximo, capazes de reconduzirem ao Rio da Vida as ca- ravanas por vós desviadas pelo deserto; se continuardes em vosso orgulho, não escapareis ao seu prêmio! Digo-vos: A simples letra da Escritura mata; somente o Espírito vivifica e só o recebem os que Me seguem na humildade e no amor.

  3. Enquanto a Verdade bem intencionada do próximo conse- gue magoar-vos e ofender-vos, estais longe do Reino de Deus! Quem quiser ser Meu verdadeiro discípulo e seguidor, terá que perdoar até mesmo aos inimigos declarados, orar pelos que o amaldiçoam, aben- çoar quem o odeia e maldiz, fazer o Bem a quem lhe causa prejuízo, e terá acumulado mais brasas de arrependimento sobre as cabeças de seus adversários do que pagando o mal pelo mal.

  4. Se continuardes em vossa obstinação e pertinácia orgulho- sa, a Luz vos será tirada e entregue aos pagãos, o que de há muito foi previsto, razão por que estais sob o jugo deles, tendo que suportar suas leis duras, porquanto pisastes as suaves Leis de Deus.

  5. Eu vim para vos reunir e erguer, e quero vos libertar real- mente pelo Poder da Verdade. Querendo prosseguir na escravidão autocriada, darei Minha Luz aos pagãos; ficareis na noite dos peca- dos e eles vos dominarão. A Terra Prometida será triturada pelos ini- migos, ficando deserta e vazia. Isto vos é dito para vossa orientação!

Quando tal se cumprir, ireis reconhecer-Me, exclamando: Senhor, Senhor! — Eu não vos reconhecerei, dizendo: Nunca vos conheci; afastai-vos, inimigos da Verdade!”

65.HIPOCRISIADOS ESCRIBAS

    1. O escriba orador reflete um pouco e diz: “Mestre, reconheço seres doutrinador realmente sábio e ensinas sem considerar concei- tos humanos. Ouvimos muitos dos teus milagres, até mesmo assisti- mos a alguns, pois te conhecemos há mais de dez anos. Nunca se fez alusão que poderias ser profeta, muito menos o Messias prometido aos judeus e a todos os homens desta Terra. Isto só começou a ser propalado há dois anos, razão por que viemos para ouvir a Ti mes- mo, pois, em teu lar, eras tudo menos conversador, e o próprio José se queixava de teu mutismo. Deves convir não terem sido más as intenções que aqui nos trouxeram.

    2. Consta, na antiga sabedoria, dever o homem analisar tudo e guardar apenas o aceitável. Se assim agimos, acaso pode-se acusar-

-nos de pecadores? Por que não nos proporcionas a mesma Luz pela qual os teus discípulos prontamente te reconheceram como Messias? Somos pobres de conhecimento e necessitamos de um misericor- dioso samaritano, talvez mais que o homem mencionado em tua história.”

    1. Digo Eu: “Se as tuas palavras correspondessem ao que te vai no coração, terias encontrado mais que um simples samaritano para a cura de tua alma abatida! Enquanto sentires diversamente do que falas, não encontrarás em Mim o suposto samaritano misericordio- so. Demonstrei-vos, todavia, Misericórdia com estas Palavras. Caso queirais — tu e teus colegas — aceitá-las, no que jamais vos obriga- rei, a Luz se fará dentro de vós.

    2. Sei perfeitamente ser por vós conhecido como Filho do car- pinteiro José, e confessaste a divulgação de Minhas Ações, impossí- veis ao homem. Se tivesses procurado na Escritura, facilmente des- cobririas Quem Se ocultava no Filho do carpinteiro, como fizeram

muitos pagãos em tal época. Tua casta nunca assim fez e, se alguém vos procurava esclarecer oportunamente, não ligastes, mas ameaças- tes a todos; em parte era Eu taxado como demente e, na melhor das hipóteses, um mago talentoso que aprendera sua arte secreta a fim de se enriquecer junto dos pagãos.

    1. Quando intimamente recebestes informações de Minha Pes- soa, conjecturastes com maldade: Agora descobrimos a trama desse homem! Seu pai descendia da linha de David e, quando descobriu no filho capacidades ocultistas, fez com que aprendesse a magia que os pagãos consideravam de origem divina. Fazendo amizade com estes, certamente procurará elevar-se ao trono de David para exter- minar-nos. É preciso impedi-lo a todo transe. Se realmente for o Cristo, nada O atingirá e teremos oportunidades de acreditar Nele.

    2. Eis os vossos pensamentos mais íntimos, inclusive de todos os templários, e nenhum alimenta o desejo de ser Eu o Cristo, mas que morra para sempre! Esse sendo vosso desejo mais forte — qual poderia Eu alimentar em relação a vós?! Acaso mereceis a Minha Mi- sericórdia? Julgai vós mesmos! Minha Bondade ultrapassa o melhor coração humano! Eu vos faço Misericórdia dizendo abertamente como sois, a fim de emendar-vos, pois ainda é tempo! Qual é vossa misericórdia para Comigo? Falai honestamente se não disse a pura Verdade!” Todos arregalam os olhos, sem coragem de retrucar.

66.AABSOLVIÇÃODOS PECADOS

  1. Seriamente impressionado, Agrícola se aproxima de Mim e diz: “Senhor e Mestre, como é possível existirem entre judeus ho- mens tão miseráveis, capazes de tamanha perfídia?! Merecem ser mil vezes crucificados!”

  2. Digo Eu: “Amigo, não te admires em demasia; virá o tempo em que ouvirás coisa muito pior dessas criaturas. Não descansarão em seu ódio oculto até que Eu Mesmo permita encherem sua medi- da de atrocidades em Minha Pessoa. Então virá o grande julgamento profetizado por Daniel, quando se encontrava no local sagrado.”

  1. Diz Agrícola: “Foi bom me teres feito tal revelação; assim os romanos saberão quais as medidas a tomar.”

  2. Respondo: “Agireis como foi determinado! Deixemos esse assunto; surgirá outro problema.”

  3. Ouvindo Minha Palestra com Agrícola, o escriba reflete um pouco e diz: “Senhor e Mestre, agora reconheço seres Tu mais que o filho de José, desencarnado há três anos. Se sabes o que há no cora- ção de uma criatura, és evidentemente Deus! Começo a crer em Ti! Fortifica minha fé, Senhor!”

  4. Digo Eu: “A fé somente não te fará feliz, mas a ação dentro da fé, a fim de que se torne viva. Procura reparar a injustiça feita tão frequentemente ao teu próximo, que teus pecados te serão perdoa- dos. Enquanto o homem não tiver restituído o último níquel tirado de seu semelhante, não poderá ingressar no Reino de Deus!”

  5. Diz ele: “Então serão poucos a desfrutarem dessa felicidade, pois quantas vezes acontece não ser possível reparar-se o prejuízo, nem com a máxima boa vontade. Que fazer para ser redimido?”

  6. Digo Eu: “Deve-se, em tal caso, confessar sua injustiça com verdadeiro remorso ao Pai, pedir perdão e que Ele repare o dano praticado, porquanto tudo Lhe é possível. Deus atenderá tal pedido sincero, perdoará sua maldade, mormente o pedinte se esforçando por obras de amor em outros.

  7. Caso não possa fazer isso, Deus o ajudará em virtude de seu arrependimento e boa vontade. Enquanto houver oportunidade de reparares o prejuízo pessoalmente, de nada te adiantam boa vontade, remorso e pedido, mas unicamente a ação. Esta feita, poderás pedir perdão a Deus, que te será concedido, caso tiveres a firme intenção de não mais pecares, agindo dentro de tal princípio.

  8. Se voltares a errar, os antigos erros te serão debitados. Pois, se tiveres reparado o dano ao próximo e vos tornardes amigos, entre- tanto repetindo tua ação contra ele ou outrem, o primeiro pecado serve de prova para a última atitude e o castigo num julgamento será dobrado. Se juízes mundanos assim agem com razão, Deus não adotará medidas mais benévolas para com pecador renitente.

  1. Pode o homem conseguir o perdão real e pleno dos pecados somente reconhecendo-os e arrependendo-se, procurando reparar o mal; em seguida, terá que pedir perdão a Deus, com o firme pro- pósito de se emendar. Se todos assim fizerem, afirmo desde agora: vossos pecados são por Mim perdoados!”

  2. Diz o escriba: “Senhor e Mestre, Tua Doutrina é dura, mas verdadeira, e tudo farei para praticá-la. Garantiste o perdão, caso a se- guíssemos. Terias direito e poder de Deus para perdoar aos homens?”

  3. Digo Eu: “É realmente difícil falar-vos da maravilha das co- res, porquanto sois cegos. Não vos afirmei que Me assistem Poder e Força totais, no Céu e na Terra?”

67.O SENHOR RESSUSCITA UM SERVENTE

  1. Nisto surge, afobada, Martha, irmã de Lázaro, e Me pede socorro, pois um servente caíra de um andaime e não dava sinal de vida. Digo, pois: “Manda transportá-lo aqui, para ver o que faço!” Dentro em pouco, o morto é trazido.

  2. Virando-Me para os assistentes, indago: “Não avisei que terí- amos um assunto a resolver? E tu, escriba, examina o acidentado se está morto, pois tens conhecimento para tanto.”

  3. Faz ele o exame minucioso e diz: “Senhor e Mestre, não há poder humano capaz de reanimá-lo; somente Deus o poderia.”

  4. Digo Eu: “Que te parece mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou falar incisivamente a esse morto: Levanta-te são e caminha!?”

  5. Responde o judeu: “Evidentemente é a primeira assertiva de mais fácil efeito; pois qualquer pessoa poderá dizê-la a quem lhe prejudicou e, de acordo com Tua Doutrina, tal vale perante Deus. A segunda, só é possível a Ele e a quem receber tal poder.”

  6. Prossigo: “Para que comproves assistir-Me o direito de per- doar para sempre os pecados de um arrependido, digo a esse morto: Tem saúde, levanta-te e caminha!” No mesmo instante, o ressuscita- do se ergue e Me agradece com efusão.

  1. O escriba então se dirige a ele: “Bom homem, o Senhor não só te curou, mas restituiu-te a vida. Agradece-lhe por ela.”

  2. Interrompo: “Quem agradece pela cura, fá-lo pela vida — é quanto basta!” E, virando-Me para o ressuscitado: “Sê mais pruden- te e não subas em andaimes sem grande necessidade. Deixa tal tarefa para quem tem prática, pois a presunção se pune a si mesma, como foi o caso contigo.

  3. Além disto, considera o seguinte: Não queiras sobressair en- tre teus colegas por meio de peças arriscadas, a fim de que teu patrão te considere primeiro empregado, podendo tu dominar os outros. Sê apenas fiel e diligente em teu trabalho, que evitarás quedas peri- gosas à vida. Quem muito sobe, cai no abismo!” Novamente ele Me agradece e acompanha os amigos que o haviam transportado, com a firme intenção de seguir o Meu Conselho.

  4. Então Me dirijo ao escriba: “O milagre que operei para for- tificar a vossa fé deve ser guardado entre vós. Sei por que assim que- ro. Podeis seguir com os discípulos onde o Meu Espírito vos levar. No vale encontrareis alimento no albergue.”

  5. Também nós voltamos e fomos ao refeitório, onde chamei Raphael para trazer alguns jovens acomodados em outra casa de Láza- ro. Não demora aparecem doze rapazes e doze moças de especial bele- za e conhecedores do idioma grego, hebraico e romano, através de Mi- nha Insuflação. Sentam-se numa mesa à parte, presidida por Raphael.

  6. Após tê-los observado algum tempo com grande satisfação, Agrícola diz comovido: “Ó Senhor, com este presente me propor- cionaste imensa alegria, pois tornei-me pai de muitos filhos, que serão tratados como meus. Peço-Te apenas vida longa e saudável para poder cuidar deles, física e espiritualmente. Não me faltarão boa vontade e ação!”

  7. Digo Eu: “Também Eu estou contente e te darei o que pe- diste; todavia, não terás muito tempo para eles, pois irás para a Bri- tânia, como já te disse. Que farás com eles nesse ínterim?”

  8. Responde Agrícola: “Senhor, dirigir-me-ei, intimamente, a Ti e não me deixarás sem orientação.”

  1. Digo Eu: “Assim está certo! Poderás levar esse grupo para aquele país; prestar-te-á bom serviço. Agora jantemos!” Maria, irmã mais jovem de Lázaro, senta-se num banquinho aos Meus Pés, pres- tando, como sempre, atenção às Minhas Palavras. Havendo muitos hóspedes e Martha se preocupando com o serviço da mesa, apro- xima-se e diz: “Senhor, estou atarefada; dize à minha irmã para ajudar-me!”

  2. Digo Eu: “Martha, Martha, continuas a mesma, não obs- tante Eu ter expressado Minha Opinião por várias vezes no mesmo assunto. Muito te preocupas com o que é do mundo — Maria es- colheu a melhor parte; por isto, deve ficar Comigo. Além de tudo, temos alimento de sobra. Por que te afliges?” Ela reconhece o seu erro, deixa a irmã onde está e, com a ajuda dos serventes, resolve o problema caseiro.

68.ACERCADA EDUCAÇÃO

  1. Enquanto nos fartamos à mesa, entretidos em vários assun- tos, os enormes cães começam a latir fortemente. Lázaro, atento, Me diz: “Senhor e Mestre, certamente vêm apresentar-se hóspedes inde- sejáveis. Foi bom me teres dado esses vigias. De qualquer maneira, será conveniente averiguar o motivo da exaltação dos animais.”

  2. Digo Eu: “Já sei o que há. Não te lembras dos fariseus que pernoitaram ontem aqui? Prometeram voltar por Minha Causa e de- sejam — com mais alguns — hospedar-se neste albergue principal. Isto não é possível, tanto mais por terem estado no Conselho, de manhã, mudando sua maneira de pensar. Manda levá-los ao abrigo para forasteiros. À noite veremos o resto.”

  3. Após feito o necessário, Lázaro diz: “Estranho sua mudança de ideias; pois Tu Mesmo afirmaste serem eles os últimos do grande número de templários que se converteu.”

  4. Digo Eu: “Não te atemorizes. Serão dos nossos, mas, no mo- mento, ainda não estão convertidos inteiramente. À noite, mudarão de ideias e os procuraremos.” Todos se conformam, calados. Apenas

à mesa de Raphael se palestra, pois o anjo, amavelmente, prestava esclarecimentos aos jovens.

  1. Dirigimos a atenção para lá e os templários em nossa compa- nhia dizem: “Com tal ensino, a juventude aprende numa hora mais que durante dez anos com professor mundano. Senhor, nossas mu- lheres e filhos também se acham acomodados num abrigo de Lázaro; seria grande vantagem se pudessem assistir a essa aula.”

  2. Digo Eu: “Não resta dúvida; todavia, perderiam o ensino por estarem abarrotados coração e alma com coisas mundanas. Es- ses jovens são castos e incorruptos; desconhecem qualquer pecado, sofreram muito e tiveram que se habituar a toda sorte de priva- ções, ficando isentos de paixões comuns aos filhos de pais ricos. Suas almas são, portanto, puras e capazes de deixar-se inundar pela centelha divina. Eis o motivo por que podem ser, ainda jovens, educados por um arcanjo, diretamente; prole como a vossa, apenas indiretamente!

  3. Digo-vos: Se os pais soubessem educar os filhos de tal modo a lhes conservar a inocência e pureza d’alma, ao menos até aos 14 anos, receberiam diretamente professores e guias celestes. Tal não se dando nesta época entre os judeus conceituados, os anjos nada podem fazer diretamente.

  4. Na época dos patriarcas, era fato comum, e vez por outra acontecia neste e no século passado. Minha Mãe física, José, o ve- lho Simeon, Anna, Zacharias, sua mulher Elisabete, João etc. foram educados por anjos. Sua criação se deu na maior pureza de alma e hábitos desde o berço, o que nunca sucedeu com vossos filhos.

  5. Tal seria muito aconselhável, conquanto não seja indispensá- vel à aquisição da bem-aventurança e da vida eterna. Comigo, por- tanto no Céu, há infinitamente maior regozijo com um pecador remido, que com noventa e nove justos, jamais necessitados de pe- nitência. Fazei o que vos ensino, que vivereis; pois Eu sou mais que todos os anjos dos Céus, e Minha Doutrina igualmente!”

  6. Diz um escriba, cuja família também se acha em Bethânia: “Senhor, minha mulher e os sete filhos viveram rigorosamente den-

tro da Lei, e as almas dos jovens são, na certa, puras. Não poderia mandar chamá-los?”

  1. Respondo: “Sou de opinião ser melhor continuarem onde estão, pois não são tão puros como pensas. Haverá oportunidade de Eu entrar em contato com os teus. Não Me faças outras objeções.”

69.HISTÓRICODENOSSO PLANETA

  1. Enquanto nos entregávamos ao prazer do momento, o ro- mano Marcus, conhecido como profundo pensador, se pronuncia: “Permita, Senhor, eu fazer uma pergunta num assunto não bem es- clarecido.”

  2. Respondo: “Fala à vontade, pois tens uma alma lúcida. Apre- cio tuas indagações, porque dão oportunidade de despertar o in- telecto das criaturas, cujo maior erro consiste em desconhecerem suas falhas. Se as percebessem, poderiam tratar de aumentar seu co- nhecimento. Preguiça mental e ignorância de si mesmas impedem a procura de maiores noções. Quem procura, achará; quem pede, receberá, e a quem bate na porta, abrir-se-lhe-á.”

  3. Diz o romano: “Tu Mesmo falaste, Senhor, não ser possí- vel ao homem amar a Deus acima de tudo, caso não procure co- nhecê-Lo. Refletindo bastante, achei muitas faltas dentro de mim. Possuo, por exemplo, várias minas na Illyria e em nossas próprias terras, das quais extraio ouro, prata, chumbo e quantidade de ferro. Na perfuração das montanhas descobri coisas peculiares nas profun- didades, isto é, ossos e esqueletos de remotos animais gigantescos. Quando habitaram a Terra e como chegaram no subsolo das mon- tanhas? No Egito e na Espanha encontraram-se até mesmo ossadas mui semelhantes às do homem, apenas eram quatro ou cinco vezes maiores. Além disto, encontrei outras raridades que não precisam ser enunciadas.

  4. Fizeste, no Monte das Oliveiras, breve alusão à existência do Gênero Humano antes de Adam, criaturas com manifestação ins- tintiva. A julgar pela Escritura judaica, foi Adam o primeiro homem

dotado de livre arbítrio e inteligência individual, dando aos descen- dentes leis e obrigações.

  1. Eis minha pergunta: Teria sido a Terra habitada, na época de Adam, por criaturas pré-históricas e talvez ainda sejam encontra- das em determinados pontos do orbe? E como chegaram as ossadas de animais pré-históricos debaixo do solo de montanhas, inclusive os gigantescos pré-adamitas? Os livros de Moysés não dão esclare- cimentos. Ele começa com a história mística da Criação, que de maneira alguma corresponde ao que se encontra na Terra. Dá-nos explicação maior, para que Tua Luz esplandeça entre nós.”

70.CONTEÚDOCIENTÍFICODOS 6° E 7° LIVROSDE MOYSÉS

  1. Digo Eu: “Meu caro Marcus, demonstrar-te-ei o problema; tudo que for dito e explicado não ultrapassará vossos descendentes, porque foge da compreensão humana, portanto não merece crédito. Teu pedido foi bem motivado; entretanto, já afirmei que os aconte- cimentos na Minha criação serão transmitidos a todos os renascidos em espírito. Em tal caso, a compreensão será viva e real.

  2. Acreditareis nas Minhas Palavras por Eu as pronunciar; com- preendê-las a fundo, não será possível, e muito menos passar adiante uma justa noção aos ainda espiritualmente cegos. Assim sendo, as criaturas terão que esperar por longo tempo, até que as grandes dú- vidas possam ser esclarecidas de modo compreensível.

  3. Os próprios judeus — o povo mais culto da Terra — che- garam ao ponto de desconhecerem todos os assuntos pré-históri- cos. Tudo que encontram de restos remotos, classificam como consequência do Dilúvio mal compreendido. Procura ensinar-lhes outra coisa, que serás condenado como herege!

  4. Os pagãos sustentam no politeísmo a lenda de dois dilúvios e lhes atribuem as causas fenomenais; o povo as aceita. Dizei-lhes a Verdade, que sereis ridicularizados, ou no mínimo dirão: Isto somente os deuses sabem! Por isto, as criaturas compreenderão a

Verdade quando orientadas cientificamente e, além disto, quando o próprio espírito esclarecê-las.

  1. Darei alguns tópicos, muito embora veja não haver possibili- dade de assimilação em vosso estado intelectual. Primeiro, vos falta a noção de números excessivamente grandes; segundo, por saberdes e acreditardes apenas o que vos disse a respeito das estrelas, seu ta- manho, distância e movimentos. Será um conhecimento externo, até que se desenvolva para uma Verdade independente e autocriada, dentro de vosso espírito.

  2. No Monte das Oliveiras vos demonstrei que a Terra é tão antiga, que, embora vos facultasse sua idade exata, não a poderíeis conceber. Em suma, ela existe como corpo cósmico há um tempo quase infinito para vossa compreensão, passando por muitas trans- formações em sua superfície, até chegar à forma atual. Fogo, água, terremotos e tempestades tremendas, mormente em épocas remotas, foram os meios que dela fizeram o que hoje é, dentro da Minha Vontade. A fim de subsistir e servir ainda mais de fonte alimentado- ra para inúmeras criaturas, precisos são: fogo, inundações, terremo- tos e tempestades variadas, dentro das necessidades.”

71.OSDOISPRIMEIROSPERÍODOSDAFORMAÇÃO TELÚRICA

  1. (O Senhor): “Quando a Terra, em eras remotas, havia atin- gido a maturação, fazendo surgir algumas ilhas grandes e pequenas, cobertas de lodo marítimo, nele depositei, de acordo com Minha Sabedoria e Vontade, várias espécies de sementes. Assim, tais ilhas estavam plantadas no início com ervas e arbustos, e posteriormente surgiram árvores enormes.

  2. Em seguida, depositei ovos ou germens para formação da fauna apropriada àquele estado primitivo, que, no início, consistia em vermes pequeninos, depois maiores e, consequentemente, in- setos; quando o solo mais seco já apresentava alimento abundante, surgiram animais gigantescos. Tinham a finalidade de se alimenta-

rem de ervas rudes e galhos, para estrumarem o solo com os excre- mentos e, no final, com os próprios cadáveres colossais, cujos restos ainda são descobertos em cavernas e minas. Da decomposição de tais corpos, se desenvolveu grande quantidade de outros vermes, e destes, variados insetos.

  1. Classifiquemos tal estado como período de formação telú- rica, considerando, porém, que o orbe tinha sido submetido, inú- meras vezes, a transformações preparatórias. Esses acontecimentos não vos interessam, tampouco, por exemplo, a fase do grão de trigo depositado no solo, até surgir do gérmen um fruto maduro e aben- çoado. Em suma, demonstrei a Terra em sua primeira formação fer- tilizante, onde, na superfície, foram depositadas variadas sementes para a flora e ovos para a fauna, para cuja finalidade já existia base dentro da água; pois certas plantas e animais aquáticos são evidente- mente mais antigos que os do solo e do ar.

  2. Obtivestes uma definição compreensiva, da qual concluístes que em tal solo primitivo não podia haver subsistência para animais diferentes; muito menos para o homem. Tal fase ainda era necessária como garantia de uma outra mais perfeita, assim como não haveria fru- to maduro sem a precedente formação do botão ácido e ainda estéril.

  3. Para o amadurecimento de um fruto, após a formação do bo- tão acrimonioso e áspero, é preciso quantidade de ocorrências ape- nas visíveis à Minha Visão. Muito mais natural dar-se esse fenômeno na maturação de um corpo cósmico.

  4. Que sucede com a árvore na Primavera, quando o botão in- cha e se torna suculento? Fende-se por um impulso interno, atira seu invólucro externo no mar do perecimento e dissolução, desen- volvendo-se para perfeição maior, a fim de que surjam as folhas, companheiras indispensáveis da subsequente flor e final fruto. Con- quanto um vegetal seja paralelo deficiente ao desenvolvimento de um corpo cósmico, serve para concluirdes, em medida restrita, o que seja necessário para abrigar e alimentar um homem como vós.

  5. Esse primeiro período de fecundação telúrica, da mais rude e primitiva espécie, sucumbe após bilhões de anos, contados na época

atual; pois, naqueles tempos, não havia estações definidas e as exis- tentes duravam mais do que atualmente.

  1. Tais fenômenos desapareciam em tempestades de fogo — surgidas do centro do orbe — firmemente organizadas, e, após gran- de número de anos terráqueos, apareceram, das profundezas dos mares, zonas extensas ornamentadas de montanhas cobertas com lodo muito mais fertilizante.

  2. Em justa época, foram nele depositadas sementes mais per- feitas vindas da Minha Sabedoria e Vontade, e, dentro em pouco, o aspecto era mais exuberante no planeta ainda jovem.

  3. Havendo abundância de suprimento, tratei de consumido- res grandes e pequenos, em quantidade. A água entre os continentes era vivificada por animais maiores e as terras tinham recebido con- sumidores daquilo que o solo oferecia na flora.

  4. Algumas espécies de ervas, arbustos e árvores gigantescas produziram sementes, podendo multiplicar-se; a maior parte, po- rém, aflorava quais cogumelos do solo prenhe; e os animais surgiram da mesma maneira que os crocodilos do Nilo, muito embora os continentes ainda não fossem secos, inteiramente.

  5. Nesse período progressivo para flora e fauna, não era pos- sível a Terra ter aspecto seco, o mesmo acontecendo aos botões em desabrochamento, pois tal situação não seria favorável.”

72.AFORMAÇÃODATERRAATÉOS PRÉ-ADAMITAS

  1. (O Senhor): “O segundo período preparatório durou igual- mente um tempo incalculável em comparação aos atuais anos ter- ráqueos. O planeta, porém, ainda não estava em condições de ali- mentar animais de sangue quente, muito menos criaturas humanas, ainda que de espécie inferior. Por isto, tal período sucumbiu como o primeiro e levou tempo até surgir o terceiro.

  2. Naturalmente, sucederam, no intervalo, quantidade de pe- ríodos tempestuosos, cuja finalidade Eu apenas, como Criador, co- nheço e, finalmente, também o espírito ao qual desejo revelar.

  1. Do resultado dos muitos acontecimentos necessários, surgiu um terceiro período, durante o qual apareceram, do mar, grandes continentes impulsionados pelo fogo interno do orbe, dentro de Minha Vontade. A vegetação se tornou mais exuberante e de ta- manho gigantesco, inclusive animais. Mas também este período, igualmente prolongado e que poderia ser comparado à flor de uma árvore, não se prestava para moradia do homem. Desapareceu e en- terrou seus produtos na esfera vegetal e animal, apenas não tão pro- fundamente.

  2. Em seguida, houve grande número de períodos de intercala- ção para dar início ao quarto. Os continentes surgiram maiores, a vegetação ainda mais fértil; na água, sobre o solo e no ar, se mani- festavam animais pequenos e grandes. Entre eles já havia mamíferos não procriados por meio de ovos, mas pela fecundação natural, com exceção dos animais aquáticos, grande número de anfíbios, aves, vermes e insetos.

  3. Esse período durou tempo imenso e o solo ia recebendo, de quando em quando, os raios do Sol; algumas árvores começaram a produzir frutos, conquanto não fossem agradáveis ao paladar. Ainda assim, serviam como alimento para a fauna. Tal época também não apresentava vestígios humanos.

  4. Novamente se deram grandes convulsões terráqueas, enter- rando na maior parte tudo que teríeis chamado de criaturas. Podeis descobrir muita coisa soterrada, porém bem diversa dos três perío- dos anteriores.

  5. Após longas épocas, em cujo decorrer se manifestara maior calma e ordem, e passadas grandes tempestades, vimos surgir o quinto período. Do fundo do mar, ergueram-se continentes vastos, juntaram-se aos já existentes, formando grande área.

  6. Surgiram as maiores e mais altas montanhas. Seus picos eram destruídos por raios e, por meio de terremotos e enxurradas seguidas de chuvas fortíssimas, iam sendo levados aos vales e fendas do solo. Assim se formaram planícies extensas, vales e campos, nos quais tudo podia germinar.

  1. Com este período, a Terra entrou numa circunvolução mais ordenada em redor do Sol; dia e noite se seguiam, inclusive as esta- ções, conquanto sob muitas mudanças, em virtude da importante vacilação dos polos.

  2. Apareciam correntes marítimas de 14.000 em 14.000 anos. Por elas eram inundados os dois polos para futura formação de fru- tos sobre os extensos desertos de cascalhos. Decorrida tal época de

14.000 anos, o mar teria despejado tanto lodo frutífero sobre aque- las planícies, que as tornavam mui férteis.

  1. O quinto período levou mais de milhões de anos, até que fosse apropriado para nova fase criadora de grande quantidade de plantas variadas, animais e criaturas pré-adamitas. Havia então ár- vores frutíferas e outros vegetais para alimento de animais e homens. Aproveitavam-se estes de certas manadas, levavam vida nômade, não usavam roupa nem habitações. Construíam, imitando as aves, ni- nhos sólidos nos troncos fortes e acumulavam alimentos. Estes se esgotando, procuravam a caça em grandes agrupamentos. Na época das geadas, homens e animais — tais como: mamute, rena, boi al- miscarado, cabras e ovelhas, elefantes, rinocerontes, macacos e aves

  1. Mais para o fim desse período, apareceram o burro, o camelo, cavalo e porco, utilizados pelos homens para transpor- te, caça e no aproveitamento do leite e lã, esta para forro de seus ninhos.

  2. Idioma, propriamente, não possuíam; entendiam-se por meio de certos sons e gestos, como animais inteligentes, socorrendo-

-se mutuamente; conheciam a erva indicada para a cura de doenças geralmente causadas pela idade avançada. Alguém não mais poden- do andar, outros o faziam por ele.

  1. Somente desconheciam o modo de produzir fogo; se pu- dessem ter visto como agiam os adamitas, tê-los-iam imitado, pois a tendência para a imitação era predominante e a inteligência, dotada de certo grau de livre arbítrio, ultrapassava a do símio mais perfeito. Poderiam também aprender a falar, mas nunca usar termos eruditos.

  1. Eram de físico gigantesco e donos de dentadura tão forte, que a usavam como instrumento cortante. Olfato e instinto eram também muito desenvolvidos e percebiam de longe a aproximação do perigo. Dominavam com os olhos e a vontade os animais e, às vezes, elementos da Natureza.

  2. Conquanto o quinto período durasse muitos milhões de anos, não se percebia o menor progresso de cultura, e os homens levavam sua vida monótona de nômades, tornando-se estrume da Terra para o Gênero humano atual, semelhante a Mim.

  3. A cor de sua pele, bastante peluda, variava entre escura e cin- za-claro; somente no Sul havia tribos peladas. Sua forma tinha gran- de semelhança com os negros de hoje. Progrediram até Adam, nas planícies e florestas densas; nunca emigraram para as montanhas.”

73.OSDOISÚLTIMOSPERÍODOSEVOLUTIVOSDA TERRA

  1. (O Senhor): “Em época de Adam, na qual se inicia o sexto período, a Terra teve que passar, em parte, por grandes transfor- mações através do fogo e da água e, nessa ocasião, sucumbiu quase totalmente a raça pré-adamita e seus animais caseiros, assim como as inúmeras florestas com os animais selvagens. Sobraram apenas algumas espécies de aves, os animais das montanhas e da água.

  2. Na Ásia se conservaram alguns remanescentes dos pré-ada- mitas até a época de Noé; pouco a pouco foram se perdendo, porque não encontravam alimento apropriado. Em algumas zonas da África do Sul e em certas ilhas maiores, encontram-se poucos descendentes do quinto período. São inteiramente selvagens, com raras mostras de alguma cultura, adquirida pelos descendentes de Caim. Podem ser adestrados para diversos trabalhos; por si mesmos, nada inven- tam. Uma parte está em situação algo melhorada, por ter surgido do cruzamento dos cainitas e lamechitas; mas também não se presta para uma educação superior.

  3. Essa espécie de criaturas se conservará por muito tempo nas zonas onde estão, aceitando pouco a pouco alguma educação dos

adamitas, sem, contudo, se tornarem grande povo. Eis os pré-ada- mitas do quinto período.

  1. No seu início, a Terra havia recebido a Lua como acompa- nhante e regulador de sua trajetória em redor do Sol e do seu pró- prio eixo. Naturalmente, a Lua não tinha, de pronto, a forma atual. A fim de atingi-la, também sofreu grandes períodos tempestuosos, não obstante menos longos que a Terra.

  2. Mas não me pergunteis agora por que é preciso tempo tão longo para a formação de um corpo telúrico, pois baseia-se na Mi- nha Sabedoria e Ordem. Se o proprietário de uma vinha pudesse realizar todo o serviço num momento, que faria o resto do ano? Ele divide o trabalho, de modo a lhe dar atividade diária e uma constan- te satisfação. O mesmo sucede Comigo, pois sou o Ser mais Ativo de todo o Infinito e, por isto, o mais Feliz.

  3. Quando, na Primavera, as crianças veem florir cerejeiras, ameixeiras, pereiras e macieiras, sua alegria é grande; todavia, que- rem saborear os frutos. O pai, porém, diz aos impacientes: Tudo neste mundo tem seu tempo pela Ordem de Deus e nela tudo ama- durece. Tende, pois, paciência; dentro de alguns meses, essas árvores em flor estarão cheias de frutos, que saborearemos com o Pai no Céu. Isso acalma os pequenos.

  4. Assim, também acalmai-vos se ainda não verificais os frutos maduros de Minha Doutrina; em tempo oportuno, estarão amadure- cidos. Podeis imaginar que Eu não tenha semeado o Gérmen vivo de Meu Verbo inutilmente. Ele não pode produzir de hoje para amanhã.

  5. Uma árvore precisando de certo tempo, muito mais neces- sário se torna para um planeta. Não é suficiente que se encontre, no Espaço, um bólide de pedras, terra e água; pois seria morto e nada poderia surgir e viver nele. Um planeta destinado a produzir e alimentar seres vivos terá que ser vivo. Para tanto, necessária é uma formação orgânica qual animal gigantesco, por meio de influências externas e processos internos.

  6. Todo corpo cósmico dispõe de todos os elementos necessá- rios à forma orgânica, no início caoticamente mesclados. Pouco a

pouco se agrupam para um organismo total. A maneira pela qual se processa tal organização é Conhecimento Meu, como Organiza- dor Original. Quando fordes perfeitos em espírito, compreendereis tal fenômeno.

  1. Através da explanação clara e simples dos períodos evolu- tivos, podeis deduzir o motivo principal por que Moysés dividiu a Criação em seis dias. Nada mais são que seis períodos, aos quais todo ser — inclusive o homem — tem que passar, material, psíquica e espiritualmente, para sua maturidade e perfeição.

  2. Só então virá o sétimo período, da calma, ou seja, a Vida eterna e feliz. Possui esta denominação porque ao espírito perfeito não mais oprimem coação, julgamento e aflição, pois tem ingressa- do no pleno conhecimento e no poder ilimitado. Agora, caro Mar- cus, espero Me digas tua compreensão a respeito.”

74.EVOLUÇÃOPSÍQUICADOS PRÉ-ADAMITAS

  1. Responde Marcus, perplexo: “Senhor e Mestre, eu e todos os presentes assimilamos Tua Explanação; todavia, não podemos pene- trá-la, por nos faltar aquilo que demonstraste. Pelo menos, sabemos como enquadrar os tesouros descobertos nas escavações, a maneira por que chegaram a tais profundidades e, além disto, deduzir o sen- tido espiritual dos Seis Dias descritos por Moysés. Percebo, porém, que esse conhecimento só pode ser de poucos. Resta-me ainda uma dúvida, Senhor! Os pré-adamitas, muito embora dotados apenas de inteligência instintiva e vontade restrita, possuíam almas. Qual seu estado? A que ponto chegaram no sexto período e qual seu destino?”

  2. Respondo: “Se as almas de pedras, plantas e animais sobrevi- vem — ingressando, livres da matéria, em almas humanas, podendo no corpo físico chegar à culminância do mesmo — as almas dos pré-adamitas, forçosamente, terão vida sucessiva igual à de todas as criaturas de outros mundos no Espaço Infinito!

  3. Quando, desencarnados, chegarem ao Reino dos espíritos, serão levados a um grande corpo cósmico, isto é, ao solo espiritual

correspondente a ele, onde receberão conhecimentos maiores acerca de Deus, Seu Poder e Sabedoria, num estado de felicidade contínua. Seria inútil demonstrar-te em que enxame globular se encontra tal corpo cósmico, porquanto não poderias vislumbrá-lo; sua descrição igualmente não te convenceria enquanto não fores renascido em es- pírito. Assim, tens que te conformar com o seguinte: Na Casa de Meu Pai existem muitas moradas! Somente no Meu Reino tudo te será claro! Compreendeste?”

  1. Diz Marcus: “Como não, Senhor! Mais um ponto, como sequência do outro! Já era esta Terra o dito recôndito vital no cora- ção do grande Homem Cósmico em épocas pré-adamitas?”

  2. Digo Eu: “Se bem que não na ação efetiva, porém tal era seu destino! Existia naquelas eras um outro mundo, cujas criaturas se perderam no pior orgulho e total afastamento de Deus; as que Nele acreditavam não O respeitavam, mas ousaram desafiá-Lo e despo- já-Lo de certo modo do Trono de Sua eterna Onipotência. Procu- rando descobri-Lo, os perversos intelectuais afirmavam que Deus residia no centro do planeta; era preciso perfurá-lo com minas para aprisioná-Lo. Assim fizeram, causando o fim de muitos.

  3. Todos os emissários por Mim enviados eram estrangulados friamente. Então permiti que o planeta fosse destruído em estilha- ços, partindo de seu centro! Isto aconteceu no sexto período desta Terra, tornando-se ela o recôndito vital. O local do outro planeta, que igualmente girava em redor do Sol, abordaremos em seguida. Manda primeiro trazer algum vinho, Lázaro.”

75. OS ASTEROIDES

  1. Todos saboreiam o bom vinho, manifestando alegria especial por ter Eu projetado coisas tão boas na Terra. Digo Eu: “Realmente, tal vinho é bebida fortalecedora, mas apenas quando não tomado em excesso! Para quem se embriaga, é ele um elemento que enfra- quece o físico. Por isto, apreciai o vinho sempre com sobriedade e em Meu Nome, que ele vos fortificará para a Vida eterna da alma.

No uso excessivo se oculta o mau elemento da impudicícia e per- versão. Tal espírito não vivifica a alma, mas aniquila o verdadeiro espírito vital dos Céus, impossibilitando o renascimento da alma ainda em vida. Lembrai-vos disto!”

  1. Faço tal advertência não somente pela Verdade em si, mas porque Judas estava se excedendo, a ponto de quase embriagar-se. Ele percebe o motivo, levanta-se e se encaminha para Bethânia.

  2. Após ele se ter afastado, André diz: “Que bom ele ter ido! Ultimamente tem atitudes suspeitas, e Teus Ensinos e Milagres não o impressionam. Nada lucra, entretanto não nos deixa! Se eu tivesse

o Teu Poder, Senhor, há muito tempo ele não estaria conosco!”

  1. Digo Eu: “Também ele tem livre arbítrio, pelo qual pode ficar ou se ausentar quando quiser. Não viste Eu permitir aos pró- prios demônios se apossarem dos porcos? Portanto, concedo àquele homem — entre vós, um demônio — ficar ou não. Por Mim, todo homem e espírito são livres. Cada qual prepara o seu prêmio através da ação; tanto pode se tornar anjo como demônio.

  2. Mudemos de assunto. Inicialmente, vimos que no sexto perío- do explodiu um planeta e que a Terra se tornou, com o aparecimento de Adam, o recôndito vital do grande Homem Cósmico. Demons- trar-vos-ei como aquele planeta era no início e seu estado atual, in- clusive a relação do nosso, junto ao Homem Cósmico, em sentido espiritual. A simples explicação não vos proporcionando um quadro visual, representarei o Sol com seus planetas em pequena escala.”

  3. Assim terminando, surge no ar uma esfera de um palmo de circunferência, representando o Sol. À medida do possível, por- quanto a sala é pequena para demonstrar a proporção exata, surgem os planetas e suas luas conforme existiam no sexto período, quando

o mencionado planeta com suas quatro luas ainda não havia explo- dido. Explico as posições de todos, em grego e hebraico, e aponto o referido entre Marte e Júpiter. Seu tamanho corresponde ao último, apenas tinha maior continente, área atmosférica mais extensa, in- clinação polar mais acentuada, portanto uma rota mais elíptica em volta do Sol.

  1. Após terem assimilado isto, prossigo: “Tal era a ordem há mais ou menos quatro mil anos, quando ocorreu a explosão. De- monstrarei o planeta!”

  2. Todos veem como ele se dividiu em diversas partes. Somente as luas continuaram intactas. Como perderam o corpo central de atração, desequilibraram-se e se afastaram tanto mais, porquanto haviam recebido um forte impulso.

  3. As partes do planeta se espalharam no grande Espaço entre Marte e Júpiter. Grande número de destroços menores ultrapassou as mencionadas rotas; alguns caíram no planeta Júpiter, outros em Marte, nesta Terra, Vênus, Mercúrio e no próprio Sol.

  4. (O Senhor): “As próprias criaturas, de tamanho gigantes- co, foram projetadas no Espaço, igualmente com outros animais. Alguns corpos mirrados giram ainda no éter, sentados ou deitados em suas habitações, ainda existentes em destroços maiores. Alguns cadáveres caíram até mesmo neste planeta, onde se dissolveram após séculos, o que sucedeu igualmente nos outros planetas. Os grandes mares se espalharam com seus habitantes em gotas diversas, algumas de considerável circunferência; apresentam terra firme habitada por certos irracionais. Nas quatro luas vivem os antigos seres, em situa- ção mirrada, inclusive nos destroços maiores. Nos menores, não há vida orgânica; apenas decomposição e dissolução lenta.”

76.OSHABITANTESDOPLANETA DESTRUÍDO

  1. Manifesta-se Marcus, o romano: “Senhor e Mestre, tal cata- clismo deveria ter sido algo horrível para os habitantes daquele pla- neta! Certamente morreram de desespero! Que aconteceu às almas?”

  2. Digo Eu: “Claro ter sido a catástrofe horrenda para eles; en- tretanto, eram os próprios culpados. Haviam sido instruídos e ad- vertidos acerca daquilo que os esperava. Em sua inteligência mate- rial, tomavam os avisos como fantasias e desatinos dos videntes que, em sua simplicidade e pobreza material, prediziam certamente tais coisas apenas ao povo impressionável, a fim de conseguirem con-

ceito e sustento. Os cultos e importantes não só os desacreditavam, mas perseguiam-nos a fogo e espada. No final, se opuseram com tamanho rigor a tudo que tivesse cunho espiritual, que mandavam matar a todos que falassem ou escrevessem algo neste teor; portanto, não foi possível enfrentá-los com seu orgulho e dureza inclemente.

  1. Eram mui talentosos e inventaram, há milênios, uma espécie de grãos de pólvora que faziam explodir tudo quando incendiados. Se fordes amontoar dez mil libras desses grãos debaixo do Monte Líbano numa considerável extensão, ateando-lhes fogo, num mo- mento se incendiariam, dizimando o grande Monte; assim fizeram os hanochitas antes de Noé com muitas montanhas, abrindo as comportas internas da água, afogando a todos.

  2. Com tais invenções inspiradas por demônios, os homens daquele planeta faziam a pior das confusões. Mantinham guerras, um minava o território do outro em todas as direções, enchendo as minas com pólvora. Eram incendiadas artificialmente, destruindo o país todo. Prosseguiram em tais experiências, fazendo escavações cada vez mais profundas e maiores no planeta, quase duas mil vezes maior do que esta Terra; no final, atingiram as fontes internas cheias de matéria inflamável, que rapidamente se incendiaram. A violên- cia do fogo fez explodir o planeta total, finalizando inclusive suas criaturas!

  3. Bem o previ e destinei esta Terra para a finalidade determi- nada. Correspondia ela, desde o início, à parte mais humilde da criatura, isto é, ao nervo em baixo do dedinho do pé esquerdo — não fisicamente, mas pela importância espiritual; entretanto, é agora portadora de Meus filhos, aos quais cabe a autoeducação dentro de Minha Vontade revelada.

  4. Existe, até mesmo em relação física, uma ligação e interpreta- ção entre o nervo vital do coração e o do dedinho do pé esquerdo, de sorte a se poder afirmar, em sentido da maior humildade, que esta Terra também representava o nervo do dedinho esquerdo do grande Homem Cósmico, que agora é e será, realmente, o nervo principal do seu coração através dos filhos de Meu Amor e Sabedoria. Poderá

sê-lo fisicamente por tempos incalculáveis, ainda que se deem gran- des transformações terráqueas. Pois os vossos descendentes também inventarão matéria explosiva e outros instrumentos destruidores, provocando enormes devastações no planeta; de qualquer forma, cuidarei que não atinjam as profundidades.

  1. De igual modo, não deixarei os Meus filhos como órfãos, pois estarei com eles até o final de seus dias, razão por que jamais acontecerá tal destruição na Terra. Haverá devastações e cataclismos, lançando as criaturas em pavores e aflições; muitas sucumbirão na expectativa de coisas pavorosas. Serão culpadas de tudo que vier so- bre elas. Eis a revelação do planeta destruído e a finalidade da Terra. Tereis compreendido?”

77.APARÁBOLADOREINODO CÉU

  1. Diz Marcus: “Senhor e Mestre, compreendo-o perfeita- mente; mas também percebo que as criaturas não o assimilarão de pronto, porquanto são precisos vastos conhecimentos preparatórios. Para nós, torna-se fácil, em virtude da demonstração dada pela Tua Onipotência, Amor e Sabedoria. Não nos assistindo tais atributos, impossível convencer outros.”

  2. Digo Eu: “Não importa; fiz a revelação apenas para vosso conhecimento mais profundo do Reino de Deus. Quem necessi- tar maior noção de Minhas Obras por causa do Reino de Deus, será inspirado pelo Meu Espírito, levando-o à plena Verdade e Sa- bedoria. Aos outros, basta acreditarem em Mim, agindo dentro de Meus Mandamentos. Muitos são chamados para o Reino de Deus; escolhidos, há poucos, aos quais é dado entender os segredos do Reino de Deus.

  3. Vós os entendendo, estabelece-se uma ligação íntima entre nós e, através de vós, igualmente com outras pessoas; estou, portan- to, em vós e vós em Mim, o que por ora basta.

  4. O Reino de Deus é semelhante à semente de mostarda, uma das menores; mas, quando for deitada em bom solo, desenvolve-se

em uma árvore, atraindo os pássaros que, em seus galhos, constroem suas moradas.

  1. Meu Verbo representa tal sementinha. Depositai-a em bons corações, onde em breve se desenvolverá em árvore, em cujos ga- lhos e ramos se localizarão os conhecimentos luminosos, provin- dos do Céu!

  2. Igualmente pode o Meu Reino ser comparado a uma cria- tura que, para fazer pão, tomou três medidas de trigo e um pouco de fermento. Preparou a massa, até ficar bem fermentada. Assim, o Meu Verbo tem o efeito de um pouco de fermento, suficiente para fermentar grande quantidade de trigo! Dai, por isto, apenas o ne- cessário às criaturas, em Meu Nome; o restante será produzido pelo próprio Verbo.

  3. Quem tiver filhos, cuide de sua saúde apenas; o crescimento depende unicamente de Mim!

  4. Ao transmitirdes a Minha Doutrina como a recebestes em Verdade de Mim, explicai que se pode colher seus frutos somente após terem as criaturas se afastado inteiramente do amor do mun- do e seus tesouros, pois o amor pelas coisas mundanas é uma nu- vem cinza-escuro que sempre se antepõe entre a visão da alma e a Luz dos Céus.

  5. Eis o motivo por que a maioria só consegue um ligeiro pres- sentimento de algo superior e transcendental, pelo tênue vislumbre como efeito da Luz celeste e pura, oculta pela nuvem cinzenta. Ela não cedendo, mas se tornando cada vez mais escura, e muitas vezes negra, nada entendem da Sabedoria pura dos Céus. Estão sempre oprimidas por preocupações, temores e receios; acreditam em coisas tolas, procuram conforto e sossego junto aos ídolos e seus sacerdotes, porquanto não conseguem perceber o verdadeiro consolo celeste.

  6. Em tal caso, assemelha-se o homem a um viandante num dia sombrio, em que a cerração intensa encobre vales e montanhas. Não obstante encobrir a bela paisagem, ela não deixa de existir; seu cenário não atinge a vista do peregrino, incapaz de ter uma ideia daquilo que a neblina envolve. Observa a estrada e, pelos marcos

fracamente visíveis, sabe andar certo: apresentam-se, porém, muitos atalhos que o deixam cheio de medo e preocupação. Espera a vinda de outros viandantes; aparecem, mas na mesma situação. Um opina ser o caminho do centro a levar à vila; outro diz ser o que fica à esquerda, e o terceiro afirma o contrário; o quarto alega: Nenhum de nós pode se orientar; voltemos ao ponto de partida, à espera que a neblina passe, então poderemos iniciar a marcha! — Dessa com- paração, podeis fazer ideia de como passa a maioria das criaturas na peregrinação para o Reino de Deus!

  1. As zonas límpidas, campos, montanhas, vales, jardins e ci- dades desse Reino eternamente maravilhoso estão encobertos pela neblina do amor mundano, ocultando-se aos olhos da alma. É vossa tarefa varrerdes a mesma naqueles que ouvirão o Meu Verbo, assim como Eu agi convosco; se não agirdes deste modo, tereis construído em solo arenoso; as edificações não resistiriam às chuvas, tempesta- des e enxurradas, ruindo e sendo levadas pelas torrentes.

  2. Se, na divulgação do Meu Verbo, as neblinas forem varri- das, construireis casas em cima de rochas que, de maneira alguma, poderão ser atingidas pelas intempéries.

  3. Impossível alguém servir a dois senhores inimigos en- tre si; pois terá que ser amigo ou inimigo de um ou de outro. As- sim, ninguém poderá servir ao mundo, a seu dinheiro e ao mesmo tempo a Deus.

  4. Por isto, terá que expulsar o mundo do coração quem quiser servir ao Reino de Deus. Não só expliquei claramente como de- veis agir, mas dei exemplos vivos. Agi de tal modo, que colhereis bons frutos!

  5. A colheita será vasta e farta, pois há muito trigo maduro para o corte; os ceifadores, porém, são poucos. Pedi ao Senhor da colheita para que contrate muitos pioneiros para Seus Campos!

  6. Disso tudo podeis concluir como agir na divulgação de Mi- nha Doutrina; os fatos extraordinários não precisam ser transmitidos à massa, mas apenas aos vossos sucessores. Passai essa diretriz aos que vos seguirem como orientadores, e tudo irá bem! Compreendestes?”

78.INTERPRETAÇÃODA PARÁBOLA

    1. Diz Marcus, assistido por Agrícola: “Concordamos ser indis- pensável o afastamento da neblina do amor mundano, pois, sem o seu afastamento, o homem jamais poderá ingressar no Teu Reino. Haverá muitas dificuldades por vários motivos.

    2. Uma, porque ao jovem, cheio de saúde e suprido do maior conforto, o mundo com seus prazeres constitui atração enorme; não tem noção alguma do Reino de Deus devido à educação externa.

    3. Se fôssemos adverti-lo para que não se prenda às belezas da Terra, pois constituem forte neblina a encobrir as maravilhas do eterno Reino de Deus, ele poderá exigir a apresentação das mesmas, a fim de poder dar as costas àquelas. Como agirmos em tal caso?

    4. Em se tratando de pessoas de boa índole, ainda se pode ali- mentar alguma esperança. Existe grande número de criaturas que depende de sua posição social, haja vista o sacerdócio, a profissão go- vernamental e o militarismo. Como varrer-se neles a neblina mun- dana? Nem se fala dos serventes e escravos, igualmente humanos, mas de educação inferior. Já será trabalho árduo tal empreendimento na maioria dos judeus, sem mencionar outros povos! Por isto, pedi- mos-Te maior esclarecimento, para não trabalharmos inutilmente!”

    5. Digo Eu: “Sei muito bem que não se trata de fácil tarefa, pois exige muito esforço e grande sacrifício até surgir a solução desejada; dou-vos os meios e recursos pelos quais podereis, em ocasião propí- cia, realizar o que ora faço convosco, e certamente não poderei dar mais do que possuo! Na hora exata, o Meu Espírito vos demonstrará como agir na conquista do Reino de Deus.

    6. Deste modo, as criaturas perceberão o que lhes falta, tudo fazendo para alcançar o que veem em vós. Repito em vosso idioma: Exempla trahunt (exemplos atraem). Pois alguém vendo o que sig- nifica estar de posse do Reino de Deus, certamente indagará como vos foi possível consegui-lo. Tereis, então, motivo para falar, e a ne- blina desaparecerá diante de vossas palavras e ações, conforme ocor- reu convosco.

    1. Em absoluto exijo que niveleis, num dia ou num ano, todas as montanhas e colinas. Basta cada qual fazer o que pode com a própria boa vontade; do resto Me incumbirei. Não exigirei de vós além do que Eu Mesmo posso fazer, respeitando o livre arbítrio. Não seria tolo o pai exigir dos filhos fracos carregarem pesos maiores do que ele? Ainda ireis perceber ser suave o jugo que vos imponho, e o peso, leve.

    2. Mesmo assim, o mundo se oporá em deixar seu brilho falso e empreenderá grandes lutas contra a penetração da Luz Celeste quan- do ela tiver tido plena aceitação entre muitos, e sangue inocente será derramado no final. Então, toda luz fictícia do mundo soçobrará, perdendo seu valor como ouro e prata falsos diante do apreciador.

    3. De maneira alguma proibi a alegria com as maravilhas da Ter- ra; deviam as criaturas lembrar-se Daquele que a enfeitou de modo tão belo, recebendo estímulo para coração e alma. Considerando as Obras de Deus com justiça, a criatura sentirá grande alegria; e os amigos da Natureza são certamente criaturas boas e acessíveis ao Reino de Deus.

    4. Os amantes dos tesouros da Terra e de seu dinheiro dificil- mente poderão ser convertidos para um conhecimento maior; de- monstram isto os fariseus, judeus ricos e muitos comerciantes, agiotas e mercadores. Falar-se-lhes do Reino de Deus seria o mesmo que que- rer tornar branco um negro. Tais homens são semelhantes a porcos, aos quais nunca deveis oferecer as Pérolas do Céu como alimento.

    5. Terão que se desfazer de seus pecados mortais na Lua, estéril e fria, continuando afastados do Reino de Deus, não podendo ser admitidos na nova Jerusalém. Criaturas desprovidas do amor a Deus e ao próximo não possuem o Reino de Deus em si. Terão que con- tinuar no seu reflexo negro e a Lua será sua morada, isto é, na parte constantemente virada à matéria deste planeta.

    6. Este conhecimento é novo, porém verdadeiro; oportuna- mente, voltaremos a ele, conquanto não Me seja agradável perder tempo com pocilgas e prisões de desvairados. Compreendestes?” Todos agradecem pelo esclarecimento e voltamos à mesa, enquanto Matheus fazia apontamentos.

79.ÉMELHORFALAREAGIRDOQUE ESCREVER.

EVANGELHOSGENUÍNOSEEVANGELHOS FALSOS

      1. Aborda-Me João, perguntando se havia tempo de ele to- mar nota dos últimos ensinamentos. Respondo: “É suficiente o que Matheus anotou; além disto, nem tudo se presta para o povo e muito menos para criaturas acima descritas. Após Minha Perma- nência entre vós, ainda tereis tempo para anotar, intuitivamente, o que sucedeu.

      2. Em futuro distante, inspirarei outros servos, ditando-lhes no coração o que tem sido ensinado e ocorrido quando iniciei Minha Doutrinação, inclusive os efeitos e muitas coisas mais; se isto Me é possível em futuro longínquo, muito mais fácil inspirar vosso espíri- to naquilo que deve ser anotado.

      3. No começo, não deveis vos entregar tanto às anotações, po- rém à doutrinação, a fim de que as criaturas venham a saber do que se trata. Uma vez orientadas e havendo sido criadas comunidades em Meu Nome, podereis escrever quando ocupados em outras co- marcas. Saindo da localidade, podeis deixar ali um memorando.

      4. Adverti a comunidade, com bastante rigor, em não fazer ido- latria com tais documentos, como fizeram os judeus com os livros de Moysés e dos profetas; curvam-se diante do móvel em que se guardam os volumes, adoram as tábuas da Lei, julgando prestar jus- ta veneração a Deus. Tolos, cegos! Que vale mais: Adorar as leis ou cumpri-las? Não há templário que isto faça na Verdade; a veneração material e sem valor é feita conscienciosamente, porque não cansa.

      5. Por isto vos recomendo não escreverdes muito, usando antes da palavra, a fim de que não suceda à Minha Doutrina o mesmo que aos Livros de Moysés e outros, aos quais os judeus atribuem poder mágico que nunca possuíram!

      6. Além disto, não deve ser despertada a tendência para a escrita na fase inicial da doutrinação; é melhor as criaturas aplicarem os Ensinamentos do que fazerem cópias; pois, se tal acontecer antes do tempo, vereis surgirem, dentro em pouco, grande número de Evan-

gelhos com vosso nome e tereis muito que fazer para contestar tais fraudes. Compreendestes?”

      1. Alega Simon Judá: “Senhor, seria melhor nada mais ser escri- to ou, então, umasó anotação de tudo que falaste, da qual poderiam ser feitas cópias autorizadas para outros povos. Imagino que talvez nossa pregação seja anotada com erros e defeitos, causando igual- mente o aparecimento de falsos Evangelhos, provocando toda sorte de cismas religiosos.”

      2. Digo Eu: “Pedro, não contesto teu parecer como impraticá- vel; o que Eu vos aconselho, porém, é e será melhor, por enquanto. Podeis agir como quiserdes, mas será impossível impedir o surgi- mento de Evangelhos falsos ao lado do verdadeiro, e será difícil de- terminar futuramente qual o genuíno.

      3. Por tal motivo, deve ser o Meu Verbo divulgado por vós oral- mente; deste modo, os verdadeiros confessores receberão a Minha Palavra viva, sem precisarem analisar a genuinidade dos Evange- lhos escritos.

      4. Se fôsseis, após Minha Ida, começar a escrever sem doutri- nar, vossos documentos seriam copiados com omissões e aditamen- tos e, dentro em pouco, surgiriam dúvidas de sua autenticidade. Pregando pessoalmente e, em caso de necessidade, dando alguma prova, ninguém perguntará se sois Meus discípulos e vossas pala- vras, Minhas.

      5. Tão logo tenhais testemunhado de Minha Pessoa e batizado a muitos em Meu Nome, terão chegado ao Meu Evangelho vivo. Então, podeis escrever para que os descendentes tenham um teste- munho de Eu ter sido vosso Senhor e Mestre, e vós, Meus discípu- los. Tais Escrituras devem ser guardadas somente naquelas comuni- dades em que o Evangelho interno e vivo se tenha conservado de pai para filho etc., e vós continuareis como apóstolos vivos nos corações das criaturas.

      6. Onde tal não suceder, não deveis entregar as Escrituras à co- munidade; não teriam utilidade, porque o espírito morto nos cora- ções dos descendentes não seria capaz de analisar sua veracidade, nem

sentiria se uma escritura é falsa, o que seria feito somente pela votação em um Conselho geralmente cego, como ora acontece no Templo. Que poderia alcançar a votação de ignorantes contra a Verdade única? Se uma criatura inspirada e iluminada pronuncia a Verdade — o que mesmo as inúmeras vozes de um Conselho podem fazer contra Ela?!

      1. Existe apenas umaVerdade, que somente pode ser pronun- ciada e provada por uma criatura verdadeira e por miríades de anjos. Uma filosofia mundana a ela se opondo — porque não se enquadra nos interesses materiais — a Verdade deixará de sê-la?! A mentira pode ser representada num Conselho por inúmeros votos, sem ja- mais se tornar Verdade.

      2. Por isto, não vos preocupeis com o que seja melhor: a pala- vra pronunciada ou escrita; pois, no fruto, facilmente se reconhece a Verdade. A mentira edifica em areia fofa; a Verdade, em rochas, impossibilitando ataque do inferno; assim como a treva da noite não se transformará em luz diurna, tampouco a mentira será Verdade. Podem ser escritos dez mil Evangelhos, só haverá umverdadeiro — quer dizer, aquele que se revelar no homem pela ação real, conforme Promessa Minha — e tal Evangelho vivo será, para todos os tempos, o único marco de sua genuinidade.

      3. Tereis de reconhecê-los pelos frutos; pois de cardos não se colhem figos e de abrolhos não surgirão uvas! Eis a prova de um ver- dadeiro discípulo. Meus adeptos e seus seguidores sempre se amarão como Eu vos amo; os falsos, odiar-se-ão aberta ou ocultamente. Nis- to consiste o fruto negro e mau da mentira, porque uma falsidade não quer ser ultrapassada por outra; a Verdade só procura a sua afim, amando-a cada vez mais, assim como uma luz jamais obscurece ou- tra, mas torna-a sempre mais clara, provocando, no final, uma clari- dade intensa e conjunta.

      4. A luz, portanto, sente forte amor para maior luz; a mentira odeia a mentira, porque teme a traição. Nisto se baseia o critério principal para discernir a Verdade da mentira até de olhos vendados. Por tal motivo, será fácil diferenciar os falsos evangelistas dos genu- ínos; os primeiros se perseguirão e se odiarão — os verdadeiros se

amarão como gêmeos, procurando-se e, em breve, se encontrando. Penso, Simon Judá, ter falado claramente e espero Me tenhas com- preendido.”

      1. Responde ele: “Todos nós Te entendemos e Teu Ensino será diretriz constante!” Aduzo: “Então respeitai-a para não cairdes!”

80.ACONSAGRAÇÃOEM BETHÂNIA

  1. Em seguida, Me viro para o romano, Marcus, e pergunto se também compreendera o ensinamento. Ele responde: “Tenho ape- nas uma dúvida, a respeito da Lua como local de castigo para mate- rialistas. Peço-Te que cumpras Tua Promessa de maiores detalhes!”

  2. Digo Eu: “Assim farei, em época propícia. Ainda é dia e o Sol está a pino. Esperemos a noite e as estrelas, e será mais fácil explicar tal assunto, porquanto vossa visão ainda está turvada por quadros terrenos. Surgirá outro ponto interessante, sobre o qual podemos trocar ideias antes da noite. À tarde visitaremos os templários.”

  3. Continuamos mais meia hora à mesa, quando um empre- gado anuncia a chegada de uma jovem mui atraente com desejo de falar ao Senhor. Digo Eu: “Conheço-a bem, e podeis fazê-la entrar. É Maria de Magdala, que de manhã estivera no Monte das Oliveiras. Deu ordens em casa e se apressou em vir aqui. Ninguém se aborreça por isto!”

  4. Nem bem termino, ela entra, bem vestida. Atira-se aos Meus Pés, abre uma vasilha de ouro e começa a untá-los com precioso unguento de nardos. Trata-se da maior manifestação de honra nos judeus ricos, quando a pessoa descende de família real.

  5. Ao perceberem a intenção de Magdalena, os discípulos co- chicham: “Acaso está louca? A pomada podia ser vendida por duzen- tas moedas, que ajudariam aos pobres; além disto, o Senhor dispensa tais honras mundanas.”

  6. Virando-Me para eles, digo: “Por que isto vos aborrece? Sempre haverá pobres entre vós; Eunão estarei perpetuamente em vossa companhia. Esta criatura Me fez um Bem e, onde este Meu

Evangelho for pregado, devem mencioná-la! Há muito tempo estou convosco, e nunca Me oferecestes um simples cântaro de água para lavar os Meus Pés. Ela lavou-Os hoje cedo com suas lágrimas e agora voltou para ungi-Los. Como pode isto aborrecer-vos? Se consta ser Eu um Filho de David, justifica-se tal honra real!”

  1. Envergonhados, os discípulos louvam Magdalena, que se le- vanta para sair. Eu lhe digo: “Fica em Minha Companhia, pois, a partir de agora, também serás testemunha de Minhas Ações e Pieda- des!” Comovida, ela agradece e Lázaro a serve amavelmente. Pales- tramos até à noite, contando ela certas passagens de sua vida.

  2. Após Magdalena ter relatado suas aventuras, de modo decen- te, alguns fariseus convertidos observam que tal atitude não estava de acordo com a distinta assembleia; isto porque havia certos acon- tecimentos que se referiam a eles.

  3. Eu elogio a atitude sincera da moça e, em seguida, Me viro para os queixosos: “Não vos aborreçais ter ela mencionado certos ca- sos, nos quais sois culpados. Se as palavras dela — que não mencio- nou nome algum — vos irritam, por que não vos perturba Minha Onisciência? Afirmo: No Além, no Reino dos espíritos, se divulgará abertamente o que procurais aqui ocultar com tanto cuidado; por isto, é melhor um pequeno julgamento na Terra, suportando ligeira humilhação, do que ser exposto diante de todos os anjos.

  4. Quem, no mundo, se apresenta melhor do que é, alimenta tendência mistificadora e com ela se torna difícil entrar no Reino do Céu. Quem quiser defrontar-se Comigo no Além, terá que se dar como é, no mundo; assim não passará por outro julgamento diante de Mim e dos anjos, quando se tiver regenerado.

  5. Vede essa criatura. Cometeu realmente muitos pecados; sendo honesta no coração e tendo praticado muitas obras de cari- dade, muito lhe foi perdoado e agora a quero mais que a um justo, sem pecados. Não vim ao mundo por causa dele, mas pelo pecador arrependido, assim como o médico procura apenas os enfermos.”

  6. Os fariseus aceitam Minha Admoestação, enquanto a moça Me pede paciência, pois tudo faria para reparar seus erros. Amavel-

mente lhe digo: “Nada tens a reparar, mas outros teriam que agir deste modo contigo. Todavia, aconselho-te: Perdoa aos que te pre- judicaram, que Eu também assim farei, remindo-te de tuas faltas. Agora, procura dar o necessário ao físico!”

  1. Diz ela: “Senhor, és Tu o melhor Pão e o Vinho mais sabo- roso e vivificante dos Céus; és o mais justo e verdadeiro Fortificante de minha alma e corpo! Continua Misericordioso para comigo e não Me abandones!” Acrescento: “Minha filha, estas palavras foram inspiradas pelo espírito do amor no coração da alma! Sou realmente o justo Pão e Vinho dos Céus; quem deles se suprir, jamais sentirá fome e sede. São, pois, alimento e bebida justos; quem se alimentar de Mim, no Espírito e na Verdade, jamais verá, sentirá e saboreará a morte. Agora podes te alimentar fisicamente.”

81.AMORTEDA CRIATURA

  1. Um escriba convertido se manifesta: “Senhor e Mestre, aca- baste de confirmar que Tu Mesmo és Pão e Vinho celestes, e quem os aproveitar jamais sentirá a morte. Compreendo que interpretas o Pão como Teu Verbo e o Vinho, o Espírito vivo nele oculto. O comer do pão é a aceitação da Doutrina; o beber do vinho, a ação de acordo com ela, de origem divina, porquanto és o Senhor Único de Céu e Terra. Não compreendo que a criatura seguidora de Tuas Leis não venha a morrer. Pode-se dizer de todas, que não sentirão nem verão a morte, enquanto vivas. Uma vez mortas, igualmente nada perceberão. Esse ponto é de sentido oculto e seria aproveitável um esclarecimento maior. Todos os patriarcas que viviam segundo os Teus Mandamentos tiveram que morrer e o mesmo se dará conosco. Como posso entendê-lo?”

  2. Digo Eu: “Amigo, terás que passar por muitas provas, até que se faça Luz dentro de ti! Acaso afirmei que Meus seguidores jamais haveriam de morrer?! Claro que isso sucederá a todos, sem que o físico venha a sentir e ver a morte — muito mais, porém, a alma do pecador que não se regenere e não faça penitência! Pois a alma

ainda presa à carne e enraizada na sensualidade sentirá e verá a morte quando chegar o momento final.

  1. Observa o estado psíquico de um criminoso quando é levado à praça do suplício! A alma antevê e sente a morte de maneira cruel, e, além disto, ela perdura no Além por muito tempo, porque não consegue se vingar dos algozes devido à sua impotência e o completo abandono. Além disto, cai ela num obscurecimento cada vez pior, sem esperança de salvação, sofrendo horrivelmente até começar a reconhecer sua maldade e suportá-la com paciência. Não é isto ver, sentir e saborear a morte?!

  2. A alma completamente renascida em espírito, em virtude da aplicação da Doutrina, nada disso perceberá, porque se libertará do corpo livre de dor e em plena consciência, quando Eu a chamar para sempre. Muitos de vós, após atingirem o Renascimento espiritual, ex- clamarão: Senhor, quanto tempo nos deixarás carregar o fardo pesado da carne? E Eu responderei com todo amor: Mais um pouco de pa- ciência e Eu vos libertarei! Se algum for sacrificado pelos pagãos por causa do Meu Nome, será feliz em se ver livre da carne, como teste- munha de sangue, e o êxtase espiritual sobrepujará as próprias dores físicas. Se assim é, acaso falei em sentido dúbio, como alegaste?”

  3. Responde ele: “Compreendo e estou muito contente, pois a morte mais feliz não deixa de ser algo desagradável e indigno para o homem, senhor da Natureza. Muito embora se tenha elevado no pleno conhecimento de Deus e seu coração alimentando o amor para com o Pai, ele finalmente não faz diferença de um irracional.

  4. Este ignora sua morte, enquanto o homem perambula pela vida com essa certeza desagradável e compreende-se por que mui- tos se atiram aos prazeres mundanos. A criatura, por mais feliz que seja, é, vez por outra, perturbada por pensamentos pessimistas liga- dos à morte.

  5. Se todas soubessem o que nos transmitiste por Misericórdia, nem se perturbariam com ela. Aceito que o homem jamais se torne feliz na Terra, e ser a morte enorme vantagem; não obstante, poderia o Criador fazer com que ela não tivesse a sensação de pavor.

  1. Para que fim o padecimento às vezes prolongado? Por que as dores e, mais tarde, a decomposição lenta dentro da tumba? Não me conformo com esse processo deprimente!”

82.ARAZÃODOSOFRIMENTOANTESDA MORTE

  1. Digo Eu: “Não posso contestar-te, porque também não con- cordo com a morte comum das criaturas. Mas que culpa Me cabe, se elas mesmas provocam tal desprendimento doloroso? Se vivessem apenas dentro da Ordem revelada desde o início, não haveria umacom direito de reclamação!

  2. Na antiguidade, os anciãos tinham morte suave e leve; pois sua alma abandonava com prazer o corpo, quando o anjo a cha- mava. Não sofriam dores físicas até a idade avançada, pois o corpo continuava forte e saudável; o desprendimento não era causado por moléstias e padecimentos, mas, à esperada chamada do anjo, a alma se livrava da matéria, enquanto o corpo adormecia sem a menor dor.

  3. Mas, quando as criaturas começaram a se entregar aos senti- dos pela volúpia, impudicícia e demais prazeres inebriantes, prejudi- caram sua saúde, tornaram-se fracas e doentes e é claro que a morte tomava outro aspecto.

  4. Se tomas de uma faca e fazes um corte no braço, acaso po- des responsabilizar o Criador pela dor violenta, ou talvez venhas a perguntar por que Ele não proporcionou um físico insensível ao homem?! Eu pergunto: como poderia ele estar vivo, caso não fosse sensível? Isto só se dá quando morto.

  5. Admitamos um físico insensível como são os cabelos. Qual seria a consequência numa criatura irresponsável? Automutilações de toda espécie, a ponto que, no final, não mais teria forma humana, nem capacidade para o trabalho.

  6. Assim, é a sensibilidade um bom vigia, que impede a muti- lação. Além disto, subentende-se que a criatura insensível a dores o seria também a alegrias e felicidades; uma condiciona a outra e é impossível imaginar-se a ausência de uma dessas faculdades.

  1. Bem sei do grande sofrimento humano, mormente durante o desprendimento provocado, primeiro, pela incerteza da sobrevi- vência da alma, pois a maior parte aceita a crença dos saduceus; se- gundo, porque os homens saturaram o físico com toda sorte de ele- mentos impuros através da vida desordenada, pela qual tinham que surgir moléstias graves e dolorosas, seguidas de morte prematura. Eis o motivo por que Eu Mesmo encarnei nesta Terra, demonstrando os caminhos pelos quais perceberá vivamente que sua alma — indi- vidualidade própria — sobrevive à morte e que, vivendo a criatura com saúde e cheia de vida, seu desprendimento não será doloroso, mas realmente feliz. Eu, o Senhor da Vida, vos asseguro: Quem co- mer o Meu Pão e tomar o Meu Vinho não sentirá nem verá a morte. Em outras palavras: Vivendo dentro de Minha Doutrina, desfrutará de seu efeito abençoado. Penso, amigo escriba, tenhas conseguido maior elucidação.”

  2. Diz o judeu: “Agradeço-Te por esse esclarecimento, Senhor. Surge, entretanto, outra questão importante. Devido à fé em Ti, aceitamos Tua Doutrina e a adotaremos como princípio de vida; todavia, já vivemos muitos anos sem respeito à Tua Ordem, nos quais certamente se enraizaram no corpo diversos elementos impu- ros, o que deduzo das moléstias passadas. Será possível expulsá-los pela prática do Teu Verbo, de sorte a não me perturbarem no mo- mento final?”

  3. Digo Eu: “Se viveres de tal forma que tua alma consiga re- nascer em espírito, ele, em breve, expulsará os elementos impuros do teu corpo, facultando-te morte feliz. Alguém vivendo e agindo de modo geral dentro da Minha Doutrina, todavia ainda mantendo seus antigos hábitos, não alcançará o pleno Renascimento da alma no espírito; terá que se submeter com paciência e humildade se na hora da morte passar por vários padecimentos. Esses serão justamen- te o fogo pelo qual o ouro vital do homem será purificado de certas impurezas. Pois algo espiritualmente impuro não pode penetrar no Céu, quer dizer: o espírito puro vindo de Deus não pode unir-se à alma até que ela tenha expulsado de si toda matéria e o que faz parte

de seu julgamento. Quem quiser partir num desprendimento feliz terá que considerar essa condição.

  1. Sede comedidos no comer e beber, e não procureis gulosei- mas extravagantes. Conservando por muito tempo a saúde, a morte em idade avançada será semelhante ao doce adormecer de um ope- rário cansado na verdadeira Vinha do Senhor! A alma se desprenderá feliz e consciente do invólucro gasto; será conduzida às indizíveis alegrias do Céu por muitos amigos, sentindo-se imensamente feliz da libertação do mundo e suas misérias.

  2. Quem, pois, viver e agir dentro de Minha Doutrina será plenamente abençoado com seus efeitos sublimes; vivendo imperfeitamente, a bênção corresponderá à imperfeição. Com- preendeste?”

83.FINALIDADEDADECOMPOSIÇÃOLENTADOS CORPOS

  1. Diz o escriba: “Sobre esse assunto estou plenamente esclareci- do. Existem dois ainda não abordados! Por que o corpo se decompõe tão lentamente? Estaria no Teu Poder dissolvê-lo e transformá-lo de momento. A decomposição é desagradável, empesta o ar e se tor- na prejudicial à saúde. Se o corpo desaparecesse qual floco de neve exposto ao Sol, seria algo mais digno do homem; não haveria risco de saúde e evitaria as despesas do sepultamento. O segundo item é: poderá a alma livre do corpo observar a Terra, suas transformações e a atitude dos que ficaram?”

  2. Digo Eu: “Meu amigo, quanto ao primeiro ponto, baseia-

-se na Minha Ordem que o corpo se decomponha e se transforme lentamente. O corpo da criatura que tiver vivido dentro de Minha Ordem se transformará mais rapidamente e não exalará mau chei- ro. Somente quando, através dos pecados, se tiverem acumulado no físico muitos elementos impuros — que se desprendem durante a decomposição — desenvolve-se o odor pestilento, podendo preju- dicar a saúde das criaturas quando o defunto permanece tempo pro- longado ao ar livre. Alguns dias pouca diferença farão.

  1. Se Eu dissolvesse tal corpo impuro de súbito, grande quan- tidade de elementos perniciosos se atiraria sobre os vivos, não só prejudicando, mas matando-os.

  2. Na decomposição lenta, eles se transformam em vermes grandes e pequenos; estes consomem o corpo e, finalmente, a si mesmos; apodrecem e sobem à superfície em unidade mais pura, de onde ingressam em vegetais, e desses passam a vermes mais limpos e insetos. Eis Minha Vontade e Ordem, e te disse o que é necessário ao homem saber. Conhecimento maior ser-te-á revelado pelo próprio espírito, se for preciso.

  3. Quanto à segunda questão, subentende-se que almas perfei- tas — como demonstrei no Monte das Oliveiras — não só veem esta Terra, mas a Criação total, quando o desejarem. Ser-lhes-ão confia- dos habitantes de outros planetas para guias em suas pesquisas.

  4. Almas imperfeitas, más e obscuras não o poderão; não seria aconselhável, porque poderiam provocar grandes danos ao planeta e a todos os seres devido à sua maldade e tendência vingativa. Man- têm-se em cavernas e fendas terráqueas; todavia, não percebem seu local, e sim apenas a formação incongruente de sua fantasia. Vez por outra é permitido que uma delas veja sua localidade. Em tal estado se orienta a respeito de amigos ou parentes — mas apenas por momentos. Em seguida, ela volta ao pouso sem base onde se encontram seus afins. Pois também as almas maldosas se juntam em sociedades perversas, assim como as boas, em grupos felizes. Compreendestes?”

  5. Todos respondem em uníssono: “Sim, Senhor e Mestre, per- mita sejamos aceitos no grupo dos bem-aventurados, e tem paciên- cia com as nossas fraquezas!”

84.CREMAÇÃOE EMBALSAMAMENTO

  1. Nisto, se adianta Agrícola e diz: “Entre os romanos, mor- mente os de alta linhagem, os corpos são cremados — sendo a cinza guardada em urnas e ânforas — embalsamados ou conservados nas

catacumbas. Somente o povo e os escravos são enterrados no cemi- tério. Que dizes a esses hábitos?”

  1. Respondo: “Não podendo modificá-los, deixai-os como es- tão. A cremação é melhor do que o embalsamamento, pelo qual a decomposição é retardada. O sepultamento é o melhor. Deve-se cui- dar que o corpo seja enterrado quando completamente morto, fator que o médico facilmente poderá observar pela cor e o mau cheiro; pois, em aparentemente mortos, não se dão tais sinais.

  2. Uma criatura perfeita nunca sofrerá o estado letárgico, en- quanto isso é fácil em pessoa materialista devido à grande atração da matéria sobre a alma. Ainda que esteja fria, dura, sem respiração e pulso, a alma se encontra no corpo, aflita por reanimá-lo, o que consegue após alguns dias. Se for enterrada e voltando à vida dentro do sepulcro, podeis imaginar que estado horrível apresenta! Minha Doutrina exigindo o amor aos semelhantes, é ato de caridade o cui- dado de não enterrardes ou queimardes um vivo. Tratando-se de um letárgico, levai-o a um recinto de ar fresco, orai e aponde-lhe as mãos, que ele ficará bom.

  3. Se o estado letárgico de alguém for renitente, sede pacientes e não o considereis morto antes de se apresentarem os sinais menciona- dos. Aquilo que desejais que se vos faça num estado tão terrível, de- vereis de bom grado fazer-lhes. Lembrai-vos disto, vós romanos! Pois não se liga grande importância ao sepultamento de pobres e escravos.” Os romanos agradecem pela lição e prometem maiores cuidados.

85.OSENHOREOSFARISEUS CONVERTIDOS

  1. Após este debate e a noite já se apresentando, os fariseus que há algumas horas haviam chegado a Bethânia mandam recado a Lázaro para saberem se sua vinda fora inútil.

  2. Viro-Me para o amigo, dizendo: “Eles muito discutiram acerca de Minha Pessoa e resolveram não mais Me enfrentar como inimigo. Por isto, vamos Eu, tu e os romanos ao encontro deles. Os outros ficarão aqui e Raphael os esclarecerá sobre nossa palestra.”

  1. Na saída, encontramos Judas, que Me pergunta onde vou. E Eu lhe respondo: “Onde tu não irás! Podes colher informações dentro de casa!” Prosseguimos, e Lázaro toma a dianteira. Raphael o acompanha, enquanto Eu e os romanos ficamos na entrada. Am- bos são amistosamente cumprimentados pelos templários, que, sem mais delongas, abordam o problema, sendo que um escriba, con- vencido de sua sapiência e que nos conhecia desde o Monte das Oli- veiras, diz a Lázaro: “Amigo, certamente ainda te lembras de nossa polêmica de ontem; por isto, aqui viemos cedinho. A recepção não foi muito agradável, porquanto os cães nos teriam estraçalhado não fossem teus empregados!

  2. Todavia, não nos perturbamos por isto. Tu nos prometeste um encontro com o Messias. Nada disto aconteceu, pois esperamos há algumas horas e, além do mais, não nos recebeste com a mesma hospitalidade de sempre, fazendo-nos acomodar no albergue para forasteiros. Também isto saberemos relevar, pois aqui estás em com- panhia do milagroso adolescente.

  3. Dize-nos se o Messias aqui se encontra, pois esta é nossa opi- nião a respeito do Nazareno! Hoje à tarde tivemos uma forte discus- são no sinédrio, que, por pouco, abalou nossa convicção. Pesando bem os prós e os contras, libertamo-nos das dúvidas. Dá-nos opor- tunidade de falar-Lhe, que continuaremos os amigos de sempre!”

  4. Diz Lázaro: “Se na vossa chegada estivésseis tão firmes como agora, vosso desejo se teria cumprido. Prevaleceu a opinião de se ex- perimentar a integridade do Messias pela prisão e condenação, pois, O sendo, ninguém O poderia matar. Caso contrário, vossa dúvida se justificaria. Eis o motivo por que não vos recebi em casa, tampouco apresentei o Messias.

  5. Desistindo de vossa suposição maldosa, tereis a felicidade de vê-Lo. Não O enfrenteis de coração e olhares perscrutadores, mas com fé e amor, que Ele fará o mesmo. Se assim não agirdes, Ele vos en- frentará com Sua Sabedoria penetrante e nada poderíeis responder. Pois, se Ele sabia quais vossas intenções que ora vos revelo, conhece também todos os vossos pensamentos, por mais ocultos que sejam!”

  1. Diz o escriba: “Novamente nos disseste coisas extraordinárias e seguiremos teu bom conselho. Agora leva-nos à presença do mais Sábio de todos os sábios!” Nisto, Raphael abre a porta e diz: “Se- nhor, aproxima-Te dos que anseiam por Ti!”

  2. Acompanhado dos dez romanos, entro no salão e digo: “A Paz esteja com todos de boa vontade, portanto também convosco, cujo íntimo se modificou! Por que Me procurais e qual vosso desejo?”

  3. Diz o templário: “Senhor e Mestre, isto sabes tanto quanto soubeste de nossas intenções anteriores! De maneira alguma duvida- mos que és o Messias; mas desejávamos ouvir de Ti o que fazer para merecermos Tua Graça e Misericórdia.”

  4. Digo Eu: “Se Nicodemos e José de Arimateia se acham no Conselho, podeis fazer o mesmo que eles. Por diversas vezes falei abertamente no Templo e, pelas Minhas Ações, provei Quem sou. Se nisto credes e agirdes como ensino, vivereis felizes; assim não o fazendo, aniquilareis vossa vida espiritual e a bem-aventurança.

  5. O Templo atual não é mais uma Casa de Deus, pois tornou-

-se antro de ladrões e assassinos. Fostes vós, escribas, sumos sacerdo- tes e fariseus, a transformá-lo, razão por que ninguém dele poderá receber a salvação de sua alma. Sou Eu a Arca Viva da União, o pró- prio Templo, a Salvação, a Verdade e a Vida Eterna! Quem crer em Mim e viver dentro de Meus Ensinamentos, receberá a Vida Eterna e a bem-aventurança no Meu Reino.

  1. Meu Reino não é deste mundo, mas de um outro, jamais por vós visto. Se conhecêsseis aquele mundo, também teríeis reconhecido a Mim quando estive no Templo; e, se assim fosse, teríeis igualmen- te reconhecido Aquele que Me enviou, do Qual afirmais ser vosso Deus. O Pai, Que Me enviou, não o fez como se manda um homem na Terra! Fê-lo de forma tal, que o Emissor e o Enviado são Unos.

  2. Quem crer que o Pai está em Mim, e Eu Nele, poderá dizer que viu e falou ao Pai e ao Filho. O pleno conhecimento somente virá quando Eu em breve estiver de novo no Meu Reino, de onde espargirei Meu Espírito sobre aqueles que crerem em Mim e agirem segundo Minha Doutrina.”

  1. Diz o escriba: “Senhor e Mestre, Tuas Palavras são incisivas! Se fossem expressas por uma criatura, seriam consideradas a maior blasfêmia contra Deus, pela qual Moysés ordenou pena de morte. Jamais um judeu se arrogou Dignidade e Honra divinas, com exce- ção de Nabucodonozor; por isto, foi castigado por Deus.

  2. Tu não temes a Lei e muito menos os homens, e Tuas Ações provam estarem sujeitas à Tua Vontade todas as forças e poderes de Céu e Terra. Isto nos leva a crer em Ti como Messias e também es- tamos certos de que nos libertarás — como na época da prisão babi- lônica — do jugo ainda mais duro dos romanos, voltando a sermos um povo livre e poderoso. Não sendo assim, poucos Te acreditarão!”

  3. Digo Eu: “Felizes serão apenas os que não se aborrecerem Comigo, crendo ser Eu o Messias! Não vim à Terra para fixar um reino terreno e perecível para os judeus, mas um espiritual no amor para com Deus e ao próximo, portanto um Reino de Luz e Verdade de Deus, sem mentira e mistificações.

  4. Engana-se muito quem supuser tenha Eu vindo fundar um reino mundano. Os romanos são vossos soberanos na Terra e o serão enquanto Deus o quiser. Se reagirdes contra eles, sereis aniquilados.

  5. Quem se encontrar no Meu Reino, atualmente também proporcionado aos romanos, não necessitará temer um poder mun- dano, igual a Mim. Aqui a Meu lado se acham dez dos mais altos dignitários de Roma; poderão testificar se Eu visei um poder do mundo e o que pensam de Mim!” Encabulados, os fariseus não sa- bem o que dizer.

86.TESTEMUNHODOROMANO MARCUS

  1. Marcus, então, se aproxima dos fariseus e diz em grego, idio- ma mais comum a eles do que o romano: “Amigos, não fiqueis en- cabulados pelo desejo manifesto em vos livrar de nosso domínio, aceitando como Messias quem vos fizesse um povo poderoso sobre a Terra! Tais expressões de vossa parte nos são conhecidas e mantemos o velho ditado: Leononcapitmuscas(um leão não pega moscas).

  1. Confessastes perante o Senhor que O aceitaríeis como Mes- sias — não somente dos judeus, mas de todas as criaturas — mesmo que Ele não modificasse as condições mundanas; tal assertiva foi in- teligente, e por isso perdoamos vossa comentário não muito elogio- so. O que nos admira é que apenas agora começais a compreender o que nós, há tempos, aceitamos como Verdade.

  2. Jesus de Nazareth, nascido em Belém no ano 4.151 após o aparecimento de Adam — de acordo com vossa contagem — no mês de Janeiro, à meia-noite do dia 7, é, tanto quanto vós, judeu.

  3. De há muito estamos informados de tudo que se relaciona com o Seu Nascimento e acontecimentos posteriores, razão por que não O perdemos de vista, como Personagem excepcional. Os primeiros informes nos foram dados por Cirenius e Cornélius, e hoje, que beiramos os sessenta anos, compreende-se nosso vasto co- nhecimento.

  4. Embora pagãos, por vós considerados ignorantes, supúnha- mos ser o milagroso Nazareno o Prometido Messias, porquanto te- mos estudado as profecias. Agora não mais alimentamos dúvidas de Sua Divindade. Se assim é, indubitavelmente — não obstante ser simples judeu — o que vos impediu em aceitá-Lo?! Acaso não constitui honra para vós que os romanos, poderosos, O reconheçam e louvem como Senhor e Mestre, pelo que confessamos ter Ele ven- cido os pagãos, confissão esta da qual jamais nos envergonharemos, pois é a maior honra Ele nos ter aceito como filhos?! Vós, judeus, continuais a engendrar meios para prender e matar o Senhor de toda Glória! Explicai-nos como é possível tamanho horror?!” Os templá- rios nada podem retrucar; Marcus, porém, insiste, porque são livres e não precisam temer castigo.

87.MOTIVOSDAATIVIDADEDOS TEMPLÁRIOS

  1. Um ancião, finalmente, anima-se e diz: “Mui prezados dig- nitários de Roma, nossos soberanos! Vossa acusação se justifica, pois nos achamos na fonte mais pura e não queremos usá-la! Quem teria

culpa? O dono de um tesouro não o considera tanto quanto aquele que precisa se esforçar pela sua conquista. Se nos falam de inspira- dos e sábios estrangeiros, temos desejo de conhecer sua sabedoria, enquanto pouco ligamos às ações dos profetas conterrâneos, porque os conhecemos desde nascença. Os homens — e mais precisamente os judeus idosos — são indiferentes às inovações, por mais extraor- dinárias que sejam, e fogem do trabalho que prejudicaria a indolên- cia habitual.

  1. Os romanos, senhores de vasto Império, também se entre- gam ao ócio em época de paz. Quando informados do levante de um povo sujeito ao regime, não indagam se lhes assiste direito para tanto, mandando forte exército como medida de castigo. Por quê? Por ter perturbado o seu bem-estar. Por que não enviais emissários de paz a fim de estudarem a causa da revolta? Ao contrário, enviais um exército poderoso para subjugar aquele povo, ainda que ele fosse encabeçado por um deus.

  2. Deste modo, o homem não pergunta pela Verdade e Justiça, mas reage com ira contra quem o tenha perturbado em seus direitos imaginários, não obstante reconheça, há tempos, agir injustamente, alimentando apenas mentira e mistificação em prol de seu conforto.

  3. Eis a situação da maioria dos templários. Reconhecem seu erro contra a Lei de Moysés e o povo, e que o grande Mestre de Nazareth tem toda razão. Ele, porém, os perturba em seu sossego e conforto, por isto O odeiam e querem matá-Lo, como quem mata u’a mosca a incomodar-lhe o sono.

  4. Certamente perguntareis se os templários não têm fé em Deus e na Sua Palavra pela boca dos profetas. E eu respondo, de própria experiência, não haver no país judaico um leigo com fé mais fraca do que um templário, mormente idoso. Os mais jovens ali- mentam, às vezes, vislumbre de uma fé autoritária; quando perce- bem que os chefes não creem, eles igualmente perdem a crença e se atiram, secretamente, aos sábios da Grécia. Gozam a vida à medida do possível, e Jehovah, Moysés e os profetas nada mais são que tabu- letas de propaganda a lhes trazerem farta renda.

  1. Eis a organização do Templo, de onde seus adeptos souberam afastar todo empecilho. Assim se explica por que reagem contra o Na- zareno, o Qual nós outros reconhecemos como Messias Prometido. Enquanto permanecermos no Templo, nada poderemos fazer contra suas maquinações. Já será muito se conseguirmos abrandar sua ira!”

88.CULTOE SACERDÓCIO

  1. Responde Marcus: “Agradeço-te por essa elucidação comple- ta, e os romanos saberão como agir com sacerdócio de tal espécie. Onde os homens se entregam ao culto religioso em virtude da situ- ação rendosa, e não por causa da Verdade eterna de Deus, estará em tempo de extirpá-lo e suplantá-lo por melhor!

  2. Como romano experimentado, penso como o Senhor me en- sinou: No futuro não deve mais haver sacerdócio, Templo, feriados, dias comemorativos, jubileus e olimpíadas — mas cada um trate de se tornar justo doutrinador dos semelhantes e verdadeiro pai da prole! Os templos serão transformados em asilos, e os dias comemo- rativos devem ser usados para fazer-se a caridade; assim, em breve, todas as criaturas se abraçarão como filhos de Deus!”

  3. Diz o escriba: “Teu parecer é aceitável dentro da razão huma- na; devemos, porém, considerar o que Deus instituiu por Moysés: Seis dias deves trabalhar; no sétimo, sábado, deves descansar e te abster de todo serviço pesado, dedicando tal dia a Deus, o Senhor, e servi-Lo como foi determinado por Aaron.

  4. Se considerarmos tua opinião, Deus Se contradisse ao Naza- reno. Pessoalmente, sou contra o sacerdócio; mas deve haver anciãos e rabis em todos os povos. Nem todos têm capacidade e talento e, às vezes, lhes faltam tempo e meios para os estudos. Por isto, determi- nou Moysés o tronco Levi para o sacerdócio, impondo aos outros o dízimo do qual aquela linha se deve manter para se dedicar exclusi- vamente ao ofício.

  5. Segundo meu parecer, os doutrinadores não deveriam ser apenas do tronco Levi, pois criam uma casta. Todos dotados de in-

teligência, talento e tempo deveriam ter o direito de se formar em religião; tal professor teria que ser mantido pela comunidade, evi- tando que se canse para seu sustento.

  1. Quanto ao teu parecer acerca do Templo e dos feriados, con- cordo contigo, pois não foram instituídos por Moysés. Indispen- sável se torna um dia na semana no qual o povo se reúna em local apropriado, a fim de evitar o esquecimento de Deus ou a pior idola- tria. Eis o que penso, e seria do nosso agrado, caso o Senhor e Mestre externasse Sua Opinião.”

89.SÁBADOE SACERDÓCIO

  1. Digo Eu: “Pois bem, ouvi-Me! Ambos falastes bem; a partir de então concordo com Marcus, porque o caso se aplica à natureza e raciocínio do homem, portanto se adapta à Sabedoria e Ordem de Deus! Todavia, não rejeito teu parecer. Devem os sacerdotes não fazer do sábado um dia mágico e impor castigos aos que por necessi- dade ganham seu pão em tal dia. Uma ação, mormente em benefício do próximo, não vilipendia o sábado, mas o santifica mil vezes mais que toda gritaria fútil no Templo e em sinagogas.

  2. Quem santifica o sábado por boas obras, fá-lo real e vivamen- te, o que unicamente tem valor para Deus. Quem o fizer como vós, tê-lo-á ultrajado; honra a Deus com os lábios — como disse o profe- ta — mas seu coração está longe Dele, porque afastado do próximo.

  3. Deve haver professores livres e verdadeiros numa comunida- de, sem obrigação do próprio sustento. Concordo na manutenção do sábado, no qual as criaturas poderão ser instruídas sobre Deus e Sua Vontade, relembrando-as sempre do Pai. Seguem-se, porém, seis dias de trabalho. O professor inspirado não necessita de seis dias para preparar-se ao próximo sábado. Pois, se falar pelo Espírito de Deus, receberá no coração o que dizer.

  4. Isto se dando dentro de Minha Promessa, como acontecia em épocas dos patriarcas e profetas, julgo ser útil ao rabi ter ele qual- quer ofício e, como exemplo, ganhar o seu sustento. Deste modo,

não seria obrigado a pesar aos membros da comunidade, que o res- peitará tanto mais quanto tem prova de seu desinteresse pessoal, seu amor e justiça.

  1. Julgo isto muito melhor do que esbanjar seis dias de trabalho com licenciosidade, adultério, impudicícia e fraudes, preparando-se para o inferno e a morte eterna. Eis Minha Opinião.

  2. Outra coisa se dá com os que ora envio ao mundo para pre- garem o Evangelho a todos os povos. Esses Meus primeiros missio- nários não têm oportunidade nem tempo para cuidar do seu susten- to. Por isto, disse-lhes: Comei e bebei o que vos ofertarem! E mais: Não vos preocupeis com o dia de amanhã — pois tal atitude seria pagã e ignorante — mas procurai, antes de tudo, disseminar entre os povos o Reino de Deus e Sua Justiça, com dedicação e zelo, que todo o resto virá por si. O Pai no Céu sabe das vossas necessidades! Repito: Isto se aplica apenas aos por Mim enviados ao mundo in- teiro! Uma vez existindo comunidades efetivas e fundadas em Meu Nome, deve ser respeitada Minha Opinião anterior.

  3. De maneira alguma quero que os rabis se tornem regulares servos do ócio, pois nele se baseia a raiz de todos os vícios. Um rabi verdadeiramente ativo, em Meu Nome, terá oportunidade de dar bom exemplo durante a semana, estimulando os membros da comu- nidade à imitação ativa, no Espírito da Verdade viva, e assim cada dia é qual sábado santificado para todos.

  4. Além disto, não é imprescindível à salvação da alma que seja considerado precisamente o sábado judaico como especial dia de ensino, pois qualquer um poderá ser escolhido para tal. O sábado se prestando à realização de um serviço qualquer, a bem da comu- nidade, porquanto os demais dias eram desfavoráveis em virtude do mau tempo, trabalhai no referido dia, determinando outro para doutrinação. Será verdadeiro sábado todo o dia em que fizerdes o Bem em Meu Nome. Não há valor na denominação do dia, mas naquilo que foi feito.

  5. Igualmente não é necessário fixar, de oito em oito dias, um para doutrinação, podendo ser fixado dentro das circunstâncias. A

Palavra de Deus pode ser pregada e ouvida em qualquer dia, e certo número de dias entre uma e outra prédica nada representam para Mim e, além disto, não melhoram prédica e criaturas.

  1. O pastor da comunidade percebendo — pela intuição do Espírito Divino — que um membro se emaranhou num atalho, deve procurá-lo imediatamente para adverti-lo, não esperando para tanto o sábado. Será sábado verdadeiro o dia em que o transviado for equilibrado e ele se tiver regenerado completamente.

  2. Se o rabi tiver feito uma prédica verdadeira durante o ano e a comunidade agir fielmente dentro do seu teor, dispensa outra doutrinação. Pois quem viver de tal modo viverá diariamente num justo sábado, trazendo no coração a prédica real e viva insuflada pelo espírito.”

90.AJUSTACONSIDERAÇÃODO SÁBADO

  1. (O Senhor): “Pode a comunidade construir escolas para crianças, organizá-las com um ou vários professores experimentados e conscientes de sua responsabilidade, incumbidos do ensino primá- rio e outros conhecimentos. Se isto fizerem diariamente, terão san- tificado o sábado em cada dia. O rabi terá feito o mesmo se visitar as escolas seguidamente, estimulando professores e alunos e, vez por outra, administrando-lhes bons ensinos em Meu Nome; para tanto será por Mim insuflado.

  2. Justifica-se igualmente a comunidade edificar uma casa para reuniões, em Meu Nome. O direito de falar assiste não somente ao rabi, mas a todos os membros masculinos, quando forem ins- pirados por Mim. Não se deve apenas considerar as Escrituras, os profetas e a Minha Doutrina, mas todos os assuntos concernentes ao conhecimento mais profundo de Deus, a vivificação do amor a Ele e ao próximo. No dia em que isto for realizado, a comunidade santificou o sábado.

  3. Com isto não quero sejam desconsideradas a ordem do tem- po e a contagem de horas, dias, semanas, meses e anos. De maneira

alguma deveis atribuir efeito salutar para dias determinados, pois nada representam, senão a ação dentro da Vontade de Deus.

  1. Deixará de ser sábado para quem tiver pecado contra o pró- ximo; se tiver feito ato caritativo num dia comum, tal dia se tornou sábado perfeito. Por isto, futuramente tudo será livre para os Meus verdadeiros seguidores e nada poderá classificar um dia para sábado real, senão as ações surgidas do amor verdadeiro e vivo para com Deus e ao próximo. Vergonhosa é a instituição do vilipêndio do sábado, quando alguém tiver socorrido a um necessitado em tal dia! E ai dos sacerdotes a ensinarem o povo que Deus Se regozija com suas ladainhas e cerimônias de sacrifício, simples horror para Mim!

  2. O sábado deve ser um dia laborioso, e toda cerimônia, a pura ação dentro de Meu Verbo; tal atitude será por Mim olhada com agrado e os santificadores do sábado receberão recompensa de Meu Amor e Graça. Assim fala o Senhor!

  3. Os que o santificarem à maneira dos templários, atribuin- do-lhe efeito mágico e curador — serão aniquilados pelo fogo de Minha Justa Ira! Isto diz o Senhor, diante do Qual todos os dias, semanas, meses e anos são iguais!

  4. Tereis entendido Minha Opinião, válida para todos os tem- pos e eternidades? Em verdade vos digo: Céu e Terra desaparecerão; Minhas Palavras durarão para sempre! Eis Meu Parecer!”

  5. Novamente os fariseus nada sabem contrapor. Os romanos se alegram no íntimo por ter Eu concordado com a opinião de Marcus, enquanto aconselho importantes alterações do pensamento judaico. Muito embora aborrecidos, eles nada deixam transparecer.

91.UMESCRIBAFAZREFERÊNCIASA MOYSÉS

  1. Após meditação mais profunda, diz o escriba: “Senhor e Mestre, pesando as Tuas Palavras, cheguei à conclusão de que tens plena razão, pelo que és. O Espírito de Jehovah habitando dentro de Ti, Teu Coração sendo Trono Dele e Ele falando e agindo por Ti — não compreendo como pôde outorgar uma Lei própria para

a conservação do Sábado. Sabe-se que judeus foram por Ele evi- dentemente castigados por terem profanado tal dia com trabalhos pesados. Por que Deus não determinou a santificação como Tu? Ele não pode alterar o sentido de Suas Palavras!”

  1. Digo Eu: “Falou em ti o escriba, provando nunca ter en- tendido a Escritura e muito menos os Livros de Moysés. Naquela época, era preciso determinar um dia de descanso para os judeus no Egito a fim de poderem ouvir a Palavra de Deus, pois, sem tal Lei, jamais teriam tido folga, conforme se haviam habituado a trabalhar. O povo hebreu era sensual e nada mais cuidava senão de meios para satisfazer a gula. Por isto, Deus determinou — por motivos naturais e espirituais — um dia, quer dizer, o mesmo escolhido pelos patriar- cas para descanso e atenção à Palavra de Deus.

  2. Jamais ordenou Ele ao homem que deixasse de prestar bom serviço no sábado. Tal mandamento suplantou o de Moysés, inven- ção vossa, permitindo apenas serviço indispensável àquele que vos desse resgate e outros sacrifícios.

  3. Se achas Deus não poder alterar a forma de uma Lei, por ser Ele Imutável — como vos arrogastes o direito de modificar a Lei mo- saica de acordo com vosso parecer e benefício material, a ponto de desrespeitardes realmente tudo ensinado e ordenado pelos profetas?

  4. As Escrituras e Leis sendo para vós tão consideradas, por que reprovastes o 6° e 7° Livros de Moysés e o apêndice profético como sendo falsos, pondo outra obra, mundana, em seu lugar?

  5. Não foi a Arca da União um Santuário para todos os judeus?! Quando, há trinta anos, a coluna de fogo se dissipou diante de vos- sas atrocidades, transportastes a Arca destituída de seu poder para determinado recinto, repondo-a por outra, da qual surgia fogo e fumaça naturais. Por que fizestes isso? Haveria uma Lei de Moysés com autorização para tal?!

  6. É bem verdade terem os profetas anunciado que, nesta época, a antiga Arca da União se transformaria numa nova e viva diante de todo mundo. Nunca, porém, como foi feito por vós! Se estivésseis certos, pelas profecias, que tal fato deveria ocorrer, naturalmente

teríeis divulgado esse acontecimento, exigindo grandes sacrifícios do povo. Preferindo ocultá-lo, a massa continua ignorando vossa sonegação.

  1. Convencidos de terem os profetas mencionado a nova Arca referindo-se a Mim — por que não informastes o povo e insistis na adoração de uma obra material? Sempre vos referis aos profetas; se Eu vos aponto o sentido espiritual e unicamente verdadeiro das Es- crituras, como pode acontecer que precisamente vós sois os maiores negadores de Deus, Moysés e os profetas?!

  2. Por motivos mui sábios ocultou Moysés a Palavra transmiti- da por Deus, mormente seu sentido intrínseco e vivo, em quadros correspondentes, e aquilo que revelou abertamente foi por vós rejei- tado! Agora Eu Mesmo aqui estou e revelo os segredos. Por que não credes, mas procurais prender-Me com aquilo que nunca acreditas- tes e, muito menos, assimilastes?”

92.AINSTITUIÇÃODO SÁBADO

  1. (O Senhor): “Desde os primórdios, foi hábito dividir-se a semana em sete dias, que, pela razão natural, foi adotada pelas diver- sas fases da Lua. O sentido espiritual, revelado por Deus, referia-se aos Sete Espíritos Divinos, dos quais já ouvistes falar sem entender uma vírgula!

  2. Dos Sete Espíritos é justamente o sétimo a purificar e amai- nar os precedentes, e seu nome é Misericórdia. Este foi o motivo por que Deus determinou o sétimo dia para Sábado, no qual deveríeis vos abster do serviço dedicado ao suprimento material e, durante a reunião perante a tenda na qual se achava a Arca, conviria ocupar-

-vos dos pobres, aplicando misericórdia ativa. Toda a Lei de Moysés e dos profetas se baseia na justa prática da misericórdia ao próximo, culto religioso unicamente agradável a Mim, na Fé viva em Deus e no Amor para com Ele. Se assim é, como poderia o grande profeta imaginar ter Deus determinado o Sábado para que nele judeu algum fizesse obra de caridade ao próximo?!

  1. Refleti se consiste em veneração a Deus o homem passar o dia no completo ócio dentro do Templo, numa sinagoga ou em casa, rumorejando os Mandamentos, alguns salmos etc., sem pensar ou meditar; ou mandar que algum sacerdote o fizesse por ele mediante pagamento, porque acredita ser o murmúrio do outro mais eficaz e agradável a Deus! Desvairados! Poderia Deus sentir agrado em tais tolices e baboseiras inventadas por vós e até mesmo declaradas com poder legislativo? Poderia Ele, o Eterno, senti-lo agora ou fu- turamente?!

  2. Devem as criaturas que reconhecem e amam a Deus acima de tudo dirigir suas preces a Ele. Como? Primeiro, pelo justo cum- primento de Sua Vontade por meio de obras de amor ao próximo; segundo, devem dirigir-se a Ele pelo amor vivo e pleno, dizendo: Pai Nosso, todo Amoroso, que habitas nos Teus Céus! Teu Reino do eterno Amor e da Verdade venha, realmente, a nós! Tua Von- tade, unicamente Santa, o Ser de todas as criaturas, se torne entre nós ativa como é em todos os Teus Céus e Espaços! Dá-nos o Pão da Vida! Perdoa-nos as culpas, assim como perdoamos aos irmãos que nos ofenderam! Não permitas sejamos levados ao pecado por tentações e encantos, aos quais dificilmente poderíamos resistir em virtude de nossa fraqueza, mas livra-nos de todo mal! Teu Nome seja santificado, louvado e exaltado acima de tudo; pois Teus são Amor, Sabedoria, Força e Poder eternamente!

  3. Eis uma justa prece dirigida a Deus, quando sentida no cora- ção, viva e verdadeiramente! Todavia, não terá valor, ainda que mil vezes proferida, pois terá que ser demonstrada pela criatura, do con- trário se torna um horror para Deus. Ele, Deus eternamente vivo, como Amor, Sabedoria, Força e Poder, não Se deixa honrar por pa- lavras frias e mortas, promessas e cerimônias fúteis, mas apenas por obras feitas à Sua Vontade. Essas podem e devem ser executadas em dia qualquer, e não somente no sábado. A criatura, assim agindo, transforma todos os dias em sábados e não precisa esperar por ele, que, para Mim, não é melhor do que outro qualquer. Caso tiveres motivo para objeções, poderás te pronunciar!”

  1. Responde o escriba: “Senhor e Mestre, desistirei para sempre, pois agora reconheci seres Tu verdadeiramente o Ungido de Deus! A reprimenda aos templários é justa, mas infelizmente nada podemos fazer pela Tua Missão divina. És poderoso, Senhor! Faze o que Te agrade de acordo com Tua Graça, Amor e Sabedoria! Se quiseres nos aconselhar quanto à atitude contra os sumos sacerdotes, tudo faremos para merecer Tua Graça!”

  2. Digo Eu: “Já vos disse muita coisa e certamente tereis assimi- lado Minha Vontade! Agi dentro de Meus Princípios, que recebereis a Vida eterna! O Templo não vos impedirá de crerdes em Mim, seguirdes a Minha Vontade e, caso necessário, reconhecer-Me diante do mundo. Pois também a vós digo: Quem Me testemunhar peran- te o mundo, será por Mim testemunhado perante o Pai, no Céu! Podeis voltar a Jerusalém. Não Me denuncieis, caso os templários perguntem por Mim! Minha Bênção vos acompanhe! Amém!”

  3. Comovidos, os templários Me agradecem pela libertação de seus enganos e se aprontam para a partida. Lázaro lhes dá um guia munido de tocha devido à escuridão, o que muito os satisfaz. Vol- tando Eu à mesa, os romanos expressam sua alegria pelo Meu Pro- nunciamento claro e justo; pedem ao mesmo tempo repetição da Minha oração; no mesmo instante, Raphael entrega a Agrícola um pergaminho, onde a mesma está anotada. Virando-Me para Lázaro, digo: “Trabalhamos, Meu irmão; manda trazer algum vinho e pão, antes da ceia, para nosso reforço.”

93.ALIMENTOPREFERIDODO SENHOR

  1. Quando assim nos entregávamos ao conforto material, Mar- tha se aproxima, perguntando qual Meu prato predileto para a ceia, e Eu respondo: “Martha querida, as criaturas que ouvem o Meu Verbo e o aplicam representam Minha refeição e Minha bebida pre- feridas! Terás compreendido o sentido de Minhas Palavras?”

  2. Diz ela, assustada: “Senhor e Mestre, não hás de querer car- ne humana?”

  1. Digo Eu: “Boa amiga, ainda não te aprofundaste em assun- tos espirituais! Acaso Me referi ao alimento do espírito ou da carne, quando disse serem o Meu Alimento e Minha Bebida preferidos os que aceitam e praticam a Minha Doutrina?! Digo a todos: Não só de pão e vinho vive o homem; porém, de cada palavra vinda da Boca de Deus, caso ele a pratique. É a Palavra de Deus o Alimento mais substancial para a criatura total, enquanto o pão da Terra alimenta apenas o corpo, e não alma e espírito.

  2. Se Deus, pelo Verbo, é o Alimento principal para o homem todo — ele mesmo se torna alimento bom e saboroso para o Eterno Amor em Deus quando O tiver reconhecido, amando-O e cumprin- do a Sua Vontade. Se entendeste a explicação, podes mandar servir peixes bem preparados para a ceia.”

  3. Diz Martha: “Oh, Senhor e Mestre! Compreendi que Te re- ferias ao alimento espiritual e Te agradeço pela grande paciência para comigo; todavia, vejo-me obrigada a confessar que o estoque de pei- xes esgotou-se. Que farei?”

  4. Digo Eu, amavelmente: “Boa Martha, a situação é realmente embaraçosa! Onde buscaremos peixes para todos?”

  5. Responde ela, confundida: “Não sei, Senhor; mas Tu pode- rias dar um jeito!” “Como não,” digo, “se tiveres fé positiva!” Ra- diante, ela afirma: “Creio em tudo! És o eterno Amor e a Verdade Mesma, e tudo que disseres realizar-se-á!”

  6. Digo Eu: “Bem, encontrarás peixes suficientes para hoje e amanhã dentro do depósito na cozinha, onde flui constantemente água da fonte!”

  7. A estas Minhas Palavras, Martha, sua irmã e Maria Magda- lena se dirigem para lá, deparando com o milagre. Virando-Me em seguida a Martha, acrescento: “Não te canses com palavras de admi- ração, pois não é o primeiro milagre que operei diante de vós! Trata da ceia!” Entrementes, dirigimo-nos, a pedido dos romanos, para fora a fim de observarmos o Céu.

94. OCÉU ESTELAR

  1. Satisfeitos, todos os presentes, em grande número, nos acom- panham ao terreiro, admiram-se da maravilha estelar, louvando Onipotência e Majestade de Deus. Após algum tempo de observa- ção, o romano Marcus diz: “Descontando alguns planetas, tudo que vemos são sóis rodeados de seus planetas, luas e cometas?”

  2. Digo Eu: “Certo, já vos foi demonstrado no Monte das Oli- veiras. Entre os inúmeros sóis, há vários centrais, em cujas órbitas giram os sóis planetares com seus planetas; além disto, aqueles sóis centrais rodeados por enxames globulares e outros por universos-i- lhas. De nada vos adiantaria Eu apontá-los. Uma vez renascidos em espírito, a Origem da Vida interna e de toda Verdade vos levará à Luz completa. Apenas repito existirem muitas acomodações enor- mes na Casa de Meu Pai!”

  3. Diz Marcus: “Novamente Te agradeço por ensinamento tão profundo! Agora só desejava explicação certa do local do Sol. De- monstraste a forma esférica de todos os corpos cósmicos, inclusive de nosso planeta. Acontece eu ter tido uma experiência interessante, quando há anos viajei pela costa da Espanha. Deparei, com meus colegas, um mar imenso e, para verificarmos se era semelhante ao Mediterrâneo, subimos a um monte muito elevado. Embora dotado de boa visão, não era possível localizar seus limites.

  4. Daquele topo vi o Sol submergir no mar e, no mesmo mo- mento, seu fogo e luz se apagaram. Não havia crepúsculo, e conclu- ímos terem o Sol, Lua e estrelas desaparecido no mar, a Leste, para ressurgirem após 14, 12 ou 9 horas no Oeste. Qual é a explicação do fenômeno?”

  5. Digo Eu: “Meu amigo, daqui a mil anos, até mesmo crianças terão noções precisas de aparições tão fantásticas ao vosso entendi- mento. O grande Oceano tem seus limites a Leste, como todos os mares. Lá existe um enorme Continente, que será descoberto, par- tindo da Europa os descobridores. O Continente Noroeste da Ásia já foi descoberto há mais de mil anos e é habitado, desde então, por

diversos povos asiáticos, inclusive fenícios, troianos e gregos. A des- coberta que partirá da Europa será apenas possível quando os navios estiverem mais apropriados que os vossos atuais.

  1. O Sol desaparecendo sem crepúsculo, visto pela Espanha, mormente a atmosfera sendo muito serena e límpida, tem sua causa na extensa massa de ar que impede a própria luz solar, assim como não consegue penetrar às profundezas do mar. Se o solo marítimo for superficial, a luz o atinge porque encontra reduzida massa de água. Medindo 20 – 100 alturas humanas, impossível descobrires o fundo do mar.

  2. Outro motivo se baseia na ausência de neblina. Quando os raios solares não encontram matéria da qual possam ser projetados numa refração, não são percebidos. Isto podes aprender com a Lua e outros planetas. São eles corpos idênticos à Terra. A luz do Sol se projeta em todas as direções; mas apenas é vista e sofre refração quando atinge um objeto.

  3. Se Eu depositasse um objeto grande, digamos, na distância da Lua, verias imediatamente não ter o Sol submergido no mar deste pequeno planeta, mas continua livremente fornecendo luz e calor a todos os planetas que o circundam. Já expliquei como se processa a mudança de dia e noite. Podes, portanto, livrar-te da antiga impres- são das coisas.”

  4. Responde Marcus: “Essa explicação não é de teor espiritu- al, todavia é muito importante aos romanos ainda ignorantes. Se o homem se fundamenta em erros terráqueos, é claro produzirem en- ganos espirituais. Percebendo luz em pequenas coisas, ela se estende a assuntos maiores, até que ele se integre na Sabedoria real. Aceita nossa gratidão por ensinamento tão útil!”

95.AFORÇANASCOISAS MÍNIMAS

  1. Digo Eu a Marcus: “Teu reconhecimento provocou enorme alegria ao Meu Coração, pois quem não respeita dádiva aparente- mente pequena desmerece maior. Minha Ação é comparável a tudo

que vedes em a Natureza. Quando dou impressão de fazer algo gran- dioso, o efeito não é o correspondente, por motivos mui sábios — e vice-versa. Por isto, podeis dizer: Nas coisas grandiosas sou Pequeno; no ínfimo, infinitamente Grande!

  1. Quando faço passar um tufão devastador sobre terras e mares, as criaturas afirmam: Como és Grande e Poderoso, Senhor! Se depo- sito no solo uma simples sementinha que germina, cresce e apresenta uma forte árvore surgida de sua insignificância, ninguém se extasia. Talvez haja quem observe o milagre muito maior com indiferença, dizendo apenas: Bem, deve estar de acordo com a Vontade do Senhor que sementes pequenas produzam grandes árvores e florestas.

  2. Assim também se admiram as criaturas das montanhas eleva- das, de rios caudalosos, lagos e mares extensos e desconsideram uma colina fértil e uma fonte límpida a saciar o viandante. Para Mim, a fértil colina está acima do estéril Ararate e a fonte cristalina ultra- passa o grande Oceano. Aqueles já se acham ligados à vida provinda de Mim. O Ararate e o Oceano ainda se encontram no profundo julgamento e longe da Vida.

  3. Por isto, considerai também vós Minhas Palavras às vezes de simples teor; justamente nelas vos transmito muito mais força do Meu Ser Amoroso do que pela análise e demonstração de um enxa- me globular! De Minha Sabedoria e Onipotência podereis apenas sorver gotas isoladas; da Fonte da Vida do Amor Paternal sorvereis verdadeiras torrentes!

  4. O mesmo acontece quando as criaturas Me amam, louvam e honram! Quem o fizer no silêncio e com amor, em toda humil- dade de sua insignificância, reconhecendo-Me em tudo, honra-Me em espírito e verdade; isto muito Me alegra, e o que tinha aparên- cia simples produz grande efeito. Quem Me presta honrarias com pompa mundana, cerimônias fúteis, preces e ladainhas, julgando agradar-Me, engana-se muito. É um horror para Mim, partindo dos sacerdotes; e, se o povo ignorante o fizer e com isto aguardar uma Graça, Eu não o atenderei na justa medida, a fim de que perceba não Me agradar tal atitude.

  1. Receberão as criaturas os frutos da Graça correspondente aos que nascem em picos elevados, caso Me honrem, adorem e prezem com pompa externa. Quem não Me pedir no coração, no espírito e na verdade, não será atendido. Se assim Eu fizesse, fomentaria men- tira e paganismo, coisa que ninguém esperará, dotado de alguma inteligência. Eu sou a Luz, o Caminho, a Verdade e a Vida; como poderia favorecer ignorância, caminhos errados, mentira e morte?

  2. Por isto, afirmo: Eu não Me acharei no ribombar da tempestade, nem na fúria do fogo, mas no sussurro suave da brisa matinal. Quem for ao Meu Encontro em tal serenidade da alma, encontrar-Me-á.”

  3. Diz Marcus: “Senhor e Mestre, quão maravilhosas e cheias de amor são Tuas Palavras, e quão feliz quem as compreende e pratica! Desfrutando da enorme Graça do Teu Convívio, seria imperdoável se não apresentasse perguntas referentes à Tua Criação e espero não cair no Teu desagrado.”

96.A FORMAÇÃO DO VENTO

  1. Digo Eu: “Já sei de tua pergunta, pois foi o vento fresco a despertar tua curiosidade quanto à sua origem e destino. Ser-te-á difícil compreendê-lo, conquanto fácil de explicá-lo.

  2. Muitos há que percebem a direção do vento, desconhecendo sua origem e finalidade; muito menos entendem de onde vem a brisa espiritual no seu coração e para onde ela os quer levar. Por isto, continuam de sentimentos obtusos; ignoram a vida da alma e de seu espírito, e a Mim, como Brisa Original e Principal, de maneira alguma conseguem descobrir.

  3. Na criação material nada existe e subsiste sem motivo espi- ritual, o mesmo se dando com esse vento. No Monte das Oliveiras dei breve explicação e os Meus apóstolos receberam elucidação ex- tensa a respeito da Terra, que, como todos os corpos cósmicos, tem vida orgânica, manifestando funções e fenômenos animais. Neces- sita de alimento semelhante a animal enorme. Assim sendo, dispõe de uma espécie de coração, pulmão, baço,

  1. fígado, rins, estômago

  1. A Terra respira em seis horas e expira em período idêntico. Esse ritmo é sentido em todo o orbe por vento periódico durante quatro vezes, que, não obstante ser produzido a um só tempo, não pode ser percebido em comum devido à rotação em volta de seu eixo e, em consequência disto, a posição transitória do Sol produzir manhã, meio-dia, entardecer e noite, paulatinamente.

  2. A Oeste, neste momento, é meia-noite, e nos países além do Grande Oceano é meio-dia. Em suma, em toda a periferia terráquea se apresentam, no momento, todos os períodos diurnos, de sorte que u’a manifestação do orbe, muito embora se dando de modo geral, não é percebida em horário idêntico.

  3. Este vento deriva da respiração terráquea. Não deves fazer ideia de a Terra possuir boca ou nariz e que a respiração tenha sido impulsionada do polo Norte ou Sul; tais ventos ocorrem pela exten- são do planeta, mormente nas partes mais flexíveis debaixo do mar, durante a respiração, a ponto de a água subir alguns palmos, e na ex- piração se contrai na mesma proporção. Esse constante movimento produz a brisa que ora sentes, pois todo vento, mesmo o mais forte tufão, nada mais é que a movimentação da atmosfera, mais ou me- nos forte. As causas pelas quais o ar é levado a determinada corrente são variadas, e levaria dias para enumerá-las e descrevê-las.

  4. Os ventos do Norte sendo frios, e os do Sul, quentes, são res- ponsáveis pelas condições climáticas. Nos vastos desertos se apresen- tam incandescentes. No polo Sul propriamente dito, correspondem aos do Norte devido ao gelo e à neve. Tens com isto explicação su- ficiente da causa natural dos ventos; orientação completa receberás pelo próprio espírito em época oportuna.

  5. Já disse a todos que, em todas as manifestações terráqueas, operam espíritos. Em tempos futuros haverá muitos cientistas a me- direm e calcularem todos os fenômenos, concorrendo na extinção da superstição; entretanto, muitos se perderão em cálculos, de forma

a se afastarem completamente da origem espiritual, aprofundando-

-se apenas na matéria, com prejuízo da evolução psíquica.

  1. Pode o homem descobrir a causa de todas as coisas; tal co- nhecimento lhe deve ser proporcionado pelo próprio espírito, a fim de não perder a sua base primitiva. Baseando-se o conhecimento neste princípio, poder-se-á tornar útil ao semelhante, enquanto como simples naturalista prejudicará, em vez de beneficiar. De que adiantaria possuir e entender todas as coisas do mundo, prejudican- do sua alma?! Teria algum proveito no Além?”

97.A PESQUISA CIENTÍFICA

  1. (O Senhor): “No Egito, nos tempos dos faraós, havia grande número de cientistas e pesquisadores, e suas obras enchem vastos salões! Levarias alguns séculos a fim de ler aqueles compêndios, per- gaminhos e tábuas. As almas daqueles naturalistas prosseguem nos estudos, caindo de engano em engano, e não se deixam instruir por algum anjo, insistindo no desvario de procurarem a origem dentro da matéria, para eles como que inexistente; pois se esgotam na apa- rência, na impressão e fantasia.

  2. Qual seria o proveito para eles? Nenhum! Enquanto insistem no erro, impossível florescer a salvação da vida e tornar-se fruto amadureci- do. Por isto, é a pesquisa de fenômenos da Natureza apenas de utilidade temporária, para fins materiais. Todas as descobertas científicas levarão o cunho da imperfeição enquanto não forem realizadas por criaturas que reconheçam as forças da Natureza desde sua origem espiritual, tor- nando-se senhores da mesma, como observastes nos sete egípcios.

  3. Os que tiverem alcançado o justo conhecimento de si mes- mos, da Natureza total e de suas forças escolherão para ocupação terrena outra coisa, senão máquinas e produtos. Criaturas espiritua- lizadas sempre se entregarão à Minha Procura e à conquista da Vida eterna. Somente isto pode ter valor real para o verdadeiro filósofo e estudioso, por ser eterno, enquanto as coisas terrenas só podem ter finalidade no alcance do grande destino.

  1. A quem afirmar: Sou proprietário de vastas terras, gran- des tesouros e empreendedor de coisas artísticas, pois contrato artesãos de todos os países para tal fim, perguntarei: Por quanto tempo será isso posse tua? Amanhã mesmo poderás morrer sem que consigas levar algo para o Além. Acompanhar-te-á apenas o que fizeste de Bem ao próximo. A não ser assim, todos os bens, tesouros e coisas preciosas constituirão barreira intransponível entre a alma e o Meu Reino, porquanto ela enfrentará choro e ranger de dentes.

  2. Por isto, deve cada um procurar o verdadeiro Reino de Deus e Sua Justiça, apresentados pelo amor verdadeiro e vivo para com Deus e ao próximo. Todo o resto será acrescido, quando necessário.

  3. Deixai os ventos soprarem e as nuvens seguirem sua trajetória e não deis aos fenômenos da Terra maior valor que aos da alma. Os frutos para a vida eterna surgirão apenas da última. O assunto ficou bem claro e espero Me tenhais compreendido.”

  4. Diz Marcus: “Entendemos tudo que expuseste como Cria- dor, Senhor, Conservador e Guia de todas as coisas no mundo mate- rial e espiritual. A demonstração dos seis períodos criadores recebeu um acréscimo importante. Pouco a pouco iremos influenciar o en- sino quanto à forma esférica do planeta e a mudança de dia e noite motivada pela rotação em redor do próprio eixo.”

98.VIGILÂNCIADA ALMA

  1. Neste instante, vê-se surgir forte luz avermelhada por detrás de uma montanha e todos perguntam qual o motivo. Respondo: “Não vale a pena entrar em detalhes, pois trata-se de uma fogueira feita pelos pastores, porquanto já é noite.

  2. Os fariseus de Jerusalém perceberam a fogueira e saberão aproveitá-la para diversas interpretações. Alguns viajantes subirão a montanha a caminho de Tyro e na volta passarão pela cidade, des- mentindo aquelas mistificações. Já não mais havendo fator impor- tante a registrar, vamos tratar da ceia.”

  1. Enquanto nos saciamos com peixes, pão e vinho, Maria de Magdala relata às irmãs de Lázaro vários casos havidos com os tem- plários, que muito se esforçaram por seduzi-la com grandes presen- tes. Lembrando-se dos pobres, ela os aceitava, entregando-se aos se- dutores. Sobreveio-lhe grande sofrimento com tal atitude, pois, em breve, se viu presa de sete espíritos maus. Eu então a libertei de seus algozes e, a partir daí, entregou-se a Mim com todo fervor. Marcus pergunta se aqueles espíritos eram semelhantes aos da Illyria.

  2. Digo Eu: “Certo, pois somente espíritos mui materialistas, ou digamos, almas, agem desse modo quando se lhes dá oportunida- de. Já expliquei como se dão tais obsessões e não necessito repeti-las. Desejava entregar-Me ao descanso, não conseguido no Monte das Oliveiras. Acontece Eu ter encontrado muito mais trabalho aqui do que lá. Não importa, pois deve-se trabalhar enquanto é dia. Quando vier a noite e a escuridão, é recomendável o repouso. Ainda assim, convém não dormir mui profundamente, para se ouvir os ladrões ávidos pela posse do dorminhoco!”

  3. Diz Pedro: “Senhor, quando se volta cansado da tarefa coti- diana, é difícil fiscalizar-se o sono.”

  4. Digo Eu: “Não Me entendeste; pois, se alguém dorme, mes- mo profundamente, sua alma fortalecida por Mim está vigilante, podendo despertá-lo quando preciso. Assim falei para que mante- nhais pura a vossa alma; pois uma alma impura é finalmente tão material como o corpo, não podendo vigiá-lo, porquanto o espírito também não consegue fazê-lo com a alma adormecida, que nada quer nem pode perceber sua influência.”

  5. Diz Thomaz: “Senhor e Mestre, estamos cientes de nossas almas não serem suficientemente puras. Que fazer para conseguirem o Teu Agrado?”

  6. Respondo: “Já vo-lo expliquei por diversas vezes! Agi deste modo, que o fogo de vosso amor para com Deus e o próximo pro- porcionará às almas o que carecem. Quando Eu tiver subido ao Céu, espargirei o Meu Espírito sobre vós e elas se tornarão tão puras como ouro. Até lá, prossegui com amor e justa paciência!”

99.PROFECIASCUMPRIDASEPROFECIAS NÃO

CUMPRIDAS.OLIVREARBÍTRIOHUMANOEAONISCIÊNCIADE DEUS

  1. Dirige-se a Mim um fariseu cuja família se encontra em Be- thânia: “Senhor e Mestre, ficarias aborrecido caso fosse cumprimen- tar os meus?” Respondo: “De modo algum. Repara, porém, os Meus apóstolos. Também têm família e nenhum Me faz pergunta como tu! Por isto, digo a todos: Quem no mundo dedicar mais amor a al- guém do que a Mim, não Me merece; e quem puser a mão no arado, todavia olhar para trás, quer dizer, aos interesses do mundo, não se presta para o Reino de Deus. Julgas proporcionar maior cuidado à tua família caso a procurasses nesta noite?! Eis o Meu Parecer; entre- tanto, poderás agir à vontade.” Com estas Palavras, o fariseu perde a vontade de visitar seus familiares.

  2. Diz um outro, a seguir: “Senhor e Mestre desde eternidades, és ciente daquilo que farás no dia seguinte e houve ocasiões em que antecipavas Tuas Ações; assim, julgo não ser atrevimento perguntar-

-Te a respeito dos Teus Planos para amanhã.”

  1. Digo Eu: “Caso fosse útil a alguém dentre vós, assim o faria; mas, não o sendo, abstenho-Me. Não é muito salutar ao homem saber o que trará o futuro; desesperar-se-ia ou ficaria indiferente.

  2. Nesta Terra, onde se educam os filhos de Deus, é impossível predizer-se o futuro com absoluta certeza, assim como pode ocorrer em qualquer outro planeta. Considerando o livre arbítrio, tudo de- pende da vontade do homem, do seu conhecimento e ação.

  3. Se Eu dissesse: Podes alcançar vastas noções, querer e agir à vontade, que todavia acontecerá aquilo que Eu quero e ora transmito!, teria sido baldada Minha Vinda do Céu e inútil a Mi- nha Doutrina!

  4. Digo mais: Se, referente à moral e diretrizes de Governo, ape- nas sucedesse o que digo, os homens não teriam outra finalidade que irracionais. Para que fim lhes foram dados razão, intelecto, amor e vontade livre? Posso apenas predizer que isso ou aquilo acontecerá,

caso agirdes de tal forma. Se anunciasse a um povo, ou apenas a um indivíduo, que determinados fatos haveriam de acontecer, não seríeis destinados à Filiação divina e Eu não seria vosso Pai em Espírito.

  1. Estudai os profetas se algum predisse algo irremediável! To- dos formularam profecias sob determinadas condições, relacionadas à melhora ou maldade dos homens. Somente Minha Encarnação foi anunciada sem a vontade e a ação dos homens e para sua salva- ção, unicamente Minha Obra. Ainda assim, aceito a colaboração dos que quiserem.

  2. Jonas, impulsionado pelo Meu Espírito, foi obrigado a anun- ciar o extermínio dos ninivitas, caso permanecessem em sua malda- de. Fê-lo a contragosto, pois, como profeta, sabia serem Minhas Ad- vertências baseadas em condições. O povo de Nínive regenerou-se e Minha Profecia não se realizou, para aborrecimento de Jonas.

  3. Caso semelhante se deu com Jeremias, filho de Hilkias, da casta sacerdotal de Anathot em Benjamim, convocado por Mim em tempos de Josias, filho de Amon, Rei de Judá, no 13° ano de seu regime; e também na época do Rei Joachim, filho de Josias, e até o fim do 11° ano, Zedekias, outro filho de Josias, Rei de Judá, até a prisão de Jerusalém, no quinto mês. Suas profecias se realizaram e a prisão se deu, não porque Eu o tivesse afirmado, pela boca do profe- ta, aos judeus que se esqueceram de Mim, mas sim pelo fato de não melhorarem, ridicularizarem o profeta e o perseguirem, de sorte ao mesmo se revoltar e destruir o que havia escrito, e Eu o fiz escrever tudo de novo. Os próprios judeus eram culpados de se cumprirem as advertências; nos de boa índole se realizava somente a parte benéfica da profecia.

  4. Assim sendo, tudo que vos disse e ainda profetizarei se divi- de em duas partes: na realização do Bem ou do mal; a época igual- mente não é prefixada, pois se adapta ao querer e agir dos homens. Como poderia Eu dizer a um povo pervertido: Em virtude de tua maldade e desconsiderando Minhas advertências, serás exterminado com raio e trovão, piche e enxofre dentro de sete dias! Mas, se o povo se arrependesse e fizesse penitência? Seria viável Eu cumprir a

Minha Ameaça? De maneira alguma; o povo arrependido receberia Misericórdia e Bênção! Vistes os sinais e sabeis o que Eu disse do futuro de Jerusalém; contudo, depende da vontade e da ação de judeus e templários!”

  1. Insiste o fariseu: “Mas, Senhor, certamente saberás se eles se regeneram ou não, atraindo o possível julgamento!”

  2. Digo Eu: “Assim pensas tu — Eu, de modo diferente! Não leste nas Escrituras o seguinte: E Deus virou Sua Face? Que quer dizer isso? Após uma, duas, três e até sete advertências, Eu não tomo conhecimento da ação de um povo; o mesmo faço com o indivíduo, pois não considero seus atos até que melhore ou então complete a medida de seus pecados. Tudo sucederá como efeito de uma causa. Organizei a Terra de modo a se apresentar o resultado de cada ação individual.

  3. O dia de amanhã virá sem Eu predizer as ocorrências. Mui- to embora espíritos de Luz algo predisserem, tudo será como Eu dis- se, dentro de vossa razão. Vamos dormir, porquanto vos orientastes a respeito de vários assuntos.” Todos se acomodam em seus leitos, enquanto descanso na espreguiçadeira até pela manhã.

100. HÁBITOS

  1. Uma hora antes do surgir do Sol, todos estão de pé. Os ju- deus se lavam de acordo com seu hábito, enquanto os romanos usam águas e óleos perfumados, espalhando odor nos recintos.

  2. Alguns discípulos se aproximam de Mim e dizem: “Senhor, embora tenham aceito nossa fé e convicção, os romanos continuam com os mesmos hábitos pagãos! Esses óleos e pomadas são caríssi- mos! Seria oportuno usarem água limpa e empregar o dinheiro com os necessitados!”

  3. Digo Eu: “Quem fizer aos pobres o que fazem os romanos, terá direito de cuidar do corpo como foi habituado desde criança. Eu não reparo a maneira pela qual alguém faz a higiene, mas unica- mente se o coração se acha limpo diante de Mim.

  1. Ao divulgardes o Meu Evangelho, deixai os povos com seus hábitos; basta que cada um creia em Mim e em Meu Nome, viven- do Minha Doutrina. O corpo deve ser alimentado e tratado como sempre fez, a fim de continuar disposto e saudável.

  2. Em suma, aceitai o que Eu tolero. O que vos aconselhei para salvação da alma deveis passar aos que Meu Espírito vos levar, sem vos aborrecer pela não aceitação!

  3. Além disto, deveis comer de tudo que vos oferecem, sem fa- zer alarde com o judaísmo externo, sem valor para Mim; agi dentro do espírito do judaísmo interno e verdadeiro, que sereis Meus verda- deiros discípulos. Assim terei prazer convosco e com vossas obras, e ficarei, em Espírito, em vossa companhia até o fim dos tempos desta Terra! Compreendestes?”

  4. Manifesta-se João: “Senhor, afirmas constantemente: Até o fim dos tempos desta Terra! Que será depois? Estaremos até lá neste planeta, com a missão do Evangelho?”

  5. Respondo com amabilidade ao Meu Amado: “Como podes apresentar ideias tão infantis! Fisicamente, vivereis o tempo de um homem comum. Espiritualmente, continuareis agindo com todos os Meus seguidores — principalmente, porém, para todo o sempre Comigo nos Meus Céus. De lá podereis influenciar muito mais as criaturas desta Terra.

  6. O fim dos tempos da Terra é algo inconcebível para vós; pois toda matéria telúrica consiste de almas condenadas, à espera de li- bertação. Calculai um átomo para a substância de uma alma e que, num ano, pode se libertar somente um bilhão de almas, pelo ca- minho já várias vezes demonstrado. Isto porque não pode subsistir maior número no solo terráqueo — e sabereis que o orbe existirá por longo tempo, se bem que sob muitas transformações.

  7. Acresce a isto, receber a matéria telúrica suprimento do Sol e do éter circundante — todavia menor que o elemento anual- mente liberto, facilitando vossa compreensão quanto à duração da Terra. Enfim, tudo é por Mim determinado desde eternidades, e o tempo só se apresenta demorado ao homem encarnado. No Meu

Reino considerareis sua duração sob aspecto mui diverso. Agora, vamos ao ar livre; pois, dentro em pouco, todos os hóspedes vi- rão à sala.”

  1. Levanto-Me em companhia de Pedro, João, André, Jacob e Matheus, quando somos abordados por Lázaro, desejoso de saber a hora do desjejum. Digo Eu: “Ao surgir da aurora, pois passarei até a noite noutro local. Serás informado em tempo.” Assim foi e Lázaro nos acompanha após ter dado ordens.

101.OBANDODE GROUS

  1. A uns mil metros distantes de Bethânia, havia uma colina igualmente pertencente a Lázaro. Para lá nos dirigimos e, do alto, vimos considerável bando de grous, fato que despertou estranheza a Lázaro, pois dizia ser hábito deles aparecerem geralmente à tarde. Essas aves têm forte instinto e pressentem, dias antes, qualquer alte- ração atmosférica; aprontam-se então para a partida e, a um sinal do guia, todas se levantam em busca de outro local.

  2. Digo Eu: “Observaste bem a natureza dessas aves; mas aqui demonstram outra coisa. Se fosses perito no antigo conhecimento da relação com o mundo dos espíritos e dos sentidos — o que ainda alcançarás — entenderias a significação desse fenômeno. Assim, só entendes o resultado das experiências. Prestai todos atenção à atitu- de dessas aves, geralmente ariscas, quando aqui passarem!”

  3. Fixamos o bando que se aproxima numa ordem belíssima. São mais ou menos cem aves em fila, sendo sete a formarem uma carreira angular de guias mais fortes e machos.

  4. Ao se encontrar o bando acima de nossas cabeças, a conside- rável altura, para, faz a formação e todas começam a baixar o voo em círculo, até atingirem sete alturas humanas, demonstrando ati- tude honrosa com seu canto não mui harmonioso. Isto leva alguns minutos e, em seguida, descem ao vale onde existe um grande lago, no qual Lázaro cria peixes comuns. Lá os grous se suprem de água necessária à continuação da viagem. Isto feito, os sete guias dão sinal

de partida e todos se levantam incontinenti e, para despedida, fazem algumas circunvoluções sobre nossa colina. Em seguida, sobem em círculos até a altura anterior, organizam-se na mesma formação em direção ao Nordeste. Somente após considerável distância, alteram sua posição para Sudoeste.

  1. Diz Lázaro: “Senhor, observando com justa atenção, é per- feito milagre!”

  2. Digo Eu: “Que explicação intuitiva Me darás?”

  3. Responde ele: “Partindo do ponto de vista natural, também foi extraordinário, pois os grous são mui perspicazes e sentem que os homens, mormente judeus, não lhes demonstram amizade. Além disto, nunca se viu aproximação semelhante.

  4. Na Grécia, onde se presta veneração divina aos grous, não constitui raridade sua aproximação dos homens. Aqui certamente perceberam QuemSe encontra nesta colina, de sorte que vieram cumprimentar e honrar o Seu Criador.

  5. Além disto, o meu lago nunca foi considerado por eles, que só bebem água do mar; não resta dúvida terem pressentido que Tu abençoaste a água lodosa através de Tua Vontade Santa e Onipoten- te. Por isto, Te agradeceram com a descida e pelo canto forte; assim fortalecidos, prosseguiram seu voo.

  6. O fato de não terem prontamente tomado a direção Sudo- este parece ser motivado pelo forte instinto, quase beirando nosso raciocínio; pois, em tal direção, se teriam aproximado do Mar Mor- to, cuja exalação nociva e de vasta extensão poderia tê-los prejudi- cado. Segundo meu critério, é isto verdadeiro milagre para quem estiver, desde a infância, habituado a observar os fenômenos da Na- tureza com olhar perscrutador. Tenho razão?”

  7. Digo Eu: “Sim, irmão e amigo, assim é, partindo do ponto de vista natural. Nele oculta-se uma sabedoria incrivelmente pro- funda, perceptível apenas a quem se acha na visão e no sentimen- to espirituais, tendo vencido a morte de sua matéria à medida que exercia perturbação e pavor. Antes que os hóspedes nos encontrem, quero elucidar-vos esse ponto.”

102.SENTIDOESPIRITUALDOVOODOS GROUS

  1. (O Senhor): “Tudo nos três reinos da Natureza, inclusive as aparições mais insignificantes, representa escrita e fala para a alma iluminada do homem. O mesmo se dá com o bando de grous. Não resta dúvida terem eles demonstrado certo respeito; todavia, seria absurdo admitir-se que Me tivessem descoberto. A situação é bem outra, e o que vos parecia tão milagroso volta ao natural.

  2. Cada criatura tem, como entidade espiritual, psíquica e físi- ca, uma aura exterior, tal qual em cada corpo cósmico e nos reinos animal e vegetal; sem tal irradiação externa, não subsistiriam plane- ta, mineral, flora e fauna.

  3. Esse fenômeno podeis deduzir pela própria experiência, por- quanto a irradiação provinda da floresta de carvalhos é bem diversa da resultante de cedros. A vibração de que é possuído o homem numa rocha calcária é diferente de outra, em granito. Quem é sensí- vel percebe sensação diversa entre a vinha e um pomar de figueiras. O mesmo ocorre com a aproximação de certos animais e, muito mais pronunciadamente, em determinadas pessoas. O homem sen- sível percebe de longe a aproximação de uma criatura boa ou má.

  4. Os irracionais também o sentem, e alguns de maneira muito mais forte do que um homem materialista, pouco inclinado a medi- tar sobre o Bem e o mal. Quem tiver caráter perfeito e a alma estan- do plena do Espírito Divino, projetará sua irradiação com bastante força e a longa distância. Ainda que se apresentem animais ferozes, são eles influenciados e amainados pela irradiação externa, nada lhe fazendo, podendo submetê-los à sua vontade. Exemplos da veraci- dade de Minhas Palavras encontrareis nos relatos dos patriarcas e profetas; na época atual, já o presenciastes ao Meu lado. Eu Mesmo, e vós Comigo, temos a irradiação mais potente e de projeção mais extensa, em força, qualidade e perfeição!

  5. Os grous, que durante o verão se mantinham nos pântanos e pequenos lagos ao Norte da Grécia, começam a imigrar no outo- no, levados pelo instinto. Perceberam-nos nos brejos mais próximos

devido à nossa irradiação externa, seguindo-nos. Chegando aqui, foram tomados de bem-estar tão poderoso, que os fizeram pairar e descer num êxtase imenso. Sentindo-se como que nutridos, faltou-

-lhes apenas saciarem a sede, suprindo-se para a viagem que os levará às planícies da Índia.

  1. O que, portanto, supúnheis milagroso, foi apenas fato natu- ral, somente perceptível a quem conhece a organização de todos os seres. Não deixa de ser milagre, conquanto não de magia divina pelo conceito dos ignorantes, mas um milagre natural para criaturas de noções espirituais. Se passar aqui outro grupo de grous, assistireis ao mesmo fenômeno, compreendendo-o melhor que este.

  2. Mas qual seria o sentido espiritual do voo daquelas aves? Quem seria capaz de interpretar fiel e compreensivelmente o qua- dro? Eis outra pergunta, por certo mais difícil de ser respondida do que a dedução do suposto milagre.

  3. Essas aves habitam somente nas proximidades de lagos de água límpida; em brejos deteriorados, dificilmente serão vistas. Ali- mentam-se de peixinhos sadios e vivos, e de vermes aquáticos.

  4. A água límpida representa o conhecimento puro e não turva- do da Verdade plena vinda dos Céus. Essas aves são, portanto, quais criaturas ávidas por conhecimentos puros, e sua alma se empenha em saciar-se com peixinhos vivos e sadios (a Palavra viva de Deus) e com vermes aquáticos (experiências do Reino da Natureza).

  5. Em virtude de os grous se interessarem somente com o que é puro, notamos neles uma inteligência e ordem em todas as suas ações. Determinam vigias atentos, que, por vibração especial, de- vem avisar a comunidade caso se aproxime um adversário, percebido pela irradiação projetada a longa distância. Além disto, conhecem a época da emigração, que é sempre executada com grande cautela e ordem, como já pudestes observar.

  6. De igual modo, o próprio homem e finalmente uma gran- de comunidade estabelecerão a melhor ordem, a justa prudência e sabedoria em todas as atitudes, colhendo os melhores êxitos para a vida temporal e eterna.

  1. O voo em linha reta indica o caráter firme e rigoroso, pelo qual jamais o homem se afastará da Verdade aceita; neste delinea- mento espiritual e seguro ele alcança a meta mais rapidamente.

  2. No prosseguimento do voo percebestes, na vanguarda, a li- nha perfeita dos guias — outra prova do alimento puro.

  3. Quando num grupo as almas forem bem alimentadas com a pura Verdade, facilmente descobrirão os mais sábios, entregando-lhes a direção. Continuarão nesta incumbência e, caso um tenha passado ao Além, será substituído pelo mais digno. O espírito do primeiro prosseguirá vigiando a comunidade, como verdadeiro anjo protetor, num intercâmbio de ensinos e orientações, conforme acontecia com os patriarcas e profetas. Assim sendo, tal comunidade bem amparada se encontrará numa constante bem-aventurança celestial.

  4. Somente quem possuir em vida o completo conhecimento espiritual — pelo qual reconhece a si mesmo, a Deus e Seus Planos cheios de amor e sabedoria na plena certeza de uma vida eterna e feliz, portanto desconsidera a morte — pode na Terra alcançar uma felicidade celestial. A criatura que não se encontrar em tal ordem espiritual é assoberbada de dúvidas, amedrontando-se com pensa- mentos de pavor, que procura dissipar e abafar e, no final, atira-se a toda sorte de prazeres sensuais, tornando-se filha do inferno e de seu antigo julgamento.

  5. Os sete guias dos grous demonstram igualmente o número completo do Bem e da Verdade dos Céus de Deus, ou seja, os sete Espíritos Divinos agindo em plena ordem. Por isto, bastam sete di- rigentes em cada comunidade dentro da Ordem dos sete Espíritos em Deus; cada qual terá que possuir os mesmos pela ação, todavia representar um determinado.

  6. Tal comunidade será, perante Deus, qual homem perfeito, semelhante ao que se dá no Céu, constituído de inúmeras comu- nidades, cada qual representando um homem perfeito. A diferença entre elas consiste no acréscimo ou diminuição em suas múltiplas variedades, pelas quais um ou outro espírito divino se apresenta mais desenvolvido.

  1. Dessas variabilidades que atingem o Infinito surgem igual- mente incontáveis formas de Criação material, assim como das sete cores básicas e dos sete sons, simples, podem ser criadas tonalidades e harmonias infinitas e extasiantes.

  2. Havendo demonstrado, neste relato da Natureza e do voo dos grous, uma interpretação espiritual e celeste, subentende-se existir ela igualmente em tudo que se apresenta aos vossos sentidos. Nem o corpo, nem a alma temerosa, mas unicamente o espírito vivo e eterno, de Deus, no coração de vossa alma, poderá forne- cer a chave apropriada! Esforçai-vos no aprimoramento do espírito em vossa alma que a Criação total será um grande Livro aberto, com todas as suas inúmeras manifestações. Lá encontrareis a base do Amor, da Sabedoria e do Poder de Deus, podendo assimilá-los. Compreendestes?”

  3. Respondem todos: “Sim, Senhor, Deus e Mestre desde Eternidades; falaste clara e abertamente. Somente em Tua Escola poderemos nos tornar bons, esclarecidos e sábios!”

103.ACHEGADADOS ROMANOS

  1. Aduz Lázaro: “É realmente lastimável os romanos, tão inte- ressados, não terem assistido a essa aula. Poderemos relatar-lhes algo a respeito da interpretação do voo dos grous?”

  2. Respondo: “Se Eu a tivesse considerado de utilidade para eles, teria tomado providências para tanto; foi necessário para vós o conhecimento dos segredos mais profundos do Reino de Deus, por isso ninguém mais participou.

  3. Precisamente os romanos, e antes deles os gregos, formaram o paganismo e politeísmo dos ensinos e predições dos antigos egíp- cios, os quais sabiam concluir das relações entre o mundo material e espiritual, de sorte que mais da metade dos sacerdotes se ocupa com os fenômenos da Natureza, inventando seus vaticínios. A or- nitomancia, sangue e vísceras de animais abatidos antes do pôr-do-

-sol, ventos, nuvens, posição das estrelas e a coloração da abóbada

celeste lhes servem para tal fim; de manhã, costumam fazer fogo com o qual predizem um mundo de coisas, deixando-se pagar. Se nossos amigos romanos tivessem assistido à Minha Dissertação so- bre a ornitomancia, prontamente teriam formulado quantidade de perguntas de casos pessoais, dos quais alguns se realizaram. Assim Me teriam dado muito trabalho, até que fossem satisfeitos dentro da realidade.

  1. Vivendo dentro de Minha Doutrina, o próprio espírito os levará a todos os conhecimentos. Se fossem sabedores de Minha Ex- plicação, nada mais fariam, ao voltar para Roma, senão observar e adivinhar os fenômenos naturais, caindo em graves erros pela falta da união do espírito com a alma, de grande prejuízo para a evolução interior. Por este motivo, guardai Minha explicação, que eles já vêm aí, pois Raphael os informou de nossa presença.”

  2. Nisto, eles chegam acompanhados dos jovens que, ao Me avistarem, se ajoelham, louvando-Me como Bom Pai. Somente os templários convertidos, cujas famílias se encontravam em Bethânia, eram por elas requisitados com a Minha Permissão. No desjejum, entramos em contato com todos.

  3. Os romanos Me cumprimentam com amabilidade e Agríco- la diz: “Que alegria por ter-Te encontrado, Senhor, provando que não nos abandonaste Pessoalmente! Ficamos aflitos quando não Te vimos em casa, julgando tivesses partido com os poucos discípulos. Os demais compartilhavam de nossa ideia, porquanto não havias falado sobre Teus Planos. Finalmente, o belo arcanjo nos informou de Tua Presença!”

  4. Digo Eu: “Também estou contente por terdes chegado an- tes da aurora; quem se alegra Comigo e Me ama, desperta Minha Alegria e Meu Amor. Épocas virão em que as criaturas também Me procurarão, não tendo a mesma facilidade que vós.

  5. Quem Me procurar no coração, com todo rigor e ação den- tro do Verbo, encontrar-Me-á com facilidade e máxima alegria, não mais Me perdendo; por certos momentos ocultarei Minha Face para experimentar seu amor e paciência, sem contudo abandoná-lo.

  1. Felizes os que forem muito experimentados, pois nisto re- conhecerão o quanto os amo! Quem for escolhido passa grandes provações e receberá incumbências importantes no Meu Reino; quem, em virtude de sua fraqueza, sofrer poucas provações terá ta- refas menores.

  2. Vós todos tereis que passar por muitas provas por causa do Meu Nome e da Verdade, e a vossa paciência, como tendência mais fraca, não escapará da prova de fogo. Quando chegar tal momen- to, lembrai-vos deste monte e do que vos avisei; no íntimo, estejais certos de que virei em Espírito para fortalecer-vos e ajudar-vos! Re- cordai-vos bem! Nestes dias, e também no futuro, o Meu Reino será violentado, e só o conseguirão os que dele se apossarem com violên- cia. Quanto a épocas vindouras, direi uma parábola.”

104.PARÁBOLADOVIANDANTE FAMINTO

  1. (O Senhor): “Houve um homem que, durante a peregrina- ção, sentiu fome aguda. Caminhando sempre, chegou a um alber- gue, altas horas da noite. Os moradores dormiam, e ele começou a bater na porta e nas janelas. Depois de algum tempo, o tavoleiro chegou à janela e, irritado, perguntou o que havia, diante de tanta impertinência por parte do peregrino!

  2. Este respondeu: ‘Senhor, venho de longe, e nada comi nem bebi durante o dia, pois não achei casa ou albergue no deserto. Peço-

-te misericórdia e que me dês um pão — do contrário, sucumbirei!’

  1. Respondeu o dono da casa: ‘Que ideia, exigir-me pão a essas horas! Espera até amanhã!’ O outro não se conformou, insistindo cada vez mais por um pedaço de pão. Finalmente, o hospedeiro ce- deu; não por misericórdia, mas por causa dos rogos impertinentes àquela hora.

  2. Deste quadro podeis perceber como uma criatura, durante a peregrinação pela vida, não encontrou alimento para a existência de sua alma no caminho estéril do deserto; chegando à obscuridão da vida, descobriu, pela insistência, uma tavolagem, na qual tinha

certeza de encontrar o Pão da Vida! Começou a bater e pedir, até que recebeu, no final, o que tinha procurado baldadamente no de- serto do mundo.

  1. Nisto se entende a conquista do Reino de Deus, com violên- cia, na época de hoje e muito mais em tempos futuros de completa cegueira. Quem procurar há de achar a Verdade, caso não estacio- ne no caminho deserto. A quem bater à porta, ainda que de noite, abrir-se-lhe-á, e, pedindo com insistência, será atendido! Entendes- tes este quadro?”

  2. Responde Agrícola: “Entendemo-lo bem, Senhor; todavia, a conclusão não é confortadora. É bem verdade serem necessários enormes sacrifícios e esforços antecipados para a conquista de uma grande felicidade. Possuindo uma fé firme e rigorosa pela qual se viva dentro de Tua Doutrina — o que a meu ver não é tão difícil, porquanto afirmas ser Teu Jugo suave e Teu Fardo leve — confesso não encontrar conforto em Tuas Palavras acima.

  3. Compreendo que a divulgação da Doutrina, ainda que di- vina, traga lutas e até mesmo guerras sangrentas. Se, em virtude do livre arbítrio, os muitos diabos e escassos anjos têm o mesmo direito dentro da Lei, é lógico ser preciso aplicar-se violência na conquista do Reino de Deus. Quanto à promessa do jugo suave e do fardo leve, acho-os em desacordo com a violência. Por isto, desejaria ex- plicação maior.”

105.AVIOLÊNCIAASERAPLICADANACONQUISTADO CÉU

  1. Digo Eu: “Meu amigo, ao de boa vontade, todo trabalho e esforço são suaves e leves. Se temes o esforço numa empresa de responsabilidade, dificilmente chegarás ao lucro desejado; esforço e trabalho são justamente a violência a ser empregada por todos!

  2. Vós mesmos empregais violência ao Reino de Deus; sendo firme vosso propósito, não tendes receio de esforço e sacrifício, e Meu Jugo vos parecerá suave e o Fardo leve. Considera apenas que, por amor a Mim, levarás o grande grupo de jovens para Roma, a fim

de zelar por eles em Meu Nome. Além disto, vos acompanharão a pobre família de Emaús, a de Hélias e vários templários com seus familiares. Nisto aplicais grande violência ao Reino de Deus, como pagãos, e esta força será aumentada, porque vossa fé em Mim, o grande amor para Comigo e a vontade firme vos induzirão a fazer mais ainda! Será isto um Jugo suave e um Fardo leve, porque é fei- to com amor.

  1. Considerando tudo isto racionalmente, verás que Jugo suave, Fardo leve e o próprio Reino de Deus têm o mesmo efeito. Se obser- vares os templários e as criaturas mundanas, pergunto se o que fazeis com tanta facilidade pela conquista do Reino de Deus não seria um esforço enorme para sua vontade, com o qual se poderiam remover montanhas! Mas, caso não aplicarem violência semelhante, de modo algum conquistá-lo-ão!

  2. A situação de hoje será idêntica à do futuro; nunca faltarão, nesta Terra, as criaturas materialistas, às quais Meu Jugo e Fardo não serão leves. E, se no final da vida, se dispõem à conquista do Céu, em sua noite profunda terão que bater nas portas, a fim de recebe- rem algum pão do Céu inferior para satisfazer a fome da alma.

  3. Por isto, receberá muito quem, por Mim, fizer grandes sa- crifícios. Quem, qual viajor noturno, no final de sua peregrinação por este mundo, começar a bater à Minha Porta não será expulso, mas receberá pouco, em virtude do pequeno esforço aplicado na conquista do Céu, pelo qual se interessou somente quando a aflição máxima o obrigou a tanto.

  4. É compreensível que tal criatura aplicou apenas pouco es- forço ao Reino de Deus, portanto não pode aguardar grandes van- tagens; a medida por ela empregada ser-lhe-á restituída. Quem se tiver esforçado muito já em vida, receberá grande poder e força — e vice-versa. Compreendeste?”

106. O ALÉM

  1. Diz Agrícola: “Senhor e Mestre, agora tudo me é claro e Te agradeço do fundo do meu coração por Ensinamento tão profícuo!”

  2. Nisto, começa a clarear no Oeste e a Natureza desperta. As aves entoam cânticos; a brisa matinal sopra mais forte e a enorme superfície do lago se encrespa, manifestando sua alegria à carícia da brisa. A grama brilha com os raios do Sol, a fumaça das chaminés é levada pelo vento — em suma, a manhã é esplendorosa. Entremen- tes, aproxima-se do Oeste um bando de pombos e pousa no lago para beber.

  3. Os romanos se alegram com isto e Marcus diz: “Para nossos adivinhos, isto significa um inverno prematuro, mas de curta dura- ção; pois no mês de Januarius viria a primavera. Muitas vezes deu certo. Tu, como Senhor da Natureza, nos poderás informar melhor, a fim de podermos suplantar os enganos pela Verdade. Que me dizes?”

  4. Respondo: “Amigo, não adianta perder palavras. Todos es- ses sinais foram derivados de experiências antigas e talvez haja algo verídico nelas. No entanto, foram pelos gregos, e mormente pelos romanos, de tal forma deturpadas por aditamentos fantásticos, que perderam sua autenticidade.

  5. Aqui os pombos geralmente vêm de manhã satisfazer a sede, para suprir-se da necessária força para o voo. O motivo por que toda ave necessita de água para voar não podeis compreender. Em futuro longínquo, as criaturas saberão tais segredos. Os pombos já beberam e levantam voo. Deixemo-los!”

  6. Prosseguimos na observação das cenas matutinas, mais vivas pelo aparecimento dos pastores a tocarem os animais para o pasto e os lavradores se dirigindo à lavoura. No horizonte surge quantidade de nuvens denominadas “cirros”, que iluminadas pelo Sol produzem um quadro magnífico.

  7. O romano Marcus, então, exclama: “Senhor, não me lembro de ter visto aurora semelhante e talvez seja correspondente à beleza do Céu verdadeiro!”

  1. Digo Eu: “Meu amigo, tua alma se sente feliz e, por isto, é perdoável fazeres uma comparação entre o Céu real e essa aurora passageira, porquanto não podes fazer ideia da infinita Beleza e Gló- ria dos Céus de Deus. Se Eu te transportasse para lá por um momen- to, não mais poderias viver na Terra. A indescritível formosura, a luz, a vibração amorosa e êxtase mais sublime destruiriam teu corpo e abalariam os sentidos de tua alma a ponto de desmaiares, perma- necendo inerte por muito tempo. Seria preciso Eu tirar a recordação do quadro e o próprio sentimento, do contrário não seria possível viveres fora do Céu. Por isto, têm de ser levadas todas as almas de degrau em degrau, para se tornarem puras como ouro e capacitadas de ingressar nas alegrias infinitas dos Céus de Deus.

  2. Comparada à Luz do Céu, a do Sol é pura treva; todavia, não podes fixar o teu olhar nele e, caso o fizesses apenas por meia hora, ficarias cego. Que aconteceria aos teus olhos se Eu permitisse de verem a Luz mais poderosa e sublime?

  3. Por isso, Meu amigo, é justificável tua alegria na observação dessa manhã radiosa e benéfica; quem sente como tu, tem bom co- ração, portanto é de índole nobre; engano seria supor-se que os Céus Divinos não teriam coisa mais grandiosa para apresentar.”

  4. Diz Marcus: “Senhor e Mestre, quando estávamos reunidos no Monte das Oliveiras, demonstraste-nos, por momentos, falanges de anjos flutuando qual éter luminoso e que testemunhavam de Tua Pessoa. Era aquilo o próprio Céu?”

  5. Respondo: “Sim, porém velado, como se apresenta dian- te de vós, velado, o arcanjo Raphael. Se visses sua glória e beleza puramente celestes, teu físico seria fulminado instantaneamente e tua alma, aturdida por muito tempo. Por esse motivo, sua natureza intrínseca é coberta por uma espécie de veste corpórea, a fim de que suportem sua presença os que por ele são tratados em Meu Nome. Ninguém viu, ouviu e sentiu as alegrias que Deus reserva aos que O amem acima de tudo.

  6. Todos vós estais física e espiritualmente em Minha Presença pela Fé e o Amor, portanto no Céu mais elevado e perfeito; en-

tretanto, nada dele podeis vislumbrar, porque tal visão vos mata- ria enquanto não fordes renascidos em espírito. Tão logo isto tiver acontecido, começareis a perceber a formação do Céu que nascerá do vosso espírito, qual árvore que brota da semente. Agora surgirá o Sol no horizonte, merecendo nossa atenção.” O astro-rei aparece em plena majestade no horizonte, após ter dourado os picos durante meia hora.

107.UTILIDADEDAS MONTANHAS

  1. Diz Marcus: “Senhor e Mestre, coisa estranha que os picos das montanhas, há mais tempo tocados pelos raios solares, estejam cobertos de neve, enquanto vales e planícies esquentam bastante. Na Europa, a Leste de nossa pátria, existem os Alpes, sempre cobertos de gelo e neve; e na Sicília temos um monte cujo centro é cheio de fogo, enquanto o cume é constantemente coberto de neve. Em que se baseia este fenômeno?”

  2. Digo Eu: “Ainda que te dissesse o verdadeiro motivo, não o entenderias; todavia, dar-te-ei resposta. Se deitares ao Sol um pe- daço de metal e um de madeira macia, o primeiro, após algumas horas, estará tão quente que mal o poderás tocar. Na madeira nem perceberás leve aquecimento. Se, por exemplo, tocares as margens rochosas do Mar Morto, estarão quase incandescentes, enquanto a água estará fria.

  3. Como careces dos ensinos preparatórios, só te posso explicar a respeito que os corpos compactos se prestam mais para a absorção do calor derivado da luz. O ar, por sua vez, é mais denso nas pla- nícies do que nos cimos devido à pressão das camadas superiores, razão por que é igualmente mais quente nas baixadas. Eis o motivo simples e natural do referido fenômeno.

  4. Existem outros, incompreensíveis ao teu entendimento. Vi- rão épocas em que os homens calcularão perfeitamente as causas de tais fenômenos. Ainda assim, não estarão mais próximos do Reino de Deus. E vós, ainda que importantes chefes de Governo, estais

longe de compreender o que futuramente até mesmo crianças sabe- rão. Tais cientistas estarão muito afastados do Reino do Céu e, mes- mo que o procurem nas forças reveladas da Natureza, dificilmente o encontrarão. Por isto, procurai primeiro o Reino de Deus e Sua Justiça, que todo o resto vos será dado em tempo oportuno.

  1. Além do mais, podereis guardar o seguinte paralelo: Os cumes elevados são semelhantes aos intelectuais detentores de gran- de luz racional, porém orgulhosos e pretensiosos; andam de cabeças altivas e desprezam os ignorantes, inclusive seus colegas que talvez não ocupem os mesmos cargos governamentais, conquanto sejam superiores em conhecimentos eficientes.

  2. Quanto mais elevada uma montanha fornecendo panorama extenso, tanto mais estéril, fria e coberta de neve e gelo. No Monte Ararate não encontrareis nem uma simples plantinha de musgo; nas elevações menos predominantes haverá musgo e outras ervas mon- tanhosas, e embaixo, arbustos e árvores.

  3. Tal é a situação dos intelectuais e sábios, mormente quan- do desfrutam de posições relevantes; estão cheios de amor-próprio, orgulho, desconsideram os de cargo inferior, são frios, insensíveis e sem amor, a não ser o egoísmo de sua própria situação munda- na. Por isso, são inteiramente estéreis e servem ao chefe de Estado como espécie de ornamento orgulhoso; não obstante sua luz, toda- via sem calor, nada produzem, ao passo que os subalternos prestam serviços pela prática de conhecimentos, e os operários são de maior utilidade.

  4. São as montanhas um deslumbramento a extasiar o forastei- ro; quanto à questão do benefício ao país e quais seus produtos, são tão raros como o solo é estéril. De modo algum quero afirmar sejam as montanhas sem finalidade, pois são mui necessárias em relação ao globo terrestre. Levam a atmosfera a se movimentar em volta do próprio eixo em horas fixas, dia e noite, do contrário ninguém pode- ria subsistir diante da violência da corrente constante. O movimen- to da Terra em redor do seu eixo é, neste local, tão veloz, que nos projeta numa distância de duas horas por segundo, de Leste a Oeste.

  1. Caso fosse o planeta completamente isento de colinas e mon- tanhas, o ar que o circunda estacionaria, entretanto provocaria uma corrente de ar superior aos mais violentos furacões, nos quais não haveria existência possível na superfície.

  2. A Terra possuindo as mais altas e extensas cordilheiras, mor- mente próximo do Equador — denominação usada posteriormente pelos geólogos — cujos picos ultrapassam as nuvens, obrigam o ar à constante movimentação em redor do eixo, por isto nada se percebe da forte corrente. Aliás, já demonstrei que às vezes o ar é levado a determinada corrente percebida pelo vento, e expliquei sua causa.

  3. Eis a finalidade das montanhas. Têm elas, inclusive, neve e gelo em quantidade para outros fins, estudados pelos cientistas do futuro. Por ora não é apropriado iniciar-vos em todos os segredos da Natureza; ainda que o fizesse, não seriam assimilados, por vos faltarem os conhecimentos necessários.

  4. Acrescento apenas que, dentro e em redor da Terra, giram constantemente forças invisíveis, necessárias à vivificação dos reinos mineral, vegetal e animal, do qual o homem participa, e tais forças são organizadas e guiadas pelas montanhas, sua vegetação, natureza e constituição, motivo pelo qual seus moradores são mais saudáveis e fortes que os das planícies.

  5. Acabo de Me fazer professor de ciências naturais à medida de vossas necessidades e para não continuardes nos antigos erros; quando o Espírito da Verdade plena e da Vida se tiver unido à alma, facultar-vos-á toda sabedoria. Entendestes?”

108.IMPORTÂNCIADADOUTRINADO SENHOR

  1. Todos Me agradecem, sendo que Marcus opina: “Agora co- meço a sentir ser indispensável o justo conhecimento da Terra e o que comporta, para se chegar à noção plena de Deus e à Fé viva no Pai; por ele se conclui ser o Criador mui Poderoso, Sábio e Bom.

  2. No estudo da Natureza percebe-se a prova insofismável da Existência de Deus, e tal prova nos leva à fé Nele. Se a isto acresce

Tua Doutrina da sobrevivência da alma e do Reino eterno e vivo de Deus, o homem aplicará Teus Mandamentos, porque também é sabedor daquilo que o espera além-túmulo, caso persista nos erros e maldades.

  1. Falo, não como judeu, mas como pagão vivido, o seguinte: Tua Doutrina do Reino de Deus e da finalidade cósmica e verda- deira da criatura é evidentemente a mais sublime, pura, verdadeira e ao mesmo tempo convincente, e jamais foi ouvida. Torna-se para nós uma felicidade inédita tê-la ouvido pela Tua Própria Boca. Não necessitamos de outra prova da Existência Divina. Somos apenas dez e Pessoalmente não irás a Roma a fim de que todos os pagãos possam reconhecer-Te. Nossos conterrâneos são mui críticos e cre- em somente com provas irredutíveis, fato indispensável, porque o ateísmo é corriqueiro entre os intelectuais e não há pessoa culta que creia num daqueles deuses.

  2. Por isto, opino que as provas da Existência de Deus Úni- co e Verdadeiro têm que ser apresentadas dentro da Natureza e da ordem telúrica, antes da divulgação do Teu Santíssimo Nome e de Tua Doutrina.

  3. A menores é fácil estimular a crença em algo. Homens como os há em Roma etc., é preciso tratar-se de modo diverso. Foi este o motivo por que procurei angariar conhecimentos naturais e Te agra- deço em nome de todos que por mim serão esclarecidos!”

  4. Digo Eu: “Conhecia o móvel de teus pedidos e louvo o teu zelo e boa vontade; vosso trabalho e esforço em Meu Nome serão sempre abençoados, também em Meu Nome!

  5. Todavia, aconselho não ser propícia a procura de Deus em a Natureza; por este meio as criaturas seriam levadas ao pressenti-mentoda Existência de Deus, nunca ao pleno conhecimento e à Fé viva Nele.

  6. Só divulgando Minha Doutrina conforme a recebestes, pura e clara, será facilmente aceita; sendo Minhas Palavras portadoras de Força, Poder e Vida, produzirão outro efeito em corações e almas do que todas as possíveis provas dadas pela Natureza.

  1. Crendo em Mim e vivendo como ensino, as criaturas encon- trarão o verdadeiro professor e guia que as levará à verdade subse- quente. Quem quiser encontrar Deus e Seu eterno Reino da Vida, terá que procurá-Lo no recôndito de seu coração, no Amor a Deus e ao próximo. Quem procurar com insistência, encontrá-Lo-á. Tor- nando-se morno, nem aqui nem no Além achará o que pouco esfor- ço lhe custaria, em vida.

  2. Apresentai primeiro o Meu Verbo Vivo e só então chamai a atenção dos fenômenos e sua ordem na Terra aos que tiverem aceito a Minha Doutrina, que tereis os melhores frutos de esforço e trabalho!

  3. Agora deixemos esta colina para tomarmos o desjejum. Mais tarde, saberemos o programa para hoje.” Sentamo-nos à mesa, farta em peixes, pão e vinho e Eu abençoo os alimentos antes de começarmos. Raphael cuida dos jovens.

109.OSENHORDEIXA BETHÂNIA

  1. Quando estávamos na metade do desjejum, chegam os tem- plários que haviam visitado seus familiares, e Lázaro lhes indica uma mesa vaga onde recebem alimentos. Após todos terminarem, eles se aproximam desculpando-se daquela visita e ao mesmo tempo pe- dem para Eu abençoá-los em seus lares.

  2. Digo-lhes: “Quem crer em Mim, aceitar o Meu Verbo e agir como manda, terá Minha Bênção plena. Tratai que vossas famílias, ainda presas às cerimônias do Templo e considerando hereges a Mim e aos discípulos, venham a crer em Mim e vivam dentro de Minha Doutrina, que Minha Bênção será parte delas. Da maneira como estão e tratando apenas que seus filhos se tornem graduados do siné- drio, não Me dão ensejo de procurá-los e proporcionar-lhes Minha especial Bênção. Doutrinai-as primeiro e amanhã veremos se estão aptas à mesma. Quando Eu voltar à noite, podereis falar-Me!”

  3. Os templários então indagam aonde Eu iria, a fim de que um ou outro Me seguisse em caso de necessidade. Respondo: “Não sur- girá tal situação e, além disto, podeis consultar Raphael, que ficará

com os jovens.” Virando-Me para os demais, prossigo: “Quem tiver vontade, que Me acompanhe!” Todos se levantam, inclusive Maria de Magdala, perguntando se poderia tomar parte.

  1. Digo Eu: “Depende de ti; prefiro que fiques para auxiliar as irmãs de Lázaro no cuidado com os hóspedes. Se alguns vierem de Jerusalém e perguntarem por Mim, nada digais, fazendo com que sigam viagem!”

  2. Assim partimos para a casa do hospedeiro no Vale, onde so- mos recebidos com grande alegria e a mulher dele nos convida para o almoço. Digo Eu: “Minha amiga, tua boa vontade é tanto quanto a ação. Tudo que fizeres aos pobres, em Meu Nome, será considerado feito a Mim. À tarde virão muitas pessoas e algumas perguntarão por Mim; nada deve ser dito e, se indagarem do Meu destino, respondei que não sabeis. Eis o motivo por que não disse, nem aos discípulos, o programa de hoje. À noite voltarei e ficarei por uma hora.”

  3. Todos prometem obedecer, e continuamos em direção ao Sul, encontrando muita gente, na maioria gregos e egípcios, que comerciavam entre Jerusalém e Damasco. Ninguém nos dá atenção. Após uma hora de marcha, Lázaro Me pergunta em surdina: “Se- nhor e Mestre, agora poderias dizer abertamente qual nosso destino; entre nós nenhum Te denunciará.”

  4. Digo Eu: “Iremos para um lugarejo perto de Belém, e lá se- reis informados de tudo.” Responde Lázaro: “É ótimo sabê-lo. Con- vém acelerarmos o passo, que o caminho é longo!”

  5. Respondo: “Ainda assim, chegaremos a tempo; pois também posso percorrer um trajeto longo em pouco tempo!”

  6. Diz Lázaro: “Sei que tudo Te é possível, Senhor! Pergunto apenas para não caminharmos em silêncio e porque cada Palavra Tua me proporciona forças novas.”

  7. Digo Eu: “Falaste bem; Minhas Palavras são Espírito, Força e Vida, plenos! Sigamos calados; enfrentaremos uma corte romana que nos dará algum trabalho!”

110.LIBERTAÇÃODEUMGRUPODE JOVENS

  1. Assim prosseguimos uns três mil passos, quando avistamos os soldados, armados, aproximando-se pela estrada principal. Fazem barulho e levantam tanta poeira, que os envolve numa verdadeira nuvem. Agrícola aconselha desviarmos por um atalho, pois tais tro- pas, às vezes embriagadas, poderiam tornar-se desagradáveis.

  2. Digo Eu: “Tens razão; vês que os romanos são culpados da selvageria de sua soldadesca! Proporcionai-lhes, além do ensino de armas, o da vida pura, para se modificarem!”

  3. Agrícola e os demais romanos gravam esta observação e, quando a tropa se aproxima, procuramos nos desviar. Nada adian- tou, pois os chefes dão ordem de parada e nos perguntam com atre- vimento qual nosso destino.

  4. Adianta-se Agrícola perguntando: “Sabes ler?” Responde o principal chefe: “Claro; do contrário, não seria capitão!” Agrícola tira um pergaminho do bolso, apresenta-o ao outro, que se assusta e pede desculpas. Com energia, Agrícola condena sua atitude atrevida e o outro se junta ao grupo.

  5. Os demais romanos examinam a tropa e descobrem um gru- po de moças e rapazes, de mãos amarradas. Irritado, Agrícola indaga do capitão qual o crime e sua nacionalidade. Confuso, o chefe não sabe responder.

  6. Nisto, os jovens começam a pedir, em hebraico, a libertação daqueles soldados selvagens e cruéis. São filhos de judeus honestos e moram próximo de Belém. Os pais, donos da hospedagem, haviam servido aos soldados dez odres de vinho e trinta pães, exigindo ape- nas setenta moedas por tudo.

  7. Enraivecidos, eles nada pagaram, mas exigiram u’a multa de mil moedas pela exigência dos setenta. Não as possuindo, os velhos pediram clemência. De nada adiantou. Foram amarrados à ombreira da porta e os jovens, igualmente atados, foram levados com a tropa.

  8. Ouvindo o relato, Agrícola quase explode e ordena a liber- tação dos jovens e, virando-se para os tenentes, diz: “É deste modo

que respeitais os direitos dos súditos romanos?! Desconheceis o ju- ramento dos guerreiros que soa: Vive com honra e não ofendas sem motivo; quem te insultar, caso ajas dentro da Lei, deve ser chamado perante a Justiça! — Agistes dentro dessa regra? Quem vos dá direito de saquear as hospedarias, sujeitas à nossa proteção?”

  1. Os outros empalidecem, conhecedores da severidade incle- mente do conhecido militar e pedem misericórdia. Agrícola prosse- gue: “Esses jovens e seus pais também pediram clemência! Se não a praticastes aos inocentes, como a exigis de mim? Tratar-vos-ei quais vis salteadores e assassinos e estes soldados serão escravos de galera! Voltarei para Belém! Darei ordens ao coronel de vossa condenação!”

  2. Nisto, aproximo-Me de Agrícola e digo: “Agiste bem com a libertação dos jovens judeus e pela reprimenda enérgica com os sol- dados embriagados. Não são de todo culpados de sua rudeza, senão quem os enviou para a Galileia. Guardou para si a importância des- tinada à tropa e permitiu que ela se suprisse gratuitamente, ou por bem ou por mal. Sabes que vossos soldados, quando têm permissão para o saque, se tornam quais leões, tigres e hienas. Por isto, sua falta é menor do que parece.

  3. O erro principal e o motivo de tais delitos residem na vossa confiança absoluta nos militares. São providos de todas as prerroga- tivas, dentro das quais cada um se julga imperador, fazendo o que quer, sem se preocupar com as leis de Roma. O chefe militar sendo bom e justo, os distritos sujeitos a ele passam bem. Ai do que se encontrar sob o poder da espada de um chefe concentrado no poder privativo! Eis o que se dá na grande comarca de Belém.

  4. O atual coronel, munido do poder de Roma, só pensa na própria vantagem e dá ordens que jamais visam seu prejuízo. Mas o povo chora e amaldiçoa a tirania e o regime de Roma. Resta agora saber quem, neste caso, será condenado.

  5. Bem sabia que isto ocorria nas proximidades de Belém e aqui vim para sustar essa desgraça. Temos que agir onde está o erro! Ninguém seria ajudado com os castigos desses mercenários. Dá-lhes um corretivo, uma determinada ordem para o futuro e faze-lhes en-

tregar uma importância para a viagem, que chegarão equilibrados ao local do seu destino. Ao coronel, que encontraremos no alber- gue desses jovens, tira a plenipotência e dá-lhe leis, para tudo entrar na ordem!”

  1. Satisfeito, Agrícola diz: “Tens plena razão, Senhor, e darei ordens apropriadas. Apressemo-nos para chegar ao albergue, a fim de socorrermos os velhos.”

  2. Digo Eu: “Já está tudo feito. Os vizinhos os libertaram e eles foram à cidade para denunciar o rapto. Ao lá chegarmos, os filhos encontrarão seus genitores de volta. Dentro em pouco, o coronel enviará um expedicionário em busca dessa tropa, para entregar os jovens que, todavia, vão conosco. Por ele mandarás recado ao chefe para te procurar no albergue.”

  3. Os tenentes haviam assistido à Minha palestra com Agrí- cola e, quando veem que ele Me obedece, fazem menção de se ajo- elhar. Eu lhes digo: “Salvei-vos apenas esta vez; repetindo tais atos, não sereis perdoados. Esperai a solução do caso e, após, segui orde- nadamente!”

  4. Eles Me agradecem e Me chamam de sábio, cujas palavras tinham mais poder que a energia do grande Agrícola. Este lhes ordena permanecerem em Bethânia até a volta dele. Lá recebe- riam pão e vinho pagos por ele, inclusive a importância para o fim da viagem.

111.ACHEGADAAO ALBERGUE

  1. Mal tínhamos caminhado certo trecho, quando um cavaleiro nos aborda, perguntando por uma tropa que conduzia alguns jovens judeus. Agrícola o informa de tudo e o romano volta à cidade, en- quanto prosseguíamos com os jovens.

  2. As cinco meninas, das quais a mais velha conta 17 anos e a menor 10, queixam-se de fortes dores nas mãos, provocadas pelas cordas; e os dois rapazes as acompanham. Passando Minha Mão por cima das deles, pergunto se ainda doíam.

  1. Alegres, todos exclamam: “Bom homem, nada mais senti- mos! Como fizeste isto? Sem óleo, nem unguento! Nossa avó há muito está enferma; talvez pudesses socorrê-la?”

  2. Digo Eu: “Caros filhinhos, lá veremos se pode ser ajudada! Existem outros doentes?”

  3. Respondem: “Como perguntas, dando impressão de saberes que nosso melhor empregado é acometido de febre maligna há mais de meio ano? Já passaste pelo albergue?”

  4. Digo Eu: “Pessoalmente, não; mas, em Espírito, estou em toda parte! Por isto, sei de tudo que se passa, posso ajudar aos afli- tos e necessitados, caso confiem em Deus e ajam dentro de Seus Mandamentos!”

  5. Dizem os jovens: “Como podes saber de tudo? Isto só é pos- sível a Deus! Acaso és profeta? Eles, quando profetizavam, estavam plenos do Espírito Divino!”

  6. Respondo: “Ainda que vos dissesse Quem Sou, não o com- preenderíeis. Quanto ao Espírito de Deus dentro de Mim, tendes razão. Sem Ele, ninguém fará algo de útil. Na companhia de vossos genitores, poderemos travar melhores relações. Lá vêm eles! Queren- do, podeis vos juntar a eles, avisando nossa chegada!”

  7. Enquanto os jovens assim fazem, detínhamo-nos a olhar a paisagem e Lázaro explica as circunjacências. Demoramos uma boa hora, dando tempo ao tavoleiro para preparar o almoço para todos nós. Ao chegarmos na tavolagem, os velhos nos agradecem pela sal- vação dos filhos.

  8. Apontando para Mim, estes dizem: “Eis o salvador milagro- so que curou as nossas mãos pelo passe e prometeu socorrer a vovó e nosso empregado.”

  9. Os genitores se aproximam, agradecem comovidos e ao mesmo tempo oferecem a casa para descanso até o almoço. Digo, pois: “É mais agradável descansar-se à sombra das árvores e, além disto, aqui há bancos e mesas. Além disto, sei que o capitão chegou antes de nós para solucionar um caso com esses dignitários de Roma. Quando tiver terminado seu repasto, poderá vir para tal fim.”

112.ACURANO ALBERGUE

  1. Após este recado, o tavoleiro pede lembrar-Me de sua idosa genitora e do empregado. Digo Eu: “Para Deus tudo é possível! Se credes, eles se curarão sem Eu os tocar, apenas pela Minha Vontade e Palavra!”

  2. Diz ele: “Senhor e Salvador, creio em ti, pois quem fala qual profeta, jamais falou uma inverdade!”

  3. Digo Eu: “Quero, pois, que os enfermos abandonem seus leitos perfeitamente curados! Dai-lhes alimento, para depois se di- rigirem ao ar livre. Nada digais de ter sido Eu o causador disto; mais tarde Me conhecerão!” Quando os familiares se acercam dos curados, estes afirmam que uma forte claridade se tinha espargido sobre eles qual raio; as dores passaram e agora estavam tão fortes a poderem se levantar. Diz o filho da velhinha curada: “Um hós- pede nos falou de vossa cura; podeis tomar alimento e seguir para o ar fresco!” Os dois assim fazem e desejam conhecer o misterioso hóspede. O tavoleiro recomenda paciência para depois do almoço. Entrementes, nos entregávamos a observar o lindo panorama, no qual os romanos se aprofundaram a ponto de esquecerem a presença do coronel de Belém.

113.OHOSPEDEIROFALADOS FARISEUS

  1. Finalmente, o tavoleiro nos vem relatar, com gratidão, a cura dos enfermos e diz: “Não és somente um Salvador jamais visto, mas um grande profeta indispensável para a nossa época. Pois, se os fa- riseus continuarem como até então, toda fé em Deus submergirá.

  2. Os viajantes que por aqui passam falaram-me de um profe- ta poderoso, todavia perseguido pelos templários. Seria infrutífero indagar algo dos que passam por aqui uma vez por semana, pois condenam tudo que tenha aspecto excepcional.

  3. Há poucos dias vimos sinais extraordinários no Céu e pro- curamos informações no sinédrio, crentes que Jehovah Se houvesse

manifestado. Disseram-nos que aquilo era feitiçaria dos essênios por encomenda dos romanos, que pretendiam um levante popular con- tra os chefes judaicos. Nada mais nos restava fazer, senão continuar a vida corriqueira.

  1. Pouco depois vimos surgirem três sóis. A explicação dizia que haveria vento forte e mau tempo. Consta também o aparecimento de uma nova doutrina, divulgada por profeta da Galileia. Quando falei a respeito com um templário, disse-me que tais mistificadores sempre houve, desde que os romanos são nossos senhores.

  2. Por isto, afirmei anteriormente ser necessário o aparecimento de um profeta verdadeiro; do contrário, o pobre perde toda fé. E agora me alegro por ter encontrado um homem como foi Elias. Eis que aparece o coronel; chegou a hora de me afastar.”

  3. Digo Eu: “De modo algum; pois os romanos têm que pales- trar com ele por tua causa. É ele responsável pelo dano que sofreste, de sorte que terás de assistir como prejudicado.”

  4. Diz ele: “Estaria bem. Mas acontece que ele continuará meu superior e, se for condenado, eu sofrerei as consequências.”

  5. Acrescento Eu: “Não te preocupes. Justamente com isto, ele se tornará teu verdadeiro amigo. Já te dei provas da veracidade de Minhas Palavras.”

114.ACUSAÇÕESFEITASA HERODES

  1. Com modéstia, o coronel se encaminha para Agrícola, pe- dindo ordens. Fitando-o com rigor, este diz: “Segundo minhas ex- periências na Palestina, abusas das prerrogativas recebidas em Roma. Ainda hoje tive a prova flagrante! Como te justificarás? Foste acusa- do pelos soldados e por essa família honesta.”

  2. Diz o coronel: “Plenipotenciário do Imperador! Não posso justificar-me, conquanto não tivesse agido estritamente contra os direitos recebidos; poderia ter usado de clemência, caso o quisesse. Desejava apenas fazer pequena economia, e nisto se baseia meu erro, que repararei plenamente.

  1. De maneira alguma poderia supor que a tropa e seus tenentes cometessem tamanho abuso, porquanto nunca deram motivos para queixas. Além disto, já passaram em outra ocasião por este albergue e sempre pagaram suas despesas. Como responsável pela sua condu- ta, indenizarei o dano.”

  2. Diz Agrícola: “Terás feito apenas o que te cabe. No caso de uma reincidência, meu julgamento será outro. Somente numa re- volta seria permitida tal medida, a fim de os soldados poderem en- frentar os rebeldes com maior poder. Ainda assim, convém preferir a temperança à severidade excessiva. Eis minhas ordens para o futuro.

  3. Agora cabe ao hospedeiro determinar o prejuízo e a indeniza- ção pelo mau trato sofrido por ele e sua família. Além do mais, terás de pagar a Lázaro a importância necessária aos soldados. — Podes fazer tua reclamação, hospedeiro!”

  4. Diz este: “Por parte do sábio e milagroso Salvador, recebi benefício enorme e desisto de qualquer pagamento pelo prejuízo material. Depende do coronel querer fazer caridade aos necessitados da redondeza.”

  5. Comovido com a nobreza do homem, Agrícola diz: “É raro ver-se tamanha generosidade, e o coronel saberá corresponder!”

  6. Diz o militar: “Claro que sim! Dentro de uma hora o dinhei- ro será entregue a Lázaro! Em seguida, permiti que eu permaneça em vossa companhia. Também desejo conhecer o homem milagroso e agradecer-lhe pelo pagamento antecipado, que caberia a mim!”

  7. Manifesta-se Lázaro: “Deixai-me falar também! O coronel tornando-se tão altruísta e, além disto, me tendo prestado grande prova de amizade há dez anos atrás, sigo o exemplo do tavoleiro e considero liquidado o débito deste amigo! Que proteja os pobres contra as investidas de Herodes, que nesta zona age com maior violência!”

  8. Aduz o tavoleiro: “Realmente é Herodes nossa grande pra- ga! Teríamos maior simpatia pelo Imperador, caso nos livrasse do Tetrarca. Sabemos que é obrigado a pagar grande tributo a Roma; em compensação, aumenta os impostos, sem dó nem piedade.

Quem não puder pagar, será extorquido de tudo, inclusive de mu- lher e filhos.

  1. Com prazer pagamos o juro anual ao Imperador; é peque- no e sabemos por que é pago. Ele nos dá leis sábias e seu exército mantém a ordem. Herodes exige dez vezes mais; às vezes centupli- ca a importância como feudatário favorecido de Roma, e nada faz nem dá. Dá-nos o Imperador os direitos de resgate do poder do Tetrarca, que, todavia, custa muito dinheiro e atribulações. Os bem situados desta zona já o fizeram; os menos favorecidos, ameaçados constantemente por parte dos sacerdotes, sofrem muito, porque este verdadeiro tirano, enquanto recebe o resgate, aumenta os impostos dos outros, a ponto de eles serem obrigados a pagar o que nós ante- riormente pagávamos.

  2. Assim, tive que entregar-lhe cem moedas anualmente. Quando, há dez anos, me remi por mil moedas de prata, Herodes estava indenizado, porquanto os depositou num agiota. Não satis- feito, ele dividiu as cem moedas entre vintes súditos devedores, dos quais cada um teve que pagar mais cinco. Se fizerem queixa aos romanos, raramente encontram proteção, ouvindo o conselho de resgate. Acresce a isto a questão de consciência contra o amor ao próximo; melhora-se a situação, piorando a de outros.

  3. Expus a situação como é, e peço aos romanos intervenção jurídica! Não há quem não se prontificasse a pagar dez vezes mais ao Imperador, caso fosse libertado da praga herodiana.”

  4. Diz Agrícola: “O Tetrarca já recebeu restrições neste senti- do, que serão aumentadas a esta tua queixa. No momento, nada se pode fazer. Prorrogou seus direitos feudatários por mais dez anos e possui contrato do Imperador. Contudo, influenciaremos o Impera- dor para restringir as maquinações daquele glutão. Antes de tomar qualquer medida, pedirei conselho ao Senhor e Mestre.”

115.ACONDUTADOPOVO JUDAICO

  1. Com isto, Agrícola se dirige a Mim e diz: “Dá-nos orientação dentro de Teu Amor, Graça e Justiça, para sabermos agir em benefí- cio desses homens.”

  2. Digo Eu: “Pouco se pode fazer; dentro de vossas leis, um contrato tem que ser respeitado durante o tempo fixado, caso o con- tratante respeite as condições. Nele não consta que Herodes tenha direito de passar os impostos dos remidos aos não remidos, de sorte que poderá ser impedido nisto. Aliás, Pontius Pilatus já o fez e con- seguiu um inimigo em Herodes, que pouco liga ao Prefeito. Possui o contrato legal e o direito de usar as prerrogativas de um rei, enquan- to não colidirem com as de Roma. Com esta autoridade, de modo algum bem estudada, pode ele exercer os maiores abusos, sem que possais chamá-lo à responsabilidade.

  3. Eu poderia, com um só pensamento, modificar a situação, de sorte que a família de Herodes deixaria de existir. Não o faço, porque é um açoite para a avareza e o orgulho do Povo de Deus.

  4. Quando os judeus se encontravam sob o regime dos Juízes, só pagavam o dízimo e eram o povo mais rico e poderoso. Enchen- do-se de orgulho, exigiram um monarca que ultrapassasse, em bri- lho, pompa e poder, a todos os reis da Terra. Foi-lhes dado o rei, mas com ele sobreveio toda miséria ao povo insatisfeito com o Re- gime Divino.

  5. Eis que os homens começaram a reclamar e gemer pior do que hoje, e muitos pediram socorro a Jehovah. Deus não é qual ho- mem, a modificar uma determinação de hoje para amanhã, pois, se assim fizesse, de há muito não mais haveria nem Terra, nem Sol — e assim manteve o regime pedido. Os soberanos eram sábios e justos enquanto o povo se mantinha dentro das Leis de Deus. Quando co- meçou a rebelar-se, praticando vícios e injustiças, recebeu regentes tolos, duros e injustos.

  6. Quando o povo — com poucas exceções — ingressou no paganismo, foi submetido à prisão babilônica, para sentir o domínio

dos pagãos. Então, voltou ao antigo Deus Único, e Ele o tornou independente e lhe deu guias sábios e justos.

  1. Não demorou, e novamente o povo recaiu nos antigos peca- dos e males, e Deus o colocou como ora merece. Atualmente, Ele Próprio encarnou, como predisseram os profetas, e deseja libertá-lo e fazê-lo feliz para sempre! O povo não crê, ainda que ouça e veja, e persegue o Poderoso Auxiliador. Por isto, Deus permite o suplício, que aumentará a ponto de o povo judaico ser disperso entre os de- mais, sem jamais ter país próprio.

  2. Sendo essa a índole dos judeus, terão que ser atormentados pelos romanos, e muito mais ainda por seus feudatários. Quem for justo e bom, respeitando os Mandamentos de Deus, achará Justiça, Graça e Socorro com Deus e os homens, sem que a cobiça de Hero- des o possa prejudicar, e disto Lázaro e outros podem testemunhar.

  3. Quem for oprimido deve dirigir-se a Deus e pedir ajuda, que lhe será dada, caso se abstenha dos pecados, que atualmente são mais comuns entre judeus que entre pagãos! Eis como andam as coisas, Agrícola, e saberás como agir contra Herodes!”

  4. Diz o romano: “Tudo, Senhor, que for justo para Ti, tam- bém será para mim!”

116.OCORONELEOHOSPEDEIRORECONHECEMO SENHOR

  1. Enquanto palestrava com Agrícola, o coronel, os dois tenen- tes e o hospedeiro Me vinham observando, e o chefe militar Me diz: “Nunca ouvi alguém falar como Tu! Parece-me ocultares alguém! Certamente és o Grande Homem da Galileia, do qual Cornélius e outros me falaram! Não Te aborreças se externo tal pensamento!”

  2. Digo Eu: “De modo algum! Entretanto, é estranho que os pagãos percebam a Luz mais rapidamente do que muitos judeus, destinados a Ela desde o princípio! Seja como for, já determinei que a Luz seja tirada dos judeus e entregue aos pagãos. Por muito tem- po andavam cegos e desejosos da Luz; por isto, A encontraram. Os

judeus se vangloriavam como únicos detentores da Mesma, tornan- do-se cegos, de sorte que é difícil abrir-lhes os olhos.

  1. Minhas Palavras são Luz e Vida, e Minhas Ações provam que Meu Verbo é Vivo, porque o Espírito Nele é eternamente Vivo e Poderoso. Muito antes que algo fosse criado, existia o Verbo que ora ouvis. O Verbo estava com Deus, e Deus Mesmo era o Verbo. O Verbo agora Se tornou Carne e habita entre vós. Eu vim para o que era Meu, e os Meus não Me reconhecem!

  2. Ó cegueira judaica, mormente dos que se espalham no Tem- plo e nas sinagogas! Quando os chamo, nada ouvem e, demons- trando-lhes a grande Luz, não Lhe dão atenção! Ai deles, no Dia do Julgamento que virá sobre Jerusalém! Basta disto!”

  3. Diz o hospedeiro: “Senhor e Mestre, pareces um tanto abor- recido porque não Te reconheci como os pagãos. Mas não me cabe culpa nisto. Digo abertamente que em Ti habita a Plenitude da Di- vindade Personificada, e todos os meus acreditarão. As provas que deste só são possíveis a Deus, pois não haveria criatura que suportas- se Poder e Força do Espírito de Deus e continuasse a viver.

  4. És, portanto, Deus Mesmo. Pois, se o Espírito Divino criou os homens através do Seu Verbo e Vontade com uma alma viva, por que não deveria ser capaz de criar um corpo para Si Mesmo dentro da Ordem do Seu Amor e Sabedoria?! Por essa explicação, Senhor, poderás concluir eu não fazer parte dos judeus embotados, mas acei- to facilmente o que reconheço como Verdade. Não Te aborreças co- migo por ter o coronel, como pagão, percebido antes de mim Quem realmente és!”

  5. Digo Eu: “Não teria vindo junto de ti, caso fosses capaz de Me aborrecer! De há muito sabia o que te sucederia no dia de hoje; por isto, vim com esses amigos para ajudar-te, provando não estar aborrecido, como Amigo mais dedicado. O que te disse anterior- mente vale para todos os judeus, todos os povos da Terra, inclusive os habitantes nas estrelas. Dir-te-ei mais uma coisa da qual deduzirás mais claramente por que Eu, como Primeiro e Verdadeiro Amigo, vim à tua procura.

  1. Próximo da cidade, não longe da estrada, está uma gruta que ainda hoje serve de estábulo para carneiros. Lá nasci, por volta de meia-noite, de uma virgem imaculada, quando o Imperador Augus- to determinou o primeiro censo. A fim de que as criaturas percebes- sem Quem havia nascido, deram-se grandes sinais no Céu e na Terra que por vós, pastores, foram prontamente vistos. Como guarda da- quele pasto, ainda hoje tua propriedade, foste um dos primeiros a chegar à gruta para saudar e honrar o Rei dos Judeus.

  2. Quando ouviste os coros dos anjos, disseste aos companhei- ros: Vede como o rostinho da criança resplandece qual Sol e toda a gruta está iluminada! Não é apenas o Rei dos judeus, mas o Próprio Messias anunciado por todos os profetas! Certamente nos trará a Salvação! Adoremo-Lo, pois! — E começaste a entoar o salmo 67: Deus seja Misericordioso, nos abençoe e faça resplandecer o Seu Semblante sobre nós (Selá), a fim de que possamos reconhecer o Seu Caminho e, entre todos os pagãos, Sua Salvação! Senhor, todos os povos Te rendem louvores. Eles se regozijam e exultam, porque julgarás com equidade, regendo a todos! Todas as nações Te agrade- cem, Senhor! A Terra dará o fruto e Deus nos abençoará, enquanto o mundo temê-Lo-á!

  3. Impulsionado pelo próprio espírito, assim cantaste e, quan- do te tornaste herdeiro da propriedade, fizeste colocar uma pedra na estrada, não longe daqui. Nela gravaste de próprio punho o referido salmo, em hebraico, grego e romano, com tinta indelével, para que todos pudessem entendê-lo.

  4. Concluirás daí que bem te conheço e não estou aborrecido, pois foste justamente o primeiro a Me reconhecer quando nasci, dando-

-Me a justa honra, portanto não serás o último que ora Me reconhece!”

  1. Profundamente comovido, o hospedeiro diz: “Deus, Se- nhor e Mestre! Tive a intuição que assim fosse, quando Te vi; mas não senti ânimo de falar. Como tiveste a Graça de lembrar-me, és indubitavelmente o Mesmo a Quem dirigi o salmo predileto. Que enorme Graça sucedeu em meu lar! Senhor, qual seria o salmo que agora deveria entoar?”

  1. Respondo: “Fiquemos no primeiro, que tudo contém, de acordo com a Verdade eterna, portanto estou satisfeito. Após o al- moço, poderás relatar à família o que se passou. Ainda temos que palestrar.”

117. ORELATODO TAVOLEIRO

  1. (O Senhor): “Há um ano atrás, aqui estive e curei muitos coxos, entrevados e cegos e, quando fui à Galileia, muitos Me acom- panharam até Capernaum. Quiseram coroar-Me rei em virtude das provas patentes. Numa sinagoga em Capernaum, comecei a trans- mitir-lhes palavras profundas referentes ao espírito; eles de imediato se aborreceram, alegando ser dura a Minha Doutrina, não havendo quem a entendesse. Assim Me abandonaram. Tu conheces vários e, por certo, conversastes a respeito, de sorte que queria saber qual o critério daquela gente.”

  2. Diz o tavoleiro: “Senhor, como deveria relatar o que sabes melhor do que eu, a Ti que examinas o íntimo das criaturas?!”

  3. Digo: “Meu amigo, não se trata de Eu sabê-lo ou não, porém de tua própria expressão e completa purificação de pensamentos e palavras! Neste caso, todos teriam que manter-se mudos; uma vez Me reconhecendo, saberiam da Minha Perscrutação do seu íntimo. Quero, todavia, que externes, em poucas palavras, os comentários feitos à Minha Pessoa.”

  4. Diz o judeu: “Seria fácil, Senhor, caso fosse viável diante de todos!” Insisto: “Não importa! Seja como for, fala!” Prossegue ele: “Os que não Te reconheceram diziam seres grande profeta em Jerusalém e, além disto, que fizeste curas inéditas. Acompanharam-Te com dedica- ção, porque viram que não eras amigo dos fariseus. Nada havia a cri- ticar até Capernaum, para onde fugiste quando quiseram declarar-Te rei após a multiplicação dos pães e peixes. Havias abandonado os dis- cípulos; porém, à noite Te juntaste a eles, caminhando sobre as ondas.

  5. Alegres, aguardavam eles o dia seguinte, na expectativa de novos ensinos e milagres. Houve grande decepção em virtude de

uma prédica na sinagoga, cujo teor aborreceu inclusive os apóstolos, que, com exceção de poucos, Te abandonaram. Terias convidado a todos a comerem a Tua Carne e beberem o Teu Sangue, a fim de receberem a Vida Eterna.

  1. Isto foi forte demais, e não pude desaprovar que a multidão, pronta a aceitar algo elevado, abandonou-Te e ainda hoje se queixa da Permissão de Deus por um profeta tão inspirado ter, de súbito, se tornado desvairado.

  2. Certamente quiseste transmitir uma Verdade oculta, à moda dos profetas — o que apenas agora percebo. Se, naquela ocasião, tivesse tomado parte, sem dúvida me afastaria como os demais.

  3. Agora sinto o sentido de Tuas Palavras e julgo que, em breve, iremos saborear materialmente Tua Carne e Teu Sangue, tão logo tenhamos aceito Teu Verbo espiritualmente. Assim, falei como man- daste.” Elogio o tavoleiro e todos se admiram de sua inteligência.

118.OALBERGUEDO JUDEU

  1. Eis que as crianças nos chamam para o almoço e, com prazer, aceitamos o convite. A casa do judeu, uma das mais bonitas e impo- nentes da zona, era construída de lajes esculpidas e possuía dois an- dares acima do térreo. Em cada andar havia três salões enormes, com capacidade para 700 pessoas cada um. Fora disto, trinta quartos, cada um com duas janelas, todavia não acondicionadas com vidra- ças. Em Damasco havia fábricas que produziam pergaminho trans- parente como vidro e, deste modo, essas janelas eram cobertas para impedirem vento e calor, tornando-se algo raro pelo custo. Muitos davam preferência a cortinas coloridas no interior das grades.

  2. Subimos uma escada de mármore, larga e cômoda, ao segun- do andar e entramos no salão principal, onde se havia arrumado uma mesa. Pão especial e o melhor vinho, em taças de ouro e prata, ornamentavam a mesa. O vitelo estava trinchado em diversas baixe- las de prata; e, além disto, havia peixes, galinhas, pombos e cabritos e quantidade de vários frutos.

  1. Os romanos arregalam os olhos e Agrícola diz: “Francamen- te, há muito tempo não vejo tanta riqueza, e a sala de refeição do Imperador não ultrapassa esse luxo!” Quando os romanos acabam de se extasiar, sentamo-nos à mesa, para saborear os pratos bem preparados. Durante a refeição, pouco falamos. Só quando o vinho começa a quebrar os recalques, Agrícola se vira para o hospedeiro e diz: “Acaso albergue como este dá tanto lucro, pois certamente já é construção de teus antepassados?”

  2. Diz ele: “O lucro por ano não deixa de ser considerável; mas não seria possível levantar casa como esta, ainda que se juntasse o lucro de cem anos. As janelas foram feitas por meu pai e por mim. A própria casa é mais antiga do que a cidade de Belém, construída por David.

  3. Consta que Saul, o primeiro Rei dos Judeus, tenha sido o iniciador; quando, após ele, David fora ungido rei por Ordem de Deus, ele a concluiu e nela habitou antes de iniciar a construção da cidade. Nesta casa, escreveu muitos dos salmos nas lajes de mármore branco, dos quais alguns podem ser decifrados por pessoas entendi- das em escrita antiga.

  4. Também baixelas e taças que fiz servir em honra do Senhor são da época de David. Somente ele saberá se assim é. Eu e meus antepassados descendemos de um ramo colateral. Certo é que, na crônica genealógica, que abrange alguns séculos, não consta ter sido essa propriedade comprada. Nem meu avô foi o construtor, mas tudo que dela faz parte, inclusive o terreno, é minha posse, e eu nada devo a alguém.

  5. O serviço de prata e ouro foi, na maior parte, adquirido dos antepassados conhecidos na crônica familiar. Até hoje, em nada contri- buí. Já há de tudo e, além disto, não dou grande valor a tais coisas, que, muito embora deslumbrantes, teremos que deixar. Diante do Juiz Eter- no, somente terão valor os tesouros conquistados pelo cumprimento de Sua Vontade, revelada por Moysés e Seus profetas. Eis meu princí- pio, que respeitarei até o tumulo, principalmente após ter recebido a Grande Graça da Chegada do Senhor. Agora me dirigirei a Ele!”

119. A CARIDADE

  1. Digo Eu: “Já sei o que desejas! Podes mandar vir tua família e o empregado, sem lhes dizer algo a Meu respeito. Quando Eu ti- ver partido, dize-lhes que todos os que creem em Mim e cumprem Meus Mandamentos, por intenso amor a Mim e ao próximo, pela ajuda aos necessitados, terão a Vida Eterna no meu Reino, sem co- meço e sem fim.”

  2. O tavoleiro vai buscar sua família e, ao apresentar-Me, diz: “Curvai-vos profundamente diante do maior Salvador e agradecei-

-Lhe benefício e Graça imensos!”

  1. A mulher e os filhos já Me conheciam, por isto se aproximam com respeito e louvam a Deus por ter dado tamanho poder divino a um homem. Quanto à avó e ao empregado, se desfazem em mani- festações exuberantes.

  2. Digo-lhes, porém: “É justo agradecer-se por um benefício. A maior arte na vida é cumprir-se os Mandamentos de Deus; e a mais meritosa é perdoar de coração a todos os inimigos, fazer o Bem aos que nos desejam mal, orar e abençoar os que nos odeiam e amaldiçoam.

  3. Quem assim agir juntará brasas purificadoras nas cabeças dos inimigos e os transformará em amigos arrependidos; com isso terá a absolvição dos próprios pecados, assemelhando-se aos anjos de Deus, na Terra. Fazei o mesmo, que a Graça e a Bênção de Deus jamais vos deixarão!

  4. Fazendo empréstimos, emprestai também aos pobres incapa- zes de restituí-lo com juros — e encontrareis os juros como grande tesouro no Céu!

  5. Na prática da caridade, não ajais de modo que um outro vos re- presente por juros mais elevados, ou redução do ordenado dos que são obrigados a vos servirem. O bem aos pobres deve ser feito por amor a Deus e ao semelhante, para encontrardes a compensação no Céu!

  6. Se as colheitas forem escassas, não aumenteis o preço do tri- go, não façais o pão menor e pior, e não reduzais o salário do traba- lhador, que tereis toda a Bênção do Alto.

  1. Se em épocas de carestia vos tornardes mesquinhos contra o próximo, Deus reduzirá Sua Bênção nos campos, vinhas e manadas, e assim não podereis acumular tesouros celestes. Lembrai-vos disto e agi deste modo, que tereis a Bênção plena, no tempo e no Espaço!”

  2. Diz o tavoleiro, após algum tempo: “Diante dos olhos do Espírito Onipresente, nada fica oculto! Em nossa família se dizia e agia dentro do seguinte provérbio: Faze o bem aos necessitados, mas não te esqueças de tua própria vantagem! Agora vejo que tal maneira de pensar e agir não corresponde à Tua Ordem Divina, de sorte que farei grande transformação. Se alguém me pedir um empréstimo sem poder pagar juros, e eu sabendo de sua evidente necessidade, emprestar-lhe-ei sem juros e, se for preciso, não exigirei a devolução. Inimigos não tenho; portanto, há pouco que perdoar. Caso venha a tê-los, agirei como mandaste!”

120.OAMORAO PRÓXIMO

  1. Digo Eu: “Farás bem! Dir-te-ei mais alguma coisa, e isto num sentido de parábola: Suponhamos que pretendas encetar longa viagem a negócios. Acontece que no estrangeiro venhas a perder a fortuna, deixando-te desesperado e tristonho.

  2. Alguém percebe tua desdita e diz: Vou ajudar-te; mas no fu- turo é preciso teres mais cuidado e guardar o que é teu. Se puderes restituir-me a importância, terás agido bem. Não o podendo, não serei teu credor!

  3. Confessa que isso te deixaria mui contente, levando-te a lou- var Deus e tão bondosa pessoa; e, caso voltasses feliz — não farias tudo para demonstrar tua gratidão a ele e a Deus?!

  4. Agora imagine a situação de um homem que, do estrangei- ro, viesse a queixar-se de sua infelicidade, contando que, durante a viagem a negócios, fora assaltado e os ladrões lhe tiraram vinte libras de ouro e mil moedas desse país, a ponto de não saber como agir. Então lhe dirias: Amigo, vou ajudar-te! Não precisas dar-me teu nome, país e cidade, enquanto poderás saber do meu nome. Se

algum dia puderes devolver-me a importância, farás bem diante de Deus e dos homens justos. Não te sendo possível, não fará diferença!

  1. Quem pratica tais atos de caridade, sem interesse pessoal, apenas por amor ao próximo, é amigo especial de Deus e, seme- lhante aos anjos celestes, detentor da plenitude do Reino de Deus no coração!

  2. Um estrangeiro pobre é mais pobre do que um radicado no país, que facilmente encontrará socorro entre amigos. Um estrangei- ro parece uma criança, incapaz de transmitir sua aflição, senão pelo choro. Por isto, sede misericordiosos com estranhos, que achareis misericórdia e acolhida no Céu. Por enquanto, sois ainda estrangei- ros fracassados na caminhada terrena. Que Me dizes?”

  3. Responde o tavoleiro: “Senhor e Mestre! Que poderei dizer? É a pura verdade, e só nos cabe aplicar seu sentido divino em épo- ca oportuna. O que me agradaria, caso viesse a passar necessidades no estrangeiro, é meu dever para com estranhos. Muito embora de hábitos e crenças diversas, tal não deve ser por mim considerado, como fazem os fariseus, afirmando que um verdadeiro judeu deve tratar todos os pagãos com cães. E quem fizesse caridade a um pa- gão, atrairia a Ira Divina, proscrevendo sua alma aos demônios! Se eu fizer um favor a um pagão, continuo a ser judeu e demonstrei apenas como ele também poderá se tornar judeu.

  4. Amor e meiguice verdadeiros ensinam e convencem mais que ira e vingança contra quem se acha na ignorância sem culpa. Seria desumano odiar-se e fugir-se de um homem cego; pior, porém, des- prezar-se os espiritualmente cegos e não querer ajudá-los.

  5. Que os judeus se apresentem descorteses e ásperos, cabe cul- pa somente aos sacerdotes. Agora vou mudar de tática. Tua Palavra, Senhor, determinará minha ordem doméstica e tratarei que meus vizinhos sigam-me no exemplo!”

  1. Digo Eu: “Falaste bem. A cegueira dos fariseus é culpada de todos os erros entre judeus. São guias cegos de cegos que, ao che- garem num precipício, tombarão. Por isto, só deveis aceitar o que dizem de Moysés e dos profetas. Detestai as instituições farisaicas, assim como suas obras maldosas.

  2. Consta que os assentos de Moysés e Aaron são ocupados por anciãos, escribas e fariseus. Que assim seja! Mas aceitai apenas o que disserem de Moysés e Aaron; todo o resto considerai qual sepul- cro caiado, com brilho externo, mas no interior está cheio de mofo, podridão e morte.

  3. Demonstrei o mais necessário dentro da Verdade plena. Se assim viverdes, lucrareis o prêmio prometido. Tenho Poder para tan- to e também posso curar todas as moléstias, pela Palavra e Vontade, e vivificar os mortos. Os que aqui estão poderão dar testemunho e assim farão quando Eu voltar de onde vim. Agora vamos percorrer a tua casa.”

121.AANTIGACASA REAL

  1. Diz o hospedeiro: “Ó Senhor, isto é honra e Graça demasia- das; pois, até hoje, nada fiz de bom para a Vida Eterna!”

  2. Digo Eu: “Amigo, Deus não considera o que fizeste ou dei- xaste de fazer na restrição de tua visão e vontade internas. Ele só observa o que farás daqui por diante. Percebendo tua boa vontade, podes alegrar-te com Sua Graça e Salvação plena. Se Eu não te co- nhecesse antes que tu a Mim, não teria vindo aqui.”

  3. Satisfeito, o judeu manda abrir todas as salas e quartos do andar. Primeiro, dirigimo-nos à direita, ao grande salão abarrotado de riquezas e objetos históricos. Na parede em direção ao Sul, havia uma grande placa de mármore na qual se lia o 8° salmo, cuja tradu- ção é a seguinte: Senhor, nosso Soberano, quão maravilhoso é Teu Nome em todos os países, onde Te louvam como no Céu! Da boca das crianças e dos lactantes (pagãos), preparaste um poder contra Teus inimigos (fariseus e escribas), a fim de exterminares esses vin-

gativos. Eu, David (o povo judaico ainda fiel), verei os Céus, obra de Teus Dedos, a Lua e as estrelas. (O Céu é a Doutrina; os dedos, a Humanização do Senhor; a Lua, o Amor Dele para com as criaturas; e as estrelas, as inúmeras Verdades surgidas do Amor).

  1. Que vem a ser o homem para que Te lembres dele, e o filho do homem, para que o aceites? (Homem é a Humanidade total, e filho, fraqueza e ignorância da mesma). Por algum tempo o deixarás abandonado; para depois coroá-lo com honra e distintivos. (Vede a época pecaminosa de Babilônia. ‘Ele’ é a cristandade sem a luz inter- na de Deus). Fá-lo-ás senhor da Obra de Tuas Mãos; tudo puseste a seus pés: (‘Nele’ se entenda o Senhor do ponto de vista da Doutrina pura dos Céus, que finalmente tudo iluminará e regerá) ovelhas e bois, inclusive animais selvagens; as aves debaixo do Céu, e os peixes do mar e tudo que nele existe (subentende-se todas as gerações da Terra). Ricos e pobres, jovens e velhos, intelectuais e incultos, fortes e fracos se alegrarão na Luz vivificante dos Céus. Senhor, quão ma- ravilhoso é Teu Nome em todos os países!

  2. Terminando Eu a leitura, todos Me agradecem e o hospedeiro pede breve explicação do salmo, pois lhe parece conter sentido profético.

  3. Digo Eu: “Novamente julgaste certo e te demonstrarei o sen- tido oculto da Verdade. Todavia, não o entenderás, porque David falava de futuro longínquo.” Explico, pois, o salmo conforme se lê acima. Todos se alegram pela concordância daquilo que já havia pre- dito, noutra ocasião, a respeito de Minha Doutrina. O hospedei- ro abre um armário antiquíssimo feito de cedro e ébano, dizendo: “Aqui se achavam escritos e apontamentos do grande e poderoso rei, dos quais nada mais existe. Uso o móvel para guardar as pre- ciosidades daquela época.” Abriu várias divisões secretas e mostrou um maço de cordas feitas por David, uma funda, várias pedras, uma lança, quadro para escrever, sendo tudo observado com grande in- teresse por parte dos romanos, e o hospedeiro Me pergunta se essas relíquias eram autênticas.

  4. Respondo: “Não importa se são autênticas ou não; pois, para as criaturas inclinadas apenas ao espírito das Verdades provin-

das de Deus, tudo isso não tem valor. O valor real da herança do sábio rei dos judeus é o espírito de seus escritos e salmos, e o que a Crônica guardou de seus atos. No Além, o homem só logrará existência feliz daquilo que conquistar pelas boas obras, na Von- tade de Deus.

  1. Aliás, não se prejudica uma alma nobre e pura pelo Bem apli- cado a outrem, caso sinta alegria com objetos históricos; deve abster-

-se do culto por coisas mortas e sem valor para ela. Quem venerasse tais coisas praticaria idolatria prejudicial e cairia em toda sorte de superstição, semelhante ao paganismo trevoso. É preciso reprimi-lo em virtude do Reino de Deus que ora se aproxima de todos, a fim de que não possa o paganismo criar raízes na Boa Nova, vilipendiando e deturpando-a. Só assim seria possível impedir-se a antecipação do sentido oculto do salmo acima, falando de uma época em que as criaturas cairão da superstição ao ateísmo.

  1. Por isso, mostrai essas relíquias apenas aos que não alimen- tam crendices absurdas, considerando-as como simples objetos his- tóricos, sem atribuir-lhes poder de cura milagrosa.

  2. Vê as montanhas e rochas! São obras do Poder e da Sabedo- ria de Deus, de idade incalculável e, como tais, muito importantes, mais do que as obras humanas. Quem seria capaz de venerá-las ou até mesmo adorá-las pelos motivos acima?! São e serão matéria de utilidade à Terra.

  3. Essas relíquias só têm utilidade como prova da História, à medida que possam ser consideradas legítimas, coisa não fácil para criaturas interessadas apenas pela pura Verdade. Esses objetos são genuínos; mas, ainda que Eu te assegure disso, não aumenta o seu valor. Podes trancar o armário e levar-nos ao outro salão, por causa dos romanos!”

122.OSENHOREXPLICAO SALMO

  1. Entrando noutro salão, vimo-lo igualmente abarrotado de tesouros e relíquias, a gosto dos romanos. Agrícola, então, diz: “Amigo, tu e teus descendentes deveriam ter se mantido sumamente calados a respeito de vossa fortuna; do contrário, teríamos tido no- tícia em Roma. Tem duplo valor: primeiro, porque constitui-se de metais e pedras preciosas, inclusive pérolas; segundo, pela História dos judeus.”

  2. Diz o tavoleiro: “É realmente necessário guardar silêncio, não por vós, mas pelos sacerdotes. Se soubessem disso aqui, não nos teriam deixado em paz e até mesmo carregariam muita coisa para fins egoísticos. Não sou importunado porque gozo da proteção romana. Neste andar, raras vezes acomodo viajantes; há recintos de sobra no primeiro e no térreo. De ladrões nada temo. A casa tem muro forte e alto e, além disto, é o povo da zona honesto. Aqui está outra gravação. O Senhor poderá traduzi-la.”

  3. Digo Eu: “Pois não! Será mais interessante do que admirar- mos os antigos tesouros, sem valor para alma e espírito. No futuro, juntai apenas os que não podem ser destruídos pela ferrugem e co- midos pelas traças. De que adiantariam ao homem todos os tesouros do mundo, se prejudicassem sua alma?! Se nela for depositado o gérmen da morte pelo amor aos bens terrenos, pelo qual ingressa na morte material — quem a salvará dos ígneos braços do julgamento, resultado de amor e vida fictícios da alma?”

  4. Obsta o judeu: “Senhor, para Deus todas as coisas são possíveis!”

  5. Concordo: “Sim; mas na Eternidade tudo progride mui- to mais vagarosamente que na Terra, onde tudo é passageiro, facilmente mutável e até mesmo deixa de existir em sua parti- cularidade.

  6. No Reino do espírito não existe menção de tempo e não po- derás dizer: Amanhã farei isso ou aquilo!, pois tudo já se acha como ação e obra feita dentro da alma. Se o resultado é mau, de onde se

suprirá ela de nova matéria e outra compreensão, a fim de trans- formar o mal?

  1. É permitido às almas a transformação; todavia, levará tempo enorme para uma alma enterrada no mundo e, no final, o êxito é pequeno. O amor é a vida da alma. Sendo espiritual e bom den- tro da Ordem de Deus, a alma terá existência verdadeira e perfeita, podendo viver em grande clareza. O amor da alma sendo material, portanto morto, a vida psíquica corresponde ao amor.

  2. Tal existência não pode ser real, mas apenas fictícia. Assim sendo, é tampouco a Vida Eterna, porque não pode subsistir na mal- dade. Terá que mudar, ou para o bem ou, no pior caso, para o com- pletamente mal, que representa a condenação categórica e a morte eterna, de cujos laços dificilmente a alma se liberta, como uma pedra jamais se tornará fonte cristalina.

  3. Por isso, não ameis o mundo; fugi dele com suas tentações e aproveitai os tesouros para obras de caridade, que recebereis os verdadeiros para alma e espírito. Agora veremos o que David gravou nesta placa.

  4. Consta: O Senhor é Soberano e majestosamente vestido em Amor, Sabedoria e Poder; Ele está vestido e fundou um Reino (o Reino de Deus na Terra), tão grande como o mundo e, de tal for- ma, que durará para sempre. Desde então, o trono está firme (da Verdade e da Vida); Tu, Senhor, és Eterno! As torrentes d’água se levantam; elas elevam seu ruído e suas ondas; as vagas no mar são enormes e fazem estrondo horrível. Mas o Senhor nas Alturas é mais Poderoso. Tua Palavra é justa Doutrina e a Santidade é a Honra de Tua Casa, eternamente.

  5. Eis o salmo curto, mas importante, que nesta época se esparge em luz oculta, iluminando o futuro. O Trono da Verdade Eterna será erigido para a Terra toda e subsistirá; as enxurradas dos hipócritas, mentirosos, fariseus e falsos profetas também se erguem e começam a rugir contra a Verdade, vinda dos Céus para junto dos homens, e querem abafar a Luz. Igualmente as ondas do mar cresce- ram, fazendo estrondo horrível.

  1. Isso indica as grandes lutas futuras entre Luz e treva; mas a Verdade do Senhor está acima e finalmente vencerá sobre tudo que é falso e mau. A arma será a Palavra pura da Boca de Deus, uma Doutrina justa da Vida, subsistindo eternamente. Assim como Deus é Eterno e Poderoso, também o é Seu Verbo. Assim como a Santidade é a Luz e a Glória de Deus, também o é a de Sua Pala- vra e Verbo.

  2. A Casa de Deus não é o Templo morto de Jerusalém, mas as próprias criaturas que ouvem a Palavra de Deus, a aceitam e vivem como a mesma ensina. Eis a explicação do salmo. Chegou vossa vez de confirmar a compreensão.”

  3. Diz o hospedeiro: “Quem não haveria de compreendê-lo? Pois aquilo que David escreveu, inspirado pelo Espírito Divino, en- contra-se diante de nós e revela presente e futuro. Feliz daquele que recebe a Luz, cultivando-a em benefício dos familiares.”

  4. Digo Eu: “Tens razão. Mas quem possuir justo conhecimen- to, não deve mantê-lo oculto, mas fazer irradiá-lo para além de sua casa. Se isto fizerem muitas famílias, as trevas espirituais diminuirão e a noite se transformará em dia. Vamos ver os demais salões neste andar.”

123.OBSERVAÇÕES HISTÓRICAS

  1. Acabamos, assim, de percorrer todos os salões, enfeitados com preciosidades. Voltando ao refeitório, os romanos dizem: “Re- almente, eis um palácio imperial que indica a antiga grandiosidade do povo judaico. Admira-nos como foi possível poupá-lo durante o domínio da Babilônia que durante quarenta anos atingiu os judeus. Não teria o rei da Babilônia tido conhecimento dos grandes tesouros desse país, quando destruiu o Templo?”

  2. Responde o hospedeiro: “Segundo a Crônica, o palácio foi ocupado pelos babilônicos, que faziam incursões em Jerusalém, nas quarenta cidades, Samaria e Galileia. Essa zona de Belém, mui po- bre, pouco os interessava, satisfazendo-se com pequeno tributo. Não prendiam os moradores, exigindo apenas submissão e pleno reco-

nhecimento legal do regime babilônico. Aceitando tais condições, não se era molestado; caso contrário, exterminavam tudo. Além do mais, Deus protegeu essa zona fiel a Ele.”

  1. Diz Agrícola: “É bem possível que assim fosse. Se eles, como senhores da Judeia, tivessem massacrado a todos, quem iria pagar-

-lhes tributo? Certo é que levaram reféns dos mais importantes ju- deus para a sua terra. Quanto ao bom trato dos vencidos, os roma- nos também procuram tratá-los como amigos.”

  1. Em seguida, o judeu pede sigilo aos pagãos do que acabavam de ver, quando chegassem a Roma, e Agrícola o acalma: “Não te pre- ocupes; consideramos o direito de posse e nossas leis crucificam la- drões, salteadores, assassinos e traidores. Procura fazer o Bem como aconselhou o Senhor, que terás sossego. Também cremos Nele e no cumprimento de Suas Promessas.”

  2. Assim, ficamos mais algumas horas em companhia do hospe- deiro, que Me pede não esquecer sua família, caso viesse novamente a sofrer qualquer calamidade. Eu lhe prometo isto, e ele nos acom- panha à Bethânia.

124.IRRITAÇÃODOSDISCÍPULOSDE JOÃO

  1. Lá chegamos à noitinha, encontrando tudo preparado na casa de Lázaro, porque Raphael avisara de nossa volta. Depois se- guimos caminho. Os romanos abordam diversos assuntos com os hospedeiros em nossa companhia, e os discípulos também fazem várias observações quanto aos acontecimentos passados.

  2. Eu Mesmo pouco falo e vou na vanguarda, para chegarmos a tempo em casa do hospedeiro no vale, a quem havia prometido voltar. Após algumas horas, lá estamos e ele nos faz servir uma pe- quena refeição. Aceito por causa dos outros, que não se atreveriam a aceitá-la antes de Mim — com exceção de Judas.

  3. Havia alguns adeptos de João Baptista que pretendiam seguir para a Galileia. Mas, quando souberam de Minha Chegada à noite, ficaram à espera. Sentamo-nos no grande refeitório e começamos a

comer; eles, de imediato, se aborrecem, porque não lhes havíamos dado atenção ao entrar.

  1. Um deles se levanta e diz: “Senhor, porventura ignoram Teus discípulos ser preciso lavar as mãos antes de se partir o pão, mormente após uma viagem? É ordem de Moysés e deve ser res- peitada!” Ouvindo esse atrevimento, Meus discípulos e os romanos querem reagir.

  2. Eu os acalmo e digo: “Afastai o aborrecimento de vossa alma; ele macula o coração, produzindo prejuízo. Partir e comer o pão com as mãos não lavadas não profana o homem. Se vós, adeptos de João, vos aborreceis, enquanto sabíeis que Eu aqui chegaria à noite, por que não tratastes de Me honrar, providenciando um depósito com água e as toalhas necessárias?

  3. Vós, discípulos purificados pela água, considerais, como os judeus, a cerimônia externa, lavando-vos sete vezes ao dia para an- dardes de corpo limpo. Vossos corações e almas continuam não pu- rificados, razão por que estais longe do Reino de Deus.

  4. No deserto, João pregou penitência com aspereza, para o per- dão dos pecados; e os que aceitavam sua prédica e se penitenciavam foram batizados no Jordão e ele demonstrou o caminho para Mim, única e exclusivamente indicado para perdoar realmente os pecados! Encontrando-vos diante de Mim, como vos portais com supremacia sobre Mim e Meus discípulos? Acaso João vos ensinou isto?” A essas palavras, o adepto de João Baptista se encabula e não sabe responder.

  5. Adianta-se outro, mais humilde: “Senhor e Mestre, percebi o sentido verdadeiro e sábio em Tuas Palavras; todavia, meu co- ração se entristeceu com a afirmação de estarmos longe do Reino de Deus, enquanto julgávamos estar dentro dele. Que fazer para consegui-lo?”

  6. Digo Eu: “Imitai os Meus discípulos e não julgueis as criatu- ras pelas aparências, senão pelo valor interno. Varrei a soleira de vos- sa porta, sem observardes se a do vizinho está limpa. Só após terdes feito isto podeis dizer-lhe: Amigo, já limpei a soleira de minha porta; se tiveres tempo, faze o mesmo com a tua. Estando muito ocupado,

permite eu limpá-la para ti. Se teu vizinho disser: Peço-te este favor!, poderás varrer a soleira dele; antes, limpa a tua!

  1. Não há discípulo melhor do que o mestre; se, pelo zelo e dedi- cação, se tornar tão perfeito quanto ele, ser-lhe-á idêntico! Neste caso, fará o mesmo que o mestre, deixando de ser discípulo. Nessa qualida- de, estará apto a fazer adeptos, ensinando-lhes sua arte e ciência.

  2. Longe estais da maestria, sendo simplesmente fracos adep- tos de João. Como podeis fazer adeptos e ensinar-lhes o que não é de vossa alçada? Não é antigo preceito ninguém poder dar o que não possui? Como quereis ensinar o conhecimento do Reino de Deus, do qual ainda vos achais afastados? Aprendei primeiro a descobrir o Reino de Deus e Sua Justiça, e do Mestre que o possui e pode confe- rir! Uma vez que o tenhais recebido Dele, podereis passá-lo aos que o procuram, e o justo Mestre vos elogiará e terá grande satisfação convosco e vossos adeptos!

  3. Se um mestre igual a vós, ainda cego, quer tornar-se guia dos outros, onde os levará? Não cairão ambos no abismo, onde ne- nhum deles poderá socorrer o outro?! Querendo ser mestre, apren- dei-o de Quem é realmente Mestre e Professor!”

125.PEDIDODOSADEPTOSDEJOÃO BAPTISTA

  1. Diz o segundo adepto de João: “Reconhecemos seres Mestre e Professor; queira aceitar-nos como adeptos, para tudo aprender- mos de Ti. Em um dia assimilamos mais que num ano, em compa- nhia de João!”

  2. Digo Eu: “Vosso propósito é bom. Antes de aceitar-vos, cha- mo a atenção do seguinte: As aves têm ninhos, as raposas seus covis. Eu, como Filho do homem, não possuo uma pedra, na Terra toda, para descansar a Minha Cabeça! Se, todavia, tiverdes confiança e fé vivas, podereis acompanhar-Me!”

  3. Diz um outro adepto: “Senhor e Mestre, necessitamos so- mente de Tua Doutrina. Nossa manutenção irá por nossa conta. Somos ricos e dispensamos o sustento por parte do mestre.”

  1. Digo Eu: “Não vos falei com intenção de manter-vos afas- tados de Minha mesa, na qual todos nós nos fartamos. Referi-Me à impossibilidade de lucros materiais ao Meu lado. Permito apenas um lucro: o do Reino de Deus e da Vida Eterna. Se, por este motivo, quiserdes seguir-Me, nada vos impede!”

  2. Diz o adepto: “Temos família, propriedades e criações várias, com as quais negociamos sem causar prejuízos. O profeta João, tão severo, permitiu-o e disse que Deus Se comprazia com o trabalho do homem, zelando pelos seus. Tornando-se usurário com os bens dados por Deus, conhecerá Sua Ira.

  3. Assim, entramos em contato com outros e relatamos os ensi- nos de João. Em tais ocasiões, oferecíamos nossa mercadoria, a preço módico. Nisso consiste o nosso ganha-pão, que procurávamos unir ao discipulado. Se for do Teu desagrado nós considerarmos famílias e bens, poderemos nos abster e tomar outras medidas. Externa a Tua Vontade, que a executaremos!”

  4. Digo Eu: “Podereis agir à vontade, pois todo homem tem seu livre arbítrio. Alguém querendo seguir-Me como adepto, para conquistar o Reino de Deus, terá que abandonar bens e família por amor a Mim, até o renascimento espiritual; pois, durante a procuraeapesquisadoReinodeDeus,teráqueentregartodasaspreocupaçõesmundanas Àquele que tudo sabe e cuja Vontade Onipotente tudo pode. O discípulo que ao Meu lado se preocupa com o mundo assemelha-

-se ao lavrador que, de mãos no arado, se volta para trás. Desconsi- dera a trilha do arado e não se presta para o Reino de Deus.

  1. Vede Meus apóstolos. Por Minha Causa, deixaram bens e fa- mília e Me seguiram; todavia, seus lares subsistem bem amparados. Quem, como Meus discípulos, não puder renunciar inteiramente ao mundo, não se tornará forte no Meu Reino; pois é difícil e quase impossível servir-se a Deus e ao mundo. Só após se ter tornado forte no Reino de Deus poderá ser útil a todos.

  2. Quando, em eras passadas, existiam nas montanhas as verda- deiras escolas de profetas, todos os adeptos tinham de se retrair do mundo e procurar, dentro de si, a Palavra Viva de Deus. Tão logo a

tivessem encontrado, eram libertados e capazes de serem realmente úteis ao mundo.

  1. A maneira pela qual os verdadeiros profetas e igualmente os patriarcas dos primórdios serviram ao mundo, podeis ler nas Es- crituras. Com isto, conheceis a Minha Vontade e Meu Conselho, podendo fazer o que vos agrade.

  2. Quem não se tornar posse de Deus antes de se dirigir ao mundo será por este tentado e tragado de coração e alma. Como posse de Deus, o mundo nada exercerá sobre ele; pois construiu uma forte barreira e uma fortaleza, cujas portas não podem ser vencidas pelo inferno.”

  3. A esse discurso, os adeptos de João refletem acerca da atitu- de a tomar. Finalmente, o primeiro orador diz aos colegas: “Aconse- lho ficarmos, caso queiramos segui-Lo. Nossos familiares estão pro- vidos de tudo e não lhes faltam ajudantes e meios para o sustento.” Assim, todos se dirigem a Mim, pedindo para acompanhar-Me.

  4. Digo Eu: “Então ficai e tornai-vos lavradores bons e ativos na Minha Vinha!”

  5. Obsta um deles: “Senhor e Mestre, como tens Vinha, se há pouco alegaste não possuir uma pedra para repousar Tua Cabeça?”

  6. Digo Eu: “O mundo é Minha Vinha. As criaturas que ou- vem e aceitam o Meu Verbo, acreditando em Mim — o Verdadeiro Filho de Deus — são as videiras boas e nobres, que, pelas boas obras, Me darão muitos frutos. Entre as parreiras nobres, há muitas im- perfeitas, necessitando de aprimoramento. Para tanto, são precisos muitos lavradores fortes. Felizes os que dão provas de bons operários na Minha Vinha, por amor a Deus e ao próximo!” Os adeptos de João Me agradecem e começam a palestrar com os Meus discípulos.

126.OCAPITÃODEBELÉMPROCURAO SENHOR

  1. Isto organizado, chega a cavalo o capitão de Belém, que tí- nhamos deixado no albergue com vários companheiros. Deseja fa- lar-Me mais uma vez e igualmente combinar algo com os romanos.

  1. Entregando os cavalos aos empregados, ele entra e exclama: “Ó grande Mestre e Senhor! Quando havias deixado o albergue, tive a impressão de despertar de um sono e ainda procurei falar-Te, mas já estavas longe! Uma forte ânsia de ver-Te mais uma vez apossou-se de mim e mandei atrelar os melhores cavalos, e aqui estou, com meus amigos, para agradecer-Te novamente a imensa Graça dada à minha alma pagã.”

  2. Digo Eu: “Amigo, houvesse mais pagãos como tu, e a Luz se faria entre os homens! Assim não sendo, destina-se aos homens, em geral, uma noite prolongada de cegueira espiritual, não obstante Minha Vinda. Haverá muitas guerras, a favor e contra; entretanto, a verdadeira vitória da Verdade eterna sobre a treva do erro e do mal será indecisa.”

  3. Diz o capitão: “No grande albergue de Belém usaste apenas uma Palavra e a Vontade para salvar dois enfermos incuráveis. Por isso, poderias também exclamar: Almas negras, quero que se vos faça a Luz!, e no mesmo instante não mais haveria criatura maldosa sobre a Terra!”

  4. Digo Eu: “Em parte tens razão. Conheço a constituição do homem, necessária para que não se torne animal humanizado; por isto, digo ser ele fisicamente uma máquina artística e sabiamente organizada, cuja saúde, conservação e utilidade não dependem do livre arbítrio, senão Daquele que a criou. Dando-se um enguiço na máquina, o Mestre pode facilmente corrigi-lo pela Vontade Onipo- tente, sem prejudicar, no mínimo, a liberdade de conhecimento, fé e livre arbítrio. Se assim agisse com alma e espírito do homem, a força vital dela, que consiste no amor, pensar, procurar e conhecer, na fé e no querer, estaria partida e destruída e, com ela, a emancipação individual. Qual seria o benefício dela, e finalmente o Meu?!

  5. Por isso, a alma deve passar por educação apropriada, para depois chegar à Luz interna e viva do espírito vindo de Deus, por meio de pesquisas, análises, deduções, fé e vontade, recebendo ajuda para sempre. Qualquer coação neste sentido seria prejudicial e ja- mais salutar para seus elementos de vida.

  1. Por isto, também aceito discípulos e ensino como justo Pai demonstra aos filhos o que devem crer, conhecer e fazer. Se Eu os enchesse com Meu Espírito à força, terminariam sua independência e as capacidades acima, inclusive sua vida individual e liberdade.

  2. Ensinando-lhes a Verdade plena e a ação nesse princípio, a li- berdade de suas almas não é tolhida, e o que em breve irão conseguir e conquistar será obra e posse delas.

  3. Eis a Vontade de Deus dentro da Ordem Eterna para a edu- cação real e unicamente útil às criaturas desta Terra, pela qual a alma atinge a Vida Eterna e Verdadeira e, no final, tornar-se-á autocriado- ra de sua vida e de seu Céu.

  4. Por esse motivo, é-Me fácil curar um físico enfermo, mas, com isto, não terei curado uma alma doentia e maldosa. Posso curar as almas apenas com Minha Doutrina, quando a aceitam e a apli- cam; quem o quiser, ter-se-á apossado do Meu Espírito e da força auxiliadora da vida, que com justiça poderá dizer sua, não obstan- te reconheça ser unicamente Minha a Força que nele age e dispõe. Quem, portanto, tiver oportunidade de transmitir Minha Doutrina e Vontade receberá o prêmio no Meu Reino, como fiel operário na Minha Seara de existências humanas. Terás assimilado isto?”

127.PONDERAÇÕESDO CAPITÃO

  1. Diz o militar: “Tudo isto me é claro. O físico humano foi por Deus dado à alma como sustentáculo para o seu desenvolvimento próprio e depende, na maior parte, da Onipotência Divina; todavia, pode a psique servir-se dele. Fazendo-o dentro de Tua Vontade de- terminada em Tua Doutrina, seu benefício é grande, porque pode desenvolver-se para a Vida independente e eterna.

  2. Eis o ponto que sempre critiquei diante de um Deus e Cria- dor sábio e poderoso. Milhões de criaturas caíram com suas almas na pior treva sem culpa própria e, nesse estado, permanecerão talvez por muitos anos, porque nada ouviram de Teu Verbo. Não lhes fal- tou a vontade de procurarem a Verdade — como aconteceu comigo

  1. Talvez não haja um povo que não cresse em alguma divin- dade — mas quão materialistas eram tais conceitos! A Divindade, Única e Verdadeira, não parece ter tomado providências quanto à perdição de povos inteiros.

  2. Com Tua Vinda à Terra, como Divindade Suprema, di- vulgando a milhões a Luz da Vida, muitos não A aceitarão, inda- gando por que motivo seus antepassados não receberam a mesma orientação.

  3. Longe de mim fazer-Te tais objeções. Sei, porém, terem elas criado raízes profundas, de sorte que nós, sem Tua especial Ajuda, jamais seremos capazes de exterminá-las. Pois, se nós, ainda fracos, transmitirmos o que assistimos — quem nos dará crédito?

  4. Para tanto, necessitamos de uma cooperação especial e cons- tante de Ti, Senhor e Mestre; do contrário, nosso trabalho será bal- dado e seria melhor deixar as criaturas em sua imaginação negati- va, como aconteceu em épocas remotas. Que interesse poderia ter Deus, Poderoso e Eterno, num mundo cheio de criaturas erradas?!

  5. Se a sobrevivência da alma depende unicamente do conhe- cimento e da aceitação de Tua Doutrina, haverá poucos a sobrevi- verem! Caso a situação no Além, após uma morte geralmente cruel, for outra, estarei pronto a aceitar orientação a respeito. Tenho dito.”

128.RELAÇÃOENTREDEUSEA CRIATURA

  1. Digo Eu: “Meu amigo sincero, terias razão em tua observa- ção severa se as relações entre Deus e os homens fossem como expu- seste, em Nome da Humanidade. Assim não sendo, tua acusação se baseia na completa ignorância do caso em si.

  2. Desde o início da Criação, quer dizer, do primeiro casal, Deus revelou Sua Vontade, e seus principais descendentes estavam em constante ligação com Deus e osanjos,quenoutras épocas viveram

em outro planeta. Orientados em todos os assuntos, eram homens perfeitos e senhores da Natureza total; pois todas as criaturas, inclu- sive os elementos, lhes eram submissos.

  1. Os inúmeros filhos, que pouco a pouco se espalharam na Terra tornando-se independentes, não mais aceitavam a Tutela de Deus e muito menos a dos genitores e parentes. Tratavam de se tor- nar ricos e célebres e, isto alcançado, caíam no ócio e orgulho, nem mais se preocupando com Deus e Sua Vontade. Agiam a seu gosto e, se Ele os advertia e castigos lhes eram anunciados por sinais e mensa- geiros, riam-se, zombavam de Deus e martirizavam os mensageiros.

  2. Assim, criaram escolas a seu feitio. Os professores, dentro em pouco, aproveitaram-se de suas fraquezas, organizando o ensino de modo tal a elogiar a comunidade até às estrelas. Com essa política, não demorou a se tornarem regentes e, como tais, os iniciadores da idolatria, do paganismo, da superstição ou completo ateísmo.

  3. Deus não desistiu e fez com que entre tais pagãos se erguessem homens que, por ensinos e ações, demonstravam a grande penúria em que viviam e, igualmente, os justos caminhos. Seus adeptos fo- ram poucos e eram desprezados, perseguidos e declarados tolos por outros professores, sacerdotes e sábios, enquanto os próprios regen- tes de modo algum lhes prestavam atenção. Se assim é, conforme os exemplos demonstram — que mais deveria Deus fazer aos homens a fim de manter-lhes a fé viva Nele, respeitando o livre arbítrio?

  4. Inclusive desta vez, em que vim Pessoalmente entre os judeus para uni-los, tratei que Minha Revelação fosse dada a cada povo dentro de sua compreensão. Procura informar-te a respeito, que re- ceberás respostas chocantes!

  5. Além disto, estás errado julgando que somente as almas que ouvirem e praticarem o Meu Verbo terão a Vida Eterna, enquanto as outras estariam eternamente perdidas.

  6. A essa opinião, aliás comum a muitos, posso dizer apenas que a vida de cada criatura é uma Força de Deus que Ele Mesmo não poderá destruir com toda Onipotência, como não seria capaz de exterminar a Si Próprio. Pois, se Ele pudesse destruir forças vi-

tais que unicamente Dele se projetaram, Ele teria que começar por Si Mesmo, porquanto é, em Si, Tudo em tudo, desde Eternidades. Deus pode dissolver toda matéria, que nada mais é senão Sua Ideia fixada pela Vontade, e fazê-la voltar ao espírito imutável; destruí-la

129.AIMORTALIDADEDA ALMA

  1. (O Senhor): “Criaturas introspectivas tiveram milhões de provas convincentes da sobrevivência da alma humana, boa ou má, porquanto tinham, às vezes, relações e intercâmbio direto com de- sencarnados, durante anos afora.

  2. Se pessoas materialistas e mundanas nisto não acreditam, porque nunca assistiram algo semelhante — teria Deus culpa dis- to? Nada procuraram a respeito, portanto não o podiam encontrar; os interessados encontram-no entre todos os povos da Terra. Esses romanos, por exemplo, contaram-Me Pessoalmente aparições vistas por eles mesmos. Porventura não seriam verídicas para ti, porque nada semelhante chegaste a ver?

  3. Existe na Ásia um vasto Império, chamado Sihna ou China. Não existe porque nunca o viste?! E mais além, no Oeste, circun- dado pelo grande Oceano, há um outro Império, chamado Ihipon (Japão). Como nunca te falaram a respeito, poderias alegar não exis- tir? Nesta Terra há muitos reinos e continentes, além dos três por ti conhecidos, muito embora não os tenhas visto. Eu os conheço e posso afirmar sua descoberta no futuro.

  4. Todos eles são habitados e receberam revelações do Alto por parte de espíritos que lá viveram. É claro que tais almas não se en- contrem na perfeição da luz vital ao ingressarem no Reino dos espí- ritos, porque, como materialistas, dificilmente podem ser levadas ao justo Caminho da Luz.

  5. O quanto é difícil e laborioso uma alma mundana e incli- nada ao ócio compreender o Bem e a Verdade até se dispor a pra-

ticá-los, percebes nos próprios filhos. A situação, no Além, de uma psique desleixada é muito mais grave por se ter baseado em enganos, erros e maldades durante a vida. Tal inclinação é qual endurecimen- to do amor e da vontade da alma, que perfazem precisamente a vida e o ser individual. Se Eu lhe tirasse tal sentimento e vontade, teria extinguido a própria alma.

  1. Por isto, é preciso muito cuidado para levá-la, pouco a pouco e imperceptivelmente, ao justo caminho! Para tanto, são necessários amor, sabedoria e paciência elevadíssimos. Ela tem de ser influen- ciada externamente e é necessário fazê-la passar por situações provo- cadas pelo próprio desejo e ação, a ponto de perceber seus grandes erros. Nesta altura, deseja saber o motivo de seus fracassos. É então chegado o momento de lhe enviar um espírito de situação idêntica, que, pelas palestras, começa a irradiar luz em tal psique transviada, de sorte que reconheça, cada vez mais, o desejo de Luz completa.

  2. Por aí vês que, nessa transformação, a alma muda de pensa- mentos, encetando seu amor e querer, como ‘eu’ individual, noutra direção. Ainda que tivesse andado em trevas, brevemente atingirá a plena luz.

  3. Uma transformação súbita seria o completo aniquilamento da psique. Eu bem poderia Me apresentar como Sou entre vós ou outros pagãos; qual teria sido o efeito entre o povo ignorante e su- persticioso? Teria começado a Me confundir com uma divindade qualquer, venerando-Me e fazendo oferendas sem medida. E Meus discípulos, igualmente capazes de operar certos milagres em Meu Nome, seriam semideuses, aos quais se construiriam templos e alta- res. Deste modo, não seria o paganismo revogado, mas aumentado.

  4. Os judeus — nesta época quase totalmente descrentes, não obstante possuindo a Escritura e Promessa de Minha Vinda e, pela tradição, sabendo como Deus guiou Seu povo, conquanto não acre- dite — são os mais aptos a suportarem Minha Presença Pessoal, porque não podem praticar idolatria Comigo. Quem Me reconhe- cer saberá, no fundo, Quem Sou; os incréus Me consideram mago e os meio-termo, profeta. Assim, nenhuma alma é prejudicada com

Minha Presença em sua individualidade e livre arbítrio, de sorte que a Luz tem de partir dos judeus para o mundo inteiro.

  1. Se analisares Minha Exposição, perceberás teu erro dentro de tua crítica. Se Deus não necessitasse das criaturas para a maior satisfação de Seu Amor, não as teria criado; por isto, Ele cuida delas e de sua eterna conservação, demonstrando-lhes seu grande Interes- se. Elas deveriam também interessar-se por Deus! Compreendeste?”

  2. Diz o capitão, com profundo respeito: “Senhor e Mestre, jamais um sábio falou como Tu! Agora me demonstraste Quem re- almente és, e Te agradeço pela enorme Graça, pedindo perdão pelo meu atrevimento.”

  3. Respondo: “Quem fala como tu, prova seu ardor e Eu, com prazer, lhe dou orientação. Quem não é frio nem quente, portanto morno, não merece Minha Luz de Vida, não a recebendo até que lhe interesse de fato. Sei que muitos pagãos entre vós procuram a Verda- de, enquanto os judeus se tornaram cada vez mais mornos. Eis por que a Luz lhes será tirada e entregue aos pagãos. Zelai, porém, que não se transforme em novo paganismo, pior que o atual. Por certo assim fareis, sem poder impedir o aparecimento de falsos profetas. Vigiai e precavei-vos contra eles, que facilmente serão reconhecidos pelas suas obras.”

  4. Nisto se aproxima um serviçal de Bethânia para chamar-

-nos ao almoço. Digo Eu: “Terminou o descanso. Quem quiser, Me acompanhe.”

130.VOLTAA BETHÂNIA

  1. Todos se levantam, inclusive os adeptos de João Baptista e o capitão com seus companheiros. Dentro em pouco estávamos em Bethânia. Haviam se passado três horas após o pôr-do-sol, precisa- mente para evitarmos a observação de muitos que neste dia haviam chegado, sabendo Eu aí Me encontrar. Ninguém os informando a Meu respeito, esperaram somente o crepúsculo para depois voltarem a Jerusalém. Alguns já tinham voltado durante a vinda dos soldados,

que haviam recebido a importância para a viagem de retorno. Eu ha- via dado intuição a Raphael de fazer com que a tropa não aguardasse a volta dos romanos. Assim, tudo estava em paz.

  1. Ao entrarmos, somos recebidos com muito carinho pelas ir- mãs de Lázaro, Maria Magdalena, Meu Raphael com os jovens que ficaram acordados, com saudades Minhas. Sentamo-nos às mesas para a ceia. Os romanos tinham mais sede do que fome e logo as palestras estavam animadas.

  2. Ao capitão, seus companheiros e ao hospedeiro perto de Be- lém, Raphael provoca admiração, pois, ao Meu lado, se entrega com o maior apetite à refeição, para chamar a atenção sobre si. Os outros

o observam, cada vez mais atentos pelo fato de um jovem tão delica- do ser capaz de comer tanto.

  1. Finalmente, o chefe militar vira-se para Mim, dizendo: “Se- nhor e Mestre, perdoa se Te importuno. Mas este jovem, aliás tão belo, come em excesso. Certamente ninguém o inveja por isto. Temo que lhe faça mal e seria lástima, porquanto é sem dúvida capaz de coisas mais importantes, a julgar pelo aspecto inteligente!”

  2. Digo Eu: “Amigo, deixa isto Comigo! Este rapaz é Meu servo há muito tempo e sabe perfeitamente o que fazer. Não fosse justa sua atitude, Eu o avisaria. Deste modo, despertou a tua atenção e irás saber de coisas excepcionais a um ser comum. Agora, já poderás falar com ele mesmo!”

131.APERSONALIDADEDE RAPHAEL

  1. Prontamente, o militar se vira para o arcanjo e diz: “Belo jovem, como te é possível desenvolveres um apetite de gigante sem que te faça mal?”

  2. Responde Raphael: “Também sou gigante pela força, con- quanto não dê tal impressão. Se quiseres, poderei dar uma prova!”

  3. Como o capitão insista, Raphael prossegue: “Naquela pare- de, entre as duas janelas grandes, está uma coluna de bronze usada como altar em épocas de festas. Em tempos passados, nela se quei-

mavam animais. Hoje é apenas enfeite na sala. Quanto calculas o seu peso?”

  1. Diz o romano: “Bem, é difícil calcular; talvez o anfitrião sai- ba responder melhor.” Diz Lázaro: “O peso dessa coluna foi avaliado em vinte mil libras, e trazida de Corinto, há duzentos anos, dando grande trabalho e despesa.” Concorda o capitão: “Era mais ou me- nos o meu cálculo. Que pretendes fazer com ela, jovem?”

  2. Acrescenta Raphael: “Irei suspendê-la e transportá-la para onde quiseres!” Diz o romano: “Pois bem, podes colocá-la na janela, além!”

  3. O arcanjo se aproxima da coluna, apõe as mãos e a levanta como se fora uma pluma, depositando-a no lugar determinado. Lá deixa-a por instantes e, a pedido de Lázaro, recoloca-a no mesmo lugar. Sorrindo para o militar, Raphael diz: “Admites agora eu poder comer mais que outro qualquer?”

  4. Diz o romano: “Se tua força descomunal dependesse de teu excessivo apetite, nem de longe poderias pegar a coluna como se fora uma pluma! Tua força gigantesca parece ter outra razão, e eu não erro afirmando que nela se oculta o Mestre de todos os mestres. Que achas?”

  5. Concorda Raphael: “Sim, julgaste bem. Mas este Mestre está em todos e em tudo, portanto também em ti, todavia não és capaz de remover a coluna. Como é isto?”

  6. Responde o romano: “Muito fácil! A quem Ele quiser dar maior força, temporária ou para sempre, tê-la-á. A mim e a outros, Ele só proporcionou o necessário a um homem comum. A razão pela qual conferiu justamente a ti força tão descomunal, somente Ele saberá responder.”

  7. Diz Raphael: “No fundo, tens razão, muito embora, além de ti, teus companheiros e o hospedeiro de Belém, não haja aqui quem ignore a minha personalidade. Fui informado que fizeste um discurso veemente ao Senhor e Mestre, acusando Deus pelo descaso na educação das criaturas, a ponto de elas perderem toda a luz inter- na. Exigiste o intercâmbio entre desencarnados e vivos, a fim de que estes pudessem crer na sobrevivência da alma.

  1. O Senhor te orientou e tu compreendeste a explicação, não obstante jamais teres visto uma alma desencarnada. Poderia Ele pro- porcionar-te a visão interna e tu prontamente entrarias em contato com elas. Aprouve à Sua Sabedoria demonstrar-te apenas aqui o que te falta para a fé viva. Essa empresa Ele depositou em minhas mãos, e eu me portei durante a refeição de modo a chamar a tua atenção. Além de minha força incomum, posso te dar outras provas, caso queiras!” O militar reflete no que deveria pedir.

  2. Nisto, os adeptos de João Baptista se dirigem a Raphael, dizendo: “Mencionaste os poucos que te desconhecem, sem incluir-

-nos entre eles. Dá-nos uma prova da sobrevivência da alma, pois ainda é fraca a nossa fé neste sentido.

  1. Quando João foi decapitado no cárcere, nosso coração en- cheu-se de pavor e tristeza, desejando imensamente que o seu espí- rito aparecesse para nos orientar. Até hoje, nossa ânsia não foi sa- tisfeita, de sorte que participamos da crença dos saduceus, que não admitem a vida após a morte.

  2. Opinamos o seguinte: Se a alma de um guia tão devoto so- brevive, portanto pensa e sente, não nos parece ser indiferente à situ- ação de seus adeptos. Eles pedindo sua presença para consolá-los, sem que fossem atendidos, concluímos ser tal crença apenas um desejo comum. Essa suposição, para pessoas mais compenetradas, nada tem de consolador, tanto mais quanto a morte muitas vezes se prende a dores indizíveis. Vês, pois, termos motivos de te conhecer melhor!”

  3. Diz Raphael: “Não resta dúvida. Será, porém, difícil con- vencer-vos, porquanto a fé, como luz da alma, nunca foi vossa incli- nação. Um discípulo do Senhor vos soprou algo a meu respeito, por isso não vos incluí entre os que nada sabiam de mim. Entretanto, não lhe destes crédito. Se não acreditais no apóstolo que me conhe- ce, como ireis crer em mim? Talvez seja taxado de mago. Que farei em tal hipótese para fortalecer vossa fé?”

  4. Responde um deles: “Não te preocupes. Possuímos bastante critério para discernir entre Verdade e mistificação.” Diz Raphael: “Então, prestai atenção!”

132.INVOCAÇÃODEALMAS DESENCARNADAS

  1. Manifesta-se o capitão: “Tive uma ideia e te peço cha- mar um espírito conhecido, para poder falar-lhe diretamente. Já perdi vários parentes, inclusive filhos, facilmente reconheci- dos por mim!”

  2. Diz Raphael: “Fazer aparecer uma espécie de fantasma a teus olhos físicos, para perguntares determinados assuntos, é impossível, porque seria obrigado a alterar a Ordem Eterna de Deus.

  3. Vossos necromantes — que pessoalmente pouco acreditam na existência de um espírito e, além disto, jamais viram uma enti- dade, senão em sonhos — agem da seguinte maneira: invocam uma pessoa falecida com sinais e fórmulas místicas, que na terceira ou sétima chamada aparece, geralmente causando grande susto pelo ba- rulho e fogo que proporciona, perguntando, com ameaças e visível perturbação, por que fora perturbada em seu repouso. Tal espírito nunca viu o Além, não acredita e nada mais é senão um mistificador há anos ligado ao necromante para extorsão dos incautos.

  4. O espetáculo de tal ‘espírito’, geralmente rude, desperta a crença na vida do Além — mas que fé é esta? Completamente er- rônea! Não beneficia, mas prejudica a criatura. Primeiro, cria uma ideia materialista de um espírito e, além do mais, deixa-o em grande pavor diante de ameaças e prenúncios, caso não pague grande im- portância ao necromante.

  5. Querendo livrar-se dessa aflição, terá que voltar para outras experiências de preço mais elevado. Na segunda prova, o espírito se mostra mais cordato. Tais necromancias, amigo, não deves aguardar de mim! A fim de que chegues à compreensão de um espírito real, que não é fantasma, deves primeiro saber o que vem a ser um espíri- to e quais as condições para poder a ele se dirigir.

  6. Uma alma ou, para tua compreensão, um espírito, não sendo material, não pode ser visto pelos olhos físicos, nem percebido com qualquer sentido. Alguém ansioso por ver e falar a um espírito, terá que se tornar espiritual, único elemento capaz de tal fim.

  1. Ainda és mui materialista e tuas faculdades espirituais, laten- tes. É preciso fortalecer, por momentos, tua alma e fazê-la capaz de ultrapassar a visão material, que verás não só um, mas muitos. Se isto quiseres, poderei proporcionar-te tal estado.”

  2. Diz o militar: “Pois não, caso não prejudique a saúde!”

133.EXPERIÊNCIASESPÍRITASDO MILITAR

  1. Raphael estende as mãos sobre o capitão, seus companheiros e os adeptos de João e, no mesmo instante, a visão interna se abre; imediatamente eles veem grande quantidade de espíritos conheci- dos, inclusive João Baptista, que os orienta a Meu respeito, conde- nando a descrença deles.

  2. Ao capitão aparece o genitor, dizendo-o feliz por ter tido em vida a felicidade mais sublime e eterna para uma alma, e que jamais deveria sacrificar essa única bem-aventurança, o que o militar lhe promete, solenemente. Em seguida, Raphael desperta-os do êxtase, com a recordação plena de tudo.

  3. O romano então diz: “Parecia um sonho nítido, entretanto há grande diferença entre este e a visão. Num sonho dificilmente aparecem pessoas desencarnadas, pois, de modo geral, se apresentam as que vivem e outras, desconhecidas. As zonas costumam ser fantás- ticas e irreais, inclusive animais e plantas.

  4. Nesta visão não estava sonhando, mas ativo, e os seres eram reais. Sua linguagem era perfeita e concisa, dando a enten- der não ignorarem o que faço e penso na Terra. Ao mesmo tempo via meus colegas, os seguidores de João, a ele mesmo, e ouvi o que lhes disse.

  5. Percebi os ascendentes do hospedeiro até a décima gera- ção e, entre eles, figuras régias que lhe falavam em idioma que desconheço.

  6. A zona parecia terráquea. Viam-se montanhas, campos, jar- dins, vinhas e grande número de habitações de bom gosto e bem montadas; a própria região era iluminada, conquanto não visse es-

trelas no firmamento azul claro. O mais estranho era que eu podia ver alguma coisa desta zona por certos momentos, não obstante a espiritual fosse permanente. Agora resta saber se os outros viram o mesmo. Se assim é, prova irredutivelmente haver sobrevivência da alma, judia ou pagã.”

134.UMSONHODO ROMANO

  1. (O militar): “Certa vez sonhei com meu irmão mais querido. Achávamo-nos em Atenas e discutíamos assunto importante. Na re- alidade, eu vivia em Roma e ele, na ilha de Rhodus, onde trabalhava. Anotei o sonho para não esquecê-lo. Meio ano mais tarde, tivemos um encontro real em Atenas e o assunto foi o mesmo, muito embora usássemos outras palavras.

  2. Perguntei a meu irmão se ele havia sonhado a respeito e lhe mostrei a anotação feita naquele dia. Muito admirado, ele tudo ig- norava, somente havia várias vezes pensado no assunto, motivo por que queria procurar-me em Roma. Apenas isto.

  3. Aquele sonho foi real para mim. Por que meu irmão nada sabia, se era o maior interessado no caso? Então foi apenas um qua- dro plástico através da fantasia de minha alma, que lhe depositara as palavras na boca. Somente eu era real; o resto, criação de minha psique, da qual não posso afirmar se teve ação efetiva.

  4. Eis a razão de desejar saber se os outros assistiram à mesma visão que eu, pois trata-se de uma questão muito importante para a vida do homem.” Todos confessam corresponder o relato do romano àquilo visto por eles.

  5. Satisfeito, ele se vira para Raphael, dizendo: “Meu jovem, isto vale mais para mim que mil dos mais sábios ensinamentos e milagres de pessoas extraordinárias, que ofuscam enquanto vivas; uma vez desencarnadas, nada mais resta aos sobreviventes senão crer naquilo que aprenderam.

  6. Agora não só acredito na sobrevivência da alma, mas estou convicto e posso afirmar a muitos ser a antiga fé em Deus Úni-

co uma Verdade provada, da qual qualquer um se pode convencer, quando vive dentro de Sua Vontade.

  1. Todas as Palavras proferidas pelo Mestre dos mestres criaram real valor e tudo farei para realizá-las e passá-las adiante.

  2. Seria ótimo, caso eu possuísse poder e força para conven- cer outros da plena Verdade. Por ora, não é preciso, pois todos que me conhecem sabem que não me satisfaço com simples palavreado. Quanto a isto, não alimento dúvidas. Apenas desejava saber o sen- tido de meu sonho. Como podia ter relação com o fato posterior? Como podia meu irmão falar, se não estava ligado ao objeto?”

135.NATUREZADO SONHO

  1. Diz Raphael: “Entre o teu sonho e a visão de agora, há grande diferença; todavia, foi ele de fundo espiritual, como geralmente acon- tece! De qualquer forma, não se tratava de uma visão nítida, porque a alma, em tais sonhos, não está inteiramente ligada ao espírito.

  2. Existem três graus de visão e percepção dentro da alma. O primeiro é simplesmente natural, mesmo em pessoas materialistas, cujo espírito repousa inerte como o elemento espiritual dentro do invólucro da semente.

  3. A alma contém, em escala diminuta, tudo aquilo que a Terra possui em vastas proporções. Se durante o sono os sentidos físicos estão inertes, a alma, que não dorme nem morre, analisa uma por uma as formações materiais dentro de si; vivifica-as por momentos e se alegra quando descobre algo belo e agradável.

  4. O que vê no primeiro grau não tem realidade objetiva, mas apenas subjetiva e sem associação direta. Percebe somente seu pró- prio mundo e é ativa e passiva ao mesmo tempo.

  5. Num sonho como o teu, a alma se encontra no grau inter- mediário do primeiro ao segundo. Já está mais isolada da matéria, afasta-se do corpo, comunica-se com o mundo exterior através de sua aura externa, vendo e sentindo coisas reais e distantes das condi- ções da vida da Terra.

  1. Este grau de visão sendo mais elevado, acontece muitas vezes a alma de nada se recordar quando desperta, porque não fora possível gra- vá-lo no cérebro, onde ela poderia perceber o que viu em estado mais livre.

  2. Há determinadas pessoas — como tu, por exemplo — capa- zes de gravar no cérebro tais fatos e aparições; e, quando a alma volta ao corpo pelo despertar, ela vê tudo registrado.

  3. Assim, teu irmão teve, na mesma noite, sonho igual ao teu. Sua alma, porém, não tinha capacidade de gravar no cérebro o que vira, portanto não podia recordar-se. Viste e falaste realmente com a alma de teu irmão.

  4. Se tua alma e a dele viram em sonho o que aconteceria meio ano mais tarde, baseia-se na grande sensibilidade da psique mais liberta, conseguindo atualizar as condições prementes de uma situa- ção posterior. Toda alma tem a capacidade, mesmo acordada, de fa- zer planos e projetá-los como obra completa. Carecendo, porém, de visão e percepção nítidas para a realização das condições necessárias, muita coisa é alterada no plano, tanto na forma, quanto na utilidade e época em que a alma analisava o plano traçado.

  5. Se fosse ela capaz de abranger tudo claramente quando acordada, como acontece em estado mais liberto, nada seria alterado no plano traçado, que surgiria como obra perfeita na época prefixa- da; pois uma alma lúcida e liberta abrange, de momento, todas as condições, relações e possíveis empecilhos e, ao mesmo tempo, os meios mais seguros de afastá-los.

  6. Nisto se baseia a capacidade de previsão de uma alma livre e pura, não somente no que lhe diz respeito, mas no que acontecerá no mundo, porque consegue imaginar, muito tempo antes, condi- ções e causas como efeitos, fato impossível numa psique materialis- ta. Eis a explicação natural do estado da tua alma e de teu irmão.

  7. Tal estado ainda não é o segundo grau completo da visão da alma, porque o espírito não se acha em união com ela, sendo se- melhante ao elemento espiritual na membrana do gérmen quando a semente está há alguns dias no solo fértil, começando por rompê-la e manifestar sua atividade.”

136.GRAUSSUPERIORESDA VISÃO

  1. (Raphael): “O segundo, superior e distinguível grau de per- cepção da alma ocorre tanto acordada quanto em sonho tão logo o espírito começa a se tornar ativo. Assemelha-se ao elemento espiri- tual na semente, extraído da própria alma, projetando-o às raízes no solo, formando em seguida os brotos sobre a terra. A psique inicia sua forma real e penetra seu âmago, assim como as raízes do vege- tal invadem a terra e sugam, da Força Divina dentro dela, o justo alimento; a própria planta alimentada internamente se eleva, como forma da alma, à esfera de luz em virtude do alimento provindo da Força Divina, pura, verdadeira e viva, até sua final perfeição.

  2. Isso tudo ocorre pela crescente atividade do espírito na alma, que assim se une a ela. Neste estado, percepção e visão deixam de ser vago pressentimento, mas a consciência clara de todas as condições de vida e a maneira pela qual se mantém frente à própria vida.

  3. Neste estado, pode o homem descobrir a si e a Deus, ver e julgar os espíritos, ou seja, as almas desencarnadas, bem como as vi- vas. Os sonhos de tal criatura são puramente reais e verdadeiros, não havendo grande diferença entre a visão comum e o sonho.

  4. Foi este o estado que provoquei em vós através da minha força interna, podendo vossa alma ver e falar com os desencarnados. Todavia, só vos foi possível ver e falar com espíritos do mesmo grau evolutivo, com exceção de João Baptista, que, por causa dos adeptos, desceu do Céu ao segundo grau, pois não seríeis capazes de percebê-

-lo como espírito puro.

  1. Pudestes guardar a recordação pela Permissão do Senhor, pois tudo foi imediatamente gravado no cérebro, no coração e nos rins. Do contrário, teríeis a mesma situação de teu irmão em Atenas.

  2. Certas pessoas devotas agem e vivem quase diariamente no mundo dos espíritos para fortalecimento de sua alma. Quando des- pertam, de nada se lembram, mas percebem uma sensação conso- ladora e têm a impressão de terem visto e ouvido coisas agradáveis.

  1. Somente aqueles que, semelhantes aos profetas, se encon- tram no trânsito ao terceiro grau, portanto o mais elevado na visão e sentimento, em virtude da maior integração do espírito na alma, guardam tudo e, ao despertarem, podem transmiti-lo. Neste estado se achavam os pequenos profetas.

  2. Observa uma haste de trigo no ponto culminante, quando, do crescimento, começa a apontar e desenvolver a espiga! O mesmo acontece ao ingressar a alma no espírito.

  3. Pela atividade no segundo grau, somente o espírito começa a influenciar a alma semimaterial, nela se estendendo até a penetração completa, vivificando-a espiritualmente.

  4. No terceiro grau, a alma começa a ingressar no espírito, incendiada pelo amor dele, e transforma todas as suas substâncias, ainda ligadas à matéria, em pura essência espiritual, onde forma a verdadeira espiga para a vida livre e eterna.

  5. Neste estado é a criatura elevada à luz e é por ela alimen- tada; à medida que aumenta sua nutrição, diminui a absorção da esfera psicomaterial. A espiga da vida floresce, une-se com o espírito do amor, que cria o trigo vital que inicialmente é alimentado com o leite dos Céus, mas, dentro em breve, é suprido das Verdades cada vez mais claras e eternamente sólidas e imutáveis.

  6. Então, o trigo vital amadurece e a vida da alma, que no se- gundo grau formava a haste pela união com o espírito, encontra-se no trigo amadurecido, razão por que fenece a haste anteriormente formada, separando-se do trigo sem ter mais relação com ele.

  7. Eis o terceiro e mais elevado grau de visão e vida da alma, no qual ela vê e ouve tudo que existe na Criação. Vê o Céu aberto e pode entrar no mais vivo e lúcido intercâmbio com todo o mundo dos espíritos. O que tal alma vê, ouve e sente, jamais poderá de- saparecer da recordação; seu âmbito de visão e percepção abarca e penetra tudo, para sempre.

  8. Neste estado se encontram os grandes profetas, todos os es- píritos perfeitos, assim como eu — do contrário, não poderia des- crevê-lo. Ninguém pode dar o que não possui.”

137.RAPHAELSECONFESSA ESPÍRITO

  1. (Raphael): “Como pode a criatura alcançar este estado em vida? É preciso ela aceitar, de coração e intelecto gratos, alegres e espontâneos, a Palavra de Deus, na qual Ele revela a Sua Vontade. Assim já depositou o verdadeiro grão de trigo em solo fértil.

  2. Em seguida, tem que começar a agir dentro da Vontade Divi- na. Essa atividade é a chuva fertilizante, pela qual a centelha divina se vê incentivada a ingressar na alma do trigo vital. A seguir, me- lhorar pela verdadeira humildade, paciência, meiguice, pelo verda- deiro amor ao próximo e a justa misericórdia. Praticando isso tudo com grande zelo, o homem penetra em suas próprias profundezas vitais, deitando as raízes de nutrição espiritual no solo da Força Di- vina. As raízes sugam-na com avidez e projetam, formam e comple- tam a haste da vida à Luz de Deus. Assim, ingressa a alma cada vez mais no amor vivo para com Deus, à medida que o espírito nela se torna ativo.

  3. Tendo a haste da criatura se desenvolvido até a espiga, e a alma se achando no amor a Deus, em sua luz de vida e calor, ela igualmente ingressa no espírito, unindo-se a ele. Neste estado feliz, se torna visível a espiga da vida, na ponta da haste, onde se desen- volve rapidamente até a flor, a pura Luz de Deus. A flor demonstra a plena união do amor e da vida com o espírito, isto é, com Deus.

  4. Desta união surge o verdadeiro fruto da vida, cujo pleno amadurecimento é superior a tudo que é terreno, em plena Luz Di- vina. Ninguém duvidará que tal criatura se encontra na visão plena e percepção viva de tudo do mundo espiritual e material, se tiver comparado a explicação com a ordem do crescimento de um vege- tal. Acabo de falar e chegou tua vez de fazê-lo.”

  5. Diz o militar: “Jovem amigo, deves ter iniciado este caminho ainda no ventre materno, do contrário não se admite tão elevado grau de evolução em tua idade. Seja como for; basta te encontrares na perfeição final. Poderás lidar com as criaturas quando deixares este corpo?”

  1. Responde Raphael: “Sim, mas apenas com aquelas que, pela conduta dentro da Doutrina do Senhor, tenham se elevado a tal grau.”

  2. Diz o romano: “Não temes a morte?”

  3. Diz Raphael: “Como poderia, se já ingressei na Vida Eterna do Espírito de Deus, portanto meu corpo se encontra em meu po- der?! Posso transformá-lo e recriá-lo; acreditas?”

  4. Obsta o militar: “Isto é forte! Até então nada ouvi a respeito e, se me podes dar uma prova, ser-te-ei mui grato.”

  5. Diz Raphael, sorrindo: “Como não? Apalpa o meu braço e vê se é de carne e osso!” O capitão assim faz e exclama: “Teu braço é bastante musculoso.” Prossegue o arcanjo: “Repete a experiência, para sentires que um homem, no mais elevado grau de visão, é so- berano sobre o corpo.” O romano obedece e não sente mais o braço de Raphael.

  6. Assustado, ele diz: “Que mistério é este?! Vejo-te como dan- tes; todavia, não tens corpo e resta saber se, como criação etérea, ain- da podes suspender a coluna, sustentando-a pela simples vontade.” Mal termina de falar, a coluna se acha no ar, e o capitão cada vez mais se amedronta, olhando ora a coluna, ora Raphael. Após este a ter colocado no lugar, o romano e seus colegas se refazem do susto e ele diz: “Nada posso dizer, pois, onde faltam noções naturais, não há palavras. Se desaparecesses, ficaria louco!”

  7. Diz Raphael: “Deixo de fazê-lo, para não enlouqueceres. Queria apenas demonstrar-te que uma criatura em terceiro grau de evolução não espera a morte, soberana que é sobre sua vida e corpo. No estado em que me encontro, dificilmente chegarão as criaturas desta Terra. A maioria se torna mundana, sua vontade não é sólida e constante, e sua fé não é viva e firme. Quando tiverem desistido da descrença, serão capazes de fazer o que eu faço, como espírito puro e perfeito.”

  8. Diz o militar: “Então, já és espírito puro e perfeito?” Res- ponde o anjo: “Claro, pois um imperfeito não faria o que faço.” Novamente perturbado, o outro prossegue: “Mas — para que fim te alimentas, se não mais precisas manter um corpo físico?”

  1. Diz Raphael: “Em nosso Senhor e Mestre habita o Espírito Supremo de Deus, todavia Se alimenta. Se és capaz de tomar um alimento material, por que não o seria um espírito perfeito, que igualmente é homem? Talvez porque não seria útil transformá-lo em seu elemento espiritual?!

  2. Porventura não é tudo que serve de alimento ao homem Palavra e Vontade de Deus? Se tu, como homem natural, te nu- tres de elementos naturais, a alma absorve a parte substancial para a consistência de sua forma. Se isto faz a alma imperfeita, conquanto inconscientemente, tanto mais o fará o espírito perfeito e conscien- te, por lhe ser possível dissolver, de súbito, toda a matéria e transfor- má-la em elementos espirituais. Compreendes?”

  3. Responde o romano: “Amigo misterioso, é preciso mais que um intelecto comum para entender isso tudo! Para mim, basta a convicção da sobrevivência da alma e o conhecimento dos cami- nhos da evolução, cada vez mais lúcido. Todo o resto tem pouco valor para mim.

  4. Podes ser um espírito puro e poderoso, com físico ou sem físico, que nada me diz respeito. Importa que eu venha a ser aquilo que ora és, o que certamente te foi mais fácil ao lado do Senhor e Mestre. Não resta dúvida nem todos poderem chegar à tua altura; devem, porém, agradecer a Deus pelo muito recebido. Agradeço-te pela simpatia, paciência e esforço aplicados para o meu esclareci- mento, e te asseguro estar satisfeito.”

  5. Diz Raphael: “Também eu estou satisfeito e às ordens de qualquer um de vós. Caso haja quem deseje um esclarecimento, pode externá-lo diante de todos.”

138.ANATUREZADO SENHOR

  1. Aproxima-se um adepto de João e diz a Raphael: “Jovem estranho! Desejava um esclarecimento maior de tua natureza, por- quanto teus atos e teu saber ultrapassam os de um homem comum. Talvez sejas o espírito de Elias ou de Moysés, pois consta que Elias

estaria ao lado do Messias Prometido. Também se lê o seguinte: Em tal época, vereis subirem e descerem os anjos de Deus para servir Àquele que veio em Nome do Senhor e também aos homens de boa vontade. Dize-me se tenho razão.”

  1. Responde Raphael: “Em parte, mas não é bem isso! Em tempo oportuno, saberás dos discípulos a realidade total, pois deste conhecimento não depende a salvação de tua alma, que se prende unicamente à tua fé no Senhor, no teu amor para com Ele e no viver dentro de Sua Doutrina. Nesses axiomas deves procurar o Reino de Deus e Sua Justiça; o resto ser-te-á dado de graça.

  2. Tomando-me pelo espírito de Moysés ou Elias estás errado, pois o espírito deste estava em João vosso mestre. Moysés já deu seu testemunho ao Senhor diante dos apóstolos, que o transmitirão quando for oportuno. Agora sabes o bastante.”

  3. Novamente Raphael senta-se ao Meu Lado, servindo-se de pão e vinho. O militar faz o mesmo, enquanto os adeptos de João se abstêm, devido à norma austera que levam.

  4. Vira-se um fariseu convertido para Mim: “Senhor e Mestre, por que não jejuam Teus discípulos, quando isto fazem os de João Baptista?”

  5. Digo Eu: “Sou um justo Noivo dos que Me seguem e por Mim foram escolhidos. Por que deveriam jejuar em Minha Com- panhia? Quando não mais estiver Pessoalmente com eles, como verdadeiro Noivo de suas almas, jejuarão. Além do mais, ninguém receberá a Vida Eterna da alma por muito ter jejuado, senão por ter feito a Vontade de Quem Me enviou.”

  6. Levanta-se o militar romano e diz: “Como assim? Quem Te mandou e qual sua vontade? Explica-Te melhor, do contrário sur- girão dúvidas. Uma vez consta seres Tu, unicamente, o Senhor, e só receber a Vida Eterna quem aceitar a Tua Doutrina. Agora afirmas ser preciso fazer-se a vontade de Quem Te enviou!”

  7. Digo Eu: “Quanta ignorância existe dentro de vós! Foi o Meu Pai Quem Me enviou e está em Mim; por isso, Eu Mesmo Me enviei a este mundo, por amor às criaturas, para trazer-lhes e dar-lhes a Vida Eterna.

  1. Minha Palavra e Minha Doutrina, que demonstram o Cami- nho à Vida Eterna, representam a Vontade de Quem está em Mim e Me enviou. O Pai, o Amor Eterno, está em Mim; e Eu, Sua Luz, estou Nele.

  2. Vê a chama deste lampião. Poderias separar a Luz da chama, ou a chama da luz? A chama é aquilo que Eu denomino de ‘Pai’, o Amor; a Luz é Seu filho enviado pela chama para alumiar a treva da noite. Não são chama e luz uma só coisa? E não está a chama na luz e vice-versa? Assim sendo, manifesta-Se a Vontade do Pai em Sua Luz projetada.

  3. Quem, portanto, caminhar nesta Luz fá-lo-á dentro da Von- tade Daquele Que Me enviou como Sua Luz ao mundo, e não pode- rá errar; colherá a Vida Eterna, por ser a Luz a própria Vida Eterna.

  4. Somente quem abandoná-La e marchar nas trevas da pró- pria ignorância não poderá colher a Vida Eterna e livre da alma. Espero Me tenhas compreendido?”

  5. Responde o romano: “Estou bem a par do que fazer para tal fim e peço perdão pela interrupção de Teu esclarecimento ao fariseu.”

  6. Digo Eu: “Já recebeu o que necessitava e não preciso prosse- guir. Teria muita coisa para vos dizer, mas não o suportaríeis. Quan- do Eu despertar o Espírito dentro de vós, o Espírito da Verdade, sereis levados à Verdade e Sabedoria totais. Somente nesta Luz des- cobrireis Aquele que vos falou. Agora meditai sobre o que ouvistes; descansarei um pouco.”

139.OTEMPORALESUA FINALIDADE

  1. Entrementes, já era meia-noite; os romanos e alguns apósto- los também se entregam ao cochilo. Somente os belemitas e alguns adeptos de João continuam palestrando. Nisto, levanta-se um vento fortíssimo do Sul, despertando a todos com o rugir estrondoso. Eu e Meus discípulos continuamos dormindo.

  2. Lázaro se dirige a Raphael e lhe pede para amenizar o tempo- ral, do contrário provocaria grandes danos em vinhas, hortas e casas.

  1. O romano, que não tolera ventos fortes, diz: “Não sei o que pensar do grande Amor e da Sabedoria de Deus. Sentiria Ele prazer em assustar as criaturas com a fúria dos elementos? Os prejuízos causados recaem geralmente nos pobres, que se veem obrigados a mendigar.” Virando-se para Raphael, ele prossegue: “Tua força de vontade não dá para amenizar a fúria cada vez maior? Faze qual- quer coisa!”

  2. Diz o arcanjo: “Homem fraco e medroso! Por que reclamas do Amor, Sabedoria e Ordem Divinos? Julgas que Deus solte tem- pestade como essa para manifestar Seu descontentamento? Acaso conheces os elementos nocivos às criaturas e animais, obrigados a se desprenderem do interior terráqueo?

  3. Justamente nesta noite sobem grandes massas à superfície, a fim de tornar abundante a colheita do ano vindouro. Se tais elementos não purificados se estenderem sobre o solo, em forma de vapor cin- zento e lodoso, não haveria quem subsistisse além de algumas horas. Qual seria outro meio para evitar o prejuízo à saúde, senão o vento forte, correspondente à massa pegajosa e tenaz de tais elementos?!

  4. O vento provocado pelos espíritos puros através da forte cor- rente de ar telúrico mistura os elementos brutos com os mais puros do ar e da água, tornando-os inofensivos à saúde das criaturas, flora e fauna. Tudo isto ocorre dentro da Vontade de Deus; e tu achas ser Obra Dele para prejudicar os fracos, sentindo satisfação com o susto e pavor que provoca?! Oh, ignorância humana!

  5. Que importa se, numa ocasião benéfica para o orbe e seus ha- bitantes, sejam destruídas algumas árvores podres, casebres prestes a ruírem e uns ninhos de aves, se com isto o solo é fortificado e o ar telúrico se torna inofensivo?

  6. Ainda que alguém venha a sofrer pequeno dano, o Senhor saberá indenizá-lo da melhor maneira possível. Além do mais, não importa se as criaturas, que tão facilmente se esquecem de Deus, vez por outra sejam sacudidas em seus devaneios mundanos por meio de fenômenos da Natureza, sentindo haver forças e poderes superiores, contra os quais o homem é indefeso.

  1. Deixemos, portanto, que a ventania sopre por algumas horas. Quando tiver concluído sua missão, sossegará. Pelo Poder do Senhor em mim, poderia forçá-la a tanto. Mas para que fim? Nenhum! Tal prova não aumentaria a tua fé Nele; pois, se assim fizesse por alguns momentos, dirias que a ventania havia parado por certo tempo, ale- gando ser efeito da suspensão do poder de minha vontade. Se fizesse que parasse definitivamente, amanhã mesmo morreriam milhares de pessoas de disenteria. Tal acontecimento não seria de teu agrado, pois sei do pavor que todos têm de epidemias. Deixemos, portanto, a fúria se expandir; pequenos danos serão facilmente reparados.

  2. Porventura seria prejudicial se um rico egoísta é despertado para o amor ao próximo pela miséria alheia? Sou de opinião ser isto muito útil à alma do rico. O pobre, por sua vez, agradecerá a Deus por ter recebido o auxílio do abastado em virtude de sua miséria aumentada. Ele, anteriormente, nem se preocupava com a aflição e necessidade constante do seu vizinho pobre. Como Deus permi- tiu uma desgraça material, os corações dos ricos se sensibilizaram, prestando auxílio considerável. Agora, dize-me: Não são o Amor e a Sabedoria de Deus mais ativos entre as criaturas do que em zonas inabitáveis e desertas?!”

140.MOTIVODA CRIAÇÃO

  1. Diz o capitão: “Jovem excepcional! Seria realmente inútil querer-se competir com tua sabedoria. Sempre tens razão, porque dispões da Onisciência Divina. Onde deveríamos nos suprir da mes- ma, quando nossos conhecimentos da Natureza são tão precários?

  2. Sente o homem suas aflições; mas suas queixas não podem aborrecer a Deus. Assim, também reclamei da ventania, sabendo das devastações que produzem. Orientado sobre os motivos, asseguro-te jamais repeti-lo quando se expande em solo firme. Em alto mar, peço ao Senhor que me proteja contra fortes ventanias, pois é terrí- vel enfrentá-las numa embarcação frágil. Já o assisti por várias vezes, tornando-me seu inimigo e, como pagão, bradei contra tais atitudes

dos deuses. Supondo que os ventos na terra tenham a mesma utili- dade sobre o mar, louvá-Lo-ei no futuro. Está bem assim?”

  1. Diz Raphael: “Claro. O homem, cuja vida depende de Deus, deve reconhecer com gratidão e louvor as determinações e desígnios, e jamais reclamar e queixar-se. Deus, o Senhor, sabe melhor por que permite certos acontecimentos num corpo cósmico.

  2. À criatura compete manter-se paciente e resignada, que tudo ocorre em seu benefício pela Vontade Divina. Todos os aconteci- mentos na Terra, na Lua, no Sol e nas estrelas se passam para o Bem exclusivo dos homens. Pois somente neles se baseiam motivo e fina- lidade de todas as criações no Espaço Infinito.

  3. Pensando e sentindo dentro de tais normas, o homem terá paz em todas situações de sua vida terrena de emancipação, educa- ção e experiência, e Deus o salvará de toda miséria, fazendo com que encontre o Caminho da Vida, da Luz e da Vontade totais.

  4. Mas quem se irrita sobre isto e aquilo que não pode al- terar, queixa-se e até mesmo blasfema contra os acontecimentos aparentemente irrisórios, não se apodera do Amor de Deus, mas Dele se afasta constantemente, não sentindo paz nem felicidade em vida, muito menos no Além. Mas, reconhecendo que tudo é Obra do Amor de Deus em benefício do homem, ele se aproxima do Amor e da Ordem do Pai, submete-se, e assim se torna sábio e poderoso. Agindo inversamente, torna-se cada vez mais ignorante, fraco e inepto.

  5. É bem verdade haver na Terra várias ocorrências desagradá- veis, como calor excessivo e grande frio, noites prolongadas e dias nublados, o fogo destruidor, as enchentes a devastarem terras, ma- tando homens e animais — em suma, tudo que vês em a Natureza pode matar-te, quando não fores cuidadoso e desafiares o perigo.

  6. Isto, porém, não é motivo para Deus alterar Sua Criação per- feita! Acaso não deveria o fogo ser tão quente e destruidor? Qual seria sua utilidade? E a água não deveria ser líquida, para evitar a morte dos que caem nas enchentes? As montanhas não deveriam ser tão altas e íngremes, para que ninguém de lá caísse no abismo? Não

deveriam existir feras, serpentes e plantas venenosas, só porque são perigosas à vida do homem?

  1. Se todos os perigos tivessem de ser banidos da Terra, não sobraria um átomo, incluindo a própria criatura. Tudo tem que ser como é, sendo de grande utilidade, caso for bem empregado. Abu- sando dos meios e não palmilhando em concordância com a Ordem Divina, tudo se torna nocivo.

  2. Quem se aborrece com a nocividade das coisas e organi- zações da Natureza, criticando Sabedoria e Poder de Deus, eviden- temente se irrita contra Ele, menosprezando Seu Amor e Sabedo- ria. Assim fazendo, não é amigo, mas adversário de Deus. Pode tal inimizade trazer-lhe algum benefício? Com tal cegueira, o homem perde Deus e, nesta situação, não pode aguardar felicidade, até que se converta e descubra Amor, Sabedoria e Ordem Divinas, louvan- do-os e aceitando-os.

  3. Se te irrita a tempestade no mar, espera que passe e depois podes embarcar. Todos conhecem a época das tempestades, poden- do evitá-las. Eis algumas orientações. Quem as conhece e respeita será feliz e terá paz em todos os acontecimentos de sua vida!”

141.EFEITOSDA TEMPESTADE

  1. Todos agradecem a doutrinação de Raphael, pois perderam o medo da fúria ainda tenebrosa da tempestade. Após algum tempo, um forte raio se desprende das pesadas nuvens trazidas pela venta- nia, caindo num cedro perto da casa. Seguem-se outros, com estron- do e trovões a sacudirem o solo.

  2. O romano, maior inimigo de raio e trovão que do vento, novamente é presa do pavor. O hospedeiro, Lázaro, as irmãs e Ma- ria de Magdala também se amedrontam e pedem que Eu suste a tempestade.

  3. Então desperto do cochilo e digo: “Não tenhais medo, filhi- nhos, pois, onde Eu estou, a tempestade só tem poder para bene- ficiar! Dentro de uma hora tudo passará; amanhã teremos um dia

maravilhoso, e o ar purificado e sadio fortalecerá membros e vísce- ras.” Minhas Palavras acalmam a todos e Eu Me entrego novamente ao sono leve.

  1. Os que ainda estão à mesa Me observam, e o comandante diz: “Do Senhor se poderia afirmar: Ainda que a Terra caísse em frangalhos, os destroços não atingiriam um destemido! Como Se- nhor Criador de tudo, é fácil não haver receio. Nós, humanos, não conseguimos nos livrar inteiramente do medo, muito embora certos que nada nos acontecerá em Presença Dele. Lastimo os que estão em caminho qualquer, especialmente os em alto mar!”

  2. Agrícola, que despertara pela trovoada, diz: “Minhas naves em Sidon e Tyro certamente sofrerão avarias. Seja como for — den- tro de uma hora tudo passará. Deus permita que não haja grande desgraça!”

  3. Diz Raphael: “Não vos aflijais! Aos justos nada acontecerá. Para os incréus é bom se lembrarem da existência de Deus, ao Qual os elementos obedecem quais servos fiéis. Tuas naves nada sofrerão; o Senhor tratará disto.

  4. Sobre Jerusalém, a fúria ainda é mais forte, e os raios não poupam o Templo. Lá e em outras residências há grande alarde. Os raios incendiaram diversas edificações e os homens procuram debe- lar o incêndio. No próprio Templo, o raio caiu nas vigas, mas o fogo foi prontamente abafado. O pavor dos fariseus é tremendo, e o povo implora a Deus que faça parar a tempestade. Fariseus, sacerdotes, escribas e levitas começam a rezar suas ladainhas. De nada adianta, e a plebe faz ameaças e, ao mesmo tempo, ridiculariza os templários, que muitas vezes alardeavam seu poder sobre o Sol, Lua e estrelas, entretanto eram incapazes de mandar numa simples trovoada.

  5. Eis que esta tempestade traz seu benefício a muitos habitan- tes de Jerusalém, deles varrendo a superstição e posteriormente lhes incutirá a aceitação da Verdade!

  6. Acrescento mais este fato para verificardes como a Sabedoria e Amor do Pai, em tais ocasiões, não só cuidam do saneamento do solo e do ar, mas também da frutificação moral de corações huma-

nos e da purificação do ar psíquico, de muito maior valor. Quem de vós tiver coragem venha comigo ao ar livre para assistir ao que jamais sonhou.” Dizem Agrícola e o comandante: “Contigo enfren- taremos essa chuva de coriscos!” Romanos, o comandante e seus colegas, o hospedeiro, os adeptos de João e Lázaro seguem Raphael.

142.CAUSAEEFEITODO TEMPORAL

  1. Quando chegam lá fora, tapam ouvidos e fecham os olhos, pois os raios continuam a cair no solo, com grande estrondo. Rapha- el, então, adverte: “Não façais isto! Pois, assim, pouco vereis deste espetáculo estupendo, nem ouvireis os clamores de Jerusalém a che- garem até aqui.”

  2. Mais encorajados, os presentes abrem os olhos e ouvidos, ad- mirando-se da violência da ventania, à qual Raphael ordena evitar o monte, de sorte que nele tudo se acalma, inclusive os raios dele se afastam. Na distância de algumas fangas, parecia haver uma verda- deira corrente de fogo.

  3. Pergunta Agrícola: “Por que os raios não produzem incên- dios em casas e matas? Assisti na Espanha tempestade idêntica, que provocou terríveis incêndios. Aqui nada disto se vê.”

  4. Diz Raphael: “Saberás do motivo quando passar o temporal. A constante claridade dos raios não permite a visão de alguns incên- dios, unicamente existentes nos arrabaldes de Jerusalém. Caso vejas algum, não tenhas medo. Pois, se acontece que um raio incendeia um lugarejo, casa, casebre ou a mata de um avarento que prefere deixar apodrecer a lenha do que permitir aos pobres levarem alguns feixes de gravetos, nada de prejudicial ocorre à Humanidade. Tudo que vês e ainda verás será em benefício das criaturas. Agora chegou o momento de fazer parar a tempestade. Assim quero pela Vontade do Senhor — e tudo serenou! Observai a redondeza!”

  5. Olhando em todas as direções, os presentes contam uns vinte incêndios, entre os quais uma floresta se destaca. O fogo se alastra numa grande mata perto de Emaús, pertencente a um avarento que

nunca havia dado um graveto a um pobre. O grupo louva a Deus por ter sido o avarento atingido pelo açoite. A Sudoeste de Jerusa- lém também se vê forte incêndio, e Lázaro pergunta a quem estaria prejudicando.

  1. Raphael responde: “É uma zona pertencente em parte ao mesmo avarento; arrendou-a por soma elevadíssima. A fim de satis- fazerem ao arrendador, os camponeses são obrigados a ludibriar os vizinhos, e suas filhas enveredaram para a prostituição, motivo por que aquela zona passou a ser uma verdadeira Sodoma no decorrer de vinte anos. É justo que receba igualmente seu corretivo.”

  2. Lázaro concorda: “As Ações do Senhor são sempre boas! Mui- tas vezes pedi um justo castigo para aquele avarento pelas incríveis injustiças geralmente aplicadas a pobres — e agora, o recebeu! Lá vivem alguns que ainda não se curvaram diante do Gog e Magog; o Senhor, por certo, os protegerá.”

  3. Diz Raphael: “Nem tem dúvida; e, após o incêndio, sua si- tuação será melhor que dantes. Mais para o Sul vedes forte fogo. Trata-se de uma aldeia de gregos e saduceus que negociam com por- cos, enganando o próximo e desviando-o de Deus pela verbosidade prejudicial. Querendo impedir a divulgação da Doutrina, lançando suspeitas contra ela, o Senhor lhes meteu um freio nesta ocasião. Levarão anos para se refazerem do prejuízo, sem terem tempo para impedir a Doutrina do Senhor. Assim andam as coisas e julgo não haver injustiça quanto àqueles usurários.”

  4. Diz o hospedeiro: “Ao Senhor, todo louvor por ter punido aqueles ateístas que bem conheço. Os menores incêndios, na certa, terão permissão do Senhor?”

  5. Diz Raphael: “Claro. Mas não vos preocupeis. Observai ga- lhos e grama!” Eles assim fazem e veem tudo brilhando, como ma- deira apodrecida, inclusive os cabelos dos presentes que, nervosos, perguntam qual o motivo. Raphael os convida a entrar, pois, na sala, daria explicação. Após terem tomado assento, ele prossegue: “Não é tão importante como imaginais e não depende de tais fenômenos a salvação de vossa alma. A falta de conhecimento podendo pro-

vocar superstição, vejo-me obrigado ao esclarecimento. Antes disto é preciso explicar a causa do raio, mormente aos romanos que, ao lado da Doutrina, pensam em Vulcano, fabricante de raios, e seu expedidor Júpiter.”

143.A ELETRICIDADE

  1. Raphael se dirige à porta, onde vários gatos espreitavam um camundongo. Apanha um dos felinos e o deposita em cima da mesa. Em seguida, vira-se para o comandante e diz: “Vês que também tem o mesmo brilho no pelo. Passa-lhe a mão, da cauda à cabeça, e verás um fenômeno sob a luz fraca do lampião.”

  2. O romano obedece, e todos veem quantidade de chispas se des- prenderem do gato no ambiente fortemente saturado de eletricidade.

  3. Diz um adepto de João, supersticioso: “Eis que se vê terem os velhos razão quando afirmam ter um gato velho o diabo no corpo!”

  4. Diz Raphael: “De maneira alguma, meu amigo. De tuas pa- lavras se nota tua superstição, não obstante adepto de João Baptista. Poderia demonstrar-te o mesmo fato em outros animais, e até mes- mo em tua cabeça, e certamente não terás o diabo no corpo?!”

  5. Diz o outro: “Espero que não! De onde vêm as chispas do pelo do gato?”

  6. Diz o arcanjo: “Se não me tivesses interrompido, estaríamos no meio da explicação. Por isto, paciência! De umsó golpe de ma- chado não se abate uma árvore, a não ser que seja mui fraca. As chispas não surgem do corpo do felino, mas provêm da superfície do pelo, no qual, para falar compreensivamente, se gruda o fogo natural. Este fogo denominaremos de elétron, ou fogo elétrico, co- nhecido dos antigos egípcios, fenícios e gregos, que geralmente está inerte, surgindo por determinadas circunstâncias.

  7. Este fogo é o próprio elemento do ar, do qual a Terra e tudo que nela existe vive e se forma para seres, conservando sua existência e nutrição. Na estagnação do ar, da água, minerais, plantas, animais e criaturas, ele não se desenvolve e tal estagnação poderia se chamar

de ‘morte da matéria’. Este elemento preenche o Espaço Infinito e perfaz, em sua inércia, o éter, no qual flutuam os inúmeros corpos cósmicos, como peixes dentro d’água. Se tais corpos ficassem para- dos em qualquer ponto, atrofiariam qual defunto, apodreceriam e, finalmente, dissolver-se-iam, passando ao próprio éter. Por isto, o Criador cuidou de sua constante movimentação no éter, cujo atrito o conserva ativo.

  1. Esclarecer-vos ‘como’ levaria muito tempo e podereis colher explicações completas dos discípulos do Senhor, únicos iniciados nos enormes segredos da Criação. Ficaremos, portanto, na análise de nossa Terra.

  2. A atmosfera, na qual respiramos e vivemos, se estende por algumas horas de marcha. Nesta superfície se encontra o éter inerte e sem resistência. A Terra se move em 365 dias em redor do Sol, e em 24 horas em redor do seu eixo, o que os discípulos poderão explicar. Por ora, basta eu chamar vossa atenção para a movimentação rápida da Terra em redor do Sol. Ainda que não o assimileis pelo intelecto, podereis acreditar que ela se movimente, em uma hora, 5.760 horas de marcha e, além disto, se move em redor do seu eixo 474 horas de marcha por hora.

  3. Daí podeis deduzir que, nessa velocidade, os elementos ao redor do orbe são arrancados de sua inércia. O ar que o envolve é deste modo alimentado constantemente e, através do ar, a própria Terra e tudo que nela existe.

  4. Às duas movimentações acresce a velocidade muito maior da luz do Sol, pela qual os elementos etéreos são igualmente movi- mentados e impelidos ao orbe. Então acontece uma saturação exces- siva do ar telúrico, da Terra e de seus habitantes, mormente na pri- mavera, verão e outono. Tais dias se tornam abafados e as criaturas, flora e fauna sentem forte cansaço, procurando repouso.

  5. Essa sensação deriva da grande quantidade de elementos do éter, no ar e na Terra, porque têm forte inclinação para a inércia, conquanto não sejam mortos. Por tal acúmulo, sentem pressão de- sagradável; começam a se movimentar para livrar-se do peso e voltar

à anterior calma. Essa movimentação se manifesta primeiro pelos ventos, que aumentam à medida que o globo saturado expele os ele- mentos não sazonados à superfície e às suas camadas de ar inferiores.

  1. Desta mistura de elementos do ar e da Terra, surgem ne- blinas e nuvens densas. Seu crescente peso molesta os elementos do éter, que procuram saída onde há menor resistência. Essa fuga, que, pela pressão dos elementos etéreos e os telúricos, os une involunta- riamente, produz ventania fortíssima e sua corrente poderosa destrói casas e árvores, e revolve o mar.

  2. Se, não obstante tal fuga, os elementos do éter se aglomeram em determinadas zonas da Terra — o que se percebe pela densidade e enegrecimento das nuvens — tal pressão se torna insuportável. Por uma reação violenta, passam da inércia à maior atividade, que se apresenta pelo fogo do raio. Com a velocidade do pensamento, ele se desprende das nuvens, destruindo o que se lhe antepõe. Nesta ocasião, os elementos do éter e da Terra são atirados uns contra os outros em choques violentíssimos, a ponto de se unirem, densifica- rem e caírem à Terra como forte chuva ou saraiva.

  3. Se os elementos do éter — como acaba de acontecer — forem desafiados pelos impuros, da Terra, levam sua atividade às culminâncias. Neste caso, destroem eles ambos os elementos pela atividade do fogo geral, deixando de surgir chuva e saraiva.”

144.CAUSADOSFENÔMENOS METEOROLÓGICOS

  1. (Raphael): “O elétron representa o atrito e a pressão e, em seguida, a atividade dos elementos do éter, constituídos de maté- ria espiritual e natural, de luz e vida, dentro da própria atmosfera telúrica, inclusive no orbe e em tudo que contém. Esses elementos manifestam-se somente quando levados à reação.

  2. Se, por exemplo, friccionais dois pedaços de madeira, os ele- mentos nela e na atmosfera que a envolve são irritados, despertados da inércia, manifestando sua presença e atividade pelo incandescer, e finalmente queimam a madeira.

  1. Uma vez que grande parte dos elementos do éter se tornaram ativos, transmitem suas vibrações aos ainda em calma, provocando a destruição da madeira; juntando-lhe outro pedaço, os elementos deste também se acionam e a destroem; quanto mais rica em resina, tanto mais rapidamente é consumida. Eis a ação do elétron!

  2. Prossigamos. Submetendo duas pedras duras a forte fricção, vereis quantidade de faíscas delas se desprenderem. São igualmente a irritação dos elementos do éter, dentro e fora das pedras, manifes- tando sua reação. O mesmo percebereis com metais.

  3. Se duas correntes de ar se chocam — mormente em zonas montanhosas — percebereis também manifestação de fogo. A força sendo pequena, as correntes se equilibram; somente num choque maior surgirão raio e torvelinho, que facilmente arrancarão algumas árvores. Atingindo a força de um furacão em zona propícia, todos os elementos se incendeiam; o torvelinho se transforma em coluna de fogo destruidor, diante do qual grandes árvores, residências possan- tes e até mesmo rochas são aniquiladas.

  4. Tal coluna de fogo nada mais é que o elétron, ou a ação dos elementos do éter, irritados. Deste modo, atraem seus afins à longa distância e altura, provocando tamanho prejuízo, que os vestígios perduram durante anos e até mesmo séculos.

  5. Acontecendo tal luta de ventos no mar e perto da costa, transmite-se à própria água, formando-se as temidas colunas aquáti- cas, pois a embarcação por ela atingida soçobrará irremediavelmen- te. Nas zonas quentes do orbe, surgem inclusive colunas de fogo sobre o mar, das quais o navegador procura se esquivar ainda mais.

  6. Vimos, portanto, com exemplos vivos, a causa dos fenôme- nos telúricos e seu efeito. Exploraremos o assunto para maior com- preensão, pois o lema do Senhor para todas as criaturas e espíritos no Céu diz: Somente a pura Verdade em tudo vos libertará. Todos os fenômenos na Terra se apresentando em formas e efeitos, atirando as criaturas a falsas suposições e superstições, preciso é que o homem, além da aceitação da Vontade de Deus, adquira noções completas dos ditos fenômenos.”

145.FENÔMENOS ELÉTRICOS

  1. (Raphael): “Vimos surgirem faíscas do pelo do gato quando nosso amigo passou a mão da cauda à cabeça. Teria sido aquilo a irri- tação dos elementos do éter, talvez agarrados ao pelo? Claro! O pelo do gato é inteiramente liso, mas igualmente rodeado de elementos etéreos, como toda matéria, principalmente na região da cabeça e nas costas, onde o pelo é mais cheio.

  2. Passando a mão da cabeça à cauda, os elementos são levados à parte menos acumulada. Dá-se então mais o equilíbrio do que a irritação dos elementos, que nem se apresentam.

  3. Superfícies lisas, mormente de pedras preciosas e do próprio vidro, fabricado de cascalho pelos fenícios, filisteus e egípcios, pres- tam-se para obrigar os elementos à atividade; basta friccionar tais objetos com a mão seca. Deste modo, o fogo produzido é o mes- mo elétron.

  4. Além disto, é o queimar de madeira, palha, óleo, resina, naf- ta, enxofre etc. apenas a ação do elétron. O incandescer, diluir e o possível queimar de metais e minerais ocorre pelo mesmo cami- nho, pela crescente atividade dos elementos do éter, perturbados em sua inércia. Levados a uma atividade constante, por exemplo num raio, destroem a matéria, dissolvendo-a em seu elemento original. Na queima da lenha, óleo e resina, não atingem grau tão elevado porque enfrentam luta com elementos mais brutos da matéria, que os impedem em sua ação.

  5. Advindo-lhes, no ato de queima, maiores massas de elemen- tos pelo acúmulo do ar — o calor do fogo aumenta, ativando os elementos mais brutos do metal e da pedra à atividade, que pro- voca geralmente o incandescer, derreter e possivelmente sua total dissolução.

  6. A própria água possui grande quantidade de elementos do éter. Sua matéria consiste de bolhas pequeníssimas, nas quais se en- contram os ditos elementos. Sendo lisas e redondas, não se opri- mem, mas se desviam constantemente, de sorte que os elementos

se mantém calmos dentro da água. Basta ser levada ao fogo e ela se inquieta. Os elementos da água se irritam pela atividade exter- na de seus afins, começando a impeli-los e dilatá-lo com violência crescente. Muitos abandonam pelo estouro sua habitação através da dilatação das bolhas, unem-se aos elementos livres da atmosfera telúrica ou atravessam a camada total do ar, atingindo sua origem nas alturas.

  1. É, portanto, compreensível que o ferver e evaporar da água, até a última gota, seja igualmente um ato elétrico. Dar-vos-ei maior compreensão apontando certas experiências cotidianas.

  2. Sabemos que os elementos irritados manifestam, através da atividade, seu poder e força irresistíveis, até mesmo quando na água são inquietados pela crescente ação externa de seus afins, isto é, pelo fogo. Preferem evadir-se pela fervura e voltar ao estado de calma. Se levardes ao fogo um recipiente com água bem fechado, em breve os elementos demonstrarão sua força. Ainda que de ferro duplo — o recipiente estourará e os elementos se libertarão, voltando à calma habitual. Eis mais um exemplo da presença dos elementos do éter dentro d’água.

  3. Não há nada mais propício a levar os elementos puros do ar à grande atividade do que a subida dos espíritos impuros da Natureza que surgem em grandes massas do centro telúrico e ambos come- çam a se misturar, como aconteceu há pouco. Dá-se tremenda luta, na qual os impuros são sempre vencidos, mas também purificados, tornando-se úteis à existência de plantas e animais.

  4. Em tais ocasiões se desencadeiam formidáveis tempestades sobre o solo terráqueo. Se tal acúmulo ascensional dos elementos im- puros acontecer sob o mar, os puros se inquietam e a consequência é geralmente a ressaca, de maior perigo para o navegador porque, às vezes, se elevam a verdadeiras montanhas, fazendo joguete de navios possantes. Nessas ocasiões, certamente são purificados os elementos impuros; todavia, os homens correm perigo quando se encontram no mar. Marinheiros experimentados conhecem seus prenúncios e sabem fugir do perigo. Encontrando-se na embarcação, apressar-se-

-ão em chegar à margem e, isto não sendo mais possível, convém procurar o alto mar.

  1. Após tal tempestade, observareis a superfície da água e o na- vio cobertos de certa luminosidade, idêntica à vista na erva, nas ár- vores e nos próprios cabelos. A causa deriva do elétron; não somente da especial atividade dos elementos do éter, senão dos purificados, anteriormente brutos, do centro do orbe, começando a se tornarem úteis a plantas, animais, ao ar e à água. Os antigos sábios denomina- vam tal brilho de elétron contrário.

  2. Expliquei esse fenômeno de modo simples; podereis fazer o mesmo para acabar com a superstição e ignorância. Tudo isso é veneno mortal para a alma pura, somente vivificada pela Verdade.”

146.ÍNDOLEDE RAPHAEL

  1. (Raphael): “Ensinai a Verdade em todas as coisas, que tereis estrumado o campo espiritual da fé, e a Semente da Palavra de Deus facilmente deitará raízes, e as hastes se desenvolverão numa árvore de Vida, real e forte!

  2. Deve o homem compreender e sentir apenas Luz e Verda- de em todas as coisas, caso deseje ingressar na Vida do Espírito de Deus; pois qualquer sombra na alma pode levá-la a erros dificilmen- te apagáveis.

  3. Antes de pregardes o Evangelho, livrai as criaturas das supers- tições prejudiciais, a fim de poderem perceber, em breve, as grandes Bênçãos da Palavra de Deus, e assim se tornarem vossas amigas.

  4. Nada é considerado, por Deus e todos os anjos do Céu, com maior amor e carinho senão justamente amor e amizade verdadei- ros entre as criaturas. Só podem surgir quando elas se procuram na Verdade e na plena Luz de Deus. A Verdade pura satisfaz o coração, torna-o meigo, humilde, portanto amável, prestativo e misericor- dioso. Assimilai essas palavras pelo sentimento, que espargireis forte bênção entre os homens, e a Graça de Deus nascerá em vós. Com- preendestes bem?”

  1. Todos agradecem e confirmam a pergunta. O romano, su- mamente admirado do saber de Raphael, diz: “Como te foi possível atingir tamanha sabedoria? Tudo que dizes e fazes prova que tam- bém tu és mais que simples mortal. Acaso não és algo divino?”

  2. Responde o arcanjo: “Certo. Toda criatura que vive dentro da Vontade e Ordem de Deus tem a força vital e o Poder Divino em si; por isto é filho de Deus e pode chamá-Lo de ‘Santo Pai’, em Ver- dade e simplicidade. Quem assim faz, certamente terá algo de Deus Único e Verdadeiro, não só temporal, mas eternamente!

  3. Admiras-te de mim; e eu te afirmo que vários apóstolos do Senhor fariam o mesmo que eu, caso fosse necessário. Nada mais sou que um homem nascido fisicamente; mas não morri e jamais morrerei, vivendo eternamente, porque, como espírito puro, me tornei soberano de minha vida. Todos vós podereis fazer o mesmo, se viverdes dentro da Doutrina do Senhor. Dei-vos esta explicação à medida de vossa utilidade. Em tempo oportuno, recebereis mais.”

  4. O romano se cala. Os outros, porém, sabendo a origem de Raphael, silenciam, pois haviam recebido dele um aceno. Os recém-

-vindos se teriam extasiado com um espírito puro, obrigando a alma a uma fé prejudicial.

147.NEVEE GELO

  1. Após algum tempo, o capitão se vira novamente para o ar- canjo: “Neste momento, me veio uma ideia com referência ao efeito do elétron; desejava saber se os fenômenos do inverno também se originam na atividade dos elementos do éter.”

  2. Diz Raphael: “Não resta dúvida. No inverno, os raios solares atingem a Terra em sentido oblíquo, em ambos os polos. Por isto, os elementos etéreos lá não são perturbados tão intensamente quanto na linha equatorial, tornando-se menos ativos e menos eficientes.

  3. Tal inatividade tem a consequência da paralisação dos ele- mentos, que chegariam a se comprimir mesmo sem atrito, caso, em tais zonas, os elementos telúricos não subissem em maior número,

perturbando-os em sua inércia. Tais hóspedes indesejáveis desco- brem os outros, no ar, que procuram fugir em direção ao Equador, onde os primeiros são mais numerosos. Os fugitivos obrigam seus afins a acompanhá-los, provocando ventos gelados em virtude da atividade menor. Somente a atividade elevada produz calor.

  1. Quando os elementos impuros na atmosfera telúrica aumen- tam, formam-se neblinas e nuvens densas, que são carregadas e opri- midas pelos ventos. Daí surge luta, na qual os impuros são atirados ao solo em forma de neve e, assim, purificados em grandes massas. Eis uma ocorrência benéfica para o orbe, porque a neve fertiliza a Terra, aumentando sua produção.

  2. Percebo ainda a seguinte indagação em teu íntimo: desejas saber se o gelo em rios, lagos etc. é igualmente produzido por aque- les elementos. Certamente. Pela atividade diminuta e a constante tendência para a calma, são totalmente comprimidos. Em ligação com os elementos etéreos, tornam-se pesados, fazem pressão sobre os da água, que também passam à inércia total, fazendo surgir o gelo. Logo, quanto menor a atividade dos elementos, maior o frio; por isto, é mais difícil gelarem rios e córregos em movimento que águas estagnadas.

  3. Até mesmo homens e animais inativos e preguiçosos dificil- mente transpiram; criaturas muito ativas não sofrerão carência de calor natural, nem no próprio inverno. O ócio em tudo é, de certo modo, a morte e a condenação de todo ser. Por isto, estimulai o próximo à atividade; somente nela se cria a vida — no ócio, a morte. Recebestes bom ensinamento também neste sentido, que deverá ser utilizado na Verdade, trazendo-vos bons frutos.”

  4. Embora muito gratos pela explicação, os novatos não conse- guem formar ideia da Terra, e o capitão toma da palavra: “Não po- derias desenvolver um quadro racional da formação e constituição telúricas?”

  5. Responde Raphael: “Ainda que o fizesse durante anos, simples palavras não adiantariam. Por isto, vos darei outra expli- cação, quer dizer, facultarei aquilo que vos proporcionará prova

da sobrevivência da alma. Pela visão psíquica, vereis em poucos instantes a Terra toda, podendo fazer uma ideia exata da mesma. Para tanto, não necessitamos do terceiro grau da visão, pois basta o segundo. E, quando voltardes ao normal, farei com que a recor- dação perdure.”

  1. Os demais romanos pedem a mesma oportunidade, não obs- tante tivessem recebido do Senhor explicação completa do orbe. Conquanto não fosse necessário, Raphael aquiesce.

148.AGRÍCOLALEMBRAA PARTIDA

  1. Nisto, o arcanjo levanta as mãos e eles veem o planeta, como se estivessem em considerável altura. Percebem sua rotação em redor do eixo, todos os continentes, mares e as zonas polares cobertas de gelo e neve eternas.

  2. Raphael os deixa durante uma hora nesta visão interna a fim de estudarem a rotação e a crescente atividade, na zona equatorial, dos elementos do éter e do ar, os mais grosseiros, perceptíveis como vermes diminutos, mais ou menos luminosos. Subentende-se nota- rem igualmente tudo que existe sobre a Terra.

  3. Decorrido o tempo, Raphael os chama ao estado natural. Eles agradecem primeiro a Mim, em seguida a ele, pelo grande be- nefício prestado por tamanho conhecimento. Começam a relatar entre si o que viram e cada um se sente feliz, porque correspondia à visão de todos. Os romanos igualmente estão satisfeitos pela concor- dância com os estudos geográficos. A controvérsia se estende até de madrugada, enquanto Eu e os demais dormíamos.

  4. Finalmente, Agrícola diz: “Meus amigos e verdadeiros irmãos pela Graça do Senhor! Surge o dia da partida e convém arrumar- mos o necessário. Onde estão os empregados com os animais de carga e nossa bagagem? Há mais de doze dias aqui estamos sem cuidar disso!”

  5. Raphael diz: “Não necessitais afligir-vos com o que até então não vos preocupou. Os empregados e todo o restante de há muito

estão acomodados aqui, sem o saberdes; pois o Senhor estava ciente de vossas necessidades e mandou que eu organizasse tudo.”

  1. Dizem os romanos: “É demasiada Graça do Senhor para nós, pagãos. Já que assim é, está em tempo de saldarmos nossa despesa junto ao hospedeiro e a Lázaro!”

  2. Diz o último: “Amigos, Quem cuidou do primeiro assunto, fê-lo também com este, por Amor e Misericórdia! A caminho da Pá- tria encontrareis muitos necessitados, aos quais podereis manifestar caridade. Nada mais tendes a fazer até o momento da partida.”

  3. Diz Agrícola, comovido: “Sucedem-se os milagres do Amor do Pai, e nós romanos nada de bom podemos fazer.”

149.ODESTINODO SENHOR

  1. Nisto desperto, levanto-Me e digo: “Se crerdes em Mim e agirdes como manda Minha Doutrina, fazeis tudo que tenha mérito para Meu Amor, Graça e Misericórdia. Muito tereis que trabalhar em Meu Nome; fazendo por amor a Mim e ao próximo o que Meu Espírito vos insuflar, recompensar-Me-eis o que recebestes através do Meu Amor e Graça. Todo Bem aplicado em Meu Nome ao se- melhante, física e espiritualmente, tereis feito a Mim.

  2. Levareis convosco os jovens que vos confiei e mais outros pobres, por Amor a Mim, que vos darão grandes despesas, trabalho e preocupações, e Eu o aceito como feito a Mim, preparando-vos a recompensa no Céu, e neste mundo nada padecereis.

  3. Caso fordes experimentados por provações e tentações — o que não pode deixar de acontecer neste mundo — suportai-as com paciência e sem vos irritar, pois se transformarão em bênçãos. Os que Eu amo terão que passar por provas e provações.

  4. No Monte das Oliveiras dei a entender que, em futuro não distante, permitirei que os criminosos Me aprisionem e crucifiquem qual reles culpado. Tal chegando aos vossos ouvidos, não vos abor- reçais, mas continuai firmes na fé em Mim e no amor para Comigo, participando da Minha Obra de Salvação das criaturas, das algemas

antigas e duras da noite da morte, do pecado e da escravidão, da superstição tenebrosa e mortal!

  1. Muito embora este Meu Corpo seja morto pelos criminosos, Eu o vivificarei no terceiro dia, ressuscitando como Eterno Vencedor sobre a morte e julgamento. Mas voltarei junto de vós, dando-vos a Força de Meu Espírito e Vontade para a própria vivificação e bem-

-aventurança eternas. Aviso-vos pela segunda vez e com toda clareza para não vos aborrecerdes quando tal se realizar.

  1. No momento pensais: Por que deve isto acontecer? Não teria Ele, o Senhor Onipotente de Céus e Terra, outros meios para domi- nar os criminosos e tornar felizes os crentes?

  2. Respondo: Não quero que assim aconteça, pois teria outros meios e caminhos para salvar e tornar felizes os Meus filhos. As cria- turas más assim o querem e Eu o permito, para que se convertam à verdadeira fé em Mim pelo remorso e a penitência. A corja do Templo brada seguidamente: Vamos prendê-lo e matá-lo! Caso res- suscitar da tumba, acreditaremos nele! — Querem, portanto, fazer essa última prova em Mim e Eu o permito, finalmente. Por esse meio, muitos cegos adquirirão a visão, crendo em Mim. Os verda- deiros maldosos conhecerão a medida de seus pecados, caindo em julgamento e na morte eterna. Quando Eu tiver ressuscitado, irei a Roma para que vos certifiqueis de Minhas Palavras.”

  3. Diz o romano Marcus: “Senhor e Mestre, quando aconte- cerá isso?”

  4. Respondo: “Em breve. Antes de passar um ano, virei para dar-vos o que prometi. Agora, nada mais diremos a respeito. Vamos presenciar a aurora ao ar livre!” Assim, todos subimos no conhe- cido monte.

150.OCAMINHODAUNIÃOCOMO ESPÍRITO

  1. Em lá chegando, com exceção de alguns discípulos ainda adormecidos, Marcus, o romano, se aproxima e diz: “Senhor, dei- xarás também este local? Não poderias informar-nos do Teu futuro paradeiro, a fim de que em espírito pudéssemos seguir-Te?”

  2. Digo Eu: “Quanto à primeira pergunta, sou qual lavrador que possui muitos campos e dos quais precisa cuidar. Uma vez um deles preparado, acharíeis justo ele não tratar dos outros, ficando parado com o bom resultado do primeiro? Acabo de amparar este campo por vós representado e Minha Alegria é deveras grande.

  3. Agora urge passar para um outro ainda não cultivado, a fim de arar e semeá-lo. Deste modo, partirei com Meus discípulos após o desjejum. Não vos transmito o destino, para evitar que alguém de vós venha contá-lo, dando oportunidade aos Meus inúmeros ini- migos de Me perseguirem. Perturbariam o Meu trabalho, porque lutaria contra eles, sem proveito. É bom Eu saber para onde vou. Para os outros, basta saber onde estive e o que fiz.

  4. De modo algum quero dizer que os romanos não saibam calar. Há outros aqui que não desfrutam de vossa virtude, portan- to é melhor Eu Mesmo não Me trair. Não acontece que o próprio marechal oculta seus planos bélicos diante dos coronéis e capitães, quando pretende ganhar uma batalha? O mesmo faço Eu. Por isto, não ligueis por Eu não mencionar o próximo local a ser visitado. Em toda parte há romanos e gregos entre os judeus, que prestarão informações posteriores.

  5. Querendo seguir-Me em Espírito, meditai sobre tudo que de Mim ouvistes e assististes. Vivei e agi no Espírito de Minha Doutri- na, que contém Palavras de Vida, que Me seguireis real e vivamente em Espírito!”

  6. Todos se acomodam e Eu dou um aceno a Raphael para cui- dar dos jovens e preparar tudo para a partida dos romanos. Instan- taneamente ele desaparece, causando estupefação entre os novatos, mormente ao capitão e seus companheiros.

  1. Por isto, ele Me pergunta: “Não afirmei durante a noite ser este jovem algo divino? Sua sabedoria, força e o súbito desapareci- mento o confirmam. De onde é, e quem são seus pais? Senhor e Mestre, poderias dar um esclarecimento, caso quisesses!”

  2. Digo Eu: “Sim, se fosse indispensável à salvação de vossa alma. Não o sendo, basta saberdes o que ele mesmo vos disse. Não dando crédito a ele, que nesta noite tantas provas deu de sua hones- tidade, daríeis finalmente de ombros às Minhas Explicações, dizen- do: Mas, como é possível?! — Guardai, pois, Minha Doutrina, crede em Mim e agi como ensina, que em breve descobrireis o segredo do Meu Raphael!

  3. Muitos conhecimentos perturbam cérebro e coração do ho- mem materialista. Acumular a Luz viva da Verdade após muitas ações altruísticas alegra o coração e poupa à alma o trabalho de re- volver o cérebro, onde não encontrará o real e justo.

  4. Digo a todos: No espírito do homem se ocultam todas as Verdades infinitas! Tratai de alcançar a união com ele, que não ne- cessitareis perguntar quem são ou foram os pais de Raphael, pois o espírito vos levará a todas as Verdades.

  5. Ide às cidades do Egito e estudai durante vossa existência os inúmeros livros manuscritos, que voltareis à pátria como extraordi- nários sabichões. Com isto, vosso espírito ainda não se uniu a vós, e com todo aquele estudo sabereis do Ser Divino, do vosso espírito e da sobrevivência da alma, tanto quanto sabíeis há pouco. Aqui aprendestes, em poucas horas, muito mais da Verdade plena do que todos os sábios do mundo vos poderiam ensinar.

  6. Continuai neste Caminho, unicamente capaz de vos levar à Verdade e Sabedoria vivas, e não pesquiseis fatos e relações em tempo inoportuno, para cuja compreensão justa ainda não estais amadurecidos. Tais pesquisas fúteis impedem a alma de penetrar su- cessivamente no próprio espírito.

  7. Antes de tudo, procurai desenvolver e fortificar vosso cam- po emotivo dentro de Minha Doutrina; aprofundai-vos na miséria alheia, amenizando-a de acordo com vossas forças e recursos; con-

solai os tristes, vesti os desnudos, alimentai os famintos, saciai os sedentos. Ajudai os enfermos, libertai os presos, e aos pobres de es- pírito pregai o Meu Evangelho. Isto tudo elevará vossos sentimentos até os Céus, e a alma facilmente se fundirá com seu espírito, vindo de Deus, participando de Sua Sabedoria e Onipotência. Isto valerá mais do que saber muito dentro do mundo, como criatura insensível à dor alheia, provando pouco sentimento e o grande afastamento da verdadeira Vida do espírito.

  1. Digo-vos: O espírito, única manifestação viva no homem, é puro amor, e o sentimento mais sutil e eternamente benévolo. Quem se esforça em assimilar pela alma, ainda egoísta, este amor com seu sentir delicado e benévolo, tornando-se mais forte, posi- tivo, corajoso e dócil, promove a plena união do espírito, tomando posse viva das capacidades milagrosas e da vida, o que na certa vale mais que ter cursado todas as universidades do mundo, permane- cendo frio e insensível.

  2. Deixai por ora toda pesquisa inútil de situações e circuns- tâncias das coisas, os fenômenos, causas e efeitos no mundo, pois não proporcionam progresso à alma mesmo em cem anos. Ela não atinge conhecimento real e interno, pois continua com noções su- pérfluas e imperfeitas, suposições sem nexo, de onde jamais surgirão conhecimentos ordenados e completos, razão por que a alma se en- contra em constante busca, cheia de aflições.

  3. Não vos foi negado o necessário à extinção da superstição no campo da Natureza, pois tudo foi descrito e exemplificado mila- grosamente para prova da Verdade. O restante, até o Infinito, pro- curai atingir e conquistar no Caminho indicado, sem terdes necessi- dade de perguntar quem são Raphael e seus pais! Compreendestes?”

151.AJUDADOSENHORNAEVOLUÇÃO ESPIRITUAL

  1. Diz o capitão: “Presumo estarmos todos bem esclarecidos. Trata-se de uma nova Doutrina, não obstante alguns sábios terem feito algumas alusões, mas que não podiam ser praticadas. Aqui o

caso é diferente. Tu Mesmo Te apresentas como Mestre da Vida; portanto, tudo que dizes é Verdade e quem a seguir terá que alcançar o que prometeste como efeito.

  1. Todavia, não é fácil a realização de tudo. Quanto a mim, tenho boa vontade. Depende de Ti, Senhor e Mestre, ajudares o fiel cumpridor do Evangelho, caso venha a enfraquecer e se cansar.”

  2. Digo Eu: “O que desejas é, desde Eternidades, o assunto de Quem habita em Mim, pois, sem Mim, jamais podereis realizar algo de útil à Vida Eterna da alma. Entretanto, terá cada um de fazer tudo dentro do livre arbítrio. O resto Eu farei, com toda certeza e segurança.

  3. Antes de tudo, terás que desviar os olhos das tentações e atra- ções do mundo, inclusive os demais sentidos físicos, tornando-te mestre das sensações materiais. Não o conseguindo, Eu não te farei cego, surdo e mudo, e continuarás a lutar contra as sensações. Se, porém, chegares a vencê-las pela metade, ajudar-te-ei na conquista da soberania total.

  4. Ao passo que, se alguém se encher de bons propósitos, di- zendo a Mim que neles pretende permanecer, mas, ao enfrentar no- vamente as seduções, não consegue desviar os sentidos, caindo na mesma fraqueza — muito embora não maldosa — não progredirá, estacionando e não atingindo nem a quarta parte da soberania sobre os sentidos.

  5. Seu amor vacilando entre as tentações do mundo e Mim, não chegando à metade da força do Meu lado, não posso socorrê-lo e dar-lhe firmeza plena. O início tem de ser feito pelo próprio ho- mem, em virtude de seu livre arbítrio necessário à vida. O aperfeiço- amento total é questão Minha! Tendo assimilado bem, saberás o que fazer e Minha Ajuda não se fará esperar!” Satisfeito, o romano volta a palestrar com os demais conterrâneos.

152.AORDEMDIVINANAEVOLUÇÃO ESPIRITUAL

  1. Marcus, o romano, que havia prestado atenção à palestra com o coronel, dirige-se a Mim: “Senhor e Mestre, gravei no cora- ção o sentido de Tuas Palavras; entretanto, confesso não ser a vida humana um gracejo, em tais circunstâncias. A teoria é facilmente exposta; mas a prática..!

  2. Afirmaste dever o homem chegar à metade do domínio sobre as tentações antes que possa contar com Tua Ajuda, quando então lhe darias a plena maestria dos sentidos. Considerando serem as ten- tações mais poderosas nos jovens do que em nossa idade, na qual é fácil virar-lhes as costas, sugiro se não seria viável Tua Ajuda vir no momento da maior fraqueza, para com Ela o homem atingir a pri- meira metade do domínio; a segunda metade ele conquistaria com suas próprias forças.

  3. Sei, de própria experiência, com que poder as tentações do mundo deitavam por terra todos os meus bons propósitos, enchen- do minha fantasia e atiçando a alma à paixão violenta. Naquele mo- mento, teria sido ótimo se me tivesses ajudado a abafar a minha impetuosidade física. Atualmente, pouca dificuldade me traz e a renúncia dá-se automaticamente. Não há realmente mérito numa época em que as forças enfrentam tendências diminuídas.

  4. Se, por exemplo, uma casa arde em fogo, está na hora de abafá-lo. O auxílio vindo após, de nada adiantaria. Não pretendo responder à minha pergunta como querendo impor o meu parecer, e peço a Tua Opinião, Senhor.”

  5. Digo Eu: “Meu amigo, falaste bem e tuas razões estão dentro do conceito humano e das subsequentes atitudes. Eu, certamente, conheço o homem e seu processo vital melhor do que tu e qualquer intelectual, não podendo dar-vos outra explicação, senão dentro da plena Verdade.

  6. Pelo raciocínio lógico, tudo na Criação desta Terra mereceria crítica. Dentro do Amor e da Sabedoria de Deus, tudo tem de ser como é. Acaso não é estranho Deus ter dado ao homem um corpo

pesado, o qual deve carregar com dificuldade de um ponto a outro e, além disto, corre perigo de quedas desastrosas?! Não teria sido mais inteligente dar-lhe um físico leve qual inseto, que não se machucaria ao cair de grandes alturas e, caso caísse n’água, não se afundaria?

  1. Mas, nesse caso, o que aconteceria em uma tempestade ou mesmo sob um vento forte? Não seria o homem levantado e car- regado como uma leve pena, talvez a vários dias de viagem? Como poderiam homens dotados de um corpo tão leve possuir e manter suas casas? Poderiam cultivar o solo pesado e construir fortes casas com suas mãos macias e leves como o ar?

  2. Deste exemplo perceberás por que o homem precisa de um corpo pesado nesta Terra, conquanto esteja exposto a muitos peri- gos, todavia vencidos e afastados pela razão assim que quiser. Muitas vezes sucumbe ao perigo quem o procura. Prossigamos a crítica acer- ca da formação das criaturas.

  3. Que te parece: É razoável os frutos surgirem em sua máxi- ma delicadeza germinativa numa época rude e tempestuosa, em que muitas vezes são prejudicados, não podendo crescer e amadurecer em benefício de homens e animais? Não seria mais prudente deixar surgirem os vegetais tão fortes que nada sofressem com as intem- péries, ou mandar que serenem na primeira fase germinativa?! A inteligência humana poderia fazer tais objeções ao Criador, Sábio e Onipotente; pois para que fim fazer surgir algo, quando tem de enfrentar mil perigos?!

  4. Milhares de pessoas assim conjecturam; mas Deus não Se pode afastar de Sua Ordem Eterna, permitindo que tudo tenha iní- cio mui delicado e fraco, pois somente Ele sabe quais as condições propícias para a existência segura e firme dos espíritos da Natureza.

  5. Ainda assim, Ele protege o delicado surgir de todo ser e, na época da colheita, quase sempre há o bastante de tudo para as criaturas, mormente as que amam a Deus, confiam Nele e por tudo agradecem. Podem surgir colheitas fracas, que nem o necessário pro- duzam. O Senhor as permite quando os homens começam a esque- cê-Lo com seu materialismo. Os que continuam firmes na fé em dias

de provações e provas serão supridos sem passarem necessidades. As- sim, poderia prosseguir na crítica humana feita à Natureza; entre- tanto, não poderia alterar ou sustar as Leis de Minha Ordem Eterna.

  1. O que sucede às criaturas dá-se igualmente na conquista da maestria da vida do homem dentro da Minha Ordem. No iní- cio, tem de apresentar-se positivo e lutar contra as paixões que o assoberbam com as armas proporcionadas. Assim fazendo, receberá Meu Auxílio à medida de suas vitórias para prosseguimento de lutas subsequentes e mais sérias. No final, atingirá a meta da Vida, não obstante todas as lutas que o atiravam de todos os lados, assim como tu, tendo sido assolado por muitas paixões, alcançaste por Minha Ajuda a fase final do renascimento. Terás compreendido realmente?”

  2. Diz Marcus: “Senhor e Mestre, creio ter assimilado o sen- tido real de Teu Ensinamento. Mas, pensando em Roma, em seus habitantes efeminados e materialistas, sinto até aflição. Conhecem apenas a satisfação dos sentidos, o maior luxo e a insaciável volúpia pelos prazeres mais absurdos. A maioria alimenta orgulho desmedi- do, a ponto de desconsiderar a classe pobre humana, fazendo-lhe o que lhe apraz, ainda que seja a pior desonra e afronta à dignidade da criatura.

  3. Não basta celebrarem orgias constantes, nas quais se em- briagam até a loucura, pois ainda se exibem outros espetáculos para saciarem olhos e ouvidos. São encomendados, em tais orgias, gla- diadores, obrigados a lutarem com a espada para o divertimento dos hóspedes, até que um morra; ou dois atletas pelejam até que o mais forte e ágil fira o outro a socos até morrer. Antes da peleja, os gladiadores são avisados para lutarem e morrerem com distinção.

  4. Considerando isto tudo ao lado de Tua Doutrina, Senhor, meu coração se aflige. Opino que, num povo moralmente tão depra- vado, Tua Ajuda poderia agir milagrosa e antecipadamente, a fim de podermos semear o Teu Evangelho em solo mais propício.”

153.OSENHORDIRETRIZESAOS ROMANOS

  1. Digo Eu: “Amigo, sei muito bem do estado imoral de Roma e suas possessões, por isto vos adverti no sentido de manterdes afas- tada de tais centros a juventude que vos confiei. Todavia, existem na metrópole pessoas que detestam tais crueldades; não necessitam ser antecipadamente preparadas por milagres a fim de que o Evangelho crie raízes no seu coração.

  2. Os ainda presos a maus costumes e tendências não se podem tornar acessíveis por tais meios; para estes, é preciso outra coisa, a fim de despertá-los do aturdimento! Em época e local justos tal será feito.

  3. Vários, ainda que considerando as orgias e espetáculos cru- éis, começarão a evitá-los quando entrarem em palestra convosco. A fim de não voltardes a Roma sem o desejado adubo milagroso na semeadura de Minha Doutrina, facultar-vos-ei, em virtude de vossa fé firme em Mim, o poder de curar todos os enfermos e aleijados, dando maior ênfase e efeito às vossas palavras.

  4. Não façais alarde com este poder conferido por Mim, nem permitais a apresentação de honrarias, e dizei a todos os curados a Quem devem sua cura, e Quem unicamente merece Honra, Louvor e Gratidão! Dou-vos esta força, graciosamente, pelo Poder de Mi- nha Vontade; portanto, curai os necessitados da mesma forma! É ela aumentada pelo seguinte: podeis curar à longa distância, caso useis o passe mentalmente na fé segura e na Vontade, em Meu Nome. Dotados com este poder, levareis muitos ignorantes à fé no Deus unicamente Verdadeiro, e assim à Luz da Vida, à plena Verdade, e suas almas à Vida Eterna.

  5. De modo algum deveis participar, nem aparentemente, das tolices pagãs. Se as observásseis, vossos corações se encheriam de aborrecimentos, revoltando-vos contra os tolos do mundo, e não é salutar à alma se encher de fel.

  6. Considerai que justamente no amor, na paciência, meigui- ce e misericórdia se manifestam fortemente o maior poder e força

do espírito no homem; pois, se não conseguis curar um louco com amor e paciência, muito menos o conseguireis pela irritação e raiva. Às vezes é preciso apresentar-se certo rigor; atrás dele deve transpa- recer o amor, com a veste da verdadeira benevolência. Assim não sendo, o rigor nada mais é que um barulho sem efeito, que antes prejudica do que beneficia.

  1. Percebendo, à primeira vista, que um ou vários estejam de- masiado enterrados na tolice pagã do mundo, não possuindo ouvi- do nem coração para a voz da Verdade, afastai-vos e nada tenhais em comum com tais pessoas, a não ser que alguma venha a pedir orientação ou ajuda. Neste caso, esclarecei suas tolices com palavras razoáveis e simples e, se as aceitar, proporcionai-lhe o socorro dese- jado. Acrescentai a advertência de que não deve persistir nas antigas tolices e pecados; pois seu estado aflitivo seria pior do que dantes, quando lhe destes ajuda. Seguindo este Meu Conselho, tereis facili- dade para agir em Meu Nome, lucrando os melhores frutos da Vida.

  2. Tendo preparado outros para discípulos em Meu Nome, po- deis apor-lhes as mãos e eles receberão o mesmo Poder que vos dei. Antes de tudo, chamo novamente a atenção para que nenhum de vós, nem posteriormente qualquer discípulo, se desvie dos limites do verdadeiro amor, temperança, paciência, meiguice e misericórdia; o menor deslize, em breve, teria como consequência ódio, perseguição e guerra. Considerai este ponto, caso não queirais difundir discus- são, aborrecimentos, ódio, ira e perseguição em vez de bênçãos.

  3. De qualquer maneira, haverá contendas e suas consequências maldosas entre as criaturas, assim como nasce grande quantidade de joio entre o trigo; mas o trigo puro, ainda que progredindo par- camente, continuará o que é, e vós recebereis a prova de não terdes semeado o joio entre o trigo no campo da vida. Guardai bem estas Minhas Palavras no coração, que vossas ações serão ricas de bênçãos. Compreendestes?”

  4. De feições alegres, os principais romanos dizem: “Sim, Se- nhor e Mestre, e Te agradecemos pela enorme Graça que nos pro- porcionaste, sem que o pedíssemos! Sentimos a força no momento

em que a transmitiste, pois parecia uma torrente de fogo a inun- dar-nos, acompanhada de uma força de fé e vontade que tivemos a impressão de poder arrasar montanhas. Ainda que se dilate mais e mais, aplicá-la-emos apenas em caso de necessidade. Está bem, Senhor e Mestre, Jesus, Jehovah, Zebaoth?”

154.OEMPREGODAFORÇA MILAGROSA

  1. Digo Eu: “Sem dúvida; mas, se algum de vós ainda sentir força maior, pode usá-la a tempo e a hora, sem jamais querer sobres- sair-se, senão apenas quando puder ser útil em segredo, diante de poucas testemunhas. Não posso passar-vos somente o poder de cura para todas as moléstias; quem for dotado como vós, terá recebido força para muita coisa.

  2. De maneira alguma, porém, deve apresentar-se ao mundo para despertar admiração e fé em suas palavras. De posse de tal po- der superior e espiritual, deve o homem dirigir-se intimamente a Mim, dizendo: ‘Senhor, se for de Tua Vontade eu fazer uso da força conferida, transmite-o ao meu coração e liga a Tua Vontade Pode- rosa a esta força. Não sendo de Tua Vontade, peço-te igualmente o motivo pelo qual deve ou não operar-se o milagre.’ Poderá, todavia, fazê-lo sem Meu pleno consentimento; mas o milagre não será útil a ele, nem aos assistentes — o que deveis lembrar. Pois quem agir em tudo Comigo levará a Bênção verdadeira para seus feitos.

  3. Antes de tudo, recordai o que vos disse no Monte das Olivei- ras: na divulgação de Meu Evangelho, agi apenas pelo Poder da Pala- vra! Pois a criatura convertida pela Palavra é lucro muito maior para o Meu Reino que milhares obrigadas a aceitarem a mesma por obras milagrosas. A simples Palavra e sua Luz perduram eternamente; os sinais milagrosos passam e pouco valor têm para os descendentes que não os assistiram. Serão acreditados como fatos históricos ex- cepcionais; todavia, não proporcionam convicção plena da Verdade de Minha Doutrina, levando vadios e inclinados à fraude a opera- rem falsos milagres, e os assistentes à superstição.

  1. A simples Palavra é uma Luz, em si e para si, e dispensa pro- vas para testemunho da Verdade, por ser ela própria a maior prova das provas e o mais sublime milagre de todos os milagres.

  2. Se Eu diante de vós nada mais tivesse feito senão sinais es- tonteantes, teriam tido tanta utilidade quanto as assistidas por ma- gos e feiticeiros; apenas teríeis achado os Meus mais extraordinários, dando maior ensejo de relatá-los. O que vos iluminou e vivificou internamente foi apenas a Minha Palavra, e não as provas que tão frequentes apresentei. Se continuasse a efetuá-las, novamente vos es- tontearíeis, perguntando em seguida: Senhor, como consegues isto, e como foi possível de Tua Palavra e Vontade surgirem pão e vinho? Então, teria que tomar novamente da Palavra e explicar-vos a obra milagrosa, como fazia para poderdes compreender o ‘porquê’.

  3. Bem, se apenas a Palavra e não o milagre ilumina, prova que isto pode a Palavra pura e verdadeira sem precedente milagre! Por isto, nela reside eternamente a causa principal e a condição primor- dial da Vida!

  4. Fazer milagres pelo poder que Eu acabo de vos dar só pode ter realmente bom resultado em Minha Ordem quando a criatura o fizer em segredo e por amor ao próximo, para ajudá-lo em Meu Nome. Eu sou Quem tudo vê, ainda que ocultamente, e saberei re- compensar o beneficiador secreto à medida que tiver agido.

  5. Se puserdes as mãos nos enfermos diante das criaturas, te- reis feito o bastante para prova da veracidade de Minha Palavra; em segredo, sem testemunhas, podeis fazê-lo várias vezes ao dia, libertando-os dos sofrimentos e males, sem que apenas um deles venha a saber quem o fez. Digo-vos: Tal cura vale mais para Mim que cem, feitas perante o mundo! Por isto, aplicai a força conferida dentro do Meu Plano, que saberei recompensar-vos. Tereis compre- endido isto?” Agradecidos, todos confirmam e meditam sobre Mi- nhas Palavras.

  6. Nisto, se aproxima o comandante de Belém e diz: “Senhor e Mestre, também sou romano, creio em Ti e muito Te amo! Acabas de conferir aos dez romanos uma dádiva grandiosa, demonstrando-

-lhes o uso. Não poderias proporcionar-me o mesmo? Faria somente bom uso e justamente seria útil tal Graça para enfrentar os fariseus atrevidos; pois divulgam, entre os ignorantes, a capacidade de res- suscitar os mortos, caso fosse permitido! Tudo isto é mentira! E, se eu tivesse algum poder, saberia fazer com que silenciassem!”

  1. Digo Eu: “Justamente por isto não te proporcionei tal for- ça, pois ainda não alcançaste o necessário amadurecimento. Possuis a simples Palavra e podes usá-la como ensinei, e isto vale mais que operar milagres. Aproveita o que tens, com sucesso, que o restante ser-te-á dado por acréscimo!”

  2. Satisfeito, ele diz: “Está bem, Senhor, Tua Vontade se faça!” Acrescento: “Amigo, isto vale mais que mil provas.” Quando termi- no de falar, já é dia e aparecem três essênios de Jerusalém, pois corria boato que Lázaro sabia do Meu Paradeiro.

155.OSESSÊNIOSSEQUEIXAMAO SENHOR

  1. Entretínhamo-nos com as cenas matutinas, enquanto vários discípulos confabulam a respeito das dádivas conferidas aos dez ro- manos, os quais invejam intimamente. Entrementes, um emprega- do recebe os três essênios, apresenta-os primeiro a Lázaro e este a Mim. De pronto pergunto qual seu desejo, a fim de se expressarem diante de testemunhas, pois sabia há muito qual o motivo de Me procurarem.

  2. Curvam-se diante de Mim e um deles diz: “Senhor e Mestre, há vários meses nossos missionários receberam de Ti orientação de como deveríamos agir em nosso Instituto de grande projeção, do contrário a desgraça cairia sobre nós. Assim fizemos e, desde então, deixamos de operar falsos milagres, porque nos transmitiste que se- ríamos capazes de dar as maiores provas, caso vivêssemos fielmente dentro da Tua Doutrina.

  3. Acontece que a situação tornou-se verdadeiramente afliti- va. Diariamente somos procurados por criaturas que nos trazem os filhos falecidos para serem ressuscitados. Choram horrivelmen-

te quando não os aceitamos, querendo cobrir-nos de ouro, prata e pedrarias. Os motivos apresentados que nos impedem de fazer o milagre são infrutíferos e nos obrigaram a aceitar os defuntos, que, em quatro meses, montam a quinhentos.

  1. Até conseguirmos revivificá-los à nossa moda, passarão vários anos, mormente quando acrescidos de dois ou três semanalmente. Tentamos ressuscitá-los em Teu Nome; mas não se deu o milagre, obrigando-nos a voltar ao nosso sistema.

  2. Esse é o primeiro ponto que nos aflige. O outro, muito pior, é que começamos a agir segundo Tua Doutrina, de sorte a termos poucas crianças para trocar nos Institutos. Despedimo-las com as mães e amas para um destino melhor, cuidando de sua subsistência.

  3. Como fugirmos desse dilema? Se Tu não nos socorreres, su- cumbiremos em breve! É realmente difícil viver-se com justiça na luta contra a ignorância das criaturas, que não têm a menor ideia da Verdade e, além disto, existem as lutas internas quando se quer se- guir o Teu Caminho! Não menciono os prejuízos materiais, porque temos grandes fortunas. São os outros embaraços que nos afligem e Te pedimos encarecidamente real ajuda!”

156.CONSELHODOSENHORAOS ESSÊNIOS

  1. Digo Eu: “Eis o que sucede quando o homem que anterior- mente se tornou importante por meio de fraudes e astúcias começa a abraçar a Verdade. Deseja não mais enganar o próximo, todavia receia dizer-lhe a Verdade, pois poderia enfrentá-lo com as seguintes palavras: Infame! Se agora confessas a Verdade e podes praticá-la, por que não agiste assim no início do teu empreendimento? Que mal te fizemos nós, para nos enganares durante anos? Repara a trapaça feita em nosso prejuízo, do contrário não escaparás da justa vingança!

  2. Essa linguagem fala à consciência daquele que procura apro- veitar-se da credulidade dos incautos por meio de astúcia e traição. Tal homem abafa, no final, a própria consciência, ou seja, o espírito da Vida e da Verdade na criatura, prosseguindo no embuste.

  1. Mas que será quando surgir o Dia da Verdade Integral para todos? Para onde fugirão diante dos que tantas vezes enganaram e mentiram? Será uma fuga horrível, pois eles gritarão: Montanhas, caí sobre nós, a fim de não sermos atingidos pela Luz da Verdade do grande Dia e nos revele diante dos olhos dos que seguidamente enganamos!

  2. Digo-vos isto porque desististes das grandes fraudes em vir- tude da Verdade. Aqui ainda é possível reparar-se alguma coisa por certas obras. No outro mundo, onde tudo é revelado, inclusive os pensamentos mais ocultos da alma, nada mais será possível fazer, e o impostor e mentiroso terá que suportar as mais duras humilhações, passando vexames diante dos olhos dos justos.

  3. Dar-vos conselhos e ajuda certos é difícil até mesmo para Mim. Pois Eu — a Verdade Viva — não posso encobrir vosso passa- do e deixar as criaturas no engano por vós maquinado. Falai a Verda- de a todos, doutrinai-os e dizei-lhes que Eu assim mandei. Esclarecei o motivo justo por que pensais, quereis e agis de modo diferente dos tempos idos, nos quais ainda estáveis longe da Verdade. Não foi vontade maldosa, mas certa benevolência para com a Humanidade sofredora e cega que vos levou a engendrar artes e doutrinas que trouxeram consolo para muitos. Como agora penetrastes a Verdade, por Mim, não retenhais a mesma, porquanto ser-lhes-á mais útil que tudo até então proporcionado.

  4. Transmitindo a Verdade deste modo, não se irritarão, ou- vindo-vos com interesse e mais tarde vos considerarão amigos. Não era possível transmitirdes o que não possuíeis. Qualquer um po- derá compreendê-lo sem se aborrecer. Baseai-vos, unicamente, na Verdade; apenas ela vos libertará, dando-vos proteção e ajuda! En- contrar-se na Verdade, mas, ao mesmo tempo, querer ganhar o pão pela mentira, combina tão pouco quanto dia e noite, vida e morte. Compreendestes?”

  5. Respondem os três essênios: “Senhor e Mestre, compreen- demos tudo e sabemos que tens plena razão. Mas que fazer com os quinhentos defuntos? Convém enterrá-los ou devolvê-los aos pais

ou parentes sob qualquer pretexto? É o que mais nos oprime: Não queremos deixá-los voltar cheios de tristeza e sem consolo; de outro lado, a consciência nos diz não ser possível prosseguir na mistifica- ção, após termos entrado na Verdade. Dizendo-lhes a realidade, tor- nar-se-ão infelizes. Repetindo o que fazíamos anteriormente, pro- porcionando-lhes grande alegria, ter-se-ão firmado na superstição e muitos com eles. Senhor, que fazer?”

  1. Digo Eu: “É deveras difícil achar-se o meio-termo. Como desististes de todas as fraudes, e querendo prosseguir no Caminho da Verdade plena de Deus, que por Mim veio ao mundo, Eu Mes- mo vos ajudarei. Dentro de alguns dias vos visitarei e veremos o que faço. Transmiti isto aos irmãos de vosso Instituto, que saberão or- ganizar o restante dentro da Verdade!” Satisfeitos, eles partem, após agradecerem por tudo.

157.ACARAVANADE DAMASCO

  1. Novamente dirigimos a atenção à Natureza, pois a manhã era especialmente fresca e agradável. Viam-se os picos dos Alpes dis- tantes, o que era geralmente difícil em virtude do ar nebuloso. Hoje isto sucedia apenas em alguns pontos, pois, onde os incêndios não tinham sido exterminados, o ar estava turvado pela fumaça. Nisto, o coronel percebe grande número de pessoas na estrada de Bethânia para Jerusalém acompanhado por animais de carga, e ele pergunta a Lázaro o que era aquilo.

  2. Este, igualmente admirado, diz: “Não sei responder, pois, nesta época, caravana tão numerosa é algo raro. Está longe de- mais para se determinar a nacionalidade. Seria desagradável se aqui parasse, pois teria de mandá-la para o Vale, à hospedaria de meu amigo.”

  3. Diz o dito tavoleiro, presente: “Impossível pensar-se em po- der eu hospedar toda essa gente. Tu és dono de sete hospedarias, sem contar a sede. Além do mais, nem está certo se vêm para cá. Aguardemo-la!”

  1. Lázaro, inquieto, vira-se para Mim pedindo informações e Eu respondo: “Ora, que temos nós que ver com aquela caravana, que pretende vender suas mercadorias nas cidades praianas?! Deixa-

-a em paz!”

  1. E assim, segue a estrada, levantando grande nuvem de poeira. Neste momento, surge o Sol, inundando de luz a zona totalmente, e a própria poeira se torna dourada. O capitão então diz: “A luz glo- rifica tudo. O pó da estrada, tão desagradável, cria aspecto radioso no mar de luz!”

  2. Digo Eu: “Tua observação foi boa e instrutiva, e as criaturas mundanas assemelham-se à poeira da rua, por diversos motivos. Pri- meiro, são indolentes nas boas ações e enchem os caminhos da Vida com sua insignificância, tornando-se inconvenientes aos viajores da Vida, de bons propósitos. Somente uma verdadeira tempestade pu- nidora leva tais criaturas à ação, varre as ruas da Vida, carregando a poeira a campos e planícies, onde se transforma em solo fértil.

  3. Criam igualmente bom aspecto quando iluminadas pela Luz da Vida, podendo ser comparadas ao justo viajor da Vida, quando se manifesta como solo fértil. Enquanto se gabarem tais criaturas, qual inútil poeira de rua no puro ar da Vida e brilharem nos raios do Sol, que apenas ilumina o exterior sem penetrar no íntimo, tor- nam-se sempre um peso para os viajores da Vida. Assemelham-se aos fariseus e outros sacerdotes pagãos, que se erguem quando surge uma tempestade ou outra atividade real, importunando e ultrajando os viajores, turvando e sombreando a luz que ilumina o caminho.

  4. De certa distância, seu aspecto é agradável; poderia se con- cluir serem ativas e terem luz. Mas tal não se dá. Pois, ficando à es- trada ou sendo levantadas pelo vento, continuam ociosas e inativas. Pelo erguer, tornam-se sempre importunas e até mesmo prejudiciais aos viajores da Vida. Na vossa futura caminhada pela Minha Estrada da Vida, considerai sempre a prudência, evitando as suas estradas largas, movimentando-vos pelos atalhos estreitos e sem poeira, apre- sentando-vos até mesmo aí com calma, paciência e serenidade, que poucas atribulações tereis com a poeira da estrada!

  1. Se agirdes nos Caminhos da Vida como faz a caravana que, com pressa e barulho, procura chegar ao destino onde pretende lucro material, tereis que enfrentar lutas desagradáveis e maldosas com a re- ferida poeira! Guardai essa lembrança, cuja explicação vos será útil.”

  2. Diz o militar: “Quão certas são Tuas Palavras, Senhor! É preciso muito cuidado para não se erguer a grande quantidade de poeira mundana, e eu terei essa cautela!”

  3. Nisto, se apresenta um empregado para nos chamar ao desjejum. Como a caravana ainda não tivesse passado, recomendo esperarmos para não chamar a atenção. Meia hora mais tarde vol- tamos à casa, onde todos saboreiam o bom repasto e os romanos apreciam o especial vinho, de sorte que Lázaro lhes enche as taças várias vezes.

  4. Agrícola, então, diz: “Senhor e Mestre, perdoa se no desje- jum abusei um pouco do vinho. Assim fiz para tornar mais fácil a despedida! Se pudesse ficar Contigo! Daria todas as minhas posses e honrarias!”

  5. Digo Eu: “Teu desejo e vontade valem tanto quanto a ação; todavia, prestas grande benefício a muitos, como zelador dos bens conferidos e dos tesouros espirituais aqui angariados. Se tu e os teus os aproveitardes sabiamente, estarei em Espírito convosco, dando-vos tudo que precisardes. No Meu Reino habitareis e agireis eternamente Comigo. Eis o conforto e consolo para vossas almas!” Levantamo-nos da mesa e Eu abençoo os romanos. Novamente Me agradecem por tudo.

158.ADESPEDIDADACASADE LÁZARO

  1. Em seguida, chamo Raphael para aprontar a bagagem dos romanos. E ele diz: “Senhor, Tua Santa Vontade, cheia de Força e Poder Eternos dentro de mim, já é Obra perfeita! Lá fora, no átrio, está tudo organizado. Os jovens já montaram e aguardam o momen- to de partida. Desejam especialmente ver uma vez mais o Verdadeiro Pai, para agradecer-Lhe por tudo e pedir que Ele não os esqueça.”

  1. Fomos ao átrio e Eu abençoo os rapazes e as moças, cuja co- moção não permite se expressarem. Com carinho lhes digo: “Meus filhos, entendo a linguagem do coração, que Me agrada muito mais que palavras comovedoras. Prossegui neste amor, que Eu, vosso Pai Verdadeiro, estarei convosco em Espírito, ensinando e educando-

-vos pela Palavra Viva. Amém.”

  1. Novamente dou um sinal a Raphael. Montando no animal, ele se posta à frente da tropa e segue caminho para Tyro. Em seguida, os romanos, sua equipe, os fariseus, suas famílias e os demais com- ponentes aceitos pelos romanos montam seus animais. Dirijo-Me ao grupo romano, dou-lhe a Mão e recomendo seguirem Raphael, que seria visto até chegar ao palácio de Cirenius, em Tyro. Lá receberiam aviso para o embarque marítimo.

  2. Grato, porém aflito, Agrícola pergunta o que seria de Ra- phael! Respondo: “Não te preocupes com ele. É um espírito e sabe o que fazer pela Minha Vontade. Se o chamardes, por amor a Mim, orientar-vos-á. Segui felizes!”

  3. Deste modo, Bethânia ficou abandonada dos muitos hós- pedes. Ficamos Eu, os apóstolos, os greco-judeus e os discípulos de João. Só então esclareço, confidencialmente, Minha viagem para a zona de Jericó e as dez cidades, deixando à vontade de cada um seguir-Me. Só exigia silêncio quanto ao Meu Destino. Todos o pro- metem. Maria de Magdala pede acompanhar-Me.

  4. Eu lhe digo: “Maria, depende de ti, como já te disse. Mas, para não provocares aborrecimentos, farias melhor permanecendo aqui, na casa de Lázaro, seguindo-Me no coração. As irmãs dele te amam, e te- rás oportunidade de prestar-lhes bons serviços, que considerarei feitos a Mim. Todavia, não estou mandando e deixo que ajas à vontade.”

  5. Diz ela: “Senhor, a partir de agora, farei apenas o que for do Teu Agrado; portanto, aqui ficarei até voltares, seguindo-Te no coração. Não demores, Senhor, pois sem Ti nossa vida é enfadonha!”

  6. Digo Eu: “Maria, ainda que não esteja fisicamente em vosso meio, Meu Espírito estará convosco em ação. Pois Ele é Onipresente e, se assim não fora, não haveria ser vivo no Infinito, no qual tudo

é por Mim mantido e guiado. Pelo Poder de Minha Vontade viva e ativa, Eu Mesmo sou Tudo em tudo, e tudo está em Mim. Eu e Ele não somos dois, mas perfeitamente unos. A Vontade do Pai é, portanto, Minha Vontade ativa em tudo.

  1. Ninguém poderia ver o Pai como Ser Absoluto. Pois Ele, sem Mim, não existiria, e Eu tampouco, sem Ele, porque Eu e Ele somos perfeitamente Um Só Ser. Mas quem vir e ouvir a Mim verá e ouvirá o Pai. Pois Eu, como Pai, enviei-Me a este mundo pela Própria Von- tade. Felizes vós que credes em Mim. Quem crer em Mim acreditará no Pai que Me enviou e é Ele Quem lhe dará a Vida Eterna! Consi- derando estas Palavras, vossa alma será alegre, percebendo que, não obstante Minha Ausência física, estarei convosco. Terás compreen- dido Minhas Palavras, Maria?”

  2. Responde ela: “Sim, Senhor e Mestre, Pai, Filho e Espírito! Por isto, será mais fácil seguir-Te no coração!”

  3. Em seguida, Me viro para os apóstolos: “Até então, trabalhei sozinho, como Senhor e Mestre, e fostes apenas testemunhas mudas de tudo que ensinei e realizei. A partir de agora, trabalhareis Comi- go, assim como Raphael trabalhou diante de todos. Partamos, pois!”

  4. Pusemo-nos em marcha em direção ao Vale, onde chega- mos em meia hora. Lázaro, as irmãs e Maria de Magdala nos acom- panham à casa do hospedeiro. Quando Me vê de longe, corre de braços abertos com toda a família, para transmitir saudações dos romanos. Lázaro e os seus se despedem para voltar a Bethânia, en- quanto ficaríamos por algum tempo na companhia do hospedeiro.

159.NAESTRADADA HOSPEDARIA

  1. Encontrava-se ali o dono da hospedaria, situada na estrada que dava para Tyro e outras cidades. Os romanos haviam tomado a direção do Norte, que leva à Galileia — caminho igualmente segui- do por Raphael — de sorte que não havia pressa do tavoleiro chegar a casa. Como Eu pretendia tomar essa direção, ele nos acompanha, pedindo-Me para aceitar sua hospitalidade neste dia.

  1. Digo-lhe: “Pois não; todavia, não pernoitarei contigo, pois tenho pressa em solucionar outros problemas. Se quiseres, poderás seguir na frente, pois nossos passos são mais cautelosos.” Solíci- to, ele se põe a caminho e, dentro de meia hora, desaparece de nossa vista.

  2. Ao chegar à casa, a família o assalta com o relato do susto passado durante sua ausência. A tempestade noturna havia provo- cado verdadeiro pavor entre os moradores da zona, na qual muitas casas ficaram avariadas. O hospedeiro os acalma, dizendo: “Já sei de tudo e conversaremos quando houver tempo. Agora, há coisa mais importante a fazer. Tratai de um almoço farto para quarenta pessoas, pois, dentro de uma hora, estará aqui o grande Mestre e Senhor com Seus discípulos. É nosso dever recebê-Lo com atenção pelo grande benefício prestado o ano passado.” Todos põem mãos à obra! En- trementes, seguíamos com calma quando, não longe da hospedaria, somos abordados por dois mendigos profissionais pedindo esmolas.

  3. Dirijo-Me a eles, dizendo: “Vossa atitude não se justifica, porque não necessitais de caridade alheia. Por que arrendastes vossas casas e pastos perto de Samaria, depositando o dinheiro a juros na casa de finanças? Tornastes-vos ricos e agora mendigais com andra- jos a fim de economizar os juros, subtraindo aos verdadeiros pobres da localidade o que lhes compete. Não aprendestes das Leis judaicas ser preciso amar-se a Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo? Porventura agis de acordo? Levantai-vos, hipócritas e falsá- rios, do contrário passareis mal!

  4. Somente quem for deveras pobre e incapaz de trabalhar, em virtude de velhice ou deficiência física, tem o direito por Deus a solicitar a caridade dos benevolentes abastados. E quem der ajuda terá recompensa de Deus, que abençoará também o óbolo, dando ao necessitado o prêmio pela paciência com que suportou sua mi- séria. Se Deus recompensar a misericórdia de quem vos beneficiou pela falta de conhecimento, julgando-vos verdadeiramente pobres, castigar-vos-á aqui e no Além, tanto mais quanto sois simuladores e mistificadores.

  1. Consta o seguinte: Quem de bom coração der uma recom- pensa e fizer um sacrifício a um profeta e doutrinador terá, no Além, o mesmo prêmio de um profeta. Porventura sois profetas ilumina- dos pelo Espírito Divino, a fim de que vos projeteis como Luz ce- leste às criaturas da Terra, que caminham na treva de seus pecados?! Nunca o fostes, enquanto por várias vezes assim agistes para con- seguirdes maior óbolo, sem todavia acreditardes em Deus, pois de há muito aceitastes a crença dos saduceus. Sois tanto mais passíveis de punição porque subtraístes o que cabe aos mendigos desta zona. Afastai-vos imediatamente, do contrário conhecereis a Ira Daquele Que vos fala!”

  2. Confundidos, os dois se levantam e um deles, que no íntimo Me dá razão, diz: “Senhor, deves ser grande sábio ou talvez profeta, pois de outra forma não saberias de nossa situação. Agradeço-te pela admoestação, procurando reparar o mal praticado aos necessitados. Sendo tu profeta, portanto amigo de Deus, peço intercederes junto a Ele, para me perdoar os pecados!”

  3. Digo Eu: “Cumpre a tua promessa, que serás perdoado!” Manifesta-se o outro: “Poderia esperar a remissão das culpas, caso fizer o mesmo que ele?”

  4. Respondo: “Terás que penitenciar-te muito mais, caso pre- tendas o perdão das pesadas culpas. Teu vizinho herdou os bens que possui. Tu açambarcaste as posses de viúvas e órfãos, como reles sal- teador. Trata de reparar essa culpa diante de Deus e dos homens; a não ser assim, não serás redimido!”

  5. Ouvindo Minha sentença, ele responde, perplexo: “Neste caso, só me resta tornar-me mendigo verdadeiro!” Digo Eu: “De maneira alguma; enquanto tiveres forças para trabalhar, trata de ga- nhar o teu pão!” Diz o primeiro: “Vamos, e age de acordo com o conselho deste verdadeiro profeta. Se tiveres feito isto, encontrarás comigo acolhida e trabalho!”

  6. Acrescento: “O que ele receber de ti, após reparado o pre- juízo feito a outrem, hás de encontrar junto a Mim! Ide, pois, e agi como prometestes!” Ambos se curvam e seguem para sua pátria.

Prosseguimos a marcha e, ao chegarmos na tavolagem, o dono nos recebe e agradece pela Graça da Minha Visita.

  1. Digo-lhe, então: “Realmente sucedeu grande Graça no teu lar. Mas por isto não precisavas matar um vitelo para o nosso almoço. Considero somente o coração nobre e uma vontade boa, que valem mais do que qualquer refeição bem preparada. Aceito tua atenção com alegria, por saber que agiste por este motivo; não demoraremos, porém, porque nossa caminhada é longa.”

  2. Diz o hospedeiro: “Tudo se faça conforme o Teu Agrado. Já me preocupei com o vosso atraso; pelos cálculos, Tu e Teus discípu- los deveríeis estar aqui há meia hora.”

  3. Respondo: “Tive que sanear a estrada de uma antiga impu- reza. Eis o motivo do atraso; todavia, chegamos em tempo.” Protesta ele: “Meu Senhor e Mestre, como podias entregar-Te a uma limpeza de tal ordem? Isto cabe ao mais baixo serviçal.”

  4. Digo Eu: “Meu amigo, se Eu não purificasse, varresse e or- ganizasse vossa estrada da vida, não haveria salvação para as vossas almas. Eu não organizando e saneando os caminhos, eles nem exis- tem ou, talvez havendo rotas aparentes, acham-se cheias de impu- rezas e lodo, impossibilitando a caminhada do viandante, que se vê obrigado a voltar ou afundar no atoleiro. Assimila este quadro e saberás por que sou um Organizador e Mestre de estradas!”

  5. Ele não entende a comparação, recebendo explicação por parte dos discípulos. Em seguida, tomamos a refeição, durante a qual o hospedeiro agradece pelo saneamento da estrada. Passada hora e meia, partimos.

160.OCULTOADEUSEAPRECE EFICAZ

  1. Ao passarmos pela localidade, sou reconhecido por muitos, que Me pedem pernoitar, a fim de socorrer o grande número de enfermos. Os sinais ocorridos há alguns dias e a fúria da tempestade noturna haviam prejudicado pessoas nervosas, sem que o médico local pudesse ajudá-las.

  1. Parando um pouco, digo: “Não ouvistes dizer que Deus é Oni- potente e Misericordioso? Por que não Lhe pedis socorro?” Responde um: “Caro Mestre, tu podes falar, porque Deus te concede tudo que pedes. Nossas preces e pedidos de nada adiantam, Deus não os con- sidera, muito embora consideremos as Leis de Moysés. Na época dos profetas dava-se o mesmo; Deus só atendia às orações deles; os leigos podiam pedir a vida inteira, que nada alcançavam. Que fazer?”

  2. Digo Eu: “Com tais desculpas fúteis nada conseguis Comigo! Falta-vos a fé e a confiança plena em Deus, razão por que Ele des- considera vossas preces e oferendas. Por que não pedis confiantes? Porque vos parece incômodo! Por este motivo, mantendes na Co- munidade certos intercessores e pregadores pagos, com autorização do Templo, incumbidos de pedirem isto ou aquilo em vosso favor. Só depositais fé e confiança nesses mistificadores, que se fazem pa- gar, sem que suas orações tenham trazido benefício; por que não entregais fé e confiança ao Senhor e Pai?

  3. Digo-vos: Por causa de vossa indolência! Como proprietários de bens terrenos, estais acostumados a fazer trabalhar empregados por preço mínimo, enquanto agis como senhores, de sorte que acre- ditais no trabalho profícuo dos interessados junto a Deus, por serem bem pagos. Deus, porém, vira Seu Semblante e não presta ouvidos à gritaria repugnante e sem nexo dos sacerdotes pagos. Nisto se baseia o motivo pelo qual o Pai não quer e não pode vos ajudar. Pois, se assim fizesse, vos faria sucumbir mais profundamente na perdição completa, proporcionada pela imensa preguiça.

  4. Despertai vossa fé, o amor verdadeiro e vivo, e a confiança plena em Deus! Orai e pedi vós mesmos, em Espírito e Verdade, que Ele vos atenderá com toda certeza! Orai constantemente, fazei verdadeira penitência e suportai os sofrimentos justificados, com paciência e dedicação à Vontade Divina — como aprendestes pela história de Job — que Deus vos salvará de toda aflição, caso se coa- dune com a salvação de vossas almas!

  5. Acabastes de Me pedir Pessoalmente para livrar-vos das atri- bulações, considerando-Me profeta, ao qual Deus deu grande Poder.

Eu não posso e não quero atender-vos e ajudar-vos; pois Eu e Deus, o Qual desconheceis, por isto Nele não acreditais, somos Um Só Espírito e Uma Só Vontade! O que não conseguis com Deus dentro de vossa maneira de pedir, não alcançareis Comigo. Fazei primeiro o que vos aconselhei, e Eu darei Minha Ajuda, não obstante aqui não pernoitar. Muitos de vós Me seguiram até Capernaum; por que se afastaram de novo?”

  1. Responde um deles: “Mestre, externaste nas sinagogas ser preciso comer-se a tua carne e beber o teu sangue para alcançar a Vida Eterna da alma. Temendo tua loucura, afastamo-nos. Quando te encontramos em Jerusalém durante a festa do Templo, convence- mo-nos de que eras o mesmo poderoso de antanho, e nossa crença em ti voltou, razão por que te pedimos socorro. Se quiseres atender-

-nos, seremos gratos. Não podendo, conforme disseste, lembra-te de nós, quando nos achares com mérito.”

  1. Digo Eu: “Agi assim, que a ajuda virá!” Em seguida, parti- mos. Alguns nos acompanham. Como caminhássemos ligeiros, fica- vam para trás e finalmente resolveram voltar.

161.APARÁBOLADOJUIZEDA VIÚVA

  1. Quando já bastante longe do lugarejo, os discípulos pergun- tam: “Senhor e Mestre, por que não socorreste àqueles judeus, que tão fervorosamente pediram Tua intercessão?”

  2. Respondo: “Acaso deveria positivá-los em seu ócio, descrença e superstição? Demonstrei-lhes apenas o caminho a seguir. Assim fazendo, serão socorridos em tempo; do contrário, ficarão como dantes, construindo em areia. Isto pouco nos perturbará. Pois quem pretende prejudicar-se, não obstante sábios conselhos, não sofre injustiça.

  3. Estes, cujo pedido não considerei, necessitam de provação e sofrimento. Só assim serão sacudidos, experimentados na paciência, e seus corações se tornarão mais meigos e misericordiosos. Eu não sou apenas Salvador, mas igualmente Juiz quando for necessário.

  1. Ouvi uma parábola, da qual deduzireis por que tanto reco- mendei àqueles moradores oração e preces individuais e confiantes. Vivia numa cidade juiz imparcial, que não temia a Deus nem aos homens. Certo dia, uma viúva o procurou, pedindo que a salvasse de seu inimigo. Ele fez como que não ouvisse os rogos dela e, durante muito tempo, não quis atendê-la. Como a viúva insistisse, ele pen- sou: Embora eu não tema a Deus e não receie os homens, para me ver livre das suas súplicas e não me dar tanto trabalho, atendê-la-ei.”

  2. Intervém Simon Judá: “Quer dizer que é preciso a criatura se tornar importuna, a fim de alcançar algo de Deus? Pensei que Deus, Que habita em Ti e é cheio de Amor e Misericórdia, necessitava apenas de fé e confiança vivas para atender os suplicantes?!

  3. Já nos deste outra parábola, em que um faminto despertou o dono da casa, pedindo-lhe um pedaço de pão. Ele somente aten- deu para se ver livre do pedinte importuno. Tal atitude parece algo estranha. Se nós Te pedimos, somos satisfeitos sem grande insistên- cia de nossa parte. Assim também agiste com os pagãos, publicanos e outros pecadores, e a culpa da adúltera foi escrita na areia. Este último ensinamento de como pedir-se a Deus não combina com os demais.”

  4. Digo Eu: “Então, ouvi o parecer do Juiz ‘injusto’, segundo vossa opinião, que neste caso sou Eu Mesmo: Se um juiz do mundo dá o que de direito a uma viúva, quanto mais Deus salvará Seus elei- tos, se pedirem dia e noite que Ele tenha paciência e seja Benigno e Misericordioso! Eu vos digo: De pronto Ele os salvará! Se, futu- ramente, o Filho do homem voltar, achas que encontrará fé nesta Terra? Tão pouco quanto agora, e os que Nele crerem serão ridicu- larizados e escarnecidos.

  5. Todavia, haverá muitos a não se deixarem ofuscar pela sabe- doria mundana, divulgando abertamente o Meu Verbo. Estarei com eles dia e noite; a eles Me revelarei e protegerei contra as persegui- ções do mundo, e também lhes darei o poder de socorrer os enfer- mos e aflitos pelo amor. Deste modo, haverá mais Luz e consolo na Terra. Compreendeste esta profecia?”

162.AORDEMNADOMÉSTICA DIVINA

  1. Diz Simon Judá: “Senhor, em que época se dará isto?” Res- pondo: “Pedro, em virtude de tua fé poderosa, dei-te as chaves do Reino de Deus e te chamei uma rocha, na qual construirei a Minha Igreja, que jamais será vencida pelas portas do inferno. Deverias ser um novo Aaron e ocupar o lugar dele. Isto farás como divulgador do Meu Verbo, junto com os outros irmãos.

  2. Se, daqui a alguns séculos, os pagãos disto tomarem conhe- cimento, em Roma se alegará que tu fundaste tal assento naquela cidade. E os povos, forçados para tanto pelo fogo e a espada, acredi- tarão nos falsos profetas que tu, como primeiro príncipe da fé, insti- tuíste tal trono, regendo em Meu Nome a Terra toda, os povos e seus soberanos. Mas esse trono será falso e causador de muitas desgraças sobre o planeta, e ninguém mais saberá onde ergueste o verdadeiro assento, do Amor, da Verdade, da Fé viva e da Vida, e quem será teu justo sucessor.

  3. Tal assento falso subsistirá além de mil anos, sem atingir dois milênios. Agora, calcula, caso tenhas capacidade para tanto. Quan- do o falso trono apodrecer e ficar sem apoio, Eu voltarei com o Meu Reino. Vós Me acompanhareis à Terra, tornando-vos testemunhas diante dos que ainda tiverem a fé verdadeira e pura.

  4. Em tal tempo, será necessária uma grande purificação, a fim de que as criaturas Me reconheçam e creiam unicamente em Mim. Silenciai sobre esta revelação confidencial. Virá o tempo em que será divulgada abertamente.”

  5. Opinam os discípulos: “Senhor, não seria possível evitá-lo?”

  6. Respondo: “Como não? Mas, neste caso, os homens teriam que ser transformados em máquinas! Perguntais: Por que motivo há sempre ventos e tempestades tão fortes no mar? Bem, digo Eu, tiremo-los, e o mar não levantará ondas e vagas perigosas, podendo os navegantes sulcar os mares com toda calma! O mar estagnado apodrecerá, enchendo de pestes todas as partes da Terra, não mais havendo vida natural no solo e no próprio mar.

  1. Seria preciso transformar a água em pedra. Neste caso, onde se supririam os seres vivos, isto é, flora e fauna? A fim de que o mar e todas as águas continuem como são, deve haver ventos e tempes- tades, pelos quais o mar se conserve inquieto e ativo, evitando que o sal se deposite no fundo e se torne podre e pestilento.

  2. Os ventos e tempestades no mar correspondem às provações e lutas espirituais, que todos têm de enfrentar para atingir a Verda- deira Vida.

  3. O que vale para a vida física, de curta duração, corresponde a povos inteiros em larga escala.

  4. Um pequeno córrego corre pouca distância até se unir a um ribeiro, que necessita correr distância maior para se atirar num rio caudaloso. Este passa por vastas terras, até se unir ao Oceano. Este banha a Terra toda com o sal em diluição vapo- rosa, que preenche a atmosfera telúrica e vivifica todos os se- res viventes.

  5. No grande Oceano desembocam milhares de águas, limpas e impuras, doces, ácidas e amargas, curadoras e prejudiciais; mas no mar todos se misturam e têm uma qualidade de sal, do qual a vida orgânica de infinitas espécies tira sua matéria básica, aproveitando-a de acordo com suas necessidades.

  6. A situação do Oceano em relação à Criação total corres- ponde ao imenso Reino dos espíritos em relação às condições de vida humana. Todo indivíduo isolado é semelhante a um pequeno córrego; uma comunidade é um ribeiro maior; um grande regato é idêntico a uma nação. O rio é um povo e o mar representa, mor- mente nas margens, todos os povos da Terra, que nele imigram no mesmo elemento. O grande Oceano, sem margem aparente, repre- senta as criaturas no Reino espiritual que contém o Infinito e, pela constituição inteiramente viva, é a Base de todo Ser.

  7. Como vimos, a vida natural depende da constante movi- mentação do Oceano. Quanto maior a atividade, em virtude de tempestades e correntes, tanto maior a ação vital e o progresso pro- duzido nas criaturas da Terra.

  1. Se, dentro desta relação, as criaturas se tornam mornas, pre- guiçosas, dorminhocas e embotadas, surge grande movimento no infinito mundo dos espíritos, que provoca toda sorte de ondas e alterações pela insuflação indireta. Um povo se levanta contra outro, uma doutrina desafia outra, até que as criaturas sejam levadas à má- xima ação possível.

  2. Deste modo, surge maior conhecimento entre elas. A apa- rente necessidade as faz engenhosas e as obrigam a uma atividade mais intensa e ordenada. Os povos, que mal se conheciam, travam relações e se tornam úteis, e a luz cresce e produz maior sede por uma Verdade real.

  3. Esta exigência se tornando geral e os homens não mais se satisfazendo com a fé autoritária, motivo da superstição, estará em tempo de lhes dar um conhecimento maior e palpável, cheio de clareza e Verdade.

  4. Assim, as criaturas presas ao ócio, ignorância e sonolência mental serão levadas a uma movimentação completa e cheia de re- volução, até que venham a sentir o que lhes falta!”

163.AVOLTADO SENHOR

  1. (O Senhor): “Quando surgir tal situação entre as criaturas, terá chegado o momento de lhes dar o que carecem, ou então volta- rei ao mundo para fazer, de modo geral, o que ora faço isoladamente diante de poucas testemunhas. Agora deito a semente no solo terrá- queo, trazendo às criaturas não a paz, mas a espada para contendas, lutas e guerras.

  2. Somente aquele que aceitar a Minha Doutrina e praticá-la encontrará a Luz, a Verdade e a verdadeira paz de espírito, não obs- tante ter que enfrentar lutas e perseguições no mundo em virtude do Meu Nome, o que todos vós ireis passar. Quando Eu voltar pela segunda vez, terão fim a fermentação, lutas e perseguições, e o in- tercâmbio original entre as criaturas e espíritos puros será normal e definitivo.

  1. Daí concluireis por que será permitido que com o tempo surja, ao lado do assento pequeno e verdadeiro de Aaron, no qual Eu vos coloco, um falso e de longa duração no meio dos pagãos, e por que são admitidos falsos profetas e doutrinadores em Meu Nome.

  2. Vós e vossos descendentes não lhes devem dar atenção, ainda mesmo ouvindo a chamada da boca dos falsos que o Cristo esteja aqui ou acolá. Jamais habitarei num templo feito por mãos huma- nas, senão apenas em Espírito e Verdade nos que Me procuram, pedem, crendo somente em Mim e amando-Me acima de tudo. O coração será Meu Templo e nele Eu falarei, doutrinarei e guiarei. Lembrai-vos disto para não vos aborrecerdes quando tal se der, re- cordando de Eu vos ter avisado e dito o motivo de tudo!”

  3. Diz Simon Judá: “Senhor, percebemos a Tua Ordem que, ao lado do livre arbítrio dos homens da Terra, não pode tomar outra direção; mas para as criaturas em si nada de bom se pode esperar. De nossa parte, tudo faremos para deitar a Semente da Vida no solo do coração dos homens, a fim de em breve surgirem as maiores lutas entre Luz e trevas. Que se abram todos os túmulos e o mar devolva seus mortos para ouvirem o Teu Evangelho! Refiro-me às almas ne- cessitadas do Teu Verbo!”

  4. Digo Eu: “Falaste bem. O que ora acontece na Terra não será vedado ao mundo espiritual ainda atrofiado. Existem muitas criaturas fisicamente enterradas no sepulcro da noite espiritual, na profundidade do imenso mar da ilusão; a essas pregai o Evange- lho, fazendo surgir muitas à Luz da Vida, e a ilusão soltará seus prisioneiros.

  5. Quando isto acontecer de modo geral, apontará o grande Dia da salvação para todos os habitantes da Terra. O trabalho é grande e pesado, e existem poucos obreiros; tratai, antes de mais nada, que seu número cresça! Todo lavrador na Vinha da Vida poderá aguardar grande recompensa à medida de seu zelo e dedicação. Na Terra ela será pequena para o corpo, tanto maior para a alma e o espírito.

  6. Os bens terrenos são apenas fictícios e assemelham-se aos que se veem em sonhos. A pequena diferença consiste na posse

fictícia do sonho enganar menos tempo que a do mundo. Mas ambas se desvanecem, e após estará tudo como ficção diante dos olhos dos espíritos vivos, unicamente capazes de dar realidade à aparência.

  1. Tratai antes de tudo da conquista dos bens espirituais, isto é, da Luz, Verdade e Vida da alma! O que o corpo necessita na justa medida é dado ao fiel trabalhador na Minha Vinha, pois Eu sei do que necessita fisicamente. Compreendestes?”

  2. Responde Simon Judá: “Todos nós estamos orientados por que não atendeste aos moradores do local, muito embora Te supli- cassem socorro como médico do mundo! — Senhor, essa estrada ainda se prolonga? Já caminhamos bastante e, além de alguns arbus- tos, nada se vê.”

  3. Digo Eu: “Deixe a estrada como é — para nós, segura. Já Me acompanhastes por zonas muito mais estéreis no Eufrates, no entanto seguras e até mesmo benéficas. O mesmo se dará aqui. Pas- sando essa colina, chegaremos a um ponto que na época de Lot era uma das dez cidades. Veremos se existe algum albergue.”

  4. Obsta André: “Senhor, Tu bem o sabes, apenas não queres mencioná-lo.”

  5. Digo Eu: “Se assim é, por que te preocupas? Por vossa cau- sa, não quero fazer previsões; mas na primeira localidade encontra- remos fariseus, escribas e outros que se têm em conta de mui beatos. De passagem, entraremos em contato com eles.”

164.DIANTEDOALBERGUEDEUM PUBLICANO

  1. Dentro em pouco chegamos à primeira localidade, sentando-

-nos diante do albergue de um publicano que perguntou, de saída, se éramos judeus. E Eu respondo: “Como judeu, verás não sermos forasteiros. Tua mulher é grega, embora use veste judaica. Meus companheiros são judeus, muito embora trajando à grega.”

  1. Arregalando os olhos, ele diz: “Nunca te vi, como sabes ser minha companheira grega?”

  1. Respondo: “Sei muita coisa de ti, tua mulher e os filhos gê- meos, de tua família e da aldeia. Se tu soubesses Quem sou, dirias: Senhor, queira descansar aqui; o dia já passou!”

  2. Ainda mais perplexo, o publicano diz: “Amigo, és prestidigi- tador, essênio ou profeta! Entra com os amigos e toma um refresco. Vejo que me poderias transmitir muita coisa útil.”

  3. Digo Eu: “Já tens hóspedes em tua casa, pouco espaçosa. Além disto, não sou amigo dos aqui radicados: fariseus, escribas, sacerdotes e beatos, preferindo ficar ao ar livre.”

  4. Ainda mais perplexo, o publicano se comunica com os visi- tantes, dizendo haver chegado um grupo estranho, no qual se achava um homem conhecedor de coisas ocultas. Todos se levantam para ver e ouvir tal personagem. Um fariseu aposentado, orgulhoso de sua honestidade e beatitude, Me diz: “Amigo, consta teres conheci- mento de coisas desconhecidas aos estranhos desta zona. Dize-me, pois, quem sou e qual meu caráter!”

  5. Respondo: “A fim de que tu e teus colegas saibais que bem vos conheço, relatarei pequeno acidente de vossa vida. Achando-vos mui justos e beatos, desprezando os que não estejam à vossa altura, vos dirigis às festas de Jerusalém, levando as oferendas prescritas e justificando-vos diante dos sacerdotes. Durante a Páscoa deste ano, lá apareceram um velho fariseu, também orgulhoso de sua honesti- dade, e um publicano.

  6. Quando o primeiro se dirigiu para bem perto do altar, a fim de ser notado por pessoas importantes, ele orou em voz alta: Meu Deus, agradeço-Te por não ser como outros, isto é, ladrões, saltea- dores, injustos, adúlteros e como este publicano que aqui veio! Duas vezes por semana jejuo e dou, como fariseu, o dízimo de tudo que tenho. Considero as Leis de Moysés e as determinações do Templo. Dá-me a graça, Senhor, de permanecer nesta justiça e impunidade até o fim da vida!

  7. O publicano ficou nos fundos e longe do Altar, sem atre- ver-se a erguer os olhos ao Céu. Bateu no peito, exclamando: Oh, Senhor, sê Misericordioso para com um pecador que não merece

levantar os olhos para o Santíssimo! — Qual dos dois teria sido jus- tificado perante Deus: o fariseu que se enalteceu ou o publicano que se humilhou e rebaixou?”

  1. Percebendo Eu Me referir ao velho fariseu conhecido pelos elogios feitos a si mesmo, alguns respondem: “Amigo, só Deus pode julgar, pois examina o íntimo dos homens. Se, como forasteiro, és tão bem informado desse caso, dize-nos quem dos dois estaria justificado?”

  2. Respondo: “Como não! O publicano foi justificado por se ter humilhado e confessado sua culpa perante Deus, voltando ao lar como justo. Quem se enaltece, será humilhado; quem se humilha, será exaltado!”

165.UMACURANOHOSPITALDO PUBLICANO

  1. Os presentes aceitam o Meu veredictum . O publicano, po- rém, se desculpa, dizendo: “Amigo, julgaste certo e teu pronuncia- mento ter-me-ia alegrado ainda mais, não fora eu o mesmo publi- cano. Seja como for, não deixa de ser estranho teu conhecimento a respeito. Deves ser profeta e te peço abençoares o meu lar em Nome Daquele cujo Espírito te iluminou!”

  2. Digo Eu: “Isto já aconteceu com a Minha Chegada. A fim de reconheceres Eu não só ter o Direito, mas também o Poder de abençoar o teu lar e tua família, vai à tua casa pertinente ao alber- gue. Foi por ti organizada para abrigar enfermos sem recursos, com uma equipe de médicos e remédios. Há sete de moléstia grave que, não obstante os conhecimentos e a boa vontade do facultativo, não melhoraram. Eu já os socorri! Vai te assegurar!”

  3. O publicano e os amigos para lá se dirigem, onde encontram todos curados. Perguntam quem lhes fizera isto; deveria ter-se dado um milagre, pois jamais um médico salvara tais entrevados, cegos e aleijados.

  4. Respondem eles: “Não sabemos quem foi, pois desde cedo ninguém aqui esteve. Sentimos apenas uma força nos percorrer o corpo qual fogo e instantaneamente obtivemos saúde como jamais

experimentamos. É tão extraordinário, que não nos atrevemos a dei- xar o leito.

  1. Os dois cegos foram a primeira prova de não somente nós termos sido salvos; ainda assim, duvidávamos. Somente agora, com vossa presença, acreditamos. Deve ser milagroso o homem que vos informou, portanto sabeis melhor que nós. Queremos nos vestir e agradecer-lhe.”

  2. Isto se deu diante da estupefação dos templários, e um inda- ga do outro por quem Me tomava. Alguns moradores e os curados então afirmam: “É estranho que sacerdotes e escribas ainda per- guntem quem seria capaz de curar pelo poder da vontade. Somente Deus pode, e quem estiver pleno do Espírito Divino!” Os templá- rios reagem contra eles, pois não é viável que os leigos se atrevessem a ensinar os sacerdotes de Deus.

  3. Os outros se dirigem a Mim, em companhia dos curados, e dizem: “Salve tu, grande Mestre, que vieste em Nome do Senhor! Hosana nas alturas e todo louvor a Jehovah, que deu tal Poder ao homem!” Em seguida, muitos genitores correm aos lares para traze- rem os filhos mais ou menos fracos e enfermos, pedindo que Eu os cure pela Bênção.

  4. O número de crianças é enorme e, quando os apóstolos per- cebem que Eu poria as Mãos em cada um, dizem: “Só restam duas horas do dia. Se o Senhor der passes em todos, como chegaremos a outro local? Não admitamos os pequenos, com a alegação de não ser preciso Ele tocá-los individualmente. Basta pronunciar uma pa- lavra e todos se curarão!” Com isto, eles impedem a aproximação até Mim, irritando-se contra os que tentavam furar o cerco.

  5. Então chamo a todos e digo aos discípulos: “Deixai vir a Mim as criancinhas, pois delas é o Reino de Deus! Em Verdade vos digo: Quem não conquistá-lo qual criança, não ingressará nele!” As- sim, todas se achegam e Eu as toco, acaricio e elas se tornam fortes e saudáveis, voltando junto dos pais, que não sabem como agradecer.

  6. Alguns discípulos se adiantam, dizendo: “Senhor, estabele- ceste outra condição à conquista do Reino de Deus! Como podemos

nos tornar crianças, se somos homens de idade? De que adiantou todo esforço, sacrifício e renúncia?”

  1. Respondo: “É preciso muita paciência para se tratar con- vosco! Quanto tempo terei que vos suportar, até que tenhais a justa compreensão?! Se digo que apenas se conquista o Reino de Deus como criança, não Me refiro à infantilidade física, mas de coração. Uma criança é isenta de orgulho, ira, ódio, sentido perverso, paixões e impaciência. Às vezes chora quando é admoestada; mas facilmente se conforma, esquece a mágoa e cerca os benfeitores de carinho. Deste modo deveria ser o coração de cada criatura, e o Reino de Deus seria sua posse. Compreendestes?”

  2. Nisto, o publicano se dirige a Mim: “Milagroso salvador! Prestaste um benefício incalculável para essa aldeia. Dize-me o que te devo!” Oponho: “Nada aceitarei, pois quem teria algo que não tivesse recebido de Deus? Como querer pagar a Deus, ao Qual tudo pertence?! Se quiseres fazer o Bem, faze-o aos pobres, que Deus o aceitará como prestado a Ele. Crê-Me: O que fiz não foi Obra Mi- nha, senão do Espírito Daquele que chamais de Deus e Pai, sem conhecê-Lo. Eu O conheço e vejo sempre o Seu Semblante. Por isto, não perguntes o que Me deves. Traze algum pão e vinho!”

166.OSENHOREORICO REITOR

  1. Quando nos aprontávamos para a partida, um reitor se apro- xima de Mim e diz: “Bom Mestre, como homem pleno do Espírito Divino e conhecedor do Reino do Céu, dize-me o que devo fazer para conquistar a Vida Eterna!”

  2. Digo Eu: “Se Me tomas por simples homem, como Me tratas de bom Mestre? Ninguém é bom, senão Deus! Sendo judeu e reitor da sinagoga, saberás o que ordenou Moysés. Entre outras, consta: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não prestarás falso testemunho, e honrarás pai e mãe. Quem respeitar isto receberá a Vida Eterna!”

  3. Obsta o reitor: “Caro Mestre, isto fiz desde a infância; toda- via, nada percebi que me desse a certeza de receber a Vida Eterna da

alma após a morte. Soube, de várias fontes fidedignas, que pessoas merecedoras do Reino do Céu, já em vida, têm provas dessa bem-a- venturança. Sou idoso e cumpri as Leis dos profetas, sem jamais ter tido pressentimento dessa ordem. Por isto, fiz a pergunta anterior. Pois a simples fé constitui base fraca à manutenção das virtudes.”

  1. Digo Eu: “Amigo, está certo o que disseste das provas e pres- sentimentos. Todas as criaturas que vivem dentro da Doutrina de Deus, virtuosas e devotas, recebem garantias consoladoras e vivi- ficadoras, e tu as terias sentido igualmente. Falta-te uma coisa, de grande importância para tal finalidade.

  2. És bastante rico e, conquanto não sejas avarento, és econômi- co, sabendo restringir o amor ao próximo. Coração e alma se acham mui presos aos bens materiais, pelos quais não pode penetrar a suave luz da Vida do Céu. Enquanto tua alma estiver presa pelo amor aos tesouros sem vida e às tentações do mundo, ela igualmente estará morta. Em tal situação, não se pode falar de percepções espirituais. Dar-te-ei um conselho; caso o seguires, receberás tudo que até então não alcançaste. Vende teus bens, distribui a renda entre os pobres, que prepararás um tesouro no Céu, e serás suprido da justa Luz da Vida. Em seguida, acompanha-Me, para encontrares garantias absolutas para a Vida Eterna da alma. Compreendeste?” Ouvindo o conselho, o reitor rico e proprietário de grandes terras entristeceu-se, virando-Me as costas.

  3. O hospedeiro e demais presentes acrescentam: “Sábio e bom Mestre, atingiste o ponto nevrálgico. Aquele homem é mui justo e não se pode acusá-lo de qualquer parcialidade; mas não pode ser contado entre os generosos e os próprios empregados ganham pouco e comem mal. Quem fizer um serviço para ele tem dificuldade de receber o pagamento mais reduzido. Em tudo acha defeitos, por isto reduz o preço à metade e quase nenhum operário quer saber dele.

  4. Ele e o velho fariseu que o acompanha combinam bem. Ou- vindo-se falar de suas obras feitas em sigilo aos pobres, chega-se à conclusão de não haver criaturas mais benévolas. Estamos contentes por lhes teres dito a Verdade.”

  1. Confirmo: “Sim, disse-lhes a plena Verdade e, com ela, o Caminho pelo qual unicamente chegarão à Vida Eterna. Acrescento mais: Mui dificilmente tais ricos ingressarão no Reino de Deus, ou seja, na Vida eterna e verdadeira! Mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha!

  2. Toda alma leva para o Além somente o seu amor, que o segue como obras de sua vontade. O amor da alma estando preso às coisas mortas deste mundo, a ponto de unir-se a elas, determina a morte da alma. A vontade se identificando às coisas materiais, carece de liberdade plena, portanto é condenada; é o que se chama de inferno e morte eterna. Cuidai antes de tudo que vossa alma não seja apri- sionada pelo amor ao mundo, seus tesouros e tentações, pois em tal caso será difícil dele arrancar-se!”

  3. Todos os ouvintes exclamam: “Oh, Mestre querido! Quem poderia chegar à bem-aventurança em tais condições? Pois, de modo geral, todas as criaturas são egoístas e nós mesmos sofremos desse mal.”

  4. Digo Eu: “Infelizmente, assim é, e os homens jamais se sal- variam; mas o que para eles é impossível é fácil para Deus; por isto, Eu vim Pessoalmente como Homem ao mundo, para proporcionar-

-vos ajuda. Quem crer em Mim e agir pela Doutrina receberá a Vida Eterna; pois Eu Mesmo sou o Caminho, a Verdade e a Vida Eterna.”

  1. Todos se calam perplexos e o hospedeiro diz: “Senti ocul- tares mais que um profeta, sem me atrever a externá-lo. Tu Mesmo testemunhando de Ti, só posso acrescentar: Senhor, não mereço le- vantar os olhos; sê Misericordioso para com um pobre pecador!”

  2. Respondo: “Tem ânimo! Aqui vim porque tuas obras Me agradam muito mais que as do reitor e do fariseu. Continua amando a Deus acima de tudo e ao teu próximo, sem distinção de classe e religião, como a ti, faze-lhe o que poderias desejar que te faça racio- nalmente; assim, terás cumprido a Lei e todos os ensinamentos dos profetas. Agindo desse modo, teus pecados serão perdoados, ainda que seu número fosse semelhante à areia do mar e à erva da terra! Assim, verás que tudo é possível para Deus, ainda que não seja viável ao homem!”

167.OPRÊMIODOS DISCÍPULOS

  1. Nisto, Simon Judá se adianta, dizendo: “Senhor, tudo aban- donamos para seguir-Te à primeira chamada e nunca pedimos re- compensa material. Sendo o assunto o Reino do Céu e a Vida Eter- na, dize-nos o que nos espera na outra vida?”

  2. Digo Eu: “Realmente, não há quem abandone lar e família, por causa do Reino de Deus, que não receba multiplicado em vida; e, no Além, colherá a Vida Eterna! Se Eu vos digo isto como Aquele que tudo tem e pode dar o que promete, podeis acreditar-Me. Há alguns anos Me seguis, sabendo que jamais proferi Palavras sem efei- to e cumprimento.

  3. Em verdade vos digo: Esta Terra e o Céu visível e material desaparecerão, para dar lugar a novas criações, mas Minhas Palavras perdurarão eternamente e Minha Promessa se cumprirá! Quem crer em Mim e fizer Minha Vontade terá a Vida Eterna, tantas vezes demonstrada, e é estranho Me perguntardes o que vos espera por terdes abandonado tudo.”

  4. Diz Simon Judá: “Senhor, percebeste eu ter feito a pergunta não por nossa causa, mas em virtude dos que aqui ainda se acham presos ao mundo!”

  5. Afirmo: “Se não o tivesse notado, teria respondido de modo diverso! Não Me dirigi a vós, mas a todos. E onde o Meu Evangelho for divulgado, tudo o que aqui ocorreu deve ser mencionado.”

  6. Todos então Me pedem para Eu ficar esta noite, pois já es- tava próxima. Todavia, lhes digo: “O que vos agrada com a Minha Presença será do agrado de vossos vizinhos. Em Espírito ficarei con- vosco, se vos lembrardes de Mim com fé e amor!” Prometem-no fielmente e Eu os abençoo e sigo caminho, sem permitir-lhes a com- panhia até o próximo local. Assim, ficam conversando a noite toda.

  7. Alguém poderia perguntar como era possível os moradores dessa vila, que igualmente peregrinavam para Jerusalém, não terem conhecimento de Minha Pessoa, pois Minha Fama corria por toda a Judeia, e Jerusalém estava cheia de Meus Ensinos e Feitos. É facil-

mente explicado. Essas pessoas raramente lá iam, por serem muito pobres. As mais favorecidas preferiam ficar em casa do que empre- ender viagem àquela cidade; temiam os gastos inúteis e o assalto por parte dos pobres durante sua ausência.

  1. Deste modo, ninguém havia ido nas proximidades de Jerusa- lém durante alguns anos, e a estrada não era frequentada por outros peregrinos por ser muito perigosa e, além do mais, tais arrabaldes eram habitados, em sua maioria, por gregos e árabes. O completo desconhecimento de Minha Pessoa e Doutrina Me levaram a pro- curar tais lugarejos, pois vim ao mundo à procura dos perdidos e para soerguer os cansados. Eis a resposta para quem talvez inda- gue dos motivos que me levaram nessa época e mais tarde a zonas não informadas de Mim, quando a Doutrina tinha sido levada à Europa, Pérsia, Índia e Egito. Essas palavras valem para os leitores deste Evangelho retransmitido, e feliz quem as aceitar no coração e nele honrar-Me, aplicando-as. Agora, retornemos ao relato de nossa viagem.

168.OSDISCÍPULOSEOCEGOACAMINHODE JERICÓ

  1. A uns cem passos distantes da vila, viro-Me para os discí- pulos, pois os conhecidos greco-judeus e os discípulos de João se haviam atrasado, e digo: “Não vos aborreçais, pois tudo que fora dito pelos profetas terá que ser cumprido! Dentro de algum tempo, seguiremos para Jerusalém, onde se realizará o que eles falaram a res- peito do Filho do homem. Será entregue aos pagãos, ridicularizado, vilipendiado e escarrado, açoitado e morto. Mas, no terceiro dia, ressuscitará pela própria Força e Poder, ficando convosco até o fim do mundo e seu tempo, e vós com Ele no Reino Eterno.”

  2. Perplexos, os discípulos conjecturam: “Qual é o sentido des- sas palavras? Certa vez, disse que os templários O assaltarão e Ele permitirá se encha a medida dos pecados. Agora Se refere apenas aos pagãos, até então Seus melhores e mais fiéis amigos.” Indecisos, os apóstolos não se atrevem a falar-Me. Pedro opina Eu não concordar,

caso se externem, sendo melhor deixar o assunto. Como se calem, faço o mesmo.

  1. Assim, chegamos a uma encruzilhada. A estrada velha, na qual vínhamos de Jerusalém, seguia por vales e montes; a nova tam- bém dava para a capital e era mais usada; por isto, nela se viam frequentemente mendigos. Dobramos para a estrada nova, dando a impressão de voltarmos a Jerusalém; apenas queríamos atingir de- terminada localidade, quando encontramos um cego. Nesta épo- ca, havia muitos que se faziam levar à metrópole na expectativa de maior renda. O referido pobre tinha estado em Jerusalém durante as últimas comemorações e ouvira de Meus Milagres e Curas.

  2. Alguns discípulos, que tomavam a dianteira para chegarem à vila antes de anoitecer, eram abordados pelo cego. Como não ti- vessem dinheiro, ele indagava de sua procedência, o que faziam, se igualmente eram necessitados e quem estava em sua companhia.

  3. Eles respondem: “Somos discípulos de Jesus de Nazareth, que por aqui peregrina para abençoar este local. Não precisamos de dinheiro, porque Ele nos supre de tudo.” Ouvindo isto por parte dos discípulos, que esperam Eu Me aproximar, o mendigo percebe a presença de várias pessoas e pergunta se Eu aí Me encontrava. Ao receber confirmação, ele brada: “Ó Jesus de Nazareth, Filho de David, tem piedade de mim!” Os apóstolos o ameaçam de castigo, caso continue gritando, pois chamaria a atenção dos moradores da próxima vila. O mendigo não se perturba e grita ainda mais: “Ó Jesus de Nazareth, tem piedade de mim!”

  4. Nisto, Eu paro e digo ao acompanhante para trazê-lo junto a Mim. Em seguida lhe digo: “Que queres que te faça?” Responde ele: “Faze com que eu enxergue, Senhor!” Acrescento: “Assim seja! Tua fé te salvou!” Ele adquire a visão e Me segue, louvando a Deus por Me ter dado Poder tão grande!

169.OSENHORNOALBERGUEEM JERICÓ

  1. Muita gente nos segue a Jericó. Os discípulos descobrem o nome ao chegarmos à velha cidade, completamente abandonada, tendo mais ruínas que habitações, e o povo Me pede para ficar com ele. E Eu digo: “Está bem. Levai-nos a um albergue, pois vossas aco- modações são reduzidas.”

  2. Diz um homem: “Senhor e Mestre, há dois albergues, cujos proprietários são gregos exploradores, que, antes de acomodar os hóspedes, perguntam qual sua situação financeira. Não podendo pa- gar, não são aceitos. Vimos quem és e qual teu poder; lastimaríamos caso tal sucedesse contigo. Tudo faremos para que tu e teus amigos tenhais boa acolhida conosco.”

  3. Digo Eu: “Vossa boa vontade é tanto quanto a obra. O Espí- rito Divino dentro de Mim Me diz o que fazer, de sorte que tenho de pernoitar no primeiro albergue do grego ganancioso. No começo se negará; em seguida, fará o que eu quero. Podeis acompanhar-Me durante algumas horas.”

  4. Chegamos, pois, à praça principal, onde se acha a grande hospedaria e o dono nos pergunta, solícito, se queremos entrar.

  5. Respondo: “Realmente assim é. Acontece não ter Eu ouro e prata, mas outros tesouros que descobrirás. Descobrindo-os, terás repugnância ao dinheiro.” Mostrando-se amável, ele diz: “Podeis en- trar, pois aproveito tudo!” Após nos sentarmos em diversas mesas, nas quais se via um lampião aceso, o tavoleiro pergunta se queremos tomar qualquer coisa.

  6. Digo Eu: “Tens pão e vinho, é quanto basta para hoje. Mas terás que dar bom pão e o melhor vinho; pois o comum que costu- mas servir, por preço elevado, não é vinho, porque é feito de maçãs e peras. E o feito de groselha Eu não tomo, mas somente o extraído de uvas boas e maduras, que nascem perto do Líbanon e que tens em abundância.”

  7. Algo admirado, o grego diz: “Amigo, não me lembro de ti, portanto não podes saber o que tenho na adega. Certamente alguém

me difamou. Dize-me quem é para castigá-lo, e eu vos servirei gra- tuitamente.”

  1. Digo Eu: “Enganas-te, ninguém te denunciou. Sei muita coi- sa mais de tua casa e demais propriedades. Trata agora de nos servir.”

170.OHOSPEDEIROPROCURAO SENHOR

  1. Nisto, o hospedeiro percebe, ao Meu lado, o cego agora com visão; por isto, dele se aproxima e diz: “Foste cego desde nascença e noto estares enxergando. Quem te abriu a visão?”

  2. Responde ele: “O Senhor que de ti exigiu bom vinho e pão. Regozija-te, pois grande Graça sucedeu ao teu lar pela Presença Dele e deverias tratá-Lo com o maior respeito.”

  3. Indaga o anfitrião: “Como te abriu os olhos?” Diz o mendi- go: “A meu pedido Ele disse: Torna-te vidente!, e assim foi. Eis tudo que sei. Podes imaginar Quem tenha tanto Poder e Força em Suas Palavras!”

  4. Entrementes, os servos trazem pão e vinho, arrumando tudo nas mesas e o hospedeiro pergunta com respeito: “Senhor, estás satisfeito?”

  5. Respondo: “Inteiramente; para isto teus empregados de- moraram mais, pois as coisas boas costumas guardar numa outra casa, das dez que possuis. Aqui só tens o estoque comum para forasteiros, o que não é louvável, partindo de um homem rico. És grego, como tua família, e não consideras as Leis dos judeus, não obstante as conheças. Constitui honra também ao pagão quando age com honestidade, dando a todos o que de direito dentro de vossas leis.”

  6. A essas palavras, o homem não sabe o que responder. As- sim, nos entregamos ao pão e vinho, por Mim oferecido a ele, que Me louva e a Deus. Em seguida, palestra com outros cidadãos que nos haviam acompanhado ao albergue e precisamente com o que Me havia oferecido acolhida, perguntando-lhe qual sua opinião a Meu respeito.

  1. Responde ele: “Jamais vi esse homem estranho. Do mendigo curado ouvi tratá-Lo de ‘Jesus’ e ‘Filho de David’, e deduzo que assim seja. Pela veste parece galileu, assim como alguns companhei- ros. Seja como for, é extraordinário! A expressão do mendigo me leva a pensar que possa ser Elias, predecessor do Messias, ou talvez Ele Mesmo.”

  2. Diz o hospedeiro: “Não estou bem a par de vossa Dou- trina; sei alguma coisa referente ao Messias, considerado pelos judeus um grande herói, que deveria libertá-los do jugo romano e fundar um reino imenso e invencível. Tu pareces atribuir-Lhe honra divina!”

  3. Responde o judeu: “É deste modo considerado pelos profetas e por David; pois, se quiser realmente salvar os judeus do domínio pagão, terá que ser munido de maiores forças, que não humanas. Isto ainda está oculto e não há judeu capaz de afirmar com segu- rança a maneira pela qual virá o Messias. Assim, talvez seja ele este homem milagroso!”

171.OFILHOESQUECIDODO HOSPEDEIRO

  1. Nisto, o tavoleiro se aproxima de Mim e pergunta se Eu ou- vira a palestra dele com o concidadão. Digo Eu: “De maneira sutil queres sondar Quem sou. Deste modo jamais o saberás; pois quem pretende tentar-Me é tolo. Sei de tudo que fizeste em tua vida, como aqui vieste de Pathmos, tornando-te rico; assim, certamente tam- bém saberei quais vossas conjecturas a Meu respeito!”

  2. Responde ele: “Senhor e Mestre, logo percebi em ti certa no- ção geral das coisas; não me admirei, porque já privei com pessoas de capacidades proféticas. Outra coisa deu-se com a cura inédita, à qual se aplica o velho ditado: Não existe homem realmente importante e sábio sem bafejo divino. Tu pareces privilegiado, porquanto operas coisas somente possíveis para Deus. Neste caso, podes facilmente ser o Messias, e então terá chegado o momento para nós, pagãos, de atirarmos para longe o politeísmo e aceitar a Lei dos judeus.

  1. Havendo, pois, explicação para tua onisciência, certamente saberás do paradeiro de meu filho mais velho; há dois anos estou sem notícias dele. Se me fizeres este favor, tu e teus colegas sereis bem atendidos durante três dias, sem ônus algum!”

  2. Digo Eu, igualmente aos discípulos: “Coisa estranha! Apenas uma prova foi precisa para os pagãos concluírem ser Eu o Messias. Quantas operei na Galileia e em Jerusalém e quão poucos creram em Mim! Como é grande o número de inimigos! Novamente afirmo que a Luz será tirada dos judeus e entregue aos pagãos!”

  3. Virando-Me para o tavoleiro, prossigo: “Desejas saber onde se encontra teu filho Kado, como passa e o que faz. E, em com- pensação, queres acolher-nos gratuitamente por três dias. Aconte- ce não ficarmos tanto tempo, de sorte a não ser possível cumprir tua promessa. E, ainda que quisesses pagar-Me, Eu não aceitaria dinheiro; quanto ao que fizeste hoje, terás recompensa plena. As- sim, não sei por que deveria fazer-te tal favor! Sei do nome de teu filho e tudo relacionado a ele; todavia, não te informo sob tuas condições!”

  4. Diz o tavoleiro: “Senhor e Mestre, estabelece tuas condições sob as quais estarias disposto a revelar o que desejo.”

  5. Digo Eu: “Bem, então ouve! És dono de grandes tesouros, não adquiridos dentro do Meu critério de Justiça. As leis humanas não te podem condenar, porque te assiste defesa dentro do sentido literal, de interpretação dúbia por parte dos advogados. Diante de Minha Justiça não haveria justificativa para ti.

  6. Consta de Minhas Leis: Ama o Deus Único e Verdadeiro aci- ma de tudo, e a teu próximo como a ti mesmo. Não faças aos outros o que não queres que te façam.

  7. Se alguém te traiu sem que pudesses delatá-lo perante a Lei, pois ele soube aproveitar tuas fraquezas, ludibriando-te num negó- cio no valor de mil libras — fato tanto mais desagradável porque não te assistia direito de suspeitar de um amigo — que concluirias se tal homem um dia te dissesse: A lei me protege e nada poderás fazer contra mim. Acontece eu me ter modificado e vim restituir-te a

grande perda. Devolverei não somente a importância, mas também os juros! — Que Me dizes de tal atitude?”

  1. Responde o grego: “Senhor e Mestre, teria que elogiá-lo pe- rante todos e tornar-me seu melhor amigo!”

  2. Digo Eu: “Então faze o mesmo, que transformarás teus ad- versários em amigos. Tais são as condições que, se rigorosamente cumpridas, Me levarão a satisfazer-te.”

  3. Diz ele: “Assim farei, tão certo quanto tu és o prometido pelos profetas. Agora, conta-me como está o meu filho querido?”

  4. Digo Eu: “Vendo em teu coração a tua sinceridade, digo-te que teu filho Kado, sua mulher e três filhos aqui estarão dentro de uma hora, podendo contar-te suas aventuras. Manda preparar tudo para o receberes e os que vêm com ele. Se crês, faze o que te aconselho.”

  5. Louco de alegria, o tavoleiro Me agradece e em seguida dá ordens para o acolhimento de todos. Chama a própria família, ocu- pada na cozinha, e relata a grande novidade. Todos se entregam feli- zes ao preparo da grande ceia.

172.ACHEGADADE KADO

  1. Mais tarde, o hospedeiro Me agradece novamente e diz, con- tente: “Senhor e Mestre, sou o outro cego ao qual abriste a visão, pois começo a perceber os grandes tesouros trazidos ao meu lar pela tua chegada. Comparados aos da matéria, vê-se a futilidade destes. Mas que culpa tem o homem nascido na completa ignorância, jul- gando a matéria mais valiosa, cansando-se dia e noite na sua con- quista? Ensinai as criaturas desde o berço a reconhecerem o Verda- deiro Deus e a si mesmas, e não haverá tentações materiais. Por isto, peço-te, caro Mestre, enviares bons doutrinadores aos homens, para se tornarem dignos!”

  2. Digo Eu: “Teu bom desejo já está sendo feito; mas não há árvore que caia de uma só machadada e são precisos tempo e paciên- cia, pela Ordem de Deus. Quem tiver encontrado a Verdade da Vida deve passá-la ao próximo, e facilmente se fará Luz entre os homens.

Quem aceitar as Leis verdadeiras da Vida e considerá-las fielmente, em breve chegará à Plena Luz. Age deste modo, que receberás a Vida Eterna!

  1. Agora podes, com teu pessoal, ir até a encruzilhada, onde encontrarás o teu filho. Leva uma tocha para facilitar a visão. Traze-o aqui, pois tenho que lhe falar.” Ligeiro, ele, seu pessoal e alguns vi- zinhos vão ao local referido, onde veem Kado montado numa mula. Ambos se abraçam comovidos e sem conseguirem acalmar a alegria.

  2. Após alguns momentos, Kado pergunta quem teria informa- do o pai de sua chegada. E ele responde: “Foi algo estranho! Em casa te contarei!” Com grande satisfação, todos se dirigem à hospedaria; quando Kado entra na sala, indaga qual dos hóspedes estava infor- mado de sua viagem de Jericó.

  3. Trazendo-o junto a Mim, o pai diz: “Meu caro filho, eis o Senhor e Grande Mestre. Aqui ao lado vês o mendigo, conhecido desde pequeno como cego. Recebeu a luz dos olhos pelo Senhor, apenas pela Vontade e a Palavra. Que me dizes?”

  4. Observando a Mim e ao curado, o filho diz: “Por certo não estou errado reconhecendo neste homem o mesmo que, na Grécia, Ásia Menor e no Pontus Euxinus fez correr boato de fatos extraor- dinários, motivo por que tudo vendi em Athenas, dirigindo-me à Palestina para conhecê-lo. E agora, aqui está em casa!

  5. Lembras-te que durante catorze anos me entreguei ao comér- cio, tornando-me rico. O fato de não ter dado notícias há mais de dois anos foi ocasionado pelos negócios na Ásia Menor e no Pontus, onde me relataram muita coisa desse homem extraordinário; assim, resolvi vender meus bens ao cunhado e procurá-lo aqui.

  6. Ultimamente, estive na Phrygia a negócios com o rei Abga- rus, ao qual relatei minhas aventuras. Entre outras, falei do grande Homem milagroso e me admirei quando o soberano afirmou seu conhecimento pessoal. A descrição me convenceu tratar-se do mes- mo personagem, que levou-me a vir aqui. Entregou-me uma carta dirigida ao ‘Bom Salvador Jesus de Nazareth, na Galileia’! Antes de apresentá-la, mencionarei um fato importante.”

173.OREIABGARUSDE EDESSA

  1. (Kado): “Após ter liquidado meus negócios em Athenas, se- gui de Tyro para Nazareth, onde me informei do mencionado Sal- vador. Indicaram-me uma casinha perto da cidade e lá encontrei uma família de carpinteiros, onde me apresentaram a viúva Maria, mãe de Jesus, que, todavia, ignorava o paradeiro do filho. Pediu que eu o procurasse e lhe desse notícias. Ela e os demais moradores, irmãos de Jesus, me contaram coisas extraordinárias a seu respeito, assim como eu também relatei meus conhecimentos. Tudo combi- nava com o relato do rei Abgarus. Agora, veremos se realmente o personagem por ti mencionado é o mesmo, e então terei encontrado minha felicidade!”

  2. Virando-se para Mim, diz Kado: “Senhor e Grande Mestre, peço-te dizer-me se és, realmente, o destinatário da carta que trago.”

  3. Digo Eu: “Pergunta primeiro ao mendigo e a Meus discípu- los, pois são testemunhas e te dirão a Verdade!”

  4. Diz o curado, com alegria: “Kado, não procures mais, pois encontraste o Amado! É o Bom Salvador Jesus de Nazareth, filho de David, como diziam os profetas e patriarcas.”

  5. Kado desiste de outras indagações, entrega-Me a carta e diz: “Perdoa, se te cansei com meu relato!”

  6. Retruco: “Eu aqui não estaria se não soubesse que Me pro- curarias esta noite. Repousa um pouco e depois volta para palestrar- mos.” Ele Me agradece e se dirige a um aposento à parte, onde ele e a família mudam de roupa; a bagagem, os tesouros e animais de carga são acondicionados numa outra casa. Após tudo arrumado, ele volta e pergunta se podia tomar parte à Minha mesa, o que lhe concedo com amabilidade. Os discípulos, por isto, se acomodam em outra ao lado. Em seguida, ele pergunta se não desejo ler a carta do rei Abgarus.

  7. Digo Eu: “Amigo, tal não é preciso, pois Eu conhecia o as- sunto muito antes do soberano ter tido a ideia de escrever-Me. Po- des fazer a leitura da carta perante todos, conhecedores do grego.”

  1. Obsta Kado: “Ó querido Salvador, tal seria grande atrevi- mento de minha parte, pois, se o assunto é de teu exclusivo interes- se, ninguém necessita sabê-lo. Certamente nela expressou os mes- mos sentimentos que externou em Edessa. Assim, devolvo a carta.”

  2. Então entrego a carta a João a fim de respondê-la e, no dia seguinte, Kado a envia por três mensageiros ao Rei, ao qual escreve pessoalmente, feliz do encontro Comigo. Mais tarde, peço que faça o relato daquilo que o Rei havia dito a Meu respeito.

  3. Diz Kado: “Querido e Bom Salvador! O maior desejo dele era ter a Ti e os discípulos em seu convívio, tanto mais quanto ha- viam dito que os judeus e sacerdotes egoístas Te odeiam e até mesmo procuram matar-Te. Se fosses viver na Phrygia, o povo e o próprio Rei Te protegeriam, e terias paz e tranquilidade. Ele tem um filho bastante enfermo e podes imaginar o desejo do pai de vê-lo curado por Ti! Certa vez externou a vontade de possuir um quadro Teu e de alguns apóstolos importantes. Eis os pontos principais das palestras a Teu respeito.”

  4. Digo Eu: “Relataste o que consta na carta, mormente o de- sejo de Minha Presença. Muito Me alegra isto e, antes de passar um ano, lá estarei em Espírito e Verdade plena. Antes, porém, aconte- cerão coisas grandiosas, das quais Meus discípulos farão menção. O soberano receberá grande conforto e Paz.”

174.A CEIA

  1. Quando termino de falar, anuncia-se que a ceia está pronta e o tavoleiro manda servir, em baixelas de prata, pratos saborosos para

o gosto de gregos e judeus, e na Minha mesa o serviço é de ouro. A pedido da família, participo da ceia com os discípulos. A Mim, Pessoalmente, é servido peixe especial, coisa rara nesta zona, levan- do água à boca dos demais discípulos e pescadores, enquanto Kado lastima não poder atendê-los nesse sentido. Amanhã trataria disto.

  1. Quando terminamos a ceia, vários pobres de Jericó se apro- ximam pedindo as sobras, porquanto estavam famintos. Kado Me

pergunta se são realmente necessitados e Eu respondo: “A maioria; apenas alguns vieram movidos pela curiosidade e sensacionalismo. Nada lhes deve ser negado, pois o Pai no Céu deixa o Sol irradiar sobre justos e injustos.

  1. É dever compreensivo fazer-se o Bem aos amigos; mais vale, no entanto, favorecer-se os inimigos. Quem assim fizer, poderá aguardar grande recompensa no Céu; aqui na Terra ajuntará brasas nas cabeças dos adversários, provando-lhes sua injustiça, sem juiz e julgamento, e eles se transformarão em amigos. Os que aqui vie- ram pedir as sobras não são amigos da casa, conhecida como a mais rica, porém miserável! Satisfazei-os, que mudarão seu critério a vosso respeito.”

  2. Kado e o pai Me agradecem pelo conselho e o último manda recolher tudo num grande cesto, fazendo distribuir o conteúdo, in- clusive um copo de vinho para cada um. Admirados com tamanha generosidade, os favorecidos começam a elogiar bondade e justiça do hospedeiro e alguns pedem desculpas por qualquer opinião ines- crupulosa. O dono da casa os despede com a afirmação de não ali- mentar ressentimentos contra quem quer que seja. Todos se afastam satisfeitos e, da rua, ainda se ouvem elogios a pai e filho.

  3. Em seguida, o velho Me aborda: “Muito te agradeço pelo conselho, que respeitarei para o futuro. Desejo expor-te mais um as- sunto. Sabes que todos nós somos gregos, portanto pagãos; todavia, seguíamos vossa antiga religião, mormente após frequente leitura dos profetas. Por várias vezes tínhamos tomado a resolução de aderir ao judaísmo e, por isto, nos dirigimos ao rabi da comarca. Este disse, entre outras coisas, serem indispensáveis as cerimônias e que, em caso de não querermos cumpri-las, bastaria pagar grande soma ao Templo. Que dizes a isto? São tais cerimônias imprescindíveis para se tornar judeu de coração, vontade e intelecto, ou haveria outro meio para tal?”

175.FINALIDADEDAS CERIMÔNIAS

  1. Digo Eu: “Claro! Quem conhecer as Leis de Moysés e apli- cá-las com rigor, renunciando ao politeísmo e, deste modo, amando Um só Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo, é judeu perfeito e nada mais precisa.

  2. Que valor teria o Templo de Jerusalém e as fúteis cerimô- nias, que somente antes de Minha Vinda tinham sentido educa- tivo? Em lugar de uma importância de resgate, cuidai dos pobres e reparai toda injustiça, que sereis judeus perfeitos perante Mim e Deus, participando do Meu Reino! Se Eu vos digo isto, podeis crer; pois por Mim fala o Mesmo Deus que falou a Moysés no Sinai. Se declaro algo como bom e justo, quem poderia provar o contrário? Compreendes?”

  3. Respondem pai e filho: “Perfeitamente, e te agradecemos pelo conselho. Havendo oportunidade de fazermos perguntas, de- sejávamos saber por que foi instituído o culto religioso. A nosso ver, é ele motivo para superstição, politeísmo e ateísmo, confor- me se nota nos antigos sábios. Se a Humanidade tivesse recebido, desde o princípio, um ensino religioso como acabas de dar, muita desgraça teria sido evitada. Sem dúvida é Moysés o doutrinador religioso mais puro e verdadeiro, e o fiel transmissor da Vontade Divina. As cerimônias que decretou são precisamente a queda do judaísmo.”

  4. Digo Eu: “Amigo, falaste bem; no início, as criaturas recebe- ram a Doutrina de Deus tão pura como a transmito a vós. Perceben- do que em a Natureza e seus fenômenos havia prenúncio cerimonio- so, elas mesmas usavam determinadas cerimônias em todas as ações, aplicando-as durante a veneração de Deus.

  5. Assim, declaravam que se podia adorar e venerar Deus ape- nas em locais purificados; quem não o fizesse, não demonstrava o devido respeito. A fim de se tornarem esses locais mais venerados, empregavam uma espécie de culto, inicialmente movidos de inten- ções boas e razoáveis, pois eram obrigados a oferecer determinada

importância de seus trabalhos aos professores inspirados por Deus, dando-lhes o necessário sustento.

  1. À medida que aumentava o Gênero Humano, crescia o nú- mero de educadores e as localidades para oração de culto religioso. Quando os homens se tornaram mais abastados, não se satisfizeram com os locais puros, tais como: colinas, bosques, fontes, jardins de flores aromáticas, mas construíram cabanas vistosas e, posteriormen- te, casas e templos. Lá os professores ensinavam o povo, recebiam donativos e davam Honra a Deus por meio de palavras, gestos e cânticos. Veneravam a Deus com tudo que achavam belo e elevado.

  2. Assim, os próprios homens e mormente os educadores, cada vez mais dominadores e gananciosos, inventaram o mencionado culto religioso, do qual não tardou a surgir uma verdadeira idolatria.

  3. Moysés não introduziu cerimônias, apenas as esclareceu e re- conduziu ao antigo estado primordial. Destruiu quadros e templos, e só havia uma tenda, na qual se achava a Arca onde se guardavam as Leis, os Livros de Moysés e, mais tarde, as Escrituras dos outros profetas, inclusive objetos que lembravam ações de Deus.

  4. Moysés sempre ligou sentido duplo a tudo parecido com ce- rimônia, a mando de Deus. Primeiro, a cerimônia representava, de modo interpretativo, tudo que ora acontece Comigo na realidade e ainda sucederá. Segundo, ligava ele finalidade política e salutar para esta Terra. Descrevia o que podia ser ingerido e tomado; como, onde e quantas vezes se deveriam lavar e purificar; a construção de moradias e qual o vestuário dos judeus.

  5. A circuncisão também tinha duas finalidades: Primeiro, da- va-se um nome a cada judeu recém-nascido; ano, dia e hora eram anotados no grande Livro da Circuncisão, determinando o dever de ele se desenvolver em homem de Bem, que reconhecesse Deus, Nele crendo, venerando e amando-O acima de tudo e cumprindo Seus Mandamentos. Eis o sentido moral e espiritual da circuncisão. A outra finalidade visava a ordem do Estado, a saúde e higiene física.

  6. Daí concluirás que a antiga cerimônia dos judeus não era culto divino, mas apenas de benefício humano. Qualquer pagão e

muito mais o judeu inspirado por Deus reconhecem que a cerimô- nia desvirtuou-se em idolatria.

  1. Além disto, tudo neste mundo se dá sob certa cerimônia. Ela, em si, não tem valor; todavia, precede e acompanha todo ato principal, como sombra inútil. Observa atentamente o surgir do dia. Os primeiros mensageiros se manifestam pela claridade no Oeste e por determinadas estrelas que, antes do Sol, surgem no horizonte. Seguem a alvorada, a aurora etc. Todas essas ocorrências são, de cer- to modo, cerimônias, em si sem valor, especialmente quando o Sol tiver aparecido.

  2. Assim surgiu por Mim o Sol espiritual para judeus e pagãos, de sorte que todos os quadros engenhosos, coisas e cerimônias que Me anunciavam não mais têm valor para a verdadeira vida do ho- mem. Pois, em dia claro, ninguém terá ideia de querer aumentar sua claridade com um lampião.

  3. Como te demonstrei a cerimônia do surgir do dia, sem cha- mar especial atenção à da noite, podes considerar os fenômenos do verão, outono, inverno e primavera como cerimônias, incluindo as ocorrências do nascimento de uma árvore frutífera etc. São impres- cindíveis na produção de um fruto maduro e saboroso; o sabor real reside apenas no bom fruto.

  4. O mesmo acontece na esfera espiritual da vida. Muitas ce- rimônias precederam esta época de Luz, tornando-se sem valor e fú- teis por ter surgido o Próprio Sol da Vida, podendo cada um colher o fruto inteiramente amadurecido da Árvore da Vida, saciando-se e fortificando-se para a Vida Eterna da alma. Se assim é, como pode- riam ter valor vital as cerimônias precedentes?

  5. Podes, portanto, ser um judeu íntegro e válido para Mim sem cerimônias e sem seu resgate. Quem caminha de dia não pre- cisa saudar o crepúsculo como necessário, e quem tiver colhido os frutos maduros não necessita se preocupar como a árvore germinou e floriu, e se a folhagem foi forte ou escassa. O principal é o fruto.

  6. Penso que tu e os demais presentes tenhais compreendido o surgir das cerimônias e seu valor. Foram desvirtuadas e não têm

maior valor do que a sombra que segue o peregrino, quando enceta a Viagem da Vida em direção ao Sol. Não vos deixeis tentar por qualquer cerimônia do mundo. Ficai na Verdade. Ela, unicamente, é a Luz da Vida e vos libertará de todo engano e mistificação!”

176.A VERDADE

  1. Conquanto pai e filho estejam gratos pelo ensinamento, o último obsta: “Não deixa de ser certo que o homem só consegue se libertar de todo erro e engano através da Verdade. Os sábios de todos os povos se empenharam em sua busca, sem conseguirem defini-la.”

  2. Digo Eu, amavelmente: “Ouve bem o que Eu te digo: Deus, Único e Verdadeiro, é a Verdade. Quem O tiver encontrado, terá descoberto a Verdade, que o libertará inteiramente. O homem que encontrar Deus, descobrindo Sua Vontade fielmente revelada e apli- cando-a com rigor, ter-se-á tornado a própria Verdade. Assim estará igualmente livre e se terá afastado da morte do mundo e sua matéria, penetrando na Vida de Deus.

  3. Tens, no teu íntimo, outra pergunta, não tão facilmente res- pondida quanto esta; entretanto, encontrarei algo compreensível para todos. Pensas o seguinte: Deus é realmente a Verdade, e quem O tiver encontrado estará com ela, que o libertará. Mas onde está Deus? Quem é Ele? Como consta Sua Vontade? E finalmente: Onde O encontrarei e como saberei ser Ele Mesmo?

  4. Caro amigo, não Me custa responder-te; todavia, ser-te-á di- fícil assimilar a resposta. Tentemo-lo! Vê, Deus é Espírito Puríssimo e Eterno. Este Espírito Eterno é Puro Amor e a Vida Eterna; o Amor é Fogo e, em Si, Luz flamejante — e tudo isto é a Verdade.

  5. Eis por que em Deus — como Causa Original de todo Ser

  1. Portanto, estão eternamente presentes e ativos em Deus a máxima Inteligência e a mais luminosa Consciência. A não ser assim

  1. Em tua passagem terrena, já observaste várias vezes como forças cegas e brutas manifestavam o seu furor. Acaso já viste um furacão construir, através do desenvolvimento de sua força máxima, um simples estábulo de carneiros ou suínos? Teria o raio provocado outra coisa senão uma destruição desordenada?

  2. Analisa todas as forças mudas, e como produtos de sua ação brutal nunca descobrirás a menor fagulha de inteligência e raciocí- nio. Um sábio pesquisador poderá descobrir certa ordem e plano inteligente; isto, porém, não é faculdade das forças e poderes cegos e mudos, mas sim é Posse de Deus, que projeta tais forças em virtude de Sua Própria Onipotência, a fim de atingir boa finalidade a deter- minada zona do orbe.

  3. Observa flora, fauna e o próprio homem, e em tudo verás a maior ordem, um plano sábio ligado à melhor utilidade, coisas que tais seres nunca poderiam ter facultado a si mesmos, porque jamais existiram propriamente em si. Uma vez existindo e apresentando um Criador mui Sábio, claro é que somente Sua máxima Inteligên- cia, Seu Poder e Consciência mais perfeitos podiam projetá-los.

  4. Tem o homem, em sua esfera puramente natural e espiri- tualmente não desenvolvida, uma inteligência de longa projeção, da qual o raciocínio e a razão desabrocham qual árvore surgida da semente, com os quais, em breve, produzirá obras importantes e ordenadas.

  5. Quem, além de Deus, poderia dar, conservar e aperfeiçoar no homem — cujo corpo é um organismo perfeito e u’a máquina sabiamente construída — inteligência, consciência própria, raciocí- nio, intelecto, amor e livre arbítrio com a respectiva força ativa? Meu amigo, se refletires um pouco sobre isto, acharás facilmente o cami- nho pelo qual o homem encontrará Deus e a Verdade Eterna tão logo o queira com rigor! Deste modo, Deus lhe revelará Sua Vontade.

  1. O homem pondo-a em prática, sua alma se torna mais lú- cida e, através do amor a Deus, une-se cada vez mais ao Espírito Divino. Neste estado, o homem ter-se-á transformado em Verdade, porque a encontrou dentro de si. Sabes, pois, o que seja a Verdade, onde e como procurá-la.

  2. De posse da Verdade e tornando-te livre e puro, tudo que te rodeia se transformará em Verdade e Pureza, e ao liberto tudo é livre. Pergunto se compreendeste o que te expus!”

  3. Diz Kado: “Querido Salvador, Senhor e Mestre! Acabas de nos revelar coisas mui profundas. O antigo véu de Ísis foi afastado e o nó górdio, desfeito! Tornei-me verdadeiro Hércules, não aquele indeciso na encruzilhada, pois encetei o Caminho da verdadeira vir- tude, até chegar à meta luminosa!

  4. Procurei e Te encontrei, se bem que durante a noite, fato impressionante, pois de dia dificilmente o teria feito, porque em mim havia noite e trevas. Agora começou a clarear dentro de mim; a aurora virá e o sol surgirá no horizonte de minha vida! Penso estar ele muito mais próximo do que a minha alma o percebe.

  5. Refletindo mais, algo me diz no coração: Kado, já encon- traste tudo e não necessitas procurar além. Por isto, concluo: Tu, querido Mestre, e Aquele a Quem devo procurar, estais no mesmo plano e quem Te tiver encontrado tê-lo-á feito com Aquele a Quem falta procurar. Pois as provas que dás e as Palavras proferidas não são humanas. Digo mais: Tu Mesmo és a Verdade, o Caminho, a Luz e a Vida! Tenho razão?”

177.OESTRANHOFENÔMENONAILHADE PATHMOS

  1. Digo Eu: “Meu amigo, tal revelação não surgiu de tua mente. Por ora basta. Mais tarde voltaremos ao assunto. Relata um fato que se deu há dois anos em Pathmos!”

  2. Diz ele: “É realmente estranho o que se deu em nossa pro- priedade naquela ilha por três vezes seguidas. Todavia, é toda Palavra de Tua Boca muito mais importante do que qualquer aventura mi-

lagrosa e meu relato roubaria o Teu Tempo, no qual poderias facul- tar-nos elementos vitais!”

  1. Digo Eu: “O principal já te foi dito, e para outros assuntos ainda haverá oportunidade. Dispomos de cinco horas até haver ne- cessidade de um repouso físico, portanto podes relatar o aconteci- mento referido, como bom orador que és.”

  2. Diz Kado: “Fá-lo-ei em Teu Nome! A fim de tornar vivo o quadro, tenho que descrever a localidade. A ilha em apreço faz parte das menores, entretanto comporta e alimenta centenas de pessoas. É rochosa como muitas outras, porém fértil. Árvores frutíferas produ- zem bem e a pesca é abundante.

  3. Nossa propriedade nesta ilha se encontra a Sudoeste e repre- senta uma pequena aldeia à beira-mar. Aliás, da aldeia se eleva suave cordilheira, cultivada com videiras e oliveiras. A Leste é mais alta e à beira-mar é quase um abismo. Nesta elevação existe uma torre an- tiga, porém sólida, que usamos em parte para moradia confortável, cujos subterrâneos transformamos em adega.

  4. Consta terem sido os fenícios os construtores da torre, que a usavam talvez como farol, templo ou calabouço; mas não convém descobrir qual o motivo da construção. No ponto mais elevado se acha um grande dispositivo de metal que, em noites de tempestade, é cheio de piche e nafta; incendiado, indica a rota a ser tomada.

  5. Há dois anos, nesta época lá me encontrava com a família e empregados, com auxílio dos quais guardávamos a maior parte da colheita. À noite, descansávamos no terraço observando o mar e os botes que se dirigiam à praia. Assim ficamos até a noite se co- brir com a veste de estrelas. O mar estava tão calmo que as refletia tão perfeitas como se fora a própria abóbada celeste. A temperatura se tornando mais sensível, determinou o recolhimento de minha família, enquanto eu palestrava com os empregados a respeito do trabalho para o dia seguinte.

  6. Muito embora a mente ocupada, meu olhar observava a su- perfície do mar, quando vi, a Oeste, uma nuvenzinha branca flutuar em direção à ilha. Quanto mais se aproximava, tanto mais clara e

maior. Bem próxima da ilha, o mar recebeu claridade mais forte que no plenilúnio. Ao atingir a ilha, elevou-se à mesma altura da torre; todavia, estava dela distante uma hora de marcha até chegar-se ao local onde a nuvem se quedava luminosa. Depois de algum tempo, começou a flutuar em direção à torre, o que não foi muito agradável, de sorte que eu e os empregados resolvemos entrar e aguardar o fim disso tudo.

  1. Nem bem havíamos entrado no salão, a nuvem atingiu a casa, irradiando luz fortíssima por todos os lados. Não obstante fôssemos um grupo grande e corajoso, ninguém se atreveu a sair para verificar aquele fenômeno. Assim, ficamos amedrontados e ninguém se atre- veu a tomar a refeição.

  2. Nisto, um antigo servente de minha casa, conhecedor de fenômenos marítimos, disse: Lembro-me do seguinte! Um mari- nheiro da Palestina, que aqui carregou vinho e água potável para seu navio há um ano atrás, contou-me que na Judeia tinha-se a im- pressão de que o velho Zeus e os demais deuses queriam deixar o Olympo e fixar residência naquele país. O próprio marinheiro havia observado criaturas dali: tudo que queriam e falavam se realizava. Curavam as piores moléstias pela simples palavra; cegos se tornavam videntes; surdos ouviam, coxos e entrevados pulavam quais corças, e aos próprios defuntos restituíam a vida.

  3. Quem mais senão os deuses podiam estar ali? Apiedaram-se das criaturas cegas e incrédulas, descendo à Terra no país mais cren- te — o judaico — e muitos gregos e romanos se certificaram desta verdade. Neste caso, é bem possível que os deuses aqui se manifes- tassem nesta nuvem luminosa, porque ainda temos fé e procuramos aplicá-la.

  4. As palavras do velho servente nos deram coragem para ob- servar a nuvem. Quando chegamos ao terraço, ela levantou-se e se afastou de onde veio.”

178.ASEGUNDAAPARIÇÃODA NUVEM

  1. (Kado): “No dia seguinte, ao descermos à aldeia a negócios, chegavam três navios grandes para se suprirem de vinho e água doce. Vinham da Sicília e, de passagem, perguntaram qual a maté- ria usada para iluminar o farol. Nunca haviam visto luz tão alva; a várias horas de distância do porto, os navios estavam inteiramente iluminados.

  2. Os aldeões também faziam perguntas semelhantes, e o nosso servente aproveitou para relatar o fenômeno ocorrido, inclusive o seu próprio parecer. Os navegantes prometiam colher informações na Judeia, seu próximo destino. E assim partiram e nós voltamos à tarefa cotidiana.

  3. Subimos ao terraço mais cedo, a fim de observarmos qual- quer movimento no Céu. Nessa noite, o mar estava mais inquieto e os pescadores resolveram voltar mais cedo para casa. Também outras embarcações vindas do Sul, e que não pareciam confiar no mar, di- rigiram-se ao porto. Cada vez mais as vagas subiam, a ponto de não ser possível descobrir-se qualquer navio. Não havia nuvens no Céu e do Sul soprava leve brisa; era de se supor que ventos subaquáticos, chamados de tartarus, levantavam o mar. Estranha era a ausência de gaivotas.

  4. Assim que o Sol desapareceu, mandei acender o farol. E não demorou uma hora quando uma grande nave conseguiu entrar no porto. Entrementes, estávamos reunidos no terraço com a atenção voltada para Leste, quando apareceu a nuvenzinha do dia anterior. Imediatamente o mar aquietou-se e as estrelas pareciam nadar em sua superfície.

  5. Não levou tempo e a nuvem havia envolvido a torre; a lu- minosidade parecia mais forte do que da primeira vez. O próprio mar estava claro como de dia. Estranho era que a chama do farol também se apagara no momento em que a nuvem encobria a casa. Permaneceu ali bem uma hora mais, e nos sentimos tão bem como se fôssemos poderosos e imortais.

  1. Contrito de veneração, o velho servente disse: Ó Luz divina e santa, que iluminaste os primitivos habitantes do orbe, fazendo-os semideuses! Volta aos mortais, sufocando sua luz mundana, assim como apagaste a iluminação do farol! Então os navegantes no mar, apenas agindo em nossa treva terrestre, encontrarão a paz da Vida, voltando à compreensão, porque foram trazidos à Terra pelos deuses!

  2. Quando terminou de falar, ouvimos da nuvem as seguintes palavras: Procurai, que achareis! A remota Luz da Vida dos Céus deverá ser transmitida novamente aos homens de boa vontade. Ela virá de onde eu vim!

  3. Assim desapareceu a nuvem, e a chama do farol incendiou-se automaticamente. Todos nós estávamos compenetrados de palavras tão claras. E o velho servente aduziu: Que diriam os intelectuais, caso tivessem assistido a isso?! Os deuses certamente não se inclinam aos que negam sua existência, por isto vamos venerá-los e fazer-lhes oferenda de gratidão por prova tão convincente.”

179.OSONHODOSACERDOTEDA ALDEIA

  1. (Kado): “Após a ceia tencionávamos dormir; todavia, tínha- mos de dar atenção a pessoas da aldeia à minha procura. Entre elas havia um sacerdote que ministrava num pequeno templo de Apollo e Zeus e, além disto, tinha de observar as estações, planetas, estrelas e ventos, a fim de prognosticar quaisquer acontecimentos.

  2. Este idoso e casto — pois havia feito voto de castidade aos deuses, a fim de lhe darem sabedoria plena — foi o primeiro que me abordou por causa da segunda nuvem luminosa. A primeira não lhe despertara especial atenção, porque supunha ter eu conseguido a luz alva por meio de conhecido material iluminatório da Índia. Infor- mando-se de que a nuvem havia parado em cima de nossa torre, ele resolveu procurar-me com mais alguns pescadores e fiscais do porto.

  3. Após ter feito perguntas neste teor, eu lhe respondi: Dirige-te ao meu velho servo, muito mais vivido do que eu. Assim, ele recebeu o relato completo, inclusive as palavras por nós ouvidas da nuvem.

  1. O sacerdote então opinou: Não resta dúvida terem os deuses se lembrado de levarem as criaturas ao caminho verdadeiro, por- quanto os sábios nunca o conseguiram. Aproveito a oportunidade para relatar um sonho singular que tive três dias seguidos e quase à luz do dia. Tenho por hábito estudar, várias horas antes da aurora, as estrelas, os ventos, nuvens, movimentos do mar, dos peixes e pássa- ros e, isto feito, descanso algum tempo.

  2. Vi-me, portanto, numa planície enorme e ornamentada de toda sorte de templos pagãos, afastados entre si. Havia todos os nos- sos templos politeístas, mas também de outros povos e nações des- conhecidas. Vi tudo com agrado, num lusco-fusco mais ou menos idêntico à luz de um dia chuvoso. Como não houvesse outra pessoa senão eu, fiquei impressionado e comecei a pedir a Zeus e Apollo para enviarem uma criatura qualquer.

  3. Eis que apareceu um homem, semelhante a um judeu, e dis- se com severidade: Velho tolo, como podes orar aos deuses jamais existentes? Melhor será pedires ao Deus Verdadeiro dos judeus, em Espírito e Verdade, que receberás o que desejas. Todos esses templos, com seus deuses feitos por mãos humanas, serão em breve varridos da Terra, permanecendo apenas um, para o Verdadeiro Deus Vivo, construído por Ele mesmo para judeus, pagãos e todos os povos do orbe. Esse Templo irradiará qual Sol sobre o planeta, e quem for penetrado por sua Luz receberá a Vida Eterna, chamando-se filho de Deus. Demonstrar-te-ei apenas uma fagulha dessa luz do novo Templo, e esses aqui serão dizimados em pó e cinza pelo seu poder!

  4. Em seguida, apanhou um livrinho do bolso, abriu e eu vi as seguintes palavras: Quem crer em Mim, no coração, terá a Vida Eterna; pois Eu — Deus Único e Verdadeiro — sou a Luz, a Verda- de, o Caminho e a Vida.

  5. Quando terminei de ler, as Palavras resplandeceram e uma forte luz estendeu-se sobre a planície extensa, e todos os templos ruíram em pó e cinza; vi criaturas de veste branca palmilharem-na fraternalmente e no Céu um homem cheio de luz, como se estivesse no Sol, e todos exclamavam: Querido e Santo Pai!

  1. Despertei forte e alegre e tive a impressão de não mais ser mor- tal. Esse sonho se repetiu por três vezes e resta saber se existe relação com a nuvem e as palavras que pronunciou. — Em seguida, o sacer- dote se despediu e o velho servo conjeturou: Que coisa estranha que tais criaturas surjam na Judeia! Por que não aqui, onde há carência de conhecimento do Deus Único, todavia ainda temos fé verdadeira?

  2. Respondi: Amigo, vamos descansar; amanhã haverá opor- tunidade para discutirmos a respeito.”

180.ATERCEIRAAPARIÇÃODA NUVEM

  1. (Kado): “Quando pela manhã descemos à vila, só se falava da nuvem milagrosa e, como acontece em tais ocasiões, a fantasia dos aldeões era fértil em querer explicar o fenômeno. Nosso programa durante o dia foi o mesmo; somente apressamos os trabalhos para subirmos mais cedo à torre, na expectativa do milagre. Após algum tempo de observação, juntou-se a nós o velho sacerdote com mais três colegas, pedindo licença para ficar. Seu plano era o seguinte: desistir do politeísmo e lançar o culto de um só deus, movido pelo sonho e o aparecimento do fenômeno, que esperava assistir nesta noite. Todos nós louvamos as intenções do velho.

  2. Como o mar estivesse calmo, não mandei acender o farol e grande foi nosso júbilo ao depararmos, após longa expectativa, a nuvem no horizonte, que em poucos minutos havia alcançado a tor- re. Sua luz era tão intensa que impedia a visão das estrelas. Quando intensificada a irradiação, todos nós ficamos comovidos e o velho sacerdote ergueu as mãos para ela, dizendo: Nuvenzinha milagrosa e santificada, queira também hoje dirigir-nos algumas palavras!

  3. Ouvimos, então, o seguinte: Quem procura a Luz encontrá-

-la-á; virá como Vida na noite de sua treva, tornando-o vivo. Pro- curai-a com justo rigor e encontrá-La-eis lá, de onde A vistes surgir pela terceira vez. Esta ilha é insignificante; entretanto, dela se pro- jetará um fanal para todos os povos da Terra, tornando-se local des- tinado a receber importantes segredos de Deus e Seus Planos com

as criaturas. Tu, sacerdote fiel, executa o teu plano e prepara-Me u’a Morada nos corações dos homens!

  1. Assim terminando, a nuvem afastou-se, voltando para Les- te, como das outras vezes. Por muito tempo ficamos de olhos fixos naquele ponto; nada mais, porém, sucedeu. Levantou-se forte ven- tania e o mar agitado obrigou-me a acender o farol. O sacerdote despediu-se sem tomar parte na ceia, a fim de poder deliberar o novo programa. No dia seguinte começou a executar aquilo que a nuvem lhe havia pedido e hoje em dia não há mais templo nem imagens pagãs na aldeia, e o velho conta grande número de adeptos, aos quais ensina o Deus dos judeus. Eis o relato completo, Senhor, e peço desculpas se Te cansei!”

  2. Digo Eu: “Está tudo bem; manda chamar o velho servente, pois quero elucidar-vos a aparição de Pathmos!”

181.OPINIÕES FILOSÓFICAS

  1. Quando o velho se junta a nós, Kado lhe diz: “Velho amigo, sabes o motivo por que vendi meus bens na Grécia, com exceção dos terrenos em Pathmos, movido pelo fenômeno e o sonho de nosso sacerdote. Tudo fizemos para encontrar o Homem-deus, do Qual se fala na Galileia como Salvador; conhecemos Sua mãe e irmãos — mas Ele não!”

  2. Interrompe o servente: “É uma lástima! A nuvenzinha não quer se mostrar neste país, de onde veio! Há apenas um fato a consi- derar: Lembras como nos despertou uma sensação de imortalidade, que infelizmente se perdeu? — E agora, ao entrar aqui, senti a mes- ma coisa! Ela deve estar perto! Que achas?”

  3. Responde Kado: “Julgaste certo. Todos nós sentimos o mes- mo, porque encontramos o que procurávamos. Vê, este homem à minha direita certamente foi trazido pela nuvem!”

  4. Fitando-Me com respeito, ele diz: “Que Graça imensa se deu para a pobre Humanidade! És Tu Aquele cujo Espírito, Amor e Vontade nos visitou na ilha, em forma de nuvem luminosa? Então

encontramos tudo que o homem possa desejar! Meu coração trans- borda de alegria e nada mais posso dizer!”

  1. Tais palavras provocam sensação, e os gregos e judeus Me olham de modo diferente, conjecturando: “É Ele mais que poderoso descendente de David!” Vira-se Kado para Mim: “Caro Salvador, Senhor e Mestre, que vem a ser a nuvem luminosa?”

  2. Digo Eu: “Dispensa maiores esclarecimentos, pois teu servo já o falou. Se aqui estou em Físico, Meu Espírito é Onipresente pelo Meu Amor e Vontade. O velho sacerdote agiu bem por ter abolido o politeísmo, ensinando o Deus Único e Verdadeiro; terá grande recompensa no Além. O que ora vedes e ouvis ele assiste em espírito, anotando tudo num livro. E quando chegardes a Pathmos tereis a prova disto, podendo testemunhar de tudo. Quem crer em Mim e agir dentro da Doutrina terá a Vida Eterna.

  3. Há grande miséria e sofrimento entre as criaturas desta Ter- ra. Moléstias provocadas pelo afastamento do Caminho revelado por Deus, pelo crescente amor ao mundo, sua condenação e morte, cujas trilhas preferem caminhar.

  4. Houve, há e haverá intelectuais que afirmarão: ‘Deus não existe! Nada mais é que uma fábula antiga, inventada pelas criaturas mais inteligentes da antiguidade, a fim de se sobrepujarem a todos. O mundo e tudo que existe é sabiamente organizado; se fosse obra de um deus, cuja obra máxima seria o próprio homem, não o teria criado para sofrer desde o nascimento, pois assim revogaria a Sabe- doria e Bondade inerentes a ele; pois, sem a primeira, não há poder, sem Amor e Bondade não há vontade de criar algo.

  5. Tudo é apenas projeção da força da Terra, do Sol, dos ele- mentos e do Cosmos. Os corpos cósmicos ainda rudes e brutos acei- tam alteração e educação em seus produtos. Os mais maleáveis ain- da são mui fracos para se defenderem contra a violência das forças primitivas e, forçosamente, serão por elas tragados. Feliz e sábio é apenas o homem entendido em tornar sua vida agradável e procurar a máxima felicidade no eterno não-ser. Eis o motivo do intelectual dizer: Come, bebe e te diverte; tudo isso acaba com a morte.’

  1. Vedes, portanto, ser Conhecedor da sapiência de vossos filó- sofos e Eu vos digo que, entre toda miséria e sofrimento humanos, não há coisa pior do que a cegueira espiritual. Dela brotam todos os demais males, que subsistirão enquanto houver epicuristas nas comunidades; pois a filosofia intelectual perverte milhares pelo mau exemplo, sendo que alguns começarão a procurar todos os recursos para levar tal vida epicurista; a maior parte cairá em grande miséria física e espiritual.

  2. Sendo assim, acaso é Deus culpado se os homens, de posse do livre arbítrio, Dele se afastam, levando a vida a seu gosto? Deveria Deus não permitir miséria e aflição, em virtude do Seu Amor, Bon- dade, Sabedoria e Poder? Se assim fizesse, a situação da Humanidade seria ainda pior. As criaturas nada mais seriam do que obra bruta, in- teiramente sem luz, quais ídolos pagãos de pedra, metal e madeira!”

182. PREVISÕES

  1. (O Senhor): “Já sabeis que o homem rico em bens terrenos geralmente fez de seu coração pedra de insensibilidade e desamor. Não o impressionam milhares de criaturas martirizadas pela fome, sede e outros males. Bem provido de tudo, ele nunca sentiu neces- sidades e tem grandes recursos para usufruir todos os prazeres, a fim de jamais sentir enfado ou desgosto qualquer. Em que ponto se encontra tal homem, referente à esfera espiritual? Respondo: Na condenação eterna e em sua morte, inclusive seus afins!

  2. Gravai o que acrescento: Quando na Terra houver muitos epicuristas, o julgamento geral da Humanidade, permitido por Deus, não estará longe; e então veremos se haverá alguém de régua geométrica na mão, dizendo ao semelhante: ‘Medi essas terras, le- vantei os marcos e as declaro posse absolutamente minha! Quem se atrever a disputar ou apenas disser: ‘Amigo, todos nós temos o mesmo direito, basta ter poder e meios para te arrancar os direitos imaginários!’ será punido com a morte.’

  3. Afirmo que jamais existirá tal homem. Pois, quando Eu voltar à Terra para instituir o julgamento sobre tais epicuristas e

também dar o prêmio da Vida a quem sofreu miséria e aflição por amor a Deus e ao próximo — a Terra não será medida para uso ex- clusivo de quem quer que seja, e sim, onde se encontrar o homem, terá direito de colher e satisfazer suas necessidades. As criaturas se ajudarão, mas não haverá uma capaz de dizer: Eis minha posse, sou proprietária! Todas reconhecerão ser Eu somente o Senhor, e elas, irmãs.

  1. Assim deveria ser hoje em dia; isto será permitido, neste pe- ríodo intermediário de educação das criaturas ainda não purificadas pelo grande fogo da Vida, até dois mil anos incompletos. A partir daí, o espírito tomará supremacia nos homens e não mais haverá o ‘meu’ e o ‘teu’, nem se falará a respeito.

  2. Vós, Meus amigos, possuís grandes áreas de terra. Perguntai-

-vos quem as dividiu e deu legítima posse, e a resposta soará: as leis humanas, dinheiro e outras riquezas, às quais os próprios homens deram valor fútil.

  1. Partindo de Deus, a Terra pertence a todos, como foi no iní- cio. Os inteligentes deviam dividi-la de acordo com as necessidades de cada um, ensinando-lhes a lavoura; seus frutos deveriam ser dis- tribuídos em parte e o supérfluo guardado nos celeiros e depósitos, para que ninguém viesse a sofrer necessidades.

  2. Pois, se os ricos e influentes tudo açambarcam, com exceção do lucro mínimo pago pelo trabalho pesado, muitos caem em mi- séria. Por isto, sede vós, abastados, amigos verdadeiros dos necessi- tados, demonstrando-lhes amor. Saciai famintos e sedentos; vesti os desnudos, consolai os tristes e libertai os prisioneiros que padecem nos cárceres, em virtude de vossa ganância, poder e leis — muito mais, porém, nas prisões da treva de sua alma. Libertai-os, que Eu vos livrarei do poder da morte e da condenação!

  3. Sede, futuramente, apenas administradores de vossa proprie- dade, que Eu vos darei a Vida Eterna; tenho Poder para tanto e posso dá-la a quem Eu quero. A medida por vós aplicada ser-vos-á retribuída por Mim. Eis a explicação boa e real da nuvem luminosa, que vos convidou à procura da Verdade e da Vida!”

183.LIBERTAÇÃODA MATÉRIA

  1. (O Senhor): “Não se pode considerar morta inteiramente a alma humana, não obstante todas as sensações de mortalidade; to- davia, é morte psíquica se ela vive no crescente pavor de perder, em breve, a vida tão agradável, ou passá-la num cubículo escuro, sem esperança de libertação.

  2. Sabeis o que provoca tal sensação, principalmente em pa- gãos materialistas, egoístas e orgulhosos, a ponto de procurarem toda sorte de prazeres e distrações para se livrarem dessa sensação repugnante do amor ao mundo e à matéria! Enquanto a alma se prender a bens terrenos, considerando-os posse plena e castigando quem, por miséria, de algo se apoderar, tal sensação não se apagará nem aqui, nem no Além; pois toda matéria é condenada e morta, frente ao espírito.

  3. A psique se afastando da matéria pela fé verdadeira e viva no Deus Único e na ação pelo amor a Ele e ao próximo, em breve se livrará de tal sentimento que ainda existe em vós, como prova irre- dutível de se terem afastado dela condenação e morte.

  4. É realmente tarefa difícil para uma alma cheia de amor mundano; existem muitos ricos na Terra para os quais é mais di- fícil separarem-se da matéria e seu valor imaginário do que um cordame passar pelo fundo de uma agulha. Todavia, é possível com a Ajuda de Deus, conforme ora acontece convosco, gregos, e ainda se dará mais incisivamente se fordes seguir o Meu Conselho deli- beradamente.

  5. Se tiverdes fé, mas não a aplicardes, ela é morta e não pode transmitir Vida real à alma. Pela ação, a fé se torna viva, inclusive a alma. Por isto, repito: não sejais simples crentes daquilo que ouvis a Meu respeito, mas praticantes prestativos e zelosos, para receberdes a Vida Eterna e Verdadeira!

  6. Vejo que todos Me aceitam como Senhor e Mestre; isto ainda não despertaria a sensação da imortalidade em vossa alma, pois tal sentimento provém da decisão resoluta de fazerdes o que aconselhei.

Continuai ativos em Meu Nome, que a Vida Eterna ficará convosco e jamais sentireis e saboreareis a morte!

  1. De que adiantaria ao homem possuir todos os tesouros da Terra, podendo usufruir toda sorte de prazeres, se com isso sua alma se prejudicasse?! Poderiam as riquezas libertá-lo das algemas da mor- te? Realmente, a morte não pode facultar vida à própria morte; isto só consegue a ação viva pela Doutrina, pois Eu Mesmo Sou Amor, Ação e Vida!”

  2. Respondem todos: “Sim, Grande Senhor e Mestre de Eterni- dade, acreditamos em tudo e vivificaremos nossa fé por ações dentro de Tua Doutrina pura e verdadeira, tão logo nos socorras em nossa fraqueza! Apenas uma pequena pergunta: Teria o velho sacerdote em Pathmos ouvido Teu Ensinamento tão perfeitamente como nós?”

  3. Respondo: “Certamente, como já vos havia dito. O que ain- da direi será por Mim depositado no seu coração, de onde ele o tirará para anotá-lo para os outros. Quando lá chegardes, podereis certificar-vos. Agora vos dou liberdade de fazer perguntas. Quem quiser orientação qualquer para sua salvação dirija-se a Mim; quem procurar achará!”

  4. Ao ouvirem isto, todos se alegram, pois havia vários pontos que desejavam abordar. Mas, quando pretendem fazê-lo, ninguém se lembra do assunto. Vendo seu embaraço, dirijo-Me a Kado: “Amigo, começa tu, porque não há quem se arrisque a fazê-lo!”

184.RELAÇÃOESPIRITUALENTRE EPICURISTASE CÍNICOS

  1. Diz Kado: “Com prazer externarei uma questão importante. Exemplificaste o prejuízo psíquico de modo tão claro, que decidimos renunciar a ele definitivamente. Ao lado de Epicuro, respeitamos outro sábio, em direção oposta: Diógenes de Kyne, desprezador do mundo, seus encantos, belezas, tesouros e até mesmo da vida física.

  2. É ele o polo oposto de Epicuro. Nem ele nem seus adeptos acreditam na imortalidade da alma e a sensação da morte não lhes causa medo ou pavor, pois esperam o momento do não-ser. Além

disto, são homens honestos, bons, prestativos e cumpridores de suas promessas. Sua alimentação é mui simples. Desprezam todo confor- to, luxo e vivem retraídos e castos. Veneram os deuses, reconhecem bondade, sabedoria e poder; mas não lhes agradecem e desprezam qualquer recompensa por parte deles. Seu maior desejo é o eterno não-ser, pois toda e qualquer espécie de vida é considerada por eles como suplício. Tais criaturas agem como ensina a Tua Doutrina. Que lhes falta para receberem o que nos foi dado? Morrendo, suas almas subsistirão? Sempre lhes dediquei minha atenção, conquanto não simpatizasse com seu sistema.”

  1. Digo Eu: “Meus amigos, essa gente é muito mais difícil de levar ao justo Caminho da Vida do que os epicuristas, porque não têm amor à vida. Estes têm grande amor à vida, mas é amor-próprio; portanto, gera a morte pelo amor materialista. Quando é transfor- mado — como em vós — pela justa fé no Deus Único, em amor ao Pai e ao próximo, os epicuristas levam vantagem sobre os cínicos embotados.

  2. Tão logo forem convertidos à fé verdadeira em Deus, o amor para com Ele, para com o próximo e a si mesmos é vivificado, por- que Deus Se estabelece no coração da criatura, nela tudo se transfor- mando em amor e vida.

  3. Mas, como já disse, é difícil convertê-las na Terra e no Além, por lhes faltar amor à vida. Uma vez convertidas, são verdadeiras heroínas na fé, no amor e na ação; pois têm o privilégio da renúncia, paciência e grau elevado de humildade, pelo qual dominam o amor carnal, podendo caminhar a trilha da luz.

  4. Ainda que os cínicos morram não convertidos, suas almas sobrevivem, não obstante o desejo do não-ser, o que não é de seu agrado. Além disto, não sofrem padecimentos, mas vivem tais quais na Terra. São visitadas pelos anjos e iluminadas na medida do pos- sível, considerando seu livre arbítrio. Para tanto, são precisos muito amor, sabedoria, esforço, paciência e persistência.

  5. Além disto, existem poucos adeptos de Diógenes e não pode- rão prejudicar muitas criaturas como fazem os epicuristas, espalha-

dos por toda parte, levando vida de gozo, sem pensarem em Deus e no próximo, a não ser que este trabalhe por pouco salário. Estragam muitos pelo mau exemplo, levando a classe favorecida a imitá-los, enquanto os menos felizes se enchem de inveja e aborrecimentos.”

185.PRIMEIROESEGUNDOFOGO PURIFICADOR

  1. Em seguida, levanta-se o pai de Kado e diz: “Senhor e Mes- tre, como será quando os homens forem purificados pelo fogo antes de Tua Volta, e que espécie de fogo será?”

  2. Respondo: “O fogo será representado por uma miséria imen- sa e geral, sofrimentos e atribulações nunca vistos na Terra. A fé se apagará, o Amor esfriará e os pobres se lastimarão e perecerão; os maiorais, poderosos e os regentes da Terra não darão ajuda aos pedintes, em virtude do seu imenso orgulho e a dureza de coração.

  3. Um povo se levantará contra outro, guerreando-se com ar- mas de fogo. Isto atirará os soberanos em dívidas insuperáveis, mar- tirizando os súditos com impostos exorbitantes. Surgirão carestia, fome, moléstias incuráveis, epidemias e pestes entre homens, ani- mais e até mesmo plantas.

  4. Haverá tempestades fortíssimas em terra e mar; terremotos, inundações marítimas, atirando as criaturas em pavores indizíveis pelas coisas futuras.

  5. Tudo isto será permitido para desviá-las do orgulho, egoísmo e grande preguiça. Os importantes e pretensos poderosos serão cas- tigados pelo enfado, e, a fim de se livrarem, começarão a trabalhar. Eis o primeiro fogo, pelo qual as criaturas serão purificadas para a Minha Volta.

  6. Na mesma época, o fogo natural terá grande serviço e impul- sionará os navios com velocidade do vento. Dotados de grande inte- ligência, os homens farão estradas e carros de aço e, em vez de atrelar animais aos carros, o fogo se incumbirá de atirá-los quais flechas.

  7. Saberão captar o raio (eletricidade), usando-o para mensageiro de seus desejos e vontade, de um polo ao outro. Os regentes ganancio-

sos fazendo guerra, o fogo prestará serviço decisivo; massas de aço em forma de bola e de grande peso serão atiradas com violência contra o inimigo, cidades e fortalezas, provocando enormes prejuízos.

  1. Chegará a ponto em que as armas serão tais, que povo algum poderá fazer guerra, pois, em desafio de duas potências, serão dizi- mados até o último guerreiro. Daí não surgindo lucro ou vitória, os regentes procurarão viver em paz e amizade, e, se um outro marchar contra o vizinho, os amigos o castigarão. Deste modo, estabelecer-

-se-á a paz antiga entre os povos, firmando-se.

  1. A contar de agora, mil oitocentos e quase noventa anos, pou- cas guerras haverá na Terra, dando-se, com Minha Chegada Pessoal, início a maior esclarecimento entre os homens.

  2. Entre povos selvagens ainda haverá conflagrações, mas, em breve, se tornarão impossíveis. Serão levados de roldão pelos Meus regentes justos, e farei espargir Minha Luz, transformando-os em povo pacífico. Eis o segundo fogo purificador!”

186.TERCEIROEQUARTOFOGODE PURIFICAÇÃO

  1. (O Senhor): “Uma terceira qualidade de fogo consistirá em Eu inspirar, alguns séculos antes, videntes, profetas e servos que, em Meu Nome, esclarecerão todos os povos, clara e verdadeiramente, sobre todas as coisas, libertando-os de mentira e mistificação, pelas quais os próprios falsos profetas, em Meu Nome, iniciaram o cami- nho da perdição, até mesmo na Minha Época.

  2. Farão falsos milagres e sinais como fazem sacerdotes pagãos, seduzindo muitas criaturas para angariar tesouros, riquezas, poder e grande conceito; através do terceiro Fogo e sua Luz claríssima, tudo perderão, sendo aniquilados. Os regentes tentando socorrê-los, per- derão poder, bens e trono; pois Eu inspirarei os Meus reis e chefes de Estado, dando-lhes a vitória, e a antiga noite do inferno e seus mensageiros na Terra terão fim.

  3. Assim como essa noite consiste na cerimônia pagã, ignorante e tola chamada culto a Deus, também existirá naquela época, sendo

dizimada pelo terceiro fogo dos Céus. A mentira não poderá ser vencedora na luta com a Luz da Verdade celeste, assim como a noite natural não poderia enfrentar o Sol: terá que fugir para sua cavernas e profundezas, e aqueles que se encontram na Luz não mais procu- rarão a treva.

  1. Agora demonstrarei a quarta espécie de fogo, pela qual toda a Criação será purificada na Minha Segunda Chegada. Essa espécie consistirá em grandes convulsões telúricas de várias categorias, mor- mente naqueles pontos onde foram construídas as metrópoles sun- tuosas, em que dominam o pior orgulho, desamor, maus costumes, falsos testemunhos, poder, honrarias, ócio, ao lado da maior pobre- za, miséria e sofrimento gerados pelo excessivo epicurismo dos ricos.

  2. Em tais cidades surgirão, por ganância, fábricas em grandes proporções e, em vez de mãos humanas, trabalharão fogo e água em união com milhares de máquinas artísticas de aço. O aquecimento será feito por meio do remoto carvão que, em tal época, será extraí- do das minas em grandes massas.

  3. Quando tais máquinas, pelo poder do fogo, tiverem atingido sua culminância, a atmosfera telúrica será tão fortemente carregada com gases incendiáveis, que se incendiarão cá e acolá, reduzindo tais centros e arrabaldes em cinza e poeira, inclusive os habitantes. Tal será uma purificação enorme e eficaz. O que não for atingido pelo fogo será feito por tempestades várias onde for preciso; pois, sem necessidade, nada será queimado nem destruído.

  4. Por esse meio, o ar será liberto dos vapores nocivos e dos ele- mentos da Natureza; haverá influência benéfica sobre todos os seres da Terra e à saúde dos homens, a ponto de terminarem várias moléstias malignas, atingindo o Gênero Humano idade avançada e saudável.

  5. Como as criaturas purificadas se acharão em Minha Luz, res- peitando para sempre as Leis do Amor, os bens terrenos serão de tal forma distribuídos, que cada um terá o suficiente, aplicando justo zelo. Os chefes da comunidade, bem como os regentes igualmen- te agindo sob Minha Vontade e Luz, farão com que jamais haja qualquer carência no povo. Eu Mesmo visitarei as criaturas, para

soerguê-las e fortificá-las onde existir a maior saudade e o amor mais forte para Comigo.

  1. Obtiveste resposta compreensível para os gregos. Trata-se de uma profecia para futuro distante, mas que se realizará; pois tudo poderá desaparecer, inclusive esta Terra e o Céu visível; jamais, porém, Minhas Palavras e Promessas deixarão de se realizar. Com- preendeste?”

187.CONDIÇÕESPARAAVOLTADO SENHOR

  1. Diz o velho hospedeiro: “Sim, Senhor e Mestre, todos nós o compreendemos. Quanto às quatro espécies de fogo para puri- ficação das criaturas e do orbe, não soam agradáveis e poderia se perguntar por que Deus os permite. Sendo Sábio e Bom, terá Seus justos Motivos. Agradecemos pela Revelação e estamos contentes por vivermos na Tua Primeira Chegada à Terra, pois sinto que esta época é muito mais grandiosa do que a de Tua Volta.

  2. Não posso fazer ideia das grandes cidades futuras e como os homens irão aproveitar a força do raio para uso material. Eu, e certamente todos, estamos felizes por não entendê-lo, vendo que os elementos estão sob Tua Diretriz. Já que falaste em Tua Volta à Terra, poderias acrescentar onde se dará tal fato?”

  3. Digo Eu: “Amigo, a esta pergunta não posso responder de modo compreensível, porque terão surgido, em tal tempo, locais, países e povos que atualmente não têm nome. Claro é que poderei somente voltar ao país onde existe a fé mais viva e o amor mais forte e verdadeiro para com Deus e o próximo.

  4. Mas, quando voltar, não virei Sozinho, e sim com todos os Meus, que desde longa data estiveram no Meu Reino Celeste, em enormes falanges, para fortificar os irmãos encarnados, havendo destarte verdadeira comunhão entre espíritos bem-aventurados nos Céus e as criaturas desta Terra, para seu grande consolo. Agora sabeis o que necessitáveis. Agi de acordo, que colhereis a Vida Eterna; pois Eu vos despertarei no Dia Final!”

  1. Diz Kado: “Oh Senhor! Isto será amanhã? Pois todo dia é para nós o dia final!”

  2. Respondo: “Não falo de um dia terreno, mas de um espiritu- al no Além. Quando tiveres deixado o corpo e entrado no Reino dos espíritos, será o teu dia mais recente e Eu te libertarei da condenação da matéria, despertando-te para o Dia Novo. Agora vamos deitar, pois já é meia-noite e amanhã nos espera longa viagem.”

188.OSENHOREOSSEUSNOMONTE ARALOTH

  1. Como sempre, já estamos de pé antes da aurora e nos dirigi- mos ao ar livre. Percebendo nossa saída, Kado nos segue depressa, pedindo que não Me afaste antes de tomar um bom desjejum.

  2. Digo Eu: “Assim teria feito, sem que tu Me tivesses seguido. Como foste movido pelo amor, proporcionaste grande alegria ao Meu Coração e te convido a nos acompanhar ao Monte no qual Josué, profeta e guia do povo israelita, se encontrava com a Arca da União e pelo som potente das trombetas destruiu essa cidade, que, naqueles tempos, era grande e circundada por muralhas quase indes- trutíveis, fazendo com que seus habitantes, guerreiros e pagãos que praticavam horrível idolatria, sucumbissem.

  3. A este Monte, não mui distante daqui — porque esta Jeri- có se encontra mais próxima dele que a antiga, mais de cem vezes maior que a atual, usando o mesmo nome, mas apenas apresentando ruínas — nos dirigimos. De lá te apontarei o verdadeiro local da antiga Jericó.”

  4. Diz Kado: “Permita, Senhor, que meu pai, amigo de coisas remotas, nos acompanhe. Buscá-lo-ei em um instante!” Digo Eu: “Não é preciso, pois vê: ele já vem ao nosso encontro, acompanhado daquele que Eu fiz enxergar novamente.” Kado os viu e ficou muito feliz. Continuamos a andar lentamente e eles logo nos alcançaram.

  5. Após meia hora de marcha, chegamos ao dito Monte, cujo pé, plantado de oliveiras, era posse do hospedeiro. Quando atingi- mos o cume, subi no pequeno planalto e comecei a falar:

  1. “Ouvi-Me! Nesta pedra onde estou, se encontrava Meu servo Josué. Não tem valor vital para as criaturas, mas não prejudica a alma estar orientada na História da Humanidade, evitando a queda na superstição, clima este em que o homem facilmente tudo acei- ta como verdadeiro! O mesmo acontece à maioria dos judeus, que consideram Josué homem fantástico que nunca existiu; outros, de fé fraca, aceitam a história desse profeta literalmente, o que também é grande tolice, da qual surgiram grandes discussões, descrença, su- perstições e enganos.

  2. Como sabeis, operou Josué muitos milagres quando conduziu os israelitas do deserto à Terra Prometida, em constante companhia do Senhor; não deixa de ser verdade, mas suas ações e conduta tinham igualmente sentido espiritual, infelizmente não mais compreendido pelos judeus. Por isto, tanta coisa errada se prega e ensina por parte dos fariseus, que não é de admirar os mais cultos se escandalizarem nos ensinos de Moysés e demais profetas. Este é o motivo de Eu vos trazer ao local de onde Josué, na conquista da velha cidade de Jericó, operou os primeiros milagres, como o Espírito de Deus lhe ordenou.

  3. Este Monte é o Araloth e o local onde estamos chama-se Gil- gal, no qual Josué, a Mando do Senhor, circuncidou pela segunda vez os filhos de Israel com lâminas de pedra. A rocha em que Eu estou relembrando a antiga História consiste de doze pedras trazidas do centro do rio por doze sacerdotes, na ocasião em que o povo atra- vessou o Jordão a seco, e foram juntadas como ora estão. Com isto, Josué exemplificou que as doze tribos representadas pelas pedras for- mam um corpo sólido e umpovo uníssono e poderoso debaixo da lei, da proteção e da conduta de Deus, e se torna um julgamento para todos os pagãos. Como rocha resistente, todos nela se deveriam ferir quando fossem contra a Vontade de Deus.

  4. Aqui ele depositou a Arca, que foi carregada em redor da ve- lha cidade sete vezes e, ao som poderoso das trombetas, as muralhas tombaram no sétimo dia. Os israelitas penetraram em Jericó e, por Ordem de Deus, massacraram a todos, com exceção da prostitu- ta Rahab. Ela e a família foram poupadas, por terem protegido os

mensageiros de Josué diante da perseguição do rei pagão, ocultando aqueles em sua casa.

  1. Aqui também foram depositados ouro, prata e pedras precio- sas diante da Arca, que os israelitas trouxeram da cidade destruída, em Honra de Deus; Josué transmitiu o Mandamento pela Vontade do Senhor e disse que a cidade destruída jamais fosse reconstruída, e quem assim tentasse fazer receberia castigo de Deus.

  2. No local onde estava a Arca, agora está em Pessoa Aquele que, Príncipe Poderoso com a espada na Mão, falou a Josué: Tira o calçado, pois Santo é o lugar que pisas! Só então percebeu Quem era e começou a adorá-Lo.

  3. Todos vós sabeis Quem Sou, e ninguém Me adora! Nem quero que o façais, pois vos coloco em posição mais elevada do que Josué com todo seu poder e porque detesto toda prece maquinal. A partir de agora é o amor a Deus e ao próximo a prece que mais me agrada e que atendo. Agora orientados, podeis dirigir a atenção ao Poente e observar a grande e deserta planície onde se encontrava a antiga cidade pagã.”

189.AANTIGA JERICÓ

  1. Manifesta-se Pedro: “Senhor, a antiga Jericó se achava em direção ao Levante, além do Jordão, e não me lembro se ontem atra- vessamos o rio. Viemos por uma ponte larga, sob a qual não havia tanta água como se fosse o Jordão.”

  2. Adianta-se Kado: “Todavia, foi ele. Nesta época a água é pouca, mormente onde está a ponte. Mais para cima se alarga e, não longe do Mar Morto, é bastante grande.”

  3. Satisfeito com a informação, Pedro observa as pedras onde Me acho e diz: “Como era possível doze sacerdotes tirarem essas pedras enormes e pesadas do rio e carregá-las até aqui? Teriam sido gigantes?”

  4. Digo Eu: “Como podes perguntar deste modo, quando ao Meu lado assististe a tantas provas da Força do Espírito de Deus?! Esqueceste o que aconteceu em casa do velho Marcus, em Cesareia

Philippi, e como Raphael há poucos dias suspendeu a antiga coluna de cobre, no lar de Lázaro, e outras coisas mais?! Acaso teria sido a Força de Deus, em época de Josué, menor que a de hoje?! Pensa um pouco e deixa de fazer perguntas que uma criança recém-nascida entenderia!”

  1. Novamente Kado se dirige a Mim: “Senhor e Mestre, caso não te aborreça, teria vontade de externar uma pergunta, que conhe- ces de qualquer maneira.”

  2. Digo Eu: “Podes falar, muito embora saiba do assunto.”

  3. Prossegue ele: “Mencionaste, e também consta na Escritura, haver Josué ameaçado de castigo, a Mando de Deus, quem se atre- vesse a reconstruir a antiga Jericó; entretanto, moramos na cidade nova! Teria Deus revogado Sua Ameaça?”

  4. Respondo: “Enganas-te. Jehovah não revogou Sua Palavra, de sorte que, na zona estéril e deserta onde se achava a antiga Jericó, até agora não existe casa, nem simples cabana. Por que não experi- mentastes construir qualquer coisa, ou talvez mesmo um estábulo para carneiros, cabras ou porcos?”

  5. Diz Kado: “É realmente estranho! A zona de aproximada- mente duas horas de circunferência tem grande semelhança com o Mar Morto. Não produz nenhuma plantinha de musgo e, além disto, exala, às vezes, vapores tão nocivos, que matariam homem e animal que se aproximassem; portanto, seria imprudente erigir-se qualquer moradia.

  6. A exalação pestilenta não se estende além, de sorte que aqui se vive com saúde. Segundo me parece, a zona foi aproveitada para receber criminosos que merecem a morte e, quando lá ficavam mais de uma hora, morriam quase sempre. Os que voltavam com vida consideravam-se agraciados pelos deuses; ficavam, porém, enfermos e não viviam muito. Tem esta zona o privilégio sobre o Mar Morto de não haver vento que impila os gases além da mencionada área, o que não se dá com aquele Mar.

  7. Fato peculiar é a ausência de cobras, víboras e demais inver- tebrados nas ruínas. E é de estranhar que, não obstante a proibição,

após alguns séculos tenha surgido uma segunda Jericó. Como se deu isto?”

  1. Digo Eu: “O importante é o local e não o nome, e explica- rei porquê. Existem na Terra determinados pontos e zonas extensas inapropriados para receberem homens e animais, porque, em cer- tas épocas, surgem do centro telúrico gases perigosos derivantes de depósitos de carvão sulfúrico e metais venenosos. A antiga zona, a meia hora distante daqui, é tal ponto; aliás, pior que em época de Abraham e Lot, quando, além de Sodoma e Gomorra, foram construídas Jericó e outras cidades pelos antepassados de Lot, que regeram toda essa área até ao Mar.

  2. Os antepassados de Lot tinham sido avisados de não se esta- belecerem aqui ou edificarem cidades. Desrespeitando a advertência, foi-lhes ordenado levar vida casta e pura; pois somente uma pessoa casta e deste modo forte, com alma resistente e plena do Espírito de Deus, pode enfrentar os elementos maus e brutos sem a prejudica- rem. Eles, porém, não aceitaram o conselho, inclinando-se a toda sorte de impudicícia e tornaram-se idólatras.

  3. Seguidamente foram-lhes enviados espíritos puros, mu- nidos do Poder Divino, que os ensinavam e demonstravam as consequências pelo desrespeito. Ninguém lhes dava ouvidos e os mensageiros eram perseguidos e enxotados.

  4. Em época de Lot, o local subterrâneo chegara à maturação de explodir, em parte pela ordem da Natureza e principalmente por- que as referidas criaturas estavam isentas de todo poder espiritual. Assim, os maus elementos da Natureza bruta e condenada ganha- vam terreno, podendo expandir-se à vontade, o que não teria sido possível se numa das cidades existissem dez a vinte criaturas puras e psiquicamente fortes.

  5. Em Verdade vos digo: Um homem puro e espiritualmente forte é senhor dos elementos da Natureza, portanto de flora e fauna, inclusive minerais de toda espécie. Estando a alma plena do Espírito de Deus, no Qual reside todo Poder e Força, poderá mandar em tudo e as próprias montanhas têm que se curvar diante do Poder

de sua vontade, sua fé e confiança inabaláveis em Deus Único e Verdadeiro.

  1. Naquela ocasião, não havia umem tais condições, de sorte a ter Lot recebido aviso para fugir, caso não quisesse sucumbir com os outros. Assim foi ele salvo; pois, naquele dia, deu-se a explosão e a grande Sodoma e Gomorra sucumbiu, onde o Mar Morto ainda exerce sua ação nociva por muito tempo.

  2. A situação de Jericó não era mui diferente na época de Jo- sué, onde uma prostituta ainda possuía a alma mais pura, razão por que foi salva em virtude de ter atendido e protegido os mensageiros do profeta.

  3. Josué, homem puro e pleno do Espírito Divino, assim como seus sacerdotes, poderia ter evitado a terrível explosão, pois havia banido os maus elementos ao subsolo do Mar Morto; ainda assim, foi preciso proibir terminantemente de se construir ali uma cidade, o que até hoje foi respeitado e espero o será.

  4. Demonstrei o motivo pelo qual ordenei a Josué nunca mais se erigir uma cidade sob nome qualquer. O local desta Jericó não é nocivo, ainda que se ache perto da antiga; portanto, pode ser cons- truída uma pequena cidade. O nome não tem influência.”

190.FINALIDADEDAORDEMEMA NATUREZA

  1. Kado Me agradece pela explicação e pede Eu ordenar aos elementos da Natureza de se afastarem da zona, a fim de não pertur- barem homens, flora e fauna.

  2. Digo Eu: “Já foi feito muito antes de teres tal ideia; preva- lecerá o que foi pronunciado por Josué, através do Meu Espírito! Onde houver capim e animais pastando, a terra é boa; passando dali, é nociva.”

  3. Diz o pai de Kado: “É realmente lastimável área tão extensa não se prestar ao cultivo, pois serviria para abastecer muitas cria- turas. Bastaria pronunciares uma só palavra, para afastar os maus elementos, Senhor!”

  1. Digo Eu: “Tens razão plena e louvo tua fé; entretanto, não posso agir como desejas. Se assim fizesse, iria contra Minha Ordem estabelecida, o que jamais poderia suceder. Montanhas existem onde são necessárias; fontes, lagos, córregos, rios e mares estão onde devem, assim como os sentidos vários no corpo humano. E onde houver zo- nas maléficas na superfície terráquea, é porque são necessárias; pois o solo, o ar e a água têm que acumular número infinito de elementos vários da Natureza a fim de que surjam minerais, metais, pedras, plan- tas e animais de toda espécie, encontrando alimento e subsistência.

  2. Onde, portanto, descobrirem tais áreas, nas quais não nas- çam flora e fauna, os homens não se devem estabelecer; em seu sub- solo certamente existe uma fonte pela qual os elementos impuros são levados à tona, para se unirem ao ar e à água.

  3. Há terrenos sadios em vales e montanhas de sobra, onde as criaturas poderão encontrar o sustento se forem comedidas, e não necessitam desbravar desertos perniciosos. O mar, lagos e rios co- brem grandes áreas da Terra, e em grande parte é formada de cordi- lheiras não somente estéreis, mas até mesmo cobrindo os planaltos com neve e gelo eternos. Não estarias disposto a Me perguntar por que não transformo as extensas áreas aquáticas e as montanhas in- frutíferas em terra fértil, uma vez que os homens se procriam assus- tadoramente e, deste modo, teriam o necessário para supri-los? Eu te responderia: Se assim fizesse, surgiria muita terra sólida, na qual, porém, nada germinaria.

  4. Tudo tem que ser como é, para produzir terrenos férteis no orbe. Se as criaturas vivessem dentro da Vontade expressa de Deus, teriam sustento de sobra. A repetida carência de gêneros alimentí- cios e a fome são produtos do próprio homem, em virtude do amor-

-próprio, cobiça, domínio, ócio e a derivante tendência ao excessivo conforto e riqueza.

  1. Observa os ociosos ricos nas cidades. Têm fartura em posses e bens — mas o que fazem em benefício dos que trabalham dia e noite para eles? Nada! O salário e o péssimo alimento não estão de acordo com o esforço empregado e Eu também assim os considero.

  1. Qual é a vantagem que Herodes proporcionou aos homens obrigados a pagarem impostos elevados por trabalhos obrigatórios? Existe grande número de tais Herodes na Terra, provocando miséria e toda sorte de atribulações, que, em virtude de sua insaciável ganân- cia, geram carestia e fome, pelo que não devem aguardar boa recom- pensa no Além. Pois, antes que um tal Herodes entre no Reino do Céu, mais facilmente um cordame passa pelo fundo de uma agulha!

  2. Por isto, vós que sois ricos, lembrai-vos dos pobres, e assim descobrireis haver na Terra solo fértil de sobra. Terás compreendido isto como tavoleiro, proprietário de terras e tesouros?”

  3. Responde ele: “Sim, Senhor e Mestre, e tomei a firme reso- lução de assim agir e levar outros pelo mesmo caminho.”

  4. Digo Eu: “Teu prêmio no Céu será garantido; pois quem converter alguém — especialmente se da classe abastada — para a Luz da Vida e a ação amável e solícita poderá estar certo da Grande recompensa para a Vida Eterna de sua alma. Eis que surgirá o Sol, o que alegrará vossas almas!”

191.PROVADE VOO

  1. Todos se calam, dirigindo a atenção para a aurora. Somente o velho empregado, servente de Kado, não tira os olhos de Mim. Percebendo-o, Kado lhe diz: “Por que não viras o rosto para o Sol, como mandou o Senhor e Mestre de Eternidades?”

  2. Responde o velho: “Por ser Este um Sol muito mais Sublime e Santo que aquele no Oeste, que já vi milhares de vezes e espero ver ainda. O Sol do mundo em breve desaparecerá para mim; mas Este, tão milagrosamente surgido, iluminará nossas almas como o meio-

-dia, jamais desaparecendo. Ai daquele para o qual Este Sol sumir! Terá de esperar por muito tempo outra Aurora!” Kado elogia o velho e segue o seu exemplo.

  1. Esta aurora é especialmente maravilhosa por estar o hori- zonte mui limpo; somente em direção ao Poente flutuam, no alto, algumas nuvens “cirros”, contrastando com o azul do firmamento.

Várias aves de arribação vinham do Norte, dirigindo o voo para Su- doeste, evitando o Mar Morto.

  1. Quando o Sol já está alguns palmos acima do horizonte, o tavoleiro diz: “Senhor e Mestre, Onisciente que és, saberás onde se oculta o Sol durante a noite! Segundo nossas lendas, submerge no mar, para surgir do lado oposto, no grande Oceano no qual flutua a Terra. Dá essa impressão, mas certamente a realidade é outra?”

  2. Concordo: “Muito diversa — mas agora não é tempo de es- clarecer-vos. Dentro em breve, alguns essênios que vos visitarão po- derão explicá-lo, pois de há muito possuem justas noções a respeito. Posteriormente, aqui também virão Meus discípulos para fortalecer-

-vos em Meu Nome. Então Meu Espírito preencherá vossas almas, transmitindo conhecimentos vários!” Satisfeito, o tavoleiro se cala.

  1. Um outro grego, que nos seguira, observa o voo das aves e diz: “Quão felizes são elas! Leves e ligeiras atravessam as distâncias para, longe daqui, buscarem o seu sustento. O homem é desprivile- giado, pois, para se locomover, se serve dos pés de vários animais. Se Deus lhe tivesse dado asas, seria uma felicidade inaudita!”

  2. Digo Eu: “Agradece a Deus de não ter feito isto; pois, se o homem tivesse o dom de voar, nada estaria seguro diante dele. Em pouco devastaria a Terra de modo muito mais desastroso do que uma onda de gafanhotos que se atirasse num campo. Por isto, não invejes os pássaros. Basta aos homens a capacidade de locomoção, que é suficientemente rápida para se guerrearem. Somente no so- corro ao próximo seria útil mais rapidez; mas, em tais ocasiões, as criaturas demoram e não desejam a capacidade dos pássaros. Pode o homem voar com o intelecto e a vontade, e tal voo espiritual tem mais valor que o material das aves. Concordas?”

  3. Responde ele: “Sem dúvida; no entanto, deveria o profeta Elias sentir-se muito feliz quando se elevou no carro de fogo, para seguir ao Céu — na suposição que assim tenha sido, como consta nas Escrituras dos judeus.”

  4. Digo Eu: “Assim se deu na frente dos seus discípulos, mas a significação daquele acontecimento é mui profunda e não a enten-

deríeis. Já que tens tanta vontade de voar, basta crer e querer, que permitirei subires no ar. Uma vez flutuando, tem cuidado para não perderes o equilíbrio, pois uma leve brisa poderia derrubar-te.”

  1. O grego se enche de vontade e fé — e imediatamente sobe ao ar, a considerável altura. Não tendo apoio, a brisa o domina, vi- rando-o ora para a direita, ora para a esquerda, de cabeça para baixo, ou afastando-o a boa distância do morro. O grego começa a gritar e pedir socorro. Emito a Minha Vontade ao vento, e o grego volta para perto de nós. Dirigindo-Me ao alto, digo: “Tem fé e volta à terra!”

  2. Quando se acha junto dos outros, perguntam-lhe como se achara lá em cima, e ele responde: “Em nossos antigos livros consta que as criaturas não deveriam desafiar os deuses, e eu tive coragem de experimentar o Deus Verdadeiro; portanto, foi bem merecido o sus- to por que passei. Agradeço-Te, Senhor, por me teres feito voltar ao solo firme. Jamais invejarei os pássaros pelo dom recebido de Deus!”

  3. Em seguida, perguntam alguns discípulos, que durante Meus primeiros anos de doutrinação Eu havia feito transportar pelo ar à montanha de Kis, como se puderam manter eretos.

  4. Respondo: “Foi ação de Minha Vontade. Aqui disse ao gre- go: Tem fé e força de vontade, que acontecerá o que creres e quise- res! Ele assim fez; portanto, foram fé e vontade dele e não Minha a levantá-lo no ar. Quando se viu sem apoio, aterrorizou-se e não refletiu que poderia voltar ao solo pela mesma ação. Somente após Eu querer que o vento o trouxesse para cá, assim foi. Ele mesmo poderia se manter no ar pela fé e vontade, como fazem certas pessoas nos confins da Índia em momentos de êxtase; tal ação não tem valor para a alma.

  5. Demonstrei que o homem de fé e vontade inabaláveis tudo pode, inclusive remover montanhas, de sorte que este acontecimen- to não foi novidade. O que mais se aproveitou durante a aurora foi a dissertação do velho servente de Kado; por isto, inspirá-lo-ei para torná-lo bom trabalhador em Minha Vinha.”

  6. Entrementes, chega um empregado do albergue chaman- do-nos para o desjejum. Durante o mesmo, Me dedico ao velho

e, quando terminamos, aponho-lhe as Mãos, fortificando-o e des- pertando-o para discípulo e divulgador do Evangelho. Chamava-se Apollon e tornou-se posteriormente fundador de uma comunidade em seu nome. Em seguida, aprontamo-nos para a viagem, após ter Eu abençoado a todos a pedido de Kado, ao qual prometo voltar no terceiro dia.

192.NOALBERGUE EM ESSEIA

  1. Ligeiros, seguimos o caminho pelo qual viéramos na véspera a Jericó. Kado nos acompanha até a parte onde a estrada se bifurca. A velha estrada ia para Jerusalém; a nova, em direção ao Egito, leva a Esseia, distante um dia de marcha. A estrada é deserta e os discípulos sentem sede devido ao grande calor, mas não se queixam. Altas horas da noite estávamos em Esseia e entramos no primeiro albergue; o tavoleiro pergunta o que desejamos.

  2. Digo Eu: “Pão, vinho e um pouco de sal é tudo que preci- samos.” Ele nos traz o que desejávamos e, meia hora mais tarde, quando já refeitos, ele pergunta se também queríamos carne e peixe.

  3. Respondo: “Estamos bem e amanhã poderás servir outra coi- sa. Querendo fazer-Me um obséquio, manda alguém ao castelo dos essênios com o seguinte recado: O Senhor está em teu albergue com Seus amigos! É só. Eles aqui virão com grande alegria.”

  4. O dono da tavolagem assim faz e o servo encontra o burgo ainda aberto, porque muitos estrangeiros vinham de toda parte do mundo com enfermos e crianças mortas. Os essênios já se desespe- ravam com os rogos dos pais, pois, quanto mais afirmavam não ser possível ajudar dessa vez, tanto mais eles insistiam. Esse é o motivo por que o castelo ainda está aberto e o servo é incontinenti levado aos chefes, que se alegram com o recado. Alguns forasteiros estavam presentes e indagam quem era o dito senhor.

  5. Os essênios respondem: “Hoje não há tempo para relatar-vos esse grande segredo; amanhã todos se admirarão acerca do Poder e da Sabedoria do Senhor, Único!” Em seguida, vêm ao Meu albergue

e é enorme o júbilo quando Me avistam. Não sabem como agradecer por Eu cumprir a Minha Palavra e pedem que todos nós fôssemos ao castelo.

  1. Digo Eu: “Fico onde estou e é preferível permanecerdes Co- migo. Não irei ao vosso castelo, pois o que fizer será perante todo o mundo; todos devem ouvir o grande Testemunho de Deus através de Minha Boca.”

  2. Imensamente satisfeitos, os essênios dizem ao hospedeiro que sirva o que tiver de melhor. Intervenho: “Para quê? Já nos farta- mos de pão e vinho. É melhor fazerdes caridade aos estrangeiros necessitados.”

  3. Dizem eles: “Senhor e Mestre! Sempre acolhemos os neces- sitados, inclusive os que aqui vêm. Tu nem sempre estás conosco e é justo nós Te demonstrarmos o maior amor, amizade e respeito.”

  4. Concordo: “Fazei o que vos agrade em vosso coração!” Ime- diatamente se faz movimento no albergue e nossas mesas se enchem de bons pratos. Sirvo-Me de algum peixe, enquanto Meus discípu- los e essênios se servem de tudo. O vinho não é desprezado, mas tomado com cautela, por ser bastante forte. Por isto, digo: “Não vos embriagueis! Sabeis que a embriaguez é um vício; enfraquece coração e alma, e gera na carne o espírito da impudicícia e da volú- pia. Uma alma embriagada dificilmente entrará no Reino do Céu.” Sentindo o efeito de Minhas Palavras, todos se contêm no beber e comer. Os comentários são vários, enquanto Eu pouco falo, para não Me trair perante o tavoleiro e os forasteiros que vinham tocados pela curiosidade.

  5. Entre eles está um jovem egípcio que, há anos, havia que- brado o pé na queda de uma árvore e só podia locomover-se com muletas, sentindo fortes dores. Seus pais o trouxeram ao castelo dos essênios e pagavam o tratamento que, não obstante durasse já seis meses, não surtia efeito. Esse jovem Me fita constantemente e, no final, resolve dirigir-se a Mim.

  6. Pergunto-lhe o que deseja e ele diz: “Ó bom senhor, en- quanto te observava, senti forte calor no coração e ouvi uma voz

dentro de mim: Somente este poderá ajudar-te! Por isto, enchi-me de coragem para me aproximar de ti, pois creio que apenas tu me socorrerás!”

  1. Digo Eu: “Pois bem, que se faça como acreditas! Silencia por hoje, para que não haja alvoroço no local!” A essas Palavras, ele se sente tão bem, que deixa as muletas de lado, movimentando-se no recinto. Sumamente feliz, ele Me agradece com os olhos cheios de lágrimas, dizendo: “Verdadeiramente Poderoso Salvador! Não é possível eu agradecer-te somente amanhã! Que façam ou não alarde

  1. Digo Eu: “Deixa estar, pois tua gratidão silenciosa no cora- ção Me agrada muito mais que milhares de palavras. Amanhã pode- rás externar-te perante os estrangeiros.”

  2. Ele aceita Minha Ponderação, senta-se à nossa mesa, onde se serve alegremente de pão e vinho, pois há muito tempo os médi- cos lhe haviam proibido de beber.

  3. O hospedeiro, os empregados e alguns estranhos haviam percebido a cura; por isto, se dirigem ao egípcio para saber o que Eu tinha feito para curá-lo. Diz ele: “Estivestes presentes e ouvistes quando disse: Faça-se de acordo com tua fé!, e imediatamente fiquei bom. É só que posso dizer.”

  4. A essa explicação, o homem procura falar com André e lhe faz perguntas a Meu respeito, porquanto conhecia esse discípulo, que recomendou paciência, pois no dia seguinte saberiam de tudo.

193.ORIGORDO SENHOR

  1. Nisto se aproxima um forasteiro e Me Diz: “Senhor e Mes- tre, acaso podes curar toda moléstia, e de quem aprendeste essa arte milagrosa?”

  2. Respondo: “Árabe curioso! Nada Me é impossível, e o que tenho recebi do Meu Pai, no Céu! Ninguém O conhece senão Eu, e a Mim também ninguém conhece tanto quanto o Meu Pai. Que isto te satisfaça. Tu e tua raça estais longe do Reino de Deus. Vosso

céu é representado por mulheres e escravas, e quem se apraz com tal céu longe está de Mim e do Pai!”

  1. Percebendo Eu haver despachado o árabe com certa rude- za, os essênios julgam estar Eu de mau humor ou alguém Me ter ofendido. Eu lhes digo: “Como podeis julgar desse modo, sabendo Quem Sou? Não sou homem fraco e acometido de várias paixões; mas vim ao mundo para socorrer aos que acreditam em Mim, vivem e agem pela Doutrina. Assim, Sou como fui antes de ser criado este planeta, e amo, inclusive, as criaturas que não Me conhecem; em tempo oportuno, ser-lhes-á pregado o Evangelho. Quem o aceitar receberá a Vida Eterna; quem não aceitar a Boa Nova ficará no velho julgamento e na morte.

  2. Tratai, no futuro, que os inúmeros mortos que de vós pe- direm socorro recebam Minha Doutrina, despertem em espírito, tornando-se vivos. Quero que todos se tornem felizes e, se vim ao mundo para abrir o portal à Vida Eterna, não sou hoje assim, e ama- nhã diferente, mas sempre o Mesmo, como o Pai no Céu que em Mim vive, cria, ordena e conserva.

  3. Querendo o Bem para todos, não posso brincar e gracejar, senão lidar com eles com rigor, demonstrando fiel e verdadeiramen- te, pela Doutrina e Ação, os caminhos pelos quais podem atingir a Vida Eterna e Real de sua alma. Sendo esse o Meu Propósito — como poderia ser mal-humorado e quem Me ofenderia? Quem Me reconhecer, crer e agir pela Doutrina jamais Me ofenderá; quem não Me tiver reconhecido — ou não quiser fazê-lo, embora pudesse — não poderá ofender-Me, pois ofende a si mesmo, porque se torna inimigo de sua própria vida.

  4. Procuro somente aos enfermos de corpo e alma, para socor- rê-los, pois os sadios não necessitam ajuda. Que amor, sabedoria e justiça poderiam ser atribuídos ao médico que perseguisse, odiasse e castigasse os enfermos, por não gozarem de saúde?! Por isto, mudai de opinião a Meu respeito, sabendo que Quem ora vos fala é Médico Justo e Verdadeiro para alma e espírito e, em caso de necessidade, também do corpo.”

  1. A essas Palavras os essênios Me pedem perdão pelo critério humano feito a Mim. E os estrangeiros confabulam: “Que médico estranho! Fala como se fora um deus! Seria oportuno ouvi-lo e agir como aconselha!”

  2. Virando-Me para os essênios, digo: “Por que Me pedis per- dão, se acabo de demonstrar claramente como e por que jamais al- guém Me poderá ofender?! Digo-vos: Perdoai-vos reciprocamente erros e tolices; despertai vosso amor para com Deus e o próximo, que vossos pecados também serão perdoados por Mim!

  3. Haveria utilidade em Eu dizer a um tolo, cego e mudo que lhe perdoava a tolice, cegueira e mudez? Jamais! Pois o tolo continu- ará tolo; o cego continuará cego, e o mudo continuará mudo. Mas, se curo o tolo, o cego e o mudo de seus males pela Palavra, Conselho e Ação, todos receberão real ajuda.

  4. Quem, pois, cometer tolice deve reconhecê-la e evitá-la, que será perdoado também no Céu; assim não fazendo, entre- tanto pedindo, vez por outra, perdão a Deus pelos erros, não lhe serão relevados até que se tenha perdoado a si mesmo pela com- pleta abstração das antigas tolices. Por isto, deve cada um varrer primeiro a soleira da própria porta. Só depois poderá dizer ao vizinho: Afastei de mim toda impureza e estou em ordem; permi- te que limpe a tua soleira, reparando o mal que te fiz, conforme desejas. Se ambos assim agirem amistosamente, sua arenga estará apaziguada também no Céu! A não ser assim, de nada adianta pedir perdão ao Céu!”

194.OVERDADEIRO PERDÃO

  1. (O Senhor): “Quem tiver boa visão poderá dizer ao próxi- mo em cujo olho perceber um argueiro: Permita que te tire o que obstrui a tua visão! Mas, ele próprio conservando não somente um argueiro, porém uma trave de pecados e tolices, trate como se livrar dela! Somente após limpos os seus olhos poderá ajudar o irmão na extinção do argueiro.

  1. Quem doutrinar os semelhantes não o faça por simples pala- vras, sábias e eloquentes, como agem fariseus e falsos profetas, mas por ações e obras, animando-os a cumpri-las real e verdadeiramente. Agindo inversamente ao que ensina, assemelha-se ao lobo com pele de cordeiro, que apenas reúne as ovelhas ignorantes e crédulas para torná-las acessíveis à sua voracidade.

  2. Teria utilidade se tal doutrinador, reconhecendo sua injus- tiça, disser a Deus: Senhor, perdoa meus pecados muitas vezes pra- ticados às Tuas ovelhas!, e, todavia, continue o mesmo? De modo algum! Que desista de ser lobo e se torne ovelha, e assim ter-se-á perdoado os próprios pecados, então remidos também no Céu!

  3. Se teu irmão te ofendeu e prejudicou, tens direito de perdo- ar-lhe pelo amor no teu coração; ele se achegando para agradecer tua ação e prometendo fazer-te o Bem, seus pecados ser-lhe-ão remidos nos Céus, ainda que não aceites sua indenização.

  4. Ele não reconhecendo o mal que te fez e insistindo em sua maldade, teu amor e paciência ser-te-ão creditados, enquanto ele fi- cará com seus erros até que os perdoe a si mesmo; isto só é possível pela própria confissão dos pecados, detestando-os e finalmente não mais os cometendo. Se assim é, como alguns de vós, essênios, podeis dizer às criaturas: Fomos escolhidos por Deus para Seus representan- tes e temos direito de perdoar pecados e vícios, também no Céu, caso o confessor pratique as penitências impostas e faça determinadas ofe- rendas, sendo a última condição de maior importância?! Se Eu Mes- mo não posso perdoar os erros antes que a criatura perdoe a si mes- ma, conforme demonstrei — como é possível redimirdes, no Lugar de Deus, aqueles pecados que nunca foram praticados contra vós?!

  5. É lícito exigirdes, como justos médicos, dos que procuram ajuda, a confissão de seus males e erros, a fim de que lhes propor- cioneis conselho adequado para o futuro, de cuja prática surgiria a cura desejada para corpo e alma; em tal caso, não sois representantes de Deus com prerrogativas de perdão, mas irmãos e amigos dos se- melhantes sofredores, aos quais serão relevados todos os pecados no Céu, tão logo isto tiverem feito a si mesmos!

  1. Por isto, pretendendo ajudar realmente ao próximo, ensinai-

-lhe como deve socorrer a si mesmo; pois, sem precedente ajuda própria, impossível aguardar-se a de Deus! Isto vale especialmente para a alma fraca, enferma e muitas vezes aniquilada por vários pe- cados, que, em virtude do livre arbítrio e justo raciocínio, terá que se purificar de todas as impurezas da matéria e do julgamento, para, em seguida, ser modificada e fortificada pelo próprio espírito.

  1. Desfazei-vos de vossas antigas tolices e futilidades; purifi- cai assim vossa alma, que poderei dizer: Sois puros perante Mim! Então vos fortalecerei pelo Meu Espírito, que vos incentivará para maior atividade, transformando-vos em criaturas verdadeiras e perfeitas.

  2. Assim informados pela Minha Boca, agi de acordo; do contrá- rio, estas Minhas Palavras verdadeiras e vivas adiantam tanto quanto as vossas, ocas, sem nexo e mortas, no auxílio ao vosso semelhante.

  3. Minhas Palavras são realmente Força e Vida de Deus Mes- mo, mas se tornam propriedade vossa através da prática. Sede, pois, verdadeiros executores e não simples ouvintes do Verbo que vos di- rigi; assim, todos os vossos pecados serão perdoados também no Céu e Eu sempre poderei ajudar-vos! Compreendestes?”

  4. Diz o chefe dos essênios: “Senhor e Mestre, quem não o entenderia? São Verdades tão claras, e em sua Luz reconhecemos plenamente o que é o homem e como deve agir, para se tornar justo dentro de Tua Ordem.

  5. Nosso velho burgo de pecados será demolido material e es- piritualmente, e, em seu lugar, construiremos outro, livre e aberto por todos os lados. E nossa futura proteção virá da Força e do Poder do Verbo de Deus.

  6. Ainda que seja deturpado por falsos doutrinadores e pro- fetas, por nós ele será mantido, nas muralhas e corações livres, tão puro no sentido, interpretação e atitude como foi dirigido à nossa alma através de Tua Boca Santificada. Queira pronunciar o ‘Assim seja!’, para permanecermos operários, construtores e conservadores livres do Burgo Divino entre as criaturas!”

  1. Digo Eu: “Pela Boca do Pai, que em Minha Pessoa Se dirige a vós, digo ‘Amém!’, e amanhã mesmo sentireis o efeito do ensino. Por hoje, trabalhamos bastante. Quem quiser poderá fazer perguntas!”

195.OPEDIDODO ÁRABE

  1. Nisto, se aproxima um árabe e indaga se à sua raça também serão perdoados os erros, se agir como ensinei aos essênios. Respon- do: “Toda criatura poderá receber o batismo do Espírito de Deus quando reconhecê-Lo como unicamente Verdadeiro e Eterno, Nele crer e em seguida amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, vivendo como Deus revelou. Mas quem amar as mulheres mais que a Deus continuará sendo pecador!”

  2. Algo perplexo, o árabe retruca: “Falaste certo e reconheço a Verdade em tuas palavras; no entanto, não é tão fácil segui-la como parece. Como poderia amar Deus e imaginar Sua Figura? Somos pagãos e nunca ouvimos falar de um Deus Único, senão por algum judeu que se expressava incompreensivelmente, de sorte que conti- nuamos na religião e costumes dos antepassados, não podendo ser chamados à responsabilidade.

  3. É bem verdade que muito amamos nossas mulheres. Mas..., que fazer? Exigem amor em virtude de seu exterior atraente, e a natureza nos obriga a tanto; assim, seria pecado não amá-las, mor- mente quando belas e jovens. Nunca poderíamos amar a Deus, por- que, além do Sol e da Luz de qualquer fogo, para nós nunca exis- tiu um deus.

  4. Temos sacerdotes e magos capazes de coisas extraordinárias, que dizem possuir forças da Natureza e de seus elementos e, por isto, seriam imortais. Sabem eles do Deus Único tanto quanto nós; não O conhecendo, também não podem amá-Lo.

  5. O Sol é o maior benfeitor da Terra e dos seres, e nós o ado- ramos como também o fogo, pois, sem eles, ninguém subsistiria. Assim, também temos que amar as mulheres, como procriadoras de nossa prole e que merecem, pelo seu carinho, todo amor e respeito.

  1. Se realmente existisse um Deus Único que Se revelou aos judeus, poderia tê-lo feito igualmente aos árabes, persas, hin- dus, egípcios, gregos e romanos etc., o que, a meu ver, jamais aconteceu. Portanto, não é nossa culpa se não agirmos dentro de Sua Vontade.

  2. Proporciona-nos, Senhor e Mestre, o conhecimento verda- deiro, a fim de que não haja dúvida quanto à Sua Existência, que nós saberemos cumprir o que mandas, se, porventura, Tu Mesmo fores o Deus Único, o que deduzimos de Tuas Palavras e Força de Vontade. Dilata a nossa noção, para crermos em Ti!”

  3. Digo Eu: “Falaste com inteligência e amanhã se cumprirá o teu desejo. Quanto à afirmação de não haver Deus Se manifestado até então, é errada! Ele O fez, inclusive aos vossos antepassados; o crescente amor ao mundo e o egoísmo dos descendentes enfraque- ceram o puro conhecimento de Deus e a própria ação dentro de Sua Vontade, por se tornar cada vez mais incômoda.

  4. Em breve surgiram criaturas descrentes com forte tendência para o ócio, ensinando aos de fé fraca o que bem lhes agradava, pro- porcionando maior distração do que a descoberta e a ação do Deus Único; pois esta exige forte desistência do próprio ‘eu’, sem a qual ninguém poderá amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo.”

196. AS REVELAÇÕES DE DEUS ENTRE OS POVOS

  1. (O Senhor): “Não há um só povo no planeta que, em tempo, não houvesse recebido a Revelação de Deus; cabia aos pais ensina- rem a prole dentro da Vontade Divina, a ponto de lhe conservar a fé no Deus Único e Verdadeiro e, ipso facto, a ação correspondente. Humildade e renúncia justas se tornando por demais incômodas, fizeram-nos desistir de sua observância e ingressarem no amor ego- ísta que, de tal modo obscureceu suas almas e as uniu à matéria, que ficaram inteiramente afastadas de tudo que é espiritual. Tais falsos profetas tinham jogo fácil para aumentar a ignorância dos fracos.

  1. Cada criatura tem inclinação para o ócio em virtude do livre arbítrio conferido pelo Criador, o qual poderá vencer pela vontade. No começo, exige um grande esforço e renúncia.

  2. Se, desde a infância, lhe forem incentivados obediência, humildade, meiguice e renúncia, tornar-se-á tão forte e poderosa no conhecimento puro e verdadeiro de Deus e no amor para com Ele, que Se revelará de novo, sem prejuízo de seu livre arbítrio, iluminando e vivificando a sua alma. Os próprios genitores sen- do negligentes para ensinar os filhos a vencerem o ócio inato, ele os sufocam muito antes de tomarem qualquer iniciativa em contrário.

  3. Deste modo, um povo após outro afunda na treva da vida, perdendo toda Luz interior! Nesta situação, poderia difundir-se uma nova revelação?! Deus prefere deixá-los sem ela, até que as consequências amargas do ócio os levem à atividade; somente pela miséria os homens são obrigados a agir, alcançando a capacidade de percepção de uma Revelação Divina.

  4. Por esta demonstração vós, pagãos e judeus, compreendereis que Deus jamais deixou um povo sem revelação; se, no decorrer dos tempos, a perdeu, foi ele o único responsável. E tu, árabe ignorante, responde se o compreendeste pelo intelecto!”

  5. Diz ele: “Sim, Senhor e Mestre, e a situação é tal qual men- cionaste; mas, se o ócio inato é um defeito que o homem terá que vencer pela aplicação da vontade livre, Deus deveria ao menos aju- dá-lo nesta empresa tão complexa. Não consigo compreender Amor, Sabedoria e Misericórdia de Deus, quando prefere deixar sucumbir as criaturas no ócio, ao ter que ajudá-las.”

  6. Digo Eu: “Por ora não o entendes; quando fores renascido em espírito, assimilarás a razão de tudo. Agora descansaremos, pois já passa de meia-noite e os discípulos fizeram longa viagem.” Le- vantamo-nos e fomos ao dormitório arrumado pelo hospedeiro. Os essênios e os forasteiros ainda ficaram durante algumas horas em palestra, e os árabes começam a compreender Quem sou; pouco a pouco, também adormecem.

197.ACONSERVAÇÃODEFERIADOS.CONJECTURASDOSDISCÍPULOSCOMREFERÊNCIAAOS ESSÊNIOS

  1. De manhã cedo já Me encontro de pé com os apóstolos e digo a Pedro: “Que te parece, convém Eu trabalhar em prol da Hu- manidade por ser antessábado, tão considerado pelos judeus radica- dos, ou seria melhor fazermos feriado?”

  2. Responde Pedro: “Senhor, como poderia um pecador dar-Te conselho?! Sabes melhor o que seja justo! Todavia, o Sol ainda não apareceu e poderias fazer tudo que pretender, para não aborrecer alguém. A doutrinação não é proibida neste dia, muito embora seja considerado aniversário de Moysés.”

  3. Digo Eu: “Justamente por isto perguntei se vós mesmos res- peitais este dia como tal.”

  4. Diz Pedro: “Senhor, respeitamos a Doutrina de Moysés; quanto ao natalício, não foi provado ser o de hoje.”

  5. Respondo: “É realmente o dia do profeta, mas não nos dete- rá; seremos muito ativos, para despertarmos os antigos explicadores de sonhos e demonstrar-lhes sua tolice. Vamos sair e ver o que se pode realizar hoje.”

  6. Assim subimos um morro, do qual se via Esseia e as extensas construções dos essênios. Nas estradas que de vários lados iam para a cidade, via-se muita gente à procura de lenitivo com aquela seita.

  7. Como dava impressão de marcharem vagarosamente, Simon e Jacob, o Maior, dizem: “Senhor, nessa marcha eles levarão sete a oito dias para chegarem a Jerusalém, enquanto nós levamos apenas dois. Porventura fomos transportados por forças invisíveis?”

  8. Respondo: “Pode ter sido o caso em trechos despovoados, como também nas vastas terras do Euphrates e na Syria; pois, em marcha comum, teríamos levado muito mais tempo. Quando, no futuro, fordes viajar em Meu Nome, podereis fazer o mesmo em zonas isoladas.”

  9. Diz André: “Se fosse possível contar os que aí vêm, com os já aqui existentes há vários dias, seu número completaria vários mi-

lhares. Se pretender atender a cada um, teremos trabalho enorme. Eis o motivo da dificuldade dos essênios, pois sua fama mundial será dificilmente apagada.”

  1. Digo Eu: “Falas como homem comum. Não ouviste a pro- messa que fiz ao chefe? Também vos facultei o Poder de curar, ex- pulsar maus espíritos e pregar o Evangelho aos pobres, e sempre pudestes convencer-vos da realidade do Meu Poder conferido, pois, com exceção do lunático, cuja cura não se realizou devido à vossa fé dúbia, curastes todos pelo passe em Meu Nome.

  2. Se foi possível dar a vós tal Graça, não seria capaz de confe- ri-la aos essênios, seriamente decididos a Me construírem uma forta- leza celeste, livre de todos os interesses mundanos? Se receberem tal Poder — e realmente já o alcançaram — não necessitam apagar sua fama mundial, e sim expô-la sob outra orientação; por isto, não há necessidade de demorarem aqui, a fim de ajudar aos muitos neces- sitados. Serão socorridos também por Mim, sempre que os essênios o fizerem em Meu Nome. Portanto, vossa preocupação foi baldada!

  3. Nesta oportunidade, muitos aqui chegarão para receber co- nhecimento da organização nova e real da cidade. Por eles difundir-

-se-á para todos os recantos, não havendo necessidade de enviarem mensageiros, obrigados a livrarem as criaturas de sua superstição. Assim sendo, nada há que temer da afluência.”

  1. Diz Pedro: “Senhor, tudo está certo; mas como se dará a ressurreição de tantas crianças? Não voltando à vida, os essênios pas- sarão mal; sendo despertados, outros virão trazer defuntos. Como evitá-lo?”

  2. Digo Eu: “Não é de vossa alçada. Este local se presta como nenhum outro para a realização de certos fatos, por ser muito isola- do. Será feito aos defuntos o que se espera — mas pela última vez.”

  3. Os apóstolos se satisfazem, com exceção de Judas. Thomaz toma a dianteira, dizendo: “O Senhor já Se expressou e cabe-nos apenas responder às Suas Perguntas.”

  4. Diz Judas: “Por que falam os outros sem serem por Ele convidados?”

  1. Responde Thomaz: “Não é de nossa conta, pois não sabe- mos se receberam incentivo interno pelo Senhor. Em Sua Presença nada ocorre sem a Sua Vontade, por ser também Senhor de nossos pensamentos, desejos e anseios. Não passará bem quem desrespeitar Sua Voz e Vontade no coração. Eis meu parecer que por Ele recebi no íntimo; nós nada de bom e verdadeiro pensamos e proferimos.” Judas se cala e dirige a atenção à localidade sumamente povoada.

198.OSENHOREOS LADRÕES

  1. Havia um caminho que, partindo de uma cordilheira habi- tada por árabes, atravessava o monte e dava em Esseia. Esses árabes viviam do roubo. Para tanto, tinham certo direito pelo qual podiam exigir tributo dos viajantes e, caso não se prontificassem a satisfazer a exigência, eram submetidos à força.

  2. Quando estávamos distraídos com as cenas matutinas, surge um grupo de vinte árabes, posta-se à nossa frente e pergunta, aspe- ramente, se havíamos pago o tributo a alguém da tribo.

  3. Digo Eu: “Até então não o fizemos e nem pretendemos fa- zê-lo. Primeiro, não temos posses de espécie alguma, e não tendes direito a tal exigência, pois consta: Não deves fazer ao próximo o que não desejas que te faça! E, além do mais, somos homens de grande poder, que saberão rechaçar extorquiadores atrevidos e castigá-los merecidamente. Por isto, aconselho-vos a vos afastardes imediata- mente e não exigirdes tributos, a não ser pedindo. Se não obedecer- des, passareis mal!”

  4. Algo perplexos, eles dizem: “Eis um fato estranho: forastei- ros nos enfrentando com tais palavras, quando estamos armados! E esses treze homens certamente não teriam feito caso, se não fossem dotados de força oculta. Será melhor não promovermos conflito!”

  5. A metade do grupo concorda; a outra reage: “Se nos deixar- mos impressionar por tais ameaças, poderemos desistir de nossos direitos e entregar-nos à mendicância. Vamos examiná-los se real- mente têm dinheiro!”

  1. Aproximando-se de Mim, um deles toca na Minha Túnica. No mesmo instante uma chama surge do solo, queimando a mão do atre- vido. Profundamente assustados, todos caem por terra e pedem perdão.

  2. Digo Eu: “Avisei do que sucederia a quem nos quisesse vio- lentar. Ele recebeu o prêmio; quereis fazer o mesmo?”

  3. Bradam eles: “Não, não! Nem a ti nem aos outros, e faremos tudo que nos aconselhaste. Deixa-nos seguir em paz!” Respondo: “Então afastai-vos e transmiti Minha Ordem aos companheiros!” Aquele que havia queimado a mão geme de dor e Me pede que o ajude, crente que isto Me seja possível.

  4. Digo Eu: “Claro que sim; sendo tu o pior de todos, suporta o que de há muito merecias! Quando fores regenerado, teu padeci- mento passará. Lá embaixo há um poço; molha tua mão, que a água diminuirá a dor.”

  5. Todos se dirigem para lá. O queixoso vai em desabalada corrida para mergulhar a mão no poço, que se acha justamente à frente de nosso albergue. O guarda do poço lhe dá uma vasilha cheia mediante pequena soma e o árabe se sente aliviado; por isto Me louva com efusão.

  6. Alguns hóspedes se aproximam e se informam do sucedido no monte, e em pouco tempo, todos, inclusive o hospedeiro, diri- gem-se para lá. Feliz por Me ter encontrado, o chefe dos essênios relata o caso do árabe com a mão queimada.

  7. Digo Eu: “Foi uma boa lição para os árabes desta zona, pela qual dificilmente um estranho podia passar sem perder, no míni- mo, um terço de suas posses. Influenciarão os colegas que em ou- tras estradas assaltam os viajantes, e assim desistirão, também, de sua maldade.

  8. Cooperareis, no futuro, para que encontrem a mesma situ- ação da época dos habitantes primitivos da Terra; como verdadeiros irmãos, deverão ter ação livre no país próprio e proporcionarem o auxílio mútuo. Restringir-se a justa liberdade por toda sorte de ma- quinações é diabólico! Quanto maiores restrições forem feitas entre as criaturas, tanto maior será a influência do inferno!

  1. Quem impede a liberdade justa e necessária à formação da alma? Primeiro, os ditos potentados, cujo poder se baseia nos solda- dos. Permitem as viagens aos ricos mediante pagamento, entregan- do-lhes um passaporte, cuja aquisição terá que ser renovada, caso pretendam prolongá-la. Realmente, não é possível agirem de outra forma, porque os ignorantes de há muito se afastaram de Deus e de tudo que seja do Céu, enveredando no domínio do pecado e do inferno. Mas tal não pode continuar.

  2. Os outros limitadores mais teimosos da liberdade dos ho- mens são os sacerdotes, pagãos e judeus, estes ultimamente idênticos aos primeiros. Detestam a liberdade dos fiéis, porque os viajantes poderiam obter muitas experiências que os fariam descrer em suas mistificações, reduzindo as rendas dos traidores do povo.

  3. A fim de reduzirem até mesmo aquela liberdade, os sacer- dotes conferem à classe depravada, mediante alta taxa, a permissão

  1. Eis o inferno completo entre os homens! Pois dão-se, às ve- zes, lutas sangrentas, assassínios e outros crimes. Os viajantes pre- vendo o perigo em certas zonas, juntam-se em caravanas, defen- dendo-se a todo transe. Os efeitos de tais atritos te são conhecidos e dispensam argumentos. Achas estarem dentro da Vontade de Deus?

  2. É bem verdade que, se não houvesse sábia limitação de via- gem, os homens finalmente haveriam, todos, de viajar, prejudicando o cultivo de terras; para tanto, Deus proporcionou-lhes, assim como às abelhas, os diversos talentos.”

199.UTILIDADEDAS VIAGENS

  1. (O Senhor): “Ao observares as abelhas, descobrirás diversas espécies. Primeiro, a abelha mestra que organiza ordem na colmeia; segundo, as operárias; em seguida, as colhedoras, obrigadas a viaja- rem e colherem mel e cera. O mel para alimento, a cera para cons-

trução das celas. Do mesmo modo, as criaturas têm o senso do tra- balho inato e não apreciam viagens. Se todas fossem iguais, em breve atrofiariam e se tornariam selvagens de hábitos e costumes.

  1. Se os que Deus destinou para viajantes — a fim de colherem conhecimentos vários para os radicados — tiverem sua liberdade limitada por empecilhos, tal acontece contra a Vontade Dele, por- tanto é algo nocivo e pertencente ao inferno.

  2. Que se diria de Mim se não viajasse a toda parte? As cria- turas teriam culpa em não receberem Luz vital?! Eu Mesmo disse e repito a todos os discípulos: Procurai todos os povos e pregai-lhes o Evangelho! Se assim faço, impossível concordar com a limitação do movimento, vendo-Me obrigado a esclarecê-lo. Com tal restrição, a divulgação de Minha Doutrina é quase impossível; portanto, saberei castigar quem se opuser à Minha Vontade.

  3. Por isto, fazei vós, essênios, o que vos cabe para tal fim; tra- tai que as estradas se tornem livres, e Eu vos abençoarei pelo po- der contra todos os maus espíritos, e tudo que quiserdes, em Meu Nome, dar-se-á.

  4. Imaginai se alguém poderia encontrar algo, caso lhe fosse proi- bida a procura; procurar, pedir e bater na porta do próximo têm que ser facultado a todos. Guardai bem o que vos disse durante a aurora!”

  5. Diz o chefe: “Tudo faremos, se depender de nossas forças. De há muito condenamos essa desordem e procuramos enfrentá-la. Pouco êxito tivemos, porque em breve nos convencemos de que não tanto Roma, mas Jerusalém, Herodes e os templários eram os culpa- dos. Enviavam mensageiros para os árabes, conferindo-lhes permis- são para assaltos, os quais tivemos de aceitar para não correr risco.

  6. Agora orientados de Tua Vontade, saberemos enfrentá-los de modo decisivo e sanear as estradas dos salteadores. Em localidades não atingidas por nós e onde a desordem ainda é pior, saberás tomar as medidas necessárias, Senhor!”

  7. Respondo: “Assim já foi feito e será providenciado dentro das necessidades decorrentes. Todo aquele que, em Meu Nome, empre- ender viagens para a divulgação de Minha Doutrina, tão pura como

a receber de Mim, fá-lo-á com toda a proteção e jamais será assalta- do. Caminhará sobre serpentes, salamandras e escorpiões sem que o prejudiquem e, caso alguém misture veneno em comida e bebida, não sofrerá dano físico. Porventura caindo em catervas de lobos, leões, tigres, panteras, hienas, ursos e javalis, eles apenas lhe serão úteis; pois o homem pleno do Espírito de Deus é soberano sobre a ira de animais selvagens, da mesma forma sobre todos os elementos, caso tenha fé inabalável em coração e alma.

  1. Com o tempo, muitos falsos profetas visitarão os povos, apa- rentemente para divulgarem o Meu Verbo; a causa principal, porém, se prende à conquista de bens terrenos, razão por que deturpá-la-ão para tal fim.

  2. Tais expedicionários não poderão aguardar a proteção que vos garanti! Pois quem não trabalha para Mim e a verdadeira disse- minação do Reino de Deus na Terra, mas unicamente para si e seu mundo, jamais será reconhecido por Mim, nem fará jus à proteção e prêmio. Terá que procurá-los no seu próprio mundo.

  3. Porventura Me chamando: Senhor, Senhor, socorre-me nes- te grande perigo!, a resposta ser-lhe-á dada no coração e na consciên- cia: Por que Me pedes socorro, materialista? Não te conheço e nunca te considerei por aquilo que fizeste sem fé em Mim, mas visando simplesmente o teu lucro material quando percorreste o mundo como falso doutrinador, em Meu Nome! Se te encontras em perigo e aflição, ajuda a ti mesmo! Não te devo proteção, porque nada fizeste para Mim, nem espontaneamente pela fé, tampouco pelo verdadeiro amor à salvação das almas — muito menos foste por Mim convi- dado e chamado! Tu mesmo te atiraste ao perigo; agora salva-te a ti mesmo, ou então que te socorram os que te incumbiram para tanto!

  4. Meus verdadeiros discípulos terão que enfrentar muitas tribu- lações e perseguições por parte dos materialistas, e posteriormente com os falsos profetas e doutrinadores; mas sempre poderão contar com Minha Ajuda, especial proteção e prêmio — o mundo e seus profetas, jamais! Unicamente com a espada em mão proteger-se-ão contra pe- rigos; no final, constará: Quem lidar com a arma, por ela sucumbirá!”

200.ORIENTAÇÃOAOS DOUTRINADORES

  1. (O Senhor): “Assim fala, a ti e a todos, Aquele que tem, de Si Mesmo, todo Poder no Céu e na Terra desde Eternidades, e podereis crer que farei tudo o que prometi. Nada mais vos preocu- pe, senão a divulgação de Minha Doutrina na mesma pureza por vós recebida.

  2. Dei-vos o Verbo e o Poder de operar gratuitamente milagres em Meu Nome, e compete-vos agir da mesma forma com as pessoas. Se as criaturas vos amarem por causa de Meu Nome, querendo vos servir por várias amabilidades, podereis aceitá-las, como também foi permitido por Moysés. Pois quem servir ao Amor pelo amor e, deste modo, ao Verdadeiro Altar de Deus na Terra, deverá viver do Pró- prio Altar!

  3. Quem fizer algum bem a um doutrinador, servo e profeta, por verdadeiro amor, Eu o aceitarei como feito a Mim, e ele receberá o prêmio de um profeta. Pois, se há indenização régia aos que, em sua inocência e ignorância inculpável, fazem oferendas a falsos dou- trinadores e profetas, porque julgam agradar a Deus — muito mais o farei aos que, por verdadeiro e puro amor a Mim, fizerem o Bem aos escolhidos e enviados.

  4. Deste modo, também podeis dizer aos que encontrarem con- forto e socorro convosco e, pelo hábito antigo, perguntarem qual a oferenda a ser feita, o seguinte: Fizemo-lo pelo amor de Deus, que nos facultou tamanha Graça! Se também possuís o Amor Dele por nós ensinado, fazei o que vos manda; pois temos muitos pobres, necessitados de vosso amor. Por aquilo que fizemos em Nome do Senhor, não existe taxa como anteriormente; é feito por nós, até o fim dos tempos, gratuitamente, porque também recebemos tal Gra- ça incalculável de Deus da mesma forma e em benefício das criaturas ainda crentes em Deus, cumprindo Seus Mandamentos, amando-O acima de tudo e ao próximo como a si mesmas.

  5. Se então vos quiserem oferecer, espontaneamente e por amor, qualquer coisa, podereis aceitá-lo sem escrúpulos, com todo amor e

alegria. Dos pobres nada aceiteis, mas auxiliai-os para que se aperce- bam do Amor e da Benignidade eternos de Deus!

  1. Demonstrei, mormente a vós, essênios, como deverá ser or- ganizada a situação e o que devem fazer e aguardar os Meus dis- cípulos; portanto, podemos voltar ao albergue. Após o desjejum, resolveremos a obra pela qual Me pedistes, com fé plena.

  2. O que vos falei deve ser guardado em sigilo, porque não hou- ve testemunhas estranhas; aos vossos seguidores, podereis informar de tudo! Como poderia assumir um cargo quem desconhecesse suas funções?! Quem quiser encabeçar Minha Profissão na Terra terá que ser bem instruído e ter a viva convicção de tudo; do contrário, seria doutrinador morto e cego!

  3. Para ser verdadeiro e vivo doutrinador em Meu Nome, é preciso mais do que o conhecimento da Escritura e divulgá-la aos ouvintes. Digo-vos: A letra é morta, caso o leitor não a entenda e pratique, a fim de despertar à vida espiritual. Somente o espírito vivifica e dá o justo entendimento e ação.

  4. Se fostes ensinados por Deus, futuramente também todo doutrinador verdadeiro terá que ser ensinado por Ele até iniciar o Ofício Divino, pois o homem, querendo tornar-se bom trabalhador, seja a profissão qual for, terá que aprender de um mestre. Nesse caso, tratando-se do mais importante e sagrado para cada indivíduo — Eu Unicamente sou Mestre. Quem quiser obter pleno êxito na doutri- nação das criaturas terá que aprender Comigo!

  5. Por isto vos digo que vossos sucessores, incumbidos de prosseguir vossa profissão, terão que ser instruídos de tudo que vos confiei. Para os outros, basta crerem em Mim, amando-Me acima de tudo e ao próximo como a si mesmos. Nisto se enquadram os Livros de Moysés, a Lei e os profetas, e o efeito é a Vida Eterna; em caso contrário, a morte eterna, da qual dificilmente uma alma despertará à vida.”

  6. Diz o chefe essênio: “Senhor e Mestre, todos nós aceitamos Tuas Palavras importantíssimas. Somente uma coisa não me é cla- ra. Nós ouvimos e aprendemos do Mestre Único; como o farão os

que nos sucederem, porquanto não estarás Pessoalmente entre eles, como ora acontece de modo tão feliz?”

  1. Respondo, já na descida do monte: “Vós mesmos ainda não aprendestes tudo que necessitais para a perfeita administração do Ofício por Mim confiado; entretanto, assimilareis, em breve, o que falta, sem Minha Presença Física. Pois, não estando Presente em Pes- soa, sê-lo-ei no Espírito do Meu Amor, Sabedoria, Força e Poder; e este Espírito sempre vos ensinará o que fazer, depositando em cora- ção e boca o que devereis dizer.

  2. Assim, sempre ensinados pelo Meu Espírito, na sabedoria de Deus, vossos sucessores o serão sem Minha Presença Pessoal. Em verdade vos digo: Onde falo e ajo, fala e age o Meu Espírito, Deus como Pai Eterno, e não Minha Pessoa Física, que terá de ser dissol- vida para ingressar inteiramente na Glória do Pai. Terás, pois, com- preendido como alguém poderá ser ensinado por Mim, para a Vida Eterna, sem Minha Presença Física?!” O chefe essênio Me agradece de coração.

201.ASCURASDOCHEFE ESSÊNIO

  1. Entrementes, chegamos ao albergue, onde nos aguarda farto desjejum. O grupo dos essênios toma lugar à nossa mesa, manifestan- do tamanha alegria a despertar admiração dos forasteiros, sentados ao lado, e um deles aparteia: “Deve haver motivo importante para que esses curadores, sempre tão sisudos, manifestem tanta felicidade!”

  2. O chefe, ouvindo tais palavras, responde: “É compreensível aos mortais andarem de feições tristonhas, lembrando-se da morte. Mas quando, como acontece conosco, passam da morte para a vida usando a veste da imortalidade perfeita, poderão estar alegres, mes- mo palmilhando esta Terra. Tempo virá em que ireis compreendê-

-lo.” A isto, os outros se calam.

  1. Quando terminamos o desjejum, entra o jovem árabe, cura- do na noite anterior, em companhia de alguns entrevados e coxos, pedindo-Me que os cure. Eram um peso para os semelhantes, nunca

podendo fazer o Bem, obrigados a se deixarem servir e manter pela bondade alheia.

  1. Digo Eu ao árabe: “Recomendei silêncio sobre o que te fiz; obedeceste de modo geral e o relataste somente por misericórdia a esses sofredores, o que prova teres bom coração, portanto teu pedido será atendido. Amor e misericórdia, justos e puros, em benefício dos irmãos encontrarão eco correspondente; pois consta: a prece de um coração bom, puro, crente e devoto é sempre atendida por Deus!

  2. A fim de que no futuro encontreis socorro com os essênios, caso crerdes no que ensinam, também lhes conferi Poder e Força de curar em Meu Nome, assim como te curei ontem à noite; deve, pois, o chefe pôr suas mãos nos coxos e entrevados para tal prova!”

  3. Ouvindo Minhas Palavras, ele Me pede que, por esta vez, Eu Mesmo ajude aos necessitados, porquanto sente-se sem mérito, e sua alma, sem forças. Insisto, porém, dizendo: “Faze o que te disse! Todo bom discípulo terá que iniciar sua carreira perante o mestre, a fim de poder este chamar-lhe a atenção, caso não tenha o resultado desejado. Não há discípulo tão perfeito quanto o mestre; uma vez se lhe tornando idêntico pelo zelo e dedicação, não haverá fracasso. Vai e faze o que disse, que tudo sairá bem!”

  4. Ele se enche de coragem e diz: “Senhor e Mestre, que agora e sempre se faça a Tua Vontade!” Levanta-se e, com grande emoção, se aproxima dos infelizes com as seguintes palavras: “Em Nome Da- quele que é Onipotente, Santo e Bom, Amoroso e Misericordioso, aponho-vos minhas mãos fracas, pedindo que Ele vos ajude!” Após ter pronunciado a prece, posteriormente usada por todos os Meus discípulos, e ele ter dado o passe nos enfermos, eles saram instanta- neamente, como se nunca tivessem sofrido.

  5. Apenas um, que por uma queda havia perdido os antebraços, não os recebe, porém seus pés entrevados se curam; por isto, se vira para o chefe: “Já que me livraste dos outros males pela Vontade da- quele Senhor, creio firmemente seres capaz de restituir-me as mãos!”

  6. Encabulado, aquele retruca: “Meu amigo, isto só poderá o Senhor e Mestre, pois Seu Poder cria mundos; eu, fraco discípulo,

não o posso. Há grande diferença entre curar e criar. Se uma planta murcha, pode-se salvá-la com água fresca; isto se chama curar. Não havendo uma plantinha no jardim, não adianta regar o solo; pois os homens não conseguem fazer germinar uma plantinha de musgo sequer, com a melhor boa vontade e a fé mais forte. Tal só pode a Onipotência de Deus! Assim, compreenderás eu poder curar, pela Graça Divina, os membros atrofiados, mas não recriar teus braços inexistentes!”

  1. Embora conformado, o outro insiste: “Se o grande Senhor e Mestre te deu tanto Poder de curar entrevados, pela palavra e pelo passe — o que não deixa de ser uma criação — certamente haverá possibilidade em relação aos braços. Vê, sinto minhas mãos como se as tivesse e, de quando em quando, uma dor forte, e pressinto que minha alma não as perdeu como o corpo.

  2. Além disto, sou de opinião que Deus poderia devolver um membro perdido, assim como dá a um elefante seus dentes, ao ve- ado os chifres, aos caranguejos as tesouras, e às próprias criaturas, cabelos e unhas. Dependeria unicamente da Vontade de Deus e da fé viva do discípulo e do enfermo!”

  3. A essas palavras incisivas do judeu emigrado, o chefe não sabe como agir. Deveria repetir o passe, ou conviria informar-se Co- migo? Finalmente, resolve expor-Me sua dificuldade.

  4. Eu lhe digo: “Viste como foi bom teres feito a primeira obra diante de Mim, na qual descobriste uma pequena falha de confiança e fé no Amor, Sabedoria e Poder de Deus?! Se tivesses incluído à tua fé a restauração das mãos do judeu, ele já as teria recebido. Mas te apavoraste e julgaste a coisa impossível, por isto ele está sem elas. Vai, crê firmemente que para Mim todas as coisas são possíveis, apõe novamente tuas mãos e ele receberá as dele!”

  5. O chefe, chamado Roklus, volta para junto do judeu e diz: “Tu mesmo acreditando e, como judeu, conhecendo a Onipotência do Deus Único, faça-se a Vontade do Senhor e Mestre, no Qual ha- bita a Plenitude do Espírito de Deus!” Terminando de falar, o judeu readquire as mãos.

202.ACURADOS POBRES

  1. Os judeus e pagãos, curados, agradecem e Me louvam sobre- maneira. O que tinha recebido as mãos exclama: “Toda gratidão, louvor, honra e amor a Deus nas Alturas, por ter dado tamanho poder e força a um homem! Milhares bloqueiam aquele burgo mi- lagroso à espera de socorro e conforto, mas lá não os recebem. Aqui está a verdadeira fortaleza milagrosa, na qual todos poderão ser so- corridos, graças ao jovem árabe que aqui nos trouxe!

  2. Se aquela multidão, que há meses aguarda ajuda, soubesse disto! Como haveria de correr para aqui ao encontro do grande Se- nhor e Mestre que, qual Homem entre nós, distribui Vida Eterna e Força para curar todas as moléstias! Não seria uma mensagem celes- te, caso informássemos onde se acha a Fortaleza Viva e Real?”

  3. Digo Eu: “Convicto de Quem sou, poderás com os amigos revelar apenas aos pobres e necessitados onde poderão ser socorridos, caso possuam fé e confiança. Aos ricos, que na maioria trouxeram as crianças mortas em caixões para serem ressuscitadas, nada digas. Ainda haverá tempo para atendê-los e antes ouvirão bom sermão!”

  4. Agradecendo, os curados se dirigem à grande praça que cir- cunda o burgo e os bastiões, a qual se chamava “Grande Praça de Espera”, onde informam aos pobres do verdadeiro burgo milagroso; isto era muito fácil para eles, pois haviam sido alocados em um lugar mais afastado do centro, encontrando-se deste modo mais próximos do verdadeiro burgo milagroso.

  5. Quando lá chega o grupo, conhecido por todos, os outros insistem em saber como foram curados. O judeu então diz: “Crede e confiai, dando Honra ao Deus Único dos judeus, e vinde conosco para receberdes a salvação!”

  6. Os pobres, acometidos de vários males: infecções, lepra, ce- gueira, mudez, surdez, artritismo etc., se locomovem da melhor ma- neira possível, com ajuda dos acompanhantes. Passada uma hora, a praça diante do albergue está literalmente tomada por milhares de infelizes, e o dito judeu Me avisa no refeitório.

  1. Virando-Me para Roklus, digo: “Vai, estende tuas mãos sobre todos, em Meu Nome, o que vale como se tivesses dado um passe em cada um — e todos serão curados!” Ele assim faz e toda a multidão é curada, de momento! O júbilo é enorme e muitos se aproximam do chefe, perguntando como conseguira tamanho milagre!

  2. Diz ele: “Não mereço louvores; foi o Deus Único e Verdadei- ro que o fez! Acreditai e louvai-O!” Perguntam todos: “Onde está Ele, para podermos adorá-Lo?”

  3. Nisto Me aproximo e digo a Roklus: “Dize-lhes que devem agradecer ao Deus Único somente no coração, o que Ele bem ouve, e depois deverão voltar ao seu albergue para alimentar-se. À tar- dinha Me apresentarei.” Eles obedecem felizes e são tratados pelos hospedeiros com grande admiração, supondo eles que alguém mais poderoso tenha chegado a Esseia.

203.AEXPERIÊNCIADOS RICOS

  1. Vários ricos, há meses aguardando serem atendidos, no que gastaram muito dinheiro, percebem os pobres curados; por isto, in- dagam: “Por que vós, pobres, que de nós recebeis o sustento, fostes ajudados antes de nós?”

  2. Respondem eles: “Não o sabemos. Não fomos atendidos no burgo, mas ao ar livre, diante do último albergue; portanto, não tivemos preferências. Cremos que o verdadeiro burgo milagroso se encontra naquela simples hospedaria. Informai-vos pessoalmente!”

  3. De momento, os abastados não sabem como agir. Após certa reflexão, se decidem, em grande número, a se dirigir ao nosso alber- gue, onde procuram informar-se com os empregados. Estes indicam a sala de refeitório. Os outros, porém, obstam: “Temos educação e cultura, e não queremos importunar. Um de vós poderia perguntar se é permitido entrarmos; quem nos trouxer boa resposta será re- compensado. Há anos sabemos que os curadores daqui, mormente o chefe, são dificilmente abordáveis. Se entrássemos sem aviso, pode- riam se aborrecer e nós esperaríamos outro tanto para a audiência.”

  1. Diz um empregado: “Os curadores se encontram no refei- tório como hóspedes e qualquer um pode entrar para ser atendido. Nossos pratos, pão e vinho, são dos melhores e ninguém é explora- do. Se os pobres entraram sem aviso e foram prontamente atendi- dos, porque vós, distintos, não podereis fazer o mesmo?”

  2. Percebendo nada arranjarem com os empregados, os ricos resolvem tirar a sorte para ver quem seria o primeiro a entrar; casu- almente a sorte cai no menos corajoso. Procura desculpar-se e pede aos outros tomarem a iniciativa; um empurra o outro e ninguém se atreve a pôr a mão no trinco.

  3. Um entre os trinta, finalmente, diz: “Estranho! Muitas vezes enfrentei o inimigo mais feroz com a arma na mão, e nunca senti pavor como agora. Por que será?” Enquanto assim palestram, Eu digo a Roklus para abrir a porta e fazer entrar os trinta ricos. Quan- do avistam o chefe dos essênios, que consideram quase um deus, curvam-se até o solo e ninguém se atreve a falar.

  4. Ele, então, diz: “Amigos, convém ao homem ser humilde e modesto; mas esse local não se presta para isso. Sou humano e por mim sei tanto quanto vós; se, pela minha prece, Deus Verdadeiro e Único confere uma Graça a alguém, somente Ele merece Honra. Entrai sem susto e externai vosso assunto!”

  5. O grupo se ergue e entra na sala, onde o amável anfitrião lhe aponta uma mesa, fazendo-lhe servir pão e vinho. Esses homens eram judeus de Kahiro; os antepassados se haviam refugiado no Egito por ocasião da prisão babilônica, de sorte que ainda trazem conhecimentos de Moysés e os profetas, considerando o natalício daquele quando se encontravam em meio de judeus. Intimamente acreditam nos sacerdotes egípcios e seus mistérios. Por isso, preten- dem respeitar as Leis mosaicas, quando se veem em presença dos judeus; percebendo haver pão, vinho e outros alimentos em nossa mesa, eles também se servem.

  6. Em seguida, um dos mais graduados se levanta e, com res- peito, diz a Roklus: “Mais importante curador deste burgo, afamado em todo o mundo! Nós, e muitos outros, há dois meses aqui espe-

ramos com os filhos mortos e guardados em caixões de estanho; tencionávamos apresentar nossa petição para a ressurreição dos mes- mos, motivo por que levantávamos o acampamento nas proximida- des do portão principal. Os servos do castelo nos asseguraram nossa breve chamada — mas tudo em vão.

  1. Muito abaixo do nosso local, se acampara grande multidão de pobres aleijados, que diariamente eram por nós supridos de es- molas. Certamente a esperança deles deveria ter sido muito menor que a nossa; mas qual não foi a surpresa ao vermos que há uma hora atrás aqui foram curados! Louvaram a Deus e se nutriram no albergue. Inquiridos onde haviam recebido tamanha Graça, aponta- ram este albergue como verdadeiro burgo milagroso, recomendando aqui viéssemos para nos certificar. Finalmente aqui estamos para te expor nossa petição, já que és o poderoso chefe dos essênios!”

  2. Diz Roklus: “Amigos, que vos falta? Pelas aparências sois sadios e ricos. Em que esperais socorro?”

  3. Responde um outro do grupo: “Graças ao Deus Unicamen- te Verdadeiro de Abraham, Isaac e Jacob, gozamos de boa saúde e não nos faltam bens terrenos. Perdemos os filhos e ficamos sem herdeiros. Sabendo terem sido aqui ressuscitadas, por várias vezes, crianças trazidas em caixões bem acondicionados, fizemos o mesmo e estamos prontos a vos indenizar de acordo. Os esquifes se encon- tram nas catacumbas destinadas para tal fim. Há dois meses foram lá depositados e os guardas receberam a taxa prescrita.”

  4. Replica Roklus: “Amigos, sei que trouxestes cerca de duzen- tas crianças, muito embora eu tivesse, há um ano, mandado avisos, para todos os cantos por mim conhecidos, que não mais era per- mitida a ressurreição, e tenho certeza que também em Kahiro foi divulgada tal informação. Por que insististes nessa empresa inútil e dispendiosa?”

  5. Responde o grupo: “Chefe supremo, a imensa tristeza com o falecimento dos filhos, vítimas de uma epidemia como jamais se dera em nossa pátria, obrigou-nos a tentar mais uma vez a mise- ricórdia mediante grandes sacrifícios. Caso não sejamos atendidos

malgrado todos os rogos, esperas e sacrifícios, resolvemos levar nos- sos pequenos defuntos à Galileia, ao grande Profeta, do qual ouvi- mos, por parte de viajantes, que ele não só cura todas as moléstias, mas também ressuscita os mortos. Todavia, rogamos atenderes nos- so pedido!”

204.ROKLUSEOS RICOS

  1. Diz Roklus: “Meus amigos, sou tão humano e fraco quanto vós; nunca tive poder de ressuscitar alguém ou recriar um corpo para uma alma desencarnada. Isto só é possível a Deus e ao profeta pleno do Espírito Divino, a fim de demonstrar aos homens transviados o caminho para a Vida Eterna.

  2. Se Deus Mesmo ordena deixarmos em paz os mortos, não despertando nos vivos esperanças e alegrias baldadas através de ma- gias, compreendereis que nós, essênios, temos que obedecer a Ele, por Se ter revelado Pessoalmente. Agora conhecemos como Ele é e o que pretende com os homens. Assim, não nos podemos dedicar à magia antiga, senão ao Deus Único e Verdadeiro, através do amor para com Ele e ao próximo, e pelo fiel cumprimento de Sua Vonta- de revelada. Pedi pessoalmente a Ele, o Grande e Eterno Mestre da Vida. Tudo que fizer será para o vosso bem.”

  3. Diz o primeiro orador do grupo: “Mestre e chefe da poderosa Irmandade! Pelo simples passe e a palavra conseguiste curar aque- la multidão, inclusive devolver a um os braços, a outros a visão, audição e olfato, o que, a meu ver, é mais importante do que res- suscitar um cadáver perfeito. Neste caso serias capaz de revivificar nossos filhos!”

  4. Retruca Roklus, algo encabulado: “Não quero deter-vos com mais delongas; digo a Verdade completa e pura! Externastes o desejo de procurar o Galileu, caso aqui não houvesse solução para vosso caso; e eu aduzo que agiríeis certo, se fosse necessário. Conhecendo eu o Profeta, afirmo-vos ser Ele muito mais do que isto. É justamen- te O Anunciado por todos eles, que viria ao mundo para salvar do

jugo do pecado, do demônio e da morte eterna todos os que Nele crerem e O amarem como Único Senhor de Céus e Terra!

  1. Eis o Profeta que pretendíeis procurar! Bem poderia ressusci- tar os vossos filhos, por tudo Lhe ser possível. Digo mais: Somente em Seu Nome, que é Santo, socorri os aflitos a Seu Mando; por isto, louvaram a Ele e não a mim! Compreendeis?”

  2. Todos arregalam os olhos e o orador diz aflito: “Onde está Ele, o Onipotente, para Lhe rendermos a Honra que Lhe cabe?”

  3. Responde Roklus: “Quando um homem se acha inespera- damente diante de um grande acontecimento e sua mente não o ajuda a perceber a grandiosidade do mesmo, o coração dispõe de um sentimento peculiar, que se poderia chamar de pressentimento. Perguntai-vos qual a sensação a invadir vossa alma?”

  4. Diz o orador: “Quanto a mim, sinto uma felicidade imen- sa, como se o Santo e Altíssimo Se encontrasse aqui perto, talvez neste albergue. Eis minha alegria inexplicável, porquanto não te- nho motivos para tal, pois aqui vim trazer quatro filhos mortos, na esperança de reavê-los vivos. Ainda assim, tenho a impressão de alguém me assegurar, intimamente, que eu os levarei de volta a Kahiro com vida.”

  5. Aduzem os outros: “Sentimos o mesmo e te pedimos não reteres mais a informação do paradeiro do Altíssimo. Segundo os ju- deus, Ele está em Espírito por toda parte. Encontrando-Se, porém, Encarnado, desejamos vê-Lo, realmente, a fim de podermos dizer a todos: Vimos e falamos com Deus e agora conhecemos a Sua Vonta- de, pela Qual todos devem agir!”

205.AJUSTAADORAÇÃOA DEUS

  1. Diz Roklus: “Pois bem, erguei olhos e corações! Eis, à minha direita, Aquele que examina o nosso íntimo e ao Qual pretendíeis procurar na Galileia!” Atirando-se ao solo, os trinta egípcios excla- mam: “Honra a Ti, Deus nas Alturas! Santo e eternamente Poderoso é Teu Nome! Senhor do Infinito, não repudies os filhos de Abraham,

e sê Misericordioso! Tua Santa Vontade será para sempre nossa Lei, pela qual queremos viver e morrer!”

  1. Digo Eu: “Tal é louvável de vossa parte; mas, nessa posição, não posso falar-vos. Ficai de pé, como homens livres e inteligentes; deixai de lado toda veneração exagerada. Não vim para Me deixar adorar qual ídolo pagão, senão como vosso Deus, esquecido, cuja Vontade vos demonstrarei, e erigirei na Terra o Reino de Deus, da Vida Eterna. Destruirei as antigas algemas e prisões do pecado, do demônio, do julgamento e da morte das almas e, por isto, não quero que as criaturas rastejem diante de Mim quais vermes, e sim Me rodeiem como verdadeiros amigos e irmãos, de fronte erguida, a fim de Me ouvirem e falarem. Erguei-vos e falai abertamente Comigo!”

  2. Eles se levantam, mas tão atordoados de emoção, que ne- nhum se atreve a falar. Por isto, prossigo: “Amigos, se continuardes desta forma, não haverá troca de ideias entre nós. Quem vos ensinou respeito tão ridículo e inútil diante de Deus? Os sacerdotes pagãos! Deus não exige mais dos homens senão a fé viva Nele, Deus unica- mente Vivo e Verdadeiro, não proferindo Seu Nome inutilmente, nem blasfemando, mas Nele reconhecendo o Bom Pai, a fim de amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmos. Tudo que passa daí é nocivo! Desfazei-vos de todo exagero e falai simplesmen- te Comigo! Acaso seria de vosso agrado se os genitores educassem a prole de forma tal a se rastejarem a seus pés? Que seria de tais filhos? Criaturas covardes e egoístas, das quais ninguém deveria es- perar nada de bom. Como assim agistes com vossos filhos, era justo fossem tirados antes que vossa cegueira pagã algemasse e sufocasse inteiramente as suas almas. Desisti de vossa tolice, do contrário ja- mais restituirei vossos filhos!”

  3. Essas Palavras surtem efeito e o orador se aproxima, dizendo: “Ó Santíssimo, como devemos dirigir-nos a Ti?”

  4. Respondo: “Sou Senhor e Mestre; portanto, tratai-Me dessa forma! Não repitais a exclamação ‘Santíssimo’! Aqui sou qual Ho- mem como vós, e afirmo que ninguém é santo, senão o Espírito de Deus. Muito embora esteja em Mim, nada tendes a ver com Ele, por

enquanto. Quando fordes renascidos em Espírito, compreendereis Sua Santidade!

  1. Será deplorável quando os homens, em sua ignorância, bra- darem a Deus: ‘Santo, Santo, Santo!’ Quem quiser chamar Deus terá que se compenetrar do Espírito Dele, do contrário seu brado será tolo e semelhante à constante exclamação dos pagãos, que, al- gemados pelo julgamento dos pecados do mundo, de maneira al- guma poderão assimilar e compreender a liberdade Eterna e Infini- ta de Deus.

  2. Por isto, enquanto ainda palmilhardes na condenação do mundo, sou vosso Senhor e Mestre; tão logo vos torneis libertos e vivos no Meu Espírito, descobrireis Deus em Mim, chamando-O ‘Santo Pai’. Isto não fareis verbalmente, mas no silêncio do espírito vivo; pois Deus, em Si, é Espírito e só pode ser chamado e venerado em Espírito, e na Sua Verdade viva e luminosa. Se o compreendestes, mudai vossa ideia tola e dizei o que desejais!”

206.AEXIGÊNCIADO SENHOR

  1. Diz o orador: “Senhor e Mestre, és infinitamente Bom, Sábio e, não obstante Tua Glória Divina, indescritivelmente Meigo, Hu- milde e cheio de máxima Paciência! Isto fortifica nossa fé tanto mais quanto és realmente o Prometido por Jehovah, que deveria fundar o Verdadeiro Reino de Deus na Terra. Assim sendo, esperamos receber a Graça da devolução de nossos filhos, que pretendemos educar mais sabiamente do que então.”

  2. Digo Eu: “Assim farei. Antes, guardai bem o que vos digo: Não façais alarde aqui, no caminho de volta, nem na pátria, não Me denunciando tampouco aos essênios. A partir de agora, não serão ressuscitados os mortos à vida terrena, e sim as almas espiritualmen- te mortas à Vida Eterna, para a qual os homens foram criados. Com exceção de Meus Apóstolos e algumas testemunhas, ninguém deverá ter conhecimento deste último Milagre neste local; não quero que tais fatos se repitam.

  1. Quem, no futuro, aqui trouxer defuntos, não só se cansará inutilmente, mas passará por várias vicissitudes. Os enfermos en- contrarão sua cura na fé viva em Meu Nome. Sabeis, portanto, o que fazer.

  2. À noite dirigi-vos, acompanhados de um essênio, à catacum- ba, abri os caixões, que vossos filhos se levantarão sãos e salvos! De madrugada parti, para evitardes qualquer alarde entre a multidão.

  3. Se, a caminho, encontrardes pessoas carregando filhos mor- tos e perguntarem o que aqui sucede, dizei-lhes abertamente o que falei a respeito da ressurreição, evitando prossigam viagem para cá.

  4. Na cidade natal não frequenteis templos pagãos e, se fordes inquiridos do porquê, informai que procurastes e finalmente achas- tes o Deus Único e Verdadeiro, o Qual vos demonstrou clara e viva- mente como agir! Ficai, se vos deixarem em paz; querendo importu- nar-vos, parti! Pois Quem aqui vos ajuda, sempre o fará, caso creiais em Seu Nome e confieis Nele! Se compreendestes, podeis partir!”

  5. Diz o orador, agradecendo de coração: “Senhor e Mestre, tendo recebido tamanha Graça, desejamos demonstrar nossa grati- dão. Qual seria o sacrifício que nos cabe prestar?”

  6. Digo Eu: “A Mim e aos essênios não tendes outra obriga- ção, senão a fé no Deus Verdadeiro, amando-O acima de tudo e ao próximo como a vós mesmos, e conservando os corações isentos do amor-próprio, avareza, inveja, tendência mundana e orgulho; pois tudo que para os olhos, ouvidos e corações do mundo é grande e radioso, para Mim é um horror!

  7. Vede o Meu Exemplo. Sou Senhor e Mestre, Céus e Terra estão sujeitos ao Meu Poder e Força; entretanto, sou de todo cora- ção Humilde, Meigo, Paciente, Amoroso e Misericordioso, não Me deixando honrar como exigem fariseus, sacerdotes pagãos e outros orgulhosos.

  8. Ofertai-Me esses sacrifícios e podeis vos alegrar de Meu Amor e Graça, perenes. O que fizerdes aos pobres em Meu Nome, considerarei feito a Mim, e assim acumulareis tesouros eternos e imensos.”

  1. Diz o orador: “Ó Senhor e Mestre, faremos tudo que for do Teu Agrado. Convém deixarmos os caixões aqui?”

  2. Respondo: “Que pergunta tola! Reavendo os filhos — para que fim serviriam os esquifes? Se alguém vos visse transportá-los vazios, prontamente desconfiaria do milagre, e é isto que proibi estritamente. Os essênios poderão transformá-los em arados e pás, usando-os para fins construtivos. Agora sabeis de tudo e podeis vol- tar.” Satisfeitos, todos se despedem.

  3. À noite, quando a maioria se encontrava recolhida nos albergues, envio um essênio à catacumba, onde os trinta ricos já estavam esperando. Além deles, encontra outros que também haviam trazido seus defuntos, por isso supõem que tal não fosse de Meu Agrado; porém, o essênio havia recebido orientação de Minha Parte no sentido de abrir os esquifes e informar os presen- tes de Minha Ordem. Deste modo, todas as crianças ressuscitam. Dispensa comentários a enorme sensação. Os genitores Me agra- decem, comovidos, e se alimentam num albergue fora do local, a caminho do Egito, e, na manhã seguinte, se encaminham para a pátria. As crianças são inquiridas pelos pais sobre a passagem no mundo dos espíritos, sem que se recordassem de algo. Este milagre se deu, pois, completamente imperceptível para os mo- radores do local.

207.OSDOISORGULHOSOSFARISEUSEM ESSEIA

  1. Entrementes, dou várias informações a Roklus caso ainda viessem pessoas a Esseia, pedindo ressurreições. Não lhe proíbo, mormente em casos excepcionais, onde os pedintes manifestassem fé firme, ressuscitar um ou outro; deveria ele, antes, dirigir-se a Mim em espírito, e Eu lhe revelaria se devia ou não operar o milagre. Roklus aceita com imensa gratidão.

  2. Enquanto palestramos, vem um empregado do castelo avi- sando a chegada de dois anciãos de Jerusalém, com grande séquito, desejando falar imediatamente com o chefe.

  1. Dirigindo-Me ao servo, digo: “Volta e dize aos ignorantes haver muita gente em Esseia também querendo falar ao chefe. Ele já sabe o que fazer e onde há maior miséria, por isto não se deixa perturbar por alguns fariseus, suas concubinas e alguns meninos vi- ciados para se curarem. Que esperem, como fazem inclusive famílias régias.” Ele se curva e transmite o recado aos fariseus que, muito ofendidos, insistem por saber onde está o chefe.

  2. Responde o empregado: “Sou obrigado a obedecer ao meu superior, do qual recebi ordem de não revelar ao próprio Impera- dor o paradeiro do chefe. Recolhei-vos num albergue e esperai vossa vez. Aqui todos são iguais, e um príncipe não leva vantagens sobre um mendigo.”

  3. Diz um dos fariseus, irritado: “Acaso é esse burgo feiticeiro mais importante que o Templo de Jehovah em Jerusalém? Lá se res- peita qualquer diferença!”

  4. Responde o servo: “Não me interessa. Podeis reger na sina- goga como bem entendeis; nós respeitamos somente Deus como Se- nhor, e aquele que nos deu como chefe. Este é o motivo de Jehovah aqui fazer grandes milagres e os fariseus virem pedir socorro, pois, em Jerusalém, não o encontram.”

  5. Com isto, ele lhes vira as costas, obrigando-os a se dirigirem a um albergue e esperar a sua vez. Roklus novamente agradece por Eu o ter protegido diante dos anciãos. Nisto, diz Simon Judá: “Senhor e Mestre, ainda temos algumas horas até meio-dia. Não seria aconse- lhável sairmos daqui? Tenho a impressão que os fariseus procurarão o chefe de casa em casa, e não seria agradável se aqui viessem.”

  6. Respondo: “Precisamente por isto ficamos; quero, uma vez para sempre, acabar com a extorsão do tributo, para o que hoje cedo dei início. Os dois fariseus também vieram para arrecadar sua parte dos salteadores, pois estes podem praticar os abusos sob proteção dos templários e de Herodes. A cura das concubinas e dos rapazes é secundária; uma vez de posse da sua parte, afastar-se-ão, deixando os enfermos aqui. Querem falar particularmente com Roklus para aceitá-los gratuitamente ou, se houver possibilidade, expedi-los para

  1. Eis o plano deles e, tão logo tiverem acomodado todos os enfermos, irão à procura de Roklus, encontrando-o aqui. Tal será ótimo. Nesta ocasião, inspirá-lo-ei a lhes dizer tudo, terminando

o assalto; os doentes, agora sob poder dos essênios, testemunharão contra o Templo, sobretudo quando souberem, pelo chefe, das in- tenções diabólicas dos fariseus.

  1. Deve ele ouvi-los primeiro em presença dos irmãos de sei- ta que, junto aos enfermos, servirão de testemunha. Deste modo desmascarados, os templários se submeterão e, com prazer, farão grandes sacrifícios para não serem chamados à responsabilidade da Justiça Romana. De há muito previ isto, para garantir a Esseia pro- teção definitiva contra as maquinações templárias, podendo receber livre acesso de todos os lados.

  2. Quando aqui chegarem os anciãos, Roklus e seus colegas os receberão no pátio, para resolverem o assunto da melhor maneira possível. Uma hora após meio-dia, tudo estará em ordem e podere- mos almoçar com calma, e sairemos somente quando eles tiverem deixado a localidade. Entendes por que aqui ficamos?” Responde Pedro: “Sim, Senhor e Mestre, e agradeço pela informação.”

  3. Nisto, se manifesta Roklus, que durante Meu Relato quase explodiu de revolta, querendo prender os templários: “Oh, Senhor, se eu tivesse apenas uma partícula de Teu Poder, não escapariam tão facilmente! Como podes tolerar abusos tão infernais com tamanha paciência?!

  4. Permitir a subsistência do Templo com sua miserável corja sacerdotal é aplicar paciência excessiva! Dia a dia suas traficâncias se tornam mais evidentes entre o povo, fazendo com que se per- ca a fé no Deus Verdadeiro, para aceitar o paganismo racional. Tu, Senhor, és Sábio e tens motivos para permitir essa situação. Mas,

quando vierem aqueles dois, peço me dares paciência para suportar sua presença!”

  1. Digo Eu: “Não te aflijas; terás um entendimento com eles e possivelmente alguns fariseus aderirão à Verdade. Entre Meus após- tolos também se encontram alguns fariseus convertidos e, não faz muito, ainda procuravam agir contra Mim, porquanto Minhas Pa- lavras os denunciaram.

  2. Dentro em breve, a medida dos horrores templários estará completa e, antes de se passarem sessenta anos, nem mais se desco- brirá o local do Templo. Minha Paciência e Indulgência são enormes e quase ilimitadas, porém não infinitas, nos corpos cósmicos. Minha Verdade, que destruiu planetas teimosos, poderá fazer o mesmo com cidades e povos, quando sua medida estiver completa. Agora podes te dirigir com teus irmãos para o pátio; pois os fariseus não demorarão!”

208.ROKLUSEOSDOIS TEMPLÁRIOS

  1. O chefe dos essênios não precisa aguardar muito; tão logo os fariseus souberam onde se encontrava operando milagres, entre- garam algum dinheiro ao dono da hospedaria para cuidar dos en- fermos. Quando aparecem no pátio, Roklus os cumprimenta e diz: “Procurais o chefe essênio? Aqui está em minha pessoa despreten- siosa. Que desejais? Aviso-vos externardes abertamente a petição, do contrário teríeis vindo inutilmente.”

  2. Diz um deles: “Assim farei. Nesse assunto não admito teste- munhas, e talvez fosse possível falarmos a sós, num recinto qualquer.”

  3. Responde Roklus: “O que não é licito para príncipes, reis e imperador, não se aplica também a vós. Não há mais reserva e segredos, a fim de que ninguém nos possa acusar de mistificação. Por isto, também curamos diante de todos, e não no castelo, por vós tão difamado. Nós, essênios, representamos um só homem; não pode ser oculto o que um sabe e pode. Falai sem rodeios, ou voltai de onde viestes. Acrescento mais: Não exijais algo injusto perante Deus e os homens!”

  1. Obsta o fariseu: “Que transformação é esta?! Há dois anos atrás, falaste de modo diferente e certamente também agiste de ma- neira diversa!”

  2. Diz Roklus: “Pode ser; não havendo na Terra algo tão perfei- to a não se admitir evolução, não estávamos em situação tal que im- pedisse maior perfeição. Assim, progredimos e mudamos de pensar, querer, falar e agir.

  3. Anteriormente curávamos com cerimônias fúteis, porque os ignorantes assim queriam, e o motivo nefasto se baseava na su- perstição cerimoniosa, na qual os sacerdotes egoístas e gananciosos, que se diziam servos de Deus, exigindo grandes honras, os haviam enterrado.

  4. Sempre consideramos os semelhantes, ricos ou pobres, nossos irmãos, de sorte a não mais podermos aceitar tais abusos; resolvemos demonstrar a todos a Verdade e as tolices deles. Por isto, nos afas- tamos de tudo que apresentasse a mesma aparência de mistificação secreta; falamos e agimos com todos, portanto também convosco, sem receio, consideração e medo. Sois iguais a qualquer um.

  5. Caso vossa petição esteja contra as Leis de Deus, conside- ramo-vos e o Templo abaixo de qualquer irracional. Expus a situ- ação abertamente e qual o motivo; por certo, compreendeis como deve ser vossa atitude, se quiserdes conseguir alguma finalidade real e boa.”

209.ROKLUSREVELAASINTENÇÕESDOS FARISEUS

  1. Esse discurso de Roklus de maneira alguma corresponde ao que os templários pretendiam alcançar; assim, não sabem como ex- ternar a petição. Após algum tempo, um deles se lembra de querer modificar a ideia do chefe por meio de ameaças, dizendo com em- páfia: “Ouve, chefe vaidoso de tua honestidade! No teu zelo, esque- ceste com quem falas e, além disto, não só blasfemaste contra nossas pessoas, mas também contra o próprio Templo, fazendo-te digno de punição. Se quiséssemos perseguir-te, tu e teu Instituto passaríeis

mal. Falemos, portanto, a sós, faze o que exigirmos e não faremos uso de qualquer denúncia.”

  1. Sumamente alterado, Roklus os fulmina com o olhar, dizen- do: “Fariseus astuciosos! Tão certo como Deus existe, ao Qual bem conheço e vós não, de maneira alguma farei o que exigis secretamen- te, para ocultar vossos pecados. Alegais ter eu blasfemado contra vós e o Templo e, por isto, mereço punição. A que ponto vós mereceis castigo diante de Deus, do Templo e do povo, por causa de vossas impudicícias, adultérios e estupros?

  2. Aqui trouxestes vossas concubinas, servas e meninos, vio- lados, sendo elas adúlteras por vossa causa, sob pretexto de serem curados. Vossa intenção é bem diversa! Vossa fama de pecadores co- meçou a correr mundo em Jerusalém, e o pavor — não de Deus, mas das Leis de Roma — assaltou-vos. Por isto, aqui chegastes e quereis, para encobrir vossos pecados, não a cura dos infelizes, mas que sejam mortos por nós ou, no mínimo, desterrados para terras longínquas, entre criaturas selvagens e irracionais, a troco da parte que vos cabe dos assaltos secretamente permitidos.

  3. Afirmais eu ter ofendido a vós e ao Templo, merecendo casti- go. Qual é vossa situação? O que acabo de dizer, pois recebi a facul- dade, de Deus, de analisar toda criatura até o seu âmago, posso pro- var por testemunhas perante Deus e as leis mundanas. Se assim fizer, como será vossa situação? Julgastes forçar-me a um crime, através de ameaças sacerdotais; deu-se o reverso da medalha: encontrai-vos em meu poder! Qual será vossa saída?”

  4. Perplexos, ambos retrucam: “Ainda que fosses capaz de pro- var a primeira questão, não te será possível provar termos trazido os doentes com más intenções. Se descobriste — através da quiro- mancia egípcia e não pela ajuda de Deus, da qual te vanglorias, sem considerar não ter Ele relação com feiticeiros — que alimentamos maus propósitos, tal não terá efeito diante da justiça; pois o puro pensamento ainda não é ação, mesmo se nós o tivéssemos confiado abertamente. Neste ponto, nada terias conseguido. Quanto ao pri- meiro, todos os templários são iguais e ser-te-ia difícil atacar uma

Instituição tão poderosa como o sinédrio, muito embora, como grego e semipagão, sejas muito considerado entre romanos. Desiste de tuas ameaças e também não faremos uso das nossas, tampouco pediremos a cura dos enfermos. Ainda existem outros sanatórios!”

  1. Com estas palavras, ambos fazem menção de se afastar. Roklus, porém, diz: “Chegar aqui é fácil, mas difícil afastar-se, e vós não deixareis a localidade antes de cumprirdes o que ditaremos em Nome de Jehovah. Estais em nosso poder, sem possibilidade de reação.

  2. Os enfermos serão aqui curados e por vós mantidos; eu trata- rei de sua futura acomodação. Os assaltos serão inteiramente suspen- sos e todos os tesouros roubados, devolvidos aos donos aqui presen- tes. Pois consta: Não furtareis nem cobiçareis os bens do próximo!

  3. Acaso não sois os piores blasfemadores, alegando serdes ser- vos de Deus, aos quais Ele sempre atende, e vos deu poder de abrir às almas as portas do Reino de Deus?! Nunca acreditastes Nele e não Lhe destes a devida Honra, no coração; sempre perseguistes aos que, pela inspiração divina, começavam a depor contra vós!

  4. Eu mesmo fui ao pequeno deserto no Jordão e ouvi João Baptista aplicar suas advertências, enquanto vossa reação foi de simples ódio, do qual ele se tornou vítima. Eis que veio o Grande Messias Prometido, cheio da máxima Sabedoria, Poder e Força, e procurais matá-Lo!

  5. Divulgais as Leis de Moysés sem considerá-las, mas prati- cando todos os pecados insuflados pelo demônio, vosso pai. Men- tis perante Deus e as criaturas; enganais, proferis falso testemunho; roubais e matais, o que poderiam provar milhares de testemunhas; todavia, tendes coragem de injuriar e perseguir a quem, inspirado por Deus, ateste contra vós e deseje salvar-vos do abismo da perdi- ção eterna?! Dizei-me se os sodomitas tiveram ação tão tenebrosa

  1. Pela nossa ação para convosco, podeis deduzir a honestidade de nossa parte, enquanto condenais qualquer judeu que viesse pro-

curar ajuda em Esseia — que, todavia, exigis para vós mesmos! Não faria ele jus ao que reclamais?! Mistificadores e bajuladores, víboras e serpentes, se não vos corrigirdes, a condenação eterna vos atingirá! Não querendo cumprir minha exigência justificável perante Deus e os homens, castigar-vos-ei de uma forma a assustar qualquer demô- nio! Entendestes?”

  1. Dizem os fariseus, enraivecidos: “Certamente, e faremos o que mandaste; ignoramos quais as medidas do Templo, diante de tanto ultraje às nossas pessoas. Tudo será relatado no sinédrio, mor- mente sendo João Baptista e o Nazareno membros de vosso Institu- to. Agora trata-se de pôr mãos à obra, porque queremos voltar ainda hoje. Vamos ao albergue onde se acham os enfermos!” Diz Roklus: “Sim, assim também quero!”

210.ROKLUSCURAOS ENFERMOS

  1. Ao chegarem à sala onde os enfermos, em considerável nú- mero, assim como os chefes de assalto, que desejam liquidar contas, aguardam os fariseus, Roklus se vira primeiro para os doentes: “Sou chefe de Esseia e recebi de Deus, o Senhor, o poder milagroso de vos curar. Antes, dizei-me, sem susto, como contraístes vosso mal.”

  2. Dizem os rapazes: “Senhor, diremos tudo, se tu nos prote- geres e se não formos obrigados a voltar para Jerusalém; a não ser assim, a menor denúncia garante a morte!”

  3. Responde Roklus: “Não há motivo para receios, cuidarei de vós.” Eis que os meninos relatam os abusos sofridos pelos templários e que muitos ainda os suportam, vindo talvez a morrer. Em seguida, também as moças e mulheres começam a fazer um relato de arrepiar os cabelos dos chefes de assalto, mormente quando elas mostram as mutilações físicas praticadas pela insaciável volúpia dos templários.

  4. Após se ter Roklus certificado de tudo diante das testemu- nhas, ele se vira, profundamente alterado, para os fariseus e seus empregados: “Isto não houve desde que existe o mundo! Praticando crimes tais, tendes a coragem de afirmar ter eu blasfemado contra o

Templo, porque o classifiquei de antro de víboras e assassinos? Qual teria sido o demônio que vos gerou e até ungiu para sacerdotes de Jehovah? Asseguro-vos que o próprio Imperador será disto informa- do! Em breve saberemos sua decisão!”

  1. Voltando-se para os doentes, ele prossegue: “Em Nome de Jehovah, que veio a nós na Pessoa de Jesus de Nazareth, odiado e perseguido pelos fariseus, porque testifica contra eles, e que me deu o Poder para curar os doentes apenas pela fé e vontade, levanto mi- nhas mãos e digo: Sede completamente curados!”

  2. A esta exclamação, todos estão curados, de modo a não apre- sentarem a menor cicatriz física, e exclamam, inclusive os chefes sal- teadores: “Isto só é possível a Deus. Por isto, merece todo louvor, gratidão e honra, e por nos ter revelado os templários, podendo nos defender contra eles!” Do mesmo modo agradecem os ex-enfermos, virando as costas aos fariseus.

  3. Diz-lhes Roklus: “Bem, isto foi resolvido em Nome do Se- nhor; passemos a outro assunto!” Os fariseus, sabendo ao que ele se referia, dizem: “Queira fixar a importância necessária para a subsis- tência dessas vinte pessoas. Quanto ao tributo, podes agir com os chefes presentes. De nossa parte, desistiremos para sempre daqueles lucros; pois começamos a perceber nossa injustiça e tudo faremos para reparar o mal.

  4. Chegando a Jerusalém, nossa primeira tarefa será o afasta- mento do Templo; a partir de agora, após termos visto o Poder de Deus e ouvido tuas sérias advertências, que fizeram surgir em nós a Luz da fé, aplicaremos o tempo que nos resta para outros fins. Que Deus nos perdoe os muitos pecados! E tu, homem sábio e pleno do Espírito de Jehovah, queira determinar a soma para a subsistência dessas criaturas.”

  5. Diz Roklus: “Em vosso poder se acham oitocentas libras de ouro e duas mil de prata. Para a viagem de volta não precisais nem a centésima parte. Deixai o ouro e mil libras de prata para as vinte pessoas, redimindo-vos em parte de vossos pecados. Querendo fazer mais, será em vosso benefício diante de Deus.”

  1. Respondem eles: “Para nossa volta bastam cem libras; assim, juntamos novecentas à prata; se porventura os milagrosamente curados necessitarem de maior ajuda, mandaremos o necessário de Jerusalém.”

  2. Diz Roklus: “Não será preciso; além disto, tendes que repa- rar outros prejuízos. A soma estipulada dá de sobra para a subvenção de criaturas que tomarei ao meu encargo, no sentido de poderem ganhar o pão. É mais útil ao homem, do que pelo ócio tornar-se um peso ao semelhante.”

  3. Esse assunto é, pois, resolvido e os fariseus pedem perdão aos curados e a Roklus. Este diz em seguida: “Perdoar aos inimi- gos, ainda que não se disponham a reconhecer e reparar o mal, é do Agrado de Deus; quanto mais se aqueles se arrependem e re- solvem reparar o erro. Por isto, sois perdoados e tratai de ressarcir qualquer injustiça praticada, e Deus — o Senhor — demonstrará Misericórdia em casos não reparáveis, porquanto os prejudicados não se encontram mais na Terra.” Ambos prometem assim agir e se encaminham para a volta.

211.ROKLUSEOS SALTEADORES

  1. Em seguida, Roklus chama a si os chefes salteadores e os orien- ta como fugir da Ira Divina. Também se prontificam a tudo que ele, chefe do local, pudesse exigir; não devia, contudo, pedir o impossível.

  2. Diz Roklus: “Nas últimas seis semanas, fizestes grande pilha- gem em nossas estradas e raras vezes poupastes os pobres. A maioria ainda se encontra aqui. Devolvei a todos, ricos e pobres, o tributo extorquido e nunca exijais qualquer imposto, que vossos pecados serão remidos!”

  3. Diz um deles: “Chefe supremo! Faremos conforme sugeriste. Acontece termos feito esse negócio condenável há mais de trinta anos e juntamos tesouros impossíveis de serem restituídos. Como agiremos?”

  4. Diz Roklus: “Na maior parte tratava-se de ricos que, em pa- íses distantes, estão fartos de bens terrenos. Administrai esses bens, considerando-os posse dos necessitados, que muitas vezes aqui vêm

pedir socorro. Ajudai-os bastante, que o Senhor dos Céus e Terra vos dará a remissão dos pecados.

  1. Construí abrigos para os pobres, que muitas vezes são obriga- dos a dormir ao relento; deste modo, fareis o Bem, angariando, pelo dinheiro injusto, amigos no Céu. Se tiverdes compreendido tudo, ponde mãos à obra!” Todos agradecem a Roklus, e os chefes do rou- bo, no mesmo dia, trazem o exigido, que pelo justo intermediário é devolvido aos donos.

  2. Após se terem afastado os ladrões, Roklus se vira para o hos- pedeiro e diz: “Os curados ficam a teu encargo; trata que recebam ocupação correspondente às suas forças. Administra ouro e prata com justiça, e os juros serão a paga dos teus trabalhos. Assim tam- bém será determinado o ensino dos jovens.

  3. Faze-o como judeu honesto, à moda dos samaritanos, por amor ao Deus Único e Verdadeiro e ao próximo, e receberás gran- de Graça do Amor Divino. Age com toda amabilidade, pois um benfeitor amável exerce caridade duplamente e receberá de Deus o prêmio multiplicado em vida e, no Além, cem vezes mais! Tendo re- solvido esse assunto importante em Nome do Senhor, e o meio-dia se aproximando, voltarei com os irmãos ao albergue. Lá nos espera o grande Senhor e Mestre. Quem precisar de auxílio dirija-se para lá.”

  4. Responde o tavoleiro: “Amigo, acaso trata-se do grande Pro- feta de Galileia, que mencionaste durante a cura?”

  5. Responde o chefe: “Justamente! Mas não é profeta, senão Aquele ao Qual me referi: o Próprio Senhor!”

  6. Exclama o velho: “Ó amigo, tinha tanta vontade de vê-Lo e ouvi-Lo, pois já ouvi coisas extraordinárias a Seu respeito! Os pagãos O consideram um deus; os judeus, profeta.”

  7. Diz Roklus: “A todos é permitido achegarem-se a Ele, e é dever dos curados manifestar-Lhe gratidão. Não fui eu, mas Ele que os curou pelo Poder de Sua Vontade. Esperai mais algum tempo; depois, todos poderão ir!”

  8. Opõem os curados: “Como poderemos, nós pecadores, fitar o Seu Semblante Santificado? Jamais merecemos tamanha Graça!”

  1. Comovido por aquela humildade, Roklus aduz: “Se Ele não perdoasse vossos erros, pelos quais os templários são culpados, não vos teria curado; deste modo, sois obrigados a procurá-Lo em tempo oportuno!”

212.OMILAGREDO SENHOR

  1. Encontrávamo-nos todos à mesa, quando volta Roklus com os irmãos; lastima não ter estado presente durante Meus Ensina- mentos. Eu lhe digo: “Caro amigo e irmão! Não te entristeças; pois Eu apenas lhes transmiti o que providenciaste com os fariseus, os enfermos etc. Foste bom instrumento contra os Meus adversários e, como foste fiel em assunto pequeno, dar-te-ei problema maior. Senta-te aqui. O almoço será servido de Minha Despensa inesgotá- vel, inclusive o vinho de Minha Adega. Pois, tornando-vos, tu e teus irmãos, competentes operários para Meus Campos e Vinhas, deveis ser saciados neste dia e nesta época!”

  2. Nesta altura, entra o hospedeiro, algo encabulado, e diz: “Se- nhor e Mestre, quando Te perguntei o que desejavas comer, disseste para eu não me preocupar; pois desta vez irias cuidar da refeição. Há mais de uma hora te esperamos na cozinha e nada preparamos. Que devo fazer?”

  3. Respondo: “Quão fútil é tua preocupação! Pensas Eu neces- sitar de despensa, cozinha e odres cheios?! Estou entre Meus amigos, que Me reconheceram e por Mim operaram grandes milagres, em Meu Nome, através do Poder do Meu Verbo e de sua fé em Mim; assim sendo, quero proporcionar-lhes igualmente um milagre. Nada foi preparado na cozinha. Mas convém olhares as mesas!”

  4. Terminando de falar, as travessas, desde cedo postas nas me- sas, estão cheias de bons quitutes: peixes de qualidade, vitelo e car- neiro assados, várias frutas e o melhor pão; e todos os cântaros estão cheios de especial vinho.

  5. Cruzando as mãos sobre o peito, o hospedeiro exclama: “Se- nhor e Mestre! Quem, à vista deste milagre, não cresse em Ti, que

acolhes em plenitude o Espírito de Deus, Seu Poder e Força, seria cego de corpo e alma!

  1. Realmente, tudo é milagre provindo de Tua Onipotência e Sabedoria; Céus e Terra estão plenos de Tuas Obras, mas que não realçam como tais porque estamos habituados ao seu surgir e desa- parecer. O aparecimento súbito de alimentos, geralmente prepara- dos pela mão humana, e o vinho surgido do nada — são milagres diferentes!

  2. Quando a árvore surgida de uma semente começa a produzir frutos, percebem-se os meios como efeito. Mas onde estariam os meios aqui? Não há árvore da qual tivessem nascido esses frutos variados, amadurecendo à luz e ao calor do Sol! Em que campo teria sido colhido o trigo desse pão maravilhoso? Em que rio foram pes- cados os peixes, onde foram abatidos vitelo e carneiro etc.?

  3. Tudo isso surgiu pelo Infinito Poder de Tua Vontade! Isto me surpreende tanto mais quanto fazes surgir tudo dentro da Ordem Imutável, como Criador de Céus e Terra. Acaso não Te seria possível projetar um mundo completo, com todo o necessário às criaturas, poupando-lhes trabalho e preocupações?”

  4. Respondo: “Claro que sim, caso fosse de utilidade para o homem ele cair no ócio e, através do mesmo, integrar-se na matéria e no julgamento. Eu querendo seu enriquecimento de experiências e derivantes conhecimentos, descobrindo Deus e a si mesmo, a Terra e tudo que existe têm que surgir como vês.

  5. Eis o motivo por que faço surgir e desaparecer tudo paulati- namente, pois os mundos não foram criados para eterna consistên- cia, e sim para as almas que surgem do julgamento da matéria e, na criatura, se desenvolvem e fortificam para a Vida Eterna, no Meu Espírito e no amor para Comigo.

  6. Se aqui, entre discípulos e amigos quase perfeitos, faço pe- quena exceção de Minha Ordem Original, nenhuma alma é tentada para o ócio nocivo e indolência permanente; demonstrei, assim, que para Deus tudo é possível. Senta-te aqui e participa da refeição. Mais tarde haverá ocasião para outros assuntos.”

213.AMULHERDO HOSPEDEIRO

  1. Nesse ínterim, a mulher do hospedeiro vem perguntar ao marido quais as Minhas Ordens para o almoço e se Eu ia à cozinha para operar o milagre. Percebendo todas as mesas ocupadas com fartos pratos, ela põe as mãos na cabeça e exclama: “Mas de onde veio isto tudo?”

  2. Responde ele: “Não perguntes por coisas que não compreen- derias; posteriormente saberás a origem desses alimentos. Trata que os demais hóspedes sejam bem servidos!”

  3. Obediente, ela volta para a cozinha, sem conseguir tirar da cabeça o que vira, razão por que submete a criadagem a um severo interrogatório. Não obtendo nenhum êxito, a mu- lher volta ao refeitório, a fim de obter informação junto a um discípulo.

  4. Um dos essênios lhe diz: “Se não fosses tão tola, terias perce- bido muita coisa milagrosa dentro e fora de casa, simplesmente pela Vontade do Senhor e Mestre. Tudo foi feito nos Céus. Vem provar se assim não é.” Ela aceita o convite e confessa jamais ter experimen- tado coisa semelhante.

  5. O essênio aponta para Mim e diz: “Eis o eterno Mordomo, que num momento fez surgir este banquete, da mesma forma que cria o alimento para todos os animais. Grande Graça concedeu à tua casa, da qual não deves fazer alarde, pois Ele assim quer!” Ela se aproxima de Mim, agradece e volta à cozinha.

  6. Eu digo a todos: “Nunca foi admitida u’a mulher para profetizar diante do povo. Mas, quando é devota, cumprido- ra dos Mandamentos e educando os filhos no justo temor e amor a Deus, é qual profeta, e o Espírito de Deus Se aloja em seu coração.

  7. Por isto, não deveis futuramente excluir as mulheres durante a prédica e não lhes ocultar as Revelações do Reino de Deus; pois o que elas ensinam, como mães e primeiras educadoras, é mais eficien- te do que o ensino de todas as universidades.

  1. A mulher sábia terá filhos sábios; sendo tola e sem cultura, dificilmente os filhos serão profetas. Aplica-se neles o provérbio: Tal pai, tal filho.

  2. É justo a mulher ser boa dona de casa e ensinar os filhos nesse sentido; melhor ainda é ela estar compenetrada do Espíri- to da Verdade de Deus, transmitindo-o à prole. A tais filhos será fácil pregar-se eficientemente o Evangelho. Considerai bem este ensinamento!”

  3. Os essênios agradecem e Roklus acrescenta: “Realmente, Senhor, foi um grande erro entre nós, mormente nos judeus dos ar- rabaldes de Jerusalém, a pouca importância que se ligava à educação de sentimento e intelecto das mulheres, no que se deve procurar o motivo da completa ignorância e queda das criaturas quanto à fé no Deus Único! Por isto, nada lhes será ocultado concernente à evolu- ção espiritual dos homens.”

  4. Digo Eu: “Assim agindo, dentro em breve se fará a Luz entre eles. Se no futuro não se considerar este Meu Conselho, as mulheres tornar-se-ão vaidosas e orgulhosas, e a antiga treva se apresentará, apagando a fé e esfriando o amor. Virá uma época de aflição como jamais houve. Pois, agora, todos recebem por Mim a Luz claríssima. A Lua sendo encoberta, aumenta a escuridão da noite; entretanto, será mais suportável do que o obscurecimento total do Sol. Meditai a respeito.”

  5. Dizem os apóstolos: “Senhor e Mestre, não entendemos o sentido espiritual desse quadro. O que é a Lua e o que é o Sol?”

  6. Respondo: “Quanto tempo terei que palmilhar entre vós, até vos tornardes completamente compreensivos?! A época de Adam, em relação à educação espiritual das criaturas através dos profetas, pela revelação, é idêntica à luz da Lua. Ela muda sua luz e tempo- rariamente não é vista, para, em seguida, crescer até o plenilúnio. Assim aconteceu com o conhecimento de Deus até a época de hoje. Em vários povos cresceu à Luz plena através da palavra e os sinais dos profetas. Eram eles semelhantes à Luz completa da Lua, que não tem luminosidade própria e sim emprestada do Sol, assim como os

profetas possuíam em todas as épocas uma Luz emprestada de Deus, como Sol dos anjos e espíritos, alumiando o caminho dos homens.

  1. Ao lado dos profetas, posteriormente surgiam outros dou- trinadores, que faziam vários aditamentos e explicações, obscurecen- do a Doutrina Original a ponto de desaparecer. Os homens tiveram que se suprir, em sua treva, com o fraco cintilar das estrelas, até que fosse inspirado outro profeta. Tal obscurecimento da noite espiritual não perturbava tanto a alma dos homens, pois sua fé em Deus não podia apagar-se inteiramente, como acontece ao brilho das inúme- ras estrelas.

  2. Por Mim surgiu agora o Próprio Sol dos Céus. Sua Luz não é emprestada, mas a Própria Luz Onipotente, que jamais aumenta ou diminui. Quem Me tiver reconhecido não sofrerá oscilações no conhecimento. Pode acontecer que tal Luz claríssima no homem se apague, em virtude do seu mundanismo e orgulho. Sua situação se- ria idêntica à da Terra, caso o Sol, iluminador e aquecedor, súbito se apagasse. O fulgor das estrelas não traria consolo aos homens, pois, sem o Sol, tudo morreria de frio.

  3. Se, a partir de então, a fé em Mim — como Luz da Vida no homem — apagar, o próprio amor, como calor vital, esfriará e a consequência será calamitosa! As criaturas se sentirão mais infelizes do que vermes pisados a se torcerem na poeira. Muitas exclamarão: Quão felizes são os animais, desconhecem a morte, enquanto nós vivemos com o constante pavor da mesma!

  4. Nisto consiste a grande tribulação entre os homens quando a Luz e o Amor os tiverem abandonado! Tratai, portanto, que eles permaneçam na Luz, assim ficando no Amor, sem verem nem senti- rem a morte! — Compreendestes?”

  5. Respondem todos: “Sim, Senhor e Mestre; mas não deixa de ser lastimável!” Digo Eu: “Certo; todavia, não posso tirar o livre arbítrio do homem, pois, sem ele, seria simples máquina. Tratemos de reforçar as energias, para podermos trabalhar!”

214.OMAIORMILAGREDOSENHOR:SEU VERBO

  1. Após terminada a refeição, o hospedeiro pergunta a um discí- pulo se Eu havia operado milagres idênticos, e ele responde: “Desta forma, milhares já foram supridos ao ar livre. O Senhor igualmente transformou, por várias vezes, água simples e não da melhor quali- dade em vinho do melhor apenas pela Vontade; assim como modi- ficou, pelo seu Verbo e Doutrina, nossa água de fé antiga e deterio- rada numa fé viva semelhante ao melhor vinho. No percurso de dois anos e meio, o Senhor efetuou tantos milagres, que mal poderiam ser enumerados. O maior e eterno é, porém, Sua Palavra; quem ado- tá-la terá a Vida Eterna.

  2. As provas do Senhor são apenas testemunhas de Sua Perso- nalidade. No futuro, não serão elas as testemunhas de Sua Glória Divina, mas sim Sua Doutrina no coração dos que a aplicarem. Ela realizará as provas mais sublimes da Vida Verdadeira, Consciente e Eterna, o que vale mais do que Ele praticando Milagres sem fim, os quais podemos relatar aos descendentes, sem sabermos se acredita- rão ou não. Assim, eles pouco contribuirão para aumentar sua fé, mas sim a Doutrina recebida como Verdade mais pura e indiscutível.

  3. Ninguém duvida de nossa existência, nem das grandes provas dadas pelo Senhor; daqui a cem anos tudo isto fará parte da História da Humanidade e, em grande parte, será duvidado.

  4. A Verdade pura existirá até o Fim dos Tempos, assim como a Doutrina da Boca do Senhor, pela qual cada criatura poderá co- nhecer Deus, crer unicamente Nele, amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. O Amor é o Espírito Eterno da Vidae a própria Vida em si.

  5. Se as criaturas perderem todo amor para com Deus e o pró- ximo, conclui-se, matematicamente, a perda da vida psíquica, uni- camente real. Por isto, preocupa-te apenas com a Doutrina para re- ceberes a Vida Eterna, pois as provas não a facultarão!

  6. A Natureza Eterna, Onipotente e Sábia do Senhor não só fica patente pelos Milagres, mas a própria criação, visível a todos,

lhes fala: Deve-se ocultar, nestas obras infinitas e sábias, um Criador eternamente Poderoso. Muito embora o homem ouça Sua Chamada e procure o Criador de uma ou de outra forma, não deixa de sentir sua impotência e fraqueza, impossíveis de serem transformadas em força divina.

  1. Se, porém, agires pela Doutrina revelada do Senhor, tua fra- queza e inaptidão serão transformadas em força individual através de Seu Poder de Amor, o que será mais salutar do que te tornares testemunha de mais outros milagres, com os quais continuarias fra- co e inepto. Eis meu parecer bem fundamentado!”

  2. Nisto, Me viro para o discípulo: “Nathanael, não preciso perguntar-te quanto tempo te aturarei até te tornares entendido no Meu Reino! Por isto, acrescento o ‘Amém’ e confirmo tudo que dis- seste como Verdade plena e pura. Assim é e será para sempre!

  3. Quem Me procurar nas Obras e Milagres terá trabalho difícil e fatigante, facilmente se cansando sob o grande peso; quem o fizer pelo Amor em breve Me descobrirá como força de toda vida dentro de si, e assim terá tudo, como Vida Eterna, sua Força, Poder e Sabe- doria. Gravai isto e transmiti-o a outros!”

215.OHOSPEDEIRO SUPERSTICIOSO

  1. Deixamos o refeitório e fomos ao ar livre, bastante agradável, porque o vento Noroeste havia amenizado o calor. Percorremos a localidade e chegamos ao albergue onde Roklus havia curado os vin- te e um enfermos, em Meu Nome. O hospedeiro nos recebe com a família e os curados; em seguida pergunta por Mim, e Roklus apon- ta Minha Pessoa. Todos Me rodeiam e Me agradecem pela enorme Graça recebida, e o tavoleiro não se cansa em louvores.

  2. Finalmente digo: “Erguei-vos, pois basta Me louvardes e honrardes realmente no coração; o que ele resolve e faz é comparti- lhado pelo corpo todo.”

  3. Eles se levantam e pedem Eu não os abandonar com Minha Graça Onipotente. Respondo-lhes: “Conservai-Me no coração, pelo

amor a Deus e ao próximo, que Minha Graça ficará convosco. Se enfraquecerdes ou esfriardes no amor, também o Meu e a Graça subsequente enfraquecerão e esfriarão.

  1. Preservai-vos da gula e intemperança; por elas, o amor a Deus é diminuído, sendo alimentado o amor mundano e egoísta e, com ele, o julgamento da matéria e da morte. Evitai também a im- pudicícia e lascividade; impudicos, lascivos e adúlteros não entrarão no Reino de Minha Vida!

  2. A vós, curados, digo: Não vos deixeis tentar por pecado al- gum; pois a Minha Graça vos seria tirada, provocando males maio- res. Temei a preguiça e ociosidade, pois são as raízes de todos os males e vícios dos homens. Agi como vos digo, que Minha Graça não vos abandonará! Amém.”

  3. Todos Me agradecem e o tavoleiro diz: “Senhor e Mestre, não queres entrar em minha casa, para ser abençoada pelos Teus Pés?”

  4. Digo Eu: “Tens boa opinião dos mesmos; todavia, não pro- porcionariam Benção ao teu lar; vivendo com os teus dentro de Minha Vontade, receberás Benção real e efetiva! Os presos a supers- tições alimentavam tais ideias. Que utilidade teriam certos sinais e relíquias, pedras, números, lua nova e outros prognósticos? Pre- judicam a alma e, por ela, o corpo! Assim, os Meus Pés não trazem utilidade ao local onde piso. Útil é a Minha Vinda, e vos transmiti a Minha Vontade, demonstrando os Caminhos a serem palmilhados para atingir a Vida Eterna.

  5. Nas pedras, metais, ervas, raízes e frutos reside força curadora para determinadas moléstias; é preciso conhecê-los e empregá-los. Quem os usar como feitiçaria peca contra a razão e a Sábia Or- dem de Deus.

  6. Amável amigo! Conheço-te bem e sei seres honesto e razo- ável; todavia, tenho uma queixa contra ti. Escondes em tua casa certas pedras e paus, crendo assim evitar inimigos. Debaixo da porta do estábulo enterraste vários objetos: ferro, enxofre, casca de ovos e certa qualidade de madeira empregada pelos magos; acreditas te protegerem contra a bruxaria e conservar a saúde

dos animais. Tua família e todos os empregados têm que usar pequenos embrulhos como proteção contra todos os males, e tu mesmo não te excluis.

  1. Há algum tempo, aqui estiveram uns árabes de atitudes místicas, afirmando que cada um contava três mil anos; haviam des- coberto a verdadeira erva de víboras e, após a terem ingerido, torna- ram-se imortais. A fim de causarem maior impressão de veracidade, inventaram quantidade de cultos e fábulas fantásticas, que teriam acontecido durante esse longo percurso, entre homens, animais, plantas e pedras. E tu aceitaste tudo.

  2. Adquiriste, por bom dinheiro, toda sorte de apetrechos de feitiçaria e acrescentaste uma soma em ouro para arranjarem a dita erva, mas que só podiam trazer dentro de sete anos. Nascia apenas nu’a montanha distante e devia ser colhida em determinado dia e hora. Tudo isto aceitaste!

  3. Agora te digo: Desfaze-te dessas superstições tenebrosas. Trata-se de fraude bem estudada de sacerdotes de todos os povos, não havendo a menor autenticidade. Dos árabes que alegam contar três mil anos, não há um que tenha atingido os cinquenta e, da exis- tência da erva que conferisse imortalidade à criatura, Eu, Criador de Céus e Terra, nada sei — e, quanto aos embrulhinhos mágicos, não merecem ser atirados no monturo.

  4. Respeita apenas aquilo que te disse pela boca de Roklus, vive e age de acordo, que descobrirás dentro de ti uma erva mila- grosa bem diversa da prometida pelos árabes mistificadores, dentro de sete anos, mas que não te trarão nem após um milênio, se fosse possível viver tanto tempo.

  5. Eis Minha objeção contra ti. Se fores capaz de livrar-te disso tudo para sempre, Minha Benção plena estará em teu lar; do contrá- rio, não, ainda que viesse Pessoalmente muitas vezes.”

  6. O hospedeiro promete fazer tudo que Eu aconselhara; pois se admirara sobremaneira quando sentiu Eu saber das coisas mais ocultas. Novamente Me pede para Eu tomar algum pão e vinho em sua casa.

  1. Digo Eu: “Esteja certo de Eu aceitar tua vontade como ação; mas o que pretendes fazer a Mim aplica aos pobres! Ainda temos que trabalhar durante o dia; se, à noite, quiseres ser o Meu hóspede, dirige-te ao albergue onde moro!”

216. O ALBERGUE PARA POBRES

  1. Seguindo caminho, chegamos a outro albergue destinado a pobres, onde havia grande número de pessoas, vindas há poucas ho- ras. Virando-Me para Roklus, pergunto: “Por que somente este tem obrigação para com os necessitados? Não podia ser dividida entre os demais albergues?”

  2. Responde Ele: “Senhor e Mestre, não preciso esclarecer-Te o motivo chocante desse abuso, pois todas as coisas, ainda que as mais ocultas, Te são conhecidas. Peço-Te, apenas, conselho para aca- bar com ele.”

  3. Digo Eu: “Será mui fácil. Como reitor da localidade, manda o seguinte aviso a todos os tavoleiros: O Senhor deu ordem que todos os albergues mantivessem vagas para, no mínimo, dez pobres; aque- les que se prontificarem a mais poderão aguardar recompensa! — e, dentro de uma hora, não verás mais um pobre acampado ao ar livre!

  4. Por que deveria este tavoleiro receber dos essênios uma pen- são para os necessitados, acolhendo, às vezes, de dez até cem, todavia declarando o dobro e recebendo o equivalente, deixando, porém, passar miséria os que realmente lá se instalam?! É preciso acabar com isto!”

  5. Imediatamente Roklus manda quatro irmãos aos outros al- bergues, e não se passa meia hora quando surgem empregados para levarem os pobres a melhores acomodações. O hospedeiro se abor- rece com o afastamento e se vira bruscamente para Roklus, dizendo: “Que vem a ser isto, reitor? Tenho contrato contigo, pelo qual sou responsável pelo trato dessa gente. Por que me é subtraída?”

  6. Responde Roklus: “Queres falar de trato, quando deixas os inúmeros pobres acometidos de moléstias várias acamparem em pra-

ça pública, sem leitos e alimentos, embora mantenhas quartos vagos para ricos?! Recebeste de nós o dinheiro para a manutenção e tratas- te pessimamente menos da metade! Por isto, a situação será mudada a partir de agora, e a pensão dividida entre todos. Compreendeste?”

  1. De feições contraídas, o hospedeiro reage: “Reitor, quem me caluniou tão miseravelmente?”

  2. Diz Roklus: “Não há calúnia, mas pura Verdade de Quem tudo vê e conhece os pensamentos, desejos e paixões mais ocultos, e também me incumbiu de castigar-te! Nada mais te resta senão arrepender-te dos muitos pecados, regenerar-te e reparar o mal; do contrário, terás que aguardar castigo pior de Deus, o Senhor.

  3. É evidente tua fraude para conosco e os pobres; pois, em vez de acomodares os coitados nos recintos destinados a enfermos, deixaste-os deitados no solo. Regenera-te e não perguntes quem te teria denunciado!”

  4. Assustado com a reprimenda de Roklus, o hospedeiro se atemoriza e promete restituir o que juntara indevidamente e, no futuro, não mais exigir pensão por acolhida de pobres.

  5. Diz Roklus: “Assim fazendo, Deus perdoará teus pecados, e tua alma receberá Dele Misericórdia. Fosses tu grego ou romano, portanto pagão, que nunca tivesse noção do Deus Único e Verda- deiro e desconhecesse a Sua Vontade revelada pela boca dos profetas

  1. Prosseguimos em nosso passeio, enquanto digo ao chefe dos essênios: “Tua tarefa foi bem solucionada e concluímos boa obra. Foi prudente não Me apontares ao escriba, pois ainda não está em condições de suportar a Minha Presença. Amanhã, quando Eu tiver deixado Esseia e ele vier para pagar suas dívidas, poderás dizer-lhe ter Eu estado em vossa agremiação, aponta-lhe a Doutrina e o Poder recebidos por Mim, do que podereis dar provas, e ele vos prestará bons serviços.”

  1. Roklus Me agradece por esta prova e conforto, que de modo algum merecia, e diz em seguida: “Ó Senhor e Mestre, queres real- mente deixar-nos amanhã?”

  2. Respondo: “Pessoalmente, sim; mas não em Espírito. Te- nho muito que fazer alhures, para que se cumpram as profecias. Po- dereis agir e doutrinar sem embargo, não obstante Minha ausência, e o motivo é compreensível.” Roklus o reconhece e, entrementes, chegamos àquela estrada que dá para o Egito.

217.OSMILAGRESÀENTRADADE ESSEIA

  1. Estamos do lado de fora do portão da localidade, toda ela cir- cundada por forte muro. Havia ali outras casas e albergues, onde os viajantes costumavam deixar os animais e, às vezes, também pernoi- tavam. A uns setecentos passos distantes da rua, existe certo albergue onde se acham muitos hóspedes: egípcios, gregos, romanos e alguns judeus negociantes.

  2. Diante da casa há um terreno coberto de grama, onde se acham esquifes com crianças mortas. Os pais esperavam no al- bergue permissão dos essênios para levarem os caixões ao castelo. Por várias vezes haviam feito tal petição, sempre negada, porque a catacumba estava repleta e, além disto, a seita não devia mais aceitá-los.

  3. Os genitores haviam vindo de longe, na esperança de leva- rem os filhos, vivos, para seus lares, portanto ignoravam a proibição a respeito. A notícia de terem empreendido a viagem inutilmente era dolorosa.

  4. Quando observamos os esquifes, em número de cento e dez, o tavoleiro nos avista e transmite às pessoas a presença do chefe dos essênios, que, com ar de tristeza, caminhava entre os mortos; por- tanto, havia esperança de serem atendidas.

  5. Todos se levantam e se aproximam de nós, que líamos os no- mes nos caixões; todos pedem ao chefe essênio não deixá-los voltar sem sucesso. Roklus responde aos pedintes: “Há mais de um ano

enviamos avisos em todas as direções para esclarecer que não haveria mais ressurreições. Nada sabeis a respeito?”

  1. Dizem eles: “Nem o mais leve boato; pois não teríamos feito tamanha despesa inutilmente. Realmente chegamos há pou- cos dias e pequeno foi o nosso gasto, e há algumas horas nos devolveram o tributo extorquido a caminho para cá; se, por isto, tivermos que voltar sem êxito para nossos filhos, estamos pron- tos a pagar dez vezes mais. Chefe poderoso, atende-nos somente esta vez!”

  2. Diz Roklus: “Caros amigos, fostes mal informados que aqui se ressuscitavam crianças mortas, há meses. Isto só é possível quando recentemente caíam em estado cataléptico; defuntos iguais aos dos esquifes somente Deus poderá ressuscitar!”

  3. Adianta-se um grego, dizendo: “A que deus te referes? Temos muitos, mas qual seria o mais poderoso?”

  4. Responde Roklus: “Todos os vossos deuses são criações de vossa fantasia, e suas imagens feitas por mãos humanas. So- mente o Deus dos judeus é Verdadeiro e Onipotente, portanto tudo pode!”

  5. Diz o grego: “Disto nos informaram judeus comerciantes e oferecemos grandes sacrifícios ao Deus deles; um sacerdote os acei- tou, afirmando que seriam levados a Jerusalém, onde habitaria o Deus Único num templo suntuoso.

  6. Ainda assim, nossos filhos continuavam mortos, e eu pre- sumo não haver vantagem junto àquela divindade. Isto certamente saberás melhor do que o referido sacerdote, que não parecia alimen- tar muita fé, pelo desrespeito aos Mandamentos transmitidos. Que devemos fazer a fim de que o Deus Único nos ajude?”

  7. Responde Roklus: “Meus amigos, antes de mais nada é pre- ciso crer em Deus, cumprir Seus Mandamentos a toda risca, amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. Quem assim não fizer não será atendido por Ele.

  8. Eu e meus irmãos agimos deste modo e temos provas insofismáveis de que Deus Verdadeiro sempre atende nossos pe-

didos, quando não forem tolos. Dirigi-vos a Ele com fé no Pai; prometei-Lhe abandonar os ídolos, mantendo fiel cumprimen- to das Suas Leis, e veremos se vos atende!” Todos o prometem solenemente.

  1. Roklus acrescenta mais a seguinte condição: “Segundo vossa promessa, deduzo vosso rigor em voltardes ao Deus Único, do qual se afastaram vossos antepassados há quase mil e setecentos anos, e eu tenho plena certeza que Deus atenderá vosso pedido. As- sim acontecendo, guardai segredo e não nos denuncieis, pois nunca mais se repetirá!

  2. Aqui são curadas toda sorte de moléstias, como sejam: ce- gueira, mudez, surdez, artritismo, lepra, loucura e febres malignas. Aceitando também essa afirmação, podeis abrir os esquifes para tirar os ressuscitados. Dai-lhes um pouco de leite, em seguida caldo de carne com pão e à noite um pouco de vinho. Acreditais realmente estarem vivas todas as crianças?”

  3. Respondem eles: “Sim, poderoso amigo do Deus Único e Verdadeiro, cremos plenamente em ti.”

  4. Prossegue Roklus, à Minha Ordem interna: “Então se faça de acordo com a vossa fé, em Nome de Jesus Jehovah Zebaoth! Abri os caixões!” Todos obedecem e deparam com seus filhos plenamente sadios e alegres, dos quais alguns há mais de ano estavam fechados no caixão.

  5. É compreensível a imensa satisfação dos genitores, na maio- ria abastados, e os agradecimentos são intermináveis. Os pequenos são tratados como fora recomendado.

  6. Nota: Poderia agora, após quase dois mil anos, alguém per- guntar como fora possível ocultar-se milagre como esse e muitos outros! Eis a resposta: Porque Eu Mesmo assim determinei, a fim de que somente a Doutrina pura conduza as criaturas, e não o milagre que restringe o livre arbítrio, como expliquei por diversas vezes. Du- rante a Minha curta Passagem na Terra, tais fatos não despertavam grande alarde, por ser especialmente Esseia mui conhecida como milagrosa. O insucesso teria motivado maior admiração que o ple-

no êxito, que cada um aguardava tão certo como o dia que segue a noite. Além disto, foi recomendado rigorosamente a todos aqui socorridos de não explorarem o milagre.

  1. Todavia, foram feitas muitas anotações dos Meus Atos e dos essênios, guardadas na maior parte nas grandes bibliotecas do Egito, mas posteriormente destruídas pelos maometanos ignorantes. Assim aconteceu que, nesta época, quase nada se sabe dos grandes milagres do Meu Tempo, no que também a antiga prostituta de Babel con- tribuiu com eficiência. A maneira pela qual assim aconteceu será do conhecimento de todos os pesquisadores de hoje!

  2. No Oriente ainda existem grandes anotações, das quais algumas serão trazidas à luz do dia. Contêm muita coisa que não consta nos quatro Evangelhos. Apenas não obedecem à ordem cro- nológica, como também não sucede nos quatro Evangelhos, mas não importa. O principal é e será somente a Doutrina pura da Vida. Quem aceitá-la e crer em Mim será levado pelo espírito a todos os conhecimentos.

  3. Isto sirva a todos que alimentam qualquer dúvida sobre Mim e Minha Ação naquela época, para prova consoladora da Ver- dade contida nos inúmeros folhetos (manuscritos de J. Lorber). Agora voltemos ao assunto.

218.OSAUXILIARES ESSÊNIOS

  1. Após o milagre, e os pais tendo sido acomodados no alber- gue, o hospedeiro, ao qual o milagre era fato comum, pergunta a Roklus se devia cobrar algo em benefício dos necessitados, que au- mentavam dia a dia, e cuja importância entregaria à administração.

  2. Responde Roklus, insuflado por Mim: “Recebi essa Graça de Deus e nada exijo de quem quer que seja. Havendo alguém disposto a ajudar espontaneamente aos inúmeros pobres, pode entregá-lo ao Instituto. Manda levar os esquifes ao castelo, para não despertarem excessiva curiosidade!”

  3. Diz ele: “Que farei, caso queiram levá-los como recordação?”

  1. Retruca Roklus: “Dirás ser ordem minha. Se porventura in- sistirem, afirmarás que as crianças morrerão a caminho, e nenhum se oporá em deixar os caixões aqui!”

  2. Voltando a Esseia, fomos a outro portão, onde também havia um albergue gratuito, há muito tempo organizado pelos essênios. Descontando o castelo, era aquele o maior edifício, contendo vastos jardins e sendo tudo rodeado por forte murada, munida de torres de cem a cem passos. Situado entre o Levante e meio-dia, o alber- gue, além de quantidade de aleijões, abrigava muitas crianças que, à antiga moda essênia, eram devolvidas aos pais como ressuscitadas.

  3. Ao lá chegarmos, Roklus Me diz: “Ó Senhor e Mestre! Eis minha maior preocupação! Seria fácil curar os inúmeros aleijões e empregá-los para qualquer serviço, mormente em Tua Presença. Acontece terem sido eles auxiliares nas encenações de ressurreições e sabem como eram feitas as mesmas. Recuperando a saúde e en- contrando emprego em qualquer parte do mundo, pode acontecer que venham trair nossa fraude, atirando-nos no maior embaraço, de nenhuma utilidade para quem quer que seja.

  4. Esses enfermos de ambos os sexos, que adoecem em virtude dos muitos esforços a que foram submetidos, me condoem e dese- java socorrê-los pela Tua Graça. Tornando-se sãos, hão de querer reassumir o ofício antigo, que lhes trazia bastante vantagem pelos presentes recebidos dos ricos. Não sei como agir e somente um Con- selho Teu nos ajudaria.

  5. Com as crianças será mais fácil acharmos solução, porque ignoram o motivo de sua presença; esse fato é do conhecimento de seus educadores e enfermeiros, que, todavia, estão orientados acerca da nova situação. Sabem a Teu respeito e consideram a Doutrina, muito embora sejam pagãos.”

  6. Digo Eu: “Os aleijados são pagãos e veneram os ídolos. Faze com que aceitem a crença no Deus Único, demonstra-lhes a força do Espírito de Deus no homem, desperta a fé e o amor pela Doutri- na, e então cura-os, que não darão motivos para receios. Ser-vos-ão úteis no Instituto. Uma vez fazendo parte dele, devem ficar convos-

co. É de vossa intenção acabar com as coisas antigas e falsas; para tanto, necessitais de muitos cooperadores, no que serão úteis todos que habitam nesses recintos. Além de tudo, tendes tamanha fortuna, que durante mil anos podereis sustentar com facilidade mil pesso- as. Deste modo, também estais em condições de alimentar a esses. Concordas?”

  1. Responde Roklus: “Ó Senhor e Mestre, Amor, Bondade e Misericórdia eternos! De há muito foi este o meu plano; meus ir- mãos, porém, não participavam de minhas ideias. Ouvindo-o de Tua Própria Boca, chegaremos a boa ordem, com Tua Graça e Aju- da, e eu me vejo livre de um peso enorme. Terias vontade de visitar este albergue?”

  2. Respondo: “Por Minha Causa, não; pois conheço tudo. Fá-lo-ei por vossa causa e dos discípulos, para demonstrar-lhes as dependências principais!”

219.OINSTITUTO ESSÊNIO

  1. Assim, entramos nos salões, que eram realmente suntuosos. A seguir visitamos as crianças, que nos cumprimentam amavelmen- te, como prova da educação recebida, e Eu pergunto a algumas se lhes agradava a estadia. Vários meninos se adiantam, dizendo: “Aqui se passa bem. Todavia, acontece, às vezes, um ou outro ser tirado de nosso meio, sem jamais voltar; muito nos entristece, porque nin- guém nos informa o que lhe aconteceu. Teriam sido mortos ou ven- didos? Isto nos aflige e desejávamos saber o paradeiro deles.”

  2. Digo Eu: “Meus filhinhos, nada temais! Todos eles estão pas- sando muito bem, porquanto encontraram um lar com muito amor e carinho. Espiritualmente, a maioria piorou de situação porque foi entregue a pagãos.

  3. A maior felicidade das criaturas consiste, unicamente, no co- nhecimento, desde a infância, do Deus Único e Verdadeiro, apren- dendo a amá-Lo acima de tudo, como Pai Verdadeiro e Bom de todos. Os pagãos O desconhecem, porque os genitores nada sabiam

Dele. Este é o motivo por que as crianças que de vosso meio foram entregues aos pagãos são espiritualmente prejudicadas por não po- derem amar o Verdadeiro Pai no Céu, que é o Espírito Eterno cheio de Bondade, Amor, Sabedoria e Onipotência!

  1. A partir de agora nada deveis temer, pois ninguém mais será afastado de vós; ficareis aqui, conhecendo o Verdadeiro Pai de to- das as criaturas e amando-O acima de tudo, podendo fazer o Bem a muitos como criaturas livres e sábias. Sede contentes e obedien- tes aos professores, que o Pai Celeste cuidará de vossa felicidade na Terra e no Céu. O próprio reitor, Roklus, informar-vos-á. Está bem assim?”

  2. Responde um menino inteligente: “Bom Senhor, contigo es- taríamos contentes. Mas o reitor nunca nos disse isto e, enquanto silenciar, não estamos garantidos. Dize-lhe tu para ele nos dar tal consolo, que seremos felizes!”

  3. Digo Eu: “Ele o fará em tempo justo. Eu também sou Senhor Poderoso, acima do reitor, e o que falo e quero, ele fará. Podeis estar certos disto.”

  4. Obsta o menino: “Acaso és Imperador de Roma?”

  5. Respondo: “Sou muito mais Poderoso que ele. Não podeis compreender por enquanto a Minha Glória Infinita. Roklus vos de- monstrará tudo a tempo, e então assimilareis por que sou Senhor acima dele e do próprio Imperador, dando-vos motivo de louvar e honrar-Me, e a alegria será enorme por ter Eu vos visitado!”

  6. Com amabilidade, Roklus promete assim agir e as crianças se acalmam. Eu as abençoo e acaricio, e em seguida quero retirar-Me. Cheias de amor e confiança elas Me rodeiam, pedindo Eu ficar mais algum tempo.

  7. Digo Eu: “A tais pedintes nada posso negar, portanto fico mais meia hora.” Ouvindo isto, sua alegria é enorme e o menino diz confiante: “Senhor bondoso! Falaste a respeito de um Pai Celeste, ao Qual deveríamos conhecer e amar. Mas como conhecê-Lo? Tu O conheces? Descreve-O, para podermos amá-Lo, não obstante O desconheçamos!”

  1. Digo Eu: “Filhinhos, será algo difícil, porque vos faltam no- ções para tanto. Farei uma experiência neste sentido. Prestai atenção!

  2. O Pai no Céu é Espírito Puro, Perfeito, Eterno e Vivo. Ja- mais teve início, nem terá fim. Desde Eternidades criou o Céu e a Terra e tudo que comporta, através de Sua Onipotência.

  3. Se um homem nesta Terra pretende criar algo, necessita da matéria e diversos instrumentos. O Pai no Céu nada disto precisa, pois Sua Vontade Onipotente é Seu Instrumento.

  4. Assim também criou as criaturas para que O conheçam, O amem e Dele recebam a Vida Eterna. A fim de saberem como devem viver entre si, o Pai no Céu revelou Sua Vontade a certos profetas. Quem aceitá-La e aplicá-La receberá a Vida Eterna.

  5. Criaturas devotas que amem ao Pai e pratiquem Seus Man- damentos ouvem, em vida, a Voz do Pai e veem o Seu Semblante. Sede, também vós, devotos e obedientes, que desfrutareis tal felici- dade imensa, em vida!”

  6. Os pequenos prometem fazer tudo que Eu aconselhara, para poderem ouvir e ver o Pai no Céu, e Me perguntam se Eu já O tinha visto.

  7. Respondo com carinho: “Filhinhos, vejo e ouço o Pai sem- pre; Ele Se parece Comigo e Sua Voz soa como a Minha! Quem, pois, vir e ouvir a Mim verá e ouvirá o Pai no Céu. Olhai bem para Mim, a fim de poderdes dizer que já vistes e ouvistes o Pai Celeste!”

  8. Eles Me fixam e, após algum tempo, dizem: “Se o Pai no Céu Se parece Contigo, deve Ele ser muito bom e já O amamos acima de tudo! Se tu, como senhor nesta Terra, fosses tão Poderoso quanto Ele, não haveria diferença entre ti e Ele?”

  9. Respondo: “Sim, realmente, e quem sabe se vez por outra não sou algo Poderoso?” Diz o menino: “Não nos poderias dar uma pequena prova?” Replico Eu: “Pois sim. Para tanto, temos que ir ao grande jardim!” Uma vez fora de casa, Eu digo: “Não seria de vosso agrado se nos lugares livres houvesse árvores com frutos saborosos?”

  10. Responde ele: “Pedimos que o faças, caso te seja possível!”

  1. Digo Eu: “Então ide até lá e, antes de chegardes, as árvores já vos esperam!” Alegres, as crianças correm ao dito lugar e pronta- mente apanham os frutos maduros que cobriam o solo. Entremen- tes, voltamos ao albergue, sem que fôssemos vistos pela criançada.

220.OSENHORSEDESPEDEDOS ESSÊNIOS

  1. Em lá chegando, digo ao hospedeiro: “Podes preparar boa ceia. Trabalhamos bastante e fazemos jus à mesma!” Virando-Me em seguida para Roklus, dou-lhe diretrizes para alcançar bons propósi- tos. Assim, também aconselho como devia ensinar aos pequeninos terem visto e ouvido em Mim o Pai no Céu.

  2. Alguns essênios são enviados ao castelo em virtude da res- surreição das crianças. Quando voltam, a ceia está preparada e nos sentamos à mesa. Mais tarde, despeço-os com afazeres para a noite. Eles agradecem e se afastam.

  3. Palestro com Roklus até perto da meia-noite e ele anota, em resumo, tudo que sucedera neste dia memorável. Depois se despede com gratidão e Me pede visitar-Me de manhã, para Me acompanhar durante bom trecho.

  4. Digo Eu: “Amigo, podes fazer o que quiseres e tudo será bom quando agires no verdadeiro e vivo amor para Comigo. Todavia, te- rás amanhã cedo que solucionar assuntos importantes, dificilmente adiáveis; por isto, aceito tua vontade de Me visitar e Me acompa- nhar, como obra feita.

  5. Eu Me encaminharei cedinho com os Meus apóstolos para Jericó, a fim de lá chegar antes do Poente. Julgas não ser possível fazer a longa caminhada num dia, de modo natural; entretanto, digo Me serem possíveis todas as coisas. Apesar de ser sábado, em que o judeu não deve viajar, Eu — como Senhor igualmente do sábado

  1. Digo-te isto para esclareceres os teus irmãos, entre os quais alguns muito consideram o ócio daquele dia. Sabes de tudo que ne- cessitas por ora. Quando fordes doutrinar e agir em Meu Nome, não penseis no assunto, nem como iniciar e terminar uma obra; Eu Mes- mo tudo depositarei em vosso coração e boca, iluminando vosso in- telecto e fortificando coragem e vontade. Com esta segurança, podes descansar cheio de consolo, para amanhã te dedicares ao trabalho.”

  2. Com lágrimas nos olhos, e se recomendando a Mim e aos apóstolos, Roklus segue para o castelo, e nós nos recolhemos. De manhã cedo, aprontamos nossa partida. O hospedeiro se aproxima e oferece um desjejum, por ser longa nossa viagem e a estrada isenta de hospedarias.

  3. Digo Eu: “Amigo, de nada precisamos. Eu Mesmo sou a Hospedaria de todas as hospedarias! Viste ontem como todos foram saciados sem tua cozinha — e isto posso fazer também no cami- nho deserto! Após nossa partida, aqui chegarão pobres de Jericó à procura de socorro. Atende-os em nosso lugar e terás feito obra de Meu Agrado!”

  4. Ele o promete e pede para Eu Me lembrar dele. Tranquili- zo-o, dizendo: “Fica em Meu Pensamento pelo sentir e agir dentro de Minha Doutrina, que Eu ficarei em ti, forte e ativo, com Minha Graça e Meu Amor! Amém.” Assim partimos.

FinaldoOitavoVolume Amém

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